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Antropologia Social

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Antropologia do Espaço - Habitar, Fundar, Distribuir e Transformar - Marion Segaud

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Antropologia do Espaço - Habitar, Fundar, Distribuir e Transformar - Marion Segaud

Antropologia Social

FLF

Antropologia do Espaço: Habitar, Fundar, Distribuir, Transformar

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Antropologia do Espaço: Habitar, Fundar, Distribuir, Transformar

Antropologia Social

FLF

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MARION SEGAUD Antropologia do espaço habitar fundar distribuir transformar Marion Segaud Tradução de Eric R R Heneault São Paulo Edições Sesc São Paulo 2016 312 p il Fundar é uma operação voluntária que decide uma implantação pontual casa monumento ou mais ampla cidade território O espaço dos iaonamíns parece mais sedentário suas instalações eram relativamente duráveis os espaços das casas de suas jardins eram bem distintos da floresta Entretanto como para os guaiacarús H Clateres considera que são as relações entre as pessoas que fornecem referências fixas e que preponderam sobre os vínculos com a localidade Nos lares um corredor de circulação e por fim a praça a céu aberto vazia nessa estrutura cada rito tem um lugar definido no fundo que se isola a filha para sua primeira menstruação ou o guerreiro que matou As sessões de xamanismo ocorrem no corredor de circulação na beira da praça as piras funerárias As relações de parentesco portanto não são as únicas a se inscreverem lá a habitacional pela sua própria arquitetura é o suporte de representação do mundo do centro consequentemente em esse espaço territorializado Clastares 1990 Falase de rituais de fundação quando uma sociedade um grupo ou um indivíduo constroem vínculos simbólicos entre seu território o ambiente construção e suas próprias representações do universo Fundar sempre é fixar no solo um conjunto de crenças de visões do mundo É uma maneira de tornar um espaço seu de apropriarse dele e distinguirlo dos outros espaços de outrem Portanto é uma maneira de classificar Nesse sentido M Douglas 1972 retomando as ideias de Durkheim e Mauss insiste no aspecto antropológico das classificações omnipresentes na vida cotidiana elas se concretizam nela sob diversas formas As fronteiras os limites que decorrem delas sejam simbólicos ou físicos pouco nítidos ou fortes qualquer que seja sua forma de representação e tratamento são reveladores dos tipos de classificação que geram o próprio fato de diferenciar dois espaços e atribuirlhes qualidades diferentes faz parte das necessidades universais que todos os seres humanos compartilham e que têm sentido e existência a partir do momento em que são capazes de interpretar o mundo e desenvolver uma atividade simbólica por meio da linguagem dos signos assim se repete todas as vezes que as circunstâncias se reproduzem quando se constrói uma casa por exemplo como se se tratasse de criar um tipo de continuidade dentro de uma mesma cultura A panóplia que irá se formar em sacrifícios doações variadas tabletas objetos preciosos etc são mencionadas em inúmeras narrativas de fundação Entretanto é preciso estar ciente de que essas narrativas através de seus escritas acabam se tornando construções às quais cada um traz sua própria interpretação A narrativa mais conhecida é a da fundação de Roma sobre o monte Palatino Do modo como chegou até nós resulta da síntese de inúmeras versões elaboradas no decorrer dos séculos O que se atesta é a resposta à pergunta feita por B LiouGille 2005 afinal o que significa fundar Roma assentamentos coloniais em torno do Mediterrâneo e mais tarde na Ásia e na América Os editos reais espanhóis 1573 relativos à fundação de cidades novas na América do Sul propõem o modelo da grade retangular em que os blocos de casas eram uniformes ora retangulares ora quadrados Os próprios blocos eram divididos em lotes solares unidades de base das alocações de terrenos Essa grade aberta permitia certa flexibilidade a expansão da cidade por simples acréscimo de blocos e continuação das vias Em seu centro se organizavam a Plaza Mayor e as diferentes instituições civis e religiosas A colônia grega de Mégara Hyblaea na Sicília é um exemplo de fundação do alto aracismo cuja evolução continua por vários séculos VALLET VILLARD ADBERSON 1976 A fase dos acampamentos que representa o período entre a chegada dos gregos e o primeiro plano urbanístico séculos VIIIVI exibe um eixo convergente que desenha uma trama irregular tratase de bairros de orientações diferentes TRÉZIN 2005 figura 1 Mégara Hyblaea na época arcaica Segundo H Trézin Mandala da ética do território A mandala é uma figura de fundação de tipo geométrico relacionada com implantações religiosas e civis figura 12 Arcuélpto celeste das cidades agrárias indiana do começo da era cristã ela é um esquema geométrico feito de círculos radiocêntricos inscritos num quadrado e orientados para os quatro pontos cardeais Mircea Eliade em seu tratado de história das religiões descrevea como uma prática das escalas tântricas ao mesmo tempo imagotipo mágico e panéia simbólica As construções sagradas indotibetanas também asassimiladas à mandala e representam o mundo cósmico isto é considerase que este último não constrói das cidades mas constrói o espaço de qualquer ação Isso também poderia ser visualizado em outro tipo de construção onde a cidade leva a inscrever espaços abstratos mas fora das taxas de habitais Em qualquer ato colonizador a delimitação fossos muralhas portas santuários é uma operação primordial Em qualquer fundação existem várias etapas a escolha do sítio da planta e sua delimitação Poderíamos esperar que a fundação de uma cidade supusesse um plano global Porém os dados arqueológicos indicam que frequentemente é muito difícil relacionar de forma legível a fundação de uma cidade com um plano urbanístico sobretudo quando o traçado da construção corresponde a redes naturais córregos por exemplo No Oriente Próximo por volta do século XXX aC existem vestígios ordenados de cidades em forma de quadrilátero ou de planta circular que não indicam obrigatoriamente uma fundação GRANDPIERRE 2005 Mari se desenvolveu primeiramente dentro de um círculo no qual se estendia uma rede de vias em estrela Mencionaremos apenas alguns exemplos de traçados Falar aqui da centralidade pode parecer incongruente mas afinal de contas ela pode ser considerada como um efeito dos traços um ponto de fundação Entretanto é preciso distinguir os traços levantados pela arqueologia daqueles propostos pelo antropólogo Desorientados em relação aos pontos cardeais privados da planta que fornece um argumento a sua sabedoria os indígenas logo perdem o senso das tradições como se seu sistema social e religioso fosse complicado demais para abrir mão do esquema que se tornou patente na planta da aldeia e cujos contornos seus gestos cotidianos perpetuam refracem 1 Centro da mandala Palácio alunalun mercado e alguns edifícios públicos 2 Primeiro anel Residências dos aristocratas ou jero as pessoas de dentro 3 Segundo anel Primeiras aldeias anexadas à cidadecapital Templo Palácio alunalun Cemitéo figura 14 Os modelos celestes da trimandala e da mandala Fonte N Lancert Baudung Ásia 1983 Como essas sociedades nômades devem se adequar permanentemente à área que vão ocupar a orientação é onipresente não somente preside a implantação da unidade residencial e do acampamento mas também a da tenda que é regida por regras estritas Dentro desta objetos e pessoas são igualmente distribuídos em determinadas direções BOULAYE 2006 Na Mongólia BANIQUISGASSER 1999 a implantação da iurta para um casamento ou uma etapa do percurso da nomadização é feita no dia bom segundo um calendário conservado atrás de uma haste na parte norte o calendário mongol é dividido em períodos de doze dias correspondentes a doze animais do mesmo modo cada dia se baseia em doze signos BANIQUISGASSER 1999 O imperador era o garantidor da ordem social consolidada de certo modo pela ordem espacial Era o mediador entre o céu e a terra Granet 1968 descreve como ao percorrer o Mintanga a casa do calefator o imperador seguia o ciclo das estações parando a leste no equinócio do outono e ao norte no solstício de inverno Assim ele representava concomitantemente o espaço e o tempo porque enquanto se deslocava de um ponto ao outro fazia como que as estações ocorressem Ainda hoje a orientação das construções especialmente das habitações dálhes um valor de conforto físico e estético portanto de qualidade que influencia o mercado A orientação conforme o sol para a rua ou o pátio com ou sem vista com visões mais ou menos próximas ou inexistentes altera amplamente os preços em nossas sociedades contemporâneas O antigo sistema chamado geomancia chinesa feng shui vento e água ainda está presente na Ásia nas construções modernas Diz respeito à escolha dos locais e à adaptação das construções às características do meio ambiente com a finalidade de conseguir harmonizar a relação entre o homem e a natureza O sistema que preside a escolha do local e da planta do edifício é baseado no conhecimento dos fluxos de energia como na acupuntura que atravessam a terra a imagem do corpo na origem da energia vital produzida pela posição do yin e do yang CLÉMENT CHARPENTIER HAK SHIN 1987 Esse conhecimento muito antigo é assunto de vários tratados e utiliza a orientação como um tipo de operador da fundação e também condição para a harmonia Assim a geomanica chinesa aplicada ao espaço determina o local propício à ocupação do espaço dos vivos e dos mortos Não diz respeito ao local escolhido para a fundação do meio ambiente global organizado por um conjunto de grandes redes de energia espalhadas por todo o território Ela está no fundamento da paisagem Em nosso livro Anthropologie de lespace havíamos proposto considerar que a distinção entre espaço humanizadoespaco não humanizado era relativamente constante em várias sociedades tradicionais Encontremos essa distinção entre o povo fali de Camarões LEUBEUF 1961 para quem o mito de origem descreve a criação do mundo e a tartaruga mítica traça uma delimitação entre o mundo dos homens me centro o que conheço e o mundo selvagem me cenibua o que não conheço Na China GRANET 1968 a representação do universo passa por uma imagem do mundo habitado limitado pelos quatro lados do espaço além dos quais se encontram as regiões os Quatro Mares ocupados pelos bárbaros aparentados ao reino animal Os humanos chineses não podem ir lá sob pena de perder sua humanidade Tratase de um espaço diluído que se opõe ao espaço pleno total o do centro que é conhecido repleto de atributos e reinos dos emblemas lugar das reuniões federais ele é o grupo em si Na Grécia arcaica a terra era o mundo envolto por um rio circular Oceano em origem nem fin VERNANT 1981 Acima da terra como uma tigela de pontacabeça apoiado no contorno do Oceano elevase o céu de bronze perfeito que para sua insularidade solidez Domínio dos deuses o céu é indestrutível Para o grego arcaico a terra é primeiramente aquilo sobre o que se pode andar em total segurança um assento sólido e seguro que não cede ao risco de cair Assim imaginam sob as raízes que garantem sua estabilidade VERNANT 1981 sociedade cria assim interiores mais ou menos fechados com limites mais ou menos rígidos e extensores que respondem a diferentes gradações de meio ambiente Diferentes termos utilizados na antiga República do Alto Volta hoje Burkina Faso na África pelos gurunvies permitem entender a percepção de uma sucessão de espaços da casa até os confins do território a palavra saqa matô é utilizada para expressar o conjunto da aldeia como espaço construído e das terras cultivadas a palavra grabo mato grande é uma mistura de terras ao mesmo tempo cultivadas e não cultivadas que se amplia conforme as direções gao é o mato que se estende além do gabo oalon gaoe é um mato perigoso porque impenetrável e bago é um mato distante espaço sem nome porque desconhecido Por fim há o mato sagrado muito localizado lugar de culto e de próprios BATTALION ROQUE 1981 Para ilustrar a incerteza das delimitações e a falta de operacionalidade das oposições em certas sociedades P Descola 1986 cita os acuarás que não operam diretamente seu meio ambiente doméstico próximo casa jardim ao da floresta que os circunda selvagem sendo esta também amplamente socializada essa mudança de status do espaço DEPAULE ARNAUD 1984 No Japão tirar os sapatos e deixálos na porta é uma regra à qual obedecem até os semteto na estação no parque de Shinjuku em Tóquio antes de entrar em suas casas de papelão Portanto existem diferentes tipos de limites que podem ser mais ou menos rígidos ou mais ou menos claros É certo que existem baixas guias barreiras valores muros portas janelas todo um conjunto de marcações físicas e simbólicas que autorizam ou impedem a passagem que controlam e filtram São dispositivos que mais uma vez determinam e qualificam os espaços A questão resumese então ao cruzamento Conforme se trata da casa ou cidade os dispositivos serão diferentes Não há necessidade aqui de nos debruçarmos no significado das portas dadas a elas e das diferentes formas de cruzamento das muralhas Mas o limiar também serve para distribuir os indivíduos no espaço permite desenvolver estratégias de retiro diante da chegada de um visitante ou da possível intrusão de estranhos O que é comandada a porta pode ser aberta fechada ou apenas entreaberta Os visitantes conforme o status a idade eou o sexo ficarão confinados em determinados lugares intermediários como as varandas as entradas ou dentro da habitação em certos cômodos Na França o limiar da casa moderna se concretiza como um cômodo em si a entrada É preciso relembrar que nos anos 1970 a inovação arquitetônica passou pela supressão das entradas em certos apartamentos A sociologia do habitat mostrou que essa necessidade não agrada aos habitantes que viam nela a supressão do vestíbulo que permitia relatar essa relação entre dentro e fora Na gestão cotidiana do limite há na casa um dispositivo que pode ser entendido como um limiar Tratase não de uma passagem material de cruzamento físico mas do caminho do olhar De fato a janela comandada toda a organização do espaço doméstico No século XVII tornouse tema privilegiado das pinturas de gênero KINAFOU STASZAK 2003 o que revela uma nova atitude mental Elemento técnico cujas funções são a circulação do ar a vista e a iluminação solar a janela é também espaço de transição que relaciona o exterior com o interior Ao examinarmos o caso das janelas holandesas CIRABO 1999 constatamos uma situação bem diferente A mulher é frequentemente representada nos quadros dos séculos XVII e XVIII perto dessa abertura na fronteira entre o espaço privado doméstico e o espaço público e o olhar pode ir nos dois sentidos e é curioso perceber que nas cidades holandesas é possível ver o interior doméstico a partir da rua através de elementos plantas meias cortinas etc que filtram a visão sem curtala totalmente mobilizam o olhar e as representações mas também as práticas materiais e simbólicas do mesmo modo elas induzem ordenações particulares H Raymond fala da relação perfeita para evocar o que na França baseiase numa convenção do habitar segundo a qual é sempre a um termo fixo o interior que se refere o sistema de que resulta o interior e exterior e o exterior que deve ter a mesma cara e causa surpresa quando o interior não corresponde O que JM Léger 1990 mostra pelo estudo de realizações inovadoras é a frequente dificuldade na arquitetura moderna de alcançar uma verdadeira transparência semiológica segundo a qual a fachada seria o reflexo do interior avaliado Ele mostra igualmente como do interior para o exterior a relação se constrói e se mantém por meio de uma série de dispositivos como as janelas e sua decoração cortinas plantas Refundar Na escala do território e a respeito de certas operações urbanísticas é possível falar de refundação Porém identificar uma fundação antiga gera inúmeros problemas tanto técnicos quanto teóricos para a história urbana Como fazer com que ruínas falem como interpretar as epígrafas como aproveitar a análise filológica e interpretar as narrativas de fundação que frequentemente são míticas Quatro dados primordiais se encontram em todo trabalho de identificação de fundação para o historiador a data da fundação a escolha do local a autoridade fundadora e os ritos de fundação Poderíamos classificar separadamente as cerimônias ou rituais que aparecem após catástrofes naturais como terremotos grandes incêndios erupções vulcânicas eou guerras porque as necessidades de refundação passam muitas vezes pela consideração da repetição KIERKEGAARD 1843 portanto por uma discussão sobre a própria localização aqui em outro lugar da reconstrução Mas nos deslocamentos das implantações urbanas não havia apenas considerações de ordem física Musset 2002 mostra que a reconstrução de uma cidade da conquista espanhola do Novo Mundo não somente permitia corrigir falhas da primeira implantação como participava de questões de poder e dinheiro Os conquistadores espanhóis logo vão criar uma rede de cidades todas idênticas progressivamente a construção vai ser codificada por decretos da Coroa espanhola segundo uma planta geométrica em grade geralmente sem muralhas de proteção Musset estudou esse fenômeno de transferência de cidades que como várias regiões na América Latina e que aparece como um vácuo sério nas histórias da arquitetura Assim as armadas dos historiadores estão mais em pauta Outro elemento justifica o uso do termo quando se trata por meio de obras pequenas de nova distribuição de lugares simbólicos que no final leva a uma nova leitura da cidade Essas ações visam sempre o centro deslocandoo ou desdobrandoo Por fim essas operações se caracterizam geralmente por sua brevidade e pelo fato de serem feitas por iniciativa de um único promotor O conceito de refundação aparece então como um instrumento de análise útil para entender intervenções no tecido urbano recuperar para cada caso que se ultrapassam as abordagens setoriais da cidade adotando um ponto de vista pluridisciplinar que combina as abordagens históricas morfológicas sociais etc E o caso de D Ratouis 1997 que seguiu a reconstrução após a Segunda Guerra Mundial de Dunkerque lugar privilegiado de experimentação do urbanismo moderno

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habitacional pela sua própria arquitetura é o suporte de representação do mundo do centro consequentemente em esse espaço territorializado Clastares 1990 Falase de rituais de fundação quando uma sociedade um grupo ou um indivíduo constroem vínculos simbólicos entre seu território o ambiente construção e suas próprias representações do universo Fundar sempre é fixar no solo um conjunto de crenças de visões do mundo É uma maneira de tornar um espaço seu de apropriarse dele e distinguirlo dos outros espaços de outrem Portanto é uma maneira de classificar Nesse sentido M Douglas 1972 retomando as ideias de Durkheim e Mauss insiste no aspecto antropológico das classificações omnipresentes na vida cotidiana elas se concretizam nela sob diversas formas As fronteiras os limites que decorrem delas sejam simbólicos ou físicos pouco nítidos ou fortes qualquer que seja sua forma de representação e tratamento são reveladores dos tipos de classificação que geram o próprio fato de diferenciar dois espaços e atribuirlhes qualidades diferentes faz parte das necessidades universais que todos os seres humanos compartilham e que têm sentido e existência a partir do momento em que são capazes de interpretar o mundo e desenvolver uma atividade simbólica por meio da linguagem dos signos assim se repete todas as vezes que as circunstâncias se reproduzem quando se constrói uma casa por exemplo como se se tratasse de criar um tipo de continuidade dentro de uma mesma cultura A panóplia que irá se formar em sacrifícios doações variadas tabletas objetos preciosos etc são mencionadas em inúmeras narrativas de fundação Entretanto é preciso estar ciente de que essas narrativas através de seus escritas acabam se tornando construções às quais cada um traz sua própria interpretação A narrativa mais conhecida é a da fundação de Roma sobre o monte Palatino Do modo como chegou até nós resulta da síntese de inúmeras versões elaboradas no decorrer dos séculos O que se atesta é a resposta à pergunta feita por B LiouGille 2005 afinal o que significa fundar Roma assentamentos coloniais em torno do Mediterrâneo e mais tarde na Ásia e na América Os editos reais espanhóis 1573 relativos à fundação de cidades novas na América do Sul propõem o modelo da grade retangular em que os blocos de casas eram uniformes ora retangulares ora quadrados Os próprios blocos eram divididos em lotes solares unidades de base das alocações de terrenos Essa grade aberta permitia certa flexibilidade a expansão da cidade por simples acréscimo de blocos e continuação das vias Em seu centro se organizavam a Plaza Mayor e as diferentes instituições civis e religiosas A colônia grega de Mégara Hyblaea na Sicília é um exemplo de fundação do alto aracismo cuja evolução continua por vários séculos VALLET VILLARD ADBERSON 1976 A fase dos acampamentos que representa o período entre a chegada dos gregos e o primeiro plano urbanístico séculos VIIIVI exibe um eixo convergente que desenha uma trama irregular tratase de bairros de orientações diferentes TRÉZIN 2005 figura 1 Mégara Hyblaea na época arcaica Segundo H Trézin Mandala da ética do território A mandala é uma figura de fundação de tipo geométrico relacionada com implantações religiosas e civis figura 12 Arcuélpto celeste das cidades agrárias indiana do começo da era cristã ela é um esquema geométrico feito de círculos radiocêntricos inscritos num quadrado e orientados para os quatro pontos cardeais Mircea Eliade em seu tratado de história das religiões descrevea como uma prática das escalas tântricas ao mesmo tempo imagotipo mágico e panéia simbólica As construções sagradas indotibetanas também asassimiladas à mandala e representam o mundo cósmico isto é considerase que este último não constrói das cidades mas constrói o espaço de qualquer ação Isso também poderia ser visualizado em outro tipo de construção onde a cidade leva a inscrever espaços abstratos mas fora das taxas de habitais Em qualquer ato colonizador a delimitação fossos muralhas portas santuários é uma operação primordial Em qualquer fundação existem várias etapas a escolha do sítio da planta e sua delimitação Poderíamos esperar que a fundação de uma cidade supusesse um plano global Porém os dados arqueológicos indicam que frequentemente é muito difícil relacionar de forma legível a fundação de uma cidade com um plano urbanístico sobretudo quando o traçado da construção corresponde a redes naturais córregos por exemplo No Oriente Próximo por volta do século XXX aC existem vestígios ordenados de cidades em forma de quadrilátero ou de planta circular que não indicam obrigatoriamente uma fundação GRANDPIERRE 2005 Mari se desenvolveu primeiramente dentro de um círculo no qual se estendia uma rede de vias em estrela Mencionaremos apenas alguns exemplos de traçados Falar aqui da centralidade pode parecer incongruente mas afinal de contas ela pode ser considerada como um efeito dos traços um ponto de fundação Entretanto é preciso distinguir os traços levantados pela arqueologia daqueles propostos pelo antropólogo Desorientados em relação aos pontos cardeais privados da planta que fornece um argumento a sua sabedoria os indígenas logo perdem o senso das tradições como se seu sistema social e religioso fosse complicado demais para abrir mão do esquema que se tornou patente na planta da aldeia e cujos contornos seus gestos cotidianos perpetuam refracem 1 Centro da mandala Palácio alunalun mercado e alguns edifícios públicos 2 Primeiro anel Residências dos aristocratas ou jero as pessoas de dentro 3 Segundo anel Primeiras aldeias anexadas à cidadecapital Templo Palácio alunalun Cemitéo figura 14 Os modelos celestes da trimandala e da mandala Fonte N Lancert Baudung Ásia 1983 Como essas sociedades nômades devem se adequar permanentemente à área que vão ocupar a orientação é onipresente não somente preside a implantação da unidade residencial e do acampamento mas também a da tenda que é regida por regras estritas Dentro desta objetos e pessoas são 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de qualidade que influencia o mercado A orientação conforme o sol para a rua ou o pátio com ou sem vista com visões mais ou menos próximas ou inexistentes altera amplamente os preços em nossas sociedades contemporâneas O antigo sistema chamado geomancia chinesa feng shui vento e água ainda está presente na Ásia nas construções modernas Diz respeito à escolha dos locais e à adaptação das construções às características do meio ambiente com a finalidade de conseguir harmonizar a relação entre o homem e a natureza O sistema que preside a escolha do local e da planta do edifício é baseado no conhecimento dos fluxos de energia como na acupuntura que atravessam a terra a imagem do corpo na origem da energia vital produzida pela posição do yin e do yang CLÉMENT CHARPENTIER HAK SHIN 1987 Esse conhecimento muito antigo é assunto de vários tratados e utiliza a orientação como um tipo de operador da fundação e também condição para a harmonia Assim a geomanica chinesa aplicada ao espaço determina o 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semteto na estação no parque de Shinjuku em Tóquio antes de entrar em suas casas de papelão Portanto existem diferentes tipos de limites que podem ser mais ou menos rígidos ou mais ou menos claros É certo que existem baixas guias barreiras valores muros portas janelas todo um conjunto de marcações físicas e simbólicas que autorizam ou impedem a passagem que controlam e filtram São dispositivos que mais uma vez determinam e qualificam os espaços A questão resumese então ao cruzamento Conforme se trata da casa ou cidade os dispositivos serão diferentes Não há necessidade aqui de nos debruçarmos no significado das portas dadas a elas e das diferentes formas de cruzamento das muralhas Mas o limiar também serve para distribuir os indivíduos no espaço permite desenvolver estratégias de retiro diante da chegada de um visitante ou da possível intrusão de estranhos O que é comandada a porta pode ser aberta fechada ou apenas entreaberta Os visitantes conforme o status a idade eou o sexo ficarão confinados em determinados lugares intermediários como as varandas as entradas ou dentro da habitação em certos cômodos Na França o limiar da casa moderna se concretiza como um cômodo em si a entrada É preciso relembrar que nos anos 1970 a inovação arquitetônica passou pela supressão das entradas em certos apartamentos A sociologia do habitat mostrou que essa necessidade não agrada aos habitantes que viam nela a supressão do vestíbulo que permitia relatar essa relação entre dentro e fora Na gestão cotidiana do limite há na casa um dispositivo que pode ser entendido como um limiar Tratase não de uma passagem material de cruzamento físico mas do caminho do olhar De fato a janela comandada toda a organização do espaço doméstico No século XVII tornouse tema privilegiado das pinturas de gênero KINAFOU STASZAK 2003 o que revela uma nova atitude mental Elemento técnico cujas funções são a circulação do ar a vista e a iluminação solar a janela é também espaço de transição que relaciona o exterior com o interior Ao examinarmos o caso das janelas holandesas CIRABO 1999 constatamos uma situação bem diferente A mulher é frequentemente representada nos quadros dos séculos XVII e XVIII perto dessa abertura na fronteira entre o espaço privado doméstico e o espaço público e o olhar pode ir nos dois sentidos e é curioso perceber que nas cidades holandesas é possível ver o interior doméstico a partir da rua através de elementos plantas meias cortinas etc que filtram a visão sem curtala totalmente mobilizam o olhar e as representações mas também as práticas materiais e simbólicas do mesmo modo elas induzem ordenações particulares H Raymond fala da relação perfeita para evocar o que na França baseiase numa convenção do habitar segundo a qual é sempre a um termo fixo o interior que se refere o sistema de que resulta o interior e exterior e o exterior que deve ter a mesma cara e causa surpresa quando o interior não corresponde O que JM Léger 1990 mostra pelo estudo de realizações inovadoras é a frequente dificuldade na arquitetura moderna de alcançar uma verdadeira transparência semiológica segundo a qual a fachada seria o reflexo do interior avaliado Ele mostra igualmente como do interior para o exterior a relação se constrói e se mantém por meio de uma série de dispositivos como as janelas e sua decoração cortinas plantas Refundar Na escala do território e a respeito de certas operações urbanísticas é possível falar de refundação Porém identificar uma fundação antiga gera inúmeros problemas tanto técnicos quanto teóricos para a história urbana Como fazer com que ruínas falem como interpretar as epígrafas como aproveitar a análise filológica e interpretar as narrativas de fundação que frequentemente são míticas Quatro dados primordiais se encontram em todo trabalho de identificação de fundação para o historiador a data da fundação a escolha do local a autoridade fundadora e os ritos de fundação Poderíamos classificar separadamente as cerimônias ou rituais que 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