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Texto de pré-visualização

Magistral Um dos livros mais claros e abrangentes já escritos sobre a história do capitalismo moderno New York Times Jeffry A Frieden Capitalismo História econômica e política do século XX Global ZAHAR Jorge Zahar Editor Jeffry A Frieden Capitalismo global História econômica e política do século XX Tradução Vivian Mannheimer Revisão técnica Arthur Ituassu Professor de relações internacionais na PUCRio Sumário Apresentação de Paul Kennedy Prefácio Introdução Rumo ao século XX Do mercantilismo ao livrecomércio Da prata ao ouro Ameaças à ordem global I Os melhores últimos anos da Era de Ouro 18961914 1 Capitalismo global triunfante O fortalecimento do padrãoouro Especialização e crescimento Descontentes com o globalismo 2 Os defensores da economia global Apoio intelectual à Era de Ouro Nathan Mayer Rothschild 18401915 Os partidários do livrecomércio Os adeptos dos pilares dourados Redes globais para uma economia global Migração internacional de indivíduos e capital Globalização 3 Histórias de sucesso da Era de Ouro A GrãBretanha fica para trás Novas tecnologias e o novo industrialismo Protegendo as indústrias nascentes Áreas de colonização recente Crescimento nos trópicos Heckscher e Ohlin interpretam a Era de Ouro 4 Desenvolvimentos fracassados O rei Leopoldo e o Congo Colonialismo e subdesenvolvimento Má gestão e subdesenvolvimento Estagnação na Ásia Estagnação nas plantações intensivas Obstáculos ao desenvolvimento 5 Problemas da economia global Comércio livre ou comércio justo Vencedores e perdedores do comércio A prata ameaça o ouro O trabalho e a ordem clássica Era dourada ou manchada II Tudo se desmorona 19141939 6 Tudo o que é sólido desmancha no ar As consequências econômicas da Grande Guerra Reconstrução da Europa A extraordinária década de 1920 O isolamento dos Estados Unidos Um mundo reconstruído Em direção ao vazio 4832 7 O mundo de amanhã As novas indústrias As novas corporações As novas empresas multinacionais Mecanização no campo As novas sociedades Avanços e recuos 8 O colapso da ordem estabelecida O fim do boom Ouro e crise Das trevas Abaixo o antigo 9 Em direção à autarquia A autossuficiência semiindustrial Schacht e os nazistas reconstroem a Alemanha As políticas econômicas autárquicas A Europa se volta para a direita Socialismo em um só país O desenvolvimento se volta para dentro A alternativa autárquica 10 A construção da socialdemocracia Socialdemocracia na Suécia e nos Estados Unidos Keynes e a socialdemocracia Trabalho capital e socialdemocracia Socialdemocracia e cooperação internacional Das cinzas III Juntos novamente 19391973 5832 11 A reconstrução do Oriente e do Ocidente Os Estados Unidos à frente A tarefa urgente Dean Acheson presente na criação Os Estados Unidos e a reconstrução da Europa A União Soviética forma um bloco Dois argumentos 12 O sistema de Bretton Woods em ação A aceleração do crescimento no pósguerra Jean Monnet e os Estados Unidos da Europa Bretton Woods e o comércio A ordem monetária de Bretton Woods Bretton Woods e os investimentos internacionais Bretton Woods e o Estado do bemestar social O sucesso de Bretton Woods 13 Descolonização e desenvolvimento Industrialização por substituição de importações A corrida para a independência ISI teoria e prática Nehru e a industrialização da Índia O Terceiro Mundo adota a ISI A proliferação moderna da indústria 14 Socialismo em muitos países A expansão do mundo socialista A divisão do mundo socialista O caminho chinês Socialismo no Terceiro Mundo Um futuro socialista 15 O fim de Bretton Woods 6832 O compromisso se desfaz Desafios ao comércio e aos investimentos A crise na substituição de importações A estagnação do socialismo O fim de uma era IV Globalização 19732000 16 Crise e mudança O choque do petróleo e outros choques O contrachoque de Volcker Globalismo Regionalismo e globalismo Crises financeiras globais e nacionais 17 A vitória dos globalizantes Novas tecnologias novas ideias Interesses globalizantes George Soros cria mercados Comércio sem barreiras 18 Os que correram atrás Produção global e especialização nacional Crescimento via exportações nos extremos da Europa e da Ásia O Leste asiático e da América Latina seguem o exemplo O sociólogo marxista assume o poder A Europa oriental se une à ocidental A nova divisão internacional do trabalho 19 Os que ficaram para trás A decepção causada pela transição e reformas 7832 Desastres do desenvolvimento A jornada da Zâmbia A catástrofe africana Calamidade privação e desespero 20 Capitalismo global em apuros Fragilidade financeira e a trindade impossível As três palavras mais temidas Mercados globais desgovernados ou indesejados Conclusão Notas Comentários sobre dados e fontes Referências bibliográficas Agradecimentos Índice remissivo 8832 Apresentação De todas as maneiras pelas quais o século XX reivindica um lugar especial na história poucas se igualam em importância à enorme transformação da vida econômica Se um fazendeiro de Illinois ou um camponês de Bangalore ambos lutando pelo sustento por volta de 1900 fossem trazidos de volta ao nosso planeta nos dias de hoje ficariam chocados com a transformação pela qual ele pas sou O imenso crescimento da produtividade e da riqueza as in imagináveis novas tecnologias e a melhora do conforto material os teriam deixado sem fala Ainda mais chocados contudo ficari am com os muitos distúrbios e retrocessos ocorridos na economia mundial nesse intervalo de cem anos os quais é claro eles não poderiam ter adivinhado Relembrar essa história é a tarefa que o professor Jeffry A Frieden tomou para si em Capitalismo global e que faz de forma esclarecedora equilibrada e com vasto conhecimento Esta obra trata de um tema vigoroso de forma direta ajudando o leitor a ter uma ideia do todo Este não é um livro qualquer de história econ ômica embora certamente será utilizado em muitas salas de aula Na essência residem os ventos criativos do capitalismo mundial moderno tomando emprestada a famosa frase de Joseph Schumpeter Já no fim do século XIX esses ventos sopravam ao redor do globo criando novas estruturas de produção comércio e finanças e tornando obsoletas as formas anteriores Tais ventos coexistiam com as forças como a do nacionalismo e a do militarismo que seguiam seu curso de maneira tão avassaladora quanto onipresente Essa mistura ex plosiva produziu em sequência destruição e mortes na Primeira Guerra Mundial e as calamitosas reverberações econômicas e políticas das duas décadas que a sucederam Sugerir uma única parte da impressionante obra do professor Frieden para ser lida com atenção especial é uma tarefa difícil mas para mim o debate sobre a economia política entre as duas guerras mundiais parece de fato maravilhoso Frieden mostra o quanto o capitalismo de mercados livres e laisserfaire se tornou problemático o que ocorreu não apenas pelo fracasso do sistema em oferecer suficiente riqueza e empregos mas também em fun ção das reações contra o capitalismo liberal na esfera política Com a URSS fazendo pressão pelo socialismo em um só país os Estados fascistas praticando uma mistura de autarquia econômica e agressão externa e os Estados Unidos já na época a maior potência se retirando dos palcos mundiais o velho sistema não poderia sobreviver Tudo se despedaçou Os pedaços se juntariam novamente com a retomada do envolvimento norteamericano com as questões mundiais após Pearl Harbor um comprometimento que duraria por toda a Guerra Fria e cuja natureza era amplamente coetânea o capital ismo global não poderia sobreviver sem o poderio militar ou a vontade política do Ocidente a qual só se sustentaria com o su cesso produtivo do sistema capitalista Dessa vez todos os ped aços se mantiveram unidos A história que o professor Frieden nos conta não é de forma alguma triunfante como as ideias oferecidas pelos economistas conservadores defensores do livremercado dos dias de hoje Ele é bem ciente como antes dele eram Marx Schumpeter e Keynes de que o capitalismo por natureza gera tanto perdedores quanto vencedores Suas opiniões sobre o desemprego em massa de 1930 são bastante sóbrias e a análise da catástrofe africana dos dias 10832 atuais ver Capítulo 19 é profundamente entristecedora Acima de tudo Frieden é sábio o suficiente para não concluir esta grande pesquisa de forma suprema e presunçosa mas sim propor diver sas perguntas sérias sobre a economia do nosso mundo que flui oscilante pela primeira década do século XXI Como consequên cia o leitor terminará este livro não apenas impressionado pelo arranjo de conhecimentos e análises mas também um tanto per turbado com as perspectivas para o campo do comércio das fin anças e dos mercados O fim deste livro com certeza nos leva a um estado de profunda reflexão Os ventos criativos de Schumpeter ainda não cessaram O mérito de Capitalismo global está em nos lembrar de que o nosso sistema de trocas econômicas traz tanto riscos quanto muitos benefícios PAUL KENNEDY 11832 Prefácio As economias nacionais estão hoje mais abertas umas às outras do que nunca Com o comércio internacional atingindo um nível sem precedentes muito do que consumimos é importado e muito do que produzimos é exportado A atividade empresarial envia imensas quantidades de capital para outras nações Em alguns países mais da metade dos investimentos vêm de fora Milhões de pessoas migram a cada ano em busca de trabalho Produtores fazendeiros mineradores banqueiros e comerciantes devem pensar de forma global sobre cada decisão econômica com a qual se deparam Tecnologias movimentos artísticos práticas empres ariais tendências musicais moda e modismos atingem todas as esquinas do mundo desenvolvido de forma mais ou menos in stantânea Economia global e cultura formam uma rede quase ho mogênea na qual as fronteiras nacionais são cada vez mais irrelev antes para o comércio os investimentos as finanças e outras atividades econômicas Atualmente muitos são os que se referem à globalização como um processo tão inevitável quanto irreversível Após décadas de integração econômica internacional muitos dos centros econômi cos mundiais consideram o capitalismo global o estado natural das coisas certos de que ele continuará por um futuro próximo ou até mesmo para sempre A situação na virada do século XIX para o XX parecia bastante semelhante No início dos anos 1900 a integração econômica internacional era encarada como uma verdade absoluta Essa foi a norma que por 60 anos conduziu a liderança econômica mundial do Reino Unido e que por 40 anos regeu as outras principais nações industriais e agrícolas Relações de livrecomércio fin anças internacionais investimentos e imigrações internacionais sem obstáculos e uma ordem monetária comum sob o padrão ouro foram por gerações os princípios organizadores do mundo moderno Mas foram necessários apenas alguns meses para que toda a estrutura da globalização entrasse em colapso A Primeira Guerra Mundial estourou em agosto de 1914 e arrasou as fundações preexistentes da ordem econômica global Durante anos os líderes econômicos e políticos do mundo tentaram sem sucesso restaurar a economia internacional pré1914 A ordem inter nacional se desintegrou e implodiu brutalmente na Grande De pressão de 1930 e na Segunda Guerra Mundial A globalização foi uma escolha não um fato Por décadas o capitalismo global parecia intocado em seus princípios básicos mas a Primeira Guerra Mundial mostrou que havia uma série de questões nessa longa e tortuosa trajetória A globalização degrin golou tão rapidamente que seus participantes não tiveram a chance de impedir o colapso A ordem internacional cujos com ponentes econômicos políticos sociais e culturais definiram o mundo por décadas antes de 1914 desapareceu completamente Por 80 anos após 1914 a integração econômica global existiu apenas na imaginação de teóricos e historiadores No decorrer da década de 1920 as tentativas de reconstruir a economia mundial anterior fracassaram por diversas vezes Em 1930 as nações do mundo se esquivaram das conexões econômicas internacionais em busca de autossuficiência Após a Segunda Guerra Mundial o mundo comunista recusou o capitalismo global por princípio en quanto o mundo em desenvolvimento o rejeitou na prática Dur ante as décadas de 1950 e 1960 as nações industriais da Europa 13832 ocidental a América do Norte e o Japão rumaram em direção a laços econômicos mais fortes mas os governos continuavam a controlar a maior parte do comércio dos investimentos e da imigração Somente após 20 anos de crises e turbulências no iní cio da década de 1990 foi que as nações em desenvolvimento se voltaram para o exterior os países comunistas abandonaram a economia planificada em favor dos mercados internacionais e os Estados industrializados se livraram de boa parte do controle pré vio às relações econômicas do globo Era o retorno triunfal da globalização Assim como ocorreu há 100 anos muitos agora tomam a eco nomia mundial integrada como um fato Referemse a ela como o estado natural das coisas e esperam que esse modelo dure para sempre No entanto as bases sobre as quais o capitalismo global se ergue atualmente não são muito diferentes das de 1900 e o po tencial para um rompimento é tão presente nos dias de hoje quanto era naquela época A globalização continua a ser uma escolha não um fato É uma opção feita por governos que de forma consciente decidem re duzir as barreiras do comércio e dos investimentos adotar novas políticas em relação ao capital e às finanças internacionais e traçar novos caminhos econômicos As decisões tomadas por cada governo estão interconectadas As finanças internacionais o comércio internacional e as relações monetárias internacionais dependem da ação conjunta de governos nacionais ao redor do mundo Políticas domésticas e relações entre governos são a fonte da globalização e determinam sua duração A globalização necessita do apoio dos governos que para tal precisam de apoio político doméstico As questões econômicas in ternacionais dependem do respaldo político das nações poderosas e de grupos de poder dentro desses países A economia mundial integrada vigente antes de 1914 necessitava de ações dos governos para se sustentar Quando essas políticas se tornaram 14832 impopulares não puderam mais ser mantidas e com elas des moronou a ordem econômica internacional A economia global de hoje também depende dos pilares políticos domésticos gerados por decisões nacionais O que deve ser feito em relação à economia mundial A global ização contemporânea é inevitável É desejável Durará para sempre Sabemos agora que a percepção que se tinha do capital ismo global de 1900 era enganosa À aparente estabilidade do iní cio do século XX seguiramse décadas de conflitos e de grandes mudanças Hoje a ordem econômica internacional também parece segura mas dentro de uma perspectiva histórica isso pode significar apenas um breve interlúdio As forças que deram forma à economia do século XX continuam a influenciar a versão atual da globalização e decidirão o seu destino 15832 Introdução Rumo ao século XX Em junho de 1815 300 mil soldados se reuniram nos arredores de Bruxelas para a batalha que pôs fim às Guerras Napoleônicas As forças da GrãBretanha Prússia Áustria Rússia e Holanda se juntaram contra os franceses para definir qual grande potência controlaria o mundo À meianoite de 18 de junho a derrota francesa era evidente Do outro lado do canal dois dias e meio de pois a notícia da vitória de Wellington chegava à reunião de cúpula do governo britânico em Londres a 320 quilômetros do campo de batalha Napoleão fora derrotado e se iniciava a era da supremacia britânica A vitória dos britânicos e aliados nas Guerras Napoleônicas foi o ponto mais alto de um período de 300 anos de monarquia abso lutista e da ordem econômica que a apoiava As grandes potências europeias se organizaram para lutar por territórios e interesses mandando seus exércitos para uma série de guerras dinásticas Os governantes das regiões financiavam a parafernália militar por meio de um sistema chamado mercantilismo que eles utilizavam para manipular suas economias em busca de vantagens militares Questões políticas e diplomáticas eram prioridade as relações econômicas eram usadas como ferramentas para fortalecer e re forçar o poder dinástico e as fortunas privadas dependiam do favorecimento das famílias reais O desafio revolucionário francês a essa ordem política e econômica foi vencido em 1815 nas cer canias de Bruxelas Após 1815 a combinação da supremacia britânica da derrota francesa e do equilíbrio de poder na Europa acalmou os incess antes conflitos no continente O período subsequente passou a ser conhecido na história como a Paz dos Cem Anos porque a guerra entre grandes potências praticamente não existiu no período No entanto assim que a ordem dinástica se estabilizou sua base eco nômica ruiu No século entre o fim das Guerras Napoleônicas e o começo da Primeira Guerra Mundial as relações entre monarcas e mercados mudaram drasticamente Do mercantilismo ao livrecomércio Os monarcas absolutistas que governaram a Europa e o mundo antes de 1800 se preocupavam com as alianças geopolíticas a ex tração colonial e o tamanho e o poder de seus Estados nacionais Eles controlavam suas economias como parte das vicissitudes das políticas dinásticas manipulando o comércio por meios militares Nesse período os Estados soberanos da Europa utilizavam o sistema de controle econômico conhecido como mercantilismo para explorar os mercados coloniais e fortalecer a dominação da realeza Por vezes os exércitos da Coroa supervisionavam a ex tração de recursos naturais por exemplo ouro e prata das minas da América do Sul Na maior parte do tempo a Coroa trabalhava com príncipes mercadores monopólios oficiais da realeza como as Companhias Britânica e Holandesa das Índias Orientais para extorquir os mercados coloniais monopolizados pela metrópole O mercantilismo enriqueceu a Coroa que utilizava seus ganhos para ampliar o poderio militar Riqueza é poder escreveu o filósofo inglês Thomas Hobbes e poder é riqueza Outro pensador simil ar do mercantilismo estabeleceu as seguintes conexões Comér cio externo produz riqueza riqueza produz poder e poder pre serva nosso comércio e religião1 17832 Sob o regime mercantilista o poder colonial forçava suas pos sessões a comercializar com a metrópole para enriquecer o gov erno e aqueles que o apoiavam Os países dominados eram obri gados a vender exclusivamente para a potência que pagava um valor abaixo do preço do mercado mundial por produtos agrícolas e matériasprimas em Londres tabaco da Virgínia em Madri açúcar cubano A política mercantilista também exigia que as colônias comprassem muitos produtos das metrópoles garant indo à pátriamãe o direito de vendêlos acima do valor do mer cado mundial O sistema mercantilista abriu grande parte do mundo ao comércio mas tal atividade era regulada pela força militar em be nefício do poder dominante Os defensores intelectuais do sistema poderiam justificar essa lógica econômica exploradora argument ando que os dominadores utilizavam parte das riquezas acumula das para proteger os subjugados e que muitos nas colônias de fato apreciavam a proteção Na América do Norte por exemplo a força militar britânica protegeu os colonos dos franceses espan hóis e nativos norteamericanos a eles aliados Alguns colonos norteamericanos reclamaram especialmente agricultores da Vir gínia e mercadores da Nova Inglaterra cujas atividades eram mais diretamente afetadas pelo controle mercantilista britânico Mas para muitos parecia uma troca justa o poder militar per mitia o crescimento econômico e o crescimento econômico sob o controle mercantilista financiava o poder militar À época das Guerras Napoleônicas o mercantilismo já começava a se enfraquecer A partir de 1750 os industriais britânicos introduziram uma enxurrada de inovações tecnológicas que revolucionaram a produção Empregadores juntaram dezenas e até mesmo centenas de trabalhadores em grandes fábricas utilizando novas máquinas fontes de energia e formas de organiz ação A fiandeira e o tear mecânico transformaram a indústria têxtil O aperfeiçoamento na utilização de energia hídrica e o 18832 subsequente desenvolvimento do vapor fizeram com que as má quinas ficassem ainda mais poderosas As fábricas britânicas po diam vender mais barato que a concorrência para quase todos os mercados Os interesses econômicos criados pela Revolução In dustrial britânica consideravam o mercantilismo irrelevante ou danoso Os fabricantes britânicos queriam eliminar as barreiras comerciais do país Permitir que estrangeiros vendessem produtos à GrãBretanha prometia vários aspectos positivos Os fabricantes da nação poderiam reduzir seus custos de forma direta comprando matériasprimas a preços mais baixos e in direta uma vez que a importação de comida barata permitia que os donos das fábricas pagassem salários menores sem que houvesse uma redução no padrão de vida dos empregados Ao mesmo tempo se os estrangeiros ganhassem mais ao vender para a GrãBretanha teriam condições de comprar mais produtos do país Os industriais britânicos também se deram conta de que se os estrangeiros pudessem comprar todos os produtos manufat urados que precisassem dos baratos produtores britânicos aqueles teriam menos necessidade de desenvolver uma indústria própria Por esses motivos as classes e as regiões fabris da Grã Bretanha desenvolveram uma antipatia pelo mercantilismo e um forte desejo pelo livrecomércio À medida que a City de Londres se tornava o centro financeiro mundial ela adicionava a sua influência a outros interessados no livrecomércio Os banqueiros internacionais da GrãBretanha tinham um forte motivo para abrir os mercados do país aos es trangeiros Afinal os estrangeiros eram seus clientes O acesso dos norteamericanos ou argentinos ao próspero mercado britânico tornaria mais fácil o pagamento das dívidas desses países com Londres Os interesses financeiros e industriais organ izaram um ataque conjunto ao que o antimercantilista ferrenho Adam Smith chamou de o sórdido e maligno expediente do 19832 sistema mercantil2 Em 1820 esses mecanismos mercantilistas malignos já enfrentavam desafios constantes Os opositores ao mercantilismo se focaram nas Corn Laws taxas impostas à im portação de grãos milho em termos britânicos durante as Guer ras Napoleônicas o que aumentou de forma substancial o preço doméstico do produto Os fazendeiros britânicos no entanto estavam ávidos para manter as restrições à importação de produtos agrícolas Eles se apoiavam nas altíssimas tarifas impostas aos grãos por essas leis e argumentavam que a revogação delas seria um desastre para a ag ricultura da nação Os defensores de tais leis invocaram o desejo de serem autossuficientes na produção de alimentos a importân cia da produção agrícola para o estilo de vida britânico e os dolor osos ajustes que a enxurrada de grãos baratos imporia Os que pregavam o livrecomércio se ativeram aos benefícios do acesso a produtos de baixo custo especialmente a comida barata que a re vogação das Corn Laws traria Os fazendeiros protecionistas lutavam contra os fabricantes e banqueiros que defendiam o livre comércio Os defensores do livrecomércio venceram mas não sem antes travarem uma guerra dolorosa e prolongada A derrota do mer cantilismo exigiu reformas importantes nas instituições políticas britânicas mudanças no sistema eleitoral redução na influência das zonas rurais e o aumento do poder das cidades e de seus res identes de classe média Mesmo com a reforma eleitoral im plantada o resultado final dos votos em 1846 e 1847 foi extrema mente apertado e rachou o Partido Conservador Poucos anos de pois o Parlamento removeu os últimos vestígios do controle mer cantilista britânico no comércio exterior Quando a GrãBretanha a economia mais importante do mundo descartou o mercantilismo os outros países se depararam com novas opções Os problemas políticos da era mercantil ali anças militares e monopólios abriram caminho para os grandes 20832 debates do século XIX sobre como e se os países deveriam parti cipar do mercado global Com a GrãBretanha liberalizando o comércio muitos dos clientes e fornecedores do país fizeram o mesmo Em 1860 a França se juntou à GrãBretanha em um abrangente tratado comercial que liberalizou o comércio entre os dois países e conduziu grande parte do restante da Europa nessa mesma direção Quando os Estados Germânicos seguiram rumo à unificação em 1871 criaram uma área de livrecomércio e depois abriram seus mercados para o resto do mundo Muitos dos gov ernos do Novo Mundo também liberalizaram o comércio assim como fizeram as possessões coloniais remanescentes das potên cias europeias adeptas do livre intercâmbio de mercadorias O mercantilismo morreu e a ordem do dia era a integração aos mer cados mundiais No decorrer do século XIX o comércio dos países avançados cresceu de duas a três vezes mais rápido que suas economias No fim do período a parcela da atividade comer cial na economia mundial era sete ou oito vezes maior do que no início do século3 Os transportes e as comunicações também se desenvolveram de forma substancial Na época da Batalha de Waterloo as via gens de longa distância e os meios de transporte e de comu nicação eram todos muito caros e lentos Até o fim do século XIX telégrafos telefones navios a vapor e ferrovias substituíram cavalos pombos mensageiros e barcos a vela As estradas de ferro principal avanço para o transporte terrestre desde os tem pos dos gregos modificaram a velocidade e o custo do frete de cargas por terra O navio a vapor revolucionou o envio transo ceânico reduzindo a travessia do Atlântico de mais de um mês em 1816 para menos de uma semana em 1896 Além disso os na vios a vapor podiam viajar mais rápido carregar mais carga e op erar com menos custos que os barcos a vela 21832 As novas tecnologias expandiram o mercado efetivo da maior ia dos produtos reduzindo para poucos dias a distância entre to do o mundo moderno Em 1830 o custo para transportar via ter restre uma tonelada de carga por cerca de 480 quilômetros era de mais de 30 dólares do centro da Pensilvânia a Nova York de Berlim a Bonn de Lyon a Paris e outros dez dólares para enviá la pelo Atlântico Este era um gasto proibitivo para os produtos pesados como trigo ou barras de ferro uma tonelada de cada produto custava quase os mesmos 40 dólares do transporte por terra ou mar dessa quantidade de mercadoria Assim antes de meados do século XIX a maioria dos produtos comercializados de forma internacional era extremamente cara leve e não perecível especiarias tecidos finos metais preciosos e produtos agrícolas com uma alta relação custopeso como algodão e tabaco No século XIX as ferrovias reduziram em 45 o custo do transporte terrestre e o navio a vapor reduziu em mais de 23 Para se trans portar uma tonelada de carga por terra pelos mesmos 480 quilô metros o custo agora era de cinco dólares em vez de trinta em terra e três dólares em vez de dez para cruzar o Atlântico O preço médio do transporte dessa tonelada de produtos do interior dos Estados Unidos até a Inglaterra diminuiu de 40 para oito dólares de quase o mesmo preço da tonelada de trigo ou barra de ferro para 15 de seu valor A revolução nos transportes aumentou em 20 vezes a capacid ade do envio de mercadorias durante o século XIX4 A Europa in undou o mundo com manufaturados ao mesmo tempo que era in undada pelos produtos agrícolas e matériasprimas das pradarias e pampas da Amazônia e da Austrália Com as novas tecnologias nos meios de transporte e o triunfo do livrecomércio britânico o mundo dos mercantilismos militar izados nacionais abriu espaço para um mercado verdadeiramente internacional A velha ordem defendida com armas em Waterloo terminou e fora substituída por um novo capitalismo global A 22832 força dominante passou a ser o mercado não o monarca Por telé grafo e telefone as notícias corriam o mundo em minutos não mais em semanas ou meses Investidores de Londres a Paris pas sando por Nova York Buenos Aires ou Tóquio teciam uma rede de capital global quase homogênea Desde a batalha de Waterloo o mundo mudava em todas as dimensões políticas tecnológicas financeiras e diplomáticas Da prata ao ouro O padrãoouro se tornou o princípio organizador do capitalismo global durante o século XIX Por centenas de anos antes de 1800 a maioria dos países utilizava o ouro e a prata como moedas inter cambiáveis Os mercadores preferiam a prata o cobre e outros metais baratos para as transações locais e o ouro mais valioso para as internacionais Em 1917 no entanto Sir Isaac Newton master of the mint o cargo mais alto na Casa da Moeda Britânica a Royal Mint padronizou a moeda inglesa e pôs o país na prática no padrãoouro senão também na teoria a prata con tinuava a ser legalmente oferecida mas deixou de ser usada O Reino Unido era praticamente o único país monometálico A nação se desviou do padrãoouro temporariamente apenas uma vez após as Guerras Napoleônicas Quase todos os outros Estados eram bimetálicos e utilizavam tanto o ouro quanto a prata Cen tenas de anos de utilização mista de ouro e prata chegaram ab ruptamente ao fim na década de 1870 Novas descobertas re duziram o preço da prata e desestabilizaram o câmbio entre as duas moedas de modo que os governos teriam de modificar a taxa ou optar por um dos metais Enquanto isso como o comércio e os investimentos internacionais cresciam o ouro meio internacional de troca se tornou mais atraente que a prata moeda doméstica Por fim o status da GrãBretanha como líder do mercado global 23832 atraiu outros países para a utilização do mesmo sistema monetário Na década de 1870 as principais nações industriais aderiram ao padrãoouro Quando o governo de uma nação adotava o sistema comprometiase a trocar sua moeda por ouro a uma taxa preestabelecida A moeda do país se tornava equivalente ao ouro e podia ser trocada a uma taxa fixa pela de qualquer outro Estado que também tivesse adotado o mesmo padrão A Alemanha ad otou o padrãoouro em 1872 a Escandinávia em 1873 a Holanda em 1875 a Bélgica a França e a Suíça em 1878 e os Estados Un idos em 1879 Enquanto em 1871 apenas a GrãBretanha e algu mas de suas colônias e Portugal aliado do país haviam adotado o sistema em 1879 a maior parte do mundo industrial seguia o padrãoouro Com a situação na qual as principais moedas do planeta po dem ser diretamente convertidas em ouro a taxas fixas o mundo industrial basicamente compartilhava de uma moeda corrente in ternacional De fato para os Estados que adotaram o padrão o ouro era a moeda global comum mas com nomes distintos marco franco libra dólar em países diferentes O dinheiro fix ado em ouro investido pelos alemães no Japão ou pelos belgas no Canadá era devolvido em montantes equivalentes de dinheiro fix ado em ouro Os preços acordados não flutuavam uma vez que as taxas de câmbio eram fixas Sob o padrãoouro tais taxas para trocas entre a libra e o marco o franco e o dólar e outras moedas eram fixadas por tanto tempo que como é dito nas escolas as cri anças as sabiam de cor por serem tão estáveis quanto a tabuada A previsibilidade do padrãoouro facilitou o comércio os emprés timos os investimentos a migração e os pagamentos internacion ais Banqueiros e investidores se sentiam seguros com as dívidas sendo pagas em quantidades equivalentes de ouro e com a ob tenção de lucros nas moedas correntes fixadas no metal 24832 Outras forças também facilitavam as finanças internacionais Com o desenvolvimento do telégrafo a informação podia ser transmitida de forma instantânea de qualquer área desenvolvida a investidores em Londres Paris ou Berlim O jornalismo fin anceiro se tornou internacional com acontecimentos passados em Buenos Aires estampados no dia seguinte nas primeiras pági nas dos jornais de Londres ou Paris Os investimentos internacionais dispararam Cidadãos dos países ricos investiram grandes porções de suas economias no ex terior Os investimentos estrangeiros amplamente feitos por meio de ações e títulos correspondiam a 13 das economias ingle sas a 14 das francesas e a 110 das alemãs5 Os mercados mundi ais de produtos e capitais eram ligados mais fortemente do que nunca pelo livrecomércio pelo padrãoouro e pelas novas tecno logias de transportes e comunicações Ameaças à ordem global Nem todos deram boasvindas à integração econômica Com a abertura da economia mundial e a aplicação de novas tecnologias de transportes os grãos baratos do Novo Mundo invadiram o mercado mundial A queda dramática dos preços agrícolas devastou muitas áreas rurais do Velho Mundo e levou muitas re giões da Escandinávia à Sicília a uma situação próxima da fome A mudança tecnológica também não foi algo inofensivo As novas técnicas de fabricação tornaram os artesãos obsoletos e com os avanços na produtividade agrícola os trabalhadores do campo perderam importância A produção de quase todos os bens agrícolas aumentou de forma significativa devido às mudanças tecnológicas mas os benefícios desses avanços não eram distribuídos de forma proporcional Quando uma máquina e cinco homens passaram a fazer o trabalho de cem deles o 25832 benefício para a sociedade era evidente Mas mesmo que alguns dos outros 95 homens tenham sido empregados para produzir as máquinas a maioria precisou abandonar a vida que estava acos tumado a ter e buscar outras formas de sustento Ou seja o comércio e as tecnologias que aumentaram a renda agregada tam bém arruinaram milhões de trabalhadores e produtores agrícolas A nova economia mundial também teve um duplo impacto nos países pobres Algumas regiões subdesenvolvidas cresceram de forma veloz mas outras na África Ásia e América Latina ou nas áreas de colonização recente onde as fronteiras se diluíam como a América do Norte teriam apreciado um mundo sem metralhadoras de Gatling navios a vapor e ferrovias que conce diam aos europeus a vantagem de afirmar sua dominação Com efeito entre os avanços tecnológicos mais devastadores estavam as armas de destruição em massa cujo potencial fora demon strado de fato apenas depois de 1913 O abismo tecnológico e in dustrial que se aprofundou ainda mais entre as nações pobres e ricas gerou uma nova rodada de conquistas coloniais O fenômeno macroeconômico que eclodira na história como a Grande Depressão de 18731896 contribuiu para a insatisfação com o livrecomércio e o padrãoouro O nome talvez fosse en ganoso uma vez que a Depressão não foi um colapso econômico mas uma queda gradual e contínua dos preços ao redor do mundo De 1873 a 1896 os preços caíram cerca de 22 no Reino Unido 32 nos Estados Unidos e numa percentagem ainda maior em outros lugares6 Essa depressão nos preços que origin ou o nome do episódio gerou problemas sérios Ganhos e preços diminuíram mas o ônus da dívida permaneceu o mesmo A ex pectativa de futuras quedas no valor dos produtos causou pessim ismo e incerteza O fato mais importante era que a queda dos preços não havia sido uniforme O valor dos produtos não manu faturados incluídos no comércio mundial caiu particularmente rápido Matériasprimas como o trigo o algodão e o carvão 26832 sofreram reduções de 59 58 e 57 respectivamente Mas o valor de outros produtos e serviços não diminuiu ou ocorreu de forma mais lenta Por exemplo os preços dos bens agrícolas norteamericanos foram reduzidos em mais de 13 o valor dos minérios caiu pela metade mas os custos na construção permane ceram constantes7 A mudança nos preços desencadeou protestos sociais nas regiões agrícolas e mineradoras do mundo Os produtores atingidos pela queda dos preços buscavam alí vio se protegendo das importações Produtores agrícolas e fabric antes exigiam e frequentemente recebiam tarifas protecionistas que invertiam a tendência anterior da busca por um comércio mais livre França e Itália se engajaram numa guerra comercial ainda mais dura Os Estados Unidos já nessa época a maior eco nomia mundial ergueram muros de proteção ao redor de seu mercado doméstico e a Alemanha a segunda maior potência eco nômica aumentou as tarifas de muitos produtos Quase sozinhos a GrãBretanha e os Países Baixos continuavam a insistir no livre comércio mas mesmo nessas regiões os fabricantes começavam a exigir um governo que os defendesse dos importados feitos pela mão de obra barata da Europa continental e da América do Norte Para os que acreditavam estar do lado perdedor da economia global o padrãoouro se tornou um símbolo poderoso da odiada Pax Britannia econômica8 Os norteamericanos que se opunham ao ouro insistiam Uma vasta conspiração contra a humanidade foi organizada em dois continentes e está rapidamente tomando conta do mundo9 De acordo com a ativista antipadrãoouro Mary Elizabeth Lease os defensores do metal foram cooptados por essa conspiração O país pertence a Wall Street O dinheiro é que manda e o nosso vicepresidente é um banqueiro de Lon dres10 Enquanto os preços caíam de forma particularmente radical no início da década de 1890 as reclamações contra o sistema gan havam força Produtores agrícolas e mineradores acreditavam que 27832 se abandonassem o padrão os governos poderiam aumentar os preços Nos Estados Unidos ativistas contra o padrãoouro gan havam uma eleição após outra nas regiões mineradoras e agrí colas do país Na América Latina e na Ásia a impopularidade do sistema fazia com que poucos países da região aderissem a ele Itália Espanha e Portugal o abandonaram Os impérios russo e austrohúngaro resistiram a adotálo A força do padrãoouro que mantinha o capitalismo global unido parecia se enfraquecer Com o estremecimento do padrãoouro o sistema financeiro internacional começou a demonstrar sinais de cansaço A Grande Depressão atingiu de forma particularmente dura as nações deve doras minando sua capacidade de pagar os credores As finanças sulamericanas enfraqueceram e em 1890 rumores de que a Ar gentina daria um calote na dívida provocou o colapso do Baring Brothers de Londres um dos maiores bancos de investimentos do mundo Um pânico financeiro alastrouse pelos Estados Unidos e em 1893 os investimentos estrangeiros passaram a evitar o país que na época era o que mais solicitava empréstimos no planeta Após quase 30 anos de crescimento ininterrupto os fluxos fin anceiros diminuíram Entre as principais potências a Grande Depressão provocou atritos ainda maiores que os que já existiam havia décadas Na maior parte do século XIX a luta por mercados externos limitava se principalmente à competição comercial e os impérios coloniais europeus haviam sido substancialmente reduzidos No entanto na última década do período uma nova rodada de expansões co loniais se iniciou na África no Oriente Médio e na Ásia Em parte isso pode ser explicado pela busca desesperada dos países produtores ricos por mercados Ocasionalmente essa aspiração colonial reacendida se alimentava de outras tendências geopolític as para exacerbar atritos adormecidos11 Na década de 1890 as sombras da guerra já pareciam estar por toda parte Tropas francesas cruzaram o Sudão em marcha 28832 até Fashoda reivindicando territórios que os britânicos alegavam ser de sua propriedade O aventureiro britânico L Starr Jameson liderou um ataque repentino ao Transvaal a gota dágua que des encadeou a Guerra dos Bôeres Tropas etíopes e italianas se en frentaram de forma dura nas montanhas da Etiópia assim como britânicos e soldados ashantis na África ocidental Japão Rússia e as potências europeias disputavam posições no Extremo Oriente enquanto insurgentes nas Filipinas espanholas e nos locais colon izados pela Companhia Holandesa das Índias Orientais lutavam pela independência de suas ilhas No Ocidente as atividades dos norteamericanos baseados em Cuba que lutavam pela liberdade da ilha suscitaram o fantasma dos distúrbios políticos no Caribe e acirraram as já tensas relações entre norteamericanos e espanhóis No fim do século XIX os acontecimentos pareciam ameaçar a essência do capitalismo global Tudo era questionado o livre comércio o padrãoouro as finanças internacionais e até mesmo a paz entre as grandes potências Em todo o mundo vozes eco avam pela proteção do comércio e contra o ouro e a integração econômica A cada nova crise desencadeavamse novos conflitos violentos de interesses e ideias 29832 parte I Os últimos e melhores anos da Era de Ouro 18961914 1 Capitalismo global triunfante Quando a primavera de 1896 chegava às Grandes Planícies norte americanas os fazendeiros enfrentavam temerosos o período do plantio O valor dos produtos agrícolas continuava a cair O bushela do trigo que por décadas havia se estabilizado em um dólar chegou ao fim de 1982 valendo menos de 90 centavos em 1893 custava por volta de 75 centavos e no fim de 1894 mal podia ser vendido a 60 centavos No fim do inverno de 18951896 o preço do bushel foi abaixo dos 50 centavos Nas Dakotas e em outras regiões remotas isso significava que o valor pago aos fazendeiros era cerca de 30 centavos apenas 13 do que eles es peravam receber Enquanto os preços agrícolas despencavam os insumos que os produtores agrícolas necessitavam estavam mais caros do que nunca Os valores de maquinário ferramentas e fertilizantes per maneciam altos Os custos do transporte terrestre se mantiveram estáveis e até subiram O preço dos empréstimos seguia da mesma forma sem demonstrar piedade aos fazendeiros que ganhavam metade ou 13 do que recebiam quando pediram o dinheiro emprestado Desamparados os produtores agrícolas norteamericanos or ganizaram o primeiro verdadeiro movimento de massa O Movimento Populista e seu Partido elegeram centenas de legis ladores estaduais dezenas de senadores federais e membros no Congresso de todas as regiões agrícolas de sul e oeste do país Em 1892 o candidato à Presidência pelo partido recebeu mais de um milhão de votos O programa populista exigia primeiramente e acima de tudo que os Estados Unidos abandonassem o padrãoouro A plata forma do partido denunciava que sob o padrãoouro o forneci mento de moeda se resumia propositadamente a engordar a usura levar empresas à falência e escravizar a indústria1 A solução para aquilo o que os populistas chamavam de a questão do dinheiro era se livrar do esquema liderado pelos britânicos para enriquecer os banqueiros investidores e comerciantes inter nacionais à custa de produtos provenientes da agricultura e da mineração Em vez disso os Estados Unidos deveriam abandonar o ouro e adotar a prata a uma taxa de câmbio desvalorizada o que aumentaria os preços agrícolas e reduziria os juros Com a piora nas condições agrícolas os fazendeiros norte americanos prestaram atenção às sugestões da ativista populista Mary Elizabeth Lease de produzir menos trigo e mais confusão Com raiva os produtores agrícolas atacavam os defensores do ouro cuja insistência por um padrão global estava destruindo a existência dos fazendeiros Milhares deles clamavam pela altern ativa do padrão prata a salvação para os produtores agrícolas e mineiros O Partido Democrata então no poder não podia ignorar a concorrência dos populistas O presidente Grover Cleeveland fora um fiel defensor do padrãoouro mas agora seu Partido Demo crata estava tomado por amargurados opositores ao padrão que acusavam Cleeveland e outros líderes do partido de traidores Como os preços dos produtos agrícolas permaneciam baixos em julho realizouse em Chicago a Convenção Nacional dos Demo cratas Toda a discussão girou em torno de como os populistas e 32832 aqueles que os apoiavam estavam transformando a campanha presidencial de 1896 em uma célebre batalha de padrões Ativistas antiouro tomaram de assalto a convenção e o Partido Democrata Um jovem representante do Nebraska no Congresso incitou os participantes da convenção e o país com um provocat ivo chamado às armas William Jennings Bryan ignorou o apelo dos líderes financeiros do partido Vocês vêm até aqui nos dizer que as grandes cidades são a favor do padrãoouro Respondemos que as grandes cidades dependem de nossas amplas e férteis pradarias Ponha fogo nas suas cidades e abandone nossas fazendas suas cidades renascerão como num passe de mágica Mas destrua nossas fazendas e a grama crescerá nas ruas de cada cidade do país Em nome da maioria do partido Bryan desafiou os defensores do ouro em casa e no exterior Vocês não podem pressionar essa coroa de espinhos contra a testa dos trabalhadores vocês não po dem crucificar a humanidade com uma cruz de ouro A oposição irredutível de Bryan ao padrãoouro e às finanças internacionais rendeu a ele a nomeação como candidato demo crata às eleições presidenciais A vitória foi um surpreendente repúdio à elite empresarial do nordeste do país O jornal The Times de Londres informou de Chicago Esta não é mais uma convenção e sim uma insurreição política O Partido Democrata daqui em diante será governado como Bismar ck disse que o mundo não poderia ser governado de baixo para cima Houve uma revolta na nata da política e estranhas criaturas sur giram2 Os líderes financeiros da Europa e do mundo assistiam choca dos às violentas críticas contra o padrãoouro e o desafio às bases da ordem econômica internacional Os Estados Unidos eram a maior economia do mundo o principal solicitador de 33832 empréstimos e o mais importante destino do capital internacional e também de imigrantes Agora impunham uma grande ameaça à ordem econômica global A questão não é mais apenas entre a prata e o ouro mas entre a sociedade e uma forma muito rudi mentar de socialismo3 escreveu um repórter do Times A nova plataforma do Partido Democrata bradava o correspondente britânico era a doutrina do repúdio público e privado à falta de lei à guerra contra a propriedade e aos direitos públicos e priva dos4 Os termos talvez fossem exagerados mas a preocupação era real se os democratas vencessem e implementassem sua plataforma política o padrãoouro correria perigo no resto do mundo Quando o frenesi político chegou ao auge as tendências mundanas começaram a abalálo Novas descobertas de minas de ouro trouxeram para o mercado mais quantidades do metal pre cioso Uma vez que o suprimento de ouro aumentou os preços subiram No fim de agosto de 1896 o preço do trigo começou a subir primeiro lentamente e depois de forma mais rápida Até o fim de outubro com a proximidade das eleições norteameric anas o preço do trigo estava quase 50 mais alto do que estivera durante o verão Em 3 de novembro os eleitores norteamericanos derrotaram por uma pequena margem os democratas e suas críticas ao padrãoouro Os defensores do ouro se organizaram em massa e empresas do nordeste norteamericano contribuíram com somas milionárias para a campanha presidencial do republicano William McKinley O aumento nos preços agrícolas suavizou o descon tentamento especialmente nas regiões que oscilavam entre os democrataspopulistas e os republicanos No fim a margem foi pequena mas o jornal The Times esperava que aquilo fosse sufi ciente para acabar de enterrar o bryanismo o silverismo o so cialismo e todos as propostas revolucionárias da plataforma de 34832 Chicago O correspondente do jornal reportou da capital fin anceira da nação O cenário em Nova York supera qualquer descrição À meianoite multidões continuam a encher as ruas Bandas tocam bandeiras se agitam luzes piscam corações batem o céu é iluminado e em cada quarteirão os sorrisos radiantes continuam a fluir com grande alegria das boasnovas de que mais uma vez essa República utilizo a frase de Lincoln irá viver e não morrer O significado do triunfo repub licano de hoje reside neste fim5 E assim terminou a Grande Depressão de 18731896 Em seu lugar emergiu o grande feito da Era de Ouro do capitalismo glob al duas décadas de crescimento e globalização O fortalecimento do padrãoouro Os anos entre 1896 e 1914 foram o auge da integração econômica internacional A deflação de 18731896 foi interrompida e as ameaças ao capitalismo global se dissiparam Pela primeira vez em 20 anos os preços cresciam de forma contínua entre 1896 e 1913 cerca de 16 na GrãBretanha e por volta de 41 nos Esta dos Unidos O valor das matériasprimas e produtos agrícolas aumentou particularmente rápido Os preços dos produtos agrícolas norteamericanos que caíram 38 entre 1875 e 1896 aumentaram 78 de 1896 a 1913 O tão importante preço do trigo norteamericano caiu para menos de 50 centavos o bushel em 1896 mas voltou a custar um dólar dez anos depois Produtores agrícolas e mineiros podiam concentrarse em inverter a promessa populista produzindo mais milho e menos confusão Diante do relaxamento das tensões no início e em meados da década de 1890 governos entregaram com entusiasmo suas eco nomias aos mercados mundiais À medida que o comércio 35832 internacional crescia os conflitos comerciais se enfraqueciam Os empréstimos e investimentos internacionais avançaram de modo que antes da Primeira Guerra Mundial a GrãBretanha exportava mais da metade do total de seu capital De forma geral a hostilid ade em relação ao padrãoouro às finanças internacionais e à eco nomia global desapareceu Até mesmo os conflitos militares e políticos entre as grandes potências se atenuaram Os anos de abertura do século XX foram o mais próximo de um mercado mundial sem barreiras para produtos capitais e tra balho que o planeta já vira Levaria 100 anos até que o mundo at ingisse novamente esse nível de globalização Além disso a eco nomia internacional integrada crescia na maior velocidade já re gistrada pela história A produção e a renda aumentaram e não apenas nas nações ricas Muitos países relativamente subdesen volvidos cresceram de forma dramática As economias do Canadá e da Argentina mais do que triplicaram e a renda per capita desses países quase dobrou6 Em menos de 20 anos essas duas nações deixaram de ser muito mais pobres do que a França e a Alemanha e se tornaram bem mais ricas que esses dois países A reviravolta dos preços que suavizou as críticas ao padrão ouro era em parte gerada pelo próprio sistema Em um mundo onde as principais moedas tinham base no ouro um declínio dos preços dos produtos significava o mesmo que um aumento no val or do metal Quando os preços de um bushel de trigo caíram de um dólarouro para meio dólarouro o mesmo dólarouro podia comprar duas vezes mais trigo O preço baixo dos produtos acar retava alto preço do ouro e tal preço alto era um bom motivo para se procurar mais do metal Exploradores percorreram o mundo e começaram a fazer novas descobertas importantes no fim da década de 1880 A corrida pelo ouro se dava de forma sucessiva da África do Sul à Austrália passando por Yukon e pelo oeste norteamericano e no fim da década de 1890 o novo estoque mundial de ouro era duas vezes maior do que o da década 36832 anterior Quando o novo suprimento de ouro foi despejado nas re servas financeiras o valor do metal diminuiu Já que ouro era dinheiro um declínio no valor do ouro era o mesmo que um aumento no preço dos produtos uma redução pela metade no val or do metal significava a duplicação dos preços dos produtos em termos de taxaouro Dessa forma novas reservas de ouro levaram a um aumento generalizado dos preços Enquanto os preços aumentavam após 1896 o ouro se tornou menos objeto de controvérsias políticas e países que o evitavam aderiram a ele o Japão e a Rússia em 1897 a Argentina em 1899 o Império AustroHúngaro em 1902 o México em 1905 o Brasil em 1906 a Tailândia em 1908 Até mesmo a Índia que ad otava a prata havia séculos foi empurrada pelos britânicos para uma variação do padrãoouro um processo complicado que in spirou um trecho da peça escrita por Oscar Wilde em 1895 A im portância de ser prudente A pudica Srta Prism dá instruções à sua pupila Cecily O capítulo sobre a baixa da rupia pode ser omitido É demasiado sensacionalista Até mesmo esses prob lemas monetários têm seu lado melodramático7 Em 1908 a Ch ina e a Pérsia eram os únicos países que praticavam alguma im portação a permanecer fora do padrãoouro O padrãoouro era central para a integração econômica inter nacional Gerava uma previsibilidade e uma estabilidade que fa cilitavam muito o comércio os investimentos as finanças a mi gração e as viagens internacionais Empresários investidores e imigrantes não precisavam se preocupar com mudanças nas taxas de câmbio com controles monetários nem com qualquer outro impedimento à movimentação de dinheiro ao redor do mundo O impacto no comércio foi substancial estimase que a adoção do padrãoouro nesse período tenha aumentado cerca de 30 a 70 o comércio entre dois países quaisquer8 O padrãoouro era mais importante para as finanças inter nacionais do que para o comércio Os financistas internacionais 37832 julgavam a adoção do padrãoouro uma obrigação dos membros bemcomportados da economia mundial clássica um sinal de que um país era economicamente confiável9 Os investidores tinham bons motivos para focar no compromisso dos governos com o padrãoouro Manterse no padrão poderia ser difícil e sobre tudo exigiria conter uma certa resistência política Os invest idores sabiam que um governo que desejasse e fosse capaz de su perar a oposição ao ouro provavelmente também honraria a dívida externa mesmo diante de protestos domésticos Como viria a ser também anos mais tarde especialistas financeiros britânicos e norteamericanos ou o Fundo Monetário Inter nacional davam garantias aos emprestadores aprovando polític as governamentais Dessa forma para um país qualquer ser membro do clube do ouro já de início lhe conferia uma certa bênção O padrãoouro significava integridade financeira por exigir dos governos políticas econômicas que se ajustassem às pressões da economia global A adesão ao ouro forçava as economias nacionais ao ajuste quando elas gastavam além do que podiam Se uma nação abrisse um déficit ao importar mais do que exportar gastaria uma quantidade de dinheiro ou seja de ouro superior ao montante recebido com as vendas internacionais para pagar pelas importações Com a saída de ouro do país a oferta interna de dinheiro diminuiria assim como o poder de compra da nação Isso reduziria a demanda e dificultaria as vendas dos produtores nacionais que precisariam reduzir os preços e forçar uma queda nos salários Dessa forma pelo próprio funcionamento do padrãoouro o país que gastasse mais do que recebesse estaria fadado a reduzir os preços e salários a gastar menos e a produzir de forma mais barata Se o processo se desse de maneira con stante logo a economia reagiria Assim que os salários e preços caíssem os estrangeiros comprariam mais produtos desse país e os locais adquiririam menos bens de fora Portanto o preço dos 38832 importados diminuiria e as exportações cresceriam devolvendo o equilíbrio ao Estado O padrãoouro agia como um regulador metálico impondo re strições aos salários e aos preços Na década de 1750 o filósofo es cocês David Hume identificou esse processo regulador que rece beu o nome de modelo de fluxo de moedas metálicas uma vez que mudanças nos preços levavam a fluxos específicos de moeda ouro que tendiam a forçar os preços e as economias a recuperar o equilíbrio Qualquer país no padrãoouro que gastasse mais do que ganhasse ou pudesse pegar emprestado seria forçado pela forma como o sistema operava a inverter esse quadro reduzir gastos e salários retomando o equilíbrio Os governos do padrão ouro privilegiavam os laços internacionais em detrimento das de mandas internas impondo austeridade e cortes de salários a uma população relutante a fim de aderir ao regime Isso fez do padrãoouro o teste de fogo que os investidores internacionais utilizavam para julgar o grau de confiabilidade financeira de gov ernos nacionais10 O estímulo do padrãoouro ao comércio investimentos e mi gração internacionais foi ajudado por avanços tecnológicos nas áreas de transportes e comunicações por condições macroecon ômicas geralmente favoráveis e pela atmosfera pacífica entre as grandes potências Todos esses fatores permitiram que as eco nomias do mundo ficassem cada vez mais intimamente integradas à medida que a Era de Ouro avançava A utilização de ferrovias e navios a vapor ambos já em curso em 1870 se expandiu ainda mais rapidamente a partir desse mo mento Houve uma corrida extraordinária para a construção de ferrovias em regiões subdesenvolvidas nas décadas que pre cederam 1914 Em 1870 a imensidão da América Latina Rússia Canadá Austrália África do Sul e Índia contava com quase a mesma quilometragem de linhas férreas que a GrãBretanha Em 1913 o tamanho da malha ferroviária dessas regiões já era dez 39832 vezes maior do que a da GrãBretanha A Argentina sozinha pas sou de umas poucas centenas de quilômetros de ferrovias para um sistema mais extenso que o britânico11 O desenvolvimento de tur binas a vapor na década de 1890 aumentou a velocidade dos navi os e posteriormente novas embarcações movidas a petróleo com sistema de combustão de diesel passaram a competir com a ener gia a vapor O desenvolvimento do sistema de refrigeração fez com que pela primeira vez o transporte de produtos perecíveis fosse possível permitindo que a Argentina exportasse carne res friada e Honduras banana Todos esses adventos reduziram de forma dramática o tempo e os custos para se levar esses produtos aos mercados Nos 20 anos que precederam 1914 o custo do en vio transoceânico de produtos à GrãBretanha caiu em 13 ao passo que em média os preços dos produtos exportados cres ceram na mesma proporção Empurrado pelos avanços nos meios de transporte o comércio internacional que em 1896 correspondia a menos de 8 bilhões de dólares passou a atingir mais de 18 bilhões em 1913 Mesmo com as correções devido à inflação esse valor era quase o dobro Para a maior parte dos produtos havia algo como um mercado mundial integrado de forma que os preços se tornavam mais parecidos com o passar do tempo mesmo entre os países separados por milhares de quilômetros O trigo e o ferro são bons exemplos Em 1870 esses dois produtos significavam custos quase proibitivos para o comércio o que resultava em grandes diferenças de preços dos dois produtos entre os países O trigo que em Chicago custava US 100 valia 158 em Liverpool De forma semelhante o ferrogusa na Filadélfia custava 85 a mais do que em Londres Em 1913 o aperfeiçoamento tecnológico havia reduzido os custos dos transportes e padronizado os preços Agora o preço do trigo era apenas 16 mais alto em Liverpool do que em Chicago e o ferrogusa custava somente 19 a mais na Filadélfia do que em 40832 Londres Os preços das commodities mais importantes do mundo convergiram em Sydney e Chicago Odessa e Buenos Aires12 Em momentos anteriores quando o comércio internacional era caro e incerto não participar dele tinha poucos custos Era fá cil abdicar das oportunidades comerciais que eram arriscadas e periféricas Mas quando o transporte internacional evoluiu de barcaças e barcos a vela para ferrovias e navios a vapor os produtores tinham mais incentivos para exportar e os consum idores para importar Os custos do isolamento aumentavam à me dida que a abertura se expandia Ao mesmo tempo o telégrafo mundial significava uma trans missão instantânea de informação de qualquer área dotada de al gum avanço para os bancos de investimentos e comerciantes de Londres Paris e Berlim O desenvolvimento do telefone que era bem mais conveniente que o telégrafo facilitou enormemente as telecomunicações Os investidores expandiram os interesses glob ais e os investimentos internacionais cresceram ainda mais rápido que o comércio mundial atingindo 44 bilhões de dólares às vésperas da Primeira Guerra Mundial Grande parte do rápido crescimento das regiões em desenvolvimento como os Estados Unidos e a Austrália foi financiada por investidores estrangeiros Os estrangeiros eram responsáveis por mais de 13 dos investi mentos recebidos pelo Canadá e por volta de 34 dos destinados a alguns países da América Latina Em 1913 os investidores de fora eram donos de 15 da economia australiana e de metade da ativid ade econômica argentina O fluxo de dinheiro vindo de outros lugares não era apenas importante para os países em rápido cres cimento que utilizavam o capital mas também era fundamental para as economias europeias que faziam esses investimentos No começo do século XX os investimentos externos eram os respon sáveis por algo em torno de 14 a 13 da riqueza das principais potências13 41832 A imigração internacional também disparou Milhares de pessoas tomaram conhecimento das dinâmicas regiões do Novo Mundo assim como de outros lugares e deixaram as cidades pobres da Europa e da Ásia Na primeira década do século a emigração atingiu 3 da população de GrãBretanha Itália e Sué cia 5 dos cidadãos espanhóis e 7 dos portugueses Do lado re ceptor os imigrantes nessa década formavam 6 da população norteamericana 13 da canadense e surpreendentes 43 da população argentina Às vésperas da Primeira Guerra Mundial grandes parcelas dos habitantes das economias que mais cresciam no mundo eram formadas por imigrantes Na verdade metade dos 13 milhão de moradores de Buenos Aires havia nascido no exterior14 O número dos que deixaram suas terras nativas na Ásia era quase o mesmo dos que abandonaram a Europa A maioria era de chineses que foram para o Sudeste Asiático e o Novo Mundo Os indianos foram em massa para terras africanas e asiáticas ao longo do Oceano Índico e para o Caribe Muitos dos migrantes as iáticos iam com contratos preestabelecidosb e eram obrigados a trabalhar principalmente nas grandes plantações nos locais de destino Uma ampla proporção de imigrantes asiáticos retor nava à terra natal em parte devido ao próprio acordo em parte porque as condições de vida em Trinidade ou nas Filipinas era menos atraente do que em São Francisco e Sydney Muitos porém ficaram e estabeleceram comunidades chinesas indianas e de outros países asiáticos de Lima a Cidade do Cabo de Cingapura ao Havaí A reversão da grande deflação de 18731896 o desenvolvi mento tecnológico e a relativa estabilidade econômica con tribuíram para a rápida integração da economia global antes de 1914 O padrãoouro o comércio e as finanças internacionais mantinham a economia mundial mais coesa do que nunca 42832 Especialização e crescimento Os países que se lançaram na economia global desses anos doura dos se remodelaram de acordo com as novas posições que encon traram no mercado mundial Cada região se especializou no que sabia fazer de melhor A GrãBretanha gerenciava os investimen tos operava os sistemas comercial e financeiro mundial além de garantir e supervisionar os mecanismos de comunicação e de en vio de mercadorias A Alemanha produzia ferro aço produtos químicos e equipamento pesado para as ferrovias minas plantações e rotas de envio de carga Argentina África do Sul e Austrália usavam capital britânico e maquinário alemão para es tabelecer novas minas e fazendas e para transportar o minério de volta para a Alemanha a fim de manufaturálo Parte dos ganhos era destinada à GrãBretanha como juros pelos investimentos Países grupos e regiões se tornavam cada vez mais especializ ados Pessoas empresas áreas e nações desistiram das atividades que não desempenhavam tão bem para que pudessem se con centrar naquelas em que eram particularmente bons Em outros tempos os países tentariam a autossuficiência mas agora se ded icavam a produzir e exportar aquilo que mais sabiam e comercial izar o resto As indústrias da Europa ocidental inundaram o mundo com maquinário e equipamentos para o cultivo das fazendas o funcio namento das minas e a construção de estradas de ferro e portos que escoassem seus produtos até os mercados Investidores europeus forneciam o capital para financiar os enormes projetos das construções onde esses equipamentos seriam empregados As regiões do Novo Mundo Ásia e África ricas em recursos se con centravam em trazer sua riqueza mineral e agrícola para o mer cado Os trabalhadores excedentes do interior da Europa e da Ásia foram mandados para ajudar nas novas minas plantações e usi nas E à medida que os pampas e as pradarias Yukon e 43832 Witwatersrand Trinidad e Sumatra entregavam suas riquezas os industrialistas investidores e imigrantes eram pagos com os lucros originados no que haviam investido O capitalismo global tornou a especialização algo possível Países fabricantes fazendeiros e mineiros podiam se concentrar unicamente em produzir seus melhores bens e serviços caso tivessem acesso a mercados grandes o suficiente para vender o que produzissem e comprar o que consumissem Agora pela primeira vez isso era possível O padrãoouro o livrecomércio e os novos meios de transporte criaram um mercado global con veniente acessível e previsível Grãos cobre minério de ferro carvão e até mesmo carne e banana podiam ser enviados por na vio a quase qualquer lugar ao redor do mundo a baixos custos In vestidores podiam comprar ações e títulos de empresas de gov ernos distantes e monitorar seu progresso com facilidade Os europeus podiam comprar comida barata do Novo Mundo e con centrar seus esforços produtivos nas técnicas industriais que ino varam e aperfeiçoaram Os argentinos poderiam se concentrar em trabalhar a terra das planícies mais férteis do mundo para plantar grãos e criar gado e utilizar os lucros para importar produtos manufaturados da Europa Produtores agrícolas e mineiros nas regiões recémespecializa das expandiram a produção em uma velocidade extraordinária Nos 20 anos que precederam a Primeira Guerra Mundial a quan tidade de terras destinadas à plantação de trigo na Argentina e no Canadá aumentou de 7 a 8 milhões de hectares em cada país para cerca de 32 milhões de hectares Uma vez que os agricultores pas saram a cultivar novas terras e intensificaram a produção das já existentes a quantidade de trigo café chá e algodão produzidos no mundo mais do que dobrou de 1870 a 191315 No mundo em desenvolvimento os produtores de outros bens recémnegociá veis avançaram de forma ainda mais rápida Em menos de 50 anos da virada do século à Primeira Guerra Mundial a produção 44832 mineradora das áreas em desenvolvimento quase triplicou Entre 1880 e 1910 a produção mundial de banana cresceu de 30 mil para 18 milhão de toneladas a de canadeaçúcar passou de 19 milhão a 63 milhões de toneladas e a de cacau foi de 60 mil para 227 mil toneladas16 Os teóricos da economia clássica aprovariam o processo Adam Smith em seu texto fundador da economia clássica A riqueza das nações de 1776 tornou a especialização a divisão do trabalho o ponto central de sua teoria Ele e seus contem porâneos do liberalismo econômico argumentavam contra os mercantilistas que a autossuficiência era uma tolice Em um famoso exemplo Smith indicou que trabalhando sozinho um op erário de uma fábrica de alfinetes podia no máximo produzir 20 unidades por dia No entanto nas fábricas da época o processo de produção de alfinetes estava divido em cerca de oito etapas difer entes cada uma realizada por um ou dois trabalhadores especial izados Dessa forma uma fábrica com dez trabalhadores produzia 48 mil alfinetes por dia fazendo com que cada indivíduo fosse cerca de 240 vezes mais produtivo do que o seria trabalhando soz inho17 A especialização gerava produtividade e a produtividade alimentava o crescimento econômico Nesse contexto produtividade não tem o mesmo significado do termo utilizado pelos gerentes para convencer os funcionários a trabalhar mais horas Referese ao montante produzido por uma unidade de trabalho com os outros fatores de produção à dis posição especialmente capital e terras Na agricultura por exem plo a mesma quantidade de trabalho é mais produtiva em solos férteis do que em solos pobres é mais produtiva com máquinas fertilizantes e irrigação do que sem esses aparatos Tal fato é ver dadeiro mesmo que os trabalhos agrícolas em questão sejam idênticos Em 1900 os produtores de trigo alemães não eram tão produtivos quanto os produtores de trigo canadenses não porque trabalhassem menos ou fossem menos qualificados mas porque 45832 as terras alemãs eram pouco adequadas ao cultivo de grãos Da mesma forma o fato de a produtividade do trabalho norteamer icano em 1913 ser duas vezes e meia mais alta do que a dos itali anos não significava que um trabalhador norteamericano trabal hasse duas vezes e meia mais do que um trabalhador italiano Se esse fosse o caso por que milhões de italianos teriam ido para os Estados Unidos trabalhar Isso quer dizer que em uma hora um trabalhador norteamericano produzia duas vezes e meia a mais do que um trabalhador italiano devido ao capital bem mais abundante à disposição de cada trabalhador De fato o número de máquinas ao dispor dos trabalhadores nos Estados Unidos em 1913 era três vezes maior até mesmo do que na GrãBretanha líder industrial do mundo18 Os economistas clássicos enfatizavam que especialização re quer acesso a grandes mercados Adam Smith e seus colegas argu mentavam que restringir as possibilidades de oferta e demanda retardava o crescimento econômico desafiando assim o pensamento mercantilista que por sua vez tentava limitar o acesso aos mercados Um vilarejo isolado do resto do mundo e forçado à autossuficiência precisa produzir tudo o que necessita Entretanto se esse vilarejo fizer parte de um mercado maior nacional ou global ele pode se especializar no que sabe fazer de melhor Os produtores precisam de mercados amplos para se es pecializarem a divisão do trabalho depende do tamanho do mercado Mercados globais levam à especialização global Smith deve ter ficado ainda mais certo de suas ideias ao ver que à medida que os países se comprometiam com a economia global e ganhavam acesso a mercados imediatamente começavam a se especializar As ideias dele eram confirmadas pela experiência de dezenas de regiões Países com acesso a mercados mais extensos se especial izavam Com a especialização a produtividade aumentava da 46832 mesma forma que o crescimento e o desenvolvimento de suas economias A divisão internacional do trabalho das décadas que pre cederam a Primeira Guerra Mundial transformou continentes in teiros Novas áreas agrícolas e mineradoras extraordinárias foram atraídas pelos mercados mundiais inundando a Europa com comida e matériaprima a preços baixos Produtos industriais in ovadores e baratos brotavam das fábricas europeias e iam para re giões que sempre contaram com o artesanato Países que antes cultivavam todos os seus alimentos passaram a importar grande parte destes As regiões nas quais seus habitantes se vestiam com tecidos produzidos de forma artesanal e utilizavam ferramentas feitas à mão passaram a utilizar tecidos de algodão mais baratos feitos em máquinas e equipamentos manufaturados Cidades e re giões inteiras concentravam seus esforços na extração de minério de ferro na fabricação de tecidos no cultivo de arroz ou na produção de trilhos para ferrovias enviando esses produtos para o resto do mundo em busca de mercados Do ponto de vista global o processo funcionava perfeitamente Trabalho e capital circulavam pelo mundo indo de onde produziam menos para onde produziam mais Camponeses po loneses ou portugueses improdutivos que não podiam competir com os produtores de grãos argentinos e canadenses viravam tra balhadores urbanos produtivos em Varsóvia e Lisboa ou emigravam tornandose operários produtivos nas fábricas de Toronto ou trabalhadores do campo nos pampas Capitalistas buscavam regiões ao redor do mundo onde seus investimentos gerassem mais lucro Abdicavam da construção de mais uma fer rovia ou usina de geração de energia na Inglaterra por algum pro jeto novo e ousado no Quênia Efeitos iguais podiam ser sentidos mesmo sem a movimentação de pessoas e de dinheiro simples mente por meio do comércio Um país com excesso de trabal hadores podia enviar emigrantes para áreas de colonização 47832 recente ou empregar a mão de obra barata em fábricas que produziam manufaturados a serem mandados para essas mesmas regiões Enviar trabalhadores da Itália para a Austrália tinha efeito similar a enviar produtos cuja manufatura era intensiva em mão de obra trabalhadores italianos eram empregados de uma forma mais produtiva e a Austrália passava a ter acesso a mão de obra barata de forma direta ou indireta A especialização não era fácil tampouco sem custos O pro cesso transformava economias e sociedades e com frequência destruía as formas tradicionais de vida A especialização agrícola a abertura dos pampas e pradarias que inundava o mercado mundial com grãos baratos gerou uma grave crise na agricul tura europeia Produtores agrícolas europeus destituídos de suas terras eram despejados nas cidades para trabalhar em fábricas re pugnantes Outros se mudavam para regiões do Novo Mundo ou para outras áreas de colonização recente as quais haviam desen cadeado o problema Os agricultores que não conseguiam sobre viver na Itália ou na Suécia podiam tentar a sorte nos estados de São Paulo ou do Minnessota As dezenas de milhares de produtores agrícolas forçados a deixar o campo em direção à cid ade ou a cruzar o oceano para as novas terras com frequência en contravam pobreza discriminação doença e isolamento em vez da tão esperada prosperidade A nova divisão internacional do trabalho separou famílias vilarejos e países forçando o desped açamento de sociedades tradicionais coesas Por mais doloroso que tivesse sido esse processo a integração econômica e a especialização tornaram tanto o Velho quanto o Novo Mundo mais eficientes Os agricultores europeus que não podiam competir passaram a desempenhar novas atividades Eram mais produtivos nas fábricas europeias do que em suas ter ras relativamente pobres Caso tivessem permanecido na ativid ade agrícola eram mais produtivos no Novo Mundo que no Velho Em todo o planeta os agricultores e trabalhadores deslocados 48832 sofreram mas provavelmente ao menos seus filhos e netos usu fruíram de melhores condições Essa divisão global do trabalho aumentou a produtividade tanto em termos nacionais quanto internacionais Seria pouco provável que fosse de outra maneira a otimização das formas de utilização do trabalho e do capital por definição aumentaria a produtividade Os agricultores miseráveis da Alemanha Oriental e do sul da Itália foram para as modernas fábricas de Berlim ou Ch icago O interior da Argentina e o do Canadá recémacessíveis aos mercados mundiais se transformaram de regiões indígenas de caça nos melhores campos de trigo do planeta Pessoas fábricas e campos produziam mais Os ganhos aumentaram e as economias cresceram Na Era de Ouro os benefícios do intercâmbio econômico in ternacional proporcionaram os ganhos advindos da especializa ção Sem acesso à imigração entre os países e através dos oceanos os agricultores teriam ficado presos às suas terras inférteis Sem o acesso a um mercado mundial os mineradores sulafricanos e os criadores de gado australianos não teriam onde vender seus produtos Sem o comércio e as finanças internacionais para envi ar garantir fornecer e gerenciar Londres teria se tornado o centro nevrálgico de apenas uma pequena ilha e não do mundo todo O mundo intercambiava equipamentos para máquinas por alimentos cobre por tecido e títulos estrangeiros por aço e os produtores e compradores de peças alimentos cobre tecido títu los estrangeiros e aço lucravam Descontentes com o globalismo O fato de a Era de Ouro ter abandonado o mercantilismo parecia amplamente justificável A profunda rejeição à época dominada pelo amplo controle dos governos sobre a economia trouxe 49832 benefícios significativos Livrecomércio movimentação de capi tais e imigração reduziram o controle estatal O padrãoouro pres supunha que os governos autorizassem a livre conversão de din heiro em ouro e viceversa o que permitira ao invés de impedir os ajustes econômicos domésticos Certamente os governos in tervinham com frequência e de forma coerciva para garantir o direito de propriedade privada dos investidores e comerciantes Mas a ideologia e a ordem do dia alardeavam um governo que não fosse além de salvaguardar as operações do mercado Entretanto abaixo da superfície já havia tensões e abusos no capitalismo global pré1914 Uma das fontes de insatisfação era a subjugação de povos e nações pobres Mesmo que governos na Europa nos Estados Unidos e no Japão celebrassem o poder do mercado eles usavam forças de diferentes tipos artilharia can honeiras infantaria para dominar centenas de milhões de novas colônias na África Ásia e América Latina Outro problema era que nem todo mundo se beneficiava da in tegração econômica global Muitas sociedades tradicionais se es tagnaram ou se desintegraram Mesmo nas regiões do mundo que mais cresciam os frutos do crescimento não eram distribuídos de forma justa Sociedades que abandonavam as atividades econôm icas menos produtivas com frequência também abandonavam aqueles que estavam presos a elas É de fácil entendimento a ló gica por trás do abandono do cultivo do trigo em terras medíocres ou do fechamento de tecelagens artesanais pouco eficientes frente à abertura das prósperas planícies dos Estados Unidos e dos pam pas ou à disponibilidade de tecidos melhores e mais baratos fei tos à máquina Mas o que seria feito dos camponeses e tecelões cujas terras e habilidades não tinham mais valor cujas formas tradicionais de vida não eram mais possíveis A integração econômica gerou uma enorme tensão naqueles que produziam o que não podia mais competir com as mercadori as dos novos líderes mundiais Os consumidores não precisavam 50832 mais dos grãos europeus dos emprestadores latinoamericanos do artesanato chinês nem dos tecidos indianos Indústrias re giões e classes inteiras tornaramse dispensáveis e entre os que estavam do lado perdedor da especialização e da integração econ ômica havia menos disposição em aceitar um governo pouco ativo que não fazia nada para aliviar seu sofrimento O entusiasmo com a Era de Ouro do capitalismo global não foi universal Tanto os mercados abertos quanto o pagamento das dívidas aos estrangeiros e o padrãoouro implicavam sacrifícios normalmente da parte dos mais pobres e fracos Raramente esses sacrifícios eram feitos por vontade própria Mesmo nos países que estavam crescendo havia resíduos de conflitos sociais e políticos nos requisitos e prérequisitos nacionais para a integração econ ômica Também houve países inteiros que adotaram uma atitude cautelosa ou hostil em relação aos laços econômicos mundiais e governos que restringiram e regularam de perto o comércio e os investimentos internacionais O capitalismo global do fim do século XIX e início do XX foi quase inteiramente bom para o crescimento global para as eco nomias da maior parte dos países e até mesmo para a renda da maioria das pessoas Mas não foi igualmente bom para todos e foi ruim para muitos Não obstante o sucesso dessas décadas parecia confirmar os argumentos dos defensores da integração da eco nomia global que eram a favor das finanças internacionais do livrecomércio e do padrãoouro Eles também pareciam defender a ideia clássica liberal que favorecia uma limitada intervenção dos governos no mercado apenas o suficiente para garantir a plena participação na economia global Para muitos povos especial mente aqueles das economias que lideravam o mundo as décadas que precederam a Primeira Guerra Mundial evidenciaram que o mercado e a economia global eram mecanismos poderosos para a prosperidade e até mesmo para a paz 51832 a Unidade de medida para a comercialização de grãos equivale a cerca de 27 quilos NT b Do inglês indenture que eram contratos de serviços por tempo determinado nos países coloniais NT 52832 2 Os defensores da economia global Em 1919 enquanto os veteranos regressavam dos sangrentos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial John Maynard Keynes escrevia saudoso dos idos tempos de relações econômicas cordiais Que episódio extraordinário do progresso econômico da humanidade foi a era que chegou ao fim em agosto de 1914 Enquanto bebericava o chá da manhã na cama um habitante de Londres podia pelo tele fone encomendar vários produtos de todo o planeta na quantidade que lhe fosse conveniente e geralmente recebia a entrega cedo na porta de casa ao mesmo tempo e pelo mesmo meio podia se aven turar investindo sua riqueza nos recursos naturais e novos empreendimentos em qualquer parte do mundo e usufruir dos possí veis frutos e vantagens sem esforço ou mesmo problemas podia opt ar por entregar a segurança de sua fortuna à boafé dos habitantes de qualquer cidade de relativo tamanho em qualquer continente que a tendência ou a informação recomendassem Podia conseguir imedi atamente se assim desejasse meios de transporte baratos e confortá veis para qualquer ambiente ou país sem passaporte ou outra formal idade podia mandar um empregado à agência bancária mais próxima para pegar o quanto precisasse do metal precioso e então seguir para o exterior sem conhecimento da religião língua ou costumes desses locais carregando o dinheiro consigo e ficaria surpreso ou acharia que fora maltratado diante da mínima interferência No ent anto o mais importante de tudo consideraria esse como o estado natural das coisas certo e permanente exceto se fosse para melhor e qualquer desvio seria uma aberração e um escândalo que poderia ser evitável1 Não importa que Keynes um habitante de Londres que tinha telefone empregado e o luxo de tomar seu chá da manhã na cama fizesse parte de uma pequena parcela da população Não importa que as oportunidades que Keynes associa a esse capital ismo global maravilhoso fossem irrelevantes para a população empobrecida da Ásia e da África Não importa que a nostalgia de Keynes não fosse compartilhada pelos milhões que eram atraídos pelo socialismo ou por outros movimentos radicais em resposta aos deslocamentos sociais da época As declarações de Keynes de que a vida social e econômica experimentou uma internacionalização a qual na prática est ivera perto de ser completa2 capturam a essência do capitalismo global de antes da Primeira Guerra Mundial Por décadas a eco nomia mundial esteve fundamentalmente aberta à movi mentação de pessoas dinheiro capital e produtos Os principais empresários políticos e pensadores do momento consideravam uma economia mundial aberta o estado natural das coisas Eles supunham que pessoas e capital iriam circular pelo mundo com pouca ou nenhuma restrição A proteção comercial apesar de comum era vista como uma exceção aceitável à regra causada pelas exigências de políticas domésticas ou internacionais de curto prazo O capitalismo era mundial e o mundo capitalista O sistema econômico internacional funcionava como um clube de cavalheirosa de Londres Os membros prestavam assistência uns aos outros quando necessário para que o clube seguisse fun cionando regularmente e aceitavam novos aspirantes a afiliados caso eles se enquadrassem nos padrões do clube As exigências eram grandes compromisso com a abertura econômica com a 54832 proteção do direito de propriedade alémfronteiras com o padrãoouro e com uma intervenção limitada na macroeconomia Os países que cumprissem esses requisitos desfrutariam dos be nefícios destinados aos membros do clube Na maior parte do tempo os Estados pareciam ansiosos para se qualificarem à afiliação Muitos europeus partiam do princípio de que sempre haveria um amplo apoio econômico político e intelectual à integração econômica internacional Mas pela experiência sabemos que esses anos dourados da globalização não eram o estado natural das coisas As exigências para a participação no clube dos global izadores se tornaram pesadas demais para a maioria das nações inclusive para alguns dos membros fundadores Como então essa era de integração econômica se sustentou por tanto tempo Apoio intelectual à Era de Ouro Antes de 1914 quase todos os que eram politicamente import antes nos países economicamente importantes acreditavam que seus governos deveriam privilegiar os laços econômicos com o ex terior Os compromissos com a economia internacional eram tarefas governamentais mais importantes do que o desemprego na indústria ou a aflição dos agricultores Poucos líderes políticos acreditavam que os governos podiam ou deviam fazer algo pelas empresas nacionais pela falta de trabalho ou pela pobreza De fato muitos dos defensores ortodoxos do sistema argumentavam que uma intervenção substancial do Estado nos mercados inter feriria no curso natural do padrãoouro Acreditavam que seguro desemprego ajuda a agricultores em apuros e programas sociais extensivos aos pobres impediriam os ajustes exigidos pelo padrãoouro tais programas evitariam que os salários e preços 55832 caíssem como era necessário para manter a economia em equilíbrio No entanto os governos eram importantes uma vez que con trolavam as relações financeiras a moeda e o comércio entre as nações Os governos também aplicavam o direito de propriedade interna e externamente o que era uma forma de garantir aos seus cidadãos os benefícios da economia global De forma semelhante as classes governantes tanto das nações pobres quanto das indus trializadas fizeram o possível para provar sua integridade econ ômica mas pouco contribuíram para o gerenciamento da eco nomia doméstica Os proponentes do globalismo da Era de Ouro geralmente at ribuíam o sucesso da época às suas ideias iluminadas como membros de um clube exclusivo que justificam o fascínio exercido pela associação às qualidades de seus participantes e não pelos benefícios materiais trazidos com a participação De forma pre cisa as novas políticas de abertura seguiram os preceitos do liber alismo como exposto pelos economistas clássicos britânicos Os sucessores de Adam Smith aplicaram à economia internacional as ideias do pensador sobre os benefícios da especialização e aprimoraram o seu argumento contra o mercantilismo O banqueiro londrino David Ricardo foi o mais influente teórico clássico do comércio internacional e se concentrou na comparação dos custos dos produtos dentro dos países e entre eles É dele o famoso exemplo elaborado com base nas relações econômicas angloportuguesas A tese de Ricardo tem início em um mundo sem comércio Se a Inglaterra produz tecidos de forma mais eficiente que vinho o tecido inglês será barato em relação ao vinho do país Se Portugal produz vinho de forma mais eficiente que tecido então o vinho português será barato em relação ao te cido português Se os dois países se abrirem ao comércio eles comprariam no exterior o que lá é mais barato os ingleses com prariam o vinho de Portugal e os portugueses adquiririam os 56832 tecidos da Inglaterra Ricardo acrescentou que a Inglaterra dever ia comprar todo o vinho que consumisse de Portugal que por sua vez deveria adquirir todo o seu tecido da Inglaterra Dessa forma cada país poderia se concentrar naquilo que poderia produzir mais barato Essa vantagem comparativa ricardiana pressupõe que os países devem produzir aquilo que melhor sabem não em com paração com outros países mas o que fazem de melhor em re lação a outras atividades que desempenham Mesmo que a produção tanto de vinho quanto de tecidos da Inglaterra fosse melhor que a de Portugal o país deveria continuar produzindo apenas tecidos e comprando todo o seu vinho de Portugal A com paração contida no termo referese às atividades desempenhadas dentro de uma nação agricultura inglesa e manufatura inglesa e não entre as nações agricultura inglesa e agricultura portuguesa A teoria das vantagens comparativas aplica os princípios da especialização aos países Assim como as pessoas as nações de vem se concentrar naquilo que fazem melhor independente do quão bem os outros realizem a mesma atividade Dizer que um in divíduo deve se especializar no que faz melhor não diz nada sobre como as habilidades desse indivíduo se comparam com as aptidões de outros Um excelente chef que também lava bem a louça deve continuar contratando alguém para lavar os pratos mesmo que seja alguém medíocre já que o tempo do cozinheiro é melhor gasto no fogão do que na pia Um carpinteiro experiente deve contratar um trabalhador menos especializado para cortar e lixar a madeira mesmo que o próprio carpinteiro desempenhe es sas atividades melhor O mesmo se aplica às regiões se as terras do Iowa são melhores para o cultivo de milho do que para a cri ação de gado leiteiro então os trabalhadores rurais do Iowa de vem se especializar em produzir milho e os de Wisconsin lat icínios Da mesma forma as nações ganham mais ao exportar o 57832 que produzem de forma mais eficiente e importar os melhores produtos dos outros países O princípio da vantagem comparativa tem claras implicações no livrecomércio Uma vez que um país sempre se beneficia ao seguir as suas vantagens comparativas e as barreiras comerciais impedem que ele seja capaz de fazêlo a proteção comercial nunca é benéfica à economia como um todo Políticas governa mentais que evitam a importação simplesmente forçam os países a produzir mercadorias fora de suas vantagens comparativas Pro teção comercial aumenta o preço das importações e diminui a efi ciência da produção doméstica A economia política clássica aboliu o pensamento mercant ilista anterior Os mercantilistas desejavam restringir as im portações e encorajar as exportações para estimular a economia nacional Os economistas clássicos pensavam de outra forma im portações são os lucros do comércio ao passo que exportações são os custos Importar permitia que as nações concentrassem sua en ergia produtiva gerando o que elas sabiam fazer melhor Há um claro paralelo entre essa teoria e o funcionamento de uma pequena propriedade rural A família exporta vende seus produtos para poder importar adquirir os bens e serviços de que precisa Uma propriedade familiar que deseja maximizar as importações precisa portanto ganhar mais e a melhor forma de aumentar os ganhos é por meio da produção daquilo que lhe é mais eficiente Os economistas clássicos mostraram que da mesma forma que os agricultores os trabalhadores e as firmas ganham ao se especializarem e ao comercializarem o máximo pos sível o que também se aplica aos países O livrecomércio leva um país a seguir suas vantagens comparativas o que é a melhor polít ica possível mesmo se adotada unilateralmente Na década de 1850 a GrãBretanha o berço da teoria econôm ica clássica já havia abraçado com entusiasmo o padrãoouro e o comércio a movimentação de capitais e a imigração sem 58832 barreiras O resto do mundo fez o mesmo nos 60 anos seguintes com graus variados de entusiasmo A economia política clássica venceu na esfera intelectual No entanto as ideias clássicas sozinhas não foram a causa da era de abertura econômica global Sobretudo os argumentos con tra a intervenção governamental no comércio e investimentos alémfronteiras são muito antigos Adam Smith destruiu o pensamento mercantilista em 1776 David Ricardo junto com David Mill e Robert Torrens formulou toda a teoria das vant agens comparativas antes de 18203 Mesmo assim apenas em 1846 o Parlamento britânico aboliu as principais tarifas agrícolas do país as Corn Laws Outros países fizeram o mesmo mas apen as de forma parcial e gradual O período glorioso do livrecomér cio europeu veio cem anos após Smith ter demonstrado o quão desejável seria essa atividade Na verdade os países não seguiam os princípios econômicos clássicos de forma estrita e os argumentos intelectuais mais for tes eram os menos obedecidos O caso da teoria do livrecomércio foi o mais predominante mas de fato apenas a GrãBretanha e os Países Baixos praticavam o livrecomércio todos os outros governos eram protecionistas em maior ou menor grau4 Quase todos os países por outro lado acataram o padrãoouro ou aspiravam fazêlo apesar da fraqueza da base teórica do argu mento em prol do sistema Com efeito muitos economistas clássi cos se referiam ao compromisso com o ouro como algo que ia pouco além de um fetiche por metais preciosos O poder teórico das ideias clássicas não garantiu a adoção de políticas clássicas Além disso apesar do triunfo de tais teorias as políticas da Era de Ouro não perduraram Após esse momento seguiuse um período de 30 anos sem que os governos reto massem os níveis anteriores de integração econômica Governos e cidadãos não poderiam ter optado pela abertura apenas por acreditarem na superioridade e no poder intelectual de sua base 59832 teórica a menos que essa opção tivesse sido causada por um quadro de amnésia coletiva A teoria econômica clássica assim como a neoclássica que passou a vigorar após esse momento e continua até os dias de hoje fornece argumentos poderosos con tra as restrições à livre movimentação de capital produtos e pess oas Países seguiram e continuam a seguir esses princípios em graus bastante diversos e a orientação geral do mundo em re lação à integração econômica tem variado tremendamente Havia algo além de ideias operando Nathan Mayer Rothschild 18401915 Os poderosos defendiam seus interesses conduzindo de país a país a abertura da economia mundial Nathan Mayer Rothschild foi uma figura política e economicamente central para a Era de Ouro5 Sua vida acompanhou o período nascido em 1840 a pou cos anos da abolição das Corn Laws ele morreu em 1915 quando a economia global se desintegrava sob o peso da Primeira Guerra Mundial Mayer Amschel Rothschild criou a Casa Rothschild em Frank furt no fim do século XVIII Mandou então seus cinco filhos para outras capitais europeias logo o banco estaria estabelecido em Vi ena Nápoles Paris e Londres Assim como ocorrera com muitos outros empresários judeus desse período a combinação de exper iência financeira e comercial precoce com conexões familiares por toda a Europa proporcionou aos Rothschild uma boa posição Nathan Mayer o terceiro filho de Amschel dirigia o escritório de Londres Durante as Guerras Napoleônicas como muitos outros banqueiros londrinos Rothschild fornecia serviços financeiros à Coroa britânica emprestando dinheiro e transferindo o paga mento dos soldados para o continente Na época da Batalha de Waterloo Nathan Mayer estava tão preocupado com as 60832 implicações financeiras do conflito que montou uma equipe par ticular de mensageiros para ser informado das últimas notícias da guerra A equipe do banqueiro cobria os 330 quilômetros de Bruxelas a Londres em uma velocidade sem precedentes e em 24 horas trazia as notícias para Rothschild tão rápido que o gov erno costumava não acreditar nele quando as notícias eram pas sadas na manhã seguinte Sua façanha durante as Guerras Napoleônicas ajudou a con firmar a liderança de Rothschild na cidade de Londres Lionel o filho mais velho de Nathan Mayer continuou a traçar o caminho da firma rumo ao centro da política internacional e financeira de Londres O filho dele também foi chamado de Nathan Mayer e quando o segundo Nathan Meyer apelidado de Natty assumiu a firma em 1879 o nome Rothschild era sinônimo de riqueza con exões globais e influência diplomática A firma tinha repres entação em todas as capitais financeiras e movimentava fundos de maneira tão rápida que os governos não podiam perder a opor tunidade de ter o apoio dessa poderosa família Os Rothschild se tornaram o protótipo do banqueiro inter nacional judeu bemsucedido Os Hapsburgos da Áustria elev aram a família à nobreza com o titulo de barões Em 1858 Lionel o pai de Nathan foi o primeiro judeu a se tornar membro do Par lamento britânico No ano seguinte Nathan foi um dos primeiros judeus a ingressar na Universidade de Cambridge e em 1885 ele se tornou o primeiro nobre judeu da história britânica Apesar de ofensivos ataques antissemitas Lord Nathan Mayer Rothschild era um membro poderoso da comunidade financeira mundial e da cidade de Londres e estava envolvido de forma apaixonada com a política Laços familiares especialmente do proeminente lado francês e de forma mais ampla da rede financeira internacional tornaram a influência de Rothschild poderosa em todo o continente 61832 Nathan Rothschild usou sua posição para reforçar os três prin cipais pilares da economia internacional da Era de Ouro finanças internacionais sua própria empresa o padrãoouro e o livre comércio As atividades bancárias de Nathan eram em particular intimamente ligadas ao padrãoouro Assim como outros ban queiros internacionais ele considerava o padrãoouro como cent ral para o capitalismo global Investidores internacionais emprestavam dinheiro aos países que haviam adotado o sistema do ouro negavam o empréstimo àqueles que o recusaram e util izavam sua influência financeira e política para encorajar os Esta dos a aderirem ao metal Os Rothschild prestavam uma atenção especial nos Estados Unidos o país que mais tomava empréstimos no século XIX e iní cio do XX Na década de 1830 à medida que a importância econ ômica dos Estados Unidos crescia os Rothschild mandaram um empregado de Frankfurt para o outro lado do Atlântico Ao chegar aos Estados Unidos August Schönberg mudou seu nome do alemãoídiche bela montanha para o francês Belmont Para o desgosto de seus patrões August Belmont também se converteu ao cristianismo Ele se tornou bastante influente nos ciclos econ ômicos políticos e sociais e se casou com a filha do comodoro Mathew Perry que muitos afirmam ter aberto a economia ja ponesa após uma visita ao país em 1854 Na década de 1860 Bel mont já era um dos principais empresários da nação Em grande parte devido à sua ligação com os Rothschild De forma insistente os Rothschild e seu agente August Bel mont apoiaram a abertura da economia norteamericana ao resto do mundo Gastaram muita energia tentando influenciar o debate sobre o ouro nos Estados Unidos O padrãoouro era crucial para a segurança dos investimentos internacionais da família No ent anto durante a Guerra Civil os Estados Unidos abandonaram o ouro e permaneceram com o papelmoeda verde até mesmo de pois da guerra Muitos dos líderes políticos e empresariais 62832 acreditavam que o ouro não se adequava às necessidades de uma economia que crescia rapidamente Em meados da década de 1870 Belmont e os Rothschild pressionaram os Estados Unidos vigorosamente para convencer o país a participar do clube do padrãoouro A medida foi controversa e o Congresso derrotou muitas das tentativas de levar o país ao ouro Mas Belmont argu mentou que a política financeira assim como o amor pelo nome do nosso país pareciam exigir que a administração do presidente Ulysses Grant demonstrasse uma hostilidade inflexível ao frenesi cego e desonesto que tomara conta do Congresso6 Grant termin ou por concordar com a adoção do padrãoouro e sua vontade prevaleceu em detrimento à de um Congresso em fim de man dato Quando chegou o momento Belmont e os Rothschild forne ceram mais da metade do dinheiro que o governo necessitava para acumular reservas suficientes para fixar o dólar no ouro O compromisso norteamericano com o ouro contudo per maneceu fraco e foi novamente desafiado pelas críticas populistas da década de 1890 Após 1893 enquanto o movimento contra o ouro assolava o país os investidores estrangeiros começaram a vender dólares para se protegerem da ameaça de desvalorização As reservas de ouro do governo norteamericano estavam se es vaziando e em fevereiro de 1895 Washington mais uma vez re correu a Nathan Rothschild e seus representantes nos Estados Unidos agora August Belmont Jr Belmont e JP Morgan um financista norteamericano em ascensão que formaram um sin dicato a fim de suprir o Tesouro com todo o ouro necessário para os 18 meses seguintes até as eleições presidenciais Quando os opositores ao padrãoouro foram derrotados em 1896 o metal se estabilizou mas a moeda norteamericana certamente não teria sido protegida sem a ajuda dos Rothschild Em outros lugares do Novo Mundo Nathan Rothschild tam bém defendeu e financiou a abertura econômica Por muito tempo a família foi credora oficial do Brasil e também exercia 63832 grande influência no Chile Na Argentina seus concorrentes do Baring Brothers predominavam no início mas essa competição não enfraqueceu o compromisso dos Rothschild com a estabilid ade financeira internacional Em 1890 quando o calote argentino levou o Baring Brothers à falência trazendo a ameaça de um amplo pânico financeiro Nathan Rothschild interveio Mesmo considerando a falência resultado da imprudência do próprio Bar ing Brothers ele liderou energicamente outros bancos privados e o governo britânico em amplos esforços de resgate Rothschild afirmou que sem tais medidas muitos outros grandes bancos londrinos também teriam falido7 Dessa forma o Baring estava fora de perigo e a crise foi resolvida Rothschild mediou o comitê que supervisionou as renegociações da dívida argentina e a volta do país aos mercados financeiros de Londres alguns anos mais tarde A séria crise de 1907 demonstrou como os Rothschild podiam utilizar seus recursos financeiros e contatos internacionais para encorajar a cooperação entre as principais potências econômicas A crise se iniciou como um pânico financeiro nos Estados Unidos mas rapidamente se transformou em uma desconfiança generaliz ada A corrida norteamericana aos bancos assustou os invest idores de todo o mundo O correspondente em Berlim da Economist escreveu Os preços flutuam para cima e para baixo sob a maldição dos telegramas norteamericanos e quando outras influências entram em cena para de alguma forma elevarem os preços elas são logo oblitera das por novas preocupações com a situação nos Estados Unidos8 Nathan Mayer Rothschild foi certeiro em culpar a política norteamericana pela crise mas à medida que a questão se apro fundava isso se tornava irrelevante Rothschild que era o presid enteb do Banco da Inglaterra acreditava que as autoridades deveriam cooperar a fim de acalmar os mercados Ele lembrou a 64832 seus primos franceses o quão íntimas e necessárias eram as lig ações entre os países Era crucial assegurar que o Banco da França e outros agissem de forma generosa nestas ocasiões Rothschild persuadiu seus companheiros dos quais um fazia parte da diretoria do Banco da França a estimular seus governos a se unirem ao Banco da Inglaterra para resolver a crise O Banco da França de fato emprestou dezenas de milhões de francos ao Banco da Inglaterra para ajudálo a contornar a turbulência fin anceira assim como o fizeram as autoridades alemães A rede de interesses econômicos dos Rothschild ajudou a garantir os es forços multinacionais organizados pelos formuladores de polític as para estabilizar os mercados financeiros e manter o padrão ouro9 É evidente que os Rothschild eram fervorosos defensores do comércio mundial Do outro lado do Canal da Mancha Alphonse o cunhado de Nathan estava preocupado com a França achando que o país morreria sufocado pelo protecionismo e afirmou aos cada vez mais poderosos políticos socialistas que o melhor do so cialismo é a livre troca da produção internacional10 Até o fim da vida de Nathan Rothschild sua ortodoxia em relação ao livre comércio se suavizaria um pouco não por qualquer adesão à causa protecionista mas sim devido aos meandros das políticas do Partido Conservador Até o início do século XX muitos dos in dustriais membros do Partido Conservador se tornariam favorá veis à concessão de algum tipo de preferência comercial ao Im pério colonial da GrãBretanha O plano para a preferência imper ial foi liderado pelo prefeito de Birmingham Joseph Chamber lain um exfabricante de parafusos e poderoso líder do Partido Conservador Como conservador convicto Rothschild tinha grande interesse em manter a unidade do partido e lutou para que este adotasse alguns dos programas de Chamberlain Não ob stante o compromisso de Rothschild com a integração econômica perdurou até o fim de sua vida 65832 Rothschild trabalhou de forma incansável na Europa e no Novo Mundo para manter o mercado financeiro global acessível e estável Ele também financiou empreitadas ambiciosas no sul da África a fim de atrair novos investimentos para o mercado mun dial Há tempos os Rothschild se interessavam pela riqueza min eral da região De fato o interesse deles em metais preciosos ia muito além do apoio ao padrãoouro Os Rothschild da Inglaterra e da França investiam pesado na prata e no mercúrio da Espanha nos rubis de Burma no ouro da Venezuela no níquel da Austrália e de Nova Caledônia no cobre do México e de Montana e no pet róleo da Rússia No entanto o subsolo mais lucrativo de todos parecia estar na África do Sul À medida que o preço do ouro aumentou em relação aos out ros bens durante a Grande Depressão de 18731896 exploradores de todos os lugares buscaram novas minas Nenhuma descoberta fora tão importante como a de Witwatersrand na África do Sul que viria a se tornar a região de maior produção de ouro do mundo As descobertas em Rand como a região era chamada e o desenvolvimento de novas tecnologias para extração em terras profundas tornaram a África do Sul a maior produtora mundial de ouro Nathan Mayer Rothschild e seus parceiros começaram a participar da extração desde o início da descoberta por meio de sua empresa de exploração Quase ao mesmo tempo em que acu mulavam lucros nos campos de ouro sulafricanos os Rothschild ganhavam terreno nas lucrativas minas de diamante da região11 O filho de Nathan Rothschild se uniu a Cecil Rhodes um dos mais ricos magnatas da mineração de diamantes da região Jun tos os dois controlavam 98 da produção de diamantes da África do Sul por meio de sua empresa a De Beers Mining Company Rothschild se vangloriava de que a história do esforço deles em conjunto com a De Beers era simplesmente um conto de fadas e se maravilhava por ter alcançado praticamente o monopólio na produção de diamantes12 Rhodes tinha ambições maiores 66832 Economicamente ele cobiçava uma porção maior dos campos de ouro da área Politicamente Rhodes o primeiroministro da Colônia do Cabo após 1890 queria trazer as áreas ricas em ouro da África do Sul para o controle britânico Os obstáculos dele eram os governos do Estado Livre de Orange e Transvaal na parte norte do que hoje em dia é a África do Sul duas repúblicas independentes governadas pelos africâneres descendentes dos colonizadores holandeses os quais eram hostis ou indiferentes aos interesses dos mineradores tanto britânicos quanto de outras nacionalidades Nathan Mayer e os outros Rothschild se encontravam em uma situação difícil no sul da África Por um lado tinham interesses substanciais nas minas de ouro do Transvaal uma área contro lada pelos africâneres e desejavam manter relações cordiais com o governo local Por outro lado eles teriam preferido um governo mais amigável até mesmo uma extensão da britânica Colônia do Cabo ao sul no controle da sua lucrativa propriedade Para que a situação ficasse ainda mais complexa Rothschild tinha ligações estreitas com Cecil Rhodes o qual tinha planos definidos para as duas repúblicas africâneres Assim como os Rothschild o Min istério das Relações Exteriores britânico era forçado a uma com binação de ameaças aos africâneres e esforços para acalmálos Rothschild e os outros investidores prefeririam uma solução corporativa mas o conflito de interesses e pessoas em questão fez com que isso fosse impossível Os mineradores britânicos e outros colonos invadiram o Transvaal e o governo africâner se viu cer cado por estrangeiros hostis Rhodes governando a contígua colônia britânica lutava por seus sonhos imperiais fomentando o conflito com os africâneres Nos lívidos dias de 1895 L Starr Jameson sócio de Rhodes liderou um pequeno grupo de homens armados para depor o governo do Transvaal O ataque foi um fra casso vergonhoso e Rhodes foi obrigado a renunciar mas pôs africâneres e britânicos em uma rota de colisão que culminou na 67832 Guerra dos Bôeres em 1899 Em 1902 meio milhão de soldados britânicos já haviam forçado toda a África do Sul a se submeter ao controle do Império mas a um custo alto A guerra foi difícil e longa O fato de os britânicos terem maltratado os civis africâneres gerou comoção mundial e a colonização que se seguiu deixou o governo da União da África do Sul sob o controle efetivo da comunidade africâner do país Cecil Rhodes e Nathan Mayer Rothschild não realizaram todos os seus sonhos em relação à África do Sul Rhodes morreu antes do fim da Guerra dos Boêres e seus planos para a construção de uma estrada de ferro ligando a Cidade do Cabo ao Cairo permane ceu na fantasia A África do Sul pertencia agora à GrãBretanha mas os africâneres inimigos de Rhodes controlavam o governo Rothschild esteve perto de ser bemsucedido mantendo intactos os interesses da família em relação ao ouro e aos diamantes Mas as consequências políticas da guerra foram sérias Rothschild es creveu a Rhodes A comoção neste país está altamente presente no momento em re lação a tudo ligado à guerra e há uma considerável inclinação nos dois lados da dinastia a jogar a culpa pelo que tem acontecido nos ombros dos capitalistas e dos interessados na mineração sulafric ana13 O descontentamento popular com a Guerra dos Boêres o en volvimento de Joseph Chamberlain como Ministro das Colônias e as insinuações de uma conexão entre a empreitada militar e os ganhos financeiros ajudou a condenar o Partido Conservador de Nathan Rothschild a uma celebrada derrota nas eleições gerais de 1906 Uma empresa e uma família tão envolvidas na política e na economia globais não podiam ignorar que derrotas viriam No en tanto os Rothschild foram extraordinariamente longe Essa foi a primeira família de capital internacional e Nathan Mayer 68832 Rothschild foi indiscutivelmente o indivíduo mais poderoso do mundo por várias décadas Os Rothschild usaram a fortuna e in fluência política para apoiar a integração econômica global e ex traíram enormes benefícios financeiros da vitória mundial pela abertura econômica O comércio internacional o padrãoouro e os investimentos internacionais foram se fortalecendo pouco a pouco bem como os Rothschild Os partidários do livrecomércio Assim como os Rothschild um poderoso emaranhado de in teresses se beneficiou das relações econômicas internacionais e lutou por mais liberdade no comércio mundial Até mesmo David Ricardo o grande teórico do argumento das vantagens compar ativas para o livrecomércio era um ativista político que debatia as medidas econômicas britânicas Com efeito Ricardo vinha da comunidade financeira um dos mais importantes grupos pelo livrecomércio do Reino Unido Banqueiros e investidores inter nacionais queriam que seus países se abrissem às importações permitindo aos devedores ganhar dinheiro para pagar suas dívidas Os produtores para a exportação constituíam outro influente grupo favorável à integração global Eles apoiavam a liberalização do comércio o que disponibilizava insumos mais baratos para a produção Tal fato diminuiria os gastos dos produtores e os torn aria mais aptos a competir nos mercados mundiais Isso se ap licava a qualquer exportação fosse ela o algodão cru da Lousiana ou os tecidos feitos de algodão de Lancashire Os fazendeiros que exportavam queriam ser capazes de importar equipamentos ma quinário e fertilizantes baratos assim como os fabricantes que vendiam para o exterior queriam poder importar algodão barato Barreiras protecionistas impostas aos seus insumos apenas 69832 prejudicavam a competitividade das empresas ou fazendas que lutavam pelos mercados mundiais Os exportadores também ab ominavam a proteção porque barreiras ao comércio eram um con vite a represálias o que os expunha ao risco de serem retirados dos mercados Os partidários do livrecomércio eram grupos tipicamente lig ados a atividades econômicas semelhantes às vantagens compar ativas de seus países Banqueiros de Londres fabricantes alemães criadores de gado argentinos e seringueiros indochinos se especializavam naquilo que de melhor ofereciam suas re spectivas regiões e compartilhavam do interesse por uma ordem econômica que recompensasse quem se concentrasse nas vant agens comparativas de suas nações Os consumidores também se beneficiavam de um comércio mais livre que reduzisse o custo de vida mas eles eram pouco organizados e malrepresentados Foram basicamente os grupos poderosos a favor do livrecomér cio os que efetivaram a luta para manter as tarifas baixas antes da Primeira Guerra Mundial Havia contudo quem desafiasse os defensores políticos e in telectuais do livrecomércio Mesmo aqueles que acreditavam na teoria de que o livrecomércio é uma boa ideia para a economia como um todo poderiam ter opiniões completamente diferentes quanto ao seu valor para eles mesmos Vantagens comparativas lidam com o bemestar social agregado os benefícios em rede para a sociedade como um todo Isso diz respeito ao bemestar da sociedade como um ponto considerando mais eficiência como um ponto positivo e a ineficiência como um ponto negativo Mas os benefícios do acesso a novos mercados podem melhorar a situ ação de um segmento da sociedade enquanto os custos de en frentar a competição estrangeira podem afetar outro O benefício em rede contabiliza os pontos positivos e os negativos Economis tas clássicos argumentavam que a maior eficiência trazida pelo livrecomércio poderia ser distribuída de forma a recompensar 70832 aqueles do lado perdedor gerando mais ganhos para todos No entanto tirar dos vencedores para dar aos perdedores nem sempre é algo viável do ponto de vista político O apelo econômico da abertura pode ser claro em termos de ideia e resultado agregado mas os governos precisam responder aos eleitores os quais provavelmente não estariam dispostos a sacrificar suas regiões classes empresas ou fazendas em nome de um crescimento econômico nacional a longo prazo Os efeitos agregados do livrecomércio podem ser positivos mas seu im pacto distributivo separa grupos e pessoas em vencedores e per dedores A liberalização do comércio redistribui a riqueza e a renda ajudando os produtores mais eficientes mas prejudicando os menos competitivos Os fazendeiros dos países industrializados e os industriais das nações agrícolas queriam proteção Esses dois grupos amplos eram um exemplo dos que desempenhavam atividades econôm icas que não eram condizentes com a vantagem comparativa de seus países Produtores agrícolas relativamente pouco eficientes especialmente na Europa sofriam à custa dos produtos do Novo Mundo da Rússia e de seus antípodas Autorizar a importação de trigo na Europa em 1900 certamente teria tornado economias mais eficientes forçando as fazendas pouco produtivas a fechar ou se adequar Tal medida estaria de acordo com os interesses dos exportadores industriais da região evitaria retaliações e per mitiria o acesso a recursos baratos Isso seria importante para os banqueiros internacionais da Europa pois estes queriam que os norteamericanos e russos exportassem para diminuir as dívidas O livrecomércio de grãos teria reduzido o preço dos alimentos motivo pelo qual muitos movimentos trabalhistas socialistas e di versos empregadores nas áreas urbanas eram a favor da liberaliz ação do comércio dos produtos agrícolas Grãos mais baratos no entanto teriam exacerbado as más condições agrícolas e arrasado milhões de fazendeiros europeus e suas comunidades coesas 71832 Considerandose todos os fatores os produtores agrícolas europeus preferiam ver menos grãos importados e mais banqueir os arruinados Os empresários da manufatura de nações em estágios iniciais de industrialização formavam o segundo maior grupo prote cionista Especialmente nos países de desenvolvimento tardio os donos dessas fábricas acreditavam que apenas prosperariam se fossem protegidos das potências industriais já estabelecidas prin cipalmente da GrãBretanha Esse apelo à proteção das indústrias nascentes tarifas de importação a produtos de setores fabris em estágio embrionário até que estes se tornassem grandes e fortes o suficiente para competir foi ouvido em quase todos os lugares até mesmo em países relativamente ricos Indústrias deman davam barreiras comerciais de forma mais exaltada nos países onde a produção industrial lutava para se estabelecer como no Novo Mundo nas áreas de colonização recente e nos países mais atrasados do sul e do leste da Europa Todas essas nações argu mentavam com veemência que a indústria nacional cresceria de vagar se precisasse competir sobretudo com os britânicos e alemães Os protecionistas foram bemsucedidos em muitos aspectos A proteção concedida aos que permaneciam distantes das vantagens comparativas dependia do cenário político A batalha foi travada entre interesses poderosos específicos pois os consumidores das classes média e trabalhadora eram pouco representados em qualquer parte mesmo onde tinham pelos menos os homens o poder do voto Conglomerados de bancos e indústrias e grandes fazendeiros tendiam a ser mais bemrepresentados nos debates e costumavam conseguir o que queriam seja proteção ou livre comércio dependendo do país e das circunstâncias14 Às vésperas da Primeira Guerra Mundial o Império austro húngaro a França a Alemanha a Itália e outros produtores pou co eficientes de grãos contavam com tarifas de cerca de 40 sobre 72832 o trigo Os governos também concederam alguma proteção aos in dustriais até mesmo na França e na Alemanha ainda que fosse apenas uma parte do que foi concedido aos trabalhadores agrí colas De fato os países da Europa ocidental eram apenas media namente protecionistas por exemplo em 1913 as grandes eco nomias do continente tinham tarifas médias que iam de 12 a 18 Fora da Europa o protecionismo se espalhava As tarifas sobre as importações de manufaturados em países como Brasil México e Rússia eram duas ou três vezes mais altas do que as da Europa continental O protecionismo comercial nos Estados Unidos e em outras áreas de colonização europeia recente Oceania Canadá e diversas partes da América Latina também tendia a ser bastante amplo As tarifas ainda aumentaram em quase todos os lugares nas décadas que precederam 191415 O país mais populoso do mundo optou por não seguir com pletamente a integração econômica internacional Os líderes im periais chineses temiam que os efeitos desordenados da economia mundial atingissem a sociedade e afetassem o lugar que nela ocu pavam e tentaram controlar com cuidado as atividades dos comerciantes e investidores internacionais Na virada do século cada vez mais chineses especialmente aqueles que tinham algum contato com as oportunidades da economia global e queriam mais questionavam o isolamento do sistema imperial No ent anto apenas muito perto da Primeira Guerra Mundial com a eclosão da revolução nacionalista de 1911 é que houve alguma possibilidade real de a nação rumar para a integração econômica A maior democracia do mundo não era um modelo de global ização A formulação de políticas nos Estados Unidos era domin ada pelos protecionistas A visão deles não era extremada Eles es tavam contentes pelo fato de os produtores agrícolas e os mineradores norteamericanos venderem o que pudessem no ex terior e pelos estrangeiros investirem o que quisessem nos 73832 Estados Unidos mas insistiam em reservar a maior parte do mer cado nacional de manufaturados para eles mesmos A opção pelo fechamento não seguiu livre de desafios Os agroexportadores de algodão e tabaco do sul e os banqueiros anglófilos do nordeste resistiram ao protecionismo dos industrialistas da mesma forma que o Partido Democrata Mas como ocorreu na China apenas após a eleição de 1912 que levou Woodrow Wilson à Presidência é que os democratas prevaleceram Apesar de algumas exceções a Era de Ouro foi caracterizada por uma liberalização sem precedentes Grupos importantes dos países tinham ligações mais livres do que em qualquer época antes ou depois daquele momento Esse grupo de países incluía os bastiões tradicionais do livrecomércio a GrãBretanha a Holan da e a Bélgica As nações industriais menores tendiam a evitar o protecionismo comercial uma vez que os benefícios do livre comércio eram maiores para os países com um mercado nacional limitado Os países em desenvolvimento mais pobres também rumavam em direção ao livrecomércio Alguns deles eram incapazes de res istir à pressão das potências tanto das europeias como as de out ras regiões para que abrissem os seus mercados Na realidade muitas nações extremamente pobres quase não tinham o que pro teger produziam matériasprimas e bens agrícolas para ex portação e fabricavam poucos ou nenhum manufaturados A Pérsia e o Siãoc por exemplo eram quase tão abertos ao comércio quanto a GrãBretanha ou a Holanda Por fim as colônias não tinham outra escolha que não per mitir o livrecomércio com a metrópole As colônias britânicas e holandesas eram forçadas a seguir as diretrizes britânicas ou holandesas por comércio livre Mas aqui também havia exceções Os territórios britânicos autogovernados conhecidos de forma menos elegante como os domínios brancos Canadá Austrália Nova Zelândia e África do Sul usufruíam de uma independência 74832 efetiva e determinavam muitas de suas políticas comerciais A Ín dia lutou pela autonomia tarifária e por fim a conquistou Em to dos esses casos a opção foi por um protecionismo maior do que teria permitido o livrecomércio britânico As principais potências coloniais por outro lado concordaram em liberar o comércio na Bacia do Congo Ironicamente a política comercial alemã para as colônias era menos protecionista do que para seu mercado inter no Dificilmente as colônias serviriam como uma propaganda da livre escolha pelo livrecomércio mas muitas delas no entanto compartilhavam da tendência global em direção à integração comercial O poder político era a chave para o triunfo da abertura econ ômica Sem dúvida a abertura comercial contou com a assistência da solidez intelectual da estabilidade macroeconômica e dos avanços tecnológicos mas sua verdadeira fonte fora o poder político daqueles que se beneficiavam dela Os defensores do livrecomércio venceram a batalha política doméstica permitindo que o intercâmbio comercial internacional crescesse bem mais rápido do que a produção e cada vez mais países rumavam para a fabricação de bens a serem exportados e para o consumo de im portados Às vésperas da Primeira Guerra Mundial o comércio internacional era quase duas vezes mais importante para a eco nomia do mundo do que havia sido 14 anos antes Os adeptos dos pilares dourados Os proponentes do padrãoouro internacional estavam tão ocupa dos e cheios de compromissos quanto os defensores do livre comércio A comunidade financeira mundial contava com o sis tema monetário internacional vigente para manter próximos cre dores e tomadores de empréstimos investidores e seus investi mentos e para salvaguardar os contratos e propriedades além 75832 fronteiras Ao lado dos poderosos interesses financeiros estavam as empresas que gerenciavam o comércio internacional os segur os do envio de cargas e outras atividades similares A maioria dos fabricantes voltados para a exportação também fazia parte do bloco defensor do ouro já que um sistema estável de pagamentos propiciava um mercado próspero para seus produtos Grupos de interesse poderosos fora do centro financeiro europeu também defendiam o padrãoouro a fim de proteger seus objetivos Tomadores de empréstimos e seus credores dependiam do capital europeu e consideravam o ouro essencial para que o dinheiro continuasse a fluir Banqueiros norteamericanos de August Belmont a JP Morgan defendiam o ouro com veemência uma vez que gerenciavam grande parte dos investimentos europeus nos Estados Unidos Aqueles em áreas de colonização recente nas colônias e no mundo em desenvolvimento que geral mente dependiam do comércio de pagamentos do transporte de mercadorias e de outros serviços de ordem internacional para viver também advogavam pelo padrãoouro Os partidários de sistemas financeiros alternativos princip almente da moeda lastreada na prata ou apenas do papelmoeda lançavam críticas contínuas ao padrãoouro Muitos países de peso alternavam a adoção e o abandono do padrãoouro Apenas após 1896 quando os preços começaram a subir é que a adesão ao sistema tornouse praticamente universal A adoção do ouro gerava custos substanciais O governo que se comprometesse a fixar sua moeda no ouro não podia utilizar políticas monetárias como desvalorizar a moeda ou reduzir a taxa de juros para con tornar dificuldades econômicas domésticas As regras do jogo do padrãoouro livre conversão da moeda em ouro permitindo que os salários e preços internos variassem livremente para cima e para baixo de modo a manter o valor em ouro da moeda exi giam que os governos abdicassem de políticas monetárias 76832 proativas mesmo quando as justificativas para tais políticas fossem de ordem local A pressão para o abandono do ouro parecia ser grande prin cipalmente diante do pânico dos bancos do desemprego em massa e da turbulência social Havia uma legião de inimigos da moeda fixa no ouro e em tempos difíceis esse número aumentava Os principais adversários do ouro eram os que gan hariam mais com a desvalorização ou com uma flexibilidade mon etária maior Em muitos casos uma desvalorização aumentaria o preço dos produtos agrícolas e dos minérios aliviaria o ônus real da dívida e reduziria o desemprego Mas o ouro tornava a desval orização algo impossível A adoção do ouro facilitava o acesso a mercados capital e in vestimentos estrangeiros mas restringia a habilidade dos gov ernos de reagir a dificuldades econômicas Era preciso pôr de um lado da balança os benefícios de um câmbio previsível e do acesso ao capital estrangeiro e do outro os custos gerados pela ab dicação da ferramenta política mais poderosa de que os governos dispunham Tornavase difícil a avaliação das vantagens econôm icas trazidas pelo padrão diante dos sacrifícios domésticos Mesmo nos dias de hoje não é unânime entre os acadêmicos a opinião de que o padrãoouro foi uma boa opção Defensores e opositores se enfrentavam no campo de batalha político em um conflito que se tornava ainda mais amargo porque os que mais se beneficiavam do padrãoouro não eram os mesmos que arcavam com os custos gerados pela adesão Manter os Estados Unidos a Rússia ou o Brasil sob o padrãoouro significava benefícios para alguns e malefícios para outros e a polêmica política parecia não ajudar Por todo o mundo os defensores do ouro e os que a ele se opunham travavam a batalha dos padrões Geralmente essa era uma luta dos produtores agrícolas que desejavam uma moeda desvalorizada contra os interesses internacionalistas que por sua 77832 vez queriam a estabilidade de uma moeda fixada no ouro O res ultado dessa briga dependia da força dos interesses e de sua rep resentatividade Os interesses próouro nos países desenvolvidos eram particularmente importantes devido a uma elite financeira e comercial influente que defendia o metal e até mesmo nos países democráticos os produtores agrícolas mineradores devedores e trabalhadores não eram páreo para os que respaldavam o ouro Nos países em desenvolvimento a situação era diferente Os pro prietários de terras e mineradores dominavam muitas dessas nações oligárquicas e devido aos interesses dos setores primários agricultura e matériasprimas ao longo do período de de pressão a maior parte desses países passou mais tempo fora do que dentro do regime Os dois lados se enfrentaram de forma viol enta nos campos de batalha altamente politizados dos Estados Unidos país que abrigava de um lado produtores agrícolas e min eradores poderosos e de outro uma comunidade financeira igualmente forte além de uma democracia eleitoral em funcionamento Dadas as controvérsias quanto ao comércio e ao padrãoouro é surpreendente a forma como a economia internacional se manteve tão integrada por tantas décadas até 1914 De modo ger al e impressionante o comércio mundial se manteve aberto apesar das pressões protecionistas Isso se aplicava não apenas aos países extremamente pobres e às colônias mas também a al gumas das potências industriais mais poderosas do mundo E mesmo com as dificuldades impostas pela adesão ao ouro quase todas as grandes nações permaneceram nesse sistema por déca das até a Primeira Guerra Mundial Redes globais para uma economia global 78832 Conexões econômicas políticas e sociais poderosas além das fronteiras e dos oceanos uniam os defensores da integração da economia global na Era de Ouro Em muitos países os partidários do livrecomércio e os defensores do padrãoouro se apoiavam e se encorajavam mutuamente Em termos de políticas comerciais as importações de um país tinham uma clara relação com as ex portações de outro Os exportadores britânicos de bens industri ais queriam o algodão e o cobre sulamericanos ao passo que os produtores agrícolas e mineradores sulamericanos desejavam o maquinário para agricultura e mineração dos britânicos O comércio entre britânicos e argentinos ou chilenos fazia com que os argentinos ou chilenos dessem apoio à entrada de produtos britânicos A preocupação com as retaliações também unia os de fensores do livrecomércio da Europa e da América do Sul os fab ricantes europeus tinham esperança de que as políticas comerci ais de seus países levassem a uma abertura pelo Atlântico en quanto os exportadores de produtos agrícolas e de mineração da América do Sul aguardavam uma liberalização comercial de seus produtos que favorecesse os clientes e investidores europeus Há tempos que os ativistas pelo livrecomércio britânico en tenderam a importância das ligações alémfronteiras entre os grupos de interesse Na década de 1840 ao lutar pela revogação das Corn Laws os adeptos do livrecomércio reconheceram a im portância das políticas comerciais para os Estados Unidos onde conflitos sectários jogaram os exportadores do sul defensores das trocas comerciais sem barreiras contra os fabricantes prote cionistas do norte Os britânicos partidários do livrecomércio perceberam por exemplo que as Corn Laws colocavam os prin cipais estados produtores de grãos do MeioOeste dos Estados Unidos nos braços dos protecionistas Richard Cobden líder dos livres comerciantes britânicos alegou que com o protecionismo não oferecemos nenhum incentivo para que eles se retirem das cidades abandonem suas fábricas prematuras para cavar arar 79832 e lavrar o solo para nós Um dos aliados de Cobden no Parla mento argumentou Transformamos nossos melhores clientes não apenas em rivais comerciais mas em inimigos comerciais Durante as discussões na Casa outro observara Na última eleição um grande acordo fora firmado em relação às tari fas e no Congresso a vasta maioria era a favor de um abrandamento das políticas comerciais Nunca houve um momento em que ficasse tão evidente que se a Inglaterra flexibilizasse suas políticas se de pararia com semelhante flexibilização nos Estados Unidos16 A eventual mudança na política comercial britânica solidificou a aliança transatlântica pelo livrecomércio desde a revogação das Corn Laws até a Guerra Civil os exportadores norteamer icanos de produtos agrícolas se opuseram verdadeiramente às barreiras comerciais impostas aos produtos manufaturados britânicos apesar da objeção das indústrias do norte Durante décadas dezenas de países repetiram esse padrão Os produtores e credores europeus favoráveis ao livrecomércio en contraram aliados entre os que exportavam matériasprimas e so licitavam empréstimos nos países em desenvolvimento Os indus trialistas e investidores britânicos estabeleceram laços econômi cos com os produtores agrícolas brasileiros e egípcios banqueiros norteamericanos e mineradores australianos Tais laços eram com frequência culturais e sociais como podia ser demonstrado pela difusão da língua inglesa do futebol da política econômica britânica e pelas grandes e influentes comunidades britânicas e anglófilas de Buenos Aires a Xangai Cada uma das nações que se lançava no comércio mundial logo formava grupos de interesses poderosos geralmente aliados a grupos influentes no exterior que faziam pressão para a consolidação da integração comercial Os cafeicultores da Colômbia seringueiros do sul da Ásia e produtores de nitrato e cobre do Chile deviam grande parte da 80832 influência que exerciam em seus respectivos países a seus conta tos rentáveis com os mercados mais importantes do planeta A GrãBretanha era o centro da rede de livrecomércio O país e seu Império eram responsáveis por cerca de 13 de todo o comércio internacional As políticas britânicas eram comprometi das incessantemente com a integração global Um décimo do produto interno britânico vinha de investimentos estrangeiros fretes de carga seguros ou outros serviços internacionais e isso nem incluía os ganhos com as exportações17 A atividade comer cial que não envolvia diretamente a GrãBretanha muitas vezes fazia parte de um sistema mais amplo de comércio liderado pelos próprios britânicos o que reforçava a opção dos parceiros dessa nação pela livre troca de mercadorias Por exemplo a Dinamarca exportava laticínios e derivados de porco para o mercado britânico e comprava manufaturados de outros países No início do século XX o comércio da Dinamarca com a Alemanha e os Estados Unidos era extremamente desequilibrado o país im portava o triplo do que exportava Em contrapartida a Dinamarca compensava essa assimetria por meio de um comércio desequilib rado com a GrãBretanha no qual os dinamarqueses exportavam três vezes mais do que importavam Esse triângulo comercial compensador dependia de um sistema internacional e generaliz ado de livrecomércio18 O compromisso inabalável dos britânicos com o livrecomér cio também implicava a adoção de políticas similares na Bélgica na Holanda e em outras pequenas nações da Europa Uma Grã Bretanha defensora do livrecomércio também significava que as trocas internacionais sem tarifas eram a base das relações comer ciais do maior Império mundial mesmo que alguns de seus mem bros se desviassem desse caminho A GrãBretanha da livre troca de mercadorias puxou o Peru o Japão e o Sião para um sistema interligado de comércio investimentos transportes e comunicações 81832 Talvez o mais importante foi que a disponibilidade imediata do mercado britânico ajudou a solidificar a vocação internacional dos que ali vendiam comercializavam e faziam empréstimos Mesmo tendo a Alemanha adotado uma política protecionista os exportadores e banqueiros do país enriqueceram e por fim tornaramse mais influentes por comercializar com a cidade de Londres ou por intermédio dela O mesmo se aplicava a credores exportadores e aqueles que solicitavam empréstimos em todo o mundo A essência do funcionamento da economia da Grã Bretanha exigia ao mesmo tempo que reforçava o desejo dos britânicos e de outros em manter o sistema comercial aberto Dessa forma o comércio mundial continuava a crescer inserindo dezenas de países em uma rede densa que se autorreforçava Apesar da tentação do protecionismo e de alguns terem se ren dido a ele de forma geral o comércio mundial estava aberto Os defensores do padrãoouro também eram internacional mente conectados Os principais banqueiros e financistas das maiores potências econômicas GrãBretanha França Ale manha e Holanda entre outros mantinham contato frequente e compartilhavam do interesse pela manutenção da ordem mon etária global Também nos países que solicitavam empréstimos grupos poderosos com fortes laços econômicos donos de plantações na Malásia empresários do ramo de estradas de ferro no Brasil mineradores na África do Sul banqueiros no Peru tinham todas as razões para salvaguardar a ordem financeira e monetária que lhes concedeu acesso ao capital da Europa Todos os que tinham ligações com os investimentos e as finanças inter nacionais consideravam o padrãoouro essencial para o bom fun cionamento do sistema e partilhavam do compromisso de mantê lo O padrãoouro dependia da cooperação implícita ou explícita entre as principais potências financeiras e monetárias Em tem pos extremamente difíceis como o pânico econômico de 1907 as 82832 autoridades financeiras de GrãBretanha França Alemanha e por vezes de outros países trabalhavam juntas para evitar fissuras sérias no sistema O padrãoouro também dependia de uma re lação forte entre os banqueiros internacionais da Europa e seus clientes nos países em desenvolvimento Missões rumavam dos principais centros financeiros para Constantinopla e Lima Rio de Janeiro e Bancoc com o objetivo de aconselhar os devedores sobre como deveriam gerenciar suas economias Esse conselho muitas vezes era a adoção do padrãoouro Quando as dívidas se agravavam comitês de credores supervisionavam as renego ciações o que em geral incluía programas para a adesão ao padrãoouro Além do comércio uma das principais fontes de energia do padrãoouro era o extraordinário poder da GrãBretanha Ludwig Bamberger banqueiro e político que ajudou a implantar o padrãoouro na Alemanha disse certa vez Não optamos pelo ouro porque ouro é ouro mas porque a GrãBretanha é a Grã Bretanha19 O ouro melhorou o acesso à rede financeira britân ica e na virada do século Londres era responsável por quase metade de todos os investimentos internacionais A confiança no capital britânico era uma boa razão para que nações em desenvol vimento ao redor do mundo seguissem a liderança inglesa Já que o Reino Unido tecera uma rede econômica internacional tendo Londres como centro era natural que os participantes fossem at raídos para um sistema monetário britânico fixado no ouro Quanto mais países adotassem o ouro maiores seriam os in centivos para que outros se mantivessem ou entrassem no padrão Para um país ser um dos muitos a adotar o sistema bi metálico ou o papelmoeda não era muito prejudicial mas ser o único fora do sistema implicava o risco de rebaixamento à se gunda classe da economia global Na década de 1890 o comércio o dinheiro e as finanças inter nacionais já operavam como um circulo virtuoso À medida que o 83832 comércio mundial crescia surgiam mais grupos de exportadores e as exportações se tornavam mais importantes para eles Quanto mais importantes se tornavam os mercados externos para os produtores domésticos mais eles relutavam em aceitar o risco de retaliações gerado pelas tarifas nacionais Quanto mais ampla e atrativa era a variedade de produtos disponíveis no mercado in ternacional mais insistente tornavase a demanda pelo acesso a tais benefícios do comércio Esse fato se aplicava até mesmo aos países altamente protecionistas Com o crescimento das ex portações de matériasprimas e de produtos agrícolas dos Estados Unidos a hostilidade dos fazendeiros e mineradores do sul e do oeste em relação ao protecionismo comercial se tornou mais acir rada e profunda Possivelmente muitos fabricantes se benefi ciaram do sistema comercial mundial aberto Entre 1890 e 1910 a participação dos manufaturados norteamericanos cujas ex portações representavam 5 dos ganhos do país cresceu dramat icamente de 14 para 23 dessa economia nacional20 Em 1910 o país foi pressionado a abolir o quase embargo que impunha às im portações de manufaturados A mudança se refletia na política norteamericana que passou a fortalecer os democratas que ad vogavam pelo livrecomércio e até mesmo o discurso dos prote cionistas republicanos ganhou um tom mais moderado Em 1912 quando os democratas conseguiram ocupar a Presidência e dom inar o Congresso a primeira medida foi uma redução dramática nas tarifas norteamericanas Nos Estados Unidos assim como em outros lugares o rápido crescimento do comércio enfraqueceu os protecionistas e fortaleceu os que defendiam as trocas comerci ais livres de barreiras Um círculo vicioso também operava no padrãoouro Quanto mais sólido ele se tornava mais razões para salvaguardálo tin ham seus defensores À medida que o sistema internacional fin anceiro crescia um número maior de investidores internacionais se arriscava e eles forneciam uma base mais sólida às políticas 84832 governamentais Sobretudo aqueles que eram contra o sistema do ouro tinham motivos para crer em uma conspiração internacional do metal Os que acreditavam na ordem monetária dominante tinham muitos interesses em comum e se esforçavam para protegêlos Já que os opositores ao ouro lutavam prioritaria mente pela autonomia nacional e não pela harmonização mon etária internacional o estabelecimento de qualquer tipo de co ordenação global nessa direção tornavase impossível A integração econômica global se autorreforçava Quanto mais países adotassem o padrãoouro maiores seriam os níveis de comércio investimentos empréstimos e migração no plano inter nacional Quanto mais atividade econômica fosse gerada entre as fronteiras mais forte era o apoio ao padrãoouro como o guardião de um equilíbrio econômico previsível e de um sistema confiável de créditos Quanto mais amplo e profundo fosse o compromisso com o ouro melhor se posicionariam aqueles cujo sustento de pendia do padrãoouro e seus desdobramentos E dessa forma os pilares da Era de Ouro aumentavam tanto sua extensão quanto sua força Sua rede de defensores tornavase mais densa e sua resolução mais elevada na medida em que cada vez mais países adotavam o ouro e o comércio e os investimentos se expandiam Migração internacional de indivíduos e capital Embora o livrecomércio e o padrãoouro fossem as característic as mais óbvias do capitalismo global do período préPrimeira Guerra Mundial a movimentação de indivíduos também influen ciava a ordem econômica Não havia contudo um sistema ou uma política global que se aplicasse a todos os países como ocor ria em relação ao comércio e ao capital Em vez disso pressupunhase que tais movimentações deveriam ser 85832 essencialmente livres pressuposto este que raramente era ques tionado e de forma ainda mais rara se provava errado Tanto os países que enviavam imigrantes quanto aqueles que os recebiam tinham pouco interesse em restringir essa movi mentação Os que investiam fora do país ou imigravam certa mente o faziam com grandes expectativas Geralmente estavam certos A taxa média de lucros gerados pelos investimentos britânicos no exterior era de 70 a 75 maior do que a produzida internamente Essa diferença era ainda mais acentuada no todo poderoso setor ferroviário para o qual se destinava metade de to do o investimento externo da GrãBretanha As ferrovias britân icas no exterior arrecadavam cerca de duas vezes mais que as do Reino Unido21 Os ganhos com os empreendimentos internacion ais eram imensos para os países dos grandes investidores Na virada do século a supremacia dos britânicos nos investimentos internacionais dependia substancialmente dos lucros que obtin ham no exterior Com efeito uma década antes de 1914 a Grã Bretanha enfrentou um déficit comercial equivalente a 6 do Produto Interno Bruto PIB do país uma quantia considerável que era compensada com alguma folga pelos ganhos líquidos dos investimentos externos de 7 do PIB22 Esse fato levou os de fensores do sistema como Winston Churchill em um discurso proferido durante a campanha eleitoral de 1910 a falar com entusiasmo eloquente sobre os investimentos internacionais britânicos Os investimentos internacionais e o retorno que proporcionam estim ulam o sistema industrial britânico de forma vigorosa eles remu neram o capital do país com uma parcela da nova riqueza de todo o mundo a qual está gradualmente se tornando controlada pela desen volvimento científico23 Os salários nos países de destino eram drasticamente mais al tos do que aqueles pagos nos lugares de onde os imigrantes 86832 vinham Em 1910 por exemplo os salários nos Estados Unidos e no Canadá eram cerca de três vezes mais altos do que na Itália ou na Espanha ao passo que na Argentina eles eram o dobro Os salários norteamericanos e canadenses eram cerca de duas vezes mais altos do que os pagos na Irlanda e na Suécia e quase o dobro dos pagos na GrãBretanha24 Apesar de a vida dos imigrantes não ser fácil ela seria mesmo assim ainda mais difícil se eles tivessem ficado em seus países As nações de origem desses imigrantes tin ham poucos motivos para se opor à partida deles já que isso aliviava as pressões econômicas e sociais em lugares superpovoa dos A imigração também suscitava a esperança pelas remessas de dinheiro que os imigrantes mandavam para os que haviam sido deixados para trás Investidores internacionais imigrantes e seus países de ori gem certamente apoiavam a liberdade de movimentação para si e seu dinheiro Os países nos quais investiam ou se estabeleciam tinham razões para darlhes as boasvindas Na época assim como agora os países recémdesenvolvidos estavam ávidos por dinheiro Como mostra a comparação entre os salários estas tam bém eram regiões típicas de escassez de mão de obra onde rece ber novos trabalhadores motivados seria uma contribuição vital para o desenvolvimento nacional A avidez por trabalhadores em muitos dos locais de destino dos imigrantes era tão grande que governos subsidiavam esse deslocamento No Brasil após a abol ição da escravatura em 1888 os cafeicultores estavam tão deses perados por trabalhadores que convenceram os governos local e nacional a oferecer passagens de graça a europeus que quisessem vir trabalhar no país Nos 20 anos que se seguiram cerca de três milhões de europeus foram para o sul do Brasil remodelando a economia e a estrutura social desses lugares O entusiasmo com a imigração e os investimentos internacion ais não era contudo universal Nos países de onde o dinheiro es coava havia uma certa preocupação de que isso estaria 87832 restringindo o fornecimento de fundos para empreendimentos domésticos rentáveis Mesmo que as análises econômicas feitas posteriormente tendam a ser céticas nessa conta25 certamente muitas empresas na Europa se ressentiam dos enormes emprésti mos concedidos por financiadores europeus ao czar ou à província de Buenos Aires enquanto eles não podiam tomar emprestado Joseph Chamberlain um dos principais críticos dos investimen tos britânicos bradava contra o que considerava ser o descaso da comunidade londrina partidária do livrecomércio e dos investi mentos externos para com a indústria A atividade bancária não é a causa de nossa prosperidade e sim a cri ação dela não é a causa de nossa riqueza e sim a consequência dela e se a força industrial e o desenvolvimento os quais têm estado em curso neste país por tantos anos forem deixados para trás ou atenua dos então as finanças e tudo aquilo que elas significam irão seguir o comércio rumando para os países mais bemsucedidos que o nosso26 Em algumas partes dos países que solicitavam empréstimos também pairava a preocupação de que a confiança no capital ex terno fosse malconduzida Tal sentimento nacionalista era evid entemente mais popular quando se tratava do pagamento de em préstimos As preocupações não eram de todo infundadas Poucos eram os argumentos que serviam como justificativas aos cidadãos brasileiros ou chineses forçados a reduzir o consumo para pagar dívidas que aumentariam a fortuna de imperadores empresários favorecidos ou políticos corruptos Na maioria dos casos no entanto a exportação de capital não era uma questão controversa Esse capital tendia a rumar dos países que o tinham em abundância para os Estados que o dese javam e podiam pagar por ele Os principais receptores não eram as regiões paupérrimas da África ou Ásia mas as de colonização recente europeia em rápido desenvolvimento Em 1914 de fato 34 dos investimentos britânicos estavam no Canadá Austrália 88832 África do Sul Índia e Argentina27 Nesses países a maior parte do dinheiro era usada em estradas de ferro portos usinas de geração de energia e outros projetos cruciais para o desenvolvimento A imigração gerou um descontentamento maior Os trabal hadores europeus ou asiáticos que iam para Sydney Toronto ou São Francisco se tornavam competidores diretos da mão de obra que já estava lá Na época assim como ocorre nos dias de hoje multidões de trabalhadores não especializados se agrupavam nas profundezas do mercado de trabalho desempenhando as tarefas mais pesadas e menos almejadas Na maioria dos casos a imigração não significou uma queda nos salários dos trabal hadores especializados mas certamente reduziu o valor pago aos menos qualificados aqueles que competiam diretamente com os imigrantes Um estudo sobre as condições nas cidades norte americanas na virada do século mostrou que quanto maior era a população vinda de outros países menores eram os salários dos trabalhadores Apesar de os salários dos artesãos não terem so frido alterações o impacto causado na mão de obra não quali ficada dos Estados Unidos fora significativo Cada ponto percent ual acrescido nas taxas de imigração diminuía os salários dos tra balhadores em 1628 Análises mais amplas confirmavam os resultados norteamericanos de que por razões óbvias a imigração causava imenso impacto no abastecimento de trabal hadores em muitos dos países receptores Entre 1870 e 1910 a imigração tornou no último ano a força de trabalho argentina 75 maior do que seria se o país não tivesse recebido imigrantes O Canadá e a Austrália contavam com 13 a mais de trabal hadores e os Estados Unidos com 15 Os resultados da crescente oferta de mão de obra foram salários notadamente mais baixos do que seriam sem a imigração 13 menores na Argentina cerca de 14 no Canadá e na Austrália e até 18 menor nos Estados Un idos29 89832 Os trabalhadores portanto tinham motivos para tentar re stringir novos fluxos de imigração Geralmente os novos imigrantes eram a maior ameaça econômica para quem havia acabado de chegar e agora ocupavam as posições mais baixas na escala social local Nos Estados Unidos os irlandeses eram uma ameaça para os italianos que eram uma ameaça para os judeus e todos eram uma ameaça para os migrantes internos os negros vindos do sul do país Mas ao passo que os trabalhadores es tavam receosos quanto à imigração os empregadores tinham to dos os motivos para desejála Certamente eles eram os que mais se beneficiavam com os salários baixos principalmente na in dústria setor que necessitava de trabalho não qualificado Os imigrantes correspondiam a 15 da força de trabalho masculina dos Estados Unidos a 23 da mão de obra da indústria têxtil e a mais da metade dos empregados das fundições de ferro e aço30 O resultado foi um conflito direto de interesses assim como ocorrera em relação ao comércio e ao padrãoouro Nos países destino a mão de obra não especializada desejava que os novos trabalhadores não qualificados se mantivessem afastados ao passo que os empregadores os desejavam As aparentes diferenças étnicas religiosas ou raciais entre os grupos exacerbavam ainda mais os conflitos Os lugares onde o trabalho era uma questão política particularmente forte em geral enfrentavam restrições severas à imigração A Austrália talvez seja o melhor exemplo No país a grande quantidade de mão de obra concedera aos sindica tos um poder que provavelmente não existia em nenhuma outra parte do mundo poder esse que era utilizado para impor re strições severas à imigração Devido às razões econômicas e raci ais o principal alvo eram os imigrantes asiáticos Eles eram cul tural e fisicamente diferentes e por serem mais pobres que os europeus geralmente estavam dispostos a trabalhar por menos O resultado foi uma segregação racial severa a política da Aus trália branca adotada com o Ato de Restrição à Imigração de 90832 1901 Nos Estados Unidos o sentimento antiimigração concentravase no oeste No país assim como na Austrália a mão de obra era escassa devido à distância Nos EUA conforme ocor rera na Austrália a escassez de mão de obra implicou salários mais altos para os que chegaram primeiro os quais tentavam lim itar a entrada dos demais O principal alvo era a imigração asiát ica Isso resultou em uma série de restrições a imigrantes chineses e japoneses que durou muitas décadas Os exemplos de restrições impostas à imigração são muitos Entretanto no nível global eles eram relativamente escassos Raramente os trabalhadores possuíam força suficiente para mudar as políticas de imigração o que ocorreu apenas em alguns países Em nações como a Argentina e o Brasil onde a sociedade e o governo eram dominados pelos interesses dos proprietários de terras e industrialistas que desejavam a maior quantidade pos sível de imigrantes os governos eram proativos no estímulo ao abastecimento crescente de trabalhadores Mesmo em regiões onde algumas restrições foram impostas como no Canadá e nos Estados Unidos as fronteiras permaneciam praticamente abertas à maioria dos imigrantes principalmente os europeus A imigração assim como o comércio os investimentos e o padrão ouro ajudou a construir uma estrutura mais ampla para a aber tura econômica Muitos dos imigrantes esperavam voltar para casa de vez ou de passagem comprar uma propriedade em seus países e enviar dinheiro para os parentes que lá ficaram Eram gratos às fronteiras abertas e à facilidade com que podiam trans ferir fundos entre as moedas fixas no ouro Em contrapartida contribuíam para a integração econômica ao ajudar no estabeleci mento de novas terras e indústrias em locais que de outra forma continuariam carentes de mão de obra Globalização 91832 O capitalismo global do fim do século XIX e início do XX chegou perto do ideal clássico Todos os elementos que o compunham imigração comércio ou investimentos internacionais gozavam de relativa liberdade e estavam unidos pelo bemestabelecido padrãoouro Os donos de firmas minas fazendas e plantações em todos os continentes produziam para os mercados globais util izando a mão de obra e o capital de todo o globo Os que prosperavam constituíam uma força poderosa e em crescimento contínuo para o avanço da integração econômica Nessas con dições a economia mundial cresceu mais rapidamente do que nunca O padrão de vida aumentava à medida que cada país at ingia ou ultrapassava o nível de desenvolvimento da Grã Bretanha a naçãolíder em industrialização A liberalização do comércio se autorreforçava o padrãoouro também e cada um deles reforçava um ao outro O padrãoouro tornava o comércio e as finanças internacionais mais atrativas as quais por sua vez aumentavam o poder de atração do padrão ouro A abertura econômica global levou a meios de transporte mais rápidos a um melhor sistema de comunicações a moedas mais confiáveis a políticas comerciais mais livres e a uma maior estabilidade política E todos esses fatores estimulavam uma maior abertura econômica O circulo virtuoso ou o espiral de abertura econômica crescente resultante se expandiu a níveis ja mais vistos durante o fim do século XIX e início do XX O clube de cavalheiros que era o capitalismo global da Era de Ouro foi fundado tendo a GrãBretanha e a Europa ocidental como núcleo Mas o clube também estava aberto ao Novo Mundo e a outras regiões e na virada do século os Estados Unidos a Austrália e a Argentina obtiveram a afiliação Outras nações que cresciam rápido e se integravam globalmente como o Brasil e o Japão também eram membros do clube apesar de não gozarem do mesmo status que os franceses britânicos e alemães Os gov ernos dos países que pertenciam ao clube fossem eles membros 92832 seniores ou juniores eram altamente conscientes de que precis avam manter um padrão de conduta de acordo com suas obrigações abertura econômica completa compromisso com o padrãoouro e uma interferência mínima nos mecanismos de fun cionamento dos mercados globais e nacionais O clube crescia e prosperava e seus membros tinham poucos motivos para reclamar a Clubes formados pela classe alta londrina em que seus membros se reuniam para jogar ou discutir temas como política ou literatura NT b No original governor O governor do Banco da Inglaterra o Banco Central inglês é a posição mais alta na instituição NE c Antiga denominação da Tailândia O nome mudou em 24 de junho de 1939 NE 93832 3 Histórias de sucesso da Era de Ouro A Exposição Internacional de Paris de 1900 foi a maior que o mundo já viu Essa foi a última de uma série de sete feiras inter nacionais na França e na GrãBretanha que teve início com a ex posição de 1851 no Palácio de Cristal As feiras anteriores mostraram os avanços industriais do passado a de Paris apontava em direção ao século XX Os visitantes da feira de 1900 podiam caminhar do Trocadero à Torre Eiffel que havia sido erguida para a exposição de 1899 Os portões da feira se abriram para um mix internacional Carrilhões flamengos de sinos medievais cânticos muezins com o tin ido de cincerros as cidades de Nuremberg e Louvain moradias húngaras monastérios romenos palácios javaneses bangalôs seneg aleses e castelos dos Cárpatos formavam uma maravilhosa mis celânea internacional sob o céu cinzento da quaresma1 Os avanços industriais e científicos tomaram conta da ex posição Para um francês parecia que o mundo mudava tão de pressa que nos deixava tontos confusos em meio ao turbilhão do progresso2 Os visitantes podiam ver as últimas tecnologias um telégrafo sem fio o telescópio mais poderoso do mundo uma torre de eletricidade Eletricidade escreveu um entusiasmado visitante Nascidos no paraíso como verdadeiros reis A eletricidade triunfou na exposição como a morfina triunfara nos boudoirs de 1900 O público ria das palavras perigo de morte escritas nas torres pois eles que pensavam que a eletricidade poderia curar todas as doenças até mesmo a neurose tão na moda isso era o progresso a poesia tanto dos ricos quanto dos pobres a fonte de luz o grande sinal esmagou o acetileno assim que surgiu A eletricidade é acumulada condens ada transformada engarrafada armazenada em filamentos enrolada em bobinas depois descarregada na água em fontes disposta livre mente no topo das casas ou deixada perdida entre as árvores é o fla gelo e a religião de 19003 Os visitantes podiam chegar ao novo metrô de Paris circular pelos pavilhões de esteira rolante e andar na primeira escada ro lante apenas para cima em direção aos surpreendentes novos aparatos No pavilhão de ótica podiase ver visão repugnante uma gota das águas do Sena aumentada 10 mil vezes e um pouco mais adiante a apenas um metro de distância avistavase a lua O dr Doyen um cirurgião dado à autopromoção utilizou até mesmo uma invenção nova um cinematógrafo que o mostrava realizando uma operação Em outro ponto a voz de um fonógrafo estava sincronizada com im agens em movimento4 Um escocês maravilhado com as novas tecnologias e com aqueles que as desenvolveram afirmou Os engenheiros e eletricistas em meio a patentes da Siemens ou do Lord Kelvin os mestres do ferro se aglomerando para comprar a co lossal máquina a gás que reutiliza a energia gasta pelos altosfornos e literalmente acumula a força de milhares de cavalos contra o que tem sido até o momento um poluidor inútil do ar a mostra de 95832 automóveis as últimas lentes telefotográficas as rivais das máquinas de escrever as macieiras mais bempodadas os filtros e antissépticos mais recentes5 Em meio a tantos indícios do progresso tecnológico os 50 mil hões de visitantes da feira devem ter percebido outra realidade a liderança industrial parecia se afastar da GrãBretanha e de out ros países que também se industrializaram cedo como a França e a Bélgica Para um inglês a exposição fora um presságio da norteamericanização do mundo No entanto de forma geral a feira foi dominada pela Alemanha como se a nação tivesse se tornado a responsável por todo o maquinário da Terra Insistia na beleza do aço e a poltrona de Luís XV foi banida Ela irá esmagar e pulverizar o mundo6 Ouvi os mais velhos dizendo escreveu um menino francês Viram os alemães São incríveis Eles engarrafam o ar Fab ricam o frio A Alemanha um país que havia 30 anos era consid erado um local atrasado apenas de agricultores chocava os visit antes com seu pavilhão Sob seu aspecto rústico suas torres de madeira verdes e amarelas o palácio do Reich escondia uma verdadeira explosão de método ciên cia e trabalho que resultava em um imenso sistema de medidas prát icas A maior instância de envolvimento comercial que o mundo já viu7 O visitante francês foi ainda mais longe Nenhuma outra raça até agora havia sido bemsucedida em extrair resultados tão estupendos da terra sem suar a camisa Veja me lem bro bem da grande impressão que me causaram o enorme dínamo de Hélios de 2 mil cavalos de força produzido em Colônia e acelerado por turbinas a vapor os outros tipos de geradores de Berlim e Magde burgo e o guindaste que levanta 25 toneladas dominando a galeria diante dessas máquinas as dos outros países parecem brinquedos8 96832 Veteranos de guerra da derrota francesa de 30 anos antes baixaram a cabeça com tristeza relembrando a decisiva Guerra FrancoPrussiana A exposição é um sedã comercial9 Houve rumores de que os alemães se ofereceram para fornecer toda a en ergia da feira mas os franceses humilhados pelo simbolismo da subordinação industrial da França recusaram Ainda mais surpreendente foi a ascensão econômica de um Estado insular asiático conhecido por seu exotismo e não por sua indústria Esse jovem vitorioso começou bem o século disse um observador10 Outro visitante estava apreensivo percebendo uma sombra da Alemanha e de seu poderio militar surgindo da Ásia O Japão parece ser o eco oriental da grande voz do Reno celebrando o trabalho a pátria e enobrecendo a guerra Qual o significado de toda essa armadura prateada dessas caldeiras tubulares dessas polít icas aventureiras dessa arrogância comercial Sobre Nagasaki e suas luzes nós sabemos mas e sobre Kobe e seus altosfornos11 Para muitos cidadãos das nações mais industrializadas os avanços econômicos de outros lugares revelados na exposição eram perturbadores Esses países que estão criando uma vida nova para si escreveu um francês nada sabem sobre política e sobre a atitude neurótica e degenerada do findesiècle Contra quem eles estão propondo usar sua força12 Da Europa central à Austrália da Argentina ao Japão o excentro industrial do mundo estava sendo superado por uma série de países fora desse núcleo Os visitantes da feira de Paris de 1900 devem ter se per guntado como o noroeste da Europa perdeu a sua posição inques tionável de líder da economia mundial A GrãBretanha fica para trás 97832 À medida que as economias se integravam as modernas fábricas se expandiam de sua limitada base na GrãBretanha e no nordeste da Europa em direção ao resto do continente à América do Norte e até mesmo ao Japão e à Rússia Em 1870 a GrãBretanha a Bélgica e a França juntas eram responsáveis por quase metade da produção industrial do mundo mas em 1913 esses países mal conseguiam produzir 15 dela A produção industrial da Ale manha era maior que a da GrãBretanha e a produção norte americana era mais que o dobro da britânica13 Em 1870 áreas urbanas industriais eram raras até mesmo na Europa mas até 1913 todos os países da Europa ocidental exceto Espanha e Por tugal se industrializaram Nas terras austríacas e tchecas do Império AustroHúngaro dos Estados Unidos e do Canadá da Austrália e Nova Zelândia da Argentina e do Uruguai a parcela agrícola da população era menor do que na França e na Ale manha14 Em 1913 podiase dizer com certeza como não poder ia ter sido dito em 1870 que grande parte do mundo era indus trial de Chicago a Berlim de Tóquio a Buenos Aires A GrãBretanha a primeira nação manufatureira do mundo e líder industrial por muitos anos havia sido deixada para trás por diversos países e se encontrava na eminência de ser superada por outros Vários eram os indícios que atestavam o fato O padrão de vida nos Estados Unidos na Austrália e na Nova Zelândia era mais alto do que no Reino Unido e estava crescendo rápido na Argentina e no Canadá As fábricas da Alemanha e dos Estados Unidos produziam bem mais do que as da GrãBretanha especial mente aquelas dos principais setores Em 1870 a produção britânica de ferro e aço era maior que a das duas nações juntas ao passo que em 1913 a Alemanha e os Estados Unidos juntos ul trapassaram a produção britânica na proporção de cerca de seis para um A GrãBretanha também havia perdido sua supremacia tecnológica Os alemães avançaram de forma significativa no campo da engenharia elétrica e dos químicos e os norte 98832 americanos introduziram métodos revolucionários de produção em massa15 O berço da Revolução Industrial estava sendo deix ado para trás Eram muitos os que se industrializavam rapidamente Os Estados Unidos e a Alemanha que já começaram prósperos eram economias agrícolas e comerciais produtivas e que rumaram de forma mais ou menos suave em direção às manufaturas Outros países que rapidamente se industrializaram como Itália Império AustroHúngaro Rússia e Japão iniciaram o processo bem mais pobres Eram economias agrícolas atrasadas nos casos de Rússia e Japão estavam apenas um passo à frente do feudalismo mas desenvolveram setores manufatureiros dinâmicos no início do século XX Essas nações continuavam a ser amplamente agrárias e com frequência as economias rurais eram bem mais atrasadas que as cidades mas acabaram construindo uma base industrial impressionante As experiências de Japão e Rússia foram especialmente dramáticas Ambos os países eram acometidos pela pobreza e a sua renda per capita em 1870 era bem semelhante à de outros pobres da Ásia e muito menor que a dos Estados da América Lat ina Mas na reta final do século XIX ambos seguiram o ímpeto vi gente de industrialização Seus respectivos governos se con centraram em expandir as exportações e atrair capital estrangeiro para alimentar a indústria A autocracia da Rússia czarista buscava investimentos no ex terior exportava matériaprima e grãos a fim de arrecadar moeda estrangeira para a indústria além de proteger os produtos manu faturados domésticos com tarifas comercias altas A indústria russa cresceu em uma velocidade notória A produção de aço aumentou em seis vezes de 1890 a 1900 e depois disso mais do que dobrou de 1905 a 1913 os anos do início do século foram marcados pela guerra contra o Japão e por uma revolução demo crática fracassada A produção de carvão e de ferrogusa 99832 aumentou em seis vezes de 1890 a 1913 e as indústrias de bens de consumo cresceram de forma quase tão rápida Em 1914 a Rússia possuía 2 milhões de trabalhadores nas modernas indústrias além de algumas das maiores fábricas do mundo16 No entanto o cultivo agrícola permanecia majoritariamente prémoderno A Rússia se industrializou rapidamente mas de maneira altamente desordenada Algumas poucas ilhas de modernidade eram cerca das por áreas rurais extremamente atrasadas O Japão passou por um processo de desenvolvimento econ ômico mais equilibrado A retomada da Dinastia Meiji em 1868 derrotou a ordem militar dos senhores feudais do xogunato O novo governo imperial reformista tinha como objetivo a modern ização econômica por meio da participação completa na economia mundial De forma ávida o país buscava tecnologia e capital es trangeiros e em poucos anos já exportava com sucesso para os mercados europeus A agricultura japonesa era relativamente efi ciente diferentemente do que ocorria com a russa e o cresci mento industrial dependia tanto do comércio exterior quanto de um desenvolvimento econômico mais amplo o que incluía um aumento na renda das zonas rurais O início do crescimento in dustrial do Japão estava intimamente ligado às suas vantagens comparativas especialmente o comércio da seda Até 1914 a seda ou os produtos feitos a partir dela correspondiam a 13 de todas as exportações17 Com o auxílio da abundante e relativamente bemeducada força de trabalho japonesa a indústria de produtos de algodão também cresceu rapidamente Entre 1890 e 1913 a produção de fios de algodão cresceu de 190 mil para 3 milhões de toneladas As exportações do produto que em 1890 eram inexist entes atingiram 850 mil toneladas em 1913 e as de tecidos que também não existiam chegaram a 390 milhões de centímetros cúbicos no mesmo ano quando os tecidos de algodão correspon diam a mais de 15 de todas as exportações japonesas18 100832 Os japoneses demonstraram os frutos férteis de seu sucesso econômico derrotando a China na guerra de 1895 tomando Taiwan aumentando a influência que exerciam sobre a Coreia e conseguindo uma posição na luta por esferas de influência na Ch ina Eles se afirmaram de forma ainda mais impressionante na guerra contra a Rússia em 1904 O Japão arrasou a Rússia e foi a primeira vez na história moderna que uma potência asiática derrotou uma europeia O ataque naval no estreito de Tsushima em maio de 1905 particularmente chocou os europeus A armada japonesa se mostrou mais rápida mais moderna e melhor equipada do que a frota russa que foi completamente destruída A ciência alemã a tecnologia norteamericana e o poderio mil itar japonês ofuscaram o núcleo industrial do mundo Uma série de países que em meados do século XIX estavam bem fora do cír culo da sociedade industrial moderna pularam para o centro dele no início do XX Tornaramse membros ativos do clube de caval heiros da Era de Ouro da economia mundial Novas tecnologias e o novo industrialismo Mudanças nas bases manufatureiras promoveram a rápida pro pagação da industrialização A difusão do uso de energia elétrica e de formas mais baratas de produção de aço além do desenvolvi mento da indústria química moderna e de outras tecnologias transformaram a produção industrial Uma enxurrada de in venções também introduziu novos produtos no mercado como a máquina de escrever a bicicleta o fonógrafo as câmeras portáteis e a seda artificial chamada raiom O mecanismo de combustão interna levou à invenção do veículo motorizado e ao lançamento da indústria mais importante do século XX Em meados de 1800 os manufaturados eram basicamente produtos têxteis 101832 vestimentas e calçados mas no fim do século o foco passou para o aço químicos máquinas elétricas e automóveis A produção e o consumo em massa cresciam juntos No início os produtos industriais atendiam principalmente às necessidades básicas Uma vez que a renda per capita na Europa na América do Norte e nas áreas de colonização recente cresceu duas vezes entre 1870 e 1913 a demanda por bens de consumo além de com ida roupa e moradia mais do que duplicou Ao mesmo tempo as invenções recentes possibilitaram a criação de uma série de eletrodomésticos Agora muitas famílias tinham luz elétrica má quinas de costura telefones e algumas delas automóveis e rádi os A tendência de produzir máquinas para o consumo de massa especialmente os novos aparatos domésticos era liderada pelos Estados Unidos A América do Norte sofria com a falta crônica de trabalhadores o que significava que empregados domésticos eram caros demais para as classes médias e que as mulheres norteamericanas eram mais inclinadas a trabalhar fora do que as europeias Isso criou uma avidez por aparatos que aliviassem o peso do trabalho doméstico e liberassem os indivíduos para out ras atividades O automóvel era um produto industrial exemplar que levou a novos padrões de produção e consumo A carruagem sem cavaloa supria a demanda por um meio de transporte individual que crescia junto com a renda e a disponibilidade de tempo para o lazer As linhas de montagem levaram o carro a motor original mente um artigo de luxo feito artesanalmente ao alcance da classe média O boom inicial da indústria automobilística ocorreu dez anos antes da Primeira Guerra Mundial O fenômeno foi essencialmente norteamericano A Europa não aderiu seriamente à era automotiva até a década de 1920 Em 1905 havia cerca de 160 mil veículos motorizados no mundo sendo que a metade es tava nos Estados Unidos Em 1913 cerca de 17 milhão de carros rodavam nas estradas dos quais 34 nos Estados Unidos As 102832 inovações de Henry Ford reduziram o preço do Ford modelo T de US700 para US350 entre 1910 e 1916 quando os preços dos outros produtos aumentaram em média 70 Com o aumento dos salários durante esse período um trabalhador médio norteamer icano em 1910 conseguia ganhar o suficiente para comprar um Ford T em um ano Em 1916 esse tempo foi reduzido para seis meses Com a produtividade disparando os preços caíram e a de manda aumentou A produção de carros Ford cresceu de 34 mil unidades em 1910 para 73 mil O país tinha cerca de 15 milhão de carros três ou quatro vezes mais do que a quantidade existente no resto do mundo Com o surgimento do automóvel a indústria moderna jamais seria a mesma19 O automóvel fora o mais impressionante dos novos bens de consumo duráveis como eram chamados para que fosse estabele cida uma diferenciação entre esses e os outros produtos menos permanentes como sapatos ou carne enlatada A produção de bens duráveis utilizava uma quantidade maior de recursos inter mediários produtos em estágio médio de acabamento como aço fios de cobre e vidro que os bens de consumo não duráveis que eram quase matériasprimas Os duráveis também neces sitavam de um maquinário mais sofisticado As novas indústrias tendiam a gerar fábricas e empresas muito maiores Antes da década de 1890 a maior parte dos produtos manufaturados poderia ser feita em pequenas lojas Fábricas com 40 ou 50 empregados podiam facilmente pôr em prática as vant agens da especialização das máquinas modernas e da energia a vapor Mas as novas tecnologias geralmente exigiam um número maior de pessoas e equipamentos As usinas siderúrgicas foram os primeiros exemplos em 1907 34 dos empregados do setor de ferro e aço da Alemanha trabalhavam em fábricas com até mil tra balhadores em 1914 uma usina siderúrgica média nos Estados Unidos contava com 642 trabalhadores20 O tamanho médio das fábricas de produtos como químicos metais máquinas e aparatos 103832 de engenharia e até mesmo de pequenos negócios de outrora como o têxtil cresceu de maneira substancial A típica fábrica se transformou de uma pequena oficina em uma indústria imensa As economias de escala eram muito mais importantes para essas fábricas complexas do que para os setores típicos da primeira Re volução Industrial As fábricas de automóveis e químicos eram como continuam sendo bem maiores que as de artigos de vestuário Os novos bens de consumo duráveis eram produtos caros que as pessoas compravam para usar durante anos de modo que a reputação de serviços e a confiabilidade tinham importância Dessa forma uma identificação com a marca fazia a diferença e não é por coincidência que a propaganda moderna existe desde os primeiros bens de consumo Quando o atendimento a identi ficação e outros fatores que contribuem para a reputação de uma marca tornamse importantes o mercado tende a ser dominado por poucas grandes empresas E foi isso o que aconteceu A Singer a Ford a General Electric e a Siemens entraram em cena com o crescimento da indústria de bens de consumo duráveis As nações de rápida industrialização se beneficiaram por ter em iniciado o processo tardiamente A Alemanha e os Estados Unidos por exemplo estavam bemposicionados o que facilitou a adoção dos novos padrões de produção e consumo que tornavam as fábricas maiores e as empresas mais abundantes Os alemães os norteamericanos e outros que se desenvolveram tarde puderam começar o processo com instalações e equipamentos mais modernos produzindo o que havia de mais novo em fábricas imensas utilizando tecnologia de ponta No entanto o peso da História foi sentido pelo setor manufatureiro britânico com suas indústrias mais antigas fábricas menores e empresas lentas de mais para alcançar a produção em escala das imensas empresas dos Estados Unidos e do resto da Europa continental A segunda 104832 leva de países industrializados utilizouse do frescor para vencer os britânicos no seu próprio jogo industrial21 Os recémindustrializados dependiam de uma economia mun dial aberta A difusão internacional de novas tecnologias neces sitava da integração global a maior parte das novas indústrias também precisava mais das proporções de um mercado global do que dos restritos mercados nacionais Londres e outras capitais europeias estavam prontas para emprestar capital a qualquer pro jeto viável A Suécia uma grande história de sucesso do período ilustra o papel central que a integração econômica desempenhou nessa se gunda onda de desenvolvimento industrial22 Em 1870 o país era um dos mais pobres da Europa ocidental mas o crescimento de outras regiões aumentou a demanda pelas exportações suecas es pecialmente de madeira serrada e de produtos feitos desse mater ial como fósforos de segurança O boom dessa matériaprima permitiu à Suécia construir novas indústrias voltadas para os mercados externos de aço de alta qualidade máquinas e outros bens A industrialização na Suécia também foi alimentada pelo capital estrangeiro que financiou cerca de 90 dos empréstimos feitos pelo governo Grande parte do capital estrangeiro fora des tinada direta ou indiretamente para a construção de ferrovias instalações e infraestrutura para portos Para a Suécia assim como para os outros países recémindustrializados as fábricas modernas vieram de mãos dadas com o acesso aos mercados ex ternos e com a tecnologia e capital estrangeiros Protegendo as indústrias nascentes Apesar de os países que desafiavam a supremacia industrial britânica contarem com acesso a mercados tecnologia capital e fornecedores do exterior eles também tendiam a utilizar barreiras 105832 comerciais para proteger suas indústrias Geralmente suas empresas e líderes políticos favoreciam o investimento externo as finanças internacionais e a imigração livre Eles viam o comércio como uma peça importante para o crescimento mas muitos in dustrialistas que se consideravam internacionalistas econômicos também apoiavam firmemente a proteção comercial para suas próprias indústrias Os graus de proteção defendidos variavam os fabricantes norteamericanos eram bem mais protecionistas que seus colegas alemães ou japoneses mas quase todos os países em vias de industrialização de alguma forma protegeram suas indústrias As fábricas protegidas da concorrência es trangeira podiam ajustar os preços domésticos acima dos níveis mundiais e obter lucros altos que podiam ser reinvestidos na indústria Essa industrialização artificialmente rápida era exatamente o que esperavam e desejavam aqueles que acreditavam no prote cionismo como um meio justificável para fins industriais O mais conhecido dos primeiros teóricos da industrialização por meio do protecionismo foi Friederich List um economista político e ativ ista alemão do século XIX List considerava o livrecomércio o ob jetivo final mas argumentava que o protecionismo comercial temporário era necessário para equalizar as relações entre as grandes potências Para permitir que a liberdade de comércio opere naturalmente as nações menos avançadas precisam antes se erguer por meios artificiais até atigirem o mesmo estágio de desenvolvimento que a nação inglesa alcançou artificialmente23 List e os outros defensores da proteção focaram nos argu mentos da indústria nascente e nas necessidades genuínas da in dústria moderna de produção em larga escala O único e exclus ivo motivo que justifica o sistema de proteção é o desenvolvi mento industrial da nação24 De acordo com eles não é possível construir uma indústria moderna de aço aos poucos É necessário começar com uma grande quantidade de enormes usinas 106832 integradas Eles argumentavam que em um estágio inicial as usi nas talvez fossem ineficientes mas com o passar do tempo logo se tornariam competitivas e a proteção poderia ser retirada Os protecionistas diziam que nenhum país havia se industrializado sem barreiras protecionistas o Reino Unido se livrara do controle mercantilista sobre o comércio apenas após ter atingido um bom desempenho industrial E com frequência eles argumentavam que a segurança nacional exigia a maior autossuficiência possível De fato o argumento de List era relevante principalmente para os países grandes e relativamente ricos onde a indústria era crucial para o poder e a influência da nação Não importa quais fossem os sacrifícios de curto prazo impostos pelo protecionismo os benefí cios de longo prazo valiam o preço A nação precisa se sacrificar e abrir mão de uma série de bens materiais para que desenvolva a cultura as habilidades e a força para uma produção unificada de ve sacrificar algumas vantagens imediatas para garantir futur as25 O argumento de que as indústrias em estágios iniciais neces sitavam do apoio do governo era até aceito embora com cuidado pelos principais pensadores da teoria comercial clássica tais como John Stuart Mill contemporâneo de List O mesmo se ap licava ao debate sobre a indústria nascente que de forma geral era reconhecida por muitos economistas neoclássicos no início do século XX Contudo Mill e os neoclássicos sempre pensaram o protecionismo como um artifício muito mais a ser tolerado do que abraçado Não importa o que pregasse a teoria Em termos políticos práticos na maioria dos países de industrialização tardia os fab ricantes queriam proteção e eram poderosos o suficiente para conseguila Praticamente todos os que se industrializaram de forma rápida dos Estados Unidos ao Japão e da Rússia à Itália contavam com tarifas industriais relativamente altas O governo russo impôs uma das tarifas mais altas da história moderna 84 107832 sobre os produtos manufaturados quase o dobro da que era con siderada a segunda maior tarifa os 44 em média impostos pelos Estados Unidos26 Além de desenvolver a indústria em pou co tempo o protecionismo gerou uma estrutura industrial peculi ar Níveis muito altos de proteção tendem à criação e à defesa de monopólios Tarifas comerciais altas contribuem ainda para que a indústria seja dominada por estrangeiros já que as empresas europeias impossibilitadas de vender para os mercados russos contornavam as barreiras tarifárias estabelecendo suas empresas dentro do Império Com efeito os teóricos contemporâneos destacam dois aspectos que caracterizam a indústria russa Am bos são relacionados aos padrões de industrialização buscados pelo regime czarista larga escala e amplo domínio estrangeiro Cerca de 40 da indústria pertencia a estrangeiros e mais de 40 do total da mão de obra trabalhava em fábricas com mais de mil empregados Sem dúvida essa grande concentração pouco usual de trabalhadores em fábricas enormes facilitou a atividade de grupos revolucionários que organizaram o proletariado antes e durante a Primeira Guerra Mundial27 As barreiras comerciais do Japão eram bem mais modestas que as da Rússia ou dos Estados Unidos Estimase que as tarifas japonesas eram no máximo semelhantes àquelas da Europa con tinental28 O país dependia muito das exportações de produtos manufaturados simples tecidos de algodão e seda e claramente conduziu sua indústria na direção da economia internacional As fábricas passaram a ser subsidiadas pelo governo e os resultados econômicos foram arrebatadores como o mundo testemunhou durante a Guerra RussoJaponesa A proteção comercial gerou alguns efeitos problemáticos A teoria clássica do comércio há tempos apontava para dois resulta dos indesejáveis das barreiras comerciais Em primeiro lugar por aumentar os preços o protecionismo transferia renda dos con sumidores para os produtores Tarifas sobre sapatos tornavam o 108832 produto mais caro beneficiando quem fabricava o produto e pre judicando quem os comprava Em segundo lugar o protecionismo fazia com que o país se desviasse de suas vantagens comparativas Por tornar as atividades protegidas artificialmente mais luc rativas o protecionismo comercial deslocava recursos para usos ineficientes Ao impor tarifas sobre os sapatos o país passava a produzir mais unidades do que deveria de acordo com suas vant agens comparativas O primeiro efeito causado é de ordem dis tributiva taxar os consumidores para beneficiar os produtores O segundo efeito é uma redução na eficiência ou no bemestar agregado o que desvia recursos de atividades produtivas para outras menos eficientes Além disso as tarifas eram ligadas a cartéis combinações formais ou informais entre as grandes corporações Às vezes um cartel existente demandava proteção comercial Os membros dos cartéis concordavam em limitar o fornecimento e manter os preços altos artificialmente que não se sustentariam caso os im portados pudessem entrar Os produtores estrangeiros que não faziam parte dessa combinação ofereciam preços mais baixos Assim a estabilidade do cartel exigia proteção contra a com petição estrangeira Algumas vezes o processo se dava ao revés e o protecionismo criava cartéis Das duas formas o surgimento de trustes nos Estados Unidos se sobrepôs à expansão da proteção comercial O crescimento do truste do açúcar do truste do aço e de outras formações de oligopólios seria impossível sem as altas barreiras tarifárias As indústrias da Europa continental funcionavam de forma semelhante Eram altamente cartelizadas e bastante protegidas O governo alemão por exemplo restringiu as importações de ferro e aço apesar de as empresas do país estarem entre as mais efi cientes do mundo Isso permitia que as maiores empresas da in dústria do ferro e aço criassem cartéis formais e legais para manter os preços altos Os cartéis forneciam às empresas alemães 109832 altamente integradas um lucro extra de centenas de milhões de marcos mas operavam contra as companhias menores que não faziam parte dos arranjos e evidentemente contra os consum idores que pagavam valores altos pelos produtos29 Os vencedores e perdedores da proteção comercial com fre quência se enfrentavam em batalhas políticas duras Os produtores agrícolas norteamericanos resistiam a políticas comerciais que os forçassem a vender trigo e algodão a preços in ternacionais e a comprar fertilizantes maquinário e roupas com preços 40 mais altos do que a média mundial Essa situação re clamavam gerava uma taxação de fato em cima da produção agrí cola A situação na Europa era semelhante apesar de no contin ente terem sido os trabalhadores das manufaturas que protest aram contra as altas tarifas sobre a carne e os grãos importados Em 1913 o Partido Trabalhista socialista da Bélgica queixavase O alto custo dos alimentos se faz sentir em todos os lugares mas os países protecionistas incluindo a Bélgica são os que mais sofrem As medidas protecionistas tomadas em nosso país beneficiam apenas os proprietários de terras e o fechamento das fronteiras para a im portação de gado impede que a classe trabalhadora coma de forma adequada30 A contribuição da proteção comercial para a rápida industrial ização do fim do século XIX e início do XX foi controversa e o jul gamento da história sobre o fato permanece ambíguo A proteção comercial foi danosa para os consumidores a indústria pagava mais aos fornecedores e as famílias pagavam mais por comida roupas e outros artigos de primeira necessidade A produção era deslocada para a indústria protegida independentemente de sua eficiência Com certeza a proteção acelerou o desenvolvimento da indústria O sistema de tarifas cartelizado foi ao menos em parte responsável pelo fato de a produção alemã de aço dobrar a cada seis ou sete anos ao longo de décadas até 1913 É uma questão em 110832 aberto se os custos superaram os benefícios extraídos pelas so ciedades Os Estados Unidos e a Alemanha certamente se indus trializariam sem tarifas e talvez tivessem sofrido menos sem tantas indústrias pesadas mas essa não teria sido uma opção pop ular para os industriais do país tampouco para a sua política ex terna ou elites militares De maneira geral ao mesmo tempo em que a proteção à in dústria nascente era comum nas décadas que precederam a Primeira Guerra Mundial isso não interferia na abertura da eco nomia mundial As barreiras à importação proliferavam mas eram direcionadas em vez de amplamente aplicadas As nações que se industrializavam com velocidade e protegiam suas in dústrias em geral permitiam a entrada livre ou quase livre de matériasprimas e bens agrícolas que não competissem com a produção doméstica e de recursos intermediários indisponíveis no local A atividade comercial crescia muito rápido inclusive nos países mais protecionistas Em 1913 todas as grandes potências exportavam uma quantidade maior da produção e importavam bem mais para o consumo interno que em 187031 Aqueles que rapidamente se industrializavam na virada do século XX parti cipavam com entusiasmo do comércio e dos investimentos mun diais mas estavam dispostos a burlar as regras do livrecomércio em nome da industrialização e de lucros imediatos Áreas de colonização recente Na década de 1890 os europeus além de outros povos já haviam se estabelecido em grandes áreas de colonização recente e prat icavam a agricultura a mineração e outros tipos de atividades Es sas regiões que antes mal participavam da economia global cres ciam em uma velocidade extraordinária Elas possuíam recursos 111832 naturais mas a extração só se tornou economicamente viável com as recentes transformações tecnológicas migrações e exploração É evidente que os pampas as Grandes Planícies e as pradarias sempre existiram assim como o outbackb australiano e os depósi tos de minerais sulafricanos Em alguns dos casos os europeus não sabiam da existência dessas áreas Em outros eles não podiam explorálas até que fossem desenvolvidas novas tecnologi as como navios refrigerados capazes de trazer carne de vaca ou de carneiro dos confins do mundo para a Europa Uma vez que as possibilidades se concretizaram indivíduos corriam para trans formar o potencial dessas áreas em dinheiro vivo Toda a ex tensão ou parte de Austrália Nova Zelândia Canadá Estados Unidos África do Sul e do Cone Sul da América Latina Argentina Uruguai Chile e o sul do Brasil foi invadida por essa nova atividade Esses países se tornaram ricos por seus recursos naturais a agricultura e a mineração alimentaram um crescimento econ ômico mais amplo A criação de gado gerou abatedouros in stalações para o empacotamento da carne curtumes e fábricas de sapatos O cultivo do trigo fez emergir celeiros estaleiros e estra das de ferro Os que trabalhavam em armazéns ferrovias e portos precisavam de um lugar para morar a indústria da construção civil cresceu e em seguida as olarias usinas de aço e outros locais de fabricação de materiais se desenvolveram Portos e entronca mentos ferroviários demandavam energia elétrica instalações e estações de tratamento de água A população crescente neces sitava de vestimenta telefones lâmpadas e livros e logo as manu faturas locais se expandiram vertiginosamente Onde as bases manufatureiras já existiam como era o caso da América do Norte o boom dos recursos acelerou o processo de crescimento industri al Onde existiam poucas fábricas ou nenhuma mas havia knowhow capital e espírito empreendedor a indústria moderna proliferou rapidamente 112832 As regiões de colonização recente se distinguiam do resto do mundo Elas eram pouco povoadas e em muitos dos casos a pop ulação que vivia nelas foi expulsa ou exterminada Seus habit antes estavam criando economias modernas prósperas fazendas e minas rodovias e ferrovias municípios e cidades fábricas e por tos onde antes existia pouca atividade econômica32 Não foram muitos os interesses ali arraigados que permaneceram no cam inho do desenvolvimento comercial ou da exploração dos recursos primários agrícolas e minerais da região As instituições locais também ajudaram no desenvolvimento econômico dessas áreas Algumas eram ramos diretos da so ciedade britânica e importavam além de milhões de britânicos algumas variantes dos sistemas legal e político da GrãBretanha Isso significava principalmente uma tradição de respeito pelos direitos de propriedade privada tanto na esfera política quanto na legal Tais direitos eram restritos evidentemente aos europeus e não se aplicavam às populações indígenas cujas pro priedades eram tomadas com impunidade Diferentemente de muitas outras áreas em desenvolvimento estas eram em geral estáveis na esfera política e previsíveis no campo legal Os produtores agrícolas que trabalhavam para a melhoria de suas terras podiam estar certos de que outros ou o governo não as to mariam de forma arbitrária As instituições políticas que incor poravam novos grupos sociais faziam com que as elites econôm icas acreditassem que seus interesses seriam levados a sério pelos governos O ceticismo quanto a essa questão era comum em out ras nações do mundo em desenvolvimento o que tendia a atrapal har o processo de crescimento Mas nas áreas de colonização re cente a riqueza era uma obsessão nacional e a propriedade algo quase sagrado O Cone Sul da América Latina ainda apresentava resquícios das instituições coloniais ibéricas que de certa forma eram menos adequadas a fins desenvolvimentistas mas em re lação a regiões que nunca conheceram uma ideia estável de 113832 direito de propriedade essa área era também bastante avançada33 As áreas de colonização recente também gozavam da vant agem de um clima temperado adequado à criação de gado e à produção de culturas delicadas As tecnologias desenvolvidas para a agricultura de climas temperados que durante séculos foi re sponsável pelo extremo desenvolvimento da Europa ocidental podiam ser diretamente aplicadas a essas terras A produção de grãos por acre nas regiões de clima temperado era de duas a três vezes maior do que em outras áreas agrícolas e com a mecaniza ção a produção por pessoa se tornara ainda mais alta34 Índices de produtividade agrícola semelhantes aos da Europa permitiam que as áreas de colonização recente pagassem salários nos moldes europeus e portanto atraíam imigrantes vindos do continente Nas regiões tropicais e subtropicais os níveis de produtividade e de tecnologia agrícola assim como o padrão de vida eram bem mais baixos Sendo assim os europeus não se mudariam para es sas áreas como meros trabalhadores ou agricultores O que tornava essas áreas mais produtivas que as outras eram as condições da produção agrícola e não algo inato dos europeus os poucos lugares como em algumas partes da América Latina onde produtores agrícolas japoneses ou chineses se estabeleceram também prosperavam Mas os europeus se aglomeravam em áreas extremamente produtivas cujo padrão de vida era mais alto que o de seus países de origem Ondas de imigração europeia afluíam para as regiões tempera das pouco povoadas a fim de construir novas sociedades de base agrícola pecuária ou mineradora Nessas regiões recémcoloniza das eles atingiam níveis de produção e de renda per capita que geralmente superavam os da Europa Em contrapartida a renda alta gerava um mercado doméstico grande para os produtos loc ais No início fazia mais sentido produzir internamente o que era de difícil importação energia elétrica materiais pesados 114832 serviços como a construção civil e foi assim que a indústria local começou Com o passar do tempo como Buenos Aires e Rio de Janeiro se transformaram em cidades de mais de um milhão de pessoas alguns de seus habitantes se beneficiaram da prosperid ade dessas regiões para estabelecer fábricas especialmente para o processamento de produtos primários locais As extensas planícies uruguaias eram ideais para a criação de animais e o cultivo de grãos e em 1870 o país começou a crescer muito rápido com base nas exportações de produtos agrícolas e pecuários para a Europa Centenas de milhares de espanhóis italianos e outros europeus rumaram para o Uruguai país que apesar de pequeno para os padrões latinoamericanos é bem maior que a Inglaterra Logo o porto de Montevidéu florescia e os padrões de vida do país passaram a ser tão altos quanto os da França ou Alemanha Nos anos do início do século XX a ordem política do Uruguai foi reestruturada de acordo com a sua recente prosperidade José Battle y Ordóñez serviu à Presidência uruguaia por dois mandatos entre 1903 e 1915 e conduziu as reformas Battle introduziu educação gratuita para todos um sistema de saúde abrangente amplos direitos para as mulheres legalizou o divórcio e implantou leis trabalhistas progressivas que incluíam uma jornada de oito horas aposentadoria garantida pelo governo e compensações para os trabalhadores além de outras medidas que passaram a caracterizar as sociedades desenvolvidas do fim do século XX Isso pode ser comprovado nas vezes em que o Uruguai é considerado o primeiro Estado de bemestar social moderno Tudo isso foi possível graças ao padrão de vida gerado pela lucrativa economia de base nas exportações agrícolas e pecuárias Assim como o Uruguai as outras áreas de assentamento re cente cresceram porque tinham acesso aos mercados globais e suas economias eram organizadas de forma a exportar para a Europa Essas regiões foram povoadas por milhões de imigrantes 115832 europeus e o capital vindo do continente foi responsável por grande parte de seu crescimento econômico financiando de fer rovias e usinas de geração de eletricidade a abatedouros e fábricas A Era de Ouro da economia mundial foi uma das principais fontes para a prosperidade alcançada por argentinos canadenses australianos e uruguaios As áreas de colonização recente pos suíam as características perfeitas para extraírem vantagens das oportunidades geradas pelos avanços nas comunicações e nos meios de transporte e tiveram um desempenho extraordinário nos anos que precederam a Primeira Guerra Mundial Em 1896 Austrália Canadá e Argentina produziam cerca de 80 milhões de bushels de trigo aproximadamente 16 do que a Europa ocidental produzia Porém em 1913 esses três países juntos passaram a gerar 438 milhões de bushels de trigo mais do que a toda a produção da Europa ocidental35 Esse crescimento não dependia apenas do cultivo agrícola Em 1913 Canadá Austrália e Nova Zelândia já fabricavam mais manufaturados per capita do que qualquer outro país europeu exceto a GrãBretanha A Argentina produzia mais do que a Itália ou a Espanha E isso nem incluía os Estados Unidos onde muitas regiões tinham as mesmas caracter ísticas de outras áreas de colonização recente Essas regiões Austrália Nova Zelândia Argentina Chile Uruguai sul do Brasil e a área dos Estados Unidos a oeste do Mississipi contavam com uma população de 12 milhões de pessoas em 1870 o que equival ia aproximadamente a 13 dos habitantes da França Em 1913 todos esses países de colonização recentes juntos tinham uma população de 50 milhões 14 maior do que a da França Seja qual for o indicador esses países desenvolveram suas economias de forma notória Muitos viajantes surpresos e ad mirados escreveram sobre esse feito Um britânico que visitava Buenos Aires às vésperas da Primeira Guerra Mundial relatou ao conhecer o distrito de Palermo 116832 Um misto de Hyde Park e Bois de Bologne ruas limpas árvores charmosas um boulevard duplo com esculturas de mármore comem orativas no centro jardins bemcuidados flores radiantes e uma banda tocando Dirigindo por Palermo ficamos boquiabertos em saber que estamos a 9700 quilômetros da Europa Em nenhum outro lugar do mundo vi tamanha quantidade de automóveis caros mil hares deles Ao fazer um resumo de suas impressões disse o britânico Não é possível conhecer o país perceber sua fertilidade entrar nas casas estonteantes de La Plata e Buenos Aires ver no oceano os navi os carregados de carne com a Union Jackc balançando sobre a popa visitar os elevadores de grãos dos portos de Bahía Blanca e Rosário com seus canais por onde o trigo destinado ao consumo europeu es coa para dentro das embarcações sem que nossa imaginação seja es timulada diante do limiar de possibilidades desta nova Terra36 Crescimento nos trópicos Outras regiões do mundo ricas em recursos também se desen volveram rapidamente Assim como as áreas de colonização re cente elas tinham bens naturais promissores mas uma popu lação bem maior Essas regiões eram tipicamente tropicais ou semitropicais e já estavam envolvidas no comércio internacional Suas exportações e atividade econômica de maneira geral foram fortemente empurradas ou puxadas pelos avanços tecnológicos e pelo crescimento global Muitas partes da América Latina África e Ásia participaram do rápido crescimento da economia global As histórias bemsuce didas tendiam a ser ofuscadas na memória histórica pelos muitos e proeminentes fracassos como o da China Da mesma forma as vitórias econômicas geralmente eram relegadas a segundo plano pela expansão dramática do colonialismo que também atingia 117832 algumas dessas regiões No entanto um olhar cuidadoso sobre o que hoje poderia ser chamado de Terceiro Mundo revelava algu mas tendências de ordem econômica impressionantes O centro da América Latina era densamente povoado difer entemente do Cone Sul e da região amazônica O continente tinha uma longa experiência de comércio internacional datada da épo ca do colonialismo espanhol e português Após 1870 a expansão comercial teve um impacto mais dramático na Argentina e no Uruguai mas outros países não ficaram muito atrás As minas de prata e cobre do México despejavam seus metais nos mercados mundiais O ditador Porfirio Díaz que governou o país de 1876 a 1910 desejava atrair investimentos estrangeiros para a riqueza mineral do país e fazer com que esta logo fosse levada aos merca dos externos Em seguida a descoberta de petróleo gerou uma dupla bonança na costa do Caribe Até 1910 o petróleo e a miner ação eram responsáveis por aproximadamente 110 da atividade econômica nacional Mas esse foi apenas o primeiro passo do México em direção a um crescimento mais rápido A agricultura moderna se expandiu de maneira veloz especialmente nas fazen das produtoras em larga escala haciendas que dominavam a oferta voltada para exportação A economia se diversificou e fábricas foram criadas Em 1910 a indústria local fornecia 97 dos tecidos que eram consumidos internamente Em 1913 a renda per capita do México podia ser comparada à de Portugal Rússia ou Japão países pobres para sermos exatos mas que estavam prestes a se desenvolver37 Mais ao sul o Brasil garantia a liderança no mercado de café sendo responsável por cerca de 45 das exportações mundiais do produto até 1900 O governo utilizava mecanismos sofisticados para manter o preço do produto em alta e os maciços ganhos gerados fluíam para o estado de São Paulo onde se concentravam os produtores Metade das terras cultiváveis do país passou para o café e 23 da produção agrícola era exportada As exportações de 118832 café e a expansão da borracha na região amazônica alavan caram o desenvolvimento econômico São Paulo tornouse um centro industrial importante Auxiliada por altas tarifas a produção industrial de 1915 incluía 122 milhões de metros de te cido de algodão muitos outros milhões de metros de tecido de seda lã e juta assim como 5 milhões de pares de sapato e 27 mil hões de chapéus Toda essa produção quase não existia 20 anos antes38 A partir desse ponto mais da metade dos produtos indus triais consumidos pelos brasileiros era produzida em casa Os colombianos se beneficiaram da habilidade brasileira em manter o preço alto do café expandindo o cultivo do produto para as montanhas do oeste do país aumentando a produção de 13500 para 63 mil toneladas entre 1890 e 191339 Muitas das nações menores da América Central também participaram do boom do café Apesar de algumas particularidades em outros lugares da América Latina a situação era semelhante Fortunas eram geradas pelo desenvolvimento de algum produto primário que era enviado para a Europa ou América do Norte nitrato e cobre do Chile açúcar de Cuba algodão e açúcar das plantações costeiras do Peru prata e cobre das Cordilheiras dos Andes e borracha da Amazônia Capitalistas estrangeiros forneciam em préstimos para a construção de rodovias ferrovias portos e out ros tipos necessários de infraestrutura Os lucros eram rein vestidos no desenvolvimento da mineração da agricultura e oca sionalmente em empreendimentos industriais Às vésperas da Primeira Guerra Mundial os principais países da região já haviam começado a se industrializar A África ocidental também se voltou para os mercados inter nacionais O envolvimento da região no comércio datava do século XIV O tráfico de escravos criou apesar de toda a miséria que gerava uma classe importante de negociantes nativos que se lançaram no comércio legítimo de importações e exportações quando a escravidão terminou Evidentemente poderosas 119832 empresas estrangeiras de comércio também se estabeleceram na região Os laços internacionais da África ocidental se fortaleceram por conta das disputas entre as grandes potências europeias que deixaram quase toda a região na verdade quase todo o contin ente em mãos coloniais A importância dos interesses econômi cos externos para a expansão colonial continua sendo uma questão controversa Parece claro todavia que as expectativas europeias quanto ao potencial econômico da área contribuíram para as políticas que levaram França Alemanha e GrãBretanha a se apossarem da região40 No período que se seguiu à apropriação europeia o comércio da África ocidental cresceu rapidamente as exportações da re gião quadruplicaram entre 1897 e 191341 O boom se concentrou nas quatro colônias mais prósperas as britânicas Nigéria e Costa do Ourod e as francesas Senegal e Costa do Marfim Essas regiões já produziam sementes amendoim óleo de palma e outros cul tivos semelhantes produtos que tinham grande demanda devido ao rápido desenvolvimento industrial e ao aumento do consumo da classe trabalhadora na Europa e nos Estados Unidos O óleo de palma era utilizado para lubrificar máquinas e fabricar latas A noz de palma era usada para produzir sabão velas e margarina que acabara de ser inventada O óleo de amendoim servia como um substituto barato para o de oliva Quando a demanda europeia por esses produtos cresceu os africanos expandiram o cultivo do amendoim e passaram a plantar palma em vez de apenas coletá la As exportações aumentaram imensamente em especial com a melhora dos meios de transporte Em 1911 a construção de uma estrada de ferro ligando Kano no norte da Nigéria à costa foi concluída Quando os fazendeiros e comerciantes se deram conta do quanto os produtores de amendoim poderiam lucrar no mer cado europeu em dois anos o preço local do produto quintup licou Em menos de dez anos a quantidade de amendoim 120832 exportada pela Nigéria passou de alguns milhões de toneladas para 58 milhões42 Diante da expansão da produção de bens tradicionais as ex portações dos produtos novos ou daqueles que passaram a rece ber atenção cresceram de forma ainda mais rápida O cacau da Costa do Ouro que era insignificante passou a dominar o mer cado mundial As exportações de madeira da Costa do Marfim aumentaram seis vezes em 20 anos e o café e alguns minerais também dispararam Os produtos eram cultivados principalmente por pequenos agricultores e inseriram uma proporção sem pre cedentes da população na economia moderna No entanto o desenvolvimento da indústria moderna na África ocidental foi re lativamente pequeno Os mercados locais para manufaturados eram menos receptivos que os da América Latina onde a renda per capita era duas ou três vezes mais alta e as cidades assim como a infraestrutura se desenvolveram mais e melhor Sobre tudo o sistema colonial restringia as possibilidades de proteção comercial das manufaturas locais diferentemente do que ocorria na América Latina No entanto as bases para um crescimento econômico sustentável estavam lá As áreas bemsucedidas do sul e sudeste da Ásia também ex pandiram a produção agrícola já existente ou iniciaram o cultivo de novas terras para lucrarem com o mercado crescente das ex portações Burma e Tailândia cultivavam arroz havia muito tempo mas a produção se destinava exclusivamente ao consumo local Novas políticas e condições econômicas permitiram que os dois países se tornassem um dínamo exportador que passou a abastecer os mercados do resto da Ásia e de outras regiões A monarquia independente da Tailândia era favorável ao comércio apesar de não se entusiasmar com a indústria e sob sua ad ministração as exportações de arroz do país cresceram dez vezes em 40 anos de aproximadamente 100 mil para um milhão de toneladas No início do século XX metade da produção se 121832 destinava à exportação43 Os agricultores do delta do Irrawaddy também já cultivavam arroz havia tempos mas não de forma in tensiva já que o governo proibia as exportações Quando a Grã Bretanha tomou a região e a forçou a se abrir ao comércio a zona costeira foi invadida por plantadores de arroz Logo o produto começou a inundar o exterior Nas palavras de um historiador Burma deixou de ser um lugar subdesenvolvido atrasado e pou co povoado do Império Konbaung para se transformar no maior exportador de arroz do mundo44 Com o regime francês voltado para o comércio na Indochina as terras vietnamitas dedicadas ao cultivo do arroz quintuplicaram e a colônia se tornou a terceira principal produtora do mundo O Ceilão que acabou tornandose colônia britânica levou coco e chá para os mercados mundiais A Malásia produzia mais da metade do estanho do planeta Após 1900 os dois países aument aram a produção de borracha que até então era inexpressiva e se tornaram importantes no mercado As Índias Orientais Holan desas também se juntaram à corrida para superar a borracha amazônica complementando as exportações de café tabaco e açúcar As Filipinas agora uma colônia norteamericana aument aram a produção de açúcar para penetrar no imenso mercado dos Estados Unidos Taiwan na época uma colônia japonesa fora desenvolvido pelas autoridades coloniais de forma mais ou menos explícita para abastecer a metrópole com arroz e açúcar O impacto do boom exportador foi fortemente sentido em muitos desses casos O arroz era em geral cultivado por pequenos produtores e a prosperidade gerada pelas exportações do início do século aumentou a renda de grandes camadas da população da Tailândia e de Burma O chá do Ceilão também era cultivado prin cipalmente por pequenos produtores O estanho malaio era alta mente controlado por proprietários chineses e minerado por tra balhadores do mesmo país os quais rumaram em hordas para o Sudeste Asiático Mesmo onde os europeus controlavam as 122832 fazendas e plantações mais prósperas como na Indochina nas Índias Holandesas Orientais e nas áreas de borracha da Malásia a ampla demanda por trabalhadores gerou um aumento na renda local Assim como na África ocidental a indústria não cres ceu de forma significativa Devido ao padrão de vida baixo da re gião os mercados locais para os manufaturados modernos eram pequenos e as potências coloniais desestimulavam o desenvolvi mento industrial de forma explícita ou implícita Essas regiões pobres e densamente povoadas se atiraram ou foram atiradas pelos novos governantes coloniais nos mercados mundiais e emergiram como grandes promessas de prosperidade Às vésperas da Primeira Guerra Mundial grande parte da popu lação do amplo grupo de países e colônias das regiões tropicais e semitropicais em crescimento do México e Brasil a Costa do Marfim e Nigéria passando por Burma e Indochina produzia matériasprimas para exportação Café amendoim cacau bor racha óleo de palma estanho cobre prata e açúcar fluíam dessas regiões de rápido crescimento para a Europa e a América do Norte Dinheiro e produtos manufaturados faziam o caminho in verso A modernidade chegava aos trópicos As elites que dominavam o governo e a sociedade em todas as regiões de rápido crescimento tanto nas áreas temperadas de col onização recente quanto nas zonas semitropicais densamente po voadas consideravam que a chave da prosperidade e do sucesso estava na economia mundial Por que ir aos pampas e pradarias se não fosse com o objetivo de cultivar essas áreas para os merca dos mundiais Muitos imperialistas europeus norteamericanos e japoneses argumentavam que as colônias eram valiosas princip almente como fontes de matériasprimas e produtos agrícolas Os regimes coloniais pressionavam as novas possessões com entusi asmo apesar de muitas vezes com uma visão estreita a exportar produtos primários 123832 Proprietários de terra mineradores e comerciantes locais per ceberam que os lucros poderiam ser imensos Os governos locais vislumbraram outras oportunidades o que incluía vender novas e valiosas terras ou cobrar impostos dos novos e lucrativos exporta dores Ambas as medidas fortaleceriam o poder dos governantes O processo era facilitado pelo capital que escoava da Europa ocidental que parecia não ter fim Esse capital era extremamente necessário para o estabelecimento de novas terras para levar os produtos agrícolas e os minérios aos mercados e para que os gov ernos pudessem satisfazer as demandas de suas populações O estereótipo da América Latina da virada do século era hostil uma sociedade oligárquica dominada por uma aliança entre os in vestidores europeus e interesses exportadores a oligarquia rural os agroexportadores os setores de produtos primários para ex portação e os vendepatrias vendedores de países os quais mais tarde se tornariam inimigos demonizados dos líderes nacionalis tas Esses países tinham características comuns uma identi ficação nos canais de poder e influência que os uniam e os levavam na direção da economia mundial Dependiam das ex portações de produtos primários exigiam acesso a capital e mer cados europeus possuíam uma visão europeizada do futuro e certamente tinham pouco interesse em dividir sua riqueza com as massas empobrecidas Faltavam novas oportunidades econômicas geradas por esse crescimento de viés exportador até mesmo se examinarmos os 35 anos do ditatorial porfiriato no México que estivessem disponíveis de forma ampla e profunda para as so ciedades locais incluindo parcelas da classe média do campes inato e da crescente classe operária urbana Os grupos dominantes de muitas das regiões em desenvolvi mento estavam bastante comprometidos em levar seus países ao mainstream da economia internacional Eles permitiam estimu lavam e até mesmo forçavam os produtores agrícolas e outros a venderem para o exterior convidavam os investidores 124832 estrangeiros banqueiros e comerciantes tomavam empréstimos grandes em Londres Paris e Berlim construíam ferrovias portos e aproveitavam os rios criavam sistemas de energia e telefonia utilizando dessa forma os ganhos obtidos com o comércio mun dial para enriquecer Em geral onde os grupos dominantes obtin ham sucesso grande parte da sociedade também prosperava embora não tanto quanto as elites Nas áreas de colonização re cente na América Latina e em partes da Ásia e da África a ex pansão liderada pelas exportações determinou as bases para o crescimento econômico moderno Heckscher e Ohlin interpretam a Era de Ouro Em 1919 após esse capitalismo global ter sido banido pela Primeira Guerra Mundial o economista sueco Eli Heckscher tentou dar um sentido à extraordinária experiência econômica pré1914 Junto com seu aluno Bertil Ohlin Heckscher formulou uma explicação para o envolvimento das diferentes nações no comércio mundial o que revolucionou o pensamento econômico e também serviu para entender essa complexa realidade Heckscher e Ohlin acreditavam na teoria das vantagens comparativas tanto como uma prescrição do que os países deveriam fazer quanto uma descrição do que geralmente faziam De fato os países tendiam a exportar o que produziam melhor e a importar aquilo em que não eram tão eficientes O problema é que essa fórmula era quase tau tológica como se poderia saber com antecedência o que um país produzia melhor senão observando o sucesso ou o fracasso das exportações Os dois suecos então tentaram explicar os modelos nacionais de vantagens comparativas É evidente que as vantagens compar ativas não eram simplesmente um resultado do empenho Eles sabiam que as dificuldades dos produtores agrícolas suecos não 125832 eram causadas pela falta de trabalho duro por parte das popu lações rurais O problema era a escassez de terras do país e não a preguiça de sua população Onde havia pouca oferta e as terras eram caras a agricultura era dispendiosa onde era abundante e barata a produção agrícola podia ser feita a custos baixos Eles notaram que os países se diferenciavam quanto a fatores de produção alguns eram ricos em terra outros possuíam mão de obra em abundância e terceiros dispunham de capital Esses fatores supunham eles determinariam as vantagens compar ativas nacionais e as importações e exportações dos diferentes países Se houvesse dois Estados com quantidades idênticas de in divíduos e capital a nação com pouca terra arável estaria em des vantagem comparativa na agricultura ao passo que o país com uma oferta quase ilimitada de terras cultiváveis teria vantagem comparativa Desse pensamento resultou a teoria comercial de Heckscher e Ohlin cuja ideia básica era simples um país exportará bens de uso intensivo dos recursos que possui em abundância Países com grandes extensões de terras se especializarão em produtos agrí colas que necessitam de grandes extensões de terras Nações ricas em capital se concentrarão nos produtos intensivos em capital es pecialmente manufaturados sofisticados Regiões com abundân cia de mão de obra produzirão bens ou cultivos que exigem tra balho intensivo Esses padrões de especialização levam a padrões análogos de comércio Países ricos em terras mas pobres em cap ital produzirão culturas de grandes extensões de terra e impor tarão produtos manufaturados de capital intensivo A ideia dos suecos também se aplica à movimentação de capital e indivíduos assim como ao comércio Segundo eles esperavase que os países ricos em capital exportassem capital e os ricos em mão de obra exportassem mão de obra evidentemente terras não podem ser comercializadas internacionalmente sem que haja uma mudança nas fronteiras 126832 A abordagem de Hecksher e Ohlin é extremamente eficiente para explicar como funcionavam os processos de migração comércio e investimentos internacionais no período45 A Europa ocidental rica em capital mas pobre em terras exportava produtos manufaturados que necessitavam de capital ou capital intensivo para o resto do mundo e importava bens agrícolas cul tivados em grandes extensões de terras O sul e o leste da Europa ricos em mão de obra exportavam emigrantes As áreas tempera das e tropicais subdesenvolvidas ricas em terras vendiam produtos agrícolas para o exterior Eram pobres em capital e im portavam manufaturados de capital intensivo Na categoria dos países em rápido desenvolvimento e ricos em terras os trópicos africanos asiáticos e latinoamericanos contavam com uma força de trabalho abundante e assim exportavam mais produtos agrí colas de trabalho intensivo do que as nações pobres em mão de obra como América do Norte Austrália e Argentina O cresci mento de todas essas áreas foi maior do que o alcançado até o mo mento Com efeito a América do Norte e a América do Sul eram as regiões do mundo que mais cresciam entre 1870 e 1913 A teoria comercial de Heckscher e Ohlin ajuda a explicar o su cesso dos países que se concentraram no uso de seus fatores abundantes na divisão internacional do trabalho Os países ricos em terras que fizeram o que estava ao seu alcance para desen volver a agricultura prosperaram assim como fizeram os países ricos em capital focados nos investimentos externos Os criadores do capitalismo industrial invadiram o mundo com produtos man ufaturados de capital intensivo Das vastas extensões dos pampas e pradarias escoaram grãos e carne bovina Das terras e montan has tropicais fluíram produtos feitos de palma amendoim bor racha café e chá A abertura econômica internacional tornou pos sível industrializar e desenvolver sociedades de forma que elas pudessem alcançar as nações ricas do noroeste da Europa O 127832 abismo entre os países ricos e aqueles das regiões que rapida mente cresciam fora fechado a Do inglês horseless carriage expressão utilizada para carros no início do desen volvimento da indústria automobilística NT b Designação para as regiões áridas do interior da Austrália NT c Bandeira do Reino Unido NT d Nação que passou a se chamar Gana a partir da independência em 1957 NE 128832 4 Desenvolvimentos fracassados O cônsul britânico da colônia conhecida como Estado Livre do Congo não tinha mais esperança quanto ao destino dos oprimidos habitantes do local quando escreveu em 1908 Nos perguntamos em vão quais os benefícios que essa gente extraiu da elogiada civilização do Estado Livre Olhamos em vão para qualquer tentativa de benefício ou recompensa pela enorme riqueza que eles têm ajudado a despejar no Tesouro do Estado As indústrias nativas estão sendo destruídas sua liberdade lhes tem sido tomada e eles têm diminuído em número1 Apesar da revolução econômica da Era de Ouro a maior parte do mundo permaneceu opressivamente pobre Enquanto as re giões em rápido desenvolvimento subiam a escada do sucesso in dustrial grande parte da da Ásia África do Oriente Médio e até mesmo áreas da Rússia da América Latina e do sul e leste da Europa caíam para degraus ainda mais baixos De fato quase todas as partes do mundo cresceram mas as disparidades nos índices eram grandes As diferenças um ponto percentual aqui ou ali podem parecer pequenas mas o impacto de um crescimento mais lento tornouse pior ao longo das déca das Por exemplo em 1870 China e Índia eram cerca de 20 mais pobres que o México utilizando uma base per capita difer ença que se aproximava da que existia entre a Europa ocidental e os Estados Unidos em 2000 Nos 40 anos que se seguiram os ín dices de crescimento dos gigantes asiáticos eram em média cerca de 15 menor que os do México Em 1913 esse país era três vezes mais rico que as duas nações asiáticas quase a mesma diferença que existia entre os Estados Unidos e o México em 20002 Em linhas gerais a Europa ocidental as áreas de colonização recente e a América Latina cresceram cerca de quatro vezes mais rápido do que a Ásia e duas vezes mais devagar do que o sul e o leste da Europa As classes dominantes eram as principais responsáveis pela incapacidade dessas sociedades em tirar proveito das novas opor tunidades econômicas Muitos dos dominantes não podiam ou não queriam criar condições para um crescimento econômico sustentado Alguns deles eram colonizadores estrangeiros que se utilizavam de meios mercenários e parasitários para explorar as populações locais O Congo talvez tenha sido o exemplo mais grit ante de uma sociedade que sofrera abusos chocantes por parte dos colonizadores O rei Leopoldo e o Congo William Sheppard um missionário afroamericano foi à África central a fim de converter a população ao presbiterianismo Quase por acaso ele se viu no centro de um escândalo global que expôs um dos mais sangrentos regimes coloniais dos tempos mod ernos3 Sheppard nasceu na Virgínia nas últimas semanas da Guerra Civil norteamericana Veio de uma família de negros livres Foi ordenado pastor presbiteriano aos 23 anos e logo foi voluntário para trabalhar na África como missionário Em 1890 Sheppard e 130832 Samuel Lapsley um pastor norteamericano branco formaram uma missão em Luebo na remota região de Kasai no centro da Bacia do Congo A presença dos dois jovens norteamericanos nessa região isolada devese aos planos e à persistência da monarquia europeia obcecada pelas riquezas da África No momento em que Sheppard chegara à África havia 20 anos que o rei Leopoldo atuava para a consolidação de seu império pessoal no continente Leopoldo sabia que a sua Bélgica natal nunca daria a ele uma colônia o país não tinha uma Marinha nem navios mercantes e o próprio Leopoldo era praticamente o único belga proeminente com aspir ações imperialistas Por essa razão ele se apresentava como um benfeitor que desejava trazer o cristianismo para a população africana Opunhase principalmente ao tráfico de escravos do continente o que havia se tornado uma questão interna en volvendo traficantes nativos e árabes desde a década de 1840 quando as potências europeias proibiram o comércio transatlântico de escravos Leopoldo pregava que a exploração de seres inocentes reduzidos brutalmente a prisioneiros e condena dos em massa ao trabalho forçado envergonha a nossa época4 O rei começou sua carreira na África como patrono de explor adores financiando a expedição de Henry Stanley o primeiro a ir da nascente do rio Congo ao Atlântico Quando conquistou cred ibilidade Leopoldo convenceu as potências europeias a conceder a ele o comando pessoal de toda a Bacia do Congo uma área do mesmo tamanho da Europa ocidental onde se suspeitava haver enormes riquezas naturais O sucesso dele em obter o controle do Congo não fora resultado de suas habilidades tampouco da in fluência geopolítica da Bélgica já que ambos eram ignorados Para as potências europeias que estavam dividindo toda a África o novo Estado Livre do Congo era uma naçãotampão útil por sep arar as colônias francesas britânicas alemãs e portuguesas da re gião Leopoldo concordou em permitir que todos os estrangeiros 131832 tivessem igual acesso às riquezas da área e assim os europeus não precisavam se preocupar com a possibilidade de não poderem entrar no local Sheppard Lapsley e outros missionários protestantes norte americanos serviram aos interesses de Leopoldo Eles contiveram a influência dos missionários católicos franceses e portugueses que eram acusados pelo rei de favorecer suas respectivas terras natais Como norteamericanos eles podiam construir uma base de apoio nos Estados Unidos para as ambições belgas Além disso os protestantes também poderiam ajudar no desbravamento de áreas do interior congolês para o Estado Livre de Leopoldo cuja influência era limitada devido à extensão do país Leopoldo con heceu Lapsley quando os dois missionários foram para a África e o ingênuo rapaz de 24 anos se comoveu com a aparente simpatia do rei pela missão A expressão dele era muito gentil e sua voz fazia jus a ela Me per gunto como Deus mudou os tempos para que um rei católico sucessor de Felipe II conversasse sobre as missões estrangeiras com um rapaz norteamericano e presbiteriano5 Leopoldo estimulou Lapsley a ir com Sheppard para a região de Kasai O rei disse que as tropas do Estado Livre poderiam protegêlos melhor lá do que em qualquer outro lugar Na ver dade Leopoldo queria que os jovens norteamericanos fossem para Kasai porque esta era uma área que as autoridades do Estado Livre não conheciam ou não controlavam bem e as missões po deriam ajudar a garantir a influência e a autoridade da adminis tração do rei Sheppard se envolveu com a África e seus habitantes desde o início Aprendeu as línguas locais e construiu uma rede de amigos e aliados Quando Lapsley morreu menos de dois anos depois de ambos terem se mudado para Kasai Sheppard administrou soz inho a nova missão presbiteriana por cinco anos O pastor 132832 estudou as sociedades nativas com grande interesse e sucesso e passou a ter livre acesso à corte do rei da poderosa e quase desconhecida Kuba Ele impressionava o público europeu e norteamericano com seus relatórios e coleções de artefatos Em 1893 Sheppard tornouse o primeiro afroamericano e um dos mais jovens a ser eleito para a Real Sociedade Geográfica Britân ica provavelmente o título de maior prestígio concedido a um ex plorador A sociedade também nomeou um lago na região de Ka sai em homenagem a Sheppard quem o havia descoberto Mas outra descoberta de natureza mais mundana como regis tros comerciais causou um impacto maior no Congo No fim da década de 1890 Edmund Dene Morel trabalhava para a compan hia britânica de navegação que tinha o monopólio do frete comer cial do Congo e frequentemente ia à Antuérpia em viagens de negócios Morel um adepto fervoroso do livrecomércio e um de fensor entusiasmado da empreitada de Leopoldo notou um fato suspeito Quase tudo o que a companhia de navegação enviava da Antuérpia para o Congo eram armamentos e munição para as tro pas do Estado Livre A transação não poderia vir de outro lugar pois a companhia detinha um monopólio Aos africanos do Congo não era permitido usar dinheiro então se estes não estavam sendo pagos em bens eles também não estavam recebendo nada pelo fornecimento de marfim e borracha Mais tarde chegando a uma conclusão inevitável Morel escreveu Somente o trabalho forçado do tipo mais terrível e contínuo poderia explicar tais lucros obscuros trabalho forçado do qual o governo do Congo era o beneficiário imediato trabalho forçado coordenado pelos súditos mais próximos do próprio rei6 Morel havia descoberto a lógica econômica do reino de Leo poldo O rei esperava obter enormes lucros no Congo Mas primeiro a região precisava ser conquistada e governada o que era imensamente caro Tão caro que Leopoldo precisou de 133832 empréstimos pesados para manter seu Estado Livre Durante uma década o marfim da região forneceu parte do dinheiro que Leo poldo necessitava mas em meados da década de 1890 a borracha superou o marfim como o produto mais importante da colônia A demanda mundial por borracha disparou uma vez que inovações técnicas tornaram o material mais versátil e novos produtos tais como bicicletas e automóveis deram um novo sentido para a util ização das rodas de borracha A borracha selvagem do Congo era um recurso muito conveni ente para o rei ávido por dinheiro vivo uma vez que ela brotava naturalmente e não gerava custos de plantação O problema era que atingir os campos selvagens tornouse difícil e doloroso eles estavam espalhados pela densa floresta tropical e muitas vezes a única forma prática de transformar a seiva em borracha era o coletor espalhála em seu corpo esperar secar e tirála com pelos e tudo A coleta era tão difícil que os administradores de Leopoldo não conseguiam voluntários congoleses para realizar a tarefa em troca de bens Assim o Estado Livre optou pela força impondo taxas aos congoleses a serem pagas em borracha Os soldados do Estado Livre utilizavam uma série de métodos para obrigar a população a coletar o produto Às vezes faziam re féns mulheres e crianças do vilarejo e apenas as libertavam quando os homens entregavam uma determinada quantidade de borracha Outras vezes os líderes locais eram subornados para forçar a população a trazer o produto Quando todos os métodos falhavam os soldados ateavam fogo nos vilarejos rebeldes e mas sacravam os habitantes para que as áreas vizinhas ficassem cientes do preço da desobediência Ocasionalmente as notícias das atrocidades cometidas pelo Estado Livre extrapolavam o Congo Em 1899 a missão presbi teriana mandou William Sheppard investigar relatos do conflito entre Kuba e uma tribo canibal chamada Zappo Zaps que parti cipava do comércio de escravos Sheppard voltou à capital de 134832 Kuba e para o seu desespero encontrou uma região devastada O sistema brutal de coleta de borracha havia chegado a Kuba que resistiu e foi punida com trabalho forçado O Estado Livre do rei Leopoldo contratou os Zappo Zaps e os enviou para que pacificas sem Kuba onde instauraram o terror Eventualmente Sheppard se encontrava com um grupo de Zappo Zaps cujo líder o reconheceu Mlumba o comandante loc al se orgulhava de ter destruído vilarejos inteiros Ele sabia que Sheppard era estrangeiro e supôs que fosse aliado dos belgas O próprio Sheppard viu pilhas de pedaços de corpos que haviam sido cortados em bifes para o consumo dos soldados Mlumba escreveu Sheppard nos conduziu para uma armação feita de varas sob a qual ardia um fogo baixo E lá estavam elas as mãos direitas Eu as contei 81 no total Mlumba explicou a Sheppard Aqui estão as nossas provas Preciso sempre cortar a mão direita daqueles que matamos para mostrar ao Estado quantos foram mortos7 A lógica de Leopoldo também operava ali O Estado Livre havia entregado armas e munição a seus mercenários mas descobriu ser mais provável que estes as utilizassem mais em caçadas do que em defesa dos interesses do Estado Para provar que estavam cumprindo suas tarefas os soldados precisavam demonstrar que as armas e a munição do Estado estavam sendo usadas para fins militares As mãos das vítimas conservadas pela fumaça provavam que o dinheiro do Estado não estava sendo desperdiçado Em poucas semanas os relatos de Sheppard sobre as atrocid ades testemunhadas na região de Kasai ganharam os jornais do mundo Ao mesmo tempo Edmund Morel continuava com suas descobertas sobre a fraude comercial de Leopoldo e se empen hava de forma sistemática em revelar ao mundo a realidade con golesa Ele fundou um jornal que publicava os detalhes terríveis da brutal administração do rei Alguns meses após as revelações de Sheppard Edgar Canisius um empresário norteamericano 135832 testemunhou uma expedição punitiva dos soldados do Estado Livre Canisius disse que em seis semanas as tropas haviam matado mais de nove mil nativos homens mulheres e crianças pelo objetivo de acrescentar 20 toneladas de borracha à produção mensal8 Com a proliferação de relatos como esses em 1903 a Câmara dos Comuns britânica se opôs oficialmente ao re inado de Leopoldo O Ministério das Relações Exteriores da Grã Bretanha levou essa questão adiante enviando seu cônsul ao Congo para uma viagem investigativa de meses pelo interior do país o que confirmou as suspeitas dos que criticavam Leopoldo de forma mais severa A Associação Britânica de Reforma do Congo criada por Morel mobilizou a opinião pública contra o rei Leopoldo e a dev astação causada por ele no país Rapidamente o movimento gan hou força e conquistou o apoio de antiimperialistas como Mark Twain cujo King Leopolds Soliloquy tornouse uma obraprima amarga de sátira política Mesmo os imperialistas convictos se uniram no clamor contra o rei Leopoldo uma vez que as atrocid ades por ele cometidas desacreditavam os governos coloniais re sponsáveis Com efeito em janeiro de 1905 um dos líderes im perialistas dos Estados Unidos o presidente Theodore Roosevelt recebeu William Sheppard na Casa Branca e endossou seus es forços em nome dos congoleses O lado mais pragmático das potências europeias preocupavase com o fato de Leopoldo não honrar seu compromisso de manter o Congo aberto ao comércio e aos investimentos de outros países e de se utilizar de métodos corruptos para reservar as oportunidades de lucro para seus aliados O poderoso Partido Socialista da Bélgica e outros reformistas se uniram nas críticas pedindo que o reino africano de Leopoldo fosse devolvido ao governo belga e fosse conduzido de forma mais responsável por um poder colonial mais apropriado Apenas os mais radicais consideravam a possibilidade de independência 136832 uma vez que naquele momento apenas dois países em toda a África subsaariana não eram mais colônias Leopoldo reagiu nomeando uma comissão de inquérito Mas a comissão do próprio Leopoldo depôs contra ele Cobrar dos nativos impostos a serem pagos com trabalho é tão opressivo que eles têm pouca se é que alguma liberdade Os nativos são praticamente pri sioneiros em seu próprio território A comissão condenou as fre quentes expedições punitivas cujo objetivo era aterrorizar os nativos para que pagassem um imposto que os comissários con sideraram desumano9 Em seguida Leopoldo foi obrigado a de volver o controle da colônia ao governo belga que eliminou os ex cessos mais graves Os conflitos entre William Sheppard e as autoridades congole sas não haviam terminado Em 1907 ele escreveu de forma elo quente sobre quanto o comércio da borracha havia destruído a es trutura social de meio milhão de indivíduos da tribo de Kuba Há apenas alguns anos os viajantes deste país os encontravam mor ando em casas grandes de um a quatro quartos cada amando e vivendo felizes com seus filhos e mulheres Essa era uma das mais prósperas e inteligentes tribos africanas apesar de viver em uma das mais remotas áreas do planeta Mas nos últimos três anos quantas mudanças Suas fazendas cultivam pragas e selva seu rei é pratica mente um escravo a maioria das casas é de um cômodo muitas fo ram abandonadas e outras estão construídas apenas parcialmente As ruas de suas cidades não estão limpas e bemvarridas como um dia estiveram Até mesmo seus filhos choram por pão Por que isso mudou Vocês saberão em poucas palavras Há guardas armados de companhias de comércio da Coroa forçando homens e mulheres a passar a maior parte de seus dias e noites na floresta fazendo bor racha e o valor que recebem é tão insuficiente que não podem viver dele10 Os ultrajantes diretores da companhia local de comércio lig ada à Coroa a Kasai Company mais uma vez foram à Justiça 137832 congolesa contra Sheppard Morel e os presbiterianos organiz aram uma rede global de apoio a Sheppard quando ele foi julgado em Kinshasa O governo dos Estados Unidos questionou o julga mento e o líder do Partido Socialista belga correu para o Congo para atuar como advogado de Sheppard O espetáculo apenas en fatizou a natureza vil do governo de Leopoldo e os lucros obtidos pelas empresas favorecidas por ele Mais tarde o juiz considerou as acusações contra Sheppard improcedentes Após quase 20 anos no Congo ele estava pronto para voltar para casa Aposentouse do trabalho missionário e passou os 20 anos restantes de vida como pastor em Louisville Kentucky Em 1909 pouco depois da vitória de Sheppard Leopoldo morreu mais desonrado do que qualquer rei em exercício poderia estar O Estado Livre do Congo fora o epítome do mal colonial mod erno Sir Arthur Conan Doyle autor das histórias de Sherlock Holmes chamou a exploração de Leopoldo no Congo de o maior crime de toda a História o maior por ter sido perpetrado sob uma odiosa pretensão de filantropia11 Por mais que pareça exagerado isso expressa a reação popular aos horrores da má gestão colonial uma reação apresentada de forma literária pelo jazz poeta Vachel Lindsay em seu poema épico The Congo Listen to the yell of Leopolds ghost Burning in Hell for his handmaimed host Hear how the demons chuckle and yell Cutting his hands off down in Hellb Os 25 anos da má administração de Leopoldo saquearam o país e a violência causou a morte não natural de milhões de con goleses Mas tal má gestão causou danos bem maiores como a destruição de boa parte da estrutura social da região Os mestres coloniais dilaceraram ou devastaram as sociedades locais ex acerbaram os conflitos entre os habitantes da área e não deram nenhuma oportunidade para que os congoleses aderissem ou se 138832 adaptassem ao que o exterior oferecia de útil A administração co lonial fez com que os habitantes de uma região com recursos nat urais extraordinários não conseguissem utilizálos para o desen volvimento da economia Leopoldo nunca visitou o Congo os in teresses dele eram econômicos e políticos não pessoais Mas o senhorio ausente e seu Estado Livre fizeram estragos enormes na região Eles são os principais culpados pelo triste desempenho econômico da colônia centroafricana durante esse período e em grande parte são responsáveis pela estagnação econômica do país nas décadas subsequentes Colonialismo e subdesenvolvimento Mark Twain chamou o rei Leopoldo e todos os de sua laia de as bênçãos da civilização do truste Escreveu Twain sobre o truste Há mais dinheiro mais território maior soberania e outros tipos de ganhos do que existe em qualquer outro jogo12 Assim como Leopoldo muitos dos membros do truste eram obcecados pela ex tração de riquezas de suas possessões Eles extraíam todos os re cursos que podiam de enclaves autossuficientes em minas de cobre e ouro ou em plantações de banana e canadeaçúcar Os donos clientes e algumas vezes até mesmo a mão de obra desses enclaves não tinham qualquer interesse de longo prazo na região e o impacto causado na economia local era mínimo Com frequên cia quando a estrutura requeria trabalhadores como no caso do Congo as autoridades coloniais impunham o trabalho forçado aos que ali residiam Tais enclaves eram praticamente um roubo organizado Retiravamse recursos valiosos sem que qualquer riqueza tecno logia ou treinamento fosse deixado para trás Os colonizadores al gumas vezes submetiam os habitantes nativos a condições quase escravagistas dilacerando a forma como viviam e destruindo a 139832 economia local O rei Leopoldo no Congo e os portugueses em suas colônias foram os exploradores locais de maior proeminên cia Tais regimes foram predatórios de uma forma tão gritante que até mesmo na época causavam comoção generalizada como ocorrera no Congo As concessões comerciais eram levemente menos nocivas do que os enclaves extrativistas Eram uma volta ao mercantilismo europeu dos séculos XVII e XVIII quando os monopólios da Coroa como a Companhia Holandesa das Índias Orientais e a Companhia da Baía de Hudson controlavam colônias inteiras Nos casos mais modernos a metrópole designava o controle de regiões promissoras a concessionárias comerciais Nas palavras de um dos gerentes da Companhia Britânica da África do Sul que administrava a Rodésia do Norte hoje Zâmbia o problema da Rodésia do Norte não é de colonização o problema é saber como desenvolver melhor de forma científica um grande Estado para que ele gere a maior quantidade possível de lucros para o seu proprietário13 Se sucesso comercial e desenvolvimento econ ômico caminhassem juntos estaria tudo bem mas onde eles en tram em conflito a principal responsabilidade das concessionári as seria com seus acionistas Quando pequenos grupos de europeus colonizavam áreas com grandes populações nativas o potencial para abusos era o mesmo dos casos de puro saqueio colonial Essas colonizações de povoa mento foram fundamentalmente diferentes das migrações europeias em massa para áreas pouco habitadas como os pampas argentinos e as pradarias canadenses onde os imigrantes e seus descendentes eram praticamente toda a população local As colônias de povoamento em contrapartida eram governadas por uma classe estrangeira que dominava e controlava numerosas populações nativas Algumas autoridades coloniais estimulavam esse tipo de colonização para que fossem desenvolvidas fontes de produção agrícola alguns enxergavam os colonos como escudos 140832 contra a população nativa e outras potências concorrentes mas desenvolvimento econômico por meio da colonização de povoa mento era quase sempre um fracasso Esse tipo de colonização em geral envolvia a concessão de ter ras a europeus para que fossem cultivados produtos rentáveis que normalmente não eram produzidos pelos nativos Com frequên cia as colônias de povoamento revelavam a sabedoria dos habit antes locais em não cultivarem esses produtos uma vez que as fazendas fracassavam de forma miserável De fato os colonos destruíam as atividades econômicas tradicionais para forçar os nativos a trabalhar para eles nas novas fazendas Muitos colonos apenas foram bemsucedidos na agricultura comercial devido a subsídios concedidos pelas autoridades créditos e is enção de impostos infraestrutura barata acesso privilegiado a mercados expropriações locais Para conseguir que seis mil europeus se estabelecessem no Quênia por volta de 1913 os britânicos precisaram vender a eles terras próximas a novas fer rovias a preços irrisórios expulsar milhares de habitantes das tri bos Masai e Kikuyu de suas terras rever a captação e a cobrança de impostos de moradia a fim de estimular os africanos a trabal har para os colonos e como era alegado coagir os trabal hadores por meio de líderes locais aliados Mas mesmo assim a agricultura da colonização de povoamento no Quênia continuava a ser um grande fracasso14 Houve alguns casos bemsucedidos em que os colonos con seguiram desenvolver fazendas produtivas Na Argélia centenas de milhares de europeus estabelecidos ao longo da costa do Medi terrâneo após o domínio francês haviam se consolidado em mea dos do século XVIII A topografia e o clima da região eram semel hantes aos do sul da França e o solo era adequado para o plantio de produtos já conhecidos dos franceses Logo os colonos es tavam exportando grãos e vinho e a competitividade deles era fortalecida por políticas favoráveis da metrópole e pela mão de 141832 obra local barata Na outra extremidade do continente algumas áreas do sul da África como a Rodésia e a Província do Cabo também eram bemsucedidas economicamente Nessas regiões as colônias de povoamento tornaramse lucrativas em grande parte devido a produtos agrícolas rentáveis No entanto até mesmo as colônias de povoamento mais prósperas eram governadas pelas políticas coloniais que benefi ciavam os assentados colonos argelinos rodesianos brancos e excluía os habitantes locais Os colonos cercados por sociedades nativas populosas dependiam do tratamento desigual e se gregado Se fossem concedidos direitos iguais ao resto da popu lação a posição privilegiada dos colonos sofreria com a concor rência dos árabes ou africanos dispostos a trabalhar mais por menos O que muitos dos colonos desejavam não era o desenvol vimento geral da agricultura nativa mas uma força de trabalho cativa e barata Os esforços em prol da melhora nas condições dos nativos se dissipavam diante da necessidade de mão de obra barata dos colonos Portanto a maioria dos colonizadores era contra a incorporação de outros sujeitos coloniais nos sistemas político social e econômico A recusa dos assentados em inserir as populações locais na so ciedade às vezes gerava conflitos com as próprias potências colo niais15 No princípio os governos europeus escolhiam uma certa quantidade de homens franceses ou britânicos para supervisionar suas possessões No entanto a população local não podia ser eter namente subjugada à força e os impérios coloniais ocasional mente queriam estimular o envolvimento dos habitantes nativos na sociedade a fim de atraílos para a Nova Ordem Os assenta dos eram contra essa incorporação porque isso implicava a re dução de seus privilégios especiais Caso fossem ourtorgados aos árabes argelinos ou aos negros rodesianos e quenianos o pleno acesso à terra aos serviços públicos e ao voto logo haveria fortes pressões para eliminar os favores concedidos aos europeus 142832 A oposição dos assentados à inclusão dos habitantes locais no sistema colonial muitas vezes boicotava as bases para uma integ ração econômica internacional ampla e para o desenvolvimento econômico em geral Os colonos impediam que os habitantes loc ais e seus aliados mais próximos prosperassem com a maioria dos habitantes locais excluída havia poucas chances para um crescimento econômico amplo Se a Rodésia ou a Argélia fossem mais includentes do ponto de vista econômico social e político essas regiões poderiam ter expandido as oportunidades financeir as de suas metrópoles razão que juntamente com a busca por mais governabilidade motivava a França e a GrãBretanha a con siderar a inclusão Ao boicotarem a democratização os colonos também boicotavam o desenvolvimento social e econômico da re gião e assim obtinham como aconteceu a fatia maior de um bolo menor Mesmo onde a ordem estrangeira não era tão perniciosa quanto as colonizações de povoamento ou de extração ela tam bém poderia estancar o crescimento local Algumas potências im perialistas restringiram o comércio a formas que se assemel havam ao mercantilismo europeu contra o qual lutaram os movi mentos de independência do Novo Mundo e os liberais europeus Os mercantilistas forçavam as colônias a vender para os mercados das metrópoles e delas comprar exagerando nos preços das ven das e pagando abaixo do valor nas compras Além de utilizar os preços contra as colônias algumas vezes os mercantilistas deses timulavam ou proibiam o desenvolvimento das manufaturas loc ais Algumas potências imperialistas modernas utilizavam polític as ao estilo mercantilista a fim de impor seu comércio e seus in vestimentos por meio das vias coloniais Essas práticas negavam às colônias o pleno acesso a bens capitais e tecnologias da vi brante economia mundial Algumas das grandes potências tam bém forçavam países em desenvolvimento independentes a 143832 assinarem acordos desiguais que concediam tratamento preferen cial às nações industriais O neomercantilismo global e os tratados neocoloniais signi ficavam alguns impedimentos ao desenvolvimento mas não de forma substancial Os Impérios britânico e alemão praticavam o livrecomércio assim como toda a África central Onde impostas as tarifas comerciais eram baixas e o desvio que o comércio in formal representava não era muito custoso para as colônias Os tratados comerciais desiguais também tinham efeito limitado países que desejavam impor tarifas altas como o Brasil a Rússia e os Estados Unidos nunca chegavam a um acordo e aqueles que concordavam tinham pouco interesse nelas Com efeito quando Estados como o Sião e o Japão eram liberados dos tratados comerciais desiguais as políticas comerciais desses países pouco mudavam Dessa forma por mais que as potências imperiais de fato manipulassem o comércio com as nações mais pobres tal manipulação não era tão devastadora a ponto de retardar o cresci mento econômico como um todo Na verdade a maioria das potências imperiais insistia na par ticipação de suas colônias na economia internacional A mo tivação não era causada por benevolência colonial mas pelo fato de que levar os recursos das colônias aos mercados em geral exi gia um envolvimento local ativo Em muitas sociedades os bens destinados à exportação eram produzidos pelos agricultores loc ais Isso se aplicava a grande parte da África ocidental Ceilão e Sudoeste Asiático e os governos coloniais dessas regiões assim como os de outros locais lutavam para inserir seus produtos nos mercados mundiais Construíam ferrovias estradas e portos es tabeleciam a ordem jurídica e monetária e estimulavam os comerciantes a buscar produtores e consumidores no interior desses países As classes dominantes coloniais sempre fizeram pouco se é que algo para que as colônias tivessem acesso aos mercados 144832 internacionais Algumas vezes isso podia ser explicado pelo fato de o proprietário imperialista ter adquirido territórios para fins não econômicos como abrigar tropas de soldados ou abastecer navios Algumas vezes a explicação era o atraso abissal da metró pole como no caso das colônias portuguesas e espanholas Algu mas vezes isso se dava porque a potência colonial contava com governantes locais que temiam os efeitos da economia inter nacional sobre o controle social que exerciam Nesse sentido a provisão inadequada de oportunidades econômicas aos sujeitos coloniais em especial aos que não fossem brancos era a prin cipal falha da maioria das potências Sir Arthur Lewis analisou o impacto final até mesmo das col onizações mais benevolentes com a eloqüência e o comedimento que lhe são peculiares Escrevendo por experiência própria ele fora a primeira pessoa de cor e o primeiro cidadão de uma colônia a receber o Prêmio Nobel de Economia ele nasceu em Santa Lúcia nas Índias Orientais Lewis comentou na década de 1970 O atraso dos países menos desenvolvidos de 1870 só poderia ter sido revertido por pessoas preparadas para modificar certos costumes leis e instituições e para tirar o balanço de poder político e econômico das mãos dos proprietários de terra e das classes aristocráticas Mas a maioria das potências imperialistas aliouse aos blocos poderosos que já existiam Eram particularmente hostis aos jovens instruídos os quais por meios de segregação racial geralmente mantinhamse afastados dos cargos onde pudessem ganhar experiência adminis trativa seja no serviço público ou em empresas privadas Tais indiví duos diriam eles não podiam ser empregados em cargos superiores tanto pela falta de experiência administrativa quanto pela ausência do tipo de formação cultural necessária para que essa competência pudesse florescer Como um dos resultados disso talentos brilhantes foram mandados para as longas e penosas lutas anticoloniais en quanto poderiam ter sido utilizados com criatividade em setores do desenvolvimento16 145832 Esses eram sinais mais de omissão do que de delegação En volviam mais uma atenção inadequada aos prérequisitos do desenvolvimento econômico do que uma oposição ativa a eles Mas tais sinais eram reais e suficientemente importantes para gerar fracassos de desenvolvimento nos anos que precederam 1914 O colonialismo suprimia o desenvolvimento a ponto de blo quear a integração econômica da colônia com o resto do mundo ou de impedir que os sujeitos coloniais participassem do projeto Essa conclusão vai de encontro à ideia que considera o comércio e os investimentos internacionais a causa do problema Muitos ativ istas anticoloniais da época criticavam o comércio o que continua popular até hoje em alguns círculos Eles acusavam as grandes potências de terem jogado as colônias nas mãos impiedosas da economia global sujeitando regiões pobres à coerção dos merca dos mundiais A acusação é injusta por pelo menos dois motivos Primeiro os governos coloniais mais nocivos e questionáveis fizeram uso de restrições ao comércio e não do livrecomércio para drenar os recursos de suas colônias Segundo o com promisso com os mercados mundiais em geral aumentava o cres cimento econômico da colônia de forma acentuada Não é coin cidência que a parcela da economia da América Latina região de rápido crescimento dedicada à atividade comercial fosse três vezes maior do que a da Ásia que apresentava um crescimento lento Isso significava um comércio seis vezes maior numa base per capita Quando os povos da região conseguiam o acesso às oportunidades eles perseguiam com vigor as possibilidades de enriquecimento oferecidas pelo capitalismo global As áreas colo niais de crescimento mais rápido foram aquelas em que os gov ernos conseguiram de forma mais eficiente garantir o bom funcio namento dos caminhos que levavam ao mercado global de ida e de volta Os problemas relativos ao desenvolvimento eram mais severos onde os regimes coloniais não desejavam ou não podiam 146832 permitir que os povos das colônias tirassem proveito do que a economia global tinha a oferecer O colonialismo fora apenas um entre os muitos fatores que afetaram o crescimento do mundo em desenvolvimento e nem sempre era negativo Governos coloniais eficazes aceleravam o avanço econômico da mesma forma que a exploração mercenária o retardava Economicamente a maioria das colônias encontrava se no meio do caminho Contavam com uma módica adminis tração e outros benefícios sujeitavamse a uma modesta quan tidade de tributos e discriminação comercial A relativa pouca im portância da colonização para os desdobramentos do desenvolvimento tornase clara sob uma perspectiva mais ampla a variação nos níveis de progresso era tão grande entre as não colônias quanto nas regiões coloniais Por exemplo enquanto grande parte da América Latina cresceu rapidamente algumas áreas da América Central ao Nordeste brasileiro estagnaramse Os dois fracassos mais óbvios em termos de desenvolvimento a China e o Império Otomano eram independentes Algumas colônias se estagnaram da mesma forma que certos países inde pendentes outros países colonizados cresceram rapidamente as sim como outras nações independentes Exceto em casos como o do claro saqueio leopoldiano e de algumas colônias de povoa mento privilegiadas de forma geral o colonialismo não fora um obstáculo intransponível ao desenvolvimento econômico Má gestão e subdesenvolvimento As políticas econômicas dos governantes de uma nação eram os principais determinantes do desenvolvimento econômico fossem os governantes coloniais ou locais Crescimento econômico exigia investimentos fácil contato com clientes domésticos ou inter nacionais especialistas locais e acesso a tecnologia e capital 147832 estrangeiros Nada disso podia ser conseguido sem o apoio ou pelo menos a permissão dos governantes Quatro quintos da economia das sociedades pobres da virada do século XX correspondiam à agricultura que era extremamente atrasada Em comparação em 1700 a GrãBretanha era menos rural do que isso e as suas fazendas apresentavam uma produtividade maior17 Para se modernizarem os produtores agrí colas precisavam aperfeiçoar suas terras aprender novos métodos e cultivar outros produtos As áreas que cresceram rápido as planícies de arroz da Tailândia e Burma as regiões de cacau da África oriental as zonas de café do Brasil e da Colômbia con tavam com uma grande quantidade de produtores agrícolas inde pendentes trabalhando para o desenvolvimento de suas terras E os governos dessas áreas facilitavam o acesso de seus cidadãos às vantagens das oportunidades econômicas Infraestrutura e serviços que facilitassem a atividade econôm ica eram prérequisitos para o crescimento Os agricultores neces sitavam de créditos informação sobre técnicas e mercados e meios de transporte para trazer o maquinário e levar a produção Os governantes que se interessavam pelo crescimento econômico garantiam confiáveis sistemas de transportes comunicação e finanças O desenvolvimento também exigia condições políticas e legais sofisticadas em especial a garantia de direitos de propriedade O comprometimento com a proteção da propriedade privada não era necessariamente uma concessão de privilégio nas sociedades pobres os principais donos de terras eram os agricultores Para que pudessem se beneficiar das oportunidades da nova economia eles precisavam gastar dinheiro energia e tempo para melhorar o solo O produtor agrícola arriscava seu sustento para plantar árvores de café transformar florestas em campos de cultivo ou ir rigar Como eles optariam por um investimento tão arriscado se não tivessem a garantia de que veriam os frutos de seu trabalho 148832 Se bandidos pudessem roubar seus animais e incendiar seus cam pos Se funcionários dos governos locais pudessem extorquir qualquer riqueza que vissem sendo ganha Se os governos nacion ais taxassem todos os lucros Educação para aprimorar as habilidades dos trabalhadores e alfabetização também causavam um impacto direto na produtividade De fato o sucesso econômico e a escolaridade caminhavam quase de mãos dadas Nos Estados Unidos e na Ale manha 34 ou mais das crianças em idade escolar frequentavam instituições de ensino no Japão metade e na Argentina e no Chile 14 das crianças tinha acesso à educação Além disso saneamento e saúde pública também eram importantes tanto devido a razões sociais óbvias quanto por permitirem às pessoas se tornarem membros produtivos da sociedade A má gestão era a principal barreira ao desenvolvimento econ ômico Ela impedia que produtores agrícolas e mineradores levassem seus produtos aos mercados mundiais e também que a África ocidental ou a América Central aprimorassem suas cidades e terras De fato fosse das autoridades coloniais ou dos governos independentes a má gestão impedia o desenvolvimento e vários governantes independentes ou coloniais eram indiferentes ou hostis à necessidade de desenvolvimento econômico Alguns sinais claros de má administração eram a ausência de sistemas adequados de comunicação e transporte a escassez de bancos e a falta de confiança da população na moeda nacional A primeira linha ferroviária da China fora construída 25 anos após a da Índia por mercadores estrangeiros e um ano depois o governo chinês a destruiu e jogou os pedaços no oceano18 Em 1913 o sis tema de trens da China era menor do que o do pequeno Japão o qual correspondia a apenas 15 da quilometragem ferroviária da Índia Outro sinal de má gestão era a falta de um comprometimento claro por parte do governo em relação a um ambiente econômico 149832 confiável Assim a população não podia aproveitar as oportunid ades que a economia mundial em crescimento oferecia Os gov ernantes tradicionais em geral relutavam em garantir os direitos dos investidores Respeitar o direito de propriedade privada sobretudo significava a restrição de regalias do governo Foi apenas nos primeiros anos do século XX que a China tomou a me dida básica de adotar um código de leis para as corporações per mitindo as empresas a operar normalmente Até então com fre quência as autoridades ignoravam os direitos dos cidadãos Uma má administração também incluía o desinteresse do gov erno em melhorar a qualidade de vida e trabalho dos indivíduos Na Índia apenas uma em cada 20 crianças frequentava a escola19 Em 1907 92 da população adulta do Egito era analfabeta e o governo não demonstrava qualquer interesse em reduzir esses números20 Muitos governantes independentes neocoloniais e coloniais falharam de forma vil em fornecer educação básica saneamento ou saúde pública Por que as classes dominantes condenavam suas sociedades à estagnação Nas colônias a resposta talvez fosse que os gov ernantes imperialistas não tinham interesse nas condições econ ômicas locais Mas muitos dos fracassos desenvolvimentistas eram politicamente independentes e podemos presumir com se gurança que a maior parte dos governantes preferia o cresci mento da economia de suas sociedades ao retrocesso mesmo que fosse apenas para gerar mais impostos Não era uma simples falta de democracia os governantes de quase todos os lugares eram oligárquicos tanto nos países pobres quanto nos ricos Al guns soberanos simplesmente tinham menos interesse ou capa cidade que outros de permitir um crescimento econômico amplo Estagnação na Ásia 150832 Os fracassos desenvolvimentistas mais notáveis foram a China o Império Otomano e a Índia As três civilizações mais antigas do mundo possuíam evidentemente uma longa experiência de com plexa organização social Assim como na Europa prémoderna essas economias eram constituídas quase exclusivamente por ag ricultura e artesanato locais e havia tempos não estavam bem equilibradas eram suficientes para alimentar e vestir a popu lação mas não para criar um superávit substancial que gerasse in vestimentos e crescimento Os governos eram especialistas em ad ministrar suas sociedades longínquas promovendo estabilidade social e segurança militar Os poucos segmentos avançados da economia finanças e comércio internacionais e uma indústria incipiente estavam nas mãos de diferentes grupos algumas vezes de etnias distintas Essas ilhas de atividade econômica eram cuidadosamente monitoradas para que não emergissem centros de poder alternativos As classes dominantes dos três países temiam que o cresci mento econômico provocasse mudanças sociais que os tornassem ingovernáveis ou ao menos ingovernáveis pela administração vi gente A principal preocupação dos governantes otomanos chineses e indianos era com a estabilidade da ordem social e de fato o crescimento econômico poderia desequilibrála O es tímulo ao surgimento de um setor privado próspero exigia que os governos respeitassem os direitos de seus cidadãos de uma forma que eles não estavam acostumados A criação de uma base para o crescimento da economia moderna significava participar da eco nomia mundial cobrar impostos dos ricos educar os pobres mel horar os transportes no campo e desenvolver mercados de crédito locais A maior parte desses fatores implicava mudanças sociais as quais não eram bemvindas pelas classes dominantes Nenhum dos três governos se empenhou de verdade para superar a inércia social até o fim do século XIX quando já era tarde demais O tradicionalismo impediu a modernização21 151832 Defensores dos três governos argumentavam que a necessid ade geopolítica os forçava a subordinar o desenvolvimento a ob jetivos de política externa Acreditase que o Império Chinês e o Otomano enfrentavam ameaças à soberania que os obrigaram a sacrificar o desenvolvimento econômico Por exemplo uma ex plicação para a hostilidade do governo chinês às estradas de ferro seria que militares estrangeiros mercadores ou missionários as utilizavam comprometendo a segurança do país A escolha por si só já é reveladora Por um lado isso simplesmente admitia que os próprios chineses não eram capazes de adotar as novas tecnologi as o que incluía a utilização das ferrovias para usos militares como fazia o Japão Por outro negar à nação uma revolução nos transportes apenas para impedir o acesso de estrangeiros signi ficava que as ameaças ao poder de influência do governo se sobre punham às oportunidades para o crescimento econômico O poder imperial e a estabilidade eram mais importantes do que o desenvolvimento No fim o governo voltou atrás e utilizou as fer rovias para que as tropas pudessem se movimentar de forma rápida durante a Guerra dos Boxers de 1899 a 1900 Também embarcou num programa para a construção de estradas de ferro mas naquele momento eles já estavam 40 anos atrasados O ar gumento da necessidade militar é precisamente retrógrado as crescentes infrações conta a soberania dos chineses e otomanos no decorrer do século XIX e início do XX eram um resultado da inadequação econômica deles e não a causa No caso da Índia algumas vezes alegase que o status do país como uma preciosidade militar essencial para a Coroa britânica retardou o crescimento devido à negligência colonial em relação às necessidades econômicas É verdade que o principal gasto da GrãBretanha na Índia a construção de um sistema ferroviário extenso fora motivado por razões militares Mas longe de re tardar o desenvolvimento as ferrovias provavelmente foram a maior fonte de qualquer sucesso econômico registrado na Índia 152832 No entanto tal fato sozinho era insuficiente Da mesma forma como os governantes da China e do Império Otomano tanto os britânicos quanto seus aliados indianos preocupavamse priorit ariamente em manter o controle político e viam com suspeita as medidas desenvolvimentistas agressivas22 Nas últimas décadas do século XIX o desastroso abismo desenvolvimentista já se fazia claro e nos três países cresciam movimentos por reformas Muitos dos que desejavam as mudanças eram lúcidos e bemintencionados até mesmo dentro do governo Mas na maioria dos casos os esforços deles eram suprimidos pela resistência imperial ainda presente Alguns governantes chineses por exemplo abraçaram as re formas econômicas e políticas Mas as credenciais reformistas do governo eram suspeitas como mostrara a viúva do imperador ao apoiar a Guerra dos Boxers uma batalha antiocidente Até mesmo as reformas implementadas pelo governo chinês foram distorci das pela influência das classes dominantes tradicionais Um dos fatores de maior pressão era o desenvolvimento de uma indústria moderna quase inexistente na China Até então os poucos governantes que estimularam a indústria o fizeram com o objetivo de aumentar a sua própria influência O governador das províncias de Hubei e Hunan por exemplo determinou que as metalúrgicas ficassem sob sua própria proteção Ele mesmo providenciou a encomenda de equipamentos das usinas por inter médio do embaixador da China em Londres aparentemente porque desejava as últimas novidades em equipamentos britâni cos Dada a ignorância do governador em metalurgia os altos fornos eram inapropriados para o minério local ao passo que o carvão pretendido para as usinas era inutilizável Para tornar a situação ainda pior as usinas foram construídas em uma área muito pequena e úmida demais mas com o benefício de poder ser avistada do palácio do governador O equipamento custou uma fortuna e fracassou de forma grotesca O historiador econômico 153832 Albert Feuerwerker estudou o equívoco dessas últimas tentativas do governo imperial em estimular a indústria Em todos os casos os projetos enriqueceram alguns mercadores e funcionários do governo mas nada fizeram pela modernização econômica do país O avassalador peso político da beminstruída elite se opunha ou era indiferente à industrialização escreveu23 Uma vez que interesses enraizados na sociedade sabotaram as reformas os que se opunham às classes dominantes ergueram a bandeira da renovação nacional Indianos nacionalistas que queriam mais autonomia para a colônia lideraram o movimento pelo desenvolvimento econômico Oficiais de patente média do Exército otomano tomaram a dianteira na luta por reformas no Império Os Jovens Turcosc tomaram o poder em 19081909 mas seus planos foram destruídos pela Primeira Guerra Mundial A guerra com imensas perdas otomanas apenas mostrou aos movi mentos nacionalistas estrangeiros e nativos o quão calamitoso fora o atraso Com o colapso da ordem otomana Mustafa Kemal Atatürk outro jovem oficial liderou o que permaneceu do Im pério em direção à modernidade transformando as ruínas na nova e secular Turquia O relativo sucesso da Turquia de Atatürk serviu apenas para enfatizar a natureza retrógrada do regime que estava sendo substituído Na China as novas forças sociais e econômicas também só fo ram instauradas por meio da revolução O programa de reformas do governo imperial era tímido e em 1911 uma coalizão entre ofi ciais insurgentes do Exército e civis da oposição destituiu a mon arquia Sun Yatsen e seu Partido Nacionalista lideraram o movi mento rebelde para a proclamação da República Mas mesmo as sim conforme ocorrera com o Império Otomano as reformas vi eram tarde demais para que fosse possível evitar o avanço da de terioração das condições do país Generais dividiram a China em feudos o que deixou a nação quase sem defesa enquanto o Japão mais poderoso e industrializado expandia seus domínios pelo 154832 território Nenhum grupo ou indivíduo conseguiu unificar o país para lutar contra os estrangeiros ou renovar o governo nacional O resultado foram quase 40 anos de guerra civil e invasões cal amidade após calamidade o que demonstrava o quão despre parado para a modernidade o Império Chinês havia deixado o país A civilização milenar da China assim como as do Império Otomano e da Índia bloqueou em vez de permitir a adesão e a adaptação às atividades econômicas modernas Estagnação nas plantações intensivas Em alguns casos interesses enraizados impediram o desenvolvi mento econômico até mesmo onde o peso da História não estava presente As classes dominantes que precisavam de mão de obra para as plantações ou dependessem de mineiros que aceitassem trabalhar por muito pouco perderiam a base de seus privilégios caso a mão de obra migrasse para atividades mais lucrativas Aqueles que dependiam de trabalhadores cativos tinham pouco interesse em facilitar a entrada das massas na nova ordem econ ômica Em contrapartida as elites que não precisavam de mão de obra barata poderiam lucrar com uma economia mais próspera Essas pessoas se tornariam banqueiros ou mercadores desen volveriam as pequenas propriedades rurais participariam do luc rativo sistema comercial de importações e exportações ou atuar iam como intermediários entre estrangeiros e locais A compatibilidade entre o desenvolvimento e os interesses das classes dominantes dependia em parte da natureza da economia Diferentes cultivos ou matériasprimas geravam estruturas econ ômicas baseadas em grandes plantações minas imensas ou na ag ricultura familiar o que causou efeitos duradouros na organiza ção social24 Algumas atividades tendiam a gerar oligarquias retrógradas que bloqueavam o crescimento econômico Outros 155832 tipos de organização econômica estimulavam a incorporação da população nas esferas econômica e política potencializando o avanço do desenvolvimento Os quatro principais cultivos dos trópicos para exportação ap resentavam grandes diferenças em termos de organização de produção e de sociedade Juntos café algodão açúcar e arroz eram responsáveis por mais da metade das exportações agrícolas dos trópicos em 1913 e o impacto que causavam nas sociedades não podia ser mais diferenciado Em linguagem comum o açúcar e o algodão podiam ser definidos como produtos reacionários enquanto o café e o arroz eram cultivos progressistas Estudos posteriores confirmaram essa visão Os primeiros eram produz idos em plantações intensivas e criaram as sociedades mais desiguais e estagnadas do mundo os últimos eram cultivados em pequenas propriedades e geraram oportunidades para um cresci mento econômico amplo Os donos das plantações intensivas geralmente produziam açúcar e algodão com grande quantidade de mão de obra Os que supervisionavam o trabalho conduziam fileiras de trabalhadores altamente vigiados pelos campos sem qualquer necessidade de motivar ou recompensar iniciativas individuais Por essas e outras razões havia uma substancial economia de escala na produção do açúcar e do algodão As grandes fazendas eram mais eficientes e pequenos proprietários independentes não podiam competir com os donos das plantações de produção intensiva plantations Café e arroz por outro lado eram cultivos ideais para as pequenas propriedades No caso do café isso podia ser explicado em parte pelo cuidado que a colheita do produto exigia os frutos não amadurecem ao mesmo tempo e o coletor precisa prestar atenção no que está colhendo25 A utilização de mão de obra in tensiva como ocorria na produção de açúcar e algodão não era algo prático A economia de escala nas produções de café e arroz era irrelevante e os pequenos fazendeiros dominavam a 156832 produção Nas regiões onde o cultivo principal estava nas mãos de pequenos proprietários agrícolas em geral ocorria um desenvolvi mento político mais amplo e equalitário Na América Latina as sociedades reacionárias do açúcar e as progressistas do café coexistiam As plantações de canadeaçú car assim como as de algodão e tabaco contavam com o trabalho escravo Após a abolição a tecnologia e a competição passaram a determinar que o produto continuasse a ser cultivado nas grandes plantações com mão de obra barata Quando podiam optar os ex escravos fugiam das plantações como o diabo da cruz Os donos das grandes fazendas então se empenhavam para que o abasteci mento de trabalhadores aumentasse e os salários permanecessem baixos Índios e chineses foram trazidos para trabalhar nas ilhas do Caribe produtoras de açúcar e na costa do Peru Com frequên cia a servidão se dava por meio de contratos em que os trabal hadores eram pagos por um número definido de anos de tra balhod No Nordeste brasileiro os donos de terras faziam o que estivesse ao seu alcance para manter seus empregados presos às plantações restringiam a mobilidade os mantinham como peões das fazendas por causa de dívidas tomavam medidas coercitivas O problema se agravou quando os europeus começaram a produzir açúcar de beterraba e a subsidiar as exportações do produto gerando uma queda no seu preço26 O açúcar deixou um gosto amargo na boca uma desigualdade assustadora Diante das massas de trabalhadores empobrecidos reinava uma elite rica que tinha poucos incentivos para estimular o desenvolvimento econômico social ou humano uma vez que as sim afastaria os trabalhadores das plantações Nas regiões de cul tivo de algodão grandes áreas repletas de mão de obra as con dições eram semelhantes O Nordeste do Brasil cultivava tanto al godão quanto açúcar promovendo um duplo estrago em sua es trutura social A ordem econômica e política reforçava a posição dos proprietários de terra ricos e dos comerciantes oferecendo 157832 poucos motivos para melhoras na qualidade do governo infraes trutura ou escolas Muitas vezes os resultados eram perversos Na Venezuela por exemplo terras férteis das imensas haciendas foram cercadas pelas moradias simples de camponeses semterra Os grandes proprietários de terras hacendados utilizavam menos de 13 da extensão de sua propriedade e se recusavam a alugar o resto para os semterra Se os hacendados tivessem alugado as porções improdutivas de suas terras os agricultores não concordariam em trabalhar nas plantações por salários baixos Isso teria privado as haciendas do trabalho que necessitavam para que as regiões agrí colas fossem economicamente viáveis Assim a maior parte das terras férteis das zonas rurais permanecia improdutiva A longo prazo tal fato não era interessante para os proprietários uma vez que a miséria dos semterra se perpetuava impondo severas re strições aos mercados internos além de fomentar o descontenta mento social mas as oligarquias rurais estavam mais interessadas no próprio poder e riqueza aqui e agora do que no desenvolvi mento a longo prazo27 Esse modelo era repetido em várias regiões e em diversos produtos O açúcar causou um atraso social nas Índias Orientais Holandesas Filipinas em Fiji e Maurício O impacto do algodão na Índia e no Egito foi semelhante ao que aconteceu no Nordeste brasileiro ao reforçar a posição das classes dominantes rurais e comerciais Outros cultivos como a banana na América Central e a borracha na região da Malaia criaram novas economias de agri cultura intensiva Em ambos os casos as plantações se estabele ceram em amplas extensões de terras vazias dominadas por grandes corporações as quais empregavam trabalhadores sem terra ou os importavam de outras regiões pobres exclusivamente para esse fim Por outro lado nas décadas que precederam a Primeira Guerra Mundial as terras de café da América Latina estavam 158832 entre as áreas mais bemsucedidas em termos de desenvolvi mento Certamente não é por coincidência que o café assim como o arroz ou o trigo era fácil de ser cultivado a custos muito com petitivos em pequenas propriedades As árvores de café levavam alguns anos para crescer Assim os produtores agrícolas neces sitavam de créditos ou de dinheiro economizado Mas diferente mente do que ocorria com as plantações de açúcar ou algodão as pequenas propriedades cafeeiras podiam ser extremamente luc rativas Mais de 14 da produção do oeste colombiano no período vinha de pequenas fazendas de menos de três hectares O café cer tamente poderia ser cultivado também em grandes plantações e a produção de São Paulo era totalmente desproporcional em re lação a outros grandes estados mas a região também era repleta de pequenas fazendas bastante prósperas28 De fato uma das vantagens do café era permitir que os pequenos proprietários plantassem outras culturas por entre as árvores obtendo ao mesmo tempo alimentos básicos para suas famílias e um produto rentável E onde os agricultores conseguiam estabelecer seus próprios negócios até mesmo os grandes fazendeiros eram obri gados a pagar salários decentes aos trabalhadores O café era associado à prosperidade não importava se o lucro do produto vinha das pequenas propriedades familiares ou das grandes com trabalhadores bempagos O motivo dessa prosperidade não podia ser explicado apenas pelos preços altos o valor do algodão superava consideravelmente o do café o do açúcar e o do cacau entre 1899 e 191329 mas porque a natureza da produção cafeeira conduzia a um crescimento econômico de base ampla e os benefícios gerados não ficavam restritos aos domínios de uma pequena elite Havia outros cultivos progressistas além do café O arroz era o mais importante Burma Tailândia e Indochina responsáveis por 34 das exportações do produto experimentaram um cresci mento extremamente rápido quase tão includente quanto o das 159832 regiões de café30 O mesmo ocorreu com o cacau da África ocidental um cultivo de pequenas propriedades Sobretudo onde grãos como o trigo podiam ser cultivados de forma lucrativa em pequenas propriedades tal qual no Cone Sul latinoamericano e em partes da Índia as perspectivas para uma prosperidade gener alizada eram maiores O Brasil sofreu o impacto de diferentes cultivos uma vez que o país continha tanto regiões bemsucedidas quanto fracassadas A agricultura do Nordeste era baseada em grandes plantações de al godão e canadeaçúcar Os proprietários de terra dependiam dos escravos na época em que a escravidão era permitida e do tra balho informal para o funcionamento de seus estados Os donos de terra se esforçavam para manter os trabalhadores nas fazendas locais já que sem funcionários cativos as plantações entrariam em colapso No outro extremo na região Sudeste ao redor de São Paulo desenvolviase uma economia próspera com base no café Havia uma demanda constante por mais fazendeiros e mais tra balhadores para o cultivo de novas terras Muitas das fazendas eram pequenas e vários agricultores trabalhavam para si mesmos se trabalhassem para outros recebiam salários decentes e po diam passar livremente de um empregador a outro Aqui os mais ricos se posicionavam nos setores de exportação finanças e comércio Essa elite paulista tão preocupada quanto a nordestina com seus próprios interesses estimulou o cultivo de novas terras e o desenvolvimento de fazendas ainda mais lucrativas O Nordeste se estagnou enquanto o Sudeste prosperou Teria sido melhor para o país se os nordestinos tivessem mi grado para as fazendas de café da região Sul mas isso arruinaria a base econômica dos donos das plantações do Nordeste Dessa forma os governantes do Nordeste faziam de tudo para manter seus trabalhadores nas plantações controles burocráticos de mo vimentação populacional poucos investimentos para a con strução de ferrovias obstáculos aos anúncios de trabalho e aos 160832 empregadores Desesperadas por mão de obra as classes domin antes do Sudeste trouxeram milhões de trabalhadores do sul da Europa A necessidade de mão de obra era tão grande que os gov ernadores dos estados subsidiavam as passagens A experiência brasileira chama a atenção para diferenças re gionais semelhantes nos Estados Unidos Os cultivos reacionários norteamericanos eram o algodão o tabaco e a canadeaçúcar do sul ao passo que os produtos progressistas incluíam os grãos e o gado do norte e do oeste norteamericano Assim como ocorreu no Brasil as áreas de cultivo intensivo permaneceram atrasadas e estagnadas por décadas enquanto as pequenas propriedades fa miliares e as regiões de criação de gado cresceram verti ginosamente O sistema legal de apartheid reinava no sul dos Estados Unidos havia exclusão social e política dos descend entes de escravos um sistema educacional miserável hostilidade por parte dos que recrutavam os trabalhadores e poucos investi mentos em transportes e comunicação Esse era um entre os mui tos mecanismos para manter os trabalhadores cativos pobres no sul região oligárquica que dependia do fornecimento direto de mão de obra barata e pouco qualificada O processo não era puramente econômico Por isso não havia qualquer motivo inerente que explicasse por que a agricultura in tensiva não poderia ser eficiente e dinâmica Houve algumas so ciedades açucareiras de rápido crescimento como em Cuba O que importa é o impacto mais amplo da agricultura intensiva a criação de uma pequena elite dependente de uma massa de mão de obra barata Em tal cenário o desejo de mobilidade social e o envolvimento político eram fáceis de serem barrados e a tentação das classes dominantes de barrálos era grande Por outro lado nas regiões onde muitos tinham acesso a pequenas propriedades lucrativas os governantes encontravam mais dificuldade e menos necessidade de limitar as oportunidades econômicas da população31 Sociedades de agricultura intensiva e outras 161832 semelhantes tendiam a ser ou se tornaram altamente desiguais polarizadas e subjugadas ao autoritarismo Os enraizados gov ernos oligárquicos raramente queriam ou podiam estimular o desenvolvimento socioeconômico infraestrutura finanças e educação necessário para permitir que as forças produtivas da sociedade como um todo fossem ouvidas Processos similares pelos quais a economia gerava uma con centração de interesses que manipulavam o governo e impediam o crescimento econômico eram associados a uma série de matériasprimas Alguns tipos de mineração eram semelhantes à agricultura em termos de criação de enclaves O impacto econ ômico gerado se restringia às áreas onde os minerais eram encon trados E muitos minerais como cobre petróleo e ouro de fato criavam uma divisão entre aqueles que os produziam e o restante da sociedade A importância da questão dependia da in fluência política e econômica das minas Uma verdadeira difer ença entre a mineração e a produção agrícola era que devido ao caráter predominantemente rural dos países pobres as ex portações de bens agrícolas tendiam a incluir uma parcela grande da população enquanto a mineração em geral era feita por pequenos grupos isolados A mineração causava forte impacto semelhante ao da agricul tura nas regiões onde a economia local dominava Mas isso ocor reu em apenas alguns poucos lugares como nas áreas de minas de ouro da África do Sul Onde isso acontecia como ao longo dos ex traordinários corredores minerais do Transvaal o resultado ten dia para a mesma característica dual das sociedades nas regiões de plantação intensiva A evolução social e política da África do Sul estava intimamente ligada à dominação comercial dos fazendeiros e donos de minas que dependiam de um grande fornecimento de mão de obra barata Devido a essas experiências as riquezas naturais pelo menos algumas se tornaram quase malditas Regiões ideais para cultivos 162832 intensivos ou áreas que possuíam algum tipo de depósito mineral valioso tendiam a desenvolver estruturas sociais distorcidas Elas eram dominadas por elites enraizadas na sociedade que tinham pouco interesse em fornecer a infraestrutura a educação e o gov erno necessários para que o desenvolvimento fosse além do boom inicial causado pelos recursos naturais Por mais que houvesse ex ceções impressiona o fato de que as produções agrícolas e min erais rentáveis nos países pobres eram em geral associadas com pobreza e desigualdade O impacto de tais recursos naturais não era algo determinista As características puramente econômicas da produção signi ficavam apenas o começo do processo de declínio Os efeitos mais notáveis desses produtos eram políticos e sociais a criação de po derosos grupos de interesse cujas posições dependiam do acesso limitado das populações ao poder político e social A riqueza ini cial se acumulava mas não se espalhava e sem uma ampla mobil ização da população não havia modernização econômica O pro cesso poderia ter sido evitado mas a tendência natural da maior parte dessas sociedades era a utilização do boom dos recursos para consolidar o domínio das elites e não para levar os benefí cios do desenvolvimento ao restante da população Obstáculos ao desenvolvimento Muitos motivos geravam estagnação declínio e fracasso nas re giões pobres do mundo mas estas também eram sociedades ún icas na mesma proporção Em alguns casos o saqueio colonial era o culpado Em outros o peso acumulado de anos de sociedades tradicionais asfixiava o crescimento econômico moderno Em out ros ainda a produção mineral e agrícola intensiva criou uma elite forte hostil ou indiferente às medidas necessárias para a difusão do desenvolvimento A existência de indivíduos focados na busca 163832 de seus próprios interesses obstruía as vias para o desenvolvi mento e destruía as expectativas econômicas da população Em quase todas as sociedades que não conseguiram aproveitar as oportunidades oferecidas pela economia internacional antes da Primeira Guerra as classes dominantes no mínimo facilitaram o fracasso É certo também que estrangeiros avarentos coloniz adores exploradores colonos privilegiados companhias mono polistas sempre estiveram presentes mas algumas sociedades lidaram com eles de forma mais eficiente que outras deixando em aberto para estudos mais específicos e posteriores o motivo da diferença Nos casos mais gritantes a desigualdade social e política fez com que as classes dominantes tradicionais tivessem pouco in teresse em estimular o desenvolvimento e deixou as massas in capazes de superar os obstáculos criados por seus senhores in competentes ou corruptos Nas regiões em que a organização so cial permitiu à população aproveitar as novas oportunidades eco nômicas e as classes dominantes a apoiaram ou ao menos não atrapalharam o crescimento foi rápido Mas em muitas so ciedades essas condições aparentemente básicas não eram respeitadas Em meio à torturante visão de grandes riquezas sendo escoa das dos pampas de regiões pobres correndo em direção à mod ernidade e de três continentes se industrializando numa velocid ade desenfreada grande parte da Ásia da África e da América Latina permaneceu pobre e economicamente estagnada Essas re giões representavam alguns dos problemas mais complicados e duradouros da ordem internacional que viria a entrar em colapso com a chegada da Primeira Guerra Mundial a Movimento literário surgido na década de 1920 nos Estados Unidos que propunha uma fusão da poesia com o ritmo do jazz NT 164832 b Ouçam os gritos do fantasma Leopoldo Queimando no inferno pela sua horda mutiladora de mãos Ouça como os demônios regozijamse e urram Cortando suas mãos no inferno NT c Tradução para Young Turks como era chamado o grupo de oficiais do Exército otomano que lutava por reformas NT d Em inglês o termo utilizado para esse tipo de contratação é identure NT 165832 5 Problemas da economia global Os principais desafios da Era de Ouro do capitalismo global vin ham de dissidências no centro do sistema não das massas em pobrecidas da Ásia e da África Industriais britânicos contestavam o envolvimento do país com o livrecomércio e a liderança da nação na economia global Produtores agrícolas norteamericanos questionavam a vantagem do padrãoouro Organizações de tra balhadores e partidos socialistas na Europa se mobilizavam con tra problemas domésticos há muito tempo evidentes Todos eles se afastaram do consenso clássico da época quanto à priorização dos compromissos econômicos internacionais em relação aos as suntos internos Comércio livre ou comércio justo Na década de 1880 dissidentes da ortodoxia do livrecomércio britânico exigiam um comércio justo retaliações contra as bar reiras protetoras ao redor do mundo Os produtores que en frentavam a competição das nações recémindustrializadas lid eravam o movimento Donos de fábricas têxteis e metalúrgicas na GrãBretanha estavam furiosos porque europeus e norteamer icanos vendiam livremente nos mercados do país enquanto o governo deles impunha pesadas tarifas sobre os produtos britâni cos Os novos competidores também superaram as empresas britânicas nos terceiros mercados os da América Latina da Ásia e do leste e sul da Europa As principais indústrias da Grã Bretanha passaram a depender cada vez mais das vendas dentro do Império onde as empresas e os laços culturais lhes concediam vantagens Até a primeira parte do século metade das ex portações de tecidos de algodão do país junto com 13 das de ferro galvanizado ia apenas para a Índia1 Por um lado isso signi ficava o sucesso do Império em obter um mercado cativo Mas por outro também revelava a dura realidade de que as empresas até então dominantes agora só conseguiam competir com as es trangeiras devido ao apoio do Império A demanda por um comércio justo se transformou num pe dido mais geral de revisão da política externa britânica O movi mento foi liderado por Joseph Chamberlain um fabricante da área metalúrgica que havia sido prefeito de Birmingham líder do Ministério do Comércio e secretário das Colônias Os fabricantes do norte lutavam por proteção sob o amparo da Liga pela Re forma Tarifáriaa criada em 1903 A busca de proteção costumava estar ligada a propostas de preferência imperial sistema que con cederia à GrãBretanha suas colônias e locais de dominação acesso privilegiado aos mercados uns dos outros Isso teria satis feito os cada vez mais poderosos interesses protecionistas do resto do Império em especial de Canadá Austrália África do Sul e Ín dia e garantido um mercado mais seguro para os fabricantes britânicos revoltosos2 Os defensores da reforma tarifária nutriam um sentimento protecionista uma preocupação com a estrutura imperial e uma ansiedade pelas implicações causadas ao Império Britânico pela perda de sua superioridade industrial Nas palavras de Chamberlain 167832 Embora em um determinado momento a Inglaterra tenha sido o maior país manufatureiro hoje a população se emprega cada vez mais nas finanças repartições serviços domésticos e em outras ocupações desse mesmo tipo O estado atual das coisas pode significar mais dinheiro mas significa menos bemestar social e acredito que valha a pena considerar sejam quais forem seus efeitos imediatos até que ponto este estado das coisas não seria em última análise a destruição de tudo o que a Inglaterra tem de melhor de tudo o que nos tornou quem somos tudo o que nos deu poder e prestígio no mundo3 As eleições gerais de 1906 foram um grande plebiscito sobre o livrecomércio Os financistas baseados na cidade de Londres se mobilizaram para defender a abertura comercial da Grã Bretanha e encontraram apoio nos mercadores e nas indústrias exportadoras bemsucedidas Os protecionistas perderam de forma ressoante4 Nesse ano Joseph Chamberlain principal portavoz do protecionismo britânico sofreu um derrame que o debilitou Tanto o homem quanto o movimento definharam Chamberlain morreu em 1914 e a exigência britânica por proteção acalmouse até o fim da Primeira Guerra Mundial Os industrialistas revoltosos fracassaram e não foram bemsucedidos em rever a seu favor a política britânica A suposição de que a GrãBretanha aceitaria para sempre os produtos do mundo no entanto não era mais certa O país perdia a sua posição na economia internacional O declínio era relativo Entre 1870 e 1913 o tamanho da eco nomia britânica mais do que dobrou Mesmo considerando o cres cimento populacional o produto por pessoa do país cresceu mais de 50 durante o período Não obstante o abismo que existia entre a GrãBretanha e o resto do mundo se estreitava continua mente Os fabricantes britânicos estavam sendo afastados dos mercados exportadores e até mesmo dos mercados domésticos Os Estados Unidos e a Alemanha passaram a ser os dínamos manufatureiros do mundo A GrãBretanha mantinha a sua 168832 liderança apenas nos serviços como atividades bancárias seguros e frete Não era mais um fato que a próxima usina de energia ou estrada de ferro construídas na África ou Europa oriental seriam britânicas era igualmente possível que fossem alemãs francesas ou norteamericanas Mesmo em relação a investimentos inter nacionais os centros financeiros da Europa continental assim como Nova York desafiavam a supremacia britânica Já era de se imaginar que a liderança industrial do país não duraria para sempre mas a velocidade com que foi superada levou muitos britânicos a se perguntarem como isso acontecera pergunta que ecoou em gerações de historiadores econômicos Uma explicação bemaceita é a de que o entusiasmo dos in vestidores britânicos por empreendimentos estrangeiros en fraqueceu a economia britânica ao passo que fortaleceu a dos países destino desse capital Os investidores britânicos enviavam para o exterior cerca de metade do que economizavam e os que faziam empréstimos reclamavam que seria mais barato se não precisassem competir com as províncias canadenses e argentinas pelo favorecimento do capital londrino Mas os investimentos domésticos lucrativos não enfrentavam problemas de finan ciamento Além disso o dinheiro investido no exterior rendia um belo lucro o qual voltava para casa a fim de aumentar a renda e a riqueza da nação5 Como se alega algumas vezes os britânicos fracassaram em adotar novas técnicas de gerenciamento e produção Países como a Alemanha e os Estados Unidos gozavam da vantagem do atraso podiam estabelecer novas indústrias com os avanços recentes já desenvolvidos Uma desvantagem análoga seria ter se industrial izado 50 anos antes dos outros assim a introdução de novas tecnologias poderia significar o descarte das já existentes o que incluiria equipamentos ainda lucrativos De fato a crescente de pendência dos produtos tradicionais britânicos dos mercados im periais adiou a modernização industrial ao facilitar a venda de 169832 bens que não exigiam mudanças tecnológicas Nas palavras do historiador econômica Charles Kindleberger As exportações do Império permitiram que a economia se esquivasse da exigência de uma mudança dinâmica que significava afastarse dos tecidos de algodão dos trilhos de ferro e aço das folhas de ferro galvanizado e similares para a fabricação de produtos das novas in dústrias6 As práticas britânicas de gerenciamento também foram gera das em uma época anterior à revolução dos transportes e das tele comunicações do fim do século XIX e antes do aumento da produção e do consumo em massa de bens duráveis As firmas britânicas tendiam a ser menores do que as alemãs e as norte americanas como a Siemens e a AEG ou a General Electric e a US Steel Eram organizadas não tanto como companhias mod ernas mas como empresas familiares o que muitas delas con tinuavam a ser Não está claro contudo se isso foi uma má ideia É possível que as empresas norteamericanas fossem grandes porque eram de cartéis monopolistas e as novas formas adminis trativas não eram apropriadas para as relações industriais e tra balhistas britânicas Outro candidato a culpado pelo crescimento relativamente lento da GrãBretanha foi o sistema educacional do país Críticos culpavam as escolas da nação pela atenção inadequada ao treina mento técnico excessiva rigidez classista e insuficientes princípi os meritocráticos de promoção e avanço Havia certamente uma força preconceituosa na sociedade britânica cujo possível im pacto sufocante para o avanço econômico foi capturado pela romancista norteamericana Margareth Halsey Na Inglaterra ter tido dinheiro é tão aceitável quanto têlo Mas nunca ter tido dinheiro é imperdoável e a única forma apropriada de re paração é por meio da explicação de nunca ter tentado ganhar al gum7 Embora a estrutura social da GrãBretanha possa não ter 170832 recompensado o empreendedorismo e as suas realizações educa cionais não refletissem a liderança industrial que a nação tinha em relação aos outros países da Europa não está claro que esses fracassos tenham causado um impacto econômico significativo Não importa quais tenham sido as fontes da desaceleração do crescimento britânico após 1870 e provavelmente havia algo de cada uma das principais explicações O que importa é que afetou o país e o mundo Muitos britânicos passaram a questionar as ver dades até então intocadas de sua economia política como o livre comércio e a liderança financeira global Não é surpresa que os fabricantes britânicos diante da pressão da concorrência quisessem uma política governamental que os apoiassem Tam pouco surpreende dada a importância dos mercados do Im pério assim como os de seus domínios para a indústria em apur os que isso tomasse a forma de uma reivindicação por tarifas protetoras em torno do Império Britânico Em todos esses aspec tos o Reino Unido era bem parecido com qualquer uma das out ras principais nações industriais No entanto o papel principal desempenhado pelo Reino Un ido na economia mundial era centrado em grande parte em ser diferente das outras nações industriais como fora desde a década de 1840 O compromisso britânico com o livrecomércio e a aber tura financeira era crucial para a estrutura e o funcionamento da economia mundial Uma coisa eram os países marginais como a Rússia e o Brasil imporem barreiras protecionistas até mesmo na Europa continental isso não era de suma importância Mas era di fícil conceber a continuação econômica da Pax Britannia sem a GrãBretanha Um dos pilares da ordem econômica clássica balançava Vencedores e perdedores do comércio 171832 Aqueles fora da Grã Bretanha que não estavam muito bem nos úl timos anos da Era de Ouro também entoaram suas preocupações quanto aos impactos da integração econômica Até mesmo entre os países que cresciam mais rápido antes de 1914 havia muitos que se beneficiavam pouco ou nada do crescimento econômico de suas nações As ferramentas teóricas desenvolvidas pelos economistas sue cos Eli Heckscher e Bertil Ohlin para entender o comércio inter nacional também ajudavam a explicar os vencedores e os perde dores da integração econômica A teoria de Heckscher e Ohlin supõe que países ricos em capital vão exportar produtos de capital intensivo e capital países ricos em mão de obra exportarão produtos que necessitem de mão de obra intensiva e mão de obra ao passo que países ricos em terras exportavam produtos agrícolas que necessitavam de grandes extensões de terra De fato a GrãBretanha rica em capital exportava produtos manufatura dos de capital intensivo enquanto a Argentina rica em terras ex portava produtos agrícolas de grandes extensões de terras O mesmo ocorria em relação às importações um país que tivesse muito pouco capital Argentina importava capital e bens de cap ital intensivo ao passo que um país com poucas terras Grã Bretanha importava produtos intensivos em terras Vinte anos após os suecos terem desenvolvido tal abordagem para explicar padrões de comércio dois jovens colegas de turma em Harvard e vizinhos continuaram a desenvolver a teoria para demonstrar quem é auxiliado e quem é lesado pelo comércio Em um artigo de 1941 o austríaco Wolfgan Stolper e o norteamer icano Paul Samuelson fizeram a observação de que o comércio é particularmente benéfico para os produtores de bens exportáveis enquanto pode ser danoso especialmente para aqueles produtores que competem com as importações E a teoria de Heckscher e Ohlin supõe que aqueles que produzem para ex portação são os que detêm aquilo em que o país é rico capital nos 172832 países ricos em capital e terras nos países ricos em terras À me dida que as exportações crescem aumenta a demanda pelos re cursos utilizados para produzilas Uma vez que um país rico em mão de obra exporta produtos de trabalho intensivo a demanda por mão de obra cresce assim como os salários sobem De modo oposto os produtores dos bens que competem com as im portações são aqueles que detêm o que há em menor oferta no país mão de obra em países pobres em mão de obra e terras nos países pobres em terras Quando as importações crescem e os produtores locais são afastados dos mercados domésticos a de manda deles pelos recursos que utilizam muito cai como um país pobre em mão de obra importa produtos de trabalho intensivo a demanda por trabalhadores decresce da mesma forma que os salários Stolper e Samuelson mostraram que o comércio leva os pro prietários nacionais de um fator de produção abundante a mel hores condições e os proprietários dos recursos escassos a uma pi or condição Os detentores de recursos abundantes ganham com o comércio enquanto aqueles de recursos escassos perdem Uma forma fácil de enxergar a relação é considerar recursos tangíveis como o petróleo Em um país rico em petróleo o produto é bar ato e abrirse ao comércio é bom para o produtor de petróleo porque isso permite que ele venda o bem para os estrangeiros Em um país pobre em petróleo onde o produto é caro abrirse ao comércio é ruim para o produtor uma vez que o país precisa im portar petróleo o que puxa o preço doméstico do produto para baixo Mesmo quando o recurso em questão é mais geral terra trabalho capital a lógica se mantém a proteção ajuda os que detêm um recurso nacional escasso o comércio ajuda os que de têm um recurso nacional abundante8 Mesmo que o comércio seja a melhor política possível para a economia como um todo até os economistas ortodoxos aceitam que há vencedores e perdedores no livrecomércio até mesmo em 173832 uma época de crescimento rápido e até mesmo nos países que crescem rápido Vencedores e perdedores lutavam por políticas para seu próprio benefício Antes de 1914 os detentores dos re cursos nacionais abundantes apoiavam o livrecomércio en quanto os que detinham os recursos nacionais escassos se opun ham a ele Um país como a Argentina rico em terra mas pobre em capital exportava produtos agrícolas intensivos em terras e importava produtos de capital intensivo Isso era bom para os produtores agrícolas mas não tão bom para os capitalistas Dessa forma os produtores agrícolas eram prócomércio enquanto os capitalistas urbanos defendiam o protecionismo Um país como a GrãBretanha rico em capital e pobre em terras exportava bens de capital intensivo e importava produtos intensivos em terra Lá os capitalistas urbanos eram prócomércio enquanto os produtores agrícolas defendiam o protecionismo O esquema de Stolper e Samuelson explicava bem as políticas de comércio e de forma mais geral as de integração econômica Os detentores de recursos nacionais abundantes capital terras petróleo trabalho tendiam a favorecer os laços econômicos in ternacionais que lhes permitissem vender seus recursos ou produtos Um país rico em terras tinha a vantagem comparativa dos produtos agrícolas os exportava e isso ajudava os fazendeir os um país pobre em terras tinha a desvantagem comparativa da agricultura importava produtos agrícolas e isso causava danos aos fazendeiros locais No fim do século XIX e início do XX de fato os produtores agrícolas nos países ricos em terras quase sempre defendiam o livrecomércio fossem eles donos de plantações na região Malaia criadores de gado na Austrália ou produtores de grãos no Canadá Os fabricantes de produtos de capital intensivo e os investidores dos países ricos em capital também eram em sua maioria a favor do livrecomércio e dos investimentos testemunhas das políticas geralmente de abertura dos países prósperos da Europa ocidental 174832 e do norte O argumento de Stolper e Samuelson também se ap licava aos que se opunham à integração global aqueles que detin ham os recursos nacionais raros eram hostis ao livrecomércio e suas implicações Os trabalhadores em países pobres em mão de obra como Canadá Austrália e Estados Unidos eram protecionis tas os capitalistas industriais nos países pobres em capital como a Rússia e o Brasil eram protecionistas os produtores agrícolas em países pobres em terras na Europa eram protecionistas Em geral os interesses protecionistas eram menos influentes do que os dos grupos internacionalistas que dominavam a Era de Ouro banqueiros e investidores internacionais comerciantes in dustrialistas competitivos produtores agrícolas e mineradores de exportação Mas os protecionistas sempre estiveram presentes e eles eram poderosos em alguns lugares como nos Estados Un idos e na Rússia e épocas como durante as recessões Enquanto a economia mundial crescia e os defensores da integração global podiam demonstrar os benefícios da livre movimentação de capit al pessoas e produtos a um número suficiente de pessoas as pressões para um fechamento econômico estavam afastadas Não poderíamos contudo presumir que sempre seria assim A prata ameaça o ouro Se as ameaças no centro britânico do sistema alvejavam o pilar do livrecomércio do mundo econômico clássico ataques na periferia da economia mundial impunham um teste de fogo para o padrão ouro Aqueles que o desafiavam raramente eram poderosos o bastante ou de países suficientemente importantes para des estabilizar o sistema como um todo mas eles eram bastante in sistentes O fato de a antipatia pelo padrãoouro internacional ser comum mesmo em épocas boas também não foi um bom indício na sua habilidade de resistir às dificuldades econômicas 175832 Os produtores agrícolas e os mineradores que produziam para os mercados mundiais eram os opositores mais ressonantes ao padrãoouro Isso ocorrera porque um país que estava sob o padrãoouro não podia utilizar a desvalorização monetária para proteger os exportadores das quedas de preço de seus produtos Muitos países dependiam de um ou alguns produtos agrícolas ou minerais cujos preços podiam flutuar amplamente de ano a ano Em um país que estivesse sob o ouro essas alterações nos preços afetavam imediatamente os produtores locais isso porque a moeda nacional era de fato apenas uma versão local do ouro o dinheiro global um declínio de 1 no preço significava 1 de de clínio nos preços sejam eles expressos em librasouro dólares ouro pesosouro ou em qualquer outra moedaouro Todas as viradas e mudanças nos preços dos produtos agrícolas e de miner ação eram diretamente transmitidas pelo padrãoouro aos fazendeiros e mineiros Quando os preços mundiais do trigo café e cobre caíam o valor dessas commodities na Argentina Colôm bia ou Chile caía ainda mais se o país tivesse aderido ao padrão ouro Aqueles que competiam com importados baratos como os produtores agrícolas europeus e os fabricantes de manufaturados norteamericanos tinham uma alternativa fácil eles podiam se beneficiar das tarifas para que os bens estrangeiros ficassem de fora Mas os produtores agrícolas e os mineradores de exportação não tinham tal opção Seus mercados estavam no exterior e as tarifas para aumentar o preço do café dentro do Brasil o preço do estanho na Malásia ou o preço do cacau na Costa do Marfim teri am pouco êxito Os produtores precisavam se proteger das quedas radicais dos preços em seus mercados exportadores A desvalorização poderia ajudar os exportadores ao aumentar a quantidade de dinheiro local que ganhavam pelas vendas que faziam no exterior Se os preços do café ou do cobre caíssem uma desvalorização monetária poderia compensar o choque 176832 mantendo o preço doméstico desses bens por exemplo na Argen tina Colômbia ou Chile Quando o preço do trigo ao redor do mundo caiu pela metade no fim do século XIX o preço do trigo norteamericano no padrãoouro também foi reduzido pela met ade de um dólar para 50 centavos o bushel Mas na Argentina que abandonou o ouro e desvalorizou o peso o preço do trigo pago aos fazendeiros mantevese estável O Chile era responsável por quase metade da produção mun dial de cobre antes da Primeira Guerra Mundial e o cobre corres pondia à metade do total das exportações chilenas Mas em um período de dez anos o preço de uma tonelada de cobre em Lon dres caíra de forma contínua passando de 70 para 40 libras Para os produtores norteamericanos de cobre os principais concor rentes dos chilenos esse declínio no preço estava sendo direta mente retirado do valor que eles recebiam Com o dólar calcado no ouro e fixado contra a prata isso significava uma queda aná loga dos preços de cerca de US340 para aproximadamente US195 a tonelada Um colapso semelhante no Chile teria levado os mineradores de cobre à falência e junto com eles grande parte da economia Assim o governo chileno desvalorizou o peso em re lação às moedas fixas no ouro em dez anos o peso caiu de 018 para 010 libra esterlina de 85 para 48 centavos de dólar Isso compensou completamente o colapso do preço do cobre Na ver dade em pesos chilenos os preços do cobre subiram de 401 para 403 a tonelada9 Desvalorizações não faziam milagres Quando a moeda era de preciada os produtos estrangeiros se tornavam mais caros Oca sionalmente esse aumento dos preços passava para a economia doméstica e contribuía para a inflação Quando o preço do peso argentino caiu fatalmente cedo ou tarde outros preços subiram na Argentina e a vantagem da desvalorização sofreu uma erosão No entanto enquanto isso os produtores de grãos argentinos ganharam tempo e dinheiro ao passo que muitos fazendeiros 177832 norteamericanos haviam sido retirados de suas terras Outro grupo os devedores gostaram da inflação trazida pelo abandono do ouro ou pela permanência distante dele Um proprietário de imóvel empresário ou fazendeiro que devia dinheiro em moeda nacional podia torcer pela inflação para reduzir os encargos reais de sua dívida um aumento de 50 nos preços tornava as dívidas fixas menos onerosas Os que se opunham ao ouro também desaprovavam as polític as governamentais necessárias para manter a moeda fixa no met al as quais forçavam preços domésticos lucros e salários a se ajustarem às mudanças de posição dos países na economia inter nacional O governo de um país fixo no ouro não podia reagir a tempos difíceis na economia com políticas compensadoras mas precisava reforçar a austeridade imposta pelas condições externas Esperavase que o funcionamento do padrãoouro teria um melhor desempenho se os governos permitissem que os efei tos recessivos seguissem seu curso baixando os salários os preços e os lucros a fim de possibilitar uma recuperação de base nos mercados Esperavase que uma economia ligada ao padrão ouro mudasse para se adaptar à taxa de câmbio não o contrário Por esses motivos a maior parte dos países exportadores de produtos agrícolas e de mineração permaneceu fora do padrão ouro ou aderiu a ele apenas de forma provisória As duas altern ativas ao ouro eram o papelmoeda e a prata A maior parte dos países da América Latina e do sul da Europa emitia papelmoeda inconvertível não intercambiável por ouro Ou seja o papel moeda como o dos dias atuais emitido pelo governo e com valor definido nos mercados monetários O governo atuava para manter o valor do peso ou da lira como queria Nas palavras de um senador norteamericano antipadrãoouro de Nebraska Nós acreditamos na possibilidade tanto de regular a emissão do din heiro quanto na de mantêlo com aproximadamente o mesmo valor em todas as épocas Outro colocou da seguinte forma A 178832 principal crença do populismo é que esse dinheiro possa ser cri ado pelo governo na quantidade desejada fora de qualquer sub stância sem base outra que não ela própria10 A segunda alternativa ao ouro era a moeda fixa na prata De fato a maior parte do mundo utilizou ambos a prata e o ouro in tercambiáveis durante séculos até 1870 Nesse momento uma onda de novas descobertas de prata determinou a queda do preço do metal para menos da metade do valor do ouro e em geral os governos optaram por um ou outro Quase todas as nações indus triais seguiram a GrãBretanha na adoção do ouro Mas China e Índia tinham moedas fixas na prata havia tempos e permane ceram assim O mesmo fizeram os principais produtores de prata como o México Para muitos outros países permanecer com a prata ou adotála era atraente De maneira geral nas décadas antes da Primeira Guerra Mundial o preço da prata se desvalori zou em relação ao do ouro de forma a enfraquecer as moedas nela fixadas Se o preço da prata caiu em 10 o mesmo ocorreu com todas as moedas fixadas nesse metal Isso tinha o mesmo efeito de uma desvalorização o que permitia que os países da prata concedessem a seus exportadores uma posição competitiva vantajosa nos mercados mundiais Na década de 1890 a maior parte dos países industriais havia adotado o ouro e muitos dos países em desenvolvimento utiliza vam a prata ou o papelmoeda Os países da prata e do papel moeda alcançaram vantagens tangíveis Como os preços do ouro cresceram em relação aos da prata as exportações das regiões que tinham base nela se tornaram mais baratas nas moedas de ouro dos países industriais Declínios nos preços mundiais de produtos agrícolas e matériasprimas foram compensados por declínios an álogos nos dinheiros fixados em prata e papelmoeda de forma que os produtores agrícolas e mineradores recebiam quase a mesma quantia em suas próprias moedas mesmo com a queda dos preços em ouro A vantagem competitiva da prata não fazia 179832 muita diferença para a maioria dos países ricos já que as regiões em desenvolvimento vendiam em grande parte bens que as nações industriais não produziam Se uma queda na prata tornas se o cobre mexicano ou a seda chinesa mais baratas nos mercados europeus isso não teria grande impacto no sistema No entanto aqueles que produziam os mesmos bens que as re giões da prata e do papel enfrentavam uma forte ameaça compet itiva dessas moedas depreciadas Os Estados Unidos estavam entre os mais afetados uma vez que o país se especializou em muitas das mesmas matériasprimas e produtos primários min erais trigo algodão lã tabaco que países de moeda fraca como Argentina Índia Brasil China e Rússia Dessa forma os produtores agrícolas e mineradores norteamericanos perderam negócios para os países que tinham base monetária na prata ou no papelmoeda Portanto quedas nos preços mundiais do trigo ou da lã afetavam os ganhos na agricultura porque os Estados Un idos estavam sob o padrãoouro Os produtores agrícolas norte americanos em apuros os quais afluíram para a campanha popu lista contra o ouro e pela prata pensaram como nas palavras de um deles que o homem amarelo utilizando o metal branco tem à sua mercê o homem branco que utiliza o metal amarelo11 A partir do fim da década de 1880 em diante a avalanche populista reinava toda vez que os preços agrícolas caíam pois os fazendeir os e mineradores passavam a se esforçar desesperadamente para que o dólar fosse dissociado do ouro Vocês não devem crucificar a humanidade com uma cruz de ouro bradou William Jennings Bryan candidato democrata de 1896 Os distritos norteamericanos de produção agrícola e min eração compartilhavam da rebeldia de Bryan No que provavel mente foi o primeiro movimento de massa da história dos Estados Unidos milhões de pessoas reuniramse para escutar discursos inflamados que denunciavam o truste do dinheiro e a sua força opressora fixa no ouro contra a economia norteamericana A 180832 plataforma populista insistia em medidas imediatas para o aban dono do ouro A desvalorização resultante reverteria os efeitos dos declinantes preços mundiais de produtos agrícolas e de min eração E não importava qual a taxa de inflação que poderia aparecer ela ajudaria a aliviar os fazendeiros altamente endividados Bryan quase venceu as eleições de 1896 no auge do sofri mento dos produtores agrícolas ele se candidatou novamente em 1900 e 1908 pelos democratas e novamente perdeu as eleições Isso fez com que os Estados Unidos fossem os únicos dos prin cipais países exportadores de produtos agrícolas e matérias primas desconsiderandose as regiões que faziam parte de im périos europeus como a Austrália e a África do Sul a continuar com o ouro nas décadas que precederam a Primeira Guerra Mun dial Todos os outros exportadores de produtos primários inde pendentes como México Rússia Japão China Argentina e até mesmo a britânica Índia passaram grande parte desse período ou até mesmo todo ele com a prata e o papelmoeda O caso dos Estados Unidos seria diferente porque economica mente o país era formado por duas imensas regiões com visões diametralmente opostas em relação ao ouro As terras cultivadas e os distritos mineradores do sul do meiooeste das Grandes Planícies e do oeste norteamericano eram as principais fontes de riqueza agrícola e mineral No entanto os donos de fábricas mer cadores e banqueiros do nordeste e da parte industrial do meio oeste faziam parte da influência manufatureira mundial O con flito de interesses era direto Cada aumento nos preços agrícolas encarecia os alimentos dos trabalhadores urbanos e fazia a folha de pagamentos da indústria subir Da mesma forma cada aumento nos preços industriais incluindo cada tarifa tirava mais das famílias dos agricultores as quais dependiam das cidades para as suas vestimentas insumos agrícolas e outras necessidades manufaturadas 181832 Talvez o fato mais importante tenha sido que os banqueiros e os comerciantes da Nova Inglaterra e do nordeste dos Estados Unidos estabeleceram sua reputação internacional na adesão ao padrãoouro A credibilidade financeira norteamericana de pendia de sua associação plena ao clube das nações ricas cuja carteirinha de sócio era o padrãoouro JP Morgan e seus colegas lutaram de forma determinada para manter o dólar fixo no ouro Isso ocorreu tanto na esfera financeira quanto na política Na primeira Morgan conseguiu uma série de empréstimos inter nacionais para permitir que o Tesouro norteamericano se de fendesse em caso de turbulência nos mercados de câmbio mantendo a moeda atada ao ouro Em termos políticos a começar por W McKinley os candidatos antipopulistas levantaram somas enormes de grandes empresas do nordeste para garantir que seri am eleitos O país estava realmente dividido e McKinley venceu com apenas 51 dos votos populares A geografia da divisão era clara um mapa colorido das eleições de 1896 mostra um dourado intenso do nordeste à região industrial do meiooeste com algu mas áreas douradas na Califórnia e no Oregon mas um prateado sólido no sul e nas Grandes Planícies O compromisso com o ouro não podia ser tomado como ver dade universal Um declínio substancial nos preços mundiais des encadearia protestos nos quatro cantos do mundo e pressões pelo fim do padrãoouro Grupos de interesses poderosos ao redor do planeta desejavam se livrar de seu compromisso cristalizado com o ouro quando a situação ficava difícil Os conflitos em relação ao ouro eram um dos atritos típicos que afetavam a economia mundial clássica antes de 1914 Por um lado uma completa participação na economia global poderia ser extraordinariamente lucrativa tanto para os países quanto para os indivíduos Por outro lado tal participação em geral exigia sac rifícios No caso do padrãoouro só podiam fazer parte da primeira classe financeira aqueles países dispostos a subordinar 182832 as necessidades de suas economias domésticas aos compromissos com o ouro Aderir ao ouro e permanecer fixo ao metal signifi caria abrir mão da possibilidade de desvalorizar com o objetivo de buscar uma posição mais competitiva Significaria também con cordar em não estimular a economia em tempos difíceis por meio da redução da taxa de juros ou da impressão de dinheiro ou priv ilegiar a reputação internacional de sua moeda em detrimento da economia doméstica Esses sacrifícios valiam à pena para aqueles cujas vidas de pendiam da economia global Assim os principais defensores do padrãoouro eram os banqueiros investidores e comerciantes in ternacionais Em especial esse era o caso porque os sacrifícios exigidos raramente afetavam de forma direta os grupos inter nacionalistas Era pouco provável que os financistas enfrentassem a ameaça do desemprego ou das secas No entanto as pessoas e os grupos cujos interesses eram sacrificados tinham poucas razões para sofrer pela manutenção da ordem econômica global que por sua vez não apenas não se preocupava como também trazia mal efícios a eles O conflito entre interesses internacionais e domésti cos estava presente em muitos aspectos na política comercial na imigração nas atitudes em relação aos credores estrangeiros Contanto que a economia mundial crescesse a tensão entre as preocupações nacionais e globais poderia ser administrada mas isso nem sempre seria assim O trabalho e a ordem clássica À medida que o movimento trabalhista cresceu ele também pas sou a representar um desfio à ordem estabelecida Não se tratava apenas de uma oposição dos trabalhadores à integração econôm ica de fato em muitos países sindicatos e partidos socialistas defendiam com veemência o livrecomércio mas as demandas 183832 trabalhistas se chocavam com os pilares do sistema clássico liber al de salários flexíveis e governo mínimo Na virada do século os operários da indústria já formavam a maior classe profissional nas sociedades mais avançadas Em números eles superavam de forma significativa a quantidade de agricultores na GrãBretanha e em menor expressão nos países que continuavam altamente agrícolas como os Estados Unidos e a Alemanha Os operários também haviam desenvolvido organiz ações trabalhistas de grande alcance e sofisticação Diante das hostilidades dos governos e empresários os sindicatos haviam as sociado muitos dos trabalhadores qualificados de Europa ocident al América do Norte e Austrália A mão de obra não qualificada era menos organizada mas com a expansão da produção fabril em larga escala eles também seguiram na direção dos movimen tos de trabalhadores Em 1914 os sindicados britânicos contavam com quatro mil hões de membros e os sindicatos alemães três milhões nos dois casos eles representavam mais de 15 da força de trabalho da in dústria A organização da classe operária foi ainda mais bemsu cedida na Escandinávia e relativamente forte na América do Norte os sindicatos estavam presentes mas com menos poder na França e no sul da Europa Apesar de graus variados os sindica tos de trabalhadores eram uma parte significativa dos cenários econômico e político de cada país industrial e até mesmo nas semiindustriais Argentina e Rússia A classe operária impôs seu poder de barganha na indústria com uma presença política crescente uma vez que muitos dos tra balhadores do sexo masculino passaram a ter direito ao voto nas décadas pré1914 O resultante crescimento dos partidos socialis tas teria sido inimaginável uma geração antes tanto para capit alistas quanto para trabalhadores Às vésperas da Primeira Guerra Mundial partidos de base trabalhista com clara mensagem anticapitalista estavam de forma rotineira 184832 alcançando mais de 14 dos votos em muitos países industriais Na maior parte do norte da Europa os partidos socialistas obt iveram 13 dos votos da população 35 na Alemanha e 36 na Suíça Representantes das classes trabalhadoras não eram mais relegados à margem da vida política os descendentes intelectuais e ideológicos de Marx e Engels haviam 15 anos após a morte do segundo atingido a proeminência eleitoral na qual os dois fundadores do socialismo moderno teriam dificuldades em acreditar Os operários e suas organizações algumas vezes se engajavam nas questões de política econômica especialmente onde os trabal hadores eram hostis ao livrecomércio e à imigração Este era o caso de países com pouca oferta de mão de obra como a América do Norte e de outras áreas de colonização europeia recente onde restrições à imigração estavam quase no topo da lista de desejos dos trabalhadores O fluxo de pessoas das regiões europeias de salários baixos e pior até mesmo das regiões asiáticas onde os salários também eram baixos causaria uma depressão nos salári os e a mão de obra queria cessálo Da mesma forma o fluxo de bens baratos produzidos pela mão de obra barata da Europa ger aria uma queda nos altos salários dos Estados Unidos e da Aus trália o que levou os trabalhadores desses países rumo ao prote cionismo A instância antiimigração se relacionava pouco com as expressões convencionais dos interesses socialistas que form avam uma rede de solidariedade internacional Talvez isso ajude a explicar por que os movimentos operários nesses países tendiam a não se desenvolver em direção ao socialismo tradicional europeu Em muitas nações contudo o movimento operário estava firme no campo do livrecomércio e da abertura das fronteiras Isso em geral se aplicava à Europa especialmente porque o objet ivo mais importante das políticas comerciais da região era pro teger os fazendeiros e a proteção agrícola tornava os alimentos 185832 mais caros para os trabalhadores Além disso em áreas de emig ração como a Europa a subsequente redução na oferta de mão de obra servia para aumentar os salários não para diminuílos Além disso muitos europeus trabalhavam em indústrias que contavam e muito com as exportações e que não suportariam retaliações dos mercados importantes Em algumas situações a divisão se dava mais por tipo de indústria do que de classe trabalhadores das minas de carvão britânicas as quais eram voltadas para a ex portação apoiavam o livrecomércio enquanto aqueles das in dústrias têxteis que sofriam grande pressão externa queriam a proteção da preferência imperial tanto quanto seus empregados Os interesses trabalhistas de política econômica internacional pró ou contra proteção industrial pró ou contra controles de imigração se encaixavam facilmente nas opções existentes No entanto as classes trabalhadoras em geral não eram forças ex pressivas nos debates sobre a economia internacional porque tais questões eram normalmente de baixa importância para elas A re lativa falta de envolvimento da mão de obra nas principais dis putas de política econômica externa não era contudo uma ver dadeira indicação das implicações do crescimento do movimento operário para a economia mundial As questões gerais dos trabalhadores eram muito mais prob lemáticas para a ordem estabelecida do que as suas posições polít icas em relação ao comércio ou à imigração Com o crescimento da população operária nos países industriais as suas necessidades pareciam cada vez mais inconsistentes no que dizia respeito às ca racterísticas mais importantes das economias abertas do fim do século XIX e início do XX E o mais relevante era que os trabal hadores precisavam de um escudo contra o desemprego Os produtores agrícolas outro grande segmento da população po diam se recolher em suas terras cultivos e vilarejos em tempos di fíceis podiam produzir o suficiente para comer ou contar com a ajuda de familiares ou vizinhos caso o problema fosse 186832 especificamente em suas fazendas Na falta de emprego os trabal hadores das grandes cidades não tinham propriedade e nenhuma forma de produzir o básico para a subsistência e o caráter impessoal da sociedade urbana reduzia apesar de não eliminar a possibilidade de ajuda por parte dos outros trabalhadores Tudo o que tinham era uma ajuda mínima de alívio à pobreza oferecida por instituições de caridade privadas ou os vestígios da assistên cia levada à frente por governos medievais que era concedida aos muitos pobres às viúvas e aos órfãos A principal preocupação dos trabalhadores era a proteção con tra o desemprego Como a classe operária havia crescido organiz ações de ajuda voluntárias desenvolveram seu próprio seguro desemprego Sindicatos de trabalhadores na cidade industrial de Ghent na Bélgica adiantaramse fornecendo a seus membros uma renda mínima em caso de perda de emprego Apenas os membros dos sindicados eram elegíveis para os benefícios fazendo com que as organizações trabalhistas fossem um caminho bem mais fácil Mas sistemas como os de Ghent programas de segurodesemprego implementados pelos membros dos sindica tos de uma cidade só sobreviveriam se o desemprego fosse es casso e limitado Quando turbulências econômicas sérias at ingiram cidades ou regiões inteiras grande parte dos trabal hadores da área seria destituída e o pool dos seguros rapidamente chegaria ao fim Como os programas locais para o desemprego fa liram as municipalidades e ocasionalmente os governos nacion ais intervieram e tornaramse responsáveis por eles Até 1913 muitas cidades e regiões europeias tinham progra mas compensatórios para o desemprego Mas a cobertura era muito pontual e os sindicatos exigiam um sistema mais extenso financiado pelo governo Enquanto isso alguns empregadores e outros habitantes das cidades chegaram à conclusão de que esses esquemas tinham as suas vantagens Eles estabilizavam o mer cado de trabalho local e diminuíam as inquietações sociais e 187832 como o governo exigiu que a participação e a contribuição fossem nacionais as implicações orçamentárias eram limitadas Mas havia também uma resistência substancial do empresari ado a essa interferência no funcionamento dos mercados de tra balho Na falta das compensações pelo desemprego os trabal hadores tinham poucas opções além de aceitar salários reduzidos em tempos difíceis já que a outra alternativa seria a fome In stituir um piso aos ganhos dos trabalhadores o seguro desemprego aliado a programas sociais e de bemestar limit ou a capacidade dos empregadores de cortar salários A crescente organização dos trabalhadores em sindicatos já havia restringido o controle do empresariado sobre os salários os novos programas sociais o fizeram ainda mais Uma vez que os sindicatos de trabalhadores e os programas sociais limitaram o poder das empresas em definir salários eles estimularam o descontentamento dos recalcitrantes capitalistas Quanto mais controle os trabalhadores tinham sobre suas vidas menos seus salários e condições de trabalho podiam ser definidos ao belprazer da indústria Os sindicatos tinham o objetivo de fornecer aos trabalhadores ganhos garantidos o que significava uma redução na flexibilidade dos salários e nas horas de trabalho A sindicalização da classe operária e as ações políticas para re duzir a capacidade do mercado de definir os salários livremente causaram impacto profundo no capitalismo global Isso ia direta mente de encontro à flexibilidade dos salários aspecto essencial para o funcionamento da maioria das economias nacionais e para a relação delas com a economia internacional Em épocas de re cessão a grande ameaça do desemprego era séria o bastante para forçar os trabalhadores a aceitarem amplos cortes salariais Dessa forma as recessões e até mesmo as depressões geralmente levavam a uma redução salarial Os capitalistas podiam reduzir os salários e os preços dos produtos para que pudessem restabelecer as vendas e manter os lucros Em consequência enquanto as 188832 oscilações nas empresas causavam dor e sofrimento o impacto gerado nas vendas e lucros era suavizado e com frequência a tur bulência era rapidamente superada De fato a facilidade com que os salários podiam ser reduzidos dava aos empregadores poucos motivos para despedir seus trabalhadores Dessa forma o desemprego tendia a ser limitado e a durar pouco Tudo isso sig nificava que havia pouco apelo para que os governos interviessem para suavizar os impactos dos altos e baixos da economia A liberdade dos empregadores de forçar uma queda nos salári os também era essencial para o funcionamento do padrãoouro Os países que adotavam o ouro se comprometiam a manter suas economias em conformidade com o valorouro da moeda fazendo com que a economia nacional se adequasse à moeda A forma mais comum de ajustar uma economia para que ela sustentasse o seu componente ouro taxa de câmbio era reduzir os salários Se um país com um déficit comercial persistente necessitasse restabelecer o equilíbrio ele aumentaria as exportações com cor tes salariais Se os produtores nacionais enfrentassem competição devido às importações ou seus preços os tivessem deixado de fora dos mercados os salários seriam forçados para baixo até que os produtos domésticos recuperassem a competitividade Com efeito era comum que os países sob o padrãoouro com preços em crescimento simplesmente invertessem o processo forçando os preços a caírem novamente O nível dos preços norte americanos cresceu mais do que o dobro após o país ter abandon ado o ouro durante a Guerra Civil para retomar o padrãoouro o governo promoveu arrochos macroeconômicos até que os preços recuassem mais de 50 Hoje em dia a imposição de medidas austeras para reduzir a inflação ou seja evitar que os preços subam é uma política controversa Seria de fato impensável forçar os preços a um declínio de 20 30 ou 80 uma vez que não haveria como forçar os trabalhadores a aceitar uma redução salarial tão drástica Mas tais reduções eram comuns no padrão 189832 ouro Na verdade elas eram essenciais para o funcionamento desse pilar da economia internacional clássica ao ponto de os sin dicatos trabalhistas e programas sociais como compensações por desemprego reduzirem os mecanismos que os empregadores tin ham para forçar os salários para baixo complicando assim os pro cessos de mercado que sustentavam o sistema O ônus dos ajustes na era clássica recaia sobre o trabalho Se as condições das empresas piorassem os salários eram cortados Os preços também sofriam cortes de forma que uma grande re dução no valor dos salários teria um impacto apenas modesto no padrão de vida Os lucros também sempre sofriam mas a essência dos ajustes exigia reduções nos salários No padrãoouro os salários precisavam sofrer cortes para recuperar a competitivid ade nos mercados de exportações e importações De forma geral a flexibilização dos salários e das condições do mercado de tra balho era crucial para as regras do jogo liberal clássico No ent anto essa flexibilidade do trabalho se tornou o principal alvo dos trabalhadores uma vez que eles tentavam proteger sua classe de ser a principal vítima das medidas que vinham para garantir o bom funcionamento da economia mundial E como o movimento operário ganhou poder e influência ele passou a ser capaz de pro teger os trabalhadores das decisões dos mercados nacionais e in ternacionais No entanto tal proteção pôs em xeque a essência do funcionamento desses mercados ou pelo menos a maneira como eles operavam na era da globalização do padrãoouro As tensões entre os esforços dos trabalhadores para se pro tegerem das condições adversas dos mercados e o ethos do empresariado de acordo com a não intervenção dos governos nos mercados era incipiente nos anos pré1914 Em determinadas épocas e lugares essa era uma questão em aberto e de grande im portância Na maior parte do tempo era um tema considerado ir ritante e de importância menor No entanto as dificuldades em satisfazer as demandas de ambos um movimento operário em 190832 crescimento e uma economia global integrada se provaram problemáticas e duradouras Era dourada ou manchada Os líderes políticos e econômicos do mundo que precedeu a Primeira Guerra apoiavam firmemente o capitalismo global Os governos de quase todos os lugares estavam comprometidos com as regras do padrãoouro e com o livre movimento de bens din heiro e pessoas e prometiam limitar o seu envolvimento nos mer cados nacionais A ordem econômica resultante trouxe cresci mento e mudanças sociais para grande parte do mundo além de produzir uma riqueza inimaginável para as nações desenvolvidas expandindo os benefícios do desenvolvimento industrial para as classes média e trabalhadora e semear a esperança da modernid ade em regiões há tempos mergulhadas na pobreza Mas havia falhas na economia mundial clássica Os países mais populosos do mundo a China e a Índia se beneficiaram pouco do crescimento embriagador do fim do século XIX e início do XX Partes significativas de Ásia África e América Latina fo ram deixadas para trás Até nas regiões que se desenvolveram rápido os frutos do crescimento foram distribuídos de forma muito desigual Muitas pessoas até mesmo nos países mais bem sucedidos ficaram em pior situação E o crescimento econômico e as mudanças nas economias de rápido crescimento minaram o apoio social e político às prescrições clássicas da integração global e do governo mínimo As vitórias econômicas do fim do século XIX e início do XX fo ram impressionantes mas essa etapa do desenvolvimento do cap italismo global não terminou bem A ordem econômica inter nacional se dissolveu na carnificina da Primeira Guerra Mundial e não pôde ser reconstituída O padrãoouro se despedaçou de 191832 forma a nunca mais se restabelecer completamente O consenso global quanto ao movimento de bens capitais e pessoas fora re jeitado ou seriamente questionado à medida que os países fechavam suas fronteiras ao comércio à imigração e aos investimentos A primazia dos compromissos econômicos internacionais o que parecia ser um consenso sólido como rocha na era clássica erodiu após 1914 e foi completamente banida quando o colapso de 1929 varreu a economia mundial e a elite proponente da velha or dem abandonou o apoio ao internacionalismo do século XIX Novos negócios e interesses da classe média para a qual a eco nomia mundial era uma questão distante quando não uma ameaça passaram a fazer parte do cenário político Além disso as classes trabalhadoras começaram a pressionar os governos para que eles lidassem com os problemas sociais domésticos Seria um absurdo esperar a perfeição de qualquer ordem econ ômica Mesmo com todas as falhas a ordem econômica clássica fora muito melhor que a sua antecessora Mais do que isso mesmo dada a pertinência das reclamações dos críticos contem porâneos ela foi muito melhor do que a sua substituta já que nos 30 anos após 1914 vivenciamos a série mais devastadora de colapsos econômicos políticos e sociais já registrados pela memória histórica O inegável fracasso da economia mundial que precedeu 1914 foi a sua incapacidade de evitar o que veio depois e na verdade ela até contribuiu para tanto a Tariff Reform League NT 192832 parte II Tudo se desmorona 19141939 6 Tudo o que é sólido desmancha no ar Käthe Kollwitz foi um dos grandes nomes do Expressionismo alemão Peter um de seus filhos morreu no campo de batalha al gumas semanas após o início da Primeira Guerra Mundial Käthe construiu um memorial para o filho e os outros mortos no conflito em um cemitério de guerra em Flandres na Bélgica Inspiradas na artista e em seu marido as esculturas mostravam duas figuras uma mãe e um pai desolados rodeados pelos túmulos de como disse Käthe uma porção de filhos perdidos O memorial causou grande impacto em toda uma geração ainda de luto por milhões de mortos No entanto para Käthe o desespero pelas terríveis condições na Europa se sobrepôs ao efeito catártico de finalizar o memorial Assim que o monumento foi erguido em 1932 ela es creveu em seu diário sobre a indescritível dificuldade da situação geral a miséria o retrato da humanidade nas trevas do sofri mento o enaltecimento repulsivo às paixões políticas Mais tarde Käthe e o marido viram sua tragédia pessoal se repetir quando o neto Peter cujo nome era uma homenagem ao seu tio morto na Primeira Guerra Mundial morreu na frente oriental da Segunda Guerra Mundial A artista que morreu a duas semanas do fim do conflito escreveu em sua última carta A guerra me acompanhou até o fim1 Tudo o que é sólido desmancha no ar escreveram Karl Marx e Friedrich Engels no Manifesto comunista referindose ao modo como a sociedade capitalista se reformula constantemente já que sua base econômica se modifica de modo que são varridas do mapa todas as relações fixas cristalizadas Ambos não poderi am ter imaginado a velocidade extraordinária na qual as relações existentes do capitalismo global seriam suprimidas após 1914 Conflitos militares de uma ferocidade nunca antes vista desped açaram a Europa O declínio econômico mais exorbitante de toda a história moderna gerou batalhas comerciais e monetárias além de hostilidades financeiras A livre movimentação generalizada de bens capitais e indivíduos entre os países cedeu espaço para o fechamento agressivo de fronteiras e mercados Dentro dos países a calmaria sociopolítica se estilhaçou provocando confli tos impiedosos O internacionalismo dos mercados pré1914 não foi de todo positivo A estabilidade doméstica e internacional em geral de pendia de sistemas políticos que excluíam a classe média e trabal hadora e de governos que ignoravam os pobres Apenas com o fim da Era de Ouro é que as classes trabalhadoras conquistaram uma representação política significativa e os governos começaram a se voltar para as questões dos indivíduos que não pertenciam à elite econômica ou política Antes de 1914 os benefícios do cresci mento econômico estavam disponíveis apenas para algumas pess oas e durante alguns momentos Mas quase tudo o que veio após 1914 foi negativo ou terminou mal para quase todas as pessoas em quase todos os momentos Conflitos sociais se tornaram guerras civis que por sua vez abri ram espaço para o surgimento de ditaduras brutais Conflitos comerciais viraram guerras comerciais as quais fizeram surgir conflitos armados Não se deve idealizar os anos anteriores a 1914 mas o horror das décadas que se seguiram foi tão grande que é di fícil exagerar Em um livro influente de 1939 o historiador 195832 britânico Edward Hallet Carr se referiu ao período como os vinte anos de crise O autor pecou apenas por um erro de previsão a crise durou 30 anos2 A definição do período entreguerras como uma guerra civil paneuropeia também foi otimista uma vez que a guerra se tornou global antes de se enfraquecer Países que fo ram aliados se tornaram inimigos mortais Partidos e classes que uma vez estiveram unidos se lançaram em cruzadas assassinas uns contra os outros Nações e grupos étnicos que um dia est iveram próximos unidos pela economia mundial se utilizaram de métodos inimagináveis para se destruírem Polarizações domésticas exacerbaram antagonismos no exterior e conflitos in ternacionais exacerbaram extremismos nacionais O círculo virtuoso do fim do século XIX e início do XX viu a prosperidade fortalecer a paz internacional e a integração econ ômica mundial e ambas reforçavam a harmonia doméstica O consenso a favor da globalização econômica e do governo mínimo se mantinha pelo aparente sucesso das duas tendências No ent anto após 1914 o mundo caiu em um círculo vicioso O colapso da economia global causou crises nacionais e as condições domésticas difíceis levaram grupos internos ao extremismo O nacionalismo econômico o militarismo e o acirramento da guerra aprofundaram o infortúnio econômico O mundo entrou em de clínio Começou devagar mas atingiu uma velocidade terrível quando as tentativas de amortecer a descida fracassaram As consequências econômicas da Grande Guerra Uma guerra entre as grandes potências não foi nenhuma sur presa Muito antes de 1914 as tensões geopolíticas já estavam generalizadas Um século de debates não conseguiu explicar total mente a Primeira Guerra Mundial mas restam poucas dúvidas de que parte das motivações foi econômica Cresciam os conflitos de 196832 interesses coloniais ou semicoloniais entre as nações industriais do Marrocos à China do Golfo Pérsico ao Caribe Desavenças ter ritoriais como no caso da AlsáciaLorena entre França e Ale manha se intensificavam de acordo com o valor econômico real ou estimado dos territórios Conflitos puramente econômicos tais como disputas comerciais em geral inflamavam sentimentos nacionalistas e viceversa A luta por independência econômica e política dos povos do centro leste e sul da Europa ameaçava o Império AustroHúngaro o Russo e o Otomano tornandoos par ticularmente suscetíveis a qualquer perturbação no equilíbrio mil itar Quando a guerra começou qualquer acontecimento se tor nava mais sangrento insolúvel e duradouro que o previsto Quando a guerra terminou no fim de 1918 suas consequências se tornaram mais importantes do que as causas A Primeira Guerra Mundial e suas consequências imediatas retiraram os beligerantes da economia mundial os lançaram em uma busca militar e colocaram os Estados Unidos no vácuo res ultante Por muito tempo a economia norteamericana foi a maior do mundo mas antes da guerra ela quase não estava en volvida com o resto das economias mundiais A Primeira Guerra forçou toda a Europa a depender da tecnologia do capital e dos mercados norteamericanos e a buscar esses elementos para al cançar a liderança política Os Estados Unidos deixaram de ser um observador passivo do lento colapso da ordem clássica e se tornaram líder nos esforços de reconstruíla Como escreveu o ed itor de economia do Financial Times A mudança na postura in ternacional dos Estados Unidos a partir de 1914 talvez tenha sido a transformação mais dramática da história da economia3 O primeiro passo dessa transformação foi a introversão das nações europeias beligerantes Todas imaginavam que o conflito seria curto mas quando ficou claro que as hostilidades continuar iam as economias foram reorientadas para a guerra No início de 1915 a Marinha britânica bloqueou os portos alemães do Mar do 197832 Norte impedindo quase todo o comércio marítimo germânico Todas as principais potências deixaram de desempenhar qualquer papel significante na economia mundial Os aliados por outro lado continuavam a ser os principais atores econômicos A posição que tinham no préguerra no entanto se modificou Antes de 1914 o Reino Unido a França e a Bélgica estavam no centro da ordem clássica fornecendo capital e produtos manufat urados para o restante do mundo Nesse momento não tinham mais capital nem produtos manufaturados para oferecer na ver dade precisavam importar ambos e a demanda desses países pelos bens primários do resto do mundo disparou com a necessid ade de alimentos e recursos para a produção do arsenal de guerra Os Estados Unidos estavam em uma posição melhor para suprir a demanda por alimentos e armamentos Em menos de três anos após a oficialização da neutralidade norteamericana de agosto de 1914 a abril de 1917 as exportações do país cresceram mais de duas vezes O superávit comercial norteamericano quin tuplicou em relação aos índices do préguerra acumulando mais de US64 bilhões Quase todo esse dinheiro vinha do comércio com os aliados As vendas de munição norteamericana no exteri or que em 1914 geravam apenas US40 milhões passaram a render US13 bilhão em 1916 A produção agrícola disparou quando a GrãBretanha passou a contar com os alimentos da América do Norte para substituir os habituais fornecedores europeus Os aliados pagavam pelas compras internacionais com o que podiam bens ouro e ocasionalmente investimentos estrangeir os Esse foi o caso em especial da GrãBretanha cujos invest idores eram donos de um grande volume de títulos e ações norte americanas Quando a GrãBretanha ficou desesperada pela moeda dos Estados Unidos o governo comprou US2 bilhões em ações e títulos norteamericanos de seus cidadãos primeiro no mercado depois sob requisição Os britânicos então venderam 198832 essas ações e esses títulos a investidores norteamericanos e gastaram o dinheiro em insumos Como coordenador e agente Londres utilizou o JP Morgan Co um banco com décadas de experiência em vendas de ações e títulos norteamericanos a europeus que desejassem investir nos Estados Unidos De 1914 a 1917 as compras do JP Morgan para seus clientes os aliados somavam em média US1 bilhão por ano 14 de todas as exportações norteamericanas O dinheiro gasto pelo JP Morgan nas compras excedeu o valor total gasto pelo governo dos Estados Unidos no préguerra Os britânicos ficaram sem ter o que vender bem antes de ter em satisfeito todas as suas necessidades de guerra Eles queriam tomar dinheiro emprestado mas no início da guerra o governo norteamericano decidiu que com a neutralidade tornavase con traditório fornecer empréstimos aos beligerantes No entanto no verão de 1915 as necessidades urgentes dos aliados e a lucrativid ade gerada pela guerra fizeram com que Woodrow Wilson mu dasse de política O secretário do Tesouro William McAdoo ex plicou a Wilson seu sogro a importância do comércio com os ali ados Para que nossa prosperidade seja mantida devemos financiála Caso contrário ela será interrompida o que causará um desastre4 A atividade do JP Morgan se inverteu Agora o banco con vencia os norteamericanos a apostarem nos empréstimos europeus e britânicos Ao longo de um ano e meio a partir de out ubro de 1915 o JP Morgan e alguns bancos associados levaram para Wall Street US26 bilhões em títulos para os aliados A soma era enorme o dobro de toda a imensa dívida do governo norteamericano na época Como os beligerantes haviam abandonado o mundo em desen volvimento e até mesmo suas colônias para lutar pelos próprios países o caminho estava aberto para o capital e as exportações de manufaturados norteamericanos A mudança mais gritante 199832 ocorreu na América do Sul onde interesses europeus reinavam intocáveis havia séculos Mesmo na época da diplomacia das can honeirasa a influência norteamericana se limitava à Bacia do Caribe Em menos de uma década a partir do início da guerra os Estados Unidos partiram para a dominação financeira comercial e industrial na América do Sul A liderança da economia internacional não era mais dos britânicos O chefe de uma conferência interministerial sobre como reduzir a dependência dos Estados Unidos escreveu de modo sombrio no fim de 1916 que realmente não havia nada a deliberar os fornecimentos norteamericanos são tão import antes que uma represália enquanto causaria um imenso sofri mento na América iria praticamente acabar com a guerra De dentro do Tesouro britânico John Maynard Keynes relatou à cúpula do país As somas que esta nação pedirá emprestadas aos Estados Unidos da América nos próximos seis a nove meses são imensas correspondem a tantas vezes a nossa dívida nacional que será necessário apelar a cada classe e setor investidor desse país Não é um exagero dizer que o Executivo e o público norteamericano estarão numa posição de ditar o que este país deve fazer em relação às questões que nos afetam bem mais do que às que afetam a eles 5 Os britânicos tinham um motivo a mais para se preocupar temiam que os investidores norteamericanos perdessem o in teresse em fazer empréstimos aos aliados quando a guerra ter minasse como JP Morgan havia alertado no início de 1917 os governos que eram seus clientes No entanto a entrada dos Esta dos Unidos na guerra em abril fez com que outros empréstimos privados não fossem mais necessários Nesse momento o governo dos Estados Unidos levantou cerca de US10 bilhões em emprés timos com o objetivo de cobrir os esforços conjuntos de guerra Esses empréstimos causaram duas controvérsias Primeiro 200832 acusações de que serviriam para pagar as dívidas de banqueiros norteamericanos simbolizando a vontade e a habilidade dos mercadores da morte de levar a nação à guerra devido a in teresses financeiros Segundo ataques e contraataques entre as potências europeias e os Estados Unidos quanto à responsabilid ade moral pela Primeira Guerra Mundial e a insistência norte americana de que as dívidas deveriam ser totalmente quitadas em dinheiro enquanto muitos europeus acreditavam que elas já haviam sido pagas com sangue A guerra devastou a Europa mas tornou os Estados Unidos a principal potência industrial financeira e comercial do mundo A produção de manufaturas norteamericanas quase triplicou dur ante os anos da guerra de US23 milhões em 1914 para US6 bilhões em 1919 Em 1913 as nações industriais europeias Alemanha GrãBretanha França e Bélgica produziam juntas bem mais que os Estados Unidos No fim da década de 1920 os Estados Unidos já haviam superado esses países produzindo quase o dobro deles De 1914 a 1919 os Estados Unidos passaram da condição de maior devedor do mundo para a de principal credor As potências europeias dependiam da liderança financeira comercial e diplomática norteamericana para se recuperar da guerra mais destrutiva até então testemunhada pelo mundo Enquanto os europeus se recuperavam com dificuldade os Estados Unidos se fortaleciam O tamanho das economias da GrãBretanha e da Ale manha não voltou ao normal até 1925 quando a economia norte americana experimentava um crescimento de 50 em relação a 1914 Os países fora da Europa cujas necessidades econômicas sempre dependeram do Velho Mundo começaram a se voltar para os Estados Unidos O país liderou o planejamento da paz inclusive seus aspectos econômicos Muitos grupos nos Estados Unidos ficaram satisfei tos com a oportunidade em especial os empresários que de uma 201832 hora para outra passaram a dominar o comércio e as finanças mundiais Thomas Lamont o sócio mais influente de JP Mor gan afirmou em 1915 Quando essa terrível fumaça vermelhosangue da guerra se for veremos que as finanças deverão continuar firmes Provavelmente veremos o espetáculo que será os empresários de todas as nações pa gando suas dívidas de forma justa uns aos outros Veremos as fin anças a ponto de desenvolverem novos empreendimentos de buscar dinheiro para cultivar outras terras para ajudar a reconstruir um mundo falido e repleto de destroços para fazer com que as chaminés da indústria funcionem novamente e instaurem na Terra o triunfo da paz6 O presidente norteamericano Woodrow Wilson dominou o programa da Conferência de Paz de Paris Enquanto a guerra causava devastação a administração de Wilson anunciava os seus famosos 14 Pontos tomando uma posição que dado o contexto norteamericano foi definida como internacionalista pela ênfase dada à cooperação internacional na economia e na diplomacia O terceiro ponto de Wilson pedia pela remoção a maior possível de todas as barreiras econômicas e o estabelecimento de con dições comerciais equitativas Isso não surpreende em se tratando de um líder do Partido Democrata que era prólivre comércio e de um político que encabeçou uma grande redução nas tarifas norteamericanas quando eleito em 1913 A atitude era um indício da recente simpatia norteamericana pelo livre fluxo de bens e capitais Além disso não era surpresa já que na época os Estados Unidos dominavam o comércio e as finanças internacion ais e dada a proeminência da delegação enviada pelo país à Con ferência de Paz A comitiva norteamericana contou com repres entantes internacionalistas de Wall Street entre eles os acionistas do Morgan Thomas Lamont Norman Davis Bernard Baruch e o jovem John Foster Dulles 202832 A posição wilsoniana era semelhante à visão liberal clássica britânica embora os elementos não econômicos incluíssem uma maior insistência na autodeterminação dos grupos nacionais desde que não fossem de cor Parecia ser o presságio de uma mudança considerável no papel desempenhado pelos Estados Un idos na economia política mundial de credor menor prote cionista e antipadrãoouro a bastião da ordem econômica inter nacional De fato ao mesmo tempo em que os Estados Unidos se apropriaram da posição econômica da GrãBretanha o país tam bém começou a se interessar pelas antes suspeitas inclinações britânicas livrecomércio cooperação entre credores e padrão ouro Todos esses elementos pareciam bem melhores vistos do posto de comando da economia internacional do que das regiões periféricas ou intermediárias Fomos incumbidos de grande parte do financiamento mundial e quem financia o mundo deve entendêlo e governálo com o espírito e a mente7 disse Wilson à população norteamericana Os Estados Unidos exerceram uma influência dominante na Conferência de Paz de Paris O acordo incluía os 14 Pontos de Wilson e o esboço de um plano para a criação da Liga das Nações A posição norteamericana no entanto não prevaleceu em todas as questões o país concordou por exemplo com as demandas ali adas relativas ao pagamento de indenizações de guerra pela Ale manha Os franceses e belgas em especial insistiram em um montante substancial que os compensasse pela destruição cau sada em seus territórios A maioria dos norteamericanos bem como muitos na Europa considerou as exigências exorbitantes e talvez inatingíveis acreditando que só serviriam para suscitar mais conflitos No entanto os franceses e os belgas continuaram a insistir que os alemães deveriam pagar pelas perdas de vidas e riquezas Apesar desse acordo o formato geral do mundo do pós guerra foi sem sombra de dúvida ditado pelos Estados Unidos 203832 O Senado norteamericano entretanto repudiou as ideias de Wilson Não ratificou o Tratado de Versalhes e se recusou a fazer parte da Liga das Nações planejada para pôr em prática a nova ordem mundial A política doméstica norteamericana não evoluiu tão rapidamente quanto a posição do país na economia internacional Muitos nos Estados Unidos não queriam que a nação tivesse conexões com países europeus que pareciam in capazes de governar a si mesmos ou de se relacionar com outros sem a utilização de grande violência Sobre isso Edward H Carr escreveu Em 1918 a liderança do mundo foi oferecida aos Estados Unidos em consenso quase uni versal e foi recusada8 Deixadas à própria sorte as potências europeias fizeram o que estava ao seu alcance para reconstruir as suas próprias economias e a infraestrutura do comércio e das fin anças internacionais Mas o esforço das potências foi impedido pela vastidão de problemas que enfrentavam e por profundas desavenças Reconstrução da Europa A Europa central e a oriental enfrentavam uma situação caótica A guerra e suas consequências diretas baniram os quatro Impérios multinacionais que construíram a região Na área que ia da Fin lândia à Iugoslávia a Dinastia dos Habsburgo na ÁustriaHun gria e a dos Romanov na Rússia estavam em frangalhos Repentinamente a Europa oriental passou a ter dezenas de Esta dos e até mesmo uma cidade imperial livre O Império Otomano que antes da guerra abrangia do Golfo Pérsico à Líbia e da Al bânia ao Iêmen se reduzira a apenas Istambul Anatólia e um pedaço de terra adjacente situado na Europa A Alemanha perdeu suas colônias e grande parte do seu território e população 204832 Esses novos Estados começaram do zero nascidos de autocra cias derrotadas Lutavam para transformar as exprovíncias em Estadosnação modernos em meio à fome e ao colapso econ ômico Em geral além de imprimir dinheiro os novos governos não tinham muitas opções para pagar suas contas O resultado dessa medida era uma onda de inflação que destruía o valor da moeda desintegrava economias e nos casos extremos ameaçava a estrutura social das nações As inflações do pósguerra não eram como as elevações graduais nos preços de outrora Na verdade elas foram responsá veis pela criação de uma palavra nova hiperinflação Quando al guns governos finalmente conseguiram estabilizar os preços as moedas da Tchecoslováquia Finlândia Iugoslávia e Grécia haviam perdido de 85 a 95 de seu valor anterior e as moedas da Bulgária Romênia e Estônia sofreram desvalorização de 96 a 99 Mas esses não foram os casos mais extremos A hiperin flação na Áustria e na Hungria aumentou os preços em 14 mil e 23 mil vezes respectivamente não 14000 e 23000 mas níveis 14 mil e 23 mil vezes mais altos do que eram Na Polônia e na Rússia os preços aumentaram 25 milhões e 4 bilhões de vezes No caso mais famoso quando a hiperinflação na Alemanha ter minou no fim de 1932 os preços haviam crescido um trilhão de vezes em relação ao valor que tinham imediatamente após a guerra Cada dólar equivalia antes a 42 marcos e terminou por valer 4200000000000 42 trilhões de marcos Nos últimos meses de hiperinflação alemã o Banco Central teve de imprimir tanto dinheiro que precisou da dedicação de 30 fábricas de papel 29 de chapas de metal e 132 gráficas Em 2 de novembro de 1923 o governo emitiu uma nota valendo 100 trilhões de marcos o que equivalia a US31250 Em pouco mais de duas semanas quando a hiperinflação chegou ao fim no dia 20 de novembro a nota valia US23819 205832 Como a inflação estava fora de controle os valores dos preços salários e moedas não se mantinham Dessa forma iniciaramse tentativas frenéticas para compensar a situação receber paga mentos à tarde em vez de pela manhã significava uma grande re dução no ganho e permanecer com uma nota de dinheiro durante mais de algumas horas poderia custar ao dono da nota quase todo o seu valor A instabilidade caótica na relação entre preços salári os e moedas levou a desajustes grotescos de consequências perversas Em setembro de 1922 Ernest Hemingway viu o que chamou de o novo aspecto do câmbio quando ele e a mulher resolveram fazer uma viagem de um dia cruzando o Reno de Estrasburgo na França até a cidade de Kehl na Alemanha Com a hiperinflação alemã a pleno vapor o valor do marco em relação a outras moedas caía mais rápido que o aumento dos preços na Alemanha Os preços no lado alemão eram de 15 a 110 menores que no lado francês Mas com o dólar valendo 800 marcos Hemingway com prou 670 marcos Aqueles 90 centavos foram suficientes para que eu e a Sra Heming way passássemos um dia de grandes gastos e ao fim do mesmo dia ainda tínhamos 120 marcos sobrando Nossa primeira compra foi numa barraca de frutas ao pé da rua principal de Kehl onde uma senhora vendia maçãs pêssegos e ameixas Escolhemos cinco maçãs bem bonitas e demos uma nota de 50 marcos à senhora Ela nos deu 38 marcos de troco Um senhor de barba branca muito bemvestido nos viu comprando as maçãs e nos cumprimentou tirando o chapéu Com licença senhor disse ele um tanto tímido em alemão quanto custaram as maçãs Contei o troco e lhe disse que custaram 12 marcos Ele sorriu e balançou a cabeça Não posso pagar É muito Subiu a rua caminhando de forma bem parecida como camin havam os senhores de barba branca em todos os países do velho re gime Mas ele olhou tanto para as maçãs Gostaria de ter lhe oferecido 206832 algumas Doze marcos naquele dia valiam um pouco menos de dois centavos Aquele senhor que provavelmente havia investido as eco nomias de toda uma vida em títulos alemães da guerra ou do pré guerra como fez a maioria das classes não exploradoras não podia arcar com um custo de 12 marcos Ele é o tipo de pessoa cuja renda não aumenta com a queda do poder de compra do marco alemão e da coroa10 A hiperinflação destruiu as economias guardadas ao longo da vida e o poder de compra de milhões de pessoas na Europa Cent ral e do Leste Posteriormente uma combinação de políticas fiscais austeras e apoio estrangeiro deu fim às inflações e hiperinflações da Europa Os governos reduziram sua necessidade de imprimir din heiro aumentando impostos e cortando gastos Para reconquistar a confiança da população as autoridades financeiras precisavam provar que tinham o respaldo das principais potências econôm icas Em geral isso era feito com o apoio da Liga das Nações a colaboração dos Bancos Centrais das grandes nações ocidentais e a proteção dos financistas privados de Londres e Nova York11 Apesar de difícil e custosa do ponto de vista social a estabilidade foi alcançada dentro de poucos anos O caso da Alemanha fora peculiar devido a diversos aspectos Um deles foi o tamanho do país A hiperinflação nociva da Áustria não afetou o resto do mundo como ocorreu com o colapso da Ale manha a maior economia da Europa Além disso a Alemanha foi a principal potência derrotada o Império AustroHúngaro e o Otomano não existiam mais e a Bulgária estava longe de ser um país influente Além disso a hiperinflação estava intimamente li gada às indenizações e o motivo gerava polêmica Os alemães ar gumentavam que o colapso foi causado pela retirada de dinheiro de uma economia em apuros os franceses diziam que os alemães imprimiam dinheiro de forma indiscriminada por se recusarem a fazer o esforço necessário para pagar as indenizações Dentro da 207832 Alemanha havia duros debates sobre qual a atitude que a nação deveria adotar em relação às grandes potências europeias alguns aconselhando cooperação outros enfrentamento À medida que os franceses continuavam a insistir nos pagamentos a situação da economia alemã piorou como nunca Em seguida tornouse evidente que os malabarismos políticos estavam prejudicando ambos os lados e no fim de 1923 o gov erno alemão retomou o controle da economia Em 1924 as potên cias ocidentais e a Alemanha negociaram o Plano Dawes que oferecia US200 milhões para a estabilização do marco e nomeava um supervisor norteamericano para regularizar o paga mento das indenizações Uma vez que o governo dos Estados Un idos havia deixado de se envolver nas questões europeias o pro cesso foi entregue a empresas privadas O JP Morgan Co forneceu metade dos empréstimos e um dos sócios norteamer icanos da empresa foi escolhido para supervisionar as indeniza ções12 No fim de 1924 a Alemanha também já havia conseguido derrotar a inflação e começado a crescer O colapso macroeconômico do início da década de 1920 deix ou um legado político que duraria muito tempo A devastação causada pela hiperinflação difamou ainda mais os líderes políticos tradicionais Em muitos países os políticos e grandes empresários pareciam não estar cientes do sofrimento que a hiperinflação e a estabilização impuseram à classe média Os ricos tinham como se proteger da desvalorização da moeda por exemplo investindo em ativos reais ou mandando o dinheiro para o exterior mas a classe média em geral não dispunha desses recursos além de ter perdido todas as suas economias em um intervalo de meses A de sorganização do início da década de 1920 parecia dizer à classe média que as leis não serviam para as elites Um pequeno empresário de Berlim comentou 208832 A inflação pôs um fim miserável em todo o meu esforço Não con seguia mais pagar meu pessoal Meus ativos se esvaíram Mais uma vez experimentamos a fome e a privação a relativamente próspera classe média mittelstand foi destruída a mesma classe média que continuava a se opor ao marxismo Em razão dessa experiência ele acrescentou Fugi do governo que permitiu tal infortúnio O mesmo pequeno empresário assim se uniu ao Partido Nazista e tornouse membro de uma de suas tropas13b O fracasso econômico do início do pósguerra contribuiu para a ascensão de uma nova direita e em meados da década de 1920 movimentos como o fascista ganharam adeptos e inclusive poder em todo o sul e o leste da Europa Stefan Zweig um judeu aus tríaco que deixou o continente em 1934 refletiu sobre isso posteriormente Nunca nada havia causado tanto amargor no povo alemão é import ante lembrarmos disso nada o havia deixado tão furioso e sus cetível a Hitler como a inflação A guerra sangrenta como foi ainda rendeu momentos de júbilo com sinos e cornetas tocando pela vitória enquanto a inflação serviu apenas para fazer o povo alemão se sentir imundo traído e humilhado Toda uma geração nunca es queceu ou perdoou a República da Alemanha por esses anos e preferiu reintegrar esses carniceiros14 O colapso mais dramático das classes dominantes do pré guerra ocorreu na Rússia O fracasso czarista durante a guerra le vou a uma revolução democrática em 1917 Depois em novembro foi responsável por uma ruptura no poder liderada pela facção bolchevique extremamente antiguerra do movimento so cialista O novo governo procurou pela paz e aceitou os duros ter mos impostos pela Alemanha No entanto a URSS foi assolada pela guerra civil até o fim da década de 1920 Nesse momento 209832 para surpresa e irritação do Ocidente os bolcheviques tinham o total controle do maior país do mundo O líder bolchevique Vladimir Ilitch Lênin não foi o único a acreditar que a Revolução Russa seria o começo de uma onda de revoltas extremistas contra o capitalismo europeu Por volta de um ano após o fim da guerra insurreições em Berlim e na Bavária a tomada do poder pelos comunistas na Hungria além das ocupações de fábricas na Itália pareciam indicar uma grande inclinação à revolução operária Os principais partidos socialistas se depararam com sérios problemas quando tentaram resistir às novas facções de inspiração bolchevique A maior parte dos so cialistas havia apoiado os esforços nacionais para a guerra e como a batalha havia se tornado impopular a reputação deles ficou abalada Além disso o sucesso eleitoral dos socialistas trouxe algumas frustrações uma vez que eles se envolveram em governos provisórios pouco eficientes Assim as alas rebeldes de todos os partidos socialistas ridicularizaram os mais tradicionais dado o seu compromisso com o patriotismo nacional e por acred itarem que as urnas poderiam modificar a sociedade Mais tarde uma nova Internacional Comunista de base em Moscou uniu os partidos socialistas mais radicais do mundo O otimismo revolucionário do início logo chegou ao fim deix ando Lênin e seus camaradas no governo de um país estilhaçado que nunca fora um terreno fértil para o socialismo nem em seus melhores dias A nova União Soviética enfrentou a reconstrução vindo da guerra da revolução e da guerra civil Era difícil conce ber a construção de uma nova sociedade socialista em um país que em 1920 já havia perdido 87 da capacidade industrial que tinha em 191315 Durante os primeiros anos após a guerra os so viéticos se concentraram em reanimar a economia A Nova Polít ica Econômica de 1921 passou a permitir as atividades de um grande número de empresas privadas em especial as ligadas à ag ricultura e aos pequenos negócios além de estimular os 210832 camponeses a ganharem o máximo possível Em 1924 como ocor reu em outras partes do Ocidente a economia já havia renascido A União Soviética permaneceu ilhada em parte por opção em parte pela hostilidade dos países capitalistas que a rodeavam mas gradualmente reconstruiu os laços econômicos com o rest ante do mundo Os aliados do Ocidente enfrentaram menos dificuldades no pósguerra do que a Europa central e oriental Mesmo na Bélgica e no Norte da França onde a destruição foi mais severa a ativid ade econômica logo voltou ao normal Houve uma rápida ex pansão nas economias ocidentais de 1919 a 1920 seguida por uma rápida recessão em 1920 e 1921 mas em 1922 as condições comerciais já estavam de volta à normalidade Os europeus se esforçaram para recuperar as condições mon etárias internacionais restaurando o padrãoouro o centro da or dem econômica clássica Duas conferências monetárias europeias uma em Bruxelas em 1920 e outra em Gênova em 1922 geraram um apoio ressoante a esse objetivo No entanto até os países que não haviam enfrentado uma inflação pesada consideravam difícil conseguir alcançálo Na GrãBretanha os preços cresceram tanto durante e após a guerra que a tentativa de retomar a taxa de câm bio de 1913 em relação ao ouro exigia políticas monetárias muito restritivas que reduziriam salários preços e lucros Até mesmo quando a libra esterlina retornou ao ouro em 1925 com uma taxa de câmbio igual à do préguerra os preços altos fizeram com que grande parte da indústria britânica ficasse de fora dos mercados Em grande parte por consequência disso o desemprego na Grã Bretanha se manteve acima dos 10 ao longo da década de 1920 Ainda nesse contexto os países escandinavos se estabilizaram logo depois da GrãBretanha Os laços comerciais estreitos desses países com os mercados britânicos e as supervalorizações como as da GrãBretanha também os prejudicaram com índices de desemprego de dois dígitos ao longo de toda a década as 211832 tentativas da Noruega de retornar ao padrãoouro levaram o país a um índice de desemprego acima de 25 em 1927 A Bélgica e a França retornaram ao ouro logo após a GrãBretanha mas difer entemente desta os dois países não tentaram recuperar o valor préguerra de suas moedas Assim puderam adotar novamente o padrãoouro a custos relativamente baixos e sem impor grandes pressões competitivas aos produtores de bens industriais O comércio internacional também enfrentou dificuldades Muitos dos governos que haviam impostos barreiras aos investi mentos e ao comércio internacionais durante a guerra encon traram dificuldades em remover a proteção quando o conflito chegou ao fim Até mesmo a GrãBretanha manteve algumas das barreiras comerciais adotadas durante a guerra Nos Estados Un idos a liberalização do comércio decretada por Wilson e os democratas em 1913 foi abandonada e a administração republic ana e o Congresso restabeleceram o protecionismo habitual em 1921 e 1922 A maioria dos países da Europa central e oriental era mais protecionista que os Impérios precedentes Apesar das dificuldades e decepções em 1924 a Europa já es tava basicamente recuperada A produção industrial europeia re tomou os índices de 1913 embora existissem diferenças consider áveis entre os países europeus Na parte ocidental a indústria passou a produzir 12 a mais que em 1913 ao passo que a Europa central e a oriental apresentavam índices 20 menores que no mesmo período Os Estados Unidos estavam bem à frente com a produção manufatureira mais uma vez cerca de 50 maior que em 191316 Mesmo com a devastação causada pela Primeira Guerra Mundial a maior parte das economias dos países já havia retornado ou quase aos índices do préguerra A extraordinária década de 1920 212832 Um frenesi de atividades econômicas internacionais irrompeu subitamente Entre 1925 e 1929 a produção industrial do mundo cresceu mais de 20 e tal crescimento foi ainda mais rápido na Europa e na América do Norte Os investimentos internacionais atingiram níveis semelhantes aos dos anos de glória do inicio do século XX No entanto a maior parte desses investimentos agora vinha dos Estados Unidos não mais da Europa As exportações dobraram em relação ao préguerra Mesmo se considerarmos a inflação o comércio mundial era 42 maior em 1929 do que em 1913 além de corresponder a uma parcela maior das economias nacionais17 O padrãoouro estava de volta A economia mundial parecia recuperada A expansão econômica estimulou grandes mudanças sociais Na maior parte do mundo industrial a década de 1920 testemun hou o surgimento de novos bens de consumo e de produção em massa No campo político todos os países democráticos passaram a permitir o voto feminino em meio a movimentos mais amplos pela emancipação da mulher A influência dos movimentos tra balhistas e dos partidos socialistas aumentou de forma dramática No campo cultural o Modernismo e o Surrealismo revolu cionavam as artes enquanto o jazz estourava no cenário musical O boom do fim da década de 1920 foi tão grande e seus efeitos tão amplos e profundos que muitos países deram nomes específicos a ele a Renascença de Weimar na Alemanha a Era Baldwin na GrãBretanha os extraordinários anos 20c e a Era do Jazz nos Estados Unidos além de a Dança dos Milhões na América Lat ina18 De alguma forma esse crescimento envolveu uma retomada das condições anteriores aos tempos de guerra Mas ele também contou com uma dinâmica própria poderosa e os Estados Unidos eram o seu centro O capital e os mercados norteamericanos ali mentaram o crescimento econômico da Europa à Ásia e também da América Latina Bancos e empresas norteamericanas 213832 inundaram o mundo com dinheiro e tecnologia Wall Street sub stituiu Londres como o centro financeiro internacional enquanto empresas norteamericanas estabeleciam milhares de filiais ao redor do mundo Em 1929 os Estados Unidos já haviam acumu lado mais de US15 bilhões em investimentos estrangeiros dos quais metade eram empréstimos e a outra parte eram investimen tos direto das multinacionais e esse montante não incluía os muitos bilhões de dólares que os estrangeiros deviam a Washing ton Em pouco mais de uma década o país formou uma carteira de investimentos internacionais quase tão grande quanto a do Reino Unido em 1913 a qual havia sido desenvolvida ao longo de um século Nas palavras do secretário de Estado John Hay O centro financeiro do mundo que precisou de milhares de anos para viajar do Eufrates ao Tâmisa e ao Sena passou por Hudson entre a alvorada e o anoitecer19 Mais de US1 bilhão por ano em empréstimos brotaram de Nova York de 1919 a 1929 Nos anos mais prósperos em Wall Street os títulos estrangeiros que circulavam equivaliam a apenas 13 do que girava em ações de empresas dos Estados Unidos20 De 1924 a 1928 os norteamericanos emprestavam em média US500 milhões por ano para a Europa US300 milhões para América Latina US200 milhões para o Canadá e US100 mil hões para a Ásia Os norteamericanos pareciam incansáveis em financiar empreendimentos em lugares dos quais uma década antes poucos ouviram falar 36 bancos de investimentos norte americanos brigavam pelo privilégio de mandar seus títulos para a cidade de Budapeste 14 competiam por Belgrado e um vilarejo na Bavária que desejava US125 mil foi convencido a pegar um empréstimo de US3 milhões21 Os Estados Unidos eram responsáveis por mais da metade dos novos empréstimos mas não estavam sozinhos nessa recuperação das finanças internacionais Especialmente após a retomada do padrãoouro os mercados londrinos se abriram novamente O 214832 mesmo ocorreu com os empréstimos de Paris Amsterdã e outras capitais credoras menores A GrãBretanha proveu cerca de 14 de todos os novos empréstimos da década de 1920 outros países europeus também ficaram com essa mesma proporção22 Após dez anos de preocupações domésticas e restrições nos negócios in ternacionais tanto os credores quanto os que pediam emprésti mos não pareciam capazes de extrair o suficiente da revitalização dos mercados de capitais do mundo Os industriais norteamericanos também rodaram o mundo em busca de oportunidades rentáveis de investimentos não em préstimos mas investimentos diretos em filiais de empresas e outras subsidiárias Empresas norteamericanas investiram mais de US5 bilhões no decorrer da década de 1920 No fim desse período as empresas norteamericanas já estavam bemestabele cidas em todas as principais economias e também em muitas das nações menores Até mesmo os bancos comerciais norteamer icanos os quais antes da lei de 1913 do Federal Reserved eram proibidos de operar fora do país se aproveitaram da nova situ ação e no fim de 1920 já possuíam cerca de 200 sedes no exterior O boom dos anos 1920 foi ainda mais marcante fora da Europa Na América Latina os empréstimos e investimentos diretos norteamericanos participaram do crescimento já regis trado na região Mais uma vez a América Latina obtinha um cres cimento 50 mais rápido que o da Europa e da América do Norte23 Nesse processo a estrutura industrial latinoamericana amadureceu de forma substancial Por exemplo em 1929 o Brasil produzia 34 do aço que necessitava24 Ao redor da região eco nomias se modernizavam as classes média e trabalhadora cres ciam e se tornavam politicamente influentes e regimes demo cráticos se estabilizavam O isolamento dos Estados Unidos 215832 Os anos de recuperação e o boom eram resquícios da Era de Ouro de antes da Primeira Guerra Mundial mas com os Estados Un idos no centro substituindo a GrãBretanha Na era anterior Londres financiava atividades econômicas por todo o mundo em especial por meio de empréstimos mas também com investimen tos de empresas privadas Os países devedores arrecadavam o dinheiro que necessitavam para pagar os juros em geral export ando para a Europa especialmente para o enorme e aberto mer cado britânico O sistema mantinhase unido pelo compromisso com um padrão monetário o ouro Em 1925 um sistema semel hante operava Uma vez que o capital fluía dos Estados Unidos para o resto do mundo o resto do mundo vendia pesadamente para o mercado norteamericano e quase todas as principais moedas já haviam retomado o padrãoouro A reencarnação dessa ordem contudo remete à observação de Marx de que se a história se repete o faz a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa Por enquanto os fundamentos econômicos das duas épocas eram semelhantes o acesso mundi al ao capital e aos mercados da GrãBretanha e dos Estados Un idos respectivamente mas o comportamento dos países centrais apresentava diferenças fundamentais O padrãoouro clássico antes de 1914 tinha Londres como centro e sua coesão era mantida pelo Reino Unido25 A superior idade da influência financeira e comercial da GrãBretanha com binada ao compromisso inabalável de sua elite financeira e empresarial com a economia mundial permitiu que o governo britânico agisse de forma enérgica tanto quanto o necessário para estabilizar as relações monetárias e financeiras internacionais Embora o Reino Unido fosse nas palavras de John Maynard Keynes o regente da orquestra internacional o país não con seguiria sustentar o padrãoouro sem os outros participantes26 A estabilidade do padrãoouro clássico dependia também de um 216832 forte apoio da França da Alemanha e de outras nações menores da Europa Por exemplo quando o colapso do Barings um dos maiores bancos britânicos ameaçou desestabilizar os mercados londrinos em 1890 os Bancos Centrais da França e da Rússia emprestaram dinheiro ao Banco da Inglaterra Apenas a certeza de que essas somas estavam disponíveis ajudou a acalmar os in vestidores Em 1898 os britânicos e franceses ajudaram a estabil izar os mercados financeiros alemães alguns anos mais tarde foi a vez dos austríacos acalmarem os mercados de Berlim Em pelos menos outras sete oportunidades entre 1900 e 1914 os franceses intervieram para ajudar os britânicos numa demonstração do que o Banco da França chamou de a solidariedade dos centros fin anceiros27 Não havia altruísmo na liderança britânica tampouco na co operação europeia Os rendimentos das empresas britânicas de pendiam do bom funcionamento da economia mundial A eco nomia britânica e seus principais investidores e empresas con tavam com o comércio os investimentos e as finanças inter nacionais Além disso França Alemanha Bélgica Holanda Áus tria e Rússia estavam fortemente integradas à ordem financeira e monetária centrada em Londres uma instabilidade no centro ser ia sentida fora dele impondo desafios à base de apoio dos líderes políticos e econômicos dos outros países do sistema A riqueza e o poder dos capitães da indústria e das finanças europeias de pendiam de um sistema de comércio e pagamentos internacionais com base em Londres Era do interesse de todos os grupos poder osos que esse equilíbrio fosse mantido28 Porém se antes de 1914 o interesse próprio e esclarecido deu ao padrãoouro um regente confiável e uma orquestra harmo niosa nenhum dos dois elementos podia ser considerado como certo após 1920 A desorganização da orquestra era mais óbvia quaisquer que fossem as questões econômicas comuns que unis sem as potências da Europa continental elas não eram páreo para 217832 a continuação econômica do conflito de trincheiras da Primeira Guerra Mundial O armistício apenas inaugurou outro estágio do conflito francogermânico uma vez que franceses belgas e alemães se enfrentavam numa batalha campal pelas indenizações A França não tinha a menor intenção de desistir Os franceses achavam que a Alemanha ainda não havia pagado por sua agressão militar Além disso nenhum político alemão podia ser visto negociando com bancos internacionais ou subsidiários algo que a maioria dos alemães acreditava ser um tratado de paz crim inosamente injusto Quase todos os países da Europa optaram por um dos lados Até mesmo questões técnicas financeiras e mon etárias foram envolvidas no duro conflito diplomático A falta de um regente confiável para o sistema de ouro de Keynes foi o problema mais grave da economia política do en treguerras As semelhanças entre os papéis desempenhados pela GrãBretanha pré1914 e pelos Estados Unidos pós1920 eram tão gritantes quanto as diferenças dos dois países no que diz respeito aos seus papéis na política internacional O Reino Unido e os Estados Unidos eram as principais nações industriais financeiras comerciais e investidoras de suas respectivas eras Como compro variam os anos após a Segunda Guerra Mundial apenas um passo separava a hegemonia econômica norteamericana da liderança política nos assuntos relativos à economia internacional Não ob stante de 1920 até as vésperas da Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos se recusaram a se envolver O capital e os mercados norteamericanos eram tão domin antes na economia da década de 1920 quanto o foram seus correl ativos britânicos antes de 1913 Mas o governo dos Estados Un idos permanecia quase totalmente ausente enquanto o britânico sempre esteve presente Mesmo se a administração norteameric ana tivesse desejado se envolver o que não aconteceu o Con gresso proibia qualquer participação oficial nas discussões inter nacionais sobre questões econômicas e sobre a maioria dos 218832 outros assuntos O Federal Reserve Bank de Nova York que era ligado aos banqueiros internacionais de Wall Street promoveu es forços conjuntos para participar das questões econômicas globais mas o fez de forma secreta Na verdade os representantes norte americanos nas reuniões monetárias internacionais eram em sua grande maioria banqueiros particulares do JP Morgan Co A política comercial norteamericana era decididamente prote cionista embora fosse claro que isso impediria os devedores es trangeiros do país de ganharem dólares para honrarem seus em préstimos Até o compromisso norteamericano com o padrão ouro suscitava dúvidas uma vez que uma nova onda de popu lismo antiouro se alastrava pelo cinturão agrícola norteamer icano devido à queda de cerca de 33 nos preços dos produtos agrícolas O isolacionismo norteamericano tornouse política governa mental a partir de 1920 quando o Senado dos Estados Unidos vetou os planos de paz de Woodrow Wilson e a participação do país na Liga das Nações Essa decisão foi confirmada e sedi mentada em novembro quando as eleições nacionais concederam o controle da Presidência e do Congresso aos republicanos Em bora alguns republicanos apoiassem a Liga em geral o partido que ficaria à frente da Presidência e do Congresso até 1933 era liderado por homens que encaravam a participação norteameric ana nos assuntos europeus com suspeita ou desdém Tal visão se estendeu por quase todos os aspectos da diplomacia econômica internacional e atingiu todas as questões de economia global até o início da década de 1930 A política norteamericana de isolamento foi adotada em meio ao debate sobre as indenizações a questão financeira central do pósguerra As tentativas do governo moderado de Weimar de manter seus compromissos internacionais eram impopulares para o amargurado povo alemão e muitos países da Europa passaram a considerar contraproducentes os prazos rigorosos de 219832 pagamento Ao mesmo tempo os aliados europeus continuavam devendo US10 bilhões aos cofres norteamericanos e os franceses e belgas viam as indenizações como um mal necessário enquanto o governo norteamericano insistisse em receber o din heiro de volta Havia uma forma fácil de resolver o impasse o perdão das dívidas de guerra Esses débitos devem ser cancela dos sugeriu JP Morgan29 Os aliados poderiam ter reduzido o valor das indenizações exigidas Isso teria atenuado as pressões econômicas sofridas pela Alemanha que alimentaram tensões políticas e exacerbaram sentimentos revanchistas e nacionalistas os quais por sua vez impediram uma atitude econômica de cooperação No entanto sucessivos presidentes e congressistas norte americanos foram categoricamente contra a renegociação das dívidas de guerra Enquanto muitos na Europa acreditavam que tais débitos já haviam sido pagos com o sangue de milhões de jovens a maioria dos norteamericanos as considerava pura e simplesmente dívidas Nas palavras de Calvin Coolidge Eles alugaram o dinheiro Enquanto os norteamericanos insistiam em receber os franceses e os belgas insistiam nas indenizações Já que os Estados Unidos não diminuíram o encargo das dívi das de guerra e das indenizações eles poderiam ao menos ter tor nado mais fácil para os europeus ganhar o dinheiro necessário para cumprir com suas obrigações De fato o mercado norte americano o maior do mundo se abriu substancialmente com a legislação de 1913 No entanto quando os republicanos das tari fas altas retornaram as barreiras comerciais aumentaram reto mando os níveis anteriores ou atingindo inclusive níveis mais el evados A resposta do Congresso às dificuldades econômicas na Europa foi na verdade mais proteção comercial em 1921 1922 e 1923 com a radical tarifa SmootHawley Os investidores norte americanos resistiam à proteção comercial uma vez que a im posição de barreiras dificultava a arrecadação de dólares por parte 220832 dos países devedores Otto Kahn um banqueiro de Nova York ex plicou à população Ao nos tornarmos uma nação credora temos que nos ajustar ao papel de uma nação credora Precisamos nos convencer da necessidade de sermos mais receptivos às im portações30 O apelo dos defensores do livrecomércio no ent anto foi ignorado uma vez que os interesses dos credores norte americanos e das indústrias do país eram diametralmente opos tos Uns queriam que os estrangeiros tivessem fácil acesso aos mercados dos Estados Unidos para que pudessem quitar suas dívidas outros queriam que o mercado norteamericano fosse o mais fechado possível para a competição estrangeira A ironia da posição internacional contraditória dos Estados Unidos liderança financeira e indiferença ou hostilidade política não passou despercebida pelo público norteamericano Frank lin D Roosevelt se aproveitou de grande parte das contradições republicanas em relação à política econômica externa dessa nação durante a corrida presidencial de 1932 as quais foram compara das ao mundo fantástico de Alice no País das Maravilhas Uma Alice confusa e um tanto desconfiada fez à liderança republicana algumas perguntas simples A impressão e venda de mais ações e títulos a construção de novas fábricas e o aumento da eficiência não produziriam mais mer cadorias do que poderíamos comprar Não gritou Humpty Dumpty Quanto mais produzirmos mais poderemos comprar E se produzirmos em excesso Veja poderemos vender para os estrangeiros Como os estrangeiros pagariam por eles Nós emprestaremos dinheiro Entendo disse a pequena Alice Eles vão comprar o nosso excedente com o nosso dinheiro Claro os estrangeiros irão nos pagar de volta com a venda dos produtos deles Ah de forma alguma disse Humpty Dumpty Nós constru iremos um muro alto chamado tarifa 221832 E disse por fim Alice como os estrangeiros irão nos devolver esses empréstimos Isso é fácil disse Humpty Dumpty Você já ouviu falar em moratória E assim meus amigos chegamos ao coração da fórmula mágica de 192831 O Congresso e o Executivo isolacionistas proibiram até mesmo as consultas técnicas entre os formuladores da política norte americana e os estrangeiros Em 1921 o Federal Reserve propôs uma conferência de Bancos Centrais para discutir a situação europeia e o Banco da Inglaterra foi vetado Mesmo quando a ini ciativa vinha dos Estados Unidos como nos casos dos Planos Dawes e Young de 1924 e 1930 respectivamente os Estados Un idos não podiam participar oficialmente JP Morgan e outros financiadores norteamericanos atuavam como correlativos dos Ministérios da Fazenda e Bancos Centrais da Europa O contraste com a liderança da GrãBretanha na Pax Britannia pré1914 era gritante Outras funções desempenhadas pelos governos dos líderes econômicos pré1914 foram privatizadas devido ao isolacion ismo oficial dos Estados Unidos Por exemplo durante os anos de ouro dos empréstimos internacionais antes da Primeira Guerra Mundial comitês de credores donos de títulos e governos cos tumavam supervisionar as finanças dos países endividados e em apuros financeiros Com a recusa dos Estados Unidos em parti cipar o papel de supervisor crediário recaiu sobre os cidadãos entre os quais o de maior proeminência foi Edwin Kemmerer o doutor do dinheiro internacional Kemmerer um economista de Princetown cujo primeiro trabalho havia sido o de consultor fin anceiro da colônia filipina quando esta pertencia aos Estados Un idos aconselhou muitos governos pobres a estruturar suas eco nomias de forma a atrair capital norteamericano O envolvi mento dele como agente privado logo lhe rendeu um período de 222832 20 anos trabalhando para México Guatemala Peru Bolívia Chile Alemanha Polônia Turquia China e África do Sul Suas re comendações invariavelmente a favor de orçamentos equilibra dos e do padrãoouro eram muito bemvistas pelos credores norteamericanos Dessa forma os governos procuravam segui las Um país que nomeia consultores financeiros norteamer icanos e segue as recomendações escreveu Kremmerer organ izando as finanças de acordo com o que os investidores dos Esta dos Unidos consideram ser as diretrizes modernas mais bemsu cedidas aumenta suas chances de se tornar atraente para o investidor norteamericano e de obter dele capital com condições favoráveis32 Muitos norteamericanos apoiavam o engajamento do país O conhecido internacionalismo era bastante forte em algumas re giões e setores da população com importantes interesses econ ômicos internacionais Em primeiro lugar e acima de tudo es tavam os bancos e as empresas cujos investimentos e vendas in ternacionais cresceram rapidamente após 1914 Muitos dos fazendeiros que produziam para exportação simpatizavam com o apoio do governo à reconstrução dos mercados externos além de serem defensores históricos do livrecomércio A posição oficial do Partido Democrata continuava a ser uma variação do inter nacionalismo wilsoniano Além disso havia uma ala fortemente internacionalista entre os republicanos em especial entre os grandes empresários de Nova York e de outros centros financeiros O isolacionismo econômico e político no entanto dominava o sistema norteamericano Alguns dos isolacionistas eram chau vinistas de direita outros antiimperialistas de esquerda Alguns se opunham ao envolvimento internacional por princípio moral outros por pragmatismo O tradicional choque de culturas entre a elite anglófila e as massas patrióticas também teve influência Mas do ponto de vista econômico a fonte principal da posição 223832 internacional esquizofrênica dos Estados Unidos seria a natureza inconstante do envolvimento externo do país A economia clássica britânica era altamente direcionada para o exterior na direção dos mercados estrangeiros dos fornecedores estrangeiros e dos investimentos estrangeiros Nos Estados Unidos contudo o grau de exposição à economia internacional variava de modo signific ativo Wall Street era altamente engajada da mesma forma que muitos produtores agrícolas e algumas das principais indústrias do país No entanto o cerne industrial norteamericano con tinuava a se voltar para as questões internas permanecendo il hado e protecionista Para as indústrias de orientação inter nacional maquinário veículos motorizados borracha e petróleo os investimentos externos eram de dez a doze vezes mais im portantes do que para o resto do setor fabril33 Um segmento po deroso e dinâmico da economia norteamericana poderia estar altamente envolvido com a economia mundial na verdade po deria estar liderando a economia do mundo mas a cúpula de líderes econômicos do país continuava hostil ou indiferente às condições internacionais Os Estados Unidos não contaram com um consenso ao estilo britânico para uma participação ou lider ança internacional Um mundo reconstruído A ausência norteamericana foi a maior fraqueza da economia mundial do pósguerra Contudo os observadores mais astutos perceberam outros motivos de preocupação menos óbvios Keynes por exemplo mostrou como a economia política do per íodo entreguerras tanto internacional quanto doméstica se afastou dos ideais vitorianos aspirados por muitos governos O próprio Keynes era cria do fim da Era Vitoriana34 O pai havia sido um pupilo bemsucedido de Alfred Marshall influente 224832 economista do fim do século XIX e início do XX John Neville Keynes seguiu os passos de Marshall e tornouse pesquisador em Cambridge mas para a decepção do mentor não se tornou um economista profissional Eventualmente acabou se tornando o principal quadro administrativo da Universidade de Cambridge Sua mãe era uma reformista social e foi a primeira mulher a ocu par o cargo de prefeita de Cambridge Keynes certamente sentiria a influência tanto acadêmica quanto política da família John Maynard Keynes nasceu em 1883 em Cambridge Após uma carreira brilhante em Eton em 1902 retornou a Cambridge como aluno de graduação Destacavase em matemática e seu desempenho em economia que apenas na época começava a ser tratada como disciplina independente chamou a atenção de Mar shall que o conheceu por intermédio do pai No entanto apesar de Keynes admirar muito meu velho mestre quem me transfor mou num economista35 a primeira paixão do jovem foi a filo sofia Ele passou muito tempo envolvido em acalorados debates sobre questões filosóficas com outros de seu círculo Como perce beu Robert Skidelski autor da biografia autorizada de Keynes o grupo do economista Radicalismo em Cambridge girava em torno de sodomia e ateísmo e Keynes se lançou em ambos os temas com entusiasmo36 Após muitos anos de bolsas de estudos e romances homossexuais Keynes se formou Depois de ter consid erado uma carreira acadêmica ele entrou para o funcionalismo público no India Office do governo britânico Keynes tinha muito interesse por política mas pouco respeito pelos políticos Desde pequeno achava ridícula a fascinação vitoriana pela monarquia Quando adolescente após ter visto a rainha Vitória Keynes escreveu com sarcasmo que sem dúvida por causa do frio que fazia no dia o nariz dela estava lamentavel mente vermelho ao ver o Kaiser Guilherme observou que o bi gode dele estava acima das minhas expectativas37 A atitude de Keynes em relação aos políticos eleitos também era de desprezo 225832 em especial quando os considerava intelectualmente inferiores o que era comum Ele preferia afetar a política de fora sugerindo e defendendo boas ideias e criticando as ruins A primeira experiência de Keynes no governo durou apenas dois anos Foi muito bemsucedido no India Office mas em 1908 Marshall se aposentou e convidou Keynes para um cargo de eco nomista em Cambridge no qual ele veio a passar o resto da vida Após a experiência no India Office ele escreveu seu primeiro liv ro Indian Currency and Finance Publicado em 1913 quando Keynes fundou uma comissão sobre o assunto ligada à Coroa o livro foi muito bemrecebido e ajudou a consagrálo como um dos principais especialistas da área O argumento central era que as modificações feitas na Índia sobre o padrãoouro o que ele chamava de padrão cambial do ouro foi de fato um aperfeiçoa mento permitindo uma administração científica das condições monetárias O sistema indiano era menos rígido que o padrão ouro clássico e favorecia os governos com a flexibilidade de reagir às condições locais As ideias econômicas contidas no livro eram tradicionais mas demonstravam que Keynes buscava soluções fora da camisa de força da ortodoxia do padrãoouro Quando se tratava de política comercial a visão de Keynes era extremamente liberal mas liberal nos termos dos partidos políticos da época Era favorável ao livrecomércio e contra o mo vimento protecionista pela reforma tarifária Em 1910 em um de bate na Cambridge Unione argumentou A Reforma Tarifáriaf tem como base o princípio de tornar os produtos relativamente escassos Para aqueles que os produzem isso é sem dúvida vantajoso Mas a medida traz um sofrimento desproporcional para outros grupos A comunidade como um todo não ganha ao torn ar aquilo que o país quer artificialmente escasso38 Keynes também foi uma figura essencial no círculo cultural mais importante da GrãBretanha O grupo de Bloomsbury era 226832 formado por escritores filósofos artistas e outras pessoas muitos dos quais amigos de Keynes dos tempos de Cambridge Entre os participantes estavam Leonard e Virginia Woolf Clive e Vanessa Bell Lytton Strachey e Edward Morgan Forster O economista de Cambridge ajudava a financiar as atividades do grupo e alugava as casas onde muitos deles moravam ou apenas se reuniam para re feições e discussões O envolvimento com o grupo de Bloomsbury estava de acordo com a rejeição modernista de Keynes à moral e às crenças vitorianas a homossexualidade no seu meio de Cam bridge era ligada à ênfase em amizade e beleza e a uma negação de valores tradicionais como dever e religião Enquanto a ativid ade profissional de Keynes estava bem mais longe dos holofotes que a de seus colegas bloomsberries para usar o nome pelo qual se definiam ele estava bem entrosado no grupo devido à sua cul tura à sua sofisticação ao seu intelecto poderoso e à sua per spicácia filosófica A Primeira Guerra Mundial trouxe Keynes de volta ao gov erno onde logo se tornaria o principal especialista financeiro do Tesouro Embora viesse a se opor à guerra e a requerer o status de desertor conscienteg sem motivo como sabia dado o seu tra balho para o governo Keynes desempenhava com entusiasmo a função de encontrar formas para financiar a participação britân ica no conflito sem levar o país à falência À medida que a guerra se prolongava ele ficava mais desanimado Eu trabalho disse ele a um amigo para um governo que desprezo para fins que considero criminosos39 O fato de Keynes trabalhar para o gov erno fez com que tivesse problemas com os outros bloomsberries que não entendiam como ele conseguia separar suas convicções antiguerra de seu empenho nas questões financeiras da batalha O economista no entanto considerava os problemas financeiros in telectualmente estimulantes e acreditava que apesar de suas apreensões a GrãBretanha merecia vencer sua oposição 227832 consciente era mais uma objeção ao alistamento obrigatório do que à guerra em si Keynes foi o representantechefe do Tesouro na delegação britânica da Conferência de Paz de Paris que determinou as diret rizes do pósguerra Mais uma vez se aborreceu com a realidade política e em especial com a insistência dos aliados em receber as exorbitantes indenizações O presidente Wilson disse certa vez aos britânicos Como os seus e os nossos especialistas podem desenvolver um novo plano para fornecer capital de giro à Ale manha se temos como pressuposto retirar todo o presente capital do país Keynes não gostava do pregador Wilson mas tinha de admitir que havia uma verdade no ponto de vista do presid ente40 Keynes acreditava que as condições impostas à Alemanha eram malévolas e estúpidas Em maio de 1919 quando o processo chegou ao fim escreveu a um amigo Certamente se eu estivesse no lugar dos alemães preferiria morrer a assinar tal paz Mas se eles assinarem realmente essa será a pior coisa que poderia ter acontecido já que possivelmente eles não con seguirão cumprir algumas das condições e a desordem e o descon tentamento generalizados serão instaurados em toda parte Enquanto isso não há comida ou emprego em lugar algum e os franceses e italianos estão enviando munição para a Europa central com a final idade de armarem todos contra todos Eu passo horas e horas na minha sala recebendo delegações das novas nações as quais não vêm pedir comida ou matériasprimas mas principalmente equipamentos mortais para serem utilizados contra seus vizinhos E com tal paz como base não vejo esperança em nenhuma parte Anarquia e re volução seriam a melhor opção e quanto antes melhor41 Descontente Keynes abandonou a delegação britânica e o gov erno em junho de 1919 Três semanas mais tarde os exbeliger antes assinaram o Tratado de Versalhes O economista voltou à 228832 Inglaterra e em menos de cinco meses escreveu o rascunho do liv ro que viria a ser uma explosiva denúncia da situação As con sequências econômicas da paz foi por um lado um relato por outro uma explicação um tanto polêmica mas foi acima de tudo uma denúncia crítica aos políticos os quais Keynes retratou como limitados gananciosos e desonestos As exigências impostas à Alemanha eram imorais e impossíveis de serem cumpridas Insi stir nos termos do tratado levaria apenas ao desastre Caso aceitem A vingança ousaria prever não deixará de acontecer Nada poderá evitar por muito tempo essa guerra civil final entre as forças de reação e os ímpetos desesperados de revolução Diante dela os horrores da última guerra alemã desaparecerão e a civilização e o progresso de nossa geração serão destruídos não importa quem vença42 O livro se tornou um fenômeno internacional As análises eco nômicas de Keynes foram aclamadas sua sagacidade política cel ebrada e seu estilo admirado Em seis meses a edição inglesa do livro vendeu 100 mil exemplares e em um ano o livro já havia sido traduzido para 12 línguas feito notório quando se trata de uma obra que inclui análises complexas de um acordo inter nacional complicado Agora Keynes era uma figura política global e o economista mais conhecido mundialmente e ele mostrara como as tentativas de restaurar a ordem mundial pré1914 haviam sido fracassadas O surgimento de Keynes como um crítico vigoroso dos atos das grandes potências o redimiu perante seus amigos de Blooms bury Mas a compreensão deles foi logo posta à prova pelo casamento do economista com Lydia Lopokova uma renomada bailarina de São Petersburgo O novo estilo de vida de Keynes chocou a maioria de seus amigos e chegou a enfurecer alguns deles Mas ele continuou casado e feliz com Lydia até a morte 229832 Ao longo da década de 1920 Keynes desenvolveu suas análises sobre as mudanças na política econômica do pósguerra Sua visão econômica anterior era tão ortodoxa quanto seu estilo de vida não era à medida que sua vida se tornou mais tradicional suas ideias econômicas se tornaram mais heterodoxas Keynes desempenhou um papel fundamental no debate sobre a política econômica britânica da década de 1920 sobre como e se o país deveria retomar o padrãoouro O governo desvinculou a libra es terlina do ouro quando a guerra começou e os preços haviam aumentado em 150 Ocorreram quedas substanciais após a guerra e muitas das classes investidoras e financeiras desejavam uma retomada do ouro o mais rápido possível com a taxa de câm bio do préguerra paridade de US486 por libra esterlina Essa medida teria exigido uma deflação maior mas seus de fensores argumentavam que seria relativamente fácil manter os salários e preços baixos como era frequentemente feito sob o padrãoouro clássico Keynes no entanto assim como outros economistas percebeu que preços e salários haviam se tornado menos flexíveis A eco nomia simplesmente não se ajustava como acontecia antes de 1914 Tornouse extremamente perigoso aplicar os princípios econômicos que funcionavam com as hipóteses do laissezfaire e da livre competição a uma sociedade que com rapidez as aban donava43 O principal problema era a rigidez dos preços e em es pecial dos salários que não mais se reduziam conforme era ne cessário para manter as empresas e os empregos estáveis Keynes disse a um grupo de banqueiros londrinos que o empenho em forçar a queda de certos níveis salariais para se alcançar o equilíbrio é quase inútil ou levará muito tempo44 O mundo moderno se desenvolvia em direção a um capital ismo mais organizado mais substancialmente rígido em termos de preços e salários A economia política dos países industriais não era mais a mesma que havia sido na Era de Ouro As 230832 economias mais simples que prevaleciam antes da Primeira Guerra Mundial foram densamente povoadas por produtores agrícolas independentes pequenos negócios e trabalhadores indi viduais Pequenas firmas e trabalhadores autônomos se aproxim avam dos exemplos dados nos livros sobre a economia de mer cado reagiam às condições como receptores de preços aceitando sejam quais fossem os preços e salários ditados pelo mercado Mas as economias industriais haviam mudado As grandes empre sas acumularam poder de mercado suficiente para exercer algum controle sobre os preços Os sindicatos trabalhistas tornaramse mais comuns de modo que os trabalhadores também podiam afetar os salários Mesmo onde os sindicatos eram fracos ou inex istentes a crescente complexidade da produção industrial valori zou uma força de trabalho qualificada e confiável que não poderia simplesmente ser demitida e recontratada ao belprazer do empregador Havia algumas indústrias importantes em que empresas e sindicatos atuavam com mais vigor como definidores de preços determinando com o estabelecimento de limites claro preços e salários A organização mais apurada de muitos dos mercados de bens e trabalho significava que os preços e salários talvez não di minuíssem o necessário para manter ou retomar o equilíbrio da economia ou para permitir que a libra esterlina se fixasse ao ouro com a taxa de câmbio pré1924 As grandes corporações po diam optar por maximizar os lucros vendendo menos carros a preços mais altos em vez de deixar os preços caírem Os trabal hadores organizados em sindicatos podiam resistir contra cortes salariais Empresas de vários segmentos relutavam em demitir os trabalhadores bemtreinados e qualificados que talvez não pudessem readmitir depois Preços e salários reagiam de acordo com a oferta e a demanda mas em muitas das economias indus triais essa reação podia ocorrer de forma lenta e parcial45 231832 Em dezembro de 1923 quando o debate sobre o ouro se acal orava Keynes publicou Breve tratado sobre a reforma mon etária Na obra argumentou que os governos deveriam agir para estabilizar preços e salários em vez de esperar passivamente que eles se ajustassem Em uma de suas passagens mais famosas Keynes ridiculariza o argumento da ortodoxia de que problemas de ajustes de curto prazo devem ser ignorados para permitir que o mecanismo do mercado e o padrãoouro restabeleçam as con dições normais no longo prazo Esse longo prazo é um guia errado para as questões atuais A longo prazo estaremos todos mortos Os economistas se colocam numa posição muito fácil Tarefa demasiadamente inútil se durante a época de tormentas a única coisa que podem nos dizer é que após a tem pestade o mar ficará calmo de novo46 Keynes foi radicalmente contra a tentativa de fixar novamente a libra esterlina no ouro com a mesma taxa de câmbio de 1914 Após os conservadores terem chegado ao poder no fim de 1924 a decisão coube ao encarregado do Tesouro Winston Churchill Nos meios públicos de comunicação em cartas privadas e diante de qualquer comitê parlamentar Keynes argumentava que a política necessária para que a libra voltasse à sua taxa préguerra provavelmente viria a se mostrar social e politicamente impos sível47 Ele se opunha àqueles que desejavam forçar a queda dos salários dos trabalhadores como os das minas de carvão para acelerar o processo de ajuste Assim como ocorreu com outras vítimas de transições econômicas no passado aos mineiros serão oferecidas duas opções fome ou submis são sendo que o resultado de sua submissão aparecerá como benefí cio para outras classes Mas frente ao desaparecimento de uma mo bilidade efetiva no trabalho e de um nível salarial competitivo entre indústrias estou em dúvida se eles não estão em condições piores de 232832 alguma forma que seus avôs Eles e outros que os seguirão são os sacrifícios moderados ainda necessários para garantir a estabiliza ção do padrãoouro48 Ele perdeu a batalha mas venceu a guerra Churchill optou pelo ouro e em abril de 1925 a libra retomara a paridade do pré guerra O resultado disso foi estagnação e uma alta taxa de desemprego em todo o Reino Unido até que a Grande Depressão tornasse a situação ainda pior Nesse meio tempo Keynes fez com que sua denúncia de uma política pública equivocada ecoasse Ele publicou um panfleto intitulado As consequências econômicas do senhor Churchill no qual explicava as sérias implicações da me dida adotada Ocasionalmente Keynes atacava o próprio padrãoouro a es sência da visão de mundo clássica Ele rotulou o padrãoouro como uma relíquia bárbara e exigia uma política monetária ativa que mantivesse o emprego e a economia estáveis No decor rer da década de 1920 Keynes apurou suas ideias o que culminou com a publicação de Tratado sobre a moeda Ele contou a um diretor do Banco da Inglaterra ter ficado alarmado Ao ver o senhor e outros em exercício atacando os problemas do mundo modificado do pósguerra com as mesmas ideias e visões do préguerra Fechar a mente para os desenvolvimentos revolucionários no controle do dinheiro e do crédito é semear a queda do capitalismo individualista Não seja o Luís XVI da revolução monetária49 Mas o ouro exercia uma força magnética nas economias polít icas nacionais Representava a estabilidade e a prosperidade da economia mundial pré1914 Abandonar o padrãoouro traria apenas dentro dos conformes a permissão para os governos en fraquecerem suas moedas sem qualquer grande impacto na eco nomia Os defensores do ouro também eram motivados por questões pragmáticas As instituições financeiras e as classes 233832 credoras em geral manejavam bens definidos em moedas fixa das no ouro Uma desvalorização significava um declínio equival ente no valor de ações e títulos emitidos nessas moedas Reduzir o valor digamos da libra esterlina era reduzir o valor dos investi mentos em ações e títulos esterlinos e de outros instrumentos fin anceiros Os defensores do padrãoouro que dispunham de somas milionárias consideravam o compromisso do governo com o ouro uma promessa de assegurar o valor de sua propriedade O ouro protegia os investidores e o ouro os defendia da inflação desval orização era expropriação As ideias de Keynes tinham pouco poder numa batalha com interesses tão sólidos Foram necessári as uma década e uma Depressão para que as objeções de Keynes em relação à ortodoxia passassem a ser vistas com mais confiança Em direção ao vazio O isolacionismo norteamericano privou a economia mundial da atuação de seu principal participante A rivalidade entre as grandes potências bloqueou a cooperação na esfera do comércio do dinheiro e das finanças internacionais A evolução da indústria moderna reduziu a eficácia das políticas econômicas vigentes O cerne dos esforços para restaurar a integração econômica global o padrãoouro quebrouse O capital norteamericano no entanto continuou a entrar na Europa na Ásia e na América Latina apesar da ausência oficial dos Estados Unidos Enquanto o resto do mundo tivesse acesso ao capital e aos mercados norteamericanos a economia global con tinuaria a crescer A infraestrutura entre outras a institucional que ajudou a estabilizar a economia mundial antes de 1914 não existia mais contudo o mundo parecia seguir sem ela O fluxo de 234832 dólares aparentemente sem fim parecia um substituto razoável De qualquer forma não parecia haver outra alternativa a Do inglês gunboat diplomacy termo que se refere à busca de objetivos de polít ica externa utilizando a força ou ameaça direta NT b Do inglês trooper militante das tropas do Partido Nazista o que incluía a SA tropa de assalto e a SS tropa de segurança NT c Do inglês Roaring Twenties termo que se refere à efervescência cultural nos Estados Unidos na década de 1920 NT d O Federal Reserve Act de 1913 sob o governo de Wodrow Wilson determinou a criação do Fed o Banco Central norteamericano NT e Espécie de grêmio estudantil da Universidade Cambridge NT f Posição política a favor do sistema de preferências comerciais para o Império cuja finalidade era proteger a indústria britânica da competição estrangeira NT g Do inglês conscientious objector status recusa voluntária ao alistamento milit ar NT 235832 7 O mundo de amanhã Flushing no Queens era uma área inabitada e pantanosa utiliz ada quando o era como depósito de lixo No entanto em 30 de abril de 1939 após anos de planejamento e obras Franklin D Roosevelt inaugurou a Feira Internacional de Nova York no local A exposição O mundo do futuro exibiu os avanços científicos e industriais de forma espetacular Parece que estamos nos diri gindo de maneira uniforme escreveu um visitante em direção a um futuro esplêndido Aqui estão muitas das invenções criativas geradas pela humanidade Aqui estão os indícios do que a human idade quer ser e fazer1 Sessenta nações estavam presentes com pavilhões na feira de Nova York mas o que mais chamou atenção foram os estandes das empresas A feira apresentou surpresas tecnológicas produtos e técnicas que deixaram perplexas as mais de 50 mil hões de pessoas que a visitaram nos verões do hemisfério norte de 1939 e 1940 No centro os dois símbolos da feira o Trylon e a Pherispery O primeiro monumento era um obelisco branco bastante brilhante de 700 metros de altura o segundo era um globo de dentro do qual os visitantes podiam ver exposto um fu turo próspero e democrático Não era preciso uma imaginação elevada para visualizar os artigos impressionantes expostos em Flushing Na entrada do prédio da RCA Radio Coorporation of America era possível con hecer uma versão especial de uma das novas televisões doméstic as da empresa Como muitos acreditavam que a nova máquina in cluía truques a RCA fez uma tela com base no recémdesen volvido tecido transparente Lucite da Du Pont de forma que to dos os mecanismos internos ficassem expostos O Phantom Tele ceiver fora apenas um de uma série de produtos expostos rela cionados à televisão Uma delas mostrava como uma sala de estar poderia ser remodelada para incluir televisores junto com os rádi os e tocadiscos já existentes além de outros aparatos como um projetor de filmes doméstico e um aparelho de fax O correspond ente do New York Suns escreveu o seguinte sobre a experiência Televisão rádio com imagens Aqui estão as máquinas Também lindas salas de televisão e há telões aqui igualzinho a um cinema As câmeras posicionadas em Nova York e as antenas de emissão estão todas montadas É só ligar o botão e aqui estamos em Flushing vendo um ônibus na Quinta Avenida O milagre do futuro já oper ando no presente2 Foram mostradas novas formas de utilização de energia Al bert Einstein de maneira protocolar acionou o interruptor para a iluminação noturna da feira a primeira vez que eram utilizadas luzes fluorescentes nas ruas A Westinghouse exibiu o cérebro eletrônico Nimatron os primórdios do computador um olho elétrico uma lâmpada ultravioleta esterilizante e um robô cha mado Elektro e seu cachorro Sparko O pavilhão enfatizou a Batalha do século entre dois métodos de se lavar a louça Sra Drudge à mão contra Sra Modern com uma lavalouça elétrica Sem qualquer surpresa afinal essa era uma demonstração da Westinghouse a lavalouça sempre vencia A General Electric 237832 fez uma estrondosa demonstração de raios e trovões produzidos artificialmente O pavilhão da General Motors apresentou a atração mais pop ular da feira o Futurama que levava os visitantes para um tour pelos Estados Unidos de 1960 A exposição intitulada Estradas e horizontes enfatizava como um sistema nacional de estradas de rodagem ainda um sonho transformaria o país O repórter do jornal The Sun retratou como era entrar no Futurama Você pisa num chão em movimento se senta a cadeira reclina e logo a primeira vista do Futurama vai aparecendo como se estivésse mos dentro de um avião em baixa altitude sobrevoando um lindo vale É possível avistar cidades e vilarejos em miniatura exibidos maravilhosamente nos mínimos detalhes E em todos os lugares vemos o tráfego de automóveis contínuo e sem fim Há imagens em miniatura de 50 mil carros em diferentes momentos e 10 mil deles es tavam operando de fato Trafegavam a uma velocidade de 80 quilô metros por hora e ainda mais rápido nas faixas expressas Paravam diante de postos de controle e voavam pelas pontes com diversas pi lastras de sustentação Trens aerodinâmicos ousados no design deslizavam por túneis cruzando altas montanhas e emergiam circu lando por entre os picos nevados Grandes aviões de transporte encontravamse estacionados nos aeroportos enquanto automóveis circulavam entre as rodovias e os aeródromos3 O novo mundo da General Motors com viadutos que per mitiam que o tráfego fluísse sem sinais de trânsito fazia com que Elwyn Brooks White da New Yorker sonhasse com a vida apenas sobre rodas viajando a 160 quilômetros por hora com mano bras até então impossíveis em direção às cidades oficiais do futuro impecável4 Na saída do pavilhão da General Motors os visit antes recebiam broches com a frase Eu vi o futuro A exposição não conseguiu fugir da realidade militar e econ ômica de 1939 A Alemanha não expôs na feira e o pavilhão so viético só foi aberto na edição de 1940 Os pavilhões da 238832 Tchecoslováquia Lituânia e Polônia continuaram abertos até mesmo após a tomada de seus territórios por exércitos invasores Enquanto isso visitas e vendas eram afetadas pelas condições econômicas ainda sob os efeitos da depressão econômica A feira foi à falência e em seu segundo ano passou para uma nova ad ministração Fechou após os dois verões planejados terem sido um fracasso econômico Mas a Feira Internacional de Nova York de 1939 e 1940 foi muito bemsucedida em mostrar as novas tecnologias da época O futuro seria caracterizado por produtos e processos inovadores desenvolvidos e fabricados por imensas entidades corporativas Uma porção de novas invenções o automóvel o rádio a imagem em movimento o avião a geladeira transformaram a vida co tidiana da mesma forma que modificaram as economias modernas Em todas as principais economias exceto na Alemanha a produtividade dos trabalhadores cresceu mais rápido de 1913 a 1950 do que nos 40 anos antes da Primeira Guerra Mundial Mesmo com duas guerras mundiais e crises econômicas a produtividade dos países industriais da Europa ocidental América do Norte e Oceania cresceu mais que o dobro5 Novas in dústrias e produtos importantes foram desenvolvidos e a organiz ação e o gerenciamento das empresas modernas sofreram uma revolução As novas indústrias Os novos produtos e processos industriais foram as fontes mais importantes para o rápido crescimento da produtividade entre 1914 e 1939 A Primeira Guerra Mundial acelerou o desenvolvi mento da indústria química e pouco tempo depois o plástico e as fibras sintéticas em especial o raiom chegaram ao mercado A 239832 utilização de eletricidade na produção superou outras formas de energia uma vez que as redes de eletricidade foram racionaliza das e aperfeiçoadas Foram desenvolvidas novas formas de ligar o aço e refinar o petróleo processos importantes principalmente para a fabricação e o funcionamento de automóveis e aviões Es sas inovações estimularam o crescimento da produtividade e já que a maioria delas exigia operações de larga escala estimularam também a expansão de grandes fábricas e empresas Para a maior parte das pessoas o principal indício do avanço tecnológico foi o aparecimento de novos eletrodomésticos Alguns já existiam antes de 1914 mas apenas como novidades muitos já eram lugarcomum em 1939 e portanto alguns historiadores falam de uma revolução dos bens de consumo duráveis nos anos entreguerras A produção e a utilização nos Estados Unidos ultra passaram as do resto do mundo Antes da Primeira Guerra Mun dial cerca de 10 dos produtos finais comprados pelos norte americanos eram bens de consumo duráveis Em 1929 essa pro porção caiu para 25 Quase todo esse aumento deveuse aos veículos motorizados e aos eletrodomésticos como rádios e ge ladeiras6 Alguns países desenvolvidos não estavam tão atrás dos Estados Unidos no que diz respeito à oferta de bens duráveis apesar de a renda menor a instabilidade política e as guerras re stringirem as operações de mercado A invenção da válvula eletrônica um ou dois anos antes da Primeira Guerra Mundial possibilitou a produção do rádio doméstico e transmissões regulares nos Estados Unidos Holan da e GrãBretanha comprovaram sua viabilidade comercial entre 1920 e 1922 Em 1939 já havia 28 milhões de rádios em lares dos Estados Unidos 14 milhões na Alemanha nove milhões na Grã Bretanha e cinco milhões na França A geladeira doméstica começou a ser comercializada nos Estados Unidos em 1916 Custava US900 quase o dobro de um Ford T e para que um tra balhador da indústria de renda mediana ganhasse esse valor 240832 levaria cerca de 18 meses No entanto até o fim da década de 1920 o preço médio do produto havia caído para menos de US300 valor bem abaixo do novo Modelo A da Ford um trabal hador comum podia agora pagar por uma geladeira com três meses de salário Nesse momento por volta de um milhão de unidades por ano passaram a ser vendidas às vésperas da Se gunda Guerra Mundial as vendas anuais atingiram quase três mil hões e metade dos lares norteamericanos tinha uma geladeira Aquecedores fogões elétricos e aquecedores de água se prolifer aram ao longo da década de 1920 tanto nos Estados Unidos quanto na Europa Os aparelhos elétricos menores como ferros de passar e aspiradores de pó também se tornaram produtos comuns para as famílias dos Estados Unidos e da Europa ocident al7 Isso sem falar nas pequenas conveniências aquelas cuja aus ência é difícil imaginar como o zíper as fitas adesivas e o pão de forma inventado em 1924 O avião estava no outro extremo do espectro de novos produtos acessíveis Antes da Primeira Guerra Mundial o avião era uma curiosidade pouco usada para o transporte A primeira cabine para passageiros fora exibida apenas alguns anos antes da guerra o que também estimulou o desenvolvimento do design Em 1930 as viagens aéreas tomaram vida própria Continuavam a ser um gasto proibitivo para a maioria das pessoas e o bimotor DC3 cuja capacidade era de 21 passageiros começou a operar apenas em 1936 Em 1939 no entanto o transporte aéreo já es tava estabelecido o que incluía as rotas transoceânicas da Pan American Airways O impacto do rádio da geladeira do avião e até mesmo do zíper na vida das décadas de 1920 e 1930 pode ser comparado ao do automóvel Os veículos motorizados transformaram a so ciedade concederam uma mobilidade individual nunca antes vista e livraram os cidadãos das desvantagens dos transportes 241832 públicos assim como certa vez as ferrovias os livraram da tirania dos transportes aquáticos A produção automobilística veio a ser o cerne das economias modernas Os veículos motorizados logo se tornaram a maior in dústria em todos os principais países desenvolvidos e muitas out ras se dedicavam a satisfazer a necessidade de recursos para a produção de automóveis Em 1929 quando os Estados Unidos produziam 54 milhões de motorizados essa indústria era a re sponsável por cerca de 50 do consumo nacional de estanho níquel e aço e mais da metade de todo o consumo de lâminas de aço Também utilizava por volta de 13 da produção nacional de alumínio e 34 ou mais da de vidro e borracha8 A indústria que mal existia 50 anos antes em 1913 os Estados Unidos produziam menos de meio milhão de carros agora dominava a economia O surgimento meteórico da indústria automobilística foi espe cialmente acentuado nos Estados Unidos A renda alta e as grandes distâncias tornaram o automóvel atraente em particular para as famílias norteamericanas Em 1921 mais de dez milhões de carros circulavam pelas estradas do país uma proporção de mais de dez veículos para cada europeu A indústria europeia foi prejudicada por contar com mercados domésticos menores e por ter começado mais tarde a produção em massa Assim no contin ente o carro era bem mais caro do que nos Estados Unidos Em 1922 um trabalhador norteamericano bem pago podia comprar um Ford T com o salário de dez semanas enquanto um francês nas mesmas condições demoraria por volta de um ano para eco nomizar dinheiro suficiente que permitisse ter um carro semel hante o Citroën 5 CV Os europeus no entanto logo aderiram à era automotiva Se antes para cada dez veículos motorizados registrados nos Estados Unidos havia um na Europa em 1930 após dez anos de vendas vertiginosas essa relação caiu chegando a cinco para um Em 242832 meados da década de 1930 as indústrias automotivas na Grã Bretanha passaram a ser o principal consumidor de recursos in dustriais como aço e estanho Mesmo a indústria automotiva não sendo tão importante para a Europa ocidental quanto para os Estados Unidos ela continuava a ser a mais importante indústria de todas as grandes economias O automóvel passou a caracterizar a indústria moderna Em 1939 havia 29 milhões de veículos motorizados nas estradas norteamericanas oito milhões na Europa e mais alguns milhões em outras partes do mundo Outros sete ou oito milhões de carros por ano passaram a ser produzidos e a tendência em todo o mundo era que esses números aumentassem As novas corporações A indústria automobilística deu ênfase às inovações adminis trativas e organizacionais que geraram as corporações modernas Entre 1914 e 1939 muitos dos avanços em termos de produtivid ade não teriam sido possíveis sem os novos padrões de empresas que se desenvolveram junto com os recémcriados produtos e tecnologias Grandes empresas não eram novidade O movimento em direção ao truste das décadas anteriores a 1914 criou alguns oli gopólios industriais Algumas dessas grandes empresas como as responsáveis pelas estradas de ferro foram um presságio das novas formas de organização uma vez que administravam in teresses econômicos complexos e interligados No entanto no iní cio muitos trustes e holdings eram simplesmente uma tentativa de restringir a competição semelhante ao que ocorria com os grandes negócios dos príncipes mercadores se voltarmos aos tempos da Companhia Britânica das Índias Orientais 243832 As novas empresas do período entreguerras no entanto agru pavam operações independentes em uma única corporação integ rada de plantas múltiplas com o intuito de solucionar problemas complicados de coordenação Atividades muito diferentes pesquisa design produção distribuição propaganda que antes eram desempenhadas separadamente foram reunidas em um ún ica firma e agora acompanhavam o produto da matériaprima à compra final passando pelo serviço de atendimento ao consum idor e pelos processos de financiamento Os avanços tecnológicos que aumentaram a escala da produção foram os responsáveis por parte da evolução das cor porações Em 15 anos entre 1914 e 1929 os altosfornos as usinas metalúrgicas e as fábricas de tinta dos Estados Unidos em média triplicaram ou quadruplicaram sua produção Em 1909 uma fábrica norteamericana típica de bicicletas contava com 46 tra balhadores e produzia sete unidades por dia Em 1929 a mesma fábrica passou a contar com 209 empregados e a produzir 45 bi cicletas todos os dias As novas economias de escala eram óbvias no ramo de automóveis O feito mais importante ocorreu quando Henry Ford inventou a linha de montagem em 1913 dez anos após a criação da sua fábrica de carros Ford e cinco anos depois do lançamento do Modelo T A inspiração veio das linhas de desmontagem dos empacotadores de carne de Chicago nas quais as carcaças dos an imais eram retiradas dos vagões de carga e rapidamente voltavam para os trens em latas caixas e engradados A linha de montagem reduziu o trabalho manual à simples repetição aumentou a velo cidade da montagem e transformou o processo de fabricação em produção de massa As linhas de montagem instaladas na sede da Ford em High land Park em 1913 reduziram o tempo de fabricação de um chassi do Modelo T de 12 horas para 90 minutos9 Em 1909 antes da implementação da linha de montagem uma fábrica comum 244832 contava com menos de 200 trabalhadores e produzia menos de dez carros por semana Em 1929 uma típica fábrica do ramo empregava cerca de mil trabalhadores e produzia mais de 400 carros por semana Embora existissem mais fábricas de carros nos Estados Unidos em 1909 do que em 1929 no primeiro ano a produção automobilística era de 126 mil unidades no segundo era de 54 milhões e um trabalhador médio dessa indústria produzia dez vezes mais carros em 1929 que em 190910 As fábricas desse porte e grau de produtividade não necessari amente exigiam que os donos fossem uma grande corporação Havia imensas fábricas têxteis por todo o mundo industrial mas em geral elas eram especializadas podendo ser inclusive a única fábrica de uma empresa A maioria das indústrias tinha uma série de etapas separadas para transformar a matériaprima para os mercados e cada passo era desempenhado por uma empresa inde pendente As plantações intensivas cultivavam o algodão a fer rovia o levava aos portos os navios o carregavam até os usuários as tecelagens o transformavam em tecidos e os atacadistas os vendiam para as fábricas de roupas ou varejistas Mesmo quando as unidades associadas eram grandes e estradas de ferro navios e empresas têxteis podiam ser muito grandes elas desempen havam uma ou poucas atividades relacionadas Na verdade li davam na maior parte das vezes com clientes e fornecedores à dis tância As tecelagens e as fábricas de roupa compravam o algodão ou tecidos de diversas fontes e vendiam seus produtos nos merca dos abertos Os fabricantes de carros perceberam que esse tipo de organiz ação não funcionava bem para eles Os automóveis utilizam cen tenas até milhares de componentes e partes diferentes Muitas das partes utilizadas para produzir um Chevrolet ou um Ford Modelo A eram específicas desses modelos e tipos de fabricação e não havia um mercado prontamente à disposição Isso fazia com que os fabricantes de automóveis ficassem à mercê dos 245832 fornecedores e em contrapartida que os fornecedores ficassem à mercê dos fabricantes de carros A fidedignidade de cada parte era crucial para a outra e não havia espaço para erros A natureza única de muitos dos componentes e peças também dificultava que fossem acordados preços justos pois os produtos tinham apenas um fornecedor e um comprador Dessa forma a relação das empresas de carros com os fornecedores e com os distribuidores era precária O atraso por parte de um fabricante poderia pôr em risco uma linha completa de carros da mesma forma que um at raso numa linha de carros colocava em risco a sobrevivência dos fabricantes de peças Henry Ford logo percebeu que necessitava de uma fonte con fiável de peças para que sua linha de produção funcionasse com eficiência Durante a Primeira Guerra Mundial ele começou a construir um enorme complexo integrado no rio Rouge nos arre dores de Detroit A fábrica passou a funcionar com 120 mil trabal hadores e revolucionou a manufatura moderna Dois histori adores especializados na indústria automotiva escreveram A Rouge que cobria uma área de 800 hectares e abrigava a mais longa linha de montagem do mundo era tanto o coração do império industrial de Henry Ford quanto um monumento ao empresário O ferro e o cobre chegavam em seus próprios navios recémescavados de suas próprias minas A borracha era importada de uma plantação que Ford tinha no Brasil A madeira era colhida em terras dele A Ford Motor Company tornouse a maior empresa privada do mundo11 O vasto e interconectado processo de produção desenvolvido por Ford era tão extraordinário que em muitas partes do mundo moderno a produção em massa veio a ser chamada de fordismo A General Motors uma holding desde 1908 quando foi cri ada foi a grande inovadora da indústria em termos gerenciais Durante a década de 1920 Alfred P Sloan e sua equipe criaram 246832 um sistema de gerenciamento sofisticado Dividiram a empresa em unidades de produtos claramente diferenciados Chevrolet Cadilac Oldsmobile e mais tarde criaram a GM produtora de tratores refrigeradores e aviões que operavam separadamente mas contavam com uma administração comum A GM passou a tomar conta de cada vez mais elementos da ca deia de produção e venda de seus carros Assim como ocorreu com a Ford a empresa encontrava dificuldades para assegurar e manter fornecedores confiáveis de peças essenciais No início o fornecedor independente mais importante da GM era a Fisher Body empresa que produzia os chassis de todos os carros No ent anto após uma década de dificuldades contratuais e outros prob lemas a GM passou a controlar a Fisher Body em 1919 A gerência da GM resolveu nunca mais permitir que suas imensas operações se tornassem reféns de fornecedores ou distribuidores pouco confiáveis Em meados da década de 1920 muitos dos fornecedores mais importantes da empresa como a AC Spark Plugs a Delco e a Fish er Body pertenciam totalmente à GM ou tinham com a firma um acordo de quase exclusividade A General Motors Acceptance Coorporation enorme subsidiária financeira da empresa emprestava dinheiro aos seus clientes para que eles pudessem comprar seus carros a tempo A corporação também se utilizava de sua posição influente nos ramos da pesquisa industrial produção e do marketing para introduzir novas linhas de bens de consumo como a geladeira doméstica Frigidaire Os gerentes aplicavam métodos novos na pesquisa no desen volvimento e no marketing Os fabricantes de automóveis que precisavam organizar e proteger os novos avanços técnicos pas saram a concentrar a pesquisa industrial sob seus próprios tetos em vez de comprála de laboratórios que poderiam revelar in formações confidenciais à concorrência O mesmo se aplicava ao marketing desses produtos cuja imagem era tão importante A 247832 General Motors e outros fabricantes de carros trouxeram o design a engenharia a propaganda e o marketing para dentro da rede corporativa As corporações desse novo tipo mantinham sua expertise em tecnologia gerenciamento e marketing dentro da empresa En quanto uma parte importante da história automotiva tenha se passado quando em 1929 mais de cinco milhões de carros foram produzidos nos Estados Unidos nas linhas de montagem de apenas 244 fábricas um fato mais importante era que três enormes firmas General Motors Ford e Chrysler fabricaram mais de 45 de todos esses carros As novas corporações eram fábricas múltiplas As empresas automotivas diversificaram as fábricas passando a abrigar mais do que apenas linhas de montagem Elas passaram a fabricar to dos os componentes das velas de ignição às janelas de vidro de seus automóveis As novas empresas automotivas também con tavam com uma estrutura administrativa que coordenava e ad ministrava o elaborado processo de produção e distribuição dos automóveis A corporação moderna separava o gerenciamento da propriedade já que a administração de um empreendimento de tamanha complexidade era uma atividade profissional que exigia especialistas qualificados As empresas familiares desse ramo es tavam numa posição desvantajosa em relação às sociedades anôn imas administradas por profissionais As corporações automotivas também eram integradas vertic almente unificando os sucessivos estágios de produção e dis tribuição A maior parte das indústrias inicialmente controlava um processo industrial específico e as empresas automotivas também começaram dessa forma comprando peças e montando os carros Mas com o passar do tempo elas passaram a se integ rar tanto de forma retrógrada controlando o fornecimento de re cursos não finalizados quanto de forma avançada gerenciando a distribuição e venda de seus produtos Essa integração vertical 248832 significava que um fabricante de carros deveria conter divisões para escavar minério de ferro e carvão fundir o aço produzir os chassis e as peças desenhar e montar os carros mandálos para todo o país por meio das ferrovias de propriedade da própria empresa anunciálos e vendêlos por meio de redes corporativas além de financiar as compras através do braço financeiro da empresa As corporações automobilísticas eram as líderes em produção e distribuição em massa e integração vertical Elas trouxeram para dentro da empresa uma série de atividades que anteriormente eram desempenhadas nos mercados abertos pesquisa design produção distribuição e marketing Essas empresas também eram supervisionadas por sedes adminis trativas que se especializaram em administração não na produção de carros propriamente dita Entre as novas corporações os fabricantes de carros eram apenas os de maior visibilidade Os Estados Unidos eram cada vez mais dominados por grandes corporações diversificadas e vertic almente integradas As novas empresas atuavam em negócios que dependessem de produção e consumo de massa inovação tecnológica e em geral de identificação do cliente Havia alguns fabricantes de bens de consumo não duráveis cuja marca era im portante como comida industrializada cigarros e artigos de higiene Armour Borden Pilsbury Campbell Swift American Tobacco e Procter Gamble O outro tipo encontravase nos bens de consumo duráveis nos automóveis é claro mas também em outros tipos semelhantes de produtos e apetrechos Firestone Remington Eastman Kodak Singer General Electric e Westing house Um tipo similar de empresa produzia maquinário para uso industrial e agrícola em oposição ao doméstico AllisChalmers American Can Deere International Harverster as metalúrgicas e as siderúrgicas Por fim havia as empresas de químicos Du Pont Alliad Chemical Union Carbide e todas as grandes empresas de petróleo12 249832 Esses gigantes da indústria transformaram a produção e o consumo de formas jamais imaginadas O design a propaganda e o marketing concentrados na corporação pareciam moldar a de manda dos clientes de forma a adequála aos fornecedores e não o contrário Além disso é evidente que o domínio corporativo sobre os mercados fez surgir o fantasma do comportamento anti competitivo Esse fato era verdadeiro tanto porque as novas cor porações agora internalizavam mais as suas operações quanto por causa do risco óbvio de choque entre poucas grandes empresas que dominavam um número cada vez maior de indústrias Na realidade embora a General Motors fosse uma líder em automó veis ela também pertencia a um grupo maior A Du Pont era a principal acionista da GM e Pierre Du Pont era o presidente do conselho da General Motors Em contrapartida a GM era a maior cliente da Du Pont pois utilizava grandes quantidades da tinta de secagem rápida da empresa no revestimento de seus carros Cada vez mais o que antes era governado pelos mercados parecia ser feito por relações exclusivas dentro de grandes corporações ou entre elas As novas corporações também trouxeram a pesquisa e o desenvolvimento de projetos para dentro de suas próprias empre sas Antes da virada do século a maior parte das inovações era desenvolvida por cientistas e engenheiros isolados ou por grupos de laboratórios independentes Quando a necessidade por novas pesquisas e desenvolvimentos aumentou o mesmo ocorreu com o desejo de manter as descobertas em sigilo Assim cada vez mais a pesquisa industrial passou a fazer parte das novas corporações e a ser feita em laboratórios internos controlados A era do inventor simbolizada por Thomas A Edison ruiu e foi substituída pela pesquisa e desenvolvimento de projetos corporativos As empres as preocupadas em controlar seus próprios horizontes tecnológi cos se expandiram de forma espetacular criando laboratórios científicos internos Em 1921 cerca de 2800 cientistas 250832 trabalhavam nesses laboratórios corporativos Até 1946 46 mil profissionais passaram a trabalhar nas instalações de pesquisas industriais e esses laboratórios internos abrigavam 93 de todos os cientistas empregados na indústria As contratações de cientis tas como parcela de funcionários empregados na indústria aumentaram sete vezes nesses 25 anos A imagem do inventor sozinho em um pequeno laboratório desapareceu e foi substituída pelos laboratórios da Bell Telephone ou por outras instalações semelhantes controladas pela Du Pont pela General Electric e empresas afins13 As atividades de pesquisa e desenvolvimento eram integradas principalmente nas indústrias dominadas pelas corporações mod ernas uma vez que os motivos que trouxeram a ciência para den tro das empresas eram os mesmos que as levaram a incorporar as outras etapas do processo industrial Em 1940 mais de 45 das equipes de pesquisa das fábricas pertenciam aos setores que tam bém eram os mais fortes da nova organização corporativa comida processada químicos petróleo borracha maquinário ferra mentas e equipamentos para meios de transporte14 As novas cor porações transformaram não apenas a forma pela qual os produtos eram feitos anunciados e distribuídos mas também a maneira como os processos e os produtos eram inventados desenvolvidos e desenhados Os Estados Unidos lideraram o caminho para as novas formas corporativas mas outros países industriais não ficaram muito at rás As trajetórias rumo às novas corporações no entanto vari aram15 Devido à longa tradição europeia de formação de cartéis era comum alguns desses conglomerados se organizarem em empresas integradas horizontalmente Por exemplo a sexta maior empresa alemã de químicos operou como uma federação frag mentada de empresas de 1916 a 1925 quando decidiu unilas formando a IG Farben16 As empresas britânicas tendiam a ser mais lentas na adoção de novas formas organizacionais talvez por 251832 se contentarem com as relações de longa data já estabelecidas com clientes e fornecedores das nações industriais mais antigas A França foi ainda mais lenta provavelmente por causa do atraso de seu mercado consumidor e do sistema financeiro Por mais que houvesse retardatários às vésperas da Segunda Guerra Mundial todas as principais economias industriais já estavam sob o domínio de grandes corporações diversificadas e integradas As novas empresas multinacionais As novas corporações também atravessaram as fronteiras As empresas multinacionais modernas apareceram pela primeira vez de forma significativa na década de 1920 A liderança novamente era dos Estados Unidos e o automóvel mais uma vez foi a quint essência desse tipo de empresa Empresas norteamericanas es tabeleceram ou compraram milhares de subsidiárias na Europa no Canadá e na América Latina Havia muito tempo que os investidores iam para o exterior em busca de lucros mas a maneira como essas buscas eram feitas es tava se transformando Durante a Era Clássica grandes quan tidades de capital fluíam da Europa ocidental A maior parte na forma de empréstimos nos quais as empresas ou governos es trangeiros simplesmente pegavam dinheiro para ser gasto da forma que bem entendessem Em outras palavras o controle dos investimentos estava nas mãos de quem tomava emprestado Al guns dos investimentos internacionais europeus eram de fato diretos cujo controle administrativo ficava a cargo do investidor europeu Mas quase nenhum dos investimentos diretos antes da Primeira Guerra Mundial seguia para o setor industrial Em geral eles se destinavam às matériasprimas e aos produtos agrícolas minas de cobre plantações de banana seringueiras campos de petróleo ou infraestrutura e ferrovias Esse também era o caso dos 252832 Estados Unidos que antes de 1914 enviavam a maior parte de seus investimentos diretos para a América Latina em especial para a produção primária As corporações norteamericanas integradas verticalmente ex pandiram seu horizonte no exterior introduzindo as empresas multinacionais de manufaturados MNCs Junto com elas iam novos produtos bem como novas técnicas de gerenciamento marketing e produção Logo os carros os utensílios e as marcas norteamericanos se espalharam pelos lares da Europa e do Canadá A Ford a Westinghouse e outras empresas utilizaram sua experiência na construção de redes de fábricas fornecedores e distribuidores pelos Estados Unidos para estabelecer estruturas similares na Europa Em certa medida o processo foi acelerado pelas barreiras comerciais europeias que por dificultarem as ex portações dos Estados Unidos para o Velho Continente deram motivos para que os norteamericanos pulassem os muros tari fários e instalassem fábricas locais No entanto o verdadeiro ím peto para a expansão das empresas fora o mesmo que prevaleceu dentro dos Estados Unidos a vantagem das corporações integra das em produzir e vender os bens de produção e de consumo de massa Em 1929 os investimentos diretos norteamericanos já haviam chegado aos US79 bilhões o equivalente a mais de 5 de toda a riqueza agrícola e industrial dos Estados Unidos em 1900 estava acima de 2 Cerca da metade desses investimentos era destinada à América Latina e altamente voltada para a produção e transformação de bens primários O resto na maior parte das vezes seguia para Europa e Canadá No entanto em ambos os casos o grosso dos investimentos norteamericanos se destinava ao setor fabril17 As empresas norteamericanas pos suíam cerca de 400 subsidiárias na GrãBretanha 200 na Ale manha e outras 200 na França 253832 As corporações norteamericanas abrangiam quase todos os novos campos dominados pelos produtos processos produtivos e formas corporativas do país Quatro dessas indústrias veículos motorizados maquinário químicos e produtos de borracha cor respondiam a mais da metade das empresas manufatureiras mul tinacionais embora significassem menos de 15 dos investimen tos domésticos na indústria Até 1930 as filiais locais da Ford e da General Motors já haviam se tornado as líderes da indústria auto motiva no Reino Unido e na Alemanha No Reino Unido a Ford e a Vauxhall da GM eram responsáveis por uma parcela signific ativa da produção nacional de veículos motorizados na Ale manha a Ford e a Adam Opel da GM controlavam metade de to do o mercado de automóveis18 A International Harvester East man Kodak Singer Otis Elevator General Electric e Gillete levaram sua produção e seus produtos para a Europa e foram to das muito bemsucedidas Mecanização no campo O declínio completo de uma agricultura ultrapassada no mundo desenvolvido foi mais um motivo para o rápido crescimento da produtividade Esse processo foi socialmente doloroso mas sem dúvida aumentou a eficiência econômica Antes da Primeira Guerra Mundial cerca de 13 da população de um país industrial padrão era formado por produtores agrícolas No fim da Segunda Guerra Mundial essa proporção caiu para menos de 16 e di minuía de forma rápida Tal tendência era evidente até mesmo nos dois casos mais extremos a França agrária e a GrãBretanha industrial Na primeira em 1913 os produtores agrícolas corres pondiam a 41 da força de trabalho proporção essa que caiu para 28 em 1950 no Reino Unido os números correspondentes eram 12 e 5 A migração dos trabalhadores das atrasadas 254832 fazendas para as avançadas indústrias e serviços no geral aumentou a produtividade embora tenha em parte destruído o estilo de vida e as comunidades rurais O surgimento de novas máquinas incluindo equipamentos agrícolas estava intimamente ligado à modernização da agricul tura A mecanização da produção agrícola norteamericana aumentou de forma dramática a possibilidade de alguns poucos trabalhadores talvez uma família somada à mão de obra sazonal de cultivar fazendas enormes Entre a Primeira Guerra Mundial e o fim da década de 1940 a produção por fazendeiro disparou nos Estados Unidos Por volta de 1915 cada agricultor demorava uma hora para produzir um bushel de trigo 13 de um bushel de milho ou três bushels de algodão Trinta anos mais tarde um único homem podia produzir três vezes mais trigo e milho e o dobro de algodão durante esse mesmo tempo Os rendimentos por hectare não aumentaram muito no decorrer do período mas o maquinário reduziu drasticamente a necessidade de trabal hadores agrícolas19 A agricultura europeia já deficiente devido à Primeira Guerra Mundial sofreu ainda mais com as importações de produtores mais eficientes do Novo Mundo da Austrália e dos países em desenvolvimento Antes da guerra a Europa produzia 56 do trigo mundial mas até o fim da década de 1920 passou a produzir apenas 39 Mesmo em termos absolutos a produção europeia de grãos encolheu no total a produção de trigo sofreu uma re dução de 20 em 15 anos de pouco antes da Primeira Guerra Mundial ao fim da década de 1920 A agricultura europeia mais extensiva como a produção de grãos sobreviveu apenas por causa dos subsídios do governo e da proteção comercial A mecanização completa da agricultura norteamericana e o advento da era do automóvel significaram o fim do estilo de vida rural tradicional nos Estados Unidos O símbolo desolador das di ficuldades que o país enfrentava no campo o êxodo de centenas 255832 de milhares de produtores agrícolas para a Califórnia fugidos das tempestades de poeiraa que atingiam os estados de Arkansas e Oklahoma foi apenas a expressão mais ilustrativa de como a in dustrialização definitiva esvaziou as terras cultiváveis do país Apesar de a experiência europeia ter sido menos dramática no continente milhões de produtores agrícolas também abandon aram as zonas rurais e foram para as cidades A vida rural típica europeia não sobreviveu ao agressivo ataque em conjunto de ali mentos importados mecanização e automóveis Alguma produção agrícola tradicional foi mantida ao longo da década de 1950 prin cipalmente nas áreas mais atrasadas ou por meio da ajuda fin anceira dos governos Contudo a Europa não era mais agrícola De forma brutal os trabalhadores norteamericanos e europeus foram obrigados a sair de onde eram abundantes e a rumar para onde eram necessários As novas sociedades As mudanças tecnológicas e organizacionais também afetaram a estrutura social e a política dos países industriais A mais óbvia foi o surgimento da classe operária e de partidos socialistas e comunistas aos quais esta se afiliava À medida que a indústria se transformava em fábricas e empresas enormes a força dos trabalhadores aumentava Em ger al as grandes fábricas e empresas eram mais propícias à form ação de sindicatos tanto por causa da concentração de pessoas o que tornava a organização dos trabalhadores mais efetiva quanto porque as grandes corporações não podiam cultivar os mesmos laços personalistas com seus empregados que as empres as menores Além disso as grandes corporações das novas in dústrias tendiam a ser menos hostis à sindicalização que as velhas indústrias ou que aquelas de produção em pequena escala Uma 256832 empresa como a General Motors apresentava uma série de carac terísticas que a tornava menos contrária aos sindicatos que por exemplo uma firma do ramo têxtil Primeiro as firmas automot ivas dependiam de operações integradas complexas e neces sitavam de uma mão de obra estável e confiável por esse motivo pagavam salários mais altos A sindicalização podia ajudar a garantir a estabilidade da força de trabalho e muitas vezes os sindicatos de forma consciente garantiam isso Segundo nas novas indústrias os gastos com salários correspondiam a uma parcela bem menor dos custos de produção que nas velhas in dústrias de trabalho intensivo grande parte do valor gasto na produção passou a ser em maquinário pesquisa desenvolvimento de projetos e marketing Terceiro o movimento do período en treguerras em direção à proteção industrial significou que aumentos nos salários não causariam ameaças competitivas por parte dos importados Quarto uma vez que essas empresas ten diam a dominar seus mercados com produtos que contavam com a fidelidade do consumidor elas podiam incluir em geral o aumento de salários nas mercadorias sem que houvesse grande queda nas vendas Os norteamericanos não iriam trocar os carros da GM por Fords se os preços aumentassem um ou dois pontos percentuais e especialmente não trocariam de empresa se tanto a GM quanto a Ford fossem sindicalizadas e os preços subissem ao mesmo tempo O fortalecimento dos sindicatos complementou a dominação crescente das grandes corporações na Europa ocidental e nos Estados Unidos As firmas se tornavam cada vez maiores e pas saram a controlar ainda mais seus mercados era natural que os trabalhadores tentassem fazer o mesmo para tomar o controle de suas condições de trabalho Poucos capitalistas acolheram os sin dicatos mas as novas corporações não eram tão violentas em re lação a eles quanto as empresas mais antigas menores e mais in tensivas em termos de mão de obra 257832 A Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão da década de 1930 deram um grande empurrão para o crescimento dos mo vimentos trabalhistas A guerra aumentou a influência dos trabal hadores em todos os lugares Por um lado a ida de milhões de jovens para o front gerou escassez de mão de obra e assim os que ficaram foram valorizados Por outro lado quase todos os movi mentos socialistas apoiaram os esforços de guerra de seus países durante e depois da batalha e assim foram recompensados com uma tolerância maior para as atividades operárias e com progra mas governamentais Além disso o choque causado pela Re volução Russa de 1917 e pelos movimentos de insurreição da Europa central logo após a Primeira Guerra Mundial levou muitos governantes a adotarem medidas que tornassem os movimentos e partidos trabalhistas mais moderados Este foi um preço justo a ser pago a fim de impedir o crescimento do bolchevismo em casa A depressão econômica da década de 1930 também impulsion ou o movimento trabalhista A crise tornou mais atraentes os sin dicatos que protegiam os operários em seus locais de trabalho e os partidos de base trabalhista que os protegiam na arena polít ica Após a catástrofe nazista de 1933 os comunistas deixaram de lado sua hostilidade em relação aos partidos socialistas menos re volucionários em nome de uma aliança com outras organizações progressistas Isso fez com que governos de esquerda e centroes querda fossem uma alternativa para muitos dos países europeus que continuavam democráticos Os fracassos dos partidos tradi cionais a ameaça fascista e a expectativa por governos de base trabalhista levaram massas de trabalhadores e outros para a esquerda A influência trabalhista cresceu de forma mais acentuada na arena política europeia Em quase todos os países os partidos tra balhistas eram o mais ou o segundo mais votado Em geral eles recebiam mais de 13 do total de votos Em um dos extremos es tava a GrãBretanha onde o Partido Trabalhista conseguiu 258832 apenas 30 dos votos em 1922 No outro extremo a Alemanha uma vez que os dois partidos socialistas juntos quase alcançaram a maioria dos votos em 1919 Ao longo da década de 1920 os vo tos para os socialistas aumentaram rapidamente Alguns dos que os apoiavam aderiram aos novos partidos comunistas principal mente na França e na Alemanha Na maioria dos casos os movi mentos socialistas conseguiam manter partidos fortes e uma in fluência política substancial no mínimo fazendo parte da coalizão governante em muitos países da Europa ocidental dur ante a década de 1920 A Grande Depressão levou governos de esquerda ou coalizões de esquerda ao poder na maioria das democracias europeias dur ante no mínimo um mandato de teste O Partido Trabalhista britânico a Frente Popular francesa e uma onda de governos so cialistas na Escandinávia reformularam o mapa político da Europa uma vez que os párias políticos de outrora foram convo cados a lidar com as condições desesperadoras Algumas exper iências fracassaram como os trabalhistas na GrãBretanha e de forma mais sangrenta a Frente Popular espanhola Outros deram início a uma evolução democrática duradoura como na Escand inávia onde o socialismo se solidificou em meados da década de 193020 Alguns também consideram o New Deal de Franklin Roosevelt e a transformação do Partido Democrata como um movimento semelhante em direção ao centroesquerda nos Esta dos Unidos Quaisquer que fossem as particularidades de cada nação em todas as democracias houve um claro movimento para a esquerda rumo ao qual seguia o cerne das classes trabalhadoras e muitos outros e o qual diversas vezes terminava com a tomada do poder em época de eleições A direita também reagiu de forma bem semelhante embora definitivamente oposta Surgiram novos tipos de movimentos de extrema direita de nomes diversos mas em última instância to dos foram inspirados pelo fascismo introduzido por Benito 259832 Mussolini na Itália e transformado pelos nazistas na Alemanha Em meados da década de 1930 na maior parte da Europa a nova direita fascista já havia se tornado poderosa As questões econôm icas foram o pano de fundo para o surgimento da ultradireita O que havia de diferente nessa nova direita não era o antissocial ismo ou o nacionalismo extremados nem mesmo o antissemit ismo mas a combinação dessas formas de reação tendo como base massas passionais capazes de serem mobilizadas nas ruas e nas urnas A ultradireita se fortalecia com os transtornos sociais e o descontentamento causado por mudanças estruturais nas eco nomias industriais Com a dominação de enormes corporações nos países industrializados a classe que os marxistas chamavam de petite bourgeoisie ou middle strata foi comprimida Os pequenos negócios se depararam com a concorrência violenta das grandes corporações enquanto os pequenos produtores agrícolas eram confrontados pelos importados baratos e pelo crescimento da agricultura de larga escala e a mecanização intensiva na pró pria Europa Quase todos os movimentos ultranacionalistas ou de ultra direita encontraram sua principal base de apoio nas massas de pequenos comerciantes ou pequenos produtores agrícolas ou em ambos Esses dois grupos foram os mais atingidos pelos desenvol vimentos do período entreguerras e tinham pouca voz nas institu ições políticas que haviam evoluído na direção da divisão de classes entre trabalho e capital prevista e estimulada por Marx Os comunistas e os socialistas eram os que mais se opunham às grandes corporações mas os pequenos empresários e proprietári os de terra não viam com muita simpatia as exigências dos movi mentos trabalhistas Tampouco os partidos conservadores e de tradição liberal com sua forte inclinação pela estabilidade dos negócios e a elite proprietária de terras tinham tempo para os comerciantes déclassé e agricultores destituídos 260832 Em algumas ocasiões a esquerda ou o centro e a direita tradicionais conseguiram o apoio da classe média e dos agri cultores mas isso era relativamente raro e onde acontecia a ul tradireita em geral havia poucos adeptos Infelizmente para a Europa e para o mundo o mais comum era que os pequenos comerciantes e agricultores descontentes se afastassem dos partidos tradicionais e se engajassem em movimentos de protesto que atacavam tanto os grandes empresários quanto os trabal hadores O fascismo e suas variações eram veículos perfeitos para os interesses de tais grupos dada a retórica peculiar do regime contra corporações trabalhadores e estrangeiros Em diversas nações onde muitos dos estabelecimentos comerciais pertenciam a judeus ou nas pequenas cidades repletas de mercadores judeus o antissemitismo da ultradireita europeia ecoou entre os empresários e produtores agrícolas Para esses grupos os concor rentes credores ou intermediários judeus eram parte do problema Muitos donos de pequenas lojas e agricultores de vilarejos re motos passaram a culpar as grandes corporações quando a eco nomia do período entreguerras começou a desmoronar A descon tente classe média também desdenhou dos partidos de esquerda cuja reação à crise era conduzida principalmente pelos interesses dos trabalhadores O descontentamento encontrou espaço nos movimentos reacionários que invadiram o sul o leste e o centro da Europa a partir do começo da década de 1920 Esses movimen tos propunham o fascismo como um caminho alternativo entre o capitalismo corporativista e o socialismo proletário Avanços e recuos A crença no desenvolvimento tecnológico como um gerador automático de crescimento econômico foi destruída nos anos 261832 entre as duas grandes guerras Essas décadas testemunharam al guns dos desenvolvimentos técnicos mais importantes da História tanto nos laboratórios quanto nas fábricas Muitos dos produtos que associamos com economias modernas foram in troduzidos ou implementados nas décadas de 1920 e 1930 Esse anos viram ainda o desenvolvimento completo da corporação moderna e da sua contraparte internacional as empresas mul tinacionais modernas Esse desenvolvimento econômico alimentou dois processos políticos poderosos Por um lado a vitória das grandes empresas na indústria moderna criou um movimento trabalhista influente Na década de 1930 era comum os governos incluírem partidos que tivessem as classes trabalhadoras como principal base de apoio Na verdade muitos desses governos eram liderados por partidos socialistas e alguns faziam alianças até mesmo com os comunistas Por outro lado a contínua modernização da Europa esmagou os setores médios do continente em especial os pequenos negó cios e os proprietários de terras Esses grupos marginalizados ger aram a base dos movimentos fascistas que vieram a governar a Europa após o fim do período entreguerras a Do inglês dust bowl tempestades de poeira que atingiram o centro dos Estados Unidos na década de 1930 causadas por secas prolongadas e anos de técnicas agrícolas inapropriadas NT 262832 8 O colapso da ordem estabelecida Em janeiro de 1936 o Left Book Cluba britânico encomendou a George Orwell uma pesquisa sobre as condições sociais do país durante a depressão econômica O resultado O caminho para Wigan Pier chocou a nação com uma descrição do desespero e da privação Orwell resumiu a perplexidade e a ampla miséria gerada pelo desemprego Jovens mineiros e dignos plantadores de algodão pasmos diante do destino com o mesmo tipo de espanto atônito que o de um animal numa armadilha Não conseguiam simplesmente entender o que acontecia com eles Foram criados para o trabalho e veja Parecia que nunca mais teriam a chance de trabalhar de novo1 O colapso econômico de 1929 foi único em termos de pro fundidade e amplitude Já houvera crises cíclicas antes mas nunca como essa A economia dos países industrializados per maneceu desintegrada por mais de cinco anos com uma redução de 15 na produção e o desemprego atingindo 14 da força de tra balho Crises financeiras e cambiais se reproduziram no mundo todo em um intervalo de semanas fazendo com que economias inteiras afundassem juntas Nenhuma das principais nações foi poupada Carl Sandburg chamou Chicago de a cidade de braços fortesb e a descreveu como a intempestiva vigorosa e alvoroçada risada dos jovens seminus suados e orgulhosos de serem aqueles que abatem os animais produzem as ferramentas empilham as me das de trigo constroem as ferrovias e transportam carga para a nação Mas agora Chicago não ria nem se orgulhava No inverno de 19301931 um repórter escreveu sobre a capital da indústria norteamericana Podemos cruzar a linda ponte da avenida Michigan à meianoite re pleta de luzes que fazem do lugar uma cidade de sonhos de beleza in comparável enquanto embaixo da mesma ponte a seis metros de nós moram dois mil semteto Homens maltrapilhos que tremem têm fome se enrolam em jornais velhos para não congelarem e dormem sobre os restos de estrume seco2 A recuperação capenga da década de 1920 havia chegado ao fim O fim do boom O fim começou de forma inocente com um declínio gradual do crescimento econômico fora da América do Norte Entretanto em 1928 as condições agrícolas dos principais países pioraram muito enquanto uma recessão começava a atingir grande parte da Europa e da Ásia Nos Estados Unidos o boom continuava Como investir no exterior se tornou menos atraente o capital norteamericano passou a atuar em casa e o mercado acionário cresceu de forma notória o índice Dow Jones Industrial Average aumentou praticamente sem interrupções de 191 pontos no fim de 1928 para 381 em setembro de 1929 Os preços das ações dobraram em pouco menos de um ano ul trapassando com folga qualquer ganho que pudesse vir de fora 264832 Assim o fornecimento de dinheiro norteamericano para o mundo diminuiu drasticamente No primeiro semestre de 1928 os novos empréstimos feitos pelos Estados Unidos aos estrangeir os somavam em média US140 milhões por mês Esse valor caiu pela metade entre meados de 1928 e 1929 atingindo US70 mil hões uma vez que o dinheiro passou a rumar para o mercado de ações Na segunda metade de 1929 a soma dos empréstimos es trangeiros caiu mais uma vez pela metade chegando a US35 milhões por mês Se considerarmos o dinheiro que voltava para os Estados Unidos como pagamento de dívidas surge um quadro ainda mais desolador se em 19271928 a saída líquida era de US900 milhões em 1929 e 1930 ela passou a ser de apenas US86 milhões líquidos por ano3 Quando o dinheiro norteamericano que alimentara o cresci mento econômico rumou de volta para casa ele transformou a recessão branda que atingia os outros países em uma crise sev era4 À medida que o capital passava a circular pelos Estados Un idos e a procurar pelo dólar os investidores se desfaziam das out ras moedas Os governos europeus ao se depararem com o sell offc nas bolsas estrangeiras reagiram da forma costumeira com aumento de juros e impondo austeridade Supostamente os juros mais altos atrairiam novamente o capital para a economia e a moeda enquanto medidas austeras limitariam salários e lucros tornando os produtos do país mais competitivos nos mercados mundiais Até mesmo as autoridades norteamericanas enfrentaram de safios sérios O Federal Reserve queria coibir em Wall Street o que chamava de comportamento excessivamente especulativo o que seria feito com o aumento da taxa de juros para dificultar os empréstimos e fazer com que o capital deixasse as ações No ent anto um aumento nos juros norteamericanos retiraria o capital da Europa e da América Latina tornando as condições comerciais ainda mais difíceis nessas regiões Caso o Fed mantivesse as taxas 265832 de juros estáveis o problema no mercado de ações continuaria se aumentasse os juros poderia piorar a situação econômica da Europa O Banco Central norteamericano acreditava que a prior idade era o compromisso doméstico e em agosto elevou as taxas de juros a um percentual que fosse capaz de convencer os invest idores a evitar mais especulações no mercado de ações De fato o mercado acionário começou a cair no fim do verão e início do outono de 1929 no hemisfério norte No fim de outubro o frenesi chegou ao fim Em três semanas o mercado perdeu tudo o que havia alcançado nos últimos 18 meses Em três meses a produção industrial norteamericana so freu uma redução de 10 e as importações de 20 Os preços das commodities despencaram de forma impressionante No verão de 1929 quando a contração econômica já pairava no ar cerca de um quilo de borracha custava 42 centavos no início de 1932 o preço caiu para três centavos e continuava em queda O valor de outros produtos primários também sofreu reduções quase tão drásticas O quilo do cobre por exemplo caiu de 32 para cinco centavos o quilo Os produtos agrícolas também foram atingidos de forma dura De meados de 1929 ao fim de 1932 ou início de 1933 época em que apresentou a pior queda o valor aproximado do quilo da seda diminuiu de US1040 para US250 o algodão passou de 32 para 12 centavos o quilo e o café de 56 para 16 centavos Não foram apenas os produtos dos países pobres que sofreram já que um bushel de milho caiu de 92 para 19 centavos e o bushel do trigo o cultivo mais importante do mundo que valia US150 em meados de 1929 passou a custar 49 centavos no fim de 19325 O valor dos produtos manufaturados também caiu mas não de forma tão rápida Enquanto os preços agrícolas norteamer icanos sofreram reduções de 52 entre 1928 e 1933 o valor dos materiais de construção e dos produtos à base de ferro caíram 18 Além disso os preços dos bens de consumo duráveis foram reduzidos em 86 266832 As nações produtoras de commodities foram atingidas de forma especialmente dura pelo efeito combinado de declínio nos preços queda súbita da demanda europeia e norteamericana e cortes nos empréstimos dos Estados Unidos Um mês antes do colapso da bolsa de valores norteamericana Argentina Aus trália Brasil e Canadá reagiram à crise desvinculando suas moedas do ouro O abandono das regras do padrãoouro por parte desses países foi preocupante mas no geral essas eram consid eradas economias menores que enfrentavam uma séria queda nos preços das commodities Os governos dos países industriais no entanto tinham outra ideia sobre o que fazer em relação ao declínio dos preços nada A sabedoria adquirida e a experiência do préguerra diziam que a recessão iria se autocorrigir Quando os salários tivessem caído o suficiente os capitalistas recontratariam os trabalhadores quando os preços tivessem caído o suficiente os consumidores começariam a comprar novamente À medida que preços e salári os diminuíssem a demanda aumentaria até o restabelecimento do equilíbrio O Fed recorreu às ferramentas monetárias usuais para impor um severo e rápido período de austeridade Essa política liquida cionista buscava forçar a queda dos preços e salários de forma a liquidar o excesso dos estoques de alimentos produtos e trabal hadores O secretário do Tesouro Andrew Mellon dera uma re comendação típica ao presidente Hoover Liquidar a mão de obra liquidar as ações liquidar os fazendeiros liquidar as pro priedades retirar do sistema o que está podre7 O Fed passou então a manter as taxas de juros relativamente altas 25 en quanto os preços caíam cerca de 15 ao ano e tentava supervi sionar sistematicamente os arranjos para resolver aquilo que chamava de um típico declínio cíclico Preços e salários se re duziriam e em seguida a economia responderia 267832 Entretanto os resultados foram problemáticos não apenas nos Estados Unidos mas em todo o mundo em desenvolvimento A produção industrial norteamericana caiu 26 de agosto de 1929 quando atingira o ápice a outubro de 1930 os preços so freram uma redução de 14 e a renda per capita diminuiu 168 As famílias perderam em média a renda acumulada dos últimos cinco anos ou mais e não havia qualquer perspectiva de um fim para o declínio O desemprego também crescia De 3 em 1929 a taxa de desemprego atingiu 9 em 1939 e 34 em 19319 A já fraca economia britânica afundou ainda mais trazendo junto os países bálticos e escandinavos que estavam sob a sua órbita comercial Durante um ano o Japão fora tragado pelos cortes nos empréstimos e pela redução de 43 no preço da seda seu prin cipal produto de exportação Apenas a França parecia imune à então já evidente crise mundial Entretanto no fim de 1930 a ex pansão francesa também já mostrava na melhor das hipóteses sinais de precariedade Os governos redobraram os esforços para convencer a todos que manteriam o compromisso com o ouro e a prudência fin anceira Os líderes dos principais bancos centrais passaram a se consultar com frequência para tentar buscar uma saída A questão das indenizações parecia progredir uma vez que numa conferên cia europeia liderada pelo empresário norteamericano Owen Young foi fechado um acordo sobre a regularização dos pagamen tos alemães O Plano Young também estabeleceu a criação do Banco de Compensações Internacionais para ajudar a suavizar o processo e a oferecer um local de cooperação financeira e mon etária10 Além disso em 1930 foi organizada uma conferência para a redução das barreiras comerciais No entanto essas iniciativas foram ineficazes principalmente porque os Estados Unidos não se envolveram de forma efetiva A maioria dos governos contava apenas com os próprios esforços para tirar seus países da crise A GrãBretanha em especial 268832 parecia buscar alternativas criativas Em 1929 uma adminis tração de minoria trabalhista liderada por Ramsay MacDonald chegou ao poder governando com o apoio dos liberais e o respaldo de alguns dos principais pensadores econômicos do país inclusive o próprio Keynes O governo estava de mãos atadas devido a pressões conflitantes de seus eleitores Por um lado se mantinha firme em seus compromissos com o padrãoouro com o equilíbrio do orçamento e com o livrecomércio por outro estava desesperado em suprir as demandas da indústria em colapso e dos trabalhadores desempregados No fim acomodouse apático por dois anos A Alemanha talvez o país mais afetado pela crise desintegrouse ainda mais Os dois anos de tradicionais medidas austeras foram bemsucedidos apenas em elevar o desemprego a índices astronômicos O governo de coalizão centroesquerda en trou em colapso no início de 1930 e foi substituído por meio de decreto governamental por Heinrich Brüning um proeminente político católico Brüning parecia não saber o que fazer e convo cou novas eleições para setembro de 1930 O resultado principal foi um grande aumento do apoio político aos dois partidos menos comprometidos com a ortodoxia o comunista e o nazista O primeiro obteve 13 dos votos um aumento de 10 em relação à eleição de dois anos antes o último conseguiu um aumento de 3 para 18 no número de votos O país se dividiu em facções rivais sendo que um dos principais campos de batalha foram as relações econômicas internacionais O governo quase não agiu para contraatacar o fracasso Essa inação fora imensamente custosa mesmo atitudes simples para estimular a economia teriam con seguido como mais tarde demonstraram algumas análises im pedir os avanços eleitorais dos nazistas11 O governo dos Estados Unidos também se voltou para as me didas tradicionais norteamericanas de reação a turbulências eco nômicas A primeira dessas reações foi a proteção comercial De 269832 meados de 1929 a início de 1930 o Congresso formulou o Ato Tarifário SmootHawley que prometia um aumento substancial nas barreiras comerciais norteamericanas Apesar de pedidos dos parceiros comerciais estrangeiros e de um abaixoassinado de 1028 economistas norteamericanos o Congresso aprovou a lei e o presidente Herbert Hoover a promulgou em junho de 1930 Em poucos meses outros países também começaram a impor suas próprias barreiras devido a razões próprias ou em retaliação12 Entretanto as economias não se recuperaram e o desemprego continuava a crescer Em 1933 o quinto ano da crise a taxa de desemprego nos Estados Unidos era de 25 e outros países ap resentavam índices semelhantes O tempo em que forças econôm icas naturais agiam para consertar a economia já fazia parte de um passado remoto Deflação e liquidaçãod longe de reaquecer a economia por meio de reduções de preços e salários para estimu lar o consumo e novos investimentos pareciam aprofundar ainda mais o declínio A recessão era impressionantemente profunda A produção in dustrial média despencou em níveis entre 20 e 50 em um per íodo de dois ou três anos Durante o declínio de 19201921 a economia norteamericana apresentou contração de 4 entre 1929 e 1933 a redução foi de 30 O colapso norteamericano foi um dos piores do mundo mas alguns países não ficaram muito atrás A redução total do PIB ou seja a queda do valor mais alto em 1928 ou 1929 ao ponto mais baixo em 1932 ou 1933 foi de 25 a 30 nos Estados Unidos Canadá Alemanha e em diversos países latinoamericanos e de 15 a 25 na França na Áustria e em diversas partes da Europa central e do leste13 O declínio se autoalimentava em grande parte devido ao que o economista Irving Fisher chamava de deflação de débito Dur ante a década de 1920 houve grande aumento nos empréstimos e até mesmo muitos consumidores passaram a se apoiar nos crédi tos parcelados para comprar os novos bens duráveis Quando os 270832 rendimentos despencaram ao mesmo tempo em que as obrigações das dívidas se mantiveram constantes os devedores passaram a não conseguir mais honrar seus compromissos A de flação forçou os devedores a reduzirem o consumo e os investi mentos o que levou a uma queda ainda maior nos preços No iní cio de 1934 numa cidade comum dos Estados Unidos mais de 30 daqueles que hipotecaram suas casas estavam atrasados no pagamento em Cleveland esse número chegava a 6014 O sofrimento era ainda mais pronunciado entre os países e cidadãos que se especializaram na produção de matériasprimas e produtos agrícolas cujos preços caíram duas ou três vezes mais que os de outros bens e naquele ano as hipotecas de cerca de 200 mil fazendas foram executadas O número de execuções foi de dez a 12 vezes maior que o normal em alguns estados foram tomadas de 25 a 30 de todas as fazendas entre 1928 e 193415 Os Esta dos Unidos como quase todos os países foram atingidos por muitas falências na área agrícola e descontentamento social no campo Mesmo assim os líderes políticos e empresariais continuavam a seguir as mesmas prescrições de outrora A visão comumente aceita dos ciclos econômicos afirmava que melhorias nas con dições levavam a excessos especulativos os quais precisavam ser removidos por um declínio inevitável A liquidação dos erros do passado era vista como algo positivo e as tentativas de suavizar seus efeitos contraproducentes Os liquidacionistas acreditavam que o boom de 1920 deveria ser desacelerado até que a economia tomasse novamente um caminho saudável Isso significava li quidar investimentos e empréstimos ruins e os produtos inúteis Era duro mas necessário Como Lionel Robbins afirmou em 1935 Ninguém gosta de liquidações propriamente ditas Mas quando os investimentos malfeitos e o alto endividamento ultrapassam um certo limite as medidas que adiam a liquidação apenas tor nam as coisas piores16 A qualidade intelectual dessa visão era 271832 impecável e parecia ter funcionado em crises anteriores Os tradi cionalistas argumentavam que a inação e mesmo a ação dos governos para acelerar os efeitos purgativos da crise ocasion almente poderia acelerar a recuperação Não somente não faça diziam os tradicionalistas aos governos fique parado Herbert Hoover atribuiu a paralisia da sua administração em parte ao predomínio dessas visões Os liquidacionistas do deixe como está liderados pelo secretário do Tesouro Mellon sentiram que o governo deveria se manter longe e deixar que o desmoronamento se autoliquide Ele defendia que até mesmo o pânico não era de todo ruim Isso expurgará do sistema o que está podre Os custos de vida e os padrões de vida altos serão re duzidos As pessoas trabalharão mais levarão uma vida mais de acordo com a moralidade Os valores se ajustarão e os empreen dedores recolherão os destroços dos menos competentes afirmou17 A base do apoio ao liquidacionismo não era apenas seu apelo moral e intelectual os empresários tinham motivos de seu in teresse para justificar as demissões e os cortes salariais A orto doxia era especialmente forte entre os empresários que de pendiam de grandes quantidades de mão de obra para os quais a diminuição dos salários era algo crucial As empresas de capital mais intensivo como as indústrias de automóveis maquinário e petróleo eram menos sensíveis aos custos de mão de obra e mais propensas a argumentar que os cortes salariais eram autodestru tivos por reduzirem o poder de compra do consumidor18 No ent anto muitos empresários endossavam naturalmente a ideia de que salários baixos eram necessários Supostamente a passagem pelos tempos duros traria a recom pensa na medida em que a deflação e as falências acabariam por criar as condições para a recuperação Mas a inação tradicional que no passado havia remediado economias em apuros não fun cionou Os preços e salários continuavam em queda os fracassos 272832 se proliferavam o desemprego crescia cada vez mais e não havia qualquer perspectiva de reviravolta O mecanismo autoequilib rador dos círculos empresariais pré1929 havia se quebrado Por que as soluções antigas não estavam funcionando Como Keynes previu a menor flexibilidade dos preços e salários era um indicador de que a economia do pósguerra não mais responderia a um colapso como antes Os oligopólios que cortavam nas vendas mantendo os preços altos passaram a produzir menos do que em condições normais os sindicatos que defendiam os salários altos à custa de um nível de emprego menor restringiram a oferta de trabalho As empresas e sindicatos com poder de mercado podiam produzir menos e vender a preços mais altos tornando ociosos trabalhadores e máquinas Nos setores que se aproximavam das condições de antes de 1914 como o agrícola os preços despen caram enquanto os fazendeiros continuavam a produzir tanto quanto antes ou ainda mais Mas o mecanismo purgativo orto doxo que deveria ter sido ativado pela Grande Depressão não fun cionava mais para muitos setores e não estava conseguindo reav ivar o crescimento econômico À medida que a nova rigidez de preços e salários se impunha a recuperação tardava e se arrastava O desemprego continuava alto em quase todos os países principalmente nos setores dominados pelas grandes empresas por trabalhadores sindicalizados ou por ambos mesmo que os salários reais o poder de compra dos salários em relação aos preços permanecessem estáveis ou até crescessem Nos Estados Unidos por exemplo o valor médio ganho por um trabalhador da indústria por hora de serviço caiu de 57 centavos em 1929 para 54 centavos em 1934 uma queda de 5 enquanto os preços dos bens de consumo caíram 20 Mesmo com 22 da força de trabalho desempregada e milhões de norteamericanos na busca desesperada por emprego os salários reais dos que estavam contratados eram bem maiores em 1934 do que em 1929 Em 1939 quando o desemprego nos Estados Unidos 273832 continuava na casa dos 17 os salários reais eram 15 mais altos que em 1934 e 40 maiores que em 1929 Salários reais tendiam a crescer ou a permanecer constantes nas indústrias dominadas por oligopólios serviços de utilidade pública finanças manufat uras mas sofreram uma redução de 15 a 25 em setores com petitivos tais como agricultura serviços domésticos e construção civil Enquanto mais de 25 da força de trabalho estava desempregada e implorava por uma oportunidade os salários de muitas fábricas eram altos e continuavam a crescer19 Não havia nada de condenável em capitalistas e trabalhadores terem se unido em busca de proteção mantendo preços lucros e salários o mais alto possível O fato de isso ter interferido nos mecanismos do ajuste ortodoxo não necessariamente os faz vilões O ajuste reduzia os salários de todos os setores da eco nomia de forma muito radical e rápida e embora a recuperação pudesse vir logo a dor e o sofrimento causados pela crise eram muito severos A habilidade de muitas empresas e sindicatos em resistir aos cortes de salários e preços tornou as fábricas mais ociosas e o desemprego maior do que seria mas também ofereceu salários e rendimentos melhores aos trabalhadores e capital a ser empregado nesses setores privilegiados A forma pela qual essa compensação era percebida dependia de qual lado se estivesse os ganhos dos que tinham emprego implicavam em certa medida manter os outros desempregados A deflação não era a solução e talvez fosse parte do problema Na verdade muitos governos ocasionalmente aproveitaram o empenho dos sindicatos e das empresas em manter os preços e os salários para aplicar medidas mais gerais que buscassem reverter o ciclo deflacionário Os regimes fascistas estimularam a form ação de cartéis como forma de evitar o colapso dos preços Os governos socialdemocratas se uniram a trabalhadores e capitalis tas com a finalidade de buscar soluções que sustentassem os preços e salários elevados O New Deal dos Estados Unidos se 274832 colocou como contrário à competição selvagem do mercado e utilizou novas leis e agências reguladoras para facilitar a organiza ção empresarial e trabalhista o que acreditavase fosse reverter a deflação Em muitos casos os próprios governos organizaram os mercados contra a deflação por meio de medidas como programas para manter os preços dos produtos agrícolas altos Todas essas medidas foram sem dúvida motivadas por um misto de preocu pação com a deflação e por um desejo mais pragmático por parte dos produtores de manter os salários e os preços que cobravam o mais alto possível Quando os governos decidiram agir no entanto a deflação já havia causado estrago Por volta de cinco anos após o início da de pressão econômica muitos preços especialmente os de produtos primários entraram em colapso Mas a deflação não ocorreu con forme previsto tampouco preparou o cenário para uma recuper ação como ocorrera nos anos anteriores a 1914 A rigidez de preços e salários teve um efeito contrário do que o prescrito pela ortodoxia A contração não abriu espaço para a recuperação Ouro e crise A deflação e a depressão econômica prolongadas desencadearam pânicos cambiais e financeiros que se disseminaram pelo mundo se espalhando às vezes de forma gradual como uma mancha às vezes com a velocidade de um raio O choque era levado de país a país por investidores volúveis que passavam seu dinheiro de um mercado a outro A proliferação de falências aumentou a ameaça de colapsos bancários e quando os depositários retiravam o din heiro eles transformavam o medo em realidade Começando em maio de 1931 o pânico se alastrou da Áustria a Polônia Hungria Tchecoslováquia e Romênia em seguida atingiu a Alemanha en tão Suíça França Reino Unido Turquia Egito México e Estados 275832 Unidos Em seis meses 18 sistemas de bancos nacionais en frentavam o abismo financeiro20 Cinco anos antes no verão de 1929 apenas quatro países passavam por crises bancárias con sideráveis cinco anos depois 33 enfrentavam essa situação Esses heróis das finanças escreveu Henrik Ibsen são como gotas num fio quando uma cai todas a seguem21 As con sequências do fracasso econômico foram profundas até o fim de 1933 metade das instituições financeiras privadas havia fechado22 O impacto não fora sentido apenas pelos banqueiros apreensivos os credores também pararam de fornecer dinheiro para quase todos os que queriam empréstimos As falências no campo ao assustarem banqueiros e investidores faziam desa parecer o dinheiro disponível para a indústria As dificuldades financeiras paralisaram os bancos nacionais e o sistema financeiro internacional A redução do consumo e dos investimentos por parte dos indivíduos e dos países altamente endividados reforçou o círculo vicioso dívidadeflação o que cau sou uma queda ainda maior nos preços mundiais23 A busca dos governos por alternativas contra a paralisia defla cionária e a ruína financeira atingiu um elemento aparentemente imóvel o ouro As tentativas de reduzir a inflação e aumentar os preços foram bloqueadas pelos compromissos dos governos com o valor ouro de suas moedas Como disseram dois historiadores econômicos a retórica do padrãoouro era a deflação e o seu ra ciocínio a inação24 Os países sob o padrãoouro precisavam deixar que os preços tomassem seu caminho uma vez que os preços nacionais eram apenas um reflexo dos internacionais Tentativas de imprimir dinheiro levariam os investidores a trocar as desvalorizadas moedas nacionais por ouro O padrãoouro não permitia manipulações monetárias e não havia outra opção Quase ninguém apoiava gastos mediante déficit a campanha de Roosevelt contra Hoover em 1932 atacou a pouca habilidade do presidente em equilibrar o orçamento e a proteção comercial 276832 outro remédio comum foi aplicada em diversos países e se mostrara ineficaz O ouro ditava as regras O ouro retardou a reação dos governos diante da crise e tam bém acelerou a proliferação de choques internacionais Um leve sinal de que os juros poderiam diminuir por exemplo na Bélgica fazia com que os investidores retirassem o dinheiro desse país e levassem para algum lugar mais seguro Quando o capital deixava a Bélgica a profecia se tornava autorrealizável o dinheiro se tor nava escasso devedores davam calote e bancos faliam Governos eram assediados por fluxos de capital especulativo em busca de segurança e lucros imediatos Como disse Herbert Hoover as mo vimentações de dinheiro e ouro eram um canhão desgovernado numa era de quedas turbulentas25 Longe de ter amortecido os choques o padrãoouro intensi ficou suas consequências Quando os investidores retiravam o dinheiro de um país eles precisavam vender a moeda nacional Para retirar o dinheiro da Bélgica por exemplo os especuladores precisavam trocar os francos belgas por libras e dólares mais con fiáveis ou por ouro Quando vendiam os francos para o governo belga em troca de ouro ou dólares as autoridades ocasional mente poderiam ficar sem um dos dois ou sem os dois e precis ariam abandonar o padrãoouro Nessas circunstâncias o governo aumentava a taxa de juros da Bélgica para convencer os invest idores a permanecerem com os ativos em francos títulos do gov erno belga por exemplo e evitar uma evasão da moeda Nesse sentido o padrãoouro exigia que os governos nacionais acei tassem passivamente as exigências financeiras internacionais para manter a taxa de câmbio mesmo que isso significasse um sacrifício das condições locais Países com sistemas bancários fracos eram particularmente suscetíveis a colapsos diante da força dos ataques financeiros e cambiais Nos locais onde os bancos estavam ligados à indústria como em grande parte da Europa central o infortúnio financeiro 277832 era rapidamente transmitido para o resto da economia Bancos que contavam com dinheiro de fora em 1930 metade dos de pósitos dos bancos alemães pertencia a estrangeiros estavam particularmente expostos já que os clientes podiam retirar esse dinheiro com facilidade Mas a vulnerabilidade aos impulsos fin anceiros era universal e contribuiu para a velocidade com que a depressão econômica se tornou e permaneceu global26 Pressões financeiras e cambiais deram início a uma série de crises nacionais que levaram à paralisação do sistema monetário e financeiro internacional Em maio de 1931 o Creditanstalt o maior banco da Áustria e havia muitos anos associado ao Roth schild foi à falência O governo interveio imediatamente e tentou obter apoio de outras capitais europeias mas não conseguiu Mesmo em situações extremas como essa as falhas políticas do entreguerras influenciaram Antes de os franceses terem ajudado a conter os efeitos da falência do Creditanstalt os principais políticos da França exigiam que a Áustria abandonasse a plane jada união alfandegária com a Alemanha e os belgas e italianos apoiaram os franceses nisso27 O problema logo se tornou conhecido Ninguém manteria de pósitos em bancos que ameaçavam fechar Dessa forma diante do menor sinal de dificuldade se iniciava uma corrida aos bancos Quando o banco de alguma nação ameaçava entrar em colapso os clientes agiam rapidamente para retirar o dinheiro do país nin guém queria deixar fundos num sistema financeiro em processo de desintegração Não havia juros altos ou austeridade que at raísse o dinheiro de volta para a moeda de um país à beira de um pânico bancário e rumores de que a moeda seria desvinculada do ouro e desvalorizada aumentavam a pressa para a troca de ações títulos e dinheiro por ouro ou alguma moeda confiável O círculo vicioso se autoalimentava expectativas quanto a uma desvaloriza ção poderiam causar pânico nos bancos ao mesmo tempo em que o pânico nos bancos desencadeava desvalorizações As crises 278832 bancárias e cambiais interligadas afetaram o mercado de créditos já que os empréstimos praticamente cessaram e até mesmo as empresas que queriam se expandir não tinham como tomar emprestado para fazêlo Na mesma semana da falência do Creditanstalt em maio de 1931 a corrida aos bancos foi intensa na Áustria e chegou a atingir a vizinha Hungria Em um mês chegou à Alemanha Os invest idores retiravam o dinheiro dos bancos em ouro ou dólares o mais rápido que podiam evitando qualquer moeda nacional ques tionável Assim as economias interconectadas foram caindo em efeito dominó Tentando conter o desastre o presidente Hoover em 20 de julho de 1931 propôs a suspensão dos pagamentos de indenização de guerra por um ano Ainda assim os depositários em toda a Europa central temiam que as falências dos bancos at ingissem a Alemanha e fizessem com que o país abandonasse o padrãoouro E eles estavam certos Mais uma vez a busca pelo apoio dos franceses e britânicos fora complicada por hostilidades políticas Para ajudar os alemães a lidar com a crise financeira os franceses exigiam o desarmamento e um pagamento adicional de indenizações Mas essas manobras políticas levaram mais tempo do que a Alemanha dispunha Em julho de 1931 o governo alemão fechou os bancos e sus pendeu as conversões da moeda para o ouro ou câmbio es trangeiro Oficialmente a taxa de juros mantinhase constante mas no momento era praticamente impossível trocar dinheiro alemão por ouro dólares libras esterlinas ou qualquer outra coisa que não produtos do país28 A decisão alemã despertou ainda mais medo Medo este que logo se voltou para a base financeira da Europa a GrãBretanha No início do segundo semestre do ano quando os investidores tentavam se livrar da libra o governo britânico lutava para sustentála por meio de medidas austeras No fim de agosto o governo trabalhista entrou em colapso e foi substituído pelo 279832 Governo Nacional também liderado por Ramsay MacDonald mas agora contando com um apoio significativo dos conser vadores O novo governo retirou a libra do ouro quase de forma instantânea e pela primeira vez em tempos de paz desde 1917 quando o padrão fora decretado no país por Sir Isaac Newton a moeda sofreu uma desvalorização A libra caiu cerca de 30 em relação ao dólar em poucos meses do valor histórico de US486 para US325 Quando a libra foi desvalorizada uma série de outros países seguiu a Grã Bretanha e abandonou o ouro os Estados escandinavos e bálticos que tinham ligações fortes com o mercado britânico depois o Japão e então a América Latina A maioria desses países também impôs barreiras consideráveis ao comércio A GrãBretanha deix ou para trás cerca de um século de livrecomércio Em fevereiro de 1932 o Governo Nacional impôs alta proteção tarifária depois negociou relações de preferência para o Império e uns poucos parceiros comerciais favorecidos Após décadas resistindo ao pro tecionismo o Reino Unido criou um bloco imperial que com partilhava de um sistema de preferências comerciais e um bloco esterlino que partilhava de moedas desvalorizadas O comércio com o resto do mundo logo caiu de forma significativa mas as ex portações para a área esterlina o Império os países nórdicos e bálticos a Argentina e alguns outros cresceram de 50 a 60 em relação ao total de exportações britânicas29 Outras potências estreitaram os laços econômicos com suas colônias e em 1931 o Japão expandiu seu domínio colonial ocupando e anexando a Manchúria no norte da China No fim de 1932 apenas dois grupos de países efetivamente permaneciam com o padrãoouro os Estados Unidos e um bloco liderado pela França que incluía Bélgica Luxemburgo Holanda Itália e Suíça Os países que continuavam sob o ouro enfrentavam fortes pressões competitivas tanto em seus próprios mercados quanto em terceiros uma vez que a desvalorização tornou os 280832 produtos japoneses britânicos e de outras localidades bem mais baratos E as barreiras tarifárias levantadas pelos impérios europeus pelo Japão e sua expandida esfera imperial pelos Esta dos Unidos e pela América Latina reduziram ainda mais as opor tunidades comerciais A utilização de moedas como uma arma competitiva por parte dos governos introduziu outras incertezas na ordem financeira e monetária A Guerra da Manteiga entre a Nova Zelândia e a Di namarca fora um sintoma Os dois países eram os principais fornecedores de manteiga à GrãBretanha produto que em con trapartida era a base das exportações das duas nações No começo de 1930 o governo da Nova Zelândia desvalorizou a moeda do país em cerca de 5 em relação à libra esterlina fato que concedeu a seus exportadores uma vantagem em relação aos produtores da Dinamarca Os dinamarqueses acreditavam que se imitassem a desvalorização britânica de setembro de 1931 eles po deriam restabelecer o equilíbrio mas a Nova Zelândia também seguiu o enfraquecimento da libra britânica Em setembro de 1932 os dinamarqueses desvalorizaram sua moeda em mais 5 em relação à libra Cinco meses mais tarde a retaliação da Nova Zelândia foi uma desvalorização de 15 e um mês depois os din amarqueses responderam enfraquecendo a moeda em 17 No fim de 1933 as duas moedas já haviam retornado ao valor inicial mas quatro anos de desvalorizações competitivas acirraram as tensões políticas e as pressões protecionistas em ambas as nações30 A situação econômica continuava a se deteriorar No fim de 1932 o comércio mundial mal correspondia a 13 de seus índices em 1929 Os mercados financeiros internacionais encontravamse praticamente em um estado de completa inatividade As prin cipais nações comerciais do mundo se voltaram para o protecion ismo Nos Estados Unidos a produção industrial correspondia à metade de seus índices em 1929 e o desemprego mantinhase na 281832 casa dos 24 e na Alemanha na casa dos 4431 A América Lat ina havia sido atingida por um duplo malefício queda dos preços e da demanda Diante dos dois problemas a região foi obrigada a reduzir as exportações para mais da metade do volume dos três primeiros anos da depressão econômica Quase nenhum dos países da região conseguia mais cumprir suas obrigações com a exceção da Argentina ávida por permanecer nas boas graças de seus parceiros financeiros e comercias britânicos32 Muitas vozes já pediam a reafirmação dos compromissos com o ouro Nos Estados Unidos um mês antes de deixar o cargo o presidente Hoover referiuse com desprezo àqueles que iriam in flar a moeda e consequentemente abandonar o padrãoouro para que com a desvalorização pudessem fazer parte de uma guerra econômica global com a certeza de que isso levaria à destruição completa tanto em casa como no exterior33 A França e seus vizinhos participantes do bloco do ouro não abandonaram sua ligação com o metal até 1936 mais de sete anos depois do iní cio da crise As autoridades dos países que continuavam sob o ouro en tretanto sofriam com a contradição existente entre o desejo de ver a economia fluir e a necessidade de defender suas moedas Nos Estados Unidos por exemplo os tomadores de decisão foram atacados pela desvalorização da libra em relação ao ouro ocorrida em outubro de 1931 Os investidores trocaram o dólar pelo ouro que era mais seguro enquanto os clientes dos bancos norteamer icanos retiravam seus depósitos prevendo uma crise financeira O Fed reagiu à moda clássica do padrãoouro em uma semana aumentou a taxa de juros de 15 para 35 com a finalidade de manter o dinheiro nos bancos e no país A lógica era clara porém perversa Sem o compromisso com o ouro o Fed poderia ter baix ado os juros e estimulado a economia o que facilitaria emprésti mos gastos e investimentos Em vez disso aprisionado pelas exigências do padrão o Banco Central mais importante do mundo 282832 impôs políticas monetárias mais austeras e restritivas jamais antes aplicadas34 Em novembro de 1932 as eleições norteamericanas troux eram Franklin D Roosevelt à Presidência e o domínio do Con gresso pelos democratas lhe deu algo como um passe livre O fato estimulou os internacionalistas que haviam sido postos de lado em 1920 pelo isolacionismo norteamericano afinal o próprio presidente eleito havia sido o candidato derrotado a vicepresid ente de Wilson nas eleições de 1920 A vitória esmagadora dos democratas provocou um pânico cambial O partido contava com o apoio dos produtores agrícolas que exigiam a desvalorização desde antes do início da depressão econômica Em 1933 os preços agrícolas mal chegavam à metade dos cobrados em 1928 já sob influência da depressão econômica Outros preços foram reduzidos ainda mais 8 para os bens de consumo duráveis e 18 para os produtos feitos de metal35 En quanto os quatro meses entre a eleição e a posse se arrastavam Roosevelt foi cuidadoso em não dizer o que faria quanto ao valor do dólar em relação ao ouro mas alguns membros de seu gabine te não foram tão discretos Henry Wallace um proeminente líder agrícola já havia anunciado cerca de seis meses antes de a nova administração tomar posse falando como o novo secretário de Agricultura que a decisão sábia seria se distanciar do ouro ainda mais do que o feito pela GrãBretanha36 Logo que começaram as sessões o Congresso tomou medidas para forçar o dólar a se desvincular do ouro Tudo indicava que de uma forma ou de outra o dólar seria desvalorizado Dessa maneira em fevereiro iniciouse uma corrida aos bancos dos Estados Unidos que se espalhou por todo o país e durou até a véspera da posse de Roosevelt em 4 de março de 1933 Como ocorrera na Áustria Alemanha e GrãBretanha as expectativas de uma desvalorização levaram muitos a trocar dólares por ouro Quando chegou à Casa Branca Roosevelt fechou os bancos da 283832 nação e anunciou medidas de emergência para estabilizar o sis tema financeiro O dólar permaneceu estável por duas semanas pois tudo indicava que a nova administração retomaria o ouro No entanto em meados de abril o presidente confirmou as expect ativas dos especuladores e liberou o dólar da relação fixa com o metal Durante três meses a administração Roosevelt forçou a des valorização do dólar fazendo a moeda norteamericana que valia então US342 em relação à libra esterlina voltar aos US486 preço de antes da desvalorização da moeda britânica O dólar flu tuou em geral em queda durante os seis meses seguintes até que em fevereiro de 1934 Roosevelt retomou a taxa de US35 a onça de ouro mais de 60 abaixo do valor em que permanecera dur ante anos US2067 a onça Como se desejasse reforçar quais eram as suas prioridades em meados de 1933 Roosevelt de fato deu um fim à Conferência da Economia Global em Londres que vinha buscando formas de cooperação monetária internacional Em uma forte declaração em 3 de julho o presidente disse que as boas condições econômicas de uma nação são um fator mais importante para seu bemestar do que o valor de sua moeda Ele atacou o velho fetiche dos assim chamados banqueiros inter nacionais que estava disse ele sendo substituído pelos esforços em organizar as moedas nacionais com o objetivo de conceder a elas um poder de compra estável37 Seria difícil imaginar uma re jeição mais incisiva às regras tradicionais da economia clássica in ternacional No dia em que o dólar foi retirado do ouro o então diretor do Departamento de Administração e Orçamento do governo norteamericano Lewis Douglas comentou decepcion ado Este é o fim da civilização ocidental38 Em retrospecto a maior parte dos analistas aceitou o argu mento de Barry Eichengreen que adotou o epíteto de Keynes para o ouro como título de sua análise da economia do entreguerras Golden fetterse 284832 O padrãoouro é a chave para se entender a Grande Depressão O padrãoouro da década de 1920 preparou o palco para a depressão econômica da década de 1930 ao aumentar a fragilidade do sistema financeiro internacional O padrãoouro foi o mecanismo transmissor do impulso desestabilizador dos Estados Unidos para o resto do mundo Ampliou o choque desestabilizador inicial e foi o principal obstáculo para ações de neutralização a atadura que impediu os to madores de decisão de reverter o fracasso dos bancos e de conter a di fusão do pânico financeiro Devido a todos esses motivos o padrão ouro internacional foi o fator central da depressão econômica mundi al A recuperação só foi possível pelos mesmas razões após o aban dono do padrãoouro39 Das trevas Em 1933 a economia mundial estava morta O comércio os in vestimentos e os empréstimos apresentavam índices bem menores que os anteriores A atividade econômica em todos os países fora reduzida a níveis nunca antes vistos era o fim dos ganhos suados da década de 1920 Batalhas econômicas se per petravam pela Europa e o Atlântico repudiavamse as dívidas de guerra guerras comerciais eram declaradas as desvalorizações competitivas e o controle cambial eram celebrados e as indeniza ções negadas Tudo isso alimentava o ambiente de desespero po larização política e recriminações mútuas No nadir econômico da Grande Depressão os governos passaram a se livrar de políticas fracassadas e a tentar outras novas Sentindo a oportunidade de influenciar os tomadores de decisão e a opinião pública John Maynard Keynes entrou em ação Zombou da imbecilidade da ortodoxia e de seu compromisso com o liquidacionismo Seria eles acham a vitória do demônio da iniquidade se tanta prosperidade não tivesse sido logo contrabalançada pela falência gen eralizada Precisamos diriam do que chamam educadamente de uma 285832 liquidação prolongada para nos colocar no caminho certo A liquid ação diriam eles ainda não fora completada Mas com o tempo será E quando o tempo suficiente para finalizar a liquidação tiver passado nós estaremos bem novamente40 Ele não acreditava em nada disso As vozes que nos dizem que o caminho de saída será encontrado na economia rígida e na privação sempre que possível da utilização do potencial da produção mundial são as vozes dos tolos e loucos41 Keynes aprovou quando o Reino Unido abandonou o ouro movimento que ele chamou de um acontecimento abençoado42 Diante do desastre econômico deixou de lado até mesmo seu apoio de décadas ao livrecomércio Nós não desejamos ficar à mercê das forças mundiais operando ou tentando operar na busca de um certo equilíbrio uniforme de acordo com os ideais do capitalismo laissezfaire afirmou ao público irlandês Keynes continuou a ser um internacionalista em termos culturais e in telectuais mas a situação extremamente difícil enfrentada pela população de todas as nações exigia atenção em primeiro lugar para as condições nacionais Ideias conhecimento arte hospitalidade viagens esses são os ele mentos que por natureza deveriam ser internacionais Mas deixem que os bens sejam produzidos em casa quando sensato e conveni ente e acima de tudo deixem que as finanças sejam primordial mente nacionais43 Keynes perdeu as batalhas da década de 1920 sobre a Confer ência de Versalhes a política monetária e o retorno da Grã Bretanha ao ouro mas o fracasso espetacular da economia mun dial parecia provar que ele estava certo O ouro definitivamente não despertava mais simpatia Havia tempos os produtores agrí colas reclamavam do sistema Nesse momento os trabalhadores que pagavam um preço alto nos índices de desemprego pela 286832 deflação onipresente aderiam à causa O líder trabalhista britânico Ernest Bevin afirmou que apenas as classes que viviam de renda continuavam ganhando com a vinculação da libra ester lina ao ouro e que a deterioração das condições de milhões de trabalhadores era um preço alto demais a ser pago para sustentar a atividade bancária internacional em Londres44 Os industri ais também eram favoráveis à liberdade de desvalorização que poderia os ajudar a competir com os estrangeiros Assim como Keynes muitos economistas desafiaram o padrãoouro Nos Estados Unidos um dos mais importantes foi George Warren economista de Cornell especialista no setor agrí cola Warren passou a vida estudando preços nos Estados Unidos especialmente os agrícolas Reuniu informações de jornais sobre preços catálogos contratos e centenas de outras fontes em um empenho obsessivo para descobrir como e por que eles oscilavam Após décadas de estudo Warren passou a acreditar que quando o valor do ouro em dólares diminuía o preço dos produtos agrícolas caía ao passo que quando o valor do ouro em dólares aumentava o preço dos cultivos subia Quanto mais fraco o dólar em relação ao ouro mais altos eram os preços agrícolas norteamericanos Warren tinha muitas explicações para as oscilações dos preços mas a maioria delas estava incorreta Entretanto ele estava con vencido de que reduzir o valor do ouro em relação ao dólar aumentaria os preços agrícolas A forma de fazer isso seria aban donar o padrãoouro e desvalorizar Os mais sérios economistas norteamericanos riram de War ren As ideias dele encontravam pouco espaço na teoria já es tabelecida e as evidências eram na melhor das hipóteses circun stanciais Mas quando Franklin Roosevelt tomou posse em 1933 estava desesperado para fazer algo em relação ao que chamava de ameaça de uma revolução agrária no país45 A decisão de retirar o dólar do ouro e desvalorizálo fora influenciada pelo homem ri dicularizado como Warren dólar de borracha 287832 No fim Warren dólar de borracha estava certo mesmo que pelos motivos errados Assim que o dólar caiu os preços dos produtos agrícolas e outras commodities primárias dispararam Em março de 1934 antes do início da desvalorização os fazendeiros norteamericanos ganhavam 35 centavos por bushel de trigo Em julho já recebiam 87 centavos um aumento de cerca de 150 em poucos meses O índice Moody de preços de commodities básicas que mede uma variedade de preços de produtos agrícolas e matériasprimas cresceu cerca de 70 no decorrer de três meses de abril a julho de 1933 O aumento nos preços fora eficiente para baixar a maré de crises aliviou os produtores agrícolas e outros devedores revertendo a espiral de deflação e agonia financeira além de restabelecer a confiança dos agentes econômicos no mercado Enquanto os três meses de des valorização progrediam o índice Dow Jones Industrial Average cresceu mais de 70 refletindo a nova percepção do ambiente46 Livre das obrigações do padrãoouro os Estados Unidos con seguiram expandir a provisão de dinheiro aumentar os preços e fazer com que a economia retomasse seu curso No primeiro ano após a desvalorização do dólar o Federal Reserve aumentou sua base monetária em 12 e manteve esse índice de crescimento até 1937 quando a oferta de dinheiro era cerca de 50 maior do que em março de 1933 Com mais dinheiro circulando os preços cres ciam continuamente e a reversão da deflação fora útil para tirar a economia da depressão Os gastos geradores de dívida tiveram um impacto insignificante ou nenhum uma vez que a administração Roosevelt só começou a experimentar políticas fiscais de fato após 1938 e 1939 quando o pior da depressão econômica já havia passado A recuperação quase completa dos Estados Unidos ocor reu devido ao relaxamento da política monetária o que só foi pos sível graças à desvalorização De um certo ponto de vista se a política não tivesse mudado a economia norteamericana 288832 continuaria estagnada e em 1942 teria metade do tamanho que tinha na época47 A experiência norteamericana foi simbólica o compromisso com o ouro aumentou e aprofundou a estagnação e desvincularse dele deu início à recuperação O contraste pode ser observado por meio de uma comparação entre os países que abandonaram o padrãoouro no início da depressão econômica e aqueles que o mantiveram até mais tarde Em 1930 e 1931 os preços no atacado em todos os países sob o padrãoouro caíam cerca de 13 ao ano A deflação praticamente terminou para a GrãBretanha e para to dos os países que abandonaram o ouro no fim de 1931 já que sem a paridade fixa no metal essas nações estavam livres para estimu lar suas economias Enquanto isso a deflação continuava a ator mentar os mercados cujas moedas continuavam fixas O impacto não era sentido apenas nos preços entre 1932 e 1935 a produção industrial dos países que abandonaram o ouro cresceu até 6 ao ano ao passo que a mesma produção apresentava queda anual de 1 nos Estados ainda sob o regime48 Enquanto novas políticas eram adotadas em 1934 iniciouse uma recuperação gradual que continuou até 1937 Com as eco nomias de volta à vida as nações ocidentais tentavam reconstruir suas relações internacionais no campo do comércio das finanças e dos investimentos A administração Roosevelt levou britânicos e franceses a firmarem um acordo em que as três partes se compro metiam a apoiar mutuamente suas moedas O acordo tentava con struir um sistema monetário internacional diferente sem os grilhões do padrãoouro Logo Bélgica Holanda e Suíça também passaram a fazer parte e de forma quase instantânea após a Lei dos Acordos Recíprocos de Comércio de 1934 ter autorizado o Executivo a reduzir suas tarifas em troca de reduções feitas por outros países as barreiras norteamericanas ao comércio começaram a ser derrubadas 289832 Os governos ocidentais também adotaram programas domésticos para conter a explosão do desemprego facilitar a or ganização sindical e incorporar os movimentos trabalhistas à política O New Deal norteamericano e o governo da Frente Pop ular francesa eram apenas os exemplos mais proeminentes de tais tendências Uma evolução similar e até mesmo mais declarada ocorreu na Escandinávia onde governos socialistas lideraram o movimento em direção à liberalização do comércio Sem a carnifi cina econômica causada pela depressão emergiram os primórdios do Estado do bemestar social entendidos como uma aceitação geral da provisão por parte dos governos de seguros sociais políticas sociais básicas e gerenciamento macroeconômico na tentativa de evitar a volatilidade da macroeconomia No Ocidente novos indivíduos partidos e classes tentavam outros arranjos políticos que permitiam em vez de rejeitarem satisfazer simul taneamente os compromissos econômicos domésticos e inter nacionais e que permitiam também em vez de rejeitarem a ex istência de uma economia de mercado simultaneamente a uma participação ativa dos governos Governos do centro leste e sul da Europa além do Japão voltaramse para suas próprias economias quando a crise se abateu Nesse aspecto eram como o resto do mundo Mas difer entemente da Europa ocidental e da América do Norte essas re giões logo foram dominadas pelos novos governos fascistas ou protofascistas que continuavam rejeitando a economia inter nacional Esses governos trouxeram o conceito de autarquia isolamento deliberado do resto do mundo para a organização econômica o qual se tornou uma boa descrição da atitude fascista em relação à economia mundial Além da economia autárquica a conduta fascista envolvia um controle severo sobre os trabalhadores Os movimentos trabalhis tas já existentes foram banidos junto com os partidos socialistas e comunistas aos quais eram afiliados Estes foram substituídos por 290832 frentes trabalhistas que definiam os interesses dos trabal hadores e então os atendiam Não que os interesses dos trabal hadores fossem ignorados os nazistas foram os responsáveis pela mais rápida e duradoura redução do desemprego no mundo industrial mas não havia como expressar esses interesses de forma independente Governos fascistas também podiam coagir empresas caso se tornassem empecilhos para objetivos políticos importantes mas as grandes corporações eram mais capazes de desobedecer ou resistir às pressões dos governos do que trabal hadores desorganizados As políticas econômicas fascistas e neo fascistas do centro leste e sul da Europa e do Japão militarista contrastavam com aquelas do lado ocidental do continente O Ocidente tentava reconstruir a integração econômica internacion al enquanto os fascistas tentavam se proteger dela o Ocidente trouxe a mão de obra organizada para dentro do governo ao passo que os fascistas destruíram seus movimentos trabalhistas As economias semiindustriais da América Latina e Rússia buscaram alternativas diferentes tanto para a ortodoxia da pré Primeira Guerra Mundial quanto para a socialdemocracia ocidental Os soviéticos construíram uma autarquia comunista mesmo tendo implementado a industrialização mais rápida da História Na América Latina e em outras regiões em desenvolvi mento a vocação anterior para produzir alimentos e matériaspri mas para exportação não conseguia sobreviver em um mundo em que a demanda e os preços sofriam quedas crônicas Na década de 1930 forçado a retomar as próprias rédeas o mundo em desen volvimento mais uma vez canalizou a energia para o crescimento nacional A sociedade urbana e a indústria moderna cresceram rapidamente nas áreas semiindustriais da América Latina e do Oriente Médio Apesar de divisões e diferenças um fio condutor comum uniu as reações de todos os países industriais e semiindustriais contra a depressão econômica Todos com exceção da União Soviética 291832 que buscava um socialismo organizado implementaram de uma forma ou de outra algum tipo de capitalismo organizado Governos apoiaram cartéis para que os preços se estabilizassem permitiram ou estimularam uma organização de salários e manip ularam as políticas macroeconômicas para afetar a economia nacional O caos dos primeiros anos pós1929 deixou marcas em todos os lugares que apontavam para o fim do laissezfaire e em direção a uma participação vigorosa dos governos na economia Para alguns países o experimento era uma tentativa para outros algo revolucionário mas em toda parte o caminho estava livre para novas abordagens acerca dos problemas das economias modernas Abaixo o antigo A violência da depressão econômica teve origem no choque entre os interesses e as ideias que imperavam antes de 1914 e os desen volvimentos sociais e econômicos que modificaram o mundo desde então Frente ao declínio inicial os governos implement aram policias herdadas do capitalismo global clássico cujos de fensores eram muitos e poderosos nos círculos dominantes Isso pressupunha uma configuração anterior de pequenas empresas trabalhadores desunidos e teoricamente condições perfeitas de competição além de um sistema político que pudesse resistir a pressões e aliviar o sofrimento dos trabalhadores e das pessoas mais pobres No entanto as economias industriais passaram a ser dominadas por corporações enormes produção em massa e bens de consumo complexos os sindicatos trabalhistas tornaramse muito mais fortes do que antes da Primeira Guerra Mundial e os sistemas políticos eram de longe mais democráticos As políticas clássicas para conter a catástrofe variavam de inúteis a contrapro ducentes e os governos ainda motivados pela fé nas soluções 292832 apresentadas pelo padrãoouro continuavam a insistir nesse tipo de regime enquanto as condições pioravam O novo capitalismo organizado em torno de grandes empresas e movimentos trabalhistas fortes junto com a fragilidade fin anceira e a rigidez de preços e salários tornou obsoleto o mecan ismo clássico de ajuste A ortodoxia em relação à competição não se adequava aos problemas do capitalismo industrial democrático organizado que se desenvolvera a partir do capitalismo global da Era de Ouro Ao mesmo tempo os conflitos europeus que não fo ram solucionados em Versalhes e a relutância norteamericana em tomar parte nas questões do Velho Mundo bloquearam a co operação entre os centros financeiros que os havia ajudado a su perar as dificuldades surgidas antes de 1914 A severidade da de pressão econômica refletiu a contradição fundamental existente entre os princípios tradicionais da economia mundial clássica pré1914 e a nova organização das sociedades internacionais e domésticas A velha guarda dos banqueiros internacionais dos invest idores imperiais das indústrias poderosas e das aristocracias rurais tentou enfrentar a crise com medidas tradicionais Eles seguiram à risca os compromissos impostos pelo padrãoouro e pelo regime financeiro internacional e mantiveram uma hostilid ade concomitante às políticas governamentais intervencionistas Mostraramse completamente incapazes de lidar com as crises econômicas nacionais e com as urgências sociais domésticas A in sistência dos tradicionalistas em políticas falidas apenas inflamou seus opositores nos movimentos trabalhistas nos círculos empresariais e entre os pequenos produtores agricultores e in telectuais Por fim o fracasso da panaceia clássica suscitou novas ideias e novos grupos de interesses e logo o poder mudou de mãos em toda parte Eventualmente a crise contínua conduziu países e classes na direção de novas formas de agir contra a depressão econômica 293832 Alguns foram procurar respostas nos extremos políticos buscando no comunismo ou no fascismo a saída para os prob lemas aparentemente insolúveis do capitalismo ortodoxo Outros até mesmo das classes políticas e empresariais que durante muito tempo lideraram suas sociedades estavam igualmente ávidos por novas abordagens neste caso mais para salvar o capitalismo do que para substituílo Novas formas de organização econômica e política pediam novas maneiras de se lidar com elas e por meio dessas novas maneiras é que os países traçaram seus caminhos para superar a depressão econômica A ordem econômica clássica fracassou Nem a recuperação parcial a tentativa de reconstrução da ordem econômica inter nacional as ilhas de crescimento em meio à estagnação os novos produtos e as técnicas recémdisponíveis poderiam disfarçar esse fato A velha ordem não promoveu crescimento econômico nem estabilidade tampouco proteção contra o caos Também não trouxe paz nem cooperação Na verdade é possível que tenha acirrado os conflitos entre as nações Os que criticavam o capital ismo global sejam fascistas ou comunistas se mostravam como inocentes frente à incapacidade do sistema de superar as di ficuldades do período entre 1914 e 1939 O fato de que o rápido crescimento econômico só foi restabelecido devido à corrida armamentista da época tornouo na verdade apenas um conforto ilusório a Grupo que reunia intelectuais de esquerda na GrãBretanha nas décadas de 1930 e 1940 Organizava debates e lançava livros NT b Uma referência ao potencial industrial de Chicago considerada na década de 1930 a cidade que trabalha NT c Expressão usada quando ações e títulos sofrem grandes perdas no mercado e são vendidos a preços muito baixos NT 294832 d O termo não é comum em política mas referese às medidas que liquidem os in vestimentos ruins os empréstimos ruins os produtos inúteis e tudo o que estiver em excesso na economia NT e Grilhões de ouro NE 295832 9 Em direção à autarquia Em março de 1933 Adolf Hitler chocou o mundo ao nomear Hjalmar Schacht como o encarregado pela economia alemã Schacht era o mais conhecido formulador de políticas econômicas da Alemanha e um dos pilares da ortodoxia do padrãoouro inter nacional Como publicou a The Economist Nenhum banqueiro do mundo havia pregado com tanto fervor o equilíbrio orça mentário a adesão ao padrãoouro a eliminação de restrições à livre movimentação de capital e outros elementos da crença orto doxa1 Alemães de classe média idolatravam o homem que havia acabado com a inflação Os capitães da indústria alemã confiavam nele por considerálo um competente especialista em finanças Governantes estrangeiros e investidores admiravam Schacht por sua ponderação quando interlocutor durante as difíceis nego ciações sobre as dívidas e indenizações de guerra Schacht entretanto abandonou a ortodoxia após 1929 e propôs novas formas de lidar com a crise O novo método incluía um distanciamento dos mercados mundiais uma vigorosa inter venção do Estado na economia e uma atuação maciça do setor público Para que seu plano fosse implementado ele necessitava de um governo forte Dessa forma recorreu aos nazistas para con duzir o abandono do capitalismo global O paradigma alemão de internacionalismo econômico clássico levou o país à rejeição de todos esses mesmos princípios Schacht não estava só Durante a depressão econômica ele convenceu quase todo mundo da falência dos preceitos tradicion ais de economia e política O antigo regime econômico mundial mercados globais de bens e capitais padrãoouro mínima parti cipação do governo na economia parecia ter funcionado re lativamente bem antes de 1914 Entretanto durante o colapso dos mercados internacionais na década de 1930 os governos foram forçados a intervir para salvar a economia nacional e em toda parte buscavase um substituto para o tradicionalismo fracassado Assim como Schacht grande parte do mundo optou pela al ternativa autárquica a autossuficiência econômica Países do centro sul e leste da Europa de Portugal à Letônia e da Ale manha à Grécia adotaram alguma variante do fascismo autár quico Os países da América Latina se concentraram no desenvol vimentismo autárquico As políticas econômicas de outros países independentes em desenvolvimento se assemelhavam de forma gritante às da América Latina como ocorria com as colônias mais avançadas Os países semiindustriais um após o outro se lançaram no novo nacionalismo econômico Romênia e México Argentina e Japão Itália e Rússia todos rejeitaram o padrãoouro im puseram uma proteção comercial proibitiva passaram a exercer controles severos sobre os investimentos internacionais conden aram os banqueiros estrangeiros e a quantia que a eles deviam e lideraram a marcha em direção ao crescimento industrial mod erno Uma camada inteira da estrutura social global as classes médias das nações não os ricos tampouco os extremamente pobres tomou um rumo diferente e muitas vezes violento do seguido pela Europa ocidental e a América do Norte 297832 A autossuficiência semiindustrial Apenas um elemento determinava se um país seguiria a autarquia e o autoritarismo ou permaneceria democrático e aberto econom icamente se esse país era um credor ou um devedor internacion al Todos os regimes autárquicos os Estados fascistas da Europa a União Soviética os governos desenvolvimentistas da América Latina e da Ásia governaram nações cujo fluxo de en trada e saída de capitais era negativo Todos os países devedores seguiram pelo caminho da autarquia fascista ou nacionalista to dos os países credores permaneceram democráticos e compro metidos com a integração econômica internacional a Tchecoslov áquia e a Finlândia apresentavam um balanço financeiro inter nacional rudimentar As nações devedoras se diferenciavam por serem de natureza semiindustrial Eram suficientemente pobres para dependerem das exportações de produtos primários bens agrícolas e matérias primas mas eram suficientemente ricas para desenvolverem in dústrias urbanas que produziam para o mercado doméstico Tam bém eram pobres o suficiente para necessitarem de empréstimos estrangeiros mas ricas o bastante para conseguirem obter crédi tos Seus importantes setores exportadores coexistiam com setores industriais em crescimento e a coexistência de setores econômicos nacionalistas e internacionalistas fez emergir confli tos quando a economia mundial entrou em colapso Até a depressão econômica os governos dos países devedores guiaramse pelas normas financeiras internacionais já que apen as os que agiam conforme as expectativas dos credores con seguiam empréstimos Eles contavam com o comércio os emprés timos e os investimentos internacionais e lutavam para fixar suas moedas no ouro e integrar seus mercados ao resto do mundo As classes dominantes dos países devedores dependiam da economia internacional Banqueiros e comerciantes grandes 298832 proprietários de terras exportadores de produtos manufaturados mineradores barões da madeira e produtores de petróleo todos tinham laços globais Suas principais empresas pediam emprésti mos no exterior ou pertenciam a estrangeiros em caso de seus governos gerarem déficits eles o financiavam em Londres Nova York ou Paris Contanto que a economia mundial estivesse bem o desempenho desses países era bom algumas vezes excelente Entretanto o crescimento econômico dos devedores criou novos grupos sociais menos entusiasmados com a economia glob al Os industriais que produziam para o mercado doméstico dese javam proteção contra a competição estrangeira Os trabalhadores urbanos se ressentiam do sacrifício que precisavam fazer para apoiar o padrãoouro do qual quase não se beneficiavam A realidade do entreguerras enfraqueceu os internacionalistas conservadores das nações devedoras desafiando tanto seu con servadorismo quanto seu internacionalismo Primeiro surgiu a nova política de massas uma vez que eventos como o crescimento econômico a Primeira Guerra Mundial e o fortalecimento dos movimentos comunistas e socialistas ao redor do mundo ajudaram a esquerda e os trabalhistas a crescerem em termos de tamanho e poder Os setores médios artesãos pequenos comerciantes e produtores agrícolas também eram cada vez mais ativos politicamente Os milhões de trabalhadores e agri cultores além de outros que imploravam por regimes autocráti cos não podiam ser ignorados No início da década de 1920 os movimentos de massa de esquerda e de direita ameaçavam a he gemonia política das classes dominantes tradicionais O segundo motivo para o enfraquecimento dos conservadores foi o colapso de suas bases econômicas durante a Grande De pressão Ragnar Nurkse economista estoniano da Liga das Nações afirmou 299832 Durante a crise financeira internacional era uma piada comum em alguns países a comparação entre um credor internacional e um guardachuva que podia ser tomado emprestado livremente desde que o tempo estivesse bom mas que precisava ser devolvido assim que começasse a chover2 Quando os mercados mundiais quebraram aqueles nas nações semiindustriais que dependiam de contratos em Londres Paris e Nova York viram seus parceiros estrangeiros se enfraquecerem falirem ou irem embora À medida que a crise persistia as obrigações herdadas da eco nomia aberta aumentavam o sofrimento Os banqueiros inter nacionais e seus aliados domésticos haviam sobrecarregado os países com dívidas imensas cujos pagamentos causariam um de sastre Os investidores e comerciantes globais impuseram a tira nia do ouro que levou todos à ruína Agentes locais do mercado mundial tornaram nações inteiras escravas das dívidas Desde a virada do século no vácuo aberto pelos debilitados conservadores novos grupos foram criados ou passaram a se mo bilizar A economia aberta fora desafiada pelos que desejavam proteção contra os produtos estrangeiros e não acesso a eles An tigas alianças se desfizeram e novas foram formadas Quando os países devedores se voltaram para a autarquia na década de 1930 estes rejeitaram suas dívidas externas a de pendência dos mercados mundiais e as vantagens comparativas Os antigos setores de especialização foram taxados para estimular as áreas da economia que sofriam com a competição externa em especial a indústria nacional Eles abriram mão do capital e dos mercados estrangeiros e se voltaram para os mercados domésti cos e as finanças nacionais Governos passaram a tomar conta da transformação completa da economia nacional Os países semiindustriais haviam sido dependentes das re gras clássicas pois tinham privilegiado as oportunidades econôm icas internacionais como a produção agrícola de matérias 300832 primas e manufatureira para exportação em detrimento da produção de alimentos e das manufaturas para o mercado doméstico Com o mercado mundial e seus agentes locais em de sordem as autarquias se afastaram da competição internacional e se voltaram para o uso de recursos nacionais com a finalidade de atender as exigências internas Disso resultou uma série de medi das que reforçaram o nacionalismo econômico do Japão a Por tugal e do Brasil à Alemanha Schacht e os nazistas reconstroem a Alemanha Hjalmar Schacht era um típico alemão da velha escola colarinho impecável mulher prussiana meticulosamente correta e interesse obsessivo por riqueza e prestígio Assim como John Maynard Keynes ele era um produto da ordem econômica clássica criado para apoiar a ortodoxia do passado padrãoouro equilíbrio orça mentário e livrecomércio A aproximação de Schacht e Hitler simbolizou o casamento de conveniência dos fascistas de discurso inflamado com os empresários alemães conservadores Schacht e aliados no meio empresarial precisavam dos nazistas para solu cionar os problemas econômicos do país O arquiteto e engenheiro do nacionalismo econômico nazista era filho de pais progressistas e internacionalistas uma aristo crata dinamarquesa e um alemão da região de SchleswigHol stein cujo controle vivia entre a Dinamarca e várias jurisdições da Alemanha Tinglev a cidade natal de Schacht faz atualmente parte da Dinamarca3 Seus pais imigraram para Nova York no in ício da década de 1870 o pai foi naturalizado norteamericano e se tornou defensor ativo das causas progressistas do país Eles voltaram para a Alemanha pouco antes de terem o segundo filho aparentemente porque as condições em seu país natal melhor aram O casal escolheu o nome de Hjalmar Horace Greeley 301832 Schacht para o menino em homenagem ao candidato de Nova York à Presidência e dono do jornal que havia publicado mensagens de Karl Marx da Europa Após uma trajetória universitária medíocre Hjalmar fez sua dissertação de fim de curso em economia política Ele não tinha interesse na erudição acadêmica e não fora bemsucedido nas perguntas filosóficas abstratas que lhe foram feitas durante a prova oral de doutorado4 Schacht queria o diploma apenas para ingressar no mundo dos negócios e em 1903 foi trabalhar para o Dresdner Bank um dos maiores bancos da Alemanha Casouse com Luise seu amor de longa data e cuja origem prussiana reacionária complementava o seu caráter não conformista o pai dela era um inspetor da policia imperial Schacht atuou por pouco tempo na administração financeira do governo durante a Primeira Guerra Mundial quando foi acusado de usar o cargo para benefi ciar o Dresdner Bank Após a guerra tornouse um dos dois chefes do Danatbank outra instituição financeira de peso Ele se distinguia de seus colegas principalmente pelas am bições políticas e disse que sua fascinação por política surgiu aos 11 anos quando viu o Kaiser Guilherme II em Hamburgo O jovem Schacht ficou encantado com toda a pompa e a circunstân cia da visita imperial Escreveu mais tarde que poder é uma pa lavra vazia até que se veja uma exibição de poder imediata mente entendi o significado da palavra política5 Sua principal incursão na arena política ocorreu no dia em que a Alemanha derrotada assinou o armistício que pôs fim à Primeira Guerra Mundial Schacht e outros liberais acreditavam que apen as uma aliança entre as classes empresariais moderadas e socialis tas moderados poderia salvar a Alemanha Dessa forma o Partido Democrata alemão foi formado já que nas palavras de Schacht a classe média de esquerda se lançaria aos bandos junto com as or ganizações trabalhistas na próxima coalizão de governo6 302832 O Partido Democrata de Schacht ocupava uma posição central na República Democrática de Weimar como o partido burguês mais progressista e um dos principais aliados parlamentares dos socialistas Schacht e os democratas de centroesquerda defen diam uma economia clássica liberal mas que incluísse extensos programas sociais um capitalismo de mercado mais humano melhor dizendo Alguns dos principais nomes do empresariado principalmente da ala internacionalista do capitalismo alemão se uniram aos democratas Estes eram hostis ao socialismo da extremaesquerda e ao nacionalismo exacerbado e o intervencion ismo econômico da direita radical O ativismo de Schacht no Partido Democrata o tornara con hecido dentro e fora do país Em novembro de 1923 a inflação alemã atingiu seu nível mais alto Revolucionários comunistas ameaçaram tomar o poder em diversos estados e cidades da Ale manha e os nazistas de Adolf Hitler tentaram dar um golpe em Munique O governo de centroesquerda precisava de alguém que contornasse a situação econômica mas o Banco Central alemão era dirigido por um conservador pouco confiável que nada havia feito para controlar a inflação Schacht possuía credenciais im pecáveis nos meios financeiros e políticos como banqueiro e membro de um partido democrático liberal Em 13 de novembro de 1923 aos 46 anos Hjalmar Schacht tornouse o responsável pela moeda nacional alemã Dois dias de pois as impressoras de notas pararam e Schacht anunciou o novo rentenmark a moeda indexada em propriedades e que podia ser trocada pelos marcos antigos a uma taxa de câmbio de um para um trilhão Em novembro de 1920 o presidente do Banco Central morreu O governo nomeou Schacht para a presidência do Reichs bank Como era de esquerda acabou não sendo bemrecebido pelos partidos conservadores nem por quase toda a diretoria do banco 303832 Com Schacht no comando da moeda o valor do marco se manteve estável pela primeira vez em anos Ele conseguiu apoio no exterior para a estabilização enquanto o governo aumentava os impostos e cortava custos para evitar mais uma vez os gastos deficitários Na primavera de 1924 a terrível inflação alemã havia sido derrotada e nas ruas do país os créditos dessa vitória eram de Schacht Ele sabia que a economia alemã não estaria totalmente recu perada até que a questão das indenizações fosse resolvida Assim em 1924 Schacht ajudou nas negociações do Plano Dawes para regularizar a posição financeira internacional da Alemanha e garantir o acesso do país ao capital estrangeiro Durante os seis anos seguintes ele foi o principal representante da Alemanha nas questões econômicas internacionais viajou pela Europa e América do Norte para negociar dívidas de guerra indenizações e assuntos relativos a comércio e câmbio Fazia pronunciamentos no centro decisório da economia e da política internacionais Além de ser um nacionalista ferrenho também era um dos principais portavozes da ortodoxia do padrãoouro Schacht era acima de tudo um pragmático e a depressão eco nômica fez com que ele questionasse a eficiência das soluções tradicionais Ele rompeu completamente com o passado em 1930 quando lutava para renegociar as obrigações da Alemanha Sentiuse traído pelo governo alemão Diante da situação econ ômica desesperadora o governo se movia em direção a políticas consideradas por Schacht fiscalmente irresponsáveis e se aprox imava de seus aliados estrangeiros que pressionavam o país para a obtenção de concessões julgadas por ele inaceitáveis Após ter lutado em duas frentes contra a imoralidade interna e a explor ação externa Schacht renunciou ao cargo de presidente vitalí cio do Reichsbank em março de 1930 No fim desse mesmo ano Schacht veio a conhecer os nazistas por meio de Hermann Göring Em janeiro de 1931 conheceu 304832 Adolf Hitler e começou a pressionar os círculos dominantes para levar Hitler ao governo guiado e modelado por um programa conservador com o objetivo de enfrentar a situação de emergên cia Em 1931 respondeu a um jornalista norteamericano Não os nazistas não podem governar mas eu posso governar por meio deles7 Durante 1931 e 1932 Schacht convenceuse de que em suas próprias palavras esse partido tomaria a liderança no próx imo governo Em outubro de 1931 Schacht foi a uma reunião da extrema direita alemã liderada por Hitler e proferiu um discurso duro atacando o governo Luise sua mulher que apoiava Hitler desde o começo ficou extasiada À medida que os nazistas começaram a angariar apoio eleitoral Schacht escreveu a Hitler Você pode sempre contar comigo como seu fiel assistente8 Mesmo após a eleição de novembro de 1932 quando os nazistas receberam pou cos votos o endosso de Schacht estampava as primeiras páginas da imprensa alemã Apenas um homem pode agora se tornar chanceler e este homem é Adolf Hitler9 Logo em seguida Hitler se tornou chanceler escolhido pelos conservadores que consideraram ser este o último recurso Após as eleições Schacht passou a atuar como intermediário entre os empresários simpatizantes e os nazistas No fim de fevereiro de 1933 Hitler e Göring se encontraram com financistas e industri ais influentes para garantir respaldo político e financeiro Göring tentava conseguir o apoio com a promessa de que se os nazistas ganhassem essa seria a última eleição dos próximos dez anos provavelmente até mesmo dos próximos 100 anos10 Quando os líderes nazistas deixaram a sala Schacht disse Muito bem sen hores Agora à caixa registradora11 Ele recolheu três milhões de marcos para os nazistas e seus aliados que venceram as eleições de 5 de março a última da Alemanha do préguerra Duas seman as mais tarde Hitler nomeou Schacht presidente do Reichsbank 305832 Hjalmar Schacht nunca fora membro do Partido Nazista e não concordava com vários de seus princípios Mas assim como mui tos da ala conservadora do empresariado consideravaos capazes de utilizar o poder para reafirmar o nacionalismo alemão As idei as econômicas nazistas transitavam entre o disforme e o bizarro mas Schacht estava confiante de que eles poderiam preencher o vácuo político no país Nenhuma outra força política conseguiria manter a Alemanha unida contra a ameaça comunista e o caos e Hitler parecia disposto a dar passe livre a Schacht Apesar de sua origem clássica e ortodoxa Schacht concordava com algumas ideias importantes de Hitler Ele passou a ver a es querda com suspeita e até mesmo ódio e considerava as potên cias ocidentais exploradoras Schacht acreditava que o governo precisava usar o poder centralizado para reaquecer a economia sem ressuscitar a inflação Ele também era levemente antissemita da mesma forma que muitos alemães de sua geração Os judeus precisam aceitar que a influência que exerciam sobre nós termin ou de uma vez por todas Queremos manter nossa cultura e nosso povo puros 12 Ao mesmo tempo ele abominava a vulgaridade dos nazistas e seu violento antissemitismo Schacht era contra as restrições impostas às lojas de judeus e ajudou a traçar um plano de emigração que salvou a vida de muitos judeus alemães Apesar das diferenças Hitler e Schacht concordaram em 1933 que a prioridade daquele momento era estimular a eco nomia e reduzir o desemprego Demonstrando que não concor dava com todas as ideias nazistas Schacht escreveu Já que agora me fora concedida a oportunidade de acabar com o desemprego de 65 milhões de pessoas todas as outras considerações devem ser deixadas de lado Não foi por ambição pessoal por con cordar com o Partido Nacional Socialista ou por sede de ganhos que retornei ao meu antigo cargo mas simples e somente para terminar com a ansiedade de bemestar de grandes parcelas de nosso povo13 306832 O próprio Hitler tinha uma ideia clara de como Schacht poder ia satisfazer as necessidades nazistas Ele é disse Hitler posteri ormente a alguns companheiros um homem de uma habilidade surpreendente e insuperável na arte de conseguir o melhor do outro Mas foi apenas a capacidade dele de enganar os outros que o tornou indispensável naquele momento14 O novo presidente do Reichsbank era respeitado pelos grupos cujo apoio ou pelo menos a abstenção seria essencial para os nazistas Além disso ele era capaz de tomar medidas ousadas para atacar a crise econ ômica alemã Reconhecendo o sucesso de Schacht em julho de 1934 Hitler entregou a ele o Ministério da Economia e um ano mais tarde o tornou general plenipotenciário da economia de guerra Schacht tinha total controle da política econômica alemã Hitler concedeu a Schacht poderes absolutos sobre a caótica economia germânica cujo desemprego atingia mais de 30 da força de trabalho A prioridade política dos nazistas era destruir a esquerda e os trabalhistas mas a prioridade econômica era pôr fim ao desemprego extremo o que num primeiro momento torn ara a esquerda poderosa e atraente Hitler fez com que esse objet ivo se tornasse claro para o novo ministro que traçou o chamado Plano Schacht para reconstruir a economia evitar a inflação res taurar o comércio internacional do país e permitir o rearmamento Schacht de fato acabou com o desemprego em um prazo de três anos O governo nazista criou meio milhão de empregos para os jovens mandandoos para trabalhos comunitários ou agrí colas Outro meio milhão de desempregados foi enviado para con struir estradas de ferro concertar pontes e ajudar nos setores públicos O governo promoveu cortes salariais para estimular a iniciativa privada a contratar novos trabalhadores e concedeu subsídios aos empregadores para que eles aumentassem a sua força de trabalho Os gastos totais do governo que em 1929 cor respondiam a 16 do PIB cresceram atingindo 23 do PIB em 307832 1934 Grande parte desses gastos se concentrava nos setores que reduziriam o desemprego construção transportes criação de tra balho e rearmamento Em dois anos de 1932 a 1934 esses quatro setores que eram responsáveis por 15 dos gastos governamen tais passaram a responder por mais da metade das despesas do Estado Mesmo se excluirmos o rearmamento os programas de criação de postos de trabalho para os quais em 1932 foram desti nados menos de dois bilhões de marcos passaram a consumir oito bilhões em 1934 o que significava de 10 a 35 do total de gastos públicos Os nazistas também ajudaram a sua base de apoio isentaram os fazendeiros do pagamento de impostos e em préstimos além de apoiarem os preços agrícolas Também per mitiram que pequenos comerciantes firmassem contratos com o governo Tudo isso envolvia déficits orçamentários substanciais cerca de 5 do PIB em média durante os primeiros quatro anos do governo nazista os gastos superiores à receita eram consid eravelmente maiores do que em qualquer outro lugar Em 1936 a economia encontravase essencialmente em um estado de pleno emprego e em 1937 e 1938 houve escassez de trabalhadores15 Normalmente tais programas teriam suscitado o medo da in flação mas Schacht escreveu tentando amenizar que o nacionalsocialismo introduziu na Alemanha uma economia regu lada pelo Estado possibilitando que o aumento de preços e salári os fosse impedido16 O aumento dos preços estava fora de questão uma vez que os nazistas destruíram o movimento trabal hista e instauraram o terror nos locais de trabalho Hitler garantiu a Schacht que os financiamentos mediante déficit não levariam a um aumento dos preços já que o novo regime modificaria as re lações econômicas convencionais A primeira explicação para a estabilidade de nossa moeda é o campo de concentração17 Nas palavras de Hitler 308832 Inflação é falta de disciplina Cuidarei para que os preços per maneçam estáveis Para isso é que serve minha tropa de assalto Será a desgraça dos que elevarem os preços Não precisamos de uma legis lação para lidar com eles Nós faremos apenas com o partido Vocês verão uma vez que nossas tropas visitarem um estabelecimento para consertar as coisas nada parecido acontecerá pela segunda vez18 Schacht também fez uso do poder político do regime para im plementar uma forma de autarquia que se tornou conhecida como economia schachtiana O governo promovia um controle rigoroso sobre a utilização de moeda estrangeira e sobre os alemães que levavam dinheiro do país para o exterior Todos os pagamentos de débitos externos do país sem falar nas indenizações foram suspensos Schacht colocou em prática um sistema de taxas de câmbio múltiplas oferecendo os melhores preços para indústrias favorecidas e aliados estrangeiros O controle de capitais e de câmbio mantinha em casa a maior quantidade possível de din heiro fazendo com que os nazistas pudessem investir no serviço público no desenvolvimento industrial e no rearmamento O Reich milenar também construiu uma rede de comércio na Europa central e do leste de forma a preparar sua esfera de in fluência Schacht planejou um sistema elaborado de comércio preferencial impondo termos desfavoráveis aos países da órbita econômica e política dos nazistas No fim de 1920 a Alemanha era responsável por 15 de todo o comércio de Hungria Romênia Bulgária Iugoslávia Grécia e Turquia Até o fim de 1930 esse índice passou a ser em média superior a 40 e para alguns países era ainda maior A parcela do comércio alemão com esses seis países em relação ao total triplicou nesse período uma vez que a virtual área econômica alemã se tornou de fato uma realidade econômica e diplomática19 Schacht tirou a política econômica alemã das profundezas da depressão e a conduziu para a recuperação e a reconstrução autárquica Seu próprio sucesso criou as condições que o 309832 tornariam irrelevante Os nazistas precisaram dele para recuperar a confiança dos estrangeiros dos capitalistas domésticos e da classe média alemã Agora o trabalho estava quase todo feito e em 1936 os conflitos entre Schacht e o governo nazista começaram a aumentar Por um lado o regime de Hitler centralizou o poder político e os recursos financeiros reduzindo a importância dos capitalistas privados Em 1938 os nazistas possuíam mais de 500 empresas estatais de peso metade de todos os investimentos era feita pelo Estado e os gastos do governo correspondiam a 34 do PIB um aumento significativo se considerarmos os 15 do fim da década de 192020 Por outro lado enquanto Schacht e outros empresários que pensavam de forma semelhante apoiavam a autarquia como forma de se concentrar no crescimento econômico nacional eles não eram favoráveis a um isolamento da economia mundial a longo prazo Porém logo ficou evidente que os nazistas não tin ham qualquer intenção de restabelecer laços econômicos com o Ocidente Por fim os cada vez mais belicosos desígnios de Hitler começaram a preocupar Schacht e outros empresários Uma coisa era a reconstrução da posição internacional da Alemanha outra bem diferente seria provocar uma guerra no continente Os nazistas reduziram a influência de Schacht quando se con solidaram no poder No decorrer de 1936 o arquiteto da recuper ação era cada vez mais ignorado Herman Göring conseguiu um controle maior sobre a política econômica defendendo a subor dinação dela aos objetivos políticos e militares do governo Eu disse Göring não reconheço a santidade de nenhuma lei econ ômica21 Para Schacht isso era uma heresia assim como o era a recusa da liderança nazista em salvaguardar o papel da empresa privada Göring confrontou Schacht diretamente Contra essa concepção de liberalismo e economia estabelecemos nossa concepção de nacionalsocialismo e isso quer dizer no centro 310832 da economia estão o povo e a nação não o indivíduo e seus lucros trabalho e economia existem exclusivamente para o povo22 Após tentar se opor a essas ideias em meados de 1937 Schacht parou de ir ao escritório do ministério Em novembro a renúncia dele ao cargo foi anunciada Der Führer ironizou a revista Time demitiu o Schacht ouvido ao redor do mundo23 Em pouco mais de um ano Schacht também foi dispensado da presidência do Reichsbank A partir de 1938 passou a ser malvisto pelo governo nazista O exditador das finanças participou de uma série de planos contra Hitler Após o fracasso da principal tentativa de golpe ocorrida em julho de 1914 Schacht foi preso e ficou encarcerado durante quatro anos primeiro em cadeias nazistas depois no campo de concentração de Dachau e por fim em uma série de prisões alemães e aliadas Schacht foi um dos 24 réus iniciais de Nuremberg e um dos três absolvidos Ele foi então indiciado pelas autoridades alemães do pósguerra mas liberado em seguida Atuou como consultor financeiro por cerca de mais uma década e morreu em 1970 aos 93 anos em Munique Sua vida durou quase um século e passou por diversas eras De criança admiradora do Kaiser Guil herme II a líder financeiro durante a Era de Ouro pré1914 pas sando por tentativas de restabelecer a normalidade na década de 1920 pela ascensão e queda do Reich e pelo benefício do milagre alemão do pósguerra A maior qualidade de Hjalmar Horace Greeley Schacht também era seu aspecto moral mais ques tionável Ele arquitetou uma reação extraordinariamente eficaz à depressão econômica que fortaleceu o governo mais sanguinário dos tempos modernos e preparou o terreno para a guerra mais devastadora da história mundial As políticas econômicas autárquicas 311832 Assim como a Alemanha as outras autarquias fomentaram a produção nacional para fins domésticos em especial o cresci mento industrial Em toda parte o foco nas questões internas fora justificado como algo necessário para a modernização da eco nomia continuar dependendo dos mercados mundiais apenas geraria atraso A Alemanha era uma potência industrial e a Itália apresentava certo desenvolvimento mas ambas objetivavam fortalecer a indústria para não dependerem de estrangeiros hostis e mais tarde fornecerem recursos para reafirmar sua capacidade militar Alguns governos também apoiaram a agricultura não os produtores voltados para exportação das economias abertas an teriores mas aqueles que podiam garantir a autossuficiência alimentar As autarquias buscavam a modernização industrial pelos já testados meios de tornar os investimentos no setor excepcional mente lucrativos aumentando os preços dos produtos industriais produzidos internamente e diminuindo o valor dos custos de produção Nesse aspecto seguiam uma antiga tradição Os im périos mercantilistas dos séculos XVII e XVIII forçavam as colônias a venderem barato suas matériasprimas e a comprarem produtos manufaturados a preços altos direcionando os lucros para os comerciantes das metrópoles e manufatureiros Países de desenvolvimento tardio como os Estados Unidos repetiram esse padrão tarifas altas para produtos manufaturados obrigavam os produtores agrícolas e mineiros a pagarem preços inflados à in dústria ao passo que entregavam seus alimentos e matériaspri mas a preços estabelecidos no mercado mundial Tanto o prote cionismo mercantilista quanto o neomercantilista tornaram as condições comerciais favoráveis à indústria aumentaram os preços dos produtos que as indústrias vendiam e diminuíram o valor dos bens comprados para a produção industrial As autarquias transformaram os termos internos de troca para favorecer o investimento industrial contra a agricultura e o 312832 consumo Os governos direcionavam os recursos dos setores primários do passado cuja produção era voltada para a ex portação para o setor industrial do futuro voltado para dentro e dos bolsos de trabalhadores e fazendeiros também para o investi mento industrial Bens de consumo caros e salários baixos signi ficavam más condições de vida para os trabalhadores apesar da retórica populista e dos programas governamentais de grande vis ibilidade Os nazistas anunciaram que haviam resgatado a dignid ade dos produtores agrícolas e dos trabalhadores No entanto os salários reais em 1938 continuavam mais baixos que em 1933 e 1929 e os preços agrícolas artificialmente baixos contribuíram para que agricultores deixassem o campo em direção às cidades24 Os salários reais na Itália do fim da década de 1930 regressaram aos índices préPrimeira Guerra Mundial 20 mais baixos do que em 1921 antes de Mussolini tomar o poder25 Na ditadura do proletariado soviética a transformação da economia na direção da indústria veio acompanhada de grande sofrimento para muitos da classe trabalhadora26 Subsidiar a indústria à custa de atividades econômicas tradi cionais exigia uma complexa variedade de políticas contínuas Preços mais altos para a indústria demandavam um controle rig oroso sobre o comércio externo que mantivesse afastada a concor rência mais barata Os governos impunham tarifas altas cotas e outras restrições ou proibiam diretamente a importação de produtos estrangeiros Muitos governos passaram a controlar to do o comércio internacional A Alemanha e seus parceiros comer ciais da Europa central e do leste desenvolveram sistemas de compensações na base da troca de forma que a aspirina alemã enviada para a Hungria se igualava ao trigo húngaro mandado para a Alemanha27 Essa proteção excessiva seja qual for sua forma levou à substituição de importações à troca de produtos antes importados por bens locais Os esforços para restringir o comércio foram bemsucedidos os índices do comércio exterior 313832 alemão de 1938 mal correspondiam a 30 do que eram em 1928 e o declínio enfrentado pelas outras autarquias era apenas um pou co menos acentuado Os investidores estrangeiros poderiam ter saltado as barreiras comerciais para tirar vantagem dos subsídios e incentivos conce didos pelo governo aos investimentos destinados à indústria doméstica mas isso teria causado danos às empresas locais Dessa forma os governos reservaram a indústria nacional para os nacionais controlando os investimentos estrangeiros As mul tinacionais existentes eram sujeitas a uma regulação severa ven didas à força por preços muito baixos a investidores locais ou simplesmente passavam para as mãos do governo Os novos in vestimentos eram estritamente limitados em geral para afastar as empresas que competiriam com as locais e permitir apenas aquelas cuja produção complementasse a das nacionais As empresas estrangeiras eram proibidas de mandar os lucros para seus países de origem e forçadas a contratar mais trabalhadores locais e pagavam impostos maiores Alguns governos deram o calote na dívida externa e fizeram com que ela fosse reduzida a frações do montante original de forma a economizar um capital importante em moeda estrangeira para a indústria Alguns também passaram a controlar de forma severa as movimentações de capital e a troca de moedas para forçar os investidores domésticos a manterem o dinheiro em casa e fornecerem capital à indústria Muitos governos distribuíram moeda estrangeira para beneficiar certos setores favorecidos e de terminaram que os ganhos obtidos no exterior deveriam ser en tregues ao Estado A taxa cobrada pelo governo àqueles que eram permitidos a adquirila variava de acordo com a prioridade da utilização Um governo que tentava estimular a produção local de aço por exemplo poderia permitir a importação de minério de ferro ou de carvão coque a uma taxa de câmbio muito favorável e cobrar dos importadores uma taxa bastante desfavorável pela 314832 compra do aço pronto Tais medidas estimulavam a compra de in sumos e desestimulavam a importação do produto final Os cid adãos locais que viajassem para o exterior de férias pagavam uma taxa de câmbio particularmente alta para que assim as viagens internacionais fossem reduzidas e o turismo doméstico fo mentado Empresas que desejassem importar peças podiam con seguir uma taxa de câmbio favorável caso o produto não existisse internamente mas as mesmas pagariam outra taxa desfavorável se versões nacionais dessas peças pudessem substituir as importações A manipulação cambial das autarquias em geral significava o abandono do padrãoouro que em todos os casos era o sustentáculo da odiada aristocracia financeira internacional Muitas vezes os governos mantinham a moeda supervalorizada e artificialmente forte em relação às outras mais uma vez a ser viço da indústria nacional Uma moeda forte artificialmente val orizada tornava os produtos estrangeiros mais baratos e encare cia os domésticos fato que teria prejudicado a indústria nacional das economias abertas de outrora Mas agora com a economia efetivamente fechada aos competidores as moedas supervaloriza das permitiam aos fabricantes importar matériasprimas ferro aço peças e tudo o mais que necessitassem a preços baixos Além de proteção contra os estrangeiros a indústria recebeu grande apoio Governos concediam empréstimos subsídios e im postos preferenciais além de utilizarem o orçamento direta ou indiretamente para alavancar a demanda por produtos manufat urados A maioria das autarquias expandiu o setor público in cluindo nele muitas das novas atividades produtivas na União Soviética incluiu quase tudo Essas economias fechadas não po diam contar com as importações de produtos industriais básicos e em geral tais projetos eram grandes demais ou pouco lucrat ivos para os capitalistas locais de forma que os governos estabele ceram uma grande quantidade de corporações industriais de base 315832 estatal O alargado setor estatal passou a produzir aço e químicos a fornecer energia elétrica e transportes carvão mineral e pet róleo tudo pelo desenvolvimento industrial A indústria cresceu a uma velocidade que variava de re speitável a extraordinária Desde a pior fase da depressão econ ômica a produção industrial da Europa Ocidental e da América do Norte mal havia retomado os índices de 1929 No fim da década de 1930 no entanto a produção da indústria cresceu mais de duas vezes na Alemanha Polônia Japão Brasil Colômbia e México e atingiu um aumento superior a quatro vezes na União Soviética28 As autarquias visavam à industrialização nacional por meio de ações conjuntas e às vezes extremadas Elas tiravam capital da tradicional produção agrícola e mineradora associadas às classes dominantes do passado e o levavam para a indústria Para a in dústria as autarquias também desviaram o dinheiro que antes era destinado ao consumo de massa o qual teria sido gasto com o in grato e antinacional proletariado diriam os fascistas com a in grata e antinacional pequena burguesia diriam os comunistas e com a ingrata e antinacional oligarquia diriam os desenvolvi mentistas A combinação de políticas variava mas a base era semelhante em todos os lugares jogar todos os recursos disponí veis na indústria Isso era feito com vingança antitrabalhista pelos fascistas com fervor anticapitalista por parte dos comunistas e com ardor patriótico pelos desenvolvimentistas nacionalistas A Europa se volta para a direita A Alemanha foi apenas a mais importante das ditaduras de direita que vieram como uma onda do sul da Europa atingindo o resto do continente A primeira leva surgiu como parte de uma reação conservadora aos problemas sociais dos anos que se seguiram à 316832 Primeira Guerra Mundial Entre 1920 e 1924 as cambaleantes democracias de Itália Espanha Hungria e Albânia sucumbiram às novas ditaduras em 1926 foi a vez de Portugal Polônia e Lituânia A segunda leva veio com a depressão econômica Iugoslávia em 1929 Romênia em 1930 Áustria em 1932 Ale manha em 1933 Letônia Estônia e Bulgária em 1934 e Grécia em 1936 Embora a Espanha tivesse se redemocratizado em 1930 os fascistas sob o regime de Francisco Franco emergiram vitoriosos de uma sangrenta guerra civil As ditaduras hoje em dia disse o ditador português António Salazar não parecem mais ser parênteses entre regimes29 Até 1936 todos os países da Europa central e do leste e do sul europeu com a exceção apenas da Tchecoslováquia se torn aram despotismos autoritários Nem todos se enquadravam na descrição teórica do fascismo totalitarismo apoiado pelas massas e tratado com desdém pela direita convencional Mas essas falanges de tiranos fascistas e autoritários representavam uma al ternativa clara ao capitalismo liberal ao internacionalismo econ ômico e à democracia30 Apenas a Europa ocidental permanecera intocada No entanto em diversas partes da região surgiram mo vimentos fascistas e em 1941 as ocupações nazistas derrubaram a maioria das democracias europeias com exceção apenas de Suíça Suécia Finlândia GrãBretanha e Irlanda Os movimentos fascistas e neofascistas contaram com o apoio entusiasmado da nova direita surgida das classes médiasbaixas urbanas e dos pequenos produtores agrícolas e com uma colabor ação mais modesta dos conservadores tradicionais das grandes empresas e fazendas Tanto a direita tradicional quanto a nova direita da Europa semiindustrial eram contra os trabalhistas e a esquerda além de concordarem com o fechamento da economia à competição externa Em alguns casos como na Alemanha e na Itália os fascistas tomaram o poder e se consolidaram com o apoio dos conservadores Em outros os conservadores 317832 tradicionais como o almirante Miklós Horthy na Hungria ou os reis de Romênia Bulgária Grécia e Iugoslávia governaram com o apoio dos fascistas locais Das duas formas a relação era simbiótica Os conservadores tradicionais precisavam da base popular dos fascistas os fascistas precisavam da credibilidade dos conservadores junto aos grandes empresários Os dois regimes fascistas mais importantes Alemanha e Itália eram maiores e mais desenvolvidos que os outros do mesmo tipo mas nos dois países os fascistas pregavam o ódio aos trabalhistas de esquerda aos banqueiros estrangeiros e às empresas doméstic as com fortes laços internacionais Na Alemanha as finanças e bens industriais para exportação faziam parte da base da República de Weimar a qual contava com a aliança dos socialis tas com o apoio dos empréstimos e da diplomacia angloameric ana Ao menos parte da tendência antissemita dos fascistas se devia ao fato de na Alemanha e em grande parte da Europa ori ental muitas das empresas voltadas para o exterior pertencerem a judeus Na Itália a aliança que uniu a indústria moderna e a força dos trabalhadores da virada do século ao início da década de 1920 conhecida como sistema giolittiano também contara com a integração do país à economia mundial Na Alemanha e na Itália o fracasso da velha ordem pôs fim aos processos de demo cratização e de integração econômica internacional tanto quanto o fizeram no Brasil a queda do preço do café e na Romênia do petróleo Tipicamente a base do fascismo eram os produtores agrícolas pequenos comerciantes artesãos e funcionários públicos de elite Em 1935 tais grupos formavam mais de 65 do Partido Nazista ao passo que correspondiam a apenas 25 da população alemã31 Eles idolatravam um passado em que gozavam de posição privile giada e viam a indústria moderna e o operariado como a causa de seu declínio social Mas os fascistas entenderam que não poderi am governar sem os grandes empresários e proprietários de terras 318832 e passaram então a buscar o apoio ou ao menos a cooperação desses grupos Os ricos estimavam o antissocialismo dos fascistas embora desdenhassem da origem classe médiabaixa do movi mento e da histeria populista Além disso o fascismo prometia terminar com o aumento das despesas trabalhistas que dani ficavam a grande indústria e a grande agricultura32 Os adeptos do fascismo entre os capitalistas proprietários de terras fazendeiros pequenos empresários e funcionários públicos mantinhamse unidos pelo ódio aos movimentos socialistas que emergiram da Primeira Guerra Mundial Essas pessoas viam como inimigos o trabalhismo e a socialdemocracia assim como os segmentos empresariais e as classes políticas que toleravam ambos os movimentos e de fato estavam aliados a eles Mas os motivos dessa animosidade para com trabalhistas e aliados eram diferentes e a peculiar combinação de setores médios déclassé e classes altas capitalistas produziu efeitos curiosos Tanto na Itália quanto na Alemanha grande parte do apelo fascista entre as massas deviase à retórica anticapitalista mas Hitler e Mussolini logo fizeram as pazes com os grandes empresários e proprietários de terras com condições amplamente definidas pelos ditadores para ser preciso e contavam cada vez mais com a colaboração desses grupos Os grandiosos projetos dos fascistas dependiam sobretudo de uma verba que apenas as classes investidoras po deriam oferecer Como demonstrou a experiência de Hjalmar Schacht rara mente era possível satisfazer esses dois amplos grupos capitalis tas hostis ao movimento trabalhista e proprietários de terras de um lado e a descontente classe médiabaixa de outro Os fascis tas celebravam o tradicionalismo agrário mas aceleraram a in dustrialização A retórica anunciava o individualismo e a inde pendência mas as políticas defenderam os monopólios e os cartéis O apoio ao fascismo exaltava o esplendor de supostos pas sados imperiais no entanto eles transformaram as potências 319832 imperialistas em verdadeiros demônios O fascismo abraçava ao mesmo tempo a reação e as mudanças radicais pregava a volta das certezas morais de uma era préindustrial idílica mas tam bém prometia um rápido avanço em direção à indústria moderna As contradições da retórica fascista eram um reflexo da natureza contraditória de sua base de apoio o que por fim gerava de savenças sobre qual dos objetivos conflitantes seria priorizado Primeiro no entanto os fascistas precisavam se consolidar no poder A maioria desses governos chegou ao topo em meio a prob lemas econômicos e insatisfação social e passou seus primeiros anos sob uma situação de emergência tendo de lidar com ambos Em um primeiro momento enfrentar a insatisfação social era fá cil Bastava a repressão que às vezes era brutal Como os sindica tos trabalhistas e partidos de esquerda eram clandestinos seus líderes podiam ser presos exilados ou assassinados Entretanto a repressão era um método insuficiente e não funcionaria para sempre os fascistas chegaram ao poder principalmente pelas promessas de resolver os graves problemas econômicos Assim o primeiro pedido econômico do empresariado fora um plano de recuperação e isso os fascistas atenderam As novas ditaduras se utilizaram da reflaçãoa de finanças deficitárias de novos impostos e gastos para ao mesmo tempo agradar suas mas sas seguidoras nas cidades e áreas rurais e dar a partida nas eco nomias estagnadas Assim como na Alemanha os fascistas em quase todos os lugares começaram com uma rápida demonstração de que podiam tirar o país da crise trazendo resultados imediatos para sua base de apoio Na Itália como em outros lugares em que os ditadores tomaram o poder na década de 1920 os problemas econômicos não eram tão imediatos ou severos Mussolini garan tiu aos industriais e proprietários de terras italianos que o regime fascista adotaria políticas confiáveis e até a Grande Depressão a macroeconomia italiana fora governada de acordo com diretrizes tipicamente conservadoras Ao mesmo tempo os fascistas 320832 italianos implementaram programas importantes para assegurar sua base política na classe médiabaixa Eles saíram em marchas distribuíram terras para os agricultores aumentaram os salários dos servidores públicos e redobraram os projetos de obras públicas Muitas foram as causas para o sucesso fascista em tirar eco nomias das profundezas da depressão Assim como o Terceiro Reich eles se utilizaram da violência para fins econômicos O próprio Keynes escreveu no prefácio da edição alemã de 1936 de sua Teoria geral que o argumento do livro era muito mais facil mente adaptável às condições de um Estado totalitário do que às de uma democracia Os fascistas também estimularam a recuper ação econômica sinalizando para a comunidade empresarial que seus problemas haviam terminado era o fim das ondas de greves da ameaça bolchevique e da instabilidade política Tudo isso deu aos capitalistas motivos fortes para se aliarem a uma série de in vestimentos lucrativos encomendados O dinheiro foi retirado de colchões e contas de bancos estrangeiros e investido no hospital eiro ambiente comercial Por fim os fascistas enfrentavam menos dificuldades em relação às experimentações do que as democra cias do Ocidente Eles se opunham de forma implacável aos que levantavam a bandeira da ortodoxia do padrãoouro Além disso a busca de novos caminhos mais do que um rompimento com plicado com a tradição era motivo de orgulho Dessa forma eles podiam experimentar diversos tipos de programas até encontrar um que funcionasse Após terem se dedicado à crise imediata os governantes fascistas voltaramse para os objetivos de longo prazo controle político inquestionável desenvolvimento industrial acelerado autarquia e expansão militar As organizações políticas independ entes foram liquidadas e substituídas por canais de comunicação facilmente manipuláveis por meio do quais os cidadãos podiam tentar expressar sua opinião frentes de trabalho nazistas e 321832 corporações fascistas grêmios industriais que englobavam tanto o gerenciamento quanto os operários tudo sob a supervisão do Estado fascista A política econômica se transformou passando do mero ger enciamento da crise à reconstrução da sociedade muitas vezes in comodando os empresários aliados aos fascistas À medida que a década de 1930 seguia seu curso e os fascistas implementavam programas que incluíam prioridade à indústria estatal e a sub jugação da empresa privada à empreitada militar grande parte da comunidade empresarial tradicional se via cada vez mais longe do poder O estranhamento entre Schacht e os nazistas foi um caso típico de tensão entre fascistas e grandes empresários na medida em que as nuvens da guerra ficavam mais carregadas Na Itália conforme ocorrera na Alemanha Mussolini passou a con trolar o comércio exterior de forma nunca vista direcionandoo para os seus aliados e o novo miniimpério italiano modelo que ganhou impulso em 1935 quando a Liga das Nações impôs sanções à Itália por suas agressões contra a Etiópia A mudança em direção à autarquia e a um afastamento dos mercados da Europa ocidental e da América do Norte irritou os industriais de muitos países fascistas Com a recuperação em curso estavam in teressados em restabelecer os vínculos econômicos com as nações avançadas e não em reprimilos Mas à medida que a economia fascista se consolidou a capa cidade da comunidade empresarial em resistir ao regime diminu iu No fim da década de 1930 o regime de Mussolini bem como o de Hitler dominava grande parte das finanças e da indústria da Itália Com o financiamento de algumas imensas estatais o gov erno fascista controlava cerca de metade do capital acionário do país quase todos os empréstimos bancários e a maior parte dos setores de telefonia eletricidade aço frete e maquinário da Itália33 As pequenas ditaduras da Europa central e do leste e do sul fizeram o mesmo na Bulgária as firmas financiadas pelo 322832 Estado foram responsáveis por 23 da produção industrial de 1937 na Polônia 23 de todo o investimento recebido pelo país no fim da década de 1930 destinavamse ao setor publico34 Enquanto a relação dos Estados fascistas com os empresários era problemática em alguns pontos autarquia extrema controle da economia por parte do governo desvio de recursos para gastos militares em outras dimensões as políticas fascistas estavam de acordo com as preferências do empresariado Os fascistas con tinham o aumento dos salários e ignoravam ou desestimulavam o consumo de massa Toda a riqueza disponível fora transformada em investimentos para a industrialização modernização e militar ização Eles deram prioridade à indústria pesada e não à produção de bens de consumo A experiência alemã fora especialmente forte nesse ponto uma vez que a estagnação do padrão de vida das massas viera em um contexto de boom econômico Embora houvesse pleno emprego e a recuperação estivesse completa os salários reais em 1938 continuavam menores que os de 1932 e se estagnaram por quatro anos os salários que em 1932 correspondiam a 64 da renda nacional passaram a corresponder a 57 em 1938 O con sumo sofreu redução ainda mais acentuada durante esse mesmo período passou de 83 a 59 da renda nacional Em 1937 uma família média da classe trabalhadora na Alemanha comia bem menos carne leite ovos legumes e açúcar do que em 1927 apen as o consumo de pão preto queijo e batatas havia aumentado35 Os trabalhadores alemães tinham pouco o que comemorar mas para os negócios esse era decididamente um componente fa vorável da economia nazista As ditaduras fascistas variavam de forma ampla no entanto A renda per capita na Alemanha era de três a cinco vezes maior do que no resto da Europa fascista Menos de 13 do país era agrário ao passo que a maior parte da Europa central e do leste era de 75 a 90 rural36 Até mesmo na agricultura a Alemanha era 323832 uma nação avançada enquanto o Leste Europeu era extraordin ariamente atrasado os produtores agrícolas na Alemanha da década de 1930 utilizavam entre 50 e 500 vezes mais fertilizante por hectare que os fazendeiros da Europa oriental onde a produtividade agrícola geralmente era menor do que foi na virada do século XIX para o XX Na Bulgária 23 dos arados con tinuavam a ser de madeira em 193637 Isso ajuda a explicar por que os movimentos fascistas e protofascistas da Europa oriental tendiam para o radicalismo camponês já que a população era de fato miserável e a agricultura da região precisava de moderniza ção urgente As perspectivas de um desenvolvimento industrial rápido na Albânia ou Lituânia não podiam ser comparadas às de Itália Polônia ou Hungria enquanto na Alemanha e na Itália a autarquia era considerável e até mesmo países de médio porte como Espanha e Polônia contemplavam uma autossuficiência in dustrial substancial a possibilidade de qualquer coisa do tipo na Estônia ou Letônia países de populações muito pequenas seria motivo de riso A meio mundo dali o governo japonês se apropriou de muitas das características fascistas Da mesma forma como a Alemanha e outros países semiindustriais na década de 1920 o Japão erguera uma democracia frágil e uma economia relativamente aberta Nada disso sobreviveu à depressão econômica No país o análogo a Hjalmar Schacht foi Korekiyo Takahashi banqueiro e político respeitado que fora presidente do Banco do Japão min istro das Finanças e primeiroministro durante diversos governos democráticos Assim como na Alemanha um governo em crise respaldado por empresários e militares nomeou Takahashi como ministro das Finanças em uma tentativa de controlar a fracas sada economia Apesar de seu passado ortodoxo Takahashi ex perimentou medidas reflacionárias semelhantes às utilizadas por outras autarquias Retirou o iene do ouro e arquitetou uma grande desvalorização em 1931 A medida gerou um boom 324832 exportador fazendo com que tecidos brinquedos sapatos e out ros produtos japoneses baratos inundassem os mercados mundi ais Ao passo que esse modelo começou a declinar em função do protecionismo crescente e da expansão limitada dos mercados mundiais Takahashi se voltou para os gastos geradores de déficit com a intenção de impulsionar a economia Durante os anos 1930 a economia cresceu impressionantes 72 Enquanto isso os militares japoneses e seus aliados o que in cluía grupos empresariais poderosos imploravam pela expansão imperial no exterior e por disciplina em casa Ofuscaram os mod erados que permaneciam no governo tomaram a Manchúria em 1931 como aliados oficiais da Alemanha e entraram em guerra contra a China em 1937 Em 1936 quando Takahashi como fizera Schacht atentou para as implicações econômicas do belicismo os militaristas japoneses o assassinaram Daí em diante o domínio dessas pessoas na economia e no poder político permaneceu into cado Eles removeram os últimos vestígios de democracia no país e direcionaram a política econômica para a rápida industrializa ção e a consolidação das finanças e da indústria de larga escala Uma parte integral desses planos foi a construção da semiautár quica Grande Esfera de Coprosperidade da Ásia Oriental criada para servir ao desenvolvimento industrial do Japão O caminho iria no entanto como em outros lugares levar à guerra38 A ordem econômica fascista os Estados fascistas as nações que eles ocuparam e suas colônias em seu auge englobava quase toda a Europa e o Oriente Médio e grande parte da Ásia e da África Talvez metade da população mundial vivesse sob o regime de políticas econômicas fascistas Nem o comunismo tampouco a democracia liberal atingiu o sucesso reprodutivo e expansionista do fascismo Enquanto a derrota de Alemanha Itália e Japão na Segunda Guerra Mundial tornou o fascismo um anacronismo sobrevivente apenas em poucos lugares mais atrasados Espanha Portugal e Grécia no fim da década de 1930 o 325832 fascismo competia em condições de igualdade pela supremacia econômica internacional Socialismo em um só país Outro competidor de peso capaz de superar o capitalismo liberal do Ocidente foi a economia planificada da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas Os soviéticos construíram sua forma de so cialismo durante a Grande Depressão em meio a convulsões soci ais e econômicas A revolução bolchevique extinguiu a classe de investidores da sociedade russa deixando o país composto por operários e gerentes funcionários do governo pequenos empresários e camponeses principalmente camponeses O apoio aos comunistas vinha das cidades O proletariado era forte mente favorecido pelas políticas soviéticas assim como os ger entes das fábricas muitos dos quais comunistas promovidos da linha de produção para tomarem o lugar dos engenheiros da Rússia prérevolucionária Na administração pública os bolchev iques substituíram gradualmente os burocratas pouco confiáveis por militantes leais ao partido No entanto os camponeses ou pequenos comerciantes não eram muito úteis para a teoria ou prática comunista o que não seria um problema irrelevante para o país já que os dois grupos formavam 90 da população Durante a década de 1920 o regime soviético promoveu uma economia híbrida públicoprivada que aceitava as fazendas e os pequenos negócios A indústria as finanças e os serviços mod ernos eram controlados pelo governo que também dominava o comércio e as finanças internacionais do país Entretanto quase toda a agricultura permanecia privada afinal 80 da população era camponesa assim como o comércio doméstico e a indústria de pequena escala O setor público abrigava uma pequena parcela da força de trabalho Esse hibridismo produziu um crescimento 326832 relativamente rápido e até 1926 ou 1927 devolveu os índices pré revolucionarios à maioria dos setores econômicos O comércio ex terior também ressuscitou embora agora atingisse níveis bem in feriores aos de 1914 A União Soviética não era uma economia de mercado mas a planificação também não se apresentava de forma intensa as estatais se autogerenciavam como ilhas de modernid ade em um mar de atraso rural O equilíbrio entre forças econômicas e políticas era instável O modelo de sociedade socialista que os bolcheviques tinham em mente não podia ficar restrito a áreas urbanas isoladas que apoi assem o governo soviético ou não fossem hostis a ele A missão comunista exigia a construção de uma sociedade industrial mod erna O difícil seria imaginar uma ditadura do proletariado sem um proletariado Além disso os empreendedores ricos do vi brante setor privado significavam uma ameaça em potencial ao regime Os bolcheviques também consideravam grande parte dos camponeses uma ameaça inerente ao urbano regime comunista cujos objetivos acima de tudo incluíam o fim da propriedade privada A agricultura soviética era desprezada não completa mente para ser preciso No entanto era atrasada útil apenas como fonte de alimentos materiais e mão de obra para a indústria Joseph Stálin e seus partidários começaram a empurrar a eco nomia para a industrialização rápida após 1928 quando se con solidaram no controle do Partido Comunista e do governo O primeiro plano quinquenal de 1928 a 1933 atentava para uma expansão substancial do controle da economia por parte do Estado e para grandes novos investimentos na indústria O ím peto soviético de industrialização partiu de muitos aspectos domésticos especialmente do temor comunista em governar uma sociedade préindustrial apenas com o apoio de um setor indus trial urbano pequeno No entanto as condições internacionais também ajudaram a impulsionar o movimento em direção às 327832 questões internas O primeiro e mais importante motivo era que Stálin e os soviéticos estavam convencidos de que acabariam sendo atacados por uma ou por todas as potências capitalistas Não havia tempo para a construção de um setor industrial que fosse grande o suficiente para suprir um exército capaz de conter uma ameaça militar desse porte A hostilidade da esfera diplomát ica ajudou a justificar a insistência de Stálin em forçar o passo para a industrialização A hostilidade da esfera econômica provo cou o mesmo efeito Alguns dos que se opunham a Stálin diziam que a industrialização poderia ser feita de forma mais gradual e menos violenta mas isso envolveria a exportação de grãos para pagar pela importação de maquinário para o desenvolvimento in dustrial O colapso do mercado mundial de commodities inviab ilizou tal possibilidade Dessa forma na União Soviética como em muitos outros países a depressão econômica fortaleceu a ideia de privilegiar a economia doméstica Como ocorrera em outras autarquias os recursos para o desenvolvimento industrial foram amplamente retirados da agri cultura e do consumo No caso da União Soviética o Estado tornou as condições comerciais desfavoráveis à agricultura afetando de forma devastadora o cultivo privado Se os cam poneses não cooperassem de forma voluntária com a industrializ ação teriam suas riquezas tomadas e confiscadas O regime impôs fazendas coletivas aos camponeses sob o controle quase integral do governo Em 1928 97 das terras aráveis do país se des tinavam à produção privada até 1933 83 delas pertenciam às fazendas coletivas39 Não era de surpreender que a produção agrí cola se estagnasse diante desse tratamento sofrendo uma redução de mais de 25 entre 1928 e 1932 e em 1939 se tanto ap resentava os mesmos índices de 192840 Em vez de entregarem seus animais às fazendas coletivas os agricultores abateram comeram ou venderam o que puderam de 1928 a 1933 a 328832 quantidade de gado e porcos do país foi reduzida à metade e a de cabras e ovelhas diminuiu em 2341 O governo exigia que os agricultores das fazendas coletivas lhe vendessem a produção a preços artificialmente baixos forne cendo alimentos e matériasprimas para a indústria Além disso obrigava os grãos produzidos fora das fazendas coletivas a serem vendidos para o exterior Em 1931 enquanto a fome era uma ameaça 16 da safra de trigo e grãos do país era exportado para a compra de maquinário e equipamentos para as novas fábricas ferrovias e serviços42 O sucesso do governo em controlar os cam poneses tornou a produção agrícola tão pouco atrativa que muitos milhões de moradores das áreas rurais deixaram o campo se tor nando fonte de mão de obra barata para a indústria No processo de industrialização do país a pressão do governo também recaiu sobre os consumidores Os preços aumentaram e a quantidade de bens de consumo disponíveis diminuiu já que os recursos eram desviados para a indústria pesada De forma geral o consumo como parcela da economia diminuiu cerca de 30 entre 1928 e 1937 passando de 82 para 55 da renda nacional Cerca de metade desse valor se transformou em investimentos a outra metade foi destinada aos gastos correntes não investimen tos do governo divididos igualmente entre gastos militares e não militares Os impostos sobre o consumo em especial eram um sinal claro da preferência do governo pela indústria pesada em detrimento da fabricação de bens leves de consumo Entre 1928 e 1938 a produção de tecidos de lã e algodão aumentou quase na mesma proporção que o crescimento populacional ao passo que a de aço quadruplicou e a fabricação de caminhões e tratores pas sou de 2500 unidades por ano para 250 mil Os soviéticos precisavam encontrar uma forma de administrar essa economia cada vez mais complexa e controlada pelo governo Durante os dois primeiros planos quinquenais entre 1928 e 1937 eles improvisaram um caminho rumo a uma estrutura 329832 organizacional de planificação que durara décadas43 O comando era do Comitê de Planificação Estatal Gosplan que controlava uma série de ministérios industriais responsáveis por alguns setores específicos ferro aço e químicos A cada cinco anos o governo ditava as diretrizes gerais da economia Com base nessas informações o Gosplan definia os objetivos de um plano de cinco anos consultando gerentes e administradores que conhecessem as condições das indústrias e regiões O Gosplan então exigia dos gerentes das estatais o cumprimento de metas anuais de produção de acordo com o plano Os planificadores estabeleciam preços e metas de produção de forma centralizada Algumas vezes levavam em consideração o desejo de equilibrar oferta e demanda mas tinham também muitas outras preocupações como favorecer as cidades em detri mento do campo e a indústria pesada em detrimento da leve Isso levou a resultados inusitados em 1932 o quilo da farinha de centeio custava 126 copeques ao passo que o pão de centeio valia 105 copeques o quilo dando a entender que na verdade a farinha perdia o valor ao ser transformada em pão44 A explicação não era a qualidade do pão soviético mas os programas de preços motivados por aspectos políticos em vez de mercadológicos nesse caso a vontade de manter baixo o preço da comida dos tra balhadores urbanos Os gerentes das empresas utilizavam os preços quase integralmente para fins contábeis Os trabalhadores e gerentes das firmas podiam ser recompensados por bom desem penho embora os indicadores usuais dos mercados capitalistas preços lucros perdas fossem irrelevantes Não poderia ser diferente uma vez que os preços eram definidos por questões não econômicas Como um padeiro poderia ganhar dinheiro se não podia cobrar pelo pão o suficiente para cobrir os custos da farinha A economia era gerenciada por um sistema de equilíbrios ma teriais Cada ministério deveria produzir e entregar um 330832 determinado número de produtos por exemplo tratores ou cam isas e também responder pelas metas das empresas que contro lava Os planificadores ficavam responsáveis por supervisionar se as fábricas estavam sendo abastecidas com os produtos que ne cessitavam fábricas de tratores precisavam de aço as de vesti mentas necessitavam tecidos O Gosplan precisava garantir que o país produziria a quantidade de aço necessária para as fábricas de tratores a quantidade necessária de tecidos para as fábricas de vestimentas e assim por diante Os planificadores eram os encar regados da garantia de que no final tudo estaria em relativo equilíbrio As metas dos planificadores eram definidas em termos de produção quantitativa das fábricas usinas elétricas e fazendas Isso gerava problemas de qualidade um milhão de pares de sap ato malfeitos continuavam a ser um milhão de pares que deveriam ser monitorados pelo Gosplan e pelos ministérios O Partido Comunista que contava com militantes em quase todas as empresas atuava como um sistema paralelo garantindo tudo do comprometimento por parte dos gerentes à disciplina dos trabalhadores A autarquia planificada soviética foi um imenso sucesso em di versos aspectos Os melhores resultados disponíveis indicam que entre 1928 e 1937 a produção industrial quintuplicou A produção de aço passou de três para treze milhões de toneladas e a de carvão de 36 para 128 milhões de toneladas Comunismo é o poder soviético mais a eletrificação de todo o país pregou Lênin de forma pragmática e a produção de eletricidade disparou de cinco bilhões quilowattshora em 1927 para 36 bilhões em 1937 Milhares de pessoas saíram do campo e foram para a indústria e outras atividades relacionadas De 1926 a 1939 o número de agri cultores diminuiu de 61 para 48 milhões enquanto a quantidade de trabalhadores da indústria construção e transportes cresceu de seis para 24 milhões A proporção de trabalhadores agrícolas 331832 na força de trabalho passou de 45 para 12 ao passo que a por centagem de operários e outros trabalhadores semelhantes pas sou de 8 para 2645 O país se industrializou em uma década e o PIB per capita aumentou cerca de 57 entre 1928 e 193746 Tal resultado foi es pecialmente espetacular se comparado ao desemprego e à estag nação do resto do mundo Até os países industriais mais bemsu cedidos como Noruega e Suécia cresceram numa velocidade 50 menor que a URSS Apesar de o consumo ser severamente limit ado o padrão de vida soviético também parecia ter aumentado 27 segundo as estimativas As principais bases de apoio do gov erno trabalhadores urbanos burocratas membros do Partido Comunista usufruíam da maioria dos benefícios do rápido desenvolvimento enquanto a renda agrícola pouco ou nada cres cia47 No entanto o preço era alto demais A coerção a indifer ença e a desorganização do governo deixaram algumas regiões rurais do país desprovidas de grãos e milhões de camponeses morreram de fome nos terríveis anos de 1932 e 1933 Além disso o terror utilizado contra aqueles que pareciam estar impedindo a industrialização envenenou a política e a sociedade soviética por gerações No fim da década de 1930 entretanto a União Soviética já havia pulado para o primeiro escalão das nações industriais Em 1940 a produção de aço da URSS punha o país atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha Isso se aplicava somente aos produtos industriais básicos não ao padrão de vida mas como a Segunda Guerra Mundial já havia estourado certamente os res ultados eram relevantes A industrialização soviética fora feita com o isolamento econômico do resto do mundo e com um novo sistema de propriedade e controle centralizado no Estado O su cesso industrial da União Soviética notoriamente forneceu uma alternativa tanto ao capitalismo reformado do Ocidente quanto ao capitalismo militarizado das potências fascistas Para o mundo 332832 desenvolvido o socialismo soviético sustentava a promessa de um sistema de pleno emprego no qual o desígnio humano em vez dos lucros determinava o formato da economia Para o mundo em desenvolvimento o socialismo soviético dava a impressão de produzir taxas de crescimento e desenvolvimento jamais alcança das por qualquer economia Em 1939 tal fato não era de todo evidente já que a URSS continuava na periferia da economia mundial Mas para milhões de pessoas ao redor do mundo o so cialismo soviético ofereceu uma verdadeira alternativa ao capital ismo dos fascistas e socialdemocratas e mesmo ao de suas vari antes subdesenvolvidas O desenvolvimento se volta para dentro A década de 1930 também foi um momento decisivo para o mundo em desenvolvimento especialmente para as regiões pobres que já haviam atingido certa maturidade industrial Isso se aplicava à maior parte da América Latina a alguns outros países em desenvolvimento independentes como Turquia Egito e Sião Tailândia e a algumas das colônias mais desenvolvidas como a britânica Índia e a francesa Argélia A China tinha muito em comum com essas regiões embora sofresse com a invasão ja ponesa e uma guerra civil Essas áreas desenvolveram economias industriais considerá veis durante as décadas de abertura antes de 1929 Em alguns casos como o da Índia e da China a indústria era pequena em re lação ao restante da economia embora fosse grande dado o tamanho dos dois países enquanto em outros como Argentina Chile e Turquia o desenvolvimento industrial era de certa forma avançado Todos esses países haviam se inserido na economia mundial como produtores de matériasprimas para exportação mas a riqueza acumulada dessa forma criou centros urbanos cujos 333832 ganhos ficavam cada vez mais distantes daqueles obtidos pelos produtores agrícolas e mineiros Obviamente a maioria dos ex portadores defendia o livrecomércio eles queriam acesso aos mercados mundiais e a possibilidade de comprar produtos manu faturados pagando o menor preço possível ao mesmo tempo em que os novos industriais exigiam proteção contra a com petição estrangeira O colapso do comércio mundial fatalmente enfraqueceu os in teresses exportadores e os grupos urbanos passaram a dominar a política econômica Na verdade para o mundo em desenvolvi mento as condições do período da depressão econômica prevale ceram até meados da década de 1950 A Grande Depressão foi su cedida pela Segunda Guerra Mundial que apenas contraiu ainda mais a economia mundial Após o conflito a reconstrução e a Guerra Fria passaram a preocupar as nações desenvolvidas o que durou até o fim da Guerra da Coreia em 1953 Dessa forma de 1929 até por volta de 1953 África Ásia e América Latina foram deixadas à deriva econômica pelo mundo industrializado Ao longo desses 25 anos cada vez mais nações desenvolvidas avança das rompiam com o passado de economia aberta e seguiam na direção de um novo modelo com base na produção industrial doméstica para mercados protegidos Essa transição da exportação de matériasprimas para a in dustrialização doméstica imitava os países que passaram por esse processo anteriormente Por exemplo a economia política norte americana do passado era dominada pelos interesses dos produtores de algodão e tabaco do sul hostis ao protecionismo in dustrial do norte O conflito aumentou durante o início do século XIX e se agravou devido às diferenças de opinião em relação à es cravidão A Guerra Civil decidiu a questão a favor do norte e pôs o país no caminho bemconsolidado do protecionismo Na América Latina e em outras nações em desenvolvimento avança das a Grande Depressão e os anos que a sucederam 334832 desempenharam um papel semelhante ao da Guerra Civil nos Estados Unidos puseram abaixo os interesses econômicos inter nacionalistas e trouxeram os nacionalistas para o primeiro plano No mundo em desenvolvimento a Grande Depressão pôs em xeque toda uma ordem socioeconômica Sistemas com base nas exportações para a Europa e a América do Norte eram particular mente vulneráveis ao colapso uma vez que a queda dos preços dos produtos primários era maior e mais rápida que a dos bens industriais Do fim da década de 1920 ao fim da de 1930 o preço das exportações dos principais produtores de minério dos países em desenvolvimento sofreram reduções de 60 os preços do açúcar café e algodão diminuíram cerca de 60 ou mais e o val or da borracha caiu 80 Esse foi o auge de um já fraco desem penho nos últimos anos da década de 1920 De forma geral um índice de preço dos principais produtos agrícolas caiu 30 entre 1925 e 1928 e sofreu uma redução de mais 66 até 1932 de forma que nesse último ano o valor estava mais de 75 abaixo do al cançado em 192548 Outros preços também sofreram reduções mas não tão grandes quanto as matériasprimas Isso significava que as regiões em desenvolvimento estavam ganhando bem menos por suas exportações e pagando apenas um pouco menos pelas importações Os termos de troca das regiões pobres declinou de forma signi ficativa Essa formapadrão de medir a relação entre os preços dos bens importados e exportados sofreu por exemplo na América Latina uma queda de 44 entre 1928 e 1932 Isso significava que os preços das exportações latinoamericanas sofreram uma re dução 44 maior que os de suas importações Portanto com o mesmo volume de exportações a região conseguia comprar apen as 56 da quantidade que importava em 1928 Mas isso não foi tudo já que a Grande Depressão reduziu não apenas os preços mas o volume efetivo das exportações dos países em desenvolvi mento dado que a demanda das regiões ricas diminuiu de forma 335832 vertiginosa Se os níveis de comércio da América Latina caíram 44 entre 1928 e 1932 o volume das exportações diminuiu em outros 22 Em meio à queda dos preços relativos e à queda do volume demandado em 1932 a América Latina podia pagar apen as por 43 dos produtos que exportava em 192849 Em alguns países o choque foi ainda maior Quase toda a exportação chilena dependia do cobre e do nitrato produtos atingidos de forma dura pela depressão econômica Em 1932 as importações do Chile já haviam sofrido uma redução de 87 em três anos50 O impacto causado nos países agrários se assemelhava ao sofrido por uma propriedade agrícola familiar se devido às quedas de preços e de manda os produtos cultivados gerassem menos da metade da renda usual Esse fato diminuiu a capacidade dos países de com prar do resto do mundo no caso da família do resto da economia O colapso financeiro internacional intensificou o choque Quando os mercados de Nova York e Londres desapareceram as nações que dependiam de empréstimos perderam seu principal amortecedor contra condições adversas Além disso ao passo que o valor ganho pelos devedores com seus produtos afundava o ônus da dívida continuava fixo em dólares ou esterlinas Assim os endividados precisavam fazer pagamentos fixos de juros com re cursos drasticamente reduzidos obtidos com as exportações O Peru é um exemplo típico Em 1929 as exportações do país somavam US134 milhões e o serviço da dívida juros e o prin cipal da dívida externa correspondia a 10 desse valor US13 milhões Em 1932 o valor arrecadado com as exportações caiu para US38 milhões mas os serviços da dívida a serem pagos eram de US14 milhões mais de 13 dos ganhos obtidos com as exportações51 A mesma dura realidade afetava o compromisso com o padrãoouro Os custos de sustentação do regime diante dessa situação crítica eram astronômicos dado que se tornou mais difícil do que nunca obter ouro e moeda forte 336832 Os países em desenvolvimento reagiram de maneira uniforme ao choque Quando tinham escolha ou seja quando não eram colônias ou não estavam sob algum tipo de ocupação por alguma potência financeira desindexavam suas moedas do ouro as des valorizavam e adotavam o papelmoeda inconvertível Além disso em vez de utilizarem ouro e moeda forte cada vez mais escassos para honrar as dívidas com os mercados financeiros que não demonstravam qualquer sinal de recuperação quase todos os países em desenvolvimento independentes deram um default na dívida e passaram a controlar os seus fluxos internacionais de moedas e capitais Até mesmo nos países coloniais a Grande De pressão desestabilizou a posição dos estrangeiros Três quartos das fábricas de açúcar de Java que pertenciam a estrangeiros abandonaram as atividades Burocratas europeus expatriados e empregados em todo o Sudeste Asiático foram demitidos eles eram simplesmente caros demais Milhões de imigrantes e trabal hadores indianos e chineses foram embora ou mandados para casa52 Essa sucessão de acontecimentos colapso das exportações desvalorização da moeda calote da dívida fez com que as re giões em desenvolvimento retomassem a autonomia econômica Assim como as propriedades agrícolas familiares cujos rendimen tos caíram pela metade as nações em desenvolvimento passaram a comprar menos dos outros e a produzir mais para si mesmas O efeito foi mais ou menos automático os produtos feitos em casa eram mais baratos os produtos vindos dos países industriais eram mais caros As regiões em desenvolvimento passaram por um processo natural de substituição de importações uma vez que a produção doméstica tomou o lugar de produtos antes importa dos Empreendedores logo perceberam as oportunidades o que incluía desenvolver formas locais de utilização industrial para produtos agrícolas e minérios que no passado se destinavam à exportação 337832 Os acontecimentos da economia mundial foram consolidados por políticas nacionais já que os governos lutavam para reorgan izar suas economias abandonando as exportações e investindo na produção doméstica para uso doméstico A grande desvalorização das moedas tornou as importações mais caras enquanto barreiras emergenciais ao comércio aumentaram ainda mais o valor dos produtos importados Turquia e Egito Tailândia e Chile e até as autoridades coloniais na Índia ergueram barreiras às im portações concederam empréstimos a taxas baixas aos produtores domésticos e investiram na construção de rodovias e outros tipos de infraestrutura para estimular o desenvolvimento da indústria nacional As empresas do governo passaram a con trolar as estradas de ferro a eletricidade os poços de petróleo a atividade bancária e o comércio exterior Por todo o mundo em desenvolvimento a produção para o consumo local disparou principalmente de produtos manufat urados Antes o Egito exportava algodão cru e importava tecidos mas a queda do preço mundial do algodão enquanto o valor dos tecidos permanecia alto tornou a operação pouco atrativa e até impossível Empresários egípcios começaram a usar o algodão local para fazer tecidos e produtos têxteis e logo uma indústria considerável havia sido formada Durante a década de 1930 a quantidade de empregos nas fábricas de calçados tecidos e vesti mentas do Egito dobrou e a produção feita em teares mecânicos cresceu 70053 Em 1939 34 do mercado têxtil local eram abastecidos por produtos locais dez anos antes essa proporção era de 18 Ao mesmo tempo a produção local passou a atender entre 90 e 100 da demanda nacional por álcool cigarro açú car botas e sapatos cimento sabão e móveis54 A China da década de 1930 desejava superar a fragmentação política e militar do país Assim o governo nacionalista do Kuo mintang de Chiang Kaishek tentou alavancar o desenvolvimento industrial Após 1929 o governo aumentou a proteção comercial 338832 de forma vertiginosa em especial para os produtos que faziam parte da indústria doméstica como artigos de vestuário e tecidos Em cinco anos as tarifas médias que antes eram aplicadas em 3 dos importados passaram a abranger 27 dos produtos compra dos Em 1933 as tarifas sobre alguns produtos feitos de algodão estavam acima dos 10055 O governo central também utilizava os bancos e gastos públicos para estimular os investimentos mod ernos como também fizeram algumas administrações provinciais Mas essas medidas foram adotadas tarde demais para que causas sem algum impacto na empobrecida e subdesenvolvida economia chinesa na qual toda a indústria moderna correspondia a apenas 3 do PIB Além disso boa parte da atenção do governo estava voltada para os abusos japoneses praticados em território chinês e após 1937 para a invasão completa do Japão ao país Apesar das condições duras o governo chinês continuou na busca pela modernização industrial e implantou ou se apropriou de cerca de cem fábricas no setor da indústria de base56 Até os países que havia muito tempo se dedicavam à agricul tura e à mineração e eram altamente voltados para os mercados externos transformaram a sua estrutura econômica Na década de 1920 as exportações agrícolas do Brasil cresceram quase três vezes mais rápido que a indústria Mas na década de 1930 com a queda dos preços do café a desvalorização da moeda brasileira e a nova proteção tarifária a indústria cresceu dez vezes mais rápido que as exportações agrícolas dobrando de tamanho entre 1929 e 193857 As tarifas turcas mais do que triplicaram e a indústria do país foi de 9 para 17 do Produto Nacional Bruto PNB em apenas dez anos após 192958 Enquanto durante toda a década de 1930 a produção mineradora chilena permanecia abaixo dos níveis prédepressão a industrial cresceu 48 entre 1932 e 1937 e a quantidade de tecidos de algodão fabricada quintuplicou59 Em 1935 97 dos bens de consumo não duráveis chilenos eram feitos domesticamente assim como 60 dos produtos derivados de 339832 metal maquinário e equipamentos relativos a transporte60 Mesmo a Colômbia a quintessência da exportação agrícola ded icada exclusivamente ao café foi duramente afetada Entre 1928 e 1939 a produção primária colombiana aumentou em 13 mas a de produtos manufaturados aumentou duas vezes e meia Em 1945 a produção de tecidos de algodão era nove vezes maior que na década de 1920 e a de cimento 30 vezes61 As regiões pobres simplesmente não conseguiam mais pagar pelas importações e precisavam produzir mais Os imperativos econômicos por trás da substituição de importações eram tão po derosos que o processo ocorreu até mesmo em muitas colônias Os governantes britânicos da Índia se deram conta de que seria impossível manter as obrigações financeiras da colônia sem que houvesse um aumento na receita o que significava aumentar as tarifas mesmo diante dos protestos veementes dos fabricantes de produtos de algodão de Lancashire De forma mais geral o colapso dos ganhos com as exportações significava que para manter a colônia numa situação financeira favorável era ne cessário substituir as importações E a indústria indiana prosper ou quase dobrando de tamanho entre 1928 e 1938 No fim da década de 1930 a Índia produzia 95 do cimento que utilizava um aumento de 51 desde 1919 71 das folhas de flandres aumento de 25 e 70 de seu aço um aumento de 1462 Algumas das colônias mais pobres enfrentaram limitações para a substituição de importações e algumas vezes as potências coloniais resistiam ao processo Áreas como a África subsaariana e a Indochina não passaram por um processo tão visível de desen volvimento industrial local durante a época da Grande Depressão Para os britânicos que cederam tanto às exigências da Índia quanto ao fomento da industrialização resistir era mais fácil e provável nas regiões em que os industrialistas e seus defensores fossem fracos O ministro das Finanças Neville Chamberlain con tou a colegas em 1934 340832 Embora seja pouco provável que a África ocidental construa fábricas para competir com as nossas há um grande e real risco dessas fábricas serem erguidas no oeste da Malásia e possivelmente em outras partes de nosso Império colonial E talvez enfrentemos sérios problemas em relação à competição industrial dos quais alguns já fo ram vivenciados com a Índia63 Mas no geral a década de 1930 foi um momento de trans formação industrial interna na maior parte do mundo em desenvolvimento A mudança em direção aos aspectos domésticos gerou sub divisões políticas importantes Nos países em desenvolvimento independentes os poderosos grupos ligados a exportação de matériasprimas se enfraqueceram Como a borracha malaia e o cobre chileno entraram em colapso o domínio político dos barões de ambos os produtos desapareceu Em quase todos os principais países da América Latina a década de 1930 testemunhou o ofus camento da oligarquia agroexportadora Ela foi substituída por grupos urbanos com interesses domésticos não internacionais manufatureiros classes médias movimento trabalhista Os líderes nacionalistas da Turquia passaram a controlar o país de forma mais firme A monarquia do Sião foi destituída por um golpe militar nacionalista e tornouse basicamente figurativa Em toda parte as novas palavras de ordem eram desenvolvimentismo e nacionalismo ou seja um concerto de políticas governamentais voltadas para o desenvolvimento industrial e uma ênfase redo brada na produção para os mercados nacionais com o lucro sendo destinado às empresas nacionais Com frequência desenvolvimentismo era associado a políticas e medidas populistas refletindo a mobilização das classes médias e trabalhadoras urbanas Os populistas desejavam enfraquecer o tradicional poder social e político das elites Introduziram novos programas sociais segurodesemprego habitação 341832 aposentadoria além de estimularem a organização dos trabal hadores e de outros atores urbanos De fato os novos regimes deram pesos diferentes ao nacional ismo desenvolvimentismo e populismo O México por exemplo adotou os três O presidente Lázaro Cárdenas tomou posse em 1934 e construiu uma nova ordem econômica e política a partir das consequências de uma sangrenta revolução que atingiu o país entre 1910 e 1920 e de uma década de reconstrução pósrevolu cionária Cárdenas prometeu bons salários e organização às classes trabalhadoras urbanas empregos para a classe média e terras aos pequenos produtores agrícolas Também adotou o New Deal de Roosevelt como modelo em parte para aplacar a preocupação norteamericana Em 1938 Cárdenas nacionalizou os poços de petróleo que pertenciam a estrangeiros Também cri ou um sistema de energia controlado pelo governo e fez do setor público o centro da política industrial O exemplo mexicano foi notável pelo fervor revolucionário e nacionalista mas movimentos semelhantes entraram em cena em outros lugares No Brasil a Revolução de 1930 trouxe Getúlio Vargas à Presidência como um ditador nacionalista de inclinação semifascista Os partidos de esquerda chilenos chegaram ao poder de forma democrática por meio da Frente Popular e apesar de diferenças ideológicas tanto o sistema brasileiro quanto o chileno se tornaram altamente voltados para a industrialização nacion alista O Sião não era tão desenvolvida mas os líderes militares da revolução de 1932 também canalizaram os recursos para o desen volvimento industrial conduzido pelo Estado no qual um dos ob jetivos foi destituir os empresários europeus e chineses64 A Ar gentina escolheu um caminho mais tortuoso para o mesmo des tino Durante a depressão econômica os agroexportadores con tinuaram poderosos em parte por terem conseguido acesso priv ilegiado aos mercados do Império Britânico Mas o fervor nacion alista dos grupos urbanos levou ao poder um novo regime militar 342832 em 1943 e o governo passou a ser controlado por um oficial de média patente Juan Domingo Perón O peronismo foi uma com binação única própria da Argentina de nacionalismo desenvolvi mentismo e populismo que mediou a batalha entre as massas urbanas e a elite agrária tradicional incluindo atos emblemáticos como o incêndio do Jockey Club símbolo da elite As colônias mais avançadas tomaram rumo semelhante prin cipalmente a Índia Novos grupos de empresários indianos forta lecidos pela industrialização da década de 1930 acreditavam que o desenvolvimento econômico demandava mais autonomia do Império À medida que a economia crescia se desenvolvia e diver sificava mais pessoas aderiam ao burguês Movimento Con gressista que em 1937 chegou ao poder por meio do processo eleitoral65 Os nacionalistas indianos exigiam permissão para fazer o mesmo que os países em desenvolvimento independentes aumentar os impostos não pagar a dívida externa e desvalorizar a moeda Os britânicos concordaram com muitas dessas exigências mas não conseguiram superar o conflito inerente que existia entre os interesses defendidos pelos nacionalistas indianos e os in teresses daqueles que exportavam possuíam títulos e pagavam impostos A habilidade do governo indiano em lidar com as questões domésticas fora tolhida por suas obrigações com os su perintendentes britânicos66 Isso ajudou a pôr a Índia e algumas outras colônias mais avançadas em um caminho que mais tarde levaria à independência Onde as políticas econômicas eram mais fracas ou os gov ernantes coloniais mais hostis os resultados foram ainda mais polarizados e conflituosos Nessas áreas a depressão econômica causou os mesmos problemas terríveis aos produtores primários mas havia pouco espaço para formas de diversificação industrial que fossem permitidas pela administração colonial Nas palavras de um líder da África oriental A velha economia agrícola não nos basta mais Devemos fabricar e comprar nossos próprios 343832 produtos Precisamos industrializar nosso país67 Entretanto raramente os governantes coloniais agilizavam o desenvolvimento econômico das regiões que consideravam pouco adequadas às fabricas modernas Com frequência o resultado era a emergência de rebeliões de inclinações nacionalistas e radicais como as lid eradas pelos comunistas no Vietnã e na Indonésia e por nacion alistas de esquerda nas colônias britânicas e francesas da África oriental Alguns colonialistas acreditavam que a resistência em re lação ao desenvolvimento local era uma visão limitada Por exem plo o governadorgeral da Indochina escreveu em 1937 É im possível concebermos a ideia de que a Indochina deva permane cer para sempre em um estado de vassalagem econômica sob o pretexto de não competir com os produtos franceses na França ou em casa68 Mas tais visões não superaram os poderosos in teresses pela manutenção do status quo O impacto da depressão econômica nos países em desenvolvi mento foi mais diluído que aquele no mundo industrial onde é muito difícil destacar um aspecto positivo Para ser preciso a desintegração da economia mundial atingiu de forma dura os países em desenvolvimento principalmente o colapso dos preços das matériasprimas e o desaparecimento dos empréstimos inter nacionais Ainda que a América Latina o Oriente Médio a África e a Ásia tivessem sido forçados a tomar suas próprias rédeas na década de 1930 a experiência teve aspectos estimulantes A so ciedade urbana e a indústria moderna cresceram rapidamente Com elas surgiram novos grupos e classes empresários profis sionais liberais trabalhadores que liderariam essas regiões em direção à democracia e no caso das colônias à independência A alternativa autárquica 344832 A implosão da economia internacional no entreguerras levou a maioria das nações do mundo a se voltarem para dentro O re gime soviético seguiu na corrida pelo crescimento industrial mod erno com uma rigidez brutal e alta planificação econômica pas sando por cima da população rural Os governos do sul centro e leste da Europa recorreram ao novo ideal fascista já que preten diam eliminar o trabalhismo a esquerda e por fim todos aqueles que estivessem atrapalhando a busca pela autossuficiência milit arista O alto escalão dos países em desenvolvimento de América Latina Oriente Médio e Ásia rejeitou a Europa e a América do Norte para construir economias nacionais com base em princípios nacionalistas as colônias se preparavam para fazer o mesmo A economia global na década de 1930 não oferecia muito além da promessa de que no fim a integração internacional levaria indi víduos e sociedades a melhores condições em um mundo recuper ado um mundo ainda por vir No entanto promessas não sub stituem resultados e o modelo clássico de abertura econômica vinha sendo pouco eficiente nesse quesito Mas não o fascismo o comunismo e o desenvolvimentismo nacionalista que acabaram ganhando espaço Estes ofereciam emprego desenvolvimento in dustrial modernização e menos tangíveis orgulho e coesão O fascismo e o comunismo atingiram esses objetivos às custas da liberdade e daqueles escolhidos como inimigos do Estado o desenvolvimentismo também não era mais humano Uma altern ativa estava longe de surgir a Ato de estimular a economia com aumento do suprimento de moeda ou redução de impostos o oposto de deflação NE 345832 10 A construção da socialdemocracia Em 1933 John Maynard Keynes escreveu O decadente capital ismo internacional mas individualista nas mãos daquilo que nos tornamos após a guerra não é um sucesso Não é inteligente Não é bonito Não é justo Não é eficaz E não cumpre o que promete1 As democracias industriais incapazes de desenvolver uma altern ativa seguiram cambaleantes pelos primeiros anos da depressão econômica Algumas se saíram melhor que outras mas nenhuma se saiu bem certamente não tão bem quanto a Alemanha e out ros regimes fascistas Na maior parte da Europa ocidental e da América do Norte governos tentaram a deflação em seguida uma série de medidas temporárias e depois proteção comercial mas não progrediram muito em relação ao desemprego e à estag nação Muitas das democracias do mundo industrializado mergul haram no modelo alemão ou no soviético para substituírem o sis tema de mercados e adotaram o nacionalismo econômico autár quico para não mais dependerem da economia mundial A alternativa começou a surgir para os regimes democráticos em meados da década de 1930 Partidos de esquerda chegaram ao poder tendo como base de apoio as classes trabalhadoras e agrí colas Implantaram políticas econômicas mais intervencionistas expandiram os programas sociais e aumentaram os gastos públicos Os novos governos também restauraram os laços econ ômicos de cooperação existentes entre os Estados democráticos A nova alternativa foi a socialdemocracia O Estado do bem estar social moderno não só foi completamente estabelecido após a Segunda Guerra Mundial mas no fim da década de 1930 seus alicerces já haviam sido erguidos na Europa ocidental e na América do Norte Socialdemocracia na Suécia e nos Estados Unidos A socialdemocracia significou uma nova ordem política e social embora a maioria de seus aspectos já existisse Os governos apoi ados por coalizões de trabalhadores e produtores agrícolas pas saram a ser responsáveis pela intervenção macroeconômica pela segurança social e pelos direitos de emprego A experiência de dois países Suécia e Estados Unidos foi particularmente instrutiva Na década de 1920 o Partido SocialDemocrata sueco con seguiu 35 dos votos e participou do governo diversas vezes Nas eleições de 1932 os socialdemocratas obtiveram 42 dos votos populares partidos de extrema esquerda conseguiram 8 e chegaram perto de alcançar maioria na Câmara dos Deputados Posteriormente fizeram uma aliança com o Partido Agrário con seguiram melhores resultados nas eleições de 1936 e a partir de então governaram a Suécia por 40 anos2 O primeiro pilar da socialdemocracia sueca foi o geren ciamento anticíclico da demanda o compromisso do governo em aliviar os ciclos econômicos A medida foi altamente controversa durante o pior período da depressão econômica quando todos buscavam formas de pôr fim à crise Os governos socialdemo cratas foram mais longe e se esforçaram para reduzir a amplitude e a frequência das crises econômicas de forma a manter o pleno 347832 emprego Utilizaram políticas monetárias para evitar que os preços caíssem ou subissem demais e políticas fiscais gastos públicos e tributação para sustentar a atividade econômica O governo sueco foi o primeiro a exercer um gerenciamento monetário ativo Após os conservadores terem retirado a paridade fixa da moeda no ouro em 1931 o governo perguntou a três eco nomistas respeitados como deveria administrar o capital do país Os economistas recomendaram uma política monetária ativa que mantivesse os preços inalterados durante a desvalorização de 1931 O Banco Central concordou e prometeu evitar que os preços na Suécia seguissem a tendência internacional de queda3 A coalizão liderada pelos socialistas que chegou ao poder em 1933 reforçou a medida O comprometimento explícito do gov erno sueco com a estabilidade dos preços atraiu a atenção inter nacional especialmente porque a economia sueca se recuperou rapidamente Sobre a sua outra principal ferramenta macroeconômica a política fiscal o governo sueco demorou para utilizála Mesmo os que advogavam por uma política monetária menos severa acred itavam que gastar mediante a geração de déficit era uma estu pidez O principal economista do país Gustav Cassel dizia que se o governo se tornasse um tomador de empréstimos de peso para a criação de empregos com obras públicas o setor privado veria a oferta de capital secar ou ao menos ser reduzida ao mínimo con cebível4 Eli Heckscher colega de Cassel acreditava que a inici ativa privada utilizava melhor o dinheiro que os governos e que gastar mediante déficit não era um bom remédio Para ele seria O tipo de expediente utilizado pelos negociantes de cavalos que dese javam vender animais velhos Davamlhes meio bebedouro de aquavit fazendo com que corcoveassem como se estivessem na flor da juventude e apenas voltassem a ser os preguiçosos de antes quando a intoxicação chegasse ao fim5 348832 Diante de uma taxa de desemprego de 25 o governo sueco de base trabalhista precisava fazer mais do que baixar os juros e esperar pela recuperação Alguns dos consultores do governo como Heckscher e seu aluno Bertil Ohlin reconheceram a inad equação da estabilidade de preços e argumentaram que fazer uso de política monetária não seria o suficiente Os sindicatos exigiam empenho dos governos em botar os desempregados para trabal har Assim entre 1933 e 1935 os sociaisdemocratas realizaram obras públicas e emergenciais empregando cerca de 60 mil tra balhadores Eles também concederam ajuda financeira a outros 35 mil O déficit necessário para a implementação dessas medi das contra crise era pequeno 2 ou 3 do PIB e a política foi abandonada após 1935 Nessa época a Suécia já se recuperava da depressão econômica principalmente devido à desvalorização e à melhora gradual das condições internacionais Entretanto o pro grama de empregos financiado pelo déficit abriu um precedente para a redução do desemprego por meio de gastos governamen tais6 Depois da política econômica anticíclica outro pilar da social democracia sueca foi o seguro social O país havia adotado algu mas políticas sociais nas primeiras décadas do século mas de forma bastante limitada O líder socialdemocrata Gustav Möller recordou a historia de sua mãe a viúva de um ferreiro morto aos 41 anos pela tuberculose Não havia um sistema de aposentadoria para a minha avó o que teria deixado minha mãe menos sobrecarregada Não havia ajuda para as viúvas com filhos que contassem apenas com uma renda miserável A sociedade nada fazia para eliminar as moradias que ajudavam a proliferar doenças mortais Não havia uma jornada de trabalho defin ida legalmente Não havia férias remuneradas muito menos férias para as donas de casa 349832 Na década de 1930 Möller se tornou ministro do Desenvolvi mento Social e fez pressão por uma reforma social completa para que histórias como a de minha mãe fossem evitadas7 Durante os anos 1930 a Suécia implementou a maior parte dos programas associados ao Estado do bemestar social8 O gov erno adotou o segurodesemprego em 1934 e alguns anos mais tarde um plano de saúde nacional para todos Instituiu assistên cia a gestantes recémnascidos e crianças subsidiou a merenda escolar aumentou as pensões dos idosos e concedeu finan ciamentos e subsídios habitacionais para famílias Até o fim da década de 1930 o governo sueco oferecia ao povo algo próximo a uma assistência social que ia do nascimento ao falecimento mesmo que fossem benefícios de baixo valor Os sociais democratas mantiveramse firmes na promessa de aplacar o im pacto social da economia de mercado As políticas agrícolas da Suécia também ganharam uma di mensão social devido à pobreza expressiva das áreas rurais En tretanto a motivação por trás da assistência agrícola seria mais política que social O sucesso da socialdemocracia sueca de pendia da aliança com o Partido Agrário o comércio da vaca ou a vacaliança kohandel como os suecos a chamavam Antes disso o movimento trabalhista prólivrecomércio e os fazendeir os protecionistas estavam em forte desacordo os trabalhadores queriam acesso aos alimentos importados de custos baixos e os produtores agrícolas queriam mão de obra barata mas durante a depressão econômica eles fizeram um pacto Os trabalhistas passaram a defender as tarifas e os preços dos laticínios carne bacon ovos e outros produtos alimentícios locais em troca de apoio para as medidas prótrabalhistas dos sociaisdemocratas Como a plataforma eleitoral socialdemocrata de 1936 expressava com alguma resignação a classe trabalhadora sueca pagará o quanto for necessário para garantir aos agricultores e pequenos proprietários de terra um padrão de vida decente9 A aliança 350832 entre os produtores agrícolas e os trabalhadores fato incomum antes da década de 1930 tornouse a marca do Estado do bemes tar social A solução socialdemocrata incluía a incorporação dos trabal hadores ao sistema político Na Suécia isso significava encontros formais entre o empresariado e os líderes trabalhistas para geren ciar as relações industriais Durante o início da década de 1930 muitos empresários suecos continuavam hostis aos sociaisdemo cratas mas nas eleições de 1936 ficou claro que a esquerda dom inaria a política em um futuro próximo Ernst Wigforss ministro socialdemocrata das Finanças disse ao empresariado que os capitalistas Não deveriam agir com base na suposição de que as tendências polít icas atuais do Estado se enfraquecerão que a mudança política acontecerá em breve Por outro lado isso também significa que os representantes do poder político admitem a necessidade de manter condições favoráveis para a empresa privada10 No fim de 1938 representantes do governo empresários sin dicatos e outros assinaram o arrebatador Acordo de Saltsjobaden Empresários e trabalhadores concordaram em gerir as relações trabalhistas de forma central no nível nacional De modo mais geral nas palavras do cientista político Peter Gourevitch Os termos do acordo foram a aceitação por parte dos empresários do governo socialdemocrata dos custos trabalhistas altos salários altos e benefícios do Estado do bemestar social do pleno emprego da política fiscal e da atuação do governo na área social em troca de paz no mercado de trabalho ou seja a não ocorrência de greves a con tinuação do controle privado da propriedade e do mercado de capitais e a abertura à economia mundial11 351832 Os socialdemocratas estavam agora aliados a um adversário tradicional ao produtor agrícola e em paz com outro o grande empresário Era o momento da socialdemocracia Do outro lado do Atlântico uma configuração política difer ente alcançou resultados semelhantes A administração Hoover seguia ineficaz e atrasada quando não era de fato prejudicial Os democratas pareciam não oferecer mais nada de novo e na realid ade Franklin D Roosevelt concorreu à Presidência em 1932 com uma plataforma que acusava Hoover de estar pouco compro metido com as políticas econômicas ortodoxas Roosevelt re clamava por exemplo que os republicanos não mantinham o or çamento federal em equilíbrio Deixemnos tomar a coragem de parar com os empréstimos para san ar os contínuos déficits A receita deve cobrir os gastos de uma forma ou de outra Qualquer governo como qualquer família pode durante um ano gastar um pouco mais do que recebe Mas vocês sabem tanto quanto eu que a continuação desse hábito implicará uma casa pobre12 Quando chegou ao poder Roosevelt mudou e abandonou a austeridade tradicional Retirou o dólar do ouro e desvalorizou a moeda o que ajudou na recuperação Em um prazo de 100 dias a administração Roosevelt adotou programas emergenciais para regular os preços da indústria apoiar a agricultura além de ini ciar e gerir grandes obras públicas Os programas iniciais tinham um quê das medidas fascistas como as tentativas de estimular o empresariado a se cartelizar para definir os preços e a hostilidade do governo em relação à cooperação econômica internacional A mais controversa delas fora considerada inconstitucional pela Su prema Corte Então em 1935 a administração Roosevelt tomou um caminho diferente às vezes chamado de o segundo New Deal Foram incluídos programas governamentais de geração de empregos seguros sociais e direitos trabalhistas Agências com 352832 siglas que pareciam uma sopa de letrinhas e programas federais a Works Progress Administration WPA a Civilian Conserva tion Corps CCC a Agricultural Adjustment Administration AAA e dezenas de outras criaram o estilo norteamericano de socialdemocracia O governo do New Deal se concentrou na redução do desemprego e na provisão de seguros sociais Em março de 1935 o Congresso aprovou a maior verba já autorizada em tempos de paz US5 bilhões para aplacar o desemprego Grande parte foi para a WPA que em seguida proporcionou emprego a cerca de nove milhões de pessoas na construção de um milhão de quilô metros de estradas 800 aeroportos além de centenas de milhares de prédios públicos parques pontes e outros projetos Outros bil hões foram empregados no auxílio daqueles que não podiam trabalhar Alguns meses depois o Congresso aprovou a Lei de Segurança Social o primeiro sistema nacional de seguro social do país A proposta de Roosevelt tinha como fim fornecer de uma só vez se gurança contra alguns dos aspectos mais perturbadores da vida em especial os relacionados ao desemprego e à velhice A lei es tabelecia um sistema público de pensões que beneficiava viúvas e outros sobreviventes seguro por invalidez e ajuda para idosos crianças e cegos Também criou o primeiro sistema de seguro desemprego da nação que seria controlado pelos estados13 A política agrícola como na Suécia refletia a nova coalizão entre trabalhadores e fazendeiros Antes da década de 1930 os trabalhadores norteamericanos em geral eram hostis às tent ativas de se aproximarem dos produtores agrícolas o que aumentaria o preço dos alimentos Da mesma forma os fazendeiros norteamericanos se opunham às exigências da in dústria quanto à proteção comercial o que encareceria os produtos manufaturados O New Deal moldou uma nova aliança democrática entre o trabalho urbano e os fazendeiros do sul com 353832 algum apoio dos estados agrícolas republicanos do centrooeste Roosevelt gastou bilhões de dólares em dívidas dos fazendeiros pagamentos em dinheiro e sustentação de preços Estimase que esses programas tenham salvado cerca de 200 mil famílias de fazendeiros norteamericanos da execução da hipoteca e ajudou outros milhões de maneira menos dramática14 Os programas do New Deal eram motivados por imperativos políticos urgentes e não por um desejo consciente de apenas gastar mediante déficit De fato Roosevelt sempre prometia equi librar o orçamento e vetou alguns projetos de lei no Congresso por considerálos dispendiosos Mesmo no auge de suas atividades em meio à pior crise econômica da história da nação o déficit do governo do New Deal correspondia a apenas 3 ou 4 do PIB No entanto gastavase de forma inédita uma vez que o dinheiro federal usado para outros fins que não a defesa cresceram de 3 do PIB para 10 entre 1927 e 1936 Devido ao comprometimento da administração Roosevelt em equilibrar o orçamento a maior parte desse aumento foi financiada pelos altos impostos A ad ministração se tornou mais tolerante em relação ao déficit após a recessão de 19371938 que provavelmente se tornara pior devido aos esforços para equilibrar as finanças Entretanto nesse ponto não era mais possível saber se os gastos que geravam o déficit eram referentes às políticas anticíclicas ou à preparação para o rearmamento Assim como ocorrera na Suécia a reorganização da política econômica foi acompanhada por uma transformação do papel desempenhado pelos trabalhistas na política A maior inovação da administração Roosevelt no mercado de trabalho foi a Lei Nacion al de Relações Trabalhistas de 1935 que estabeleceu um procedi mento para o reconhecimento de sindicatos e exigia que os empregadores negociassem com as organizações Enquanto a Federação Americana do Trabalho voltada para os artesãos agia de forma lenta em relação às novas oportunidades o recém 354832 formado Comitê para a Organização Industrial trabalhava para organizar a força de trabalho da nação Ímpetos organizacionais marcados por grandes manifestações greves e protestos públicos se espalharam pelas indústrias de automóveis aço pneus e bor racha Em 1930 os sindicatos do país mal contavam com cerca de três milhões de membros representando menos de 11 da força de trabalho não agrícola em 1941 já havia nove milhões de tra balhadores sindicalizados o que correspondia a 23 da força de trabalho15 O movimento trabalhista veio a se tornar parte integral da coalizão democrata do New Deal e o empresariado passou a aceitar sua influência O governo federal se tornou bem mais presente durante o New Deal Isso era o equivalente norteamericano às medidas europei as para restabelecer a mão de obra nacional e implementar as políticas sociais A administração Roosevelt centralizou os gastos nacionais Ao fim da década de 1920 os gastos dos estados e das administrações locais eram três vezes maiores que o dinheiro usado pelo governo federal em assuntos não relativos à defesa Mas em 1936 os gastos federais não militares se tornaram sub stancialmente maiores que o dinheiro utilizado pelos governos es taduais e locais juntos16 O governo federal passou a regular tudo de atividades bancárias à política monetária passando por usinas elétricas e seguro social O New Deal transformou uma política econômica altamente descentralizada com baixos níveis de se guro social e direitos limitados aos trabalhadores em um novo governo federal comprometido em controlar a oferta prover pro gramas sociais e serviços públicos e abrir espaço para que os tra balhadores pudessem barganhar e participar da política A maioria das nações industriais tomou caminhos parecidos Na Dinamarca e na Noruega poderosos partidos socialistas levaram as alianças formadas por trabalhadores e produtores agrícolas ao poder17 Na Bélgica e na Suíça coalizões multi partidárias decretaram grandes reformas sociais e organizaram 355832 reuniões nacionais entre empresários e trabalhadores18 No Canadá e na Nova Zelândia governos conservadores reagiram à depressão econômica com reformas Quando a esquerda os lib erais no Canadá e os trabalhistas na Nova Zelândia chegou ao poder em 1935 tais reformas foram expandidas Na França a Frente Popular foi eleita sob circunstâncias dramáticas Inicialmente os instáveis governos de centro e centroesquerda combateram a crise com pouca força apesar de terem conduzido reformas menores como pensões para famílias e subsídios habitacionais Em 1934 uma onda de protestos violen tos de direita abalou Paris Os comunistas em um momento mod erado diante da ameaça fascista e da recente ascensão de Hitler ao poder na vizinha Alemanha deixaram de lado a hostilidade em relação aos socialistas e propuseram uma plataforma política comum O resultado foi a criação da Frente Popular que como disse seu líder Léon Blum era um reflexo instintivo de defesa contra o prolongamento de uma crise econômica que massacrava a classe média e a trabalhadora além dos produtores agrícolas do país19 A Frente Popular venceu as eleições de 1936 e em junho Blum tomou posse ele foi o primeiro premiê socialista e primeiro judeu a chegar ao poder na França em meio a uma grande onda de greves Um dia após a posse Blum convocou rep resentantes de trabalhadores e empresários para definir o Acordo de Matignon no qual o governo se comprometia a reconhecer os direitos dos trabalhadores e a aumentar os salários de forma sub stancial Em dois meses a administração da Frente Popular pro mulgou 133 leis O governo de esquerda promoveu reformas no Banco Central grandes obras públicas e passou a conceder outros tipos de ajuda agrícola além de instituir o segurodesemprego um sistema novo de acordo coletivo jornada de trabalho de 40 horas semanais e duas semanas de férias remuneradas Embora a Frente Popular tenha se mantido no poder por menos de dois 356832 anos ela teve um efeito duradouro tanto na legislação quanto na posição política do trabalho20 A GrãBretanha ficou para trás Apesar de o Partido Trabal hista estar no poder quando a depressão econômica começou da força dos trabalhadores britânicos organizados de uma longa tradição de reformas sociais e da influência de John Maynard Keynes sucessivas administrações britânicas pouco fizeram para seguir o exemplo da Europa ocidental e das outras nações anglo americanas O mesmo se aplicava à Austrália e à Holanda Nos três países a pressão por medidas socialdemocratas talvez tenha sido suavizada pelo fato de eles já contarem com um sistema de seguro social relativamente extenso No fim da década 1930 já havia uma alternativa ao fascismo e ao comunismo Todos os países industriais avançados exceto Ale manha e Itália continuavam democráticos e quase todas as democracias passaram a seguir as linhas gerais do Estado do bemestar social Os governos comprometeramse em estabilizar os ciclos econômicos oferecer segurança social e reservar um es paço central na política e na sociedade para os trabalhadores organizados Keynes e a socialdemocracia As razões para o desenvolvimento da nova socialdemocracia não são óbvias Uma explicação aceita seria o triunfo das ideias econ ômicas de Keynes Certamente essa seria a visão do próprio Keynes Nem tanto o sucesso dele propriamente dito mas o da forma geral como as medidas econômicas evoluíram Ele escre veu em 1936 As ideias dos economistas e filósofos políticos são mais poderosas do que normalmente achamos Na verdade o mundo é governado por algo mais Homens práticos que se acreditam isentos de qualquer 357832 influência intelectual são geralmente escravos do defunto de algum economista21 Com certeza as ideias de Keynes eram influentes O eco nomista era bastante conhecido pela polêmica que criou em re lação à Conferência de Versailles e ao padrãoouro e pela sua an álise sobre como a má condução da política monetária por parte dos governos contribuiu para as calamidades da época Tais idei as no entanto não eram exclusivamente de Keynes Em seu livro de 1930 Tratado sobre a moeda ele começou a desenvolver uma interpretação mais criativa dos problemas econômicos contem porâneos Keynes expunha sua visão de maneira cada vez mais detalhada de forma impressa em suas palestras lotadas na Universidade Cambridge e em apresentações ao redor do mundo para outros economistas Em 1932 as linhas gerais da abordagem keynesiana sobre a Grande Depressão já haviam sido definidas Levou mais três anos até que ele ficasse satisfeito com a sua nova construção teórica publicada em 1936 com o título de Teoria ger al do emprego do juro e da moeda A principal contribuição de Keynes para o debate econômico da época e para a teoria econômica dizia respeito à política fiscal A maioria dos economistas já considerava os déficits orçamentári os em tempos de crise algo inevitável Além disso eles eram quase automáticos pois com o declínio da economia a receita obtida com os impostos diminuía mais rápido que os gastos Keynes foi além e argumentou que os gastos deficitários eram essenciais para a reativação de economias estagnadas A economia caía numa armadilha e apenas os gastos do governo poderiam libertá la Os investimentos estavam no centro do argumento de Keynes Na maioria das abordagens clássicas os investidores são guiados apenas por oportunidades de lucro Se os salários se tornassem baixos o suficiente novos investimentos viriam e a economia 358832 voltaria à vida Entretanto Keynes entendeu que os investimentos também dependiam de expectativas em relação ao comporta mento de outros investidores Nenhum capitalista expandiria uma fábrica sem a possibilidade de demanda para os produtos não importa quão baixos fossem os juros e salários Se os investimen tos de todos os capitalistas fossem feitos de acordo com as suas expectativas quanto ao comportamento dos outros capitalistas e consumidores a economia poderia ficar presa em uma ar madilha que se autorreforçaria gerando um mau equilíbrio A ex pectativa de uma estagnação reduziria os investimentos o que faria com que a estagnação continuasse A economia de mercado não se endireitaria sozinha O prob lema era o que hoje talvez fosse chamado de falha de coorde nação se cada capitalista investisse contratasse mais trabal hadores e produzisse mais a demanda aumentaria e então haver ia um mercado para os produtos mas como nenhum capitalista poderia estar certo de que isso aconteceria todos preferiam guardar o dinheiro e deixar as coisas como estavam Nas palavras de Keynes Um indivíduo pode ser forçado a cortar gastos por circunstâncias es pecíficas e ninguém pode culpálo por isso Mas não deixe que achem que estão cumprindo um dever público agindo dessa forma O capit alismo moderno é como um velejador que só entra no mar quando o tempo está bom Tão logo surge uma tempestade ele abandona as tarefas da navegação e até mesmo vira o barco que o levaria à terra firme na sua ânsia de salvar mas não o seu companheiro22 O estímulo monetário usual não conseguia superar esse equilíbrio que tendia para a queda por contar com uma taxa de juros baixa para estimular os investimentos No entanto se os capitalistas não vislumbrassem uma recuperação nenhuma taxa de juros seria baixa o suficiente para fazêlos investir por que produzir bens que não seriam vendidos Dessa forma os 359832 investidores preferiam guardar o dinheiro em espécie a perdêlo Assim nem uma taxa de juros a 0 estimularia os investimentos Keynes disse na pior fase da depressão econômica Não acredito que nesses casos a fase do dinheiro barato será por si só suficiente para gerar uma recuperação com novos investimentos Pode ser também que o credor com a confiança abalada pela exper iência continue pedindo aos novos investimentos taxas de juros que os tomadores de empréstimos não podem esperar receber Keynes tinha uma alternativa Intervenção direta do Estado para promover e subsidiar novos invest imentos Anteriormente não havia nenhuma despesa fora do pro cedimento de empréstimos ou que não fosse para fins de guerra que o Estado achasse por bem se implicar No passado não era raro pre cisarmos esperar por uma guerra para que uma grande depressão econômica chegasse ao fim Espero no futuro que não precisemos aderir a essa atitude financeira purista e que estejamos prontos para gastar com iniciativas de paz o valor que a máxima financeira do pas sado apenas nos autorizaria a gastar com a devastação da guerra De qualquer maneira digo com muita segurança que a única saída é descobrir um objeto que seja aceito até mesmo pelos idiotas como uma desculpa legítima pelo imenso aumento dos gastos de alguém com algo23 O governo poderia romper esse círculo vicioso por meio de grandes gastos e empréstimos Isso estimularia a demanda e pro vocaria uma mudança de expectativa diante das novas condições os capitalistas expandiriam os investimentos as oportunidades de emprego e a produção Uma política fiscal anticíclica com gas tos geradores de déficit poderia alterar as expectativas e deixar a economia fluir Para alguns as ideias de Keynes eram quase marxistas em se tratando de grau de dependência do governo Na verdade 360832 algumas vezes ele as definia de forma provocadora como escre veu em Teoria geral O Estado deverá ser uma das maiores forças influenciadoras do ím peto consumista em parte por meio de seu sistema de impostos em parte fixando a taxa de juros e em parte talvez por outros meios Creio portanto que algo como uma completa socialização dos invest imentos seria a única forma de garantir uma aproximação do pleno emprego24 De fato como o próprio Keynes observou a mensagem era profundamente antimarxista por autorizar o governo a superar as fraquezas da economia capitalista Keynes acusava os economis tas clássicos os que não acreditavam que o governo podia mel horar a situação de serem os verdadeiros aliados do marxismo Os marxistas se tornaram os economistas ultraortodoxos Utilizam o argumento clássico ricardiano para mostrar que nada se ganha com a interferência Portanto como tudo vai mal e tornouse impossível melhorar a única saída é abolir o capitalismo e adotar um sistema bem diferente O comunismo seria a consequência lógica da teoria clássica25 Keynes por outro lado queria medidas mais enérgicas para salvar a economia de mercado sem a qual diria ele A estrutura atual da sociedade se tornará tão depreciada que mudanças radi cais tolas e destrutivas serão inevitáveis26 Keynes inspirou um fervor reformista como fora refletido nas memórias de um estudante de Cambridge que chamou o desen volvimento das ideias na Teoria geral de uma revelação feliz em tempos sombrios Acreditamos que Keynes descobriu o problema do sistema capit alista e prescreveu um remédio O mistério da iniquidade contem porânea fora desvendado por uma obraprima de ininterrupto 361832 empenho intelectual Assim a Teoria geral deveria ser menos util izada como trabalho de teoria econômica e mais como um manifesto sobre a razão e a alegria Ofereceu a base racional e o apelo moral para acreditarmos na saúde e na sanidade do homem contem porâneo o que os jovens de minha geração não encontram em nen hum outro lugar27 Keynes causou um impacto poderoso na economia moderna embora muitos historiadores do pensamento econômico digam que o argumento dele não fora totalmente novo28 Isso era ver dadeiro quanto a algumas medidas específicas como gastos defi citários e as justificativas teóricas para a utilização dessa medida Entretanto o livro de Keynes publicado em 1936 repensou fun damentalmente a economia moderna e a política governamental E de fato Keynes e seus seguidores refizeram a economia mesmo que nem sempre de uma forma que ele teria aprovado Keynes inventou a macroeconomia moderna a análise de variá veis econômicas gerais como desemprego e produção influen ciando gerações de pensadores econômicos Não obstante a influência dele sobre a política dos governos foi bastante limitada e suas ideias não afetaram a evolução das sociaisdemocracias da década de 1930 Por exemplo a principal arma de Keynes para a política macroeconômica era de ordem fiscal gastos mediante déficit Poucos governos democráticos da década de 1930 se utilizaram da política fiscal de forma con sciente harmônica e continuada para combater a depressão econ ômica Governos que enfrentavam déficits no orçamento os viam como um mal necessário e sempre prometiam reduzilos o mais rápido possível As políticas monetárias expansionistas eram bem mais aceitas e pareciam funcionar relativamente bem E Keynes nada tinha a dizer sobre seguro social sindicatos trabalhistas subsídios agrícolas ou sobre outras medidas centrais para os emergentes Estados do bemestar social 362832 Keynes participou de importantes discussões sobre medidas políticas Visitou os Estados Unidos em maio de 1934 conversou com grupos de New Dealers e se reuniu com Franklin Roosevelt por uma hora A reunião não causou grande impacto em Roosevelt O presidente disse que Keynes mais parecia um matemático que um economista político29 No entanto Keynes estava entusiasmado com a política norteamericana referindose a si mesmo como mais um observador admirado que um in strutor30 Apoiou a administração por meio de palestras públicas e reuniões com acadêmicos e empresários o que ajudou a conter parte do sentimento antiRoosevelt dos tradicionalistas da eco nomia e do mundo dos negócios Em uma carta aberta para Roosevelt publicada por Walter Lippmann no New York Times Keynes dizia que o aumento dos gastos federais de emergência de US3 milhões para US4 milhões por mês seria uma contribuição quase revolucionária Apesar de ter sido importante para o desenvolvimento da teor ia econômica a voz de Keynes fora apenas mais uma entre as muitas a argumentar a favor de políticas macrocoeconômicas an ticíclicas Para muitos a Escola de Estocolmo inventou o keyne sianismo antes de Keynes Nos Estados Unidos do início da década de 1930 Marriner Eccles de Utah fora um dos empresários iconoclastas a argumentar que o governo deveria as sumir grandes tarefas fiscais de uma forma que mais tarde veio a ser conhecida como keynesianismo Eccles um banqueiro provin ciano que estudou apenas até o ensino médio foi direto ao ponto Um banco não pode financiar a construção de mais fábricas de mais propriedades para serem alugadas e de mais casas quando metade de nossas propriedades está inativa ociosa pela falta de consumo e uma grande percentagem de nossas instalações comerciais está vaga na es pera de inquilinos que paguem O governo no entanto pode gastar dinheiro O governo diferentemente dos banqueiros conta com o poder da tributação e o poder de criar dinheiro não precisando 363832 depender de lucros A única saída para uma depressão econômica é o aumento dos gastos Dependemos do governo para salvar os nossos sistemas de preços lucros e créditos31 A administração Roosevelt o reconheceu imediatamente e o presidente o nomeou chefe do Federal Reserve em 1934 cargo no qual permaneceu até 194832 Keynes acreditava que os tomadores de decisão aplicavam as ideias de economistas defuntos No entanto a experiência de suas próprias ideias mostrava exatamente o oposto Líderes em todo o mundo industrial buscavam uma política econômica nova que os pudesse tirar do turbilhão da depressão Tal política econômica incluía uma política monetária mais flexível serviços públicos e programas intensivos de geração de empregos Keynes a figura pública aplaudia os desdobramentos que se desenvolviam inde pendentemente do economista Keynes No fim os economistas passaram a considerar os escritos de Keynes valiosos para o en tendimento da construção teórica da nova socialdemocracia Sobre a origem propriamente dita dessas sociaisdemocracias devemos procurála fora do mundo das ideias Trabalho capital e socialdemocracia A socialdemocracia não é uma aplicação do pensamento keyne siano mas seus formuladores compartilham com Keynes a ideia de que governos devem agir de forma vigorosa para salvar o capit alismo moderno Assim como ele os escandinavos pioneiros da socialdemocracia há tempos decidiram que sua tarefa seria mel horar o funcionamento do capitalismo A trindade de acordo com uma publicação de 1926 do partido dinamarquês deveria ser seriedade senso de responsabilidade e senso de interesse pub lico33 Para os New Dealers o objetivo também era estabilizar o capitalismo democrático Como disse Roosevelt em 1938 A boa 364832 condição de nossas instituições democráticas depende da determ inação de nosso governo em empregar os ociosos Todos os elementos do modelo socialdemocrata poderiam ser justificados pelos princípios básicos desse sistema A intervenção macroeconômica consertou o fracasso dos capitalistas que agiam em nome de seus próprios interesses se o medo levou a uma queda no consumo e nos investimentos prejudicando a todos o governo poderia empurrálos novamente para cima beneficiando a todos O seguro social ajudou a amortecer os rompimentos de ciclos econômicos imprevisíveis e não apenas para os trabal hadores34 As compensações do desemprego estabilizaram a eco nomia pois diante de uma crise os gastos do governo aumentavam de forma automática para pagar os benefícios aos que não tinham emprego Dessa forma a queda era contrabal ançada O mesmo se aplicava à ajuda aos pobres Em geral a Grande Depressão gerou o desejo para o estabelecimento de sis temas de seguro social desse tipo Seguro social para idosos pensões nacionais e seguros de saúde ajudaram tanto os diretamente beneficiados quanto a so ciedade como um todo Sem precisar mais se preocupar com as condições adversas dos infortúnios da vida os cidadãos podiam se concentrar na educação na produção e na vida cívica Como demonstraram as décadas de experiência europeia essas medidas socialmente benéficas não poderiam ser oferecidas de forma eficaz por empresas privadas ou sociedades de ajuda mútua cria das pelos próprios cidadãos A provisão de seguros sociais cent ralizada no Estado era uma necessidade econômica e social Talvez o surgimento do Estado de bemestar social tenha sido simplesmente uma necessidade para a sobrevivência das so ciedades modernas De outro modo seria difícil explicar por que todas as sociedades industriais desenvolveram sistemas de seguro social cujas similaridades de longe superam as diferenças Além disso esse desenvolvimento não se deu de forma regular ou 365832 contínua e em geral era precedido por duras batalhas políticas A socialdemocracia pode ter sido criada para o bem comum mas a oposição que o sistema gerou faz acreditar que dificilmente este teria sido criado se não contasse com adeptos fortes e determinados A classe trabalhadora foi a principal protagonista da evolução socialdemocrata Os trabalhadores eram mais diretamente afeta dos pelas incertezas que o seguro social visava corrigir Não pos suíam terras ou riquezas que pudessem protegêlos contra o desemprego doença ou invalidez Também não ganhavam o sufi ciente que os permitisse guardar para a aposentadoria precis avam de muita sorte para sobreviver até a idade de se aposentar Desde o início da Revolução Industrial os trabalhadores se organ izavam em sociedades de ajuda mútua e em sindicatos comerciais Entretanto as experiências dos trabalhadores com sistemas de se guro social raramente eram de todo bemsucedidas Os sistemas locais de segurodesemprego talvez os mais importantes de tais iniciativas iam à falência em caso de crises devastadoras simplesmente porque o número de desempregados a serem bene ficiados era grande demais Na verdade o sistema de seguro so cial de muitos países começou com uma ajuda financeira para fundos de desemprego que haviam falido e que podia ser conver tida em programas governamentais ou em subsídios para es quemas voluntários35 A classe trabalhadora e seus partidos exigiam seguro social Eles também queriam que o governo combatesse as crises econ ômicas com reflação geração de empregos e outras medidas mac roeconômicas ou ao menos que não piorassem a crise com de flação e austeridade A pressão dos trabalhistas por medidas soci ais foi reforçada pela crise da década de 1930 As condições dos trabalhadores eram ruins demais para serem ignoradas e de fato problemas que antes pareciam ser apenas desses grupos pas saram a afetar toda a sociedade Dessa forma à medida que a 366832 sabedoria herdada das classes dominantes anteriores parecia ter fracassado os partidos trabalhistas e socialistas ofereciam uma alternativa democrática clara O primeiroministro do Partido SocialDemocrata da Suécia explicou que a depressão econômica reanimou a sociedade A crise econômica tem pregado de forma enérgica contra um sistema que de repente puxa o tapete de hordas de pessoas lutando honesta mente para defender suas casas e famílias e que traz a ameaça do colapso para todas as classes sociais e a sociedade inteira Saber que catástrofes semelhantes já ocorreram antes não acalma o povo para eles saber que existe uma assistência social que os salvaria da fome não é suficiente não se tranquilizarão diante da suposta incapacidade da sociedade em protegêlos de acidentes econômicos A utilização de recursos da sociedade moderna para garantir a vida do povo é uma necessidade fundamental36 Os países que contavam com movimentos trabalhistas e partidos socialistas fortes adeririam de maneira mais rápida à socialdemocracia Quando a Grande Depressão eclodiu os so cialistas escandinavos contavam com mais votos que em qualquer parte do mundo e eram os maiores partidos de seus respectivos países A existência de uma classe trabalhadora forte ajuda a explicar a adoção de medidas socialdemocratas em muitos países mas não explica todo o fenômeno O trabalhismo era forte na Grã Bretanha e na Austrália no entanto a socialdemocracia camin hava lentamente O movimento trabalhista dos Estados Unidos era muito pequeno isso sem falar no socialismo mas o New Deal é um exemplo radical de adoção da socialdemocracia De fato em muitos países inclusive nos Estados Unidos o crescimento do movimento trabalhista moderno fora tanto o resultado como a causa das novas reformas Os sindicatos norteamericanos não contavam com mais membros em 1935 do que em 1925 A 367832 aprovação da Lei Nacional de Relações Trabalhistas de 1935 per mitiu que os sindicatos norteamericanos crescessem tão rápido quanto de fato cresceram triplicando de tamanho durante os dez anos que se seguiram37 Dessa forma embora a força dos mo vimentos trabalhistas tenha acelerado o surgimento da social democracia essa não foi a única razão A união da classe trabalhadora ajudou a promover a social democracia mas uma classe capitalista dividida o apoio ou a condescendência de empresários importantes e a oposição de out ros também foi crucial Uma característica singular da década de 1930 foi a combinação entre a influência de empresários que defendiam reformas macroeconômicas sociais e trabalhistas as sociadas à socialdemocracia Alguns deles talvez fossem reform adores sociais por natureza convicção ou religião No entanto muitos empresários tinham motivos de ordem pragmática para acolher ou mesmo defender as novas medidas Havia um grupo grande de empresários com poucas razões para serem contra as medidas socialdemocratas A experiência dos Estados Unidos fora notória uma vez que os empregadores foram por muito tempo uns dos grupos mais hostis em relação aos trabalhadores e à reforma social A nova ênfase dada à intervenção macroeconômica teve apelo entre muitos empresários Eles acolhiam as medidas que fizessem as condições comerciais voltarem ao normal Uma política mon etária flexível diminuiu o ônus das dívidas corporativas ao passo que gastos governamentais maiores significavam mais encomen das às empresas de forma direta em alguns casos ou indireta em outros Os juros baixos e os orçamentos deficitários preocu pavam alguns especialmente na comunidade financeira mas em tempos de depressão econômica esses grupos eram uma minoria insignificante As políticas para estimular a economia encon traram pouca resistência e ainda um certo entusiasmo por parte da maioria dos círculos corporativos 368832 As medidas de seguro social passaram a ser menos controver sas Quando os governos adotaram sistemas de seguro social muitas firmas consideraram o impacto insignificante Os capit alistas logo se deram conta de que se todas as empresas passas sem a ser obrigadas a contribuir para os programas de pensões e desemprego o seguro social não afetaria a competição Na ver dade as empresas que já ofereciam um sistema de pensões e segurosdesemprego internamente ficaram contentes por serem eximidas dessa responsabilidade O editor da Iron Age o inform ativo da indústria metalúrgica norteamericana escreveu A in dústria está de acordo com os amplos objetivos que conduzem o seguro social e não faz qualquer objeção à transferência desses encargos para os ombros do Tio Sam38 Alguns da comunidade empresarial até consideravam esses programas bons para seus negócios As empresas modernas para as quais empregados confiáveis e motivados eram cruciais havia muito utilizavam salários altos e condições empregatícias mel hores para atrair uma força de trabalho qualificada No decorrer das décadas de 1920 e 1930 muitos deles acreditavam que reduzir as incertezas dos trabalhadores ajudaria a estabilizar e a melhorar a força de trabalho Essas empresas procuraram manter boas re lações com seus empregados mesmo durante a depressão econ ômica como a International Harvester que propositadamente suspendeu os cortes salariais após 1929 Muitas empresas norte americanas com destaque para a Eastman Kodak e a General Electric iniciaram programas internos de pensões planos de saúde e segurosdesemprego para tornar seus empregos mais at raentes e trazer os melhores profissionais Esses capitalistas do bemestar social como são chamados pelos historiadores talvez não tenham fornecido tais benefícios aos trabalhadores por causa de uma consciência social esclare cida mas devido aos seus interesses pessoais O apoio ao seguro social era mais forte nas indústrias onde a qualidade dos 369832 trabalhadores era particularmente importante e os salários rep resentavam uma parcela relativamente pequena do custo total de produção Era mais fácil para uma empresa de capital intensivo como a General Electric ou a International Harvester que de pendiam de uma força de trabalho estável e confiável do que para empresas como as da indústria de calçados e vestuário onde a rotatividade dos trabalhadores em épocas prósperas era muito grande e onde os salários representavam o gasto maior apoiar medidas que aumentariam os custos dos salários Ao mesmo tempo ainda que as modernas indústrias de capital intensivo fossem mais favoráveis ao seguro social não lhes agradava o fato de serem as únicas a arcarem com custos adicionais Poderiam ter oferecido esses programas de forma privada mas preferiram a provisão universal para como definiu um grupo de empresas equalizar o ônus dos custos entre os competidores39 Empresas de peso nesse tipo de indústria desempenharam um papel importante no desenvolvimento dos programas sociais do New Deal Executivos da Eastman Kodak General Electric Goo dyear e da Standard Oil de Nova Jersey outra empresa de alta tecnologia e capital intensivo ajudaram a definir a legislação so cial do New Deal Outras também acreditavam que as reformas socialdemocratas não eram perigosas e podiam até ajudar a or ganizar e a estabilizar o cenário econômico Considerações semelhantes influenciavam a forma como o empresariado via as relações trabalhistas Quanto a isso os empresários eram na melhor das hipóteses tolerantes uma vez que até os empregadores mais progressistas temiam perder o con trole do ambiente de trabalho para a mão de obra organizada Re conhecer os sindicatos era uma questão de perder menos mais do que ganhar algo Relembrando as empresas de capital intensivo para as quais os custos trabalhistas eram menos relevantes e as firmas que dependiam em especial da qualidade e estabilidade da força de trabalho eram mais propensas a reconhecer os 370832 sindicatos e a trabalhar em conjunto com essas organizações do que a se opor a eles Varejistas como a Filenes também os apoiavam Assim como outros empresários liberais os varejistas precisavam de empregados leais e de alta qualidade além de poderem repassar os custos adicionais aos consumidores como todos faziam Os varejistas apoiavam a legislação trabalhista que nas palavras da associação varejista de São Francisco desvincula salários da competição e libera os concorrentes da necessidade de manter os salários tão baixos quanto os de seus competidores mais ferrenhos e perversos40 Na verdade o único grupo norte americano importante a se opor à Lei do Seguro Social de 1935 foi a National Retail Dry Goods Associationc que incluía a Macys e a Sears Roebuck Até na Suécia onde os sindicatos trabalhistas e os sociais democratas eram extremamente fortes a cooperação de segmen tos do mundo corporativo foi central para o desenvolvimento da socialdemocracia O famoso mecanismo nacional para o es tabelecimento de salários surgiu de uma aliança entre empregados e patrões da indústria metalúrgica Em 1933 e 1934 uma longa greve na construção civil e o aumento súbito dos salários do ramo ameaçaram tirar o maquinário sueco dos merca dos mundiais devido ao aumento do preço do produto Os sindic atos e a gerência das metalúrgicas altamente voltadas para as ex portações desejavam manter os salários baixos na construção civil para proteger a competitividade das exportações dos produtos suecos derivados de metal A federação dos empregadores e a federação trabalhista se uniram para impor re strições nacionais aos salários O compromisso da socialdemo cracia com a economia doméstica sugeria que os sindicatos deveriam ser responsáveis e a centralização das negociações salariais era uma forma eficaz de obrigar sociaisdemocratas tra balhadores e empresários a alinhar aumentos salariais e objetivos econômicos Disso resultou um sistema que operava em grande 371832 parte para satisfazer algumas das principais indústrias exporta doras da Suécia41 Muitas indústrias norteamericanas no entanto se opuseram ao New Deal com veemência A Liga da Liberdaded liderada por Du Pont e os sócios da Morgan reuniu os empresários inimigos das políticas sociais As empresas de mão de obra intensiva re jeitavam a visão benevolente das reformas do New Deal não con seguiam arcar com uma legislação trabalhista e social tão cara uma vez que os gastos com trabalhadores era uma parcela grande demais de suas despesas As indústrias que competiam inter nacionalmente enfrentaram ainda mais problemas porque nem todos os países adotaram o seguro social e as reformas trabalhis tas da época Mesmo os empresários liberais se preocupavam com a questão e a General Electric propôs suspender os impostos de empresas que competissem com empresas dos países atrasados De fato a US Steel deu início a negociações com o Comitê Organ izador dos Metalúrgicos da CIOe até que o cartel internacional chegou a um acordo que protegeria o mercado norteamericano Dois dias depois sem precisar mais se preocupar com a com petição estrangeira a empresa concordou em reconhecer o sindic ato42 Apesar de vários empresários continuarem a se opor à social democracia durante a década de 1930 muitos capitalistas pas saram a apoiar ou ao menos deixaram de confrontar as reformas sociais Além disso a socialdemocracia também refletia a coalizão entre de um lado produtores agrícolas e trabalhadores organizados e de outro a ala mais moderna do empresariado Nas indústrias mais avançadas tecnologicamente setores intens ivos em capital organizados de acordo com as novas formas cor porativas e que dependiam de uma força de trabalho qualificada e estável os capitalistas tendiam a defender ou pelo menos a não contestar o seguro social os direitos dos trabalhadores e outras medidas socialdemocratas 372832 A força motriz que impulsionou a evolução da socialdemocra cia veio de muitas fontes Parte da motivação certamente veio de preocupações sociais amplas e como disse Keynes pela ideia de que o capitalismo internacional mas individualista não cumpre o prometido Sem que houvesse um amplo desejo de mudanças os regimes democráticos certamente não teriam adot ado as medidas que adotaram O movimento trabalhista fora o principal responsável por plantar as sementes de muitas reformas que vieram a ser implementadas O apoio ativo ou a aceitação passiva do empresariado foi importante para a adoção de medidas socialdemocratas e trabalhistas As amplas necessidades sociais as exigências trabalhistas e a aceitação por parte dos capitalistas contribuíram para a reconstrução do sistema industrial Socialdemocracia e cooperação internacional Ao adotar a socialdemocracia o mundo industrial passou a se es forçar para construir relações econômicas internacionais mais abertas e com um grau maior de cooperação Isso ocorreu por uma série de motivos Primeiro os movimentos trabalhistas e so cialistas de vários países avançados já defendiam o livrecomércio havia muito tempo em parte para garantir alimentos baratos e outros bens de consumo aos trabalhadores urbanos Segundo a maioria dos empresários que defendia a socialdemocracia per tencia a indústrias tecnologicamente avançadas e internacional mente competitivas que consideravam o protecionismo uma her esia Terceiro à medida que a década avançava a necessidade das democracias do Ocidente de se unirem contra as autarquias fas cistas se tornava mais evidente As pequenas sociaisdemocracias da Europa ocidental lider aram os esforços para a reconstrução do comércio e das finanças internacionais tinham um longo passado de livrecomércio e não 373832 podiam considerar seriamente a alternativa autárquica Em 1932 nas profundezas da depressão econômica a Escandinávia e os Países Baixos concordaram em reduzir pela metade as tarifas entre suas nações por cinco anos O Grupo de Oslo formado por economias pequenas e abertas da Europa ocidental se tornou o núcleo dos esforços para reconstruir o sistema comercial Logo o apoio a esses esforços veio de um lugar inesperado do New Deal da administração de Franklin Roosevelt Os Estados Unidos eram o país mais protecionista do mundo ocidental mas os democratas discordavam das altas tarifas dos republicanos que durante muito tempo dominaram a política e conseguiram baixálas entre 1913 e 1920 durante o breve pre domínio democrata O sul era a principal base de apoio do livre comércio devido à importância das exportações de algodão e tabaco para a região Além disso o partido era financiado por empresas adeptas do livrecomércio descontentes com o aumento tarifário especialmente após a Lei SmootHawley de 1930 No início a administração foi atingida por disputas internas em relação à política comercial Mas logo o secretário de Estado Cordon Hull falou mais alto Hull havia defendido o livrecomér cio por muitos anos quando senador pelo Tennessee estado ex portador de tabaco Em 1934 o Congresso sancionou a Lei dos Acordos Recíprocos de Comércio de Hull A lei autorizava o pres idente a negociar reduções tarifárias acima dos 50 com outros países sem a aprovação do Congresso Em cinco anos os Estados Unidos já haviam assinado 20 acordos comerciais cobrindo 60 das importações da nação O Grupo de Oslo na Europa ocidental e os Estados Unidos no hemisfério oriental pressionavam para a re construção de uma ordem comercial França e GrãBretanha continuaram relutantes Instituíram inicialmente um sistema de preferências imperial A França re duziu suas tarifas apenas após a posse da Frente Popular Em seguida os britânicos também começaram a abandonar o sistema 374832 comercial que dava preferência ao Império o Canadá e outros membros importantes também começaram a deixálo de lado e os Estados Unidos reclamavam incessantemente das práticas dis criminatórias do Império Os franceses e britânicos concordaram em apoiar um estudo do exprimeiroministro belga Paul van Zee land que no início de 1938 recomendava esforços conjuntos para a liberalização do comércio Às vésperas da Segunda Guerra Mun dial as democracias industriais se comprometeram formalmente a reduzir as barreiras comerciais e algumas delas na verdade já haviam iniciado um movimento nessa direção Entretanto a guerra impediu novos progressos43 As relações monetárias internacionais tomaram rumo semel hante Ao se preparar para retirar o franco do ouro em 1936 o governo da Frente Popular francesa consultou os britânicos e os norteamericanos para evitar uma nova rodada de desvalorizações competitivas A desvalorização do franco em setembro de 1936 foi anunciada como parte de um acordo entre os três países Um raio de sol entusiasmouse o New York Times surgiu entre as nuvens carregadas do nacionalismo A cooperação internacional continua algo possível44 Em poucos meses os três signatários do Acordo Monetário Tripartite agora acompanhados por Bélgica Suíça e Holanda incluíram no pacto firmado medidas para es tabilizar suas moedas Longe de ser um grande ato como expres sou um importante banqueiro de Nova York o acordo significava um desafio para o emprego do nacionalismo econômico nas questões monetárias45 Não era a retomada do padrãoouro mas algo novo com base no compromisso dos governos em defender mutuamente suas moedas com uma ligação apenas limitada com o ouro Sugeria como disse Leon Fraser do First National Bank of New York a união do melhor do padrãoouro corrigido pela experiência com o que parecia viável em algumas das doutrinas das moedas controladas46 Foi preciso esperar até o fim da Se gunda Guerra Mundial quando os arranjos monetários foram 375832 elaborados e expandidos para saber exatamente o que seria essa união Entretanto as sementes de uma nova ordem monetária haviam sido plantadas Das cinzas A depressão econômica destruiu a ordem estabelecida O sistema pré1930 tinha base na ortodoxia internacionalista do padrão ouro no papel limitado do governo na economia e na predomin ância política dos empresários A calamidade da década de 1930 baniu o comprometimento da ordem clássica com a economia in ternacional e com o mercado A Alemanha a Itália e seus com panheiros fascistas rejeitaram a integração global e o mercado em favor da autarquia da intervenção estatal e da repressão aos tra balhadores No Ocidente industrial uma coalizão entre trabalhis tas produtores agrícolas e capitalistas progressistas substituiu o laissezfaire pela nova socialdemocracia que intervinha na mac roeconomia e oferecia uma variedade de serviços e seguros sociais Hjalmar Horace Greeley Schacht e John Maynard Keynes fo ram representantes de reações opostas à depressão econômica Os dois rejeitaram a ortodoxia do padrãoouro em favor de uma ação vigorosa dos governos Tanto a economia schachtiana quanto a keynesiana pregavam intervenção governamental ativismo fiscal restrições aos investimentos internacionais e controle sobre o comércio Schacht estava mais voltado à autarquia fascista já Keynes preferia o intervencionismo socialdemocrata Em 1934 nas profundezas da depressão econômica o prag mático Schacht governava a segunda maior economia do mundo enquanto o acadêmico Keynes escrevia uma obra abstrata de teor ia econômica Isso pode ter sido um reflexo de suas carapaças in telectuais e pessoais o alemão era um conformado adorador da 376832 Prússia que venerava o poder e os poderosos o inglês um ho mossexual heterodoxo que acreditava no poder das ideias e desd enhava dos políticos Suas diferenças entretanto também se re fletiram na realidade econômica e política a economia schach tiana era admirada e copiada em dezenas de regimes autárquicos na Europa e América Latina ao passo que a keynesiana obteve apoio intelectual e político de forma gradual O jogo virou dez anos depois em 1944 Enquanto o inglês brindava pelo Ocidente ter aceitado seu projeto para a economia mundial do pósguerra os oficiais da Gestapo estavam a caminho para prender o alemão Enquanto Schacht implorava para con tinuar vivo em Nuremberg Keynes se encarregava das nego ciações para uma nova ordem econômica a ser construída nas ruínas da guerra que os alemães perderam a Tipo de aguardente de origem escandinava NT b No sentido progressista anglosaxão do termo NE c Associação de lojas independentes que mais tarde virou uma cadeia de lojas de departamento NT d Do inglês American Liberty League grupo formado por empresários e políticos democratas conservadores que se opunham ao New Deal de Roosevelt NT e Sigla em inglês para o Comitê para a Organização Industrial associação de sin dicatos trabalhistas da indústria que operou entre 1935 e 1955 nos Estados Un idos e no Canadá NT 377832 parte III Juntos novamente 19391973 11 A reconstrução do Oriente e do Ocidente Logo que a guerra estourou os aliados do Ocidente já começaram a planejar a ordem econômica da paz Na verdade o projeto norteamericano para o pósguerra começou bem antes da en trada dos Estados Unidos no conflito Em setembro de 1939 menos de duas semanas após a erupção das hostilidades na Europa o Conselho de Relações Internacionais de Nova York e o Departamento de Estado formaram grupos de estudo para a produção de relatórios sobre como o país deveria levar à frente a sua visão de mundo Assim que os Estados Unidos entraram na guerra o planejamento oficial começou a ser levado a sério e cen tenas de pessoas do governo do meio empresarial e acadêmico trabalharam para traçar os desígnios da paz Arranjos anteriores da economia internacional se desen volveram a partir da interação entre os mercados e a política No entanto durante a Segunda Guerra Mundial os líderes do Ocidente foram tomados pelo medo de que o estabelecimento da paz traria de volta o desastre que se seguiu à Primeira Guerra Assim não deram chance ao acaso O formato do sistema econ ômico mundial foi definido em negociações internacionais e os governos escreveram as regras do jogo da economia global Os Estados Unidos à frente A questão mais importante para os que desejavam liderar o mundo pósguerra na direção de uma abertura econômica mais ampla era a garantia de participação dos Estados Unidos A situ ação no líder aliado mostravase favorável diferentemente do que ocorrera no período entreguerras quando o internacionalismo norteamericano associado a Woodrow Wilson era pouco popular ou ignorado Empresários e tomadores de decisão que nunca haviam abandonado o internacionalismo econômico puderam novamente incluir seus anseios na agenda do governo Leon Fraser presidente do First National Bank de Nova York defendia já em 1940 que não havia motivo para o adiamento de ações con tra os três principais males da época O nacionalismo econômico as barreiras comerciais e a guerra Assim afirmou Essas três desgraças andam de mãos dadas sempre andaram Dar uma profunda importância às políticas públicas a esse respeito mesmo enquanto reina a batalha não é algo tão incongruente impot ente ou inadequado quanto possa parecer em um primeiro momento Ninguém deveria deixar de questionar o porquê de uma praga en quanto continuasse a morrer gente em sua consequência Era de especial importância que os Estados Unidos liderassem na direção certa À medida que os Estados Unidos caminharem o mundo também caminhará pois nossa influência é tão grande e nossa força tão dom inante que quando nossas políticas forem claramente definidas e pos tas em prática provavelmente se não seguramente servirão de guia para o resto do mundo1 No decorrer da guerra a visão oficial norteamericana se con solidou apesar de existirem diferenças dentro da administração Roosevelt do Congresso e entre a população O governo e o 380832 empresariado passaram a se concentrar em três elementos da or dem do pósguerra um comércio mais livre a estabilidade mon etária internacional e a recuperação dos investimentos internacionais A primeira ideia a ser tratada foi a de um comércio inter nacional mais livre Hull secretário de Estado e responsável pelas políticas comerciais norteamericanas como típico democrata do sul exportador defendia as noções tradicionais a favor do livre comércio Pressionou o presidente para que negociasse reduções tarifárias sob os termos da chamada Lei dos Acordos Recíprocos de Comércio de 1934 O objetivo dele não era apenas buscar mer cados para os produtos norteamericanos Ele defendia a crença wilsoniana de que como o próprio definiu um comércio desim pedido combina com a paz tarifas altas barreiras comerciais e competição injusta condizem com guerra Os céticos poderiam rir mas como disse Hull É fato que nunca houve qualquer guerra entre os Estados Unidos e outro país com o qual tivéssemos conseguido negociar um acordo comercial Também é fato que os países com os quais firmamos acor dos com muito poucas exceções se uniram para resistir ao Eixo Os alinhamentos políticos seguiram os alinhamentos econômicos2 Como um partidário das ideias de Hull declarou Se não queremos que soldados cruzem as fronteiras internacionais os produtos devem fazêlo3 Os defensores do livrecomércio investiam contra um século de protecionismo norteamericano mas em diversas áreas cor porativas o apoio a barreiras comerciais persistia Mesmo assim o entusiasmo com a liberalização do comércio cresceu No fim da guerra a ideia de que a livre troca de mercadorias fazia parte dos interesses norteamericanos já era popular se não universal Havia razões práticas para essa mudança Muitas das indústrias norteamericanas utilizaram a superioridade tecnológica para 381832 exportar e investir no exterior Isso fez com que o apoio ao livre comércio se expandisse para além da tradicional base de ex portação agrícola Além do mais no decorrer da guerra tornouse óbvio que os norteamericanos não enfrentariam muita com petição estrangeira após o fim do conflito Muitos industriais pro tecionistas mudaram de ideia quando perceberam que tinham muito a ganhar com a liberalização do comércio e muito a perder com a manutenção das barreiras comerciais britânicas e europeias Os acordos preferenciais do Império Britânico chocaram os norteamericanos que por sua vez dependiam do acesso a esses mercados Como exemplo Hull se referiu às exportações de ovos para o Canadá Cedendo à pressão dos produtores o Congresso aumentou os impostos sobre a dúzia de ovos de oito para dez centavos por meio da Tarifa SmootHawleya A medida reduziu em 40 a quantidade já pequena de ovos canadenses enviados para os Estados Unidos que passou de 160 mil para menos de 100 mil dúzias A área comercial do Império Britânico que in cluía o Canadá contraatacou aumentando as taxas sobre a im portação de ovos que antes eram de três centavos por dúzia para dez centavos Essa medida fez com que as exportações norte americanas de ovos para o Canadá que eram bastante considerá veis sofressem uma queda de 98 passando de 11 milhões para menos de 200 mil dúzias O protecionismo norteamericano saiu pela culatra4 Quanto ao sistema preferencial do Império Britânico os adep tos do livrecomércio compartilhavam da mesma opinião de Hull que o considerava o maior dano já causado a este país desde que entrei na vida pública5 Mas os Estados Unidos encontravamse numa posição confortável para persistir nos seus objetivos os britânicos dependiam dos Estados Unidos para se defender dos nazistas Até os empresários e políticos simpáticos à causa britân ica se entusiasmaram com a possibilidade de utilizar a situação 382832 emergencial da guerra como sustentáculo para abrir os mercados do Império Em março de 1941 o Congresso aprovou um acordo de Lend Leaseb com a GrãBretanha sob a objeção dos ainda poderosos isolacionistas O acordo autorizava os Estados Unidos a empre star equipamentos militares e afins aos aliados mediante a promessa fictícia de que seriam devolvidos após a utilização Sobre isso o líder republicano Robert Taft alegou que emprestar equipamentos militares é o mesmo que emprestar goma de mas car é impossível devolver O subterfúgio no entanto contornou as objeções isolacionistas ao financiamento direto O plano pro metia evitar as dívidas de guerra que atrapalharam a recuperação após a Primeira Guerra Mundial as novas dívidas dos aliados com os Estados Unidos seriam perdoadas de forma mais ou menos automática Os equipamentos de guerra norteamericanos começaram a ir para as mãos dos britânicos apesar de os Estados Unidos ainda não serem um país beligerante e a GrãBretanha não ter precisado pagar pela ajuda Mas o LendLease veio com condições inclusive uma promessa britânica de liberalizar ainda mais o comércio Em agosto de 1941 o presidente Roosevelt e o primeiroministro Win ston Churchill anunciaram a Carta do Atlântico estabelecendo objetivos de guerra conjuntos que incluíam aumentar a satis fação de todos os Estados em relação ao acesso com igualdade de condições ao comércio e às matériasprimas do mundo Logo depois da entrada dos norteamericanos no conflito ambos os países assinaram um amplo acordo de LendLease em que os dois o que significava a GrãBretanha se comprometiam com a eliminação de qualquer forma de tratamento discriminatório no comércio internacional e com a redução de tarifas além de outros tipos de barreiras Todos sabiam o que isso implicaria O subsecretário de Estado Sumner Welles estava exultante A era do imperialismo chegou ao fim disse ele usando a definição de 383832 imperialismo popular na época como todo arranjo que reservava os benefícios imperiais para qualquer país menos os Estados Un idos Os britânicos aderiram à visão norteamericana de que cada nação tem o direito de supor que o seu comércio legal não será desviado ou estrangulado por tarifas monumentais preferên cias discriminações ou práticas bilaterais6 Em um ano britâni cos e norteamericanos começaram a delinear uma organização internacional do comércio para gerenciar a redução das barreiras comerciais As discussões angloamericanas sobre o capital e as finanças internacionais corriam paralelas às negociações comerciais A partir de 1940 John Maynard Keynes e Harry Dexter White rep resentantes do Tesouro norteamericano e britânico respectiva mente formularam propostas para as relações monetárias inter nacionais e os investimentos globais do pósguerra Tais planos eram menos controversos que aqueles relativos ao comércio As políticas comerciais atingiam empresas poderosas cujos lucros dependiam da proteção contra outras empresas também poder osas cujos lucros por sua vez dependiam da remoção de barreir as comerciais Não obstante quase todos ganhariam com a recu peração de um sistema monetário internacional Muitos desejavam que a cooperação monetária internacional estabelecida entre os aliados do Ocidente no fim da década de 1930 pelo Acordo Monetário Tripartite continuasse O debate girava em torno do padrãoouro Muitos banqueiros internacion ais estavam convencidos de que um padrãoouro renovado se ad equaria melhor às suas necessidades O New York Times reflet indo a visão de Wall Street opinou que o padrãoouro foi a norma internacional mais satisfatória já arquitetada como nen hum outro acordo internacional havia sido O jornal insistia Dizse com frequência que o padrãoouro fracassou A verdade é que o governo sabotou deliberadamente o padrão porque este 384832 interfere no planejamento nacionalista que o governo preferia à es tabilidade das taxas de câmbio Não é necessário inventar esquemas técnicos elaborados para garantir a estabilidade monetária O século XIX a conseguiu por meio do padrãoouro7 Muitos industriais e trabalhadores organizados no entanto estavam hesitantes quanto à retomada do padrãoouro nas mes mas bases de antes de 1914 Eles não gostavam da inflexibilidade do ouro sob a qual o governo não podia utilizar políticas mon etárias para estimular a economia nem desvalorizar a moeda com a finalidade de tornar a indústria mais competitiva Cientes de que uma simples retomada do padrãoouro seria pouco provável os banqueiros sensíveis à política estavam dispostos a concordar com um novo padrão dólar O presidente do Chase acreditava ser viável o dólar se transformar em uma âncora segura para as moedas de outras nações e se tornar um meio de troca inter nacional aceito por todos8 Não por coincidência um padrão dólar renderia aos bancos internacionais norteamericanos como o Chase uma posição privilegiada nos mercados financeiros mundiais No início de 1944 Keynes e White conseguiram conciliar a es tabilidade internacional de um padrãoourodólar com a flexibil idade doméstica para intervenções cambiais Os países parti cipariam de um Fundo Monetário Internacional FMI destinari am ouro e capital em moeda nacional para esse fundo comum e fixariam suas moedas no metal a uma taxa preestabelecida O fundo lhes emprestaria dinheiro em tempos difíceis e os valores das moedas poderiam ser modificados se as condições econôm icas assim exigissem O plano de Keynes e White uniu os objetivos dos governos britânico e norteamericano estabilidade monetária com flexibilidade e amparo ao ouro sem rigidez Keynes e White previram que os governos iriam restringir o fluxo de capital de curto prazo para estabilizar suas moedas Eles 385832 acreditavam que os efeitos nocivos dos investimentos especulat ivos se sobrepunham aos benefícios da livre movimentação de capital Tal ideia aliada à intervenção cambial enfureceu os partidários mais conservadores do ouro como o banqueiro de Nova York que reclamou do absurdo de todas as moedas receber em o mesmo tratamento Eles colocam leus litas lats e rublos e retiram dólares E somos obrigados a usar os leus litas lats e rub los9 Tais objeções contudo não se encontravam no centro do debate público Como disse Keynes O plano prevê o direito ex plícito de cada governomembro de controlar todas as movi mentações de capital O que já foi considerado uma heresia pas sou a ser defendido como ortodoxia10 Apesar de demonstrarem antipatia pelos investimentos de curto prazo especulativos Keynes e White queriam assegurar que os investimentos de longo prazo produtivos chegassem até as regiões necessitadas Os países da Europa e da Ásia devastados pela guerra em especial precisavam de grandes empréstimos para reconstruir sua infraestrutura No passado dois fatores im pediam esse tipo de investimento Primeiro as finanças inter nacionais estavam sempre envolvidas em disputas diplomáticas Uma série de estudos da década de 1930 concluiu que diferente mente do que ocorria a movimentação desejada de capitais deveria manterse separada da política entre os Estados Herbert Feis importante consultor do Departamento de Estado escreveu que se o futuro for mais feliz que o passado o capital que se mo vimenta internacionalmente não carregará consigo o poder de um Estado nacional organizado tampouco será forçado a atender aos objetivos políticos do mesmo11 O livro War and the Private In vestor obra amplamente lida de Eugene Staley foi enfático O fator fidelidade nacional deve separarse do capital migratório Posteriormente Staley escreveu A função de promover e pro teger os investimentos deverá se concentrar nas mãos de várias organizações que representem a comunidade internacional e que 386832 tenham autoridade mundial12 Os acadêmicos foram tomados por um otimismo ingênuo mas se apropriaram da ideia ampla mente difundida de que investimentos internacionais não podiam ficar sujeitos a intrigas diplomáticas O segundo entrave para os investimentos internacionais era a relutância dos credores em financiar grandes empreendimentos como ferrovias e portos Esses projetos seriam cruciais para viab ilizar outros investimentos privados mas necessitavam de tanto tempo que os investidores avessos ao risco os evitavam As inver sões privadas na Europa por exemplo exigiam que uma grande quantidade de capital fosse destinada a rodovias ferrovias e por tos projetos que dificilmente seriam financiados por investidores temerosos Keynes e White se propuseram a resolver o problema criando um Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvi mento Banco Mundial sustentado pelas principais potências financeiras O banco pegaria empréstimos na iniciativa privada a juros baixos devido às garantias de seus financiadores e repas saria para projetos que facilitariam outros investimentos priva dos O sistema de uma forma ou de outra significava uma volta ao início da década de 1930 e até os adeptos do conservadorismo financeiro o apoiavam A organização complementaria e não sub stituiria os empréstimos privados financiando empreendimentos que quando finalizados garantiriam a lucratividade dos investimentos No início de julho de 1944 cerca de mil representantes de mais de 40 países se reuniram no Mount Washington Hotel nas montanhas de Bretton Woods em New Hampshire Durante três semanas sob a liderança de White e Keynes as delegações traçaram planos para o FMI e o Banco Mundial bem como para a ordem financeira e monetária do pósguerra O sistema criado em Bretton Woods era único Nunca existira uma organização como o FMI à qual os governos membros concordaram em 387832 subordinar suas decisões sobre medidas econômicas importantes Tampouco já havia existido uma organização como o Banco Mun dial que contava com bilhões de dólares a serem emprestados a governos ao redor do mundo O capitalismo organizado da nova socialdemocracia que havia invadido as políticas econômicas das nações capitalistas ocidentais foi aplicado no plano internacion al13 Antes de a guerra terminar no Pacífico o Congresso norte americano aprovou o Tratado de Bretton Woods sob a oposição dos isolacionistas e de alguns banqueiros internacionais Em março de 1946 com a Europa e a Ásia em frangalhos as primeiras reuniões do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial foram realizadas em Savannah na Geórgia Keynes ficou decepcionado com a evolução final das institu ições de Bretton Woods Acreditava que a política estava perver tendo as boas ideias em particular suas boas ideias Keynes o nacionalista inglês ficou desanimado com o puro exercício de poder dos norteamericanos acusados por ele de desejar arran car os olhos do Império Britânico14 O economista havia criticado os aliados em 1919 pela imposição de determinações injustas aos perdedores da guerra Agora acreditava que os Estados Unidos estavam impondo determinações injustas a um dos vencedores o Reino Unido Não deveria ser uma surpresa os norteamericanos e os britânicos queriam instituições que servissem aos seus in teresses mas os britânicos esperavam ser tomadores de emprésti mos e os norteamericanos emprestadores Conflitos de interesse tornaramse inevitáveis e as relações de poder faziam com que os anseios norteamericanos prevalecessem Keynes as sim como muitos britânicos não entendia o quanto a realidade política havia mudado e não estava satisfeito com a perda de in fluência de sua terra natal Ele também acreditava que um acordo de cooperação inter nacional estava sendo destruído uma vez que os norte 388832 americanos modificaram as instituições de Bretton Woods para garantir a predominância dos Estados Unidos O desgosto de Keynes com a manipulação das decisões de Bretton Woods foi acentuado por sua contradição pessoal em relação a quase tudo o que fosse norteamericano Afinal ele era um lorde inglês agora barão de Tilton de um mundo cultural e intelectual in capaz de compreender os norteamericanos até mesmo aqueles de que ele gostava Alguns versos satíricos que circularam durante as negociações resumia a opinião do economista britânico Em Washington lorde Halifax Sussurrou a lorde Keynes É verdade todas as maletas de dinheiro são deles Mas todos os cérebros são nossos15c Keynes o economista abominava a politização de seus mecan ismos feitos com tanto cuidado para lidar com os problemas eco nômicos Na primeira reunião em Savannah ele fez um alerta alegórico sobre os perigos de as instituições serem tomadas por políticos Utilizando o balé A bela adormecida que acabara de ver se referiu às fadas madrinhas das instituições de Bretton Woods que as haviam abençoado com universalismo coragem e sabedoria Keynes disse esperar que nenhuma fada maliciosa nenhuma Carabossed transformasse as duas instituições em in strumentos políticos O provável alvo desse ataque velado teria sido Fred Vinson secretário do Tesouro norteamericano que se queixou Não me importo de ser chamado de malicioso mas me importo de ser chamado de fada16 Keynes comemorou já que muitas de suas ideias foram realizadas mas o enfurecia a forma como as políticas de poder especialmente as norteamericanas minavam seu idealismo em relação às organizações de Bretton Woods Após essa experiência igualmente amarga e doce ele voltou à Inglaterra já com a saúde debilitada por anos de excesso 389832 de trabalho Keynes veio a falecer algumas semanas depois re pentinamente na cama em casa Keynes e White no entanto haviam definido as normas básicas da nova ordem econômica As duas principais instituições de Bretton Woods definiram a economia mundial capitalista pelos 25 anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial Suas espe cificidades organizacionais não são de grande importância já que evoluíram por caminhos não previstos por seus fundadores A questão era mais ampla como observou posteriormente um dos negociadores norteamericanos A principal importância de Bretton Woods foi a derrota do isolacion ismo econômico do período préguerra e da séria ameaça de que com a vitória militar esse país mais uma vez se voltasse para o nacional ismo econômico Dessa forma a questão sobre a eficácia do Banco e do Fundo à luz dos acontecimentos do pósguerra muitos dos quais imprevisíveis não é tão importante quanto o fato de estes terem es tabelecido os princípios de cooperação dos Estados Unidos para a solução dos problemas econômicos internacionais do futuro17 A tarefa urgente Os projetos de Bretton Woods se mostraram irrelevantes perto do objetivo urgente de reconstruir as economias das nações que est iveram em guerra O pior conflito do mundo foi mais destrutivo para economias e sociedades do que o previsto No pósguerra o PIB per capita dos aliados europeus União Soviética França Bélgica Holanda e outros correspondia a menos de 45 do que valia em 1939 na maioria deles os índices de 1946 estavam bem menores que os do início da década de 1920 As condições nos países derrotados eram muito piores A produção industrial da Alemanha em 1946 correspondia a 13 do que era em 1936 e de forma geral depois da guerra a renda por pessoa nas nações do 390832 Eixo derrotado foi reduzida a menos da metade Na Itália e no Japão os índices de 1946 mais ou menos equivaliam aos de 1910 na Alemanha aos de 1890 na Áustria aos de 1870 A guerra no continente significou um retrocesso econômico de 25 anos para os vencedores e de 40 50 e até 75 anos para os perdedores18 Antes da guerra o padrão de vida alemão podia ser comparado ao britânico e correspondia a 45 do norteamericano em 1946 pas sou a ser 13 do britânico e 14 do norteamericano podendo ser quase comparado ao padrão de vida na Espanha ou no Peru A mudança de posição da Europa ocidental na economia inter nacional dificultaria a recuperação Para se reconstruir o contin ente precisava importar alimentos matériasprimas e equipa mentos tecnológicos No entanto boa parte da capacidade europeia de ganhar dinheiro para financiar as importações havia se esgotado A maioria de seus investimentos estrangeiros foi li quidada para custear a guerra o que lhes rendeu uma perda signi ficativa de rendimentos Com a Guerra Fria a Europa ocidental passou a não ter mais acesso aos mercados da parte oriental e central do continente Os Impérios europeus se desintegravam e o acesso privilegiado ficou restrito apenas aos mercados e às matériasprimas das excolônias Até o transporte de mercadorias nos países europeus tanto o que levava produtos aos mercados quanto o que trazia deles passou a sofrer limitações A frota mercante de navios de todo o continente europeu que em 1939 era três vezes maior que a dos Estados Unidos foi reduzida pela metade em 194719 A capacidade importadora da Europa ocidental passou a ser 13 daquela em 193820 Enquanto isso os Estados Unidos e o restante do hemisfério ocidental desfrutavam de prosperidade A economia norteamer icana cresceu cerca de 50 em termos gerais com ajustes infla cionários durante a guerra de 1939 a 1946 o Canadá e a América Latina cresceram ainda mais rápido O peso relativo das economias norteamericanas e europeias basicamente mudou 391832 Em 1939 a economia dos Estados Unidos era metade do tamanho das economias da Europa que se envolveriam na guerra do Japão e da União Soviética em 1946 a economia norteamericana era maior que a de todos esses países juntos Em 1939 a produção de aço de Alemanha GrãBretanha e URSS juntas era 15 maior que a quantidade fabricada pelos Estados Unidos em 1946 essa produção havia se tornado cerca de 50 menor21 A Europa e o Japão estavam destruídos ou exaustos os Esta dos Unidos seguiam ricos e poderosos e o grau de envolvimento do país com as questões mundiais determinaria a velocidade da recuperação A lembrança do isolamento norteamericano após a Primeira Guerra Mundial continuava viva na memória dos líderes europeus Eles ficaram ainda mais preocupados quando os repub licanos tomaram o Senado e a Câmara dos Representantes em 1946 já que a ala isolacionista do partido continuava forte Nesse momento aqueles que defendiam a liderança norteamericana do mundo venceram Será que os tomadores de decisão norteamer icanos haviam aprendido a lição Muito provavelmente não Com poucas exceções os líderes isolacionistas da década de 1920 con tinuavam isolacionistas na de 1940 Mas agora eles tinham sido superados em número Os Estados Unidos se voltaram para o mundo após 1945 devido a uma mudança de condições não de mentalidade O país passou a seguir absoluto no comércio nas finanças e nos investi mentos internacionais O dólar não dividia mais a liderança com a libra esterlina ou o franco e a maior parte dos investimentos britânicos e franceses no exterior havia sido liquidada Em vez de competir com a indústria dos Estados Unidos a Europa demon strava uma avidez insaciável pelos produtos das influentes fábricas norteamericanas Com o fim da guerra as exportações tornaramse duas vezes mais importantes para a indústria norte americana do que na década de 1930 Enquanto isso a com petição por importados se enfraqueceu Tal mudança econômica 392832 se refletiu nas ideias de alguns dos membros do Congresso agora mais interessados em buscar mercados para os produtos norte americanos do que preocupados com a competição estrangeira22 O crescimento do poder norteamericano e o enfraquecimento do europeu deixaram claro que os Estados Unidos influenciariam o resto do mundo Em Versalhes e também depois Woodrow Wilson e seus colegas enfrentaram a intransigência dos europeus em relação a diversas questões e foram obrigados a ceder em as suntos importantes como as indenizações da Alemanha Agora os aliados ocidentais dos norteamericanos estavam à mercê dos Estados Unidos A GrãBretanha e a França expressavam seus pontos de vista com veemência e às vezes eram ouvidas pelos to madores de decisão norteamericanos mas não havia qualquer pretensão de uma parceria com igualdade de condições Era fácil vender o envolvimento internacional norteamericano domest icamente quando os Estados Unidos ditavam as regras de tal envolvimento O poder e influência recentes da União Soviética também modificaram a visão norteamericana A sociedade soviética so freu terrivelmente com a guerra mas o sucesso militar dessa nação tornoua dominante a oeste do Reno Além disso no fim da guerra a indústria soviética vinha se tornando mais forte A reputação dos soviéticos e dos comunistas que os apoiavam na Europa melhorou imensamente com o conflito É inquestionável o quanto os comunistas sofreram nas mãos dos fascistas Mesmo que muitos socialistas democratascristãos e outros tivessem agido de forma nobre havia exceções suficientes para manchar a imagem dos partidos e movimentos não comunistas Para alguns a predominância norteamericana o declínio europeu e a influência e o poder soviéticos eram o presságio de que a aliança dos tempos de guerra continuaria Seria liderada pela união de norteamericanos e soviéticos e teria como finalid ade desarmar as nações derrotadas e reconstruir a Europa Havia 393832 quem defendesse essa ideia na administração norteamericana incluindo o secretário do Tesouro Henry Morgenthau e o exvice presidente Henry Wallace O departamento de Morgenthau traçou até mesmo um plano para desindustrializar a Alemanha restringindo o país à agricultura e à indústria leve de forma a re tirar as instalações de fabricação militar das regiões nazistas A hostilidade entre os Estados Unidos e a União Soviética no entanto aumentou com o fim da guerra as diferenças ideológicas entre as duas ordens sociais cresceram demais ou a competição política entre comunistas e não comunistas nos países europeus se tornou muito violenta O conflito pode ter sido uma consequên cia inevitável da tensão surgida quando cada superpotência se de parou com a ascendência nada bemvinda do poder da outra Talvez as hostilidades pudessem ter sido evitadas mas não foram Em 1947 a Europa já estava dividida em dois blocos um pró Estados Unidos e outro próUnião Soviética O líder de cada bloco se encarregava de unir seus defensores econômica e politica mente Os Estados Unidos e a União Soviética tomaram para si a responsabilidade pela reconstrução da Europa ocidental e orient al respectivamente O papel norteamericano na reconstrução do capitalismo com binava objetivos econômicos e antissoviéticos Alguns dos prin cipais líderes políticos e empresariais se entusiasmaram com a se gunda chance dada ao internacionalismo e utilizaram a ameaça soviética como justificativa para a construção de uma ordem eco nômica global centrada nos Estados Unidos Outros toleravam o teor econômico da hegemonia norteamericana mas apenas em prol da luta contra a União Soviética e contra o comunismo O resultado fora chamado de consenso centrista no entanto era mais um acordo que um consenso Dean Acheson presente na criação 394832 Dean Acheson foi um dos principais arquitetos dos compromissos assumidos pelas políticas norteamericanas do pósguerra Em muitos aspectos Acheson era a quintessência do protestante caucasiano anglosaxão Filho do pastor de uma igreja episcopal de Connecticut frequentou a Escola de Groton a Universidade Yale e a faculdade de Direito de Harvard No entanto também tinha traços atípicos seus pais eram canadenses sem grandes posses e ele foi um democrata por toda a vida Acheson foi pro fundamente afetado por Louis Brandeis crítico progressista do monopólio e simpático à reforma social com quem trabalhou na Suprema Corte A firma de advocacia de Acheson operava como um dos pilares do establishment Ele exercia influência na elite de Washington mas também trabalhou como consultor jurídico do Sindicato Internacional das Mulheres Trabalhadoras do Setor Têxtil Acheson foi um dos representantes do novo grupo norte americano de empresários políticos e jornalistas do pósguerra que defendia o internacionalismo wilsoniano o empresariado moderno e as reformas sociais Tais tendências surgiram juntas na década de 1930 com o New Deal enquanto uma combinação semelhante se organizava na Europa oriental com o crescimento da nova socialdemocracia Para Acheson não existia nenhuma contradição entre globalismo econômico e reforma interna Ele se tornou subsecretário do Tesouro em 1933 e foi imedi atamente encurralado entre o apoio a Wall Street e às reformas O Tesouro adepto da ortodoxia financeira e da opinião dos empresários tradicionais resistiu à decisão de Roosevelt de retir ar o dólar do ouro Seis meses após ter tomado posse Acheson se opôs de forma enérgica ao novo controle cambial e o presidente o obrigou a deixar o cargo Durante a depressão econômica Acheson passou a apoiar o New Deal defendendo líderes trabal histas na Justiça e ajudando com entusiasmo na campanha para a reeleição de Roosevelt o que desagradou muitos de seus amigos 395832 de Wall Street Ele se interessava pelas questões internacionais com afinco e se opunha com a mesma força ao isolacionismo disputou com o senador Robert Taft o principal isolacionista do país uma cadeira no conselho diretor de Yale e venceu23 No fim de 1939 Acheson apresentou sua visão de mundo em um vigoroso e notório debate em Yale Embora ainda não fizesse parte da vida pública suas ideias representavam a opinião dos que desejavam empurrar os Estados Unidos para a liderança da economia internacional Na ocasião ele afirmou Os sistemas político e econômico do século XIX há muitos anos se encontram em um processo de declínio O sistema está profundamente debil itado Os alicerces se foram Podemos ver que os créditos que um dia saíam do centro financeiro de Londres não fornecem mais os meios para a produção de riqueza em outros países Podemos ver que as áreas de livrecomércio que um dia supriram mercados importantes e a troca de commodities não existem mais Podemos ver que o poderio naval britânico não consegue mais garantir segurança de vida e investimentos nas áreas distantes da Terra Segundo Acheson um futuro melhor dependia da liderança norteamericana Disponibilizando capital para as regiões da Europa necessitadas de equipamentos para a produção com a condição de que o continente faça a sua parte em relação à remoção das obstruções ao comércio im postas por ele e que ofereça a maior quantidade possível de opor tunidades comerciais Podemos participar oferecendo um mercado mais amplo para produtos feitos sob condições decentes e nesse sen tido provendo meios para a compra de matériasprimas essenciais Podemos participar proporcionando um sistema monetário inter nacional estável sob o qual créditos seriam pegos e pagos de volta e produtos comprados e vendidos Podemos participar removendo 396832 arranjos comerciais exclusivos e preferenciais com outras áreas cria dos pela conquista militar ou financeira acordos ou ligações polític as24 Nos 12 anos seguintes Acheson se empenhou por todas essas questões financiamento à Europa em troca de cooperação econ ômica redução das barreiras comerciais norteamericanas cri ação de uma ordem monetária estável e desmantelamento do pro tecionismo estrangeiro Em janeiro de 1941 foi convidado a voltar para o governo como secretário assistente de Estado para assun tos econômicos Ele já demonstrava mais flexibilidade que na ocasião do debate sobre o ouro sugerindo em uma carta ao New York Times os trâmites legais que permitiriam a ajuda do Lend Lease para a GrãBretanha Uma vez no governo Acheson nego ciou os termos do LendLease formale com Keynes Coordenou a equipe do Departamento de Estado em Bretton Woods e ajudou no esboço dos acordos monetários Um ano depois Acheson exer ceu um papel de liderança junto ao governo para convencer o Congresso a apoiar os acordos de Bretton Woods Ele disse ao Congresso que o novo sistema era essencial para as exportações norteamericanas e que as vendas internacionais do país eram cruciais para a prosperidade dos Estados Unidos Não podemos encarar outros dez anos como os dez anos entre o fim dá década de 1920 e o início da de 1930 sem que nossos sistemas econômico e social consigam atingir os melhores resultados O que importa é o mercado Vocês precisam olhar para os mercados es trangeiros25 Com as instituições de Bretton Woods funcionando as políticas norteamericanas se voltaram para os imediatismos da reconstrução Acheson mais uma vez estava no olho do furacão agora como subsecretário de Estado do novo governo de Harry Truman O internacionalista econômico queria restabelecer 397832 Londres como centro financeiro Seria o primeiro passo para re vitalizar os mercados mundiais Os Estados Unidos e o Canadá concederam um empréstimo de US5 bilhões de dólares à Grã Bretanha 34 vindos dos Estados Unidos 14 do Canadá com a condição de que os britânicos concordassem em remover várias restrições ao comércio e aos investimentos O elemento mais im portante era a insistência dos Estados Unidos para que a Grã Bretanha suspendesse os controles cambiais de forma que os in vestidores privados e os comerciantes pudessem trocar livremente libras por dólares A retomada da convertibilidade ou seja a pos sibilidade de converter dinheiro europeu em moedas fortes foi central para a normalização das atividades comerciais Sem a me dida outras moedas exceto o dólar não estariam verdadeira mente fixas no ouro e países com dinheiro inconvertível não con seguiriam participar de maneira completa dos sistemas de comér cio pagamentos e investimentos internacionais Os líderes norteamericanos consideravam os empréstimos à GrãBretanha essenciais para a reconstrução europeia Agora precisavam convencer os norteamericanos céticos incluindo sen adores e membros do Congresso da sabedoria de mandar mais bilhões de dólares para o outro lado do Atlântico meta econômica que parecia interessar apenas alguns banqueiros e industriais A utilização de um argumento puramente econômico para convencêlos do empréstimo não funcionou e a administração Truman decidiu transformar essa meta na base de uma aliança ocidental contra a União Soviética mesmo que em 1946 o cam inho que tomariam as relações entre norteamericanos e soviéti cos continuasse incerto Joseph Jones colaborador de Acheson disse a um senador Caso essas áreas encontrem espaço para mergulhar na anarquia econ ômica na melhor das hipóteses elas abandonarão a órbita de influên cia dos Estados Unidos para tentarem uma política nacionalista inde pendente na pior se moverão para a órbita russa26 398832 Acheson simbolizava o anátema contra os conservadores isolacionistas que se opuseram ao internacionalismo após a Primeira Guerra e agora desafiavam seu renascimento No ent anto ele os convenceu de que o engajamento econômico poderia ser utilizado para objetivos antissoviéticos argumentando que os empréstimos tinham razões econômicas e geopolíticas A batalha estava longe de ser vencida quando Arthur Vandenberg repres entante dos republicanos no Comitê de Relações Internacionais do Senado advertiu Se não formos os líderes alguma outra nação poderosa se capitalizará com as nossas falhas e teremos de pagar o preço de nossa derrota Pela mesma razão o líder repub licano no Congresso acreditava que esse fato determinaria se ser ia formada uma coalizão entre a esfera britânica e a norteameric ana ou uma coalizão entre a esfera britânica e a soviética A pre ocupação foi certamente exagerada O biógrafo de Acheson con cluiu que o político considerava lamentável o fato de o emprés timo precisar ser justificado com o pretexto da ameaça soviética mas aceitava essa condição como o preço a ser pago pela garantia do apoio necessário27 O empréstimo aos britânicos passou pelo Congresso mas as políticas econômicas que seriam financiadas por ele fracassaram Quando a convertibilidade da libra foi retomada em julho de 1947 todos os investidores que puderam trocaram libras por dólares Em poucas semanas os bilhões foram gastos e o governo precisou recorrer a controles cambiais A reconstrução da Europa exigiu ações mais amplas do que o previsto Em fevereiro de 1947 o governo voltou à Câmara e ao Senado agora ambos controlados pelos republicanos para pleitear ajuda a países como a Grécia e a Turquia Mais uma vez os argumentos econômicos foram ineficazes Contudo nesse momento a ameaça soviética era mais concreta uma vez que as relações com o país comunista se deterioravam rapidamente O subsecretário Acheson e o secretário de Estado George Marshall sabiam que os 399832 republicanos estavam mais preocupados com a expansão do comunismo do que com o livrecomércio Em encontro privado Vandenberg advertiu Truman de que só havia uma forma de con seguir o apoio popular para a ajuda econômica Senhor presid ente a única maneira de se conseguir isso é proferir um discurso que deixe o país apavorado28 O presidente fez o discurso em março de 1947 e anunciou a Doutrina Truman Três meses após a Doutrina Truman ter incumbido os Estados Unidos de se lançar em um esforço global contra os soviéticos e seus aliados o secretário de Estado George Marshall anunciou o Plano de Recuperação Econômica o Plano Marshall Foram en viados US35 bilhões para a Europa com o objetivo de reconstru ir as economias dos aliados do Ocidente um programa paralelo mandou meio bilhão de dólares para o Japão Acheson substituiu Marshall como secretário de Estado no início de 1949 a tempo de observar a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte Otan um bloco militar norteamericano para supervisionar sua esfera de influência econômica No ano seguinte Acheson prestou auxílio a um projeto francogermânico para unificar as indústrias de carvão e aço dos dois países o primeiro passo para a criação de um Mercado Comum Os alicerces do mundo pósguerra já haviam sido erguidos Como expressa o título do livro de memórias de Dean Acheson ele esteve presente na criaçãof de uma nova economia mundial Em 1933 durante os infelizes seis meses passados no Tesouro ele lutou pela ortodoxia do padrãoouro em detrimento de medidas novas e mais flexíveis Voltou à formulação política em 1941 a fim de tentar convencer um Congresso hesitante a aprovar a entrega de alguns destróieres aos britânicos O Lend Lease Bretton Woods e os empréstimos à GrãBretanha deixaram claro como os Estados Unidos pretendiam reorganizar a eco nomia mundial O Plano Marshall solidificou uma nova comunid ade de interesses e a ligação com a diplomacia da Guerra Fria 400832 garantiu o apoio doméstico norteamericano Das ruínas do anti go regime Acheson e seus colegas alcançaram os objetivos para 1939 o auxílio norteamericano à Europa a cooperação econôm ica europeia a liberalização do comércio e um novo sistema mon etário e de investimentos para o mundo Os Estados Unidos e a reconstrução da Europa A ajuda e os empréstimos do governo norteamericano foram a primeira contribuição do país para o crescimento da Europa ocidental e do Japão após a guerra Imediatamente após o con flito os Estados Unidos enviaram mais de US10 bilhões como assistência emergencial à Ásia e à Europa Em grande parte a ajuda se deu pelo fornecimento de comida e de outras necessid ades básicas a populações muitas vezes famintas O Plano Mar shall e o programa japonês paralelo se destinavam à reconstrução econômica Os custos cerca de US14 bilhões correspondiam a mais de 5 do PIB norteamericano de 1948 a mesma parcela do PIB dos Estados Unidos no ano de 2000 teria sido de mais de meio trilhão de dólares No primeiro ano de funcionamento a as sistência do Plano Marshall era de 3 a 6 da renda nacional da maioria dos países europeus beneficiados e em média significava 14 de seus investimentos totais Em alguns países menores a ajuda do Plano Marshall correspondia a mais de 110 da renda nacional29 Os mercados norteamericanos eram outro recurso utilizado pelo Japão e pela Europa ocidental para estimular a reconstrução Os europeus estavam desesperados pelos alimentos matériaspri mas e equipamentos tecnológicos dos Estados Unidos A ajuda e os empréstimos norteamericanos não eram suficientes e em al gum momento os europeus iriam ter de pagar pelas importações com os produtos que vendiam Pela primeira vez que se tem 401832 notícia os mercados norteamericanos estavam relativamente abertos aos europeus As exportações europeias voltaram a cres cer quando a Guerra da Coreia estourou em 1950 uma vez que a necessidade por aparatos de guerra aumentou a demanda norte americana A Europa e o Japão embarcaram em um boom exportador tendo como base os Estados Unidos o que continuou ao longo da década de 1950 As exportações da Europa ocidental em 1946 po diam ser comparadas às vendas internacionais sob as condições autárquicas de 1938 e rendiam US8 bilhões Em 1948 o valor dobrou e em 1951 passou a ser de US27 bilhões Em 1948 as exportações da Alemanha Ocidental somavam mero um bilhão de dólares o que pagava apenas por metade das importações do país Em 1951 as exportações passaram a atingir US4 bilhões valor maior que o das importações necessárias para a nação Levada pelas exportações a produção industrial da Alemanha Ocidental quase triplicou durante os três anos do Plano Marshall30 Embora o desempenho alemão tenha sido o mais notório toda a Europa ocidental cresceu extraordinariamente rápido A produção de aço conjunta entre Alemanha França Itália e Benelux saltou de doze milhões de toneladas em 1946 para 41 milhões de toneladas em 1952 Em 1953 a renda per capita em todos os países da Europa ocidental e no Japão era maior que a de 1938 e continuava a cres cer com grande velocidade Em 1951 as três maiores economias GrãBretanha França e Alemanha haviam superado os níveis recordes de recuperação de todo o período que vai do fim da Primeira Guerra Mundial à Grande Depressão da década de 193031 O ambiente político estabelecido pelos Estados Unidos causou um impacto pelo menos tão grande quanto o comércio e os finan ciamentos diretos do país O apoio norteamericano às novas in stituições econômicas a liderança no bloco ocidental e o envolvimento norteamericanos nas questões mundiais durante a 402832 Guerra Fria se combinavam para garantir condições estáveis e previsíveis aos investidores na Europa e no Japão A situação con trastava com a da década de 1920 quando conflitos internacion ais e domésticos desestabilizaram mercados e frearam investi mentos O preço foi a aceitação do domínio norteamericano den tro do bloco mas os líderes europeus e japoneses estavam tão fra cos e suas ideias tão de acordo com as dos Estados Unidos que o preço valia a pena Os Estados Unidos financiavam as duas instituições de Bretton Woods em funcionamento o FMI e o Banco Mundial e montaram uma sede para elas em Washington Devido a um acordo o presidente do banco seria norteamericano e o do fundo europeu mas a predominância norteamericana fora tomada como certa nas duas organizações assim como na Otan e em outras parcerias ocidentais O banco e o fundo quase não atu aram entre o fim da década de 1940 e o início da de 1950 A ajuda financeira concedida pelos Estados Unidos tornou irrelevante a tarefa reconstrutora do Banco Mundial e muitas foram as dis cussões sobre como conduzir sua missão desenvolvimentista No que se tratava das relações monetárias os países europeus contro lavam suas moedas de forma severa limitando o montante de dinheiro nacional que os cidadãos poderiam converter em ouro ou dólares Apenas o dólar norteamericano e algumas outras poucas moedas podiam ser trocadas livremente Mas desde 1934 o câm bio fixo da moeda norteamericana era de US35 para cada onça de ouro e essa medida assim como o apoio norteamericano à or dem de Bretton Woods oferecia uma âncora financeira confiável para o comércio as finanças e os investimentos O padrãoourodólar garantia a estabilidade monetária inter nacional enquanto os Estados Unidos não tentavam forçar a re tomada da rigidez do padrãoouro nas políticas nacionais A me dida foi trazida para o país em setembro de 1949 quando o Reino Unido desvalorizou a libra em 30 que passou a valer US28 O 403832 FMI foi apenas informado do ato seguido por desvalorizações semelhantes na Europa e em outras regiões que correspondiam a 23 do comércio mundial Em um mundo regido pelo padrão ouro o fato poderia ser encarado como o primeiro tiro de uma guerra cambial na ordem de Bretton Woods era considerado um ajuste necessário para aumentar a capacidade exportadora de eco nomias em dificuldade32 A nova ordem monetária e os Estados Unidos demonstraram uma flexibilidade ainda maior ao desen volverem um sistema de compensação multilateral a União Europeia de Pagamentos A organização estimulou a Europa ocidental a comercializar entre si mesmo que muitas vezes à custa dos Estados Unidos A mensagem era clara o desejo de es tabilidade cambial internacional seria preparado pela necessidade de uma macroeconomia nacional saudável Diante da estabilidade das relações monetárias internacionais o comércio mundial começou a ser liberalizado No entanto o processo não teve início de forma favorável Em Washington onde o FMI e o Banco Mundial cresciam a Organização Inter nacional do Comércio OIC era estrangulada ainda no berço Os protecionistas norteamericanos a consideravam partidária em demasiado do livrecomércio e os defensores do livrecomércio a viam como muito protecionista Além disso o governo Truman nunca havia tentado fazêla passar pelo Congresso que certa mente a barraria A liberalização do comércio no entanto passou por cima do cadáver da OIC Em 1947 em Genebra 24 países assinaram o que deveria ser o provisório Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio ou em inglês Gatt General Agreement on Tariffs and Trade O acordo reduziu diversas barreiras comerciais e promoveu um fórum de negociação e consultas sobre políticas comerciais para as nações industrializadas Os países industriais do Ocidente haviam abraçado a meta de um comércio internacional mais justo 404832 Era necessário assegurar o apoio político à nova ordem O ele mento econômico da estabilização foi importante pois um sis tema econômico internacional estável iria revigorar a comunidade empresarial que havia sido desmoralizada pela Grande De pressão por conflitos de classe guerras civis e conflitos entre Estados No entanto havia muitas questões políticas domésticas a serem resolvidas Os capitalistas na Europa e no Japão na melhor das hipóteses não eram populares e na pior eram acusados de colaborar com o fascismo A guerra havia desmoralizado a direita e o centro era pequeno demais para conter a esquerda Como lem brou Dean Acheson Apenas na GrãBretanha e na Rússia a população tem alguma confi ança no governo nas moedas ou nas organizações sociais e econôm icas Nos outros lugares os governos foram repudiados ou dis solvidos por conquistadores as classes sociais nutriam entre si uma hostilidade cruel com grupos de resistência perseguindo e matando às vezes após julgamentos pomposos colaboradores do inimigo mais recente33 Na maior parte dos países da Europa a esquerda dominou a política do pósguerra Os socialistas fortaleceram a sua já proeminente posição ao passo que os comunistas transformavam o desejo de transformação socioeconômica e o respeito popular pelos feitos soviéticos e em muitos lugares pela resistência comunista durante a guerra em apoio nas urnas e em sindicatos trabalhistas De forma geral as primeiras eleições após a guerra renderam aos socialistas e comunistas a maior parte dos votos nos Parlamentos e com frequência uma clara maioria Partidos comunistas se aliaram a coalizões governantes na França Bélgica e Itália A situação no entanto não sobreviveria à Guerra Fria e os comunistas acabaram retirados desses governos em 1947 Ao mesmo tempo alguns dos que foram banidos e desmoralizados por associações com os fascistas foram inocentados nos primeiros 405832 meses do pósguerra e puderam voltar para o governo ou retomar suas atividades comerciais Não obstante os movimentos trabal histas e os partidos socialistas foram cruciais para as novas polít icas da Europa ocidental34 A política do pósguerra fora bem mais ampla e bem mais próesquerda do que seria aceitável antes do conflito No per íodo anterior a 1939 centro em geral se referia a uma aliança entre liberais agrários e tradicionais de base comercial Nas con dições do fim da década de 1940 a abrangência centrista ia dos democratascristãos aos socialistas Embora os Estados Unidos demonstrassem certa aversão ao apoio de socialistas como os tra balhistas britânicos os novos governos contaram com forte auxílio dos norteamericanos quando passaram a seguir o cam inho que os tornariam sócios plenos da ordem econômica ocidental A União Soviética forma um bloco Os pontos de partida e chegada da reconstrução na Europa orient al não foram os mesmos da ocidental A devastação foi infinita mente maior nas partes central e oriental do continente onde ocorreram as batalhas mais destrutivas da guerra O número de russos mortos nos três anos do cerco a Leningrado foi maior que o de britânicos e norteamericanos durante toda a guerra dois mil hões de soldados alemães e russos morreram na batalha de Stalin grado que transformou a cidade em um amontoado de destroços Durante a fase mais critica da guerra da invasão à Rússia em junho de 1941 à chegada dos aliados à França em junho de 1944 93 das baixas alemãs aconteceram na frente oriental35 Até o fim da guerra a União Soviética perdeu por volta de 20 milhões de pessoas das quais mais da metade era civil Dezenas de milhares de soviéticos ficaram desabrigados e na parte 406832 ocidental do país ocupada pelos alemães cerca de 45 da in dústria do préguerra pararam de funcionar O governo havia transferido muitas fábricas para os montes Urais e permitido que a produção industrial continuasse e até crescesse um pouco dur ante a guerra Mas a quantidade de bens de consumo e de alimen tos produzidos mal chegava à metade dos índices do préguerra que já eram baixos Os custos para a reconstrução das cidades fábricas e fazendas arruinadas eram imensos36 A maioria dos países da Europa oriental também foi severa mente prejudicada pela guerra uma vez que as forças soviéticas partisans e do Eixo lutaram entre si A parte da Alemanha ocu pada pela União Soviética encontravase tão destruída quanto as áreas britânicas norteamericanas e francesas Apenas a Bulgária a Albânia e o território tcheco foram poupados de perdas maiores De maneira geral em toda a região a produção agrícola caiu para 14 dos índices do préguerra e a industrial para metade ou mais37 Para os perdedores a parte oriental da Alemanha e os exali ados Bulgária Hungria e Romênia a destruição da guerra foi acentuada pelas indenizações Os aliados concordaram com a transferência de dinheiro e equipamentos dos perdedores para os vitoriosos Os Estados Unidos e aliados no entanto logo sus penderam essas transferências feitas pela parte oriental da Ale manha principalmente quando a Guerra Fria levou o Ocidente a acreditar que uma Alemanha forte e próspera seria mais útil que uma pobre e fraca Os soviéticos continuaram a exigir indeniza ções mesmo com a Guerra Fria Eles desmontaram 1900 in stalações alemães e enviaram os equipamentos por navio à União Soviética O governo de Moscou também se apoderou por quase dez anos mas deixandoas no local de mais de 200 grandes fábricas as quais eram responsáveis por 13 da produção indus trial da região Entre o pagamento de indenizações e os custos da ocupação de responsabilidade dos alemães devido a um acordo 407832 com os aliados a Alemanha Oriental talvez tenha pago 18 de sua renda nacional para a URSS durante uma década após o fim da guerra38 Romênia e Hungria também foram obrigadas a pagar indenizações substanciais em dinheiro produtos ou serviços principalmente para a URSS a Bulgária pagou quantias mais modestas à Iugoslávia e à Grécia39 As condições no Oriente eram ainda menos estáveis do que após a Primeira Guerra Mundial A Hungria passou pela pior in flação da história mundial Quando a guerra chegou ao fim cada dólar norteamericano valia 1320 pengos o que já indicava uma queda severa em 1938 um dólar valia 54 pengos e em 1944 44 pengos No fim de 1945 os preços na Hungria quadruplicaram e um dólar passou a valer 290 mil pengos No início de 1946 os preços começaram a subir tão rápido que a oferta de moeda não conseguia acompanhar e o dinheiro passou a valer quase nada Em meados de 1946 os preços triplicavam ou cresciam ainda mais a cada dia Em meio ao caos os salários foram reduzidos a 18 do que valiam em 1938 em termos de poder de compra Em 1o de julho no fim do dia o dólar norteamericano passou a valer cinco nonilhões de pengos um nonilhão é um dez seguido por 30 zeros As impressoras do governo não conseguiam acompanhar o descontrole e nesse momento todas as notas húngaras em circu lação juntas valiam um milésimo de centavo norteamericano40 Enquanto a Hungria sofria com a severa inflação muitos países da Europa oriental também enfrentavam declínios traumáticos de suas economias Além do estado geral de transtorno e confusão no Leste Europeu no fim da guerra as formas de organização econômica da Europa oriental e ocidental eram profundamente diferentes mesmo antes de a parte oriental ter sentido o impacto da União Soviética Antes de 1939 a maior parte da região havia seguido na direção das autarquias e de controles governamentais e as con dições durante a guerra seja com a ocupação alemã ou como 408832 parte da aliança liderada pelos nazistas levaram a um maior controle da economia e centralização da propriedade no Estado Os setores públicos que já eram enormes foram tomados pelas exigências relacionadas à guerra e pela expropriação de judeus e outros indesejados Com a liberação as novas autoridades ocu param propriedades de alemães criminosos de guerra e colabor adores expandindo ainda mais o setor estatal As já fracas classes empresariais se enfraqueceram ainda mais com o fim da guerra uma vez que muitos foram incluídos na categoria de expropriação Os confiscos do pósguerra também transformaram a estru tura agrária Milhões de produtores agrícolas de origem alemã fo ram expulsos e tiveram suas terras tomadas juntamente com grandes propriedades rurais e outros bens confiscados de crim inosos de guerra e colaboradores As terras foram distribuídas aos pobres ou camponeses semterra da região e tais medidas tópicas e imediatas com frequência eram complementadas por uma re forma agrária mais sistemática Em 1946 com poucas medidas comunistas instauradas as economias da Europa central e orient al já estavam sob o domínio da indústria e dos serviços controla dos pelo Estado Além disso elas também haviam reformado a agricultura de forma agressiva A classe média e o empresariado eram pequenos e fracos ao passo que os comunistas haviam se favorecido do desempenho durante a guerra e da aliança com a União Soviética Nessas condições a linha adotada pelo Estado soviético para a região parecia plausível Os líderes comunistas diziam que esses países usufruiriam de uma nova democracia popular nem o so cialismo ao estilo soviético tampouco o capitalismo ocidental Uma aliança entre as classes trabalhadoras os camponeses e as frágeis burguesias nacionais iria sob a liderança comunista certamente reconstruir as economias que passariam a ser mis tas A terceira via na área de influência comunista poderia ser comparada à socialdemocracia da esfera norteamericana e 409832 reforçou as esperanças de alguns quanto ao estabelecimento de uma ordem do pósguerra que acomodasse o Ocidente e o Oriente Não importam quais tenham sido as verdadeiras perspectivas para um socialismo não soviético as condições domésticas e in ternacionais evitaram que tal direcionamento fosse tomado As relações entre os comunistas e seus aliados na Europa central e do leste se deterioraram assim como as ligações entre a União Soviética e seus aliados da Europa ocidental dos tempos de guerra Em 1948 as democracias populares rumavam para uma centralização ao estilo soviético Os governos nacionalizaram a maioria das grandes empresas privadas e estabeleceram mecanis mos de planificação econômica que favoreciam o desenvolvi mento da indústria pesada e restringiam o comércio internacion al41 Em janeiro de 1949 poucos meses antes de o Plano Marshall entrar em vigor a União Soviética e os aliados na Europa oriental criaram o Conselho de Assistência Econômica Mútua Comecon A organização se propunha a contrabalançar a aliança ocidental mas desempenhava um papel econômico pouco significativo já que medidas econômicas autárquicas limitavam a possibilidade de qualquer assistência econômica mútua Os soviéticos re duziram ou eliminaram o pagamento das indenizações restantes e estabeleceram alguns arranjos comerciais preferenciais embora muitos na região acreditassem que alguns desses arranjos favore ciam em especial a União Soviética A maior parte do comércio da região operava de forma estritamente bilateral de país para país e era limitado em termos de volume e eficiência A URSS es timulava seus aliados a aderirem à opção soviética um desenvol vimento econômico autônomo de base industrial O curioso rompimento entre Stálin e Tito que levou a Iugoslávia anterior mente o regime mais stalinista de todos a sair da esfera 410832 soviética fora apenas um desvio na consolidação do planejamento central do rio Elba ao Pacífico Os novos membros do bloco comunista e a própria União Soviética se recuperaram rapidamente dos danos causados pela guerra Em 1950 a produção industrial soviética se tornou duas vezes maior que a de 1945 atingindo índices bem superiores aos do préguerra Apesar de sérios problemas agrícolas o padrão de vida demonstrava ter se recuperado da guerra e da reconstrução O mesmo se aplicava à Europa oriental onde os níveis de produção de cada país haviam superado os de 194942 Mesmo na Hungria a moeda permanecia estável a inflação sob controle e a renda per capita aumentou 15 em relação a 1938 A produção agrícola no país permanecia inferior à do préguerra mas dado o caos do período que imediatamente sucedeu o conflito a re tomada da estabilidade econômica e do crescimento foi uma vitória considerável Os resultados econômicos da União Soviética e aliados eram especialmente importantes devido à expansão do mundo comunista fora da Europa Quando o Comecon foi criado gov ernos de inclinação comunista controlavam a maior parte da Ch ina do norte do Vietnã e toda a Coreia do Norte E tudo indicava que os novos governos dos três países pretendiam adotar vari ações da planificação econômica central inventada pela União Soviética Planificação central não era mais uma esquisitice russa mas uma alternativa mundial ao capitalismo de mercado O modelo foi trazido pela primeira vez para o Terceiro Mundo pela Revolução Chinesa pela vitória vietnamita contra a recolonização francesa e pela influência de partidos comunistas em outras colônias Agora centenas de milhões de habitantes nas colônias ou em nações recémindependentes como a Índia podiam examinar as difer enças entre o socialismo economicamente planificado e o capital ismo de mercado decidindo qual dos sistemas se adequaria 411832 melhor às condições internas Até então a principal divisão do mundo se dava entre países industriais ricos e países agrários pobres Agora havia uma segunda dimensão e dois caminhos para o avanço industrial o capitalismo e o comunismo A parte comunista do mundo era um polo econômico novo Pela primeira vez havia uma opção para populações partidos e países insatisfeitos com a desigualdade e a imprevisibilidade do capitalismo O fascismo exerceu uma certa influência nos populis tas do mundo industrializado e nos nacionalistas dos países em desenvolvimento e das colônias mas a Segunda Guerra Mundial pôs fim a essa esperança A socialdemocracia criou perspectivas de reformas mas as promessas eram modestas demais para os que procuravam soluções radicais que terminassem com a miséria extrema das regiões pobres e até mesmo para muitos cidadãos das nações industriais O socialismo ao estilo soviético parecia oferecer um cresci mento rápido igualdade e melhorias sociais Os resultados inco modaram muitos esquerdistas O conceito de socialismo ver dadeiro utilizado por grande parte da esquerda ocidental consid erava as economias planificadas do comunismo a única forma re manescente de socialismo e ao mesmo tempo a distinguia de um tipo mais desejável porém inexistente No entanto para milhões de pessoas o surgimento e a consolidação de um mundo so cialista formado por países comunistas trouxeram a esperança de que havia mesmo uma forma de evitar a impessoalidade do capit alismo de mercado e a tendência dele em atuar contra os in teresses dos pobres e pouco poderosos Dois argumentos Na Era de Ouro do capitalismo global as classes governantes pressionaram e influenciaram suas sociedades a seguirem na 412832 direção dos mercados domésticos e internacionais Elas pouco se preocupavam em adotar políticas que diminuíssem a pobreza da maior parte do mundo e muitas vezes eram ativamente hostis a tais medidas Os defensores da ortodoxia argumentavam que abertura à economia global e políticas para aliviar a pobreza in terna eram ideias incompatíveis Os movimentos fascistas do per íodo entreguerras aceitaram esse argumento e passaram a agir sob o princípio de que nem integração econômica nem reformas sociais eram desejáveis Eles rejeitaram a economia internacional e as reformas sociais em favor de uma autarquia nacionalista Fora da tese liberal e de sua antítese fascista surgiram argu mentos no pósguerra com base na conclusão de que tanto o liber alismo quanto o fascismo estavam errados Havia duas versões extremamente diferentes para esses argumentos a ocidental e a oriental Ambas rejeitavam o abandono fascista às reformas e ab raçavam a transformação social Mas suas atitudes em relação à visão liberal clássica do capitalismo eram exatamente opostas O Ocidente apostava que o liberalismo errava ao criar uma incom patibilidade entre capitalismo global ou mercados e reformas so ciais e procurava provar que economias de mercado integradas conseguiriam adotar medidas sociais igualitárias e que abertura econômica e as novas sociaisdemocracias do bemestar poderiam caminhar juntas Os comunistas do lado oriental também fizeram uma aposta porém antagônica a de que o liberalismo acertara ao criar uma incompatibilidade entre integração e reforma e que transform ação social significava rejeitar os mercados nacionais e globais A planificação central visava provar que a demanda dos indivíduos e dos países pobres por igualdade e desenvolvimento só poderia ser atingida se fosse separada dos mercados e de forma mais geral os eliminasse Durante os 25 anos seguintes o principal objetivo geopolítico dos líderes norteamericanos do capitalismo e soviéticos do 413832 comunismo seria provar que o outro estava errado Um lado pre tendia provar que o capitalismo global poderia ser bom para o crescimento e a equidade o outro desejava provar que desenvol vimento e equidade poderiam ser melhor obtidos com a rejeição ao capitalismo global a Lei aprovada em 1930 que determinou o aumento de tarifas sobre diversos produtos importados NT b Lei de empréstimo e arrendamento NT c No original em inglês In Washington Lord Halifax Once whispered to Lord Keynes Its true they have all the moneybags But we have all the brains NT d A fada má NT e LendLease é um termo genérico que se refere a empréstimos ou arrendamentos mas neste caso diz respeito à concessão de armamentos à GrãBretanha NT f Present at the Creation My Years in the State Department livro de memórias de Dean Acheson ainda não publicado no Brasil 414832 12 O sistema de Bretton Woods em ação Em agosto de 1945 Charles de Gaulle visitou Washington e con versou com Jean Monnet que buscava verba para o novo governo francês A prosperidade estonteante dos Estados Unidos recor dou Monnet o deixou atônito O general De Gaulle acreditava na grandiosidade francesa mas Monnet disse a ele que o termo era inadequado Ele afirmou Você fala em grandiosidade mas hoje os franceses são pequenos A solução seria a modernização porque no momento não eram modernos Necessitavam de uma produção maior e de mais produtividade O país precisava se transformar materialmente1 O mesmo poderia ter sido dito sobre toda a Europa ocidental O continente estava meio século atrás dos Estados Unidos Mesmo após a reconstrução o PIB per capita da Europa ocidental em 1950 equivalia ao dos Estados Un idos em 1905 Menos de 25 anos depois a diferença foi efetivamente trans formada Entre 1870 e 1929 a renda por pessoa da Europa ocidental cresceu duas vezes feito notável Durante o sistema de Bretton Woods dobrou em um período de 16 anos entre 1948 e 1964 e continuou crescendo2 Poucos anos antes o mundo se concentrava nos contrastes ex istentes entre a Alemanha nazista e os Estados Unidos do New Deal entre a Itália fascista e a Suécia socialdemocrata e entre o Japão militarista e a GrãBretanha em dificuldades Agora esses países contavam com ordens econômicas políticas e sociais comuns além de padrões de vida semelhantes Entre 1945 e 1973 o Primeiro Mundo dos ricos e democráticos Estados de bemes tar social se uniu Em 1961 esses países formalizaram o clube cri ando a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econ ômico OCDE3 As economias do Ocidente industrial foram reconstruídas por meio de alianças entre nações classes partidos e grupos Governos equilibravam integração internacional com autonomia nacional competição global com eleições internas livre mercado com democracia O meiotermo reinava nas esferas doméstica e internacional Os Estados Unidos removeram quase todas as suas barreiras comerciais mas aceitavam a proteção europeia e a ja ponesa Os europeus negociaram uma união econômica e política que respeitava as diferenças nacionais Governos derrubavam barreiras ao comércio e aos investimentos internacionais no ent anto protegiam as empresas mais fracas Trabalho e capital co operavam para manter lucros e salários altos trocando direitos dos trabalhadores por paz nos locais de trabalho Socialistas e conservadores democratascristãos e liberais seculares trabal havam juntos para a construção do Estado moderno de bemestar social A aceleração do crescimento no pósguerra Os acordos do pósguerra foram além dos tratados assinados em Bretton Woods no ano de 1944 O sistema de Bretton Woods manteve o espírito mas nem sempre o estatuto dos acordos de Bretton Woods integração econômica aliada à preocupação dos governos com suas bases eleitorais mercados aliados a reformas 416832 sociais e liderança norteamericana unida à cooperação ocidental O sistema de Bretton Woods trouxe benefícios crescimento econômico baixas taxas de desemprego e preços estáveis O Japão protagonizou a história mais bemsucedida A produção do país cresceu oito vezes em apenas 25 anos O milagre da nação as iática após a guerra começou com uma rápida recuperação dur ante a ocupação norteamericana e se acelerou a partir de 1950 com a demanda por suprimentos para abastecer as tropas dos Estados Unidos durante a Guerra da Coreia Os japoneses apren deram métodos novos criaram outras indústrias buscaram mer cados no exterior e logo se tornaram uma potência do comércio internacional Os industriais japoneses rapidamente passaram a adotar as tecnologias desenvolvidas nos 30 anos anteriores Recorreram a um rol de novos produtos e a uma força de trabalho extrema mente barata e bemtreinada Nas décadas de 1950 e 1960 as empresas japonesas utilizaram de 25 a 50 de todo o orça mento destinado à pesquisa e ao desenvolvimento para adquirir tecnologia estrangeira A Sony por exemplo começou em 1946 como uma oficina de consertos e o seu primeiro produto foi uma máquina de cozinhar arroz que não deu certo Nos anos seguintes fez cópias baratas de gravadores cassetes trazidos pelos norte americanos que ocuparam o Japão Em 1953 conseguiu os direit os da Western Electric para a produção dos novos transistores que a Bell Labs acabara de inventar A Sony criou seu primeiro rá dio transistor o segundo do mundo em 1955 e dois anos mais tarde levou o rádio de bolso aos mercados Ao mesmo tempo empresas como a Honda de motocicletas e a Toyota de automó veis abasteciam o mercado japonês com imitações perfeitas das técnicas de produção norteamericanas O governo do Japão apoiava os fabricantes com isenções fisc ais subsídios empréstimos a juros baixos e outros tipos de ajuda 417832 O mercado doméstico cresceu de forma espetacular após décadas de crise e guerra No início da década de 1950 quase nenhum lar japonês possuía televisão máquina de lavar ou geladeira dez anos mais tarde metade das casas contava com os três eletro domésticos O feito ajudou a fomentar uma revolução na indústria de base a produção de aço abaixo dos dez milhões de toneladas no início da década de 1950 passou para quase 100 milhões de toneladas 15 anos depois O governo também estimulava as empresas a produzirem para exportação principalmente por meio de um iene muito fraco que tornava os produtos do país altamente competitivos e gerava lucros imensos às empresas que vendiam para o exterior No fim da década de 1950 a Sony anunciava rádios nos mercados norte americanos A Toyota fazia o mesmo com os carros e a Honda com motocicletas A Honda abriu uma fábrica em Los Angeles em 1959 e uma na Europa em 1962 As empresas japonesas se torn aram conhecidas entre os consumidores ocidentais e em 1961 a Sony tornouse a primeira empresa japonesa a ter ações suas ven didas nos Estados Unidos Na década de 1960 as fábricas japone sas já haviam se tornado uma das principais forças do comércio internacional O Japão obteve um sucesso econômico notório nos primeiros 25 anos após a guerra Os índices de desenvolvimento do país em 1950 podiam ser comparados aos dos Estados Unidos em 1850 medidos pelo PIB per capita Em 1973 o PIB per capita do país era equivalente ao atingido pelos Estados Unidos em 1963 e igual ao da Europa ocidental Economicamente o Japão inaugurou o período pósguerra um século atrasado em relação aos Estados Unidos e em 1973 estava apenas dez anos atrás dos norteamer icanos A segunda maior economia de mercado cresceu cerca de 100 anos em menos de 254 O crescimento econômico do pósguerra foi extraordinário em toda parte não apenas no Japão As nações capitalistas 418832 avançadas de uma maneira geral cresceram três vezes mais rápido que no entreguerras e com uma velocidade duas vezes maior que antes da Primeira Guerra Mundial Em 1948 todas as nações industriais juntas Europa Ocidental América do Norte Austrália Nova Zelândia e Japão produziam US37 trilhões ex pressos em dólares do ano 2000 Em 1973 a produção conjunta desses 21 países era de US121 trilhões um crescimento de mais de três vezes5 O crescimento dos Estados Unidos não foi lento A renda por pessoa do país cresceu 75 e os norteamericanos gozavam de prosperidade No entanto a Europa e o Japão cresceram bem mais rápido Quanto mais atrás os países largavam mais rápido alcançavam os outros Caso o mesmo ritmo continuasse no ano 2000 os Estados Unidos seriam um dos países mais pobres da OCDE6 Em 1950 dificilmente alguém poderia ter previsto a con vergência entre os países que mais tarde formariam o clube do mundo rico da OCDE Naquele momento o PIB per capita da Europa ocidental era 10 menor que o da Argentina o da França estava 15 abaixo o da Alemanha era 13 menor o da Itália 45 menor e o da Espanha correspondia a menos da metade do PIB per capita argentino A Alemanha e a Itália eram mais pobres que o Chile e o Japão mais pobre que o Peru Entre 1948 e 1973 as nações continentais da Europa ocidental e o Japão ultrapassaram outras ao se unirem aos Estados Unidos ao Reino Unido e a out ros países angloamericanos no topo da pirâmide social do mundo Em 1973 a Espanha deixou de ser 50 mais pobre que a Argentina e tornouse mais rica que o país sulamericano a Europa Ocidental em média passou a ser 50 mais próspera que a Argentina Alemanha e Itália tornaramse de duas a três vezes mais ricas que o Chile e o Japão três vezes mais próspero que o Peru Após terem reconstruído suas instalações industriais no início da década de 1950 os exbeligerantes passaram a adotar novas 419832 tecnologias Dos avanços do período entreguerras das décadas de 1920 e 1930 em termos de produção e produtos poucos foram ap licados fora da América do Norte O automóvel o principal sím bolo da riqueza norteamericana foi o mais importante Nos Esta dos Unidos da década de 1950 mais de 40 milhões de carros cir culavam nas ruas o que significava sete automóveis norteamer icanos para cada carro na Europa o número de veículos motoriz ados só no estado da Califórnia era maior que em todo o contin ente europeu Até 1973 a Europa havia se motorizado Em menos de 25 anos o número de carros de passeio na Alemanha subiu de meio milhão para 17 milhões na França aumentou de 15 milhão para 145 milhões e assim por diante Em 1973 o número de veículos no continente era dez vezes maior que em 1950 sendo que 60 milhões eram carros de passeio Nesse momento os 17 milhões de habitantes da Escandinávia possuíam mais carros que os 300 milhões de cidadãos da Europa ocidental duas décadas antes Havia 102 milhões de carros nas ruas de forma que a re lação entre o número de carros norteamericanos e europeus era de 17 para um Rapidamente os europeus alcançaram os norteamericanos também em outros produtos de consumo duráveis geladeiras máquinas de lavar e mais tarde televisores As novas fibras sintéticas e os petroquímicos que conquistaram os Estados Un idos antes da Segunda Guerra Mundial chegaram à Europa e ao Japão na década de 1950 As linhas de montagem foram trazidas para a Europa na década de 1940 como algo relativamente novo Quando os europeus e japoneses introduziram tecnologias e produtos novos o atraso em relação aos outros países foi super ado A produção de novos automóveis televisores químicos e sintéticos como o nylon cresceu de duas a três vezes em com paração com a quantidade fabricada nos Estados Unidos durante as décadas de 1950 e 1960 420832 A Europa ocidental e o Japão alcançaram os outros países entre 1948 e 1973 em parte porque milhões de cidadãos abandon aram a agricultura Havia muito tempo que o Japão e a Europa ocidental já eram ineficientes em termos de agricultura com mil hões de camponeses pobres presos a terras ruins Apenas o colapso do comércio internacional no período entreguerras aux iliado por barreiras comerciais foi capaz de manter esses incha dos setores agrícolas Por volta de 1950 nos países de agricultura moderna os trabalhadores rurais em geral correspondiam a 10 da força de trabalho 13 na Holanda 11 nos Estados Unidos e 6 no Reino Unido No entanto metade dos trabalhadores es panhóis e italianos 14 dos trabalhadores de outros países da Europa e mais da metade dos japoneses continuavam na agricul tura A Europa e o Japão tinham mais produtores agrícolas do que suas terras relativamente pobres poderiam comportar o que tornava o padrão de vida no campo miserável Durante os dez anos seguintes a população rural da Europa ocidental e do Japão diminuiu passando a corresponder em média a bem menos de 10 de toda a força de trabalho no caso da Itália essa quan tidade diminuiu de 45 em 1950 para 17 em 1973 O trabalho deixou a agricultura improdutiva e foi para fábricas e serviços mais produtivos7 O comércio e os investimentos internacionais do pósguerra também serviram como catalizadores para o crescimento do Japão e da Europa ocidental De 1913 a 1950 o comércio e os in vestimentos mundiais se estagnaram e os governos contribuíram para essa realidade impondo barreiras a empresas e produtos es trangeiros Os fabricantes e produtores agrícolas da Europa e do Japão protegidos contra os mercados mundiais seguiram suas atividades sem a necessidade de desenvolver novos processos in dustriais ou produtos No Japão e na Europa da década de 1950 o isolamento econômico foi a principal causa para o atraso da in dústria e da agricultura Da mesma forma assim como o colapso 421832 da economia global afetou a Europa e o Japão no período entre as grandes guerras o renascimento do comércio e dos investimentos internacionais após a Segunda Guerra Mundial os impulsionou De repente as duas economias passaram a ter acesso a um sis tema de comércio internacional dinâmico Empresas estrangeiras em especial as multinacionais norteamericanas com seus pro cessos e produtos mais modernos começaram a investir no Japão e na Europa com avidez A posição internacional dos Estados Unidos mudou radic almente Antes da Segunda Guerra Mundial o país tratava os produtos estrangeiros com hostilidade e em geral tinha pouco interesse nos mercados externos Os Estados Unidos passaram então a importar produtos de todo o mundo e a exportar com entusiasmo A quantidade de produtos comercializados pelo país na década de 1950 era de duas a três vezes maior que a do en treguerras mesmo descontados os índices de inflação Empresas no Japão e na Europa podiam vender sua produção nos mercados norteamericanos e comprar dos Estados Unidos os equipamen tos tecnológicos e insumos mais modernos A disponibilidade imediata do enorme mercado norteamericano provocou mudanças na atitude e no comportamento dos produtores europeus e japoneses O mundo industrial também passou a ter acesso ao capital norteamericano principalmente na forma de investimento direto Os investimentos das empresas norteamericanas destina dos à Europa e ao Japão que em 1950 somavam US2 bilhões passaram para US41 bilhões em 19738 As multinacionais norte americanas que abriram filiais no exterior levaram consigo as últi mas tecnologias e técnicas de marketing e administração Os mercados e o capital norteamericanos ajudaram a reori entar as economias do mundo industrial Ao deixarem a proteção de lado e se lançarem na integração mundial os Estados Unidos deram novo fôlego para o comércio e os investimentos 422832 internacionais o que promoveu uma onda de crescimento na Europa ocidental e no Japão Em contrapartida as duas regiões contribuíram para o dinamismo da economia mundial re forçando o movimento em direção à integração econômica do globo Todos os aspectos positivos se juntaram em um ciclo virtu oso de integração comercial expansão de empresas multinacion ais crescimento econômico e prosperidade As expectativas dos arquitetos do sistema de Bretton Woods estavam sendo atendidas Jean Monnet e os Estados Unidos da Europa Um francês vendedor de conhaque chamado Jean Monnet foi cru cial para um acontecimento extraordinário da era de Bretton Woods a criação de um mercado comum na Europa ocidental9 Monnet o filho mais velho do líder de uma cooperativa agrícola nasceu na região de Cognac Quando jovem Monnet viajava pelo mundo de Yukon ao interior do Egito para vender os produtos da família Passou muito tempo na América do Norte experiência que lhe rendeu parceiros comerciais nos Estados Unidos conheci mentos sobre as práticas norteamericanas de comércio e um bom domínio do inglês Monnet acreditava no internacionalismo econômico do ponto de vista exportador Era um viajante do mundo bem antes de al guém se dar conta de que o mundo poderia ser viajado Um episó dio conturbado de sua vida pessoal diz muito a seu respeito Em 1929 Monnet se apaixonou por uma mulher casada a filha nas cida em Istambul de um italiano dono de um jornal em francês Como em 1935 o divórcio era algo difícil eles decidiram ir morar juntos em Moscou ele vindo de uma consultoria financeira de Xangai e ela de sua casa temporária na Suíça Em Moscou Silvia conseguiu a cidadania soviética e se beneficiou do liberal Código 423832 Civil do país para se divorciar do marido e se casar com Monnet Mudaramse para Xangai e montaram uma casa em Nova York em parte porque precisavam se manter fora da Europa para evitar que o primeiro marido de Silvia entrasse com uma ação pela guarda da filha dos dois Durante os dez anos seguintes se dividi riam entre Nova York Washington Londres Argélia e quando a filha estava crescida Paris Monnet nunca disputou uma eleição ou cargo público mas era um administrador e negociador excepcional Durante a Primeira Guerra atuou como o representante francês de uma comissão de fornecedores formada pelos aliados Após a guerra trabalhou cinco anos como secretáriogeral adjunto da Liga das Nações re sponsável principalmente pelas questões econômicas No cargo Monnet supervisionou os esforços para a estabilização e recon strução das economias da Europa centrooriental e experimentou a incapacidade da liderança norteamericana em garantir o envol vimento internacional do país Em 1923 Monnet voltou à atividade privada como represent ante europeu da Blair and Company um banco de investimentos de Wall Street para o qual coordenou programas públicopriva dos de estabilização na Polônia e na Romênia Saiu do banco nos primeiros anos da depressão econômica mas sua firma de con sultoria continuou a trabalhar com finanças internacionais e com Wall Street negociando empréstimos e outras operações na Ch ina Europa e América do Norte Monnet tinha uma ligação próxima com os nomes mais im portantes dos meios financeiro político e jurídico Era frequente mente consultado pelo governo e pelo mercado financeiro dos Estados Unidos aconselhando a administração Roosevelt sobre o LendLease e os banqueiros internacionais sobre questões mundiais Tornouse amigo próximo de alguns líderes norte americanos do entreguerras e do pósguerra tais como Averell Harriman John McCoy Dean Acheson e os experientes parceiros 424832 da Morgan Thomas Lamont e Dwight Morrow Foi especialmente ligado a John Foster Dulles na época um advogado de Wall Street Eles trabalharam juntos no projeto dos empréstimos para a Polônia e Dulles financiou a abertura da empresa de consultoria de Monnet em Nova York Para muitos banqueiros internacionais dos Estados Unidos ficou claro no período entreguerras que a fragmentação política e econômica da Europa era insustentável Como disse Dulles em 1941 o restabelecimento de mais ou menos 25 Estados completa mente independentes e soberanos seria algo politicamente tolo Os Estados Unidos deveriam buscar a reorganização da política da Europa continental formando uma comunidade federativa10 Os líderes políticos e empresariais internacionalistas norteamer icanos acreditavam que um Estados Unidos da Europa seria es sencial para a estabilidade e a prosperidade do continente e para os interesses norteamericanos na região Seria natural que o criador de um mercado comum na Europa ocidental fosse alguém que transitasse pelos círculos políticos e empresariais dos Estados Unidos Mas não pelo motivo apontado por alguns gaullistas que diziam ser Monnet uma ferramenta do imperialismo norteamericano Monnet acreditava que o novo capitalismo industrial deveria ocorrer nos moldes norteamer icanos e que a fragmentação política e econômica da Europa privava o continente de tirar vantagem da nova realidade o con sumo e a produção de massa O industrialismo ao estilo norte americano exigia um mercado tão extenso quanto o dos Estados Unidos necessitava de corporações tão grandes quanto as norte americanas e de mercados financeiros tão sofisticados quanto Wall Street As empresas europeias não conseguiriam competir com as norteamericanas sem que houvesse uma base como os Estados Unidos e se não conseguissem competir não se benefi ciariam do potencial do continente Esse foi o desafio que Monnet pretendia encarar ao propor a integração europeia 425832 Durante a Segunda Guerra Mundial Monnet trabalhou incess antemente em Washington e em Nova York com o objetivo de en viar capital para a França e a GrãBretanha Serviu a De Gaulle à França Livre no Norte da África e na própria França durante a lib eração Como diretor de um novo comissariado para recon strução formulou o Plano Monnet e devido à sua excelente mediação tornouse o principal condutor do Plano Marshall na França Em 1948 e 1949 com o acirramento da Guerra Fria e a consol idação da República Federal da Alemanha Monnet se convenceu de que as relações da França com o exreduto nazista passavam por um momento de virada Alguns na França queriam retomar o Império talvez por meio de uma aliança com o Reino Unido Monnet no entanto acreditava que o futuro estava em uma Europa integrada apoiada pelos Estados Unidos com ou sem a GrãBretanha O carvão e o aço foram motivos de conflito entre França e Ale manha por um século Desde a formação do Estado moderno alemão os dois países disputavam o controle do carvão da região do Ruhr o ferro da Lorena e as usinas de aço de Saar Os dois países poderiam ter continuado com a disputa por esses recursos algo que os Estados Unidos se opunham com veemência ou optar pela cooperação Em maio de 1951 Monnet desenvolveu um plano para submeter a produção de carvão e de aço da França e da Ale manha e de outros países europeus que estivessem de acordo a uma autoridade conjunta com regulamentações unificadas e um mercado comum O ministro das Relações Exteriores da França Robert Schuman ele mesmo da região da Lorena obteve o con sentimento dos alemães e a aprovação de Dean Acheson antes de realizar uma reunião com os ministros do Exterior dos Estados Unidos e da GrãBretanha Apesar da resistência britânica o Plano Schuman foi implementado 426832 A nova Comunidade Europeia do Carvão e do Aço Ceca que contava com a participação da França Alemanha Itália Bélgica Holanda e Luxemburgo tornouse o núcleo para uma cooperação econômica mais ampla no continente Os Estados Unidos assim como os países menores sempre foram favoráveis a um arranjo do tipo mas as rivalidades entre França e Alemanha além da oposição britânica eram os principais impedimentos O Plano Schuman de Monnet desatou o nó górdio ao subordinar os re cursos a uma organização independente Jean Monnet foi o primeiro presidente da Ceca quando a or ganização começou a funcionar em 1952 A comunidade integrou os setores de ferro carvão e aço de seis nações e rapidamente cri ou um mercado comum O alto comissariado da Ceca conseguiu um financiamento dos Estados Unidos no valor de US100 mil hões e logo passou a pedir empréstimos privados Em poucos anos a Ceca tornouse o principal destino estrangeiro dos em préstimos de Wall Street A unificação da produção europeia de carvão e aço foi apenas o começo Em 1955 Monnet se afastou do alto comissariado da comunidade Ele reuniu as personalidades mais influentes dos meios políticos e empresariais e criou o Comitê de Ação para os Estados Unidos da Europa organização privada que visava forçar os governos na direção da integração econômica O comitê abriu caminho para um esforço conjunto na área de energia atômica a Comunidade Europeia da Energia Atômica Euratom e princip almente para a criação do Mercado Comum ou Comunidade Econômica Europeia CEE Ambas passaram a funcionar em 1958 Doze anos após a desintegração da Europa os principais beli gerantes criavam uma confederação e na década de 1960 as seis principais nações europeias formavam um mercado unificado Em 1971 após anos de oscilações e resistência francesa o Reino Unido junto com a Irlanda e a Dinamarca juntouse aos seis 427832 primeiros países Nesse momento a Comunidade Europeia CE já formava uma unidade econômica tão grande quanto os Estados Unidos com 14 a mais de indivíduos Monnet dissolveu o Comitê de Ação em 1975 após a conclusão do trabalho Os Estados Un idos da Europa não eram mais um sonho distante mas uma real idade No ano seguinte por decisão unânime dos chefes de Estado dos nove países membros da CE Monnet recebeu o titulo de cid adão honorário da Europa A unificação europeia abraçou os acordos de Bretton Woods Por um lado foi a mais ambiciosa liberalização do comércio da história eliminando as tarifas entre seis e depois nove países ri cos e o resultado disso foi um mercado integrado no continente que no século XIX não passava de sonho para os defensores do livrecomércio Por outro lado a unificação foi criada com o objet ivo de aumentar a capacidade competitiva internacional do comércio europeu Dessa forma o novo Mercado Comum não se encabulou em manter longe os produtos estrangeiros de indústri as sensíveis a tarifa comum para os carros de passeio por exem plo era de significativos 176 Para a agricultura o bloco desen volveu a Política Agrícola Comum um sistema complicado de in centivos pagamentos em espécie preços subsidiados e barreiras comerciais De forma semelhante uma das pedras fundamentais das comunidades europeias era a ideia de que a integração dever ia reforçar e não ameaçar a tendência reformista da região Não seria permitido que a competição enfraquecesse os padrões soci ais trabalhistas e nacionais por meio do chamado dumping so cial Critérios rigorosos aumentariam a produtividade o que per mitiria a liberação de fundos por parte dos Estados generosos da região A integração econômica europeia fez uma mistura muito bemsucedida de liberalismo clássico e socialdemocracia Bretton Woods e o comércio 428832 Durante o auge de Bretton Woods de 1948 a 1973 o sistema pro movia um comércio relativamente livre estabilidade monetária e altos índices de investimentos internacionais Nenhum desses ele mentos evoluiu como os fundadores do sistema haviam previsto O papel desempenhado pelos Estados Unidos era mais central do que o esperado e os acordos se tornaram diferentes e mais extens os do que o planejado A liberalização do comércio mundial foi a primeira vitória quiçá a mais importante do sistema de Bretton Woods Isso ocor reu sem a organização criada para gerenciar essa questão uma vez que o tratado criando a Organização Internacional do Comér cio OIC nunca fora ratificado pelos Estados Unidos A institu ição que a substituiu no entanto o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio o Gatt veio a se tornar um dos pilares da ordem in stitucional de Bretton Woods Em abril de 1947 representantes de 23 países se reuniram em Genebra para discussões tarifárias Após seis meses de nego ciações os membros do Gatt assinaram mais de cem acordos sobre 45 mil tarifas cobrindo cerca de metade de todo o comércio mundial Foi acordado que em média as tarifas seriam reduzidas em 13 Também foi decretado o fim das práticas comerciais dis criminatórias entre os países decisão que teve por base o princí pio do tratamento incondicional à nação mais favorecida conceito retomado das relações comerciais britânicas do século XIX De acordo com a regra os governos eram obrigados a oferecer as mesmas concessões comerciais a todos Qualquer redução tari fária acordada entre dois signatários do Gatt deveria automatica mente se aplicar a todos os membros da instituição Os países não poderiam discriminar os produtos de uma nação para o favorecimento de outra e o resultado desse processo foi uma lib eralização global do comércio O Gatt se diferenciava das outras duas instituições do acordo de Bretton Woods por não se tratar de uma organização 429832 independente mas de um fórum de discussão entre os países As primeiras reuniões do Gatt chamadas de rodadas foram organiz adas em uma base de país para país bilateral Consideremos por exemplo que o país A fosse o principal fornecedor de aço do país B e o país B o principal exportador de sapatos do país A O país A poderia pedir a B uma redução tarifária sobre o aço exportado de A para B em troca de reduções semelhantes para os sapatos ven didos por B a A Caso os dois países chegassem a um acordo anunciariam as novas tarifas sobre o aço e os sapatos e as aplicari am a todos os membros do Gatt sob o princípio da nação mais favorecida Dessa forma os impostos sobre milhares de produtos foram reduzidos e então passaram a valer para todos os mem bros da instituição O procedimento permitiu uma redução gradu al e generalizada das barreiras comerciais Entre 1949 e 1952 outras duas rodadas do Gatt reduziram ainda mais as barreiras ao comércio O valor das tarifas impostas aos produtos importados pela maior parte dos países da Europa e América do Norte em 1952 correspondia a metade do valor co brado antes da guerra O compromisso com a liberalização do comércio era claro apesar de Estados Unidos França Alemanha e Reino Unido continuarem a manter tarifas de 16 a 1911 Após alguns anos as negociações do Gatt foram retomadas e outras três rodadas se realizaram entre 1956 e 1967 A Rodada Kennedy terminada em 1967 estabeleceu tarifas abaixo de 9 para produtos não agrícolas provavelmente o menor índice desde meados do século XIX Nesse momento os países industrializa dos removeram entre si a maior parte das barreiras aos produtos não agrícolas12 O comércio mundial sofreu uma explosão após 1950 As ex portações apresentavam um crescimento anual de 86 duas vezes mais rápido que o crescimento da economia13 O comércio mundial se ampliou de uma forma nunca antes vista Durante os anos de glória do liberalismo clássico pré1914 o volume do 430832 comércio mundial dobrava a cada 20 ou 25 anos Durante os primeiros 25 anos após a guerra o volume do comércio mundial passou a dobrar a cada dez anos14 Diversos países experimentaram grandes booms exportadores Em 1950 as exportações da Europa ocidental somavam US19 bilhões nos preços da época dólares correntes em 1973 pas saram a render US244 bilhões As exportações alemães sozin has passaram de US17 bilhões para US255 bilhões No mesmo período as vendas norteamericanas para o exterior aumentaram de US13 bilhões para US71 bilhões em dólares correntes de US46 milhões para US125 milhões no valor expresso em dólares do ano 200015 Em 1973 a importância do comércio internacional para cada uma das economias da OCDE tornouse de duas a três vezes maior do que em 1950 E para esses países o comércio inter nacional também passou a ser mais importante do que durante o período anterior à Primeira Guerra Mundial A Europa ocidental por exemplo exportava 16 de tudo o que produzia em 1913 Em 1950 a quantidade caiu para 9 mas em 1973 disparou atingindo 21 Em outras palavras em 1913 as exportações per capita da Europa ocidental somavam US800 na moeda do ano 2000 Em 1950 o valor caiu para US650 dólares por pessoa mas em 1973 a região exportava mais de US3300 para cada homem mulher ou criança Nas sociedades mais voltadas para o comércio os números surpreendiam ainda mais Em 1973 a Bélgica e a Holanda exportavam cerca de metade do que produziam o que correspondia a mais de US7500 para cada um dos 23 milhões de habitantes dos dois países repetindo em dólares do ano 200016 Assim como no sistema de Bretton em geral a abertura comercial dependia de acordos A liberalização do comércio de produtos agrícolas teria sido uma fonte de conflitos Todos os países capitalistas desenvolvidos adotavam programas de apoio à 431832 produção rural e contavam com fazendeiros poderosos do ponto de vista político Assim as negociações do Gatt deixaram de lado os produtos agrícolas da mesma forma que fizeram com o comér cio de serviços o que acabou sendo também algo polêmico Para os países em desenvolvimento uma redução rápida das barreiras comerciais não era algo benéfico A industrialização da América Latina assim como a da Europa e a da América do Norte no século XIX dependia de barreiras comerciais para estimular a indústria nacional As nações recémindependentes da Ásia da África e do Caribe precisavam de proteção comercial para con struir mercados e reserválos para os produtos locais Os países em desenvolvimento da Argentina à Índia do Irã à Zâmbia re jeitaram o livrecomércio em favor do desenvolvimento industrial protecionista Assim o Gatt isentou os países em desenvolvi mento de muitas de suas regras A aplicação severa do principio do universalismo de que as reduções comerciais negociadas com um país deveriam ser com partilhadas por todos impediria a formação de uniões aduaneir as Assim até mesmo os estrangeiros cujos produtos eram dis criminados preferiam um mercado comum regional a mercados nacionais menores e fragmentados Quando a questão surgiu como na década de 1950 quando seis países da Europa ocidental começaram a trabalhar na direção de um mercado comum o Gatt fez uma exceção para os membros de uniões aduaneiras per mitindo que favorecessem os produtos uns dos outros Todas es sas exceções removeram as questões controversas da discussão permitindo acordos mais maleáveis A ordem monetária de Bretton Woods Bretton Woods também foi um sucesso em termos de relações monetárias mesmo que a ordem só ocasionalmente se parecesse 432832 com o planejado por seus fundadores O que havia sido definido como um sistema multilateral presidido pelo FMI tornouse um sistema com base no dólar com muito pouca participação do Fundo Inicialmente as moedas da Europa e do Japão eram fracas demais para voltarem a ser completamente convertíveis ao ouro ou ao dólar Dessa forma até 1958 a economia mundial evoluía com base somente no dólar Na última semana daquele ano no entanto a maior parte das moedas se tornou convertível portanto livres para o comércio nos mercados abertos A partir desse momento e até 1971 o sistema monetário internacional op erava na seguinte base uma onça de ouro valia US35 e as outras moedas fixavamse no dólar a taxas de câmbio preestabelecidas A essência do sistema de Bretton Woods como Keynes e White desejavam seria a proposta de um meiotermo entre a ri gidez do padrãoouro e a insegurança do entreguerras Diferente mente do que ocorrera com o padrãoouro outros governos além do norteamericano poderiam modificar o valor de suas moedas quando necessário apesar do fato dessas mudanças frequentes serem desaprovadas Quase todos os países desenvolvidos desval orizaram suas moedas em 1949 O Canadá permitiu que o seu dólar flutuasse em relação ao norteamericano durante toda a década de 1950 e início da de 1960 a França desvalorizou o franco várias vezes a libra fora desvalorizada em 1967 Alemanha e Holanda revalorizaram aumentaram o valor de suas moedas algumas vezes No entanto as taxas de câmbio apresentavam es tabilidade suficiente para estimular o comércio e os investimentos internacionais sofrendo transtornos apenas quando os governos se deparavam com problemas econômicos sérios17 Por princípio básico a ordem monetária de Bretton Woods permitia e até exigia que os governos restringissem a movi mentação internacional de capital de curto prazo O sistema per mitia aos países gerenciar suas políticas monetárias em linha com suas próprias necessidades mesmo que estes diferissem dentro 433832 de alguns limites em termos de medidas adotadas Os governos poderiam estimular a economia ou atender às demandas de seus eleitores por exemplo pela redução da inflação É evidente que os diferentes países e suas populações tinham desejos diferentes A França e a Itália preocupavamse particularmente com o desemprego e se importavam mais com esse aspecto do que com alguma inflação A Alemanha crescia muito rápido com uma taxa de desemprego baixa ou inexistente mas a terrível hiperinflação continuava viva na memória da população de forma que o gov erno se deparava com pouca demanda por políticas de estímulo e com uma antipatia generalizada pela inflação Os países adotavam políticas monetárias diferentes especial mente taxas de juros diferentes Durante toda a década de 1960 os governos da França e da Itália mantiveram os juros 1 ou 2 menores que os da Alemanha A medida talvez tenha ajudado a preservar o desemprego baixo mas tornou o índice de inflação dos dois países de 1 a 2 maior que o da Alemanha Um invest idor ganhava bem mais em termos reais sem inflação com um titulo alemão do que com um título idêntico francês ou italiano Durante a década de 1960 a taxa de juros real de longo prazo na Alemanha foi de 44 em comparação com 22 na Itália 18 na França e 17 no Japão18 A diferença era grande e certa mente notada pelos investidores Se as taxas de juros de dois países de câmbio fixo são difer entes os investidores tendem a retirar o dinheiro do lugar onde os juros são baixos e a mandálo para a nação de juros altos Na década de 1960 retirariam o dinheiro da França e da Itália o en viariam para a Alemanha e continuariam a fazêlo até que as taxas de juros italianas e francesas atingissem o índice alemão Esse foi o problema que levou Keynes e os outros arquitetos de Bretton Woods a advogar pelo controle sobre investimentos internacion ais de curto prazo Não queriam que as empresas perdessem a ca pacidade de investir em outros mercados o que em geral 434832 chamavam de investimentos produtivos ou que os governos parassem de pedir empréstimos no exterior No entanto queriam dificultar ou impossibilitar especulações por parte dos invest idores quanto a diferenças nas taxas de juros entre os países por onde passava o chamado capital especulativo Para que os governos adotassem políticas monetárias própri as estes deveriam dificultar a circulação de investimentos de curto prazo entre os países Dessa forma o sistema de Bretton Woods pressupunha o controle de capitais por meio de cobranças de taxas ou proibições para as movimentações internacionais de dinheiro com fins especulativos Os europeus utilizaram tais medidas com firmeza as quais foram suavizadas porém não re movidas após a década de 1950 Os Estados Unidos passaram a controlar os investimentos do país no exterior de forma a manter baixos os juros norteamericanos Se os juros nominais de longo prazo norteamericanos tivessem se mantido a 5 enquanto a taxa dos alemães era de 67 25 e 44 em termos reais o dinheiro teria migrado dos Estados Unidos para a Alemanha tão rapidamente quanto teria deixado a França e a Itália O acordo monetário de Bretton Woods manteve os valores das moedas estáveis e os mercados abertos estimulando o comércio e os investimentos de longo prazo Mas ao mesmo tempo impôs barreiras a movimentações financeiras para que os governos pudessem adotar as medidas que lhe conviessem A estabilidade monetária da década de 1950 e 1960 contribuiu para o cresci mento do comércio e dos investimentos internacionais e os gov ernos puderam adotar políticas macroeconômicas que estavam de acordo com suas condições internas Bretton Woods e os investimentos internacionais 435832 Os investimentos internacionais de longo prazo como capital e comércio tomaram caminhos que não foram previstos pelos cri adores do sistema Esperavase que o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento Banco Mundial emprestasse grandes quantias à Europa ao Japão aos países em desenvolvi mento e às colônias para a recuperação da infraestrutura básica rodovias portos ferrovias Isso estimularia os investimentos privados a percorrerem o mundo A missão reconstrutora do banco perdeu lugar para o Plano Marshall e para a rapidez ines perada da recuperação do pósguerra Após 15 anos de relativa in atividade em meados da década de 1960 o banco começou a emprestar um bilhão de dólares por ano aos países em desenvol vimento Mas os investimentos internacionais que o banco ajudou a estimular eram diferentes dos empréstimos privados do passado Por séculos os empréstimos estrangeiros foram a principal forma de investimentos Antes da Primeira Guerra Mundial in vestidores europeus emprestaram bilhões para o Novo Mundo as colônias a Rússia o Japão e outros países da Europa Os Estados Unidos se tornaram o credor mais importante dos anos en treguerras Após 1929 os empréstimos privados internacionais praticamente desapareceram Calotes e outros problemas da década de 1930 assustaram banqueiros e mercados de títulos As oportunidades domésticas passaram a ser atraentes e o controle de capitais de Bretton Woods desestimulava os empréstimos estrangeiros Os investimentos internacionais cresceram mas na forma de empresas multinacionais Os investimentos diretos estrangeiros IDE utilizados para o estabelecimento de fábricas ou filiais no exterior não eram algo novo Nas décadas de 1920 e 1930 muitas empresas norteamericanas se utilizaram de sua posição compet itiva para abrir ou comprar instalações em outros países Mas os investimentos por meio de empresas multinacionais sempre 436832 foram uma parcela do capital mundial bem menor que os emprés timos internacionais No entanto na década de 1950 os investi mentos das multinacionais norteamericanas tornaramse duas vezes maiores que os investimentos de carteira em empréstimos internacionais e ações e em 1970 tornaramse quatro vezes mais importantes Os empréstimos internacionais não se recuperaram pelo menos não entre os países desenvolvidos e não a países em desenvolvimento Antes da Segunda Guerra Mundial o investidor típico era um banqueiro ou alguém com títulos que emprestava dinheiro a empresas e governos estrangeiros Na era de Bretton Woods o investidor típico passou a ser uma empresa construindo fábricas no exterior A forma de aplicação dos investimentos diretos também era relativamente nova Antes da Segunda Guerra Mundial o investi mentos direto estrangeiro ia em geral para a agricultura ou a mineração de países em desenvolvimento ou das colônias em 1938 23 de todos os investimentos internacionais diretos destinavamse às regiões pobres As empresas norteamericanas haviam investido três vezes mais na América Latina do que na Europa principalmente em minas plantações poços de petróleo e serviços Na década de 1960 o investimento direto estrangeiro típico passou a ser o estabelecimento de uma fábrica em um país desenvolvido As empresas norteamericanas começaram a inve stir três vezes mais na Europa e no Japão do que na América Lat ina principalmente por meio de fábricas19 Em 1973 as multinacionais já haviam investido 200 bilhões de dólares ao redor do mundo sendo que 34 do montante foram para os países de industrialização avançada Metade dos IDEs vinha dos Estados Unidos e cerca de 15 de todo o lucro das empresas norteamericanas era obtido a partir dos investimentos internacionais As empresas europeias e japonesas também es tavam prestes a alcançar as outras 437832 Em todos os países industriais as maiores empresas eram altamente multinacionais ou porque tinham muitas posses no exterior ou porque pertenciam a corporações estrangeiras Em 1973 80 ou mais dos lucros de cinco das dez principais empresas norteamericanas todas firmas do ramo petrolífero eram obtidos no exterior No caso da Ford Chrysler ITT e IBM tais lucros correspondiam a metade do valor total No exterior as filiais das multinacionais norteamericanas produziam o triplo do que o país exportava em 1973 a produção no exterior rendia US292 bilhões e as exportações US110 bilhões Na verdade as vendas das filiais norteamericanas para a matriz nos Estados Un idos eram responsáveis por 13 de todas as importações do país As grandes empresas norteamericanas dependiam de investi mentos internacionais elemento mais importante que o comércio para a manutenção da posição da empresa na economia inter nacional O mesmo se aplicava a outros países desenvolvidos o investimento direto estrangeiro se tornou a principal força da in tegração econômica internacional20 O mesmo também poderia ser dito sobre a maioria dos países onde as empresas multinacionais investiam Na Europa as mul tinacionais em especial as norteamericanas se espalharam por todos os lugares Em grande parte dos Estados 14 ou mais das vendas era de produtos industrializados Mais da metade da indústria canadense passou a ser controlada por firmas es trangeiras Nos países em desenvolvimento o predomínio mul tinacional na produção fabril era ainda maior Na maioria dos países latinoamericanos de 13 à metade da produção industrial provinha de empresas estrangeiras As multinacionais em geral se concentravam nas indústrias de maior notoriedade ou tecnolo gicamente mais avançadas químicos maquinário elétrico produtos farmacêuticos Nas indústrias desse tipo as empresas estrangeiras dominavam de 80 a 90 da produção comprando firmas locais ou empurrandoas para fora do mercado21 Até nos 438832 Estados Unidos a presença das empresas estrangeiras se tornava maciça No início da década de 1970 os empregos de mais de um milhão de norteamericanos 2 da força de trabalho do país de pendiam de empresas de fora Os números cresciam rapidamente e em alguns tipos de indústrias eram bem maiores22 Os automóveis e computadores produtos cruciais para a in dústria do pósguerra se encontravam entre os mais mul tinacionalizados O setor automobilístico passou a ser a força dominante em todas as economias industriais era responsável por 16 a 14 dos empregos na indústria por 5 a 8 dos empre gos em geral A indústria automobilística também causava um im pacto indireto Nos Estados Unidos por exemplo para cada dez trabalhadores da indústria automobilística outros 15 deviam seus empregos ao setor quatro em metalúrgicas dois na indústria têxtil outros dois em fábricas de máquinas de borracha vidro e assim por diante Veículos e peças correspondiam a 110 das ex portações das principais economias industriais e desempenhavam um papel central para o crescimento do investimento direto estrangeiro No fim da década de 1960 os fabricantes norteamericanos possuíam a maior parte das ações de dezenas de fábricas de carros em outros países Dominavam mais de 14 do setor auto mobilístico europeu A Ford e a GM eram respectivamente a se gunda e a terceira maiores fábricas europeias atrás da Fiat A Chrysler aparecia em sétimo lugar Mais da metade do mercado britânico e 40 do alemão pertenciam a empresas norteameric anas As filiais britânicas e alemãs da Ford eram responsáveis por 14 das vendas e empregos da empresa no mundo no caso da GM chamada de Vauxhall e Opel respectivamente na GrãBretanha e na Alemanha o índice era de 1823 A indústria de computadores continuava pequena em especial se comparada à de automóveis mas no início da década de 1960 sua importância como fonte de novas tecnologias já era evidente 439832 Apesar de muitas das primeiras inovações terem sido desenvolvi das pelos europeus no fim da década de 1960 a indústria passou a ser controlada por multinacionais norteamericanas Os norte americanos fabricavam mais de 80 dos computadores da Europa e outros 10 eram feitos com licenciamentos concedidos por empresas dos Estados Unidos A IBM sozinha dominava 82 do mercado alemão e 63 do francês Diante das empresas norte americanas os competidores europeus pareciam pequenos a IBM tinha quatro vezes mais empregados na área de proces samento de dados que as oito maiores empresas europeias juntas e comprou ou expulsou do setor vários de seus rivais europeus De fato a indústria internacional de computadores foi dominada pelas multinacionais norteamericanas24 O boom dos investimentos internacionais depois da Segunda Guerra Mundial foi causado pelos mesmos motivos que fizeram o comércio crescer tão rápido estabilidade monetária reduções de barreiras apoio generalizado dos governos e crescimento econ ômico Os investimentos tomaram a forma de IDEs devido a razões mais complexas Um dos fatores foi o crescimento da produção e do consumo de massa em muitas indústrias o que concedeu vantagens a muitas grandes empresas A importância do automóvel e de outros bens de consumo duráveis como tocadiscos máquinas de lavar e geladeiras para as economias da América do Norte Europa e Japão trazia vantagens para as empresas que inovavam em termos de produção desenvolvi mento e marketing O mesmo se aplicava aos bens de consumo que dependiam do reconhecimento de suas marcas pasta de dente sabão discos farmacêuticos e assim as empresas con solidadas mais uma vez levavam vantagem Muitas delas eram norteamericanas apesar de as multinacionais japonesas e europeias também terem se fortalecido na década de 1960 O segundo motivo para a proliferação das empresas mul tinacionais após a Segunda Guerra pode ser atribuído à 440832 permanência de barreiras comerciais Muitas empresas norte americanas do setor industrial vendiam pesadamente para o mer cado externo Quando firmas estrangeiras passaram a adotar nov os processos e produtos a competição local aumentou e muitas vezes os governos nacionais impunham barreiras comerciais para manter os produtos norteamericanos e outros afastados As empresas então tinham de escolher entre abandonar os mercados protegidos ou abrir uma fábrica no lugar e produzir para o con sumo local Do ponto de vista econômico isso fazia sentido caso o mercado fosse muito importante e as vantagens obtidas pelas empresas fossem grandes Assim a maior oportunidade do inves timento direto estrangeiro era a possibilidade do salto tarifárioa permitindo que os produtores norteamericanos e eventualmente europeus e japoneses abastecessem os mercados franceses brasileiros alemães japoneses ou indonésios mesmo quando estes estavam cercados por altas barreiras comerciais As multinacionais que optaram pelo salto tarifário predomin avam especialmente na Europa As nações do Mercado Comum da Comunidade Econômica Europeia CEE Alemanha França Itália Bélgica Holanda e Luxemburgo eliminaram as barreiras comerciais entre si e adotaram uma tarifa comum contra os produtos de outros A medida resultou na criação do segundo maior mercado do mundo A CEE tinha uma população tão grande quanto a norteamericana a economia do bloco corres pondia a cerca de 23 do tamanho da economia dos Estados Un idos e o volume de trocas entre os membros da comunidade era o elemento do comércio mundial que mais crescia Para alguns países da CEE as vendas para outros consumidores do bloco eram especialmente importantes por substituir os mercados de suas excolônias A economia francesa por exemplo transformouse completamente Em 1952 os principais mercados da França eram as colônias e excolônias Estas absorviam 42 das exportações francesas duas vezes e meia a mais que as vendas 441832 para os outros cinco países que formavam o mercado europeu menos de 16 Em 1973 os outros cinco cofundadores da CEE começaram a comprar metade das exportações francesas ao passo que o montante vendido para as excolônias passou para menos de 1025 Um mercado europeu emergia da colcha de re talhos formada pelos mercados nacionais Nenhuma das principais empresas internacionais podia ignor ar o mercado comum mas as tarifas da CEE eram um grande im pedimento Em 1968 na indústria automobilística por exemplo não havia tarifas para os carros vendidos entre os membros da CEE Contudo a tarifa externa comum da Comunidade 176 para carros de passeio trazidos de fora era um imposto quase proibitivo Qualquer empresa de automóveis que desejasse vender na Europa precisaria produzir no continente A tarifa comum adi cionava um custo de 176 ao preço das exportações da Ford de Detroit para a França ou a Itália No entanto as exportações da Ford Werke na Alemanha para a França ou a Itália eram isentas de tarifas O mesmo se aplicava às vendas da afiliada alemã da GM a Opel e às vendas da afiliada francesa da Chrysler26 Durante a década de 1960 Ford Fiat Colgate Bayer Coca Cola e Philips se tornaram palavras comuns em todos os lares e empregadores de peso na maior parte das grandes economias mundiais Para alguns as multinacionais eram intromissões polít icas econômicas e culturais nada bemvindas Para outros ap resentavam oportunidades de crescimento tecnológico e fin anceiro Independentemente dos interesses envolvidos os investi mentos internacionais da mesma forma que o comércio mundi al e a integração monetária foram bemsucedidos em atar o mundo industrializado com laços mais fortes que os da ordem pré1914 Bretton Woods e o Estado do bemestar social 442832 Bretton Woods permitiu que a liberalização arrebatadora do comércio e dos investimentos internacionais coexistisse com a ex pansão arrebatadora do setor público27 De 1950 a 1973 o setor público dos países industriais crescia em média de 23 a 47 do PIB28 Os investimentos na área social o cerne dos sistemas de bemestar social aumentaram em média de 7 a 15 do PIB No fim da década de 1950 a Suécia já podia contar com um sis tema de aposentadorias seguros de saúde pensões por invalidez e acidentes de trabalho pensões para pobres e famílias com cri anças moradias subsidiadas para os de baixa renda e escola obrigatória até os 16 anos29 Apesar de o sistema social sueco ser mais amplo em termos de extensão e cobertura o resto do mundo capitalista seguia padrões semelhantes Em todos os lugares ex ceto no Japão os governos protegiam os cidadãos contra as in conveniências causadas por desemprego doença invalidez vel hice e pobreza O rápido crescimento gerado pela integração do pósguerra permitiu aos governos expandir programas já existentes e criar novos sem causar grande polêmica Isso foi reforçado pelo fato de que sociedades mais prósperas tendem a ser mais generosas em termos de políticas sociais e a inclusão de tantos membros da OCDE no ranking das nações mais ricas levou a um crescimento desse tipo de gasto Os próprios gastos sociais do pósguerra foram um prére quisito político para a integração econômica A abertura sempre foi uma questão controversa Alguns interesses em especial da parte de grandes empresas e investidores esperavam ganhar com a integração mas outros viam a questão com menos entusi asmo Havia uma oposição intransigente à liberalização formada pelos que não conseguiam competir nos mercados mundiais mas em geral estes não eram muito numerosos Mais importantes eram as empresas os trabalhadores e os produtores agrícolas apreensivos com as incertezas trazidas pela abertura econômica 443832 mas não radicalmente contra a liberalização A integração dos mercados mundiais expandiu as oportunidades mas também sig nificou que os países seriam afetados por problemas além de seu controle O conselheiro mais próximo de Winston Churchill expressou o medo compartilhado por esse grupo intermediário quando at entou para as potenciais consequências da libra se tornar inter nacionalmente convertível prematuramente Se uma taxa bancária de 6 um milhão de desempregados e uma bisnaga pão de dois xelins não forem o suficiente precisaremos de uma taxa bancária de 8 dois milhões de desempregados e uma bisnaga de três xelins Se os trabalhadores exigirem salários maiores ao se depararem com o encarecimento dos alimentos teremos de pôr um fim nisso aumentando o desemprego até a destruição de seu poder de barganha Esse é o significado de frases convenientes como deixem que a taxa de câmbio ajuste a economia30 Muitos associavam abertura a imperativos da economia glob al como recessão falências cortes salariais e demissões Uma rede de segurança social poderia reduzir as incertezas dos mercados globais amorteceria os pontos negativos da integ ração econômica e não privaria dos benefícios do comércio inter nacional os capitalistas produtores agrícolas trabalhadores dos setores de potencial exportador e consumidores de produtos mais baratos O Estado do bemestar social portanto ajudou a neutral izar uma fonte em potencial de oposição à liberalização Não é por coincidência que os pioneiros na implementação de um Estado do bemestar social foram os países pequenos Justa mente por não serem grandes os países nórdicos Noruega Suécia Dinamarca e Finlândia alpinos Suíça e Áustria e os do Benelux Bélgica Holanda e Luxemburgo focavam suas eco nomias nas exportações importações e investimentos inter nacionais Mesmo durante o pior período da depressão econômica 444832 da década de 1930 tais países continuaram com políticas de livre comércio As medidas não se aplicavam à agricultura mas todas as nove nações eram sociedades altamente industriais durante a década de 1930 O outro lado dessa abertura do entreguerras no entanto foi uma ampla rede de políticas sociais Tomando camin hos bem diferentes essas sociedades chegaram a uma mistura semelhante de abertura econômica e um extenso sistema de se guro social Onde o protecionismo não podia ser considerado uma opção viável capitalistas produtores agrícolas e trabalhadores se con formaram com os programas governamentais que protegiam as vítimas das forças do mercado mundial Um dos líderes conser vadores da Suécia sugeriu que deveriase considerar a sociedade como uma forma de organização para equalizar riscos e oferecer padrões mínimos de segurança não apenas aos miseráveis mas também aos que trabalham duro31 Disso resultaram a adoção de programas sociais generosos um papel político de destaque por parte dos socialistas uma forte cooperação entre trabalho e capit al para controlar os salários e manter o pleno emprego os progra mas agressivos de qualificação profissional além de um com promisso firme com o capitalismo de mercado livrecomércio e investimentos32 A maioria dos partidos democratacristãos europeus também adotou esse tipo de anticapitalismo moderado A plataforma democratacristã da Alemanha argumentava que o sistema econ ômico capitalista não era justo com os principais interesses do povo alemão e que a nova estrutura da economia alemã deveria partir do pressuposto de que o período do domínio irrestrito do capitalismo privado havia chegado ao fim O Partido Católico da França falava de uma revolução para a criação de uma nova or dem liberta do poder dos detentores da riqueza33 E tal de claração vinha de um dos principais partidos conservadores do continente 445832 O novo consenso se refletiu nos compromissos domésticos das sociaisdemocracias da década de 1930 e em suas variantes inter nacionais de Bretton Woods Uniu socialistas não comunistas trabalhistas empresários e a classe média no apoio a uma eco nomia de mercado reformada O fato irritou alguns tradicionalis tas conservadores inclusive muitos nos Estados Unidos que não conseguiam conceber um governo socialista britânico trabalhista como bastião do capitalismo ocidental No entanto para garantir o apoio dos socialistas e das classes trabalhadoras que formavam sua base para a ordem de Bretton Woods os gov ernos europeus precisaram incluir organização sindical medidas de bemestar social e aumentos salariais No Reino Unido a ordem do pósguerra foi planejada durante a Segunda Guerra Mundial Uma comissão do governo presidida por Sir William Beveridge pedia com veemência por um sistema amplo de seguro social e o resultado foi animador Como disse um dos líderes do Partido Trabalhista Num dos momentos mais assombrosos da guerra no fim de 1942 o Relatório Beveridge veio como maná caindo do céu34 A obra se tornou uma referên cia de peso e sucessivos governos britânicos implementaram suas recomendações nos serviço nacionais de saúde nos benefícios à população e em outros elementos do Estado do bemestar social moderno Com o abrandamento da guerra no continente todos os novos governos implementaram reformas sociais abrangentes Os setores unificados da Alemanha Ocidental também tomaram a mesma direção uma vez que os conservadores alemães puseram em prática o que chamavam de sistema social de mercado O mecanismo combinava seguro social um significativo setor público e associações que deram voz aos trabalhadores nas de cisões administrativas35 Os Estados Unidos e o Canadá con struíram um amplo consenso a favor de reformas sociais e integ ração econômica durante as décadas de 1930 e 1940 446832 O Estado do bemestar das sociaisdemocracias fazia parte in tegral do sistema de Bretton Woods Isso facilitava o consenso político em especial entre trabalho e capital quanto à rejeição à integração econômica internacional A atividade comercial prosperava e as classes trabalhadoras também iam muito bem Os partidos de esquerda chegavam ao poder com mais frequência que o contrário e de 13 a 23 da força de trabalho era filiada a sindicatos Políticas governamentais suavizaram as flutuações dos ciclos econômicos os momentos de expansão passaram a durar duas vezes mais que na época do padrãoouro e o tempo de dur ação das recessões caiu pela metade O desemprego mantinhase em média a 3 na maioria dos países da OCDE em comparação com os 5 durante o padrãoouro e os 8 do período entreguer ras36 As sociedades melhoraram em termos de igualdade e a pobreza diminuiu Nos Estados Unidos país em que o Estado do bemestar social era dos menos agressivos mas apresentava os melhores indicadores a população oficial abaixo da linha de pobreza passou de 13 em 1950 para perto de 10 em 197337 O avanço social veio de mãos dadas com altos índices de comércio e investimentos internacionais A união entre o Estado do bemes tar social e a ordem de Bretton Woods viria a provar que os lib erais fascistas e comunistas estavam errados as sociedades in dustriais modernas podiam se comprometer simultaneamente com políticas sociais generosas capitalismo de mercado e integ ração econômica global O sucesso de Bretton Woods O sistema de Bretton Woods governou as relações econômicas in ternacionais dos países capitalistas avançados da Segunda Guerra Mundial ao início da década de 1970 As nações industrializadas 447832 se afastaram do nacionalismo econômico e dos conflitos mas não retornaram ao laissezfaire de antes da Primeira Guerra Mundial com base no pressuposto de que as exigências para o sucesso in ternacional alimentavam os problemas do desemprego e dos produtores agrícolas Durante as décadas de 1950 e 1960 as nações industrializadas do Ocidente optaram por um terceiro caminho A nova ordem combinava internacionalismo e autonomia nacional mercados e aspectos sociais além de prosperidade estabilidade social e democracia política Essa ordem permitia ao mesmo tempo uma abertura econômica internacional e controles sobre investimentos de curto prazo proteção agrícola e sistemas preferenciais de comércio como o Mercado Comum Europeu Misturou políticas prónegócios com participação substancial do governo na eco nomia e uma rede extensa de segurança social com movimentos trabalhistas politicamente poderosos O resultado foi uma mescla de mercados ativos com governos agressivos grandes empresas com trabalho organizado e de conservadores com socialistas A ordem testemunhou o crescimento mais rápido e a estabilidade econômica mais duradoura da história moderna a Do original em inglês tariff jumping Uma prática comum das multinacionais era pular as tarifas Para não precisar pagar tarifas para entrar no mercado com os seus produtos as empresas abriam fábricas nos mercados locais NT 448832 13 Descolonização e desenvolvimento Muito tempo atrás tivemos um encontro com o destino disse Jawaharlal Nehru aos cidadãos indianos às vésperas da inde pendência do país se referindo a décadas de luta por autode terminação E agora explicou Nehru à Assembleia Constituinte em 14 de agosto de 1917 chegou a hora de cumprirmos a nossa promessa não completamente ou em todos os aspectos mas de forma bastante substancial Quando o novo governo tomou o poder no lugar dos britânicos ele se deparou com o desastre das divisões nacionais da estagnação econômica e da pobreza gener alizada Nehru e seus colegas enxergaram esse recomeço como uma oportunidade única Chega o momento que sempre chega embora raro na história em que devemos trocar o velho pelo novo em que termina uma era e a alma de uma nação há muito reprimida encontra sua voz Precis amos construir o palácio da Índia livre onde todas as suas crianças deverão morar Como o novo governo indiano e os outros iguais a ele iriam cumprir sua promessa Como poderiam superar décadas e até séculos de estagnação Não havia um modelo pronto a ser copi ado nenhum caminho fácil a ser seguido Assim que as colônias conseguiram a liberdade e os países latinoamericanos emergiram do isolamento imposto pela depressão econômica e pela Segunda Guerra eles passaram a lutar por uma nova estratégia de desen volvimento nacional Adotaram como fórmula o nacionalismo econômico Enquanto os países desenvolvidos abandonavam a orientação internaa da década de 1930 o mundo em desenvolvimento a adotava com entusiasmo Os países em desenvolvimento se fecharam ao comércio e buscaram a rápida industrialização As colônias recémindependentes fizeram o mesmo deixando de fora o capit al e os investimentos estrangeiros para erguer economias nacion ais independentes Dentro de uma década após o fim da Segunda Guerra Mundial um Terceiro Mundo de países não alinhados traçava um caminho nacionalista entre a integração global do Primeiro Mundo capitalista e a economia planificada do Segundo Mundo comunista Industrialização por substituição de importações Os países da América Latina e um punhado de outras nações in dependentes em desenvolvimento se mantiveram isolados da economia mundial da década de 1930 ao início da de 1950 devido a tendências da própria economia internacional O colapso da economia mundial entregou a região à própria sorte Os países organizados para exportar café cobre ou produtos pecuários agora não tinham quase mercado para seus principais produtos Para os consumidores acostumados com os bens industriais da América do Norte e da Europa os produtos do sul eram extrema mente caros ou simplesmente não estavam disponíveis Novas in dústrias cresceram para suprir a demanda local e os setores agrí cola e minerador que eram voltados para exportação encolheram 450832 As classes urbanas e as massas se expandiram a fim de preencher o vácuo político deixado pela desintegração das eco nomias tradicionais abertas A América Latina antes um bastião da abertura econômica tradicional se transformou em uma fortaleza de nacionalismo econômico desenvolvimentismo e pop ulismo Empresários profissionais de classe média servidores públicos e o operariado se uniram em uma aliança informal pelo desenvolvimento nacional da indústria e vieram a dominar a re gião A aliança era explícita para grande parte da esquerda que a via como uma coalizão antiimperialista entre o trabalho e o cap ital nacional Um tipo de empresariado nacionalista quase fluente na retórica marxista sobre os perigos do capitalismo estrangeiro tomou a liderança O exministro da Fazenda e intelectual Luiz Carlos BresserPereira escreveu sobre como a crise do imperial ismo da década de 1930 baseada na divisão internacional do tra balho significou uma oportunidade para o desenvolvimento brasileiro definindo esse caminho aberto percebido e compartil hado pelos industriais brasileiros após a Segunda Guerra Mundial O nacionalismo que era a ideologia básica o industrialismo e o inter vencionismo desenvolvimentista estavam acima de tudo a serviço da emergente burguesia industrial O que estamos chamando de uma revolução nacional brasileira tinha como objetivo central transformar o Brasil numa nação verdadeiramente independente A industrializa ção a ser perpetrada pelos empreendedores industriais com a ajuda financeira do Estado seria de longe o melhor método para se atingir esse objetivo1 No fim da década de 1940 os principais países da América Latina haviam se tornado urbanos e industriais com a atividade fabril sendo responsável por 15 da produção e dos empregos índices semelhantes aos dos Estados Unidos em 1890 Um quarto da população morava em cidades com mais de 20 mil habitantes 451832 número maior que o da Europa em 1900 A taxa de alfabetiza ção nos países do Cone Sul Argentina Chile e Uruguai estava acima dos 80 Em grande parte da região predominavam re gimes democráticos com movimentos trabalhistas expressivos e uma classe média forte Vinte anos antes a representação fiel da América Latina era de uma massa de camponeses explorada por proprietários de terra quase aristocráticos agora era de uma metrópole altamente industrial cercada por favelas A mudança do quadro veio com a aproximação da região da economia mundi al em parte por necessidade mas cada vez mais por escolha Na década de 1950 a região exportava apenas 6 da produção e nos países maiores esse índice era ainda menor 2 na Argentina e 4 no Brasil A transformação do México foi surpreendente Em 1929 as exportações correspondiam a 15 da produção do país mas em 1950 o índice caiu para apenas 352 Durante a de pressão econômica e a guerra o comércio internacional de quase todo o mundo sofreu uma queda mas o declínio foi bem maior na América Latina E diferentemente do que ocorrera em outras áreas os latinoamericanos viam isso como algo positivo Os defensores da autarquia entraram em cena nas décadas de 1930 e 1940 e emergiram da guerra ainda mais poderosos A virada anterior para dentro fora ditada pelas condições externas mas a recuperação do comércio mundial no pósguerra não fez com que a América Latina mudasse o seu caminho Muito havia mudado Os industriais que não confrontavam a concorrência das importações há mais de 20 anos não viam com satisfação a possibilidade de competição estrangeira Os defensores de um sis tema autárquico comandavam a política diferentemente do que ocorrera no Japão e na Europa Ocidental onde foram derrota dos As importações ameaçavam os objetivos dos que compartil havam do desejo pela industrialização industriais nacionalistas pequenos comerciantes profissionais liberais sindicatos trabal histas e intelectuais Os que ganhavam com o livrecomércio os 452832 produtores agrícolas voltados para as exportações e os min eradores não tinham apoio ou no caso das minas haviam sido nacionalizadas3 A América Latina repetiu a trajetória de outras nações que se transformaram de exportadoras de produtos primários em um sistema de livrecomércio para industrializantes protecionistas O gigante do norte foi o exemplo mais marcante Os Estados Unidos começaram exportando matériasprimas importando manufat urados e enfrentando batalhas entre o sul exportador de algodão e tabaco e o norte industrial A indústria urbana prevaleceu e a política econômica norteamericana se voltou contra os produtores agrícolas e mineradores apoiando as indústrias pro tegidas Os resultados foram a rápida industrialização a consolid ação do mercado nacional e talvez até mesmo o estímulo ao senti mento nacionalista O precedente norteamericano e o canadense alemão japonês entre outros serviu como modelo para muitos dos vizinhos ao sul da América Na década de 1950 a América Latina abandonou a resposta meramente emergencial ao colapso dos mercados mundiais e se engajou em um esforço consciente para restringir o comércio ex terno Tal política conhecida como Industrialização por Substitu ição de Importações ISI visava à produção doméstica de bens antes importados O principal método foi tornar as fábricas nacionais mais lucrativas O primeiro componente da ISI seria a imposição de barreiras comerciais altas No início da década de 1960 as tarifas sobre os produtos industrializados importados eram em média de 74 no México 84 na Argentina e 184 no Brasil4 As barreiras torn aram muitos dos produtos industriais importados extremamente caros Em alguns casos as importações eram simplesmente proi bidas Nem todos os produtos industriais se mantiveram afasta dos pois as fábricas necessitavam de maquinário peças sobres salentes e outros tipos de insumos No entanto quase tudo 453832 produzido em países latinoamericanos sofria proteção contra a competição estrangeira e às vezes os preços eram de duas a três vezes mais altos que os de produtos semelhantes nos mercados mundiais Os governos também concediam incentivos e subsídios para a indústria Contemplavam os que investiam na indústria com is enções fiscais e créditos baratos oriundos de bancos governamen tais além de garantir aos industriais locais o acesso privilegiado a importações de bens de capital peças e matériasprimas Os gov ernos manipulavam o câmbio de forma a tornar o dólar barato para que os fabricantes pudessem trazer equipamentos e insumos de fora Às vezes as taxas de câmbio variavam de acordo com o produto dessa forma o dólar podia ser alto para os importados que competissem com a produção local mas baixo para os fabric antes domésticos que quisessem comprar máquinas do exterior Os governos latinoamericanos passaram a controlar grande parte das instalações industriais Tornaramse responsáveis pelas ferrovias redes de telefonia rotas de frete sistemas de abasteci mento de eletricidade e por outros serviços de infraestrutura nesse aspecto se pareciam com grande parte da Europa ocidental Mas os governos latinoamericanos também controlavam muitos dos poços de petróleo e refinarias fábricas de produtos químicos usinas de aço minas e fundições da região De 14 a metade de to dos os investimentos eram feitos pelo setor público principal mente para as indústrias e setores agregados Os defensores da expansão do setor público acreditavam que os investimentos privados não podiam ou não iriam financiar a indústria de base as fábricas de aço e de produtos químicos não despertavam grande interesse dos capitalistas mexicanos e argentinos além de serem importantes demais para ficarem sujeitas às inconstâncias dos investimentos privados No mais o controle do governo per mitia a ele oferecer insumos básicos como aço energia elétrica produtos químicos e transportes à indústria privada a preços 454832 artificialmente baixos o que também estimulou a industrialização Essas políticas geraram um desenvolvimento industrial im pressionante De 1945 a 1973 a produção industrial mexicana quadruplicou e a brasileira cresceu oito vezes O número de veícu los motorizados nas estradas dos dois países aumentou de 500 mil para 6 milhões em 1973 as indústrias automobilísticas inex istentes havia 20 anos produziam mais de um milhão de veículos nas duas nações A grande maioria dos produtos industriais con sumidos na região deixou de ser importada e passou a ser produz ida domesticamente Por exemplo no início da década de 1960 as indústrias brasileiras eram responsáveis por 99 dos bens de consumo do país 91 dos produtos intermediários como aço e químicos e 87 dos bens de capital maquinário e equipamen tos5 Naquele momento a economia brasileira cujo tamanho era semelhante ao da holandesa estava perto de alcançar a autossufi ciência na produção de bens industriais A industrialização foi amplamente financiada às custas dos setores de exportação primária Os produtores agrícolas e os min eradores passaram a pagar bem mais pelo que consumiam mas vendiam seus produtos pelo preço dos mercados mundiais e os impostos que pagavam viravam subsídios para as indústrias favorecidas Isso não foi por acaso os mineradores e produtores agrícolas haviam perdido a batalha nas décadas de 1930 e 1940 Nas cidades industriais as condições comerciais se voltaram con tra aqueles que por décadas monopolizaram a ordem política so cial e econômica em favor das exportações tradicionais Afinal essa foi a política utilizada com extraordinário sucesso pelo norte industrial dos Estados Unidos durante a Guerra Civil da década de 1930 Vinte e cinco anos de industrialização por substituição de im portações voluntárias e mais outros 25 anos de ISI imposta pelas condições mundiais fizeram com que em 1973 a região tivesse 455832 uma economia industrial formidável Naquele momento os prin cipais países do continente Brasil México Argentina Colômbia Venezuela e Chile atingiram níveis industriais e urbanos com paráveis aos da América do Norte e Europa Ocidental Entre 61 e 80 da população latinoamericana morava em cidades nos países da OCDE esse índice ia de 73 a 89 De 29 a 42 da produção vinha das indústrias nas principais nações ricas o ín dice variava de 29 a 486 As economias do continente pas saram a ser dominadas por um setor industrial sofisticado É evidente que em 1973 a América Latina era diferente do mundo desenvolvido Motivo mais óbvio produzia apenas 13 da renda média mundial A região também contava com um número maior de cidadãos na agricultura de 15 a metade índice mais alto que o da Europa 40 anos antes A pobreza era imensa e não demonstrava qualquer sinal de melhora A indústria embora grande não era particularmente eficiente e apresentava preços mais altos daqueles no mercados mundial Isso foi possível graças à presença de barreiras comerciais altamente protetoras e as economias latinoamericanas figurarem entre os mercados mais fechados do mundo De fato essas economias foram se tornando cada vez mais fechadas com o passar do tempo Até a União Soviética comercializava mais com o resto do mundo em 1973 do que na década de 1950 mas não a América Latina Embora ap resentasse características pouco comuns a industrialização por substituição de importações era quase um consenso na região quando se tratava de metodologia de desenvolvimento De fato a ISI alcançou o seu objetivo e a América Latina se industrializou A corrida para a independência O período entre 1914 e 1945 afetou não apenas a América Latina mas todo o mundo em desenvolvimento A maior parte da África 456832 do Oriente Próximob e da Ásia continuava colonial Nas colônias o isolamento em relação à economia mundial também estimulou a urbanização e a industrialização fortalecendo o comércio local e os interesses da classe média enfraquecendo também a economia exportadora Esse isolamento arruinou os defensores do sistema colonial e reforçou a influência dos que viam o colonialismo com desconfiança ou hostilidade Na época da Segunda Guerra Mundial os impérios europeus estavam no auge fora da América Latina apenas alguns países pobres eram teoricamente independentes Os franceses e os britânicos prometiam conceder direitos adicionais aos seus subor dinados mais rebeldes e os Estados Unidos a independência das Filipinas no entanto os resultados ainda estavam por vir Em 1945 com exceção da América Latina o mundo em desenvolvi mento continuava colonial e não havia perspectivas de mudança O colonialismo contudo entrou em colapso com uma velocid ade impressionante Até 1965 havia desaparecido apesar de algu mas exceções e do anômalo Império fascista Português que resis tiu por mais dez anos Alguns anos depois da Segunda Guerra Mundial quase toda a Ásia colonial tornouse independente Os japoneses saíram da Coreia e de Taiwan os franceses deixaram a Indochina e os holandeses as Índias Ocidentais Os protetorados franceses e britânicos no Oriente Próximo Síria Líbano Israel e Jordânia estavam todos livres E o mais importante a menina dos olhos do Reino Unido a Índia britânica que havia se expan dido do Irã ao Laos deu origem após uma guerra sangrenta e mutuamente destrutiva a quatro nações livres Índia Paquistão Burma e Sri Lanka A maior parte do norte da África se tornou in dependente durante a década de 1950 A partir de 1957 a África subsaariana foi rapidamente liberada com a exceção mais uma vez das colônias portuguesas e o mesmo ocorreu na Malásia úl tima possessão na Ásia Em meados da década de 1960 o controle norteamericano sobre Porto Rico transformou os Estados Unidos 457832 na principal potência colonial do mundo embora o título fosse discutível Tal situação era irônica dada a longa tradição anticolo nialista no país7 O fato de que 20 anos após a Segunda Guerra Mundial a maior colônia de uma das principais nações do planeta ser não mais a Índia ou a Argélia o Congo ou a Indonésia mas uma pequena ilha do Caribe mostrava o quanto o mundo havia mudado A velocidade com que o colonialismo ruiu pode ser atribuída a uma série de motivos O primeiro foi a evolução social e política das sociedades coloniais Após 1914 a riqueza o poder e a in fluência daqueles que rejeitavam ou desejavam modificar a eco nomia colonial clássica aumentavam de forma contínua Os mes mos processos econômicos e políticos que mudaram o rumo do desenvolvimento latinoamericano estavam em curso na Ásia e na África crescimento dos centros urbanos e industriais insatis fação com a produção de matériasprimas para exportação e desejo por diversificação e industrialização O colonialismo também fora destruído por problemas globais que isolaram as colônias do resto do mercado mundial desorgan izaram a economia exportadora estimularam a urbanização e a industrialização e consolidaram os interesses da classe média e dos comerciantes locais As dificuldades econômicas do en treguerras enfraqueceram os colonialistas e fortaleceram os incré dulos ou hostis ao colonialismo Às vezes os conflitos entre as potências coloniais e os novos grupos sociais se transformavam em rebeliões militares contra o regime como na Indonésia e na Indochina Nos outros lugares a ameaça de levantes anticoloniais refreou bruscamente as ambições das grandes potências Os colonizadores então tentaram suprir as demandas locais A Índia que já havia conquistado o direito de decidir sobre suas próprias tarifas conseguiu estabelecer um governo quase autônomo em 1937 Outras possessões foram contempladas com benefícios semelhantes para o poder local No entanto para 458832 muitos dos líderes das colônias isso apenas enfatizava a ir relevância da ordem colonial O controle imperial podia ser apen as aparente ou existir de fato Se o caso fosse o primeiro não havia razões para ser mantido se o caso fosse o segundo havia ainda mais motivos para que se abandonasse a metrópole Essa perspectiva se tornou especialmente atrativa quando a popuação colonizadora grande na Argélia modesta na Rodésia e pequena no Quênia conseguiu adiar ou impedir as reformas Se alguns poucos milhares de colonos europeus no Quênia conseguiam im pedir o Império Britânico de conceder direitos básicos aos africanos por que um africano não deveria considerar a coloniza ção como nada mais que uma ferramenta de opressão Também havia forças favoráveis às mudanças nas próprias potências coloniais8 Antes da Segunda Guerra Mundial o coloni alismo podia ser justificado por argumentos econômicos e dip lomáticos Agora as justificativas geopolíticas não convenciam mais A posição estratégica da GrãBretanha da França da Holanda e da Bélgica era de se manter debaixo do guardachuva nuclear norteamericano e para tal não havia a necessidade de possessões coloniais também desestimuladas pelo próprio dono do guardachuva Do ponto de vista econômico a importância das colônias diminuiu de forma contínua após a guerra Os europeus cada vez mais trocavam mercadorias e investimentos com seus vizinhos e os Estados Unidos Além do mais as colônias eram de sprezíveis para as novas indústrias que se tornaram importantes automóveis bens de consumo duráveis aviões e computadores Como os investimentos estrangeiros haviam mudado de direção das matériasprimas e plantações para os produtos industriais o apoio econômico ao regime colonial diminuiu ainda mais As mul tinacionais de produtos manufaturados pouco precisavam do co lonialismo e com frequência obtinham belos lucros com as altas tarifas impostas pelas nações recémindependentes Mesmo nos países onde o comércio colonial e os investimentos continuavam 459832 interessantes os Estados Unidos pressionavam os europeus para que abrissem os mercados coloniais E que bem econômico seria uma colônia se era preciso compartilhála O motivo final e decisivo para a rápida marcha rumo à inde pendência foi a insistência norteamericana Há décadas que os Estados Unidos eram contra o colonialismo Ideologia e moral de vem ter influenciado a posição do país mas o autointeresse foi o principal motivo Os Estados Unidos entraram muito tarde na corrida colonial e quando o período chegou ao fim o país possuía muito poucas colônias A exclusividade econômica colonial at ingiu duramente os produtos e o capital norteamericanos Além disso a Guerra Fria também contribuiu para o anticolonialismo dos Estados Unidos A União Soviética possuía boas credenciais anticoloniais e usava os impérios europeus para mostrar que o capitalismo ocidental dominava o mundo em desenvolvimento Após 1949 a voz da China passou a ser ouvida com grande credib ilidade na discussão uma vez que o país foi um dos que mais so freu com o imperialismo ocidental Como boa parte do mundo es tava sob o domínio colonial europeu era difícil para os Estados Unidos argumentar sobre os males do controle soviético Quanto mais os europeus governavam mais eles empurravam os asiáticos e africanos na direção dos comunistas que estavam em busca de aliados O anticolonialismo norteamericano afetou as metrópoles europeias em especial durante a Crise de Suez Em outubro e novembro de 1956 tropas francesas britânicas e israelenses ata caram o Egito aparentemente para tomar o Canal Todavia a ver dadeira intenção era derrubar o regime do nacionalista radical Gamel Abdel Nasser A ação enfureceu o secretário de Estado dos Estados Unidos John Foster Dulles mas não por qualquer simpa tia por Nasser A invasão fortaleceu o argumento dos soviéticos e chineses que desejavam convencer o mundo em desenvolvimento da brutalidade e da injustiça do capitalismo Da mesma forma 460832 provocou ainda mais irritação por ter ocorrido durante a ação so viética para suprimir uma revolta anticomunista na Hungria des viando a atenção mundial de uma demonstração de brutalidade soviética para outro exemplo de agressão ocidental Na visão de Dulles um mês que deveria ter sido uma propaganda do triunfo ocidental acabara tornandose um desastre Para piorar a invasão anglofrancoisraelense aproximou o regime egípcio ainda mais da União Soviética A GrãBretanha e a França logo se deram conta do quanto o peso econômico norteamericano restringia as opções dos dois países A crise levou a uma desvalorização da libra e os Estados Unidos cortaram a ajuda financeira à GrãBretanha O governo britânico que cinco anos antes considerava o Egito um protetor ado eficiente não tinha outra escolha a não ser reconhecer a hu milhação9 Os ativistas anticoloniais se sentiram revigorados di ante dessa demonstração de impotência por parte do regime e principalmente por causa do enfraquecimento da posição coloni alista Um ano mais tarde Gana foi o primeiro país da África sub saariana a se tornar independente da GrãBretanha Depois em 1958 a Guiné francesa se libertou dos colonizadores À medida que o colapso colonial aumentava o impasse entre França e Ar gélia o sistema político francês se deteriorava Charles de Gaulle intimado a deixar a nação africana supervisionou a retirada da França da terra que sempre considerou ser tão francesa quanto Marselha Em quatro anos a partir da Crise do Suez toda a África francesa se tornou independente e logo em seguida o mesmo ocorreu com a britânica ISI teoria e prática A América Latina serviu como guia para grande parte do mundo em desenvolvimento após 1945 Afinal antes daquele ano a 461832 América Latina se assemelhava aos países desenvolvidos inde pendentes Havia alguns Estados livres no Oriente Próximo Tur quia Irã Iraque mas de soberania recente ou questionável Libéria Etiópia Afeganistão e Sião eram pobres demais para fazer alguma diferença e a China era um caso à parte A América Latina independente há mais de um século foi o principal mode lo para as excolônias pobres O desenvolvimento industrial latinoamericano indicava que um caminho semelhante também poderia ser seguido por esses países algumas outras nações inde pendentes como a Turquia também tentavam implementar a ISI O entusiasmo pela industrialização nacional ao estilo latino americano cresceu devido à ideia de que a independência seria um prérequisito para a adoção da política Além de um modelo prático a América Latina oferecia argu mentos de ordem intelectual para a ISI Teóricos latinoamer icanos contestavam o liberalismo clássico dos economistas famosos argumentando que subsidiar e proteger a indústria nas cente seria positivo para o desenvolvimento econômico A visão latinoamericana se fermentava nos tonéis da Comissão Econôm ica para a América Latina e o Caribe A Cepal era chefiada pelo economista e expresidente do Banco Central argentino Raúl Prebisch e atraía acadêmicos influentes As ideias da comissão formada no início da década de 1950 encontraram grande ressonância intelectual nos outros países do mundo em desenvolvimento A Cepal aprofundou os argumentos já existentes a favor da proteção à indústria nascente e dos subsídios industriais Da mesma forma como apontavam os protecionistas alemães e norte americanos do século XIX a comissão acreditava que quando pequenas as indústrias de economia de escala por definição não são capazes de competir com a concorrência externa e que era impossível para os países começar do zero com indústrias grandes Uma metáfora seria que as asas dos pássaros não 462832 evoluíram com uma pena por vez os países não conseguiriam desenvolver indústrias modernas começando com pequenos es tabelecimentos se estivessem sujeitos à competição estrangeira A indústria nascente deveria ser alimentada até se tornar capaz de competir internacionalmente Os cepalistas como eram conhecidos argumentavam ainda que os efeitos positivos da industrialização para as sociedades não se limitavam à produção industrial A expansão da indústria trazia benefícios indiretos para a população À medida que as fábricas fossem se desenvolvendo gerariam níveis mais amplos de consciência e participação política uma força de trabalho mais qualificada e coesão social entre outras vantagens Trariam tam bém efeitos multiplicadores à economia uma vez que as indústri as estimulam a formação de elos progressivos e regressivos Uma fábrica de sapatos pode desenvolver um laço regressivo com os produtores de couro borracha e de outros insumos e progressivo com atacadistas e varejistas do produto final A indústria de calça dos produzia mais que sapatos a demanda por insumos e suprimentos para produção se ampliaria e desenvolveria a eco nomia local A industrialização trazia benefícios econômicos e so ciais generalizados O argumento mais novo dos cepalistas foi apresentado por Prebisch no fim da década de 1930 O economista alegava que o preço das matériasprimas e dos produtos agrícolas tendia a cair com o tempo enquanto o valor dos bens manufaturados tendia a subir Disse ele As indústrias manufatureiras e portanto as nações industriais po dem controlar a produção de forma eficiente mantendo o valor de seus produtos nos níveis desejados Este não é o caso dos países que vivem da agricultura ou pecuária pois como é sabido esse tipo de produção é inelástica por natureza da própria produção bem como pela falta de organização dos produtores 463832 Durante a última depressão econômica essas diferenças se manife staram por meio da queda brusca dos preços agrícolas e um declínio bem menor dos artigos manufaturados Os países agrários perderam parte de seu poder de compra o que afetou a balança de pagamentos e o volume de importações desses países10 De acordo com Prebisch o problema era o controle dos merca dos de produtos industriais por parte de poucos oligopólios os quais faziam com que os preços subissem sempre que possível e não caíssem mesmo que as condições do mercado fossem adver sas11 Por outro lado os mercados de matériasprimas eram muito competitivos havia milhões de produtores de café ou trigo e os preços flutuavam com facilidade Em tempos de crise o preço dos produtos industrializados não declinava com tanta velocidade quanto o dos primários ao passo que nos períodos prósperos ele aumentava mais rápido O resultado disso é uma deterioração das condições comerciais dos países especializados em produtos primários que passam a ganhar menos pelos produtos vendidos e a pagar mais pelo que compravam Produzir uma quantidade maior do mesmo tipo apenas pioraria a situação uma vez que os preços dos produtos primários cairiam ainda mais O ciclo vicioso só seria rompido mediante uma mudança dos tipos de bens produzidos Seria necessário abandonar os produtos primários e adotar os industriais Alguns economistas contestaram os argumentos da Cepal Diz iam que a indústria nascente nunca crescia apenas continuava a receber proteção além de os custos gerados por indústrias inefi cientes superarem os benefícios diretos Alegavam também que as políticas da Cepal criariam setores industriais inchados fabric ando produtos caros de baixa qualidade e tecnologia ultrapas sada Os céticos desafiavam a afirmação de Prebisch de que os ter mos de troca dos países em desenvolvimento haviam se deterior ado Mesmo se fosse verdade a solução não podia ser proteção ou subsídios afinal de contas as exportações de produtos primários 464832 haviam gerado prosperidade e indústrias para o Canadá Austrália e até para os Estados Unidos A visão da Cepal alcançou aceitação irrestrita no mundo colo nial e póscolonial independentemente de seu mérito intelectual Os novos governos encontravam apoio principalmente entre os capitalistas urbanos trabalhadores e classe média os quais nutri am pouca simpatia pelo modelo exportador de produtos primári os Os europeus e seus parceiros sempre dominaram a produção de bens agrícolas e minerais para exportação nos lugares onde os produtores de matériasprimas eram os nativos a classe em geral era fragmentada e fraca Industriais profissionais liberais fun cionários públicos e operários se organizavam de maneira efi ciente às vezes tinham ligações próximas com os militares e con trolavam as cidades12 A batalha sobre a estratégia de desenvolvi mento a ser seguida terminou antes de começar a industrializa ção por substituição de importações viria a ser a política universal do mundo póscolonial Nehru e a industrialização da Índia Depois de Jawaharlal Nehru ter lembrado os indianos do encon tro com o destino em agosto de 1947 em seu discurso como o primeiro chefe de governo do país ele apontou para o futuro Esse futuro não é de sossego ou descanso mas de uma luta incessante para que possamos cumprir as promessas que temos feito com tanta frequência e a que faremos hoje Servir à Índia significa servir aos milhões que sofrem Significa acabar com a pobreza a ignorância a doença e a desigualdade de oportunidades Enquanto existirem lá grimas e sofrimento nosso trabalho não terá acabado Nehru liderou a Índia independente por 15 anos se esforçando para transformar suas promessas em realidade Quando tomou 465832 posse em agosto de 1947 tinha mais de 30 anos de experiência política Governou diversas províncias indianas e negociou as condições para o afastamento do Império Britânico No entanto a experiência mais importante para a formação dele foi ganha como líder do principal movimento anticolonialista do planeta Nehru era o filho mais velho de um advogado bemsucedido e pertencia à aristocrática casta brâmane Nascido em 1889 teve di versos tutores ocidentais até ir para Harrow um colégio interno britânico para a alta classe De lá Nehru foi para Cambridge onde se formou em ciências naturais Ele então foi novamente para Londres para estudar Direito e se tornou advogado como o pai Em 1912 após tantos anos de educação britânica Nehru voltou à Índia e como ele mesmo disse posteriormente talvez mais inglês que indiano mais encantando com a Inglaterra e os ingleses do que poderia um indiano13 O pai de Nehru já havia se tornado um líder moderado do Partido do Congresso Nacional In diano e apesar da anglofilia o filho também era nacionalista O jovem Nehru conheceu Gandhi em 1916 numa convenção do Partido do Congresso No início da década de 1920 Nehru e o pai adotaram uma posição próindependência mais radical Os Nehru e outros membros das classes alta e média da Índia passaram a apoiar a independência completa do país por uma série de razões A Primeira Guerra Mundial e o período entreguer ras mostraram aos indianos que o governo colonial era desne cessário O país se comportou bem quando a guerra a recon strução e a depressão econômica o separaram do império As cres centes concessões de autonomia por parte dos britânicos pro varam que os indianos eram perfeitamente capazes de se autogov ernar e que políticas formuladas regionalmente se adequariam melhor às necessidades locais O império oferecia infraestrutura e defesa mas a um preço cada vez mais alto em especial devido à brutalidade de algumas ações britânicas das quais a mais 466832 marcante foi o massacre de centenas de manifestantes pacíficos em Amritsar em 1919 Os suseranos britânicos oprimiam a numerosa e moderna elite indiana que dominava o país Nehru e o Partido do Congresso não viam mais motivos para que a relação continuasse A reação não foi de xenofobia tampouco foi algo como o tradicionalismo indi ano de Gandhi Nehru enxergava a Índia com olhos basicamente europeus A conheci por meio do Ocidente e a olhei como um ocidental cordial teria feito Estava impaciente e ansioso para mudar sua aparência sua atitude e para lhe dar a roupa da mod ernidade14 O excientista de Cambridge e advogado de Londres desejava trazer a ciência moderna e a tecnologia para o país em vez de buscar uma volta às tradições A GrãBretanha resistiu à independência Em 1921 as autorid ades britânicas prenderam o jovem Nehru pela primeira de muitas vezes ele passou cerca de 13 do período de 1921 a 1945 na prisão Após ser libertado tornouse secretáriogeral do Partido do Congresso desenvolvendo sua habilidade política e conhecimentos sobre o país Em 1926 e 1927 Nehru a mulher e a filha foram à Europa e à URSS Durante a viagem foi exposto às ideias do movimento internacional anticolonial e do socialismo soviético Ficou profundamente impressionado com as per spectivas tanto de uma unidade anticolonialista quanto de um desenvolvimento não capitalista Quando voltou Nehru mais uma vez foi nomeado secretáriogeral e em 1929 tornouse presidente do partido Logo ficou evidente que Nehru cujo pai morrera em 1931 era o segundo homem mais importante da liderança nacion alista atrás apenas de Gandhi Nos dez anos do caminho para a independência Nehru con hecido como pandit ou professor uniu socialismo e nacional ismo com a intenção de alcançar o possível As tentativas britân icas de conciliação levaram à autonomia provincial e à eleição do Partido do Congresso na maioria das províncias no fim da década 467832 de 1930 Enquanto a guerra ameaçava a Europa os indianos tiveram que tomar uma posição Nehru que em 1936 passou mais uma temporada na Europa enquanto sua mulher morria em um hospital suíço era simpático à luta contra os nazistas Mas para ele e para o partido a Índia só deveria apoiar a guerra caso a Grã Bretanha se comprometesse com a independência o que seria pouco provável Nehru passou a maior parte do período da guerra na prisão e começou as negociações com os britânicos mesmo antes de ser libertado Trabalhou próximo ao lord Mountbatten para garantir uma transição para a independência o mais tran quila possível dentro das dificuldades inerentes ao processo espe cialmente a hostilidade entre hindus e muçulmanos que mais tarde dividiram a nação em dois países Índia e Paquistão No poder pandit Nehru continuou a enfatizar o nacionalismo econômico e o desenvolvimento industrial A Índia diferente mente da América Latina copiou aspectos da planificação soviét ica utilizando uma série de planos quinquenais para conduzir a industrialização do país O governo priorizava os investimentos em infraestrutura e a indústria de base para aprofundar o desen volvimento do setor fabril moderno As prioridades de Nehru eram bemdefinidas Se pretendemos industrializar o país não iremos fazêlo criando uma porção de fábricas de bens de consumo São úteis sem dúvida mas para nos industrializarmos precisamos de certas indústrias básicas indústriaschave indústriasmãe máquinas aço e assim por diante Indústrias que possam gerar outras indústrias15 Durante os três primeiros planos de cinco anos de Nehru de 1951 a 1966 o governo foi responsável por metade dos investi mentos destinados à indústria e metade dos que se destinaram às industrias de aço e ferro16 Nas décadas de 1950 e 1960 enquanto a produção têxtil aumentou em 13 no setor de maquinário o 468832 crescimento foi cinco vezes maior e a fabricação de metais básicos quadruplicou17 Nehru adotou a visão socialista como a maioria dos líderes políticos indianos mas com pragmatismo O governo con tinuava firme no compromisso com os empresários os quais Nehru em geral defendia Dizse do capital que ele é arisco mas é arisco porque os capitalis tas que são empreendedores privados não têm a certeza de quanto tempo poderão continuar no país Sugiro portanto darmos a eles uma bela chance e pedirmos que obtenham belos lucros É essencial darmos uma chance à empresa privada e garantirmos segurança para que eles continuem a trabalhar em nome da produção18 As políticas econômicas indianas eram semelhantes às da in dustrialização por substituição de importações adotadas na América Latina O governo concedeu proteção industrial créditos subsidiados incentivos fiscais e outros benefícios de certa forma já familiares aos latinoamericanos Os planos quinquenais con tavam com floreios retóricos diferentemente dos planos latinos mais conservadores Contudo na prática não eram muito pare cidos com os do estilo soviético O governo indiano prestou mais atenção às condições rurais do que os latinoamericanos É evid ente que a Índia era bem mais rural que a América Latina e a madura democracia parlamentar indiana não deixava os políticos ignorarem os produtores agrícolas A ampla reforma agrária e as melhorias no campo não modificaram a situação geral de favore cimento das cidades e da indústria mas o setor agrícola fora menos punido na Índia que em muitas outras nações em desenvolvimento As políticas indianas obtiveram resultados semelhantes aos al cançados por outras economias que implementaram a ISI A produção agrícola da Índia nos primeiros 25 anos de independên cia quase não acompanhava o crescimento populacional mas a 469832 indústria se expandiu três vezes mais rápido No início da década de 1970 o país passou a produzir mais de cinco milhões de tone ladas de aço menos de um milhão de toneladas antes da inde pendência 16 milhões de toneladas de cimento menos de três milhões de toneladas antes e um milhão de toneladas de fertiliz ante menos de dez mil de toneladas antes O país fabricava os próprios trens automóveis e possuía uma bemsucedida indústria de maquinário19 Cerca de 90 das máquinas utilizadas na in dústria têxtil eram produzidas domesticamente da mesma forma que 98 do alumínio e 99 do aço quase todos importados no período da independência A indústria correspondia a apenas 16 da produção econômica mas dado o tamanho do subcontin ente a Índia tinha um dos maiores setores industriais do mundo em desenvolvimento20 A industrialização veio acompanhada do crescimento econ ômico mais rápido da história indiana As estimativas mais pre cisas indicam que a renda por pessoa na Índia em 1950 era quase 10 maior que um século antes Esse dado mascarava os altos e baixos altos até a Primeira Guerra Mundial baixos a partir de então mas no geral a economia indiana do fim do período colo nial estava estagnada Entre 1950 e 1975 no entanto cresceu cerca de 50 mesmo considerando a rápida ampliação popula cional Embora o crescimento tenha ocorrido mais lentamente que em muitos outros países em desenvolvimento era significat ivo para os padrões indianos As vitórias econômicas da Índia satisfizeram apenas uma parte das ambições de Nehru para o país Ele acreditava que a Índia po deria ajudar a transformar a natureza da economia internacional Afinal de contas as nações recémindependentes da África e da Ásia não tinham voz Para solucionar o problema em 1949 Nehru convocou uma conferência em Nova Déli e em 1954 se encontrou em Colombo no Sri Lanka com o líder deste país e outros do Pa quistão de Burma e da Indonésia para planejar uma reunião 470832 maior Em abril de 1955 29 nações africanas e asiáticas se re uniram em Bandung na Indonésia O encontro contou com a par ticipação dos personagens mais importantes da luta anticolonial U Nu Burma Norodom Sihanouk Camboja Zhou Enlai China Gamel Abdel Nasser Egito Nehru Índia Sukarno In donésia Muhammad Ali Bogra Paquistão Carlos Romulo Filipinas príncipe Faisal Arábia Saudita e Pham Van Dong Vietnã do Norte A Conferência de Bandung apontou para a estreia de novos atores na cena mundial Nehru a chamou de parte de um grande movimento da história da humanidade que fez metade da pop ulação do mundo emergir na política internacional21 Dezenas de países em desenvolvimento demonstraram interesse em traçar um caminho intermediário entre os Estados Unidos e a URSS A declaração final de Bandung apresentou cinco princípios propos tos por Nehru para evitar conflitos e pôr fim à intervenção imperi al Assim o sucesso de Nehru em conduzir a sociedade indiana para a independência e a neutralidade refletiuse no plano inter nacional O Terceiro Mundo tornouse uma força política e Nehru era um de seus líderes Quando pandit Nehru morreu em 1964 suas ideias já es tavam consolidadas A Índia passou a ser industrial com um setor público forte e uma iniciativa privada poderosa trabalhando lado a lado A democracia do país era estável Apesar da desastrosa guerra com a China em 1962 e de conflitos fronteiriços com o Paquistão a Índia era um dos protagonistas da política mundi al tanto pelo que vinha fazendo internamente quanto como líder do movimento não alinhado do Terceiro Mundo A África e a Ásia não dependiam mais da Europa em termos de investimentos ad ministração ou indústria Os dois continentes haviam se tornado independentes cresciam rapidamente e ganhavam cada vez mais autoconfiança O sucesso de Nehru foi tão reconhecido no país 471832 que antes de completar dois anos da morte do líder sua filha Indira Gandhi tornouse primeiraministra O Terceiro Mundo adota a ISI Assim como ocorria na Índia as reformas de caráter nacionalista das economias póscoloniais levaram a uma rápida industrializa ção Os novos governos seguindo as políticas da ISI transferiram recursos e cidadãos da agricultura e da mineração para as fábricas do campo para as cidades A indústria da África e da Ásia se desenvolveu de forma impressionante embora de maneira não tão abrangente ou profunda como na América Latina Nações que já contavam com um passado manufatureiro como a Turquia e a Índia passaram a ter grandes fábricas Países de fábricas rudi mentares como o Iraque e a Coreia possuíam agora um extenso setor industrial Áreas que nunca haviam tido qualquer fábrica moderna como o Quênia e a Tailândia passaram a ter uma in dústria que crescia com velocidade Em 1973 a Revolução Indus trial parecia ter chegado à Ásia e à África da mesma forma que al gumas décadas antes chegara à América Latina A economia crescia rápido no Terceiro Mundo póscolonial Na maior parte da África e da Ásia o crescimento per capita anual passou a ser de 2 a 3 Nas décadas anteriores talvez séculos o índice anual raramente se é que alguma vez o fez ultrapassava 1 Em algumas nações como Egito Costa do Marfim Nigéria Indonésia e Tailândia a renda por pessoa dobrou ou quase isso em 20 anos Isso sem incluir a Coreia do Sul e Taiwan países que provavelmente atingiram o crescimento econômico mais rápido da história o PIB per capita triplicou ou quadruplicou em 20 anos22 A estrutura econômica das novas nações se modificou Dur ante uma geração sociedades agrárias foram transformadas em 472832 urbanas e industriais Em 1970 a indústria já era responsável por 14 ou mais da produção do Sri Lanka Malásia Indonésia Filipi nas e Tailândia todas sociedades préindustriais até 195023 Os países do Oriente Médio que começaram com setores manu fatureiros pequenos experimentaram uma grande aceleração do crescimento industrial e no início da década de 1970 muitas das economias da região que não tinham o petróleo como base pas saram a produzir mais na indústria que na agricultura Na Tur quia e no Egito a produção e a quantidade de empregos no setor industrial cresceram muito rápido e embora essas economias fossem fortemente agrárias a produção industrial superou a agrí cola algumas vezes durante a década de 197024 Os países da África subsaariana onde quase não havia fábricas passaram por um processo violento de industrialização por substituição de im portações A parcela do PIB nigeriano proveniente da indústria que na época da independência era menor que 3 passou dos 10 na década de 1970 enquanto a própria indústria cresceu cerca de 11 ao ano25 A ISI nesses países foi semelhante à da América Latina apen as mais intensa Países com um setor industrial menor precis avam de proteção e subsídios ainda maiores para poderem gerar novas fábricas Nações que contavam com uma classe capitalista fraca necessitavam de um envolvimento ainda mais enérgico por parte do governo Algumas das aplicações mais radicais da ISI ocorreram nos países menos desenvolvidos da África e da Ásia Para os críticos esses países copiavam uma má ideia mas na Nigéria e na Índia no Quênia e na Malásia a influência política dos que detinham o poder político financeiro ou ideológico acabou canalizando os esforços para a industrialização A proteção comercial nesses países era extremamente grande apesar de suas indústrias estarem em fase embrionária Barreiras protetoras no Egito e na Índia tornavam os preços dos produtos industriais quase duas vezes maiores O comércio caiu 473832 radicalmente apenas 2 da produção indiana era exportada O comércio exterior da Turquia que na década de 1920 abrangia de 25 a 30 da economia caiu para menos de 9 na década de 1970 mesmo após séculos de laços comerciais com a Europa e uma localização favorável26 A presença do Estado era bem mais significativa nos países menos desenvolvidos do que na América Latina Na verdade era comum a aplicação da ISI como forma de socialismo Os que de fendiam o socialismo na Índia nos países árabes em Burma ou na África o apresentavam como uma combinação de planificação central e socialdemocracia unidas pela rápida industrialização e construção da nação Os empregos de grande parte da população vinham do setor estatal que também possuía porções generosas da economia No Egito o governo árabe socialista de Nasser nacionalizou todos os bancos seguradoras e grande parte da in dústria O setor público egípcio possuía mais de 90 das fábricas com mais de dez trabalhadores Além disso 13 da força de tra balho e cerca de metade da produção estavam ligadas ao Estado O governo de Gana empregava 34 dos trabalhadores do setor formal moderno da economia embora apenas 110 dos trabal hadores estivesse no setor formal isso significava que o governo era o principal responsável pelos empregos urbanos27 A adoção de uma política de ISI extremada nos países que quase não possuíam indústria tinha diversas raízes Em termos de ideologia a industrialização estava intimamente associada à soberania da mesma forma que economias exportadoras estavam associadas ao domínio colonial Interesses urbanos poderosos es tavam por trás dessa justificativa ideológica e a oposição rural foi dizimada com a saída dos colonizadores ou acabava sendo fraca ou desorganizada O conflito entre o exército funcionários públi cos capitalistas locais profissionais liberais e sindicatos trabal histas de um lado e os pobres da áreas rurais de outro não era 474832 de fato um conflito Quase não existiam obstáculos para a industrialização Muitos dos excessos cometidos na África e na Ásia ocorreram por causa do desenvolvimento relativamente baixo de tais so ciedades onde a pequena elite conseguia distorcer a política em favor próprio As sociedades latinoamericanas eram mais desen volvidas com economias mais maduras e sistemas políticos mais responsáveis Apesar de em 1950 os níveis de riqueza da Europa serem duas vezes maiores que os da América Latina a região por sua vez era de duas a três vezes mais rica que a Ásia e a África O abismo entre a América Latina e o resto do mundo em desenvolvi mento era maior que o existente entre a América Latina e os países ricos Os grandes países da América Latina adotavam polít icas industriais semelhantes às implementadas na Alemanha e nos Estados Unidos no fim do século XIX e apresentavam um nível de desenvolvimento comparável ao dos dois países no mesmo período Essas medidas portanto não seriam adequadas a países tão pobres quanto Bangladesh ou Tanzânia que con tavam com índices de desenvolvimento mais baixos que os da Europa do fim do século XVIII A maior parte da Ásia e da África adotou o estilo latinoamer icano de ISI ou até mesmo uma forma mais extremada No ent anto um punhado de países no Leste asiático tentou algo difer ente Coreia do Sul Taiwan Cingapura e a colônia britânica de Hong Kong pressionavam seus fabricantes a exportar como forma de desenvolver os mercados do país Hong Kong já podia ser quase considerado comercialmente livre mas os outros três países tentaram aplicar a ISI na década de 1950 e no início da de 1960 Mas em meados dos anos 1960 o país se voltou para a cha mada Industrialização Orientada para Exportação IOE ou EOI na sigla em inglês para Export Oriented Industrialization que estimulava a produção para exportação Os governos também passaram a intervir pesadamente na economia mas nesse caso 475832 para estimular as exportações Eles concederam benefícios e sub sídios às importações como créditos às empresas que expor tassem e reduções nos impostos sobre os lucros obtidos com ven das internacionais Em alguns casos o setor público também abrangia uma parcela da economia tão grande quanto na América Latina inclusive todos os bancos da Coreia do Sul e grande parte da indústria de base do país Enquanto o resto do Terceiro Mundo fez com que a indústria se voltasse para dentro do país as nações que se industrializaram com base nas exportações focaram no ex terior Em geral essas indústrias dependiam dos voláteis merca dos internacionais mas tinham a vantagem de forçar os fabric antes nacionais a seguirem rigorosos padrões de qualidade tecno logia e preços Os países do Leste Asiático optaram pela industrialização do tipo exportorientated em parte por disporem de poucos re cursos para importar os produtos necessários e a única forma que encontraram para obter moeda estrangeira foi a exportação de produtos industrializados Os governos de Taiwan e da Coreia do Sul também foram influenciados por questões de ordem geopolít ica a importância que tinham para os Estados Unidos rendeu aos países acesso garantido aos mercados norteamericanos Independentemente de sua natureza a política foi notoriamente bemsucedida Entre 1950 e 1973 as exportações de Taiwan e da Coreia do Sul atingiram um crescimento anual de 20 e 16 re spectivamente e a renda por pessoa dos dois países no mesmo período de 6 e 5 ao ano Em 1950 os dois países do Leste Asiático eram mais pobres que as Filipinas Marrocos e Gana em 1973 tornaramse de duas a três vezes mais ricos A IOE parecia se é que não foi mais bemsucedida que a ISI embora tenha sido apenas uma experiência rara confinada ao Leste Asiático A proliferação moderna da indústria 476832 Entre 1939 e 1973 os países em desenvolvimento optaram pela industrialização via substituição de importações e por uma polít ica nacionalista e voltada para o mercado interno A América Lat ina e outras poucas nações independentes começaram a traçar este caminho na década de 1930 Essas experiências foram segui das de três levas de independência colonial na Ásia na década de 1940 no Oriente Médio e Norte da África nas décadas de 1940 e 1950 e na África subsaariana no fim da década de 1950 e durante a de 1960 Todas essas regiões afastaram os produtos estrangeiros de seus mercados estimularam a produção local para consumo interno e desenvolveram cidades e indústrias à custa de agri cultores e zonas rurais Os países da Ásia que optaram por se con centrar nas exportações também conseguiram o desenvolvimento industrial mas com base na produção para o mercado externo em vez da substituição de importações Quase todas essas nações foram bemsucedidas Apesar de al guns excessos inegáveis nas políticas de ISI em muitos países as iáticos africanos e até latinoamericanos a década de 1960 foi re lativamente próspera Economias cresceram o processo industri al se acelerou e o padrão de vida melhorou A substituição de im portações se mostrou uma medida econômica eficiente para ser adotada com a independência política nacional a Um certo isolamento da economia mundial e políticas voltadas para o desenvol vimento nacional NT b Área da Ásia próxima do Mediterrâneo inclui a Síria o Líbano Israel Palestina e o Iraque NE 477832 14 Socialismo em muitos países A visita de Nikita Khrushchev aos Estados Unidos em 1950 e 1960 virou manchete nos jornais de todo o mundo Quando o líder so viético bateu os pés com raiva no parlatório enquanto discursava nas Nações Unidas na década de 1960 os ocidentais ridiculariz aram o camponês pouco sofisticado que agora liderava o maior país do mundo No entanto quando ele disse que até 1980 a eco nomia da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas seria maior que a dos Estados Unidos ninguém riu Os soviéticos derrotaram os Estados Unidos na corrida espacial com o Sputnik em 1957 e um ano mais tarde lançaram a primeira nave espacial pilotada por um homem Grosseiro ou não o socialismo soviético parecia ser um verdadeiro rival do capitalismo Em 1939 o socialismo existia em apenas um país a União Soviética1 A URSS era a maior nação do mundo uma das prin cipais potências industriais e uma força da política mundial No entanto o país continuava semiindustrial e com poucos laços econômicos com o resto do globo Moscou havia se distanciado da economia mundial e dos mercados havia uns dez anos e a plani ficação econômica soviética era uma anomalia exclusiva de um país que abrigava 8 da população mundial Nenhum outro governo demonstrava qualquer interesse pela economia plani ficada socialista e mesmo na União Soviética o seu futuro era incerto Na época em que Khrushchev visitou os Estados Unidos o so cialismo ao estilo soviético operava de forma consolidada em mais de 12 países atingindo cerca de 13 da população mundial Uma minoria considerável de países em desenvolvimento tinha o so cialismo planificado como objetivo O mais populoso do mundo a China tornouse socialista e a política do segundo mais popu loso a Índia aproximouse da União Soviética Os movimentos comunistas se fortaleceram pelo mundo em desenvolvimento e em alguns países da Europa ocidental Um comunista otimista tinha motivos para acreditar que seria apenas uma questão de tempo para que a maioria dos países em desenvolvimento e até grande parte dos desenvolvidos adotasse alguma variação do so cialismo soviético Enquanto isso as nações socialistas transformavam reform avam e modernizavam o modelo soviético O governo da URSS também apontou falhas no sistema criado na década de 1930 e planejou um aperfeiçoamento O futuro do socialismo soviético e por inferência do próprio capitalismo ocidental dependeria desses esforços para incrementar a planificação centralizada A expansão do mundo socialista Em cinco anos após o fim da Segunda Guerra Mundial o social ismo se expandiu do centro da Europa para o Pacífico A Guerra Fria levou a uma rápida imposição do modelo soviético na Europa central e do leste Entre 1949 e 1953 as nações socialistas dessas regiões do Velho Continente Alemanha Oriental Tchecoslov áquia Polônia Hungria Albânia Romênia e Bulgária copiaram a economia planificada da URSS exceto a Iugoslávia Em 1952 o 479832 Estado já controlava entre 97 e 100 das fábricas nesses países menos na Alemanha Oriental onde as estáticas apontavam para cerca de 77 A agricultura foi socializada de forma mais gradual mas até 1953 as fazendas coletivas do governo ocupavam mais da metade das terras cultiváveis da Bulgária e da Tchecoslováquia Na Hungria a situação era bem parecida Havia variações mesmo sem contar a busca independente da Iugoslávia por um socialismo gerido por operários Em alguns países havia grande espaço para o comércio privado principal mente na agricultura e em alguns serviços de pequena escala como restaurantes varejo e consertos Dado o status especial da Alemanha Oriental um setor privado relativamente grande já op erava no país em 1953 A planificação variava de acordo com a realidade local uma vez que as nações se encontravam em está gios diferentes de desenvolvimento a produção industrial per capita na Alemanha Oriental e na Tchecoslováquia era três vezes maior que na Romênia Bulgária ou Albânia No entanto em 1953 todos esses países já haviam rejeitado os mercados em favor da planificação econômica2 Em 1949 contudo as semelhanças foram formalizadas com a criação do Conselho para Assistência Econômica Mútua Comecon ou Caem formado com a intenção de ser a contrapartida da ordem de Bretton Woods No entanto os laços econômicos entre os governos eram limitados visto que buscavam um sistema autárquico no qual o comércio mesmo com nações socialistas tinha pouco espaço Três novos governos socialistas tomaram o poder na Ásia na China na Coreia do Norte e no Vietnã do Norte Sozinha a Re volução Chinesa triplicou a população dos que viviam sob o re gime comunista Os três países asiáticos eram muito menos desenvolvidos e bem mais rurais que as outras nações socialistas O caminho tomado pela Ásia na direção do socialismo foi mais agrário e começou de forma modesta Os países implementaram reformas agrárias amplas expropriando a maioria das terras dos 480832 ricos e as distribuindo aos pobres e aos camponeses sem terras Os regimes comunistas asiáticos também se lançaram em ambi ciosos programas estatais de industrialização com as re comendações e o dinheiro soviético seguindo as linhas da plani ficação econômica Os governos comunistas na Europa e na Ásia construíam réplicas com graus variados de dependência da União Soviética stalinista Adotaram as características básicas da planificação eco nômica soviética controle estatal da indústria da infraestrutura do comércio e de grande parte da agricultura controles rígidos dos mercados barreiras altas ou proibitivas ao comércio e in vestimentos internacionais O volume da produção agrícola privada o grau de centralização e os limites para a flutuação dos preços variavam Não obstante as linhas gerais seguidas pelas economias planificadas eram semelhantes de Praga a Sófia de Kiev a Moscou e de Pequim a Hanói A divisão do mundo socialista Após a morte de Stálin em março de 1953 a marcha ordenada do mundo socialista se desintegrou e cada nação passou a seguir soz inha Na União Soviética e na maior parte da Europa central e do leste o modelo stalinista foi suavizado passando a oferecer maiores benefícios aos consumidores diminuindo o favoreci mento da indústria pesada e concedendo incentivos de ordem mercadológica a gerentes e trabalhadores A China tomou um caminho oposto e radicalizou a sua versão de planificação econ ômica e agricultura coletiva As diferenças de política econômica foram marcadas por cisões crescentes entre os dois gigantes comunistas A morte de Stálin suscitou pressões econômicas sociais e políticas na esfera socialista O conflito atingiu o Partido 481832 Comunista do qual Khrushchev assumira o controle A atenção internacional se voltou para ele após um entusiasmado discurso no qual ele acusava Stálin de perverter os ideais socialistas A lid erança concordou com as reformas econômicas embora não tivesse ficado claro quais seriam Os distúrbios na URSS se refle tiram na Europa central e do leste onde líderes stalinistas es tavam sendo substituídos por comunistas nacionais próre formas que desejavam modificar o socialismo Reformas econôm icas sociais e algumas vezes políticas atingiram toda a URSS e a Europa central e do leste A insatisfação popular pode ser considerada o motivo mais imediato para tensões Em Berlim revoltas operárias ocorreram em junho de 1953 O descontentamento se espalhou pela Europa oriental e não podia ser atribuído apenas a contrarrevolucionários antiproletariado uma vez que os operários eram aqueles que reivindicavam de forma mais agressiva As revoltas em Berlim po dem ser comparadas às agitações de 1956 na Hungria e na Polônia Em ambos os casos embora certamente contassem com elementos antissoviéticos e antissocialistas as reivindicações con tavam com o apoio de uma parte substancial da classe trabal hadora e dos partidos comunistas locais de forma ativa ou pas siva A URSS e seus governos aliados rapidamente reprimiram os motins No entanto os regimes que subiram ao poder após os eventos de 1956 eram liderados por comunistas reformistas mod erados Estes eram bemvistos tinham um passado de luta contra a linhadura e pouco dependiam do apoio popular Gomulka na Polônia e Kádar na Hungria A baixa qualidade de vida do cidadão médio era o principal motivo de descontentamento popular O governo soviético privile giava a indústria pesada em detrimento da leve bens de con sumo além de favorecer a indústria em detrimento da agricul tura Argumentava que os sacrifícios feitos para acelerar a indus trialização básica seriam recompensados no futuro com uma base 482832 industrial mais forte Embora tal posição possa ter tido seu mérito na década de 1930 ela tornouse incoerente na de 1950 em espe cial nos países da Europa central que já contavam com um setor manufatureiro significativo O foco na indústria de base signi ficava uma séria escassez de bens de consumo incluindo moradia e a pouca atenção destinada à agricultura gerava uma insuficiên cia no abastecimento e na qualidade dos alimentos Em 1938 os consumidores soviéticos talvez estivessem dispostos a manter tais condições espartanas como forma de preparação para a Grande Guerra Patriótica contra os invasores nazistas No entanto em 1950 os húngaros os poloneses e até os soviéticos não estavam mais tão motivados O problema foi exacerbado quando tomaram ciência da prosperidade ocidental Os países da Europa central ficavam ao lado das prósperas sociedades capitalistas e a televisão e o rádio reforçavam a impressão de que o leste ficava para trás Até os cidadãos soviéticos se deram conta do abismo entre os padrões de vida dos dois blocos Se não pudéssemos prometer à população nada melhor que apenas a revolução o povo coçaria a cabeça e diria Não seria mel hor um bom goulash disse supostamente Khrushchev O cha mado comunismo goulasha foi adotado pelos soviéticos e seus ali ados na Europa central e do leste Os governos aumentaram os salários e começaram a investir nas indústrias de bens de con sumo e na construção de casas3 Passaram a não mais enfatizar a indústria pesada e a aumentar o fornecimento de roupas sapatos aparelhos de som e outros bens de consumo Prometeram con struir milhões de novas habitações e as autoridades soviéticas garantiram em 1957 que dentro de uma década as famílias não precisariam mais dividir apartamento umas com as outras4 O novo foco na melhoria da qualidade de vida da população obteve resultados grandiosos e rápidos de 1953 a 1957 os salários reais na Europa oriental sofreram um aumento de 30 a 605 O descontentamento portanto diminuiu 483832 O descaso do governo com a agricultura estagnou o abasteci mento de alimentos Os preços agrícolas caíram tanto que os fazendeiros não tinham incentivo para produzir e o governo quase não investia em melhorias no campo As fazendas soviétic as em 1953 produziam menos grãos e batata que em 1940 além de contarem com uma quantidade menor de gado porcos e carneiros Dado o crescimento populacional isso se refletiu no número de habitantes nas cidades As mesmas políticas governa mentais que tornaram a agricultura pouco lucrativa também em pobreceram as próprias áreas rurais Praticamente a única forma que os produtores agrícolas tinham para garantir uma vida de cente era vender o que produziam em seus pequenos lotes de terra6 Khrushchev era natural do cinturão verde ucraniano e se con siderava um especialista em agricultura Desde o começo de seu governo investiu no campo Dobrou o número de tratores e segadeiras em dez anos e aumentou a utilização de fertilizantes e técnicas de irrigação Também gastou somas incalculáveis com o propósito de arar milhões de hectares de terras improdutivas para o cultivo de grãos principalmente na Sibéria e no Cazaquistão Os soviéticos reorganizaram a agricultura O governo aumentou os preços dos produtos agrícolas e em poucos anos os ganhos das fazendas coletivas aumentou em mais de 33 Mo scou também unificou fazendas com a finalidade de tornálas mais eficientes Em 1960 a típica fazenda coletiva tinha 400 casas espalhadas por três mil hectares de terras cultivadas com 1300 cabeças de gado e 900 porcos Um número maior de máquinas fazendas mais amplas e o encarecimento dos produtos agrícolas melhoraram substancialmente as condições de vida no campo e o abastecimento de alimentos Entre 1953 e 1965 após anos de es tagnação a produção de alimentos aumentou em cerca de 347 Os governantes do Leste Europeu também melhoraram as con dições rurais Após 1956 Polônia e Hungria terminaram com 484832 muitas das fazendas coletivas Em 1960 cerca de 90 dessas fazendas na Polônia já haviam sido privatizadas e o governo não exercia qualquer tipo de pressão para mudar essa situação As fazendas coletivas húngaras foram reconstruídas de forma a se tornar mais atraentes para os produtores agrícolas Em outros lugares apesar de os trabalhadores terem sido persuadidos ou obrigados a viver em fazendas coletivas ou estatais os preços agrícolas encontravamse relativamente favoráveis e as casas em lotes privados de terra passaram a ser autorizadas e inclusive es timuladas Na Europa oriental as condições rurais e a produção agrícola melhoraram uma vez que o consumo de carne dobrou ou quase até 19658 As mudanças na União Soviética e na Europa oriental pratica mente atingiram seu objetivo O crescimento econômico con tinuava grande e provocou uma melhora nas condições da cidade e do campo A população conseguia comprar bens de consumo além da necessidade básica câmeras máquinas de lavar aparel hos de som e até carros morar em casas decentes e usufruir de uma série de serviços educacionais e sociais No fim da década de 1960 a quantidade de telefones rádios e televisores presentes em lares soviéticos se aproximava à da Europa ocidental Embora o Partido Comunista e os planos econômicos centralizados per manecessem no comando as rédeas econômicas e políticas não eram mais tão pesadas como antes de 1953 As condições da década de 1960 se refletiram em acordos in formais de ordem política e econômica Os governos socialistas contavam com o apoio dos membros do partido e dos industriais que governavam tais sociedades Os trabalhadores urbanos tin ham o privilégio do acesso a serviços e salários maiores Produtores agrícolas profissionais liberais e outros só con seguiam ter uma vida decente caso aceitassem a liderança do Partido Comunista e na Europa oriental a aliança com a URSS A primazia do Estado de partido único era o preço a ser pago pela 485832 melhoria na qualidade de vida e a interferência cada vez menor que estes Estados exerciam na vida privada As mudanças da década de 1950 melhoraram a qualidade de vida da população mas os governos da União Soviética e da Europa oriental estavam cientes de que suas economias ainda ap resentavam problemas Os soviéticos pareciam ter se dado conta de que os métodos impositivos da década de 1930 talvez bemsu cedidos naquelas circunstâncias eram pouco adequados aos problemas das economias industriais mais avançadas surgidas na década de 1950 Até mesmo Stálin pouco antes de morrer recon hecera que os mecanismos para uma industrialização rápida não eram necessariamente os mesmos que os utilizados para o cresci mento e o desenvolvimento de uma economia já madura A rápida industrialização havia contado com uma centralização extrema e ameaças disciplinares aos gerentes Tais medidas quase militares talvez funcionassem para fins quase militares mas as consequên cias em geral eram desagradáveis em tempos mais normais Os dois problemas estruturais mais urgentes da economia eram o excesso de centralização e a falta de incentivos Os min istérios eram organizados de forma centralizada por tipo de in dústria O aço e o ferro por exemplo eram completamente sep arados dos químicos Nesse contexto os ministérios protegiam seus próprios impérios e não cooperavam uns com os outros Dessa forma em vez de uma usina de aço por exemplo receber insumos de alguma fábrica vizinha que os tivesse em abundância ela precisava requerer tais suprimentos da administração central em Moscou Os gerentes das fábricas costumavam contratar pro curadores que vasculhavam as zonas rurais em busca dos produtos que suas fábricas necessitavam mas não os con seguiam no ministério central para trocar pelos bens que tin ham em excesso Khrushchev tentou solucionar o problema cri ando mais de 100 escritórios locais de planejamento e devolvendo a autoridade no nível local O regime de Brezhnev e Kosygin que 486832 substituiu o de Khrushchev em 1964 reduziu a centralização mas apesar disso concedeu mais autoridade para os gerentes loc ais das estatais Outro problema era de incentivos Os soviéticos nunca con taram totalmente com a exortação ou com o ardor ideológico para motivar operários e gerentes mas também não usavam de grati ficações econômicas de forma muito extensiva Eles temiam que as recompensas resultassem em grande desigualdade entre classes e regiões consideradas indesejadas pelo sistema A forma de se medir sucesso em um sistema planejado de forma centraliz ada também não era clara Os preços eram definidos pelas autor idades centrais de modo que a lucratividade de uma empresa de pendia em grande parte de decisões que não diziam respeito aos trabalhadores ou gerentes Caso os planejadores percebendo a in significância dos resultados financeiros oferecessem recompen sas por melhoras quantitativas as fábricas passariam a entregar grandes quantidades de produtos sem se preocupar com a qualid ade Não era culpa dos gerentes se as autoridades centrais es tabeleciam preços de forma que as empresas gastavam mais do que ganhavam ou se as mandavam produzir bens que os consum idores não queriam da mesma forma como o sucesso não era res ultado de excelência gerencial A maioria dos analistas soviéticos acreditava que as formas pouco refinadas de planificação econômica haviam sido apropria das para o crescimento econômico das décadas de 1930 e 1940 mas agora não eram mais satisfatórias Inicialmente o principal objetivo foi o crescimento extensivo que trouxe recursos sub utilizados para a economia O governo transferiu os trabalhadores das zonas rurais para a indústria empurrou as terras ociosas para a produção e investiu na indústria de base Por se tratar de uma economia rudimentar o governo podia facilmente dimensionar e taxar os bens produzidos grãos aço petróleo Com a industrial ização básica completada a economia soviética se deparou com o 487832 crescimento econômico intensivo utilizando a capacidade produtiva instalada de forma mais eficiente No entanto sem grandes incentivos gerentes e operários provavelmente não aceit ariam correr riscos para aumentar a produtividade Por que os gerentes gastariam tempo e energia para desenvolver técnicas produtivas inovadoras se não seriam recompensados por isso Mesmo na década de 1930 os soviéticos tentaram aproximar os preços de índices realistas utilizar formas para medir luc ratividade além de descobrir quais empresas tinham um bom desempenho Na década de 1960 os reformistas começaram a utilizar métodos mercadológicos para recompensar as empresas seus gerentes e operários Um dos primeiros a expressar tal opin ião foi o economista soviético Evsei Liberman que em 1956 de fendia a utilização dos lucros como recompensa para os gerentes e trabalhadores de uma firma Em 1962 o Pravda jornal do Partido Comunista autorizou Liberman a publicar suas ideias prómercado O debate público instaurado foi um indicativo de que o as autoridades soviéticas consideravam a possibilidade de grandes reformas A nova administração de Brezhnev e Kosygin implementou medidas moderadas de incentivos em 1965 De cisões antes tomadas de forma central foram deixadas a cargo das empresas que foram autorizadas a guardar parte dos lucros e a distribuílos para gerentes e trabalhadores na forma de bônus ou benefícios moradia férias serviços sociais Os soviéticos também começaram a repensar seus laços econ ômicos com o resto do mundo Reconheceram que a URSS estava perdendo tempo e energia reinventando processos e bens já desenvolvidos por outros países avançados9 O comércio exterior da nação aumentou de forma dramática tanto com os outros países socialistas quanto com o mundo capitalista em 1973 o comércio tornouse três vezes mais importante para a economia soviética do que o era em 1950 Os investimentos internacionais passaram a ser mais bemvindos Em agosto de 1966 o governo 488832 firmou um contrato de US15 bilhão com a Fiat para a con strução de uma fábrica de automóveis de última tecnologia numa cidade nova chamada Togliattigrad em homenagem a um líder comunista italiano do pósguerra10 Os países da Europa oriental passaram por reformas mais rad icais voltadas para o mercado O regime tcheco foi mais longe entre 1966 e 1968 na busca por um caminho próprio para o social ismo ou o afastamento do socialismo soviético mas o plano foi interrompido por uma invasão da URSS No entanto o regime húngaro implementou reformas radicais no mesmo período e aparentemente convenceu os soviéticos de que isso não ameaçaria a segurança do bloco Na década de 1970 a maioria dos preços na Hungria começou a ser determinada pela oferta e procura e os lucros passaram a ser retidos pelas firmas e seus funcionários Outros países da Europa central e do leste também descentralizaram a planificação e aumentaram o papel desempen hado por preços e lucros11 Obstáculos políticos em geral impediam reformas na União Soviética e na Europa oriental Interesses já arraigados lutavam contra as mudanças que os ameaçavam Os gerentes das fábricas que sofriam com o aumento da competitividade trazida pelas re formas brigavam para que as medidas fossem revistas ou aborta das Eles eram importantes defensores dos regimes comunistas Dessa forma os seus interesses tolhiam o governo de agir Na URSS onde durante décadas os gerentes construíram uma posição social e política forte muitas das reformas de Brezhnev e Kosygin foram arquivadas assim que anunciadas Em 1973 a ad ministração econômica da Europa oriental e da União Soviética era bastante diferente do modelo soviético pré1953 E até 1973 o desempenho das economias da região foi muito bom A com petição econômica entre o capitalismo industrial do Ocidente e o socialismo industrial do Oriente estava a pleno vapor 489832 O caminho chinês A maioria dos indivíduos que vivia sob regimes socialistas tomou um caminho bem diferente quando a República Popular da China adotou métodos radicais de modernização ao estilo comunista Enquanto o resto do mundo socialista passou por reformas atenuou e revisou os princípios stalinistas os chineses e seus ali ados albaneses os expandiram em nome da rápida industrializa ção e transformação agrária Ambos os governos criaram enormes comunas agrícolas para acelerar a transição do capitalismo para o comunismo politizaram todos os aspectos relativos a medidas econômicas e cortaram os laços com o resto do mundo De mea dos da década de 1950 a de 1970 a China optou pelo caminho rural e urbano com um grau de radicalismo jamais visto antes Os comunistas chineses que tomaram o poder em 1949 se de pararam com demandas conflitantes refletidas em confrontos entre as alas do próprio partido Alguns dos aspectos difíceis fo ram as divisões urbanorurais já instauradas há muito tempo Os comunistas contavam com o apoio das zonas agrícolas e en tenderam a necessidade de manter uma base de apoio cam ponesa uma vez que o país era praticamente rural O Partido Comunista também tinha força entre a classe trabalhadora urb ana e compartilhava com o resto do mundo do desejo de se indus trializar rapidamente Contudo políticas próindustriais em geral implicavam medidas antiagrícolas e dessa forma interesses urb anos e rurais provavelmente entrariam em conflito Por outro lado o país mais populoso do mundo há muito tempo se deparava com um estado de desordem beirando a anar quia e um dos primeiros objetivos seria ainda a unificação da nação No entanto os comunistas também desejavam a trans formação econômica e social e uma mudança desse porte corria o risco de gerar grandes conflitos Seria preciso escolher entre or dem e mudança Outro tipo de tensão ocorria entre nacionalismo 490832 e internacionalismo De um lado a construção de uma nação pelos comunistas de outro a participação da China no comun ismo mundial Os primeiros anos da revolução foram dedicados à recon strução e à reforma O novo governo redistribuiu terras nacion alizou grandes empresas privadas e expandiu o setor público O primeiro plano quinquenal de 1952 a 1957 pôs o país no caminho soviético À indústria pesada foi concedida metade dos investi mentos totais embora o setor correspondesse a uma fatia minús cula da economia A ajuda técnica e financeira da União Soviética serviu para a construção de centenas de fábricas de produtos es senciais e devido à atenção governamental e à ajuda de Moscou a indústria cresceu rapidamente Em cinco anos a produção indus trial total dobrou a de cimento e energia elétrica triplicou e a quantidade de aço fabricada quadruplicou12 Os produtores agrícolas continuaram sozinhos A agricultura quase não recebeu dinheiro público mas ao menos os recursos do campo não foram desviados para as cidades A população rural era tão grande que os modestos impostos agrícolas arrecadavam o suficiente para a indústria e a ajuda soviética também acabou contribuindo para o financiamento da nova atividade industrial Os comunistas não podiam brincar com a oposição presente em mais de 45 do país a sociedade chinesa era bem mais rural que a soviética 23 da primeira era rural ao passo que 23 da segunda era urbana Os comunistas não se esforçaram muito para estimu lar os produtores agrícolas a participarem de cooperativas No fim de 1954 apenas 2 dos camponeses do país pertenciam a cooper ativas e quase nenhum vivia em fazendas coletivas O Comitê Cen tral previu com otimismo que 20 dos produtores agrícolas do país iriam fazer parte de cooperativas não fazendas coletivas até 1957 Mao Tsétung acreditava na ideia um tanto radical de que possivelmente até 1960 todo o campesinato estaria organizado em cooperativas13 491832 O gradualismo foi logo abandonado Após 1956 as relações entre chineses e soviéticos se tornavam cada vez mais conflituo sas e em qualquer situação a União Soviética emprestava din heiro não dava o que logo chegaria ao fim E a razão mais im portante foi que as fazendas forneciam apenas um modesto ex cedente para ser investido na indústria e nas cidades Alguns líderes comunistas estavam dispostos a aceitar a realidade opt ando por uma transição lenta para o socialismo e o desenvolvi mento industrial Mao Tsétung e aliados acreditavam que dessa forma abandonariam seus objetivos Mas como poderiam con seguir recursos para uma rápida transformação econômica Não podiam massacrar os camponeses como fez a União Soviética eles praticamente viviam de subsistência eram numerosos de mais e extremamente importantes do ponto de vista político Mao e seus seguidores tentaram então aumentar a produção no campo com uma grande mudança na organização agrícola Em outubro de 1955 repentinamente o partido começou a exercer forte pressão pela coletivização Em uma reviravolta impression ante no fim de 1956 90 dos camponeses da China passaram a viver em fazendas coletivas A coletivização na União Soviética le vou dez anos para atingir esse nível exigiu enorme brutalidade e gerou consequências graves Na China o processo ocorreu de forma tranquila e relativamente sem grandes problemas Cada fazenda coletiva foi planejada para coincidir com um vilarejo tradicional com cerca de 100 famílias Acima de tudo a coletiviza ção não veio acompanhada da exigência de preços absurdamente baixos para os grãos bastante representativo do estilo soviético Mas logo surgiram os problemas Aparentemente Mao acred itava que com a reorganização camponesa a produção agrícola cresceria muito e seria suficiente para aumentar a renda no campo financiar a indústria e a nova infraestrutura além de oferecer melhor qualidade de vida Mas não foi o que aconteceu e mais uma vez o governo se viu obrigado a impor sacrifícios aos 492832 agricultores Mao resolveu lidar com o problema de forma difer ente No inverno de 19571958 o governo organizou a construção coletiva de canais de irrigação e de outros sistemas hidráulicos O feito reuniu centenas de milhões de pessoas e foi um grande su cesso Em um ano os chineses construíram o equivalente a 300 canais do Panamá14 Mao e seus seguidores encontraram uma saída para seu dilema coletivas maiores poderiam reunir os cam poneses para empreitadas ainda mais eficientes Eles pression aram para que dez 20 ou 30 fazendas coletivas se juntassem e di vidissem o trabalho as máquinas a liderança e quase todo o resto Em alguns meses quase no fim de 1958 os chineses deram o chamado Grande Salto para Frente o qual reorganizou 99 dos camponeses do país em grandes comunas com cerca de 30 mil membros As comunas eram bem mais comunistas que as fazen das coletivas Tudo era dividido desde o cuidar das crianças até a comida em refeitórios comunitários Sobre isso o Comitê Central divulgou com entusiasmo O povo aprendeu a se organizar com disciplina militar trabalhando com militância e vivendo de forma coletiva Isso aumentou ainda mais a consciência política de 500 milhões de camponeses Refeitóri os comunitários jardins de infância creches grupos de costura bar bearias banhos públicos asilos para os idosos escolas agrícolas de ensino médio além de escolas comunistas e de especialização propor cionam aos camponeses uma vida comunitária feliz e estimulam ainda mais a ideia de coletividade entre as massas camponesas Segundo o partido essa era a política fundamental para guiar os camponeses na construção do socialismo e fazer a transição gradual rumo ao comunismo15 O partido estimulou a construção de indústrias de pequena escala nas comunas e logo um milhão de altosfornos produziam ferro e aço nas áreas rurais 493832 Mas o Grande Salto para Frente quase levou o país ao abismo As comunas eram grandes demais para a produção Como os cam poneses podiam pegar comida de graça tinham pouco incentivo para trabalhar e muito para comer de forma que o consumo aumentou e a produção diminuiu A colheita de 1958 havia sido muito boa talvez por esse motivo o Grande Salto era visto com otimismo A euforia durou algum tempo pelo menos enquanto os estoques estavam cheios Mas as colheitas de 1959 e 1960 foram 25 menores e a oferta de alimentos diminuiu Em 1960 o campo enfrentava problemas sérios A produção de alimentos caiu radialmente e os sistemas de distribuição e transportes na zona rural se desorganizaram Por fim os comunistas que se van gloriavam de terem erradicado a pobreza foram os responsáveis por uma das piores ondas de fome da história Entre dez e quinze milhões de pessoas foram afetadas e Pequim em pânico mandou 30 milhões de cidadãos das cidades para o campo por não ter como alimentálos16 Assim o governo recorreu de volta a formas mais modestas de organização agrícola A comuna média foi dívida em três e reduz ida a praticamente uma unidade administrativa O governo con fiou o controle da terra e do cultivo a grupos de produção forma dos por 20 a 40 casas em geral de uma única família clãs As propriedades privadas familiares foram restabelecidas com mais liberdade de trabalho para pequenos negócios privados artes anato comércio serviços de conserto com o propósito de ajudar os agricultores a equilibrar o orçamento Algumas áreas até reto maram o cultivo individual17 O governo também passou a enfatiz ar o fornecimento de alimentos concentrando máquinas sistem as de irrigação e fertilizantes nas regiões mais produtivas O movi mento em direção aos mercados foi retomado e a ênfase nas áreas produtivas aumentou a desigualdade entre os agricultores pobres e os ricos A liderança comunista não ficou satisfeita com a 494832 situação mas a igualdade imposta de forma radical mostrouse desastrosa A batalha não havia terminado Em 1966 Mao Tsétung e seus seguidores tentaram frear o curso reformista da política econôm ica A Grande Revolução Cultural Proletária como veio a ser cha mada empurrou a economia para um caminho mais revolu cionário Os radicais eram contra os tecnocratas e especialistas sem ideologia contra as grandes diferenças salariais entre trabal hadores qualificados e não qualificados e contra a desigualdade no campo Alegavam que o rumo mais moderado adotado pelo país no início da década de 1960 estava pondo a China no cam inho capitalista dos revisionistas soviéticos com os quais os chineses haviam rompido A Revolução Cultural fragmentou o país gerando conflitos entre grupos incluindo batalhas armadas entre defensores e opositores de ideias políticas Os conflitos afetaram a economia e a incerteza tanto quanto à política econ ômica refreou o crescimento Dessa forma no início da década de 1970 embora a Revolução Cultural ainda estivesse oficialmente em curso o governo tomou um rumo mais moderado semelhante ao do início da década de 1960 As grandes flutuações da política econômica causaram estra gos Do início da revolução ao fim do primeiro plano quinquenal o PIB per capita cresceu impressionantes 57 Por cinco de sastrosos anos o Grande Salto diminuiu a produção em 25 Durante o período de contenção de gastos de 1962 a 1966 o cres cimento aumentou mais uma vez atingindo 43 caiu 12 nos primeiros três anos da Revolução Cultural Quando a revolução perdeu força entre 1968 a 1973 a economia voltou a crescer fic ando 13 maior Apesar dos altos e baixos no geral o crescimento per capita da economia chinesa era em média de 29 ao ano semelhante ao de outras nações em desenvolvimento e em partic ular ao da Índia Mas tal comparação mascarava as oportunid ades perdidas já que da mesma forma que os países menos 495832 desenvolvidos a Índia crescia lentamente Se a China tivesse con seguido manter a mesma taxa de crescimento que teve de 1950 a 1958 em 1973 o país seria quase três vezes mais rico que a Índia e duas vezes mais rico do que de fato era com quase a mesma renda per capita de Taiwan e da Coreia do Sul18 Os conflitos entre diferentes facções e os choques e desvios da política econômica chinesa diminuíram o alcance do extraordinário sucesso desen volvimentista vivido pela maior parte do Leste Asiático Os altos e baixos eram resultado de tensões básicas da so ciedade chinesa A tentativa de acelerar o crescimento econômico aumentou a desigualdade entre regiões grupos e classes fato que não condizia com os objetivos comunistas e os interesses de al guns dos mais influentes defensores do regime Mas os esforços para uma transformação social radical deprimiram a economia e como as condições da China eram quase de subsistência o país não podia se arriscar dessa maneira Os moderados advogavam pelas necessidades econômicas de um país extremamente pobre os radicais lutavam pelos objetivos utópicos de sua tradição revolucionária Teria sido possível lidar com pequenas doses de ambos os elementos Em vez disso a China oscilava entre os dois extremos Não obstante no início da década de 1970 o governo chinês conseguiu alguns feitos importantes O crescimento econômico do país não se comparava ao de seus vizinhos do Leste Asiático mas também não era tão lento quanto o da Índia capitalista A situação social melhorou de forma substancial em termos de saúde edu cação e nutrição A China estava longe de ser um símbolo absoluto do sucesso socialista mas a experiência vivida pela nação foi sufi cientemente positiva para que o regime continuasse atraente para outros países na Ásia África e América Latina Socialismo no Terceiro Mundo 496832 O exemplo chinês assim como as experiências do Vietnã e da Cor eia inspirou muitos na Ásia e na África O Vietnã do Norte era ad mirado pela obstinação na interminável guerra que libertou o país do domínio colonial A disposição mostrada pelo Vietnã um país pequeno e atrasado em confrontar a superpotência norteameric ana plantou a semente do socialismo nos países pobres Muitos no Terceiro Mundo se ressentiam do notório desdém ou mesmo hos tilidade dos Estados Unidos à causa do desenvolvimento econ ômico A Coreia do Norte exercia uma influência semelhante e o país foi relativamente bemsucedido com a industrialização autár quica No início da década de 1970 muitos países asiáticos e africanos se aliaram à URSS ou à China e de forma geral apoiavam o caminho socialista apesar de nem sempre imitarem completamente os regimes chinês e soviético Os movimentos de liberação das colônias portuguesas na África na Rodésia e na África do Sul também se identificaram com a URSS ou a China Sem dúvida parte desse movimento pode ser explicada pela ali ança oportunista com o inimigo de seu inimigo pois acreditavase que os regimes africanos brancos uma minoria no continente contavam com o apoio ativo ou passivo do Ocidente No entanto também era forte a ideia de que o socialismo era apropriado às condições do subdesenvolvimento A experiência socialista que mais mexeu com a imaginação do mundo em desenvolvimento contudo se passou no lugar mais improvável Com a Revolução Cubana o socialismo conseguiu um pequeno espaço de influência na casa de força do capitalismo mundial no playground da classe alta norteamericana longe do centro do poder comunista da Eurásia A audácia cubana em en frentar os Estados Unidos seu fervor revolucionário e feitos im pressionaram milhões de pessoas na América Latina na África na Ásia e até no mundo industrializado Cuba era uma possessão norteamericana formal ou informal desde 1898 quando as tropas dos Estados Unidos derrotaram os 497832 espanhóis Na década de 1950 a situação econômica da ilha era confortável levandose em conta os padrões latinoamericanos Nem tão rico quanto a Argentina nem tão pobre quanto o Brasil ou o México o país se parecia com o Chile Mas para muitos Cuba parecia ser uma paródia grotesca do desenvolvimento A corrupção de seus líderes políticos somavase à decadência dos hotéis cassinos e bordéis de Havana Com exceção do turismo Cuba dependia do setor açucareiro que em grande parte perten cia aos norteamericanos e precisava contar com o acesso privile giado aos mercados dos Estados Unidos A dependência do país em relação a Washington deve ter enriquecido muitos cubanos mas não aliviou a pobreza extrema de outros como os agri cultores sem terra ou os moradores das favelas que cercavam o país A ostentação da riqueza em meio à pobreza à dependência e ao nacionalismo gerou um ressentimento crônico contra a classe que exercia o domínio e seus protetores norteamericanos Fidel Castro e seus mil aliados entraram em Havana no dia 1º de janeiro de 1959 sem encontrar qualquer resistência fato ex plicado pelos 20 anos de má gestão e brutalidade do governo de Fulgêncio Batista Os cubanos que apoiavam Fidel num primeiro momento quase todos desejavam algo simples a in dependência da nação crescimento diversificação da economia para além do açúcar e redução da desigualdade O empenho do regime revolucionário em atingir esses objetivos logo levou a me didas extremas e em seguida à adoção completa do comunismo O radicalismo talvez tivesse sido inevitável quando o governo tentou reduzir a dependência estrangeira e a desigualdade foi de encontro aos poderosos interesses norteamericanos e a única fonte de apoio parecia ser a URSS Desagradar aos norteamer icanos era bastante preocupante à luz da recente experiência da Guatemala onde em 1954 os Estados Unidos destituíram um gov erno eleito democraticamente que havia adotado medidas apenas um tanto nacionalistas 498832 Em 1961 o governo cubano já havia implementado uma ampla reforma agrária nacionalizado grande parte do setor privado começado a adotar a planificação econômica oficializado o Partido Comunista e se aliado à União Soviética Durante a década seguinte a política econômica oscilou entre o estilo so viético e o chinês O problema foi o mesmo que o da China O gov erno cubano queria industrializar o país reduzir a importância do açúcar e das exportações além de desejar um crescimento rápido e mais igualdade No entanto a tentativa de tirar a economia da agricultura tropical e lançála na indústria moderna desacelerou o crescimento principalmente depois de a expropriação de empres as estrangeiras ter privado o país do capital e de tecnologia do Ocidente Do mesmo modo medidas para reduzir a desigualdade entre grupos e regiões diminuíram o crescimento tanto pela perda de motivação dos produtores quanto pela emigração de centenas de milhares de cubanos altamente qualificados A realid ade parecia indicar que industrialização independência econôm ica e mais igualdade levavam a uma economia estagnada ao passo que um rápido crescimento econômico significava aceitar um sistema agrário de base açucareira e uma redução apenas gradual da desigualdade Em 1970 após dez anos de choques e mudanças políticas o governo cubano ganhou estabilidade e adotou uma versão própria da planificação econômica soviética para atingir seus objetivos de forma equilibrada A transformação econômica radical foi abrandada e a diversificação da economia contando com uma substancial ajuda técnica e financeira da União Soviética passou a ser gradual O governo começou a aceitar que houvesse uma certa desigualdade entre regiões classes e grupos apesar do re gime revolucionário oferecer uma série de serviços sociais para a população Embora os dez anos de experimentações tenham sac rificado o crescimento econômico e a popularidade do governo o primeiro país socialista das Américas começava a prosperar19 499832 O fato de o socialismo em Cuba no Vietnã na Coreia e na Ch ina parecer capaz de solucionar alguns problemas sérios acabou impressionando O socialismo certamente sacrificava a liberdade econômica e política mas no mundo em desenvolvimento não comunista também quase não existiam democracias China Cuba e outras nações socialistas pobres não eliminaram os problemas enfrentados pelos países em desenvolvimento em um passe de mágica Os governos continuavam se deparando com escolhas di fíceis campo ou cidade indústria ou agricultura serviços sociais ou investimentos produtivos crescimento ou igualdade No ent anto uma ou duas décadas após suas revoluções esses países haviam erradicado as enormes disparidades de renda e riqueza como as que existiam na Índia ou no Brasil Além disso a fome e a má nutrição desapareceram com a exceção do fiasco do Grande Salto para Frente A saúde a educação e outros serviços sociais eram bem melhores do que nos países capitalistas de grau semel hante de desenvolvimento As nações socialistas optaram pela igualdade e diversificação econômica às custas da especialização e do crescimento rápido Os resultados impressionaram muitos dos insatisfeitos com a desigualdade gritante gerada pelo desenvolvi mento capitalista Um futuro socialista Após 1948 ao longo de 25 anos as economias planificadas foram muito bem A União Soviética e a Europa oriental cresceram mais rápido que a Europa ocidental a China cresceu mais rápido que a Índia Na Bulgária e na Romênia o produto por pessoa cresceu mais de três vezes entre 1950 e 1973 em toda a Europa apenas Portugal Espanha e Grécia tiveram um crescimento mais acel erado Países onde o campo e a agricultura predominavam tornaramse urbanos e industriais As sociedades atrasadas da 500832 Europa oriental se transformaram de forma especialmente dramática Na Bulgária em 1948 82 da população era formada por produtores agrícolas mais de dez para cada operário 25 anos depois havia mais trabalhadores que agricultores e a parcela da economia destinada à indústria tinha mais que triplicado Pratica mente não existiam fábricas na Romênia antes da Segunda Guerra Mundial mas no início da década de 1970 o país já produzia sete milhões de toneladas de aço por ano e exportava o suficiente para preocupar os produtores dos Estados Unidos e da Europa ocidental20 Rápido crescimento e transformação social vieram acompan hados por serviços como saúde e educação bem melhores O analfabetismo foi praticamente erradicado inclusive na China O atendimento médico era gratuito e acessível Em muitos países socialistas o número de médicos e leitos hospitalares por habit ante era maior que em várias nações capitalistas industrializadas A mortalidade infantil caiu vertiginosamente atingindo índices às vezes bem menores que de países mais ricos em 1970 a taxa era menor na Tchecoslováquia que na Áustria menor na Bulgária que na Grécia menor na Alemanha Oriental que na ocidental A ex pectativa de vida aumentou e a renda tornouse menos desigual No início da década de 1970 o comunismo reinava absoluto tanto no maior país do mundo quanto no mais populoso Apesar do conturbado rompimento entre China e URSS as perspectivas para o socialismo pareciam boas As reformas na planificação eco nômica soviética melhoraram a qualidade de vida A China se es tabilizou e cresceu Dezenas de nações pobres e movimentos de libertação se consideravam membros da esfera socialista A planificação econômica socialista que num primeiro mo mento parecia ser uma estratégia temporária enquanto a União Soviética se preparava para lutar contra os invasores estrangeiros se estabeleceu como uma ordem econômica alternativa Rejeitava a integração econômica e os mercados Também representava 501832 uma opção viável para os países que tentavam se desenvolver de forma rápida e equitativa e até mesmo para os países ricos que desejassem evitar a incerteza e a desigualdade capitalista O capit alismo parecia exigir sacrifícios sociais para acelerar a industrial ização mas as economias planificadas estavam conseguindo o crescimento econômico e a igualdade social Karl Marx certa mente não vislumbrara uma área socialista formada principal mente por países pobres e Vladimir Lênin teria ficado decepcion ado em saber que as únicas regiões desenvolvidas sob governos comunistas haviam sido anexadas por meios militares O comun ismo governava 13 do planeta e contava com milhões de adeptos a Modelo de comunismo diferente do stalinismo clássico primeiramente adotado pela Hungria como sugere o próprio nome uma referência ao prato típico húngaro NT 502832 15 O fim de Bretton Woods Em uma sextafeira 13 de agosto de 1971 Richard Nixon e sua equipe econômica saíram de Washington rumo à residência pres idencial de Camp David William Safire o responsável pelos dis cursos do presidente seguiu para o heliporto no mesmo carro em que Herbert Stein membro do Conselho de Assessores Econômi cos da Casa Branca Quando Safire perguntou sobre o que seria a reunião Stein respondeu de forma criptográfica Esse pode ser o fim de semana mais importante da história da economia desde 4 de março de 1933 Safire que tinha pouca experiência em assun tos econômicos se esforçou para entender a referência e arriscou um palpite Estamos fechando os bancos perguntou referindo se ao feriado bancário decretado por Franklin Roosevelt no pior momento da depressão econômica Stein riu e disse Certamente não Mas não me surpreenderia se em breve o presidente fechar a janela do ouro A resposta não ajudou Safire mas durante a viagem de helicóptero até Camp David ele se deu conta da seriedade da reunião Um funcionário do Tesouro que os acom panhava quando informado do que aconteceria inclinouse para frente pôs a cabeça entre as mãos e sussurrou Meu Deus1 O assunto em Camp David era se a decisão econômica mais importante do pósguerra deveria ser tomada Fechar a janela do ouro e libertar o dólar norteamericano da paridade fixa no met al Nos mercados de câmbio do mundo os investidores atacavam o dólar se desfaziam da moeda por acreditar que o presidente Nix on a desvalorizaria Quando Nixon e seus assessores econômicos se reuniram o secretário do Tesouro John Connally introduziu o assunto Qual a nossa questão mais urgente Estamos reunidos aqui porque enfrentamos problemas no exterior Os britânicos vi eram hoje nos pedir para cobrir um rombo de US 3 bilhões to das as reservas deles em dólares Sob a ordem monetária de Bretton Woods os outros governos podiam trocar dólares por ouro Quando achavam que o dólar iria se desvalorizar o seu valor em ouro reduzido fazia sentido do ponto de vista fin anceiro que se desfizessem da maior quantidade possível de dólares Qualquer um pode nos arruinar quando quiser disse Conally Ficamos completamente expostos Os Estados Unidos podiam impedir a venda generalizada da moeda mas para defendêla precisariam aumentar os juros cor tar gastos controlar lucros e salários e levar a economia à re cessão Nenhum governo ficaria satisfeito diante de tais per spectivas e a memória política de Richard Nixon tornouo partic ularmente pouco disposto a arrochar a política econômica Nixon atribuía sua derrota para John F Kennedy nas eleições presiden ciais de 1960 por uma margem pequena de votos à política do FED de aumentar a taxa de desemprego para defender o dólar Ele lembrava bem do impacto dessa política que causou recessão Todos os discursos transmissões televisivas e campanhas eleito rais do mundo não conseguiriam reverter esse único e duro fato2 Sobre tal experiência Nixon disse de maneira sarcástica Ac almamos a economia e ao mesmo tempo acalmamos 15 senadores e 60 membros do Congresso3 Com a aproximação do ano eleit oral a administração se opôs ao aumento da taxa de juros como forma de tornar o dólar mais atraente para os investidores 504832 A posição comercial do país também aumentou a pressão pela desvalorização Os preços nos Estados Unidos subiam mais rápido que no exterior Os estrangeiros passaram a importar menos dos Estados Unidos enquanto os norteamericanos com pravam mais de fora As importações cresceram duas vezes mais rápido que as exportações e em 1968 o país importava mais automóveis do que exportava um golpe duro para o que havia sido o principal produto exportador do país A AFLCIOa que sempre defendeu o livrecomércio voltouse para o protecion ismo Duas leis comerciais protecionistas chegaram mais perto da aprovação do Congresso que qualquer legislação do tipo desde a Tarifa SmootHawley de 1930 Em 1971 os Estados Unidos im portavam mais que exportavam o primeiro déficit comercial do país do qual se tem noticia Um dólar forte significava produtos norteamericanos caros que por sua vez gerava uma pressão com petitiva entre os fabricantes do país Os 30 anos de compromisso com a ordem monetária de Bretton Woods estiveram em desacordo com essas questões domésticas Se os Estados Unidos não defendessem o dólar teri am de romper o laço com o ouro e desvalorizálo Tal fato acabaria com o sistema de Bretton Woods o núcleo da economia internacional Todos à mesa de negociações em Camp David sabiam do con flito existente entre interesses econômicos internacionais e polít ica doméstica Peter Peterson aconselhou o presidente a se con centrar na forma como a desvalorização do dólar poderia proteger as empresas norteamericanas das importações Nos tornemos competitivos Os empresários vão gostar Paul Volcker na ocasião subsecretário do Tesouro lembrou que o ouro nunca fora popular do ponto de vista político e se referiu ao discurso anti ouro de 1896 feito por William Jennings Bryan Há uma certa preocupação da opinião pública quanto a uma cruz de ouro 505832 Desconfiado desse último argumento Nixon fez uma careta e disse Brian disputou quatro eleições e perdeu Arthur Burns presidente do Conselho do FED era o mais lig ado a Wall Street entre todos os presentes Burns relutava em abandonar o ouro e tomou o argumento dos mercados financeiros a favor da manutenção do sistema monetário que tanto os benefi ciou Safire registrou o dialogo BURNS Mas todos os outros países sabem que nunca agimos contra eles A boa vontade CONNALLY Vamos falir com a boa vontade deles nas mãos Por que temos de ser sensatos BURNS Eles podem nos retaliar CONNALLY Deixe que o façam O que eles podem fazer BURNS Eles são poderosos São orgulhosos tanto quanto nós CONNALLY Não temos saída a menos que tomemos uma atit ude Nossos ativos se esvaem nos contêineres de grãos Você está nas mãos dos que trocam dinheiro Você verá que esse ato nos trará uma posição mais competitiva BURNS Posso falar pelos que trocam dinheiro Os presidentes dos Bancos Centrais são importantes para você4 A súplica de Burns pelas obrigações do país com a economia internacional não convenceu Nixon O argumento de Burns talvez tenha sido enfraquecido pelos desentendimentos entre a adminis tração e o FED durante grande parte do ano anterior Burns insis tia na adoção de medidas mais austeras e por um controle maior da inflação enquanto o presidente resistia a políticas que pudessem desacelerar a economia Como Nixon ignorou o argu mento de Burns os especialistas ironizaram Nixon brinca en quanto Burns passeia5b Os imperativos políticos domésticos se sobrepuseram aos compromissos internacionais e em 15 de agosto de 1971 Richard Nixon retirou o dólar do ouro Nos meses seguintes o dólar caiu cerca de 10 Nixon reforçou o impacto da desvalorização 506832 impondo uma taxa de 10 sobre as importações para proteger os produtores norteamericanos além de ter introduzido controles sobre salários e preços Embora as principais potências econôm icas tenham se esforçado para reformar o sistema de Bretton Woods em 1973 a administração Nixon mais uma vez desvalori zou o dólar em 10 A balança comercial voltou a ser favorável a economia recuperou a velocidade e o desemprego diminuiu Bretton Woods no entanto não existia mais A equipe do FMI circulou uma nota de obituário na sede do fundo em Washington Descanse em paz É com pesar que informamos a morte inesper ada após longa doença de Bretton Woods ocorrida às 9h da manhã do último domingo Bretton Woods nasceu em New Hampshire em 1944 e morreu alguns dias após completar 27 anos O ataque fatal aconteceu este mês quando parasitas con hecidos como especuladores causaram o inchaço de seu órgão mais importante levando à ruptura de seu elemento vital a convertibilidade dólarouro6 Após quase 30 anos o equilíbrio entre questões nacionais e integração econômica internacional fracassou O compromisso se desfaz O início da década de 1970 foi o principal divisor de águas para a economia mundial do pósguerra Quase todas as nações industri alizadas economias planificadas ricas e pobres países em desen volvimento e excolônias cresceram de modo rápido e contínuo A prosperidade reinava nos Estados capitalistas avançados o que desafiava as perspectivas traçadas por muitos nos anos entreguer ras satisfazendo mercados e reformas sociais questões domésticas e internacionais capitalistas e trabalhadores O sistema de Bretton Woods combinava liberdade para lidar com questões domésticas e integração econômica internacional O 507832 compromisso estimulou o comércio os investimentos e as fin anças internacionais cujo sucesso mais tarde arruinou os próprios acordos Os laços econômicos cada vez mais fortes entre os países geraram a ideia de que a economia mundial restringia as políticas nacionais Além disso criaram também a ideia oposta de que ficar preso aos objetivos nacionais limitava o desenvolvi mento dos mercados globais O maior desafiou veio da frente monetária e foi imposto ao padrãoourodólar o núcleo da ordem pósguerra Atacou o cor ação do sistema forçando o governo norteamericano a optar entre as obrigações internacionais e os objetivos domésticos7 Sob o sistema de Bretton Woods o ouro estava fixado na moeda norteamericana a uma taxa de US35 por onça do metal en quanto as outras moedas fixavamse no dólar Os governos eram desestimulados a interferir em suas taxas de câmbio mesmo quando desejassem fazêlo por exemplo para desvalorizar a moeda nacional e tornar os produtos domésticos mais competit ivos em relação aos estrangeiros Durante cerca de 20 anos após a Segunda Guerra Mundial não se exigia que essa regra fosse seguida à risca Outros governos além do norteamericano po diam modificar suas taxas de câmbio sem provocar distúrbios no sistema e a maioria dos países industrializados desvalorizou ou revalorizou sua moeda em algum momento o Canadá fez até com que seu dólar flutuasse em relação ao norteamericano E mesmo se não desvalorizassem os governos poderiam interferir na taxa de câmbio para modificar as condições locais Se a França por ex emplo estivesse passando por uma recessão o Banco Central tinha a opção de diminuir os juros no país para estimular a economia O sistema foi arruinado por dois aspectos ambos resultados do sucesso de Bretton Woods O primeiro foi a restauração das finanças internacionais O fato teve importância porque a dormência dos fluxos financeiros internacionais foi uma das 508832 razões pelas quais os governos continuavam capazes de manejar suas próprias políticas monetárias Caso os mercados financeiros estivessem ativos nas décadas de 1950 e 1960 juros menores na França do que na Alemanha teriam levado os investidores a retir ar o dinheiro de Paris e a mandálo a Frankfurt em reação à me dida No entanto quase não havia fluxos monetários de curto prazo em parte devido ao trauma da década de 1930 em parte em razão da proliferação de oportunidades domésticas e em parte por causa do controle de capitais Assim a situação monetária de um país estava protegida do que acontecia nas outras nações e os governos ganharam uma certa independência para a imple mentação de medidas macroeconômicas Os mercados financeiros do mundo foram reanimados no decorrer da década de 1960 No início dos anos 1970 o sistema financeiro global possuía cerca de US165 bilhões e os empréstimos internacionais chegavam a US35 bilhões ao ano Nesse momento os investidores de curto prazo especuladores para usar um termo mais coloquial po deriam movimentar dinheiro em resposta às diferentes condições monetárias nacionais e ameaçar a independência das políticas macroeconômicas internas A primeira mudança contribuiu para que a segunda ocorresse a pressão sobre o dólar norteamericano Isso também foi função do sucesso do sistema uma vez que foi amplamente causado pela crescente importância econômica da Europa ocidental e do Japão Enquanto os Estados Unidos dominavam a economia ninguém questionava a confiabilidade da moeda norteamericana Mas com o encolhimento da parcela norteamericana na economia mundial divergências entre as condições monetárias dos Estados Unidos e as de seus parceiros tornaramse inviáveis Investidores ao redor do mundo começaram a duvidar do comprometimento do governo norteamericano com a taxa de câmbio do país O sis tema de Bretton Woods sobreviveria a desvalorizações es porádicas mas o mesmo não se aplicava ao dólar A base do 509832 padrãoouro era o metal o sistema de Bretton Woods tinha como base um dólar atrelado ao ouro e para o governo dos Estados Un idos estava difícil manter o valor da moeda Sustentar o dólar exi gia que o país cumprisse com suas obrigações internacionais e os norteamericanos não estavam acostumados a subordinar questões internas aos mercados internacionais O problema surgiu pela primeira vez em 1959 e 1960 quando um déficit na balança de pagamentos norteamericana gerou uma perda de confiança no dólar O Federal Reserve subiu os juros com o objetivo de aumentar a demanda estrangeira por dólares fato que levou o país a uma recessão e cujos efeitos políticos fo ram lembrados por Nixon 30 anos mais tarde Pela primeira vez desde a década de 1930 a política monetária norteamericana sacrificou os objetivos nacionais pelos internacionais nesse caso passando por uma recessão para defender o dólar À medida que a década de 1960 avançava o problema se agravava pelas duas guerras enfrentadas pelo país a do Vietnã e o grande aumento dos gastos sociais conhecidos como Guerra à Pobreza Nenhuma das duas era completamente popular e as adminis trações de Lyndon Johnson e Richard Nixon recorreram aos gas tos deficitários Com isso a inflação nos Estados Unidos tornou se significativamente mais alta do que na maioria das nações par ceiras do país O resultado foi uma apreciação real do dólar um fortaleci mento artificial da moeda norteamericana A taxa de câmbio do dólar seu preço expresso em outras moedas tornarase con stante enquanto os preços norteamericanos subiam Isso signi ficava que os estrangeiros podiam comprar menos com os dólares que tinham Pelas regras de Bretton Woods os estrangeiros tin ham de aceitar o dólar como se a moeda valesse 13 de uma onça de ouro ou quatro marcos alemães ou cinco francos mas na real idade valia bem menos que isso 10 ou 15 a menos segundo al guns cálculos Tal fato era positivo para os norteamericanos em 510832 muitos aspectos Com o dólar forte podiam comprar mais produtos estrangeiros investir no exterior gastando menos e viajar mais para fora do país Em 1971 os norteamericanos im portaram duas vezes mais produtos manufaturados e investiram duas vezes mais no exterior do que haviam feito em 1967 en quanto o número de viagens para o exterior feitas por norte americanos mais do que dobrou Com o dólar artificialmente mais forte o governo conseguia cumprir com suas obrigações de polít ica internacional E o sistema de Bretton Woods não dava outra escolha aos estrangeiros a não ser aceitar esses dólares A apreciação real do dólarc trouxe vantagens para os norte americanos mas ameaçou Bretton Woods O sistema monetário dependia de um dólar que fosse tão bom quanto o ouro mas o desgaste do valor real da moeda causado pela inflação fez com que os estrangeiros relutassem em ficar com ela uma vez que seu poder de compra diminuiu Em vez disso os estrangeiros utiliz aram o nada confiável dólar para comprar o confiável ouro De 1961 a 1968 investidores e governos estrangeiros trocaram US7 bilhões tomando cerca de 40 das reservas de ouro dos Estados Unidos Os franceses em particular criticavam a posição privile giada dos Estados Unidos Charles de Gaulle reclamou de forma enfática sobre o uso pelos Estados Unidos dos dólares que a pró pria nação podia emitir em vez de pagar integralmente com ouro o qual tinha um valor real o qual precisava ser ganho para se tor nar uma posse e o qual não podia ser repassado para outros sem riscos e sacrifícios8 De fato os franceses compraram cerca de US3 bilhões de dólares dos US7 bilhões retirados das reservas de ouro norteamericanas As principais potências financeiras se uniram para tentar pro teger a moeda vendendo ouro e comprando dólares de forma a el evar o valor do dinheiro norteamericano Os Estados Unidos im puseram controles de capitais impostos sobre investimentos norteamericanos no exterior para conter a saída de dólares Mas 511832 havia uma imensa quantidade de gente querendo se livrar de uma imensa quantidade de dólares Em meados de março do ano de 1968 no auge da crise US400 milhões foram apresentados para troca Ficou caro demais proteger o preço do ourodólar e as prin cipais potências autorizaram um mercado privado a tomar conta do caso junto com o mercado oficial no qual o dólar era nego ciado apenas no câmbio preestabelecido US35 por onça de ouro O problema contudo continuaria enquanto o dólar não voltasse a ser considerado confiável O presidente francês Georges Pomp idou reclamou Não podemos manter para sempre como nossa base monetária e padrão de comparação uma moeda nacional que perde constantemente o seu valor Não se pode esperar que o resto do mundo organize a vida com base em um relógio sempre atrasado9 Enquanto todos ao redor do mundo perdiam a confiança no dólar e o trocavam por ouro as medidas temporárias não surtiri am efeito Não havia ouro suficiente no planeta muito menos nos Estados Unidos para ser trocado por todos os dólares exist entes Em algum momento os Estados Unidos ficariam sem dólares e a promessa de que a moeda era tão boa quanto o metal não se cumpriria A única solução possível seria a imposição de uma política econômica austera no país para que o poder de com pra do dólar fosse retomado Essa medida imporia reduções aos preços do país e subiria o valor real do dólar para que a moeda re cuperasse o valor oficial Outra opção para as autoridades norte americanas seria aumentar as taxas de juros para que a moeda voltasse a ser atraente para os estrangeiros Caso o FED aumen tasse a taxa de juros em dois ou três pontos percentuais provavel mente os investidores comprariam mais títulos norteamericanos aumentando a demanda por dólares e sustentando o valor da moeda Nenhuma das medidas foi aceita pelo governo Nixon dur ante a corrida eleitoral de 1972 512832 A ordem monetária de Bretton Woods entrou em colapso devido a razões políticas não técnicas O sistema ourodólar era politicamente atraente por estabilizar moedas e por estimular o comércio e os investimentos sem grandes amarras para os gov ernos nacionais À medida que a economia internacional se integ rava o sistema se tornava mais parecido com o do padrãoouro Os governos precisavam moldar suas políticas domésticas para acomodar a taxa de câmbio sacrificando os objetivos nacionais pela sustentação do valor internacional da moeda Não havia mis tério em como fazer isso se os preços domésticos subissem e tor nassem a moeda supervalorizada eles teriam que ser puxados para baixo com o aumento da taxa de juros o corte dos gastos do governo e a redução do consumo Para um governo a importância relativa da estabilidade cam bial e da independência em formular políticas determinava se os sacrifícios valiam a pena Bancos empresas e investidores que perderiam com as alterações no valor das moedas apoiavam a austeridade Por outro lado trabalhadores e empresas cujos empregos e lucros seriam cortados em nome do câmbio se opun ham pedindo uma taxa de câmbio que não tivesse grandes con sequências para eles Em economias muito abertas nas quais grande parte da população está envolvida com o comércio e os in vestimentos internacionais a adoção de medidas austeras para a sustentação do câmbio era em geral defendida No entanto os Estados Unidos eram relativamente fechados mesmo com a ex pansão do período pósguerra o comércio internacional corres pondia a menos de 10 da economia e os eleitores nunca iriam priorizar a ordem monetária internacional em detrimento da prosperidade doméstica O governo norteamericano simples mente não estava disposto a encolher sua economia por causa das obrigações cambiais exigidas pela ordem de Bretton Woods e portanto optou pelo fim do sistema 513832 Desafios ao comércio e aos investimentos Os mesmos fatores políticos que desafiaram o sistema monetário também ameaçaram o comércio e os investimentos internacion ais Da mesma forma como o sucesso de Bretton Woods acelerou o seu próprio fim o crescimento extraordinário do comércio e dos investimentos diretos estrangeiros suscitou debates que puseram em xeque seu futuro A liberalização do comércio no pósguerra causou um impacto particularmente grande na Europa ocidental e no Japão regiões que após 30 anos de protecionismo emergiram prontas para se beneficiar dos mercados norteamericanos e mundiais Lançaramse com sucesso nas exportações em 1973 o comércio se tornou duas vezes mais importante para a Europa ocidental do que era em 1950 e quatro vezes ainda mais importante para o Japão Grande parte da prosperidade desses anos dependia do desenvolvimento da tecnologia de ganhos de escala e de outras possibilidades de um mercado mundial em crescimento O surgimento do Japão como potência exportadora foi espe cialmente impressionante Em 1950 o país exportava menos de 112 do que os Estados Unidos vendia para fora Enquanto em 1950 as exportações japonesas eram basicamente de bens de tra balho intensivo como roupas e brinquedos no fim da década de 1960 o Japão havia se tornado uma força no mercado mundial de produtos industriais sofisticados A capacidade do país de produzir aço aumentou de um milhão de toneladas em 1950 para 117 milhões de toneladas em 1974 quando a maior usina do país havia alcançado a metade do tamanho da US Steel A produção japonesa por trabalhador na indústria automotiva em 1950 cor respondia a 110 da produção norteamericana e a 13 da europeia Em 1973 a produtividade dos trabalhadores japoneses havia se tornado quase igual a dos norteamericanos e havia do brado em relação à dos europeus Os produtores japoneses de aço 514832 carros e maquinário tornaramse os principais competidores nos mercados estrangeiros em especial na América do Norte10 As exportações de um país contudo são as importações de outros E enquanto o comércio de café entre Colômbia e Ale manha por exemplo se desenvolve sem controvérsias os cafei cultores colombianos não competiam com os alemães o comér cio de automóveis ou televisores gerava ressentimentos Os alemães italianos japoneses e outros que exportavam mercadori as baratas como produtos têxteis aço roupas e máquinas para outros países eram uma dádiva para os consumidores e um atraso para os produtores com os quais competiam Um dos principais campos de batalha assim como ocorrera em relação ao padrão ouro localizavase dentro dos Estados Unidos À medida que mais aço produtos têxteis calçados e roupas europeias e japone sas entravam no país mais os produtores norteamericanos lutavam por proteção Os membros do Gatt haviam concordado em não aumentar as tarifas sobre produtos não agrícolas de forma que aqueles que desejassem se proteger da competição estrangeira precisariam en contrar outra maneira Uma delas seria acusar os vendedores es trangeiros de dumping a venda de um produto abaixo dos cus tos de produção visando à conquista de mercados A prática era contra as regras do Gatt e os países podiam cobrar impostos espe ciais sobre esses produtos Mas com frequência dumping era um conceito relativo o dumping de uma empresa significava o em penho competitivo de outra e as reclamações contra a prática em geral eram exigências protecionistas Outra forma inovadora de afastar as importações seria con vencer os produtores a restringir suas próprias vendas como fez os Estados Unidos em 1968 ao conseguir que os produtores de aço japoneses e europeus limitassem suas exportações para os mercados norteamericanos No entanto por que os produtores estrangeiros aceitariam essas Restrições Voluntárias às 515832 Exportações RVE ou VER em inglês Por vezes as indústrias afetadas pela concorrência usavam de retaliações ameaças anti dumping ou outras punições As mesmas também podiam ofere cer a vantagem de lucros altos para os próprios estrangeiros com partilhando do benefício da proteção com os produtores do exteri or Restrições às exportações limitavam a oferta e assim os preços dos produtos norteamericanos se mantinham altos esta foi sobretudo a razão pela qual os fabricantes dos Estados Unidos queriam afastar as importações Os preços mais altos dos produtos norteamericanos permitiam que os estrangeiros e tam bém os próprios norteamericanos vendessem mais caro nos mercados dos Estados Unidos No fim até os produtores es trangeiros podiam cobrar mais por uma quantidade menor Basicamente as RVEs formavam um cartel entre os produtores dos Estados Unidos e os estrangeiros para manter os preços norteamericanos acima do valor do mercado mundial As novas Barreiras Não Tarifárias BTNs exigências anti dumping restrições voluntárias às exportações e outros métodos não reverteram os efeitos da liberalização anterior mas indi caram que o equilíbrio de forças políticas se modificava na direção de um novo protecionismo Isso se aplicava em especial aos Estados Unidos Havia um amplo consenso em relação a um comércio mais livre principalmente entre as grandes empresas e o movimento trabalhista Muitas das grandes corporações e dos grandes sindicatos pertenciam às principais indústrias exporta doras carros aço borracha maquinário Contudo como esses setores passaram a enfrentar uma competição mais ampla nos mercados domésticos e mundiais seus trabalhadores e capital se voltaram para o protecionismo O liberalismo da ordem comercial pósguerra surgiu devido à pressão norteamericana e a procura dos Estados Unidos por proteção seria capaz de reverter o curso da integração global do comércio 516832 Havia um descontentamento semelhante em relação ao invest imento direto estrangeiro Durante muitos anos após a Segunda Guerra Mundial as empresas multinacionais EMNs em geral foram bemvistas Elas levavam consigo capital produtos mod ernos e técnicas administrativas Tipicamente pertenciam a in dústrias avançadas Na verdade a América Latina sempre difer enciou os investimentos ruins dos britânicos de antes de 1930 minas plantações ferrovias empréstimos a governos dos bons investimentos dos norteamericanos em fábricas mod ernas Diferentemente dos empréstimos internacionais do pas sado o investimento direto estrangeiro não gerava obrigações para os formuladores de políticas nacionais Os governos não dav am qualquer garantia de lucro a empresas estrangeiras As EMNs talvez ficassem com todo o lucro mas assumiam todo o risco e traziam tecnologia capital e empregos No início de 1970 havia US200 bilhões em IEDs a serem recebidos com dezenas de bil hões de dólares e novos investimentos a cada ano Como as empresas estrangeiras cresciam o mesmo ocorria com as objeções ao seu impacto Os competidores locais re clamavam dos gigantes estrangeiros que dominavam os mercados regionais Alguns temiam que os estrangeiros fossem menos sensíveis às normas sociais culturais e políticas Disso resultou uma grande desconfiança em relação ao investimento direto es trangeiro O exemplo mais ilustrativo veio de JeanJacques ServanSchreiber um dos principais jornalistas franceses Escrita em 1967 a obra logo se tornou o livro que mais rápido se esgotou na história da França moderna O desafio americano indicava que as principais beneficiadas pela integração europeia eram as corporações norteamericanas O Mercado Comum disse Servan Schreiber é basicamente norteamericano em termos de organ ização Isso se explicava pelo fato de as empresas norteameric anas com suas sedes próprias já formarem a estrutura de uma verdadeira europeização Diferentemente do que ocorria nas 517832 empresas da Europa as multinacionais norteamericanas tinham uma visão essencialmente europeia Esse é o verdadeiro federal ismo o único tipo que existe na Europa no nível industrial Quase nada na Europa se assemelhava às dinâmicas corporações norteamericanas que se estabelecem no continente Isso seria fatal para a sociedade europeia uma vez que a partir desse mo mento o confronto entre civilizações se moveria para o campo de batalha da tecnologia da ciência e da administração A intenção de ServanSchreiber com o livro era definir instruções para a modernização europeia nem tanto atacar os Estados Unidos Contudo ele identificou o impasse que para muitos europeus já era claro e cada vez mais perturbador Construir uma Europa in dependente ou se tornar um anexo dos Estados Unidos11 Nos países em desenvolvimento as grandes empresas es trangeiras podiam causar um grande e indesejado impacto na política local A atitude abusiva da empresa norteamericana In ternational Telephone and Telegraph ITT no Chile ilustrava a ameaça Primeiramente a ITT tentou impedir a eleição do so cialista Salvador Allende em 1970 e quando a tentativa fracassou a empresa participou de uma série de complôs para depôlo Essa história triste terminou com um golpe que destruiu uma das democracias latinoamericanas mais sólidas e levou uma san grenta ditadura ao poder As suspeitas sobre o envolvimento de empresas norteamericanas em tais acontecimentos foram por muito tempo consideradas fantasiosas pelos ocidentais mas logo se provaram verdadeiras por uma investigação do Congresso norteamericano o que alimentou o ressentimento contra as EMNs12 Muitos países começaram a restringir a entrada de mul tinacionais na década de 1960 O Canadá passou a monitorar e controlar os novos investimentos enquanto a França se utilizava de meios administrativos para limitar o impacto causado pelas empresas estrangeiras Os franceses também conseguiram 518832 convencer seus parceiros europeus a adotarem controles region ais porém com sucesso limitado Havia muito tempo que o Japão controlava de forma rígida o investimento direto estrangeiro no país mas o maior empenho vinha dos países em desenvolvi mento Do México à Nigéria do Peru à Índia as corporações de outros países foram excluídas de diversos setores e as posses por parte dos estrangeiros sofreram severas limitações com frequên cia ficando com as partes menores da partilha Muitos dos países em desenvolvimento passaram a autorizar os IEDs apenas se a empresa estrangeira não competisse com as outras locais já exist entes partilhasse a propriedade com investidores locais trouxesse tecnologias novas e importantes e concordasse em rein vestir a maior parte de seus lucros Os governos passaram a sub meter as empresas a uma fiscalização mais minuciosa e a con troles mais rígidos Os conflitos envolvendo questões econômicas domésticas tam bém começaram a crescer no mundo industrializado Na França em maio de 1968 protestos estudantis levaram a uma greve geral que durou semanas na Itália os trabalhadores pararam diversas vezes durante o Outono Quente de 1969 Em quase todos os países da Europa ocidental entre 1968 e 1973 houve algum per íodo de greves de cinco a 20 vezes acima dos índices normais Em muitos casos as greves ocorreram fora ou logo fugiram do con trole dos sindicatos desafiando a liderança quase sempre comunista ou socialista do movimento trabalhista Uma das razões para o aumento do conflito entre trabal hadores e capital poderia ser atribuída ao fato de que por 20 anos os salários foram negligenciados em relação ao crescimento da produtividade e da atividade econômica13 No início do pós guerra os trabalhadores estavam dispostos a sacrificar os aumentos salariais pela recuperação econômica No entanto a re cuperação há muito havia terminado e a nova geração de trabal hadores desejava uma parcela maior da expansão do pósguerra 519832 Para piorar em meados da década de 1960 a Europa mergulhou numa recessão que levou o empresariado a tentar manter os salários baixos No final dessa década a insatisfação acumulada durante cerca de dez anos estava prestes a eclodir em forma de protestos A inflação aumentava na Europa como acontecera nos Esta dos Unidos e os trabalhadores tentavam recuperar o espaço per dido Os sindicatos e as empresas europeias em geral col aboravam para a sustentação dos aumentos salariais e da criação de empregos mas o rápido aumento dos preços destruiu muitos dos acordos Os trabalhadores exigiam proteção contra a inflação porém os sindicatos eram frequentemente forçados a obedecer à gerência Assim os protestos ocorriam tanto contra os gerentes quanto contra os líderes sindicais os quais insistiam na ma nutenção dos contratos acordados previamente O acirramento dos conflitos entre trabalho e capital e a insatis fação crescente com o comércio e os investimentos diretos in dicavam que as bases econômicas da ordem internacional haviam mudado desde a década de 1940 Dessa forma quase todos no mundo em desenvolvimento concordavam que era necessário su perar os duros conflitos domésticos entre classes aumentar os ín dices patologicamente baixos de comércio e de investimentos es trangeiros e organizar o sistema monetário internacional para esse fim Na década de 1960 todos esses objetivos já haviam sido atingidos com grande sucesso Nesse momento uma parte da opinião pública via o aprofundamento da integração econômica internacional com entusiasmo enquanto a outra achava que tal integração já havia ido longe demais O próprio colapso do sis tema monetário de Bretton Woods e as políticas mais amplas para as relações econômicas internacionais do fim da década de 1960 e início da de 1970 mostravam que a opinião sobre o quão longe a integração econômica global deveria ir estava cada vez mais 520832 dividida Não era possível simplesmente assumir o avanço da abertura econômica Provavelmente a resistência seria grande A crise na substituição de importações Enquanto o mundo capitalista desenvolvido reconsiderava sua marcha para a economia internacional os países pobres ques tionavam o desenvolvimento industrial via protecionismo A in dustrialização por substituição de importações ISI apresentava diversos aspectos positivos mas também várias consequências in desejadas14 A ISI causou problemas crônicos nas balanças comercial e de pagamentos A substituição de importações pretendia tornar os países menos dependentes do comércio mundial mas todas as nações precisavam importar o que não existia localmente matériasprimas maquinário peças Quanto mais um país se in dustrializava mais necessitava dessas importações o que o eco nomista Carlos Díaz Alejandro chamava de a intensidade im portadora da substituição de importações15 No entanto os países precisavam ganhar dinheiro para importar e a ISI era ex tremamente contra exportações A proteção comercial e as taxas de câmbio supervalorizadas aumentavam os preços domésticos e tornavam as exportações menos competitivas Além disso os im postos sobre as exportações desestimulavam as vendas inter nacionais Os países em processo de industrialização eram in capazes de exportar o suficiente para importar o que necessitavam Algumas das importações podiam ser pagas com a ajuda e os empréstimos de instituições internacionais como o Banco Mun dial Mas o financiamento era limitado Investimentos inter nacionais privados traziam certa quantidade de moeda es trangeira para os países mas não o suficiente Após 1967 alguns 521832 poucos países em desenvolvimento em melhores condições con seguiam empréstimos de países do norte com intenção de com prar importados três ou quatro bilhões de dólares por ano no início da década de 1970 Os empréstimos porém precisavam ser devolvidos Assim o ajuste de contas era apenas adiado De qualquer forma o dinheiro era pouco e estava disponível apenas para algumas nações Os países em desenvolvimento precisavam exportar mais para pagar pelas importações necessárias e a eco nomia política da ISI tornava a saída de difícil execução A balança de pagamentos da típica economia de ISI passava por crises periódicas Quanto mais rápido uma economia crescia maior era a necessidade de importar mas as exportações não se mantinham no mesmo nível das importações e dessa forma o país sofria com uma escassez de moeda estrangeira O governo re stringia as importações comprando apenas o essencial e aumentava a taxa de juros de forma a atrair dinheiro para a nação e a manter esse capital em casa Desvalorizava a moeda interna aumentando o preço das importações e tornando as exportações mais competitivas reduzindo também o poder de compra do país Em geral tais políticas acarretavam uma recessão profunda Sob pressão empresas cortavam salários e demitiam empregados O colapso da economia local reduzia as importações ao passo que uma taxa de câmbio mais fraca o alto desemprego e os salários menores facilitavam a atividade exportadora Logo a quantidade exportada se tornava maior que a importada o crescimento era retomado e o ciclo recomeçava Contudo sucessivas crises desse tipo ameaçavam a ordem social econômica e política Os países que adotaram a ISI também tendiam a grandes défi cits orçamentários e à inflação o que piorava as crises Os gov ernos subsidiavam investimentos industriais concediam isenções fiscais aos que atuavam no setor e focavam seus gastos em grupos politicamente importantes No entanto os gastos ultrapassavam os ganhos governamentais de forma crônica e em geral tais 522832 déficits orçamentários eram contornados com a impressão de moeda A inflação resultante encarecia os produtos domésticos reduzindo as exportações ainda mais A arrecadação diminuía uma vez que o pagamento dos impostos atrasava para que pudesse ser feito em moeda desvalorizada e a atividade econôm ica era conduzida para os mercados negro e cinzad Na década de 1960 muitas das economias que adotaram a ISI foram atingidas por ciclos viciosos de déficits no orçamento e na balança de paga mentos bem como inflação e recessão A substituição de importações do Brasil obteve grandes vitóri as e criou grandes problemas Segunda maior economia do mundo em desenvolvimento menor apenas que a Índia o Brasil era uma das principais nações industriais na década de 1960 O país produzia quase todos os bens finais que consumia criou in dústrias de escala mundial automóvel e aço e construiu a nova capital Brasília em cinco anos No entanto a industrialização exigia a importação de equipamentos máquinas químicos e peças além de petróleo para os milhões de novos carros da nação As exportações do Brasil eram insuficientes O café continuava a responder por mais da metade das exportações e o restante era de produtos tradicionais como açúcar tabaco e minério de ferro Os esforços para estimular a exportação dos novos produtos manu faturados fracassaram Em 1960 o Brasil exportava menos da metade de 1 de sua produção industrial O resultado foi uma série de crises geradas pela balança de pagamentos Em 1963 as exportações continuavam bem abaixo dos índices da década anterior As exportações continuavam menores que as compras internacionais apesar do esforço do gov erno para importar o mínimo possível Enquanto isso o déficit or çamentário crescia e a inflação que na década de 1950 girava em torno dos 20 passou para 96 em 1964 Os empresários prot estavam contra as altas taxas de juros os trabalhadores organiza vam greves devido às reduções salariais e os conservadores 523832 militares do país enfrentavam o fantasma da insatisfação social e até da revolução Em abril de 1964 o golpe militar depôs o gov erno eleito democraticamente e a ditadura reinou por mais de 20 anos Medidas austeras e uma recessão profunda ajudaram a con trolar os déficits e a inflação mas os problemas básicos continuaram A mesma situação enfrentada pelo Brasil se repetia por todo o mundo em desenvolvimento crises na balança de pagamentos inflação insatisfação social golpe militar repressão e austerid ade No Chile o ataque final veio durante o governo do socialista Salvador Allende com o golpe que o depôs em 1973 na Argentina veio com a volta à presidência de Juan e Eva Perón e o golpe mil itar de 1976 que a retirou do poder na Turquia com intervenções militares em 1960 e depois em 1971 nas Filipinas com a im posição de uma lei marcial em 1972 e a subida ao poder do dita dor Ferdinand Marcos na Indonésia com um sangrento golpe militar em 1965 Até os dois países mais democráticos que adot aram a ISI sucumbiram a esse padrão O governo mexicano mas sacrou centenas de manifestantes em 1968 e a primeiraministra da Índia Indira Gandhi declarou um estado extralegal de emer gência nacional em 1975 algo não previsto pela lei indiana As tensões impostas pela substituição de importações criaram uma mistura volátil de problemas econômicos com pressões nacion alistas populistas e desenvolvimentistas que culminou em insat isfação social e com frequência autoritarismo A ISI também teve um impacto desastroso na distribuição de renda e na pobreza Uma grande massa de agricultores migrou para as cidades em busca de trabalho nas novas indústrias No en tanto o crescimento por substituição de importações era intens ivo em capital O governo subsidiava os investimentos e assim os industriais utilizavam muito capital e pouco trabalho Muitos dos agricultores que foram para as cidades perceberam que não con seguiriam os empregos prometidos pela industrialização Os 524832 países que adotaram a ISI terminaram com economias duais de um lado indústrias modernas de capital intensivo trabalhadores qualificados e bemorganizados de outro uma massa de agri cultores e pobres urbanos excluídos da economia moderna con denados a salários de subsistência e privados da proteção social recebida pelos trabalhadores dos novos setores O setor agrícola brasileiro não acompanhava o restante da eco nomia principalmente na atrasada parte norte da nação que em 1970 abrigava 40 da população do país mas menos de 20 da renda nacional Nos estados mais pobres do Nordeste a renda per capita era 16 da arrecadada na industrial São Paulo em média o trabalhador urbano ganhava três vezes mais que o rural16 O eco nomista brasileiro Edmar Bacha chamou o país de Belíndia uma pequena parte como a Bélgica e todo o resto como a Índia17 Os migrantes iam da Índia para a Bélgica do norte para o sul mas quase não havia mais empregos As indústrias priorizadas geraram poucos empregos No início da década de 1960 os setores elétrico de equipamentos para transportes e químico cresciam rapidamente e eram responsáveis por 13 da produção industrial do país mas ofereciam menos de 110 dos empregos do setor industrial A maioria dos migrantes ficava confinada no set or informal em trabalhos pesados domésticos ou em outros empregos que muitas das vezes pagavam menos que o salário mínimo definido por lei As cidades do país foram cercadas por favelas dominadas pelo crime com serviços precários uma popu lação crescente e pouco acesso aos benefícios gerados pelo cresci mento industrial brasileiro A renda per capita brasileira cresceu em 13 entre 1960 e 1970 mas a condição dos 45 da população que pertenciam às ca madas mais baixas melhorou muito pouco e provavelmente a dos mais pobres piorou O Brasil se tornou a sociedade mais desigual do mundo os 5 mais ricos do país ganhavam o mesmo que os 80 mais pobres e duas vezes mais que os 60 mais 525832 pobres O país que se orgulhava de sua indústria moderna de suas metrópoles cosmopolitas e de sua capital modernista ap resentava índices de mortalidade infantil três vezes maiores que os de Cuba seis vezes maiores que os dos Estados Unidos e muito maiores que os de países pobres como Paraguai e Jamaica Mais de 13 das crianças brasileiras com idade escolar primária e mais da metade das que deveriam frequentar a escola secundária es tavam fora das instituições de ensino18 O Brasil ao menos conseguia atingir um crescimento rápido outras sociedades se encontravam em situação bem pior Entre 1950 e 1973 o crescimento per capita do Chile era de 1 ao ano o da Argentina era de 2 e o da Índia era de 16 Esses números não eram de todo ruins levandose em conta os padrões históri cos desses países mas estavam bem abaixo da média mundial Acima de tudo o fato dessas nações não terem se beneficiado das oportunidades criadas pelo rápido crescimento das décadas de 1950 e 1960 gerava graves consequências Se a Argentina tivesse crescido como o Brasil 4 ao ano em vez de 2 o país em 1973 seria tão rico quanto a França se o Chile tivesse como a Coreia do Sul crescido 5 em vez de 1 seria tão rico quanto a Ale manha A Índia em 1950 era apenas um pouco mais pobre que a Coreia do Sul e que Taiwan em 1973 a Coreia passou a ser três vezes mais rica e Taiwan quatro vezes mais As nações em processo de industrialização que optaram por se voltar para dentro não podiam participar do boom comercial do período de Bretton Woods Entre 1950 e 1973 as exportações da América Latina caíram de 8 para 3 do total mundial Os ex traordinários recursos naturais da Argentina haviam feito do país um dos principais exportadores mundiais Em 1950 o país ex portava quase a mesma quantidade que a Itália No entanto em 1973 as exportações argentinas foram reduzidas para 17 das ex portações italianas e se igualaram às da Finlândia que possuía 15 da população e 14 do tamanho da economia do país sul 526832 americano A Índia em 1973 exportava menos que a Coreia do Sul e que Taiwan embora sua população fosse 17 vezes a da Cor eia e 40 vezes a de Taiwan E o tamanho da economia indiana era cinco vezes o da coreana e dez vezes o da taiwanesa19 O modelo voltado para as exportações adotado pelo Leste Asiático parecia evitar alguns dos problemas da ISI Em 1973 a Coreia exportava 41 dos produtos industriais que produzia Taiwan 50 contrastando com os 3 ou 4 exportados pela América Latina20 Coreia do Sul e Taiwan eram tão bemsuce didos na produção para exportação que não enfrentaram os sérios problemas de balança de pagamentos comuns em outros lugares Ambos se especializaram em produtos industriais de trabalho in tensivo para exportação Como as fábricas precisavam da maior quantidade possível de mão de obra barata muitos empregos fo ram criados A necessidade de manter os produtos competitivos nos mercados mundiais tornou essencial o controle da inflação Tais vantagens porém apresentavam alguns custos Os exporta dores do Leste Asiático não desenvolveram economias dualistas com um setor altamente moderno e um setor informal com salári os baixos mas eles eram forçados a manter todos os salários baixos muitas das vezes se utilizando de medidas repressoras contra os trabalhadores para que seus produtos continuassem baratos A taxa de câmbio desses países era subvalorizada para manter a competitividade reduzindo o poder de compra das classes média e trabalhadora locais As políticas macroeconôm icas conservadoras jogavam a inflação para baixo mas também significavam que os governos ofereciam pouco em termos de se guro social Mesmo assim o sucesso do modelo exportador tam bém pesou para que a política de substituição de importações fosse reavaliada Os que se beneficiavam com a ISI contudo impediram as tentativas de reformas Suas indústrias estavam acostumadas a estar protegidas dos importados e não se entusiasmavam com a 527832 competição estrangeira As empresas que recebiam subsídios ou isenções fiscais dos governos ameaçavam abandonar os negócios caso os benefícios fossem suspensos Aqueles cujos salários ou consumo haviam sido protegidos por programas governamentais se esforçavam para impedir o corte de tais programas As arestas da ISI sofreram alguns aparos Uma reforma foi a racionalização da proteção a redução de algumas barreiras comerciais Muitos governos começaram a conceder subsídios e incentivos fiscais para estimular a exportação industrial No entanto décadas de substituição de importações haviam criado interesses sólidos que dificultavam reformas políticas Uma das reações ao sistema cada vez mais visto como estag nado e cheio de impedimentos foi a emergência de ímpetos re volucionários Na América Latina em especial a ordem estabele cida era criticada pela desigualdade e pelos fracassos sociais pela dependência das corporações estrangeiras e pelos privilégios con cedidos às empresas locais prósperas A alternativa cubana atraía toda uma geração de estudantes e muitos da classe trabalhadora A América Latina não tinha uma tradição socialista ou comunista mas houve um crescimento da insatisfação de trabalhadores e estudantes das organizações radicais e até das atividades de guer rilha urbana Os problemas causados pela ISI alimentavam um descontentamento mais amplo com a economia mundial capitalista Esse descontentamento também tomou forma oficial Os gov ernos do Terceiro Mundo frustrados com os problemas domésti cos tentavam se organizar globalmente O Movimento Não Alin hado lançado em 1955 em Bandung passou a fazer lobby na ONU como o Grupo dos 77 países em desenvolvimento O G77 buscava conter a influência econômica do mundo desenvolvido pression ando por mudanças nas regras da economia internacional que fa cilitassem a participação dos países pobres Os países menos desenvolvidos LDCs na famosa sigla em inglêse exigiam um 528832 preço maior para suas exportações mais ajuda financeira e em préstimos além de melhor acesso aos mercados da OCDE Algu mas concessões foram feitas mas não o suficiente para que fizesse alguma diferença Os dilemas da política de substituição de im portações continuavam A estagnação do socialismo O mundo socialista também enfrentava cada vez mais di ficuldades Na União Soviética e mesmo em grande parte da Europa central e oriental as reformas econômicas se tornaram mais lentas ou foram interrompidas O problema mais uma vez foi político De forma inevitável a descentralização reduziria a in fluência das autoridades centrais ao passo que transformações com ênfase nos mercados retirariam recursos de empresas e regiões maladministradas ou de menor potencial econômico Os comunistas no entanto tinham um compromisso ideológico com a equidade e dependiam do apoio ou ao menos da simpatia dos segmentos mais pobres da sociedade Talvez o motivo principal fosse a ameaça que as reformas significavam para a elite técnica e administrativa intimamente ligada à liderança comunista As reformas ameaçavam o equilíbrio social e político dos países socialistas A base política comunista era formada pelos grupos que se beneficiavam com a economia planificada e o fim desse tipo de política ameaçava diretamente o partido A situação era semelhante à dos países em desenvolvimento que adotaram a ISI A política econômica dos países planificados fortaleceu as empresas e os setores industriais que dependiam do apoio e da proteção do governo da mesma forma que as indústrias da ISI dependiam da própria ISI e que eram contra a redução de tais benefícios No início da década de 1970 a onda de atividades re formistas da década anterior havia passado Os soviéticos 529832 reverteram ou ignoraram as reformas de Kosygin de 1965 Os tchecos foram forçados a retomar os princípios básicos soviéticos após a invasão russa de 1968 Até os húngaros os que foram mais longe nas reformas retrocederam no início dos anos 1970 Iniciouse um processo de cristalização A ordem econômica vi gente perdia força mas havia muitos obstáculos políticos para que ocorresse uma transformação substancial nas políticas econômicas O crescimento das economias planificadas sofreu uma con tínua desaceleração durante o fim da década de 1960 e início da de 1970 O pouco crescimento que havia não provocava melhoras suficientes no padrão de vida para manter a população satisfeita Os soviéticos mais do que nunca eram odiados na Europa central e oriental e os comunistas perdiam apoio até mesmo da popu lação soviética Em dezembro de 1970 na Polônia tal descon tentamento emergiu na forma de greves e manifestações nos estaleiros da região báltica uma das principais instalações indus triais do país O regime reagiu com violenta repressão e muitos manifestantes foram mortos O fato levou à substituição do líder polonês Wladyslaw Gomulka pelo mais moderado Edward Gierek que rapidamente tentou melhorar o padrão de vida da população em parte pedindo empréstimos dos bancos ocidentais Nem mesmo Gierek e outros líderes de uma segunda onda de tentativas reformistas conseguiram romper os interesses já solidificados Enquanto isso outro sério obstáculo econômico tornavase evidente Em 1960 os países capitalistas avançados passaram a adotar uma série de novas tecnologias eletrônicas O transistor e o laser transformavam tudo de produtos prontos para o consumo a processos industriais passando pelas telecomunicações Os com putadores se tornavam o produto principal para as empresas e governos e outros avanços se acumulavam rapidamente Mas os países socialistas ficavam para trás em termos tecnoló gicos aparentemente como resultado de problemas sistêmicos da 530832 ordem econômica planificada As reformas da década de 1960 embora incompletas permitiram aos membros do Comecon produzir ônibus ferramentas para máquinas câmeras e automó veis de relativa qualidade No entanto estes eram produtos do passado não da nova era eletrônica O ensino e a pesquisa científica na União Soviética e na Europa oriental eram ex celentes mas quase nunca aplicados às inovações industriais ou à produção Todos os recursos que a União Soviética poderia utiliz ar para se manter no mesmo nível dos Estados Unidos foram transferidos para a tecnologia militar portanto o sucesso foi apenas parcial Na indústria civil os soviéticos e seus aliados con tinuavam uma ou duas gerações atrasados21 A planificação econômica central de fato ofereceu poucos in centivos para que os gerentes desenvolvessem e adotassem novas tecnologias O benefício do sistema era o favorecimento da es tabilidade e da segurança em detrimento dos riscos uma vez que os responsáveis pelo planejamento precisavam assegurar o fun cionamento de cada elo da cadeia produtiva O gerente que se det ivesse em métodos certos e seguros e atingisse as metas estaria a salvo aquele que experimentasse novos processos ou produtos e falhasse estaria em apuros Em grande parte isso também era próprio da economia de mercado Contudo no capitalismo se a tentativa de inovação fosse bemsucedida o gerente seria muito bemrecompensado Nas economias controladas no entanto poucos eram os incentivos para inovações tecnológicas Os invent ores não contavam com muitos direitos o governo restringia os lucros por vitórias individuais de forma severa e ninguém poderia ficar rico por desenvolver novos produtos ou novas formas de produção O foco do sistema em metas tangíveis também fez com que muitas das inovações fossem difíceis de serem mensuradas ou confirmadas a melhora na qualidade de um produto talvez fosse uma questão de opinião A ênfase dada a resultados quantitativos pelos que planejavam a economia e o fato de as recompensas 531832 individuais serem limitadas iam de encontro à inovação Os riscos enfrentados por um método novo eram enormes e a possibilidade de recompensa limitada As diferenças em termos tecnológicos entre os países do Comecon e o Ocidente cresceram de forma continua após 1960 O sucesso dos soviéticos no espaço e em termos militares desviou a atenção da opinião pública mas os que tinham acesso às inform ações incluindo os próprios governos do Comecon reconheciam que em geral o nível tecnológico das economias planificadas ficava cada vez mais para trás Os governos socialistas aument aram os investimentos em ciência e tecnologia passaram a ofere cer mais bônus para invenções e tentaram outras medidas mas não conseguiram superar o preconceito contra inovações arrisca das nas economias controladas Moscou e seus aliados tentaram diminuir o abismo tecnológi co importando do Ocidente Algumas dessas importações tecnoló gicas eram fábricas prontas instalações modernas em pleno fun cionamento montadas e vendidas por empresas ocidentais As nações do Comecon também compraram grandes quantidades de equipamentos e máquinas de alta tecnologia embora de certa forma sofressem um embargo do Ocidente a tudo o que pudesse ser utilizado para fins militares Para um sistema que se orgul hava de sua base científica ter como principal método de in ovação tecnológica as importações do Ocidente era uma grande demonstração de inferioridade O comércio entre a União Soviét ica a Europa oriental e o Ocidente cresceu de forma vertiginosa aumentando em dez vezes entre 1950 e 1973 e triplicando como parcela das economias socialistas O atraso aparentemente irre versível da agricultura socialista fez com que os grãos do Ocidente fossem necessários para alimentar a população soviét ica O governo passou a convidar empresas estrangeiras para ex plorar os recursos naturais do país e pegou grandes empréstimos no exterior A URSS se parecia com um país em desenvolvimento 532832 exportava matériasprimas e tomava emprestado para importar maquinário e alimentos Comercializar com o Ocidente não solucionou os problemas do socialismo Os soviéticos e aliados tinham muito pouco a expor tar A convicção das nações socialistas contra as exportações era ainda mais forte que nas economias que praticavam a ISI Não se concentravam na produção para os mercados mundiais os preços dos insumos eram tão altos que tornavam os preços proibitivos as firmas não eram recompensadas por arrecadar moeda es trangeira e alguns produtos eram tão malfeitos que não con seguiam espaço no mercado Fatalmente a exportação de re cursos naturais petróleo ouro madeira não seria mais sufi ciente para pagar pelas importações necessárias Tal momento não havia chegado até o início da década de 1970 mas os sinais já eram visíveis Os programas de reformas foram interrompidos e os responsáveis pela planificação econômica lutavam contra o baixo padrão de vida o atraso tecnológico e contra a queda dos índices de crescimento Os dias de glória do socialismo assim como os de Bretton Woods e os da ISI haviam chegado ao fim O fim de uma era A era do pósguerra terminou no início da década de 1970 O mundo capitalista desenvolvido emergiu da Segunda Guerra Mundial com um acordo que mesclava integração econômica in ternacional e independência política doméstica mercados e Estado do bemestar social O acordo de Bretton Woods fora vitorioso em todas as dimensões Ofereceu rápido crescimento medidas sociais abrangentes e um nível de integração econômica internacional que não se via desde a década de 1920 No início da década de 1970 o compromisso entre o inter nacional e o nacional já estava desgastado Competição comercial 533832 fluxos de capital e flutuações cambiais impediam o desempenho econômico doméstico e a insatisfação estava instaurada Os Esta dos Unidos talvez em especial relutavam cada vez mais em priv ilegiar os compromissos econômicos internacionais em detri mento dos objetivos domésticos O padrãoourodólar entrou em colapso e a proteção comercial aumentou No Terceiro Mundo a impressionante marcha em direção à industrialização demonstrava sinais de cansaço A lentidão das exportações e a persistência de problemas envolvendo as balanças de pagamentos desaceleraram a industrialização Para muitos a marcha parecia forçada demais e não prestava atenção aos pobres O aumento da produção e o desenvolvimento industrial do mundo socialista não se refletiam no padrão de vida da popu lação o que gerava insatisfação Tanto os governos das economias em desenvolvimento quanto os dos países socialistas tentaram implementar reformas mas foram impedidos pelos interesses ar raigados nessas sociedades A ordem do pósguerra havia atingido o objetivo de seus ar quitetos Os países capitalistas avançados alcançaram a integ ração econômica combinada com Estado de bemestar social e in tervenção macroeconômica Os países em desenvolvimento con seguiram a intensificação da industrialização combinada com pro teção contra a influência econômica do exterior Os países so cialistas alcançaram um rápido desenvolvimento industrial e cres cimento econômico combinados com distribuição de renda equit ativa No entanto em todos os três grupos de países a obtenção simultânea de todos esses objetivos tornavase mais difícil com o passar do tempo A integração econômica impôs desafios à inter venção macroeconômica a ISI gerou crises periódicas e mais desigualdade e a planificação econômica socialista desacelerou o crescimento Ainda não se sabia o que estava por vir 534832 a American Federation of Labor e Congress of Industrial Organizations As duas organizações juntas formaram a maior federação de sindicatos trabalhistas dos Estados Unidos NT b Tradução para Nixon fiddles while Burns roams uma referência a fiddle while Rome burns ou perder tempo enquanto há uma situação urgente a ser resolvida NT c Já que a moeda não sofria a desvalorização que lhe cabia NE d Forma de importação paralela comum por exemplo em eletrônicos e cigarros Quando o preço do um produto é muito mais caro em um país do que em outro empresas o compram onde o valor é menor importam legalmente e vendem abaixo do valor de mercado NT e Least Developed Countries é uma classificação da ONU para os países que ex ibem os piores indicadores de desenvolvimento socioeconômico NT 535832 parte IV Globalização 19732000 16 Crise e mudança A partir de 1973 as tensões acumuladas no período do pósguerra atingiram o ápice O crescimento dos países capitalistas avança dos desacelerou e por mais de uma década permaneceu a metade dos índices do pósguerra O desemprego dobrou ou triplicou Na Europa ocidental e na América do Norte cada vez mais pessoas procuravam emprego o que não ocorria com tamanha intensid ade desde a década de 1930 A inflação chegou a três ou quatro vezes a média do pósguerra e o preço do barril do petróleo força motriz do mundo industrial subiu de US3 para US30 Os mer cados financeiros globais cresceram de forma inimaginável cen tenas de bilhões de dólares circulando ao redor do mundo faziam as moedas subirem ou caírem 10 em poucos dias Países em desenvolvimento e nações socialistas tomaram empréstimos de trilhões de dólares e então desencadearam uma onda de inadim plência que rivalizou com a da década de 1930 e crises econôm icas internas em geral piores do que as daquela época Nacionalistas e internacionalistas defensores do livre mer cado e intervencionistas esquerda e direita se confrontavam sobre o curso das políticas econômicas nacionais e internacionais As posições políticas se polarizaram os empresários se opunham de maneira veemente aos sindicatos trabalhistas e ao Estado do bemestar social e o operariado adotava posições firmes contra os empresários O consenso centrista das décadas de 1950 e 1960 havia se desintegrado Ditaduras se democratizaram democracias foram arruinadas socialistas tomaram o poder em países tradi cionalmente conservadores e em outros foram substituídos pelos conservadores O equilíbrio de forças se deslocou do comprometi mento com a economia global para as limitações à integração eco nômica internacional ou mesmo para o seu retrocesso Infeliz mente o período entre 1970 e o início da década de 1980 foi semelhante aos anos 1930 algo como uma sala de espera para a autarquia e até hostilidades militares diante da deterioração das relações entre os Estados Unidos e a União Soviética O choque do petróleo e outros choques Os governos tentaram fortalecer suas economias depois que a camisa de força monetária de Bretton Woods foi removida À me dida que as finanças internacionais voltavam à vida o padrão ourodólar fazia com que fosse mais difícil para os governos re duzirem as taxas de juros ou aumentarem os gastos sem levar em consideração o impacto que essas medidas causariam no valor das moedas O colapso de Bretton Woods eliminou as restrições à taxa de câmbio deixando os governos livres para estimular suas eco nomias A economia mundial ganhou volume entre 1970 e 1973 à medida que a produção industrial nas principais economias cres cia de 15 a 25 A base monetária cresceu cerca de 40 entre 1970 e 1973 nos Estados Unidos e em torno de 70 na Grã Bretanha em 1972 e 1973 Isso gerou inflação e os preços começaram a subir lentamente em todo o mundo A rápida expansão das economias industriais ampliou a de manda por bens agrícolas e matériasprimas exportadas pelos países em desenvolvimento encarecendo esses produtos Entre 538832 1971 e 1973 os preços do cobre da borracha do cacau e do café por exemplo dobraram ou cresceram ainda mais que isso O aumento foi repassado para os consumidores e o preço dos ali mentos nos Estados Unidos subiu cerca de 20 só em 1973 A alta dos preços se acelerou e em 1974 os valores do pão da batata e do café no país subiram cerca de 25 o do arroz por volta de 60 e o do açúcar dobrou E ainda havia o petróleo Por décadas o preço mundial do pet róleo ficara defasado em relação à inflação e em 1960 os países em desenvolvimento que mais produziam o combustível Irã Iraque Kuwait Arábia Saudita e Venezuela criaram a Organiza ção dos Países Exportadores de Petróleo Opep O principal ob jetivo da organização era aumentar a alíquota de impostos e os royalties que as empresas petrolíferas privadas pagavam aos países onde se instalavam o que exigiu uma coordenação dos gov ernos produtores que precisavam evitar a cobrança de preços menores A Opep obteve algumas conquistas recrutou novos paísesmembros e se beneficiou do boom do petróleo no início da década de 1970 No outono de 1973 durante a guerra entre Israel e seus vizinhos árabes a Opep interrompeu as negociações com as empresas petrolíferas e seus membros árabes dobraram o preço do petróleo passando a cobrar mais de US5 pelo barril Dois meses depois a organização dobrou os preços novamente e o barril chegou a custar quase US12 No Ocidente alguns acred itavam que tal manipulação de mercado não pudesse se sustentar mas logo ficou claro que um pequeno grupo de países em desen volvimento tinha alterado dramaticamente as condições sob as quais vendia seus produtos A Opep podia quadruplicar o preço de uma das commodities mais importantes do mundo por uma série de razões Havia pou cos substitutos para o petróleo disponíveis prontamente então os aumentos de preços não reduziam muito o consumo Além disso somente uns poucos membros do núcleo da Opep controlavam 539832 uma parcela muito grande do petróleo mundial As oleogarquias do Golfo Pérsico Arábia Saudita Kuwait Qatar e os Emirados Árabes Unidos possuíam praticamente metade das reservas pet rolíferas mundiais controlavam 25 da produção e contavam com populações minúsculas Com menos habitantes que os Países Baixos eles lucravam mais com o petróleo do que o Japão arreca dava com todas as suas exportações até 1980 os ganhos eram suficientes para pagar a cada um de seus habitantes uma renda anual duas ou três vezes maior que a média dos ganhos dos norte americanos Além disso não precisavam vender o petróleo imedi atamente e poderiam segurálo fora do mercado para manter os preços em alta Uma fonte adicional de poder era a solidariedade existente entre os membros muçulmanos da Opep dentro e ao redor do Oriente Médio que compartilhavam laços culturais e políticos Para alguns estrategistas políticos norteamericanos os altos preços do petróleo eram a forma mais fácil de enviar ajuda para seus aliados na Arábia Saudita e no Irã em vez de precisar passar pelo Congresso Os produtores de petróleo eram poderosos e os consumidores ficaram indefesos O petróleo supria de 50 a 75 da energia do mundo industrial e a maioria dos países industrializados de pendia fortemente das importações da Opep Fontes de energia alternativa poderiam ser desenvolvidas mas isso consumiria anos e centenas de bilhões de dólares A Opep exercia influência ex traordinária sobre o preço do petróleo no mundo Outros produtores de commodities do Terceiro Mundo cobre café minério de ferro bauxita e bananas tentaram imitar a Opep mas não tinham o poder do setor petrolífero O preço do petróleo chegou às alturas em questão de dias e a elevação causou impactos imediatos e poderosos O governo alemão forneceu petróleo em caráter de emergência a fabricantes que estavam ficando sem combustível e cuja produção seria arru inada se cessassem as atividades No Japão motoristas de táxi 540832 faziam manifestações e donas de casa estocavam papel higiênico e sabão em pó Fiscais do governo francês faziam inspeções e mul tavam os administradores dos edifícios que usassem o aqueci mento acima de 20 graus Celsius Motoristas norteamericanos enfrentavam filas de uma ou duas horas nos postos de com bustível e placas com os dizeres Desculpe o transtorno estamos sem gasolina hoje pipocavam nas estradas do país O governo norteamericano criou um novo Departamento de Energia e o presidente chamou a crise do petróleo de o equivalente moral da guerra1 O rápido crescimento do início da década de 1970 o boom das commodities e os choques do petróleo contribuíram para o aumento da inflação Em 1974 os preços para o consumidor dis pararam em vários países industrializados aproximadamente 12 nos Estados Unidos 14 na França 16 na GrãBretanha e 23 no Japão Isso se deveu em parte à Opep mas algumas avaliações atribuem aos choques do petróleo somente 14 da onda inflacionária do período2 O aumento do preço do petróleo causou um impacto único com consequências contraditórias para os de mais preços Por um lado o petróleo era amplamente utilizado em toda a economia e dessa forma pressionava o aumento de outros preços Por outro lado com o petróleo mais caro sobrava menos para os consumidores gastarem em outros produtos o que fazia cair a demanda e realmente influenciava a queda dos preços O resultado final dependia da política governamental e em espe cial da política monetária Se Bretton Woods ainda estivesse em vigor a necessidade de manter a taxa de câmbio fixa teria forçado muitos governos a conter ou reduzir os preços provavelmente por meio da subida dos juros alimentando ainda mais o pro cesso recessivo provocado pela Opep Com a maioria das moedas flutuantes entretanto os governos estavam livres para acomodar os aumentos de preços por meio da expansão da base monetária Dessa forma o choque do petróleo se transformaria 541832 em aumento de preços sem a necessidade de impor medidas aus teras Isso levou ao aumento da inflação que em média se aprox imou dos 10 nos países da OCDE por todo o resto da década de 1970 na maior parte dos países esse índice era três ou quatro vezes maior que a média desde a Segunda Guerra A estabilidade monetária que havia predominado por quase 30 anos chegava ao fim Apesar dessas políticas de estímulo econômico o mundo mer gulhou na pior recessão desde a década de 1930 Em 1974 e 1975 a produção industrial caiu cerca de 10 no mundo industrializado e o desemprego cresceu a níveis considerados inaceitáveis em praticamente todos os lugares Até o fim de 1974 o mercado de ações norteamericano se encontrava na metade do nível de 1972 se tanto O sistema financeiro mundial foi atingido pelas duas maiores falências bancárias desde a Grande Depressão a do Franklin National Bank nos Estados Unidos e a do Bankhaus Herstatt na Alemanha Ocidental A cidade de Nova York incapa citada de pagar suas dívidas e contas foi posta em sindicância falimentar por credores e pelo governo federal O choque da Opep gerou alguns desses efeitos pois equivalia a um imposto pago pelos consumidores de petróleo de cerca de 2 do PIB dos países industrializados3 Mas o efeito foi ampliado pela grande incerteza resultante As economias em declínio e o aumento dos preços provocaram uma espécie de pânico Os empresários e os trabalhadores do mundo industrializado estavam acostumados ao crescimento ao pleno emprego e aos preços estáveis uma geração de europeus norteamericanos e japoneses só conhecia a prosperidade En quanto a recessão continuava os governos eram cada vez mais pressionados a tomar alguma atitude Os sindicatos se mobiliza vam para proteger os trabalhadores da degradação dos salários Os mineiros de carvão da GrãBretanha diminuíram o ritmo de trabalho até a interrupção das atividades no começo de 1974 542832 forçando o país a decretar uma semana de trabalho de três dias Ao longo dos cinco anos seguintes foram perdidos praticamente 12 milhões de dias de trabalho por ano em greves no Reino Unido mais que o triplo dos índices de 1950 e 1960 Os sindicatos itali anos impuseram a adoção de uma escala móvel que atrelava os salários à inflação Os trabalhadores também pressionavam por uma influência mais ampla na economia O governo socialdemo crata alemão concedeu aos trabalhadores influência direta nas de cisões administrativas codeterminação ao passo que o novo governo trabalhista britânico decretou uma série de regula mentações em prol dos trabalhadores Na Espanha e em Portugal a democratização provocou um crescimento considerável da in fluência da esquerda e dos trabalhadores durante a maior parte de 1975 Portugal foi controlado por um governo de viés comunista provavelmente o regime mais de esquerda da história da Europa Ocidental Na Suécia em 1975 os sociaisdemocratas apresentaram o Plano Meidner batizado em homenagem ao seu criador um in fluente economista A ideia foi destinar parte dos lucros de cada empresa na forma de ações a um fundo controlado pelos sindica tos dando a eles participação em praticamente todo o setor privado Em algumas décadas sob o plano a maioria das empres as suecas passou a pertencer aos sindicatos Na teoria o plano não era anticapitalista as empresas seriam administradas com base nos princípios usuais do mundo dos negócios e angariar grandes lucros era um dos objetivos da proposta mas implicou uma mudança radical do poder econômico e político além de po larizar as relações entre trabalho e capital4 Essa disputa social mudou o cenário político do mundo indus trializado Em fevereiro de 1974 em meio à paralisação dos mineiros de carvão os conservadores britânicos não conseguiram vencer as eleições resultado que se repetiria no pleito geral de ou tubro Os socialistas holandeses chegaram ao poder pela primeira 543832 vez em 15 anos Os comunistas da Itália se empenharam em um compromisso histórico com o capitalismo e em seguida tiveram uma desempenho eleitoral impressionante tornandose membros informais da coalizão governante em 1976 Por outro lado em setembro desse mesmo ano os sociaisdemocratas fo ram retirados do governo marcando o fim de 40 anos de admin istração socialista Dois meses depois Gerald Ford tornouse o primeiro presidente norteamericano em exercício a perder uma eleição desde Herbert Hoover Apesar da inflação galopante os governos evitavam as medi das austeras mais drásticas que iriam piorar as já tensas relações sociais e de classe Embora fosse claro que o afrouxamento das políticas monetárias não aliviaria a recessão e só alimentaria a in flação os governos temiam as consequências de um ataque sério à elevação dos preços recessão problemas comerciais desemprego e conflitos políticos A estagnação comercial e a inflação contínua sobrecarregavam o mundo ocidental com a estagflaçãoa uma pa lavra feia para uma realidade desagradável Em 1979 e 1980 um segundo ciclo de choques do petróleo re forçou a ideia de que a economia mundial estava fora de controle ou pelo menos sob o controle dos países capitalistas avançados Uma revolução fundamentalista islâmica derrubou o xá do Irã um dos aliados mais próximos dos Estados Unidos e a partir disso a guerra entre Irã e Iraque eclodiu A Opep decretou um aumento que praticamente triplicou o preço do barril de petróleo que chegou a valer US33 enquanto os preços no mercado aberto ultrapassavam os US40 A organização não sustentou esses preços completamente novas fontes de suprimento haviam sido desenvolvidas a conservação e o uso de energias alternativas lim itaram o consumo e os membros da Opep desrespeitaram os acordos para controlar o fornecimento Contudo o barril do pet róleo permaneceu em torno dos US30 e outra série de choques de preços abalou o mundo 544832 Os governos criaram milhões de empregos no setor público e injetaram milhões de dólares em economias que enfrentavam di ficuldades Entre 1971 e 1983 o governo de pelo menos um país industrial cujos gastos representavam em média 33 da eco nomia passou a gastar 42 e os aumentos foram ainda maiores em alguns países de 45 para 66 do PIB na Suécia e de 49 para 66 nos Países Baixos5 As nações industriais passaram a contratar um milhão de novos funcionários públicos a cada ano e até 1983 os governos se tornaram responsáveis em média por 20 de todos os empregos chegando a mais de 30 em alguns países Poucos governos podiam se dar ao luxo de aumentar os impostos para cobrir despesas assim os déficits orçamentários fo ram subindo lentamente chegando a atingir até 20 do total dos gastos públicos de alguns países tomando 10 de suas economias Os governos pediam emprestado em parte porque as taxas de juros haviam sido deixadas para trás pela inflação de forma que o dinheiro pego com os investidores saía praticamente de graça Em 1974 por exemplo enquanto os preços para os consumidores cresceram 12 o Tesouro norteamericano pagava menos de 8 por seus empréstimos com títulos de seis meses Isso aconteceu em todos os anos entre 1973 e 1981 com exceção de um e re lações semelhantes eram mantidas pela maioria dos países indus trializados Era relativamente indolor financiar programas sociais com recursos emprestados enquanto o dinheiro estivesse disponível a taxas de juros abaixo da inflação taxas de juros reais negativas Entretanto inflação e financiamentos por meio de déficits não eram soluções permanentes para as dificuldades econômicas Os governos conservadores da França e da Suécia defendiam seus programas econômicos da veemente oposição dos trabalhis tas e do degradado apoio do empresariado O governo da Itália fracassou na tarefa de controlar o orçamento e a inflação apesar 545832 de dois programas do FMI de sucessivas mudanças em sua lider ança e da participação comunista no governo O Partido Trabal hista do governo britânico se dividiu em duas facções conflitantes a centrista e a esquerdista cujo programa exigia mudanças radi cais na política econômica No Partido Conservador uma ala de direita antes marginalizada chegou ao poder por meio de Mar garet Thatcher Em março de 1979 após um inverno sombrio de greves no setor público o governo trabalhista caiu perdendo a confiança do Parlamento pela primeira vez em mais de 50 anos dois meses depois Margaret Thatcher venceu com maioria es magadora e tornouse primeiraministra Nos Estados Unidos o presidente Jimmy Carter perdeu a confiança do eleitorado uma vez que o desemprego continuava alto e a inflação se aproximava dos 15 Carter se referiu à atitude predominante como malaise mal estar cuja descrição lhe trouxe a desaprovação popular mas parecia apropriada Diferentemente da situação da década de 1930 não havia batalhas nas ruas entre esquerda e direita nem um claro conflito entre trabalho e capital Em vez disso as nações capitalistas avançadas pareciam se degenerar em rixas políticas generalizadas ao mesmo tempo em que resquícios das coalizões anteriores tentavam se agarrar ao que podiam As partes que con stituíram o consenso centrista do pósguerra os sociaisdemo cratas e os democratascristãos da Europa a coalizão norteamer icana do New Deal não tinham como restabelecer a aliança As velhas receitas para o crescimento econômico e para a estabilid ade política não funcionavam e embora novas panaceias prolifer assem nenhuma delas contava com muito apoio A ordem do pós guerra lutava agonizante A década de 1970 foi ainda mais difícil para os países em desenvolvimento que já lutavam contra o acúmulo de problemas oriundos da industrialização por substituição de importações ISI Os países menos desenvolvidos LDCs que se 546832 industrializavam rapidamente continuavam a enfrentar prob lemas para pagar pelas importações da indústria de combustível A estagnação no Ocidente reduziu a demanda por seus produtos enquanto a inflação elevou os preços dos produtos manufaturados que eles precisavam importar Para agravar o problema a maior parte das nações em desenvolvimento era importadora de pet róleo e se deparava com contas de importação muito mais caras O primeiro choque do petróleo somou cerca de US30 bilhões à conta de importação dos países em desenvolvimento não perten centes à Opep o segundo quase US50 bilhões O desejo de in dustrialização não diminuía mas seu preço era cada vez maior Os empréstimos estrangeiros permitiram às nações em desen volvimento mais avançadas conhecidas como países recémin dustrializados NICs na sigla em inglês para Newly Industrial ized Countries a continuarem a investir na indústria Pouco a pouco o Terceiro Mundo vinha obtendo recursos junto a institu ições internacionais como o Banco Mundial e o Banco Interamer icano de Desenvolvimento Assim pela primeira vez desde a década de 1920 esses países podiam conseguir dinheiro de ban queiros privados internacionais Os NICs tomaram dezenas de bilhões ao ano de bancos e de detentores de títulos de mercados estrangeiros A América Latina tomou US50 bilhões somente em 1981 quando a região devia US300 bilhões no exterior Os países em desenvolvimento como um todo deviam US750 bil hões no exterior 75 a financiadores privados6 A dívida criou um estranho triângulo A explosão do preço do petróleo rendeu aos membros da Opep muito mais dinheiro do que eles podiam gastar e grande parte desse montante cerca de US150 bilhões entre 1974 e 1980 foi investida nos mercados financeiros mundiais Os banqueiros internacionais estavam ávidos por emprestar os petrodólares da Opep e entre os prin cipais usuários desses fundos estavam os países em desenvolvi mento não produtores de petróleo os Nopeps como eram 547832 chamados que precisavam pagar mais caro pelo combustível As nações em desenvolvimento importadoras de petróleo pegaram empréstimos que totalizavam US200 bilhões entre 1974 e 1980 em parte para pagar pelo produto da Opep que depositava os ganhos nos bancos internacionais os quais por sua vez eram emprestados de volta aos países em desenvolvimento para que eles pudessem comprar petróleo Esse era apenas um aspecto dos empréstimos feitos pelo Terceiro Mundo mas enfatiza como as tendências da década de 1970 não eram sustentáveis Os empréstimos não eram somente para pagar o petróleo Muitos exportadores da commodity em especial aqueles com populações substanciais como México e Indonésia também ex ploravam com sucesso sua nova riqueza da qual se utilizavam para tomar empréstimos paralelos de grande volume O principal objetivo dos novos empréstimos em quase todos os países era na verdade sustentar o desenvolvimento industrial Dezenas de bil hões de dólares em dinheiro emprestado tinham como destino a construção de usinas de aço no Brasil de estaleiros na Coreia do Sul e de plantas petroquímicas no México A maioria dos emprés timos ia para uma dúzia de países em melhor situação de Brasil e México a Coreia do Sul e Turquia os banqueiros privados não tin ham interesse nas nações mais pobres do sul da Ásia e África De 1973 a 1981 os principais tomadores de empréstimos ampliaram e aperfeiçoaram as bases de seus setores manufatureiros Grande parte dos novos investimentos era financiada com dívidas a serem pagas em moeda estrangeira Dessa forma os governos dos países recémindustrializados precisavam aumentar as exportações de manufaturados Isso era fácil para os NICs de orientação exporta dora do Leste Asiático mas levou economias tradicionalmente fechadas tais como o Brasil a incentivar as exportações De 1967 a 1981 os doze grandes tomadores de empréstimos aumentaram as exportações de manufaturados de US15 bilhões para US190 bilhões Isso trouxe bons resultados para esses países e para seus 548832 credores mas inundava as nações industrializadas de importados baratos e acirrava a competição pelas importações de setores in dustriais como o do aço o automobilístico o têxtil e o da in dústria de calçados As conquistas desse grupo de exportadores provocaram um aumento dos conflitos comerciais na OCDE O mundo decaiu em uma polarização ainda maior A com petição geopolítica entre o Oriente e o Ocidente se acirrou Tropas soviéticas instalaram um governo comunista no Afeganistão soldados vietnamitas ocuparam o Camboja e uma violenta re volução islâmica antiocidental tomou o poder no Irã Os regimes prósoviéticos consolidaram seu poder nas antigas colônias por tuguesas da África Em Angola por exemplo contaram com a ajuda de milhares de soldados cubanos Um governo de esquerda assumiu na até então neutra Rodésia atual Zimbábue No Caribe quintal norteamericano revolucionários derrubaram ditadores próEstados Unidos em Granada na Nicarágua e ameaçavam outros na Guatemala e em El Salvador A polarização se espalhou para ambos os lados a China agora partidária dos norteamericanos voltouse para reformas ao estilo ocidental A União Soviética também era ameaçada pela explosão de novas greves na Polônia que por fim levaram ao reconhecimento do Solidariedade o primeiro sindicato independente em um país comunista Os mercados financeiros internacionais passavam pela mesma instabilidade A administração Carter tentou estimular a eco nomia mas só conseguiu debilitar a confiança no dólar norte americano que caiu cerca de 30 em relação ao iene e ao marco alemão Durante os quatro anos da administração Carter bancos e empresas norteamericanas praticamente triplicaram seus in vestimentos no exterior que passaram a somar US530 bilhões Em parte tal aumento podia ser explicado pelo receio em relação ao futuro da economia do próprio país Os investidores buscavam freneticamente um porto seguro aumentando o valor do ouro 549832 para mais de US300 a onça no verão de 1979 e para mais de US800 no inverno 20 vezes o preço da época de Bretton Woods Os membros da União Europeia no que pareceu uma tentativa desesperada de se protegerem da crise criaram o Sistema Monetário Europeu SME para administrar suas moedas em conjunto e evitar o pânico que afetava o dólar O mundo enfrentou tempos difíceis entre 1973 e o início da década de 1980 O crescimento diminuiu os preços subiram as recessões se proliferaram e o desemprego aumentou Os gov ernos acostumados ao crescimento e à prosperidade dos últimos 30 anos pareciam incapazes de lidar com o ciclo de crises e seus conflitos decorrentes Dessa forma injetavam capital no prob lema Os governos dos países capitalistas avançados investiam o dinheiro que imprimiam ou pegavam emprestado em gastos soci ais benefícios para desempregados subsídios comerciais e a cri ação de empregos públicos Os governos dos países em desenvol vimento em melhor situação aplicavam na industrialização o din heiro que tomavam emprestado no exterior Ambas as estratégias ajudaram a evitar problemas mais graves mas nenhuma se sustentaria O contrachoque de Volcker Em 6 de agosto de 1979 os Estados Unidos mudaram de direção A crise e a polarização crescente foram transformadas em mudanças e determinação Naquele dia o presidente Jimmy Carter concedeu a Paul Volcker o comando do Federal Reserve Volcker que tinha participado da equipe do governo de Nixon como presidente do Federal Reserve Bank de Nova York era in timamente ligado a Wall Street e gozava da confiança da comunidade financeira internacional Ele era pragmático e con sciente das pressões políticas e do empresariado mas acreditava 550832 firmemente na livre movimentação de mercadorias e capital além de se opor com veemência à inflação e aos déficits orçamentários Paul Volcker não podia retirar as tropas cubanas de Angola ou devolver à GrãBretanha a paz social Entretanto ele acalmou os mercados financeiros modificando a política econômica dos Esta dos Unidos Algumas semanas depois de tomar posse no Fed Vol cker comprometeu o Banco Central norteamericano com o que fosse necessário fazer para baixar a inflação O Federal Reserve forçou a alta das taxas de juro de curto prazo de cerca de 10 para 15 e finalmente para mais de 20 Manteve os juros norte americanos nesse extraordinário patamar por quase três anos até o fim de 1982 Isso levou a economia a duas recessões consec utivas reduziu a produção e a renda média familiar em 10 e ele vou o desemprego a quase 11 Contudo o choque de Volcker trouxe a inflação para menos de 4 e a manteve nesses índices ou abaixo durante os 20 anos seguintes Nas palavras de um eco nomista essa foi talvez a ação de política monetária mais import ante desde o catastrófico fracasso do Fed em resistir ao colapso monetário da década de 19307 O choque econômico de Volcker forçou a alta das taxas de jur os reais depois da inflação de curto prazo de próximo de zero ou menos para 10 Isso aniquilou a inflação e sob uma análise mais ampla deslocou o equilíbrio de forças na direção dos investidores A inflação e as taxas de juros reais negativas haviam sido o maior fardo da comunidade financeira Os juros mais altos fizeram cres cer o retorno do capital e os investidores que mal conseguiam se manter durante a inflação da década de 1970 agora embolsavam os maiores lucros já vistos A partir de 1979 a política favoreceu fortemente a comunid ade financeira e os investidores Embora a classe média e a trabal hadora também estivessem cansadas da inflação e tenham apre ciado sua derrocada o preço pago foi alto O fim da espiral infla cionária forçou as empresas a adotar medidas linhadura em 551832 relação aos salários Antes quando os preços e os salários subiam constantemente as empresas podiam repassálos aos consum idores seguros de que essa seria uma tendência geral que não prejudicaria seus negócios Agora que a inflação fora derrotada a experiência mostrava que as empresas não poderiam mais elevar os preços ao seu belprazer e que precisavam controlar os paga mentos Além do mais o aumento nos custos dos empréstimos forçou as empresas a economizar em outros aspectos como na mão de obra por exemplo Os salários reais dos norteamericanos caíram mais de 10 entre 1978 e 1982 e continuaram em queda mesmo quando a economia retomou o crescimento Os salários reais dos trabalhadores norteamericanos não voltaram a subir por dez anos em 1993 estavam 15 abaixo dos níveis de 19788 As altas taxas de juros se alastraram rapidamente pelo rest ante dos países capitalistas avançados Os outros governos não podiam ignorálas pois os juros norte americanos atraíam capit al do mundo inteiro Os investidores não comprariam títulos alemães a 7 enquanto os títulos do governo norteamericano estivessem a 15 Os governos entretanto tinham outras opções Podiam manter os juros baixos permitir que o dinheiro fluísse para fora de suas economias e evitar a recessão Isso forçaria a desvalorização da moeda nacional quando os investidores se liv rassem dela e também implicaria a continuidade da inflação Tal curso contudo colocaria os governos em desacordo com ban queiros e investidores que abominavam tanto a desvalorização quanto a inflação Altas taxas de juros e política de inflação baixa em geral es tavam ligadas a uma orientação política de direita Na Grã Bretanha o novo governo conservador de Margaret Thatcher que assumiu poucos meses antes de Volcker adotou a nova linha Um ano e meio depois da indicação de Volcker por Carter em meio à recessão causada pelo Fed Ronald Reagan foi eleito e promoveu uma mudança no gabinete propondo uma agenda conservadora 552832 semelhante à de Thatcher Em 1982 os democratascristãos da Alemanha chegaram ao poder derrotando os sociaisdemocratas pela primeira vez em quase 15 anos As novas realidades macroeconômicas se impuseram mesmo onde não havia corrente ideológica clara França e Espanha elegeram seus primeiros governos socialistas em quase 50 anos e a Itália pela primeira vez teve um primeiroministro socialista Contudo os governos de esquerda e centroesquerda enfrentaram duras escolhas suas metas sociais estavam em crescente desa cordo com a austeridade global e com sua participação no Sistema Monetário Europeu SME que atrelava as moedas ao marco alemão Ao mesmo tempo em que os alemães e seus companheir os membros do SME Benelux e Dinamarca imitavam os norte americanos e elevavam as taxas de juros França e Itália precis avam decidir se ficariam com seus parceiros da União Europeia ou se seguiriam sozinhas Empresários e outros interessados nos mercados europeus e internacionais pressionavam os governos para que seguissem o exemplo alemão enquanto os comunistas e a ala socialista de esquerda incluindo a maior parte dos movi mentos trabalhistas se opunham a essa tendência Em 1983 de pois de dois anos de conflito o governo socialista francês optou pelo SME e pela austeridade e em 1985 os italianos o seguiram Um país após o outro se alinhou aos Estados Unidos fazendo vig orar o que o chanceler alemão Helmut Schmidt chamou dura mente de as taxas de juros reais mais altas desde o nascimento de Cristo9 O crescimento desacelerou e o desemprego subiu em toda parte As nações endividadas do mundo em desenvolvimento con tinuavam precisando tomar empréstimos de bilhões Mas a elev ação das taxas de juros iniciada por Volcker impulsionou em dois anos a taxa básica de empréstimo de 10 para 20 às quais as dívidas comerciais dos países em desenvolvimento estavam atre ladas Entre 1974 e 1980 as taxas de juros reais das dívidas dos 553832 países menos desenvolvidos mal acompanhavam a inflação As mesmas no entanto dispararam chegando a 6 em 1981 e a 8 em 1982 quando se estabilizaram Como a dívida existente era in dexada aos juros norteamericanos cada aumento de 1 nas taxas dos Estados Unidos custava aos devedores do Terceiro Mundo US4 bilhões ou US5 bilhões ao ano em pagamentos adi cionais de juros Dois outros choques fizeram parte do impacto causado pela política norteamericana no Terceiro Mundo a subida dos preços do petróleo em 1979 e 1980 aumentou os custos de importação para todos os países menos desenvolvidos que não produziam a commodity enquanto a recessão no Ocidente re duziu a demanda pelas exportações dos produtos desses países Esses três fatores aumento nas taxas de juros alta dos preços do petróleo e recessão na OCDE aumentaram a demanda por capit al estrangeiro mesmo que sua disponibilidade estivesse cada vez menor Os devedores estavam ávidos por novos financiamentos para quitar as contas do petróleo e pagar os juros sobre os em préstimos anteriores Na última metade de 1981 a América Latina chegou a pegar empréstimos da ordem de US1 bilhão por sem ana principalmente para pagar as dívidas já existentes No verão de 1982 o carrossel parou O México anunciou que estava sem dinheiro e em semanas os empréstimos privados para os países em desenvolvimento secaram O fluxo de recursos se deslocou abruptamente do sul para o norte Em 1981 na América Latina entraram US20 bilhões a mais do que o valor que saiu em 1983 como os empréstimos haviam acabado e os governos tiveram dificuldade em pagar suas dívidas um volume líquido de US20 bilhões se movimentou para fora desses merca dos A última onda de empréstimos a países em desenvolvimento parou subitamente com o abalo Isso indicava uma crise da dívida nas proporções daquela dos anos 193010 Como as que a precederam na década de 1930 e ao longo do século XIX a crise da dívida da década de 1980 se 554832 autoalimentava Como numa crise de pânico bancário quando quem emprestava temia não receber mais dos governos dos países pobres os empréstimos cessaram deixando esses países sem pro teção financeira alguma Em desespero os governos dos países em desenvolvimento pararam de pagar seus credores e dessa maneira assustaram ainda mais os banqueiros internacionais Quanto mais os países ficavam sem dinheiro menos os banqueir os emprestavam e quanto menos emprestavam mais os países ficavam sem dinheiro Em semanas algumas das economias que cresciam mais rapidamente tiveram seus empréstimos cortados pelos bancos com os quais contavam há dez ou quinze anos Um depois do outro os principais governos devedores lutavam para gerar moeda estrangeira e as receitas governamen tais necessárias para pagar seus credores até que finalmente suas economias entraram em colapso Até 1983 34 países socialistas ou em desenvolvimento estavam renegociando formalmente suas dívidas e mais alguns passavam por problemas sérios A América Latina estava gastando aproximadamente metade dos seus gan hos em exportações para pagar os juros e o capital de suas dívidas no exterior sobrando pouco para comprar os produtos importa dos que precisava Os credores se organizaram para proteger seus interesses criando um formatopadrão para a renegociação da dívida O devedor devia procurar o Fundo Monetário Internacion al para esboçar um programa de estabilização macroeconômica e ajustes econômicos O FMI e o devedor acordariam metas de in flação gastos governamentais déficits orçamentários e outros Se o FMI estivesse convencido de que o governo modificaria as polít icas ele emprestaria um pequeno volume de recursos em prestações que poderiam ser interrompidas se o governo falhasse com suas obrigações Os banqueiros privados internacionais con sideravam o acordo com o FMI um selo de aprovação e exigiam que os devedores buscassem o Fundo antes de renegociar suas dívidas 555832 A maioria das economias dos países devedores permaneceu enfraquecida por anos Para a América Latina 1980 foi a década perdida a renda por pessoa caiu cerca de 10 os salários reais pelo menos 30 e os investimentos caíram ainda mais enquanto a inflação ultrapassava os 1000 em muitos países11 Essa década perdida testemunhou dois acontecimentos sur preendentes O primeiro foi a onda de democratização Em 1980 havia dois governos civis eleitos na América do Sul até 1990 não havia restado nenhum ditador A crise levou a uma gestão mais democrática em dezenas de outros países fora da América Latina da Coreia do Sul à Tailândia das Filipinas à Zâmbia Até certo ponto isso era um reflexo da tendência em eliminar qualquer governo que estivesse no poder durante a crise A democratização também pode ter resultado da reação do povo dos empresários e da classe média ao mau uso dos recursos emprestados pelos re gimes autoritários isolados e da esperança de que governos rep resentativos evitassem esses erros mais crassos O segundo resultado da crise foi o abandono do processo de industrialização por substituição de importações por parte dos países mais endividados Os empréstimos estrangeiros haviam ajudado a manter a ISI em funcionamento ao financiar bens de capital importados matériasprimas subsídios e investimentos públicos necessários para sustentar o desenvolvimento industrial doméstico Quando os empréstimos cessaram os governos não podiam mais rolar seus déficits orçamentários tendo que inter romper assim os custosos subsídios aos industriais Os países que não podiam tomar emprestado para cobrir seus déficits comerci ais e tinham que gerar mais moeda estrangeira para o serviço da dívida não tiveram outra escolha a não ser aumentar as ex portações De cinco a dez anos a partir de 1982 os países em desenvolvimento um após o outro liberalizaram o comércio des regulamentaram as atividades bancárias privatizaram empresas 556832 públicas elevaram os impostos cortaram gastos e integraram suas economias aos mercados mundiais Depois da mudança para a austeridade antiinflacionária na OCDE e do desvio da substituição de importações nos países em desenvolvimento veio a maior mudança de todas o colapso do comunismo As condições na China na Europa central e do leste e na União Soviética eram péssimas mas já estavam assim há muito tempo Os problemas econômicos do fim da década de 1970 e início da de 1980 entretanto levaram a um terremoto so cioeconômico no rastro do qual esses países se despediram da planificação econômica em nome dos mercados internacionais As primeiras mudanças ocorreram na China e no Vietnã que viviam em uma realidade econômica inteiramente diferente do resto do bloco socialista Os dois estavam entre os países mais pobres do mundo e contavam com minúsculos setores industriais perdidos em um mar de camponeses cujo padrão de vida pouco mudara ao longo do século Até o fim da década de 1970 ambos enfrentaram sérios problemas econômicos e em 1979 se lançaram em reformas voltadas para o mercado de maneira quase simultânea O primeiro passo nos dois casos foi uma reforma radical na agricultura por meio de uma retomada efetiva da pro priedade familiar Cerca de 80 da economia desses países era rural Assim re formas simples na agricultura trouxeram de uma só vez o capit alismo e os mercados à maioria da população Em menos de cinco anos bilhões de fazendeiros chineses estavam completamente en gajados na agricultura capitalista e a renda real da família cam ponesa média havia dobrado As reformas rurais viraram um trampolim para o lançamento de empreendimentos privados e semiprivados que viriam a seguir Vilarejos agrícolas pro priedades privadas coletividades rurais e urbanas além de outros grupos fora do controle central do Estado estabeleceram empreendimentos não agrícolas que como as fazendas 557832 funcionavam com base em princípios de mercado Menos de dez anos depois das medidas originais para a agricultura um milhão e meio desses empreendimentos operavam nas cidades e nos vilare jos com 50 milhões de empregados Entre a agricultura privada a coletiva os negócios locais e o número crescente de empresas es trangeiras quase toda a economia havia deixado o setor público Mesmo na indústria último reduto dos negócios estatais o gov erno central não respondia mais nem pela metade da produção12 O governo chinês não atacou os pilares remanescentes do sistema planificado em vez disso os superou com o sucesso de projetos de base mercadológica As empresas controladas pelo Estado pas saram por reestruturações graduais à medida que os gerentes mais retrógrados acordavam para as oportunidades apresentadas pela economia de mercado da China Pequim impulsionou vigorosamente a economia para os mer cados globais Instituiu áreas econômicas especialmente orienta das para a exportação nas regiões costeiras facilitando o caminho dos investimentos estrangeiros e se endividou pesadamente junto aos mercados internacionais Em menos de uma década entre 1978 e 1988 as exportações chinesas passaram de menos de US10 bilhões para quase US50 bilhões e sua dívida externa de menos de US1 bilhão para US42 bilhões A China com seu capitalismo recémimplantado e efetivo tornouse um dos países mais atuantes da economia mundial Os resultados da economia doméstica não eram nada menos que surpreendentes Em 20 anos entre 1958 e 1978 o produto por pessoa havia crescido mais de 30 Nos dez anos subsequentes enquanto o país se voltava para os mercados doméstico e internacional o produto por pessoa dobrava Havia problemas o aumento da distância entre ricos e pobres e entre as regiões mais prósperas e as mais atrasadas e o aumento da resistência à influência estrangeira e à ascensão de uma oligarquia póscomunista Entretanto era difícil criticar um aumento de cinco ou seis vezes na taxa de crescimento de um país 558832 cujo maior problema há muito tempo era a estagnação econômica Enquanto a China se expandia de forma acelerada a União Soviética estagnava O produto por pessoa soviético cresceu 75 entre 1958 e 1978 o dobro da expansão alcançada pela China mas nos dez anos seguintes enquanto a economia chinesa dobrou de tamanho a soviética cresceu apenas 7 Esse fato não podia ser ignorado por Moscou não apenas pelas razões econômicas ób vias mas também porque a China era um dos seus maiores ad versários militares O sucesso econômico da China e as relações cada vez mais próximas da rival oriental com o mundo capitalista do Ocidente forçaram os soviéticos a repensar sua estratégia A URSS começou a mudar depois da morte de Brezhnev em 1982 Após a morte de dois governantes interinos Mikhail Gorbatchev assumiu o poder em 1985 Quase imediatamente ele anunciou a necessidade urgente de abertura política glasnost e de reestruturação econômica perestroika Gorbatchev traçou seu caminho pelos resistentes interesses consolidados ao longo de décadas e pôs em vigor até as medidas mais radicais de reforma econômica sustentando seu objetivo de modernizar o socialismo em vez de retornar ao capitalismo Ele também tentou aliviar as tensões com o Ocidente deixando claro que não iria mais intervir nos assuntos domésticos de seus aliados na Europa oriental Os comunistas que controlavam a Polônia depois a Hungria e o resto do Comecon deixaram o poder tranquilamente e sem violência em todos os casos exceto na Romênia Em 1989 o Muro de Ber lim foi aberto logo depois destruído e em 1990 as duas Aleman has foram reunificadas Em 1991 enquanto Gorbatchev lutava para administrar o que agora seria uma transição clara para o estilo ocidental de eco nomia e democracia a URSS entrou em colapso O regime comunista a política autoritária a planificação econômica e a Guerra Fria haviam chegado ao fim muito mais rápida e 559832 pacificamente do que qualquer um poderia ter previsto Em meio à desordem socioeconômica ainda faltava desmontar os sistemas político e econômico e construir uma nova ordem capitalista En tretanto a transformação do mundo comunista estava completa da mesma forma como ocorrera anteriormente no mundo capit alista avançado e nos países em desenvolvimento A crise da década de 1970 guiou as economias de toda parte na direção dos mercados domésticos e internacionais quanto maior a transformação mais tarde ela tinha início Entre 1979 e 1985 os países industriais avançados deixaram a conflituosa e tumultuada década de 1970 rumo à ortodoxia financeira e à integração econ ômica Começando em 1985 aproximadamente os países em desenvolvimento deixaram para trás 50 anos de substituição de importações e de forma agressiva se puseram no caminho das exportações da abertura dos mercados das privatizações e da desregulamentação As economias socialistas com a exceção de China e Vietnã vieram por último depois de 1990 mas desi stiram da planificação econômica e adotaram orientações capit alistas a uma velocidade que variava de rápida a perigosa Globalismo Aqueles que representavam a integração dos mercados nacionais globais e o mercado de forma geral triunfaram Mas o controle da inflação e a alta das taxas de retorno dos investimentos indicavam um ponto de inflexão e não o fim da linha Na OCDE mal se havia vencido a inflação quando a onda de gastos começou a crescer de forma tão rápida que fazia a onda de déficits da década de 1970 parecer uma marola O governo Reagan nos Estados Unidos seguia na liderança com a maior dívida pública em tempos de paz da história do país Reagan reduziu impostos e diminuiu imedi atamente a taxa marginalb máxima de 70 para 50 e para 38 560832 poucos anos depois Reagan também deu velocidade à expansão dos gastos militares iniciada no governo Carter Cortes drásticos nos impostos aumentos nos gastos militares e taxas de juros mais altas tornaram os déficits inevitáveis O orçamento federal ap resentou superávits de 1978 a 1981 sofreu ajustes para absorver o impacto dos ciclos econômicos e da inflação mas ao longo dos dois mandatos de Reagan e no único de seu sucessor George H W Bush este orçamento entrou numa crise deficitária em que os valores médios se aproximavam dos US200 bilhões ao ano mais de 3 do PIB Os presidentes Reagan e Bush aumentaram a dívida do gov erno federal de menos de US1 trilhão para mais de US4 trilhões em 12 anos Eles mais que dobraram a dívida federal por pessoa um índice que vinha diminuindo ao longo de todo o período pós guerra Eles também dobraram a dívida federal como percentual do PIB de 33 em 1981 para 66 em 199313 O que mais con tribuiu para isso foram os cortes de impostos que mesmo depois de revertidos seguidamente deixaram o governo federal com cerca de US100 bilhões a menos a cada ano em relação ao cenário an terior A experiência foi extraordinária tanto por seu significado econômico quanto pela incongruência das administrações conser vadoras que pregavam simultaneamente as virtudes dos gov ernos pequenos e a rolagem de déficits enormes e asfixiantes Os déficits da era ReaganBush tiveram raízes políticas claras As reduções de impostos eram imensamente populares entre os eleitores ricos e de classe média alta cuja lealdade era disputada ferrenhamente por democratas e republicanos O aumento dos gastos militares também era popular tanto entre os membros das instituições políticas que mais enfatizavam a segurança quanto entre as partes do país e da economia que dependiam fortemente dos gastos com defesa Alguns membros do governo acreditavam que os cortes de impostos se pagariam na forma de uma taxa alta de crescimento o que não aconteceu Alguns conservadores 561832 partidários de Reagan consideravam seus déficits uma maneira de limitar os programas governamentais que desaprovavam Se os próximos governos estivessem sobrecarregados com dívidas eles não conseguiriam expandir os gastos Paul Volcker observava o processo com desânimo e mais tarde ponderou Os sonhadores reaganistas mais ferrenhos afirmavam que a redução de impostos produziria uma espécie de elixir mágico para a eco nomia que faria os déficits sumirem ou pelo menos perderem im portância Mas alguns de seus argumentos me fizeram perguntar por que afinal devemos então arrecadar qualquer tipo de imposto Os conselheiros mais realistas tudo é relativo pareciam pensar que o risco de um déficit crescente era um preço razoável a ser pago pela aprovação de seu programa radical qualquer dano poderia ser re parado mais tarde com a ajuda de uma teoria recente segundo a qual o caminho para manter os gastos baixos não seria afirmar que os im postos eram adequados para pagar por isso e sim assustar o Con gresso e o povo norteamericano com déficits14 David Stockman diretor do Gabinete de Gestão e Orçamento do governo Reagan alarmado com a atenção cada vez menor dada a ambos os elementos que compunham seu departamento comentou a experiência de forma dura alguns anos depois O que tínhamos era US15 trilhão em déficits acumulados uma de terioração radical da nossa saúde financeira interna e externa e um sistema político que se tornou enfraquecido prejudicado esgotado e ensanguentado pela repetição dessa situação ano após ano que agora funciona como um parlamento de uma república de bananas15 Os déficits de Reagan fizeram parte de uma expansão inter nacional de déficits orçamentários No fim de 1980 o crescimento na América do Norte na Europa e no Japão havia se restabele cido a inflação estava baixa e continuava a cair Porém os déficits 562832 orçamentários continuavam muito altos representavam tipica mente 3 ou 4 do PIB nos países maiores 5 no Canadá na Holanda e na Espanha 9 na Irlanda e 11 na Grécia e na Itália Os governos eram especialmente atraídos pelo gasto deficitário por duas razões A primeira seria um elemento básico de política macroeconômica as políticas fiscal e monetária podem substituir uma à outra Um governo podia tentar estimular a economia lib erando recursos ou rolando déficits ou ambos Em meados da década de 1980 os governos da OCDE pararam de tentar influen ciar suas economias com políticas monetárias inflacionárias En tretanto continuaram a usar políticas fiscais cobrança de impos tos empréstimos e gastos O declínio da política monetária ativa veio acompanhado de uma maior utilização da política fiscal Isso ficou claro em especial nos países da União Europeia que atre laram suas moedas ao marco e cederam suas políticas monetárias ao Banco Central alemão Os governos irlandês holandês e itali ano não podiam alterar suas próprias taxas de juros mas podiam pegar milhões em empréstimos para manter suas economias em funcionamento A experiência norteamericana foi semelhante a política monetária enfatizava a baixa inflação mas a política fiscal ainda estava disponível para os governos que quisessem angariar apoio político O crescimento dos mercados financeiros mundiais facilitou os gastos mediante déficits outro fator que contribuiu para os défi cits das décadas de 1980 e 1990 Em 1973 o capital disponível nos mercados internacionais offshore era de US160 bilhões sendo que uns US35 bilhões eram emprestados todo ano Na época esses números eram impressionantes pois durante quase meio século não haviam sido concedidos empréstimos internacionais Porém no início da década de 1980 os mercados de capital inter nacionais estavam cerca de dez vezes maiores com US15 tril hão e os empréstimos giravam em torno de US300 bilhões anu almente O sistema financeiro global continuava a crescer e no 563832 início da década de 1990 movimentava mais de US5 trilhões e emprestava mais de US1 trilhão por ano Os governos da OCDE podiam financiar seus gastos deficitári os de forma muito fácil a partir desse enorme pool de capital An teriormente nas economias fechadas os déficits precisavam ser sanados com empréstimos internos e o que era emprestado aos governos se tornava indisponível para o setor privado Os emprés timos governamentais elevavam as taxas de juros aumentavam o custo do capital para os negócios e assustavam os investimentos privados Um governo como o da Irlanda cujas necessidades de empréstimos muitas vezes ultrapassavam 15 do PIB não poder ia obter esses recursos apenas no mercado interno Agora os gov ernos podiam sacar de um grande pool de capitais estrangeiros e os gastos deficitários não pesavam sobre investimentos privados ou financiamentos domésticos Com o dinheiro disponível pronta mente não havia necessidade de taxas de juros mais altas O país podia comer sua fatia do bolo e ao mesmo tempo guardála por meio de empréstimos estrangeiros que cobriam seus déficits Em meados da década de 1980 havia um fluxo de entrada nos Esta dos Unidos de US100 bilhões ao ano em sua maioria na forma de empréstimos ao governo norteamericano Durante o ano de 1988 pela primeira vez desde a Primeira Guerra Mundial os Estados Unidos se tornaram devedores líquidos do resto do mundo A economia norteamericana dependia dos gastos defi citários que por sua vez estavam sujeitos aos recursos internacionais No fim das contas a dívida teria de ser paga Entretanto para um político isso ainda levaria muito tempo certamente mais tempo que a próxima eleição Apesar disso enquanto os déficits cresciam aumentava a preocupação em especial da comunidade financeira de que os empréstimos do governo estivessem vir ando hábito Os investidores começaram a reclamar alegando que os déficits contínuos eram insustentáveis e advertindo os 564832 governos de que estes precisavam pôr ordem na casa Os gov ernos que tinham gasto um grande capital político para recuperar a confiança dos investidores durante a luta contra a inflação en frentavam agora novos protestos em relação aos déficits A dependência dos Estados Unidos em relação aos recursos estrangeiros produziu algumas consequências domésticas negat ivas O dinheiro que entrava no país vindo do exterior aumentou a demanda pela moeda norteamericana Estrangeiros emprestavam ao governo norteamericano por meio da compra de títulos do Tesouro o que significava comprar dólares Isso fez com que o valor do dólar aumentasse 50 em apenas cinco anos O dólar forte de 1981 a 1986 permitiu que os norteamericanos comprassem mercadorias estrangeiras baratas mas arruinou in dustriais e produtores agrícolas do país que passaram a enfrentar a concorrência de bens importados bem mais baratos Em 1980 a indústria norteamericana exportava 26 do que produzia en quanto 20 dos bens manufaturados consumidos eram importa dos um superávit comercial correspondente a 6 do PIB Cinco anos depois as exportações de manufaturados norteamericanos caíram para 18 da produção e as importações chegaram a 32 do consumo um déficit de 14 do PIB Em cinco anos a parti cipação das importações no consumo de uma ampla variedade de produtos duplicou como foi o caso de calçados máquinas ferra mentas roupas computadores aparelhos domésticos e móveis Enquanto o emprego em geral cresceu 10 o número de postos de trabalho na indústria caiu 5 Os pedidos formais por proteção comercial dobraram à medida que industriais e fazendeiros norteamericanos reclamavam que não podiam mais competir com um dólar tão alto16 Os governos estrangeiros manifestaram seu medo de que a alta do dólar desestabilizasse os mercados fin anceiros Os efeitos do dólar forte ajudaram a convencer o gov erno dos EUA de que era necessário cooperar com outras forças 565832 econômicas para baixar o dólar e de que era desejável atacar os déficits orçamentários norteamericanos Os países desenvolvidos começaram a reduzir seus déficits no início da década de 1990 aumentando impostos e cortando gas tos Em muitos casos o aperto fiscal parecia e às vezes era um ataque ao Estado do bemestar social dos sociaisdemocratas Os governos cortaram alguns programas sociais mas o efeito final era estabilizar e não diminuir a participação do governo No fim da década de 1990 um governo típico de um país industrial ainda gastava mais de 40 do PIB mas os déficits orçamentários tin ham sido reduzidos a uma fração dos níveis anteriores e muitos países incluindo os Estados Unidos administravam superávits substanciais em seus orçamentos Houve três fases macroeconômicas distintas nos 30 anos de pois do fim de Bretton Woods A década de 1970 contou com in flações altas e crescentes Na década de 1980 os países desen volvidos derrotaram a inflação mas contraíram enormes déficits orçamentários Durante a década de 1990 os governos reduziram ou zeraram seus déficits Antes do fim do século a maior parte dos países desenvolvidos tinha inflação baixa déficits orça mentários pequenos quando estes existiam setores públicos consideráveis e uma ampla rede de programas sociais Regionalismo e globalismo Enquanto revisavam suas políticas macroeconômicas os países desenvolvidos também intensificavam a integração à economia mundial No início houve uma renovação da integração regional Nas décadas de 1980 e 1990 a União Europeia UE incorporou novos membros do sul e do norte Grécia Espanha Portugal Áustria Suécia e Finlândia o que aprofundou a integração econ ômica no Velho Continente No começo da década de 1980 com a 566832 Europa atolada no pessimismo e na paralisia os membros da UE começaram a planejar uma fusão radical de seus mercados Governos e grandes empresários concordavam que um mercado europeu completamente integrado era necessário para ajudar a rejuvenescer a economia europeia Esse consenso transpunha ideologias e era liderado pelo governo de centrodireita da Ale manha pelo governo socialista da França e pelo regime conser vador da GrãBretanha Os setores econômicos que dispunham de tecnologia organização ágil e vislumbravam a economia mundial esperavam pela retomada da integração regional Os membros da UE aprovaram então o Ato Único Europeu em 1986 e no mesmo ano começaram a botálo em prática gradual mente até 1992 Os planos para um mercado único evoluíram de forma mais rápida do que o previsto Com poderosos interesses econômicos por trás do processo todos os tipos de barreiras caíram A união eliminou ou harmonizou a regulamentação de in vestimentos migração padrões de produtos e processos de fab ricação licenciamento profissional e muitas outras atividades econômicas Antes de 1993 a UE era em alguns aspectos uma unidade mais integrada que os estados norteamericanos ou as províncias canadenses já que os membros da UE abriram mão de muitos dos poderes que as unidades federativas norte americ anas continuavam a possuir O momentum econômico e político criado pela formação de um mercado único impulsionou os membros da UE em direção a uma proposta ainda mais ambiciosa a unificação das moedas Em 1991 os membros da UE adotaram o novo Tratado da União Europeia em geral conhecido como Tratado de Maastricht devido à pequena cidade holandesa onde foi assinado O docu mento exigia mais cooperação em várias dimensões entre elas uma política externa liberal e um aumento do peso político do Parlamento Europeu organismo eleito como poder Legislativo da UE A peça central do Tratado de Maastricht contudo era a 567832 união monetária Em 1999 o novo Banco Central europeu in troduziu uma moeda comum o euro Três países permaneceram fora da zona do euro Reino Unido Suécia e Dinamarca Apesar disso a União Europeia tinha então todas as indicações de um país mercado único moeda e Banco Central unificados política comercial comum e regulamentação econômica compartilhada em temaschaves como regulação antitruste e de meio ambiente Para todos os propósitos econômicos a Europa ocidental era uma unidade econômica na verdade segundo várias estatísticas a maior unidade econômica mundial maior que os Estados Unidos e mais de duas vezes o tamanho do Japão Além disso ao redor de suas fronteiras havia mais de uma dúzia de países em vários está gios de acesso da Estônia a Malta da República Tcheca à Turquia As empresas norteamericanas também viam a integração re gional como forma de melhorar seu posicionamento competitivo Primeiramente os Estados Unidos criaram a Iniciativa da Bacia do Caribe que concedeu aos países da região e seu entorno acesso privilegiado ao mercado norteamericano O próximo passo foi dado em direção ao norte Estados Unidos e Canadá já possuíam uma sólida relação de comércio e investimentos e em 1987 assin aram um tratado de livrecomércio que os colocou no caminho para um mercado único ao estilo europeu ainda que sem as mes mas implicações de políticas interna e externa Cinco anos mais tarde o México se uniu a eles e em 1994 o Tratado NorteAmericano de LivreComércio o Nafta da sigla em inglês para North American Free Trade Agreement foi efetivado Durante os dez anos seguintes o Nafta removeu prat icamente todas as barreiras à movimentação de bens capitais e serviços entre os três países O resultado foi a criação progressiva de um mercado único norteamericano embora a imigração tivesse sido excluída dessa liberalização O Nafta foi pioneiro em unir países desenvolvidos e em desenvolvimento em uma área de 568832 livrecomércio Muitos países da América Latina desejavam se fili ar ao Nafta e alguns chegaram a adotar o dólar em substituição às suas moedas Havia perspectivas sérias de extensão do Nafta a países no interior e no entorno da Bacia do Caribe e em outras partes da América Latina Ao mesmo tempo na América do Sul se formava o terceiro maior bloco comercial do mundo Entre 1985 e 1990 Brasil e Ar gentina negociaram uma área de comércio que por fim passou a incluir Uruguai e Paraguai como membros plenos e Chile e Bolívia como associadosc O Mercado Comum do Sul Mercosul foi posto em prática até o ano de 1994 Os quatro membros e os dois associados reúnem 250 milhões de pessoas com um produto combinado de quase US2 trilhões quarta força comercial do mundo depois de UE Nafta e Japão Como na UE e no Nafta os governos e empresários de Brasil e Argentina estavam ansiosos para interligar seus mercados e assim ter uma base de partida para a competição nos mercados mundiais Por meio da combin ação de forças os membros do Mercosul também esperavam at rair mais investimentos estrangeiros visto que as companhias globais estavam mais interessadas nos extensos mercados com binados do que em qualquer um de seus membros isoladamente Como no mundo desenvolvido o Mercosul marcou a vitória defin itiva daqueles interesses econômicos que viam o seu futuro na ex portações nos empréstimos estrangeiros ou em parcerias com empresas estrangeiras Com a integração regional funcionando como uma sala de es pera para uma liberalização mais ampla as longas negociações da Rodada do Uruguai foram concluídas em 1994 Os acordos mais recentes estenderam a liberalização do comércio para novas questões e atraíram futuros membros entre as nações em desen volvimento e as excomunistas A Rodada do Uruguai também criou uma nova instituição a Organização Mundial do Comércio que substituiu o Gatt A OMC diferentemente do Gatt é um 569832 organismo permanente dotado de poderes próprios dedicado principalmente à mediação de disputas e sua criação consolidou o sistema de livrecomércio Crises financeiras globais e nacionais À medida que o comércio era liberalizado os governos dos países desenvolvidos removeram as últimas barreiras à livre circulação de dinheiro e capital Além disso muitos países em desenvolvi mento também reduziram os controles sobre os investimentos alémfronteiras No fim da década de 1990 as atividades fin anceiras internacionais estavam tão interconectadas com os mer cados domésticos que para todos os objetivos e propósitos havia um sistema financeiro global que incluía todos os países desen volvidos muitas nações em desenvolvimento e excomunistas Pensionistas e pequenos investidores passaram a incluir de forma rotineira ações de empresas estrangeiras e fundos de títulos de dívida em suas carteiras de investimentos até mesmo quando esses títulos eram de países como Chile República Tcheca ou Cor eia A maioria dos países também liberalizou as atividades bancárias internas levando a uma onda de fusões das principais instituições financeiras mundiais De fato os internacionalistas passaram a dominar a economia internacional à medida que os países em desenvolvimento e ex comunistas agora participavam plenamente do mercado mundial As nações em desenvolvimento e em transição se integraram ao ambiente econômico internacional e reduziram a participação governamental em seus mercados internos Apesar das di ficuldades enfrentadas com a estabilização macroeconômica os ajustes as reformas econômicas a liberalização do comércio e a privatização a maior parte dos governos continuou nesse cam inho As administrações públicas em toda a Europa central e do 570832 leste América Latina África e Ásia reduziram as barreiras comer ciais acolheram os investimentos estrangeiros implantaram me didas austeras para baixar inflação e reduzir déficits orçamentári os e privatizaram empresas estatais Em meados da década de 1990 um grupo de nações com ger ação de receitas intermediárias países como México Brasil Hungria Lituânia Coreia e Tailândia havia convergido na busca da internacionalização de suas economias e mercados Quase to das também estavam sob regimes democráticos civis A retomada dos empréstimos por parte dos países em transição e em desen volvimento determinou o sucesso dessas nações os países alta mente endividados trabalharam uma década para superar a crise que começou em 1982 e agora recuperavam o acesso aos emprés timos estrangeiros O mundo dos financiamentos livres da década de 1990 se dis tanciava tremendamente daquele de 1970 quando alguns poucos países menos desenvolvidos em melhor situação e algumas eco nomias planificadas negociavam grandes empréstimos com um pequeno grupo de bancos internacionais gigantescos Os novos governos e corporações das economias de transição e em desen volvimento mergulharam diretamente no turbilhão do sistema financeiro internacional Fundos mútuos trustes de investimen tos e bancos dos países ricos colocaram pequenos investidores aposentados e fundos de pensão de sindicatos qualquer um mesmo com economias modestas em contato direto com ações e títulos da dívida de Bancoc a Budapeste e Buenos Aires de Seul a São Petersburgo e São Paulo Uma legião de países da América Latina e do leste Asiático promovidos de pobres a menos desen volvidos depois a países em desenvolvimento e recentemente in dustrializados eram agora simples mercados emergentes com o mesmo apelo que teria um novo produto O mesmo se podia dizer das antigas economias planificadas que passaram a economias de transição e depois novamente a emergentes 571832 Agora era comum para os investidores internacionais incluír em grupos de países da América Latina do Leste Asiático e da Europa central e do leste em suas carteiras de investimentos pois esses países tinham conquistado algo próximo da associação plena à ordem econômica global Agora os fundos mútuos e de pensão podiam considerar México Hungria e Coreia em suas carteiras de investimentos tão rotineiramente quanto por exem plo a Siemens e a Unilever O livrecomércio e a OMC a integ ração financeira e a ascensão dos mercados emergentes refletiam a consolidação de uma nova realidade econômica a aceitação ger al dos mercados globais de bens e capitais ou globalização no jargão comum Apesar disso algumas vezes o movimento de livrecomércio recursos e finanças pendia para crises econômicas de tamanho e velocidade assustadores Os países e empresas firmemente lig ados aos mercados mundiais eram mais suscetíveis às forças fin anceiras internacionais Afinal governos e empresas estavam sujeitos a padrões globais mais rigorosos que os de costume Com centenas de bilhões de dólares circulando ao redor do globo em minutos as avaliações dos investidores sobre a credibilidade de países ou de corporações se tornaram essenciais Governos e ad ministradores tinham de se preocupar muito mais do que antes com a maneira pela qual seus atos seriam interpretados pelos in vestidores domésticos e internacionais que poderiam ficar agit ados e inconstantes A competição internacional enfraqueceu alguns dos principais sistemas bancários As crises que afetaram a poupança e os crédi tos dos Estados Unidos foram exemplos claros Pequenas institu ições financeiras faziam empréstimos de alto risco na concorrên cia feroz com contrapartes internacionais muito maiores en quanto reguladores e políticos postergavam qualquer medida mais severa contra os banqueiros tão influentes politicamente Por fim o setor de poupança e crédito se desintegrou exigindo 572832 um aporte de pelo menos US200 bilhões em dinheiro do con tribuinte Países da Escandinávia e o Japão entre outros so freram o impacto de crises semelhantes em seus sistemas fin anceiros antes protegidos A crise de dívida que envolveu os países em desenvolvimento no início da década de 1980 acabou somente como um sinal de quão rápida e completamente os mercados financeiros modernos podiam passar da euforia ao colapso O epicentro da nova rodada de crises que começou com um ataque ao mercado cambial dur ante a unificação monetária da Europa foram as taxas de câmbio Desde 1985 aproximadamente a maioria dos membros da União Europeia vinha mantendo seu câmbio fixo contra o marco alemão Novos membros da UE como Espanha e Portugal membros observadores como Suécia Noruega e Finlândia e europeus relutantes como o Reino Unido tinham todos se unido ao bloco liderado pelo marco e caminharam em direção a uma moeda única depois do Tratado de Maastricht Contudo quanto mais nações europeias se uniam à União Econômica e Monetária UEM e ao grupo de moeda comum mais a aparente estabilidade do acordo monetário estava ameaçada Com a Alemanha unificada as autoridades monetárias alemãs passaram a temer que os pesados gastos estatais da parte oriental pudessem levar o país à inflação e então aumentaram as taxas de juros de forma rápida e abrupta Isso forçou outros países europeus cuja moeda estava atrelada ao marco alemão a aumentarem suas taxas de juros também medida que os lançou numa recessão gerada na Alemanha A política alemã impunha uma escolha difícil aos governos europeus continuarem membros do bloco do marco alemão ou evitarem a recessão Os demais países da Europa estavam atolados na recessão e no desemprego de dois dígitos e havia pouco apoio político para mais medidas austeras Para piorar a situação em junho de 1992 os eleitores di namarqueses disseram não ao referendo que ratificava o 573832 Tratado de Maastricht na UEM e as pesquisas de opinião pública indicavam que havia chances de o povo francês fazer o mesmo em setembro Se o Tratado de Maastricht estivesse acabado os gov ernos teriam menos motivos para manter suas moedas fixas di ante do marco alemão No verão de 1992 os operadores das mesas de câmbio começaram a prever que a GrãBretanha e a Itália não mais man teriam suas moedas fixas no marco alemão Investidores venderam seus lotes dessas moedas o que só serviu para aument ar a especulação de que a libra esterlina e a lira seriam desvaloriz adas Os governos britânico e italiano aumentaram os juros mas no fim das contas o custo parecia extremo e ambos desvaloriz aram suas moedas Os operadores estrangeiros atacaram outras moedas nos meses que se seguiram Os governos tentaram segur ar o vínculo com o marco alemão em um determinado ponto o Banco Central sueco levou as taxas de juros a 500 mas o preço foi alto demais17 Por fim Irlanda Espanha Portugal Sué cia Noruega e Finlândia desvalorizaram suas moedas e parecia que o progresso em direção a uma união monetária havia sofrido um revés A crise europeia não durou muito e as economias da região se recuperaram após terem se desvinculado da política monetária alemã Os danos ao processo de unificação monetária foram su perados de forma rápida e efetiva para que continuassem avançando em direção ao euro Entretanto os enormes recursos dos mercados financeiros internacionais foram mobilizados para apoiar as críticas às moedas consideradas inseguras e para forçar os países a desvalorizar e modificar outras políticas Em menos de um ano o problema afetou o México18 Com a implantação do Nafta o governo mexicano queria manter o peso fixo no dólar Além disso na corrida para uma eleição presiden cial altamente polêmica o governo queria manter o peso forte e as receitas elevadas A economia crescia acelerada e captou 574832 investimentos estrangeiros de mais de US30 bilhões em 1993 mas em janeiro de 1994 uma rebelião explodiu no sul do país e em março o candidato do governo líder na corrida presidencial foi assassinado No início do ano eleitoral de 1994 o governo lutava para sustentar seu compromisso em relação ao peso tanto para manter sua reputação quanto pelo fato de que o peso forte aumentava o poder de compra dos consumidores mexicanos Os operadores das mesas de câmbio entretanto não acred itavam que o governo manteria suas promessas Os investidores começaram a ficar cada vez mais agitados e a vitória apertada do partido do governo o Partido Revolucionário Institucional na eleição presidencial de 1994 não tranquilizou ninguém O secretáriogeral do PRI foi assassinado em setembro assustando ainda mais os investidores Quando o novo governo assumiu em dezembro os operadores de câmbio sentiram que poderiam fazer uma aposta única contra o peso caso a moeda fosse desvaloriz ada eles venceriam e se não fosse eles não sairiam perdendo À medida que os especuladores se livravam da moeda o governo gastava bilhões Porém poucos dias antes do Natal deixou o peso flutuar o que o fez despencar prontamente Mais uma vez um país foi obrigado a desvalorizar sua moeda O México diferentemente da Europa foi atingido por uma crise bancária resultante do choque cambial Quando o peso es tava forte muitos bancos e empresas tomavam grandes emprésti mos em dólar mas sua desvalorização desencadeou uma onda de falências quando o custo real das dívidas em dólares disparou O peso despencou no espaço de um mês de 30 centavos aproxima damente para cerca de 15 centavos de dólar assim o encargo real de uma dívida estrangeira de US1 milhão que uma empresa mexicana tivesse contraído por exemplo dobrou de 33 para 66 milhões de pesos Muitas empresas endividadas entraram em crise seguidas pelos banqueiros mexicanos e em semanas o país passava pelo pânico financeiro O México imergiu em uma crise 575832 profunda com queda de 6 da produção e alta da inflação que chegou a mais 50 Uma catástrofe ainda maior só foi evitada quando os países credores liderados pelos EUA juntamente com o FMI e outras instituições financeiras internacionais vieram ao auxílio com dezenas de bilhões de dólares em empréstimos de emergência para arrancar o México do fundo do poço Mesmo abafada a crise do México apelidada de efeito tequila foi sen tida em toda a América Latina que mergulhou numa recessão O ciclo seguinte de crises cambiais e financeiras foi o mais dramático A maior parte dos países do Leste Asiático em espe cial Coreia Tailândia Malásia e Indonésia eram modelos de orto doxia financeira e políticas sociais conservadoras inflação mín ima déficits orçamentários pequenos índices baixos de gastos so ciais e poucos direitos para os trabalhadores Em 1997 as eco nomias da região estavam em grande expansão Seu potencial que parecia inesgotável atraía capitais estrangeiros a dívida ex terna da Tailândia triplicou de cerca de US30 bilhões para US90 bilhões nos três anos antes de 1996 enquanto a da In donésia dobrou de US25 bilhões para US50 bilhões Nos primeiros anos da década de 1990 cerca de US50 bilhões dos mercados financeiros globais entravam todos os anos no Leste Asiático e outras dezenas de bilhões vinham como investimentos diretos de empresas multinacionais A prosperidade trouxe con sigo preços altos que tornaram menos rentáveis as exportações Dessa forma grande parte dos investimentos como é normal em períodos de euforia financeira passou a se concentrar em imóveis comércio e em finanças propriamente ditas Em 1996 e início de 1997 as exportações desaceleraram a inflação subiu e os bancos contraíam cada vez mais dívidas Logo os investidores pre viram as desvalorizações e começaram a vender suas moedas do Leste Asiático Apesar das garantias dos governos do FMI e de outras lider anças financeiras internacionais os investidores continuaram a 576832 sair da Ásia Numa espiral então familiar o fluxo virou uma chuva depois um dilúvio e então um pânico generalizado A ne cessidade de se desfazer das moedas locais se alastrou da Tailân dia e das Filipinas à Indonésia e à Malásia e então a Taiwan e à Coreia A dimensão e eficiência dos mercados internacionais pareciam facilitar os ataques por tornarem extraordinariamente fácil aos investidores especular contras as tentativas governamen tais de defender suas moedas Joseph Stiglitz então economista chefe do Banco Mundial representou bem o processo Considere um especulador que vai a um banco tailandês toma um empréstimo de 24 bilhões de bahts os quais pela taxa de câmbio ori ginal podiam ser convertidos em US1 bilhão Uma semana depois a taxa de câmbio cai em vez de 24 bahts para um dólar há agora 40 bahts Ele pega US600 milhões converte de volta em bahts obtendo 24 bilhões de bahts para pagar o empréstimo Os US400 milhões restantes são o seu lucro um retorno significativo para uma semana de trabalho e um investimento de uma pequena quantidade de seu dinheiro Quando crescem as expectativas de uma desvalorização as chances de fazer dinheiro se tornam irresistíveis e os especu ladores de todo o mundo se amontoam para tirar proveito da situ ação19 Semanas após o choque inicial as moedas de Coreia Filipinas e Malásia tinham caído cerca de 40 a da Tailândia aproxima damente 50 e a da Indonésia por volta de 80 O dinheiro saía dessas economias tão rapidamente quanto tinha entrado o fluxo de entrada anual de US50 bilhões do início da década de 1990 se transformou em um fluxo de saída de mais de US230 bilhões entre 1997 e 1999 Os preços das ações despencaram 80 90 e mais ainda durante o boom do mercado imobiliário no fim de 1997 as ações do setor imobiliário da Tailândia estavam 98 abaixo do valor do pico atingido em 199320 Depois de anos de um crescimento extraordinário 10 ao ano fora comum as 577832 economias de Indonésia Tailândia e Malásia encolheram 15 10 e 8 respectivamente em questão de meses Levaria anos até que recuperassem seus níveis anteriores à crise Finalmente a corrente levou a Rússia e o Brasil a crises semelhantes As lideranças financeiras mundiais viam as crises na América Latina no Leste Asiático na Rússia e na Turquia entre outras da década de 1990 como ameaças à ordem econômica internacional As organizações financeiras internacionais e os governos credores mobilizaram mais de US50 bilhões para o México em 1995 quase US120 bilhões para as três nações asiáticas com prob lemas maiores Indonésia Coreia e Tailândia em 1997 e 1998 e outros US170 bilhões para Rússia e Brasil em 1998 e 1999 Críti cos alegavam que os contribuintes estavam sendo forçados a pagar para livrar investidores tolos e maus governos mas as lider anças insistiam na necessidade de uma resposta rápida para evitar o contágio Com todos esses problemas o fim do século foi semelhante ao seu início dominado por mercados abertos à globalização A eco nomia mundial havia se reintegrado após uma jornada tortuosa de quase cem anos O comércio havia se tornado duas vezes mais importante para as economias nacionais do que era na virada do século Os investimentos estrangeiros eram incomensuravelmente maiores e os mercados nacionais afundavam na imensidão dos fluxos financeiros globais Mercadorias e capital se movi mentavam ao redor do globo mais rapidamente do que em qualquer época anterior e em quantidades muito maiores Era o retorno do capitalismo global do início do século a Termo utilizado pela macroeconomia moderna que une as palavras estagnação e inflação para se referir a um período de elevação na taxa de desemprego e de preços descontrolados NT 578832 b A taxa marginal é aquela paga em cima de uma unidade a mais de rendimento NE c No momento em que este texto está sendo editado discutese a possibilidade de integração da Venezuela como membro efetivo do bloco NE 579832 17 A vitória dos globalizantes Em meados de 1997 a Malásia enfrentou a crise econômica mais séria de sua história e o primeiroministro Mahathir bin Moha mad acusou os financistas internacionais Em 24 de julho Ma hathir os culpou amargamente Qualquer um com alguns bilhões de dólares é capaz de destruir todo o progresso que fizemos O problema era uma comprometimento indevido com a globaliza ção que deixava os mercados de câmbio aptos a atacarem o valor da moeda do país o ringgit Sobre isso o primeiroministro afirmou Eles nos dizem que devemos nos abrir que os negócios e o comércio devem ser totalmente livres Livres para quem Para os especuladores trapaceiros Para os anarquistas que em sua cruzada pelas sociedades abertas querem destruir os países fracos e forçar nossa submissão à ditadura dos manipuladores internacionais1 Os problemas começaram quando a moeda da Tailândia se tornou objeto de pressões especulativas Em 2 de julho depois de várias medidas desesperadas as autoridades tailandesas desval orizaram a moeda Em poucos dias Filipinas Malásia Cingapura e Indonésia se viram diante de ataques às suas moedas e final mente Vietnã Hong Kong Taiwan e Coreia se juntaram à lista das vítimas Em setembro de 1997 quando o Banco Mundial e o FMI realizaram sua reunião anual em Hong Kong todo o Leste e Sudeste Asiáticos tinham sido engolidos por uma crise econômicofinanceira que ameaçava décadas de desenvolvimento econômico Mahathir levou seu caso a uma reunião do FMI e do Banco Mundial A sociedade precisa ser defendida desses exploradores inescrupulosos disse às delegações e aos financistas Estou dizendo que as transações de câmbio são desnecessárias im produtivas e imorais Deveriam ser impedidas Deveriam ser de cretadas ilegais O país que ele liderava desde 1981 havia al cançado avanços econômicos consideráveis naquele período O tamanho da economia triplicou o produto por pessoa dobrou Es sas conquistas estavam sob o ataque dos grandes adminis tradores de fundos que agora passaram a decidir quem deve ou não prosperar2 A raiz da questão segundo Mahathir era a submissão dos países em desenvolvimento aos caprichos dos mercados globais Ele reclamou Durante todo o tempo tentamos nos adequar aos desejos dos ricos e dos poderosos Fizemos tudo o que mandavam Mas quando os grandes fundos usaram seu enorme peso para fazer com que as ações flutuassem à vontade e para gerar lucros gigantescos com tais manip ulações seria esperar demais que os recebêssemos de braços abertos em especial quando seus lucros geram perdas enormes para nós A abertura financeira foi longe demais e serviu somente a um propósito Os operadores nas mesas de câmbio ficaram ricos muito ricos riquíssimos empobrecendo ainda mais os outros3 O primeiroministro Mahathir deu nomes aos impessoais mer cados internacionais que tentavam arruinar a economia que ele administrava Acusou a imoralidade de George Soros um dos fin ancistas de maior destaque A população carente desses países 581832 vai sofrer afirmou Mahathir e são esses pobres que deviam ser protegidos por George Soros que tem tanto dinheiro e poder mas é completamente imprudente4 Por meses Mahathir atacou Soros e outros ultrarricos cuja riqueza só poderia vir do em pobrecimento alheio da usurpação do que os outros tinham para o seu próprio enriquecimento5 O alvo dos ataques do primeiroministro da Malásia re spondeu às acusações no dia seguinte A sugestão de ontem do Dr Mahathir de banir as operações de câmbio disse o especu lador Soros é tão imprópria que não merece nem ser levada em consideração Interferir na convertibilidade dos capitais em um momento como esse é a receita do desastre O Dr Mahathir é uma ameaça ao seu próprio país6 Soros falou em nome do capital global Não pode haver dúvidas de que a integração global trouxe benefícios extraordinários Não somente os benefícios da divisão internacional do trabalho que são tão claramente provados pela teoria da vantagem comparativa mas também outros como a economia de escala e a rápida difusão de inovações de um país para outro Igualmente im portantes são os ganhos não econômicos como a liberdade de escolha associada ao movimento internacional de mercadorias capitais pess oas e a liberdade de pensamento associada ao movimento inter nacional das ideias7 Soros no entanto era apenas um administrador de fundos de investimentos enquanto Mahathir era chefe de Estado e uma lid erança proeminente do Movimento dos Não Alinhados do Ter ceiro Mundo Durante o ano seguinte Mahathir tomou o rumo do nacionalismo Em setembro de 1998 demitiu o ministro das finanças viceprimeiroministro e sucessor Anwar Ibrahim em função de seu apoio à integração financeira Mahathir impôs con troles cambiais e de movimentação de capitais sobre a economia do país e continuou dirigindo seus ataques aos financistas 582832 internacionais Acusou Anwar de uma estranha série de práticas de corrupção e comportamento homossexual e o desaventurado foi condenado um mês depois Em outros tempos as farpas trocadas por Mahathir e Soros e a retórica nacionalista do primeiroministro podiam ser o pressá gio de medidas duradouras que afastassem a economia dos mer cados globais Contudo em poucos anos o episódio já havia sido esquecido por todos Depois de uma recessão severa a economia da Malásia começou a crescer novamente Apesar dos controles monetários e de capitais o país continuou dependendo forte mente da economia internacional Mahathir foi realmente cuida doso a fim de evitar que o capitalismo global condenasse de forma generalizada o país Queremos adotar uma posição sem fronteiras ele disse e sempre demos boasvindas aos investi mentos estrangeiros incluindo a especulação O problema é que precisamos nos proteger dos trapaceiros que só visam a si mes mos e do banditismo internacional8 Apesar da veemência do nacionalismo econômico de Mahathir ele nunca questionou real mente o objetivo da abertura econômica Apesar do grande choque sofrido pelos mercados internacionais no Leste Asiático e da onda de crises que esses choques causaram o avanço da integ ração econômica quase não foi afetado Como e por que os merca dos internacionais superaram sua associação com os trapaceiros que só visam a si mesmos e com as crises devastadoras para ser em aceitos por praticamente todos os governos do planeta Novas tecnologias novas ideias As impressionantes mudanças técnicas do fim do século XX forta leceram os que apoiavam a integração econômica mundial Inovações nos transportes e nas telecomunicações diminuíram os custos das trocas internacionais Superpetroleiros e contêineres 583832 baratearam o despacho de cargas por via marítima e bens cujos custos de travessia do Pacífico ou do Atlântico eram proibitivos tornaramse cargas comuns O preço de embarque de uma tone lada de carga caiu até 75 ao longo do século e a melhoria dos sistemas de refrigeração e de transporte aéreo permitiu aos produtores viabilizar economicamente a travessia oceânica de framboesas e rosas A partir de 1970 com a adoção do jumbo avião a jato capaz de carregar mais de 400 pessoas e a con sequente desregulamentação das rotas aéreas o ato de voar deix ou de ser considerado um luxo e virou despesa comum para mui tos do mundo industrializado o custo real das passagens aéreas caiu 90 de 1930 até 2000 Satélites e cabos de fibra ótica re duziram os custos das comunicações de longa distância a uma fração dos anteriores Em 1920 um trabalhador médio norte americano teria que trabalhar três semanas para pagar por uma chamada telefônica de Nova York a Londres em 1970 a mesma chamada custava oito horas de trabalho e em 2000 cerca de quinze minutos A internet ofereceu a centenas de milhões de usuários de computador acesso instantâneo a informações do mundo inteiro Telefones celulares e outros dispositivos sem fio tornaram possível o contato constante entre colegas de trabalho familiares e amigos Os avanços mais impressionantes do último quarto do século XX ocorreram na microeletrônica Em 1950 produtores e con sumidores se maravilhavam com o transistor componente menor que um selo de postagem que substituiu as antigas válvulas na base do funcionamento dos aparelhos elétricos Rádios transistor izados televisores e equipamentos industriais passaram a encer rar em invólucros mínimos potências antes inimagináveis E tudo isso não foi nada se comparado ao microchip uma camada de silício na qual transistores e outros componentes eram dispos tos na forma de circuitos integrados inventados no fim da década de 1960 Em meados da década de 1970 uns poucos milímetros 584832 quadrados podiam empregar dois mil transistores viabilizando a produção de máquinas calculadoras portáteis com mais capacid ade do que a armazenada nos computadores a válvula da década de 1940 que ocupavam uma sala inteira No fim do século cada microchip já suportava mais de um bilhão de transistores e um computador pessoal de mil dólares era mais potente que qualquer equipamento disponível para as grandes empresas e governos na década de 1970 a cerca de um centésimo do preço9 A miniatur ização viabilizou telefones celulares computadores portáteis e aparelhos de comunicação entre outras poderosas máquinas de pequeno porte A computação e as telecomunicações modernas favoreceram a integração econômica internacional pois reduziram os custos das transações comerciais e dos investimentos e também os custos de monitoração dos interesses estrangeiros Além disso alguns dos elementos mais importantes do setor de alta tecnologia eram in tangíveis softwares e programação por exemplo e seria tec nicamente difícil impedir transações internacionais que os en volvessem Finalmente a indústria de alta tecnologia veio a requerer um grande volume de pesquisa e desenvolvimento entre outras demandas relacionadas indicando que a rentabilidade passaria a depender de produção ou distribuição em larga escala o que tipicamente só era alcançado por meio dos mercados globais As novas invenções causaram um impacto globalizante ainda mais poderoso nas finanças O poder dos computadores e o bar ateamento das telecomunicações tornaram mais fácil e veloz a movimentação de recursos ao redor do globo e mais difícil para os governos controlar esses fluxos As telecomunicações modernas agilizaram o acesso aos mercados externos permitindo um cresci mento astronômico das transações financeiras internacionais No fim do século o volume diário de operações em moeda es trangeira era de US15 trilhão muitas dessas operações eram 585832 puramente especulativas provocando a ira de críticos como o primeiroministro Mahathir e levando a críticas como a da autora britânica Susan Strange que escreveu sobre o capitalismo de cassino10 O enorme aumento das transações em geral era um aspecto da expansão mundial das finanças internacionais Os ban queiros e investidores internacionais faziam amplo uso das novas tecnologias o que ajudava a entrelaçar os mercados financeiros globais As transações financeiras além das fronteiras e transo ceânicas ficaram tão fáceis quanto as operações domésticas Por um lado esses avanços não alteraram de maneira funda mental as condições do comércio e dos investimentos inter nacionais praticadas desde o início do século XX De uma certa forma o telégrafo havia possibilitado uma comunicação quase in stantânea entre os mercados e os transportes terrestres e maríti mos contavam com aproximadamente a mesma velocidade em 1900 e 2000 Entretanto os custos de transportes e de telecomu nicações caíram de maneira significativa A internet cresceu a ní veis astronômicos até 2001 mais informação podia ser trans mitida por segundo através de um único cabo do que era envi ada por toda a internet em um mês em 199711 Essas mudanças tecnológicas tornaram as relações econômicas internacionais muito atrativas e viraram argumentos de defesa contra o retorno do protecionismo As mudanças tecnológicas por si só não podiam assegurar o comprometimento nacional com os mercados mundiais pois o crescimento contínuo da economia internacional era importante para a integração global Os grandes avanços tecnológicos do per íodo entreguerras não adiaram o mergulho autárquico da década de 1930 o apelo do automóvel da vitrola e do rádio não podia im pedir o colapso da economia e dos investimentos mundiais Dur ante os primeiros e justamente os piores anos da Grande De pressão de 1928 a 1933 quando comércio mundial foi reduzido pela metade a abertura econômica não atraía ninguém ou era 586832 evidentemente perigosa Mesmo os países que tentaram manter suas relações econômicas internacionais nadavam contra a corrente Apesar disso durante as problemáticas décadas de 1970 e 1980 o comércio e as finanças internacionais cresceram mais rápido que as economias nacionais As economias estagnaram na década de 1970 mas o comércio mundial triplicou entre 1973 e 1979 mesmo considerando a inflação e esses foram aumentos consideráveis O crescimento das finanças e dos investimentos in ternacionais foi ainda mais surpreendente Em 1930 os emprésti mos e investimentos alémfronteiras cessaram No entanto do começo da década de 1970 ao início da de 1980 os novos investi mentos estrangeiros de empresas multinacionais dispararam de cerca de US15 bilhões para US100 bilhões anualmente en quanto os empréstimos internacionais saltaram de US25 bilhões para algo em torno de US300 bilhões Os mercados financeiros internacionais cresceram de US160 bilhões em 1973 para US3 trilhões em 1985 A disponibilidade de quantias impensáveis com centenas de bilhões de dólares em empréstimos a cada ano levou a maioria dos países a se interessar pelos benefícios da abertura econômica A experiência financeira internacional da América Latina na década de 1970 foi radicalmente diferente daquela dos anos 1930 quando realmente não havia investimentos novos na região fossem provenientes de companhias multinacionais ou de finan ciadores internacionais Durante os anos de crise entre o início da década de 1970 e o começo da de 1980 no entanto os novos em préstimos internacionais para a América Latina ganharam velo cidade passando de US05 bilhão para US15 bilhões por ano a dívida da região com investidores privados passou de menos de US30 bilhões em 1973 para mais de US300 bilhões em 1983 Os novos investimentos de multinacionais na América Latina cresceram também de US1 bilhão para US5 bilhões anuais As 587832 condições da década de 1930 tornaram inútil manter os vínculos internacionais já que não havia praticamente nada com o que se relacionar Mas as tentações oferecidas na década de 1970 pela economia mundial eram mais sedutoras do que nunca nos 50 anos anteriores elas atraíram os governos em direção à integ ração econômica mesmo nas economias em desenvolvimento e nas de planejamento central cujos compromissos com a abertura econômica eram fracos na melhor das hipóteses Sozinhas no entanto as novas tecnologias e as prósperas transações financeiras e comerciais internacionais não seriam capazes de confrontar as ideologias as posições políticas e os in teresses há muito consolidados Afinal de contas desde 1945 o consenso dominante nos países menos desenvolvidos que prat icavam a ISI nas economias planificadas semiautárquicas e mesmo nas sociaisdemocracias do Ocidente industrializado era sem dúvida protegerse do entusiasmo dos mercados Os de fensores do aumento significativo da integração econômica en frentavam as mesmas velhas objeções daqueles que adotavam as restrições de mercado como meio desejável para atingir objetivos políticos e sociais Na década de 1980 porém uma nova ideologia varreu o mundo Políticos analistas e grupos de interesses passaram a ata car o envolvimento dos governos na economia depois de gerações de aprovação As políticas macroeconômicas preferidas desses grupos estavam unidas com frequência em torno da rubrica do monetarismo Eles também fizeram pressões pela privatização e pela desregulamentação das empresas públicas A corrente contra o envolvimento do Estado na economia foi associada aos governos conservadores de Ronald Reagan e Margaret Thatcher e à confi ança no que Reagan chamava de a mágica do mercado A nova visão tinha preceitos claros e clamava por medidas en érgicas para derrotar a inflação Tal hostilidade estava associada ao crescente destaque dos monetaristas no meio acadêmico que 588832 sustentava o argumento de que a única causa da elevação con tínua dos preços era a impressão por parte do governo de mais dinheiro do que o necessário Os monetaristas assim retomavam os argumentos prékeynesianos de que a manipulação da oferta monetária pelo governo poderia ter no máximo um impacto posit ivo a curto prazo mas no longo prazo só levaria a preços maiores O argumento dos acadêmicos era mais sutil e as diferenças em re lação ao keynesianismo menos evidentes pois ambos os enfoques permitiam aos governos utilizar a política monetária para reduzir o impacto de eventos adversos como recessões e depressões mas enquanto os keynesianos aceitavam o gerenciamento da macroe conomia pelo governo monetaristas ganhadores do Prêmio No bel como Milton Friedman eram contrários a esse tipo de inici ativa Friedman entre outros monetaristas desejava que os gov ernos aumentassem a base monetária somente para sustentar o crescimento econômico em vez de usar a medida para tentar aliviar problemas econômicos temporários Essa corrente re jeitava as frouxas políticas monetárias da década de 1970 quando os governos permitiam o crescimento da inflação por temerem que a alternativa alto desemprego fosse pior Sustentava que a inflação em si era corrosiva e exigia um novo governo compro metido em trazer a inflação para baixo A verve antiinflacionária estava ligada à convicção de que era possível lidar com os problemas econômicos afastando o governo da economia em vez de impondo uma maior intervenção macroe conômica O consenso anterior aceitava a regulamentação de pro gramas públicos e governamentais mas a nova visão defendia im postos menores diminuição de gastos e menos regulamentação Nos EUA os que apoiavam a economia de base monetária defen diam que as reduções de impostos iriam aumentar tanto o cresci mento que isso na verdade faria crescer a receita do governo já que uma fatia menor da torta maior é melhor que uma fatia maior de uma torta menor 589832 O novo cenário tornava urgente a privatização e a desregula mentação de grandes áreas da economia Os governos do mundo industrializado venderam centenas de empresas que detinham há muitos anos o equivalente a US1 trilhão em privatizações dur ante a década de 1990 O poder público da Europa ocidental vendeu para novos sócios particulares US400 bilhões em empresas telefônicas usinas de aço concessionárias de eletricid ade bancos e outras empresas Ao mesmo tempo revisou drasticamente seu controle sobre os empreendimentos privados O movimento de desregulamentação teve início nos Estados Un idos em meados da década de 1970 e durante os dez anos seguintes os governos Carter e Reagan cortaram em 23 a parcela da economia sujeita a controles regulatórios rigorosos transpor tes aéreo ferroviário e rodoviário telecomunicações petróleo e gás natural bem como as finanças Outros países industriais seguiram o caminho dos EUA desregulamentando tudo de com panhias telefônicas e aéreas a corretagem de ações No fim da década de 1990 as economias industriais estavam mais livres do controle do governo do que desde a década de 1930 Isso promoveu uma extraordinária consolidação das grandes empresas privadas No ano 2000 US35 trilhões em fusões foram anunciadas ao redor do mundo cerca de metade delas nos EUA e o restante quase todo na Europa ocidental Isso era cerca de cinco vezes o nível de 1990 considerado o mais alto da época12 As fusões antes quase sempre restritas às fronteiras nacionais estavam se internacionalizando cada vez mais em 2000 por volta de 14 de todas as fusões atravessava fronteiras A aquisição da Mannesmann Alemanha pela Vodaphone Reino Unido por US203 bilhões em 2000 envolveu a mesma quantia que todas as fusões e aquisições internacionais realizadas em 1991 1992 e 1993 juntas13 Desregulamentação e privatização eram causa e consequência das mudanças tecnológicas e da integração econômica global As 590832 indústrias mais comumente desregulamentadas ou privatizadas finanças telecomunicações e transportes passaram por grandes avanços tecnológicos ganharam muito mais importância nos mercados globais ou ambos As novas tecnologias tornaram ob soletos os setores mais antigos regulados ou controlados pelo governo e o mercado global apresentava perspectivas promissor as para as empresas nacionais anteriormente isoladas No setor bancário por exemplo o crescente aumento da atividade fin anceira global das décadas de 1960 e 1970 acompanhado por rápidas mudanças técnicas levou os governos a desregulamentar e a privatizar os sistemas financeiros nacionais nas décadas de 1980 e 1990 Os revigorados mercados financeiros por sua vez redobraram os esforços em direção à integração internacional e à inovação tecnológica O novo ponto de vista cujo nome variava livre mercado neoliberalismo ou ortodoxia adotava a austeridade antiinfla cionária cortes de impostos e gastos privatização e desregula mentação O Consenso de Washington como foi rotulado pelo economista John Williamson logo se tornou o princípio para a organização da maioria das discussões sobre política econômica14 O Consenso de Washington repercutia com força crescente no mundo em desenvolvimento durante a luta dos países contra as crises da dívida e de crescimento dos anos 1980 e também no mundo comunista que se afastava do planejamento central dos anos 1990 No fim do século havia mais concordância em torno da doutrina econômica do que em qualquer outra época desde 1914 Alternativas à ortodoxia fossem elas comunistas radicais desenvolvimentistas ou populistas eram fracas ou inexistentes Era difícil encontrar partidários do planejamento da substituição de importações ou da ampla propriedade estatal em qualquer lugar do planeta Havia divergências dentro de casa entre os pensadores voltados para o mercado mas poucos colocavam em 591832 dúvida a superioridade geral dos mercados como mecanismos de alocação econômica Interesses globalizantes A ortodoxia de mercado que varreu o globo pode ter parecido um furacão ideológico mas sua orientação teve origens políticas e econômicas tangíveis As ideias mudaram mais como resultado do que como causa as mudanças conceituais seguiram as trans formações materiais A vitória do monetarismo sobre o keyne sianismo é um exemplo de como a ideologia pode mascarar mo tivações mais pragmáticas Em outubro de 1979 quando o presid ente do Federal Reserve Paul Volcker anunciou que o Banco Central norteamericano passaria a trabalhar com metas de base monetária em vez de metas de taxa de juros a medida foi consid erada uma vitória pelos defensores da teoria monetarista Eles viam a taxa de crescimento da base monetária como o alvo prin cipal de sua política econômica Entretanto os motivos de Volcker eram de longe mais realistas Modificar as técnicas operacionais do Fed para dar prioridade ao controle da base monetária era ele mesmo explicou uma maneira de dizer ao público que a ên fase era nos negócios com o objetivo de afetar o comporta mento das pessoas comuns Ninguém no Banco Central tinha ilusões acadêmicas sobre o que a mudança dos procedimentos significaria na prática A mensagem básica que tentamos trans mitir foi a simplicidade em si disse Volcker Nós pretendemos assassinar o dragão da inflação mesmo que isso signifique taxas de juros extremamente altas e uma economia desacelerada15 Mas a tendência monetarista ostensiva deu uma aura intelectual para o que era de fato uma simples mas também dramática mudança na política monetária As discussões populares sobre as novas me didas de austeridade eram apimentadas com referências ao 592832 monetarismo encaradas como uma luta severa contra a in flação mas isso não tinha a menor relação com a teoria elaborada no meio acadêmico o que não significa dizer que as ideias econ ômicas não tinham resultado mas somente que é difícil entender as mudanças de política nas décadas de 1980 e 1990 a partir de transformações na teoria econômica A política econômica mudou em função de transformações políticas Dois avanços foram especialmente importantes Em primeiro lugar houve um aumento no tamanho e na coordenação das firmas e das indústrias que pretendiam se integrar à eco nomia internacional e que queriam uma mudança no envolvi mento dos governos nas economias nacionais Em segundo havia a crescente preocupação popular com fatos como desemprego alto crescimento lento e inflação o que deixava o eleitorado entre outros aberto às novas políticas No começo da década de 1980 uma grande parcela do eleitor ado havia perdido a paciência com o aumento dos preços As pop ulações da Europa ocidental e da América do Norte não tinham vivido a inflação durante os primeiros 25 anos do pósguerra e quando ela começou a subir lentamente no começo da década de 1970 muitos foram pegos de surpresa Quando o nível de preços dobrou no começo da década de 1980 as economias e os rendi mentos foram corroídos as preocupações aumentaram A milícia antiinflacionária representada em especial por bancos e comunidades de investidores sempre vira a inflação como uma ameaça econômica das mais importantes Agora a inflação degra dava o padrão de vida da classe média e segmentos fundamentais do eleitorado profissionais liberais pequenos empresários aposentados queriam que ela fosse controlada Muitos britâni cos e norteamericanos deram o benefício da dúvida às políticas antiinflacionárias de linhadura dos governos Thatcher e Reagan No auge de Bretton Woods quase ninguém teria considerado baixar a inflação a menos de 10 ao custo de elevar o desemprego 593832 em 10 mas na década de 1980 as políticas de recessão que pareceriam impensáveis dez ou 15 anos antes foram adotadas por uma série de países O eleitorado pareceu concordar que valia a pena já que reelegeu quem combatia a inflação Ainda que a batalha contra a alta dos preços viesse em um pacote de austerid ade fiscal e compromisso redobrado com negócios e investimen tos globais esta mesma gozava de apoio político surpreendente Poderosos interesses econômicos nas indústrias mais compet itivas e tecnologicamente avançadas também lutavam pela liberal ização e pela integração econômica Os progressos tecnológicos aumentaram a importância da economia global para muitas empresas líderes mundiais Novos produtos e técnicas de produção se tornaram o núcleo de um setor de alta tecnologia que atuava principalmente nos países industriais Em 1979 18 das 25 maiores corporações norteamericanas eram do ramo industrial ou do petróleo e apenas três atuavam em alta tecnologia e tele comunicações Vinte anos depois 13 das 25 maiores empresas atuavam em áreas de alta tecnologia e telecomunicações com somente duas do setor petrolífero e industrial Além do mais as novas empresas de alta tecnologia eram gigantes perto das com panhias anteriores em 1999 a maior empresa Microsoft valia sozinha em termos reais ou seja depois da correção pela in flação tanto quanto a soma das 25 maiores de 20 anos antes Em 1979 a companhia número 25 Yahoo que tinha somente seis anos de funcionamento valia mais em dólares ajustados pela in flação do que as três maiores empresas de petróleo do país com binadas Exxon Amoco e Mobil16 Empresas de tamanhos antes inimagináveis cujos negócios sem a microeletrônica seriam im pensáveis Microsoft Intel e America Online agora domin avam a economia norteamericana e a dos países industriais A maior parte dessas empresas de alta tecnologia só era viável com mercados globais O caso do telefone celular é típico No ano 2000 foram vendidos cerca de 400 milhões de aparelhos e a 594832 líder do mercado Nokia vendeu aproximadamente 13 deles Os cinco milhões de consumidores da matriz finlandesa da empresa respondiam por apenas uma pequena parte dos 128 milhões de telefones vendidos e mesmo o mercado europeu não era sufi ciente nem de longe Somente um mercado realmente global po deria sustentar as imensas despesas em pesquisa desenvolvi mento e marketing necessárias para que a Nokia pudesse manter sua posição de líder da indústria17 Essa facilidade com que o dinheiro podia se movimentar de um local para outro deu aos interesses econômicos internacion alistas uma razão extra para desejarem mais integração econôm ica internacional A explosão da mobilidade do capital facilitou a captação de empréstimos por parte das empresas dinâmicas o deslocamento de recursos dos usos menos produtivos para os mais produtivos pelos investidores e a compra ou substituição de empresas mais lentas pelas companhias bemsucedidas Esses grupos também pressionavam os governos a adotarem políticas amigáveis em relação aos investidores internacionais Walter Wriston do Citibank talvez o banqueiro internacion al mais poderoso da década de 1980 via a mobilidade de capi tais e das telecomunicações como parte da evolução de um padrão informação que permitia aos mercados monitorar os governos O padrãoouro que foi substituído pelo padrão câmbioouro e pos teriormente pelos acordos de Bretton Woods foi agora substituído pelo padrão informação O dinheiro só vai onde é desejado só fica onde é bemtratado e uma vez que o mundo todo está amarrado por meio das telecomunicações e da informação o jogo acabou O padrão informação é mais draconiano do que qualquer padrãoouro Eles acham que o padrãoouro era severo Tudo o que se tinha que fazer em relação ao padrãoouro era renunciar a ele nós provamos isso Não se pode renunciar ao padrão informação ele exerce uma discip lina sobre os países do mundo 595832 O resultado foi uma enorme influência dos investidores inter nacionais sobre os governos e suas políticas Não existe dinheiro suficiente no mundo para manter uma moeda se as gestões fiscal e monetária forem estúpidas Há 60 mil e tantos computadores lá nas salas de negociação do mundo e esses sujeitos são tão sentimentais quanto um bloco de gelo Politicamente o novo mundo é um mercado integrado do qual ninguém mais sai com o que costumava sair Não se pode controlar o que seu pessoal escuta nem o valor de sua moeda ou os fluxos de capital18 A economia globalizada permitiu que as economias recente mente industrializadas tirassem proveito de sua mão de obra barata para produzir aço roupas maquinário simples e outros bens industriais básicos para os mercados mundiais As corpor ações internacionais podiam combinar o gerenciamento de alta tecnologia pesquisa e desenvolvimento do norte com a industrial ização a baixo custo do sul Contudo as novas indústrias globais ameaçavam as velhas in dústrias do norte com uma competição não desejada A Europa estava afundada na estagnação econômica com altos índices de inflação em muitos países e desemprego elevado em toda parte Nos Estados Unidos a subida vertiginosa do valor do dólar de pois da década de 1980 atraiu importações baratas que colo caram os produtores norteamericanos na defensiva As vendas do Japão para os Estados Unidos cresceram de menos de US6 bilhões em 1970 para mais de US30 bilhões em 1980 e US80 bilhões em 1986 A concorrência atacou algumas das indústrias mais fortes e tradicionais bem como grandes firmas exportador as em apenas dez anos a partir de 1975 as importações de automóveis passaram de US12 bilhões para US65 bilhões As antigas indústrias da Europa e da América do Norte re agiram à maré alta de importações com uma forte resposta prote cionista Aço automóveis têxtil e outras manufaturas gritavam 596832 por socorro e muitas conseguiram ajuda Os governos europeus e da América do Norte forçaram os produtores japoneses a limitar em suas vendas subindo o custo de um carro médio em centenas de dólares a fim de dar uma folga para a indústria automotiva na Europa e na América do Norte ambas altamente pressionadas As importações de semicondutores do Japão e de aço de vários países industrializados ou recémindustrializados foram restringi das severamente Uma sucessão de novos bloqueios às im portações barreiras não tarifárias BNTs burlou compromis sos anteriores e manteve os bens estrangeiros fora dos mercados europeu e norteamericano A Europa se voltou para dentro e a administração Reagan apesar da retórica de livre mercado ad otou as medidas protecionistas mais abrangentes desde a década de 1930 Porém o novo protecionismo fazia surgir uma poderosa tendência de compensação Os produtores dos países industrializ ados que pressionavam por proteção comercial enfrentavam as demandas contrárias dos investidores com posições no exterior e das corporações internacionalizadas ávidas pelo acesso às autopeças brasileiras aos programas de computador indianos e aos componentes eletrônicos coreanos Muitas empresas na Europa e na América do Norte passaram a ver os mercados nacionais não interligados como insuficientes pois precisavam de uma oferta mais ampla e diversificada de clientes e fornecedores As grandes empresas europeias demandavam bases de operação maiores que a França ou a Dinamarca podiam oferecer As in dústrias de alta tecnologia da Europa entre outras precisavam de acesso à mão de obra barata do sul aos trabalhadores do norte altamente qualificados e aos mercados financeiros londrinos As companhias e os bancos norteamericanos orientados global mente embora tivessem uma base natural maior também se ir ritavam diante das restrições impostas Enquanto as indústrias mais tradicionais clamavam por proteção contra a concorrência 597832 com sucesso os empreendimentos multinacionais e bancos inter nacionais na América do Norte e na Europa ocidental tateavam novos caminhos no sentido de construir e manter posições forte mente competitivas Isso envolvia tanto derrotar os protecionistas quanto encontrar novas maneiras de avançar rumo a uma integ ração mais ampla Durante a década de 1970 e início da de 1980 houve conflitos políticos furiosos na Europa e na América do Norte Nos Estados Unidos nacionalistas e internacionalistas econômicos se en frentavam para dominar a política econômica Muitos trabal hadores e produtores norteamericanos tinham mudado seu posi cionamento no início da década de 1970 da defesa do livre mer cado ao pleito por proteção contra os competidores estrangeiros Quando Richard Nixon flexibilizou o dólar em relação ao ouro e baixou uma sobretaxa de 10 nas importações parecia que o país seguiria direto no caminho da depressão e do fechamento da eco nomia Mas as grandes empresas norteamericanas que de pendiam da exportação de seus produtos da importação de in sumos estrangeiros e de financiamentos e investimentos inter nacionais reagiram Bancos internacionais companhias de pet róleo e empresas de alta tecnologia se agruparam e formaram lob bies como o Emergency Committee for American Trade para en frentar o crescente sentimento protecionista Os executivos do comitê se reuniam com políticos intelectuais bem como com pessoas influentes da Europa e do Japão de posição semelhante na Comissão Trilateral um fórum transnacional que pretendia salvaguardar a cooperação econômica internacional Os poderosos defensores de uma integração global mais ampla bateram de frente com adversários influentes As comunidades financeiras lutavam por medidas linhadura contra a inflação e contra os movimentos de trabalhadores horrorizados com o aperto monetário que levou o desemprego a patamares que não se via desde a década de 1930 Os ricos pressionavam pela redução 598832 de impostos e os pobres lutavam para proteger seus programas sociais dos cortes de gastos O empresariado apoiava a privatiza ção e a desregulamentação enquanto os sindicatos tentavam blo quear o que viam como tentativas dissimuladas de cortar salários e postos de trabalho Alguns consideravam as ondas de fusão de empresas e consolidação de setores como sinal do renascimento de um setor privado vibrante ao mesmo tempo em que outros viam o mesmo processo como uma volta aos tempos de pilhagem da nobreza Caso a caso em um país após o outro os defensores da global ização derrotaram seus adversários Eles forçaram o recuo dos que apoiavam o nacionalismo econômico o trabalhismo a es querda e os compromissos com políticas sociais extensivas Em parte isso foi resultado de atritos e do clima de dificuldade econ ômica que abateu as empresas e as indústrias mais vulneráveis Ao longo do tempo simplesmente foi diminuindo o número de oponentes ao novo capitalismo global Ao mesmo tempo o cresci mento do comércio e dos investimentos fortaleceu empresas e in dústrias de viés internacionalista O progresso técnico as tendências macroeconômicas a ex plosão das finanças internacionais e as mudanças na forma como os negócios eram realizados fortaleceram aqueles que desejavam uma integração econômica ainda maior Enquanto os tempos di fíceis incitavam o sentimento protecionista e levavam muitos a exigir dos governos prioridade aos problemas domésticos no fim a década de agruras entre o início dos anos 1970 e o fim dos 1980 levou a uma globalização econômica redobrada O mundo se movia rapidamente em direção a níveis cada vez mais impression antes de intercâmbio comercial financeiro e de investimentos para além das fronteiras George Soros cria mercados 599832 Quando o primeiroministro da Malásia Mahathir bin Mohamad acusou duramente George Soros de ser a fonte das dificuldades de seu país o argumento pareceu natural mesmo para aqueles que apoiavam Soros Afinal o investidor representava o mercado global na medida em que suas atividades financeiras pareciam capazes de derrubar moedas e governos Ao mesmo tempo atuava também no cenário político ao investir bilhões de dólares na tent ativa de influenciar governos ao redor do mundo usando sua força financeira e política na tentativa de moldar as bases da or ganização da economia mundial Tudo isso exigiu muito do filho de um advogado de Budapeste nascido Dzjchdzhe Shorash em 193019 Como a maioria dos judeus húngaros mais ricos a família cosmopolita e incorporada foi forçada a se esconder do fascismo e do Holocausto Como res ultado da guerra o adolescente mudouse para Londres passou a se sustentar trabalhando como garçom e pintor além de colher maçãs Também estudou filosofia sem grande sucesso Depois de um período vendendo bolsas trabalhou em uma série de bancos de investimentos britânicos e alguns anos depois foi morar em Nova York Em Wall Street Soros fez uso de seus vários idiomas seus contatos na Europa e seu tino comercial para alavancar uma car reira na então minúscula comunidade de investimentos estrangeiros Tornouse funcionário de um banco internacional que pertencia a Arnhold e S Bleichröder uma associação dupla mente apropriada Por um lado a empresa que tinha sido agente dos Rothschild em Berlim desde 1830 acolheu refugiados do nazismo em 1937 e foi assim que Soros passou a trabalhar em um ambiente pesado cheio de imigrantes da Europa central Por outro o gabarito da empresa prenunciava o próprio caminho de Soros O patriarca dos Bleichröder Gerson era um consultor fin anceiro extraordinariamente poderoso e amigo íntimo do chanceler alemão Otto von Bismarck no fim do século XIX O 600832 mais velho dos Bleichröder que foi o primeiro judeu a herdar um título de nobreza na Prússia era conhecido como o homem mais rico da Alemanha e tinha acesso privilegiado aos mais poderosos estadistas da Europa20 Mais tarde Soros seguiria os passos de Bleichröder mas começou de forma prosaica com os lucros que obtinha durante o renascimento das finanças globais Arnhold e S Bleichröder re agiram à imposição de controles ao capital pelos norteamer icanos em 1963 por meio da internacionalização de grande parte de seus negócios Em 1967 Soros fundou sua primeira firma de investimentos dois anos depois implementou um sistema in ovador com base no paraíso fiscal caribenho de Curaçao livre dos controles governamentais e dos impostos sobre ganhos de capital O Double Eagle era um fundo primário de hedge uma empresa de investimentos privados parcamente regulada e aberta apenas a in divíduos ricos que desejassem assumir riscos maiores do que os financistas tradicionais O fundo foi tremendamente bemsuce dido os mil dólares investidos na sua criação se tornaram US4 milhões em 2000 um retorno médio anual de mais de 30 e Soros o fechou por iniciativa própria em 1973 No início da década de 1980 ele foi chamado de o maior administrador de dinheiro do mundo pela revista Institutional Investor da comunidade financeira internacional Em 1992 a reputação de Soros foi às alturas com uma aposta bemsucedida de bilhões de dólares contra o governo britânico Londres havia anunciado que manteria a libra esterlina fixa no marco alemão como parte de uma estratégia de crescimento da União Monetária Europeia Entretanto a tentativa foi impopular na GrãBretanha e Soros achou que a mesma não duraria muito tempo ele estava certo e o governo britânico cedeu desvaloriz ando a libra em setembro de 1992 A especulação de Soros contra a libra lhe rendeu um bilhão de dólares e investimentos 601832 especulativos contra outras moedas europeias o fizeram ganhar mais um bilhão Para muitos pareceu que um próspero investidor tinha com uma única manobra forçado um governo importante a mudar o curso da sua economia Mas acreditar que aquele havia sido um movimento isolado de Soros seria um exagero pois a especulação contra a libra foi generalizada Todavia quanto ao episódio Soros ressaltou o fato de que os governos estavam sob forte pressão para satisfazer os investidores internacionais mesmo se os custos políticos internos fossem altos E enquanto Soros seguiu per dendo dinheiro em apostas parecidas ao longo da década de 1990 de forma notável na Rússia onde pode ter perdido US2 bil hões ele também ganhou em outras ocasiões em que apostou contra governos Suas atividades de investidor o tornaram particularmente con troverso em países como a Malásia abalada por uma crise cambi al Quando o primeiroministro Mahathir acusou Soros de preju dicar a economia do país ele expressava uma visão amplamente difundida de que os mercados globais tinham ido longe demais na restrição às políticas governamentais A troca de farpas entre am bos às vezes abrangia questões sérias tais como se a responsabil idade pelos problemas de um país como a Malásia deveria recair sobre políticas malfeitas ou especuladores amorais Mas havia algo também como um nacionalismo conspiratório presente na ofensiva como na ocasião em que Mahathir invocou a origem judaica de Soros como parte de suas acusações Na verdade foi um judeu que disparou a precipitação da moeda e co incidentemente Soros é judeu Também é coincidência que a Malásia tenha maioria muçulmana Na verdade os judeus não ficam felizes em ver o progresso dos muçulmanos Se fosse na Palestina os judeus iriam roubar os palestinos E é isso que estão fazendo com o nosso país 602832 Mahathir não estava sozinho em sua convicção de que o flores cimento das finanças judaicas internacionais era incompatível com a dignidade de outras nações os nacionalistas ucranianos também atacaram Soros referindose a ele como membro de um grupo que se demonstrou hostil ao sucesso do Estado ucraniano e que na verdade tem seu principal interesse no colapso econômico da Ucrânia21 A tensão entre as finanças globais seja de que re ligião e o nacionalismo aparecia mais uma vez As atividades extracurriculares de Soros iam além das de um simples banqueiro Em 1979 começou a investir dinheiro na res istência aos governos comunistas no Leste Europeu O fez aos poucos comprando por exemplo algumas centenas de máquinas copiadoras para instituições húngaras que driblavam a censura à literatura proibida Durante a década de 1980 gastou centenas de milhões de dólares para apoiar dissidentes na Europa central e do leste e na União Soviética em 1990 fundou uma nova Universid ade da Europa central com bases em Praga e Budapeste As atividades financeiras e filantrópicas de Soros o colocavam numa posição ímpar para encorajar o desenvolvimento do capitalismo e da democracia nos antigos países de regime comunista Seu Open Society Institutea continuou esse trabalho ao longo da década de 1990 ao ritmo de centenas de milhões de dólares ao ano Soros também patrocinou programas tão variados quanto campanhas pela legalização da maconha nos Estados Unidos pelo melhor tratamento dos ciganos no Leste Europeu e pela promoção da democracia no Haiti e na Mongólia De um líder financeiro se podia esperar a promoção de so ciedades de mercado mas a filantropia de Soros também premiou a democracia política e os direitos humanos Seu comprometi mento era genuíno o primeiro presidente do Open Society Insti tute foi o norteamericano Aryeh Neier antigo líder da União Americana pela Liberdade Civil e da Human Rights Watch en tidade internacional de defesa dos direitos humanos muito 603832 conhecida por sua luta pelos direitos humanos Essa ênfase na justiça social certamente reflete as peculiaridades de Soros mas também representa a preocupação de que o capitalismo global não pode ser mantido se grandes contingentes humanos estiver em excluídos das tendências da vida política e econômica O sis tema capitalista global segundo Soros gerou um campo de atu ação muito desigual A distância entre ricos e pobres está aument ando Isso é um perigo pois um sistema que não oferece alguma esperança e benefícios aos perdedores corre o risco de verse dilacerado por atos de desespero22 Soros foi um forte defensor das sociedades abertas tanto em termos teóricos quanto prag máticos e acreditou que a nova ordem econômica internacional necessitava de um comprometimento com a justiça social O investidor afirmava com veemência que o capitalismo global só estaria a salvo se a devida atenção fosse dada aos assuntos nacionais e sociais A economia internacional acreditava exigia infraestrutura social e política de melhor qualidade e novas in stituições internacionais Também insistiu em uma regula mentação mais efetiva dos investimentos internacionais e de seus efeitos Sobre isso afirmou Há uma combinação péssima entre as condições políticas e econôm icas que prevalecem no mundo atualmente Temos uma economia global mas os arranjos políticos ainda estão firmemente arraigados na soberania do Estado Isso não seria causa de preocupação se fosse possível contar com os mercados livres para atender a todas as ne cessidades mas esse claramente não é o caso Soros propôs que as instituições internacionais se reunissem num só barco para tentar lidar com esses problemas globais in cluindo a revigorada Organização das Nações Unidas que assum iria o papel de um governo global Mais próximo de seus in teresses ele declarou Agora que temos mercados financeiros globais também precisamos de um Banco Central global e de 604832 algumas outras instituições financeiras internacionais cuja missão explícita seja manter os mercados financeiros em equilíbrio23 Apesar da estranha exigência de mais regulação vinda de um especulador financeiro internacional e da preocupação com justiça social por parte de um próspero investidor havia um sen tido implícito na posição de Soros Os mercados em especial os precários como os financeiros geralmente precisam de governos que os estabilizem o colapso do período entreguerras tinha tor nado isso definitivo para os ambientes financeiros nacionais Até o momento não havia um governo mundial adjacente aos merca dos mundiais e isso explicava os temores de Soros Ele e muitos de seus parceiros nas finanças internacionais apoiavam os es forços governamentais de estabilização e regulação dos mercados nos quais operavam Eles acreditavam nos mercados internacion ais mas para se assegurarem também queriam evitar os conflitos políticos e sociais que haviam causado problemas para as finanças internacionais no passado Soros transformouse na voz das ações governamentais no sentido de garantir um mundo seguro para os mercados globais assim como tinha sido um poderoso defensor da redução da intervenção dos governos da Europa central e do leste a fim de tornála hospitaleira às sociedades de mercado No fim do século XX Soros representava tanto as conquistas quanto as angústias das finanças internacionais O sistema fin anceiro global mantinha trilhões e movimentava centenas de bil hões de dólares ao redor do mundo com velocidade e eficiência extraordinárias Nem governos nem cidadãos podiam ignorar as opiniões e as ações dos investidores internacionais e o mercado global de capitais gerou restrições à economia e à política no mundo todo Embora houvesse uma tendência ao descontenta mento social ao nacionalismo e às preocupações com a instabilid ade financeira esses eram problemas do triunfo recente do capit alismo global que tinha superado a planificação econômica o isolamento econômico e o protecionismo ressurgente e podia 605832 seguir adiante na tarefa de completar a integração da economia mundial Comércio sem barreiras Soros provavelmente ficou feliz com a abertura econômica da Europa central e do leste da China e do mundo em desenvolvi mento Quando a China abandonou a planificação econômica e a Índia diminuiu a substituição de importações um terço da popu lação mundial foi arrancado de décadas de isolamento econômico e arremessado na corrente da economia global Evoluções semel hantes no antigo bloco soviético e na América Latina afetaram mais um bilhão de pessoas Do ponto de vista histórico e humano esses foram os principais avanços do último quarto do século XX Do ponto de vista econômico porém a América do Norte e a Europa ocidental definiram o curso mundial Essas duas regiões com um 110 da população do planeta respondiam por metade da economia internacional e por 23 da atividade comercial realizada no mundo Quando entre 1985 e 2000 aceleraram a integração dos investimentos e das atividades comerciais financeiras e mon etárias o impacto alcançou o restante da economia mundial Os caminhos nesse sentido foram controversos e indiretos Depois de resistir às crises dos anos 1970 e início dos anos 1980 os defensores da integração econômica na América do Norte e na Europa ocidental passaram a enfocar os novos acordos regionais de comércio Os europeus ocidentais transformaram a União Europeia em um mercado único de fato dentro do qual bens ser viços capitais e pessoas se movimentam livremente e então se mobilizaram para criar uma moeda única europeia o euro Esta dos Unidos Canadá e México criaram o Tratado NorteAmericano de LivreComércio o Nafta da sigla em inglês para North Amer ican Free Trade Agreement outra enorme área de livre 606832 comércio entre seus membros No fim do século a Europa ocidental era uma entidade econômica única em praticamente to das as dimensões e a América do Norte estava perto de se tornar algo semelhante Outros acordos de comércio regional prolifer aram em toda parte nas regiões desenvolvidas e em desenvolvimento Duas grandes áreas de comércio emergiram A União Europeia liderava uma delas que incluía a Europa central e do leste a an tiga União Soviética e as excolônias europeias na África e na Ásia Os Estados Unidos estavam à frente da segunda que compreen dia o hemisfério ocidental Alguns temiam que o novo regional ismo levasse como tinha ocorrido com o antigo regionalismo na década de 1930 a um fechamento geral do comércio internacion al Outros viam os blocos comerciais como precursores de uma liberalização mais ampla Na frase do economista Robert Lawrence a questão de fato era se os acordos de comércio region ais seriam auxílios ou obstáculos a uma economia mundial in tegrada24 Os vários esforços da UE geraram rumores sobre a ameaça de uma nova Europa fortificada Preocupações similares sobre os novos esforços de integração que levaram ao Nafta e ao Mercosul eram muito comuns na Ásia O novo regionalismo tornouse algo muito diferente daquele dos sistemas imperiais da década de 1930 Os principais pro ponentes dos acordos comerciais eram internacionalistas e não protecionistas tradicionais tentando se estabelecer em mercados regionais protegidos Os empresários estavam muito felizes em dispor de acesso privilegiado aos grandes mercados domésticos que os novos blocos representavam mas o verdadeiro atrativo dos novos arranjos regionais era a oportunidade de fortalecer os negó cios diante da competição global Os acordos mais amplos tor navam a produção para exportação mais barata permitiam o crescimento das empresas facilitavam a atração de investimentos estrangeiros e incentivavam a consolidação de bancos e 607832 corporações Mercados regionais mais amplos significavam mais economias de escala companhias maiores e melhor posiciona mento na cada vez mais aquecida competição internacional por clientes e capital A dinâmica do Nafta e da UE talvez pudesse ser mais bemvista por meio da observação de seus adversários inter nos que se concentravam em indústrias decadentes desesperadas por proteção contra importações de produtores com custos mais baixos no México e no sul da Europa respectivamente A derrota dos oponentes do Nafta e da integração europeia foi uma vitória dos defensores da ampla integração econômica internacional A consolidação regional da década de 1990 tornouse uma peça importante no processo geral de globalização econômica O mercado comum europeu com uma moeda única e regulação eco nômica unificada causou a maioria dos efeitos econômicos que seus empresários patrocinadores haviam previsto Cinco trilhões de dólares em fusões e aquisições criaram uma horda de empresas gigantes A posição de mercado dos principais bancos e empresas europeias melhorou tão dramaticamente que parecia uma festa Além disso eles também compravam fora da Europa e no fim da década de 1990 apenas nos Estados Unidos investiam mais de US150 bilhões por ano A integração redobrada aumentou a pressão sobre as empresas e setores menos eficientes muitos dos quais deixaram os negócios ou foram comprados por líderes re gionais Contudo a integração europeia em geral fortaleceu os mercados europeus e os grandes negócios da Europa no mundo O Nafta também teve consequências poderosas Entre 1993 e 2000 o comércio norteamericano com os parceiros do Nafta cresceu duas vezes mais que com o resto do mundo de menos de US300 bilhões para mais de US650 bilhões Os investimentos também aumentaram muito já que as empresas canadenses e norteamericanas agora podiam produzir no México onde os salários eram menores sem se preocupar com os custos de pôr o produto de volta nos seus mercados A economia mexicana a 608832 menor e menos desenvolvida das três foi a mais afetada Até o ano 2000 o país já tinha passado pelas crises cambial e bancária pela reestruturação do sistema financeiro e por uma reorientação do comércio além de ter sua economia firmemente vinculada à norteamericana A América do Norte estava exatamente no cam inho de formar uma entidade econômica integrada Mesmo o Mercosul mais recente e menos ambicioso teve con sequências impressionantes sobre seus membros No fim do século já era um bloco econômico reconhecido empresas es trangeiras e nacionais faziam planejamentos de produção e de in vestimentos no Mercosul como um todo em vez de considerar somente os ambientes nacionais No decorrer de uma década o comércio entre os membros do Mercosul quintuplicou passando de 112 para 14 do volume total comercializado No fim da década de 1990 o bloco era o destino mais importante para os in vestimentos estrangeiros dos países em desenvolvimento at raindo cerca de US20 bilhões anuais de empresas multinacion ais e muitos bilhões a mais em empréstimos estrangeiros Os avanços na integração econômica regional foram parte do sucesso generalizado dos defensores do internacionalismo econ ômico Depois de 15 anos de batalhas árduas do princípio da década de 1970 até meados da de 1980 a iniciativa foi tomada por interesses políticos e ideologias associadas à integração econôm ica Ao longo da década de 1990 a questão foi decidida em favor dos patrocinadores da integração global Não havia um consenso universal sobre o livrecomércio mas as políticas oficiais pas saram a aceitálo com naturalidade Nos últimos anos do século XX as forças pelo capitalismo global se provaram extremamente poderosas como tinham sido no fim do século XIX Os globalistas econômicos daquela época tiveram de lidar com a Grande Depressão de 18731896 com suas movimentações populistas em massa e crises recorrentes de dívida O recente curso da globalização sobreviveu à recessão 609832 global ao desemprego que persistia elevado na Europa à desin tegração social dos países saídos do comunismo e às contagiosas crises na Ásia e na América Latina Os progressos tecnológicos o poder dos interesses econômicos internacionalistas e as tendên cias na política global reforçaram o curso da globalização Os avanços no mundo industrial criaram mercados continen tais na Europa e na América do Norte Os países em desenvolvi mento desmantelaram a substituição de importações e o desen volvimentismo O antigo mundo comunista se voltou para os mer cados domésticos e internacionais Os interesses e as ideias fa voráveis à globalização econômica dominaram a economia e a política mundiais O globo era mais uma vez capitalista e o capit alismo era novamente global a Instituição de pesquisa de Soros que promove estudos sobre temas como demo cracia e pretende influenciar governos a formularem políticas NT 610832 18 Os que correram atrás Em 1961 Seul capital da Coreia do Sul era uma visão deplorável Um visitante norteamericano fez um descrição do que era a cid ade na época Os habitantes vivem em barracos miseráveis feitos de qualquer maneira e poucos conseguem arranjar emprego Mendigos alguns aparentando apenas dois ou três anos de idade são comuns bem como vendedores ambulantes que ficam sentados por horas nas calçadas oferecendo a quem passa cigarros chicletes pentes bijuter ias brinquedos apitos ábacos e cachorros vivos Os cachorros latem o tempo todo e também parecem famintos1 Nos anos que se seguiram ao término da Guerra da Coreia a Coreia do Sul era uma ditadura empobrecida e instável Um re gime autoritário foi tirado do poder à força em 1960 mas menos de um ano depois mais um golpe militar levou outro general ao poder A nova ditadura de Chung Hee Park governava uma nação desprovida do mínimo A miséria de Seul contrastava com o brilhante progresso pro movido pelo antigo dominador do outro lado do mar do Japão John Lie nasceu em 1959 na Coreia do Sul e mudouse para o Japão logo depois mas sua família voltava frequentemente ao país para visitar parentes Era fácil para ele comparar as duas nações Seul no início da década de 1960 era a ideia do atraso que eu tinha quando criança Ao mesmo tempo em que ficava maravilhado com os engarrafamentos de Tóquio me horrorizava com os carros de boi que cambaleavam pelas ruas poeirentas de Seul Tóquio parecia indiscut ivelmente moderna com aqueles arranhacéus internacionais brin quedos eletrônicos vasos sanitários com descarga aparelhos de ar condicionado e geladeiras Seul ao contrário parecia antiga com sua arquitetura japonesa do período colonial brinquedos de madeira banheiros sem descarga nem papel higiênico e na melhor das hipóteses ventiladores elétricos e cubos de gelo Tóquio era dinâmica novos edifícios pipocavam por toda parte as prateleiras das lojas transbordavam com novos produtos Seul era estagnada presa à tradição Em Tóquio eu devorava balas e chocolates vendidos em lojinhas bemarrumadas em Seul me entupia de gafanhotos grelha dos vendidos nas ruas Ao frequentar restaurantes na Coreia do Sul mal podia acreditar que em certos dias não se servia arroz devido às restrições do governo2 Realmente a Coreia do Sul era um dos países mais pobres do mundo no início dos anos 1960 A maioria das nações da África subsaariana recentemente independentes estava em condições melhores e a América Latina tinha o triplo da riqueza A renda per capita da Coreia do Sul era segundo alguns cálculos mais baixa que a da Coreia do Norte As perspectivas de melhoria pare ciam pequenas O país dependia fortemente da ajuda dos patronos norteamericanos e os EUA estavam cada vez mais irrit ados com a sucessão de governos letárgicos e corruptos Vinte e cinco anos depois o país havia se transformado Após o retorno do jovem John Lie para a Coreia no fim da década de 1980 ele escreveu 612832 Vi donas de casa de classe média alta se divertindo com a altacostura e jovens ricos levando a vida com uma opulência odiosa Cafeterias limpas e bemiluminadas haviam substituído os sujos cafés McDon alds e Pizza Hut substituíram os restaurantes baratos e as lojas que vendiam noodles O que impressiona em todas essas mudanças e contrastes é que eles aconteceram ao longo apenas de uma geração3 Quando a Coreia do Sul foi sede dos Jogos Olímpicos de 1988 o mundo tomou conhecimento do progresso do país Um novo sistema democrático estava em consolidação e um presidente eleito pelo povo compartilhava o poder com um Legislativo con trolado pela oposição Além das mudanças políticas e das lustro sas instalações esportivas o desenvolvimento econômico geral do país estava exposto em toda parte As mudanças eram notáveis O marxista britânico Perry Anderson escreveu admirado Seul é agora a terceira maior cidade do mundo maior que Tóquio ou Pequim Tamanho não é garantia de modernidade como atestam as desigualdades e a violência irremediáveis das duas maiores con centrações urbanas São Paulo e Bombaim No entanto este ainda é o Terceiro Mundo Seul não é parte dele O que um londrino percebe primeiro são os diversos aspectos em que a cidade é mais adiantada que a sua própria A experiência da Coreia não tinha precedentes escreveu Anderson Nenhuma outra sociedade no mundo tinha se industrializado pro fundamente de modo tão rápido Um processo histórico que levou pelo menos três gerações no Japão aqui foi completado em uma O tempo de mudança não tem precedentes Nos últimos 20 anos o êx odo da agricultura foi três vezes maior que na Itália quatro vezes maior que no Japão cinco vezes maior que na França e sete vezes maior que na Alemanha A proporção da população que vive nas cid ades com mais de um milhão de habitantes é atualmente a mais alta do planeta4 613832 Até 1996 passados 30 anos do início da transformação da Cor eia a OCDE já havia reconhecido a realidade coreana e pro movido o país a membro do clube dos países ricos A Coreia do Sul tinha se graduado do mundo em desenvolvimento para o desenvolvido passado de um patamar de desenvolvimento mais baixo que o das Filipinas e da Tailândia de Gana e do Congo para um mais alto que o da Grécia ou de Portugal comparável ao da Espanha Nova Zelândia ou Irlanda No começo da década de 1960 havia um veículo motorizado para cada 830 coreanos e um telefone para cada 250 30 anos depois havia um carro para cada cinco coreanos e um telefone para cada dois No início da década de 1960 uma jovem coreana tinha menos de três anos de estudo em meados de 1990 mais de nove anos5 Os observadores só erraram ao considerar único o caso coreano Taiwan Cingapura e Hong Kong cresceram tão rápido quanto a Coreia do Sul ou ainda mais E uma segunda geração de tigres do Leste Asiático não ficou muito atrás Tailândia Malásia e até mesmo a China Em todos esses casos o ritmo ex traordinário de equiparação econômica estava diretamente rela cionado aos vínculos com a economia internacional A integração da economia mundial na última parte do século XX criou grandes oportunidades de especialização e crescimento Governos e empresas dos países pobres podiam se beneficiar das demandas dos países ricos por produtos baratos e oportunidades de investi mento lucrativas Podiam orientar sua produção para centenas de milhões de consumidores ricos e atrair o capital dos mais prós peros bancos mundiais de corporações e investidores Muitos fizeram apenas isso levando a uma explosão de crescimento em partes do mundo em desenvolvimento O capitalismo global do fim do século XX como aquele dos 50 anos que precederam a Primeira Guerra Mundial ofereceu in centivos poderosos a pessoas grupos empresas e países A opor tunidade de vender à qualquer nação e de tomar empréstimo de 614832 qualquer nação e não somente a um país e de um país permitiu às empresas se especializarem em suas atividades mais lucrativas Durante o período de industrialização via substituição de im portações o México falhou na criação de uma indústria automot iva viável mas depois o país foi pego na tempestade dos mercados globais de autopeças Fazendeiros da Argentina e da Nova Zelân dia fizeram fortunas vendendo frutas e vegetais de inverno para consumidores do hemisfério norte uma oportunidade que só foi possível com o mercado global de framboesas Empresas da Tailândia e da Turquia antes limitadas pela dificuldade em obter empréstimos domésticos agora tinham acesso a financiamentos estrangeiros baratos e abundantes Esses países e seus cidadãos conseguiram se beneficiar dos mercados globais para se especial izar acelerando o seu crescimento econômico Com as oportunidades dos mercados globais vinham também as restrições Os proprietários dos enormes pools de capitais po diam esquadrinhar o globo atrás dos mercados mais atrativos Quer buscassem mão de obra barata abundância de recursos nat urais técnicos experientes regulamentações favoráveis ou grandes mercados os investidores tinham acesso a praticamente todos os países Se os investidores não apreciassem as políticas de um governo ou o balanço patrimonial de alguma empresa o fluxo do dinheiro sairia daquela economia da mesma forma como havia entrado só que mais rápido Se os consumidores perdessem o interesse por uma novidade tecnológica por algum estilo ou cor tassem despesas devido à recessão as fábricas nações e regiões produtoras podiam ter de fechar as portas Os mercados globais expandiram tanto as possibilidades disponíveis para seus parti cipantes quanto as regras impostas a eles Produção global e especialização nacional 615832 A produção tornouse global nos últimos 25 anos do século XX As empresas terceirizavam os componentes necessários para fab ricar seus produtos deixando esses insumos a cargo das indústri as de vários países diferentes No fim do século o comércio mun dial era duas ou três vezes mais importante para os países desen volvidos do que havia sido na década de 1960 e isso facilitou a distribuição pelas empresas de produtos e serviços em várias loc alidades As firmas podiam estabelecer atividades como pesquisa e desenvolvimento marketing produção e montagem a milhares de quilômetros de distância umas das outras por razões econôm icas políticas ou regulatórias e então podiam embarcar o produto final para consumidores do mundo todo Sobre isso o economista Robert Feenstra ressaltou a integração do comércio e a desintegração da produção uma possibilitando a outra6 Nos anos 1990 era notavelmente fácil dispersar a produção ao redor do globo Antes a atenção pública havia se concentrado nas empresas multinacionais do começo da década de 1970 quando estas investiam US10 bilhões anuais no exterior dos quais US2 bilhões iam para países em desenvolvimento Em 2000 o investi mento direto estrangeiro das empresas multinacionais EMNs girava em torno de US1 trilhão ao ano dos quais US250 bil hões se destinavam às economias em desenvolvimento um aumento de mais de 100 vezes Outras formas de investimento in ternacional se expandiram ainda mais rápido No fim de 1990 os financiamentos internacionais privados e outros investimentos além daqueles das EMNs também giravam ao redor de US1 trilhão anuais Esse volume de investimento internacional signi ficava que qualquer proposta razoável de estabelecer uma mina usina ou shopping atrairia o interesse de investidores Os produtos incluídos no comércio mundial eram cada vez mais internacionais tanto em relação à origem quanto ao mer cado A boneca Barbie era o exemplo mais perfeito do fenômeno que em meados dos anos 1990 era a quintaessência do produto 616832 global7 Sua produção começou com os moldes que a Mattel dos Estados Unidos colocou à disposição de fábricas no sudeste da Ásia Taiwan e Japão forneciam o plástico e o cabelo Empresas chinesas supriam o tecido de algodão para os vestidos As bonecas eram montadas na Indonésia Malásia e China e depois despacha das para Hong Kong e de lá para os consumidores da Mattel nos EUA e em vários outros países A maioria das empresas mais im portantes era global 60 das vendas da IBM eram realizadas fora dos Estados Unidos e 80 das da Volkswagen eram feitas fora da Alemanha Mesmo que a produção globalizada fosse organizada dentro ou fora das redes das corporações multinacionais os fatores de produção fluíam dos usos e locais menos rentáveis para os mais rentáveis Trilhões de dólares dos mercados financeiros inter nacionais buscavam continuamente por oportunidades de lucro onde quer que se encontrassem Milhares de empresas de uma dúzia de países brigavam por empréstimos de baixo custo para ex pandirem suas operações Como resultado surgiram novas in dústrias na Indonésia foram estabelecidos novos negócios no Vale do Silício e construídos novos edifícios no Brasil e novas es tradas na Hungria Os financiamentos investimentos e as tecno logias internacionais aceleraram a globalização da produção en quanto os recursos em busca de lucros eram movimentados de um local a outro em quantidades e velocidades cada vez maiores Essa redistribuição contínua da produção levou a uma espe cialização mais ampla nos países e nas regiões Bens antes produzidos em um país podiam ser divididos agora em várias partes cada uma fabricada em uma nação diferente As empresas podiam desagregar a produção em pequenas partes e ajustar os investimentos de forma a se beneficiar dos locais mais vantajosos A produção global permitiu às companhias reduzir seus custos e deu oportunidade aos países em desenvolvimento de ocupar nichos econômicos rentáveis 617832 As forças globalizantes impulsionaram e atraíram diferentes partes do mundo para uma divisão de trabalho ainda mais efi ciente Áreas com melhores níveis de educação se especializaram em operações de administração e controle pesquisa e desenvolvi mento e outras atividades relacionadas Aquelas com profission ais bastante capacitados se concentraram em processos que exi gissem habilidades específicas Países com contingentes de trabal hadores sem especialização construíram vantagem comparativa com mão de obra barata assim como aqueles com recursos nat urais abundantes exploravam estes recursos O capitalismo global atraiu centenas de milhões de pessoas do Leste Asiático da América Latina e de todos os cantos do mundo para uma produção que visasse aos mercados globais Uma especialização mais ampla podia ser tanto uma benção quanto uma maldição Seus atrativos eram marcados pelo fato de o fenômeno ter tornado algumas antigas linhas de negócio obsol etas aumentando a competição a ser enfrentada por empresas e países A Europa e a América do Norte não podiam competir com a China e o México na produção de itens que consumissem grande volume de mão de obra não especializada e as tradicionais in dústrias do norte encolheram à medida que as do sul se ex pandiram Nos países desenvolvidos os empregos na indústria caíram de 27 da força de trabalho no começo da década de 1970 para menos de 18 no fim da de 1990 Enquanto em 1970 havia dois trabalhadores norteamericanos no setor de serviços para cada trabalhador da indústria no ano 2000 a proporção era de cinco para um As regiões com mão de obra semiespecializada ou não espe cializada foram atraídas para a economia global Elas começaram assumindo a produção de bens que demandassem uso intensivo desse tipo de força de trabalho A indústria do aço foi um caso típico Em 1975 praticamente não havia usinas de aço no mundo em desenvolvimento e as que operavam tinham de contar com 618832 proteção e subsídios pesados por parte dos governos A produção de aço bruto no mundo em desenvolvimento não chegava a rep resentar 15 do volume daquela da Europa ocidental e da América do Norte todos os países em desenvolvimento juntos produziam menos da metade do aço que os EUA geravam Vinte e cinco anos depois as siderúrgicas mais competitivas estavam localizadas principalmente na América Latina e Ásia Os fabricantes de aço nos países em desenvolvimento produziram no ano 2000 muito mais aço bruto que a Europa ocidental e a América do Norte jun tas Na verdade os seis maiores fabricantes China Coreia do Sul Brasil Índia México e Taiwan produziram juntos três vezes mais aço que os EUA8 Ao longo dos últimos 25 anos do século XX ocorreu uma intensa redistribuição da produção industrial dos países ricos para os países em desenvolvimento O crescimento da indústria nas nações em desenvolvimento do sul foi análogo à expansão experimentada em uma época anterior No fim do século XIX e início do XX a globalização levou a um crescimento econômico expressivo em muitas áreas do Novo Mundo da África e da Ásia As regiões que cresciam rapidamente inundaram o mundo desenvolvido com produtos agrícolas bar atos e matériasprimas o que provocou um boom no consumo fi nal e também no consumo de insumos importados pelos fabric antes europeus Mas isso também abriu caminho para a devast ação da agricultura europeia tradicional No fim do século XX os países recentemente industrializados inundaram o mundo desen volvido com produtos manufaturados baratos Isso favoreceu os consumidores e os produtores da Europa ocidental e da América do Norte que usavam os manufaturados importados a baixo custo mas arrasou a indústria tradicional dessas regiões Ambos os pro cessos foram efeitos inevitáveis da especialização na economia in tegrada internacionalmente os fazendeiros suecos e italianos de 1900 não podiam fazer frente aos baixos custos dos fazendeiros das Grandes Planícies e dos pampas assim como os 619832 trabalhadores não capacitados em 2000 não podiam competir com os de países como China e México A agricultura europeia daquela época sofreu de forma semelhante à deterioração da in dústria na Europa ocidental e na América do Norte no período posterior Assim como a produção de produtos primários no Novo Mundo e em outras regiões se expandiu muito antes de 1914 a manufatura básica no Leste Asiático e na América Latina entre outros cresceu rapidamente depois de 1973 Crescimento via exportações nos extremos da Europa e da Ásia Um exemplo espantoso de recuperação econômica envolveu os quatro países mais pobres da Europa ocidental Na década de 1950 e começo da de 1960 ditaduras militares brutais gov ernavam as nações mais atrasadas da região como Espanha e Portugal A frágil democracia não menos retardatária da Grécia entrou em crise em 1967 A Irlanda embora democrática era quase tão pobre quanto essas nações Nesses quatro países peri féricos da Europa ocidental a renda per capita em 1950 repres entava menos da metade da renda da França ou da Alemanha bem abaixo dos valores do Chile e da Argentina Segundo padrões europeus as condições econômicas e sociais também eram ex tremamente ruins nessas quatro nações que tinham alguns dos piores níveis de pobreza do mundo dito industrializado Os quatro países começaram a modernizar suas economias por volta de 1960 A Irlanda o fez primeiro em 1958 desviando da substituição de importações e seguindo em direção à produção para exportação O governo buscou vigorosamente as empresas estrangeiras principalmente as norteamericanas que poderiam ganhar com a mão de obra educada barata e que dominava o inglês Quando a Irlanda ingressou na União Europeia em 1973 os investimentos estrangeiros e o crescimento econômico 620832 ganharam força A nação insular finalmente mudou da manu fatura malpaga às atividades de alta especialização e tecnologia Logo a Irlanda produziria um em cada três computadores com prados na Europa Em 2000 o tigre celta com uma população de menos de quatro milhões de pessoas superou os Estados Un idos como o líder mundial nas exportações de softwares e sua renda per capita ultrapassou a de seu antigo colonizador a Grã Bretanha9 Naquele ano Dublin era uma das cidades mais prósperas da Europa Espanha Portugal e Grécia tiveram mais dificuldades que a Ir landa para ajustar suas engrenagens pois precisavam superar os legados econômicos do fascismo Contudo uma vez que as ditaduras desses países deixaram o poder eles se orientaram na direção da integração europeia a Grécia se juntou à União Europeia UE em 1981 Espanha e Portugal em 1986 Isso aceler ou a abertura econômica dessas nações Embora em 1980 os dois países ibéricos negociassem muito menos com a UE do que com o restante do mundo em 1990 o intercâmbio comercial com a UE havia praticamente quintuplicado e passou a ser duas vezes mais representativo que todas as outras atividades comerciais dessas nações De fato Irlanda Espanha e Portugal estavam entre os participantes mais entusiasmados com a criação da União Econ ômica e Monetária a Grécia ingressou mais tarde a tempo para o lançamento do euro em 2002 Os quatro países atraíram muitas empresas multinacionais e bancos e no fim das contas rece beram algo em torno de dez mil afiliadas e subsidiárias de com panhias estrangeiras Na verdade nos 15 anos a partir de 1985 o investimento direto estrangeiro nas quatro nações passou de US25 bilhões para US210 bilhões Cerca de 110 de todos os in vestimentos nesses países vinha de estrangeiros Até o fim do século Espanha Portugal e Grécia eram inequi vocamente desenvolvidos e europeus com uma renda per capita que se aproximava da de países como a Itália e a Suécia e era o 621832 dobro da do Chile O avanço social dessas nações foi ainda mais impressionante Em 1970 a taxa de mortalidade infantil em Por tugal era de 61 óbitos para cada 1000 nascimentos bem semel hante à do México e da Malásia em 2000 apresentava índices menores que seis mortes para cada 1000 nascimentos melhor que a dos Estados Unidos No fim dos anos 1960 havia somente um telefone e um aparelho de televisão para cada 20 portugueses já no ano 2000 havia um telefone e uma televisão para cada dois residentes e um carro para cada três números semelhantes aos do restante dos países da Europa ocidental Embora a transform ação de Portugal do atraso à modernidade tenha sido particular mente rápida outras nações no entorno da Europa ocidental tam bém evoluíram de forma igualmente impressionante Esse ritmo de crescimento só foi possível devido ao acesso aos mercados e capitais da Europa e do mundo As empresas nacion ais foram liberadas das restrições dos pequenos mercados domésticos e agora estavam aptas a vender para centenas de mil hões de europeus se é que não para o mundo inteiro O acesso ao capital estrangeiro possibilitou o financiamento de investimentos que os capitalistas locais não podiam ou não queriam fazer As in dústrias se especializaram e a produtividade avançou levando a alguns dos crescimentos mais rápidos já registrados Mesmo que nações periféricas da Europa ocidental sejam dificilmente com paráveis com países em desenvolvimento muitos elementos de seu avanço viriam a ser repetidos pelos países recémindustrializ ados produção para exportação atração de investimentos es trangeiros investimentos pesados em capacitação da força de tra balho local e desenvolvimento da infraestrutura Os países pobres do Leste Asiático foram os seguidores mais marcantes da periferia europeia no caminho da convergência Quatro deles em particular Coreia do Sul Taiwan Hong Kong e Cingapura foram tão bemsucedidos que se graduaram deix ando para trás o mundo em desenvolvimento Em 2000 Hong 622832 Kong e Cingapura tinham um produto interno per capita acima da maioria dos países da Europa ocidental enquanto Taiwan se aproximava e a Coreia do Sul seguia somente um pouco atrás Todos os quatro tinham características incomuns os dois primeiros eram cidadesEstado situadas em ilhas e Hong Kong não era nem mesmo um Estado Já Taiwan e Coreia do Sul eram partes de nações divididas e protetorados militares dos Estados Unidos Apesar disso eram suficientemente parecidos com os outros países em desenvolvimento a ponto de suas experiências não serem descartadas como anomalias Coreia do Sul e Taiwan começaram quase do zero em meados dos anos 1950 depois de guerras civis devastadoras Por uma década ou mais adotaram políticas típicas de substituição de im portações mas sem a longa experiência de independência da América Latina Além disso os novos setores industriais das nações do Leste Asiático eram mais fracos e menos compro metidos com o protecionismo Ao fim da década de 1960 Coreia do Sul e Taiwan começaram a incentivar seus capitalistas a produzirem bens industriais para consumidores estrangeiros em especial para os norteamericanos Esses governos utilizaram téc nicas variadas para impulsionar as exportações como emprésti mos a custo baixo e isenção de impostos para os exportadores e uma moeda muito fraca para tornar os produtos coreanos e taiwaneses artificialmente baratos Ambos os governos continuar am a proteger suas indústrias mas deram destaque à produção para exportação Diferentemente da maior parte da América Lat ina e da África as duas economias do Leste Asiático bem como e até mais Hong Kong e Cingapura tinham menos recursos nat urais exportáveis e menos escolha a não ser se beneficiar dos baixos salários para produzir manufaturados simples e vendêlos no exterior A nova estratégia de desenvolvimento de industrializ ação orientada para a exportação IOE promoveu e subsidiou a manufatura voltada para os mercados estrangeiros 623832 No fim da década de 1970 Coreia do Sul e Taiwan inundavam os mercados mundiais com brinquedos roupas móveis e outros manufaturados simples As exportações coreanas saltaram de US385 milhões em 1970 para US15 bilhões em 1979 sendo 90 delas de bens manufaturados Os bancos e as empresas in ternacionais consideravam os exportadores do Leste Asiático cada vez mais atraentes Eram ditaduras estáveis apoiadas pelos EUA e seu forte desempenho exportador assegurava um fluxo con stante de dólares para pagar seus credores internacionais Os dois países pegaram empréstimos volumosos e usaram os recursos na construção de suas bases industriais O governo do Coreia seguiu firmemente no desenvolvimento da indústria pesada por meio do patrocínio de usinas siderúrgicas modernas indústria química e um novo setor automotivo No início da década de 1980 o país tinha o maior estaleiro privado e a maior indústria de maquinário do mundo Diferentemente da maioria dos países em desenvolvi mento os reguladores e empresários decidiram tentar estabelecer uma indústria automobilística sem multinacionais Na década de 1970 o governo auxiliou as empresas locais a tomar empréstimos no exterior e a comprar tecnologias e expertise internacionais Logo os carros fabricados pela Hyundai Daewoo e Kia eram ven didos no mundo todo Quando veio a crise da dívida em 1982 Coreia do Sul e Taiwan foram muito menos afetados que a América Latina Seus negócios estavam voltados para o exterior e ambos podiam aumentar as exportações rapidamente para manter em ordem os débitos Depois de alguns anos difíceis os tigres asiáticos reto maram o crescimento rápido a substituição de bens manufatura dos simples por complexos de brinquedos a computadores de roupas e calçados a bicicletas e carros Essa progressão repercutiu os rumos do desenvolvimento industrial japonês com uma defas agem de 20 anos assim como o Japão tinha passado dos manu faturados simples e baixos salários na década de 1950 ao 624832 maquinário mais complexo e utensílios para consumidores em 1970 as excolônias japonesas fizeram praticamente o mesmo entre 1970 e 1990 Logo Coreia do Sul e Taiwan vendiam produtos industriais sofisticados de mercado intermediário Os carros coreanos foram um sucesso particular em 2000 o país fabricava por volta de três milhões de veículos anualmente cerca da metade para ex portação A Coreia do Sul também era líder mundial em chips aparelhos de TV e eletrônicos Taiwan era o terceiro maior fabric ante mundial de produtos de informática atrás apenas dos Esta dos Unidos e do Japão Na virada do século os dois países tinham padrões de vida praticamente iguais aos de Espanha e Portugal No decorrer da década de 1990 eles também se democratizaram parecendo contradizer as críticas de que o modelo do Leste Asiático precisava dos regimes ditatoriais para reprimir a classe trabalhadora e manter a mão de obra barata Os asiáticos pareciam liderar o caminho à frente do resto do mundo em desenvolvimento ou dos países em transição numa época em que a substituição de importações havia perdido a força e a planificação econômica se desintegrado O caminho da indus trialização voltada para a exportação significava abertura à eco nomia mundial atração de investimentos e financiamentos es trangeiros além de produção para os mercados externos Signi ficava uma integração irrestrita à divisão global do trabalho Isso ia de encontro a décadas de teoria e prática desenvolvimentista mas em poucos anos a nova estratégia seria adotada por quase todas as nações do Terceiro Mundo O Leste Asiático e a América Latina seguem o exemplo Os vizinhos próximos aos quatro tigres asiáticos se voltaram rapi damente para a promoção de exportações Tailândia Malásia 625832 Filipinas e Indonésia quatro países caracteristicamente agrários tinham falhado na industrialização por meio da substituição de importações Mesmo que esses governos tenham continuado a apoiar o empresariado nacional e a protegêlo da concorrência in ternacional eles abandonaram a ISI em favor da industrialização orientada para a exportação e em uma questão de anos todos se tornaram grandes exportadores industriais Os mais novos exportadores asiáticos se beneficiaram do su cesso de seus quatro predecessores Como Coreia do Sul Taiwan Hong Kong e Cingapura haviam se desenvolvido seus padrões de vida e seus salários subiram tão rapidamente que essas nações acabaram perdendo a atratividade para as manufaturas mais in tensivas em mão de obra As indústrias que deixaram Cingapura e Taiwan pelos custos excessivos encontraram mão de obra barata na Tailândia Malásia e Indonésia cujos governos pareciam ser tão habilidosos em administrar a economia quanto em controlar e reprimir a agitação política O capital estrangeiro inundou as três economias do sudeste da Ásia chegando finalmente às Filipi nas país mais instável politicamente e logo as exportações de manufaturados explodiram Como as quatro primeiras economias do Leste Asiático as quatro nações do Sudeste eram aliadas próxi mas dos Estados Unidos e temiam insurgências comunistas Essas realidades estratégicas sem dúvida tornavam mais interessante para esses países se integrarem à economia mundial liderada por Washington Nenhuma análise geopolítica racional no entanto pode expli car as duas transformações asiáticas mais notáveis a China comunista e o Vietnã A China no fim da década de 1970 e o Viet nã em meados de 1980 seguiram vigorosamente a direção da economia internacional A guinada do Vietnã foi chocante dadas as décadas de luta contra o Ocidente mas a penúria colocou o país na direção das reformas de mercado e da globalização Do isolamento econômico quase total do início dos anos 1980 o 626832 Vietnã em 2000 exportou US1 bilhão em camarão US1 bilhão em arroz e US5 bilhões em bens manufaturados Depois de déca das de guerra e estagnação em 15 anos a economia vietnamita triplicou de tamanho A transformação chinesa foi de longe a mais importante por se tratar da nação mais populosa do mundo O governo chinês de volveu as propriedades agrícolas aos fazendeiros particulares afastou o governo central da maioria das atividades econômicas estabeleceu áreas especiais de produção para exportação e acol heu as corporações internacionais O produto nacional quadrup licou em 20 anos e o padrão de vida triplicou Em 1992 a China superou o Japão como a segunda maior economia mundial A explosão de crescimento da China esteve intimamente rela cionada à sua integração à economia mundial As exportações chinesas subiram de US20 bilhões para US200 bilhões em 20 anos As exportações de manufaturados de menos de US10 bil hões para mais de US170 bilhões No fim da década de 1990 as empresas estrangeiras investiam US35 bilhões anuais no gigante asiático A China cujo papel na economia mundial tinha sido pequeno antes da Primeira Guerra Mundial e trivial durante os 50 anos de guerra civil e planejamento centralizado estava naquele momento à beira de se tornar uma das maiores economi as exportadoras do planeta A comparação entre a China e a Índia era impactante No fim da década de 1970 os produtos per capita dos dois países eram próximos mas em 2000 o da China atingiu o dobro do da Índia Em parte como produto dessa percepção desfavorável o compro metimento indiano com uma economia fechada finalmente se rendeu à investida asiática Em 1990 o governo começou a liber alizar tanto a economia doméstica quanto o comércio e os investi mentos internacionais O sucesso retumbante da indústria de software se aproveitou de alguns aspectos incomuns da vantagem comparativa indiana As excelentes universidades os empregos 627832 insuficientes para os universitários recémgraduados e o inglês muito falado tornaram a Índia o lugar ideal para recrutar engen heiros de software Muitos foram para a América do Norte trabal har mas a maioria ficou no país para escrever os códigos digitais de firmas indianas ou de outros países do mundo Antes do fim do século a exportação de softwares da Índia era só uma de suas principais atividades econômicas e trazia mais de US6 bilhões anualmente ao país o dobro da venda de roupas indianas no exterior A Ásia foi o primeiro bloco na renovada corrida pelo capital ismo global e pelos mercados mundiais mas a América Latina não ficou muito atrás A guinada da América Latina rumo à glob alização teve o Chile como pioneiro na década de 1970 sob a ditadura militar de Augusto Pinochet O país havia sido um dos mercados mais protegidos do mundo com tarifas de 250 ou mais Os generais chilenos associaram o modelo de industrializa ção via substituição de importações ao desenvolvimentismo popu lista que ajudou a esquerda a ganhar as eleições e poucos anos depois do golpe de 1973 a ditadura havia praticamente eliminado a proteção comercial e aberto as portas do mercado financeiro chileno A economia seguiu aos trancos e barrancos durante a crise da dívida mas depois de 1985 o regime militar voltou ao caminho da integração econômica Naquele momento o Chile gozava de uma vantagem de dez anos em relação ao resto da América Latina com privatizações abertura do comércio e integ ração financeira adotando variantes comparativamente radicais da nova ortodoxia tais como a eliminação dos fundos públicos de pensão em favor de um sistema de seguro social privado Com a eleição democrática de um governo civil em 1989 a desconfiança com que muitos latinoamericanos viam o exemplo chileno foi su perada Quando a coalizão de centroesquerda optou por dar con tinuidade às políticas voltadas para os mercados a má fama de 628832 tais políticas devido à sua associação com o regime sanguinário de Pinochet foi amenizada A manobra do Chile em direção às exportações começou a render frutos na década de 1990 quando a economia dobrou de tamanho em 2000 o Chile era o país mais rico da América Lat ina Esse crescimento se deveu aos laços formados com o restante da economia mundial no fim do século o comércio internacional do país somava US30 bilhões ao ano e os investimentos es trangeiros outros US5 bilhões muitas vezes os valores anteri ores O novo Chile globalizado se aproveitou dos transportes e das comunicações à longa distância para se especializar em alguns nichos pouco usuais A costa do país longa e irregular mostrou se perfeita para a criação do salmão e começando do zero em 1986 o Chile se transformou rapidamente no segundo maior ex portador mundial do peixe fornecendo mais da metade do salmão comprado pelos experientes consumidores japoneses A localização do país no hemisfério sul e o clima temperado são ideais para o cultivo de frutas de verão durante o inverno norte americano e europeu e ao longo de 20 anos o país triplicou as ter ras dedicadas ao cultivo das frutas triplicando também o rendi mento dessas terras Os consumidores dos países ricos passaram a considerar natural comprar uvas e pêssegos chilenos no mês de dezembro Em 2000 o Chile estava ganhando cerca de US4 bil hões por ano vendendo produtos desenvolvidos recentemente no país O processo serviu como estudo de caso de como a integração econômica estimula a especialização as possibilidades de ex portação levaram os agricultores a expandir a produção de frutas e os empreendedores a se lançar na indústria da criação do salmão Em menos de dez anos o restante da América Latina seguiu o exemplo do Chile e ingressou nos mercados mundiais O México segunda economia da região depois do Brasil liberalizou o comér cio e as políticas de investimento depois de 1985 Durante a 629832 década de 1990 as mudanças na política doméstica e a criação do Nafta transformaram o México de um país autossuficiente que substituía importações em uma nação de mecanismos livres e livrecomércio parte integrante da economia da América do Norte Em apenas dez anos o comércio total do país praticamente quadruplicou as vendas de manufaturados no exterior dis pararam de cerca de US10 bilhões para US120 bilhões en quanto os investidores estrangeiros despejavam US20 bilhões ao ano no membro do Nafta que pior remunerava seus trabal hadores Enquanto a metamorfose era particularmente estarrece dora no caso do México virtualmente toda a América Latina seguiu o exemplo O sociólogo marxista assume o poder Fernando Henrique Cardoso tornouse ministro da Fazenda do Brasil em 1993 depois de décadas de teorização produção escrita e debates sobre desenvolvimento Ele foi iniciado na política prat icamente desde o seu nascimento em 1931 seu avô e seu pai fo ram influentes generais brasileiros e sua família incluía vários líderes políticos mas ainda jovem Fernando Henrique escol heu a vida acadêmica e adotou o marxismo e o socialismo em vez do nacionalismo brasileiro tradicional de sua família10 Fernando Henrique dedicouse à academia depois da fac uldade na década de 1950 e estudou sociologia no Brasil e na França Sua tese de doutorado examinou as relações raciais no Brasil e depois em um de seus principais projetos ele investigou o comportamento político dos capitalistas brasileiros Foi mem bro fundador do mais famoso grupo brasileiro de estudos marxis tas e depois do golpe militar de 1964 aos 33 anos fugiu do país para o Chile onde escreveu uma série de estudos de grande in fluência para o desenvolvimento da América Latina Depois de 630832 um período na Universidade de Paris retornou ao Brasil em 1968 para lecionar na Universidade de São Paulo a USP até ser obri gado pela ditadura militar a deixar o cargo Com o apoio da Ford Foundation FHC e vários outros acadêmicos desempregados fundaram em São Paulo um respeitado centro de pesquisa de ciências sociais No começo da década de 1970 Fernando Hen rique era conhecido no mundo todo como um estudioso do desen volvimento e como um intelectual quase sem envolvimento com a prática política Na verdade Fernando Henrique Cardoso aderiu a um marxismo radical que praticamente rejeitava e com certeza não se engajava no ambiente político dominante na América Latina O marxismo de FHC era revolucionário a questão relev ante escreveu é como construir caminhos para o socialismo11 mas diferentemente de muitos outros da esquerda ele acred itava que o Terceiro Mundo poderia se desenvolver FHC repres entava um dos lados dos violentos debates da década de 1960 e 1970 entre marxistas e neomarxistas De um lado os linhadura adeptos da teoria da dependência para os quais o atraso do Ter ceiro Mundo era uma consequência da ordem econômica domin ada pelo imperialismo norteamericano e europeu Segundo eles o colonialismo havia retardado o desenvolvimento da África Ásia e América Latina e o imperialismo das corporações multinacion ais atrasava o crescimento dessas regiões de maneira semelhante A única alternativa seria uma revolução socialista enérgica em bora alguns admitissem que o nacionalismo extremo e o fechamento da economia pudessem ajudar Ao mesmo tempo em que FHC concordava que as opções dos países em desenvolvimento eram limitadas ele sustentava a ex istência de mais margem de manobra do que os teóricos linha dura imaginavam A dependência afirmava não impede o desenvolvimento Para aqueles que viam o socialismo como a ún ica alternativa para o subdesenvolvimento FHC acreditava que 631832 um governo modernizador poderia ter o apoio da classe média dos capitalistas progressistas e dos trabalhadores A base do seu estudo sobre a sociedade e os empresários brasileiros seria a ideia de que os governos podiam criar economias capitalistas locais que não fossem simples apêndices do império norteamericano Em tudo isso FHC foi fortemente influenciado pela experiência da ditadura brasileira A partir de 1967 o tamanho da economia do país triplicou de tamanho em menos de 15 anos FHC não duvi dava que o país estivesse se desenvolvendo apesar das imper feições da natureza antidemocrática do Estado brasileiro e da comunidade empresarial Enquanto alguns encaravam o contato com a economia mun dial como um obstáculo a ser superado pelos países em desenvol vimento FHC afirmava que esse era um aspecto fundamental do crescimento e rejeitava a visão dos comunistas e de outros da es querda de que os capitalistas locais fossem membros nacionalis tas de uma aliança antiimperialista Ele sustentava que As classes dominantes dada a crescente internacionalização da produção são forçadas a negociar com os que representam os in teresses externos e a reorganizar o sistema interno de exploração eco nômica de forma a competir em condições de igualdade dentro da nova realidade12 Na maior parte da América Latina escreveu O Estado abraça a aliança entre os interesses dos setores internacionalizados da burguesia e aqueles das burocracias públicas e empresariais A burguesia local se relaciona com esses setores13 Essa aliança pode ter tendências autoritárias ou outras tendências retrógradas mas também poderia impulsionar os países pobres para um desenvolvimento rápido Os acontecimentos logo deram a FHC a oportunidade de testar sua teoria de que o governo certo com as políticas certas poderia curar algumas das enfermidades do subdesenvolvimento Até o 632832 início da década de 1980 a má gestão econômica havia conduzido o Brasil à hiperinflação crônica e à crise embora a elite empres arial parecesse ávida por mudanças e a ditadura militar antes or gulhosa estivesse abandonando o poder ainda que de forma de sorganizada Em 1978 beneficiandose da abertura política FHC concorreu ao Senado pelo estado de São Paulo como candidato da oposição Ficou em segundo e quando o vencedor se tornou gov ernador do estado em 1982 as leis brasileiras o fizeram senador Perdeu um duro embate na campanha pela Prefeitura da cidade de São Paulo em 1985 mas continuou como senador proemin ente e foi líder da Assembleia Constituinte que redigiu a nova Constituição democrática do país Posteriormente FHC tentaria transformar suas ideias radicais em reformas políticas Sou favorável à abolição do sistema de exploradores e explorados Mas essa é uma questão de fé que talvez tenha uma importância bio gráfica ou moral O importante é desenvolver uma atitude política e não moralista O importante é saber quais forças se movimentam numa dada direção para introduzir o ato de fé na realidade da situ ação atual14 A avaliação de FHC sobre a realidade da situação atual o le vou a exigir que o Brasil se livrasse do protecionismo e do estat ismo Ele discursou no Senado em janeiro de 1988 Escolher o desenvolvimento implica um processo que por falta de um nome melhor chamarei de modernização mas que na verdade é a globalização da economia O Brasil não pode se isolar anacronica mente com uma política autárquica obsoleta que corre o risco de transformálo num imenso Camboja15 Enquanto isso o sistema político brasileiro estava em crise O primeiro governo civil não conseguiu resolver os problemas econ ômicos do país Em 1990 Fernando Collor de Mello na época um político provinciano e pouco conhecido foi eleito presidente Dois 633832 anos depois de tomar posse Collor sofreu um impeachment por corrupção desonestidade e incompetência Alguns anos antes FHC ajudara a criar o novo Partido da Social Democracia Brasileira PSDB e os sociaisdemocratas participaram do gov erno após o impeachment FHC tornouse ministro das Relações Exteriores em 1992 e em 1993 foi nomeado ministro da Fazenda O político ingressou no governo em um momento crítico a inflação estava acima de 2000 a produção industrial havia caído quase 20 em três anos e o comércio brasileiro estava estagnado Uma sucessão de planos de governo para controlar a crise fracassou e o característico otimismo do país estava no fim Em 1994 como ministro da Fazenda FHC apresentou mais um plano chamado Plano Real em função da nova moeda fixada no valor de um para um em relação ao dólar O plano foi bemsu cedido onde outros haviam falhado já que diferentemente dos an teriores FHC desejava impor medidas austeras A inflação baixou rapidamente e a economia permaneceu forte Em meio à euforia inicial do Plano Real FHC foi eleito presidente do Brasil Uma vez no cargo apressou as reformas econômicas reduziu as barreiras comerciais intensificou o comprometimento do país com a união aduaneira do Mercosul e vendeu uma centena de bilhões de dólares em empresas públicas incluindo empreendimentos em blemáticos como companhias elétricas empresas de telecomu nicações siderúrgicas e ferrovias Em quatro anos a inflação es tava abaixo de 10 o comércio brasileiro havia dobrado a eco nomia crescia e parecia um ímã para os investidores estrangeiros atraindo dezenas de bilhões de dólares a cada ano Os antigos companheiros de esquerda de FHC criticaram duramente a opção dele pelo comércio e pelos investimentos in ternacionais bem como o seu entusiasmo em desmantelar grande parte do setor público O presidente rejeitou as críticas como Pura pose em um plano puramente ético Eles não enxergam a realidade não enxergam os padrões sociais reais não enxergam o 634832 que está mudando Eles não enxergam nem mesmo os fatos Isso impede a ação política16 FHC insistia na necessidade de se ad aptar às mudanças de realidade mesmo mantendo seus princípi os Devemos continuar sendo dessa forma socialistas disse ele em 1997 preocupados com o social Mas isso não pode ser feito de uma forma antiquada como se fosse possível por um ato de vontade política apertar um botão e fazer as coisas acontecer em17 Fernando Henrique foi um mestre da prática política Tornou se o primeiro presidente eleito em 40 anos a completar o man dato e em 1998 conseguiu um segundo período no governo Em 19981999 as crises cambiais ameaçaram a gestão econômica do governo mas o professor de sociologia marxista teve êxito onde tantos outros haviam falhado O governo FHC domou a inflação e um setor público desgovernado destruiu barreiras comerciais e pôs a economia do país na direção dos mercados mundiais O presidente abandonou sua convicção de que suas ações políticas deviam ser coerentes com seus compromissos teóricos afirmando que ele Estava permitindo que os setores mais avançados do capitalismo pre valecessem Esse certamente não é um regime a serviço do capital ismo monopolista nem do capitalismo burocrático mas serve àquele capitalismo competitivo diante das novas condições de produção Ele é nesse sentido socialmente progressista18 Depois da década perdida de 1980 com a crise da dívida a depressão econômica a hiperinflação e a desorganização política o Brasil de FHC havia se transformado em menos de dez anos O governo de Fernando Henrique desmantelou o papel dominante do Estado na produção e eliminou a maioria dos controles sobre o comércio exterior As empresas brasileiras entraram nos merca dos do globo com um entusiasmo nunca visto desde o boom do café da década de 1920 ao passo que os investimentos 635832 estrangeiros inundavam o país com o mesmo vigor O Brasil deu um salto do quase isolamento econômico para um vigoroso enga jamento liderando o terceiro maior bloco comercial do mundo Era muito cedo para confirmar a hipótese do professor marxista de que um bom governo e a globalização poderiam levar ao desen volvimento econômico mas o Brasil passou a ser uma parte in contestável da divisão internacional do trabalho em progresso A Europa oriental se une à ocidental Depois da queda do muro de Berlim muitos se perguntavam se algum dia as antigas nações comunistas da Europa central e do leste alcançariam a parte ocidental do continente do ponto de vista econômico A resposta para essa pergunta é ambígua por várias razões Primeiro não é fácil avaliar as estatísticas tanto aquelas da era da planificação econômica quanto as posteriores de fluxos incrivelmente rápidos Até o fim do século não se havia chegado a resultados precisos Além disso é difícil comparar os padrões de vida numa economia planificada com os de uma eco nomia de mercado como podemos comparar a seguridade social do berço à tumba do comunismo com a liberdade de consumo e trabalho do capitalismo Por fim as experiências das economias em transição variaram muito entre 1990 e 2000 a Europa cent ral e os Estados bálticos se saíram muito melhor do que a maioria das repúblicas que formavam a antiga União Soviética A década de 1990 foi tremendamente difícil para toda a Europa central e do leste e em especial para a antiga URSS Os otimistas apontam uma série de países que obtiveram grandes conquistas Polônia Hungria República Tcheca Eslováquia e Eslovênia juntamente com o país báltico da Estônia Mesmo entre essas vitrines do capitalismo a Polônia foi o único caso in questionável de melhoria sua economia cresceu mais de 30 636832 entre 1990 e 2000 No restante da região em 2000 o produto per capita mal alcançava os níveis de 1989 As medidas convencionais de crescimento econômico não mostraram evidências claras de que esses países em transição estivessem convergindo para o padrão de vida da parte ocidental Entretanto os países da Europa central e talvez os bálticos começaram a se equiparar à Europa ocidental de diversas formas Uma delas foi política com a consolidação da democracia e dos Estados de bemestar social ao estilo europeu A outra foi institu cional à medida que o trabalho de estabelecer bases legais e polít icas já havia sido completado pelo capitalismo Sistemas fin anceiros redes comerciais e gestões regulatórias se desen volveram para promover as novas economias Por fim e talvez o aspecto mais importante esses países entraram na órbita econ ômica da União Europeia reorientaram suas economias no sen tido oposto ao da União Soviética e de seus aliados e se lançaram entusiasticamente no mercado único da Europa ocidental Depois de negociarem os termos de uma eventual entrada na UE as nações mais avançadas da Europa central implementaram polític as europeias e se prepararam para uma associação plena à União Buscaram meios de aproveitar suas características geográficas e econômicas para atrair investimentos estrangeiros e vender seus produtos nos mercados ocidentais Alguns países da Europa central tinham uma vantagem Hun gria Polônia e Eslovênia haviam sofrido reformas substanciais durante o período da planificação econômica e já estavam famili arizadas com o ambiente empresarial competitivo ainda que não tão competitivo quanto o do verdadeiro capitalismo A antiga Tchecoslováquia tinha experiência industrial de longa data pois a região fora uma das principais áreas fabris da Europa durante aproximadamente um século e alguns dos seus produtos permaneceram bemcotados mesmo durante o período comunista A Estônia com afinidades linguísticas e culturais com 637832 seus irmãos finlandeses era uma espécie de passagem para o Ocidente mesmo sob o domínio soviético Ainda assim os céticos duvidavam da capacidade do povo da Europa central de se adaptar a uma ordem social capitalista com a qual somente os mais velhos tinham qualquer experiência Espec ulavam se as realidades sociais e culturais da região iriam desacel erar a movimentação dos mercados Entretanto essa primeira série de países da Europa central deu um rápido salto para a eco nomia de mercado e para os mercados do globo Isso ocorreu mesmo quando as eleições democráticas levaram os antigos comunistas de volta ao poder como aconteceu na Polônia e na Hungria A esquerda se refez no papel de garantir a socialdemo cracia no capitalismo com um lado humano e concluiu as privatiz ações entre outros elementos da trilha dos mercados Estabilid ade política progresso das reformas trabalho capacitado e barato e comunidades de negócios ativas tornaram essas economias at raentes para os investimentos corporativos multinacionais Isso valia tanto para as firmas que desejassem acessar os crescentes mercados consumidores da Europa central e oriental quanto para as que quisessem usar os países em transição como plataformas para fabricação de produtos baratos para exportação e venda no Ocidente Ao longo da década de 1990 a Hungria com uma popu lação de dez milhões de pessoas atraiu US20 bilhões em investi mento direto externo mais do que a Rússia com seus 200 mil hões de habitantes A Polônia recebeu US30 bilhões de empresas estrangeiras e a República Tcheca 15 bilhões As empresas chegaram à região aos bandos As da Europa ocidental se movimentaram rapidamente para reconstruir as re lações comerciais que tinham sido interrompidas por décadas e para desencavar locais de produção e mercados nas distantes ter ras da UE agora redescobertas As empresas norteamericanas e asiáticas que buscavam trampolins de baixo custo para o mer cado europeu também agarraram a oportunidade A Daewoo 638832 gastou US15 bilhão para construir duas fábricas de automóveis na Polônia a Sony estabeleceu fábricas de alta tecnologia de aparelhos eletrônicos para ganhar consumidores na Hungria a Goodyear comprou uma fábrica de pneus polonesa a Volkswagen fortaleceu a respeitada indústria automobilística Skoda da República Tcheca A sueca Electrolux líder mundial na produção de utensílios de cozinha transformou um refrigerador obsoleto produzido pelo Estado húngaro em um modelo para esta indústria As empresas da Europa Ocidental estavam especialmente an siosas para comprar as fábricas existentes ou erguer novas unid ades na Europa central na tentativa de melhorar sua posição com petitiva global A antiga região comunista de trabalhadores capa citados e malpagos tornouse um lugar natural para produzir peças e componentes para a economia industrial integrada da Europa Em 1991 por exemplo a Thomson conglomerado francês cuja divisão de eletrônicos de consumo vendia sob nomes como GE RCA e Telefunken arrendou uma fábrica de televis ores falida na Polônia que mal produzia cem mil tubos de im agem por ano Pouco tempo depois as instalações da Thomson Polkolor já incrivelmente eficientes passaram a produzir quase cinco milhões de tubos 23 deles para venda no exterior No total a Polônia exportava meio bilhão de dólares em aparelhos de televisão e muito mais em componentes e metade das ex portações do país vinha das afiliadas locais de empresas multinacionais No fim do século a Europa central havia se tornado crucial para a economia europeia como principal supridora local de mão de obra barata e altamente preparada As empresas da região forneciam eixos para a Volvo móveis para a Ikea e equipamentos eletrônicos para a Philips Os produtos da Europa central eram indispensáveis para os fabricantes europeus conscientes dos cus tos necessários para competir com a América do Norte e a Ásia 639832 Assim como o México e a Bacia do Caribe foram atraídos para um complexo de produção integrada na América do Norte os europeus dos países centrais e orientais estabeleceram uma posição vital na economia industrial europeia Em 1990 quando o Muro de Berlim veio abaixo poucos teriam previsto que em 2000 as nações da Europa central estariam integradas à eco nomia da UE A nova divisão internacional do trabalho Legiões de países em desenvolvimento e em transição se puseram em marcha rumo à nova divisão internacional do trabalho se agrupando segundo as características econômicas com maior probabilidade de sucesso Os primeiros quatro tigres asiáticos Coreia do Sul Taiwan Hong Kong e Cingapura usaram os baixos salários para determinar logo no início sua pretensão de produzir manufaturados intensivos em mão de obra como roupas calçados e móveis Como o sucesso industrial fez os salári os subirem e os tirou desses mercados os tigres se mobilizaram para se beneficiarem das despesas com mão de obra ainda mod estas dos trabalhadores relativamente capacitados e da já con siderável experiência fabril Esses países atingiram um nível in dustrial considerado médio e passaram a fabricar eletrônicos domésticos e computadores Essa nova onda de nações do Leste Asiático Tailândia In donésia e a China em especial rapidamente preencheu o lugar no mercado que o grupo anterior havia deixado vago No ano 2000 havia nações do Leste Asiático adaptadas a todas as cat egorias da escala de divisão regional do trabalho desde a mais pobre até a mais rica das atividades mais intensivas em mão de obra até as de mais alta tecnologia dos trabalhadores menos ca pacitados aos mais especializados em outras palavras da China 640832 passando por Taiwan e Coreia ao Japão O Japão era o líder fin anceiro e tecnológico Coreia do Sul e Taiwan dispunham de tra balhadores especializados técnicos e administradores e se con centravam na fabricação de bens sofisticados como computa dores automóveis e equipamentos eletrônicos Os que se indus trializaram um pouco mais tarde como a China em especial dominavam o mercado de produtos intensivos em mão de obra Os países em desenvolvimento de todo o mundo buscavam es tratégias de sucesso para se converterem em locais de investi mento e plataformas de exportação A localização era um atributo valorizado A proximidade do México com o mercado norteamer icano abria portas para que o país montasse produtos para reex portação um processo que o resto da Bacia do Caribe tentava im itar A Europa central apostou em sua habilidade de servir de an exo ao mercado único europeu Chile e Nova Zelândia transform aram outro aspecto relacionado à localização o fato de estarem situados no hemisfério sul numa vantagem para a produção de alimentos frescos fora de época no norte Recursos naturais e humanos também serviram de trampolins para o sucesso Os salários na China eram baixos assim como ocorria em outros países pobres da Ásia Brasil e Indonésia con tavam com os minerais Tailândia e Vietnã dispunham da agricul tura tropical e aquicultura A grande riqueza da Índia os engenheiros bemtreinados que falavam inglês forneceu a base para uma das principais indústrias do mundo no ramo de softwares Os países tragados pela implacável rivalidade dos mercados mundiais eram levados a aguçar suas habilidades competitivas e a se concentrar no que faziam de melhor Ao fazerem isso suas eco nomias se tornaram mais eficientes e cresceram rapidamente Esses foram casos de sucesso argumentos para a defesa do capit alismo global As conquistas dessas nações foram reais em ter mos de crescimento econômico de padrão de vida e até na 641832 maioria dos casos de melhor desenvolvimento social Alguns discordavam em função dos custos da transição crescente vul nerabilidade à volátil economia internacional ou maior penet ração das influências estrangeiras Porém os entusiastas da glob alização do Leste Asiático e da América Latina compartilharam do rápido crescimento econômico do fim do século XX 642832 19 Os que ficaram para trás Em 1965 ao comemorar a criação de um novo Estado a popu lação da Zâmbia tinha motivos para estar otimista O país era uma das excolônias africanas em melhor situação não era rica mas era próspera e promissora Zâmbia e Coreia do Sul apresentavam níveis de desenvolvimento semelhantes mas a Zâmbia tinha muitas reservas de cobre e seu governo era honesto e gozava de credibilidade enquanto a Coreia do Sul não tinha nenhum re curso extraordinário e seus líderes eram desprezados e ridicular izados A colônia britânica que antes se chamava Rodésia do Norte era uma grande produtora de cobre há mais de 20 anos e o presidente recémeleito na época Kenneth Kaunda era popular no país e respeitado no exterior por sua inteligência e seriedade Trinta anos depois a renda do zambiano médio não chegava nem à metade da verificada na época da independência e Kaunda desacreditado foi derrotado nas eleições Na mesma época a Coreia do Sul já podia ser considerada 18 vezes mais rica que a Zâmbia e um zambiano levava em média um ano para produzir o que um coreano fabricava em três semanas de tra balho A Coreia do Sul estava a ponto de ser incluída no mundo desenvolvido mas a economia de países como a Zâmbia entre outras semelhantes havia fracassado tão miseravelmente que foi preciso inventar uma nova categoria países menos desenvolvidos PMDs ou Estados falidos A Zâmbia não era um caso isolado Em meio às promessas de paz e prosperidade típicas do capitalismo global as últimas déca das do século foram cruéis para os pobres Os países mais pobres do mundo em especial os da África subsaariana não passaram por melhorias significativas do padrão de vida e sim por declínios consideráveis em muitos casos Muitos dos países que anterior mente adotavam a planificação econômica central acabaram mais pobres do que antes da transição para o capitalismo Mesmo entre as nações com melhores resultados crises de câmbio e de dívida interromperam os avanços econômicos e as histórias de sucesso da década de 1980 acabaram se revelando menos impressionantes no final Até o ano 2000 a pobreza afligia cerca de 13 dos cinco bilhões de habitantes dos países em desenvolvimento o que rep resentava alguma melhora desde 1985 pois a parcela da popu lação mundial que vivia na pobreza tinha diminuído mas o número de indivíduos pobres tinha aumentado em 100 milhões alcançando 16 bilhão1 Os benefícios da integração econômica global não pareciam ter chegado às bilhões de pessoas que ficaram muito para trás em re lação aos ricos E o fato ainda mais alarmante era que centenas de milhões de indivíduos haviam sofrido quedas reais de padrão de vida além de não acompanharem os residentes dos países em crescimento ficaram em situação ainda pior De 1973 até o fim do século o produto per capita dobrou nos países capitalistas avançados e triplicou nas nações asiáticas que cresciam rapida mente Nas economias da África da Ásia estagnada da América Latina da Europa oriental e da antiga União Soviética chamadas pelo economista Angus Maddison de as 168 economias esta cionárias o mesmo produto caiu 102 Esses países abrigavam mais de 13 da população mundial e nenhum deles havia feito 644832 nada mais interessante do que se agarrar à base da pirâmide do desenvolvimento As falhas dos países mais pobres cujo crescimento no fim do século foi insignificante praticamente não causaram impacto na ordem econômica mundial pois essas economias representavam parcelas mínimas do comércio do investimento e da produção mundiais Mesmo que as estimativas fossem infladas de forma generosa para refletir um poder de compra real a África da Ar gélia ao Zimbábue não responderia nem por 3 do produto mun dial A nação mais populosa da África a Nigéria com 110 milhões de habitantes tinha uma economia menor que a da Suíça com sete milhões de pessoas O continente com sua população de 800 milhões quase igual à de todos os países industriais da Europa ocidental América do Norte e Japão somados tinha uma eco nomia menor que a da Itália ou da Califórnia Até os eventos eco nômicos mais terríveis numa proporção tão diminuta da eco nomia global causavam um impacto direto mínimo no restante do mundo Apesar disso a grave situação de 14 da humanidade desper tava preocupação por dois motivos O primeiro era moral não se podia falar seriamente em progresso econômico global enquanto houvesse mais crianças subnutridas na África e no sul da Ásia em 2000 do que 1975 O segundo era pragmático o abismo cada vez maior entre ricos e pobres representava uma séria ameaça até mesmo para os ricos O ressentimento político entre aqueles que atribuíam seus males sociais ao capitalismo global poderia se con verter em hostilidade contra o Ocidente E de forma mais patética as sociedades que sofriam com o desastroso atraso corriam o risco de descambar para o caos e a desordem com consequências as sustadoras para a saúde e a segurança de seus vizinhos A acintosa distância entre ricos e pobres exigia atenção mundial embora raramente conseguisse resposta 645832 A decepção causada pela transição e reformas Na virada do novo século o caminho para o crescimento parecia passar inevitavelmente pela globalização ainda que esse caminho fosse coberto de decepções Um grande número de países comunistas e em desenvolvimento havia abandonado o protecion ismo e a planificação econômica e seguido os rumos do mercado ainda que poucos tivessem obtido melhorias substanciais nos padrões de vida As razões desses desempenhos frustrantes abrangeram desde políticas ruins e deficiências de implementação até falta de sorte e problemas políticos As decepções revelaram que não havia soluções simples para os problemas do desenvolvi mento e que para se obter sucesso às vezes era necessário en frentar obstáculos assustadores A resistência à adoção de novas políticas explica algumas des sas decepções Muitos países demoraram e relutaram em aceitar mesmo que parcialmente que a substituição de importações e as estratégias a ela relacionadas não estavam funcionando O Egito por exemplo começou pelo desmantelamento do seu socialismo árabe antes de 1980 mas as transformações foram no máximo provisórias A maioria dos esforços egípcios no sentido da liberal ização foi incompleta e muitos foram revertidos antes de sua im plementação total A questão era política reformas comerciais e industriais significavam ataques a interesses especiais de buro cratas e empresários enquanto reformas orçamentárias im plicavam cortes de programas sociais processo que alimentava os movimentos de oposição dos radicais islâmicos O resultado de 20 anos de reformas econômicas apáticas foi um país com 70 mil hões de pessoas pouco acima da estagnação econômica Do outro lado do mundo decepções semelhantes se seguiram aos protestos em massa do movimento popular das Filipinas que tirou Ferdinando Marcos do poder em 1986 O país deu início a uma nova etapa de reformas e os governos democráticos 646832 prometeram desmantelar o capitalismo de camaradagema do re gime de Marcos No caso das Filipinas as mudanças também fo ram difíceis politicamente e implementadas de forma muito lenta sem nenhum vigor Os resultados foram tão medíocres quanto no Egito até o ano 2000 a renda per capita mal alcançava a da épo ca da ditadura de Marcos O desempenho da nação insular foi particularmente sombrio em 1980 Filipinas e Tailândia tinham padrões de vida semelhantes mas até o ano 2000 a Tailândia al cançou uma renda per capita três vezes maior que a das Filipinas A região que antes representava o bloco soviético apresentou casos surpreendentes de reformas incompletas e de desencanta mento econômico Ninguém esperava que fosse fácil superar décadas de planificação e de isolamento econômico Os problemas técnicos e organizacionais envolvidos no estabelecimento de uma economia de mercado eram agravados por obstáculos políticos e sociais As economias em transição eram caracterizadas por in teresses há tempos solidificados Burocratas gerentes de fábricas e outros privilegiados sabiam como fazer o sistema trabalhar a seu favor e se utilizavam disso enquanto tudo se desmantelava Esses grupos bloqueavam as transformações econômicas desfavoráveis reservando posições monopolistas para si e para suas empresas além de adquirir o controle dos ativos mais valorizados das com panhias que imaginavam que pudessem vir a ser privatizadas Enquanto os membros dos antigos grupos dominantes blo queavam e perturbavam as mudanças econômicas a população em geral demonstrava cautela em relação à economia de mer cado Os habitantes do bloco soviético se tornaram dependentes da estabilidade social do comunismo do pleno emprego da edu cação e dos serviços baratos e à disposição Com o capitalismo veio o risco a ameaça da pobreza e até mesmo a fome O povo não ia se lançar na economia de mercado sem uma rede de proteção e os governos enfrentavam demandas insistentes por serviços soci ais mesmo quando estavam sem recursos Esses fatores 647832 desaceleraram as reformas econômicas em toda a exUnião Soviética e nas nações mais atrasadas dos Bálcãs Albânia Bul gária Romênia e a antiga Iugoslávia Foram poucos os que previram o colapso econômico result ante da transição do socialismo para o capitalismo No ano 2000 na exUnião Soviética a renda real por pessoa mal atingia a met ade do valor verificado uma década antes Na faixa ao Sul da an tiga URSS uma região com 80 milhões de pessoas que se espal havam da Moldávia Ucrânia Armênia Azerbaijão e Geórgia até a Ásia Central a economia recuou chegando a menos de 35 do volume de 1989 Nesses países o padrão de vida era comparável ao predominante antes da Segunda Guerra Mundial o colapso do período de transição provocou um retrocesso de mais de 50 anos Na Rússia e Bielorrússia na Lituânia na Letônia e em partes da Ásia Central o produto per capita passou a girar em torno de 50 dos valores préreforma aproximadamente o mesmo patamar de 1960 Ao longo da década de 1990 na maior parte da antiga União Soviética a proporção de habitantes vivendo na pobreza passou de 2 para mais de 50 o que era particularmente chocante se comparado ao histórico de um sistema socialista que oferecia mesmo com algumas falhas uma rede de seguro social efetiva que protegia os cidadãos do horror do empobrecimento Isso in comodava principalmente o cidadão médio que passou a conviver com uma miséria galopante ao mesmo tempo em que butiques de alto nível boates exclusivas e concessionárias de carros de luxo surgiam aos montes em Moscou São Petersburgo e Kiev para servir a uma nova geração de milionários da privatização os lad rões da nobreza do novo capitalismo As condições sociais e de saúde se deterioraram de forma alar mante em especial na exUnião Soviética Talvez o aumento do abismo entre ricos e pobres tivesse sido inevitável já que o sis tema socialista do país desmoronava e o mercado crescia como 648832 força dominante Entretanto o tamanho do abismo e a rapidez com que cresceram as desigualdades entre ricos e pobres chocavam a todos a Rússia que tinha uma distribuição de renda praticamente tão igualitária quanto a dos países escandinavos passou a ter depois de apenas dez anos classes sociais tão polar izadas quanto nações da África subsaariana como a Zâmbia por exemplo Até 1998 os 10 mais ricos da população tinham parti cipação duas vezes maior na receita russa do que dez anos antes enquanto a renda dos mais pobres cerca de 50 da população caiu pela metade3 Os revezes econômicos afetaram o setor de saúde do país em parte porque os gastos na área diminuíram 60 A expectativa de vida masculina despencou no início da década de 1990 chegando a 57 anos índice comparável ao do Paquistão Em 1999 a taxa global de mortalidade na população de homens era mais de 20 maior que em 1990 um fenômeno sem precedentes nos países modernizados exceto em épocas de guerra Diante da queda brusca do padrão de vida uma década depois de a antiga União Soviética e seus aliados começarem a jornada para o capitalismo a opinião pública não demonstrava nenhum entusiasmo com o caminho escolhido Governos liderados pelo antigo Partido Comunista foram eleitos em diversos países da ex URSS e do Leste Europeu muitos com uma nova roupagem socialdemocrata ao estilo ocidental Contudo o fato de países como Lituânia Polônia Ucrânia e Hungria elegerem governos comunistas por livre escolha poucos anos depois da queda do Muro de Berlim era surpreendente O apoio desses países aos comunistas de outrora em todo o antigo bloco soviético refletia em larga medida algumas convicções que a transição para o cap italismo tinha sido dura demais que seus custos sociais eram al tos demais e que os comunistas iriam restabelecer o equilíbrio entre os mercados e as políticas sociais 649832 A Estônia e o Uzbequistão foram os dois únicos países do anti go bloco soviético cujas economias praticamente haviam recuper ado os níveis de 1989 Os dois representavam extremos a Estônia era a mais europeia das repúblicas soviéticas e o Uzbequistão um dos países com maior influência muçulmana a Estônia havia pas sado por um processo de reformas e redemocratização dos mais complexos e o Uzbequistão era um dos regimes mais autoritários e com menos mudanças na economia As causas do relativo su cesso de ambos se é que uma árdua batalha de dez anos pela sobrevivência pode ser considerada um sucesso eram dia metralmente opostas a Estônia foi bemsucedida por ter reform ado quase tudo e o Uzbequistão foi bemsucedido por ter reform ado quase nada No entanto os dois países eram exceções pois o resto do que foi a União Soviética seguia tropeçando no caminho das mudanças políticas e econômicas incompletas e perdendo cada vez mais terreno em relação ao Ocidente As condições no restante do bloco soviético não eram tão terrí veis tampouco animadoras Os países da Europa central e do leste adotaram a economia de mercado com veemência suas eco nomias perderam menos força e se recuperaram mais rapida mente de forma que até o ano 2000 o padrão de vida havia re tornado aos níveis anteriores ou até os superado em alguns casos As economias mais atrasadas dos Bálcãs que sofreram menos re formas estavam em média 25 mais pobres do que durante a era comunista Assim como ocorria na antiga URSS os extremos de prosperidade e pobreza proliferavam Muitos achavam difícil aceitar que levaria décadas para se aproximarem do padrão de vida predominante a poucas centenas de quilômetros de distân cia do outro lado do Danúbio Milhões de europeus fugiram do leste para o lado ocidental juntandose aos turcos e aos imigrantes do norte da África na busca por subempregos em cid ades como Madri ou Berlim 650832 Desesperados indivíduos de toda a região também aderiam em bandos a fundos de investimentos do tipo façafortunarápido Só na Romênia havia 600 redes desse tipo a maior delas Caritas prometia dobrar o dinheiro do investidor em três semanas e at raiu 20 da população antes de falir deixando mais de US1 bil hão em dívidas irrecuperáveis Na Albânia o país mais pobre da região as pirâmides captaram metade da população chegando a se equiparar com a economia nacional Quando faliram como era inevitável o pânico financeiro resultante a crise política e o descontentamento nas ruas forçaram o governo albanês que tinha muitos membros e adeptos envolvidos com os esquemas a cobrir alguns investimentos a um custo equivalente a 34 do orça mento anual A facilidade com que estes esquemas clássicos at raíram os russos tchecos e búlgaros refletia um misto de de cepção diante da realidade das sociedades de mercado com a ilusão do que uma economia de mercado podia oferecer Ao mesmo tempo na América Latina o clima também era de decepção pois a globalização gerou menos resultados tangíveis do que seus defensores esperavam A maior parte da região seguiu os conselhos do Ocidente com mais lealdade do que os adeptos do Consenso de Washington ousariam esperar No entanto muitas economias regionais estavam estagnadas ou em recessão Depois de 15 anos de estabilização ajustes e reformas econômicas só um país da América Latina o Chile tinha um produto per capita in discutivelmente maior em 2000 do que em 1980 Alguns países podiam ter crescido um pouco mas de uma forma geral só se via decadência Isso foi desgastante para nações como o México e a Argentina considerados modelos no processo de privatização na liberalização do comércio e na integridade macroeconômica De pois da terrível década perdida de 1980 ambos implementaram reformas radicais que prometiam um crescimento revigorado mas a realidade decepcionou se é que a década de 1990 obteve 651832 algum crescimento ele foi erodido pelas crises e recessões recorrentes Alguns dos problemas da América Latina foram causados devido à adoção de novas políticas de forma incompleta ou insufi ciente Por exemplo alguns países abriram as portas para as fin anças internacionais impulsivamente sem antes modernizar es truturas financeiras e regulamentações internas Algumas vezes os fluxos de capitais resultantes sobrecarregavam o sistema bancário nacional e ajudavam a deflagrar crises bancárias devast adoras Em outros locais os governos se encontravam num im passe entre a ambição de manter a moeda forte para controlar a inflação e a vontade conflitante de desvalorizar a moeda para es timular exportações Isso levou a crises cambiais México em 1994 Brasil em 19981999 e Argentina em 20012002 que in terromperam o crescimento A transformação da região levou as indústrias locais a melhorias de qualidade e a avanços tecnológi cos aumentando as opções para o consumidor Além do mais a experiência do Chile onde as reformas só renderam frutos 15 anos mais tarde enchia de esperança o restante da região Mesmo assim a decepção permeava a América Latina no início do novo século A experiência da década de 1990 demonstrou o sofrimento e as dificuldades de décadas de falta de dedicação a políticas econ ômicas As relações econômicas políticas e sociais tinham se desenvolvido sob a velha ordem da substituição de importações e da planificação econômica centralizada e era complicado desfazer tais políticas Mesmo os países que contavam com um relativo apoio interno para implementar reformas e transformações polít icas como em grande parte da América Latina e da Europa cent ral o crescimento foi lento ou negativo Grande parte da antiga União Soviética e dos Bálcãs onde havia menos entusiasmo com as reformas e menos disposição para os sacrifícios que exigiam havia o risco de uma estagnação a longo prazo Na virada do 652832 século XXI a globalização continuava sendo apenas uma promessa para muitas das economias em transição e dos países em desenvolvimento que haviam optado por ela Desastres do desenvolvimento Enquanto as experiências econômicas da América Latina e do ex tinto bloco soviético decepcionaram em outras partes do mundo em desenvolvimento ocorreu um verdadeiro desastre As catástro fes econômicas se deram principalmente na África subsaariana e no Oriente Médio com alguns outros casos isolados na Ásia e na Bacia do Caribe Regiões do mundo em desenvolvimento caíram em um abismo de pobreza e desespero extremos O declínio mais assustador ocorreu na África mas nem todos os países do continente tiveram performances desastrosas As nações do sul como África do Sul Suazilândia Botsuana e Namíbia e alguns países mediterrâneos do norte como o Gabão e o Congo dois minúsculos produtores de petróleo es tavam em condições três ou quatro vezes melhores que a média das outras economias Entretanto as 43 nações restantes juntas ou seja meio bilhão de africanos eram as mais pobres do mundo e continuavam empobrecendo entre 1980 e 2000 a renda média nessas regiões caiu 25 O entusiasmo e o otimismo das nações africanas que haviam conquistado a independência na década de 1960 transformaramse em um fracasso sem precedentes já que a maioria delas chegou ao fim do século mais pobre do que era na época da independência Essas nações empobrecidas da África seguiram caminhos di versos para o retrocesso econômico Algumas puderam alegar fatores além de seu controle O aumento do preço mundial do pet róleo criou sérios problemas para os países dependentes desse tipo de importação e o mesmo efeito teve o declínio nos preços 653832 das principais commodities de exportação entre eles o cacau e o cobre Alguns acadêmicos afirmam que o clima e as doenças tor navam os trópicos particularmente desfavoráveis para as ativid ades econômicas modernas doenças infecciosas como a malária são de difícil controle e o calor extremo aliado a chuvas torrenci ais tornam as condições de trabalho adversas Outros enfatizam as dificuldades inerentes em termos de transportes agravadas pelas estranhas fronteiras impostas pelos colonizadores O fato é que a maioria dos países africanos é tropical sem saída para o mar ou ambos4 Por mais que o desenvolvimento desses países miseráveis fosse desanimador diante das condições enfrentadas as experiências vividas foram bastante variadas Podemos com parar por exemplo os casos de países parecidos em que o primeiro se saiu bem e o outro fracassou BotsuanaZâmbia GabãoZaire TailândiaMianmar Muitos países conseguiram se ajustar ao ambiente de alta nos preços das importações ou de queda nos preços das exportações O fato de alguns países terem se saído melhor que outros embora tivessem se especializado nos mesmos produtos leva a crer que a condenação à penúria não pode ser explicada por limitações geográficas Os conflitos regionais do período póscolonial fossem políti cos étnicos ou de outra natureza tiveram um preço Angola foi assolada pela guerra civil imediatamente após a independência de Portugal em 1975 quando facções regionais ideológicas e étnicas lutavam pelo controle do país Apesar dos extraordinários re cursos naturais petróleo diamantes café 25 anos de guerra condenaram o país a terminar o século 60 mais pobre do que na época da independência No outro extremo do continente a popu lação da Etiópia mal teve tempo de comemorar a derrubada de Haile Selassie em 1974 pois o país mergulhou em conflitos que duraram 15 anos primeiro ao longo do novo regime militar e de pois entre o governo e grupos rebeldes A vitória dos rebeldes em 1991 instaurou a paz por alguns anos mas em seguida estourou a 654832 guerra contra a Eritreia Nações como Angola e Etiópia entre vários outros países pobres investiram tanto tempo energia e dinheiro em conflitos civis e militares que o simples fato de ter restado pouco para o desenvolvimento econômico não gera qualquer surpresa E por fim havia a nova categoria dos estados falidos países que deixaram de ser entidades organizadas A denominação foi controversa mas nações como Afeganistão Somália Libéria Iê men e Serra Leoa mergulharam em algo muito próximo da anar quia por longos períodos Não havia governos estabelecidos apenas terror e falta de leis um colapso da ordem social sem qualquer perspectiva de superação O lento crescimento econ ômico não era nada se comparado ao assassinato de centenas de milhares de civis por bandos de saqueadores ou ao genocídio que destroçou Ruanda Apesar disso não é possível afirmar que essas tragédias de terminaram os desastres econômicos dos países menos desen volvidos As deficiências econômicas em geral foram as causas não as consequências de guerras civis e derrubadas de governos dado que a incapacidade das lideranças de garantir as necessid ades básicas às populações levava ao colapso constante da autor idade O fato de países como Gana Haiti Sudão Libéria Afegan istão e El Salvador serem mais pobres em 1980 do que 20 anos antes foi a principal fonte dos conflitos que assolaram essas e out ras nações após 1980 Quais foram as causas dos desastres de desenvolvimento do fim do século XX Os acontecimentos exter nos e as incontroláveis lutas internas influenciaram mas as crises foram produzidas por fracassos de governo não pela força das circunstâncias A jornada da Zâmbia 655832 Kenneth Kaunda levou a Zâmbia à independência e continuou no comando do país por quase 30 anos Apesar de sua eficácia polít ica durante a luta pela libertação e de uma dedicação aparente mente sincera ao bemestar da população Kaunda presidiu um fracasso econômico de proporções catastróficas A triste saga teve um início movimentado Kaunda era o oitavo filho de um pastor presbiteriano Veio de uma região onde hoje é o Maláui Quando nasceu em 1924 seus pais eram missionários na colônia britânica da Rodésia do Norte atual Zâmbia A década de 1920 foi marcada por dois importantes desenvolvimen tos primeiro o término da concessão da Companhia Britânica da África do Sul na Rodésia do Sul atual Zimbábue e a tomada do controle da colônia independente pelos colonizadores brancos e depois a descoberta de cobre na Rodésia do Norte Até o início da década de 1940 o setor de cobre da Rodésia do Norte crescia rap idamente e a Rodésia do Sul contava com uma agricultura próspera controlada pelos brancos Kenneth Kaunda formouse na única escola secundária da colônia que aceitava africanos e começou a trabalhar como professor tornandose muito atuante em grupos assistenciais e em organizações de luta pela independência Ao longo da década de 1950 os ativistas africanos anticoloni alistas passaram a lutar contra os colonos brancos e contra o gov erno britânico que desejavam unificar a Rodésia do Sul a do Norte e a Niassalândia atual Maláui numa só federação contro lada pelos colonizadores Kaunda e outros africanos se opuseram ao plano com fervor em grande parte sob a liderança do Con gresso Nacional Africano CNA Após a criação da federação em 1953 ele se tornou secretáriogeral do CNA Nos cinco anos seguintes foi um dos principais líderes da organização pro movendo desde boicotes a lojas que praticassem a segregação ra cial até a desobediência civil Como editor da revista do CNA Kaunda foi preso por dois meses Por fim entrou em conflito com 656832 a ala moderada do CNA e criou um grupo próprio o Congresso Nacional Africano da Zâmbia Foi preso novamente pelos britâni cos em 1959 e quando saiu da cadeia passou a liderar o recém criado Partido Unido da Independência Nacional Em 1964 com a divisão da federação a Niassalândia virou Maláui a Rodésia do Norte passou a se chamar Zâmbia e a Rodésia do Sul virou simplesmente Rodésia e passou a ser comandada pelos brancos Kaunda venceu as eleições livres e tornouse presidente do país A Zâmbia tinha tudo para prosperar extraordinárias riquezas minerais e uma liderança hábil e comprometida O cinturão do cobre se estendia por mais de 160 quilômetros ao longo da fron teira com o Congo e abrigava uma série de cidades e povoados prósperos dedicados à mineração Como era dito o novo país havia nascido em berço de cobre Mas os estáveis ganhos provenientes das minas de cobre tiveram consequências perversas sobre o desenvolvimento da eco nomia no longo prazo O governo prevendo que o dinheiro do cobre continuaria fluindo para a economia do país não sofria pressões para desenvolver outros setores produtivos Os lucros fáceis gerados pelo cobre encorajavam os zambianos a investir grande parte do seu tempo no metal Os mineiros esperavam altos salários os moradores das cidades queriam empregos bemremu nerados no governo e comida barata e os zambianos em geral contavam com os programas sociais e a proteção política Como filhos de pais ricos que se dedicam a gastar a herança em vez de descobrir como ganhar o próprio dinheiro os zambianos gastaram o dinheiro fácil da mineração em vez de planejar um fu turo econômico que não dependesse exclusivamente dessa riqueza mineral5 Nos dez primeiros anos após a independência aproximada mente o novo governo tomou as rédeas da sociedade zambiana com segurança Kaunda expôs uma abordagem equilibrada do 657832 desenvolvimento econômico do país ao público inglês um ano de pois da fundação do país O principal objetivo do nosso programa de desenvolvimento econ ômico é tornar a economia menos dependente dos minerais e ao mesmo tempo garantir uma evolução econômica a mais abrangente possível Mas não podemos fazer isso interrompendo o desenvolvi mento das atividades minerais pois precisamos desses lucros para obter moedas estrangeiras E o estímulo à produção mineral deve ser feito com equilíbrio pois de outra maneira estaríamos agregando apenas um diferencial de receita aos ingressos já excessivos6 O governo de Kaunda incentivou o desenvolvimento do setor de cobre enquanto tentava controlar as operações das empresas mineradoras estrangeiras que feriam os sentimentos nacionalis tas7 As empresas de mineração eram obrigadas a empregar zam bianos em cargos de gerência e a pagar mais impostos ao governo As novas políticas garantiam empregos à população que crescia rapidamente ao passo que o governo passou a gastar mais em programas sociais educação e saúde A Zâmbia como a maioria dos países em desenvolvimento no fim da década de 1960 não queria mais que os estrangeiros con trolassem a produção de matériasprimas Como a maior parte dos líderes africanos Kaunda acreditava que um controle rígido da economia era prérequisito para o progresso social do país O presidente passou a promover então um humanismo que chamou de diretriz filosófica da Zâmbia Adotou o socialismo como instrumento para a construção de uma sociedade hu manista8 Com o objetivo de acordo com suas próprias palavras de levar o país do capitalismo ao humanismo por meio do social ismo9 Kaunda lançou uma nova orientação econômica em 1968 durante um discurso em Mulungushi próximo à capital Lusaka Sob o novo programa o Estado assumiu o controle das minas de cobre e em poucos anos o presidente havia nacionalizado 658832 diversas empresas de outros setores importantes da economia in dústria comércio transporte construção e outros O fundador do humanismo zambiano no entanto não acred itava na planificação econômica imposta pelo Estado Kaunda partia do seguinte pressuposto O setor público irá coexistir pacificamente e cooperar efetivamente com o setor privado Mas à medida que a economia for se expandindo cada vez mais o setor público irá se engajar no estabelecimento de in dústrias importantes para a nação em especial nas áreas onde o setor privado não quer ou não pode participar por qualquer motivo10 O cerne das reformas de Mulungushi era nacionalista e não socialista Devido ao tamanho das imensas empresas estrangeiras e do pequeno setor privado da Zâmbia seria necessário segundo Kaunda conceder aos empreendimentos zambianos certas áreas onde pudessem operar sem a competição das empresas expatria das O objetivo era Retirar a dominação estrangeira de nossas vidas econômica por meio do controle da maioria dos meios de produção e dos serviços mais im portantes estabelecendo ao mesmo tempo uma base sólida para o desenvolvimento dos negócios genuinamente zambianos11 Como em toda parte do mundo em desenvolvimento o gov erno promoveu a industrialização com base na substituição de im portações protegendo a indústria local com barreiras comerciais fortíssimas As minas de cobre nacionalizadas passaram a gerar uma renda enorme para o governo O cobre era responsável por mais de 90 das exportações metade da receita do governo e mais de 30 do produto total da economia O governo gastava a riqueza do cobre livremente para expandir o setor educacional qualificar os nat ivos para o funcionalismo público melhorar a saúde do povo e 659832 fortalecer os serviços públicos Os lucros do mineral também pos sibilitaram pagar salários mais altos aos poderosos donos de mi nas do país que haviam estado à frente do movimento de inde pendência liderado por Kaunda Os recursos oriundos do cobre permitiram ao governo conceder altos salários aos trabalhadores urbanos e subsidiar os preços da cesta básica O governo não pre cisava se preocupar com a falta de competitividade das novas in dústrias da Zâmbia uma vez que o cobre fornecia praticamente todos os ganhos das exportações O dinheiro do cobre permitiu à administração de Kaunda so lidificar sua base de apoio entre empresários mineiros servidores públicos e eleitores em geral Em 1972 o presidente decretou que dali por diante o Estado teria um único partido com o seu Partido Unido da Independência Nacional Unip na sigla em inglês no poder O partido concedia proteção em troca de apoio político dando prioridade aos seus membros e defensores na dis puta por empregos no imenso setor público na concessão de em préstimos baratos e nos serviços públicos e negando acesso aos transportes mercados e assistência médica àqueles que não con tribuíssem com o partido Créditos agrícolas eram utilizados para construir a base de apoio do partido e como disse um filiado o objetivo era transformar os melhores homens do partido em ag ricultores pois não podemos sustentar quem não pertence ao Unip12 As lideranças do grupo se isolaram e expulsaram as alas opositoras consolidando o controle sobre o sistema político a burocracia e a mídia13 Até 1975 escreveu o estudioso Michael Bratton o Unip havia se transformado de um partido de parti cipação em um partido de controle14 O sucesso de Kaunda começou a desmoronar mesmo com a consolidação do seu Estado de partido único Os preços do cobre subiram depois da independência e até 1974 haviam dobrado em relação a 1964 Porém baixaram consideravelmente depois de 1975 apresentando quedas em alguns anos e em outros mal 660832 acompanhando a inflação Preços estagnados se tornaram sinôn imo de receitas governamentais estagnadas mas a base de apoio do governo continuava a exigir privilégios Logo a rede de apoio à sua administração começou a se desintegrar uma vez que o gov erno não dispunha mais de recursos financeiros para mantêla unida Com a depreciação dos preços do cobre as empresas de mineração do Estado tentaram conter os salários mas o sindicato dos trabalhadores das minas era poderoso o suficiente para blo quear essa medida E enquanto as receitas do cobre caíam o gov erno precisava aumentar a produção para exportação mas as manufaturas não tinham a menor condição de competir nos mer cados internacionais O descaso em relação à agricultura havia baixado a produtividade de forma que 25 da comida do país precisava ser comprada no exterior mesmo diante da escassez de moeda estrangeira para pagar por essas importações O in chado setor público que era responsável por 75 dos empregos formais precisava ser reduzido mas os empregados do governo eram altamente sindicalizados além de serem fundamentais para a manutenção do partido no poder As escolhas feitas nos primeiros anos passaram a assombrar Kaunda O governo havia usado o dinheiro do cobre para comprar o apoio político e a condescendência de mineiros indústrias pro tegidas beneficiários dos serviços públicos consumidores de ali mentos subsidiados e os funcionários públicos Porém quando os lucros do cobre diminuíram a administração de Kaunda precisou reduzir o que repassava aos mineiros funcionários públicos e out ros clientes tradicionais da generosidade governamental O gov erno de Zâmbia havia se tornado refém político de sua base de apoio e não conseguia mais satisfazêla15 À medida que o governo de Kaunda falia era forçado a deixar de lado seus compromissos com o desenvolvimento e o bemestar social Em outubro de 1985 com a economia em crise e sofrendo pressões do FMI e do Banco Mundial o governo se voltou para as 661832 reformas liberalizando vários preços abandonando os controles sobre a moeda limitando os salários dos funcionários públicos despedindo empregados do governo e reduzindo os subsídios que mantinham os preços dos alimentos artificialmente baixos em especial o valor do principal alimento do país o fubá As medidas geraram descontentamento e revoltas populares no cinturão do cobre além de uma série de greves que por pouco não provocaram a paralisação do país Em maio de 1987 enfrent ando problemas como a degradação contínua do apoio popular e o descontentamento crescente no próprio partido Kaunda rejeit ou as reformas e inverteu o curso Mas o governo não dispunha dos recursos necessários para satisfazer seus adversários ou mesmo para manter sua base de apoio Quando os salários ficaram defasados em relação aos preços as greves e revoltas pop ulares ressurgiram Frederick Chiluba o chefe do sindicato dos trabalhadores da federação aproveitava qualquer oportunidade para atacar o governo e insistia no fim do regime de partido único Em junho de 1990 ocorreram novas revoltas por causa dos alimentos e o preço do fubá subiu de novo Enquanto isso a já desestabilizada vida política do país ficou ainda mais volátil em função da epidemia de Aids que assolava a África Até 1991 mais de 30 de todas as mulheres grávidas que viviam nas cidades eram soropositivas e segundo as estimativas 20 dos adultos zambianos estavam contaminados O governo de Kaunda não apenas dirigiu o colapso da economia como também teve certa responsabilidade pelas mortes terríveis de grande parcela da população O presidente finalmente concordou com a realização de eleições multipartidárias Em outubro de 1991 o Movimento pela Democracia Multipartidária MMD em inglês comandado pelo líder sindicalista Chiluba venceu o partido de Kaunda com o trip lo dos votos No cinturão do cobre Chiluba teve 90 dos votos mas a derrota foi esmagadora em toda parte das nove províncias 662832 da Zâmbia Kaunda só venceu em uma Depois de quase 40 anos como líder nacional primeiro na luta pela independência e depois como seu único presidente Kenneth Kaunda deixou o cargo A Zâmbia havia se tornado bem mais pobre do que na época da in dependência e uma reviravolta não seria nada fácil A catástrofe africana A Zâmbia não estava sozinha no rol dos colapsos econômicos e das instabilidades políticas Administrações longas e sistematica mente ruins levaram vários países a ficar para trás Somente pressões políticas e sociais muito poderosas podiam fazer com que os governos insistissem em políticas tão destrutivas Por razões políticas os governos se empenharam em desestimular os produtores da África a fazerem o que melhor sabiam fazer Em uma tentativa de deixar para trás o passado e o presente agrários os governantes passaram a discriminar a agricultura e a favorecer a indústria tributavam as terras produtivas levando muitos fazendeiros a abandonar a atividade mas subsidiavam fortemente os investidores que estabeleciam fábricas de produção invendável nos mercados A Tanzânia é um triste exemplo das punições impostas à agri cultura e das deficiências da industrialização dirigida O proemin ente líder africano de libertação Julius Nyerere comandou o país direta ou indiretamente da independência em 1961 até 1990 Nyerere em seu plano de transformar a tradicional base econôm ica do país tentou uma série de iniciativas rurais inovadoras mas que não puderam superar o extraordinário viés antiagrícola das políticas governamentais para o desenvolvimento que di minuíram drasticamente os lucros obtidos com o campo Esse ser ia um desastre desnecessário para um país que era 90 rural e 663832 tinha um potencial considerável para exportar produtos como café caju e chá Enquanto isso os contribuintes e doadores estrangeiros des pejavam dinheiro em empreendimentos industriais que não valiam nada A fábrica de calçados Morogoro recebeu finan ciamentos de US40 milhões do Banco Mundial e foi inaugurada em 1980 com grande estardalhaço Deveria ser uma das maiores fábricas de sapatos do mundo com capacidade de produção de quatro milhões de pares por ano dos quais três milhões seriam exportados As exportações permitiriam que a estatal pagasse o Banco Mundial e gerasse lucros Contudo nem o governo nem o Banco Mundial levaram em conta o elevadíssimo custo da energia elétrica na Tanzânia a baixa qualidade do couro local as altas tarifas sobre insumos importados e a escassez de mão de obra ca pacitada para trabalhar nas modernas linhas de montagem Além disso a fábrica não havia sido concebida para o clima tropical da Tanzânia com seus pilares de aço paredes de alumínio e ventil ação insuficiente O empreendimento foi um desastre a fábrica nunca ultrapassou 4 de sua capacidade fabricando no máximo poucas centenas de pares por dia nunca exportou um par de sap atos sequer pois os produtos da empresa na verdade valiam menos que os caríssimos insumos utilizados na produção e em meados de 1980 a empresa já perdia meio milhão de dólares ao ano isso sem contar o custo do serviço da dívida do Banco Mun dial Foi dito a um visitante que conheceu a fábrica no início da década de 1990 que o gerente estava ausente devido a uma de pressão causada em parte pelo estresse do fluxo constante de pessoas interessadas em visitar um fracasso tão espetacular16 A empresa foi vendida para investidores privados no início da década de 1990 mas quem comprou não pôde vencer a insensatez de construir uma indústria de sapatos sobre bases tão frágeis e a fábrica logo foi fechada 664832 Projetos industriais ainda piores pipocaram por toda a África incapazes de operar mesmo com investimentos governamentais de bilhões de dólares A Morogoro foi praticamente nada se com parada a outros elefantes brancos A pretensão era transformar a siderúrgica de Ajaokuta na Nigéria em um empreendimento em blemático na África com um contingente de dez mil trabal hadores A tarefa devorou mais de US4 bilhões em 20 anos não chegando a produzir aço algum estimase que metade do din heiro foi parar nos bolsos de sucessivas gerações de figuras públicas e privadas do país Até o fim do século cabras e bois per ambulavam pela planta quase deserta mesmo quando o governo prometeu despejar mais meio bilhão de dólares no projeto em mais um esforço de completálo17 Tudo isso para um suposto be nefício de 10 ou 15 da população que vivia nas cidades en quanto a agricultura afundava cada vez mais na penúria Essas políticas governamentais aparentemente perversas tin ham por base uma lógica que era originada na abundância de re cursos nas instituições políticas e sociais e nas condições econ ômicas dos países As economias políticas coloniais se baseavam nas exportações de produtos primários para as metrópoles cobre do Congo para a Bélgica café do Quênia para a GrãBretanha ca cau da Costa do Marfim para a França petróleo de Angola para Portugal Naturalmente os adversários do colonialismo eram contra esses laços de exportação e contra quem se beneficiasse deles Os governos da maioria dos países de independência re cente viam as atividades econômicas tradicionais como aviltantes ao contrário da produção industrial por exemplo O desejo de industrializar países como Tanzânia ou Gana era compreensível mas ao tentar fazer isso os governos tiraram o sangue dos fazendeiros Os preços dos produtos agrícolas foram contidos para que a população urbana pudesse contar com ali mentos baratos enquanto o valor dos produtos e serviços ofere cidos nas cidades era altíssimo Tudo isso acabou provocando o 665832 esmagamento dos lucros da agricultura Afinal as cidades eram empórios da modernidade além de constituírem as principais bases políticas dos governos póscoloniais incluindo exércitos e burocracias Nesse cálculo os novos líderes africanos pensavam exatamente como os defensores da substituição de importações da América Latina os promotores da industrialização forçada na União Soviética ou os protecionistas norteamericanos do fim do século XIX a política deveria canalizar recursos para a economia urbana a fim de industrializar os países Entretanto a África era muito menos desenvolvida do que qualquer uma dessas so ciedades quando começou sua jornada rumo ao desenvolvimento 90 ou mais da população de vários países viviam no campo ou exerciam atividades rudimentares nos setores industrial e urbano Forçar a queda artificial dos preços dos produtos agrícolas em países como México ou Turquia era uma coisa pois metade des sas economias era agrícola e metade urbana mas quando os ag ricultores representam 90 de uma nação o impacto é completa mente diferente Em 1960 uma economia africana média era comparável a países da América Latina ou da Rússia um século antes Quando foi dada a partida da industrialização soviética e latinoamericana na década de 1930 eles já eram muito mais avançados que a África póscolonial No contexto africano sugar o campo para modernizar as cid ades foi uma prática que gerou praticamente apenas efeitos negat ivos Causou o empobrecimento dos fazendeiros e quase não afetou o desenvolvimento industrial simplesmente havia muito pouca infraestrutura para começar qualquer coisa A rede de en ergia elétrica da Nigéria era tão inadequada que os donos das fábricas menores gastavam em média três vezes mais na compra de seus próprios geradores do que todo o investimento em bens de capital Em vez de melhorar a infraestrutura econômica os serviços prestados pelos governo ou os serviços sociais o dinheiro tomado dos agricultores acabou inflando os salários do setor 666832 público enriquecendo os prósperos e poderosos de forma ilícita ou recompensando os defensores do regime À medida que os governos impunham regras que transformavam atividades econ ômicas lucrativas em empreendimentos desvantajosos ou ilegais o emprego público passava a ser a única opção dos moradores das cidades cerca de 75 da força de trabalho de Gana trabalhava para o governo18 Após 1960 as economias africanas cresceram por alguns anos mas a partir de 1975 aproximadamente os problemas se multipli caram A agricultura e a mineração que antigamente eram os pil ares da economia no continente estavam esgotadas As indústrias eram fracas e ineficientes demais para oferecer empregos ou oportunidades de crescimento econômico Os governos gastavam cada vez mais incluindo fundos de ajuda para manter os regimes ditatoriais no poder ou apenas para enriquecer os ditadores De meados da década de 1970 até o fim do século a África subsaari ana foi a única região do planeta a vivenciar um crescimento eco nômico negativo em praticamente todas as dimensões Os impressionantes recursos naturais do continente pareciam não ser de grande valia Pelo contrário para alguns foram os fatores que mais contribuíram para o desastre africano Os gov ernos dos países mais ricos em recursos tinham pouco incentivo para estimular ou empreender os difíceis esforços necessários para garantir a produtividade e a competitividade da agricultura e da indústria já que podiam simplesmente vender diamantes ou petróleo e viver dos lucros O fluxo constante de lucros resultantes das minas de cobre ou de plantações de canadeaçúcar enrique ceu os governantes recompensou seus partidários e subornou po tenciais oponentes O dinheiro fácil dos produtos primários re duziu a pressão por políticas de desenvolvimento mais modernas e dinâmicas Enquanto os governos da Coreia do Sul ou de Taiwan não tinham praticamente nenhum recurso natural e portanto sem alternativa a não ser incentivar os negócios e a educação as 667832 lideranças do Zaire e de Angola tinham à disposição minerais ex ploráveis para venda no exterior e pouco incentivo para empreender as difíceis medidas de fomento ao crescimento econ ômico e ao desenvolvimento de longo prazo Parecia haver uma maldição dos ricos em recursos que arrastava os países para o fundo do poço As histórias de horror proliferavam com casos de projetos e países inteiros fadados ao fracasso Uma das maiores nações da região e uma das mais abundantes em recursos o Zaire hoje República Democrática do Congo foi virtualmente comandada desde a independência por Joseph Mobutu cuja extraordinária venalidade gerou um novo termo cleptocracia Até o início da década de 1980 ele tinha acumulado uma fortuna avaliada em US4 bilhões o equivalente a dez anos de exportações do país e mansões em todo o mundo Até sua derrubada em 1997 a pop ulação de cerca de 50 milhões de pessoas de um país com di mensão comparável à de nações da Europa ocidental estava entre as mais pobres do globo possivelmente mais pobre do que 100 anos antes A experiência do Congo estava mais para regra do que para ex ceção Os países da África subsaariana entraram em uma espiral de colapsos econômicos sentindo o peso de políticas sofríveis e políticos terríveis A geografia os recursos naturais e a história podem ter criado obstáculos para os governos mas nenhum desses desastres estava fadado a acontecer Praticamente todos resultaram de pressões políticas poderosas interesses corporat ivos militares de funcionários do governo ou de partidos domin antes que tiraram os governos do caminho da promoção do desenvolvimento econômico e social direcionandoos no sentido de garantir sua própria sustentação no poder Qualquer governo se preocupa com sua sobrevivência é claro mas parece que ao longo das catastróficas décadas do período póscolonial na África subsaariana as lideranças ávidas por prolongar suas trajetórias 668832 políticas se tornaram o principal obstáculo à sobrevivência e à prosperidade dos africanos Calamidade privação e desespero Os insucessos do desenvolvimento em regiões como a África e o Oriente Médio entre outras e os escassos atos de caridade do Ocidente reservaram um sofrimento assustador para centenas de milhões de pessoas As consequências da ruína econômica foram sentidas de maneira mais imediata e aguda pelos mais fracos jovens velhos e doentes Em muitos países africanos uma em cada cinco crianças morria antes de completar cinco anos19 Na virada do século XXI entre 30 e 50 das crianças do sul da Ásia e da África subsaariana eram subnutridas cerca de 150 milhões de crianças no total Metade das mulheres das duas regiões e 13 dos homens eram analfabetos e havia muitos países nos quais o anal fabetismo feminino girava em torno de 90 Mais de 50 da pop ulação dessas regiões vivia com menos do que o estabelecido pela linha internacional de pobreza e em todo o mundo havia 16 bil hão de pessoas vivendo abaixo dessa linha O resultado mais impressionante do fracasso socioeconômico da África subsaariana foi a epidemia de Aids comparável às pra gas medievais Em um ambiente em que o estado nutricional e a saúde pública eram periclitantes e o governo negligente a doença pôde se alastrar com uma velocidade extraordinária durante a década de 1990 No fim do século quase 30 milhões de africanos estavam infectados pelo HIV no sul do continente 25 de todos os adultos eram soropositivos sendo que em algumas cidades cerca de 50 das mulheres grávidas testadas estavam infectadas com risco de metade delas transmitir o vírus aos seus bebês Doze milhões de africanos morreram de Aids no decorrer da década de 1990 e quando o novo século começou mais de dois milhões 669832 morriam da doença por ano incluindo meio milhão de crianças Aproximadamente 45 de todas as mortes decorrentes da Aids no mundo ocorreram na África e a epidemia gerou mais de doze mil hões de órfãos na região só na Zâmbia cerca de um milhão de crianças perdeu pelo menos um dos pais por causa da Aids A África subsaariana embora fosse a região do planeta que mais impressionasse por causa da miséria não estava sozinha Em dezenas de países em todos os cantos do mundo em desen volvimento o sustento das pessoas se deteriorou consideravel mente nas últimas duas décadas do século passado A maioria já era pobre e chegou ao fim do século mais pobre ainda O colapso econômico levou à má nutrição e à desintegração da saúde pública e da educação Foi também responsável por duros conflitos políti cos incluindo guerras civis e genocídios Os fracassos econômicos acarretaram um imenso sofrimento humano uma crise humanitária monumental No fim do século passado um bilhão de pessoas no mundo em desenvolvimento não tinha acesso à água limpa e mais de 800 milhões estavam subnutridas Um bilhão vivia em habitações que não atendiam aos padrões mínimos das Nações Unidas Praticamente um bilhão não tinha acesso a nenhum tipo de serviço de saúde Esse foi o impacto humano da disparidade entre os muito pobres e o rest ante da população mundial No ano 2000 a parcela formada por aqueles que faziam parte do grupo dos 1 mais ricos ganhava consideravelmente mais do que a metade mais pobre da popu lação Na verdade a soma das fortunas dos 200 indivíduos mais ricos do planeta mais de US1 trilhão era maior que a receita anual total da metade mais pobre da população mundial O montante de recursos necessário para dar um basta a essa privação era pelos padrões dos países industriais insignificante Especialistas estimavam que US8 bilhões por ano seriam sufi cientes para oferecer a cada habitante do mundo em desenvolvi mento cestas básicas assistência médica educação água e esgoto 670832 Esse montante era irrisório três centavos de cada dez dólares da receita dos países ricos do globo menos de cem dólares anuais para um habitante médio do mundo desenvolvido ou menos de 8 da soma da riqueza dos dois indivíduos mais ricos do mundo O preço de se garantir alimentação básica e saúde para todos no mundo representava menos do que os norteamericanos e europeus gastavam por ano em média com a comida de seus ani mais de estimação Nem assim esse auxílio para os terrivelmente pobres era imin ente A ajuda estrangeira para os países pobres sofreu reduções contínuas Isso pôde ser verificado claramente nos cálculos dos recursos enviados como percentual das economias industriais Em 1970 a maioria dos países desenvolvidos concordava em ajudar com recursos equivalentes a 07 do PIB Até 1990 o montante enviado tinha chegado a 035 mas em 2000 já tinha caído para somente 02 do PIB das nações desenvolvidas A ajuda também diminuiu em volume de dólares Em termos reais descontada a inflação os US53 bilhões doados em 2000 eram quase 13 menores que as doações do ano de 1990 Além disso as doações para os países muito pobres caíram ainda mais rapida mente que a média dos donativos globais As implicações morais da pobreza opressiva desses países da prosperidade crescente dos países ricos e dos níveis insignific antes de doações não são ambíguas Em muitos casos a ajuda hu manitária não chegava aos beneficiários pretendidos ela acabava em vez disso nos bolsos da classe alta dos países em desenvolvi mento confirmando a acusação tão comum de que os governos dos países ricos estariam cobrando impostos dos menos favore cidos para beneficiar os mais privilegiados nos países pobres Também surgiram evidências de que a entrega de ajuda human itária para governos incompetentes venais ou corruptos reduziria seu empenho na direção de melhorias afinal eles se acomodari am ao contar com doações de estrangeiros para remediar suas 671832 piores deficiências Muitos governos lançaram mão de suas posições geopolíticas para obter ajuda que só se destinava a enriquecêlos e a seus aliados Mobutu o líder do Zaire por ex emplo foi perito em usar o Ocidente capitalista e o Oriente comunista jogando um contra o outro Da mesma forma norte americanos e soviéticos durante muito tempo submeteram as questões econômicas e morais da África à geopolítica da Guerra Fria mesmo que isso significasse aprovar ou patrocinar políticas que aprofundassem a miséria das massas Só o desenvolvimento sustentável poderia resolver esses prob lemas definitivamente E isso era de responsabilidade das própri as populações dos países pobres Ainda assim era difícil justificar os níveis irrisórios de ajuda do Ocidente e fácil encontrar bons motivos para ajudar Contudo enquanto a África declinava numa espiral descendente os países desenvolvidos pouco fizeram O fim da Guerra Fria deslocou a África para uma posição ainda menos privilegiada na agenda do Ocidente pois a região havia perdido sua principal vantagem perante os governos ocidentais seu pa pel na disputa contra a União Soviética Os lamentáveis níveis da ajuda vinda do norte na próspera década de 1990 evidenciaram a falta de disposição do mundo rico em oferecer apoio humanitário sequer para os países mais pobres do mundo Os que não consideravam argumentos morais como justific ativa para uma assistência maciça aos pobres do planeta podem ter sido convencidos por argumentos mais pragmáticos O grupo de países com os indicadores econômicos mais desanimadores aqueles que figuravam nas piores posições do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano IDH das Nações Unidas incluía aqueles que passaram pelos conflitos políticos e civis mais bru tais Ruanda Burundi Serra Leoa e Etiópia Independentemente dos imperativos morais era dado como certo que os custos para colocar esses países em ordem depois dos conflitos seriam ainda maiores do que aqueles necessários para evitálos 672832 Ao mesmo tempo as guerras e os genocídios na África não representavam uma ameaça à segurança dos países industrializa dos Entretanto não se podia afirmar o mesmo em relação a out ras regiões pobres e problemáticas Os piores desempenhos econ ômicos do mundo incluíram berços de extremistas violentos com fortes convicções antiocidentais ou onde esses radicais estabele ciam seus quartéisgenerais Na década de 1990 a anarquia se es palhou por partes do mundo islâmico da antiga Ásia Central so viética através do Afeganistão e Paquistão e até no Iêmen no Sudão e na Somália Praticamente todos esses países estavam nas últimas posições ou quase de qualquer lista de desenvolvimento social e humano e o fracasso econômico levou a um desarranjo mais amplo dessas sociedades e desses Estados A inquietação so cial aumentou e os governos foram ainda menos capazes de prover as necessidades básicas da população Em alguns casos como na Somália e no Afeganistão não havia mais aparato gover namental em funcionamento Mesmo nos países onde o governo manteve o poder como no Egito e no Paquistão ao falharem em proteger os pobres da estagnação econômica os líderes deixaram um vácuo que poderia ser preenchido pelos radicais islâmicos por meio da prestação dos serviços sociais tão necessários A essa lista de desastres do desenvolvimento no mundo muçulmano seria possível adicionar Irã Iraque e Síria embora suas deficiências econômicas tivessem relação com suas posições como párias da política internacional Nesses países os que se sentiam ameaça dos ou esquecidos pela globalização se uniam aos barulhentos grupos de protesto contra o Ocidente No fim do século XX 400 milhões de pessoas da região que abrangia do Egito ao Paquistão e da Ásia Central à Somália viviam em condições de estagnação econômica e privação social Essas condições provocaram fortes sentimentos contra os ocidentais e alimentaram movimentos violentos cujo tema principal era a re jeição à integração econômica e cultural proposta pelo Ocidente 673832 Uma onda de ataques terroristas promovidos pelo radicalismo is lâmico varreu o Ocidente chamando a atenção para décadas de declínio econômico e social vivenciadas em grande parte do mundo muçulmano algo que os governos ocidentais puderam ig norar somente ao seu próprio risco O êxito no desenvolvimento econômico era desejável não apenas em bases morais e humanitárias mas como meio de ajudar a resolver algumas das questões políticas e militares mais complicadas do mundo Entretanto as realidades sociais e polític as se constituíram como obstáculos poderosos ao sucesso do desenvolvimento em muitas partes do mundo e mesmo os gov ernos que tentavam corrigir seus rumos encontravam um ambi ente diplomático e econômico altamente restritivo e até hostil Enquanto uma parcela significativa da população mundial se lançou na direção do crescimento econômico em especial na Ch ina e na Índia outras centenas de milhões de pessoas ficariam muito para trás à medida que o século passado se aproximava do fim a Termo pejorativo que se refere a relações de favorecimento entre empresários e instituições políticas NT 674832 20 Capitalismo global em apuros Os delegados indicados para a Terceira Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio OMC se reuniram em Seattle Washington em 29 de novembro de 1999 A agenda pre via questões diplomáticas delicadas e assuntos complexos do ponto de vista técnico como por exemplo a abertura de uma nova rodada de negociações comerciais a redução de barreiras ao comércio de bens agrícolas e de serviços a revisão da definição de dumping para a instituição e a inclusão de padrões ambientais e trabalhistas nos acordos comerciais Preparados para negociações difíceis e desgastantes entre as delegações comerciais os repres entantes dos Estados Unidos da Europa do Japão e dos países em desenvolvimento convergiram para Seattle Estavam totalmente despreparados no entanto para o que iri am encontrar na cidade norteamericana naquela segundafeira chuvosa Dezenas de milhares de ativistas antiglobalização os aguardavam Na véspera da cerimônia de abertura milhares de manifestantes cercaram o local de recepção dos representantes e seguiram para uma área nas redondezas onde haveria uma enorme manifestação No porto os manifestantes organizaram a Festa do Chá de Seattle uma refêrencia à Festa do Chá de Boston de 1773a Sob o slogan Não à globalização sem representação lançaram no mar uma série de produtos que consideravam repug nantes aço chinês como símbolo das práticas comerciais injus tas carne bovina tratada com hormônios e camarões capturados em redes que ameaçavam tartarugas marinhas representando os produtos suspeitos de danificar o meio ambiente cujo comércio a OMC não permitia restrições1 Na manhã seguinte os manifestantes aceleraram a marcha bloqueando os cruzamentos do caminho que levava ao centro da cidade onde os eventos seriam realizados Como a polícia tentou dispersar os protestos os sindicalistas se reuniram no Memorial Stadium a menos de dois quilômetros dali A OMC discursava James Hoffa presidente do sindicato dos caminhoneiros para 20 mil trabalhadores sindicalizados é um erro Os direitos dos trabalhadores devem se tornar parte da agenda de cada uma des sas reuniões2 Líderes trabalhistas norteamericanos acusavam a OMC de ignorar os direitos dos trabalhadores por não impor re strições ao comércio de bens produzidos em fábricas exploradoras ou que se utilizavam de trabalho infantil As regras dessa nova economia global acusava o líder do sindicato dos operários das indústrias têxtil e de vestuário foram armadas contra os trabal hadores e nós não vamos mais jogar de acordo com elas John Sweeney presidente da AFLCIO Federação Americana do Tra balho e Congresso das Organizações Industriais concluiu En quanto a OMC não tratar dessas questões não podemos e não de vemos permitir que nosso país participe de novas rodadas de ne gociações comerciais3 Hoffa discursou para a multidão Estamos entrando para a história Ou ganhamos uma vaga na OMC ou iremos fechála4 Os sindicalistas saíram pelas ruas se dirigindo para o local da cerimônia de abertura da reunião no centro da cidade Outras dezenas de milhares de manifestantes também seguiram em direção ao centro Na medida em que as manifest ações tomaram corpo pequenos grupos de anarquistas 676832 começaram a usar a violência A polícia não conseguia controlar a multidão e em poucas horas as áreas de concentração haviam sido invadidas pelo gás lacrimogêneo No meio da tarde a situação no centro de Seattle estava caót ica manifestantes policiais gás lacrimogêneo delegações e vân dalos Por questões de segurança o serviço secreto norteamer icano não autorizou a comitiva dos Estados Unidos a deixar o hotel e apenas um pequeno número de representantes conseguiu chegar ao teatro Paramount para o evento de abertura que preci sou ser cancelado após muita relutância dos organizadores O pre feito decretou toque de recolher na área ao redor dos locais de re união entre às 19h e às 7h30 e acionou a Guarda Nacional en quanto isso a polícia usava gás lacrimogêneo bombas de efeito moral spray de pimenta e balas de borracha para dispersar os manifestantes Na manhã de 1o de dezembro finalmente a reunião ministeri al pôde começar As negociações foram um fracasso as deleg ações não chegaram a nenhum acordo sobre as questões mais im portantes Em todo o mundo as manchetes deram mais ênfase aos protestos do que às conversações que os manifestantes postergaram Ao se dirigir à reunião o presidente dos Estados Unidos Bill Clinton chamou de saudáveis os protestos pacíficos e se referiu a eles para sustentar seus argumentos por uma abord agem social mais consciente das relações entre comércio direitos dos trabalhadores e questões ambientais O comércio não é mais apenas do interesse dos presidentes das empresas e dos grupos de interesses organizados que lidam com líderes políticos e econômi cos disse Clinton Todo esse processo está sendo democratizado e precisamos construir um novo consenso a respeito de que tipo de política comercial desejamos implementar discutindoo em profundidade com toda a sociedade5 A batalha de Seattle representou um desafio geral à ordem econômica mundial As instituições internacionais que há muito 677832 trabalhavam na obscuridade haviam se tornado verdadeiros bodes expiatórios dos que se opunham ao movimento de integ ração global Uma das coalizões que liderou os protestos explicou por que a OMC merecia um ataque dessas proporções A ideia central da OMC diz que o livrecomércio na verdade os valores e os interesses das corporações globais deve se sobrepor a todos os outros valores Quaisquer obstáculos ao comércio global são encarados como suspeitos Na prática esses obstáculos são as leis dos Estados nacionais que protegem o meio ambiente os pequenos negócios os direitos humanos os consumidores e os trabalhadores assim como a soberania nacional e a democracia A OMC vê esses ele mentos como possíveis impedimentos para o livrecomércio o que os torna passíveis de objeções dentro das salas de negociação Obrigando os países a adotar as regras da OMC para não enfrentar sanções severas6 A opinião pública impôs muitos desafios ao capitalismo global do fim do século Em manifestações de Seattle a Praga de Wash ington a Gênova milhões de ativistas protestaram contra as re uniões da OMC do Banco Mundial do FMI do grupo dos sete países mais industrializados e de outras instituições da economia internacional encontros estes que antes não chamavam a atenção de ninguém Algum tempo depois do impacto da reunião ministerial da OMC e dos protestos de Seattle Naomi Klein autora de livros antiglobalização e ativista escreveu que as mani festações refletiram um confronto direto entre duas visões rad icalmente diferentes de globalização uma monopolizou o cenário mundial nos últimos dez anos e a outra acabou de ter sua festa de inauguração7 Fragilidade financeira e a trindade impossível 678832 Os protestos antiglobalização representavam desafios externos à ordem econômica mas as ameaças mais sérias vinham de dentro do próprio sistema O componente mais globalizado da eco nomia internacional as finanças parecia ser o elo mais fraco uma vez que o sistema financeiro global era constantemente at ingido por ondas de crises bancárias e cambiais Começando na Europa em 1992 os choques passearam pelos continentes México Leste Asiático Rússia Brasil Turquia Argentina entre outros Cada rodada envolvia centenas de bilhões de dólares afetando instituições internacionais investidores privados e gov ernos nacionais e ameaçando a estabilidade da economia inter nacional Governos de países tão diferentes quanto GrãBretanha Tailândia Brasil e Turquia tentavam desesperadamente proteger suas moedas enquanto investidores sacavam bilhões de dólares das economias desses países Até que por fim os governos eram obrigados a desistir e a deixar a taxa de câmbio cair muitas vezes com efeitos desastrosos para a economia local Como uma das maiores promessas do capitalismo global a abertura inter nacional dos mercados de capitais se transformou em sua maior ameaça A resposta para essa pergunta nos leva a um local improvável o Canadá da década de 1950 Naquela época o país enfrentava problemas que o resto do mundo viria a enfrentar A economia canadense estava intimamente ligada à dos Estados Unidos O dinheiro fluía livremente através da fronteira entre os países e o comércio com os norteamericanos era crucial para o Canadá uma situação que gerava dilemas semelhantes aos que se ap resentariam mais tarde para as economias globalizadas Os canadenses desejavam estabilidade e previsibilidade da taxa de câmbio do dólar canadense em relação à moeda norteamericana para facilitar investimentos comércio e viagens mas queriam também que seu governo controlasse a política monetária de forma a manter baixas as taxas de desemprego e a reduzir a 679832 inflação quando fosse preciso Os dois objetivos eram incompatí veis pois com a possibilidade de trocar livremente um dólar canadense por um dólar norteamericano e a liberdade de movi mentar os recursos do Canadá para os Estados Unidos quaisquer que fossem as taxas de juros norteamericanas elas deveriam ser iguais às do Canadá Caso os juros canadenses fossem mais baixos os investidores tirariam o dinheiro do país para investilo nos Estados Unidos até que as taxas subissem Dessa maneira o Canadá ficou tão integrado à economia dos Estados Unidos que com uma taxa de câmbio fixa o país teria uma política monetária tão independente quanto a do estado de Illinois por exemplo Dessa forma os canadenses tiveram que optar entre o que consid eravam mais importante uma taxa de câmbio estável ou uma política monetária independente Na década de 1950 escolheram a segunda alternativa e em 1962 retornaram à primeira As controvérsias do país sobre como lidar com essa experiên cia de globalização precoce despertaram o interesse de Robert Mundell um jovem economista canadense do FMI No começo da década de 1960 Mundell sistematizou o problema canadense e o caracterizou como o dilema de uma economia aberta aos fluxos financeiros internacionais Ressaltou que um país ao manter vín culos financeiros com outras economias teria de escolher entre uma política monetária própria e uma moeda estável com taxa de câmbio fixa não era possível manter as duas coisas Se o Canadá atrelasse seu dólar ao norteamericano precisaria adotar a política monetária dos Estados Unidos ou se quisesse traçar uma política monetária independente teria que permitir a flutu ação do câmbio O teorema de Mundell algumas vezes chamado de a trindade impossível demonstrou que os países só poderiam obter duas das três características econômicas em geral desejadas mobilid ade de capitais taxa de câmbio estável fixa e independência monetária controle sobre a taxa de juros Se o capital estivesse 680832 livre para entrar e sair de uma economia fixar a moeda desse país à de outro significaria adotar o dinheiro do segundo o que era sinônimo de aceitar sua política monetária A análise de Mundell foi particularmente relevante para o Canadá das décadas de 1950 e 1960 pois o dinheiro fluía facilmente pela fronteira com os Estados Unidos Dada a integração financeira do Canadá o país tinha que escolher entre as duas opções restantes estabilidade cambial ou independência monetária Na época o dilema canadense era uma raridade Em toda parte exceto na fronteira entre Estados Unidos e Canadá os fluxos financeiros eram fortemente regulados pelos controles de capital e de câmbio Os países podiam dispor tanto da estabilid ade cambial quanto da sua própria autonomia política sem muitas dificuldades Na década de 1990 o dilema de Mundell já não era mais uma curiosidade teórica e havia se tornado a principal realidade dos recursos e das finanças internacionais A análise de Mundell foi vital para o entendimento do capitalismo global e para o recon hecimento do acadêmico com o Prêmio Nobel da Economia de 1999 Nesse período a maioria dos países já estava integrada aos mercados financeiros internacionais e portanto o dilema canadense era praticamente universal ou se desistia do controle nacional da política monetária ou da moeda estável fixa O prob lema podia ser qualquer coisa menos teórico para os que se en contravam nesse impasse Para os argentinos em 1999 por exem plo a escolha foi dura permanecer no curso e manter a relação pesodólar de um para um ao custo de falências bancárias e desemprego geral ou desvalorizar a moeda para salvar a economia nacional ao custo de fortes crises financeiras e cambiais A questão não era enigmática nem acadêmica para os indivíduos tão ávidos por uma moeda estável quanto por políticas próprias e que eram forçados a optar por uma das duas 681832 A renovação do mercado financeiro mundial observada de pois da década de1960 criou as condições que levaram às crises cambiais e bancárias endêmicas das décadas de 1980 e 1990 Os governos das economias globalizadas precisavam de moedas está veis mas também necessitavam desvalorizar a moeda para reagir às condições nacionais O problema era remanescente dos confli tos do padrãoouro entre os compromissos internacionais relat ivos ao sistema e as questões econômicas internas A crise da dívida enfrentada pelos países em desenvolvimento na década de 1980 mal havia sido resolvida quando uma crise cambial gigantesca se abateu sobre os membros da União Europeia em processo de unificação monetária Em 1992 os membros da UE que tinham vinculado suas moedas ao marco alemão foram obrigados a aceitar taxas de juros altíssimas re cessão e mais desemprego Os governos tinham a intenção de manter suas moedas fixas no marco alemão mas também precis avam evitar que mais alguns milhões de pessoas fossem parar nas filas do desemprego O conflito entre os dois objetivos tornouse forte demais para ser ignorado e por fim a maioria dos governos europeus desvalorizou suas moedas Em 1994 o governo do México também ficou dividido O peso forte era o símbolo da de cisão do governo de controlar a macroeconomia mas uma moeda valorizada encarecia os produtos mexicanos prejudicando sua competitividade no mercado norteamericano e forçando a alta das taxas de juros para segurar o dinheiro no país Nenhuma das duas opções seria coerente com a meta do governo de pôr a eco nomia mexicana na direção de seus parceiros do Nafta e de estim ular investimentos por meio de juros baixos Defender a moeda implicava abandonar outros objetivos importantes e uma com binação de pressões políticas e econômicas não deixaria o governo ignorar essas metas conflitantes Países do Leste Asiático Brasil Rússia Turquia e Argentina enfrentaram os solavancos e as contradições do novo cenário de 682832 dilemas descrito por Mundell Isso ocorreu porque precisavam desesperadamente de mobilidade de capitais para atrair investi mentos para suas economias mas temiam o sofrimento causado pelo abandono da independência monetária Quanto mais essas nações incorporavam suas economias ao sistema financeiro glob al mais suas políticas econômicas nacionais eram tolhidas Os governos dos mercados emergentes sofriam pressão para adotar medidas conflitantes prosseguir com a integração financeira sustentar uma política monetária independente manter a estabil idade da moeda garantir taxas de câmbio baixas para estimular as exportações e manter altas as taxas de câmbio para minimizar o encargo das dívidas Quando algo dava errado nas tentativas de equilíbrio as consequências eram graves demais A maioria das crises cambiais também causou pânicos bancários Os bancos locais tomavam empréstimos em grande quantidade e emprestavam esses recursos às empresas nacionais a taxas atraentes Isso deu certo por um tempo mas era óbvio que se o valor da moeda do país baixasse os encargos das dívidas no exterior aumentariam se o peso valia cinco centavos de dólar uma dívida externa de US1 milhão de dólares equivalia a 20 mil hões de pesos mas se o peso fosse desvalorizado chegando ao valor de quatro centavos de dólar a dívida cresceria de 20 para 25 milhões de pesos Quando uma crise cambial se abatia sobre uma nação ela podia arruinar grande parte do setor privado levar à falência os bancos domésticos e causar um pânico financeiro nacional Essas crises ameaçavam a própria estabilidade do sistema fin anceiro internacional Os maiores bancos e investidores do mundo emprestavam valores astronômicos a alguns poucos países e as maiores perdas podiam disparar uma onda de corri das aos bancos No início da crise da década de 1980 o valor que os cinco maiores devedores da América Latina deviam aos bancos norteamericanos era maior que a soma do capital de todo o 683832 sistema bancário dos Estados Unidos Por cinco anos os bancos credores seus governos e o FMI administraram as crises para im pedir a quebra do sistema financeiro global Os bancos assum iram algumas perdas os governos credores concederam subsídios e outros tipos de assistência para acalmar as correntes financeir as e as nações devedoras finalmente pagaram suas dívidas O im pacto sobre os países que enfrentaram crises da dívida foi severo mas a crise foi contida e os mercados financeiros internacionais continuaram a crescer Nas crises subsequentes coalizões semel hantes reunindo bancos internacionais governos de países cre dores o FMI e outras instituições financeiras internacionais desembolsaram bilhões de dólares na tentativa de evitar um pânico financeiro internacional O mercado financeiro internacional passou assim a coexistir com as moedas nacionais Enquanto os governos tentavam manter a estabilidade do câmbio os investidores globais buscav am moedas para atacar Grupos poderosos faziam pressão pela in tegração das finanças e pela estabilidade cambial enquanto out ros advogavam pela independência monetária e financeira Os de vedores exigiam uma moeda forte ao passo que os exportadores insistiam em mantêla fraca Em geral as pressões globais e nacionais se encontravam em equilíbrio mas quando entravam em conflito direto alguém saía perdendo muitas vezes algum país desafortunado tinha que desvalorizar a sua moeda As crises recorrentes ameaçavam a economia internacional da mesma forma como ocorrera antes de 1914 e na década de 1930 As pressões do sistema financeiro internacional indicavam problemas básicos Como alguns argumentavam havia uma crise de governança econômica causada pelo descompasso entre mer cados financeiros internacionais e regulamentações e controles nacionais Alguns afirmavam que o capitalismo global pedia uma administração econômica global uma nova arquitetura econôm ica com o FMI na função de autoridade monetária e financeira 684832 global O FMI poderia funcionar como um Banco Central mundial para neutralizar os sobressaltos financeiros e cambiais No ent anto a concessão de tanto poder ao FMI contava com o apoio de apenas um pequeno grupo de banqueiros e acadêmicos Na falta de reguladores globais encarregados das finanças e dos mercados globais a gestão das crises acabava nas mãos de governos nacion ais que se viam às voltas com conflitos de interesses e opiniões divergentes As finanças globais realçaram os dilemas da integração econ ômica internacional Os mercados financeiros mundiais per mitiram a governos empresas bancos e indivíduos de todo o mundo obter empréstimos muito maiores do que seria possível no passado No entanto assim como direcionavam incontáveis bil hões para favorecer países e empresas os mercados globais tiravam ainda mais recursos daqueles considerados sem atrativo A velocidade e o volume dos mercados financeiros internacionais tornaram esses fluxos extremamente voláteis A integração fin anceira mundial podia tornar as épocas prósperas ainda melhores e prejudicar ainda mais as ruins Isso ameaçava não apenas os países abandonados pelos financiadores já que o colapso de uma nação podia ser transmitido para outras para uma região inteira ou para todo o planeta Afinal a instabilidade financeira havia prolongado e aprofundado a Grande Depressão da década de 1930 e talvez no século XXI o mundo não estivesse mais bem preparado do que em 1929 para lidar com uma crise de grandes proporções As crises cambiais e bancárias da década de 1990 demonstraram que o maior e mais eficiente sistema financeiro in ternacional da história tinha uma razão seu tamanho e velocid ade lhe conferiam um potencial desestabilizador que poderia afetar toda a economia mundial As três palavras mais temidas 685832 Outra ameaça ao capitalismo global veio de sua própria essência a concorrência Como muitos países vieram a fazer parte da eco nomia global as pressões competitivas passaram a ameaçar diver sos interesses poderosos A ameaça era simbolizada pela reen trada dos maiores países do mundo na economia globalizada O preço chinês conforme reportagem da Business Week havia se tornado as três palavras mais temidas pela indústria norteamericana8 Os salários nas fábricas norteamericanas eram pelo menos 30 vezes mais altos do que nas chinesas mais de US 800 por uma semana de trabalho de 40 horas contra US25 pela mesma carga horária e enquanto os trabalhadores norteamericanos eram mais produtivos havia muitas empresas e indústrias que simplesmente não podiam compensar essas enormes diferenças Isso provocou temores de que a economia global pudesse nivelar por baixo forçando condições cada vez piores até encontrar o menor denominador comum predominante nas nações pobres Será que os salários na América do Norte e na Europa ocidental poderiam ser comprimidos até os níveis dos da China ou do Brasil Será que pressões parecidas poderiam des gastar as políticas de bemestar social e as regras de proteção ao meio ambiente e à mão de obra A teoria neoclássica do comércio internacional realmente pre vê um achatamento dos salários nos países industriais em função da integração econômica internacional O comércio incentiva a equalização ao reduzir a diferença nos preços dos fatores produtivos entre os países terra mão de obra trabalho especial izado e capital A remuneração do trabalhador não qualificado é muito baixa nos países pobres onde esse tipo de mão de obra é abundante Como os países abundantes em mão de obra não qual ificada costumam exportar produtos intensivos em mão de obra não qualificada isso aumenta a demanda doméstica por trabal hadores e gera um aumento de salários Nos países ricos porém um processo semelhante opera contra os trabalhadores não 686832 qualificados Essas economias exportam bens que empregam muito capital e pouquíssima mão de obra não qualificada de forma que a demanda por esse tipo de trabalhador diminui e os salários caem De acordo com a teoria do comércio a atividade comercial reduziria as diferenças salariais entre os países ricos e pobres porque os salários aumentariam nos países pobres e di minuiriam nos ricos A integração econômica implica uma con corrência direta entre trabalhadores das nações ricas e pobres Richard Freeman economista especializado em trabalho re sumiu as pressões de forma sucinta Os seus salários perguntou em um artigo famoso são estabelecidos em Pequim9 A res posta à pergunta de Freeman foi debatida intensamente Os salários reais dos norteamericanos não qualificados estagnaram ou decaíram na maior parte do fim do século XX Alguns analistas atribuíram a tendência às mudanças tecnológicas em especial à importância crescente da microeletrônica e dos computadores que prejudicavam os trabalhadores que não dominam as novas tecnologias Contudo a concorrência acirrada dos trabalhadores pouco qualificados e malpagos de outros países seria responsável ao menos por parte do péssimo desempenho dos trabalhadores norteamericanos não capacitados O impacto na Europa foi difer ente devido aos salários mínimos europeus muito mais altos e aos controles rigorosos sobre as demissões tal efeito foi sentido com a queda do número de vagas criadas em vez da queda dos salários A concorrência gerada pela entrada de importações baratas pode explicar o achatamento dos salários reais dos trabalhadores norteamericanos menos capacitados a partir de 1973 e o aumento de cerca de 10 do desemprego na Europa entre 1980 e 2000 A lógica era clara os trabalhadores não quali ficados dos Estados Unidos e da Europa foram prejudicados pela concorrência dos trabalhadores não qualificados do Marrocos ou do México 687832 Assim como a integração permitiu às empresas escolher os países com os salários mais baixos também lhes deu a chance de optar pelas nações com regulamentações mais favoráveis e impos tos menores Isso poderia criar situações perigosas em relação às políticas e regulamentações sociais provocando a fuga dos empreendimentos da América do Norte e da Europa ocidental ca racterizados por impostos elevados políticas sociais generosas controles rigorosos sobre a poluição ambiental a saúde a segur ança e os direitos dos trabalhadores No norte da União Europeia as questões preocupantes eram o dumping social e a debandada de empresas e empregos da Escandinávia e de outras sociais democracias países de severos controles regulatórios para Esta dos mais liberais como a Espanha e a Grécia Esse medo só cres ceu com a entrada da Europa central e do leste na UE A abertura do mundo em desenvolvimento para o comércio e para os investi mentos internacionais aumentou a expectativa de um dumping social de escala global Ao longo da década de 1990 sindicatos de trabalhadores estudantes e outros ativistas se mobilizaram contra a ameaça de que a integração econômica pudesse corroer salários e políticas sociais Dessa forma eles formaram um novo movimento antig lobalização que explodiu em 1999 na batalha de Seattle O in teresse do movimento trabalhista ia além evitar a concorrência desleal de trabalhadores malremunerados e desprovidos de direit os e padrões mínimos Como a AFLCIO declarou A economia global e o nivelamento por baixo achataram o padrão de vida das famílias dos trabalhadores ao mesmo tempo que enriqueceram ainda mais o mundo rico10 O primeiro alvo era a capacidade dos capitalistas de fugir dos países ricos em busca de regiões mais amistosas Hoje as corporações multinacionais podem mandar o capital para lo cais a milhares de quilômetros com o clique de um mouse e transferir 688832 empregos para o outro lado do mundo com a velocidade que os números levam para viajar pelo cabo de fibra ótica Essas empresas muitas delas norteamericanas vasculham o globo em busca do menor custo possível de mão de obra e das legislações ambientais mais frouxas11 As exigências dos sindicatos em relação a controles mais rí gidos quanto à exploração dos trabalhadores nos países em desenvolvimento refletiam tanto a solidariedade da classe trabal hadora quanto um desejo mais prosaico de reduzir a pressão competitiva Os ativistas de direitos humanos e os ambientalistas também viam a integração econômica com apreensão Assim como as empresas podiam procurar salários mais baixos elas podiam tam bém buscar regimes que não respeitassem o meio ambiente geridos por ditadores que violassem os direitos humanos e outros vilões Para os críticos integração econômica global significava livrecomércio para as corporações mas controles rígidos sobre nações e cidadãos que tentam proteger sua segurança alimentar seus empregos seus pesquenos negócios e sua natureza Para eles também a globalização homogeneíza as culturas e os valores globais12 Nas palavras de uma campanha europeia para moralizar a indústria de vestuário Os incentivos para os investidores estrangeiros incluem não apenas salários mas também a suspensão de certas regulamentações sobre locais de trabalho e meio ambiente Se um governo tentar impor essas regulamentações à força pode apostar que muitos investidores irão fazer as malas rapidamente e partir para países menos rigorosos e mais hospitaleiros13 Uma coalizão de grupos militantes norteamericanos antiglob alização rotulou o fenômeno de uma conspiração contra o meio 689832 ambiente uma conspiração para liberar as empresas das leis democráticas que regulam seus excessos14 As queixas em relação à globalização também abordavam as pectos culturais como a supressão da diversidade uma con sequência do nivelamento da economia mundial e de tendências norteamericanizadoras Com a globalização econômica escreveu uma organização a diver sidade está desaparecendo rapidamente O objetivo da economia global é homogeneizar todos os países A globalização econômica e as instituições como o Banco Mundial e a OMC promovem um tipo específico de desenvolvimento homogeneizador que libera as maiores corporações do mundo para investir e operar em todos os mercados em todos os lugares Para essas agências e corporações a diversidade não é um valor essencial a eficiência sim A diversidade é um inimigo pois implica necessidades diferenciadas O que as empresas adoram é criar valores iguais gostos únicos usando os mesmos anúncios vendendo os mesmos produtos e expulsando os pequenos concorrentes locais Os marqueteiros de massa preferem consumidores homogêneos15 O novo movimento antiglobalização era amorfo e seus objet ivos variavam Alguns esforços se concentravam em empresas ou indústrias específicas e se utilizavam do ativismo dos acionistas ou do boicote dos consumidores para convencêlas a aceitar códi gos de conduta sobre mão de obra ou meio ambiente Outros en fatizavam a necessidade de afetar as políticas dos governos dos países industriais por exemplo por meio de sanções aos gov ernos dos países em desenvolvimento que desrespeitassem os direitos humanos ou trabalhistas Frequentemente esses esforços eram conflitantes com as instituições internacionais que foram criadas em Bretton Woods justamente para administrar o comér cio as finanças e os investimentos mundiais As iniciativas mais comuns como as tentativas de restringir as importações de países 690832 que supostamente violassem os direitos humanos os direitos dos trabalhadores ou os princípios ambientais faziam uso das bar reiras comerciais indo de encontro às regras de comércio inter nacional existentes Os militantes trabalhistas ambientais e de direitos humanos se viram no centro dos confrontos com o Gatt e com a sua su cessora a OMC O Gatt havia atuado contra a tentativa dos Esta dos Unidos de banir a importação de atum capturado em redes que podiam aprisionar golfinhos A OMC proibiu as restrições europeias à importação de gado tratado com hormônios Além disso as regras do sistema internacional de comércio não per mitiam sanções aos bens produzidos sob condições exploratórias ou que utilizassem trabalho infantil O sindicato dos trabal hadores da indústria têxtil e de vestuário dos Estados Unidos ar gumentou As empresas não podem tratar o mundo como se fosse seus operários explorados Medidas rigorosas para proteger o meio ambiente e os direitos dos trabalhadores devem ser incluí das em todos os acordos de comércio internacional Contudo protestou As regras atuais da economia global foram definidas por empresas e políticos que apoiam os interesses empresari ais16 As manifestações de Seattle em dezembro de 1999 foram apenas a primeira de uma série de mobilizações antiglobalização Antes disso instituições como o Gatt a OMC o G7 entre outras eram praticamente desconhecidas A partir daquele momento milhões de pessoas passaram a ir às ruas para protestar contra as leis do comércio mundial ou para pedir reformas na natureza burocrática das negociações comerciais temas que há dez anos apenas meia dúzia de indivíduos havia ouvido falar As reclamações dos países em desenvolvimento muitas vezes eram análogas mas opostas àquelas dos países industrializados Enquanto os ativistas do norte estavam particularmente in teressados em melhorar os padrões trabalhistas sanitários e am bientais dos países pobres os governos e empresários das nações 691832 em processo de industrialização eram normalmente contra tais padrões por considerálos proteções comerciais disfarçadas ar gumentando que a discussão em torno dos padrões eram o último recurso para manter os produtos asiáticos ou latinoamericanos fora dos lucrativos mercados do norte Muitos ativistas dos países em desenvolvimento também acreditavam que o uso de medidas comerciais ou outras medidas econômicas para forçar alterações de políticas no Brasil ou na Índia era um exercício de neocolonial ismo Até mesmo muitos simpatizantes das críticas contra o capit alismo global da África Ásia e América Latina ficavam preocupa dos com a facilidade com que os movimentos antiglobalização da Europa e da América do Norte se alimentavam daquilo que os países pobres consideravam protecionismo dissimulado ou neoimperialismo Para alguns representantes e militantes dos países em desen volvimento os ativistas norteamericanos e europeus atuavam como ferramentas de seus próprios governos Eles argumentavam que o incentivo à inclusão de padrões trabalhistas e ambientais na agenda do comércio tinha partido da própria administração Clin ton Consideravam suspeito o fato de em Seattle os manifest antes e o presidente Clinton terem concordado em forçar os países em desenvolvimento a adotar políticas sociais trabalhistas e ambientais formuladas nos Estados Unidos Como um dos des dobramentos das reuniões de Seattle o respeitado jornalista e portavoz indiano Chakravarthi Raghavan escreveu que havia Poucas dúvidas de que a Casa Branca de Clinton havia planejado um protesto de rua controlado liderado por membros de organizações trabalhistas e por grupos de ambientalistas a fim de persuadir a conferência a aceitar as demandas norteamericanas por padrões trabalhistas e ambientais na OMC O jornalista foi motivado pelo fato de que conforme escreveu as nações em desenvolvimento não se deixaram intimidar por 692832 manifestações de rua ou por protestos de sindicatos e de grupos ambientais organizados e incentivados pela administração norte americana17 No mundo em desenvolvimento muitos concordavam com os movimentos antiglobalização quando estes pregavam que o capit alismo global minava a autonomia nacional A economia mundial era como eles faziam questão de dizer dominada pelos países in dustriais que a controlavam de forma autocrática e hipócrita Autocrática porque União Europeia América do Norte e Japão haviam escrito e reescrito as regras do jogo econômico inter nacional como bem entendiam sem nenhuma contribuição dos restantes 45 da humanidade Hipócrita porque apesar da retórica tão difundida sobre economias abertas e livrecomércio o norte continuava a impor obstáculos às exportações do sul E o maior escândalo era que norteamericanos europeus e japoneses investiram pesadamente em programas caríssimos para proteger e subsidiar os agricultores de seus países enquanto pregavam as maravilhas do mercado para as economias em desenvolvimento A proteção agrícola fechou os mercados para competidores de toda parte e o dumping dos produtos em excesso nos mercados mundiais forçou a queda dos preços o que representou um ver dadeiro desastre para centenas de milhões de agricultores dos países em desenvolvimento cuja esperança de avanços econômi cos residia na exportação de bens agrícolas para os países desen volvidos Os defensores do mundo em desenvolvimento calcu lavam que a abertura dos mercados do norte aos seus produtos agrícolas lhes traria mais dinheiro do que toda a ajuda oferecida pelos paises desenvolvidos bem mais que US50 bilhões ao ano para programas de desenvolvimento A insatisfação com a ordem mundial era agravada pelo fato de que mesmo em alguns dos países mais bemsucedidos os frutos do sucesso eram maldistribuídos A China era uma das economias que crescia mais rapidamente e a pobreza caíra rapidamente no 693832 gigante asiático Ainda assim o abismo entre ricos e pobres em especial entre as cidades e o campo se alargou à medida que a nação cresceu No ano 2000 uma família média da cidade gerava uma renda três vezes maior que uma família do campo um múl tiplo muito maior que em 1985 Xangai era um dos maiores centros comerciais e industriais da China e contava com a presença de mais da metade das 500 maiores empresas listadas pela revista Fortune Contudo ainda havia cerca de 200 milhões de chineses vivendo na pobreza A sensação de que a voz dos gov ernos dos países em desenvolvimento era pouco ouvida nas questões globais era um reflexo da percepção de que os pobres também não eram ouvidos nas questões dos países em desenvolvimento A princípio as críticas dos ativistas do norte e dos governos do sul não causaram um grande impacto na estrutura da ordem eco nômica mundial mas pelo menos aqueceram os debates sobre a natureza das políticas econômicas internacionais A batalha de Seattle não foi relevante para as negociações da reunião ministeri al da OMC contra a qual os protestos eram dirigidos o encontro falhou devido a discordâncias entre membros das delegações e não por causa das manifestações Apesar disso a fúria do público mostrou que o capitalismo global e a estrutura das instituições in ternacionais agora seriam alvo de críticas globais e debates Com certeza surgiriam novos conflitos envolvendo restrições inter nacionais sobre aspirações nacionais Com o início do século XXI não se podia mais garantir que os ventos políticos continuariam soprando a favor da globalização Mercados globais desgovernados ou indesejados A instabilidade financeira e os protestos políticos evidenciaram as tensões entre o internacional e o nacional entre o mercado e o 694832 social A volatilidade dos recursos e das finanças com as recor rentes crises cambiais e de dívida levou os promotores da global ização a reivindicar instituições efetivamente globais para evitar mais pânico A palavra de ordem seria governança novas institu ições políticas para administrar as dificuldades dos mercados globais Os militantes antiglobalização por sua vez acusavam o sistema também de se esquivar das obrigações sociais e de destru ir as oportunidades dos países pobres Aqui a palavra de ordem seria responsabilidade novas instituições políticas para permitir um controle mais amplo dos mercados globais por todo o mundo Os debates eram semelhantes aos do fim do século XIX quando os países industriais evoluíram para mercados nacionais integrados Por muito tempo as economias e as empresas eram lo cais e os governos locais eram responsáveis por regulálas No de correr do século XIX companhias e economias se nacionalizaram e não se sabia mais quem era responsável por elas A nova geração de empresários queria governos nacionais que assegurassem e su pervisionassem os mercados dos países pois havia muito o que pedir a essas modernas administrações centrais Os movimentos de oposição como os socialistas da Europa e os populistas da América que ambicionavam políticas nacionais de controle e não a simples autorização ou monitoramento das empresas nacionais tiveram muitas reivindicações atendidas pelo Estado do bemestar social moderno O avanço dos mercados de locais a nacionais impulsionou a demanda por governança e responsabil idade política nacionais E posteriormente no fim do século XX a transição dos mercados de nacionais a globais estimulou as exigências de governança e responsabilidade política globais O que poderia ser feito para aliviar as tensões entre o capital ismo global e a política global Os partidários do sistema afirmavam que a solução seria alinhar a política com os mercados Por exemplo as atividades bancárias internacionais precisariam de reguladores e supervisores com autoridade internacional já 695832 que a cooperação entre os governos nacionais não era suficiente Os mercados globais requereriam governança global se não fosse possível um governo global que houvesse pelo menos in stituições econômicas globais que possibilitassem o tranquilo fun cionamento da economia mundial Os críticos da globalização também se concentravam nas di vergências entre os mercados globais e as políticas globais argu mentando que a globalização tinha ido longe demais e que a polít ica tinha que dominar os mercados e não fortalecêlos ainda mais Os militantes antiglobalização alegavam que o capitalismo global tinha fugido ao controle social As instituições econômicas inter nacionais representavam apenas os interesses das empresas do norte Os governos nacionais tinham cedido poderes à OMC e ao FMI ou os mercados internacionais tinham se apoderado desses poderes Era preciso realinhar a economia mundial com as ne cessidades políticas e as estruturas políticas nacionais e globais deveriam refletir os interesses das populações e assegurar a autor idade sobre os mercados globais Os ativistas queriam limitar e controlar os mercados internacionais e amenizar seus efeitos Tanto os críticos quanto os defensores da globalização identi ficavam o descompasso entre os mercados internacionais e as políticas nacionais Os dois grupos estavam convictos de que os problemas econômicos mundiais exigiam soluções políticas amplas mas escolheram caminhos diferentes para resolver o problema As políticas ambicionadas pelos defensores da globaliz ação se destinavam a facilitar a operação da economia inter nacional enquanto as desejadas por seus opositores serviam para restringir neutralizar ou aliviar os efeitos da economia internacional O século terminou como havia começado o capitalismo se tor nara global novamente e o mundo era mais uma vez capitalista No entanto apesar da aparente marcha triunfal do capitalismo global de continente a continente os desafios à globalização 696832 persistiam Alguns eram intrínsecos à operação dos mercados in ternacionais tais como a volatilidade do sistema financeiro que ameaçava o ritmo e a natureza da integração econômica Outros eram externos provenientes de grupos onde a globalização não era consenso ativistas lutando pelos direitos humanos pelos direitos dos trabalhadores e pelo meio ambiente A história mostrou que o apoio à integração econômica internacional era de pendente da prosperidade Se o capitalismo global deixasse de promover o crescimento econômico seu futuro seria incerto a Protesto dos nortemericanos contra os colonizadores britânicos no qual foram destruídas diversas caixas de chá de navios ancorados no porto de Boston NT 697832 Conclusão A partir de 1850 a economia mundial produziu níveis de cresci mento econômico e de transformação social sem precedentes Le vou a sociedade industrial antes restrita apenas à Europa ocidental e ao norte da Europa para o resto do continente para a América do Norte e nas últimas décadas para grande parte do Leste Asiático e da América Latina A economia internacional transformou empresas países e re giões inteiras A Nokia antes uma pequena fábrica de galochas na área rural da Finlândia fez uso do acesso aos mercados inter nacionais para se transformar na maior produtora mundial de telefones celulares Na década de 1950 Taiwan e Coreia do Sul eram tão pobres que a própria sobrevivência dos dois países sus citava dúvidas em 1990 os dois passaram para o rol das nações industriais mais avançadas do mundo Milhares de empresas pre cisam contar com clientes e fornecedores estrangeiros para obter lucros milhões de empregos dependem de empresas estrangeiras A economia internacional fez com que países se desen volvessem reduzissem os níveis de pobreza melhorassem as con dições sociais aumentassem a expectativa de vida e implemen tassem reformas sociopolíticas A melhor saída para as massas empobrecidas da Ásia e da África é o acesso às oportunidades que a economia mundial tem a oferecer O capitalismo global entretanto também tem outro lado o qual pode ser visto nas siderúrgicas da cidade de Homestead que um dia já fora referência para a indústria norteamericana Cerca de 20 mil empregados trabalhavam nessas instalações da US Steel a alguns quilômetros de Pittsburgh na Pensilvânia e a us ina havia estabelecido um grande complexo industrial ao longo do Vale de Monongahela Hoje a antiga usina foi transformada em um shopping center A população da cidade de Homestead que um dia já chegou a 20 mil habitantes hoje não passa de 3500 a população da cidade de Pittsburgh não é nem metade da que era em seus anos de glória industrial Para a decadente região a única esperança para as antigas usinas seria o governo federal transformálas em um monumento histórico para atrair turistas A concorrência estrangeira fechou as portas de dezenas de milhares de fábricas e pôs fim a dezenas de milhões de postos de trabalho nas indústrias da Europa ocidental e da América do Norte As fábricas dos países ricos não conseguem competir com os manufaturados vindos da Ásia América Latina ou Europa ori ental onde os salários correspondem a 10 dos praticados na Europa ou nos Estados Unidos Os empregos atravessam fronteir as e as empresas contratam indianos ou filipinos para programar softwares digitar documentos e atender telefonemas de clientes reclamando As nações em desenvolvimento no entanto têm as suas pró prias dificuldades Devem mais de US1 trilhão a credores es trangeiros e as incertezas do sistema financeiro têm levado Tailândia Argentina Indonésia e Brasil a crises profundas À me dida que esses países lutam para honrar suas dívidas governos demitem funcionários públicos liquidam ativos governamentais reduzem gastos sociais e aumentam impostos O sucesso de se produzir roupas móveis e aço para os mercados mundiais entra em conflito com os efeitos provocados por práticas exploratórias utilização de trabalho infantil e exigências por direitos 699832 trabalhistas Na história mais bemsucedida de todas a da China o abismo entre ricos e pobres aumentou mesmo diante dos pro gressos feitos pelo país Os benefícios do capitalismo global não surgem sem custos Empresas podem pegar empréstimos a juros baixos nos mercados financeiros internacionais o que as expõem às exigências dos in vestidores estrangeiros O comércio permite aos consumidores comprar produtos estrangeiros baratos o que traz uma com petição indesejada para produtores domésticos As corporações multinacionais introduzem novas tecnologias e métodos o que expulsa as firmas nacionais do mercado A dívida externa permite aos governos gastar mais do que arrecadam o que pode gerar crises cambiais asfixiantes Governos abrem suas fronteiras à eco nomia mundial e oferecem a alguns cidadãos o potencial para al cançar riqueza e sucesso o que pode condenar outros cidadãos a condições difíceis e dolorosas Não há comércio sem concorrência finanças sem riscos inves timentos sem obrigações Não há como evitar os efeitos negativos inerentes ao capitalismo global E não há como medir se o sofri mento de um trabalhador cujo emprego foi perdido por causa da globalização deve valer mais que os benefícios gerados a um tra balhador por um emprego que depende da globalização O capitalismo global é desejável Vai durar Deve durar A história da economia mundial do século XX nos ajuda a entender questões como essas A integração econômica internacional em geral expande as oportunidades econômicas e é positiva para a sociedade As grandes alternativas à integração econômica fracassaram As tent ativas de isolar países do resto da economia mundial na década de 1930 foram um desastre Alemanha Itália e Japão fecharam suas economias e se viram às voltas com regimes ditatoriais guerras e conquistas Os países pobres e as excolônias que criaram eco nomias fechadas nas décadas de 1930 e 1940 se desintegraram 700832 passando a enfrentar a estagnação econômica o descontenta mento social crises e ditaduras militares durante as décadas de 1970 e 1980 Poucos foram os países que progrediram economica mente sem acesso à economia internacional No entanto insistir na globalização a qualquer custo seria igualmente equivocado Durante os anos dourados do capitalismo global anterior a 1914 os governos se comprometeram com a in tegração econômica internacional e nada mais Os defensores do livrecomércio do padrãoouro e das finanças internacionais queriam que os governos limitassem a atuação para a preservação de tais medidas e de suas propriedades Esses governos ignor aram os argumentos daqueles prejudicados pela globalização À medida que as classes média e trabalhadora cresciam elas tam bém passaram a exigir reformas sociais para melhorar as con dições dos milhares de desempregados pobres crianças e idosos O choque entre a ortodoxia clássica e esses novos movimentos so ciais se transformou em duros conflitos por vezes violentos em especial após a eclosão da Grande Depressão As tentativas de seguir no curso do capitalismo global sem prestar assistência aos maltratados pelos mercados mundiais levaram sociedades à po larização e ao conflito Após a Segunda Guerra Mundial a nova ordem de Bretton Woods significou uma tentativa de evitar os fracassos das autar quias e do laissezfaire do padrãoouro O sistema marcado pelo padrão dólarouro por uma gradual liberalização do comércio e por instituições internacionais firmou compromissos entre a in tegração econômica e o Estado do bemestar social Dessa forma os governos ocidentais se tornaram capazes de combinar doses moderadas de políticas de bemestar social e graus moderados de integração econômica internacional A rápida recuperação da economia internacional erodiu os acordos de Bretton Woods Os desenfreados mercados financeiros internacionais e os governos nacionais que gastavam sem 701832 impedimentos passaram a ser forças conflitantes A ordem econ ômica do pósguerra entrou em colapso no início da década de 1970 e foi substituída por 15 anos de inflação orçamentos defi citários e estagnação econômica Na década de 1990 o capitalismo global estava novamente a pleno vapor Assim como ocorrera antes de 1914 o capitalismo era global e o globo capitalista A história do capitalismo global de seu primeiro momento de glória até o declínio após 1914 pas sando por sua melhora gradual desde 1970 ilustra os testes de fogo que determinariam o futuro da integração econômica inter nacional Antes de 1914 os globalizadores evitavam medidas de proteção social e reformas o que contribuiu para o colapso mais sério do sistema Os governos do período entreguerras rejeitaram a economia mundial o que acabou determinando a desintegração deles Após 1945 as nações ocidentais optaram por uma pequena dose de integração combinada a uma pequena dose de reforma social o que provou ser apenas uma solução temporária A história da economia mundial moderna demonstra dois as pectos Primeiro as economias funcionam melhor quando estão abertas ao mundo Segundo economias abertas funcionam mel hor quando seus governos tentam aplacar as fontes de insatis fação com o capitalismo global O desafio do capitalismo global no século XXI é combinar in tegração internacional com governos politicamente reativos e so cialmente responsáveis As diferentes ideologias contemporâneas pró e antiglobalização progressistas e conservadores prómer cados e panfletários argumentam que tal combinação é impos sível ou indesejável Entretanto a teoria e a história indicam que a coexistência entre globalização e políticas comprometidas com melhorias sociais é possível Fica a cargo dos governos e indivídu os transformarem a possibilidade em realidade 702832 Notas Introdução Rumo ao século XX 1 Citado em Viner 1948 2 Adam Smith 1937 livro quatro 3 Maddison 1995 p38 Para uma excelente pesquisa sobre o período ver Marsh 1999 4 Stamp 1979 Bairoch 1989 p56 Maddison 2001 p95 5 ORourke e Williamson 1999 p209 6 Calculado em Friedman e Schwartz 1982 p12237 Os índices de preço são deflatores implícitos 7 Calculado em Gallman 1960 p1343 a variante A é utilizada para construção 8 Uma leitura essencial sobre o padrãoouro encontrase em Eichengreen e Flandreau 1997 9 A plataforma encontrase em Hicks 1931 p43944 10 Ibid p31617 e p160 11 Cain e Hopkins 1993a oferecem um panorama do período 1 Capitalismo global triunfante 1 A plataforma encontrase em Hicks 1931 p43944 2 Times 9 de julho de 1896 3 Ibid 4 Times 10 de julho de 1896 5 Times 4 de novembro de 1896 6 Os números utilizados estão em termos reais ou seja consideram as diferenças dos preços tanto entre países quanto ao longo do tempo Fonte Maddison 2001 7 Wilde 1985 p144 8 Veja por exemplo Estevadeordal et al 2003 e LópezCórdova e Meiss ner 2003 9 Bordo e Rockoff 1996 p389428 10 Eichengreen 1992 Eichengreen e Flandreau 1997 A apresentação nesses textos é bastante simplificada Os governos normalmente tentam administrar as economias no sentido de evitar grandes fluxos de ouro Isso poderia envolver uma tentativa de reter o ouro pelo aumento da taxa de juros o que tenderia a manter o dinheiro no país para tirar vantagem das taxas mais altas de retorno Ou então poderia envolver uma tent ativa de conter os salários preços e lucros domésticos com o objetivo de tornar as exportações mais competitivas No entanto essas políticas tiveram origem nas pressões que a adoção do ouro exercia sobre eco nomias e governos 11 Maddison 1995 p64 12 ORourke e Williamson 1999 p4353 Veja também Capie 1983 13 ORourke e Williamson 1999 p20812 14 Lloyd Reynolds 1985 p87 15 Solberg 1987 oferece um excelente estudo sobre as duas economias do trigo 16 Bairoch 1975 p52 e 15 17 Adam Smith 1937 p45 18 Maddison 1995 p36 e 249 2 Defensores da economia global 1 Keynes 1920 p1112 2 Ibid p12 3 Um maravilhoso relato do processo encontrase em Irwin 1996 p7598 4 John Nye questiona até mesmo isso afirmando que a Inglaterra simples mente cobrava impostos indiretos sobre bens de luxo para conseguir um equivalente funcional da proteção comercial Nye 1996 p90112 704832 5 O que se segue foi retirado em princípio do estudo clássico da família Ni all Ferguson 1998 Veja também estudos em Heuberger 1994 6 Strouse 1999 p173 Niall Ferguson 1998 p87273 7 Niall Ferguson 1998 p866 trata da crise do Barings nas p86372 Veja também Cain e Hopkins 1993a p288311 para as estórias mais gerais de Argentina Brasil e Chile 8 Economist LXV 9 de novembro de 1907 p1925 9 Niall Ferguson 1998 p92729 A crise de 1907 é sujeito de uma quan tidade substancial de literatura acadêmica Veja em especial Eichen green 1992 10 Niall Ferguson 1998 p947 11 Sobre os Rothschilds na África do Sul veja Niall Ferguson 1998 p87694 Cain e Hopkins 1993a p36981 e Flint 1974 12 Niall Ferguson 1998 p884 13 Ibid p892 14 Um argumento clássico para um período mais anterior está em Goure vitch 1977 15 Para uma excelente pesquisa veja Bairoch 1989 p69160 16 Citações retiradas de James e Lake 1989 p1821 17 Cain e Hopkins 1993a p178 18 Mitchell 1998b para ver os números Knudsen 1977 para ler a discussão 19 Holtfrerich 1999 20 Lake 1988 p76 21 Davis e Huttenback 1986 p818 Os primeiros valores são deles basea dos no trabalho de Michael Edelstein os últimos usaram a amostra de empresas britânicas de Davis e Huttenback Em ambos os casos é feita a comparação entre investimentos externos não imperiais e investimentos britânicos Como explicitam Davies e Huttenback as taxas de retorno dentro do império não eram normalmente tão altas quanto as dos países estrangeiros Os dados originais de Edelstein estão em Edelstein 1982 Medidas da taxa de retorno confundemse com inúmeros problemas complexos sobre os quais ambos os livros tratam em detalhe 22 Cain e Hopkins 1993a p178 23 Citado ibid p216 24 Jeffrey Williamson 1995 705832 25 Cain e Hopkins 1993a p181201 apresentam um resumo judicioso do debate 26 Ibid p217 27 Feis 1930 p23 utilizando as estimativas contemporâneas de Paish Feis continua sendo a melhor fonte não técnica de informações sobre os investimentos europeus no exterior durante esse período 28 Goldin 1994 29 ORourke e Williamson 1999 Tabelas 81 e 83 30 Ibid 3 Histórias de sucesso da Era de Ouro 1 Morand 1931 p74 2 Ibid p76 3 Ibid p656 4 Ibid p75 5 Mandell 1967 p111 6 Morand 1931 p79 7 Ibid p767 8 Ibid p789 9 Ibid p79 10 Mandell 1967 p84 11 Morand 1931 p80 12 Ibid 13 Rostow 1978 p523 14 Todos apresentam uma produção manufatureira per capita 20 maior que a dos Estados Unidos A Itália é limítrofe com o Norte obviamente industrializado mas o Sul talvez mais atrasado do que Espanha e Por tugal W Arthur Lewis 1978 p163 15 O resumo clássico dos aspectos tecnológicos do processo está em Landes 1969 p231358 16 Um bom resumo é Falkus 1972 em especial p4484 que cobre grande parte da literatura disponível 17 Rostow 1978 p4223 18 Landes 1969 p241 Neste ano de acordo com Landes as exportações japonesas de fios e tecidos eram maiores do que as alemãs e 40 das do Reino Unido 706832 19 Rostow 1978 p1967 p210 apresenta os dados utilizados aqui 20 Landes 1969 p300 sobre a Alemanha dados norteamericanos de Kerry Chase 21 Esse foi o argumento que ficou conhecido por causa de Gerschenkron 1962 É ainda controverso e na melhor das hipóteses está apenas par cialmente correto mas é provável que haja nele alguma verdade 22 Sandberg 1978 1979 23 Citado em Irwin 1996 p127 24 Ibid p126 25 Ibid p125 26 Bairoch 1989 p76 e 139 27 Falkus 1972 p4484 28 Bairoch 1989 p139 29 Webb 1977 1980 30 Bairoch 1989 p1345 31 Maddison 1995 p38 fornece valores de exportação como parcela do PIB representativos Bairoch 1989 p8890 discute o processo de forma mais geral 32 A parte oeste da América do Norte e o sul da América Latina foram ex ceções parciais apesar de as estruturas sociais preexistentes serem de masiadamente pequenas e superficiais para que o impacto fosse mais duradouro As populações indígenas também quase não tiveram efeito algum 33 Douglass North em North 1989 p131932 destaca a distinção entre americanos do norte e do sul e britânicos e ibéricos o que pode se justifi car numa perspectiva comparativa No entanto as diferenças nessa di mensão entre Argentina e Canadá desvanecem em comparação com aquelas entre por exemplo Argentina e Indochina 34 W Arthur Lewis 1978 p18893 discute o fato cerne de sua inter pretação do desenvolvimento subsequente das áreas tropicais As duas características estão relacionadas O fato de as populações in dígenas serem relativamente pequenas nas áreas de assentamento mais recente foi um dos fatores que geraram os padrões predominantes de produtividade e produção agrária O baixo nível de produtividade agrária das regiões temperadas fora da Europa tornou impossível a existência de populações densas nessas regiões Por outro lado se as populações não europeias fossem consideravelmente maiores como na América Central ou na África Ocidental por exemplo isso significaria que as terras 707832 concentravam riquezas mais aparentes e portanto os europeus as teriam explorado antes 35 Calculado a partir de W Arthur Lewis 1978 p2927 a Europa Ocident al exclui a Alemanha que é considerada de forma mais adequada parte da Europa CentroOriental Leste no que diz respeito à produção agrária 36 John Foster Fraser 1914 p27 e 70 37 O valor atribuído à produção industrial foi retirado de Rostow 1978 p496 os dados sobre o consumo de tecidos podem ser encontrados em David Reynolds 2000 p100 os valores de produto per capita foram como todos os outros utilizados aqui retirados de Maddison 1995 38 Villela e Suzigan 1977 p294 39 Podese encontrar uma boa análise da economia política das experiências dos dois países em Bates 1997 p2689 40 Hopkins 1973 é a fonte mais importante e demonstra de maneira con vincente a interação dos interesses econômicos europeus e locais no pro cesso colonial 41 David Reynolds 2000 p205 42 Gerald K Helleiner 1966 Hogerdorn 1975 43 Reynolds 2000 p158 44 Michael Adas citado por Elson 1992 p144 45 Essa é a questão central de ORourke e Williamson 1999 4 Os fracassos do desenvolvimento 1 Phipps 2002 p164 2 Maddison 2001 p26465 3 O material usado aqui foi retirado de Hochschild 1998 Kennedy 2002 e Phipps 2002 4 Phipps 2002 p21 5 Citado ibid p17 6 Hochschild 1998 p18081 7 Citado ibid p164 8 Ibid p193 9 Phipps 2002 p159 10 Ibid p162 11 Citação ibid p171 12 Zwick 1992 708832 13 Citado em Slinn 1971 p371 14 A comparação com Uganda onde os agricultores indígenas tiveram muito mais sucesso no cultivo de produtos rentáveis para exportação é instru tiva Hickman 1970 p17897 15 Um tratamento primoroso das experiências irlandesa e argelina e is raelense pode ser encontrado em Lustick 1993 16 W Arthur Lewis 1978 p214 17 Bairoch 1975 p160 fornece estimativas de empregos por setor 18 Latham 1978 p20 19 Mitchell 1998 a b e c passim 20 David Reynolds 2000 p320 21 É difícil categorizar e medir o Império Otomano Incluía algumas regiões relativamente mais avançadas mas de maneira geral era bastante sub desenvolvido Era enorme mas o que fazia ou não parte do Império era passível de debate É provável que sua população fosse superada em número somente pela China e pela Índia mas não é possível afirmar com certeza 22 Tomlinson 1979 p129 traz uma excelente análise da experiência indiana 23 Feuerwerker 1995a p181 Os estudos detalhados encontramse nas p165308 Veja também Feuerwerker 1995b e Philip Richardson 1999 Uma visão mais geral pode ser encontrada em Spence 1990 O ponto de vista mais otimista de WaleyCohen 1999 se concentra nas visões mais progressistas dos reformadores enquanto sua própria argu mentação explicita que a implementação de políticas baseadas em tais visões era via de regra impedida pelos grupos dominantes 24 Essa é uma consequência da Teoria do Produto Principal staple theory desenvolvida por pesquisadores canadenses focada no produto principal staple da região Schedvin 1990 apresenta uma análise útil e essa abordagem foi aplicada e desenvolvida por Engerman e Sokoloff 1997 25 Por exemplo De Graaff 1986 26 Stover 1970 apresenta um bom resumo dos movimentos de preço e de quantidade das exportações tropicais durante este período 27 Norbury 1970 p13842 28 Bates 1997 p56 29 Stover 1970 p50 30 Ibid p57 709832 31 Tampouco foi assim tão determinante como apresentado aqui Nugent e Robinson 1999 argumentam de maneira convincente que fatores políti cos influenciaram na organização das economias de café mostrando que em El Salvador e na Guatemala os regimes oligárquicos levaram ao surgi mento de fazendas de café com produção em larga escala Já na Costa Rica e na Colômbia os regimes mais inclusivos geraram o cultivo em pequenas propriedades A discussão é mais sobre tendências do que sobre certezas 5 Problemas da economia global 1 Kindleberger 1964 p27273 2 Bairoch 1989 p838 Cain e Hopkins 1993a p20225 Marrison 1983 fornece uma análise bastante útil sobre os defensores e os opos itores da proteção no meio industrial 3 Citado em Cain e Hopkins 1993a p211 4 A análise definitiva sobre a economia política dessa eleição pode ser en contrada em Irwin 1994 5 Cain e Hopkins 1993a p181201 e Kindleberger 1996 p12548 fornecem uma análise breve sobre os debates e as evidências 6 Kindleberger 1978 p224 7 Citado em E L Jones 1996 p704 8 Rogowsky 1989 traz uma excelente apresentação e aplicação O teorema de StolperSamuelson é mais utilizado para prever o apoio à proteção do comércio mas explica também obviamente o apoio à liberalização comercial 9 Przeworski 1980 10 Citado em Hicks 1931 p316 317 11 Moreton Frewen citado em Stanley Jones 1964 p14 6 Tudo o que é sólido se desmancha no ar 1 Evans e Geary 1987 p73 ver também httpwwwlivcollacukpa09europetripbrusselskollwitzhtm 2 Carr 1939 3 Noyes 1926 p4367 4 Cooper 1976 p215 710832 5 Ibid p21921 6 Lamont 1915 p112 7 Nearing e Freeman 1925 p273 8 Carr 1939 p234 9 A fonte principal é Feldman 1993 esses dados são das p7825 Ver também Aldcroft 1977 p128 e 138 10 Ernest Hemingway German Inflation 19 September 1922 em Eyewit ness to History ed John Carey Cambridge Harvard University Press 1987 p497501 11 Meyer 1970 12 Eichengreen 1992 p12552 discute o episódio ver também Costigliola 1976 13 Citado em Feldman 1993 p855 14 Ibid p858 15 Nove 1992 p94 16 Aldcroft 1977 p98 e 102 17 Maddison 1995 p2389 18 Um estudo clássico sobre o processo está em Maier 1975 19 Cleona Lewis 1938 p341 20 Frieden 1988 p66 21 Cleona Lewis 1938 p377 22 Aldcroft 1977 p23867 ver também Kindleberger 1973 p3182 23 Maddison 1995 24 Villela e Suzigan 1977 p133 25 Essa interpretação ainda que prevista por outros na década de 1930 foi de fato apresentada pela primeira vez de forma sucinta por Kindleberger 1973 p291308 26 Eichengreen 1987 A apresentação completa dessa interpretação em oposição às falhas do padrãoouro do período entreguerras está em Eichengreen 1992 27 Flandreau 1997 p757 Apesar de Flandreau argumentar contra uma variante da visão cooperativa os fatos que apresenta em especial para o período que vai de 1870 a 1914 indicam a centralização da colaboração internacional ver p75560 28 Broz 1997 29 Forbes 1981 p125 30 Maltz 1963 p2045 711832 31 Feis 1950 p14 32 Eichengreen 1989b a citação está na p58 33 Frieden 1988 p65 34 A discussão apresentada aqui está baseada a não ser quando se espe cifica o contrário na magistral biografia autorizada Skidelsky 1983 1992 2000 35 Skidelsky 1992 p181 36 Skidelsky 1983 p239 37 Ibid p84 38 Ibid p227 39 Ibid p319 40 Ibid p370 41 Ibid p371 42 Ibid p391 43 Skidelsky 1992 p205 44 Ibid p133 45 Jensen 1989 e Sachs 1980 apresentam duas discussões gerais um estudo transnacional detalhado está em Bernanke e Carey 1996 46 Skidelsky 1992 p156 47 Ibid p192 48 Ibid p204 49 Ibid p194 7 O mundo de amanhã 1 Zim Lerner e Rolfes 1988 p71 2 Edmund Gilligan Report of a Subway Explorer of His Trip to a Magic City reproduzido em Zim Lerner e Rolfes 1988 a citação encontrase na p44 3 Ibid p434 4 Citado em Rydell et al 2000 p93 5 Maddison 1995 p41 a medida utilizada é simplesmente PIB por hora trabalhada 6 Rostow 1978 p756 7 Landes 1969 p246439 Os valores dos salários são de Liesner 1989 p98 712832 8 Landes 1969 p443 9 Chandler e Tedlow 1985 p408 10 Valores de Kerry Chase 11 Coffey e Layden 1996 12 A história clássica está em Chandler 1977 Ver também Chandler 1969 13 Mowery e Rosenberg 1989 p5997 14 Calculado a partir de Ibid p689 15 Chandler e Daems 1980 apresenta um bom conjunto de artigos comparativos 16 Daems 1980 p222 17 Frieden 1988 p64 18 Landes 1969 p446 19 Poulson 1981 p525 20 Sassoon 1996 p2782 apresenta um excelente resumo 8 O colapso da ordem estabelecida 1 Orwell 1958 p856 2 Watkins 1999 p57 3 Os primeiros valores são de Kindleberger 1973 p71 os seguintes de Eichengreen 1992 p224 Grande parte do relato apresentado aqui foi retirada dessas duas fontes essenciais 4 Temin 1989 desenvolve essa explicação de propagação por impulso da relação entre os Estados Unidos e o resto do mundo 5 Kindleberger 1973 p143 e 188 6 Os preços de material de construção e de produtos agrícolas foram calcu lados a partir de Warren e Pearson 1935 p302 bens de consumo duráveis a partir de Shaw 1947 p2905 7 Eichengreen 1992 p251 8 Friedman e Schwartz 1963 p306 9 Rostow 1978 p220 10 Costigliola 1972 é um excelente panorama 11 Stögbauer e Komlos 2004 e van Riel e Schram 1992 12 A questão ainda é controversa Veja Eichengreen 1989a para obter uma avaliação aproximada 13 Maddison 1995 p69 713832 14 Bernanke 1983 p260 15 Ibid p260 Alston 1983 p888 a taxa do período de 1928 a 1934 é a soma das taxas anuais de execuções de hipotecas o que provavelmente leva a uma pequena superestimativa porque algumas fazendas podem ter sido tomadas mais de uma vez no período 16 Conforme citado em DeLong 1991 p11 Por uma questão de justiça Robbins mais tarde repudiou sua opinião de 1935 considerandoa um conceito errôneo Temin 1989 pxiii 17 Citado em DeLong 1991 p6 18 Thomas Ferguson 1984 discute as diferenças no âmbito da indústria norteamericana OBrien 1989 argumenta a favor da motivação da ma nutenção do consumo na rigidez dos salários nominais 19 Esses valores são de Jensen 1989 p5589 valores um pouco difer entes mas ainda assim comparáveis estão em Margo 1993 p43 20 Bernanke e James 1991 p513 21 Henrik Ibsen The League of Youth 1869 Ato 4 22 Bernanke 1983 p259 23 Ibid Calomiris 1993 24 Eichengreen e Temin 2000 p199 25 Citado em Kindleberger 1973 p152 26 Bernanke e James 1991 p507 o valor dos depósitos estrangeiros na Alemanha é de Eichengreen 1992 p272 27 Eichengreen e Temin 2000 p201 28 Ferguson e Temin 2003 apresentam um resumo e uma avaliação en fatizando o componente câmbio da crise alemã 29 Kindleberger 1989 p1738 Cain e Hopkins 1993b p801 30 Kindelberger 2000 p1531 31 Rostow 1978 p2203 32 Díaz Alejandro 1983 p611 33 Citado em Temin 1989 p95 34 Eichengreen 1992 p2946 35 Calculado a partir de Warren e Pearson 1935 p3032 e Shaw 1947 p2905 36 Kindleberger 1973 p197 37 Ibid p219 38 Ibid p202 39 Eichengreen 1992 pxi 714832 40 Citado em DeLong 1991 p12 41 Keynes 1932 42 Ibid 43 Skidelsky 1992 p477 44 Citado em Eichengreen e Temin 2000 p202 45 Blum 1970 p49 46 Departamento de Agricultura dos Estados Unidos 1949 p53 Kindle berger 1973 p2223 47 Romer 1992 p759 Romer 1993 p35 48 Bernanke e James 1991 p3545 9 Em direção à autarquia 1 Simpson 1969 p16 2 Nurkse 1962 p1345 3 As informações que se seguem são de Mühlen 1938 Schacht 1955 Simpson 1969 e Weitz 1997 4 Aparentemente ele ainda estava confuso quando escreveu sua disser tação Schacht 1955 p86 incapaz de compreender que o examinador estava tentando fazer com que ele discorresse mais sobre os atributos ab stratos dos objetos 5 Ibid p45 6 Ibid p1489 7 Weitz 1997 p117 8 Simpson 1969 p78 9 Ibid p7880 10 Ibid p80 11 Weitz 1997 p139 12 Ibid p135 e 197 13 Schacht 1955 p303 14 Hitler 1953 p350 15 Overy 1982 Overy 1994 p3789 Karl Hardach 1980 p5664 James 1986 p36787 16 Simpson 1969 p87 17 Citado em James 1986 p353 18 Citado em Feldman 1993 p855 715832 19 Kaiser 1980 p3257 e Neal 1979 p397 essas são variações não ponderadas 20 Overy 1994 p16 Overy 1982 21 Simpson 1969 p131 22 Ibid p123 23 Weitz 1997 p220 24 Overy 1994 p57 James 1986 p3557 25 Clough 1964 p383 26 Nove 1992 p250 27 Neal 1979 28 A comparação para duplicação é feita com o ponto mais baixo normal mente 1932 Os valores de produção manufatureira estão abertos a dis cussão em especial devido às rápidas mudanças de preços no período Tais mudanças que têm somente o intuito de ilustrar são de Overy 1982 p29 Rostow 1978 p22223 Díaz Alejandro 1983 p9 e Teichova 1985 p230 29 Em Blinkhorn 1990 p161 traduzido novamente pelo autor 30 Stephen J Lee 1987 e Berend e Ránki 1977 p77141 são pesquisas excelentes 31 Merkl 1980 p765 32 Os artigos encontrados em Blinkhorn 1990 cobrem a maioria dos as pectos da colaboração 33 Sarti 1971 p10433 Gregor 1979 p15371 Ciocca e Toniolo 1984 Cohen 1988 desbanca de maneira convincente as alegações de Gregor de que o fascismo italiano seguiu um plano desenvolvimentista metódico mas não discute a eventual importância do Estado na economia 34 Teichova 1985 p286 e 309 35 Overy 1982 p34 e 60 36 Radice 1986 p31 Hauner 1985 p83 37 Berend e Ránki 1977 p945 38 Nakamura 1983 Nakamura 1998 Lockwood 1968 G C Allen 1972 e Barnhart 1981 39 Nove 1992 p150 e 174 40 Esses e outros valores usados aqui a não ser quando se especifica o con trário foram retirados do reconhecido Davies Harrison e Wheatcroft 1994 p269 41 Nove 1992 p186 716832 42 Gregory e Stuart 1986 p115 43 Esse sistema está muito bemresumido em Nove 1969 p2637 uma discussão mais detalhada pode ser encontrada em Gregory e Stuart 1990 p155265 44 Nove 1969 p204 45 Todos os valores são de Davies Harrison e Wheatcroft 1994 46 Maddison 1995 p194200 47 Robert C Allen 1998 48 Bairoch 1975 p124 Felix 1987 p23 49 BlumerThomas 1998 p77 ver também Maddison 1989 p57 50 Thorp 1984 p331 C H Lee 1969 p143 51 Thorp e Londoño 1984 p94 52 Elson 1992 p18691 53 C H Lee 1969 p1523 54 Owen e Pamuk 1999 p3844 55 KaiMing e Barber 1936 56 Feuerwerker 1983 57 Villela e Suzigan 1977 p138 e 356 58 Owen e Pamuk 1999 p16 e 244 59 C H Lee 1969 p150 60 Palma 1984 p702 61 Ocampo 1984 p134 e 139 62 Tomlinson 1979 p32 Ver também Dewey 1978 63 Meredith 1975 p495 64 Dixon 1999 p6167 Phongpaichit e Baker 1995 p24966 65 Cain e Hopkins 1993b p18894 A D Gordon 1978 66 Tomlinson 1979 p11946 67 Citado em Hopkins 1973 p267 68 Elson 1992 p192 10 A construção da socialdemocracia 1 Keynes 1933 2 Söderpalm 1975 3 Citado em Berg e Jonung 1998 p11 4 Carlson 1993 p174 717832 5 Ibid p178 6 Jorberg e Kranz 1989 p1082 Ver também Jonung 1981 p30203 e EspingAndersen 1985 p199204 7 Tilton 1990 p113 8 Jorberg e Kranz 1989 p1085103 9 Mabbett 1995 p87 10 Benner 1997 p76 11 Gourevitch 1986 p134 12 Citado em Poulson 1981 p610 13 Wallis 1986 Harrington 1998 p31426 A citação de Roosevelt está na p322 14 Rucker e Alston 1987 15 Troy 1965 p12 16 Wallis 1986 p18 17 EspingAndersen 1985 p4188 18 Katzenstein 1985 p136190 Luebbert 1991 p234305 19 Colton 1996 p93 20 Ibid p92197 21 Keynes 1936 p383 22 Ibid Nessa interpretação e devo ressaltar que as interpretações de Keynes são ainda controversas ver em especial Leijonhufvud 1968 23 Keynes 1932 24 Keynes 1936 p378 25 Skidelsky 1992 p511 26 Ibid p507 27 Ibid p5734 28 Laidler 1999 é um exemplo convincente 29 Barber 1996 p835 30 Skidelsky 1992 p506 31 Barber 1996 p86 32 Os textos em Hall 1989 descrevem a influência das ideias de Keynes em vários países principalmente depois da Segunda Guerra Mundial São de cididamente céticos com relação ao impacto independente dessas ideias na política 33 EspingAndersen 1985 p195 34 Harrington 1998 35 Ibid 718832 36 Tilton 1990 p131 37 Troy 1965 p12 38 Citado em Swenson 1997 p80 39 Ibid p78 40 Ibid p72 Esses pontos são controversos Para uma discussão mais abrangente ver Domhoff 1986 Colin Gordon 1994 e Thomas Fer guson 1984 41 Swenson 1989 p4253 42 Swenson 1997 p85 43 Kindleberger 1989 Simmons 1994 p174274 44 Eichengreen 1992 p37482 a citação está na p380 Ver também Clarke 1977 e Kindleberger 1993 p38589 45 Warren 1937 p71 46 Proceedings of the Academy of Political Science 17 1 Maio de 1936 p113 11 A reconstrução do Oriente e do Ocidente 1 Leon Fraser 1940 p567 Sobre o planejamento do início da guerra ver Oliver 1971 p622 e Shoup e Winter 1977 p11787 2 Richard Gardner 1980 p9 Esse estudo clássico é a fonte principal de grande parte do que vem a seguir 3 Otto Maller citado em Eckes 1975 p37 4 Hull 1948 p3556 5 Citado em Richard Gardner 1980 p19 6 Ibid p4068 as citações de Welles estão na p49 Ver também Penrose 1953 p1131 7 Citado em van Dormael 1978 p934 8 Ibid p95 9 Ibid p255 10 Citado em Eric Helleiner 1994 p164 11 Feis 1930 p469 12 Staley 1935 p495 13 Eckes 91975 p13564 Richard Gardner 1980 p11044 van Dormael 1978 p24065 14 Financial Times 15 de março de 2003 pWeekend III 719832 15 Richard Gardner 1980 pxvii 16 Skidelsky 2000 p465 17 Ansel Luxford citado em Richard Gardner 1980 pxv 18 Os dados gerais são de Maddison 1995 com exceção da produção in dustrial alemã Para tais dados ver Milward 1977 p335 19 Milward 1977 p346 Milward apresenta também valores para o Im pério Britânico que aparentemente incluem os territórios 20 DeLong e Eichengreen 1993 21 Maddison 1995 e Mitchell 1998a 1998b 22 Irwin e Kroszner 1999 apresentam e defendem intensamente a ideia 23 Para obter detalhes biográficos de Acheson ver McLellan 1976 e Chace 1998 24 Acheson 1969 p26775 25 Citado em Block 1977 p40 26 Lloyd Gardner 1970 p219 27 Richard Gardner 1980 p251 McLellan 1976 p94 28 Chace 1998 p166 29 Valores de Milward 1984 p467 967 30 Ibid p224 257 e 356 Gerd Hardach 1987 Karl Hardach 1980 p90109 16078 31 DeLong e Eichengreen 1993 32 Eichengreen 1993 p4453 acredita que o impacto da desvalorização das importações foi substancial 33 Acheson 1969 p727 34 Sassoon 1996 p83136 apresenta um panorama excelente 35 David Reynolds 2000 p13 36 Linz 1985 37 Radice 1986 e Brus 1986 38 Ritschl 1996 p50811 Roesler 1991 p4751 39 Notel 1986 p2306 Brus 1986 p5726 40 Notel 1986 p23841 Um nonilhão para os franceses e para os norte americanos é o mesmo que um quintilhão para os britânicos em ambos os casos tratase de dez seguido de trinta zeros 41 Brus 1986 p60841 traz um excelente resumo do período 42 Ibid p626 valores em Maddison 1995 p2001 embora seja um pou co mais fragmentado indica uma recuperação similar no período de 1949 a 1951 720832 12 O sistema de Bretton Woods em ação 1 Monnet 1978 p228 2 Maddison 1995 3 As três exceções que testaram a regra Espanha Portugal e Grécia seguiram rapidamente nessa direção durante a década de 1970 4 Boltho 1975 Hasegawa 19960 Nathan 1999 Morita 1986 Smith 1995 Tanaka 1991 Sakiya 1982 Togo 1993 Dower 1999 e Rein gold 1999 5 Maddison 1995 a Europa Ocidental inclui Irlanda Espanha Portugal e Grécia mas não a Turquia As taxas gerais de crescimento aqui assim como em outros lugares a não ser quando mencionado explicitamente se referem ao PIB per capita 6 Maddison 1996 p36 7 Van Ark 1996 p117 Essa questão foi defendida por Temin 2000 8 Branson 1980 9 As informações contidas nessa parte foram extraídas de Monnet 1978 Duchêne 1994 e Moravcsik 1998 p86237 10 Pruessen 1982 p309 11 Irwin 1995 é um excelente resumo 12 Jackson 1989 p53 13 Maddison 1989 p32 14 Rostow 1978 p669 15 Todos os valores foram calculados a partir de Maddison 1995 16 Ibid 17 Bordo 1993 e Eckes 1975 p21171 são trabalhos excelentes 18 Dados de Bordo 1993 p711 19 Wilkins 1974 Dunning 1983 Branson 1980 Lipsey 1988 20 Bergsten Horst e Moran 1978 United Nations Commission on Transnational Corporations 1978 21 United Nations Commission on Transnational Corporations 1978 p26373 Wilkins 1974 p403 22 Lipsey 1988 p504 23 Wilkins 1974 p360405 Rostow 1978 p6701 Hu 1973 p1929 24 Hu 1973 p2838 25 Sicsic e Wyplosz 1996 p235 26 Hu 1973 p100 721832 27 Ruggie 1982 em um artigo influente fala de um sistema integrado que chama de liberalismo incrustado embedded liberalism combinando os dois 28 Kohl 1981 p310 29 Olsson 1990 p11420 30 Eichengreen 1993 p89 31 Baldwin 1990 p138 32 Cameron 1978 foi provavelmente a primeira análise explícita da re lação desenvolvida com detalhes em Katzenstein 1985 33 Sassoon 1996 p140 34 Baldwin 1990 p116 35 Karl Hardach 1980 p14060 36 Gallarotti 2000 p267 37 Atkinson 1999 ver também Kraus 1981 13 Descolonização e desenvolvimento 1 BresserPereira 1984 p2 e 74 2 Maddison 1995 p38 3 Kaufman 1990 sumariza a experiência 4 Frieden 1991 p101 e 189 Villarreal 1977 p73 Os números são para proteção eficaz o que inclui o impacto da proteção nos insumos 5 Baer 1989 p70 6 Mitchell 1998a e 1998b United Nations Center for Human Settlements 1997 7 Hong Kong também poderia estar qualificado mas os britânicos nunca reclamaram a soberania sobre a maior parte do território da cidade E após 1965 apesar de o Zimbábue depois a Rodésia ter se tornado inde pendente sob o governo de uma minoria branca tal independência não foi reconhecida pela comunidade internacional até que o poder fosse en tregue à maioria negra em 1980 8 Kahler 1984 p265315 é uma excelente pesquisa 9 Kunz 1991 traz uma análise detalhada 10 Citado em Love 1980 p52 11 Prebisch observou também que a força de trabalho da atividade manu fatureira era via de regra sindicalizada logo os salários eram menos flexíveis contribuindo para a rigidez dos preços industriais 722832 12 Bates 1981 é uma declaração clássica 13 Citado em Mukerjee 1986 p8 14 Ibid 15 Citado em Audichya 1977 p111 16 Tomlinson 1993 p184 esse trabalho é uma fonte essencial para o período 17 Johnson 1983 p136 18 Khan 1989 p76 19 Vaidyanathan 1983 é uma boa pesquisa 20 Tomlinson 1993 p156213 Johnson 1983 p13244 21 Hassouna 1955 p1545 22 Todos os dados são de Maddison 1995 23 Brown 1997 p67 Hossain Islam e Kibria 1999 p29 24 Hansen 1991 25 Fieldhouse 1986 p1523 26 Hansen 1991 p99 e 173 Owen e Pamuk 1999 p24451 27 Owen e Pamuk 1999 p131 Fieldhouse 1986 p139 14 Socialismo em muitos países 1 A Mongólia aliadasatélite da União Soviética foi uma exceção parcial embora nem mesmo os soviéticos considerassem esse país de dois mil hões de nômades realmente socialista 2 Brus 1986 p339 3 Filtzer 1993 4 Hutchings 1982 p834 5 Brus 1986 p64 6 Nove 1992 p30311 e 3428 7 Millar 1971 8 Brus 1986 p131 e 7982 9 Goldman 1975 p39 10 Gregory e Stuart 1990 p14651 Nove 1992 p37886 Keizer 1971 p10740 Goldman 1975 11 Korbonski 1975 Lavigne 1975 Grossman 1966 Selucky 1972 Nove 1977 p288322 e Brus 1986 p16085 12 Eckstein 1975 Perkins 1975 723832 13 Essa discussão sobre agricultura foi retirada de Eckstein 1975 Chao 1970 e Perkins 1969 14 Wheelwright e McFarlane 1970 15 Citado em Spence 1990 p579 16 Riskin 1988 Pyle 1997 p415 17 Crook 1975 18 Todos os dados foram calculados a partir de Maddison 1995 19 MesaLargo 1974 MesaLargo 1981 Pérez 1988 20 Lampe 1986 Turnock 1986 15 O fim de Bretton Woods 1 A não ser quando se especifica o contrário a história apresentada aqui foi retirada de Safire 1975 p50928 2 Citado em Gowa 1983 p165 3 Citado ibid p68 4 Safire 1975 p5145 5 Wells 1994 p73 6 Citado em Eckes 1975 p266 7 A discussão aqui apresentada está baseada em Block 1977 p139202 Eckes 1975 p23671 Eichengreen e Kenen 1994 Garber 1993 Gowa 1993 e Solomon 1977 8 Citado em Eckes 1975 p250 9 Citado em BARTLEBYCOM no site httpwwwbartlebycom639 309html 10 G C Allen 1972 p170 Kindleberger 1996 p19699 11 ServanSchreiber 1968 p37 285 e 189 12 Sigmund 1980 13 Soskice 1978 14 Um bom resumo é Eliana Cardoso e Helwege 1992 p8499 15 Díaz Alejandro 1965 16 BresserPereira 1984 p42 Baer 1989 p317 e 355 17 Taylor e Bacha 1976 18 Baer 1989 p87 Urrutia 1991 p51 32 e 445 19 Todos os valores são de Maddison 1995 20 Kaufman 1990 p130 724832 21 Nove 1977 p16171 e 18890 Hutchings 1982 p23948 Gregory e Stuart 1990 p40217 16 Crise e mudança 1 Yergin 1991 p6157 655 e 6623 2 Koopman et al 1984 3 Solomon 1977 p292 Koopman et al 1984 4 Sassoon 1996 p70713 Essa é uma fonte básica de informação sobre trabalho e políticas socialistas no período 5 Henrekson Jonung e Stymne 1996 p269 van Ark de Haan e de Jong 1996 p318 6 Eichengreen e Kenen 1994 p41 Sobre a experiência latinoamericana ver Frieden 1991 7 Mussa 1994 p111 esse trabalho é uma excelente investigação sobre o período 8 Economic Report of the President várias edições Esses valores são refer entes ao ganho semanal médio em dólares inalteráveis 9 Volcker e Gyohten 1992 p181 10 Díaz Alejandro 1984 Sachs 1985 e Sachs 1989 figuram entre os vári os estudos respeitáveis 11 Eliana Cardoso e Helwege 1992 12 Naughton 1995 Naughton 1996 Pyle 1997 13 Economic Report of the President várias edições Esses valores diferem um pouco daqueles apresentados por Poterba 1994 14 Volcker e Gyohten 1992 15 Feldstein 1994 p270 16 Frankel 1994 e J David Richardson 1994 contêm informações úteis sobre o episódio assim como Destler e Henning 1989 17 Gros e Thygesen 1998 p95101 e 191236 18 Edwards e Naím 1997 é uma boa investigação sobre a experiência 19 Stiglitz 2002 p945 20 Bank for International Settlements vários anos Fundo Monetário In ternacional vários anos Corsetti Pesenti e Roubini 1999 17 A vitória dos globalizantes 725832 1 Foreign Policy Bulletin 8 número 5 setembro outubro de 1997 p100 2 Foreign Policy Bulletin 8 número 6 novembro dezembro de 1997 p26 e 24 3 Ibid p25 4 Wall Street Journal 5 de setembro de 1997 pC1 5 Foreign Policy Bulletin 8 número 6 novembro dezembro de 1997 p24 6 Ibid p28 7 Ibid p27 8 Foreign Policy Bulletin 8 número 5 setembro outubro de 1997 p100 Foreign Policy Bulletin 8 número 6 novembro dezembro de 1997 p25 9 DeLong 2000 Triplett 1999 10 Strange 1986 11 United Nations Development Program Human Development Report 2001 12 Dados retirados de The Merger Yearbook New York Securities Data várias edições 13 Evenett 2003 14 John Williamson 1990 15 Volcker e Gyohten 1992 p1678 16 Business Week 7 de fevereiro de 2000 p40 Inclui a produção de químicos empregados na indústria e nos serviços equipamentos e ex ploração em petróleo 17 Business Week 22 de janeiro de 2001 p6672 18 Citado em Frieden 1987 p1145 19 O que vem a seguir foi retirado de Slater 1996 bem como de artigos de Salon 27 de março de 2001 e do New York Times 6 de dezembro de 1998 20 Stern 1977 é um relato clássico 21 Mahathir é citado em httpwarisankutripodcompembo honganpashtm o discurso de denúncia ucraniano é de Lubomyr Prytu lak e consta nos arquivos ucranianos httpwwwukarorg 22 Discurso no World Forum on Democracy Varsóvia 25 de junho de 2000 23 Ibid 24 Lawrence 1991 726832 18 Os que correram atrás 1 The New Yorker 27 de maio de 1961 p4950 2 Lie 1998 p1 3 Ibid p34 4 Perry Anderson Diary London Review of Books 17 de outubro de 1996 5 United Nations Development Program 1998 capítulo 3 6 Feenstra 1998 7 Descrito ibid p356 8 Os dados foram retirados de várias edições do Steel Statistical Yearbook do International Iron and Steel Institute 9 Financial Times 10 de agosto de 2001 p2 10 Ver Goertzel 1999 para a maior parte dos detalhes biográficos 11 Fernando Henrique Cardoso e Faletto 1979 pxxiv 12 Fernando Henrique Cardoso 1979 p55 13 Fernando Henrique Cardoso e Faletto 1979 p210 14 Retirado do site de Goertzel STILL A MARXIST 15 Goertzel 1999 p94 16 Retirado do site de Goertzel STILL A MARXIST 17 Goertzel 1999 p160 18 Retirado do site de Goertzel STILL A MARXIST 19 Os que ficaram para trás 1 Chen e Ravallion 2001 2 Maddison 2001 p129 3 Chen e Ravallion 2001 World Bank vários anos 4 Os argumentos mais influentes desse tipo são os de Jeffrey Sachs e de seus coautores Ver por exemplo Sachs e Bloom 1998 e Sachs e Warner 2001 5 Um excelente estudo sobre a experiência da Zâmbia está em Shafer 1994 p4993 6 Kaunda 1988 p11 7 O estudo clássico sobre as empresas estrangeiras de cobre está em Sklar 1975 727832 8 Citado em Ihonvbere 1996 p52 9 Kaunda 1988 pix 10 Kaunda 1968 p37 11 Kaunda 1988 p41 e 65 12 Bratton 1980 p259 13 Mushingeh 1994 14 Bratton 1980 p227 15 Sobre a crise políticoeconômica do país ver Bates e Collier 1993 e Brat ton 1994 16 Pritchett sem data específica p1 17 Nigéria confronts corruption BBC NewsWorld 11 de novembro de 1999 disponível no site httpnewsbbccoukhienglishworldafrica newsid515000515788stm 18 Os dados sobre os geradores nigerianos e sobre os empregos públicos de Gana são de Collier e Gunning 1999 p101 19 Os dados dessa seção foram retirados da excelente edição anual do Hu man Development Report da United Nations Development Program 20 Capitalismo global em apuros 1 A maior parte dos relatos sobre os eventos de Seattle foi extraída da cobertura feita pelo New York Times 2 Seattle PostIntelligencer 1o de dezembro de 1999 3 New York Times 1o de dezembro de 1999 4 Seattle PostIntelligencer 2 de dezembro de 1999 5 Ibid 1o de dezembro de 1999 6 wwwturnpointorg 7 New York Times 2 de dezembro de 1999 8 Business Week 6 de dezembro de 2004 p104 9 Freeman 1995 que continua sendo uma excelente análise dessa liter atura volumosa 10 httpwwwaflcioorgglobaleconomyindexhtm 11 httpwwwaflcioorgglobaleconomymeaninghtm 12 Extraído das declarações sobre Global Monoculture e Invisible Govern ment do Turning Point Project disponíveis na internet no site wwwturn pointorg 728832 13 httpwwwcleanclothesorgintrohtm7 14 wwwturnpointorg 15 Ibid 16 httpwwwuniteunionorgsweatshopsactionactionhtml 17 Chakravarthi Raghavan US Moore Rebuffed WTO Ministerial Ends in Failure SUNS NorthSouth Development Monitor 7 de dezembro de 1999 Também no site httpwwwtwnsideorgsgtitlerebuffcnhtm 729832 Comentários sobre dados e fontes Todos os dados estão expressos em dólares norteamericanos a não ser quando for explicitado o contrário Quando são ap resentados números absolutos serão normalmente expressos em dólares correntes isto é sem correção de inflação No entanto quando eu uso os valores para fins de comparação como em taxas de crescimento tamanho relativo das economias ou renda per capita relativa baseiome em termos de Paridade do Poder de Compra PPC constante do dólar Esses cálculos levam em consideração a inflação e as diferenças nos níveis de preços nacionais para tentar captar o verdadeiro poder de compra dos diferentes valores monetários Os dados utilizados são quase to dos provenientes da imensa pesquisa realizada por Angus Mad dison e seus colaboradores da OCDE como publicado numa série que culmina em Maddison 2001 Citei somente fontes de língua inglesa para que fossem acessí veis ao público de língua inglesa em geral Praticamente cada pá gina poderia gerar um levantamento bibliográfico com textos em várias línguas Senti que seria mais relevante referirme direta mente apenas a textos que o leitor interessado pudesse consultar Referências bibliográficas ACHESON Dean Present at the Creation Nova York Norton 1969 ALDCROFT Derek H From Versailles to Wall Street 19191929 Berkeley University of 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chael Spence Vários colegas de trabalho amigos e familiares foram muito gentis ao ler meus rascunhos alguns capítulos ou todo o trabalho Seus comentários me ajudaram a melhorar o original Nesse grupo incluo Brian AHearn Jonathan Aurthur Lawrence Broz Marc Busch Anabela Costa Robert Dallek John Ehrenberg Barry Eichengreen Nancy Frieden Ken Frieden Tom Frieden Richard Grossman Max Holland Charles Kindleberger Gary King Susan Lilly Harry Margolis James Robinson George Scialabba Peter Temin Harvey Teres e Michael Wallerstein Meu editor na W W Norton Steve Forman foi uma fonte constante de apoio e dicas isso sem falar da pressão para que eu terminasse Roby Harrington também da W W Norton me deu bons consel hos em um momento crucial do meu trabalho As falhas que re staram evidentemente são de minha responsabilidade Índice remissivo Acheson Dean 12 34 5 67 aço 1 23 4 56 78 910 11 1213 14 15 16 autarquia e 1 23 4 5 67 89 cartéis e 12 globalização e 19732000 12 3 4 56 78 910 11 novas tecnologias e 12 34 produção pósguerra de 12 34 56 7 89 1011 12 1314 relações francogermânicas e 1 23 substituição de importações e 12 3 açõesmercado de ações 1 23 4 56 78 colapso do especulação excessiva de 1 2 globalização e 19732000 1 23 45 Grande Depressão e década de 1930 1 23 45 Primeira Guerra Mundial e 12 acordo de Bretton Woods 1 2 acordo de LendLease 1 2 34 5 acordo de Matignon acordo de Saltsjobaden Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio Gatt 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Acordo Monetário Tripartite 1 2 açúcar 1 23 4 56 7 89 1011 preço do 12 3 sistema de plantação intensiva e 12 3 AEG Afeganistão 1 2 3 45 AFLCIO 1 2 3 África 12 3 4 5 agricultura na 12 3 4 5 6 7 8 910 autarquia na 1 23 catástrofe na 1 23 colonialismo na 12 3 45 67 89 10 11 1213 crescimento econômico da 12 3 4 descolonização na 12 3 4 5 6 7 8 exploração na 1 2 ferrovias na 1 23 fracassos de desenvolvimento na 12 34 56 7 8 globalização e 19732000 12 34 5 6 78 910 1112 imigração para 12 3 interesses dos Rothschild na 12 má gestão na 1 23 manufatura na 12 34 56 78 9 1011 12 pobreza na 12 3 4 56 78 9 10 11 12 13 14 protecionismo na 12 socialismo na 1 2 substituição de importações na 12 3 ver também países específicos África do Norte 1 2 3 4 ver também países específicos África do Sul 1 23 ferrovias na 1 2 3 mineração na 1 2 3 45 67 89 movimento de independência na protecionismo na africâneres agricultura 1 23 4 5 67 89 autarquia e 1 2 3 4 56 78 910 auxílio governamental à 1 23 coletiva 12 3 45 67 colonialismo de assentamento e 12 em áreas de colonização recente 12 3 entreguerras 12 34 5 67 89 1011 1213 1415 16 1718 especialização e 12 3 45 759832 falências e 12 34 globalização e 19732000 1 23 45 67 8 9 10 11 1213 1415 Grande Depressão de 18731896 e a 1 2 34 investimentos estrangeiros na 12 3 livrecomércio e 1 2 3 45 mineração comparada à 12 movimento populista e 12 mudanças tecnológicas e 12 nos trópicos 12 34 opiniões de Prebisch sobre a padrãoouro e 1 23 4 5 67 89 10 pósguerra 12 3 45 6 7 8 910 1112 1314 1516 produtividade e 1 23 45 protecionismo e 12 34 56 7 89 10 1112 1314 sistema de plantação intensiva e 12 subsídios para a 12 3 substituição de importações e 1 2 34 tempos difíceis e 12 ver também países específicos ajuda externa 12 Albânia 1 2 3 globalização e 19732000 1 2 manufatura na 12 3 4 5 socialismo na 12 3 Alemanha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 agricultura na 1 23 45 aliança do Japão com a autarquia na 12 34 5 6 7 8 automóveis e 1 2 3 45 67 Banco Central na 1 2 3 4 colonialismo da 1 23 4 5 67 comércio da 1 23 comunistas na 12 3 4 5 desemprego na 12 34 56 78 9 educação na eleições na 1 2 3 45 760832 emigração de judeus da especialização na 12 34 56 feiras mundiais e 1 23 4 globalização e 19732000 1 2 3 45 67 8 9 10 Grande Depressão na década de 1930 12 34 56 78 910 11 1213 1415 indenizações da 1 2 34 56 7 89 10 1112 13 1415 inflação na 12 3 4 5 6 7 investimento estrangeiro na manufatura na 1 23 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 1516 1718 nazismo na 1 23 4 56 78 910 1112 13 14 1516 17 18 19 20 padrãoouro na 1 2 34 56 78 910 11 12 13 Primeira Guerra Mundial e 1 2 3 4 5 6 7 8 910 1112 13 produção de aço na 1 2 34 56 produtividade na protecionismo na 1 2 34 56 7 8 9 10 radio na rearmamento na 12 reunificação da 12 3 salários na 1 2 34 Segunda Guerra Mundial e 1 23 4 56 78 9 10 sindicatos trabalhistas na 12 3 4 socialistas na 12 34 56 78 Weimar 1 2 3 Alemanha República Federativa da Alemanha Ocidental 1 2 3 choque do petróleo e 1 2 Estado de bemestar social e 1 23 exportações da 12 34 na Comunidade Europeia 12 protecionismo da 1 2 relações da França com a 12 34 sistema Bretton Woods e 12 3 45 6 78 910 1112 Alemanha Oriental 1 2 3 4 indenizações e manufatura na socialismo na 12 34 algodão 1 2 3 4 5 6 7 761832 aumento da produção de 1 2 autarquia e 1 2 34 livrecomércio e 12 3 preço do 1 2 3 4 sistema de plantação intensiva e 12 3 Alice no país das maravilhas alimentos 1 23 processamento dos Primeira Guerra Mundial e autossuficiência em 1 23 autarquia e 12 34 preço dos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ver também alimentos específicos Allende Salvador 12 34 alumínio 1 2 Amazônia 1 2 3 amendoim 12 34 5 América Central 12 3 4 5 6 América do Norte 1 23 4 5 6 7 8 9 10 11 12 América Latina comparada com a 12 boom dos anos 1920 na 12 globalização e 19732000 1 2 3 4 5 6 78 9 1011 1213 14 1516 Monnet na 12 salários na 12 sindicatos trabalhistas na 1 23 ver também países específicos América do Sul 1 2 34 globalização na 19732000 12 34 influência dos Estados Unidos na ver também países específicos América Latina 1 2 34 56 7 8 910 11 1213 14 1516 1718 autarquia na 1 23 45 boom dos anos 1920 na 1 23 como guia para o mundo em desenvolvimento 12 Cone Sul da 12 34 5 crescimento econômico na 12 34 5 6 78 762832 dívida da 12 34 globalização e 19732000 12 34 56 78 9 1011 12 13 1415 1617 1819 20 21 22 23 Grande Depressão na década de 1930 12 3 4 56 78 9 1011 12 investimento dos Estados Unidos na 12 34 investimento estrangeiro na 12 3 4 56 7 pobreza na 1 2 3 substituição de importações na 12 34 5 67 89 1011 1213 ver também países específicos America Online American Federation of Labor 12 American Telephone and Telegraph laboratórios da Bell Telephone 12 34 Amoco Amsterdã Anderson Perry 12 Angola 1 2 3 antissemitismo 1 2 3 4 56 78 Anwar Ibrahim árabes 1 2 34 Arábia Saudita 1 23 Argélia 1 2 3 agricultura na autarquia na 12 Argentina 12 3 4 56 7 8 9 1011 agricultura na 1 2 34 5 6 7 8 9 10 autarquia na 1 2 3 crescimento econômico da 12 34 5 declínio das exportações na 12 desenvolvimento de infraestrutura na 1 2 dívida da 1 2 34 5 educação na especialização na 1 2 34 globalização e 19732000 1 23 4 5 67 8 Grande Depressão e década de 1930 12 3 imigração para a 1 2 3 4 inflação na 763832 investimentos estrangeiros na 12 manufatura na 1 2 3 45 67 moedas fora do padrãoouro na 1 2 padrãoouro na 1 2 3 protecionismo na sindicatos trabalhistas na 12 armas 1 2 3 45 Armênia 12 arroz 1 2 3 como cultura progressista 1 2 preço do arte 1 23 Ásia 1 2 34 5 6 78 910 autarquia na 12 3 45 67 89 colonialismo na 12 34 56 78 9 crescimento econômico na 12 34 56 78 910 11 descolonização na 1 23 45 6 estagnação na 12 34 globalização e 19732000 12 34 5 6 78 910 1112 13 imigração da 12 34 56 78 investimentos norteamericanos na 12 pobreza na 12 3 4 5 6 socialismo na 1 23 45 67 89 substituição de importações na 12 34 56 ver também regiões e países específicos Ásia Central 1 23 Ásia Oriental 12 34 globalização e 19732000 1 2 34 56 7 89 1011 ver também países específicos Assembleia Constituinte indiana Associação Britânica de Reforma do Congo Atatürk Mustafa Kemal Ato de Restrição à Imigração 1901 12 Ato Único Europeu 1986 aumento de preços 12 3 45 autarquia e 1 23 choques do petróleo e 12 764832 globalização e 19732000 12 34 5 6 inflação e 1 23 45 6 78 910 Austrália 1 2 3 4 5 agricultura na crescimento econômico na 12 3 4 especialização na 12 34 imigração para a 1 23 4 investimentos estrangeiros na 1 2 3 manufatura na 1 2 3 padrãoouro e protecionismo na 1 2 salários na sindicatos trabalhistas na 12 socialdemocracia na 12 3 Áustria 1 2 3 4 5 67 Estado do bemestar social e Grande Depressão década de 1930 na 1 2 34 hiperinflação na 12 ÁustriaHungria 1 2 3 4 5 autarquia econômica 12 3 4 5 67 8 autossuficiência semiindustrial e 12 34 definida 12 dívida e 12 3 45 Europa se vira para a direita e 12 fascismo e 12 34 56 78 910 11 12 13 globalização e 19732000 1 23 na Alemanha 12 34 5 67 8 na Itália 1 2 3 45 6 7 na União Soviética 1 2 3 4 56 7 8 no mundo em desenvolvimento 12 34 políticas de 12 automóveis 1 2 3 4 5 67 8 9 agricultura e 12 colonialismo e 12 especialização e 12 3 Feira Internacional de Nova York e 12 financiamento de 12 765832 globalização e 19732000 1 23 45 67 8 910 linha de produção e 12 34 multinacionais e 1 2 34 5 na União Soviética 1 2 novas corporações e 12 pósguerra 1 23 45 preço dos 1 2 34 protecionismo e 12 3 autossuficiência 12 34 em alimentos 1 2 industrial 1 23 4 56 ver também autarquia econômica aviões 12 3 45 6 7 Azerbaijão Bacha Edmar Bacia do Congo Bálcãs nações dos 1 2 34 ver também países específicos Bamberger Ludwig bananas 1 2 3 4 5 Banco Central Europeu Banco da França 1 2 3 Banco da Inglaterra 1 2 3 45 Banco de Compensações Internacionais Banco Interamericano de Desenvolvimento Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento ver Banco Mundial Banco Mundial Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvi mento 1 2 34 5 6 7 89 globalização e 19732000 12 345 6 7 8 910 bancosoperações bancárias 1 2 34 56 7 89 1011 desenvolvimento ver Banco Interamericano de Desenvolvimento Banco Mundial na Alemanha 12 3 padrãoouro e 1 2 3 45 67 766832 Estados Unidos 12 3 4 5 6 7 8 9 10 11 1213 14 15 16 má gestão e 12 Rothschild e 12 34 fracassos do 12 3 45 6 central 1 2 3 45 6 78 9 10 1112 1314 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26 27 2829 3031 3233 34 35 3637 3839 autarquia e 1 23 45 6 pânico e 12 34 56 globalização e 19732000 12 34 5 67 8 910 11 12 13 14 1516 1718 1920 2122 23 24 2526 2728 influência britânica e 1 2 34 56 7 89 Bangladesh Bankhaus Herstatt Barbie boneca Baring Brothers 1 23 4 Barreiras Não Tarifárias BNTs 1 23 Baruch Bernard batatas 1 2 3 Batista Fulgêncio Batlle y Ordóñez José bauxita Bavária 1 2 Bayer Bélgica 1 2 3 4 colonialismo da 12 comunistas na Estado de bemestar social e globalização e 19732000 12 Grande Depressão e década de 1930 12 3 45 67 indenizações da Alemanha e 1 2 livrecomércio da 12 manufatura na 1 2 34 5 na Comunidade Europeia 12 padrãoouro na 1 2 34 5 6 7 8 Primeira Guerra Mundial e 12 3 4 5 6 protecionismo da 12 3 sindicatos trabalhistas na 12 34 767832 sistema Bretton Woods e 12 3 4 socialdemocracia na 1 23 Belgrado Bell Labs 1 2 Bell Clive Bell Vanessa Belmont Jr August Belmont August né Schönberg 12 3 bemestar social bens de consumo duráveis 1 2 3 4 5 67 após a Segunda Guerra Mundial 12 34 5 6 bens de consumo não duráveis 1 2 34 Berlim 1 2 3 4 Beveridge sir William Bevin Ernest bicicletas 1 2 3 4 Bielorrússia Bismarck Otto von Blair and Company Bleichröder Arnhold e S Bleichröder Gerson Blum Léon Bogra Muhammad Ali bolcheviques 1 2 3 borracha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 do Congo 12 indústria automobilística e 1 23 preço da 1 2 3 Botsuana 1 2 Brandeis Louis Brasil 1 2 3 4 5 6 7 aço no 1 2 3 4 açúcar no 1 23 4 algodão no 1 2 3 autarquia no 1 2 3 automóveis no 12 3 borracha no 768832 café no 1 2 3 45 6 7 8 9 10 11 Cardoso Fernando Henrique e 12 cultivos progressistas versus reacionários no 12 dívida do 1 2 ferrovias no 1 2 3 globalização e 19732000 12 34 5 6 7 8 910 11 12 13 14 imigração para o 1 2 inflação no453 1 2 3 manufatura do 1 2 3 4 56 78 9 1011 Nordeste do 1 2 3 4 5 padrãoouro e 1 2 3 4 protecionismo do 1 2 3 4 5 6 78 substituição de importação no 12 34 Sul do 12 3 Bratton Michael BresserPereira Luiz Carlos Breve tratado sobre a reforma monetária Keynes Brezhnev Leonid I 1 2 3 4 Brüning Heinrich Bruxelas conferência monetária em 1920 Bryan William Jennings 1 2 3 Budapeste Buenos Aires 1 2 3 Bulgária 1 2 3 4 5 6 agricultura na comércio da Alemanha com a fascismo na 1 2 3 manufatura na 1 2 3 4 socialismo na 12 3 Burma 1 2 3 4 5 6 7 Burns Arthur Burundi Bush George HW cacau 1 2 3 4 5 preço do 1 2 3 4 5 6 7 café 1 2 3 45 6 7 8 9 10 11 12 769832 como cultivo progressista 12 preço do 1 2 3 4 5 6 7 Câmara dos Comuns Inglaterra Câmara dos Representantes Estados Unidos 1 23 Camboja 1 2 Cambridge Union câmeras 1 2 3 Caminho para Wigan Pier O Orwell Camp David 12 camponeses 12 3 4 5 na China 12 3 soviéticos 1 2 34 56 Canadá 1 2 3 4 5 6 agricultura no 12 3 crescimento econômico no 1 23 4 especialização no 12 Estado de bemestar social e exportação norteamericana de ovos para o globalização e 19732000 1 2 3 4 5 67 Grande Depressão no década de 1930 12 3 imigração para o 1 2 3 4 investimentos estrangeiros no 1 2 3 4 manufatura no 1 2 3 4 Nafta e 1 2 3 padrãoouro e produtividade no 1 2 protecionismo no 1 2 3 4 Segunda Guerra Mundial e 1 2 sistema de Bretton Woods e 1 2 Canal de Suez Canisius Edgar capital 1 2 34 56 78 910 11 12 autarquia e 1 23 45 da GrãBretanha 1 2 34 56 7 declínio na movimentação de 12 3 em áreas de colonização recente 12 especialização e 12 3 45 6 770832 globalização e 19732000 12 34 56 má gestão e 1 23 na Suécia na teoria de comércio de HeckscherOhlin 1 2 3 45 no boom dos anos 1920 12 34 no teorema de Stopler e Samuelson 12 opinião de KeynesWhite sobre 12 pósguerra 12 3 4 5 Primeira Guerra Mundial e 1 2 3 produtividade e 12 sistema de Bretton Woods e 12 34 5 6 78 910 1112 1314 socialdemocracia e 12 substituição de importação e 12 capitalismo global como escolha 1 2 possibilidades de reforma social e 12 problemas do 12 capitalismo global antes de 1915 12 34 56 ameaças ao 12 apoio dos intelectuais ao 12 britânicos tomados pelo 12 34 colapso do 1 23 45 como clube de cavalheiros 12 3 45 desenvolvimento do livrecomércio e 12 em áreas de colonização recente 12 fracassos de desenvolvimento e 1 2 34 Grande Depressão e década de 1930 12 histórias de sucesso do 12 no início do século XX 12 padrãoouro e 12 3 45 redes globais e 12 triunfo do 12 capitalistas de bemestar 12 Cárdenas Lázaro Cardoso Fernando Henrique 12 Caribe 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 protecionismo no 12 771832 ver também países específicos Caritas carne 12 34 5 6 ver também carne bovina carne bovina 1 2 3 4 5 6 Carr EH 1 2 Carta do Atlântico cartéis 1 2 34 56 78 9 1011 Carter Jimmy 1 23 4 carvão 1 2 3 4 56 7 8 indústria automobilística e 1 2 relações francogermânicas e 1 23 salários e Cassel Gustav 12 Castro Fidel católicos romanos 1 missionários católicos 2 Partido Católico da França 14 Pontos Woodrow Wilson 12 Cazaquistão Ceilão 1 2 chá 1 2 3 Chamberlain Joseph 1 2 3 45 Chamberlain Neville 12 Chase Bank Chevrolet 1 2 Chiang Kaishek Chicago Illinois 12 3 45 Convenção Democrática Nacional em 1896 12 Chile 1 23 4 5 67 Allende no 12 3 autarquia no 1 2 3 4 cobre no 1 2 34 5 6 educação no globalização e 19732000 12 3 4 livrecomércio e 1 2 nitrato no 1 2 3 substituição de importações no 1 23 4 56 7 772832 Chiluba Frederick China 1 2 3 4 agricultura na 12 34 56 78 autarquia na 1 23 classe dominante na 12 comunistas na1 2 34 56 crescimento econômico na 12 34 emigração da 1 2 3 45 67 89 ferrovias na 12 fracasso desenvolvimentista da 12 34 5 67 89 globalização 19732000 e 12 34 5 6 7 89 1011 12 1314 1516 17 guerra civil na 1 2 Guerra dos Boxers na integração econômica rejeitada na 1 2 34 má gestão na 12 manufatura na 1 2 3 4 5 67 89 moeda lastreada na prata da 1 2 o Grande Salto Adiante na 12 3 4 protecionismo na reforma de orientação ocidental relações do Japão com a 1 23 4 5 67 89 relações soviéticas com a 12 3 Revolução Cultural na 12 revolução na 1 2 3 45 socialismo na 12 34 56 78 9 Chrysler 1 2 3 4 Chung Hee Park Churchill Winston 1 2 3 4 ciclos econômicos visão tradicional de 12 ver também depressão Grande Depressão década de 1930 hiperin flação inflação recessão cimento 1 23 4 5 Cingapura 1 2 3 4 56 7 classe média 1 2 3 4 56 7 8 9 10 11 12 alemã 1 2 773832 autarquia e 1 2 3 4 5 6 7 8 910 extremadireita e 12 globalização e 19732000 12 3 inflação e 1 2 3 no bloco soviético 12 classes trabalhadoras ver trabalho sindicatos trabalhistas Cleveland Grover Clinton Bill 1 2 Cobden Richard 1 cobre 1 2 3 4 56 7 8 9 10 11 como moeda na Zâmbia 1 23 no Chile 1 2 34 5 6 7 8 9 preço do 12 3 4 5 6 7 CocaCola colapso de 1929 Colgate Collor de Mello Fernando Colômbia autarquia na café na 1 2 3 4 5 6 7 8 manufatura na 1 2 Colônia do Cabo 12 colonialismo 1 23 45 67 8 9 10 11 autarquia e 12 34 56 colapso do 12 colonos 12 34 5 6 comércio preferencial e 12 34 56 78 9 10 11 concessões comerciais e enclaves extrativistas e 12 34 investimentos estrangeiros e livrecomércio e mercantilismo e 12 3 4 5 Primeira Guerra Mundial e subdesenvolvimento e 12 34 visão da Cepal e 774832 Comecon ver Conselho de Assistência Econômica Mútua comércio barreiras ao 1 2 34 5 6 7 89 1011 1213 ver também protecionismo tarifas preferenciais 12 34 56 78 9 10 11 1213 14 15 redução de barreiras ao 1 2 3 4 5 67 8 910 1112 13 14 ver também livrecomércio comércio internacional comércio internacional 12 34 56 78 após a Primeira Guerra Mundial 1 23 autarquia e 1 23 45 67 89 custos de transporte e 1 23 declínio do 12 34 globalização e 19732000 12 34 56 78 910 Grande Depressão e década de 1930 12 34 56 78 mercantilismo e 1 2 padrãoouro e 1 23 45 pósguerra 12 34 56 Primeira Guerra Mundial e 12 Segunda Guerra Mundial e 12 34 sistema Bretton Woods e 12 34 56 7 89 1011 1213 1415 socialdemocracia e 12 subdesenvolvimento e 123 teorema de StolperSamuelson para 12 teoria de HeckscherOhlin sobre 12 3 45 vencedores e perdedores no 12 ver também livrecomércio Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe Cepal 12 Comissão Trilateral 12 Comitê Central Chinês 1 23 Comitê de Ação para os Estados Unidos da Europa Comitê de Planificação Estatal Gosplan 12 Comitê para Organização Industrial CIO Comitê Organizador dos Metalúrgicos do 12 Companhia Holandesa das Índias Orientais 1 2 Companhia Britânica da África do Sul Companhia Britânica das Índias Orientais 1 2 computadores 1 2 3 45 67 89 1011 775832 internet e 1 2 multinacionais e 1 2 comunicação 1 2 3 4 56 7 8 910 globalização e 19732000 12 34 telégrafo e 1 2 34 ver também telefones Comunidade Econômica Europeia ver Mercado Comum Comunidade Europeia CE Comunidade Europeia de Energia Atômica Euratom Comunidade Europeia do Carvão e do Aço Ceca suma autoridade da comunismocomunistas 1 23 45 6 78 9 1011 1213 colapso do 12 34 como resultado lógico da teoria clássica 12 descolonização e 12 globalização e 19732000 1 2 34 56 7 8 910 1112 1314 1516 17 1819 goulash 12 na Alemanha 1 2 3 4 na China 1 2 34 56 na França 1 2 3 na União Soviética 1 23 4 5 6 78 910 pósguerra 12 3 4 56 78 9 10 11 1213 Conan Doyle sir Arthur Conferência da Economia Global 1933 Conferência de Bandung 1955 Conferência de Paz de Paris 12 34 Congo Congo República Democrática do Congo The Lindsay 12 Congresso dos EUA 1 2 3 4 5 Acordo de Bretton Woods e 1 2 New Deal e papel dos EUA limitado pelo 1 23 protecionismo e 1 23 4 5 6 7 Segunda Guerra Mundial e 12 34 Congresso Nacional Africano CNA 776832 Congresso Nacional Africano da Zâmbia Zanc Connally John 1 2 Conselho de Relações Internacionais Conselho para Assistência Econômica Mútua Comecon 1 2 34 5 divisão tecnológica e 12 Consenso de Washington 12 Consequências econômicas da paz As Keynes Consequências econômicas de mr Churchill As Keynes construção civil 12 34 5 6 7 8 socialdemocracia e 1 2 consumidoresconsumo 1 23 45 67 8 9 1011 autarquia e 1 2 34 5 67 de massa 1 2 1875 3 4 5 empréstimo parcelado e 12 globalização e 19732000 1 2 3 45 Grande Depressão e 1 23 lealdade de 12 na União Soviética 12 preços do petróleo e 1 2 contratos 12 34 controle de preços controle de salários Coolidge Calvin cooperação internacional 12 34 56 socialdemocracia e 1 23 Coreia 1 2 comunistas na globalização e 19732000 1 23 manufatura na ver também Coreia do Norte Coreia do Norte socialismo na 12 3 45 Coreia do Sul 1 2 automóveis e 1 2 crescimento econômico na 1 2 34 globalização e 19732000 12 34 56 78 910 1112 13 14 Índia comparada com 12 3 777832 manufatura na 12 3 45 67 Zâmbia comparada com corporações 1 23 45 autarquia e 1 2 dos EUA 1 2 3 45 estatais 1 23 fascismo e 12 3 globalização e 19732000 12 3 45 67 89 10 1112 1314 1516 multinacionais ver corporações multinacionais novas do período entreguerras 12 34 56 78 seguro social e 12 corporações fascistas 12 corporações multinacionais 1 23 4 5 6 globalização e 19732000 1 23 45 pósguerra 12 34 razões para a proliferação das 1 23 Corte Suprema Estados Unidos Costa do Marfim 1 2 3 4 Costa do Ouro Costa Rica Creditanstalt 12 crédito 12 3 45 6 7 crescimento econômico 12 3 45 6 78 autarquia e 1 23 45 baseado na exportação 12 34 5 67 especialização e 12 34 fracassos do desenvolvimento e 1 2 34 globalização e 19732000 1 2 mercantilismo e 1 2 nos trópicos 12 planificação econômica e 12 ver também países específicos crise de poupança e empréstimos crise de Suez 1956 cristianismo 12 3 45 Cuba 1 2 3 4 açúcar em 1 2 3 778832 manufatura em socialismo em 12 Curaçao Daewoo Danatbank 2187 Davis Norman De Beers Mining Company mineração de Gaulle Charles 1 2 3 4 década de 1920 12 Declaração de Bandung declínio de preços na Grande Depressão da década de 1930 1 23 45 67 89 1011 na Grande Depressão de 187396 12 3 padrãoouro e 1 2 34 56 7 déficits orçamentários 12 3 4 56 7 globalização e 19732000 12 34 56 78 na Suécia New Deal e 12 opinião de Keynes sobre 12 deflação da dívida 12 779832 demanda estímulo da 1 23 democracia popular globalização e 19732000 12 34 56 7 89 1011 1213 na América Latina 1 2 34 56 78 na Índia 1 2 3 no Japão 1 2 no período entreguerras 12 34 56 7 8 9 10 1112 ver também socialdemocracia democratascristãos 12 3 45 67 8 910 Departamento de Energia dos EUA Departamento de Estado Estados Unidos 1 2 depressão econômica 12 3 ver também Grande Depressão década de 1930 derivados do leite 1 2 34 5 Desafio Americano O ServanSchreiber descolonização 12 34 56 7 8 910 11 12 desemprego 1 23 45 da década de 1930 1 2 3 4 56 78 910 11 1213 14 15 1617 globalização e 19732000 1 2 3 4 56 7 8 9 10 1112 13 1415 sistema de Bretton Woods e 12 3 45 6 7 ver também países específicos despesa superior à receita ver déficits orçamentários desregulamentação 12 34 diamantes 1 2 3 4 Díaz Alejandro Carlos Díaz Porfírio Dinamarca 1 2 Estado de bemestar social e a globalização e 19732000 12 34 56 na guerra da manteiga 12 na Comunidade Europeia socialdemocracia na 1 2 dinheiro 1 23 4 estabilidade do 1 2 34 56 78 910 11 impressão de 1 2 3 45 6 78 9 10 papel 1 2 34 5 67 8 910 ver também moeda moedas específicas direitos de propriedade 1 23 4 56 78 910 direitos humanos 1 23 distribuição corporativa 1 2 3 4 dívida 1 2 3 45 67 89 1011 autarquia e 12 3 45 calote da 1 23 45 67 8 910 1112 1314 corporativa 12 globalização e 19732000 12 34 56 7 8 9 1011 1213 1415 16 Grande Depressão e década de 1930 1 23 4 56 78 9 1011 1213 inflação e padrãoouro e 1 2 3 45 67 Primeira Guerra Mundial e 12 34 5 67 8 9 10 Segunda Guerra Mundial e 12 ver também déficits de orçamento divórcio dólar canadense 1 2 34 dólar norteamericano 1 23 45 6 7 89 1011 1213 1415 globalização e 19732000 12 34 5 67 89 Grande Depressão e década de 1930 12 34 56 78 9 grande valorização do sistema de Bretton Woods e 12 3 45 67 8 Domínios Brancos ver Austrália Canadá Nova Zelândia África do Sul Douglas Lewis Doutrina Truman Dresdner Bank Du Pont 1 2 3 4 du Pont Pierre Dulles John Foster 1 2 3 4 dumping 1 2 3 45 6 7 8 Eastman Kodak 1 2 3 4 Eccles Marriner economia clássica 12 3 4 5 67 após a Primeira Guerra Mundial 1 2 como aliada do marxismo 12 781832 países semiindustriais e 12 Schacht e a 12 3 45 economia neoclássica 1 2 3 economias de escala 1 23 45 67 Edison Thomas educação 12 34 56 78 910 fracassos do desenvolvimento e 12 3 4 globalização e 19732000 1 2 34 5 eficiência 1 2 34 5 6 78 910 Egito 1 2 3 4 5 algodão no 12 3 autarquia no 12 3 crescimento econômico no crise de Suez e educação no manufatura no 1 2 protecionismo no Eichengreen Barry Einstein Albert El Salvador 1 2 3 Electrolux eleições EUA 1 2 3 45 67 8 9 1011 de 1896 12 3 45 6 de 1932 1 2 3 4 eletricidade 12 34 56 78 910 1112 13 14 1516 feiras internacionais e 12 3 4 manufatura e 12 3 4 Emergency Comitee for American Trade Emirados Árabes Unidos emprego aumento do 12 34 criação de postos de trabalho e 1 23 45 pleno 1 23 4 5 67 89 10 1112 13 substituição de importações e 12 empresa de exploração empresas multinacionais MNC 12 3 energia atômica 782832 Engels Friedrich 1 2 epidemia de Aids 1 2 pósguerra 19391973 12 Acheson e 12 34 5 6 bloco soviético na 12 34 56 descolonização e desenvolvimento no 12 reconstrução no ver reconstrução socialismo em vários países no 12 34 56 ver também sistema de Bretton Woods Eritreia Escandinávia 1 2 3 4 automóveis na Grande Depressão na década de 1930 12 3 45 67 89 sindicatos trabalhistas na 12 34 5 socialdemocracia na 12 3 45 67 89 ver também países específicos Escola de Estocolmo escravidãocomércio de escravos 12 34 5 abolição da 12 34 Eslováquia Eslovênia Espanha 1 2 3 4 5 6 78 9 agricultura na autarquia na colonialismo da 1 2 3 4 fascismo na 1 2 globalização e 19732000 1 2 34 5 6 78 manufatura na 1 2 especialização crescimento e 12 globalização e 19732000 12 34 na teoria de comércio de HeckscherOhlin 12 3 novas corporações e 12 34 vantagem comparativa e 12 34 Estado de bemestar social 12 34 56 globalização e 19732000 sistema de Bretton Woods e o 1 23 783832 socialdemocracia e 12 3 45 67 Estado Livre de Orange 12 Estado Livre do Congo 12 Estados falidos 1 2 3 Estados Unidos 1 23 4 5 6 78 9 1011 1213 14 1516 17 agricultura nos 1 2 34 5 6 7 8 910 1112 13 1415 1617 18 19 2021 2223 24 2526 27 2829 30 31 3233 34 América Latina comparada com os 1 23 automóveis nos 1 2 34 56 7 8 910 1112 choque do petróleo e 12 confiança nos fundos internacionais pelos 12 conflitos seccionais nos 12 3 4 Congo Belga e 1 2 3 corporações multinacionais dos 12 34 5 67 89 crise do Suez e crise dos empréstimos e poupança nos depressões nos 1 2 34 56 78 910 descolonização e os 12 desemprego nos 12 34 56 78 9 1011 1213 1415 dívida dos 1 23 4 56 78 910 educação nos 1 23 Estado de bemestar social nos 12 globalização e 19732000 12 34 56 7 8 910 11 12 1314 1516 imigração para os 1 2 34 interesses coloniais e imperiais dos 1 23 4 5 67 interesses dos Rothschild nos 12 3 investimento estrangeiro dos 1 23 4 56 7 8 910 11 1213 14 15 16 1718 19 20 2122 investimento estrangeiro nos 1 2 isolacionismo e 12 34 5 67 89 10 11 1213 1415 1617 1819 Japão comparado com os 12 3 manufatura nos 1 2 34 5 67 8 9 10 11 1213 14 15 16 1718 1920 2122 23 24 2526 2728 2930 3132 33 34 35 36 37 3839 4041 4243 4445 mineração nos 12 34 5 67 8 9 na década de 1920 12 34 784832 Nafta e 1 2 34 New Deal e ver New Deal Oeste dos 12 34 56 padrãoouro e 1 2 3 4 5 6 78 910 11 1213 1415 1617 18 1920 2122 2324 pânicos financeiros nos 1 23 papel de liderança dos 12 34 56 78 910 1112 papel econômico de Eccles nos 12 Primeira Guerra Mundial e 1 23 45 6 produtividade nos 12 protecionismo dos 1 2 34 56 78 910 1112 13 1415 16 17 1819 2021 22 23 24 25 26 2728 2930 3132 33 34 35 3637 38 39 4041 4243 44 relações de Cuba com os 12 relações soviéticas com os 12 34 5 salários nos 12 3 4 5 67 8 9 10 1112 13 1415 Segunda Guerra Mundial e 12 34 sindicatos trabalhistas nos 1 23 45 67 8 910 sistema de Bretton Woods e 12 34 56 78 9 10 11 1213 1415 1617 socialdemocracia nos 1 23 45 Sul dos 1 23 45 6 78 910 11 12 trustes nos 12 União Soviética comparada com os 12 ver também eleições nos Estados Unidos governo dos Estados Unidos estagflação estanho 1 2 3 Estônia 1 2 3 4 5 6 7 Etiópia 1 2 3 4 5 euro 12 34 56 78 Europa 12 automóveis na 1 2 3 4 5 boom dos anos 1920 na 12 consumo na emigração da 12 34 5 67 investimentos dos EUA na 12 34 785832 pobreza na reconstrução após a Segunda Guerra Mundial 12 Sul da 12 3 4 56 78 9 10 11 1213 ver também países específicos Europa Central 12 comércio da Alemanha com a fascismo na 1 2 3 4 56 7 8 globalização e 19732000 12 3 4 5 6 78 9 10 Grande Depressão na década de 1930 1 23 45 no bloco soviético 12 34 pósguerra 1 2 34 56 Segunda Guerra Mundial na socialismo na 12 3 45 ver também países específicos Europa ocidental 1 23 4 5 6 7 8 910 11 12 13 1415 América Latina comparada com a 1 23 comunistas na consumo na 1 2 efeitos da Segunda Guerra Mundial sobre a 12 34 fascismo na 12 globalização e 19732000 1 23 45 67 89 10 11 1213 1415 16 1718 greves na investimento estrangeiro na produtividade na reconstrução da 12 34 5 67 8 relações soviéticas com a sindicatos trabalhistas na 12 sistema de Bretton Woods e 12 34 56 ver também países específicos expectativas investimento e 12 exportações 1 23 45 67 89 10 11 1213 14 autarquia versus 12 3 45 67 8 colonialismo e 1 2 3 4 cortes dos salários e 12 crescimento econômico baseado nas 12 34 5 67 da Dinamarca 786832 da Grã Bretanha 1 2 3 4 da Suécia 1 2 da União Soviética e bloco 12 do Japão 12 3 4 5 6 7 8 9 dos Estados Unidos 1 2 34 5 6 78 910 11 1213 14 15 16 17 18 19 20 21 globalização e 19732000 1 2 3 45 67 8 9 1011 1213 14 15 1617 18 19 limitações voluntárias das 12 livrecomércio e 12 34 5 6 78 910 1112 na teoria de comércio de HeckscherOhlin 12 3 45 no teorema de Stopler e Samuelson 12 Primeira Guerra Mundial e 1 2 reconstrução no pósguerra e 12 3 sistema de Bretton Woods e 1 23 45 6 78 visão econômica clássica das 12 Exposição Universal de Paris 1900 12 Exxon Faisal príncipe fascismo 1 23 45 67 89 1011 1213 1415 16 autarquia e 12 34 56 78 9 10 11 12 13 contradições na retórica do 12 ordem econômica do pósguerra e 12 3 repressão e sucesso expansionista do típica base de apoio do 12 trabalho e 12 3 4 56 78 Fashoda fazendas coletivas 1 2 3 45 Federal Reserve 1 2 3 4 5 6 7 8 9 taxa de juros e 1 2 34 Federal Reserve Act Federal Reserve Bank de Nova York 1 2 Feenstra Robert Feira Internacional de Nova York 12 Feis Herbert 787832 ferro 1 23 4 5 6 7 8 9 10 11 12 autarquia e 1 23 cartéis e indústria automobilística e 1 2 preço do 12 3 ferrovias 1 2 3 4 5 6 7 89 10 11 1213 1415 16 17 18 19 20 2122 2324 25 26 27 2829 automóveis comparados com em áreas de colonização recente 1 23 45 investimento britânico em 12 34 na Índia 1 2 3 4 fertilizante 1 2 3 4 5 Feuerwerker Albert Fiat 1 2 3 Fiji Filadélfia Filenes Filipinas 1 2 3 4 5 6 7 açúcar nas 12 globalização e 19732000 1 2 34 56 independência das 12 manufatura nas 1 2 finanças internacionais 1 2 3 45 67 89 10 11 1213 14 15 globalização e as 19732000 12 34 56 7 Grande Depressão e as década de 1930 12 padrãoouro e as 12 34 56 pósguerra 12 Rothschild e as 12 sistema de Bretton Woods e as 1 23 socialdemocracia e as 12 ver também capital investimento estrangeiro Finlândia 1 2 3 4 5 Estado de bemestar social e globalização e 19732000 12 3 4 5 Fisher Body 1 Fisher Irving Flandres 788832 fonógrafos 1 2 3 4 5 Ford Modelo A 1 2 Ford Modelo T 1 2 3 4 Ford Motor Company 1 2 34 56 como multinacional 1 23 45 ver também Ford Modelo A Ford Modelo T Ford Gerald Ford Henry 1 2 3 fordismo Forster EM Fourth World França Livre França 1 2 34 5 agricultura na 1 23 automóveis na 1 2 3 Banco Central da 1 2 34 choques do petróleo e 1 2 34 colonialismo da 1 2 34 5 67 89 10 1112 comércio da 1 2 3 comunistas na 1 2 3 crise do Suez e desemprego na eleições na Estado de bemestar social na 12 Exposição Universal de Paris 1900 12 Frente Popular na 1 2 3 4 5 globalização e 19732000 1 2 3 45 67 Grande Depressão década de 1930 e 1 23 45 67 89 greves na indenizações alemãs e 1 2 34 56 investimentos estrangeiros e 1 23 45 manufatura na 1 2 3 4 5 6 na Comunidade Europeia 12 nas Guerras Napoleônicas padrãoouro na 1 23 4 56 7 89 1011 pósguerra 12 34 5 6 7 8 Primeira Guerra Mundial e 1 2 3 4 5 67 8 789832 produção de aço na 12 34 56 protecionismo na 1 2 3 4 56 rádio na relações da Alemanha com a 1 23 Rothschild na 1 2 Segunda Guerra Mundial e 12 3 45 6 sindicatos trabalhistas na 1 2 sistema Bretton Woods e 1 2 3 4 5 67 8 9 socialdemocracia na 12 socialismo na 1 23 45 67 franco francês 1 2 34 5 Franco Francisco Franklin National Bank Fraser Leon 1 2 Freeman Richard Frente Popular chilena Frente Popular espanhola Frente Popular francesa 1 2 3 45 frentes de trabalho 12 3 Friedman Milton fundo Double Eagle Fundo Monetário Internacional FMI 1 23 45 6 7 8 9 globalização e 19732000 12 34 56 7 89 10 11 12 1314 fundos de investimentos faça fortuna rápido 12 fusões e aquisições 1 2 34 Futurama Gabão 1 2 Gana 1 2 3 globalização e 19732000 1 2 3 Gandhi Indira 1 2 Gandhi Mohandas K Mahatma 1 2 General Electric 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 General Motors GM 1 2 1798 3 4 5 6 como multinacional 12 34 56 sindicatos trabalhistas e 12 General Motors Acceptance Corporation 790832 Gênova conferência monetária em 1922 Gent sindicatos trabalhistas em 12 Geórgia 1 2 Gierek Edward Gillette globalização 19732000 12 a equiparação dos países e 12 ameaça de competição e 12 como não governada versus indesejada 12 conclusão sobre a 12 contrachoque de Volcker e 12 crescimento voltado para a exportação e 12 crise e mudança na 12 críticas e protestos contra 12 34 decepções com reformas e transições e 12 desastres do desenvolvimento e 12 finanças e crises financeiras nacionais e 12 fragilidade financeira e 12 mudança tecnológica e 12 o choque do petróleo e outros choques e 12 os países que ficaram para trás e 12 produção e especialização e 12 34 regionalismo e 12 34 Soros e 12 34 triunfo da 12 Golden Fetters Eichengreen Gomulka Wladyslaw 1 2 Goodyear pneus e borracha 1 2 Gorbachev Mikhail Göring Hermann 1 2 Gourevitch Peter 1 2 3 governo 1 23 alívio insuficiente pelo 12 autarquia e 12 34 56 78 910 capitalismo global e antes de 1915 1 23 4 5 6 7 89 compensação de desemprego pelo 12 déficit superior à receita e 12 791832 globalização e 19732000 12 34 56 7 89 1011 12 13 1415 1617 1819 Grande Depressão e década de 1930 1 23 4 5 67 89 1011 1213 má gestão e 12 perda de confiança no 12 planificação econômica e ver planificação econômica sistema de Bretton Woods e 12 socialdemocracia e 12 substituição de importações e 12 3 governo dos Estados Unidos dívida externa aos 12 34 56 Grande Depressão e década de 1930 1 23 45 67 pouca participação econômica do 12 34 Primeira Guerra Mundial e 12 34 GrãBretanha 12 34 56 7 8 910 agricultura na 1 2 34 5 Banco Central da 1 2 3 45 choques do petróleo e 1 2 comércio de Portugal com a 12 colonialismo da 1 2 34 5 909 6 7 89 1011 1213 14 1516 1718 19 2021 2223 24 25 crise de Suez e desemprego na 1 2 3 4 56 educação na eleições na 1 2 3 45 especialização na 12 34 Estado de bemestar social e 12 Estados Unidos comparado com a 1 23 estrutura social da globalização e 19732000 1 2 3 4 56 78 9 10 11 1213 14 Grande Depressão na década de 1930 1 2 34 56 78 indústria automobilística na 1 23 45 inflação na influência sociocultural da 12 3 investimento estrangeiro da 12 3 45 6 78 910 11 12 liderança econômica da 12 34 56 78 792832 livrecomércio questionado na 12 manufatura na 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1011 12 1314 15 16 17 18 1920 mineração na na Comunidade Europeia 12 nas Guerras Napoleônicas 1 2 no boom dos anos 1920 12 padrãoouro na 1 2 34 5 67 89 10 11 1213 papel do governo na 12 34 56 Primeira Guerra Mundial e 12 3 45 protecionismo na 1 2 3 4 56 78 9 10 1112 13 14 15 16 17 18 rádio na reconstrução na 12 34 rotas de comércio através das fronteiras e 12 salários na 1 2 34 Segunda Guerra Mundial e 12 3 4 5 6 7 sindicatos trabalhistas na 1 2 sistema de Bretton Woods e 12 34 5 67 89 1011 1213 socialdemocracia na 1 2 34 triunfo do livrecomércio na 12 3 4 5 67 8 Granada Grande Depressão década de 1930 1 23 4 5 6 7 89 10 1112 1314 autarquia e 12 34 capitalismo global antes de 1914 e 12 falências durante a 12 34 56 início da 12 3 Keynes e 12 34 5 67 89 movimentos trabalhistas e 1 2 3 4 56 78 novos esforços políticos durante a 12 34 ouro e 12 3 45 67 recuperação após a 1 23 45 6 78 910 socialdemocracia e 12 Grande Depressão de 187396 12 34 56 7 8 910 Grande Esfera da Ásia Oriental Grant Ulysses S grãos 1 2 3 4 56 7 8 910 793832 especialização e 1 2 3 4 livrecomércio e na União Soviética 1 23 produtividade e 1 2 34 ver também trigo Grécia 1 2 3 4 ajuda dos Estados Unidos à comércio da Alemanha com a fascismo autárquico na 1 2 3 45 globalização e 19732000 1 23 45 Greeley Horace greves 12 3 4 56 7 89 10 na Polônia 1 2 Grupo de Bloomsbury 1 2 Grupo de Oslo Grupo dos Sete 1 23 Guatemala 1 2 3 Guerra Civil NorteAmericana 1 2 3 Guerra da Coreia 1 2 3 guerra da manteiga 12 Guerra do Vietnã Guerra dos Bôeres 1 23 Guerra dos Boxers 18991900 Guerra Fria 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Guerra RussoJaponesa 1904 1 2 guerras civis 1 2 3 45 6 7 8 910 11 guerras de comércio 1 23 45 Guerras Napoleônicas 1 2 3 4 5 Guilherme kaiser da Alemanha 1 2 3 Guiné Francesa Haile Salassiê imperador da Etiópia Haiti Halsey Margaret Hanyang Ironworks siderúrgica Harriman Averill Hay John 794832 Hemingway Ernest 1 2 hindus hiperinflação 12 3 45 67 Hitler Adolf 1 2 3 4 5 6 conspiração contra Schacht comparado com Hobbes Thomas Hoffa James Holanda 1 2 34 5 6 7 agricultura na colonialismo da Estado de bemestar social e 12 globalização e 19732000 1 2 34 5 livrecomércio da na Comunidade Europeia 12 3 45 6 padrãoouro na 1 23 45 6 protecionismo da sistema de Bretton Woods e 12 3 45 6 socialdemocracia na 12 holding sociedade de ações e participações 1 2 3 homossexualidade 1 23 Honda Honduras Hong Kong 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Hoover Herbert 1 2 3 4 5 6 7 8 na eleição de 1932 Horthy Miklós Hudsons Bay Company Hull Cordell 1 2 3 humanismo 12 Hume David Hungria 1 23 agricultura na comércio da Alemanha com a 1 2 comunismo na 1 2 fascismo na 1 2 globalização e 19732000 1 2 34 56 795832 hiperinflação na 12 3 45 manufatura na 1 2 3 na Grande Depressão década de 1930 1 2 pósguerra 1 2 3 45 67 revolta anticomunista na 1 2 socialismo na 12 3 45 67 IBM 1 2 3 Ibsen Henrik Iêmen 1 2 3 iene japonês 1 23 IG Farben Ilhas Maurício imigração 1 2 3 4 5 6 78 910 1112 1314 colônias de povoamento versus especialização e 1 2 34 restrição à 12 34 56 7 Império Otomano 1 23 4 5 6 7 importação 1 2 3 4 56 7 8 9 1011 1213 da Dinamarca na teoria de comércio de HeckscherOhlin reconstrução pósguerra e no teorema de StolperSamuelson cortes de salários e 1 23 Grande Depressão e década de 1930 12 34 56 autarquia e 1 2 3 45 Segunda Guerra Mundial e 12 de alimentos 12 34 56 soviéticas 12 globalização e 19732000 1 23 45 67 8 9 1011 1213 dos Estados Unidos 1 2 3 4 5 6 78 9 10 visão econômica clássica da 12 da GrãBretanha 1 2 34 importância de ser prudente A Wilde impostos 1 23 4 5 6 78 9 10 1112 1314 15 16 1718 aumento dos cortes nos 12 796832 dumping e 12 na Alemanha 1 2 petróleo e 1 2 sobre lucros sobre trabalho 1 2 socialdemocracia e 1 23 45 substituição de importações e 1 2 3 4 56 78 Índia agricultura na 12 3 4 algodão na 12 autarquia na 1 2 3 45 automóveis na China comparada com a 1 2 34 crescimento econômico na 12 34 educação na 12 34 emigração da 1 23 45 67 ferrovias na 1 23 45 6 fracassos do desenvolvimento da 12 34 56 globalização e 19722000 12 34 5 6 7 independência da 1 2 3 45 investimento estrangeiro na 12 34 má gestão na 12 manufatura da 12 34 moeda da lastreada na prata 1 2 3 nacionalismo na 12 padrãoouro e 1 23 protecionismo na 1 23 45 6 7 socialismo na 1 2 34 substituição de importações e 1 23 4 56 Indian Currency and Finance Keynes Índias Orientais Holandesas 1 2 índice de Moody Indochina 1 2 3 ver também países específicos Indonésia 1 23 4 comunistas na crescimento econômico na 797832 globalização e 19732000 12 3 4 56 78 manufatura na 1 23 petróleo na 12 indústria química 1 2 3 45 67 8 9 1011 1213 1415 alemã 1 2 34 pósguerra indústria têxtil 1 23 4 5 6 autarquia e 12 mudança tecnológica e 1 23 45 na GrãBretanha 1 23 45 6 na Índia 1 2 no Egito protecionismo e 12 34 56 industrialização por substituição das importações 1 23 45 67 8 910 1112 1314 15 adesão do Terceiro Mundo à 12 crises da 12 34 56 definida fim da 12 34 56 78 na América Latina 12 34 5 67 89 10 11 na Índia 12 3 4 56 socialismo comparado com 1 23 industrialização voltada para exportação 12 34 56 inflação 1 2 34 56 78 19732000 1 2 34 56 78 910 1112 1314 1516 1718 19 2021 22 2324 25 26 27 na era pósguerra 12 3 4 5 6 78 910 11 1213 14 Schacht e 1 23 45 6 substituição da importação e 12 3 visão de Hitler sobre a Iniciativa da Bacia do Caribe instabilidade social 12 34 56 7 8 9 1011 12 no bloco soviético 12 34 56 78 Primeira Guerra Mundial e substituição de importações e 12 34 ver também guerras civis greves integração vertical 12 798832 Intel Internacional Comunista internacionalismo 12 34 5 6 7 89 1011 12 1314 15 globalização e 19732000 1 23 na China 12 pósguerra 12 34 56 wilsoniano 12 34 International Harvester 1 2 34 International Telephone and Telegraph Company ITT Companhia In ternacional de Correios e Telégrafos 1 23 internet 1 2 investimento autarquia e 12 3 4 56 78 910 expectativas e 12 pósguerra 1 23 45 67 89 público versus privado 12 substituição de importação e 1 23 investimento estrangeiro 12 34 autarquia e 1 2 34 56 capitalismo global e 18961914 e 12 3 4 56 78 910 1112 1314 1516 1718 1920 21 2223 2425 26 27 28 2930 3132 33 3435 36 37 3839 4041 4243 44 corporações multinacionais e 12 34 direto IED 12 34 567 89 1011 1213 globalização e 19732000 12 34 56 78 910 1112 1314 1516 1718 1920 Grande Depressão e década de 1930 1 2 má gestão e 12 na década de 1920 12 34 padrãoouro e 12 34 56 78 910 11 Primeira Guerra Mundial e 12 3 4 56 Segunda Guerra Mundial e 1 23 sistema de Bretton Woods e 12 3 45 67 8 9 1011 investimento estrangeiro direto IDE 12 34 56 7 8 910 1112 Irã 1 2 petróleo do 1 2 relações dos Estados Unidos com o 1 2 799832 revolução islâmica no 1 2 Iraque 1 2 3 4 5 Irlanda 1 2 3 globalização e 19732000 1 2 3 45 na Comunidade Europeia 12 Israel 1 2 3 Itália 1 2 3 4 5 agricultura na 1 2 autarquia na 1 2 3 45 6 7 automóveis na colonialismo da 1 2 comunistas na 1 23 4 desemprego na especialização e 1 2 3 fascismo na 12 34 5 6 7 globalização e 19732000 1 2 34 5 67 Grande Depressão e década de 1930 12 34 5 6 imigração da 12 34 instabilidade social na 1 2 manufatura na 1 2 3 4 5 6 7 na Comunidade Europeia 12 padrãoouro e 12 produtividade na protecionismo na 12 3 reconstrução da 12 3 salários na 12 3 Segunda Guerra Mundial e 12 34 sindicatos trabalhistas na sistema de Bretton Woods e 1 2 3 socialistas na Iugoslávia 1 2 3 4 5 6 7 8 rompimento soviético com a socialismo na JP Morgan Co 1 2 3 4 5 Jamaica Jameson L Starr 1 2 800832 Japão 1 2 3 4 56 78 9 1011 agricultura no 1 2 autarquia no 1 2 34 5 6 automóveis no 12 3 4 colonialismo do 12 3 45 67 89 10 1112 1314 15 Coreia do Sul comparada com o 12 crescimento econômico pósguerra no 12 educação no 12 emigração do 12 34 exportações do 1 2 34 56 78 9 1011 12 1314 fascismo no 12 3 4 ferrovias no 12 34 globalização e 19732000 1 2 34 5 6 7 8 910 1112 13 1415 1617 Grande Depressão no década de 1930 1 23 4 56 78 investimento estrangeiro e 1 2 3 45 manufatura no 12 3 4 56 7 8 910 na Exposição de Paris 1900 padrãoouro e protecionismo no 1 2 3 4 56 reconstrução do 12 3 4 56 7 8 relações da Rússia com o 1 23 Segunda Guerra Mundial e 12 34 5 sistema Bretton Woods e 1 2 34 5 67 Takahashi no 1 23 Java Johnson Lyndon B Jones Joseph Jordânia jornalismo financeiro Jovens Turcos 12 judeus 1 2 3 45 6 78 alemães 1 2 ver também antissemitismo jurostaxa de juros 1 23 45 67 89 1011 1213 globalização e 1 23 45 67 8 910 11 12 1314 Grande Depressão e 12 34 56 78 910 1112 1314 801832 sistema de Bretton Woods e 1 2 3 4 5 67 89 Kádar Janos Kasai Company Kaunda Kenneth 1 23 Kemmerer Edwin Kennedy John F Keynes John Maynard 1 2 3 4 56 7 8 antecedentes de 12 Grande Depressão e década de 1930 12 34 5 67 89 nostalgia econômica de 12 relações e investimentos monetários internacionais pósguerra e 12 Schacht comparado com sistema de Bretton Woods e 12 3 4 socialdemocracia e 12 3 45 Keynes John Neville keynesianos 1 2 Khrushchev Nikita 1 2 3 4 Kikuyu Kindleberger Charles Kings Leopold Soliloquy Twain Klein Naomi Kollwitz Käthe Kollwitz Peter sobrinho Kollwitz Peter tio Kosygin Alexsei 1 2 3 4 Kuba 1 2 3 Kuomintang Kuwait petróleo do 1 2 3 45 6 78 9 10 1112 13 14 15 lã 1 23 4 laissezfaire 12 34 56 78 910 1112 13 Lamont Thomas 1 2 3 Lapsley Samuel 1 2 lavadoras de louça Lawrence Robert 802832 Lease Mary Elizabeth 1 2 Left Book Club Lei do Seguro Social 1945 1 23 Lei dos Acordos Comerciais Recíprocos 1934 12 3 45 Lei Nacional de Relações Trabalhistas 1935 1 2 Leis do Milho 1 2 3 Lênin Vladimir I 1 2 3 Leopoldo rei da Bélgica 12 Leste Europeu 1 2 34 56 78 comércio da Alemanha com o fascismo no 1 2 3 4 56 7 89 1011 globalização e 19732000 12 34 56 7 89 1011 1213 14 15 Grande Depressão no década de 1930 12 3 4 pósguerra 12 3 4 reconstrução do 12 34 socialismo no 12 3 4 56 ver também países específicos Letônia 1 2 3 Lewis sir W Arthur 1 2 3 Líbano 4 liberais britânicos 12 34 Libéria 1 2 Liberman Evsei Liberty League libra esterlina 1 23 4 5 67 89 10 1112 13 1415 controle de moeda e 12 3 especulação de Soros contra 12 Lie John 12 Liga das Nações 12 3 4 5 6 Liga pela Reforma Tarifária Lindsay Vachel 12 linha de montagem 1 23 4 56 Lippmann Walter liquidacionismo 12 3 45 67 List Friedrich 12 Lituânia 1 2 3 4 56 Liverpool 12 803832 livrecomércio 12 34 56 78 9 10 1112 13 14 15 1617 18 impacto distribucional redes globais e 12 Schacht e colonialismo e 1 23 comércio justo versus 12 vencedores e perdedores no 12 Primeira Guerra Mundial e 12 visão de Keynes sobre 12 Grande Depressão e década de 1930 12 34 56 socialdemocracia e 12 pósguerra 12 3 4 5 67 8 910 vantagem comparativa e 12 Rothschild e 12 como meta 12 insatisfação com o 1 23 4 56 804832 Londres 1 2 3 como centro financeiro 1 2 3 4 56 78 910 1112 13 1415 16 1718 19 2021 conferência econômica mundial em 1933 Lopokova Lydia Luxemburgo 1 2 3 Benelux 4 5 Estado de bemestar social e 12 globalização e 19732000 1 23 45 na Comunidade Europeia 12 MacDonald Ramsay 1 2 Macys Maddison Angus madeira 1 2 3 4 Mahathir bin Mohamad 12 3 4 5 Malaia 1 2 3 borracha na 1 2 estanho na 1 2 Malásia globalização e 19732000 1 2 34 5 6 7 8 910 independência da manufatura na 1 2 34 Maláui Malta Manchúria 1 2 Manifesto Comunista Marx e Engels Mannesmann manufatura 1 2 3 4 56 78 910 11 1213 autarquia e 12 34 5 6 78 910 11 1213 de 19141939 1 2 3 45 67 89 em áreas de colonização recente 12 especialização e 12 34 5 Exposição de Paris 1900 e 12 globalização e 19732000 12 34 56 78 910 1112 1314 15 1617 18 1920 industrialização voltada para a exportação e 12 34 56 investimento estrangeiro e 12 34 liderança britânica substituída na 12 na Grande Depressão década de 1930 12 34 novas tecnologias e 12 Primeira Guerra Mundial e 1 2 34 protecionismo e 1 23 45 67 8 910 11 socialismo e 12 tamanho das fábricas e 12 3 4 5 ver também importação para substituição da importação países específicos Mao Tsétung 1 2 3 maquinário 1 2 34 56 78 910 1112 13 14 1516 17 18 doméstico 12 3 45 67 elétrico na Índia 1 2 rural 12 sueco máquinas de lavar 1 23 4 5 marcas 1 2 3 4 marco alemão 12 34 5 6 78 globalização e 19732000 12 3 45 6 78 910 Marcos Ferdinando 1 23 marfim Marinha britânica 12 34 marketing 1 2 34 56 7 89 Marrocos 1 2 3 Marshall Alfred 12 Marshall George Marx Karl 1 2 3 4 5 6 7 marxismomarxistas 1 2 34 56 Masai Mattel McAdoo William McCloy John McKinley William 1 2 mecanismo de fluxomoedapreço 12 Mellon Andrew 1 2 Mercado Comum Comunidade Econômica Europeia CEE 1 2 3 4 passos para chegar ao 1 2 3 806832 Mercado Comum do Sul ver Mercosul mercadores 12 mercantilismo 12 34 56 7 8 autarquia comparada com teóricos clássicos versus 12 3 4 5 Mercosul 1 23 4 México 1 2 3 4 5 6 agricultura no 12 3 4 autarquia no 1 2 3 automóveis no 12 3 crescimento econômico no 1 23 globalização e 19732000 12 3 4 56 78 9 10 11 1213 1415 16 17 18 19 20 instabilidade social no investimento estrangeiro no manufatura no 1 2 3 45 67 89 10 mineração no 1 2 moeda do lastreada na prata 1 23 Nafta e 1 4413 2 34 5 6 petróleo no 12 3 45 Microsoft milho 1 2 militarismo 1 2 3 45 67 89 fascismo e 1 2 34 ferrovias e 12 mercantilismo e 12 soviético 12 34 Mill James Mill John Stuart mineraçãomineradores 1 2 3 4 5 6 na África 12 3 4 5 6 78 910 investimento estrangeiro na padrãoouro em oposição à 1 23 Grande Depressão de 18731896 e 1 2 3 substituição da importação e sistema de plantação intensiva comparado com 12 especialização e 1 2 34 807832 autarquia e 1 23 na Zâmbia 12 em áreas de colonização recente 12 nos trópicos 1 2 34 56 Ministério das Relações Exteriores britânico 1 2 Mlumba Mobil Mobutu Joseph 1 2 moeda 1 2 autarquia e 1 23 4 5 desvalorização da 12 34 5 6 7 8 910 1112 1314 1516 17 18 globalização e 19732000 1 2 3 45 67 89 1011 12 13 14 15 1617 Grande Depressão e década de 1930 12 34 5 6 7 8 hiperinflação e 12 padrãoouro e 12 34 5 6 7 8 9 1011 1213 14 1516 17 18 1920 papel 1 2 34 56 78 910 plano de KeynesWhite para 12 sistema de Bretton Woods e 1 23 45 6 78 9 ver também taxas de câmbio dinheiro moedas específicas Moldávia Möller Gustav 12 monetarismo 1 23 Monnet Jean 1 23 Monnet Silvia monopólios 1 2 34 56 7 8 Montevidéu Morel Edmund Dene 1 23 Morgan JP 1 2 3 4 5 sobre dívida de guerra 12 Morguenthau Henry Morogorofábrica de sapatos 12 Morrow Dwight mortalidade infantil 1 23 4 5 motocicletas Mountbatten Lorde 808832 móveis 12 3 45 67 Movimento Congressista Movimento Não Alinhado 1 2 Movimento pela Democracia Multipartidária Movimento Popular das Filipinas 12 Movimento Populista 12 3 45 67 movimentos culturais 1 23 muçulmanos 1 2 34 5 67 fundamentalistas 12 34 mudança tecnológica 12 34 56 estagnação socialista e 12 evolução corporativa e 1 2 globalização e 19732000 12 34 56 nas feiras mundiais 12 34 novo industrialismo e 12 34 pósguerra 12 prós e contras 12 Mulungushi programa Mundell Robert 12 mundo em desenvolvimento 1 2 34 56 78 América Latina como guia para o 12 autarquia e 12 34 descolonização e 12 34 falta de emprego no 12 globalização e 19732000 1 23 45 6 78 910 1112 1314 1516 1718 19 investimento estrangeiro no 1 23 livrecomércio e 1 23 45 6 moeda lastreada na prata 12 padrãoouro e 12 protecionismo no 12 sistema de Bretton Woods e 1 23 socialismo soviético e o 12 3 4 substituição de importações no 1 23 45 67 8 910 ver também países específicos Muro de Berlim 1 2 3 Mussolini Benito 1 2 3 4 809832 nacionalismo 12 3 45 67 89 1011 12 1314 15 alemão 1 2 3 autarquia e 1 2 3 45 autodeterminação e desenvolvimento e 12 34 globalização e 19732000 1 23 45 67 89 10 11 na China Nações Unidas 1 2 3 índice de desenvolvimento humano das Nafta ver Tratado NorteAmericano de LivreComércio Namíbia Napoleão I imperador da França Nasser Gamal Abdel 1 2 3 National Retail Dry Goods Association navios a vapor 1 2 3 nazismo 1 23 4 56 7 autarquia e 12 34 56 conflitos de Schacht com o 12 3 45 países ocupados pelo 12 primeiros contatos de Schacht com o 12 Segunda Guerra Mundial e 1 23 4 5 67 trabalho e 12 3 45 Nehru Jawaharlal 1 23 4 Neier Aryeh New Deal 1 2 3 45 67 8 910 1112 1314 15 oposição ao 12 Newton Isaac 1 2 Niassalândia Nicarágua Nigéria 1 2 3 4 crescimento econômico na investimento estrangeiro na manufatura na 1 2 3 nitratos 1 2 3 Nixon Richard M 12 3 4 5 6 7 8 Nokia 1 2 Noruega 1 2 810832 Estado de bemestar social e globalização e 19732000 1 2 socialdemocracia na Nova Política Econômica Nova York 1 2 como centro financeiro 12 34 5 67 Nova Zelândia 1 2 34 56 7 agricultura na 12 manufatura na na Guerra da Manteiga 12 socialdemocracia na 12 Nuremberg 1 2 3 Nurske Ragnar Nye John Nyerere Julius Ohlin Bertil 12 34 5 óleo de palma 12 3 oligarquias 12 34 56 78 910 oligopólios 1 23 4 Open Society Institute Organização do Tratado do Atlântico Norte Otan 1 2 Organização dos Países Exportadores de Petróleo Opep 12 Organização Internacional do Comércio OIC 12 34 5 Organização Mundial do Comércio OMC 1 2 34 56 Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE 12 3 4 5 6 globalização e 19732000 1 23 45 67 89 1011 Oriente Médio 1 23 4 5 colonialismo no 12 manufatura no 1 2 petróleo no 12 pobreza no ver também países específicos Oriente Próximo descolonização no 1 2 34 ver também países específicos 811832 Orwell George Otis Elevator ouro 1 2 34 5 descobertas de 1 2 3 preço do 12 ovos 1 2 3 padrão de informação 12 padrão de vida 1 2 3 45 6 78 autarquia e 12 34 5 67 89 em áreas de colonização recente 1 23 globalização e 19732000 12 3 4 56 78 910 na União Soviética e bloco 12 34 pósguerra 12 34 5 socialdemocracia e padrãoouro 1 23 45 6 78 910 11 1213 1415 1617 1819 20 21 22 2324 Acordo Monetário Tripartite e após a Primeira Guerra Mundial 12 3 45 67 autarquia e 1 23 conexões internacionais e o 12 34 56 cortes nos salários e 12 fim do 12 Grande Depressão e o 12 3 45 67 89 10 1112 13 1415 1617 18 impedimentos sociais ao insatisfação com o 1 2 3 45 6 78 910 11 1213 14 15 16 17 18 pósguerra 12 34 reafirmação do 12 Rothschild e o 1 23 4 Schacht e o 12 3 4 56 sistema de Bretton Woods e 12 3 45 67 89 10 visão de Acheson sobre o 1 2 34 visão de Keynes sobre o 1 23 45 67 8 910 Países Baixos 1 2 3 ver também Bélgica Luxemburgo Holanda países bálticos 812832 Grande Depressão nos década de 1930 12 ver também países específicos Países de Industrialização Recente 12 países em desenvolvimento não pertencentes à Opep países menos desenvolvidos 1 23 4 5 6 Pan American Airways pânico de 1907 1 23 Paquistão 1 2 3 4 5 Paraguai 1 2 3 Paris 1 2 3 4 Parlamento britânico 1 2 3 4 Parlamento europeu Partido Agrário Suécia 1 2 Partido Conservador britânico 1 2 3 4 5 globalização e 19732000 1 2 34 Partido Conservador sueco Partido Democrata alemão 12 Partido Democrata dos EUA 1 2 3 45 6 7 8 9 1011 na eleição de 1932 1 2 livrecomércio e 1 23 4 5 6 Partido do Congresso Nacional Indiano 1 2 Partido Liberal Canadá Partido Nacionalista chinês 1 23 Partido Populista Estados Unidos Partido Republicano Estados Unidos 1 23 4 5 6 78 910 internacionalismo e 12 34 protecionismo e 12 3 45 6 Partido Revolucionário Institucional PRI 12 Partido SocialDemocrata sueco 1 23 4 5 Partido da Social Democracia Brasileira Partido Trabalhista britânico 12 34 56 78 910 Partido Trabalhista da Nova Zelândia Partido Trabalhista da Bélgica socialista 1 2 3 Partido Unido da Independência Nacional Unip 1 2 Paz dos Cem Anos A pecuária 12 3 45 67 8 9 10 pengos húngaros 12 34 813832 pensões 12 3 4 5 67 89 10 1112 período entreguerras 1 2 3 4 56 78 9 agricultura no 12 34 5 67 89 1011 1213 14 1516 17 18 1920 2122 2324 2526 boom dos anos 1920 no 12 34 corporações multinacionais no 12 34 estrutura social e política no 12 isolamento dos Estados Unidos no 12 34 5 67 89 Keynes e o 12 mudança tecnológica no 12 reconstrução da Europa no 12 socialdemocracia no 12 ver também autarquia econômica Grande Depressão década de 1930 Péron Juan Domingo 1 2 peronismo Perry Matthew Pérsia 1 2 Peru 1 2 3 4 dívida do investimento estrangeiro no peso mexicano 12 3 pesquisa e desenvolvimento 1 2 34 5 67 8 9 10 11 Peterson Peter petrodólares petróleo 1 2 34 5 6 78 9 10 11 investimento estrangeiro e 12 no México 12 34 56 no teorema de StolperSamuelson 12 novas fábricas e 12 novas formas corporativas e 1 23 Opep e 12 preço do 1 23 45 6 propriedade estatal do 12 34 5 Pham Van Dong Philips 1 2 Pinochet Augusto 814832 planificação econômica 12 34 5 67 89 10 em Cuba 12 na China 12 3 45 na Segunda Guerra Mundial 12 na União Soviética 12 3 45 67 89 no pósguerra 12 3 4 5 67 89 1011 Plano Dawes 1924 12 3 4 Plano Marshall Plano de Recuperação Econômica 1 2 3 4 5 Plano Meidner Plano Monnet Plano Real 12 Plano Schacht Plano Schuman Plano Young 1930 1 2 planos de Nehru pneus 1 2 pobrezapobres 1 23 45 6 7 8 910 11 globalização e 19732000 12 3 45 67 8 9 1011 12 13 14 1516 1718 19 20 livrecomércio e 12 na América Latina 1 2 3 na Índia planificação econômica e 1 2 3 programas sociais para 1 23 4 sistema de Bretton Woods e 12 substituição das importações e 1 23 ver também mundo em desenvolvimento subdesenvolvimento Política Agrícola Comum política da Austrália Branca política fiscal 12 globalização e 19732000 12 3 45 socialdemocracia e 12 3 45 visão de Keynes sobre 12 ver também impostos Polônia 1 2 3 4 5 6 agricultura na 12 globalização e 19732000 1 2 34 5 815832 greves na 1 23 manufatura na 12 3 4 revolta anticomunista na socialismo na 12 3 Pompidou Georges populismo 1 2 3 45 67 89 porcos Porto Rico Portugal 1 2 3 45 6 fascismo autárquico em 1 2 3 colonialismo do 12 3 4 5 67 8 910 11 comunistas em manufatura em 1 2 3 globalização e 19732000 12 3 4 56 comércio da Inglaterra com 12 poupança 1 23 4 5 hiperinflação e 1 23 prata 1 2 3 4 moeda lastreada na 1 2 3 4 5 6 7 preço da Prebisch Raúl 12 3 preços autarquia e 1 2 3 nazismo e 12 socialdemocracia e 12 visão de Keynes sobre 12 34 visão de Prebisch sobre ver também produtos específicos Preços subsidiados 12 3 presbiterianos 12 3 Primeira Guerra Mundial 1 23 4 5 67 8 9 10 consequências econômicas da 12 3 dívida e 12 34 56 78 9 10 1112 indenizações e 1 2 34 56 7 89 10 1112 13 1415 Keynes e a 12 Monnet e mortes durante a 1 23 45 816832 movimentos trabalhistas e 12 novas indústrias e 1 23 reconstrução da Europa após a 12 Tratado de Versalhes e 12 3 4 56 7 8 9 ver também países específicos privatização 12 34 56 78 9 10 produção 12 em massa 1 2 3 4 56 78 9 10 globalização e 19732000 12 novas corporações e 12 34 produtividade 12 34 56 7 de 191350 1 2 3 4 56 78 educação e 12 Produto Interno Bruto PIB 1 2 34 5 6 78 globalização e 19732000 1 2 34 5 pósguerra 1 23 4 5 6 78 9 10 propaganda 1 2 3 4 5 protecionismo na Primeira Guerra Mundial e 1 2 3 protecionismo 1 2 34 56 7 89 10 1112 1314 1516 1718 19732000 12 34 56 7 agrícola 12 34 5 6 7 8 9 1011 autarquia e 1 2 3 4 5 6 78 comércio justo versus 12 corporações multinacionais e 1 23 efeitos problemáticos do 12 no período entreguerras 12 34 56 78 910 11 12 13 1415 Primeira Guerra Mundial e sistema de Bretton Woods e 1 23 45 6 7 socialdemocracia e 12 substituição da importação e 1 2 3 45 6 7 8 910 unificação europeia e visão clássica do 1 23 visão de Keynes sobre 12 ver também tarifas Província do Cabo Prússia 1 2 3 817832 Qatar petróleo do Quênia 1 2 3 4 rádio 1 23 45 6 transistor 12 Raghavan Chakravarthi raion 1 2 RCA 12 3 Reagan Ronald 1 2 3 4 56 7 8 recessão 12 3 4 5 6 7 89 no período entreguerras 12 34 56 19732000 12 3 45 6 7 8 910 11 12 reconstrução 12 3 4 Acheson e 12 dois argumentos e papel dos Estados Unidos na 12 papel soviético na 12 34 tarefa imediata de 12 reforma agrária 1 2 34 refrigeraçãorefrigeradores 1 2 3 4 56 pósguerra 1 23 4 transporte e 1 23 4 região do Kasai 12 Reichsbank 1 2 3 4 Relatório Beveridge renda 1 2 34 56 7 autarquia e 1 2 34 56 consumo e 1 2 globalizaçâo e 19732000 12 34 56 78 910 11 12 13 na Ásia 12 nacional 12 3 4 56 7 substituiçâo da importaçâo e 12 3 ver também salârios Repûblica Tcheca 1 2 3 4 Restriçôes Voluntârias à Exportaçâo VERs reuniâo em Bretton Woods 1944 1 2 Revoluçâo Cubana 818832 Revoluçâo Cultural Chinesa 12 Revoluçâo Industrial 1 2 3 45 6 Revoluçâo Russa 12 34 56 Rhodes Cecil 12 Ricardo David 1 2 3 Rio de Janeiro riqueza dos naçôes A Smith 12 Robbins Lionel rodada do Uruguai 12 Rodada Kennedy Rodésia do Norte 1 2 3 4 ver também Zâmbia Rodésia do Sul 1 2 3 4 5 6 ver também Zimbâbue rodovias 1 23 4 5 6 7 8 9 autarquia e 1 23 Romênia 1 2 3 4 5 6 autarquia na 1 2 3 globalizaçâo e 19732000 1 2 manufatura na 1 2 3 45 petróleo na socialismo na 12 3 Romulo Carlos Roosevelt Franklin D 1 2 3 45 6 7 encontro de Keynes com feriado bancârio de na eleiçâo de 1932 12 3 45 6 New Deal e 1 2 34 5 6 Segunda Guerra Mundial e Roosevelt Theodore Rothschild Alphonse Rothschild Amschel Mayer 12 Rothschild dinastia dos 12 Rothschild família Rothschild Lionel Nathan Rothschild Nathan Mayer I 12 Rothschild Nathan Mayer II Natty 819832 Ruanda 1 2 Rússia czarista 1 2 3 4 5 agricultura na atividades revolucionárias na 1 2 3 Banco Central da manufatura na 1 2 34 5 moeda da padrãoouro e 1 2 3 4 Primeira Guerra Mundial e 1 2 34 5 protecionismo da 1 2 34 5 sindicatos trabalhistas na Rússia 12 3 4 56 7 8 hiperinflação na Safire William 1 2 salários 1 23 45 67 89 1011 1213 1415 1617 1819 autarquia e 1 23 45 bens de consumo e 1 2 3 4 cortes nos 12 3 4 5 67 8 9 1011 12 1314 1516 17 globalização e 19732000 1 23 45 6 78 9 10 11 1213 hiperinflação e imigração e 1 2 34 56 na Grande Depressão década de 1930 1 23 45 67 padrãoouro e 1 2 3 45 67 qualidade da mão de obra e 1 23 socialdemocracia e 12 34 socialismo e 1 2 visão de Keynes sobre 12 Salazar António Samuelson Paul 12 Sandburg Carl São Paulo estado brasileiro 1 2 3 4 5 6 7 8 9 sapatos 1 2 34 5 6 7 8 9 globalização e 19732000 12 3 45 6 no Egito saúdeserviços de saúde 1 23 45 pública 1 2 3 820832 Schacht economia de 1 23 Schacht Hjalmar Horace Greeley 12 34 5 67 8 antecedentes de 12 conflito dos nazistas com 12 3 45 inflação e 1 23 45 6 Takahashi comparado com 1 2 Schacht Luise 1 2 Schmidt Helmut Schönberg August ver Belmont August Schuman Robert Schumpeter Joseph 1 2 Sears Roebuck Seattle Batalha de 1999 12 3 45 6 seda 1 2 3 4 preço da 1 2 Segunda Guerra Mundial 1 2 3 4 5 67 89 1011 acordo de empréstimo e arrendamento e 12 34 56 indenizações e 1 23 Monnet e morte durante a 1 23 ordem econômica após a 12 papel dos Estados Unidos após a 12 34 56 reconstrução após a ver reconstrução seguro social 1 23 45 67 8 9 1011 1213 1415 segurodesemprego 1 23 4 56 7 8 socialdemocracia e 1 2 34 Senado Estados Unidos 12 34 56 7 Comitê de Relações Internacionais do Senegal Serra Leoa 1 2 ServanSchreiber JeanJacques Sheppard William 12 Sião 1 2 3 4 5 6 ver também Tailândia Sibéria Siderúrgica de Homestead 12 siderúrgica Ajaokuta 821832 Siemens 1 2 3 4 Sihanouk Norodom sindicatos trabalhistas 12 3 45 67 89 globalização e 19732000 1 2 34 56 78 9 pósguerra 1 2 3 45 socialdemocracia e 12 34 56 Singer 1 2 3 Síria 1 2 3 sistema de Bretton Woods 12 3 45 67 89 10 11 comércio e 12 34 56 78 910 11 crescimento econômico e 12 estabelecimento de 12 Estado de bemestar social e 12 3 fim do 12 3 investimentos e 12 3 45 67 8 910 1112 Monnet e 12 ordem monetária e 1 23 45 sucesso do 12 sistema de Giolitti sistema de plantação intensiva 12 3 4 sistema jurídico 12 34 5 Sistema Monetário Europeu SME 1 2 sistema social 12 34 autarquia e 1 2 automóveis e estagnação e 12 no período entreguerras 1 23 4 sistemas bimetálicos 1 2 sistemas políticos 12 34 56 fracassos do desenvolvimento e 12 34 5 67 no período entreguerras 12 34 5 6 7 89 socialdemocracia e 12 visão de Keynes sobre 12 Skidelsky Robert Skoda Sloan Alfred P Smith Adam 1 2 3 4 5 822832 socialdemocracia 1 2 34 56 78 910 democracia popular comparada com cooperação internacional e 1 23 Keynes e 12 3 4 na Suécia 12 34 5 6 7 nos Estados Unidos 1 23 45 pósguerra 1 2 trabalho e capital e 12 sociaisdemocratas sociaisdemocratas alemães 1 23 socialismo árabe 1 2 socialismosocialistas 1 2 34 5 67 89 1011 entreguerras 12 34 56 7 8 910 1112 13 estagnação do 12 expansão do 12 futuro do 12 globalização e 19732000 1 2 3 45 67 89 na China 12 3 45 6 7 no Terceiro Mundo 12 34 pósguerra 1 2 3 45 6 7 89 10 solidariedade transfronteiriça e 12 soviético 12 34 56 78 9 1011 1213 substituição de importações e 1 23 trabalho e 1 23 sociedades de auxílio mútuo 12 Solidariedade sindicato polonês Somália 1 2 Sony 1 2 3 Soros George Dzjchdzhe Shorash 12 34 Sri Lanka 1 2 3 Staley Eugene Stálin 12 3 4 5 6 7 stalinismo Standard Oil de Nova Jersey Stanley Henry Stein Herbert Stiglitz Joseph 823832 Stockman David Stolper Wolfgang 12 Strachey Lytton Strange Susan Suazilândia subdesenvolvimento 1 23 colonialismo e 12 34 má gestão e 12 na Ásia 12 no Estado Livre do Congo 12 sistema de plantação intensiva e 12 sumário das causas do 12 ver também mundo em desenvolvimento países específicos subsídios 1 23 45 6 substituição da importação e 1 2 3 4 5 67 89 Sudão 1 2 3 Sudeste Asiático 12 34 5 6 7 8 9 ver também países específicos Suécia 1 2 3 4 5 agricultura na 12 3 4 desemprego na 12 Estado de bemestar social na 1 23 globalização e 19732000 1 2 34 56 7 8 910 manufatura na 12 mecanismo nacional para o estabelecimento de salários na protecionismo na reconstrução da 12 sindicatos trabalhistas na 12 3 socialdemocracia na 12 34 56 7 8 socialistas na 12 sucesso econômico da 12 Suíça 1 2 3 45 6 7 8 Estado de bemestar social na socialdemocracia na Sukarno Sul da Ásia 1 23 4 ver também países específicos 824832 Sun Yatsen Sweeney John tabaco 1 2 3 4 5 6 7 8 Taft Robert 1 2 Tailândia 1 2 3 autarquia na 1 2 crescimento econômico na globalização e 19732000 12 34 5 6 7 89 10 11 12 13 14 manufatura na 1 23 45 Taiwan 1 2 3 4 5 crescimento econômico em 1 2 globalização e 19732000 12 3 4 5 6 78 910 11 Índia comparada com 1 2 manufatura em 12 34 Takahashi Korekiyo 12 tamanho do mercado 1 2 34 especialização e 12 3 Tanzânia 1 2 3 Tarifa SmootHawley 1930 1 2 3 4 5 tarifas 12 34 56 78 9 10 11 agricultura e 12 34 56 7 89 10 1112 1314 autarquia e 1 23 brasileiras 1 2 3 britânicas 1 2 34 56 desvantagens das 12 dos Estados Unidos 12 34 56 7 89 1011 1213 1415 1617 18 19 20 21 2223 24 Gatt e 1 23 45 Grande Depressão e década de 1930 1 23 45 Mercado Comum e 1 2 mundo em desenvolvimento e 1 23 socialdemocracia e 12 visão de Keynes sobre 12 taxas de câmbio 1 2 3 45 6 78 910 11 1213 choques do petróleo e 12 múltiplas 12 3 4 825832 sistema de Bretton Woods e 1 2 3 4 56 78 9 1011 Tchecoslováquia 1 2 3 agricultura na 1 2 3 inflação na invasão soviética da 1 2 manufatura na 1 2 34 Segunda Guerra Mundial e 1 2 socialismo na 12 3 4 56 tecnologia acesso à 12 3 socialdemocracia e 12 telecomunicações 1 23 4 56 78 telefones 1 2 3 4 56 78 9 1011 12 globalização e 19732000 1 2 3 45 67 8 telefones celulares 1 2 3 Telefunken telégrafos 1 2 34 5 televisão 12 3 45 67 8 9 globalização e 19732000 1 23 45 67 teorema de StolperSamuelson 12 3 teoria do comércio de HeckscherOhlin 12 3 4 Teoria geral do emprego do juro e da moeda Keynes teóricos da dependência 12 Terceira Conferência Ministerial da OMC 12 Terceiro Mundo 12 3 4 56 dívida do 12 34 movimento não alinhado e socialismo no 12 substituição da importação adotada pelo 12 ver também países específicos terras 12 34 56 78 910 1112 colonização de povoamento e 12 na teoria de comércio de HeckscherOhlin 1 2 3 4 no teorema de StolperSamuelson 12 terrorismo Tesouro britânico Tesouro norteamericano 1 2 34 56 7 8 910 826832 Thatcher Margaret 1 2 3 4 Thomson Time títulos 1 2 3 4 5 6 7 8 Grande Depressão e década de 1930 12 Primeira Guerra Mundial e 12 3 Togliattigrad Torrens Robert trabalho 1 23 4 56 7 8 910 11 12 13 autarquia e 1 2 3 4 5 6 78 divisão do 12 3 45 67 89 escassez de trabalhadores 12 34 5 67 89 10 11 fascismo e 12 3 4 5 67 forçado e coagido 12 3 globalização e 19732000 1 2 3 45 6 78 910 1112 1314 15 1617 medidas progressistas para 12 migração do ver imigração na Grande Depressão década de 1930 12 3 45 6 78 910 11 12 na indústria automobilística 1 23 na Rússia 1 23 na teoria do comércio de HeckscherOhlin 12 3 45 não qualificado 12 34 5 67 no período entreguerras 1 2 3 45 6 78 910 11 1213 no teorema de StolperSamuelson 12 ordem clássica e 12 Primeira Guerra Mundial e 12 3 produtividade do ver produtividade sistema de Bretton Woods e 1 2 34 56 78 sistema de plantação intensiva e 12 socialdemocracia e 12 34 substituição da importações e 1 2 34 ver também segurodesemprego salários trabalho missionário 12 34 56 transistores 12 3 transporte 12 3 45 6 78 9 1011 12 1314 15 1617 1819 202122 23 2425 2627 28 827832 declínio de preços 1 2 globalização e 19732000 12 3 45 6 inadequado refrigeração e 1 23 4 ver também aviões automóveis ferrovias Transvaal 1 2 3 Tratado de Maastricht Tratado da União Europeia 1 23 Tratado de Versalhes 1919 1 2 3 4 5 6 Tratado NorteAmericano de LivreComércio Nafta 1 2 34 5 6 Tratado sobre a moeda Keynes 12 3 tratores 1 2 3 trigo 1 2 3 45 6 7 89 10 1112 1314 1516 1718 1920 livrecomércio e 1 23 preço do 12 3 4 5 6 trindade impossível 12 Trindade Truman Harry 1 2 3 trustes 1 2 Turquia 12 3 4 5 6 7 8 ajuda dos Estado Unidos à autarquia na 12 3 4 56 globalização e 19732000 12 34 56 7 manufatura na protecionismo na Twain Mark 1 2 U Nu US Steel 1 2 3 4 Ucrânia 1 2 3 4 5 Uganda União Econômica e Monetária UEM 1 2 União Europeia UE 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 União Europeia de Pagamentos UEP União Soviética 1 23 4 56 7 89 agricultura na 1 23 45 6 78 910 América Latina comparada com 12 anticolonialismo da 12 828832 autarquia na 12 3 4 5 67 8 9 automóveis na 1 2 bens de consumo na 12 bloco formado pela 12 34 56 78 910 crescimento econômico na 12 dívida da divisão tecnológica e 12 educação na 12 efeitos da Segunda Guerra Mundial sobre 1 2 34 56 globalização e 19732000 12 3 45 67 89 industrialização na 12 3 45 67 8 9 10 11 12 1314 15 investimento estrangeiro na Nehru na 12 planos quinquenais na 12 34 relação dos Estados Unidos com 12 34 56 relações da China com 12 34 relações de Cuba com socialismo na 12 34 56 78 9 1011 1213 Uruguai 1 23 4 globalização e 19732000 12 3 como Estado de bemestar social 12 Uzbequistão válvula eletrônica 1 2 van Zeeland Paul Vandenberg Arthur 1 2 vantagem comparativa lei da 12 3 4 5 67 8 910 vapor força motriz 1 2 Vargas Getúlio Venezuela 1 2 3 vestuário 12 3 45 67 89 1011 12 1314 globalização e 19732000 1 2 3 4 56 na era pósguerra 1 2 viagens internacionais 1 2 Victória rainha da Inglaterra 12 Vietnã do Norte 1 2 socialismo no 12 3 45 829832 Vietnã 1 2 3 4 5 comunistas no 1 2 ver também Vietnã do Norte vinho 12 3 Vinson Fred Vodaphone Volcker Paul 1 23 45 Volkswagen 1 2 Wall Street 1 2 34 5 6 7 8 9 Wallace Henry 1 2 War and the Private Investor Staley Warren George Waterloo Batalha de 1815 1 2 Welles Sumner Western Electric Westinghouse 1 2 3 White EB White Harry Dexter 12 3 Wigforss Ernst 12 Wilde Oscar Williamson John Wilson Woodrow 1 23 4 5 6 7 8 Woolf Leonard Woolf Virginia Works Progress Administration WPA Wriston Walter Yahoo Young Owen Zaire 1 2 3 Zâmbia 1 2 34 5 Zappo Zaps Zhou Enlai Zimbábue 1 2 3 4 Zweig Stefan 1 830832 Título original Global Capitalism Its Fall and Rise in the Twentieth Century Tradução autorizada da primeira edição norteamericana publicada em 2006 por WW Norton Company Inc de Nova York EUA Copyright 2006 Jeffry Frieden Copyright da edição brasileira 2008 Jorge Zahar Editor Ltda rua México 31 sobreloja 20031144 Rio de Janeiro RJ tel 21 21080808 fax 21 21080800 editorazaharcombr wwwzaharcombr Todos os direitos reservados A reprodução não autorizada desta publicação no todo ou em parte constitui viol ação de direitos autorais Lei 961098 Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Capa Sérgio Campante Fotos da capa Stockxchng em sentido horário a partir da esquerda Jari Lehtikangas James K Jay Lopes Luke Partridge Bob Boris Peterka Peter Mueller Primeira edição digital Setembro de 2010 ISBN 9788537803578 Arquivo ePub produzido pela Simplíssimo Livros Simplicissimus Book Farm Created by PDF to ePub 1 O contexto do fim do século XIX que justifica a expressão globalização O final do século XIX foi um período de intensas transformações econômicas políticas e tecnológicas que modificaram profundamente as relações entre os países É nesse cenário que surge o que muitos historiadores incluindo Jeffrey Frieden chamam de primeira era da globalização Essa fase que se estendeu aproximadamente entre 1870 e 1914 foi marcada pela formação de um sistema econômico internacional integrado baseado na expansão do comércio no fluxo livre de capitais e na mobilidade crescente de pessoas e mercadorias Em primeira análise para entender o porquê de o fim do século XIX ser caracterizado pela globalização é preciso compreender o grau das transformações que ocorreram nesse período Pois nesse momento o mundo passou por uma transformação sem precedentes As distâncias econômicas e culturais se encurtavam os mercados nacionais se interligavam e a circulação de capitais e informações atingia uma escala verdadeiramente mundial O avanço tecnológico aliado à consolidação do livrecomércio e à supremacia britânica moldou uma nova ordem internacional em que as economias passaram a atuar de forma interdependente e integrada inaugurando aquilo que Frieden denomina a primeira era do capitalismo global O mundo se interligou te tal forma que Por telégrafo e telefone as notícias corriam o mundo em minutos não mais em semanas ou meses Investidores de Londres a Paris passando por Nova York Buenos Aires ou Tóquio teciam uma rede de capital global quase homogênea Desde a batalha de Waterloo o mundo mudava em todas as dimensões políticas tecnológicas financeiras e diplomáticas FRIEDEN 2006 p 23 Dessa forma pela primeira vez na história moderna o mundo passou a operar como um único mercado no qual as distâncias econômicas e financeiras foram drasticamente reduzidas e o avanço da Revolução Industrial iniciado na Inglaterra e posteriormente difundido pela Europa e pelos Estados Unidos proporcionou um salto na produtividade e na capacidade de transporte e comunicação Por consequência essas inovações reduziram custos e tornaram o mundo economicamente mais conectado estabelecendo as bases de uma economia mundial integrada Além disso as políticas econômicas liberais predominantes no período incentivaram a livre circulação de bens capitais e pessoas Frieden observa que as barreiras comerciais foram derrubadas os mercados se abriram e o capital começou a fluir livremente entre as nações destacando o papel do liberalismo econômico como eixo da integração global Esse ambiente favoreceu a expansão das grandes potências industriais em direção aos mercados coloniais da Ásia África e América Latina consolidando uma rede global de produção e consumo Outro fator importante foi o aumento dos fluxos migratórios Milhões de europeus migraram para as Américas em busca de melhores oportunidades e com isso levaram consigo capital conhecimento e força de trabalho Frieden destaca que a migração em massa foi o complemento humano da integração financeira e comercial evidenciando que o fenômeno da globalização do século XIX envolvia tanto mercadorias quanto pessoas Contudo em uma visão mais pessoal o que mais me chama atenção é perceber como esse período mesmo tão distante ainda ecoa na nossa vida de hoje A globalização que vivemos agora com toda a tecnologia e velocidade faz o mundo parecer pequeno Pessoas de lugares completamente diferentes acabam tendo coisas em comum ou seja conhecem os mesmos lugares assistem aos mesmos filmes e escutam as mesmas músicas 2 O papel da liderança britânica nessa globalização A liderança britânica teve um papel central na consolidação da primeira era da globalização A Inglaterra foi o berço da Revolução Industrial o que lhe garantiu uma vantagem tecnológica produtiva e financeira perante os outros países Suas fábricas impulsionadas pelo uso do carvão e das máquinas a vapor abasteciam o mundo com produtos manufaturados enquanto o país se tornava o principal centro exportador de capitais Londres por sua vez transformouse no coração financeiro do planeta com o padrãoouro consolidando a confiança internacional e permitindo transações seguras entre as nações Essa supremacia econômica britânica deu origem a uma rede de comércio global que interligava continentes portos e rotas marítimas sob influência direta da coroa Para além da economia o poder britânico se estendia ao campo político e cultural O vasto império colonial garantiu à Inglaterra o controle de matériasprimas e mercados consumidores em praticamente todos os continentes Esse domínio permitiu a difusão de valores instituições e práticas comerciais britânicas moldando padrões de consumo e comportamento em várias partes do mundo A marinha inglesa uma das mais poderosas da história assegurava a proteção das rotas comerciais e reforçava a hegemonia do país Dessa forma a liderança britânica não foi apenas econômica mas também simbólica representava a ideia de progresso modernidade e confiança sustentando as bases da globalização que conectou o mundo entre 1870 e 1914 Dessa forma essa liderança britânica como o ponto de partida de um mundo que aprendeu a se conectar mas também a depender uns dos outros A Inglaterra ao expandir sua influência acabou criando um modelo de integração que ainda seguimos de alguma forma É curioso pensar que muito do que chamamos hoje de globalização nasceu da busca britânica por comércio poder e inovação E olhando para o presente dá para perceber que o impacto dessa época ainda está por toda parte nas línguas nas trocas culturais no sistema financeiro e até na forma como o mundo se entende como um só 3 Como a liderança britânica estava representada pelo modelo do padrão ouro A liderança britânica durante a primeira era da globalização se consolidou por meio do padrãoouro um modelo cambial e monetário que refletia a estabilidade e a confiança inspiradas pelo poder econômico da Inglaterra Nesse sistema a libra esterlina tornouse a principal moeda de referência mundial O padrãoouro funcionava de forma relativamente simples cada país fixava o valor de sua moeda em relação a uma quantidade específica de ouro garantindo que fosse conversível a qualquer momento Com isso as taxas de câmbio entre as moedas permaneciam estáveis facilitando o comércio e os investimentos internacionais Dessa forma esse sistema deu à Inglaterra um papel de centro financeiro global e o padrão ouro não apenas consolidou a credibilidade da economia britânica mas também espalhou a disciplina fiscal e monetária pelo mundo já que os países precisavam manter estabilidade interna para sustentar suas reservas Assim a liderança britânica não se limitou à produção industrial ou ao domínio marítimo Ela também foi exercida no campo financeiro com o ouro servindo como símbolo da confiança no sistema global criado sob sua direção Contudo o padrãoouro é o exemplo perfeito de como a confiança pode mover o mundo Tudo girava em torno de algo concreto o ouro mas o que realmente sustentava aquele sistema era a fé que as nações tinham na libra e na estabilidade britânica É interessante pensar que no fundo o mundo já funcionava com base em algo muito parecido com o que vivemos hoje confiança nos sistemas nas moedas e nas conexões entre países O padrãoouro mostra que muito antes da tecnologia ou das transações digitais a globalização já era acima de tudo uma questão de acreditar em algo que ligava todo mundo

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Magistral Um dos livros mais claros e abrangentes já escritos sobre a história do capitalismo moderno New York Times Jeffry A Frieden Capitalismo História econômica e política do século XX Global ZAHAR Jorge Zahar Editor Jeffry A Frieden Capitalismo global História econômica e política do século XX Tradução Vivian Mannheimer Revisão técnica Arthur Ituassu Professor de relações internacionais na PUCRio Sumário Apresentação de Paul Kennedy Prefácio Introdução Rumo ao século XX Do mercantilismo ao livrecomércio Da prata ao ouro Ameaças à ordem global I Os melhores últimos anos da Era de Ouro 18961914 1 Capitalismo global triunfante O fortalecimento do padrãoouro Especialização e crescimento Descontentes com o globalismo 2 Os defensores da economia global Apoio intelectual à Era de Ouro Nathan Mayer Rothschild 18401915 Os partidários do livrecomércio Os adeptos dos pilares dourados Redes globais para uma economia global Migração internacional de indivíduos e capital Globalização 3 Histórias de sucesso da Era de Ouro A GrãBretanha fica para trás Novas tecnologias e o novo industrialismo Protegendo as indústrias nascentes Áreas de colonização recente Crescimento nos trópicos Heckscher e Ohlin interpretam a Era de Ouro 4 Desenvolvimentos fracassados O rei Leopoldo e o Congo Colonialismo e subdesenvolvimento Má gestão e subdesenvolvimento Estagnação na Ásia Estagnação nas plantações intensivas Obstáculos ao desenvolvimento 5 Problemas da economia global Comércio livre ou comércio justo Vencedores e perdedores do comércio A prata ameaça o ouro O trabalho e a ordem clássica Era dourada ou manchada II Tudo se desmorona 19141939 6 Tudo o que é sólido desmancha no ar As consequências econômicas da Grande Guerra Reconstrução da Europa A extraordinária década de 1920 O isolamento dos Estados Unidos Um mundo reconstruído Em direção ao vazio 4832 7 O mundo de amanhã As novas indústrias As novas corporações As novas empresas multinacionais Mecanização no campo As novas sociedades Avanços e recuos 8 O colapso da ordem estabelecida O fim do boom Ouro e crise Das trevas Abaixo o antigo 9 Em direção à autarquia A autossuficiência semiindustrial Schacht e os nazistas reconstroem a Alemanha As políticas econômicas autárquicas A Europa se volta para a direita Socialismo em um só país O desenvolvimento se volta para dentro A alternativa autárquica 10 A construção da socialdemocracia Socialdemocracia na Suécia e nos Estados Unidos Keynes e a socialdemocracia Trabalho capital e socialdemocracia Socialdemocracia e cooperação internacional Das cinzas III Juntos novamente 19391973 5832 11 A reconstrução do Oriente e do Ocidente Os Estados Unidos à frente A tarefa urgente Dean Acheson presente na criação Os Estados Unidos e a reconstrução da Europa A União Soviética forma um bloco Dois argumentos 12 O sistema de Bretton Woods em ação A aceleração do crescimento no pósguerra Jean Monnet e os Estados Unidos da Europa Bretton Woods e o comércio A ordem monetária de Bretton Woods Bretton Woods e os investimentos internacionais Bretton Woods e o Estado do bemestar social O sucesso de Bretton Woods 13 Descolonização e desenvolvimento Industrialização por substituição de importações A corrida para a independência ISI teoria e prática Nehru e a industrialização da Índia O Terceiro Mundo adota a ISI A proliferação moderna da indústria 14 Socialismo em muitos países A expansão do mundo socialista A divisão do mundo socialista O caminho chinês Socialismo no Terceiro Mundo Um futuro socialista 15 O fim de Bretton Woods 6832 O compromisso se desfaz Desafios ao comércio e aos investimentos A crise na substituição de importações A estagnação do socialismo O fim de uma era IV Globalização 19732000 16 Crise e mudança O choque do petróleo e outros choques O contrachoque de Volcker Globalismo Regionalismo e globalismo Crises financeiras globais e nacionais 17 A vitória dos globalizantes Novas tecnologias novas ideias Interesses globalizantes George Soros cria mercados Comércio sem barreiras 18 Os que correram atrás Produção global e especialização nacional Crescimento via exportações nos extremos da Europa e da Ásia O Leste asiático e da América Latina seguem o exemplo O sociólogo marxista assume o poder A Europa oriental se une à ocidental A nova divisão internacional do trabalho 19 Os que ficaram para trás A decepção causada pela transição e reformas 7832 Desastres do desenvolvimento A jornada da Zâmbia A catástrofe africana Calamidade privação e desespero 20 Capitalismo global em apuros Fragilidade financeira e a trindade impossível As três palavras mais temidas Mercados globais desgovernados ou indesejados Conclusão Notas Comentários sobre dados e fontes Referências bibliográficas Agradecimentos Índice remissivo 8832 Apresentação De todas as maneiras pelas quais o século XX reivindica um lugar especial na história poucas se igualam em importância à enorme transformação da vida econômica Se um fazendeiro de Illinois ou um camponês de Bangalore ambos lutando pelo sustento por volta de 1900 fossem trazidos de volta ao nosso planeta nos dias de hoje ficariam chocados com a transformação pela qual ele pas sou O imenso crescimento da produtividade e da riqueza as in imagináveis novas tecnologias e a melhora do conforto material os teriam deixado sem fala Ainda mais chocados contudo ficari am com os muitos distúrbios e retrocessos ocorridos na economia mundial nesse intervalo de cem anos os quais é claro eles não poderiam ter adivinhado Relembrar essa história é a tarefa que o professor Jeffry A Frieden tomou para si em Capitalismo global e que faz de forma esclarecedora equilibrada e com vasto conhecimento Esta obra trata de um tema vigoroso de forma direta ajudando o leitor a ter uma ideia do todo Este não é um livro qualquer de história econ ômica embora certamente será utilizado em muitas salas de aula Na essência residem os ventos criativos do capitalismo mundial moderno tomando emprestada a famosa frase de Joseph Schumpeter Já no fim do século XIX esses ventos sopravam ao redor do globo criando novas estruturas de produção comércio e finanças e tornando obsoletas as formas anteriores Tais ventos coexistiam com as forças como a do nacionalismo e a do militarismo que seguiam seu curso de maneira tão avassaladora quanto onipresente Essa mistura ex plosiva produziu em sequência destruição e mortes na Primeira Guerra Mundial e as calamitosas reverberações econômicas e políticas das duas décadas que a sucederam Sugerir uma única parte da impressionante obra do professor Frieden para ser lida com atenção especial é uma tarefa difícil mas para mim o debate sobre a economia política entre as duas guerras mundiais parece de fato maravilhoso Frieden mostra o quanto o capitalismo de mercados livres e laisserfaire se tornou problemático o que ocorreu não apenas pelo fracasso do sistema em oferecer suficiente riqueza e empregos mas também em fun ção das reações contra o capitalismo liberal na esfera política Com a URSS fazendo pressão pelo socialismo em um só país os Estados fascistas praticando uma mistura de autarquia econômica e agressão externa e os Estados Unidos já na época a maior potência se retirando dos palcos mundiais o velho sistema não poderia sobreviver Tudo se despedaçou Os pedaços se juntariam novamente com a retomada do envolvimento norteamericano com as questões mundiais após Pearl Harbor um comprometimento que duraria por toda a Guerra Fria e cuja natureza era amplamente coetânea o capital ismo global não poderia sobreviver sem o poderio militar ou a vontade política do Ocidente a qual só se sustentaria com o su cesso produtivo do sistema capitalista Dessa vez todos os ped aços se mantiveram unidos A história que o professor Frieden nos conta não é de forma alguma triunfante como as ideias oferecidas pelos economistas conservadores defensores do livremercado dos dias de hoje Ele é bem ciente como antes dele eram Marx Schumpeter e Keynes de que o capitalismo por natureza gera tanto perdedores quanto vencedores Suas opiniões sobre o desemprego em massa de 1930 são bastante sóbrias e a análise da catástrofe africana dos dias 10832 atuais ver Capítulo 19 é profundamente entristecedora Acima de tudo Frieden é sábio o suficiente para não concluir esta grande pesquisa de forma suprema e presunçosa mas sim propor diver sas perguntas sérias sobre a economia do nosso mundo que flui oscilante pela primeira década do século XXI Como consequên cia o leitor terminará este livro não apenas impressionado pelo arranjo de conhecimentos e análises mas também um tanto per turbado com as perspectivas para o campo do comércio das fin anças e dos mercados O fim deste livro com certeza nos leva a um estado de profunda reflexão Os ventos criativos de Schumpeter ainda não cessaram O mérito de Capitalismo global está em nos lembrar de que o nosso sistema de trocas econômicas traz tanto riscos quanto muitos benefícios PAUL KENNEDY 11832 Prefácio As economias nacionais estão hoje mais abertas umas às outras do que nunca Com o comércio internacional atingindo um nível sem precedentes muito do que consumimos é importado e muito do que produzimos é exportado A atividade empresarial envia imensas quantidades de capital para outras nações Em alguns países mais da metade dos investimentos vêm de fora Milhões de pessoas migram a cada ano em busca de trabalho Produtores fazendeiros mineradores banqueiros e comerciantes devem pensar de forma global sobre cada decisão econômica com a qual se deparam Tecnologias movimentos artísticos práticas empres ariais tendências musicais moda e modismos atingem todas as esquinas do mundo desenvolvido de forma mais ou menos in stantânea Economia global e cultura formam uma rede quase ho mogênea na qual as fronteiras nacionais são cada vez mais irrelev antes para o comércio os investimentos as finanças e outras atividades econômicas Atualmente muitos são os que se referem à globalização como um processo tão inevitável quanto irreversível Após décadas de integração econômica internacional muitos dos centros econômi cos mundiais consideram o capitalismo global o estado natural das coisas certos de que ele continuará por um futuro próximo ou até mesmo para sempre A situação na virada do século XIX para o XX parecia bastante semelhante No início dos anos 1900 a integração econômica internacional era encarada como uma verdade absoluta Essa foi a norma que por 60 anos conduziu a liderança econômica mundial do Reino Unido e que por 40 anos regeu as outras principais nações industriais e agrícolas Relações de livrecomércio fin anças internacionais investimentos e imigrações internacionais sem obstáculos e uma ordem monetária comum sob o padrão ouro foram por gerações os princípios organizadores do mundo moderno Mas foram necessários apenas alguns meses para que toda a estrutura da globalização entrasse em colapso A Primeira Guerra Mundial estourou em agosto de 1914 e arrasou as fundações preexistentes da ordem econômica global Durante anos os líderes econômicos e políticos do mundo tentaram sem sucesso restaurar a economia internacional pré1914 A ordem inter nacional se desintegrou e implodiu brutalmente na Grande De pressão de 1930 e na Segunda Guerra Mundial A globalização foi uma escolha não um fato Por décadas o capitalismo global parecia intocado em seus princípios básicos mas a Primeira Guerra Mundial mostrou que havia uma série de questões nessa longa e tortuosa trajetória A globalização degrin golou tão rapidamente que seus participantes não tiveram a chance de impedir o colapso A ordem internacional cujos com ponentes econômicos políticos sociais e culturais definiram o mundo por décadas antes de 1914 desapareceu completamente Por 80 anos após 1914 a integração econômica global existiu apenas na imaginação de teóricos e historiadores No decorrer da década de 1920 as tentativas de reconstruir a economia mundial anterior fracassaram por diversas vezes Em 1930 as nações do mundo se esquivaram das conexões econômicas internacionais em busca de autossuficiência Após a Segunda Guerra Mundial o mundo comunista recusou o capitalismo global por princípio en quanto o mundo em desenvolvimento o rejeitou na prática Dur ante as décadas de 1950 e 1960 as nações industriais da Europa 13832 ocidental a América do Norte e o Japão rumaram em direção a laços econômicos mais fortes mas os governos continuavam a controlar a maior parte do comércio dos investimentos e da imigração Somente após 20 anos de crises e turbulências no iní cio da década de 1990 foi que as nações em desenvolvimento se voltaram para o exterior os países comunistas abandonaram a economia planificada em favor dos mercados internacionais e os Estados industrializados se livraram de boa parte do controle pré vio às relações econômicas do globo Era o retorno triunfal da globalização Assim como ocorreu há 100 anos muitos agora tomam a eco nomia mundial integrada como um fato Referemse a ela como o estado natural das coisas e esperam que esse modelo dure para sempre No entanto as bases sobre as quais o capitalismo global se ergue atualmente não são muito diferentes das de 1900 e o po tencial para um rompimento é tão presente nos dias de hoje quanto era naquela época A globalização continua a ser uma escolha não um fato É uma opção feita por governos que de forma consciente decidem re duzir as barreiras do comércio e dos investimentos adotar novas políticas em relação ao capital e às finanças internacionais e traçar novos caminhos econômicos As decisões tomadas por cada governo estão interconectadas As finanças internacionais o comércio internacional e as relações monetárias internacionais dependem da ação conjunta de governos nacionais ao redor do mundo Políticas domésticas e relações entre governos são a fonte da globalização e determinam sua duração A globalização necessita do apoio dos governos que para tal precisam de apoio político doméstico As questões econômicas in ternacionais dependem do respaldo político das nações poderosas e de grupos de poder dentro desses países A economia mundial integrada vigente antes de 1914 necessitava de ações dos governos para se sustentar Quando essas políticas se tornaram 14832 impopulares não puderam mais ser mantidas e com elas des moronou a ordem econômica internacional A economia global de hoje também depende dos pilares políticos domésticos gerados por decisões nacionais O que deve ser feito em relação à economia mundial A global ização contemporânea é inevitável É desejável Durará para sempre Sabemos agora que a percepção que se tinha do capital ismo global de 1900 era enganosa À aparente estabilidade do iní cio do século XX seguiramse décadas de conflitos e de grandes mudanças Hoje a ordem econômica internacional também parece segura mas dentro de uma perspectiva histórica isso pode significar apenas um breve interlúdio As forças que deram forma à economia do século XX continuam a influenciar a versão atual da globalização e decidirão o seu destino 15832 Introdução Rumo ao século XX Em junho de 1815 300 mil soldados se reuniram nos arredores de Bruxelas para a batalha que pôs fim às Guerras Napoleônicas As forças da GrãBretanha Prússia Áustria Rússia e Holanda se juntaram contra os franceses para definir qual grande potência controlaria o mundo À meianoite de 18 de junho a derrota francesa era evidente Do outro lado do canal dois dias e meio de pois a notícia da vitória de Wellington chegava à reunião de cúpula do governo britânico em Londres a 320 quilômetros do campo de batalha Napoleão fora derrotado e se iniciava a era da supremacia britânica A vitória dos britânicos e aliados nas Guerras Napoleônicas foi o ponto mais alto de um período de 300 anos de monarquia abso lutista e da ordem econômica que a apoiava As grandes potências europeias se organizaram para lutar por territórios e interesses mandando seus exércitos para uma série de guerras dinásticas Os governantes das regiões financiavam a parafernália militar por meio de um sistema chamado mercantilismo que eles utilizavam para manipular suas economias em busca de vantagens militares Questões políticas e diplomáticas eram prioridade as relações econômicas eram usadas como ferramentas para fortalecer e re forçar o poder dinástico e as fortunas privadas dependiam do favorecimento das famílias reais O desafio revolucionário francês a essa ordem política e econômica foi vencido em 1815 nas cer canias de Bruxelas Após 1815 a combinação da supremacia britânica da derrota francesa e do equilíbrio de poder na Europa acalmou os incess antes conflitos no continente O período subsequente passou a ser conhecido na história como a Paz dos Cem Anos porque a guerra entre grandes potências praticamente não existiu no período No entanto assim que a ordem dinástica se estabilizou sua base eco nômica ruiu No século entre o fim das Guerras Napoleônicas e o começo da Primeira Guerra Mundial as relações entre monarcas e mercados mudaram drasticamente Do mercantilismo ao livrecomércio Os monarcas absolutistas que governaram a Europa e o mundo antes de 1800 se preocupavam com as alianças geopolíticas a ex tração colonial e o tamanho e o poder de seus Estados nacionais Eles controlavam suas economias como parte das vicissitudes das políticas dinásticas manipulando o comércio por meios militares Nesse período os Estados soberanos da Europa utilizavam o sistema de controle econômico conhecido como mercantilismo para explorar os mercados coloniais e fortalecer a dominação da realeza Por vezes os exércitos da Coroa supervisionavam a ex tração de recursos naturais por exemplo ouro e prata das minas da América do Sul Na maior parte do tempo a Coroa trabalhava com príncipes mercadores monopólios oficiais da realeza como as Companhias Britânica e Holandesa das Índias Orientais para extorquir os mercados coloniais monopolizados pela metrópole O mercantilismo enriqueceu a Coroa que utilizava seus ganhos para ampliar o poderio militar Riqueza é poder escreveu o filósofo inglês Thomas Hobbes e poder é riqueza Outro pensador simil ar do mercantilismo estabeleceu as seguintes conexões Comér cio externo produz riqueza riqueza produz poder e poder pre serva nosso comércio e religião1 17832 Sob o regime mercantilista o poder colonial forçava suas pos sessões a comercializar com a metrópole para enriquecer o gov erno e aqueles que o apoiavam Os países dominados eram obri gados a vender exclusivamente para a potência que pagava um valor abaixo do preço do mercado mundial por produtos agrícolas e matériasprimas em Londres tabaco da Virgínia em Madri açúcar cubano A política mercantilista também exigia que as colônias comprassem muitos produtos das metrópoles garant indo à pátriamãe o direito de vendêlos acima do valor do mer cado mundial O sistema mercantilista abriu grande parte do mundo ao comércio mas tal atividade era regulada pela força militar em be nefício do poder dominante Os defensores intelectuais do sistema poderiam justificar essa lógica econômica exploradora argument ando que os dominadores utilizavam parte das riquezas acumula das para proteger os subjugados e que muitos nas colônias de fato apreciavam a proteção Na América do Norte por exemplo a força militar britânica protegeu os colonos dos franceses espan hóis e nativos norteamericanos a eles aliados Alguns colonos norteamericanos reclamaram especialmente agricultores da Vir gínia e mercadores da Nova Inglaterra cujas atividades eram mais diretamente afetadas pelo controle mercantilista britânico Mas para muitos parecia uma troca justa o poder militar per mitia o crescimento econômico e o crescimento econômico sob o controle mercantilista financiava o poder militar À época das Guerras Napoleônicas o mercantilismo já começava a se enfraquecer A partir de 1750 os industriais britânicos introduziram uma enxurrada de inovações tecnológicas que revolucionaram a produção Empregadores juntaram dezenas e até mesmo centenas de trabalhadores em grandes fábricas utilizando novas máquinas fontes de energia e formas de organiz ação A fiandeira e o tear mecânico transformaram a indústria têxtil O aperfeiçoamento na utilização de energia hídrica e o 18832 subsequente desenvolvimento do vapor fizeram com que as má quinas ficassem ainda mais poderosas As fábricas britânicas po diam vender mais barato que a concorrência para quase todos os mercados Os interesses econômicos criados pela Revolução In dustrial britânica consideravam o mercantilismo irrelevante ou danoso Os fabricantes britânicos queriam eliminar as barreiras comerciais do país Permitir que estrangeiros vendessem produtos à GrãBretanha prometia vários aspectos positivos Os fabricantes da nação poderiam reduzir seus custos de forma direta comprando matériasprimas a preços mais baixos e in direta uma vez que a importação de comida barata permitia que os donos das fábricas pagassem salários menores sem que houvesse uma redução no padrão de vida dos empregados Ao mesmo tempo se os estrangeiros ganhassem mais ao vender para a GrãBretanha teriam condições de comprar mais produtos do país Os industriais britânicos também se deram conta de que se os estrangeiros pudessem comprar todos os produtos manufat urados que precisassem dos baratos produtores britânicos aqueles teriam menos necessidade de desenvolver uma indústria própria Por esses motivos as classes e as regiões fabris da Grã Bretanha desenvolveram uma antipatia pelo mercantilismo e um forte desejo pelo livrecomércio À medida que a City de Londres se tornava o centro financeiro mundial ela adicionava a sua influência a outros interessados no livrecomércio Os banqueiros internacionais da GrãBretanha tinham um forte motivo para abrir os mercados do país aos es trangeiros Afinal os estrangeiros eram seus clientes O acesso dos norteamericanos ou argentinos ao próspero mercado britânico tornaria mais fácil o pagamento das dívidas desses países com Londres Os interesses financeiros e industriais organ izaram um ataque conjunto ao que o antimercantilista ferrenho Adam Smith chamou de o sórdido e maligno expediente do 19832 sistema mercantil2 Em 1820 esses mecanismos mercantilistas malignos já enfrentavam desafios constantes Os opositores ao mercantilismo se focaram nas Corn Laws taxas impostas à im portação de grãos milho em termos britânicos durante as Guer ras Napoleônicas o que aumentou de forma substancial o preço doméstico do produto Os fazendeiros britânicos no entanto estavam ávidos para manter as restrições à importação de produtos agrícolas Eles se apoiavam nas altíssimas tarifas impostas aos grãos por essas leis e argumentavam que a revogação delas seria um desastre para a ag ricultura da nação Os defensores de tais leis invocaram o desejo de serem autossuficientes na produção de alimentos a importân cia da produção agrícola para o estilo de vida britânico e os dolor osos ajustes que a enxurrada de grãos baratos imporia Os que pregavam o livrecomércio se ativeram aos benefícios do acesso a produtos de baixo custo especialmente a comida barata que a re vogação das Corn Laws traria Os fazendeiros protecionistas lutavam contra os fabricantes e banqueiros que defendiam o livre comércio Os defensores do livrecomércio venceram mas não sem antes travarem uma guerra dolorosa e prolongada A derrota do mer cantilismo exigiu reformas importantes nas instituições políticas britânicas mudanças no sistema eleitoral redução na influência das zonas rurais e o aumento do poder das cidades e de seus res identes de classe média Mesmo com a reforma eleitoral im plantada o resultado final dos votos em 1846 e 1847 foi extrema mente apertado e rachou o Partido Conservador Poucos anos de pois o Parlamento removeu os últimos vestígios do controle mer cantilista britânico no comércio exterior Quando a GrãBretanha a economia mais importante do mundo descartou o mercantilismo os outros países se depararam com novas opções Os problemas políticos da era mercantil ali anças militares e monopólios abriram caminho para os grandes 20832 debates do século XIX sobre como e se os países deveriam parti cipar do mercado global Com a GrãBretanha liberalizando o comércio muitos dos clientes e fornecedores do país fizeram o mesmo Em 1860 a França se juntou à GrãBretanha em um abrangente tratado comercial que liberalizou o comércio entre os dois países e conduziu grande parte do restante da Europa nessa mesma direção Quando os Estados Germânicos seguiram rumo à unificação em 1871 criaram uma área de livrecomércio e depois abriram seus mercados para o resto do mundo Muitos dos gov ernos do Novo Mundo também liberalizaram o comércio assim como fizeram as possessões coloniais remanescentes das potên cias europeias adeptas do livre intercâmbio de mercadorias O mercantilismo morreu e a ordem do dia era a integração aos mer cados mundiais No decorrer do século XIX o comércio dos países avançados cresceu de duas a três vezes mais rápido que suas economias No fim do período a parcela da atividade comer cial na economia mundial era sete ou oito vezes maior do que no início do século3 Os transportes e as comunicações também se desenvolveram de forma substancial Na época da Batalha de Waterloo as via gens de longa distância e os meios de transporte e de comu nicação eram todos muito caros e lentos Até o fim do século XIX telégrafos telefones navios a vapor e ferrovias substituíram cavalos pombos mensageiros e barcos a vela As estradas de ferro principal avanço para o transporte terrestre desde os tem pos dos gregos modificaram a velocidade e o custo do frete de cargas por terra O navio a vapor revolucionou o envio transo ceânico reduzindo a travessia do Atlântico de mais de um mês em 1816 para menos de uma semana em 1896 Além disso os na vios a vapor podiam viajar mais rápido carregar mais carga e op erar com menos custos que os barcos a vela 21832 As novas tecnologias expandiram o mercado efetivo da maior ia dos produtos reduzindo para poucos dias a distância entre to do o mundo moderno Em 1830 o custo para transportar via ter restre uma tonelada de carga por cerca de 480 quilômetros era de mais de 30 dólares do centro da Pensilvânia a Nova York de Berlim a Bonn de Lyon a Paris e outros dez dólares para enviá la pelo Atlântico Este era um gasto proibitivo para os produtos pesados como trigo ou barras de ferro uma tonelada de cada produto custava quase os mesmos 40 dólares do transporte por terra ou mar dessa quantidade de mercadoria Assim antes de meados do século XIX a maioria dos produtos comercializados de forma internacional era extremamente cara leve e não perecível especiarias tecidos finos metais preciosos e produtos agrícolas com uma alta relação custopeso como algodão e tabaco No século XIX as ferrovias reduziram em 45 o custo do transporte terrestre e o navio a vapor reduziu em mais de 23 Para se trans portar uma tonelada de carga por terra pelos mesmos 480 quilô metros o custo agora era de cinco dólares em vez de trinta em terra e três dólares em vez de dez para cruzar o Atlântico O preço médio do transporte dessa tonelada de produtos do interior dos Estados Unidos até a Inglaterra diminuiu de 40 para oito dólares de quase o mesmo preço da tonelada de trigo ou barra de ferro para 15 de seu valor A revolução nos transportes aumentou em 20 vezes a capacid ade do envio de mercadorias durante o século XIX4 A Europa in undou o mundo com manufaturados ao mesmo tempo que era in undada pelos produtos agrícolas e matériasprimas das pradarias e pampas da Amazônia e da Austrália Com as novas tecnologias nos meios de transporte e o triunfo do livrecomércio britânico o mundo dos mercantilismos militar izados nacionais abriu espaço para um mercado verdadeiramente internacional A velha ordem defendida com armas em Waterloo terminou e fora substituída por um novo capitalismo global A 22832 força dominante passou a ser o mercado não o monarca Por telé grafo e telefone as notícias corriam o mundo em minutos não mais em semanas ou meses Investidores de Londres a Paris pas sando por Nova York Buenos Aires ou Tóquio teciam uma rede de capital global quase homogênea Desde a batalha de Waterloo o mundo mudava em todas as dimensões políticas tecnológicas financeiras e diplomáticas Da prata ao ouro O padrãoouro se tornou o princípio organizador do capitalismo global durante o século XIX Por centenas de anos antes de 1800 a maioria dos países utilizava o ouro e a prata como moedas inter cambiáveis Os mercadores preferiam a prata o cobre e outros metais baratos para as transações locais e o ouro mais valioso para as internacionais Em 1917 no entanto Sir Isaac Newton master of the mint o cargo mais alto na Casa da Moeda Britânica a Royal Mint padronizou a moeda inglesa e pôs o país na prática no padrãoouro senão também na teoria a prata con tinuava a ser legalmente oferecida mas deixou de ser usada O Reino Unido era praticamente o único país monometálico A nação se desviou do padrãoouro temporariamente apenas uma vez após as Guerras Napoleônicas Quase todos os outros Estados eram bimetálicos e utilizavam tanto o ouro quanto a prata Cen tenas de anos de utilização mista de ouro e prata chegaram ab ruptamente ao fim na década de 1870 Novas descobertas re duziram o preço da prata e desestabilizaram o câmbio entre as duas moedas de modo que os governos teriam de modificar a taxa ou optar por um dos metais Enquanto isso como o comércio e os investimentos internacionais cresciam o ouro meio internacional de troca se tornou mais atraente que a prata moeda doméstica Por fim o status da GrãBretanha como líder do mercado global 23832 atraiu outros países para a utilização do mesmo sistema monetário Na década de 1870 as principais nações industriais aderiram ao padrãoouro Quando o governo de uma nação adotava o sistema comprometiase a trocar sua moeda por ouro a uma taxa preestabelecida A moeda do país se tornava equivalente ao ouro e podia ser trocada a uma taxa fixa pela de qualquer outro Estado que também tivesse adotado o mesmo padrão A Alemanha ad otou o padrãoouro em 1872 a Escandinávia em 1873 a Holanda em 1875 a Bélgica a França e a Suíça em 1878 e os Estados Un idos em 1879 Enquanto em 1871 apenas a GrãBretanha e algu mas de suas colônias e Portugal aliado do país haviam adotado o sistema em 1879 a maior parte do mundo industrial seguia o padrãoouro Com a situação na qual as principais moedas do planeta po dem ser diretamente convertidas em ouro a taxas fixas o mundo industrial basicamente compartilhava de uma moeda corrente in ternacional De fato para os Estados que adotaram o padrão o ouro era a moeda global comum mas com nomes distintos marco franco libra dólar em países diferentes O dinheiro fix ado em ouro investido pelos alemães no Japão ou pelos belgas no Canadá era devolvido em montantes equivalentes de dinheiro fix ado em ouro Os preços acordados não flutuavam uma vez que as taxas de câmbio eram fixas Sob o padrãoouro tais taxas para trocas entre a libra e o marco o franco e o dólar e outras moedas eram fixadas por tanto tempo que como é dito nas escolas as cri anças as sabiam de cor por serem tão estáveis quanto a tabuada A previsibilidade do padrãoouro facilitou o comércio os emprés timos os investimentos a migração e os pagamentos internacion ais Banqueiros e investidores se sentiam seguros com as dívidas sendo pagas em quantidades equivalentes de ouro e com a ob tenção de lucros nas moedas correntes fixadas no metal 24832 Outras forças também facilitavam as finanças internacionais Com o desenvolvimento do telégrafo a informação podia ser transmitida de forma instantânea de qualquer área desenvolvida a investidores em Londres Paris ou Berlim O jornalismo fin anceiro se tornou internacional com acontecimentos passados em Buenos Aires estampados no dia seguinte nas primeiras pági nas dos jornais de Londres ou Paris Os investimentos internacionais dispararam Cidadãos dos países ricos investiram grandes porções de suas economias no ex terior Os investimentos estrangeiros amplamente feitos por meio de ações e títulos correspondiam a 13 das economias ingle sas a 14 das francesas e a 110 das alemãs5 Os mercados mundi ais de produtos e capitais eram ligados mais fortemente do que nunca pelo livrecomércio pelo padrãoouro e pelas novas tecno logias de transportes e comunicações Ameaças à ordem global Nem todos deram boasvindas à integração econômica Com a abertura da economia mundial e a aplicação de novas tecnologias de transportes os grãos baratos do Novo Mundo invadiram o mercado mundial A queda dramática dos preços agrícolas devastou muitas áreas rurais do Velho Mundo e levou muitas re giões da Escandinávia à Sicília a uma situação próxima da fome A mudança tecnológica também não foi algo inofensivo As novas técnicas de fabricação tornaram os artesãos obsoletos e com os avanços na produtividade agrícola os trabalhadores do campo perderam importância A produção de quase todos os bens agrícolas aumentou de forma significativa devido às mudanças tecnológicas mas os benefícios desses avanços não eram distribuídos de forma proporcional Quando uma máquina e cinco homens passaram a fazer o trabalho de cem deles o 25832 benefício para a sociedade era evidente Mas mesmo que alguns dos outros 95 homens tenham sido empregados para produzir as máquinas a maioria precisou abandonar a vida que estava acos tumado a ter e buscar outras formas de sustento Ou seja o comércio e as tecnologias que aumentaram a renda agregada tam bém arruinaram milhões de trabalhadores e produtores agrícolas A nova economia mundial também teve um duplo impacto nos países pobres Algumas regiões subdesenvolvidas cresceram de forma veloz mas outras na África Ásia e América Latina ou nas áreas de colonização recente onde as fronteiras se diluíam como a América do Norte teriam apreciado um mundo sem metralhadoras de Gatling navios a vapor e ferrovias que conce diam aos europeus a vantagem de afirmar sua dominação Com efeito entre os avanços tecnológicos mais devastadores estavam as armas de destruição em massa cujo potencial fora demon strado de fato apenas depois de 1913 O abismo tecnológico e in dustrial que se aprofundou ainda mais entre as nações pobres e ricas gerou uma nova rodada de conquistas coloniais O fenômeno macroeconômico que eclodira na história como a Grande Depressão de 18731896 contribuiu para a insatisfação com o livrecomércio e o padrãoouro O nome talvez fosse en ganoso uma vez que a Depressão não foi um colapso econômico mas uma queda gradual e contínua dos preços ao redor do mundo De 1873 a 1896 os preços caíram cerca de 22 no Reino Unido 32 nos Estados Unidos e numa percentagem ainda maior em outros lugares6 Essa depressão nos preços que origin ou o nome do episódio gerou problemas sérios Ganhos e preços diminuíram mas o ônus da dívida permaneceu o mesmo A ex pectativa de futuras quedas no valor dos produtos causou pessim ismo e incerteza O fato mais importante era que a queda dos preços não havia sido uniforme O valor dos produtos não manu faturados incluídos no comércio mundial caiu particularmente rápido Matériasprimas como o trigo o algodão e o carvão 26832 sofreram reduções de 59 58 e 57 respectivamente Mas o valor de outros produtos e serviços não diminuiu ou ocorreu de forma mais lenta Por exemplo os preços dos bens agrícolas norteamericanos foram reduzidos em mais de 13 o valor dos minérios caiu pela metade mas os custos na construção permane ceram constantes7 A mudança nos preços desencadeou protestos sociais nas regiões agrícolas e mineradoras do mundo Os produtores atingidos pela queda dos preços buscavam alí vio se protegendo das importações Produtores agrícolas e fabric antes exigiam e frequentemente recebiam tarifas protecionistas que invertiam a tendência anterior da busca por um comércio mais livre França e Itália se engajaram numa guerra comercial ainda mais dura Os Estados Unidos já nessa época a maior eco nomia mundial ergueram muros de proteção ao redor de seu mercado doméstico e a Alemanha a segunda maior potência eco nômica aumentou as tarifas de muitos produtos Quase sozinhos a GrãBretanha e os Países Baixos continuavam a insistir no livre comércio mas mesmo nessas regiões os fabricantes começavam a exigir um governo que os defendesse dos importados feitos pela mão de obra barata da Europa continental e da América do Norte Para os que acreditavam estar do lado perdedor da economia global o padrãoouro se tornou um símbolo poderoso da odiada Pax Britannia econômica8 Os norteamericanos que se opunham ao ouro insistiam Uma vasta conspiração contra a humanidade foi organizada em dois continentes e está rapidamente tomando conta do mundo9 De acordo com a ativista antipadrãoouro Mary Elizabeth Lease os defensores do metal foram cooptados por essa conspiração O país pertence a Wall Street O dinheiro é que manda e o nosso vicepresidente é um banqueiro de Lon dres10 Enquanto os preços caíam de forma particularmente radical no início da década de 1890 as reclamações contra o sistema gan havam força Produtores agrícolas e mineradores acreditavam que 27832 se abandonassem o padrão os governos poderiam aumentar os preços Nos Estados Unidos ativistas contra o padrãoouro gan havam uma eleição após outra nas regiões mineradoras e agrí colas do país Na América Latina e na Ásia a impopularidade do sistema fazia com que poucos países da região aderissem a ele Itália Espanha e Portugal o abandonaram Os impérios russo e austrohúngaro resistiram a adotálo A força do padrãoouro que mantinha o capitalismo global unido parecia se enfraquecer Com o estremecimento do padrãoouro o sistema financeiro internacional começou a demonstrar sinais de cansaço A Grande Depressão atingiu de forma particularmente dura as nações deve doras minando sua capacidade de pagar os credores As finanças sulamericanas enfraqueceram e em 1890 rumores de que a Ar gentina daria um calote na dívida provocou o colapso do Baring Brothers de Londres um dos maiores bancos de investimentos do mundo Um pânico financeiro alastrouse pelos Estados Unidos e em 1893 os investimentos estrangeiros passaram a evitar o país que na época era o que mais solicitava empréstimos no planeta Após quase 30 anos de crescimento ininterrupto os fluxos fin anceiros diminuíram Entre as principais potências a Grande Depressão provocou atritos ainda maiores que os que já existiam havia décadas Na maior parte do século XIX a luta por mercados externos limitava se principalmente à competição comercial e os impérios coloniais europeus haviam sido substancialmente reduzidos No entanto na última década do período uma nova rodada de expansões co loniais se iniciou na África no Oriente Médio e na Ásia Em parte isso pode ser explicado pela busca desesperada dos países produtores ricos por mercados Ocasionalmente essa aspiração colonial reacendida se alimentava de outras tendências geopolític as para exacerbar atritos adormecidos11 Na década de 1890 as sombras da guerra já pareciam estar por toda parte Tropas francesas cruzaram o Sudão em marcha 28832 até Fashoda reivindicando territórios que os britânicos alegavam ser de sua propriedade O aventureiro britânico L Starr Jameson liderou um ataque repentino ao Transvaal a gota dágua que des encadeou a Guerra dos Bôeres Tropas etíopes e italianas se en frentaram de forma dura nas montanhas da Etiópia assim como britânicos e soldados ashantis na África ocidental Japão Rússia e as potências europeias disputavam posições no Extremo Oriente enquanto insurgentes nas Filipinas espanholas e nos locais colon izados pela Companhia Holandesa das Índias Orientais lutavam pela independência de suas ilhas No Ocidente as atividades dos norteamericanos baseados em Cuba que lutavam pela liberdade da ilha suscitaram o fantasma dos distúrbios políticos no Caribe e acirraram as já tensas relações entre norteamericanos e espanhóis No fim do século XIX os acontecimentos pareciam ameaçar a essência do capitalismo global Tudo era questionado o livre comércio o padrãoouro as finanças internacionais e até mesmo a paz entre as grandes potências Em todo o mundo vozes eco avam pela proteção do comércio e contra o ouro e a integração econômica A cada nova crise desencadeavamse novos conflitos violentos de interesses e ideias 29832 parte I Os últimos e melhores anos da Era de Ouro 18961914 1 Capitalismo global triunfante Quando a primavera de 1896 chegava às Grandes Planícies norte americanas os fazendeiros enfrentavam temerosos o período do plantio O valor dos produtos agrícolas continuava a cair O bushela do trigo que por décadas havia se estabilizado em um dólar chegou ao fim de 1982 valendo menos de 90 centavos em 1893 custava por volta de 75 centavos e no fim de 1894 mal podia ser vendido a 60 centavos No fim do inverno de 18951896 o preço do bushel foi abaixo dos 50 centavos Nas Dakotas e em outras regiões remotas isso significava que o valor pago aos fazendeiros era cerca de 30 centavos apenas 13 do que eles es peravam receber Enquanto os preços agrícolas despencavam os insumos que os produtores agrícolas necessitavam estavam mais caros do que nunca Os valores de maquinário ferramentas e fertilizantes per maneciam altos Os custos do transporte terrestre se mantiveram estáveis e até subiram O preço dos empréstimos seguia da mesma forma sem demonstrar piedade aos fazendeiros que ganhavam metade ou 13 do que recebiam quando pediram o dinheiro emprestado Desamparados os produtores agrícolas norteamericanos or ganizaram o primeiro verdadeiro movimento de massa O Movimento Populista e seu Partido elegeram centenas de legis ladores estaduais dezenas de senadores federais e membros no Congresso de todas as regiões agrícolas de sul e oeste do país Em 1892 o candidato à Presidência pelo partido recebeu mais de um milhão de votos O programa populista exigia primeiramente e acima de tudo que os Estados Unidos abandonassem o padrãoouro A plata forma do partido denunciava que sob o padrãoouro o forneci mento de moeda se resumia propositadamente a engordar a usura levar empresas à falência e escravizar a indústria1 A solução para aquilo o que os populistas chamavam de a questão do dinheiro era se livrar do esquema liderado pelos britânicos para enriquecer os banqueiros investidores e comerciantes inter nacionais à custa de produtos provenientes da agricultura e da mineração Em vez disso os Estados Unidos deveriam abandonar o ouro e adotar a prata a uma taxa de câmbio desvalorizada o que aumentaria os preços agrícolas e reduziria os juros Com a piora nas condições agrícolas os fazendeiros norte americanos prestaram atenção às sugestões da ativista populista Mary Elizabeth Lease de produzir menos trigo e mais confusão Com raiva os produtores agrícolas atacavam os defensores do ouro cuja insistência por um padrão global estava destruindo a existência dos fazendeiros Milhares deles clamavam pela altern ativa do padrão prata a salvação para os produtores agrícolas e mineiros O Partido Democrata então no poder não podia ignorar a concorrência dos populistas O presidente Grover Cleeveland fora um fiel defensor do padrãoouro mas agora seu Partido Demo crata estava tomado por amargurados opositores ao padrão que acusavam Cleeveland e outros líderes do partido de traidores Como os preços dos produtos agrícolas permaneciam baixos em julho realizouse em Chicago a Convenção Nacional dos Demo cratas Toda a discussão girou em torno de como os populistas e 32832 aqueles que os apoiavam estavam transformando a campanha presidencial de 1896 em uma célebre batalha de padrões Ativistas antiouro tomaram de assalto a convenção e o Partido Democrata Um jovem representante do Nebraska no Congresso incitou os participantes da convenção e o país com um provocat ivo chamado às armas William Jennings Bryan ignorou o apelo dos líderes financeiros do partido Vocês vêm até aqui nos dizer que as grandes cidades são a favor do padrãoouro Respondemos que as grandes cidades dependem de nossas amplas e férteis pradarias Ponha fogo nas suas cidades e abandone nossas fazendas suas cidades renascerão como num passe de mágica Mas destrua nossas fazendas e a grama crescerá nas ruas de cada cidade do país Em nome da maioria do partido Bryan desafiou os defensores do ouro em casa e no exterior Vocês não podem pressionar essa coroa de espinhos contra a testa dos trabalhadores vocês não po dem crucificar a humanidade com uma cruz de ouro A oposição irredutível de Bryan ao padrãoouro e às finanças internacionais rendeu a ele a nomeação como candidato demo crata às eleições presidenciais A vitória foi um surpreendente repúdio à elite empresarial do nordeste do país O jornal The Times de Londres informou de Chicago Esta não é mais uma convenção e sim uma insurreição política O Partido Democrata daqui em diante será governado como Bismar ck disse que o mundo não poderia ser governado de baixo para cima Houve uma revolta na nata da política e estranhas criaturas sur giram2 Os líderes financeiros da Europa e do mundo assistiam choca dos às violentas críticas contra o padrãoouro e o desafio às bases da ordem econômica internacional Os Estados Unidos eram a maior economia do mundo o principal solicitador de 33832 empréstimos e o mais importante destino do capital internacional e também de imigrantes Agora impunham uma grande ameaça à ordem econômica global A questão não é mais apenas entre a prata e o ouro mas entre a sociedade e uma forma muito rudi mentar de socialismo3 escreveu um repórter do Times A nova plataforma do Partido Democrata bradava o correspondente britânico era a doutrina do repúdio público e privado à falta de lei à guerra contra a propriedade e aos direitos públicos e priva dos4 Os termos talvez fossem exagerados mas a preocupação era real se os democratas vencessem e implementassem sua plataforma política o padrãoouro correria perigo no resto do mundo Quando o frenesi político chegou ao auge as tendências mundanas começaram a abalálo Novas descobertas de minas de ouro trouxeram para o mercado mais quantidades do metal pre cioso Uma vez que o suprimento de ouro aumentou os preços subiram No fim de agosto de 1896 o preço do trigo começou a subir primeiro lentamente e depois de forma mais rápida Até o fim de outubro com a proximidade das eleições norteameric anas o preço do trigo estava quase 50 mais alto do que estivera durante o verão Em 3 de novembro os eleitores norteamericanos derrotaram por uma pequena margem os democratas e suas críticas ao padrãoouro Os defensores do ouro se organizaram em massa e empresas do nordeste norteamericano contribuíram com somas milionárias para a campanha presidencial do republicano William McKinley O aumento nos preços agrícolas suavizou o descon tentamento especialmente nas regiões que oscilavam entre os democrataspopulistas e os republicanos No fim a margem foi pequena mas o jornal The Times esperava que aquilo fosse sufi ciente para acabar de enterrar o bryanismo o silverismo o so cialismo e todos as propostas revolucionárias da plataforma de 34832 Chicago O correspondente do jornal reportou da capital fin anceira da nação O cenário em Nova York supera qualquer descrição À meianoite multidões continuam a encher as ruas Bandas tocam bandeiras se agitam luzes piscam corações batem o céu é iluminado e em cada quarteirão os sorrisos radiantes continuam a fluir com grande alegria das boasnovas de que mais uma vez essa República utilizo a frase de Lincoln irá viver e não morrer O significado do triunfo repub licano de hoje reside neste fim5 E assim terminou a Grande Depressão de 18731896 Em seu lugar emergiu o grande feito da Era de Ouro do capitalismo glob al duas décadas de crescimento e globalização O fortalecimento do padrãoouro Os anos entre 1896 e 1914 foram o auge da integração econômica internacional A deflação de 18731896 foi interrompida e as ameaças ao capitalismo global se dissiparam Pela primeira vez em 20 anos os preços cresciam de forma contínua entre 1896 e 1913 cerca de 16 na GrãBretanha e por volta de 41 nos Esta dos Unidos O valor das matériasprimas e produtos agrícolas aumentou particularmente rápido Os preços dos produtos agrícolas norteamericanos que caíram 38 entre 1875 e 1896 aumentaram 78 de 1896 a 1913 O tão importante preço do trigo norteamericano caiu para menos de 50 centavos o bushel em 1896 mas voltou a custar um dólar dez anos depois Produtores agrícolas e mineiros podiam concentrarse em inverter a promessa populista produzindo mais milho e menos confusão Diante do relaxamento das tensões no início e em meados da década de 1890 governos entregaram com entusiasmo suas eco nomias aos mercados mundiais À medida que o comércio 35832 internacional crescia os conflitos comerciais se enfraqueciam Os empréstimos e investimentos internacionais avançaram de modo que antes da Primeira Guerra Mundial a GrãBretanha exportava mais da metade do total de seu capital De forma geral a hostilid ade em relação ao padrãoouro às finanças internacionais e à eco nomia global desapareceu Até mesmo os conflitos militares e políticos entre as grandes potências se atenuaram Os anos de abertura do século XX foram o mais próximo de um mercado mundial sem barreiras para produtos capitais e tra balho que o planeta já vira Levaria 100 anos até que o mundo at ingisse novamente esse nível de globalização Além disso a eco nomia internacional integrada crescia na maior velocidade já re gistrada pela história A produção e a renda aumentaram e não apenas nas nações ricas Muitos países relativamente subdesen volvidos cresceram de forma dramática As economias do Canadá e da Argentina mais do que triplicaram e a renda per capita desses países quase dobrou6 Em menos de 20 anos essas duas nações deixaram de ser muito mais pobres do que a França e a Alemanha e se tornaram bem mais ricas que esses dois países A reviravolta dos preços que suavizou as críticas ao padrão ouro era em parte gerada pelo próprio sistema Em um mundo onde as principais moedas tinham base no ouro um declínio dos preços dos produtos significava o mesmo que um aumento no val or do metal Quando os preços de um bushel de trigo caíram de um dólarouro para meio dólarouro o mesmo dólarouro podia comprar duas vezes mais trigo O preço baixo dos produtos acar retava alto preço do ouro e tal preço alto era um bom motivo para se procurar mais do metal Exploradores percorreram o mundo e começaram a fazer novas descobertas importantes no fim da década de 1880 A corrida pelo ouro se dava de forma sucessiva da África do Sul à Austrália passando por Yukon e pelo oeste norteamericano e no fim da década de 1890 o novo estoque mundial de ouro era duas vezes maior do que o da década 36832 anterior Quando o novo suprimento de ouro foi despejado nas re servas financeiras o valor do metal diminuiu Já que ouro era dinheiro um declínio no valor do ouro era o mesmo que um aumento no preço dos produtos uma redução pela metade no val or do metal significava a duplicação dos preços dos produtos em termos de taxaouro Dessa forma novas reservas de ouro levaram a um aumento generalizado dos preços Enquanto os preços aumentavam após 1896 o ouro se tornou menos objeto de controvérsias políticas e países que o evitavam aderiram a ele o Japão e a Rússia em 1897 a Argentina em 1899 o Império AustroHúngaro em 1902 o México em 1905 o Brasil em 1906 a Tailândia em 1908 Até mesmo a Índia que ad otava a prata havia séculos foi empurrada pelos britânicos para uma variação do padrãoouro um processo complicado que in spirou um trecho da peça escrita por Oscar Wilde em 1895 A im portância de ser prudente A pudica Srta Prism dá instruções à sua pupila Cecily O capítulo sobre a baixa da rupia pode ser omitido É demasiado sensacionalista Até mesmo esses prob lemas monetários têm seu lado melodramático7 Em 1908 a Ch ina e a Pérsia eram os únicos países que praticavam alguma im portação a permanecer fora do padrãoouro O padrãoouro era central para a integração econômica inter nacional Gerava uma previsibilidade e uma estabilidade que fa cilitavam muito o comércio os investimentos as finanças a mi gração e as viagens internacionais Empresários investidores e imigrantes não precisavam se preocupar com mudanças nas taxas de câmbio com controles monetários nem com qualquer outro impedimento à movimentação de dinheiro ao redor do mundo O impacto no comércio foi substancial estimase que a adoção do padrãoouro nesse período tenha aumentado cerca de 30 a 70 o comércio entre dois países quaisquer8 O padrãoouro era mais importante para as finanças inter nacionais do que para o comércio Os financistas internacionais 37832 julgavam a adoção do padrãoouro uma obrigação dos membros bemcomportados da economia mundial clássica um sinal de que um país era economicamente confiável9 Os investidores tinham bons motivos para focar no compromisso dos governos com o padrãoouro Manterse no padrão poderia ser difícil e sobre tudo exigiria conter uma certa resistência política Os invest idores sabiam que um governo que desejasse e fosse capaz de su perar a oposição ao ouro provavelmente também honraria a dívida externa mesmo diante de protestos domésticos Como viria a ser também anos mais tarde especialistas financeiros britânicos e norteamericanos ou o Fundo Monetário Inter nacional davam garantias aos emprestadores aprovando polític as governamentais Dessa forma para um país qualquer ser membro do clube do ouro já de início lhe conferia uma certa bênção O padrãoouro significava integridade financeira por exigir dos governos políticas econômicas que se ajustassem às pressões da economia global A adesão ao ouro forçava as economias nacionais ao ajuste quando elas gastavam além do que podiam Se uma nação abrisse um déficit ao importar mais do que exportar gastaria uma quantidade de dinheiro ou seja de ouro superior ao montante recebido com as vendas internacionais para pagar pelas importações Com a saída de ouro do país a oferta interna de dinheiro diminuiria assim como o poder de compra da nação Isso reduziria a demanda e dificultaria as vendas dos produtores nacionais que precisariam reduzir os preços e forçar uma queda nos salários Dessa forma pelo próprio funcionamento do padrãoouro o país que gastasse mais do que recebesse estaria fadado a reduzir os preços e salários a gastar menos e a produzir de forma mais barata Se o processo se desse de maneira con stante logo a economia reagiria Assim que os salários e preços caíssem os estrangeiros comprariam mais produtos desse país e os locais adquiririam menos bens de fora Portanto o preço dos 38832 importados diminuiria e as exportações cresceriam devolvendo o equilíbrio ao Estado O padrãoouro agia como um regulador metálico impondo re strições aos salários e aos preços Na década de 1750 o filósofo es cocês David Hume identificou esse processo regulador que rece beu o nome de modelo de fluxo de moedas metálicas uma vez que mudanças nos preços levavam a fluxos específicos de moeda ouro que tendiam a forçar os preços e as economias a recuperar o equilíbrio Qualquer país no padrãoouro que gastasse mais do que ganhasse ou pudesse pegar emprestado seria forçado pela forma como o sistema operava a inverter esse quadro reduzir gastos e salários retomando o equilíbrio Os governos do padrão ouro privilegiavam os laços internacionais em detrimento das de mandas internas impondo austeridade e cortes de salários a uma população relutante a fim de aderir ao regime Isso fez do padrãoouro o teste de fogo que os investidores internacionais utilizavam para julgar o grau de confiabilidade financeira de gov ernos nacionais10 O estímulo do padrãoouro ao comércio investimentos e mi gração internacionais foi ajudado por avanços tecnológicos nas áreas de transportes e comunicações por condições macroecon ômicas geralmente favoráveis e pela atmosfera pacífica entre as grandes potências Todos esses fatores permitiram que as eco nomias do mundo ficassem cada vez mais intimamente integradas à medida que a Era de Ouro avançava A utilização de ferrovias e navios a vapor ambos já em curso em 1870 se expandiu ainda mais rapidamente a partir desse mo mento Houve uma corrida extraordinária para a construção de ferrovias em regiões subdesenvolvidas nas décadas que pre cederam 1914 Em 1870 a imensidão da América Latina Rússia Canadá Austrália África do Sul e Índia contava com quase a mesma quilometragem de linhas férreas que a GrãBretanha Em 1913 o tamanho da malha ferroviária dessas regiões já era dez 39832 vezes maior do que a da GrãBretanha A Argentina sozinha pas sou de umas poucas centenas de quilômetros de ferrovias para um sistema mais extenso que o britânico11 O desenvolvimento de tur binas a vapor na década de 1890 aumentou a velocidade dos navi os e posteriormente novas embarcações movidas a petróleo com sistema de combustão de diesel passaram a competir com a ener gia a vapor O desenvolvimento do sistema de refrigeração fez com que pela primeira vez o transporte de produtos perecíveis fosse possível permitindo que a Argentina exportasse carne res friada e Honduras banana Todos esses adventos reduziram de forma dramática o tempo e os custos para se levar esses produtos aos mercados Nos 20 anos que precederam 1914 o custo do en vio transoceânico de produtos à GrãBretanha caiu em 13 ao passo que em média os preços dos produtos exportados cres ceram na mesma proporção Empurrado pelos avanços nos meios de transporte o comércio internacional que em 1896 correspondia a menos de 8 bilhões de dólares passou a atingir mais de 18 bilhões em 1913 Mesmo com as correções devido à inflação esse valor era quase o dobro Para a maior parte dos produtos havia algo como um mercado mundial integrado de forma que os preços se tornavam mais parecidos com o passar do tempo mesmo entre os países separados por milhares de quilômetros O trigo e o ferro são bons exemplos Em 1870 esses dois produtos significavam custos quase proibitivos para o comércio o que resultava em grandes diferenças de preços dos dois produtos entre os países O trigo que em Chicago custava US 100 valia 158 em Liverpool De forma semelhante o ferrogusa na Filadélfia custava 85 a mais do que em Londres Em 1913 o aperfeiçoamento tecnológico havia reduzido os custos dos transportes e padronizado os preços Agora o preço do trigo era apenas 16 mais alto em Liverpool do que em Chicago e o ferrogusa custava somente 19 a mais na Filadélfia do que em 40832 Londres Os preços das commodities mais importantes do mundo convergiram em Sydney e Chicago Odessa e Buenos Aires12 Em momentos anteriores quando o comércio internacional era caro e incerto não participar dele tinha poucos custos Era fá cil abdicar das oportunidades comerciais que eram arriscadas e periféricas Mas quando o transporte internacional evoluiu de barcaças e barcos a vela para ferrovias e navios a vapor os produtores tinham mais incentivos para exportar e os consum idores para importar Os custos do isolamento aumentavam à me dida que a abertura se expandia Ao mesmo tempo o telégrafo mundial significava uma trans missão instantânea de informação de qualquer área dotada de al gum avanço para os bancos de investimentos e comerciantes de Londres Paris e Berlim O desenvolvimento do telefone que era bem mais conveniente que o telégrafo facilitou enormemente as telecomunicações Os investidores expandiram os interesses glob ais e os investimentos internacionais cresceram ainda mais rápido que o comércio mundial atingindo 44 bilhões de dólares às vésperas da Primeira Guerra Mundial Grande parte do rápido crescimento das regiões em desenvolvimento como os Estados Unidos e a Austrália foi financiada por investidores estrangeiros Os estrangeiros eram responsáveis por mais de 13 dos investi mentos recebidos pelo Canadá e por volta de 34 dos destinados a alguns países da América Latina Em 1913 os investidores de fora eram donos de 15 da economia australiana e de metade da ativid ade econômica argentina O fluxo de dinheiro vindo de outros lugares não era apenas importante para os países em rápido cres cimento que utilizavam o capital mas também era fundamental para as economias europeias que faziam esses investimentos No começo do século XX os investimentos externos eram os respon sáveis por algo em torno de 14 a 13 da riqueza das principais potências13 41832 A imigração internacional também disparou Milhares de pessoas tomaram conhecimento das dinâmicas regiões do Novo Mundo assim como de outros lugares e deixaram as cidades pobres da Europa e da Ásia Na primeira década do século a emigração atingiu 3 da população de GrãBretanha Itália e Sué cia 5 dos cidadãos espanhóis e 7 dos portugueses Do lado re ceptor os imigrantes nessa década formavam 6 da população norteamericana 13 da canadense e surpreendentes 43 da população argentina Às vésperas da Primeira Guerra Mundial grandes parcelas dos habitantes das economias que mais cresciam no mundo eram formadas por imigrantes Na verdade metade dos 13 milhão de moradores de Buenos Aires havia nascido no exterior14 O número dos que deixaram suas terras nativas na Ásia era quase o mesmo dos que abandonaram a Europa A maioria era de chineses que foram para o Sudeste Asiático e o Novo Mundo Os indianos foram em massa para terras africanas e asiáticas ao longo do Oceano Índico e para o Caribe Muitos dos migrantes as iáticos iam com contratos preestabelecidosb e eram obrigados a trabalhar principalmente nas grandes plantações nos locais de destino Uma ampla proporção de imigrantes asiáticos retor nava à terra natal em parte devido ao próprio acordo em parte porque as condições de vida em Trinidade ou nas Filipinas era menos atraente do que em São Francisco e Sydney Muitos porém ficaram e estabeleceram comunidades chinesas indianas e de outros países asiáticos de Lima a Cidade do Cabo de Cingapura ao Havaí A reversão da grande deflação de 18731896 o desenvolvi mento tecnológico e a relativa estabilidade econômica con tribuíram para a rápida integração da economia global antes de 1914 O padrãoouro o comércio e as finanças internacionais mantinham a economia mundial mais coesa do que nunca 42832 Especialização e crescimento Os países que se lançaram na economia global desses anos doura dos se remodelaram de acordo com as novas posições que encon traram no mercado mundial Cada região se especializou no que sabia fazer de melhor A GrãBretanha gerenciava os investimen tos operava os sistemas comercial e financeiro mundial além de garantir e supervisionar os mecanismos de comunicação e de en vio de mercadorias A Alemanha produzia ferro aço produtos químicos e equipamento pesado para as ferrovias minas plantações e rotas de envio de carga Argentina África do Sul e Austrália usavam capital britânico e maquinário alemão para es tabelecer novas minas e fazendas e para transportar o minério de volta para a Alemanha a fim de manufaturálo Parte dos ganhos era destinada à GrãBretanha como juros pelos investimentos Países grupos e regiões se tornavam cada vez mais especializ ados Pessoas empresas áreas e nações desistiram das atividades que não desempenhavam tão bem para que pudessem se con centrar naquelas em que eram particularmente bons Em outros tempos os países tentariam a autossuficiência mas agora se ded icavam a produzir e exportar aquilo que mais sabiam e comercial izar o resto As indústrias da Europa ocidental inundaram o mundo com maquinário e equipamentos para o cultivo das fazendas o funcio namento das minas e a construção de estradas de ferro e portos que escoassem seus produtos até os mercados Investidores europeus forneciam o capital para financiar os enormes projetos das construções onde esses equipamentos seriam empregados As regiões do Novo Mundo Ásia e África ricas em recursos se con centravam em trazer sua riqueza mineral e agrícola para o mer cado Os trabalhadores excedentes do interior da Europa e da Ásia foram mandados para ajudar nas novas minas plantações e usi nas E à medida que os pampas e as pradarias Yukon e 43832 Witwatersrand Trinidad e Sumatra entregavam suas riquezas os industrialistas investidores e imigrantes eram pagos com os lucros originados no que haviam investido O capitalismo global tornou a especialização algo possível Países fabricantes fazendeiros e mineiros podiam se concentrar unicamente em produzir seus melhores bens e serviços caso tivessem acesso a mercados grandes o suficiente para vender o que produzissem e comprar o que consumissem Agora pela primeira vez isso era possível O padrãoouro o livrecomércio e os novos meios de transporte criaram um mercado global con veniente acessível e previsível Grãos cobre minério de ferro carvão e até mesmo carne e banana podiam ser enviados por na vio a quase qualquer lugar ao redor do mundo a baixos custos In vestidores podiam comprar ações e títulos de empresas de gov ernos distantes e monitorar seu progresso com facilidade Os europeus podiam comprar comida barata do Novo Mundo e con centrar seus esforços produtivos nas técnicas industriais que ino varam e aperfeiçoaram Os argentinos poderiam se concentrar em trabalhar a terra das planícies mais férteis do mundo para plantar grãos e criar gado e utilizar os lucros para importar produtos manufaturados da Europa Produtores agrícolas e mineiros nas regiões recémespecializa das expandiram a produção em uma velocidade extraordinária Nos 20 anos que precederam a Primeira Guerra Mundial a quan tidade de terras destinadas à plantação de trigo na Argentina e no Canadá aumentou de 7 a 8 milhões de hectares em cada país para cerca de 32 milhões de hectares Uma vez que os agricultores pas saram a cultivar novas terras e intensificaram a produção das já existentes a quantidade de trigo café chá e algodão produzidos no mundo mais do que dobrou de 1870 a 191315 No mundo em desenvolvimento os produtores de outros bens recémnegociá veis avançaram de forma ainda mais rápida Em menos de 50 anos da virada do século à Primeira Guerra Mundial a produção 44832 mineradora das áreas em desenvolvimento quase triplicou Entre 1880 e 1910 a produção mundial de banana cresceu de 30 mil para 18 milhão de toneladas a de canadeaçúcar passou de 19 milhão a 63 milhões de toneladas e a de cacau foi de 60 mil para 227 mil toneladas16 Os teóricos da economia clássica aprovariam o processo Adam Smith em seu texto fundador da economia clássica A riqueza das nações de 1776 tornou a especialização a divisão do trabalho o ponto central de sua teoria Ele e seus contem porâneos do liberalismo econômico argumentavam contra os mercantilistas que a autossuficiência era uma tolice Em um famoso exemplo Smith indicou que trabalhando sozinho um op erário de uma fábrica de alfinetes podia no máximo produzir 20 unidades por dia No entanto nas fábricas da época o processo de produção de alfinetes estava divido em cerca de oito etapas difer entes cada uma realizada por um ou dois trabalhadores especial izados Dessa forma uma fábrica com dez trabalhadores produzia 48 mil alfinetes por dia fazendo com que cada indivíduo fosse cerca de 240 vezes mais produtivo do que o seria trabalhando soz inho17 A especialização gerava produtividade e a produtividade alimentava o crescimento econômico Nesse contexto produtividade não tem o mesmo significado do termo utilizado pelos gerentes para convencer os funcionários a trabalhar mais horas Referese ao montante produzido por uma unidade de trabalho com os outros fatores de produção à dis posição especialmente capital e terras Na agricultura por exem plo a mesma quantidade de trabalho é mais produtiva em solos férteis do que em solos pobres é mais produtiva com máquinas fertilizantes e irrigação do que sem esses aparatos Tal fato é ver dadeiro mesmo que os trabalhos agrícolas em questão sejam idênticos Em 1900 os produtores de trigo alemães não eram tão produtivos quanto os produtores de trigo canadenses não porque trabalhassem menos ou fossem menos qualificados mas porque 45832 as terras alemãs eram pouco adequadas ao cultivo de grãos Da mesma forma o fato de a produtividade do trabalho norteamer icano em 1913 ser duas vezes e meia mais alta do que a dos itali anos não significava que um trabalhador norteamericano trabal hasse duas vezes e meia mais do que um trabalhador italiano Se esse fosse o caso por que milhões de italianos teriam ido para os Estados Unidos trabalhar Isso quer dizer que em uma hora um trabalhador norteamericano produzia duas vezes e meia a mais do que um trabalhador italiano devido ao capital bem mais abundante à disposição de cada trabalhador De fato o número de máquinas ao dispor dos trabalhadores nos Estados Unidos em 1913 era três vezes maior até mesmo do que na GrãBretanha líder industrial do mundo18 Os economistas clássicos enfatizavam que especialização re quer acesso a grandes mercados Adam Smith e seus colegas argu mentavam que restringir as possibilidades de oferta e demanda retardava o crescimento econômico desafiando assim o pensamento mercantilista que por sua vez tentava limitar o acesso aos mercados Um vilarejo isolado do resto do mundo e forçado à autossuficiência precisa produzir tudo o que necessita Entretanto se esse vilarejo fizer parte de um mercado maior nacional ou global ele pode se especializar no que sabe fazer de melhor Os produtores precisam de mercados amplos para se es pecializarem a divisão do trabalho depende do tamanho do mercado Mercados globais levam à especialização global Smith deve ter ficado ainda mais certo de suas ideias ao ver que à medida que os países se comprometiam com a economia global e ganhavam acesso a mercados imediatamente começavam a se especializar As ideias dele eram confirmadas pela experiência de dezenas de regiões Países com acesso a mercados mais extensos se especial izavam Com a especialização a produtividade aumentava da 46832 mesma forma que o crescimento e o desenvolvimento de suas economias A divisão internacional do trabalho das décadas que pre cederam a Primeira Guerra Mundial transformou continentes in teiros Novas áreas agrícolas e mineradoras extraordinárias foram atraídas pelos mercados mundiais inundando a Europa com comida e matériaprima a preços baixos Produtos industriais in ovadores e baratos brotavam das fábricas europeias e iam para re giões que sempre contaram com o artesanato Países que antes cultivavam todos os seus alimentos passaram a importar grande parte destes As regiões nas quais seus habitantes se vestiam com tecidos produzidos de forma artesanal e utilizavam ferramentas feitas à mão passaram a utilizar tecidos de algodão mais baratos feitos em máquinas e equipamentos manufaturados Cidades e re giões inteiras concentravam seus esforços na extração de minério de ferro na fabricação de tecidos no cultivo de arroz ou na produção de trilhos para ferrovias enviando esses produtos para o resto do mundo em busca de mercados Do ponto de vista global o processo funcionava perfeitamente Trabalho e capital circulavam pelo mundo indo de onde produziam menos para onde produziam mais Camponeses po loneses ou portugueses improdutivos que não podiam competir com os produtores de grãos argentinos e canadenses viravam tra balhadores urbanos produtivos em Varsóvia e Lisboa ou emigravam tornandose operários produtivos nas fábricas de Toronto ou trabalhadores do campo nos pampas Capitalistas buscavam regiões ao redor do mundo onde seus investimentos gerassem mais lucro Abdicavam da construção de mais uma fer rovia ou usina de geração de energia na Inglaterra por algum pro jeto novo e ousado no Quênia Efeitos iguais podiam ser sentidos mesmo sem a movimentação de pessoas e de dinheiro simples mente por meio do comércio Um país com excesso de trabal hadores podia enviar emigrantes para áreas de colonização 47832 recente ou empregar a mão de obra barata em fábricas que produziam manufaturados a serem mandados para essas mesmas regiões Enviar trabalhadores da Itália para a Austrália tinha efeito similar a enviar produtos cuja manufatura era intensiva em mão de obra trabalhadores italianos eram empregados de uma forma mais produtiva e a Austrália passava a ter acesso a mão de obra barata de forma direta ou indireta A especialização não era fácil tampouco sem custos O pro cesso transformava economias e sociedades e com frequência destruía as formas tradicionais de vida A especialização agrícola a abertura dos pampas e pradarias que inundava o mercado mundial com grãos baratos gerou uma grave crise na agricul tura europeia Produtores agrícolas europeus destituídos de suas terras eram despejados nas cidades para trabalhar em fábricas re pugnantes Outros se mudavam para regiões do Novo Mundo ou para outras áreas de colonização recente as quais haviam desen cadeado o problema Os agricultores que não conseguiam sobre viver na Itália ou na Suécia podiam tentar a sorte nos estados de São Paulo ou do Minnessota As dezenas de milhares de produtores agrícolas forçados a deixar o campo em direção à cid ade ou a cruzar o oceano para as novas terras com frequência en contravam pobreza discriminação doença e isolamento em vez da tão esperada prosperidade A nova divisão internacional do trabalho separou famílias vilarejos e países forçando o desped açamento de sociedades tradicionais coesas Por mais doloroso que tivesse sido esse processo a integração econômica e a especialização tornaram tanto o Velho quanto o Novo Mundo mais eficientes Os agricultores europeus que não podiam competir passaram a desempenhar novas atividades Eram mais produtivos nas fábricas europeias do que em suas ter ras relativamente pobres Caso tivessem permanecido na ativid ade agrícola eram mais produtivos no Novo Mundo que no Velho Em todo o planeta os agricultores e trabalhadores deslocados 48832 sofreram mas provavelmente ao menos seus filhos e netos usu fruíram de melhores condições Essa divisão global do trabalho aumentou a produtividade tanto em termos nacionais quanto internacionais Seria pouco provável que fosse de outra maneira a otimização das formas de utilização do trabalho e do capital por definição aumentaria a produtividade Os agricultores miseráveis da Alemanha Oriental e do sul da Itália foram para as modernas fábricas de Berlim ou Ch icago O interior da Argentina e o do Canadá recémacessíveis aos mercados mundiais se transformaram de regiões indígenas de caça nos melhores campos de trigo do planeta Pessoas fábricas e campos produziam mais Os ganhos aumentaram e as economias cresceram Na Era de Ouro os benefícios do intercâmbio econômico in ternacional proporcionaram os ganhos advindos da especializa ção Sem acesso à imigração entre os países e através dos oceanos os agricultores teriam ficado presos às suas terras inférteis Sem o acesso a um mercado mundial os mineradores sulafricanos e os criadores de gado australianos não teriam onde vender seus produtos Sem o comércio e as finanças internacionais para envi ar garantir fornecer e gerenciar Londres teria se tornado o centro nevrálgico de apenas uma pequena ilha e não do mundo todo O mundo intercambiava equipamentos para máquinas por alimentos cobre por tecido e títulos estrangeiros por aço e os produtores e compradores de peças alimentos cobre tecido títu los estrangeiros e aço lucravam Descontentes com o globalismo O fato de a Era de Ouro ter abandonado o mercantilismo parecia amplamente justificável A profunda rejeição à época dominada pelo amplo controle dos governos sobre a economia trouxe 49832 benefícios significativos Livrecomércio movimentação de capi tais e imigração reduziram o controle estatal O padrãoouro pres supunha que os governos autorizassem a livre conversão de din heiro em ouro e viceversa o que permitira ao invés de impedir os ajustes econômicos domésticos Certamente os governos in tervinham com frequência e de forma coerciva para garantir o direito de propriedade privada dos investidores e comerciantes Mas a ideologia e a ordem do dia alardeavam um governo que não fosse além de salvaguardar as operações do mercado Entretanto abaixo da superfície já havia tensões e abusos no capitalismo global pré1914 Uma das fontes de insatisfação era a subjugação de povos e nações pobres Mesmo que governos na Europa nos Estados Unidos e no Japão celebrassem o poder do mercado eles usavam forças de diferentes tipos artilharia can honeiras infantaria para dominar centenas de milhões de novas colônias na África Ásia e América Latina Outro problema era que nem todo mundo se beneficiava da in tegração econômica global Muitas sociedades tradicionais se es tagnaram ou se desintegraram Mesmo nas regiões do mundo que mais cresciam os frutos do crescimento não eram distribuídos de forma justa Sociedades que abandonavam as atividades econôm icas menos produtivas com frequência também abandonavam aqueles que estavam presos a elas É de fácil entendimento a ló gica por trás do abandono do cultivo do trigo em terras medíocres ou do fechamento de tecelagens artesanais pouco eficientes frente à abertura das prósperas planícies dos Estados Unidos e dos pam pas ou à disponibilidade de tecidos melhores e mais baratos fei tos à máquina Mas o que seria feito dos camponeses e tecelões cujas terras e habilidades não tinham mais valor cujas formas tradicionais de vida não eram mais possíveis A integração econômica gerou uma enorme tensão naqueles que produziam o que não podia mais competir com as mercadori as dos novos líderes mundiais Os consumidores não precisavam 50832 mais dos grãos europeus dos emprestadores latinoamericanos do artesanato chinês nem dos tecidos indianos Indústrias re giões e classes inteiras tornaramse dispensáveis e entre os que estavam do lado perdedor da especialização e da integração econ ômica havia menos disposição em aceitar um governo pouco ativo que não fazia nada para aliviar seu sofrimento O entusiasmo com a Era de Ouro do capitalismo global não foi universal Tanto os mercados abertos quanto o pagamento das dívidas aos estrangeiros e o padrãoouro implicavam sacrifícios normalmente da parte dos mais pobres e fracos Raramente esses sacrifícios eram feitos por vontade própria Mesmo nos países que estavam crescendo havia resíduos de conflitos sociais e políticos nos requisitos e prérequisitos nacionais para a integração econ ômica Também houve países inteiros que adotaram uma atitude cautelosa ou hostil em relação aos laços econômicos mundiais e governos que restringiram e regularam de perto o comércio e os investimentos internacionais O capitalismo global do fim do século XIX e início do XX foi quase inteiramente bom para o crescimento global para as eco nomias da maior parte dos países e até mesmo para a renda da maioria das pessoas Mas não foi igualmente bom para todos e foi ruim para muitos Não obstante o sucesso dessas décadas parecia confirmar os argumentos dos defensores da integração da eco nomia global que eram a favor das finanças internacionais do livrecomércio e do padrãoouro Eles também pareciam defender a ideia clássica liberal que favorecia uma limitada intervenção dos governos no mercado apenas o suficiente para garantir a plena participação na economia global Para muitos povos especial mente aqueles das economias que lideravam o mundo as décadas que precederam a Primeira Guerra Mundial evidenciaram que o mercado e a economia global eram mecanismos poderosos para a prosperidade e até mesmo para a paz 51832 a Unidade de medida para a comercialização de grãos equivale a cerca de 27 quilos NT b Do inglês indenture que eram contratos de serviços por tempo determinado nos países coloniais NT 52832 2 Os defensores da economia global Em 1919 enquanto os veteranos regressavam dos sangrentos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial John Maynard Keynes escrevia saudoso dos idos tempos de relações econômicas cordiais Que episódio extraordinário do progresso econômico da humanidade foi a era que chegou ao fim em agosto de 1914 Enquanto bebericava o chá da manhã na cama um habitante de Londres podia pelo tele fone encomendar vários produtos de todo o planeta na quantidade que lhe fosse conveniente e geralmente recebia a entrega cedo na porta de casa ao mesmo tempo e pelo mesmo meio podia se aven turar investindo sua riqueza nos recursos naturais e novos empreendimentos em qualquer parte do mundo e usufruir dos possí veis frutos e vantagens sem esforço ou mesmo problemas podia opt ar por entregar a segurança de sua fortuna à boafé dos habitantes de qualquer cidade de relativo tamanho em qualquer continente que a tendência ou a informação recomendassem Podia conseguir imedi atamente se assim desejasse meios de transporte baratos e confortá veis para qualquer ambiente ou país sem passaporte ou outra formal idade podia mandar um empregado à agência bancária mais próxima para pegar o quanto precisasse do metal precioso e então seguir para o exterior sem conhecimento da religião língua ou costumes desses locais carregando o dinheiro consigo e ficaria surpreso ou acharia que fora maltratado diante da mínima interferência No ent anto o mais importante de tudo consideraria esse como o estado natural das coisas certo e permanente exceto se fosse para melhor e qualquer desvio seria uma aberração e um escândalo que poderia ser evitável1 Não importa que Keynes um habitante de Londres que tinha telefone empregado e o luxo de tomar seu chá da manhã na cama fizesse parte de uma pequena parcela da população Não importa que as oportunidades que Keynes associa a esse capital ismo global maravilhoso fossem irrelevantes para a população empobrecida da Ásia e da África Não importa que a nostalgia de Keynes não fosse compartilhada pelos milhões que eram atraídos pelo socialismo ou por outros movimentos radicais em resposta aos deslocamentos sociais da época As declarações de Keynes de que a vida social e econômica experimentou uma internacionalização a qual na prática est ivera perto de ser completa2 capturam a essência do capitalismo global de antes da Primeira Guerra Mundial Por décadas a eco nomia mundial esteve fundamentalmente aberta à movi mentação de pessoas dinheiro capital e produtos Os principais empresários políticos e pensadores do momento consideravam uma economia mundial aberta o estado natural das coisas Eles supunham que pessoas e capital iriam circular pelo mundo com pouca ou nenhuma restrição A proteção comercial apesar de comum era vista como uma exceção aceitável à regra causada pelas exigências de políticas domésticas ou internacionais de curto prazo O capitalismo era mundial e o mundo capitalista O sistema econômico internacional funcionava como um clube de cavalheirosa de Londres Os membros prestavam assistência uns aos outros quando necessário para que o clube seguisse fun cionando regularmente e aceitavam novos aspirantes a afiliados caso eles se enquadrassem nos padrões do clube As exigências eram grandes compromisso com a abertura econômica com a 54832 proteção do direito de propriedade alémfronteiras com o padrãoouro e com uma intervenção limitada na macroeconomia Os países que cumprissem esses requisitos desfrutariam dos be nefícios destinados aos membros do clube Na maior parte do tempo os Estados pareciam ansiosos para se qualificarem à afiliação Muitos europeus partiam do princípio de que sempre haveria um amplo apoio econômico político e intelectual à integração econômica internacional Mas pela experiência sabemos que esses anos dourados da globalização não eram o estado natural das coisas As exigências para a participação no clube dos global izadores se tornaram pesadas demais para a maioria das nações inclusive para alguns dos membros fundadores Como então essa era de integração econômica se sustentou por tanto tempo Apoio intelectual à Era de Ouro Antes de 1914 quase todos os que eram politicamente import antes nos países economicamente importantes acreditavam que seus governos deveriam privilegiar os laços econômicos com o ex terior Os compromissos com a economia internacional eram tarefas governamentais mais importantes do que o desemprego na indústria ou a aflição dos agricultores Poucos líderes políticos acreditavam que os governos podiam ou deviam fazer algo pelas empresas nacionais pela falta de trabalho ou pela pobreza De fato muitos dos defensores ortodoxos do sistema argumentavam que uma intervenção substancial do Estado nos mercados inter feriria no curso natural do padrãoouro Acreditavam que seguro desemprego ajuda a agricultores em apuros e programas sociais extensivos aos pobres impediriam os ajustes exigidos pelo padrãoouro tais programas evitariam que os salários e preços 55832 caíssem como era necessário para manter a economia em equilíbrio No entanto os governos eram importantes uma vez que con trolavam as relações financeiras a moeda e o comércio entre as nações Os governos também aplicavam o direito de propriedade interna e externamente o que era uma forma de garantir aos seus cidadãos os benefícios da economia global De forma semelhante as classes governantes tanto das nações pobres quanto das indus trializadas fizeram o possível para provar sua integridade econ ômica mas pouco contribuíram para o gerenciamento da eco nomia doméstica Os proponentes do globalismo da Era de Ouro geralmente at ribuíam o sucesso da época às suas ideias iluminadas como membros de um clube exclusivo que justificam o fascínio exercido pela associação às qualidades de seus participantes e não pelos benefícios materiais trazidos com a participação De forma pre cisa as novas políticas de abertura seguiram os preceitos do liber alismo como exposto pelos economistas clássicos britânicos Os sucessores de Adam Smith aplicaram à economia internacional as ideias do pensador sobre os benefícios da especialização e aprimoraram o seu argumento contra o mercantilismo O banqueiro londrino David Ricardo foi o mais influente teórico clássico do comércio internacional e se concentrou na comparação dos custos dos produtos dentro dos países e entre eles É dele o famoso exemplo elaborado com base nas relações econômicas angloportuguesas A tese de Ricardo tem início em um mundo sem comércio Se a Inglaterra produz tecidos de forma mais eficiente que vinho o tecido inglês será barato em relação ao vinho do país Se Portugal produz vinho de forma mais eficiente que tecido então o vinho português será barato em relação ao te cido português Se os dois países se abrirem ao comércio eles comprariam no exterior o que lá é mais barato os ingleses com prariam o vinho de Portugal e os portugueses adquiririam os 56832 tecidos da Inglaterra Ricardo acrescentou que a Inglaterra dever ia comprar todo o vinho que consumisse de Portugal que por sua vez deveria adquirir todo o seu tecido da Inglaterra Dessa forma cada país poderia se concentrar naquilo que poderia produzir mais barato Essa vantagem comparativa ricardiana pressupõe que os países devem produzir aquilo que melhor sabem não em com paração com outros países mas o que fazem de melhor em re lação a outras atividades que desempenham Mesmo que a produção tanto de vinho quanto de tecidos da Inglaterra fosse melhor que a de Portugal o país deveria continuar produzindo apenas tecidos e comprando todo o seu vinho de Portugal A com paração contida no termo referese às atividades desempenhadas dentro de uma nação agricultura inglesa e manufatura inglesa e não entre as nações agricultura inglesa e agricultura portuguesa A teoria das vantagens comparativas aplica os princípios da especialização aos países Assim como as pessoas as nações de vem se concentrar naquilo que fazem melhor independente do quão bem os outros realizem a mesma atividade Dizer que um in divíduo deve se especializar no que faz melhor não diz nada sobre como as habilidades desse indivíduo se comparam com as aptidões de outros Um excelente chef que também lava bem a louça deve continuar contratando alguém para lavar os pratos mesmo que seja alguém medíocre já que o tempo do cozinheiro é melhor gasto no fogão do que na pia Um carpinteiro experiente deve contratar um trabalhador menos especializado para cortar e lixar a madeira mesmo que o próprio carpinteiro desempenhe es sas atividades melhor O mesmo se aplica às regiões se as terras do Iowa são melhores para o cultivo de milho do que para a cri ação de gado leiteiro então os trabalhadores rurais do Iowa de vem se especializar em produzir milho e os de Wisconsin lat icínios Da mesma forma as nações ganham mais ao exportar o 57832 que produzem de forma mais eficiente e importar os melhores produtos dos outros países O princípio da vantagem comparativa tem claras implicações no livrecomércio Uma vez que um país sempre se beneficia ao seguir as suas vantagens comparativas e as barreiras comerciais impedem que ele seja capaz de fazêlo a proteção comercial nunca é benéfica à economia como um todo Políticas governa mentais que evitam a importação simplesmente forçam os países a produzir mercadorias fora de suas vantagens comparativas Pro teção comercial aumenta o preço das importações e diminui a efi ciência da produção doméstica A economia política clássica aboliu o pensamento mercant ilista anterior Os mercantilistas desejavam restringir as im portações e encorajar as exportações para estimular a economia nacional Os economistas clássicos pensavam de outra forma im portações são os lucros do comércio ao passo que exportações são os custos Importar permitia que as nações concentrassem sua en ergia produtiva gerando o que elas sabiam fazer melhor Há um claro paralelo entre essa teoria e o funcionamento de uma pequena propriedade rural A família exporta vende seus produtos para poder importar adquirir os bens e serviços de que precisa Uma propriedade familiar que deseja maximizar as importações precisa portanto ganhar mais e a melhor forma de aumentar os ganhos é por meio da produção daquilo que lhe é mais eficiente Os economistas clássicos mostraram que da mesma forma que os agricultores os trabalhadores e as firmas ganham ao se especializarem e ao comercializarem o máximo pos sível o que também se aplica aos países O livrecomércio leva um país a seguir suas vantagens comparativas o que é a melhor polít ica possível mesmo se adotada unilateralmente Na década de 1850 a GrãBretanha o berço da teoria econôm ica clássica já havia abraçado com entusiasmo o padrãoouro e o comércio a movimentação de capitais e a imigração sem 58832 barreiras O resto do mundo fez o mesmo nos 60 anos seguintes com graus variados de entusiasmo A economia política clássica venceu na esfera intelectual No entanto as ideias clássicas sozinhas não foram a causa da era de abertura econômica global Sobretudo os argumentos con tra a intervenção governamental no comércio e investimentos alémfronteiras são muito antigos Adam Smith destruiu o pensamento mercantilista em 1776 David Ricardo junto com David Mill e Robert Torrens formulou toda a teoria das vant agens comparativas antes de 18203 Mesmo assim apenas em 1846 o Parlamento britânico aboliu as principais tarifas agrícolas do país as Corn Laws Outros países fizeram o mesmo mas apen as de forma parcial e gradual O período glorioso do livrecomér cio europeu veio cem anos após Smith ter demonstrado o quão desejável seria essa atividade Na verdade os países não seguiam os princípios econômicos clássicos de forma estrita e os argumentos intelectuais mais for tes eram os menos obedecidos O caso da teoria do livrecomércio foi o mais predominante mas de fato apenas a GrãBretanha e os Países Baixos praticavam o livrecomércio todos os outros governos eram protecionistas em maior ou menor grau4 Quase todos os países por outro lado acataram o padrãoouro ou aspiravam fazêlo apesar da fraqueza da base teórica do argu mento em prol do sistema Com efeito muitos economistas clássi cos se referiam ao compromisso com o ouro como algo que ia pouco além de um fetiche por metais preciosos O poder teórico das ideias clássicas não garantiu a adoção de políticas clássicas Além disso apesar do triunfo de tais teorias as políticas da Era de Ouro não perduraram Após esse momento seguiuse um período de 30 anos sem que os governos reto massem os níveis anteriores de integração econômica Governos e cidadãos não poderiam ter optado pela abertura apenas por acreditarem na superioridade e no poder intelectual de sua base 59832 teórica a menos que essa opção tivesse sido causada por um quadro de amnésia coletiva A teoria econômica clássica assim como a neoclássica que passou a vigorar após esse momento e continua até os dias de hoje fornece argumentos poderosos con tra as restrições à livre movimentação de capital produtos e pess oas Países seguiram e continuam a seguir esses princípios em graus bastante diversos e a orientação geral do mundo em re lação à integração econômica tem variado tremendamente Havia algo além de ideias operando Nathan Mayer Rothschild 18401915 Os poderosos defendiam seus interesses conduzindo de país a país a abertura da economia mundial Nathan Mayer Rothschild foi uma figura política e economicamente central para a Era de Ouro5 Sua vida acompanhou o período nascido em 1840 a pou cos anos da abolição das Corn Laws ele morreu em 1915 quando a economia global se desintegrava sob o peso da Primeira Guerra Mundial Mayer Amschel Rothschild criou a Casa Rothschild em Frank furt no fim do século XVIII Mandou então seus cinco filhos para outras capitais europeias logo o banco estaria estabelecido em Vi ena Nápoles Paris e Londres Assim como ocorrera com muitos outros empresários judeus desse período a combinação de exper iência financeira e comercial precoce com conexões familiares por toda a Europa proporcionou aos Rothschild uma boa posição Nathan Mayer o terceiro filho de Amschel dirigia o escritório de Londres Durante as Guerras Napoleônicas como muitos outros banqueiros londrinos Rothschild fornecia serviços financeiros à Coroa britânica emprestando dinheiro e transferindo o paga mento dos soldados para o continente Na época da Batalha de Waterloo Nathan Mayer estava tão preocupado com as 60832 implicações financeiras do conflito que montou uma equipe par ticular de mensageiros para ser informado das últimas notícias da guerra A equipe do banqueiro cobria os 330 quilômetros de Bruxelas a Londres em uma velocidade sem precedentes e em 24 horas trazia as notícias para Rothschild tão rápido que o gov erno costumava não acreditar nele quando as notícias eram pas sadas na manhã seguinte Sua façanha durante as Guerras Napoleônicas ajudou a con firmar a liderança de Rothschild na cidade de Londres Lionel o filho mais velho de Nathan Mayer continuou a traçar o caminho da firma rumo ao centro da política internacional e financeira de Londres O filho dele também foi chamado de Nathan Mayer e quando o segundo Nathan Meyer apelidado de Natty assumiu a firma em 1879 o nome Rothschild era sinônimo de riqueza con exões globais e influência diplomática A firma tinha repres entação em todas as capitais financeiras e movimentava fundos de maneira tão rápida que os governos não podiam perder a opor tunidade de ter o apoio dessa poderosa família Os Rothschild se tornaram o protótipo do banqueiro inter nacional judeu bemsucedido Os Hapsburgos da Áustria elev aram a família à nobreza com o titulo de barões Em 1858 Lionel o pai de Nathan foi o primeiro judeu a se tornar membro do Par lamento britânico No ano seguinte Nathan foi um dos primeiros judeus a ingressar na Universidade de Cambridge e em 1885 ele se tornou o primeiro nobre judeu da história britânica Apesar de ofensivos ataques antissemitas Lord Nathan Mayer Rothschild era um membro poderoso da comunidade financeira mundial e da cidade de Londres e estava envolvido de forma apaixonada com a política Laços familiares especialmente do proeminente lado francês e de forma mais ampla da rede financeira internacional tornaram a influência de Rothschild poderosa em todo o continente 61832 Nathan Rothschild usou sua posição para reforçar os três prin cipais pilares da economia internacional da Era de Ouro finanças internacionais sua própria empresa o padrãoouro e o livre comércio As atividades bancárias de Nathan eram em particular intimamente ligadas ao padrãoouro Assim como outros ban queiros internacionais ele considerava o padrãoouro como cent ral para o capitalismo global Investidores internacionais emprestavam dinheiro aos países que haviam adotado o sistema do ouro negavam o empréstimo àqueles que o recusaram e util izavam sua influência financeira e política para encorajar os Esta dos a aderirem ao metal Os Rothschild prestavam uma atenção especial nos Estados Unidos o país que mais tomava empréstimos no século XIX e iní cio do XX Na década de 1830 à medida que a importância econ ômica dos Estados Unidos crescia os Rothschild mandaram um empregado de Frankfurt para o outro lado do Atlântico Ao chegar aos Estados Unidos August Schönberg mudou seu nome do alemãoídiche bela montanha para o francês Belmont Para o desgosto de seus patrões August Belmont também se converteu ao cristianismo Ele se tornou bastante influente nos ciclos econ ômicos políticos e sociais e se casou com a filha do comodoro Mathew Perry que muitos afirmam ter aberto a economia ja ponesa após uma visita ao país em 1854 Na década de 1860 Bel mont já era um dos principais empresários da nação Em grande parte devido à sua ligação com os Rothschild De forma insistente os Rothschild e seu agente August Bel mont apoiaram a abertura da economia norteamericana ao resto do mundo Gastaram muita energia tentando influenciar o debate sobre o ouro nos Estados Unidos O padrãoouro era crucial para a segurança dos investimentos internacionais da família No ent anto durante a Guerra Civil os Estados Unidos abandonaram o ouro e permaneceram com o papelmoeda verde até mesmo de pois da guerra Muitos dos líderes políticos e empresariais 62832 acreditavam que o ouro não se adequava às necessidades de uma economia que crescia rapidamente Em meados da década de 1870 Belmont e os Rothschild pressionaram os Estados Unidos vigorosamente para convencer o país a participar do clube do padrãoouro A medida foi controversa e o Congresso derrotou muitas das tentativas de levar o país ao ouro Mas Belmont argu mentou que a política financeira assim como o amor pelo nome do nosso país pareciam exigir que a administração do presidente Ulysses Grant demonstrasse uma hostilidade inflexível ao frenesi cego e desonesto que tomara conta do Congresso6 Grant termin ou por concordar com a adoção do padrãoouro e sua vontade prevaleceu em detrimento à de um Congresso em fim de man dato Quando chegou o momento Belmont e os Rothschild forne ceram mais da metade do dinheiro que o governo necessitava para acumular reservas suficientes para fixar o dólar no ouro O compromisso norteamericano com o ouro contudo per maneceu fraco e foi novamente desafiado pelas críticas populistas da década de 1890 Após 1893 enquanto o movimento contra o ouro assolava o país os investidores estrangeiros começaram a vender dólares para se protegerem da ameaça de desvalorização As reservas de ouro do governo norteamericano estavam se es vaziando e em fevereiro de 1895 Washington mais uma vez re correu a Nathan Rothschild e seus representantes nos Estados Unidos agora August Belmont Jr Belmont e JP Morgan um financista norteamericano em ascensão que formaram um sin dicato a fim de suprir o Tesouro com todo o ouro necessário para os 18 meses seguintes até as eleições presidenciais Quando os opositores ao padrãoouro foram derrotados em 1896 o metal se estabilizou mas a moeda norteamericana certamente não teria sido protegida sem a ajuda dos Rothschild Em outros lugares do Novo Mundo Nathan Rothschild tam bém defendeu e financiou a abertura econômica Por muito tempo a família foi credora oficial do Brasil e também exercia 63832 grande influência no Chile Na Argentina seus concorrentes do Baring Brothers predominavam no início mas essa competição não enfraqueceu o compromisso dos Rothschild com a estabilid ade financeira internacional Em 1890 quando o calote argentino levou o Baring Brothers à falência trazendo a ameaça de um amplo pânico financeiro Nathan Rothschild interveio Mesmo considerando a falência resultado da imprudência do próprio Bar ing Brothers ele liderou energicamente outros bancos privados e o governo britânico em amplos esforços de resgate Rothschild afirmou que sem tais medidas muitos outros grandes bancos londrinos também teriam falido7 Dessa forma o Baring estava fora de perigo e a crise foi resolvida Rothschild mediou o comitê que supervisionou as renegociações da dívida argentina e a volta do país aos mercados financeiros de Londres alguns anos mais tarde A séria crise de 1907 demonstrou como os Rothschild podiam utilizar seus recursos financeiros e contatos internacionais para encorajar a cooperação entre as principais potências econômicas A crise se iniciou como um pânico financeiro nos Estados Unidos mas rapidamente se transformou em uma desconfiança generaliz ada A corrida norteamericana aos bancos assustou os invest idores de todo o mundo O correspondente em Berlim da Economist escreveu Os preços flutuam para cima e para baixo sob a maldição dos telegramas norteamericanos e quando outras influências entram em cena para de alguma forma elevarem os preços elas são logo oblitera das por novas preocupações com a situação nos Estados Unidos8 Nathan Mayer Rothschild foi certeiro em culpar a política norteamericana pela crise mas à medida que a questão se apro fundava isso se tornava irrelevante Rothschild que era o presid enteb do Banco da Inglaterra acreditava que as autoridades deveriam cooperar a fim de acalmar os mercados Ele lembrou a 64832 seus primos franceses o quão íntimas e necessárias eram as lig ações entre os países Era crucial assegurar que o Banco da França e outros agissem de forma generosa nestas ocasiões Rothschild persuadiu seus companheiros dos quais um fazia parte da diretoria do Banco da França a estimular seus governos a se unirem ao Banco da Inglaterra para resolver a crise O Banco da França de fato emprestou dezenas de milhões de francos ao Banco da Inglaterra para ajudálo a contornar a turbulência fin anceira assim como o fizeram as autoridades alemães A rede de interesses econômicos dos Rothschild ajudou a garantir os es forços multinacionais organizados pelos formuladores de polític as para estabilizar os mercados financeiros e manter o padrão ouro9 É evidente que os Rothschild eram fervorosos defensores do comércio mundial Do outro lado do Canal da Mancha Alphonse o cunhado de Nathan estava preocupado com a França achando que o país morreria sufocado pelo protecionismo e afirmou aos cada vez mais poderosos políticos socialistas que o melhor do so cialismo é a livre troca da produção internacional10 Até o fim da vida de Nathan Rothschild sua ortodoxia em relação ao livre comércio se suavizaria um pouco não por qualquer adesão à causa protecionista mas sim devido aos meandros das políticas do Partido Conservador Até o início do século XX muitos dos in dustriais membros do Partido Conservador se tornariam favorá veis à concessão de algum tipo de preferência comercial ao Im pério colonial da GrãBretanha O plano para a preferência imper ial foi liderado pelo prefeito de Birmingham Joseph Chamber lain um exfabricante de parafusos e poderoso líder do Partido Conservador Como conservador convicto Rothschild tinha grande interesse em manter a unidade do partido e lutou para que este adotasse alguns dos programas de Chamberlain Não ob stante o compromisso de Rothschild com a integração econômica perdurou até o fim de sua vida 65832 Rothschild trabalhou de forma incansável na Europa e no Novo Mundo para manter o mercado financeiro global acessível e estável Ele também financiou empreitadas ambiciosas no sul da África a fim de atrair novos investimentos para o mercado mun dial Há tempos os Rothschild se interessavam pela riqueza min eral da região De fato o interesse deles em metais preciosos ia muito além do apoio ao padrãoouro Os Rothschild da Inglaterra e da França investiam pesado na prata e no mercúrio da Espanha nos rubis de Burma no ouro da Venezuela no níquel da Austrália e de Nova Caledônia no cobre do México e de Montana e no pet róleo da Rússia No entanto o subsolo mais lucrativo de todos parecia estar na África do Sul À medida que o preço do ouro aumentou em relação aos out ros bens durante a Grande Depressão de 18731896 exploradores de todos os lugares buscaram novas minas Nenhuma descoberta fora tão importante como a de Witwatersrand na África do Sul que viria a se tornar a região de maior produção de ouro do mundo As descobertas em Rand como a região era chamada e o desenvolvimento de novas tecnologias para extração em terras profundas tornaram a África do Sul a maior produtora mundial de ouro Nathan Mayer Rothschild e seus parceiros começaram a participar da extração desde o início da descoberta por meio de sua empresa de exploração Quase ao mesmo tempo em que acu mulavam lucros nos campos de ouro sulafricanos os Rothschild ganhavam terreno nas lucrativas minas de diamante da região11 O filho de Nathan Rothschild se uniu a Cecil Rhodes um dos mais ricos magnatas da mineração de diamantes da região Jun tos os dois controlavam 98 da produção de diamantes da África do Sul por meio de sua empresa a De Beers Mining Company Rothschild se vangloriava de que a história do esforço deles em conjunto com a De Beers era simplesmente um conto de fadas e se maravilhava por ter alcançado praticamente o monopólio na produção de diamantes12 Rhodes tinha ambições maiores 66832 Economicamente ele cobiçava uma porção maior dos campos de ouro da área Politicamente Rhodes o primeiroministro da Colônia do Cabo após 1890 queria trazer as áreas ricas em ouro da África do Sul para o controle britânico Os obstáculos dele eram os governos do Estado Livre de Orange e Transvaal na parte norte do que hoje em dia é a África do Sul duas repúblicas independentes governadas pelos africâneres descendentes dos colonizadores holandeses os quais eram hostis ou indiferentes aos interesses dos mineradores tanto britânicos quanto de outras nacionalidades Nathan Mayer e os outros Rothschild se encontravam em uma situação difícil no sul da África Por um lado tinham interesses substanciais nas minas de ouro do Transvaal uma área contro lada pelos africâneres e desejavam manter relações cordiais com o governo local Por outro lado eles teriam preferido um governo mais amigável até mesmo uma extensão da britânica Colônia do Cabo ao sul no controle da sua lucrativa propriedade Para que a situação ficasse ainda mais complexa Rothschild tinha ligações estreitas com Cecil Rhodes o qual tinha planos definidos para as duas repúblicas africâneres Assim como os Rothschild o Min istério das Relações Exteriores britânico era forçado a uma com binação de ameaças aos africâneres e esforços para acalmálos Rothschild e os outros investidores prefeririam uma solução corporativa mas o conflito de interesses e pessoas em questão fez com que isso fosse impossível Os mineradores britânicos e outros colonos invadiram o Transvaal e o governo africâner se viu cer cado por estrangeiros hostis Rhodes governando a contígua colônia britânica lutava por seus sonhos imperiais fomentando o conflito com os africâneres Nos lívidos dias de 1895 L Starr Jameson sócio de Rhodes liderou um pequeno grupo de homens armados para depor o governo do Transvaal O ataque foi um fra casso vergonhoso e Rhodes foi obrigado a renunciar mas pôs africâneres e britânicos em uma rota de colisão que culminou na 67832 Guerra dos Bôeres em 1899 Em 1902 meio milhão de soldados britânicos já haviam forçado toda a África do Sul a se submeter ao controle do Império mas a um custo alto A guerra foi difícil e longa O fato de os britânicos terem maltratado os civis africâneres gerou comoção mundial e a colonização que se seguiu deixou o governo da União da África do Sul sob o controle efetivo da comunidade africâner do país Cecil Rhodes e Nathan Mayer Rothschild não realizaram todos os seus sonhos em relação à África do Sul Rhodes morreu antes do fim da Guerra dos Boêres e seus planos para a construção de uma estrada de ferro ligando a Cidade do Cabo ao Cairo permane ceu na fantasia A África do Sul pertencia agora à GrãBretanha mas os africâneres inimigos de Rhodes controlavam o governo Rothschild esteve perto de ser bemsucedido mantendo intactos os interesses da família em relação ao ouro e aos diamantes Mas as consequências políticas da guerra foram sérias Rothschild es creveu a Rhodes A comoção neste país está altamente presente no momento em re lação a tudo ligado à guerra e há uma considerável inclinação nos dois lados da dinastia a jogar a culpa pelo que tem acontecido nos ombros dos capitalistas e dos interessados na mineração sulafric ana13 O descontentamento popular com a Guerra dos Boêres o en volvimento de Joseph Chamberlain como Ministro das Colônias e as insinuações de uma conexão entre a empreitada militar e os ganhos financeiros ajudou a condenar o Partido Conservador de Nathan Rothschild a uma celebrada derrota nas eleições gerais de 1906 Uma empresa e uma família tão envolvidas na política e na economia globais não podiam ignorar que derrotas viriam No en tanto os Rothschild foram extraordinariamente longe Essa foi a primeira família de capital internacional e Nathan Mayer 68832 Rothschild foi indiscutivelmente o indivíduo mais poderoso do mundo por várias décadas Os Rothschild usaram a fortuna e in fluência política para apoiar a integração econômica global e ex traíram enormes benefícios financeiros da vitória mundial pela abertura econômica O comércio internacional o padrãoouro e os investimentos internacionais foram se fortalecendo pouco a pouco bem como os Rothschild Os partidários do livrecomércio Assim como os Rothschild um poderoso emaranhado de in teresses se beneficiou das relações econômicas internacionais e lutou por mais liberdade no comércio mundial Até mesmo David Ricardo o grande teórico do argumento das vantagens compar ativas para o livrecomércio era um ativista político que debatia as medidas econômicas britânicas Com efeito Ricardo vinha da comunidade financeira um dos mais importantes grupos pelo livrecomércio do Reino Unido Banqueiros e investidores inter nacionais queriam que seus países se abrissem às importações permitindo aos devedores ganhar dinheiro para pagar suas dívidas Os produtores para a exportação constituíam outro influente grupo favorável à integração global Eles apoiavam a liberalização do comércio o que disponibilizava insumos mais baratos para a produção Tal fato diminuiria os gastos dos produtores e os torn aria mais aptos a competir nos mercados mundiais Isso se ap licava a qualquer exportação fosse ela o algodão cru da Lousiana ou os tecidos feitos de algodão de Lancashire Os fazendeiros que exportavam queriam ser capazes de importar equipamentos ma quinário e fertilizantes baratos assim como os fabricantes que vendiam para o exterior queriam poder importar algodão barato Barreiras protecionistas impostas aos seus insumos apenas 69832 prejudicavam a competitividade das empresas ou fazendas que lutavam pelos mercados mundiais Os exportadores também ab ominavam a proteção porque barreiras ao comércio eram um con vite a represálias o que os expunha ao risco de serem retirados dos mercados Os partidários do livrecomércio eram grupos tipicamente lig ados a atividades econômicas semelhantes às vantagens compar ativas de seus países Banqueiros de Londres fabricantes alemães criadores de gado argentinos e seringueiros indochinos se especializavam naquilo que de melhor ofereciam suas re spectivas regiões e compartilhavam do interesse por uma ordem econômica que recompensasse quem se concentrasse nas vant agens comparativas de suas nações Os consumidores também se beneficiavam de um comércio mais livre que reduzisse o custo de vida mas eles eram pouco organizados e malrepresentados Foram basicamente os grupos poderosos a favor do livrecomér cio os que efetivaram a luta para manter as tarifas baixas antes da Primeira Guerra Mundial Havia contudo quem desafiasse os defensores políticos e in telectuais do livrecomércio Mesmo aqueles que acreditavam na teoria de que o livrecomércio é uma boa ideia para a economia como um todo poderiam ter opiniões completamente diferentes quanto ao seu valor para eles mesmos Vantagens comparativas lidam com o bemestar social agregado os benefícios em rede para a sociedade como um todo Isso diz respeito ao bemestar da sociedade como um ponto considerando mais eficiência como um ponto positivo e a ineficiência como um ponto negativo Mas os benefícios do acesso a novos mercados podem melhorar a situ ação de um segmento da sociedade enquanto os custos de en frentar a competição estrangeira podem afetar outro O benefício em rede contabiliza os pontos positivos e os negativos Economis tas clássicos argumentavam que a maior eficiência trazida pelo livrecomércio poderia ser distribuída de forma a recompensar 70832 aqueles do lado perdedor gerando mais ganhos para todos No entanto tirar dos vencedores para dar aos perdedores nem sempre é algo viável do ponto de vista político O apelo econômico da abertura pode ser claro em termos de ideia e resultado agregado mas os governos precisam responder aos eleitores os quais provavelmente não estariam dispostos a sacrificar suas regiões classes empresas ou fazendas em nome de um crescimento econômico nacional a longo prazo Os efeitos agregados do livrecomércio podem ser positivos mas seu im pacto distributivo separa grupos e pessoas em vencedores e per dedores A liberalização do comércio redistribui a riqueza e a renda ajudando os produtores mais eficientes mas prejudicando os menos competitivos Os fazendeiros dos países industrializados e os industriais das nações agrícolas queriam proteção Esses dois grupos amplos eram um exemplo dos que desempenhavam atividades econôm icas que não eram condizentes com a vantagem comparativa de seus países Produtores agrícolas relativamente pouco eficientes especialmente na Europa sofriam à custa dos produtos do Novo Mundo da Rússia e de seus antípodas Autorizar a importação de trigo na Europa em 1900 certamente teria tornado economias mais eficientes forçando as fazendas pouco produtivas a fechar ou se adequar Tal medida estaria de acordo com os interesses dos exportadores industriais da região evitaria retaliações e per mitiria o acesso a recursos baratos Isso seria importante para os banqueiros internacionais da Europa pois estes queriam que os norteamericanos e russos exportassem para diminuir as dívidas O livrecomércio de grãos teria reduzido o preço dos alimentos motivo pelo qual muitos movimentos trabalhistas socialistas e di versos empregadores nas áreas urbanas eram a favor da liberaliz ação do comércio dos produtos agrícolas Grãos mais baratos no entanto teriam exacerbado as más condições agrícolas e arrasado milhões de fazendeiros europeus e suas comunidades coesas 71832 Considerandose todos os fatores os produtores agrícolas europeus preferiam ver menos grãos importados e mais banqueir os arruinados Os empresários da manufatura de nações em estágios iniciais de industrialização formavam o segundo maior grupo prote cionista Especialmente nos países de desenvolvimento tardio os donos dessas fábricas acreditavam que apenas prosperariam se fossem protegidos das potências industriais já estabelecidas prin cipalmente da GrãBretanha Esse apelo à proteção das indústrias nascentes tarifas de importação a produtos de setores fabris em estágio embrionário até que estes se tornassem grandes e fortes o suficiente para competir foi ouvido em quase todos os lugares até mesmo em países relativamente ricos Indústrias deman davam barreiras comerciais de forma mais exaltada nos países onde a produção industrial lutava para se estabelecer como no Novo Mundo nas áreas de colonização recente e nos países mais atrasados do sul e do leste da Europa Todas essas nações argu mentavam com veemência que a indústria nacional cresceria de vagar se precisasse competir sobretudo com os britânicos e alemães Os protecionistas foram bemsucedidos em muitos aspectos A proteção concedida aos que permaneciam distantes das vantagens comparativas dependia do cenário político A batalha foi travada entre interesses poderosos específicos pois os consumidores das classes média e trabalhadora eram pouco representados em qualquer parte mesmo onde tinham pelos menos os homens o poder do voto Conglomerados de bancos e indústrias e grandes fazendeiros tendiam a ser mais bemrepresentados nos debates e costumavam conseguir o que queriam seja proteção ou livre comércio dependendo do país e das circunstâncias14 Às vésperas da Primeira Guerra Mundial o Império austro húngaro a França a Alemanha a Itália e outros produtores pou co eficientes de grãos contavam com tarifas de cerca de 40 sobre 72832 o trigo Os governos também concederam alguma proteção aos in dustriais até mesmo na França e na Alemanha ainda que fosse apenas uma parte do que foi concedido aos trabalhadores agrí colas De fato os países da Europa ocidental eram apenas media namente protecionistas por exemplo em 1913 as grandes eco nomias do continente tinham tarifas médias que iam de 12 a 18 Fora da Europa o protecionismo se espalhava As tarifas sobre as importações de manufaturados em países como Brasil México e Rússia eram duas ou três vezes mais altas do que as da Europa continental O protecionismo comercial nos Estados Unidos e em outras áreas de colonização europeia recente Oceania Canadá e diversas partes da América Latina também tendia a ser bastante amplo As tarifas ainda aumentaram em quase todos os lugares nas décadas que precederam 191415 O país mais populoso do mundo optou por não seguir com pletamente a integração econômica internacional Os líderes im periais chineses temiam que os efeitos desordenados da economia mundial atingissem a sociedade e afetassem o lugar que nela ocu pavam e tentaram controlar com cuidado as atividades dos comerciantes e investidores internacionais Na virada do século cada vez mais chineses especialmente aqueles que tinham algum contato com as oportunidades da economia global e queriam mais questionavam o isolamento do sistema imperial No ent anto apenas muito perto da Primeira Guerra Mundial com a eclosão da revolução nacionalista de 1911 é que houve alguma possibilidade real de a nação rumar para a integração econômica A maior democracia do mundo não era um modelo de global ização A formulação de políticas nos Estados Unidos era domin ada pelos protecionistas A visão deles não era extremada Eles es tavam contentes pelo fato de os produtores agrícolas e os mineradores norteamericanos venderem o que pudessem no ex terior e pelos estrangeiros investirem o que quisessem nos 73832 Estados Unidos mas insistiam em reservar a maior parte do mer cado nacional de manufaturados para eles mesmos A opção pelo fechamento não seguiu livre de desafios Os agroexportadores de algodão e tabaco do sul e os banqueiros anglófilos do nordeste resistiram ao protecionismo dos industrialistas da mesma forma que o Partido Democrata Mas como ocorreu na China apenas após a eleição de 1912 que levou Woodrow Wilson à Presidência é que os democratas prevaleceram Apesar de algumas exceções a Era de Ouro foi caracterizada por uma liberalização sem precedentes Grupos importantes dos países tinham ligações mais livres do que em qualquer época antes ou depois daquele momento Esse grupo de países incluía os bastiões tradicionais do livrecomércio a GrãBretanha a Holan da e a Bélgica As nações industriais menores tendiam a evitar o protecionismo comercial uma vez que os benefícios do livre comércio eram maiores para os países com um mercado nacional limitado Os países em desenvolvimento mais pobres também rumavam em direção ao livrecomércio Alguns deles eram incapazes de res istir à pressão das potências tanto das europeias como as de out ras regiões para que abrissem os seus mercados Na realidade muitas nações extremamente pobres quase não tinham o que pro teger produziam matériasprimas e bens agrícolas para ex portação e fabricavam poucos ou nenhum manufaturados A Pérsia e o Siãoc por exemplo eram quase tão abertos ao comércio quanto a GrãBretanha ou a Holanda Por fim as colônias não tinham outra escolha que não per mitir o livrecomércio com a metrópole As colônias britânicas e holandesas eram forçadas a seguir as diretrizes britânicas ou holandesas por comércio livre Mas aqui também havia exceções Os territórios britânicos autogovernados conhecidos de forma menos elegante como os domínios brancos Canadá Austrália Nova Zelândia e África do Sul usufruíam de uma independência 74832 efetiva e determinavam muitas de suas políticas comerciais A Ín dia lutou pela autonomia tarifária e por fim a conquistou Em to dos esses casos a opção foi por um protecionismo maior do que teria permitido o livrecomércio britânico As principais potências coloniais por outro lado concordaram em liberar o comércio na Bacia do Congo Ironicamente a política comercial alemã para as colônias era menos protecionista do que para seu mercado inter no Dificilmente as colônias serviriam como uma propaganda da livre escolha pelo livrecomércio mas muitas delas no entanto compartilhavam da tendência global em direção à integração comercial O poder político era a chave para o triunfo da abertura econ ômica Sem dúvida a abertura comercial contou com a assistência da solidez intelectual da estabilidade macroeconômica e dos avanços tecnológicos mas sua verdadeira fonte fora o poder político daqueles que se beneficiavam dela Os defensores do livrecomércio venceram a batalha política doméstica permitindo que o intercâmbio comercial internacional crescesse bem mais rápido do que a produção e cada vez mais países rumavam para a fabricação de bens a serem exportados e para o consumo de im portados Às vésperas da Primeira Guerra Mundial o comércio internacional era quase duas vezes mais importante para a eco nomia do mundo do que havia sido 14 anos antes Os adeptos dos pilares dourados Os proponentes do padrãoouro internacional estavam tão ocupa dos e cheios de compromissos quanto os defensores do livre comércio A comunidade financeira mundial contava com o sis tema monetário internacional vigente para manter próximos cre dores e tomadores de empréstimos investidores e seus investi mentos e para salvaguardar os contratos e propriedades além 75832 fronteiras Ao lado dos poderosos interesses financeiros estavam as empresas que gerenciavam o comércio internacional os segur os do envio de cargas e outras atividades similares A maioria dos fabricantes voltados para a exportação também fazia parte do bloco defensor do ouro já que um sistema estável de pagamentos propiciava um mercado próspero para seus produtos Grupos de interesse poderosos fora do centro financeiro europeu também defendiam o padrãoouro a fim de proteger seus objetivos Tomadores de empréstimos e seus credores dependiam do capital europeu e consideravam o ouro essencial para que o dinheiro continuasse a fluir Banqueiros norteamericanos de August Belmont a JP Morgan defendiam o ouro com veemência uma vez que gerenciavam grande parte dos investimentos europeus nos Estados Unidos Aqueles em áreas de colonização recente nas colônias e no mundo em desenvolvimento que geral mente dependiam do comércio de pagamentos do transporte de mercadorias e de outros serviços de ordem internacional para viver também advogavam pelo padrãoouro Os partidários de sistemas financeiros alternativos princip almente da moeda lastreada na prata ou apenas do papelmoeda lançavam críticas contínuas ao padrãoouro Muitos países de peso alternavam a adoção e o abandono do padrãoouro Apenas após 1896 quando os preços começaram a subir é que a adesão ao sistema tornouse praticamente universal A adoção do ouro gerava custos substanciais O governo que se comprometesse a fixar sua moeda no ouro não podia utilizar políticas monetárias como desvalorizar a moeda ou reduzir a taxa de juros para con tornar dificuldades econômicas domésticas As regras do jogo do padrãoouro livre conversão da moeda em ouro permitindo que os salários e preços internos variassem livremente para cima e para baixo de modo a manter o valor em ouro da moeda exi giam que os governos abdicassem de políticas monetárias 76832 proativas mesmo quando as justificativas para tais políticas fossem de ordem local A pressão para o abandono do ouro parecia ser grande prin cipalmente diante do pânico dos bancos do desemprego em massa e da turbulência social Havia uma legião de inimigos da moeda fixa no ouro e em tempos difíceis esse número aumentava Os principais adversários do ouro eram os que gan hariam mais com a desvalorização ou com uma flexibilidade mon etária maior Em muitos casos uma desvalorização aumentaria o preço dos produtos agrícolas e dos minérios aliviaria o ônus real da dívida e reduziria o desemprego Mas o ouro tornava a desval orização algo impossível A adoção do ouro facilitava o acesso a mercados capital e in vestimentos estrangeiros mas restringia a habilidade dos gov ernos de reagir a dificuldades econômicas Era preciso pôr de um lado da balança os benefícios de um câmbio previsível e do acesso ao capital estrangeiro e do outro os custos gerados pela ab dicação da ferramenta política mais poderosa de que os governos dispunham Tornavase difícil a avaliação das vantagens econôm icas trazidas pelo padrão diante dos sacrifícios domésticos Mesmo nos dias de hoje não é unânime entre os acadêmicos a opinião de que o padrãoouro foi uma boa opção Defensores e opositores se enfrentavam no campo de batalha político em um conflito que se tornava ainda mais amargo porque os que mais se beneficiavam do padrãoouro não eram os mesmos que arcavam com os custos gerados pela adesão Manter os Estados Unidos a Rússia ou o Brasil sob o padrãoouro significava benefícios para alguns e malefícios para outros e a polêmica política parecia não ajudar Por todo o mundo os defensores do ouro e os que a ele se opunham travavam a batalha dos padrões Geralmente essa era uma luta dos produtores agrícolas que desejavam uma moeda desvalorizada contra os interesses internacionalistas que por sua 77832 vez queriam a estabilidade de uma moeda fixada no ouro O res ultado dessa briga dependia da força dos interesses e de sua rep resentatividade Os interesses próouro nos países desenvolvidos eram particularmente importantes devido a uma elite financeira e comercial influente que defendia o metal e até mesmo nos países democráticos os produtores agrícolas mineradores devedores e trabalhadores não eram páreo para os que respaldavam o ouro Nos países em desenvolvimento a situação era diferente Os pro prietários de terras e mineradores dominavam muitas dessas nações oligárquicas e devido aos interesses dos setores primários agricultura e matériasprimas ao longo do período de de pressão a maior parte desses países passou mais tempo fora do que dentro do regime Os dois lados se enfrentaram de forma viol enta nos campos de batalha altamente politizados dos Estados Unidos país que abrigava de um lado produtores agrícolas e min eradores poderosos e de outro uma comunidade financeira igualmente forte além de uma democracia eleitoral em funcionamento Dadas as controvérsias quanto ao comércio e ao padrãoouro é surpreendente a forma como a economia internacional se manteve tão integrada por tantas décadas até 1914 De modo ger al e impressionante o comércio mundial se manteve aberto apesar das pressões protecionistas Isso se aplicava não apenas aos países extremamente pobres e às colônias mas também a al gumas das potências industriais mais poderosas do mundo E mesmo com as dificuldades impostas pela adesão ao ouro quase todas as grandes nações permaneceram nesse sistema por déca das até a Primeira Guerra Mundial Redes globais para uma economia global 78832 Conexões econômicas políticas e sociais poderosas além das fronteiras e dos oceanos uniam os defensores da integração da economia global na Era de Ouro Em muitos países os partidários do livrecomércio e os defensores do padrãoouro se apoiavam e se encorajavam mutuamente Em termos de políticas comerciais as importações de um país tinham uma clara relação com as ex portações de outro Os exportadores britânicos de bens industri ais queriam o algodão e o cobre sulamericanos ao passo que os produtores agrícolas e mineradores sulamericanos desejavam o maquinário para agricultura e mineração dos britânicos O comércio entre britânicos e argentinos ou chilenos fazia com que os argentinos ou chilenos dessem apoio à entrada de produtos britânicos A preocupação com as retaliações também unia os de fensores do livrecomércio da Europa e da América do Sul os fab ricantes europeus tinham esperança de que as políticas comerci ais de seus países levassem a uma abertura pelo Atlântico en quanto os exportadores de produtos agrícolas e de mineração da América do Sul aguardavam uma liberalização comercial de seus produtos que favorecesse os clientes e investidores europeus Há tempos que os ativistas pelo livrecomércio britânico en tenderam a importância das ligações alémfronteiras entre os grupos de interesse Na década de 1840 ao lutar pela revogação das Corn Laws os adeptos do livrecomércio reconheceram a im portância das políticas comerciais para os Estados Unidos onde conflitos sectários jogaram os exportadores do sul defensores das trocas comerciais sem barreiras contra os fabricantes prote cionistas do norte Os britânicos partidários do livrecomércio perceberam por exemplo que as Corn Laws colocavam os prin cipais estados produtores de grãos do MeioOeste dos Estados Unidos nos braços dos protecionistas Richard Cobden líder dos livres comerciantes britânicos alegou que com o protecionismo não oferecemos nenhum incentivo para que eles se retirem das cidades abandonem suas fábricas prematuras para cavar arar 79832 e lavrar o solo para nós Um dos aliados de Cobden no Parla mento argumentou Transformamos nossos melhores clientes não apenas em rivais comerciais mas em inimigos comerciais Durante as discussões na Casa outro observara Na última eleição um grande acordo fora firmado em relação às tari fas e no Congresso a vasta maioria era a favor de um abrandamento das políticas comerciais Nunca houve um momento em que ficasse tão evidente que se a Inglaterra flexibilizasse suas políticas se de pararia com semelhante flexibilização nos Estados Unidos16 A eventual mudança na política comercial britânica solidificou a aliança transatlântica pelo livrecomércio desde a revogação das Corn Laws até a Guerra Civil os exportadores norteamer icanos de produtos agrícolas se opuseram verdadeiramente às barreiras comerciais impostas aos produtos manufaturados britânicos apesar da objeção das indústrias do norte Durante décadas dezenas de países repetiram esse padrão Os produtores e credores europeus favoráveis ao livrecomércio en contraram aliados entre os que exportavam matériasprimas e so licitavam empréstimos nos países em desenvolvimento Os indus trialistas e investidores britânicos estabeleceram laços econômi cos com os produtores agrícolas brasileiros e egípcios banqueiros norteamericanos e mineradores australianos Tais laços eram com frequência culturais e sociais como podia ser demonstrado pela difusão da língua inglesa do futebol da política econômica britânica e pelas grandes e influentes comunidades britânicas e anglófilas de Buenos Aires a Xangai Cada uma das nações que se lançava no comércio mundial logo formava grupos de interesses poderosos geralmente aliados a grupos influentes no exterior que faziam pressão para a consolidação da integração comercial Os cafeicultores da Colômbia seringueiros do sul da Ásia e produtores de nitrato e cobre do Chile deviam grande parte da 80832 influência que exerciam em seus respectivos países a seus conta tos rentáveis com os mercados mais importantes do planeta A GrãBretanha era o centro da rede de livrecomércio O país e seu Império eram responsáveis por cerca de 13 de todo o comércio internacional As políticas britânicas eram comprometi das incessantemente com a integração global Um décimo do produto interno britânico vinha de investimentos estrangeiros fretes de carga seguros ou outros serviços internacionais e isso nem incluía os ganhos com as exportações17 A atividade comer cial que não envolvia diretamente a GrãBretanha muitas vezes fazia parte de um sistema mais amplo de comércio liderado pelos próprios britânicos o que reforçava a opção dos parceiros dessa nação pela livre troca de mercadorias Por exemplo a Dinamarca exportava laticínios e derivados de porco para o mercado britânico e comprava manufaturados de outros países No início do século XX o comércio da Dinamarca com a Alemanha e os Estados Unidos era extremamente desequilibrado o país im portava o triplo do que exportava Em contrapartida a Dinamarca compensava essa assimetria por meio de um comércio desequilib rado com a GrãBretanha no qual os dinamarqueses exportavam três vezes mais do que importavam Esse triângulo comercial compensador dependia de um sistema internacional e generaliz ado de livrecomércio18 O compromisso inabalável dos britânicos com o livrecomér cio também implicava a adoção de políticas similares na Bélgica na Holanda e em outras pequenas nações da Europa Uma Grã Bretanha defensora do livrecomércio também significava que as trocas internacionais sem tarifas eram a base das relações comer ciais do maior Império mundial mesmo que alguns de seus mem bros se desviassem desse caminho A GrãBretanha da livre troca de mercadorias puxou o Peru o Japão e o Sião para um sistema interligado de comércio investimentos transportes e comunicações 81832 Talvez o mais importante foi que a disponibilidade imediata do mercado britânico ajudou a solidificar a vocação internacional dos que ali vendiam comercializavam e faziam empréstimos Mesmo tendo a Alemanha adotado uma política protecionista os exportadores e banqueiros do país enriqueceram e por fim tornaramse mais influentes por comercializar com a cidade de Londres ou por intermédio dela O mesmo se aplicava a credores exportadores e aqueles que solicitavam empréstimos em todo o mundo A essência do funcionamento da economia da Grã Bretanha exigia ao mesmo tempo que reforçava o desejo dos britânicos e de outros em manter o sistema comercial aberto Dessa forma o comércio mundial continuava a crescer inserindo dezenas de países em uma rede densa que se autorreforçava Apesar da tentação do protecionismo e de alguns terem se ren dido a ele de forma geral o comércio mundial estava aberto Os defensores do padrãoouro também eram internacional mente conectados Os principais banqueiros e financistas das maiores potências econômicas GrãBretanha França Ale manha e Holanda entre outros mantinham contato frequente e compartilhavam do interesse pela manutenção da ordem mon etária global Também nos países que solicitavam empréstimos grupos poderosos com fortes laços econômicos donos de plantações na Malásia empresários do ramo de estradas de ferro no Brasil mineradores na África do Sul banqueiros no Peru tinham todas as razões para salvaguardar a ordem financeira e monetária que lhes concedeu acesso ao capital da Europa Todos os que tinham ligações com os investimentos e as finanças inter nacionais consideravam o padrãoouro essencial para o bom fun cionamento do sistema e partilhavam do compromisso de mantê lo O padrãoouro dependia da cooperação implícita ou explícita entre as principais potências financeiras e monetárias Em tem pos extremamente difíceis como o pânico econômico de 1907 as 82832 autoridades financeiras de GrãBretanha França Alemanha e por vezes de outros países trabalhavam juntas para evitar fissuras sérias no sistema O padrãoouro também dependia de uma re lação forte entre os banqueiros internacionais da Europa e seus clientes nos países em desenvolvimento Missões rumavam dos principais centros financeiros para Constantinopla e Lima Rio de Janeiro e Bancoc com o objetivo de aconselhar os devedores sobre como deveriam gerenciar suas economias Esse conselho muitas vezes era a adoção do padrãoouro Quando as dívidas se agravavam comitês de credores supervisionavam as renego ciações o que em geral incluía programas para a adesão ao padrãoouro Além do comércio uma das principais fontes de energia do padrãoouro era o extraordinário poder da GrãBretanha Ludwig Bamberger banqueiro e político que ajudou a implantar o padrãoouro na Alemanha disse certa vez Não optamos pelo ouro porque ouro é ouro mas porque a GrãBretanha é a Grã Bretanha19 O ouro melhorou o acesso à rede financeira britân ica e na virada do século Londres era responsável por quase metade de todos os investimentos internacionais A confiança no capital britânico era uma boa razão para que nações em desenvol vimento ao redor do mundo seguissem a liderança inglesa Já que o Reino Unido tecera uma rede econômica internacional tendo Londres como centro era natural que os participantes fossem at raídos para um sistema monetário britânico fixado no ouro Quanto mais países adotassem o ouro maiores seriam os in centivos para que outros se mantivessem ou entrassem no padrão Para um país ser um dos muitos a adotar o sistema bi metálico ou o papelmoeda não era muito prejudicial mas ser o único fora do sistema implicava o risco de rebaixamento à se gunda classe da economia global Na década de 1890 o comércio o dinheiro e as finanças inter nacionais já operavam como um circulo virtuoso À medida que o 83832 comércio mundial crescia surgiam mais grupos de exportadores e as exportações se tornavam mais importantes para eles Quanto mais importantes se tornavam os mercados externos para os produtores domésticos mais eles relutavam em aceitar o risco de retaliações gerado pelas tarifas nacionais Quanto mais ampla e atrativa era a variedade de produtos disponíveis no mercado in ternacional mais insistente tornavase a demanda pelo acesso a tais benefícios do comércio Esse fato se aplicava até mesmo aos países altamente protecionistas Com o crescimento das ex portações de matériasprimas e de produtos agrícolas dos Estados Unidos a hostilidade dos fazendeiros e mineradores do sul e do oeste em relação ao protecionismo comercial se tornou mais acir rada e profunda Possivelmente muitos fabricantes se benefi ciaram do sistema comercial mundial aberto Entre 1890 e 1910 a participação dos manufaturados norteamericanos cujas ex portações representavam 5 dos ganhos do país cresceu dramat icamente de 14 para 23 dessa economia nacional20 Em 1910 o país foi pressionado a abolir o quase embargo que impunha às im portações de manufaturados A mudança se refletia na política norteamericana que passou a fortalecer os democratas que ad vogavam pelo livrecomércio e até mesmo o discurso dos prote cionistas republicanos ganhou um tom mais moderado Em 1912 quando os democratas conseguiram ocupar a Presidência e dom inar o Congresso a primeira medida foi uma redução dramática nas tarifas norteamericanas Nos Estados Unidos assim como em outros lugares o rápido crescimento do comércio enfraqueceu os protecionistas e fortaleceu os que defendiam as trocas comerci ais livres de barreiras Um círculo vicioso também operava no padrãoouro Quanto mais sólido ele se tornava mais razões para salvaguardálo tin ham seus defensores À medida que o sistema internacional fin anceiro crescia um número maior de investidores internacionais se arriscava e eles forneciam uma base mais sólida às políticas 84832 governamentais Sobretudo aqueles que eram contra o sistema do ouro tinham motivos para crer em uma conspiração internacional do metal Os que acreditavam na ordem monetária dominante tinham muitos interesses em comum e se esforçavam para protegêlos Já que os opositores ao ouro lutavam prioritaria mente pela autonomia nacional e não pela harmonização mon etária internacional o estabelecimento de qualquer tipo de co ordenação global nessa direção tornavase impossível A integração econômica global se autorreforçava Quanto mais países adotassem o padrãoouro maiores seriam os níveis de comércio investimentos empréstimos e migração no plano inter nacional Quanto mais atividade econômica fosse gerada entre as fronteiras mais forte era o apoio ao padrãoouro como o guardião de um equilíbrio econômico previsível e de um sistema confiável de créditos Quanto mais amplo e profundo fosse o compromisso com o ouro melhor se posicionariam aqueles cujo sustento de pendia do padrãoouro e seus desdobramentos E dessa forma os pilares da Era de Ouro aumentavam tanto sua extensão quanto sua força Sua rede de defensores tornavase mais densa e sua resolução mais elevada na medida em que cada vez mais países adotavam o ouro e o comércio e os investimentos se expandiam Migração internacional de indivíduos e capital Embora o livrecomércio e o padrãoouro fossem as característic as mais óbvias do capitalismo global do período préPrimeira Guerra Mundial a movimentação de indivíduos também influen ciava a ordem econômica Não havia contudo um sistema ou uma política global que se aplicasse a todos os países como ocor ria em relação ao comércio e ao capital Em vez disso pressupunhase que tais movimentações deveriam ser 85832 essencialmente livres pressuposto este que raramente era ques tionado e de forma ainda mais rara se provava errado Tanto os países que enviavam imigrantes quanto aqueles que os recebiam tinham pouco interesse em restringir essa movi mentação Os que investiam fora do país ou imigravam certa mente o faziam com grandes expectativas Geralmente estavam certos A taxa média de lucros gerados pelos investimentos britânicos no exterior era de 70 a 75 maior do que a produzida internamente Essa diferença era ainda mais acentuada no todo poderoso setor ferroviário para o qual se destinava metade de to do o investimento externo da GrãBretanha As ferrovias britân icas no exterior arrecadavam cerca de duas vezes mais que as do Reino Unido21 Os ganhos com os empreendimentos internacion ais eram imensos para os países dos grandes investidores Na virada do século a supremacia dos britânicos nos investimentos internacionais dependia substancialmente dos lucros que obtin ham no exterior Com efeito uma década antes de 1914 a Grã Bretanha enfrentou um déficit comercial equivalente a 6 do Produto Interno Bruto PIB do país uma quantia considerável que era compensada com alguma folga pelos ganhos líquidos dos investimentos externos de 7 do PIB22 Esse fato levou os de fensores do sistema como Winston Churchill em um discurso proferido durante a campanha eleitoral de 1910 a falar com entusiasmo eloquente sobre os investimentos internacionais britânicos Os investimentos internacionais e o retorno que proporcionam estim ulam o sistema industrial britânico de forma vigorosa eles remu neram o capital do país com uma parcela da nova riqueza de todo o mundo a qual está gradualmente se tornando controlada pela desen volvimento científico23 Os salários nos países de destino eram drasticamente mais al tos do que aqueles pagos nos lugares de onde os imigrantes 86832 vinham Em 1910 por exemplo os salários nos Estados Unidos e no Canadá eram cerca de três vezes mais altos do que na Itália ou na Espanha ao passo que na Argentina eles eram o dobro Os salários norteamericanos e canadenses eram cerca de duas vezes mais altos do que os pagos na Irlanda e na Suécia e quase o dobro dos pagos na GrãBretanha24 Apesar de a vida dos imigrantes não ser fácil ela seria mesmo assim ainda mais difícil se eles tivessem ficado em seus países As nações de origem desses imigrantes tin ham poucos motivos para se opor à partida deles já que isso aliviava as pressões econômicas e sociais em lugares superpovoa dos A imigração também suscitava a esperança pelas remessas de dinheiro que os imigrantes mandavam para os que haviam sido deixados para trás Investidores internacionais imigrantes e seus países de ori gem certamente apoiavam a liberdade de movimentação para si e seu dinheiro Os países nos quais investiam ou se estabeleciam tinham razões para darlhes as boasvindas Na época assim como agora os países recémdesenvolvidos estavam ávidos por dinheiro Como mostra a comparação entre os salários estas tam bém eram regiões típicas de escassez de mão de obra onde rece ber novos trabalhadores motivados seria uma contribuição vital para o desenvolvimento nacional A avidez por trabalhadores em muitos dos locais de destino dos imigrantes era tão grande que governos subsidiavam esse deslocamento No Brasil após a abol ição da escravatura em 1888 os cafeicultores estavam tão deses perados por trabalhadores que convenceram os governos local e nacional a oferecer passagens de graça a europeus que quisessem vir trabalhar no país Nos 20 anos que se seguiram cerca de três milhões de europeus foram para o sul do Brasil remodelando a economia e a estrutura social desses lugares O entusiasmo com a imigração e os investimentos internacion ais não era contudo universal Nos países de onde o dinheiro es coava havia uma certa preocupação de que isso estaria 87832 restringindo o fornecimento de fundos para empreendimentos domésticos rentáveis Mesmo que as análises econômicas feitas posteriormente tendam a ser céticas nessa conta25 certamente muitas empresas na Europa se ressentiam dos enormes emprésti mos concedidos por financiadores europeus ao czar ou à província de Buenos Aires enquanto eles não podiam tomar emprestado Joseph Chamberlain um dos principais críticos dos investimen tos britânicos bradava contra o que considerava ser o descaso da comunidade londrina partidária do livrecomércio e dos investi mentos externos para com a indústria A atividade bancária não é a causa de nossa prosperidade e sim a cri ação dela não é a causa de nossa riqueza e sim a consequência dela e se a força industrial e o desenvolvimento os quais têm estado em curso neste país por tantos anos forem deixados para trás ou atenua dos então as finanças e tudo aquilo que elas significam irão seguir o comércio rumando para os países mais bemsucedidos que o nosso26 Em algumas partes dos países que solicitavam empréstimos também pairava a preocupação de que a confiança no capital ex terno fosse malconduzida Tal sentimento nacionalista era evid entemente mais popular quando se tratava do pagamento de em préstimos As preocupações não eram de todo infundadas Poucos eram os argumentos que serviam como justificativas aos cidadãos brasileiros ou chineses forçados a reduzir o consumo para pagar dívidas que aumentariam a fortuna de imperadores empresários favorecidos ou políticos corruptos Na maioria dos casos no entanto a exportação de capital não era uma questão controversa Esse capital tendia a rumar dos países que o tinham em abundância para os Estados que o dese javam e podiam pagar por ele Os principais receptores não eram as regiões paupérrimas da África ou Ásia mas as de colonização recente europeia em rápido desenvolvimento Em 1914 de fato 34 dos investimentos britânicos estavam no Canadá Austrália 88832 África do Sul Índia e Argentina27 Nesses países a maior parte do dinheiro era usada em estradas de ferro portos usinas de geração de energia e outros projetos cruciais para o desenvolvimento A imigração gerou um descontentamento maior Os trabal hadores europeus ou asiáticos que iam para Sydney Toronto ou São Francisco se tornavam competidores diretos da mão de obra que já estava lá Na época assim como ocorre nos dias de hoje multidões de trabalhadores não especializados se agrupavam nas profundezas do mercado de trabalho desempenhando as tarefas mais pesadas e menos almejadas Na maioria dos casos a imigração não significou uma queda nos salários dos trabal hadores especializados mas certamente reduziu o valor pago aos menos qualificados aqueles que competiam diretamente com os imigrantes Um estudo sobre as condições nas cidades norte americanas na virada do século mostrou que quanto maior era a população vinda de outros países menores eram os salários dos trabalhadores Apesar de os salários dos artesãos não terem so frido alterações o impacto causado na mão de obra não quali ficada dos Estados Unidos fora significativo Cada ponto percent ual acrescido nas taxas de imigração diminuía os salários dos tra balhadores em 1628 Análises mais amplas confirmavam os resultados norteamericanos de que por razões óbvias a imigração causava imenso impacto no abastecimento de trabal hadores em muitos dos países receptores Entre 1870 e 1910 a imigração tornou no último ano a força de trabalho argentina 75 maior do que seria se o país não tivesse recebido imigrantes O Canadá e a Austrália contavam com 13 a mais de trabal hadores e os Estados Unidos com 15 Os resultados da crescente oferta de mão de obra foram salários notadamente mais baixos do que seriam sem a imigração 13 menores na Argentina cerca de 14 no Canadá e na Austrália e até 18 menor nos Estados Un idos29 89832 Os trabalhadores portanto tinham motivos para tentar re stringir novos fluxos de imigração Geralmente os novos imigrantes eram a maior ameaça econômica para quem havia acabado de chegar e agora ocupavam as posições mais baixas na escala social local Nos Estados Unidos os irlandeses eram uma ameaça para os italianos que eram uma ameaça para os judeus e todos eram uma ameaça para os migrantes internos os negros vindos do sul do país Mas ao passo que os trabalhadores es tavam receosos quanto à imigração os empregadores tinham to dos os motivos para desejála Certamente eles eram os que mais se beneficiavam com os salários baixos principalmente na in dústria setor que necessitava de trabalho não qualificado Os imigrantes correspondiam a 15 da força de trabalho masculina dos Estados Unidos a 23 da mão de obra da indústria têxtil e a mais da metade dos empregados das fundições de ferro e aço30 O resultado foi um conflito direto de interesses assim como ocorrera em relação ao comércio e ao padrãoouro Nos países destino a mão de obra não especializada desejava que os novos trabalhadores não qualificados se mantivessem afastados ao passo que os empregadores os desejavam As aparentes diferenças étnicas religiosas ou raciais entre os grupos exacerbavam ainda mais os conflitos Os lugares onde o trabalho era uma questão política particularmente forte em geral enfrentavam restrições severas à imigração A Austrália talvez seja o melhor exemplo No país a grande quantidade de mão de obra concedera aos sindica tos um poder que provavelmente não existia em nenhuma outra parte do mundo poder esse que era utilizado para impor re strições severas à imigração Devido às razões econômicas e raci ais o principal alvo eram os imigrantes asiáticos Eles eram cul tural e fisicamente diferentes e por serem mais pobres que os europeus geralmente estavam dispostos a trabalhar por menos O resultado foi uma segregação racial severa a política da Aus trália branca adotada com o Ato de Restrição à Imigração de 90832 1901 Nos Estados Unidos o sentimento antiimigração concentravase no oeste No país assim como na Austrália a mão de obra era escassa devido à distância Nos EUA conforme ocor rera na Austrália a escassez de mão de obra implicou salários mais altos para os que chegaram primeiro os quais tentavam lim itar a entrada dos demais O principal alvo era a imigração asiát ica Isso resultou em uma série de restrições a imigrantes chineses e japoneses que durou muitas décadas Os exemplos de restrições impostas à imigração são muitos Entretanto no nível global eles eram relativamente escassos Raramente os trabalhadores possuíam força suficiente para mudar as políticas de imigração o que ocorreu apenas em alguns países Em nações como a Argentina e o Brasil onde a sociedade e o governo eram dominados pelos interesses dos proprietários de terras e industrialistas que desejavam a maior quantidade pos sível de imigrantes os governos eram proativos no estímulo ao abastecimento crescente de trabalhadores Mesmo em regiões onde algumas restrições foram impostas como no Canadá e nos Estados Unidos as fronteiras permaneciam praticamente abertas à maioria dos imigrantes principalmente os europeus A imigração assim como o comércio os investimentos e o padrão ouro ajudou a construir uma estrutura mais ampla para a aber tura econômica Muitos dos imigrantes esperavam voltar para casa de vez ou de passagem comprar uma propriedade em seus países e enviar dinheiro para os parentes que lá ficaram Eram gratos às fronteiras abertas e à facilidade com que podiam trans ferir fundos entre as moedas fixas no ouro Em contrapartida contribuíam para a integração econômica ao ajudar no estabeleci mento de novas terras e indústrias em locais que de outra forma continuariam carentes de mão de obra Globalização 91832 O capitalismo global do fim do século XIX e início do XX chegou perto do ideal clássico Todos os elementos que o compunham imigração comércio ou investimentos internacionais gozavam de relativa liberdade e estavam unidos pelo bemestabelecido padrãoouro Os donos de firmas minas fazendas e plantações em todos os continentes produziam para os mercados globais util izando a mão de obra e o capital de todo o globo Os que prosperavam constituíam uma força poderosa e em crescimento contínuo para o avanço da integração econômica Nessas con dições a economia mundial cresceu mais rapidamente do que nunca O padrão de vida aumentava à medida que cada país at ingia ou ultrapassava o nível de desenvolvimento da Grã Bretanha a naçãolíder em industrialização A liberalização do comércio se autorreforçava o padrãoouro também e cada um deles reforçava um ao outro O padrãoouro tornava o comércio e as finanças internacionais mais atrativas as quais por sua vez aumentavam o poder de atração do padrão ouro A abertura econômica global levou a meios de transporte mais rápidos a um melhor sistema de comunicações a moedas mais confiáveis a políticas comerciais mais livres e a uma maior estabilidade política E todos esses fatores estimulavam uma maior abertura econômica O circulo virtuoso ou o espiral de abertura econômica crescente resultante se expandiu a níveis ja mais vistos durante o fim do século XIX e início do XX O clube de cavalheiros que era o capitalismo global da Era de Ouro foi fundado tendo a GrãBretanha e a Europa ocidental como núcleo Mas o clube também estava aberto ao Novo Mundo e a outras regiões e na virada do século os Estados Unidos a Austrália e a Argentina obtiveram a afiliação Outras nações que cresciam rápido e se integravam globalmente como o Brasil e o Japão também eram membros do clube apesar de não gozarem do mesmo status que os franceses britânicos e alemães Os gov ernos dos países que pertenciam ao clube fossem eles membros 92832 seniores ou juniores eram altamente conscientes de que precis avam manter um padrão de conduta de acordo com suas obrigações abertura econômica completa compromisso com o padrãoouro e uma interferência mínima nos mecanismos de fun cionamento dos mercados globais e nacionais O clube crescia e prosperava e seus membros tinham poucos motivos para reclamar a Clubes formados pela classe alta londrina em que seus membros se reuniam para jogar ou discutir temas como política ou literatura NT b No original governor O governor do Banco da Inglaterra o Banco Central inglês é a posição mais alta na instituição NE c Antiga denominação da Tailândia O nome mudou em 24 de junho de 1939 NE 93832 3 Histórias de sucesso da Era de Ouro A Exposição Internacional de Paris de 1900 foi a maior que o mundo já viu Essa foi a última de uma série de sete feiras inter nacionais na França e na GrãBretanha que teve início com a ex posição de 1851 no Palácio de Cristal As feiras anteriores mostraram os avanços industriais do passado a de Paris apontava em direção ao século XX Os visitantes da feira de 1900 podiam caminhar do Trocadero à Torre Eiffel que havia sido erguida para a exposição de 1899 Os portões da feira se abriram para um mix internacional Carrilhões flamengos de sinos medievais cânticos muezins com o tin ido de cincerros as cidades de Nuremberg e Louvain moradias húngaras monastérios romenos palácios javaneses bangalôs seneg aleses e castelos dos Cárpatos formavam uma maravilhosa mis celânea internacional sob o céu cinzento da quaresma1 Os avanços industriais e científicos tomaram conta da ex posição Para um francês parecia que o mundo mudava tão de pressa que nos deixava tontos confusos em meio ao turbilhão do progresso2 Os visitantes podiam ver as últimas tecnologias um telégrafo sem fio o telescópio mais poderoso do mundo uma torre de eletricidade Eletricidade escreveu um entusiasmado visitante Nascidos no paraíso como verdadeiros reis A eletricidade triunfou na exposição como a morfina triunfara nos boudoirs de 1900 O público ria das palavras perigo de morte escritas nas torres pois eles que pensavam que a eletricidade poderia curar todas as doenças até mesmo a neurose tão na moda isso era o progresso a poesia tanto dos ricos quanto dos pobres a fonte de luz o grande sinal esmagou o acetileno assim que surgiu A eletricidade é acumulada condens ada transformada engarrafada armazenada em filamentos enrolada em bobinas depois descarregada na água em fontes disposta livre mente no topo das casas ou deixada perdida entre as árvores é o fla gelo e a religião de 19003 Os visitantes podiam chegar ao novo metrô de Paris circular pelos pavilhões de esteira rolante e andar na primeira escada ro lante apenas para cima em direção aos surpreendentes novos aparatos No pavilhão de ótica podiase ver visão repugnante uma gota das águas do Sena aumentada 10 mil vezes e um pouco mais adiante a apenas um metro de distância avistavase a lua O dr Doyen um cirurgião dado à autopromoção utilizou até mesmo uma invenção nova um cinematógrafo que o mostrava realizando uma operação Em outro ponto a voz de um fonógrafo estava sincronizada com im agens em movimento4 Um escocês maravilhado com as novas tecnologias e com aqueles que as desenvolveram afirmou Os engenheiros e eletricistas em meio a patentes da Siemens ou do Lord Kelvin os mestres do ferro se aglomerando para comprar a co lossal máquina a gás que reutiliza a energia gasta pelos altosfornos e literalmente acumula a força de milhares de cavalos contra o que tem sido até o momento um poluidor inútil do ar a mostra de 95832 automóveis as últimas lentes telefotográficas as rivais das máquinas de escrever as macieiras mais bempodadas os filtros e antissépticos mais recentes5 Em meio a tantos indícios do progresso tecnológico os 50 mil hões de visitantes da feira devem ter percebido outra realidade a liderança industrial parecia se afastar da GrãBretanha e de out ros países que também se industrializaram cedo como a França e a Bélgica Para um inglês a exposição fora um presságio da norteamericanização do mundo No entanto de forma geral a feira foi dominada pela Alemanha como se a nação tivesse se tornado a responsável por todo o maquinário da Terra Insistia na beleza do aço e a poltrona de Luís XV foi banida Ela irá esmagar e pulverizar o mundo6 Ouvi os mais velhos dizendo escreveu um menino francês Viram os alemães São incríveis Eles engarrafam o ar Fab ricam o frio A Alemanha um país que havia 30 anos era consid erado um local atrasado apenas de agricultores chocava os visit antes com seu pavilhão Sob seu aspecto rústico suas torres de madeira verdes e amarelas o palácio do Reich escondia uma verdadeira explosão de método ciên cia e trabalho que resultava em um imenso sistema de medidas prát icas A maior instância de envolvimento comercial que o mundo já viu7 O visitante francês foi ainda mais longe Nenhuma outra raça até agora havia sido bemsucedida em extrair resultados tão estupendos da terra sem suar a camisa Veja me lem bro bem da grande impressão que me causaram o enorme dínamo de Hélios de 2 mil cavalos de força produzido em Colônia e acelerado por turbinas a vapor os outros tipos de geradores de Berlim e Magde burgo e o guindaste que levanta 25 toneladas dominando a galeria diante dessas máquinas as dos outros países parecem brinquedos8 96832 Veteranos de guerra da derrota francesa de 30 anos antes baixaram a cabeça com tristeza relembrando a decisiva Guerra FrancoPrussiana A exposição é um sedã comercial9 Houve rumores de que os alemães se ofereceram para fornecer toda a en ergia da feira mas os franceses humilhados pelo simbolismo da subordinação industrial da França recusaram Ainda mais surpreendente foi a ascensão econômica de um Estado insular asiático conhecido por seu exotismo e não por sua indústria Esse jovem vitorioso começou bem o século disse um observador10 Outro visitante estava apreensivo percebendo uma sombra da Alemanha e de seu poderio militar surgindo da Ásia O Japão parece ser o eco oriental da grande voz do Reno celebrando o trabalho a pátria e enobrecendo a guerra Qual o significado de toda essa armadura prateada dessas caldeiras tubulares dessas polít icas aventureiras dessa arrogância comercial Sobre Nagasaki e suas luzes nós sabemos mas e sobre Kobe e seus altosfornos11 Para muitos cidadãos das nações mais industrializadas os avanços econômicos de outros lugares revelados na exposição eram perturbadores Esses países que estão criando uma vida nova para si escreveu um francês nada sabem sobre política e sobre a atitude neurótica e degenerada do findesiècle Contra quem eles estão propondo usar sua força12 Da Europa central à Austrália da Argentina ao Japão o excentro industrial do mundo estava sendo superado por uma série de países fora desse núcleo Os visitantes da feira de Paris de 1900 devem ter se per guntado como o noroeste da Europa perdeu a sua posição inques tionável de líder da economia mundial A GrãBretanha fica para trás 97832 À medida que as economias se integravam as modernas fábricas se expandiam de sua limitada base na GrãBretanha e no nordeste da Europa em direção ao resto do continente à América do Norte e até mesmo ao Japão e à Rússia Em 1870 a GrãBretanha a Bélgica e a França juntas eram responsáveis por quase metade da produção industrial do mundo mas em 1913 esses países mal conseguiam produzir 15 dela A produção industrial da Ale manha era maior que a da GrãBretanha e a produção norte americana era mais que o dobro da britânica13 Em 1870 áreas urbanas industriais eram raras até mesmo na Europa mas até 1913 todos os países da Europa ocidental exceto Espanha e Por tugal se industrializaram Nas terras austríacas e tchecas do Império AustroHúngaro dos Estados Unidos e do Canadá da Austrália e Nova Zelândia da Argentina e do Uruguai a parcela agrícola da população era menor do que na França e na Ale manha14 Em 1913 podiase dizer com certeza como não poder ia ter sido dito em 1870 que grande parte do mundo era indus trial de Chicago a Berlim de Tóquio a Buenos Aires A GrãBretanha a primeira nação manufatureira do mundo e líder industrial por muitos anos havia sido deixada para trás por diversos países e se encontrava na eminência de ser superada por outros Vários eram os indícios que atestavam o fato O padrão de vida nos Estados Unidos na Austrália e na Nova Zelândia era mais alto do que no Reino Unido e estava crescendo rápido na Argentina e no Canadá As fábricas da Alemanha e dos Estados Unidos produziam bem mais do que as da GrãBretanha especial mente aquelas dos principais setores Em 1870 a produção britânica de ferro e aço era maior que a das duas nações juntas ao passo que em 1913 a Alemanha e os Estados Unidos juntos ul trapassaram a produção britânica na proporção de cerca de seis para um A GrãBretanha também havia perdido sua supremacia tecnológica Os alemães avançaram de forma significativa no campo da engenharia elétrica e dos químicos e os norte 98832 americanos introduziram métodos revolucionários de produção em massa15 O berço da Revolução Industrial estava sendo deix ado para trás Eram muitos os que se industrializavam rapidamente Os Estados Unidos e a Alemanha que já começaram prósperos eram economias agrícolas e comerciais produtivas e que rumaram de forma mais ou menos suave em direção às manufaturas Outros países que rapidamente se industrializaram como Itália Império AustroHúngaro Rússia e Japão iniciaram o processo bem mais pobres Eram economias agrícolas atrasadas nos casos de Rússia e Japão estavam apenas um passo à frente do feudalismo mas desenvolveram setores manufatureiros dinâmicos no início do século XX Essas nações continuavam a ser amplamente agrárias e com frequência as economias rurais eram bem mais atrasadas que as cidades mas acabaram construindo uma base industrial impressionante As experiências de Japão e Rússia foram especialmente dramáticas Ambos os países eram acometidos pela pobreza e a sua renda per capita em 1870 era bem semelhante à de outros pobres da Ásia e muito menor que a dos Estados da América Lat ina Mas na reta final do século XIX ambos seguiram o ímpeto vi gente de industrialização Seus respectivos governos se con centraram em expandir as exportações e atrair capital estrangeiro para alimentar a indústria A autocracia da Rússia czarista buscava investimentos no ex terior exportava matériaprima e grãos a fim de arrecadar moeda estrangeira para a indústria além de proteger os produtos manu faturados domésticos com tarifas comercias altas A indústria russa cresceu em uma velocidade notória A produção de aço aumentou em seis vezes de 1890 a 1900 e depois disso mais do que dobrou de 1905 a 1913 os anos do início do século foram marcados pela guerra contra o Japão e por uma revolução demo crática fracassada A produção de carvão e de ferrogusa 99832 aumentou em seis vezes de 1890 a 1913 e as indústrias de bens de consumo cresceram de forma quase tão rápida Em 1914 a Rússia possuía 2 milhões de trabalhadores nas modernas indústrias além de algumas das maiores fábricas do mundo16 No entanto o cultivo agrícola permanecia majoritariamente prémoderno A Rússia se industrializou rapidamente mas de maneira altamente desordenada Algumas poucas ilhas de modernidade eram cerca das por áreas rurais extremamente atrasadas O Japão passou por um processo de desenvolvimento econ ômico mais equilibrado A retomada da Dinastia Meiji em 1868 derrotou a ordem militar dos senhores feudais do xogunato O novo governo imperial reformista tinha como objetivo a modern ização econômica por meio da participação completa na economia mundial De forma ávida o país buscava tecnologia e capital es trangeiros e em poucos anos já exportava com sucesso para os mercados europeus A agricultura japonesa era relativamente efi ciente diferentemente do que ocorria com a russa e o cresci mento industrial dependia tanto do comércio exterior quanto de um desenvolvimento econômico mais amplo o que incluía um aumento na renda das zonas rurais O início do crescimento in dustrial do Japão estava intimamente ligado às suas vantagens comparativas especialmente o comércio da seda Até 1914 a seda ou os produtos feitos a partir dela correspondiam a 13 de todas as exportações17 Com o auxílio da abundante e relativamente bemeducada força de trabalho japonesa a indústria de produtos de algodão também cresceu rapidamente Entre 1890 e 1913 a produção de fios de algodão cresceu de 190 mil para 3 milhões de toneladas As exportações do produto que em 1890 eram inexist entes atingiram 850 mil toneladas em 1913 e as de tecidos que também não existiam chegaram a 390 milhões de centímetros cúbicos no mesmo ano quando os tecidos de algodão correspon diam a mais de 15 de todas as exportações japonesas18 100832 Os japoneses demonstraram os frutos férteis de seu sucesso econômico derrotando a China na guerra de 1895 tomando Taiwan aumentando a influência que exerciam sobre a Coreia e conseguindo uma posição na luta por esferas de influência na Ch ina Eles se afirmaram de forma ainda mais impressionante na guerra contra a Rússia em 1904 O Japão arrasou a Rússia e foi a primeira vez na história moderna que uma potência asiática derrotou uma europeia O ataque naval no estreito de Tsushima em maio de 1905 particularmente chocou os europeus A armada japonesa se mostrou mais rápida mais moderna e melhor equipada do que a frota russa que foi completamente destruída A ciência alemã a tecnologia norteamericana e o poderio mil itar japonês ofuscaram o núcleo industrial do mundo Uma série de países que em meados do século XIX estavam bem fora do cír culo da sociedade industrial moderna pularam para o centro dele no início do XX Tornaramse membros ativos do clube de caval heiros da Era de Ouro da economia mundial Novas tecnologias e o novo industrialismo Mudanças nas bases manufatureiras promoveram a rápida pro pagação da industrialização A difusão do uso de energia elétrica e de formas mais baratas de produção de aço além do desenvolvi mento da indústria química moderna e de outras tecnologias transformaram a produção industrial Uma enxurrada de in venções também introduziu novos produtos no mercado como a máquina de escrever a bicicleta o fonógrafo as câmeras portáteis e a seda artificial chamada raiom O mecanismo de combustão interna levou à invenção do veículo motorizado e ao lançamento da indústria mais importante do século XX Em meados de 1800 os manufaturados eram basicamente produtos têxteis 101832 vestimentas e calçados mas no fim do século o foco passou para o aço químicos máquinas elétricas e automóveis A produção e o consumo em massa cresciam juntos No início os produtos industriais atendiam principalmente às necessidades básicas Uma vez que a renda per capita na Europa na América do Norte e nas áreas de colonização recente cresceu duas vezes entre 1870 e 1913 a demanda por bens de consumo além de com ida roupa e moradia mais do que duplicou Ao mesmo tempo as invenções recentes possibilitaram a criação de uma série de eletrodomésticos Agora muitas famílias tinham luz elétrica má quinas de costura telefones e algumas delas automóveis e rádi os A tendência de produzir máquinas para o consumo de massa especialmente os novos aparatos domésticos era liderada pelos Estados Unidos A América do Norte sofria com a falta crônica de trabalhadores o que significava que empregados domésticos eram caros demais para as classes médias e que as mulheres norteamericanas eram mais inclinadas a trabalhar fora do que as europeias Isso criou uma avidez por aparatos que aliviassem o peso do trabalho doméstico e liberassem os indivíduos para out ras atividades O automóvel era um produto industrial exemplar que levou a novos padrões de produção e consumo A carruagem sem cavaloa supria a demanda por um meio de transporte individual que crescia junto com a renda e a disponibilidade de tempo para o lazer As linhas de montagem levaram o carro a motor original mente um artigo de luxo feito artesanalmente ao alcance da classe média O boom inicial da indústria automobilística ocorreu dez anos antes da Primeira Guerra Mundial O fenômeno foi essencialmente norteamericano A Europa não aderiu seriamente à era automotiva até a década de 1920 Em 1905 havia cerca de 160 mil veículos motorizados no mundo sendo que a metade es tava nos Estados Unidos Em 1913 cerca de 17 milhão de carros rodavam nas estradas dos quais 34 nos Estados Unidos As 102832 inovações de Henry Ford reduziram o preço do Ford modelo T de US700 para US350 entre 1910 e 1916 quando os preços dos outros produtos aumentaram em média 70 Com o aumento dos salários durante esse período um trabalhador médio norteamer icano em 1910 conseguia ganhar o suficiente para comprar um Ford T em um ano Em 1916 esse tempo foi reduzido para seis meses Com a produtividade disparando os preços caíram e a de manda aumentou A produção de carros Ford cresceu de 34 mil unidades em 1910 para 73 mil O país tinha cerca de 15 milhão de carros três ou quatro vezes mais do que a quantidade existente no resto do mundo Com o surgimento do automóvel a indústria moderna jamais seria a mesma19 O automóvel fora o mais impressionante dos novos bens de consumo duráveis como eram chamados para que fosse estabele cida uma diferenciação entre esses e os outros produtos menos permanentes como sapatos ou carne enlatada A produção de bens duráveis utilizava uma quantidade maior de recursos inter mediários produtos em estágio médio de acabamento como aço fios de cobre e vidro que os bens de consumo não duráveis que eram quase matériasprimas Os duráveis também neces sitavam de um maquinário mais sofisticado As novas indústrias tendiam a gerar fábricas e empresas muito maiores Antes da década de 1890 a maior parte dos produtos manufaturados poderia ser feita em pequenas lojas Fábricas com 40 ou 50 empregados podiam facilmente pôr em prática as vant agens da especialização das máquinas modernas e da energia a vapor Mas as novas tecnologias geralmente exigiam um número maior de pessoas e equipamentos As usinas siderúrgicas foram os primeiros exemplos em 1907 34 dos empregados do setor de ferro e aço da Alemanha trabalhavam em fábricas com até mil tra balhadores em 1914 uma usina siderúrgica média nos Estados Unidos contava com 642 trabalhadores20 O tamanho médio das fábricas de produtos como químicos metais máquinas e aparatos 103832 de engenharia e até mesmo de pequenos negócios de outrora como o têxtil cresceu de maneira substancial A típica fábrica se transformou de uma pequena oficina em uma indústria imensa As economias de escala eram muito mais importantes para essas fábricas complexas do que para os setores típicos da primeira Re volução Industrial As fábricas de automóveis e químicos eram como continuam sendo bem maiores que as de artigos de vestuário Os novos bens de consumo duráveis eram produtos caros que as pessoas compravam para usar durante anos de modo que a reputação de serviços e a confiabilidade tinham importância Dessa forma uma identificação com a marca fazia a diferença e não é por coincidência que a propaganda moderna existe desde os primeiros bens de consumo Quando o atendimento a identi ficação e outros fatores que contribuem para a reputação de uma marca tornamse importantes o mercado tende a ser dominado por poucas grandes empresas E foi isso o que aconteceu A Singer a Ford a General Electric e a Siemens entraram em cena com o crescimento da indústria de bens de consumo duráveis As nações de rápida industrialização se beneficiaram por ter em iniciado o processo tardiamente A Alemanha e os Estados Unidos por exemplo estavam bemposicionados o que facilitou a adoção dos novos padrões de produção e consumo que tornavam as fábricas maiores e as empresas mais abundantes Os alemães os norteamericanos e outros que se desenvolveram tarde puderam começar o processo com instalações e equipamentos mais modernos produzindo o que havia de mais novo em fábricas imensas utilizando tecnologia de ponta No entanto o peso da História foi sentido pelo setor manufatureiro britânico com suas indústrias mais antigas fábricas menores e empresas lentas de mais para alcançar a produção em escala das imensas empresas dos Estados Unidos e do resto da Europa continental A segunda 104832 leva de países industrializados utilizouse do frescor para vencer os britânicos no seu próprio jogo industrial21 Os recémindustrializados dependiam de uma economia mun dial aberta A difusão internacional de novas tecnologias neces sitava da integração global a maior parte das novas indústrias também precisava mais das proporções de um mercado global do que dos restritos mercados nacionais Londres e outras capitais europeias estavam prontas para emprestar capital a qualquer pro jeto viável A Suécia uma grande história de sucesso do período ilustra o papel central que a integração econômica desempenhou nessa se gunda onda de desenvolvimento industrial22 Em 1870 o país era um dos mais pobres da Europa ocidental mas o crescimento de outras regiões aumentou a demanda pelas exportações suecas es pecialmente de madeira serrada e de produtos feitos desse mater ial como fósforos de segurança O boom dessa matériaprima permitiu à Suécia construir novas indústrias voltadas para os mercados externos de aço de alta qualidade máquinas e outros bens A industrialização na Suécia também foi alimentada pelo capital estrangeiro que financiou cerca de 90 dos empréstimos feitos pelo governo Grande parte do capital estrangeiro fora des tinada direta ou indiretamente para a construção de ferrovias instalações e infraestrutura para portos Para a Suécia assim como para os outros países recémindustrializados as fábricas modernas vieram de mãos dadas com o acesso aos mercados ex ternos e com a tecnologia e capital estrangeiros Protegendo as indústrias nascentes Apesar de os países que desafiavam a supremacia industrial britânica contarem com acesso a mercados tecnologia capital e fornecedores do exterior eles também tendiam a utilizar barreiras 105832 comerciais para proteger suas indústrias Geralmente suas empresas e líderes políticos favoreciam o investimento externo as finanças internacionais e a imigração livre Eles viam o comércio como uma peça importante para o crescimento mas muitos in dustrialistas que se consideravam internacionalistas econômicos também apoiavam firmemente a proteção comercial para suas próprias indústrias Os graus de proteção defendidos variavam os fabricantes norteamericanos eram bem mais protecionistas que seus colegas alemães ou japoneses mas quase todos os países em vias de industrialização de alguma forma protegeram suas indústrias As fábricas protegidas da concorrência es trangeira podiam ajustar os preços domésticos acima dos níveis mundiais e obter lucros altos que podiam ser reinvestidos na indústria Essa industrialização artificialmente rápida era exatamente o que esperavam e desejavam aqueles que acreditavam no prote cionismo como um meio justificável para fins industriais O mais conhecido dos primeiros teóricos da industrialização por meio do protecionismo foi Friederich List um economista político e ativ ista alemão do século XIX List considerava o livrecomércio o ob jetivo final mas argumentava que o protecionismo comercial temporário era necessário para equalizar as relações entre as grandes potências Para permitir que a liberdade de comércio opere naturalmente as nações menos avançadas precisam antes se erguer por meios artificiais até atigirem o mesmo estágio de desenvolvimento que a nação inglesa alcançou artificialmente23 List e os outros defensores da proteção focaram nos argu mentos da indústria nascente e nas necessidades genuínas da in dústria moderna de produção em larga escala O único e exclus ivo motivo que justifica o sistema de proteção é o desenvolvi mento industrial da nação24 De acordo com eles não é possível construir uma indústria moderna de aço aos poucos É necessário começar com uma grande quantidade de enormes usinas 106832 integradas Eles argumentavam que em um estágio inicial as usi nas talvez fossem ineficientes mas com o passar do tempo logo se tornariam competitivas e a proteção poderia ser retirada Os protecionistas diziam que nenhum país havia se industrializado sem barreiras protecionistas o Reino Unido se livrara do controle mercantilista sobre o comércio apenas após ter atingido um bom desempenho industrial E com frequência eles argumentavam que a segurança nacional exigia a maior autossuficiência possível De fato o argumento de List era relevante principalmente para os países grandes e relativamente ricos onde a indústria era crucial para o poder e a influência da nação Não importa quais fossem os sacrifícios de curto prazo impostos pelo protecionismo os benefí cios de longo prazo valiam o preço A nação precisa se sacrificar e abrir mão de uma série de bens materiais para que desenvolva a cultura as habilidades e a força para uma produção unificada de ve sacrificar algumas vantagens imediatas para garantir futur as25 O argumento de que as indústrias em estágios iniciais neces sitavam do apoio do governo era até aceito embora com cuidado pelos principais pensadores da teoria comercial clássica tais como John Stuart Mill contemporâneo de List O mesmo se ap licava ao debate sobre a indústria nascente que de forma geral era reconhecida por muitos economistas neoclássicos no início do século XX Contudo Mill e os neoclássicos sempre pensaram o protecionismo como um artifício muito mais a ser tolerado do que abraçado Não importa o que pregasse a teoria Em termos políticos práticos na maioria dos países de industrialização tardia os fab ricantes queriam proteção e eram poderosos o suficiente para conseguila Praticamente todos os que se industrializaram de forma rápida dos Estados Unidos ao Japão e da Rússia à Itália contavam com tarifas industriais relativamente altas O governo russo impôs uma das tarifas mais altas da história moderna 84 107832 sobre os produtos manufaturados quase o dobro da que era con siderada a segunda maior tarifa os 44 em média impostos pelos Estados Unidos26 Além de desenvolver a indústria em pou co tempo o protecionismo gerou uma estrutura industrial peculi ar Níveis muito altos de proteção tendem à criação e à defesa de monopólios Tarifas comerciais altas contribuem ainda para que a indústria seja dominada por estrangeiros já que as empresas europeias impossibilitadas de vender para os mercados russos contornavam as barreiras tarifárias estabelecendo suas empresas dentro do Império Com efeito os teóricos contemporâneos destacam dois aspectos que caracterizam a indústria russa Am bos são relacionados aos padrões de industrialização buscados pelo regime czarista larga escala e amplo domínio estrangeiro Cerca de 40 da indústria pertencia a estrangeiros e mais de 40 do total da mão de obra trabalhava em fábricas com mais de mil empregados Sem dúvida essa grande concentração pouco usual de trabalhadores em fábricas enormes facilitou a atividade de grupos revolucionários que organizaram o proletariado antes e durante a Primeira Guerra Mundial27 As barreiras comerciais do Japão eram bem mais modestas que as da Rússia ou dos Estados Unidos Estimase que as tarifas japonesas eram no máximo semelhantes àquelas da Europa con tinental28 O país dependia muito das exportações de produtos manufaturados simples tecidos de algodão e seda e claramente conduziu sua indústria na direção da economia internacional As fábricas passaram a ser subsidiadas pelo governo e os resultados econômicos foram arrebatadores como o mundo testemunhou durante a Guerra RussoJaponesa A proteção comercial gerou alguns efeitos problemáticos A teoria clássica do comércio há tempos apontava para dois resulta dos indesejáveis das barreiras comerciais Em primeiro lugar por aumentar os preços o protecionismo transferia renda dos con sumidores para os produtores Tarifas sobre sapatos tornavam o 108832 produto mais caro beneficiando quem fabricava o produto e pre judicando quem os comprava Em segundo lugar o protecionismo fazia com que o país se desviasse de suas vantagens comparativas Por tornar as atividades protegidas artificialmente mais luc rativas o protecionismo comercial deslocava recursos para usos ineficientes Ao impor tarifas sobre os sapatos o país passava a produzir mais unidades do que deveria de acordo com suas vant agens comparativas O primeiro efeito causado é de ordem dis tributiva taxar os consumidores para beneficiar os produtores O segundo efeito é uma redução na eficiência ou no bemestar agregado o que desvia recursos de atividades produtivas para outras menos eficientes Além disso as tarifas eram ligadas a cartéis combinações formais ou informais entre as grandes corporações Às vezes um cartel existente demandava proteção comercial Os membros dos cartéis concordavam em limitar o fornecimento e manter os preços altos artificialmente que não se sustentariam caso os im portados pudessem entrar Os produtores estrangeiros que não faziam parte dessa combinação ofereciam preços mais baixos Assim a estabilidade do cartel exigia proteção contra a com petição estrangeira Algumas vezes o processo se dava ao revés e o protecionismo criava cartéis Das duas formas o surgimento de trustes nos Estados Unidos se sobrepôs à expansão da proteção comercial O crescimento do truste do açúcar do truste do aço e de outras formações de oligopólios seria impossível sem as altas barreiras tarifárias As indústrias da Europa continental funcionavam de forma semelhante Eram altamente cartelizadas e bastante protegidas O governo alemão por exemplo restringiu as importações de ferro e aço apesar de as empresas do país estarem entre as mais efi cientes do mundo Isso permitia que as maiores empresas da in dústria do ferro e aço criassem cartéis formais e legais para manter os preços altos Os cartéis forneciam às empresas alemães 109832 altamente integradas um lucro extra de centenas de milhões de marcos mas operavam contra as companhias menores que não faziam parte dos arranjos e evidentemente contra os consum idores que pagavam valores altos pelos produtos29 Os vencedores e perdedores da proteção comercial com fre quência se enfrentavam em batalhas políticas duras Os produtores agrícolas norteamericanos resistiam a políticas comerciais que os forçassem a vender trigo e algodão a preços in ternacionais e a comprar fertilizantes maquinário e roupas com preços 40 mais altos do que a média mundial Essa situação re clamavam gerava uma taxação de fato em cima da produção agrí cola A situação na Europa era semelhante apesar de no contin ente terem sido os trabalhadores das manufaturas que protest aram contra as altas tarifas sobre a carne e os grãos importados Em 1913 o Partido Trabalhista socialista da Bélgica queixavase O alto custo dos alimentos se faz sentir em todos os lugares mas os países protecionistas incluindo a Bélgica são os que mais sofrem As medidas protecionistas tomadas em nosso país beneficiam apenas os proprietários de terras e o fechamento das fronteiras para a im portação de gado impede que a classe trabalhadora coma de forma adequada30 A contribuição da proteção comercial para a rápida industrial ização do fim do século XIX e início do XX foi controversa e o jul gamento da história sobre o fato permanece ambíguo A proteção comercial foi danosa para os consumidores a indústria pagava mais aos fornecedores e as famílias pagavam mais por comida roupas e outros artigos de primeira necessidade A produção era deslocada para a indústria protegida independentemente de sua eficiência Com certeza a proteção acelerou o desenvolvimento da indústria O sistema de tarifas cartelizado foi ao menos em parte responsável pelo fato de a produção alemã de aço dobrar a cada seis ou sete anos ao longo de décadas até 1913 É uma questão em 110832 aberto se os custos superaram os benefícios extraídos pelas so ciedades Os Estados Unidos e a Alemanha certamente se indus trializariam sem tarifas e talvez tivessem sofrido menos sem tantas indústrias pesadas mas essa não teria sido uma opção pop ular para os industriais do país tampouco para a sua política ex terna ou elites militares De maneira geral ao mesmo tempo em que a proteção à in dústria nascente era comum nas décadas que precederam a Primeira Guerra Mundial isso não interferia na abertura da eco nomia mundial As barreiras à importação proliferavam mas eram direcionadas em vez de amplamente aplicadas As nações que se industrializavam com velocidade e protegiam suas in dústrias em geral permitiam a entrada livre ou quase livre de matériasprimas e bens agrícolas que não competissem com a produção doméstica e de recursos intermediários indisponíveis no local A atividade comercial crescia muito rápido inclusive nos países mais protecionistas Em 1913 todas as grandes potências exportavam uma quantidade maior da produção e importavam bem mais para o consumo interno que em 187031 Aqueles que rapidamente se industrializavam na virada do século XX parti cipavam com entusiasmo do comércio e dos investimentos mun diais mas estavam dispostos a burlar as regras do livrecomércio em nome da industrialização e de lucros imediatos Áreas de colonização recente Na década de 1890 os europeus além de outros povos já haviam se estabelecido em grandes áreas de colonização recente e prat icavam a agricultura a mineração e outros tipos de atividades Es sas regiões que antes mal participavam da economia global cres ciam em uma velocidade extraordinária Elas possuíam recursos 111832 naturais mas a extração só se tornou economicamente viável com as recentes transformações tecnológicas migrações e exploração É evidente que os pampas as Grandes Planícies e as pradarias sempre existiram assim como o outbackb australiano e os depósi tos de minerais sulafricanos Em alguns dos casos os europeus não sabiam da existência dessas áreas Em outros eles não podiam explorálas até que fossem desenvolvidas novas tecnologi as como navios refrigerados capazes de trazer carne de vaca ou de carneiro dos confins do mundo para a Europa Uma vez que as possibilidades se concretizaram indivíduos corriam para trans formar o potencial dessas áreas em dinheiro vivo Toda a ex tensão ou parte de Austrália Nova Zelândia Canadá Estados Unidos África do Sul e do Cone Sul da América Latina Argentina Uruguai Chile e o sul do Brasil foi invadida por essa nova atividade Esses países se tornaram ricos por seus recursos naturais a agricultura e a mineração alimentaram um crescimento econ ômico mais amplo A criação de gado gerou abatedouros in stalações para o empacotamento da carne curtumes e fábricas de sapatos O cultivo do trigo fez emergir celeiros estaleiros e estra das de ferro Os que trabalhavam em armazéns ferrovias e portos precisavam de um lugar para morar a indústria da construção civil cresceu e em seguida as olarias usinas de aço e outros locais de fabricação de materiais se desenvolveram Portos e entronca mentos ferroviários demandavam energia elétrica instalações e estações de tratamento de água A população crescente neces sitava de vestimenta telefones lâmpadas e livros e logo as manu faturas locais se expandiram vertiginosamente Onde as bases manufatureiras já existiam como era o caso da América do Norte o boom dos recursos acelerou o processo de crescimento industri al Onde existiam poucas fábricas ou nenhuma mas havia knowhow capital e espírito empreendedor a indústria moderna proliferou rapidamente 112832 As regiões de colonização recente se distinguiam do resto do mundo Elas eram pouco povoadas e em muitos dos casos a pop ulação que vivia nelas foi expulsa ou exterminada Seus habit antes estavam criando economias modernas prósperas fazendas e minas rodovias e ferrovias municípios e cidades fábricas e por tos onde antes existia pouca atividade econômica32 Não foram muitos os interesses ali arraigados que permaneceram no cam inho do desenvolvimento comercial ou da exploração dos recursos primários agrícolas e minerais da região As instituições locais também ajudaram no desenvolvimento econômico dessas áreas Algumas eram ramos diretos da so ciedade britânica e importavam além de milhões de britânicos algumas variantes dos sistemas legal e político da GrãBretanha Isso significava principalmente uma tradição de respeito pelos direitos de propriedade privada tanto na esfera política quanto na legal Tais direitos eram restritos evidentemente aos europeus e não se aplicavam às populações indígenas cujas pro priedades eram tomadas com impunidade Diferentemente de muitas outras áreas em desenvolvimento estas eram em geral estáveis na esfera política e previsíveis no campo legal Os produtores agrícolas que trabalhavam para a melhoria de suas terras podiam estar certos de que outros ou o governo não as to mariam de forma arbitrária As instituições políticas que incor poravam novos grupos sociais faziam com que as elites econôm icas acreditassem que seus interesses seriam levados a sério pelos governos O ceticismo quanto a essa questão era comum em out ras nações do mundo em desenvolvimento o que tendia a atrapal har o processo de crescimento Mas nas áreas de colonização re cente a riqueza era uma obsessão nacional e a propriedade algo quase sagrado O Cone Sul da América Latina ainda apresentava resquícios das instituições coloniais ibéricas que de certa forma eram menos adequadas a fins desenvolvimentistas mas em re lação a regiões que nunca conheceram uma ideia estável de 113832 direito de propriedade essa área era também bastante avançada33 As áreas de colonização recente também gozavam da vant agem de um clima temperado adequado à criação de gado e à produção de culturas delicadas As tecnologias desenvolvidas para a agricultura de climas temperados que durante séculos foi re sponsável pelo extremo desenvolvimento da Europa ocidental podiam ser diretamente aplicadas a essas terras A produção de grãos por acre nas regiões de clima temperado era de duas a três vezes maior do que em outras áreas agrícolas e com a mecaniza ção a produção por pessoa se tornara ainda mais alta34 Índices de produtividade agrícola semelhantes aos da Europa permitiam que as áreas de colonização recente pagassem salários nos moldes europeus e portanto atraíam imigrantes vindos do continente Nas regiões tropicais e subtropicais os níveis de produtividade e de tecnologia agrícola assim como o padrão de vida eram bem mais baixos Sendo assim os europeus não se mudariam para es sas áreas como meros trabalhadores ou agricultores O que tornava essas áreas mais produtivas que as outras eram as condições da produção agrícola e não algo inato dos europeus os poucos lugares como em algumas partes da América Latina onde produtores agrícolas japoneses ou chineses se estabeleceram também prosperavam Mas os europeus se aglomeravam em áreas extremamente produtivas cujo padrão de vida era mais alto que o de seus países de origem Ondas de imigração europeia afluíam para as regiões tempera das pouco povoadas a fim de construir novas sociedades de base agrícola pecuária ou mineradora Nessas regiões recémcoloniza das eles atingiam níveis de produção e de renda per capita que geralmente superavam os da Europa Em contrapartida a renda alta gerava um mercado doméstico grande para os produtos loc ais No início fazia mais sentido produzir internamente o que era de difícil importação energia elétrica materiais pesados 114832 serviços como a construção civil e foi assim que a indústria local começou Com o passar do tempo como Buenos Aires e Rio de Janeiro se transformaram em cidades de mais de um milhão de pessoas alguns de seus habitantes se beneficiaram da prosperid ade dessas regiões para estabelecer fábricas especialmente para o processamento de produtos primários locais As extensas planícies uruguaias eram ideais para a criação de animais e o cultivo de grãos e em 1870 o país começou a crescer muito rápido com base nas exportações de produtos agrícolas e pecuários para a Europa Centenas de milhares de espanhóis italianos e outros europeus rumaram para o Uruguai país que apesar de pequeno para os padrões latinoamericanos é bem maior que a Inglaterra Logo o porto de Montevidéu florescia e os padrões de vida do país passaram a ser tão altos quanto os da França ou Alemanha Nos anos do início do século XX a ordem política do Uruguai foi reestruturada de acordo com a sua recente prosperidade José Battle y Ordóñez serviu à Presidência uruguaia por dois mandatos entre 1903 e 1915 e conduziu as reformas Battle introduziu educação gratuita para todos um sistema de saúde abrangente amplos direitos para as mulheres legalizou o divórcio e implantou leis trabalhistas progressivas que incluíam uma jornada de oito horas aposentadoria garantida pelo governo e compensações para os trabalhadores além de outras medidas que passaram a caracterizar as sociedades desenvolvidas do fim do século XX Isso pode ser comprovado nas vezes em que o Uruguai é considerado o primeiro Estado de bemestar social moderno Tudo isso foi possível graças ao padrão de vida gerado pela lucrativa economia de base nas exportações agrícolas e pecuárias Assim como o Uruguai as outras áreas de assentamento re cente cresceram porque tinham acesso aos mercados globais e suas economias eram organizadas de forma a exportar para a Europa Essas regiões foram povoadas por milhões de imigrantes 115832 europeus e o capital vindo do continente foi responsável por grande parte de seu crescimento econômico financiando de fer rovias e usinas de geração de eletricidade a abatedouros e fábricas A Era de Ouro da economia mundial foi uma das principais fontes para a prosperidade alcançada por argentinos canadenses australianos e uruguaios As áreas de colonização recente pos suíam as características perfeitas para extraírem vantagens das oportunidades geradas pelos avanços nas comunicações e nos meios de transporte e tiveram um desempenho extraordinário nos anos que precederam a Primeira Guerra Mundial Em 1896 Austrália Canadá e Argentina produziam cerca de 80 milhões de bushels de trigo aproximadamente 16 do que a Europa ocidental produzia Porém em 1913 esses três países juntos passaram a gerar 438 milhões de bushels de trigo mais do que a toda a produção da Europa ocidental35 Esse crescimento não dependia apenas do cultivo agrícola Em 1913 Canadá Austrália e Nova Zelândia já fabricavam mais manufaturados per capita do que qualquer outro país europeu exceto a GrãBretanha A Argentina produzia mais do que a Itália ou a Espanha E isso nem incluía os Estados Unidos onde muitas regiões tinham as mesmas caracter ísticas de outras áreas de colonização recente Essas regiões Austrália Nova Zelândia Argentina Chile Uruguai sul do Brasil e a área dos Estados Unidos a oeste do Mississipi contavam com uma população de 12 milhões de pessoas em 1870 o que equival ia aproximadamente a 13 dos habitantes da França Em 1913 todos esses países de colonização recentes juntos tinham uma população de 50 milhões 14 maior do que a da França Seja qual for o indicador esses países desenvolveram suas economias de forma notória Muitos viajantes surpresos e ad mirados escreveram sobre esse feito Um britânico que visitava Buenos Aires às vésperas da Primeira Guerra Mundial relatou ao conhecer o distrito de Palermo 116832 Um misto de Hyde Park e Bois de Bologne ruas limpas árvores charmosas um boulevard duplo com esculturas de mármore comem orativas no centro jardins bemcuidados flores radiantes e uma banda tocando Dirigindo por Palermo ficamos boquiabertos em saber que estamos a 9700 quilômetros da Europa Em nenhum outro lugar do mundo vi tamanha quantidade de automóveis caros mil hares deles Ao fazer um resumo de suas impressões disse o britânico Não é possível conhecer o país perceber sua fertilidade entrar nas casas estonteantes de La Plata e Buenos Aires ver no oceano os navi os carregados de carne com a Union Jackc balançando sobre a popa visitar os elevadores de grãos dos portos de Bahía Blanca e Rosário com seus canais por onde o trigo destinado ao consumo europeu es coa para dentro das embarcações sem que nossa imaginação seja es timulada diante do limiar de possibilidades desta nova Terra36 Crescimento nos trópicos Outras regiões do mundo ricas em recursos também se desen volveram rapidamente Assim como as áreas de colonização re cente elas tinham bens naturais promissores mas uma popu lação bem maior Essas regiões eram tipicamente tropicais ou semitropicais e já estavam envolvidas no comércio internacional Suas exportações e atividade econômica de maneira geral foram fortemente empurradas ou puxadas pelos avanços tecnológicos e pelo crescimento global Muitas partes da América Latina África e Ásia participaram do rápido crescimento da economia global As histórias bemsuce didas tendiam a ser ofuscadas na memória histórica pelos muitos e proeminentes fracassos como o da China Da mesma forma as vitórias econômicas geralmente eram relegadas a segundo plano pela expansão dramática do colonialismo que também atingia 117832 algumas dessas regiões No entanto um olhar cuidadoso sobre o que hoje poderia ser chamado de Terceiro Mundo revelava algu mas tendências de ordem econômica impressionantes O centro da América Latina era densamente povoado difer entemente do Cone Sul e da região amazônica O continente tinha uma longa experiência de comércio internacional datada da épo ca do colonialismo espanhol e português Após 1870 a expansão comercial teve um impacto mais dramático na Argentina e no Uruguai mas outros países não ficaram muito atrás As minas de prata e cobre do México despejavam seus metais nos mercados mundiais O ditador Porfirio Díaz que governou o país de 1876 a 1910 desejava atrair investimentos estrangeiros para a riqueza mineral do país e fazer com que esta logo fosse levada aos merca dos externos Em seguida a descoberta de petróleo gerou uma dupla bonança na costa do Caribe Até 1910 o petróleo e a miner ação eram responsáveis por aproximadamente 110 da atividade econômica nacional Mas esse foi apenas o primeiro passo do México em direção a um crescimento mais rápido A agricultura moderna se expandiu de maneira veloz especialmente nas fazen das produtoras em larga escala haciendas que dominavam a oferta voltada para exportação A economia se diversificou e fábricas foram criadas Em 1910 a indústria local fornecia 97 dos tecidos que eram consumidos internamente Em 1913 a renda per capita do México podia ser comparada à de Portugal Rússia ou Japão países pobres para sermos exatos mas que estavam prestes a se desenvolver37 Mais ao sul o Brasil garantia a liderança no mercado de café sendo responsável por cerca de 45 das exportações mundiais do produto até 1900 O governo utilizava mecanismos sofisticados para manter o preço do produto em alta e os maciços ganhos gerados fluíam para o estado de São Paulo onde se concentravam os produtores Metade das terras cultiváveis do país passou para o café e 23 da produção agrícola era exportada As exportações de 118832 café e a expansão da borracha na região amazônica alavan caram o desenvolvimento econômico São Paulo tornouse um centro industrial importante Auxiliada por altas tarifas a produção industrial de 1915 incluía 122 milhões de metros de te cido de algodão muitos outros milhões de metros de tecido de seda lã e juta assim como 5 milhões de pares de sapato e 27 mil hões de chapéus Toda essa produção quase não existia 20 anos antes38 A partir desse ponto mais da metade dos produtos indus triais consumidos pelos brasileiros era produzida em casa Os colombianos se beneficiaram da habilidade brasileira em manter o preço alto do café expandindo o cultivo do produto para as montanhas do oeste do país aumentando a produção de 13500 para 63 mil toneladas entre 1890 e 191339 Muitas das nações menores da América Central também participaram do boom do café Apesar de algumas particularidades em outros lugares da América Latina a situação era semelhante Fortunas eram geradas pelo desenvolvimento de algum produto primário que era enviado para a Europa ou América do Norte nitrato e cobre do Chile açúcar de Cuba algodão e açúcar das plantações costeiras do Peru prata e cobre das Cordilheiras dos Andes e borracha da Amazônia Capitalistas estrangeiros forneciam em préstimos para a construção de rodovias ferrovias portos e out ros tipos necessários de infraestrutura Os lucros eram rein vestidos no desenvolvimento da mineração da agricultura e oca sionalmente em empreendimentos industriais Às vésperas da Primeira Guerra Mundial os principais países da região já haviam começado a se industrializar A África ocidental também se voltou para os mercados inter nacionais O envolvimento da região no comércio datava do século XIV O tráfico de escravos criou apesar de toda a miséria que gerava uma classe importante de negociantes nativos que se lançaram no comércio legítimo de importações e exportações quando a escravidão terminou Evidentemente poderosas 119832 empresas estrangeiras de comércio também se estabeleceram na região Os laços internacionais da África ocidental se fortaleceram por conta das disputas entre as grandes potências europeias que deixaram quase toda a região na verdade quase todo o contin ente em mãos coloniais A importância dos interesses econômi cos externos para a expansão colonial continua sendo uma questão controversa Parece claro todavia que as expectativas europeias quanto ao potencial econômico da área contribuíram para as políticas que levaram França Alemanha e GrãBretanha a se apossarem da região40 No período que se seguiu à apropriação europeia o comércio da África ocidental cresceu rapidamente as exportações da re gião quadruplicaram entre 1897 e 191341 O boom se concentrou nas quatro colônias mais prósperas as britânicas Nigéria e Costa do Ourod e as francesas Senegal e Costa do Marfim Essas regiões já produziam sementes amendoim óleo de palma e outros cul tivos semelhantes produtos que tinham grande demanda devido ao rápido desenvolvimento industrial e ao aumento do consumo da classe trabalhadora na Europa e nos Estados Unidos O óleo de palma era utilizado para lubrificar máquinas e fabricar latas A noz de palma era usada para produzir sabão velas e margarina que acabara de ser inventada O óleo de amendoim servia como um substituto barato para o de oliva Quando a demanda europeia por esses produtos cresceu os africanos expandiram o cultivo do amendoim e passaram a plantar palma em vez de apenas coletá la As exportações aumentaram imensamente em especial com a melhora dos meios de transporte Em 1911 a construção de uma estrada de ferro ligando Kano no norte da Nigéria à costa foi concluída Quando os fazendeiros e comerciantes se deram conta do quanto os produtores de amendoim poderiam lucrar no mer cado europeu em dois anos o preço local do produto quintup licou Em menos de dez anos a quantidade de amendoim 120832 exportada pela Nigéria passou de alguns milhões de toneladas para 58 milhões42 Diante da expansão da produção de bens tradicionais as ex portações dos produtos novos ou daqueles que passaram a rece ber atenção cresceram de forma ainda mais rápida O cacau da Costa do Ouro que era insignificante passou a dominar o mer cado mundial As exportações de madeira da Costa do Marfim aumentaram seis vezes em 20 anos e o café e alguns minerais também dispararam Os produtos eram cultivados principalmente por pequenos agricultores e inseriram uma proporção sem pre cedentes da população na economia moderna No entanto o desenvolvimento da indústria moderna na África ocidental foi re lativamente pequeno Os mercados locais para manufaturados eram menos receptivos que os da América Latina onde a renda per capita era duas ou três vezes mais alta e as cidades assim como a infraestrutura se desenvolveram mais e melhor Sobre tudo o sistema colonial restringia as possibilidades de proteção comercial das manufaturas locais diferentemente do que ocorria na América Latina No entanto as bases para um crescimento econômico sustentável estavam lá As áreas bemsucedidas do sul e sudeste da Ásia também ex pandiram a produção agrícola já existente ou iniciaram o cultivo de novas terras para lucrarem com o mercado crescente das ex portações Burma e Tailândia cultivavam arroz havia muito tempo mas a produção se destinava exclusivamente ao consumo local Novas políticas e condições econômicas permitiram que os dois países se tornassem um dínamo exportador que passou a abastecer os mercados do resto da Ásia e de outras regiões A monarquia independente da Tailândia era favorável ao comércio apesar de não se entusiasmar com a indústria e sob sua ad ministração as exportações de arroz do país cresceram dez vezes em 40 anos de aproximadamente 100 mil para um milhão de toneladas No início do século XX metade da produção se 121832 destinava à exportação43 Os agricultores do delta do Irrawaddy também já cultivavam arroz havia tempos mas não de forma in tensiva já que o governo proibia as exportações Quando a Grã Bretanha tomou a região e a forçou a se abrir ao comércio a zona costeira foi invadida por plantadores de arroz Logo o produto começou a inundar o exterior Nas palavras de um historiador Burma deixou de ser um lugar subdesenvolvido atrasado e pou co povoado do Império Konbaung para se transformar no maior exportador de arroz do mundo44 Com o regime francês voltado para o comércio na Indochina as terras vietnamitas dedicadas ao cultivo do arroz quintuplicaram e a colônia se tornou a terceira principal produtora do mundo O Ceilão que acabou tornandose colônia britânica levou coco e chá para os mercados mundiais A Malásia produzia mais da metade do estanho do planeta Após 1900 os dois países aument aram a produção de borracha que até então era inexpressiva e se tornaram importantes no mercado As Índias Orientais Holan desas também se juntaram à corrida para superar a borracha amazônica complementando as exportações de café tabaco e açúcar As Filipinas agora uma colônia norteamericana aument aram a produção de açúcar para penetrar no imenso mercado dos Estados Unidos Taiwan na época uma colônia japonesa fora desenvolvido pelas autoridades coloniais de forma mais ou menos explícita para abastecer a metrópole com arroz e açúcar O impacto do boom exportador foi fortemente sentido em muitos desses casos O arroz era em geral cultivado por pequenos produtores e a prosperidade gerada pelas exportações do início do século aumentou a renda de grandes camadas da população da Tailândia e de Burma O chá do Ceilão também era cultivado prin cipalmente por pequenos produtores O estanho malaio era alta mente controlado por proprietários chineses e minerado por tra balhadores do mesmo país os quais rumaram em hordas para o Sudeste Asiático Mesmo onde os europeus controlavam as 122832 fazendas e plantações mais prósperas como na Indochina nas Índias Holandesas Orientais e nas áreas de borracha da Malásia a ampla demanda por trabalhadores gerou um aumento na renda local Assim como na África ocidental a indústria não cres ceu de forma significativa Devido ao padrão de vida baixo da re gião os mercados locais para os manufaturados modernos eram pequenos e as potências coloniais desestimulavam o desenvolvi mento industrial de forma explícita ou implícita Essas regiões pobres e densamente povoadas se atiraram ou foram atiradas pelos novos governantes coloniais nos mercados mundiais e emergiram como grandes promessas de prosperidade Às vésperas da Primeira Guerra Mundial grande parte da popu lação do amplo grupo de países e colônias das regiões tropicais e semitropicais em crescimento do México e Brasil a Costa do Marfim e Nigéria passando por Burma e Indochina produzia matériasprimas para exportação Café amendoim cacau bor racha óleo de palma estanho cobre prata e açúcar fluíam dessas regiões de rápido crescimento para a Europa e a América do Norte Dinheiro e produtos manufaturados faziam o caminho in verso A modernidade chegava aos trópicos As elites que dominavam o governo e a sociedade em todas as regiões de rápido crescimento tanto nas áreas temperadas de col onização recente quanto nas zonas semitropicais densamente po voadas consideravam que a chave da prosperidade e do sucesso estava na economia mundial Por que ir aos pampas e pradarias se não fosse com o objetivo de cultivar essas áreas para os merca dos mundiais Muitos imperialistas europeus norteamericanos e japoneses argumentavam que as colônias eram valiosas princip almente como fontes de matériasprimas e produtos agrícolas Os regimes coloniais pressionavam as novas possessões com entusi asmo apesar de muitas vezes com uma visão estreita a exportar produtos primários 123832 Proprietários de terra mineradores e comerciantes locais per ceberam que os lucros poderiam ser imensos Os governos locais vislumbraram outras oportunidades o que incluía vender novas e valiosas terras ou cobrar impostos dos novos e lucrativos exporta dores Ambas as medidas fortaleceriam o poder dos governantes O processo era facilitado pelo capital que escoava da Europa ocidental que parecia não ter fim Esse capital era extremamente necessário para o estabelecimento de novas terras para levar os produtos agrícolas e os minérios aos mercados e para que os gov ernos pudessem satisfazer as demandas de suas populações O estereótipo da América Latina da virada do século era hostil uma sociedade oligárquica dominada por uma aliança entre os in vestidores europeus e interesses exportadores a oligarquia rural os agroexportadores os setores de produtos primários para ex portação e os vendepatrias vendedores de países os quais mais tarde se tornariam inimigos demonizados dos líderes nacionalis tas Esses países tinham características comuns uma identi ficação nos canais de poder e influência que os uniam e os levavam na direção da economia mundial Dependiam das ex portações de produtos primários exigiam acesso a capital e mer cados europeus possuíam uma visão europeizada do futuro e certamente tinham pouco interesse em dividir sua riqueza com as massas empobrecidas Faltavam novas oportunidades econômicas geradas por esse crescimento de viés exportador até mesmo se examinarmos os 35 anos do ditatorial porfiriato no México que estivessem disponíveis de forma ampla e profunda para as so ciedades locais incluindo parcelas da classe média do campes inato e da crescente classe operária urbana Os grupos dominantes de muitas das regiões em desenvolvi mento estavam bastante comprometidos em levar seus países ao mainstream da economia internacional Eles permitiam estimu lavam e até mesmo forçavam os produtores agrícolas e outros a venderem para o exterior convidavam os investidores 124832 estrangeiros banqueiros e comerciantes tomavam empréstimos grandes em Londres Paris e Berlim construíam ferrovias portos e aproveitavam os rios criavam sistemas de energia e telefonia utilizando dessa forma os ganhos obtidos com o comércio mun dial para enriquecer Em geral onde os grupos dominantes obtin ham sucesso grande parte da sociedade também prosperava embora não tanto quanto as elites Nas áreas de colonização re cente na América Latina e em partes da Ásia e da África a ex pansão liderada pelas exportações determinou as bases para o crescimento econômico moderno Heckscher e Ohlin interpretam a Era de Ouro Em 1919 após esse capitalismo global ter sido banido pela Primeira Guerra Mundial o economista sueco Eli Heckscher tentou dar um sentido à extraordinária experiência econômica pré1914 Junto com seu aluno Bertil Ohlin Heckscher formulou uma explicação para o envolvimento das diferentes nações no comércio mundial o que revolucionou o pensamento econômico e também serviu para entender essa complexa realidade Heckscher e Ohlin acreditavam na teoria das vantagens comparativas tanto como uma prescrição do que os países deveriam fazer quanto uma descrição do que geralmente faziam De fato os países tendiam a exportar o que produziam melhor e a importar aquilo em que não eram tão eficientes O problema é que essa fórmula era quase tau tológica como se poderia saber com antecedência o que um país produzia melhor senão observando o sucesso ou o fracasso das exportações Os dois suecos então tentaram explicar os modelos nacionais de vantagens comparativas É evidente que as vantagens compar ativas não eram simplesmente um resultado do empenho Eles sabiam que as dificuldades dos produtores agrícolas suecos não 125832 eram causadas pela falta de trabalho duro por parte das popu lações rurais O problema era a escassez de terras do país e não a preguiça de sua população Onde havia pouca oferta e as terras eram caras a agricultura era dispendiosa onde era abundante e barata a produção agrícola podia ser feita a custos baixos Eles notaram que os países se diferenciavam quanto a fatores de produção alguns eram ricos em terra outros possuíam mão de obra em abundância e terceiros dispunham de capital Esses fatores supunham eles determinariam as vantagens compar ativas nacionais e as importações e exportações dos diferentes países Se houvesse dois Estados com quantidades idênticas de in divíduos e capital a nação com pouca terra arável estaria em des vantagem comparativa na agricultura ao passo que o país com uma oferta quase ilimitada de terras cultiváveis teria vantagem comparativa Desse pensamento resultou a teoria comercial de Heckscher e Ohlin cuja ideia básica era simples um país exportará bens de uso intensivo dos recursos que possui em abundância Países com grandes extensões de terras se especializarão em produtos agrí colas que necessitam de grandes extensões de terras Nações ricas em capital se concentrarão nos produtos intensivos em capital es pecialmente manufaturados sofisticados Regiões com abundân cia de mão de obra produzirão bens ou cultivos que exigem tra balho intensivo Esses padrões de especialização levam a padrões análogos de comércio Países ricos em terras mas pobres em cap ital produzirão culturas de grandes extensões de terra e impor tarão produtos manufaturados de capital intensivo A ideia dos suecos também se aplica à movimentação de capital e indivíduos assim como ao comércio Segundo eles esperavase que os países ricos em capital exportassem capital e os ricos em mão de obra exportassem mão de obra evidentemente terras não podem ser comercializadas internacionalmente sem que haja uma mudança nas fronteiras 126832 A abordagem de Hecksher e Ohlin é extremamente eficiente para explicar como funcionavam os processos de migração comércio e investimentos internacionais no período45 A Europa ocidental rica em capital mas pobre em terras exportava produtos manufaturados que necessitavam de capital ou capital intensivo para o resto do mundo e importava bens agrícolas cul tivados em grandes extensões de terras O sul e o leste da Europa ricos em mão de obra exportavam emigrantes As áreas tempera das e tropicais subdesenvolvidas ricas em terras vendiam produtos agrícolas para o exterior Eram pobres em capital e im portavam manufaturados de capital intensivo Na categoria dos países em rápido desenvolvimento e ricos em terras os trópicos africanos asiáticos e latinoamericanos contavam com uma força de trabalho abundante e assim exportavam mais produtos agrí colas de trabalho intensivo do que as nações pobres em mão de obra como América do Norte Austrália e Argentina O cresci mento de todas essas áreas foi maior do que o alcançado até o mo mento Com efeito a América do Norte e a América do Sul eram as regiões do mundo que mais cresciam entre 1870 e 1913 A teoria comercial de Heckscher e Ohlin ajuda a explicar o su cesso dos países que se concentraram no uso de seus fatores abundantes na divisão internacional do trabalho Os países ricos em terras que fizeram o que estava ao seu alcance para desen volver a agricultura prosperaram assim como fizeram os países ricos em capital focados nos investimentos externos Os criadores do capitalismo industrial invadiram o mundo com produtos man ufaturados de capital intensivo Das vastas extensões dos pampas e pradarias escoaram grãos e carne bovina Das terras e montan has tropicais fluíram produtos feitos de palma amendoim bor racha café e chá A abertura econômica internacional tornou pos sível industrializar e desenvolver sociedades de forma que elas pudessem alcançar as nações ricas do noroeste da Europa O 127832 abismo entre os países ricos e aqueles das regiões que rapida mente cresciam fora fechado a Do inglês horseless carriage expressão utilizada para carros no início do desen volvimento da indústria automobilística NT b Designação para as regiões áridas do interior da Austrália NT c Bandeira do Reino Unido NT d Nação que passou a se chamar Gana a partir da independência em 1957 NE 128832 4 Desenvolvimentos fracassados O cônsul britânico da colônia conhecida como Estado Livre do Congo não tinha mais esperança quanto ao destino dos oprimidos habitantes do local quando escreveu em 1908 Nos perguntamos em vão quais os benefícios que essa gente extraiu da elogiada civilização do Estado Livre Olhamos em vão para qualquer tentativa de benefício ou recompensa pela enorme riqueza que eles têm ajudado a despejar no Tesouro do Estado As indústrias nativas estão sendo destruídas sua liberdade lhes tem sido tomada e eles têm diminuído em número1 Apesar da revolução econômica da Era de Ouro a maior parte do mundo permaneceu opressivamente pobre Enquanto as re giões em rápido desenvolvimento subiam a escada do sucesso in dustrial grande parte da da Ásia África do Oriente Médio e até mesmo áreas da Rússia da América Latina e do sul e leste da Europa caíam para degraus ainda mais baixos De fato quase todas as partes do mundo cresceram mas as disparidades nos índices eram grandes As diferenças um ponto percentual aqui ou ali podem parecer pequenas mas o impacto de um crescimento mais lento tornouse pior ao longo das déca das Por exemplo em 1870 China e Índia eram cerca de 20 mais pobres que o México utilizando uma base per capita difer ença que se aproximava da que existia entre a Europa ocidental e os Estados Unidos em 2000 Nos 40 anos que se seguiram os ín dices de crescimento dos gigantes asiáticos eram em média cerca de 15 menor que os do México Em 1913 esse país era três vezes mais rico que as duas nações asiáticas quase a mesma diferença que existia entre os Estados Unidos e o México em 20002 Em linhas gerais a Europa ocidental as áreas de colonização recente e a América Latina cresceram cerca de quatro vezes mais rápido do que a Ásia e duas vezes mais devagar do que o sul e o leste da Europa As classes dominantes eram as principais responsáveis pela incapacidade dessas sociedades em tirar proveito das novas opor tunidades econômicas Muitos dos dominantes não podiam ou não queriam criar condições para um crescimento econômico sustentado Alguns deles eram colonizadores estrangeiros que se utilizavam de meios mercenários e parasitários para explorar as populações locais O Congo talvez tenha sido o exemplo mais grit ante de uma sociedade que sofrera abusos chocantes por parte dos colonizadores O rei Leopoldo e o Congo William Sheppard um missionário afroamericano foi à África central a fim de converter a população ao presbiterianismo Quase por acaso ele se viu no centro de um escândalo global que expôs um dos mais sangrentos regimes coloniais dos tempos mod ernos3 Sheppard nasceu na Virgínia nas últimas semanas da Guerra Civil norteamericana Veio de uma família de negros livres Foi ordenado pastor presbiteriano aos 23 anos e logo foi voluntário para trabalhar na África como missionário Em 1890 Sheppard e 130832 Samuel Lapsley um pastor norteamericano branco formaram uma missão em Luebo na remota região de Kasai no centro da Bacia do Congo A presença dos dois jovens norteamericanos nessa região isolada devese aos planos e à persistência da monarquia europeia obcecada pelas riquezas da África No momento em que Sheppard chegara à África havia 20 anos que o rei Leopoldo atuava para a consolidação de seu império pessoal no continente Leopoldo sabia que a sua Bélgica natal nunca daria a ele uma colônia o país não tinha uma Marinha nem navios mercantes e o próprio Leopoldo era praticamente o único belga proeminente com aspir ações imperialistas Por essa razão ele se apresentava como um benfeitor que desejava trazer o cristianismo para a população africana Opunhase principalmente ao tráfico de escravos do continente o que havia se tornado uma questão interna en volvendo traficantes nativos e árabes desde a década de 1840 quando as potências europeias proibiram o comércio transatlântico de escravos Leopoldo pregava que a exploração de seres inocentes reduzidos brutalmente a prisioneiros e condena dos em massa ao trabalho forçado envergonha a nossa época4 O rei começou sua carreira na África como patrono de explor adores financiando a expedição de Henry Stanley o primeiro a ir da nascente do rio Congo ao Atlântico Quando conquistou cred ibilidade Leopoldo convenceu as potências europeias a conceder a ele o comando pessoal de toda a Bacia do Congo uma área do mesmo tamanho da Europa ocidental onde se suspeitava haver enormes riquezas naturais O sucesso dele em obter o controle do Congo não fora resultado de suas habilidades tampouco da in fluência geopolítica da Bélgica já que ambos eram ignorados Para as potências europeias que estavam dividindo toda a África o novo Estado Livre do Congo era uma naçãotampão útil por sep arar as colônias francesas britânicas alemãs e portuguesas da re gião Leopoldo concordou em permitir que todos os estrangeiros 131832 tivessem igual acesso às riquezas da área e assim os europeus não precisavam se preocupar com a possibilidade de não poderem entrar no local Sheppard Lapsley e outros missionários protestantes norte americanos serviram aos interesses de Leopoldo Eles contiveram a influência dos missionários católicos franceses e portugueses que eram acusados pelo rei de favorecer suas respectivas terras natais Como norteamericanos eles podiam construir uma base de apoio nos Estados Unidos para as ambições belgas Além disso os protestantes também poderiam ajudar no desbravamento de áreas do interior congolês para o Estado Livre de Leopoldo cuja influência era limitada devido à extensão do país Leopoldo con heceu Lapsley quando os dois missionários foram para a África e o ingênuo rapaz de 24 anos se comoveu com a aparente simpatia do rei pela missão A expressão dele era muito gentil e sua voz fazia jus a ela Me per gunto como Deus mudou os tempos para que um rei católico sucessor de Felipe II conversasse sobre as missões estrangeiras com um rapaz norteamericano e presbiteriano5 Leopoldo estimulou Lapsley a ir com Sheppard para a região de Kasai O rei disse que as tropas do Estado Livre poderiam protegêlos melhor lá do que em qualquer outro lugar Na ver dade Leopoldo queria que os jovens norteamericanos fossem para Kasai porque esta era uma área que as autoridades do Estado Livre não conheciam ou não controlavam bem e as missões po deriam ajudar a garantir a influência e a autoridade da adminis tração do rei Sheppard se envolveu com a África e seus habitantes desde o início Aprendeu as línguas locais e construiu uma rede de amigos e aliados Quando Lapsley morreu menos de dois anos depois de ambos terem se mudado para Kasai Sheppard administrou soz inho a nova missão presbiteriana por cinco anos O pastor 132832 estudou as sociedades nativas com grande interesse e sucesso e passou a ter livre acesso à corte do rei da poderosa e quase desconhecida Kuba Ele impressionava o público europeu e norteamericano com seus relatórios e coleções de artefatos Em 1893 Sheppard tornouse o primeiro afroamericano e um dos mais jovens a ser eleito para a Real Sociedade Geográfica Britân ica provavelmente o título de maior prestígio concedido a um ex plorador A sociedade também nomeou um lago na região de Ka sai em homenagem a Sheppard quem o havia descoberto Mas outra descoberta de natureza mais mundana como regis tros comerciais causou um impacto maior no Congo No fim da década de 1890 Edmund Dene Morel trabalhava para a compan hia britânica de navegação que tinha o monopólio do frete comer cial do Congo e frequentemente ia à Antuérpia em viagens de negócios Morel um adepto fervoroso do livrecomércio e um de fensor entusiasmado da empreitada de Leopoldo notou um fato suspeito Quase tudo o que a companhia de navegação enviava da Antuérpia para o Congo eram armamentos e munição para as tro pas do Estado Livre A transação não poderia vir de outro lugar pois a companhia detinha um monopólio Aos africanos do Congo não era permitido usar dinheiro então se estes não estavam sendo pagos em bens eles também não estavam recebendo nada pelo fornecimento de marfim e borracha Mais tarde chegando a uma conclusão inevitável Morel escreveu Somente o trabalho forçado do tipo mais terrível e contínuo poderia explicar tais lucros obscuros trabalho forçado do qual o governo do Congo era o beneficiário imediato trabalho forçado coordenado pelos súditos mais próximos do próprio rei6 Morel havia descoberto a lógica econômica do reino de Leo poldo O rei esperava obter enormes lucros no Congo Mas primeiro a região precisava ser conquistada e governada o que era imensamente caro Tão caro que Leopoldo precisou de 133832 empréstimos pesados para manter seu Estado Livre Durante uma década o marfim da região forneceu parte do dinheiro que Leo poldo necessitava mas em meados da década de 1890 a borracha superou o marfim como o produto mais importante da colônia A demanda mundial por borracha disparou uma vez que inovações técnicas tornaram o material mais versátil e novos produtos tais como bicicletas e automóveis deram um novo sentido para a util ização das rodas de borracha A borracha selvagem do Congo era um recurso muito conveni ente para o rei ávido por dinheiro vivo uma vez que ela brotava naturalmente e não gerava custos de plantação O problema era que atingir os campos selvagens tornouse difícil e doloroso eles estavam espalhados pela densa floresta tropical e muitas vezes a única forma prática de transformar a seiva em borracha era o coletor espalhála em seu corpo esperar secar e tirála com pelos e tudo A coleta era tão difícil que os administradores de Leopoldo não conseguiam voluntários congoleses para realizar a tarefa em troca de bens Assim o Estado Livre optou pela força impondo taxas aos congoleses a serem pagas em borracha Os soldados do Estado Livre utilizavam uma série de métodos para obrigar a população a coletar o produto Às vezes faziam re féns mulheres e crianças do vilarejo e apenas as libertavam quando os homens entregavam uma determinada quantidade de borracha Outras vezes os líderes locais eram subornados para forçar a população a trazer o produto Quando todos os métodos falhavam os soldados ateavam fogo nos vilarejos rebeldes e mas sacravam os habitantes para que as áreas vizinhas ficassem cientes do preço da desobediência Ocasionalmente as notícias das atrocidades cometidas pelo Estado Livre extrapolavam o Congo Em 1899 a missão presbi teriana mandou William Sheppard investigar relatos do conflito entre Kuba e uma tribo canibal chamada Zappo Zaps que parti cipava do comércio de escravos Sheppard voltou à capital de 134832 Kuba e para o seu desespero encontrou uma região devastada O sistema brutal de coleta de borracha havia chegado a Kuba que resistiu e foi punida com trabalho forçado O Estado Livre do rei Leopoldo contratou os Zappo Zaps e os enviou para que pacificas sem Kuba onde instauraram o terror Eventualmente Sheppard se encontrava com um grupo de Zappo Zaps cujo líder o reconheceu Mlumba o comandante loc al se orgulhava de ter destruído vilarejos inteiros Ele sabia que Sheppard era estrangeiro e supôs que fosse aliado dos belgas O próprio Sheppard viu pilhas de pedaços de corpos que haviam sido cortados em bifes para o consumo dos soldados Mlumba escreveu Sheppard nos conduziu para uma armação feita de varas sob a qual ardia um fogo baixo E lá estavam elas as mãos direitas Eu as contei 81 no total Mlumba explicou a Sheppard Aqui estão as nossas provas Preciso sempre cortar a mão direita daqueles que matamos para mostrar ao Estado quantos foram mortos7 A lógica de Leopoldo também operava ali O Estado Livre havia entregado armas e munição a seus mercenários mas descobriu ser mais provável que estes as utilizassem mais em caçadas do que em defesa dos interesses do Estado Para provar que estavam cumprindo suas tarefas os soldados precisavam demonstrar que as armas e a munição do Estado estavam sendo usadas para fins militares As mãos das vítimas conservadas pela fumaça provavam que o dinheiro do Estado não estava sendo desperdiçado Em poucas semanas os relatos de Sheppard sobre as atrocid ades testemunhadas na região de Kasai ganharam os jornais do mundo Ao mesmo tempo Edmund Morel continuava com suas descobertas sobre a fraude comercial de Leopoldo e se empen hava de forma sistemática em revelar ao mundo a realidade con golesa Ele fundou um jornal que publicava os detalhes terríveis da brutal administração do rei Alguns meses após as revelações de Sheppard Edgar Canisius um empresário norteamericano 135832 testemunhou uma expedição punitiva dos soldados do Estado Livre Canisius disse que em seis semanas as tropas haviam matado mais de nove mil nativos homens mulheres e crianças pelo objetivo de acrescentar 20 toneladas de borracha à produção mensal8 Com a proliferação de relatos como esses em 1903 a Câmara dos Comuns britânica se opôs oficialmente ao re inado de Leopoldo O Ministério das Relações Exteriores da Grã Bretanha levou essa questão adiante enviando seu cônsul ao Congo para uma viagem investigativa de meses pelo interior do país o que confirmou as suspeitas dos que criticavam Leopoldo de forma mais severa A Associação Britânica de Reforma do Congo criada por Morel mobilizou a opinião pública contra o rei Leopoldo e a dev astação causada por ele no país Rapidamente o movimento gan hou força e conquistou o apoio de antiimperialistas como Mark Twain cujo King Leopolds Soliloquy tornouse uma obraprima amarga de sátira política Mesmo os imperialistas convictos se uniram no clamor contra o rei Leopoldo uma vez que as atrocid ades por ele cometidas desacreditavam os governos coloniais re sponsáveis Com efeito em janeiro de 1905 um dos líderes im perialistas dos Estados Unidos o presidente Theodore Roosevelt recebeu William Sheppard na Casa Branca e endossou seus es forços em nome dos congoleses O lado mais pragmático das potências europeias preocupavase com o fato de Leopoldo não honrar seu compromisso de manter o Congo aberto ao comércio e aos investimentos de outros países e de se utilizar de métodos corruptos para reservar as oportunidades de lucro para seus aliados O poderoso Partido Socialista da Bélgica e outros reformistas se uniram nas críticas pedindo que o reino africano de Leopoldo fosse devolvido ao governo belga e fosse conduzido de forma mais responsável por um poder colonial mais apropriado Apenas os mais radicais consideravam a possibilidade de independência 136832 uma vez que naquele momento apenas dois países em toda a África subsaariana não eram mais colônias Leopoldo reagiu nomeando uma comissão de inquérito Mas a comissão do próprio Leopoldo depôs contra ele Cobrar dos nativos impostos a serem pagos com trabalho é tão opressivo que eles têm pouca se é que alguma liberdade Os nativos são praticamente pri sioneiros em seu próprio território A comissão condenou as fre quentes expedições punitivas cujo objetivo era aterrorizar os nativos para que pagassem um imposto que os comissários con sideraram desumano9 Em seguida Leopoldo foi obrigado a de volver o controle da colônia ao governo belga que eliminou os ex cessos mais graves Os conflitos entre William Sheppard e as autoridades congole sas não haviam terminado Em 1907 ele escreveu de forma elo quente sobre quanto o comércio da borracha havia destruído a es trutura social de meio milhão de indivíduos da tribo de Kuba Há apenas alguns anos os viajantes deste país os encontravam mor ando em casas grandes de um a quatro quartos cada amando e vivendo felizes com seus filhos e mulheres Essa era uma das mais prósperas e inteligentes tribos africanas apesar de viver em uma das mais remotas áreas do planeta Mas nos últimos três anos quantas mudanças Suas fazendas cultivam pragas e selva seu rei é pratica mente um escravo a maioria das casas é de um cômodo muitas fo ram abandonadas e outras estão construídas apenas parcialmente As ruas de suas cidades não estão limpas e bemvarridas como um dia estiveram Até mesmo seus filhos choram por pão Por que isso mudou Vocês saberão em poucas palavras Há guardas armados de companhias de comércio da Coroa forçando homens e mulheres a passar a maior parte de seus dias e noites na floresta fazendo bor racha e o valor que recebem é tão insuficiente que não podem viver dele10 Os ultrajantes diretores da companhia local de comércio lig ada à Coroa a Kasai Company mais uma vez foram à Justiça 137832 congolesa contra Sheppard Morel e os presbiterianos organiz aram uma rede global de apoio a Sheppard quando ele foi julgado em Kinshasa O governo dos Estados Unidos questionou o julga mento e o líder do Partido Socialista belga correu para o Congo para atuar como advogado de Sheppard O espetáculo apenas en fatizou a natureza vil do governo de Leopoldo e os lucros obtidos pelas empresas favorecidas por ele Mais tarde o juiz considerou as acusações contra Sheppard improcedentes Após quase 20 anos no Congo ele estava pronto para voltar para casa Aposentouse do trabalho missionário e passou os 20 anos restantes de vida como pastor em Louisville Kentucky Em 1909 pouco depois da vitória de Sheppard Leopoldo morreu mais desonrado do que qualquer rei em exercício poderia estar O Estado Livre do Congo fora o epítome do mal colonial mod erno Sir Arthur Conan Doyle autor das histórias de Sherlock Holmes chamou a exploração de Leopoldo no Congo de o maior crime de toda a História o maior por ter sido perpetrado sob uma odiosa pretensão de filantropia11 Por mais que pareça exagerado isso expressa a reação popular aos horrores da má gestão colonial uma reação apresentada de forma literária pelo jazz poeta Vachel Lindsay em seu poema épico The Congo Listen to the yell of Leopolds ghost Burning in Hell for his handmaimed host Hear how the demons chuckle and yell Cutting his hands off down in Hellb Os 25 anos da má administração de Leopoldo saquearam o país e a violência causou a morte não natural de milhões de con goleses Mas tal má gestão causou danos bem maiores como a destruição de boa parte da estrutura social da região Os mestres coloniais dilaceraram ou devastaram as sociedades locais ex acerbaram os conflitos entre os habitantes da área e não deram nenhuma oportunidade para que os congoleses aderissem ou se 138832 adaptassem ao que o exterior oferecia de útil A administração co lonial fez com que os habitantes de uma região com recursos nat urais extraordinários não conseguissem utilizálos para o desen volvimento da economia Leopoldo nunca visitou o Congo os in teresses dele eram econômicos e políticos não pessoais Mas o senhorio ausente e seu Estado Livre fizeram estragos enormes na região Eles são os principais culpados pelo triste desempenho econômico da colônia centroafricana durante esse período e em grande parte são responsáveis pela estagnação econômica do país nas décadas subsequentes Colonialismo e subdesenvolvimento Mark Twain chamou o rei Leopoldo e todos os de sua laia de as bênçãos da civilização do truste Escreveu Twain sobre o truste Há mais dinheiro mais território maior soberania e outros tipos de ganhos do que existe em qualquer outro jogo12 Assim como Leopoldo muitos dos membros do truste eram obcecados pela ex tração de riquezas de suas possessões Eles extraíam todos os re cursos que podiam de enclaves autossuficientes em minas de cobre e ouro ou em plantações de banana e canadeaçúcar Os donos clientes e algumas vezes até mesmo a mão de obra desses enclaves não tinham qualquer interesse de longo prazo na região e o impacto causado na economia local era mínimo Com frequên cia quando a estrutura requeria trabalhadores como no caso do Congo as autoridades coloniais impunham o trabalho forçado aos que ali residiam Tais enclaves eram praticamente um roubo organizado Retiravamse recursos valiosos sem que qualquer riqueza tecno logia ou treinamento fosse deixado para trás Os colonizadores al gumas vezes submetiam os habitantes nativos a condições quase escravagistas dilacerando a forma como viviam e destruindo a 139832 economia local O rei Leopoldo no Congo e os portugueses em suas colônias foram os exploradores locais de maior proeminên cia Tais regimes foram predatórios de uma forma tão gritante que até mesmo na época causavam comoção generalizada como ocorrera no Congo As concessões comerciais eram levemente menos nocivas do que os enclaves extrativistas Eram uma volta ao mercantilismo europeu dos séculos XVII e XVIII quando os monopólios da Coroa como a Companhia Holandesa das Índias Orientais e a Companhia da Baía de Hudson controlavam colônias inteiras Nos casos mais modernos a metrópole designava o controle de regiões promissoras a concessionárias comerciais Nas palavras de um dos gerentes da Companhia Britânica da África do Sul que administrava a Rodésia do Norte hoje Zâmbia o problema da Rodésia do Norte não é de colonização o problema é saber como desenvolver melhor de forma científica um grande Estado para que ele gere a maior quantidade possível de lucros para o seu proprietário13 Se sucesso comercial e desenvolvimento econ ômico caminhassem juntos estaria tudo bem mas onde eles en tram em conflito a principal responsabilidade das concessionári as seria com seus acionistas Quando pequenos grupos de europeus colonizavam áreas com grandes populações nativas o potencial para abusos era o mesmo dos casos de puro saqueio colonial Essas colonizações de povoa mento foram fundamentalmente diferentes das migrações europeias em massa para áreas pouco habitadas como os pampas argentinos e as pradarias canadenses onde os imigrantes e seus descendentes eram praticamente toda a população local As colônias de povoamento em contrapartida eram governadas por uma classe estrangeira que dominava e controlava numerosas populações nativas Algumas autoridades coloniais estimulavam esse tipo de colonização para que fossem desenvolvidas fontes de produção agrícola alguns enxergavam os colonos como escudos 140832 contra a população nativa e outras potências concorrentes mas desenvolvimento econômico por meio da colonização de povoa mento era quase sempre um fracasso Esse tipo de colonização em geral envolvia a concessão de ter ras a europeus para que fossem cultivados produtos rentáveis que normalmente não eram produzidos pelos nativos Com frequên cia as colônias de povoamento revelavam a sabedoria dos habit antes locais em não cultivarem esses produtos uma vez que as fazendas fracassavam de forma miserável De fato os colonos destruíam as atividades econômicas tradicionais para forçar os nativos a trabalhar para eles nas novas fazendas Muitos colonos apenas foram bemsucedidos na agricultura comercial devido a subsídios concedidos pelas autoridades créditos e is enção de impostos infraestrutura barata acesso privilegiado a mercados expropriações locais Para conseguir que seis mil europeus se estabelecessem no Quênia por volta de 1913 os britânicos precisaram vender a eles terras próximas a novas fer rovias a preços irrisórios expulsar milhares de habitantes das tri bos Masai e Kikuyu de suas terras rever a captação e a cobrança de impostos de moradia a fim de estimular os africanos a trabal har para os colonos e como era alegado coagir os trabal hadores por meio de líderes locais aliados Mas mesmo assim a agricultura da colonização de povoamento no Quênia continuava a ser um grande fracasso14 Houve alguns casos bemsucedidos em que os colonos con seguiram desenvolver fazendas produtivas Na Argélia centenas de milhares de europeus estabelecidos ao longo da costa do Medi terrâneo após o domínio francês haviam se consolidado em mea dos do século XVIII A topografia e o clima da região eram semel hantes aos do sul da França e o solo era adequado para o plantio de produtos já conhecidos dos franceses Logo os colonos es tavam exportando grãos e vinho e a competitividade deles era fortalecida por políticas favoráveis da metrópole e pela mão de 141832 obra local barata Na outra extremidade do continente algumas áreas do sul da África como a Rodésia e a Província do Cabo também eram bemsucedidas economicamente Nessas regiões as colônias de povoamento tornaramse lucrativas em grande parte devido a produtos agrícolas rentáveis No entanto até mesmo as colônias de povoamento mais prósperas eram governadas pelas políticas coloniais que benefi ciavam os assentados colonos argelinos rodesianos brancos e excluía os habitantes locais Os colonos cercados por sociedades nativas populosas dependiam do tratamento desigual e se gregado Se fossem concedidos direitos iguais ao resto da popu lação a posição privilegiada dos colonos sofreria com a concor rência dos árabes ou africanos dispostos a trabalhar mais por menos O que muitos dos colonos desejavam não era o desenvol vimento geral da agricultura nativa mas uma força de trabalho cativa e barata Os esforços em prol da melhora nas condições dos nativos se dissipavam diante da necessidade de mão de obra barata dos colonos Portanto a maioria dos colonizadores era contra a incorporação de outros sujeitos coloniais nos sistemas político social e econômico A recusa dos assentados em inserir as populações locais na so ciedade às vezes gerava conflitos com as próprias potências colo niais15 No princípio os governos europeus escolhiam uma certa quantidade de homens franceses ou britânicos para supervisionar suas possessões No entanto a população local não podia ser eter namente subjugada à força e os impérios coloniais ocasional mente queriam estimular o envolvimento dos habitantes nativos na sociedade a fim de atraílos para a Nova Ordem Os assenta dos eram contra essa incorporação porque isso implicava a re dução de seus privilégios especiais Caso fossem ourtorgados aos árabes argelinos ou aos negros rodesianos e quenianos o pleno acesso à terra aos serviços públicos e ao voto logo haveria fortes pressões para eliminar os favores concedidos aos europeus 142832 A oposição dos assentados à inclusão dos habitantes locais no sistema colonial muitas vezes boicotava as bases para uma integ ração econômica internacional ampla e para o desenvolvimento econômico em geral Os colonos impediam que os habitantes loc ais e seus aliados mais próximos prosperassem com a maioria dos habitantes locais excluída havia poucas chances para um crescimento econômico amplo Se a Rodésia ou a Argélia fossem mais includentes do ponto de vista econômico social e político essas regiões poderiam ter expandido as oportunidades financeir as de suas metrópoles razão que juntamente com a busca por mais governabilidade motivava a França e a GrãBretanha a con siderar a inclusão Ao boicotarem a democratização os colonos também boicotavam o desenvolvimento social e econômico da re gião e assim obtinham como aconteceu a fatia maior de um bolo menor Mesmo onde a ordem estrangeira não era tão perniciosa quanto as colonizações de povoamento ou de extração ela tam bém poderia estancar o crescimento local Algumas potências im perialistas restringiram o comércio a formas que se assemel havam ao mercantilismo europeu contra o qual lutaram os movi mentos de independência do Novo Mundo e os liberais europeus Os mercantilistas forçavam as colônias a vender para os mercados das metrópoles e delas comprar exagerando nos preços das ven das e pagando abaixo do valor nas compras Além de utilizar os preços contra as colônias algumas vezes os mercantilistas deses timulavam ou proibiam o desenvolvimento das manufaturas loc ais Algumas potências imperialistas modernas utilizavam polític as ao estilo mercantilista a fim de impor seu comércio e seus in vestimentos por meio das vias coloniais Essas práticas negavam às colônias o pleno acesso a bens capitais e tecnologias da vi brante economia mundial Algumas das grandes potências tam bém forçavam países em desenvolvimento independentes a 143832 assinarem acordos desiguais que concediam tratamento preferen cial às nações industriais O neomercantilismo global e os tratados neocoloniais signi ficavam alguns impedimentos ao desenvolvimento mas não de forma substancial Os Impérios britânico e alemão praticavam o livrecomércio assim como toda a África central Onde impostas as tarifas comerciais eram baixas e o desvio que o comércio in formal representava não era muito custoso para as colônias Os tratados comerciais desiguais também tinham efeito limitado países que desejavam impor tarifas altas como o Brasil a Rússia e os Estados Unidos nunca chegavam a um acordo e aqueles que concordavam tinham pouco interesse nelas Com efeito quando Estados como o Sião e o Japão eram liberados dos tratados comerciais desiguais as políticas comerciais desses países pouco mudavam Dessa forma por mais que as potências imperiais de fato manipulassem o comércio com as nações mais pobres tal manipulação não era tão devastadora a ponto de retardar o cresci mento econômico como um todo Na verdade a maioria das potências imperiais insistia na par ticipação de suas colônias na economia internacional A mo tivação não era causada por benevolência colonial mas pelo fato de que levar os recursos das colônias aos mercados em geral exi gia um envolvimento local ativo Em muitas sociedades os bens destinados à exportação eram produzidos pelos agricultores loc ais Isso se aplicava a grande parte da África ocidental Ceilão e Sudoeste Asiático e os governos coloniais dessas regiões assim como os de outros locais lutavam para inserir seus produtos nos mercados mundiais Construíam ferrovias estradas e portos es tabeleciam a ordem jurídica e monetária e estimulavam os comerciantes a buscar produtores e consumidores no interior desses países As classes dominantes coloniais sempre fizeram pouco se é que algo para que as colônias tivessem acesso aos mercados 144832 internacionais Algumas vezes isso podia ser explicado pelo fato de o proprietário imperialista ter adquirido territórios para fins não econômicos como abrigar tropas de soldados ou abastecer navios Algumas vezes a explicação era o atraso abissal da metró pole como no caso das colônias portuguesas e espanholas Algu mas vezes isso se dava porque a potência colonial contava com governantes locais que temiam os efeitos da economia inter nacional sobre o controle social que exerciam Nesse sentido a provisão inadequada de oportunidades econômicas aos sujeitos coloniais em especial aos que não fossem brancos era a prin cipal falha da maioria das potências Sir Arthur Lewis analisou o impacto final até mesmo das col onizações mais benevolentes com a eloqüência e o comedimento que lhe são peculiares Escrevendo por experiência própria ele fora a primeira pessoa de cor e o primeiro cidadão de uma colônia a receber o Prêmio Nobel de Economia ele nasceu em Santa Lúcia nas Índias Orientais Lewis comentou na década de 1970 O atraso dos países menos desenvolvidos de 1870 só poderia ter sido revertido por pessoas preparadas para modificar certos costumes leis e instituições e para tirar o balanço de poder político e econômico das mãos dos proprietários de terra e das classes aristocráticas Mas a maioria das potências imperialistas aliouse aos blocos poderosos que já existiam Eram particularmente hostis aos jovens instruídos os quais por meios de segregação racial geralmente mantinhamse afastados dos cargos onde pudessem ganhar experiência adminis trativa seja no serviço público ou em empresas privadas Tais indiví duos diriam eles não podiam ser empregados em cargos superiores tanto pela falta de experiência administrativa quanto pela ausência do tipo de formação cultural necessária para que essa competência pudesse florescer Como um dos resultados disso talentos brilhantes foram mandados para as longas e penosas lutas anticoloniais en quanto poderiam ter sido utilizados com criatividade em setores do desenvolvimento16 145832 Esses eram sinais mais de omissão do que de delegação En volviam mais uma atenção inadequada aos prérequisitos do desenvolvimento econômico do que uma oposição ativa a eles Mas tais sinais eram reais e suficientemente importantes para gerar fracassos de desenvolvimento nos anos que precederam 1914 O colonialismo suprimia o desenvolvimento a ponto de blo quear a integração econômica da colônia com o resto do mundo ou de impedir que os sujeitos coloniais participassem do projeto Essa conclusão vai de encontro à ideia que considera o comércio e os investimentos internacionais a causa do problema Muitos ativ istas anticoloniais da época criticavam o comércio o que continua popular até hoje em alguns círculos Eles acusavam as grandes potências de terem jogado as colônias nas mãos impiedosas da economia global sujeitando regiões pobres à coerção dos merca dos mundiais A acusação é injusta por pelo menos dois motivos Primeiro os governos coloniais mais nocivos e questionáveis fizeram uso de restrições ao comércio e não do livrecomércio para drenar os recursos de suas colônias Segundo o com promisso com os mercados mundiais em geral aumentava o cres cimento econômico da colônia de forma acentuada Não é coin cidência que a parcela da economia da América Latina região de rápido crescimento dedicada à atividade comercial fosse três vezes maior do que a da Ásia que apresentava um crescimento lento Isso significava um comércio seis vezes maior numa base per capita Quando os povos da região conseguiam o acesso às oportunidades eles perseguiam com vigor as possibilidades de enriquecimento oferecidas pelo capitalismo global As áreas colo niais de crescimento mais rápido foram aquelas em que os gov ernos conseguiram de forma mais eficiente garantir o bom funcio namento dos caminhos que levavam ao mercado global de ida e de volta Os problemas relativos ao desenvolvimento eram mais severos onde os regimes coloniais não desejavam ou não podiam 146832 permitir que os povos das colônias tirassem proveito do que a economia global tinha a oferecer O colonialismo fora apenas um entre os muitos fatores que afetaram o crescimento do mundo em desenvolvimento e nem sempre era negativo Governos coloniais eficazes aceleravam o avanço econômico da mesma forma que a exploração mercenária o retardava Economicamente a maioria das colônias encontrava se no meio do caminho Contavam com uma módica adminis tração e outros benefícios sujeitavamse a uma modesta quan tidade de tributos e discriminação comercial A relativa pouca im portância da colonização para os desdobramentos do desenvolvimento tornase clara sob uma perspectiva mais ampla a variação nos níveis de progresso era tão grande entre as não colônias quanto nas regiões coloniais Por exemplo enquanto grande parte da América Latina cresceu rapidamente algumas áreas da América Central ao Nordeste brasileiro estagnaramse Os dois fracassos mais óbvios em termos de desenvolvimento a China e o Império Otomano eram independentes Algumas colônias se estagnaram da mesma forma que certos países inde pendentes outros países colonizados cresceram rapidamente as sim como outras nações independentes Exceto em casos como o do claro saqueio leopoldiano e de algumas colônias de povoa mento privilegiadas de forma geral o colonialismo não fora um obstáculo intransponível ao desenvolvimento econômico Má gestão e subdesenvolvimento As políticas econômicas dos governantes de uma nação eram os principais determinantes do desenvolvimento econômico fossem os governantes coloniais ou locais Crescimento econômico exigia investimentos fácil contato com clientes domésticos ou inter nacionais especialistas locais e acesso a tecnologia e capital 147832 estrangeiros Nada disso podia ser conseguido sem o apoio ou pelo menos a permissão dos governantes Quatro quintos da economia das sociedades pobres da virada do século XX correspondiam à agricultura que era extremamente atrasada Em comparação em 1700 a GrãBretanha era menos rural do que isso e as suas fazendas apresentavam uma produtividade maior17 Para se modernizarem os produtores agrí colas precisavam aperfeiçoar suas terras aprender novos métodos e cultivar outros produtos As áreas que cresceram rápido as planícies de arroz da Tailândia e Burma as regiões de cacau da África oriental as zonas de café do Brasil e da Colômbia con tavam com uma grande quantidade de produtores agrícolas inde pendentes trabalhando para o desenvolvimento de suas terras E os governos dessas áreas facilitavam o acesso de seus cidadãos às vantagens das oportunidades econômicas Infraestrutura e serviços que facilitassem a atividade econôm ica eram prérequisitos para o crescimento Os agricultores neces sitavam de créditos informação sobre técnicas e mercados e meios de transporte para trazer o maquinário e levar a produção Os governantes que se interessavam pelo crescimento econômico garantiam confiáveis sistemas de transportes comunicação e finanças O desenvolvimento também exigia condições políticas e legais sofisticadas em especial a garantia de direitos de propriedade O comprometimento com a proteção da propriedade privada não era necessariamente uma concessão de privilégio nas sociedades pobres os principais donos de terras eram os agricultores Para que pudessem se beneficiar das oportunidades da nova economia eles precisavam gastar dinheiro energia e tempo para melhorar o solo O produtor agrícola arriscava seu sustento para plantar árvores de café transformar florestas em campos de cultivo ou ir rigar Como eles optariam por um investimento tão arriscado se não tivessem a garantia de que veriam os frutos de seu trabalho 148832 Se bandidos pudessem roubar seus animais e incendiar seus cam pos Se funcionários dos governos locais pudessem extorquir qualquer riqueza que vissem sendo ganha Se os governos nacion ais taxassem todos os lucros Educação para aprimorar as habilidades dos trabalhadores e alfabetização também causavam um impacto direto na produtividade De fato o sucesso econômico e a escolaridade caminhavam quase de mãos dadas Nos Estados Unidos e na Ale manha 34 ou mais das crianças em idade escolar frequentavam instituições de ensino no Japão metade e na Argentina e no Chile 14 das crianças tinha acesso à educação Além disso saneamento e saúde pública também eram importantes tanto devido a razões sociais óbvias quanto por permitirem às pessoas se tornarem membros produtivos da sociedade A má gestão era a principal barreira ao desenvolvimento econ ômico Ela impedia que produtores agrícolas e mineradores levassem seus produtos aos mercados mundiais e também que a África ocidental ou a América Central aprimorassem suas cidades e terras De fato fosse das autoridades coloniais ou dos governos independentes a má gestão impedia o desenvolvimento e vários governantes independentes ou coloniais eram indiferentes ou hostis à necessidade de desenvolvimento econômico Alguns sinais claros de má administração eram a ausência de sistemas adequados de comunicação e transporte a escassez de bancos e a falta de confiança da população na moeda nacional A primeira linha ferroviária da China fora construída 25 anos após a da Índia por mercadores estrangeiros e um ano depois o governo chinês a destruiu e jogou os pedaços no oceano18 Em 1913 o sis tema de trens da China era menor do que o do pequeno Japão o qual correspondia a apenas 15 da quilometragem ferroviária da Índia Outro sinal de má gestão era a falta de um comprometimento claro por parte do governo em relação a um ambiente econômico 149832 confiável Assim a população não podia aproveitar as oportunid ades que a economia mundial em crescimento oferecia Os gov ernantes tradicionais em geral relutavam em garantir os direitos dos investidores Respeitar o direito de propriedade privada sobretudo significava a restrição de regalias do governo Foi apenas nos primeiros anos do século XX que a China tomou a me dida básica de adotar um código de leis para as corporações per mitindo as empresas a operar normalmente Até então com fre quência as autoridades ignoravam os direitos dos cidadãos Uma má administração também incluía o desinteresse do gov erno em melhorar a qualidade de vida e trabalho dos indivíduos Na Índia apenas uma em cada 20 crianças frequentava a escola19 Em 1907 92 da população adulta do Egito era analfabeta e o governo não demonstrava qualquer interesse em reduzir esses números20 Muitos governantes independentes neocoloniais e coloniais falharam de forma vil em fornecer educação básica saneamento ou saúde pública Por que as classes dominantes condenavam suas sociedades à estagnação Nas colônias a resposta talvez fosse que os gov ernantes imperialistas não tinham interesse nas condições econ ômicas locais Mas muitos dos fracassos desenvolvimentistas eram politicamente independentes e podemos presumir com se gurança que a maior parte dos governantes preferia o cresci mento da economia de suas sociedades ao retrocesso mesmo que fosse apenas para gerar mais impostos Não era uma simples falta de democracia os governantes de quase todos os lugares eram oligárquicos tanto nos países pobres quanto nos ricos Al guns soberanos simplesmente tinham menos interesse ou capa cidade que outros de permitir um crescimento econômico amplo Estagnação na Ásia 150832 Os fracassos desenvolvimentistas mais notáveis foram a China o Império Otomano e a Índia As três civilizações mais antigas do mundo possuíam evidentemente uma longa experiência de com plexa organização social Assim como na Europa prémoderna essas economias eram constituídas quase exclusivamente por ag ricultura e artesanato locais e havia tempos não estavam bem equilibradas eram suficientes para alimentar e vestir a popu lação mas não para criar um superávit substancial que gerasse in vestimentos e crescimento Os governos eram especialistas em ad ministrar suas sociedades longínquas promovendo estabilidade social e segurança militar Os poucos segmentos avançados da economia finanças e comércio internacionais e uma indústria incipiente estavam nas mãos de diferentes grupos algumas vezes de etnias distintas Essas ilhas de atividade econômica eram cuidadosamente monitoradas para que não emergissem centros de poder alternativos As classes dominantes dos três países temiam que o cresci mento econômico provocasse mudanças sociais que os tornassem ingovernáveis ou ao menos ingovernáveis pela administração vi gente A principal preocupação dos governantes otomanos chineses e indianos era com a estabilidade da ordem social e de fato o crescimento econômico poderia desequilibrála O es tímulo ao surgimento de um setor privado próspero exigia que os governos respeitassem os direitos de seus cidadãos de uma forma que eles não estavam acostumados A criação de uma base para o crescimento da economia moderna significava participar da eco nomia mundial cobrar impostos dos ricos educar os pobres mel horar os transportes no campo e desenvolver mercados de crédito locais A maior parte desses fatores implicava mudanças sociais as quais não eram bemvindas pelas classes dominantes Nenhum dos três governos se empenhou de verdade para superar a inércia social até o fim do século XIX quando já era tarde demais O tradicionalismo impediu a modernização21 151832 Defensores dos três governos argumentavam que a necessid ade geopolítica os forçava a subordinar o desenvolvimento a ob jetivos de política externa Acreditase que o Império Chinês e o Otomano enfrentavam ameaças à soberania que os obrigaram a sacrificar o desenvolvimento econômico Por exemplo uma ex plicação para a hostilidade do governo chinês às estradas de ferro seria que militares estrangeiros mercadores ou missionários as utilizavam comprometendo a segurança do país A escolha por si só já é reveladora Por um lado isso simplesmente admitia que os próprios chineses não eram capazes de adotar as novas tecnologi as o que incluía a utilização das ferrovias para usos militares como fazia o Japão Por outro negar à nação uma revolução nos transportes apenas para impedir o acesso de estrangeiros signi ficava que as ameaças ao poder de influência do governo se sobre punham às oportunidades para o crescimento econômico O poder imperial e a estabilidade eram mais importantes do que o desenvolvimento No fim o governo voltou atrás e utilizou as fer rovias para que as tropas pudessem se movimentar de forma rápida durante a Guerra dos Boxers de 1899 a 1900 Também embarcou num programa para a construção de estradas de ferro mas naquele momento eles já estavam 40 anos atrasados O ar gumento da necessidade militar é precisamente retrógrado as crescentes infrações conta a soberania dos chineses e otomanos no decorrer do século XIX e início do XX eram um resultado da inadequação econômica deles e não a causa No caso da Índia algumas vezes alegase que o status do país como uma preciosidade militar essencial para a Coroa britânica retardou o crescimento devido à negligência colonial em relação às necessidades econômicas É verdade que o principal gasto da GrãBretanha na Índia a construção de um sistema ferroviário extenso fora motivado por razões militares Mas longe de re tardar o desenvolvimento as ferrovias provavelmente foram a maior fonte de qualquer sucesso econômico registrado na Índia 152832 No entanto tal fato sozinho era insuficiente Da mesma forma como os governantes da China e do Império Otomano tanto os britânicos quanto seus aliados indianos preocupavamse priorit ariamente em manter o controle político e viam com suspeita as medidas desenvolvimentistas agressivas22 Nas últimas décadas do século XIX o desastroso abismo desenvolvimentista já se fazia claro e nos três países cresciam movimentos por reformas Muitos dos que desejavam as mudanças eram lúcidos e bemintencionados até mesmo dentro do governo Mas na maioria dos casos os esforços deles eram suprimidos pela resistência imperial ainda presente Alguns governantes chineses por exemplo abraçaram as re formas econômicas e políticas Mas as credenciais reformistas do governo eram suspeitas como mostrara a viúva do imperador ao apoiar a Guerra dos Boxers uma batalha antiocidente Até mesmo as reformas implementadas pelo governo chinês foram distorci das pela influência das classes dominantes tradicionais Um dos fatores de maior pressão era o desenvolvimento de uma indústria moderna quase inexistente na China Até então os poucos governantes que estimularam a indústria o fizeram com o objetivo de aumentar a sua própria influência O governador das províncias de Hubei e Hunan por exemplo determinou que as metalúrgicas ficassem sob sua própria proteção Ele mesmo providenciou a encomenda de equipamentos das usinas por inter médio do embaixador da China em Londres aparentemente porque desejava as últimas novidades em equipamentos britâni cos Dada a ignorância do governador em metalurgia os altos fornos eram inapropriados para o minério local ao passo que o carvão pretendido para as usinas era inutilizável Para tornar a situação ainda pior as usinas foram construídas em uma área muito pequena e úmida demais mas com o benefício de poder ser avistada do palácio do governador O equipamento custou uma fortuna e fracassou de forma grotesca O historiador econômico 153832 Albert Feuerwerker estudou o equívoco dessas últimas tentativas do governo imperial em estimular a indústria Em todos os casos os projetos enriqueceram alguns mercadores e funcionários do governo mas nada fizeram pela modernização econômica do país O avassalador peso político da beminstruída elite se opunha ou era indiferente à industrialização escreveu23 Uma vez que interesses enraizados na sociedade sabotaram as reformas os que se opunham às classes dominantes ergueram a bandeira da renovação nacional Indianos nacionalistas que queriam mais autonomia para a colônia lideraram o movimento pelo desenvolvimento econômico Oficiais de patente média do Exército otomano tomaram a dianteira na luta por reformas no Império Os Jovens Turcosc tomaram o poder em 19081909 mas seus planos foram destruídos pela Primeira Guerra Mundial A guerra com imensas perdas otomanas apenas mostrou aos movi mentos nacionalistas estrangeiros e nativos o quão calamitoso fora o atraso Com o colapso da ordem otomana Mustafa Kemal Atatürk outro jovem oficial liderou o que permaneceu do Im pério em direção à modernidade transformando as ruínas na nova e secular Turquia O relativo sucesso da Turquia de Atatürk serviu apenas para enfatizar a natureza retrógrada do regime que estava sendo substituído Na China as novas forças sociais e econômicas também só fo ram instauradas por meio da revolução O programa de reformas do governo imperial era tímido e em 1911 uma coalizão entre ofi ciais insurgentes do Exército e civis da oposição destituiu a mon arquia Sun Yatsen e seu Partido Nacionalista lideraram o movi mento rebelde para a proclamação da República Mas mesmo as sim conforme ocorrera com o Império Otomano as reformas vi eram tarde demais para que fosse possível evitar o avanço da de terioração das condições do país Generais dividiram a China em feudos o que deixou a nação quase sem defesa enquanto o Japão mais poderoso e industrializado expandia seus domínios pelo 154832 território Nenhum grupo ou indivíduo conseguiu unificar o país para lutar contra os estrangeiros ou renovar o governo nacional O resultado foram quase 40 anos de guerra civil e invasões cal amidade após calamidade o que demonstrava o quão despre parado para a modernidade o Império Chinês havia deixado o país A civilização milenar da China assim como as do Império Otomano e da Índia bloqueou em vez de permitir a adesão e a adaptação às atividades econômicas modernas Estagnação nas plantações intensivas Em alguns casos interesses enraizados impediram o desenvolvi mento econômico até mesmo onde o peso da História não estava presente As classes dominantes que precisavam de mão de obra para as plantações ou dependessem de mineiros que aceitassem trabalhar por muito pouco perderiam a base de seus privilégios caso a mão de obra migrasse para atividades mais lucrativas Aqueles que dependiam de trabalhadores cativos tinham pouco interesse em facilitar a entrada das massas na nova ordem econ ômica Em contrapartida as elites que não precisavam de mão de obra barata poderiam lucrar com uma economia mais próspera Essas pessoas se tornariam banqueiros ou mercadores desen volveriam as pequenas propriedades rurais participariam do luc rativo sistema comercial de importações e exportações ou atuar iam como intermediários entre estrangeiros e locais A compatibilidade entre o desenvolvimento e os interesses das classes dominantes dependia em parte da natureza da economia Diferentes cultivos ou matériasprimas geravam estruturas econ ômicas baseadas em grandes plantações minas imensas ou na ag ricultura familiar o que causou efeitos duradouros na organiza ção social24 Algumas atividades tendiam a gerar oligarquias retrógradas que bloqueavam o crescimento econômico Outros 155832 tipos de organização econômica estimulavam a incorporação da população nas esferas econômica e política potencializando o avanço do desenvolvimento Os quatro principais cultivos dos trópicos para exportação ap resentavam grandes diferenças em termos de organização de produção e de sociedade Juntos café algodão açúcar e arroz eram responsáveis por mais da metade das exportações agrícolas dos trópicos em 1913 e o impacto que causavam nas sociedades não podia ser mais diferenciado Em linguagem comum o açúcar e o algodão podiam ser definidos como produtos reacionários enquanto o café e o arroz eram cultivos progressistas Estudos posteriores confirmaram essa visão Os primeiros eram produz idos em plantações intensivas e criaram as sociedades mais desiguais e estagnadas do mundo os últimos eram cultivados em pequenas propriedades e geraram oportunidades para um cresci mento econômico amplo Os donos das plantações intensivas geralmente produziam açúcar e algodão com grande quantidade de mão de obra Os que supervisionavam o trabalho conduziam fileiras de trabalhadores altamente vigiados pelos campos sem qualquer necessidade de motivar ou recompensar iniciativas individuais Por essas e outras razões havia uma substancial economia de escala na produção do açúcar e do algodão As grandes fazendas eram mais eficientes e pequenos proprietários independentes não podiam competir com os donos das plantações de produção intensiva plantations Café e arroz por outro lado eram cultivos ideais para as pequenas propriedades No caso do café isso podia ser explicado em parte pelo cuidado que a colheita do produto exigia os frutos não amadurecem ao mesmo tempo e o coletor precisa prestar atenção no que está colhendo25 A utilização de mão de obra in tensiva como ocorria na produção de açúcar e algodão não era algo prático A economia de escala nas produções de café e arroz era irrelevante e os pequenos fazendeiros dominavam a 156832 produção Nas regiões onde o cultivo principal estava nas mãos de pequenos proprietários agrícolas em geral ocorria um desenvolvi mento político mais amplo e equalitário Na América Latina as sociedades reacionárias do açúcar e as progressistas do café coexistiam As plantações de canadeaçú car assim como as de algodão e tabaco contavam com o trabalho escravo Após a abolição a tecnologia e a competição passaram a determinar que o produto continuasse a ser cultivado nas grandes plantações com mão de obra barata Quando podiam optar os ex escravos fugiam das plantações como o diabo da cruz Os donos das grandes fazendas então se empenhavam para que o abasteci mento de trabalhadores aumentasse e os salários permanecessem baixos Índios e chineses foram trazidos para trabalhar nas ilhas do Caribe produtoras de açúcar e na costa do Peru Com frequên cia a servidão se dava por meio de contratos em que os trabal hadores eram pagos por um número definido de anos de tra balhod No Nordeste brasileiro os donos de terras faziam o que estivesse ao seu alcance para manter seus empregados presos às plantações restringiam a mobilidade os mantinham como peões das fazendas por causa de dívidas tomavam medidas coercitivas O problema se agravou quando os europeus começaram a produzir açúcar de beterraba e a subsidiar as exportações do produto gerando uma queda no seu preço26 O açúcar deixou um gosto amargo na boca uma desigualdade assustadora Diante das massas de trabalhadores empobrecidos reinava uma elite rica que tinha poucos incentivos para estimular o desenvolvimento econômico social ou humano uma vez que as sim afastaria os trabalhadores das plantações Nas regiões de cul tivo de algodão grandes áreas repletas de mão de obra as con dições eram semelhantes O Nordeste do Brasil cultivava tanto al godão quanto açúcar promovendo um duplo estrago em sua es trutura social A ordem econômica e política reforçava a posição dos proprietários de terra ricos e dos comerciantes oferecendo 157832 poucos motivos para melhoras na qualidade do governo infraes trutura ou escolas Muitas vezes os resultados eram perversos Na Venezuela por exemplo terras férteis das imensas haciendas foram cercadas pelas moradias simples de camponeses semterra Os grandes proprietários de terras hacendados utilizavam menos de 13 da extensão de sua propriedade e se recusavam a alugar o resto para os semterra Se os hacendados tivessem alugado as porções improdutivas de suas terras os agricultores não concordariam em trabalhar nas plantações por salários baixos Isso teria privado as haciendas do trabalho que necessitavam para que as regiões agrí colas fossem economicamente viáveis Assim a maior parte das terras férteis das zonas rurais permanecia improdutiva A longo prazo tal fato não era interessante para os proprietários uma vez que a miséria dos semterra se perpetuava impondo severas re strições aos mercados internos além de fomentar o descontenta mento social mas as oligarquias rurais estavam mais interessadas no próprio poder e riqueza aqui e agora do que no desenvolvi mento a longo prazo27 Esse modelo era repetido em várias regiões e em diversos produtos O açúcar causou um atraso social nas Índias Orientais Holandesas Filipinas em Fiji e Maurício O impacto do algodão na Índia e no Egito foi semelhante ao que aconteceu no Nordeste brasileiro ao reforçar a posição das classes dominantes rurais e comerciais Outros cultivos como a banana na América Central e a borracha na região da Malaia criaram novas economias de agri cultura intensiva Em ambos os casos as plantações se estabele ceram em amplas extensões de terras vazias dominadas por grandes corporações as quais empregavam trabalhadores sem terra ou os importavam de outras regiões pobres exclusivamente para esse fim Por outro lado nas décadas que precederam a Primeira Guerra Mundial as terras de café da América Latina estavam 158832 entre as áreas mais bemsucedidas em termos de desenvolvi mento Certamente não é por coincidência que o café assim como o arroz ou o trigo era fácil de ser cultivado a custos muito com petitivos em pequenas propriedades As árvores de café levavam alguns anos para crescer Assim os produtores agrícolas neces sitavam de créditos ou de dinheiro economizado Mas diferente mente do que ocorria com as plantações de açúcar ou algodão as pequenas propriedades cafeeiras podiam ser extremamente luc rativas Mais de 14 da produção do oeste colombiano no período vinha de pequenas fazendas de menos de três hectares O café cer tamente poderia ser cultivado também em grandes plantações e a produção de São Paulo era totalmente desproporcional em re lação a outros grandes estados mas a região também era repleta de pequenas fazendas bastante prósperas28 De fato uma das vantagens do café era permitir que os pequenos proprietários plantassem outras culturas por entre as árvores obtendo ao mesmo tempo alimentos básicos para suas famílias e um produto rentável E onde os agricultores conseguiam estabelecer seus próprios negócios até mesmo os grandes fazendeiros eram obri gados a pagar salários decentes aos trabalhadores O café era associado à prosperidade não importava se o lucro do produto vinha das pequenas propriedades familiares ou das grandes com trabalhadores bempagos O motivo dessa prosperidade não podia ser explicado apenas pelos preços altos o valor do algodão superava consideravelmente o do café o do açúcar e o do cacau entre 1899 e 191329 mas porque a natureza da produção cafeeira conduzia a um crescimento econômico de base ampla e os benefícios gerados não ficavam restritos aos domínios de uma pequena elite Havia outros cultivos progressistas além do café O arroz era o mais importante Burma Tailândia e Indochina responsáveis por 34 das exportações do produto experimentaram um cresci mento extremamente rápido quase tão includente quanto o das 159832 regiões de café30 O mesmo ocorreu com o cacau da África ocidental um cultivo de pequenas propriedades Sobretudo onde grãos como o trigo podiam ser cultivados de forma lucrativa em pequenas propriedades tal qual no Cone Sul latinoamericano e em partes da Índia as perspectivas para uma prosperidade gener alizada eram maiores O Brasil sofreu o impacto de diferentes cultivos uma vez que o país continha tanto regiões bemsucedidas quanto fracassadas A agricultura do Nordeste era baseada em grandes plantações de al godão e canadeaçúcar Os proprietários de terra dependiam dos escravos na época em que a escravidão era permitida e do tra balho informal para o funcionamento de seus estados Os donos de terra se esforçavam para manter os trabalhadores nas fazendas locais já que sem funcionários cativos as plantações entrariam em colapso No outro extremo na região Sudeste ao redor de São Paulo desenvolviase uma economia próspera com base no café Havia uma demanda constante por mais fazendeiros e mais tra balhadores para o cultivo de novas terras Muitas das fazendas eram pequenas e vários agricultores trabalhavam para si mesmos se trabalhassem para outros recebiam salários decentes e po diam passar livremente de um empregador a outro Aqui os mais ricos se posicionavam nos setores de exportação finanças e comércio Essa elite paulista tão preocupada quanto a nordestina com seus próprios interesses estimulou o cultivo de novas terras e o desenvolvimento de fazendas ainda mais lucrativas O Nordeste se estagnou enquanto o Sudeste prosperou Teria sido melhor para o país se os nordestinos tivessem mi grado para as fazendas de café da região Sul mas isso arruinaria a base econômica dos donos das plantações do Nordeste Dessa forma os governantes do Nordeste faziam de tudo para manter seus trabalhadores nas plantações controles burocráticos de mo vimentação populacional poucos investimentos para a con strução de ferrovias obstáculos aos anúncios de trabalho e aos 160832 empregadores Desesperadas por mão de obra as classes domin antes do Sudeste trouxeram milhões de trabalhadores do sul da Europa A necessidade de mão de obra era tão grande que os gov ernadores dos estados subsidiavam as passagens A experiência brasileira chama a atenção para diferenças re gionais semelhantes nos Estados Unidos Os cultivos reacionários norteamericanos eram o algodão o tabaco e a canadeaçúcar do sul ao passo que os produtos progressistas incluíam os grãos e o gado do norte e do oeste norteamericano Assim como ocorreu no Brasil as áreas de cultivo intensivo permaneceram atrasadas e estagnadas por décadas enquanto as pequenas propriedades fa miliares e as regiões de criação de gado cresceram verti ginosamente O sistema legal de apartheid reinava no sul dos Estados Unidos havia exclusão social e política dos descend entes de escravos um sistema educacional miserável hostilidade por parte dos que recrutavam os trabalhadores e poucos investi mentos em transportes e comunicação Esse era um entre os mui tos mecanismos para manter os trabalhadores cativos pobres no sul região oligárquica que dependia do fornecimento direto de mão de obra barata e pouco qualificada O processo não era puramente econômico Por isso não havia qualquer motivo inerente que explicasse por que a agricultura in tensiva não poderia ser eficiente e dinâmica Houve algumas so ciedades açucareiras de rápido crescimento como em Cuba O que importa é o impacto mais amplo da agricultura intensiva a criação de uma pequena elite dependente de uma massa de mão de obra barata Em tal cenário o desejo de mobilidade social e o envolvimento político eram fáceis de serem barrados e a tentação das classes dominantes de barrálos era grande Por outro lado nas regiões onde muitos tinham acesso a pequenas propriedades lucrativas os governantes encontravam mais dificuldade e menos necessidade de limitar as oportunidades econômicas da população31 Sociedades de agricultura intensiva e outras 161832 semelhantes tendiam a ser ou se tornaram altamente desiguais polarizadas e subjugadas ao autoritarismo Os enraizados gov ernos oligárquicos raramente queriam ou podiam estimular o desenvolvimento socioeconômico infraestrutura finanças e educação necessário para permitir que as forças produtivas da sociedade como um todo fossem ouvidas Processos similares pelos quais a economia gerava uma con centração de interesses que manipulavam o governo e impediam o crescimento econômico eram associados a uma série de matériasprimas Alguns tipos de mineração eram semelhantes à agricultura em termos de criação de enclaves O impacto econ ômico gerado se restringia às áreas onde os minerais eram encon trados E muitos minerais como cobre petróleo e ouro de fato criavam uma divisão entre aqueles que os produziam e o restante da sociedade A importância da questão dependia da in fluência política e econômica das minas Uma verdadeira difer ença entre a mineração e a produção agrícola era que devido ao caráter predominantemente rural dos países pobres as ex portações de bens agrícolas tendiam a incluir uma parcela grande da população enquanto a mineração em geral era feita por pequenos grupos isolados A mineração causava forte impacto semelhante ao da agricul tura nas regiões onde a economia local dominava Mas isso ocor reu em apenas alguns poucos lugares como nas áreas de minas de ouro da África do Sul Onde isso acontecia como ao longo dos ex traordinários corredores minerais do Transvaal o resultado ten dia para a mesma característica dual das sociedades nas regiões de plantação intensiva A evolução social e política da África do Sul estava intimamente ligada à dominação comercial dos fazendeiros e donos de minas que dependiam de um grande fornecimento de mão de obra barata Devido a essas experiências as riquezas naturais pelo menos algumas se tornaram quase malditas Regiões ideais para cultivos 162832 intensivos ou áreas que possuíam algum tipo de depósito mineral valioso tendiam a desenvolver estruturas sociais distorcidas Elas eram dominadas por elites enraizadas na sociedade que tinham pouco interesse em fornecer a infraestrutura a educação e o gov erno necessários para que o desenvolvimento fosse além do boom inicial causado pelos recursos naturais Por mais que houvesse ex ceções impressiona o fato de que as produções agrícolas e min erais rentáveis nos países pobres eram em geral associadas com pobreza e desigualdade O impacto de tais recursos naturais não era algo determinista As características puramente econômicas da produção signi ficavam apenas o começo do processo de declínio Os efeitos mais notáveis desses produtos eram políticos e sociais a criação de po derosos grupos de interesse cujas posições dependiam do acesso limitado das populações ao poder político e social A riqueza ini cial se acumulava mas não se espalhava e sem uma ampla mobil ização da população não havia modernização econômica O pro cesso poderia ter sido evitado mas a tendência natural da maior parte dessas sociedades era a utilização do boom dos recursos para consolidar o domínio das elites e não para levar os benefí cios do desenvolvimento ao restante da população Obstáculos ao desenvolvimento Muitos motivos geravam estagnação declínio e fracasso nas re giões pobres do mundo mas estas também eram sociedades ún icas na mesma proporção Em alguns casos o saqueio colonial era o culpado Em outros o peso acumulado de anos de sociedades tradicionais asfixiava o crescimento econômico moderno Em out ros ainda a produção mineral e agrícola intensiva criou uma elite forte hostil ou indiferente às medidas necessárias para a difusão do desenvolvimento A existência de indivíduos focados na busca 163832 de seus próprios interesses obstruía as vias para o desenvolvi mento e destruía as expectativas econômicas da população Em quase todas as sociedades que não conseguiram aproveitar as oportunidades oferecidas pela economia internacional antes da Primeira Guerra as classes dominantes no mínimo facilitaram o fracasso É certo também que estrangeiros avarentos coloniz adores exploradores colonos privilegiados companhias mono polistas sempre estiveram presentes mas algumas sociedades lidaram com eles de forma mais eficiente que outras deixando em aberto para estudos mais específicos e posteriores o motivo da diferença Nos casos mais gritantes a desigualdade social e política fez com que as classes dominantes tradicionais tivessem pouco in teresse em estimular o desenvolvimento e deixou as massas in capazes de superar os obstáculos criados por seus senhores in competentes ou corruptos Nas regiões em que a organização so cial permitiu à população aproveitar as novas oportunidades eco nômicas e as classes dominantes a apoiaram ou ao menos não atrapalharam o crescimento foi rápido Mas em muitas so ciedades essas condições aparentemente básicas não eram respeitadas Em meio à torturante visão de grandes riquezas sendo escoa das dos pampas de regiões pobres correndo em direção à mod ernidade e de três continentes se industrializando numa velocid ade desenfreada grande parte da Ásia da África e da América Latina permaneceu pobre e economicamente estagnada Essas re giões representavam alguns dos problemas mais complicados e duradouros da ordem internacional que viria a entrar em colapso com a chegada da Primeira Guerra Mundial a Movimento literário surgido na década de 1920 nos Estados Unidos que propunha uma fusão da poesia com o ritmo do jazz NT 164832 b Ouçam os gritos do fantasma Leopoldo Queimando no inferno pela sua horda mutiladora de mãos Ouça como os demônios regozijamse e urram Cortando suas mãos no inferno NT c Tradução para Young Turks como era chamado o grupo de oficiais do Exército otomano que lutava por reformas NT d Em inglês o termo utilizado para esse tipo de contratação é identure NT 165832 5 Problemas da economia global Os principais desafios da Era de Ouro do capitalismo global vin ham de dissidências no centro do sistema não das massas em pobrecidas da Ásia e da África Industriais britânicos contestavam o envolvimento do país com o livrecomércio e a liderança da nação na economia global Produtores agrícolas norteamericanos questionavam a vantagem do padrãoouro Organizações de tra balhadores e partidos socialistas na Europa se mobilizavam con tra problemas domésticos há muito tempo evidentes Todos eles se afastaram do consenso clássico da época quanto à priorização dos compromissos econômicos internacionais em relação aos as suntos internos Comércio livre ou comércio justo Na década de 1880 dissidentes da ortodoxia do livrecomércio britânico exigiam um comércio justo retaliações contra as bar reiras protetoras ao redor do mundo Os produtores que en frentavam a competição das nações recémindustrializadas lid eravam o movimento Donos de fábricas têxteis e metalúrgicas na GrãBretanha estavam furiosos porque europeus e norteamer icanos vendiam livremente nos mercados do país enquanto o governo deles impunha pesadas tarifas sobre os produtos britâni cos Os novos competidores também superaram as empresas britânicas nos terceiros mercados os da América Latina da Ásia e do leste e sul da Europa As principais indústrias da Grã Bretanha passaram a depender cada vez mais das vendas dentro do Império onde as empresas e os laços culturais lhes concediam vantagens Até a primeira parte do século metade das ex portações de tecidos de algodão do país junto com 13 das de ferro galvanizado ia apenas para a Índia1 Por um lado isso signi ficava o sucesso do Império em obter um mercado cativo Mas por outro também revelava a dura realidade de que as empresas até então dominantes agora só conseguiam competir com as es trangeiras devido ao apoio do Império A demanda por um comércio justo se transformou num pe dido mais geral de revisão da política externa britânica O movi mento foi liderado por Joseph Chamberlain um fabricante da área metalúrgica que havia sido prefeito de Birmingham líder do Ministério do Comércio e secretário das Colônias Os fabricantes do norte lutavam por proteção sob o amparo da Liga pela Re forma Tarifáriaa criada em 1903 A busca de proteção costumava estar ligada a propostas de preferência imperial sistema que con cederia à GrãBretanha suas colônias e locais de dominação acesso privilegiado aos mercados uns dos outros Isso teria satis feito os cada vez mais poderosos interesses protecionistas do resto do Império em especial de Canadá Austrália África do Sul e Ín dia e garantido um mercado mais seguro para os fabricantes britânicos revoltosos2 Os defensores da reforma tarifária nutriam um sentimento protecionista uma preocupação com a estrutura imperial e uma ansiedade pelas implicações causadas ao Império Britânico pela perda de sua superioridade industrial Nas palavras de Chamberlain 167832 Embora em um determinado momento a Inglaterra tenha sido o maior país manufatureiro hoje a população se emprega cada vez mais nas finanças repartições serviços domésticos e em outras ocupações desse mesmo tipo O estado atual das coisas pode significar mais dinheiro mas significa menos bemestar social e acredito que valha a pena considerar sejam quais forem seus efeitos imediatos até que ponto este estado das coisas não seria em última análise a destruição de tudo o que a Inglaterra tem de melhor de tudo o que nos tornou quem somos tudo o que nos deu poder e prestígio no mundo3 As eleições gerais de 1906 foram um grande plebiscito sobre o livrecomércio Os financistas baseados na cidade de Londres se mobilizaram para defender a abertura comercial da Grã Bretanha e encontraram apoio nos mercadores e nas indústrias exportadoras bemsucedidas Os protecionistas perderam de forma ressoante4 Nesse ano Joseph Chamberlain principal portavoz do protecionismo britânico sofreu um derrame que o debilitou Tanto o homem quanto o movimento definharam Chamberlain morreu em 1914 e a exigência britânica por proteção acalmouse até o fim da Primeira Guerra Mundial Os industrialistas revoltosos fracassaram e não foram bemsucedidos em rever a seu favor a política britânica A suposição de que a GrãBretanha aceitaria para sempre os produtos do mundo no entanto não era mais certa O país perdia a sua posição na economia internacional O declínio era relativo Entre 1870 e 1913 o tamanho da eco nomia britânica mais do que dobrou Mesmo considerando o cres cimento populacional o produto por pessoa do país cresceu mais de 50 durante o período Não obstante o abismo que existia entre a GrãBretanha e o resto do mundo se estreitava continua mente Os fabricantes britânicos estavam sendo afastados dos mercados exportadores e até mesmo dos mercados domésticos Os Estados Unidos e a Alemanha passaram a ser os dínamos manufatureiros do mundo A GrãBretanha mantinha a sua 168832 liderança apenas nos serviços como atividades bancárias seguros e frete Não era mais um fato que a próxima usina de energia ou estrada de ferro construídas na África ou Europa oriental seriam britânicas era igualmente possível que fossem alemãs francesas ou norteamericanas Mesmo em relação a investimentos inter nacionais os centros financeiros da Europa continental assim como Nova York desafiavam a supremacia britânica Já era de se imaginar que a liderança industrial do país não duraria para sempre mas a velocidade com que foi superada levou muitos britânicos a se perguntarem como isso acontecera pergunta que ecoou em gerações de historiadores econômicos Uma explicação bemaceita é a de que o entusiasmo dos in vestidores britânicos por empreendimentos estrangeiros en fraqueceu a economia britânica ao passo que fortaleceu a dos países destino desse capital Os investidores britânicos enviavam para o exterior cerca de metade do que economizavam e os que faziam empréstimos reclamavam que seria mais barato se não precisassem competir com as províncias canadenses e argentinas pelo favorecimento do capital londrino Mas os investimentos domésticos lucrativos não enfrentavam problemas de finan ciamento Além disso o dinheiro investido no exterior rendia um belo lucro o qual voltava para casa a fim de aumentar a renda e a riqueza da nação5 Como se alega algumas vezes os britânicos fracassaram em adotar novas técnicas de gerenciamento e produção Países como a Alemanha e os Estados Unidos gozavam da vantagem do atraso podiam estabelecer novas indústrias com os avanços recentes já desenvolvidos Uma desvantagem análoga seria ter se industrial izado 50 anos antes dos outros assim a introdução de novas tecnologias poderia significar o descarte das já existentes o que incluiria equipamentos ainda lucrativos De fato a crescente de pendência dos produtos tradicionais britânicos dos mercados im periais adiou a modernização industrial ao facilitar a venda de 169832 bens que não exigiam mudanças tecnológicas Nas palavras do historiador econômica Charles Kindleberger As exportações do Império permitiram que a economia se esquivasse da exigência de uma mudança dinâmica que significava afastarse dos tecidos de algodão dos trilhos de ferro e aço das folhas de ferro galvanizado e similares para a fabricação de produtos das novas in dústrias6 As práticas britânicas de gerenciamento também foram gera das em uma época anterior à revolução dos transportes e das tele comunicações do fim do século XIX e antes do aumento da produção e do consumo em massa de bens duráveis As firmas britânicas tendiam a ser menores do que as alemãs e as norte americanas como a Siemens e a AEG ou a General Electric e a US Steel Eram organizadas não tanto como companhias mod ernas mas como empresas familiares o que muitas delas con tinuavam a ser Não está claro contudo se isso foi uma má ideia É possível que as empresas norteamericanas fossem grandes porque eram de cartéis monopolistas e as novas formas adminis trativas não eram apropriadas para as relações industriais e tra balhistas britânicas Outro candidato a culpado pelo crescimento relativamente lento da GrãBretanha foi o sistema educacional do país Críticos culpavam as escolas da nação pela atenção inadequada ao treina mento técnico excessiva rigidez classista e insuficientes princípi os meritocráticos de promoção e avanço Havia certamente uma força preconceituosa na sociedade britânica cujo possível im pacto sufocante para o avanço econômico foi capturado pela romancista norteamericana Margareth Halsey Na Inglaterra ter tido dinheiro é tão aceitável quanto têlo Mas nunca ter tido dinheiro é imperdoável e a única forma apropriada de re paração é por meio da explicação de nunca ter tentado ganhar al gum7 Embora a estrutura social da GrãBretanha possa não ter 170832 recompensado o empreendedorismo e as suas realizações educa cionais não refletissem a liderança industrial que a nação tinha em relação aos outros países da Europa não está claro que esses fracassos tenham causado um impacto econômico significativo Não importa quais tenham sido as fontes da desaceleração do crescimento britânico após 1870 e provavelmente havia algo de cada uma das principais explicações O que importa é que afetou o país e o mundo Muitos britânicos passaram a questionar as ver dades até então intocadas de sua economia política como o livre comércio e a liderança financeira global Não é surpresa que os fabricantes britânicos diante da pressão da concorrência quisessem uma política governamental que os apoiassem Tam pouco surpreende dada a importância dos mercados do Im pério assim como os de seus domínios para a indústria em apur os que isso tomasse a forma de uma reivindicação por tarifas protetoras em torno do Império Britânico Em todos esses aspec tos o Reino Unido era bem parecido com qualquer uma das out ras principais nações industriais No entanto o papel principal desempenhado pelo Reino Un ido na economia mundial era centrado em grande parte em ser diferente das outras nações industriais como fora desde a década de 1840 O compromisso britânico com o livrecomércio e a aber tura financeira era crucial para a estrutura e o funcionamento da economia mundial Uma coisa eram os países marginais como a Rússia e o Brasil imporem barreiras protecionistas até mesmo na Europa continental isso não era de suma importância Mas era di fícil conceber a continuação econômica da Pax Britannia sem a GrãBretanha Um dos pilares da ordem econômica clássica balançava Vencedores e perdedores do comércio 171832 Aqueles fora da Grã Bretanha que não estavam muito bem nos úl timos anos da Era de Ouro também entoaram suas preocupações quanto aos impactos da integração econômica Até mesmo entre os países que cresciam mais rápido antes de 1914 havia muitos que se beneficiavam pouco ou nada do crescimento econômico de suas nações As ferramentas teóricas desenvolvidas pelos economistas sue cos Eli Heckscher e Bertil Ohlin para entender o comércio inter nacional também ajudavam a explicar os vencedores e os perde dores da integração econômica A teoria de Heckscher e Ohlin supõe que países ricos em capital vão exportar produtos de capital intensivo e capital países ricos em mão de obra exportarão produtos que necessitem de mão de obra intensiva e mão de obra ao passo que países ricos em terras exportavam produtos agrícolas que necessitavam de grandes extensões de terra De fato a GrãBretanha rica em capital exportava produtos manufatura dos de capital intensivo enquanto a Argentina rica em terras ex portava produtos agrícolas de grandes extensões de terras O mesmo ocorria em relação às importações um país que tivesse muito pouco capital Argentina importava capital e bens de cap ital intensivo ao passo que um país com poucas terras Grã Bretanha importava produtos intensivos em terras Vinte anos após os suecos terem desenvolvido tal abordagem para explicar padrões de comércio dois jovens colegas de turma em Harvard e vizinhos continuaram a desenvolver a teoria para demonstrar quem é auxiliado e quem é lesado pelo comércio Em um artigo de 1941 o austríaco Wolfgan Stolper e o norteamer icano Paul Samuelson fizeram a observação de que o comércio é particularmente benéfico para os produtores de bens exportáveis enquanto pode ser danoso especialmente para aqueles produtores que competem com as importações E a teoria de Heckscher e Ohlin supõe que aqueles que produzem para ex portação são os que detêm aquilo em que o país é rico capital nos 172832 países ricos em capital e terras nos países ricos em terras À me dida que as exportações crescem aumenta a demanda pelos re cursos utilizados para produzilas Uma vez que um país rico em mão de obra exporta produtos de trabalho intensivo a demanda por mão de obra cresce assim como os salários sobem De modo oposto os produtores dos bens que competem com as im portações são aqueles que detêm o que há em menor oferta no país mão de obra em países pobres em mão de obra e terras nos países pobres em terras Quando as importações crescem e os produtores locais são afastados dos mercados domésticos a de manda deles pelos recursos que utilizam muito cai como um país pobre em mão de obra importa produtos de trabalho intensivo a demanda por trabalhadores decresce da mesma forma que os salários Stolper e Samuelson mostraram que o comércio leva os pro prietários nacionais de um fator de produção abundante a mel hores condições e os proprietários dos recursos escassos a uma pi or condição Os detentores de recursos abundantes ganham com o comércio enquanto aqueles de recursos escassos perdem Uma forma fácil de enxergar a relação é considerar recursos tangíveis como o petróleo Em um país rico em petróleo o produto é bar ato e abrirse ao comércio é bom para o produtor de petróleo porque isso permite que ele venda o bem para os estrangeiros Em um país pobre em petróleo onde o produto é caro abrirse ao comércio é ruim para o produtor uma vez que o país precisa im portar petróleo o que puxa o preço doméstico do produto para baixo Mesmo quando o recurso em questão é mais geral terra trabalho capital a lógica se mantém a proteção ajuda os que detêm um recurso nacional escasso o comércio ajuda os que de têm um recurso nacional abundante8 Mesmo que o comércio seja a melhor política possível para a economia como um todo até os economistas ortodoxos aceitam que há vencedores e perdedores no livrecomércio até mesmo em 173832 uma época de crescimento rápido e até mesmo nos países que crescem rápido Vencedores e perdedores lutavam por políticas para seu próprio benefício Antes de 1914 os detentores dos re cursos nacionais abundantes apoiavam o livrecomércio en quanto os que detinham os recursos nacionais escassos se opun ham a ele Um país como a Argentina rico em terra mas pobre em capital exportava produtos agrícolas intensivos em terras e importava produtos de capital intensivo Isso era bom para os produtores agrícolas mas não tão bom para os capitalistas Dessa forma os produtores agrícolas eram prócomércio enquanto os capitalistas urbanos defendiam o protecionismo Um país como a GrãBretanha rico em capital e pobre em terras exportava bens de capital intensivo e importava produtos intensivos em terra Lá os capitalistas urbanos eram prócomércio enquanto os produtores agrícolas defendiam o protecionismo O esquema de Stolper e Samuelson explicava bem as políticas de comércio e de forma mais geral as de integração econômica Os detentores de recursos nacionais abundantes capital terras petróleo trabalho tendiam a favorecer os laços econômicos in ternacionais que lhes permitissem vender seus recursos ou produtos Um país rico em terras tinha a vantagem comparativa dos produtos agrícolas os exportava e isso ajudava os fazendeir os um país pobre em terras tinha a desvantagem comparativa da agricultura importava produtos agrícolas e isso causava danos aos fazendeiros locais No fim do século XIX e início do XX de fato os produtores agrícolas nos países ricos em terras quase sempre defendiam o livrecomércio fossem eles donos de plantações na região Malaia criadores de gado na Austrália ou produtores de grãos no Canadá Os fabricantes de produtos de capital intensivo e os investidores dos países ricos em capital também eram em sua maioria a favor do livrecomércio e dos investimentos testemunhas das políticas geralmente de abertura dos países prósperos da Europa ocidental 174832 e do norte O argumento de Stolper e Samuelson também se ap licava aos que se opunham à integração global aqueles que detin ham os recursos nacionais raros eram hostis ao livrecomércio e suas implicações Os trabalhadores em países pobres em mão de obra como Canadá Austrália e Estados Unidos eram protecionis tas os capitalistas industriais nos países pobres em capital como a Rússia e o Brasil eram protecionistas os produtores agrícolas em países pobres em terras na Europa eram protecionistas Em geral os interesses protecionistas eram menos influentes do que os dos grupos internacionalistas que dominavam a Era de Ouro banqueiros e investidores internacionais comerciantes in dustrialistas competitivos produtores agrícolas e mineradores de exportação Mas os protecionistas sempre estiveram presentes e eles eram poderosos em alguns lugares como nos Estados Un idos e na Rússia e épocas como durante as recessões Enquanto a economia mundial crescia e os defensores da integração global podiam demonstrar os benefícios da livre movimentação de capit al pessoas e produtos a um número suficiente de pessoas as pressões para um fechamento econômico estavam afastadas Não poderíamos contudo presumir que sempre seria assim A prata ameaça o ouro Se as ameaças no centro britânico do sistema alvejavam o pilar do livrecomércio do mundo econômico clássico ataques na periferia da economia mundial impunham um teste de fogo para o padrão ouro Aqueles que o desafiavam raramente eram poderosos o bastante ou de países suficientemente importantes para des estabilizar o sistema como um todo mas eles eram bastante in sistentes O fato de a antipatia pelo padrãoouro internacional ser comum mesmo em épocas boas também não foi um bom indício na sua habilidade de resistir às dificuldades econômicas 175832 Os produtores agrícolas e os mineradores que produziam para os mercados mundiais eram os opositores mais ressonantes ao padrãoouro Isso ocorrera porque um país que estava sob o padrãoouro não podia utilizar a desvalorização monetária para proteger os exportadores das quedas de preço de seus produtos Muitos países dependiam de um ou alguns produtos agrícolas ou minerais cujos preços podiam flutuar amplamente de ano a ano Em um país que estivesse sob o ouro essas alterações nos preços afetavam imediatamente os produtores locais isso porque a moeda nacional era de fato apenas uma versão local do ouro o dinheiro global um declínio de 1 no preço significava 1 de de clínio nos preços sejam eles expressos em librasouro dólares ouro pesosouro ou em qualquer outra moedaouro Todas as viradas e mudanças nos preços dos produtos agrícolas e de miner ação eram diretamente transmitidas pelo padrãoouro aos fazendeiros e mineiros Quando os preços mundiais do trigo café e cobre caíam o valor dessas commodities na Argentina Colôm bia ou Chile caía ainda mais se o país tivesse aderido ao padrão ouro Aqueles que competiam com importados baratos como os produtores agrícolas europeus e os fabricantes de manufaturados norteamericanos tinham uma alternativa fácil eles podiam se beneficiar das tarifas para que os bens estrangeiros ficassem de fora Mas os produtores agrícolas e os mineradores de exportação não tinham tal opção Seus mercados estavam no exterior e as tarifas para aumentar o preço do café dentro do Brasil o preço do estanho na Malásia ou o preço do cacau na Costa do Marfim teri am pouco êxito Os produtores precisavam se proteger das quedas radicais dos preços em seus mercados exportadores A desvalorização poderia ajudar os exportadores ao aumentar a quantidade de dinheiro local que ganhavam pelas vendas que faziam no exterior Se os preços do café ou do cobre caíssem uma desvalorização monetária poderia compensar o choque 176832 mantendo o preço doméstico desses bens por exemplo na Argen tina Colômbia ou Chile Quando o preço do trigo ao redor do mundo caiu pela metade no fim do século XIX o preço do trigo norteamericano no padrãoouro também foi reduzido pela met ade de um dólar para 50 centavos o bushel Mas na Argentina que abandonou o ouro e desvalorizou o peso o preço do trigo pago aos fazendeiros mantevese estável O Chile era responsável por quase metade da produção mun dial de cobre antes da Primeira Guerra Mundial e o cobre corres pondia à metade do total das exportações chilenas Mas em um período de dez anos o preço de uma tonelada de cobre em Lon dres caíra de forma contínua passando de 70 para 40 libras Para os produtores norteamericanos de cobre os principais concor rentes dos chilenos esse declínio no preço estava sendo direta mente retirado do valor que eles recebiam Com o dólar calcado no ouro e fixado contra a prata isso significava uma queda aná loga dos preços de cerca de US340 para aproximadamente US195 a tonelada Um colapso semelhante no Chile teria levado os mineradores de cobre à falência e junto com eles grande parte da economia Assim o governo chileno desvalorizou o peso em re lação às moedas fixas no ouro em dez anos o peso caiu de 018 para 010 libra esterlina de 85 para 48 centavos de dólar Isso compensou completamente o colapso do preço do cobre Na ver dade em pesos chilenos os preços do cobre subiram de 401 para 403 a tonelada9 Desvalorizações não faziam milagres Quando a moeda era de preciada os produtos estrangeiros se tornavam mais caros Oca sionalmente esse aumento dos preços passava para a economia doméstica e contribuía para a inflação Quando o preço do peso argentino caiu fatalmente cedo ou tarde outros preços subiram na Argentina e a vantagem da desvalorização sofreu uma erosão No entanto enquanto isso os produtores de grãos argentinos ganharam tempo e dinheiro ao passo que muitos fazendeiros 177832 norteamericanos haviam sido retirados de suas terras Outro grupo os devedores gostaram da inflação trazida pelo abandono do ouro ou pela permanência distante dele Um proprietário de imóvel empresário ou fazendeiro que devia dinheiro em moeda nacional podia torcer pela inflação para reduzir os encargos reais de sua dívida um aumento de 50 nos preços tornava as dívidas fixas menos onerosas Os que se opunham ao ouro também desaprovavam as polític as governamentais necessárias para manter a moeda fixa no met al as quais forçavam preços domésticos lucros e salários a se ajustarem às mudanças de posição dos países na economia inter nacional O governo de um país fixo no ouro não podia reagir a tempos difíceis na economia com políticas compensadoras mas precisava reforçar a austeridade imposta pelas condições externas Esperavase que o funcionamento do padrãoouro teria um melhor desempenho se os governos permitissem que os efei tos recessivos seguissem seu curso baixando os salários os preços e os lucros a fim de possibilitar uma recuperação de base nos mercados Esperavase que uma economia ligada ao padrão ouro mudasse para se adaptar à taxa de câmbio não o contrário Por esses motivos a maior parte dos países exportadores de produtos agrícolas e de mineração permaneceu fora do padrão ouro ou aderiu a ele apenas de forma provisória As duas altern ativas ao ouro eram o papelmoeda e a prata A maior parte dos países da América Latina e do sul da Europa emitia papelmoeda inconvertível não intercambiável por ouro Ou seja o papel moeda como o dos dias atuais emitido pelo governo e com valor definido nos mercados monetários O governo atuava para manter o valor do peso ou da lira como queria Nas palavras de um senador norteamericano antipadrãoouro de Nebraska Nós acreditamos na possibilidade tanto de regular a emissão do din heiro quanto na de mantêlo com aproximadamente o mesmo valor em todas as épocas Outro colocou da seguinte forma A 178832 principal crença do populismo é que esse dinheiro possa ser cri ado pelo governo na quantidade desejada fora de qualquer sub stância sem base outra que não ela própria10 A segunda alternativa ao ouro era a moeda fixa na prata De fato a maior parte do mundo utilizou ambos a prata e o ouro in tercambiáveis durante séculos até 1870 Nesse momento uma onda de novas descobertas de prata determinou a queda do preço do metal para menos da metade do valor do ouro e em geral os governos optaram por um ou outro Quase todas as nações indus triais seguiram a GrãBretanha na adoção do ouro Mas China e Índia tinham moedas fixas na prata havia tempos e permane ceram assim O mesmo fizeram os principais produtores de prata como o México Para muitos outros países permanecer com a prata ou adotála era atraente De maneira geral nas décadas antes da Primeira Guerra Mundial o preço da prata se desvalori zou em relação ao do ouro de forma a enfraquecer as moedas nela fixadas Se o preço da prata caiu em 10 o mesmo ocorreu com todas as moedas fixadas nesse metal Isso tinha o mesmo efeito de uma desvalorização o que permitia que os países da prata concedessem a seus exportadores uma posição competitiva vantajosa nos mercados mundiais Na década de 1890 a maior parte dos países industriais havia adotado o ouro e muitos dos países em desenvolvimento utiliza vam a prata ou o papelmoeda Os países da prata e do papel moeda alcançaram vantagens tangíveis Como os preços do ouro cresceram em relação aos da prata as exportações das regiões que tinham base nela se tornaram mais baratas nas moedas de ouro dos países industriais Declínios nos preços mundiais de produtos agrícolas e matériasprimas foram compensados por declínios an álogos nos dinheiros fixados em prata e papelmoeda de forma que os produtores agrícolas e mineradores recebiam quase a mesma quantia em suas próprias moedas mesmo com a queda dos preços em ouro A vantagem competitiva da prata não fazia 179832 muita diferença para a maioria dos países ricos já que as regiões em desenvolvimento vendiam em grande parte bens que as nações industriais não produziam Se uma queda na prata tornas se o cobre mexicano ou a seda chinesa mais baratas nos mercados europeus isso não teria grande impacto no sistema No entanto aqueles que produziam os mesmos bens que as re giões da prata e do papel enfrentavam uma forte ameaça compet itiva dessas moedas depreciadas Os Estados Unidos estavam entre os mais afetados uma vez que o país se especializou em muitas das mesmas matériasprimas e produtos primários min erais trigo algodão lã tabaco que países de moeda fraca como Argentina Índia Brasil China e Rússia Dessa forma os produtores agrícolas e mineradores norteamericanos perderam negócios para os países que tinham base monetária na prata ou no papelmoeda Portanto quedas nos preços mundiais do trigo ou da lã afetavam os ganhos na agricultura porque os Estados Un idos estavam sob o padrãoouro Os produtores agrícolas norte americanos em apuros os quais afluíram para a campanha popu lista contra o ouro e pela prata pensaram como nas palavras de um deles que o homem amarelo utilizando o metal branco tem à sua mercê o homem branco que utiliza o metal amarelo11 A partir do fim da década de 1880 em diante a avalanche populista reinava toda vez que os preços agrícolas caíam pois os fazendeir os e mineradores passavam a se esforçar desesperadamente para que o dólar fosse dissociado do ouro Vocês não devem crucificar a humanidade com uma cruz de ouro bradou William Jennings Bryan candidato democrata de 1896 Os distritos norteamericanos de produção agrícola e min eração compartilhavam da rebeldia de Bryan No que provavel mente foi o primeiro movimento de massa da história dos Estados Unidos milhões de pessoas reuniramse para escutar discursos inflamados que denunciavam o truste do dinheiro e a sua força opressora fixa no ouro contra a economia norteamericana A 180832 plataforma populista insistia em medidas imediatas para o aban dono do ouro A desvalorização resultante reverteria os efeitos dos declinantes preços mundiais de produtos agrícolas e de min eração E não importava qual a taxa de inflação que poderia aparecer ela ajudaria a aliviar os fazendeiros altamente endividados Bryan quase venceu as eleições de 1896 no auge do sofri mento dos produtores agrícolas ele se candidatou novamente em 1900 e 1908 pelos democratas e novamente perdeu as eleições Isso fez com que os Estados Unidos fossem os únicos dos prin cipais países exportadores de produtos agrícolas e matérias primas desconsiderandose as regiões que faziam parte de im périos europeus como a Austrália e a África do Sul a continuar com o ouro nas décadas que precederam a Primeira Guerra Mun dial Todos os outros exportadores de produtos primários inde pendentes como México Rússia Japão China Argentina e até mesmo a britânica Índia passaram grande parte desse período ou até mesmo todo ele com a prata e o papelmoeda O caso dos Estados Unidos seria diferente porque economica mente o país era formado por duas imensas regiões com visões diametralmente opostas em relação ao ouro As terras cultivadas e os distritos mineradores do sul do meiooeste das Grandes Planícies e do oeste norteamericano eram as principais fontes de riqueza agrícola e mineral No entanto os donos de fábricas mer cadores e banqueiros do nordeste e da parte industrial do meio oeste faziam parte da influência manufatureira mundial O con flito de interesses era direto Cada aumento nos preços agrícolas encarecia os alimentos dos trabalhadores urbanos e fazia a folha de pagamentos da indústria subir Da mesma forma cada aumento nos preços industriais incluindo cada tarifa tirava mais das famílias dos agricultores as quais dependiam das cidades para as suas vestimentas insumos agrícolas e outras necessidades manufaturadas 181832 Talvez o fato mais importante tenha sido que os banqueiros e os comerciantes da Nova Inglaterra e do nordeste dos Estados Unidos estabeleceram sua reputação internacional na adesão ao padrãoouro A credibilidade financeira norteamericana de pendia de sua associação plena ao clube das nações ricas cuja carteirinha de sócio era o padrãoouro JP Morgan e seus colegas lutaram de forma determinada para manter o dólar fixo no ouro Isso ocorreu tanto na esfera financeira quanto na política Na primeira Morgan conseguiu uma série de empréstimos inter nacionais para permitir que o Tesouro norteamericano se de fendesse em caso de turbulência nos mercados de câmbio mantendo a moeda atada ao ouro Em termos políticos a começar por W McKinley os candidatos antipopulistas levantaram somas enormes de grandes empresas do nordeste para garantir que seri am eleitos O país estava realmente dividido e McKinley venceu com apenas 51 dos votos populares A geografia da divisão era clara um mapa colorido das eleições de 1896 mostra um dourado intenso do nordeste à região industrial do meiooeste com algu mas áreas douradas na Califórnia e no Oregon mas um prateado sólido no sul e nas Grandes Planícies O compromisso com o ouro não podia ser tomado como ver dade universal Um declínio substancial nos preços mundiais des encadearia protestos nos quatro cantos do mundo e pressões pelo fim do padrãoouro Grupos de interesses poderosos ao redor do planeta desejavam se livrar de seu compromisso cristalizado com o ouro quando a situação ficava difícil Os conflitos em relação ao ouro eram um dos atritos típicos que afetavam a economia mundial clássica antes de 1914 Por um lado uma completa participação na economia global poderia ser extraordinariamente lucrativa tanto para os países quanto para os indivíduos Por outro lado tal participação em geral exigia sac rifícios No caso do padrãoouro só podiam fazer parte da primeira classe financeira aqueles países dispostos a subordinar 182832 as necessidades de suas economias domésticas aos compromissos com o ouro Aderir ao ouro e permanecer fixo ao metal signifi caria abrir mão da possibilidade de desvalorizar com o objetivo de buscar uma posição mais competitiva Significaria também con cordar em não estimular a economia em tempos difíceis por meio da redução da taxa de juros ou da impressão de dinheiro ou priv ilegiar a reputação internacional de sua moeda em detrimento da economia doméstica Esses sacrifícios valiam à pena para aqueles cujas vidas de pendiam da economia global Assim os principais defensores do padrãoouro eram os banqueiros investidores e comerciantes in ternacionais Em especial esse era o caso porque os sacrifícios exigidos raramente afetavam de forma direta os grupos inter nacionalistas Era pouco provável que os financistas enfrentassem a ameaça do desemprego ou das secas No entanto as pessoas e os grupos cujos interesses eram sacrificados tinham poucas razões para sofrer pela manutenção da ordem econômica global que por sua vez não apenas não se preocupava como também trazia mal efícios a eles O conflito entre interesses internacionais e domésti cos estava presente em muitos aspectos na política comercial na imigração nas atitudes em relação aos credores estrangeiros Contanto que a economia mundial crescesse a tensão entre as preocupações nacionais e globais poderia ser administrada mas isso nem sempre seria assim O trabalho e a ordem clássica À medida que o movimento trabalhista cresceu ele também pas sou a representar um desfio à ordem estabelecida Não se tratava apenas de uma oposição dos trabalhadores à integração econôm ica de fato em muitos países sindicatos e partidos socialistas defendiam com veemência o livrecomércio mas as demandas 183832 trabalhistas se chocavam com os pilares do sistema clássico liber al de salários flexíveis e governo mínimo Na virada do século os operários da indústria já formavam a maior classe profissional nas sociedades mais avançadas Em números eles superavam de forma significativa a quantidade de agricultores na GrãBretanha e em menor expressão nos países que continuavam altamente agrícolas como os Estados Unidos e a Alemanha Os operários também haviam desenvolvido organiz ações trabalhistas de grande alcance e sofisticação Diante das hostilidades dos governos e empresários os sindicatos haviam as sociado muitos dos trabalhadores qualificados de Europa ocident al América do Norte e Austrália A mão de obra não qualificada era menos organizada mas com a expansão da produção fabril em larga escala eles também seguiram na direção dos movimen tos de trabalhadores Em 1914 os sindicados britânicos contavam com quatro mil hões de membros e os sindicatos alemães três milhões nos dois casos eles representavam mais de 15 da força de trabalho da in dústria A organização da classe operária foi ainda mais bemsu cedida na Escandinávia e relativamente forte na América do Norte os sindicatos estavam presentes mas com menos poder na França e no sul da Europa Apesar de graus variados os sindica tos de trabalhadores eram uma parte significativa dos cenários econômico e político de cada país industrial e até mesmo nas semiindustriais Argentina e Rússia A classe operária impôs seu poder de barganha na indústria com uma presença política crescente uma vez que muitos dos tra balhadores do sexo masculino passaram a ter direito ao voto nas décadas pré1914 O resultante crescimento dos partidos socialis tas teria sido inimaginável uma geração antes tanto para capit alistas quanto para trabalhadores Às vésperas da Primeira Guerra Mundial partidos de base trabalhista com clara mensagem anticapitalista estavam de forma rotineira 184832 alcançando mais de 14 dos votos em muitos países industriais Na maior parte do norte da Europa os partidos socialistas obt iveram 13 dos votos da população 35 na Alemanha e 36 na Suíça Representantes das classes trabalhadoras não eram mais relegados à margem da vida política os descendentes intelectuais e ideológicos de Marx e Engels haviam 15 anos após a morte do segundo atingido a proeminência eleitoral na qual os dois fundadores do socialismo moderno teriam dificuldades em acreditar Os operários e suas organizações algumas vezes se engajavam nas questões de política econômica especialmente onde os trabal hadores eram hostis ao livrecomércio e à imigração Este era o caso de países com pouca oferta de mão de obra como a América do Norte e de outras áreas de colonização europeia recente onde restrições à imigração estavam quase no topo da lista de desejos dos trabalhadores O fluxo de pessoas das regiões europeias de salários baixos e pior até mesmo das regiões asiáticas onde os salários também eram baixos causaria uma depressão nos salári os e a mão de obra queria cessálo Da mesma forma o fluxo de bens baratos produzidos pela mão de obra barata da Europa ger aria uma queda nos altos salários dos Estados Unidos e da Aus trália o que levou os trabalhadores desses países rumo ao prote cionismo A instância antiimigração se relacionava pouco com as expressões convencionais dos interesses socialistas que form avam uma rede de solidariedade internacional Talvez isso ajude a explicar por que os movimentos operários nesses países tendiam a não se desenvolver em direção ao socialismo tradicional europeu Em muitas nações contudo o movimento operário estava firme no campo do livrecomércio e da abertura das fronteiras Isso em geral se aplicava à Europa especialmente porque o objet ivo mais importante das políticas comerciais da região era pro teger os fazendeiros e a proteção agrícola tornava os alimentos 185832 mais caros para os trabalhadores Além disso em áreas de emig ração como a Europa a subsequente redução na oferta de mão de obra servia para aumentar os salários não para diminuílos Além disso muitos europeus trabalhavam em indústrias que contavam e muito com as exportações e que não suportariam retaliações dos mercados importantes Em algumas situações a divisão se dava mais por tipo de indústria do que de classe trabalhadores das minas de carvão britânicas as quais eram voltadas para a ex portação apoiavam o livrecomércio enquanto aqueles das in dústrias têxteis que sofriam grande pressão externa queriam a proteção da preferência imperial tanto quanto seus empregados Os interesses trabalhistas de política econômica internacional pró ou contra proteção industrial pró ou contra controles de imigração se encaixavam facilmente nas opções existentes No entanto as classes trabalhadoras em geral não eram forças ex pressivas nos debates sobre a economia internacional porque tais questões eram normalmente de baixa importância para elas A re lativa falta de envolvimento da mão de obra nas principais dis putas de política econômica externa não era contudo uma ver dadeira indicação das implicações do crescimento do movimento operário para a economia mundial As questões gerais dos trabalhadores eram muito mais prob lemáticas para a ordem estabelecida do que as suas posições polít icas em relação ao comércio ou à imigração Com o crescimento da população operária nos países industriais as suas necessidades pareciam cada vez mais inconsistentes no que dizia respeito às ca racterísticas mais importantes das economias abertas do fim do século XIX e início do XX E o mais relevante era que os trabal hadores precisavam de um escudo contra o desemprego Os produtores agrícolas outro grande segmento da população po diam se recolher em suas terras cultivos e vilarejos em tempos di fíceis podiam produzir o suficiente para comer ou contar com a ajuda de familiares ou vizinhos caso o problema fosse 186832 especificamente em suas fazendas Na falta de emprego os trabal hadores das grandes cidades não tinham propriedade e nenhuma forma de produzir o básico para a subsistência e o caráter impessoal da sociedade urbana reduzia apesar de não eliminar a possibilidade de ajuda por parte dos outros trabalhadores Tudo o que tinham era uma ajuda mínima de alívio à pobreza oferecida por instituições de caridade privadas ou os vestígios da assistên cia levada à frente por governos medievais que era concedida aos muitos pobres às viúvas e aos órfãos A principal preocupação dos trabalhadores era a proteção con tra o desemprego Como a classe operária havia crescido organiz ações de ajuda voluntárias desenvolveram seu próprio seguro desemprego Sindicatos de trabalhadores na cidade industrial de Ghent na Bélgica adiantaramse fornecendo a seus membros uma renda mínima em caso de perda de emprego Apenas os membros dos sindicados eram elegíveis para os benefícios fazendo com que as organizações trabalhistas fossem um caminho bem mais fácil Mas sistemas como os de Ghent programas de segurodesemprego implementados pelos membros dos sindica tos de uma cidade só sobreviveriam se o desemprego fosse es casso e limitado Quando turbulências econômicas sérias at ingiram cidades ou regiões inteiras grande parte dos trabal hadores da área seria destituída e o pool dos seguros rapidamente chegaria ao fim Como os programas locais para o desemprego fa liram as municipalidades e ocasionalmente os governos nacion ais intervieram e tornaramse responsáveis por eles Até 1913 muitas cidades e regiões europeias tinham progra mas compensatórios para o desemprego Mas a cobertura era muito pontual e os sindicatos exigiam um sistema mais extenso financiado pelo governo Enquanto isso alguns empregadores e outros habitantes das cidades chegaram à conclusão de que esses esquemas tinham as suas vantagens Eles estabilizavam o mer cado de trabalho local e diminuíam as inquietações sociais e 187832 como o governo exigiu que a participação e a contribuição fossem nacionais as implicações orçamentárias eram limitadas Mas havia também uma resistência substancial do empresari ado a essa interferência no funcionamento dos mercados de tra balho Na falta das compensações pelo desemprego os trabal hadores tinham poucas opções além de aceitar salários reduzidos em tempos difíceis já que a outra alternativa seria a fome In stituir um piso aos ganhos dos trabalhadores o seguro desemprego aliado a programas sociais e de bemestar limit ou a capacidade dos empregadores de cortar salários A crescente organização dos trabalhadores em sindicatos já havia restringido o controle do empresariado sobre os salários os novos programas sociais o fizeram ainda mais Uma vez que os sindicatos de trabalhadores e os programas sociais limitaram o poder das empresas em definir salários eles estimularam o descontentamento dos recalcitrantes capitalistas Quanto mais controle os trabalhadores tinham sobre suas vidas menos seus salários e condições de trabalho podiam ser definidos ao belprazer da indústria Os sindicatos tinham o objetivo de fornecer aos trabalhadores ganhos garantidos o que significava uma redução na flexibilidade dos salários e nas horas de trabalho A sindicalização da classe operária e as ações políticas para re duzir a capacidade do mercado de definir os salários livremente causaram impacto profundo no capitalismo global Isso ia direta mente de encontro à flexibilidade dos salários aspecto essencial para o funcionamento da maioria das economias nacionais e para a relação delas com a economia internacional Em épocas de re cessão a grande ameaça do desemprego era séria o bastante para forçar os trabalhadores a aceitarem amplos cortes salariais Dessa forma as recessões e até mesmo as depressões geralmente levavam a uma redução salarial Os capitalistas podiam reduzir os salários e os preços dos produtos para que pudessem restabelecer as vendas e manter os lucros Em consequência enquanto as 188832 oscilações nas empresas causavam dor e sofrimento o impacto gerado nas vendas e lucros era suavizado e com frequência a tur bulência era rapidamente superada De fato a facilidade com que os salários podiam ser reduzidos dava aos empregadores poucos motivos para despedir seus trabalhadores Dessa forma o desemprego tendia a ser limitado e a durar pouco Tudo isso sig nificava que havia pouco apelo para que os governos interviessem para suavizar os impactos dos altos e baixos da economia A liberdade dos empregadores de forçar uma queda nos salári os também era essencial para o funcionamento do padrãoouro Os países que adotavam o ouro se comprometiam a manter suas economias em conformidade com o valorouro da moeda fazendo com que a economia nacional se adequasse à moeda A forma mais comum de ajustar uma economia para que ela sustentasse o seu componente ouro taxa de câmbio era reduzir os salários Se um país com um déficit comercial persistente necessitasse restabelecer o equilíbrio ele aumentaria as exportações com cor tes salariais Se os produtores nacionais enfrentassem competição devido às importações ou seus preços os tivessem deixado de fora dos mercados os salários seriam forçados para baixo até que os produtos domésticos recuperassem a competitividade Com efeito era comum que os países sob o padrãoouro com preços em crescimento simplesmente invertessem o processo forçando os preços a caírem novamente O nível dos preços norte americanos cresceu mais do que o dobro após o país ter abandon ado o ouro durante a Guerra Civil para retomar o padrãoouro o governo promoveu arrochos macroeconômicos até que os preços recuassem mais de 50 Hoje em dia a imposição de medidas austeras para reduzir a inflação ou seja evitar que os preços subam é uma política controversa Seria de fato impensável forçar os preços a um declínio de 20 30 ou 80 uma vez que não haveria como forçar os trabalhadores a aceitar uma redução salarial tão drástica Mas tais reduções eram comuns no padrão 189832 ouro Na verdade elas eram essenciais para o funcionamento desse pilar da economia internacional clássica ao ponto de os sin dicatos trabalhistas e programas sociais como compensações por desemprego reduzirem os mecanismos que os empregadores tin ham para forçar os salários para baixo complicando assim os pro cessos de mercado que sustentavam o sistema O ônus dos ajustes na era clássica recaia sobre o trabalho Se as condições das empresas piorassem os salários eram cortados Os preços também sofriam cortes de forma que uma grande re dução no valor dos salários teria um impacto apenas modesto no padrão de vida Os lucros também sempre sofriam mas a essência dos ajustes exigia reduções nos salários No padrãoouro os salários precisavam sofrer cortes para recuperar a competitivid ade nos mercados de exportações e importações De forma geral a flexibilização dos salários e das condições do mercado de tra balho era crucial para as regras do jogo liberal clássico No ent anto essa flexibilidade do trabalho se tornou o principal alvo dos trabalhadores uma vez que eles tentavam proteger sua classe de ser a principal vítima das medidas que vinham para garantir o bom funcionamento da economia mundial E como o movimento operário ganhou poder e influência ele passou a ser capaz de pro teger os trabalhadores das decisões dos mercados nacionais e in ternacionais No entanto tal proteção pôs em xeque a essência do funcionamento desses mercados ou pelo menos a maneira como eles operavam na era da globalização do padrãoouro As tensões entre os esforços dos trabalhadores para se pro tegerem das condições adversas dos mercados e o ethos do empresariado de acordo com a não intervenção dos governos nos mercados era incipiente nos anos pré1914 Em determinadas épocas e lugares essa era uma questão em aberto e de grande im portância Na maior parte do tempo era um tema considerado ir ritante e de importância menor No entanto as dificuldades em satisfazer as demandas de ambos um movimento operário em 190832 crescimento e uma economia global integrada se provaram problemáticas e duradouras Era dourada ou manchada Os líderes políticos e econômicos do mundo que precedeu a Primeira Guerra apoiavam firmemente o capitalismo global Os governos de quase todos os lugares estavam comprometidos com as regras do padrãoouro e com o livre movimento de bens din heiro e pessoas e prometiam limitar o seu envolvimento nos mer cados nacionais A ordem econômica resultante trouxe cresci mento e mudanças sociais para grande parte do mundo além de produzir uma riqueza inimaginável para as nações desenvolvidas expandindo os benefícios do desenvolvimento industrial para as classes média e trabalhadora e semear a esperança da modernid ade em regiões há tempos mergulhadas na pobreza Mas havia falhas na economia mundial clássica Os países mais populosos do mundo a China e a Índia se beneficiaram pouco do crescimento embriagador do fim do século XIX e início do XX Partes significativas de Ásia África e América Latina fo ram deixadas para trás Até nas regiões que se desenvolveram rápido os frutos do crescimento foram distribuídos de forma muito desigual Muitas pessoas até mesmo nos países mais bem sucedidos ficaram em pior situação E o crescimento econômico e as mudanças nas economias de rápido crescimento minaram o apoio social e político às prescrições clássicas da integração global e do governo mínimo As vitórias econômicas do fim do século XIX e início do XX fo ram impressionantes mas essa etapa do desenvolvimento do cap italismo global não terminou bem A ordem econômica inter nacional se dissolveu na carnificina da Primeira Guerra Mundial e não pôde ser reconstituída O padrãoouro se despedaçou de 191832 forma a nunca mais se restabelecer completamente O consenso global quanto ao movimento de bens capitais e pessoas fora re jeitado ou seriamente questionado à medida que os países fechavam suas fronteiras ao comércio à imigração e aos investimentos A primazia dos compromissos econômicos internacionais o que parecia ser um consenso sólido como rocha na era clássica erodiu após 1914 e foi completamente banida quando o colapso de 1929 varreu a economia mundial e a elite proponente da velha or dem abandonou o apoio ao internacionalismo do século XIX Novos negócios e interesses da classe média para a qual a eco nomia mundial era uma questão distante quando não uma ameaça passaram a fazer parte do cenário político Além disso as classes trabalhadoras começaram a pressionar os governos para que eles lidassem com os problemas sociais domésticos Seria um absurdo esperar a perfeição de qualquer ordem econ ômica Mesmo com todas as falhas a ordem econômica clássica fora muito melhor que a sua antecessora Mais do que isso mesmo dada a pertinência das reclamações dos críticos contem porâneos ela foi muito melhor do que a sua substituta já que nos 30 anos após 1914 vivenciamos a série mais devastadora de colapsos econômicos políticos e sociais já registrados pela memória histórica O inegável fracasso da economia mundial que precedeu 1914 foi a sua incapacidade de evitar o que veio depois e na verdade ela até contribuiu para tanto a Tariff Reform League NT 192832 parte II Tudo se desmorona 19141939 6 Tudo o que é sólido desmancha no ar Käthe Kollwitz foi um dos grandes nomes do Expressionismo alemão Peter um de seus filhos morreu no campo de batalha al gumas semanas após o início da Primeira Guerra Mundial Käthe construiu um memorial para o filho e os outros mortos no conflito em um cemitério de guerra em Flandres na Bélgica Inspiradas na artista e em seu marido as esculturas mostravam duas figuras uma mãe e um pai desolados rodeados pelos túmulos de como disse Käthe uma porção de filhos perdidos O memorial causou grande impacto em toda uma geração ainda de luto por milhões de mortos No entanto para Käthe o desespero pelas terríveis condições na Europa se sobrepôs ao efeito catártico de finalizar o memorial Assim que o monumento foi erguido em 1932 ela es creveu em seu diário sobre a indescritível dificuldade da situação geral a miséria o retrato da humanidade nas trevas do sofri mento o enaltecimento repulsivo às paixões políticas Mais tarde Käthe e o marido viram sua tragédia pessoal se repetir quando o neto Peter cujo nome era uma homenagem ao seu tio morto na Primeira Guerra Mundial morreu na frente oriental da Segunda Guerra Mundial A artista que morreu a duas semanas do fim do conflito escreveu em sua última carta A guerra me acompanhou até o fim1 Tudo o que é sólido desmancha no ar escreveram Karl Marx e Friedrich Engels no Manifesto comunista referindose ao modo como a sociedade capitalista se reformula constantemente já que sua base econômica se modifica de modo que são varridas do mapa todas as relações fixas cristalizadas Ambos não poderi am ter imaginado a velocidade extraordinária na qual as relações existentes do capitalismo global seriam suprimidas após 1914 Conflitos militares de uma ferocidade nunca antes vista desped açaram a Europa O declínio econômico mais exorbitante de toda a história moderna gerou batalhas comerciais e monetárias além de hostilidades financeiras A livre movimentação generalizada de bens capitais e indivíduos entre os países cedeu espaço para o fechamento agressivo de fronteiras e mercados Dentro dos países a calmaria sociopolítica se estilhaçou provocando confli tos impiedosos O internacionalismo dos mercados pré1914 não foi de todo positivo A estabilidade doméstica e internacional em geral de pendia de sistemas políticos que excluíam a classe média e trabal hadora e de governos que ignoravam os pobres Apenas com o fim da Era de Ouro é que as classes trabalhadoras conquistaram uma representação política significativa e os governos começaram a se voltar para as questões dos indivíduos que não pertenciam à elite econômica ou política Antes de 1914 os benefícios do cresci mento econômico estavam disponíveis apenas para algumas pess oas e durante alguns momentos Mas quase tudo o que veio após 1914 foi negativo ou terminou mal para quase todas as pessoas em quase todos os momentos Conflitos sociais se tornaram guerras civis que por sua vez abri ram espaço para o surgimento de ditaduras brutais Conflitos comerciais viraram guerras comerciais as quais fizeram surgir conflitos armados Não se deve idealizar os anos anteriores a 1914 mas o horror das décadas que se seguiram foi tão grande que é di fícil exagerar Em um livro influente de 1939 o historiador 195832 britânico Edward Hallet Carr se referiu ao período como os vinte anos de crise O autor pecou apenas por um erro de previsão a crise durou 30 anos2 A definição do período entreguerras como uma guerra civil paneuropeia também foi otimista uma vez que a guerra se tornou global antes de se enfraquecer Países que fo ram aliados se tornaram inimigos mortais Partidos e classes que uma vez estiveram unidos se lançaram em cruzadas assassinas uns contra os outros Nações e grupos étnicos que um dia est iveram próximos unidos pela economia mundial se utilizaram de métodos inimagináveis para se destruírem Polarizações domésticas exacerbaram antagonismos no exterior e conflitos in ternacionais exacerbaram extremismos nacionais O círculo virtuoso do fim do século XIX e início do XX viu a prosperidade fortalecer a paz internacional e a integração econ ômica mundial e ambas reforçavam a harmonia doméstica O consenso a favor da globalização econômica e do governo mínimo se mantinha pelo aparente sucesso das duas tendências No ent anto após 1914 o mundo caiu em um círculo vicioso O colapso da economia global causou crises nacionais e as condições domésticas difíceis levaram grupos internos ao extremismo O nacionalismo econômico o militarismo e o acirramento da guerra aprofundaram o infortúnio econômico O mundo entrou em de clínio Começou devagar mas atingiu uma velocidade terrível quando as tentativas de amortecer a descida fracassaram As consequências econômicas da Grande Guerra Uma guerra entre as grandes potências não foi nenhuma sur presa Muito antes de 1914 as tensões geopolíticas já estavam generalizadas Um século de debates não conseguiu explicar total mente a Primeira Guerra Mundial mas restam poucas dúvidas de que parte das motivações foi econômica Cresciam os conflitos de 196832 interesses coloniais ou semicoloniais entre as nações industriais do Marrocos à China do Golfo Pérsico ao Caribe Desavenças ter ritoriais como no caso da AlsáciaLorena entre França e Ale manha se intensificavam de acordo com o valor econômico real ou estimado dos territórios Conflitos puramente econômicos tais como disputas comerciais em geral inflamavam sentimentos nacionalistas e viceversa A luta por independência econômica e política dos povos do centro leste e sul da Europa ameaçava o Império AustroHúngaro o Russo e o Otomano tornandoos par ticularmente suscetíveis a qualquer perturbação no equilíbrio mil itar Quando a guerra começou qualquer acontecimento se tor nava mais sangrento insolúvel e duradouro que o previsto Quando a guerra terminou no fim de 1918 suas consequências se tornaram mais importantes do que as causas A Primeira Guerra Mundial e suas consequências imediatas retiraram os beligerantes da economia mundial os lançaram em uma busca militar e colocaram os Estados Unidos no vácuo res ultante Por muito tempo a economia norteamericana foi a maior do mundo mas antes da guerra ela quase não estava en volvida com o resto das economias mundiais A Primeira Guerra forçou toda a Europa a depender da tecnologia do capital e dos mercados norteamericanos e a buscar esses elementos para al cançar a liderança política Os Estados Unidos deixaram de ser um observador passivo do lento colapso da ordem clássica e se tornaram líder nos esforços de reconstruíla Como escreveu o ed itor de economia do Financial Times A mudança na postura in ternacional dos Estados Unidos a partir de 1914 talvez tenha sido a transformação mais dramática da história da economia3 O primeiro passo dessa transformação foi a introversão das nações europeias beligerantes Todas imaginavam que o conflito seria curto mas quando ficou claro que as hostilidades continuar iam as economias foram reorientadas para a guerra No início de 1915 a Marinha britânica bloqueou os portos alemães do Mar do 197832 Norte impedindo quase todo o comércio marítimo germânico Todas as principais potências deixaram de desempenhar qualquer papel significante na economia mundial Os aliados por outro lado continuavam a ser os principais atores econômicos A posição que tinham no préguerra no entanto se modificou Antes de 1914 o Reino Unido a França e a Bélgica estavam no centro da ordem clássica fornecendo capital e produtos manufat urados para o restante do mundo Nesse momento não tinham mais capital nem produtos manufaturados para oferecer na ver dade precisavam importar ambos e a demanda desses países pelos bens primários do resto do mundo disparou com a necessid ade de alimentos e recursos para a produção do arsenal de guerra Os Estados Unidos estavam em uma posição melhor para suprir a demanda por alimentos e armamentos Em menos de três anos após a oficialização da neutralidade norteamericana de agosto de 1914 a abril de 1917 as exportações do país cresceram mais de duas vezes O superávit comercial norteamericano quin tuplicou em relação aos índices do préguerra acumulando mais de US64 bilhões Quase todo esse dinheiro vinha do comércio com os aliados As vendas de munição norteamericana no exteri or que em 1914 geravam apenas US40 milhões passaram a render US13 bilhão em 1916 A produção agrícola disparou quando a GrãBretanha passou a contar com os alimentos da América do Norte para substituir os habituais fornecedores europeus Os aliados pagavam pelas compras internacionais com o que podiam bens ouro e ocasionalmente investimentos estrangeir os Esse foi o caso em especial da GrãBretanha cujos invest idores eram donos de um grande volume de títulos e ações norte americanas Quando a GrãBretanha ficou desesperada pela moeda dos Estados Unidos o governo comprou US2 bilhões em ações e títulos norteamericanos de seus cidadãos primeiro no mercado depois sob requisição Os britânicos então venderam 198832 essas ações e esses títulos a investidores norteamericanos e gastaram o dinheiro em insumos Como coordenador e agente Londres utilizou o JP Morgan Co um banco com décadas de experiência em vendas de ações e títulos norteamericanos a europeus que desejassem investir nos Estados Unidos De 1914 a 1917 as compras do JP Morgan para seus clientes os aliados somavam em média US1 bilhão por ano 14 de todas as exportações norteamericanas O dinheiro gasto pelo JP Morgan nas compras excedeu o valor total gasto pelo governo dos Estados Unidos no préguerra Os britânicos ficaram sem ter o que vender bem antes de ter em satisfeito todas as suas necessidades de guerra Eles queriam tomar dinheiro emprestado mas no início da guerra o governo norteamericano decidiu que com a neutralidade tornavase con traditório fornecer empréstimos aos beligerantes No entanto no verão de 1915 as necessidades urgentes dos aliados e a lucrativid ade gerada pela guerra fizeram com que Woodrow Wilson mu dasse de política O secretário do Tesouro William McAdoo ex plicou a Wilson seu sogro a importância do comércio com os ali ados Para que nossa prosperidade seja mantida devemos financiála Caso contrário ela será interrompida o que causará um desastre4 A atividade do JP Morgan se inverteu Agora o banco con vencia os norteamericanos a apostarem nos empréstimos europeus e britânicos Ao longo de um ano e meio a partir de out ubro de 1915 o JP Morgan e alguns bancos associados levaram para Wall Street US26 bilhões em títulos para os aliados A soma era enorme o dobro de toda a imensa dívida do governo norteamericano na época Como os beligerantes haviam abandonado o mundo em desen volvimento e até mesmo suas colônias para lutar pelos próprios países o caminho estava aberto para o capital e as exportações de manufaturados norteamericanos A mudança mais gritante 199832 ocorreu na América do Sul onde interesses europeus reinavam intocáveis havia séculos Mesmo na época da diplomacia das can honeirasa a influência norteamericana se limitava à Bacia do Caribe Em menos de uma década a partir do início da guerra os Estados Unidos partiram para a dominação financeira comercial e industrial na América do Sul A liderança da economia internacional não era mais dos britânicos O chefe de uma conferência interministerial sobre como reduzir a dependência dos Estados Unidos escreveu de modo sombrio no fim de 1916 que realmente não havia nada a deliberar os fornecimentos norteamericanos são tão import antes que uma represália enquanto causaria um imenso sofri mento na América iria praticamente acabar com a guerra De dentro do Tesouro britânico John Maynard Keynes relatou à cúpula do país As somas que esta nação pedirá emprestadas aos Estados Unidos da América nos próximos seis a nove meses são imensas correspondem a tantas vezes a nossa dívida nacional que será necessário apelar a cada classe e setor investidor desse país Não é um exagero dizer que o Executivo e o público norteamericano estarão numa posição de ditar o que este país deve fazer em relação às questões que nos afetam bem mais do que às que afetam a eles 5 Os britânicos tinham um motivo a mais para se preocupar temiam que os investidores norteamericanos perdessem o in teresse em fazer empréstimos aos aliados quando a guerra ter minasse como JP Morgan havia alertado no início de 1917 os governos que eram seus clientes No entanto a entrada dos Esta dos Unidos na guerra em abril fez com que outros empréstimos privados não fossem mais necessários Nesse momento o governo dos Estados Unidos levantou cerca de US10 bilhões em emprés timos com o objetivo de cobrir os esforços conjuntos de guerra Esses empréstimos causaram duas controvérsias Primeiro 200832 acusações de que serviriam para pagar as dívidas de banqueiros norteamericanos simbolizando a vontade e a habilidade dos mercadores da morte de levar a nação à guerra devido a in teresses financeiros Segundo ataques e contraataques entre as potências europeias e os Estados Unidos quanto à responsabilid ade moral pela Primeira Guerra Mundial e a insistência norte americana de que as dívidas deveriam ser totalmente quitadas em dinheiro enquanto muitos europeus acreditavam que elas já haviam sido pagas com sangue A guerra devastou a Europa mas tornou os Estados Unidos a principal potência industrial financeira e comercial do mundo A produção de manufaturas norteamericanas quase triplicou dur ante os anos da guerra de US23 milhões em 1914 para US6 bilhões em 1919 Em 1913 as nações industriais europeias Alemanha GrãBretanha França e Bélgica produziam juntas bem mais que os Estados Unidos No fim da década de 1920 os Estados Unidos já haviam superado esses países produzindo quase o dobro deles De 1914 a 1919 os Estados Unidos passaram da condição de maior devedor do mundo para a de principal credor As potências europeias dependiam da liderança financeira comercial e diplomática norteamericana para se recuperar da guerra mais destrutiva até então testemunhada pelo mundo Enquanto os europeus se recuperavam com dificuldade os Estados Unidos se fortaleciam O tamanho das economias da GrãBretanha e da Ale manha não voltou ao normal até 1925 quando a economia norte americana experimentava um crescimento de 50 em relação a 1914 Os países fora da Europa cujas necessidades econômicas sempre dependeram do Velho Mundo começaram a se voltar para os Estados Unidos O país liderou o planejamento da paz inclusive seus aspectos econômicos Muitos grupos nos Estados Unidos ficaram satisfei tos com a oportunidade em especial os empresários que de uma 201832 hora para outra passaram a dominar o comércio e as finanças mundiais Thomas Lamont o sócio mais influente de JP Mor gan afirmou em 1915 Quando essa terrível fumaça vermelhosangue da guerra se for veremos que as finanças deverão continuar firmes Provavelmente veremos o espetáculo que será os empresários de todas as nações pa gando suas dívidas de forma justa uns aos outros Veremos as fin anças a ponto de desenvolverem novos empreendimentos de buscar dinheiro para cultivar outras terras para ajudar a reconstruir um mundo falido e repleto de destroços para fazer com que as chaminés da indústria funcionem novamente e instaurem na Terra o triunfo da paz6 O presidente norteamericano Woodrow Wilson dominou o programa da Conferência de Paz de Paris Enquanto a guerra causava devastação a administração de Wilson anunciava os seus famosos 14 Pontos tomando uma posição que dado o contexto norteamericano foi definida como internacionalista pela ênfase dada à cooperação internacional na economia e na diplomacia O terceiro ponto de Wilson pedia pela remoção a maior possível de todas as barreiras econômicas e o estabelecimento de con dições comerciais equitativas Isso não surpreende em se tratando de um líder do Partido Democrata que era prólivre comércio e de um político que encabeçou uma grande redução nas tarifas norteamericanas quando eleito em 1913 A atitude era um indício da recente simpatia norteamericana pelo livre fluxo de bens e capitais Além disso não era surpresa já que na época os Estados Unidos dominavam o comércio e as finanças internacion ais e dada a proeminência da delegação enviada pelo país à Con ferência de Paz A comitiva norteamericana contou com repres entantes internacionalistas de Wall Street entre eles os acionistas do Morgan Thomas Lamont Norman Davis Bernard Baruch e o jovem John Foster Dulles 202832 A posição wilsoniana era semelhante à visão liberal clássica britânica embora os elementos não econômicos incluíssem uma maior insistência na autodeterminação dos grupos nacionais desde que não fossem de cor Parecia ser o presságio de uma mudança considerável no papel desempenhado pelos Estados Un idos na economia política mundial de credor menor prote cionista e antipadrãoouro a bastião da ordem econômica inter nacional De fato ao mesmo tempo em que os Estados Unidos se apropriaram da posição econômica da GrãBretanha o país tam bém começou a se interessar pelas antes suspeitas inclinações britânicas livrecomércio cooperação entre credores e padrão ouro Todos esses elementos pareciam bem melhores vistos do posto de comando da economia internacional do que das regiões periféricas ou intermediárias Fomos incumbidos de grande parte do financiamento mundial e quem financia o mundo deve entendêlo e governálo com o espírito e a mente7 disse Wilson à população norteamericana Os Estados Unidos exerceram uma influência dominante na Conferência de Paz de Paris O acordo incluía os 14 Pontos de Wilson e o esboço de um plano para a criação da Liga das Nações A posição norteamericana no entanto não prevaleceu em todas as questões o país concordou por exemplo com as demandas ali adas relativas ao pagamento de indenizações de guerra pela Ale manha Os franceses e belgas em especial insistiram em um montante substancial que os compensasse pela destruição cau sada em seus territórios A maioria dos norteamericanos bem como muitos na Europa considerou as exigências exorbitantes e talvez inatingíveis acreditando que só serviriam para suscitar mais conflitos No entanto os franceses e os belgas continuaram a insistir que os alemães deveriam pagar pelas perdas de vidas e riquezas Apesar desse acordo o formato geral do mundo do pós guerra foi sem sombra de dúvida ditado pelos Estados Unidos 203832 O Senado norteamericano entretanto repudiou as ideias de Wilson Não ratificou o Tratado de Versalhes e se recusou a fazer parte da Liga das Nações planejada para pôr em prática a nova ordem mundial A política doméstica norteamericana não evoluiu tão rapidamente quanto a posição do país na economia internacional Muitos nos Estados Unidos não queriam que a nação tivesse conexões com países europeus que pareciam in capazes de governar a si mesmos ou de se relacionar com outros sem a utilização de grande violência Sobre isso Edward H Carr escreveu Em 1918 a liderança do mundo foi oferecida aos Estados Unidos em consenso quase uni versal e foi recusada8 Deixadas à própria sorte as potências europeias fizeram o que estava ao seu alcance para reconstruir as suas próprias economias e a infraestrutura do comércio e das fin anças internacionais Mas o esforço das potências foi impedido pela vastidão de problemas que enfrentavam e por profundas desavenças Reconstrução da Europa A Europa central e a oriental enfrentavam uma situação caótica A guerra e suas consequências diretas baniram os quatro Impérios multinacionais que construíram a região Na área que ia da Fin lândia à Iugoslávia a Dinastia dos Habsburgo na ÁustriaHun gria e a dos Romanov na Rússia estavam em frangalhos Repentinamente a Europa oriental passou a ter dezenas de Esta dos e até mesmo uma cidade imperial livre O Império Otomano que antes da guerra abrangia do Golfo Pérsico à Líbia e da Al bânia ao Iêmen se reduzira a apenas Istambul Anatólia e um pedaço de terra adjacente situado na Europa A Alemanha perdeu suas colônias e grande parte do seu território e população 204832 Esses novos Estados começaram do zero nascidos de autocra cias derrotadas Lutavam para transformar as exprovíncias em Estadosnação modernos em meio à fome e ao colapso econ ômico Em geral além de imprimir dinheiro os novos governos não tinham muitas opções para pagar suas contas O resultado dessa medida era uma onda de inflação que destruía o valor da moeda desintegrava economias e nos casos extremos ameaçava a estrutura social das nações As inflações do pósguerra não eram como as elevações graduais nos preços de outrora Na verdade elas foram responsá veis pela criação de uma palavra nova hiperinflação Quando al guns governos finalmente conseguiram estabilizar os preços as moedas da Tchecoslováquia Finlândia Iugoslávia e Grécia haviam perdido de 85 a 95 de seu valor anterior e as moedas da Bulgária Romênia e Estônia sofreram desvalorização de 96 a 99 Mas esses não foram os casos mais extremos A hiperin flação na Áustria e na Hungria aumentou os preços em 14 mil e 23 mil vezes respectivamente não 14000 e 23000 mas níveis 14 mil e 23 mil vezes mais altos do que eram Na Polônia e na Rússia os preços aumentaram 25 milhões e 4 bilhões de vezes No caso mais famoso quando a hiperinflação na Alemanha ter minou no fim de 1932 os preços haviam crescido um trilhão de vezes em relação ao valor que tinham imediatamente após a guerra Cada dólar equivalia antes a 42 marcos e terminou por valer 4200000000000 42 trilhões de marcos Nos últimos meses de hiperinflação alemã o Banco Central teve de imprimir tanto dinheiro que precisou da dedicação de 30 fábricas de papel 29 de chapas de metal e 132 gráficas Em 2 de novembro de 1923 o governo emitiu uma nota valendo 100 trilhões de marcos o que equivalia a US31250 Em pouco mais de duas semanas quando a hiperinflação chegou ao fim no dia 20 de novembro a nota valia US23819 205832 Como a inflação estava fora de controle os valores dos preços salários e moedas não se mantinham Dessa forma iniciaramse tentativas frenéticas para compensar a situação receber paga mentos à tarde em vez de pela manhã significava uma grande re dução no ganho e permanecer com uma nota de dinheiro durante mais de algumas horas poderia custar ao dono da nota quase todo o seu valor A instabilidade caótica na relação entre preços salári os e moedas levou a desajustes grotescos de consequências perversas Em setembro de 1922 Ernest Hemingway viu o que chamou de o novo aspecto do câmbio quando ele e a mulher resolveram fazer uma viagem de um dia cruzando o Reno de Estrasburgo na França até a cidade de Kehl na Alemanha Com a hiperinflação alemã a pleno vapor o valor do marco em relação a outras moedas caía mais rápido que o aumento dos preços na Alemanha Os preços no lado alemão eram de 15 a 110 menores que no lado francês Mas com o dólar valendo 800 marcos Hemingway com prou 670 marcos Aqueles 90 centavos foram suficientes para que eu e a Sra Heming way passássemos um dia de grandes gastos e ao fim do mesmo dia ainda tínhamos 120 marcos sobrando Nossa primeira compra foi numa barraca de frutas ao pé da rua principal de Kehl onde uma senhora vendia maçãs pêssegos e ameixas Escolhemos cinco maçãs bem bonitas e demos uma nota de 50 marcos à senhora Ela nos deu 38 marcos de troco Um senhor de barba branca muito bemvestido nos viu comprando as maçãs e nos cumprimentou tirando o chapéu Com licença senhor disse ele um tanto tímido em alemão quanto custaram as maçãs Contei o troco e lhe disse que custaram 12 marcos Ele sorriu e balançou a cabeça Não posso pagar É muito Subiu a rua caminhando de forma bem parecida como camin havam os senhores de barba branca em todos os países do velho re gime Mas ele olhou tanto para as maçãs Gostaria de ter lhe oferecido 206832 algumas Doze marcos naquele dia valiam um pouco menos de dois centavos Aquele senhor que provavelmente havia investido as eco nomias de toda uma vida em títulos alemães da guerra ou do pré guerra como fez a maioria das classes não exploradoras não podia arcar com um custo de 12 marcos Ele é o tipo de pessoa cuja renda não aumenta com a queda do poder de compra do marco alemão e da coroa10 A hiperinflação destruiu as economias guardadas ao longo da vida e o poder de compra de milhões de pessoas na Europa Cent ral e do Leste Posteriormente uma combinação de políticas fiscais austeras e apoio estrangeiro deu fim às inflações e hiperinflações da Europa Os governos reduziram sua necessidade de imprimir din heiro aumentando impostos e cortando gastos Para reconquistar a confiança da população as autoridades financeiras precisavam provar que tinham o respaldo das principais potências econôm icas Em geral isso era feito com o apoio da Liga das Nações a colaboração dos Bancos Centrais das grandes nações ocidentais e a proteção dos financistas privados de Londres e Nova York11 Apesar de difícil e custosa do ponto de vista social a estabilidade foi alcançada dentro de poucos anos O caso da Alemanha fora peculiar devido a diversos aspectos Um deles foi o tamanho do país A hiperinflação nociva da Áustria não afetou o resto do mundo como ocorreu com o colapso da Ale manha a maior economia da Europa Além disso a Alemanha foi a principal potência derrotada o Império AustroHúngaro e o Otomano não existiam mais e a Bulgária estava longe de ser um país influente Além disso a hiperinflação estava intimamente li gada às indenizações e o motivo gerava polêmica Os alemães ar gumentavam que o colapso foi causado pela retirada de dinheiro de uma economia em apuros os franceses diziam que os alemães imprimiam dinheiro de forma indiscriminada por se recusarem a fazer o esforço necessário para pagar as indenizações Dentro da 207832 Alemanha havia duros debates sobre qual a atitude que a nação deveria adotar em relação às grandes potências europeias alguns aconselhando cooperação outros enfrentamento À medida que os franceses continuavam a insistir nos pagamentos a situação da economia alemã piorou como nunca Em seguida tornouse evidente que os malabarismos políticos estavam prejudicando ambos os lados e no fim de 1923 o gov erno alemão retomou o controle da economia Em 1924 as potên cias ocidentais e a Alemanha negociaram o Plano Dawes que oferecia US200 milhões para a estabilização do marco e nomeava um supervisor norteamericano para regularizar o paga mento das indenizações Uma vez que o governo dos Estados Un idos havia deixado de se envolver nas questões europeias o pro cesso foi entregue a empresas privadas O JP Morgan Co forneceu metade dos empréstimos e um dos sócios norteamer icanos da empresa foi escolhido para supervisionar as indeniza ções12 No fim de 1924 a Alemanha também já havia conseguido derrotar a inflação e começado a crescer O colapso macroeconômico do início da década de 1920 deix ou um legado político que duraria muito tempo A devastação causada pela hiperinflação difamou ainda mais os líderes políticos tradicionais Em muitos países os políticos e grandes empresários pareciam não estar cientes do sofrimento que a hiperinflação e a estabilização impuseram à classe média Os ricos tinham como se proteger da desvalorização da moeda por exemplo investindo em ativos reais ou mandando o dinheiro para o exterior mas a classe média em geral não dispunha desses recursos além de ter perdido todas as suas economias em um intervalo de meses A de sorganização do início da década de 1920 parecia dizer à classe média que as leis não serviam para as elites Um pequeno empresário de Berlim comentou 208832 A inflação pôs um fim miserável em todo o meu esforço Não con seguia mais pagar meu pessoal Meus ativos se esvaíram Mais uma vez experimentamos a fome e a privação a relativamente próspera classe média mittelstand foi destruída a mesma classe média que continuava a se opor ao marxismo Em razão dessa experiência ele acrescentou Fugi do governo que permitiu tal infortúnio O mesmo pequeno empresário assim se uniu ao Partido Nazista e tornouse membro de uma de suas tropas13b O fracasso econômico do início do pósguerra contribuiu para a ascensão de uma nova direita e em meados da década de 1920 movimentos como o fascista ganharam adeptos e inclusive poder em todo o sul e o leste da Europa Stefan Zweig um judeu aus tríaco que deixou o continente em 1934 refletiu sobre isso posteriormente Nunca nada havia causado tanto amargor no povo alemão é import ante lembrarmos disso nada o havia deixado tão furioso e sus cetível a Hitler como a inflação A guerra sangrenta como foi ainda rendeu momentos de júbilo com sinos e cornetas tocando pela vitória enquanto a inflação serviu apenas para fazer o povo alemão se sentir imundo traído e humilhado Toda uma geração nunca es queceu ou perdoou a República da Alemanha por esses anos e preferiu reintegrar esses carniceiros14 O colapso mais dramático das classes dominantes do pré guerra ocorreu na Rússia O fracasso czarista durante a guerra le vou a uma revolução democrática em 1917 Depois em novembro foi responsável por uma ruptura no poder liderada pela facção bolchevique extremamente antiguerra do movimento so cialista O novo governo procurou pela paz e aceitou os duros ter mos impostos pela Alemanha No entanto a URSS foi assolada pela guerra civil até o fim da década de 1920 Nesse momento 209832 para surpresa e irritação do Ocidente os bolcheviques tinham o total controle do maior país do mundo O líder bolchevique Vladimir Ilitch Lênin não foi o único a acreditar que a Revolução Russa seria o começo de uma onda de revoltas extremistas contra o capitalismo europeu Por volta de um ano após o fim da guerra insurreições em Berlim e na Bavária a tomada do poder pelos comunistas na Hungria além das ocupações de fábricas na Itália pareciam indicar uma grande inclinação à revolução operária Os principais partidos socialistas se depararam com sérios problemas quando tentaram resistir às novas facções de inspiração bolchevique A maior parte dos so cialistas havia apoiado os esforços nacionais para a guerra e como a batalha havia se tornado impopular a reputação deles ficou abalada Além disso o sucesso eleitoral dos socialistas trouxe algumas frustrações uma vez que eles se envolveram em governos provisórios pouco eficientes Assim as alas rebeldes de todos os partidos socialistas ridicularizaram os mais tradicionais dado o seu compromisso com o patriotismo nacional e por acred itarem que as urnas poderiam modificar a sociedade Mais tarde uma nova Internacional Comunista de base em Moscou uniu os partidos socialistas mais radicais do mundo O otimismo revolucionário do início logo chegou ao fim deix ando Lênin e seus camaradas no governo de um país estilhaçado que nunca fora um terreno fértil para o socialismo nem em seus melhores dias A nova União Soviética enfrentou a reconstrução vindo da guerra da revolução e da guerra civil Era difícil conce ber a construção de uma nova sociedade socialista em um país que em 1920 já havia perdido 87 da capacidade industrial que tinha em 191315 Durante os primeiros anos após a guerra os so viéticos se concentraram em reanimar a economia A Nova Polít ica Econômica de 1921 passou a permitir as atividades de um grande número de empresas privadas em especial as ligadas à ag ricultura e aos pequenos negócios além de estimular os 210832 camponeses a ganharem o máximo possível Em 1924 como ocor reu em outras partes do Ocidente a economia já havia renascido A União Soviética permaneceu ilhada em parte por opção em parte pela hostilidade dos países capitalistas que a rodeavam mas gradualmente reconstruiu os laços econômicos com o rest ante do mundo Os aliados do Ocidente enfrentaram menos dificuldades no pósguerra do que a Europa central e oriental Mesmo na Bélgica e no Norte da França onde a destruição foi mais severa a ativid ade econômica logo voltou ao normal Houve uma rápida ex pansão nas economias ocidentais de 1919 a 1920 seguida por uma rápida recessão em 1920 e 1921 mas em 1922 as condições comerciais já estavam de volta à normalidade Os europeus se esforçaram para recuperar as condições mon etárias internacionais restaurando o padrãoouro o centro da or dem econômica clássica Duas conferências monetárias europeias uma em Bruxelas em 1920 e outra em Gênova em 1922 geraram um apoio ressoante a esse objetivo No entanto até os países que não haviam enfrentado uma inflação pesada consideravam difícil conseguir alcançálo Na GrãBretanha os preços cresceram tanto durante e após a guerra que a tentativa de retomar a taxa de câm bio de 1913 em relação ao ouro exigia políticas monetárias muito restritivas que reduziriam salários preços e lucros Até mesmo quando a libra esterlina retornou ao ouro em 1925 com uma taxa de câmbio igual à do préguerra os preços altos fizeram com que grande parte da indústria britânica ficasse de fora dos mercados Em grande parte por consequência disso o desemprego na Grã Bretanha se manteve acima dos 10 ao longo da década de 1920 Ainda nesse contexto os países escandinavos se estabilizaram logo depois da GrãBretanha Os laços comerciais estreitos desses países com os mercados britânicos e as supervalorizações como as da GrãBretanha também os prejudicaram com índices de desemprego de dois dígitos ao longo de toda a década as 211832 tentativas da Noruega de retornar ao padrãoouro levaram o país a um índice de desemprego acima de 25 em 1927 A Bélgica e a França retornaram ao ouro logo após a GrãBretanha mas difer entemente desta os dois países não tentaram recuperar o valor préguerra de suas moedas Assim puderam adotar novamente o padrãoouro a custos relativamente baixos e sem impor grandes pressões competitivas aos produtores de bens industriais O comércio internacional também enfrentou dificuldades Muitos dos governos que haviam impostos barreiras aos investi mentos e ao comércio internacionais durante a guerra encon traram dificuldades em remover a proteção quando o conflito chegou ao fim Até mesmo a GrãBretanha manteve algumas das barreiras comerciais adotadas durante a guerra Nos Estados Un idos a liberalização do comércio decretada por Wilson e os democratas em 1913 foi abandonada e a administração republic ana e o Congresso restabeleceram o protecionismo habitual em 1921 e 1922 A maioria dos países da Europa central e oriental era mais protecionista que os Impérios precedentes Apesar das dificuldades e decepções em 1924 a Europa já es tava basicamente recuperada A produção industrial europeia re tomou os índices de 1913 embora existissem diferenças consider áveis entre os países europeus Na parte ocidental a indústria passou a produzir 12 a mais que em 1913 ao passo que a Europa central e a oriental apresentavam índices 20 menores que no mesmo período Os Estados Unidos estavam bem à frente com a produção manufatureira mais uma vez cerca de 50 maior que em 191316 Mesmo com a devastação causada pela Primeira Guerra Mundial a maior parte das economias dos países já havia retornado ou quase aos índices do préguerra A extraordinária década de 1920 212832 Um frenesi de atividades econômicas internacionais irrompeu subitamente Entre 1925 e 1929 a produção industrial do mundo cresceu mais de 20 e tal crescimento foi ainda mais rápido na Europa e na América do Norte Os investimentos internacionais atingiram níveis semelhantes aos dos anos de glória do inicio do século XX No entanto a maior parte desses investimentos agora vinha dos Estados Unidos não mais da Europa As exportações dobraram em relação ao préguerra Mesmo se considerarmos a inflação o comércio mundial era 42 maior em 1929 do que em 1913 além de corresponder a uma parcela maior das economias nacionais17 O padrãoouro estava de volta A economia mundial parecia recuperada A expansão econômica estimulou grandes mudanças sociais Na maior parte do mundo industrial a década de 1920 testemun hou o surgimento de novos bens de consumo e de produção em massa No campo político todos os países democráticos passaram a permitir o voto feminino em meio a movimentos mais amplos pela emancipação da mulher A influência dos movimentos tra balhistas e dos partidos socialistas aumentou de forma dramática No campo cultural o Modernismo e o Surrealismo revolu cionavam as artes enquanto o jazz estourava no cenário musical O boom do fim da década de 1920 foi tão grande e seus efeitos tão amplos e profundos que muitos países deram nomes específicos a ele a Renascença de Weimar na Alemanha a Era Baldwin na GrãBretanha os extraordinários anos 20c e a Era do Jazz nos Estados Unidos além de a Dança dos Milhões na América Lat ina18 De alguma forma esse crescimento envolveu uma retomada das condições anteriores aos tempos de guerra Mas ele também contou com uma dinâmica própria poderosa e os Estados Unidos eram o seu centro O capital e os mercados norteamericanos ali mentaram o crescimento econômico da Europa à Ásia e também da América Latina Bancos e empresas norteamericanas 213832 inundaram o mundo com dinheiro e tecnologia Wall Street sub stituiu Londres como o centro financeiro internacional enquanto empresas norteamericanas estabeleciam milhares de filiais ao redor do mundo Em 1929 os Estados Unidos já haviam acumu lado mais de US15 bilhões em investimentos estrangeiros dos quais metade eram empréstimos e a outra parte eram investimen tos direto das multinacionais e esse montante não incluía os muitos bilhões de dólares que os estrangeiros deviam a Washing ton Em pouco mais de uma década o país formou uma carteira de investimentos internacionais quase tão grande quanto a do Reino Unido em 1913 a qual havia sido desenvolvida ao longo de um século Nas palavras do secretário de Estado John Hay O centro financeiro do mundo que precisou de milhares de anos para viajar do Eufrates ao Tâmisa e ao Sena passou por Hudson entre a alvorada e o anoitecer19 Mais de US1 bilhão por ano em empréstimos brotaram de Nova York de 1919 a 1929 Nos anos mais prósperos em Wall Street os títulos estrangeiros que circulavam equivaliam a apenas 13 do que girava em ações de empresas dos Estados Unidos20 De 1924 a 1928 os norteamericanos emprestavam em média US500 milhões por ano para a Europa US300 milhões para América Latina US200 milhões para o Canadá e US100 mil hões para a Ásia Os norteamericanos pareciam incansáveis em financiar empreendimentos em lugares dos quais uma década antes poucos ouviram falar 36 bancos de investimentos norte americanos brigavam pelo privilégio de mandar seus títulos para a cidade de Budapeste 14 competiam por Belgrado e um vilarejo na Bavária que desejava US125 mil foi convencido a pegar um empréstimo de US3 milhões21 Os Estados Unidos eram responsáveis por mais da metade dos novos empréstimos mas não estavam sozinhos nessa recuperação das finanças internacionais Especialmente após a retomada do padrãoouro os mercados londrinos se abriram novamente O 214832 mesmo ocorreu com os empréstimos de Paris Amsterdã e outras capitais credoras menores A GrãBretanha proveu cerca de 14 de todos os novos empréstimos da década de 1920 outros países europeus também ficaram com essa mesma proporção22 Após dez anos de preocupações domésticas e restrições nos negócios in ternacionais tanto os credores quanto os que pediam emprésti mos não pareciam capazes de extrair o suficiente da revitalização dos mercados de capitais do mundo Os industriais norteamericanos também rodaram o mundo em busca de oportunidades rentáveis de investimentos não em préstimos mas investimentos diretos em filiais de empresas e outras subsidiárias Empresas norteamericanas investiram mais de US5 bilhões no decorrer da década de 1920 No fim desse período as empresas norteamericanas já estavam bemestabele cidas em todas as principais economias e também em muitas das nações menores Até mesmo os bancos comerciais norteamer icanos os quais antes da lei de 1913 do Federal Reserved eram proibidos de operar fora do país se aproveitaram da nova situ ação e no fim de 1920 já possuíam cerca de 200 sedes no exterior O boom dos anos 1920 foi ainda mais marcante fora da Europa Na América Latina os empréstimos e investimentos diretos norteamericanos participaram do crescimento já regis trado na região Mais uma vez a América Latina obtinha um cres cimento 50 mais rápido que o da Europa e da América do Norte23 Nesse processo a estrutura industrial latinoamericana amadureceu de forma substancial Por exemplo em 1929 o Brasil produzia 34 do aço que necessitava24 Ao redor da região eco nomias se modernizavam as classes média e trabalhadora cres ciam e se tornavam politicamente influentes e regimes demo cráticos se estabilizavam O isolamento dos Estados Unidos 215832 Os anos de recuperação e o boom eram resquícios da Era de Ouro de antes da Primeira Guerra Mundial mas com os Estados Un idos no centro substituindo a GrãBretanha Na era anterior Londres financiava atividades econômicas por todo o mundo em especial por meio de empréstimos mas também com investimen tos de empresas privadas Os países devedores arrecadavam o dinheiro que necessitavam para pagar os juros em geral export ando para a Europa especialmente para o enorme e aberto mer cado britânico O sistema mantinhase unido pelo compromisso com um padrão monetário o ouro Em 1925 um sistema semel hante operava Uma vez que o capital fluía dos Estados Unidos para o resto do mundo o resto do mundo vendia pesadamente para o mercado norteamericano e quase todas as principais moedas já haviam retomado o padrãoouro A reencarnação dessa ordem contudo remete à observação de Marx de que se a história se repete o faz a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa Por enquanto os fundamentos econômicos das duas épocas eram semelhantes o acesso mundi al ao capital e aos mercados da GrãBretanha e dos Estados Un idos respectivamente mas o comportamento dos países centrais apresentava diferenças fundamentais O padrãoouro clássico antes de 1914 tinha Londres como centro e sua coesão era mantida pelo Reino Unido25 A superior idade da influência financeira e comercial da GrãBretanha com binada ao compromisso inabalável de sua elite financeira e empresarial com a economia mundial permitiu que o governo britânico agisse de forma enérgica tanto quanto o necessário para estabilizar as relações monetárias e financeiras internacionais Embora o Reino Unido fosse nas palavras de John Maynard Keynes o regente da orquestra internacional o país não con seguiria sustentar o padrãoouro sem os outros participantes26 A estabilidade do padrãoouro clássico dependia também de um 216832 forte apoio da França da Alemanha e de outras nações menores da Europa Por exemplo quando o colapso do Barings um dos maiores bancos britânicos ameaçou desestabilizar os mercados londrinos em 1890 os Bancos Centrais da França e da Rússia emprestaram dinheiro ao Banco da Inglaterra Apenas a certeza de que essas somas estavam disponíveis ajudou a acalmar os in vestidores Em 1898 os britânicos e franceses ajudaram a estabil izar os mercados financeiros alemães alguns anos mais tarde foi a vez dos austríacos acalmarem os mercados de Berlim Em pelos menos outras sete oportunidades entre 1900 e 1914 os franceses intervieram para ajudar os britânicos numa demonstração do que o Banco da França chamou de a solidariedade dos centros fin anceiros27 Não havia altruísmo na liderança britânica tampouco na co operação europeia Os rendimentos das empresas britânicas de pendiam do bom funcionamento da economia mundial A eco nomia britânica e seus principais investidores e empresas con tavam com o comércio os investimentos e as finanças inter nacionais Além disso França Alemanha Bélgica Holanda Áus tria e Rússia estavam fortemente integradas à ordem financeira e monetária centrada em Londres uma instabilidade no centro ser ia sentida fora dele impondo desafios à base de apoio dos líderes políticos e econômicos dos outros países do sistema A riqueza e o poder dos capitães da indústria e das finanças europeias de pendiam de um sistema de comércio e pagamentos internacionais com base em Londres Era do interesse de todos os grupos poder osos que esse equilíbrio fosse mantido28 Porém se antes de 1914 o interesse próprio e esclarecido deu ao padrãoouro um regente confiável e uma orquestra harmo niosa nenhum dos dois elementos podia ser considerado como certo após 1920 A desorganização da orquestra era mais óbvia quaisquer que fossem as questões econômicas comuns que unis sem as potências da Europa continental elas não eram páreo para 217832 a continuação econômica do conflito de trincheiras da Primeira Guerra Mundial O armistício apenas inaugurou outro estágio do conflito francogermânico uma vez que franceses belgas e alemães se enfrentavam numa batalha campal pelas indenizações A França não tinha a menor intenção de desistir Os franceses achavam que a Alemanha ainda não havia pagado por sua agressão militar Além disso nenhum político alemão podia ser visto negociando com bancos internacionais ou subsidiários algo que a maioria dos alemães acreditava ser um tratado de paz crim inosamente injusto Quase todos os países da Europa optaram por um dos lados Até mesmo questões técnicas financeiras e mon etárias foram envolvidas no duro conflito diplomático A falta de um regente confiável para o sistema de ouro de Keynes foi o problema mais grave da economia política do en treguerras As semelhanças entre os papéis desempenhados pela GrãBretanha pré1914 e pelos Estados Unidos pós1920 eram tão gritantes quanto as diferenças dos dois países no que diz respeito aos seus papéis na política internacional O Reino Unido e os Estados Unidos eram as principais nações industriais financeiras comerciais e investidoras de suas respectivas eras Como compro variam os anos após a Segunda Guerra Mundial apenas um passo separava a hegemonia econômica norteamericana da liderança política nos assuntos relativos à economia internacional Não ob stante de 1920 até as vésperas da Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos se recusaram a se envolver O capital e os mercados norteamericanos eram tão domin antes na economia da década de 1920 quanto o foram seus correl ativos britânicos antes de 1913 Mas o governo dos Estados Un idos permanecia quase totalmente ausente enquanto o britânico sempre esteve presente Mesmo se a administração norteameric ana tivesse desejado se envolver o que não aconteceu o Con gresso proibia qualquer participação oficial nas discussões inter nacionais sobre questões econômicas e sobre a maioria dos 218832 outros assuntos O Federal Reserve Bank de Nova York que era ligado aos banqueiros internacionais de Wall Street promoveu es forços conjuntos para participar das questões econômicas globais mas o fez de forma secreta Na verdade os representantes norte americanos nas reuniões monetárias internacionais eram em sua grande maioria banqueiros particulares do JP Morgan Co A política comercial norteamericana era decididamente prote cionista embora fosse claro que isso impediria os devedores es trangeiros do país de ganharem dólares para honrarem seus em préstimos Até o compromisso norteamericano com o padrão ouro suscitava dúvidas uma vez que uma nova onda de popu lismo antiouro se alastrava pelo cinturão agrícola norteamer icano devido à queda de cerca de 33 nos preços dos produtos agrícolas O isolacionismo norteamericano tornouse política governa mental a partir de 1920 quando o Senado dos Estados Unidos vetou os planos de paz de Woodrow Wilson e a participação do país na Liga das Nações Essa decisão foi confirmada e sedi mentada em novembro quando as eleições nacionais concederam o controle da Presidência e do Congresso aos republicanos Em bora alguns republicanos apoiassem a Liga em geral o partido que ficaria à frente da Presidência e do Congresso até 1933 era liderado por homens que encaravam a participação norteameric ana nos assuntos europeus com suspeita ou desdém Tal visão se estendeu por quase todos os aspectos da diplomacia econômica internacional e atingiu todas as questões de economia global até o início da década de 1930 A política norteamericana de isolamento foi adotada em meio ao debate sobre as indenizações a questão financeira central do pósguerra As tentativas do governo moderado de Weimar de manter seus compromissos internacionais eram impopulares para o amargurado povo alemão e muitos países da Europa passaram a considerar contraproducentes os prazos rigorosos de 219832 pagamento Ao mesmo tempo os aliados europeus continuavam devendo US10 bilhões aos cofres norteamericanos e os franceses e belgas viam as indenizações como um mal necessário enquanto o governo norteamericano insistisse em receber o din heiro de volta Havia uma forma fácil de resolver o impasse o perdão das dívidas de guerra Esses débitos devem ser cancela dos sugeriu JP Morgan29 Os aliados poderiam ter reduzido o valor das indenizações exigidas Isso teria atenuado as pressões econômicas sofridas pela Alemanha que alimentaram tensões políticas e exacerbaram sentimentos revanchistas e nacionalistas os quais por sua vez impediram uma atitude econômica de cooperação No entanto sucessivos presidentes e congressistas norte americanos foram categoricamente contra a renegociação das dívidas de guerra Enquanto muitos na Europa acreditavam que tais débitos já haviam sido pagos com o sangue de milhões de jovens a maioria dos norteamericanos as considerava pura e simplesmente dívidas Nas palavras de Calvin Coolidge Eles alugaram o dinheiro Enquanto os norteamericanos insistiam em receber os franceses e os belgas insistiam nas indenizações Já que os Estados Unidos não diminuíram o encargo das dívi das de guerra e das indenizações eles poderiam ao menos ter tor nado mais fácil para os europeus ganhar o dinheiro necessário para cumprir com suas obrigações De fato o mercado norte americano o maior do mundo se abriu substancialmente com a legislação de 1913 No entanto quando os republicanos das tari fas altas retornaram as barreiras comerciais aumentaram reto mando os níveis anteriores ou atingindo inclusive níveis mais el evados A resposta do Congresso às dificuldades econômicas na Europa foi na verdade mais proteção comercial em 1921 1922 e 1923 com a radical tarifa SmootHawley Os investidores norte americanos resistiam à proteção comercial uma vez que a im posição de barreiras dificultava a arrecadação de dólares por parte 220832 dos países devedores Otto Kahn um banqueiro de Nova York ex plicou à população Ao nos tornarmos uma nação credora temos que nos ajustar ao papel de uma nação credora Precisamos nos convencer da necessidade de sermos mais receptivos às im portações30 O apelo dos defensores do livrecomércio no ent anto foi ignorado uma vez que os interesses dos credores norte americanos e das indústrias do país eram diametralmente opos tos Uns queriam que os estrangeiros tivessem fácil acesso aos mercados dos Estados Unidos para que pudessem quitar suas dívidas outros queriam que o mercado norteamericano fosse o mais fechado possível para a competição estrangeira A ironia da posição internacional contraditória dos Estados Unidos liderança financeira e indiferença ou hostilidade política não passou despercebida pelo público norteamericano Frank lin D Roosevelt se aproveitou de grande parte das contradições republicanas em relação à política econômica externa dessa nação durante a corrida presidencial de 1932 as quais foram compara das ao mundo fantástico de Alice no País das Maravilhas Uma Alice confusa e um tanto desconfiada fez à liderança republicana algumas perguntas simples A impressão e venda de mais ações e títulos a construção de novas fábricas e o aumento da eficiência não produziriam mais mer cadorias do que poderíamos comprar Não gritou Humpty Dumpty Quanto mais produzirmos mais poderemos comprar E se produzirmos em excesso Veja poderemos vender para os estrangeiros Como os estrangeiros pagariam por eles Nós emprestaremos dinheiro Entendo disse a pequena Alice Eles vão comprar o nosso excedente com o nosso dinheiro Claro os estrangeiros irão nos pagar de volta com a venda dos produtos deles Ah de forma alguma disse Humpty Dumpty Nós constru iremos um muro alto chamado tarifa 221832 E disse por fim Alice como os estrangeiros irão nos devolver esses empréstimos Isso é fácil disse Humpty Dumpty Você já ouviu falar em moratória E assim meus amigos chegamos ao coração da fórmula mágica de 192831 O Congresso e o Executivo isolacionistas proibiram até mesmo as consultas técnicas entre os formuladores da política norte americana e os estrangeiros Em 1921 o Federal Reserve propôs uma conferência de Bancos Centrais para discutir a situação europeia e o Banco da Inglaterra foi vetado Mesmo quando a ini ciativa vinha dos Estados Unidos como nos casos dos Planos Dawes e Young de 1924 e 1930 respectivamente os Estados Un idos não podiam participar oficialmente JP Morgan e outros financiadores norteamericanos atuavam como correlativos dos Ministérios da Fazenda e Bancos Centrais da Europa O contraste com a liderança da GrãBretanha na Pax Britannia pré1914 era gritante Outras funções desempenhadas pelos governos dos líderes econômicos pré1914 foram privatizadas devido ao isolacion ismo oficial dos Estados Unidos Por exemplo durante os anos de ouro dos empréstimos internacionais antes da Primeira Guerra Mundial comitês de credores donos de títulos e governos cos tumavam supervisionar as finanças dos países endividados e em apuros financeiros Com a recusa dos Estados Unidos em parti cipar o papel de supervisor crediário recaiu sobre os cidadãos entre os quais o de maior proeminência foi Edwin Kemmerer o doutor do dinheiro internacional Kemmerer um economista de Princetown cujo primeiro trabalho havia sido o de consultor fin anceiro da colônia filipina quando esta pertencia aos Estados Un idos aconselhou muitos governos pobres a estruturar suas eco nomias de forma a atrair capital norteamericano O envolvi mento dele como agente privado logo lhe rendeu um período de 222832 20 anos trabalhando para México Guatemala Peru Bolívia Chile Alemanha Polônia Turquia China e África do Sul Suas re comendações invariavelmente a favor de orçamentos equilibra dos e do padrãoouro eram muito bemvistas pelos credores norteamericanos Dessa forma os governos procuravam segui las Um país que nomeia consultores financeiros norteamer icanos e segue as recomendações escreveu Kremmerer organ izando as finanças de acordo com o que os investidores dos Esta dos Unidos consideram ser as diretrizes modernas mais bemsu cedidas aumenta suas chances de se tornar atraente para o investidor norteamericano e de obter dele capital com condições favoráveis32 Muitos norteamericanos apoiavam o engajamento do país O conhecido internacionalismo era bastante forte em algumas re giões e setores da população com importantes interesses econ ômicos internacionais Em primeiro lugar e acima de tudo es tavam os bancos e as empresas cujos investimentos e vendas in ternacionais cresceram rapidamente após 1914 Muitos dos fazendeiros que produziam para exportação simpatizavam com o apoio do governo à reconstrução dos mercados externos além de serem defensores históricos do livrecomércio A posição oficial do Partido Democrata continuava a ser uma variação do inter nacionalismo wilsoniano Além disso havia uma ala fortemente internacionalista entre os republicanos em especial entre os grandes empresários de Nova York e de outros centros financeiros O isolacionismo econômico e político no entanto dominava o sistema norteamericano Alguns dos isolacionistas eram chau vinistas de direita outros antiimperialistas de esquerda Alguns se opunham ao envolvimento internacional por princípio moral outros por pragmatismo O tradicional choque de culturas entre a elite anglófila e as massas patrióticas também teve influência Mas do ponto de vista econômico a fonte principal da posição 223832 internacional esquizofrênica dos Estados Unidos seria a natureza inconstante do envolvimento externo do país A economia clássica britânica era altamente direcionada para o exterior na direção dos mercados estrangeiros dos fornecedores estrangeiros e dos investimentos estrangeiros Nos Estados Unidos contudo o grau de exposição à economia internacional variava de modo signific ativo Wall Street era altamente engajada da mesma forma que muitos produtores agrícolas e algumas das principais indústrias do país No entanto o cerne industrial norteamericano con tinuava a se voltar para as questões internas permanecendo il hado e protecionista Para as indústrias de orientação inter nacional maquinário veículos motorizados borracha e petróleo os investimentos externos eram de dez a doze vezes mais im portantes do que para o resto do setor fabril33 Um segmento po deroso e dinâmico da economia norteamericana poderia estar altamente envolvido com a economia mundial na verdade po deria estar liderando a economia do mundo mas a cúpula de líderes econômicos do país continuava hostil ou indiferente às condições internacionais Os Estados Unidos não contaram com um consenso ao estilo britânico para uma participação ou lider ança internacional Um mundo reconstruído A ausência norteamericana foi a maior fraqueza da economia mundial do pósguerra Contudo os observadores mais astutos perceberam outros motivos de preocupação menos óbvios Keynes por exemplo mostrou como a economia política do per íodo entreguerras tanto internacional quanto doméstica se afastou dos ideais vitorianos aspirados por muitos governos O próprio Keynes era cria do fim da Era Vitoriana34 O pai havia sido um pupilo bemsucedido de Alfred Marshall influente 224832 economista do fim do século XIX e início do XX John Neville Keynes seguiu os passos de Marshall e tornouse pesquisador em Cambridge mas para a decepção do mentor não se tornou um economista profissional Eventualmente acabou se tornando o principal quadro administrativo da Universidade de Cambridge Sua mãe era uma reformista social e foi a primeira mulher a ocu par o cargo de prefeita de Cambridge Keynes certamente sentiria a influência tanto acadêmica quanto política da família John Maynard Keynes nasceu em 1883 em Cambridge Após uma carreira brilhante em Eton em 1902 retornou a Cambridge como aluno de graduação Destacavase em matemática e seu desempenho em economia que apenas na época começava a ser tratada como disciplina independente chamou a atenção de Mar shall que o conheceu por intermédio do pai No entanto apesar de Keynes admirar muito meu velho mestre quem me transfor mou num economista35 a primeira paixão do jovem foi a filo sofia Ele passou muito tempo envolvido em acalorados debates sobre questões filosóficas com outros de seu círculo Como perce beu Robert Skidelski autor da biografia autorizada de Keynes o grupo do economista Radicalismo em Cambridge girava em torno de sodomia e ateísmo e Keynes se lançou em ambos os temas com entusiasmo36 Após muitos anos de bolsas de estudos e romances homossexuais Keynes se formou Depois de ter consid erado uma carreira acadêmica ele entrou para o funcionalismo público no India Office do governo britânico Keynes tinha muito interesse por política mas pouco respeito pelos políticos Desde pequeno achava ridícula a fascinação vitoriana pela monarquia Quando adolescente após ter visto a rainha Vitória Keynes escreveu com sarcasmo que sem dúvida por causa do frio que fazia no dia o nariz dela estava lamentavel mente vermelho ao ver o Kaiser Guilherme observou que o bi gode dele estava acima das minhas expectativas37 A atitude de Keynes em relação aos políticos eleitos também era de desprezo 225832 em especial quando os considerava intelectualmente inferiores o que era comum Ele preferia afetar a política de fora sugerindo e defendendo boas ideias e criticando as ruins A primeira experiência de Keynes no governo durou apenas dois anos Foi muito bemsucedido no India Office mas em 1908 Marshall se aposentou e convidou Keynes para um cargo de eco nomista em Cambridge no qual ele veio a passar o resto da vida Após a experiência no India Office ele escreveu seu primeiro liv ro Indian Currency and Finance Publicado em 1913 quando Keynes fundou uma comissão sobre o assunto ligada à Coroa o livro foi muito bemrecebido e ajudou a consagrálo como um dos principais especialistas da área O argumento central era que as modificações feitas na Índia sobre o padrãoouro o que ele chamava de padrão cambial do ouro foi de fato um aperfeiçoa mento permitindo uma administração científica das condições monetárias O sistema indiano era menos rígido que o padrão ouro clássico e favorecia os governos com a flexibilidade de reagir às condições locais As ideias econômicas contidas no livro eram tradicionais mas demonstravam que Keynes buscava soluções fora da camisa de força da ortodoxia do padrãoouro Quando se tratava de política comercial a visão de Keynes era extremamente liberal mas liberal nos termos dos partidos políticos da época Era favorável ao livrecomércio e contra o mo vimento protecionista pela reforma tarifária Em 1910 em um de bate na Cambridge Unione argumentou A Reforma Tarifáriaf tem como base o princípio de tornar os produtos relativamente escassos Para aqueles que os produzem isso é sem dúvida vantajoso Mas a medida traz um sofrimento desproporcional para outros grupos A comunidade como um todo não ganha ao torn ar aquilo que o país quer artificialmente escasso38 Keynes também foi uma figura essencial no círculo cultural mais importante da GrãBretanha O grupo de Bloomsbury era 226832 formado por escritores filósofos artistas e outras pessoas muitos dos quais amigos de Keynes dos tempos de Cambridge Entre os participantes estavam Leonard e Virginia Woolf Clive e Vanessa Bell Lytton Strachey e Edward Morgan Forster O economista de Cambridge ajudava a financiar as atividades do grupo e alugava as casas onde muitos deles moravam ou apenas se reuniam para re feições e discussões O envolvimento com o grupo de Bloomsbury estava de acordo com a rejeição modernista de Keynes à moral e às crenças vitorianas a homossexualidade no seu meio de Cam bridge era ligada à ênfase em amizade e beleza e a uma negação de valores tradicionais como dever e religião Enquanto a ativid ade profissional de Keynes estava bem mais longe dos holofotes que a de seus colegas bloomsberries para usar o nome pelo qual se definiam ele estava bem entrosado no grupo devido à sua cul tura à sua sofisticação ao seu intelecto poderoso e à sua per spicácia filosófica A Primeira Guerra Mundial trouxe Keynes de volta ao gov erno onde logo se tornaria o principal especialista financeiro do Tesouro Embora viesse a se opor à guerra e a requerer o status de desertor conscienteg sem motivo como sabia dado o seu tra balho para o governo Keynes desempenhava com entusiasmo a função de encontrar formas para financiar a participação britân ica no conflito sem levar o país à falência À medida que a guerra se prolongava ele ficava mais desanimado Eu trabalho disse ele a um amigo para um governo que desprezo para fins que considero criminosos39 O fato de Keynes trabalhar para o gov erno fez com que tivesse problemas com os outros bloomsberries que não entendiam como ele conseguia separar suas convicções antiguerra de seu empenho nas questões financeiras da batalha O economista no entanto considerava os problemas financeiros in telectualmente estimulantes e acreditava que apesar de suas apreensões a GrãBretanha merecia vencer sua oposição 227832 consciente era mais uma objeção ao alistamento obrigatório do que à guerra em si Keynes foi o representantechefe do Tesouro na delegação britânica da Conferência de Paz de Paris que determinou as diret rizes do pósguerra Mais uma vez se aborreceu com a realidade política e em especial com a insistência dos aliados em receber as exorbitantes indenizações O presidente Wilson disse certa vez aos britânicos Como os seus e os nossos especialistas podem desenvolver um novo plano para fornecer capital de giro à Ale manha se temos como pressuposto retirar todo o presente capital do país Keynes não gostava do pregador Wilson mas tinha de admitir que havia uma verdade no ponto de vista do presid ente40 Keynes acreditava que as condições impostas à Alemanha eram malévolas e estúpidas Em maio de 1919 quando o processo chegou ao fim escreveu a um amigo Certamente se eu estivesse no lugar dos alemães preferiria morrer a assinar tal paz Mas se eles assinarem realmente essa será a pior coisa que poderia ter acontecido já que possivelmente eles não con seguirão cumprir algumas das condições e a desordem e o descon tentamento generalizados serão instaurados em toda parte Enquanto isso não há comida ou emprego em lugar algum e os franceses e italianos estão enviando munição para a Europa central com a final idade de armarem todos contra todos Eu passo horas e horas na minha sala recebendo delegações das novas nações as quais não vêm pedir comida ou matériasprimas mas principalmente equipamentos mortais para serem utilizados contra seus vizinhos E com tal paz como base não vejo esperança em nenhuma parte Anarquia e re volução seriam a melhor opção e quanto antes melhor41 Descontente Keynes abandonou a delegação britânica e o gov erno em junho de 1919 Três semanas mais tarde os exbeliger antes assinaram o Tratado de Versalhes O economista voltou à 228832 Inglaterra e em menos de cinco meses escreveu o rascunho do liv ro que viria a ser uma explosiva denúncia da situação As con sequências econômicas da paz foi por um lado um relato por outro uma explicação um tanto polêmica mas foi acima de tudo uma denúncia crítica aos políticos os quais Keynes retratou como limitados gananciosos e desonestos As exigências impostas à Alemanha eram imorais e impossíveis de serem cumpridas Insi stir nos termos do tratado levaria apenas ao desastre Caso aceitem A vingança ousaria prever não deixará de acontecer Nada poderá evitar por muito tempo essa guerra civil final entre as forças de reação e os ímpetos desesperados de revolução Diante dela os horrores da última guerra alemã desaparecerão e a civilização e o progresso de nossa geração serão destruídos não importa quem vença42 O livro se tornou um fenômeno internacional As análises eco nômicas de Keynes foram aclamadas sua sagacidade política cel ebrada e seu estilo admirado Em seis meses a edição inglesa do livro vendeu 100 mil exemplares e em um ano o livro já havia sido traduzido para 12 línguas feito notório quando se trata de uma obra que inclui análises complexas de um acordo inter nacional complicado Agora Keynes era uma figura política global e o economista mais conhecido mundialmente e ele mostrara como as tentativas de restaurar a ordem mundial pré1914 haviam sido fracassadas O surgimento de Keynes como um crítico vigoroso dos atos das grandes potências o redimiu perante seus amigos de Blooms bury Mas a compreensão deles foi logo posta à prova pelo casamento do economista com Lydia Lopokova uma renomada bailarina de São Petersburgo O novo estilo de vida de Keynes chocou a maioria de seus amigos e chegou a enfurecer alguns deles Mas ele continuou casado e feliz com Lydia até a morte 229832 Ao longo da década de 1920 Keynes desenvolveu suas análises sobre as mudanças na política econômica do pósguerra Sua visão econômica anterior era tão ortodoxa quanto seu estilo de vida não era à medida que sua vida se tornou mais tradicional suas ideias econômicas se tornaram mais heterodoxas Keynes desempenhou um papel fundamental no debate sobre a política econômica britânica da década de 1920 sobre como e se o país deveria retomar o padrãoouro O governo desvinculou a libra es terlina do ouro quando a guerra começou e os preços haviam aumentado em 150 Ocorreram quedas substanciais após a guerra e muitas das classes investidoras e financeiras desejavam uma retomada do ouro o mais rápido possível com a taxa de câm bio do préguerra paridade de US486 por libra esterlina Essa medida teria exigido uma deflação maior mas seus de fensores argumentavam que seria relativamente fácil manter os salários e preços baixos como era frequentemente feito sob o padrãoouro clássico Keynes no entanto assim como outros economistas percebeu que preços e salários haviam se tornado menos flexíveis A eco nomia simplesmente não se ajustava como acontecia antes de 1914 Tornouse extremamente perigoso aplicar os princípios econômicos que funcionavam com as hipóteses do laissezfaire e da livre competição a uma sociedade que com rapidez as aban donava43 O principal problema era a rigidez dos preços e em es pecial dos salários que não mais se reduziam conforme era ne cessário para manter as empresas e os empregos estáveis Keynes disse a um grupo de banqueiros londrinos que o empenho em forçar a queda de certos níveis salariais para se alcançar o equilíbrio é quase inútil ou levará muito tempo44 O mundo moderno se desenvolvia em direção a um capital ismo mais organizado mais substancialmente rígido em termos de preços e salários A economia política dos países industriais não era mais a mesma que havia sido na Era de Ouro As 230832 economias mais simples que prevaleciam antes da Primeira Guerra Mundial foram densamente povoadas por produtores agrícolas independentes pequenos negócios e trabalhadores indi viduais Pequenas firmas e trabalhadores autônomos se aproxim avam dos exemplos dados nos livros sobre a economia de mer cado reagiam às condições como receptores de preços aceitando sejam quais fossem os preços e salários ditados pelo mercado Mas as economias industriais haviam mudado As grandes empre sas acumularam poder de mercado suficiente para exercer algum controle sobre os preços Os sindicatos trabalhistas tornaramse mais comuns de modo que os trabalhadores também podiam afetar os salários Mesmo onde os sindicatos eram fracos ou inex istentes a crescente complexidade da produção industrial valori zou uma força de trabalho qualificada e confiável que não poderia simplesmente ser demitida e recontratada ao belprazer do empregador Havia algumas indústrias importantes em que empresas e sindicatos atuavam com mais vigor como definidores de preços determinando com o estabelecimento de limites claro preços e salários A organização mais apurada de muitos dos mercados de bens e trabalho significava que os preços e salários talvez não di minuíssem o necessário para manter ou retomar o equilíbrio da economia ou para permitir que a libra esterlina se fixasse ao ouro com a taxa de câmbio pré1924 As grandes corporações po diam optar por maximizar os lucros vendendo menos carros a preços mais altos em vez de deixar os preços caírem Os trabal hadores organizados em sindicatos podiam resistir contra cortes salariais Empresas de vários segmentos relutavam em demitir os trabalhadores bemtreinados e qualificados que talvez não pudessem readmitir depois Preços e salários reagiam de acordo com a oferta e a demanda mas em muitas das economias indus triais essa reação podia ocorrer de forma lenta e parcial45 231832 Em dezembro de 1923 quando o debate sobre o ouro se acal orava Keynes publicou Breve tratado sobre a reforma mon etária Na obra argumentou que os governos deveriam agir para estabilizar preços e salários em vez de esperar passivamente que eles se ajustassem Em uma de suas passagens mais famosas Keynes ridiculariza o argumento da ortodoxia de que problemas de ajustes de curto prazo devem ser ignorados para permitir que o mecanismo do mercado e o padrãoouro restabeleçam as con dições normais no longo prazo Esse longo prazo é um guia errado para as questões atuais A longo prazo estaremos todos mortos Os economistas se colocam numa posição muito fácil Tarefa demasiadamente inútil se durante a época de tormentas a única coisa que podem nos dizer é que após a tem pestade o mar ficará calmo de novo46 Keynes foi radicalmente contra a tentativa de fixar novamente a libra esterlina no ouro com a mesma taxa de câmbio de 1914 Após os conservadores terem chegado ao poder no fim de 1924 a decisão coube ao encarregado do Tesouro Winston Churchill Nos meios públicos de comunicação em cartas privadas e diante de qualquer comitê parlamentar Keynes argumentava que a política necessária para que a libra voltasse à sua taxa préguerra provavelmente viria a se mostrar social e politicamente impos sível47 Ele se opunha àqueles que desejavam forçar a queda dos salários dos trabalhadores como os das minas de carvão para acelerar o processo de ajuste Assim como ocorreu com outras vítimas de transições econômicas no passado aos mineiros serão oferecidas duas opções fome ou submis são sendo que o resultado de sua submissão aparecerá como benefí cio para outras classes Mas frente ao desaparecimento de uma mo bilidade efetiva no trabalho e de um nível salarial competitivo entre indústrias estou em dúvida se eles não estão em condições piores de 232832 alguma forma que seus avôs Eles e outros que os seguirão são os sacrifícios moderados ainda necessários para garantir a estabiliza ção do padrãoouro48 Ele perdeu a batalha mas venceu a guerra Churchill optou pelo ouro e em abril de 1925 a libra retomara a paridade do pré guerra O resultado disso foi estagnação e uma alta taxa de desemprego em todo o Reino Unido até que a Grande Depressão tornasse a situação ainda pior Nesse meio tempo Keynes fez com que sua denúncia de uma política pública equivocada ecoasse Ele publicou um panfleto intitulado As consequências econômicas do senhor Churchill no qual explicava as sérias implicações da me dida adotada Ocasionalmente Keynes atacava o próprio padrãoouro a es sência da visão de mundo clássica Ele rotulou o padrãoouro como uma relíquia bárbara e exigia uma política monetária ativa que mantivesse o emprego e a economia estáveis No decor rer da década de 1920 Keynes apurou suas ideias o que culminou com a publicação de Tratado sobre a moeda Ele contou a um diretor do Banco da Inglaterra ter ficado alarmado Ao ver o senhor e outros em exercício atacando os problemas do mundo modificado do pósguerra com as mesmas ideias e visões do préguerra Fechar a mente para os desenvolvimentos revolucionários no controle do dinheiro e do crédito é semear a queda do capitalismo individualista Não seja o Luís XVI da revolução monetária49 Mas o ouro exercia uma força magnética nas economias polít icas nacionais Representava a estabilidade e a prosperidade da economia mundial pré1914 Abandonar o padrãoouro traria apenas dentro dos conformes a permissão para os governos en fraquecerem suas moedas sem qualquer grande impacto na eco nomia Os defensores do ouro também eram motivados por questões pragmáticas As instituições financeiras e as classes 233832 credoras em geral manejavam bens definidos em moedas fixa das no ouro Uma desvalorização significava um declínio equival ente no valor de ações e títulos emitidos nessas moedas Reduzir o valor digamos da libra esterlina era reduzir o valor dos investi mentos em ações e títulos esterlinos e de outros instrumentos fin anceiros Os defensores do padrãoouro que dispunham de somas milionárias consideravam o compromisso do governo com o ouro uma promessa de assegurar o valor de sua propriedade O ouro protegia os investidores e o ouro os defendia da inflação desval orização era expropriação As ideias de Keynes tinham pouco poder numa batalha com interesses tão sólidos Foram necessári as uma década e uma Depressão para que as objeções de Keynes em relação à ortodoxia passassem a ser vistas com mais confiança Em direção ao vazio O isolacionismo norteamericano privou a economia mundial da atuação de seu principal participante A rivalidade entre as grandes potências bloqueou a cooperação na esfera do comércio do dinheiro e das finanças internacionais A evolução da indústria moderna reduziu a eficácia das políticas econômicas vigentes O cerne dos esforços para restaurar a integração econômica global o padrãoouro quebrouse O capital norteamericano no entanto continuou a entrar na Europa na Ásia e na América Latina apesar da ausência oficial dos Estados Unidos Enquanto o resto do mundo tivesse acesso ao capital e aos mercados norteamericanos a economia global con tinuaria a crescer A infraestrutura entre outras a institucional que ajudou a estabilizar a economia mundial antes de 1914 não existia mais contudo o mundo parecia seguir sem ela O fluxo de 234832 dólares aparentemente sem fim parecia um substituto razoável De qualquer forma não parecia haver outra alternativa a Do inglês gunboat diplomacy termo que se refere à busca de objetivos de polít ica externa utilizando a força ou ameaça direta NT b Do inglês trooper militante das tropas do Partido Nazista o que incluía a SA tropa de assalto e a SS tropa de segurança NT c Do inglês Roaring Twenties termo que se refere à efervescência cultural nos Estados Unidos na década de 1920 NT d O Federal Reserve Act de 1913 sob o governo de Wodrow Wilson determinou a criação do Fed o Banco Central norteamericano NT e Espécie de grêmio estudantil da Universidade Cambridge NT f Posição política a favor do sistema de preferências comerciais para o Império cuja finalidade era proteger a indústria britânica da competição estrangeira NT g Do inglês conscientious objector status recusa voluntária ao alistamento milit ar NT 235832 7 O mundo de amanhã Flushing no Queens era uma área inabitada e pantanosa utiliz ada quando o era como depósito de lixo No entanto em 30 de abril de 1939 após anos de planejamento e obras Franklin D Roosevelt inaugurou a Feira Internacional de Nova York no local A exposição O mundo do futuro exibiu os avanços científicos e industriais de forma espetacular Parece que estamos nos diri gindo de maneira uniforme escreveu um visitante em direção a um futuro esplêndido Aqui estão muitas das invenções criativas geradas pela humanidade Aqui estão os indícios do que a human idade quer ser e fazer1 Sessenta nações estavam presentes com pavilhões na feira de Nova York mas o que mais chamou atenção foram os estandes das empresas A feira apresentou surpresas tecnológicas produtos e técnicas que deixaram perplexas as mais de 50 mil hões de pessoas que a visitaram nos verões do hemisfério norte de 1939 e 1940 No centro os dois símbolos da feira o Trylon e a Pherispery O primeiro monumento era um obelisco branco bastante brilhante de 700 metros de altura o segundo era um globo de dentro do qual os visitantes podiam ver exposto um fu turo próspero e democrático Não era preciso uma imaginação elevada para visualizar os artigos impressionantes expostos em Flushing Na entrada do prédio da RCA Radio Coorporation of America era possível con hecer uma versão especial de uma das novas televisões doméstic as da empresa Como muitos acreditavam que a nova máquina in cluía truques a RCA fez uma tela com base no recémdesen volvido tecido transparente Lucite da Du Pont de forma que to dos os mecanismos internos ficassem expostos O Phantom Tele ceiver fora apenas um de uma série de produtos expostos rela cionados à televisão Uma delas mostrava como uma sala de estar poderia ser remodelada para incluir televisores junto com os rádi os e tocadiscos já existentes além de outros aparatos como um projetor de filmes doméstico e um aparelho de fax O correspond ente do New York Suns escreveu o seguinte sobre a experiência Televisão rádio com imagens Aqui estão as máquinas Também lindas salas de televisão e há telões aqui igualzinho a um cinema As câmeras posicionadas em Nova York e as antenas de emissão estão todas montadas É só ligar o botão e aqui estamos em Flushing vendo um ônibus na Quinta Avenida O milagre do futuro já oper ando no presente2 Foram mostradas novas formas de utilização de energia Al bert Einstein de maneira protocolar acionou o interruptor para a iluminação noturna da feira a primeira vez que eram utilizadas luzes fluorescentes nas ruas A Westinghouse exibiu o cérebro eletrônico Nimatron os primórdios do computador um olho elétrico uma lâmpada ultravioleta esterilizante e um robô cha mado Elektro e seu cachorro Sparko O pavilhão enfatizou a Batalha do século entre dois métodos de se lavar a louça Sra Drudge à mão contra Sra Modern com uma lavalouça elétrica Sem qualquer surpresa afinal essa era uma demonstração da Westinghouse a lavalouça sempre vencia A General Electric 237832 fez uma estrondosa demonstração de raios e trovões produzidos artificialmente O pavilhão da General Motors apresentou a atração mais pop ular da feira o Futurama que levava os visitantes para um tour pelos Estados Unidos de 1960 A exposição intitulada Estradas e horizontes enfatizava como um sistema nacional de estradas de rodagem ainda um sonho transformaria o país O repórter do jornal The Sun retratou como era entrar no Futurama Você pisa num chão em movimento se senta a cadeira reclina e logo a primeira vista do Futurama vai aparecendo como se estivésse mos dentro de um avião em baixa altitude sobrevoando um lindo vale É possível avistar cidades e vilarejos em miniatura exibidos maravilhosamente nos mínimos detalhes E em todos os lugares vemos o tráfego de automóveis contínuo e sem fim Há imagens em miniatura de 50 mil carros em diferentes momentos e 10 mil deles es tavam operando de fato Trafegavam a uma velocidade de 80 quilô metros por hora e ainda mais rápido nas faixas expressas Paravam diante de postos de controle e voavam pelas pontes com diversas pi lastras de sustentação Trens aerodinâmicos ousados no design deslizavam por túneis cruzando altas montanhas e emergiam circu lando por entre os picos nevados Grandes aviões de transporte encontravamse estacionados nos aeroportos enquanto automóveis circulavam entre as rodovias e os aeródromos3 O novo mundo da General Motors com viadutos que per mitiam que o tráfego fluísse sem sinais de trânsito fazia com que Elwyn Brooks White da New Yorker sonhasse com a vida apenas sobre rodas viajando a 160 quilômetros por hora com mano bras até então impossíveis em direção às cidades oficiais do futuro impecável4 Na saída do pavilhão da General Motors os visit antes recebiam broches com a frase Eu vi o futuro A exposição não conseguiu fugir da realidade militar e econ ômica de 1939 A Alemanha não expôs na feira e o pavilhão so viético só foi aberto na edição de 1940 Os pavilhões da 238832 Tchecoslováquia Lituânia e Polônia continuaram abertos até mesmo após a tomada de seus territórios por exércitos invasores Enquanto isso visitas e vendas eram afetadas pelas condições econômicas ainda sob os efeitos da depressão econômica A feira foi à falência e em seu segundo ano passou para uma nova ad ministração Fechou após os dois verões planejados terem sido um fracasso econômico Mas a Feira Internacional de Nova York de 1939 e 1940 foi muito bemsucedida em mostrar as novas tecnologias da época O futuro seria caracterizado por produtos e processos inovadores desenvolvidos e fabricados por imensas entidades corporativas Uma porção de novas invenções o automóvel o rádio a imagem em movimento o avião a geladeira transformaram a vida co tidiana da mesma forma que modificaram as economias modernas Em todas as principais economias exceto na Alemanha a produtividade dos trabalhadores cresceu mais rápido de 1913 a 1950 do que nos 40 anos antes da Primeira Guerra Mundial Mesmo com duas guerras mundiais e crises econômicas a produtividade dos países industriais da Europa ocidental América do Norte e Oceania cresceu mais que o dobro5 Novas in dústrias e produtos importantes foram desenvolvidos e a organiz ação e o gerenciamento das empresas modernas sofreram uma revolução As novas indústrias Os novos produtos e processos industriais foram as fontes mais importantes para o rápido crescimento da produtividade entre 1914 e 1939 A Primeira Guerra Mundial acelerou o desenvolvi mento da indústria química e pouco tempo depois o plástico e as fibras sintéticas em especial o raiom chegaram ao mercado A 239832 utilização de eletricidade na produção superou outras formas de energia uma vez que as redes de eletricidade foram racionaliza das e aperfeiçoadas Foram desenvolvidas novas formas de ligar o aço e refinar o petróleo processos importantes principalmente para a fabricação e o funcionamento de automóveis e aviões Es sas inovações estimularam o crescimento da produtividade e já que a maioria delas exigia operações de larga escala estimularam também a expansão de grandes fábricas e empresas Para a maior parte das pessoas o principal indício do avanço tecnológico foi o aparecimento de novos eletrodomésticos Alguns já existiam antes de 1914 mas apenas como novidades muitos já eram lugarcomum em 1939 e portanto alguns historiadores falam de uma revolução dos bens de consumo duráveis nos anos entreguerras A produção e a utilização nos Estados Unidos ultra passaram as do resto do mundo Antes da Primeira Guerra Mun dial cerca de 10 dos produtos finais comprados pelos norte americanos eram bens de consumo duráveis Em 1929 essa pro porção caiu para 25 Quase todo esse aumento deveuse aos veículos motorizados e aos eletrodomésticos como rádios e ge ladeiras6 Alguns países desenvolvidos não estavam tão atrás dos Estados Unidos no que diz respeito à oferta de bens duráveis apesar de a renda menor a instabilidade política e as guerras re stringirem as operações de mercado A invenção da válvula eletrônica um ou dois anos antes da Primeira Guerra Mundial possibilitou a produção do rádio doméstico e transmissões regulares nos Estados Unidos Holan da e GrãBretanha comprovaram sua viabilidade comercial entre 1920 e 1922 Em 1939 já havia 28 milhões de rádios em lares dos Estados Unidos 14 milhões na Alemanha nove milhões na Grã Bretanha e cinco milhões na França A geladeira doméstica começou a ser comercializada nos Estados Unidos em 1916 Custava US900 quase o dobro de um Ford T e para que um tra balhador da indústria de renda mediana ganhasse esse valor 240832 levaria cerca de 18 meses No entanto até o fim da década de 1920 o preço médio do produto havia caído para menos de US300 valor bem abaixo do novo Modelo A da Ford um trabal hador comum podia agora pagar por uma geladeira com três meses de salário Nesse momento por volta de um milhão de unidades por ano passaram a ser vendidas às vésperas da Se gunda Guerra Mundial as vendas anuais atingiram quase três mil hões e metade dos lares norteamericanos tinha uma geladeira Aquecedores fogões elétricos e aquecedores de água se prolifer aram ao longo da década de 1920 tanto nos Estados Unidos quanto na Europa Os aparelhos elétricos menores como ferros de passar e aspiradores de pó também se tornaram produtos comuns para as famílias dos Estados Unidos e da Europa ocident al7 Isso sem falar nas pequenas conveniências aquelas cuja aus ência é difícil imaginar como o zíper as fitas adesivas e o pão de forma inventado em 1924 O avião estava no outro extremo do espectro de novos produtos acessíveis Antes da Primeira Guerra Mundial o avião era uma curiosidade pouco usada para o transporte A primeira cabine para passageiros fora exibida apenas alguns anos antes da guerra o que também estimulou o desenvolvimento do design Em 1930 as viagens aéreas tomaram vida própria Continuavam a ser um gasto proibitivo para a maioria das pessoas e o bimotor DC3 cuja capacidade era de 21 passageiros começou a operar apenas em 1936 Em 1939 no entanto o transporte aéreo já es tava estabelecido o que incluía as rotas transoceânicas da Pan American Airways O impacto do rádio da geladeira do avião e até mesmo do zíper na vida das décadas de 1920 e 1930 pode ser comparado ao do automóvel Os veículos motorizados transformaram a so ciedade concederam uma mobilidade individual nunca antes vista e livraram os cidadãos das desvantagens dos transportes 241832 públicos assim como certa vez as ferrovias os livraram da tirania dos transportes aquáticos A produção automobilística veio a ser o cerne das economias modernas Os veículos motorizados logo se tornaram a maior in dústria em todos os principais países desenvolvidos e muitas out ras se dedicavam a satisfazer a necessidade de recursos para a produção de automóveis Em 1929 quando os Estados Unidos produziam 54 milhões de motorizados essa indústria era a re sponsável por cerca de 50 do consumo nacional de estanho níquel e aço e mais da metade de todo o consumo de lâminas de aço Também utilizava por volta de 13 da produção nacional de alumínio e 34 ou mais da de vidro e borracha8 A indústria que mal existia 50 anos antes em 1913 os Estados Unidos produziam menos de meio milhão de carros agora dominava a economia O surgimento meteórico da indústria automobilística foi espe cialmente acentuado nos Estados Unidos A renda alta e as grandes distâncias tornaram o automóvel atraente em particular para as famílias norteamericanas Em 1921 mais de dez milhões de carros circulavam pelas estradas do país uma proporção de mais de dez veículos para cada europeu A indústria europeia foi prejudicada por contar com mercados domésticos menores e por ter começado mais tarde a produção em massa Assim no contin ente o carro era bem mais caro do que nos Estados Unidos Em 1922 um trabalhador norteamericano bem pago podia comprar um Ford T com o salário de dez semanas enquanto um francês nas mesmas condições demoraria por volta de um ano para eco nomizar dinheiro suficiente que permitisse ter um carro semel hante o Citroën 5 CV Os europeus no entanto logo aderiram à era automotiva Se antes para cada dez veículos motorizados registrados nos Estados Unidos havia um na Europa em 1930 após dez anos de vendas vertiginosas essa relação caiu chegando a cinco para um Em 242832 meados da década de 1930 as indústrias automotivas na Grã Bretanha passaram a ser o principal consumidor de recursos in dustriais como aço e estanho Mesmo a indústria automotiva não sendo tão importante para a Europa ocidental quanto para os Estados Unidos ela continuava a ser a mais importante indústria de todas as grandes economias O automóvel passou a caracterizar a indústria moderna Em 1939 havia 29 milhões de veículos motorizados nas estradas norteamericanas oito milhões na Europa e mais alguns milhões em outras partes do mundo Outros sete ou oito milhões de carros por ano passaram a ser produzidos e a tendência em todo o mundo era que esses números aumentassem As novas corporações A indústria automobilística deu ênfase às inovações adminis trativas e organizacionais que geraram as corporações modernas Entre 1914 e 1939 muitos dos avanços em termos de produtivid ade não teriam sido possíveis sem os novos padrões de empresas que se desenvolveram junto com os recémcriados produtos e tecnologias Grandes empresas não eram novidade O movimento em direção ao truste das décadas anteriores a 1914 criou alguns oli gopólios industriais Algumas dessas grandes empresas como as responsáveis pelas estradas de ferro foram um presságio das novas formas de organização uma vez que administravam in teresses econômicos complexos e interligados No entanto no iní cio muitos trustes e holdings eram simplesmente uma tentativa de restringir a competição semelhante ao que ocorria com os grandes negócios dos príncipes mercadores se voltarmos aos tempos da Companhia Britânica das Índias Orientais 243832 As novas empresas do período entreguerras no entanto agru pavam operações independentes em uma única corporação integ rada de plantas múltiplas com o intuito de solucionar problemas complicados de coordenação Atividades muito diferentes pesquisa design produção distribuição propaganda que antes eram desempenhadas separadamente foram reunidas em um ún ica firma e agora acompanhavam o produto da matériaprima à compra final passando pelo serviço de atendimento ao consum idor e pelos processos de financiamento Os avanços tecnológicos que aumentaram a escala da produção foram os responsáveis por parte da evolução das cor porações Em 15 anos entre 1914 e 1929 os altosfornos as usinas metalúrgicas e as fábricas de tinta dos Estados Unidos em média triplicaram ou quadruplicaram sua produção Em 1909 uma fábrica norteamericana típica de bicicletas contava com 46 tra balhadores e produzia sete unidades por dia Em 1929 a mesma fábrica passou a contar com 209 empregados e a produzir 45 bi cicletas todos os dias As novas economias de escala eram óbvias no ramo de automóveis O feito mais importante ocorreu quando Henry Ford inventou a linha de montagem em 1913 dez anos após a criação da sua fábrica de carros Ford e cinco anos depois do lançamento do Modelo T A inspiração veio das linhas de desmontagem dos empacotadores de carne de Chicago nas quais as carcaças dos an imais eram retiradas dos vagões de carga e rapidamente voltavam para os trens em latas caixas e engradados A linha de montagem reduziu o trabalho manual à simples repetição aumentou a velo cidade da montagem e transformou o processo de fabricação em produção de massa As linhas de montagem instaladas na sede da Ford em High land Park em 1913 reduziram o tempo de fabricação de um chassi do Modelo T de 12 horas para 90 minutos9 Em 1909 antes da implementação da linha de montagem uma fábrica comum 244832 contava com menos de 200 trabalhadores e produzia menos de dez carros por semana Em 1929 uma típica fábrica do ramo empregava cerca de mil trabalhadores e produzia mais de 400 carros por semana Embora existissem mais fábricas de carros nos Estados Unidos em 1909 do que em 1929 no primeiro ano a produção automobilística era de 126 mil unidades no segundo era de 54 milhões e um trabalhador médio dessa indústria produzia dez vezes mais carros em 1929 que em 190910 As fábricas desse porte e grau de produtividade não necessari amente exigiam que os donos fossem uma grande corporação Havia imensas fábricas têxteis por todo o mundo industrial mas em geral elas eram especializadas podendo ser inclusive a única fábrica de uma empresa A maioria das indústrias tinha uma série de etapas separadas para transformar a matériaprima para os mercados e cada passo era desempenhado por uma empresa inde pendente As plantações intensivas cultivavam o algodão a fer rovia o levava aos portos os navios o carregavam até os usuários as tecelagens o transformavam em tecidos e os atacadistas os vendiam para as fábricas de roupas ou varejistas Mesmo quando as unidades associadas eram grandes e estradas de ferro navios e empresas têxteis podiam ser muito grandes elas desempen havam uma ou poucas atividades relacionadas Na verdade li davam na maior parte das vezes com clientes e fornecedores à dis tância As tecelagens e as fábricas de roupa compravam o algodão ou tecidos de diversas fontes e vendiam seus produtos nos merca dos abertos Os fabricantes de carros perceberam que esse tipo de organiz ação não funcionava bem para eles Os automóveis utilizam cen tenas até milhares de componentes e partes diferentes Muitas das partes utilizadas para produzir um Chevrolet ou um Ford Modelo A eram específicas desses modelos e tipos de fabricação e não havia um mercado prontamente à disposição Isso fazia com que os fabricantes de automóveis ficassem à mercê dos 245832 fornecedores e em contrapartida que os fornecedores ficassem à mercê dos fabricantes de carros A fidedignidade de cada parte era crucial para a outra e não havia espaço para erros A natureza única de muitos dos componentes e peças também dificultava que fossem acordados preços justos pois os produtos tinham apenas um fornecedor e um comprador Dessa forma a relação das empresas de carros com os fornecedores e com os distribuidores era precária O atraso por parte de um fabricante poderia pôr em risco uma linha completa de carros da mesma forma que um at raso numa linha de carros colocava em risco a sobrevivência dos fabricantes de peças Henry Ford logo percebeu que necessitava de uma fonte con fiável de peças para que sua linha de produção funcionasse com eficiência Durante a Primeira Guerra Mundial ele começou a construir um enorme complexo integrado no rio Rouge nos arre dores de Detroit A fábrica passou a funcionar com 120 mil trabal hadores e revolucionou a manufatura moderna Dois histori adores especializados na indústria automotiva escreveram A Rouge que cobria uma área de 800 hectares e abrigava a mais longa linha de montagem do mundo era tanto o coração do império industrial de Henry Ford quanto um monumento ao empresário O ferro e o cobre chegavam em seus próprios navios recémescavados de suas próprias minas A borracha era importada de uma plantação que Ford tinha no Brasil A madeira era colhida em terras dele A Ford Motor Company tornouse a maior empresa privada do mundo11 O vasto e interconectado processo de produção desenvolvido por Ford era tão extraordinário que em muitas partes do mundo moderno a produção em massa veio a ser chamada de fordismo A General Motors uma holding desde 1908 quando foi cri ada foi a grande inovadora da indústria em termos gerenciais Durante a década de 1920 Alfred P Sloan e sua equipe criaram 246832 um sistema de gerenciamento sofisticado Dividiram a empresa em unidades de produtos claramente diferenciados Chevrolet Cadilac Oldsmobile e mais tarde criaram a GM produtora de tratores refrigeradores e aviões que operavam separadamente mas contavam com uma administração comum A GM passou a tomar conta de cada vez mais elementos da ca deia de produção e venda de seus carros Assim como ocorreu com a Ford a empresa encontrava dificuldades para assegurar e manter fornecedores confiáveis de peças essenciais No início o fornecedor independente mais importante da GM era a Fisher Body empresa que produzia os chassis de todos os carros No ent anto após uma década de dificuldades contratuais e outros prob lemas a GM passou a controlar a Fisher Body em 1919 A gerência da GM resolveu nunca mais permitir que suas imensas operações se tornassem reféns de fornecedores ou distribuidores pouco confiáveis Em meados da década de 1920 muitos dos fornecedores mais importantes da empresa como a AC Spark Plugs a Delco e a Fish er Body pertenciam totalmente à GM ou tinham com a firma um acordo de quase exclusividade A General Motors Acceptance Coorporation enorme subsidiária financeira da empresa emprestava dinheiro aos seus clientes para que eles pudessem comprar seus carros a tempo A corporação também se utilizava de sua posição influente nos ramos da pesquisa industrial produção e do marketing para introduzir novas linhas de bens de consumo como a geladeira doméstica Frigidaire Os gerentes aplicavam métodos novos na pesquisa no desen volvimento e no marketing Os fabricantes de automóveis que precisavam organizar e proteger os novos avanços técnicos pas saram a concentrar a pesquisa industrial sob seus próprios tetos em vez de comprála de laboratórios que poderiam revelar in formações confidenciais à concorrência O mesmo se aplicava ao marketing desses produtos cuja imagem era tão importante A 247832 General Motors e outros fabricantes de carros trouxeram o design a engenharia a propaganda e o marketing para dentro da rede corporativa As corporações desse novo tipo mantinham sua expertise em tecnologia gerenciamento e marketing dentro da empresa En quanto uma parte importante da história automotiva tenha se passado quando em 1929 mais de cinco milhões de carros foram produzidos nos Estados Unidos nas linhas de montagem de apenas 244 fábricas um fato mais importante era que três enormes firmas General Motors Ford e Chrysler fabricaram mais de 45 de todos esses carros As novas corporações eram fábricas múltiplas As empresas automotivas diversificaram as fábricas passando a abrigar mais do que apenas linhas de montagem Elas passaram a fabricar to dos os componentes das velas de ignição às janelas de vidro de seus automóveis As novas empresas automotivas também con tavam com uma estrutura administrativa que coordenava e ad ministrava o elaborado processo de produção e distribuição dos automóveis A corporação moderna separava o gerenciamento da propriedade já que a administração de um empreendimento de tamanha complexidade era uma atividade profissional que exigia especialistas qualificados As empresas familiares desse ramo es tavam numa posição desvantajosa em relação às sociedades anôn imas administradas por profissionais As corporações automotivas também eram integradas vertic almente unificando os sucessivos estágios de produção e dis tribuição A maior parte das indústrias inicialmente controlava um processo industrial específico e as empresas automotivas também começaram dessa forma comprando peças e montando os carros Mas com o passar do tempo elas passaram a se integ rar tanto de forma retrógrada controlando o fornecimento de re cursos não finalizados quanto de forma avançada gerenciando a distribuição e venda de seus produtos Essa integração vertical 248832 significava que um fabricante de carros deveria conter divisões para escavar minério de ferro e carvão fundir o aço produzir os chassis e as peças desenhar e montar os carros mandálos para todo o país por meio das ferrovias de propriedade da própria empresa anunciálos e vendêlos por meio de redes corporativas além de financiar as compras através do braço financeiro da empresa As corporações automobilísticas eram as líderes em produção e distribuição em massa e integração vertical Elas trouxeram para dentro da empresa uma série de atividades que anteriormente eram desempenhadas nos mercados abertos pesquisa design produção distribuição e marketing Essas empresas também eram supervisionadas por sedes adminis trativas que se especializaram em administração não na produção de carros propriamente dita Entre as novas corporações os fabricantes de carros eram apenas os de maior visibilidade Os Estados Unidos eram cada vez mais dominados por grandes corporações diversificadas e vertic almente integradas As novas empresas atuavam em negócios que dependessem de produção e consumo de massa inovação tecnológica e em geral de identificação do cliente Havia alguns fabricantes de bens de consumo não duráveis cuja marca era im portante como comida industrializada cigarros e artigos de higiene Armour Borden Pilsbury Campbell Swift American Tobacco e Procter Gamble O outro tipo encontravase nos bens de consumo duráveis nos automóveis é claro mas também em outros tipos semelhantes de produtos e apetrechos Firestone Remington Eastman Kodak Singer General Electric e Westing house Um tipo similar de empresa produzia maquinário para uso industrial e agrícola em oposição ao doméstico AllisChalmers American Can Deere International Harverster as metalúrgicas e as siderúrgicas Por fim havia as empresas de químicos Du Pont Alliad Chemical Union Carbide e todas as grandes empresas de petróleo12 249832 Esses gigantes da indústria transformaram a produção e o consumo de formas jamais imaginadas O design a propaganda e o marketing concentrados na corporação pareciam moldar a de manda dos clientes de forma a adequála aos fornecedores e não o contrário Além disso é evidente que o domínio corporativo sobre os mercados fez surgir o fantasma do comportamento anti competitivo Esse fato era verdadeiro tanto porque as novas cor porações agora internalizavam mais as suas operações quanto por causa do risco óbvio de choque entre poucas grandes empresas que dominavam um número cada vez maior de indústrias Na realidade embora a General Motors fosse uma líder em automó veis ela também pertencia a um grupo maior A Du Pont era a principal acionista da GM e Pierre Du Pont era o presidente do conselho da General Motors Em contrapartida a GM era a maior cliente da Du Pont pois utilizava grandes quantidades da tinta de secagem rápida da empresa no revestimento de seus carros Cada vez mais o que antes era governado pelos mercados parecia ser feito por relações exclusivas dentro de grandes corporações ou entre elas As novas corporações também trouxeram a pesquisa e o desenvolvimento de projetos para dentro de suas próprias empre sas Antes da virada do século a maior parte das inovações era desenvolvida por cientistas e engenheiros isolados ou por grupos de laboratórios independentes Quando a necessidade por novas pesquisas e desenvolvimentos aumentou o mesmo ocorreu com o desejo de manter as descobertas em sigilo Assim cada vez mais a pesquisa industrial passou a fazer parte das novas corporações e a ser feita em laboratórios internos controlados A era do inventor simbolizada por Thomas A Edison ruiu e foi substituída pela pesquisa e desenvolvimento de projetos corporativos As empres as preocupadas em controlar seus próprios horizontes tecnológi cos se expandiram de forma espetacular criando laboratórios científicos internos Em 1921 cerca de 2800 cientistas 250832 trabalhavam nesses laboratórios corporativos Até 1946 46 mil profissionais passaram a trabalhar nas instalações de pesquisas industriais e esses laboratórios internos abrigavam 93 de todos os cientistas empregados na indústria As contratações de cientis tas como parcela de funcionários empregados na indústria aumentaram sete vezes nesses 25 anos A imagem do inventor sozinho em um pequeno laboratório desapareceu e foi substituída pelos laboratórios da Bell Telephone ou por outras instalações semelhantes controladas pela Du Pont pela General Electric e empresas afins13 As atividades de pesquisa e desenvolvimento eram integradas principalmente nas indústrias dominadas pelas corporações mod ernas uma vez que os motivos que trouxeram a ciência para den tro das empresas eram os mesmos que as levaram a incorporar as outras etapas do processo industrial Em 1940 mais de 45 das equipes de pesquisa das fábricas pertenciam aos setores que tam bém eram os mais fortes da nova organização corporativa comida processada químicos petróleo borracha maquinário ferra mentas e equipamentos para meios de transporte14 As novas cor porações transformaram não apenas a forma pela qual os produtos eram feitos anunciados e distribuídos mas também a maneira como os processos e os produtos eram inventados desenvolvidos e desenhados Os Estados Unidos lideraram o caminho para as novas formas corporativas mas outros países industriais não ficaram muito at rás As trajetórias rumo às novas corporações no entanto vari aram15 Devido à longa tradição europeia de formação de cartéis era comum alguns desses conglomerados se organizarem em empresas integradas horizontalmente Por exemplo a sexta maior empresa alemã de químicos operou como uma federação frag mentada de empresas de 1916 a 1925 quando decidiu unilas formando a IG Farben16 As empresas britânicas tendiam a ser mais lentas na adoção de novas formas organizacionais talvez por 251832 se contentarem com as relações de longa data já estabelecidas com clientes e fornecedores das nações industriais mais antigas A França foi ainda mais lenta provavelmente por causa do atraso de seu mercado consumidor e do sistema financeiro Por mais que houvesse retardatários às vésperas da Segunda Guerra Mundial todas as principais economias industriais já estavam sob o domínio de grandes corporações diversificadas e integradas As novas empresas multinacionais As novas corporações também atravessaram as fronteiras As empresas multinacionais modernas apareceram pela primeira vez de forma significativa na década de 1920 A liderança novamente era dos Estados Unidos e o automóvel mais uma vez foi a quint essência desse tipo de empresa Empresas norteamericanas es tabeleceram ou compraram milhares de subsidiárias na Europa no Canadá e na América Latina Havia muito tempo que os investidores iam para o exterior em busca de lucros mas a maneira como essas buscas eram feitas es tava se transformando Durante a Era Clássica grandes quan tidades de capital fluíam da Europa ocidental A maior parte na forma de empréstimos nos quais as empresas ou governos es trangeiros simplesmente pegavam dinheiro para ser gasto da forma que bem entendessem Em outras palavras o controle dos investimentos estava nas mãos de quem tomava emprestado Al guns dos investimentos internacionais europeus eram de fato diretos cujo controle administrativo ficava a cargo do investidor europeu Mas quase nenhum dos investimentos diretos antes da Primeira Guerra Mundial seguia para o setor industrial Em geral eles se destinavam às matériasprimas e aos produtos agrícolas minas de cobre plantações de banana seringueiras campos de petróleo ou infraestrutura e ferrovias Esse também era o caso dos 252832 Estados Unidos que antes de 1914 enviavam a maior parte de seus investimentos diretos para a América Latina em especial para a produção primária As corporações norteamericanas integradas verticalmente ex pandiram seu horizonte no exterior introduzindo as empresas multinacionais de manufaturados MNCs Junto com elas iam novos produtos bem como novas técnicas de gerenciamento marketing e produção Logo os carros os utensílios e as marcas norteamericanos se espalharam pelos lares da Europa e do Canadá A Ford a Westinghouse e outras empresas utilizaram sua experiência na construção de redes de fábricas fornecedores e distribuidores pelos Estados Unidos para estabelecer estruturas similares na Europa Em certa medida o processo foi acelerado pelas barreiras comerciais europeias que por dificultarem as ex portações dos Estados Unidos para o Velho Continente deram motivos para que os norteamericanos pulassem os muros tari fários e instalassem fábricas locais No entanto o verdadeiro ím peto para a expansão das empresas fora o mesmo que prevaleceu dentro dos Estados Unidos a vantagem das corporações integra das em produzir e vender os bens de produção e de consumo de massa Em 1929 os investimentos diretos norteamericanos já haviam chegado aos US79 bilhões o equivalente a mais de 5 de toda a riqueza agrícola e industrial dos Estados Unidos em 1900 estava acima de 2 Cerca da metade desses investimentos era destinada à América Latina e altamente voltada para a produção e transformação de bens primários O resto na maior parte das vezes seguia para Europa e Canadá No entanto em ambos os casos o grosso dos investimentos norteamericanos se destinava ao setor fabril17 As empresas norteamericanas pos suíam cerca de 400 subsidiárias na GrãBretanha 200 na Ale manha e outras 200 na França 253832 As corporações norteamericanas abrangiam quase todos os novos campos dominados pelos produtos processos produtivos e formas corporativas do país Quatro dessas indústrias veículos motorizados maquinário químicos e produtos de borracha cor respondiam a mais da metade das empresas manufatureiras mul tinacionais embora significassem menos de 15 dos investimen tos domésticos na indústria Até 1930 as filiais locais da Ford e da General Motors já haviam se tornado as líderes da indústria auto motiva no Reino Unido e na Alemanha No Reino Unido a Ford e a Vauxhall da GM eram responsáveis por uma parcela signific ativa da produção nacional de veículos motorizados na Ale manha a Ford e a Adam Opel da GM controlavam metade de to do o mercado de automóveis18 A International Harvester East man Kodak Singer Otis Elevator General Electric e Gillete levaram sua produção e seus produtos para a Europa e foram to das muito bemsucedidas Mecanização no campo O declínio completo de uma agricultura ultrapassada no mundo desenvolvido foi mais um motivo para o rápido crescimento da produtividade Esse processo foi socialmente doloroso mas sem dúvida aumentou a eficiência econômica Antes da Primeira Guerra Mundial cerca de 13 da população de um país industrial padrão era formado por produtores agrícolas No fim da Segunda Guerra Mundial essa proporção caiu para menos de 16 e di minuía de forma rápida Tal tendência era evidente até mesmo nos dois casos mais extremos a França agrária e a GrãBretanha industrial Na primeira em 1913 os produtores agrícolas corres pondiam a 41 da força de trabalho proporção essa que caiu para 28 em 1950 no Reino Unido os números correspondentes eram 12 e 5 A migração dos trabalhadores das atrasadas 254832 fazendas para as avançadas indústrias e serviços no geral aumentou a produtividade embora tenha em parte destruído o estilo de vida e as comunidades rurais O surgimento de novas máquinas incluindo equipamentos agrícolas estava intimamente ligado à modernização da agricul tura A mecanização da produção agrícola norteamericana aumentou de forma dramática a possibilidade de alguns poucos trabalhadores talvez uma família somada à mão de obra sazonal de cultivar fazendas enormes Entre a Primeira Guerra Mundial e o fim da década de 1940 a produção por fazendeiro disparou nos Estados Unidos Por volta de 1915 cada agricultor demorava uma hora para produzir um bushel de trigo 13 de um bushel de milho ou três bushels de algodão Trinta anos mais tarde um único homem podia produzir três vezes mais trigo e milho e o dobro de algodão durante esse mesmo tempo Os rendimentos por hectare não aumentaram muito no decorrer do período mas o maquinário reduziu drasticamente a necessidade de trabal hadores agrícolas19 A agricultura europeia já deficiente devido à Primeira Guerra Mundial sofreu ainda mais com as importações de produtores mais eficientes do Novo Mundo da Austrália e dos países em desenvolvimento Antes da guerra a Europa produzia 56 do trigo mundial mas até o fim da década de 1920 passou a produzir apenas 39 Mesmo em termos absolutos a produção europeia de grãos encolheu no total a produção de trigo sofreu uma re dução de 20 em 15 anos de pouco antes da Primeira Guerra Mundial ao fim da década de 1920 A agricultura europeia mais extensiva como a produção de grãos sobreviveu apenas por causa dos subsídios do governo e da proteção comercial A mecanização completa da agricultura norteamericana e o advento da era do automóvel significaram o fim do estilo de vida rural tradicional nos Estados Unidos O símbolo desolador das di ficuldades que o país enfrentava no campo o êxodo de centenas 255832 de milhares de produtores agrícolas para a Califórnia fugidos das tempestades de poeiraa que atingiam os estados de Arkansas e Oklahoma foi apenas a expressão mais ilustrativa de como a in dustrialização definitiva esvaziou as terras cultiváveis do país Apesar de a experiência europeia ter sido menos dramática no continente milhões de produtores agrícolas também abandon aram as zonas rurais e foram para as cidades A vida rural típica europeia não sobreviveu ao agressivo ataque em conjunto de ali mentos importados mecanização e automóveis Alguma produção agrícola tradicional foi mantida ao longo da década de 1950 prin cipalmente nas áreas mais atrasadas ou por meio da ajuda fin anceira dos governos Contudo a Europa não era mais agrícola De forma brutal os trabalhadores norteamericanos e europeus foram obrigados a sair de onde eram abundantes e a rumar para onde eram necessários As novas sociedades As mudanças tecnológicas e organizacionais também afetaram a estrutura social e a política dos países industriais A mais óbvia foi o surgimento da classe operária e de partidos socialistas e comunistas aos quais esta se afiliava À medida que a indústria se transformava em fábricas e empresas enormes a força dos trabalhadores aumentava Em ger al as grandes fábricas e empresas eram mais propícias à form ação de sindicatos tanto por causa da concentração de pessoas o que tornava a organização dos trabalhadores mais efetiva quanto porque as grandes corporações não podiam cultivar os mesmos laços personalistas com seus empregados que as empres as menores Além disso as grandes corporações das novas in dústrias tendiam a ser menos hostis à sindicalização que as velhas indústrias ou que aquelas de produção em pequena escala Uma 256832 empresa como a General Motors apresentava uma série de carac terísticas que a tornava menos contrária aos sindicatos que por exemplo uma firma do ramo têxtil Primeiro as firmas automot ivas dependiam de operações integradas complexas e neces sitavam de uma mão de obra estável e confiável por esse motivo pagavam salários mais altos A sindicalização podia ajudar a garantir a estabilidade da força de trabalho e muitas vezes os sindicatos de forma consciente garantiam isso Segundo nas novas indústrias os gastos com salários correspondiam a uma parcela bem menor dos custos de produção que nas velhas in dústrias de trabalho intensivo grande parte do valor gasto na produção passou a ser em maquinário pesquisa desenvolvimento de projetos e marketing Terceiro o movimento do período en treguerras em direção à proteção industrial significou que aumentos nos salários não causariam ameaças competitivas por parte dos importados Quarto uma vez que essas empresas ten diam a dominar seus mercados com produtos que contavam com a fidelidade do consumidor elas podiam incluir em geral o aumento de salários nas mercadorias sem que houvesse grande queda nas vendas Os norteamericanos não iriam trocar os carros da GM por Fords se os preços aumentassem um ou dois pontos percentuais e especialmente não trocariam de empresa se tanto a GM quanto a Ford fossem sindicalizadas e os preços subissem ao mesmo tempo O fortalecimento dos sindicatos complementou a dominação crescente das grandes corporações na Europa ocidental e nos Estados Unidos As firmas se tornavam cada vez maiores e pas saram a controlar ainda mais seus mercados era natural que os trabalhadores tentassem fazer o mesmo para tomar o controle de suas condições de trabalho Poucos capitalistas acolheram os sin dicatos mas as novas corporações não eram tão violentas em re lação a eles quanto as empresas mais antigas menores e mais in tensivas em termos de mão de obra 257832 A Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão da década de 1930 deram um grande empurrão para o crescimento dos mo vimentos trabalhistas A guerra aumentou a influência dos trabal hadores em todos os lugares Por um lado a ida de milhões de jovens para o front gerou escassez de mão de obra e assim os que ficaram foram valorizados Por outro lado quase todos os movi mentos socialistas apoiaram os esforços de guerra de seus países durante e depois da batalha e assim foram recompensados com uma tolerância maior para as atividades operárias e com progra mas governamentais Além disso o choque causado pela Re volução Russa de 1917 e pelos movimentos de insurreição da Europa central logo após a Primeira Guerra Mundial levou muitos governantes a adotarem medidas que tornassem os movimentos e partidos trabalhistas mais moderados Este foi um preço justo a ser pago a fim de impedir o crescimento do bolchevismo em casa A depressão econômica da década de 1930 também impulsion ou o movimento trabalhista A crise tornou mais atraentes os sin dicatos que protegiam os operários em seus locais de trabalho e os partidos de base trabalhista que os protegiam na arena polít ica Após a catástrofe nazista de 1933 os comunistas deixaram de lado sua hostilidade em relação aos partidos socialistas menos re volucionários em nome de uma aliança com outras organizações progressistas Isso fez com que governos de esquerda e centroes querda fossem uma alternativa para muitos dos países europeus que continuavam democráticos Os fracassos dos partidos tradi cionais a ameaça fascista e a expectativa por governos de base trabalhista levaram massas de trabalhadores e outros para a esquerda A influência trabalhista cresceu de forma mais acentuada na arena política europeia Em quase todos os países os partidos tra balhistas eram o mais ou o segundo mais votado Em geral eles recebiam mais de 13 do total de votos Em um dos extremos es tava a GrãBretanha onde o Partido Trabalhista conseguiu 258832 apenas 30 dos votos em 1922 No outro extremo a Alemanha uma vez que os dois partidos socialistas juntos quase alcançaram a maioria dos votos em 1919 Ao longo da década de 1920 os vo tos para os socialistas aumentaram rapidamente Alguns dos que os apoiavam aderiram aos novos partidos comunistas principal mente na França e na Alemanha Na maioria dos casos os movi mentos socialistas conseguiam manter partidos fortes e uma in fluência política substancial no mínimo fazendo parte da coalizão governante em muitos países da Europa ocidental dur ante a década de 1920 A Grande Depressão levou governos de esquerda ou coalizões de esquerda ao poder na maioria das democracias europeias dur ante no mínimo um mandato de teste O Partido Trabalhista britânico a Frente Popular francesa e uma onda de governos so cialistas na Escandinávia reformularam o mapa político da Europa uma vez que os párias políticos de outrora foram convo cados a lidar com as condições desesperadoras Algumas exper iências fracassaram como os trabalhistas na GrãBretanha e de forma mais sangrenta a Frente Popular espanhola Outros deram início a uma evolução democrática duradoura como na Escand inávia onde o socialismo se solidificou em meados da década de 193020 Alguns também consideram o New Deal de Franklin Roosevelt e a transformação do Partido Democrata como um movimento semelhante em direção ao centroesquerda nos Esta dos Unidos Quaisquer que fossem as particularidades de cada nação em todas as democracias houve um claro movimento para a esquerda rumo ao qual seguia o cerne das classes trabalhadoras e muitos outros e o qual diversas vezes terminava com a tomada do poder em época de eleições A direita também reagiu de forma bem semelhante embora definitivamente oposta Surgiram novos tipos de movimentos de extrema direita de nomes diversos mas em última instância to dos foram inspirados pelo fascismo introduzido por Benito 259832 Mussolini na Itália e transformado pelos nazistas na Alemanha Em meados da década de 1930 na maior parte da Europa a nova direita fascista já havia se tornado poderosa As questões econôm icas foram o pano de fundo para o surgimento da ultradireita O que havia de diferente nessa nova direita não era o antissocial ismo ou o nacionalismo extremados nem mesmo o antissemit ismo mas a combinação dessas formas de reação tendo como base massas passionais capazes de serem mobilizadas nas ruas e nas urnas A ultradireita se fortalecia com os transtornos sociais e o descontentamento causado por mudanças estruturais nas eco nomias industriais Com a dominação de enormes corporações nos países industrializados a classe que os marxistas chamavam de petite bourgeoisie ou middle strata foi comprimida Os pequenos negócios se depararam com a concorrência violenta das grandes corporações enquanto os pequenos produtores agrícolas eram confrontados pelos importados baratos e pelo crescimento da agricultura de larga escala e a mecanização intensiva na pró pria Europa Quase todos os movimentos ultranacionalistas ou de ultra direita encontraram sua principal base de apoio nas massas de pequenos comerciantes ou pequenos produtores agrícolas ou em ambos Esses dois grupos foram os mais atingidos pelos desenvol vimentos do período entreguerras e tinham pouca voz nas institu ições políticas que haviam evoluído na direção da divisão de classes entre trabalho e capital prevista e estimulada por Marx Os comunistas e os socialistas eram os que mais se opunham às grandes corporações mas os pequenos empresários e proprietári os de terra não viam com muita simpatia as exigências dos movi mentos trabalhistas Tampouco os partidos conservadores e de tradição liberal com sua forte inclinação pela estabilidade dos negócios e a elite proprietária de terras tinham tempo para os comerciantes déclassé e agricultores destituídos 260832 Em algumas ocasiões a esquerda ou o centro e a direita tradicionais conseguiram o apoio da classe média e dos agri cultores mas isso era relativamente raro e onde acontecia a ul tradireita em geral havia poucos adeptos Infelizmente para a Europa e para o mundo o mais comum era que os pequenos comerciantes e agricultores descontentes se afastassem dos partidos tradicionais e se engajassem em movimentos de protesto que atacavam tanto os grandes empresários quanto os trabal hadores O fascismo e suas variações eram veículos perfeitos para os interesses de tais grupos dada a retórica peculiar do regime contra corporações trabalhadores e estrangeiros Em diversas nações onde muitos dos estabelecimentos comerciais pertenciam a judeus ou nas pequenas cidades repletas de mercadores judeus o antissemitismo da ultradireita europeia ecoou entre os empresários e produtores agrícolas Para esses grupos os concor rentes credores ou intermediários judeus eram parte do problema Muitos donos de pequenas lojas e agricultores de vilarejos re motos passaram a culpar as grandes corporações quando a eco nomia do período entreguerras começou a desmoronar A descon tente classe média também desdenhou dos partidos de esquerda cuja reação à crise era conduzida principalmente pelos interesses dos trabalhadores O descontentamento encontrou espaço nos movimentos reacionários que invadiram o sul o leste e o centro da Europa a partir do começo da década de 1920 Esses movimen tos propunham o fascismo como um caminho alternativo entre o capitalismo corporativista e o socialismo proletário Avanços e recuos A crença no desenvolvimento tecnológico como um gerador automático de crescimento econômico foi destruída nos anos 261832 entre as duas grandes guerras Essas décadas testemunharam al guns dos desenvolvimentos técnicos mais importantes da História tanto nos laboratórios quanto nas fábricas Muitos dos produtos que associamos com economias modernas foram in troduzidos ou implementados nas décadas de 1920 e 1930 Esse anos viram ainda o desenvolvimento completo da corporação moderna e da sua contraparte internacional as empresas mul tinacionais modernas Esse desenvolvimento econômico alimentou dois processos políticos poderosos Por um lado a vitória das grandes empresas na indústria moderna criou um movimento trabalhista influente Na década de 1930 era comum os governos incluírem partidos que tivessem as classes trabalhadoras como principal base de apoio Na verdade muitos desses governos eram liderados por partidos socialistas e alguns faziam alianças até mesmo com os comunistas Por outro lado a contínua modernização da Europa esmagou os setores médios do continente em especial os pequenos negó cios e os proprietários de terras Esses grupos marginalizados ger aram a base dos movimentos fascistas que vieram a governar a Europa após o fim do período entreguerras a Do inglês dust bowl tempestades de poeira que atingiram o centro dos Estados Unidos na década de 1930 causadas por secas prolongadas e anos de técnicas agrícolas inapropriadas NT 262832 8 O colapso da ordem estabelecida Em janeiro de 1936 o Left Book Cluba britânico encomendou a George Orwell uma pesquisa sobre as condições sociais do país durante a depressão econômica O resultado O caminho para Wigan Pier chocou a nação com uma descrição do desespero e da privação Orwell resumiu a perplexidade e a ampla miséria gerada pelo desemprego Jovens mineiros e dignos plantadores de algodão pasmos diante do destino com o mesmo tipo de espanto atônito que o de um animal numa armadilha Não conseguiam simplesmente entender o que acontecia com eles Foram criados para o trabalho e veja Parecia que nunca mais teriam a chance de trabalhar de novo1 O colapso econômico de 1929 foi único em termos de pro fundidade e amplitude Já houvera crises cíclicas antes mas nunca como essa A economia dos países industrializados per maneceu desintegrada por mais de cinco anos com uma redução de 15 na produção e o desemprego atingindo 14 da força de tra balho Crises financeiras e cambiais se reproduziram no mundo todo em um intervalo de semanas fazendo com que economias inteiras afundassem juntas Nenhuma das principais nações foi poupada Carl Sandburg chamou Chicago de a cidade de braços fortesb e a descreveu como a intempestiva vigorosa e alvoroçada risada dos jovens seminus suados e orgulhosos de serem aqueles que abatem os animais produzem as ferramentas empilham as me das de trigo constroem as ferrovias e transportam carga para a nação Mas agora Chicago não ria nem se orgulhava No inverno de 19301931 um repórter escreveu sobre a capital da indústria norteamericana Podemos cruzar a linda ponte da avenida Michigan à meianoite re pleta de luzes que fazem do lugar uma cidade de sonhos de beleza in comparável enquanto embaixo da mesma ponte a seis metros de nós moram dois mil semteto Homens maltrapilhos que tremem têm fome se enrolam em jornais velhos para não congelarem e dormem sobre os restos de estrume seco2 A recuperação capenga da década de 1920 havia chegado ao fim O fim do boom O fim começou de forma inocente com um declínio gradual do crescimento econômico fora da América do Norte Entretanto em 1928 as condições agrícolas dos principais países pioraram muito enquanto uma recessão começava a atingir grande parte da Europa e da Ásia Nos Estados Unidos o boom continuava Como investir no exterior se tornou menos atraente o capital norteamericano passou a atuar em casa e o mercado acionário cresceu de forma notória o índice Dow Jones Industrial Average aumentou praticamente sem interrupções de 191 pontos no fim de 1928 para 381 em setembro de 1929 Os preços das ações dobraram em pouco menos de um ano ul trapassando com folga qualquer ganho que pudesse vir de fora 264832 Assim o fornecimento de dinheiro norteamericano para o mundo diminuiu drasticamente No primeiro semestre de 1928 os novos empréstimos feitos pelos Estados Unidos aos estrangeir os somavam em média US140 milhões por mês Esse valor caiu pela metade entre meados de 1928 e 1929 atingindo US70 mil hões uma vez que o dinheiro passou a rumar para o mercado de ações Na segunda metade de 1929 a soma dos empréstimos es trangeiros caiu mais uma vez pela metade chegando a US35 milhões por mês Se considerarmos o dinheiro que voltava para os Estados Unidos como pagamento de dívidas surge um quadro ainda mais desolador se em 19271928 a saída líquida era de US900 milhões em 1929 e 1930 ela passou a ser de apenas US86 milhões líquidos por ano3 Quando o dinheiro norteamericano que alimentara o cresci mento econômico rumou de volta para casa ele transformou a recessão branda que atingia os outros países em uma crise sev era4 À medida que o capital passava a circular pelos Estados Un idos e a procurar pelo dólar os investidores se desfaziam das out ras moedas Os governos europeus ao se depararem com o sell offc nas bolsas estrangeiras reagiram da forma costumeira com aumento de juros e impondo austeridade Supostamente os juros mais altos atrairiam novamente o capital para a economia e a moeda enquanto medidas austeras limitariam salários e lucros tornando os produtos do país mais competitivos nos mercados mundiais Até mesmo as autoridades norteamericanas enfrentaram de safios sérios O Federal Reserve queria coibir em Wall Street o que chamava de comportamento excessivamente especulativo o que seria feito com o aumento da taxa de juros para dificultar os empréstimos e fazer com que o capital deixasse as ações No ent anto um aumento nos juros norteamericanos retiraria o capital da Europa e da América Latina tornando as condições comerciais ainda mais difíceis nessas regiões Caso o Fed mantivesse as taxas 265832 de juros estáveis o problema no mercado de ações continuaria se aumentasse os juros poderia piorar a situação econômica da Europa O Banco Central norteamericano acreditava que a prior idade era o compromisso doméstico e em agosto elevou as taxas de juros a um percentual que fosse capaz de convencer os invest idores a evitar mais especulações no mercado de ações De fato o mercado acionário começou a cair no fim do verão e início do outono de 1929 no hemisfério norte No fim de outubro o frenesi chegou ao fim Em três semanas o mercado perdeu tudo o que havia alcançado nos últimos 18 meses Em três meses a produção industrial norteamericana so freu uma redução de 10 e as importações de 20 Os preços das commodities despencaram de forma impressionante No verão de 1929 quando a contração econômica já pairava no ar cerca de um quilo de borracha custava 42 centavos no início de 1932 o preço caiu para três centavos e continuava em queda O valor de outros produtos primários também sofreu reduções quase tão drásticas O quilo do cobre por exemplo caiu de 32 para cinco centavos o quilo Os produtos agrícolas também foram atingidos de forma dura De meados de 1929 ao fim de 1932 ou início de 1933 época em que apresentou a pior queda o valor aproximado do quilo da seda diminuiu de US1040 para US250 o algodão passou de 32 para 12 centavos o quilo e o café de 56 para 16 centavos Não foram apenas os produtos dos países pobres que sofreram já que um bushel de milho caiu de 92 para 19 centavos e o bushel do trigo o cultivo mais importante do mundo que valia US150 em meados de 1929 passou a custar 49 centavos no fim de 19325 O valor dos produtos manufaturados também caiu mas não de forma tão rápida Enquanto os preços agrícolas norteamer icanos sofreram reduções de 52 entre 1928 e 1933 o valor dos materiais de construção e dos produtos à base de ferro caíram 18 Além disso os preços dos bens de consumo duráveis foram reduzidos em 86 266832 As nações produtoras de commodities foram atingidas de forma especialmente dura pelo efeito combinado de declínio nos preços queda súbita da demanda europeia e norteamericana e cortes nos empréstimos dos Estados Unidos Um mês antes do colapso da bolsa de valores norteamericana Argentina Aus trália Brasil e Canadá reagiram à crise desvinculando suas moedas do ouro O abandono das regras do padrãoouro por parte desses países foi preocupante mas no geral essas eram consid eradas economias menores que enfrentavam uma séria queda nos preços das commodities Os governos dos países industriais no entanto tinham outra ideia sobre o que fazer em relação ao declínio dos preços nada A sabedoria adquirida e a experiência do préguerra diziam que a recessão iria se autocorrigir Quando os salários tivessem caído o suficiente os capitalistas recontratariam os trabalhadores quando os preços tivessem caído o suficiente os consumidores começariam a comprar novamente À medida que preços e salári os diminuíssem a demanda aumentaria até o restabelecimento do equilíbrio O Fed recorreu às ferramentas monetárias usuais para impor um severo e rápido período de austeridade Essa política liquida cionista buscava forçar a queda dos preços e salários de forma a liquidar o excesso dos estoques de alimentos produtos e trabal hadores O secretário do Tesouro Andrew Mellon dera uma re comendação típica ao presidente Hoover Liquidar a mão de obra liquidar as ações liquidar os fazendeiros liquidar as pro priedades retirar do sistema o que está podre7 O Fed passou então a manter as taxas de juros relativamente altas 25 en quanto os preços caíam cerca de 15 ao ano e tentava supervi sionar sistematicamente os arranjos para resolver aquilo que chamava de um típico declínio cíclico Preços e salários se re duziriam e em seguida a economia responderia 267832 Entretanto os resultados foram problemáticos não apenas nos Estados Unidos mas em todo o mundo em desenvolvimento A produção industrial norteamericana caiu 26 de agosto de 1929 quando atingira o ápice a outubro de 1930 os preços so freram uma redução de 14 e a renda per capita diminuiu 168 As famílias perderam em média a renda acumulada dos últimos cinco anos ou mais e não havia qualquer perspectiva de um fim para o declínio O desemprego também crescia De 3 em 1929 a taxa de desemprego atingiu 9 em 1939 e 34 em 19319 A já fraca economia britânica afundou ainda mais trazendo junto os países bálticos e escandinavos que estavam sob a sua órbita comercial Durante um ano o Japão fora tragado pelos cortes nos empréstimos e pela redução de 43 no preço da seda seu prin cipal produto de exportação Apenas a França parecia imune à então já evidente crise mundial Entretanto no fim de 1930 a ex pansão francesa também já mostrava na melhor das hipóteses sinais de precariedade Os governos redobraram os esforços para convencer a todos que manteriam o compromisso com o ouro e a prudência fin anceira Os líderes dos principais bancos centrais passaram a se consultar com frequência para tentar buscar uma saída A questão das indenizações parecia progredir uma vez que numa conferên cia europeia liderada pelo empresário norteamericano Owen Young foi fechado um acordo sobre a regularização dos pagamen tos alemães O Plano Young também estabeleceu a criação do Banco de Compensações Internacionais para ajudar a suavizar o processo e a oferecer um local de cooperação financeira e mon etária10 Além disso em 1930 foi organizada uma conferência para a redução das barreiras comerciais No entanto essas iniciativas foram ineficazes principalmente porque os Estados Unidos não se envolveram de forma efetiva A maioria dos governos contava apenas com os próprios esforços para tirar seus países da crise A GrãBretanha em especial 268832 parecia buscar alternativas criativas Em 1929 uma adminis tração de minoria trabalhista liderada por Ramsay MacDonald chegou ao poder governando com o apoio dos liberais e o respaldo de alguns dos principais pensadores econômicos do país inclusive o próprio Keynes O governo estava de mãos atadas devido a pressões conflitantes de seus eleitores Por um lado se mantinha firme em seus compromissos com o padrãoouro com o equilíbrio do orçamento e com o livrecomércio por outro estava desesperado em suprir as demandas da indústria em colapso e dos trabalhadores desempregados No fim acomodouse apático por dois anos A Alemanha talvez o país mais afetado pela crise desintegrouse ainda mais Os dois anos de tradicionais medidas austeras foram bemsucedidos apenas em elevar o desemprego a índices astronômicos O governo de coalizão centroesquerda en trou em colapso no início de 1930 e foi substituído por meio de decreto governamental por Heinrich Brüning um proeminente político católico Brüning parecia não saber o que fazer e convo cou novas eleições para setembro de 1930 O resultado principal foi um grande aumento do apoio político aos dois partidos menos comprometidos com a ortodoxia o comunista e o nazista O primeiro obteve 13 dos votos um aumento de 10 em relação à eleição de dois anos antes o último conseguiu um aumento de 3 para 18 no número de votos O país se dividiu em facções rivais sendo que um dos principais campos de batalha foram as relações econômicas internacionais O governo quase não agiu para contraatacar o fracasso Essa inação fora imensamente custosa mesmo atitudes simples para estimular a economia teriam con seguido como mais tarde demonstraram algumas análises im pedir os avanços eleitorais dos nazistas11 O governo dos Estados Unidos também se voltou para as me didas tradicionais norteamericanas de reação a turbulências eco nômicas A primeira dessas reações foi a proteção comercial De 269832 meados de 1929 a início de 1930 o Congresso formulou o Ato Tarifário SmootHawley que prometia um aumento substancial nas barreiras comerciais norteamericanas Apesar de pedidos dos parceiros comerciais estrangeiros e de um abaixoassinado de 1028 economistas norteamericanos o Congresso aprovou a lei e o presidente Herbert Hoover a promulgou em junho de 1930 Em poucos meses outros países também começaram a impor suas próprias barreiras devido a razões próprias ou em retaliação12 Entretanto as economias não se recuperaram e o desemprego continuava a crescer Em 1933 o quinto ano da crise a taxa de desemprego nos Estados Unidos era de 25 e outros países ap resentavam índices semelhantes O tempo em que forças econôm icas naturais agiam para consertar a economia já fazia parte de um passado remoto Deflação e liquidaçãod longe de reaquecer a economia por meio de reduções de preços e salários para estimu lar o consumo e novos investimentos pareciam aprofundar ainda mais o declínio A recessão era impressionantemente profunda A produção in dustrial média despencou em níveis entre 20 e 50 em um per íodo de dois ou três anos Durante o declínio de 19201921 a economia norteamericana apresentou contração de 4 entre 1929 e 1933 a redução foi de 30 O colapso norteamericano foi um dos piores do mundo mas alguns países não ficaram muito atrás A redução total do PIB ou seja a queda do valor mais alto em 1928 ou 1929 ao ponto mais baixo em 1932 ou 1933 foi de 25 a 30 nos Estados Unidos Canadá Alemanha e em diversos países latinoamericanos e de 15 a 25 na França na Áustria e em diversas partes da Europa central e do leste13 O declínio se autoalimentava em grande parte devido ao que o economista Irving Fisher chamava de deflação de débito Dur ante a década de 1920 houve grande aumento nos empréstimos e até mesmo muitos consumidores passaram a se apoiar nos crédi tos parcelados para comprar os novos bens duráveis Quando os 270832 rendimentos despencaram ao mesmo tempo em que as obrigações das dívidas se mantiveram constantes os devedores passaram a não conseguir mais honrar seus compromissos A de flação forçou os devedores a reduzirem o consumo e os investi mentos o que levou a uma queda ainda maior nos preços No iní cio de 1934 numa cidade comum dos Estados Unidos mais de 30 daqueles que hipotecaram suas casas estavam atrasados no pagamento em Cleveland esse número chegava a 6014 O sofrimento era ainda mais pronunciado entre os países e cidadãos que se especializaram na produção de matériasprimas e produtos agrícolas cujos preços caíram duas ou três vezes mais que os de outros bens e naquele ano as hipotecas de cerca de 200 mil fazendas foram executadas O número de execuções foi de dez a 12 vezes maior que o normal em alguns estados foram tomadas de 25 a 30 de todas as fazendas entre 1928 e 193415 Os Esta dos Unidos como quase todos os países foram atingidos por muitas falências na área agrícola e descontentamento social no campo Mesmo assim os líderes políticos e empresariais continuavam a seguir as mesmas prescrições de outrora A visão comumente aceita dos ciclos econômicos afirmava que melhorias nas con dições levavam a excessos especulativos os quais precisavam ser removidos por um declínio inevitável A liquidação dos erros do passado era vista como algo positivo e as tentativas de suavizar seus efeitos contraproducentes Os liquidacionistas acreditavam que o boom de 1920 deveria ser desacelerado até que a economia tomasse novamente um caminho saudável Isso significava li quidar investimentos e empréstimos ruins e os produtos inúteis Era duro mas necessário Como Lionel Robbins afirmou em 1935 Ninguém gosta de liquidações propriamente ditas Mas quando os investimentos malfeitos e o alto endividamento ultrapassam um certo limite as medidas que adiam a liquidação apenas tor nam as coisas piores16 A qualidade intelectual dessa visão era 271832 impecável e parecia ter funcionado em crises anteriores Os tradi cionalistas argumentavam que a inação e mesmo a ação dos governos para acelerar os efeitos purgativos da crise ocasion almente poderia acelerar a recuperação Não somente não faça diziam os tradicionalistas aos governos fique parado Herbert Hoover atribuiu a paralisia da sua administração em parte ao predomínio dessas visões Os liquidacionistas do deixe como está liderados pelo secretário do Tesouro Mellon sentiram que o governo deveria se manter longe e deixar que o desmoronamento se autoliquide Ele defendia que até mesmo o pânico não era de todo ruim Isso expurgará do sistema o que está podre Os custos de vida e os padrões de vida altos serão re duzidos As pessoas trabalharão mais levarão uma vida mais de acordo com a moralidade Os valores se ajustarão e os empreen dedores recolherão os destroços dos menos competentes afirmou17 A base do apoio ao liquidacionismo não era apenas seu apelo moral e intelectual os empresários tinham motivos de seu in teresse para justificar as demissões e os cortes salariais A orto doxia era especialmente forte entre os empresários que de pendiam de grandes quantidades de mão de obra para os quais a diminuição dos salários era algo crucial As empresas de capital mais intensivo como as indústrias de automóveis maquinário e petróleo eram menos sensíveis aos custos de mão de obra e mais propensas a argumentar que os cortes salariais eram autodestru tivos por reduzirem o poder de compra do consumidor18 No ent anto muitos empresários endossavam naturalmente a ideia de que salários baixos eram necessários Supostamente a passagem pelos tempos duros traria a recom pensa na medida em que a deflação e as falências acabariam por criar as condições para a recuperação Mas a inação tradicional que no passado havia remediado economias em apuros não fun cionou Os preços e salários continuavam em queda os fracassos 272832 se proliferavam o desemprego crescia cada vez mais e não havia qualquer perspectiva de reviravolta O mecanismo autoequilib rador dos círculos empresariais pré1929 havia se quebrado Por que as soluções antigas não estavam funcionando Como Keynes previu a menor flexibilidade dos preços e salários era um indicador de que a economia do pósguerra não mais responderia a um colapso como antes Os oligopólios que cortavam nas vendas mantendo os preços altos passaram a produzir menos do que em condições normais os sindicatos que defendiam os salários altos à custa de um nível de emprego menor restringiram a oferta de trabalho As empresas e sindicatos com poder de mercado podiam produzir menos e vender a preços mais altos tornando ociosos trabalhadores e máquinas Nos setores que se aproximavam das condições de antes de 1914 como o agrícola os preços despen caram enquanto os fazendeiros continuavam a produzir tanto quanto antes ou ainda mais Mas o mecanismo purgativo orto doxo que deveria ter sido ativado pela Grande Depressão não fun cionava mais para muitos setores e não estava conseguindo reav ivar o crescimento econômico À medida que a nova rigidez de preços e salários se impunha a recuperação tardava e se arrastava O desemprego continuava alto em quase todos os países principalmente nos setores dominados pelas grandes empresas por trabalhadores sindicalizados ou por ambos mesmo que os salários reais o poder de compra dos salários em relação aos preços permanecessem estáveis ou até crescessem Nos Estados Unidos por exemplo o valor médio ganho por um trabalhador da indústria por hora de serviço caiu de 57 centavos em 1929 para 54 centavos em 1934 uma queda de 5 enquanto os preços dos bens de consumo caíram 20 Mesmo com 22 da força de trabalho desempregada e milhões de norteamericanos na busca desesperada por emprego os salários reais dos que estavam contratados eram bem maiores em 1934 do que em 1929 Em 1939 quando o desemprego nos Estados Unidos 273832 continuava na casa dos 17 os salários reais eram 15 mais altos que em 1934 e 40 maiores que em 1929 Salários reais tendiam a crescer ou a permanecer constantes nas indústrias dominadas por oligopólios serviços de utilidade pública finanças manufat uras mas sofreram uma redução de 15 a 25 em setores com petitivos tais como agricultura serviços domésticos e construção civil Enquanto mais de 25 da força de trabalho estava desempregada e implorava por uma oportunidade os salários de muitas fábricas eram altos e continuavam a crescer19 Não havia nada de condenável em capitalistas e trabalhadores terem se unido em busca de proteção mantendo preços lucros e salários o mais alto possível O fato de isso ter interferido nos mecanismos do ajuste ortodoxo não necessariamente os faz vilões O ajuste reduzia os salários de todos os setores da eco nomia de forma muito radical e rápida e embora a recuperação pudesse vir logo a dor e o sofrimento causados pela crise eram muito severos A habilidade de muitas empresas e sindicatos em resistir aos cortes de salários e preços tornou as fábricas mais ociosas e o desemprego maior do que seria mas também ofereceu salários e rendimentos melhores aos trabalhadores e capital a ser empregado nesses setores privilegiados A forma pela qual essa compensação era percebida dependia de qual lado se estivesse os ganhos dos que tinham emprego implicavam em certa medida manter os outros desempregados A deflação não era a solução e talvez fosse parte do problema Na verdade muitos governos ocasionalmente aproveitaram o empenho dos sindicatos e das empresas em manter os preços e os salários para aplicar medidas mais gerais que buscassem reverter o ciclo deflacionário Os regimes fascistas estimularam a form ação de cartéis como forma de evitar o colapso dos preços Os governos socialdemocratas se uniram a trabalhadores e capitalis tas com a finalidade de buscar soluções que sustentassem os preços e salários elevados O New Deal dos Estados Unidos se 274832 colocou como contrário à competição selvagem do mercado e utilizou novas leis e agências reguladoras para facilitar a organiza ção empresarial e trabalhista o que acreditavase fosse reverter a deflação Em muitos casos os próprios governos organizaram os mercados contra a deflação por meio de medidas como programas para manter os preços dos produtos agrícolas altos Todas essas medidas foram sem dúvida motivadas por um misto de preocu pação com a deflação e por um desejo mais pragmático por parte dos produtores de manter os salários e os preços que cobravam o mais alto possível Quando os governos decidiram agir no entanto a deflação já havia causado estrago Por volta de cinco anos após o início da de pressão econômica muitos preços especialmente os de produtos primários entraram em colapso Mas a deflação não ocorreu con forme previsto tampouco preparou o cenário para uma recuper ação como ocorrera nos anos anteriores a 1914 A rigidez de preços e salários teve um efeito contrário do que o prescrito pela ortodoxia A contração não abriu espaço para a recuperação Ouro e crise A deflação e a depressão econômica prolongadas desencadearam pânicos cambiais e financeiros que se disseminaram pelo mundo se espalhando às vezes de forma gradual como uma mancha às vezes com a velocidade de um raio O choque era levado de país a país por investidores volúveis que passavam seu dinheiro de um mercado a outro A proliferação de falências aumentou a ameaça de colapsos bancários e quando os depositários retiravam o din heiro eles transformavam o medo em realidade Começando em maio de 1931 o pânico se alastrou da Áustria a Polônia Hungria Tchecoslováquia e Romênia em seguida atingiu a Alemanha en tão Suíça França Reino Unido Turquia Egito México e Estados 275832 Unidos Em seis meses 18 sistemas de bancos nacionais en frentavam o abismo financeiro20 Cinco anos antes no verão de 1929 apenas quatro países passavam por crises bancárias con sideráveis cinco anos depois 33 enfrentavam essa situação Esses heróis das finanças escreveu Henrik Ibsen são como gotas num fio quando uma cai todas a seguem21 As con sequências do fracasso econômico foram profundas até o fim de 1933 metade das instituições financeiras privadas havia fechado22 O impacto não fora sentido apenas pelos banqueiros apreensivos os credores também pararam de fornecer dinheiro para quase todos os que queriam empréstimos As falências no campo ao assustarem banqueiros e investidores faziam desa parecer o dinheiro disponível para a indústria As dificuldades financeiras paralisaram os bancos nacionais e o sistema financeiro internacional A redução do consumo e dos investimentos por parte dos indivíduos e dos países altamente endividados reforçou o círculo vicioso dívidadeflação o que cau sou uma queda ainda maior nos preços mundiais23 A busca dos governos por alternativas contra a paralisia defla cionária e a ruína financeira atingiu um elemento aparentemente imóvel o ouro As tentativas de reduzir a inflação e aumentar os preços foram bloqueadas pelos compromissos dos governos com o valor ouro de suas moedas Como disseram dois historiadores econômicos a retórica do padrãoouro era a deflação e o seu ra ciocínio a inação24 Os países sob o padrãoouro precisavam deixar que os preços tomassem seu caminho uma vez que os preços nacionais eram apenas um reflexo dos internacionais Tentativas de imprimir dinheiro levariam os investidores a trocar as desvalorizadas moedas nacionais por ouro O padrãoouro não permitia manipulações monetárias e não havia outra opção Quase ninguém apoiava gastos mediante déficit a campanha de Roosevelt contra Hoover em 1932 atacou a pouca habilidade do presidente em equilibrar o orçamento e a proteção comercial 276832 outro remédio comum foi aplicada em diversos países e se mostrara ineficaz O ouro ditava as regras O ouro retardou a reação dos governos diante da crise e tam bém acelerou a proliferação de choques internacionais Um leve sinal de que os juros poderiam diminuir por exemplo na Bélgica fazia com que os investidores retirassem o dinheiro desse país e levassem para algum lugar mais seguro Quando o capital deixava a Bélgica a profecia se tornava autorrealizável o dinheiro se tor nava escasso devedores davam calote e bancos faliam Governos eram assediados por fluxos de capital especulativo em busca de segurança e lucros imediatos Como disse Herbert Hoover as mo vimentações de dinheiro e ouro eram um canhão desgovernado numa era de quedas turbulentas25 Longe de ter amortecido os choques o padrãoouro intensi ficou suas consequências Quando os investidores retiravam o dinheiro de um país eles precisavam vender a moeda nacional Para retirar o dinheiro da Bélgica por exemplo os especuladores precisavam trocar os francos belgas por libras e dólares mais con fiáveis ou por ouro Quando vendiam os francos para o governo belga em troca de ouro ou dólares as autoridades ocasional mente poderiam ficar sem um dos dois ou sem os dois e precis ariam abandonar o padrãoouro Nessas circunstâncias o governo aumentava a taxa de juros da Bélgica para convencer os invest idores a permanecerem com os ativos em francos títulos do gov erno belga por exemplo e evitar uma evasão da moeda Nesse sentido o padrãoouro exigia que os governos nacionais acei tassem passivamente as exigências financeiras internacionais para manter a taxa de câmbio mesmo que isso significasse um sacrifício das condições locais Países com sistemas bancários fracos eram particularmente suscetíveis a colapsos diante da força dos ataques financeiros e cambiais Nos locais onde os bancos estavam ligados à indústria como em grande parte da Europa central o infortúnio financeiro 277832 era rapidamente transmitido para o resto da economia Bancos que contavam com dinheiro de fora em 1930 metade dos de pósitos dos bancos alemães pertencia a estrangeiros estavam particularmente expostos já que os clientes podiam retirar esse dinheiro com facilidade Mas a vulnerabilidade aos impulsos fin anceiros era universal e contribuiu para a velocidade com que a depressão econômica se tornou e permaneceu global26 Pressões financeiras e cambiais deram início a uma série de crises nacionais que levaram à paralisação do sistema monetário e financeiro internacional Em maio de 1931 o Creditanstalt o maior banco da Áustria e havia muitos anos associado ao Roth schild foi à falência O governo interveio imediatamente e tentou obter apoio de outras capitais europeias mas não conseguiu Mesmo em situações extremas como essa as falhas políticas do entreguerras influenciaram Antes de os franceses terem ajudado a conter os efeitos da falência do Creditanstalt os principais políticos da França exigiam que a Áustria abandonasse a plane jada união alfandegária com a Alemanha e os belgas e italianos apoiaram os franceses nisso27 O problema logo se tornou conhecido Ninguém manteria de pósitos em bancos que ameaçavam fechar Dessa forma diante do menor sinal de dificuldade se iniciava uma corrida aos bancos Quando o banco de alguma nação ameaçava entrar em colapso os clientes agiam rapidamente para retirar o dinheiro do país nin guém queria deixar fundos num sistema financeiro em processo de desintegração Não havia juros altos ou austeridade que at raísse o dinheiro de volta para a moeda de um país à beira de um pânico bancário e rumores de que a moeda seria desvinculada do ouro e desvalorizada aumentavam a pressa para a troca de ações títulos e dinheiro por ouro ou alguma moeda confiável O círculo vicioso se autoalimentava expectativas quanto a uma desvaloriza ção poderiam causar pânico nos bancos ao mesmo tempo em que o pânico nos bancos desencadeava desvalorizações As crises 278832 bancárias e cambiais interligadas afetaram o mercado de créditos já que os empréstimos praticamente cessaram e até mesmo as empresas que queriam se expandir não tinham como tomar emprestado para fazêlo Na mesma semana da falência do Creditanstalt em maio de 1931 a corrida aos bancos foi intensa na Áustria e chegou a atingir a vizinha Hungria Em um mês chegou à Alemanha Os invest idores retiravam o dinheiro dos bancos em ouro ou dólares o mais rápido que podiam evitando qualquer moeda nacional ques tionável Assim as economias interconectadas foram caindo em efeito dominó Tentando conter o desastre o presidente Hoover em 20 de julho de 1931 propôs a suspensão dos pagamentos de indenização de guerra por um ano Ainda assim os depositários em toda a Europa central temiam que as falências dos bancos at ingissem a Alemanha e fizessem com que o país abandonasse o padrãoouro E eles estavam certos Mais uma vez a busca pelo apoio dos franceses e britânicos fora complicada por hostilidades políticas Para ajudar os alemães a lidar com a crise financeira os franceses exigiam o desarmamento e um pagamento adicional de indenizações Mas essas manobras políticas levaram mais tempo do que a Alemanha dispunha Em julho de 1931 o governo alemão fechou os bancos e sus pendeu as conversões da moeda para o ouro ou câmbio es trangeiro Oficialmente a taxa de juros mantinhase constante mas no momento era praticamente impossível trocar dinheiro alemão por ouro dólares libras esterlinas ou qualquer outra coisa que não produtos do país28 A decisão alemã despertou ainda mais medo Medo este que logo se voltou para a base financeira da Europa a GrãBretanha No início do segundo semestre do ano quando os investidores tentavam se livrar da libra o governo britânico lutava para sustentála por meio de medidas austeras No fim de agosto o governo trabalhista entrou em colapso e foi substituído pelo 279832 Governo Nacional também liderado por Ramsay MacDonald mas agora contando com um apoio significativo dos conser vadores O novo governo retirou a libra do ouro quase de forma instantânea e pela primeira vez em tempos de paz desde 1917 quando o padrão fora decretado no país por Sir Isaac Newton a moeda sofreu uma desvalorização A libra caiu cerca de 30 em relação ao dólar em poucos meses do valor histórico de US486 para US325 Quando a libra foi desvalorizada uma série de outros países seguiu a Grã Bretanha e abandonou o ouro os Estados escandinavos e bálticos que tinham ligações fortes com o mercado britânico depois o Japão e então a América Latina A maioria desses países também impôs barreiras consideráveis ao comércio A GrãBretanha deix ou para trás cerca de um século de livrecomércio Em fevereiro de 1932 o Governo Nacional impôs alta proteção tarifária depois negociou relações de preferência para o Império e uns poucos parceiros comerciais favorecidos Após décadas resistindo ao pro tecionismo o Reino Unido criou um bloco imperial que com partilhava de um sistema de preferências comerciais e um bloco esterlino que partilhava de moedas desvalorizadas O comércio com o resto do mundo logo caiu de forma significativa mas as ex portações para a área esterlina o Império os países nórdicos e bálticos a Argentina e alguns outros cresceram de 50 a 60 em relação ao total de exportações britânicas29 Outras potências estreitaram os laços econômicos com suas colônias e em 1931 o Japão expandiu seu domínio colonial ocupando e anexando a Manchúria no norte da China No fim de 1932 apenas dois grupos de países efetivamente permaneciam com o padrãoouro os Estados Unidos e um bloco liderado pela França que incluía Bélgica Luxemburgo Holanda Itália e Suíça Os países que continuavam sob o ouro enfrentavam fortes pressões competitivas tanto em seus próprios mercados quanto em terceiros uma vez que a desvalorização tornou os 280832 produtos japoneses britânicos e de outras localidades bem mais baratos E as barreiras tarifárias levantadas pelos impérios europeus pelo Japão e sua expandida esfera imperial pelos Esta dos Unidos e pela América Latina reduziram ainda mais as opor tunidades comerciais A utilização de moedas como uma arma competitiva por parte dos governos introduziu outras incertezas na ordem financeira e monetária A Guerra da Manteiga entre a Nova Zelândia e a Di namarca fora um sintoma Os dois países eram os principais fornecedores de manteiga à GrãBretanha produto que em con trapartida era a base das exportações das duas nações No começo de 1930 o governo da Nova Zelândia desvalorizou a moeda do país em cerca de 5 em relação à libra esterlina fato que concedeu a seus exportadores uma vantagem em relação aos produtores da Dinamarca Os dinamarqueses acreditavam que se imitassem a desvalorização britânica de setembro de 1931 eles po deriam restabelecer o equilíbrio mas a Nova Zelândia também seguiu o enfraquecimento da libra britânica Em setembro de 1932 os dinamarqueses desvalorizaram sua moeda em mais 5 em relação à libra Cinco meses mais tarde a retaliação da Nova Zelândia foi uma desvalorização de 15 e um mês depois os din amarqueses responderam enfraquecendo a moeda em 17 No fim de 1933 as duas moedas já haviam retornado ao valor inicial mas quatro anos de desvalorizações competitivas acirraram as tensões políticas e as pressões protecionistas em ambas as nações30 A situação econômica continuava a se deteriorar No fim de 1932 o comércio mundial mal correspondia a 13 de seus índices em 1929 Os mercados financeiros internacionais encontravamse praticamente em um estado de completa inatividade As prin cipais nações comerciais do mundo se voltaram para o protecion ismo Nos Estados Unidos a produção industrial correspondia à metade de seus índices em 1929 e o desemprego mantinhase na 281832 casa dos 24 e na Alemanha na casa dos 4431 A América Lat ina havia sido atingida por um duplo malefício queda dos preços e da demanda Diante dos dois problemas a região foi obrigada a reduzir as exportações para mais da metade do volume dos três primeiros anos da depressão econômica Quase nenhum dos países da região conseguia mais cumprir suas obrigações com a exceção da Argentina ávida por permanecer nas boas graças de seus parceiros financeiros e comercias britânicos32 Muitas vozes já pediam a reafirmação dos compromissos com o ouro Nos Estados Unidos um mês antes de deixar o cargo o presidente Hoover referiuse com desprezo àqueles que iriam in flar a moeda e consequentemente abandonar o padrãoouro para que com a desvalorização pudessem fazer parte de uma guerra econômica global com a certeza de que isso levaria à destruição completa tanto em casa como no exterior33 A França e seus vizinhos participantes do bloco do ouro não abandonaram sua ligação com o metal até 1936 mais de sete anos depois do iní cio da crise As autoridades dos países que continuavam sob o ouro en tretanto sofriam com a contradição existente entre o desejo de ver a economia fluir e a necessidade de defender suas moedas Nos Estados Unidos por exemplo os tomadores de decisão foram atacados pela desvalorização da libra em relação ao ouro ocorrida em outubro de 1931 Os investidores trocaram o dólar pelo ouro que era mais seguro enquanto os clientes dos bancos norteamer icanos retiravam seus depósitos prevendo uma crise financeira O Fed reagiu à moda clássica do padrãoouro em uma semana aumentou a taxa de juros de 15 para 35 com a finalidade de manter o dinheiro nos bancos e no país A lógica era clara porém perversa Sem o compromisso com o ouro o Fed poderia ter baix ado os juros e estimulado a economia o que facilitaria emprésti mos gastos e investimentos Em vez disso aprisionado pelas exigências do padrão o Banco Central mais importante do mundo 282832 impôs políticas monetárias mais austeras e restritivas jamais antes aplicadas34 Em novembro de 1932 as eleições norteamericanas troux eram Franklin D Roosevelt à Presidência e o domínio do Con gresso pelos democratas lhe deu algo como um passe livre O fato estimulou os internacionalistas que haviam sido postos de lado em 1920 pelo isolacionismo norteamericano afinal o próprio presidente eleito havia sido o candidato derrotado a vicepresid ente de Wilson nas eleições de 1920 A vitória esmagadora dos democratas provocou um pânico cambial O partido contava com o apoio dos produtores agrícolas que exigiam a desvalorização desde antes do início da depressão econômica Em 1933 os preços agrícolas mal chegavam à metade dos cobrados em 1928 já sob influência da depressão econômica Outros preços foram reduzidos ainda mais 8 para os bens de consumo duráveis e 18 para os produtos feitos de metal35 En quanto os quatro meses entre a eleição e a posse se arrastavam Roosevelt foi cuidadoso em não dizer o que faria quanto ao valor do dólar em relação ao ouro mas alguns membros de seu gabine te não foram tão discretos Henry Wallace um proeminente líder agrícola já havia anunciado cerca de seis meses antes de a nova administração tomar posse falando como o novo secretário de Agricultura que a decisão sábia seria se distanciar do ouro ainda mais do que o feito pela GrãBretanha36 Logo que começaram as sessões o Congresso tomou medidas para forçar o dólar a se desvincular do ouro Tudo indicava que de uma forma ou de outra o dólar seria desvalorizado Dessa maneira em fevereiro iniciouse uma corrida aos bancos dos Estados Unidos que se espalhou por todo o país e durou até a véspera da posse de Roosevelt em 4 de março de 1933 Como ocorrera na Áustria Alemanha e GrãBretanha as expectativas de uma desvalorização levaram muitos a trocar dólares por ouro Quando chegou à Casa Branca Roosevelt fechou os bancos da 283832 nação e anunciou medidas de emergência para estabilizar o sis tema financeiro O dólar permaneceu estável por duas semanas pois tudo indicava que a nova administração retomaria o ouro No entanto em meados de abril o presidente confirmou as expect ativas dos especuladores e liberou o dólar da relação fixa com o metal Durante três meses a administração Roosevelt forçou a des valorização do dólar fazendo a moeda norteamericana que valia então US342 em relação à libra esterlina voltar aos US486 preço de antes da desvalorização da moeda britânica O dólar flu tuou em geral em queda durante os seis meses seguintes até que em fevereiro de 1934 Roosevelt retomou a taxa de US35 a onça de ouro mais de 60 abaixo do valor em que permanecera dur ante anos US2067 a onça Como se desejasse reforçar quais eram as suas prioridades em meados de 1933 Roosevelt de fato deu um fim à Conferência da Economia Global em Londres que vinha buscando formas de cooperação monetária internacional Em uma forte declaração em 3 de julho o presidente disse que as boas condições econômicas de uma nação são um fator mais importante para seu bemestar do que o valor de sua moeda Ele atacou o velho fetiche dos assim chamados banqueiros inter nacionais que estava disse ele sendo substituído pelos esforços em organizar as moedas nacionais com o objetivo de conceder a elas um poder de compra estável37 Seria difícil imaginar uma re jeição mais incisiva às regras tradicionais da economia clássica in ternacional No dia em que o dólar foi retirado do ouro o então diretor do Departamento de Administração e Orçamento do governo norteamericano Lewis Douglas comentou decepcion ado Este é o fim da civilização ocidental38 Em retrospecto a maior parte dos analistas aceitou o argu mento de Barry Eichengreen que adotou o epíteto de Keynes para o ouro como título de sua análise da economia do entreguerras Golden fetterse 284832 O padrãoouro é a chave para se entender a Grande Depressão O padrãoouro da década de 1920 preparou o palco para a depressão econômica da década de 1930 ao aumentar a fragilidade do sistema financeiro internacional O padrãoouro foi o mecanismo transmissor do impulso desestabilizador dos Estados Unidos para o resto do mundo Ampliou o choque desestabilizador inicial e foi o principal obstáculo para ações de neutralização a atadura que impediu os to madores de decisão de reverter o fracasso dos bancos e de conter a di fusão do pânico financeiro Devido a todos esses motivos o padrão ouro internacional foi o fator central da depressão econômica mundi al A recuperação só foi possível pelos mesmas razões após o aban dono do padrãoouro39 Das trevas Em 1933 a economia mundial estava morta O comércio os in vestimentos e os empréstimos apresentavam índices bem menores que os anteriores A atividade econômica em todos os países fora reduzida a níveis nunca antes vistos era o fim dos ganhos suados da década de 1920 Batalhas econômicas se per petravam pela Europa e o Atlântico repudiavamse as dívidas de guerra guerras comerciais eram declaradas as desvalorizações competitivas e o controle cambial eram celebrados e as indeniza ções negadas Tudo isso alimentava o ambiente de desespero po larização política e recriminações mútuas No nadir econômico da Grande Depressão os governos passaram a se livrar de políticas fracassadas e a tentar outras novas Sentindo a oportunidade de influenciar os tomadores de decisão e a opinião pública John Maynard Keynes entrou em ação Zombou da imbecilidade da ortodoxia e de seu compromisso com o liquidacionismo Seria eles acham a vitória do demônio da iniquidade se tanta prosperidade não tivesse sido logo contrabalançada pela falência gen eralizada Precisamos diriam do que chamam educadamente de uma 285832 liquidação prolongada para nos colocar no caminho certo A liquid ação diriam eles ainda não fora completada Mas com o tempo será E quando o tempo suficiente para finalizar a liquidação tiver passado nós estaremos bem novamente40 Ele não acreditava em nada disso As vozes que nos dizem que o caminho de saída será encontrado na economia rígida e na privação sempre que possível da utilização do potencial da produção mundial são as vozes dos tolos e loucos41 Keynes aprovou quando o Reino Unido abandonou o ouro movimento que ele chamou de um acontecimento abençoado42 Diante do desastre econômico deixou de lado até mesmo seu apoio de décadas ao livrecomércio Nós não desejamos ficar à mercê das forças mundiais operando ou tentando operar na busca de um certo equilíbrio uniforme de acordo com os ideais do capitalismo laissezfaire afirmou ao público irlandês Keynes continuou a ser um internacionalista em termos culturais e in telectuais mas a situação extremamente difícil enfrentada pela população de todas as nações exigia atenção em primeiro lugar para as condições nacionais Ideias conhecimento arte hospitalidade viagens esses são os ele mentos que por natureza deveriam ser internacionais Mas deixem que os bens sejam produzidos em casa quando sensato e conveni ente e acima de tudo deixem que as finanças sejam primordial mente nacionais43 Keynes perdeu as batalhas da década de 1920 sobre a Confer ência de Versalhes a política monetária e o retorno da Grã Bretanha ao ouro mas o fracasso espetacular da economia mun dial parecia provar que ele estava certo O ouro definitivamente não despertava mais simpatia Havia tempos os produtores agrí colas reclamavam do sistema Nesse momento os trabalhadores que pagavam um preço alto nos índices de desemprego pela 286832 deflação onipresente aderiam à causa O líder trabalhista britânico Ernest Bevin afirmou que apenas as classes que viviam de renda continuavam ganhando com a vinculação da libra ester lina ao ouro e que a deterioração das condições de milhões de trabalhadores era um preço alto demais a ser pago para sustentar a atividade bancária internacional em Londres44 Os industri ais também eram favoráveis à liberdade de desvalorização que poderia os ajudar a competir com os estrangeiros Assim como Keynes muitos economistas desafiaram o padrãoouro Nos Estados Unidos um dos mais importantes foi George Warren economista de Cornell especialista no setor agrí cola Warren passou a vida estudando preços nos Estados Unidos especialmente os agrícolas Reuniu informações de jornais sobre preços catálogos contratos e centenas de outras fontes em um empenho obsessivo para descobrir como e por que eles oscilavam Após décadas de estudo Warren passou a acreditar que quando o valor do ouro em dólares diminuía o preço dos produtos agrícolas caía ao passo que quando o valor do ouro em dólares aumentava o preço dos cultivos subia Quanto mais fraco o dólar em relação ao ouro mais altos eram os preços agrícolas norteamericanos Warren tinha muitas explicações para as oscilações dos preços mas a maioria delas estava incorreta Entretanto ele estava con vencido de que reduzir o valor do ouro em relação ao dólar aumentaria os preços agrícolas A forma de fazer isso seria aban donar o padrãoouro e desvalorizar Os mais sérios economistas norteamericanos riram de War ren As ideias dele encontravam pouco espaço na teoria já es tabelecida e as evidências eram na melhor das hipóteses circun stanciais Mas quando Franklin Roosevelt tomou posse em 1933 estava desesperado para fazer algo em relação ao que chamava de ameaça de uma revolução agrária no país45 A decisão de retirar o dólar do ouro e desvalorizálo fora influenciada pelo homem ri dicularizado como Warren dólar de borracha 287832 No fim Warren dólar de borracha estava certo mesmo que pelos motivos errados Assim que o dólar caiu os preços dos produtos agrícolas e outras commodities primárias dispararam Em março de 1934 antes do início da desvalorização os fazendeiros norteamericanos ganhavam 35 centavos por bushel de trigo Em julho já recebiam 87 centavos um aumento de cerca de 150 em poucos meses O índice Moody de preços de commodities básicas que mede uma variedade de preços de produtos agrícolas e matériasprimas cresceu cerca de 70 no decorrer de três meses de abril a julho de 1933 O aumento nos preços fora eficiente para baixar a maré de crises aliviou os produtores agrícolas e outros devedores revertendo a espiral de deflação e agonia financeira além de restabelecer a confiança dos agentes econômicos no mercado Enquanto os três meses de des valorização progrediam o índice Dow Jones Industrial Average cresceu mais de 70 refletindo a nova percepção do ambiente46 Livre das obrigações do padrãoouro os Estados Unidos con seguiram expandir a provisão de dinheiro aumentar os preços e fazer com que a economia retomasse seu curso No primeiro ano após a desvalorização do dólar o Federal Reserve aumentou sua base monetária em 12 e manteve esse índice de crescimento até 1937 quando a oferta de dinheiro era cerca de 50 maior do que em março de 1933 Com mais dinheiro circulando os preços cres ciam continuamente e a reversão da deflação fora útil para tirar a economia da depressão Os gastos geradores de dívida tiveram um impacto insignificante ou nenhum uma vez que a administração Roosevelt só começou a experimentar políticas fiscais de fato após 1938 e 1939 quando o pior da depressão econômica já havia passado A recuperação quase completa dos Estados Unidos ocor reu devido ao relaxamento da política monetária o que só foi pos sível graças à desvalorização De um certo ponto de vista se a política não tivesse mudado a economia norteamericana 288832 continuaria estagnada e em 1942 teria metade do tamanho que tinha na época47 A experiência norteamericana foi simbólica o compromisso com o ouro aumentou e aprofundou a estagnação e desvincularse dele deu início à recuperação O contraste pode ser observado por meio de uma comparação entre os países que abandonaram o padrãoouro no início da depressão econômica e aqueles que o mantiveram até mais tarde Em 1930 e 1931 os preços no atacado em todos os países sob o padrãoouro caíam cerca de 13 ao ano A deflação praticamente terminou para a GrãBretanha e para to dos os países que abandonaram o ouro no fim de 1931 já que sem a paridade fixa no metal essas nações estavam livres para estimu lar suas economias Enquanto isso a deflação continuava a ator mentar os mercados cujas moedas continuavam fixas O impacto não era sentido apenas nos preços entre 1932 e 1935 a produção industrial dos países que abandonaram o ouro cresceu até 6 ao ano ao passo que a mesma produção apresentava queda anual de 1 nos Estados ainda sob o regime48 Enquanto novas políticas eram adotadas em 1934 iniciouse uma recuperação gradual que continuou até 1937 Com as eco nomias de volta à vida as nações ocidentais tentavam reconstruir suas relações internacionais no campo do comércio das finanças e dos investimentos A administração Roosevelt levou britânicos e franceses a firmarem um acordo em que as três partes se compro metiam a apoiar mutuamente suas moedas O acordo tentava con struir um sistema monetário internacional diferente sem os grilhões do padrãoouro Logo Bélgica Holanda e Suíça também passaram a fazer parte e de forma quase instantânea após a Lei dos Acordos Recíprocos de Comércio de 1934 ter autorizado o Executivo a reduzir suas tarifas em troca de reduções feitas por outros países as barreiras norteamericanas ao comércio começaram a ser derrubadas 289832 Os governos ocidentais também adotaram programas domésticos para conter a explosão do desemprego facilitar a or ganização sindical e incorporar os movimentos trabalhistas à política O New Deal norteamericano e o governo da Frente Pop ular francesa eram apenas os exemplos mais proeminentes de tais tendências Uma evolução similar e até mesmo mais declarada ocorreu na Escandinávia onde governos socialistas lideraram o movimento em direção à liberalização do comércio Sem a carnifi cina econômica causada pela depressão emergiram os primórdios do Estado do bemestar social entendidos como uma aceitação geral da provisão por parte dos governos de seguros sociais políticas sociais básicas e gerenciamento macroeconômico na tentativa de evitar a volatilidade da macroeconomia No Ocidente novos indivíduos partidos e classes tentavam outros arranjos políticos que permitiam em vez de rejeitarem satisfazer simul taneamente os compromissos econômicos domésticos e inter nacionais e que permitiam também em vez de rejeitarem a ex istência de uma economia de mercado simultaneamente a uma participação ativa dos governos Governos do centro leste e sul da Europa além do Japão voltaramse para suas próprias economias quando a crise se abateu Nesse aspecto eram como o resto do mundo Mas difer entemente da Europa ocidental e da América do Norte essas re giões logo foram dominadas pelos novos governos fascistas ou protofascistas que continuavam rejeitando a economia inter nacional Esses governos trouxeram o conceito de autarquia isolamento deliberado do resto do mundo para a organização econômica o qual se tornou uma boa descrição da atitude fascista em relação à economia mundial Além da economia autárquica a conduta fascista envolvia um controle severo sobre os trabalhadores Os movimentos trabalhis tas já existentes foram banidos junto com os partidos socialistas e comunistas aos quais eram afiliados Estes foram substituídos por 290832 frentes trabalhistas que definiam os interesses dos trabal hadores e então os atendiam Não que os interesses dos trabal hadores fossem ignorados os nazistas foram os responsáveis pela mais rápida e duradoura redução do desemprego no mundo industrial mas não havia como expressar esses interesses de forma independente Governos fascistas também podiam coagir empresas caso se tornassem empecilhos para objetivos políticos importantes mas as grandes corporações eram mais capazes de desobedecer ou resistir às pressões dos governos do que trabal hadores desorganizados As políticas econômicas fascistas e neo fascistas do centro leste e sul da Europa e do Japão militarista contrastavam com aquelas do lado ocidental do continente O Ocidente tentava reconstruir a integração econômica internacion al enquanto os fascistas tentavam se proteger dela o Ocidente trouxe a mão de obra organizada para dentro do governo ao passo que os fascistas destruíram seus movimentos trabalhistas As economias semiindustriais da América Latina e Rússia buscaram alternativas diferentes tanto para a ortodoxia da pré Primeira Guerra Mundial quanto para a socialdemocracia ocidental Os soviéticos construíram uma autarquia comunista mesmo tendo implementado a industrialização mais rápida da História Na América Latina e em outras regiões em desenvolvi mento a vocação anterior para produzir alimentos e matériaspri mas para exportação não conseguia sobreviver em um mundo em que a demanda e os preços sofriam quedas crônicas Na década de 1930 forçado a retomar as próprias rédeas o mundo em desen volvimento mais uma vez canalizou a energia para o crescimento nacional A sociedade urbana e a indústria moderna cresceram rapidamente nas áreas semiindustriais da América Latina e do Oriente Médio Apesar de divisões e diferenças um fio condutor comum uniu as reações de todos os países industriais e semiindustriais contra a depressão econômica Todos com exceção da União Soviética 291832 que buscava um socialismo organizado implementaram de uma forma ou de outra algum tipo de capitalismo organizado Governos apoiaram cartéis para que os preços se estabilizassem permitiram ou estimularam uma organização de salários e manip ularam as políticas macroeconômicas para afetar a economia nacional O caos dos primeiros anos pós1929 deixou marcas em todos os lugares que apontavam para o fim do laissezfaire e em direção a uma participação vigorosa dos governos na economia Para alguns países o experimento era uma tentativa para outros algo revolucionário mas em toda parte o caminho estava livre para novas abordagens acerca dos problemas das economias modernas Abaixo o antigo A violência da depressão econômica teve origem no choque entre os interesses e as ideias que imperavam antes de 1914 e os desen volvimentos sociais e econômicos que modificaram o mundo desde então Frente ao declínio inicial os governos implement aram policias herdadas do capitalismo global clássico cujos de fensores eram muitos e poderosos nos círculos dominantes Isso pressupunha uma configuração anterior de pequenas empresas trabalhadores desunidos e teoricamente condições perfeitas de competição além de um sistema político que pudesse resistir a pressões e aliviar o sofrimento dos trabalhadores e das pessoas mais pobres No entanto as economias industriais passaram a ser dominadas por corporações enormes produção em massa e bens de consumo complexos os sindicatos trabalhistas tornaramse muito mais fortes do que antes da Primeira Guerra Mundial e os sistemas políticos eram de longe mais democráticos As políticas clássicas para conter a catástrofe variavam de inúteis a contrapro ducentes e os governos ainda motivados pela fé nas soluções 292832 apresentadas pelo padrãoouro continuavam a insistir nesse tipo de regime enquanto as condições pioravam O novo capitalismo organizado em torno de grandes empresas e movimentos trabalhistas fortes junto com a fragilidade fin anceira e a rigidez de preços e salários tornou obsoleto o mecan ismo clássico de ajuste A ortodoxia em relação à competição não se adequava aos problemas do capitalismo industrial democrático organizado que se desenvolvera a partir do capitalismo global da Era de Ouro Ao mesmo tempo os conflitos europeus que não fo ram solucionados em Versalhes e a relutância norteamericana em tomar parte nas questões do Velho Mundo bloquearam a co operação entre os centros financeiros que os havia ajudado a su perar as dificuldades surgidas antes de 1914 A severidade da de pressão econômica refletiu a contradição fundamental existente entre os princípios tradicionais da economia mundial clássica pré1914 e a nova organização das sociedades internacionais e domésticas A velha guarda dos banqueiros internacionais dos invest idores imperiais das indústrias poderosas e das aristocracias rurais tentou enfrentar a crise com medidas tradicionais Eles seguiram à risca os compromissos impostos pelo padrãoouro e pelo regime financeiro internacional e mantiveram uma hostilid ade concomitante às políticas governamentais intervencionistas Mostraramse completamente incapazes de lidar com as crises econômicas nacionais e com as urgências sociais domésticas A in sistência dos tradicionalistas em políticas falidas apenas inflamou seus opositores nos movimentos trabalhistas nos círculos empresariais e entre os pequenos produtores agricultores e in telectuais Por fim o fracasso da panaceia clássica suscitou novas ideias e novos grupos de interesses e logo o poder mudou de mãos em toda parte Eventualmente a crise contínua conduziu países e classes na direção de novas formas de agir contra a depressão econômica 293832 Alguns foram procurar respostas nos extremos políticos buscando no comunismo ou no fascismo a saída para os prob lemas aparentemente insolúveis do capitalismo ortodoxo Outros até mesmo das classes políticas e empresariais que durante muito tempo lideraram suas sociedades estavam igualmente ávidos por novas abordagens neste caso mais para salvar o capitalismo do que para substituílo Novas formas de organização econômica e política pediam novas maneiras de se lidar com elas e por meio dessas novas maneiras é que os países traçaram seus caminhos para superar a depressão econômica A ordem econômica clássica fracassou Nem a recuperação parcial a tentativa de reconstrução da ordem econômica inter nacional as ilhas de crescimento em meio à estagnação os novos produtos e as técnicas recémdisponíveis poderiam disfarçar esse fato A velha ordem não promoveu crescimento econômico nem estabilidade tampouco proteção contra o caos Também não trouxe paz nem cooperação Na verdade é possível que tenha acirrado os conflitos entre as nações Os que criticavam o capital ismo global sejam fascistas ou comunistas se mostravam como inocentes frente à incapacidade do sistema de superar as di ficuldades do período entre 1914 e 1939 O fato de que o rápido crescimento econômico só foi restabelecido devido à corrida armamentista da época tornouo na verdade apenas um conforto ilusório a Grupo que reunia intelectuais de esquerda na GrãBretanha nas décadas de 1930 e 1940 Organizava debates e lançava livros NT b Uma referência ao potencial industrial de Chicago considerada na década de 1930 a cidade que trabalha NT c Expressão usada quando ações e títulos sofrem grandes perdas no mercado e são vendidos a preços muito baixos NT 294832 d O termo não é comum em política mas referese às medidas que liquidem os in vestimentos ruins os empréstimos ruins os produtos inúteis e tudo o que estiver em excesso na economia NT e Grilhões de ouro NE 295832 9 Em direção à autarquia Em março de 1933 Adolf Hitler chocou o mundo ao nomear Hjalmar Schacht como o encarregado pela economia alemã Schacht era o mais conhecido formulador de políticas econômicas da Alemanha e um dos pilares da ortodoxia do padrãoouro inter nacional Como publicou a The Economist Nenhum banqueiro do mundo havia pregado com tanto fervor o equilíbrio orça mentário a adesão ao padrãoouro a eliminação de restrições à livre movimentação de capital e outros elementos da crença orto doxa1 Alemães de classe média idolatravam o homem que havia acabado com a inflação Os capitães da indústria alemã confiavam nele por considerálo um competente especialista em finanças Governantes estrangeiros e investidores admiravam Schacht por sua ponderação quando interlocutor durante as difíceis nego ciações sobre as dívidas e indenizações de guerra Schacht entretanto abandonou a ortodoxia após 1929 e propôs novas formas de lidar com a crise O novo método incluía um distanciamento dos mercados mundiais uma vigorosa inter venção do Estado na economia e uma atuação maciça do setor público Para que seu plano fosse implementado ele necessitava de um governo forte Dessa forma recorreu aos nazistas para con duzir o abandono do capitalismo global O paradigma alemão de internacionalismo econômico clássico levou o país à rejeição de todos esses mesmos princípios Schacht não estava só Durante a depressão econômica ele convenceu quase todo mundo da falência dos preceitos tradicion ais de economia e política O antigo regime econômico mundial mercados globais de bens e capitais padrãoouro mínima parti cipação do governo na economia parecia ter funcionado re lativamente bem antes de 1914 Entretanto durante o colapso dos mercados internacionais na década de 1930 os governos foram forçados a intervir para salvar a economia nacional e em toda parte buscavase um substituto para o tradicionalismo fracassado Assim como Schacht grande parte do mundo optou pela al ternativa autárquica a autossuficiência econômica Países do centro sul e leste da Europa de Portugal à Letônia e da Ale manha à Grécia adotaram alguma variante do fascismo autár quico Os países da América Latina se concentraram no desenvol vimentismo autárquico As políticas econômicas de outros países independentes em desenvolvimento se assemelhavam de forma gritante às da América Latina como ocorria com as colônias mais avançadas Os países semiindustriais um após o outro se lançaram no novo nacionalismo econômico Romênia e México Argentina e Japão Itália e Rússia todos rejeitaram o padrãoouro im puseram uma proteção comercial proibitiva passaram a exercer controles severos sobre os investimentos internacionais conden aram os banqueiros estrangeiros e a quantia que a eles deviam e lideraram a marcha em direção ao crescimento industrial mod erno Uma camada inteira da estrutura social global as classes médias das nações não os ricos tampouco os extremamente pobres tomou um rumo diferente e muitas vezes violento do seguido pela Europa ocidental e a América do Norte 297832 A autossuficiência semiindustrial Apenas um elemento determinava se um país seguiria a autarquia e o autoritarismo ou permaneceria democrático e aberto econom icamente se esse país era um credor ou um devedor internacion al Todos os regimes autárquicos os Estados fascistas da Europa a União Soviética os governos desenvolvimentistas da América Latina e da Ásia governaram nações cujo fluxo de en trada e saída de capitais era negativo Todos os países devedores seguiram pelo caminho da autarquia fascista ou nacionalista to dos os países credores permaneceram democráticos e compro metidos com a integração econômica internacional a Tchecoslov áquia e a Finlândia apresentavam um balanço financeiro inter nacional rudimentar As nações devedoras se diferenciavam por serem de natureza semiindustrial Eram suficientemente pobres para dependerem das exportações de produtos primários bens agrícolas e matérias primas mas eram suficientemente ricas para desenvolverem in dústrias urbanas que produziam para o mercado doméstico Tam bém eram pobres o suficiente para necessitarem de empréstimos estrangeiros mas ricas o bastante para conseguirem obter crédi tos Seus importantes setores exportadores coexistiam com setores industriais em crescimento e a coexistência de setores econômicos nacionalistas e internacionalistas fez emergir confli tos quando a economia mundial entrou em colapso Até a depressão econômica os governos dos países devedores guiaramse pelas normas financeiras internacionais já que apen as os que agiam conforme as expectativas dos credores con seguiam empréstimos Eles contavam com o comércio os emprés timos e os investimentos internacionais e lutavam para fixar suas moedas no ouro e integrar seus mercados ao resto do mundo As classes dominantes dos países devedores dependiam da economia internacional Banqueiros e comerciantes grandes 298832 proprietários de terras exportadores de produtos manufaturados mineradores barões da madeira e produtores de petróleo todos tinham laços globais Suas principais empresas pediam emprésti mos no exterior ou pertenciam a estrangeiros em caso de seus governos gerarem déficits eles o financiavam em Londres Nova York ou Paris Contanto que a economia mundial estivesse bem o desempenho desses países era bom algumas vezes excelente Entretanto o crescimento econômico dos devedores criou novos grupos sociais menos entusiasmados com a economia glob al Os industriais que produziam para o mercado doméstico dese javam proteção contra a competição estrangeira Os trabalhadores urbanos se ressentiam do sacrifício que precisavam fazer para apoiar o padrãoouro do qual quase não se beneficiavam A realidade do entreguerras enfraqueceu os internacionalistas conservadores das nações devedoras desafiando tanto seu con servadorismo quanto seu internacionalismo Primeiro surgiu a nova política de massas uma vez que eventos como o crescimento econômico a Primeira Guerra Mundial e o fortalecimento dos movimentos comunistas e socialistas ao redor do mundo ajudaram a esquerda e os trabalhistas a crescerem em termos de tamanho e poder Os setores médios artesãos pequenos comerciantes e produtores agrícolas também eram cada vez mais ativos politicamente Os milhões de trabalhadores e agri cultores além de outros que imploravam por regimes autocráti cos não podiam ser ignorados No início da década de 1920 os movimentos de massa de esquerda e de direita ameaçavam a he gemonia política das classes dominantes tradicionais O segundo motivo para o enfraquecimento dos conservadores foi o colapso de suas bases econômicas durante a Grande De pressão Ragnar Nurkse economista estoniano da Liga das Nações afirmou 299832 Durante a crise financeira internacional era uma piada comum em alguns países a comparação entre um credor internacional e um guardachuva que podia ser tomado emprestado livremente desde que o tempo estivesse bom mas que precisava ser devolvido assim que começasse a chover2 Quando os mercados mundiais quebraram aqueles nas nações semiindustriais que dependiam de contratos em Londres Paris e Nova York viram seus parceiros estrangeiros se enfraquecerem falirem ou irem embora À medida que a crise persistia as obrigações herdadas da eco nomia aberta aumentavam o sofrimento Os banqueiros inter nacionais e seus aliados domésticos haviam sobrecarregado os países com dívidas imensas cujos pagamentos causariam um de sastre Os investidores e comerciantes globais impuseram a tira nia do ouro que levou todos à ruína Agentes locais do mercado mundial tornaram nações inteiras escravas das dívidas Desde a virada do século no vácuo aberto pelos debilitados conservadores novos grupos foram criados ou passaram a se mo bilizar A economia aberta fora desafiada pelos que desejavam proteção contra os produtos estrangeiros e não acesso a eles An tigas alianças se desfizeram e novas foram formadas Quando os países devedores se voltaram para a autarquia na década de 1930 estes rejeitaram suas dívidas externas a de pendência dos mercados mundiais e as vantagens comparativas Os antigos setores de especialização foram taxados para estimular as áreas da economia que sofriam com a competição externa em especial a indústria nacional Eles abriram mão do capital e dos mercados estrangeiros e se voltaram para os mercados domésti cos e as finanças nacionais Governos passaram a tomar conta da transformação completa da economia nacional Os países semiindustriais haviam sido dependentes das re gras clássicas pois tinham privilegiado as oportunidades econôm icas internacionais como a produção agrícola de matérias 300832 primas e manufatureira para exportação em detrimento da produção de alimentos e das manufaturas para o mercado doméstico Com o mercado mundial e seus agentes locais em de sordem as autarquias se afastaram da competição internacional e se voltaram para o uso de recursos nacionais com a finalidade de atender as exigências internas Disso resultou uma série de medi das que reforçaram o nacionalismo econômico do Japão a Por tugal e do Brasil à Alemanha Schacht e os nazistas reconstroem a Alemanha Hjalmar Schacht era um típico alemão da velha escola colarinho impecável mulher prussiana meticulosamente correta e interesse obsessivo por riqueza e prestígio Assim como John Maynard Keynes ele era um produto da ordem econômica clássica criado para apoiar a ortodoxia do passado padrãoouro equilíbrio orça mentário e livrecomércio A aproximação de Schacht e Hitler simbolizou o casamento de conveniência dos fascistas de discurso inflamado com os empresários alemães conservadores Schacht e aliados no meio empresarial precisavam dos nazistas para solu cionar os problemas econômicos do país O arquiteto e engenheiro do nacionalismo econômico nazista era filho de pais progressistas e internacionalistas uma aristo crata dinamarquesa e um alemão da região de SchleswigHol stein cujo controle vivia entre a Dinamarca e várias jurisdições da Alemanha Tinglev a cidade natal de Schacht faz atualmente parte da Dinamarca3 Seus pais imigraram para Nova York no in ício da década de 1870 o pai foi naturalizado norteamericano e se tornou defensor ativo das causas progressistas do país Eles voltaram para a Alemanha pouco antes de terem o segundo filho aparentemente porque as condições em seu país natal melhor aram O casal escolheu o nome de Hjalmar Horace Greeley 301832 Schacht para o menino em homenagem ao candidato de Nova York à Presidência e dono do jornal que havia publicado mensagens de Karl Marx da Europa Após uma trajetória universitária medíocre Hjalmar fez sua dissertação de fim de curso em economia política Ele não tinha interesse na erudição acadêmica e não fora bemsucedido nas perguntas filosóficas abstratas que lhe foram feitas durante a prova oral de doutorado4 Schacht queria o diploma apenas para ingressar no mundo dos negócios e em 1903 foi trabalhar para o Dresdner Bank um dos maiores bancos da Alemanha Casouse com Luise seu amor de longa data e cuja origem prussiana reacionária complementava o seu caráter não conformista o pai dela era um inspetor da policia imperial Schacht atuou por pouco tempo na administração financeira do governo durante a Primeira Guerra Mundial quando foi acusado de usar o cargo para benefi ciar o Dresdner Bank Após a guerra tornouse um dos dois chefes do Danatbank outra instituição financeira de peso Ele se distinguia de seus colegas principalmente pelas am bições políticas e disse que sua fascinação por política surgiu aos 11 anos quando viu o Kaiser Guilherme II em Hamburgo O jovem Schacht ficou encantado com toda a pompa e a circunstân cia da visita imperial Escreveu mais tarde que poder é uma pa lavra vazia até que se veja uma exibição de poder imediata mente entendi o significado da palavra política5 Sua principal incursão na arena política ocorreu no dia em que a Alemanha derrotada assinou o armistício que pôs fim à Primeira Guerra Mundial Schacht e outros liberais acreditavam que apen as uma aliança entre as classes empresariais moderadas e socialis tas moderados poderia salvar a Alemanha Dessa forma o Partido Democrata alemão foi formado já que nas palavras de Schacht a classe média de esquerda se lançaria aos bandos junto com as or ganizações trabalhistas na próxima coalizão de governo6 302832 O Partido Democrata de Schacht ocupava uma posição central na República Democrática de Weimar como o partido burguês mais progressista e um dos principais aliados parlamentares dos socialistas Schacht e os democratas de centroesquerda defen diam uma economia clássica liberal mas que incluísse extensos programas sociais um capitalismo de mercado mais humano melhor dizendo Alguns dos principais nomes do empresariado principalmente da ala internacionalista do capitalismo alemão se uniram aos democratas Estes eram hostis ao socialismo da extremaesquerda e ao nacionalismo exacerbado e o intervencion ismo econômico da direita radical O ativismo de Schacht no Partido Democrata o tornara con hecido dentro e fora do país Em novembro de 1923 a inflação alemã atingiu seu nível mais alto Revolucionários comunistas ameaçaram tomar o poder em diversos estados e cidades da Ale manha e os nazistas de Adolf Hitler tentaram dar um golpe em Munique O governo de centroesquerda precisava de alguém que contornasse a situação econômica mas o Banco Central alemão era dirigido por um conservador pouco confiável que nada havia feito para controlar a inflação Schacht possuía credenciais im pecáveis nos meios financeiros e políticos como banqueiro e membro de um partido democrático liberal Em 13 de novembro de 1923 aos 46 anos Hjalmar Schacht tornouse o responsável pela moeda nacional alemã Dois dias de pois as impressoras de notas pararam e Schacht anunciou o novo rentenmark a moeda indexada em propriedades e que podia ser trocada pelos marcos antigos a uma taxa de câmbio de um para um trilhão Em novembro de 1920 o presidente do Banco Central morreu O governo nomeou Schacht para a presidência do Reichs bank Como era de esquerda acabou não sendo bemrecebido pelos partidos conservadores nem por quase toda a diretoria do banco 303832 Com Schacht no comando da moeda o valor do marco se manteve estável pela primeira vez em anos Ele conseguiu apoio no exterior para a estabilização enquanto o governo aumentava os impostos e cortava custos para evitar mais uma vez os gastos deficitários Na primavera de 1924 a terrível inflação alemã havia sido derrotada e nas ruas do país os créditos dessa vitória eram de Schacht Ele sabia que a economia alemã não estaria totalmente recu perada até que a questão das indenizações fosse resolvida Assim em 1924 Schacht ajudou nas negociações do Plano Dawes para regularizar a posição financeira internacional da Alemanha e garantir o acesso do país ao capital estrangeiro Durante os seis anos seguintes ele foi o principal representante da Alemanha nas questões econômicas internacionais viajou pela Europa e América do Norte para negociar dívidas de guerra indenizações e assuntos relativos a comércio e câmbio Fazia pronunciamentos no centro decisório da economia e da política internacionais Além de ser um nacionalista ferrenho também era um dos principais portavozes da ortodoxia do padrãoouro Schacht era acima de tudo um pragmático e a depressão eco nômica fez com que ele questionasse a eficiência das soluções tradicionais Ele rompeu completamente com o passado em 1930 quando lutava para renegociar as obrigações da Alemanha Sentiuse traído pelo governo alemão Diante da situação econ ômica desesperadora o governo se movia em direção a políticas consideradas por Schacht fiscalmente irresponsáveis e se aprox imava de seus aliados estrangeiros que pressionavam o país para a obtenção de concessões julgadas por ele inaceitáveis Após ter lutado em duas frentes contra a imoralidade interna e a explor ação externa Schacht renunciou ao cargo de presidente vitalí cio do Reichsbank em março de 1930 No fim desse mesmo ano Schacht veio a conhecer os nazistas por meio de Hermann Göring Em janeiro de 1931 conheceu 304832 Adolf Hitler e começou a pressionar os círculos dominantes para levar Hitler ao governo guiado e modelado por um programa conservador com o objetivo de enfrentar a situação de emergên cia Em 1931 respondeu a um jornalista norteamericano Não os nazistas não podem governar mas eu posso governar por meio deles7 Durante 1931 e 1932 Schacht convenceuse de que em suas próprias palavras esse partido tomaria a liderança no próx imo governo Em outubro de 1931 Schacht foi a uma reunião da extrema direita alemã liderada por Hitler e proferiu um discurso duro atacando o governo Luise sua mulher que apoiava Hitler desde o começo ficou extasiada À medida que os nazistas começaram a angariar apoio eleitoral Schacht escreveu a Hitler Você pode sempre contar comigo como seu fiel assistente8 Mesmo após a eleição de novembro de 1932 quando os nazistas receberam pou cos votos o endosso de Schacht estampava as primeiras páginas da imprensa alemã Apenas um homem pode agora se tornar chanceler e este homem é Adolf Hitler9 Logo em seguida Hitler se tornou chanceler escolhido pelos conservadores que consideraram ser este o último recurso Após as eleições Schacht passou a atuar como intermediário entre os empresários simpatizantes e os nazistas No fim de fevereiro de 1933 Hitler e Göring se encontraram com financistas e industri ais influentes para garantir respaldo político e financeiro Göring tentava conseguir o apoio com a promessa de que se os nazistas ganhassem essa seria a última eleição dos próximos dez anos provavelmente até mesmo dos próximos 100 anos10 Quando os líderes nazistas deixaram a sala Schacht disse Muito bem sen hores Agora à caixa registradora11 Ele recolheu três milhões de marcos para os nazistas e seus aliados que venceram as eleições de 5 de março a última da Alemanha do préguerra Duas seman as mais tarde Hitler nomeou Schacht presidente do Reichsbank 305832 Hjalmar Schacht nunca fora membro do Partido Nazista e não concordava com vários de seus princípios Mas assim como mui tos da ala conservadora do empresariado consideravaos capazes de utilizar o poder para reafirmar o nacionalismo alemão As idei as econômicas nazistas transitavam entre o disforme e o bizarro mas Schacht estava confiante de que eles poderiam preencher o vácuo político no país Nenhuma outra força política conseguiria manter a Alemanha unida contra a ameaça comunista e o caos e Hitler parecia disposto a dar passe livre a Schacht Apesar de sua origem clássica e ortodoxa Schacht concordava com algumas ideias importantes de Hitler Ele passou a ver a es querda com suspeita e até mesmo ódio e considerava as potên cias ocidentais exploradoras Schacht acreditava que o governo precisava usar o poder centralizado para reaquecer a economia sem ressuscitar a inflação Ele também era levemente antissemita da mesma forma que muitos alemães de sua geração Os judeus precisam aceitar que a influência que exerciam sobre nós termin ou de uma vez por todas Queremos manter nossa cultura e nosso povo puros 12 Ao mesmo tempo ele abominava a vulgaridade dos nazistas e seu violento antissemitismo Schacht era contra as restrições impostas às lojas de judeus e ajudou a traçar um plano de emigração que salvou a vida de muitos judeus alemães Apesar das diferenças Hitler e Schacht concordaram em 1933 que a prioridade daquele momento era estimular a eco nomia e reduzir o desemprego Demonstrando que não concor dava com todas as ideias nazistas Schacht escreveu Já que agora me fora concedida a oportunidade de acabar com o desemprego de 65 milhões de pessoas todas as outras considerações devem ser deixadas de lado Não foi por ambição pessoal por con cordar com o Partido Nacional Socialista ou por sede de ganhos que retornei ao meu antigo cargo mas simples e somente para terminar com a ansiedade de bemestar de grandes parcelas de nosso povo13 306832 O próprio Hitler tinha uma ideia clara de como Schacht poder ia satisfazer as necessidades nazistas Ele é disse Hitler posteri ormente a alguns companheiros um homem de uma habilidade surpreendente e insuperável na arte de conseguir o melhor do outro Mas foi apenas a capacidade dele de enganar os outros que o tornou indispensável naquele momento14 O novo presidente do Reichsbank era respeitado pelos grupos cujo apoio ou pelo menos a abstenção seria essencial para os nazistas Além disso ele era capaz de tomar medidas ousadas para atacar a crise econ ômica alemã Reconhecendo o sucesso de Schacht em julho de 1934 Hitler entregou a ele o Ministério da Economia e um ano mais tarde o tornou general plenipotenciário da economia de guerra Schacht tinha total controle da política econômica alemã Hitler concedeu a Schacht poderes absolutos sobre a caótica economia germânica cujo desemprego atingia mais de 30 da força de trabalho A prioridade política dos nazistas era destruir a esquerda e os trabalhistas mas a prioridade econômica era pôr fim ao desemprego extremo o que num primeiro momento torn ara a esquerda poderosa e atraente Hitler fez com que esse objet ivo se tornasse claro para o novo ministro que traçou o chamado Plano Schacht para reconstruir a economia evitar a inflação res taurar o comércio internacional do país e permitir o rearmamento Schacht de fato acabou com o desemprego em um prazo de três anos O governo nazista criou meio milhão de empregos para os jovens mandandoos para trabalhos comunitários ou agrí colas Outro meio milhão de desempregados foi enviado para con struir estradas de ferro concertar pontes e ajudar nos setores públicos O governo promoveu cortes salariais para estimular a iniciativa privada a contratar novos trabalhadores e concedeu subsídios aos empregadores para que eles aumentassem a sua força de trabalho Os gastos totais do governo que em 1929 cor respondiam a 16 do PIB cresceram atingindo 23 do PIB em 307832 1934 Grande parte desses gastos se concentrava nos setores que reduziriam o desemprego construção transportes criação de tra balho e rearmamento Em dois anos de 1932 a 1934 esses quatro setores que eram responsáveis por 15 dos gastos governamen tais passaram a responder por mais da metade das despesas do Estado Mesmo se excluirmos o rearmamento os programas de criação de postos de trabalho para os quais em 1932 foram desti nados menos de dois bilhões de marcos passaram a consumir oito bilhões em 1934 o que significava de 10 a 35 do total de gastos públicos Os nazistas também ajudaram a sua base de apoio isentaram os fazendeiros do pagamento de impostos e em préstimos além de apoiarem os preços agrícolas Também per mitiram que pequenos comerciantes firmassem contratos com o governo Tudo isso envolvia déficits orçamentários substanciais cerca de 5 do PIB em média durante os primeiros quatro anos do governo nazista os gastos superiores à receita eram consid eravelmente maiores do que em qualquer outro lugar Em 1936 a economia encontravase essencialmente em um estado de pleno emprego e em 1937 e 1938 houve escassez de trabalhadores15 Normalmente tais programas teriam suscitado o medo da in flação mas Schacht escreveu tentando amenizar que o nacionalsocialismo introduziu na Alemanha uma economia regu lada pelo Estado possibilitando que o aumento de preços e salári os fosse impedido16 O aumento dos preços estava fora de questão uma vez que os nazistas destruíram o movimento trabal hista e instauraram o terror nos locais de trabalho Hitler garantiu a Schacht que os financiamentos mediante déficit não levariam a um aumento dos preços já que o novo regime modificaria as re lações econômicas convencionais A primeira explicação para a estabilidade de nossa moeda é o campo de concentração17 Nas palavras de Hitler 308832 Inflação é falta de disciplina Cuidarei para que os preços per maneçam estáveis Para isso é que serve minha tropa de assalto Será a desgraça dos que elevarem os preços Não precisamos de uma legis lação para lidar com eles Nós faremos apenas com o partido Vocês verão uma vez que nossas tropas visitarem um estabelecimento para consertar as coisas nada parecido acontecerá pela segunda vez18 Schacht também fez uso do poder político do regime para im plementar uma forma de autarquia que se tornou conhecida como economia schachtiana O governo promovia um controle rigoroso sobre a utilização de moeda estrangeira e sobre os alemães que levavam dinheiro do país para o exterior Todos os pagamentos de débitos externos do país sem falar nas indenizações foram suspensos Schacht colocou em prática um sistema de taxas de câmbio múltiplas oferecendo os melhores preços para indústrias favorecidas e aliados estrangeiros O controle de capitais e de câmbio mantinha em casa a maior quantidade possível de din heiro fazendo com que os nazistas pudessem investir no serviço público no desenvolvimento industrial e no rearmamento O Reich milenar também construiu uma rede de comércio na Europa central e do leste de forma a preparar sua esfera de in fluência Schacht planejou um sistema elaborado de comércio preferencial impondo termos desfavoráveis aos países da órbita econômica e política dos nazistas No fim de 1920 a Alemanha era responsável por 15 de todo o comércio de Hungria Romênia Bulgária Iugoslávia Grécia e Turquia Até o fim de 1930 esse índice passou a ser em média superior a 40 e para alguns países era ainda maior A parcela do comércio alemão com esses seis países em relação ao total triplicou nesse período uma vez que a virtual área econômica alemã se tornou de fato uma realidade econômica e diplomática19 Schacht tirou a política econômica alemã das profundezas da depressão e a conduziu para a recuperação e a reconstrução autárquica Seu próprio sucesso criou as condições que o 309832 tornariam irrelevante Os nazistas precisaram dele para recuperar a confiança dos estrangeiros dos capitalistas domésticos e da classe média alemã Agora o trabalho estava quase todo feito e em 1936 os conflitos entre Schacht e o governo nazista começaram a aumentar Por um lado o regime de Hitler centralizou o poder político e os recursos financeiros reduzindo a importância dos capitalistas privados Em 1938 os nazistas possuíam mais de 500 empresas estatais de peso metade de todos os investimentos era feita pelo Estado e os gastos do governo correspondiam a 34 do PIB um aumento significativo se considerarmos os 15 do fim da década de 192020 Por outro lado enquanto Schacht e outros empresários que pensavam de forma semelhante apoiavam a autarquia como forma de se concentrar no crescimento econômico nacional eles não eram favoráveis a um isolamento da economia mundial a longo prazo Porém logo ficou evidente que os nazistas não tin ham qualquer intenção de restabelecer laços econômicos com o Ocidente Por fim os cada vez mais belicosos desígnios de Hitler começaram a preocupar Schacht e outros empresários Uma coisa era a reconstrução da posição internacional da Alemanha outra bem diferente seria provocar uma guerra no continente Os nazistas reduziram a influência de Schacht quando se con solidaram no poder No decorrer de 1936 o arquiteto da recuper ação era cada vez mais ignorado Herman Göring conseguiu um controle maior sobre a política econômica defendendo a subor dinação dela aos objetivos políticos e militares do governo Eu disse Göring não reconheço a santidade de nenhuma lei econ ômica21 Para Schacht isso era uma heresia assim como o era a recusa da liderança nazista em salvaguardar o papel da empresa privada Göring confrontou Schacht diretamente Contra essa concepção de liberalismo e economia estabelecemos nossa concepção de nacionalsocialismo e isso quer dizer no centro 310832 da economia estão o povo e a nação não o indivíduo e seus lucros trabalho e economia existem exclusivamente para o povo22 Após tentar se opor a essas ideias em meados de 1937 Schacht parou de ir ao escritório do ministério Em novembro a renúncia dele ao cargo foi anunciada Der Führer ironizou a revista Time demitiu o Schacht ouvido ao redor do mundo23 Em pouco mais de um ano Schacht também foi dispensado da presidência do Reichsbank A partir de 1938 passou a ser malvisto pelo governo nazista O exditador das finanças participou de uma série de planos contra Hitler Após o fracasso da principal tentativa de golpe ocorrida em julho de 1914 Schacht foi preso e ficou encarcerado durante quatro anos primeiro em cadeias nazistas depois no campo de concentração de Dachau e por fim em uma série de prisões alemães e aliadas Schacht foi um dos 24 réus iniciais de Nuremberg e um dos três absolvidos Ele foi então indiciado pelas autoridades alemães do pósguerra mas liberado em seguida Atuou como consultor financeiro por cerca de mais uma década e morreu em 1970 aos 93 anos em Munique Sua vida durou quase um século e passou por diversas eras De criança admiradora do Kaiser Guil herme II a líder financeiro durante a Era de Ouro pré1914 pas sando por tentativas de restabelecer a normalidade na década de 1920 pela ascensão e queda do Reich e pelo benefício do milagre alemão do pósguerra A maior qualidade de Hjalmar Horace Greeley Schacht também era seu aspecto moral mais ques tionável Ele arquitetou uma reação extraordinariamente eficaz à depressão econômica que fortaleceu o governo mais sanguinário dos tempos modernos e preparou o terreno para a guerra mais devastadora da história mundial As políticas econômicas autárquicas 311832 Assim como a Alemanha as outras autarquias fomentaram a produção nacional para fins domésticos em especial o cresci mento industrial Em toda parte o foco nas questões internas fora justificado como algo necessário para a modernização da eco nomia continuar dependendo dos mercados mundiais apenas geraria atraso A Alemanha era uma potência industrial e a Itália apresentava certo desenvolvimento mas ambas objetivavam fortalecer a indústria para não dependerem de estrangeiros hostis e mais tarde fornecerem recursos para reafirmar sua capacidade militar Alguns governos também apoiaram a agricultura não os produtores voltados para exportação das economias abertas an teriores mas aqueles que podiam garantir a autossuficiência alimentar As autarquias buscavam a modernização industrial pelos já testados meios de tornar os investimentos no setor excepcional mente lucrativos aumentando os preços dos produtos industriais produzidos internamente e diminuindo o valor dos custos de produção Nesse aspecto seguiam uma antiga tradição Os im périos mercantilistas dos séculos XVII e XVIII forçavam as colônias a venderem barato suas matériasprimas e a comprarem produtos manufaturados a preços altos direcionando os lucros para os comerciantes das metrópoles e manufatureiros Países de desenvolvimento tardio como os Estados Unidos repetiram esse padrão tarifas altas para produtos manufaturados obrigavam os produtores agrícolas e mineiros a pagarem preços inflados à in dústria ao passo que entregavam seus alimentos e matériaspri mas a preços estabelecidos no mercado mundial Tanto o prote cionismo mercantilista quanto o neomercantilista tornaram as condições comerciais favoráveis à indústria aumentaram os preços dos produtos que as indústrias vendiam e diminuíram o valor dos bens comprados para a produção industrial As autarquias transformaram os termos internos de troca para favorecer o investimento industrial contra a agricultura e o 312832 consumo Os governos direcionavam os recursos dos setores primários do passado cuja produção era voltada para a ex portação para o setor industrial do futuro voltado para dentro e dos bolsos de trabalhadores e fazendeiros também para o investi mento industrial Bens de consumo caros e salários baixos signi ficavam más condições de vida para os trabalhadores apesar da retórica populista e dos programas governamentais de grande vis ibilidade Os nazistas anunciaram que haviam resgatado a dignid ade dos produtores agrícolas e dos trabalhadores No entanto os salários reais em 1938 continuavam mais baixos que em 1933 e 1929 e os preços agrícolas artificialmente baixos contribuíram para que agricultores deixassem o campo em direção às cidades24 Os salários reais na Itália do fim da década de 1930 regressaram aos índices préPrimeira Guerra Mundial 20 mais baixos do que em 1921 antes de Mussolini tomar o poder25 Na ditadura do proletariado soviética a transformação da economia na direção da indústria veio acompanhada de grande sofrimento para muitos da classe trabalhadora26 Subsidiar a indústria à custa de atividades econômicas tradi cionais exigia uma complexa variedade de políticas contínuas Preços mais altos para a indústria demandavam um controle rig oroso sobre o comércio externo que mantivesse afastada a concor rência mais barata Os governos impunham tarifas altas cotas e outras restrições ou proibiam diretamente a importação de produtos estrangeiros Muitos governos passaram a controlar to do o comércio internacional A Alemanha e seus parceiros comer ciais da Europa central e do leste desenvolveram sistemas de compensações na base da troca de forma que a aspirina alemã enviada para a Hungria se igualava ao trigo húngaro mandado para a Alemanha27 Essa proteção excessiva seja qual for sua forma levou à substituição de importações à troca de produtos antes importados por bens locais Os esforços para restringir o comércio foram bemsucedidos os índices do comércio exterior 313832 alemão de 1938 mal correspondiam a 30 do que eram em 1928 e o declínio enfrentado pelas outras autarquias era apenas um pou co menos acentuado Os investidores estrangeiros poderiam ter saltado as barreiras comerciais para tirar vantagem dos subsídios e incentivos conce didos pelo governo aos investimentos destinados à indústria doméstica mas isso teria causado danos às empresas locais Dessa forma os governos reservaram a indústria nacional para os nacionais controlando os investimentos estrangeiros As mul tinacionais existentes eram sujeitas a uma regulação severa ven didas à força por preços muito baixos a investidores locais ou simplesmente passavam para as mãos do governo Os novos in vestimentos eram estritamente limitados em geral para afastar as empresas que competiriam com as locais e permitir apenas aquelas cuja produção complementasse a das nacionais As empresas estrangeiras eram proibidas de mandar os lucros para seus países de origem e forçadas a contratar mais trabalhadores locais e pagavam impostos maiores Alguns governos deram o calote na dívida externa e fizeram com que ela fosse reduzida a frações do montante original de forma a economizar um capital importante em moeda estrangeira para a indústria Alguns também passaram a controlar de forma severa as movimentações de capital e a troca de moedas para forçar os investidores domésticos a manterem o dinheiro em casa e fornecerem capital à indústria Muitos governos distribuíram moeda estrangeira para beneficiar certos setores favorecidos e de terminaram que os ganhos obtidos no exterior deveriam ser en tregues ao Estado A taxa cobrada pelo governo àqueles que eram permitidos a adquirila variava de acordo com a prioridade da utilização Um governo que tentava estimular a produção local de aço por exemplo poderia permitir a importação de minério de ferro ou de carvão coque a uma taxa de câmbio muito favorável e cobrar dos importadores uma taxa bastante desfavorável pela 314832 compra do aço pronto Tais medidas estimulavam a compra de in sumos e desestimulavam a importação do produto final Os cid adãos locais que viajassem para o exterior de férias pagavam uma taxa de câmbio particularmente alta para que assim as viagens internacionais fossem reduzidas e o turismo doméstico fo mentado Empresas que desejassem importar peças podiam con seguir uma taxa de câmbio favorável caso o produto não existisse internamente mas as mesmas pagariam outra taxa desfavorável se versões nacionais dessas peças pudessem substituir as importações A manipulação cambial das autarquias em geral significava o abandono do padrãoouro que em todos os casos era o sustentáculo da odiada aristocracia financeira internacional Muitas vezes os governos mantinham a moeda supervalorizada e artificialmente forte em relação às outras mais uma vez a ser viço da indústria nacional Uma moeda forte artificialmente val orizada tornava os produtos estrangeiros mais baratos e encare cia os domésticos fato que teria prejudicado a indústria nacional das economias abertas de outrora Mas agora com a economia efetivamente fechada aos competidores as moedas supervaloriza das permitiam aos fabricantes importar matériasprimas ferro aço peças e tudo o mais que necessitassem a preços baixos Além de proteção contra os estrangeiros a indústria recebeu grande apoio Governos concediam empréstimos subsídios e im postos preferenciais além de utilizarem o orçamento direta ou indiretamente para alavancar a demanda por produtos manufat urados A maioria das autarquias expandiu o setor público in cluindo nele muitas das novas atividades produtivas na União Soviética incluiu quase tudo Essas economias fechadas não po diam contar com as importações de produtos industriais básicos e em geral tais projetos eram grandes demais ou pouco lucrat ivos para os capitalistas locais de forma que os governos estabele ceram uma grande quantidade de corporações industriais de base 315832 estatal O alargado setor estatal passou a produzir aço e químicos a fornecer energia elétrica e transportes carvão mineral e pet róleo tudo pelo desenvolvimento industrial A indústria cresceu a uma velocidade que variava de re speitável a extraordinária Desde a pior fase da depressão econ ômica a produção industrial da Europa Ocidental e da América do Norte mal havia retomado os índices de 1929 No fim da década de 1930 no entanto a produção da indústria cresceu mais de duas vezes na Alemanha Polônia Japão Brasil Colômbia e México e atingiu um aumento superior a quatro vezes na União Soviética28 As autarquias visavam à industrialização nacional por meio de ações conjuntas e às vezes extremadas Elas tiravam capital da tradicional produção agrícola e mineradora associadas às classes dominantes do passado e o levavam para a indústria Para a in dústria as autarquias também desviaram o dinheiro que antes era destinado ao consumo de massa o qual teria sido gasto com o in grato e antinacional proletariado diriam os fascistas com a in grata e antinacional pequena burguesia diriam os comunistas e com a ingrata e antinacional oligarquia diriam os desenvolvi mentistas A combinação de políticas variava mas a base era semelhante em todos os lugares jogar todos os recursos disponí veis na indústria Isso era feito com vingança antitrabalhista pelos fascistas com fervor anticapitalista por parte dos comunistas e com ardor patriótico pelos desenvolvimentistas nacionalistas A Europa se volta para a direita A Alemanha foi apenas a mais importante das ditaduras de direita que vieram como uma onda do sul da Europa atingindo o resto do continente A primeira leva surgiu como parte de uma reação conservadora aos problemas sociais dos anos que se seguiram à 316832 Primeira Guerra Mundial Entre 1920 e 1924 as cambaleantes democracias de Itália Espanha Hungria e Albânia sucumbiram às novas ditaduras em 1926 foi a vez de Portugal Polônia e Lituânia A segunda leva veio com a depressão econômica Iugoslávia em 1929 Romênia em 1930 Áustria em 1932 Ale manha em 1933 Letônia Estônia e Bulgária em 1934 e Grécia em 1936 Embora a Espanha tivesse se redemocratizado em 1930 os fascistas sob o regime de Francisco Franco emergiram vitoriosos de uma sangrenta guerra civil As ditaduras hoje em dia disse o ditador português António Salazar não parecem mais ser parênteses entre regimes29 Até 1936 todos os países da Europa central e do leste e do sul europeu com a exceção apenas da Tchecoslováquia se torn aram despotismos autoritários Nem todos se enquadravam na descrição teórica do fascismo totalitarismo apoiado pelas massas e tratado com desdém pela direita convencional Mas essas falanges de tiranos fascistas e autoritários representavam uma al ternativa clara ao capitalismo liberal ao internacionalismo econ ômico e à democracia30 Apenas a Europa ocidental permanecera intocada No entanto em diversas partes da região surgiram mo vimentos fascistas e em 1941 as ocupações nazistas derrubaram a maioria das democracias europeias com exceção apenas de Suíça Suécia Finlândia GrãBretanha e Irlanda Os movimentos fascistas e neofascistas contaram com o apoio entusiasmado da nova direita surgida das classes médiasbaixas urbanas e dos pequenos produtores agrícolas e com uma colabor ação mais modesta dos conservadores tradicionais das grandes empresas e fazendas Tanto a direita tradicional quanto a nova direita da Europa semiindustrial eram contra os trabalhistas e a esquerda além de concordarem com o fechamento da economia à competição externa Em alguns casos como na Alemanha e na Itália os fascistas tomaram o poder e se consolidaram com o apoio dos conservadores Em outros os conservadores 317832 tradicionais como o almirante Miklós Horthy na Hungria ou os reis de Romênia Bulgária Grécia e Iugoslávia governaram com o apoio dos fascistas locais Das duas formas a relação era simbiótica Os conservadores tradicionais precisavam da base popular dos fascistas os fascistas precisavam da credibilidade dos conservadores junto aos grandes empresários Os dois regimes fascistas mais importantes Alemanha e Itália eram maiores e mais desenvolvidos que os outros do mesmo tipo mas nos dois países os fascistas pregavam o ódio aos trabalhistas de esquerda aos banqueiros estrangeiros e às empresas doméstic as com fortes laços internacionais Na Alemanha as finanças e bens industriais para exportação faziam parte da base da República de Weimar a qual contava com a aliança dos socialis tas com o apoio dos empréstimos e da diplomacia angloameric ana Ao menos parte da tendência antissemita dos fascistas se devia ao fato de na Alemanha e em grande parte da Europa ori ental muitas das empresas voltadas para o exterior pertencerem a judeus Na Itália a aliança que uniu a indústria moderna e a força dos trabalhadores da virada do século ao início da década de 1920 conhecida como sistema giolittiano também contara com a integração do país à economia mundial Na Alemanha e na Itália o fracasso da velha ordem pôs fim aos processos de demo cratização e de integração econômica internacional tanto quanto o fizeram no Brasil a queda do preço do café e na Romênia do petróleo Tipicamente a base do fascismo eram os produtores agrícolas pequenos comerciantes artesãos e funcionários públicos de elite Em 1935 tais grupos formavam mais de 65 do Partido Nazista ao passo que correspondiam a apenas 25 da população alemã31 Eles idolatravam um passado em que gozavam de posição privile giada e viam a indústria moderna e o operariado como a causa de seu declínio social Mas os fascistas entenderam que não poderi am governar sem os grandes empresários e proprietários de terras 318832 e passaram então a buscar o apoio ou ao menos a cooperação desses grupos Os ricos estimavam o antissocialismo dos fascistas embora desdenhassem da origem classe médiabaixa do movi mento e da histeria populista Além disso o fascismo prometia terminar com o aumento das despesas trabalhistas que dani ficavam a grande indústria e a grande agricultura32 Os adeptos do fascismo entre os capitalistas proprietários de terras fazendeiros pequenos empresários e funcionários públicos mantinhamse unidos pelo ódio aos movimentos socialistas que emergiram da Primeira Guerra Mundial Essas pessoas viam como inimigos o trabalhismo e a socialdemocracia assim como os segmentos empresariais e as classes políticas que toleravam ambos os movimentos e de fato estavam aliados a eles Mas os motivos dessa animosidade para com trabalhistas e aliados eram diferentes e a peculiar combinação de setores médios déclassé e classes altas capitalistas produziu efeitos curiosos Tanto na Itália quanto na Alemanha grande parte do apelo fascista entre as massas deviase à retórica anticapitalista mas Hitler e Mussolini logo fizeram as pazes com os grandes empresários e proprietários de terras com condições amplamente definidas pelos ditadores para ser preciso e contavam cada vez mais com a colaboração desses grupos Os grandiosos projetos dos fascistas dependiam sobretudo de uma verba que apenas as classes investidoras po deriam oferecer Como demonstrou a experiência de Hjalmar Schacht rara mente era possível satisfazer esses dois amplos grupos capitalis tas hostis ao movimento trabalhista e proprietários de terras de um lado e a descontente classe médiabaixa de outro Os fascis tas celebravam o tradicionalismo agrário mas aceleraram a in dustrialização A retórica anunciava o individualismo e a inde pendência mas as políticas defenderam os monopólios e os cartéis O apoio ao fascismo exaltava o esplendor de supostos pas sados imperiais no entanto eles transformaram as potências 319832 imperialistas em verdadeiros demônios O fascismo abraçava ao mesmo tempo a reação e as mudanças radicais pregava a volta das certezas morais de uma era préindustrial idílica mas tam bém prometia um rápido avanço em direção à indústria moderna As contradições da retórica fascista eram um reflexo da natureza contraditória de sua base de apoio o que por fim gerava de savenças sobre qual dos objetivos conflitantes seria priorizado Primeiro no entanto os fascistas precisavam se consolidar no poder A maioria desses governos chegou ao topo em meio a prob lemas econômicos e insatisfação social e passou seus primeiros anos sob uma situação de emergência tendo de lidar com ambos Em um primeiro momento enfrentar a insatisfação social era fá cil Bastava a repressão que às vezes era brutal Como os sindica tos trabalhistas e partidos de esquerda eram clandestinos seus líderes podiam ser presos exilados ou assassinados Entretanto a repressão era um método insuficiente e não funcionaria para sempre os fascistas chegaram ao poder principalmente pelas promessas de resolver os graves problemas econômicos Assim o primeiro pedido econômico do empresariado fora um plano de recuperação e isso os fascistas atenderam As novas ditaduras se utilizaram da reflaçãoa de finanças deficitárias de novos impostos e gastos para ao mesmo tempo agradar suas mas sas seguidoras nas cidades e áreas rurais e dar a partida nas eco nomias estagnadas Assim como na Alemanha os fascistas em quase todos os lugares começaram com uma rápida demonstração de que podiam tirar o país da crise trazendo resultados imediatos para sua base de apoio Na Itália como em outros lugares em que os ditadores tomaram o poder na década de 1920 os problemas econômicos não eram tão imediatos ou severos Mussolini garan tiu aos industriais e proprietários de terras italianos que o regime fascista adotaria políticas confiáveis e até a Grande Depressão a macroeconomia italiana fora governada de acordo com diretrizes tipicamente conservadoras Ao mesmo tempo os fascistas 320832 italianos implementaram programas importantes para assegurar sua base política na classe médiabaixa Eles saíram em marchas distribuíram terras para os agricultores aumentaram os salários dos servidores públicos e redobraram os projetos de obras públicas Muitas foram as causas para o sucesso fascista em tirar eco nomias das profundezas da depressão Assim como o Terceiro Reich eles se utilizaram da violência para fins econômicos O próprio Keynes escreveu no prefácio da edição alemã de 1936 de sua Teoria geral que o argumento do livro era muito mais facil mente adaptável às condições de um Estado totalitário do que às de uma democracia Os fascistas também estimularam a recuper ação econômica sinalizando para a comunidade empresarial que seus problemas haviam terminado era o fim das ondas de greves da ameaça bolchevique e da instabilidade política Tudo isso deu aos capitalistas motivos fortes para se aliarem a uma série de in vestimentos lucrativos encomendados O dinheiro foi retirado de colchões e contas de bancos estrangeiros e investido no hospital eiro ambiente comercial Por fim os fascistas enfrentavam menos dificuldades em relação às experimentações do que as democra cias do Ocidente Eles se opunham de forma implacável aos que levantavam a bandeira da ortodoxia do padrãoouro Além disso a busca de novos caminhos mais do que um rompimento com plicado com a tradição era motivo de orgulho Dessa forma eles podiam experimentar diversos tipos de programas até encontrar um que funcionasse Após terem se dedicado à crise imediata os governantes fascistas voltaramse para os objetivos de longo prazo controle político inquestionável desenvolvimento industrial acelerado autarquia e expansão militar As organizações políticas independ entes foram liquidadas e substituídas por canais de comunicação facilmente manipuláveis por meio do quais os cidadãos podiam tentar expressar sua opinião frentes de trabalho nazistas e 321832 corporações fascistas grêmios industriais que englobavam tanto o gerenciamento quanto os operários tudo sob a supervisão do Estado fascista A política econômica se transformou passando do mero ger enciamento da crise à reconstrução da sociedade muitas vezes in comodando os empresários aliados aos fascistas À medida que a década de 1930 seguia seu curso e os fascistas implementavam programas que incluíam prioridade à indústria estatal e a sub jugação da empresa privada à empreitada militar grande parte da comunidade empresarial tradicional se via cada vez mais longe do poder O estranhamento entre Schacht e os nazistas foi um caso típico de tensão entre fascistas e grandes empresários na medida em que as nuvens da guerra ficavam mais carregadas Na Itália conforme ocorrera na Alemanha Mussolini passou a con trolar o comércio exterior de forma nunca vista direcionandoo para os seus aliados e o novo miniimpério italiano modelo que ganhou impulso em 1935 quando a Liga das Nações impôs sanções à Itália por suas agressões contra a Etiópia A mudança em direção à autarquia e a um afastamento dos mercados da Europa ocidental e da América do Norte irritou os industriais de muitos países fascistas Com a recuperação em curso estavam in teressados em restabelecer os vínculos econômicos com as nações avançadas e não em reprimilos Mas à medida que a economia fascista se consolidou a capa cidade da comunidade empresarial em resistir ao regime diminu iu No fim da década de 1930 o regime de Mussolini bem como o de Hitler dominava grande parte das finanças e da indústria da Itália Com o financiamento de algumas imensas estatais o gov erno fascista controlava cerca de metade do capital acionário do país quase todos os empréstimos bancários e a maior parte dos setores de telefonia eletricidade aço frete e maquinário da Itália33 As pequenas ditaduras da Europa central e do leste e do sul fizeram o mesmo na Bulgária as firmas financiadas pelo 322832 Estado foram responsáveis por 23 da produção industrial de 1937 na Polônia 23 de todo o investimento recebido pelo país no fim da década de 1930 destinavamse ao setor publico34 Enquanto a relação dos Estados fascistas com os empresários era problemática em alguns pontos autarquia extrema controle da economia por parte do governo desvio de recursos para gastos militares em outras dimensões as políticas fascistas estavam de acordo com as preferências do empresariado Os fascistas con tinham o aumento dos salários e ignoravam ou desestimulavam o consumo de massa Toda a riqueza disponível fora transformada em investimentos para a industrialização modernização e militar ização Eles deram prioridade à indústria pesada e não à produção de bens de consumo A experiência alemã fora especialmente forte nesse ponto uma vez que a estagnação do padrão de vida das massas viera em um contexto de boom econômico Embora houvesse pleno emprego e a recuperação estivesse completa os salários reais em 1938 continuavam menores que os de 1932 e se estagnaram por quatro anos os salários que em 1932 correspondiam a 64 da renda nacional passaram a corresponder a 57 em 1938 O con sumo sofreu redução ainda mais acentuada durante esse mesmo período passou de 83 a 59 da renda nacional Em 1937 uma família média da classe trabalhadora na Alemanha comia bem menos carne leite ovos legumes e açúcar do que em 1927 apen as o consumo de pão preto queijo e batatas havia aumentado35 Os trabalhadores alemães tinham pouco o que comemorar mas para os negócios esse era decididamente um componente fa vorável da economia nazista As ditaduras fascistas variavam de forma ampla no entanto A renda per capita na Alemanha era de três a cinco vezes maior do que no resto da Europa fascista Menos de 13 do país era agrário ao passo que a maior parte da Europa central e do leste era de 75 a 90 rural36 Até mesmo na agricultura a Alemanha era 323832 uma nação avançada enquanto o Leste Europeu era extraordin ariamente atrasado os produtores agrícolas na Alemanha da década de 1930 utilizavam entre 50 e 500 vezes mais fertilizante por hectare que os fazendeiros da Europa oriental onde a produtividade agrícola geralmente era menor do que foi na virada do século XIX para o XX Na Bulgária 23 dos arados con tinuavam a ser de madeira em 193637 Isso ajuda a explicar por que os movimentos fascistas e protofascistas da Europa oriental tendiam para o radicalismo camponês já que a população era de fato miserável e a agricultura da região precisava de moderniza ção urgente As perspectivas de um desenvolvimento industrial rápido na Albânia ou Lituânia não podiam ser comparadas às de Itália Polônia ou Hungria enquanto na Alemanha e na Itália a autarquia era considerável e até mesmo países de médio porte como Espanha e Polônia contemplavam uma autossuficiência in dustrial substancial a possibilidade de qualquer coisa do tipo na Estônia ou Letônia países de populações muito pequenas seria motivo de riso A meio mundo dali o governo japonês se apropriou de muitas das características fascistas Da mesma forma como a Alemanha e outros países semiindustriais na década de 1920 o Japão erguera uma democracia frágil e uma economia relativamente aberta Nada disso sobreviveu à depressão econômica No país o análogo a Hjalmar Schacht foi Korekiyo Takahashi banqueiro e político respeitado que fora presidente do Banco do Japão min istro das Finanças e primeiroministro durante diversos governos democráticos Assim como na Alemanha um governo em crise respaldado por empresários e militares nomeou Takahashi como ministro das Finanças em uma tentativa de controlar a fracas sada economia Apesar de seu passado ortodoxo Takahashi ex perimentou medidas reflacionárias semelhantes às utilizadas por outras autarquias Retirou o iene do ouro e arquitetou uma grande desvalorização em 1931 A medida gerou um boom 324832 exportador fazendo com que tecidos brinquedos sapatos e out ros produtos japoneses baratos inundassem os mercados mundi ais Ao passo que esse modelo começou a declinar em função do protecionismo crescente e da expansão limitada dos mercados mundiais Takahashi se voltou para os gastos geradores de déficit com a intenção de impulsionar a economia Durante os anos 1930 a economia cresceu impressionantes 72 Enquanto isso os militares japoneses e seus aliados o que in cluía grupos empresariais poderosos imploravam pela expansão imperial no exterior e por disciplina em casa Ofuscaram os mod erados que permaneciam no governo tomaram a Manchúria em 1931 como aliados oficiais da Alemanha e entraram em guerra contra a China em 1937 Em 1936 quando Takahashi como fizera Schacht atentou para as implicações econômicas do belicismo os militaristas japoneses o assassinaram Daí em diante o domínio dessas pessoas na economia e no poder político permaneceu into cado Eles removeram os últimos vestígios de democracia no país e direcionaram a política econômica para a rápida industrializa ção e a consolidação das finanças e da indústria de larga escala Uma parte integral desses planos foi a construção da semiautár quica Grande Esfera de Coprosperidade da Ásia Oriental criada para servir ao desenvolvimento industrial do Japão O caminho iria no entanto como em outros lugares levar à guerra38 A ordem econômica fascista os Estados fascistas as nações que eles ocuparam e suas colônias em seu auge englobava quase toda a Europa e o Oriente Médio e grande parte da Ásia e da África Talvez metade da população mundial vivesse sob o regime de políticas econômicas fascistas Nem o comunismo tampouco a democracia liberal atingiu o sucesso reprodutivo e expansionista do fascismo Enquanto a derrota de Alemanha Itália e Japão na Segunda Guerra Mundial tornou o fascismo um anacronismo sobrevivente apenas em poucos lugares mais atrasados Espanha Portugal e Grécia no fim da década de 1930 o 325832 fascismo competia em condições de igualdade pela supremacia econômica internacional Socialismo em um só país Outro competidor de peso capaz de superar o capitalismo liberal do Ocidente foi a economia planificada da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas Os soviéticos construíram sua forma de so cialismo durante a Grande Depressão em meio a convulsões soci ais e econômicas A revolução bolchevique extinguiu a classe de investidores da sociedade russa deixando o país composto por operários e gerentes funcionários do governo pequenos empresários e camponeses principalmente camponeses O apoio aos comunistas vinha das cidades O proletariado era forte mente favorecido pelas políticas soviéticas assim como os ger entes das fábricas muitos dos quais comunistas promovidos da linha de produção para tomarem o lugar dos engenheiros da Rússia prérevolucionária Na administração pública os bolchev iques substituíram gradualmente os burocratas pouco confiáveis por militantes leais ao partido No entanto os camponeses ou pequenos comerciantes não eram muito úteis para a teoria ou prática comunista o que não seria um problema irrelevante para o país já que os dois grupos formavam 90 da população Durante a década de 1920 o regime soviético promoveu uma economia híbrida públicoprivada que aceitava as fazendas e os pequenos negócios A indústria as finanças e os serviços mod ernos eram controlados pelo governo que também dominava o comércio e as finanças internacionais do país Entretanto quase toda a agricultura permanecia privada afinal 80 da população era camponesa assim como o comércio doméstico e a indústria de pequena escala O setor público abrigava uma pequena parcela da força de trabalho Esse hibridismo produziu um crescimento 326832 relativamente rápido e até 1926 ou 1927 devolveu os índices pré revolucionarios à maioria dos setores econômicos O comércio ex terior também ressuscitou embora agora atingisse níveis bem in feriores aos de 1914 A União Soviética não era uma economia de mercado mas a planificação também não se apresentava de forma intensa as estatais se autogerenciavam como ilhas de modernid ade em um mar de atraso rural O equilíbrio entre forças econômicas e políticas era instável O modelo de sociedade socialista que os bolcheviques tinham em mente não podia ficar restrito a áreas urbanas isoladas que apoi assem o governo soviético ou não fossem hostis a ele A missão comunista exigia a construção de uma sociedade industrial mod erna O difícil seria imaginar uma ditadura do proletariado sem um proletariado Além disso os empreendedores ricos do vi brante setor privado significavam uma ameaça em potencial ao regime Os bolcheviques também consideravam grande parte dos camponeses uma ameaça inerente ao urbano regime comunista cujos objetivos acima de tudo incluíam o fim da propriedade privada A agricultura soviética era desprezada não completa mente para ser preciso No entanto era atrasada útil apenas como fonte de alimentos materiais e mão de obra para a indústria Joseph Stálin e seus partidários começaram a empurrar a eco nomia para a industrialização rápida após 1928 quando se con solidaram no controle do Partido Comunista e do governo O primeiro plano quinquenal de 1928 a 1933 atentava para uma expansão substancial do controle da economia por parte do Estado e para grandes novos investimentos na indústria O ím peto soviético de industrialização partiu de muitos aspectos domésticos especialmente do temor comunista em governar uma sociedade préindustrial apenas com o apoio de um setor indus trial urbano pequeno No entanto as condições internacionais também ajudaram a impulsionar o movimento em direção às 327832 questões internas O primeiro e mais importante motivo era que Stálin e os soviéticos estavam convencidos de que acabariam sendo atacados por uma ou por todas as potências capitalistas Não havia tempo para a construção de um setor industrial que fosse grande o suficiente para suprir um exército capaz de conter uma ameaça militar desse porte A hostilidade da esfera diplomát ica ajudou a justificar a insistência de Stálin em forçar o passo para a industrialização A hostilidade da esfera econômica provo cou o mesmo efeito Alguns dos que se opunham a Stálin diziam que a industrialização poderia ser feita de forma mais gradual e menos violenta mas isso envolveria a exportação de grãos para pagar pela importação de maquinário para o desenvolvimento in dustrial O colapso do mercado mundial de commodities inviab ilizou tal possibilidade Dessa forma na União Soviética como em muitos outros países a depressão econômica fortaleceu a ideia de privilegiar a economia doméstica Como ocorrera em outras autarquias os recursos para o desenvolvimento industrial foram amplamente retirados da agri cultura e do consumo No caso da União Soviética o Estado tornou as condições comerciais desfavoráveis à agricultura afetando de forma devastadora o cultivo privado Se os cam poneses não cooperassem de forma voluntária com a industrializ ação teriam suas riquezas tomadas e confiscadas O regime impôs fazendas coletivas aos camponeses sob o controle quase integral do governo Em 1928 97 das terras aráveis do país se des tinavam à produção privada até 1933 83 delas pertenciam às fazendas coletivas39 Não era de surpreender que a produção agrí cola se estagnasse diante desse tratamento sofrendo uma redução de mais de 25 entre 1928 e 1932 e em 1939 se tanto ap resentava os mesmos índices de 192840 Em vez de entregarem seus animais às fazendas coletivas os agricultores abateram comeram ou venderam o que puderam de 1928 a 1933 a 328832 quantidade de gado e porcos do país foi reduzida à metade e a de cabras e ovelhas diminuiu em 2341 O governo exigia que os agricultores das fazendas coletivas lhe vendessem a produção a preços artificialmente baixos forne cendo alimentos e matériasprimas para a indústria Além disso obrigava os grãos produzidos fora das fazendas coletivas a serem vendidos para o exterior Em 1931 enquanto a fome era uma ameaça 16 da safra de trigo e grãos do país era exportado para a compra de maquinário e equipamentos para as novas fábricas ferrovias e serviços42 O sucesso do governo em controlar os cam poneses tornou a produção agrícola tão pouco atrativa que muitos milhões de moradores das áreas rurais deixaram o campo se tor nando fonte de mão de obra barata para a indústria No processo de industrialização do país a pressão do governo também recaiu sobre os consumidores Os preços aumentaram e a quantidade de bens de consumo disponíveis diminuiu já que os recursos eram desviados para a indústria pesada De forma geral o consumo como parcela da economia diminuiu cerca de 30 entre 1928 e 1937 passando de 82 para 55 da renda nacional Cerca de metade desse valor se transformou em investimentos a outra metade foi destinada aos gastos correntes não investimen tos do governo divididos igualmente entre gastos militares e não militares Os impostos sobre o consumo em especial eram um sinal claro da preferência do governo pela indústria pesada em detrimento da fabricação de bens leves de consumo Entre 1928 e 1938 a produção de tecidos de lã e algodão aumentou quase na mesma proporção que o crescimento populacional ao passo que a de aço quadruplicou e a fabricação de caminhões e tratores pas sou de 2500 unidades por ano para 250 mil Os soviéticos precisavam encontrar uma forma de administrar essa economia cada vez mais complexa e controlada pelo governo Durante os dois primeiros planos quinquenais entre 1928 e 1937 eles improvisaram um caminho rumo a uma estrutura 329832 organizacional de planificação que durara décadas43 O comando era do Comitê de Planificação Estatal Gosplan que controlava uma série de ministérios industriais responsáveis por alguns setores específicos ferro aço e químicos A cada cinco anos o governo ditava as diretrizes gerais da economia Com base nessas informações o Gosplan definia os objetivos de um plano de cinco anos consultando gerentes e administradores que conhecessem as condições das indústrias e regiões O Gosplan então exigia dos gerentes das estatais o cumprimento de metas anuais de produção de acordo com o plano Os planificadores estabeleciam preços e metas de produção de forma centralizada Algumas vezes levavam em consideração o desejo de equilibrar oferta e demanda mas tinham também muitas outras preocupações como favorecer as cidades em detri mento do campo e a indústria pesada em detrimento da leve Isso levou a resultados inusitados em 1932 o quilo da farinha de centeio custava 126 copeques ao passo que o pão de centeio valia 105 copeques o quilo dando a entender que na verdade a farinha perdia o valor ao ser transformada em pão44 A explicação não era a qualidade do pão soviético mas os programas de preços motivados por aspectos políticos em vez de mercadológicos nesse caso a vontade de manter baixo o preço da comida dos tra balhadores urbanos Os gerentes das empresas utilizavam os preços quase integralmente para fins contábeis Os trabalhadores e gerentes das firmas podiam ser recompensados por bom desem penho embora os indicadores usuais dos mercados capitalistas preços lucros perdas fossem irrelevantes Não poderia ser diferente uma vez que os preços eram definidos por questões não econômicas Como um padeiro poderia ganhar dinheiro se não podia cobrar pelo pão o suficiente para cobrir os custos da farinha A economia era gerenciada por um sistema de equilíbrios ma teriais Cada ministério deveria produzir e entregar um 330832 determinado número de produtos por exemplo tratores ou cam isas e também responder pelas metas das empresas que contro lava Os planificadores ficavam responsáveis por supervisionar se as fábricas estavam sendo abastecidas com os produtos que ne cessitavam fábricas de tratores precisavam de aço as de vesti mentas necessitavam tecidos O Gosplan precisava garantir que o país produziria a quantidade de aço necessária para as fábricas de tratores a quantidade necessária de tecidos para as fábricas de vestimentas e assim por diante Os planificadores eram os encar regados da garantia de que no final tudo estaria em relativo equilíbrio As metas dos planificadores eram definidas em termos de produção quantitativa das fábricas usinas elétricas e fazendas Isso gerava problemas de qualidade um milhão de pares de sap ato malfeitos continuavam a ser um milhão de pares que deveriam ser monitorados pelo Gosplan e pelos ministérios O Partido Comunista que contava com militantes em quase todas as empresas atuava como um sistema paralelo garantindo tudo do comprometimento por parte dos gerentes à disciplina dos trabalhadores A autarquia planificada soviética foi um imenso sucesso em di versos aspectos Os melhores resultados disponíveis indicam que entre 1928 e 1937 a produção industrial quintuplicou A produção de aço passou de três para treze milhões de toneladas e a de carvão de 36 para 128 milhões de toneladas Comunismo é o poder soviético mais a eletrificação de todo o país pregou Lênin de forma pragmática e a produção de eletricidade disparou de cinco bilhões quilowattshora em 1927 para 36 bilhões em 1937 Milhares de pessoas saíram do campo e foram para a indústria e outras atividades relacionadas De 1926 a 1939 o número de agri cultores diminuiu de 61 para 48 milhões enquanto a quantidade de trabalhadores da indústria construção e transportes cresceu de seis para 24 milhões A proporção de trabalhadores agrícolas 331832 na força de trabalho passou de 45 para 12 ao passo que a por centagem de operários e outros trabalhadores semelhantes pas sou de 8 para 2645 O país se industrializou em uma década e o PIB per capita aumentou cerca de 57 entre 1928 e 193746 Tal resultado foi es pecialmente espetacular se comparado ao desemprego e à estag nação do resto do mundo Até os países industriais mais bemsu cedidos como Noruega e Suécia cresceram numa velocidade 50 menor que a URSS Apesar de o consumo ser severamente limit ado o padrão de vida soviético também parecia ter aumentado 27 segundo as estimativas As principais bases de apoio do gov erno trabalhadores urbanos burocratas membros do Partido Comunista usufruíam da maioria dos benefícios do rápido desenvolvimento enquanto a renda agrícola pouco ou nada cres cia47 No entanto o preço era alto demais A coerção a indifer ença e a desorganização do governo deixaram algumas regiões rurais do país desprovidas de grãos e milhões de camponeses morreram de fome nos terríveis anos de 1932 e 1933 Além disso o terror utilizado contra aqueles que pareciam estar impedindo a industrialização envenenou a política e a sociedade soviética por gerações No fim da década de 1930 entretanto a União Soviética já havia pulado para o primeiro escalão das nações industriais Em 1940 a produção de aço da URSS punha o país atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha Isso se aplicava somente aos produtos industriais básicos não ao padrão de vida mas como a Segunda Guerra Mundial já havia estourado certamente os res ultados eram relevantes A industrialização soviética fora feita com o isolamento econômico do resto do mundo e com um novo sistema de propriedade e controle centralizado no Estado O su cesso industrial da União Soviética notoriamente forneceu uma alternativa tanto ao capitalismo reformado do Ocidente quanto ao capitalismo militarizado das potências fascistas Para o mundo 332832 desenvolvido o socialismo soviético sustentava a promessa de um sistema de pleno emprego no qual o desígnio humano em vez dos lucros determinava o formato da economia Para o mundo em desenvolvimento o socialismo soviético dava a impressão de produzir taxas de crescimento e desenvolvimento jamais alcança das por qualquer economia Em 1939 tal fato não era de todo evidente já que a URSS continuava na periferia da economia mundial Mas para milhões de pessoas ao redor do mundo o so cialismo soviético ofereceu uma verdadeira alternativa ao capital ismo dos fascistas e socialdemocratas e mesmo ao de suas vari antes subdesenvolvidas O desenvolvimento se volta para dentro A década de 1930 também foi um momento decisivo para o mundo em desenvolvimento especialmente para as regiões pobres que já haviam atingido certa maturidade industrial Isso se aplicava à maior parte da América Latina a alguns outros países em desenvolvimento independentes como Turquia Egito e Sião Tailândia e a algumas das colônias mais desenvolvidas como a britânica Índia e a francesa Argélia A China tinha muito em comum com essas regiões embora sofresse com a invasão ja ponesa e uma guerra civil Essas áreas desenvolveram economias industriais considerá veis durante as décadas de abertura antes de 1929 Em alguns casos como o da Índia e da China a indústria era pequena em re lação ao restante da economia embora fosse grande dado o tamanho dos dois países enquanto em outros como Argentina Chile e Turquia o desenvolvimento industrial era de certa forma avançado Todos esses países haviam se inserido na economia mundial como produtores de matériasprimas para exportação mas a riqueza acumulada dessa forma criou centros urbanos cujos 333832 ganhos ficavam cada vez mais distantes daqueles obtidos pelos produtores agrícolas e mineiros Obviamente a maioria dos ex portadores defendia o livrecomércio eles queriam acesso aos mercados mundiais e a possibilidade de comprar produtos manu faturados pagando o menor preço possível ao mesmo tempo em que os novos industriais exigiam proteção contra a com petição estrangeira O colapso do comércio mundial fatalmente enfraqueceu os in teresses exportadores e os grupos urbanos passaram a dominar a política econômica Na verdade para o mundo em desenvolvi mento as condições do período da depressão econômica prevale ceram até meados da década de 1950 A Grande Depressão foi su cedida pela Segunda Guerra Mundial que apenas contraiu ainda mais a economia mundial Após o conflito a reconstrução e a Guerra Fria passaram a preocupar as nações desenvolvidas o que durou até o fim da Guerra da Coreia em 1953 Dessa forma de 1929 até por volta de 1953 África Ásia e América Latina foram deixadas à deriva econômica pelo mundo industrializado Ao longo desses 25 anos cada vez mais nações desenvolvidas avança das rompiam com o passado de economia aberta e seguiam na direção de um novo modelo com base na produção industrial doméstica para mercados protegidos Essa transição da exportação de matériasprimas para a in dustrialização doméstica imitava os países que passaram por esse processo anteriormente Por exemplo a economia política norte americana do passado era dominada pelos interesses dos produtores de algodão e tabaco do sul hostis ao protecionismo in dustrial do norte O conflito aumentou durante o início do século XIX e se agravou devido às diferenças de opinião em relação à es cravidão A Guerra Civil decidiu a questão a favor do norte e pôs o país no caminho bemconsolidado do protecionismo Na América Latina e em outras nações em desenvolvimento avança das a Grande Depressão e os anos que a sucederam 334832 desempenharam um papel semelhante ao da Guerra Civil nos Estados Unidos puseram abaixo os interesses econômicos inter nacionalistas e trouxeram os nacionalistas para o primeiro plano No mundo em desenvolvimento a Grande Depressão pôs em xeque toda uma ordem socioeconômica Sistemas com base nas exportações para a Europa e a América do Norte eram particular mente vulneráveis ao colapso uma vez que a queda dos preços dos produtos primários era maior e mais rápida que a dos bens industriais Do fim da década de 1920 ao fim da de 1930 o preço das exportações dos principais produtores de minério dos países em desenvolvimento sofreram reduções de 60 os preços do açúcar café e algodão diminuíram cerca de 60 ou mais e o val or da borracha caiu 80 Esse foi o auge de um já fraco desem penho nos últimos anos da década de 1920 De forma geral um índice de preço dos principais produtos agrícolas caiu 30 entre 1925 e 1928 e sofreu uma redução de mais 66 até 1932 de forma que nesse último ano o valor estava mais de 75 abaixo do al cançado em 192548 Outros preços também sofreram reduções mas não tão grandes quanto as matériasprimas Isso significava que as regiões em desenvolvimento estavam ganhando bem menos por suas exportações e pagando apenas um pouco menos pelas importações Os termos de troca das regiões pobres declinou de forma signi ficativa Essa formapadrão de medir a relação entre os preços dos bens importados e exportados sofreu por exemplo na América Latina uma queda de 44 entre 1928 e 1932 Isso significava que os preços das exportações latinoamericanas sofreram uma re dução 44 maior que os de suas importações Portanto com o mesmo volume de exportações a região conseguia comprar apen as 56 da quantidade que importava em 1928 Mas isso não foi tudo já que a Grande Depressão reduziu não apenas os preços mas o volume efetivo das exportações dos países em desenvolvi mento dado que a demanda das regiões ricas diminuiu de forma 335832 vertiginosa Se os níveis de comércio da América Latina caíram 44 entre 1928 e 1932 o volume das exportações diminuiu em outros 22 Em meio à queda dos preços relativos e à queda do volume demandado em 1932 a América Latina podia pagar apen as por 43 dos produtos que exportava em 192849 Em alguns países o choque foi ainda maior Quase toda a exportação chilena dependia do cobre e do nitrato produtos atingidos de forma dura pela depressão econômica Em 1932 as importações do Chile já haviam sofrido uma redução de 87 em três anos50 O impacto causado nos países agrários se assemelhava ao sofrido por uma propriedade agrícola familiar se devido às quedas de preços e de manda os produtos cultivados gerassem menos da metade da renda usual Esse fato diminuiu a capacidade dos países de com prar do resto do mundo no caso da família do resto da economia O colapso financeiro internacional intensificou o choque Quando os mercados de Nova York e Londres desapareceram as nações que dependiam de empréstimos perderam seu principal amortecedor contra condições adversas Além disso ao passo que o valor ganho pelos devedores com seus produtos afundava o ônus da dívida continuava fixo em dólares ou esterlinas Assim os endividados precisavam fazer pagamentos fixos de juros com re cursos drasticamente reduzidos obtidos com as exportações O Peru é um exemplo típico Em 1929 as exportações do país somavam US134 milhões e o serviço da dívida juros e o prin cipal da dívida externa correspondia a 10 desse valor US13 milhões Em 1932 o valor arrecadado com as exportações caiu para US38 milhões mas os serviços da dívida a serem pagos eram de US14 milhões mais de 13 dos ganhos obtidos com as exportações51 A mesma dura realidade afetava o compromisso com o padrãoouro Os custos de sustentação do regime diante dessa situação crítica eram astronômicos dado que se tornou mais difícil do que nunca obter ouro e moeda forte 336832 Os países em desenvolvimento reagiram de maneira uniforme ao choque Quando tinham escolha ou seja quando não eram colônias ou não estavam sob algum tipo de ocupação por alguma potência financeira desindexavam suas moedas do ouro as des valorizavam e adotavam o papelmoeda inconvertível Além disso em vez de utilizarem ouro e moeda forte cada vez mais escassos para honrar as dívidas com os mercados financeiros que não demonstravam qualquer sinal de recuperação quase todos os países em desenvolvimento independentes deram um default na dívida e passaram a controlar os seus fluxos internacionais de moedas e capitais Até mesmo nos países coloniais a Grande De pressão desestabilizou a posição dos estrangeiros Três quartos das fábricas de açúcar de Java que pertenciam a estrangeiros abandonaram as atividades Burocratas europeus expatriados e empregados em todo o Sudeste Asiático foram demitidos eles eram simplesmente caros demais Milhões de imigrantes e trabal hadores indianos e chineses foram embora ou mandados para casa52 Essa sucessão de acontecimentos colapso das exportações desvalorização da moeda calote da dívida fez com que as re giões em desenvolvimento retomassem a autonomia econômica Assim como as propriedades agrícolas familiares cujos rendimen tos caíram pela metade as nações em desenvolvimento passaram a comprar menos dos outros e a produzir mais para si mesmas O efeito foi mais ou menos automático os produtos feitos em casa eram mais baratos os produtos vindos dos países industriais eram mais caros As regiões em desenvolvimento passaram por um processo natural de substituição de importações uma vez que a produção doméstica tomou o lugar de produtos antes importa dos Empreendedores logo perceberam as oportunidades o que incluía desenvolver formas locais de utilização industrial para produtos agrícolas e minérios que no passado se destinavam à exportação 337832 Os acontecimentos da economia mundial foram consolidados por políticas nacionais já que os governos lutavam para reorgan izar suas economias abandonando as exportações e investindo na produção doméstica para uso doméstico A grande desvalorização das moedas tornou as importações mais caras enquanto barreiras emergenciais ao comércio aumentaram ainda mais o valor dos produtos importados Turquia e Egito Tailândia e Chile e até as autoridades coloniais na Índia ergueram barreiras às im portações concederam empréstimos a taxas baixas aos produtores domésticos e investiram na construção de rodovias e outros tipos de infraestrutura para estimular o desenvolvimento da indústria nacional As empresas do governo passaram a con trolar as estradas de ferro a eletricidade os poços de petróleo a atividade bancária e o comércio exterior Por todo o mundo em desenvolvimento a produção para o consumo local disparou principalmente de produtos manufat urados Antes o Egito exportava algodão cru e importava tecidos mas a queda do preço mundial do algodão enquanto o valor dos tecidos permanecia alto tornou a operação pouco atrativa e até impossível Empresários egípcios começaram a usar o algodão local para fazer tecidos e produtos têxteis e logo uma indústria considerável havia sido formada Durante a década de 1930 a quantidade de empregos nas fábricas de calçados tecidos e vesti mentas do Egito dobrou e a produção feita em teares mecânicos cresceu 70053 Em 1939 34 do mercado têxtil local eram abastecidos por produtos locais dez anos antes essa proporção era de 18 Ao mesmo tempo a produção local passou a atender entre 90 e 100 da demanda nacional por álcool cigarro açú car botas e sapatos cimento sabão e móveis54 A China da década de 1930 desejava superar a fragmentação política e militar do país Assim o governo nacionalista do Kuo mintang de Chiang Kaishek tentou alavancar o desenvolvimento industrial Após 1929 o governo aumentou a proteção comercial 338832 de forma vertiginosa em especial para os produtos que faziam parte da indústria doméstica como artigos de vestuário e tecidos Em cinco anos as tarifas médias que antes eram aplicadas em 3 dos importados passaram a abranger 27 dos produtos compra dos Em 1933 as tarifas sobre alguns produtos feitos de algodão estavam acima dos 10055 O governo central também utilizava os bancos e gastos públicos para estimular os investimentos mod ernos como também fizeram algumas administrações provinciais Mas essas medidas foram adotadas tarde demais para que causas sem algum impacto na empobrecida e subdesenvolvida economia chinesa na qual toda a indústria moderna correspondia a apenas 3 do PIB Além disso boa parte da atenção do governo estava voltada para os abusos japoneses praticados em território chinês e após 1937 para a invasão completa do Japão ao país Apesar das condições duras o governo chinês continuou na busca pela modernização industrial e implantou ou se apropriou de cerca de cem fábricas no setor da indústria de base56 Até os países que havia muito tempo se dedicavam à agricul tura e à mineração e eram altamente voltados para os mercados externos transformaram a sua estrutura econômica Na década de 1920 as exportações agrícolas do Brasil cresceram quase três vezes mais rápido que a indústria Mas na década de 1930 com a queda dos preços do café a desvalorização da moeda brasileira e a nova proteção tarifária a indústria cresceu dez vezes mais rápido que as exportações agrícolas dobrando de tamanho entre 1929 e 193857 As tarifas turcas mais do que triplicaram e a indústria do país foi de 9 para 17 do Produto Nacional Bruto PNB em apenas dez anos após 192958 Enquanto durante toda a década de 1930 a produção mineradora chilena permanecia abaixo dos níveis prédepressão a industrial cresceu 48 entre 1932 e 1937 e a quantidade de tecidos de algodão fabricada quintuplicou59 Em 1935 97 dos bens de consumo não duráveis chilenos eram feitos domesticamente assim como 60 dos produtos derivados de 339832 metal maquinário e equipamentos relativos a transporte60 Mesmo a Colômbia a quintessência da exportação agrícola ded icada exclusivamente ao café foi duramente afetada Entre 1928 e 1939 a produção primária colombiana aumentou em 13 mas a de produtos manufaturados aumentou duas vezes e meia Em 1945 a produção de tecidos de algodão era nove vezes maior que na década de 1920 e a de cimento 30 vezes61 As regiões pobres simplesmente não conseguiam mais pagar pelas importações e precisavam produzir mais Os imperativos econômicos por trás da substituição de importações eram tão po derosos que o processo ocorreu até mesmo em muitas colônias Os governantes britânicos da Índia se deram conta de que seria impossível manter as obrigações financeiras da colônia sem que houvesse um aumento na receita o que significava aumentar as tarifas mesmo diante dos protestos veementes dos fabricantes de produtos de algodão de Lancashire De forma mais geral o colapso dos ganhos com as exportações significava que para manter a colônia numa situação financeira favorável era ne cessário substituir as importações E a indústria indiana prosper ou quase dobrando de tamanho entre 1928 e 1938 No fim da década de 1930 a Índia produzia 95 do cimento que utilizava um aumento de 51 desde 1919 71 das folhas de flandres aumento de 25 e 70 de seu aço um aumento de 1462 Algumas das colônias mais pobres enfrentaram limitações para a substituição de importações e algumas vezes as potências coloniais resistiam ao processo Áreas como a África subsaariana e a Indochina não passaram por um processo tão visível de desen volvimento industrial local durante a época da Grande Depressão Para os britânicos que cederam tanto às exigências da Índia quanto ao fomento da industrialização resistir era mais fácil e provável nas regiões em que os industrialistas e seus defensores fossem fracos O ministro das Finanças Neville Chamberlain con tou a colegas em 1934 340832 Embora seja pouco provável que a África ocidental construa fábricas para competir com as nossas há um grande e real risco dessas fábricas serem erguidas no oeste da Malásia e possivelmente em outras partes de nosso Império colonial E talvez enfrentemos sérios problemas em relação à competição industrial dos quais alguns já fo ram vivenciados com a Índia63 Mas no geral a década de 1930 foi um momento de trans formação industrial interna na maior parte do mundo em desenvolvimento A mudança em direção aos aspectos domésticos gerou sub divisões políticas importantes Nos países em desenvolvimento independentes os poderosos grupos ligados a exportação de matériasprimas se enfraqueceram Como a borracha malaia e o cobre chileno entraram em colapso o domínio político dos barões de ambos os produtos desapareceu Em quase todos os principais países da América Latina a década de 1930 testemunhou o ofus camento da oligarquia agroexportadora Ela foi substituída por grupos urbanos com interesses domésticos não internacionais manufatureiros classes médias movimento trabalhista Os líderes nacionalistas da Turquia passaram a controlar o país de forma mais firme A monarquia do Sião foi destituída por um golpe militar nacionalista e tornouse basicamente figurativa Em toda parte as novas palavras de ordem eram desenvolvimentismo e nacionalismo ou seja um concerto de políticas governamentais voltadas para o desenvolvimento industrial e uma ênfase redo brada na produção para os mercados nacionais com o lucro sendo destinado às empresas nacionais Com frequência desenvolvimentismo era associado a políticas e medidas populistas refletindo a mobilização das classes médias e trabalhadoras urbanas Os populistas desejavam enfraquecer o tradicional poder social e político das elites Introduziram novos programas sociais segurodesemprego habitação 341832 aposentadoria além de estimularem a organização dos trabal hadores e de outros atores urbanos De fato os novos regimes deram pesos diferentes ao nacional ismo desenvolvimentismo e populismo O México por exemplo adotou os três O presidente Lázaro Cárdenas tomou posse em 1934 e construiu uma nova ordem econômica e política a partir das consequências de uma sangrenta revolução que atingiu o país entre 1910 e 1920 e de uma década de reconstrução pósrevolu cionária Cárdenas prometeu bons salários e organização às classes trabalhadoras urbanas empregos para a classe média e terras aos pequenos produtores agrícolas Também adotou o New Deal de Roosevelt como modelo em parte para aplacar a preocupação norteamericana Em 1938 Cárdenas nacionalizou os poços de petróleo que pertenciam a estrangeiros Também cri ou um sistema de energia controlado pelo governo e fez do setor público o centro da política industrial O exemplo mexicano foi notável pelo fervor revolucionário e nacionalista mas movimentos semelhantes entraram em cena em outros lugares No Brasil a Revolução de 1930 trouxe Getúlio Vargas à Presidência como um ditador nacionalista de inclinação semifascista Os partidos de esquerda chilenos chegaram ao poder de forma democrática por meio da Frente Popular e apesar de diferenças ideológicas tanto o sistema brasileiro quanto o chileno se tornaram altamente voltados para a industrialização nacion alista O Sião não era tão desenvolvida mas os líderes militares da revolução de 1932 também canalizaram os recursos para o desen volvimento industrial conduzido pelo Estado no qual um dos ob jetivos foi destituir os empresários europeus e chineses64 A Ar gentina escolheu um caminho mais tortuoso para o mesmo des tino Durante a depressão econômica os agroexportadores con tinuaram poderosos em parte por terem conseguido acesso priv ilegiado aos mercados do Império Britânico Mas o fervor nacion alista dos grupos urbanos levou ao poder um novo regime militar 342832 em 1943 e o governo passou a ser controlado por um oficial de média patente Juan Domingo Perón O peronismo foi uma com binação única própria da Argentina de nacionalismo desenvolvi mentismo e populismo que mediou a batalha entre as massas urbanas e a elite agrária tradicional incluindo atos emblemáticos como o incêndio do Jockey Club símbolo da elite As colônias mais avançadas tomaram rumo semelhante prin cipalmente a Índia Novos grupos de empresários indianos forta lecidos pela industrialização da década de 1930 acreditavam que o desenvolvimento econômico demandava mais autonomia do Império À medida que a economia crescia se desenvolvia e diver sificava mais pessoas aderiam ao burguês Movimento Con gressista que em 1937 chegou ao poder por meio do processo eleitoral65 Os nacionalistas indianos exigiam permissão para fazer o mesmo que os países em desenvolvimento independentes aumentar os impostos não pagar a dívida externa e desvalorizar a moeda Os britânicos concordaram com muitas dessas exigências mas não conseguiram superar o conflito inerente que existia entre os interesses defendidos pelos nacionalistas indianos e os in teresses daqueles que exportavam possuíam títulos e pagavam impostos A habilidade do governo indiano em lidar com as questões domésticas fora tolhida por suas obrigações com os su perintendentes britânicos66 Isso ajudou a pôr a Índia e algumas outras colônias mais avançadas em um caminho que mais tarde levaria à independência Onde as políticas econômicas eram mais fracas ou os gov ernantes coloniais mais hostis os resultados foram ainda mais polarizados e conflituosos Nessas áreas a depressão econômica causou os mesmos problemas terríveis aos produtores primários mas havia pouco espaço para formas de diversificação industrial que fossem permitidas pela administração colonial Nas palavras de um líder da África oriental A velha economia agrícola não nos basta mais Devemos fabricar e comprar nossos próprios 343832 produtos Precisamos industrializar nosso país67 Entretanto raramente os governantes coloniais agilizavam o desenvolvimento econômico das regiões que consideravam pouco adequadas às fabricas modernas Com frequência o resultado era a emergência de rebeliões de inclinações nacionalistas e radicais como as lid eradas pelos comunistas no Vietnã e na Indonésia e por nacion alistas de esquerda nas colônias britânicas e francesas da África oriental Alguns colonialistas acreditavam que a resistência em re lação ao desenvolvimento local era uma visão limitada Por exem plo o governadorgeral da Indochina escreveu em 1937 É im possível concebermos a ideia de que a Indochina deva permane cer para sempre em um estado de vassalagem econômica sob o pretexto de não competir com os produtos franceses na França ou em casa68 Mas tais visões não superaram os poderosos in teresses pela manutenção do status quo O impacto da depressão econômica nos países em desenvolvi mento foi mais diluído que aquele no mundo industrial onde é muito difícil destacar um aspecto positivo Para ser preciso a desintegração da economia mundial atingiu de forma dura os países em desenvolvimento principalmente o colapso dos preços das matériasprimas e o desaparecimento dos empréstimos inter nacionais Ainda que a América Latina o Oriente Médio a África e a Ásia tivessem sido forçados a tomar suas próprias rédeas na década de 1930 a experiência teve aspectos estimulantes A so ciedade urbana e a indústria moderna cresceram rapidamente Com elas surgiram novos grupos e classes empresários profis sionais liberais trabalhadores que liderariam essas regiões em direção à democracia e no caso das colônias à independência A alternativa autárquica 344832 A implosão da economia internacional no entreguerras levou a maioria das nações do mundo a se voltarem para dentro O re gime soviético seguiu na corrida pelo crescimento industrial mod erno com uma rigidez brutal e alta planificação econômica pas sando por cima da população rural Os governos do sul centro e leste da Europa recorreram ao novo ideal fascista já que preten diam eliminar o trabalhismo a esquerda e por fim todos aqueles que estivessem atrapalhando a busca pela autossuficiência milit arista O alto escalão dos países em desenvolvimento de América Latina Oriente Médio e Ásia rejeitou a Europa e a América do Norte para construir economias nacionais com base em princípios nacionalistas as colônias se preparavam para fazer o mesmo A economia global na década de 1930 não oferecia muito além da promessa de que no fim a integração internacional levaria indi víduos e sociedades a melhores condições em um mundo recuper ado um mundo ainda por vir No entanto promessas não sub stituem resultados e o modelo clássico de abertura econômica vinha sendo pouco eficiente nesse quesito Mas não o fascismo o comunismo e o desenvolvimentismo nacionalista que acabaram ganhando espaço Estes ofereciam emprego desenvolvimento in dustrial modernização e menos tangíveis orgulho e coesão O fascismo e o comunismo atingiram esses objetivos às custas da liberdade e daqueles escolhidos como inimigos do Estado o desenvolvimentismo também não era mais humano Uma altern ativa estava longe de surgir a Ato de estimular a economia com aumento do suprimento de moeda ou redução de impostos o oposto de deflação NE 345832 10 A construção da socialdemocracia Em 1933 John Maynard Keynes escreveu O decadente capital ismo internacional mas individualista nas mãos daquilo que nos tornamos após a guerra não é um sucesso Não é inteligente Não é bonito Não é justo Não é eficaz E não cumpre o que promete1 As democracias industriais incapazes de desenvolver uma altern ativa seguiram cambaleantes pelos primeiros anos da depressão econômica Algumas se saíram melhor que outras mas nenhuma se saiu bem certamente não tão bem quanto a Alemanha e out ros regimes fascistas Na maior parte da Europa ocidental e da América do Norte governos tentaram a deflação em seguida uma série de medidas temporárias e depois proteção comercial mas não progrediram muito em relação ao desemprego e à estag nação Muitas das democracias do mundo industrializado mergul haram no modelo alemão ou no soviético para substituírem o sis tema de mercados e adotaram o nacionalismo econômico autár quico para não mais dependerem da economia mundial A alternativa começou a surgir para os regimes democráticos em meados da década de 1930 Partidos de esquerda chegaram ao poder tendo como base de apoio as classes trabalhadoras e agrí colas Implantaram políticas econômicas mais intervencionistas expandiram os programas sociais e aumentaram os gastos públicos Os novos governos também restauraram os laços econ ômicos de cooperação existentes entre os Estados democráticos A nova alternativa foi a socialdemocracia O Estado do bem estar social moderno não só foi completamente estabelecido após a Segunda Guerra Mundial mas no fim da década de 1930 seus alicerces já haviam sido erguidos na Europa ocidental e na América do Norte Socialdemocracia na Suécia e nos Estados Unidos A socialdemocracia significou uma nova ordem política e social embora a maioria de seus aspectos já existisse Os governos apoi ados por coalizões de trabalhadores e produtores agrícolas pas saram a ser responsáveis pela intervenção macroeconômica pela segurança social e pelos direitos de emprego A experiência de dois países Suécia e Estados Unidos foi particularmente instrutiva Na década de 1920 o Partido SocialDemocrata sueco con seguiu 35 dos votos e participou do governo diversas vezes Nas eleições de 1932 os socialdemocratas obtiveram 42 dos votos populares partidos de extrema esquerda conseguiram 8 e chegaram perto de alcançar maioria na Câmara dos Deputados Posteriormente fizeram uma aliança com o Partido Agrário con seguiram melhores resultados nas eleições de 1936 e a partir de então governaram a Suécia por 40 anos2 O primeiro pilar da socialdemocracia sueca foi o geren ciamento anticíclico da demanda o compromisso do governo em aliviar os ciclos econômicos A medida foi altamente controversa durante o pior período da depressão econômica quando todos buscavam formas de pôr fim à crise Os governos socialdemo cratas foram mais longe e se esforçaram para reduzir a amplitude e a frequência das crises econômicas de forma a manter o pleno 347832 emprego Utilizaram políticas monetárias para evitar que os preços caíssem ou subissem demais e políticas fiscais gastos públicos e tributação para sustentar a atividade econômica O governo sueco foi o primeiro a exercer um gerenciamento monetário ativo Após os conservadores terem retirado a paridade fixa da moeda no ouro em 1931 o governo perguntou a três eco nomistas respeitados como deveria administrar o capital do país Os economistas recomendaram uma política monetária ativa que mantivesse os preços inalterados durante a desvalorização de 1931 O Banco Central concordou e prometeu evitar que os preços na Suécia seguissem a tendência internacional de queda3 A coalizão liderada pelos socialistas que chegou ao poder em 1933 reforçou a medida O comprometimento explícito do gov erno sueco com a estabilidade dos preços atraiu a atenção inter nacional especialmente porque a economia sueca se recuperou rapidamente Sobre a sua outra principal ferramenta macroeconômica a política fiscal o governo sueco demorou para utilizála Mesmo os que advogavam por uma política monetária menos severa acred itavam que gastar mediante a geração de déficit era uma estu pidez O principal economista do país Gustav Cassel dizia que se o governo se tornasse um tomador de empréstimos de peso para a criação de empregos com obras públicas o setor privado veria a oferta de capital secar ou ao menos ser reduzida ao mínimo con cebível4 Eli Heckscher colega de Cassel acreditava que a inici ativa privada utilizava melhor o dinheiro que os governos e que gastar mediante déficit não era um bom remédio Para ele seria O tipo de expediente utilizado pelos negociantes de cavalos que dese javam vender animais velhos Davamlhes meio bebedouro de aquavit fazendo com que corcoveassem como se estivessem na flor da juventude e apenas voltassem a ser os preguiçosos de antes quando a intoxicação chegasse ao fim5 348832 Diante de uma taxa de desemprego de 25 o governo sueco de base trabalhista precisava fazer mais do que baixar os juros e esperar pela recuperação Alguns dos consultores do governo como Heckscher e seu aluno Bertil Ohlin reconheceram a inad equação da estabilidade de preços e argumentaram que fazer uso de política monetária não seria o suficiente Os sindicatos exigiam empenho dos governos em botar os desempregados para trabal har Assim entre 1933 e 1935 os sociaisdemocratas realizaram obras públicas e emergenciais empregando cerca de 60 mil tra balhadores Eles também concederam ajuda financeira a outros 35 mil O déficit necessário para a implementação dessas medi das contra crise era pequeno 2 ou 3 do PIB e a política foi abandonada após 1935 Nessa época a Suécia já se recuperava da depressão econômica principalmente devido à desvalorização e à melhora gradual das condições internacionais Entretanto o pro grama de empregos financiado pelo déficit abriu um precedente para a redução do desemprego por meio de gastos governamen tais6 Depois da política econômica anticíclica outro pilar da social democracia sueca foi o seguro social O país havia adotado algu mas políticas sociais nas primeiras décadas do século mas de forma bastante limitada O líder socialdemocrata Gustav Möller recordou a historia de sua mãe a viúva de um ferreiro morto aos 41 anos pela tuberculose Não havia um sistema de aposentadoria para a minha avó o que teria deixado minha mãe menos sobrecarregada Não havia ajuda para as viúvas com filhos que contassem apenas com uma renda miserável A sociedade nada fazia para eliminar as moradias que ajudavam a proliferar doenças mortais Não havia uma jornada de trabalho defin ida legalmente Não havia férias remuneradas muito menos férias para as donas de casa 349832 Na década de 1930 Möller se tornou ministro do Desenvolvi mento Social e fez pressão por uma reforma social completa para que histórias como a de minha mãe fossem evitadas7 Durante os anos 1930 a Suécia implementou a maior parte dos programas associados ao Estado do bemestar social8 O gov erno adotou o segurodesemprego em 1934 e alguns anos mais tarde um plano de saúde nacional para todos Instituiu assistên cia a gestantes recémnascidos e crianças subsidiou a merenda escolar aumentou as pensões dos idosos e concedeu finan ciamentos e subsídios habitacionais para famílias Até o fim da década de 1930 o governo sueco oferecia ao povo algo próximo a uma assistência social que ia do nascimento ao falecimento mesmo que fossem benefícios de baixo valor Os sociais democratas mantiveramse firmes na promessa de aplacar o im pacto social da economia de mercado As políticas agrícolas da Suécia também ganharam uma di mensão social devido à pobreza expressiva das áreas rurais En tretanto a motivação por trás da assistência agrícola seria mais política que social O sucesso da socialdemocracia sueca de pendia da aliança com o Partido Agrário o comércio da vaca ou a vacaliança kohandel como os suecos a chamavam Antes disso o movimento trabalhista prólivrecomércio e os fazendeir os protecionistas estavam em forte desacordo os trabalhadores queriam acesso aos alimentos importados de custos baixos e os produtores agrícolas queriam mão de obra barata mas durante a depressão econômica eles fizeram um pacto Os trabalhistas passaram a defender as tarifas e os preços dos laticínios carne bacon ovos e outros produtos alimentícios locais em troca de apoio para as medidas prótrabalhistas dos sociaisdemocratas Como a plataforma eleitoral socialdemocrata de 1936 expressava com alguma resignação a classe trabalhadora sueca pagará o quanto for necessário para garantir aos agricultores e pequenos proprietários de terra um padrão de vida decente9 A aliança 350832 entre os produtores agrícolas e os trabalhadores fato incomum antes da década de 1930 tornouse a marca do Estado do bemes tar social A solução socialdemocrata incluía a incorporação dos trabal hadores ao sistema político Na Suécia isso significava encontros formais entre o empresariado e os líderes trabalhistas para geren ciar as relações industriais Durante o início da década de 1930 muitos empresários suecos continuavam hostis aos sociaisdemo cratas mas nas eleições de 1936 ficou claro que a esquerda dom inaria a política em um futuro próximo Ernst Wigforss ministro socialdemocrata das Finanças disse ao empresariado que os capitalistas Não deveriam agir com base na suposição de que as tendências polít icas atuais do Estado se enfraquecerão que a mudança política acontecerá em breve Por outro lado isso também significa que os representantes do poder político admitem a necessidade de manter condições favoráveis para a empresa privada10 No fim de 1938 representantes do governo empresários sin dicatos e outros assinaram o arrebatador Acordo de Saltsjobaden Empresários e trabalhadores concordaram em gerir as relações trabalhistas de forma central no nível nacional De modo mais geral nas palavras do cientista político Peter Gourevitch Os termos do acordo foram a aceitação por parte dos empresários do governo socialdemocrata dos custos trabalhistas altos salários altos e benefícios do Estado do bemestar social do pleno emprego da política fiscal e da atuação do governo na área social em troca de paz no mercado de trabalho ou seja a não ocorrência de greves a con tinuação do controle privado da propriedade e do mercado de capitais e a abertura à economia mundial11 351832 Os socialdemocratas estavam agora aliados a um adversário tradicional ao produtor agrícola e em paz com outro o grande empresário Era o momento da socialdemocracia Do outro lado do Atlântico uma configuração política difer ente alcançou resultados semelhantes A administração Hoover seguia ineficaz e atrasada quando não era de fato prejudicial Os democratas pareciam não oferecer mais nada de novo e na realid ade Franklin D Roosevelt concorreu à Presidência em 1932 com uma plataforma que acusava Hoover de estar pouco compro metido com as políticas econômicas ortodoxas Roosevelt re clamava por exemplo que os republicanos não mantinham o or çamento federal em equilíbrio Deixemnos tomar a coragem de parar com os empréstimos para san ar os contínuos déficits A receita deve cobrir os gastos de uma forma ou de outra Qualquer governo como qualquer família pode durante um ano gastar um pouco mais do que recebe Mas vocês sabem tanto quanto eu que a continuação desse hábito implicará uma casa pobre12 Quando chegou ao poder Roosevelt mudou e abandonou a austeridade tradicional Retirou o dólar do ouro e desvalorizou a moeda o que ajudou na recuperação Em um prazo de 100 dias a administração Roosevelt adotou programas emergenciais para regular os preços da indústria apoiar a agricultura além de ini ciar e gerir grandes obras públicas Os programas iniciais tinham um quê das medidas fascistas como as tentativas de estimular o empresariado a se cartelizar para definir os preços e a hostilidade do governo em relação à cooperação econômica internacional A mais controversa delas fora considerada inconstitucional pela Su prema Corte Então em 1935 a administração Roosevelt tomou um caminho diferente às vezes chamado de o segundo New Deal Foram incluídos programas governamentais de geração de empregos seguros sociais e direitos trabalhistas Agências com 352832 siglas que pareciam uma sopa de letrinhas e programas federais a Works Progress Administration WPA a Civilian Conserva tion Corps CCC a Agricultural Adjustment Administration AAA e dezenas de outras criaram o estilo norteamericano de socialdemocracia O governo do New Deal se concentrou na redução do desemprego e na provisão de seguros sociais Em março de 1935 o Congresso aprovou a maior verba já autorizada em tempos de paz US5 bilhões para aplacar o desemprego Grande parte foi para a WPA que em seguida proporcionou emprego a cerca de nove milhões de pessoas na construção de um milhão de quilô metros de estradas 800 aeroportos além de centenas de milhares de prédios públicos parques pontes e outros projetos Outros bil hões foram empregados no auxílio daqueles que não podiam trabalhar Alguns meses depois o Congresso aprovou a Lei de Segurança Social o primeiro sistema nacional de seguro social do país A proposta de Roosevelt tinha como fim fornecer de uma só vez se gurança contra alguns dos aspectos mais perturbadores da vida em especial os relacionados ao desemprego e à velhice A lei es tabelecia um sistema público de pensões que beneficiava viúvas e outros sobreviventes seguro por invalidez e ajuda para idosos crianças e cegos Também criou o primeiro sistema de seguro desemprego da nação que seria controlado pelos estados13 A política agrícola como na Suécia refletia a nova coalizão entre trabalhadores e fazendeiros Antes da década de 1930 os trabalhadores norteamericanos em geral eram hostis às tent ativas de se aproximarem dos produtores agrícolas o que aumentaria o preço dos alimentos Da mesma forma os fazendeiros norteamericanos se opunham às exigências da in dústria quanto à proteção comercial o que encareceria os produtos manufaturados O New Deal moldou uma nova aliança democrática entre o trabalho urbano e os fazendeiros do sul com 353832 algum apoio dos estados agrícolas republicanos do centrooeste Roosevelt gastou bilhões de dólares em dívidas dos fazendeiros pagamentos em dinheiro e sustentação de preços Estimase que esses programas tenham salvado cerca de 200 mil famílias de fazendeiros norteamericanos da execução da hipoteca e ajudou outros milhões de maneira menos dramática14 Os programas do New Deal eram motivados por imperativos políticos urgentes e não por um desejo consciente de apenas gastar mediante déficit De fato Roosevelt sempre prometia equi librar o orçamento e vetou alguns projetos de lei no Congresso por considerálos dispendiosos Mesmo no auge de suas atividades em meio à pior crise econômica da história da nação o déficit do governo do New Deal correspondia a apenas 3 ou 4 do PIB No entanto gastavase de forma inédita uma vez que o dinheiro federal usado para outros fins que não a defesa cresceram de 3 do PIB para 10 entre 1927 e 1936 Devido ao comprometimento da administração Roosevelt em equilibrar o orçamento a maior parte desse aumento foi financiada pelos altos impostos A ad ministração se tornou mais tolerante em relação ao déficit após a recessão de 19371938 que provavelmente se tornara pior devido aos esforços para equilibrar as finanças Entretanto nesse ponto não era mais possível saber se os gastos que geravam o déficit eram referentes às políticas anticíclicas ou à preparação para o rearmamento Assim como ocorrera na Suécia a reorganização da política econômica foi acompanhada por uma transformação do papel desempenhado pelos trabalhistas na política A maior inovação da administração Roosevelt no mercado de trabalho foi a Lei Nacion al de Relações Trabalhistas de 1935 que estabeleceu um procedi mento para o reconhecimento de sindicatos e exigia que os empregadores negociassem com as organizações Enquanto a Federação Americana do Trabalho voltada para os artesãos agia de forma lenta em relação às novas oportunidades o recém 354832 formado Comitê para a Organização Industrial trabalhava para organizar a força de trabalho da nação Ímpetos organizacionais marcados por grandes manifestações greves e protestos públicos se espalharam pelas indústrias de automóveis aço pneus e bor racha Em 1930 os sindicatos do país mal contavam com cerca de três milhões de membros representando menos de 11 da força de trabalho não agrícola em 1941 já havia nove milhões de tra balhadores sindicalizados o que correspondia a 23 da força de trabalho15 O movimento trabalhista veio a se tornar parte integral da coalizão democrata do New Deal e o empresariado passou a aceitar sua influência O governo federal se tornou bem mais presente durante o New Deal Isso era o equivalente norteamericano às medidas europei as para restabelecer a mão de obra nacional e implementar as políticas sociais A administração Roosevelt centralizou os gastos nacionais Ao fim da década de 1920 os gastos dos estados e das administrações locais eram três vezes maiores que o dinheiro usado pelo governo federal em assuntos não relativos à defesa Mas em 1936 os gastos federais não militares se tornaram sub stancialmente maiores que o dinheiro utilizado pelos governos es taduais e locais juntos16 O governo federal passou a regular tudo de atividades bancárias à política monetária passando por usinas elétricas e seguro social O New Deal transformou uma política econômica altamente descentralizada com baixos níveis de se guro social e direitos limitados aos trabalhadores em um novo governo federal comprometido em controlar a oferta prover pro gramas sociais e serviços públicos e abrir espaço para que os tra balhadores pudessem barganhar e participar da política A maioria das nações industriais tomou caminhos parecidos Na Dinamarca e na Noruega poderosos partidos socialistas levaram as alianças formadas por trabalhadores e produtores agrícolas ao poder17 Na Bélgica e na Suíça coalizões multi partidárias decretaram grandes reformas sociais e organizaram 355832 reuniões nacionais entre empresários e trabalhadores18 No Canadá e na Nova Zelândia governos conservadores reagiram à depressão econômica com reformas Quando a esquerda os lib erais no Canadá e os trabalhistas na Nova Zelândia chegou ao poder em 1935 tais reformas foram expandidas Na França a Frente Popular foi eleita sob circunstâncias dramáticas Inicialmente os instáveis governos de centro e centroesquerda combateram a crise com pouca força apesar de terem conduzido reformas menores como pensões para famílias e subsídios habitacionais Em 1934 uma onda de protestos violen tos de direita abalou Paris Os comunistas em um momento mod erado diante da ameaça fascista e da recente ascensão de Hitler ao poder na vizinha Alemanha deixaram de lado a hostilidade em relação aos socialistas e propuseram uma plataforma política comum O resultado foi a criação da Frente Popular que como disse seu líder Léon Blum era um reflexo instintivo de defesa contra o prolongamento de uma crise econômica que massacrava a classe média e a trabalhadora além dos produtores agrícolas do país19 A Frente Popular venceu as eleições de 1936 e em junho Blum tomou posse ele foi o primeiro premiê socialista e primeiro judeu a chegar ao poder na França em meio a uma grande onda de greves Um dia após a posse Blum convocou rep resentantes de trabalhadores e empresários para definir o Acordo de Matignon no qual o governo se comprometia a reconhecer os direitos dos trabalhadores e a aumentar os salários de forma sub stancial Em dois meses a administração da Frente Popular pro mulgou 133 leis O governo de esquerda promoveu reformas no Banco Central grandes obras públicas e passou a conceder outros tipos de ajuda agrícola além de instituir o segurodesemprego um sistema novo de acordo coletivo jornada de trabalho de 40 horas semanais e duas semanas de férias remuneradas Embora a Frente Popular tenha se mantido no poder por menos de dois 356832 anos ela teve um efeito duradouro tanto na legislação quanto na posição política do trabalho20 A GrãBretanha ficou para trás Apesar de o Partido Trabal hista estar no poder quando a depressão econômica começou da força dos trabalhadores britânicos organizados de uma longa tradição de reformas sociais e da influência de John Maynard Keynes sucessivas administrações britânicas pouco fizeram para seguir o exemplo da Europa ocidental e das outras nações anglo americanas O mesmo se aplicava à Austrália e à Holanda Nos três países a pressão por medidas socialdemocratas talvez tenha sido suavizada pelo fato de eles já contarem com um sistema de seguro social relativamente extenso No fim da década 1930 já havia uma alternativa ao fascismo e ao comunismo Todos os países industriais avançados exceto Ale manha e Itália continuavam democráticos e quase todas as democracias passaram a seguir as linhas gerais do Estado do bemestar social Os governos comprometeramse em estabilizar os ciclos econômicos oferecer segurança social e reservar um es paço central na política e na sociedade para os trabalhadores organizados Keynes e a socialdemocracia As razões para o desenvolvimento da nova socialdemocracia não são óbvias Uma explicação aceita seria o triunfo das ideias econ ômicas de Keynes Certamente essa seria a visão do próprio Keynes Nem tanto o sucesso dele propriamente dito mas o da forma geral como as medidas econômicas evoluíram Ele escre veu em 1936 As ideias dos economistas e filósofos políticos são mais poderosas do que normalmente achamos Na verdade o mundo é governado por algo mais Homens práticos que se acreditam isentos de qualquer 357832 influência intelectual são geralmente escravos do defunto de algum economista21 Com certeza as ideias de Keynes eram influentes O eco nomista era bastante conhecido pela polêmica que criou em re lação à Conferência de Versailles e ao padrãoouro e pela sua an álise sobre como a má condução da política monetária por parte dos governos contribuiu para as calamidades da época Tais idei as no entanto não eram exclusivamente de Keynes Em seu livro de 1930 Tratado sobre a moeda ele começou a desenvolver uma interpretação mais criativa dos problemas econômicos contem porâneos Keynes expunha sua visão de maneira cada vez mais detalhada de forma impressa em suas palestras lotadas na Universidade Cambridge e em apresentações ao redor do mundo para outros economistas Em 1932 as linhas gerais da abordagem keynesiana sobre a Grande Depressão já haviam sido definidas Levou mais três anos até que ele ficasse satisfeito com a sua nova construção teórica publicada em 1936 com o título de Teoria ger al do emprego do juro e da moeda A principal contribuição de Keynes para o debate econômico da época e para a teoria econômica dizia respeito à política fiscal A maioria dos economistas já considerava os déficits orçamentári os em tempos de crise algo inevitável Além disso eles eram quase automáticos pois com o declínio da economia a receita obtida com os impostos diminuía mais rápido que os gastos Keynes foi além e argumentou que os gastos deficitários eram essenciais para a reativação de economias estagnadas A economia caía numa armadilha e apenas os gastos do governo poderiam libertá la Os investimentos estavam no centro do argumento de Keynes Na maioria das abordagens clássicas os investidores são guiados apenas por oportunidades de lucro Se os salários se tornassem baixos o suficiente novos investimentos viriam e a economia 358832 voltaria à vida Entretanto Keynes entendeu que os investimentos também dependiam de expectativas em relação ao comporta mento de outros investidores Nenhum capitalista expandiria uma fábrica sem a possibilidade de demanda para os produtos não importa quão baixos fossem os juros e salários Se os investimen tos de todos os capitalistas fossem feitos de acordo com as suas expectativas quanto ao comportamento dos outros capitalistas e consumidores a economia poderia ficar presa em uma ar madilha que se autorreforçaria gerando um mau equilíbrio A ex pectativa de uma estagnação reduziria os investimentos o que faria com que a estagnação continuasse A economia de mercado não se endireitaria sozinha O prob lema era o que hoje talvez fosse chamado de falha de coorde nação se cada capitalista investisse contratasse mais trabal hadores e produzisse mais a demanda aumentaria e então haver ia um mercado para os produtos mas como nenhum capitalista poderia estar certo de que isso aconteceria todos preferiam guardar o dinheiro e deixar as coisas como estavam Nas palavras de Keynes Um indivíduo pode ser forçado a cortar gastos por circunstâncias es pecíficas e ninguém pode culpálo por isso Mas não deixe que achem que estão cumprindo um dever público agindo dessa forma O capit alismo moderno é como um velejador que só entra no mar quando o tempo está bom Tão logo surge uma tempestade ele abandona as tarefas da navegação e até mesmo vira o barco que o levaria à terra firme na sua ânsia de salvar mas não o seu companheiro22 O estímulo monetário usual não conseguia superar esse equilíbrio que tendia para a queda por contar com uma taxa de juros baixa para estimular os investimentos No entanto se os capitalistas não vislumbrassem uma recuperação nenhuma taxa de juros seria baixa o suficiente para fazêlos investir por que produzir bens que não seriam vendidos Dessa forma os 359832 investidores preferiam guardar o dinheiro em espécie a perdêlo Assim nem uma taxa de juros a 0 estimularia os investimentos Keynes disse na pior fase da depressão econômica Não acredito que nesses casos a fase do dinheiro barato será por si só suficiente para gerar uma recuperação com novos investimentos Pode ser também que o credor com a confiança abalada pela exper iência continue pedindo aos novos investimentos taxas de juros que os tomadores de empréstimos não podem esperar receber Keynes tinha uma alternativa Intervenção direta do Estado para promover e subsidiar novos invest imentos Anteriormente não havia nenhuma despesa fora do pro cedimento de empréstimos ou que não fosse para fins de guerra que o Estado achasse por bem se implicar No passado não era raro pre cisarmos esperar por uma guerra para que uma grande depressão econômica chegasse ao fim Espero no futuro que não precisemos aderir a essa atitude financeira purista e que estejamos prontos para gastar com iniciativas de paz o valor que a máxima financeira do pas sado apenas nos autorizaria a gastar com a devastação da guerra De qualquer maneira digo com muita segurança que a única saída é descobrir um objeto que seja aceito até mesmo pelos idiotas como uma desculpa legítima pelo imenso aumento dos gastos de alguém com algo23 O governo poderia romper esse círculo vicioso por meio de grandes gastos e empréstimos Isso estimularia a demanda e pro vocaria uma mudança de expectativa diante das novas condições os capitalistas expandiriam os investimentos as oportunidades de emprego e a produção Uma política fiscal anticíclica com gas tos geradores de déficit poderia alterar as expectativas e deixar a economia fluir Para alguns as ideias de Keynes eram quase marxistas em se tratando de grau de dependência do governo Na verdade 360832 algumas vezes ele as definia de forma provocadora como escre veu em Teoria geral O Estado deverá ser uma das maiores forças influenciadoras do ím peto consumista em parte por meio de seu sistema de impostos em parte fixando a taxa de juros e em parte talvez por outros meios Creio portanto que algo como uma completa socialização dos invest imentos seria a única forma de garantir uma aproximação do pleno emprego24 De fato como o próprio Keynes observou a mensagem era profundamente antimarxista por autorizar o governo a superar as fraquezas da economia capitalista Keynes acusava os economis tas clássicos os que não acreditavam que o governo podia mel horar a situação de serem os verdadeiros aliados do marxismo Os marxistas se tornaram os economistas ultraortodoxos Utilizam o argumento clássico ricardiano para mostrar que nada se ganha com a interferência Portanto como tudo vai mal e tornouse impossível melhorar a única saída é abolir o capitalismo e adotar um sistema bem diferente O comunismo seria a consequência lógica da teoria clássica25 Keynes por outro lado queria medidas mais enérgicas para salvar a economia de mercado sem a qual diria ele A estrutura atual da sociedade se tornará tão depreciada que mudanças radi cais tolas e destrutivas serão inevitáveis26 Keynes inspirou um fervor reformista como fora refletido nas memórias de um estudante de Cambridge que chamou o desen volvimento das ideias na Teoria geral de uma revelação feliz em tempos sombrios Acreditamos que Keynes descobriu o problema do sistema capit alista e prescreveu um remédio O mistério da iniquidade contem porânea fora desvendado por uma obraprima de ininterrupto 361832 empenho intelectual Assim a Teoria geral deveria ser menos util izada como trabalho de teoria econômica e mais como um manifesto sobre a razão e a alegria Ofereceu a base racional e o apelo moral para acreditarmos na saúde e na sanidade do homem contem porâneo o que os jovens de minha geração não encontram em nen hum outro lugar27 Keynes causou um impacto poderoso na economia moderna embora muitos historiadores do pensamento econômico digam que o argumento dele não fora totalmente novo28 Isso era ver dadeiro quanto a algumas medidas específicas como gastos defi citários e as justificativas teóricas para a utilização dessa medida Entretanto o livro de Keynes publicado em 1936 repensou fun damentalmente a economia moderna e a política governamental E de fato Keynes e seus seguidores refizeram a economia mesmo que nem sempre de uma forma que ele teria aprovado Keynes inventou a macroeconomia moderna a análise de variá veis econômicas gerais como desemprego e produção influen ciando gerações de pensadores econômicos Não obstante a influência dele sobre a política dos governos foi bastante limitada e suas ideias não afetaram a evolução das sociaisdemocracias da década de 1930 Por exemplo a principal arma de Keynes para a política macroeconômica era de ordem fiscal gastos mediante déficit Poucos governos democráticos da década de 1930 se utilizaram da política fiscal de forma con sciente harmônica e continuada para combater a depressão econ ômica Governos que enfrentavam déficits no orçamento os viam como um mal necessário e sempre prometiam reduzilos o mais rápido possível As políticas monetárias expansionistas eram bem mais aceitas e pareciam funcionar relativamente bem E Keynes nada tinha a dizer sobre seguro social sindicatos trabalhistas subsídios agrícolas ou sobre outras medidas centrais para os emergentes Estados do bemestar social 362832 Keynes participou de importantes discussões sobre medidas políticas Visitou os Estados Unidos em maio de 1934 conversou com grupos de New Dealers e se reuniu com Franklin Roosevelt por uma hora A reunião não causou grande impacto em Roosevelt O presidente disse que Keynes mais parecia um matemático que um economista político29 No entanto Keynes estava entusiasmado com a política norteamericana referindose a si mesmo como mais um observador admirado que um in strutor30 Apoiou a administração por meio de palestras públicas e reuniões com acadêmicos e empresários o que ajudou a conter parte do sentimento antiRoosevelt dos tradicionalistas da eco nomia e do mundo dos negócios Em uma carta aberta para Roosevelt publicada por Walter Lippmann no New York Times Keynes dizia que o aumento dos gastos federais de emergência de US3 milhões para US4 milhões por mês seria uma contribuição quase revolucionária Apesar de ter sido importante para o desenvolvimento da teor ia econômica a voz de Keynes fora apenas mais uma entre as muitas a argumentar a favor de políticas macrocoeconômicas an ticíclicas Para muitos a Escola de Estocolmo inventou o keyne sianismo antes de Keynes Nos Estados Unidos do início da década de 1930 Marriner Eccles de Utah fora um dos empresários iconoclastas a argumentar que o governo deveria as sumir grandes tarefas fiscais de uma forma que mais tarde veio a ser conhecida como keynesianismo Eccles um banqueiro provin ciano que estudou apenas até o ensino médio foi direto ao ponto Um banco não pode financiar a construção de mais fábricas de mais propriedades para serem alugadas e de mais casas quando metade de nossas propriedades está inativa ociosa pela falta de consumo e uma grande percentagem de nossas instalações comerciais está vaga na es pera de inquilinos que paguem O governo no entanto pode gastar dinheiro O governo diferentemente dos banqueiros conta com o poder da tributação e o poder de criar dinheiro não precisando 363832 depender de lucros A única saída para uma depressão econômica é o aumento dos gastos Dependemos do governo para salvar os nossos sistemas de preços lucros e créditos31 A administração Roosevelt o reconheceu imediatamente e o presidente o nomeou chefe do Federal Reserve em 1934 cargo no qual permaneceu até 194832 Keynes acreditava que os tomadores de decisão aplicavam as ideias de economistas defuntos No entanto a experiência de suas próprias ideias mostrava exatamente o oposto Líderes em todo o mundo industrial buscavam uma política econômica nova que os pudesse tirar do turbilhão da depressão Tal política econômica incluía uma política monetária mais flexível serviços públicos e programas intensivos de geração de empregos Keynes a figura pública aplaudia os desdobramentos que se desenvolviam inde pendentemente do economista Keynes No fim os economistas passaram a considerar os escritos de Keynes valiosos para o en tendimento da construção teórica da nova socialdemocracia Sobre a origem propriamente dita dessas sociaisdemocracias devemos procurála fora do mundo das ideias Trabalho capital e socialdemocracia A socialdemocracia não é uma aplicação do pensamento keyne siano mas seus formuladores compartilham com Keynes a ideia de que governos devem agir de forma vigorosa para salvar o capit alismo moderno Assim como ele os escandinavos pioneiros da socialdemocracia há tempos decidiram que sua tarefa seria mel horar o funcionamento do capitalismo A trindade de acordo com uma publicação de 1926 do partido dinamarquês deveria ser seriedade senso de responsabilidade e senso de interesse pub lico33 Para os New Dealers o objetivo também era estabilizar o capitalismo democrático Como disse Roosevelt em 1938 A boa 364832 condição de nossas instituições democráticas depende da determ inação de nosso governo em empregar os ociosos Todos os elementos do modelo socialdemocrata poderiam ser justificados pelos princípios básicos desse sistema A intervenção macroeconômica consertou o fracasso dos capitalistas que agiam em nome de seus próprios interesses se o medo levou a uma queda no consumo e nos investimentos prejudicando a todos o governo poderia empurrálos novamente para cima beneficiando a todos O seguro social ajudou a amortecer os rompimentos de ciclos econômicos imprevisíveis e não apenas para os trabal hadores34 As compensações do desemprego estabilizaram a eco nomia pois diante de uma crise os gastos do governo aumentavam de forma automática para pagar os benefícios aos que não tinham emprego Dessa forma a queda era contrabal ançada O mesmo se aplicava à ajuda aos pobres Em geral a Grande Depressão gerou o desejo para o estabelecimento de sis temas de seguro social desse tipo Seguro social para idosos pensões nacionais e seguros de saúde ajudaram tanto os diretamente beneficiados quanto a so ciedade como um todo Sem precisar mais se preocupar com as condições adversas dos infortúnios da vida os cidadãos podiam se concentrar na educação na produção e na vida cívica Como demonstraram as décadas de experiência europeia essas medidas socialmente benéficas não poderiam ser oferecidas de forma eficaz por empresas privadas ou sociedades de ajuda mútua cria das pelos próprios cidadãos A provisão de seguros sociais cent ralizada no Estado era uma necessidade econômica e social Talvez o surgimento do Estado de bemestar social tenha sido simplesmente uma necessidade para a sobrevivência das so ciedades modernas De outro modo seria difícil explicar por que todas as sociedades industriais desenvolveram sistemas de seguro social cujas similaridades de longe superam as diferenças Além disso esse desenvolvimento não se deu de forma regular ou 365832 contínua e em geral era precedido por duras batalhas políticas A socialdemocracia pode ter sido criada para o bem comum mas a oposição que o sistema gerou faz acreditar que dificilmente este teria sido criado se não contasse com adeptos fortes e determinados A classe trabalhadora foi a principal protagonista da evolução socialdemocrata Os trabalhadores eram mais diretamente afeta dos pelas incertezas que o seguro social visava corrigir Não pos suíam terras ou riquezas que pudessem protegêlos contra o desemprego doença ou invalidez Também não ganhavam o sufi ciente que os permitisse guardar para a aposentadoria precis avam de muita sorte para sobreviver até a idade de se aposentar Desde o início da Revolução Industrial os trabalhadores se organ izavam em sociedades de ajuda mútua e em sindicatos comerciais Entretanto as experiências dos trabalhadores com sistemas de se guro social raramente eram de todo bemsucedidas Os sistemas locais de segurodesemprego talvez os mais importantes de tais iniciativas iam à falência em caso de crises devastadoras simplesmente porque o número de desempregados a serem bene ficiados era grande demais Na verdade o sistema de seguro so cial de muitos países começou com uma ajuda financeira para fundos de desemprego que haviam falido e que podia ser conver tida em programas governamentais ou em subsídios para es quemas voluntários35 A classe trabalhadora e seus partidos exigiam seguro social Eles também queriam que o governo combatesse as crises econ ômicas com reflação geração de empregos e outras medidas mac roeconômicas ou ao menos que não piorassem a crise com de flação e austeridade A pressão dos trabalhistas por medidas soci ais foi reforçada pela crise da década de 1930 As condições dos trabalhadores eram ruins demais para serem ignoradas e de fato problemas que antes pareciam ser apenas desses grupos pas saram a afetar toda a sociedade Dessa forma à medida que a 366832 sabedoria herdada das classes dominantes anteriores parecia ter fracassado os partidos trabalhistas e socialistas ofereciam uma alternativa democrática clara O primeiroministro do Partido SocialDemocrata da Suécia explicou que a depressão econômica reanimou a sociedade A crise econômica tem pregado de forma enérgica contra um sistema que de repente puxa o tapete de hordas de pessoas lutando honesta mente para defender suas casas e famílias e que traz a ameaça do colapso para todas as classes sociais e a sociedade inteira Saber que catástrofes semelhantes já ocorreram antes não acalma o povo para eles saber que existe uma assistência social que os salvaria da fome não é suficiente não se tranquilizarão diante da suposta incapacidade da sociedade em protegêlos de acidentes econômicos A utilização de recursos da sociedade moderna para garantir a vida do povo é uma necessidade fundamental36 Os países que contavam com movimentos trabalhistas e partidos socialistas fortes adeririam de maneira mais rápida à socialdemocracia Quando a Grande Depressão eclodiu os so cialistas escandinavos contavam com mais votos que em qualquer parte do mundo e eram os maiores partidos de seus respectivos países A existência de uma classe trabalhadora forte ajuda a explicar a adoção de medidas socialdemocratas em muitos países mas não explica todo o fenômeno O trabalhismo era forte na Grã Bretanha e na Austrália no entanto a socialdemocracia camin hava lentamente O movimento trabalhista dos Estados Unidos era muito pequeno isso sem falar no socialismo mas o New Deal é um exemplo radical de adoção da socialdemocracia De fato em muitos países inclusive nos Estados Unidos o crescimento do movimento trabalhista moderno fora tanto o resultado como a causa das novas reformas Os sindicatos norteamericanos não contavam com mais membros em 1935 do que em 1925 A 367832 aprovação da Lei Nacional de Relações Trabalhistas de 1935 per mitiu que os sindicatos norteamericanos crescessem tão rápido quanto de fato cresceram triplicando de tamanho durante os dez anos que se seguiram37 Dessa forma embora a força dos mo vimentos trabalhistas tenha acelerado o surgimento da social democracia essa não foi a única razão A união da classe trabalhadora ajudou a promover a social democracia mas uma classe capitalista dividida o apoio ou a condescendência de empresários importantes e a oposição de out ros também foi crucial Uma característica singular da década de 1930 foi a combinação entre a influência de empresários que defendiam reformas macroeconômicas sociais e trabalhistas as sociadas à socialdemocracia Alguns deles talvez fossem reform adores sociais por natureza convicção ou religião No entanto muitos empresários tinham motivos de ordem pragmática para acolher ou mesmo defender as novas medidas Havia um grupo grande de empresários com poucas razões para serem contra as medidas socialdemocratas A experiência dos Estados Unidos fora notória uma vez que os empregadores foram por muito tempo uns dos grupos mais hostis em relação aos trabalhadores e à reforma social A nova ênfase dada à intervenção macroeconômica teve apelo entre muitos empresários Eles acolhiam as medidas que fizessem as condições comerciais voltarem ao normal Uma política mon etária flexível diminuiu o ônus das dívidas corporativas ao passo que gastos governamentais maiores significavam mais encomen das às empresas de forma direta em alguns casos ou indireta em outros Os juros baixos e os orçamentos deficitários preocu pavam alguns especialmente na comunidade financeira mas em tempos de depressão econômica esses grupos eram uma minoria insignificante As políticas para estimular a economia encon traram pouca resistência e ainda um certo entusiasmo por parte da maioria dos círculos corporativos 368832 As medidas de seguro social passaram a ser menos controver sas Quando os governos adotaram sistemas de seguro social muitas firmas consideraram o impacto insignificante Os capit alistas logo se deram conta de que se todas as empresas passas sem a ser obrigadas a contribuir para os programas de pensões e desemprego o seguro social não afetaria a competição Na ver dade as empresas que já ofereciam um sistema de pensões e segurosdesemprego internamente ficaram contentes por serem eximidas dessa responsabilidade O editor da Iron Age o inform ativo da indústria metalúrgica norteamericana escreveu A in dústria está de acordo com os amplos objetivos que conduzem o seguro social e não faz qualquer objeção à transferência desses encargos para os ombros do Tio Sam38 Alguns da comunidade empresarial até consideravam esses programas bons para seus negócios As empresas modernas para as quais empregados confiáveis e motivados eram cruciais havia muito utilizavam salários altos e condições empregatícias mel hores para atrair uma força de trabalho qualificada No decorrer das décadas de 1920 e 1930 muitos deles acreditavam que reduzir as incertezas dos trabalhadores ajudaria a estabilizar e a melhorar a força de trabalho Essas empresas procuraram manter boas re lações com seus empregados mesmo durante a depressão econ ômica como a International Harvester que propositadamente suspendeu os cortes salariais após 1929 Muitas empresas norte americanas com destaque para a Eastman Kodak e a General Electric iniciaram programas internos de pensões planos de saúde e segurosdesemprego para tornar seus empregos mais at raentes e trazer os melhores profissionais Esses capitalistas do bemestar social como são chamados pelos historiadores talvez não tenham fornecido tais benefícios aos trabalhadores por causa de uma consciência social esclare cida mas devido aos seus interesses pessoais O apoio ao seguro social era mais forte nas indústrias onde a qualidade dos 369832 trabalhadores era particularmente importante e os salários rep resentavam uma parcela relativamente pequena do custo total de produção Era mais fácil para uma empresa de capital intensivo como a General Electric ou a International Harvester que de pendiam de uma força de trabalho estável e confiável do que para empresas como as da indústria de calçados e vestuário onde a rotatividade dos trabalhadores em épocas prósperas era muito grande e onde os salários representavam o gasto maior apoiar medidas que aumentariam os custos dos salários Ao mesmo tempo ainda que as modernas indústrias de capital intensivo fossem mais favoráveis ao seguro social não lhes agradava o fato de serem as únicas a arcarem com custos adicionais Poderiam ter oferecido esses programas de forma privada mas preferiram a provisão universal para como definiu um grupo de empresas equalizar o ônus dos custos entre os competidores39 Empresas de peso nesse tipo de indústria desempenharam um papel importante no desenvolvimento dos programas sociais do New Deal Executivos da Eastman Kodak General Electric Goo dyear e da Standard Oil de Nova Jersey outra empresa de alta tecnologia e capital intensivo ajudaram a definir a legislação so cial do New Deal Outras também acreditavam que as reformas socialdemocratas não eram perigosas e podiam até ajudar a or ganizar e a estabilizar o cenário econômico Considerações semelhantes influenciavam a forma como o empresariado via as relações trabalhistas Quanto a isso os empresários eram na melhor das hipóteses tolerantes uma vez que até os empregadores mais progressistas temiam perder o con trole do ambiente de trabalho para a mão de obra organizada Re conhecer os sindicatos era uma questão de perder menos mais do que ganhar algo Relembrando as empresas de capital intensivo para as quais os custos trabalhistas eram menos relevantes e as firmas que dependiam em especial da qualidade e estabilidade da força de trabalho eram mais propensas a reconhecer os 370832 sindicatos e a trabalhar em conjunto com essas organizações do que a se opor a eles Varejistas como a Filenes também os apoiavam Assim como outros empresários liberais os varejistas precisavam de empregados leais e de alta qualidade além de poderem repassar os custos adicionais aos consumidores como todos faziam Os varejistas apoiavam a legislação trabalhista que nas palavras da associação varejista de São Francisco desvincula salários da competição e libera os concorrentes da necessidade de manter os salários tão baixos quanto os de seus competidores mais ferrenhos e perversos40 Na verdade o único grupo norte americano importante a se opor à Lei do Seguro Social de 1935 foi a National Retail Dry Goods Associationc que incluía a Macys e a Sears Roebuck Até na Suécia onde os sindicatos trabalhistas e os sociais democratas eram extremamente fortes a cooperação de segmen tos do mundo corporativo foi central para o desenvolvimento da socialdemocracia O famoso mecanismo nacional para o es tabelecimento de salários surgiu de uma aliança entre empregados e patrões da indústria metalúrgica Em 1933 e 1934 uma longa greve na construção civil e o aumento súbito dos salários do ramo ameaçaram tirar o maquinário sueco dos merca dos mundiais devido ao aumento do preço do produto Os sindic atos e a gerência das metalúrgicas altamente voltadas para as ex portações desejavam manter os salários baixos na construção civil para proteger a competitividade das exportações dos produtos suecos derivados de metal A federação dos empregadores e a federação trabalhista se uniram para impor re strições nacionais aos salários O compromisso da socialdemo cracia com a economia doméstica sugeria que os sindicatos deveriam ser responsáveis e a centralização das negociações salariais era uma forma eficaz de obrigar sociaisdemocratas tra balhadores e empresários a alinhar aumentos salariais e objetivos econômicos Disso resultou um sistema que operava em grande 371832 parte para satisfazer algumas das principais indústrias exporta doras da Suécia41 Muitas indústrias norteamericanas no entanto se opuseram ao New Deal com veemência A Liga da Liberdaded liderada por Du Pont e os sócios da Morgan reuniu os empresários inimigos das políticas sociais As empresas de mão de obra intensiva re jeitavam a visão benevolente das reformas do New Deal não con seguiam arcar com uma legislação trabalhista e social tão cara uma vez que os gastos com trabalhadores era uma parcela grande demais de suas despesas As indústrias que competiam inter nacionalmente enfrentaram ainda mais problemas porque nem todos os países adotaram o seguro social e as reformas trabalhis tas da época Mesmo os empresários liberais se preocupavam com a questão e a General Electric propôs suspender os impostos de empresas que competissem com empresas dos países atrasados De fato a US Steel deu início a negociações com o Comitê Organ izador dos Metalúrgicos da CIOe até que o cartel internacional chegou a um acordo que protegeria o mercado norteamericano Dois dias depois sem precisar mais se preocupar com a com petição estrangeira a empresa concordou em reconhecer o sindic ato42 Apesar de vários empresários continuarem a se opor à social democracia durante a década de 1930 muitos capitalistas pas saram a apoiar ou ao menos deixaram de confrontar as reformas sociais Além disso a socialdemocracia também refletia a coalizão entre de um lado produtores agrícolas e trabalhadores organizados e de outro a ala mais moderna do empresariado Nas indústrias mais avançadas tecnologicamente setores intens ivos em capital organizados de acordo com as novas formas cor porativas e que dependiam de uma força de trabalho qualificada e estável os capitalistas tendiam a defender ou pelo menos a não contestar o seguro social os direitos dos trabalhadores e outras medidas socialdemocratas 372832 A força motriz que impulsionou a evolução da socialdemocra cia veio de muitas fontes Parte da motivação certamente veio de preocupações sociais amplas e como disse Keynes pela ideia de que o capitalismo internacional mas individualista não cumpre o prometido Sem que houvesse um amplo desejo de mudanças os regimes democráticos certamente não teriam adot ado as medidas que adotaram O movimento trabalhista fora o principal responsável por plantar as sementes de muitas reformas que vieram a ser implementadas O apoio ativo ou a aceitação passiva do empresariado foi importante para a adoção de medidas socialdemocratas e trabalhistas As amplas necessidades sociais as exigências trabalhistas e a aceitação por parte dos capitalistas contribuíram para a reconstrução do sistema industrial Socialdemocracia e cooperação internacional Ao adotar a socialdemocracia o mundo industrial passou a se es forçar para construir relações econômicas internacionais mais abertas e com um grau maior de cooperação Isso ocorreu por uma série de motivos Primeiro os movimentos trabalhistas e so cialistas de vários países avançados já defendiam o livrecomércio havia muito tempo em parte para garantir alimentos baratos e outros bens de consumo aos trabalhadores urbanos Segundo a maioria dos empresários que defendia a socialdemocracia per tencia a indústrias tecnologicamente avançadas e internacional mente competitivas que consideravam o protecionismo uma her esia Terceiro à medida que a década avançava a necessidade das democracias do Ocidente de se unirem contra as autarquias fas cistas se tornava mais evidente As pequenas sociaisdemocracias da Europa ocidental lider aram os esforços para a reconstrução do comércio e das finanças internacionais tinham um longo passado de livrecomércio e não 373832 podiam considerar seriamente a alternativa autárquica Em 1932 nas profundezas da depressão econômica a Escandinávia e os Países Baixos concordaram em reduzir pela metade as tarifas entre suas nações por cinco anos O Grupo de Oslo formado por economias pequenas e abertas da Europa ocidental se tornou o núcleo dos esforços para reconstruir o sistema comercial Logo o apoio a esses esforços veio de um lugar inesperado do New Deal da administração de Franklin Roosevelt Os Estados Unidos eram o país mais protecionista do mundo ocidental mas os democratas discordavam das altas tarifas dos republicanos que durante muito tempo dominaram a política e conseguiram baixálas entre 1913 e 1920 durante o breve pre domínio democrata O sul era a principal base de apoio do livre comércio devido à importância das exportações de algodão e tabaco para a região Além disso o partido era financiado por empresas adeptas do livrecomércio descontentes com o aumento tarifário especialmente após a Lei SmootHawley de 1930 No início a administração foi atingida por disputas internas em relação à política comercial Mas logo o secretário de Estado Cordon Hull falou mais alto Hull havia defendido o livrecomér cio por muitos anos quando senador pelo Tennessee estado ex portador de tabaco Em 1934 o Congresso sancionou a Lei dos Acordos Recíprocos de Comércio de Hull A lei autorizava o pres idente a negociar reduções tarifárias acima dos 50 com outros países sem a aprovação do Congresso Em cinco anos os Estados Unidos já haviam assinado 20 acordos comerciais cobrindo 60 das importações da nação O Grupo de Oslo na Europa ocidental e os Estados Unidos no hemisfério oriental pressionavam para a re construção de uma ordem comercial França e GrãBretanha continuaram relutantes Instituíram inicialmente um sistema de preferências imperial A França re duziu suas tarifas apenas após a posse da Frente Popular Em seguida os britânicos também começaram a abandonar o sistema 374832 comercial que dava preferência ao Império o Canadá e outros membros importantes também começaram a deixálo de lado e os Estados Unidos reclamavam incessantemente das práticas dis criminatórias do Império Os franceses e britânicos concordaram em apoiar um estudo do exprimeiroministro belga Paul van Zee land que no início de 1938 recomendava esforços conjuntos para a liberalização do comércio Às vésperas da Segunda Guerra Mun dial as democracias industriais se comprometeram formalmente a reduzir as barreiras comerciais e algumas delas na verdade já haviam iniciado um movimento nessa direção Entretanto a guerra impediu novos progressos43 As relações monetárias internacionais tomaram rumo semel hante Ao se preparar para retirar o franco do ouro em 1936 o governo da Frente Popular francesa consultou os britânicos e os norteamericanos para evitar uma nova rodada de desvalorizações competitivas A desvalorização do franco em setembro de 1936 foi anunciada como parte de um acordo entre os três países Um raio de sol entusiasmouse o New York Times surgiu entre as nuvens carregadas do nacionalismo A cooperação internacional continua algo possível44 Em poucos meses os três signatários do Acordo Monetário Tripartite agora acompanhados por Bélgica Suíça e Holanda incluíram no pacto firmado medidas para es tabilizar suas moedas Longe de ser um grande ato como expres sou um importante banqueiro de Nova York o acordo significava um desafio para o emprego do nacionalismo econômico nas questões monetárias45 Não era a retomada do padrãoouro mas algo novo com base no compromisso dos governos em defender mutuamente suas moedas com uma ligação apenas limitada com o ouro Sugeria como disse Leon Fraser do First National Bank of New York a união do melhor do padrãoouro corrigido pela experiência com o que parecia viável em algumas das doutrinas das moedas controladas46 Foi preciso esperar até o fim da Se gunda Guerra Mundial quando os arranjos monetários foram 375832 elaborados e expandidos para saber exatamente o que seria essa união Entretanto as sementes de uma nova ordem monetária haviam sido plantadas Das cinzas A depressão econômica destruiu a ordem estabelecida O sistema pré1930 tinha base na ortodoxia internacionalista do padrão ouro no papel limitado do governo na economia e na predomin ância política dos empresários A calamidade da década de 1930 baniu o comprometimento da ordem clássica com a economia in ternacional e com o mercado A Alemanha a Itália e seus com panheiros fascistas rejeitaram a integração global e o mercado em favor da autarquia da intervenção estatal e da repressão aos tra balhadores No Ocidente industrial uma coalizão entre trabalhis tas produtores agrícolas e capitalistas progressistas substituiu o laissezfaire pela nova socialdemocracia que intervinha na mac roeconomia e oferecia uma variedade de serviços e seguros sociais Hjalmar Horace Greeley Schacht e John Maynard Keynes fo ram representantes de reações opostas à depressão econômica Os dois rejeitaram a ortodoxia do padrãoouro em favor de uma ação vigorosa dos governos Tanto a economia schachtiana quanto a keynesiana pregavam intervenção governamental ativismo fiscal restrições aos investimentos internacionais e controle sobre o comércio Schacht estava mais voltado à autarquia fascista já Keynes preferia o intervencionismo socialdemocrata Em 1934 nas profundezas da depressão econômica o prag mático Schacht governava a segunda maior economia do mundo enquanto o acadêmico Keynes escrevia uma obra abstrata de teor ia econômica Isso pode ter sido um reflexo de suas carapaças in telectuais e pessoais o alemão era um conformado adorador da 376832 Prússia que venerava o poder e os poderosos o inglês um ho mossexual heterodoxo que acreditava no poder das ideias e desd enhava dos políticos Suas diferenças entretanto também se re fletiram na realidade econômica e política a economia schach tiana era admirada e copiada em dezenas de regimes autárquicos na Europa e América Latina ao passo que a keynesiana obteve apoio intelectual e político de forma gradual O jogo virou dez anos depois em 1944 Enquanto o inglês brindava pelo Ocidente ter aceitado seu projeto para a economia mundial do pósguerra os oficiais da Gestapo estavam a caminho para prender o alemão Enquanto Schacht implorava para con tinuar vivo em Nuremberg Keynes se encarregava das nego ciações para uma nova ordem econômica a ser construída nas ruínas da guerra que os alemães perderam a Tipo de aguardente de origem escandinava NT b No sentido progressista anglosaxão do termo NE c Associação de lojas independentes que mais tarde virou uma cadeia de lojas de departamento NT d Do inglês American Liberty League grupo formado por empresários e políticos democratas conservadores que se opunham ao New Deal de Roosevelt NT e Sigla em inglês para o Comitê para a Organização Industrial associação de sin dicatos trabalhistas da indústria que operou entre 1935 e 1955 nos Estados Un idos e no Canadá NT 377832 parte III Juntos novamente 19391973 11 A reconstrução do Oriente e do Ocidente Logo que a guerra estourou os aliados do Ocidente já começaram a planejar a ordem econômica da paz Na verdade o projeto norteamericano para o pósguerra começou bem antes da en trada dos Estados Unidos no conflito Em setembro de 1939 menos de duas semanas após a erupção das hostilidades na Europa o Conselho de Relações Internacionais de Nova York e o Departamento de Estado formaram grupos de estudo para a produção de relatórios sobre como o país deveria levar à frente a sua visão de mundo Assim que os Estados Unidos entraram na guerra o planejamento oficial começou a ser levado a sério e cen tenas de pessoas do governo do meio empresarial e acadêmico trabalharam para traçar os desígnios da paz Arranjos anteriores da economia internacional se desen volveram a partir da interação entre os mercados e a política No entanto durante a Segunda Guerra Mundial os líderes do Ocidente foram tomados pelo medo de que o estabelecimento da paz traria de volta o desastre que se seguiu à Primeira Guerra Assim não deram chance ao acaso O formato do sistema econ ômico mundial foi definido em negociações internacionais e os governos escreveram as regras do jogo da economia global Os Estados Unidos à frente A questão mais importante para os que desejavam liderar o mundo pósguerra na direção de uma abertura econômica mais ampla era a garantia de participação dos Estados Unidos A situ ação no líder aliado mostravase favorável diferentemente do que ocorrera no período entreguerras quando o internacionalismo norteamericano associado a Woodrow Wilson era pouco popular ou ignorado Empresários e tomadores de decisão que nunca haviam abandonado o internacionalismo econômico puderam novamente incluir seus anseios na agenda do governo Leon Fraser presidente do First National Bank de Nova York defendia já em 1940 que não havia motivo para o adiamento de ações con tra os três principais males da época O nacionalismo econômico as barreiras comerciais e a guerra Assim afirmou Essas três desgraças andam de mãos dadas sempre andaram Dar uma profunda importância às políticas públicas a esse respeito mesmo enquanto reina a batalha não é algo tão incongruente impot ente ou inadequado quanto possa parecer em um primeiro momento Ninguém deveria deixar de questionar o porquê de uma praga en quanto continuasse a morrer gente em sua consequência Era de especial importância que os Estados Unidos liderassem na direção certa À medida que os Estados Unidos caminharem o mundo também caminhará pois nossa influência é tão grande e nossa força tão dom inante que quando nossas políticas forem claramente definidas e pos tas em prática provavelmente se não seguramente servirão de guia para o resto do mundo1 No decorrer da guerra a visão oficial norteamericana se con solidou apesar de existirem diferenças dentro da administração Roosevelt do Congresso e entre a população O governo e o 380832 empresariado passaram a se concentrar em três elementos da or dem do pósguerra um comércio mais livre a estabilidade mon etária internacional e a recuperação dos investimentos internacionais A primeira ideia a ser tratada foi a de um comércio inter nacional mais livre Hull secretário de Estado e responsável pelas políticas comerciais norteamericanas como típico democrata do sul exportador defendia as noções tradicionais a favor do livre comércio Pressionou o presidente para que negociasse reduções tarifárias sob os termos da chamada Lei dos Acordos Recíprocos de Comércio de 1934 O objetivo dele não era apenas buscar mer cados para os produtos norteamericanos Ele defendia a crença wilsoniana de que como o próprio definiu um comércio desim pedido combina com a paz tarifas altas barreiras comerciais e competição injusta condizem com guerra Os céticos poderiam rir mas como disse Hull É fato que nunca houve qualquer guerra entre os Estados Unidos e outro país com o qual tivéssemos conseguido negociar um acordo comercial Também é fato que os países com os quais firmamos acor dos com muito poucas exceções se uniram para resistir ao Eixo Os alinhamentos políticos seguiram os alinhamentos econômicos2 Como um partidário das ideias de Hull declarou Se não queremos que soldados cruzem as fronteiras internacionais os produtos devem fazêlo3 Os defensores do livrecomércio investiam contra um século de protecionismo norteamericano mas em diversas áreas cor porativas o apoio a barreiras comerciais persistia Mesmo assim o entusiasmo com a liberalização do comércio cresceu No fim da guerra a ideia de que a livre troca de mercadorias fazia parte dos interesses norteamericanos já era popular se não universal Havia razões práticas para essa mudança Muitas das indústrias norteamericanas utilizaram a superioridade tecnológica para 381832 exportar e investir no exterior Isso fez com que o apoio ao livre comércio se expandisse para além da tradicional base de ex portação agrícola Além do mais no decorrer da guerra tornouse óbvio que os norteamericanos não enfrentariam muita com petição estrangeira após o fim do conflito Muitos industriais pro tecionistas mudaram de ideia quando perceberam que tinham muito a ganhar com a liberalização do comércio e muito a perder com a manutenção das barreiras comerciais britânicas e europeias Os acordos preferenciais do Império Britânico chocaram os norteamericanos que por sua vez dependiam do acesso a esses mercados Como exemplo Hull se referiu às exportações de ovos para o Canadá Cedendo à pressão dos produtores o Congresso aumentou os impostos sobre a dúzia de ovos de oito para dez centavos por meio da Tarifa SmootHawleya A medida reduziu em 40 a quantidade já pequena de ovos canadenses enviados para os Estados Unidos que passou de 160 mil para menos de 100 mil dúzias A área comercial do Império Britânico que in cluía o Canadá contraatacou aumentando as taxas sobre a im portação de ovos que antes eram de três centavos por dúzia para dez centavos Essa medida fez com que as exportações norte americanas de ovos para o Canadá que eram bastante considerá veis sofressem uma queda de 98 passando de 11 milhões para menos de 200 mil dúzias O protecionismo norteamericano saiu pela culatra4 Quanto ao sistema preferencial do Império Britânico os adep tos do livrecomércio compartilhavam da mesma opinião de Hull que o considerava o maior dano já causado a este país desde que entrei na vida pública5 Mas os Estados Unidos encontravamse numa posição confortável para persistir nos seus objetivos os britânicos dependiam dos Estados Unidos para se defender dos nazistas Até os empresários e políticos simpáticos à causa britân ica se entusiasmaram com a possibilidade de utilizar a situação 382832 emergencial da guerra como sustentáculo para abrir os mercados do Império Em março de 1941 o Congresso aprovou um acordo de Lend Leaseb com a GrãBretanha sob a objeção dos ainda poderosos isolacionistas O acordo autorizava os Estados Unidos a empre star equipamentos militares e afins aos aliados mediante a promessa fictícia de que seriam devolvidos após a utilização Sobre isso o líder republicano Robert Taft alegou que emprestar equipamentos militares é o mesmo que emprestar goma de mas car é impossível devolver O subterfúgio no entanto contornou as objeções isolacionistas ao financiamento direto O plano pro metia evitar as dívidas de guerra que atrapalharam a recuperação após a Primeira Guerra Mundial as novas dívidas dos aliados com os Estados Unidos seriam perdoadas de forma mais ou menos automática Os equipamentos de guerra norteamericanos começaram a ir para as mãos dos britânicos apesar de os Estados Unidos ainda não serem um país beligerante e a GrãBretanha não ter precisado pagar pela ajuda Mas o LendLease veio com condições inclusive uma promessa britânica de liberalizar ainda mais o comércio Em agosto de 1941 o presidente Roosevelt e o primeiroministro Win ston Churchill anunciaram a Carta do Atlântico estabelecendo objetivos de guerra conjuntos que incluíam aumentar a satis fação de todos os Estados em relação ao acesso com igualdade de condições ao comércio e às matériasprimas do mundo Logo depois da entrada dos norteamericanos no conflito ambos os países assinaram um amplo acordo de LendLease em que os dois o que significava a GrãBretanha se comprometiam com a eliminação de qualquer forma de tratamento discriminatório no comércio internacional e com a redução de tarifas além de outros tipos de barreiras Todos sabiam o que isso implicaria O subsecretário de Estado Sumner Welles estava exultante A era do imperialismo chegou ao fim disse ele usando a definição de 383832 imperialismo popular na época como todo arranjo que reservava os benefícios imperiais para qualquer país menos os Estados Un idos Os britânicos aderiram à visão norteamericana de que cada nação tem o direito de supor que o seu comércio legal não será desviado ou estrangulado por tarifas monumentais preferên cias discriminações ou práticas bilaterais6 Em um ano britâni cos e norteamericanos começaram a delinear uma organização internacional do comércio para gerenciar a redução das barreiras comerciais As discussões angloamericanas sobre o capital e as finanças internacionais corriam paralelas às negociações comerciais A partir de 1940 John Maynard Keynes e Harry Dexter White rep resentantes do Tesouro norteamericano e britânico respectiva mente formularam propostas para as relações monetárias inter nacionais e os investimentos globais do pósguerra Tais planos eram menos controversos que aqueles relativos ao comércio As políticas comerciais atingiam empresas poderosas cujos lucros dependiam da proteção contra outras empresas também poder osas cujos lucros por sua vez dependiam da remoção de barreir as comerciais Não obstante quase todos ganhariam com a recu peração de um sistema monetário internacional Muitos desejavam que a cooperação monetária internacional estabelecida entre os aliados do Ocidente no fim da década de 1930 pelo Acordo Monetário Tripartite continuasse O debate girava em torno do padrãoouro Muitos banqueiros internacion ais estavam convencidos de que um padrãoouro renovado se ad equaria melhor às suas necessidades O New York Times reflet indo a visão de Wall Street opinou que o padrãoouro foi a norma internacional mais satisfatória já arquitetada como nen hum outro acordo internacional havia sido O jornal insistia Dizse com frequência que o padrãoouro fracassou A verdade é que o governo sabotou deliberadamente o padrão porque este 384832 interfere no planejamento nacionalista que o governo preferia à es tabilidade das taxas de câmbio Não é necessário inventar esquemas técnicos elaborados para garantir a estabilidade monetária O século XIX a conseguiu por meio do padrãoouro7 Muitos industriais e trabalhadores organizados no entanto estavam hesitantes quanto à retomada do padrãoouro nas mes mas bases de antes de 1914 Eles não gostavam da inflexibilidade do ouro sob a qual o governo não podia utilizar políticas mon etárias para estimular a economia nem desvalorizar a moeda com a finalidade de tornar a indústria mais competitiva Cientes de que uma simples retomada do padrãoouro seria pouco provável os banqueiros sensíveis à política estavam dispostos a concordar com um novo padrão dólar O presidente do Chase acreditava ser viável o dólar se transformar em uma âncora segura para as moedas de outras nações e se tornar um meio de troca inter nacional aceito por todos8 Não por coincidência um padrão dólar renderia aos bancos internacionais norteamericanos como o Chase uma posição privilegiada nos mercados financeiros mundiais No início de 1944 Keynes e White conseguiram conciliar a es tabilidade internacional de um padrãoourodólar com a flexibil idade doméstica para intervenções cambiais Os países parti cipariam de um Fundo Monetário Internacional FMI destinari am ouro e capital em moeda nacional para esse fundo comum e fixariam suas moedas no metal a uma taxa preestabelecida O fundo lhes emprestaria dinheiro em tempos difíceis e os valores das moedas poderiam ser modificados se as condições econôm icas assim exigissem O plano de Keynes e White uniu os objetivos dos governos britânico e norteamericano estabilidade monetária com flexibilidade e amparo ao ouro sem rigidez Keynes e White previram que os governos iriam restringir o fluxo de capital de curto prazo para estabilizar suas moedas Eles 385832 acreditavam que os efeitos nocivos dos investimentos especulat ivos se sobrepunham aos benefícios da livre movimentação de capital Tal ideia aliada à intervenção cambial enfureceu os partidários mais conservadores do ouro como o banqueiro de Nova York que reclamou do absurdo de todas as moedas receber em o mesmo tratamento Eles colocam leus litas lats e rublos e retiram dólares E somos obrigados a usar os leus litas lats e rub los9 Tais objeções contudo não se encontravam no centro do debate público Como disse Keynes O plano prevê o direito ex plícito de cada governomembro de controlar todas as movi mentações de capital O que já foi considerado uma heresia pas sou a ser defendido como ortodoxia10 Apesar de demonstrarem antipatia pelos investimentos de curto prazo especulativos Keynes e White queriam assegurar que os investimentos de longo prazo produtivos chegassem até as regiões necessitadas Os países da Europa e da Ásia devastados pela guerra em especial precisavam de grandes empréstimos para reconstruir sua infraestrutura No passado dois fatores im pediam esse tipo de investimento Primeiro as finanças inter nacionais estavam sempre envolvidas em disputas diplomáticas Uma série de estudos da década de 1930 concluiu que diferente mente do que ocorria a movimentação desejada de capitais deveria manterse separada da política entre os Estados Herbert Feis importante consultor do Departamento de Estado escreveu que se o futuro for mais feliz que o passado o capital que se mo vimenta internacionalmente não carregará consigo o poder de um Estado nacional organizado tampouco será forçado a atender aos objetivos políticos do mesmo11 O livro War and the Private In vestor obra amplamente lida de Eugene Staley foi enfático O fator fidelidade nacional deve separarse do capital migratório Posteriormente Staley escreveu A função de promover e pro teger os investimentos deverá se concentrar nas mãos de várias organizações que representem a comunidade internacional e que 386832 tenham autoridade mundial12 Os acadêmicos foram tomados por um otimismo ingênuo mas se apropriaram da ideia ampla mente difundida de que investimentos internacionais não podiam ficar sujeitos a intrigas diplomáticas O segundo entrave para os investimentos internacionais era a relutância dos credores em financiar grandes empreendimentos como ferrovias e portos Esses projetos seriam cruciais para viab ilizar outros investimentos privados mas necessitavam de tanto tempo que os investidores avessos ao risco os evitavam As inver sões privadas na Europa por exemplo exigiam que uma grande quantidade de capital fosse destinada a rodovias ferrovias e por tos projetos que dificilmente seriam financiados por investidores temerosos Keynes e White se propuseram a resolver o problema criando um Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvi mento Banco Mundial sustentado pelas principais potências financeiras O banco pegaria empréstimos na iniciativa privada a juros baixos devido às garantias de seus financiadores e repas saria para projetos que facilitariam outros investimentos priva dos O sistema de uma forma ou de outra significava uma volta ao início da década de 1930 e até os adeptos do conservadorismo financeiro o apoiavam A organização complementaria e não sub stituiria os empréstimos privados financiando empreendimentos que quando finalizados garantiriam a lucratividade dos investimentos No início de julho de 1944 cerca de mil representantes de mais de 40 países se reuniram no Mount Washington Hotel nas montanhas de Bretton Woods em New Hampshire Durante três semanas sob a liderança de White e Keynes as delegações traçaram planos para o FMI e o Banco Mundial bem como para a ordem financeira e monetária do pósguerra O sistema criado em Bretton Woods era único Nunca existira uma organização como o FMI à qual os governos membros concordaram em 387832 subordinar suas decisões sobre medidas econômicas importantes Tampouco já havia existido uma organização como o Banco Mun dial que contava com bilhões de dólares a serem emprestados a governos ao redor do mundo O capitalismo organizado da nova socialdemocracia que havia invadido as políticas econômicas das nações capitalistas ocidentais foi aplicado no plano internacion al13 Antes de a guerra terminar no Pacífico o Congresso norte americano aprovou o Tratado de Bretton Woods sob a oposição dos isolacionistas e de alguns banqueiros internacionais Em março de 1946 com a Europa e a Ásia em frangalhos as primeiras reuniões do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial foram realizadas em Savannah na Geórgia Keynes ficou decepcionado com a evolução final das institu ições de Bretton Woods Acreditava que a política estava perver tendo as boas ideias em particular suas boas ideias Keynes o nacionalista inglês ficou desanimado com o puro exercício de poder dos norteamericanos acusados por ele de desejar arran car os olhos do Império Britânico14 O economista havia criticado os aliados em 1919 pela imposição de determinações injustas aos perdedores da guerra Agora acreditava que os Estados Unidos estavam impondo determinações injustas a um dos vencedores o Reino Unido Não deveria ser uma surpresa os norteamericanos e os britânicos queriam instituições que servissem aos seus in teresses mas os britânicos esperavam ser tomadores de emprésti mos e os norteamericanos emprestadores Conflitos de interesse tornaramse inevitáveis e as relações de poder faziam com que os anseios norteamericanos prevalecessem Keynes as sim como muitos britânicos não entendia o quanto a realidade política havia mudado e não estava satisfeito com a perda de in fluência de sua terra natal Ele também acreditava que um acordo de cooperação inter nacional estava sendo destruído uma vez que os norte 388832 americanos modificaram as instituições de Bretton Woods para garantir a predominância dos Estados Unidos O desgosto de Keynes com a manipulação das decisões de Bretton Woods foi acentuado por sua contradição pessoal em relação a quase tudo o que fosse norteamericano Afinal ele era um lorde inglês agora barão de Tilton de um mundo cultural e intelectual in capaz de compreender os norteamericanos até mesmo aqueles de que ele gostava Alguns versos satíricos que circularam durante as negociações resumia a opinião do economista britânico Em Washington lorde Halifax Sussurrou a lorde Keynes É verdade todas as maletas de dinheiro são deles Mas todos os cérebros são nossos15c Keynes o economista abominava a politização de seus mecan ismos feitos com tanto cuidado para lidar com os problemas eco nômicos Na primeira reunião em Savannah ele fez um alerta alegórico sobre os perigos de as instituições serem tomadas por políticos Utilizando o balé A bela adormecida que acabara de ver se referiu às fadas madrinhas das instituições de Bretton Woods que as haviam abençoado com universalismo coragem e sabedoria Keynes disse esperar que nenhuma fada maliciosa nenhuma Carabossed transformasse as duas instituições em in strumentos políticos O provável alvo desse ataque velado teria sido Fred Vinson secretário do Tesouro norteamericano que se queixou Não me importo de ser chamado de malicioso mas me importo de ser chamado de fada16 Keynes comemorou já que muitas de suas ideias foram realizadas mas o enfurecia a forma como as políticas de poder especialmente as norteamericanas minavam seu idealismo em relação às organizações de Bretton Woods Após essa experiência igualmente amarga e doce ele voltou à Inglaterra já com a saúde debilitada por anos de excesso 389832 de trabalho Keynes veio a falecer algumas semanas depois re pentinamente na cama em casa Keynes e White no entanto haviam definido as normas básicas da nova ordem econômica As duas principais instituições de Bretton Woods definiram a economia mundial capitalista pelos 25 anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial Suas espe cificidades organizacionais não são de grande importância já que evoluíram por caminhos não previstos por seus fundadores A questão era mais ampla como observou posteriormente um dos negociadores norteamericanos A principal importância de Bretton Woods foi a derrota do isolacion ismo econômico do período préguerra e da séria ameaça de que com a vitória militar esse país mais uma vez se voltasse para o nacional ismo econômico Dessa forma a questão sobre a eficácia do Banco e do Fundo à luz dos acontecimentos do pósguerra muitos dos quais imprevisíveis não é tão importante quanto o fato de estes terem es tabelecido os princípios de cooperação dos Estados Unidos para a solução dos problemas econômicos internacionais do futuro17 A tarefa urgente Os projetos de Bretton Woods se mostraram irrelevantes perto do objetivo urgente de reconstruir as economias das nações que est iveram em guerra O pior conflito do mundo foi mais destrutivo para economias e sociedades do que o previsto No pósguerra o PIB per capita dos aliados europeus União Soviética França Bélgica Holanda e outros correspondia a menos de 45 do que valia em 1939 na maioria deles os índices de 1946 estavam bem menores que os do início da década de 1920 As condições nos países derrotados eram muito piores A produção industrial da Alemanha em 1946 correspondia a 13 do que era em 1936 e de forma geral depois da guerra a renda por pessoa nas nações do 390832 Eixo derrotado foi reduzida a menos da metade Na Itália e no Japão os índices de 1946 mais ou menos equivaliam aos de 1910 na Alemanha aos de 1890 na Áustria aos de 1870 A guerra no continente significou um retrocesso econômico de 25 anos para os vencedores e de 40 50 e até 75 anos para os perdedores18 Antes da guerra o padrão de vida alemão podia ser comparado ao britânico e correspondia a 45 do norteamericano em 1946 pas sou a ser 13 do britânico e 14 do norteamericano podendo ser quase comparado ao padrão de vida na Espanha ou no Peru A mudança de posição da Europa ocidental na economia inter nacional dificultaria a recuperação Para se reconstruir o contin ente precisava importar alimentos matériasprimas e equipa mentos tecnológicos No entanto boa parte da capacidade europeia de ganhar dinheiro para financiar as importações havia se esgotado A maioria de seus investimentos estrangeiros foi li quidada para custear a guerra o que lhes rendeu uma perda signi ficativa de rendimentos Com a Guerra Fria a Europa ocidental passou a não ter mais acesso aos mercados da parte oriental e central do continente Os Impérios europeus se desintegravam e o acesso privilegiado ficou restrito apenas aos mercados e às matériasprimas das excolônias Até o transporte de mercadorias nos países europeus tanto o que levava produtos aos mercados quanto o que trazia deles passou a sofrer limitações A frota mercante de navios de todo o continente europeu que em 1939 era três vezes maior que a dos Estados Unidos foi reduzida pela metade em 194719 A capacidade importadora da Europa ocidental passou a ser 13 daquela em 193820 Enquanto isso os Estados Unidos e o restante do hemisfério ocidental desfrutavam de prosperidade A economia norteamer icana cresceu cerca de 50 em termos gerais com ajustes infla cionários durante a guerra de 1939 a 1946 o Canadá e a América Latina cresceram ainda mais rápido O peso relativo das economias norteamericanas e europeias basicamente mudou 391832 Em 1939 a economia dos Estados Unidos era metade do tamanho das economias da Europa que se envolveriam na guerra do Japão e da União Soviética em 1946 a economia norteamericana era maior que a de todos esses países juntos Em 1939 a produção de aço de Alemanha GrãBretanha e URSS juntas era 15 maior que a quantidade fabricada pelos Estados Unidos em 1946 essa produção havia se tornado cerca de 50 menor21 A Europa e o Japão estavam destruídos ou exaustos os Esta dos Unidos seguiam ricos e poderosos e o grau de envolvimento do país com as questões mundiais determinaria a velocidade da recuperação A lembrança do isolamento norteamericano após a Primeira Guerra Mundial continuava viva na memória dos líderes europeus Eles ficaram ainda mais preocupados quando os repub licanos tomaram o Senado e a Câmara dos Representantes em 1946 já que a ala isolacionista do partido continuava forte Nesse momento aqueles que defendiam a liderança norteamericana do mundo venceram Será que os tomadores de decisão norteamer icanos haviam aprendido a lição Muito provavelmente não Com poucas exceções os líderes isolacionistas da década de 1920 con tinuavam isolacionistas na de 1940 Mas agora eles tinham sido superados em número Os Estados Unidos se voltaram para o mundo após 1945 devido a uma mudança de condições não de mentalidade O país passou a seguir absoluto no comércio nas finanças e nos investi mentos internacionais O dólar não dividia mais a liderança com a libra esterlina ou o franco e a maior parte dos investimentos britânicos e franceses no exterior havia sido liquidada Em vez de competir com a indústria dos Estados Unidos a Europa demon strava uma avidez insaciável pelos produtos das influentes fábricas norteamericanas Com o fim da guerra as exportações tornaramse duas vezes mais importantes para a indústria norte americana do que na década de 1930 Enquanto isso a com petição por importados se enfraqueceu Tal mudança econômica 392832 se refletiu nas ideias de alguns dos membros do Congresso agora mais interessados em buscar mercados para os produtos norte americanos do que preocupados com a competição estrangeira22 O crescimento do poder norteamericano e o enfraquecimento do europeu deixaram claro que os Estados Unidos influenciariam o resto do mundo Em Versalhes e também depois Woodrow Wilson e seus colegas enfrentaram a intransigência dos europeus em relação a diversas questões e foram obrigados a ceder em as suntos importantes como as indenizações da Alemanha Agora os aliados ocidentais dos norteamericanos estavam à mercê dos Estados Unidos A GrãBretanha e a França expressavam seus pontos de vista com veemência e às vezes eram ouvidas pelos to madores de decisão norteamericanos mas não havia qualquer pretensão de uma parceria com igualdade de condições Era fácil vender o envolvimento internacional norteamericano domest icamente quando os Estados Unidos ditavam as regras de tal envolvimento O poder e influência recentes da União Soviética também modificaram a visão norteamericana A sociedade soviética so freu terrivelmente com a guerra mas o sucesso militar dessa nação tornoua dominante a oeste do Reno Além disso no fim da guerra a indústria soviética vinha se tornando mais forte A reputação dos soviéticos e dos comunistas que os apoiavam na Europa melhorou imensamente com o conflito É inquestionável o quanto os comunistas sofreram nas mãos dos fascistas Mesmo que muitos socialistas democratascristãos e outros tivessem agido de forma nobre havia exceções suficientes para manchar a imagem dos partidos e movimentos não comunistas Para alguns a predominância norteamericana o declínio europeu e a influência e o poder soviéticos eram o presságio de que a aliança dos tempos de guerra continuaria Seria liderada pela união de norteamericanos e soviéticos e teria como finalid ade desarmar as nações derrotadas e reconstruir a Europa Havia 393832 quem defendesse essa ideia na administração norteamericana incluindo o secretário do Tesouro Henry Morgenthau e o exvice presidente Henry Wallace O departamento de Morgenthau traçou até mesmo um plano para desindustrializar a Alemanha restringindo o país à agricultura e à indústria leve de forma a re tirar as instalações de fabricação militar das regiões nazistas A hostilidade entre os Estados Unidos e a União Soviética no entanto aumentou com o fim da guerra as diferenças ideológicas entre as duas ordens sociais cresceram demais ou a competição política entre comunistas e não comunistas nos países europeus se tornou muito violenta O conflito pode ter sido uma consequên cia inevitável da tensão surgida quando cada superpotência se de parou com a ascendência nada bemvinda do poder da outra Talvez as hostilidades pudessem ter sido evitadas mas não foram Em 1947 a Europa já estava dividida em dois blocos um pró Estados Unidos e outro próUnião Soviética O líder de cada bloco se encarregava de unir seus defensores econômica e politica mente Os Estados Unidos e a União Soviética tomaram para si a responsabilidade pela reconstrução da Europa ocidental e orient al respectivamente O papel norteamericano na reconstrução do capitalismo com binava objetivos econômicos e antissoviéticos Alguns dos prin cipais líderes políticos e empresariais se entusiasmaram com a se gunda chance dada ao internacionalismo e utilizaram a ameaça soviética como justificativa para a construção de uma ordem eco nômica global centrada nos Estados Unidos Outros toleravam o teor econômico da hegemonia norteamericana mas apenas em prol da luta contra a União Soviética e contra o comunismo O resultado fora chamado de consenso centrista no entanto era mais um acordo que um consenso Dean Acheson presente na criação 394832 Dean Acheson foi um dos principais arquitetos dos compromissos assumidos pelas políticas norteamericanas do pósguerra Em muitos aspectos Acheson era a quintessência do protestante caucasiano anglosaxão Filho do pastor de uma igreja episcopal de Connecticut frequentou a Escola de Groton a Universidade Yale e a faculdade de Direito de Harvard No entanto também tinha traços atípicos seus pais eram canadenses sem grandes posses e ele foi um democrata por toda a vida Acheson foi pro fundamente afetado por Louis Brandeis crítico progressista do monopólio e simpático à reforma social com quem trabalhou na Suprema Corte A firma de advocacia de Acheson operava como um dos pilares do establishment Ele exercia influência na elite de Washington mas também trabalhou como consultor jurídico do Sindicato Internacional das Mulheres Trabalhadoras do Setor Têxtil Acheson foi um dos representantes do novo grupo norte americano de empresários políticos e jornalistas do pósguerra que defendia o internacionalismo wilsoniano o empresariado moderno e as reformas sociais Tais tendências surgiram juntas na década de 1930 com o New Deal enquanto uma combinação semelhante se organizava na Europa oriental com o crescimento da nova socialdemocracia Para Acheson não existia nenhuma contradição entre globalismo econômico e reforma interna Ele se tornou subsecretário do Tesouro em 1933 e foi imedi atamente encurralado entre o apoio a Wall Street e às reformas O Tesouro adepto da ortodoxia financeira e da opinião dos empresários tradicionais resistiu à decisão de Roosevelt de retir ar o dólar do ouro Seis meses após ter tomado posse Acheson se opôs de forma enérgica ao novo controle cambial e o presidente o obrigou a deixar o cargo Durante a depressão econômica Acheson passou a apoiar o New Deal defendendo líderes trabal histas na Justiça e ajudando com entusiasmo na campanha para a reeleição de Roosevelt o que desagradou muitos de seus amigos 395832 de Wall Street Ele se interessava pelas questões internacionais com afinco e se opunha com a mesma força ao isolacionismo disputou com o senador Robert Taft o principal isolacionista do país uma cadeira no conselho diretor de Yale e venceu23 No fim de 1939 Acheson apresentou sua visão de mundo em um vigoroso e notório debate em Yale Embora ainda não fizesse parte da vida pública suas ideias representavam a opinião dos que desejavam empurrar os Estados Unidos para a liderança da economia internacional Na ocasião ele afirmou Os sistemas político e econômico do século XIX há muitos anos se encontram em um processo de declínio O sistema está profundamente debil itado Os alicerces se foram Podemos ver que os créditos que um dia saíam do centro financeiro de Londres não fornecem mais os meios para a produção de riqueza em outros países Podemos ver que as áreas de livrecomércio que um dia supriram mercados importantes e a troca de commodities não existem mais Podemos ver que o poderio naval britânico não consegue mais garantir segurança de vida e investimentos nas áreas distantes da Terra Segundo Acheson um futuro melhor dependia da liderança norteamericana Disponibilizando capital para as regiões da Europa necessitadas de equipamentos para a produção com a condição de que o continente faça a sua parte em relação à remoção das obstruções ao comércio im postas por ele e que ofereça a maior quantidade possível de opor tunidades comerciais Podemos participar oferecendo um mercado mais amplo para produtos feitos sob condições decentes e nesse sen tido provendo meios para a compra de matériasprimas essenciais Podemos participar proporcionando um sistema monetário inter nacional estável sob o qual créditos seriam pegos e pagos de volta e produtos comprados e vendidos Podemos participar removendo 396832 arranjos comerciais exclusivos e preferenciais com outras áreas cria dos pela conquista militar ou financeira acordos ou ligações polític as24 Nos 12 anos seguintes Acheson se empenhou por todas essas questões financiamento à Europa em troca de cooperação econ ômica redução das barreiras comerciais norteamericanas cri ação de uma ordem monetária estável e desmantelamento do pro tecionismo estrangeiro Em janeiro de 1941 foi convidado a voltar para o governo como secretário assistente de Estado para assun tos econômicos Ele já demonstrava mais flexibilidade que na ocasião do debate sobre o ouro sugerindo em uma carta ao New York Times os trâmites legais que permitiriam a ajuda do Lend Lease para a GrãBretanha Uma vez no governo Acheson nego ciou os termos do LendLease formale com Keynes Coordenou a equipe do Departamento de Estado em Bretton Woods e ajudou no esboço dos acordos monetários Um ano depois Acheson exer ceu um papel de liderança junto ao governo para convencer o Congresso a apoiar os acordos de Bretton Woods Ele disse ao Congresso que o novo sistema era essencial para as exportações norteamericanas e que as vendas internacionais do país eram cruciais para a prosperidade dos Estados Unidos Não podemos encarar outros dez anos como os dez anos entre o fim dá década de 1920 e o início da de 1930 sem que nossos sistemas econômico e social consigam atingir os melhores resultados O que importa é o mercado Vocês precisam olhar para os mercados es trangeiros25 Com as instituições de Bretton Woods funcionando as políticas norteamericanas se voltaram para os imediatismos da reconstrução Acheson mais uma vez estava no olho do furacão agora como subsecretário de Estado do novo governo de Harry Truman O internacionalista econômico queria restabelecer 397832 Londres como centro financeiro Seria o primeiro passo para re vitalizar os mercados mundiais Os Estados Unidos e o Canadá concederam um empréstimo de US5 bilhões de dólares à Grã Bretanha 34 vindos dos Estados Unidos 14 do Canadá com a condição de que os britânicos concordassem em remover várias restrições ao comércio e aos investimentos O elemento mais im portante era a insistência dos Estados Unidos para que a Grã Bretanha suspendesse os controles cambiais de forma que os in vestidores privados e os comerciantes pudessem trocar livremente libras por dólares A retomada da convertibilidade ou seja a pos sibilidade de converter dinheiro europeu em moedas fortes foi central para a normalização das atividades comerciais Sem a me dida outras moedas exceto o dólar não estariam verdadeira mente fixas no ouro e países com dinheiro inconvertível não con seguiriam participar de maneira completa dos sistemas de comér cio pagamentos e investimentos internacionais Os líderes norteamericanos consideravam os empréstimos à GrãBretanha essenciais para a reconstrução europeia Agora precisavam convencer os norteamericanos céticos incluindo sen adores e membros do Congresso da sabedoria de mandar mais bilhões de dólares para o outro lado do Atlântico meta econômica que parecia interessar apenas alguns banqueiros e industriais A utilização de um argumento puramente econômico para convencêlos do empréstimo não funcionou e a administração Truman decidiu transformar essa meta na base de uma aliança ocidental contra a União Soviética mesmo que em 1946 o cam inho que tomariam as relações entre norteamericanos e soviéti cos continuasse incerto Joseph Jones colaborador de Acheson disse a um senador Caso essas áreas encontrem espaço para mergulhar na anarquia econ ômica na melhor das hipóteses elas abandonarão a órbita de influên cia dos Estados Unidos para tentarem uma política nacionalista inde pendente na pior se moverão para a órbita russa26 398832 Acheson simbolizava o anátema contra os conservadores isolacionistas que se opuseram ao internacionalismo após a Primeira Guerra e agora desafiavam seu renascimento No ent anto ele os convenceu de que o engajamento econômico poderia ser utilizado para objetivos antissoviéticos argumentando que os empréstimos tinham razões econômicas e geopolíticas A batalha estava longe de ser vencida quando Arthur Vandenberg repres entante dos republicanos no Comitê de Relações Internacionais do Senado advertiu Se não formos os líderes alguma outra nação poderosa se capitalizará com as nossas falhas e teremos de pagar o preço de nossa derrota Pela mesma razão o líder repub licano no Congresso acreditava que esse fato determinaria se ser ia formada uma coalizão entre a esfera britânica e a norteameric ana ou uma coalizão entre a esfera britânica e a soviética A pre ocupação foi certamente exagerada O biógrafo de Acheson con cluiu que o político considerava lamentável o fato de o emprés timo precisar ser justificado com o pretexto da ameaça soviética mas aceitava essa condição como o preço a ser pago pela garantia do apoio necessário27 O empréstimo aos britânicos passou pelo Congresso mas as políticas econômicas que seriam financiadas por ele fracassaram Quando a convertibilidade da libra foi retomada em julho de 1947 todos os investidores que puderam trocaram libras por dólares Em poucas semanas os bilhões foram gastos e o governo precisou recorrer a controles cambiais A reconstrução da Europa exigiu ações mais amplas do que o previsto Em fevereiro de 1947 o governo voltou à Câmara e ao Senado agora ambos controlados pelos republicanos para pleitear ajuda a países como a Grécia e a Turquia Mais uma vez os argumentos econômicos foram ineficazes Contudo nesse momento a ameaça soviética era mais concreta uma vez que as relações com o país comunista se deterioravam rapidamente O subsecretário Acheson e o secretário de Estado George Marshall sabiam que os 399832 republicanos estavam mais preocupados com a expansão do comunismo do que com o livrecomércio Em encontro privado Vandenberg advertiu Truman de que só havia uma forma de con seguir o apoio popular para a ajuda econômica Senhor presid ente a única maneira de se conseguir isso é proferir um discurso que deixe o país apavorado28 O presidente fez o discurso em março de 1947 e anunciou a Doutrina Truman Três meses após a Doutrina Truman ter incumbido os Estados Unidos de se lançar em um esforço global contra os soviéticos e seus aliados o secretário de Estado George Marshall anunciou o Plano de Recuperação Econômica o Plano Marshall Foram en viados US35 bilhões para a Europa com o objetivo de reconstru ir as economias dos aliados do Ocidente um programa paralelo mandou meio bilhão de dólares para o Japão Acheson substituiu Marshall como secretário de Estado no início de 1949 a tempo de observar a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte Otan um bloco militar norteamericano para supervisionar sua esfera de influência econômica No ano seguinte Acheson prestou auxílio a um projeto francogermânico para unificar as indústrias de carvão e aço dos dois países o primeiro passo para a criação de um Mercado Comum Os alicerces do mundo pósguerra já haviam sido erguidos Como expressa o título do livro de memórias de Dean Acheson ele esteve presente na criaçãof de uma nova economia mundial Em 1933 durante os infelizes seis meses passados no Tesouro ele lutou pela ortodoxia do padrãoouro em detrimento de medidas novas e mais flexíveis Voltou à formulação política em 1941 a fim de tentar convencer um Congresso hesitante a aprovar a entrega de alguns destróieres aos britânicos O Lend Lease Bretton Woods e os empréstimos à GrãBretanha deixaram claro como os Estados Unidos pretendiam reorganizar a eco nomia mundial O Plano Marshall solidificou uma nova comunid ade de interesses e a ligação com a diplomacia da Guerra Fria 400832 garantiu o apoio doméstico norteamericano Das ruínas do anti go regime Acheson e seus colegas alcançaram os objetivos para 1939 o auxílio norteamericano à Europa a cooperação econôm ica europeia a liberalização do comércio e um novo sistema mon etário e de investimentos para o mundo Os Estados Unidos e a reconstrução da Europa A ajuda e os empréstimos do governo norteamericano foram a primeira contribuição do país para o crescimento da Europa ocidental e do Japão após a guerra Imediatamente após o con flito os Estados Unidos enviaram mais de US10 bilhões como assistência emergencial à Ásia e à Europa Em grande parte a ajuda se deu pelo fornecimento de comida e de outras necessid ades básicas a populações muitas vezes famintas O Plano Mar shall e o programa japonês paralelo se destinavam à reconstrução econômica Os custos cerca de US14 bilhões correspondiam a mais de 5 do PIB norteamericano de 1948 a mesma parcela do PIB dos Estados Unidos no ano de 2000 teria sido de mais de meio trilhão de dólares No primeiro ano de funcionamento a as sistência do Plano Marshall era de 3 a 6 da renda nacional da maioria dos países europeus beneficiados e em média significava 14 de seus investimentos totais Em alguns países menores a ajuda do Plano Marshall correspondia a mais de 110 da renda nacional29 Os mercados norteamericanos eram outro recurso utilizado pelo Japão e pela Europa ocidental para estimular a reconstrução Os europeus estavam desesperados pelos alimentos matériaspri mas e equipamentos tecnológicos dos Estados Unidos A ajuda e os empréstimos norteamericanos não eram suficientes e em al gum momento os europeus iriam ter de pagar pelas importações com os produtos que vendiam Pela primeira vez que se tem 401832 notícia os mercados norteamericanos estavam relativamente abertos aos europeus As exportações europeias voltaram a cres cer quando a Guerra da Coreia estourou em 1950 uma vez que a necessidade por aparatos de guerra aumentou a demanda norte americana A Europa e o Japão embarcaram em um boom exportador tendo como base os Estados Unidos o que continuou ao longo da década de 1950 As exportações da Europa ocidental em 1946 po diam ser comparadas às vendas internacionais sob as condições autárquicas de 1938 e rendiam US8 bilhões Em 1948 o valor dobrou e em 1951 passou a ser de US27 bilhões Em 1948 as exportações da Alemanha Ocidental somavam mero um bilhão de dólares o que pagava apenas por metade das importações do país Em 1951 as exportações passaram a atingir US4 bilhões valor maior que o das importações necessárias para a nação Levada pelas exportações a produção industrial da Alemanha Ocidental quase triplicou durante os três anos do Plano Marshall30 Embora o desempenho alemão tenha sido o mais notório toda a Europa ocidental cresceu extraordinariamente rápido A produção de aço conjunta entre Alemanha França Itália e Benelux saltou de doze milhões de toneladas em 1946 para 41 milhões de toneladas em 1952 Em 1953 a renda per capita em todos os países da Europa ocidental e no Japão era maior que a de 1938 e continuava a cres cer com grande velocidade Em 1951 as três maiores economias GrãBretanha França e Alemanha haviam superado os níveis recordes de recuperação de todo o período que vai do fim da Primeira Guerra Mundial à Grande Depressão da década de 193031 O ambiente político estabelecido pelos Estados Unidos causou um impacto pelo menos tão grande quanto o comércio e os finan ciamentos diretos do país O apoio norteamericano às novas in stituições econômicas a liderança no bloco ocidental e o envolvimento norteamericanos nas questões mundiais durante a 402832 Guerra Fria se combinavam para garantir condições estáveis e previsíveis aos investidores na Europa e no Japão A situação con trastava com a da década de 1920 quando conflitos internacion ais e domésticos desestabilizaram mercados e frearam investi mentos O preço foi a aceitação do domínio norteamericano den tro do bloco mas os líderes europeus e japoneses estavam tão fra cos e suas ideias tão de acordo com as dos Estados Unidos que o preço valia a pena Os Estados Unidos financiavam as duas instituições de Bretton Woods em funcionamento o FMI e o Banco Mundial e montaram uma sede para elas em Washington Devido a um acordo o presidente do banco seria norteamericano e o do fundo europeu mas a predominância norteamericana fora tomada como certa nas duas organizações assim como na Otan e em outras parcerias ocidentais O banco e o fundo quase não atu aram entre o fim da década de 1940 e o início da de 1950 A ajuda financeira concedida pelos Estados Unidos tornou irrelevante a tarefa reconstrutora do Banco Mundial e muitas foram as dis cussões sobre como conduzir sua missão desenvolvimentista No que se tratava das relações monetárias os países europeus contro lavam suas moedas de forma severa limitando o montante de dinheiro nacional que os cidadãos poderiam converter em ouro ou dólares Apenas o dólar norteamericano e algumas outras poucas moedas podiam ser trocadas livremente Mas desde 1934 o câm bio fixo da moeda norteamericana era de US35 para cada onça de ouro e essa medida assim como o apoio norteamericano à or dem de Bretton Woods oferecia uma âncora financeira confiável para o comércio as finanças e os investimentos O padrãoourodólar garantia a estabilidade monetária inter nacional enquanto os Estados Unidos não tentavam forçar a re tomada da rigidez do padrãoouro nas políticas nacionais A me dida foi trazida para o país em setembro de 1949 quando o Reino Unido desvalorizou a libra em 30 que passou a valer US28 O 403832 FMI foi apenas informado do ato seguido por desvalorizações semelhantes na Europa e em outras regiões que correspondiam a 23 do comércio mundial Em um mundo regido pelo padrão ouro o fato poderia ser encarado como o primeiro tiro de uma guerra cambial na ordem de Bretton Woods era considerado um ajuste necessário para aumentar a capacidade exportadora de eco nomias em dificuldade32 A nova ordem monetária e os Estados Unidos demonstraram uma flexibilidade ainda maior ao desen volverem um sistema de compensação multilateral a União Europeia de Pagamentos A organização estimulou a Europa ocidental a comercializar entre si mesmo que muitas vezes à custa dos Estados Unidos A mensagem era clara o desejo de es tabilidade cambial internacional seria preparado pela necessidade de uma macroeconomia nacional saudável Diante da estabilidade das relações monetárias internacionais o comércio mundial começou a ser liberalizado No entanto o processo não teve início de forma favorável Em Washington onde o FMI e o Banco Mundial cresciam a Organização Inter nacional do Comércio OIC era estrangulada ainda no berço Os protecionistas norteamericanos a consideravam partidária em demasiado do livrecomércio e os defensores do livrecomércio a viam como muito protecionista Além disso o governo Truman nunca havia tentado fazêla passar pelo Congresso que certa mente a barraria A liberalização do comércio no entanto passou por cima do cadáver da OIC Em 1947 em Genebra 24 países assinaram o que deveria ser o provisório Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio ou em inglês Gatt General Agreement on Tariffs and Trade O acordo reduziu diversas barreiras comerciais e promoveu um fórum de negociação e consultas sobre políticas comerciais para as nações industrializadas Os países industriais do Ocidente haviam abraçado a meta de um comércio internacional mais justo 404832 Era necessário assegurar o apoio político à nova ordem O ele mento econômico da estabilização foi importante pois um sis tema econômico internacional estável iria revigorar a comunidade empresarial que havia sido desmoralizada pela Grande De pressão por conflitos de classe guerras civis e conflitos entre Estados No entanto havia muitas questões políticas domésticas a serem resolvidas Os capitalistas na Europa e no Japão na melhor das hipóteses não eram populares e na pior eram acusados de colaborar com o fascismo A guerra havia desmoralizado a direita e o centro era pequeno demais para conter a esquerda Como lem brou Dean Acheson Apenas na GrãBretanha e na Rússia a população tem alguma confi ança no governo nas moedas ou nas organizações sociais e econôm icas Nos outros lugares os governos foram repudiados ou dis solvidos por conquistadores as classes sociais nutriam entre si uma hostilidade cruel com grupos de resistência perseguindo e matando às vezes após julgamentos pomposos colaboradores do inimigo mais recente33 Na maior parte dos países da Europa a esquerda dominou a política do pósguerra Os socialistas fortaleceram a sua já proeminente posição ao passo que os comunistas transformavam o desejo de transformação socioeconômica e o respeito popular pelos feitos soviéticos e em muitos lugares pela resistência comunista durante a guerra em apoio nas urnas e em sindicatos trabalhistas De forma geral as primeiras eleições após a guerra renderam aos socialistas e comunistas a maior parte dos votos nos Parlamentos e com frequência uma clara maioria Partidos comunistas se aliaram a coalizões governantes na França Bélgica e Itália A situação no entanto não sobreviveria à Guerra Fria e os comunistas acabaram retirados desses governos em 1947 Ao mesmo tempo alguns dos que foram banidos e desmoralizados por associações com os fascistas foram inocentados nos primeiros 405832 meses do pósguerra e puderam voltar para o governo ou retomar suas atividades comerciais Não obstante os movimentos trabal histas e os partidos socialistas foram cruciais para as novas polít icas da Europa ocidental34 A política do pósguerra fora bem mais ampla e bem mais próesquerda do que seria aceitável antes do conflito No per íodo anterior a 1939 centro em geral se referia a uma aliança entre liberais agrários e tradicionais de base comercial Nas con dições do fim da década de 1940 a abrangência centrista ia dos democratascristãos aos socialistas Embora os Estados Unidos demonstrassem certa aversão ao apoio de socialistas como os tra balhistas britânicos os novos governos contaram com forte auxílio dos norteamericanos quando passaram a seguir o cam inho que os tornariam sócios plenos da ordem econômica ocidental A União Soviética forma um bloco Os pontos de partida e chegada da reconstrução na Europa orient al não foram os mesmos da ocidental A devastação foi infinita mente maior nas partes central e oriental do continente onde ocorreram as batalhas mais destrutivas da guerra O número de russos mortos nos três anos do cerco a Leningrado foi maior que o de britânicos e norteamericanos durante toda a guerra dois mil hões de soldados alemães e russos morreram na batalha de Stalin grado que transformou a cidade em um amontoado de destroços Durante a fase mais critica da guerra da invasão à Rússia em junho de 1941 à chegada dos aliados à França em junho de 1944 93 das baixas alemãs aconteceram na frente oriental35 Até o fim da guerra a União Soviética perdeu por volta de 20 milhões de pessoas das quais mais da metade era civil Dezenas de milhares de soviéticos ficaram desabrigados e na parte 406832 ocidental do país ocupada pelos alemães cerca de 45 da in dústria do préguerra pararam de funcionar O governo havia transferido muitas fábricas para os montes Urais e permitido que a produção industrial continuasse e até crescesse um pouco dur ante a guerra Mas a quantidade de bens de consumo e de alimen tos produzidos mal chegava à metade dos índices do préguerra que já eram baixos Os custos para a reconstrução das cidades fábricas e fazendas arruinadas eram imensos36 A maioria dos países da Europa oriental também foi severa mente prejudicada pela guerra uma vez que as forças soviéticas partisans e do Eixo lutaram entre si A parte da Alemanha ocu pada pela União Soviética encontravase tão destruída quanto as áreas britânicas norteamericanas e francesas Apenas a Bulgária a Albânia e o território tcheco foram poupados de perdas maiores De maneira geral em toda a região a produção agrícola caiu para 14 dos índices do préguerra e a industrial para metade ou mais37 Para os perdedores a parte oriental da Alemanha e os exali ados Bulgária Hungria e Romênia a destruição da guerra foi acentuada pelas indenizações Os aliados concordaram com a transferência de dinheiro e equipamentos dos perdedores para os vitoriosos Os Estados Unidos e aliados no entanto logo sus penderam essas transferências feitas pela parte oriental da Ale manha principalmente quando a Guerra Fria levou o Ocidente a acreditar que uma Alemanha forte e próspera seria mais útil que uma pobre e fraca Os soviéticos continuaram a exigir indeniza ções mesmo com a Guerra Fria Eles desmontaram 1900 in stalações alemães e enviaram os equipamentos por navio à União Soviética O governo de Moscou também se apoderou por quase dez anos mas deixandoas no local de mais de 200 grandes fábricas as quais eram responsáveis por 13 da produção indus trial da região Entre o pagamento de indenizações e os custos da ocupação de responsabilidade dos alemães devido a um acordo 407832 com os aliados a Alemanha Oriental talvez tenha pago 18 de sua renda nacional para a URSS durante uma década após o fim da guerra38 Romênia e Hungria também foram obrigadas a pagar indenizações substanciais em dinheiro produtos ou serviços principalmente para a URSS a Bulgária pagou quantias mais modestas à Iugoslávia e à Grécia39 As condições no Oriente eram ainda menos estáveis do que após a Primeira Guerra Mundial A Hungria passou pela pior in flação da história mundial Quando a guerra chegou ao fim cada dólar norteamericano valia 1320 pengos o que já indicava uma queda severa em 1938 um dólar valia 54 pengos e em 1944 44 pengos No fim de 1945 os preços na Hungria quadruplicaram e um dólar passou a valer 290 mil pengos No início de 1946 os preços começaram a subir tão rápido que a oferta de moeda não conseguia acompanhar e o dinheiro passou a valer quase nada Em meados de 1946 os preços triplicavam ou cresciam ainda mais a cada dia Em meio ao caos os salários foram reduzidos a 18 do que valiam em 1938 em termos de poder de compra Em 1o de julho no fim do dia o dólar norteamericano passou a valer cinco nonilhões de pengos um nonilhão é um dez seguido por 30 zeros As impressoras do governo não conseguiam acompanhar o descontrole e nesse momento todas as notas húngaras em circu lação juntas valiam um milésimo de centavo norteamericano40 Enquanto a Hungria sofria com a severa inflação muitos países da Europa oriental também enfrentavam declínios traumáticos de suas economias Além do estado geral de transtorno e confusão no Leste Europeu no fim da guerra as formas de organização econômica da Europa oriental e ocidental eram profundamente diferentes mesmo antes de a parte oriental ter sentido o impacto da União Soviética Antes de 1939 a maior parte da região havia seguido na direção das autarquias e de controles governamentais e as con dições durante a guerra seja com a ocupação alemã ou como 408832 parte da aliança liderada pelos nazistas levaram a um maior controle da economia e centralização da propriedade no Estado Os setores públicos que já eram enormes foram tomados pelas exigências relacionadas à guerra e pela expropriação de judeus e outros indesejados Com a liberação as novas autoridades ocu param propriedades de alemães criminosos de guerra e colabor adores expandindo ainda mais o setor estatal As já fracas classes empresariais se enfraqueceram ainda mais com o fim da guerra uma vez que muitos foram incluídos na categoria de expropriação Os confiscos do pósguerra também transformaram a estru tura agrária Milhões de produtores agrícolas de origem alemã fo ram expulsos e tiveram suas terras tomadas juntamente com grandes propriedades rurais e outros bens confiscados de crim inosos de guerra e colaboradores As terras foram distribuídas aos pobres ou camponeses semterra da região e tais medidas tópicas e imediatas com frequência eram complementadas por uma re forma agrária mais sistemática Em 1946 com poucas medidas comunistas instauradas as economias da Europa central e orient al já estavam sob o domínio da indústria e dos serviços controla dos pelo Estado Além disso elas também haviam reformado a agricultura de forma agressiva A classe média e o empresariado eram pequenos e fracos ao passo que os comunistas haviam se favorecido do desempenho durante a guerra e da aliança com a União Soviética Nessas condições a linha adotada pelo Estado soviético para a região parecia plausível Os líderes comunistas diziam que esses países usufruiriam de uma nova democracia popular nem o so cialismo ao estilo soviético tampouco o capitalismo ocidental Uma aliança entre as classes trabalhadoras os camponeses e as frágeis burguesias nacionais iria sob a liderança comunista certamente reconstruir as economias que passariam a ser mis tas A terceira via na área de influência comunista poderia ser comparada à socialdemocracia da esfera norteamericana e 409832 reforçou as esperanças de alguns quanto ao estabelecimento de uma ordem do pósguerra que acomodasse o Ocidente e o Oriente Não importam quais tenham sido as verdadeiras perspectivas para um socialismo não soviético as condições domésticas e in ternacionais evitaram que tal direcionamento fosse tomado As relações entre os comunistas e seus aliados na Europa central e do leste se deterioraram assim como as ligações entre a União Soviética e seus aliados da Europa ocidental dos tempos de guerra Em 1948 as democracias populares rumavam para uma centralização ao estilo soviético Os governos nacionalizaram a maioria das grandes empresas privadas e estabeleceram mecanis mos de planificação econômica que favoreciam o desenvolvi mento da indústria pesada e restringiam o comércio internacion al41 Em janeiro de 1949 poucos meses antes de o Plano Marshall entrar em vigor a União Soviética e os aliados na Europa oriental criaram o Conselho de Assistência Econômica Mútua Comecon A organização se propunha a contrabalançar a aliança ocidental mas desempenhava um papel econômico pouco significativo já que medidas econômicas autárquicas limitavam a possibilidade de qualquer assistência econômica mútua Os soviéticos re duziram ou eliminaram o pagamento das indenizações restantes e estabeleceram alguns arranjos comerciais preferenciais embora muitos na região acreditassem que alguns desses arranjos favore ciam em especial a União Soviética A maior parte do comércio da região operava de forma estritamente bilateral de país para país e era limitado em termos de volume e eficiência A URSS es timulava seus aliados a aderirem à opção soviética um desenvol vimento econômico autônomo de base industrial O curioso rompimento entre Stálin e Tito que levou a Iugoslávia anterior mente o regime mais stalinista de todos a sair da esfera 410832 soviética fora apenas um desvio na consolidação do planejamento central do rio Elba ao Pacífico Os novos membros do bloco comunista e a própria União Soviética se recuperaram rapidamente dos danos causados pela guerra Em 1950 a produção industrial soviética se tornou duas vezes maior que a de 1945 atingindo índices bem superiores aos do préguerra Apesar de sérios problemas agrícolas o padrão de vida demonstrava ter se recuperado da guerra e da reconstrução O mesmo se aplicava à Europa oriental onde os níveis de produção de cada país haviam superado os de 194942 Mesmo na Hungria a moeda permanecia estável a inflação sob controle e a renda per capita aumentou 15 em relação a 1938 A produção agrícola no país permanecia inferior à do préguerra mas dado o caos do período que imediatamente sucedeu o conflito a re tomada da estabilidade econômica e do crescimento foi uma vitória considerável Os resultados econômicos da União Soviética e aliados eram especialmente importantes devido à expansão do mundo comunista fora da Europa Quando o Comecon foi criado gov ernos de inclinação comunista controlavam a maior parte da Ch ina do norte do Vietnã e toda a Coreia do Norte E tudo indicava que os novos governos dos três países pretendiam adotar vari ações da planificação econômica central inventada pela União Soviética Planificação central não era mais uma esquisitice russa mas uma alternativa mundial ao capitalismo de mercado O modelo foi trazido pela primeira vez para o Terceiro Mundo pela Revolução Chinesa pela vitória vietnamita contra a recolonização francesa e pela influência de partidos comunistas em outras colônias Agora centenas de milhões de habitantes nas colônias ou em nações recémindependentes como a Índia podiam examinar as difer enças entre o socialismo economicamente planificado e o capital ismo de mercado decidindo qual dos sistemas se adequaria 411832 melhor às condições internas Até então a principal divisão do mundo se dava entre países industriais ricos e países agrários pobres Agora havia uma segunda dimensão e dois caminhos para o avanço industrial o capitalismo e o comunismo A parte comunista do mundo era um polo econômico novo Pela primeira vez havia uma opção para populações partidos e países insatisfeitos com a desigualdade e a imprevisibilidade do capitalismo O fascismo exerceu uma certa influência nos populis tas do mundo industrializado e nos nacionalistas dos países em desenvolvimento e das colônias mas a Segunda Guerra Mundial pôs fim a essa esperança A socialdemocracia criou perspectivas de reformas mas as promessas eram modestas demais para os que procuravam soluções radicais que terminassem com a miséria extrema das regiões pobres e até mesmo para muitos cidadãos das nações industriais O socialismo ao estilo soviético parecia oferecer um cresci mento rápido igualdade e melhorias sociais Os resultados inco modaram muitos esquerdistas O conceito de socialismo ver dadeiro utilizado por grande parte da esquerda ocidental consid erava as economias planificadas do comunismo a única forma re manescente de socialismo e ao mesmo tempo a distinguia de um tipo mais desejável porém inexistente No entanto para milhões de pessoas o surgimento e a consolidação de um mundo so cialista formado por países comunistas trouxeram a esperança de que havia mesmo uma forma de evitar a impessoalidade do capit alismo de mercado e a tendência dele em atuar contra os in teresses dos pobres e pouco poderosos Dois argumentos Na Era de Ouro do capitalismo global as classes governantes pressionaram e influenciaram suas sociedades a seguirem na 412832 direção dos mercados domésticos e internacionais Elas pouco se preocupavam em adotar políticas que diminuíssem a pobreza da maior parte do mundo e muitas vezes eram ativamente hostis a tais medidas Os defensores da ortodoxia argumentavam que abertura à economia global e políticas para aliviar a pobreza in terna eram ideias incompatíveis Os movimentos fascistas do per íodo entreguerras aceitaram esse argumento e passaram a agir sob o princípio de que nem integração econômica nem reformas sociais eram desejáveis Eles rejeitaram a economia internacional e as reformas sociais em favor de uma autarquia nacionalista Fora da tese liberal e de sua antítese fascista surgiram argu mentos no pósguerra com base na conclusão de que tanto o liber alismo quanto o fascismo estavam errados Havia duas versões extremamente diferentes para esses argumentos a ocidental e a oriental Ambas rejeitavam o abandono fascista às reformas e ab raçavam a transformação social Mas suas atitudes em relação à visão liberal clássica do capitalismo eram exatamente opostas O Ocidente apostava que o liberalismo errava ao criar uma incom patibilidade entre capitalismo global ou mercados e reformas so ciais e procurava provar que economias de mercado integradas conseguiriam adotar medidas sociais igualitárias e que abertura econômica e as novas sociaisdemocracias do bemestar poderiam caminhar juntas Os comunistas do lado oriental também fizeram uma aposta porém antagônica a de que o liberalismo acertara ao criar uma incompatibilidade entre integração e reforma e que transform ação social significava rejeitar os mercados nacionais e globais A planificação central visava provar que a demanda dos indivíduos e dos países pobres por igualdade e desenvolvimento só poderia ser atingida se fosse separada dos mercados e de forma mais geral os eliminasse Durante os 25 anos seguintes o principal objetivo geopolítico dos líderes norteamericanos do capitalismo e soviéticos do 413832 comunismo seria provar que o outro estava errado Um lado pre tendia provar que o capitalismo global poderia ser bom para o crescimento e a equidade o outro desejava provar que desenvol vimento e equidade poderiam ser melhor obtidos com a rejeição ao capitalismo global a Lei aprovada em 1930 que determinou o aumento de tarifas sobre diversos produtos importados NT b Lei de empréstimo e arrendamento NT c No original em inglês In Washington Lord Halifax Once whispered to Lord Keynes Its true they have all the moneybags But we have all the brains NT d A fada má NT e LendLease é um termo genérico que se refere a empréstimos ou arrendamentos mas neste caso diz respeito à concessão de armamentos à GrãBretanha NT f Present at the Creation My Years in the State Department livro de memórias de Dean Acheson ainda não publicado no Brasil 414832 12 O sistema de Bretton Woods em ação Em agosto de 1945 Charles de Gaulle visitou Washington e con versou com Jean Monnet que buscava verba para o novo governo francês A prosperidade estonteante dos Estados Unidos recor dou Monnet o deixou atônito O general De Gaulle acreditava na grandiosidade francesa mas Monnet disse a ele que o termo era inadequado Ele afirmou Você fala em grandiosidade mas hoje os franceses são pequenos A solução seria a modernização porque no momento não eram modernos Necessitavam de uma produção maior e de mais produtividade O país precisava se transformar materialmente1 O mesmo poderia ter sido dito sobre toda a Europa ocidental O continente estava meio século atrás dos Estados Unidos Mesmo após a reconstrução o PIB per capita da Europa ocidental em 1950 equivalia ao dos Estados Un idos em 1905 Menos de 25 anos depois a diferença foi efetivamente trans formada Entre 1870 e 1929 a renda por pessoa da Europa ocidental cresceu duas vezes feito notável Durante o sistema de Bretton Woods dobrou em um período de 16 anos entre 1948 e 1964 e continuou crescendo2 Poucos anos antes o mundo se concentrava nos contrastes ex istentes entre a Alemanha nazista e os Estados Unidos do New Deal entre a Itália fascista e a Suécia socialdemocrata e entre o Japão militarista e a GrãBretanha em dificuldades Agora esses países contavam com ordens econômicas políticas e sociais comuns além de padrões de vida semelhantes Entre 1945 e 1973 o Primeiro Mundo dos ricos e democráticos Estados de bemes tar social se uniu Em 1961 esses países formalizaram o clube cri ando a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econ ômico OCDE3 As economias do Ocidente industrial foram reconstruídas por meio de alianças entre nações classes partidos e grupos Governos equilibravam integração internacional com autonomia nacional competição global com eleições internas livre mercado com democracia O meiotermo reinava nas esferas doméstica e internacional Os Estados Unidos removeram quase todas as suas barreiras comerciais mas aceitavam a proteção europeia e a ja ponesa Os europeus negociaram uma união econômica e política que respeitava as diferenças nacionais Governos derrubavam barreiras ao comércio e aos investimentos internacionais no ent anto protegiam as empresas mais fracas Trabalho e capital co operavam para manter lucros e salários altos trocando direitos dos trabalhadores por paz nos locais de trabalho Socialistas e conservadores democratascristãos e liberais seculares trabal havam juntos para a construção do Estado moderno de bemestar social A aceleração do crescimento no pósguerra Os acordos do pósguerra foram além dos tratados assinados em Bretton Woods no ano de 1944 O sistema de Bretton Woods manteve o espírito mas nem sempre o estatuto dos acordos de Bretton Woods integração econômica aliada à preocupação dos governos com suas bases eleitorais mercados aliados a reformas 416832 sociais e liderança norteamericana unida à cooperação ocidental O sistema de Bretton Woods trouxe benefícios crescimento econômico baixas taxas de desemprego e preços estáveis O Japão protagonizou a história mais bemsucedida A produção do país cresceu oito vezes em apenas 25 anos O milagre da nação as iática após a guerra começou com uma rápida recuperação dur ante a ocupação norteamericana e se acelerou a partir de 1950 com a demanda por suprimentos para abastecer as tropas dos Estados Unidos durante a Guerra da Coreia Os japoneses apren deram métodos novos criaram outras indústrias buscaram mer cados no exterior e logo se tornaram uma potência do comércio internacional Os industriais japoneses rapidamente passaram a adotar as tecnologias desenvolvidas nos 30 anos anteriores Recorreram a um rol de novos produtos e a uma força de trabalho extrema mente barata e bemtreinada Nas décadas de 1950 e 1960 as empresas japonesas utilizaram de 25 a 50 de todo o orça mento destinado à pesquisa e ao desenvolvimento para adquirir tecnologia estrangeira A Sony por exemplo começou em 1946 como uma oficina de consertos e o seu primeiro produto foi uma máquina de cozinhar arroz que não deu certo Nos anos seguintes fez cópias baratas de gravadores cassetes trazidos pelos norte americanos que ocuparam o Japão Em 1953 conseguiu os direit os da Western Electric para a produção dos novos transistores que a Bell Labs acabara de inventar A Sony criou seu primeiro rá dio transistor o segundo do mundo em 1955 e dois anos mais tarde levou o rádio de bolso aos mercados Ao mesmo tempo empresas como a Honda de motocicletas e a Toyota de automó veis abasteciam o mercado japonês com imitações perfeitas das técnicas de produção norteamericanas O governo do Japão apoiava os fabricantes com isenções fisc ais subsídios empréstimos a juros baixos e outros tipos de ajuda 417832 O mercado doméstico cresceu de forma espetacular após décadas de crise e guerra No início da década de 1950 quase nenhum lar japonês possuía televisão máquina de lavar ou geladeira dez anos mais tarde metade das casas contava com os três eletro domésticos O feito ajudou a fomentar uma revolução na indústria de base a produção de aço abaixo dos dez milhões de toneladas no início da década de 1950 passou para quase 100 milhões de toneladas 15 anos depois O governo também estimulava as empresas a produzirem para exportação principalmente por meio de um iene muito fraco que tornava os produtos do país altamente competitivos e gerava lucros imensos às empresas que vendiam para o exterior No fim da década de 1950 a Sony anunciava rádios nos mercados norte americanos A Toyota fazia o mesmo com os carros e a Honda com motocicletas A Honda abriu uma fábrica em Los Angeles em 1959 e uma na Europa em 1962 As empresas japonesas se torn aram conhecidas entre os consumidores ocidentais e em 1961 a Sony tornouse a primeira empresa japonesa a ter ações suas ven didas nos Estados Unidos Na década de 1960 as fábricas japone sas já haviam se tornado uma das principais forças do comércio internacional O Japão obteve um sucesso econômico notório nos primeiros 25 anos após a guerra Os índices de desenvolvimento do país em 1950 podiam ser comparados aos dos Estados Unidos em 1850 medidos pelo PIB per capita Em 1973 o PIB per capita do país era equivalente ao atingido pelos Estados Unidos em 1963 e igual ao da Europa ocidental Economicamente o Japão inaugurou o período pósguerra um século atrasado em relação aos Estados Unidos e em 1973 estava apenas dez anos atrás dos norteamer icanos A segunda maior economia de mercado cresceu cerca de 100 anos em menos de 254 O crescimento econômico do pósguerra foi extraordinário em toda parte não apenas no Japão As nações capitalistas 418832 avançadas de uma maneira geral cresceram três vezes mais rápido que no entreguerras e com uma velocidade duas vezes maior que antes da Primeira Guerra Mundial Em 1948 todas as nações industriais juntas Europa Ocidental América do Norte Austrália Nova Zelândia e Japão produziam US37 trilhões ex pressos em dólares do ano 2000 Em 1973 a produção conjunta desses 21 países era de US121 trilhões um crescimento de mais de três vezes5 O crescimento dos Estados Unidos não foi lento A renda por pessoa do país cresceu 75 e os norteamericanos gozavam de prosperidade No entanto a Europa e o Japão cresceram bem mais rápido Quanto mais atrás os países largavam mais rápido alcançavam os outros Caso o mesmo ritmo continuasse no ano 2000 os Estados Unidos seriam um dos países mais pobres da OCDE6 Em 1950 dificilmente alguém poderia ter previsto a con vergência entre os países que mais tarde formariam o clube do mundo rico da OCDE Naquele momento o PIB per capita da Europa ocidental era 10 menor que o da Argentina o da França estava 15 abaixo o da Alemanha era 13 menor o da Itália 45 menor e o da Espanha correspondia a menos da metade do PIB per capita argentino A Alemanha e a Itália eram mais pobres que o Chile e o Japão mais pobre que o Peru Entre 1948 e 1973 as nações continentais da Europa ocidental e o Japão ultrapassaram outras ao se unirem aos Estados Unidos ao Reino Unido e a out ros países angloamericanos no topo da pirâmide social do mundo Em 1973 a Espanha deixou de ser 50 mais pobre que a Argentina e tornouse mais rica que o país sulamericano a Europa Ocidental em média passou a ser 50 mais próspera que a Argentina Alemanha e Itália tornaramse de duas a três vezes mais ricas que o Chile e o Japão três vezes mais próspero que o Peru Após terem reconstruído suas instalações industriais no início da década de 1950 os exbeligerantes passaram a adotar novas 419832 tecnologias Dos avanços do período entreguerras das décadas de 1920 e 1930 em termos de produção e produtos poucos foram ap licados fora da América do Norte O automóvel o principal sím bolo da riqueza norteamericana foi o mais importante Nos Esta dos Unidos da década de 1950 mais de 40 milhões de carros cir culavam nas ruas o que significava sete automóveis norteamer icanos para cada carro na Europa o número de veículos motoriz ados só no estado da Califórnia era maior que em todo o contin ente europeu Até 1973 a Europa havia se motorizado Em menos de 25 anos o número de carros de passeio na Alemanha subiu de meio milhão para 17 milhões na França aumentou de 15 milhão para 145 milhões e assim por diante Em 1973 o número de veículos no continente era dez vezes maior que em 1950 sendo que 60 milhões eram carros de passeio Nesse momento os 17 milhões de habitantes da Escandinávia possuíam mais carros que os 300 milhões de cidadãos da Europa ocidental duas décadas antes Havia 102 milhões de carros nas ruas de forma que a re lação entre o número de carros norteamericanos e europeus era de 17 para um Rapidamente os europeus alcançaram os norteamericanos também em outros produtos de consumo duráveis geladeiras máquinas de lavar e mais tarde televisores As novas fibras sintéticas e os petroquímicos que conquistaram os Estados Un idos antes da Segunda Guerra Mundial chegaram à Europa e ao Japão na década de 1950 As linhas de montagem foram trazidas para a Europa na década de 1940 como algo relativamente novo Quando os europeus e japoneses introduziram tecnologias e produtos novos o atraso em relação aos outros países foi super ado A produção de novos automóveis televisores químicos e sintéticos como o nylon cresceu de duas a três vezes em com paração com a quantidade fabricada nos Estados Unidos durante as décadas de 1950 e 1960 420832 A Europa ocidental e o Japão alcançaram os outros países entre 1948 e 1973 em parte porque milhões de cidadãos abandon aram a agricultura Havia muito tempo que o Japão e a Europa ocidental já eram ineficientes em termos de agricultura com mil hões de camponeses pobres presos a terras ruins Apenas o colapso do comércio internacional no período entreguerras aux iliado por barreiras comerciais foi capaz de manter esses incha dos setores agrícolas Por volta de 1950 nos países de agricultura moderna os trabalhadores rurais em geral correspondiam a 10 da força de trabalho 13 na Holanda 11 nos Estados Unidos e 6 no Reino Unido No entanto metade dos trabalhadores es panhóis e italianos 14 dos trabalhadores de outros países da Europa e mais da metade dos japoneses continuavam na agricul tura A Europa e o Japão tinham mais produtores agrícolas do que suas terras relativamente pobres poderiam comportar o que tornava o padrão de vida no campo miserável Durante os dez anos seguintes a população rural da Europa ocidental e do Japão diminuiu passando a corresponder em média a bem menos de 10 de toda a força de trabalho no caso da Itália essa quan tidade diminuiu de 45 em 1950 para 17 em 1973 O trabalho deixou a agricultura improdutiva e foi para fábricas e serviços mais produtivos7 O comércio e os investimentos internacionais do pósguerra também serviram como catalizadores para o crescimento do Japão e da Europa ocidental De 1913 a 1950 o comércio e os in vestimentos mundiais se estagnaram e os governos contribuíram para essa realidade impondo barreiras a empresas e produtos es trangeiros Os fabricantes e produtores agrícolas da Europa e do Japão protegidos contra os mercados mundiais seguiram suas atividades sem a necessidade de desenvolver novos processos in dustriais ou produtos No Japão e na Europa da década de 1950 o isolamento econômico foi a principal causa para o atraso da in dústria e da agricultura Da mesma forma assim como o colapso 421832 da economia global afetou a Europa e o Japão no período entre as grandes guerras o renascimento do comércio e dos investimentos internacionais após a Segunda Guerra Mundial os impulsionou De repente as duas economias passaram a ter acesso a um sis tema de comércio internacional dinâmico Empresas estrangeiras em especial as multinacionais norteamericanas com seus pro cessos e produtos mais modernos começaram a investir no Japão e na Europa com avidez A posição internacional dos Estados Unidos mudou radic almente Antes da Segunda Guerra Mundial o país tratava os produtos estrangeiros com hostilidade e em geral tinha pouco interesse nos mercados externos Os Estados Unidos passaram então a importar produtos de todo o mundo e a exportar com entusiasmo A quantidade de produtos comercializados pelo país na década de 1950 era de duas a três vezes maior que a do en treguerras mesmo descontados os índices de inflação Empresas no Japão e na Europa podiam vender sua produção nos mercados norteamericanos e comprar dos Estados Unidos os equipamen tos tecnológicos e insumos mais modernos A disponibilidade imediata do enorme mercado norteamericano provocou mudanças na atitude e no comportamento dos produtores europeus e japoneses O mundo industrial também passou a ter acesso ao capital norteamericano principalmente na forma de investimento direto Os investimentos das empresas norteamericanas destina dos à Europa e ao Japão que em 1950 somavam US2 bilhões passaram para US41 bilhões em 19738 As multinacionais norte americanas que abriram filiais no exterior levaram consigo as últi mas tecnologias e técnicas de marketing e administração Os mercados e o capital norteamericanos ajudaram a reori entar as economias do mundo industrial Ao deixarem a proteção de lado e se lançarem na integração mundial os Estados Unidos deram novo fôlego para o comércio e os investimentos 422832 internacionais o que promoveu uma onda de crescimento na Europa ocidental e no Japão Em contrapartida as duas regiões contribuíram para o dinamismo da economia mundial re forçando o movimento em direção à integração econômica do globo Todos os aspectos positivos se juntaram em um ciclo virtu oso de integração comercial expansão de empresas multinacion ais crescimento econômico e prosperidade As expectativas dos arquitetos do sistema de Bretton Woods estavam sendo atendidas Jean Monnet e os Estados Unidos da Europa Um francês vendedor de conhaque chamado Jean Monnet foi cru cial para um acontecimento extraordinário da era de Bretton Woods a criação de um mercado comum na Europa ocidental9 Monnet o filho mais velho do líder de uma cooperativa agrícola nasceu na região de Cognac Quando jovem Monnet viajava pelo mundo de Yukon ao interior do Egito para vender os produtos da família Passou muito tempo na América do Norte experiência que lhe rendeu parceiros comerciais nos Estados Unidos conheci mentos sobre as práticas norteamericanas de comércio e um bom domínio do inglês Monnet acreditava no internacionalismo econômico do ponto de vista exportador Era um viajante do mundo bem antes de al guém se dar conta de que o mundo poderia ser viajado Um episó dio conturbado de sua vida pessoal diz muito a seu respeito Em 1929 Monnet se apaixonou por uma mulher casada a filha nas cida em Istambul de um italiano dono de um jornal em francês Como em 1935 o divórcio era algo difícil eles decidiram ir morar juntos em Moscou ele vindo de uma consultoria financeira de Xangai e ela de sua casa temporária na Suíça Em Moscou Silvia conseguiu a cidadania soviética e se beneficiou do liberal Código 423832 Civil do país para se divorciar do marido e se casar com Monnet Mudaramse para Xangai e montaram uma casa em Nova York em parte porque precisavam se manter fora da Europa para evitar que o primeiro marido de Silvia entrasse com uma ação pela guarda da filha dos dois Durante os dez anos seguintes se dividi riam entre Nova York Washington Londres Argélia e quando a filha estava crescida Paris Monnet nunca disputou uma eleição ou cargo público mas era um administrador e negociador excepcional Durante a Primeira Guerra atuou como o representante francês de uma comissão de fornecedores formada pelos aliados Após a guerra trabalhou cinco anos como secretáriogeral adjunto da Liga das Nações re sponsável principalmente pelas questões econômicas No cargo Monnet supervisionou os esforços para a estabilização e recon strução das economias da Europa centrooriental e experimentou a incapacidade da liderança norteamericana em garantir o envol vimento internacional do país Em 1923 Monnet voltou à atividade privada como represent ante europeu da Blair and Company um banco de investimentos de Wall Street para o qual coordenou programas públicopriva dos de estabilização na Polônia e na Romênia Saiu do banco nos primeiros anos da depressão econômica mas sua firma de con sultoria continuou a trabalhar com finanças internacionais e com Wall Street negociando empréstimos e outras operações na Ch ina Europa e América do Norte Monnet tinha uma ligação próxima com os nomes mais im portantes dos meios financeiro político e jurídico Era frequente mente consultado pelo governo e pelo mercado financeiro dos Estados Unidos aconselhando a administração Roosevelt sobre o LendLease e os banqueiros internacionais sobre questões mundiais Tornouse amigo próximo de alguns líderes norte americanos do entreguerras e do pósguerra tais como Averell Harriman John McCoy Dean Acheson e os experientes parceiros 424832 da Morgan Thomas Lamont e Dwight Morrow Foi especialmente ligado a John Foster Dulles na época um advogado de Wall Street Eles trabalharam juntos no projeto dos empréstimos para a Polônia e Dulles financiou a abertura da empresa de consultoria de Monnet em Nova York Para muitos banqueiros internacionais dos Estados Unidos ficou claro no período entreguerras que a fragmentação política e econômica da Europa era insustentável Como disse Dulles em 1941 o restabelecimento de mais ou menos 25 Estados completa mente independentes e soberanos seria algo politicamente tolo Os Estados Unidos deveriam buscar a reorganização da política da Europa continental formando uma comunidade federativa10 Os líderes políticos e empresariais internacionalistas norteamer icanos acreditavam que um Estados Unidos da Europa seria es sencial para a estabilidade e a prosperidade do continente e para os interesses norteamericanos na região Seria natural que o criador de um mercado comum na Europa ocidental fosse alguém que transitasse pelos círculos políticos e empresariais dos Estados Unidos Mas não pelo motivo apontado por alguns gaullistas que diziam ser Monnet uma ferramenta do imperialismo norteamericano Monnet acreditava que o novo capitalismo industrial deveria ocorrer nos moldes norteamer icanos e que a fragmentação política e econômica da Europa privava o continente de tirar vantagem da nova realidade o con sumo e a produção de massa O industrialismo ao estilo norte americano exigia um mercado tão extenso quanto o dos Estados Unidos necessitava de corporações tão grandes quanto as norte americanas e de mercados financeiros tão sofisticados quanto Wall Street As empresas europeias não conseguiriam competir com as norteamericanas sem que houvesse uma base como os Estados Unidos e se não conseguissem competir não se benefi ciariam do potencial do continente Esse foi o desafio que Monnet pretendia encarar ao propor a integração europeia 425832 Durante a Segunda Guerra Mundial Monnet trabalhou incess antemente em Washington e em Nova York com o objetivo de en viar capital para a França e a GrãBretanha Serviu a De Gaulle à França Livre no Norte da África e na própria França durante a lib eração Como diretor de um novo comissariado para recon strução formulou o Plano Monnet e devido à sua excelente mediação tornouse o principal condutor do Plano Marshall na França Em 1948 e 1949 com o acirramento da Guerra Fria e a consol idação da República Federal da Alemanha Monnet se convenceu de que as relações da França com o exreduto nazista passavam por um momento de virada Alguns na França queriam retomar o Império talvez por meio de uma aliança com o Reino Unido Monnet no entanto acreditava que o futuro estava em uma Europa integrada apoiada pelos Estados Unidos com ou sem a GrãBretanha O carvão e o aço foram motivos de conflito entre França e Ale manha por um século Desde a formação do Estado moderno alemão os dois países disputavam o controle do carvão da região do Ruhr o ferro da Lorena e as usinas de aço de Saar Os dois países poderiam ter continuado com a disputa por esses recursos algo que os Estados Unidos se opunham com veemência ou optar pela cooperação Em maio de 1951 Monnet desenvolveu um plano para submeter a produção de carvão e de aço da França e da Ale manha e de outros países europeus que estivessem de acordo a uma autoridade conjunta com regulamentações unificadas e um mercado comum O ministro das Relações Exteriores da França Robert Schuman ele mesmo da região da Lorena obteve o con sentimento dos alemães e a aprovação de Dean Acheson antes de realizar uma reunião com os ministros do Exterior dos Estados Unidos e da GrãBretanha Apesar da resistência britânica o Plano Schuman foi implementado 426832 A nova Comunidade Europeia do Carvão e do Aço Ceca que contava com a participação da França Alemanha Itália Bélgica Holanda e Luxemburgo tornouse o núcleo para uma cooperação econômica mais ampla no continente Os Estados Unidos assim como os países menores sempre foram favoráveis a um arranjo do tipo mas as rivalidades entre França e Alemanha além da oposição britânica eram os principais impedimentos O Plano Schuman de Monnet desatou o nó górdio ao subordinar os re cursos a uma organização independente Jean Monnet foi o primeiro presidente da Ceca quando a or ganização começou a funcionar em 1952 A comunidade integrou os setores de ferro carvão e aço de seis nações e rapidamente cri ou um mercado comum O alto comissariado da Ceca conseguiu um financiamento dos Estados Unidos no valor de US100 mil hões e logo passou a pedir empréstimos privados Em poucos anos a Ceca tornouse o principal destino estrangeiro dos em préstimos de Wall Street A unificação da produção europeia de carvão e aço foi apenas o começo Em 1955 Monnet se afastou do alto comissariado da comunidade Ele reuniu as personalidades mais influentes dos meios políticos e empresariais e criou o Comitê de Ação para os Estados Unidos da Europa organização privada que visava forçar os governos na direção da integração econômica O comitê abriu caminho para um esforço conjunto na área de energia atômica a Comunidade Europeia da Energia Atômica Euratom e princip almente para a criação do Mercado Comum ou Comunidade Econômica Europeia CEE Ambas passaram a funcionar em 1958 Doze anos após a desintegração da Europa os principais beli gerantes criavam uma confederação e na década de 1960 as seis principais nações europeias formavam um mercado unificado Em 1971 após anos de oscilações e resistência francesa o Reino Unido junto com a Irlanda e a Dinamarca juntouse aos seis 427832 primeiros países Nesse momento a Comunidade Europeia CE já formava uma unidade econômica tão grande quanto os Estados Unidos com 14 a mais de indivíduos Monnet dissolveu o Comitê de Ação em 1975 após a conclusão do trabalho Os Estados Un idos da Europa não eram mais um sonho distante mas uma real idade No ano seguinte por decisão unânime dos chefes de Estado dos nove países membros da CE Monnet recebeu o titulo de cid adão honorário da Europa A unificação europeia abraçou os acordos de Bretton Woods Por um lado foi a mais ambiciosa liberalização do comércio da história eliminando as tarifas entre seis e depois nove países ri cos e o resultado disso foi um mercado integrado no continente que no século XIX não passava de sonho para os defensores do livrecomércio Por outro lado a unificação foi criada com o objet ivo de aumentar a capacidade competitiva internacional do comércio europeu Dessa forma o novo Mercado Comum não se encabulou em manter longe os produtos estrangeiros de indústri as sensíveis a tarifa comum para os carros de passeio por exem plo era de significativos 176 Para a agricultura o bloco desen volveu a Política Agrícola Comum um sistema complicado de in centivos pagamentos em espécie preços subsidiados e barreiras comerciais De forma semelhante uma das pedras fundamentais das comunidades europeias era a ideia de que a integração dever ia reforçar e não ameaçar a tendência reformista da região Não seria permitido que a competição enfraquecesse os padrões soci ais trabalhistas e nacionais por meio do chamado dumping so cial Critérios rigorosos aumentariam a produtividade o que per mitiria a liberação de fundos por parte dos Estados generosos da região A integração econômica europeia fez uma mistura muito bemsucedida de liberalismo clássico e socialdemocracia Bretton Woods e o comércio 428832 Durante o auge de Bretton Woods de 1948 a 1973 o sistema pro movia um comércio relativamente livre estabilidade monetária e altos índices de investimentos internacionais Nenhum desses ele mentos evoluiu como os fundadores do sistema haviam previsto O papel desempenhado pelos Estados Unidos era mais central do que o esperado e os acordos se tornaram diferentes e mais extens os do que o planejado A liberalização do comércio mundial foi a primeira vitória quiçá a mais importante do sistema de Bretton Woods Isso ocor reu sem a organização criada para gerenciar essa questão uma vez que o tratado criando a Organização Internacional do Comér cio OIC nunca fora ratificado pelos Estados Unidos A institu ição que a substituiu no entanto o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio o Gatt veio a se tornar um dos pilares da ordem in stitucional de Bretton Woods Em abril de 1947 representantes de 23 países se reuniram em Genebra para discussões tarifárias Após seis meses de nego ciações os membros do Gatt assinaram mais de cem acordos sobre 45 mil tarifas cobrindo cerca de metade de todo o comércio mundial Foi acordado que em média as tarifas seriam reduzidas em 13 Também foi decretado o fim das práticas comerciais dis criminatórias entre os países decisão que teve por base o princí pio do tratamento incondicional à nação mais favorecida conceito retomado das relações comerciais britânicas do século XIX De acordo com a regra os governos eram obrigados a oferecer as mesmas concessões comerciais a todos Qualquer redução tari fária acordada entre dois signatários do Gatt deveria automatica mente se aplicar a todos os membros da instituição Os países não poderiam discriminar os produtos de uma nação para o favorecimento de outra e o resultado desse processo foi uma lib eralização global do comércio O Gatt se diferenciava das outras duas instituições do acordo de Bretton Woods por não se tratar de uma organização 429832 independente mas de um fórum de discussão entre os países As primeiras reuniões do Gatt chamadas de rodadas foram organiz adas em uma base de país para país bilateral Consideremos por exemplo que o país A fosse o principal fornecedor de aço do país B e o país B o principal exportador de sapatos do país A O país A poderia pedir a B uma redução tarifária sobre o aço exportado de A para B em troca de reduções semelhantes para os sapatos ven didos por B a A Caso os dois países chegassem a um acordo anunciariam as novas tarifas sobre o aço e os sapatos e as aplicari am a todos os membros do Gatt sob o princípio da nação mais favorecida Dessa forma os impostos sobre milhares de produtos foram reduzidos e então passaram a valer para todos os mem bros da instituição O procedimento permitiu uma redução gradu al e generalizada das barreiras comerciais Entre 1949 e 1952 outras duas rodadas do Gatt reduziram ainda mais as barreiras ao comércio O valor das tarifas impostas aos produtos importados pela maior parte dos países da Europa e América do Norte em 1952 correspondia a metade do valor co brado antes da guerra O compromisso com a liberalização do comércio era claro apesar de Estados Unidos França Alemanha e Reino Unido continuarem a manter tarifas de 16 a 1911 Após alguns anos as negociações do Gatt foram retomadas e outras três rodadas se realizaram entre 1956 e 1967 A Rodada Kennedy terminada em 1967 estabeleceu tarifas abaixo de 9 para produtos não agrícolas provavelmente o menor índice desde meados do século XIX Nesse momento os países industrializa dos removeram entre si a maior parte das barreiras aos produtos não agrícolas12 O comércio mundial sofreu uma explosão após 1950 As ex portações apresentavam um crescimento anual de 86 duas vezes mais rápido que o crescimento da economia13 O comércio mundial se ampliou de uma forma nunca antes vista Durante os anos de glória do liberalismo clássico pré1914 o volume do 430832 comércio mundial dobrava a cada 20 ou 25 anos Durante os primeiros 25 anos após a guerra o volume do comércio mundial passou a dobrar a cada dez anos14 Diversos países experimentaram grandes booms exportadores Em 1950 as exportações da Europa ocidental somavam US19 bilhões nos preços da época dólares correntes em 1973 pas saram a render US244 bilhões As exportações alemães sozin has passaram de US17 bilhões para US255 bilhões No mesmo período as vendas norteamericanas para o exterior aumentaram de US13 bilhões para US71 bilhões em dólares correntes de US46 milhões para US125 milhões no valor expresso em dólares do ano 200015 Em 1973 a importância do comércio internacional para cada uma das economias da OCDE tornouse de duas a três vezes maior do que em 1950 E para esses países o comércio inter nacional também passou a ser mais importante do que durante o período anterior à Primeira Guerra Mundial A Europa ocidental por exemplo exportava 16 de tudo o que produzia em 1913 Em 1950 a quantidade caiu para 9 mas em 1973 disparou atingindo 21 Em outras palavras em 1913 as exportações per capita da Europa ocidental somavam US800 na moeda do ano 2000 Em 1950 o valor caiu para US650 dólares por pessoa mas em 1973 a região exportava mais de US3300 para cada homem mulher ou criança Nas sociedades mais voltadas para o comércio os números surpreendiam ainda mais Em 1973 a Bélgica e a Holanda exportavam cerca de metade do que produziam o que correspondia a mais de US7500 para cada um dos 23 milhões de habitantes dos dois países repetindo em dólares do ano 200016 Assim como no sistema de Bretton em geral a abertura comercial dependia de acordos A liberalização do comércio de produtos agrícolas teria sido uma fonte de conflitos Todos os países capitalistas desenvolvidos adotavam programas de apoio à 431832 produção rural e contavam com fazendeiros poderosos do ponto de vista político Assim as negociações do Gatt deixaram de lado os produtos agrícolas da mesma forma que fizeram com o comér cio de serviços o que acabou sendo também algo polêmico Para os países em desenvolvimento uma redução rápida das barreiras comerciais não era algo benéfico A industrialização da América Latina assim como a da Europa e a da América do Norte no século XIX dependia de barreiras comerciais para estimular a indústria nacional As nações recémindependentes da Ásia da África e do Caribe precisavam de proteção comercial para con struir mercados e reserválos para os produtos locais Os países em desenvolvimento da Argentina à Índia do Irã à Zâmbia re jeitaram o livrecomércio em favor do desenvolvimento industrial protecionista Assim o Gatt isentou os países em desenvolvi mento de muitas de suas regras A aplicação severa do principio do universalismo de que as reduções comerciais negociadas com um país deveriam ser com partilhadas por todos impediria a formação de uniões aduaneir as Assim até mesmo os estrangeiros cujos produtos eram dis criminados preferiam um mercado comum regional a mercados nacionais menores e fragmentados Quando a questão surgiu como na década de 1950 quando seis países da Europa ocidental começaram a trabalhar na direção de um mercado comum o Gatt fez uma exceção para os membros de uniões aduaneiras per mitindo que favorecessem os produtos uns dos outros Todas es sas exceções removeram as questões controversas da discussão permitindo acordos mais maleáveis A ordem monetária de Bretton Woods Bretton Woods também foi um sucesso em termos de relações monetárias mesmo que a ordem só ocasionalmente se parecesse 432832 com o planejado por seus fundadores O que havia sido definido como um sistema multilateral presidido pelo FMI tornouse um sistema com base no dólar com muito pouca participação do Fundo Inicialmente as moedas da Europa e do Japão eram fracas demais para voltarem a ser completamente convertíveis ao ouro ou ao dólar Dessa forma até 1958 a economia mundial evoluía com base somente no dólar Na última semana daquele ano no entanto a maior parte das moedas se tornou convertível portanto livres para o comércio nos mercados abertos A partir desse momento e até 1971 o sistema monetário internacional op erava na seguinte base uma onça de ouro valia US35 e as outras moedas fixavamse no dólar a taxas de câmbio preestabelecidas A essência do sistema de Bretton Woods como Keynes e White desejavam seria a proposta de um meiotermo entre a ri gidez do padrãoouro e a insegurança do entreguerras Diferente mente do que ocorrera com o padrãoouro outros governos além do norteamericano poderiam modificar o valor de suas moedas quando necessário apesar do fato dessas mudanças frequentes serem desaprovadas Quase todos os países desenvolvidos desval orizaram suas moedas em 1949 O Canadá permitiu que o seu dólar flutuasse em relação ao norteamericano durante toda a década de 1950 e início da de 1960 a França desvalorizou o franco várias vezes a libra fora desvalorizada em 1967 Alemanha e Holanda revalorizaram aumentaram o valor de suas moedas algumas vezes No entanto as taxas de câmbio apresentavam es tabilidade suficiente para estimular o comércio e os investimentos internacionais sofrendo transtornos apenas quando os governos se deparavam com problemas econômicos sérios17 Por princípio básico a ordem monetária de Bretton Woods permitia e até exigia que os governos restringissem a movi mentação internacional de capital de curto prazo O sistema per mitia aos países gerenciar suas políticas monetárias em linha com suas próprias necessidades mesmo que estes diferissem dentro 433832 de alguns limites em termos de medidas adotadas Os governos poderiam estimular a economia ou atender às demandas de seus eleitores por exemplo pela redução da inflação É evidente que os diferentes países e suas populações tinham desejos diferentes A França e a Itália preocupavamse particularmente com o desemprego e se importavam mais com esse aspecto do que com alguma inflação A Alemanha crescia muito rápido com uma taxa de desemprego baixa ou inexistente mas a terrível hiperinflação continuava viva na memória da população de forma que o gov erno se deparava com pouca demanda por políticas de estímulo e com uma antipatia generalizada pela inflação Os países adotavam políticas monetárias diferentes especial mente taxas de juros diferentes Durante toda a década de 1960 os governos da França e da Itália mantiveram os juros 1 ou 2 menores que os da Alemanha A medida talvez tenha ajudado a preservar o desemprego baixo mas tornou o índice de inflação dos dois países de 1 a 2 maior que o da Alemanha Um invest idor ganhava bem mais em termos reais sem inflação com um titulo alemão do que com um título idêntico francês ou italiano Durante a década de 1960 a taxa de juros real de longo prazo na Alemanha foi de 44 em comparação com 22 na Itália 18 na França e 17 no Japão18 A diferença era grande e certa mente notada pelos investidores Se as taxas de juros de dois países de câmbio fixo são difer entes os investidores tendem a retirar o dinheiro do lugar onde os juros são baixos e a mandálo para a nação de juros altos Na década de 1960 retirariam o dinheiro da França e da Itália o en viariam para a Alemanha e continuariam a fazêlo até que as taxas de juros italianas e francesas atingissem o índice alemão Esse foi o problema que levou Keynes e os outros arquitetos de Bretton Woods a advogar pelo controle sobre investimentos internacion ais de curto prazo Não queriam que as empresas perdessem a ca pacidade de investir em outros mercados o que em geral 434832 chamavam de investimentos produtivos ou que os governos parassem de pedir empréstimos no exterior No entanto queriam dificultar ou impossibilitar especulações por parte dos invest idores quanto a diferenças nas taxas de juros entre os países por onde passava o chamado capital especulativo Para que os governos adotassem políticas monetárias própri as estes deveriam dificultar a circulação de investimentos de curto prazo entre os países Dessa forma o sistema de Bretton Woods pressupunha o controle de capitais por meio de cobranças de taxas ou proibições para as movimentações internacionais de dinheiro com fins especulativos Os europeus utilizaram tais medidas com firmeza as quais foram suavizadas porém não re movidas após a década de 1950 Os Estados Unidos passaram a controlar os investimentos do país no exterior de forma a manter baixos os juros norteamericanos Se os juros nominais de longo prazo norteamericanos tivessem se mantido a 5 enquanto a taxa dos alemães era de 67 25 e 44 em termos reais o dinheiro teria migrado dos Estados Unidos para a Alemanha tão rapidamente quanto teria deixado a França e a Itália O acordo monetário de Bretton Woods manteve os valores das moedas estáveis e os mercados abertos estimulando o comércio e os investimentos de longo prazo Mas ao mesmo tempo impôs barreiras a movimentações financeiras para que os governos pudessem adotar as medidas que lhe conviessem A estabilidade monetária da década de 1950 e 1960 contribuiu para o cresci mento do comércio e dos investimentos internacionais e os gov ernos puderam adotar políticas macroeconômicas que estavam de acordo com suas condições internas Bretton Woods e os investimentos internacionais 435832 Os investimentos internacionais de longo prazo como capital e comércio tomaram caminhos que não foram previstos pelos cri adores do sistema Esperavase que o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento Banco Mundial emprestasse grandes quantias à Europa ao Japão aos países em desenvolvi mento e às colônias para a recuperação da infraestrutura básica rodovias portos ferrovias Isso estimularia os investimentos privados a percorrerem o mundo A missão reconstrutora do banco perdeu lugar para o Plano Marshall e para a rapidez ines perada da recuperação do pósguerra Após 15 anos de relativa in atividade em meados da década de 1960 o banco começou a emprestar um bilhão de dólares por ano aos países em desenvol vimento Mas os investimentos internacionais que o banco ajudou a estimular eram diferentes dos empréstimos privados do passado Por séculos os empréstimos estrangeiros foram a principal forma de investimentos Antes da Primeira Guerra Mundial in vestidores europeus emprestaram bilhões para o Novo Mundo as colônias a Rússia o Japão e outros países da Europa Os Estados Unidos se tornaram o credor mais importante dos anos en treguerras Após 1929 os empréstimos privados internacionais praticamente desapareceram Calotes e outros problemas da década de 1930 assustaram banqueiros e mercados de títulos As oportunidades domésticas passaram a ser atraentes e o controle de capitais de Bretton Woods desestimulava os empréstimos estrangeiros Os investimentos internacionais cresceram mas na forma de empresas multinacionais Os investimentos diretos estrangeiros IDE utilizados para o estabelecimento de fábricas ou filiais no exterior não eram algo novo Nas décadas de 1920 e 1930 muitas empresas norteamericanas se utilizaram de sua posição compet itiva para abrir ou comprar instalações em outros países Mas os investimentos por meio de empresas multinacionais sempre 436832 foram uma parcela do capital mundial bem menor que os emprés timos internacionais No entanto na década de 1950 os investi mentos das multinacionais norteamericanas tornaramse duas vezes maiores que os investimentos de carteira em empréstimos internacionais e ações e em 1970 tornaramse quatro vezes mais importantes Os empréstimos internacionais não se recuperaram pelo menos não entre os países desenvolvidos e não a países em desenvolvimento Antes da Segunda Guerra Mundial o investidor típico era um banqueiro ou alguém com títulos que emprestava dinheiro a empresas e governos estrangeiros Na era de Bretton Woods o investidor típico passou a ser uma empresa construindo fábricas no exterior A forma de aplicação dos investimentos diretos também era relativamente nova Antes da Segunda Guerra Mundial o investi mentos direto estrangeiro ia em geral para a agricultura ou a mineração de países em desenvolvimento ou das colônias em 1938 23 de todos os investimentos internacionais diretos destinavamse às regiões pobres As empresas norteamericanas haviam investido três vezes mais na América Latina do que na Europa principalmente em minas plantações poços de petróleo e serviços Na década de 1960 o investimento direto estrangeiro típico passou a ser o estabelecimento de uma fábrica em um país desenvolvido As empresas norteamericanas começaram a inve stir três vezes mais na Europa e no Japão do que na América Lat ina principalmente por meio de fábricas19 Em 1973 as multinacionais já haviam investido 200 bilhões de dólares ao redor do mundo sendo que 34 do montante foram para os países de industrialização avançada Metade dos IDEs vinha dos Estados Unidos e cerca de 15 de todo o lucro das empresas norteamericanas era obtido a partir dos investimentos internacionais As empresas europeias e japonesas também es tavam prestes a alcançar as outras 437832 Em todos os países industriais as maiores empresas eram altamente multinacionais ou porque tinham muitas posses no exterior ou porque pertenciam a corporações estrangeiras Em 1973 80 ou mais dos lucros de cinco das dez principais empresas norteamericanas todas firmas do ramo petrolífero eram obtidos no exterior No caso da Ford Chrysler ITT e IBM tais lucros correspondiam a metade do valor total No exterior as filiais das multinacionais norteamericanas produziam o triplo do que o país exportava em 1973 a produção no exterior rendia US292 bilhões e as exportações US110 bilhões Na verdade as vendas das filiais norteamericanas para a matriz nos Estados Un idos eram responsáveis por 13 de todas as importações do país As grandes empresas norteamericanas dependiam de investi mentos internacionais elemento mais importante que o comércio para a manutenção da posição da empresa na economia inter nacional O mesmo se aplicava a outros países desenvolvidos o investimento direto estrangeiro se tornou a principal força da in tegração econômica internacional20 O mesmo também poderia ser dito sobre a maioria dos países onde as empresas multinacionais investiam Na Europa as mul tinacionais em especial as norteamericanas se espalharam por todos os lugares Em grande parte dos Estados 14 ou mais das vendas era de produtos industrializados Mais da metade da indústria canadense passou a ser controlada por firmas es trangeiras Nos países em desenvolvimento o predomínio mul tinacional na produção fabril era ainda maior Na maioria dos países latinoamericanos de 13 à metade da produção industrial provinha de empresas estrangeiras As multinacionais em geral se concentravam nas indústrias de maior notoriedade ou tecnolo gicamente mais avançadas químicos maquinário elétrico produtos farmacêuticos Nas indústrias desse tipo as empresas estrangeiras dominavam de 80 a 90 da produção comprando firmas locais ou empurrandoas para fora do mercado21 Até nos 438832 Estados Unidos a presença das empresas estrangeiras se tornava maciça No início da década de 1970 os empregos de mais de um milhão de norteamericanos 2 da força de trabalho do país de pendiam de empresas de fora Os números cresciam rapidamente e em alguns tipos de indústrias eram bem maiores22 Os automóveis e computadores produtos cruciais para a in dústria do pósguerra se encontravam entre os mais mul tinacionalizados O setor automobilístico passou a ser a força dominante em todas as economias industriais era responsável por 16 a 14 dos empregos na indústria por 5 a 8 dos empre gos em geral A indústria automobilística também causava um im pacto indireto Nos Estados Unidos por exemplo para cada dez trabalhadores da indústria automobilística outros 15 deviam seus empregos ao setor quatro em metalúrgicas dois na indústria têxtil outros dois em fábricas de máquinas de borracha vidro e assim por diante Veículos e peças correspondiam a 110 das ex portações das principais economias industriais e desempenhavam um papel central para o crescimento do investimento direto estrangeiro No fim da década de 1960 os fabricantes norteamericanos possuíam a maior parte das ações de dezenas de fábricas de carros em outros países Dominavam mais de 14 do setor auto mobilístico europeu A Ford e a GM eram respectivamente a se gunda e a terceira maiores fábricas europeias atrás da Fiat A Chrysler aparecia em sétimo lugar Mais da metade do mercado britânico e 40 do alemão pertenciam a empresas norteameric anas As filiais britânicas e alemãs da Ford eram responsáveis por 14 das vendas e empregos da empresa no mundo no caso da GM chamada de Vauxhall e Opel respectivamente na GrãBretanha e na Alemanha o índice era de 1823 A indústria de computadores continuava pequena em especial se comparada à de automóveis mas no início da década de 1960 sua importância como fonte de novas tecnologias já era evidente 439832 Apesar de muitas das primeiras inovações terem sido desenvolvi das pelos europeus no fim da década de 1960 a indústria passou a ser controlada por multinacionais norteamericanas Os norte americanos fabricavam mais de 80 dos computadores da Europa e outros 10 eram feitos com licenciamentos concedidos por empresas dos Estados Unidos A IBM sozinha dominava 82 do mercado alemão e 63 do francês Diante das empresas norte americanas os competidores europeus pareciam pequenos a IBM tinha quatro vezes mais empregados na área de proces samento de dados que as oito maiores empresas europeias juntas e comprou ou expulsou do setor vários de seus rivais europeus De fato a indústria internacional de computadores foi dominada pelas multinacionais norteamericanas24 O boom dos investimentos internacionais depois da Segunda Guerra Mundial foi causado pelos mesmos motivos que fizeram o comércio crescer tão rápido estabilidade monetária reduções de barreiras apoio generalizado dos governos e crescimento econ ômico Os investimentos tomaram a forma de IDEs devido a razões mais complexas Um dos fatores foi o crescimento da produção e do consumo de massa em muitas indústrias o que concedeu vantagens a muitas grandes empresas A importância do automóvel e de outros bens de consumo duráveis como tocadiscos máquinas de lavar e geladeiras para as economias da América do Norte Europa e Japão trazia vantagens para as empresas que inovavam em termos de produção desenvolvi mento e marketing O mesmo se aplicava aos bens de consumo que dependiam do reconhecimento de suas marcas pasta de dente sabão discos farmacêuticos e assim as empresas con solidadas mais uma vez levavam vantagem Muitas delas eram norteamericanas apesar de as multinacionais japonesas e europeias também terem se fortalecido na década de 1960 O segundo motivo para a proliferação das empresas mul tinacionais após a Segunda Guerra pode ser atribuído à 440832 permanência de barreiras comerciais Muitas empresas norte americanas do setor industrial vendiam pesadamente para o mer cado externo Quando firmas estrangeiras passaram a adotar nov os processos e produtos a competição local aumentou e muitas vezes os governos nacionais impunham barreiras comerciais para manter os produtos norteamericanos e outros afastados As empresas então tinham de escolher entre abandonar os mercados protegidos ou abrir uma fábrica no lugar e produzir para o con sumo local Do ponto de vista econômico isso fazia sentido caso o mercado fosse muito importante e as vantagens obtidas pelas empresas fossem grandes Assim a maior oportunidade do inves timento direto estrangeiro era a possibilidade do salto tarifárioa permitindo que os produtores norteamericanos e eventualmente europeus e japoneses abastecessem os mercados franceses brasileiros alemães japoneses ou indonésios mesmo quando estes estavam cercados por altas barreiras comerciais As multinacionais que optaram pelo salto tarifário predomin avam especialmente na Europa As nações do Mercado Comum da Comunidade Econômica Europeia CEE Alemanha França Itália Bélgica Holanda e Luxemburgo eliminaram as barreiras comerciais entre si e adotaram uma tarifa comum contra os produtos de outros A medida resultou na criação do segundo maior mercado do mundo A CEE tinha uma população tão grande quanto a norteamericana a economia do bloco corres pondia a cerca de 23 do tamanho da economia dos Estados Un idos e o volume de trocas entre os membros da comunidade era o elemento do comércio mundial que mais crescia Para alguns países da CEE as vendas para outros consumidores do bloco eram especialmente importantes por substituir os mercados de suas excolônias A economia francesa por exemplo transformouse completamente Em 1952 os principais mercados da França eram as colônias e excolônias Estas absorviam 42 das exportações francesas duas vezes e meia a mais que as vendas 441832 para os outros cinco países que formavam o mercado europeu menos de 16 Em 1973 os outros cinco cofundadores da CEE começaram a comprar metade das exportações francesas ao passo que o montante vendido para as excolônias passou para menos de 1025 Um mercado europeu emergia da colcha de re talhos formada pelos mercados nacionais Nenhuma das principais empresas internacionais podia ignor ar o mercado comum mas as tarifas da CEE eram um grande im pedimento Em 1968 na indústria automobilística por exemplo não havia tarifas para os carros vendidos entre os membros da CEE Contudo a tarifa externa comum da Comunidade 176 para carros de passeio trazidos de fora era um imposto quase proibitivo Qualquer empresa de automóveis que desejasse vender na Europa precisaria produzir no continente A tarifa comum adi cionava um custo de 176 ao preço das exportações da Ford de Detroit para a França ou a Itália No entanto as exportações da Ford Werke na Alemanha para a França ou a Itália eram isentas de tarifas O mesmo se aplicava às vendas da afiliada alemã da GM a Opel e às vendas da afiliada francesa da Chrysler26 Durante a década de 1960 Ford Fiat Colgate Bayer Coca Cola e Philips se tornaram palavras comuns em todos os lares e empregadores de peso na maior parte das grandes economias mundiais Para alguns as multinacionais eram intromissões polít icas econômicas e culturais nada bemvindas Para outros ap resentavam oportunidades de crescimento tecnológico e fin anceiro Independentemente dos interesses envolvidos os investi mentos internacionais da mesma forma que o comércio mundi al e a integração monetária foram bemsucedidos em atar o mundo industrializado com laços mais fortes que os da ordem pré1914 Bretton Woods e o Estado do bemestar social 442832 Bretton Woods permitiu que a liberalização arrebatadora do comércio e dos investimentos internacionais coexistisse com a ex pansão arrebatadora do setor público27 De 1950 a 1973 o setor público dos países industriais crescia em média de 23 a 47 do PIB28 Os investimentos na área social o cerne dos sistemas de bemestar social aumentaram em média de 7 a 15 do PIB No fim da década de 1950 a Suécia já podia contar com um sis tema de aposentadorias seguros de saúde pensões por invalidez e acidentes de trabalho pensões para pobres e famílias com cri anças moradias subsidiadas para os de baixa renda e escola obrigatória até os 16 anos29 Apesar de o sistema social sueco ser mais amplo em termos de extensão e cobertura o resto do mundo capitalista seguia padrões semelhantes Em todos os lugares ex ceto no Japão os governos protegiam os cidadãos contra as in conveniências causadas por desemprego doença invalidez vel hice e pobreza O rápido crescimento gerado pela integração do pósguerra permitiu aos governos expandir programas já existentes e criar novos sem causar grande polêmica Isso foi reforçado pelo fato de que sociedades mais prósperas tendem a ser mais generosas em termos de políticas sociais e a inclusão de tantos membros da OCDE no ranking das nações mais ricas levou a um crescimento desse tipo de gasto Os próprios gastos sociais do pósguerra foram um prére quisito político para a integração econômica A abertura sempre foi uma questão controversa Alguns interesses em especial da parte de grandes empresas e investidores esperavam ganhar com a integração mas outros viam a questão com menos entusi asmo Havia uma oposição intransigente à liberalização formada pelos que não conseguiam competir nos mercados mundiais mas em geral estes não eram muito numerosos Mais importantes eram as empresas os trabalhadores e os produtores agrícolas apreensivos com as incertezas trazidas pela abertura econômica 443832 mas não radicalmente contra a liberalização A integração dos mercados mundiais expandiu as oportunidades mas também sig nificou que os países seriam afetados por problemas além de seu controle O conselheiro mais próximo de Winston Churchill expressou o medo compartilhado por esse grupo intermediário quando at entou para as potenciais consequências da libra se tornar inter nacionalmente convertível prematuramente Se uma taxa bancária de 6 um milhão de desempregados e uma bisnaga pão de dois xelins não forem o suficiente precisaremos de uma taxa bancária de 8 dois milhões de desempregados e uma bisnaga de três xelins Se os trabalhadores exigirem salários maiores ao se depararem com o encarecimento dos alimentos teremos de pôr um fim nisso aumentando o desemprego até a destruição de seu poder de barganha Esse é o significado de frases convenientes como deixem que a taxa de câmbio ajuste a economia30 Muitos associavam abertura a imperativos da economia glob al como recessão falências cortes salariais e demissões Uma rede de segurança social poderia reduzir as incertezas dos mercados globais amorteceria os pontos negativos da integ ração econômica e não privaria dos benefícios do comércio inter nacional os capitalistas produtores agrícolas trabalhadores dos setores de potencial exportador e consumidores de produtos mais baratos O Estado do bemestar social portanto ajudou a neutral izar uma fonte em potencial de oposição à liberalização Não é por coincidência que os pioneiros na implementação de um Estado do bemestar social foram os países pequenos Justa mente por não serem grandes os países nórdicos Noruega Suécia Dinamarca e Finlândia alpinos Suíça e Áustria e os do Benelux Bélgica Holanda e Luxemburgo focavam suas eco nomias nas exportações importações e investimentos inter nacionais Mesmo durante o pior período da depressão econômica 444832 da década de 1930 tais países continuaram com políticas de livre comércio As medidas não se aplicavam à agricultura mas todas as nove nações eram sociedades altamente industriais durante a década de 1930 O outro lado dessa abertura do entreguerras no entanto foi uma ampla rede de políticas sociais Tomando camin hos bem diferentes essas sociedades chegaram a uma mistura semelhante de abertura econômica e um extenso sistema de se guro social Onde o protecionismo não podia ser considerado uma opção viável capitalistas produtores agrícolas e trabalhadores se con formaram com os programas governamentais que protegiam as vítimas das forças do mercado mundial Um dos líderes conser vadores da Suécia sugeriu que deveriase considerar a sociedade como uma forma de organização para equalizar riscos e oferecer padrões mínimos de segurança não apenas aos miseráveis mas também aos que trabalham duro31 Disso resultaram a adoção de programas sociais generosos um papel político de destaque por parte dos socialistas uma forte cooperação entre trabalho e capit al para controlar os salários e manter o pleno emprego os progra mas agressivos de qualificação profissional além de um com promisso firme com o capitalismo de mercado livrecomércio e investimentos32 A maioria dos partidos democratacristãos europeus também adotou esse tipo de anticapitalismo moderado A plataforma democratacristã da Alemanha argumentava que o sistema econ ômico capitalista não era justo com os principais interesses do povo alemão e que a nova estrutura da economia alemã deveria partir do pressuposto de que o período do domínio irrestrito do capitalismo privado havia chegado ao fim O Partido Católico da França falava de uma revolução para a criação de uma nova or dem liberta do poder dos detentores da riqueza33 E tal de claração vinha de um dos principais partidos conservadores do continente 445832 O novo consenso se refletiu nos compromissos domésticos das sociaisdemocracias da década de 1930 e em suas variantes inter nacionais de Bretton Woods Uniu socialistas não comunistas trabalhistas empresários e a classe média no apoio a uma eco nomia de mercado reformada O fato irritou alguns tradicionalis tas conservadores inclusive muitos nos Estados Unidos que não conseguiam conceber um governo socialista britânico trabalhista como bastião do capitalismo ocidental No entanto para garantir o apoio dos socialistas e das classes trabalhadoras que formavam sua base para a ordem de Bretton Woods os gov ernos europeus precisaram incluir organização sindical medidas de bemestar social e aumentos salariais No Reino Unido a ordem do pósguerra foi planejada durante a Segunda Guerra Mundial Uma comissão do governo presidida por Sir William Beveridge pedia com veemência por um sistema amplo de seguro social e o resultado foi animador Como disse um dos líderes do Partido Trabalhista Num dos momentos mais assombrosos da guerra no fim de 1942 o Relatório Beveridge veio como maná caindo do céu34 A obra se tornou uma referên cia de peso e sucessivos governos britânicos implementaram suas recomendações nos serviço nacionais de saúde nos benefícios à população e em outros elementos do Estado do bemestar social moderno Com o abrandamento da guerra no continente todos os novos governos implementaram reformas sociais abrangentes Os setores unificados da Alemanha Ocidental também tomaram a mesma direção uma vez que os conservadores alemães puseram em prática o que chamavam de sistema social de mercado O mecanismo combinava seguro social um significativo setor público e associações que deram voz aos trabalhadores nas de cisões administrativas35 Os Estados Unidos e o Canadá con struíram um amplo consenso a favor de reformas sociais e integ ração econômica durante as décadas de 1930 e 1940 446832 O Estado do bemestar das sociaisdemocracias fazia parte in tegral do sistema de Bretton Woods Isso facilitava o consenso político em especial entre trabalho e capital quanto à rejeição à integração econômica internacional A atividade comercial prosperava e as classes trabalhadoras também iam muito bem Os partidos de esquerda chegavam ao poder com mais frequência que o contrário e de 13 a 23 da força de trabalho era filiada a sindicatos Políticas governamentais suavizaram as flutuações dos ciclos econômicos os momentos de expansão passaram a durar duas vezes mais que na época do padrãoouro e o tempo de dur ação das recessões caiu pela metade O desemprego mantinhase em média a 3 na maioria dos países da OCDE em comparação com os 5 durante o padrãoouro e os 8 do período entreguer ras36 As sociedades melhoraram em termos de igualdade e a pobreza diminuiu Nos Estados Unidos país em que o Estado do bemestar social era dos menos agressivos mas apresentava os melhores indicadores a população oficial abaixo da linha de pobreza passou de 13 em 1950 para perto de 10 em 197337 O avanço social veio de mãos dadas com altos índices de comércio e investimentos internacionais A união entre o Estado do bemes tar social e a ordem de Bretton Woods viria a provar que os lib erais fascistas e comunistas estavam errados as sociedades in dustriais modernas podiam se comprometer simultaneamente com políticas sociais generosas capitalismo de mercado e integ ração econômica global O sucesso de Bretton Woods O sistema de Bretton Woods governou as relações econômicas in ternacionais dos países capitalistas avançados da Segunda Guerra Mundial ao início da década de 1970 As nações industrializadas 447832 se afastaram do nacionalismo econômico e dos conflitos mas não retornaram ao laissezfaire de antes da Primeira Guerra Mundial com base no pressuposto de que as exigências para o sucesso in ternacional alimentavam os problemas do desemprego e dos produtores agrícolas Durante as décadas de 1950 e 1960 as nações industrializadas do Ocidente optaram por um terceiro caminho A nova ordem combinava internacionalismo e autonomia nacional mercados e aspectos sociais além de prosperidade estabilidade social e democracia política Essa ordem permitia ao mesmo tempo uma abertura econômica internacional e controles sobre investimentos de curto prazo proteção agrícola e sistemas preferenciais de comércio como o Mercado Comum Europeu Misturou políticas prónegócios com participação substancial do governo na eco nomia e uma rede extensa de segurança social com movimentos trabalhistas politicamente poderosos O resultado foi uma mescla de mercados ativos com governos agressivos grandes empresas com trabalho organizado e de conservadores com socialistas A ordem testemunhou o crescimento mais rápido e a estabilidade econômica mais duradoura da história moderna a Do original em inglês tariff jumping Uma prática comum das multinacionais era pular as tarifas Para não precisar pagar tarifas para entrar no mercado com os seus produtos as empresas abriam fábricas nos mercados locais NT 448832 13 Descolonização e desenvolvimento Muito tempo atrás tivemos um encontro com o destino disse Jawaharlal Nehru aos cidadãos indianos às vésperas da inde pendência do país se referindo a décadas de luta por autode terminação E agora explicou Nehru à Assembleia Constituinte em 14 de agosto de 1917 chegou a hora de cumprirmos a nossa promessa não completamente ou em todos os aspectos mas de forma bastante substancial Quando o novo governo tomou o poder no lugar dos britânicos ele se deparou com o desastre das divisões nacionais da estagnação econômica e da pobreza gener alizada Nehru e seus colegas enxergaram esse recomeço como uma oportunidade única Chega o momento que sempre chega embora raro na história em que devemos trocar o velho pelo novo em que termina uma era e a alma de uma nação há muito reprimida encontra sua voz Precis amos construir o palácio da Índia livre onde todas as suas crianças deverão morar Como o novo governo indiano e os outros iguais a ele iriam cumprir sua promessa Como poderiam superar décadas e até séculos de estagnação Não havia um modelo pronto a ser copi ado nenhum caminho fácil a ser seguido Assim que as colônias conseguiram a liberdade e os países latinoamericanos emergiram do isolamento imposto pela depressão econômica e pela Segunda Guerra eles passaram a lutar por uma nova estratégia de desen volvimento nacional Adotaram como fórmula o nacionalismo econômico Enquanto os países desenvolvidos abandonavam a orientação internaa da década de 1930 o mundo em desenvolvimento a adotava com entusiasmo Os países em desenvolvimento se fecharam ao comércio e buscaram a rápida industrialização As colônias recémindependentes fizeram o mesmo deixando de fora o capit al e os investimentos estrangeiros para erguer economias nacion ais independentes Dentro de uma década após o fim da Segunda Guerra Mundial um Terceiro Mundo de países não alinhados traçava um caminho nacionalista entre a integração global do Primeiro Mundo capitalista e a economia planificada do Segundo Mundo comunista Industrialização por substituição de importações Os países da América Latina e um punhado de outras nações in dependentes em desenvolvimento se mantiveram isolados da economia mundial da década de 1930 ao início da de 1950 devido a tendências da própria economia internacional O colapso da economia mundial entregou a região à própria sorte Os países organizados para exportar café cobre ou produtos pecuários agora não tinham quase mercado para seus principais produtos Para os consumidores acostumados com os bens industriais da América do Norte e da Europa os produtos do sul eram extrema mente caros ou simplesmente não estavam disponíveis Novas in dústrias cresceram para suprir a demanda local e os setores agrí cola e minerador que eram voltados para exportação encolheram 450832 As classes urbanas e as massas se expandiram a fim de preencher o vácuo político deixado pela desintegração das eco nomias tradicionais abertas A América Latina antes um bastião da abertura econômica tradicional se transformou em uma fortaleza de nacionalismo econômico desenvolvimentismo e pop ulismo Empresários profissionais de classe média servidores públicos e o operariado se uniram em uma aliança informal pelo desenvolvimento nacional da indústria e vieram a dominar a re gião A aliança era explícita para grande parte da esquerda que a via como uma coalizão antiimperialista entre o trabalho e o cap ital nacional Um tipo de empresariado nacionalista quase fluente na retórica marxista sobre os perigos do capitalismo estrangeiro tomou a liderança O exministro da Fazenda e intelectual Luiz Carlos BresserPereira escreveu sobre como a crise do imperial ismo da década de 1930 baseada na divisão internacional do tra balho significou uma oportunidade para o desenvolvimento brasileiro definindo esse caminho aberto percebido e compartil hado pelos industriais brasileiros após a Segunda Guerra Mundial O nacionalismo que era a ideologia básica o industrialismo e o inter vencionismo desenvolvimentista estavam acima de tudo a serviço da emergente burguesia industrial O que estamos chamando de uma revolução nacional brasileira tinha como objetivo central transformar o Brasil numa nação verdadeiramente independente A industrializa ção a ser perpetrada pelos empreendedores industriais com a ajuda financeira do Estado seria de longe o melhor método para se atingir esse objetivo1 No fim da década de 1940 os principais países da América Latina haviam se tornado urbanos e industriais com a atividade fabril sendo responsável por 15 da produção e dos empregos índices semelhantes aos dos Estados Unidos em 1890 Um quarto da população morava em cidades com mais de 20 mil habitantes 451832 número maior que o da Europa em 1900 A taxa de alfabetiza ção nos países do Cone Sul Argentina Chile e Uruguai estava acima dos 80 Em grande parte da região predominavam re gimes democráticos com movimentos trabalhistas expressivos e uma classe média forte Vinte anos antes a representação fiel da América Latina era de uma massa de camponeses explorada por proprietários de terra quase aristocráticos agora era de uma metrópole altamente industrial cercada por favelas A mudança do quadro veio com a aproximação da região da economia mundi al em parte por necessidade mas cada vez mais por escolha Na década de 1950 a região exportava apenas 6 da produção e nos países maiores esse índice era ainda menor 2 na Argentina e 4 no Brasil A transformação do México foi surpreendente Em 1929 as exportações correspondiam a 15 da produção do país mas em 1950 o índice caiu para apenas 352 Durante a de pressão econômica e a guerra o comércio internacional de quase todo o mundo sofreu uma queda mas o declínio foi bem maior na América Latina E diferentemente do que ocorrera em outras áreas os latinoamericanos viam isso como algo positivo Os defensores da autarquia entraram em cena nas décadas de 1930 e 1940 e emergiram da guerra ainda mais poderosos A virada anterior para dentro fora ditada pelas condições externas mas a recuperação do comércio mundial no pósguerra não fez com que a América Latina mudasse o seu caminho Muito havia mudado Os industriais que não confrontavam a concorrência das importações há mais de 20 anos não viam com satisfação a possibilidade de competição estrangeira Os defensores de um sis tema autárquico comandavam a política diferentemente do que ocorrera no Japão e na Europa Ocidental onde foram derrota dos As importações ameaçavam os objetivos dos que compartil havam do desejo pela industrialização industriais nacionalistas pequenos comerciantes profissionais liberais sindicatos trabal histas e intelectuais Os que ganhavam com o livrecomércio os 452832 produtores agrícolas voltados para as exportações e os min eradores não tinham apoio ou no caso das minas haviam sido nacionalizadas3 A América Latina repetiu a trajetória de outras nações que se transformaram de exportadoras de produtos primários em um sistema de livrecomércio para industrializantes protecionistas O gigante do norte foi o exemplo mais marcante Os Estados Unidos começaram exportando matériasprimas importando manufat urados e enfrentando batalhas entre o sul exportador de algodão e tabaco e o norte industrial A indústria urbana prevaleceu e a política econômica norteamericana se voltou contra os produtores agrícolas e mineradores apoiando as indústrias pro tegidas Os resultados foram a rápida industrialização a consolid ação do mercado nacional e talvez até mesmo o estímulo ao senti mento nacionalista O precedente norteamericano e o canadense alemão japonês entre outros serviu como modelo para muitos dos vizinhos ao sul da América Na década de 1950 a América Latina abandonou a resposta meramente emergencial ao colapso dos mercados mundiais e se engajou em um esforço consciente para restringir o comércio ex terno Tal política conhecida como Industrialização por Substitu ição de Importações ISI visava à produção doméstica de bens antes importados O principal método foi tornar as fábricas nacionais mais lucrativas O primeiro componente da ISI seria a imposição de barreiras comerciais altas No início da década de 1960 as tarifas sobre os produtos industrializados importados eram em média de 74 no México 84 na Argentina e 184 no Brasil4 As barreiras torn aram muitos dos produtos industriais importados extremamente caros Em alguns casos as importações eram simplesmente proi bidas Nem todos os produtos industriais se mantiveram afasta dos pois as fábricas necessitavam de maquinário peças sobres salentes e outros tipos de insumos No entanto quase tudo 453832 produzido em países latinoamericanos sofria proteção contra a competição estrangeira e às vezes os preços eram de duas a três vezes mais altos que os de produtos semelhantes nos mercados mundiais Os governos também concediam incentivos e subsídios para a indústria Contemplavam os que investiam na indústria com is enções fiscais e créditos baratos oriundos de bancos governamen tais além de garantir aos industriais locais o acesso privilegiado a importações de bens de capital peças e matériasprimas Os gov ernos manipulavam o câmbio de forma a tornar o dólar barato para que os fabricantes pudessem trazer equipamentos e insumos de fora Às vezes as taxas de câmbio variavam de acordo com o produto dessa forma o dólar podia ser alto para os importados que competissem com a produção local mas baixo para os fabric antes domésticos que quisessem comprar máquinas do exterior Os governos latinoamericanos passaram a controlar grande parte das instalações industriais Tornaramse responsáveis pelas ferrovias redes de telefonia rotas de frete sistemas de abasteci mento de eletricidade e por outros serviços de infraestrutura nesse aspecto se pareciam com grande parte da Europa ocidental Mas os governos latinoamericanos também controlavam muitos dos poços de petróleo e refinarias fábricas de produtos químicos usinas de aço minas e fundições da região De 14 a metade de to dos os investimentos eram feitos pelo setor público principal mente para as indústrias e setores agregados Os defensores da expansão do setor público acreditavam que os investimentos privados não podiam ou não iriam financiar a indústria de base as fábricas de aço e de produtos químicos não despertavam grande interesse dos capitalistas mexicanos e argentinos além de serem importantes demais para ficarem sujeitas às inconstâncias dos investimentos privados No mais o controle do governo per mitia a ele oferecer insumos básicos como aço energia elétrica produtos químicos e transportes à indústria privada a preços 454832 artificialmente baixos o que também estimulou a industrialização Essas políticas geraram um desenvolvimento industrial im pressionante De 1945 a 1973 a produção industrial mexicana quadruplicou e a brasileira cresceu oito vezes O número de veícu los motorizados nas estradas dos dois países aumentou de 500 mil para 6 milhões em 1973 as indústrias automobilísticas inex istentes havia 20 anos produziam mais de um milhão de veículos nas duas nações A grande maioria dos produtos industriais con sumidos na região deixou de ser importada e passou a ser produz ida domesticamente Por exemplo no início da década de 1960 as indústrias brasileiras eram responsáveis por 99 dos bens de consumo do país 91 dos produtos intermediários como aço e químicos e 87 dos bens de capital maquinário e equipamen tos5 Naquele momento a economia brasileira cujo tamanho era semelhante ao da holandesa estava perto de alcançar a autossufi ciência na produção de bens industriais A industrialização foi amplamente financiada às custas dos setores de exportação primária Os produtores agrícolas e os min eradores passaram a pagar bem mais pelo que consumiam mas vendiam seus produtos pelo preço dos mercados mundiais e os impostos que pagavam viravam subsídios para as indústrias favorecidas Isso não foi por acaso os mineradores e produtores agrícolas haviam perdido a batalha nas décadas de 1930 e 1940 Nas cidades industriais as condições comerciais se voltaram con tra aqueles que por décadas monopolizaram a ordem política so cial e econômica em favor das exportações tradicionais Afinal essa foi a política utilizada com extraordinário sucesso pelo norte industrial dos Estados Unidos durante a Guerra Civil da década de 1930 Vinte e cinco anos de industrialização por substituição de im portações voluntárias e mais outros 25 anos de ISI imposta pelas condições mundiais fizeram com que em 1973 a região tivesse 455832 uma economia industrial formidável Naquele momento os prin cipais países do continente Brasil México Argentina Colômbia Venezuela e Chile atingiram níveis industriais e urbanos com paráveis aos da América do Norte e Europa Ocidental Entre 61 e 80 da população latinoamericana morava em cidades nos países da OCDE esse índice ia de 73 a 89 De 29 a 42 da produção vinha das indústrias nas principais nações ricas o ín dice variava de 29 a 486 As economias do continente pas saram a ser dominadas por um setor industrial sofisticado É evidente que em 1973 a América Latina era diferente do mundo desenvolvido Motivo mais óbvio produzia apenas 13 da renda média mundial A região também contava com um número maior de cidadãos na agricultura de 15 a metade índice mais alto que o da Europa 40 anos antes A pobreza era imensa e não demonstrava qualquer sinal de melhora A indústria embora grande não era particularmente eficiente e apresentava preços mais altos daqueles no mercados mundial Isso foi possível graças à presença de barreiras comerciais altamente protetoras e as economias latinoamericanas figurarem entre os mercados mais fechados do mundo De fato essas economias foram se tornando cada vez mais fechadas com o passar do tempo Até a União Soviética comercializava mais com o resto do mundo em 1973 do que na década de 1950 mas não a América Latina Embora ap resentasse características pouco comuns a industrialização por substituição de importações era quase um consenso na região quando se tratava de metodologia de desenvolvimento De fato a ISI alcançou o seu objetivo e a América Latina se industrializou A corrida para a independência O período entre 1914 e 1945 afetou não apenas a América Latina mas todo o mundo em desenvolvimento A maior parte da África 456832 do Oriente Próximob e da Ásia continuava colonial Nas colônias o isolamento em relação à economia mundial também estimulou a urbanização e a industrialização fortalecendo o comércio local e os interesses da classe média enfraquecendo também a economia exportadora Esse isolamento arruinou os defensores do sistema colonial e reforçou a influência dos que viam o colonialismo com desconfiança ou hostilidade Na época da Segunda Guerra Mundial os impérios europeus estavam no auge fora da América Latina apenas alguns países pobres eram teoricamente independentes Os franceses e os britânicos prometiam conceder direitos adicionais aos seus subor dinados mais rebeldes e os Estados Unidos a independência das Filipinas no entanto os resultados ainda estavam por vir Em 1945 com exceção da América Latina o mundo em desenvolvi mento continuava colonial e não havia perspectivas de mudança O colonialismo contudo entrou em colapso com uma velocid ade impressionante Até 1965 havia desaparecido apesar de algu mas exceções e do anômalo Império fascista Português que resis tiu por mais dez anos Alguns anos depois da Segunda Guerra Mundial quase toda a Ásia colonial tornouse independente Os japoneses saíram da Coreia e de Taiwan os franceses deixaram a Indochina e os holandeses as Índias Ocidentais Os protetorados franceses e britânicos no Oriente Próximo Síria Líbano Israel e Jordânia estavam todos livres E o mais importante a menina dos olhos do Reino Unido a Índia britânica que havia se expan dido do Irã ao Laos deu origem após uma guerra sangrenta e mutuamente destrutiva a quatro nações livres Índia Paquistão Burma e Sri Lanka A maior parte do norte da África se tornou in dependente durante a década de 1950 A partir de 1957 a África subsaariana foi rapidamente liberada com a exceção mais uma vez das colônias portuguesas e o mesmo ocorreu na Malásia úl tima possessão na Ásia Em meados da década de 1960 o controle norteamericano sobre Porto Rico transformou os Estados Unidos 457832 na principal potência colonial do mundo embora o título fosse discutível Tal situação era irônica dada a longa tradição anticolo nialista no país7 O fato de que 20 anos após a Segunda Guerra Mundial a maior colônia de uma das principais nações do planeta ser não mais a Índia ou a Argélia o Congo ou a Indonésia mas uma pequena ilha do Caribe mostrava o quanto o mundo havia mudado A velocidade com que o colonialismo ruiu pode ser atribuída a uma série de motivos O primeiro foi a evolução social e política das sociedades coloniais Após 1914 a riqueza o poder e a in fluência daqueles que rejeitavam ou desejavam modificar a eco nomia colonial clássica aumentavam de forma contínua Os mes mos processos econômicos e políticos que mudaram o rumo do desenvolvimento latinoamericano estavam em curso na Ásia e na África crescimento dos centros urbanos e industriais insatis fação com a produção de matériasprimas para exportação e desejo por diversificação e industrialização O colonialismo também fora destruído por problemas globais que isolaram as colônias do resto do mercado mundial desorgan izaram a economia exportadora estimularam a urbanização e a industrialização e consolidaram os interesses da classe média e dos comerciantes locais As dificuldades econômicas do en treguerras enfraqueceram os colonialistas e fortaleceram os incré dulos ou hostis ao colonialismo Às vezes os conflitos entre as potências coloniais e os novos grupos sociais se transformavam em rebeliões militares contra o regime como na Indonésia e na Indochina Nos outros lugares a ameaça de levantes anticoloniais refreou bruscamente as ambições das grandes potências Os colonizadores então tentaram suprir as demandas locais A Índia que já havia conquistado o direito de decidir sobre suas próprias tarifas conseguiu estabelecer um governo quase autônomo em 1937 Outras possessões foram contempladas com benefícios semelhantes para o poder local No entanto para 458832 muitos dos líderes das colônias isso apenas enfatizava a ir relevância da ordem colonial O controle imperial podia ser apen as aparente ou existir de fato Se o caso fosse o primeiro não havia razões para ser mantido se o caso fosse o segundo havia ainda mais motivos para que se abandonasse a metrópole Essa perspectiva se tornou especialmente atrativa quando a popuação colonizadora grande na Argélia modesta na Rodésia e pequena no Quênia conseguiu adiar ou impedir as reformas Se alguns poucos milhares de colonos europeus no Quênia conseguiam im pedir o Império Britânico de conceder direitos básicos aos africanos por que um africano não deveria considerar a coloniza ção como nada mais que uma ferramenta de opressão Também havia forças favoráveis às mudanças nas próprias potências coloniais8 Antes da Segunda Guerra Mundial o coloni alismo podia ser justificado por argumentos econômicos e dip lomáticos Agora as justificativas geopolíticas não convenciam mais A posição estratégica da GrãBretanha da França da Holanda e da Bélgica era de se manter debaixo do guardachuva nuclear norteamericano e para tal não havia a necessidade de possessões coloniais também desestimuladas pelo próprio dono do guardachuva Do ponto de vista econômico a importância das colônias diminuiu de forma contínua após a guerra Os europeus cada vez mais trocavam mercadorias e investimentos com seus vizinhos e os Estados Unidos Além do mais as colônias eram de sprezíveis para as novas indústrias que se tornaram importantes automóveis bens de consumo duráveis aviões e computadores Como os investimentos estrangeiros haviam mudado de direção das matériasprimas e plantações para os produtos industriais o apoio econômico ao regime colonial diminuiu ainda mais As mul tinacionais de produtos manufaturados pouco precisavam do co lonialismo e com frequência obtinham belos lucros com as altas tarifas impostas pelas nações recémindependentes Mesmo nos países onde o comércio colonial e os investimentos continuavam 459832 interessantes os Estados Unidos pressionavam os europeus para que abrissem os mercados coloniais E que bem econômico seria uma colônia se era preciso compartilhála O motivo final e decisivo para a rápida marcha rumo à inde pendência foi a insistência norteamericana Há décadas que os Estados Unidos eram contra o colonialismo Ideologia e moral de vem ter influenciado a posição do país mas o autointeresse foi o principal motivo Os Estados Unidos entraram muito tarde na corrida colonial e quando o período chegou ao fim o país possuía muito poucas colônias A exclusividade econômica colonial at ingiu duramente os produtos e o capital norteamericanos Além disso a Guerra Fria também contribuiu para o anticolonialismo dos Estados Unidos A União Soviética possuía boas credenciais anticoloniais e usava os impérios europeus para mostrar que o capitalismo ocidental dominava o mundo em desenvolvimento Após 1949 a voz da China passou a ser ouvida com grande credib ilidade na discussão uma vez que o país foi um dos que mais so freu com o imperialismo ocidental Como boa parte do mundo es tava sob o domínio colonial europeu era difícil para os Estados Unidos argumentar sobre os males do controle soviético Quanto mais os europeus governavam mais eles empurravam os asiáticos e africanos na direção dos comunistas que estavam em busca de aliados O anticolonialismo norteamericano afetou as metrópoles europeias em especial durante a Crise de Suez Em outubro e novembro de 1956 tropas francesas britânicas e israelenses ata caram o Egito aparentemente para tomar o Canal Todavia a ver dadeira intenção era derrubar o regime do nacionalista radical Gamel Abdel Nasser A ação enfureceu o secretário de Estado dos Estados Unidos John Foster Dulles mas não por qualquer simpa tia por Nasser A invasão fortaleceu o argumento dos soviéticos e chineses que desejavam convencer o mundo em desenvolvimento da brutalidade e da injustiça do capitalismo Da mesma forma 460832 provocou ainda mais irritação por ter ocorrido durante a ação so viética para suprimir uma revolta anticomunista na Hungria des viando a atenção mundial de uma demonstração de brutalidade soviética para outro exemplo de agressão ocidental Na visão de Dulles um mês que deveria ter sido uma propaganda do triunfo ocidental acabara tornandose um desastre Para piorar a invasão anglofrancoisraelense aproximou o regime egípcio ainda mais da União Soviética A GrãBretanha e a França logo se deram conta do quanto o peso econômico norteamericano restringia as opções dos dois países A crise levou a uma desvalorização da libra e os Estados Unidos cortaram a ajuda financeira à GrãBretanha O governo britânico que cinco anos antes considerava o Egito um protetor ado eficiente não tinha outra escolha a não ser reconhecer a hu milhação9 Os ativistas anticoloniais se sentiram revigorados di ante dessa demonstração de impotência por parte do regime e principalmente por causa do enfraquecimento da posição coloni alista Um ano mais tarde Gana foi o primeiro país da África sub saariana a se tornar independente da GrãBretanha Depois em 1958 a Guiné francesa se libertou dos colonizadores À medida que o colapso colonial aumentava o impasse entre França e Ar gélia o sistema político francês se deteriorava Charles de Gaulle intimado a deixar a nação africana supervisionou a retirada da França da terra que sempre considerou ser tão francesa quanto Marselha Em quatro anos a partir da Crise do Suez toda a África francesa se tornou independente e logo em seguida o mesmo ocorreu com a britânica ISI teoria e prática A América Latina serviu como guia para grande parte do mundo em desenvolvimento após 1945 Afinal antes daquele ano a 461832 América Latina se assemelhava aos países desenvolvidos inde pendentes Havia alguns Estados livres no Oriente Próximo Tur quia Irã Iraque mas de soberania recente ou questionável Libéria Etiópia Afeganistão e Sião eram pobres demais para fazer alguma diferença e a China era um caso à parte A América Latina independente há mais de um século foi o principal mode lo para as excolônias pobres O desenvolvimento industrial latinoamericano indicava que um caminho semelhante também poderia ser seguido por esses países algumas outras nações inde pendentes como a Turquia também tentavam implementar a ISI O entusiasmo pela industrialização nacional ao estilo latino americano cresceu devido à ideia de que a independência seria um prérequisito para a adoção da política Além de um modelo prático a América Latina oferecia argu mentos de ordem intelectual para a ISI Teóricos latinoamer icanos contestavam o liberalismo clássico dos economistas famosos argumentando que subsidiar e proteger a indústria nas cente seria positivo para o desenvolvimento econômico A visão latinoamericana se fermentava nos tonéis da Comissão Econôm ica para a América Latina e o Caribe A Cepal era chefiada pelo economista e expresidente do Banco Central argentino Raúl Prebisch e atraía acadêmicos influentes As ideias da comissão formada no início da década de 1950 encontraram grande ressonância intelectual nos outros países do mundo em desenvolvimento A Cepal aprofundou os argumentos já existentes a favor da proteção à indústria nascente e dos subsídios industriais Da mesma forma como apontavam os protecionistas alemães e norte americanos do século XIX a comissão acreditava que quando pequenas as indústrias de economia de escala por definição não são capazes de competir com a concorrência externa e que era impossível para os países começar do zero com indústrias grandes Uma metáfora seria que as asas dos pássaros não 462832 evoluíram com uma pena por vez os países não conseguiriam desenvolver indústrias modernas começando com pequenos es tabelecimentos se estivessem sujeitos à competição estrangeira A indústria nascente deveria ser alimentada até se tornar capaz de competir internacionalmente Os cepalistas como eram conhecidos argumentavam ainda que os efeitos positivos da industrialização para as sociedades não se limitavam à produção industrial A expansão da indústria trazia benefícios indiretos para a população À medida que as fábricas fossem se desenvolvendo gerariam níveis mais amplos de consciência e participação política uma força de trabalho mais qualificada e coesão social entre outras vantagens Trariam tam bém efeitos multiplicadores à economia uma vez que as indústri as estimulam a formação de elos progressivos e regressivos Uma fábrica de sapatos pode desenvolver um laço regressivo com os produtores de couro borracha e de outros insumos e progressivo com atacadistas e varejistas do produto final A indústria de calça dos produzia mais que sapatos a demanda por insumos e suprimentos para produção se ampliaria e desenvolveria a eco nomia local A industrialização trazia benefícios econômicos e so ciais generalizados O argumento mais novo dos cepalistas foi apresentado por Prebisch no fim da década de 1930 O economista alegava que o preço das matériasprimas e dos produtos agrícolas tendia a cair com o tempo enquanto o valor dos bens manufaturados tendia a subir Disse ele As indústrias manufatureiras e portanto as nações industriais po dem controlar a produção de forma eficiente mantendo o valor de seus produtos nos níveis desejados Este não é o caso dos países que vivem da agricultura ou pecuária pois como é sabido esse tipo de produção é inelástica por natureza da própria produção bem como pela falta de organização dos produtores 463832 Durante a última depressão econômica essas diferenças se manife staram por meio da queda brusca dos preços agrícolas e um declínio bem menor dos artigos manufaturados Os países agrários perderam parte de seu poder de compra o que afetou a balança de pagamentos e o volume de importações desses países10 De acordo com Prebisch o problema era o controle dos merca dos de produtos industriais por parte de poucos oligopólios os quais faziam com que os preços subissem sempre que possível e não caíssem mesmo que as condições do mercado fossem adver sas11 Por outro lado os mercados de matériasprimas eram muito competitivos havia milhões de produtores de café ou trigo e os preços flutuavam com facilidade Em tempos de crise o preço dos produtos industrializados não declinava com tanta velocidade quanto o dos primários ao passo que nos períodos prósperos ele aumentava mais rápido O resultado disso é uma deterioração das condições comerciais dos países especializados em produtos primários que passam a ganhar menos pelos produtos vendidos e a pagar mais pelo que compravam Produzir uma quantidade maior do mesmo tipo apenas pioraria a situação uma vez que os preços dos produtos primários cairiam ainda mais O ciclo vicioso só seria rompido mediante uma mudança dos tipos de bens produzidos Seria necessário abandonar os produtos primários e adotar os industriais Alguns economistas contestaram os argumentos da Cepal Diz iam que a indústria nascente nunca crescia apenas continuava a receber proteção além de os custos gerados por indústrias inefi cientes superarem os benefícios diretos Alegavam também que as políticas da Cepal criariam setores industriais inchados fabric ando produtos caros de baixa qualidade e tecnologia ultrapas sada Os céticos desafiavam a afirmação de Prebisch de que os ter mos de troca dos países em desenvolvimento haviam se deterior ado Mesmo se fosse verdade a solução não podia ser proteção ou subsídios afinal de contas as exportações de produtos primários 464832 haviam gerado prosperidade e indústrias para o Canadá Austrália e até para os Estados Unidos A visão da Cepal alcançou aceitação irrestrita no mundo colo nial e póscolonial independentemente de seu mérito intelectual Os novos governos encontravam apoio principalmente entre os capitalistas urbanos trabalhadores e classe média os quais nutri am pouca simpatia pelo modelo exportador de produtos primári os Os europeus e seus parceiros sempre dominaram a produção de bens agrícolas e minerais para exportação nos lugares onde os produtores de matériasprimas eram os nativos a classe em geral era fragmentada e fraca Industriais profissionais liberais fun cionários públicos e operários se organizavam de maneira efi ciente às vezes tinham ligações próximas com os militares e con trolavam as cidades12 A batalha sobre a estratégia de desenvolvi mento a ser seguida terminou antes de começar a industrializa ção por substituição de importações viria a ser a política universal do mundo póscolonial Nehru e a industrialização da Índia Depois de Jawaharlal Nehru ter lembrado os indianos do encon tro com o destino em agosto de 1947 em seu discurso como o primeiro chefe de governo do país ele apontou para o futuro Esse futuro não é de sossego ou descanso mas de uma luta incessante para que possamos cumprir as promessas que temos feito com tanta frequência e a que faremos hoje Servir à Índia significa servir aos milhões que sofrem Significa acabar com a pobreza a ignorância a doença e a desigualdade de oportunidades Enquanto existirem lá grimas e sofrimento nosso trabalho não terá acabado Nehru liderou a Índia independente por 15 anos se esforçando para transformar suas promessas em realidade Quando tomou 465832 posse em agosto de 1947 tinha mais de 30 anos de experiência política Governou diversas províncias indianas e negociou as condições para o afastamento do Império Britânico No entanto a experiência mais importante para a formação dele foi ganha como líder do principal movimento anticolonialista do planeta Nehru era o filho mais velho de um advogado bemsucedido e pertencia à aristocrática casta brâmane Nascido em 1889 teve di versos tutores ocidentais até ir para Harrow um colégio interno britânico para a alta classe De lá Nehru foi para Cambridge onde se formou em ciências naturais Ele então foi novamente para Londres para estudar Direito e se tornou advogado como o pai Em 1912 após tantos anos de educação britânica Nehru voltou à Índia e como ele mesmo disse posteriormente talvez mais inglês que indiano mais encantando com a Inglaterra e os ingleses do que poderia um indiano13 O pai de Nehru já havia se tornado um líder moderado do Partido do Congresso Nacional In diano e apesar da anglofilia o filho também era nacionalista O jovem Nehru conheceu Gandhi em 1916 numa convenção do Partido do Congresso No início da década de 1920 Nehru e o pai adotaram uma posição próindependência mais radical Os Nehru e outros membros das classes alta e média da Índia passaram a apoiar a independência completa do país por uma série de razões A Primeira Guerra Mundial e o período entreguer ras mostraram aos indianos que o governo colonial era desne cessário O país se comportou bem quando a guerra a recon strução e a depressão econômica o separaram do império As cres centes concessões de autonomia por parte dos britânicos pro varam que os indianos eram perfeitamente capazes de se autogov ernar e que políticas formuladas regionalmente se adequariam melhor às necessidades locais O império oferecia infraestrutura e defesa mas a um preço cada vez mais alto em especial devido à brutalidade de algumas ações britânicas das quais a mais 466832 marcante foi o massacre de centenas de manifestantes pacíficos em Amritsar em 1919 Os suseranos britânicos oprimiam a numerosa e moderna elite indiana que dominava o país Nehru e o Partido do Congresso não viam mais motivos para que a relação continuasse A reação não foi de xenofobia tampouco foi algo como o tradicionalismo indi ano de Gandhi Nehru enxergava a Índia com olhos basicamente europeus A conheci por meio do Ocidente e a olhei como um ocidental cordial teria feito Estava impaciente e ansioso para mudar sua aparência sua atitude e para lhe dar a roupa da mod ernidade14 O excientista de Cambridge e advogado de Londres desejava trazer a ciência moderna e a tecnologia para o país em vez de buscar uma volta às tradições A GrãBretanha resistiu à independência Em 1921 as autorid ades britânicas prenderam o jovem Nehru pela primeira de muitas vezes ele passou cerca de 13 do período de 1921 a 1945 na prisão Após ser libertado tornouse secretáriogeral do Partido do Congresso desenvolvendo sua habilidade política e conhecimentos sobre o país Em 1926 e 1927 Nehru a mulher e a filha foram à Europa e à URSS Durante a viagem foi exposto às ideias do movimento internacional anticolonial e do socialismo soviético Ficou profundamente impressionado com as per spectivas tanto de uma unidade anticolonialista quanto de um desenvolvimento não capitalista Quando voltou Nehru mais uma vez foi nomeado secretáriogeral e em 1929 tornouse presidente do partido Logo ficou evidente que Nehru cujo pai morrera em 1931 era o segundo homem mais importante da liderança nacion alista atrás apenas de Gandhi Nos dez anos do caminho para a independência Nehru con hecido como pandit ou professor uniu socialismo e nacional ismo com a intenção de alcançar o possível As tentativas britân icas de conciliação levaram à autonomia provincial e à eleição do Partido do Congresso na maioria das províncias no fim da década 467832 de 1930 Enquanto a guerra ameaçava a Europa os indianos tiveram que tomar uma posição Nehru que em 1936 passou mais uma temporada na Europa enquanto sua mulher morria em um hospital suíço era simpático à luta contra os nazistas Mas para ele e para o partido a Índia só deveria apoiar a guerra caso a Grã Bretanha se comprometesse com a independência o que seria pouco provável Nehru passou a maior parte do período da guerra na prisão e começou as negociações com os britânicos mesmo antes de ser libertado Trabalhou próximo ao lord Mountbatten para garantir uma transição para a independência o mais tran quila possível dentro das dificuldades inerentes ao processo espe cialmente a hostilidade entre hindus e muçulmanos que mais tarde dividiram a nação em dois países Índia e Paquistão No poder pandit Nehru continuou a enfatizar o nacionalismo econômico e o desenvolvimento industrial A Índia diferente mente da América Latina copiou aspectos da planificação soviét ica utilizando uma série de planos quinquenais para conduzir a industrialização do país O governo priorizava os investimentos em infraestrutura e a indústria de base para aprofundar o desen volvimento do setor fabril moderno As prioridades de Nehru eram bemdefinidas Se pretendemos industrializar o país não iremos fazêlo criando uma porção de fábricas de bens de consumo São úteis sem dúvida mas para nos industrializarmos precisamos de certas indústrias básicas indústriaschave indústriasmãe máquinas aço e assim por diante Indústrias que possam gerar outras indústrias15 Durante os três primeiros planos de cinco anos de Nehru de 1951 a 1966 o governo foi responsável por metade dos investi mentos destinados à indústria e metade dos que se destinaram às industrias de aço e ferro16 Nas décadas de 1950 e 1960 enquanto a produção têxtil aumentou em 13 no setor de maquinário o 468832 crescimento foi cinco vezes maior e a fabricação de metais básicos quadruplicou17 Nehru adotou a visão socialista como a maioria dos líderes políticos indianos mas com pragmatismo O governo con tinuava firme no compromisso com os empresários os quais Nehru em geral defendia Dizse do capital que ele é arisco mas é arisco porque os capitalis tas que são empreendedores privados não têm a certeza de quanto tempo poderão continuar no país Sugiro portanto darmos a eles uma bela chance e pedirmos que obtenham belos lucros É essencial darmos uma chance à empresa privada e garantirmos segurança para que eles continuem a trabalhar em nome da produção18 As políticas econômicas indianas eram semelhantes às da in dustrialização por substituição de importações adotadas na América Latina O governo concedeu proteção industrial créditos subsidiados incentivos fiscais e outros benefícios de certa forma já familiares aos latinoamericanos Os planos quinquenais con tavam com floreios retóricos diferentemente dos planos latinos mais conservadores Contudo na prática não eram muito pare cidos com os do estilo soviético O governo indiano prestou mais atenção às condições rurais do que os latinoamericanos É evid ente que a Índia era bem mais rural que a América Latina e a madura democracia parlamentar indiana não deixava os políticos ignorarem os produtores agrícolas A ampla reforma agrária e as melhorias no campo não modificaram a situação geral de favore cimento das cidades e da indústria mas o setor agrícola fora menos punido na Índia que em muitas outras nações em desenvolvimento As políticas indianas obtiveram resultados semelhantes aos al cançados por outras economias que implementaram a ISI A produção agrícola da Índia nos primeiros 25 anos de independên cia quase não acompanhava o crescimento populacional mas a 469832 indústria se expandiu três vezes mais rápido No início da década de 1970 o país passou a produzir mais de cinco milhões de tone ladas de aço menos de um milhão de toneladas antes da inde pendência 16 milhões de toneladas de cimento menos de três milhões de toneladas antes e um milhão de toneladas de fertiliz ante menos de dez mil de toneladas antes O país fabricava os próprios trens automóveis e possuía uma bemsucedida indústria de maquinário19 Cerca de 90 das máquinas utilizadas na in dústria têxtil eram produzidas domesticamente da mesma forma que 98 do alumínio e 99 do aço quase todos importados no período da independência A indústria correspondia a apenas 16 da produção econômica mas dado o tamanho do subcontin ente a Índia tinha um dos maiores setores industriais do mundo em desenvolvimento20 A industrialização veio acompanhada do crescimento econ ômico mais rápido da história indiana As estimativas mais pre cisas indicam que a renda por pessoa na Índia em 1950 era quase 10 maior que um século antes Esse dado mascarava os altos e baixos altos até a Primeira Guerra Mundial baixos a partir de então mas no geral a economia indiana do fim do período colo nial estava estagnada Entre 1950 e 1975 no entanto cresceu cerca de 50 mesmo considerando a rápida ampliação popula cional Embora o crescimento tenha ocorrido mais lentamente que em muitos outros países em desenvolvimento era significat ivo para os padrões indianos As vitórias econômicas da Índia satisfizeram apenas uma parte das ambições de Nehru para o país Ele acreditava que a Índia po deria ajudar a transformar a natureza da economia internacional Afinal de contas as nações recémindependentes da África e da Ásia não tinham voz Para solucionar o problema em 1949 Nehru convocou uma conferência em Nova Déli e em 1954 se encontrou em Colombo no Sri Lanka com o líder deste país e outros do Pa quistão de Burma e da Indonésia para planejar uma reunião 470832 maior Em abril de 1955 29 nações africanas e asiáticas se re uniram em Bandung na Indonésia O encontro contou com a par ticipação dos personagens mais importantes da luta anticolonial U Nu Burma Norodom Sihanouk Camboja Zhou Enlai China Gamel Abdel Nasser Egito Nehru Índia Sukarno In donésia Muhammad Ali Bogra Paquistão Carlos Romulo Filipinas príncipe Faisal Arábia Saudita e Pham Van Dong Vietnã do Norte A Conferência de Bandung apontou para a estreia de novos atores na cena mundial Nehru a chamou de parte de um grande movimento da história da humanidade que fez metade da pop ulação do mundo emergir na política internacional21 Dezenas de países em desenvolvimento demonstraram interesse em traçar um caminho intermediário entre os Estados Unidos e a URSS A declaração final de Bandung apresentou cinco princípios propos tos por Nehru para evitar conflitos e pôr fim à intervenção imperi al Assim o sucesso de Nehru em conduzir a sociedade indiana para a independência e a neutralidade refletiuse no plano inter nacional O Terceiro Mundo tornouse uma força política e Nehru era um de seus líderes Quando pandit Nehru morreu em 1964 suas ideias já es tavam consolidadas A Índia passou a ser industrial com um setor público forte e uma iniciativa privada poderosa trabalhando lado a lado A democracia do país era estável Apesar da desastrosa guerra com a China em 1962 e de conflitos fronteiriços com o Paquistão a Índia era um dos protagonistas da política mundi al tanto pelo que vinha fazendo internamente quanto como líder do movimento não alinhado do Terceiro Mundo A África e a Ásia não dependiam mais da Europa em termos de investimentos ad ministração ou indústria Os dois continentes haviam se tornado independentes cresciam rapidamente e ganhavam cada vez mais autoconfiança O sucesso de Nehru foi tão reconhecido no país 471832 que antes de completar dois anos da morte do líder sua filha Indira Gandhi tornouse primeiraministra O Terceiro Mundo adota a ISI Assim como ocorria na Índia as reformas de caráter nacionalista das economias póscoloniais levaram a uma rápida industrializa ção Os novos governos seguindo as políticas da ISI transferiram recursos e cidadãos da agricultura e da mineração para as fábricas do campo para as cidades A indústria da África e da Ásia se desenvolveu de forma impressionante embora de maneira não tão abrangente ou profunda como na América Latina Nações que já contavam com um passado manufatureiro como a Turquia e a Índia passaram a ter grandes fábricas Países de fábricas rudi mentares como o Iraque e a Coreia possuíam agora um extenso setor industrial Áreas que nunca haviam tido qualquer fábrica moderna como o Quênia e a Tailândia passaram a ter uma in dústria que crescia com velocidade Em 1973 a Revolução Indus trial parecia ter chegado à Ásia e à África da mesma forma que al gumas décadas antes chegara à América Latina A economia crescia rápido no Terceiro Mundo póscolonial Na maior parte da África e da Ásia o crescimento per capita anual passou a ser de 2 a 3 Nas décadas anteriores talvez séculos o índice anual raramente se é que alguma vez o fez ultrapassava 1 Em algumas nações como Egito Costa do Marfim Nigéria Indonésia e Tailândia a renda por pessoa dobrou ou quase isso em 20 anos Isso sem incluir a Coreia do Sul e Taiwan países que provavelmente atingiram o crescimento econômico mais rápido da história o PIB per capita triplicou ou quadruplicou em 20 anos22 A estrutura econômica das novas nações se modificou Dur ante uma geração sociedades agrárias foram transformadas em 472832 urbanas e industriais Em 1970 a indústria já era responsável por 14 ou mais da produção do Sri Lanka Malásia Indonésia Filipi nas e Tailândia todas sociedades préindustriais até 195023 Os países do Oriente Médio que começaram com setores manu fatureiros pequenos experimentaram uma grande aceleração do crescimento industrial e no início da década de 1970 muitas das economias da região que não tinham o petróleo como base pas saram a produzir mais na indústria que na agricultura Na Tur quia e no Egito a produção e a quantidade de empregos no setor industrial cresceram muito rápido e embora essas economias fossem fortemente agrárias a produção industrial superou a agrí cola algumas vezes durante a década de 197024 Os países da África subsaariana onde quase não havia fábricas passaram por um processo violento de industrialização por substituição de im portações A parcela do PIB nigeriano proveniente da indústria que na época da independência era menor que 3 passou dos 10 na década de 1970 enquanto a própria indústria cresceu cerca de 11 ao ano25 A ISI nesses países foi semelhante à da América Latina apen as mais intensa Países com um setor industrial menor precis avam de proteção e subsídios ainda maiores para poderem gerar novas fábricas Nações que contavam com uma classe capitalista fraca necessitavam de um envolvimento ainda mais enérgico por parte do governo Algumas das aplicações mais radicais da ISI ocorreram nos países menos desenvolvidos da África e da Ásia Para os críticos esses países copiavam uma má ideia mas na Nigéria e na Índia no Quênia e na Malásia a influência política dos que detinham o poder político financeiro ou ideológico acabou canalizando os esforços para a industrialização A proteção comercial nesses países era extremamente grande apesar de suas indústrias estarem em fase embrionária Barreiras protetoras no Egito e na Índia tornavam os preços dos produtos industriais quase duas vezes maiores O comércio caiu 473832 radicalmente apenas 2 da produção indiana era exportada O comércio exterior da Turquia que na década de 1920 abrangia de 25 a 30 da economia caiu para menos de 9 na década de 1970 mesmo após séculos de laços comerciais com a Europa e uma localização favorável26 A presença do Estado era bem mais significativa nos países menos desenvolvidos do que na América Latina Na verdade era comum a aplicação da ISI como forma de socialismo Os que de fendiam o socialismo na Índia nos países árabes em Burma ou na África o apresentavam como uma combinação de planificação central e socialdemocracia unidas pela rápida industrialização e construção da nação Os empregos de grande parte da população vinham do setor estatal que também possuía porções generosas da economia No Egito o governo árabe socialista de Nasser nacionalizou todos os bancos seguradoras e grande parte da in dústria O setor público egípcio possuía mais de 90 das fábricas com mais de dez trabalhadores Além disso 13 da força de tra balho e cerca de metade da produção estavam ligadas ao Estado O governo de Gana empregava 34 dos trabalhadores do setor formal moderno da economia embora apenas 110 dos trabal hadores estivesse no setor formal isso significava que o governo era o principal responsável pelos empregos urbanos27 A adoção de uma política de ISI extremada nos países que quase não possuíam indústria tinha diversas raízes Em termos de ideologia a industrialização estava intimamente associada à soberania da mesma forma que economias exportadoras estavam associadas ao domínio colonial Interesses urbanos poderosos es tavam por trás dessa justificativa ideológica e a oposição rural foi dizimada com a saída dos colonizadores ou acabava sendo fraca ou desorganizada O conflito entre o exército funcionários públi cos capitalistas locais profissionais liberais e sindicatos trabal histas de um lado e os pobres da áreas rurais de outro não era 474832 de fato um conflito Quase não existiam obstáculos para a industrialização Muitos dos excessos cometidos na África e na Ásia ocorreram por causa do desenvolvimento relativamente baixo de tais so ciedades onde a pequena elite conseguia distorcer a política em favor próprio As sociedades latinoamericanas eram mais desen volvidas com economias mais maduras e sistemas políticos mais responsáveis Apesar de em 1950 os níveis de riqueza da Europa serem duas vezes maiores que os da América Latina a região por sua vez era de duas a três vezes mais rica que a Ásia e a África O abismo entre a América Latina e o resto do mundo em desenvolvi mento era maior que o existente entre a América Latina e os países ricos Os grandes países da América Latina adotavam polít icas industriais semelhantes às implementadas na Alemanha e nos Estados Unidos no fim do século XIX e apresentavam um nível de desenvolvimento comparável ao dos dois países no mesmo período Essas medidas portanto não seriam adequadas a países tão pobres quanto Bangladesh ou Tanzânia que con tavam com índices de desenvolvimento mais baixos que os da Europa do fim do século XVIII A maior parte da Ásia e da África adotou o estilo latinoamer icano de ISI ou até mesmo uma forma mais extremada No ent anto um punhado de países no Leste asiático tentou algo difer ente Coreia do Sul Taiwan Cingapura e a colônia britânica de Hong Kong pressionavam seus fabricantes a exportar como forma de desenvolver os mercados do país Hong Kong já podia ser quase considerado comercialmente livre mas os outros três países tentaram aplicar a ISI na década de 1950 e no início da de 1960 Mas em meados dos anos 1960 o país se voltou para a cha mada Industrialização Orientada para Exportação IOE ou EOI na sigla em inglês para Export Oriented Industrialization que estimulava a produção para exportação Os governos também passaram a intervir pesadamente na economia mas nesse caso 475832 para estimular as exportações Eles concederam benefícios e sub sídios às importações como créditos às empresas que expor tassem e reduções nos impostos sobre os lucros obtidos com ven das internacionais Em alguns casos o setor público também abrangia uma parcela da economia tão grande quanto na América Latina inclusive todos os bancos da Coreia do Sul e grande parte da indústria de base do país Enquanto o resto do Terceiro Mundo fez com que a indústria se voltasse para dentro do país as nações que se industrializaram com base nas exportações focaram no ex terior Em geral essas indústrias dependiam dos voláteis merca dos internacionais mas tinham a vantagem de forçar os fabric antes nacionais a seguirem rigorosos padrões de qualidade tecno logia e preços Os países do Leste Asiático optaram pela industrialização do tipo exportorientated em parte por disporem de poucos re cursos para importar os produtos necessários e a única forma que encontraram para obter moeda estrangeira foi a exportação de produtos industrializados Os governos de Taiwan e da Coreia do Sul também foram influenciados por questões de ordem geopolít ica a importância que tinham para os Estados Unidos rendeu aos países acesso garantido aos mercados norteamericanos Independentemente de sua natureza a política foi notoriamente bemsucedida Entre 1950 e 1973 as exportações de Taiwan e da Coreia do Sul atingiram um crescimento anual de 20 e 16 re spectivamente e a renda por pessoa dos dois países no mesmo período de 6 e 5 ao ano Em 1950 os dois países do Leste Asiático eram mais pobres que as Filipinas Marrocos e Gana em 1973 tornaramse de duas a três vezes mais ricos A IOE parecia se é que não foi mais bemsucedida que a ISI embora tenha sido apenas uma experiência rara confinada ao Leste Asiático A proliferação moderna da indústria 476832 Entre 1939 e 1973 os países em desenvolvimento optaram pela industrialização via substituição de importações e por uma polít ica nacionalista e voltada para o mercado interno A América Lat ina e outras poucas nações independentes começaram a traçar este caminho na década de 1930 Essas experiências foram segui das de três levas de independência colonial na Ásia na década de 1940 no Oriente Médio e Norte da África nas décadas de 1940 e 1950 e na África subsaariana no fim da década de 1950 e durante a de 1960 Todas essas regiões afastaram os produtos estrangeiros de seus mercados estimularam a produção local para consumo interno e desenvolveram cidades e indústrias à custa de agri cultores e zonas rurais Os países da Ásia que optaram por se con centrar nas exportações também conseguiram o desenvolvimento industrial mas com base na produção para o mercado externo em vez da substituição de importações Quase todas essas nações foram bemsucedidas Apesar de al guns excessos inegáveis nas políticas de ISI em muitos países as iáticos africanos e até latinoamericanos a década de 1960 foi re lativamente próspera Economias cresceram o processo industri al se acelerou e o padrão de vida melhorou A substituição de im portações se mostrou uma medida econômica eficiente para ser adotada com a independência política nacional a Um certo isolamento da economia mundial e políticas voltadas para o desenvol vimento nacional NT b Área da Ásia próxima do Mediterrâneo inclui a Síria o Líbano Israel Palestina e o Iraque NE 477832 14 Socialismo em muitos países A visita de Nikita Khrushchev aos Estados Unidos em 1950 e 1960 virou manchete nos jornais de todo o mundo Quando o líder so viético bateu os pés com raiva no parlatório enquanto discursava nas Nações Unidas na década de 1960 os ocidentais ridiculariz aram o camponês pouco sofisticado que agora liderava o maior país do mundo No entanto quando ele disse que até 1980 a eco nomia da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas seria maior que a dos Estados Unidos ninguém riu Os soviéticos derrotaram os Estados Unidos na corrida espacial com o Sputnik em 1957 e um ano mais tarde lançaram a primeira nave espacial pilotada por um homem Grosseiro ou não o socialismo soviético parecia ser um verdadeiro rival do capitalismo Em 1939 o socialismo existia em apenas um país a União Soviética1 A URSS era a maior nação do mundo uma das prin cipais potências industriais e uma força da política mundial No entanto o país continuava semiindustrial e com poucos laços econômicos com o resto do globo Moscou havia se distanciado da economia mundial e dos mercados havia uns dez anos e a plani ficação econômica soviética era uma anomalia exclusiva de um país que abrigava 8 da população mundial Nenhum outro governo demonstrava qualquer interesse pela economia plani ficada socialista e mesmo na União Soviética o seu futuro era incerto Na época em que Khrushchev visitou os Estados Unidos o so cialismo ao estilo soviético operava de forma consolidada em mais de 12 países atingindo cerca de 13 da população mundial Uma minoria considerável de países em desenvolvimento tinha o so cialismo planificado como objetivo O mais populoso do mundo a China tornouse socialista e a política do segundo mais popu loso a Índia aproximouse da União Soviética Os movimentos comunistas se fortaleceram pelo mundo em desenvolvimento e em alguns países da Europa ocidental Um comunista otimista tinha motivos para acreditar que seria apenas uma questão de tempo para que a maioria dos países em desenvolvimento e até grande parte dos desenvolvidos adotasse alguma variação do so cialismo soviético Enquanto isso as nações socialistas transformavam reform avam e modernizavam o modelo soviético O governo da URSS também apontou falhas no sistema criado na década de 1930 e planejou um aperfeiçoamento O futuro do socialismo soviético e por inferência do próprio capitalismo ocidental dependeria desses esforços para incrementar a planificação centralizada A expansão do mundo socialista Em cinco anos após o fim da Segunda Guerra Mundial o social ismo se expandiu do centro da Europa para o Pacífico A Guerra Fria levou a uma rápida imposição do modelo soviético na Europa central e do leste Entre 1949 e 1953 as nações socialistas dessas regiões do Velho Continente Alemanha Oriental Tchecoslov áquia Polônia Hungria Albânia Romênia e Bulgária copiaram a economia planificada da URSS exceto a Iugoslávia Em 1952 o 479832 Estado já controlava entre 97 e 100 das fábricas nesses países menos na Alemanha Oriental onde as estáticas apontavam para cerca de 77 A agricultura foi socializada de forma mais gradual mas até 1953 as fazendas coletivas do governo ocupavam mais da metade das terras cultiváveis da Bulgária e da Tchecoslováquia Na Hungria a situação era bem parecida Havia variações mesmo sem contar a busca independente da Iugoslávia por um socialismo gerido por operários Em alguns países havia grande espaço para o comércio privado principal mente na agricultura e em alguns serviços de pequena escala como restaurantes varejo e consertos Dado o status especial da Alemanha Oriental um setor privado relativamente grande já op erava no país em 1953 A planificação variava de acordo com a realidade local uma vez que as nações se encontravam em está gios diferentes de desenvolvimento a produção industrial per capita na Alemanha Oriental e na Tchecoslováquia era três vezes maior que na Romênia Bulgária ou Albânia No entanto em 1953 todos esses países já haviam rejeitado os mercados em favor da planificação econômica2 Em 1949 contudo as semelhanças foram formalizadas com a criação do Conselho para Assistência Econômica Mútua Comecon ou Caem formado com a intenção de ser a contrapartida da ordem de Bretton Woods No entanto os laços econômicos entre os governos eram limitados visto que buscavam um sistema autárquico no qual o comércio mesmo com nações socialistas tinha pouco espaço Três novos governos socialistas tomaram o poder na Ásia na China na Coreia do Norte e no Vietnã do Norte Sozinha a Re volução Chinesa triplicou a população dos que viviam sob o re gime comunista Os três países asiáticos eram muito menos desenvolvidos e bem mais rurais que as outras nações socialistas O caminho tomado pela Ásia na direção do socialismo foi mais agrário e começou de forma modesta Os países implementaram reformas agrárias amplas expropriando a maioria das terras dos 480832 ricos e as distribuindo aos pobres e aos camponeses sem terras Os regimes comunistas asiáticos também se lançaram em ambi ciosos programas estatais de industrialização com as re comendações e o dinheiro soviético seguindo as linhas da plani ficação econômica Os governos comunistas na Europa e na Ásia construíam réplicas com graus variados de dependência da União Soviética stalinista Adotaram as características básicas da planificação eco nômica soviética controle estatal da indústria da infraestrutura do comércio e de grande parte da agricultura controles rígidos dos mercados barreiras altas ou proibitivas ao comércio e in vestimentos internacionais O volume da produção agrícola privada o grau de centralização e os limites para a flutuação dos preços variavam Não obstante as linhas gerais seguidas pelas economias planificadas eram semelhantes de Praga a Sófia de Kiev a Moscou e de Pequim a Hanói A divisão do mundo socialista Após a morte de Stálin em março de 1953 a marcha ordenada do mundo socialista se desintegrou e cada nação passou a seguir soz inha Na União Soviética e na maior parte da Europa central e do leste o modelo stalinista foi suavizado passando a oferecer maiores benefícios aos consumidores diminuindo o favoreci mento da indústria pesada e concedendo incentivos de ordem mercadológica a gerentes e trabalhadores A China tomou um caminho oposto e radicalizou a sua versão de planificação econ ômica e agricultura coletiva As diferenças de política econômica foram marcadas por cisões crescentes entre os dois gigantes comunistas A morte de Stálin suscitou pressões econômicas sociais e políticas na esfera socialista O conflito atingiu o Partido 481832 Comunista do qual Khrushchev assumira o controle A atenção internacional se voltou para ele após um entusiasmado discurso no qual ele acusava Stálin de perverter os ideais socialistas A lid erança concordou com as reformas econômicas embora não tivesse ficado claro quais seriam Os distúrbios na URSS se refle tiram na Europa central e do leste onde líderes stalinistas es tavam sendo substituídos por comunistas nacionais próre formas que desejavam modificar o socialismo Reformas econôm icas sociais e algumas vezes políticas atingiram toda a URSS e a Europa central e do leste A insatisfação popular pode ser considerada o motivo mais imediato para tensões Em Berlim revoltas operárias ocorreram em junho de 1953 O descontentamento se espalhou pela Europa oriental e não podia ser atribuído apenas a contrarrevolucionários antiproletariado uma vez que os operários eram aqueles que reivindicavam de forma mais agressiva As revoltas em Berlim po dem ser comparadas às agitações de 1956 na Hungria e na Polônia Em ambos os casos embora certamente contassem com elementos antissoviéticos e antissocialistas as reivindicações con tavam com o apoio de uma parte substancial da classe trabal hadora e dos partidos comunistas locais de forma ativa ou pas siva A URSS e seus governos aliados rapidamente reprimiram os motins No entanto os regimes que subiram ao poder após os eventos de 1956 eram liderados por comunistas reformistas mod erados Estes eram bemvistos tinham um passado de luta contra a linhadura e pouco dependiam do apoio popular Gomulka na Polônia e Kádar na Hungria A baixa qualidade de vida do cidadão médio era o principal motivo de descontentamento popular O governo soviético privile giava a indústria pesada em detrimento da leve bens de con sumo além de favorecer a indústria em detrimento da agricul tura Argumentava que os sacrifícios feitos para acelerar a indus trialização básica seriam recompensados no futuro com uma base 482832 industrial mais forte Embora tal posição possa ter tido seu mérito na década de 1930 ela tornouse incoerente na de 1950 em espe cial nos países da Europa central que já contavam com um setor manufatureiro significativo O foco na indústria de base signi ficava uma séria escassez de bens de consumo incluindo moradia e a pouca atenção destinada à agricultura gerava uma insuficiên cia no abastecimento e na qualidade dos alimentos Em 1938 os consumidores soviéticos talvez estivessem dispostos a manter tais condições espartanas como forma de preparação para a Grande Guerra Patriótica contra os invasores nazistas No entanto em 1950 os húngaros os poloneses e até os soviéticos não estavam mais tão motivados O problema foi exacerbado quando tomaram ciência da prosperidade ocidental Os países da Europa central ficavam ao lado das prósperas sociedades capitalistas e a televisão e o rádio reforçavam a impressão de que o leste ficava para trás Até os cidadãos soviéticos se deram conta do abismo entre os padrões de vida dos dois blocos Se não pudéssemos prometer à população nada melhor que apenas a revolução o povo coçaria a cabeça e diria Não seria mel hor um bom goulash disse supostamente Khrushchev O cha mado comunismo goulasha foi adotado pelos soviéticos e seus ali ados na Europa central e do leste Os governos aumentaram os salários e começaram a investir nas indústrias de bens de con sumo e na construção de casas3 Passaram a não mais enfatizar a indústria pesada e a aumentar o fornecimento de roupas sapatos aparelhos de som e outros bens de consumo Prometeram con struir milhões de novas habitações e as autoridades soviéticas garantiram em 1957 que dentro de uma década as famílias não precisariam mais dividir apartamento umas com as outras4 O novo foco na melhoria da qualidade de vida da população obteve resultados grandiosos e rápidos de 1953 a 1957 os salários reais na Europa oriental sofreram um aumento de 30 a 605 O descontentamento portanto diminuiu 483832 O descaso do governo com a agricultura estagnou o abasteci mento de alimentos Os preços agrícolas caíram tanto que os fazendeiros não tinham incentivo para produzir e o governo quase não investia em melhorias no campo As fazendas soviétic as em 1953 produziam menos grãos e batata que em 1940 além de contarem com uma quantidade menor de gado porcos e carneiros Dado o crescimento populacional isso se refletiu no número de habitantes nas cidades As mesmas políticas governa mentais que tornaram a agricultura pouco lucrativa também em pobreceram as próprias áreas rurais Praticamente a única forma que os produtores agrícolas tinham para garantir uma vida de cente era vender o que produziam em seus pequenos lotes de terra6 Khrushchev era natural do cinturão verde ucraniano e se con siderava um especialista em agricultura Desde o começo de seu governo investiu no campo Dobrou o número de tratores e segadeiras em dez anos e aumentou a utilização de fertilizantes e técnicas de irrigação Também gastou somas incalculáveis com o propósito de arar milhões de hectares de terras improdutivas para o cultivo de grãos principalmente na Sibéria e no Cazaquistão Os soviéticos reorganizaram a agricultura O governo aumentou os preços dos produtos agrícolas e em poucos anos os ganhos das fazendas coletivas aumentou em mais de 33 Mo scou também unificou fazendas com a finalidade de tornálas mais eficientes Em 1960 a típica fazenda coletiva tinha 400 casas espalhadas por três mil hectares de terras cultivadas com 1300 cabeças de gado e 900 porcos Um número maior de máquinas fazendas mais amplas e o encarecimento dos produtos agrícolas melhoraram substancialmente as condições de vida no campo e o abastecimento de alimentos Entre 1953 e 1965 após anos de es tagnação a produção de alimentos aumentou em cerca de 347 Os governantes do Leste Europeu também melhoraram as con dições rurais Após 1956 Polônia e Hungria terminaram com 484832 muitas das fazendas coletivas Em 1960 cerca de 90 dessas fazendas na Polônia já haviam sido privatizadas e o governo não exercia qualquer tipo de pressão para mudar essa situação As fazendas coletivas húngaras foram reconstruídas de forma a se tornar mais atraentes para os produtores agrícolas Em outros lugares apesar de os trabalhadores terem sido persuadidos ou obrigados a viver em fazendas coletivas ou estatais os preços agrícolas encontravamse relativamente favoráveis e as casas em lotes privados de terra passaram a ser autorizadas e inclusive es timuladas Na Europa oriental as condições rurais e a produção agrícola melhoraram uma vez que o consumo de carne dobrou ou quase até 19658 As mudanças na União Soviética e na Europa oriental pratica mente atingiram seu objetivo O crescimento econômico con tinuava grande e provocou uma melhora nas condições da cidade e do campo A população conseguia comprar bens de consumo além da necessidade básica câmeras máquinas de lavar aparel hos de som e até carros morar em casas decentes e usufruir de uma série de serviços educacionais e sociais No fim da década de 1960 a quantidade de telefones rádios e televisores presentes em lares soviéticos se aproximava à da Europa ocidental Embora o Partido Comunista e os planos econômicos centralizados per manecessem no comando as rédeas econômicas e políticas não eram mais tão pesadas como antes de 1953 As condições da década de 1960 se refletiram em acordos in formais de ordem política e econômica Os governos socialistas contavam com o apoio dos membros do partido e dos industriais que governavam tais sociedades Os trabalhadores urbanos tin ham o privilégio do acesso a serviços e salários maiores Produtores agrícolas profissionais liberais e outros só con seguiam ter uma vida decente caso aceitassem a liderança do Partido Comunista e na Europa oriental a aliança com a URSS A primazia do Estado de partido único era o preço a ser pago pela 485832 melhoria na qualidade de vida e a interferência cada vez menor que estes Estados exerciam na vida privada As mudanças da década de 1950 melhoraram a qualidade de vida da população mas os governos da União Soviética e da Europa oriental estavam cientes de que suas economias ainda ap resentavam problemas Os soviéticos pareciam ter se dado conta de que os métodos impositivos da década de 1930 talvez bemsu cedidos naquelas circunstâncias eram pouco adequados aos problemas das economias industriais mais avançadas surgidas na década de 1950 Até mesmo Stálin pouco antes de morrer recon hecera que os mecanismos para uma industrialização rápida não eram necessariamente os mesmos que os utilizados para o cresci mento e o desenvolvimento de uma economia já madura A rápida industrialização havia contado com uma centralização extrema e ameaças disciplinares aos gerentes Tais medidas quase militares talvez funcionassem para fins quase militares mas as consequên cias em geral eram desagradáveis em tempos mais normais Os dois problemas estruturais mais urgentes da economia eram o excesso de centralização e a falta de incentivos Os min istérios eram organizados de forma centralizada por tipo de in dústria O aço e o ferro por exemplo eram completamente sep arados dos químicos Nesse contexto os ministérios protegiam seus próprios impérios e não cooperavam uns com os outros Dessa forma em vez de uma usina de aço por exemplo receber insumos de alguma fábrica vizinha que os tivesse em abundância ela precisava requerer tais suprimentos da administração central em Moscou Os gerentes das fábricas costumavam contratar pro curadores que vasculhavam as zonas rurais em busca dos produtos que suas fábricas necessitavam mas não os con seguiam no ministério central para trocar pelos bens que tin ham em excesso Khrushchev tentou solucionar o problema cri ando mais de 100 escritórios locais de planejamento e devolvendo a autoridade no nível local O regime de Brezhnev e Kosygin que 486832 substituiu o de Khrushchev em 1964 reduziu a centralização mas apesar disso concedeu mais autoridade para os gerentes loc ais das estatais Outro problema era de incentivos Os soviéticos nunca con taram totalmente com a exortação ou com o ardor ideológico para motivar operários e gerentes mas também não usavam de grati ficações econômicas de forma muito extensiva Eles temiam que as recompensas resultassem em grande desigualdade entre classes e regiões consideradas indesejadas pelo sistema A forma de se medir sucesso em um sistema planejado de forma centraliz ada também não era clara Os preços eram definidos pelas autor idades centrais de modo que a lucratividade de uma empresa de pendia em grande parte de decisões que não diziam respeito aos trabalhadores ou gerentes Caso os planejadores percebendo a in significância dos resultados financeiros oferecessem recompen sas por melhoras quantitativas as fábricas passariam a entregar grandes quantidades de produtos sem se preocupar com a qualid ade Não era culpa dos gerentes se as autoridades centrais es tabeleciam preços de forma que as empresas gastavam mais do que ganhavam ou se as mandavam produzir bens que os consum idores não queriam da mesma forma como o sucesso não era res ultado de excelência gerencial A maioria dos analistas soviéticos acreditava que as formas pouco refinadas de planificação econômica haviam sido apropria das para o crescimento econômico das décadas de 1930 e 1940 mas agora não eram mais satisfatórias Inicialmente o principal objetivo foi o crescimento extensivo que trouxe recursos sub utilizados para a economia O governo transferiu os trabalhadores das zonas rurais para a indústria empurrou as terras ociosas para a produção e investiu na indústria de base Por se tratar de uma economia rudimentar o governo podia facilmente dimensionar e taxar os bens produzidos grãos aço petróleo Com a industrial ização básica completada a economia soviética se deparou com o 487832 crescimento econômico intensivo utilizando a capacidade produtiva instalada de forma mais eficiente No entanto sem grandes incentivos gerentes e operários provavelmente não aceit ariam correr riscos para aumentar a produtividade Por que os gerentes gastariam tempo e energia para desenvolver técnicas produtivas inovadoras se não seriam recompensados por isso Mesmo na década de 1930 os soviéticos tentaram aproximar os preços de índices realistas utilizar formas para medir luc ratividade além de descobrir quais empresas tinham um bom desempenho Na década de 1960 os reformistas começaram a utilizar métodos mercadológicos para recompensar as empresas seus gerentes e operários Um dos primeiros a expressar tal opin ião foi o economista soviético Evsei Liberman que em 1956 de fendia a utilização dos lucros como recompensa para os gerentes e trabalhadores de uma firma Em 1962 o Pravda jornal do Partido Comunista autorizou Liberman a publicar suas ideias prómercado O debate público instaurado foi um indicativo de que o as autoridades soviéticas consideravam a possibilidade de grandes reformas A nova administração de Brezhnev e Kosygin implementou medidas moderadas de incentivos em 1965 De cisões antes tomadas de forma central foram deixadas a cargo das empresas que foram autorizadas a guardar parte dos lucros e a distribuílos para gerentes e trabalhadores na forma de bônus ou benefícios moradia férias serviços sociais Os soviéticos também começaram a repensar seus laços econ ômicos com o resto do mundo Reconheceram que a URSS estava perdendo tempo e energia reinventando processos e bens já desenvolvidos por outros países avançados9 O comércio exterior da nação aumentou de forma dramática tanto com os outros países socialistas quanto com o mundo capitalista em 1973 o comércio tornouse três vezes mais importante para a economia soviética do que o era em 1950 Os investimentos internacionais passaram a ser mais bemvindos Em agosto de 1966 o governo 488832 firmou um contrato de US15 bilhão com a Fiat para a con strução de uma fábrica de automóveis de última tecnologia numa cidade nova chamada Togliattigrad em homenagem a um líder comunista italiano do pósguerra10 Os países da Europa oriental passaram por reformas mais rad icais voltadas para o mercado O regime tcheco foi mais longe entre 1966 e 1968 na busca por um caminho próprio para o social ismo ou o afastamento do socialismo soviético mas o plano foi interrompido por uma invasão da URSS No entanto o regime húngaro implementou reformas radicais no mesmo período e aparentemente convenceu os soviéticos de que isso não ameaçaria a segurança do bloco Na década de 1970 a maioria dos preços na Hungria começou a ser determinada pela oferta e procura e os lucros passaram a ser retidos pelas firmas e seus funcionários Outros países da Europa central e do leste também descentralizaram a planificação e aumentaram o papel desempen hado por preços e lucros11 Obstáculos políticos em geral impediam reformas na União Soviética e na Europa oriental Interesses já arraigados lutavam contra as mudanças que os ameaçavam Os gerentes das fábricas que sofriam com o aumento da competitividade trazida pelas re formas brigavam para que as medidas fossem revistas ou aborta das Eles eram importantes defensores dos regimes comunistas Dessa forma os seus interesses tolhiam o governo de agir Na URSS onde durante décadas os gerentes construíram uma posição social e política forte muitas das reformas de Brezhnev e Kosygin foram arquivadas assim que anunciadas Em 1973 a ad ministração econômica da Europa oriental e da União Soviética era bastante diferente do modelo soviético pré1953 E até 1973 o desempenho das economias da região foi muito bom A com petição econômica entre o capitalismo industrial do Ocidente e o socialismo industrial do Oriente estava a pleno vapor 489832 O caminho chinês A maioria dos indivíduos que vivia sob regimes socialistas tomou um caminho bem diferente quando a República Popular da China adotou métodos radicais de modernização ao estilo comunista Enquanto o resto do mundo socialista passou por reformas atenuou e revisou os princípios stalinistas os chineses e seus ali ados albaneses os expandiram em nome da rápida industrializa ção e transformação agrária Ambos os governos criaram enormes comunas agrícolas para acelerar a transição do capitalismo para o comunismo politizaram todos os aspectos relativos a medidas econômicas e cortaram os laços com o resto do mundo De mea dos da década de 1950 a de 1970 a China optou pelo caminho rural e urbano com um grau de radicalismo jamais visto antes Os comunistas chineses que tomaram o poder em 1949 se de pararam com demandas conflitantes refletidas em confrontos entre as alas do próprio partido Alguns dos aspectos difíceis fo ram as divisões urbanorurais já instauradas há muito tempo Os comunistas contavam com o apoio das zonas agrícolas e en tenderam a necessidade de manter uma base de apoio cam ponesa uma vez que o país era praticamente rural O Partido Comunista também tinha força entre a classe trabalhadora urb ana e compartilhava com o resto do mundo do desejo de se indus trializar rapidamente Contudo políticas próindustriais em geral implicavam medidas antiagrícolas e dessa forma interesses urb anos e rurais provavelmente entrariam em conflito Por outro lado o país mais populoso do mundo há muito tempo se deparava com um estado de desordem beirando a anar quia e um dos primeiros objetivos seria ainda a unificação da nação No entanto os comunistas também desejavam a trans formação econômica e social e uma mudança desse porte corria o risco de gerar grandes conflitos Seria preciso escolher entre or dem e mudança Outro tipo de tensão ocorria entre nacionalismo 490832 e internacionalismo De um lado a construção de uma nação pelos comunistas de outro a participação da China no comun ismo mundial Os primeiros anos da revolução foram dedicados à recon strução e à reforma O novo governo redistribuiu terras nacion alizou grandes empresas privadas e expandiu o setor público O primeiro plano quinquenal de 1952 a 1957 pôs o país no caminho soviético À indústria pesada foi concedida metade dos investi mentos totais embora o setor correspondesse a uma fatia minús cula da economia A ajuda técnica e financeira da União Soviética serviu para a construção de centenas de fábricas de produtos es senciais e devido à atenção governamental e à ajuda de Moscou a indústria cresceu rapidamente Em cinco anos a produção indus trial total dobrou a de cimento e energia elétrica triplicou e a quantidade de aço fabricada quadruplicou12 Os produtores agrícolas continuaram sozinhos A agricultura quase não recebeu dinheiro público mas ao menos os recursos do campo não foram desviados para as cidades A população rural era tão grande que os modestos impostos agrícolas arrecadavam o suficiente para a indústria e a ajuda soviética também acabou contribuindo para o financiamento da nova atividade industrial Os comunistas não podiam brincar com a oposição presente em mais de 45 do país a sociedade chinesa era bem mais rural que a soviética 23 da primeira era rural ao passo que 23 da segunda era urbana Os comunistas não se esforçaram muito para estimu lar os produtores agrícolas a participarem de cooperativas No fim de 1954 apenas 2 dos camponeses do país pertenciam a cooper ativas e quase nenhum vivia em fazendas coletivas O Comitê Cen tral previu com otimismo que 20 dos produtores agrícolas do país iriam fazer parte de cooperativas não fazendas coletivas até 1957 Mao Tsétung acreditava na ideia um tanto radical de que possivelmente até 1960 todo o campesinato estaria organizado em cooperativas13 491832 O gradualismo foi logo abandonado Após 1956 as relações entre chineses e soviéticos se tornavam cada vez mais conflituo sas e em qualquer situação a União Soviética emprestava din heiro não dava o que logo chegaria ao fim E a razão mais im portante foi que as fazendas forneciam apenas um modesto ex cedente para ser investido na indústria e nas cidades Alguns líderes comunistas estavam dispostos a aceitar a realidade opt ando por uma transição lenta para o socialismo e o desenvolvi mento industrial Mao Tsétung e aliados acreditavam que dessa forma abandonariam seus objetivos Mas como poderiam con seguir recursos para uma rápida transformação econômica Não podiam massacrar os camponeses como fez a União Soviética eles praticamente viviam de subsistência eram numerosos de mais e extremamente importantes do ponto de vista político Mao e seus seguidores tentaram então aumentar a produção no campo com uma grande mudança na organização agrícola Em outubro de 1955 repentinamente o partido começou a exercer forte pressão pela coletivização Em uma reviravolta impression ante no fim de 1956 90 dos camponeses da China passaram a viver em fazendas coletivas A coletivização na União Soviética le vou dez anos para atingir esse nível exigiu enorme brutalidade e gerou consequências graves Na China o processo ocorreu de forma tranquila e relativamente sem grandes problemas Cada fazenda coletiva foi planejada para coincidir com um vilarejo tradicional com cerca de 100 famílias Acima de tudo a coletiviza ção não veio acompanhada da exigência de preços absurdamente baixos para os grãos bastante representativo do estilo soviético Mas logo surgiram os problemas Aparentemente Mao acred itava que com a reorganização camponesa a produção agrícola cresceria muito e seria suficiente para aumentar a renda no campo financiar a indústria e a nova infraestrutura além de oferecer melhor qualidade de vida Mas não foi o que aconteceu e mais uma vez o governo se viu obrigado a impor sacrifícios aos 492832 agricultores Mao resolveu lidar com o problema de forma difer ente No inverno de 19571958 o governo organizou a construção coletiva de canais de irrigação e de outros sistemas hidráulicos O feito reuniu centenas de milhões de pessoas e foi um grande su cesso Em um ano os chineses construíram o equivalente a 300 canais do Panamá14 Mao e seus seguidores encontraram uma saída para seu dilema coletivas maiores poderiam reunir os cam poneses para empreitadas ainda mais eficientes Eles pression aram para que dez 20 ou 30 fazendas coletivas se juntassem e di vidissem o trabalho as máquinas a liderança e quase todo o resto Em alguns meses quase no fim de 1958 os chineses deram o chamado Grande Salto para Frente o qual reorganizou 99 dos camponeses do país em grandes comunas com cerca de 30 mil membros As comunas eram bem mais comunistas que as fazen das coletivas Tudo era dividido desde o cuidar das crianças até a comida em refeitórios comunitários Sobre isso o Comitê Central divulgou com entusiasmo O povo aprendeu a se organizar com disciplina militar trabalhando com militância e vivendo de forma coletiva Isso aumentou ainda mais a consciência política de 500 milhões de camponeses Refeitóri os comunitários jardins de infância creches grupos de costura bar bearias banhos públicos asilos para os idosos escolas agrícolas de ensino médio além de escolas comunistas e de especialização propor cionam aos camponeses uma vida comunitária feliz e estimulam ainda mais a ideia de coletividade entre as massas camponesas Segundo o partido essa era a política fundamental para guiar os camponeses na construção do socialismo e fazer a transição gradual rumo ao comunismo15 O partido estimulou a construção de indústrias de pequena escala nas comunas e logo um milhão de altosfornos produziam ferro e aço nas áreas rurais 493832 Mas o Grande Salto para Frente quase levou o país ao abismo As comunas eram grandes demais para a produção Como os cam poneses podiam pegar comida de graça tinham pouco incentivo para trabalhar e muito para comer de forma que o consumo aumentou e a produção diminuiu A colheita de 1958 havia sido muito boa talvez por esse motivo o Grande Salto era visto com otimismo A euforia durou algum tempo pelo menos enquanto os estoques estavam cheios Mas as colheitas de 1959 e 1960 foram 25 menores e a oferta de alimentos diminuiu Em 1960 o campo enfrentava problemas sérios A produção de alimentos caiu radialmente e os sistemas de distribuição e transportes na zona rural se desorganizaram Por fim os comunistas que se van gloriavam de terem erradicado a pobreza foram os responsáveis por uma das piores ondas de fome da história Entre dez e quinze milhões de pessoas foram afetadas e Pequim em pânico mandou 30 milhões de cidadãos das cidades para o campo por não ter como alimentálos16 Assim o governo recorreu de volta a formas mais modestas de organização agrícola A comuna média foi dívida em três e reduz ida a praticamente uma unidade administrativa O governo con fiou o controle da terra e do cultivo a grupos de produção forma dos por 20 a 40 casas em geral de uma única família clãs As propriedades privadas familiares foram restabelecidas com mais liberdade de trabalho para pequenos negócios privados artes anato comércio serviços de conserto com o propósito de ajudar os agricultores a equilibrar o orçamento Algumas áreas até reto maram o cultivo individual17 O governo também passou a enfatiz ar o fornecimento de alimentos concentrando máquinas sistem as de irrigação e fertilizantes nas regiões mais produtivas O movi mento em direção aos mercados foi retomado e a ênfase nas áreas produtivas aumentou a desigualdade entre os agricultores pobres e os ricos A liderança comunista não ficou satisfeita com a 494832 situação mas a igualdade imposta de forma radical mostrouse desastrosa A batalha não havia terminado Em 1966 Mao Tsétung e seus seguidores tentaram frear o curso reformista da política econôm ica A Grande Revolução Cultural Proletária como veio a ser cha mada empurrou a economia para um caminho mais revolu cionário Os radicais eram contra os tecnocratas e especialistas sem ideologia contra as grandes diferenças salariais entre trabal hadores qualificados e não qualificados e contra a desigualdade no campo Alegavam que o rumo mais moderado adotado pelo país no início da década de 1960 estava pondo a China no cam inho capitalista dos revisionistas soviéticos com os quais os chineses haviam rompido A Revolução Cultural fragmentou o país gerando conflitos entre grupos incluindo batalhas armadas entre defensores e opositores de ideias políticas Os conflitos afetaram a economia e a incerteza tanto quanto à política econ ômica refreou o crescimento Dessa forma no início da década de 1970 embora a Revolução Cultural ainda estivesse oficialmente em curso o governo tomou um rumo mais moderado semelhante ao do início da década de 1960 As grandes flutuações da política econômica causaram estra gos Do início da revolução ao fim do primeiro plano quinquenal o PIB per capita cresceu impressionantes 57 Por cinco de sastrosos anos o Grande Salto diminuiu a produção em 25 Durante o período de contenção de gastos de 1962 a 1966 o cres cimento aumentou mais uma vez atingindo 43 caiu 12 nos primeiros três anos da Revolução Cultural Quando a revolução perdeu força entre 1968 a 1973 a economia voltou a crescer fic ando 13 maior Apesar dos altos e baixos no geral o crescimento per capita da economia chinesa era em média de 29 ao ano semelhante ao de outras nações em desenvolvimento e em partic ular ao da Índia Mas tal comparação mascarava as oportunid ades perdidas já que da mesma forma que os países menos 495832 desenvolvidos a Índia crescia lentamente Se a China tivesse con seguido manter a mesma taxa de crescimento que teve de 1950 a 1958 em 1973 o país seria quase três vezes mais rico que a Índia e duas vezes mais rico do que de fato era com quase a mesma renda per capita de Taiwan e da Coreia do Sul18 Os conflitos entre diferentes facções e os choques e desvios da política econômica chinesa diminuíram o alcance do extraordinário sucesso desen volvimentista vivido pela maior parte do Leste Asiático Os altos e baixos eram resultado de tensões básicas da so ciedade chinesa A tentativa de acelerar o crescimento econômico aumentou a desigualdade entre regiões grupos e classes fato que não condizia com os objetivos comunistas e os interesses de al guns dos mais influentes defensores do regime Mas os esforços para uma transformação social radical deprimiram a economia e como as condições da China eram quase de subsistência o país não podia se arriscar dessa maneira Os moderados advogavam pelas necessidades econômicas de um país extremamente pobre os radicais lutavam pelos objetivos utópicos de sua tradição revolucionária Teria sido possível lidar com pequenas doses de ambos os elementos Em vez disso a China oscilava entre os dois extremos Não obstante no início da década de 1970 o governo chinês conseguiu alguns feitos importantes O crescimento econômico do país não se comparava ao de seus vizinhos do Leste Asiático mas também não era tão lento quanto o da Índia capitalista A situação social melhorou de forma substancial em termos de saúde edu cação e nutrição A China estava longe de ser um símbolo absoluto do sucesso socialista mas a experiência vivida pela nação foi sufi cientemente positiva para que o regime continuasse atraente para outros países na Ásia África e América Latina Socialismo no Terceiro Mundo 496832 O exemplo chinês assim como as experiências do Vietnã e da Cor eia inspirou muitos na Ásia e na África O Vietnã do Norte era ad mirado pela obstinação na interminável guerra que libertou o país do domínio colonial A disposição mostrada pelo Vietnã um país pequeno e atrasado em confrontar a superpotência norteameric ana plantou a semente do socialismo nos países pobres Muitos no Terceiro Mundo se ressentiam do notório desdém ou mesmo hos tilidade dos Estados Unidos à causa do desenvolvimento econ ômico A Coreia do Norte exercia uma influência semelhante e o país foi relativamente bemsucedido com a industrialização autár quica No início da década de 1970 muitos países asiáticos e africanos se aliaram à URSS ou à China e de forma geral apoiavam o caminho socialista apesar de nem sempre imitarem completamente os regimes chinês e soviético Os movimentos de liberação das colônias portuguesas na África na Rodésia e na África do Sul também se identificaram com a URSS ou a China Sem dúvida parte desse movimento pode ser explicada pela ali ança oportunista com o inimigo de seu inimigo pois acreditavase que os regimes africanos brancos uma minoria no continente contavam com o apoio ativo ou passivo do Ocidente No entanto também era forte a ideia de que o socialismo era apropriado às condições do subdesenvolvimento A experiência socialista que mais mexeu com a imaginação do mundo em desenvolvimento contudo se passou no lugar mais improvável Com a Revolução Cubana o socialismo conseguiu um pequeno espaço de influência na casa de força do capitalismo mundial no playground da classe alta norteamericana longe do centro do poder comunista da Eurásia A audácia cubana em en frentar os Estados Unidos seu fervor revolucionário e feitos im pressionaram milhões de pessoas na América Latina na África na Ásia e até no mundo industrializado Cuba era uma possessão norteamericana formal ou informal desde 1898 quando as tropas dos Estados Unidos derrotaram os 497832 espanhóis Na década de 1950 a situação econômica da ilha era confortável levandose em conta os padrões latinoamericanos Nem tão rico quanto a Argentina nem tão pobre quanto o Brasil ou o México o país se parecia com o Chile Mas para muitos Cuba parecia ser uma paródia grotesca do desenvolvimento A corrupção de seus líderes políticos somavase à decadência dos hotéis cassinos e bordéis de Havana Com exceção do turismo Cuba dependia do setor açucareiro que em grande parte perten cia aos norteamericanos e precisava contar com o acesso privile giado aos mercados dos Estados Unidos A dependência do país em relação a Washington deve ter enriquecido muitos cubanos mas não aliviou a pobreza extrema de outros como os agri cultores sem terra ou os moradores das favelas que cercavam o país A ostentação da riqueza em meio à pobreza à dependência e ao nacionalismo gerou um ressentimento crônico contra a classe que exercia o domínio e seus protetores norteamericanos Fidel Castro e seus mil aliados entraram em Havana no dia 1º de janeiro de 1959 sem encontrar qualquer resistência fato ex plicado pelos 20 anos de má gestão e brutalidade do governo de Fulgêncio Batista Os cubanos que apoiavam Fidel num primeiro momento quase todos desejavam algo simples a in dependência da nação crescimento diversificação da economia para além do açúcar e redução da desigualdade O empenho do regime revolucionário em atingir esses objetivos logo levou a me didas extremas e em seguida à adoção completa do comunismo O radicalismo talvez tivesse sido inevitável quando o governo tentou reduzir a dependência estrangeira e a desigualdade foi de encontro aos poderosos interesses norteamericanos e a única fonte de apoio parecia ser a URSS Desagradar aos norteamer icanos era bastante preocupante à luz da recente experiência da Guatemala onde em 1954 os Estados Unidos destituíram um gov erno eleito democraticamente que havia adotado medidas apenas um tanto nacionalistas 498832 Em 1961 o governo cubano já havia implementado uma ampla reforma agrária nacionalizado grande parte do setor privado começado a adotar a planificação econômica oficializado o Partido Comunista e se aliado à União Soviética Durante a década seguinte a política econômica oscilou entre o estilo so viético e o chinês O problema foi o mesmo que o da China O gov erno cubano queria industrializar o país reduzir a importância do açúcar e das exportações além de desejar um crescimento rápido e mais igualdade No entanto a tentativa de tirar a economia da agricultura tropical e lançála na indústria moderna desacelerou o crescimento principalmente depois de a expropriação de empres as estrangeiras ter privado o país do capital e de tecnologia do Ocidente Do mesmo modo medidas para reduzir a desigualdade entre grupos e regiões diminuíram o crescimento tanto pela perda de motivação dos produtores quanto pela emigração de centenas de milhares de cubanos altamente qualificados A realid ade parecia indicar que industrialização independência econôm ica e mais igualdade levavam a uma economia estagnada ao passo que um rápido crescimento econômico significava aceitar um sistema agrário de base açucareira e uma redução apenas gradual da desigualdade Em 1970 após dez anos de choques e mudanças políticas o governo cubano ganhou estabilidade e adotou uma versão própria da planificação econômica soviética para atingir seus objetivos de forma equilibrada A transformação econômica radical foi abrandada e a diversificação da economia contando com uma substancial ajuda técnica e financeira da União Soviética passou a ser gradual O governo começou a aceitar que houvesse uma certa desigualdade entre regiões classes e grupos apesar do re gime revolucionário oferecer uma série de serviços sociais para a população Embora os dez anos de experimentações tenham sac rificado o crescimento econômico e a popularidade do governo o primeiro país socialista das Américas começava a prosperar19 499832 O fato de o socialismo em Cuba no Vietnã na Coreia e na Ch ina parecer capaz de solucionar alguns problemas sérios acabou impressionando O socialismo certamente sacrificava a liberdade econômica e política mas no mundo em desenvolvimento não comunista também quase não existiam democracias China Cuba e outras nações socialistas pobres não eliminaram os problemas enfrentados pelos países em desenvolvimento em um passe de mágica Os governos continuavam se deparando com escolhas di fíceis campo ou cidade indústria ou agricultura serviços sociais ou investimentos produtivos crescimento ou igualdade No ent anto uma ou duas décadas após suas revoluções esses países haviam erradicado as enormes disparidades de renda e riqueza como as que existiam na Índia ou no Brasil Além disso a fome e a má nutrição desapareceram com a exceção do fiasco do Grande Salto para Frente A saúde a educação e outros serviços sociais eram bem melhores do que nos países capitalistas de grau semel hante de desenvolvimento As nações socialistas optaram pela igualdade e diversificação econômica às custas da especialização e do crescimento rápido Os resultados impressionaram muitos dos insatisfeitos com a desigualdade gritante gerada pelo desenvolvi mento capitalista Um futuro socialista Após 1948 ao longo de 25 anos as economias planificadas foram muito bem A União Soviética e a Europa oriental cresceram mais rápido que a Europa ocidental a China cresceu mais rápido que a Índia Na Bulgária e na Romênia o produto por pessoa cresceu mais de três vezes entre 1950 e 1973 em toda a Europa apenas Portugal Espanha e Grécia tiveram um crescimento mais acel erado Países onde o campo e a agricultura predominavam tornaramse urbanos e industriais As sociedades atrasadas da 500832 Europa oriental se transformaram de forma especialmente dramática Na Bulgária em 1948 82 da população era formada por produtores agrícolas mais de dez para cada operário 25 anos depois havia mais trabalhadores que agricultores e a parcela da economia destinada à indústria tinha mais que triplicado Pratica mente não existiam fábricas na Romênia antes da Segunda Guerra Mundial mas no início da década de 1970 o país já produzia sete milhões de toneladas de aço por ano e exportava o suficiente para preocupar os produtores dos Estados Unidos e da Europa ocidental20 Rápido crescimento e transformação social vieram acompan hados por serviços como saúde e educação bem melhores O analfabetismo foi praticamente erradicado inclusive na China O atendimento médico era gratuito e acessível Em muitos países socialistas o número de médicos e leitos hospitalares por habit ante era maior que em várias nações capitalistas industrializadas A mortalidade infantil caiu vertiginosamente atingindo índices às vezes bem menores que de países mais ricos em 1970 a taxa era menor na Tchecoslováquia que na Áustria menor na Bulgária que na Grécia menor na Alemanha Oriental que na ocidental A ex pectativa de vida aumentou e a renda tornouse menos desigual No início da década de 1970 o comunismo reinava absoluto tanto no maior país do mundo quanto no mais populoso Apesar do conturbado rompimento entre China e URSS as perspectivas para o socialismo pareciam boas As reformas na planificação eco nômica soviética melhoraram a qualidade de vida A China se es tabilizou e cresceu Dezenas de nações pobres e movimentos de libertação se consideravam membros da esfera socialista A planificação econômica socialista que num primeiro mo mento parecia ser uma estratégia temporária enquanto a União Soviética se preparava para lutar contra os invasores estrangeiros se estabeleceu como uma ordem econômica alternativa Rejeitava a integração econômica e os mercados Também representava 501832 uma opção viável para os países que tentavam se desenvolver de forma rápida e equitativa e até mesmo para os países ricos que desejassem evitar a incerteza e a desigualdade capitalista O capit alismo parecia exigir sacrifícios sociais para acelerar a industrial ização mas as economias planificadas estavam conseguindo o crescimento econômico e a igualdade social Karl Marx certa mente não vislumbrara uma área socialista formada principal mente por países pobres e Vladimir Lênin teria ficado decepcion ado em saber que as únicas regiões desenvolvidas sob governos comunistas haviam sido anexadas por meios militares O comun ismo governava 13 do planeta e contava com milhões de adeptos a Modelo de comunismo diferente do stalinismo clássico primeiramente adotado pela Hungria como sugere o próprio nome uma referência ao prato típico húngaro NT 502832 15 O fim de Bretton Woods Em uma sextafeira 13 de agosto de 1971 Richard Nixon e sua equipe econômica saíram de Washington rumo à residência pres idencial de Camp David William Safire o responsável pelos dis cursos do presidente seguiu para o heliporto no mesmo carro em que Herbert Stein membro do Conselho de Assessores Econômi cos da Casa Branca Quando Safire perguntou sobre o que seria a reunião Stein respondeu de forma criptográfica Esse pode ser o fim de semana mais importante da história da economia desde 4 de março de 1933 Safire que tinha pouca experiência em assun tos econômicos se esforçou para entender a referência e arriscou um palpite Estamos fechando os bancos perguntou referindo se ao feriado bancário decretado por Franklin Roosevelt no pior momento da depressão econômica Stein riu e disse Certamente não Mas não me surpreenderia se em breve o presidente fechar a janela do ouro A resposta não ajudou Safire mas durante a viagem de helicóptero até Camp David ele se deu conta da seriedade da reunião Um funcionário do Tesouro que os acom panhava quando informado do que aconteceria inclinouse para frente pôs a cabeça entre as mãos e sussurrou Meu Deus1 O assunto em Camp David era se a decisão econômica mais importante do pósguerra deveria ser tomada Fechar a janela do ouro e libertar o dólar norteamericano da paridade fixa no met al Nos mercados de câmbio do mundo os investidores atacavam o dólar se desfaziam da moeda por acreditar que o presidente Nix on a desvalorizaria Quando Nixon e seus assessores econômicos se reuniram o secretário do Tesouro John Connally introduziu o assunto Qual a nossa questão mais urgente Estamos reunidos aqui porque enfrentamos problemas no exterior Os britânicos vi eram hoje nos pedir para cobrir um rombo de US 3 bilhões to das as reservas deles em dólares Sob a ordem monetária de Bretton Woods os outros governos podiam trocar dólares por ouro Quando achavam que o dólar iria se desvalorizar o seu valor em ouro reduzido fazia sentido do ponto de vista fin anceiro que se desfizessem da maior quantidade possível de dólares Qualquer um pode nos arruinar quando quiser disse Conally Ficamos completamente expostos Os Estados Unidos podiam impedir a venda generalizada da moeda mas para defendêla precisariam aumentar os juros cor tar gastos controlar lucros e salários e levar a economia à re cessão Nenhum governo ficaria satisfeito diante de tais per spectivas e a memória política de Richard Nixon tornouo partic ularmente pouco disposto a arrochar a política econômica Nixon atribuía sua derrota para John F Kennedy nas eleições presiden ciais de 1960 por uma margem pequena de votos à política do FED de aumentar a taxa de desemprego para defender o dólar Ele lembrava bem do impacto dessa política que causou recessão Todos os discursos transmissões televisivas e campanhas eleito rais do mundo não conseguiriam reverter esse único e duro fato2 Sobre tal experiência Nixon disse de maneira sarcástica Ac almamos a economia e ao mesmo tempo acalmamos 15 senadores e 60 membros do Congresso3 Com a aproximação do ano eleit oral a administração se opôs ao aumento da taxa de juros como forma de tornar o dólar mais atraente para os investidores 504832 A posição comercial do país também aumentou a pressão pela desvalorização Os preços nos Estados Unidos subiam mais rápido que no exterior Os estrangeiros passaram a importar menos dos Estados Unidos enquanto os norteamericanos com pravam mais de fora As importações cresceram duas vezes mais rápido que as exportações e em 1968 o país importava mais automóveis do que exportava um golpe duro para o que havia sido o principal produto exportador do país A AFLCIOa que sempre defendeu o livrecomércio voltouse para o protecion ismo Duas leis comerciais protecionistas chegaram mais perto da aprovação do Congresso que qualquer legislação do tipo desde a Tarifa SmootHawley de 1930 Em 1971 os Estados Unidos im portavam mais que exportavam o primeiro déficit comercial do país do qual se tem noticia Um dólar forte significava produtos norteamericanos caros que por sua vez gerava uma pressão com petitiva entre os fabricantes do país Os 30 anos de compromisso com a ordem monetária de Bretton Woods estiveram em desacordo com essas questões domésticas Se os Estados Unidos não defendessem o dólar teri am de romper o laço com o ouro e desvalorizálo Tal fato acabaria com o sistema de Bretton Woods o núcleo da economia internacional Todos à mesa de negociações em Camp David sabiam do con flito existente entre interesses econômicos internacionais e polít ica doméstica Peter Peterson aconselhou o presidente a se con centrar na forma como a desvalorização do dólar poderia proteger as empresas norteamericanas das importações Nos tornemos competitivos Os empresários vão gostar Paul Volcker na ocasião subsecretário do Tesouro lembrou que o ouro nunca fora popular do ponto de vista político e se referiu ao discurso anti ouro de 1896 feito por William Jennings Bryan Há uma certa preocupação da opinião pública quanto a uma cruz de ouro 505832 Desconfiado desse último argumento Nixon fez uma careta e disse Brian disputou quatro eleições e perdeu Arthur Burns presidente do Conselho do FED era o mais lig ado a Wall Street entre todos os presentes Burns relutava em abandonar o ouro e tomou o argumento dos mercados financeiros a favor da manutenção do sistema monetário que tanto os benefi ciou Safire registrou o dialogo BURNS Mas todos os outros países sabem que nunca agimos contra eles A boa vontade CONNALLY Vamos falir com a boa vontade deles nas mãos Por que temos de ser sensatos BURNS Eles podem nos retaliar CONNALLY Deixe que o façam O que eles podem fazer BURNS Eles são poderosos São orgulhosos tanto quanto nós CONNALLY Não temos saída a menos que tomemos uma atit ude Nossos ativos se esvaem nos contêineres de grãos Você está nas mãos dos que trocam dinheiro Você verá que esse ato nos trará uma posição mais competitiva BURNS Posso falar pelos que trocam dinheiro Os presidentes dos Bancos Centrais são importantes para você4 A súplica de Burns pelas obrigações do país com a economia internacional não convenceu Nixon O argumento de Burns talvez tenha sido enfraquecido pelos desentendimentos entre a adminis tração e o FED durante grande parte do ano anterior Burns insis tia na adoção de medidas mais austeras e por um controle maior da inflação enquanto o presidente resistia a políticas que pudessem desacelerar a economia Como Nixon ignorou o argu mento de Burns os especialistas ironizaram Nixon brinca en quanto Burns passeia5b Os imperativos políticos domésticos se sobrepuseram aos compromissos internacionais e em 15 de agosto de 1971 Richard Nixon retirou o dólar do ouro Nos meses seguintes o dólar caiu cerca de 10 Nixon reforçou o impacto da desvalorização 506832 impondo uma taxa de 10 sobre as importações para proteger os produtores norteamericanos além de ter introduzido controles sobre salários e preços Embora as principais potências econôm icas tenham se esforçado para reformar o sistema de Bretton Woods em 1973 a administração Nixon mais uma vez desvalori zou o dólar em 10 A balança comercial voltou a ser favorável a economia recuperou a velocidade e o desemprego diminuiu Bretton Woods no entanto não existia mais A equipe do FMI circulou uma nota de obituário na sede do fundo em Washington Descanse em paz É com pesar que informamos a morte inesper ada após longa doença de Bretton Woods ocorrida às 9h da manhã do último domingo Bretton Woods nasceu em New Hampshire em 1944 e morreu alguns dias após completar 27 anos O ataque fatal aconteceu este mês quando parasitas con hecidos como especuladores causaram o inchaço de seu órgão mais importante levando à ruptura de seu elemento vital a convertibilidade dólarouro6 Após quase 30 anos o equilíbrio entre questões nacionais e integração econômica internacional fracassou O compromisso se desfaz O início da década de 1970 foi o principal divisor de águas para a economia mundial do pósguerra Quase todas as nações industri alizadas economias planificadas ricas e pobres países em desen volvimento e excolônias cresceram de modo rápido e contínuo A prosperidade reinava nos Estados capitalistas avançados o que desafiava as perspectivas traçadas por muitos nos anos entreguer ras satisfazendo mercados e reformas sociais questões domésticas e internacionais capitalistas e trabalhadores O sistema de Bretton Woods combinava liberdade para lidar com questões domésticas e integração econômica internacional O 507832 compromisso estimulou o comércio os investimentos e as fin anças internacionais cujo sucesso mais tarde arruinou os próprios acordos Os laços econômicos cada vez mais fortes entre os países geraram a ideia de que a economia mundial restringia as políticas nacionais Além disso criaram também a ideia oposta de que ficar preso aos objetivos nacionais limitava o desenvolvi mento dos mercados globais O maior desafiou veio da frente monetária e foi imposto ao padrãoourodólar o núcleo da ordem pósguerra Atacou o cor ação do sistema forçando o governo norteamericano a optar entre as obrigações internacionais e os objetivos domésticos7 Sob o sistema de Bretton Woods o ouro estava fixado na moeda norteamericana a uma taxa de US35 por onça do metal en quanto as outras moedas fixavamse no dólar Os governos eram desestimulados a interferir em suas taxas de câmbio mesmo quando desejassem fazêlo por exemplo para desvalorizar a moeda nacional e tornar os produtos domésticos mais competit ivos em relação aos estrangeiros Durante cerca de 20 anos após a Segunda Guerra Mundial não se exigia que essa regra fosse seguida à risca Outros governos além do norteamericano po diam modificar suas taxas de câmbio sem provocar distúrbios no sistema e a maioria dos países industrializados desvalorizou ou revalorizou sua moeda em algum momento o Canadá fez até com que seu dólar flutuasse em relação ao norteamericano E mesmo se não desvalorizassem os governos poderiam interferir na taxa de câmbio para modificar as condições locais Se a França por ex emplo estivesse passando por uma recessão o Banco Central tinha a opção de diminuir os juros no país para estimular a economia O sistema foi arruinado por dois aspectos ambos resultados do sucesso de Bretton Woods O primeiro foi a restauração das finanças internacionais O fato teve importância porque a dormência dos fluxos financeiros internacionais foi uma das 508832 razões pelas quais os governos continuavam capazes de manejar suas próprias políticas monetárias Caso os mercados financeiros estivessem ativos nas décadas de 1950 e 1960 juros menores na França do que na Alemanha teriam levado os investidores a retir ar o dinheiro de Paris e a mandálo a Frankfurt em reação à me dida No entanto quase não havia fluxos monetários de curto prazo em parte devido ao trauma da década de 1930 em parte em razão da proliferação de oportunidades domésticas e em parte por causa do controle de capitais Assim a situação monetária de um país estava protegida do que acontecia nas outras nações e os governos ganharam uma certa independência para a imple mentação de medidas macroeconômicas Os mercados financeiros do mundo foram reanimados no decorrer da década de 1960 No início dos anos 1970 o sistema financeiro global possuía cerca de US165 bilhões e os empréstimos internacionais chegavam a US35 bilhões ao ano Nesse momento os investidores de curto prazo especuladores para usar um termo mais coloquial po deriam movimentar dinheiro em resposta às diferentes condições monetárias nacionais e ameaçar a independência das políticas macroeconômicas internas A primeira mudança contribuiu para que a segunda ocorresse a pressão sobre o dólar norteamericano Isso também foi função do sucesso do sistema uma vez que foi amplamente causado pela crescente importância econômica da Europa ocidental e do Japão Enquanto os Estados Unidos dominavam a economia ninguém questionava a confiabilidade da moeda norteamericana Mas com o encolhimento da parcela norteamericana na economia mundial divergências entre as condições monetárias dos Estados Unidos e as de seus parceiros tornaramse inviáveis Investidores ao redor do mundo começaram a duvidar do comprometimento do governo norteamericano com a taxa de câmbio do país O sis tema de Bretton Woods sobreviveria a desvalorizações es porádicas mas o mesmo não se aplicava ao dólar A base do 509832 padrãoouro era o metal o sistema de Bretton Woods tinha como base um dólar atrelado ao ouro e para o governo dos Estados Un idos estava difícil manter o valor da moeda Sustentar o dólar exi gia que o país cumprisse com suas obrigações internacionais e os norteamericanos não estavam acostumados a subordinar questões internas aos mercados internacionais O problema surgiu pela primeira vez em 1959 e 1960 quando um déficit na balança de pagamentos norteamericana gerou uma perda de confiança no dólar O Federal Reserve subiu os juros com o objetivo de aumentar a demanda estrangeira por dólares fato que levou o país a uma recessão e cujos efeitos políticos fo ram lembrados por Nixon 30 anos mais tarde Pela primeira vez desde a década de 1930 a política monetária norteamericana sacrificou os objetivos nacionais pelos internacionais nesse caso passando por uma recessão para defender o dólar À medida que a década de 1960 avançava o problema se agravava pelas duas guerras enfrentadas pelo país a do Vietnã e o grande aumento dos gastos sociais conhecidos como Guerra à Pobreza Nenhuma das duas era completamente popular e as adminis trações de Lyndon Johnson e Richard Nixon recorreram aos gas tos deficitários Com isso a inflação nos Estados Unidos tornou se significativamente mais alta do que na maioria das nações par ceiras do país O resultado foi uma apreciação real do dólar um fortaleci mento artificial da moeda norteamericana A taxa de câmbio do dólar seu preço expresso em outras moedas tornarase con stante enquanto os preços norteamericanos subiam Isso signi ficava que os estrangeiros podiam comprar menos com os dólares que tinham Pelas regras de Bretton Woods os estrangeiros tin ham de aceitar o dólar como se a moeda valesse 13 de uma onça de ouro ou quatro marcos alemães ou cinco francos mas na real idade valia bem menos que isso 10 ou 15 a menos segundo al guns cálculos Tal fato era positivo para os norteamericanos em 510832 muitos aspectos Com o dólar forte podiam comprar mais produtos estrangeiros investir no exterior gastando menos e viajar mais para fora do país Em 1971 os norteamericanos im portaram duas vezes mais produtos manufaturados e investiram duas vezes mais no exterior do que haviam feito em 1967 en quanto o número de viagens para o exterior feitas por norte americanos mais do que dobrou Com o dólar artificialmente mais forte o governo conseguia cumprir com suas obrigações de polít ica internacional E o sistema de Bretton Woods não dava outra escolha aos estrangeiros a não ser aceitar esses dólares A apreciação real do dólarc trouxe vantagens para os norte americanos mas ameaçou Bretton Woods O sistema monetário dependia de um dólar que fosse tão bom quanto o ouro mas o desgaste do valor real da moeda causado pela inflação fez com que os estrangeiros relutassem em ficar com ela uma vez que seu poder de compra diminuiu Em vez disso os estrangeiros utiliz aram o nada confiável dólar para comprar o confiável ouro De 1961 a 1968 investidores e governos estrangeiros trocaram US7 bilhões tomando cerca de 40 das reservas de ouro dos Estados Unidos Os franceses em particular criticavam a posição privile giada dos Estados Unidos Charles de Gaulle reclamou de forma enfática sobre o uso pelos Estados Unidos dos dólares que a pró pria nação podia emitir em vez de pagar integralmente com ouro o qual tinha um valor real o qual precisava ser ganho para se tor nar uma posse e o qual não podia ser repassado para outros sem riscos e sacrifícios8 De fato os franceses compraram cerca de US3 bilhões de dólares dos US7 bilhões retirados das reservas de ouro norteamericanas As principais potências financeiras se uniram para tentar pro teger a moeda vendendo ouro e comprando dólares de forma a el evar o valor do dinheiro norteamericano Os Estados Unidos im puseram controles de capitais impostos sobre investimentos norteamericanos no exterior para conter a saída de dólares Mas 511832 havia uma imensa quantidade de gente querendo se livrar de uma imensa quantidade de dólares Em meados de março do ano de 1968 no auge da crise US400 milhões foram apresentados para troca Ficou caro demais proteger o preço do ourodólar e as prin cipais potências autorizaram um mercado privado a tomar conta do caso junto com o mercado oficial no qual o dólar era nego ciado apenas no câmbio preestabelecido US35 por onça de ouro O problema contudo continuaria enquanto o dólar não voltasse a ser considerado confiável O presidente francês Georges Pomp idou reclamou Não podemos manter para sempre como nossa base monetária e padrão de comparação uma moeda nacional que perde constantemente o seu valor Não se pode esperar que o resto do mundo organize a vida com base em um relógio sempre atrasado9 Enquanto todos ao redor do mundo perdiam a confiança no dólar e o trocavam por ouro as medidas temporárias não surtiri am efeito Não havia ouro suficiente no planeta muito menos nos Estados Unidos para ser trocado por todos os dólares exist entes Em algum momento os Estados Unidos ficariam sem dólares e a promessa de que a moeda era tão boa quanto o metal não se cumpriria A única solução possível seria a imposição de uma política econômica austera no país para que o poder de com pra do dólar fosse retomado Essa medida imporia reduções aos preços do país e subiria o valor real do dólar para que a moeda re cuperasse o valor oficial Outra opção para as autoridades norte americanas seria aumentar as taxas de juros para que a moeda voltasse a ser atraente para os estrangeiros Caso o FED aumen tasse a taxa de juros em dois ou três pontos percentuais provavel mente os investidores comprariam mais títulos norteamericanos aumentando a demanda por dólares e sustentando o valor da moeda Nenhuma das medidas foi aceita pelo governo Nixon dur ante a corrida eleitoral de 1972 512832 A ordem monetária de Bretton Woods entrou em colapso devido a razões políticas não técnicas O sistema ourodólar era politicamente atraente por estabilizar moedas e por estimular o comércio e os investimentos sem grandes amarras para os gov ernos nacionais À medida que a economia internacional se integ rava o sistema se tornava mais parecido com o do padrãoouro Os governos precisavam moldar suas políticas domésticas para acomodar a taxa de câmbio sacrificando os objetivos nacionais pela sustentação do valor internacional da moeda Não havia mis tério em como fazer isso se os preços domésticos subissem e tor nassem a moeda supervalorizada eles teriam que ser puxados para baixo com o aumento da taxa de juros o corte dos gastos do governo e a redução do consumo Para um governo a importância relativa da estabilidade cam bial e da independência em formular políticas determinava se os sacrifícios valiam a pena Bancos empresas e investidores que perderiam com as alterações no valor das moedas apoiavam a austeridade Por outro lado trabalhadores e empresas cujos empregos e lucros seriam cortados em nome do câmbio se opun ham pedindo uma taxa de câmbio que não tivesse grandes con sequências para eles Em economias muito abertas nas quais grande parte da população está envolvida com o comércio e os in vestimentos internacionais a adoção de medidas austeras para a sustentação do câmbio era em geral defendida No entanto os Estados Unidos eram relativamente fechados mesmo com a ex pansão do período pósguerra o comércio internacional corres pondia a menos de 10 da economia e os eleitores nunca iriam priorizar a ordem monetária internacional em detrimento da prosperidade doméstica O governo norteamericano simples mente não estava disposto a encolher sua economia por causa das obrigações cambiais exigidas pela ordem de Bretton Woods e portanto optou pelo fim do sistema 513832 Desafios ao comércio e aos investimentos Os mesmos fatores políticos que desafiaram o sistema monetário também ameaçaram o comércio e os investimentos internacion ais Da mesma forma como o sucesso de Bretton Woods acelerou o seu próprio fim o crescimento extraordinário do comércio e dos investimentos diretos estrangeiros suscitou debates que puseram em xeque seu futuro A liberalização do comércio no pósguerra causou um impacto particularmente grande na Europa ocidental e no Japão regiões que após 30 anos de protecionismo emergiram prontas para se beneficiar dos mercados norteamericanos e mundiais Lançaramse com sucesso nas exportações em 1973 o comércio se tornou duas vezes mais importante para a Europa ocidental do que era em 1950 e quatro vezes ainda mais importante para o Japão Grande parte da prosperidade desses anos dependia do desenvolvimento da tecnologia de ganhos de escala e de outras possibilidades de um mercado mundial em crescimento O surgimento do Japão como potência exportadora foi espe cialmente impressionante Em 1950 o país exportava menos de 112 do que os Estados Unidos vendia para fora Enquanto em 1950 as exportações japonesas eram basicamente de bens de tra balho intensivo como roupas e brinquedos no fim da década de 1960 o Japão havia se tornado uma força no mercado mundial de produtos industriais sofisticados A capacidade do país de produzir aço aumentou de um milhão de toneladas em 1950 para 117 milhões de toneladas em 1974 quando a maior usina do país havia alcançado a metade do tamanho da US Steel A produção japonesa por trabalhador na indústria automotiva em 1950 cor respondia a 110 da produção norteamericana e a 13 da europeia Em 1973 a produtividade dos trabalhadores japoneses havia se tornado quase igual a dos norteamericanos e havia do brado em relação à dos europeus Os produtores japoneses de aço 514832 carros e maquinário tornaramse os principais competidores nos mercados estrangeiros em especial na América do Norte10 As exportações de um país contudo são as importações de outros E enquanto o comércio de café entre Colômbia e Ale manha por exemplo se desenvolve sem controvérsias os cafei cultores colombianos não competiam com os alemães o comér cio de automóveis ou televisores gerava ressentimentos Os alemães italianos japoneses e outros que exportavam mercadori as baratas como produtos têxteis aço roupas e máquinas para outros países eram uma dádiva para os consumidores e um atraso para os produtores com os quais competiam Um dos principais campos de batalha assim como ocorrera em relação ao padrão ouro localizavase dentro dos Estados Unidos À medida que mais aço produtos têxteis calçados e roupas europeias e japone sas entravam no país mais os produtores norteamericanos lutavam por proteção Os membros do Gatt haviam concordado em não aumentar as tarifas sobre produtos não agrícolas de forma que aqueles que desejassem se proteger da competição estrangeira precisariam en contrar outra maneira Uma delas seria acusar os vendedores es trangeiros de dumping a venda de um produto abaixo dos cus tos de produção visando à conquista de mercados A prática era contra as regras do Gatt e os países podiam cobrar impostos espe ciais sobre esses produtos Mas com frequência dumping era um conceito relativo o dumping de uma empresa significava o em penho competitivo de outra e as reclamações contra a prática em geral eram exigências protecionistas Outra forma inovadora de afastar as importações seria con vencer os produtores a restringir suas próprias vendas como fez os Estados Unidos em 1968 ao conseguir que os produtores de aço japoneses e europeus limitassem suas exportações para os mercados norteamericanos No entanto por que os produtores estrangeiros aceitariam essas Restrições Voluntárias às 515832 Exportações RVE ou VER em inglês Por vezes as indústrias afetadas pela concorrência usavam de retaliações ameaças anti dumping ou outras punições As mesmas também podiam ofere cer a vantagem de lucros altos para os próprios estrangeiros com partilhando do benefício da proteção com os produtores do exteri or Restrições às exportações limitavam a oferta e assim os preços dos produtos norteamericanos se mantinham altos esta foi sobretudo a razão pela qual os fabricantes dos Estados Unidos queriam afastar as importações Os preços mais altos dos produtos norteamericanos permitiam que os estrangeiros e tam bém os próprios norteamericanos vendessem mais caro nos mercados dos Estados Unidos No fim até os produtores es trangeiros podiam cobrar mais por uma quantidade menor Basicamente as RVEs formavam um cartel entre os produtores dos Estados Unidos e os estrangeiros para manter os preços norteamericanos acima do valor do mercado mundial As novas Barreiras Não Tarifárias BTNs exigências anti dumping restrições voluntárias às exportações e outros métodos não reverteram os efeitos da liberalização anterior mas indi caram que o equilíbrio de forças políticas se modificava na direção de um novo protecionismo Isso se aplicava em especial aos Estados Unidos Havia um amplo consenso em relação a um comércio mais livre principalmente entre as grandes empresas e o movimento trabalhista Muitas das grandes corporações e dos grandes sindicatos pertenciam às principais indústrias exporta doras carros aço borracha maquinário Contudo como esses setores passaram a enfrentar uma competição mais ampla nos mercados domésticos e mundiais seus trabalhadores e capital se voltaram para o protecionismo O liberalismo da ordem comercial pósguerra surgiu devido à pressão norteamericana e a procura dos Estados Unidos por proteção seria capaz de reverter o curso da integração global do comércio 516832 Havia um descontentamento semelhante em relação ao invest imento direto estrangeiro Durante muitos anos após a Segunda Guerra Mundial as empresas multinacionais EMNs em geral foram bemvistas Elas levavam consigo capital produtos mod ernos e técnicas administrativas Tipicamente pertenciam a in dústrias avançadas Na verdade a América Latina sempre difer enciou os investimentos ruins dos britânicos de antes de 1930 minas plantações ferrovias empréstimos a governos dos bons investimentos dos norteamericanos em fábricas mod ernas Diferentemente dos empréstimos internacionais do pas sado o investimento direto estrangeiro não gerava obrigações para os formuladores de políticas nacionais Os governos não dav am qualquer garantia de lucro a empresas estrangeiras As EMNs talvez ficassem com todo o lucro mas assumiam todo o risco e traziam tecnologia capital e empregos No início de 1970 havia US200 bilhões em IEDs a serem recebidos com dezenas de bil hões de dólares e novos investimentos a cada ano Como as empresas estrangeiras cresciam o mesmo ocorria com as objeções ao seu impacto Os competidores locais re clamavam dos gigantes estrangeiros que dominavam os mercados regionais Alguns temiam que os estrangeiros fossem menos sensíveis às normas sociais culturais e políticas Disso resultou uma grande desconfiança em relação ao investimento direto es trangeiro O exemplo mais ilustrativo veio de JeanJacques ServanSchreiber um dos principais jornalistas franceses Escrita em 1967 a obra logo se tornou o livro que mais rápido se esgotou na história da França moderna O desafio americano indicava que as principais beneficiadas pela integração europeia eram as corporações norteamericanas O Mercado Comum disse Servan Schreiber é basicamente norteamericano em termos de organ ização Isso se explicava pelo fato de as empresas norteameric anas com suas sedes próprias já formarem a estrutura de uma verdadeira europeização Diferentemente do que ocorria nas 517832 empresas da Europa as multinacionais norteamericanas tinham uma visão essencialmente europeia Esse é o verdadeiro federal ismo o único tipo que existe na Europa no nível industrial Quase nada na Europa se assemelhava às dinâmicas corporações norteamericanas que se estabelecem no continente Isso seria fatal para a sociedade europeia uma vez que a partir desse mo mento o confronto entre civilizações se moveria para o campo de batalha da tecnologia da ciência e da administração A intenção de ServanSchreiber com o livro era definir instruções para a modernização europeia nem tanto atacar os Estados Unidos Contudo ele identificou o impasse que para muitos europeus já era claro e cada vez mais perturbador Construir uma Europa in dependente ou se tornar um anexo dos Estados Unidos11 Nos países em desenvolvimento as grandes empresas es trangeiras podiam causar um grande e indesejado impacto na política local A atitude abusiva da empresa norteamericana In ternational Telephone and Telegraph ITT no Chile ilustrava a ameaça Primeiramente a ITT tentou impedir a eleição do so cialista Salvador Allende em 1970 e quando a tentativa fracassou a empresa participou de uma série de complôs para depôlo Essa história triste terminou com um golpe que destruiu uma das democracias latinoamericanas mais sólidas e levou uma san grenta ditadura ao poder As suspeitas sobre o envolvimento de empresas norteamericanas em tais acontecimentos foram por muito tempo consideradas fantasiosas pelos ocidentais mas logo se provaram verdadeiras por uma investigação do Congresso norteamericano o que alimentou o ressentimento contra as EMNs12 Muitos países começaram a restringir a entrada de mul tinacionais na década de 1960 O Canadá passou a monitorar e controlar os novos investimentos enquanto a França se utilizava de meios administrativos para limitar o impacto causado pelas empresas estrangeiras Os franceses também conseguiram 518832 convencer seus parceiros europeus a adotarem controles region ais porém com sucesso limitado Havia muito tempo que o Japão controlava de forma rígida o investimento direto estrangeiro no país mas o maior empenho vinha dos países em desenvolvi mento Do México à Nigéria do Peru à Índia as corporações de outros países foram excluídas de diversos setores e as posses por parte dos estrangeiros sofreram severas limitações com frequên cia ficando com as partes menores da partilha Muitos dos países em desenvolvimento passaram a autorizar os IEDs apenas se a empresa estrangeira não competisse com as outras locais já exist entes partilhasse a propriedade com investidores locais trouxesse tecnologias novas e importantes e concordasse em rein vestir a maior parte de seus lucros Os governos passaram a sub meter as empresas a uma fiscalização mais minuciosa e a con troles mais rígidos Os conflitos envolvendo questões econômicas domésticas tam bém começaram a crescer no mundo industrializado Na França em maio de 1968 protestos estudantis levaram a uma greve geral que durou semanas na Itália os trabalhadores pararam diversas vezes durante o Outono Quente de 1969 Em quase todos os países da Europa ocidental entre 1968 e 1973 houve algum per íodo de greves de cinco a 20 vezes acima dos índices normais Em muitos casos as greves ocorreram fora ou logo fugiram do con trole dos sindicatos desafiando a liderança quase sempre comunista ou socialista do movimento trabalhista Uma das razões para o aumento do conflito entre trabal hadores e capital poderia ser atribuída ao fato de que por 20 anos os salários foram negligenciados em relação ao crescimento da produtividade e da atividade econômica13 No início do pós guerra os trabalhadores estavam dispostos a sacrificar os aumentos salariais pela recuperação econômica No entanto a re cuperação há muito havia terminado e a nova geração de trabal hadores desejava uma parcela maior da expansão do pósguerra 519832 Para piorar em meados da década de 1960 a Europa mergulhou numa recessão que levou o empresariado a tentar manter os salários baixos No final dessa década a insatisfação acumulada durante cerca de dez anos estava prestes a eclodir em forma de protestos A inflação aumentava na Europa como acontecera nos Esta dos Unidos e os trabalhadores tentavam recuperar o espaço per dido Os sindicatos e as empresas europeias em geral col aboravam para a sustentação dos aumentos salariais e da criação de empregos mas o rápido aumento dos preços destruiu muitos dos acordos Os trabalhadores exigiam proteção contra a inflação porém os sindicatos eram frequentemente forçados a obedecer à gerência Assim os protestos ocorriam tanto contra os gerentes quanto contra os líderes sindicais os quais insistiam na ma nutenção dos contratos acordados previamente O acirramento dos conflitos entre trabalho e capital e a insatis fação crescente com o comércio e os investimentos diretos in dicavam que as bases econômicas da ordem internacional haviam mudado desde a década de 1940 Dessa forma quase todos no mundo em desenvolvimento concordavam que era necessário su perar os duros conflitos domésticos entre classes aumentar os ín dices patologicamente baixos de comércio e de investimentos es trangeiros e organizar o sistema monetário internacional para esse fim Na década de 1960 todos esses objetivos já haviam sido atingidos com grande sucesso Nesse momento uma parte da opinião pública via o aprofundamento da integração econômica internacional com entusiasmo enquanto a outra achava que tal integração já havia ido longe demais O próprio colapso do sis tema monetário de Bretton Woods e as políticas mais amplas para as relações econômicas internacionais do fim da década de 1960 e início da de 1970 mostravam que a opinião sobre o quão longe a integração econômica global deveria ir estava cada vez mais 520832 dividida Não era possível simplesmente assumir o avanço da abertura econômica Provavelmente a resistência seria grande A crise na substituição de importações Enquanto o mundo capitalista desenvolvido reconsiderava sua marcha para a economia internacional os países pobres ques tionavam o desenvolvimento industrial via protecionismo A in dustrialização por substituição de importações ISI apresentava diversos aspectos positivos mas também várias consequências in desejadas14 A ISI causou problemas crônicos nas balanças comercial e de pagamentos A substituição de importações pretendia tornar os países menos dependentes do comércio mundial mas todas as nações precisavam importar o que não existia localmente matériasprimas maquinário peças Quanto mais um país se in dustrializava mais necessitava dessas importações o que o eco nomista Carlos Díaz Alejandro chamava de a intensidade im portadora da substituição de importações15 No entanto os países precisavam ganhar dinheiro para importar e a ISI era ex tremamente contra exportações A proteção comercial e as taxas de câmbio supervalorizadas aumentavam os preços domésticos e tornavam as exportações menos competitivas Além disso os im postos sobre as exportações desestimulavam as vendas inter nacionais Os países em processo de industrialização eram in capazes de exportar o suficiente para importar o que necessitavam Algumas das importações podiam ser pagas com a ajuda e os empréstimos de instituições internacionais como o Banco Mun dial Mas o financiamento era limitado Investimentos inter nacionais privados traziam certa quantidade de moeda es trangeira para os países mas não o suficiente Após 1967 alguns 521832 poucos países em desenvolvimento em melhores condições con seguiam empréstimos de países do norte com intenção de com prar importados três ou quatro bilhões de dólares por ano no início da década de 1970 Os empréstimos porém precisavam ser devolvidos Assim o ajuste de contas era apenas adiado De qualquer forma o dinheiro era pouco e estava disponível apenas para algumas nações Os países em desenvolvimento precisavam exportar mais para pagar pelas importações necessárias e a eco nomia política da ISI tornava a saída de difícil execução A balança de pagamentos da típica economia de ISI passava por crises periódicas Quanto mais rápido uma economia crescia maior era a necessidade de importar mas as exportações não se mantinham no mesmo nível das importações e dessa forma o país sofria com uma escassez de moeda estrangeira O governo re stringia as importações comprando apenas o essencial e aumentava a taxa de juros de forma a atrair dinheiro para a nação e a manter esse capital em casa Desvalorizava a moeda interna aumentando o preço das importações e tornando as exportações mais competitivas reduzindo também o poder de compra do país Em geral tais políticas acarretavam uma recessão profunda Sob pressão empresas cortavam salários e demitiam empregados O colapso da economia local reduzia as importações ao passo que uma taxa de câmbio mais fraca o alto desemprego e os salários menores facilitavam a atividade exportadora Logo a quantidade exportada se tornava maior que a importada o crescimento era retomado e o ciclo recomeçava Contudo sucessivas crises desse tipo ameaçavam a ordem social econômica e política Os países que adotaram a ISI também tendiam a grandes défi cits orçamentários e à inflação o que piorava as crises Os gov ernos subsidiavam investimentos industriais concediam isenções fiscais aos que atuavam no setor e focavam seus gastos em grupos politicamente importantes No entanto os gastos ultrapassavam os ganhos governamentais de forma crônica e em geral tais 522832 déficits orçamentários eram contornados com a impressão de moeda A inflação resultante encarecia os produtos domésticos reduzindo as exportações ainda mais A arrecadação diminuía uma vez que o pagamento dos impostos atrasava para que pudesse ser feito em moeda desvalorizada e a atividade econôm ica era conduzida para os mercados negro e cinzad Na década de 1960 muitas das economias que adotaram a ISI foram atingidas por ciclos viciosos de déficits no orçamento e na balança de paga mentos bem como inflação e recessão A substituição de importações do Brasil obteve grandes vitóri as e criou grandes problemas Segunda maior economia do mundo em desenvolvimento menor apenas que a Índia o Brasil era uma das principais nações industriais na década de 1960 O país produzia quase todos os bens finais que consumia criou in dústrias de escala mundial automóvel e aço e construiu a nova capital Brasília em cinco anos No entanto a industrialização exigia a importação de equipamentos máquinas químicos e peças além de petróleo para os milhões de novos carros da nação As exportações do Brasil eram insuficientes O café continuava a responder por mais da metade das exportações e o restante era de produtos tradicionais como açúcar tabaco e minério de ferro Os esforços para estimular a exportação dos novos produtos manu faturados fracassaram Em 1960 o Brasil exportava menos da metade de 1 de sua produção industrial O resultado foi uma série de crises geradas pela balança de pagamentos Em 1963 as exportações continuavam bem abaixo dos índices da década anterior As exportações continuavam menores que as compras internacionais apesar do esforço do gov erno para importar o mínimo possível Enquanto isso o déficit or çamentário crescia e a inflação que na década de 1950 girava em torno dos 20 passou para 96 em 1964 Os empresários prot estavam contra as altas taxas de juros os trabalhadores organiza vam greves devido às reduções salariais e os conservadores 523832 militares do país enfrentavam o fantasma da insatisfação social e até da revolução Em abril de 1964 o golpe militar depôs o gov erno eleito democraticamente e a ditadura reinou por mais de 20 anos Medidas austeras e uma recessão profunda ajudaram a con trolar os déficits e a inflação mas os problemas básicos continuaram A mesma situação enfrentada pelo Brasil se repetia por todo o mundo em desenvolvimento crises na balança de pagamentos inflação insatisfação social golpe militar repressão e austerid ade No Chile o ataque final veio durante o governo do socialista Salvador Allende com o golpe que o depôs em 1973 na Argentina veio com a volta à presidência de Juan e Eva Perón e o golpe mil itar de 1976 que a retirou do poder na Turquia com intervenções militares em 1960 e depois em 1971 nas Filipinas com a im posição de uma lei marcial em 1972 e a subida ao poder do dita dor Ferdinand Marcos na Indonésia com um sangrento golpe militar em 1965 Até os dois países mais democráticos que adot aram a ISI sucumbiram a esse padrão O governo mexicano mas sacrou centenas de manifestantes em 1968 e a primeiraministra da Índia Indira Gandhi declarou um estado extralegal de emer gência nacional em 1975 algo não previsto pela lei indiana As tensões impostas pela substituição de importações criaram uma mistura volátil de problemas econômicos com pressões nacion alistas populistas e desenvolvimentistas que culminou em insat isfação social e com frequência autoritarismo A ISI também teve um impacto desastroso na distribuição de renda e na pobreza Uma grande massa de agricultores migrou para as cidades em busca de trabalho nas novas indústrias No en tanto o crescimento por substituição de importações era intens ivo em capital O governo subsidiava os investimentos e assim os industriais utilizavam muito capital e pouco trabalho Muitos dos agricultores que foram para as cidades perceberam que não con seguiriam os empregos prometidos pela industrialização Os 524832 países que adotaram a ISI terminaram com economias duais de um lado indústrias modernas de capital intensivo trabalhadores qualificados e bemorganizados de outro uma massa de agri cultores e pobres urbanos excluídos da economia moderna con denados a salários de subsistência e privados da proteção social recebida pelos trabalhadores dos novos setores O setor agrícola brasileiro não acompanhava o restante da eco nomia principalmente na atrasada parte norte da nação que em 1970 abrigava 40 da população do país mas menos de 20 da renda nacional Nos estados mais pobres do Nordeste a renda per capita era 16 da arrecadada na industrial São Paulo em média o trabalhador urbano ganhava três vezes mais que o rural16 O eco nomista brasileiro Edmar Bacha chamou o país de Belíndia uma pequena parte como a Bélgica e todo o resto como a Índia17 Os migrantes iam da Índia para a Bélgica do norte para o sul mas quase não havia mais empregos As indústrias priorizadas geraram poucos empregos No início da década de 1960 os setores elétrico de equipamentos para transportes e químico cresciam rapidamente e eram responsáveis por 13 da produção industrial do país mas ofereciam menos de 110 dos empregos do setor industrial A maioria dos migrantes ficava confinada no set or informal em trabalhos pesados domésticos ou em outros empregos que muitas das vezes pagavam menos que o salário mínimo definido por lei As cidades do país foram cercadas por favelas dominadas pelo crime com serviços precários uma popu lação crescente e pouco acesso aos benefícios gerados pelo cresci mento industrial brasileiro A renda per capita brasileira cresceu em 13 entre 1960 e 1970 mas a condição dos 45 da população que pertenciam às ca madas mais baixas melhorou muito pouco e provavelmente a dos mais pobres piorou O Brasil se tornou a sociedade mais desigual do mundo os 5 mais ricos do país ganhavam o mesmo que os 80 mais pobres e duas vezes mais que os 60 mais 525832 pobres O país que se orgulhava de sua indústria moderna de suas metrópoles cosmopolitas e de sua capital modernista ap resentava índices de mortalidade infantil três vezes maiores que os de Cuba seis vezes maiores que os dos Estados Unidos e muito maiores que os de países pobres como Paraguai e Jamaica Mais de 13 das crianças brasileiras com idade escolar primária e mais da metade das que deveriam frequentar a escola secundária es tavam fora das instituições de ensino18 O Brasil ao menos conseguia atingir um crescimento rápido outras sociedades se encontravam em situação bem pior Entre 1950 e 1973 o crescimento per capita do Chile era de 1 ao ano o da Argentina era de 2 e o da Índia era de 16 Esses números não eram de todo ruins levandose em conta os padrões históri cos desses países mas estavam bem abaixo da média mundial Acima de tudo o fato dessas nações não terem se beneficiado das oportunidades criadas pelo rápido crescimento das décadas de 1950 e 1960 gerava graves consequências Se a Argentina tivesse crescido como o Brasil 4 ao ano em vez de 2 o país em 1973 seria tão rico quanto a França se o Chile tivesse como a Coreia do Sul crescido 5 em vez de 1 seria tão rico quanto a Ale manha A Índia em 1950 era apenas um pouco mais pobre que a Coreia do Sul e que Taiwan em 1973 a Coreia passou a ser três vezes mais rica e Taiwan quatro vezes mais As nações em processo de industrialização que optaram por se voltar para dentro não podiam participar do boom comercial do período de Bretton Woods Entre 1950 e 1973 as exportações da América Latina caíram de 8 para 3 do total mundial Os ex traordinários recursos naturais da Argentina haviam feito do país um dos principais exportadores mundiais Em 1950 o país ex portava quase a mesma quantidade que a Itália No entanto em 1973 as exportações argentinas foram reduzidas para 17 das ex portações italianas e se igualaram às da Finlândia que possuía 15 da população e 14 do tamanho da economia do país sul 526832 americano A Índia em 1973 exportava menos que a Coreia do Sul e que Taiwan embora sua população fosse 17 vezes a da Cor eia e 40 vezes a de Taiwan E o tamanho da economia indiana era cinco vezes o da coreana e dez vezes o da taiwanesa19 O modelo voltado para as exportações adotado pelo Leste Asiático parecia evitar alguns dos problemas da ISI Em 1973 a Coreia exportava 41 dos produtos industriais que produzia Taiwan 50 contrastando com os 3 ou 4 exportados pela América Latina20 Coreia do Sul e Taiwan eram tão bemsuce didos na produção para exportação que não enfrentaram os sérios problemas de balança de pagamentos comuns em outros lugares Ambos se especializaram em produtos industriais de trabalho in tensivo para exportação Como as fábricas precisavam da maior quantidade possível de mão de obra barata muitos empregos fo ram criados A necessidade de manter os produtos competitivos nos mercados mundiais tornou essencial o controle da inflação Tais vantagens porém apresentavam alguns custos Os exporta dores do Leste Asiático não desenvolveram economias dualistas com um setor altamente moderno e um setor informal com salári os baixos mas eles eram forçados a manter todos os salários baixos muitas das vezes se utilizando de medidas repressoras contra os trabalhadores para que seus produtos continuassem baratos A taxa de câmbio desses países era subvalorizada para manter a competitividade reduzindo o poder de compra das classes média e trabalhadora locais As políticas macroeconôm icas conservadoras jogavam a inflação para baixo mas também significavam que os governos ofereciam pouco em termos de se guro social Mesmo assim o sucesso do modelo exportador tam bém pesou para que a política de substituição de importações fosse reavaliada Os que se beneficiavam com a ISI contudo impediram as tentativas de reformas Suas indústrias estavam acostumadas a estar protegidas dos importados e não se entusiasmavam com a 527832 competição estrangeira As empresas que recebiam subsídios ou isenções fiscais dos governos ameaçavam abandonar os negócios caso os benefícios fossem suspensos Aqueles cujos salários ou consumo haviam sido protegidos por programas governamentais se esforçavam para impedir o corte de tais programas As arestas da ISI sofreram alguns aparos Uma reforma foi a racionalização da proteção a redução de algumas barreiras comerciais Muitos governos começaram a conceder subsídios e incentivos fiscais para estimular a exportação industrial No entanto décadas de substituição de importações haviam criado interesses sólidos que dificultavam reformas políticas Uma das reações ao sistema cada vez mais visto como estag nado e cheio de impedimentos foi a emergência de ímpetos re volucionários Na América Latina em especial a ordem estabele cida era criticada pela desigualdade e pelos fracassos sociais pela dependência das corporações estrangeiras e pelos privilégios con cedidos às empresas locais prósperas A alternativa cubana atraía toda uma geração de estudantes e muitos da classe trabalhadora A América Latina não tinha uma tradição socialista ou comunista mas houve um crescimento da insatisfação de trabalhadores e estudantes das organizações radicais e até das atividades de guer rilha urbana Os problemas causados pela ISI alimentavam um descontentamento mais amplo com a economia mundial capitalista Esse descontentamento também tomou forma oficial Os gov ernos do Terceiro Mundo frustrados com os problemas domésti cos tentavam se organizar globalmente O Movimento Não Alin hado lançado em 1955 em Bandung passou a fazer lobby na ONU como o Grupo dos 77 países em desenvolvimento O G77 buscava conter a influência econômica do mundo desenvolvido pression ando por mudanças nas regras da economia internacional que fa cilitassem a participação dos países pobres Os países menos desenvolvidos LDCs na famosa sigla em inglêse exigiam um 528832 preço maior para suas exportações mais ajuda financeira e em préstimos além de melhor acesso aos mercados da OCDE Algu mas concessões foram feitas mas não o suficiente para que fizesse alguma diferença Os dilemas da política de substituição de im portações continuavam A estagnação do socialismo O mundo socialista também enfrentava cada vez mais di ficuldades Na União Soviética e mesmo em grande parte da Europa central e oriental as reformas econômicas se tornaram mais lentas ou foram interrompidas O problema mais uma vez foi político De forma inevitável a descentralização reduziria a in fluência das autoridades centrais ao passo que transformações com ênfase nos mercados retirariam recursos de empresas e regiões maladministradas ou de menor potencial econômico Os comunistas no entanto tinham um compromisso ideológico com a equidade e dependiam do apoio ou ao menos da simpatia dos segmentos mais pobres da sociedade Talvez o motivo principal fosse a ameaça que as reformas significavam para a elite técnica e administrativa intimamente ligada à liderança comunista As reformas ameaçavam o equilíbrio social e político dos países socialistas A base política comunista era formada pelos grupos que se beneficiavam com a economia planificada e o fim desse tipo de política ameaçava diretamente o partido A situação era semelhante à dos países em desenvolvimento que adotaram a ISI A política econômica dos países planificados fortaleceu as empresas e os setores industriais que dependiam do apoio e da proteção do governo da mesma forma que as indústrias da ISI dependiam da própria ISI e que eram contra a redução de tais benefícios No início da década de 1970 a onda de atividades re formistas da década anterior havia passado Os soviéticos 529832 reverteram ou ignoraram as reformas de Kosygin de 1965 Os tchecos foram forçados a retomar os princípios básicos soviéticos após a invasão russa de 1968 Até os húngaros os que foram mais longe nas reformas retrocederam no início dos anos 1970 Iniciouse um processo de cristalização A ordem econômica vi gente perdia força mas havia muitos obstáculos políticos para que ocorresse uma transformação substancial nas políticas econômicas O crescimento das economias planificadas sofreu uma con tínua desaceleração durante o fim da década de 1960 e início da de 1970 O pouco crescimento que havia não provocava melhoras suficientes no padrão de vida para manter a população satisfeita Os soviéticos mais do que nunca eram odiados na Europa central e oriental e os comunistas perdiam apoio até mesmo da popu lação soviética Em dezembro de 1970 na Polônia tal descon tentamento emergiu na forma de greves e manifestações nos estaleiros da região báltica uma das principais instalações indus triais do país O regime reagiu com violenta repressão e muitos manifestantes foram mortos O fato levou à substituição do líder polonês Wladyslaw Gomulka pelo mais moderado Edward Gierek que rapidamente tentou melhorar o padrão de vida da população em parte pedindo empréstimos dos bancos ocidentais Nem mesmo Gierek e outros líderes de uma segunda onda de tentativas reformistas conseguiram romper os interesses já solidificados Enquanto isso outro sério obstáculo econômico tornavase evidente Em 1960 os países capitalistas avançados passaram a adotar uma série de novas tecnologias eletrônicas O transistor e o laser transformavam tudo de produtos prontos para o consumo a processos industriais passando pelas telecomunicações Os com putadores se tornavam o produto principal para as empresas e governos e outros avanços se acumulavam rapidamente Mas os países socialistas ficavam para trás em termos tecnoló gicos aparentemente como resultado de problemas sistêmicos da 530832 ordem econômica planificada As reformas da década de 1960 embora incompletas permitiram aos membros do Comecon produzir ônibus ferramentas para máquinas câmeras e automó veis de relativa qualidade No entanto estes eram produtos do passado não da nova era eletrônica O ensino e a pesquisa científica na União Soviética e na Europa oriental eram ex celentes mas quase nunca aplicados às inovações industriais ou à produção Todos os recursos que a União Soviética poderia utiliz ar para se manter no mesmo nível dos Estados Unidos foram transferidos para a tecnologia militar portanto o sucesso foi apenas parcial Na indústria civil os soviéticos e seus aliados con tinuavam uma ou duas gerações atrasados21 A planificação econômica central de fato ofereceu poucos in centivos para que os gerentes desenvolvessem e adotassem novas tecnologias O benefício do sistema era o favorecimento da es tabilidade e da segurança em detrimento dos riscos uma vez que os responsáveis pelo planejamento precisavam assegurar o fun cionamento de cada elo da cadeia produtiva O gerente que se det ivesse em métodos certos e seguros e atingisse as metas estaria a salvo aquele que experimentasse novos processos ou produtos e falhasse estaria em apuros Em grande parte isso também era próprio da economia de mercado Contudo no capitalismo se a tentativa de inovação fosse bemsucedida o gerente seria muito bemrecompensado Nas economias controladas no entanto poucos eram os incentivos para inovações tecnológicas Os invent ores não contavam com muitos direitos o governo restringia os lucros por vitórias individuais de forma severa e ninguém poderia ficar rico por desenvolver novos produtos ou novas formas de produção O foco do sistema em metas tangíveis também fez com que muitas das inovações fossem difíceis de serem mensuradas ou confirmadas a melhora na qualidade de um produto talvez fosse uma questão de opinião A ênfase dada a resultados quantitativos pelos que planejavam a economia e o fato de as recompensas 531832 individuais serem limitadas iam de encontro à inovação Os riscos enfrentados por um método novo eram enormes e a possibilidade de recompensa limitada As diferenças em termos tecnológicos entre os países do Comecon e o Ocidente cresceram de forma continua após 1960 O sucesso dos soviéticos no espaço e em termos militares desviou a atenção da opinião pública mas os que tinham acesso às inform ações incluindo os próprios governos do Comecon reconheciam que em geral o nível tecnológico das economias planificadas ficava cada vez mais para trás Os governos socialistas aument aram os investimentos em ciência e tecnologia passaram a ofere cer mais bônus para invenções e tentaram outras medidas mas não conseguiram superar o preconceito contra inovações arrisca das nas economias controladas Moscou e seus aliados tentaram diminuir o abismo tecnológi co importando do Ocidente Algumas dessas importações tecnoló gicas eram fábricas prontas instalações modernas em pleno fun cionamento montadas e vendidas por empresas ocidentais As nações do Comecon também compraram grandes quantidades de equipamentos e máquinas de alta tecnologia embora de certa forma sofressem um embargo do Ocidente a tudo o que pudesse ser utilizado para fins militares Para um sistema que se orgul hava de sua base científica ter como principal método de in ovação tecnológica as importações do Ocidente era uma grande demonstração de inferioridade O comércio entre a União Soviét ica a Europa oriental e o Ocidente cresceu de forma vertiginosa aumentando em dez vezes entre 1950 e 1973 e triplicando como parcela das economias socialistas O atraso aparentemente irre versível da agricultura socialista fez com que os grãos do Ocidente fossem necessários para alimentar a população soviét ica O governo passou a convidar empresas estrangeiras para ex plorar os recursos naturais do país e pegou grandes empréstimos no exterior A URSS se parecia com um país em desenvolvimento 532832 exportava matériasprimas e tomava emprestado para importar maquinário e alimentos Comercializar com o Ocidente não solucionou os problemas do socialismo Os soviéticos e aliados tinham muito pouco a expor tar A convicção das nações socialistas contra as exportações era ainda mais forte que nas economias que praticavam a ISI Não se concentravam na produção para os mercados mundiais os preços dos insumos eram tão altos que tornavam os preços proibitivos as firmas não eram recompensadas por arrecadar moeda es trangeira e alguns produtos eram tão malfeitos que não con seguiam espaço no mercado Fatalmente a exportação de re cursos naturais petróleo ouro madeira não seria mais sufi ciente para pagar pelas importações necessárias Tal momento não havia chegado até o início da década de 1970 mas os sinais já eram visíveis Os programas de reformas foram interrompidos e os responsáveis pela planificação econômica lutavam contra o baixo padrão de vida o atraso tecnológico e contra a queda dos índices de crescimento Os dias de glória do socialismo assim como os de Bretton Woods e os da ISI haviam chegado ao fim O fim de uma era A era do pósguerra terminou no início da década de 1970 O mundo capitalista desenvolvido emergiu da Segunda Guerra Mundial com um acordo que mesclava integração econômica in ternacional e independência política doméstica mercados e Estado do bemestar social O acordo de Bretton Woods fora vitorioso em todas as dimensões Ofereceu rápido crescimento medidas sociais abrangentes e um nível de integração econômica internacional que não se via desde a década de 1920 No início da década de 1970 o compromisso entre o inter nacional e o nacional já estava desgastado Competição comercial 533832 fluxos de capital e flutuações cambiais impediam o desempenho econômico doméstico e a insatisfação estava instaurada Os Esta dos Unidos talvez em especial relutavam cada vez mais em priv ilegiar os compromissos econômicos internacionais em detri mento dos objetivos domésticos O padrãoourodólar entrou em colapso e a proteção comercial aumentou No Terceiro Mundo a impressionante marcha em direção à industrialização demonstrava sinais de cansaço A lentidão das exportações e a persistência de problemas envolvendo as balanças de pagamentos desaceleraram a industrialização Para muitos a marcha parecia forçada demais e não prestava atenção aos pobres O aumento da produção e o desenvolvimento industrial do mundo socialista não se refletiam no padrão de vida da popu lação o que gerava insatisfação Tanto os governos das economias em desenvolvimento quanto os dos países socialistas tentaram implementar reformas mas foram impedidos pelos interesses ar raigados nessas sociedades A ordem do pósguerra havia atingido o objetivo de seus ar quitetos Os países capitalistas avançados alcançaram a integ ração econômica combinada com Estado de bemestar social e in tervenção macroeconômica Os países em desenvolvimento con seguiram a intensificação da industrialização combinada com pro teção contra a influência econômica do exterior Os países so cialistas alcançaram um rápido desenvolvimento industrial e cres cimento econômico combinados com distribuição de renda equit ativa No entanto em todos os três grupos de países a obtenção simultânea de todos esses objetivos tornavase mais difícil com o passar do tempo A integração econômica impôs desafios à inter venção macroeconômica a ISI gerou crises periódicas e mais desigualdade e a planificação econômica socialista desacelerou o crescimento Ainda não se sabia o que estava por vir 534832 a American Federation of Labor e Congress of Industrial Organizations As duas organizações juntas formaram a maior federação de sindicatos trabalhistas dos Estados Unidos NT b Tradução para Nixon fiddles while Burns roams uma referência a fiddle while Rome burns ou perder tempo enquanto há uma situação urgente a ser resolvida NT c Já que a moeda não sofria a desvalorização que lhe cabia NE d Forma de importação paralela comum por exemplo em eletrônicos e cigarros Quando o preço do um produto é muito mais caro em um país do que em outro empresas o compram onde o valor é menor importam legalmente e vendem abaixo do valor de mercado NT e Least Developed Countries é uma classificação da ONU para os países que ex ibem os piores indicadores de desenvolvimento socioeconômico NT 535832 parte IV Globalização 19732000 16 Crise e mudança A partir de 1973 as tensões acumuladas no período do pósguerra atingiram o ápice O crescimento dos países capitalistas avança dos desacelerou e por mais de uma década permaneceu a metade dos índices do pósguerra O desemprego dobrou ou triplicou Na Europa ocidental e na América do Norte cada vez mais pessoas procuravam emprego o que não ocorria com tamanha intensid ade desde a década de 1930 A inflação chegou a três ou quatro vezes a média do pósguerra e o preço do barril do petróleo força motriz do mundo industrial subiu de US3 para US30 Os mer cados financeiros globais cresceram de forma inimaginável cen tenas de bilhões de dólares circulando ao redor do mundo faziam as moedas subirem ou caírem 10 em poucos dias Países em desenvolvimento e nações socialistas tomaram empréstimos de trilhões de dólares e então desencadearam uma onda de inadim plência que rivalizou com a da década de 1930 e crises econôm icas internas em geral piores do que as daquela época Nacionalistas e internacionalistas defensores do livre mer cado e intervencionistas esquerda e direita se confrontavam sobre o curso das políticas econômicas nacionais e internacionais As posições políticas se polarizaram os empresários se opunham de maneira veemente aos sindicatos trabalhistas e ao Estado do bemestar social e o operariado adotava posições firmes contra os empresários O consenso centrista das décadas de 1950 e 1960 havia se desintegrado Ditaduras se democratizaram democracias foram arruinadas socialistas tomaram o poder em países tradi cionalmente conservadores e em outros foram substituídos pelos conservadores O equilíbrio de forças se deslocou do comprometi mento com a economia global para as limitações à integração eco nômica internacional ou mesmo para o seu retrocesso Infeliz mente o período entre 1970 e o início da década de 1980 foi semelhante aos anos 1930 algo como uma sala de espera para a autarquia e até hostilidades militares diante da deterioração das relações entre os Estados Unidos e a União Soviética O choque do petróleo e outros choques Os governos tentaram fortalecer suas economias depois que a camisa de força monetária de Bretton Woods foi removida À me dida que as finanças internacionais voltavam à vida o padrão ourodólar fazia com que fosse mais difícil para os governos re duzirem as taxas de juros ou aumentarem os gastos sem levar em consideração o impacto que essas medidas causariam no valor das moedas O colapso de Bretton Woods eliminou as restrições à taxa de câmbio deixando os governos livres para estimular suas eco nomias A economia mundial ganhou volume entre 1970 e 1973 à medida que a produção industrial nas principais economias cres cia de 15 a 25 A base monetária cresceu cerca de 40 entre 1970 e 1973 nos Estados Unidos e em torno de 70 na Grã Bretanha em 1972 e 1973 Isso gerou inflação e os preços começaram a subir lentamente em todo o mundo A rápida expansão das economias industriais ampliou a de manda por bens agrícolas e matériasprimas exportadas pelos países em desenvolvimento encarecendo esses produtos Entre 538832 1971 e 1973 os preços do cobre da borracha do cacau e do café por exemplo dobraram ou cresceram ainda mais que isso O aumento foi repassado para os consumidores e o preço dos ali mentos nos Estados Unidos subiu cerca de 20 só em 1973 A alta dos preços se acelerou e em 1974 os valores do pão da batata e do café no país subiram cerca de 25 o do arroz por volta de 60 e o do açúcar dobrou E ainda havia o petróleo Por décadas o preço mundial do pet róleo ficara defasado em relação à inflação e em 1960 os países em desenvolvimento que mais produziam o combustível Irã Iraque Kuwait Arábia Saudita e Venezuela criaram a Organiza ção dos Países Exportadores de Petróleo Opep O principal ob jetivo da organização era aumentar a alíquota de impostos e os royalties que as empresas petrolíferas privadas pagavam aos países onde se instalavam o que exigiu uma coordenação dos gov ernos produtores que precisavam evitar a cobrança de preços menores A Opep obteve algumas conquistas recrutou novos paísesmembros e se beneficiou do boom do petróleo no início da década de 1970 No outono de 1973 durante a guerra entre Israel e seus vizinhos árabes a Opep interrompeu as negociações com as empresas petrolíferas e seus membros árabes dobraram o preço do petróleo passando a cobrar mais de US5 pelo barril Dois meses depois a organização dobrou os preços novamente e o barril chegou a custar quase US12 No Ocidente alguns acred itavam que tal manipulação de mercado não pudesse se sustentar mas logo ficou claro que um pequeno grupo de países em desen volvimento tinha alterado dramaticamente as condições sob as quais vendia seus produtos A Opep podia quadruplicar o preço de uma das commodities mais importantes do mundo por uma série de razões Havia pou cos substitutos para o petróleo disponíveis prontamente então os aumentos de preços não reduziam muito o consumo Além disso somente uns poucos membros do núcleo da Opep controlavam 539832 uma parcela muito grande do petróleo mundial As oleogarquias do Golfo Pérsico Arábia Saudita Kuwait Qatar e os Emirados Árabes Unidos possuíam praticamente metade das reservas pet rolíferas mundiais controlavam 25 da produção e contavam com populações minúsculas Com menos habitantes que os Países Baixos eles lucravam mais com o petróleo do que o Japão arreca dava com todas as suas exportações até 1980 os ganhos eram suficientes para pagar a cada um de seus habitantes uma renda anual duas ou três vezes maior que a média dos ganhos dos norte americanos Além disso não precisavam vender o petróleo imedi atamente e poderiam segurálo fora do mercado para manter os preços em alta Uma fonte adicional de poder era a solidariedade existente entre os membros muçulmanos da Opep dentro e ao redor do Oriente Médio que compartilhavam laços culturais e políticos Para alguns estrategistas políticos norteamericanos os altos preços do petróleo eram a forma mais fácil de enviar ajuda para seus aliados na Arábia Saudita e no Irã em vez de precisar passar pelo Congresso Os produtores de petróleo eram poderosos e os consumidores ficaram indefesos O petróleo supria de 50 a 75 da energia do mundo industrial e a maioria dos países industrializados de pendia fortemente das importações da Opep Fontes de energia alternativa poderiam ser desenvolvidas mas isso consumiria anos e centenas de bilhões de dólares A Opep exercia influência ex traordinária sobre o preço do petróleo no mundo Outros produtores de commodities do Terceiro Mundo cobre café minério de ferro bauxita e bananas tentaram imitar a Opep mas não tinham o poder do setor petrolífero O preço do petróleo chegou às alturas em questão de dias e a elevação causou impactos imediatos e poderosos O governo alemão forneceu petróleo em caráter de emergência a fabricantes que estavam ficando sem combustível e cuja produção seria arru inada se cessassem as atividades No Japão motoristas de táxi 540832 faziam manifestações e donas de casa estocavam papel higiênico e sabão em pó Fiscais do governo francês faziam inspeções e mul tavam os administradores dos edifícios que usassem o aqueci mento acima de 20 graus Celsius Motoristas norteamericanos enfrentavam filas de uma ou duas horas nos postos de com bustível e placas com os dizeres Desculpe o transtorno estamos sem gasolina hoje pipocavam nas estradas do país O governo norteamericano criou um novo Departamento de Energia e o presidente chamou a crise do petróleo de o equivalente moral da guerra1 O rápido crescimento do início da década de 1970 o boom das commodities e os choques do petróleo contribuíram para o aumento da inflação Em 1974 os preços para o consumidor dis pararam em vários países industrializados aproximadamente 12 nos Estados Unidos 14 na França 16 na GrãBretanha e 23 no Japão Isso se deveu em parte à Opep mas algumas avaliações atribuem aos choques do petróleo somente 14 da onda inflacionária do período2 O aumento do preço do petróleo causou um impacto único com consequências contraditórias para os de mais preços Por um lado o petróleo era amplamente utilizado em toda a economia e dessa forma pressionava o aumento de outros preços Por outro lado com o petróleo mais caro sobrava menos para os consumidores gastarem em outros produtos o que fazia cair a demanda e realmente influenciava a queda dos preços O resultado final dependia da política governamental e em espe cial da política monetária Se Bretton Woods ainda estivesse em vigor a necessidade de manter a taxa de câmbio fixa teria forçado muitos governos a conter ou reduzir os preços provavelmente por meio da subida dos juros alimentando ainda mais o pro cesso recessivo provocado pela Opep Com a maioria das moedas flutuantes entretanto os governos estavam livres para acomodar os aumentos de preços por meio da expansão da base monetária Dessa forma o choque do petróleo se transformaria 541832 em aumento de preços sem a necessidade de impor medidas aus teras Isso levou ao aumento da inflação que em média se aprox imou dos 10 nos países da OCDE por todo o resto da década de 1970 na maior parte dos países esse índice era três ou quatro vezes maior que a média desde a Segunda Guerra A estabilidade monetária que havia predominado por quase 30 anos chegava ao fim Apesar dessas políticas de estímulo econômico o mundo mer gulhou na pior recessão desde a década de 1930 Em 1974 e 1975 a produção industrial caiu cerca de 10 no mundo industrializado e o desemprego cresceu a níveis considerados inaceitáveis em praticamente todos os lugares Até o fim de 1974 o mercado de ações norteamericano se encontrava na metade do nível de 1972 se tanto O sistema financeiro mundial foi atingido pelas duas maiores falências bancárias desde a Grande Depressão a do Franklin National Bank nos Estados Unidos e a do Bankhaus Herstatt na Alemanha Ocidental A cidade de Nova York incapa citada de pagar suas dívidas e contas foi posta em sindicância falimentar por credores e pelo governo federal O choque da Opep gerou alguns desses efeitos pois equivalia a um imposto pago pelos consumidores de petróleo de cerca de 2 do PIB dos países industrializados3 Mas o efeito foi ampliado pela grande incerteza resultante As economias em declínio e o aumento dos preços provocaram uma espécie de pânico Os empresários e os trabalhadores do mundo industrializado estavam acostumados ao crescimento ao pleno emprego e aos preços estáveis uma geração de europeus norteamericanos e japoneses só conhecia a prosperidade En quanto a recessão continuava os governos eram cada vez mais pressionados a tomar alguma atitude Os sindicatos se mobiliza vam para proteger os trabalhadores da degradação dos salários Os mineiros de carvão da GrãBretanha diminuíram o ritmo de trabalho até a interrupção das atividades no começo de 1974 542832 forçando o país a decretar uma semana de trabalho de três dias Ao longo dos cinco anos seguintes foram perdidos praticamente 12 milhões de dias de trabalho por ano em greves no Reino Unido mais que o triplo dos índices de 1950 e 1960 Os sindicatos itali anos impuseram a adoção de uma escala móvel que atrelava os salários à inflação Os trabalhadores também pressionavam por uma influência mais ampla na economia O governo socialdemo crata alemão concedeu aos trabalhadores influência direta nas de cisões administrativas codeterminação ao passo que o novo governo trabalhista britânico decretou uma série de regula mentações em prol dos trabalhadores Na Espanha e em Portugal a democratização provocou um crescimento considerável da in fluência da esquerda e dos trabalhadores durante a maior parte de 1975 Portugal foi controlado por um governo de viés comunista provavelmente o regime mais de esquerda da história da Europa Ocidental Na Suécia em 1975 os sociaisdemocratas apresentaram o Plano Meidner batizado em homenagem ao seu criador um in fluente economista A ideia foi destinar parte dos lucros de cada empresa na forma de ações a um fundo controlado pelos sindica tos dando a eles participação em praticamente todo o setor privado Em algumas décadas sob o plano a maioria das empres as suecas passou a pertencer aos sindicatos Na teoria o plano não era anticapitalista as empresas seriam administradas com base nos princípios usuais do mundo dos negócios e angariar grandes lucros era um dos objetivos da proposta mas implicou uma mudança radical do poder econômico e político além de po larizar as relações entre trabalho e capital4 Essa disputa social mudou o cenário político do mundo indus trializado Em fevereiro de 1974 em meio à paralisação dos mineiros de carvão os conservadores britânicos não conseguiram vencer as eleições resultado que se repetiria no pleito geral de ou tubro Os socialistas holandeses chegaram ao poder pela primeira 543832 vez em 15 anos Os comunistas da Itália se empenharam em um compromisso histórico com o capitalismo e em seguida tiveram uma desempenho eleitoral impressionante tornandose membros informais da coalizão governante em 1976 Por outro lado em setembro desse mesmo ano os sociaisdemocratas fo ram retirados do governo marcando o fim de 40 anos de admin istração socialista Dois meses depois Gerald Ford tornouse o primeiro presidente norteamericano em exercício a perder uma eleição desde Herbert Hoover Apesar da inflação galopante os governos evitavam as medi das austeras mais drásticas que iriam piorar as já tensas relações sociais e de classe Embora fosse claro que o afrouxamento das políticas monetárias não aliviaria a recessão e só alimentaria a in flação os governos temiam as consequências de um ataque sério à elevação dos preços recessão problemas comerciais desemprego e conflitos políticos A estagnação comercial e a inflação contínua sobrecarregavam o mundo ocidental com a estagflaçãoa uma pa lavra feia para uma realidade desagradável Em 1979 e 1980 um segundo ciclo de choques do petróleo re forçou a ideia de que a economia mundial estava fora de controle ou pelo menos sob o controle dos países capitalistas avançados Uma revolução fundamentalista islâmica derrubou o xá do Irã um dos aliados mais próximos dos Estados Unidos e a partir disso a guerra entre Irã e Iraque eclodiu A Opep decretou um aumento que praticamente triplicou o preço do barril de petróleo que chegou a valer US33 enquanto os preços no mercado aberto ultrapassavam os US40 A organização não sustentou esses preços completamente novas fontes de suprimento haviam sido desenvolvidas a conservação e o uso de energias alternativas lim itaram o consumo e os membros da Opep desrespeitaram os acordos para controlar o fornecimento Contudo o barril do pet róleo permaneceu em torno dos US30 e outra série de choques de preços abalou o mundo 544832 Os governos criaram milhões de empregos no setor público e injetaram milhões de dólares em economias que enfrentavam di ficuldades Entre 1971 e 1983 o governo de pelo menos um país industrial cujos gastos representavam em média 33 da eco nomia passou a gastar 42 e os aumentos foram ainda maiores em alguns países de 45 para 66 do PIB na Suécia e de 49 para 66 nos Países Baixos5 As nações industriais passaram a contratar um milhão de novos funcionários públicos a cada ano e até 1983 os governos se tornaram responsáveis em média por 20 de todos os empregos chegando a mais de 30 em alguns países Poucos governos podiam se dar ao luxo de aumentar os impostos para cobrir despesas assim os déficits orçamentários fo ram subindo lentamente chegando a atingir até 20 do total dos gastos públicos de alguns países tomando 10 de suas economias Os governos pediam emprestado em parte porque as taxas de juros haviam sido deixadas para trás pela inflação de forma que o dinheiro pego com os investidores saía praticamente de graça Em 1974 por exemplo enquanto os preços para os consumidores cresceram 12 o Tesouro norteamericano pagava menos de 8 por seus empréstimos com títulos de seis meses Isso aconteceu em todos os anos entre 1973 e 1981 com exceção de um e re lações semelhantes eram mantidas pela maioria dos países indus trializados Era relativamente indolor financiar programas sociais com recursos emprestados enquanto o dinheiro estivesse disponível a taxas de juros abaixo da inflação taxas de juros reais negativas Entretanto inflação e financiamentos por meio de déficits não eram soluções permanentes para as dificuldades econômicas Os governos conservadores da França e da Suécia defendiam seus programas econômicos da veemente oposição dos trabalhis tas e do degradado apoio do empresariado O governo da Itália fracassou na tarefa de controlar o orçamento e a inflação apesar 545832 de dois programas do FMI de sucessivas mudanças em sua lider ança e da participação comunista no governo O Partido Trabal hista do governo britânico se dividiu em duas facções conflitantes a centrista e a esquerdista cujo programa exigia mudanças radi cais na política econômica No Partido Conservador uma ala de direita antes marginalizada chegou ao poder por meio de Mar garet Thatcher Em março de 1979 após um inverno sombrio de greves no setor público o governo trabalhista caiu perdendo a confiança do Parlamento pela primeira vez em mais de 50 anos dois meses depois Margaret Thatcher venceu com maioria es magadora e tornouse primeiraministra Nos Estados Unidos o presidente Jimmy Carter perdeu a confiança do eleitorado uma vez que o desemprego continuava alto e a inflação se aproximava dos 15 Carter se referiu à atitude predominante como malaise mal estar cuja descrição lhe trouxe a desaprovação popular mas parecia apropriada Diferentemente da situação da década de 1930 não havia batalhas nas ruas entre esquerda e direita nem um claro conflito entre trabalho e capital Em vez disso as nações capitalistas avançadas pareciam se degenerar em rixas políticas generalizadas ao mesmo tempo em que resquícios das coalizões anteriores tentavam se agarrar ao que podiam As partes que con stituíram o consenso centrista do pósguerra os sociaisdemo cratas e os democratascristãos da Europa a coalizão norteamer icana do New Deal não tinham como restabelecer a aliança As velhas receitas para o crescimento econômico e para a estabilid ade política não funcionavam e embora novas panaceias prolifer assem nenhuma delas contava com muito apoio A ordem do pós guerra lutava agonizante A década de 1970 foi ainda mais difícil para os países em desenvolvimento que já lutavam contra o acúmulo de problemas oriundos da industrialização por substituição de importações ISI Os países menos desenvolvidos LDCs que se 546832 industrializavam rapidamente continuavam a enfrentar prob lemas para pagar pelas importações da indústria de combustível A estagnação no Ocidente reduziu a demanda por seus produtos enquanto a inflação elevou os preços dos produtos manufaturados que eles precisavam importar Para agravar o problema a maior parte das nações em desenvolvimento era importadora de pet róleo e se deparava com contas de importação muito mais caras O primeiro choque do petróleo somou cerca de US30 bilhões à conta de importação dos países em desenvolvimento não perten centes à Opep o segundo quase US50 bilhões O desejo de in dustrialização não diminuía mas seu preço era cada vez maior Os empréstimos estrangeiros permitiram às nações em desen volvimento mais avançadas conhecidas como países recémin dustrializados NICs na sigla em inglês para Newly Industrial ized Countries a continuarem a investir na indústria Pouco a pouco o Terceiro Mundo vinha obtendo recursos junto a institu ições internacionais como o Banco Mundial e o Banco Interamer icano de Desenvolvimento Assim pela primeira vez desde a década de 1920 esses países podiam conseguir dinheiro de ban queiros privados internacionais Os NICs tomaram dezenas de bilhões ao ano de bancos e de detentores de títulos de mercados estrangeiros A América Latina tomou US50 bilhões somente em 1981 quando a região devia US300 bilhões no exterior Os países em desenvolvimento como um todo deviam US750 bil hões no exterior 75 a financiadores privados6 A dívida criou um estranho triângulo A explosão do preço do petróleo rendeu aos membros da Opep muito mais dinheiro do que eles podiam gastar e grande parte desse montante cerca de US150 bilhões entre 1974 e 1980 foi investida nos mercados financeiros mundiais Os banqueiros internacionais estavam ávidos por emprestar os petrodólares da Opep e entre os prin cipais usuários desses fundos estavam os países em desenvolvi mento não produtores de petróleo os Nopeps como eram 547832 chamados que precisavam pagar mais caro pelo combustível As nações em desenvolvimento importadoras de petróleo pegaram empréstimos que totalizavam US200 bilhões entre 1974 e 1980 em parte para pagar pelo produto da Opep que depositava os ganhos nos bancos internacionais os quais por sua vez eram emprestados de volta aos países em desenvolvimento para que eles pudessem comprar petróleo Esse era apenas um aspecto dos empréstimos feitos pelo Terceiro Mundo mas enfatiza como as tendências da década de 1970 não eram sustentáveis Os empréstimos não eram somente para pagar o petróleo Muitos exportadores da commodity em especial aqueles com populações substanciais como México e Indonésia também ex ploravam com sucesso sua nova riqueza da qual se utilizavam para tomar empréstimos paralelos de grande volume O principal objetivo dos novos empréstimos em quase todos os países era na verdade sustentar o desenvolvimento industrial Dezenas de bil hões de dólares em dinheiro emprestado tinham como destino a construção de usinas de aço no Brasil de estaleiros na Coreia do Sul e de plantas petroquímicas no México A maioria dos emprés timos ia para uma dúzia de países em melhor situação de Brasil e México a Coreia do Sul e Turquia os banqueiros privados não tin ham interesse nas nações mais pobres do sul da Ásia e África De 1973 a 1981 os principais tomadores de empréstimos ampliaram e aperfeiçoaram as bases de seus setores manufatureiros Grande parte dos novos investimentos era financiada com dívidas a serem pagas em moeda estrangeira Dessa forma os governos dos países recémindustrializados precisavam aumentar as exportações de manufaturados Isso era fácil para os NICs de orientação exporta dora do Leste Asiático mas levou economias tradicionalmente fechadas tais como o Brasil a incentivar as exportações De 1967 a 1981 os doze grandes tomadores de empréstimos aumentaram as exportações de manufaturados de US15 bilhões para US190 bilhões Isso trouxe bons resultados para esses países e para seus 548832 credores mas inundava as nações industrializadas de importados baratos e acirrava a competição pelas importações de setores in dustriais como o do aço o automobilístico o têxtil e o da in dústria de calçados As conquistas desse grupo de exportadores provocaram um aumento dos conflitos comerciais na OCDE O mundo decaiu em uma polarização ainda maior A com petição geopolítica entre o Oriente e o Ocidente se acirrou Tropas soviéticas instalaram um governo comunista no Afeganistão soldados vietnamitas ocuparam o Camboja e uma violenta re volução islâmica antiocidental tomou o poder no Irã Os regimes prósoviéticos consolidaram seu poder nas antigas colônias por tuguesas da África Em Angola por exemplo contaram com a ajuda de milhares de soldados cubanos Um governo de esquerda assumiu na até então neutra Rodésia atual Zimbábue No Caribe quintal norteamericano revolucionários derrubaram ditadores próEstados Unidos em Granada na Nicarágua e ameaçavam outros na Guatemala e em El Salvador A polarização se espalhou para ambos os lados a China agora partidária dos norteamericanos voltouse para reformas ao estilo ocidental A União Soviética também era ameaçada pela explosão de novas greves na Polônia que por fim levaram ao reconhecimento do Solidariedade o primeiro sindicato independente em um país comunista Os mercados financeiros internacionais passavam pela mesma instabilidade A administração Carter tentou estimular a eco nomia mas só conseguiu debilitar a confiança no dólar norte americano que caiu cerca de 30 em relação ao iene e ao marco alemão Durante os quatro anos da administração Carter bancos e empresas norteamericanas praticamente triplicaram seus in vestimentos no exterior que passaram a somar US530 bilhões Em parte tal aumento podia ser explicado pelo receio em relação ao futuro da economia do próprio país Os investidores buscavam freneticamente um porto seguro aumentando o valor do ouro 549832 para mais de US300 a onça no verão de 1979 e para mais de US800 no inverno 20 vezes o preço da época de Bretton Woods Os membros da União Europeia no que pareceu uma tentativa desesperada de se protegerem da crise criaram o Sistema Monetário Europeu SME para administrar suas moedas em conjunto e evitar o pânico que afetava o dólar O mundo enfrentou tempos difíceis entre 1973 e o início da década de 1980 O crescimento diminuiu os preços subiram as recessões se proliferaram e o desemprego aumentou Os gov ernos acostumados ao crescimento e à prosperidade dos últimos 30 anos pareciam incapazes de lidar com o ciclo de crises e seus conflitos decorrentes Dessa forma injetavam capital no prob lema Os governos dos países capitalistas avançados investiam o dinheiro que imprimiam ou pegavam emprestado em gastos soci ais benefícios para desempregados subsídios comerciais e a cri ação de empregos públicos Os governos dos países em desenvol vimento em melhor situação aplicavam na industrialização o din heiro que tomavam emprestado no exterior Ambas as estratégias ajudaram a evitar problemas mais graves mas nenhuma se sustentaria O contrachoque de Volcker Em 6 de agosto de 1979 os Estados Unidos mudaram de direção A crise e a polarização crescente foram transformadas em mudanças e determinação Naquele dia o presidente Jimmy Carter concedeu a Paul Volcker o comando do Federal Reserve Volcker que tinha participado da equipe do governo de Nixon como presidente do Federal Reserve Bank de Nova York era in timamente ligado a Wall Street e gozava da confiança da comunidade financeira internacional Ele era pragmático e con sciente das pressões políticas e do empresariado mas acreditava 550832 firmemente na livre movimentação de mercadorias e capital além de se opor com veemência à inflação e aos déficits orçamentários Paul Volcker não podia retirar as tropas cubanas de Angola ou devolver à GrãBretanha a paz social Entretanto ele acalmou os mercados financeiros modificando a política econômica dos Esta dos Unidos Algumas semanas depois de tomar posse no Fed Vol cker comprometeu o Banco Central norteamericano com o que fosse necessário fazer para baixar a inflação O Federal Reserve forçou a alta das taxas de juro de curto prazo de cerca de 10 para 15 e finalmente para mais de 20 Manteve os juros norte americanos nesse extraordinário patamar por quase três anos até o fim de 1982 Isso levou a economia a duas recessões consec utivas reduziu a produção e a renda média familiar em 10 e ele vou o desemprego a quase 11 Contudo o choque de Volcker trouxe a inflação para menos de 4 e a manteve nesses índices ou abaixo durante os 20 anos seguintes Nas palavras de um eco nomista essa foi talvez a ação de política monetária mais import ante desde o catastrófico fracasso do Fed em resistir ao colapso monetário da década de 19307 O choque econômico de Volcker forçou a alta das taxas de jur os reais depois da inflação de curto prazo de próximo de zero ou menos para 10 Isso aniquilou a inflação e sob uma análise mais ampla deslocou o equilíbrio de forças na direção dos investidores A inflação e as taxas de juros reais negativas haviam sido o maior fardo da comunidade financeira Os juros mais altos fizeram cres cer o retorno do capital e os investidores que mal conseguiam se manter durante a inflação da década de 1970 agora embolsavam os maiores lucros já vistos A partir de 1979 a política favoreceu fortemente a comunid ade financeira e os investidores Embora a classe média e a trabal hadora também estivessem cansadas da inflação e tenham apre ciado sua derrocada o preço pago foi alto O fim da espiral infla cionária forçou as empresas a adotar medidas linhadura em 551832 relação aos salários Antes quando os preços e os salários subiam constantemente as empresas podiam repassálos aos consum idores seguros de que essa seria uma tendência geral que não prejudicaria seus negócios Agora que a inflação fora derrotada a experiência mostrava que as empresas não poderiam mais elevar os preços ao seu belprazer e que precisavam controlar os paga mentos Além do mais o aumento nos custos dos empréstimos forçou as empresas a economizar em outros aspectos como na mão de obra por exemplo Os salários reais dos norteamericanos caíram mais de 10 entre 1978 e 1982 e continuaram em queda mesmo quando a economia retomou o crescimento Os salários reais dos trabalhadores norteamericanos não voltaram a subir por dez anos em 1993 estavam 15 abaixo dos níveis de 19788 As altas taxas de juros se alastraram rapidamente pelo rest ante dos países capitalistas avançados Os outros governos não podiam ignorálas pois os juros norte americanos atraíam capit al do mundo inteiro Os investidores não comprariam títulos alemães a 7 enquanto os títulos do governo norteamericano estivessem a 15 Os governos entretanto tinham outras opções Podiam manter os juros baixos permitir que o dinheiro fluísse para fora de suas economias e evitar a recessão Isso forçaria a desvalorização da moeda nacional quando os investidores se liv rassem dela e também implicaria a continuidade da inflação Tal curso contudo colocaria os governos em desacordo com ban queiros e investidores que abominavam tanto a desvalorização quanto a inflação Altas taxas de juros e política de inflação baixa em geral es tavam ligadas a uma orientação política de direita Na Grã Bretanha o novo governo conservador de Margaret Thatcher que assumiu poucos meses antes de Volcker adotou a nova linha Um ano e meio depois da indicação de Volcker por Carter em meio à recessão causada pelo Fed Ronald Reagan foi eleito e promoveu uma mudança no gabinete propondo uma agenda conservadora 552832 semelhante à de Thatcher Em 1982 os democratascristãos da Alemanha chegaram ao poder derrotando os sociaisdemocratas pela primeira vez em quase 15 anos As novas realidades macroeconômicas se impuseram mesmo onde não havia corrente ideológica clara França e Espanha elegeram seus primeiros governos socialistas em quase 50 anos e a Itália pela primeira vez teve um primeiroministro socialista Contudo os governos de esquerda e centroesquerda enfrentaram duras escolhas suas metas sociais estavam em crescente desa cordo com a austeridade global e com sua participação no Sistema Monetário Europeu SME que atrelava as moedas ao marco alemão Ao mesmo tempo em que os alemães e seus companheir os membros do SME Benelux e Dinamarca imitavam os norte americanos e elevavam as taxas de juros França e Itália precis avam decidir se ficariam com seus parceiros da União Europeia ou se seguiriam sozinhas Empresários e outros interessados nos mercados europeus e internacionais pressionavam os governos para que seguissem o exemplo alemão enquanto os comunistas e a ala socialista de esquerda incluindo a maior parte dos movi mentos trabalhistas se opunham a essa tendência Em 1983 de pois de dois anos de conflito o governo socialista francês optou pelo SME e pela austeridade e em 1985 os italianos o seguiram Um país após o outro se alinhou aos Estados Unidos fazendo vig orar o que o chanceler alemão Helmut Schmidt chamou dura mente de as taxas de juros reais mais altas desde o nascimento de Cristo9 O crescimento desacelerou e o desemprego subiu em toda parte As nações endividadas do mundo em desenvolvimento con tinuavam precisando tomar empréstimos de bilhões Mas a elev ação das taxas de juros iniciada por Volcker impulsionou em dois anos a taxa básica de empréstimo de 10 para 20 às quais as dívidas comerciais dos países em desenvolvimento estavam atre ladas Entre 1974 e 1980 as taxas de juros reais das dívidas dos 553832 países menos desenvolvidos mal acompanhavam a inflação As mesmas no entanto dispararam chegando a 6 em 1981 e a 8 em 1982 quando se estabilizaram Como a dívida existente era in dexada aos juros norteamericanos cada aumento de 1 nas taxas dos Estados Unidos custava aos devedores do Terceiro Mundo US4 bilhões ou US5 bilhões ao ano em pagamentos adi cionais de juros Dois outros choques fizeram parte do impacto causado pela política norteamericana no Terceiro Mundo a subida dos preços do petróleo em 1979 e 1980 aumentou os custos de importação para todos os países menos desenvolvidos que não produziam a commodity enquanto a recessão no Ocidente re duziu a demanda pelas exportações dos produtos desses países Esses três fatores aumento nas taxas de juros alta dos preços do petróleo e recessão na OCDE aumentaram a demanda por capit al estrangeiro mesmo que sua disponibilidade estivesse cada vez menor Os devedores estavam ávidos por novos financiamentos para quitar as contas do petróleo e pagar os juros sobre os em préstimos anteriores Na última metade de 1981 a América Latina chegou a pegar empréstimos da ordem de US1 bilhão por sem ana principalmente para pagar as dívidas já existentes No verão de 1982 o carrossel parou O México anunciou que estava sem dinheiro e em semanas os empréstimos privados para os países em desenvolvimento secaram O fluxo de recursos se deslocou abruptamente do sul para o norte Em 1981 na América Latina entraram US20 bilhões a mais do que o valor que saiu em 1983 como os empréstimos haviam acabado e os governos tiveram dificuldade em pagar suas dívidas um volume líquido de US20 bilhões se movimentou para fora desses merca dos A última onda de empréstimos a países em desenvolvimento parou subitamente com o abalo Isso indicava uma crise da dívida nas proporções daquela dos anos 193010 Como as que a precederam na década de 1930 e ao longo do século XIX a crise da dívida da década de 1980 se 554832 autoalimentava Como numa crise de pânico bancário quando quem emprestava temia não receber mais dos governos dos países pobres os empréstimos cessaram deixando esses países sem pro teção financeira alguma Em desespero os governos dos países em desenvolvimento pararam de pagar seus credores e dessa maneira assustaram ainda mais os banqueiros internacionais Quanto mais os países ficavam sem dinheiro menos os banqueir os emprestavam e quanto menos emprestavam mais os países ficavam sem dinheiro Em semanas algumas das economias que cresciam mais rapidamente tiveram seus empréstimos cortados pelos bancos com os quais contavam há dez ou quinze anos Um depois do outro os principais governos devedores lutavam para gerar moeda estrangeira e as receitas governamen tais necessárias para pagar seus credores até que finalmente suas economias entraram em colapso Até 1983 34 países socialistas ou em desenvolvimento estavam renegociando formalmente suas dívidas e mais alguns passavam por problemas sérios A América Latina estava gastando aproximadamente metade dos seus gan hos em exportações para pagar os juros e o capital de suas dívidas no exterior sobrando pouco para comprar os produtos importa dos que precisava Os credores se organizaram para proteger seus interesses criando um formatopadrão para a renegociação da dívida O devedor devia procurar o Fundo Monetário Internacion al para esboçar um programa de estabilização macroeconômica e ajustes econômicos O FMI e o devedor acordariam metas de in flação gastos governamentais déficits orçamentários e outros Se o FMI estivesse convencido de que o governo modificaria as polít icas ele emprestaria um pequeno volume de recursos em prestações que poderiam ser interrompidas se o governo falhasse com suas obrigações Os banqueiros privados internacionais con sideravam o acordo com o FMI um selo de aprovação e exigiam que os devedores buscassem o Fundo antes de renegociar suas dívidas 555832 A maioria das economias dos países devedores permaneceu enfraquecida por anos Para a América Latina 1980 foi a década perdida a renda por pessoa caiu cerca de 10 os salários reais pelo menos 30 e os investimentos caíram ainda mais enquanto a inflação ultrapassava os 1000 em muitos países11 Essa década perdida testemunhou dois acontecimentos sur preendentes O primeiro foi a onda de democratização Em 1980 havia dois governos civis eleitos na América do Sul até 1990 não havia restado nenhum ditador A crise levou a uma gestão mais democrática em dezenas de outros países fora da América Latina da Coreia do Sul à Tailândia das Filipinas à Zâmbia Até certo ponto isso era um reflexo da tendência em eliminar qualquer governo que estivesse no poder durante a crise A democratização também pode ter resultado da reação do povo dos empresários e da classe média ao mau uso dos recursos emprestados pelos re gimes autoritários isolados e da esperança de que governos rep resentativos evitassem esses erros mais crassos O segundo resultado da crise foi o abandono do processo de industrialização por substituição de importações por parte dos países mais endividados Os empréstimos estrangeiros haviam ajudado a manter a ISI em funcionamento ao financiar bens de capital importados matériasprimas subsídios e investimentos públicos necessários para sustentar o desenvolvimento industrial doméstico Quando os empréstimos cessaram os governos não podiam mais rolar seus déficits orçamentários tendo que inter romper assim os custosos subsídios aos industriais Os países que não podiam tomar emprestado para cobrir seus déficits comerci ais e tinham que gerar mais moeda estrangeira para o serviço da dívida não tiveram outra escolha a não ser aumentar as ex portações De cinco a dez anos a partir de 1982 os países em desenvolvimento um após o outro liberalizaram o comércio des regulamentaram as atividades bancárias privatizaram empresas 556832 públicas elevaram os impostos cortaram gastos e integraram suas economias aos mercados mundiais Depois da mudança para a austeridade antiinflacionária na OCDE e do desvio da substituição de importações nos países em desenvolvimento veio a maior mudança de todas o colapso do comunismo As condições na China na Europa central e do leste e na União Soviética eram péssimas mas já estavam assim há muito tempo Os problemas econômicos do fim da década de 1970 e início da de 1980 entretanto levaram a um terremoto so cioeconômico no rastro do qual esses países se despediram da planificação econômica em nome dos mercados internacionais As primeiras mudanças ocorreram na China e no Vietnã que viviam em uma realidade econômica inteiramente diferente do resto do bloco socialista Os dois estavam entre os países mais pobres do mundo e contavam com minúsculos setores industriais perdidos em um mar de camponeses cujo padrão de vida pouco mudara ao longo do século Até o fim da década de 1970 ambos enfrentaram sérios problemas econômicos e em 1979 se lançaram em reformas voltadas para o mercado de maneira quase simultânea O primeiro passo nos dois casos foi uma reforma radical na agricultura por meio de uma retomada efetiva da pro priedade familiar Cerca de 80 da economia desses países era rural Assim re formas simples na agricultura trouxeram de uma só vez o capit alismo e os mercados à maioria da população Em menos de cinco anos bilhões de fazendeiros chineses estavam completamente en gajados na agricultura capitalista e a renda real da família cam ponesa média havia dobrado As reformas rurais viraram um trampolim para o lançamento de empreendimentos privados e semiprivados que viriam a seguir Vilarejos agrícolas pro priedades privadas coletividades rurais e urbanas além de outros grupos fora do controle central do Estado estabeleceram empreendimentos não agrícolas que como as fazendas 557832 funcionavam com base em princípios de mercado Menos de dez anos depois das medidas originais para a agricultura um milhão e meio desses empreendimentos operavam nas cidades e nos vilare jos com 50 milhões de empregados Entre a agricultura privada a coletiva os negócios locais e o número crescente de empresas es trangeiras quase toda a economia havia deixado o setor público Mesmo na indústria último reduto dos negócios estatais o gov erno central não respondia mais nem pela metade da produção12 O governo chinês não atacou os pilares remanescentes do sistema planificado em vez disso os superou com o sucesso de projetos de base mercadológica As empresas controladas pelo Estado pas saram por reestruturações graduais à medida que os gerentes mais retrógrados acordavam para as oportunidades apresentadas pela economia de mercado da China Pequim impulsionou vigorosamente a economia para os mer cados globais Instituiu áreas econômicas especialmente orienta das para a exportação nas regiões costeiras facilitando o caminho dos investimentos estrangeiros e se endividou pesadamente junto aos mercados internacionais Em menos de uma década entre 1978 e 1988 as exportações chinesas passaram de menos de US10 bilhões para quase US50 bilhões e sua dívida externa de menos de US1 bilhão para US42 bilhões A China com seu capitalismo recémimplantado e efetivo tornouse um dos países mais atuantes da economia mundial Os resultados da economia doméstica não eram nada menos que surpreendentes Em 20 anos entre 1958 e 1978 o produto por pessoa havia crescido mais de 30 Nos dez anos subsequentes enquanto o país se voltava para os mercados doméstico e internacional o produto por pessoa dobrava Havia problemas o aumento da distância entre ricos e pobres e entre as regiões mais prósperas e as mais atrasadas e o aumento da resistência à influência estrangeira e à ascensão de uma oligarquia póscomunista Entretanto era difícil criticar um aumento de cinco ou seis vezes na taxa de crescimento de um país 558832 cujo maior problema há muito tempo era a estagnação econômica Enquanto a China se expandia de forma acelerada a União Soviética estagnava O produto por pessoa soviético cresceu 75 entre 1958 e 1978 o dobro da expansão alcançada pela China mas nos dez anos seguintes enquanto a economia chinesa dobrou de tamanho a soviética cresceu apenas 7 Esse fato não podia ser ignorado por Moscou não apenas pelas razões econômicas ób vias mas também porque a China era um dos seus maiores ad versários militares O sucesso econômico da China e as relações cada vez mais próximas da rival oriental com o mundo capitalista do Ocidente forçaram os soviéticos a repensar sua estratégia A URSS começou a mudar depois da morte de Brezhnev em 1982 Após a morte de dois governantes interinos Mikhail Gorbatchev assumiu o poder em 1985 Quase imediatamente ele anunciou a necessidade urgente de abertura política glasnost e de reestruturação econômica perestroika Gorbatchev traçou seu caminho pelos resistentes interesses consolidados ao longo de décadas e pôs em vigor até as medidas mais radicais de reforma econômica sustentando seu objetivo de modernizar o socialismo em vez de retornar ao capitalismo Ele também tentou aliviar as tensões com o Ocidente deixando claro que não iria mais intervir nos assuntos domésticos de seus aliados na Europa oriental Os comunistas que controlavam a Polônia depois a Hungria e o resto do Comecon deixaram o poder tranquilamente e sem violência em todos os casos exceto na Romênia Em 1989 o Muro de Ber lim foi aberto logo depois destruído e em 1990 as duas Aleman has foram reunificadas Em 1991 enquanto Gorbatchev lutava para administrar o que agora seria uma transição clara para o estilo ocidental de eco nomia e democracia a URSS entrou em colapso O regime comunista a política autoritária a planificação econômica e a Guerra Fria haviam chegado ao fim muito mais rápida e 559832 pacificamente do que qualquer um poderia ter previsto Em meio à desordem socioeconômica ainda faltava desmontar os sistemas político e econômico e construir uma nova ordem capitalista En tretanto a transformação do mundo comunista estava completa da mesma forma como ocorrera anteriormente no mundo capit alista avançado e nos países em desenvolvimento A crise da década de 1970 guiou as economias de toda parte na direção dos mercados domésticos e internacionais quanto maior a transformação mais tarde ela tinha início Entre 1979 e 1985 os países industriais avançados deixaram a conflituosa e tumultuada década de 1970 rumo à ortodoxia financeira e à integração econ ômica Começando em 1985 aproximadamente os países em desenvolvimento deixaram para trás 50 anos de substituição de importações e de forma agressiva se puseram no caminho das exportações da abertura dos mercados das privatizações e da desregulamentação As economias socialistas com a exceção de China e Vietnã vieram por último depois de 1990 mas desi stiram da planificação econômica e adotaram orientações capit alistas a uma velocidade que variava de rápida a perigosa Globalismo Aqueles que representavam a integração dos mercados nacionais globais e o mercado de forma geral triunfaram Mas o controle da inflação e a alta das taxas de retorno dos investimentos indicavam um ponto de inflexão e não o fim da linha Na OCDE mal se havia vencido a inflação quando a onda de gastos começou a crescer de forma tão rápida que fazia a onda de déficits da década de 1970 parecer uma marola O governo Reagan nos Estados Unidos seguia na liderança com a maior dívida pública em tempos de paz da história do país Reagan reduziu impostos e diminuiu imedi atamente a taxa marginalb máxima de 70 para 50 e para 38 560832 poucos anos depois Reagan também deu velocidade à expansão dos gastos militares iniciada no governo Carter Cortes drásticos nos impostos aumentos nos gastos militares e taxas de juros mais altas tornaram os déficits inevitáveis O orçamento federal ap resentou superávits de 1978 a 1981 sofreu ajustes para absorver o impacto dos ciclos econômicos e da inflação mas ao longo dos dois mandatos de Reagan e no único de seu sucessor George H W Bush este orçamento entrou numa crise deficitária em que os valores médios se aproximavam dos US200 bilhões ao ano mais de 3 do PIB Os presidentes Reagan e Bush aumentaram a dívida do gov erno federal de menos de US1 trilhão para mais de US4 trilhões em 12 anos Eles mais que dobraram a dívida federal por pessoa um índice que vinha diminuindo ao longo de todo o período pós guerra Eles também dobraram a dívida federal como percentual do PIB de 33 em 1981 para 66 em 199313 O que mais con tribuiu para isso foram os cortes de impostos que mesmo depois de revertidos seguidamente deixaram o governo federal com cerca de US100 bilhões a menos a cada ano em relação ao cenário an terior A experiência foi extraordinária tanto por seu significado econômico quanto pela incongruência das administrações conser vadoras que pregavam simultaneamente as virtudes dos gov ernos pequenos e a rolagem de déficits enormes e asfixiantes Os déficits da era ReaganBush tiveram raízes políticas claras As reduções de impostos eram imensamente populares entre os eleitores ricos e de classe média alta cuja lealdade era disputada ferrenhamente por democratas e republicanos O aumento dos gastos militares também era popular tanto entre os membros das instituições políticas que mais enfatizavam a segurança quanto entre as partes do país e da economia que dependiam fortemente dos gastos com defesa Alguns membros do governo acreditavam que os cortes de impostos se pagariam na forma de uma taxa alta de crescimento o que não aconteceu Alguns conservadores 561832 partidários de Reagan consideravam seus déficits uma maneira de limitar os programas governamentais que desaprovavam Se os próximos governos estivessem sobrecarregados com dívidas eles não conseguiriam expandir os gastos Paul Volcker observava o processo com desânimo e mais tarde ponderou Os sonhadores reaganistas mais ferrenhos afirmavam que a redução de impostos produziria uma espécie de elixir mágico para a eco nomia que faria os déficits sumirem ou pelo menos perderem im portância Mas alguns de seus argumentos me fizeram perguntar por que afinal devemos então arrecadar qualquer tipo de imposto Os conselheiros mais realistas tudo é relativo pareciam pensar que o risco de um déficit crescente era um preço razoável a ser pago pela aprovação de seu programa radical qualquer dano poderia ser re parado mais tarde com a ajuda de uma teoria recente segundo a qual o caminho para manter os gastos baixos não seria afirmar que os im postos eram adequados para pagar por isso e sim assustar o Con gresso e o povo norteamericano com déficits14 David Stockman diretor do Gabinete de Gestão e Orçamento do governo Reagan alarmado com a atenção cada vez menor dada a ambos os elementos que compunham seu departamento comentou a experiência de forma dura alguns anos depois O que tínhamos era US15 trilhão em déficits acumulados uma de terioração radical da nossa saúde financeira interna e externa e um sistema político que se tornou enfraquecido prejudicado esgotado e ensanguentado pela repetição dessa situação ano após ano que agora funciona como um parlamento de uma república de bananas15 Os déficits de Reagan fizeram parte de uma expansão inter nacional de déficits orçamentários No fim de 1980 o crescimento na América do Norte na Europa e no Japão havia se restabele cido a inflação estava baixa e continuava a cair Porém os déficits 562832 orçamentários continuavam muito altos representavam tipica mente 3 ou 4 do PIB nos países maiores 5 no Canadá na Holanda e na Espanha 9 na Irlanda e 11 na Grécia e na Itália Os governos eram especialmente atraídos pelo gasto deficitário por duas razões A primeira seria um elemento básico de política macroeconômica as políticas fiscal e monetária podem substituir uma à outra Um governo podia tentar estimular a economia lib erando recursos ou rolando déficits ou ambos Em meados da década de 1980 os governos da OCDE pararam de tentar influen ciar suas economias com políticas monetárias inflacionárias En tretanto continuaram a usar políticas fiscais cobrança de impos tos empréstimos e gastos O declínio da política monetária ativa veio acompanhado de uma maior utilização da política fiscal Isso ficou claro em especial nos países da União Europeia que atre laram suas moedas ao marco e cederam suas políticas monetárias ao Banco Central alemão Os governos irlandês holandês e itali ano não podiam alterar suas próprias taxas de juros mas podiam pegar milhões em empréstimos para manter suas economias em funcionamento A experiência norteamericana foi semelhante a política monetária enfatizava a baixa inflação mas a política fiscal ainda estava disponível para os governos que quisessem angariar apoio político O crescimento dos mercados financeiros mundiais facilitou os gastos mediante déficits outro fator que contribuiu para os défi cits das décadas de 1980 e 1990 Em 1973 o capital disponível nos mercados internacionais offshore era de US160 bilhões sendo que uns US35 bilhões eram emprestados todo ano Na época esses números eram impressionantes pois durante quase meio século não haviam sido concedidos empréstimos internacionais Porém no início da década de 1980 os mercados de capital inter nacionais estavam cerca de dez vezes maiores com US15 tril hão e os empréstimos giravam em torno de US300 bilhões anu almente O sistema financeiro global continuava a crescer e no 563832 início da década de 1990 movimentava mais de US5 trilhões e emprestava mais de US1 trilhão por ano Os governos da OCDE podiam financiar seus gastos deficitári os de forma muito fácil a partir desse enorme pool de capital An teriormente nas economias fechadas os déficits precisavam ser sanados com empréstimos internos e o que era emprestado aos governos se tornava indisponível para o setor privado Os emprés timos governamentais elevavam as taxas de juros aumentavam o custo do capital para os negócios e assustavam os investimentos privados Um governo como o da Irlanda cujas necessidades de empréstimos muitas vezes ultrapassavam 15 do PIB não poder ia obter esses recursos apenas no mercado interno Agora os gov ernos podiam sacar de um grande pool de capitais estrangeiros e os gastos deficitários não pesavam sobre investimentos privados ou financiamentos domésticos Com o dinheiro disponível pronta mente não havia necessidade de taxas de juros mais altas O país podia comer sua fatia do bolo e ao mesmo tempo guardála por meio de empréstimos estrangeiros que cobriam seus déficits Em meados da década de 1980 havia um fluxo de entrada nos Esta dos Unidos de US100 bilhões ao ano em sua maioria na forma de empréstimos ao governo norteamericano Durante o ano de 1988 pela primeira vez desde a Primeira Guerra Mundial os Estados Unidos se tornaram devedores líquidos do resto do mundo A economia norteamericana dependia dos gastos defi citários que por sua vez estavam sujeitos aos recursos internacionais No fim das contas a dívida teria de ser paga Entretanto para um político isso ainda levaria muito tempo certamente mais tempo que a próxima eleição Apesar disso enquanto os déficits cresciam aumentava a preocupação em especial da comunidade financeira de que os empréstimos do governo estivessem vir ando hábito Os investidores começaram a reclamar alegando que os déficits contínuos eram insustentáveis e advertindo os 564832 governos de que estes precisavam pôr ordem na casa Os gov ernos que tinham gasto um grande capital político para recuperar a confiança dos investidores durante a luta contra a inflação en frentavam agora novos protestos em relação aos déficits A dependência dos Estados Unidos em relação aos recursos estrangeiros produziu algumas consequências domésticas negat ivas O dinheiro que entrava no país vindo do exterior aumentou a demanda pela moeda norteamericana Estrangeiros emprestavam ao governo norteamericano por meio da compra de títulos do Tesouro o que significava comprar dólares Isso fez com que o valor do dólar aumentasse 50 em apenas cinco anos O dólar forte de 1981 a 1986 permitiu que os norteamericanos comprassem mercadorias estrangeiras baratas mas arruinou in dustriais e produtores agrícolas do país que passaram a enfrentar a concorrência de bens importados bem mais baratos Em 1980 a indústria norteamericana exportava 26 do que produzia en quanto 20 dos bens manufaturados consumidos eram importa dos um superávit comercial correspondente a 6 do PIB Cinco anos depois as exportações de manufaturados norteamericanos caíram para 18 da produção e as importações chegaram a 32 do consumo um déficit de 14 do PIB Em cinco anos a parti cipação das importações no consumo de uma ampla variedade de produtos duplicou como foi o caso de calçados máquinas ferra mentas roupas computadores aparelhos domésticos e móveis Enquanto o emprego em geral cresceu 10 o número de postos de trabalho na indústria caiu 5 Os pedidos formais por proteção comercial dobraram à medida que industriais e fazendeiros norteamericanos reclamavam que não podiam mais competir com um dólar tão alto16 Os governos estrangeiros manifestaram seu medo de que a alta do dólar desestabilizasse os mercados fin anceiros Os efeitos do dólar forte ajudaram a convencer o gov erno dos EUA de que era necessário cooperar com outras forças 565832 econômicas para baixar o dólar e de que era desejável atacar os déficits orçamentários norteamericanos Os países desenvolvidos começaram a reduzir seus déficits no início da década de 1990 aumentando impostos e cortando gas tos Em muitos casos o aperto fiscal parecia e às vezes era um ataque ao Estado do bemestar social dos sociaisdemocratas Os governos cortaram alguns programas sociais mas o efeito final era estabilizar e não diminuir a participação do governo No fim da década de 1990 um governo típico de um país industrial ainda gastava mais de 40 do PIB mas os déficits orçamentários tin ham sido reduzidos a uma fração dos níveis anteriores e muitos países incluindo os Estados Unidos administravam superávits substanciais em seus orçamentos Houve três fases macroeconômicas distintas nos 30 anos de pois do fim de Bretton Woods A década de 1970 contou com in flações altas e crescentes Na década de 1980 os países desen volvidos derrotaram a inflação mas contraíram enormes déficits orçamentários Durante a década de 1990 os governos reduziram ou zeraram seus déficits Antes do fim do século a maior parte dos países desenvolvidos tinha inflação baixa déficits orça mentários pequenos quando estes existiam setores públicos consideráveis e uma ampla rede de programas sociais Regionalismo e globalismo Enquanto revisavam suas políticas macroeconômicas os países desenvolvidos também intensificavam a integração à economia mundial No início houve uma renovação da integração regional Nas décadas de 1980 e 1990 a União Europeia UE incorporou novos membros do sul e do norte Grécia Espanha Portugal Áustria Suécia e Finlândia o que aprofundou a integração econ ômica no Velho Continente No começo da década de 1980 com a 566832 Europa atolada no pessimismo e na paralisia os membros da UE começaram a planejar uma fusão radical de seus mercados Governos e grandes empresários concordavam que um mercado europeu completamente integrado era necessário para ajudar a rejuvenescer a economia europeia Esse consenso transpunha ideologias e era liderado pelo governo de centrodireita da Ale manha pelo governo socialista da França e pelo regime conser vador da GrãBretanha Os setores econômicos que dispunham de tecnologia organização ágil e vislumbravam a economia mundial esperavam pela retomada da integração regional Os membros da UE aprovaram então o Ato Único Europeu em 1986 e no mesmo ano começaram a botálo em prática gradual mente até 1992 Os planos para um mercado único evoluíram de forma mais rápida do que o previsto Com poderosos interesses econômicos por trás do processo todos os tipos de barreiras caíram A união eliminou ou harmonizou a regulamentação de in vestimentos migração padrões de produtos e processos de fab ricação licenciamento profissional e muitas outras atividades econômicas Antes de 1993 a UE era em alguns aspectos uma unidade mais integrada que os estados norteamericanos ou as províncias canadenses já que os membros da UE abriram mão de muitos dos poderes que as unidades federativas norte americ anas continuavam a possuir O momentum econômico e político criado pela formação de um mercado único impulsionou os membros da UE em direção a uma proposta ainda mais ambiciosa a unificação das moedas Em 1991 os membros da UE adotaram o novo Tratado da União Europeia em geral conhecido como Tratado de Maastricht devido à pequena cidade holandesa onde foi assinado O docu mento exigia mais cooperação em várias dimensões entre elas uma política externa liberal e um aumento do peso político do Parlamento Europeu organismo eleito como poder Legislativo da UE A peça central do Tratado de Maastricht contudo era a 567832 união monetária Em 1999 o novo Banco Central europeu in troduziu uma moeda comum o euro Três países permaneceram fora da zona do euro Reino Unido Suécia e Dinamarca Apesar disso a União Europeia tinha então todas as indicações de um país mercado único moeda e Banco Central unificados política comercial comum e regulamentação econômica compartilhada em temaschaves como regulação antitruste e de meio ambiente Para todos os propósitos econômicos a Europa ocidental era uma unidade econômica na verdade segundo várias estatísticas a maior unidade econômica mundial maior que os Estados Unidos e mais de duas vezes o tamanho do Japão Além disso ao redor de suas fronteiras havia mais de uma dúzia de países em vários está gios de acesso da Estônia a Malta da República Tcheca à Turquia As empresas norteamericanas também viam a integração re gional como forma de melhorar seu posicionamento competitivo Primeiramente os Estados Unidos criaram a Iniciativa da Bacia do Caribe que concedeu aos países da região e seu entorno acesso privilegiado ao mercado norteamericano O próximo passo foi dado em direção ao norte Estados Unidos e Canadá já possuíam uma sólida relação de comércio e investimentos e em 1987 assin aram um tratado de livrecomércio que os colocou no caminho para um mercado único ao estilo europeu ainda que sem as mes mas implicações de políticas interna e externa Cinco anos mais tarde o México se uniu a eles e em 1994 o Tratado NorteAmericano de LivreComércio o Nafta da sigla em inglês para North American Free Trade Agreement foi efetivado Durante os dez anos seguintes o Nafta removeu prat icamente todas as barreiras à movimentação de bens capitais e serviços entre os três países O resultado foi a criação progressiva de um mercado único norteamericano embora a imigração tivesse sido excluída dessa liberalização O Nafta foi pioneiro em unir países desenvolvidos e em desenvolvimento em uma área de 568832 livrecomércio Muitos países da América Latina desejavam se fili ar ao Nafta e alguns chegaram a adotar o dólar em substituição às suas moedas Havia perspectivas sérias de extensão do Nafta a países no interior e no entorno da Bacia do Caribe e em outras partes da América Latina Ao mesmo tempo na América do Sul se formava o terceiro maior bloco comercial do mundo Entre 1985 e 1990 Brasil e Ar gentina negociaram uma área de comércio que por fim passou a incluir Uruguai e Paraguai como membros plenos e Chile e Bolívia como associadosc O Mercado Comum do Sul Mercosul foi posto em prática até o ano de 1994 Os quatro membros e os dois associados reúnem 250 milhões de pessoas com um produto combinado de quase US2 trilhões quarta força comercial do mundo depois de UE Nafta e Japão Como na UE e no Nafta os governos e empresários de Brasil e Argentina estavam ansiosos para interligar seus mercados e assim ter uma base de partida para a competição nos mercados mundiais Por meio da combin ação de forças os membros do Mercosul também esperavam at rair mais investimentos estrangeiros visto que as companhias globais estavam mais interessadas nos extensos mercados com binados do que em qualquer um de seus membros isoladamente Como no mundo desenvolvido o Mercosul marcou a vitória defin itiva daqueles interesses econômicos que viam o seu futuro na ex portações nos empréstimos estrangeiros ou em parcerias com empresas estrangeiras Com a integração regional funcionando como uma sala de es pera para uma liberalização mais ampla as longas negociações da Rodada do Uruguai foram concluídas em 1994 Os acordos mais recentes estenderam a liberalização do comércio para novas questões e atraíram futuros membros entre as nações em desen volvimento e as excomunistas A Rodada do Uruguai também criou uma nova instituição a Organização Mundial do Comércio que substituiu o Gatt A OMC diferentemente do Gatt é um 569832 organismo permanente dotado de poderes próprios dedicado principalmente à mediação de disputas e sua criação consolidou o sistema de livrecomércio Crises financeiras globais e nacionais À medida que o comércio era liberalizado os governos dos países desenvolvidos removeram as últimas barreiras à livre circulação de dinheiro e capital Além disso muitos países em desenvolvi mento também reduziram os controles sobre os investimentos alémfronteiras No fim da década de 1990 as atividades fin anceiras internacionais estavam tão interconectadas com os mer cados domésticos que para todos os objetivos e propósitos havia um sistema financeiro global que incluía todos os países desen volvidos muitas nações em desenvolvimento e excomunistas Pensionistas e pequenos investidores passaram a incluir de forma rotineira ações de empresas estrangeiras e fundos de títulos de dívida em suas carteiras de investimentos até mesmo quando esses títulos eram de países como Chile República Tcheca ou Cor eia A maioria dos países também liberalizou as atividades bancárias internas levando a uma onda de fusões das principais instituições financeiras mundiais De fato os internacionalistas passaram a dominar a economia internacional à medida que os países em desenvolvimento e ex comunistas agora participavam plenamente do mercado mundial As nações em desenvolvimento e em transição se integraram ao ambiente econômico internacional e reduziram a participação governamental em seus mercados internos Apesar das di ficuldades enfrentadas com a estabilização macroeconômica os ajustes as reformas econômicas a liberalização do comércio e a privatização a maior parte dos governos continuou nesse cam inho As administrações públicas em toda a Europa central e do 570832 leste América Latina África e Ásia reduziram as barreiras comer ciais acolheram os investimentos estrangeiros implantaram me didas austeras para baixar inflação e reduzir déficits orçamentári os e privatizaram empresas estatais Em meados da década de 1990 um grupo de nações com ger ação de receitas intermediárias países como México Brasil Hungria Lituânia Coreia e Tailândia havia convergido na busca da internacionalização de suas economias e mercados Quase to das também estavam sob regimes democráticos civis A retomada dos empréstimos por parte dos países em transição e em desen volvimento determinou o sucesso dessas nações os países alta mente endividados trabalharam uma década para superar a crise que começou em 1982 e agora recuperavam o acesso aos emprés timos estrangeiros O mundo dos financiamentos livres da década de 1990 se dis tanciava tremendamente daquele de 1970 quando alguns poucos países menos desenvolvidos em melhor situação e algumas eco nomias planificadas negociavam grandes empréstimos com um pequeno grupo de bancos internacionais gigantescos Os novos governos e corporações das economias de transição e em desen volvimento mergulharam diretamente no turbilhão do sistema financeiro internacional Fundos mútuos trustes de investimen tos e bancos dos países ricos colocaram pequenos investidores aposentados e fundos de pensão de sindicatos qualquer um mesmo com economias modestas em contato direto com ações e títulos da dívida de Bancoc a Budapeste e Buenos Aires de Seul a São Petersburgo e São Paulo Uma legião de países da América Latina e do leste Asiático promovidos de pobres a menos desen volvidos depois a países em desenvolvimento e recentemente in dustrializados eram agora simples mercados emergentes com o mesmo apelo que teria um novo produto O mesmo se podia dizer das antigas economias planificadas que passaram a economias de transição e depois novamente a emergentes 571832 Agora era comum para os investidores internacionais incluír em grupos de países da América Latina do Leste Asiático e da Europa central e do leste em suas carteiras de investimentos pois esses países tinham conquistado algo próximo da associação plena à ordem econômica global Agora os fundos mútuos e de pensão podiam considerar México Hungria e Coreia em suas carteiras de investimentos tão rotineiramente quanto por exem plo a Siemens e a Unilever O livrecomércio e a OMC a integ ração financeira e a ascensão dos mercados emergentes refletiam a consolidação de uma nova realidade econômica a aceitação ger al dos mercados globais de bens e capitais ou globalização no jargão comum Apesar disso algumas vezes o movimento de livrecomércio recursos e finanças pendia para crises econômicas de tamanho e velocidade assustadores Os países e empresas firmemente lig ados aos mercados mundiais eram mais suscetíveis às forças fin anceiras internacionais Afinal governos e empresas estavam sujeitos a padrões globais mais rigorosos que os de costume Com centenas de bilhões de dólares circulando ao redor do globo em minutos as avaliações dos investidores sobre a credibilidade de países ou de corporações se tornaram essenciais Governos e ad ministradores tinham de se preocupar muito mais do que antes com a maneira pela qual seus atos seriam interpretados pelos in vestidores domésticos e internacionais que poderiam ficar agit ados e inconstantes A competição internacional enfraqueceu alguns dos principais sistemas bancários As crises que afetaram a poupança e os crédi tos dos Estados Unidos foram exemplos claros Pequenas institu ições financeiras faziam empréstimos de alto risco na concorrên cia feroz com contrapartes internacionais muito maiores en quanto reguladores e políticos postergavam qualquer medida mais severa contra os banqueiros tão influentes politicamente Por fim o setor de poupança e crédito se desintegrou exigindo 572832 um aporte de pelo menos US200 bilhões em dinheiro do con tribuinte Países da Escandinávia e o Japão entre outros so freram o impacto de crises semelhantes em seus sistemas fin anceiros antes protegidos A crise de dívida que envolveu os países em desenvolvimento no início da década de 1980 acabou somente como um sinal de quão rápida e completamente os mercados financeiros modernos podiam passar da euforia ao colapso O epicentro da nova rodada de crises que começou com um ataque ao mercado cambial dur ante a unificação monetária da Europa foram as taxas de câmbio Desde 1985 aproximadamente a maioria dos membros da União Europeia vinha mantendo seu câmbio fixo contra o marco alemão Novos membros da UE como Espanha e Portugal membros observadores como Suécia Noruega e Finlândia e europeus relutantes como o Reino Unido tinham todos se unido ao bloco liderado pelo marco e caminharam em direção a uma moeda única depois do Tratado de Maastricht Contudo quanto mais nações europeias se uniam à União Econômica e Monetária UEM e ao grupo de moeda comum mais a aparente estabilidade do acordo monetário estava ameaçada Com a Alemanha unificada as autoridades monetárias alemãs passaram a temer que os pesados gastos estatais da parte oriental pudessem levar o país à inflação e então aumentaram as taxas de juros de forma rápida e abrupta Isso forçou outros países europeus cuja moeda estava atrelada ao marco alemão a aumentarem suas taxas de juros também medida que os lançou numa recessão gerada na Alemanha A política alemã impunha uma escolha difícil aos governos europeus continuarem membros do bloco do marco alemão ou evitarem a recessão Os demais países da Europa estavam atolados na recessão e no desemprego de dois dígitos e havia pouco apoio político para mais medidas austeras Para piorar a situação em junho de 1992 os eleitores di namarqueses disseram não ao referendo que ratificava o 573832 Tratado de Maastricht na UEM e as pesquisas de opinião pública indicavam que havia chances de o povo francês fazer o mesmo em setembro Se o Tratado de Maastricht estivesse acabado os gov ernos teriam menos motivos para manter suas moedas fixas di ante do marco alemão No verão de 1992 os operadores das mesas de câmbio começaram a prever que a GrãBretanha e a Itália não mais man teriam suas moedas fixas no marco alemão Investidores venderam seus lotes dessas moedas o que só serviu para aument ar a especulação de que a libra esterlina e a lira seriam desvaloriz adas Os governos britânico e italiano aumentaram os juros mas no fim das contas o custo parecia extremo e ambos desvaloriz aram suas moedas Os operadores estrangeiros atacaram outras moedas nos meses que se seguiram Os governos tentaram segur ar o vínculo com o marco alemão em um determinado ponto o Banco Central sueco levou as taxas de juros a 500 mas o preço foi alto demais17 Por fim Irlanda Espanha Portugal Sué cia Noruega e Finlândia desvalorizaram suas moedas e parecia que o progresso em direção a uma união monetária havia sofrido um revés A crise europeia não durou muito e as economias da região se recuperaram após terem se desvinculado da política monetária alemã Os danos ao processo de unificação monetária foram su perados de forma rápida e efetiva para que continuassem avançando em direção ao euro Entretanto os enormes recursos dos mercados financeiros internacionais foram mobilizados para apoiar as críticas às moedas consideradas inseguras e para forçar os países a desvalorizar e modificar outras políticas Em menos de um ano o problema afetou o México18 Com a implantação do Nafta o governo mexicano queria manter o peso fixo no dólar Além disso na corrida para uma eleição presiden cial altamente polêmica o governo queria manter o peso forte e as receitas elevadas A economia crescia acelerada e captou 574832 investimentos estrangeiros de mais de US30 bilhões em 1993 mas em janeiro de 1994 uma rebelião explodiu no sul do país e em março o candidato do governo líder na corrida presidencial foi assassinado No início do ano eleitoral de 1994 o governo lutava para sustentar seu compromisso em relação ao peso tanto para manter sua reputação quanto pelo fato de que o peso forte aumentava o poder de compra dos consumidores mexicanos Os operadores das mesas de câmbio entretanto não acred itavam que o governo manteria suas promessas Os investidores começaram a ficar cada vez mais agitados e a vitória apertada do partido do governo o Partido Revolucionário Institucional na eleição presidencial de 1994 não tranquilizou ninguém O secretáriogeral do PRI foi assassinado em setembro assustando ainda mais os investidores Quando o novo governo assumiu em dezembro os operadores de câmbio sentiram que poderiam fazer uma aposta única contra o peso caso a moeda fosse desvaloriz ada eles venceriam e se não fosse eles não sairiam perdendo À medida que os especuladores se livravam da moeda o governo gastava bilhões Porém poucos dias antes do Natal deixou o peso flutuar o que o fez despencar prontamente Mais uma vez um país foi obrigado a desvalorizar sua moeda O México diferentemente da Europa foi atingido por uma crise bancária resultante do choque cambial Quando o peso es tava forte muitos bancos e empresas tomavam grandes emprésti mos em dólar mas sua desvalorização desencadeou uma onda de falências quando o custo real das dívidas em dólares disparou O peso despencou no espaço de um mês de 30 centavos aproxima damente para cerca de 15 centavos de dólar assim o encargo real de uma dívida estrangeira de US1 milhão que uma empresa mexicana tivesse contraído por exemplo dobrou de 33 para 66 milhões de pesos Muitas empresas endividadas entraram em crise seguidas pelos banqueiros mexicanos e em semanas o país passava pelo pânico financeiro O México imergiu em uma crise 575832 profunda com queda de 6 da produção e alta da inflação que chegou a mais 50 Uma catástrofe ainda maior só foi evitada quando os países credores liderados pelos EUA juntamente com o FMI e outras instituições financeiras internacionais vieram ao auxílio com dezenas de bilhões de dólares em empréstimos de emergência para arrancar o México do fundo do poço Mesmo abafada a crise do México apelidada de efeito tequila foi sen tida em toda a América Latina que mergulhou numa recessão O ciclo seguinte de crises cambiais e financeiras foi o mais dramático A maior parte dos países do Leste Asiático em espe cial Coreia Tailândia Malásia e Indonésia eram modelos de orto doxia financeira e políticas sociais conservadoras inflação mín ima déficits orçamentários pequenos índices baixos de gastos so ciais e poucos direitos para os trabalhadores Em 1997 as eco nomias da região estavam em grande expansão Seu potencial que parecia inesgotável atraía capitais estrangeiros a dívida ex terna da Tailândia triplicou de cerca de US30 bilhões para US90 bilhões nos três anos antes de 1996 enquanto a da In donésia dobrou de US25 bilhões para US50 bilhões Nos primeiros anos da década de 1990 cerca de US50 bilhões dos mercados financeiros globais entravam todos os anos no Leste Asiático e outras dezenas de bilhões vinham como investimentos diretos de empresas multinacionais A prosperidade trouxe con sigo preços altos que tornaram menos rentáveis as exportações Dessa forma grande parte dos investimentos como é normal em períodos de euforia financeira passou a se concentrar em imóveis comércio e em finanças propriamente ditas Em 1996 e início de 1997 as exportações desaceleraram a inflação subiu e os bancos contraíam cada vez mais dívidas Logo os investidores pre viram as desvalorizações e começaram a vender suas moedas do Leste Asiático Apesar das garantias dos governos do FMI e de outras lider anças financeiras internacionais os investidores continuaram a 576832 sair da Ásia Numa espiral então familiar o fluxo virou uma chuva depois um dilúvio e então um pânico generalizado A ne cessidade de se desfazer das moedas locais se alastrou da Tailân dia e das Filipinas à Indonésia e à Malásia e então a Taiwan e à Coreia A dimensão e eficiência dos mercados internacionais pareciam facilitar os ataques por tornarem extraordinariamente fácil aos investidores especular contras as tentativas governamen tais de defender suas moedas Joseph Stiglitz então economista chefe do Banco Mundial representou bem o processo Considere um especulador que vai a um banco tailandês toma um empréstimo de 24 bilhões de bahts os quais pela taxa de câmbio ori ginal podiam ser convertidos em US1 bilhão Uma semana depois a taxa de câmbio cai em vez de 24 bahts para um dólar há agora 40 bahts Ele pega US600 milhões converte de volta em bahts obtendo 24 bilhões de bahts para pagar o empréstimo Os US400 milhões restantes são o seu lucro um retorno significativo para uma semana de trabalho e um investimento de uma pequena quantidade de seu dinheiro Quando crescem as expectativas de uma desvalorização as chances de fazer dinheiro se tornam irresistíveis e os especu ladores de todo o mundo se amontoam para tirar proveito da situ ação19 Semanas após o choque inicial as moedas de Coreia Filipinas e Malásia tinham caído cerca de 40 a da Tailândia aproxima damente 50 e a da Indonésia por volta de 80 O dinheiro saía dessas economias tão rapidamente quanto tinha entrado o fluxo de entrada anual de US50 bilhões do início da década de 1990 se transformou em um fluxo de saída de mais de US230 bilhões entre 1997 e 1999 Os preços das ações despencaram 80 90 e mais ainda durante o boom do mercado imobiliário no fim de 1997 as ações do setor imobiliário da Tailândia estavam 98 abaixo do valor do pico atingido em 199320 Depois de anos de um crescimento extraordinário 10 ao ano fora comum as 577832 economias de Indonésia Tailândia e Malásia encolheram 15 10 e 8 respectivamente em questão de meses Levaria anos até que recuperassem seus níveis anteriores à crise Finalmente a corrente levou a Rússia e o Brasil a crises semelhantes As lideranças financeiras mundiais viam as crises na América Latina no Leste Asiático na Rússia e na Turquia entre outras da década de 1990 como ameaças à ordem econômica internacional As organizações financeiras internacionais e os governos credores mobilizaram mais de US50 bilhões para o México em 1995 quase US120 bilhões para as três nações asiáticas com prob lemas maiores Indonésia Coreia e Tailândia em 1997 e 1998 e outros US170 bilhões para Rússia e Brasil em 1998 e 1999 Críti cos alegavam que os contribuintes estavam sendo forçados a pagar para livrar investidores tolos e maus governos mas as lider anças insistiam na necessidade de uma resposta rápida para evitar o contágio Com todos esses problemas o fim do século foi semelhante ao seu início dominado por mercados abertos à globalização A eco nomia mundial havia se reintegrado após uma jornada tortuosa de quase cem anos O comércio havia se tornado duas vezes mais importante para as economias nacionais do que era na virada do século Os investimentos estrangeiros eram incomensuravelmente maiores e os mercados nacionais afundavam na imensidão dos fluxos financeiros globais Mercadorias e capital se movi mentavam ao redor do globo mais rapidamente do que em qualquer época anterior e em quantidades muito maiores Era o retorno do capitalismo global do início do século a Termo utilizado pela macroeconomia moderna que une as palavras estagnação e inflação para se referir a um período de elevação na taxa de desemprego e de preços descontrolados NT 578832 b A taxa marginal é aquela paga em cima de uma unidade a mais de rendimento NE c No momento em que este texto está sendo editado discutese a possibilidade de integração da Venezuela como membro efetivo do bloco NE 579832 17 A vitória dos globalizantes Em meados de 1997 a Malásia enfrentou a crise econômica mais séria de sua história e o primeiroministro Mahathir bin Moha mad acusou os financistas internacionais Em 24 de julho Ma hathir os culpou amargamente Qualquer um com alguns bilhões de dólares é capaz de destruir todo o progresso que fizemos O problema era uma comprometimento indevido com a globaliza ção que deixava os mercados de câmbio aptos a atacarem o valor da moeda do país o ringgit Sobre isso o primeiroministro afirmou Eles nos dizem que devemos nos abrir que os negócios e o comércio devem ser totalmente livres Livres para quem Para os especuladores trapaceiros Para os anarquistas que em sua cruzada pelas sociedades abertas querem destruir os países fracos e forçar nossa submissão à ditadura dos manipuladores internacionais1 Os problemas começaram quando a moeda da Tailândia se tornou objeto de pressões especulativas Em 2 de julho depois de várias medidas desesperadas as autoridades tailandesas desval orizaram a moeda Em poucos dias Filipinas Malásia Cingapura e Indonésia se viram diante de ataques às suas moedas e final mente Vietnã Hong Kong Taiwan e Coreia se juntaram à lista das vítimas Em setembro de 1997 quando o Banco Mundial e o FMI realizaram sua reunião anual em Hong Kong todo o Leste e Sudeste Asiáticos tinham sido engolidos por uma crise econômicofinanceira que ameaçava décadas de desenvolvimento econômico Mahathir levou seu caso a uma reunião do FMI e do Banco Mundial A sociedade precisa ser defendida desses exploradores inescrupulosos disse às delegações e aos financistas Estou dizendo que as transações de câmbio são desnecessárias im produtivas e imorais Deveriam ser impedidas Deveriam ser de cretadas ilegais O país que ele liderava desde 1981 havia al cançado avanços econômicos consideráveis naquele período O tamanho da economia triplicou o produto por pessoa dobrou Es sas conquistas estavam sob o ataque dos grandes adminis tradores de fundos que agora passaram a decidir quem deve ou não prosperar2 A raiz da questão segundo Mahathir era a submissão dos países em desenvolvimento aos caprichos dos mercados globais Ele reclamou Durante todo o tempo tentamos nos adequar aos desejos dos ricos e dos poderosos Fizemos tudo o que mandavam Mas quando os grandes fundos usaram seu enorme peso para fazer com que as ações flutuassem à vontade e para gerar lucros gigantescos com tais manip ulações seria esperar demais que os recebêssemos de braços abertos em especial quando seus lucros geram perdas enormes para nós A abertura financeira foi longe demais e serviu somente a um propósito Os operadores nas mesas de câmbio ficaram ricos muito ricos riquíssimos empobrecendo ainda mais os outros3 O primeiroministro Mahathir deu nomes aos impessoais mer cados internacionais que tentavam arruinar a economia que ele administrava Acusou a imoralidade de George Soros um dos fin ancistas de maior destaque A população carente desses países 581832 vai sofrer afirmou Mahathir e são esses pobres que deviam ser protegidos por George Soros que tem tanto dinheiro e poder mas é completamente imprudente4 Por meses Mahathir atacou Soros e outros ultrarricos cuja riqueza só poderia vir do em pobrecimento alheio da usurpação do que os outros tinham para o seu próprio enriquecimento5 O alvo dos ataques do primeiroministro da Malásia re spondeu às acusações no dia seguinte A sugestão de ontem do Dr Mahathir de banir as operações de câmbio disse o especu lador Soros é tão imprópria que não merece nem ser levada em consideração Interferir na convertibilidade dos capitais em um momento como esse é a receita do desastre O Dr Mahathir é uma ameaça ao seu próprio país6 Soros falou em nome do capital global Não pode haver dúvidas de que a integração global trouxe benefícios extraordinários Não somente os benefícios da divisão internacional do trabalho que são tão claramente provados pela teoria da vantagem comparativa mas também outros como a economia de escala e a rápida difusão de inovações de um país para outro Igualmente im portantes são os ganhos não econômicos como a liberdade de escolha associada ao movimento internacional de mercadorias capitais pess oas e a liberdade de pensamento associada ao movimento inter nacional das ideias7 Soros no entanto era apenas um administrador de fundos de investimentos enquanto Mahathir era chefe de Estado e uma lid erança proeminente do Movimento dos Não Alinhados do Ter ceiro Mundo Durante o ano seguinte Mahathir tomou o rumo do nacionalismo Em setembro de 1998 demitiu o ministro das finanças viceprimeiroministro e sucessor Anwar Ibrahim em função de seu apoio à integração financeira Mahathir impôs con troles cambiais e de movimentação de capitais sobre a economia do país e continuou dirigindo seus ataques aos financistas 582832 internacionais Acusou Anwar de uma estranha série de práticas de corrupção e comportamento homossexual e o desaventurado foi condenado um mês depois Em outros tempos as farpas trocadas por Mahathir e Soros e a retórica nacionalista do primeiroministro podiam ser o pressá gio de medidas duradouras que afastassem a economia dos mer cados globais Contudo em poucos anos o episódio já havia sido esquecido por todos Depois de uma recessão severa a economia da Malásia começou a crescer novamente Apesar dos controles monetários e de capitais o país continuou dependendo forte mente da economia internacional Mahathir foi realmente cuida doso a fim de evitar que o capitalismo global condenasse de forma generalizada o país Queremos adotar uma posição sem fronteiras ele disse e sempre demos boasvindas aos investi mentos estrangeiros incluindo a especulação O problema é que precisamos nos proteger dos trapaceiros que só visam a si mes mos e do banditismo internacional8 Apesar da veemência do nacionalismo econômico de Mahathir ele nunca questionou real mente o objetivo da abertura econômica Apesar do grande choque sofrido pelos mercados internacionais no Leste Asiático e da onda de crises que esses choques causaram o avanço da integ ração econômica quase não foi afetado Como e por que os merca dos internacionais superaram sua associação com os trapaceiros que só visam a si mesmos e com as crises devastadoras para ser em aceitos por praticamente todos os governos do planeta Novas tecnologias novas ideias As impressionantes mudanças técnicas do fim do século XX forta leceram os que apoiavam a integração econômica mundial Inovações nos transportes e nas telecomunicações diminuíram os custos das trocas internacionais Superpetroleiros e contêineres 583832 baratearam o despacho de cargas por via marítima e bens cujos custos de travessia do Pacífico ou do Atlântico eram proibitivos tornaramse cargas comuns O preço de embarque de uma tone lada de carga caiu até 75 ao longo do século e a melhoria dos sistemas de refrigeração e de transporte aéreo permitiu aos produtores viabilizar economicamente a travessia oceânica de framboesas e rosas A partir de 1970 com a adoção do jumbo avião a jato capaz de carregar mais de 400 pessoas e a con sequente desregulamentação das rotas aéreas o ato de voar deix ou de ser considerado um luxo e virou despesa comum para mui tos do mundo industrializado o custo real das passagens aéreas caiu 90 de 1930 até 2000 Satélites e cabos de fibra ótica re duziram os custos das comunicações de longa distância a uma fração dos anteriores Em 1920 um trabalhador médio norte americano teria que trabalhar três semanas para pagar por uma chamada telefônica de Nova York a Londres em 1970 a mesma chamada custava oito horas de trabalho e em 2000 cerca de quinze minutos A internet ofereceu a centenas de milhões de usuários de computador acesso instantâneo a informações do mundo inteiro Telefones celulares e outros dispositivos sem fio tornaram possível o contato constante entre colegas de trabalho familiares e amigos Os avanços mais impressionantes do último quarto do século XX ocorreram na microeletrônica Em 1950 produtores e con sumidores se maravilhavam com o transistor componente menor que um selo de postagem que substituiu as antigas válvulas na base do funcionamento dos aparelhos elétricos Rádios transistor izados televisores e equipamentos industriais passaram a encer rar em invólucros mínimos potências antes inimagináveis E tudo isso não foi nada se comparado ao microchip uma camada de silício na qual transistores e outros componentes eram dispos tos na forma de circuitos integrados inventados no fim da década de 1960 Em meados da década de 1970 uns poucos milímetros 584832 quadrados podiam empregar dois mil transistores viabilizando a produção de máquinas calculadoras portáteis com mais capacid ade do que a armazenada nos computadores a válvula da década de 1940 que ocupavam uma sala inteira No fim do século cada microchip já suportava mais de um bilhão de transistores e um computador pessoal de mil dólares era mais potente que qualquer equipamento disponível para as grandes empresas e governos na década de 1970 a cerca de um centésimo do preço9 A miniatur ização viabilizou telefones celulares computadores portáteis e aparelhos de comunicação entre outras poderosas máquinas de pequeno porte A computação e as telecomunicações modernas favoreceram a integração econômica internacional pois reduziram os custos das transações comerciais e dos investimentos e também os custos de monitoração dos interesses estrangeiros Além disso alguns dos elementos mais importantes do setor de alta tecnologia eram in tangíveis softwares e programação por exemplo e seria tec nicamente difícil impedir transações internacionais que os en volvessem Finalmente a indústria de alta tecnologia veio a requerer um grande volume de pesquisa e desenvolvimento entre outras demandas relacionadas indicando que a rentabilidade passaria a depender de produção ou distribuição em larga escala o que tipicamente só era alcançado por meio dos mercados globais As novas invenções causaram um impacto globalizante ainda mais poderoso nas finanças O poder dos computadores e o bar ateamento das telecomunicações tornaram mais fácil e veloz a movimentação de recursos ao redor do globo e mais difícil para os governos controlar esses fluxos As telecomunicações modernas agilizaram o acesso aos mercados externos permitindo um cresci mento astronômico das transações financeiras internacionais No fim do século o volume diário de operações em moeda es trangeira era de US15 trilhão muitas dessas operações eram 585832 puramente especulativas provocando a ira de críticos como o primeiroministro Mahathir e levando a críticas como a da autora britânica Susan Strange que escreveu sobre o capitalismo de cassino10 O enorme aumento das transações em geral era um aspecto da expansão mundial das finanças internacionais Os ban queiros e investidores internacionais faziam amplo uso das novas tecnologias o que ajudava a entrelaçar os mercados financeiros globais As transações financeiras além das fronteiras e transo ceânicas ficaram tão fáceis quanto as operações domésticas Por um lado esses avanços não alteraram de maneira funda mental as condições do comércio e dos investimentos inter nacionais praticadas desde o início do século XX De uma certa forma o telégrafo havia possibilitado uma comunicação quase in stantânea entre os mercados e os transportes terrestres e maríti mos contavam com aproximadamente a mesma velocidade em 1900 e 2000 Entretanto os custos de transportes e de telecomu nicações caíram de maneira significativa A internet cresceu a ní veis astronômicos até 2001 mais informação podia ser trans mitida por segundo através de um único cabo do que era envi ada por toda a internet em um mês em 199711 Essas mudanças tecnológicas tornaram as relações econômicas internacionais muito atrativas e viraram argumentos de defesa contra o retorno do protecionismo As mudanças tecnológicas por si só não podiam assegurar o comprometimento nacional com os mercados mundiais pois o crescimento contínuo da economia internacional era importante para a integração global Os grandes avanços tecnológicos do per íodo entreguerras não adiaram o mergulho autárquico da década de 1930 o apelo do automóvel da vitrola e do rádio não podia im pedir o colapso da economia e dos investimentos mundiais Dur ante os primeiros e justamente os piores anos da Grande De pressão de 1928 a 1933 quando comércio mundial foi reduzido pela metade a abertura econômica não atraía ninguém ou era 586832 evidentemente perigosa Mesmo os países que tentaram manter suas relações econômicas internacionais nadavam contra a corrente Apesar disso durante as problemáticas décadas de 1970 e 1980 o comércio e as finanças internacionais cresceram mais rápido que as economias nacionais As economias estagnaram na década de 1970 mas o comércio mundial triplicou entre 1973 e 1979 mesmo considerando a inflação e esses foram aumentos consideráveis O crescimento das finanças e dos investimentos in ternacionais foi ainda mais surpreendente Em 1930 os emprésti mos e investimentos alémfronteiras cessaram No entanto do começo da década de 1970 ao início da de 1980 os novos investi mentos estrangeiros de empresas multinacionais dispararam de cerca de US15 bilhões para US100 bilhões anualmente en quanto os empréstimos internacionais saltaram de US25 bilhões para algo em torno de US300 bilhões Os mercados financeiros internacionais cresceram de US160 bilhões em 1973 para US3 trilhões em 1985 A disponibilidade de quantias impensáveis com centenas de bilhões de dólares em empréstimos a cada ano levou a maioria dos países a se interessar pelos benefícios da abertura econômica A experiência financeira internacional da América Latina na década de 1970 foi radicalmente diferente daquela dos anos 1930 quando realmente não havia investimentos novos na região fossem provenientes de companhias multinacionais ou de finan ciadores internacionais Durante os anos de crise entre o início da década de 1970 e o começo da de 1980 no entanto os novos em préstimos internacionais para a América Latina ganharam velo cidade passando de US05 bilhão para US15 bilhões por ano a dívida da região com investidores privados passou de menos de US30 bilhões em 1973 para mais de US300 bilhões em 1983 Os novos investimentos de multinacionais na América Latina cresceram também de US1 bilhão para US5 bilhões anuais As 587832 condições da década de 1930 tornaram inútil manter os vínculos internacionais já que não havia praticamente nada com o que se relacionar Mas as tentações oferecidas na década de 1970 pela economia mundial eram mais sedutoras do que nunca nos 50 anos anteriores elas atraíram os governos em direção à integ ração econômica mesmo nas economias em desenvolvimento e nas de planejamento central cujos compromissos com a abertura econômica eram fracos na melhor das hipóteses Sozinhas no entanto as novas tecnologias e as prósperas transações financeiras e comerciais internacionais não seriam capazes de confrontar as ideologias as posições políticas e os in teresses há muito consolidados Afinal de contas desde 1945 o consenso dominante nos países menos desenvolvidos que prat icavam a ISI nas economias planificadas semiautárquicas e mesmo nas sociaisdemocracias do Ocidente industrializado era sem dúvida protegerse do entusiasmo dos mercados Os de fensores do aumento significativo da integração econômica en frentavam as mesmas velhas objeções daqueles que adotavam as restrições de mercado como meio desejável para atingir objetivos políticos e sociais Na década de 1980 porém uma nova ideologia varreu o mundo Políticos analistas e grupos de interesses passaram a ata car o envolvimento dos governos na economia depois de gerações de aprovação As políticas macroeconômicas preferidas desses grupos estavam unidas com frequência em torno da rubrica do monetarismo Eles também fizeram pressões pela privatização e pela desregulamentação das empresas públicas A corrente contra o envolvimento do Estado na economia foi associada aos governos conservadores de Ronald Reagan e Margaret Thatcher e à confi ança no que Reagan chamava de a mágica do mercado A nova visão tinha preceitos claros e clamava por medidas en érgicas para derrotar a inflação Tal hostilidade estava associada ao crescente destaque dos monetaristas no meio acadêmico que 588832 sustentava o argumento de que a única causa da elevação con tínua dos preços era a impressão por parte do governo de mais dinheiro do que o necessário Os monetaristas assim retomavam os argumentos prékeynesianos de que a manipulação da oferta monetária pelo governo poderia ter no máximo um impacto posit ivo a curto prazo mas no longo prazo só levaria a preços maiores O argumento dos acadêmicos era mais sutil e as diferenças em re lação ao keynesianismo menos evidentes pois ambos os enfoques permitiam aos governos utilizar a política monetária para reduzir o impacto de eventos adversos como recessões e depressões mas enquanto os keynesianos aceitavam o gerenciamento da macroe conomia pelo governo monetaristas ganhadores do Prêmio No bel como Milton Friedman eram contrários a esse tipo de inici ativa Friedman entre outros monetaristas desejava que os gov ernos aumentassem a base monetária somente para sustentar o crescimento econômico em vez de usar a medida para tentar aliviar problemas econômicos temporários Essa corrente re jeitava as frouxas políticas monetárias da década de 1970 quando os governos permitiam o crescimento da inflação por temerem que a alternativa alto desemprego fosse pior Sustentava que a inflação em si era corrosiva e exigia um novo governo compro metido em trazer a inflação para baixo A verve antiinflacionária estava ligada à convicção de que era possível lidar com os problemas econômicos afastando o governo da economia em vez de impondo uma maior intervenção macroe conômica O consenso anterior aceitava a regulamentação de pro gramas públicos e governamentais mas a nova visão defendia im postos menores diminuição de gastos e menos regulamentação Nos EUA os que apoiavam a economia de base monetária defen diam que as reduções de impostos iriam aumentar tanto o cresci mento que isso na verdade faria crescer a receita do governo já que uma fatia menor da torta maior é melhor que uma fatia maior de uma torta menor 589832 O novo cenário tornava urgente a privatização e a desregula mentação de grandes áreas da economia Os governos do mundo industrializado venderam centenas de empresas que detinham há muitos anos o equivalente a US1 trilhão em privatizações dur ante a década de 1990 O poder público da Europa ocidental vendeu para novos sócios particulares US400 bilhões em empresas telefônicas usinas de aço concessionárias de eletricid ade bancos e outras empresas Ao mesmo tempo revisou drasticamente seu controle sobre os empreendimentos privados O movimento de desregulamentação teve início nos Estados Un idos em meados da década de 1970 e durante os dez anos seguintes os governos Carter e Reagan cortaram em 23 a parcela da economia sujeita a controles regulatórios rigorosos transpor tes aéreo ferroviário e rodoviário telecomunicações petróleo e gás natural bem como as finanças Outros países industriais seguiram o caminho dos EUA desregulamentando tudo de com panhias telefônicas e aéreas a corretagem de ações No fim da década de 1990 as economias industriais estavam mais livres do controle do governo do que desde a década de 1930 Isso promoveu uma extraordinária consolidação das grandes empresas privadas No ano 2000 US35 trilhões em fusões foram anunciadas ao redor do mundo cerca de metade delas nos EUA e o restante quase todo na Europa ocidental Isso era cerca de cinco vezes o nível de 1990 considerado o mais alto da época12 As fusões antes quase sempre restritas às fronteiras nacionais estavam se internacionalizando cada vez mais em 2000 por volta de 14 de todas as fusões atravessava fronteiras A aquisição da Mannesmann Alemanha pela Vodaphone Reino Unido por US203 bilhões em 2000 envolveu a mesma quantia que todas as fusões e aquisições internacionais realizadas em 1991 1992 e 1993 juntas13 Desregulamentação e privatização eram causa e consequência das mudanças tecnológicas e da integração econômica global As 590832 indústrias mais comumente desregulamentadas ou privatizadas finanças telecomunicações e transportes passaram por grandes avanços tecnológicos ganharam muito mais importância nos mercados globais ou ambos As novas tecnologias tornaram ob soletos os setores mais antigos regulados ou controlados pelo governo e o mercado global apresentava perspectivas promissor as para as empresas nacionais anteriormente isoladas No setor bancário por exemplo o crescente aumento da atividade fin anceira global das décadas de 1960 e 1970 acompanhado por rápidas mudanças técnicas levou os governos a desregulamentar e a privatizar os sistemas financeiros nacionais nas décadas de 1980 e 1990 Os revigorados mercados financeiros por sua vez redobraram os esforços em direção à integração internacional e à inovação tecnológica O novo ponto de vista cujo nome variava livre mercado neoliberalismo ou ortodoxia adotava a austeridade antiinfla cionária cortes de impostos e gastos privatização e desregula mentação O Consenso de Washington como foi rotulado pelo economista John Williamson logo se tornou o princípio para a organização da maioria das discussões sobre política econômica14 O Consenso de Washington repercutia com força crescente no mundo em desenvolvimento durante a luta dos países contra as crises da dívida e de crescimento dos anos 1980 e também no mundo comunista que se afastava do planejamento central dos anos 1990 No fim do século havia mais concordância em torno da doutrina econômica do que em qualquer outra época desde 1914 Alternativas à ortodoxia fossem elas comunistas radicais desenvolvimentistas ou populistas eram fracas ou inexistentes Era difícil encontrar partidários do planejamento da substituição de importações ou da ampla propriedade estatal em qualquer lugar do planeta Havia divergências dentro de casa entre os pensadores voltados para o mercado mas poucos colocavam em 591832 dúvida a superioridade geral dos mercados como mecanismos de alocação econômica Interesses globalizantes A ortodoxia de mercado que varreu o globo pode ter parecido um furacão ideológico mas sua orientação teve origens políticas e econômicas tangíveis As ideias mudaram mais como resultado do que como causa as mudanças conceituais seguiram as trans formações materiais A vitória do monetarismo sobre o keyne sianismo é um exemplo de como a ideologia pode mascarar mo tivações mais pragmáticas Em outubro de 1979 quando o presid ente do Federal Reserve Paul Volcker anunciou que o Banco Central norteamericano passaria a trabalhar com metas de base monetária em vez de metas de taxa de juros a medida foi consid erada uma vitória pelos defensores da teoria monetarista Eles viam a taxa de crescimento da base monetária como o alvo prin cipal de sua política econômica Entretanto os motivos de Volcker eram de longe mais realistas Modificar as técnicas operacionais do Fed para dar prioridade ao controle da base monetária era ele mesmo explicou uma maneira de dizer ao público que a ên fase era nos negócios com o objetivo de afetar o comporta mento das pessoas comuns Ninguém no Banco Central tinha ilusões acadêmicas sobre o que a mudança dos procedimentos significaria na prática A mensagem básica que tentamos trans mitir foi a simplicidade em si disse Volcker Nós pretendemos assassinar o dragão da inflação mesmo que isso signifique taxas de juros extremamente altas e uma economia desacelerada15 Mas a tendência monetarista ostensiva deu uma aura intelectual para o que era de fato uma simples mas também dramática mudança na política monetária As discussões populares sobre as novas me didas de austeridade eram apimentadas com referências ao 592832 monetarismo encaradas como uma luta severa contra a in flação mas isso não tinha a menor relação com a teoria elaborada no meio acadêmico o que não significa dizer que as ideias econ ômicas não tinham resultado mas somente que é difícil entender as mudanças de política nas décadas de 1980 e 1990 a partir de transformações na teoria econômica A política econômica mudou em função de transformações políticas Dois avanços foram especialmente importantes Em primeiro lugar houve um aumento no tamanho e na coordenação das firmas e das indústrias que pretendiam se integrar à eco nomia internacional e que queriam uma mudança no envolvi mento dos governos nas economias nacionais Em segundo havia a crescente preocupação popular com fatos como desemprego alto crescimento lento e inflação o que deixava o eleitorado entre outros aberto às novas políticas No começo da década de 1980 uma grande parcela do eleitor ado havia perdido a paciência com o aumento dos preços As pop ulações da Europa ocidental e da América do Norte não tinham vivido a inflação durante os primeiros 25 anos do pósguerra e quando ela começou a subir lentamente no começo da década de 1970 muitos foram pegos de surpresa Quando o nível de preços dobrou no começo da década de 1980 as economias e os rendi mentos foram corroídos as preocupações aumentaram A milícia antiinflacionária representada em especial por bancos e comunidades de investidores sempre vira a inflação como uma ameaça econômica das mais importantes Agora a inflação degra dava o padrão de vida da classe média e segmentos fundamentais do eleitorado profissionais liberais pequenos empresários aposentados queriam que ela fosse controlada Muitos britâni cos e norteamericanos deram o benefício da dúvida às políticas antiinflacionárias de linhadura dos governos Thatcher e Reagan No auge de Bretton Woods quase ninguém teria considerado baixar a inflação a menos de 10 ao custo de elevar o desemprego 593832 em 10 mas na década de 1980 as políticas de recessão que pareceriam impensáveis dez ou 15 anos antes foram adotadas por uma série de países O eleitorado pareceu concordar que valia a pena já que reelegeu quem combatia a inflação Ainda que a batalha contra a alta dos preços viesse em um pacote de austerid ade fiscal e compromisso redobrado com negócios e investimen tos globais esta mesma gozava de apoio político surpreendente Poderosos interesses econômicos nas indústrias mais compet itivas e tecnologicamente avançadas também lutavam pela liberal ização e pela integração econômica Os progressos tecnológicos aumentaram a importância da economia global para muitas empresas líderes mundiais Novos produtos e técnicas de produção se tornaram o núcleo de um setor de alta tecnologia que atuava principalmente nos países industriais Em 1979 18 das 25 maiores corporações norteamericanas eram do ramo industrial ou do petróleo e apenas três atuavam em alta tecnologia e tele comunicações Vinte anos depois 13 das 25 maiores empresas atuavam em áreas de alta tecnologia e telecomunicações com somente duas do setor petrolífero e industrial Além do mais as novas empresas de alta tecnologia eram gigantes perto das com panhias anteriores em 1999 a maior empresa Microsoft valia sozinha em termos reais ou seja depois da correção pela in flação tanto quanto a soma das 25 maiores de 20 anos antes Em 1979 a companhia número 25 Yahoo que tinha somente seis anos de funcionamento valia mais em dólares ajustados pela in flação do que as três maiores empresas de petróleo do país com binadas Exxon Amoco e Mobil16 Empresas de tamanhos antes inimagináveis cujos negócios sem a microeletrônica seriam im pensáveis Microsoft Intel e America Online agora domin avam a economia norteamericana e a dos países industriais A maior parte dessas empresas de alta tecnologia só era viável com mercados globais O caso do telefone celular é típico No ano 2000 foram vendidos cerca de 400 milhões de aparelhos e a 594832 líder do mercado Nokia vendeu aproximadamente 13 deles Os cinco milhões de consumidores da matriz finlandesa da empresa respondiam por apenas uma pequena parte dos 128 milhões de telefones vendidos e mesmo o mercado europeu não era sufi ciente nem de longe Somente um mercado realmente global po deria sustentar as imensas despesas em pesquisa desenvolvi mento e marketing necessárias para que a Nokia pudesse manter sua posição de líder da indústria17 Essa facilidade com que o dinheiro podia se movimentar de um local para outro deu aos interesses econômicos internacion alistas uma razão extra para desejarem mais integração econôm ica internacional A explosão da mobilidade do capital facilitou a captação de empréstimos por parte das empresas dinâmicas o deslocamento de recursos dos usos menos produtivos para os mais produtivos pelos investidores e a compra ou substituição de empresas mais lentas pelas companhias bemsucedidas Esses grupos também pressionavam os governos a adotarem políticas amigáveis em relação aos investidores internacionais Walter Wriston do Citibank talvez o banqueiro internacion al mais poderoso da década de 1980 via a mobilidade de capi tais e das telecomunicações como parte da evolução de um padrão informação que permitia aos mercados monitorar os governos O padrãoouro que foi substituído pelo padrão câmbioouro e pos teriormente pelos acordos de Bretton Woods foi agora substituído pelo padrão informação O dinheiro só vai onde é desejado só fica onde é bemtratado e uma vez que o mundo todo está amarrado por meio das telecomunicações e da informação o jogo acabou O padrão informação é mais draconiano do que qualquer padrãoouro Eles acham que o padrãoouro era severo Tudo o que se tinha que fazer em relação ao padrãoouro era renunciar a ele nós provamos isso Não se pode renunciar ao padrão informação ele exerce uma discip lina sobre os países do mundo 595832 O resultado foi uma enorme influência dos investidores inter nacionais sobre os governos e suas políticas Não existe dinheiro suficiente no mundo para manter uma moeda se as gestões fiscal e monetária forem estúpidas Há 60 mil e tantos computadores lá nas salas de negociação do mundo e esses sujeitos são tão sentimentais quanto um bloco de gelo Politicamente o novo mundo é um mercado integrado do qual ninguém mais sai com o que costumava sair Não se pode controlar o que seu pessoal escuta nem o valor de sua moeda ou os fluxos de capital18 A economia globalizada permitiu que as economias recente mente industrializadas tirassem proveito de sua mão de obra barata para produzir aço roupas maquinário simples e outros bens industriais básicos para os mercados mundiais As corpor ações internacionais podiam combinar o gerenciamento de alta tecnologia pesquisa e desenvolvimento do norte com a industrial ização a baixo custo do sul Contudo as novas indústrias globais ameaçavam as velhas in dústrias do norte com uma competição não desejada A Europa estava afundada na estagnação econômica com altos índices de inflação em muitos países e desemprego elevado em toda parte Nos Estados Unidos a subida vertiginosa do valor do dólar de pois da década de 1980 atraiu importações baratas que colo caram os produtores norteamericanos na defensiva As vendas do Japão para os Estados Unidos cresceram de menos de US6 bilhões em 1970 para mais de US30 bilhões em 1980 e US80 bilhões em 1986 A concorrência atacou algumas das indústrias mais fortes e tradicionais bem como grandes firmas exportador as em apenas dez anos a partir de 1975 as importações de automóveis passaram de US12 bilhões para US65 bilhões As antigas indústrias da Europa e da América do Norte re agiram à maré alta de importações com uma forte resposta prote cionista Aço automóveis têxtil e outras manufaturas gritavam 596832 por socorro e muitas conseguiram ajuda Os governos europeus e da América do Norte forçaram os produtores japoneses a limitar em suas vendas subindo o custo de um carro médio em centenas de dólares a fim de dar uma folga para a indústria automotiva na Europa e na América do Norte ambas altamente pressionadas As importações de semicondutores do Japão e de aço de vários países industrializados ou recémindustrializados foram restringi das severamente Uma sucessão de novos bloqueios às im portações barreiras não tarifárias BNTs burlou compromis sos anteriores e manteve os bens estrangeiros fora dos mercados europeu e norteamericano A Europa se voltou para dentro e a administração Reagan apesar da retórica de livre mercado ad otou as medidas protecionistas mais abrangentes desde a década de 1930 Porém o novo protecionismo fazia surgir uma poderosa tendência de compensação Os produtores dos países industrializ ados que pressionavam por proteção comercial enfrentavam as demandas contrárias dos investidores com posições no exterior e das corporações internacionalizadas ávidas pelo acesso às autopeças brasileiras aos programas de computador indianos e aos componentes eletrônicos coreanos Muitas empresas na Europa e na América do Norte passaram a ver os mercados nacionais não interligados como insuficientes pois precisavam de uma oferta mais ampla e diversificada de clientes e fornecedores As grandes empresas europeias demandavam bases de operação maiores que a França ou a Dinamarca podiam oferecer As in dústrias de alta tecnologia da Europa entre outras precisavam de acesso à mão de obra barata do sul aos trabalhadores do norte altamente qualificados e aos mercados financeiros londrinos As companhias e os bancos norteamericanos orientados global mente embora tivessem uma base natural maior também se ir ritavam diante das restrições impostas Enquanto as indústrias mais tradicionais clamavam por proteção contra a concorrência 597832 com sucesso os empreendimentos multinacionais e bancos inter nacionais na América do Norte e na Europa ocidental tateavam novos caminhos no sentido de construir e manter posições forte mente competitivas Isso envolvia tanto derrotar os protecionistas quanto encontrar novas maneiras de avançar rumo a uma integ ração mais ampla Durante a década de 1970 e início da de 1980 houve conflitos políticos furiosos na Europa e na América do Norte Nos Estados Unidos nacionalistas e internacionalistas econômicos se en frentavam para dominar a política econômica Muitos trabal hadores e produtores norteamericanos tinham mudado seu posi cionamento no início da década de 1970 da defesa do livre mer cado ao pleito por proteção contra os competidores estrangeiros Quando Richard Nixon flexibilizou o dólar em relação ao ouro e baixou uma sobretaxa de 10 nas importações parecia que o país seguiria direto no caminho da depressão e do fechamento da eco nomia Mas as grandes empresas norteamericanas que de pendiam da exportação de seus produtos da importação de in sumos estrangeiros e de financiamentos e investimentos inter nacionais reagiram Bancos internacionais companhias de pet róleo e empresas de alta tecnologia se agruparam e formaram lob bies como o Emergency Committee for American Trade para en frentar o crescente sentimento protecionista Os executivos do comitê se reuniam com políticos intelectuais bem como com pessoas influentes da Europa e do Japão de posição semelhante na Comissão Trilateral um fórum transnacional que pretendia salvaguardar a cooperação econômica internacional Os poderosos defensores de uma integração global mais ampla bateram de frente com adversários influentes As comunidades financeiras lutavam por medidas linhadura contra a inflação e contra os movimentos de trabalhadores horrorizados com o aperto monetário que levou o desemprego a patamares que não se via desde a década de 1930 Os ricos pressionavam pela redução 598832 de impostos e os pobres lutavam para proteger seus programas sociais dos cortes de gastos O empresariado apoiava a privatiza ção e a desregulamentação enquanto os sindicatos tentavam blo quear o que viam como tentativas dissimuladas de cortar salários e postos de trabalho Alguns consideravam as ondas de fusão de empresas e consolidação de setores como sinal do renascimento de um setor privado vibrante ao mesmo tempo em que outros viam o mesmo processo como uma volta aos tempos de pilhagem da nobreza Caso a caso em um país após o outro os defensores da global ização derrotaram seus adversários Eles forçaram o recuo dos que apoiavam o nacionalismo econômico o trabalhismo a es querda e os compromissos com políticas sociais extensivas Em parte isso foi resultado de atritos e do clima de dificuldade econ ômica que abateu as empresas e as indústrias mais vulneráveis Ao longo do tempo simplesmente foi diminuindo o número de oponentes ao novo capitalismo global Ao mesmo tempo o cresci mento do comércio e dos investimentos fortaleceu empresas e in dústrias de viés internacionalista O progresso técnico as tendências macroeconômicas a ex plosão das finanças internacionais e as mudanças na forma como os negócios eram realizados fortaleceram aqueles que desejavam uma integração econômica ainda maior Enquanto os tempos di fíceis incitavam o sentimento protecionista e levavam muitos a exigir dos governos prioridade aos problemas domésticos no fim a década de agruras entre o início dos anos 1970 e o fim dos 1980 levou a uma globalização econômica redobrada O mundo se movia rapidamente em direção a níveis cada vez mais impression antes de intercâmbio comercial financeiro e de investimentos para além das fronteiras George Soros cria mercados 599832 Quando o primeiroministro da Malásia Mahathir bin Mohamad acusou duramente George Soros de ser a fonte das dificuldades de seu país o argumento pareceu natural mesmo para aqueles que apoiavam Soros Afinal o investidor representava o mercado global na medida em que suas atividades financeiras pareciam capazes de derrubar moedas e governos Ao mesmo tempo atuava também no cenário político ao investir bilhões de dólares na tent ativa de influenciar governos ao redor do mundo usando sua força financeira e política na tentativa de moldar as bases da or ganização da economia mundial Tudo isso exigiu muito do filho de um advogado de Budapeste nascido Dzjchdzhe Shorash em 193019 Como a maioria dos judeus húngaros mais ricos a família cosmopolita e incorporada foi forçada a se esconder do fascismo e do Holocausto Como res ultado da guerra o adolescente mudouse para Londres passou a se sustentar trabalhando como garçom e pintor além de colher maçãs Também estudou filosofia sem grande sucesso Depois de um período vendendo bolsas trabalhou em uma série de bancos de investimentos britânicos e alguns anos depois foi morar em Nova York Em Wall Street Soros fez uso de seus vários idiomas seus contatos na Europa e seu tino comercial para alavancar uma car reira na então minúscula comunidade de investimentos estrangeiros Tornouse funcionário de um banco internacional que pertencia a Arnhold e S Bleichröder uma associação dupla mente apropriada Por um lado a empresa que tinha sido agente dos Rothschild em Berlim desde 1830 acolheu refugiados do nazismo em 1937 e foi assim que Soros passou a trabalhar em um ambiente pesado cheio de imigrantes da Europa central Por outro o gabarito da empresa prenunciava o próprio caminho de Soros O patriarca dos Bleichröder Gerson era um consultor fin anceiro extraordinariamente poderoso e amigo íntimo do chanceler alemão Otto von Bismarck no fim do século XIX O 600832 mais velho dos Bleichröder que foi o primeiro judeu a herdar um título de nobreza na Prússia era conhecido como o homem mais rico da Alemanha e tinha acesso privilegiado aos mais poderosos estadistas da Europa20 Mais tarde Soros seguiria os passos de Bleichröder mas começou de forma prosaica com os lucros que obtinha durante o renascimento das finanças globais Arnhold e S Bleichröder re agiram à imposição de controles ao capital pelos norteamer icanos em 1963 por meio da internacionalização de grande parte de seus negócios Em 1967 Soros fundou sua primeira firma de investimentos dois anos depois implementou um sistema in ovador com base no paraíso fiscal caribenho de Curaçao livre dos controles governamentais e dos impostos sobre ganhos de capital O Double Eagle era um fundo primário de hedge uma empresa de investimentos privados parcamente regulada e aberta apenas a in divíduos ricos que desejassem assumir riscos maiores do que os financistas tradicionais O fundo foi tremendamente bemsuce dido os mil dólares investidos na sua criação se tornaram US4 milhões em 2000 um retorno médio anual de mais de 30 e Soros o fechou por iniciativa própria em 1973 No início da década de 1980 ele foi chamado de o maior administrador de dinheiro do mundo pela revista Institutional Investor da comunidade financeira internacional Em 1992 a reputação de Soros foi às alturas com uma aposta bemsucedida de bilhões de dólares contra o governo britânico Londres havia anunciado que manteria a libra esterlina fixa no marco alemão como parte de uma estratégia de crescimento da União Monetária Europeia Entretanto a tentativa foi impopular na GrãBretanha e Soros achou que a mesma não duraria muito tempo ele estava certo e o governo britânico cedeu desvaloriz ando a libra em setembro de 1992 A especulação de Soros contra a libra lhe rendeu um bilhão de dólares e investimentos 601832 especulativos contra outras moedas europeias o fizeram ganhar mais um bilhão Para muitos pareceu que um próspero investidor tinha com uma única manobra forçado um governo importante a mudar o curso da sua economia Mas acreditar que aquele havia sido um movimento isolado de Soros seria um exagero pois a especulação contra a libra foi generalizada Todavia quanto ao episódio Soros ressaltou o fato de que os governos estavam sob forte pressão para satisfazer os investidores internacionais mesmo se os custos políticos internos fossem altos E enquanto Soros seguiu per dendo dinheiro em apostas parecidas ao longo da década de 1990 de forma notável na Rússia onde pode ter perdido US2 bil hões ele também ganhou em outras ocasiões em que apostou contra governos Suas atividades de investidor o tornaram particularmente con troverso em países como a Malásia abalada por uma crise cambi al Quando o primeiroministro Mahathir acusou Soros de preju dicar a economia do país ele expressava uma visão amplamente difundida de que os mercados globais tinham ido longe demais na restrição às políticas governamentais A troca de farpas entre am bos às vezes abrangia questões sérias tais como se a responsabil idade pelos problemas de um país como a Malásia deveria recair sobre políticas malfeitas ou especuladores amorais Mas havia algo também como um nacionalismo conspiratório presente na ofensiva como na ocasião em que Mahathir invocou a origem judaica de Soros como parte de suas acusações Na verdade foi um judeu que disparou a precipitação da moeda e co incidentemente Soros é judeu Também é coincidência que a Malásia tenha maioria muçulmana Na verdade os judeus não ficam felizes em ver o progresso dos muçulmanos Se fosse na Palestina os judeus iriam roubar os palestinos E é isso que estão fazendo com o nosso país 602832 Mahathir não estava sozinho em sua convicção de que o flores cimento das finanças judaicas internacionais era incompatível com a dignidade de outras nações os nacionalistas ucranianos também atacaram Soros referindose a ele como membro de um grupo que se demonstrou hostil ao sucesso do Estado ucraniano e que na verdade tem seu principal interesse no colapso econômico da Ucrânia21 A tensão entre as finanças globais seja de que re ligião e o nacionalismo aparecia mais uma vez As atividades extracurriculares de Soros iam além das de um simples banqueiro Em 1979 começou a investir dinheiro na res istência aos governos comunistas no Leste Europeu O fez aos poucos comprando por exemplo algumas centenas de máquinas copiadoras para instituições húngaras que driblavam a censura à literatura proibida Durante a década de 1980 gastou centenas de milhões de dólares para apoiar dissidentes na Europa central e do leste e na União Soviética em 1990 fundou uma nova Universid ade da Europa central com bases em Praga e Budapeste As atividades financeiras e filantrópicas de Soros o colocavam numa posição ímpar para encorajar o desenvolvimento do capitalismo e da democracia nos antigos países de regime comunista Seu Open Society Institutea continuou esse trabalho ao longo da década de 1990 ao ritmo de centenas de milhões de dólares ao ano Soros também patrocinou programas tão variados quanto campanhas pela legalização da maconha nos Estados Unidos pelo melhor tratamento dos ciganos no Leste Europeu e pela promoção da democracia no Haiti e na Mongólia De um líder financeiro se podia esperar a promoção de so ciedades de mercado mas a filantropia de Soros também premiou a democracia política e os direitos humanos Seu comprometi mento era genuíno o primeiro presidente do Open Society Insti tute foi o norteamericano Aryeh Neier antigo líder da União Americana pela Liberdade Civil e da Human Rights Watch en tidade internacional de defesa dos direitos humanos muito 603832 conhecida por sua luta pelos direitos humanos Essa ênfase na justiça social certamente reflete as peculiaridades de Soros mas também representa a preocupação de que o capitalismo global não pode ser mantido se grandes contingentes humanos estiver em excluídos das tendências da vida política e econômica O sis tema capitalista global segundo Soros gerou um campo de atu ação muito desigual A distância entre ricos e pobres está aument ando Isso é um perigo pois um sistema que não oferece alguma esperança e benefícios aos perdedores corre o risco de verse dilacerado por atos de desespero22 Soros foi um forte defensor das sociedades abertas tanto em termos teóricos quanto prag máticos e acreditou que a nova ordem econômica internacional necessitava de um comprometimento com a justiça social O investidor afirmava com veemência que o capitalismo global só estaria a salvo se a devida atenção fosse dada aos assuntos nacionais e sociais A economia internacional acreditava exigia infraestrutura social e política de melhor qualidade e novas in stituições internacionais Também insistiu em uma regula mentação mais efetiva dos investimentos internacionais e de seus efeitos Sobre isso afirmou Há uma combinação péssima entre as condições políticas e econôm icas que prevalecem no mundo atualmente Temos uma economia global mas os arranjos políticos ainda estão firmemente arraigados na soberania do Estado Isso não seria causa de preocupação se fosse possível contar com os mercados livres para atender a todas as ne cessidades mas esse claramente não é o caso Soros propôs que as instituições internacionais se reunissem num só barco para tentar lidar com esses problemas globais in cluindo a revigorada Organização das Nações Unidas que assum iria o papel de um governo global Mais próximo de seus in teresses ele declarou Agora que temos mercados financeiros globais também precisamos de um Banco Central global e de 604832 algumas outras instituições financeiras internacionais cuja missão explícita seja manter os mercados financeiros em equilíbrio23 Apesar da estranha exigência de mais regulação vinda de um especulador financeiro internacional e da preocupação com justiça social por parte de um próspero investidor havia um sen tido implícito na posição de Soros Os mercados em especial os precários como os financeiros geralmente precisam de governos que os estabilizem o colapso do período entreguerras tinha tor nado isso definitivo para os ambientes financeiros nacionais Até o momento não havia um governo mundial adjacente aos merca dos mundiais e isso explicava os temores de Soros Ele e muitos de seus parceiros nas finanças internacionais apoiavam os es forços governamentais de estabilização e regulação dos mercados nos quais operavam Eles acreditavam nos mercados internacion ais mas para se assegurarem também queriam evitar os conflitos políticos e sociais que haviam causado problemas para as finanças internacionais no passado Soros transformouse na voz das ações governamentais no sentido de garantir um mundo seguro para os mercados globais assim como tinha sido um poderoso defensor da redução da intervenção dos governos da Europa central e do leste a fim de tornála hospitaleira às sociedades de mercado No fim do século XX Soros representava tanto as conquistas quanto as angústias das finanças internacionais O sistema fin anceiro global mantinha trilhões e movimentava centenas de bil hões de dólares ao redor do mundo com velocidade e eficiência extraordinárias Nem governos nem cidadãos podiam ignorar as opiniões e as ações dos investidores internacionais e o mercado global de capitais gerou restrições à economia e à política no mundo todo Embora houvesse uma tendência ao descontenta mento social ao nacionalismo e às preocupações com a instabilid ade financeira esses eram problemas do triunfo recente do capit alismo global que tinha superado a planificação econômica o isolamento econômico e o protecionismo ressurgente e podia 605832 seguir adiante na tarefa de completar a integração da economia mundial Comércio sem barreiras Soros provavelmente ficou feliz com a abertura econômica da Europa central e do leste da China e do mundo em desenvolvi mento Quando a China abandonou a planificação econômica e a Índia diminuiu a substituição de importações um terço da popu lação mundial foi arrancado de décadas de isolamento econômico e arremessado na corrente da economia global Evoluções semel hantes no antigo bloco soviético e na América Latina afetaram mais um bilhão de pessoas Do ponto de vista histórico e humano esses foram os principais avanços do último quarto do século XX Do ponto de vista econômico porém a América do Norte e a Europa ocidental definiram o curso mundial Essas duas regiões com um 110 da população do planeta respondiam por metade da economia internacional e por 23 da atividade comercial realizada no mundo Quando entre 1985 e 2000 aceleraram a integração dos investimentos e das atividades comerciais financeiras e mon etárias o impacto alcançou o restante da economia mundial Os caminhos nesse sentido foram controversos e indiretos Depois de resistir às crises dos anos 1970 e início dos anos 1980 os defensores da integração econômica na América do Norte e na Europa ocidental passaram a enfocar os novos acordos regionais de comércio Os europeus ocidentais transformaram a União Europeia em um mercado único de fato dentro do qual bens ser viços capitais e pessoas se movimentam livremente e então se mobilizaram para criar uma moeda única europeia o euro Esta dos Unidos Canadá e México criaram o Tratado NorteAmericano de LivreComércio o Nafta da sigla em inglês para North Amer ican Free Trade Agreement outra enorme área de livre 606832 comércio entre seus membros No fim do século a Europa ocidental era uma entidade econômica única em praticamente to das as dimensões e a América do Norte estava perto de se tornar algo semelhante Outros acordos de comércio regional prolifer aram em toda parte nas regiões desenvolvidas e em desenvolvimento Duas grandes áreas de comércio emergiram A União Europeia liderava uma delas que incluía a Europa central e do leste a an tiga União Soviética e as excolônias europeias na África e na Ásia Os Estados Unidos estavam à frente da segunda que compreen dia o hemisfério ocidental Alguns temiam que o novo regional ismo levasse como tinha ocorrido com o antigo regionalismo na década de 1930 a um fechamento geral do comércio internacion al Outros viam os blocos comerciais como precursores de uma liberalização mais ampla Na frase do economista Robert Lawrence a questão de fato era se os acordos de comércio region ais seriam auxílios ou obstáculos a uma economia mundial in tegrada24 Os vários esforços da UE geraram rumores sobre a ameaça de uma nova Europa fortificada Preocupações similares sobre os novos esforços de integração que levaram ao Nafta e ao Mercosul eram muito comuns na Ásia O novo regionalismo tornouse algo muito diferente daquele dos sistemas imperiais da década de 1930 Os principais pro ponentes dos acordos comerciais eram internacionalistas e não protecionistas tradicionais tentando se estabelecer em mercados regionais protegidos Os empresários estavam muito felizes em dispor de acesso privilegiado aos grandes mercados domésticos que os novos blocos representavam mas o verdadeiro atrativo dos novos arranjos regionais era a oportunidade de fortalecer os negó cios diante da competição global Os acordos mais amplos tor navam a produção para exportação mais barata permitiam o crescimento das empresas facilitavam a atração de investimentos estrangeiros e incentivavam a consolidação de bancos e 607832 corporações Mercados regionais mais amplos significavam mais economias de escala companhias maiores e melhor posiciona mento na cada vez mais aquecida competição internacional por clientes e capital A dinâmica do Nafta e da UE talvez pudesse ser mais bemvista por meio da observação de seus adversários inter nos que se concentravam em indústrias decadentes desesperadas por proteção contra importações de produtores com custos mais baixos no México e no sul da Europa respectivamente A derrota dos oponentes do Nafta e da integração europeia foi uma vitória dos defensores da ampla integração econômica internacional A consolidação regional da década de 1990 tornouse uma peça importante no processo geral de globalização econômica O mercado comum europeu com uma moeda única e regulação eco nômica unificada causou a maioria dos efeitos econômicos que seus empresários patrocinadores haviam previsto Cinco trilhões de dólares em fusões e aquisições criaram uma horda de empresas gigantes A posição de mercado dos principais bancos e empresas europeias melhorou tão dramaticamente que parecia uma festa Além disso eles também compravam fora da Europa e no fim da década de 1990 apenas nos Estados Unidos investiam mais de US150 bilhões por ano A integração redobrada aumentou a pressão sobre as empresas e setores menos eficientes muitos dos quais deixaram os negócios ou foram comprados por líderes re gionais Contudo a integração europeia em geral fortaleceu os mercados europeus e os grandes negócios da Europa no mundo O Nafta também teve consequências poderosas Entre 1993 e 2000 o comércio norteamericano com os parceiros do Nafta cresceu duas vezes mais que com o resto do mundo de menos de US300 bilhões para mais de US650 bilhões Os investimentos também aumentaram muito já que as empresas canadenses e norteamericanas agora podiam produzir no México onde os salários eram menores sem se preocupar com os custos de pôr o produto de volta nos seus mercados A economia mexicana a 608832 menor e menos desenvolvida das três foi a mais afetada Até o ano 2000 o país já tinha passado pelas crises cambial e bancária pela reestruturação do sistema financeiro e por uma reorientação do comércio além de ter sua economia firmemente vinculada à norteamericana A América do Norte estava exatamente no cam inho de formar uma entidade econômica integrada Mesmo o Mercosul mais recente e menos ambicioso teve con sequências impressionantes sobre seus membros No fim do século já era um bloco econômico reconhecido empresas es trangeiras e nacionais faziam planejamentos de produção e de in vestimentos no Mercosul como um todo em vez de considerar somente os ambientes nacionais No decorrer de uma década o comércio entre os membros do Mercosul quintuplicou passando de 112 para 14 do volume total comercializado No fim da década de 1990 o bloco era o destino mais importante para os in vestimentos estrangeiros dos países em desenvolvimento at raindo cerca de US20 bilhões anuais de empresas multinacion ais e muitos bilhões a mais em empréstimos estrangeiros Os avanços na integração econômica regional foram parte do sucesso generalizado dos defensores do internacionalismo econ ômico Depois de 15 anos de batalhas árduas do princípio da década de 1970 até meados da de 1980 a iniciativa foi tomada por interesses políticos e ideologias associadas à integração econôm ica Ao longo da década de 1990 a questão foi decidida em favor dos patrocinadores da integração global Não havia um consenso universal sobre o livrecomércio mas as políticas oficiais pas saram a aceitálo com naturalidade Nos últimos anos do século XX as forças pelo capitalismo global se provaram extremamente poderosas como tinham sido no fim do século XIX Os globalistas econômicos daquela época tiveram de lidar com a Grande Depressão de 18731896 com suas movimentações populistas em massa e crises recorrentes de dívida O recente curso da globalização sobreviveu à recessão 609832 global ao desemprego que persistia elevado na Europa à desin tegração social dos países saídos do comunismo e às contagiosas crises na Ásia e na América Latina Os progressos tecnológicos o poder dos interesses econômicos internacionalistas e as tendên cias na política global reforçaram o curso da globalização Os avanços no mundo industrial criaram mercados continen tais na Europa e na América do Norte Os países em desenvolvi mento desmantelaram a substituição de importações e o desen volvimentismo O antigo mundo comunista se voltou para os mer cados domésticos e internacionais Os interesses e as ideias fa voráveis à globalização econômica dominaram a economia e a política mundiais O globo era mais uma vez capitalista e o capit alismo era novamente global a Instituição de pesquisa de Soros que promove estudos sobre temas como demo cracia e pretende influenciar governos a formularem políticas NT 610832 18 Os que correram atrás Em 1961 Seul capital da Coreia do Sul era uma visão deplorável Um visitante norteamericano fez um descrição do que era a cid ade na época Os habitantes vivem em barracos miseráveis feitos de qualquer maneira e poucos conseguem arranjar emprego Mendigos alguns aparentando apenas dois ou três anos de idade são comuns bem como vendedores ambulantes que ficam sentados por horas nas calçadas oferecendo a quem passa cigarros chicletes pentes bijuter ias brinquedos apitos ábacos e cachorros vivos Os cachorros latem o tempo todo e também parecem famintos1 Nos anos que se seguiram ao término da Guerra da Coreia a Coreia do Sul era uma ditadura empobrecida e instável Um re gime autoritário foi tirado do poder à força em 1960 mas menos de um ano depois mais um golpe militar levou outro general ao poder A nova ditadura de Chung Hee Park governava uma nação desprovida do mínimo A miséria de Seul contrastava com o brilhante progresso pro movido pelo antigo dominador do outro lado do mar do Japão John Lie nasceu em 1959 na Coreia do Sul e mudouse para o Japão logo depois mas sua família voltava frequentemente ao país para visitar parentes Era fácil para ele comparar as duas nações Seul no início da década de 1960 era a ideia do atraso que eu tinha quando criança Ao mesmo tempo em que ficava maravilhado com os engarrafamentos de Tóquio me horrorizava com os carros de boi que cambaleavam pelas ruas poeirentas de Seul Tóquio parecia indiscut ivelmente moderna com aqueles arranhacéus internacionais brin quedos eletrônicos vasos sanitários com descarga aparelhos de ar condicionado e geladeiras Seul ao contrário parecia antiga com sua arquitetura japonesa do período colonial brinquedos de madeira banheiros sem descarga nem papel higiênico e na melhor das hipóteses ventiladores elétricos e cubos de gelo Tóquio era dinâmica novos edifícios pipocavam por toda parte as prateleiras das lojas transbordavam com novos produtos Seul era estagnada presa à tradição Em Tóquio eu devorava balas e chocolates vendidos em lojinhas bemarrumadas em Seul me entupia de gafanhotos grelha dos vendidos nas ruas Ao frequentar restaurantes na Coreia do Sul mal podia acreditar que em certos dias não se servia arroz devido às restrições do governo2 Realmente a Coreia do Sul era um dos países mais pobres do mundo no início dos anos 1960 A maioria das nações da África subsaariana recentemente independentes estava em condições melhores e a América Latina tinha o triplo da riqueza A renda per capita da Coreia do Sul era segundo alguns cálculos mais baixa que a da Coreia do Norte As perspectivas de melhoria pare ciam pequenas O país dependia fortemente da ajuda dos patronos norteamericanos e os EUA estavam cada vez mais irrit ados com a sucessão de governos letárgicos e corruptos Vinte e cinco anos depois o país havia se transformado Após o retorno do jovem John Lie para a Coreia no fim da década de 1980 ele escreveu 612832 Vi donas de casa de classe média alta se divertindo com a altacostura e jovens ricos levando a vida com uma opulência odiosa Cafeterias limpas e bemiluminadas haviam substituído os sujos cafés McDon alds e Pizza Hut substituíram os restaurantes baratos e as lojas que vendiam noodles O que impressiona em todas essas mudanças e contrastes é que eles aconteceram ao longo apenas de uma geração3 Quando a Coreia do Sul foi sede dos Jogos Olímpicos de 1988 o mundo tomou conhecimento do progresso do país Um novo sistema democrático estava em consolidação e um presidente eleito pelo povo compartilhava o poder com um Legislativo con trolado pela oposição Além das mudanças políticas e das lustro sas instalações esportivas o desenvolvimento econômico geral do país estava exposto em toda parte As mudanças eram notáveis O marxista britânico Perry Anderson escreveu admirado Seul é agora a terceira maior cidade do mundo maior que Tóquio ou Pequim Tamanho não é garantia de modernidade como atestam as desigualdades e a violência irremediáveis das duas maiores con centrações urbanas São Paulo e Bombaim No entanto este ainda é o Terceiro Mundo Seul não é parte dele O que um londrino percebe primeiro são os diversos aspectos em que a cidade é mais adiantada que a sua própria A experiência da Coreia não tinha precedentes escreveu Anderson Nenhuma outra sociedade no mundo tinha se industrializado pro fundamente de modo tão rápido Um processo histórico que levou pelo menos três gerações no Japão aqui foi completado em uma O tempo de mudança não tem precedentes Nos últimos 20 anos o êx odo da agricultura foi três vezes maior que na Itália quatro vezes maior que no Japão cinco vezes maior que na França e sete vezes maior que na Alemanha A proporção da população que vive nas cid ades com mais de um milhão de habitantes é atualmente a mais alta do planeta4 613832 Até 1996 passados 30 anos do início da transformação da Cor eia a OCDE já havia reconhecido a realidade coreana e pro movido o país a membro do clube dos países ricos A Coreia do Sul tinha se graduado do mundo em desenvolvimento para o desenvolvido passado de um patamar de desenvolvimento mais baixo que o das Filipinas e da Tailândia de Gana e do Congo para um mais alto que o da Grécia ou de Portugal comparável ao da Espanha Nova Zelândia ou Irlanda No começo da década de 1960 havia um veículo motorizado para cada 830 coreanos e um telefone para cada 250 30 anos depois havia um carro para cada cinco coreanos e um telefone para cada dois No início da década de 1960 uma jovem coreana tinha menos de três anos de estudo em meados de 1990 mais de nove anos5 Os observadores só erraram ao considerar único o caso coreano Taiwan Cingapura e Hong Kong cresceram tão rápido quanto a Coreia do Sul ou ainda mais E uma segunda geração de tigres do Leste Asiático não ficou muito atrás Tailândia Malásia e até mesmo a China Em todos esses casos o ritmo ex traordinário de equiparação econômica estava diretamente rela cionado aos vínculos com a economia internacional A integração da economia mundial na última parte do século XX criou grandes oportunidades de especialização e crescimento Governos e empresas dos países pobres podiam se beneficiar das demandas dos países ricos por produtos baratos e oportunidades de investi mento lucrativas Podiam orientar sua produção para centenas de milhões de consumidores ricos e atrair o capital dos mais prós peros bancos mundiais de corporações e investidores Muitos fizeram apenas isso levando a uma explosão de crescimento em partes do mundo em desenvolvimento O capitalismo global do fim do século XX como aquele dos 50 anos que precederam a Primeira Guerra Mundial ofereceu in centivos poderosos a pessoas grupos empresas e países A opor tunidade de vender à qualquer nação e de tomar empréstimo de 614832 qualquer nação e não somente a um país e de um país permitiu às empresas se especializarem em suas atividades mais lucrativas Durante o período de industrialização via substituição de im portações o México falhou na criação de uma indústria automot iva viável mas depois o país foi pego na tempestade dos mercados globais de autopeças Fazendeiros da Argentina e da Nova Zelân dia fizeram fortunas vendendo frutas e vegetais de inverno para consumidores do hemisfério norte uma oportunidade que só foi possível com o mercado global de framboesas Empresas da Tailândia e da Turquia antes limitadas pela dificuldade em obter empréstimos domésticos agora tinham acesso a financiamentos estrangeiros baratos e abundantes Esses países e seus cidadãos conseguiram se beneficiar dos mercados globais para se especial izar acelerando o seu crescimento econômico Com as oportunidades dos mercados globais vinham também as restrições Os proprietários dos enormes pools de capitais po diam esquadrinhar o globo atrás dos mercados mais atrativos Quer buscassem mão de obra barata abundância de recursos nat urais técnicos experientes regulamentações favoráveis ou grandes mercados os investidores tinham acesso a praticamente todos os países Se os investidores não apreciassem as políticas de um governo ou o balanço patrimonial de alguma empresa o fluxo do dinheiro sairia daquela economia da mesma forma como havia entrado só que mais rápido Se os consumidores perdessem o interesse por uma novidade tecnológica por algum estilo ou cor tassem despesas devido à recessão as fábricas nações e regiões produtoras podiam ter de fechar as portas Os mercados globais expandiram tanto as possibilidades disponíveis para seus parti cipantes quanto as regras impostas a eles Produção global e especialização nacional 615832 A produção tornouse global nos últimos 25 anos do século XX As empresas terceirizavam os componentes necessários para fab ricar seus produtos deixando esses insumos a cargo das indústri as de vários países diferentes No fim do século o comércio mun dial era duas ou três vezes mais importante para os países desen volvidos do que havia sido na década de 1960 e isso facilitou a distribuição pelas empresas de produtos e serviços em várias loc alidades As firmas podiam estabelecer atividades como pesquisa e desenvolvimento marketing produção e montagem a milhares de quilômetros de distância umas das outras por razões econôm icas políticas ou regulatórias e então podiam embarcar o produto final para consumidores do mundo todo Sobre isso o economista Robert Feenstra ressaltou a integração do comércio e a desintegração da produção uma possibilitando a outra6 Nos anos 1990 era notavelmente fácil dispersar a produção ao redor do globo Antes a atenção pública havia se concentrado nas empresas multinacionais do começo da década de 1970 quando estas investiam US10 bilhões anuais no exterior dos quais US2 bilhões iam para países em desenvolvimento Em 2000 o investi mento direto estrangeiro das empresas multinacionais EMNs girava em torno de US1 trilhão ao ano dos quais US250 bil hões se destinavam às economias em desenvolvimento um aumento de mais de 100 vezes Outras formas de investimento in ternacional se expandiram ainda mais rápido No fim de 1990 os financiamentos internacionais privados e outros investimentos além daqueles das EMNs também giravam ao redor de US1 trilhão anuais Esse volume de investimento internacional signi ficava que qualquer proposta razoável de estabelecer uma mina usina ou shopping atrairia o interesse de investidores Os produtos incluídos no comércio mundial eram cada vez mais internacionais tanto em relação à origem quanto ao mer cado A boneca Barbie era o exemplo mais perfeito do fenômeno que em meados dos anos 1990 era a quintaessência do produto 616832 global7 Sua produção começou com os moldes que a Mattel dos Estados Unidos colocou à disposição de fábricas no sudeste da Ásia Taiwan e Japão forneciam o plástico e o cabelo Empresas chinesas supriam o tecido de algodão para os vestidos As bonecas eram montadas na Indonésia Malásia e China e depois despacha das para Hong Kong e de lá para os consumidores da Mattel nos EUA e em vários outros países A maioria das empresas mais im portantes era global 60 das vendas da IBM eram realizadas fora dos Estados Unidos e 80 das da Volkswagen eram feitas fora da Alemanha Mesmo que a produção globalizada fosse organizada dentro ou fora das redes das corporações multinacionais os fatores de produção fluíam dos usos e locais menos rentáveis para os mais rentáveis Trilhões de dólares dos mercados financeiros inter nacionais buscavam continuamente por oportunidades de lucro onde quer que se encontrassem Milhares de empresas de uma dúzia de países brigavam por empréstimos de baixo custo para ex pandirem suas operações Como resultado surgiram novas in dústrias na Indonésia foram estabelecidos novos negócios no Vale do Silício e construídos novos edifícios no Brasil e novas es tradas na Hungria Os financiamentos investimentos e as tecno logias internacionais aceleraram a globalização da produção en quanto os recursos em busca de lucros eram movimentados de um local a outro em quantidades e velocidades cada vez maiores Essa redistribuição contínua da produção levou a uma espe cialização mais ampla nos países e nas regiões Bens antes produzidos em um país podiam ser divididos agora em várias partes cada uma fabricada em uma nação diferente As empresas podiam desagregar a produção em pequenas partes e ajustar os investimentos de forma a se beneficiar dos locais mais vantajosos A produção global permitiu às companhias reduzir seus custos e deu oportunidade aos países em desenvolvimento de ocupar nichos econômicos rentáveis 617832 As forças globalizantes impulsionaram e atraíram diferentes partes do mundo para uma divisão de trabalho ainda mais efi ciente Áreas com melhores níveis de educação se especializaram em operações de administração e controle pesquisa e desenvolvi mento e outras atividades relacionadas Aquelas com profission ais bastante capacitados se concentraram em processos que exi gissem habilidades específicas Países com contingentes de trabal hadores sem especialização construíram vantagem comparativa com mão de obra barata assim como aqueles com recursos nat urais abundantes exploravam estes recursos O capitalismo global atraiu centenas de milhões de pessoas do Leste Asiático da América Latina e de todos os cantos do mundo para uma produção que visasse aos mercados globais Uma especialização mais ampla podia ser tanto uma benção quanto uma maldição Seus atrativos eram marcados pelo fato de o fenômeno ter tornado algumas antigas linhas de negócio obsol etas aumentando a competição a ser enfrentada por empresas e países A Europa e a América do Norte não podiam competir com a China e o México na produção de itens que consumissem grande volume de mão de obra não especializada e as tradicionais in dústrias do norte encolheram à medida que as do sul se ex pandiram Nos países desenvolvidos os empregos na indústria caíram de 27 da força de trabalho no começo da década de 1970 para menos de 18 no fim da de 1990 Enquanto em 1970 havia dois trabalhadores norteamericanos no setor de serviços para cada trabalhador da indústria no ano 2000 a proporção era de cinco para um As regiões com mão de obra semiespecializada ou não espe cializada foram atraídas para a economia global Elas começaram assumindo a produção de bens que demandassem uso intensivo desse tipo de força de trabalho A indústria do aço foi um caso típico Em 1975 praticamente não havia usinas de aço no mundo em desenvolvimento e as que operavam tinham de contar com 618832 proteção e subsídios pesados por parte dos governos A produção de aço bruto no mundo em desenvolvimento não chegava a rep resentar 15 do volume daquela da Europa ocidental e da América do Norte todos os países em desenvolvimento juntos produziam menos da metade do aço que os EUA geravam Vinte e cinco anos depois as siderúrgicas mais competitivas estavam localizadas principalmente na América Latina e Ásia Os fabricantes de aço nos países em desenvolvimento produziram no ano 2000 muito mais aço bruto que a Europa ocidental e a América do Norte jun tas Na verdade os seis maiores fabricantes China Coreia do Sul Brasil Índia México e Taiwan produziram juntos três vezes mais aço que os EUA8 Ao longo dos últimos 25 anos do século XX ocorreu uma intensa redistribuição da produção industrial dos países ricos para os países em desenvolvimento O crescimento da indústria nas nações em desenvolvimento do sul foi análogo à expansão experimentada em uma época anterior No fim do século XIX e início do XX a globalização levou a um crescimento econômico expressivo em muitas áreas do Novo Mundo da África e da Ásia As regiões que cresciam rapidamente inundaram o mundo desenvolvido com produtos agrícolas bar atos e matériasprimas o que provocou um boom no consumo fi nal e também no consumo de insumos importados pelos fabric antes europeus Mas isso também abriu caminho para a devast ação da agricultura europeia tradicional No fim do século XX os países recentemente industrializados inundaram o mundo desen volvido com produtos manufaturados baratos Isso favoreceu os consumidores e os produtores da Europa ocidental e da América do Norte que usavam os manufaturados importados a baixo custo mas arrasou a indústria tradicional dessas regiões Ambos os pro cessos foram efeitos inevitáveis da especialização na economia in tegrada internacionalmente os fazendeiros suecos e italianos de 1900 não podiam fazer frente aos baixos custos dos fazendeiros das Grandes Planícies e dos pampas assim como os 619832 trabalhadores não capacitados em 2000 não podiam competir com os de países como China e México A agricultura europeia daquela época sofreu de forma semelhante à deterioração da in dústria na Europa ocidental e na América do Norte no período posterior Assim como a produção de produtos primários no Novo Mundo e em outras regiões se expandiu muito antes de 1914 a manufatura básica no Leste Asiático e na América Latina entre outros cresceu rapidamente depois de 1973 Crescimento via exportações nos extremos da Europa e da Ásia Um exemplo espantoso de recuperação econômica envolveu os quatro países mais pobres da Europa ocidental Na década de 1950 e começo da de 1960 ditaduras militares brutais gov ernavam as nações mais atrasadas da região como Espanha e Portugal A frágil democracia não menos retardatária da Grécia entrou em crise em 1967 A Irlanda embora democrática era quase tão pobre quanto essas nações Nesses quatro países peri féricos da Europa ocidental a renda per capita em 1950 repres entava menos da metade da renda da França ou da Alemanha bem abaixo dos valores do Chile e da Argentina Segundo padrões europeus as condições econômicas e sociais também eram ex tremamente ruins nessas quatro nações que tinham alguns dos piores níveis de pobreza do mundo dito industrializado Os quatro países começaram a modernizar suas economias por volta de 1960 A Irlanda o fez primeiro em 1958 desviando da substituição de importações e seguindo em direção à produção para exportação O governo buscou vigorosamente as empresas estrangeiras principalmente as norteamericanas que poderiam ganhar com a mão de obra educada barata e que dominava o inglês Quando a Irlanda ingressou na União Europeia em 1973 os investimentos estrangeiros e o crescimento econômico 620832 ganharam força A nação insular finalmente mudou da manu fatura malpaga às atividades de alta especialização e tecnologia Logo a Irlanda produziria um em cada três computadores com prados na Europa Em 2000 o tigre celta com uma população de menos de quatro milhões de pessoas superou os Estados Un idos como o líder mundial nas exportações de softwares e sua renda per capita ultrapassou a de seu antigo colonizador a Grã Bretanha9 Naquele ano Dublin era uma das cidades mais prósperas da Europa Espanha Portugal e Grécia tiveram mais dificuldades que a Ir landa para ajustar suas engrenagens pois precisavam superar os legados econômicos do fascismo Contudo uma vez que as ditaduras desses países deixaram o poder eles se orientaram na direção da integração europeia a Grécia se juntou à União Europeia UE em 1981 Espanha e Portugal em 1986 Isso aceler ou a abertura econômica dessas nações Embora em 1980 os dois países ibéricos negociassem muito menos com a UE do que com o restante do mundo em 1990 o intercâmbio comercial com a UE havia praticamente quintuplicado e passou a ser duas vezes mais representativo que todas as outras atividades comerciais dessas nações De fato Irlanda Espanha e Portugal estavam entre os participantes mais entusiasmados com a criação da União Econ ômica e Monetária a Grécia ingressou mais tarde a tempo para o lançamento do euro em 2002 Os quatro países atraíram muitas empresas multinacionais e bancos e no fim das contas rece beram algo em torno de dez mil afiliadas e subsidiárias de com panhias estrangeiras Na verdade nos 15 anos a partir de 1985 o investimento direto estrangeiro nas quatro nações passou de US25 bilhões para US210 bilhões Cerca de 110 de todos os in vestimentos nesses países vinha de estrangeiros Até o fim do século Espanha Portugal e Grécia eram inequi vocamente desenvolvidos e europeus com uma renda per capita que se aproximava da de países como a Itália e a Suécia e era o 621832 dobro da do Chile O avanço social dessas nações foi ainda mais impressionante Em 1970 a taxa de mortalidade infantil em Por tugal era de 61 óbitos para cada 1000 nascimentos bem semel hante à do México e da Malásia em 2000 apresentava índices menores que seis mortes para cada 1000 nascimentos melhor que a dos Estados Unidos No fim dos anos 1960 havia somente um telefone e um aparelho de televisão para cada 20 portugueses já no ano 2000 havia um telefone e uma televisão para cada dois residentes e um carro para cada três números semelhantes aos do restante dos países da Europa ocidental Embora a transform ação de Portugal do atraso à modernidade tenha sido particular mente rápida outras nações no entorno da Europa ocidental tam bém evoluíram de forma igualmente impressionante Esse ritmo de crescimento só foi possível devido ao acesso aos mercados e capitais da Europa e do mundo As empresas nacion ais foram liberadas das restrições dos pequenos mercados domésticos e agora estavam aptas a vender para centenas de mil hões de europeus se é que não para o mundo inteiro O acesso ao capital estrangeiro possibilitou o financiamento de investimentos que os capitalistas locais não podiam ou não queriam fazer As in dústrias se especializaram e a produtividade avançou levando a alguns dos crescimentos mais rápidos já registrados Mesmo que nações periféricas da Europa ocidental sejam dificilmente com paráveis com países em desenvolvimento muitos elementos de seu avanço viriam a ser repetidos pelos países recémindustrializ ados produção para exportação atração de investimentos es trangeiros investimentos pesados em capacitação da força de tra balho local e desenvolvimento da infraestrutura Os países pobres do Leste Asiático foram os seguidores mais marcantes da periferia europeia no caminho da convergência Quatro deles em particular Coreia do Sul Taiwan Hong Kong e Cingapura foram tão bemsucedidos que se graduaram deix ando para trás o mundo em desenvolvimento Em 2000 Hong 622832 Kong e Cingapura tinham um produto interno per capita acima da maioria dos países da Europa ocidental enquanto Taiwan se aproximava e a Coreia do Sul seguia somente um pouco atrás Todos os quatro tinham características incomuns os dois primeiros eram cidadesEstado situadas em ilhas e Hong Kong não era nem mesmo um Estado Já Taiwan e Coreia do Sul eram partes de nações divididas e protetorados militares dos Estados Unidos Apesar disso eram suficientemente parecidos com os outros países em desenvolvimento a ponto de suas experiências não serem descartadas como anomalias Coreia do Sul e Taiwan começaram quase do zero em meados dos anos 1950 depois de guerras civis devastadoras Por uma década ou mais adotaram políticas típicas de substituição de im portações mas sem a longa experiência de independência da América Latina Além disso os novos setores industriais das nações do Leste Asiático eram mais fracos e menos compro metidos com o protecionismo Ao fim da década de 1960 Coreia do Sul e Taiwan começaram a incentivar seus capitalistas a produzirem bens industriais para consumidores estrangeiros em especial para os norteamericanos Esses governos utilizaram téc nicas variadas para impulsionar as exportações como emprésti mos a custo baixo e isenção de impostos para os exportadores e uma moeda muito fraca para tornar os produtos coreanos e taiwaneses artificialmente baratos Ambos os governos continuar am a proteger suas indústrias mas deram destaque à produção para exportação Diferentemente da maior parte da América Lat ina e da África as duas economias do Leste Asiático bem como e até mais Hong Kong e Cingapura tinham menos recursos nat urais exportáveis e menos escolha a não ser se beneficiar dos baixos salários para produzir manufaturados simples e vendêlos no exterior A nova estratégia de desenvolvimento de industrializ ação orientada para a exportação IOE promoveu e subsidiou a manufatura voltada para os mercados estrangeiros 623832 No fim da década de 1970 Coreia do Sul e Taiwan inundavam os mercados mundiais com brinquedos roupas móveis e outros manufaturados simples As exportações coreanas saltaram de US385 milhões em 1970 para US15 bilhões em 1979 sendo 90 delas de bens manufaturados Os bancos e as empresas in ternacionais consideravam os exportadores do Leste Asiático cada vez mais atraentes Eram ditaduras estáveis apoiadas pelos EUA e seu forte desempenho exportador assegurava um fluxo con stante de dólares para pagar seus credores internacionais Os dois países pegaram empréstimos volumosos e usaram os recursos na construção de suas bases industriais O governo do Coreia seguiu firmemente no desenvolvimento da indústria pesada por meio do patrocínio de usinas siderúrgicas modernas indústria química e um novo setor automotivo No início da década de 1980 o país tinha o maior estaleiro privado e a maior indústria de maquinário do mundo Diferentemente da maioria dos países em desenvolvi mento os reguladores e empresários decidiram tentar estabelecer uma indústria automobilística sem multinacionais Na década de 1970 o governo auxiliou as empresas locais a tomar empréstimos no exterior e a comprar tecnologias e expertise internacionais Logo os carros fabricados pela Hyundai Daewoo e Kia eram ven didos no mundo todo Quando veio a crise da dívida em 1982 Coreia do Sul e Taiwan foram muito menos afetados que a América Latina Seus negócios estavam voltados para o exterior e ambos podiam aumentar as exportações rapidamente para manter em ordem os débitos Depois de alguns anos difíceis os tigres asiáticos reto maram o crescimento rápido a substituição de bens manufatura dos simples por complexos de brinquedos a computadores de roupas e calçados a bicicletas e carros Essa progressão repercutiu os rumos do desenvolvimento industrial japonês com uma defas agem de 20 anos assim como o Japão tinha passado dos manu faturados simples e baixos salários na década de 1950 ao 624832 maquinário mais complexo e utensílios para consumidores em 1970 as excolônias japonesas fizeram praticamente o mesmo entre 1970 e 1990 Logo Coreia do Sul e Taiwan vendiam produtos industriais sofisticados de mercado intermediário Os carros coreanos foram um sucesso particular em 2000 o país fabricava por volta de três milhões de veículos anualmente cerca da metade para ex portação A Coreia do Sul também era líder mundial em chips aparelhos de TV e eletrônicos Taiwan era o terceiro maior fabric ante mundial de produtos de informática atrás apenas dos Esta dos Unidos e do Japão Na virada do século os dois países tinham padrões de vida praticamente iguais aos de Espanha e Portugal No decorrer da década de 1990 eles também se democratizaram parecendo contradizer as críticas de que o modelo do Leste Asiático precisava dos regimes ditatoriais para reprimir a classe trabalhadora e manter a mão de obra barata Os asiáticos pareciam liderar o caminho à frente do resto do mundo em desenvolvimento ou dos países em transição numa época em que a substituição de importações havia perdido a força e a planificação econômica se desintegrado O caminho da indus trialização voltada para a exportação significava abertura à eco nomia mundial atração de investimentos e financiamentos es trangeiros além de produção para os mercados externos Signi ficava uma integração irrestrita à divisão global do trabalho Isso ia de encontro a décadas de teoria e prática desenvolvimentista mas em poucos anos a nova estratégia seria adotada por quase todas as nações do Terceiro Mundo O Leste Asiático e a América Latina seguem o exemplo Os vizinhos próximos aos quatro tigres asiáticos se voltaram rapi damente para a promoção de exportações Tailândia Malásia 625832 Filipinas e Indonésia quatro países caracteristicamente agrários tinham falhado na industrialização por meio da substituição de importações Mesmo que esses governos tenham continuado a apoiar o empresariado nacional e a protegêlo da concorrência in ternacional eles abandonaram a ISI em favor da industrialização orientada para a exportação e em uma questão de anos todos se tornaram grandes exportadores industriais Os mais novos exportadores asiáticos se beneficiaram do su cesso de seus quatro predecessores Como Coreia do Sul Taiwan Hong Kong e Cingapura haviam se desenvolvido seus padrões de vida e seus salários subiram tão rapidamente que essas nações acabaram perdendo a atratividade para as manufaturas mais in tensivas em mão de obra As indústrias que deixaram Cingapura e Taiwan pelos custos excessivos encontraram mão de obra barata na Tailândia Malásia e Indonésia cujos governos pareciam ser tão habilidosos em administrar a economia quanto em controlar e reprimir a agitação política O capital estrangeiro inundou as três economias do sudeste da Ásia chegando finalmente às Filipi nas país mais instável politicamente e logo as exportações de manufaturados explodiram Como as quatro primeiras economias do Leste Asiático as quatro nações do Sudeste eram aliadas próxi mas dos Estados Unidos e temiam insurgências comunistas Essas realidades estratégicas sem dúvida tornavam mais interessante para esses países se integrarem à economia mundial liderada por Washington Nenhuma análise geopolítica racional no entanto pode expli car as duas transformações asiáticas mais notáveis a China comunista e o Vietnã A China no fim da década de 1970 e o Viet nã em meados de 1980 seguiram vigorosamente a direção da economia internacional A guinada do Vietnã foi chocante dadas as décadas de luta contra o Ocidente mas a penúria colocou o país na direção das reformas de mercado e da globalização Do isolamento econômico quase total do início dos anos 1980 o 626832 Vietnã em 2000 exportou US1 bilhão em camarão US1 bilhão em arroz e US5 bilhões em bens manufaturados Depois de déca das de guerra e estagnação em 15 anos a economia vietnamita triplicou de tamanho A transformação chinesa foi de longe a mais importante por se tratar da nação mais populosa do mundo O governo chinês de volveu as propriedades agrícolas aos fazendeiros particulares afastou o governo central da maioria das atividades econômicas estabeleceu áreas especiais de produção para exportação e acol heu as corporações internacionais O produto nacional quadrup licou em 20 anos e o padrão de vida triplicou Em 1992 a China superou o Japão como a segunda maior economia mundial A explosão de crescimento da China esteve intimamente rela cionada à sua integração à economia mundial As exportações chinesas subiram de US20 bilhões para US200 bilhões em 20 anos As exportações de manufaturados de menos de US10 bil hões para mais de US170 bilhões No fim da década de 1990 as empresas estrangeiras investiam US35 bilhões anuais no gigante asiático A China cujo papel na economia mundial tinha sido pequeno antes da Primeira Guerra Mundial e trivial durante os 50 anos de guerra civil e planejamento centralizado estava naquele momento à beira de se tornar uma das maiores economi as exportadoras do planeta A comparação entre a China e a Índia era impactante No fim da década de 1970 os produtos per capita dos dois países eram próximos mas em 2000 o da China atingiu o dobro do da Índia Em parte como produto dessa percepção desfavorável o compro metimento indiano com uma economia fechada finalmente se rendeu à investida asiática Em 1990 o governo começou a liber alizar tanto a economia doméstica quanto o comércio e os investi mentos internacionais O sucesso retumbante da indústria de software se aproveitou de alguns aspectos incomuns da vantagem comparativa indiana As excelentes universidades os empregos 627832 insuficientes para os universitários recémgraduados e o inglês muito falado tornaram a Índia o lugar ideal para recrutar engen heiros de software Muitos foram para a América do Norte trabal har mas a maioria ficou no país para escrever os códigos digitais de firmas indianas ou de outros países do mundo Antes do fim do século a exportação de softwares da Índia era só uma de suas principais atividades econômicas e trazia mais de US6 bilhões anualmente ao país o dobro da venda de roupas indianas no exterior A Ásia foi o primeiro bloco na renovada corrida pelo capital ismo global e pelos mercados mundiais mas a América Latina não ficou muito atrás A guinada da América Latina rumo à glob alização teve o Chile como pioneiro na década de 1970 sob a ditadura militar de Augusto Pinochet O país havia sido um dos mercados mais protegidos do mundo com tarifas de 250 ou mais Os generais chilenos associaram o modelo de industrializa ção via substituição de importações ao desenvolvimentismo popu lista que ajudou a esquerda a ganhar as eleições e poucos anos depois do golpe de 1973 a ditadura havia praticamente eliminado a proteção comercial e aberto as portas do mercado financeiro chileno A economia seguiu aos trancos e barrancos durante a crise da dívida mas depois de 1985 o regime militar voltou ao caminho da integração econômica Naquele momento o Chile gozava de uma vantagem de dez anos em relação ao resto da América Latina com privatizações abertura do comércio e integ ração financeira adotando variantes comparativamente radicais da nova ortodoxia tais como a eliminação dos fundos públicos de pensão em favor de um sistema de seguro social privado Com a eleição democrática de um governo civil em 1989 a desconfiança com que muitos latinoamericanos viam o exemplo chileno foi su perada Quando a coalizão de centroesquerda optou por dar con tinuidade às políticas voltadas para os mercados a má fama de 628832 tais políticas devido à sua associação com o regime sanguinário de Pinochet foi amenizada A manobra do Chile em direção às exportações começou a render frutos na década de 1990 quando a economia dobrou de tamanho em 2000 o Chile era o país mais rico da América Lat ina Esse crescimento se deveu aos laços formados com o restante da economia mundial no fim do século o comércio internacional do país somava US30 bilhões ao ano e os investimentos es trangeiros outros US5 bilhões muitas vezes os valores anteri ores O novo Chile globalizado se aproveitou dos transportes e das comunicações à longa distância para se especializar em alguns nichos pouco usuais A costa do país longa e irregular mostrou se perfeita para a criação do salmão e começando do zero em 1986 o Chile se transformou rapidamente no segundo maior ex portador mundial do peixe fornecendo mais da metade do salmão comprado pelos experientes consumidores japoneses A localização do país no hemisfério sul e o clima temperado são ideais para o cultivo de frutas de verão durante o inverno norte americano e europeu e ao longo de 20 anos o país triplicou as ter ras dedicadas ao cultivo das frutas triplicando também o rendi mento dessas terras Os consumidores dos países ricos passaram a considerar natural comprar uvas e pêssegos chilenos no mês de dezembro Em 2000 o Chile estava ganhando cerca de US4 bil hões por ano vendendo produtos desenvolvidos recentemente no país O processo serviu como estudo de caso de como a integração econômica estimula a especialização as possibilidades de ex portação levaram os agricultores a expandir a produção de frutas e os empreendedores a se lançar na indústria da criação do salmão Em menos de dez anos o restante da América Latina seguiu o exemplo do Chile e ingressou nos mercados mundiais O México segunda economia da região depois do Brasil liberalizou o comér cio e as políticas de investimento depois de 1985 Durante a 629832 década de 1990 as mudanças na política doméstica e a criação do Nafta transformaram o México de um país autossuficiente que substituía importações em uma nação de mecanismos livres e livrecomércio parte integrante da economia da América do Norte Em apenas dez anos o comércio total do país praticamente quadruplicou as vendas de manufaturados no exterior dis pararam de cerca de US10 bilhões para US120 bilhões en quanto os investidores estrangeiros despejavam US20 bilhões ao ano no membro do Nafta que pior remunerava seus trabal hadores Enquanto a metamorfose era particularmente estarrece dora no caso do México virtualmente toda a América Latina seguiu o exemplo O sociólogo marxista assume o poder Fernando Henrique Cardoso tornouse ministro da Fazenda do Brasil em 1993 depois de décadas de teorização produção escrita e debates sobre desenvolvimento Ele foi iniciado na política prat icamente desde o seu nascimento em 1931 seu avô e seu pai fo ram influentes generais brasileiros e sua família incluía vários líderes políticos mas ainda jovem Fernando Henrique escol heu a vida acadêmica e adotou o marxismo e o socialismo em vez do nacionalismo brasileiro tradicional de sua família10 Fernando Henrique dedicouse à academia depois da fac uldade na década de 1950 e estudou sociologia no Brasil e na França Sua tese de doutorado examinou as relações raciais no Brasil e depois em um de seus principais projetos ele investigou o comportamento político dos capitalistas brasileiros Foi mem bro fundador do mais famoso grupo brasileiro de estudos marxis tas e depois do golpe militar de 1964 aos 33 anos fugiu do país para o Chile onde escreveu uma série de estudos de grande in fluência para o desenvolvimento da América Latina Depois de 630832 um período na Universidade de Paris retornou ao Brasil em 1968 para lecionar na Universidade de São Paulo a USP até ser obri gado pela ditadura militar a deixar o cargo Com o apoio da Ford Foundation FHC e vários outros acadêmicos desempregados fundaram em São Paulo um respeitado centro de pesquisa de ciências sociais No começo da década de 1970 Fernando Hen rique era conhecido no mundo todo como um estudioso do desen volvimento e como um intelectual quase sem envolvimento com a prática política Na verdade Fernando Henrique Cardoso aderiu a um marxismo radical que praticamente rejeitava e com certeza não se engajava no ambiente político dominante na América Latina O marxismo de FHC era revolucionário a questão relev ante escreveu é como construir caminhos para o socialismo11 mas diferentemente de muitos outros da esquerda ele acred itava que o Terceiro Mundo poderia se desenvolver FHC repres entava um dos lados dos violentos debates da década de 1960 e 1970 entre marxistas e neomarxistas De um lado os linhadura adeptos da teoria da dependência para os quais o atraso do Ter ceiro Mundo era uma consequência da ordem econômica domin ada pelo imperialismo norteamericano e europeu Segundo eles o colonialismo havia retardado o desenvolvimento da África Ásia e América Latina e o imperialismo das corporações multinacion ais atrasava o crescimento dessas regiões de maneira semelhante A única alternativa seria uma revolução socialista enérgica em bora alguns admitissem que o nacionalismo extremo e o fechamento da economia pudessem ajudar Ao mesmo tempo em que FHC concordava que as opções dos países em desenvolvimento eram limitadas ele sustentava a ex istência de mais margem de manobra do que os teóricos linha dura imaginavam A dependência afirmava não impede o desenvolvimento Para aqueles que viam o socialismo como a ún ica alternativa para o subdesenvolvimento FHC acreditava que 631832 um governo modernizador poderia ter o apoio da classe média dos capitalistas progressistas e dos trabalhadores A base do seu estudo sobre a sociedade e os empresários brasileiros seria a ideia de que os governos podiam criar economias capitalistas locais que não fossem simples apêndices do império norteamericano Em tudo isso FHC foi fortemente influenciado pela experiência da ditadura brasileira A partir de 1967 o tamanho da economia do país triplicou de tamanho em menos de 15 anos FHC não duvi dava que o país estivesse se desenvolvendo apesar das imper feições da natureza antidemocrática do Estado brasileiro e da comunidade empresarial Enquanto alguns encaravam o contato com a economia mun dial como um obstáculo a ser superado pelos países em desenvol vimento FHC afirmava que esse era um aspecto fundamental do crescimento e rejeitava a visão dos comunistas e de outros da es querda de que os capitalistas locais fossem membros nacionalis tas de uma aliança antiimperialista Ele sustentava que As classes dominantes dada a crescente internacionalização da produção são forçadas a negociar com os que representam os in teresses externos e a reorganizar o sistema interno de exploração eco nômica de forma a competir em condições de igualdade dentro da nova realidade12 Na maior parte da América Latina escreveu O Estado abraça a aliança entre os interesses dos setores internacionalizados da burguesia e aqueles das burocracias públicas e empresariais A burguesia local se relaciona com esses setores13 Essa aliança pode ter tendências autoritárias ou outras tendências retrógradas mas também poderia impulsionar os países pobres para um desenvolvimento rápido Os acontecimentos logo deram a FHC a oportunidade de testar sua teoria de que o governo certo com as políticas certas poderia curar algumas das enfermidades do subdesenvolvimento Até o 632832 início da década de 1980 a má gestão econômica havia conduzido o Brasil à hiperinflação crônica e à crise embora a elite empres arial parecesse ávida por mudanças e a ditadura militar antes or gulhosa estivesse abandonando o poder ainda que de forma de sorganizada Em 1978 beneficiandose da abertura política FHC concorreu ao Senado pelo estado de São Paulo como candidato da oposição Ficou em segundo e quando o vencedor se tornou gov ernador do estado em 1982 as leis brasileiras o fizeram senador Perdeu um duro embate na campanha pela Prefeitura da cidade de São Paulo em 1985 mas continuou como senador proemin ente e foi líder da Assembleia Constituinte que redigiu a nova Constituição democrática do país Posteriormente FHC tentaria transformar suas ideias radicais em reformas políticas Sou favorável à abolição do sistema de exploradores e explorados Mas essa é uma questão de fé que talvez tenha uma importância bio gráfica ou moral O importante é desenvolver uma atitude política e não moralista O importante é saber quais forças se movimentam numa dada direção para introduzir o ato de fé na realidade da situ ação atual14 A avaliação de FHC sobre a realidade da situação atual o le vou a exigir que o Brasil se livrasse do protecionismo e do estat ismo Ele discursou no Senado em janeiro de 1988 Escolher o desenvolvimento implica um processo que por falta de um nome melhor chamarei de modernização mas que na verdade é a globalização da economia O Brasil não pode se isolar anacronica mente com uma política autárquica obsoleta que corre o risco de transformálo num imenso Camboja15 Enquanto isso o sistema político brasileiro estava em crise O primeiro governo civil não conseguiu resolver os problemas econ ômicos do país Em 1990 Fernando Collor de Mello na época um político provinciano e pouco conhecido foi eleito presidente Dois 633832 anos depois de tomar posse Collor sofreu um impeachment por corrupção desonestidade e incompetência Alguns anos antes FHC ajudara a criar o novo Partido da Social Democracia Brasileira PSDB e os sociaisdemocratas participaram do gov erno após o impeachment FHC tornouse ministro das Relações Exteriores em 1992 e em 1993 foi nomeado ministro da Fazenda O político ingressou no governo em um momento crítico a inflação estava acima de 2000 a produção industrial havia caído quase 20 em três anos e o comércio brasileiro estava estagnado Uma sucessão de planos de governo para controlar a crise fracassou e o característico otimismo do país estava no fim Em 1994 como ministro da Fazenda FHC apresentou mais um plano chamado Plano Real em função da nova moeda fixada no valor de um para um em relação ao dólar O plano foi bemsu cedido onde outros haviam falhado já que diferentemente dos an teriores FHC desejava impor medidas austeras A inflação baixou rapidamente e a economia permaneceu forte Em meio à euforia inicial do Plano Real FHC foi eleito presidente do Brasil Uma vez no cargo apressou as reformas econômicas reduziu as barreiras comerciais intensificou o comprometimento do país com a união aduaneira do Mercosul e vendeu uma centena de bilhões de dólares em empresas públicas incluindo empreendimentos em blemáticos como companhias elétricas empresas de telecomu nicações siderúrgicas e ferrovias Em quatro anos a inflação es tava abaixo de 10 o comércio brasileiro havia dobrado a eco nomia crescia e parecia um ímã para os investidores estrangeiros atraindo dezenas de bilhões de dólares a cada ano Os antigos companheiros de esquerda de FHC criticaram duramente a opção dele pelo comércio e pelos investimentos in ternacionais bem como o seu entusiasmo em desmantelar grande parte do setor público O presidente rejeitou as críticas como Pura pose em um plano puramente ético Eles não enxergam a realidade não enxergam os padrões sociais reais não enxergam o 634832 que está mudando Eles não enxergam nem mesmo os fatos Isso impede a ação política16 FHC insistia na necessidade de se ad aptar às mudanças de realidade mesmo mantendo seus princípi os Devemos continuar sendo dessa forma socialistas disse ele em 1997 preocupados com o social Mas isso não pode ser feito de uma forma antiquada como se fosse possível por um ato de vontade política apertar um botão e fazer as coisas acontecer em17 Fernando Henrique foi um mestre da prática política Tornou se o primeiro presidente eleito em 40 anos a completar o man dato e em 1998 conseguiu um segundo período no governo Em 19981999 as crises cambiais ameaçaram a gestão econômica do governo mas o professor de sociologia marxista teve êxito onde tantos outros haviam falhado O governo FHC domou a inflação e um setor público desgovernado destruiu barreiras comerciais e pôs a economia do país na direção dos mercados mundiais O presidente abandonou sua convicção de que suas ações políticas deviam ser coerentes com seus compromissos teóricos afirmando que ele Estava permitindo que os setores mais avançados do capitalismo pre valecessem Esse certamente não é um regime a serviço do capital ismo monopolista nem do capitalismo burocrático mas serve àquele capitalismo competitivo diante das novas condições de produção Ele é nesse sentido socialmente progressista18 Depois da década perdida de 1980 com a crise da dívida a depressão econômica a hiperinflação e a desorganização política o Brasil de FHC havia se transformado em menos de dez anos O governo de Fernando Henrique desmantelou o papel dominante do Estado na produção e eliminou a maioria dos controles sobre o comércio exterior As empresas brasileiras entraram nos merca dos do globo com um entusiasmo nunca visto desde o boom do café da década de 1920 ao passo que os investimentos 635832 estrangeiros inundavam o país com o mesmo vigor O Brasil deu um salto do quase isolamento econômico para um vigoroso enga jamento liderando o terceiro maior bloco comercial do mundo Era muito cedo para confirmar a hipótese do professor marxista de que um bom governo e a globalização poderiam levar ao desen volvimento econômico mas o Brasil passou a ser uma parte in contestável da divisão internacional do trabalho em progresso A Europa oriental se une à ocidental Depois da queda do muro de Berlim muitos se perguntavam se algum dia as antigas nações comunistas da Europa central e do leste alcançariam a parte ocidental do continente do ponto de vista econômico A resposta para essa pergunta é ambígua por várias razões Primeiro não é fácil avaliar as estatísticas tanto aquelas da era da planificação econômica quanto as posteriores de fluxos incrivelmente rápidos Até o fim do século não se havia chegado a resultados precisos Além disso é difícil comparar os padrões de vida numa economia planificada com os de uma eco nomia de mercado como podemos comparar a seguridade social do berço à tumba do comunismo com a liberdade de consumo e trabalho do capitalismo Por fim as experiências das economias em transição variaram muito entre 1990 e 2000 a Europa cent ral e os Estados bálticos se saíram muito melhor do que a maioria das repúblicas que formavam a antiga União Soviética A década de 1990 foi tremendamente difícil para toda a Europa central e do leste e em especial para a antiga URSS Os otimistas apontam uma série de países que obtiveram grandes conquistas Polônia Hungria República Tcheca Eslováquia e Eslovênia juntamente com o país báltico da Estônia Mesmo entre essas vitrines do capitalismo a Polônia foi o único caso in questionável de melhoria sua economia cresceu mais de 30 636832 entre 1990 e 2000 No restante da região em 2000 o produto per capita mal alcançava os níveis de 1989 As medidas convencionais de crescimento econômico não mostraram evidências claras de que esses países em transição estivessem convergindo para o padrão de vida da parte ocidental Entretanto os países da Europa central e talvez os bálticos começaram a se equiparar à Europa ocidental de diversas formas Uma delas foi política com a consolidação da democracia e dos Estados de bemestar social ao estilo europeu A outra foi institu cional à medida que o trabalho de estabelecer bases legais e polít icas já havia sido completado pelo capitalismo Sistemas fin anceiros redes comerciais e gestões regulatórias se desen volveram para promover as novas economias Por fim e talvez o aspecto mais importante esses países entraram na órbita econ ômica da União Europeia reorientaram suas economias no sen tido oposto ao da União Soviética e de seus aliados e se lançaram entusiasticamente no mercado único da Europa ocidental Depois de negociarem os termos de uma eventual entrada na UE as nações mais avançadas da Europa central implementaram polític as europeias e se prepararam para uma associação plena à União Buscaram meios de aproveitar suas características geográficas e econômicas para atrair investimentos estrangeiros e vender seus produtos nos mercados ocidentais Alguns países da Europa central tinham uma vantagem Hun gria Polônia e Eslovênia haviam sofrido reformas substanciais durante o período da planificação econômica e já estavam famili arizadas com o ambiente empresarial competitivo ainda que não tão competitivo quanto o do verdadeiro capitalismo A antiga Tchecoslováquia tinha experiência industrial de longa data pois a região fora uma das principais áreas fabris da Europa durante aproximadamente um século e alguns dos seus produtos permaneceram bemcotados mesmo durante o período comunista A Estônia com afinidades linguísticas e culturais com 637832 seus irmãos finlandeses era uma espécie de passagem para o Ocidente mesmo sob o domínio soviético Ainda assim os céticos duvidavam da capacidade do povo da Europa central de se adaptar a uma ordem social capitalista com a qual somente os mais velhos tinham qualquer experiência Espec ulavam se as realidades sociais e culturais da região iriam desacel erar a movimentação dos mercados Entretanto essa primeira série de países da Europa central deu um rápido salto para a eco nomia de mercado e para os mercados do globo Isso ocorreu mesmo quando as eleições democráticas levaram os antigos comunistas de volta ao poder como aconteceu na Polônia e na Hungria A esquerda se refez no papel de garantir a socialdemo cracia no capitalismo com um lado humano e concluiu as privatiz ações entre outros elementos da trilha dos mercados Estabilid ade política progresso das reformas trabalho capacitado e barato e comunidades de negócios ativas tornaram essas economias at raentes para os investimentos corporativos multinacionais Isso valia tanto para as firmas que desejassem acessar os crescentes mercados consumidores da Europa central e oriental quanto para as que quisessem usar os países em transição como plataformas para fabricação de produtos baratos para exportação e venda no Ocidente Ao longo da década de 1990 a Hungria com uma popu lação de dez milhões de pessoas atraiu US20 bilhões em investi mento direto externo mais do que a Rússia com seus 200 mil hões de habitantes A Polônia recebeu US30 bilhões de empresas estrangeiras e a República Tcheca 15 bilhões As empresas chegaram à região aos bandos As da Europa ocidental se movimentaram rapidamente para reconstruir as re lações comerciais que tinham sido interrompidas por décadas e para desencavar locais de produção e mercados nas distantes ter ras da UE agora redescobertas As empresas norteamericanas e asiáticas que buscavam trampolins de baixo custo para o mer cado europeu também agarraram a oportunidade A Daewoo 638832 gastou US15 bilhão para construir duas fábricas de automóveis na Polônia a Sony estabeleceu fábricas de alta tecnologia de aparelhos eletrônicos para ganhar consumidores na Hungria a Goodyear comprou uma fábrica de pneus polonesa a Volkswagen fortaleceu a respeitada indústria automobilística Skoda da República Tcheca A sueca Electrolux líder mundial na produção de utensílios de cozinha transformou um refrigerador obsoleto produzido pelo Estado húngaro em um modelo para esta indústria As empresas da Europa Ocidental estavam especialmente an siosas para comprar as fábricas existentes ou erguer novas unid ades na Europa central na tentativa de melhorar sua posição com petitiva global A antiga região comunista de trabalhadores capa citados e malpagos tornouse um lugar natural para produzir peças e componentes para a economia industrial integrada da Europa Em 1991 por exemplo a Thomson conglomerado francês cuja divisão de eletrônicos de consumo vendia sob nomes como GE RCA e Telefunken arrendou uma fábrica de televis ores falida na Polônia que mal produzia cem mil tubos de im agem por ano Pouco tempo depois as instalações da Thomson Polkolor já incrivelmente eficientes passaram a produzir quase cinco milhões de tubos 23 deles para venda no exterior No total a Polônia exportava meio bilhão de dólares em aparelhos de televisão e muito mais em componentes e metade das ex portações do país vinha das afiliadas locais de empresas multinacionais No fim do século a Europa central havia se tornado crucial para a economia europeia como principal supridora local de mão de obra barata e altamente preparada As empresas da região forneciam eixos para a Volvo móveis para a Ikea e equipamentos eletrônicos para a Philips Os produtos da Europa central eram indispensáveis para os fabricantes europeus conscientes dos cus tos necessários para competir com a América do Norte e a Ásia 639832 Assim como o México e a Bacia do Caribe foram atraídos para um complexo de produção integrada na América do Norte os europeus dos países centrais e orientais estabeleceram uma posição vital na economia industrial europeia Em 1990 quando o Muro de Berlim veio abaixo poucos teriam previsto que em 2000 as nações da Europa central estariam integradas à eco nomia da UE A nova divisão internacional do trabalho Legiões de países em desenvolvimento e em transição se puseram em marcha rumo à nova divisão internacional do trabalho se agrupando segundo as características econômicas com maior probabilidade de sucesso Os primeiros quatro tigres asiáticos Coreia do Sul Taiwan Hong Kong e Cingapura usaram os baixos salários para determinar logo no início sua pretensão de produzir manufaturados intensivos em mão de obra como roupas calçados e móveis Como o sucesso industrial fez os salári os subirem e os tirou desses mercados os tigres se mobilizaram para se beneficiarem das despesas com mão de obra ainda mod estas dos trabalhadores relativamente capacitados e da já con siderável experiência fabril Esses países atingiram um nível in dustrial considerado médio e passaram a fabricar eletrônicos domésticos e computadores Essa nova onda de nações do Leste Asiático Tailândia In donésia e a China em especial rapidamente preencheu o lugar no mercado que o grupo anterior havia deixado vago No ano 2000 havia nações do Leste Asiático adaptadas a todas as cat egorias da escala de divisão regional do trabalho desde a mais pobre até a mais rica das atividades mais intensivas em mão de obra até as de mais alta tecnologia dos trabalhadores menos ca pacitados aos mais especializados em outras palavras da China 640832 passando por Taiwan e Coreia ao Japão O Japão era o líder fin anceiro e tecnológico Coreia do Sul e Taiwan dispunham de tra balhadores especializados técnicos e administradores e se con centravam na fabricação de bens sofisticados como computa dores automóveis e equipamentos eletrônicos Os que se indus trializaram um pouco mais tarde como a China em especial dominavam o mercado de produtos intensivos em mão de obra Os países em desenvolvimento de todo o mundo buscavam es tratégias de sucesso para se converterem em locais de investi mento e plataformas de exportação A localização era um atributo valorizado A proximidade do México com o mercado norteamer icano abria portas para que o país montasse produtos para reex portação um processo que o resto da Bacia do Caribe tentava im itar A Europa central apostou em sua habilidade de servir de an exo ao mercado único europeu Chile e Nova Zelândia transform aram outro aspecto relacionado à localização o fato de estarem situados no hemisfério sul numa vantagem para a produção de alimentos frescos fora de época no norte Recursos naturais e humanos também serviram de trampolins para o sucesso Os salários na China eram baixos assim como ocorria em outros países pobres da Ásia Brasil e Indonésia con tavam com os minerais Tailândia e Vietnã dispunham da agricul tura tropical e aquicultura A grande riqueza da Índia os engenheiros bemtreinados que falavam inglês forneceu a base para uma das principais indústrias do mundo no ramo de softwares Os países tragados pela implacável rivalidade dos mercados mundiais eram levados a aguçar suas habilidades competitivas e a se concentrar no que faziam de melhor Ao fazerem isso suas eco nomias se tornaram mais eficientes e cresceram rapidamente Esses foram casos de sucesso argumentos para a defesa do capit alismo global As conquistas dessas nações foram reais em ter mos de crescimento econômico de padrão de vida e até na 641832 maioria dos casos de melhor desenvolvimento social Alguns discordavam em função dos custos da transição crescente vul nerabilidade à volátil economia internacional ou maior penet ração das influências estrangeiras Porém os entusiastas da glob alização do Leste Asiático e da América Latina compartilharam do rápido crescimento econômico do fim do século XX 642832 19 Os que ficaram para trás Em 1965 ao comemorar a criação de um novo Estado a popu lação da Zâmbia tinha motivos para estar otimista O país era uma das excolônias africanas em melhor situação não era rica mas era próspera e promissora Zâmbia e Coreia do Sul apresentavam níveis de desenvolvimento semelhantes mas a Zâmbia tinha muitas reservas de cobre e seu governo era honesto e gozava de credibilidade enquanto a Coreia do Sul não tinha nenhum re curso extraordinário e seus líderes eram desprezados e ridicular izados A colônia britânica que antes se chamava Rodésia do Norte era uma grande produtora de cobre há mais de 20 anos e o presidente recémeleito na época Kenneth Kaunda era popular no país e respeitado no exterior por sua inteligência e seriedade Trinta anos depois a renda do zambiano médio não chegava nem à metade da verificada na época da independência e Kaunda desacreditado foi derrotado nas eleições Na mesma época a Coreia do Sul já podia ser considerada 18 vezes mais rica que a Zâmbia e um zambiano levava em média um ano para produzir o que um coreano fabricava em três semanas de tra balho A Coreia do Sul estava a ponto de ser incluída no mundo desenvolvido mas a economia de países como a Zâmbia entre outras semelhantes havia fracassado tão miseravelmente que foi preciso inventar uma nova categoria países menos desenvolvidos PMDs ou Estados falidos A Zâmbia não era um caso isolado Em meio às promessas de paz e prosperidade típicas do capitalismo global as últimas déca das do século foram cruéis para os pobres Os países mais pobres do mundo em especial os da África subsaariana não passaram por melhorias significativas do padrão de vida e sim por declínios consideráveis em muitos casos Muitos dos países que anterior mente adotavam a planificação econômica central acabaram mais pobres do que antes da transição para o capitalismo Mesmo entre as nações com melhores resultados crises de câmbio e de dívida interromperam os avanços econômicos e as histórias de sucesso da década de 1980 acabaram se revelando menos impressionantes no final Até o ano 2000 a pobreza afligia cerca de 13 dos cinco bilhões de habitantes dos países em desenvolvimento o que rep resentava alguma melhora desde 1985 pois a parcela da popu lação mundial que vivia na pobreza tinha diminuído mas o número de indivíduos pobres tinha aumentado em 100 milhões alcançando 16 bilhão1 Os benefícios da integração econômica global não pareciam ter chegado às bilhões de pessoas que ficaram muito para trás em re lação aos ricos E o fato ainda mais alarmante era que centenas de milhões de indivíduos haviam sofrido quedas reais de padrão de vida além de não acompanharem os residentes dos países em crescimento ficaram em situação ainda pior De 1973 até o fim do século o produto per capita dobrou nos países capitalistas avançados e triplicou nas nações asiáticas que cresciam rapida mente Nas economias da África da Ásia estagnada da América Latina da Europa oriental e da antiga União Soviética chamadas pelo economista Angus Maddison de as 168 economias esta cionárias o mesmo produto caiu 102 Esses países abrigavam mais de 13 da população mundial e nenhum deles havia feito 644832 nada mais interessante do que se agarrar à base da pirâmide do desenvolvimento As falhas dos países mais pobres cujo crescimento no fim do século foi insignificante praticamente não causaram impacto na ordem econômica mundial pois essas economias representavam parcelas mínimas do comércio do investimento e da produção mundiais Mesmo que as estimativas fossem infladas de forma generosa para refletir um poder de compra real a África da Ar gélia ao Zimbábue não responderia nem por 3 do produto mun dial A nação mais populosa da África a Nigéria com 110 milhões de habitantes tinha uma economia menor que a da Suíça com sete milhões de pessoas O continente com sua população de 800 milhões quase igual à de todos os países industriais da Europa ocidental América do Norte e Japão somados tinha uma eco nomia menor que a da Itália ou da Califórnia Até os eventos eco nômicos mais terríveis numa proporção tão diminuta da eco nomia global causavam um impacto direto mínimo no restante do mundo Apesar disso a grave situação de 14 da humanidade desper tava preocupação por dois motivos O primeiro era moral não se podia falar seriamente em progresso econômico global enquanto houvesse mais crianças subnutridas na África e no sul da Ásia em 2000 do que 1975 O segundo era pragmático o abismo cada vez maior entre ricos e pobres representava uma séria ameaça até mesmo para os ricos O ressentimento político entre aqueles que atribuíam seus males sociais ao capitalismo global poderia se con verter em hostilidade contra o Ocidente E de forma mais patética as sociedades que sofriam com o desastroso atraso corriam o risco de descambar para o caos e a desordem com consequências as sustadoras para a saúde e a segurança de seus vizinhos A acintosa distância entre ricos e pobres exigia atenção mundial embora raramente conseguisse resposta 645832 A decepção causada pela transição e reformas Na virada do novo século o caminho para o crescimento parecia passar inevitavelmente pela globalização ainda que esse caminho fosse coberto de decepções Um grande número de países comunistas e em desenvolvimento havia abandonado o protecion ismo e a planificação econômica e seguido os rumos do mercado ainda que poucos tivessem obtido melhorias substanciais nos padrões de vida As razões desses desempenhos frustrantes abrangeram desde políticas ruins e deficiências de implementação até falta de sorte e problemas políticos As decepções revelaram que não havia soluções simples para os problemas do desenvolvi mento e que para se obter sucesso às vezes era necessário en frentar obstáculos assustadores A resistência à adoção de novas políticas explica algumas des sas decepções Muitos países demoraram e relutaram em aceitar mesmo que parcialmente que a substituição de importações e as estratégias a ela relacionadas não estavam funcionando O Egito por exemplo começou pelo desmantelamento do seu socialismo árabe antes de 1980 mas as transformações foram no máximo provisórias A maioria dos esforços egípcios no sentido da liberal ização foi incompleta e muitos foram revertidos antes de sua im plementação total A questão era política reformas comerciais e industriais significavam ataques a interesses especiais de buro cratas e empresários enquanto reformas orçamentárias im plicavam cortes de programas sociais processo que alimentava os movimentos de oposição dos radicais islâmicos O resultado de 20 anos de reformas econômicas apáticas foi um país com 70 mil hões de pessoas pouco acima da estagnação econômica Do outro lado do mundo decepções semelhantes se seguiram aos protestos em massa do movimento popular das Filipinas que tirou Ferdinando Marcos do poder em 1986 O país deu início a uma nova etapa de reformas e os governos democráticos 646832 prometeram desmantelar o capitalismo de camaradagema do re gime de Marcos No caso das Filipinas as mudanças também fo ram difíceis politicamente e implementadas de forma muito lenta sem nenhum vigor Os resultados foram tão medíocres quanto no Egito até o ano 2000 a renda per capita mal alcançava a da épo ca da ditadura de Marcos O desempenho da nação insular foi particularmente sombrio em 1980 Filipinas e Tailândia tinham padrões de vida semelhantes mas até o ano 2000 a Tailândia al cançou uma renda per capita três vezes maior que a das Filipinas A região que antes representava o bloco soviético apresentou casos surpreendentes de reformas incompletas e de desencanta mento econômico Ninguém esperava que fosse fácil superar décadas de planificação e de isolamento econômico Os problemas técnicos e organizacionais envolvidos no estabelecimento de uma economia de mercado eram agravados por obstáculos políticos e sociais As economias em transição eram caracterizadas por in teresses há tempos solidificados Burocratas gerentes de fábricas e outros privilegiados sabiam como fazer o sistema trabalhar a seu favor e se utilizavam disso enquanto tudo se desmantelava Esses grupos bloqueavam as transformações econômicas desfavoráveis reservando posições monopolistas para si e para suas empresas além de adquirir o controle dos ativos mais valorizados das com panhias que imaginavam que pudessem vir a ser privatizadas Enquanto os membros dos antigos grupos dominantes blo queavam e perturbavam as mudanças econômicas a população em geral demonstrava cautela em relação à economia de mer cado Os habitantes do bloco soviético se tornaram dependentes da estabilidade social do comunismo do pleno emprego da edu cação e dos serviços baratos e à disposição Com o capitalismo veio o risco a ameaça da pobreza e até mesmo a fome O povo não ia se lançar na economia de mercado sem uma rede de proteção e os governos enfrentavam demandas insistentes por serviços soci ais mesmo quando estavam sem recursos Esses fatores 647832 desaceleraram as reformas econômicas em toda a exUnião Soviética e nas nações mais atrasadas dos Bálcãs Albânia Bul gária Romênia e a antiga Iugoslávia Foram poucos os que previram o colapso econômico result ante da transição do socialismo para o capitalismo No ano 2000 na exUnião Soviética a renda real por pessoa mal atingia a met ade do valor verificado uma década antes Na faixa ao Sul da an tiga URSS uma região com 80 milhões de pessoas que se espal havam da Moldávia Ucrânia Armênia Azerbaijão e Geórgia até a Ásia Central a economia recuou chegando a menos de 35 do volume de 1989 Nesses países o padrão de vida era comparável ao predominante antes da Segunda Guerra Mundial o colapso do período de transição provocou um retrocesso de mais de 50 anos Na Rússia e Bielorrússia na Lituânia na Letônia e em partes da Ásia Central o produto per capita passou a girar em torno de 50 dos valores préreforma aproximadamente o mesmo patamar de 1960 Ao longo da década de 1990 na maior parte da antiga União Soviética a proporção de habitantes vivendo na pobreza passou de 2 para mais de 50 o que era particularmente chocante se comparado ao histórico de um sistema socialista que oferecia mesmo com algumas falhas uma rede de seguro social efetiva que protegia os cidadãos do horror do empobrecimento Isso in comodava principalmente o cidadão médio que passou a conviver com uma miséria galopante ao mesmo tempo em que butiques de alto nível boates exclusivas e concessionárias de carros de luxo surgiam aos montes em Moscou São Petersburgo e Kiev para servir a uma nova geração de milionários da privatização os lad rões da nobreza do novo capitalismo As condições sociais e de saúde se deterioraram de forma alar mante em especial na exUnião Soviética Talvez o aumento do abismo entre ricos e pobres tivesse sido inevitável já que o sis tema socialista do país desmoronava e o mercado crescia como 648832 força dominante Entretanto o tamanho do abismo e a rapidez com que cresceram as desigualdades entre ricos e pobres chocavam a todos a Rússia que tinha uma distribuição de renda praticamente tão igualitária quanto a dos países escandinavos passou a ter depois de apenas dez anos classes sociais tão polar izadas quanto nações da África subsaariana como a Zâmbia por exemplo Até 1998 os 10 mais ricos da população tinham parti cipação duas vezes maior na receita russa do que dez anos antes enquanto a renda dos mais pobres cerca de 50 da população caiu pela metade3 Os revezes econômicos afetaram o setor de saúde do país em parte porque os gastos na área diminuíram 60 A expectativa de vida masculina despencou no início da década de 1990 chegando a 57 anos índice comparável ao do Paquistão Em 1999 a taxa global de mortalidade na população de homens era mais de 20 maior que em 1990 um fenômeno sem precedentes nos países modernizados exceto em épocas de guerra Diante da queda brusca do padrão de vida uma década depois de a antiga União Soviética e seus aliados começarem a jornada para o capitalismo a opinião pública não demonstrava nenhum entusiasmo com o caminho escolhido Governos liderados pelo antigo Partido Comunista foram eleitos em diversos países da ex URSS e do Leste Europeu muitos com uma nova roupagem socialdemocrata ao estilo ocidental Contudo o fato de países como Lituânia Polônia Ucrânia e Hungria elegerem governos comunistas por livre escolha poucos anos depois da queda do Muro de Berlim era surpreendente O apoio desses países aos comunistas de outrora em todo o antigo bloco soviético refletia em larga medida algumas convicções que a transição para o cap italismo tinha sido dura demais que seus custos sociais eram al tos demais e que os comunistas iriam restabelecer o equilíbrio entre os mercados e as políticas sociais 649832 A Estônia e o Uzbequistão foram os dois únicos países do anti go bloco soviético cujas economias praticamente haviam recuper ado os níveis de 1989 Os dois representavam extremos a Estônia era a mais europeia das repúblicas soviéticas e o Uzbequistão um dos países com maior influência muçulmana a Estônia havia pas sado por um processo de reformas e redemocratização dos mais complexos e o Uzbequistão era um dos regimes mais autoritários e com menos mudanças na economia As causas do relativo su cesso de ambos se é que uma árdua batalha de dez anos pela sobrevivência pode ser considerada um sucesso eram dia metralmente opostas a Estônia foi bemsucedida por ter reform ado quase tudo e o Uzbequistão foi bemsucedido por ter reform ado quase nada No entanto os dois países eram exceções pois o resto do que foi a União Soviética seguia tropeçando no caminho das mudanças políticas e econômicas incompletas e perdendo cada vez mais terreno em relação ao Ocidente As condições no restante do bloco soviético não eram tão terrí veis tampouco animadoras Os países da Europa central e do leste adotaram a economia de mercado com veemência suas eco nomias perderam menos força e se recuperaram mais rapida mente de forma que até o ano 2000 o padrão de vida havia re tornado aos níveis anteriores ou até os superado em alguns casos As economias mais atrasadas dos Bálcãs que sofreram menos re formas estavam em média 25 mais pobres do que durante a era comunista Assim como ocorria na antiga URSS os extremos de prosperidade e pobreza proliferavam Muitos achavam difícil aceitar que levaria décadas para se aproximarem do padrão de vida predominante a poucas centenas de quilômetros de distân cia do outro lado do Danúbio Milhões de europeus fugiram do leste para o lado ocidental juntandose aos turcos e aos imigrantes do norte da África na busca por subempregos em cid ades como Madri ou Berlim 650832 Desesperados indivíduos de toda a região também aderiam em bandos a fundos de investimentos do tipo façafortunarápido Só na Romênia havia 600 redes desse tipo a maior delas Caritas prometia dobrar o dinheiro do investidor em três semanas e at raiu 20 da população antes de falir deixando mais de US1 bil hão em dívidas irrecuperáveis Na Albânia o país mais pobre da região as pirâmides captaram metade da população chegando a se equiparar com a economia nacional Quando faliram como era inevitável o pânico financeiro resultante a crise política e o descontentamento nas ruas forçaram o governo albanês que tinha muitos membros e adeptos envolvidos com os esquemas a cobrir alguns investimentos a um custo equivalente a 34 do orça mento anual A facilidade com que estes esquemas clássicos at raíram os russos tchecos e búlgaros refletia um misto de de cepção diante da realidade das sociedades de mercado com a ilusão do que uma economia de mercado podia oferecer Ao mesmo tempo na América Latina o clima também era de decepção pois a globalização gerou menos resultados tangíveis do que seus defensores esperavam A maior parte da região seguiu os conselhos do Ocidente com mais lealdade do que os adeptos do Consenso de Washington ousariam esperar No entanto muitas economias regionais estavam estagnadas ou em recessão Depois de 15 anos de estabilização ajustes e reformas econômicas só um país da América Latina o Chile tinha um produto per capita in discutivelmente maior em 2000 do que em 1980 Alguns países podiam ter crescido um pouco mas de uma forma geral só se via decadência Isso foi desgastante para nações como o México e a Argentina considerados modelos no processo de privatização na liberalização do comércio e na integridade macroeconômica De pois da terrível década perdida de 1980 ambos implementaram reformas radicais que prometiam um crescimento revigorado mas a realidade decepcionou se é que a década de 1990 obteve 651832 algum crescimento ele foi erodido pelas crises e recessões recorrentes Alguns dos problemas da América Latina foram causados devido à adoção de novas políticas de forma incompleta ou insufi ciente Por exemplo alguns países abriram as portas para as fin anças internacionais impulsivamente sem antes modernizar es truturas financeiras e regulamentações internas Algumas vezes os fluxos de capitais resultantes sobrecarregavam o sistema bancário nacional e ajudavam a deflagrar crises bancárias devast adoras Em outros locais os governos se encontravam num im passe entre a ambição de manter a moeda forte para controlar a inflação e a vontade conflitante de desvalorizar a moeda para es timular exportações Isso levou a crises cambiais México em 1994 Brasil em 19981999 e Argentina em 20012002 que in terromperam o crescimento A transformação da região levou as indústrias locais a melhorias de qualidade e a avanços tecnológi cos aumentando as opções para o consumidor Além do mais a experiência do Chile onde as reformas só renderam frutos 15 anos mais tarde enchia de esperança o restante da região Mesmo assim a decepção permeava a América Latina no início do novo século A experiência da década de 1990 demonstrou o sofrimento e as dificuldades de décadas de falta de dedicação a políticas econ ômicas As relações econômicas políticas e sociais tinham se desenvolvido sob a velha ordem da substituição de importações e da planificação econômica centralizada e era complicado desfazer tais políticas Mesmo os países que contavam com um relativo apoio interno para implementar reformas e transformações polít icas como em grande parte da América Latina e da Europa cent ral o crescimento foi lento ou negativo Grande parte da antiga União Soviética e dos Bálcãs onde havia menos entusiasmo com as reformas e menos disposição para os sacrifícios que exigiam havia o risco de uma estagnação a longo prazo Na virada do 652832 século XXI a globalização continuava sendo apenas uma promessa para muitas das economias em transição e dos países em desenvolvimento que haviam optado por ela Desastres do desenvolvimento Enquanto as experiências econômicas da América Latina e do ex tinto bloco soviético decepcionaram em outras partes do mundo em desenvolvimento ocorreu um verdadeiro desastre As catástro fes econômicas se deram principalmente na África subsaariana e no Oriente Médio com alguns outros casos isolados na Ásia e na Bacia do Caribe Regiões do mundo em desenvolvimento caíram em um abismo de pobreza e desespero extremos O declínio mais assustador ocorreu na África mas nem todos os países do continente tiveram performances desastrosas As nações do sul como África do Sul Suazilândia Botsuana e Namíbia e alguns países mediterrâneos do norte como o Gabão e o Congo dois minúsculos produtores de petróleo es tavam em condições três ou quatro vezes melhores que a média das outras economias Entretanto as 43 nações restantes juntas ou seja meio bilhão de africanos eram as mais pobres do mundo e continuavam empobrecendo entre 1980 e 2000 a renda média nessas regiões caiu 25 O entusiasmo e o otimismo das nações africanas que haviam conquistado a independência na década de 1960 transformaramse em um fracasso sem precedentes já que a maioria delas chegou ao fim do século mais pobre do que era na época da independência Essas nações empobrecidas da África seguiram caminhos di versos para o retrocesso econômico Algumas puderam alegar fatores além de seu controle O aumento do preço mundial do pet róleo criou sérios problemas para os países dependentes desse tipo de importação e o mesmo efeito teve o declínio nos preços 653832 das principais commodities de exportação entre eles o cacau e o cobre Alguns acadêmicos afirmam que o clima e as doenças tor navam os trópicos particularmente desfavoráveis para as ativid ades econômicas modernas doenças infecciosas como a malária são de difícil controle e o calor extremo aliado a chuvas torrenci ais tornam as condições de trabalho adversas Outros enfatizam as dificuldades inerentes em termos de transportes agravadas pelas estranhas fronteiras impostas pelos colonizadores O fato é que a maioria dos países africanos é tropical sem saída para o mar ou ambos4 Por mais que o desenvolvimento desses países miseráveis fosse desanimador diante das condições enfrentadas as experiências vividas foram bastante variadas Podemos com parar por exemplo os casos de países parecidos em que o primeiro se saiu bem e o outro fracassou BotsuanaZâmbia GabãoZaire TailândiaMianmar Muitos países conseguiram se ajustar ao ambiente de alta nos preços das importações ou de queda nos preços das exportações O fato de alguns países terem se saído melhor que outros embora tivessem se especializado nos mesmos produtos leva a crer que a condenação à penúria não pode ser explicada por limitações geográficas Os conflitos regionais do período póscolonial fossem políti cos étnicos ou de outra natureza tiveram um preço Angola foi assolada pela guerra civil imediatamente após a independência de Portugal em 1975 quando facções regionais ideológicas e étnicas lutavam pelo controle do país Apesar dos extraordinários re cursos naturais petróleo diamantes café 25 anos de guerra condenaram o país a terminar o século 60 mais pobre do que na época da independência No outro extremo do continente a popu lação da Etiópia mal teve tempo de comemorar a derrubada de Haile Selassie em 1974 pois o país mergulhou em conflitos que duraram 15 anos primeiro ao longo do novo regime militar e de pois entre o governo e grupos rebeldes A vitória dos rebeldes em 1991 instaurou a paz por alguns anos mas em seguida estourou a 654832 guerra contra a Eritreia Nações como Angola e Etiópia entre vários outros países pobres investiram tanto tempo energia e dinheiro em conflitos civis e militares que o simples fato de ter restado pouco para o desenvolvimento econômico não gera qualquer surpresa E por fim havia a nova categoria dos estados falidos países que deixaram de ser entidades organizadas A denominação foi controversa mas nações como Afeganistão Somália Libéria Iê men e Serra Leoa mergulharam em algo muito próximo da anar quia por longos períodos Não havia governos estabelecidos apenas terror e falta de leis um colapso da ordem social sem qualquer perspectiva de superação O lento crescimento econ ômico não era nada se comparado ao assassinato de centenas de milhares de civis por bandos de saqueadores ou ao genocídio que destroçou Ruanda Apesar disso não é possível afirmar que essas tragédias de terminaram os desastres econômicos dos países menos desen volvidos As deficiências econômicas em geral foram as causas não as consequências de guerras civis e derrubadas de governos dado que a incapacidade das lideranças de garantir as necessid ades básicas às populações levava ao colapso constante da autor idade O fato de países como Gana Haiti Sudão Libéria Afegan istão e El Salvador serem mais pobres em 1980 do que 20 anos antes foi a principal fonte dos conflitos que assolaram essas e out ras nações após 1980 Quais foram as causas dos desastres de desenvolvimento do fim do século XX Os acontecimentos exter nos e as incontroláveis lutas internas influenciaram mas as crises foram produzidas por fracassos de governo não pela força das circunstâncias A jornada da Zâmbia 655832 Kenneth Kaunda levou a Zâmbia à independência e continuou no comando do país por quase 30 anos Apesar de sua eficácia polít ica durante a luta pela libertação e de uma dedicação aparente mente sincera ao bemestar da população Kaunda presidiu um fracasso econômico de proporções catastróficas A triste saga teve um início movimentado Kaunda era o oitavo filho de um pastor presbiteriano Veio de uma região onde hoje é o Maláui Quando nasceu em 1924 seus pais eram missionários na colônia britânica da Rodésia do Norte atual Zâmbia A década de 1920 foi marcada por dois importantes desenvolvimen tos primeiro o término da concessão da Companhia Britânica da África do Sul na Rodésia do Sul atual Zimbábue e a tomada do controle da colônia independente pelos colonizadores brancos e depois a descoberta de cobre na Rodésia do Norte Até o início da década de 1940 o setor de cobre da Rodésia do Norte crescia rap idamente e a Rodésia do Sul contava com uma agricultura próspera controlada pelos brancos Kenneth Kaunda formouse na única escola secundária da colônia que aceitava africanos e começou a trabalhar como professor tornandose muito atuante em grupos assistenciais e em organizações de luta pela independência Ao longo da década de 1950 os ativistas africanos anticoloni alistas passaram a lutar contra os colonos brancos e contra o gov erno britânico que desejavam unificar a Rodésia do Sul a do Norte e a Niassalândia atual Maláui numa só federação contro lada pelos colonizadores Kaunda e outros africanos se opuseram ao plano com fervor em grande parte sob a liderança do Con gresso Nacional Africano CNA Após a criação da federação em 1953 ele se tornou secretáriogeral do CNA Nos cinco anos seguintes foi um dos principais líderes da organização pro movendo desde boicotes a lojas que praticassem a segregação ra cial até a desobediência civil Como editor da revista do CNA Kaunda foi preso por dois meses Por fim entrou em conflito com 656832 a ala moderada do CNA e criou um grupo próprio o Congresso Nacional Africano da Zâmbia Foi preso novamente pelos britâni cos em 1959 e quando saiu da cadeia passou a liderar o recém criado Partido Unido da Independência Nacional Em 1964 com a divisão da federação a Niassalândia virou Maláui a Rodésia do Norte passou a se chamar Zâmbia e a Rodésia do Sul virou simplesmente Rodésia e passou a ser comandada pelos brancos Kaunda venceu as eleições livres e tornouse presidente do país A Zâmbia tinha tudo para prosperar extraordinárias riquezas minerais e uma liderança hábil e comprometida O cinturão do cobre se estendia por mais de 160 quilômetros ao longo da fron teira com o Congo e abrigava uma série de cidades e povoados prósperos dedicados à mineração Como era dito o novo país havia nascido em berço de cobre Mas os estáveis ganhos provenientes das minas de cobre tiveram consequências perversas sobre o desenvolvimento da eco nomia no longo prazo O governo prevendo que o dinheiro do cobre continuaria fluindo para a economia do país não sofria pressões para desenvolver outros setores produtivos Os lucros fáceis gerados pelo cobre encorajavam os zambianos a investir grande parte do seu tempo no metal Os mineiros esperavam altos salários os moradores das cidades queriam empregos bemremu nerados no governo e comida barata e os zambianos em geral contavam com os programas sociais e a proteção política Como filhos de pais ricos que se dedicam a gastar a herança em vez de descobrir como ganhar o próprio dinheiro os zambianos gastaram o dinheiro fácil da mineração em vez de planejar um fu turo econômico que não dependesse exclusivamente dessa riqueza mineral5 Nos dez primeiros anos após a independência aproximada mente o novo governo tomou as rédeas da sociedade zambiana com segurança Kaunda expôs uma abordagem equilibrada do 657832 desenvolvimento econômico do país ao público inglês um ano de pois da fundação do país O principal objetivo do nosso programa de desenvolvimento econ ômico é tornar a economia menos dependente dos minerais e ao mesmo tempo garantir uma evolução econômica a mais abrangente possível Mas não podemos fazer isso interrompendo o desenvolvi mento das atividades minerais pois precisamos desses lucros para obter moedas estrangeiras E o estímulo à produção mineral deve ser feito com equilíbrio pois de outra maneira estaríamos agregando apenas um diferencial de receita aos ingressos já excessivos6 O governo de Kaunda incentivou o desenvolvimento do setor de cobre enquanto tentava controlar as operações das empresas mineradoras estrangeiras que feriam os sentimentos nacionalis tas7 As empresas de mineração eram obrigadas a empregar zam bianos em cargos de gerência e a pagar mais impostos ao governo As novas políticas garantiam empregos à população que crescia rapidamente ao passo que o governo passou a gastar mais em programas sociais educação e saúde A Zâmbia como a maioria dos países em desenvolvimento no fim da década de 1960 não queria mais que os estrangeiros con trolassem a produção de matériasprimas Como a maior parte dos líderes africanos Kaunda acreditava que um controle rígido da economia era prérequisito para o progresso social do país O presidente passou a promover então um humanismo que chamou de diretriz filosófica da Zâmbia Adotou o socialismo como instrumento para a construção de uma sociedade hu manista8 Com o objetivo de acordo com suas próprias palavras de levar o país do capitalismo ao humanismo por meio do social ismo9 Kaunda lançou uma nova orientação econômica em 1968 durante um discurso em Mulungushi próximo à capital Lusaka Sob o novo programa o Estado assumiu o controle das minas de cobre e em poucos anos o presidente havia nacionalizado 658832 diversas empresas de outros setores importantes da economia in dústria comércio transporte construção e outros O fundador do humanismo zambiano no entanto não acred itava na planificação econômica imposta pelo Estado Kaunda partia do seguinte pressuposto O setor público irá coexistir pacificamente e cooperar efetivamente com o setor privado Mas à medida que a economia for se expandindo cada vez mais o setor público irá se engajar no estabelecimento de in dústrias importantes para a nação em especial nas áreas onde o setor privado não quer ou não pode participar por qualquer motivo10 O cerne das reformas de Mulungushi era nacionalista e não socialista Devido ao tamanho das imensas empresas estrangeiras e do pequeno setor privado da Zâmbia seria necessário segundo Kaunda conceder aos empreendimentos zambianos certas áreas onde pudessem operar sem a competição das empresas expatria das O objetivo era Retirar a dominação estrangeira de nossas vidas econômica por meio do controle da maioria dos meios de produção e dos serviços mais im portantes estabelecendo ao mesmo tempo uma base sólida para o desenvolvimento dos negócios genuinamente zambianos11 Como em toda parte do mundo em desenvolvimento o gov erno promoveu a industrialização com base na substituição de im portações protegendo a indústria local com barreiras comerciais fortíssimas As minas de cobre nacionalizadas passaram a gerar uma renda enorme para o governo O cobre era responsável por mais de 90 das exportações metade da receita do governo e mais de 30 do produto total da economia O governo gastava a riqueza do cobre livremente para expandir o setor educacional qualificar os nat ivos para o funcionalismo público melhorar a saúde do povo e 659832 fortalecer os serviços públicos Os lucros do mineral também pos sibilitaram pagar salários mais altos aos poderosos donos de mi nas do país que haviam estado à frente do movimento de inde pendência liderado por Kaunda Os recursos oriundos do cobre permitiram ao governo conceder altos salários aos trabalhadores urbanos e subsidiar os preços da cesta básica O governo não pre cisava se preocupar com a falta de competitividade das novas in dústrias da Zâmbia uma vez que o cobre fornecia praticamente todos os ganhos das exportações O dinheiro do cobre permitiu à administração de Kaunda so lidificar sua base de apoio entre empresários mineiros servidores públicos e eleitores em geral Em 1972 o presidente decretou que dali por diante o Estado teria um único partido com o seu Partido Unido da Independência Nacional Unip na sigla em inglês no poder O partido concedia proteção em troca de apoio político dando prioridade aos seus membros e defensores na dis puta por empregos no imenso setor público na concessão de em préstimos baratos e nos serviços públicos e negando acesso aos transportes mercados e assistência médica àqueles que não con tribuíssem com o partido Créditos agrícolas eram utilizados para construir a base de apoio do partido e como disse um filiado o objetivo era transformar os melhores homens do partido em ag ricultores pois não podemos sustentar quem não pertence ao Unip12 As lideranças do grupo se isolaram e expulsaram as alas opositoras consolidando o controle sobre o sistema político a burocracia e a mídia13 Até 1975 escreveu o estudioso Michael Bratton o Unip havia se transformado de um partido de parti cipação em um partido de controle14 O sucesso de Kaunda começou a desmoronar mesmo com a consolidação do seu Estado de partido único Os preços do cobre subiram depois da independência e até 1974 haviam dobrado em relação a 1964 Porém baixaram consideravelmente depois de 1975 apresentando quedas em alguns anos e em outros mal 660832 acompanhando a inflação Preços estagnados se tornaram sinôn imo de receitas governamentais estagnadas mas a base de apoio do governo continuava a exigir privilégios Logo a rede de apoio à sua administração começou a se desintegrar uma vez que o gov erno não dispunha mais de recursos financeiros para mantêla unida Com a depreciação dos preços do cobre as empresas de mineração do Estado tentaram conter os salários mas o sindicato dos trabalhadores das minas era poderoso o suficiente para blo quear essa medida E enquanto as receitas do cobre caíam o gov erno precisava aumentar a produção para exportação mas as manufaturas não tinham a menor condição de competir nos mer cados internacionais O descaso em relação à agricultura havia baixado a produtividade de forma que 25 da comida do país precisava ser comprada no exterior mesmo diante da escassez de moeda estrangeira para pagar por essas importações O in chado setor público que era responsável por 75 dos empregos formais precisava ser reduzido mas os empregados do governo eram altamente sindicalizados além de serem fundamentais para a manutenção do partido no poder As escolhas feitas nos primeiros anos passaram a assombrar Kaunda O governo havia usado o dinheiro do cobre para comprar o apoio político e a condescendência de mineiros indústrias pro tegidas beneficiários dos serviços públicos consumidores de ali mentos subsidiados e os funcionários públicos Porém quando os lucros do cobre diminuíram a administração de Kaunda precisou reduzir o que repassava aos mineiros funcionários públicos e out ros clientes tradicionais da generosidade governamental O gov erno de Zâmbia havia se tornado refém político de sua base de apoio e não conseguia mais satisfazêla15 À medida que o governo de Kaunda falia era forçado a deixar de lado seus compromissos com o desenvolvimento e o bemestar social Em outubro de 1985 com a economia em crise e sofrendo pressões do FMI e do Banco Mundial o governo se voltou para as 661832 reformas liberalizando vários preços abandonando os controles sobre a moeda limitando os salários dos funcionários públicos despedindo empregados do governo e reduzindo os subsídios que mantinham os preços dos alimentos artificialmente baixos em especial o valor do principal alimento do país o fubá As medidas geraram descontentamento e revoltas populares no cinturão do cobre além de uma série de greves que por pouco não provocaram a paralisação do país Em maio de 1987 enfrent ando problemas como a degradação contínua do apoio popular e o descontentamento crescente no próprio partido Kaunda rejeit ou as reformas e inverteu o curso Mas o governo não dispunha dos recursos necessários para satisfazer seus adversários ou mesmo para manter sua base de apoio Quando os salários ficaram defasados em relação aos preços as greves e revoltas pop ulares ressurgiram Frederick Chiluba o chefe do sindicato dos trabalhadores da federação aproveitava qualquer oportunidade para atacar o governo e insistia no fim do regime de partido único Em junho de 1990 ocorreram novas revoltas por causa dos alimentos e o preço do fubá subiu de novo Enquanto isso a já desestabilizada vida política do país ficou ainda mais volátil em função da epidemia de Aids que assolava a África Até 1991 mais de 30 de todas as mulheres grávidas que viviam nas cidades eram soropositivas e segundo as estimativas 20 dos adultos zambianos estavam contaminados O governo de Kaunda não apenas dirigiu o colapso da economia como também teve certa responsabilidade pelas mortes terríveis de grande parcela da população O presidente finalmente concordou com a realização de eleições multipartidárias Em outubro de 1991 o Movimento pela Democracia Multipartidária MMD em inglês comandado pelo líder sindicalista Chiluba venceu o partido de Kaunda com o trip lo dos votos No cinturão do cobre Chiluba teve 90 dos votos mas a derrota foi esmagadora em toda parte das nove províncias 662832 da Zâmbia Kaunda só venceu em uma Depois de quase 40 anos como líder nacional primeiro na luta pela independência e depois como seu único presidente Kenneth Kaunda deixou o cargo A Zâmbia havia se tornado bem mais pobre do que na época da in dependência e uma reviravolta não seria nada fácil A catástrofe africana A Zâmbia não estava sozinha no rol dos colapsos econômicos e das instabilidades políticas Administrações longas e sistematica mente ruins levaram vários países a ficar para trás Somente pressões políticas e sociais muito poderosas podiam fazer com que os governos insistissem em políticas tão destrutivas Por razões políticas os governos se empenharam em desestimular os produtores da África a fazerem o que melhor sabiam fazer Em uma tentativa de deixar para trás o passado e o presente agrários os governantes passaram a discriminar a agricultura e a favorecer a indústria tributavam as terras produtivas levando muitos fazendeiros a abandonar a atividade mas subsidiavam fortemente os investidores que estabeleciam fábricas de produção invendável nos mercados A Tanzânia é um triste exemplo das punições impostas à agri cultura e das deficiências da industrialização dirigida O proemin ente líder africano de libertação Julius Nyerere comandou o país direta ou indiretamente da independência em 1961 até 1990 Nyerere em seu plano de transformar a tradicional base econôm ica do país tentou uma série de iniciativas rurais inovadoras mas que não puderam superar o extraordinário viés antiagrícola das políticas governamentais para o desenvolvimento que di minuíram drasticamente os lucros obtidos com o campo Esse ser ia um desastre desnecessário para um país que era 90 rural e 663832 tinha um potencial considerável para exportar produtos como café caju e chá Enquanto isso os contribuintes e doadores estrangeiros des pejavam dinheiro em empreendimentos industriais que não valiam nada A fábrica de calçados Morogoro recebeu finan ciamentos de US40 milhões do Banco Mundial e foi inaugurada em 1980 com grande estardalhaço Deveria ser uma das maiores fábricas de sapatos do mundo com capacidade de produção de quatro milhões de pares por ano dos quais três milhões seriam exportados As exportações permitiriam que a estatal pagasse o Banco Mundial e gerasse lucros Contudo nem o governo nem o Banco Mundial levaram em conta o elevadíssimo custo da energia elétrica na Tanzânia a baixa qualidade do couro local as altas tarifas sobre insumos importados e a escassez de mão de obra ca pacitada para trabalhar nas modernas linhas de montagem Além disso a fábrica não havia sido concebida para o clima tropical da Tanzânia com seus pilares de aço paredes de alumínio e ventil ação insuficiente O empreendimento foi um desastre a fábrica nunca ultrapassou 4 de sua capacidade fabricando no máximo poucas centenas de pares por dia nunca exportou um par de sap atos sequer pois os produtos da empresa na verdade valiam menos que os caríssimos insumos utilizados na produção e em meados de 1980 a empresa já perdia meio milhão de dólares ao ano isso sem contar o custo do serviço da dívida do Banco Mun dial Foi dito a um visitante que conheceu a fábrica no início da década de 1990 que o gerente estava ausente devido a uma de pressão causada em parte pelo estresse do fluxo constante de pessoas interessadas em visitar um fracasso tão espetacular16 A empresa foi vendida para investidores privados no início da década de 1990 mas quem comprou não pôde vencer a insensatez de construir uma indústria de sapatos sobre bases tão frágeis e a fábrica logo foi fechada 664832 Projetos industriais ainda piores pipocaram por toda a África incapazes de operar mesmo com investimentos governamentais de bilhões de dólares A Morogoro foi praticamente nada se com parada a outros elefantes brancos A pretensão era transformar a siderúrgica de Ajaokuta na Nigéria em um empreendimento em blemático na África com um contingente de dez mil trabal hadores A tarefa devorou mais de US4 bilhões em 20 anos não chegando a produzir aço algum estimase que metade do din heiro foi parar nos bolsos de sucessivas gerações de figuras públicas e privadas do país Até o fim do século cabras e bois per ambulavam pela planta quase deserta mesmo quando o governo prometeu despejar mais meio bilhão de dólares no projeto em mais um esforço de completálo17 Tudo isso para um suposto be nefício de 10 ou 15 da população que vivia nas cidades en quanto a agricultura afundava cada vez mais na penúria Essas políticas governamentais aparentemente perversas tin ham por base uma lógica que era originada na abundância de re cursos nas instituições políticas e sociais e nas condições econ ômicas dos países As economias políticas coloniais se baseavam nas exportações de produtos primários para as metrópoles cobre do Congo para a Bélgica café do Quênia para a GrãBretanha ca cau da Costa do Marfim para a França petróleo de Angola para Portugal Naturalmente os adversários do colonialismo eram contra esses laços de exportação e contra quem se beneficiasse deles Os governos da maioria dos países de independência re cente viam as atividades econômicas tradicionais como aviltantes ao contrário da produção industrial por exemplo O desejo de industrializar países como Tanzânia ou Gana era compreensível mas ao tentar fazer isso os governos tiraram o sangue dos fazendeiros Os preços dos produtos agrícolas foram contidos para que a população urbana pudesse contar com ali mentos baratos enquanto o valor dos produtos e serviços ofere cidos nas cidades era altíssimo Tudo isso acabou provocando o 665832 esmagamento dos lucros da agricultura Afinal as cidades eram empórios da modernidade além de constituírem as principais bases políticas dos governos póscoloniais incluindo exércitos e burocracias Nesse cálculo os novos líderes africanos pensavam exatamente como os defensores da substituição de importações da América Latina os promotores da industrialização forçada na União Soviética ou os protecionistas norteamericanos do fim do século XIX a política deveria canalizar recursos para a economia urbana a fim de industrializar os países Entretanto a África era muito menos desenvolvida do que qualquer uma dessas so ciedades quando começou sua jornada rumo ao desenvolvimento 90 ou mais da população de vários países viviam no campo ou exerciam atividades rudimentares nos setores industrial e urbano Forçar a queda artificial dos preços dos produtos agrícolas em países como México ou Turquia era uma coisa pois metade des sas economias era agrícola e metade urbana mas quando os ag ricultores representam 90 de uma nação o impacto é completa mente diferente Em 1960 uma economia africana média era comparável a países da América Latina ou da Rússia um século antes Quando foi dada a partida da industrialização soviética e latinoamericana na década de 1930 eles já eram muito mais avançados que a África póscolonial No contexto africano sugar o campo para modernizar as cid ades foi uma prática que gerou praticamente apenas efeitos negat ivos Causou o empobrecimento dos fazendeiros e quase não afetou o desenvolvimento industrial simplesmente havia muito pouca infraestrutura para começar qualquer coisa A rede de en ergia elétrica da Nigéria era tão inadequada que os donos das fábricas menores gastavam em média três vezes mais na compra de seus próprios geradores do que todo o investimento em bens de capital Em vez de melhorar a infraestrutura econômica os serviços prestados pelos governo ou os serviços sociais o dinheiro tomado dos agricultores acabou inflando os salários do setor 666832 público enriquecendo os prósperos e poderosos de forma ilícita ou recompensando os defensores do regime À medida que os governos impunham regras que transformavam atividades econ ômicas lucrativas em empreendimentos desvantajosos ou ilegais o emprego público passava a ser a única opção dos moradores das cidades cerca de 75 da força de trabalho de Gana trabalhava para o governo18 Após 1960 as economias africanas cresceram por alguns anos mas a partir de 1975 aproximadamente os problemas se multipli caram A agricultura e a mineração que antigamente eram os pil ares da economia no continente estavam esgotadas As indústrias eram fracas e ineficientes demais para oferecer empregos ou oportunidades de crescimento econômico Os governos gastavam cada vez mais incluindo fundos de ajuda para manter os regimes ditatoriais no poder ou apenas para enriquecer os ditadores De meados da década de 1970 até o fim do século a África subsaari ana foi a única região do planeta a vivenciar um crescimento eco nômico negativo em praticamente todas as dimensões Os impressionantes recursos naturais do continente pareciam não ser de grande valia Pelo contrário para alguns foram os fatores que mais contribuíram para o desastre africano Os gov ernos dos países mais ricos em recursos tinham pouco incentivo para estimular ou empreender os difíceis esforços necessários para garantir a produtividade e a competitividade da agricultura e da indústria já que podiam simplesmente vender diamantes ou petróleo e viver dos lucros O fluxo constante de lucros resultantes das minas de cobre ou de plantações de canadeaçúcar enrique ceu os governantes recompensou seus partidários e subornou po tenciais oponentes O dinheiro fácil dos produtos primários re duziu a pressão por políticas de desenvolvimento mais modernas e dinâmicas Enquanto os governos da Coreia do Sul ou de Taiwan não tinham praticamente nenhum recurso natural e portanto sem alternativa a não ser incentivar os negócios e a educação as 667832 lideranças do Zaire e de Angola tinham à disposição minerais ex ploráveis para venda no exterior e pouco incentivo para empreender as difíceis medidas de fomento ao crescimento econ ômico e ao desenvolvimento de longo prazo Parecia haver uma maldição dos ricos em recursos que arrastava os países para o fundo do poço As histórias de horror proliferavam com casos de projetos e países inteiros fadados ao fracasso Uma das maiores nações da região e uma das mais abundantes em recursos o Zaire hoje República Democrática do Congo foi virtualmente comandada desde a independência por Joseph Mobutu cuja extraordinária venalidade gerou um novo termo cleptocracia Até o início da década de 1980 ele tinha acumulado uma fortuna avaliada em US4 bilhões o equivalente a dez anos de exportações do país e mansões em todo o mundo Até sua derrubada em 1997 a pop ulação de cerca de 50 milhões de pessoas de um país com di mensão comparável à de nações da Europa ocidental estava entre as mais pobres do globo possivelmente mais pobre do que 100 anos antes A experiência do Congo estava mais para regra do que para ex ceção Os países da África subsaariana entraram em uma espiral de colapsos econômicos sentindo o peso de políticas sofríveis e políticos terríveis A geografia os recursos naturais e a história podem ter criado obstáculos para os governos mas nenhum desses desastres estava fadado a acontecer Praticamente todos resultaram de pressões políticas poderosas interesses corporat ivos militares de funcionários do governo ou de partidos domin antes que tiraram os governos do caminho da promoção do desenvolvimento econômico e social direcionandoos no sentido de garantir sua própria sustentação no poder Qualquer governo se preocupa com sua sobrevivência é claro mas parece que ao longo das catastróficas décadas do período póscolonial na África subsaariana as lideranças ávidas por prolongar suas trajetórias 668832 políticas se tornaram o principal obstáculo à sobrevivência e à prosperidade dos africanos Calamidade privação e desespero Os insucessos do desenvolvimento em regiões como a África e o Oriente Médio entre outras e os escassos atos de caridade do Ocidente reservaram um sofrimento assustador para centenas de milhões de pessoas As consequências da ruína econômica foram sentidas de maneira mais imediata e aguda pelos mais fracos jovens velhos e doentes Em muitos países africanos uma em cada cinco crianças morria antes de completar cinco anos19 Na virada do século XXI entre 30 e 50 das crianças do sul da Ásia e da África subsaariana eram subnutridas cerca de 150 milhões de crianças no total Metade das mulheres das duas regiões e 13 dos homens eram analfabetos e havia muitos países nos quais o anal fabetismo feminino girava em torno de 90 Mais de 50 da pop ulação dessas regiões vivia com menos do que o estabelecido pela linha internacional de pobreza e em todo o mundo havia 16 bil hão de pessoas vivendo abaixo dessa linha O resultado mais impressionante do fracasso socioeconômico da África subsaariana foi a epidemia de Aids comparável às pra gas medievais Em um ambiente em que o estado nutricional e a saúde pública eram periclitantes e o governo negligente a doença pôde se alastrar com uma velocidade extraordinária durante a década de 1990 No fim do século quase 30 milhões de africanos estavam infectados pelo HIV no sul do continente 25 de todos os adultos eram soropositivos sendo que em algumas cidades cerca de 50 das mulheres grávidas testadas estavam infectadas com risco de metade delas transmitir o vírus aos seus bebês Doze milhões de africanos morreram de Aids no decorrer da década de 1990 e quando o novo século começou mais de dois milhões 669832 morriam da doença por ano incluindo meio milhão de crianças Aproximadamente 45 de todas as mortes decorrentes da Aids no mundo ocorreram na África e a epidemia gerou mais de doze mil hões de órfãos na região só na Zâmbia cerca de um milhão de crianças perdeu pelo menos um dos pais por causa da Aids A África subsaariana embora fosse a região do planeta que mais impressionasse por causa da miséria não estava sozinha Em dezenas de países em todos os cantos do mundo em desen volvimento o sustento das pessoas se deteriorou consideravel mente nas últimas duas décadas do século passado A maioria já era pobre e chegou ao fim do século mais pobre ainda O colapso econômico levou à má nutrição e à desintegração da saúde pública e da educação Foi também responsável por duros conflitos políti cos incluindo guerras civis e genocídios Os fracassos econômicos acarretaram um imenso sofrimento humano uma crise humanitária monumental No fim do século passado um bilhão de pessoas no mundo em desenvolvimento não tinha acesso à água limpa e mais de 800 milhões estavam subnutridas Um bilhão vivia em habitações que não atendiam aos padrões mínimos das Nações Unidas Praticamente um bilhão não tinha acesso a nenhum tipo de serviço de saúde Esse foi o impacto humano da disparidade entre os muito pobres e o rest ante da população mundial No ano 2000 a parcela formada por aqueles que faziam parte do grupo dos 1 mais ricos ganhava consideravelmente mais do que a metade mais pobre da popu lação Na verdade a soma das fortunas dos 200 indivíduos mais ricos do planeta mais de US1 trilhão era maior que a receita anual total da metade mais pobre da população mundial O montante de recursos necessário para dar um basta a essa privação era pelos padrões dos países industriais insignificante Especialistas estimavam que US8 bilhões por ano seriam sufi cientes para oferecer a cada habitante do mundo em desenvolvi mento cestas básicas assistência médica educação água e esgoto 670832 Esse montante era irrisório três centavos de cada dez dólares da receita dos países ricos do globo menos de cem dólares anuais para um habitante médio do mundo desenvolvido ou menos de 8 da soma da riqueza dos dois indivíduos mais ricos do mundo O preço de se garantir alimentação básica e saúde para todos no mundo representava menos do que os norteamericanos e europeus gastavam por ano em média com a comida de seus ani mais de estimação Nem assim esse auxílio para os terrivelmente pobres era imin ente A ajuda estrangeira para os países pobres sofreu reduções contínuas Isso pôde ser verificado claramente nos cálculos dos recursos enviados como percentual das economias industriais Em 1970 a maioria dos países desenvolvidos concordava em ajudar com recursos equivalentes a 07 do PIB Até 1990 o montante enviado tinha chegado a 035 mas em 2000 já tinha caído para somente 02 do PIB das nações desenvolvidas A ajuda também diminuiu em volume de dólares Em termos reais descontada a inflação os US53 bilhões doados em 2000 eram quase 13 menores que as doações do ano de 1990 Além disso as doações para os países muito pobres caíram ainda mais rapida mente que a média dos donativos globais As implicações morais da pobreza opressiva desses países da prosperidade crescente dos países ricos e dos níveis insignific antes de doações não são ambíguas Em muitos casos a ajuda hu manitária não chegava aos beneficiários pretendidos ela acabava em vez disso nos bolsos da classe alta dos países em desenvolvi mento confirmando a acusação tão comum de que os governos dos países ricos estariam cobrando impostos dos menos favore cidos para beneficiar os mais privilegiados nos países pobres Também surgiram evidências de que a entrega de ajuda human itária para governos incompetentes venais ou corruptos reduziria seu empenho na direção de melhorias afinal eles se acomodari am ao contar com doações de estrangeiros para remediar suas 671832 piores deficiências Muitos governos lançaram mão de suas posições geopolíticas para obter ajuda que só se destinava a enriquecêlos e a seus aliados Mobutu o líder do Zaire por ex emplo foi perito em usar o Ocidente capitalista e o Oriente comunista jogando um contra o outro Da mesma forma norte americanos e soviéticos durante muito tempo submeteram as questões econômicas e morais da África à geopolítica da Guerra Fria mesmo que isso significasse aprovar ou patrocinar políticas que aprofundassem a miséria das massas Só o desenvolvimento sustentável poderia resolver esses prob lemas definitivamente E isso era de responsabilidade das própri as populações dos países pobres Ainda assim era difícil justificar os níveis irrisórios de ajuda do Ocidente e fácil encontrar bons motivos para ajudar Contudo enquanto a África declinava numa espiral descendente os países desenvolvidos pouco fizeram O fim da Guerra Fria deslocou a África para uma posição ainda menos privilegiada na agenda do Ocidente pois a região havia perdido sua principal vantagem perante os governos ocidentais seu pa pel na disputa contra a União Soviética Os lamentáveis níveis da ajuda vinda do norte na próspera década de 1990 evidenciaram a falta de disposição do mundo rico em oferecer apoio humanitário sequer para os países mais pobres do mundo Os que não consideravam argumentos morais como justific ativa para uma assistência maciça aos pobres do planeta podem ter sido convencidos por argumentos mais pragmáticos O grupo de países com os indicadores econômicos mais desanimadores aqueles que figuravam nas piores posições do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano IDH das Nações Unidas incluía aqueles que passaram pelos conflitos políticos e civis mais bru tais Ruanda Burundi Serra Leoa e Etiópia Independentemente dos imperativos morais era dado como certo que os custos para colocar esses países em ordem depois dos conflitos seriam ainda maiores do que aqueles necessários para evitálos 672832 Ao mesmo tempo as guerras e os genocídios na África não representavam uma ameaça à segurança dos países industrializa dos Entretanto não se podia afirmar o mesmo em relação a out ras regiões pobres e problemáticas Os piores desempenhos econ ômicos do mundo incluíram berços de extremistas violentos com fortes convicções antiocidentais ou onde esses radicais estabele ciam seus quartéisgenerais Na década de 1990 a anarquia se es palhou por partes do mundo islâmico da antiga Ásia Central so viética através do Afeganistão e Paquistão e até no Iêmen no Sudão e na Somália Praticamente todos esses países estavam nas últimas posições ou quase de qualquer lista de desenvolvimento social e humano e o fracasso econômico levou a um desarranjo mais amplo dessas sociedades e desses Estados A inquietação so cial aumentou e os governos foram ainda menos capazes de prover as necessidades básicas da população Em alguns casos como na Somália e no Afeganistão não havia mais aparato gover namental em funcionamento Mesmo nos países onde o governo manteve o poder como no Egito e no Paquistão ao falharem em proteger os pobres da estagnação econômica os líderes deixaram um vácuo que poderia ser preenchido pelos radicais islâmicos por meio da prestação dos serviços sociais tão necessários A essa lista de desastres do desenvolvimento no mundo muçulmano seria possível adicionar Irã Iraque e Síria embora suas deficiências econômicas tivessem relação com suas posições como párias da política internacional Nesses países os que se sentiam ameaça dos ou esquecidos pela globalização se uniam aos barulhentos grupos de protesto contra o Ocidente No fim do século XX 400 milhões de pessoas da região que abrangia do Egito ao Paquistão e da Ásia Central à Somália viviam em condições de estagnação econômica e privação social Essas condições provocaram fortes sentimentos contra os ocidentais e alimentaram movimentos violentos cujo tema principal era a re jeição à integração econômica e cultural proposta pelo Ocidente 673832 Uma onda de ataques terroristas promovidos pelo radicalismo is lâmico varreu o Ocidente chamando a atenção para décadas de declínio econômico e social vivenciadas em grande parte do mundo muçulmano algo que os governos ocidentais puderam ig norar somente ao seu próprio risco O êxito no desenvolvimento econômico era desejável não apenas em bases morais e humanitárias mas como meio de ajudar a resolver algumas das questões políticas e militares mais complicadas do mundo Entretanto as realidades sociais e polític as se constituíram como obstáculos poderosos ao sucesso do desenvolvimento em muitas partes do mundo e mesmo os gov ernos que tentavam corrigir seus rumos encontravam um ambi ente diplomático e econômico altamente restritivo e até hostil Enquanto uma parcela significativa da população mundial se lançou na direção do crescimento econômico em especial na Ch ina e na Índia outras centenas de milhões de pessoas ficariam muito para trás à medida que o século passado se aproximava do fim a Termo pejorativo que se refere a relações de favorecimento entre empresários e instituições políticas NT 674832 20 Capitalismo global em apuros Os delegados indicados para a Terceira Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio OMC se reuniram em Seattle Washington em 29 de novembro de 1999 A agenda pre via questões diplomáticas delicadas e assuntos complexos do ponto de vista técnico como por exemplo a abertura de uma nova rodada de negociações comerciais a redução de barreiras ao comércio de bens agrícolas e de serviços a revisão da definição de dumping para a instituição e a inclusão de padrões ambientais e trabalhistas nos acordos comerciais Preparados para negociações difíceis e desgastantes entre as delegações comerciais os repres entantes dos Estados Unidos da Europa do Japão e dos países em desenvolvimento convergiram para Seattle Estavam totalmente despreparados no entanto para o que iri am encontrar na cidade norteamericana naquela segundafeira chuvosa Dezenas de milhares de ativistas antiglobalização os aguardavam Na véspera da cerimônia de abertura milhares de manifestantes cercaram o local de recepção dos representantes e seguiram para uma área nas redondezas onde haveria uma enorme manifestação No porto os manifestantes organizaram a Festa do Chá de Seattle uma refêrencia à Festa do Chá de Boston de 1773a Sob o slogan Não à globalização sem representação lançaram no mar uma série de produtos que consideravam repug nantes aço chinês como símbolo das práticas comerciais injus tas carne bovina tratada com hormônios e camarões capturados em redes que ameaçavam tartarugas marinhas representando os produtos suspeitos de danificar o meio ambiente cujo comércio a OMC não permitia restrições1 Na manhã seguinte os manifestantes aceleraram a marcha bloqueando os cruzamentos do caminho que levava ao centro da cidade onde os eventos seriam realizados Como a polícia tentou dispersar os protestos os sindicalistas se reuniram no Memorial Stadium a menos de dois quilômetros dali A OMC discursava James Hoffa presidente do sindicato dos caminhoneiros para 20 mil trabalhadores sindicalizados é um erro Os direitos dos trabalhadores devem se tornar parte da agenda de cada uma des sas reuniões2 Líderes trabalhistas norteamericanos acusavam a OMC de ignorar os direitos dos trabalhadores por não impor re strições ao comércio de bens produzidos em fábricas exploradoras ou que se utilizavam de trabalho infantil As regras dessa nova economia global acusava o líder do sindicato dos operários das indústrias têxtil e de vestuário foram armadas contra os trabal hadores e nós não vamos mais jogar de acordo com elas John Sweeney presidente da AFLCIO Federação Americana do Tra balho e Congresso das Organizações Industriais concluiu En quanto a OMC não tratar dessas questões não podemos e não de vemos permitir que nosso país participe de novas rodadas de ne gociações comerciais3 Hoffa discursou para a multidão Estamos entrando para a história Ou ganhamos uma vaga na OMC ou iremos fechála4 Os sindicalistas saíram pelas ruas se dirigindo para o local da cerimônia de abertura da reunião no centro da cidade Outras dezenas de milhares de manifestantes também seguiram em direção ao centro Na medida em que as manifest ações tomaram corpo pequenos grupos de anarquistas 676832 começaram a usar a violência A polícia não conseguia controlar a multidão e em poucas horas as áreas de concentração haviam sido invadidas pelo gás lacrimogêneo No meio da tarde a situação no centro de Seattle estava caót ica manifestantes policiais gás lacrimogêneo delegações e vân dalos Por questões de segurança o serviço secreto norteamer icano não autorizou a comitiva dos Estados Unidos a deixar o hotel e apenas um pequeno número de representantes conseguiu chegar ao teatro Paramount para o evento de abertura que preci sou ser cancelado após muita relutância dos organizadores O pre feito decretou toque de recolher na área ao redor dos locais de re união entre às 19h e às 7h30 e acionou a Guarda Nacional en quanto isso a polícia usava gás lacrimogêneo bombas de efeito moral spray de pimenta e balas de borracha para dispersar os manifestantes Na manhã de 1o de dezembro finalmente a reunião ministeri al pôde começar As negociações foram um fracasso as deleg ações não chegaram a nenhum acordo sobre as questões mais im portantes Em todo o mundo as manchetes deram mais ênfase aos protestos do que às conversações que os manifestantes postergaram Ao se dirigir à reunião o presidente dos Estados Unidos Bill Clinton chamou de saudáveis os protestos pacíficos e se referiu a eles para sustentar seus argumentos por uma abord agem social mais consciente das relações entre comércio direitos dos trabalhadores e questões ambientais O comércio não é mais apenas do interesse dos presidentes das empresas e dos grupos de interesses organizados que lidam com líderes políticos e econômi cos disse Clinton Todo esse processo está sendo democratizado e precisamos construir um novo consenso a respeito de que tipo de política comercial desejamos implementar discutindoo em profundidade com toda a sociedade5 A batalha de Seattle representou um desafio geral à ordem econômica mundial As instituições internacionais que há muito 677832 trabalhavam na obscuridade haviam se tornado verdadeiros bodes expiatórios dos que se opunham ao movimento de integ ração global Uma das coalizões que liderou os protestos explicou por que a OMC merecia um ataque dessas proporções A ideia central da OMC diz que o livrecomércio na verdade os valores e os interesses das corporações globais deve se sobrepor a todos os outros valores Quaisquer obstáculos ao comércio global são encarados como suspeitos Na prática esses obstáculos são as leis dos Estados nacionais que protegem o meio ambiente os pequenos negócios os direitos humanos os consumidores e os trabalhadores assim como a soberania nacional e a democracia A OMC vê esses ele mentos como possíveis impedimentos para o livrecomércio o que os torna passíveis de objeções dentro das salas de negociação Obrigando os países a adotar as regras da OMC para não enfrentar sanções severas6 A opinião pública impôs muitos desafios ao capitalismo global do fim do século Em manifestações de Seattle a Praga de Wash ington a Gênova milhões de ativistas protestaram contra as re uniões da OMC do Banco Mundial do FMI do grupo dos sete países mais industrializados e de outras instituições da economia internacional encontros estes que antes não chamavam a atenção de ninguém Algum tempo depois do impacto da reunião ministerial da OMC e dos protestos de Seattle Naomi Klein autora de livros antiglobalização e ativista escreveu que as mani festações refletiram um confronto direto entre duas visões rad icalmente diferentes de globalização uma monopolizou o cenário mundial nos últimos dez anos e a outra acabou de ter sua festa de inauguração7 Fragilidade financeira e a trindade impossível 678832 Os protestos antiglobalização representavam desafios externos à ordem econômica mas as ameaças mais sérias vinham de dentro do próprio sistema O componente mais globalizado da eco nomia internacional as finanças parecia ser o elo mais fraco uma vez que o sistema financeiro global era constantemente at ingido por ondas de crises bancárias e cambiais Começando na Europa em 1992 os choques passearam pelos continentes México Leste Asiático Rússia Brasil Turquia Argentina entre outros Cada rodada envolvia centenas de bilhões de dólares afetando instituições internacionais investidores privados e gov ernos nacionais e ameaçando a estabilidade da economia inter nacional Governos de países tão diferentes quanto GrãBretanha Tailândia Brasil e Turquia tentavam desesperadamente proteger suas moedas enquanto investidores sacavam bilhões de dólares das economias desses países Até que por fim os governos eram obrigados a desistir e a deixar a taxa de câmbio cair muitas vezes com efeitos desastrosos para a economia local Como uma das maiores promessas do capitalismo global a abertura inter nacional dos mercados de capitais se transformou em sua maior ameaça A resposta para essa pergunta nos leva a um local improvável o Canadá da década de 1950 Naquela época o país enfrentava problemas que o resto do mundo viria a enfrentar A economia canadense estava intimamente ligada à dos Estados Unidos O dinheiro fluía livremente através da fronteira entre os países e o comércio com os norteamericanos era crucial para o Canadá uma situação que gerava dilemas semelhantes aos que se ap resentariam mais tarde para as economias globalizadas Os canadenses desejavam estabilidade e previsibilidade da taxa de câmbio do dólar canadense em relação à moeda norteamericana para facilitar investimentos comércio e viagens mas queriam também que seu governo controlasse a política monetária de forma a manter baixas as taxas de desemprego e a reduzir a 679832 inflação quando fosse preciso Os dois objetivos eram incompatí veis pois com a possibilidade de trocar livremente um dólar canadense por um dólar norteamericano e a liberdade de movi mentar os recursos do Canadá para os Estados Unidos quaisquer que fossem as taxas de juros norteamericanas elas deveriam ser iguais às do Canadá Caso os juros canadenses fossem mais baixos os investidores tirariam o dinheiro do país para investilo nos Estados Unidos até que as taxas subissem Dessa maneira o Canadá ficou tão integrado à economia dos Estados Unidos que com uma taxa de câmbio fixa o país teria uma política monetária tão independente quanto a do estado de Illinois por exemplo Dessa forma os canadenses tiveram que optar entre o que consid eravam mais importante uma taxa de câmbio estável ou uma política monetária independente Na década de 1950 escolheram a segunda alternativa e em 1962 retornaram à primeira As controvérsias do país sobre como lidar com essa experiên cia de globalização precoce despertaram o interesse de Robert Mundell um jovem economista canadense do FMI No começo da década de 1960 Mundell sistematizou o problema canadense e o caracterizou como o dilema de uma economia aberta aos fluxos financeiros internacionais Ressaltou que um país ao manter vín culos financeiros com outras economias teria de escolher entre uma política monetária própria e uma moeda estável com taxa de câmbio fixa não era possível manter as duas coisas Se o Canadá atrelasse seu dólar ao norteamericano precisaria adotar a política monetária dos Estados Unidos ou se quisesse traçar uma política monetária independente teria que permitir a flutu ação do câmbio O teorema de Mundell algumas vezes chamado de a trindade impossível demonstrou que os países só poderiam obter duas das três características econômicas em geral desejadas mobilid ade de capitais taxa de câmbio estável fixa e independência monetária controle sobre a taxa de juros Se o capital estivesse 680832 livre para entrar e sair de uma economia fixar a moeda desse país à de outro significaria adotar o dinheiro do segundo o que era sinônimo de aceitar sua política monetária A análise de Mundell foi particularmente relevante para o Canadá das décadas de 1950 e 1960 pois o dinheiro fluía facilmente pela fronteira com os Estados Unidos Dada a integração financeira do Canadá o país tinha que escolher entre as duas opções restantes estabilidade cambial ou independência monetária Na época o dilema canadense era uma raridade Em toda parte exceto na fronteira entre Estados Unidos e Canadá os fluxos financeiros eram fortemente regulados pelos controles de capital e de câmbio Os países podiam dispor tanto da estabilid ade cambial quanto da sua própria autonomia política sem muitas dificuldades Na década de 1990 o dilema de Mundell já não era mais uma curiosidade teórica e havia se tornado a principal realidade dos recursos e das finanças internacionais A análise de Mundell foi vital para o entendimento do capitalismo global e para o recon hecimento do acadêmico com o Prêmio Nobel da Economia de 1999 Nesse período a maioria dos países já estava integrada aos mercados financeiros internacionais e portanto o dilema canadense era praticamente universal ou se desistia do controle nacional da política monetária ou da moeda estável fixa O prob lema podia ser qualquer coisa menos teórico para os que se en contravam nesse impasse Para os argentinos em 1999 por exem plo a escolha foi dura permanecer no curso e manter a relação pesodólar de um para um ao custo de falências bancárias e desemprego geral ou desvalorizar a moeda para salvar a economia nacional ao custo de fortes crises financeiras e cambiais A questão não era enigmática nem acadêmica para os indivíduos tão ávidos por uma moeda estável quanto por políticas próprias e que eram forçados a optar por uma das duas 681832 A renovação do mercado financeiro mundial observada de pois da década de1960 criou as condições que levaram às crises cambiais e bancárias endêmicas das décadas de 1980 e 1990 Os governos das economias globalizadas precisavam de moedas está veis mas também necessitavam desvalorizar a moeda para reagir às condições nacionais O problema era remanescente dos confli tos do padrãoouro entre os compromissos internacionais relat ivos ao sistema e as questões econômicas internas A crise da dívida enfrentada pelos países em desenvolvimento na década de 1980 mal havia sido resolvida quando uma crise cambial gigantesca se abateu sobre os membros da União Europeia em processo de unificação monetária Em 1992 os membros da UE que tinham vinculado suas moedas ao marco alemão foram obrigados a aceitar taxas de juros altíssimas re cessão e mais desemprego Os governos tinham a intenção de manter suas moedas fixas no marco alemão mas também precis avam evitar que mais alguns milhões de pessoas fossem parar nas filas do desemprego O conflito entre os dois objetivos tornouse forte demais para ser ignorado e por fim a maioria dos governos europeus desvalorizou suas moedas Em 1994 o governo do México também ficou dividido O peso forte era o símbolo da de cisão do governo de controlar a macroeconomia mas uma moeda valorizada encarecia os produtos mexicanos prejudicando sua competitividade no mercado norteamericano e forçando a alta das taxas de juros para segurar o dinheiro no país Nenhuma das duas opções seria coerente com a meta do governo de pôr a eco nomia mexicana na direção de seus parceiros do Nafta e de estim ular investimentos por meio de juros baixos Defender a moeda implicava abandonar outros objetivos importantes e uma com binação de pressões políticas e econômicas não deixaria o governo ignorar essas metas conflitantes Países do Leste Asiático Brasil Rússia Turquia e Argentina enfrentaram os solavancos e as contradições do novo cenário de 682832 dilemas descrito por Mundell Isso ocorreu porque precisavam desesperadamente de mobilidade de capitais para atrair investi mentos para suas economias mas temiam o sofrimento causado pelo abandono da independência monetária Quanto mais essas nações incorporavam suas economias ao sistema financeiro glob al mais suas políticas econômicas nacionais eram tolhidas Os governos dos mercados emergentes sofriam pressão para adotar medidas conflitantes prosseguir com a integração financeira sustentar uma política monetária independente manter a estabil idade da moeda garantir taxas de câmbio baixas para estimular as exportações e manter altas as taxas de câmbio para minimizar o encargo das dívidas Quando algo dava errado nas tentativas de equilíbrio as consequências eram graves demais A maioria das crises cambiais também causou pânicos bancários Os bancos locais tomavam empréstimos em grande quantidade e emprestavam esses recursos às empresas nacionais a taxas atraentes Isso deu certo por um tempo mas era óbvio que se o valor da moeda do país baixasse os encargos das dívidas no exterior aumentariam se o peso valia cinco centavos de dólar uma dívida externa de US1 milhão de dólares equivalia a 20 mil hões de pesos mas se o peso fosse desvalorizado chegando ao valor de quatro centavos de dólar a dívida cresceria de 20 para 25 milhões de pesos Quando uma crise cambial se abatia sobre uma nação ela podia arruinar grande parte do setor privado levar à falência os bancos domésticos e causar um pânico financeiro nacional Essas crises ameaçavam a própria estabilidade do sistema fin anceiro internacional Os maiores bancos e investidores do mundo emprestavam valores astronômicos a alguns poucos países e as maiores perdas podiam disparar uma onda de corri das aos bancos No início da crise da década de 1980 o valor que os cinco maiores devedores da América Latina deviam aos bancos norteamericanos era maior que a soma do capital de todo o 683832 sistema bancário dos Estados Unidos Por cinco anos os bancos credores seus governos e o FMI administraram as crises para im pedir a quebra do sistema financeiro global Os bancos assum iram algumas perdas os governos credores concederam subsídios e outros tipos de assistência para acalmar as correntes financeir as e as nações devedoras finalmente pagaram suas dívidas O im pacto sobre os países que enfrentaram crises da dívida foi severo mas a crise foi contida e os mercados financeiros internacionais continuaram a crescer Nas crises subsequentes coalizões semel hantes reunindo bancos internacionais governos de países cre dores o FMI e outras instituições financeiras internacionais desembolsaram bilhões de dólares na tentativa de evitar um pânico financeiro internacional O mercado financeiro internacional passou assim a coexistir com as moedas nacionais Enquanto os governos tentavam manter a estabilidade do câmbio os investidores globais buscav am moedas para atacar Grupos poderosos faziam pressão pela in tegração das finanças e pela estabilidade cambial enquanto out ros advogavam pela independência monetária e financeira Os de vedores exigiam uma moeda forte ao passo que os exportadores insistiam em mantêla fraca Em geral as pressões globais e nacionais se encontravam em equilíbrio mas quando entravam em conflito direto alguém saía perdendo muitas vezes algum país desafortunado tinha que desvalorizar a sua moeda As crises recorrentes ameaçavam a economia internacional da mesma forma como ocorrera antes de 1914 e na década de 1930 As pressões do sistema financeiro internacional indicavam problemas básicos Como alguns argumentavam havia uma crise de governança econômica causada pelo descompasso entre mer cados financeiros internacionais e regulamentações e controles nacionais Alguns afirmavam que o capitalismo global pedia uma administração econômica global uma nova arquitetura econôm ica com o FMI na função de autoridade monetária e financeira 684832 global O FMI poderia funcionar como um Banco Central mundial para neutralizar os sobressaltos financeiros e cambiais No ent anto a concessão de tanto poder ao FMI contava com o apoio de apenas um pequeno grupo de banqueiros e acadêmicos Na falta de reguladores globais encarregados das finanças e dos mercados globais a gestão das crises acabava nas mãos de governos nacion ais que se viam às voltas com conflitos de interesses e opiniões divergentes As finanças globais realçaram os dilemas da integração econ ômica internacional Os mercados financeiros mundiais per mitiram a governos empresas bancos e indivíduos de todo o mundo obter empréstimos muito maiores do que seria possível no passado No entanto assim como direcionavam incontáveis bil hões para favorecer países e empresas os mercados globais tiravam ainda mais recursos daqueles considerados sem atrativo A velocidade e o volume dos mercados financeiros internacionais tornaram esses fluxos extremamente voláteis A integração fin anceira mundial podia tornar as épocas prósperas ainda melhores e prejudicar ainda mais as ruins Isso ameaçava não apenas os países abandonados pelos financiadores já que o colapso de uma nação podia ser transmitido para outras para uma região inteira ou para todo o planeta Afinal a instabilidade financeira havia prolongado e aprofundado a Grande Depressão da década de 1930 e talvez no século XXI o mundo não estivesse mais bem preparado do que em 1929 para lidar com uma crise de grandes proporções As crises cambiais e bancárias da década de 1990 demonstraram que o maior e mais eficiente sistema financeiro in ternacional da história tinha uma razão seu tamanho e velocid ade lhe conferiam um potencial desestabilizador que poderia afetar toda a economia mundial As três palavras mais temidas 685832 Outra ameaça ao capitalismo global veio de sua própria essência a concorrência Como muitos países vieram a fazer parte da eco nomia global as pressões competitivas passaram a ameaçar diver sos interesses poderosos A ameaça era simbolizada pela reen trada dos maiores países do mundo na economia globalizada O preço chinês conforme reportagem da Business Week havia se tornado as três palavras mais temidas pela indústria norteamericana8 Os salários nas fábricas norteamericanas eram pelo menos 30 vezes mais altos do que nas chinesas mais de US 800 por uma semana de trabalho de 40 horas contra US25 pela mesma carga horária e enquanto os trabalhadores norteamericanos eram mais produtivos havia muitas empresas e indústrias que simplesmente não podiam compensar essas enormes diferenças Isso provocou temores de que a economia global pudesse nivelar por baixo forçando condições cada vez piores até encontrar o menor denominador comum predominante nas nações pobres Será que os salários na América do Norte e na Europa ocidental poderiam ser comprimidos até os níveis dos da China ou do Brasil Será que pressões parecidas poderiam des gastar as políticas de bemestar social e as regras de proteção ao meio ambiente e à mão de obra A teoria neoclássica do comércio internacional realmente pre vê um achatamento dos salários nos países industriais em função da integração econômica internacional O comércio incentiva a equalização ao reduzir a diferença nos preços dos fatores produtivos entre os países terra mão de obra trabalho especial izado e capital A remuneração do trabalhador não qualificado é muito baixa nos países pobres onde esse tipo de mão de obra é abundante Como os países abundantes em mão de obra não qual ificada costumam exportar produtos intensivos em mão de obra não qualificada isso aumenta a demanda doméstica por trabal hadores e gera um aumento de salários Nos países ricos porém um processo semelhante opera contra os trabalhadores não 686832 qualificados Essas economias exportam bens que empregam muito capital e pouquíssima mão de obra não qualificada de forma que a demanda por esse tipo de trabalhador diminui e os salários caem De acordo com a teoria do comércio a atividade comercial reduziria as diferenças salariais entre os países ricos e pobres porque os salários aumentariam nos países pobres e di minuiriam nos ricos A integração econômica implica uma con corrência direta entre trabalhadores das nações ricas e pobres Richard Freeman economista especializado em trabalho re sumiu as pressões de forma sucinta Os seus salários perguntou em um artigo famoso são estabelecidos em Pequim9 A res posta à pergunta de Freeman foi debatida intensamente Os salários reais dos norteamericanos não qualificados estagnaram ou decaíram na maior parte do fim do século XX Alguns analistas atribuíram a tendência às mudanças tecnológicas em especial à importância crescente da microeletrônica e dos computadores que prejudicavam os trabalhadores que não dominam as novas tecnologias Contudo a concorrência acirrada dos trabalhadores pouco qualificados e malpagos de outros países seria responsável ao menos por parte do péssimo desempenho dos trabalhadores norteamericanos não capacitados O impacto na Europa foi difer ente devido aos salários mínimos europeus muito mais altos e aos controles rigorosos sobre as demissões tal efeito foi sentido com a queda do número de vagas criadas em vez da queda dos salários A concorrência gerada pela entrada de importações baratas pode explicar o achatamento dos salários reais dos trabalhadores norteamericanos menos capacitados a partir de 1973 e o aumento de cerca de 10 do desemprego na Europa entre 1980 e 2000 A lógica era clara os trabalhadores não quali ficados dos Estados Unidos e da Europa foram prejudicados pela concorrência dos trabalhadores não qualificados do Marrocos ou do México 687832 Assim como a integração permitiu às empresas escolher os países com os salários mais baixos também lhes deu a chance de optar pelas nações com regulamentações mais favoráveis e impos tos menores Isso poderia criar situações perigosas em relação às políticas e regulamentações sociais provocando a fuga dos empreendimentos da América do Norte e da Europa ocidental ca racterizados por impostos elevados políticas sociais generosas controles rigorosos sobre a poluição ambiental a saúde a segur ança e os direitos dos trabalhadores No norte da União Europeia as questões preocupantes eram o dumping social e a debandada de empresas e empregos da Escandinávia e de outras sociais democracias países de severos controles regulatórios para Esta dos mais liberais como a Espanha e a Grécia Esse medo só cres ceu com a entrada da Europa central e do leste na UE A abertura do mundo em desenvolvimento para o comércio e para os investi mentos internacionais aumentou a expectativa de um dumping social de escala global Ao longo da década de 1990 sindicatos de trabalhadores estudantes e outros ativistas se mobilizaram contra a ameaça de que a integração econômica pudesse corroer salários e políticas sociais Dessa forma eles formaram um novo movimento antig lobalização que explodiu em 1999 na batalha de Seattle O in teresse do movimento trabalhista ia além evitar a concorrência desleal de trabalhadores malremunerados e desprovidos de direit os e padrões mínimos Como a AFLCIO declarou A economia global e o nivelamento por baixo achataram o padrão de vida das famílias dos trabalhadores ao mesmo tempo que enriqueceram ainda mais o mundo rico10 O primeiro alvo era a capacidade dos capitalistas de fugir dos países ricos em busca de regiões mais amistosas Hoje as corporações multinacionais podem mandar o capital para lo cais a milhares de quilômetros com o clique de um mouse e transferir 688832 empregos para o outro lado do mundo com a velocidade que os números levam para viajar pelo cabo de fibra ótica Essas empresas muitas delas norteamericanas vasculham o globo em busca do menor custo possível de mão de obra e das legislações ambientais mais frouxas11 As exigências dos sindicatos em relação a controles mais rí gidos quanto à exploração dos trabalhadores nos países em desenvolvimento refletiam tanto a solidariedade da classe trabal hadora quanto um desejo mais prosaico de reduzir a pressão competitiva Os ativistas de direitos humanos e os ambientalistas também viam a integração econômica com apreensão Assim como as empresas podiam procurar salários mais baixos elas podiam tam bém buscar regimes que não respeitassem o meio ambiente geridos por ditadores que violassem os direitos humanos e outros vilões Para os críticos integração econômica global significava livrecomércio para as corporações mas controles rígidos sobre nações e cidadãos que tentam proteger sua segurança alimentar seus empregos seus pesquenos negócios e sua natureza Para eles também a globalização homogeneíza as culturas e os valores globais12 Nas palavras de uma campanha europeia para moralizar a indústria de vestuário Os incentivos para os investidores estrangeiros incluem não apenas salários mas também a suspensão de certas regulamentações sobre locais de trabalho e meio ambiente Se um governo tentar impor essas regulamentações à força pode apostar que muitos investidores irão fazer as malas rapidamente e partir para países menos rigorosos e mais hospitaleiros13 Uma coalizão de grupos militantes norteamericanos antiglob alização rotulou o fenômeno de uma conspiração contra o meio 689832 ambiente uma conspiração para liberar as empresas das leis democráticas que regulam seus excessos14 As queixas em relação à globalização também abordavam as pectos culturais como a supressão da diversidade uma con sequência do nivelamento da economia mundial e de tendências norteamericanizadoras Com a globalização econômica escreveu uma organização a diver sidade está desaparecendo rapidamente O objetivo da economia global é homogeneizar todos os países A globalização econômica e as instituições como o Banco Mundial e a OMC promovem um tipo específico de desenvolvimento homogeneizador que libera as maiores corporações do mundo para investir e operar em todos os mercados em todos os lugares Para essas agências e corporações a diversidade não é um valor essencial a eficiência sim A diversidade é um inimigo pois implica necessidades diferenciadas O que as empresas adoram é criar valores iguais gostos únicos usando os mesmos anúncios vendendo os mesmos produtos e expulsando os pequenos concorrentes locais Os marqueteiros de massa preferem consumidores homogêneos15 O novo movimento antiglobalização era amorfo e seus objet ivos variavam Alguns esforços se concentravam em empresas ou indústrias específicas e se utilizavam do ativismo dos acionistas ou do boicote dos consumidores para convencêlas a aceitar códi gos de conduta sobre mão de obra ou meio ambiente Outros en fatizavam a necessidade de afetar as políticas dos governos dos países industriais por exemplo por meio de sanções aos gov ernos dos países em desenvolvimento que desrespeitassem os direitos humanos ou trabalhistas Frequentemente esses esforços eram conflitantes com as instituições internacionais que foram criadas em Bretton Woods justamente para administrar o comér cio as finanças e os investimentos mundiais As iniciativas mais comuns como as tentativas de restringir as importações de países 690832 que supostamente violassem os direitos humanos os direitos dos trabalhadores ou os princípios ambientais faziam uso das bar reiras comerciais indo de encontro às regras de comércio inter nacional existentes Os militantes trabalhistas ambientais e de direitos humanos se viram no centro dos confrontos com o Gatt e com a sua su cessora a OMC O Gatt havia atuado contra a tentativa dos Esta dos Unidos de banir a importação de atum capturado em redes que podiam aprisionar golfinhos A OMC proibiu as restrições europeias à importação de gado tratado com hormônios Além disso as regras do sistema internacional de comércio não per mitiam sanções aos bens produzidos sob condições exploratórias ou que utilizassem trabalho infantil O sindicato dos trabal hadores da indústria têxtil e de vestuário dos Estados Unidos ar gumentou As empresas não podem tratar o mundo como se fosse seus operários explorados Medidas rigorosas para proteger o meio ambiente e os direitos dos trabalhadores devem ser incluí das em todos os acordos de comércio internacional Contudo protestou As regras atuais da economia global foram definidas por empresas e políticos que apoiam os interesses empresari ais16 As manifestações de Seattle em dezembro de 1999 foram apenas a primeira de uma série de mobilizações antiglobalização Antes disso instituições como o Gatt a OMC o G7 entre outras eram praticamente desconhecidas A partir daquele momento milhões de pessoas passaram a ir às ruas para protestar contra as leis do comércio mundial ou para pedir reformas na natureza burocrática das negociações comerciais temas que há dez anos apenas meia dúzia de indivíduos havia ouvido falar As reclamações dos países em desenvolvimento muitas vezes eram análogas mas opostas àquelas dos países industrializados Enquanto os ativistas do norte estavam particularmente in teressados em melhorar os padrões trabalhistas sanitários e am bientais dos países pobres os governos e empresários das nações 691832 em processo de industrialização eram normalmente contra tais padrões por considerálos proteções comerciais disfarçadas ar gumentando que a discussão em torno dos padrões eram o último recurso para manter os produtos asiáticos ou latinoamericanos fora dos lucrativos mercados do norte Muitos ativistas dos países em desenvolvimento também acreditavam que o uso de medidas comerciais ou outras medidas econômicas para forçar alterações de políticas no Brasil ou na Índia era um exercício de neocolonial ismo Até mesmo muitos simpatizantes das críticas contra o capit alismo global da África Ásia e América Latina ficavam preocupa dos com a facilidade com que os movimentos antiglobalização da Europa e da América do Norte se alimentavam daquilo que os países pobres consideravam protecionismo dissimulado ou neoimperialismo Para alguns representantes e militantes dos países em desen volvimento os ativistas norteamericanos e europeus atuavam como ferramentas de seus próprios governos Eles argumentavam que o incentivo à inclusão de padrões trabalhistas e ambientais na agenda do comércio tinha partido da própria administração Clin ton Consideravam suspeito o fato de em Seattle os manifest antes e o presidente Clinton terem concordado em forçar os países em desenvolvimento a adotar políticas sociais trabalhistas e ambientais formuladas nos Estados Unidos Como um dos des dobramentos das reuniões de Seattle o respeitado jornalista e portavoz indiano Chakravarthi Raghavan escreveu que havia Poucas dúvidas de que a Casa Branca de Clinton havia planejado um protesto de rua controlado liderado por membros de organizações trabalhistas e por grupos de ambientalistas a fim de persuadir a conferência a aceitar as demandas norteamericanas por padrões trabalhistas e ambientais na OMC O jornalista foi motivado pelo fato de que conforme escreveu as nações em desenvolvimento não se deixaram intimidar por 692832 manifestações de rua ou por protestos de sindicatos e de grupos ambientais organizados e incentivados pela administração norte americana17 No mundo em desenvolvimento muitos concordavam com os movimentos antiglobalização quando estes pregavam que o capit alismo global minava a autonomia nacional A economia mundial era como eles faziam questão de dizer dominada pelos países in dustriais que a controlavam de forma autocrática e hipócrita Autocrática porque União Europeia América do Norte e Japão haviam escrito e reescrito as regras do jogo econômico inter nacional como bem entendiam sem nenhuma contribuição dos restantes 45 da humanidade Hipócrita porque apesar da retórica tão difundida sobre economias abertas e livrecomércio o norte continuava a impor obstáculos às exportações do sul E o maior escândalo era que norteamericanos europeus e japoneses investiram pesadamente em programas caríssimos para proteger e subsidiar os agricultores de seus países enquanto pregavam as maravilhas do mercado para as economias em desenvolvimento A proteção agrícola fechou os mercados para competidores de toda parte e o dumping dos produtos em excesso nos mercados mundiais forçou a queda dos preços o que representou um ver dadeiro desastre para centenas de milhões de agricultores dos países em desenvolvimento cuja esperança de avanços econômi cos residia na exportação de bens agrícolas para os países desen volvidos Os defensores do mundo em desenvolvimento calcu lavam que a abertura dos mercados do norte aos seus produtos agrícolas lhes traria mais dinheiro do que toda a ajuda oferecida pelos paises desenvolvidos bem mais que US50 bilhões ao ano para programas de desenvolvimento A insatisfação com a ordem mundial era agravada pelo fato de que mesmo em alguns dos países mais bemsucedidos os frutos do sucesso eram maldistribuídos A China era uma das economias que crescia mais rapidamente e a pobreza caíra rapidamente no 693832 gigante asiático Ainda assim o abismo entre ricos e pobres em especial entre as cidades e o campo se alargou à medida que a nação cresceu No ano 2000 uma família média da cidade gerava uma renda três vezes maior que uma família do campo um múl tiplo muito maior que em 1985 Xangai era um dos maiores centros comerciais e industriais da China e contava com a presença de mais da metade das 500 maiores empresas listadas pela revista Fortune Contudo ainda havia cerca de 200 milhões de chineses vivendo na pobreza A sensação de que a voz dos gov ernos dos países em desenvolvimento era pouco ouvida nas questões globais era um reflexo da percepção de que os pobres também não eram ouvidos nas questões dos países em desenvolvimento A princípio as críticas dos ativistas do norte e dos governos do sul não causaram um grande impacto na estrutura da ordem eco nômica mundial mas pelo menos aqueceram os debates sobre a natureza das políticas econômicas internacionais A batalha de Seattle não foi relevante para as negociações da reunião ministeri al da OMC contra a qual os protestos eram dirigidos o encontro falhou devido a discordâncias entre membros das delegações e não por causa das manifestações Apesar disso a fúria do público mostrou que o capitalismo global e a estrutura das instituições in ternacionais agora seriam alvo de críticas globais e debates Com certeza surgiriam novos conflitos envolvendo restrições inter nacionais sobre aspirações nacionais Com o início do século XXI não se podia mais garantir que os ventos políticos continuariam soprando a favor da globalização Mercados globais desgovernados ou indesejados A instabilidade financeira e os protestos políticos evidenciaram as tensões entre o internacional e o nacional entre o mercado e o 694832 social A volatilidade dos recursos e das finanças com as recor rentes crises cambiais e de dívida levou os promotores da global ização a reivindicar instituições efetivamente globais para evitar mais pânico A palavra de ordem seria governança novas institu ições políticas para administrar as dificuldades dos mercados globais Os militantes antiglobalização por sua vez acusavam o sistema também de se esquivar das obrigações sociais e de destru ir as oportunidades dos países pobres Aqui a palavra de ordem seria responsabilidade novas instituições políticas para permitir um controle mais amplo dos mercados globais por todo o mundo Os debates eram semelhantes aos do fim do século XIX quando os países industriais evoluíram para mercados nacionais integrados Por muito tempo as economias e as empresas eram lo cais e os governos locais eram responsáveis por regulálas No de correr do século XIX companhias e economias se nacionalizaram e não se sabia mais quem era responsável por elas A nova geração de empresários queria governos nacionais que assegurassem e su pervisionassem os mercados dos países pois havia muito o que pedir a essas modernas administrações centrais Os movimentos de oposição como os socialistas da Europa e os populistas da América que ambicionavam políticas nacionais de controle e não a simples autorização ou monitoramento das empresas nacionais tiveram muitas reivindicações atendidas pelo Estado do bemestar social moderno O avanço dos mercados de locais a nacionais impulsionou a demanda por governança e responsabil idade política nacionais E posteriormente no fim do século XX a transição dos mercados de nacionais a globais estimulou as exigências de governança e responsabilidade política globais O que poderia ser feito para aliviar as tensões entre o capital ismo global e a política global Os partidários do sistema afirmavam que a solução seria alinhar a política com os mercados Por exemplo as atividades bancárias internacionais precisariam de reguladores e supervisores com autoridade internacional já 695832 que a cooperação entre os governos nacionais não era suficiente Os mercados globais requereriam governança global se não fosse possível um governo global que houvesse pelo menos in stituições econômicas globais que possibilitassem o tranquilo fun cionamento da economia mundial Os críticos da globalização também se concentravam nas di vergências entre os mercados globais e as políticas globais argu mentando que a globalização tinha ido longe demais e que a polít ica tinha que dominar os mercados e não fortalecêlos ainda mais Os militantes antiglobalização alegavam que o capitalismo global tinha fugido ao controle social As instituições econômicas inter nacionais representavam apenas os interesses das empresas do norte Os governos nacionais tinham cedido poderes à OMC e ao FMI ou os mercados internacionais tinham se apoderado desses poderes Era preciso realinhar a economia mundial com as ne cessidades políticas e as estruturas políticas nacionais e globais deveriam refletir os interesses das populações e assegurar a autor idade sobre os mercados globais Os ativistas queriam limitar e controlar os mercados internacionais e amenizar seus efeitos Tanto os críticos quanto os defensores da globalização identi ficavam o descompasso entre os mercados internacionais e as políticas nacionais Os dois grupos estavam convictos de que os problemas econômicos mundiais exigiam soluções políticas amplas mas escolheram caminhos diferentes para resolver o problema As políticas ambicionadas pelos defensores da globaliz ação se destinavam a facilitar a operação da economia inter nacional enquanto as desejadas por seus opositores serviam para restringir neutralizar ou aliviar os efeitos da economia internacional O século terminou como havia começado o capitalismo se tor nara global novamente e o mundo era mais uma vez capitalista No entanto apesar da aparente marcha triunfal do capitalismo global de continente a continente os desafios à globalização 696832 persistiam Alguns eram intrínsecos à operação dos mercados in ternacionais tais como a volatilidade do sistema financeiro que ameaçava o ritmo e a natureza da integração econômica Outros eram externos provenientes de grupos onde a globalização não era consenso ativistas lutando pelos direitos humanos pelos direitos dos trabalhadores e pelo meio ambiente A história mostrou que o apoio à integração econômica internacional era de pendente da prosperidade Se o capitalismo global deixasse de promover o crescimento econômico seu futuro seria incerto a Protesto dos nortemericanos contra os colonizadores britânicos no qual foram destruídas diversas caixas de chá de navios ancorados no porto de Boston NT 697832 Conclusão A partir de 1850 a economia mundial produziu níveis de cresci mento econômico e de transformação social sem precedentes Le vou a sociedade industrial antes restrita apenas à Europa ocidental e ao norte da Europa para o resto do continente para a América do Norte e nas últimas décadas para grande parte do Leste Asiático e da América Latina A economia internacional transformou empresas países e re giões inteiras A Nokia antes uma pequena fábrica de galochas na área rural da Finlândia fez uso do acesso aos mercados inter nacionais para se transformar na maior produtora mundial de telefones celulares Na década de 1950 Taiwan e Coreia do Sul eram tão pobres que a própria sobrevivência dos dois países sus citava dúvidas em 1990 os dois passaram para o rol das nações industriais mais avançadas do mundo Milhares de empresas pre cisam contar com clientes e fornecedores estrangeiros para obter lucros milhões de empregos dependem de empresas estrangeiras A economia internacional fez com que países se desen volvessem reduzissem os níveis de pobreza melhorassem as con dições sociais aumentassem a expectativa de vida e implemen tassem reformas sociopolíticas A melhor saída para as massas empobrecidas da Ásia e da África é o acesso às oportunidades que a economia mundial tem a oferecer O capitalismo global entretanto também tem outro lado o qual pode ser visto nas siderúrgicas da cidade de Homestead que um dia já fora referência para a indústria norteamericana Cerca de 20 mil empregados trabalhavam nessas instalações da US Steel a alguns quilômetros de Pittsburgh na Pensilvânia e a us ina havia estabelecido um grande complexo industrial ao longo do Vale de Monongahela Hoje a antiga usina foi transformada em um shopping center A população da cidade de Homestead que um dia já chegou a 20 mil habitantes hoje não passa de 3500 a população da cidade de Pittsburgh não é nem metade da que era em seus anos de glória industrial Para a decadente região a única esperança para as antigas usinas seria o governo federal transformálas em um monumento histórico para atrair turistas A concorrência estrangeira fechou as portas de dezenas de milhares de fábricas e pôs fim a dezenas de milhões de postos de trabalho nas indústrias da Europa ocidental e da América do Norte As fábricas dos países ricos não conseguem competir com os manufaturados vindos da Ásia América Latina ou Europa ori ental onde os salários correspondem a 10 dos praticados na Europa ou nos Estados Unidos Os empregos atravessam fronteir as e as empresas contratam indianos ou filipinos para programar softwares digitar documentos e atender telefonemas de clientes reclamando As nações em desenvolvimento no entanto têm as suas pró prias dificuldades Devem mais de US1 trilhão a credores es trangeiros e as incertezas do sistema financeiro têm levado Tailândia Argentina Indonésia e Brasil a crises profundas À me dida que esses países lutam para honrar suas dívidas governos demitem funcionários públicos liquidam ativos governamentais reduzem gastos sociais e aumentam impostos O sucesso de se produzir roupas móveis e aço para os mercados mundiais entra em conflito com os efeitos provocados por práticas exploratórias utilização de trabalho infantil e exigências por direitos 699832 trabalhistas Na história mais bemsucedida de todas a da China o abismo entre ricos e pobres aumentou mesmo diante dos pro gressos feitos pelo país Os benefícios do capitalismo global não surgem sem custos Empresas podem pegar empréstimos a juros baixos nos mercados financeiros internacionais o que as expõem às exigências dos in vestidores estrangeiros O comércio permite aos consumidores comprar produtos estrangeiros baratos o que traz uma com petição indesejada para produtores domésticos As corporações multinacionais introduzem novas tecnologias e métodos o que expulsa as firmas nacionais do mercado A dívida externa permite aos governos gastar mais do que arrecadam o que pode gerar crises cambiais asfixiantes Governos abrem suas fronteiras à eco nomia mundial e oferecem a alguns cidadãos o potencial para al cançar riqueza e sucesso o que pode condenar outros cidadãos a condições difíceis e dolorosas Não há comércio sem concorrência finanças sem riscos inves timentos sem obrigações Não há como evitar os efeitos negativos inerentes ao capitalismo global E não há como medir se o sofri mento de um trabalhador cujo emprego foi perdido por causa da globalização deve valer mais que os benefícios gerados a um tra balhador por um emprego que depende da globalização O capitalismo global é desejável Vai durar Deve durar A história da economia mundial do século XX nos ajuda a entender questões como essas A integração econômica internacional em geral expande as oportunidades econômicas e é positiva para a sociedade As grandes alternativas à integração econômica fracassaram As tent ativas de isolar países do resto da economia mundial na década de 1930 foram um desastre Alemanha Itália e Japão fecharam suas economias e se viram às voltas com regimes ditatoriais guerras e conquistas Os países pobres e as excolônias que criaram eco nomias fechadas nas décadas de 1930 e 1940 se desintegraram 700832 passando a enfrentar a estagnação econômica o descontenta mento social crises e ditaduras militares durante as décadas de 1970 e 1980 Poucos foram os países que progrediram economica mente sem acesso à economia internacional No entanto insistir na globalização a qualquer custo seria igualmente equivocado Durante os anos dourados do capitalismo global anterior a 1914 os governos se comprometeram com a in tegração econômica internacional e nada mais Os defensores do livrecomércio do padrãoouro e das finanças internacionais queriam que os governos limitassem a atuação para a preservação de tais medidas e de suas propriedades Esses governos ignor aram os argumentos daqueles prejudicados pela globalização À medida que as classes média e trabalhadora cresciam elas tam bém passaram a exigir reformas sociais para melhorar as con dições dos milhares de desempregados pobres crianças e idosos O choque entre a ortodoxia clássica e esses novos movimentos so ciais se transformou em duros conflitos por vezes violentos em especial após a eclosão da Grande Depressão As tentativas de seguir no curso do capitalismo global sem prestar assistência aos maltratados pelos mercados mundiais levaram sociedades à po larização e ao conflito Após a Segunda Guerra Mundial a nova ordem de Bretton Woods significou uma tentativa de evitar os fracassos das autar quias e do laissezfaire do padrãoouro O sistema marcado pelo padrão dólarouro por uma gradual liberalização do comércio e por instituições internacionais firmou compromissos entre a in tegração econômica e o Estado do bemestar social Dessa forma os governos ocidentais se tornaram capazes de combinar doses moderadas de políticas de bemestar social e graus moderados de integração econômica internacional A rápida recuperação da economia internacional erodiu os acordos de Bretton Woods Os desenfreados mercados financeiros internacionais e os governos nacionais que gastavam sem 701832 impedimentos passaram a ser forças conflitantes A ordem econ ômica do pósguerra entrou em colapso no início da década de 1970 e foi substituída por 15 anos de inflação orçamentos defi citários e estagnação econômica Na década de 1990 o capitalismo global estava novamente a pleno vapor Assim como ocorrera antes de 1914 o capitalismo era global e o globo capitalista A história do capitalismo global de seu primeiro momento de glória até o declínio após 1914 pas sando por sua melhora gradual desde 1970 ilustra os testes de fogo que determinariam o futuro da integração econômica inter nacional Antes de 1914 os globalizadores evitavam medidas de proteção social e reformas o que contribuiu para o colapso mais sério do sistema Os governos do período entreguerras rejeitaram a economia mundial o que acabou determinando a desintegração deles Após 1945 as nações ocidentais optaram por uma pequena dose de integração combinada a uma pequena dose de reforma social o que provou ser apenas uma solução temporária A história da economia mundial moderna demonstra dois as pectos Primeiro as economias funcionam melhor quando estão abertas ao mundo Segundo economias abertas funcionam mel hor quando seus governos tentam aplacar as fontes de insatis fação com o capitalismo global O desafio do capitalismo global no século XXI é combinar in tegração internacional com governos politicamente reativos e so cialmente responsáveis As diferentes ideologias contemporâneas pró e antiglobalização progressistas e conservadores prómer cados e panfletários argumentam que tal combinação é impos sível ou indesejável Entretanto a teoria e a história indicam que a coexistência entre globalização e políticas comprometidas com melhorias sociais é possível Fica a cargo dos governos e indivídu os transformarem a possibilidade em realidade 702832 Notas Introdução Rumo ao século XX 1 Citado em Viner 1948 2 Adam Smith 1937 livro quatro 3 Maddison 1995 p38 Para uma excelente pesquisa sobre o período ver Marsh 1999 4 Stamp 1979 Bairoch 1989 p56 Maddison 2001 p95 5 ORourke e Williamson 1999 p209 6 Calculado em Friedman e Schwartz 1982 p12237 Os índices de preço são deflatores implícitos 7 Calculado em Gallman 1960 p1343 a variante A é utilizada para construção 8 Uma leitura essencial sobre o padrãoouro encontrase em Eichengreen e Flandreau 1997 9 A plataforma encontrase em Hicks 1931 p43944 10 Ibid p31617 e p160 11 Cain e Hopkins 1993a oferecem um panorama do período 1 Capitalismo global triunfante 1 A plataforma encontrase em Hicks 1931 p43944 2 Times 9 de julho de 1896 3 Ibid 4 Times 10 de julho de 1896 5 Times 4 de novembro de 1896 6 Os números utilizados estão em termos reais ou seja consideram as diferenças dos preços tanto entre países quanto ao longo do tempo Fonte Maddison 2001 7 Wilde 1985 p144 8 Veja por exemplo Estevadeordal et al 2003 e LópezCórdova e Meiss ner 2003 9 Bordo e Rockoff 1996 p389428 10 Eichengreen 1992 Eichengreen e Flandreau 1997 A apresentação nesses textos é bastante simplificada Os governos normalmente tentam administrar as economias no sentido de evitar grandes fluxos de ouro Isso poderia envolver uma tentativa de reter o ouro pelo aumento da taxa de juros o que tenderia a manter o dinheiro no país para tirar vantagem das taxas mais altas de retorno Ou então poderia envolver uma tent ativa de conter os salários preços e lucros domésticos com o objetivo de tornar as exportações mais competitivas No entanto essas políticas tiveram origem nas pressões que a adoção do ouro exercia sobre eco nomias e governos 11 Maddison 1995 p64 12 ORourke e Williamson 1999 p4353 Veja também Capie 1983 13 ORourke e Williamson 1999 p20812 14 Lloyd Reynolds 1985 p87 15 Solberg 1987 oferece um excelente estudo sobre as duas economias do trigo 16 Bairoch 1975 p52 e 15 17 Adam Smith 1937 p45 18 Maddison 1995 p36 e 249 2 Defensores da economia global 1 Keynes 1920 p1112 2 Ibid p12 3 Um maravilhoso relato do processo encontrase em Irwin 1996 p7598 4 John Nye questiona até mesmo isso afirmando que a Inglaterra simples mente cobrava impostos indiretos sobre bens de luxo para conseguir um equivalente funcional da proteção comercial Nye 1996 p90112 704832 5 O que se segue foi retirado em princípio do estudo clássico da família Ni all Ferguson 1998 Veja também estudos em Heuberger 1994 6 Strouse 1999 p173 Niall Ferguson 1998 p87273 7 Niall Ferguson 1998 p866 trata da crise do Barings nas p86372 Veja também Cain e Hopkins 1993a p288311 para as estórias mais gerais de Argentina Brasil e Chile 8 Economist LXV 9 de novembro de 1907 p1925 9 Niall Ferguson 1998 p92729 A crise de 1907 é sujeito de uma quan tidade substancial de literatura acadêmica Veja em especial Eichen green 1992 10 Niall Ferguson 1998 p947 11 Sobre os Rothschilds na África do Sul veja Niall Ferguson 1998 p87694 Cain e Hopkins 1993a p36981 e Flint 1974 12 Niall Ferguson 1998 p884 13 Ibid p892 14 Um argumento clássico para um período mais anterior está em Goure vitch 1977 15 Para uma excelente pesquisa veja Bairoch 1989 p69160 16 Citações retiradas de James e Lake 1989 p1821 17 Cain e Hopkins 1993a p178 18 Mitchell 1998b para ver os números Knudsen 1977 para ler a discussão 19 Holtfrerich 1999 20 Lake 1988 p76 21 Davis e Huttenback 1986 p818 Os primeiros valores são deles basea dos no trabalho de Michael Edelstein os últimos usaram a amostra de empresas britânicas de Davis e Huttenback Em ambos os casos é feita a comparação entre investimentos externos não imperiais e investimentos britânicos Como explicitam Davies e Huttenback as taxas de retorno dentro do império não eram normalmente tão altas quanto as dos países estrangeiros Os dados originais de Edelstein estão em Edelstein 1982 Medidas da taxa de retorno confundemse com inúmeros problemas complexos sobre os quais ambos os livros tratam em detalhe 22 Cain e Hopkins 1993a p178 23 Citado ibid p216 24 Jeffrey Williamson 1995 705832 25 Cain e Hopkins 1993a p181201 apresentam um resumo judicioso do debate 26 Ibid p217 27 Feis 1930 p23 utilizando as estimativas contemporâneas de Paish Feis continua sendo a melhor fonte não técnica de informações sobre os investimentos europeus no exterior durante esse período 28 Goldin 1994 29 ORourke e Williamson 1999 Tabelas 81 e 83 30 Ibid 3 Histórias de sucesso da Era de Ouro 1 Morand 1931 p74 2 Ibid p76 3 Ibid p656 4 Ibid p75 5 Mandell 1967 p111 6 Morand 1931 p79 7 Ibid p767 8 Ibid p789 9 Ibid p79 10 Mandell 1967 p84 11 Morand 1931 p80 12 Ibid 13 Rostow 1978 p523 14 Todos apresentam uma produção manufatureira per capita 20 maior que a dos Estados Unidos A Itália é limítrofe com o Norte obviamente industrializado mas o Sul talvez mais atrasado do que Espanha e Por tugal W Arthur Lewis 1978 p163 15 O resumo clássico dos aspectos tecnológicos do processo está em Landes 1969 p231358 16 Um bom resumo é Falkus 1972 em especial p4484 que cobre grande parte da literatura disponível 17 Rostow 1978 p4223 18 Landes 1969 p241 Neste ano de acordo com Landes as exportações japonesas de fios e tecidos eram maiores do que as alemãs e 40 das do Reino Unido 706832 19 Rostow 1978 p1967 p210 apresenta os dados utilizados aqui 20 Landes 1969 p300 sobre a Alemanha dados norteamericanos de Kerry Chase 21 Esse foi o argumento que ficou conhecido por causa de Gerschenkron 1962 É ainda controverso e na melhor das hipóteses está apenas par cialmente correto mas é provável que haja nele alguma verdade 22 Sandberg 1978 1979 23 Citado em Irwin 1996 p127 24 Ibid p126 25 Ibid p125 26 Bairoch 1989 p76 e 139 27 Falkus 1972 p4484 28 Bairoch 1989 p139 29 Webb 1977 1980 30 Bairoch 1989 p1345 31 Maddison 1995 p38 fornece valores de exportação como parcela do PIB representativos Bairoch 1989 p8890 discute o processo de forma mais geral 32 A parte oeste da América do Norte e o sul da América Latina foram ex ceções parciais apesar de as estruturas sociais preexistentes serem de masiadamente pequenas e superficiais para que o impacto fosse mais duradouro As populações indígenas também quase não tiveram efeito algum 33 Douglass North em North 1989 p131932 destaca a distinção entre americanos do norte e do sul e britânicos e ibéricos o que pode se justifi car numa perspectiva comparativa No entanto as diferenças nessa di mensão entre Argentina e Canadá desvanecem em comparação com aquelas entre por exemplo Argentina e Indochina 34 W Arthur Lewis 1978 p18893 discute o fato cerne de sua inter pretação do desenvolvimento subsequente das áreas tropicais As duas características estão relacionadas O fato de as populações in dígenas serem relativamente pequenas nas áreas de assentamento mais recente foi um dos fatores que geraram os padrões predominantes de produtividade e produção agrária O baixo nível de produtividade agrária das regiões temperadas fora da Europa tornou impossível a existência de populações densas nessas regiões Por outro lado se as populações não europeias fossem consideravelmente maiores como na América Central ou na África Ocidental por exemplo isso significaria que as terras 707832 concentravam riquezas mais aparentes e portanto os europeus as teriam explorado antes 35 Calculado a partir de W Arthur Lewis 1978 p2927 a Europa Ocident al exclui a Alemanha que é considerada de forma mais adequada parte da Europa CentroOriental Leste no que diz respeito à produção agrária 36 John Foster Fraser 1914 p27 e 70 37 O valor atribuído à produção industrial foi retirado de Rostow 1978 p496 os dados sobre o consumo de tecidos podem ser encontrados em David Reynolds 2000 p100 os valores de produto per capita foram como todos os outros utilizados aqui retirados de Maddison 1995 38 Villela e Suzigan 1977 p294 39 Podese encontrar uma boa análise da economia política das experiências dos dois países em Bates 1997 p2689 40 Hopkins 1973 é a fonte mais importante e demonstra de maneira con vincente a interação dos interesses econômicos europeus e locais no pro cesso colonial 41 David Reynolds 2000 p205 42 Gerald K Helleiner 1966 Hogerdorn 1975 43 Reynolds 2000 p158 44 Michael Adas citado por Elson 1992 p144 45 Essa é a questão central de ORourke e Williamson 1999 4 Os fracassos do desenvolvimento 1 Phipps 2002 p164 2 Maddison 2001 p26465 3 O material usado aqui foi retirado de Hochschild 1998 Kennedy 2002 e Phipps 2002 4 Phipps 2002 p21 5 Citado ibid p17 6 Hochschild 1998 p18081 7 Citado ibid p164 8 Ibid p193 9 Phipps 2002 p159 10 Ibid p162 11 Citação ibid p171 12 Zwick 1992 708832 13 Citado em Slinn 1971 p371 14 A comparação com Uganda onde os agricultores indígenas tiveram muito mais sucesso no cultivo de produtos rentáveis para exportação é instru tiva Hickman 1970 p17897 15 Um tratamento primoroso das experiências irlandesa e argelina e is raelense pode ser encontrado em Lustick 1993 16 W Arthur Lewis 1978 p214 17 Bairoch 1975 p160 fornece estimativas de empregos por setor 18 Latham 1978 p20 19 Mitchell 1998 a b e c passim 20 David Reynolds 2000 p320 21 É difícil categorizar e medir o Império Otomano Incluía algumas regiões relativamente mais avançadas mas de maneira geral era bastante sub desenvolvido Era enorme mas o que fazia ou não parte do Império era passível de debate É provável que sua população fosse superada em número somente pela China e pela Índia mas não é possível afirmar com certeza 22 Tomlinson 1979 p129 traz uma excelente análise da experiência indiana 23 Feuerwerker 1995a p181 Os estudos detalhados encontramse nas p165308 Veja também Feuerwerker 1995b e Philip Richardson 1999 Uma visão mais geral pode ser encontrada em Spence 1990 O ponto de vista mais otimista de WaleyCohen 1999 se concentra nas visões mais progressistas dos reformadores enquanto sua própria argu mentação explicita que a implementação de políticas baseadas em tais visões era via de regra impedida pelos grupos dominantes 24 Essa é uma consequência da Teoria do Produto Principal staple theory desenvolvida por pesquisadores canadenses focada no produto principal staple da região Schedvin 1990 apresenta uma análise útil e essa abordagem foi aplicada e desenvolvida por Engerman e Sokoloff 1997 25 Por exemplo De Graaff 1986 26 Stover 1970 apresenta um bom resumo dos movimentos de preço e de quantidade das exportações tropicais durante este período 27 Norbury 1970 p13842 28 Bates 1997 p56 29 Stover 1970 p50 30 Ibid p57 709832 31 Tampouco foi assim tão determinante como apresentado aqui Nugent e Robinson 1999 argumentam de maneira convincente que fatores políti cos influenciaram na organização das economias de café mostrando que em El Salvador e na Guatemala os regimes oligárquicos levaram ao surgi mento de fazendas de café com produção em larga escala Já na Costa Rica e na Colômbia os regimes mais inclusivos geraram o cultivo em pequenas propriedades A discussão é mais sobre tendências do que sobre certezas 5 Problemas da economia global 1 Kindleberger 1964 p27273 2 Bairoch 1989 p838 Cain e Hopkins 1993a p20225 Marrison 1983 fornece uma análise bastante útil sobre os defensores e os opos itores da proteção no meio industrial 3 Citado em Cain e Hopkins 1993a p211 4 A análise definitiva sobre a economia política dessa eleição pode ser en contrada em Irwin 1994 5 Cain e Hopkins 1993a p181201 e Kindleberger 1996 p12548 fornecem uma análise breve sobre os debates e as evidências 6 Kindleberger 1978 p224 7 Citado em E L Jones 1996 p704 8 Rogowsky 1989 traz uma excelente apresentação e aplicação O teorema de StolperSamuelson é mais utilizado para prever o apoio à proteção do comércio mas explica também obviamente o apoio à liberalização comercial 9 Przeworski 1980 10 Citado em Hicks 1931 p316 317 11 Moreton Frewen citado em Stanley Jones 1964 p14 6 Tudo o que é sólido se desmancha no ar 1 Evans e Geary 1987 p73 ver também httpwwwlivcollacukpa09europetripbrusselskollwitzhtm 2 Carr 1939 3 Noyes 1926 p4367 4 Cooper 1976 p215 710832 5 Ibid p21921 6 Lamont 1915 p112 7 Nearing e Freeman 1925 p273 8 Carr 1939 p234 9 A fonte principal é Feldman 1993 esses dados são das p7825 Ver também Aldcroft 1977 p128 e 138 10 Ernest Hemingway German Inflation 19 September 1922 em Eyewit ness to History ed John Carey Cambridge Harvard University Press 1987 p497501 11 Meyer 1970 12 Eichengreen 1992 p12552 discute o episódio ver também Costigliola 1976 13 Citado em Feldman 1993 p855 14 Ibid p858 15 Nove 1992 p94 16 Aldcroft 1977 p98 e 102 17 Maddison 1995 p2389 18 Um estudo clássico sobre o processo está em Maier 1975 19 Cleona Lewis 1938 p341 20 Frieden 1988 p66 21 Cleona Lewis 1938 p377 22 Aldcroft 1977 p23867 ver também Kindleberger 1973 p3182 23 Maddison 1995 24 Villela e Suzigan 1977 p133 25 Essa interpretação ainda que prevista por outros na década de 1930 foi de fato apresentada pela primeira vez de forma sucinta por Kindleberger 1973 p291308 26 Eichengreen 1987 A apresentação completa dessa interpretação em oposição às falhas do padrãoouro do período entreguerras está em Eichengreen 1992 27 Flandreau 1997 p757 Apesar de Flandreau argumentar contra uma variante da visão cooperativa os fatos que apresenta em especial para o período que vai de 1870 a 1914 indicam a centralização da colaboração internacional ver p75560 28 Broz 1997 29 Forbes 1981 p125 30 Maltz 1963 p2045 711832 31 Feis 1950 p14 32 Eichengreen 1989b a citação está na p58 33 Frieden 1988 p65 34 A discussão apresentada aqui está baseada a não ser quando se espe cifica o contrário na magistral biografia autorizada Skidelsky 1983 1992 2000 35 Skidelsky 1992 p181 36 Skidelsky 1983 p239 37 Ibid p84 38 Ibid p227 39 Ibid p319 40 Ibid p370 41 Ibid p371 42 Ibid p391 43 Skidelsky 1992 p205 44 Ibid p133 45 Jensen 1989 e Sachs 1980 apresentam duas discussões gerais um estudo transnacional detalhado está em Bernanke e Carey 1996 46 Skidelsky 1992 p156 47 Ibid p192 48 Ibid p204 49 Ibid p194 7 O mundo de amanhã 1 Zim Lerner e Rolfes 1988 p71 2 Edmund Gilligan Report of a Subway Explorer of His Trip to a Magic City reproduzido em Zim Lerner e Rolfes 1988 a citação encontrase na p44 3 Ibid p434 4 Citado em Rydell et al 2000 p93 5 Maddison 1995 p41 a medida utilizada é simplesmente PIB por hora trabalhada 6 Rostow 1978 p756 7 Landes 1969 p246439 Os valores dos salários são de Liesner 1989 p98 712832 8 Landes 1969 p443 9 Chandler e Tedlow 1985 p408 10 Valores de Kerry Chase 11 Coffey e Layden 1996 12 A história clássica está em Chandler 1977 Ver também Chandler 1969 13 Mowery e Rosenberg 1989 p5997 14 Calculado a partir de Ibid p689 15 Chandler e Daems 1980 apresenta um bom conjunto de artigos comparativos 16 Daems 1980 p222 17 Frieden 1988 p64 18 Landes 1969 p446 19 Poulson 1981 p525 20 Sassoon 1996 p2782 apresenta um excelente resumo 8 O colapso da ordem estabelecida 1 Orwell 1958 p856 2 Watkins 1999 p57 3 Os primeiros valores são de Kindleberger 1973 p71 os seguintes de Eichengreen 1992 p224 Grande parte do relato apresentado aqui foi retirada dessas duas fontes essenciais 4 Temin 1989 desenvolve essa explicação de propagação por impulso da relação entre os Estados Unidos e o resto do mundo 5 Kindleberger 1973 p143 e 188 6 Os preços de material de construção e de produtos agrícolas foram calcu lados a partir de Warren e Pearson 1935 p302 bens de consumo duráveis a partir de Shaw 1947 p2905 7 Eichengreen 1992 p251 8 Friedman e Schwartz 1963 p306 9 Rostow 1978 p220 10 Costigliola 1972 é um excelente panorama 11 Stögbauer e Komlos 2004 e van Riel e Schram 1992 12 A questão ainda é controversa Veja Eichengreen 1989a para obter uma avaliação aproximada 13 Maddison 1995 p69 713832 14 Bernanke 1983 p260 15 Ibid p260 Alston 1983 p888 a taxa do período de 1928 a 1934 é a soma das taxas anuais de execuções de hipotecas o que provavelmente leva a uma pequena superestimativa porque algumas fazendas podem ter sido tomadas mais de uma vez no período 16 Conforme citado em DeLong 1991 p11 Por uma questão de justiça Robbins mais tarde repudiou sua opinião de 1935 considerandoa um conceito errôneo Temin 1989 pxiii 17 Citado em DeLong 1991 p6 18 Thomas Ferguson 1984 discute as diferenças no âmbito da indústria norteamericana OBrien 1989 argumenta a favor da motivação da ma nutenção do consumo na rigidez dos salários nominais 19 Esses valores são de Jensen 1989 p5589 valores um pouco difer entes mas ainda assim comparáveis estão em Margo 1993 p43 20 Bernanke e James 1991 p513 21 Henrik Ibsen The League of Youth 1869 Ato 4 22 Bernanke 1983 p259 23 Ibid Calomiris 1993 24 Eichengreen e Temin 2000 p199 25 Citado em Kindleberger 1973 p152 26 Bernanke e James 1991 p507 o valor dos depósitos estrangeiros na Alemanha é de Eichengreen 1992 p272 27 Eichengreen e Temin 2000 p201 28 Ferguson e Temin 2003 apresentam um resumo e uma avaliação en fatizando o componente câmbio da crise alemã 29 Kindleberger 1989 p1738 Cain e Hopkins 1993b p801 30 Kindelberger 2000 p1531 31 Rostow 1978 p2203 32 Díaz Alejandro 1983 p611 33 Citado em Temin 1989 p95 34 Eichengreen 1992 p2946 35 Calculado a partir de Warren e Pearson 1935 p3032 e Shaw 1947 p2905 36 Kindleberger 1973 p197 37 Ibid p219 38 Ibid p202 39 Eichengreen 1992 pxi 714832 40 Citado em DeLong 1991 p12 41 Keynes 1932 42 Ibid 43 Skidelsky 1992 p477 44 Citado em Eichengreen e Temin 2000 p202 45 Blum 1970 p49 46 Departamento de Agricultura dos Estados Unidos 1949 p53 Kindle berger 1973 p2223 47 Romer 1992 p759 Romer 1993 p35 48 Bernanke e James 1991 p3545 9 Em direção à autarquia 1 Simpson 1969 p16 2 Nurkse 1962 p1345 3 As informações que se seguem são de Mühlen 1938 Schacht 1955 Simpson 1969 e Weitz 1997 4 Aparentemente ele ainda estava confuso quando escreveu sua disser tação Schacht 1955 p86 incapaz de compreender que o examinador estava tentando fazer com que ele discorresse mais sobre os atributos ab stratos dos objetos 5 Ibid p45 6 Ibid p1489 7 Weitz 1997 p117 8 Simpson 1969 p78 9 Ibid p7880 10 Ibid p80 11 Weitz 1997 p139 12 Ibid p135 e 197 13 Schacht 1955 p303 14 Hitler 1953 p350 15 Overy 1982 Overy 1994 p3789 Karl Hardach 1980 p5664 James 1986 p36787 16 Simpson 1969 p87 17 Citado em James 1986 p353 18 Citado em Feldman 1993 p855 715832 19 Kaiser 1980 p3257 e Neal 1979 p397 essas são variações não ponderadas 20 Overy 1994 p16 Overy 1982 21 Simpson 1969 p131 22 Ibid p123 23 Weitz 1997 p220 24 Overy 1994 p57 James 1986 p3557 25 Clough 1964 p383 26 Nove 1992 p250 27 Neal 1979 28 A comparação para duplicação é feita com o ponto mais baixo normal mente 1932 Os valores de produção manufatureira estão abertos a dis cussão em especial devido às rápidas mudanças de preços no período Tais mudanças que têm somente o intuito de ilustrar são de Overy 1982 p29 Rostow 1978 p22223 Díaz Alejandro 1983 p9 e Teichova 1985 p230 29 Em Blinkhorn 1990 p161 traduzido novamente pelo autor 30 Stephen J Lee 1987 e Berend e Ránki 1977 p77141 são pesquisas excelentes 31 Merkl 1980 p765 32 Os artigos encontrados em Blinkhorn 1990 cobrem a maioria dos as pectos da colaboração 33 Sarti 1971 p10433 Gregor 1979 p15371 Ciocca e Toniolo 1984 Cohen 1988 desbanca de maneira convincente as alegações de Gregor de que o fascismo italiano seguiu um plano desenvolvimentista metódico mas não discute a eventual importância do Estado na economia 34 Teichova 1985 p286 e 309 35 Overy 1982 p34 e 60 36 Radice 1986 p31 Hauner 1985 p83 37 Berend e Ránki 1977 p945 38 Nakamura 1983 Nakamura 1998 Lockwood 1968 G C Allen 1972 e Barnhart 1981 39 Nove 1992 p150 e 174 40 Esses e outros valores usados aqui a não ser quando se especifica o con trário foram retirados do reconhecido Davies Harrison e Wheatcroft 1994 p269 41 Nove 1992 p186 716832 42 Gregory e Stuart 1986 p115 43 Esse sistema está muito bemresumido em Nove 1969 p2637 uma discussão mais detalhada pode ser encontrada em Gregory e Stuart 1990 p155265 44 Nove 1969 p204 45 Todos os valores são de Davies Harrison e Wheatcroft 1994 46 Maddison 1995 p194200 47 Robert C Allen 1998 48 Bairoch 1975 p124 Felix 1987 p23 49 BlumerThomas 1998 p77 ver também Maddison 1989 p57 50 Thorp 1984 p331 C H Lee 1969 p143 51 Thorp e Londoño 1984 p94 52 Elson 1992 p18691 53 C H Lee 1969 p1523 54 Owen e Pamuk 1999 p3844 55 KaiMing e Barber 1936 56 Feuerwerker 1983 57 Villela e Suzigan 1977 p138 e 356 58 Owen e Pamuk 1999 p16 e 244 59 C H Lee 1969 p150 60 Palma 1984 p702 61 Ocampo 1984 p134 e 139 62 Tomlinson 1979 p32 Ver também Dewey 1978 63 Meredith 1975 p495 64 Dixon 1999 p6167 Phongpaichit e Baker 1995 p24966 65 Cain e Hopkins 1993b p18894 A D Gordon 1978 66 Tomlinson 1979 p11946 67 Citado em Hopkins 1973 p267 68 Elson 1992 p192 10 A construção da socialdemocracia 1 Keynes 1933 2 Söderpalm 1975 3 Citado em Berg e Jonung 1998 p11 4 Carlson 1993 p174 717832 5 Ibid p178 6 Jorberg e Kranz 1989 p1082 Ver também Jonung 1981 p30203 e EspingAndersen 1985 p199204 7 Tilton 1990 p113 8 Jorberg e Kranz 1989 p1085103 9 Mabbett 1995 p87 10 Benner 1997 p76 11 Gourevitch 1986 p134 12 Citado em Poulson 1981 p610 13 Wallis 1986 Harrington 1998 p31426 A citação de Roosevelt está na p322 14 Rucker e Alston 1987 15 Troy 1965 p12 16 Wallis 1986 p18 17 EspingAndersen 1985 p4188 18 Katzenstein 1985 p136190 Luebbert 1991 p234305 19 Colton 1996 p93 20 Ibid p92197 21 Keynes 1936 p383 22 Ibid Nessa interpretação e devo ressaltar que as interpretações de Keynes são ainda controversas ver em especial Leijonhufvud 1968 23 Keynes 1932 24 Keynes 1936 p378 25 Skidelsky 1992 p511 26 Ibid p507 27 Ibid p5734 28 Laidler 1999 é um exemplo convincente 29 Barber 1996 p835 30 Skidelsky 1992 p506 31 Barber 1996 p86 32 Os textos em Hall 1989 descrevem a influência das ideias de Keynes em vários países principalmente depois da Segunda Guerra Mundial São de cididamente céticos com relação ao impacto independente dessas ideias na política 33 EspingAndersen 1985 p195 34 Harrington 1998 35 Ibid 718832 36 Tilton 1990 p131 37 Troy 1965 p12 38 Citado em Swenson 1997 p80 39 Ibid p78 40 Ibid p72 Esses pontos são controversos Para uma discussão mais abrangente ver Domhoff 1986 Colin Gordon 1994 e Thomas Fer guson 1984 41 Swenson 1989 p4253 42 Swenson 1997 p85 43 Kindleberger 1989 Simmons 1994 p174274 44 Eichengreen 1992 p37482 a citação está na p380 Ver também Clarke 1977 e Kindleberger 1993 p38589 45 Warren 1937 p71 46 Proceedings of the Academy of Political Science 17 1 Maio de 1936 p113 11 A reconstrução do Oriente e do Ocidente 1 Leon Fraser 1940 p567 Sobre o planejamento do início da guerra ver Oliver 1971 p622 e Shoup e Winter 1977 p11787 2 Richard Gardner 1980 p9 Esse estudo clássico é a fonte principal de grande parte do que vem a seguir 3 Otto Maller citado em Eckes 1975 p37 4 Hull 1948 p3556 5 Citado em Richard Gardner 1980 p19 6 Ibid p4068 as citações de Welles estão na p49 Ver também Penrose 1953 p1131 7 Citado em van Dormael 1978 p934 8 Ibid p95 9 Ibid p255 10 Citado em Eric Helleiner 1994 p164 11 Feis 1930 p469 12 Staley 1935 p495 13 Eckes 91975 p13564 Richard Gardner 1980 p11044 van Dormael 1978 p24065 14 Financial Times 15 de março de 2003 pWeekend III 719832 15 Richard Gardner 1980 pxvii 16 Skidelsky 2000 p465 17 Ansel Luxford citado em Richard Gardner 1980 pxv 18 Os dados gerais são de Maddison 1995 com exceção da produção in dustrial alemã Para tais dados ver Milward 1977 p335 19 Milward 1977 p346 Milward apresenta também valores para o Im pério Britânico que aparentemente incluem os territórios 20 DeLong e Eichengreen 1993 21 Maddison 1995 e Mitchell 1998a 1998b 22 Irwin e Kroszner 1999 apresentam e defendem intensamente a ideia 23 Para obter detalhes biográficos de Acheson ver McLellan 1976 e Chace 1998 24 Acheson 1969 p26775 25 Citado em Block 1977 p40 26 Lloyd Gardner 1970 p219 27 Richard Gardner 1980 p251 McLellan 1976 p94 28 Chace 1998 p166 29 Valores de Milward 1984 p467 967 30 Ibid p224 257 e 356 Gerd Hardach 1987 Karl Hardach 1980 p90109 16078 31 DeLong e Eichengreen 1993 32 Eichengreen 1993 p4453 acredita que o impacto da desvalorização das importações foi substancial 33 Acheson 1969 p727 34 Sassoon 1996 p83136 apresenta um panorama excelente 35 David Reynolds 2000 p13 36 Linz 1985 37 Radice 1986 e Brus 1986 38 Ritschl 1996 p50811 Roesler 1991 p4751 39 Notel 1986 p2306 Brus 1986 p5726 40 Notel 1986 p23841 Um nonilhão para os franceses e para os norte americanos é o mesmo que um quintilhão para os britânicos em ambos os casos tratase de dez seguido de trinta zeros 41 Brus 1986 p60841 traz um excelente resumo do período 42 Ibid p626 valores em Maddison 1995 p2001 embora seja um pou co mais fragmentado indica uma recuperação similar no período de 1949 a 1951 720832 12 O sistema de Bretton Woods em ação 1 Monnet 1978 p228 2 Maddison 1995 3 As três exceções que testaram a regra Espanha Portugal e Grécia seguiram rapidamente nessa direção durante a década de 1970 4 Boltho 1975 Hasegawa 19960 Nathan 1999 Morita 1986 Smith 1995 Tanaka 1991 Sakiya 1982 Togo 1993 Dower 1999 e Rein gold 1999 5 Maddison 1995 a Europa Ocidental inclui Irlanda Espanha Portugal e Grécia mas não a Turquia As taxas gerais de crescimento aqui assim como em outros lugares a não ser quando mencionado explicitamente se referem ao PIB per capita 6 Maddison 1996 p36 7 Van Ark 1996 p117 Essa questão foi defendida por Temin 2000 8 Branson 1980 9 As informações contidas nessa parte foram extraídas de Monnet 1978 Duchêne 1994 e Moravcsik 1998 p86237 10 Pruessen 1982 p309 11 Irwin 1995 é um excelente resumo 12 Jackson 1989 p53 13 Maddison 1989 p32 14 Rostow 1978 p669 15 Todos os valores foram calculados a partir de Maddison 1995 16 Ibid 17 Bordo 1993 e Eckes 1975 p21171 são trabalhos excelentes 18 Dados de Bordo 1993 p711 19 Wilkins 1974 Dunning 1983 Branson 1980 Lipsey 1988 20 Bergsten Horst e Moran 1978 United Nations Commission on Transnational Corporations 1978 21 United Nations Commission on Transnational Corporations 1978 p26373 Wilkins 1974 p403 22 Lipsey 1988 p504 23 Wilkins 1974 p360405 Rostow 1978 p6701 Hu 1973 p1929 24 Hu 1973 p2838 25 Sicsic e Wyplosz 1996 p235 26 Hu 1973 p100 721832 27 Ruggie 1982 em um artigo influente fala de um sistema integrado que chama de liberalismo incrustado embedded liberalism combinando os dois 28 Kohl 1981 p310 29 Olsson 1990 p11420 30 Eichengreen 1993 p89 31 Baldwin 1990 p138 32 Cameron 1978 foi provavelmente a primeira análise explícita da re lação desenvolvida com detalhes em Katzenstein 1985 33 Sassoon 1996 p140 34 Baldwin 1990 p116 35 Karl Hardach 1980 p14060 36 Gallarotti 2000 p267 37 Atkinson 1999 ver também Kraus 1981 13 Descolonização e desenvolvimento 1 BresserPereira 1984 p2 e 74 2 Maddison 1995 p38 3 Kaufman 1990 sumariza a experiência 4 Frieden 1991 p101 e 189 Villarreal 1977 p73 Os números são para proteção eficaz o que inclui o impacto da proteção nos insumos 5 Baer 1989 p70 6 Mitchell 1998a e 1998b United Nations Center for Human Settlements 1997 7 Hong Kong também poderia estar qualificado mas os britânicos nunca reclamaram a soberania sobre a maior parte do território da cidade E após 1965 apesar de o Zimbábue depois a Rodésia ter se tornado inde pendente sob o governo de uma minoria branca tal independência não foi reconhecida pela comunidade internacional até que o poder fosse en tregue à maioria negra em 1980 8 Kahler 1984 p265315 é uma excelente pesquisa 9 Kunz 1991 traz uma análise detalhada 10 Citado em Love 1980 p52 11 Prebisch observou também que a força de trabalho da atividade manu fatureira era via de regra sindicalizada logo os salários eram menos flexíveis contribuindo para a rigidez dos preços industriais 722832 12 Bates 1981 é uma declaração clássica 13 Citado em Mukerjee 1986 p8 14 Ibid 15 Citado em Audichya 1977 p111 16 Tomlinson 1993 p184 esse trabalho é uma fonte essencial para o período 17 Johnson 1983 p136 18 Khan 1989 p76 19 Vaidyanathan 1983 é uma boa pesquisa 20 Tomlinson 1993 p156213 Johnson 1983 p13244 21 Hassouna 1955 p1545 22 Todos os dados são de Maddison 1995 23 Brown 1997 p67 Hossain Islam e Kibria 1999 p29 24 Hansen 1991 25 Fieldhouse 1986 p1523 26 Hansen 1991 p99 e 173 Owen e Pamuk 1999 p24451 27 Owen e Pamuk 1999 p131 Fieldhouse 1986 p139 14 Socialismo em muitos países 1 A Mongólia aliadasatélite da União Soviética foi uma exceção parcial embora nem mesmo os soviéticos considerassem esse país de dois mil hões de nômades realmente socialista 2 Brus 1986 p339 3 Filtzer 1993 4 Hutchings 1982 p834 5 Brus 1986 p64 6 Nove 1992 p30311 e 3428 7 Millar 1971 8 Brus 1986 p131 e 7982 9 Goldman 1975 p39 10 Gregory e Stuart 1990 p14651 Nove 1992 p37886 Keizer 1971 p10740 Goldman 1975 11 Korbonski 1975 Lavigne 1975 Grossman 1966 Selucky 1972 Nove 1977 p288322 e Brus 1986 p16085 12 Eckstein 1975 Perkins 1975 723832 13 Essa discussão sobre agricultura foi retirada de Eckstein 1975 Chao 1970 e Perkins 1969 14 Wheelwright e McFarlane 1970 15 Citado em Spence 1990 p579 16 Riskin 1988 Pyle 1997 p415 17 Crook 1975 18 Todos os dados foram calculados a partir de Maddison 1995 19 MesaLargo 1974 MesaLargo 1981 Pérez 1988 20 Lampe 1986 Turnock 1986 15 O fim de Bretton Woods 1 A não ser quando se especifica o contrário a história apresentada aqui foi retirada de Safire 1975 p50928 2 Citado em Gowa 1983 p165 3 Citado ibid p68 4 Safire 1975 p5145 5 Wells 1994 p73 6 Citado em Eckes 1975 p266 7 A discussão aqui apresentada está baseada em Block 1977 p139202 Eckes 1975 p23671 Eichengreen e Kenen 1994 Garber 1993 Gowa 1993 e Solomon 1977 8 Citado em Eckes 1975 p250 9 Citado em BARTLEBYCOM no site httpwwwbartlebycom639 309html 10 G C Allen 1972 p170 Kindleberger 1996 p19699 11 ServanSchreiber 1968 p37 285 e 189 12 Sigmund 1980 13 Soskice 1978 14 Um bom resumo é Eliana Cardoso e Helwege 1992 p8499 15 Díaz Alejandro 1965 16 BresserPereira 1984 p42 Baer 1989 p317 e 355 17 Taylor e Bacha 1976 18 Baer 1989 p87 Urrutia 1991 p51 32 e 445 19 Todos os valores são de Maddison 1995 20 Kaufman 1990 p130 724832 21 Nove 1977 p16171 e 18890 Hutchings 1982 p23948 Gregory e Stuart 1990 p40217 16 Crise e mudança 1 Yergin 1991 p6157 655 e 6623 2 Koopman et al 1984 3 Solomon 1977 p292 Koopman et al 1984 4 Sassoon 1996 p70713 Essa é uma fonte básica de informação sobre trabalho e políticas socialistas no período 5 Henrekson Jonung e Stymne 1996 p269 van Ark de Haan e de Jong 1996 p318 6 Eichengreen e Kenen 1994 p41 Sobre a experiência latinoamericana ver Frieden 1991 7 Mussa 1994 p111 esse trabalho é uma excelente investigação sobre o período 8 Economic Report of the President várias edições Esses valores são refer entes ao ganho semanal médio em dólares inalteráveis 9 Volcker e Gyohten 1992 p181 10 Díaz Alejandro 1984 Sachs 1985 e Sachs 1989 figuram entre os vári os estudos respeitáveis 11 Eliana Cardoso e Helwege 1992 12 Naughton 1995 Naughton 1996 Pyle 1997 13 Economic Report of the President várias edições Esses valores diferem um pouco daqueles apresentados por Poterba 1994 14 Volcker e Gyohten 1992 15 Feldstein 1994 p270 16 Frankel 1994 e J David Richardson 1994 contêm informações úteis sobre o episódio assim como Destler e Henning 1989 17 Gros e Thygesen 1998 p95101 e 191236 18 Edwards e Naím 1997 é uma boa investigação sobre a experiência 19 Stiglitz 2002 p945 20 Bank for International Settlements vários anos Fundo Monetário In ternacional vários anos Corsetti Pesenti e Roubini 1999 17 A vitória dos globalizantes 725832 1 Foreign Policy Bulletin 8 número 5 setembro outubro de 1997 p100 2 Foreign Policy Bulletin 8 número 6 novembro dezembro de 1997 p26 e 24 3 Ibid p25 4 Wall Street Journal 5 de setembro de 1997 pC1 5 Foreign Policy Bulletin 8 número 6 novembro dezembro de 1997 p24 6 Ibid p28 7 Ibid p27 8 Foreign Policy Bulletin 8 número 5 setembro outubro de 1997 p100 Foreign Policy Bulletin 8 número 6 novembro dezembro de 1997 p25 9 DeLong 2000 Triplett 1999 10 Strange 1986 11 United Nations Development Program Human Development Report 2001 12 Dados retirados de The Merger Yearbook New York Securities Data várias edições 13 Evenett 2003 14 John Williamson 1990 15 Volcker e Gyohten 1992 p1678 16 Business Week 7 de fevereiro de 2000 p40 Inclui a produção de químicos empregados na indústria e nos serviços equipamentos e ex ploração em petróleo 17 Business Week 22 de janeiro de 2001 p6672 18 Citado em Frieden 1987 p1145 19 O que vem a seguir foi retirado de Slater 1996 bem como de artigos de Salon 27 de março de 2001 e do New York Times 6 de dezembro de 1998 20 Stern 1977 é um relato clássico 21 Mahathir é citado em httpwarisankutripodcompembo honganpashtm o discurso de denúncia ucraniano é de Lubomyr Prytu lak e consta nos arquivos ucranianos httpwwwukarorg 22 Discurso no World Forum on Democracy Varsóvia 25 de junho de 2000 23 Ibid 24 Lawrence 1991 726832 18 Os que correram atrás 1 The New Yorker 27 de maio de 1961 p4950 2 Lie 1998 p1 3 Ibid p34 4 Perry Anderson Diary London Review of Books 17 de outubro de 1996 5 United Nations Development Program 1998 capítulo 3 6 Feenstra 1998 7 Descrito ibid p356 8 Os dados foram retirados de várias edições do Steel Statistical Yearbook do International Iron and Steel Institute 9 Financial Times 10 de agosto de 2001 p2 10 Ver Goertzel 1999 para a maior parte dos detalhes biográficos 11 Fernando Henrique Cardoso e Faletto 1979 pxxiv 12 Fernando Henrique Cardoso 1979 p55 13 Fernando Henrique Cardoso e Faletto 1979 p210 14 Retirado do site de Goertzel STILL A MARXIST 15 Goertzel 1999 p94 16 Retirado do site de Goertzel STILL A MARXIST 17 Goertzel 1999 p160 18 Retirado do site de Goertzel STILL A MARXIST 19 Os que ficaram para trás 1 Chen e Ravallion 2001 2 Maddison 2001 p129 3 Chen e Ravallion 2001 World Bank vários anos 4 Os argumentos mais influentes desse tipo são os de Jeffrey Sachs e de seus coautores Ver por exemplo Sachs e Bloom 1998 e Sachs e Warner 2001 5 Um excelente estudo sobre a experiência da Zâmbia está em Shafer 1994 p4993 6 Kaunda 1988 p11 7 O estudo clássico sobre as empresas estrangeiras de cobre está em Sklar 1975 727832 8 Citado em Ihonvbere 1996 p52 9 Kaunda 1988 pix 10 Kaunda 1968 p37 11 Kaunda 1988 p41 e 65 12 Bratton 1980 p259 13 Mushingeh 1994 14 Bratton 1980 p227 15 Sobre a crise políticoeconômica do país ver Bates e Collier 1993 e Brat ton 1994 16 Pritchett sem data específica p1 17 Nigéria confronts corruption BBC NewsWorld 11 de novembro de 1999 disponível no site httpnewsbbccoukhienglishworldafrica newsid515000515788stm 18 Os dados sobre os geradores nigerianos e sobre os empregos públicos de Gana são de Collier e Gunning 1999 p101 19 Os dados dessa seção foram retirados da excelente edição anual do Hu man Development Report da United Nations Development Program 20 Capitalismo global em apuros 1 A maior parte dos relatos sobre os eventos de Seattle foi extraída da cobertura feita pelo New York Times 2 Seattle PostIntelligencer 1o de dezembro de 1999 3 New York Times 1o de dezembro de 1999 4 Seattle PostIntelligencer 2 de dezembro de 1999 5 Ibid 1o de dezembro de 1999 6 wwwturnpointorg 7 New York Times 2 de dezembro de 1999 8 Business Week 6 de dezembro de 2004 p104 9 Freeman 1995 que continua sendo uma excelente análise dessa liter atura volumosa 10 httpwwwaflcioorgglobaleconomyindexhtm 11 httpwwwaflcioorgglobaleconomymeaninghtm 12 Extraído das declarações sobre Global Monoculture e Invisible Govern ment do Turning Point Project disponíveis na internet no site wwwturn pointorg 728832 13 httpwwwcleanclothesorgintrohtm7 14 wwwturnpointorg 15 Ibid 16 httpwwwuniteunionorgsweatshopsactionactionhtml 17 Chakravarthi Raghavan US Moore Rebuffed WTO Ministerial Ends in Failure SUNS NorthSouth Development Monitor 7 de dezembro de 1999 Também no site httpwwwtwnsideorgsgtitlerebuffcnhtm 729832 Comentários sobre dados e fontes Todos os dados estão expressos em dólares norteamericanos a não ser quando for explicitado o contrário Quando são ap resentados números absolutos serão normalmente expressos em dólares correntes isto é sem correção de inflação No entanto quando eu uso os valores para fins de comparação como em taxas de crescimento tamanho relativo das economias ou renda per capita relativa baseiome em termos de Paridade do Poder de Compra PPC constante do dólar Esses cálculos levam em consideração a inflação e as diferenças nos níveis de preços nacionais para tentar captar o verdadeiro poder de compra dos diferentes valores monetários Os dados utilizados são quase to dos provenientes da imensa pesquisa realizada por Angus Mad dison e seus colaboradores da OCDE como publicado numa série que culmina em Maddison 2001 Citei somente fontes de língua inglesa para que fossem acessí veis ao público de língua inglesa em geral Praticamente cada pá gina poderia gerar um levantamento bibliográfico com textos em várias línguas Senti que seria mais relevante referirme direta mente apenas a textos que o leitor interessado pudesse consultar Referências bibliográficas ACHESON Dean Present at the Creation Nova York Norton 1969 ALDCROFT Derek H From Versailles to Wall Street 19191929 Berkeley University of 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chael Spence Vários colegas de trabalho amigos e familiares foram muito gentis ao ler meus rascunhos alguns capítulos ou todo o trabalho Seus comentários me ajudaram a melhorar o original Nesse grupo incluo Brian AHearn Jonathan Aurthur Lawrence Broz Marc Busch Anabela Costa Robert Dallek John Ehrenberg Barry Eichengreen Nancy Frieden Ken Frieden Tom Frieden Richard Grossman Max Holland Charles Kindleberger Gary King Susan Lilly Harry Margolis James Robinson George Scialabba Peter Temin Harvey Teres e Michael Wallerstein Meu editor na W W Norton Steve Forman foi uma fonte constante de apoio e dicas isso sem falar da pressão para que eu terminasse Roby Harrington também da W W Norton me deu bons consel hos em um momento crucial do meu trabalho As falhas que re staram evidentemente são de minha responsabilidade Índice remissivo Acheson Dean 12 34 5 67 aço 1 23 4 56 78 910 11 1213 14 15 16 autarquia e 1 23 4 5 67 89 cartéis e 12 globalização e 19732000 12 3 4 56 78 910 11 novas tecnologias e 12 34 produção pósguerra de 12 34 56 7 89 1011 12 1314 relações francogermânicas e 1 23 substituição de importações e 12 3 açõesmercado de ações 1 23 4 56 78 colapso do especulação excessiva de 1 2 globalização e 19732000 1 23 45 Grande Depressão e década de 1930 1 23 45 Primeira Guerra Mundial e 12 acordo de Bretton Woods 1 2 acordo de LendLease 1 2 34 5 acordo de Matignon acordo de Saltsjobaden Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio Gatt 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Acordo Monetário Tripartite 1 2 açúcar 1 23 4 56 7 89 1011 preço do 12 3 sistema de plantação intensiva e 12 3 AEG Afeganistão 1 2 3 45 AFLCIO 1 2 3 África 12 3 4 5 agricultura na 12 3 4 5 6 7 8 910 autarquia na 1 23 catástrofe na 1 23 colonialismo na 12 3 45 67 89 10 11 1213 crescimento econômico da 12 3 4 descolonização na 12 3 4 5 6 7 8 exploração na 1 2 ferrovias na 1 23 fracassos de desenvolvimento na 12 34 56 7 8 globalização e 19732000 12 34 5 6 78 910 1112 imigração para 12 3 interesses dos Rothschild na 12 má gestão na 1 23 manufatura na 12 34 56 78 9 1011 12 pobreza na 12 3 4 56 78 9 10 11 12 13 14 protecionismo na 12 socialismo na 1 2 substituição de importações na 12 3 ver também países específicos África do Norte 1 2 3 4 ver também países específicos África do Sul 1 23 ferrovias na 1 2 3 mineração na 1 2 3 45 67 89 movimento de independência na protecionismo na africâneres agricultura 1 23 4 5 67 89 autarquia e 1 2 3 4 56 78 910 auxílio governamental à 1 23 coletiva 12 3 45 67 colonialismo de assentamento e 12 em áreas de colonização recente 12 3 entreguerras 12 34 5 67 89 1011 1213 1415 16 1718 especialização e 12 3 45 759832 falências e 12 34 globalização e 19732000 1 23 45 67 8 9 10 11 1213 1415 Grande Depressão de 18731896 e a 1 2 34 investimentos estrangeiros na 12 3 livrecomércio e 1 2 3 45 mineração comparada à 12 movimento populista e 12 mudanças tecnológicas e 12 nos trópicos 12 34 opiniões de Prebisch sobre a padrãoouro e 1 23 4 5 67 89 10 pósguerra 12 3 45 6 7 8 910 1112 1314 1516 produtividade e 1 23 45 protecionismo e 12 34 56 7 89 10 1112 1314 sistema de plantação intensiva e 12 subsídios para a 12 3 substituição de importações e 1 2 34 tempos difíceis e 12 ver também países específicos ajuda externa 12 Albânia 1 2 3 globalização e 19732000 1 2 manufatura na 12 3 4 5 socialismo na 12 3 Alemanha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 agricultura na 1 23 45 aliança do Japão com a autarquia na 12 34 5 6 7 8 automóveis e 1 2 3 45 67 Banco Central na 1 2 3 4 colonialismo da 1 23 4 5 67 comércio da 1 23 comunistas na 12 3 4 5 desemprego na 12 34 56 78 9 educação na eleições na 1 2 3 45 760832 emigração de judeus da especialização na 12 34 56 feiras mundiais e 1 23 4 globalização e 19732000 1 2 3 45 67 8 9 10 Grande Depressão na década de 1930 12 34 56 78 910 11 1213 1415 indenizações da 1 2 34 56 7 89 10 1112 13 1415 inflação na 12 3 4 5 6 7 investimento estrangeiro na manufatura na 1 23 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 1516 1718 nazismo na 1 23 4 56 78 910 1112 13 14 1516 17 18 19 20 padrãoouro na 1 2 34 56 78 910 11 12 13 Primeira Guerra Mundial e 1 2 3 4 5 6 7 8 910 1112 13 produção de aço na 1 2 34 56 produtividade na protecionismo na 1 2 34 56 7 8 9 10 radio na rearmamento na 12 reunificação da 12 3 salários na 1 2 34 Segunda Guerra Mundial e 1 23 4 56 78 9 10 sindicatos trabalhistas na 12 3 4 socialistas na 12 34 56 78 Weimar 1 2 3 Alemanha República Federativa da Alemanha Ocidental 1 2 3 choque do petróleo e 1 2 Estado de bemestar social e 1 23 exportações da 12 34 na Comunidade Europeia 12 protecionismo da 1 2 relações da França com a 12 34 sistema Bretton Woods e 12 3 45 6 78 910 1112 Alemanha Oriental 1 2 3 4 indenizações e manufatura na socialismo na 12 34 algodão 1 2 3 4 5 6 7 761832 aumento da produção de 1 2 autarquia e 1 2 34 livrecomércio e 12 3 preço do 1 2 3 4 sistema de plantação intensiva e 12 3 Alice no país das maravilhas alimentos 1 23 processamento dos Primeira Guerra Mundial e autossuficiência em 1 23 autarquia e 12 34 preço dos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ver também alimentos específicos Allende Salvador 12 34 alumínio 1 2 Amazônia 1 2 3 amendoim 12 34 5 América Central 12 3 4 5 6 América do Norte 1 23 4 5 6 7 8 9 10 11 12 América Latina comparada com a 12 boom dos anos 1920 na 12 globalização e 19732000 1 2 3 4 5 6 78 9 1011 1213 14 1516 Monnet na 12 salários na 12 sindicatos trabalhistas na 1 23 ver também países específicos América do Sul 1 2 34 globalização na 19732000 12 34 influência dos Estados Unidos na ver também países específicos América Latina 1 2 34 56 7 8 910 11 1213 14 1516 1718 autarquia na 1 23 45 boom dos anos 1920 na 1 23 como guia para o mundo em desenvolvimento 12 Cone Sul da 12 34 5 crescimento econômico na 12 34 5 6 78 762832 dívida da 12 34 globalização e 19732000 12 34 56 78 9 1011 12 13 1415 1617 1819 20 21 22 23 Grande Depressão na década de 1930 12 3 4 56 78 9 1011 12 investimento dos Estados Unidos na 12 34 investimento estrangeiro na 12 3 4 56 7 pobreza na 1 2 3 substituição de importações na 12 34 5 67 89 1011 1213 ver também países específicos America Online American Federation of Labor 12 American Telephone and Telegraph laboratórios da Bell Telephone 12 34 Amoco Amsterdã Anderson Perry 12 Angola 1 2 3 antissemitismo 1 2 3 4 56 78 Anwar Ibrahim árabes 1 2 34 Arábia Saudita 1 23 Argélia 1 2 3 agricultura na autarquia na 12 Argentina 12 3 4 56 7 8 9 1011 agricultura na 1 2 34 5 6 7 8 9 10 autarquia na 1 2 3 crescimento econômico da 12 34 5 declínio das exportações na 12 desenvolvimento de infraestrutura na 1 2 dívida da 1 2 34 5 educação na especialização na 1 2 34 globalização e 19732000 1 23 4 5 67 8 Grande Depressão e década de 1930 12 3 imigração para a 1 2 3 4 inflação na 763832 investimentos estrangeiros na 12 manufatura na 1 2 3 45 67 moedas fora do padrãoouro na 1 2 padrãoouro na 1 2 3 protecionismo na sindicatos trabalhistas na 12 armas 1 2 3 45 Armênia 12 arroz 1 2 3 como cultura progressista 1 2 preço do arte 1 23 Ásia 1 2 34 5 6 78 910 autarquia na 12 3 45 67 89 colonialismo na 12 34 56 78 9 crescimento econômico na 12 34 56 78 910 11 descolonização na 1 23 45 6 estagnação na 12 34 globalização e 19732000 12 34 5 6 78 910 1112 13 imigração da 12 34 56 78 investimentos norteamericanos na 12 pobreza na 12 3 4 5 6 socialismo na 1 23 45 67 89 substituição de importações na 12 34 56 ver também regiões e países específicos Ásia Central 1 23 Ásia Oriental 12 34 globalização e 19732000 1 2 34 56 7 89 1011 ver também países específicos Assembleia Constituinte indiana Associação Britânica de Reforma do Congo Atatürk Mustafa Kemal Ato de Restrição à Imigração 1901 12 Ato Único Europeu 1986 aumento de preços 12 3 45 autarquia e 1 23 choques do petróleo e 12 764832 globalização e 19732000 12 34 5 6 inflação e 1 23 45 6 78 910 Austrália 1 2 3 4 5 agricultura na crescimento econômico na 12 3 4 especialização na 12 34 imigração para a 1 23 4 investimentos estrangeiros na 1 2 3 manufatura na 1 2 3 padrãoouro e protecionismo na 1 2 salários na sindicatos trabalhistas na 12 socialdemocracia na 12 3 Áustria 1 2 3 4 5 67 Estado do bemestar social e Grande Depressão década de 1930 na 1 2 34 hiperinflação na 12 ÁustriaHungria 1 2 3 4 5 autarquia econômica 12 3 4 5 67 8 autossuficiência semiindustrial e 12 34 definida 12 dívida e 12 3 45 Europa se vira para a direita e 12 fascismo e 12 34 56 78 910 11 12 13 globalização e 19732000 1 23 na Alemanha 12 34 5 67 8 na Itália 1 2 3 45 6 7 na União Soviética 1 2 3 4 56 7 8 no mundo em desenvolvimento 12 34 políticas de 12 automóveis 1 2 3 4 5 67 8 9 agricultura e 12 colonialismo e 12 especialização e 12 3 Feira Internacional de Nova York e 12 financiamento de 12 765832 globalização e 19732000 1 23 45 67 8 910 linha de produção e 12 34 multinacionais e 1 2 34 5 na União Soviética 1 2 novas corporações e 12 pósguerra 1 23 45 preço dos 1 2 34 protecionismo e 12 3 autossuficiência 12 34 em alimentos 1 2 industrial 1 23 4 56 ver também autarquia econômica aviões 12 3 45 6 7 Azerbaijão Bacha Edmar Bacia do Congo Bálcãs nações dos 1 2 34 ver também países específicos Bamberger Ludwig bananas 1 2 3 4 5 Banco Central Europeu Banco da França 1 2 3 Banco da Inglaterra 1 2 3 45 Banco de Compensações Internacionais Banco Interamericano de Desenvolvimento Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento ver Banco Mundial Banco Mundial Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvi mento 1 2 34 5 6 7 89 globalização e 19732000 12 345 6 7 8 910 bancosoperações bancárias 1 2 34 56 7 89 1011 desenvolvimento ver Banco Interamericano de Desenvolvimento Banco Mundial na Alemanha 12 3 padrãoouro e 1 2 3 45 67 766832 Estados Unidos 12 3 4 5 6 7 8 9 10 11 1213 14 15 16 má gestão e 12 Rothschild e 12 34 fracassos do 12 3 45 6 central 1 2 3 45 6 78 9 10 1112 1314 15 16 17 18 19 20 2122 23 24 25 26 27 2829 3031 3233 34 35 3637 3839 autarquia e 1 23 45 6 pânico e 12 34 56 globalização e 19732000 12 34 5 67 8 910 11 12 13 14 1516 1718 1920 2122 23 24 2526 2728 influência britânica e 1 2 34 56 7 89 Bangladesh Bankhaus Herstatt Barbie boneca Baring Brothers 1 23 4 Barreiras Não Tarifárias BNTs 1 23 Baruch Bernard batatas 1 2 3 Batista Fulgêncio Batlle y Ordóñez José bauxita Bavária 1 2 Bayer Bélgica 1 2 3 4 colonialismo da 12 comunistas na Estado de bemestar social e globalização e 19732000 12 Grande Depressão e década de 1930 12 3 45 67 indenizações da Alemanha e 1 2 livrecomércio da 12 manufatura na 1 2 34 5 na Comunidade Europeia 12 padrãoouro na 1 2 34 5 6 7 8 Primeira Guerra Mundial e 12 3 4 5 6 protecionismo da 12 3 sindicatos trabalhistas na 12 34 767832 sistema Bretton Woods e 12 3 4 socialdemocracia na 1 23 Belgrado Bell Labs 1 2 Bell Clive Bell Vanessa Belmont Jr August Belmont August né Schönberg 12 3 bemestar social bens de consumo duráveis 1 2 3 4 5 67 após a Segunda Guerra Mundial 12 34 5 6 bens de consumo não duráveis 1 2 34 Berlim 1 2 3 4 Beveridge sir William Bevin Ernest bicicletas 1 2 3 4 Bielorrússia Bismarck Otto von Blair and Company Bleichröder Arnhold e S Bleichröder Gerson Blum Léon Bogra Muhammad Ali bolcheviques 1 2 3 borracha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 do Congo 12 indústria automobilística e 1 23 preço da 1 2 3 Botsuana 1 2 Brandeis Louis Brasil 1 2 3 4 5 6 7 aço no 1 2 3 4 açúcar no 1 23 4 algodão no 1 2 3 autarquia no 1 2 3 automóveis no 12 3 borracha no 768832 café no 1 2 3 45 6 7 8 9 10 11 Cardoso Fernando Henrique e 12 cultivos progressistas versus reacionários no 12 dívida do 1 2 ferrovias no 1 2 3 globalização e 19732000 12 34 5 6 7 8 910 11 12 13 14 imigração para o 1 2 inflação no453 1 2 3 manufatura do 1 2 3 4 56 78 9 1011 Nordeste do 1 2 3 4 5 padrãoouro e 1 2 3 4 protecionismo do 1 2 3 4 5 6 78 substituição de importação no 12 34 Sul do 12 3 Bratton Michael BresserPereira Luiz Carlos Breve tratado sobre a reforma monetária Keynes Brezhnev Leonid I 1 2 3 4 Brüning Heinrich Bruxelas conferência monetária em 1920 Bryan William Jennings 1 2 3 Budapeste Buenos Aires 1 2 3 Bulgária 1 2 3 4 5 6 agricultura na comércio da Alemanha com a fascismo na 1 2 3 manufatura na 1 2 3 4 socialismo na 12 3 Burma 1 2 3 4 5 6 7 Burns Arthur Burundi Bush George HW cacau 1 2 3 4 5 preço do 1 2 3 4 5 6 7 café 1 2 3 45 6 7 8 9 10 11 12 769832 como cultivo progressista 12 preço do 1 2 3 4 5 6 7 Câmara dos Comuns Inglaterra Câmara dos Representantes Estados Unidos 1 23 Camboja 1 2 Cambridge Union câmeras 1 2 3 Caminho para Wigan Pier O Orwell Camp David 12 camponeses 12 3 4 5 na China 12 3 soviéticos 1 2 34 56 Canadá 1 2 3 4 5 6 agricultura no 12 3 crescimento econômico no 1 23 4 especialização no 12 Estado de bemestar social e exportação norteamericana de ovos para o globalização e 19732000 1 2 3 4 5 67 Grande Depressão no década de 1930 12 3 imigração para o 1 2 3 4 investimentos estrangeiros no 1 2 3 4 manufatura no 1 2 3 4 Nafta e 1 2 3 padrãoouro e produtividade no 1 2 protecionismo no 1 2 3 4 Segunda Guerra Mundial e 1 2 sistema de Bretton Woods e 1 2 Canal de Suez Canisius Edgar capital 1 2 34 56 78 910 11 12 autarquia e 1 23 45 da GrãBretanha 1 2 34 56 7 declínio na movimentação de 12 3 em áreas de colonização recente 12 especialização e 12 3 45 6 770832 globalização e 19732000 12 34 56 má gestão e 1 23 na Suécia na teoria de comércio de HeckscherOhlin 1 2 3 45 no boom dos anos 1920 12 34 no teorema de Stopler e Samuelson 12 opinião de KeynesWhite sobre 12 pósguerra 12 3 4 5 Primeira Guerra Mundial e 1 2 3 produtividade e 12 sistema de Bretton Woods e 12 34 5 6 78 910 1112 1314 socialdemocracia e 12 substituição de importação e 12 capitalismo global como escolha 1 2 possibilidades de reforma social e 12 problemas do 12 capitalismo global antes de 1915 12 34 56 ameaças ao 12 apoio dos intelectuais ao 12 britânicos tomados pelo 12 34 colapso do 1 23 45 como clube de cavalheiros 12 3 45 desenvolvimento do livrecomércio e 12 em áreas de colonização recente 12 fracassos de desenvolvimento e 1 2 34 Grande Depressão e década de 1930 12 histórias de sucesso do 12 no início do século XX 12 padrãoouro e 12 3 45 redes globais e 12 triunfo do 12 capitalistas de bemestar 12 Cárdenas Lázaro Cardoso Fernando Henrique 12 Caribe 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 protecionismo no 12 771832 ver também países específicos Caritas carne 12 34 5 6 ver também carne bovina carne bovina 1 2 3 4 5 6 Carr EH 1 2 Carta do Atlântico cartéis 1 2 34 56 78 9 1011 Carter Jimmy 1 23 4 carvão 1 2 3 4 56 7 8 indústria automobilística e 1 2 relações francogermânicas e 1 23 salários e Cassel Gustav 12 Castro Fidel católicos romanos 1 missionários católicos 2 Partido Católico da França 14 Pontos Woodrow Wilson 12 Cazaquistão Ceilão 1 2 chá 1 2 3 Chamberlain Joseph 1 2 3 45 Chamberlain Neville 12 Chase Bank Chevrolet 1 2 Chiang Kaishek Chicago Illinois 12 3 45 Convenção Democrática Nacional em 1896 12 Chile 1 23 4 5 67 Allende no 12 3 autarquia no 1 2 3 4 cobre no 1 2 34 5 6 educação no globalização e 19732000 12 3 4 livrecomércio e 1 2 nitrato no 1 2 3 substituição de importações no 1 23 4 56 7 772832 Chiluba Frederick China 1 2 3 4 agricultura na 12 34 56 78 autarquia na 1 23 classe dominante na 12 comunistas na1 2 34 56 crescimento econômico na 12 34 emigração da 1 2 3 45 67 89 ferrovias na 12 fracasso desenvolvimentista da 12 34 5 67 89 globalização 19732000 e 12 34 5 6 7 89 1011 12 1314 1516 17 guerra civil na 1 2 Guerra dos Boxers na integração econômica rejeitada na 1 2 34 má gestão na 12 manufatura na 1 2 3 4 5 67 89 moeda lastreada na prata da 1 2 o Grande Salto Adiante na 12 3 4 protecionismo na reforma de orientação ocidental relações do Japão com a 1 23 4 5 67 89 relações soviéticas com a 12 3 Revolução Cultural na 12 revolução na 1 2 3 45 socialismo na 12 34 56 78 9 Chrysler 1 2 3 4 Chung Hee Park Churchill Winston 1 2 3 4 ciclos econômicos visão tradicional de 12 ver também depressão Grande Depressão década de 1930 hiperin flação inflação recessão cimento 1 23 4 5 Cingapura 1 2 3 4 56 7 classe média 1 2 3 4 56 7 8 9 10 11 12 alemã 1 2 773832 autarquia e 1 2 3 4 5 6 7 8 910 extremadireita e 12 globalização e 19732000 12 3 inflação e 1 2 3 no bloco soviético 12 classes trabalhadoras ver trabalho sindicatos trabalhistas Cleveland Grover Clinton Bill 1 2 Cobden Richard 1 cobre 1 2 3 4 56 7 8 9 10 11 como moeda na Zâmbia 1 23 no Chile 1 2 34 5 6 7 8 9 preço do 12 3 4 5 6 7 CocaCola colapso de 1929 Colgate Collor de Mello Fernando Colômbia autarquia na café na 1 2 3 4 5 6 7 8 manufatura na 1 2 Colônia do Cabo 12 colonialismo 1 23 45 67 8 9 10 11 autarquia e 12 34 56 colapso do 12 colonos 12 34 5 6 comércio preferencial e 12 34 56 78 9 10 11 concessões comerciais e enclaves extrativistas e 12 34 investimentos estrangeiros e livrecomércio e mercantilismo e 12 3 4 5 Primeira Guerra Mundial e subdesenvolvimento e 12 34 visão da Cepal e 774832 Comecon ver Conselho de Assistência Econômica Mútua comércio barreiras ao 1 2 34 5 6 7 89 1011 1213 ver também protecionismo tarifas preferenciais 12 34 56 78 9 10 11 1213 14 15 redução de barreiras ao 1 2 3 4 5 67 8 910 1112 13 14 ver também livrecomércio comércio internacional comércio internacional 12 34 56 78 após a Primeira Guerra Mundial 1 23 autarquia e 1 23 45 67 89 custos de transporte e 1 23 declínio do 12 34 globalização e 19732000 12 34 56 78 910 Grande Depressão e década de 1930 12 34 56 78 mercantilismo e 1 2 padrãoouro e 1 23 45 pósguerra 12 34 56 Primeira Guerra Mundial e 12 Segunda Guerra Mundial e 12 34 sistema Bretton Woods e 12 34 56 7 89 1011 1213 1415 socialdemocracia e 12 subdesenvolvimento e 123 teorema de StolperSamuelson para 12 teoria de HeckscherOhlin sobre 12 3 45 vencedores e perdedores no 12 ver também livrecomércio Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe Cepal 12 Comissão Trilateral 12 Comitê Central Chinês 1 23 Comitê de Ação para os Estados Unidos da Europa Comitê de Planificação Estatal Gosplan 12 Comitê para Organização Industrial CIO Comitê Organizador dos Metalúrgicos do 12 Companhia Holandesa das Índias Orientais 1 2 Companhia Britânica da África do Sul Companhia Britânica das Índias Orientais 1 2 computadores 1 2 3 45 67 89 1011 775832 internet e 1 2 multinacionais e 1 2 comunicação 1 2 3 4 56 7 8 910 globalização e 19732000 12 34 telégrafo e 1 2 34 ver também telefones Comunidade Econômica Europeia ver Mercado Comum Comunidade Europeia CE Comunidade Europeia de Energia Atômica Euratom Comunidade Europeia do Carvão e do Aço Ceca suma autoridade da comunismocomunistas 1 23 45 6 78 9 1011 1213 colapso do 12 34 como resultado lógico da teoria clássica 12 descolonização e 12 globalização e 19732000 1 2 34 56 7 8 910 1112 1314 1516 17 1819 goulash 12 na Alemanha 1 2 3 4 na China 1 2 34 56 na França 1 2 3 na União Soviética 1 23 4 5 6 78 910 pósguerra 12 3 4 56 78 9 10 11 1213 Conan Doyle sir Arthur Conferência da Economia Global 1933 Conferência de Bandung 1955 Conferência de Paz de Paris 12 34 Congo Congo República Democrática do Congo The Lindsay 12 Congresso dos EUA 1 2 3 4 5 Acordo de Bretton Woods e 1 2 New Deal e papel dos EUA limitado pelo 1 23 protecionismo e 1 23 4 5 6 7 Segunda Guerra Mundial e 12 34 Congresso Nacional Africano CNA 776832 Congresso Nacional Africano da Zâmbia Zanc Connally John 1 2 Conselho de Relações Internacionais Conselho para Assistência Econômica Mútua Comecon 1 2 34 5 divisão tecnológica e 12 Consenso de Washington 12 Consequências econômicas da paz As Keynes Consequências econômicas de mr Churchill As Keynes construção civil 12 34 5 6 7 8 socialdemocracia e 1 2 consumidoresconsumo 1 23 45 67 8 9 1011 autarquia e 1 2 34 5 67 de massa 1 2 1875 3 4 5 empréstimo parcelado e 12 globalização e 19732000 1 2 3 45 Grande Depressão e 1 23 lealdade de 12 na União Soviética 12 preços do petróleo e 1 2 contratos 12 34 controle de preços controle de salários Coolidge Calvin cooperação internacional 12 34 56 socialdemocracia e 1 23 Coreia 1 2 comunistas na globalização e 19732000 1 23 manufatura na ver também Coreia do Norte Coreia do Norte socialismo na 12 3 45 Coreia do Sul 1 2 automóveis e 1 2 crescimento econômico na 1 2 34 globalização e 19732000 12 34 56 78 910 1112 13 14 Índia comparada com 12 3 777832 manufatura na 12 3 45 67 Zâmbia comparada com corporações 1 23 45 autarquia e 1 2 dos EUA 1 2 3 45 estatais 1 23 fascismo e 12 3 globalização e 19732000 12 3 45 67 89 10 1112 1314 1516 multinacionais ver corporações multinacionais novas do período entreguerras 12 34 56 78 seguro social e 12 corporações fascistas 12 corporações multinacionais 1 23 4 5 6 globalização e 19732000 1 23 45 pósguerra 12 34 razões para a proliferação das 1 23 Corte Suprema Estados Unidos Costa do Marfim 1 2 3 4 Costa do Ouro Costa Rica Creditanstalt 12 crédito 12 3 45 6 7 crescimento econômico 12 3 45 6 78 autarquia e 1 23 45 baseado na exportação 12 34 5 67 especialização e 12 34 fracassos do desenvolvimento e 1 2 34 globalização e 19732000 1 2 mercantilismo e 1 2 nos trópicos 12 planificação econômica e 12 ver também países específicos crise de poupança e empréstimos crise de Suez 1956 cristianismo 12 3 45 Cuba 1 2 3 4 açúcar em 1 2 3 778832 manufatura em socialismo em 12 Curaçao Daewoo Danatbank 2187 Davis Norman De Beers Mining Company mineração de Gaulle Charles 1 2 3 4 década de 1920 12 Declaração de Bandung declínio de preços na Grande Depressão da década de 1930 1 23 45 67 89 1011 na Grande Depressão de 187396 12 3 padrãoouro e 1 2 34 56 7 déficits orçamentários 12 3 4 56 7 globalização e 19732000 12 34 56 78 na Suécia New Deal e 12 opinião de Keynes sobre 12 deflação da dívida 12 779832 demanda estímulo da 1 23 democracia popular globalização e 19732000 12 34 56 7 89 1011 1213 na América Latina 1 2 34 56 78 na Índia 1 2 3 no Japão 1 2 no período entreguerras 12 34 56 7 8 9 10 1112 ver também socialdemocracia democratascristãos 12 3 45 67 8 910 Departamento de Energia dos EUA Departamento de Estado Estados Unidos 1 2 depressão econômica 12 3 ver também Grande Depressão década de 1930 derivados do leite 1 2 34 5 Desafio Americano O ServanSchreiber descolonização 12 34 56 7 8 910 11 12 desemprego 1 23 45 da década de 1930 1 2 3 4 56 78 910 11 1213 14 15 1617 globalização e 19732000 1 2 3 4 56 7 8 9 10 1112 13 1415 sistema de Bretton Woods e 12 3 45 6 7 ver também países específicos despesa superior à receita ver déficits orçamentários desregulamentação 12 34 diamantes 1 2 3 4 Díaz Alejandro Carlos Díaz Porfírio Dinamarca 1 2 Estado de bemestar social e a globalização e 19732000 12 34 56 na guerra da manteiga 12 na Comunidade Europeia socialdemocracia na 1 2 dinheiro 1 23 4 estabilidade do 1 2 34 56 78 910 11 impressão de 1 2 3 45 6 78 9 10 papel 1 2 34 5 67 8 910 ver também moeda moedas específicas direitos de propriedade 1 23 4 56 78 910 direitos humanos 1 23 distribuição corporativa 1 2 3 4 dívida 1 2 3 45 67 89 1011 autarquia e 12 3 45 calote da 1 23 45 67 8 910 1112 1314 corporativa 12 globalização e 19732000 12 34 56 7 8 9 1011 1213 1415 16 Grande Depressão e década de 1930 1 23 4 56 78 9 1011 1213 inflação e padrãoouro e 1 2 3 45 67 Primeira Guerra Mundial e 12 34 5 67 8 9 10 Segunda Guerra Mundial e 12 ver também déficits de orçamento divórcio dólar canadense 1 2 34 dólar norteamericano 1 23 45 6 7 89 1011 1213 1415 globalização e 19732000 12 34 5 67 89 Grande Depressão e década de 1930 12 34 56 78 9 grande valorização do sistema de Bretton Woods e 12 3 45 67 8 Domínios Brancos ver Austrália Canadá Nova Zelândia África do Sul Douglas Lewis Doutrina Truman Dresdner Bank Du Pont 1 2 3 4 du Pont Pierre Dulles John Foster 1 2 3 4 dumping 1 2 3 45 6 7 8 Eastman Kodak 1 2 3 4 Eccles Marriner economia clássica 12 3 4 5 67 após a Primeira Guerra Mundial 1 2 como aliada do marxismo 12 781832 países semiindustriais e 12 Schacht e a 12 3 45 economia neoclássica 1 2 3 economias de escala 1 23 45 67 Edison Thomas educação 12 34 56 78 910 fracassos do desenvolvimento e 12 3 4 globalização e 19732000 1 2 34 5 eficiência 1 2 34 5 6 78 910 Egito 1 2 3 4 5 algodão no 12 3 autarquia no 12 3 crescimento econômico no crise de Suez e educação no manufatura no 1 2 protecionismo no Eichengreen Barry Einstein Albert El Salvador 1 2 3 Electrolux eleições EUA 1 2 3 45 67 8 9 1011 de 1896 12 3 45 6 de 1932 1 2 3 4 eletricidade 12 34 56 78 910 1112 13 14 1516 feiras internacionais e 12 3 4 manufatura e 12 3 4 Emergency Comitee for American Trade Emirados Árabes Unidos emprego aumento do 12 34 criação de postos de trabalho e 1 23 45 pleno 1 23 4 5 67 89 10 1112 13 substituição de importações e 12 empresa de exploração empresas multinacionais MNC 12 3 energia atômica 782832 Engels Friedrich 1 2 epidemia de Aids 1 2 pósguerra 19391973 12 Acheson e 12 34 5 6 bloco soviético na 12 34 56 descolonização e desenvolvimento no 12 reconstrução no ver reconstrução socialismo em vários países no 12 34 56 ver também sistema de Bretton Woods Eritreia Escandinávia 1 2 3 4 automóveis na Grande Depressão na década de 1930 12 3 45 67 89 sindicatos trabalhistas na 12 34 5 socialdemocracia na 12 3 45 67 89 ver também países específicos Escola de Estocolmo escravidãocomércio de escravos 12 34 5 abolição da 12 34 Eslováquia Eslovênia Espanha 1 2 3 4 5 6 78 9 agricultura na autarquia na colonialismo da 1 2 3 4 fascismo na 1 2 globalização e 19732000 1 2 34 5 6 78 manufatura na 1 2 especialização crescimento e 12 globalização e 19732000 12 34 na teoria de comércio de HeckscherOhlin 12 3 novas corporações e 12 34 vantagem comparativa e 12 34 Estado de bemestar social 12 34 56 globalização e 19732000 sistema de Bretton Woods e o 1 23 783832 socialdemocracia e 12 3 45 67 Estado Livre de Orange 12 Estado Livre do Congo 12 Estados falidos 1 2 3 Estados Unidos 1 23 4 5 6 78 9 1011 1213 14 1516 17 agricultura nos 1 2 34 5 6 7 8 910 1112 13 1415 1617 18 19 2021 2223 24 2526 27 2829 30 31 3233 34 América Latina comparada com os 1 23 automóveis nos 1 2 34 56 7 8 910 1112 choque do petróleo e 12 confiança nos fundos internacionais pelos 12 conflitos seccionais nos 12 3 4 Congo Belga e 1 2 3 corporações multinacionais dos 12 34 5 67 89 crise do Suez e crise dos empréstimos e poupança nos depressões nos 1 2 34 56 78 910 descolonização e os 12 desemprego nos 12 34 56 78 9 1011 1213 1415 dívida dos 1 23 4 56 78 910 educação nos 1 23 Estado de bemestar social nos 12 globalização e 19732000 12 34 56 7 8 910 11 12 1314 1516 imigração para os 1 2 34 interesses coloniais e imperiais dos 1 23 4 5 67 interesses dos Rothschild nos 12 3 investimento estrangeiro dos 1 23 4 56 7 8 910 11 1213 14 15 16 1718 19 20 2122 investimento estrangeiro nos 1 2 isolacionismo e 12 34 5 67 89 10 11 1213 1415 1617 1819 Japão comparado com os 12 3 manufatura nos 1 2 34 5 67 8 9 10 11 1213 14 15 16 1718 1920 2122 23 24 2526 2728 2930 3132 33 34 35 36 37 3839 4041 4243 4445 mineração nos 12 34 5 67 8 9 na década de 1920 12 34 784832 Nafta e 1 2 34 New Deal e ver New Deal Oeste dos 12 34 56 padrãoouro e 1 2 3 4 5 6 78 910 11 1213 1415 1617 18 1920 2122 2324 pânicos financeiros nos 1 23 papel de liderança dos 12 34 56 78 910 1112 papel econômico de Eccles nos 12 Primeira Guerra Mundial e 1 23 45 6 produtividade nos 12 protecionismo dos 1 2 34 56 78 910 1112 13 1415 16 17 1819 2021 22 23 24 25 26 2728 2930 3132 33 34 35 3637 38 39 4041 4243 44 relações de Cuba com os 12 relações soviéticas com os 12 34 5 salários nos 12 3 4 5 67 8 9 10 1112 13 1415 Segunda Guerra Mundial e 12 34 sindicatos trabalhistas nos 1 23 45 67 8 910 sistema de Bretton Woods e 12 34 56 78 9 10 11 1213 1415 1617 socialdemocracia nos 1 23 45 Sul dos 1 23 45 6 78 910 11 12 trustes nos 12 União Soviética comparada com os 12 ver também eleições nos Estados Unidos governo dos Estados Unidos estagflação estanho 1 2 3 Estônia 1 2 3 4 5 6 7 Etiópia 1 2 3 4 5 euro 12 34 56 78 Europa 12 automóveis na 1 2 3 4 5 boom dos anos 1920 na 12 consumo na emigração da 12 34 5 67 investimentos dos EUA na 12 34 785832 pobreza na reconstrução após a Segunda Guerra Mundial 12 Sul da 12 3 4 56 78 9 10 11 1213 ver também países específicos Europa Central 12 comércio da Alemanha com a fascismo na 1 2 3 4 56 7 8 globalização e 19732000 12 3 4 5 6 78 9 10 Grande Depressão na década de 1930 1 23 45 no bloco soviético 12 34 pósguerra 1 2 34 56 Segunda Guerra Mundial na socialismo na 12 3 45 ver também países específicos Europa ocidental 1 23 4 5 6 7 8 910 11 12 13 1415 América Latina comparada com a 1 23 comunistas na consumo na 1 2 efeitos da Segunda Guerra Mundial sobre a 12 34 fascismo na 12 globalização e 19732000 1 23 45 67 89 10 11 1213 1415 16 1718 greves na investimento estrangeiro na produtividade na reconstrução da 12 34 5 67 8 relações soviéticas com a sindicatos trabalhistas na 12 sistema de Bretton Woods e 12 34 56 ver também países específicos expectativas investimento e 12 exportações 1 23 45 67 89 10 11 1213 14 autarquia versus 12 3 45 67 8 colonialismo e 1 2 3 4 cortes dos salários e 12 crescimento econômico baseado nas 12 34 5 67 da Dinamarca 786832 da Grã Bretanha 1 2 3 4 da Suécia 1 2 da União Soviética e bloco 12 do Japão 12 3 4 5 6 7 8 9 dos Estados Unidos 1 2 34 5 6 78 910 11 1213 14 15 16 17 18 19 20 21 globalização e 19732000 1 2 3 45 67 8 9 1011 1213 14 15 1617 18 19 limitações voluntárias das 12 livrecomércio e 12 34 5 6 78 910 1112 na teoria de comércio de HeckscherOhlin 12 3 45 no teorema de Stopler e Samuelson 12 Primeira Guerra Mundial e 1 2 reconstrução no pósguerra e 12 3 sistema de Bretton Woods e 1 23 45 6 78 visão econômica clássica das 12 Exposição Universal de Paris 1900 12 Exxon Faisal príncipe fascismo 1 23 45 67 89 1011 1213 1415 16 autarquia e 12 34 56 78 9 10 11 12 13 contradições na retórica do 12 ordem econômica do pósguerra e 12 3 repressão e sucesso expansionista do típica base de apoio do 12 trabalho e 12 3 4 56 78 Fashoda fazendas coletivas 1 2 3 45 Federal Reserve 1 2 3 4 5 6 7 8 9 taxa de juros e 1 2 34 Federal Reserve Act Federal Reserve Bank de Nova York 1 2 Feenstra Robert Feira Internacional de Nova York 12 Feis Herbert 787832 ferro 1 23 4 5 6 7 8 9 10 11 12 autarquia e 1 23 cartéis e indústria automobilística e 1 2 preço do 12 3 ferrovias 1 2 3 4 5 6 7 89 10 11 1213 1415 16 17 18 19 20 2122 2324 25 26 27 2829 automóveis comparados com em áreas de colonização recente 1 23 45 investimento britânico em 12 34 na Índia 1 2 3 4 fertilizante 1 2 3 4 5 Feuerwerker Albert Fiat 1 2 3 Fiji Filadélfia Filenes Filipinas 1 2 3 4 5 6 7 açúcar nas 12 globalização e 19732000 1 2 34 56 independência das 12 manufatura nas 1 2 finanças internacionais 1 2 3 45 67 89 10 11 1213 14 15 globalização e as 19732000 12 34 56 7 Grande Depressão e as década de 1930 12 padrãoouro e as 12 34 56 pósguerra 12 Rothschild e as 12 sistema de Bretton Woods e as 1 23 socialdemocracia e as 12 ver também capital investimento estrangeiro Finlândia 1 2 3 4 5 Estado de bemestar social e globalização e 19732000 12 3 4 5 Fisher Body 1 Fisher Irving Flandres 788832 fonógrafos 1 2 3 4 5 Ford Modelo A 1 2 Ford Modelo T 1 2 3 4 Ford Motor Company 1 2 34 56 como multinacional 1 23 45 ver também Ford Modelo A Ford Modelo T Ford Gerald Ford Henry 1 2 3 fordismo Forster EM Fourth World França Livre França 1 2 34 5 agricultura na 1 23 automóveis na 1 2 3 Banco Central da 1 2 34 choques do petróleo e 1 2 34 colonialismo da 1 2 34 5 67 89 10 1112 comércio da 1 2 3 comunistas na 1 2 3 crise do Suez e desemprego na eleições na Estado de bemestar social na 12 Exposição Universal de Paris 1900 12 Frente Popular na 1 2 3 4 5 globalização e 19732000 1 2 3 45 67 Grande Depressão década de 1930 e 1 23 45 67 89 greves na indenizações alemãs e 1 2 34 56 investimentos estrangeiros e 1 23 45 manufatura na 1 2 3 4 5 6 na Comunidade Europeia 12 nas Guerras Napoleônicas padrãoouro na 1 23 4 56 7 89 1011 pósguerra 12 34 5 6 7 8 Primeira Guerra Mundial e 1 2 3 4 5 67 8 789832 produção de aço na 12 34 56 protecionismo na 1 2 3 4 56 rádio na relações da Alemanha com a 1 23 Rothschild na 1 2 Segunda Guerra Mundial e 12 3 45 6 sindicatos trabalhistas na 1 2 sistema Bretton Woods e 1 2 3 4 5 67 8 9 socialdemocracia na 12 socialismo na 1 23 45 67 franco francês 1 2 34 5 Franco Francisco Franklin National Bank Fraser Leon 1 2 Freeman Richard Frente Popular chilena Frente Popular espanhola Frente Popular francesa 1 2 3 45 frentes de trabalho 12 3 Friedman Milton fundo Double Eagle Fundo Monetário Internacional FMI 1 23 45 6 7 8 9 globalização e 19732000 12 34 56 7 89 10 11 12 1314 fundos de investimentos faça fortuna rápido 12 fusões e aquisições 1 2 34 Futurama Gabão 1 2 Gana 1 2 3 globalização e 19732000 1 2 3 Gandhi Indira 1 2 Gandhi Mohandas K Mahatma 1 2 General Electric 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 General Motors GM 1 2 1798 3 4 5 6 como multinacional 12 34 56 sindicatos trabalhistas e 12 General Motors Acceptance Corporation 790832 Gênova conferência monetária em 1922 Gent sindicatos trabalhistas em 12 Geórgia 1 2 Gierek Edward Gillette globalização 19732000 12 a equiparação dos países e 12 ameaça de competição e 12 como não governada versus indesejada 12 conclusão sobre a 12 contrachoque de Volcker e 12 crescimento voltado para a exportação e 12 crise e mudança na 12 críticas e protestos contra 12 34 decepções com reformas e transições e 12 desastres do desenvolvimento e 12 finanças e crises financeiras nacionais e 12 fragilidade financeira e 12 mudança tecnológica e 12 o choque do petróleo e outros choques e 12 os países que ficaram para trás e 12 produção e especialização e 12 34 regionalismo e 12 34 Soros e 12 34 triunfo da 12 Golden Fetters Eichengreen Gomulka Wladyslaw 1 2 Goodyear pneus e borracha 1 2 Gorbachev Mikhail Göring Hermann 1 2 Gourevitch Peter 1 2 3 governo 1 23 alívio insuficiente pelo 12 autarquia e 12 34 56 78 910 capitalismo global e antes de 1915 1 23 4 5 6 7 89 compensação de desemprego pelo 12 déficit superior à receita e 12 791832 globalização e 19732000 12 34 56 7 89 1011 12 13 1415 1617 1819 Grande Depressão e década de 1930 1 23 4 5 67 89 1011 1213 má gestão e 12 perda de confiança no 12 planificação econômica e ver planificação econômica sistema de Bretton Woods e 12 socialdemocracia e 12 substituição de importações e 12 3 governo dos Estados Unidos dívida externa aos 12 34 56 Grande Depressão e década de 1930 1 23 45 67 pouca participação econômica do 12 34 Primeira Guerra Mundial e 12 34 GrãBretanha 12 34 56 7 8 910 agricultura na 1 2 34 5 Banco Central da 1 2 3 45 choques do petróleo e 1 2 comércio de Portugal com a 12 colonialismo da 1 2 34 5 909 6 7 89 1011 1213 14 1516 1718 19 2021 2223 24 25 crise de Suez e desemprego na 1 2 3 4 56 educação na eleições na 1 2 3 45 especialização na 12 34 Estado de bemestar social e 12 Estados Unidos comparado com a 1 23 estrutura social da globalização e 19732000 1 2 3 4 56 78 9 10 11 1213 14 Grande Depressão na década de 1930 1 2 34 56 78 indústria automobilística na 1 23 45 inflação na influência sociocultural da 12 3 investimento estrangeiro da 12 3 45 6 78 910 11 12 liderança econômica da 12 34 56 78 792832 livrecomércio questionado na 12 manufatura na 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1011 12 1314 15 16 17 18 1920 mineração na na Comunidade Europeia 12 nas Guerras Napoleônicas 1 2 no boom dos anos 1920 12 padrãoouro na 1 2 34 5 67 89 10 11 1213 papel do governo na 12 34 56 Primeira Guerra Mundial e 12 3 45 protecionismo na 1 2 3 4 56 78 9 10 1112 13 14 15 16 17 18 rádio na reconstrução na 12 34 rotas de comércio através das fronteiras e 12 salários na 1 2 34 Segunda Guerra Mundial e 12 3 4 5 6 7 sindicatos trabalhistas na 1 2 sistema de Bretton Woods e 12 34 5 67 89 1011 1213 socialdemocracia na 1 2 34 triunfo do livrecomércio na 12 3 4 5 67 8 Granada Grande Depressão década de 1930 1 23 4 5 6 7 89 10 1112 1314 autarquia e 12 34 capitalismo global antes de 1914 e 12 falências durante a 12 34 56 início da 12 3 Keynes e 12 34 5 67 89 movimentos trabalhistas e 1 2 3 4 56 78 novos esforços políticos durante a 12 34 ouro e 12 3 45 67 recuperação após a 1 23 45 6 78 910 socialdemocracia e 12 Grande Depressão de 187396 12 34 56 7 8 910 Grande Esfera da Ásia Oriental Grant Ulysses S grãos 1 2 3 4 56 7 8 910 793832 especialização e 1 2 3 4 livrecomércio e na União Soviética 1 23 produtividade e 1 2 34 ver também trigo Grécia 1 2 3 4 ajuda dos Estados Unidos à comércio da Alemanha com a fascismo autárquico na 1 2 3 45 globalização e 19732000 1 23 45 Greeley Horace greves 12 3 4 56 7 89 10 na Polônia 1 2 Grupo de Bloomsbury 1 2 Grupo de Oslo Grupo dos Sete 1 23 Guatemala 1 2 3 Guerra Civil NorteAmericana 1 2 3 Guerra da Coreia 1 2 3 guerra da manteiga 12 Guerra do Vietnã Guerra dos Bôeres 1 23 Guerra dos Boxers 18991900 Guerra Fria 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Guerra RussoJaponesa 1904 1 2 guerras civis 1 2 3 45 6 7 8 910 11 guerras de comércio 1 23 45 Guerras Napoleônicas 1 2 3 4 5 Guilherme kaiser da Alemanha 1 2 3 Guiné Francesa Haile Salassiê imperador da Etiópia Haiti Halsey Margaret Hanyang Ironworks siderúrgica Harriman Averill Hay John 794832 Hemingway Ernest 1 2 hindus hiperinflação 12 3 45 67 Hitler Adolf 1 2 3 4 5 6 conspiração contra Schacht comparado com Hobbes Thomas Hoffa James Holanda 1 2 34 5 6 7 agricultura na colonialismo da Estado de bemestar social e 12 globalização e 19732000 1 2 34 5 livrecomércio da na Comunidade Europeia 12 3 45 6 padrãoouro na 1 23 45 6 protecionismo da sistema de Bretton Woods e 12 3 45 6 socialdemocracia na 12 holding sociedade de ações e participações 1 2 3 homossexualidade 1 23 Honda Honduras Hong Kong 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Hoover Herbert 1 2 3 4 5 6 7 8 na eleição de 1932 Horthy Miklós Hudsons Bay Company Hull Cordell 1 2 3 humanismo 12 Hume David Hungria 1 23 agricultura na comércio da Alemanha com a 1 2 comunismo na 1 2 fascismo na 1 2 globalização e 19732000 1 2 34 56 795832 hiperinflação na 12 3 45 manufatura na 1 2 3 na Grande Depressão década de 1930 1 2 pósguerra 1 2 3 45 67 revolta anticomunista na 1 2 socialismo na 12 3 45 67 IBM 1 2 3 Ibsen Henrik Iêmen 1 2 3 iene japonês 1 23 IG Farben Ilhas Maurício imigração 1 2 3 4 5 6 78 910 1112 1314 colônias de povoamento versus especialização e 1 2 34 restrição à 12 34 56 7 Império Otomano 1 23 4 5 6 7 importação 1 2 3 4 56 7 8 9 1011 1213 da Dinamarca na teoria de comércio de HeckscherOhlin reconstrução pósguerra e no teorema de StolperSamuelson cortes de salários e 1 23 Grande Depressão e década de 1930 12 34 56 autarquia e 1 2 3 45 Segunda Guerra Mundial e 12 de alimentos 12 34 56 soviéticas 12 globalização e 19732000 1 23 45 67 8 9 1011 1213 dos Estados Unidos 1 2 3 4 5 6 78 9 10 visão econômica clássica da 12 da GrãBretanha 1 2 34 importância de ser prudente A Wilde impostos 1 23 4 5 6 78 9 10 1112 1314 15 16 1718 aumento dos cortes nos 12 796832 dumping e 12 na Alemanha 1 2 petróleo e 1 2 sobre lucros sobre trabalho 1 2 socialdemocracia e 1 23 45 substituição de importações e 1 2 3 4 56 78 Índia agricultura na 12 3 4 algodão na 12 autarquia na 1 2 3 45 automóveis na China comparada com a 1 2 34 crescimento econômico na 12 34 educação na 12 34 emigração da 1 23 45 67 ferrovias na 1 23 45 6 fracassos do desenvolvimento da 12 34 56 globalização e 19722000 12 34 5 6 7 independência da 1 2 3 45 investimento estrangeiro na 12 34 má gestão na 12 manufatura da 12 34 moeda da lastreada na prata 1 2 3 nacionalismo na 12 padrãoouro e 1 23 protecionismo na 1 23 45 6 7 socialismo na 1 2 34 substituição de importações e 1 23 4 56 Indian Currency and Finance Keynes Índias Orientais Holandesas 1 2 índice de Moody Indochina 1 2 3 ver também países específicos Indonésia 1 23 4 comunistas na crescimento econômico na 797832 globalização e 19732000 12 3 4 56 78 manufatura na 1 23 petróleo na 12 indústria química 1 2 3 45 67 8 9 1011 1213 1415 alemã 1 2 34 pósguerra indústria têxtil 1 23 4 5 6 autarquia e 12 mudança tecnológica e 1 23 45 na GrãBretanha 1 23 45 6 na Índia 1 2 no Egito protecionismo e 12 34 56 industrialização por substituição das importações 1 23 45 67 8 910 1112 1314 15 adesão do Terceiro Mundo à 12 crises da 12 34 56 definida fim da 12 34 56 78 na América Latina 12 34 5 67 89 10 11 na Índia 12 3 4 56 socialismo comparado com 1 23 industrialização voltada para exportação 12 34 56 inflação 1 2 34 56 78 19732000 1 2 34 56 78 910 1112 1314 1516 1718 19 2021 22 2324 25 26 27 na era pósguerra 12 3 4 5 6 78 910 11 1213 14 Schacht e 1 23 45 6 substituição da importação e 12 3 visão de Hitler sobre a Iniciativa da Bacia do Caribe instabilidade social 12 34 56 7 8 9 1011 12 no bloco soviético 12 34 56 78 Primeira Guerra Mundial e substituição de importações e 12 34 ver também guerras civis greves integração vertical 12 798832 Intel Internacional Comunista internacionalismo 12 34 5 6 7 89 1011 12 1314 15 globalização e 19732000 1 23 na China 12 pósguerra 12 34 56 wilsoniano 12 34 International Harvester 1 2 34 International Telephone and Telegraph Company ITT Companhia In ternacional de Correios e Telégrafos 1 23 internet 1 2 investimento autarquia e 12 3 4 56 78 910 expectativas e 12 pósguerra 1 23 45 67 89 público versus privado 12 substituição de importação e 1 23 investimento estrangeiro 12 34 autarquia e 1 2 34 56 capitalismo global e 18961914 e 12 3 4 56 78 910 1112 1314 1516 1718 1920 21 2223 2425 26 27 28 2930 3132 33 3435 36 37 3839 4041 4243 44 corporações multinacionais e 12 34 direto IED 12 34 567 89 1011 1213 globalização e 19732000 12 34 56 78 910 1112 1314 1516 1718 1920 Grande Depressão e década de 1930 1 2 má gestão e 12 na década de 1920 12 34 padrãoouro e 12 34 56 78 910 11 Primeira Guerra Mundial e 12 3 4 56 Segunda Guerra Mundial e 1 23 sistema de Bretton Woods e 12 3 45 67 8 9 1011 investimento estrangeiro direto IDE 12 34 56 7 8 910 1112 Irã 1 2 petróleo do 1 2 relações dos Estados Unidos com o 1 2 799832 revolução islâmica no 1 2 Iraque 1 2 3 4 5 Irlanda 1 2 3 globalização e 19732000 1 2 3 45 na Comunidade Europeia 12 Israel 1 2 3 Itália 1 2 3 4 5 agricultura na 1 2 autarquia na 1 2 3 45 6 7 automóveis na colonialismo da 1 2 comunistas na 1 23 4 desemprego na especialização e 1 2 3 fascismo na 12 34 5 6 7 globalização e 19732000 1 2 34 5 67 Grande Depressão e década de 1930 12 34 5 6 imigração da 12 34 instabilidade social na 1 2 manufatura na 1 2 3 4 5 6 7 na Comunidade Europeia 12 padrãoouro e 12 produtividade na protecionismo na 12 3 reconstrução da 12 3 salários na 12 3 Segunda Guerra Mundial e 12 34 sindicatos trabalhistas na sistema de Bretton Woods e 1 2 3 socialistas na Iugoslávia 1 2 3 4 5 6 7 8 rompimento soviético com a socialismo na JP Morgan Co 1 2 3 4 5 Jamaica Jameson L Starr 1 2 800832 Japão 1 2 3 4 56 78 9 1011 agricultura no 1 2 autarquia no 1 2 34 5 6 automóveis no 12 3 4 colonialismo do 12 3 45 67 89 10 1112 1314 15 Coreia do Sul comparada com o 12 crescimento econômico pósguerra no 12 educação no 12 emigração do 12 34 exportações do 1 2 34 56 78 9 1011 12 1314 fascismo no 12 3 4 ferrovias no 12 34 globalização e 19732000 1 2 34 5 6 7 8 910 1112 13 1415 1617 Grande Depressão no década de 1930 1 23 4 56 78 investimento estrangeiro e 1 2 3 45 manufatura no 12 3 4 56 7 8 910 na Exposição de Paris 1900 padrãoouro e protecionismo no 1 2 3 4 56 reconstrução do 12 3 4 56 7 8 relações da Rússia com o 1 23 Segunda Guerra Mundial e 12 34 5 sistema Bretton Woods e 1 2 34 5 67 Takahashi no 1 23 Java Johnson Lyndon B Jones Joseph Jordânia jornalismo financeiro Jovens Turcos 12 judeus 1 2 3 45 6 78 alemães 1 2 ver também antissemitismo jurostaxa de juros 1 23 45 67 89 1011 1213 globalização e 1 23 45 67 8 910 11 12 1314 Grande Depressão e 12 34 56 78 910 1112 1314 801832 sistema de Bretton Woods e 1 2 3 4 5 67 89 Kádar Janos Kasai Company Kaunda Kenneth 1 23 Kemmerer Edwin Kennedy John F Keynes John Maynard 1 2 3 4 56 7 8 antecedentes de 12 Grande Depressão e década de 1930 12 34 5 67 89 nostalgia econômica de 12 relações e investimentos monetários internacionais pósguerra e 12 Schacht comparado com sistema de Bretton Woods e 12 3 4 socialdemocracia e 12 3 45 Keynes John Neville keynesianos 1 2 Khrushchev Nikita 1 2 3 4 Kikuyu Kindleberger Charles Kings Leopold Soliloquy Twain Klein Naomi Kollwitz Käthe Kollwitz Peter sobrinho Kollwitz Peter tio Kosygin Alexsei 1 2 3 4 Kuba 1 2 3 Kuomintang Kuwait petróleo do 1 2 3 45 6 78 9 10 1112 13 14 15 lã 1 23 4 laissezfaire 12 34 56 78 910 1112 13 Lamont Thomas 1 2 3 Lapsley Samuel 1 2 lavadoras de louça Lawrence Robert 802832 Lease Mary Elizabeth 1 2 Left Book Club Lei do Seguro Social 1945 1 23 Lei dos Acordos Comerciais Recíprocos 1934 12 3 45 Lei Nacional de Relações Trabalhistas 1935 1 2 Leis do Milho 1 2 3 Lênin Vladimir I 1 2 3 Leopoldo rei da Bélgica 12 Leste Europeu 1 2 34 56 78 comércio da Alemanha com o fascismo no 1 2 3 4 56 7 89 1011 globalização e 19732000 12 34 56 7 89 1011 1213 14 15 Grande Depressão no década de 1930 12 3 4 pósguerra 12 3 4 reconstrução do 12 34 socialismo no 12 3 4 56 ver também países específicos Letônia 1 2 3 Lewis sir W Arthur 1 2 3 Líbano 4 liberais britânicos 12 34 Libéria 1 2 Liberman Evsei Liberty League libra esterlina 1 23 4 5 67 89 10 1112 13 1415 controle de moeda e 12 3 especulação de Soros contra 12 Lie John 12 Liga das Nações 12 3 4 5 6 Liga pela Reforma Tarifária Lindsay Vachel 12 linha de montagem 1 23 4 56 Lippmann Walter liquidacionismo 12 3 45 67 List Friedrich 12 Lituânia 1 2 3 4 56 Liverpool 12 803832 livrecomércio 12 34 56 78 9 10 1112 13 14 15 1617 18 impacto distribucional redes globais e 12 Schacht e colonialismo e 1 23 comércio justo versus 12 vencedores e perdedores no 12 Primeira Guerra Mundial e 12 visão de Keynes sobre 12 Grande Depressão e década de 1930 12 34 56 socialdemocracia e 12 pósguerra 12 3 4 5 67 8 910 vantagem comparativa e 12 Rothschild e 12 como meta 12 insatisfação com o 1 23 4 56 804832 Londres 1 2 3 como centro financeiro 1 2 3 4 56 78 910 1112 13 1415 16 1718 19 2021 conferência econômica mundial em 1933 Lopokova Lydia Luxemburgo 1 2 3 Benelux 4 5 Estado de bemestar social e 12 globalização e 19732000 1 23 45 na Comunidade Europeia 12 MacDonald Ramsay 1 2 Macys Maddison Angus madeira 1 2 3 4 Mahathir bin Mohamad 12 3 4 5 Malaia 1 2 3 borracha na 1 2 estanho na 1 2 Malásia globalização e 19732000 1 2 34 5 6 7 8 910 independência da manufatura na 1 2 34 Maláui Malta Manchúria 1 2 Manifesto Comunista Marx e Engels Mannesmann manufatura 1 2 3 4 56 78 910 11 1213 autarquia e 12 34 5 6 78 910 11 1213 de 19141939 1 2 3 45 67 89 em áreas de colonização recente 12 especialização e 12 34 5 Exposição de Paris 1900 e 12 globalização e 19732000 12 34 56 78 910 1112 1314 15 1617 18 1920 industrialização voltada para a exportação e 12 34 56 investimento estrangeiro e 12 34 liderança britânica substituída na 12 na Grande Depressão década de 1930 12 34 novas tecnologias e 12 Primeira Guerra Mundial e 1 2 34 protecionismo e 1 23 45 67 8 910 11 socialismo e 12 tamanho das fábricas e 12 3 4 5 ver também importação para substituição da importação países específicos Mao Tsétung 1 2 3 maquinário 1 2 34 56 78 910 1112 13 14 1516 17 18 doméstico 12 3 45 67 elétrico na Índia 1 2 rural 12 sueco máquinas de lavar 1 23 4 5 marcas 1 2 3 4 marco alemão 12 34 5 6 78 globalização e 19732000 12 3 45 6 78 910 Marcos Ferdinando 1 23 marfim Marinha britânica 12 34 marketing 1 2 34 56 7 89 Marrocos 1 2 3 Marshall Alfred 12 Marshall George Marx Karl 1 2 3 4 5 6 7 marxismomarxistas 1 2 34 56 Masai Mattel McAdoo William McCloy John McKinley William 1 2 mecanismo de fluxomoedapreço 12 Mellon Andrew 1 2 Mercado Comum Comunidade Econômica Europeia CEE 1 2 3 4 passos para chegar ao 1 2 3 806832 Mercado Comum do Sul ver Mercosul mercadores 12 mercantilismo 12 34 56 7 8 autarquia comparada com teóricos clássicos versus 12 3 4 5 Mercosul 1 23 4 México 1 2 3 4 5 6 agricultura no 12 3 4 autarquia no 1 2 3 automóveis no 12 3 crescimento econômico no 1 23 globalização e 19732000 12 3 4 56 78 9 10 11 1213 1415 16 17 18 19 20 instabilidade social no investimento estrangeiro no manufatura no 1 2 3 45 67 89 10 mineração no 1 2 moeda do lastreada na prata 1 23 Nafta e 1 4413 2 34 5 6 petróleo no 12 3 45 Microsoft milho 1 2 militarismo 1 2 3 45 67 89 fascismo e 1 2 34 ferrovias e 12 mercantilismo e 12 soviético 12 34 Mill James Mill John Stuart mineraçãomineradores 1 2 3 4 5 6 na África 12 3 4 5 6 78 910 investimento estrangeiro na padrãoouro em oposição à 1 23 Grande Depressão de 18731896 e 1 2 3 substituição da importação e sistema de plantação intensiva comparado com 12 especialização e 1 2 34 807832 autarquia e 1 23 na Zâmbia 12 em áreas de colonização recente 12 nos trópicos 1 2 34 56 Ministério das Relações Exteriores britânico 1 2 Mlumba Mobil Mobutu Joseph 1 2 moeda 1 2 autarquia e 1 23 4 5 desvalorização da 12 34 5 6 7 8 910 1112 1314 1516 17 18 globalização e 19732000 1 2 3 45 67 89 1011 12 13 14 15 1617 Grande Depressão e década de 1930 12 34 5 6 7 8 hiperinflação e 12 padrãoouro e 12 34 5 6 7 8 9 1011 1213 14 1516 17 18 1920 papel 1 2 34 56 78 910 plano de KeynesWhite para 12 sistema de Bretton Woods e 1 23 45 6 78 9 ver também taxas de câmbio dinheiro moedas específicas Moldávia Möller Gustav 12 monetarismo 1 23 Monnet Jean 1 23 Monnet Silvia monopólios 1 2 34 56 7 8 Montevidéu Morel Edmund Dene 1 23 Morgan JP 1 2 3 4 5 sobre dívida de guerra 12 Morguenthau Henry Morogorofábrica de sapatos 12 Morrow Dwight mortalidade infantil 1 23 4 5 motocicletas Mountbatten Lorde 808832 móveis 12 3 45 67 Movimento Congressista Movimento Não Alinhado 1 2 Movimento pela Democracia Multipartidária Movimento Popular das Filipinas 12 Movimento Populista 12 3 45 67 movimentos culturais 1 23 muçulmanos 1 2 34 5 67 fundamentalistas 12 34 mudança tecnológica 12 34 56 estagnação socialista e 12 evolução corporativa e 1 2 globalização e 19732000 12 34 56 nas feiras mundiais 12 34 novo industrialismo e 12 34 pósguerra 12 prós e contras 12 Mulungushi programa Mundell Robert 12 mundo em desenvolvimento 1 2 34 56 78 América Latina como guia para o 12 autarquia e 12 34 descolonização e 12 34 falta de emprego no 12 globalização e 19732000 1 23 45 6 78 910 1112 1314 1516 1718 19 investimento estrangeiro no 1 23 livrecomércio e 1 23 45 6 moeda lastreada na prata 12 padrãoouro e 12 protecionismo no 12 sistema de Bretton Woods e 1 23 socialismo soviético e o 12 3 4 substituição de importações no 1 23 45 67 8 910 ver também países específicos Muro de Berlim 1 2 3 Mussolini Benito 1 2 3 4 809832 nacionalismo 12 3 45 67 89 1011 12 1314 15 alemão 1 2 3 autarquia e 1 2 3 45 autodeterminação e desenvolvimento e 12 34 globalização e 19732000 1 23 45 67 89 10 11 na China Nações Unidas 1 2 3 índice de desenvolvimento humano das Nafta ver Tratado NorteAmericano de LivreComércio Namíbia Napoleão I imperador da França Nasser Gamal Abdel 1 2 3 National Retail Dry Goods Association navios a vapor 1 2 3 nazismo 1 23 4 56 7 autarquia e 12 34 56 conflitos de Schacht com o 12 3 45 países ocupados pelo 12 primeiros contatos de Schacht com o 12 Segunda Guerra Mundial e 1 23 4 5 67 trabalho e 12 3 45 Nehru Jawaharlal 1 23 4 Neier Aryeh New Deal 1 2 3 45 67 8 910 1112 1314 15 oposição ao 12 Newton Isaac 1 2 Niassalândia Nicarágua Nigéria 1 2 3 4 crescimento econômico na investimento estrangeiro na manufatura na 1 2 3 nitratos 1 2 3 Nixon Richard M 12 3 4 5 6 7 8 Nokia 1 2 Noruega 1 2 810832 Estado de bemestar social e globalização e 19732000 1 2 socialdemocracia na Nova Política Econômica Nova York 1 2 como centro financeiro 12 34 5 67 Nova Zelândia 1 2 34 56 7 agricultura na 12 manufatura na na Guerra da Manteiga 12 socialdemocracia na 12 Nuremberg 1 2 3 Nurske Ragnar Nye John Nyerere Julius Ohlin Bertil 12 34 5 óleo de palma 12 3 oligarquias 12 34 56 78 910 oligopólios 1 23 4 Open Society Institute Organização do Tratado do Atlântico Norte Otan 1 2 Organização dos Países Exportadores de Petróleo Opep 12 Organização Internacional do Comércio OIC 12 34 5 Organização Mundial do Comércio OMC 1 2 34 56 Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE 12 3 4 5 6 globalização e 19732000 1 23 45 67 89 1011 Oriente Médio 1 23 4 5 colonialismo no 12 manufatura no 1 2 petróleo no 12 pobreza no ver também países específicos Oriente Próximo descolonização no 1 2 34 ver também países específicos 811832 Orwell George Otis Elevator ouro 1 2 34 5 descobertas de 1 2 3 preço do 12 ovos 1 2 3 padrão de informação 12 padrão de vida 1 2 3 45 6 78 autarquia e 12 34 5 67 89 em áreas de colonização recente 1 23 globalização e 19732000 12 3 4 56 78 910 na União Soviética e bloco 12 34 pósguerra 12 34 5 socialdemocracia e padrãoouro 1 23 45 6 78 910 11 1213 1415 1617 1819 20 21 22 2324 Acordo Monetário Tripartite e após a Primeira Guerra Mundial 12 3 45 67 autarquia e 1 23 conexões internacionais e o 12 34 56 cortes nos salários e 12 fim do 12 Grande Depressão e o 12 3 45 67 89 10 1112 13 1415 1617 18 impedimentos sociais ao insatisfação com o 1 2 3 45 6 78 910 11 1213 14 15 16 17 18 pósguerra 12 34 reafirmação do 12 Rothschild e o 1 23 4 Schacht e o 12 3 4 56 sistema de Bretton Woods e 12 3 45 67 89 10 visão de Acheson sobre o 1 2 34 visão de Keynes sobre o 1 23 45 67 8 910 Países Baixos 1 2 3 ver também Bélgica Luxemburgo Holanda países bálticos 812832 Grande Depressão nos década de 1930 12 ver também países específicos Países de Industrialização Recente 12 países em desenvolvimento não pertencentes à Opep países menos desenvolvidos 1 23 4 5 6 Pan American Airways pânico de 1907 1 23 Paquistão 1 2 3 4 5 Paraguai 1 2 3 Paris 1 2 3 4 Parlamento britânico 1 2 3 4 Parlamento europeu Partido Agrário Suécia 1 2 Partido Conservador britânico 1 2 3 4 5 globalização e 19732000 1 2 34 Partido Conservador sueco Partido Democrata alemão 12 Partido Democrata dos EUA 1 2 3 45 6 7 8 9 1011 na eleição de 1932 1 2 livrecomércio e 1 23 4 5 6 Partido do Congresso Nacional Indiano 1 2 Partido Liberal Canadá Partido Nacionalista chinês 1 23 Partido Populista Estados Unidos Partido Republicano Estados Unidos 1 23 4 5 6 78 910 internacionalismo e 12 34 protecionismo e 12 3 45 6 Partido Revolucionário Institucional PRI 12 Partido SocialDemocrata sueco 1 23 4 5 Partido da Social Democracia Brasileira Partido Trabalhista britânico 12 34 56 78 910 Partido Trabalhista da Nova Zelândia Partido Trabalhista da Bélgica socialista 1 2 3 Partido Unido da Independência Nacional Unip 1 2 Paz dos Cem Anos A pecuária 12 3 45 67 8 9 10 pengos húngaros 12 34 813832 pensões 12 3 4 5 67 89 10 1112 período entreguerras 1 2 3 4 56 78 9 agricultura no 12 34 5 67 89 1011 1213 14 1516 17 18 1920 2122 2324 2526 boom dos anos 1920 no 12 34 corporações multinacionais no 12 34 estrutura social e política no 12 isolamento dos Estados Unidos no 12 34 5 67 89 Keynes e o 12 mudança tecnológica no 12 reconstrução da Europa no 12 socialdemocracia no 12 ver também autarquia econômica Grande Depressão década de 1930 Péron Juan Domingo 1 2 peronismo Perry Matthew Pérsia 1 2 Peru 1 2 3 4 dívida do investimento estrangeiro no peso mexicano 12 3 pesquisa e desenvolvimento 1 2 34 5 67 8 9 10 11 Peterson Peter petrodólares petróleo 1 2 34 5 6 78 9 10 11 investimento estrangeiro e 12 no México 12 34 56 no teorema de StolperSamuelson 12 novas fábricas e 12 novas formas corporativas e 1 23 Opep e 12 preço do 1 23 45 6 propriedade estatal do 12 34 5 Pham Van Dong Philips 1 2 Pinochet Augusto 814832 planificação econômica 12 34 5 67 89 10 em Cuba 12 na China 12 3 45 na Segunda Guerra Mundial 12 na União Soviética 12 3 45 67 89 no pósguerra 12 3 4 5 67 89 1011 Plano Dawes 1924 12 3 4 Plano Marshall Plano de Recuperação Econômica 1 2 3 4 5 Plano Meidner Plano Monnet Plano Real 12 Plano Schacht Plano Schuman Plano Young 1930 1 2 planos de Nehru pneus 1 2 pobrezapobres 1 23 45 6 7 8 910 11 globalização e 19732000 12 3 45 67 8 9 1011 12 13 14 1516 1718 19 20 livrecomércio e 12 na América Latina 1 2 3 na Índia planificação econômica e 1 2 3 programas sociais para 1 23 4 sistema de Bretton Woods e 12 substituição das importações e 1 23 ver também mundo em desenvolvimento subdesenvolvimento Política Agrícola Comum política da Austrália Branca política fiscal 12 globalização e 19732000 12 3 45 socialdemocracia e 12 3 45 visão de Keynes sobre 12 ver também impostos Polônia 1 2 3 4 5 6 agricultura na 12 globalização e 19732000 1 2 34 5 815832 greves na 1 23 manufatura na 12 3 4 revolta anticomunista na socialismo na 12 3 Pompidou Georges populismo 1 2 3 45 67 89 porcos Porto Rico Portugal 1 2 3 45 6 fascismo autárquico em 1 2 3 colonialismo do 12 3 4 5 67 8 910 11 comunistas em manufatura em 1 2 3 globalização e 19732000 12 3 4 56 comércio da Inglaterra com 12 poupança 1 23 4 5 hiperinflação e 1 23 prata 1 2 3 4 moeda lastreada na 1 2 3 4 5 6 7 preço da Prebisch Raúl 12 3 preços autarquia e 1 2 3 nazismo e 12 socialdemocracia e 12 visão de Keynes sobre 12 34 visão de Prebisch sobre ver também produtos específicos Preços subsidiados 12 3 presbiterianos 12 3 Primeira Guerra Mundial 1 23 4 5 67 8 9 10 consequências econômicas da 12 3 dívida e 12 34 56 78 9 10 1112 indenizações e 1 2 34 56 7 89 10 1112 13 1415 Keynes e a 12 Monnet e mortes durante a 1 23 45 816832 movimentos trabalhistas e 12 novas indústrias e 1 23 reconstrução da Europa após a 12 Tratado de Versalhes e 12 3 4 56 7 8 9 ver também países específicos privatização 12 34 56 78 9 10 produção 12 em massa 1 2 3 4 56 78 9 10 globalização e 19732000 12 novas corporações e 12 34 produtividade 12 34 56 7 de 191350 1 2 3 4 56 78 educação e 12 Produto Interno Bruto PIB 1 2 34 5 6 78 globalização e 19732000 1 2 34 5 pósguerra 1 23 4 5 6 78 9 10 propaganda 1 2 3 4 5 protecionismo na Primeira Guerra Mundial e 1 2 3 protecionismo 1 2 34 56 7 89 10 1112 1314 1516 1718 19732000 12 34 56 7 agrícola 12 34 5 6 7 8 9 1011 autarquia e 1 2 3 4 5 6 78 comércio justo versus 12 corporações multinacionais e 1 23 efeitos problemáticos do 12 no período entreguerras 12 34 56 78 910 11 12 13 1415 Primeira Guerra Mundial e sistema de Bretton Woods e 1 23 45 6 7 socialdemocracia e 12 substituição da importação e 1 2 3 45 6 7 8 910 unificação europeia e visão clássica do 1 23 visão de Keynes sobre 12 ver também tarifas Província do Cabo Prússia 1 2 3 817832 Qatar petróleo do Quênia 1 2 3 4 rádio 1 23 45 6 transistor 12 Raghavan Chakravarthi raion 1 2 RCA 12 3 Reagan Ronald 1 2 3 4 56 7 8 recessão 12 3 4 5 6 7 89 no período entreguerras 12 34 56 19732000 12 3 45 6 7 8 910 11 12 reconstrução 12 3 4 Acheson e 12 dois argumentos e papel dos Estados Unidos na 12 papel soviético na 12 34 tarefa imediata de 12 reforma agrária 1 2 34 refrigeraçãorefrigeradores 1 2 3 4 56 pósguerra 1 23 4 transporte e 1 23 4 região do Kasai 12 Reichsbank 1 2 3 4 Relatório Beveridge renda 1 2 34 56 7 autarquia e 1 2 34 56 consumo e 1 2 globalizaçâo e 19732000 12 34 56 78 910 11 12 13 na Ásia 12 nacional 12 3 4 56 7 substituiçâo da importaçâo e 12 3 ver também salârios Repûblica Tcheca 1 2 3 4 Restriçôes Voluntârias à Exportaçâo VERs reuniâo em Bretton Woods 1944 1 2 Revoluçâo Cubana 818832 Revoluçâo Cultural Chinesa 12 Revoluçâo Industrial 1 2 3 45 6 Revoluçâo Russa 12 34 56 Rhodes Cecil 12 Ricardo David 1 2 3 Rio de Janeiro riqueza dos naçôes A Smith 12 Robbins Lionel rodada do Uruguai 12 Rodada Kennedy Rodésia do Norte 1 2 3 4 ver também Zâmbia Rodésia do Sul 1 2 3 4 5 6 ver também Zimbâbue rodovias 1 23 4 5 6 7 8 9 autarquia e 1 23 Romênia 1 2 3 4 5 6 autarquia na 1 2 3 globalizaçâo e 19732000 1 2 manufatura na 1 2 3 45 petróleo na socialismo na 12 3 Romulo Carlos Roosevelt Franklin D 1 2 3 45 6 7 encontro de Keynes com feriado bancârio de na eleiçâo de 1932 12 3 45 6 New Deal e 1 2 34 5 6 Segunda Guerra Mundial e Roosevelt Theodore Rothschild Alphonse Rothschild Amschel Mayer 12 Rothschild dinastia dos 12 Rothschild família Rothschild Lionel Nathan Rothschild Nathan Mayer I 12 Rothschild Nathan Mayer II Natty 819832 Ruanda 1 2 Rússia czarista 1 2 3 4 5 agricultura na atividades revolucionárias na 1 2 3 Banco Central da manufatura na 1 2 34 5 moeda da padrãoouro e 1 2 3 4 Primeira Guerra Mundial e 1 2 34 5 protecionismo da 1 2 34 5 sindicatos trabalhistas na Rússia 12 3 4 56 7 8 hiperinflação na Safire William 1 2 salários 1 23 45 67 89 1011 1213 1415 1617 1819 autarquia e 1 23 45 bens de consumo e 1 2 3 4 cortes nos 12 3 4 5 67 8 9 1011 12 1314 1516 17 globalização e 19732000 1 23 45 6 78 9 10 11 1213 hiperinflação e imigração e 1 2 34 56 na Grande Depressão década de 1930 1 23 45 67 padrãoouro e 1 2 3 45 67 qualidade da mão de obra e 1 23 socialdemocracia e 12 34 socialismo e 1 2 visão de Keynes sobre 12 Salazar António Samuelson Paul 12 Sandburg Carl São Paulo estado brasileiro 1 2 3 4 5 6 7 8 9 sapatos 1 2 34 5 6 7 8 9 globalização e 19732000 12 3 45 6 no Egito saúdeserviços de saúde 1 23 45 pública 1 2 3 820832 Schacht economia de 1 23 Schacht Hjalmar Horace Greeley 12 34 5 67 8 antecedentes de 12 conflito dos nazistas com 12 3 45 inflação e 1 23 45 6 Takahashi comparado com 1 2 Schacht Luise 1 2 Schmidt Helmut Schönberg August ver Belmont August Schuman Robert Schumpeter Joseph 1 2 Sears Roebuck Seattle Batalha de 1999 12 3 45 6 seda 1 2 3 4 preço da 1 2 Segunda Guerra Mundial 1 2 3 4 5 67 89 1011 acordo de empréstimo e arrendamento e 12 34 56 indenizações e 1 23 Monnet e morte durante a 1 23 ordem econômica após a 12 papel dos Estados Unidos após a 12 34 56 reconstrução após a ver reconstrução seguro social 1 23 45 67 8 9 1011 1213 1415 segurodesemprego 1 23 4 56 7 8 socialdemocracia e 1 2 34 Senado Estados Unidos 12 34 56 7 Comitê de Relações Internacionais do Senegal Serra Leoa 1 2 ServanSchreiber JeanJacques Sheppard William 12 Sião 1 2 3 4 5 6 ver também Tailândia Sibéria Siderúrgica de Homestead 12 siderúrgica Ajaokuta 821832 Siemens 1 2 3 4 Sihanouk Norodom sindicatos trabalhistas 12 3 45 67 89 globalização e 19732000 1 2 34 56 78 9 pósguerra 1 2 3 45 socialdemocracia e 12 34 56 Singer 1 2 3 Síria 1 2 3 sistema de Bretton Woods 12 3 45 67 89 10 11 comércio e 12 34 56 78 910 11 crescimento econômico e 12 estabelecimento de 12 Estado de bemestar social e 12 3 fim do 12 3 investimentos e 12 3 45 67 8 910 1112 Monnet e 12 ordem monetária e 1 23 45 sucesso do 12 sistema de Giolitti sistema de plantação intensiva 12 3 4 sistema jurídico 12 34 5 Sistema Monetário Europeu SME 1 2 sistema social 12 34 autarquia e 1 2 automóveis e estagnação e 12 no período entreguerras 1 23 4 sistemas bimetálicos 1 2 sistemas políticos 12 34 56 fracassos do desenvolvimento e 12 34 5 67 no período entreguerras 12 34 5 6 7 89 socialdemocracia e 12 visão de Keynes sobre 12 Skidelsky Robert Skoda Sloan Alfred P Smith Adam 1 2 3 4 5 822832 socialdemocracia 1 2 34 56 78 910 democracia popular comparada com cooperação internacional e 1 23 Keynes e 12 3 4 na Suécia 12 34 5 6 7 nos Estados Unidos 1 23 45 pósguerra 1 2 trabalho e capital e 12 sociaisdemocratas sociaisdemocratas alemães 1 23 socialismo árabe 1 2 socialismosocialistas 1 2 34 5 67 89 1011 entreguerras 12 34 56 7 8 910 1112 13 estagnação do 12 expansão do 12 futuro do 12 globalização e 19732000 1 2 3 45 67 89 na China 12 3 45 6 7 no Terceiro Mundo 12 34 pósguerra 1 2 3 45 6 7 89 10 solidariedade transfronteiriça e 12 soviético 12 34 56 78 9 1011 1213 substituição de importações e 1 23 trabalho e 1 23 sociedades de auxílio mútuo 12 Solidariedade sindicato polonês Somália 1 2 Sony 1 2 3 Soros George Dzjchdzhe Shorash 12 34 Sri Lanka 1 2 3 Staley Eugene Stálin 12 3 4 5 6 7 stalinismo Standard Oil de Nova Jersey Stanley Henry Stein Herbert Stiglitz Joseph 823832 Stockman David Stolper Wolfgang 12 Strachey Lytton Strange Susan Suazilândia subdesenvolvimento 1 23 colonialismo e 12 34 má gestão e 12 na Ásia 12 no Estado Livre do Congo 12 sistema de plantação intensiva e 12 sumário das causas do 12 ver também mundo em desenvolvimento países específicos subsídios 1 23 45 6 substituição da importação e 1 2 3 4 5 67 89 Sudão 1 2 3 Sudeste Asiático 12 34 5 6 7 8 9 ver também países específicos Suécia 1 2 3 4 5 agricultura na 12 3 4 desemprego na 12 Estado de bemestar social na 1 23 globalização e 19732000 1 2 34 56 7 8 910 manufatura na 12 mecanismo nacional para o estabelecimento de salários na protecionismo na reconstrução da 12 sindicatos trabalhistas na 12 3 socialdemocracia na 12 34 56 7 8 socialistas na 12 sucesso econômico da 12 Suíça 1 2 3 45 6 7 8 Estado de bemestar social na socialdemocracia na Sukarno Sul da Ásia 1 23 4 ver também países específicos 824832 Sun Yatsen Sweeney John tabaco 1 2 3 4 5 6 7 8 Taft Robert 1 2 Tailândia 1 2 3 autarquia na 1 2 crescimento econômico na globalização e 19732000 12 34 5 6 7 89 10 11 12 13 14 manufatura na 1 23 45 Taiwan 1 2 3 4 5 crescimento econômico em 1 2 globalização e 19732000 12 3 4 5 6 78 910 11 Índia comparada com 1 2 manufatura em 12 34 Takahashi Korekiyo 12 tamanho do mercado 1 2 34 especialização e 12 3 Tanzânia 1 2 3 Tarifa SmootHawley 1930 1 2 3 4 5 tarifas 12 34 56 78 9 10 11 agricultura e 12 34 56 7 89 10 1112 1314 autarquia e 1 23 brasileiras 1 2 3 britânicas 1 2 34 56 desvantagens das 12 dos Estados Unidos 12 34 56 7 89 1011 1213 1415 1617 18 19 20 21 2223 24 Gatt e 1 23 45 Grande Depressão e década de 1930 1 23 45 Mercado Comum e 1 2 mundo em desenvolvimento e 1 23 socialdemocracia e 12 visão de Keynes sobre 12 taxas de câmbio 1 2 3 45 6 78 910 11 1213 choques do petróleo e 12 múltiplas 12 3 4 825832 sistema de Bretton Woods e 1 2 3 4 56 78 9 1011 Tchecoslováquia 1 2 3 agricultura na 1 2 3 inflação na invasão soviética da 1 2 manufatura na 1 2 34 Segunda Guerra Mundial e 1 2 socialismo na 12 3 4 56 tecnologia acesso à 12 3 socialdemocracia e 12 telecomunicações 1 23 4 56 78 telefones 1 2 3 4 56 78 9 1011 12 globalização e 19732000 1 2 3 45 67 8 telefones celulares 1 2 3 Telefunken telégrafos 1 2 34 5 televisão 12 3 45 67 8 9 globalização e 19732000 1 23 45 67 teorema de StolperSamuelson 12 3 teoria do comércio de HeckscherOhlin 12 3 4 Teoria geral do emprego do juro e da moeda Keynes teóricos da dependência 12 Terceira Conferência Ministerial da OMC 12 Terceiro Mundo 12 3 4 56 dívida do 12 34 movimento não alinhado e socialismo no 12 substituição da importação adotada pelo 12 ver também países específicos terras 12 34 56 78 910 1112 colonização de povoamento e 12 na teoria de comércio de HeckscherOhlin 1 2 3 4 no teorema de StolperSamuelson 12 terrorismo Tesouro britânico Tesouro norteamericano 1 2 34 56 7 8 910 826832 Thatcher Margaret 1 2 3 4 Thomson Time títulos 1 2 3 4 5 6 7 8 Grande Depressão e década de 1930 12 Primeira Guerra Mundial e 12 3 Togliattigrad Torrens Robert trabalho 1 23 4 56 7 8 910 11 12 13 autarquia e 1 2 3 4 5 6 78 divisão do 12 3 45 67 89 escassez de trabalhadores 12 34 5 67 89 10 11 fascismo e 12 3 4 5 67 forçado e coagido 12 3 globalização e 19732000 1 2 3 45 6 78 910 1112 1314 15 1617 medidas progressistas para 12 migração do ver imigração na Grande Depressão década de 1930 12 3 45 6 78 910 11 12 na indústria automobilística 1 23 na Rússia 1 23 na teoria do comércio de HeckscherOhlin 12 3 45 não qualificado 12 34 5 67 no período entreguerras 1 2 3 45 6 78 910 11 1213 no teorema de StolperSamuelson 12 ordem clássica e 12 Primeira Guerra Mundial e 12 3 produtividade do ver produtividade sistema de Bretton Woods e 1 2 34 56 78 sistema de plantação intensiva e 12 socialdemocracia e 12 34 substituição da importações e 1 2 34 ver também segurodesemprego salários trabalho missionário 12 34 56 transistores 12 3 transporte 12 3 45 6 78 9 1011 12 1314 15 1617 1819 202122 23 2425 2627 28 827832 declínio de preços 1 2 globalização e 19732000 12 3 45 6 inadequado refrigeração e 1 23 4 ver também aviões automóveis ferrovias Transvaal 1 2 3 Tratado de Maastricht Tratado da União Europeia 1 23 Tratado de Versalhes 1919 1 2 3 4 5 6 Tratado NorteAmericano de LivreComércio Nafta 1 2 34 5 6 Tratado sobre a moeda Keynes 12 3 tratores 1 2 3 trigo 1 2 3 45 6 7 89 10 1112 1314 1516 1718 1920 livrecomércio e 1 23 preço do 12 3 4 5 6 trindade impossível 12 Trindade Truman Harry 1 2 3 trustes 1 2 Turquia 12 3 4 5 6 7 8 ajuda dos Estado Unidos à autarquia na 12 3 4 56 globalização e 19732000 12 34 56 7 manufatura na protecionismo na Twain Mark 1 2 U Nu US Steel 1 2 3 4 Ucrânia 1 2 3 4 5 Uganda União Econômica e Monetária UEM 1 2 União Europeia UE 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 União Europeia de Pagamentos UEP União Soviética 1 23 4 56 7 89 agricultura na 1 23 45 6 78 910 América Latina comparada com 12 anticolonialismo da 12 828832 autarquia na 12 3 4 5 67 8 9 automóveis na 1 2 bens de consumo na 12 bloco formado pela 12 34 56 78 910 crescimento econômico na 12 dívida da divisão tecnológica e 12 educação na 12 efeitos da Segunda Guerra Mundial sobre 1 2 34 56 globalização e 19732000 12 3 45 67 89 industrialização na 12 3 45 67 8 9 10 11 12 1314 15 investimento estrangeiro na Nehru na 12 planos quinquenais na 12 34 relação dos Estados Unidos com 12 34 56 relações da China com 12 34 relações de Cuba com socialismo na 12 34 56 78 9 1011 1213 Uruguai 1 23 4 globalização e 19732000 12 3 como Estado de bemestar social 12 Uzbequistão válvula eletrônica 1 2 van Zeeland Paul Vandenberg Arthur 1 2 vantagem comparativa lei da 12 3 4 5 67 8 910 vapor força motriz 1 2 Vargas Getúlio Venezuela 1 2 3 vestuário 12 3 45 67 89 1011 12 1314 globalização e 19732000 1 2 3 4 56 na era pósguerra 1 2 viagens internacionais 1 2 Victória rainha da Inglaterra 12 Vietnã do Norte 1 2 socialismo no 12 3 45 829832 Vietnã 1 2 3 4 5 comunistas no 1 2 ver também Vietnã do Norte vinho 12 3 Vinson Fred Vodaphone Volcker Paul 1 23 45 Volkswagen 1 2 Wall Street 1 2 34 5 6 7 8 9 Wallace Henry 1 2 War and the Private Investor Staley Warren George Waterloo Batalha de 1815 1 2 Welles Sumner Western Electric Westinghouse 1 2 3 White EB White Harry Dexter 12 3 Wigforss Ernst 12 Wilde Oscar Williamson John Wilson Woodrow 1 23 4 5 6 7 8 Woolf Leonard Woolf Virginia Works Progress Administration WPA Wriston Walter Yahoo Young Owen Zaire 1 2 3 Zâmbia 1 2 34 5 Zappo Zaps Zhou Enlai Zimbábue 1 2 3 4 Zweig Stefan 1 830832 Título original Global Capitalism Its Fall and Rise in the Twentieth Century Tradução autorizada da primeira edição norteamericana publicada em 2006 por WW Norton Company Inc de Nova York EUA Copyright 2006 Jeffry Frieden Copyright da edição brasileira 2008 Jorge Zahar Editor Ltda rua México 31 sobreloja 20031144 Rio de Janeiro RJ tel 21 21080808 fax 21 21080800 editorazaharcombr wwwzaharcombr Todos os direitos reservados A reprodução não autorizada desta publicação no todo ou em parte constitui viol ação de direitos autorais Lei 961098 Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Capa Sérgio Campante Fotos da capa Stockxchng em sentido horário a partir da esquerda Jari Lehtikangas James K Jay Lopes Luke Partridge Bob Boris Peterka Peter Mueller Primeira edição digital Setembro de 2010 ISBN 9788537803578 Arquivo ePub produzido pela Simplíssimo Livros Simplicissimus Book Farm Created by PDF to ePub 1 O contexto do fim do século XIX que justifica a expressão globalização O final do século XIX foi um período de intensas transformações econômicas políticas e tecnológicas que modificaram profundamente as relações entre os países É nesse cenário que surge o que muitos historiadores incluindo Jeffrey Frieden chamam de primeira era da globalização Essa fase que se estendeu aproximadamente entre 1870 e 1914 foi marcada pela formação de um sistema econômico internacional integrado baseado na expansão do comércio no fluxo livre de capitais e na mobilidade crescente de pessoas e mercadorias Em primeira análise para entender o porquê de o fim do século XIX ser caracterizado pela globalização é preciso compreender o grau das transformações que ocorreram nesse período Pois nesse momento o mundo passou por uma transformação sem precedentes As distâncias econômicas e culturais se encurtavam os mercados nacionais se interligavam e a circulação de capitais e informações atingia uma escala verdadeiramente mundial O avanço tecnológico aliado à consolidação do livrecomércio e à supremacia britânica moldou uma nova ordem internacional em que as economias passaram a atuar de forma interdependente e integrada inaugurando aquilo que Frieden denomina a primeira era do capitalismo global O mundo se interligou te tal forma que Por telégrafo e telefone as notícias corriam o mundo em minutos não mais em semanas ou meses Investidores de Londres a Paris passando por Nova York Buenos Aires ou Tóquio teciam uma rede de capital global quase homogênea Desde a batalha de Waterloo o mundo mudava em todas as dimensões políticas tecnológicas financeiras e diplomáticas FRIEDEN 2006 p 23 Dessa forma pela primeira vez na história moderna o mundo passou a operar como um único mercado no qual as distâncias econômicas e financeiras foram drasticamente reduzidas e o avanço da Revolução Industrial iniciado na Inglaterra e posteriormente difundido pela Europa e pelos Estados Unidos proporcionou um salto na produtividade e na capacidade de transporte e comunicação Por consequência essas inovações reduziram custos e tornaram o mundo economicamente mais conectado estabelecendo as bases de uma economia mundial integrada Além disso as políticas econômicas liberais predominantes no período incentivaram a livre circulação de bens capitais e pessoas Frieden observa que as barreiras comerciais foram derrubadas os mercados se abriram e o capital começou a fluir livremente entre as nações destacando o papel do liberalismo econômico como eixo da integração global Esse ambiente favoreceu a expansão das grandes potências industriais em direção aos mercados coloniais da Ásia África e América Latina consolidando uma rede global de produção e consumo Outro fator importante foi o aumento dos fluxos migratórios Milhões de europeus migraram para as Américas em busca de melhores oportunidades e com isso levaram consigo capital conhecimento e força de trabalho Frieden destaca que a migração em massa foi o complemento humano da integração financeira e comercial evidenciando que o fenômeno da globalização do século XIX envolvia tanto mercadorias quanto pessoas Contudo em uma visão mais pessoal o que mais me chama atenção é perceber como esse período mesmo tão distante ainda ecoa na nossa vida de hoje A globalização que vivemos agora com toda a tecnologia e velocidade faz o mundo parecer pequeno Pessoas de lugares completamente diferentes acabam tendo coisas em comum ou seja conhecem os mesmos lugares assistem aos mesmos filmes e escutam as mesmas músicas 2 O papel da liderança britânica nessa globalização A liderança britânica teve um papel central na consolidação da primeira era da globalização A Inglaterra foi o berço da Revolução Industrial o que lhe garantiu uma vantagem tecnológica produtiva e financeira perante os outros países Suas fábricas impulsionadas pelo uso do carvão e das máquinas a vapor abasteciam o mundo com produtos manufaturados enquanto o país se tornava o principal centro exportador de capitais Londres por sua vez transformouse no coração financeiro do planeta com o padrãoouro consolidando a confiança internacional e permitindo transações seguras entre as nações Essa supremacia econômica britânica deu origem a uma rede de comércio global que interligava continentes portos e rotas marítimas sob influência direta da coroa Para além da economia o poder britânico se estendia ao campo político e cultural O vasto império colonial garantiu à Inglaterra o controle de matériasprimas e mercados consumidores em praticamente todos os continentes Esse domínio permitiu a difusão de valores instituições e práticas comerciais britânicas moldando padrões de consumo e comportamento em várias partes do mundo A marinha inglesa uma das mais poderosas da história assegurava a proteção das rotas comerciais e reforçava a hegemonia do país Dessa forma a liderança britânica não foi apenas econômica mas também simbólica representava a ideia de progresso modernidade e confiança sustentando as bases da globalização que conectou o mundo entre 1870 e 1914 Dessa forma essa liderança britânica como o ponto de partida de um mundo que aprendeu a se conectar mas também a depender uns dos outros A Inglaterra ao expandir sua influência acabou criando um modelo de integração que ainda seguimos de alguma forma É curioso pensar que muito do que chamamos hoje de globalização nasceu da busca britânica por comércio poder e inovação E olhando para o presente dá para perceber que o impacto dessa época ainda está por toda parte nas línguas nas trocas culturais no sistema financeiro e até na forma como o mundo se entende como um só 3 Como a liderança britânica estava representada pelo modelo do padrão ouro A liderança britânica durante a primeira era da globalização se consolidou por meio do padrãoouro um modelo cambial e monetário que refletia a estabilidade e a confiança inspiradas pelo poder econômico da Inglaterra Nesse sistema a libra esterlina tornouse a principal moeda de referência mundial O padrãoouro funcionava de forma relativamente simples cada país fixava o valor de sua moeda em relação a uma quantidade específica de ouro garantindo que fosse conversível a qualquer momento Com isso as taxas de câmbio entre as moedas permaneciam estáveis facilitando o comércio e os investimentos internacionais Dessa forma esse sistema deu à Inglaterra um papel de centro financeiro global e o padrão ouro não apenas consolidou a credibilidade da economia britânica mas também espalhou a disciplina fiscal e monetária pelo mundo já que os países precisavam manter estabilidade interna para sustentar suas reservas Assim a liderança britânica não se limitou à produção industrial ou ao domínio marítimo Ela também foi exercida no campo financeiro com o ouro servindo como símbolo da confiança no sistema global criado sob sua direção Contudo o padrãoouro é o exemplo perfeito de como a confiança pode mover o mundo Tudo girava em torno de algo concreto o ouro mas o que realmente sustentava aquele sistema era a fé que as nações tinham na libra e na estabilidade britânica É interessante pensar que no fundo o mundo já funcionava com base em algo muito parecido com o que vivemos hoje confiança nos sistemas nas moedas e nas conexões entre países O padrãoouro mostra que muito antes da tecnologia ou das transações digitais a globalização já era acima de tudo uma questão de acreditar em algo que ligava todo mundo

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