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Arquitetura e Urbanismo ·
Estratégia Empresarial
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Quem precisa de líder Os líderes têm muito menos poder do que parece e entregam bem menos do que se espera deles Está na hora de parar de pensar em liderança e investir mais em autonomia inShare 70 Durante três séculos o pensamento ocidental andou às voltas com o éter A ideia veio de René Descartes para explicar fenômenos de ação a distância como a influência da Lua sobre as marés ou a atração entre dois ímãs ele especulou que o espaço era ocupado por minúsculas partículas rotativas dessa misteriosa substância que transmitiam o movimento entre os corpos O éter fez tanto sucesso que os cientistas passaram a encontrar evidências dele em todo lado no movimento dos cometas na gravidade na eletricidade e no magnetismo na transmissão da luz nas reações químicas na passagem de calor na comunicação entre fibras nervosas Não é que o conceito tenha sido inútil Ele ajudou a perceber a transmissão de luz como uma onda por exemplo Mas os cientistas que o abandonaram tiveram mais sucesso como Isaac Newton com sua lei da gravidade e Michael Faraday com sua explicação da eletricidade Até que Albert Einstein publicou a Teoria da Relatividade Restrita em 1905 soterrando o éter embora o próprio Einstein tivesse relativizado sua oposição a ele uma década depois Sob vários aspectos o conceito de liderança se assemelha ao éter Conhecemos a ideia desde a Antiguidade e nos parece natural explicar inúmeros fenômenos por meio de sua ação Como o éter nos séculos 18 e 19 a liderança hoje é usada para explicar coisas muito diferentes Assim como o éter liderança é um termo com quase tantas definições quantos acadêmicos dedicados a estudálo Será que também como no caso do éter os maiores progressos estão reservados a quem deixar o conceito de liderança de lado UM MUNDO DE SEGUIDORES O professor de negócios canadense Henry Mintzberg é um dos principais críticos da fixação aos líderes É claro que liderança pode fazer diferença escreveu num artigo para o jornal Financial Times Mas é frequente que ela se torne uma tautologia mostre à imprensa uma companhia de sucesso e ela lhe mostrará um grande líder É tão mais fácil do que tentar entender o que realmente aconteceu O exemplo de Mintzberg é o mítico renascimento da IBM nos anos 90 Quando a liderança importa como foi provavelmente o caso de Lou Gerstner então executivochefe da IBM que liderança é essa De acordo com relatos internos a IBM entrou no negócio eletrônico porque um programador levou a ideia a um gerente e este juntou um grupo que a implementou Qual o papel de Gerstner escreveu Mintzberg Quando ele finalmente ouviu sobre a iniciativa encorajoua Isso foi tudo Em vez de dar direção apoiou a direção de outros Algo semelhante aconteceu com Steve Jobs Talvez não na Apple mas seguramente na Pixar A Pixar fazia aparelhos de imagem Jobs a comprou porque pretendia usar a tecnologia em seu próximo computador Mas alguns funcionários gostavam de desenhos animados e conseguiram fazer alguns curtametragens com a desculpa de promover o maquinário em congressos Conforme os desenhos foram fazendo mais sucesso o papel de Jobs foi similar ao de Gerstner deixou a turma trabalhar Por essa permissão é frequente ouvirmos que Jobs revolucionou a indústria do cinema Nenhum desses relatos significa que o líder seja desnecessário Apenas que se atribui a ele uma visão e um protagonismo irreais e isso provoca distorções na maneira como encaramos o trabalho Como diz Mintzberg Toda vez que usamos a palavra liderança temos de lembrar que ela isola um indivíduo e trata os demais como seguidores É esse o mundo que queremos De seguidores Isso tornará melhores nossas instituições e nossas sociedades A mistificação do líder pode surpreender o próprio líder Luiz Ernesto Gemignani expresidente e atual presidente do conselho da Promon afirma A glamourização me incomodava Me sentia até um pouco envergonhado Mas às vezes por interesse da empresa ou por vaidade eu aceitava Segundo ele a melhor metáfora para o líder atual é do jardineiro O trabalho é resultado de esforços coletivos O líder cumpre um papel importante talvez um pouquinho mais importante que os outros É o maestro da orquestra Mas é exaltado as pessoas o aplaudem de pé Claro há executivos que assumem a definição mais formal de liderança Um líder tem de ter visão e tem de dar o exemplo para os outros diz Luiz Eduardo Rubião que vendeu sua Chemtech para a Siemens e fundou a Radix uma empresa de engenharia e software que faturou R 40 milhões em 2012 O que aconteceria com a Radix se você saísse perguntamos Ia sofrer um pouquinho É só ver o caso da Chemtech Quando saí tinha 15 mil pessoas Hoje tem 800 A atual direção da Chemtech naturalmente discorda dessa avaliação Diz que a empresa bateu todas as metas de fluxo de caixa em 2012 e está em situação muito confortável Mesmo Gemignani no momento em que a empresa passou por uma crise em 2003 assumiu o papel do líder enérgico Em um navio durante uma tempestade não dá para o capitão ficar motivando os marinheiros Tem de estar na cabine de controle Essa adrenalina dá prazer Contraditoriamente a crise foi o período mais feliz da minha vida O exercício de poder durante uma crise faz parte do trabalho de um executivo até a Constituição de Atenas pioneira mundial em democracia previa a figura do tirano em tempos de guerra Mas quantas vezes uma empresa corre risco de vida Clique na imagem para ampliar Fontes Flavio de Barros Molina doutor em zoologia da USP Mario de Vivo curador da coleção de mamíferos do Museu de Zoologia da USP Luis Fábio Silveira curador das coleções ornitológicas do Museu de Zoologia da USP e José Sabino especialista em peixes da Anhanguera Uniderp O MANTRA DA LIDERANÇA Hoje em dia parece inquestionável a importância de definir e moldar a liderança no mundo corporativo Não foi sempre assim Até os anos 80 acadêmicos que se dedicavam ao assunto tinham péssima reputação Eram considerados na melhor das hipóteses pensadores que jogavam seu tempo fora com questões menores Na pior charlatães Tudo mudou na virada para os anos 90 O número de estudos explodiu confira na página 39 O conceito se espalhou por todo lado praticamente todas as escolas de negócios e inúmeras faculdades de outras áreas incluíram a formação de líderes entre seus principais atributos Sam Walton é tido como um visionário com sua estratégia de abrir lojas grandes em cidades pequenas e barrar a concorrência Mas ele queria construir sua segunda loja numa cidade grande Memphis Optou por Bentonville porque sua mulher não aceitou se mudar para lá Clayton Christensen no livro Como Avaliar Sua Vida Como diz Barbara Kellerman uma bemsucedida consultora americana de liderança ser líder tornouse um mantra É um caminho presumido para obter dinheiro e poder um meio para a realização tanto individual quanto institucional e um mecanismo para implementar a mudança supostamente para o bem comum Mas Barbara traiu a causa Lançou no fim do ano passado um manifesto em forma de livro O Fim da Liderança em que denuncia uma indústria de palestras e treinamentos incapaz de entregar o que promete O incansável estudo da liderança não nos aproximou mais do nirvana da liderança Não temos hoje uma ideia de como desenvolver bons líderes ou pelo menos parar a proliferação dos ruins mais clara do que há cem ou mesmo mil anos afirma Pensamos que liderança pode ser ensinada o que pode ser ou não verdade Achamos que o contexto em que se dá a liderança é secundário o que está errado Achamos que ser líder é melhor e mais importante do que ser um seguidor Errado de novo Foto Arthur Nobre UM CONCEITO EM MUTAÇÃO A indústria da formação de líderes está intimamente ligada ao profissionalismo nas empresas Quando elas eram familiares não havia dúvida sobre quem mandava nem como A partir do momento em que se busca alguém para chefiar um patrimônio que não é dele começa a preocupação com identificar atrair e desenvolver o líder de negócios No início ali pelos anos 50 essa busca se dava a partir de uma perspectiva psicológica Acreditavase que os líderes possuíam atributos únicos Estudos asseguravam que o líder era mais alto mais energético mais assertivo mais comunicativo mais persistente enfim estava acima do restante da raça humana Essa teoria do grande homem só tinha um pequeno problema não funcionava Repetidas vezes gente escolhida com base nos atributos da liderança fracassava E muita gente com esses mesmos traços não virava líder Aos poucos as teorias migraram da personalidade para o estilo de ação Era um avanço Agora acreditavase que líderes podiam ser formados Bastava ter eis um termo ainda hoje em voga as competências necessárias A maioria dos livros e treinamentos sobre liderança deveria vir com um alerta Cuidado Este material pode prejudicar a sua empresa Jeffrey Pfeffer professor da Escola de Negócios de Stanford O empecilho para que esse estudo se aprofundasse era a extrema dificuldade de generalização Um estilo que funcionava bem em uma situação trazia sérias encrencas em outra Ali pelos anos 60 chegouse à conclusão de que não existe uma pessoa com características universais de liderança diz o psicólogo organizacional Fabio Appolinário professor do MBA da Business School São Paulo BSP Então vieram as teorias da contingência Elas assumem que as características de liderança mudam de um contexto para outro Difícil argumentar contra isso Como diz o psicólogo organizacional J Richard Hackman na coletânea de ensaios Handbook of Leadership Theory and Practice Manual de liderança teoria e prática lançada em 2010 após um congresso na Universidade Harvard Dá para acreditar que seja da mesma natureza a liderança em contextos tão diferentes quanto um grupo de escoteiros um quarteto de cordas o desenvolvimento de produtos ou a chefia de um grupo de diretores O problema de levar em conta as contingências é que a teoria vai ficando impraticável Quanto mais se diferenciam as situações mais complexos ficam os modelos Uma solução seria desenvolver o que o cientista político Joseph Nye descreveu como modelos de médio alcance de liderança separados por tipo de contexto diz Hackman Mas nós realmente queremos teorias diferentes de liderança para setor público setor privado empresas europeias ou asiáticas do setor de serviço ou de manufatura A lista pode se estender indefinidamente Dado esse impasse o que se trabalha hoje como conceito de liderança é em geral uma combinação de tudo as teorias de traços comportamentos e contingências Mesmo essa junção talvez não seja suficiente para encontrar um líder capaz de fazer frente aos tempos modernos Clique na imagem para ampliar Clique na imagem para ampliar O DISCURSO RIDÍCULO Neste momento estamos vivendo a mais importante crise de liderança dos últimos 25 mil anos diz o psicanalista Jorge Forbes presidente do Instituto da Psicanálise Lacaniana Tivemos a época do líder que nascia líder a do líder que encarnava a palavra de Deus e a do líder iluminista racional Em todas elas a liderança é vertical Os líderes mostravam o norte Nos últimos anos acontece a mais fantástica revolução no laço social humano chamada globalização ou pósmodernidade que é a quebra desse eixo vertical das identificações De acordo com Forbes esse tipo de líder vertical disciplinador que define o bom caminho perdeu o espaço Os moços de hoje acham isso ridículo Na sociedade anterior o presente era uma previsão do futuro se você meu filho não fizer direito engenharia ou medicina não será doutor não será um grande homem Para os jovens agora o futuro é uma invenção do presente Na situação antiga eu sei o que vai acontecer então me disciplino para estar adequado O menino de hoje sabe que não dá para saber o que vai acontecer Ele ri do pai da mãe do professor do chefe da empresa com esse tipo de discurso ultrapassado normalizador disciplinador Com esse discurso você faz a empresa de ontem despontando para o anonimato Não é que as empresas tenham mudado O mundo mudou Até poucos anos atrás a palavra de um médico era inquestionável Hoje os pacientes mal saem do consultório já buscam revisões críticas Tanto quanto as crianças são ensinadas a se comportar os pais são informados de que palmada é agressão e aconselhados a discutir mais que ordenar Nas escolas os professores passaram a ser avaliados por alunos Fazem sucesso os guias elaborados por gente anônima e as críticas a produtos feitas por consumidores Autoridades são questionadas a toda hora No ano passado o fundador do serviço de aluguel de filmes Netflix Reed Hastings teve de voltar atrás na cisão dos serviços de entrega de DVDs e de transmissão de filmes pela internet com um consequente aumento de preço para quem quisesse ambos após uma onda de críticas O ministro da Defesa da Alemanha KarlTheodor zu Guttenberg cotado para suceder Angela Merkel na chefia do governo caiu em 2011 graças a uma campanha popular após a descoberta de que ele havia plagiado sua tese de doutorado A Primavera Árabe derrubou ou sacudiu governos em uma dúzia de países Na Europa a insatisfação com a reação dos líderes à crise econômica levou à queda de 16 governos desde 2010 Até pouco tempo atrás podiase falar de mudança de estilo Um CEO autoritário não funcionava mais porque a humanidade está migrando do trabalho manual mecânico para o trabalho intelectual e emotivo e não adianta mandar uma pessoa ser criativa Esta própria revista publicou há dois anos uma reportagem de capa em que destrinchava as características do líder do século 21 Todas continuam válidas mas estamos passando dessa fase Entre um líder autoritário e um que comunica e motiva ocorreu uma suavização do poder Agora num mundo em que as informações estão tanto na ponta como no centro em que não há segredos de gabinete que durem que o conhecimento está espalhado que os consumidores são ativos os stakeholders são exigentes os analistas dissecam a empresa e as tecnologias mudam com frequência não se trata mais de suavizar o poder e sim de reconhecer que ele já está fragmentado e dividido Clique na imagem para ampliar O papel do líder permanece o mesmo tomar decisões Mas o processo de tomada de decisões mudou radicalmente O guru que fundou a gestão moderna Peter Drucker dizia que a principal característica da liderança é ter seguidores Os seguidores também mudaram radicalmente Como coaches de executivos sabemos que é mais difícil do que nunca influenciar as pessoas porque as velhas regras de persuasão não funcionam mais dizem Mark Goulston e John Ullmen no livro Real Influence Influência real lançado em janeiro A internet o marketing a publicidade a televisão nos fizeram céticos sobre truques enganosos e abordagens agressivas de venda A questão não é que o mundo caminha para menos liderança Ao contrário caminhamos para uma necessidade maior de liderança Só que mais distribuída Foto Arthur Nobre OS DOIS ATAQUES À LIDERANÇA Os ataques à glamourização da liderança costumam vir de dois campos O primeiro é semântico o conceito de liderança é mal definido claramente um amálgama de comportamentos e atributos que podem ser mais eficientemente relacionados a desempenho se forem analisados separadamente Quer dizer é possível estudar o impacto da comunicação ou da ética de um líder no resultado da equipe ou da empresa Mas quando se juntam atributos ao belprazer de cada autor o que se tem é uma proliferação de receitas as sete competências essenciais do Centro para Liderança Pública de Harvard os três imperativos dos consultores Linda Hill e Kent Lineback os cinco hábitos do professor e consultor Jeffrey Gandz e por aí vai Embora várias dessas receitas tragam insights seu efeito no conjunto é banalizar um fenômeno complexo Unase a isso a extrema dificuldade em treinar líderes O professor Morgan McCall da Universidade do Sul da Califórnia fez um estudo com gerentes recémpromovidos em uma companhia de tecnologia para entender o que ajudava e o que atrapalhava no aprendizado Percebeu que quase todo recurso ou intervenção que ajuda numa situação atrapalha em outra Bons chefes maus chefes chefes ausentes podiam ser de valia só os chefes medíocres nunca ajudavam Recursos abundantes escassez de recursos recursos adequados Coaching ou isolamento Autoridade ou falta dela Ajuda ou nenhuma ajuda Equipe suficiente ou não Feedback ou não Conclusão não se consegue determinar as experiências que forjarão líderes O segundo ataque à glamourização da liderança vem da descoberta de que pouca variação nos resultados da companhia pode ser atribuída à diferença de características entre indivíduos O estudo clássico sobre esse assunto feito em 1972 com dados de 167 empresas analisou quatro fatores de impacto no resultado os efeitos da indústria do ano da companhia e do CEO Concluiu que os líderes respondiam por 145 da variação nas margens de lucro metade do efeito da indústria Um estudo de 1981 validou a conclusão com efeito de 128 E um recente apresentado no livro Handbook of Leadership por Noam Wasserman Bharat Anand e Nitin Nohria chegou à mesma conclusão efeito médio de 147 Não é pouco Mas também não justifica tamanha glorificação As empresas aparentemente sofrem da mesma ansiedade que os clubes de futebol Quando as coisas não vão tão bem trocam de técnico com resultado semelhante Uma análise dos últimos dois anos do campeonato brasileiro mostra para times que mudaram de técnico uma variação média de 15 no número de pontos ganhos no curto prazo No médio prazo a variação cai para 9 leia o gráfico Um lembrete esse impacto do líder vale tanto para cima como para baixo tipicamente nós só definimos se a liderança é boa depois de olhar o resultado Alguns pesquisadores justificam esse impacto moderado Dizem que os líderes são tão cerceados por seus ambientes que têm pouca capacidade de afetar o desempenho da empresa A inércia assume diversas faces política interna cultura sistemas de controle ativos fixos da empresa normas da organização pressão de competidores barreiras para entrar e sair do setor padrões de acionistas percepções de analistas e investidores Novos CEOs rapidamente descobrem que gerir o negócio que era seu foco primário é uma parte mais limitada da função do que eles esperavam afirmam os professores de Harvard Michael Porter e Nitin Nohria Os dois comandam desde meados dos anos 90 um programa de dois dias para novos CEOs Entre as preocupações que os líderes levantam no programa está a intensidade das novas responsabilidades atender acionistas analistas conselho grupos de indústria reguladores políticos outros constituintes que querem contato direto com o CEO O CEO encontra severos limites de tempo Todos querem sua atenção Negála corrói relações e erode a motivação Por isso o CEO normalmente se ocupa em demasia dizem O pior o líder sabe que se começar a decidir os outros vão parar de tomar decisões Jeffrey Pfeffer professor da Escola de Negócios de Stanford acrescenta outra razão para a pouca variação na troca de líderes eles são todos parecidos Segundo o professor os caminhos para subir na carreira e os processos específicos de seleção expulsam os executivos mais idiossincráticos resultando numa relativa homogeneidade entre CEOs A VEZ DOS LÍDERES FRACOS Para este líder que não tem tempo cujas ações são limitadas por barreiras de todos os tipos e que sofre um escrutínio feroz de clientes parceiros e observadores é natural que os poderes de mando tenham desvanecido Sobralhe o que está na moda chamar de novas habilidades ser treinador criador de contexto aquele que dá sentido e propósito a um trabalho Está aí também uma semente de mistificação Por que criar um contexto seria mais fácil que dirigir uma ação O contexto depende da cultura das ações e reações das pessoas de condições externas É por definição algo fora do alcance de um único indivíduo Tratase de arranjar novo sentido para uma função que perdeu o charme A origem da palavra líder vem de conduzir Ela tem parentesco com palavras negativas como Führer diz o filósofo Renato Janine Ribeiro professor da USP O título de Hitler quer dizer exatamente isso o líder que conduz O mesmo vale para o Duce de Mussolini São títulos autoritários que fazem um recorte radical entre quem manda e os comandados Segundo Janine Ribeiro a discussão de liderança não é mais essa Hoje é preciso ser um líder num ambiente democrático o que é um paradoxo O regime democrático tem lideranças fracas ele dá autonomia para as pessoas dá espaço para lideranças colegiadas ou rodízios de modo que você não precise tanto do líder É um recado parecido com o do CCL centro de liderança criativa uma organização americana de treinamento de executivos A história da liderança dos últimos 50 anos é a história do individual Mas nos últimos 15 esse modelo se tornou menos efetivo afirma o documento Future Trends in Leadership Development Tendências no desenvolvimento de liderança publicado em 2011 Liderança deixa de ser uma pessoa ou papel para ser um processo fluxos abertos de informações hierarquias flexíveis recursos e poder de decisão distribuídos perda de controle centralizado Clique na imagem para ampliar Até pouco tempo atrás nós consultores falávamos muito em motivar as equipes diz Karin Parodi presidente da consultoria de carreiras Career Center Agora a questão da liderança tem se mostrado mais participativa colaborativa fluida É o caminho da liderança compartilhada No mundo de hoje você trabalha muito mais por projetos muitas vezes de forma virtual As pessoas se comunicam 24 horas por dia As hierarquias estão diferentes Não quer dizer que haja menos líderes Há mais Há um líder em cada projeto A questão é estamos preparados para essa mudança Ainda vivemos um culto ao líder diz Claudio Garcia presidente da consultoria de recursos humanos LHHDBM na América Latina Quando trabalhamos com recolocação de um executivo nós o convidamos para um café com um líder experiente que pode compartilhar sua vivência Mas nesses encontros começamos a notar que eles só falavam de si mesmos do que haviam feito Uma pesquisa inédita da DBM feita com 373 executivos brasileiros ajuda a explicar a crise quase 50 dos líderes com menos de 45 anos se acham melhores que seus chefes Naturalmente também se acham melhores que os colegas Isso é gravíssimo Quem pensa que é melhor que seus pares limita sua capacidade de ouvir e receber o que vem do outro diz Claudio QUEM PRECISA DE LÍDER Ninguém disse que trocar de modelo é fácil Darcio Crespi headhunter da Heidrick Struggles diz ter feito alguns experimentos com times autogeridos Tentamos implantar há alguns anos em um cliente a Copesul uma estatal privatizada disposta a mudar alguns conceitos Não havia chefe O time discutia e decidia Usamos uma combinação de técnicas japonesas que na época estavam em voga Não tinha de estar todo mundo de acordo mas todos tinham de ser ouvidos O portavoz era rotativo e se reportava ao superior Os times começavam no chão de fábrica chegavam até o presidente O resultado da experiência os líderes emergem Líderes carismáticos que movem as pessoas não são muitos diz Crespi Mas isso não quer dizer que seus liderados não tenham funções de liderança Toda empresa precisa ter muitos líderes Dizer que a empresa precisa de muitos líderes não quer dizer que todo mundo é líder Há uma forte barreira psicológica para isso O ser humano tem mais facilidade em lidar com o autoritarismo diz Forbes Ficamos apavorados com a liberdade de escolha que a pósmodernidade nos trouxe No primeiro momento todo mundo achou legal depois começou a ficar angustiadíssimo Mas não tem saída afirma Não tem volta para o líder anterior Essa questão de eleger um poderoso a quem eu poderei perguntar as coisas é uma projeção das nossas fantasias em relação à figura do pai diz o psicólogo José Ernesto Bologna fundador da Ethos consultoria de desenvolvimento organizacional É uma condição permanente dos humanos Prescindir do líder é encarar a existência por conta própria Crescer Há outra explicação para a necessidade de líderes economia de tempo e energia Na vida moderna a maioria das pessoas é líder e seguidor e as categorias se tornam bem fluidas diz o cientista político Nye Se eu confio no seu juízo em música posso seguir suas recomendações sobre qual concerto assistir ainda que você seja meu subordinado Se sou especialista em pescaria você pode querer me seguir sobre o local para lançar nossos anzóis Quando a vida nas empresas era mais simples fazia sentido seguir um grande líder Mas isso mudou A clássica teoria econômica do prêmio Nobel Ronald Coase diz que as empresas existem porque conseguem realizar tarefas internas a um custo menor do que se as contratassem no mercado Essa teoria está sendo suplementada pela noção de firmas como redes de fornecedores diz Nye Pense Toyota ou Nike Isso quer dizer que um líder hoje em qualquer nível tem de controlar mais pares do que subordinados mais gente distante do que próxima Essa nova realidade valoriza o líder local especialista capaz de trabalhar em rede A julgar por pesquisas como a Top Talk Choque de Gerações feita pelas consultorias de recursos humanos LAB SSJ Clave e Idee em 2010 os jovens brasileiros já perceberam a mudança 58 dos estagiários e trainees de grandes empresas querem empreender influenciar e ter autonomia apenas 15 planejam ser diretores em uma grande empresa nos próximos oito anos 40 dos gestores achavam que eles queriam isso 73 querem ocupar posição de liderança em sua área de atuação e 68 querem ser especialistas em sua função Suas respostas estão de acordo com a previsão do que seria a organização do futuro feita pelo futurista Alvin Toffler e defendida pelo teórico Mintzberg uma adhocracia a liderança é exercida por quem estiver mais capacitado naquele momento e para aquele desafio De certa forma isso já acontece nas empresas Mas é um fenômeno que passa despercebido A maioria das pessoas lidera a partir do meio atraindo e persuadindo tanto acima quanto abaixo da hierarquia diz Nye A própria persuasão mudou porque ninguém gosta de se sentir manipulado As novas técnicas de convencimento como as do especialista Robert Cialdini nos convocam a ouvir debater estar abertos enfim aceitar ser influenciados também Alguns estudiosos começam a tentar entender não a liderança mas o fenômeno dos seguidores definidos como cidadãos ou constituintes Qualquer programa de liderança deveria levar as pessoas a saber se portar como líderes e como seguidores diz Claudio Garcia da DBM Talvez o melhor exemplo para o desenvolvimento da liderança esteja na escola Os traços de liderança começam a ser percebidos entre os 5 e 7 anos de idade diz Márcia Malavasi coordenadora da Faculdade de Educação da Unicamp Mas as famílias não devem ficar preocupadas em incentivar seus filhos a ser líderes Há características mais importantes para trabalhar o respeito ao outro saber ouvir saber viver em comunidade Os pais também exercem em geral um tipo de liderança interessante trabalham para tornarse desnecessários para que as crianças sejam autônomas e criativas Pouca gente tem essa consciência tão clara quanto Marco Aurélio Raymundo conhecido como Morongo fundador da marca Mormaii que faz roupas de surfe O que aconteceria com a empresa se você desaparecesse perguntamos a ele Sua resposta Isso já acontece Eu desapareci há muito tempo Fico às vezes três meses na Indonésia O que acontece A empresa fica muito melhor com Rodrigo Capelo httpepocanegociosglobocomInformacaoVisaonoticia201303quemprecisadeliderhtml
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Newton com sua lei da gravidade e Michael Faraday com sua explicação da eletricidade Até que Albert Einstein publicou a Teoria da Relatividade Restrita em 1905 soterrando o éter embora o próprio Einstein tivesse relativizado sua oposição a ele uma década depois Sob vários aspectos o conceito de liderança se assemelha ao éter Conhecemos a ideia desde a Antiguidade e nos parece natural explicar inúmeros fenômenos por meio de sua ação Como o éter nos séculos 18 e 19 a liderança hoje é usada para explicar coisas muito diferentes Assim como o éter liderança é um termo com quase tantas definições quantos acadêmicos dedicados a estudálo Será que também como no caso do éter os maiores progressos estão reservados a quem deixar o conceito de liderança de lado UM MUNDO DE SEGUIDORES O professor de negócios canadense Henry Mintzberg é um dos principais críticos da fixação aos líderes É claro que liderança pode fazer diferença escreveu num artigo para o jornal Financial Times Mas é frequente que 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de estar na cabine de controle Essa adrenalina dá prazer Contraditoriamente a crise foi o período mais feliz da minha vida O exercício de poder durante uma crise faz parte do trabalho de um executivo até a Constituição de Atenas pioneira mundial em democracia previa a figura do tirano em tempos de guerra Mas quantas vezes uma empresa corre risco de vida Clique na imagem para ampliar Fontes Flavio de Barros Molina doutor em zoologia da USP Mario de Vivo curador da coleção de mamíferos do Museu de Zoologia da USP Luis Fábio Silveira curador das coleções ornitológicas do Museu de Zoologia da USP e José Sabino especialista em peixes da Anhanguera Uniderp O MANTRA DA LIDERANÇA Hoje em dia parece inquestionável a importância de definir e moldar a liderança no mundo corporativo Não foi sempre assim Até os anos 80 acadêmicos que se dedicavam ao assunto tinham péssima reputação Eram considerados na melhor das hipóteses pensadores que jogavam seu tempo fora com questões menores Na pior charlatães Tudo mudou na virada para os anos 90 O número de estudos explodiu confira na página 39 O conceito se espalhou por todo lado praticamente todas as escolas de negócios e inúmeras faculdades de outras áreas incluíram a formação de líderes entre seus principais atributos Sam Walton é tido como um visionário com sua estratégia de abrir lojas grandes em cidades pequenas e barrar a concorrência Mas ele queria construir sua segunda loja numa cidade grande Memphis Optou por Bentonville porque sua mulher não aceitou se mudar para lá Clayton Christensen no livro Como Avaliar Sua Vida Como diz Barbara Kellerman uma bemsucedida consultora americana de liderança ser líder tornouse um mantra É um caminho presumido para obter dinheiro e poder um meio para a realização tanto individual quanto institucional e um mecanismo para implementar a mudança supostamente para o bem comum Mas Barbara traiu a causa Lançou no fim do ano passado um manifesto em forma de livro O Fim da Liderança em que denuncia uma indústria de palestras e treinamentos incapaz de entregar o que promete O incansável estudo da liderança não nos aproximou mais do nirvana da liderança Não temos hoje uma ideia de como desenvolver bons líderes ou pelo menos parar a proliferação dos ruins mais clara do que há cem ou mesmo mil anos afirma Pensamos que liderança pode ser ensinada o que pode ser ou não verdade Achamos que o contexto em que se dá a liderança é secundário o que está errado Achamos que ser líder é melhor e mais importante do que ser um seguidor Errado de novo Foto Arthur Nobre UM CONCEITO EM MUTAÇÃO A indústria da formação de líderes está intimamente ligada ao profissionalismo nas empresas Quando elas eram familiares não havia dúvida sobre quem mandava nem como A partir do momento em que se busca alguém para chefiar um patrimônio que não é dele começa a preocupação com identificar atrair e desenvolver o líder de negócios No início ali pelos anos 50 essa busca se dava a partir de uma perspectiva psicológica Acreditavase que os líderes possuíam atributos únicos Estudos asseguravam que o líder era mais alto mais energético mais assertivo mais comunicativo mais persistente enfim estava acima do restante da raça humana Essa teoria do grande homem só tinha um pequeno problema não funcionava Repetidas vezes gente escolhida com base nos atributos da liderança fracassava E muita gente com esses mesmos traços não virava líder Aos poucos as teorias migraram da personalidade para o estilo de ação Era um avanço Agora acreditavase que líderes podiam ser formados Bastava ter eis um termo ainda hoje em voga as competências necessárias A maioria dos livros e treinamentos sobre liderança deveria vir com um alerta Cuidado Este material pode prejudicar a sua empresa Jeffrey Pfeffer professor da Escola de Negócios de Stanford O empecilho para que esse estudo se aprofundasse era a extrema dificuldade de generalização Um estilo que funcionava bem em uma situação trazia sérias encrencas em outra Ali pelos anos 60 chegouse à conclusão de que não existe uma pessoa com características universais de liderança diz o psicólogo organizacional Fabio Appolinário professor do MBA da Business School São Paulo BSP Então vieram as teorias da contingência Elas assumem que as características de liderança mudam de um contexto para outro Difícil argumentar contra isso Como diz o psicólogo organizacional J Richard Hackman na coletânea de ensaios Handbook of Leadership Theory and Practice Manual de liderança teoria e prática lançada em 2010 após um congresso na Universidade Harvard Dá para acreditar que seja da mesma natureza a liderança em contextos tão diferentes quanto um grupo de escoteiros um quarteto de cordas o desenvolvimento de produtos ou a chefia de um grupo de diretores O problema de levar em conta as contingências é que a teoria vai ficando impraticável Quanto mais se diferenciam as situações mais complexos ficam os modelos Uma solução seria desenvolver o que o cientista político Joseph Nye descreveu como modelos de médio alcance de liderança separados por tipo de contexto diz Hackman Mas nós realmente queremos teorias diferentes de liderança para setor público setor privado empresas europeias ou asiáticas do setor de serviço ou de manufatura A lista pode se estender indefinidamente Dado esse impasse o que se trabalha hoje como conceito de liderança é em geral uma combinação de tudo as teorias de traços comportamentos e contingências Mesmo essa junção talvez não seja suficiente para encontrar um líder capaz de fazer frente aos tempos modernos Clique na imagem para ampliar Clique na imagem para ampliar O DISCURSO RIDÍCULO Neste momento estamos vivendo a mais importante crise de liderança dos últimos 25 mil anos diz o psicanalista Jorge Forbes presidente do Instituto da Psicanálise Lacaniana Tivemos a época do líder que nascia líder a do líder que encarnava a palavra de Deus e a do líder iluminista racional Em todas elas a liderança é vertical Os líderes mostravam o norte Nos últimos anos acontece a mais fantástica revolução no laço social humano chamada globalização ou pósmodernidade que é a quebra desse eixo vertical das identificações De acordo com Forbes esse tipo de líder vertical disciplinador que define o bom caminho perdeu o espaço Os moços de hoje acham isso ridículo Na sociedade anterior o presente era uma previsão do futuro se você meu filho não fizer direito engenharia ou medicina não será doutor não será um grande homem Para os jovens agora o futuro é uma invenção do presente Na situação antiga eu sei o que vai acontecer então me disciplino para estar adequado O menino de hoje sabe que não dá para saber o que vai acontecer Ele ri do pai da mãe do professor do chefe da empresa com esse tipo de discurso ultrapassado normalizador disciplinador Com esse discurso você faz a empresa de ontem despontando para o anonimato Não é que as empresas tenham mudado O mundo mudou Até poucos anos atrás a palavra de um médico era inquestionável Hoje os pacientes mal saem do consultório já buscam revisões críticas Tanto quanto as crianças são ensinadas a se comportar os pais são informados de que palmada é agressão e aconselhados a discutir mais que ordenar Nas escolas os professores passaram a ser avaliados por alunos Fazem sucesso os guias elaborados por gente anônima e as críticas a produtos feitas por consumidores Autoridades são questionadas a toda hora No ano passado o fundador do serviço de aluguel de filmes Netflix Reed Hastings teve de voltar atrás na cisão dos serviços de entrega de DVDs e de transmissão de filmes pela internet com um consequente aumento de preço para quem quisesse ambos após uma onda de críticas O ministro da Defesa da Alemanha KarlTheodor zu Guttenberg cotado para suceder Angela Merkel na chefia do governo caiu em 2011 graças a uma campanha popular após a descoberta de que ele havia plagiado sua tese de doutorado A Primavera Árabe derrubou ou sacudiu governos em uma dúzia de países Na Europa a insatisfação com a reação dos líderes à crise econômica levou à queda de 16 governos desde 2010 Até pouco tempo atrás podiase falar de mudança de estilo Um CEO autoritário não funcionava mais porque a humanidade está migrando do trabalho manual mecânico para o trabalho intelectual e emotivo e não adianta mandar uma pessoa ser criativa Esta própria revista publicou há dois anos uma reportagem de capa em que destrinchava as características do líder do século 21 Todas continuam válidas mas estamos passando dessa fase Entre um líder autoritário e um que comunica e motiva ocorreu uma suavização do poder Agora num mundo em que as informações estão tanto na ponta como no centro em que não há segredos de gabinete que durem que o conhecimento está espalhado que os consumidores são ativos os stakeholders são exigentes os analistas dissecam a empresa e as tecnologias mudam com frequência não se trata mais de suavizar o poder e sim de reconhecer que ele já está fragmentado e dividido Clique na imagem para ampliar O papel do líder permanece o mesmo tomar decisões Mas o processo de tomada de decisões mudou radicalmente O guru que fundou a gestão moderna Peter Drucker dizia que a principal característica da liderança é ter seguidores Os seguidores também mudaram radicalmente Como coaches de executivos sabemos que é mais difícil do que nunca influenciar as pessoas porque as velhas regras de persuasão não funcionam mais dizem Mark Goulston e John Ullmen no livro Real Influence Influência real lançado em janeiro A internet o marketing a publicidade a televisão nos fizeram céticos sobre truques enganosos e abordagens agressivas de venda A questão não é que o mundo caminha para menos liderança Ao contrário caminhamos para uma necessidade maior de liderança Só que mais distribuída Foto Arthur Nobre OS DOIS ATAQUES À LIDERANÇA Os ataques à glamourização da liderança costumam vir de dois campos O primeiro é semântico o conceito de liderança é mal definido claramente um amálgama de comportamentos e atributos que podem ser mais eficientemente relacionados a desempenho se forem analisados separadamente Quer dizer é possível estudar o impacto da comunicação ou da ética de um líder no resultado da equipe ou da empresa Mas quando se juntam atributos ao belprazer de cada autor o que se tem é uma proliferação de receitas as sete competências essenciais do Centro para Liderança Pública de Harvard os três imperativos dos consultores Linda Hill e Kent Lineback os cinco hábitos do professor e consultor Jeffrey Gandz e por aí vai Embora várias dessas receitas tragam insights seu efeito no conjunto é banalizar um fenômeno complexo Unase a isso a extrema dificuldade em treinar líderes O professor Morgan McCall da Universidade do Sul da Califórnia fez um estudo com gerentes recémpromovidos em uma companhia de tecnologia para entender o que ajudava e o que atrapalhava no aprendizado Percebeu que quase todo recurso ou intervenção que ajuda numa situação atrapalha em outra Bons chefes maus chefes chefes ausentes podiam ser de valia só os chefes medíocres nunca ajudavam Recursos abundantes escassez de recursos recursos adequados Coaching ou isolamento Autoridade ou falta dela Ajuda ou nenhuma ajuda Equipe suficiente ou não Feedback ou não Conclusão não se consegue determinar as experiências que forjarão líderes O segundo ataque à glamourização da liderança vem da descoberta de que pouca variação nos resultados da companhia pode ser atribuída à diferença de características entre indivíduos O estudo clássico sobre esse assunto feito em 1972 com dados de 167 empresas analisou quatro fatores de impacto no resultado os efeitos da indústria do ano da companhia e do CEO Concluiu que os líderes respondiam por 145 da variação nas margens de lucro metade do efeito da indústria Um estudo de 1981 validou a conclusão com efeito de 128 E um recente apresentado no livro Handbook of Leadership por Noam Wasserman Bharat Anand e Nitin Nohria chegou à mesma conclusão efeito médio de 147 Não é pouco Mas também não justifica tamanha glorificação As empresas aparentemente sofrem da mesma ansiedade que os clubes de futebol Quando as coisas não vão tão bem trocam de técnico com resultado semelhante Uma análise dos últimos dois anos do campeonato brasileiro mostra para times que mudaram de técnico uma variação média de 15 no número de pontos ganhos no curto prazo No médio prazo a variação cai para 9 leia o gráfico Um lembrete esse impacto do líder vale tanto para cima como para baixo tipicamente nós só definimos se a liderança é boa depois de olhar o resultado Alguns pesquisadores justificam esse impacto moderado Dizem que os líderes são tão cerceados por seus ambientes que têm pouca capacidade de afetar o desempenho da empresa A inércia assume diversas faces política interna cultura sistemas de controle ativos fixos da empresa normas da organização pressão de competidores barreiras para entrar e sair do setor padrões de acionistas percepções de analistas e investidores Novos CEOs rapidamente descobrem que gerir o negócio que era seu foco primário é uma parte mais limitada da função do que eles esperavam afirmam os professores de Harvard Michael Porter e Nitin Nohria Os dois comandam desde meados dos anos 90 um programa de dois dias para novos CEOs Entre as preocupações que os líderes levantam no programa está a intensidade das novas responsabilidades atender acionistas analistas conselho grupos de indústria reguladores políticos outros constituintes que querem contato direto com o CEO O CEO encontra severos limites de tempo Todos querem sua atenção Negála corrói relações e erode a motivação Por isso o CEO normalmente se ocupa em demasia dizem O pior o líder sabe que se começar a decidir os outros vão parar de tomar decisões Jeffrey Pfeffer professor da Escola de Negócios de Stanford acrescenta outra razão para a pouca variação na troca de líderes eles são todos parecidos Segundo o professor os caminhos para subir na carreira e os processos específicos de seleção expulsam os executivos mais idiossincráticos resultando numa relativa homogeneidade entre CEOs A VEZ DOS LÍDERES FRACOS Para este líder que não tem tempo cujas ações são limitadas por barreiras de todos os tipos e que sofre um escrutínio feroz de clientes parceiros e observadores é natural que os poderes de mando tenham desvanecido Sobralhe o que está na moda chamar de novas habilidades ser treinador criador de contexto aquele que dá sentido e propósito a um trabalho Está aí também uma semente de mistificação Por que criar um contexto seria mais fácil que dirigir uma ação O contexto depende da cultura das ações e reações das pessoas de condições externas É por definição algo fora do alcance de um único indivíduo Tratase de arranjar novo sentido para uma função que perdeu o charme A origem da palavra líder vem de conduzir Ela tem parentesco com palavras negativas como Führer diz o filósofo Renato Janine Ribeiro professor da USP O título de Hitler quer dizer exatamente isso o líder que conduz O mesmo vale para o Duce de Mussolini São títulos autoritários que fazem um recorte radical entre quem manda e os comandados Segundo Janine Ribeiro a discussão de liderança não é mais essa Hoje é preciso ser um líder num ambiente democrático o que é um paradoxo O regime democrático tem lideranças fracas ele dá autonomia para as pessoas dá espaço para lideranças colegiadas ou rodízios de modo que você não precise tanto do líder É um recado parecido com o do CCL centro de liderança criativa uma organização americana de treinamento de executivos A história da liderança dos últimos 50 anos é a história do individual Mas nos últimos 15 esse modelo se tornou menos efetivo afirma o documento Future Trends in Leadership Development Tendências no desenvolvimento de liderança publicado em 2011 Liderança deixa de ser uma pessoa ou papel para ser um processo fluxos abertos de informações hierarquias flexíveis recursos e poder de decisão distribuídos perda de controle centralizado Clique na imagem para ampliar Até pouco tempo atrás nós consultores falávamos muito em motivar as equipes diz Karin Parodi presidente da consultoria de carreiras Career Center Agora a questão da liderança tem se mostrado mais participativa colaborativa fluida É o caminho da liderança compartilhada No mundo de hoje você trabalha muito mais por projetos muitas vezes de forma virtual As pessoas se comunicam 24 horas por dia As hierarquias estão diferentes Não quer dizer que haja menos líderes Há mais Há um líder em cada projeto A questão é estamos preparados para essa mudança Ainda vivemos um culto ao líder diz Claudio Garcia presidente da consultoria de recursos humanos LHHDBM na América Latina Quando trabalhamos com recolocação de um executivo nós o convidamos para um café com um líder experiente que pode compartilhar sua vivência Mas nesses encontros começamos a notar que eles só falavam de si mesmos do que haviam feito Uma pesquisa inédita da DBM feita com 373 executivos brasileiros ajuda a explicar a crise quase 50 dos líderes com menos de 45 anos se acham melhores que seus chefes Naturalmente também se acham melhores que os colegas Isso é gravíssimo Quem pensa que é melhor que seus pares limita sua capacidade de ouvir e receber o que vem do outro diz Claudio QUEM PRECISA DE LÍDER Ninguém disse que trocar de modelo é fácil Darcio Crespi headhunter da Heidrick Struggles diz ter feito alguns experimentos com times autogeridos Tentamos implantar há alguns anos em um cliente a Copesul uma estatal privatizada disposta a mudar alguns conceitos Não havia chefe O time discutia e decidia Usamos uma combinação de técnicas japonesas que na época estavam em voga Não tinha de estar todo mundo de acordo mas todos tinham de ser ouvidos O portavoz era rotativo e se reportava ao superior Os times começavam no chão de fábrica chegavam até o presidente O resultado da experiência os líderes emergem Líderes carismáticos que movem as pessoas não são muitos diz Crespi Mas isso não quer dizer que seus liderados não tenham funções de liderança Toda empresa precisa ter muitos líderes Dizer que a empresa precisa de muitos líderes não quer dizer que todo mundo é líder Há uma forte barreira psicológica para isso O ser humano tem mais facilidade em lidar com o autoritarismo diz Forbes Ficamos apavorados com a liberdade de escolha que a pósmodernidade nos trouxe No primeiro momento todo mundo achou legal depois começou a ficar angustiadíssimo Mas não tem saída afirma Não tem volta para o líder anterior Essa questão de eleger um poderoso a quem eu poderei perguntar as coisas é uma projeção das nossas fantasias em relação à figura do pai diz o psicólogo José Ernesto Bologna fundador da Ethos consultoria de desenvolvimento organizacional É uma condição permanente dos humanos Prescindir do líder é encarar a existência por conta própria Crescer Há outra explicação para a necessidade de líderes economia de tempo e energia Na vida moderna a maioria das pessoas é líder e seguidor e as categorias se tornam bem fluidas diz o cientista político Nye Se eu confio no seu juízo em música posso seguir suas recomendações sobre qual concerto assistir ainda que você seja meu subordinado Se sou especialista em pescaria você pode querer me seguir sobre o local para lançar nossos anzóis Quando a vida nas empresas era mais simples fazia sentido seguir um grande líder Mas isso mudou A clássica teoria econômica do prêmio Nobel Ronald Coase diz que as empresas existem porque conseguem realizar tarefas internas a um custo menor do que se as contratassem no mercado Essa teoria está sendo suplementada pela noção de firmas como redes de fornecedores diz Nye Pense Toyota ou Nike Isso quer dizer que um líder hoje em qualquer nível tem de controlar mais pares do que subordinados mais gente distante do que próxima Essa nova realidade valoriza o líder local especialista capaz de trabalhar em rede A julgar por pesquisas como a Top Talk Choque de Gerações feita pelas consultorias de recursos humanos LAB SSJ Clave e Idee em 2010 os jovens brasileiros já perceberam a mudança 58 dos estagiários e trainees de grandes empresas querem empreender influenciar e ter autonomia apenas 15 planejam ser diretores em uma grande empresa nos próximos oito anos 40 dos gestores achavam que eles queriam isso 73 querem ocupar posição de liderança em sua área de atuação e 68 querem ser especialistas em sua função Suas respostas estão de acordo com a previsão do que seria a organização do futuro feita pelo futurista Alvin Toffler e defendida pelo teórico Mintzberg uma adhocracia a liderança é exercida por quem estiver mais capacitado naquele momento e para aquele desafio De certa forma isso já acontece nas empresas Mas é um fenômeno que passa despercebido A maioria das pessoas lidera a partir do meio atraindo e persuadindo tanto acima quanto abaixo da hierarquia diz Nye A própria persuasão mudou porque ninguém gosta de se sentir manipulado As novas técnicas de convencimento como as do especialista Robert Cialdini nos convocam a ouvir debater estar abertos enfim aceitar ser influenciados também Alguns estudiosos começam a tentar entender não a liderança mas o fenômeno dos seguidores definidos como cidadãos ou constituintes Qualquer programa de liderança deveria levar as pessoas a saber se portar como líderes e como seguidores diz Claudio Garcia da DBM Talvez o melhor exemplo para o desenvolvimento da liderança esteja na escola Os traços de liderança começam a ser percebidos entre os 5 e 7 anos de idade diz Márcia Malavasi coordenadora da Faculdade de Educação da Unicamp Mas as famílias não devem ficar preocupadas em incentivar seus filhos a ser líderes Há características mais importantes para trabalhar o respeito ao outro saber ouvir saber viver em comunidade Os pais também exercem em geral um tipo de liderança interessante trabalham para tornarse desnecessários para que as crianças sejam autônomas e criativas Pouca gente tem essa consciência tão clara quanto Marco Aurélio Raymundo conhecido como Morongo fundador da marca Mormaii que faz roupas de surfe O que aconteceria com a empresa se você desaparecesse perguntamos a ele Sua resposta Isso já acontece Eu desapareci há muito tempo Fico às vezes três meses na Indonésia O que acontece A empresa fica muito melhor com Rodrigo Capelo httpepocanegociosglobocomInformacaoVisaonoticia201303quemprecisadeliderhtml