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Engenharia de Produção ·
Comunicação e Expressão
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Copyright Herdeiros Paulo Freire Direitos de edição da obra em língua portuguesa no Brasil adquiridos pela EDITORA PAZ E TERRA Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta obra pode ser apropriado e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar em qualquer forma ou meio seja eletrônico de fotocópia gravação etc sem a permissão do detentor do copirate EDITORA PAZ E TERRA LTDA Rua do Triunfo 177 Sta Ifigênia São Paulo Tel 011 33378399 Fax 011 32236290 httpwwwpazeterracombr Texto revisto pelo novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa CIPBRASIL CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS RJ Freire Paulo 19211997 Extensão ou comunicação recurso eletrônico Paulo Freire tradução Rosiska Darcy de Oliveira 1 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 2013 recurso digital Título original Extensión o comunicación Bibliografia Formato ePub Requisitos do sistema Adobe Digital Editions Modo de acesso World Wide Web Inclui índice ISBN 9788577532223 recurso eletrônico 1 Freire Paulo 19211997 2 Educação 3 Educação Aspectos políticos 4 Educação Aspectos sociais 5 Livros eletrônicos I Título CDD3701 A EXTENSÃO OU COMUNICAÇÃO Desde as primeiras páginas deste ensaio temos insistido nesta obviedade que o homem como um ser de relações desafiado pela natureza a transforma com seu trabalho e que o resultado desta transformação que se separa do homem constituiu seu mundo O mundo da cultura que se prolonga no mundo da história Este mundo exclusivo do homem com o qual ele enche os espaços geográficos é chamado por Eduardo Nicol como vimos no capítulo anterior de estrutura vertical em relação com a estrutura horizontal A estrutura vertical o mundo social e humano não existiria como tal se não fosse um mundo de comunicabilidade fora do qual é impossível darse o conhecimento humano A intersubjetividade ou a intercomunicação é a característica primordial deste mundo cultural e histórico Daí que a função gnosológica não possa ficar reduzida a simples relação do sujeito cognoscente com o objeto cognoscível Sem a relação comunicativa entre sujeitos cognoscentes em torno do objeto cognoscível desapareceria o ato cognoscitivo A relação gnosológica por isso mesmo não encontra seu termo no objeto conhecido Pela intersubjetividade estabelecese a comunicação entre os sujeitos a propósito do objeto Esta é a razão pela qual estudando as três relações constitutivas do conhecimento a gnosológica a lógica e a histórica Eduardo Nicol37 Conhecer é tarefa de sujeitos não de objetos E é como sujeito e somente enquanto sujeito que o homem pode realmente conhecer PAULO FREIRE EXTENSÃO OU COMUNICAÇÃO acrescenta uma quarta fundamental indispensável ao ato do conhecimento que é a relação dialógica Não há realmente pensamento isolado na medida em que não há homem isolado Todo ato de pensar exige um sujeito que pensa um objeto pensado que mediatiza o primeiro sujeito do segundo e a comunicação entre ambos que se dá através de signos linguísticos O mundo humano é desta forma um mundo de comunicação Corpo consciente consciência intencionada ao mundo à realidade o homem atua pensa e fala sobre esta realidade que é a mediação entre ele e outros homens que também atuam pensam e falam Considerando a função do pensamento afirma Nicol que este não deveria ser designado por um substantivo e sim por um verbo transitivo38 Talvez com rigor pudéssemos dizer que o verbo que designasse o pensamento mais que puramente transitivo deveria ser um que tivesse como regime sintático o objeto da ação e um complemento de companhia Desta forma além do sujeito pensante do objeto pensado haveria como exigência tão necessária quanto ao primeiro sujeito e do objeto a presença de outro sujeito pensante representado na expressão de companhia Seria um verbo cossubjetivoobjetivo cuja ação incidente no objeto seria por isto mesmo coparticipada O sujeito pensante não pode pensar sozinho não pode pensar sem a coparticipação de outros sujeitos no ato de pensar sobre o objeto Não há um penso mas um pensamos É o pensamos que estabeleço e penso e não o contrário Esta coparticipação dos sujeitos no ato de pensar se dá na comunicação O objeto por isto mesmo não é a incidência terminativa do pensamento de um sujeito mas o mediador da comunicação Daí que como conteúdo da comunicação não possa ser comunicado de um sujeito a outro Se o objeto do pensamento fosse um puro comunicado não seria um significado significativo mediador dos sujeitos Se o sujeito A não pode ter o objeto e termo de seu pensamento uma vez que este é a mediação entre ele e o sujeito B em comunicação não pode igualmente transformar o sujeito B em incidência depositária do conteúdo do objeto sobre o qual pensa Se assim fosse e quando assim é não haveria nem há comunicação Simplesmente um sujeito estaria ou está transformando o outro em paciente de seus comunicados39 A comunicação pelo contrário implica uma reciprocidade que não pode ser rompida Por isso não é possível compreender o pensamento fora de sua dupla função cognoscitiva e comunicativa Esta função por sua vez não é a extensão do conteúdo significativo do significado objeto do pensar e do conhecer Comunicar é comunicarse em torno do significado significativo Desta forma na comunicação não há sujeitos passivos Os sujeitos cointecidos ao objeto de seu pensar se comunicam seu conteúdo O que caracteriza a comunicação enquanto este comunicar comunicandose é que ela é diálogo assim como o diálogo é comunicativo Em relação dialógicacomunicativa os sujeitos interlocutores se expressam como já vimos através de um mesmo sistema de signos linguísticos É então indispensável ao ato comunicativo para que este seja eficiente o acordo entre os sujeitos reciprocamente comunicantes Isto é a expressão verbal de um dos sujeitos tem que ser percebida dentro de um quadro significativo comum ao outro sujeito Se não há este acordo em torno dos signos como expressões do objeto significado não pode haver compreensão entre os sujeitos o que impossibilita a comunicação Isso é tão verdadeiro que entre compreensão inteligibilidade e comunicação não há separação como se constituíssem momentos distintos do mesmo processo ou do mesmo ato Pelo contrário inteligibilidade e comunicação se dão simultaneamente Em função de estarmos ou não advertidos desta verdade científica levaremos seriamente em conta ou não nossas relações com os camponeses qualquer que seja o nosso quefazer com eles Em torno de um fato a colheita por exemplo poderemos usar um sistema simbólico uninteligível para eles Nossa linguagem técnica que se exprime num universo de signos linguísticos próprios pode deixar de ser alcançada por eles como o significante do significado sobre o qual falamos Daí que as palestras sejam cada vez menos indicadas como método eficiente Daí que o diálogo problematizador entre as várias razões que o fazem indispensável tenha esta mais a de diminuir a distância entre a expressão significativa do técnico e a percepção pelos camponeses em torno do significado Desta forma o significado passa a ter a mesma significação para ambos E isto só se dá na comunicação e intercomunicação dos sujeitos pensantes a propósito do pensado e nunca através da extensão do pensado de um sujeito até o outro Não será demais sublinhar a necessidade de sérios estudos de natureza semântica indispensáveis ao trabalho do agrônomo Só se comunica o inteligível na medida em que este é comunicado Esta é a razão pela qual enquanto a significação não for compreensível para um dos sujeitos não é possível a compreensão do significado à qual um deles já chegou e que no entanto não foi apreendida pelo outro na expressão do primeiro Vêse assim que a busca do conhecimento que se reduz à pura relação sujeito cognoscenteobjeto cognoscível rompendo a estrutura dialógica do conhecimento está equivocada por maior que seja sua tradição Equivocada também está a concepção segundo a qual o quefazer educativo é um ato de transmissão ou de extensão sistemática de um saber A educação pelo contrário em lugar de ser esta transferência de saber que o torna quase morto é situação gnosiológica em seu sentido mais amplo Por isso é que a tarefa do educador não é a de quem se põe como sujeito cognoscente diante de um objeto cognoscível para depois de conhecêlo falar dele discursivamente a seus educandos cujo papel seria o de arquivadores de seus comunicados comunicativos Segundo este autor estes atos se realizam em dois planos fundamentais um em que o objeto da comunicação pertence ao domínio do emocional outro em que o ato comunica conhecimento ou estado mental No primeiro caso que não nos interessa neste estudo a comunicação que se dá em nível emocional opera por contágio como sublinha Schaff42 É uma comunicação na qual um dos sujeitos por um lado suscita um certo estado emocional no outro medo alegria ódio etc podendo contagiarse de tal estado e pode por outro lado conhecer no que o expressa o estado referido Não existe contudo neste tipo de comunicação que se realiza também em nível animal a admiração do objeto por parte dos sujeitos da comunicação43 A admiração do objeto da comunicação que é expressa através de signos linguísticos se dá no seguinte tipo de comunicação que distingue Urban Neste a comunicação se verifica entre sujeitos sobre algo que os media e que se oferece a eles como um fato cognoscível Este algo que mediazita os sujeitos interlocutores pode ser tanto um fato concreto a semeadura e suas técnicas por exemplo como um teorema matemático Em ambos os casos a comunicação verdadeira não nos parece estar na exclusiva transferência ou transmissão do conhecimento de um sujeito a outro mas em sua coparticipação no ato de compreender a significação do significado Esta é uma comunicação que se faz criticamente A comunicação em nível emocional pode realizarse tanto entre o sujeito A e o sujeito B como em uma multidão entre esta e um líder carismático Seu caráter fundamental é ser acrítica No caso anterior a comunicação implica a compreensão pelos sujeitos intercomunicantes do conteúdo sobre o qual ou a propósito do qual se estabelece a relação comunicativa E como sublinhamos nas primeiras páginas deste capítulo neste nível a comunicação é essencialmente linguística Tal fato irrecusável nos coloca problemas de real importância que não devem ser esquecidos nem tampouco menosprezados Poderíamos reduzilos ao seguinte a comunicação eficiente exige que os sujeitos interlocutores incidam sua admiração sobre o mesmo objeto que o expressem através de signos linguísticos pertencentes ao universo comum a ambos para que assim compreendam de maneira semelhante o objeto da comunicação Nesta comunicação que se faz por meio de palavras não pode ser rompida a relação pensamentolinguagemcontexto ou realidade Não há pensamento que não esteja referido à realidade direta ou indiretamente marcada por ela do que resulta que a linguagem que o exprime não pode estar isenta destas marcas Por fim nos parece claro o equívoco ao qual nos pode conduzir o conceito de extensão o de estender um conhecimento técnico até os camponeses em lugar de pela comunicação eficiente fazer do fato concreto ao qual se refere o conhecimento expresso por signos linguísticos objeto de compreensão mútua dos camponeses e dos agrônomos Só assim se dá a comunicação eficaz e somente através dela pode o agrônomo exercer com êxito o seu trabalho que será compartido pelos camponeses Vejamos agora outro aspecto de igual importância problemática no campo da comunicação que deve ser tomado em consideração pelo agrônomoeducador em seu trabalho Não há como já dissemos possibilidade de uma relação comunicativa se entre os sujeitos interlocutores não se estabelece a compreensão em torno da significação do signo44 Ou o signo tem o mesmo significado para os sujeitos que se comunicam ou a comunicação se torna inviável entre ambos por falta da compreensão indispensável Considerando este aspecto Adam Schaff45 admite dois tipos distintos de comunicação uma que se centra em significados outra cujo conteúdo são as convicções Na comunicação cujo conteúdo são convicções ademais da compreensão significante dos signos há ainda o problema da adesão ou não adesão à convicção expressa por um dos sujeitos comunicantes A compreensão significante dos signos por sua vez exige que os sujeitos da comunicação sejam capazes de reconstituir em si mesmos de certo modo o processo dinâmico em que se constitui a convicção expressa por ambos através dos signos linguísticos Posso entender a significação dos signos linguísticos de um camponês do Nordeste brasileiro que me diga com absoluta convicção que trata as feridas infectas de seu gado rezando sobre os rastros que este vai deixando no chão Desde logo como afirmamos acima o entendimento da significação dos signos linguísticos destes camponês implica a compreensão do contexto em que se gera a convicção que foi expressa pelos signos linguísticos Não obstante a compreensão dos signos como tampouco a compreensão do contexto não é suficiente para que o compartilhe de sua convicção Pois bem ao não compartilhar a convicção ou da crença mágica deste camponês invalido o que há nela de teoria ou pseudociência que envolve todo um conjunto de conhecimentos técnicos Mas o que não se pode esquecer é que o que constitui para nós em contraposição à crença mágica do camponês o domínio dos significados no sentido aqui estudado e que lhe dá Schaff aparece ao camponês como uma contradição à sua ciência também Neste caso a convicção do camponês de caráter mágico convicção em torno de suas técnicas incipientes e empíricas se choca necessariamente com os significados técnicos dos agrônomos Daí que a relação do agrônomo com os camponeses de ordem sistemática e programada não possa deixar de realizarse numa situação gnosológica portanto dialógica e comunicativa Ainda quando estivéssemos de acordo o que não é o caso com a ação extensiva do conhecimento em que um sujeito o leva a outro que deixa por isso mesmo de ser sujeito seria necessário não somente que os signos tivessem o mesmo significado mas também que o conteúdo do conhecimento estendido se gerasse num terreno comum aos polos da relação Como esta não é a situação concreta entre nós a tendência do extensionismo é cair facilmente no uso de técnicas de propaganda de persuasão no vasto setor que se vem chamando meios de comunicação de massa Em última análise meios de comunicados às massas através de cujas técnicas as massas são conduzidas e manipuladas e por isso mesmo não se encontram comprometidas num processo educativolibertador Esta advertência que fazemos é óbvio só se dirige a quem se serve destes procedimentos equivocadamente e não por outras razões Um dos motivos do equívoco está em que ao sentir as primeiras dificuldades em sua tentativa de comunicação com os camponeses não percebem que estas dificuldades entre outras causas têm ainda o processo de comunicação humana não pode estar isento dos condicionamentos socioculturais Então em lugar de levar esta verdade em conta e refletir sobre os condicionamentos socioculturais dos camponeses que não são os seus simplificam a questão e concluem como afirmamos anteriormente pela incapacidade dialógica dos camponeses Daí aos atos de invasão cultural e de manipulação há só um passo que já está praticamente dado Há algo ainda que deve ser considerado no processo da comunicação de indiscutível importância para o trabalho do educador em suas relações com os camponeses Queremos referirnos a certas manifestações ora de caráter natural que não dependem do homem para sua existência ora de caráter sociocultural que se constituem no processo da comunicação Ambas funcionam dentro das relações sociais de comunicação como signos que apontam para Por isso mesmo são indicadores ou anúncios de algo Em qualquer dos casos seja diante de indicadores naturais ou de indicadores socioculturais a comunicação entre o agrônomo e os camponeses pode romperse se aquele inadvertidamente assume posições consideradas negativas dentro dos limites de cada um destes indicadores Por último parecemnos indispensáveis algumas considerações finais neste capítulo a propósito do aspecto humanista em que deve estar inspirado o trabalho de comunicação entre técnicos num processo de reforma agrária e camponeses Aspecto humanista de caráter concreto rigorosamente científico e não abstrato Humanismo que não se nutra de visões de um homem ideal fora do mundo de um perfil de homem fabricado pela imaginação por mais bemintencionado que seja quem o imagine Humanismo que não leve à procura de concretização de um modelo intemporal uma espécie de ideia ou de mito ao qual o homem concreto se aliene Humanismo que não tendo uma visão crítica do homem concreto pretende um será para ele ele que tragicamente está sendo uma forma de quase não ser Pelo contrário o humanismo que se impõe ao trabalho de comunicação entre técnicos e camponeses no processo de reforma agrária se baseia na ciência e não na doxa e não no eu gostaria que fosse ou em gostos puramente humanitários É um humanismo que pretendendo verdadeiramente a humanização dos homens rejeita toda forma de manipulação na medida em que esta contradiz sua libertação Humanismo que vendo os homens no mundo no tempo mergulhados na realidade só é verdadeiro enquanto se dá na ação transformadora das estruturas em que eles se encontram coisificados ou quase coisificados fazendo e refazendo as coisas e transformando o mundo os homens podem superar a situação em que estão sendo um quase não ser e passar a ser um estar sendo em busca do ser mais Neste humanismo científico que nem por isso deixa de ser amoroso deve estar apoiada a ação comunicativa do agrônomoeducador Por tudo isso uma vez mais estamos obrigados a negar ao termo extensão e a seu derivado extensionismo as conotações do quefazer verdadeiramente educativo que se encontram no conceito de comunicação Daí que à pergunta que dá título não só à primeira parte do presente capítulo mas a este ensaio extensão ou comunicação respondamos negativamente à extensão e afirmativamente à comunicação B A EDUCAÇÃO COMO UMA SITUAÇÃO GNOSIOLOGICA O homem é um corpo consciente Sua consciência intencionada ao mundo é sempre consciência de em permanente despego até a realidade Daí que seja próprio do homem estar em constantes relações com o mundo Relações em que a subjetividade que toma cor po na objetividade constituiu com esta uma unidade dialética onde se gera um conhecer solidário com o agir e viceversa Por isso mesmo é que as explicações unilateralmente subjetivista e objetivista que rompem esta dialetização dicotomizando o indicotomizável não são capazes de compreendêlo Ambas carecem de sentido teleológico Se o solipsismo erra quando pretende que somente o Eu existe e que sua consciência alcança tudo sendo um absurdo pensar uma realidade externa a elaERRA também o objetivismo acrítico e mecanicista grosseiramente materialista segundo o qual em última análise a realidade se transformaria a si mesma sem a atuação dos homens meros objetos então da transformação
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cognoscente com o objeto cognoscível Sem a relação comunicativa entre sujeitos cognoscentes em torno do objeto cognoscível desapareceria o ato cognoscitivo A relação gnosológica por isso mesmo não encontra seu termo no objeto conhecido Pela intersubjetividade estabelecese a comunicação entre os sujeitos a propósito do objeto Esta é a razão pela qual estudando as três relações constitutivas do conhecimento a gnosológica a lógica e a histórica Eduardo Nicol37 Conhecer é tarefa de sujeitos não de objetos E é como sujeito e somente enquanto sujeito que o homem pode realmente conhecer PAULO FREIRE EXTENSÃO OU COMUNICAÇÃO acrescenta uma quarta fundamental indispensável ao ato do conhecimento que é a relação dialógica Não há realmente pensamento isolado na medida em que não há homem isolado Todo ato de pensar exige um sujeito que pensa um objeto pensado que mediatiza o primeiro sujeito do segundo e a comunicação entre ambos que se dá através de signos linguísticos O mundo humano é desta forma 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mas um pensamos É o pensamos que estabeleço e penso e não o contrário Esta coparticipação dos sujeitos no ato de pensar se dá na comunicação O objeto por isto mesmo não é a incidência terminativa do pensamento de um sujeito mas o mediador da comunicação Daí que como conteúdo da comunicação não possa ser comunicado de um sujeito a outro Se o objeto do pensamento fosse um puro comunicado não seria um significado significativo mediador dos sujeitos Se o sujeito A não pode ter o objeto e termo de seu pensamento uma vez que este é a mediação entre ele e o sujeito B em comunicação não pode igualmente transformar o sujeito B em incidência depositária do conteúdo do objeto sobre o qual pensa Se assim fosse e quando assim é não haveria nem há comunicação Simplesmente um sujeito estaria ou está transformando o outro em paciente de seus comunicados39 A comunicação pelo contrário implica uma reciprocidade que não pode ser rompida Por isso não é possível compreender o pensamento fora de sua dupla função cognoscitiva e comunicativa Esta função por sua vez não é a extensão do conteúdo significativo do significado objeto do pensar e do conhecer Comunicar é comunicarse em torno do significado significativo Desta forma na comunicação não há sujeitos passivos Os sujeitos cointecidos ao objeto de seu pensar se comunicam seu conteúdo O que caracteriza a comunicação enquanto este comunicar comunicandose é que ela é diálogo assim como o diálogo é comunicativo Em relação dialógicacomunicativa os sujeitos interlocutores se expressam como já vimos através de um mesmo sistema de signos linguísticos É então indispensável ao ato comunicativo para que este seja eficiente o acordo entre os sujeitos reciprocamente comunicantes Isto é a expressão verbal de um dos sujeitos tem que ser percebida dentro de um quadro significativo comum ao outro sujeito Se não há este acordo em torno dos signos como expressões do objeto significado não pode haver compreensão entre os sujeitos o que impossibilita a 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significado Desta forma o significado passa a ter a mesma significação para ambos E isto só se dá na comunicação e intercomunicação dos sujeitos pensantes a propósito do pensado e nunca através da extensão do pensado de um sujeito até o outro Não será demais sublinhar a necessidade de sérios estudos de natureza semântica indispensáveis ao trabalho do agrônomo Só se comunica o inteligível na medida em que este é comunicado Esta é a razão pela qual enquanto a significação não for compreensível para um dos sujeitos não é possível a compreensão do significado à qual um deles já chegou e que no entanto não foi apreendida pelo outro na expressão do primeiro Vêse assim que a busca do conhecimento que se reduz à pura relação sujeito cognoscenteobjeto cognoscível rompendo a estrutura dialógica do conhecimento está equivocada por maior que seja sua tradição Equivocada também está a concepção segundo a qual o quefazer educativo é um ato de transmissão ou de extensão sistemática de um saber A educação pelo contrário em lugar de ser esta transferência de saber que o torna quase morto é situação gnosiológica em seu sentido mais amplo Por isso é que a tarefa do educador não é a de quem se põe como sujeito cognoscente diante de um objeto cognoscível para depois de conhecêlo falar dele discursivamente a seus educandos cujo papel seria o de arquivadores de seus comunicados comunicativos Segundo este autor estes atos se realizam em dois planos fundamentais um em que o objeto da comunicação pertence ao domínio do emocional outro em que o ato comunica conhecimento ou estado mental No primeiro caso que não nos interessa neste estudo a comunicação que se dá em nível emocional opera por contágio como sublinha Schaff42 É uma comunicação na qual um dos sujeitos por um lado suscita um certo estado emocional no outro medo alegria ódio etc podendo contagiarse de tal estado e pode por outro lado conhecer no que o expressa o estado referido Não existe contudo neste tipo de comunicação que se realiza também em nível animal a admiração do objeto por parte dos sujeitos da comunicação43 A admiração do objeto da comunicação que é expressa através de signos linguísticos se dá no seguinte tipo de comunicação que distingue Urban Neste a comunicação se verifica entre sujeitos sobre algo que os media e que se oferece a eles como um fato cognoscível Este algo que mediazita os sujeitos interlocutores pode ser tanto um fato concreto a semeadura e suas técnicas por exemplo como um teorema matemático Em ambos os casos a comunicação verdadeira não nos parece estar na exclusiva transferência ou transmissão do conhecimento de um sujeito a outro mas em sua coparticipação no ato de compreender a significação do significado Esta é uma comunicação que se faz criticamente A comunicação em nível emocional pode realizarse tanto entre o sujeito A e o sujeito B como em uma multidão entre esta e um líder carismático Seu caráter fundamental é ser acrítica No caso anterior a comunicação implica a 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se centra em significados outra cujo conteúdo são as convicções Na comunicação cujo conteúdo são convicções ademais da compreensão significante dos signos há ainda o problema da adesão ou não adesão à convicção expressa por um dos sujeitos comunicantes A compreensão significante dos signos por sua vez exige que os sujeitos da comunicação sejam capazes de reconstituir em si mesmos de certo modo o processo dinâmico em que se constitui a convicção expressa por ambos através dos signos linguísticos Posso entender a significação dos signos linguísticos de um camponês do Nordeste brasileiro que me diga com absoluta convicção que trata as feridas infectas de seu gado rezando sobre os rastros que este vai deixando no chão Desde logo como afirmamos acima o entendimento da significação dos signos linguísticos destes camponês implica a compreensão do contexto em que se gera a convicção que foi expressa pelos signos linguísticos Não obstante a compreensão dos signos como tampouco a compreensão do contexto não é suficiente para que o compartilhe de sua convicção Pois bem ao não compartilhar a convicção ou da crença mágica deste camponês invalido o que há nela de teoria ou pseudociência que envolve todo um conjunto de conhecimentos técnicos Mas o que não se pode esquecer é que o que constitui para nós em contraposição à crença mágica do camponês o domínio dos significados no sentido aqui estudado e que lhe dá Schaff aparece ao camponês como uma contradição à sua ciência também Neste caso a convicção do camponês de caráter mágico convicção em torno de suas técnicas incipientes e empíricas se choca necessariamente com os significados técnicos dos agrônomos Daí que a relação do agrônomo com os camponeses de ordem sistemática e programada não possa deixar de realizarse numa situação gnosológica portanto dialógica e comunicativa Ainda quando estivéssemos de acordo o que não é o caso com a ação extensiva do conhecimento em que um sujeito o leva a outro que deixa por isso mesmo de ser sujeito seria necessário não somente que os signos tivessem o mesmo significado mas também que o conteúdo do conhecimento estendido se gerasse num terreno comum aos polos da relação Como esta não é a situação concreta entre nós a tendência do extensionismo é cair facilmente no uso de técnicas de propaganda de persuasão no vasto setor que se vem chamando meios de comunicação de massa Em última análise meios de comunicados às massas através de cujas técnicas as massas são conduzidas e manipuladas e por isso mesmo não se encontram comprometidas num processo educativolibertador Esta advertência que fazemos é óbvio só se dirige a quem se serve destes procedimentos equivocadamente e não por outras razões Um dos motivos do equívoco está em que ao sentir as primeiras dificuldades em sua tentativa de comunicação com os camponeses não percebem que estas dificuldades entre outras causas têm ainda o processo de comunicação humana não pode estar isento dos condicionamentos socioculturais Então em lugar de levar esta verdade em conta e refletir sobre os condicionamentos socioculturais dos camponeses que não são os seus simplificam a questão e concluem como afirmamos anteriormente pela incapacidade dialógica dos camponeses Daí aos atos de invasão cultural e de manipulação há só um passo que já está praticamente dado Há algo ainda que deve ser considerado no processo da comunicação de indiscutível importância para o trabalho do educador em suas relações com os camponeses Queremos referirnos a certas manifestações ora de caráter natural que não dependem do homem para sua existência ora de caráter sociocultural que se constituem no processo da comunicação Ambas funcionam dentro das relações sociais de comunicação como signos que apontam para Por isso mesmo são indicadores ou anúncios de algo Em qualquer dos casos seja diante de indicadores naturais ou de indicadores socioculturais a comunicação entre o agrônomo e os camponeses pode romperse se aquele inadvertidamente assume posições consideradas negativas dentro dos limites de cada um destes indicadores Por último parecemnos indispensáveis algumas considerações finais neste capítulo a propósito do aspecto humanista em que deve estar inspirado o trabalho de comunicação entre técnicos num processo de reforma agrária e camponeses Aspecto humanista de caráter concreto rigorosamente científico e não abstrato Humanismo que não se nutra de visões de um homem ideal fora do mundo de um perfil de homem fabricado pela imaginação por mais bemintencionado que seja quem o imagine Humanismo que não leve à procura de concretização de um modelo intemporal uma espécie de ideia ou de mito ao qual o homem concreto se aliene Humanismo que não tendo uma visão crítica do homem concreto pretende um será para ele ele que tragicamente está sendo uma forma de quase não ser Pelo contrário o humanismo que se impõe ao trabalho de comunicação entre técnicos e camponeses no processo de reforma agrária se baseia na ciência e não na doxa e não no eu gostaria que fosse ou em gostos puramente humanitários É um humanismo que pretendendo verdadeiramente a humanização dos homens rejeita toda forma de manipulação na medida em que esta contradiz sua libertação Humanismo que vendo os homens no mundo no tempo mergulhados na realidade só é verdadeiro enquanto se dá na ação transformadora das estruturas em que eles se encontram coisificados ou quase coisificados fazendo e refazendo as coisas e transformando o mundo os homens podem superar a situação em que estão sendo um quase não ser e passar a ser um estar sendo em busca do ser mais Neste humanismo científico que nem por isso deixa de ser amoroso deve estar apoiada a ação comunicativa do agrônomoeducador Por tudo isso uma vez mais estamos obrigados a negar ao termo extensão e a seu derivado extensionismo as conotações do quefazer verdadeiramente educativo que se encontram no conceito de comunicação Daí que à pergunta que dá título não só à primeira parte do presente capítulo mas a este ensaio extensão ou comunicação respondamos negativamente à extensão e afirmativamente à comunicação B A EDUCAÇÃO COMO UMA SITUAÇÃO GNOSIOLOGICA O homem é um corpo consciente Sua consciência intencionada ao mundo é sempre consciência de em permanente despego até a realidade Daí que seja próprio do homem estar em constantes relações com o mundo Relações em que a subjetividade que toma cor po na objetividade constituiu com esta uma unidade dialética onde se gera um conhecer solidário com o agir e viceversa Por isso mesmo é que as explicações unilateralmente subjetivista e objetivista que rompem esta dialetização dicotomizando o indicotomizável não são capazes de compreendêlo Ambas carecem de sentido teleológico Se o solipsismo erra quando pretende que somente o Eu existe e que sua consciência alcança tudo sendo um absurdo pensar uma realidade externa a elaERRA também o objetivismo acrítico e mecanicista grosseiramente materialista segundo o qual em última análise a realidade se transformaria a si mesma sem a atuação dos homens meros objetos então da transformação