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Dissertar sobre Leitura Literária e Método Recepcional para Pesquisa de Mestrado

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Dissertar sobre Leitura Literária e Método Recepcional para Pesquisa de Mestrado

Literatura

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Maria da Glória Bordini Vera Teixeira de Aguiar LITERATURA A FORMAÇÃO DO LEITOR ALTERNATIVAS METODOLÓGICAS MERCADO ABERTO Compra Capa Leonardo Menna Barreto Gomes Composição Jorge Cortezi Revisão Rosane Gava Supervisão Sissa Jacoby Editor Roque Jacoby Copyright de Vera Teixeira de Aguiar e Maria da Glória Bordini 1988 Impressão Gráfica Editora Pallotti A 2821 Aguiar Vera Teixeira de Literatura a formação do leitor alternativas metodológicas Vera Teixeira de Aguiar e Maria da Glória Bordini Porto Alegre Mercado Aberto 1988 176 p Série Novas Perspectivas 27 1 Análise Literatura Ensino de 1 e 2 Grau 2 Literatura Análise Ensino de 1 e 2 Grau 3 Ensino de 1 e 2 Grau Análise Literatura I Bordini Maria da Glória II Série Novas Perspectivas 27 III Título CDU 3733500182 8237335001 Bibliotecária responsável Rosemarie Bianchessi dos Santos CRB10797 Todos os direitos reservados a Editora Mercado Aberto Ltda Rua Santo Antonio 282 fone 0512 218595 21 8601 Cx Postal 1432 90220 Porto Alegre RS São Paulo Rua Cardeal Arcoverde 2934 Bairro Pinheiros Fone 011 814 8916 814 9997 05408 São Paulo SP ISBN 8528000605 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 5 1 FORMAÇÃO DO LEITOR 9 11 Fundação social da leitura 9 12 Leitura e não leitura numa sociedade desigual 10 13 Leitura da literatura 13 14 Papel da escola na formação literária 15 2 INTERESSES DE LEITURA E SELEÇÃO DE TEXTOS 21 Determinação dos interesses literários e prazer do texto 18 22 Escolha dos textos 28 3 NECESSIDADE DE METODOLOGIA 32 31 Ensino tradicional de literatura a prática e os currículos 32 32 Necessidade da metodologia de abordagem textual 36 4 MÉTODO CIENTÍFICO 44 41 Fundamentação teórica 44 42 Objetivos e critérios de avaliação 47 43 Etapas de desenvolvimento técnicas 49 44 Exemplos de unidades de ensino 52 441 Currículo por atividades 52 442 Currículo por áreas 55 443 Currículo por disciplinas 58 5 MÉTODO CRIATIVO 62 51 Fundamentação teórica 62 52 Objetivos e critérios de avaliação 65 53 Etapas de desenvolvimento técnicas 67 54 Exemplos de unidades de ensino 72 541 Currículo por atividades 72 542 Currículo por áreas 75 543 Currículo por disciplinas 78 6 MÉTODO RECEPCIONAL 81 61 Fundamentação teórica 81 62 Objetivos e critérios de avaliação 85 63 Etapas de desenvolvimento técnicas 86 64 Exemplos de unidades de ensino 91 641 Currículo por atividades 91 642 Currículo por áreas 96 643 Currículo por disciplinas 99 7 MÉTODO COMUNICACIONAL 103 71 Fundamentação teórica 103 72 Objetivos e critérios de avaliação 107 73 Etapas de desenvolvimento técnicas 108 74 Exemplos de unidades de ensino 118 741 Currículo por atividades 118 742 Currículo por áreas 121 743 Currículo por disciplinas 126 8 MÉTODO SEMIOLÓGICO 132 81 Fundamentação teórica 132 82 Objetivos e critérios de avaliação 136 83 Etapas de desenvolvimento técnicas 137 84 Exemplos de unidades de ensino 142 841 Currículo por atividades 142 842 Currículo por áreas 145 843 Currículo por disciplinas 148 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS 152 BIBLIOGRAFIA 156 APÊNDICE Obras recomendadas para trabalho escolar 159 Currículo por atividades 159 Currículo por áreas 165 Currículo por disciplinas 170 APRESENTAÇÃO Este livro é resultado de um trabalho de pesquisa das condições e problemas do ensino de literatura no Rio Grande do Sul iniciado em 1983 pelo Centro de Pesquisas Literárias da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul CPLPUCRS Concebida de modo a dar conta da realidade das salas de aula e ao mesmo tempo trazer destas as contribuições práticas que pudessem alicerçar a investigação universitária de alternativas metodológicas nessa área essa pesquisa se desenvolveu em dois planos paralelos De um lado entrevistou 240 alunos e 80 professores de escolas públicas e particulares de 1 e 2 graus de Porto Alegre RS sobre como se procedia o ensino de literatura em classe Desse levantamento que contou com o suporte financeiro principal do INEPMEC e com recursos parciais do Programa de Desenvolvimento de Metodologias Aplicáveis ao EnsinoAprendizagem para o Ensino Superior da SDESESuMEC produziuse um relatório intitulado Diagnóstico da situação do ensino de literatura no 1 e 2 graus em escolas de Porto Alegre RS apresentado ao INEPMEC em 1985 As conclusões básicas dessa enquete constatavam um desinteresse crescente pela literatura entre os alunos conforme avançasse o grau de escolaridade e um considerável despreparo entre os professores quanto à abordagem da obra literária nos vários currículos escolares De outro lado no mesmo ano com o apoio financeiro do Programa de Integração UniversidadeEscola de 1 Grau da SDESESuMEC encetouse outra pesquisa de caráter teóricoprático com uma equipe de professores de 1 e 2 graus que buscou a partir das situações problemáticas gradativamente manifestadas no diagnóstico elaborar algumas propostas que apresentassem alternativas para o ensino básico Fundamentada na prática efetiva dos pesquisadores em sala de aula e no estudo das teorias da linguagem e da literatura realizado como parte das tarefas de pósgraduação dessa equipe tal pesquisa chamouse Metodologias alternativas para o ensino de literatura no 1o grau e abrangeu duas etapas a criativa e a experimental À proporção que a pesquisa diagnóstico se completou tornouse possível levar em conta nas propostas em elaboração os dados sobre os setores deficitários da atuação docente e sobre preferências e comportamentos discentes quanto à leitura Dessa forma os métodos e técnicas de ensino então criados fora se aproximando mais e mais das necessidades detectadas no diadia escolar na tentativa de responder a elas Em fins de 1984 além de dispor de um esboço preliminar dos métodos e de várias sugestões quantas técnicas e módulos de ensino de literatura a equipe pesquisadora já havia divulgado os resultados obtidos junto a instituições de ensino superior como a Universidade Federal de Alagoas a Universidade Federal de UberlândiaMG a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e a Faculdade PortoAlegrense de Educação Ciências e Letras a Universidade Federal de PelotasRS a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de UruguaianaRS e a Universidade de Caxias do SulRS em cursos de extensão palestras e atividades de consultoria A parcela maior de clientes todavia foi a dos professores estaduais e municipais em exercício através de cursos de treinamento promovidos pela Secretaria de Educação e CulturaRS e pelo Instituto Estadual do LivroRS No mesmo período as novas metodologias foram submetidas a testagem sistemática na Fundação Alto Taquari de Ensino SuperiorRS em nível de tarefa de pósgraduação em pesquisa literária experimental Tais experiências proporcionaram a discussão das propostas metodológicas em larga escala originando sua reformulação em 1985 e nova testagem com a participação da SECRS na rede escolar de Porto Alegre e Novo Hamburgo desta vez diretamente junto a professores voluntários que após um período de treinamento elaboraram unidades de ensino com apoio nos métodos criados e as aplicaram em suas escolas Finalmente no ano de 1986 numa segunda etapa experimental outra vez com o apoio do Programa de Integração UniversidadeEscola de 1o Grau da SDESESuMEC os métodos já aperfeiçoados foram testados sob rigoroso controle junto a 362 alunos de 1a a 8a séries do 1o grau por uma equipe de 12 professores que receberam o devido treinamento e se apresentaram como voluntários para a fase de experimentação acompanhada por 2 monitores do Curso de Letras do Instituto de Letras e Artes da PUCRS Os póstestes a que os alunos foram submetidos após a implementação das unidades de ensino concebidas a partir das alternativas metodológicas em teste revelaram que 294 sujeitos passaram a se interessar mais pela leitura e pela literatura porque as atividades eram movimentadas e agradáveis e porque as obras estudadas eram melhores do que as já conhecidas em estudos anteriores 31 alunos não evidenciaram crescimento por absenteísmo e segundo seus depoimentos pouco empenho nas tarefas escolares Os 12 professores e os 2 monitores que efetuaram o experimento nas suas avaliações escritas e no seminário final sobre o projeto comprovaram que houve maior receptividade e rendimento em suas classes de literatura com a adoção dos métodos propostos porque exigiam adequação entre o texto literário e as aspirações dos alunos e porque sugeriam práticas docentes mais dinâmicas e motivadoras que aumentaram a segurança do professor ao trabalhar com literatura O parecer conclusivo da equipe pesquisadora enfatizou a progressiva emancipação do aluno em termos de interpretação e crítica bem como o aumento de produtividade relacionado ao prazer da leitura e dos trabalhos de sala de aula e a melhoria das interações alunoprofessor dada a linha de ação educacional prevista pelas metodologias Este livro em vista disso é uma tentativa de recuperação de um longo percurso de pesquisa não no sentido do relato de experiências mas como sistematização de tudo o que se pensou e comprovou num texto de caráter teóricopedagógico A partir de reflexões sobre a função social da leitura e o papel da escola na formação do leitor capítulo 1 levanta dados sobre as expectativas dos alunos quanto à relação literaturaescola e sugere critérios para a seleção de textos no 1o e 2o graus capítulo 2 Com base nesses pressupostos discute a questão metodológica de ensino de literatura enfatizando a necessidade de uma metodização das práticas pedagógicas centrada na natureza do literário e na comunicação leitorobra capítulo 3 Apresenta a seguir cinco métodos de ensino de literatura com fundamentação teórica diferenciada objetivos e parâmetros de avaliação específicos etapas de sistematização das atividades em sala de aula e unidades de ensino exemplificativas para os três níveis curriculares do 1o e 2o graus capítulos 4 a 8 Em apêndice arrolamse autores e títulos com as devidas indicações bibliográficas recomendados para trabalho escolar nos currículos antes referidos Por todas essas razões esta obra não pertence exclusivamente a suas autoras mas a todos os participantes das diversas equipes de investigação treinamento e experimentação bem como aos alunos e professores que se expuseram às metodologias aqui examinadas A eles as autoras manifestam seu reconhecimento e gratidão em especial aos integrantes da equipe de pesquisa de 198384 profas Diana Maria Noronha Elisa Averbuh Tesseler May Maria Celeste Arruda Nezia Helena Riccardi da Silva e Magda Helena Dal Zotto e da equipe de 198586 profs Angela da Rocha Rolla Enio Moraes Dutra e Maria Eduarda Giering Agradecem também à coordenadora do CPLPUCRS e dos Cursos de PósGraduação em Linguística e Letras da PUCRS Profª Dra Regina Zilberman pela esclarecida orientação e supervisão das pesquisas que deram origem a este livro e ao próreitor de Pesquisa e PósGraduação da PUCRS Dr Ir Elvo Clemente pelo apoio e incentivo que sempre concedeu a esses projetos do CPL e aos pesquisadores envolvidos Porto Alegre agosto de 1987 1 FORMAÇÃO DO LEITOR 11 Função social da leitura É através da linguagem que o homem se reconhece como humano pois pode se comunicar com os outros homens e trocar experiências Existe porém uma condição prévia para a manifestação da linguagem é preciso haver um grupo humano no qual o sujeito se confronte com o conjunto e se perceba como indivíduo É portanto na convivência social que nascem as linguagens conforme as necessidades de intercâmbio O grupo social não é simplesmente um todo homogêneo Nele habitam vontades saberes e posicionamentos diversificados mas convergentes que geram as possibilidades de relações internas e com outros grupos Através das trocas linguísticas o indivíduo se certifica de seu conhecimento do mundo e dos outros homens assim como de si mesmo ao mesmo tempo em que participa das transformações em todas essas esferas A linguagem verbal é dentre as formas de expressão e comunicação a mais utilizada pelo homem Podese afirmar mesmo que todas as linguagens humanas são repassadas pela palavra Para Barthes parece cada vez mais difícil conceber um sistema de imagens ou objetos cujos significados possam existir fora da linguagem perceber o que significa uma substância é fatalmente recorrer ao recorte da língua sentido só existe quando denominado e o mundo dos significados não é outro senão o da linguagem 1979 12 Registrando a linguagem verbal através do código escrito o livro é o documento que conserva a expressão do conteúdo de consciência humana individual e social de modo cumulativo Ao decifrarlhe o texto o leitor estabelece elos com as manifestações sócioculturais que lhe são distantes no tempo e no espaço A ampliação do conhecimento que daí decorre permitelhe compreender melhor o presente e seu papel como sujeito histórico O acesso aos mais variados textos informativos e literários proporciona assim a tessitura de um universo de informações sobre a humanidade e o mundo que gera vínculos entre o leitor e os outros homens A socialização do indivíduo se faz para além dos contatos pessoais também através da leitura quando ele se defronta com produções significantes provenientes de outros indivíduos por meio do código comum da linguagem escrita No diálogo que então se estabelece o sujeito obrigase a descobrir sentidos e tomar posições o que o abre para o outro 12 Leitura e não leitura numa sociedade desigual Uma sociedade de classes em que interesses divergentes se entrechocam com a predominância de alguns deles sobre os demais privilegia sobremaneira o texto escrito como objeto de leitura A escrita historicamente representa uma conquista sobre a memória instrumento predominante nas sociedades ágrafas A acumulação do conhecimento através da palavra escrita tem sido apropriada pelas classes que detêm o poder dentro de uma sociedade Como o documento escrito é mais eficiente para a fixação e conservação das idéias leva vantagem sobre a memória coletiva alijando das decisões do grupo aqueles que não são capazes de decifrálo Assim as sociedades gradualmente se dividem em segmentos cultos e incultos tomando como critério distintivo o domínio do código lingüístico escrito Do ponto de vista histórico a situação de desigualdade entre elementos alfabetizados e analfabetos produziu uma relação de domínio dos primeiros sobre os segundos que se acrescentou a todas as outras formas de dominação social Já a Revolução Francesa de 1789 postulava a abertura de escolas públicas com o fim de levar as letras até o povo de modo a promover uma maior igualdade social A escola pública todavia embora nascendo com esse propósito de equalização cedo revelouse mais um aparelho de dominação das classes populares traindo o seu objetivo inicial Talvez essa traição se explique pelo fato de que a escola na verdade surgiu por iniciativa da burguesia emergente que desejava ascender ao status social da aristocracia As classes trabalhadoras menos favorecidas já de início não entraram nesse projeto de promoção cultural determinando a existência de amplos segmentos de analfabetos Se a escola pública se propunha à promoção social é lógico que permitem leituras significativas o fato é que as classes dominantes dão ênfase ao livro como veículo do saber que lhes convém Nessa sentido é importante que as classes menos favorecidas tenham acesso à cultura letrada sob pena de se manterem as diferenças sociais Isso quer dizer que ao se valorizar todas as expressões culturais dominadas não se está pretendendo limitar as classes populares ao conhecimento já adquirido no grupo O que se propõe é abrirlhes o leque de opções de modo a atuar efetivamente na vida social e não apenas como massa de manobra uma vez que elas passam a ser capazes de jogar com as mesmas armas Decorre daí a necessidade nas sociedades democráticas da implementação da alfabetização por ser este o instrumento de apropriação da cultura dominante É sintomático que exatamente nessa tarefa a nossa escola tenha se mostrado tão ineficaz deixando transparecer mesmo a contragosto seu caráter de aparelho ideológico do Estado burguês Tanto a ausência de escolaridade quanto a evasão precoce que hoje ainda se observam a níveis preocupantes se devem ao modo de ser do sistema de organização escolar programado para atender apenas as necessidades das classes media e alta Vejamse itens como horário períodos de férias exigência de assiduidade uniforme material didático etc que ficam aquém das possibilidades das camadas proletárias ou campecinas Para Michael Apple todos esses itens dizem respeito ao currículo oculto que juntamente com o currículo expresso constituemse no modo como instituições de preservação e distribuição cultural como as escolas produzem e reproduzem formas de consciência que permitem a manutenção do controle social sem que os grupos dominantes tenham de recorrer a mecanismos declarados de dominação 1982 12 Acrescentese ao quadro exposto o fato de que os valores defendidos por essa escola através de seus administradores e professores oriundos da classe média pouco concernem às classes baixas que não se vêem nela representadas seja nos conteúdos curriculares seja na estrutura funcional Da colisão dos valores do corpo docente que apontam para a ascensão social com os do corpo discente que se limitam à necessidade de sobrevivência decorrem os problemas crônicos de disciplina as dificuldades de aproveitamento e o consequente afastamento do aluno da escola O analfabeto o não leitor entendido como aquele que aprendeu a ler e deixa de fazêlo e o leitor deficiente cujo nível de compreensão é precário são subprodutos desse modelo escolar Os estímulos que o processo de ensino a eles oferece em relação às classes trabalhadoras pecam pela falta de identidade cultural Os textos dos livros didáticos e esta é o produto que ela oferece em primeiro lugar Antes de se operar a discriminação entre alfabetizados e não alfabetizados aqueles que não tinham acesso às letras podiam adquirir conhecimentos por transmissão oral ou por experiência e não eram por isso socialmente desvalorizados já que a escrita era de domínio restrito de muitos poucos A desvalorização daqueles que não conseguem utilizar o código escrito implica conseqüentemente o desprestígio de todas as outras leituras que os mesmos podem realizar Determina ainda um conceito de texto limitado à língua escrita embora se possa entender o mesmo como todo e qualquer objeto cultural seja verbal ou não em que está implícito o exercício de um código social para organizar sentidos através de alguma substância física Portanto cinema televisão vestuário esportes cozinha moda artesanato jornais falas literatura partilham da qualidade de textos Esse conceito amplo de texto é que fundamenta as posições de Paulo Freire sobre a leitura do mundo como antecedente da leitura da palavra Este Autor insiste na compreensão crítica do ato de ler que não se esgota na descodificação pura da palavra escrita ou de linguagem escrita mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto 198212 Todas as pessoas desde a infância são portanto leitoras em formação uma vez que estão constantemente atribuindo sentidos às mais diversas manifestações da natureza e da cultura Conferindo à escola a função de formar o leitor destruiuse a noção de texto como representação simbólica de todas as produções humanas restando o livro como mediação para qualquer conhecimento Passouse a destacar assim o livro por ser este uma produção da classe dominante a ela pertencente e à qual aspiram as classes dominadas Essa situação de valorização de um objeto específico configura a cisão entre a cultura que o possui e todas as demais dando à primeira poder sobre as outras O conceito de cultura fica deformado expressando apenas a verdade de uma camada social Todavia cultura não se assimila a universo dos letrados Abrange todas as transformações que o homem opera na natureza o que obriga a reconhecer que qualquer grupo humano possui objetos culturais que podem ser lidos de forma válida Não há cultura melhor nem pior há culturas diferentes segundo as experiências dos homens que as produzem Essa concepção de cultura em sua amplitude não supõe que se deva desprezar o texto escrito em favor dos demais objetos culturais como o folclore o cinema ou os quadrinhos Se todas essas manifestações outros livros nada têm a ver com as suas aspirações suas necessidades e interesses imediatos e com sua realidade Dessa perspectiva terseia que circunscrever os problemas de leitura a um segmento determinado da sociedade No entanto sabese que esses fenômenos ocorrem também em outros escalões sociais com a mesma intensidade As causas porém são diversas Não se trata de cisão entre textos e valores representados ou entre escola e projetos culturais Nesse caso a desvalorização da leitura se relaciona ao fato de que talvez esta como atividade intelectual não proporcione acumulação de capital Essa situação se vincula à própria constituição do regime capitalista que marginaliza o intelectual único agente que não gera lucro com os objetos que produz O trabalho intelectual só é reconhecido quando reforça os aparatos de dominação daqueles que detêm o capital Mesmo nos casos em que as obras contestam o sistema pode suceder que este as transforme em mercadorias anulando seu efeito Por isso o leitor de classes elevadas mesmo imbuído da importância da leitura nos bancos escolares acaba por abandonála gradativamente à medida que em sua vida cotidiana voltase para atividades que promovem ganhos Numa sociedade desigual os problemas de leitura se diversificam conforme as características de classe As soluções possíveis se orientam para o pluralismo cultural ou seja a oferta de textos vários que deem conta das diferentes representações sociais Se as classes trabalhadoras também tiverem acesso à alfabetização serão elas não apenas consumidoras passivas mas produtoras de novos textos que se acrescentarão aos que circulam na sociedade e atenderão a seus interesses De qualquer modo todos os segmentos sociais a despeito de suas divergências internas podem ser mobilizados para a leitura quando encontram nas obras o momento catártico que identifica o leitor com o conteúdo expresso Uma das necessidades fundamentais do homem é dar sentido ao mundo e a si mesmo e o livro seja informativo ou ficcional permanece como veículo primordial para esse diálogo 13 Leitura da literatura Todos os livros favorecem a descoberta de sentidos mas são os literários que o fazem de modo mais abrangente Enquanto os textos informativos atêemse aos fatos particulares a literatura dá conta da totalidade do real pois representando o particular logra atingir uma significação mais ampla O texto literário se vale da imitação genérica constituída pelos símbolos linguísticos e atinge sem dúvida um plano de significação igualmente universal através porém de uma reprodução esmerada do concreto e particular Merquior 197278 A linguagem literária extrai dos processos históricopolíticosociais nela representados uma visão típica da existência humana O que importa não é apenas o fato sobre o qual se escreve mas as formas de o homem pensar e sentir esse fato que o identificam com outros homens de tempos e lugares diversos A obra literária pode ser entendida como uma tomada de consciência do mundo concreto que se caracteriza pelo sentido humano dado a esse mundo pelo autor Assim não é um mero reflexo na mente que se traduz em palavras mas o resultado de uma interação ao mesmo tempo receptiva e criadora Essa interação se processa através da mediação da linguagem verbal escrita ou falada O texto produzido graças a essa natureza verbal permite o estabelecimento de trocas comunicativas dentro dos grupos sociais pondo em circulação esse sentido humano A literatura como uma das formas de comunicação participa assim do âmbito maior da cultura ou seja da produção significante relacionandose com outros objetos culturais Entretanto possui características que a diferenciam desses A mais evidente é o uso não utilitário da linguagem No circuito de comunicação o texto literário não se refere diretamente ao contexto não precisa apontar para o objeto real de que ele é signo possuindo portanto uma autonomia de significação Por exemplo uma história infantil ou um romance criam suas próprias regras comunicativas estabelecendo um pacto entre autor e leitor em que a presença do contexto é dispensável Ao ler o texto o leitor entra nesse jogo pondo de lado a sua realidade momentânea e passa a viver imaginativamente todas as vicissitudes das personagens da ficção Dessa forma aceita o mundo criado como um mundo possível para si Essa capacidade do texto literário de independer de referentes reais de forma direta devese à coerência interna dos elementos de que se compõe de modo a tornar autosuficiente o todo assim estruturado A obra se efetiva muito mais pela composição de seus elementos estruturais do que pela relação denotativa com o contexto Esse traço justifica a descoberta da significação mesmo em obras que explicitamente rompem com a realidade concreta e histórica como as de ficção científica de horror e de realismo mágico A estrutura da obra literária decorre das linhas de força estabelecidas entre seus componentes e funções Essa estrutura porém não é um todo uniforme uma vez que nela se alteram continuidade e descontinuidades determinadas pelo próprio limite das frases e períodos linguísticos Constróise na obra literária um mundo possível no qual os objetos e processos nem sempre aparecem totalmente delineados Esse mundo portanto envolve lacunas que são automaticamente preenchidas pelo leitor de acordo com sua experiência Isso explica por que se pode representar toda uma vida numa novela de cem páginas sem que se perca a ilusão de realidade dos eventos narrados A obra apresenta uma série de indicações em potência que o sujeito atualiza no ato da leitura Em contraposição o texto não literário contém indicadores muito mais rígidos e presos ao contexto de comunicação não deixando margem à livre movimentação do leitor A informação que oferece é imediata e restritiva valendo apenas para uma situação definida Por isso podese dizer que o texto literário é plurissignificativo permitindo leituras diversas justamente por seus aspectos em aberto A riqueza polissêmica da literatura é um campo de plena liberdade para o leitor o que não ocorre em outros textos Daí provém o próprio prazer da leitura uma vez que ela mobiliza mais intensa e inteiramente a consciência do leitor sem obrigálo a manterse nas amarras do cotidiano Paradoxalmente por apresentar um mundo esquemático e pouco determinado a obra literária acaba por fornecer ao leitor um universo muito mais carregado de informações porque o leva a participar ativamente da construção dessas com isso forçandoo a reexaminar a sua própria visão da realidade concreta A atividade do leitor de literatura se exprime pela reconstrução a partir da linguagem de todo o universo simbólico que as palavras encerrar e pela concretização desse universo com base nas vivências pessoais do sujeito A literatura desse modo se torna uma reserva de vida paralela onde o leitor encontra o que não pode ou não sabe experimentar na realidade É por essa característica que tem sido acusada ao longo dos tempos de alienante escapista e corruptora mas é também graças a ela que a obra literária captura o seu leitor e o prende a si mesmo por ampliar suas fronteiras existenciais sem ofrecer os riscos da aventura real 14 Papel da escola na formação literária Em virtude da autonomia própria da obra literária mesmo que se reconheça sua gênese na vida social a formação do leitor de literatura não pode ser idêntica à do leitor genérico ou pragmático A leitura em si implica o reconhecimento de um sentido operado pelo deciframento dos signos que foram codificados por outrem para veiculálo Todavia nem esse código que possibilita cifrar e decifrar os signos nem o sentido a que eles apontam são assunto pacífico entre emissor e receptor podendo haver com isso diferenças de entendimento do texto na sua produção e na sua recepção 2 INTERESSES DE LEITURA E SELEÇÃO DE TEXTOS 21 Determinação dos interesses literários e o prazer do texto Considerando a natureza da literatura podese afirmar que se o professor está comprometido com uma proposta transformadora de educação ele encontra no material literário o recurso mais favorável à consecução de seus objetivos Neste caso vale a pena investir na formação do leitor o que significa incentiválo ao hábito de modo a multiplicar a experiência literária O papel da escola é decisivo neste processo e as pesquisas têm mostrado que em toda a parte os estudantes são sem dúvida leitores mais assíduos mas uma vez terminados os estudos eles também se expõem ao perigo de se tornarem não leitores Barker Escarpit 1975122 Para que se assegure a continuidade do comportamento positivo em relação ao livro é preciso que o hábito não seja apenas como um padrão rotineiro de resposta automaticamente provocado e realizado A busca frequente da literatura precisa surgir de uma atitude consciente da disposição de enfrentar o desafio que o texto oferece como nova alternativa existencial O primeiro passo para a formação do hábito de leitura é a oferta de livros próximos à realidade do leitor que levantem questões significativas para ele A literatura brasileira e a literatura infantojuvenil nacionais vêm preencher estes quesitos ao fornecerem textos diante dos quais o aluno facilmente se situa pela linguagem pelo ambiente pelos caracteres das personagens pelos problemas colocados A familiaridade do leitor com a obra gera predisposição para a leitura e o consequente desencadeamento do ato de ler de grupos Os interesses de leitura preenchem as necessidades do leitor através de enredos sensacionalistas histórias vividas por gangues personagens diabólicos histórias sentimentais 5ª fase Os anos de maturidade ou desenvolvimento da esfera líteroestética de leitura 14 a 17 anos Descobrindo o mundo interior e o mundo dos valores o adolescente parte para a hierarquização dos conceitos e a organização de seu universo Aventuras de conteúdo intelectual viagens romances históricos e biográficos histórias de amor literatura engajada e temas relacionados com os interesses vocacionais vão ajudálo a orientarse e estruturarse como adulto O interesse pela leitura varia em qualidade de acordo com a escolaridade do aluno Neste sentido podese também delinear cinco níveis de leitura 1º Préleitura Durante a préescola e o período preparatório para a alfabetização a criança desenvolve capacidades e habilidades que a tornarão apta à aprendizagem da leitura a construção dos símbolos o desenvolvimento da linguagem oral e da percepção permite o estabelecimento de relações entre as imagens e as palavras Os interesses voltamse nesta fase para histórias curtas e rimas em livros com muitas gravuras e pouco texto escrito que permitem a descoberta do sentido muito mais através da linguagem visual que da verbal 2º Leitura compreensiva É o período correspondente ao momento da alfabetização 1ª e 2ª séries em que a criança começa a decifrar o código escrito e faz uma leitura silábica e de palavras A motivação para ler é muito grande e a escolha recai sobre textos semelhantes aos da etapa anterior agora decodificados pelo novo leitor 3º Leitura interpretativa Da 3ª à 5ª série o aluno evolui da simples compreensão imediata à interpretação das idéias do texto adquirindo fluência no ato de ler A aquisição de conceitos de espaço tempo e causa bem como o desenvolvimento das capacidades de classificar ordenar e enumerar dados permitem que o estudante se adentre mais nos textos e exija leituras mais complexas 4º Iniciação à leitura crítica Em torno da 6ª e 7ª séries o estudante atinge o estágio de desenvolvimento que Piaget denomina das operações intelectuais abstratas da formação da personalidade e da inserção afetiva e intelectual na sociedade dos adultos cf 1973624 A capacidade de discernimento do real e a maior experiência de leitura favorecem o exercício de habilidades críticas permitindo ao leitor não só interpretar os dados fornecidos pelo texto como também posicionarse diante deles iniciandose nos juízos de valor As preferências por livros de aventuras em que os problemas são resolvidos por grupos de jovens vêm preencher as necessidades do leitor de iniciarse no questionamento da realidade ampliando sua dimensão social 5º Leitura crítica É o período que abrange a 8ª série e o 2º grau quando o aluno elabora seus juízos de valor e desenvolve a percepção dos conteúdos estéticos Sensível aos problemas sociais o jovem interrogase sobre suas possibilidades de atuação na comunidade adulta A busca da identidade individual e social e o maior exercício da leitura têm como dividendo uma postura crítica diante dos textos através da comparação de idéias da conclusão da tomada de posições Livros que abordam problemas sociais e psicológicos interessam ao aluno deste nível possibilitandolhe a reflexão e a opção por comportamentos que descobre como mais justos e mais autênticos Como a idade e a escolaridade o sexo também é fator determinante dos interesses de leitura Fatores biológicos e principalmente culturais determinam diferenças de comportamento entre os sexos Uma dessas diferenças diz respeito à atitude diante da leitura Os homens escolhem os temas mais arrojados aventuras viagens ficção científica enquanto as mulheres se voltam para as histórias de amor romances vida familiar crianças Tais tendências estão intimamente relacionadas aos fatores culturais Na verdade a sociedade cria estereótipos de comportamento para o homem e para a mulher e esses dirigem suas atitudes e interesses Portanto suas preferências literárias correspondem aos padrões sociais o sexo masculino envolvese em atividades agressivas de luta pelo sucesso e pela sobrevivência enquanto ao sexo feminino são atribuídas atitudes mais passivas voltadas para o trabalho doméstico a educação dos filhos e tarefas afins As preferências de leitura correspondem à necessidade de cada sexo cumprir o papel social que lhe é confiado Questionados sobre suas preferências literárias em pesquisa realizada em Porto Alegre RS os estudantes confirmam este perfil cf Aguiar 19793446 Os meninos revelam maior comprometimento com o real e atração por histórias que se passam em tempos e lugares distantes enquanto as meninas escolhem os elementos de fantasia próximos no tempo e no espaço Essas tendências revelam um melhor aparelhamento para se movimentar na sociedade e uma percepção mais ampla de mundo no sexo masculino restando ao sexo feminino reações escapistas dentro de um espaço limitado Os interesses variam ainda de acordo com o nível sócioeconômico do público leitor observandose o sucesso dos textos em que predominam os ingredientes mágicos entre os estudantes menos favorecidos e a busca de leitura engajada entre os privilegiados cf Aguiar 19794760 A leitura vem satisfazer em cada grupo um tipo de necessidade social para os primeiros supre carências e aponta para um mundo melhor para os últimos serve de instrumento de apropriação do real de forma a favorecer a adaptação social e a promoção Em pesquisa de interesses de leitura conduzida pelo Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS com dados colhidos em 1983 e analisados em 1984 cf Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 1985365383 abrangendo 330 alunos observase que em termos de comportamentos gerais no 1º grau em todas as séries os alunos dão preferência à música como forma de lazer Quando lêem escolhem livros salvo na 6ª série que elege revistas e em casos de narrativas preferem as lineares Da 1ª à 7ª série os alunos demonstram gostar mais de histórias em quadrinhos do que de literatura sendo esta apenas citada na 8ª série Na 1ª série o gênero literário preferido é o poema Os assuntos literários prediletos são os superheróis o humor e os contos de fadas O tempo narrativo de preferência é o presente e o espaço deve ser um local existente o Brasil e montanhas Quanto às personagens da narrativa preferem as jovens sendo que o tipo predileto é o herói seguido de fantasmas robôs e pessoas fadas e anões Em relação aos poemas as crianças preferem os que têm rimas e aliterações com estrofes curtas de teor narrativo e informativo com jogos de grafia e de sons Na 2ª série os alunos são indiferentes quanto ao gênero literário preferido Os assuntos literários mais procurados são superheróis e animais Preferem uma narrativa com muita ação situada no presente em espaço que exista na realidade dando relevo ao urbano A faixa etária das personagens é a infância sendo que os tipos de personagens preferidos são o estudante o herói robôs e pessoas grandes homens pessoas e animais monstros fantasmas e pessoas comuns Quanto aos poemas os alunos preferemnos com estrofes curtas e sem refrões Agradam particularmente os poemas de teor narrativo e informativo com jogos de sons idéias e jogos gráficos Na 3ª série os alunos se mostram indiferentes quanto ao gênero literário Os assuntos literários constantes são animais superheróis e aventuras Eles também manifestam indiferença quanto à ordenação composicional da narrativa e quanto ao tempo nela representado O espaço preferido é o Brasil Estes alunos apreciam personagens crianças e seus tipos favoritos são os heróis e as pessoas comuns Em relação à poesia não indicam preferência quanto à composição mas elegem como prediletos os poemas de teor informativo em que haja jogos de sons e de idéias Na 4ª série há indiferença quanto a gêneros literários e demonstrase apreciação dos seguintes assuntos literários aventuras animais horror ficção esportiva e superheróis Os alunos preferem uma narrativa situada no presente que se passe no Brasil no campo na cidade no espaço sideral no mar em terra nas montanhas na selva em locais variados pois mas existentes Eles não se importam com a faixa etária das personagens mas preferem heróis pessoas comuns animais pessoas e animais robôs e pessoas Quanto à poesia só demonstram preferir os poemas narrativos de teor informativo com jogos gráficos e de idéias Na 5ª série o gênero literário favorito é o poema Dãose preferência aos seguintes assuntos literários aventuras humor animais lendas espionagem horror policial e ficção esportiva Os alunos querem narrativas com muita ação que se passem no presente ou no passado remoto e no futuro O espaço representado pode ser a selva o mar o espaço sideral a cidade o deserto a montanha o Brasil a terra firme devendo ser existente e distante Não há preferência quanto à faixa etária das personagens mas os tipos favorecidos são as pessoas comuns pessoas e animais monstros fantasmas e vilões Quanto aos poemas apreciam ritmos e não demonstram predileção quanto à composição estrófica Leem poemas líricos e narrativos de teor informativo e reflexivo com jogos de idéias de sons e das formas gráficas Na 6ª série os alunos não se mostram particularmente interessados em um gênero literário em especial Os assuntos literários são o humor o horror o amor e as aventuras As narrativas podem acontecer no futuro ou então no presente ou no passado remoto O espaço pode ser o mar o campo o espaço sideral a terra firme a selva a cidade em locais variados portanto existentes mas distantes A faixa etária predileta quanto às personagens é a juventude dandose ênfase a pessoas comuns robôs e pessoas fantasmas e heróis Com relação aos poemas os elementos que chamam a atenção são a rima e os jogos das formas gráficas Preferem poesia lírica e narrativa com assuntos de teor emotivo informativo e por último reflexivo Os alunos de 7ª série são indiferentes quanto ao gênero literário que lêem Os assuntos literários que lhes interessam são aventuras humor e amor Eles preferem narrativas no futuro situadas em terra firme no mar no campo no estrangeiro no Brasil em locais variados existentes mas distantes Também gostam de personagens jovens mostrandose inclinados para tipos como pessoas comuns sábios e cientistas estudantes e grandes homens Em relação à poesia não destacam qualquer elemento sonoro mas preferem as estrofes sem refrões sendo assuntos prediletos os de teor informativo seguidos dos de caráter reflexivo e emotivo O gênero de eleição é o lírico Os alunos da 8ª série são indiferentes quanto a gêneros literários Os assuntos literários preferidos são ficção esportiva aventuras amor humor e policial Quanto ao tempo representado na narrativa pode ser o presente o futuro ou o passado remoto As preferências espaciais são por locais muito variados existentes antes distantes que próximos na seguinte ordem mar terra firme Brasil estrangeiro cidade campo selva montanha e espaço sideral Os alunos se mostram indiferentes quanto à faixa etária das personagens desde que sejam pessoas comuns estudantes sábios e cientistas ou grandes homens Com referência à poesia queremna lírica de ritmos fixos estrofes curtas e com jogos de sons Os assuntos poéticos podem ser de teor informativo ou emotivo e reflexivo Quanto aos alunos do 2º grau todas as séries preferem a música a qualquer outra atividade de lazer leem revistas e jornais mas não livros e quanto ao texto literário quando o lêem chegam a ele por iniciativa própria e dão prioridade à narrativa linear Na 1ª série o gênero literário é indiferente os assuntos prediletos são o policial a aventura o amor e a espionagem O tempo narrativo é o presente e o futuro e o espaço é a cidade locais distantes mas existentes variados o mar o estrangeiro o campo a terra firme a montanha e a selva Quanto às personagens a preferência é por pessoas comuns estudantes e grandes homens Com respeito aos poemas os jovens pedem textos líricos rimados de teor emotivo e depois informativo e reflexivo que joguem com idéias Na 2ª série os alunos não se pronunciam significativamente sobre gêneros literários de preferência Os assuntos literários mais populares são o humor o policial a ficção científica a ficção esportiva a ficção psicológica e a aventura O tempo narrativo é o presente e o passado e o espaço inclui locais variados existentes e distantes o estrangeiro o mar a terra e o Brasil Quanto às personagens da narrativa privilegiam as pessoas comuns e estudantes Com relação aos poemas leem os líricos antes de teor reflexivo mas também os de cunho emotivo e informativo mas não indicam preferências quanto à composição Os alunos da 3ª série preferem como gênero o conto Os assuntos literários eleitos são o humor e a aventura a ficção científica o policial e a ficção esportiva O tempo narrativo é o presente e o espaço abrange locais existentes a terra a cidade a montanha o campo o estrangeiro Quanto às personagens da narrativa a escolha é por pessoas comuns estudantes e grandes homens Com referência aos poemas salientam a lírica sob forma rimada contendo jogos de idéias e com assuntos de teor emotivo informativo e reflexivo nesta ordem Todos esses dados configuram o tipo de público existente a partir do qual podese refletir sobre as práticas de leitura possíveis Convém lembrar porém que as pesquisas sobre interesses contribuem para a elaboração de um perfil de leitor em determinado contexto históricosocial Para tal fazse mister o registro do entrecruzamento das atitudes fundadas nos fatores citados acima e em tantos outros como por exemplo as experiências anteriores de leitura do sujeito Podese chegar então ao conhecimento dos códigos estéticos e ideológicos de que o mesmo se vale no ato de leitura A partir daí o professor vai sustentar seu trabalho em objetivos mais ambiciosos não apenas satisfazer os interesses imediatos do público oferecendolhe leituras repetitivas e redundantes que venham tão somente atender ao gosto mas aguçarlhe a curiosidade para textos que representam a realidade de forma cada vez mais abrangente e profunda Para oferecer ao aluno condições de ampliar seu universo cultural o professor de literatura conta com meios eficientes a natureza do material de leitura e a complexidade das formas de abordálo Partindo das preferências do leitor o trabalho deve orientarse de maneira dinâmica do próximo para o distante no tempo e no espaço Isto significa optar primeiramente por textos conhecidos de autores atuais familiares pela temática apresentada pelos personagens delineados pelos problemas levantados pelas soluções propostas pela forma como se estruturam pela linguagem de que se valem A seguir gradativamente vãose propondo novas obras menos conhecidas de autores contemporâneos eou do passado que introduzam inovações em alguns dos aspectos citados Estes procedimentos inusitados para o leitor rompem sua acomodação e exigem uma postura de aceitação ou descrédito fundada na reflexão crítica o que promove a expansão de suas vivências culturais e existenciais A ampliação do processo vai atingir além do material escolhido as atividades sugeridas Começando pelas mais simples e costumeiras que requerem comportamentos previsíveis buscamse alternativas de trabalho mais exigentes em que o estudante participe do planejamento e de todas as etapas de consecução O estudo de literatura transformase em um pacto entre professor e aluno em que ambos dividem responsabilidades e méritos Dessa forma as estratégias de ensino adotadas não cobrem simplesmente os interesses do estudante que via de regra funciona como elemento passivo recebendo materiais prontos e ordens a serem obedecidas Instigado à ação ele se compromete com o projeto de ensino de literatura exigindo maiores oportunidades de se firmar como sujeito participante de seu grupo Este alinhamento do aluno em toda a dinâmica do processo literário concretizase na medida do prazer que o trabalho provoca As atividades lúdicas vão ao encontro dos interesses da criança e do jovem que têm no jogo o exercício simbólico das práticas sociais e dos sentimentos humanos Suscitadas a partir dos textos estas atividades são expedientes importantes na formação e na continuidade do gosto pela leitura Quebrandose o sentido de obrigatoriedade a leitura perde o ranço de disciplina escolar para se converter em ato espontâneo e estimulante desencadeador de momentos aprazíveis Se os textos devem agradar ao leitor as atividades de exploração dos mesmos estão comprometidas com o fortalecimento desta reciprocidade e não com o seu esvaziamento Quando o ato de ler se configura preferencialmente como atendimento aos interesses do leitor desencadeia o processo de identificação do sujeito com os elementos da realidade representada motivando o prazer da leitura Por outro lado quando a ruptura é incisiva instaurase o diálogo e o conseqüente questionamento das propostas inovadoras da obra lida alargandose o horizonte cultural do leitor O dividendo final é novamente o prazer da leitura agora como apropriação de um mundo inesperado O ato de ler é portanto duplamente gratificante No contato com o conhecido fornece a facilidade da acomodação a possibilidade de o sujeito encontrarse no texto Na experiência com o desconhecido surge a descoberta de modos alternativos de ser e de viver A tensão entre esses dois pólos patrocina a forma mais agradável e efetiva de leitura A literatura pode suscitar prazer porque tem seu fim em si mesma isto é funciona como um jogo em torno da linguagem das idéias e das formas sem estar subordinada a um objectivo prático imediato Essa concepção do fato literário remonta à estética idealista do séc XVIII mais precisamente a Immanuel Kant que define a literatura e a arte em geral como um modo de representação que por si mesmo é final embora sem fim no entanto propicia a cultura dos poderesdamente para a comunicação social 1980 245 Essa teoria chega valorizada ao séc XX que continua prestigiando o fenômeno estético pela sua capacidade de provocar prazer Pela gratuidade daí advinda a literatura aproximase das atividades lúdicas em geral também elas com a finalidade única de emocionar e divertir o sujeito sem oferecerlhe vantagens materiais Gratuito e sem obrigatoriedade o jogo não é entretanto um ato incontrolado mas estruturado a partir de regras às q uais o indivíduo deve se submeter O jogador ingressa no jogo graciosamente sem imposições com liberdade Depois de entrar ele passa necessariamente a obedecer às regras criadas pelo próprio jogo cumprindoas como a um pacto estabelecido entre os jogadores Também a literatura tem esse mesmo caráter uma vez que ao elaborar sua obra o autor institui normas e regras de composição fornecendo indicadores de leitura aos quais o leitor segue num acordo tácito com o criador Ler é imergir num universo imaginário gratuito mas organizado carregado de pistas as quais o leitor vai assumir o compromisso de seguir se quiser levar sua leitura isto é seu jogo literário a termo Embora desinteressado e sem vinculação direta com o real o jogo tem uma função significante isto é tem um sentido gerado por aquilo que está sendo disputado O alvo a ser atingido não responde contudo a uma necessidade imediata da vida prática mas mesmo assim confere um sentido à ação Johan Huizinga define as características do jogo como uma atividade que se processa dentro de certos limites temporais e espaciais segundo uma determinada ordem e um dado número de regras livremente aceitas e fora da esfera da necessidade ou da utilidade material O ambiente em que ele se desenrola é de arrebatamento e entusiasmo e tornase sagrado ou festivo de acordo com a circunstância A ação é acompanhada por um sentimento de exaltação e tensão e seguida por um estado de alegria e de distensão 1980147 A definição de Huizinga vale da mesma forma para a literatura e a arte em geral que participam dessa aérea não lucrativa onde se inserem as atividades prazerosas e lúdicas excluídas do programa de vida de uma sociedade voltada para o ganho Averbuck 1986 66 A obra literária como o jogo simula os conflitos do mundo de forma global buscando a restauração do equilíbrio através de uma proposta alternativa para a existência Essa função mimética é acentuada quando se relacionam texto e estruturas extratextuais pois uma obra artística sendo um modelo determinado do mundo uma mensagem na linguagem da arte não existe pura e simplesmente fora dessa linguagem assim como fora de todas as outras linguagens das comunicações sociais Lotman 1978 101 Walter Benjamin acrescenta à característica de imitação do jogo a capacidade de formação de hábitos considerando que sua essência não é um fazer como se mas um fazer sempre de novo transformação da experiência mais comovente em hábito 198475 Para ele todo hábito entra na vida como jogo que por mobilizar emoções e inspirar prazer exige repetição contínua e renovada Por essas vias chegase por certo ao hábito da leitura literária que permite a multiplicação do prazer através da experiência sempre recomeçada de viver os sentidos do mundo em cada texto percorrido 22 Escolha dos textos Alguns princípios básicos norteiam o ensino de literatura o atendimento aos interesses do leitor a provocação de novos interesses que lhe agucem o senso crítico e a preservação do caráter lúdico do jogo literário Levando em conta esses aspectos o professor está recuperando para o aluno as funções básicas de toda a arte captar o real e repassálo criticamente sintetizandoo de modo inovador através das infinitas possibilidades de arranjo dos signos O resultado final será um comportamento permanente de leitura em que o texto se apresenta como um desafio a ser vencido em inúmeras atividades participativas Sua apreensão redundará em situações gratificantes que vão garantir a continuidade do processo de fruição da leitura O maior obstáculo com que o professor se defronta para alcançar esses alvos está no conhecimento amplo e seguro do acervo de títulos de literatura infantojuvenil e para adultos com que poderá trabalhar em sala de aula Qualquer modalidade de ensino depende antes de tudo do domínio que se tem do objeto a ser ensinado Quando se trata de literatura a experiência de leitura e o senso crítico do professor não podem ser substituídos pelo aparato metodológico por mais aperfeiçoado e atualizado que este seja Uma aula de literatura bem planejada parte não da metodização das atividades mas do próprio conteúdo dos textos a serem estudados Assim sendo o professor precisa ter uma leitura prévia e comprensiva dos mesmos se deseja proporcionar a seus alunos vias eficazes de fruição e conhecimento das obras e da história literária A leitura do professor pois é prérequisito da leitura do aluno mas isto não quer dizer que a interpretação do aluno deva ser atrelada à do professor É evidente que os sentidos que esse deu ao texto influenciarão as atividades propostas para explorálo mas se o aluno através do trabalho textual atinge outros sentidos e consegue comproválos pelas evidências à sua disposição não cabe ao professor questionar a leitura que realizou Dizer que a compreensão e a interpretação orientam o planejamento das experiências de leitura não significa porém que estas se acumulem desordenadamente pois a falta de sistema além de dificultar as operações de pensamento no processo de aprendizagem pode tornar o estudo completamente caótico de modo que o aluno não consiga efetuar as sínteses conceituais que a consecução do conhecimento exige A metodologia de ensino dessa forma é outro prérequisito hierarquicamente colocado em segundo lugar mas de igual maneira indispensável Por outro lado qualquer metodi ção do ensino não se opera num vácuo teórico Tanto a leitura seletiva do professor quanto o método que ele adota após decidir sobre os textos que deverá trabalhar são orientados na sua essência por uma concepção que ele faz do literário Esta lhe oferece os critérios para apreciar as obras e para abordálas com os alunos segundo um ou outro método que faça emergir o conceito de literatura subjacente a todo o processo Se a seleção de textos e a escolha de métodos de abordagem textual é interdependente e mutuamente sustentada por uma noção comum de literatura a conseqüência é que o professor precisa conhecer algumas teorias literárias que lhe definam os limites do seu campo de trabalho Uma teoria literária é um modo de investigação científica que se exerce pela observação e análise de um corpus hipoteticamente delimitado como literário Segundo Souza seu objeto é a literatura stricto sensu ou seja determinadas composições verbais em que a linguagenm se apresenta elaborada de maneira especial e nas quais se dá a constituição de universos imaginários ou ficcionais Num nível ainda mais elaborado de exigências metodológicas devese dizer enfim que o objeto da teoria da literatura é constituído pela literariedade isto é o modo especial de elaboração da linguagem inerente às composições literárias caracterizado por um desvio em relação às ocorrências mais ordinárias da linguagem 1986 47 As teorias literárias investigam seu objeto a partir de diferentes perspectivas sobre o que é literário ou não como se pode observar na afirmação de Souza que restringe o conceito a dois constituintes fundamentais Outros analistas das teorias literárias definiram seu objeto por caminhos diversos ora desconsiderando ora privilegiando o modo de elaboração linguística ora exaltando ora pondo em cheque a idéia de universo imaginário As possibilidades de enfoque nos estudos literários são portanto múltiplas e a exigência que se pode fazer a uma teoria é que estabeleça claramente o que para ela é a literatura e que a investigue com rigor científico a partir dessa definição hipotética O professor egresso de um curso de Letras ou de Magistério nem sempre faz idéia de que sua tarefa de ensino de literatura não é inocente mas vem direta ou indiretamente impregnada de noções que acabam por funcionarem como critérios para a crítica e a avaliação das obras bem como para a organização dos processos de leitura e interpretação ao nível do aluno Para poder discriminar qual o texto de melhor ou pior qualidade literária assim como para optar por um ou outro método de compreensão e interpretação de uma obra específica o professor precisa conscientizar seus pressupostos teóricos no que as teorias literárias podem auxiliálo As mais correntes concepções do literário podem ser agrupadas em duas classes principais as que valorizam o discurso linguístico e suas representações ideais como a estilística a fenomenologia o formalismo russo o estruturalismo e a semiologia e as que valorizam a equivalência entre o universo criado e o universo real como a teoria de Aristóteles a sociologia literária e a estética da recepção Frequentemente teóricos de um ou outro lado ultrapassam essas fronteiras mas a partir delas podemse traçar algumas diretrizes que facilitem ao professor a tomada de decisões nessa área prioritária do ensino de literatura Para Aristóteles em sua Poética 1966 69 a obra de arte literária é mímese uma imitação verbal não do que é mas do que pode ser cujas partes integrantes formam um todo do qual nada pode ser retirado ou acrescentado e onde tudo é necessário e verossímil ou seja cada elemento tem uma explicação lógica aceitável do ponto de vista interior da obra A fim de ajuizar um texto segundo Aristóteles é preciso verificar se tudo que nele aparece tem ligação com o todo se não há elementos desnecessários ou que estão soltos sem desenvolvi mento ou justificativa Em última análise interessa a coerência interna Para os seguidores de Aristóteles o conceito de mímese se torna ambíguo e uns privilegiam a idéia de que a literatura deve corresponder ao universo real imitandoo de forma melhor do que ele é e outros a idéia de que o importante é o universo fictício que pode representar o mundo real ou o mundo possível desde que coerentemente construído pelas palavras Uma das teorias modernas relacionadas com a ênfase no poder da linguagem de criar universos é o estruturalismo que se ocupa com a questão de literariedade entendendo a obra literária como uma estrutura de signos verbais em relação harmônica ou contraditória uns com os outros produzida por procedimentos de composição que tornam esse sistema de signos autônomo em relação à realidade exterior Segundo Jakobson o objeto da ciência da literatura não é a literatura mas a literariedade isto é o que faz de uma obra dada uma obra literária 197315 O estruturalismo evolui para a semiologia ampliando os estudos literários a outras linguagens não verbais e preocupandose em como elas geram significados e comunicação dentro da sociedade O ajuizamento da obra literária na ótica estruturalista e semiológ ica se realiza pela descrição do sistema dos signos descobrindo as relações entre eles e os significados que delas decorrem Como signos se consideram não só as palavras mas suas representações tais como personagens lugares épocas ações emoções símbolos idéias etc O estruturalismo se detém sobre a articulação lógica entre as partes da estrutura textual enquanto a semiologia salienta a relação entre estruturas dos signos e estrutura da realidade São procedimentos descritivos e analíticos não valorativos mas de todo modo acabam por discutir os valores ideológicos da sociedade que os sistemas de signos traduzem A sociologia da literatura conceitua o texto literário como reflexo de uma sociedade histórica apresentando a essência dos fenômenos que nela ocorrem de modo concreto A produção literária para Lukács 1965 289 é a tradução particular de uma verdade universal comum a toda humanidade A literatura não copia os fatos singulares da História mas procura neles o que é representativo para todos os homens e cria um novo fato que veicule essa essência Linha teórica também comprometida com o social é a semiologia de Bakhtin que permite a correlação entre os conflitos sociais e a estrutura literária pela análise da dimensão ideológica do signo lingüístico A avaliação do texto no esquadro sociológico exige o conhecimento prévio da história da sociedade em que ele foi produzido e se efetua pelo cotejo entre os fatos reais e os fatos fictícios A obra é válida quando apreende a essência por trás da história conscientizando o leitor do que é o ser humano resgatandoo das distorções ideológicas que o reificam e alienam A teoria da estética da recepção desenvolve seus estudos em torno da reflexão sobre as relações entre narradortextoleitor Vê a obra como um objeto verbal esquemático a ser preenchido pela atividade de leitura que se realiza sempre a partir de um horizonte de expectativas Roche define este como soma de comportamentos conhecimentos e idéias préconcebidas com que se depara uma obra no momento de sua aparição e segundo a qual é medida 1980 10 Por esse caminho a teoria tenta fechar o círculo entre a abordagem estrutural e a sociológica A obra literária é avaliada a partir da teoria recepcional através da descrição de componentes internos e dos espaços vazios a serem preenchidos pelo leitor Fazse então o confronto entre o texto e suas diversas realizações na leitura e explicamse estas recorrendose às expectativas dos diferentes leitores ou grupos de leitores em sociedades históricas definidas A obra é tanto mais valiosa quanto mais emancipatória ou seja quanto mais propõe ao leitor desafios que as expectativas deste não previam As teorias literárias como se vê possibilitam variadas visões do objeto de ensino do professor a literatura Por meio delas a seleção dos textos pode ser realizada segundo a ótica que melhor se adaptar às necessidades dos alunos e do projeto de educação pelo qual o professor opta De igual modo elas proporcionam procedimentos de trabalho com o texto literário coerentes com a concepção de literatura do professor e os princípios que norteiam sua atividade docente 31 3 NECESSIDADE DE METODOLOGIA 31 Ensino tradicional de literatura a prática e os currículos A situação crítica do ensino de literatura tem sido suficientemente apontada e discutida em pesquisas seminários cursos encontros de professores e no debate público em geral Nessas ocasiões verificase que o ponto nevrálgico da questão reside nas deficiências de domínio da leitura Talvez a causa mais evidente desses fracassos esteja na dificuldade de acesso às fontes de informação por parte dos professores Contudo a formação recebida nos cursos de Letras e nos de 2º grau com terminologia em Magistério bem ou mal propicia uma bagagem de conteúdos relacionados à literatura que deveria sustentar um ensino mais eficiente Da mesma forma o professor em exercício conta com vasta bibliografia para alimentar seus conhecimentos nessa área Isso tudo entretanto parece não resolver a crise pois ainda que eventualmente de posse de todas as referências necessárias o professor vêse desorientado quanto ao modo de organizar experiências e alas atinentes em sala de aula Pesquisa realizada em Porto Alegre concluída em 1984 pelo Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS para o INEPMEC consultou 98 professores desses graus de ensino sobre suas atitudes em relação ao ensino de literatura Através das respostas levantadas foi possível traçar o perfil comportamental do professor de 1º e 2º graus no que tange a material literário utilizado e práticas docentes cf Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 1985 357364 Os modos de atuação do professor revelados demonstram que quanto ao material literário sua tendência é adotar e recomendar o livro didático usando livros de literatura esporadicamente como complemento ao livrotexto Quando não o adota em geral o substitui por folhas avulsas que contém fragmentos de textos acompanhados de exercícios Uma leitura descompromissada livre e estimulante da imaginação e da criatividade ou do senso crítico não é portanto enfatizada A cada leitura correspondem atividades de responder exercícios gramaticais e de redação sem qualquer relação com o caráter artístico de um texto literário ou de interpretação com itens programados e direcionados para uma compreensão literal e primária Quanto aos objetivos os professores se atêm à natureza do hábito de ler preocupandose com formar o hábito da leitura e desenvolver o potencial criativo e crítico dos alunos procurando ao mesmo tempo atender aos interesses dos mesmos Entretanto a presença maciça do livro didático e a ausência da obra literária na íntegra tornam tais metas inexequíveis Os professores apesar de visarem a formação do hábito da leitura e o desenvolvimento do espírito critico não oferecem atividades nem utilizam recursos que permitam a expansão dos conhecimentos das habilidades intelectuais a criatividade ou a tomada de posição embora arrolem esses tópicos em seus critérios de aproveitamento escolar O debate a livre discussão e atividades que extrapolam o âmbito da sala de aula são esquecidos As fórmulas mais carentes de criatividade e mais tradicionalmente empregadas como aulas expositivas e exercícios escritos e orais de interpretação são praticadas pela maioria o que também promove a falta de incentivo e de motivação para a leitura dos alunos Outra situação observada é a de que esses professores querem incentivar posturas críticas e participantes na realidade social mas valemse de atividades repetitivas com alta carga de obrigatoriedade satisfazendose com frequência com a simples leitura dos textos solicitados revelada através de discussões redações dissertativas ou fichas de leitura Em especial para préadolescentes cuja descoberta da complexidade da vida está em efervescência dificilmente tais atitudes podem surtir efeitos positivos em termos de gosto pela leitura O quadro se agrava com o uso dominante do livro didático uma vez que esse sabidamente oferece apenas fragmentos de textos literários e os aborda do ponto de vista gramatical acima de tudo Se os métodos de ensino como ficou comprovado encerram pouca margem para a imaginação e a criatividade e não acolhem práticas familiares ou desafiadoras aos alunos é possível deduzirse que o problema reside mais neles do que na bagagem cultural prévia daqueles que freqüentam a escola Percebeuse também que os professores cônscios de sua responsabilidade de educadores para a leitura contraditoriamente não aliam os 33 interesses vitais de seus educandos com os métodos de trabalho literário Atêmse a técnicas já consagradas e a recursos convencionais de mais fácil acesso e operacionalização Isso possibilitou a inferência de que há uma lacuna entre précondições de leitura e modos de atuação da escola a qual permanece em aberto No que tange à adequação dos textos selecionados pelo professor e os processos de abordagem textual como requisitos básicos para o ensino eficaz de literatura na escola foi constatado que a seleção dos livros a serem lidos pela criança e o jovem centrase na literatura modera erudita seja destinada à infância ou à juventude Viuse igualmente que o volume dessa seleção é pequeno uma vez que suplementa ou complementa o livro didático Um dado animador é que a preferência recai sobre autores da modernidade ou contemporâneos e que se busca a regionalização das obras o que aproxima o livro escolhido de seu leitor incipiente Por outro lado os métodos de abordagem textual parecem nem sequer entrar no âmbito das preocupações do professor Comprovouse que ainda se recorre a fórmulas prontas voltadas para a gramática para a redação e para a interpretação reprodutiva não levando em conta nem às précondições do aluno nem à natureza do próprio texto a ser trabalhado Entre os critérios referentes às estratégias de ensino nenhum professor ao adotar o livro didático revelou preocupação com a orientação de teoria literária dos exercícios ou técnicas de abordagem dos textos o que também não transparece nas respostas relacionadas com os procedimentos didáticos O esvaziamento do ensino de literatura se acentua portanto não só pelo pequeno domínio do conhecimento literário do professor mas também pela falta de uma proposta metodológica que o embase Outra pesquisa do Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS realizada nas diretrizes dos Estados da União e concluída em 1985 revela um dado alarmante apenas o Rio Grande do Sul e mesmo assim num currículo por ora em testagem define uma linha metodológica clara o método científico Tendo em vista que essas diretrizes norteiam o processo ensinoaprendizagem determinando planejamentos educacionais e prestações de contas correlativas podese inferir que a atuação do professor em sala de aula peca pela falta de orientação metódica o que explicaria boa parte dos problemas dos alunos na área A análise da situação de leitura nas diretrizes oficiais Aguiar 1983 33 permite algumas considerações sobre os fins da educação e o tipo de homem que o ensino público pretende formar As reflexões teóricas sobre a importância e a concepção de leitura apontam para uma dimensão crítica do ato de ler como possibilidade de crescimento individual Contudo a preocupação moralizante evidencia tendência a prender o sujeito aos padrões estabelecidos pela sociedade em vez de estimulálo ao questionamento e à reelaboração dos valores Os tipos de textos sugeridos para uso da rede oficial de ensino reforçam a voz do adulto e atendem aos objetivos de uma educação que se propõe moldar os jovens segundo os modelos dominantes através de a adaptações que empobrecem o conteúdo das obras e desviam suas finalidades originais b criação de textos pelos planejadores dos currículos cuja linguagem mostra pobreza vocabular excesso de diminutivos e precariedade de rimas Não retrata a fala infantil mas aquela que os mais velhos esperam da criança Os temas procuram despertar sentimentos de submissão como a supervalorização da escola a idolatria à família e à Pátria Alguns são de tal forma repetitivos que dão a idéia de estagnação no tempo e conseqüentemente impossibilidade de crescer como Dia da Árvore Dia da Criança Minhas Férias c orientação para que os professores reformulem os textos elaborados pelos alunos anulando o valor da expressão infantil em relação ao da adulta As sugestões metodológicas ainda podem ser questionadas quanto ao modo como tratam o texto e as atividades propostas O texto literário é neles pretexto para o estudo da gramática e se desencadeia as ações não é vinculado à experiência de vida do aluno o que afeta seu poder de mobilização para o ato de ler As sugestões de trabalho são pouco originais todas propõem os mesmos tipos de atividades e exercícios que se fecham nos limites da escola sem intercâmbio com a comunidade o que torna as aulas estantes e desvinculadas do real Tal situação se acentua pelo desprestígio em que se encontra o livro nesses documentos Há falta de articulação entre os objetivos educacionais definidos e as práticas sugeridas Não se oferecem livros embora se queira desenvolver o gosto pela leitura Raríssimas são as recomendações de leitura o que significa que essas diretrizes enfatizam processos vazios fechados em si mesmos em detrimento do conteúdo que lhes deveria servir de suporte formado por um repertório de obras adequadas à realidade social do estudante e a seus interesses O que se depreende é que tais propostas de educação repetem o modelo de estrutura social que as alimenta na medida em que não proporcionam ao aluno os meios de participar do debate e de atuar de forma dinâmica em seu grupo As orientações curriculares ainda inalteradas que salientam a função da escola como reforço ideológico de um Estado autoritário 35 encerram um elemento crucial para a análise da situação do ensino de literatura que na prática já foi diagnosticada como deficitária É a visão formalista da experiência escolar como algo que deve ser ordenado mas cujo conteúdo precisa ser controlado a distância entre os postulados pedagógicos e o seu preenchimento concreto O discurso oficial é comumente referendado dentro da sala de aula por atitudes apassivadoras que explicam a inércia observada 32 Necessidade da metodologia de abordagem textual O modelo de aula de literatura atualmente em vigor na escola brasileira poderia ser descrito como uma sequência de atividades mais ou menos estáticas ditadas inclusive pelo próprio livro didático apresentação de um texto explicação do vocabulário exercícios de interpretação exercícios gramaticas e composição Tentativas de integração dos conteúdos literários por vezes se fazem com a área de Artes Plásticas ou Música resumidas entretanto ao preenchimento do tempo útil do aluno sem maiores vinculações com o que antes fora proposto A repetição continuada das mesmas tarefas não representa uma organicidade sistêmica do trabalho educacional Uma vez que não há um projeto que as vincule entre si através de objetivos comuns o que se observa é a fragmentação dos conhecimentos a redundância excessiva de tópicos a dispersão do processo de aprendizagem num círculo vicioso em que os mesmos conteúdos são permanentemente ensinados e nunca aprendidos Esse modelo típico de aula de literatura tem raízes na tradição escolar brasileira que remontam à pedagogia jesuítica Nas escolas coloniais e depois do Reinado mantidas pela Companhia de Jesus a literatura só ingressava como exemplo retórico de execução primorosa da língua portuguesa na Metrópole quando ao mesmo tempo trazia normas de moralidade cristã e fidelidade às autoridades constituídas Muito embora frequentemente os textos tivessem qualidade literária estavam a serviço não de si mesmos mas de uma educação cristã dos coloniais Wilson Martins afirma que quaisquer que sejam os métodos especificamente pedagógicos do ensino jesuítico não há como negar que era mentalmente conservador reacionário com relação às orientações reformistas da época e anticientífico estruturalmente estava condenado por antecipação antes a imobilizar do que a promover o desenvolvimento intelectual do Brasil 197722 Essa tradição histórica explica o tratamento dado à literatura que Marisa Lajolo denuncia observando que em situações escolares o texto costuma virar pretexto ser intermediário de aprendizagens outras que não ele mesmo E no entanto texto nenhum nasceu para ser objeto de estudo de dissecação de análise Salvo raras e modernas exceções por exemplo os textos produzidos de encomenda e sob medida para alguns livros escolares um texto costuma ser produto do trabalho individual de seu autor e encontra sua função na leitura individual de um leitor 198653 A dimensão intimista do ato de leitura esbarra com a necessidade de uma educação de massas em que o livro não é posse de cada aluno e a reunião de muitos sujeitos num mesmo espaço obriga à comunicação interpessoal transformando a leitura numa atividade coletiva que ela não é em essência A distância entre a relação leitor pessoal livro e leitor grupal livro certamente desfigura as características do ato de ler o que a escola acentua ainda mais quando pulveriza a leitura tanto no que se refere ao material literário quanto aos modos de abordagem textual A ênfase que se atribui atualmente à produção moderna é sem dúvida nenhuma positiva Contudo essa opção apresenta riscos quando se examinam os textos selecionados que advêm da imprensa crônicas reportagens artigos de jornais e revistas e de obras literárias consideradas em capítulos estrofes fragmentos etc O recorte do material de leitura bastante comum desintegrando o original é uma solução muito fácil e popularizada no ensino de massas pois permite a reprodução pouco onerosa mas atenta ao direito do aluno de conhecer a obra no seu todo Dois aspectos daí decorrem que são passíveis de objeção Em primeiro lugar o trabalho exclusivo com o texto moderno impede a visão da historicidade da literatura esvaziando formas registros linguísticos e sistemas de ideias de sua relação com o passado O ideal seria o cotejo de obras de diferentes épocas para acompanhar a evolução e mudanças de perspectiva que de certo modo também integram o significado do texto atual Em segundo lugar a utilização predominante de excertos em folhas mimeografadas ou coletados no livro didático desvirtua o universo de sentidos das obras produzindo no imaginário do alunoleitor um caos de representações desarticuladas que nem de longe correspondem ou insinuam a proposta de cada original e acabam por fazer da noção de literatura assim construída uma colcha de retalhos em que nada tem a ver com nada Ou melhor tudo tem a ver com as intenções nem sempre louváveis daquele que seleciona os textos e os recor 37 Os modos de tratamento deste material literário convergem todos paradoxalmente para a entronização do texto aliás do fragmento considerado como repositório de idéias fixas verdadeiras e indiscutíveis Essa noção de texto perfeito origina certas atitudes inflexíveis do professor que valendose de sua maior maturidade de leitura impõe interpretações tidas como as melhores e portanto incapazes de serem modificadas ou contestadas pelos alunos A socialização do texto provém de uma postura histórica de valorização da palavra escrita nas civilizações ocidentais especialmente no campo de literatura em que já antes da escrita a fala do narrador ou do poeta conservava a memória da coletividade e indagava o desconhecido revestindose de uma função ao mesmo tempo mágica e prática Os narradores e poetas primitivos já relatavam para o seu público os feitos de seus heróis a origem de suas instituições sua agricultura e seu relacionamento com o divino A criação da imprensa com Gutemberg cristalizou esse prestígio social da fala literária enquanto a destitui de seu caráter de experiência coletiva A escola encontrou no texto impresso a possibilidade de circulação ampla da ciência e da arte a razão de sua existência Investida do papel de transmissora do conhecimento seleciona como material de apoio para o ensino os textos consagrados pelas instâncias sociais que determinam a vida cultural excluindo em geral a produção popular e a intervenção do alunado na constituição do sentido textual uma vez que esse está pronto e traduz a verdade A noção de textomodelo implica a imposição de normas linguísticas estéticas e ideológicas que devem ser assimiladas pelo aluno sem discussão já que está diante de uma autoridade publicamente reconhecida a criação literária A norma estética dominante na seleção e uso da literatura pela escola é a do realismo Mesmo em fragmento a média de textos em trânsito nas salas de aula é extraída de autores do séc XIX ou dos vários neorealismos posteriores como o do romance de 30 e seus seguidores contemporâneos na literatura para adultos e na infantojuvenil que lida com histórias do cotidiano sejam urbanas ou regionalistas O lado aventuresco emocional e fantástico da estética romântica e seus pôsteros é muito menos encontrável sendo que a estética clássica deixou de ser até mencionada A norma linguística a que a utilização da literatura na escola visa é a do padrão culto Se essa atitude se ampara na tradição escolar colonial hoje se torna problemática em virtude de que mesmo as obras contemporâneas de cunho realista introduzem coloquialismos e dialetos diversificados por força da exigência de representarem fielmente os vários meios sociais Mesmo nesses casos aceitamse com maior boa vontade aquelas estruturas e vocabulário admitidos pelo falar culto Embora a literatura faça parte das instituições culturais que constituem a línguapadrão devese lembrar que é nela que esta mesma variante se modifica com maior rapidez A escola entretanto sempre detém esse curso de modificação escolhendo obras menos avançadas em seu discurso Daí a razão da literatura ser tão nacionalmente trabalhada como exemplo de regras gramaticais Nesse caso o que se aprende não é o conhecimento do texto literário mas o da gramática sendo a literatura mero instrumento de exemplificação A par de exercícios gramaticais são apresentados ao aluno questionários e temas para redação que representam as normas ideológicas que o texto ou seu recorte defendem muitas vezes porque descontextualizados Essas normas se traduzem em geral em comportamentos exemplares dos heróis na literatura infantojuvenil e na literatura para adultos pautados por valores falsificados Umberto Eco e Marisa Bonazzi arrolam uma série de tópicos falseados que analisaram em livros didáticos italianos como os pobres o trabalho o herói e a pátria a escola as raças e povos a família a ausência de Deus a educação cívica os menores que trabalham a história nacional a língua a ciência e a técnica o dinheiro a caridade e a previdência social Essa análise mostra que esses problemas são apresentados de uma maneira falsa grotesca risível Que através deles a criança é educada para uma realidade inexistente Que quando os problemas e a resposta a eles fornecida dizem respeito à vida real são colocados e resolvidos de forma a educar um pequeno escravo preparado para aceitar o abuso o sofrimento a injustiça e para ficar satisfeito com isto Enfim os livros de leitura contam mentiras educam os jovens para uma falsa realidade enchem sua cabeça com lugares comuns com coisas chãs com atitudes não críticas E o que é pior cumprem este trabalho de mistificação servindose dos mais reles clichês da pedagogia repressiva do século passado por preguiça ou incapacidade dos seus compiladores 1980 16 Osman Lins diante dos textos brasileiros reafirma essas conclusões declarando que neles pode refletirse todo o perfil de um país 1977 149 Para ele professores e autores de compêndios didáticos fogem portanto ao seu papel natural de mediadores Tornamse no nosso processo cultural ao invés de fatores de ligação uns verdadeiros tropeços A culpa não é somente deles Eles se associam a toda uma corte de homens distraídos tréfegos rapaces inseridos num quadro social propício à aventura aos empreendimentos levianos à irresponsabilidade social para não dizer ao engodo 1977 149 39 Todo o texto entretanto independente do seu grau de realização artística seja ele consagrado ou não pode ser objeto de aulas de literatura desde que seja visto na sua totalidade e que o professor esteja atento para o conjunto de normas que nele se configuram sendo capaz de discriminálas criticamente em contraste com os padrões estéticos e ideológicos de seu tempo Através de uma experiência de leitura acumulada e de posse de estratégias de ensino polemizantes pode promover um trabalho criativo de sentido coletivo encorajando os alunos a comentarem os textos do ponto de vista temático e formal e a cotejarem esses aspectos em obras de variada procedência histórica e geográfica sem submeteremse a eles como verdades definitivas O exame do que se faz e se pensa sobre o ensino da literatura hoje permite traçar algumas linhas de demarcação fundamental para uma proposta alternativa que cumpra esse papel de criatividade e inovação Percebese em primeiro lugar uma nítida preocupação com um modelo de leitura conformado pelas exigências do texto sem muito espaço para a interferência interpretativa ou recriadora do leitor Essas exigências porém têm um caráter mais extrínseco do que intrínseco Partem de fora do texto embora pareçam dele provir É o que ocorre com a ênfase observada em exercícios formalistas voltados para a identificação de elementos textuais mas sem chegar a investigar a funcionalidade destes suas interrelações e seu diálogo com o leitor como se a literatura fosse uma coisa separada dos homens uma espécie de máquina cujas peças apenas devem ser desmontadas para serem conhecidas Essa coisificação parece decorrer da insistência numa postura conservadora que entende literatura como exercício talentoso da língua e vê a está como um sistema de regras a serem memorizadas e aplicadas Verificamse portanto de um lado professores maciçamente acomodados ante o problema da leitura refazendo práticas consagradas pela tradição cultural a leitura gramatical do texto a explicação do texto pelo modelo francês que se limita a redizer o que a obra já diz o ensino pela informação sobre e não pela experiência de enquanto uma minoria dá impulso a posturas mais abertas buscando restituir ao aluno as possibilidades de que ele estabeleça o seu próprio vínculo com a matéria ficcional pesquisando sobretudo na prática soluções para vencer problemas já crônicos como a indiferença o desânimo e a falta de familiaridade com a cultura letrada Tentando unificar essa dispersão a tarefa de uma metodologia voltada para o ensino da literatura está em a partir dessa realidade cheia de contradições pensar a obra e o leitor e com base nessa interação propor meios de ação que coordenem esforços solidarizem a participação nestes e considerem o principal interessado no processo o aluno e suas necessidades enquanto leitor numa sociedade em transformação O problema nessa perspectiva se delimita na órbita da metodologia de ensino Uma vez que o professor possui metas bastante definidas quanto à necessidade de incremento do gosto pela literatura o que lhe faltaria seriam os meios para alcançálas Esses meios derivariam de uma sistematização dos procedimentos didáticos em torno de uma idéiafim quanto à educação literária do aluno ou seja da adoção de um método de ensino cujos pressupostos filosóficos se coadunassem com a concepção de alunoleitor que o professor cultiva É escusado salientar portanto a necessidade de uma metodologia que sirva de suporte para a prática escolar Essa proporcionará resultados produtivos para o aluno na medida em que delimite para si mesma uma finalidade para o ato de aprender Nesse sentido todas as etapas do processo ensinoaprendizagem estariam voltadas para os fins últimos da educação Esse princípio norteador das experiências educativas seria a espinha dorsal de um método o qual se resume em um conjunto de atividades com um nexo sistemático entre si Esse nexo seria dado pela intenção fundamental que é buscada pelas agências educativas Numa sociedade pluralista é no entrechoque de idéias e valores que se aperfeiçoam as instituições sociais Na área educacional lugar privilegiado de aprimoramento da cidadania e da personalidade é onde a maior diversidade deveria ocorrer Nela não se deveriam limitar as possibilidades de livre determinação quanto ao que faz sentido para a comunidade escolar no convívio com os livros e outros artefatos culturais Em especial quando se trata com a literatura modelo simulado de tudo o que diz respeito ao homem e suas aspirações não se pode conceber a uniformidade de posições nem quanto a conteúdos nem quanto a métodos de trabalho A metodologia precisa acolher também em seus domínios a diversidade de posturas ideológicas e a relatividade de soluções ante as instituições rapidamente mutáveis da sociedade contemporânea Cumpre que se metodize o ensino mas não apenas numa direção perseguindo um ideal absoluto de homem como tem sido a norma Com a utilização de um método adequado a cada espécie de alvo filosófico que a escola se proponha atingir garantindose decisões sólidas entre professores e alunos quanto ao que importa ensinar e aprender a circunstância histórica e social seria atendida superandose o imobilismo dos modelos idealistas tradicionais e no que concerne à literatura as atividades de leitura receberiam a ordenação e a referencialidade de que carecem para serem aceitas pelo alunado A adoção de um método de ensino para a literatura depende sobretudo do posicionamento do professor quanto ao aluno que tem à frente Se o leitor que a escola quer formar é aquele que assimila os 41 sentidos acriticamente só para acumular sensações ou informações que de nada lhe servem na vida concreta ou é aquele que não consegue se quer apreender esses sentidos por força de barreiras linguísticas e sóicioculturais não há razão para procurarse a sistematização das atividades uma vez que tais leitores são produzidos in absentia de qualquer método Se o modelo almejado é o do leitor crítico capaz de discriminar intenções e assumir atitudes ante o texto com independência a primeira providencia é sondar as necessidades dos estudantes O distanciamento entre expectativas de professores e alunos gera dispersão de esforços mesmo entre os bemintencionados os que pro pugnam por uma educação igualitária e transformadora Detectadas as précondições e interesses do grupo bem como as possibilidades de leitura oferecidas pelo meio ambiente é neste momento que a escolha e a introdução de um método pedagógico se fazem necessárias a fim de nortear todo o trabalho de classe ou extraclasse em direção aos fins que essa sondagem demonstrou serem importantes para aquele conjunto específico de alunos na sua circunstância fins esses que poderão transformarse durante o trabalho na medida em que a classe se conscientize de novas necessidades ou de novas exigências que venha a enfrentar A partir de cada método dentro de sua especificidade o professor pode organizar a situação de aprendizagem conforme as aspirações do grupo e as peculiaridades do conteúdo a ser trabalhado sem forçar nenhum dos dois pólos e sem renunciar à sua função de orientador do processo educativo A pluralidade de métodos limita o autoritarismo do sistema educacional por não depender de alvos preestabelecidos e imutáveis e pressupõe uma atuação docente flexível pois não permite a repetição rotineira de atividades ou o cumprimento passivo de um programa inalterável Por outro lado aderir a um método não representa uma camisadeforça para o ensinoaprendizagem como a idéia de sistematização poderia conotar desde que esse método estruture os procedimentos didáticos sempre a partir de expectativas efetivas e apenas assinale rotas para que tais expectativas sejam atendidas e ampliadas Alguns dos métodos a seguir delineados já circulam nos meios educacionais tais como os que visam a desenvolver o potencial criativo ou de investigação científica dos alunos Outros derivamse de teorias da literatura e da linguagem e se dirigem especificamente ao trabalho com as propriedades literárias dos textos Cada um deles preocupase em definir traços característicos de acordo com a teoria que o alicerça bem como possui metas explícitas e bem diferenciadas Não se pode negar entretanto que todos advêm de um posicinamento ideológico e filosófico comum que diz respeito à visão última le educação que neles está implícita A concepção de educação que defendem está ligada à noção de transformação sóciocultural que só se viabiliza através de um ensino eminentemente voltado para a realidade do aluno e que deseja alcançar como dividindo final uma postura crítica ante o mundo e a práxis social Toda a atividade de literatura deve em consequência dessas premissas resultar num fazer transformador numa leitura em que o aluno descobre sentidos e reelabora aquilo que ele é e o que pode ser 22 4 Análise das possíveis reações do destinatário 6 Modos de apresentação 7 Prazo para realização do projeto Elaboração do material Em pequenos grupos os alunos criam através de diferentes linguagens alternativas para encaminharem sua reivindicação obedecendo a todos os requisitos de seu projeto Suponhase que as alternativas sejam discurso cartazes painéis passeatas malhaçãodojudas pantomima Apresentadas as alternativas a turma examina a eficácia de cada uma delas descartando as menos factíveis e escolhendo as que puder levar a efeito com os recursos materiais e humanos disponíveis Nas aulas seguintes cada alternativa terá seus passos e materiais preparados Finalmente elas serão escalonadas segundo seu teor de força persuasiva e realizadas pela turma Divulgação do trabalho As diferentes mensagens elaboradas pelo grande grupo são apresentadas na ordem preestabelecida a colegas de outras turmas a professores funcionários administradores e eventualmente à comunidade na dependência da extensão do tema das reivindicações 6 MÉTODO RECEPCIONAL 61 Fundamentação teórica O método recepcional é estranho à escola brasileira em que a preocupação com o ponto de vista do leitor não é parte da tradição Via de regra os estudos literários nela tem se dedicado à exploração de textos e de sua contextualização espaçotemporal num eixo positivista O relativismo de interpretação e portanto de leitura não é tópico de consideração no âmbito acadêmico o que se explica pela tendência ao autoritarismo da própria cultura brasileira que endeusa seus expoentes temerosa de expôlos à crítica O método recepcional não se submete a essa tradição dominante uma vez que sua base teórica defende a idéia do relativismo histórico e cultural já que está fundamentalmente convicta da mutabilidade dos objetos bem como da obra literária dentro do processo histórico Fokkema Kunne Ibisch 1977 138 Se o historicismo positivista entende os fenômenos literários como determinados pelos fatos sociais numa relação de origem unilateral em que a obra é sempre conseqüência e nunca causa o conceito de historicidade da teoria recepcional é o de relação de sistemas de eventos comparados num aquieagora específico a obra é um cruzamento de apreensões que se fizeram e se fazem dela nos vários contextos históricos em que ela ocorreu e no que agora é estudada Nesse sentido discutese o próprio conceito de literatura como um sistema de sentido fechado e definitivo que ela indubitavelmente é enquanto simples objeto escrito anexandoselhe a dimensão da sua leitura como parte inerente a tal sistema o que resulta na abertura desse para relações com o mundo histórico extratexto 23 A recepção é concebida pelos teóricos alemães da Escola de Constança como uma concretização pertinente à estrutura da obra tanto no momento da sua produção como no da sua leitura que pode ser estudada esteticamente o que dá ensejo à denominação da teoria de estética da recepção A noção de concretização é derivada dos trabalhos do polonês Roman Ingarden na década de 30 e do tcheco Felix Vodička na década de 40 Para Ingarden o exame do modo de ser da obra literária descobre que ela é uma estrutura linguísticoimaginária permeada de pontos de indeterminação e de esquemas potenciais de impressões sensoriais os quais no ato de criação ou da leitura são preenchidos e atualizados transformando o que era trabalho artístico do criador em objeto estético do leitor cf Ingarden 1973 Para Vodička a obra é um signo estético dirigido ao leitor o que exige a reconstituição histórica da sensibilidade do público para entenderse como ela se concretiza A concretização nesse caso seria operada por meio de avaliações que o leitor atribui à obrasigno em sua consciência a partir de determinada norma estética vigente Por isso as concretizações de um texto se modificariam constantemente segundo a sociedade avaliasse naquele momento a obra e seus temas e procedimentos estruturais cf Vodička 1978 299300 As idéias de Ingarden e Vodička são reformuladas por teóricos posteriores que entendem o processo de concretização como interação do leitor com o texto em que este atua como pauta e tudo o que não diz ou silencio cria vazios que forçam aquele a interferir criadoramente no texto a dialogar com ele de igual para igual num ato de comunicação legítimo A maior e mais óbvia diferença entre a leitura e todas formas de interação social é o fato de que com a leitura não há a situação faceaface O leitor contudo nunca pode saber do texto o que precisas são suas apreensões sobre ele Não há quadro de referências que governe a relação textoleitor ao contrário Os códigos que poderiam reger tal interação são fragmentados no texto e primeiro precisam ser reagrupados ou na maioria dos casos reestruturados antes que se possa estabelecer qualquer quadro de referências Iser 1980 166 O quadro de referências que permite a comunicação entre dois parceiros sociais é constituído pelas indicações e perguntas que cada falante faz a seu interlocutor para assegurarse de que está controlando a fluência comunicativa Com a obra o leitor isso não é possível uma vez que a obra fornece pistas a serem seguidas pelo leitor mas deixa muitos espaços em branco em que o leitor não encontra orientação e precisa mobilizar seu imaginário para continuar o contato A atitude de interação tem como précondição o fato de que texto e leitor estão mergulhados em horizontes históricos muitas vezes distintos e defasados que precisam fundirse para que a comunicação ocorra São estes os quadros de referências antes aludidos a que Hans Robert Jauss chama de horizontes de expectativas os quais incluem todas as convenções estéticoideológicas que possibilitam a produção recepção de um texto cf 1971 747 Regina Zilberman arrola as seguintes ordens de convenção constitutivas do horizonte de espectativas através do qual o autorleitor concebem e interpretam a obra social pois o individuo ocupa uma posição na hierarquia da sociedade intelectual porque ele detém uma visão de mundo compatível na maior parte das vezes com seu lugar no espectro social mas que atinge após completar o ciclo de sua educação formal ideológica correspondente aos valores circulantes no meio de que se imbuí e dos quais não consegue fugir linguística pois emprega um certo padrão expressivo mais ou menos coincidente com a norma gramatical privilegiada o que decorre tanto de sua educação como do espaço social em que transita literário proveniente das leituras que fez de suas preferências e da oferta artística que a tradição a atualidade e os meios de comunicação incluindose aí a própria escola lhe concedem 1982103 Acrescentemse aos fatores acima os de ordem afetiva que provocam adesões ou rejeições dos demais e terseá idéia da complexidade e importância da noção de horizonte dentro da estética da recepção No ato de produçãorecepção a fusão de horizontes de expectativas se dá obrigatoriamente uma vez que as expectativas do autor se traduzem no texto e as do leitor são a ele transferidas O texto se torna o campo em que os dois horizontes podem identificarse ou estranharse Daí poderse tomar a relação entre expectativas do leitor e a obra em si como parâmetro para a avaliação estética da literatura Segundo Jauss se chamamos distância estética a diferença entre as expectativas e a forma concreta de uma obra nova que pode iniciar uma modificação de horizonte rechaçando experiências familiares ou acentuando outras latentes esta se materializa na variedade das reações do público e dos juízes da crítica êxito espontâneo desprezo provocação aprovação esporádica compreensão cada vez mais crescente ou tardia etc 197177 Portanto a valorização das obras se dá na medida em que em termos temáticos e formais elas produzem alteração ou expansão do horizonte de expectativas do leitor por oporemse às convenções conhecidas e aceitas por esse Uma obra é perene enquanto consegue continuar contribuindo para o alargamento dos horizontes de expectativas de successivas epocas A atitude receptiva se inicia com uma aproximação entre texto e leitor em que toda a historicidade de ambos vem á tona As possibilidades de diálogo com a obra dependem então do grau de identificação ou de distanciamento do leitor em relação a ela no que tange às convenções sociais e culturais a que está vinculado e à consciência que delas possui Se a obra corrobora o sistema de valores e normas do leitor o horizonte de expectativas desse permanece inalterado e sua posição psicológica é de conforto Não admira que a literatura de massas préfabricada para satisfazer a concepção que o leitor tem do mundo dentro de uma certa classe social alcance altos níveis de aceitabilidade Por outro lado obras literárias que desafiam a compreensão por se afastarem do que é esperado e admissível pelo leitor freqüentemente o repelem ao exigirem um esforço de interação demasiado conflitivo com seu sistema de referencias vitais Todavia a obra emancipatória perdura mais no tempo do que a conformadora devendo haver uma justificacão para o investimento de energias psíquicas na comunicação que estabelece com o sujeito Diante de um texto que se distancia de seu horizonte de expectativas o leitor além de responder aos desafios por mera curiosidade ante o novo precisa adotar uma postura de disponibilidade permitindo à obra que atue sobre seu esquema de expectativas através das estratégias textuais intencionadas para a veiculação de novas convenções O reconhecimento dos procedimentos textuais que atraem o leitor a um pacto com a obra difícil se dá por uma tomada de consciencia da distância entre a própria visão de mundo e a da obra que pode ser facilitada pela análise de sua composição estética ou ideológica Esse momento requer certa formação do leitor que o familiarize com as normas de produção dessa espécie de obra Ele precisa conhecer o gênero para perceber as inovações do texto individual as formas e temas de obras famosas anteriores para captar as diferenças de tratamento e a oposição entre uso poético ou prático da linguagem para entender sua repercussão sobre as representações do mundo que eles induzem A capacidade de análise aí implicada se complementa com a de comparação que para além dos limites dos textos também deve abranger as pressuposições históricas e culturais extraliterárias pois as mesmas conduzem a certos tipos de compreensão e valoração O processo de recepção se completa quando o leitor tendo comparado a obra emancipatória ou conformadora com a tradição e os elementos de sua cultura e seu tempo a inclui ou não como componente de seu horizonte de expectativas mantendoo como era ou preparandoo para novas leituras de mesma ordem para novas experiências de ruptura com os esquemas estabelecidos Quanto mais leituras o indivíduo acumula maior a propensão para a modificação de seus horizontes porque a excessiva confirmação de suas expectativas produz monotonia que a obra difícil pode quebrar A ênfase na atitude receptiva emancipadora promove a contínua reformulação das exigências do leitor quanto à literatura bem como quanto aos valores que orientam sua experência do mundo Assim sendo a atividade de leitura fundada nos pressupostos teóricos da estética de recepção deve enfatizar a chamada obra difícil uma vez que nela reside o poder de transformação de esquemas ideológicos passíveis de crítica O caráter iluminista dessa teoria que no fundo pretende investir a literatura de arte de uma forma revolucionária capaz de afetar a História insiste na qualificação dos leitores pela interação ativa com os textos e a sociedade 62 Objetivos e critérios de avaliação A aplicação da estética recepcional à pedagogia da literatura prevê a transferencia dos pressupostos teóricos já citados à prática escolar da leitura Assim como se reflete sobre o fenômeno literário sob a ótica do leitor como elemento atuante do processo o método recepcional de ensino fundase na atitude participariva do aluno em contato com os diferentes textos Partindo do horizonte de expectativas do grupo em termos de interesses literários determinados por suas vivências anteriores o professor provoca situações que propiciem o questionamento desse horizonte Tal atitude implicaria um distanciamento do estudante uma vez que revisa criticamente seu próprio comportamento redundando na ruptura do horizonte de expectativas e seu conseqüente alargamento Com o ajustamento a essa nova situação o passo seguinte é a oferta pelo professor de diferentes leituras que por se oporem às experiências anteriores problematizam o aluno incitandoo a refletir e instaurando a mudança através de um processo contínuo Como o sujeito é entendido como um ser social sua transformação implica a alteração do comportamento de todo o grupo atingindo a escola e a comunidade O sucesso do método recepcional no ensino de literatura é assegurado na medida em que seus objetivos com relação ao aluno sejam alcancados a saber 1 Efetuar leituras compreensivas e críticas 2 Ser receptivo a novos textos e a leituras de outrem 3 Questionar as leituras efetuadas em relação a seu próprio horizonte cultural 4 Transformar os próprios horizontes de expectativas bem como os do professor da escola da comunidade familiar e social O método recepcional de ensino de literatura enfatiza a comparação entre o familiar e o novo entre o próximo e o distante no tempo e no espaço Por conseguinte são sempre cotejados textos que pertencem ao arsenal de leitura do grupo com outros textos documentos de outras épocas regiões e classes sociais em diferentes níveis de estilo e abordagem temáticas variadas O processo de trabalho apoiase no debate constante em todas as suas formas oral e escrito consigo mesmo com os colegas com o professor e com os membros da comunidade A materialização desse constante fazer presentificase na produção de textos pelo estudante os quais passam a tomar parte do acervo a ser questionado Desenvolvemse assim as noções de herança e participação históricocultural O método é portanto eminentemente social ao pensar o sujeito em constante interação com os demais através do debate e ao atentar para a atuação do aluno como sujeito da História Os critérios de avaliação a serem empregados pelo professor tendo em mira os princípios que dirigem o método recepcional abrangem a dinâmica do processo e cada leitura do aluno No desenvolver dos trabalhos esse deve evidenciar capacidade de comparar e contrastar todas as atividades realizadas questionando sua própria atuação e a de seu grupo A resposta final deve ser uma leitura mais exigente que a inicial em termos estéticos e ideológicos 63 Etapas de desenvolvimento técnicas A literatura não se esgota no texto Completase no ato de leitura e o pressupõe prefigurandoo em si através de indícios do comportamento a ser assumido pelo leitor Esse porém pode submeterse ou não a tais pistas de leitura entrando em diálogo com o texto e fazendoo corresponder a seu arsenal de conhecimentos e de interesses O processo de recepção textual portanto implica a participação ativa e criativa daquele que lê sem com isso sufocarse a autonomia da obra Diferentes tipos de textos e de leitores interagem de modos imensamente variados O sujeito ao defrontarse com o texto traz consigo toda sua bagagem de experiências lingüísticas e sociais que deve mobilizar a partir das provocações e lacunas que a obra lhe propõe Por sua vez essa representa uma determinada organização de sentidos efetuada através de procedimentos de composição que restringem as possibilidades de interpretação aos recortes lingüísticos formais ou ideológicos nele executados Nessa medida por ser uma estrutura organizada de sentidos possíveis permite ao leitor uma interação direcionada na qual ele reconhece os significados que lhe são familiares ou enfrenta os desconhecidos mas com indicações que o auxiliam a aceitar ou pelo menos criticar o novo e ao mesmo tempo situar a esse em relação ao que já aceita ou passa a rejeitar O processo de recepção se inicia antes do contato do leitor com o texto O leitor possui um horizonte que o limita mas que pode transformarse continuamente abrindose Esse horizonte é o do mundo de sua vida com tudo que o povoa vivências pessoais culturais sociohistóricas e normas filosóficas religiosas estéticas jurídicas ideológicas que orientam ou explicam tais vivências Munido dessas referências o sujeito busca inserir o texto que se lhe apresenta no esquadro de seu horizonte de valores Por sua vez o texto pode confirmar ou perturbar esse horizonte em termos das expectativas do leitor que o recebe e julga por tudo o que já conhece e aceita O texto quanto mais se distancia do que o leitor espera dele por hábito mais altera os limites desse horizonte de expectativas ampliandoos Isso ocorre porque novas possibilidades de viver e de se expressar foram aceitas e acrescentadas às possibilidades de experiência do sujeito Se a obra se distancia tanto do que é familiar que se torna irreconhecível não se dá a aceitação e o horizonte permanece imóvel Depende portanto da criação ou da natureza do texto a sua integração ou não ao universo vivencial do leitor Quanto mais ele corrobora as normas circulantes na sociedade do leitor menos causa estranheza e se torna também imperceptível o que mantém o horizonte igualmente inalterado É por isso que o papel do texto no processo receptivo é fundamental Sua construção precisa incluir espaços em que a criatividade do leitor possa atuar e seja estimulada a fazêlo Nesse sentido o texto não pode fornecer uma imagem totalmente acabada do universo temático pois se o fizer barra o ingresso do leitor em si mesmo ou tiraniza de tal modo o seu receptor que não lhe deixa lugar para a interpretação Deve predispôlo pois a modificar seu horizonte trabalhando os temas contestadores com alto teor de verossimilhança e coerência Por outro lado essa tarefa de ruptura do texto não se viabiliza se não houver uma contrapartida no sujeito ou seja se ele não se dispõe a ter seu universo estável abalado de alguma forma e não percebe nesse alargamento a realização de algo desejado ou intuído A transformação do horizonte de expectativas no caso de um estudante alvo primeiro do método recepcional de ensino de literatura depende pois da operacionalização de alguns conceitos básicos receptividade disponibilidade de aceitação do novo do diferente do inusitado concretização atualização das potencialidades do texto em termos de vivência imaginativa ruptura ação ocasionada pelo distanciamento crítico de seu próprio horizonte cultural diante das propostas novas que a obra suscita questionamento revisão de usos necessidades interesses idéias comportamentos assimilação percepção e adoção de novos sentidos integrados ao universo vivencial do indivíduo O planejamento de unidades de ensino através do método recepcional deverá prever os esquemas conceituais antes discutidos Na sala de aula o primeiro passo do professor seria o de efetuar a determinação do horizonte de expectativas da classe a fim de prever estratégias de ruptura e transformação do mesmo Esse horizonte de expectativas conterá os valores prezados pelos alunos em termos de crenças modismos estilos de vida preferências quanto a trabalho e lazer preconceitos de ordem moral ou social e interesses específicos da área de leitura As características desse horizonte podem ser constatadas pelo exame das obras anteriormente lidas através de técnicas variadas tais como observação direta do comportamento pelas reações espontâneas a leituras realizadas ou através da expressão dos próprios alunos em debates discussões respostas a entrevistas e questionários papel em jogos dramatizações e outras manifestações quanto a sua experiência das obras O professor poderá ainda examinar as movimentações de títulos através de fichas da biblioteca ou das leituras espontâneas ou de comentários sobre obras em situações informais escolhas de livros em biblioteca de classe e salas de leitura histórias cuja narração é repetidamente solicitada pelas crianças poesias utilizadas em jogos e brincadeiras etc Uma vez detectadas as aspirações valores e familiaridades dos alunos com respeito à literatura a etapa seguinte consiste no atendimento do horizonte de expectativas ou seja proporcionar à classe experiências com os textos literários que satisfaçam as suas necessidades em dois sentidos Primeiro quanto ao objeto uma vez que os textos escolhidos para o trabalho em sala de aula serão aqueles que correspondem ao esperado Segundo quanto à estratégias de ensino que deverão ser organizadas a partir de procedimentos conhecidos dos alunos e de seu agrado Quanto ao material literário o professor proporá textos cujos temas eou composição sejam muito procurados ou na própria literatura ou em outros meios de expressão como televisão quadrinhos folclore espetáculos etc Na segunda alternativa o professor precisa perceber os elementos temáticos ou estruturais que atraem a atenção e o prazer de seus alunos buscando similares para os mesmos nas obras literárias de que dispõe Por exemplo se a classe aprecia espetáculos de humor pela telessão o livro a ser sugerido deve conter ou histórias humorísticas ou recursos de construção que provoquem o riso Se filmes de ficção musical estão fazendo sucesso os livros a serem trabalhados podem conter passagens em que a música jovem apareça tematizada Sobre as atividades podese propor técnicas em que a turma já evidenciou domínio e satisfação É o caso de trabalhos em grupo posteriormente apresentados ao grande grupo debates brinquedos de roda jogos competitivos excursões Evidentemente a atividade não deve ser repetitiva e sim aproveitar a forma familiar variando os passos ou finalidades A próxima etapa é a de ruptura do horizonte de expectativas pela introdução de textos e atividades de leitura que abalem as certezas e costumes dos alunos seja em termos de literatura ou de vivência cultural Essa introdução deve dar continuidade à etapa anterior através do oferecimento de textos que se assemelhem aos anteriores em um aspecto apenas o tema o tratamento a estrutura ou a linguagem Entretanto os demais recursos compositivos devem ser radicalmente diferentes de modo a que o aluno ao mesmo tempo perceba estar ingressando num campo desconhecido mas também não se sinta inseguro demais e rejeite a experiência Por exemplo se na etapa precedente o humor foi privilegiado através de cartuns de jornais depois recriados pelos alunos neste momento o novo texto cou atividade conterá um elemento humorístico mas não sob forma de cartum e sim de crônica e sobre outro tema Outra possibilidade diz respeito aos temas ampliando ou reduzindolhes a abrangência ou mantendoos e mudando o tratamento Um assunto do cotidiano pode ser transformado num de alcance social mais amplo sem perder o teor humorístico O mesmo tema antes abordado comicamente pode ser visto a sério e assim por diante O importante é que os textos dessa etapa apresentem maiores exigências aos alunos seja por discutirem a realidade desautorizando as versões socialmente vigentes seja por utilizarem técnicas compositivas mais complexas Nessa medida podemse ler parábolas como a Revolução dos bichos de G Orwel desde que antes se tenham discutido as fábulas de La Fontaine por exemplo Ou passar da Viagem à aurora do mundo de Erico Verissimo para à Máquina do tempo de Wells As experiências de leitura nesta etapa também precisam manter um vínculo com as da etapa anterior que seja garantido pelo material literário mas divergir quantos às estratégias de trabalho adotadas Estas não serão repetitivas ou desgastadas pelo uso apelando não só para o espírito crítico dos alunos mais exigindo deles participação no planejamento das mesmas A proposta deve representar sempre um desafio por caminhos não percorridos anteriormente pela turma Por exemplo se a classe jamais entrevistou pessoasfonte sobre uma obra literária essa seria uma técnica provocativa Todavia se o procedimento já foi utilizado pelos alunos não será agora empregado A seguir ocorrerá a etapa de questionamento do horizonte de expectativas decorrência da comparação entre as duas anteriores Sobre o material literário já trabalhado a classe exerce sua análise decidindo quais textos através de seus temas e construção exigiram um nivel mais alto de reflexão e diante da descoberta de seus sentidos possíveis trouxeram um grau maior de satisfação Supõese portanto que os textos de melhor realização artística tendem a ser vistos como difíceis num primeiro momento e devidamente decifrados a provocar a admiração do leitor Executada a análise comparativa das experiências de leitura a classe debaterá sobre seu próprio comportamento em relação aos textos lidos detectando os desafios enfrentados processos de superação dos obstáculos textuais tais como pesquisas empreendidas para a compreensão de técnicas de composição ou de sentidos Desse trabalho de autoexame surgir perspectives sobre aspectos que ainda oferecem dificuldades definições de preferência quanto à temática e outros elementos da literatura assim como transposições das situações narrativas ou líricas para a órbita da vida real dos jovens leitores Este é o momento de os alunos verificarem que conhecimentos escolares ou vivências pessoais em qualquer nível do religioso ao político proporcionaram a eles facilidade de entendimento do texto eou abriramlhes caminhos para atacar os problemas encontrados As técnicas para a consecuação desses intentos voltamse para toda a forma de discussão participativa seja em pequeno ou grande grupo modos de registro de constatações do fichário ao diário pessoal ou coletivo implicando a constante retomada dos textos literários ou não utilizados nas etapas anteriores e durante o questionamento em geral Resultante dessa reflexão sobre as relações entre leitura e vida é a última etapa do processo a ampliação do horizonte de expectativas Tendo percebido que as leituras feitas dizem respeito não só a uma tarefa escolar mas ao modo como veem seu mundo os alunos nessa fase tomam consciência das alterações e aquisições obtidas através da experiência com a literatura Cotejando seu horizonte inicial de expectativas com os interesses atuais verificam que suas exigências tornaramse maiores bem como sua capacidade de decifrar o que não é conhecido foi aumentada Essa tomada de consciência é uma atitude individual e grupal dos próprios alunos Devese salientar que sua verbalização acontece por iniciativa dos mesmos sem intervenção direta do professor O papel do mestre neste momento é o de provocar seus alunos e criar condições para que eles avaliem o que foi alcançado e o que resta a fazer Conscientes de suas novas possibilidades de manejo da literatura partem para a busca de novos textos que atendam a suas expectativas ampliadas em termos de temas e composição mais complexos Desse estágio em diante reiniciase todo o processo do método com a ressalva de que a etapa inicial já conta com a participação dos estudantes e portanto proporciona uma carga de motivação bem mais elevada Significa dizer que o final desta etapa é o início de uma nova aplicação do método que evolui em espiral sempre permitindo aos alunos uma postura mais consciente com relação à literatura e à vida Alguns requisitos são básicos porém para que o aluno atinja tal estágio de atuação O primeiro aspecto referese à quantidade e à qualidade de informações que o sujeito recebe o que exige do professor que esteja preparado para selecionar textos referentes à realidade do aluno e ao mesmo tempo capazes de romper com ela O segundo aponta para a importância do desenvolvimento da capacidade de refletir sobre a literatura e os fatores estruturais de seu material por parte dos alunos Dessa forma com o aprimoramento da leitura numa percepção estética e ideológica mais aguda e com a visão crítica sobre sua atuação e a de seu grupo o aluno tornase agente de aprendizagem determinando ele mesmo a continuidade do processo num constante enriquecimento cultural e social ETAPAS DO MÉTODO RECEPCIONAL 1 Determinação do horizonte de expectativas 2 Atendimento do horizonte de expectativas 3 Ruptura do horizonte de expectativas 4 Questionamento do horizonte de expectativas 5 Ampliação do horizonte de expectativas 64 Exemplos de unidades de ensino 641 CURRÍCULO POR ATIVIDADES Conteúdo Contos de fadas Material GRIMM Jacob Wilhelm Joãozinho e Mariazinha Porto Alegre Kuarup 1985 AYALA Walmir A bruxa malvada que virou borboleta Porto Alegre Mercado Aberto 1983 NUNES Lygia Bojunga Os colegas Rio de Janeiro José Olympio 1978 ROCHA Ruth Procurando firme Rio de Janeiro Nova Fronteira 1984 BAUM Frank L O mágíco de Oz Rio de Janeiro Edições de Ouro 1969 Objetivo Proporcionar à criança experiências que lhe permitam distinguir diferentes formas de organização dos contos de fadas tradicionais e modernos Procedimentos didáticos Determinação do horizonte de expectativas O professor observa os comportamentos espontâneos da turma em seus contatos com livros na biblioteca acompanha a retirada de textos das estantes ou os empréstimos circula entre grupos de leitores e verifica os títulos que estão sendo lidos fica atento a comentários dos alunos quando escolhem textos ou os recomendam aos colegas ouve opiniões emitidas durante a leitura das obras Através desse processo percebe que os interesses dos alunos se voltam principalmente para o conto de fadas Lendo os livros mais comentados ou escolhidos descobre que a maioria das crianças opta por histórias em que aparecem personagens fantásticos tais como fadas anões duendes gigantes etc que convivem com personagens humanos e animais falantes Preferem histórias em que o herói é posto à prova e combate um adversário aterrorizante vencendoo por meios mágicos ou pela astúcia Sua vitória é entendida como solução para um problema essencialmente humano de adaptação à realidade Atendimento do horizonte de expectativas A partir dos interesses demonstrados pelas crianças o professor organiza uma exposição de contos de fadas tradicionais na sala de aula utilizando todos os recursos usuais em exposições de livros estantes cartazes de anúncio faixas indicativas catálogo mimeografado quando se tratar de alunos já alfabetizados Os estudantes são convidados a uma visita orientada em que o professor faz às vezes de guia mostrando e comentando os livros expostos Na oportunidade as crianças manuseiam os livros identificam os já conhecidos atentam para os títulos e ilustrações lêem fragmentos das obras No final da visita o professor pede que o grupo eleja o livro de que mais gostou para ser trabalhado em aula Hipoteticamente o livro escolhido é Joãozinho e Mariazinha dos irmãos Grimm No encontro seguinte o professor lê o texto eleito de forma expressiva propiciando a participação dos alunos que comentam o fato narrado e as ilustrações e adiantam o desenvolvimento do enredo O professor pode provocar a participação através de perguntas enquanto lê mostrando as ilustrações eou fazendo pausas que permitam a interpretação das crianças Convém criarse uma atmosfera de igualdade entre o que lê e os que ouvem de modo a gerar o envolvimento emocional que suscita o prazer necessário ao atendimento do interesse manifestado Caso as crianças assim o desejem a atividade com o texto pode prolongarse em outros encontros sob outra forma de trabalho que apreciem Uma sugestão possível é a de dramatizar o texto desde que esse tipo de procedimento já tenha sido utilizado anteriormente e seja do agrado da turma O planejamento de dramatização dependerá das experiências anteriores Por exemplo alguns alunos se oferecem como voluntários para assumir o papel das personagens Os demais preferem apenas assistir Todos juntos decidem a disposição do espaço em que as cenas irão ocorrer fazendo de conta que veem os cenários e sua mudança Os atores voluntários decoram sua falas com a ajuda dos colegas que decidem junto com o professor a marcação dos movimentos no espaço fingido O encontro seguinte é destinado à representação Para essa ocasião a sala é arrumada dividindose a plateia em que ficarão as cadeiras dos assistentes e um espaço livre para o palco imaginário com os objetos que os alunos tiverem escolhido como representação do cenário No momento combinado iniciase a representação desempenhando cada um a função que lhe coube de ator ou espectador Ruptura do horizonte de expectativas O professor noutro encontro promove um debate sobre a peça em que se discutam questões relativas ao conteúdo da história representada o comportamento de João e Maria em casa e na floresta as intenções e ações da bruxa as soluções encontradas pelos heróis O debate pode continuar com a manifestação das crianças sobre suas impressões diante das situações narrativas como se sentiram durante as cenas em que João e Maria estavam perdidos na floresta o que fariam no lugar deles com a bruxa que sentimentos essa lhes despertou o que mais os impressionou na história Supondose que os episódios mais comentados tenham sido aqueles que se referem ao conflito crianças X bruxa e que a personagem mais empolgante tenha sido a bruxa o professor sugere a leitura de outra história de fadas em que a bruxa tenha papel relevante A bruxa malvada que virou borboleta Se se tratar de crianças pequenas o professor lê expressivamente o texto buscando a participação dos ouvintes como na etapa anterior Se as crianças forem maiores pode iniciar a leitura em aula e interrompêla quando os heróis enganam a mãe de Poti e entram na floresta deixando o restante para leitura extraclasse É combinado um prazo para que os alunos leiam o qual permita o uso dos exemplares de cuja existência o professor devese certificar antes na biblioteca escolar Lida a história o professor sugere a montagem de uma salaambiente convidando os alunos a desenvolverem esta técnica de trabalho 1 Definem quantos espaços existem no texto 2 Descrevem cada espaço e arrolam os elementos que o identificam 3 Dividem a sala entre os espaços caracterizados rio floresta gruta subterrânea etc 4 Juntam ou elaboram os elementos que foram escolhidos como caracterizadores tais como espelho significando água galhos secos e papel verde recortado em forma de folhas papel pardo pintado e amassado formando uma gruta etc 5 Listam as personagens e suas características físicas 6 Elaboram bonecos de papelcartão em tamanho grande com base de apoio tendo pelo menos um desenho caracterizador da personagem representada as penas de Poti o chapéu do Saci etc 7 Colocam cada personagem no seu ambiente inicial Montada a sala o professor indaga o que os alunos desejam fazer com ela se querem mostrála a outras pessoas ou preferem brincar com as personagens dentro dela Seja como for o uso da sala implicará que os alunos recontem a história na ordem que lhes aprouver carregando os bonecos das personagens ou achando outra solução para o deslocamento desses aos diferentes espaços Questionamento do horizonte de expectativas Desmontada a salaambiente o professor sugere uma nova atividade à classe o Jogo do igualdiferente A turma é dividida em dois grupos ficando o primeiro responsável pela história de João e Maria e o segundo pela da bruxa malvada Dentro do grupo cada aluno simboliza um elemento da sua história Por exemplo em Joãozinho e Mariazinha um aluno é a casa da bruxa outro é a floresta outro é o rio outros são as personagens etc O mesmo acontecerá com o outro grupo Armase então uma moldura de espelho no meio da sala com tiras largas de papel O jogo consiste em que cada elemento de uma história se defronte no espelho com o seu correspondente na outra história como João e Poti Maria e Saci as duas bruxas as duas florestas os dois rios etc Os reflexos dialogam entre si falando no que têm em comum e de diferente Quando uma dupla esgota o assunto outra substitui na frente do espelho Os elementos que não têm correspondente monologam sozinhos ante o marco do espelho dizendo o que são Terminada a brincadeira o professor convida as crianças a fazerem de conta que as duas histórias são dois espelhos em que os alunos podem se olhar O professor sugere que a turma convide aqueles elementos das histórias representados pela mesma criança da atividade anterior que mais a impressionaram para virem ao outro lado do espelho Provoca um debate coletivo com cada um desses elementos em que a turma do lado de cá do espelho compara as suas vivências com as do elemento refletido que repete as suas experiências na história Ampliação do horizonte de expectativas Para o encontro subsequente os alunos ficam encarregados de trazer de casa um espelho Em aula o professor propõe que cada um se olhe no seu espelho e pense no que está vendo e no que o espelho não mostra de si mesmo respondendo a pergunta Como eu sou por fora e por dentro Eles podem guardar as respostas para si ou manifestálas como quiserem desenhando escrevendo se for o caso de crianças bem alfabetizadas falando etc A seguir o professor pede que escondam os espelhos e lembra que o espelho pode não ser apenas o objeto concreto que os refletiu mas que cada um pode se ver em outros objetos ou pessoas Pede exemplos desses objetos entre os quais surgirá o livro porque já foi anteriormente usado com esse fim O passo seguinte é procurar livros que sejam espelhos para os alunos O professor traz para a sala de aula textos cuja estrutura mantenha relação com o conto de fadas mas que modifiquem os sentidos antes trabalhados Por exemplo Os colegas Procurando firme e O mágico de Oz Mostrando os livros ele faz uma descrição sucinta do assunto de cada um e os entrega às crianças para leitura em pequenos círculos em caso de crianças analfabetas pode convidar um aluno mais adiantado para ler o texto aos menores Os livros circulam entre os grupos de leitura sendo discutidos enquanto proporcionam um espelho para os leitores A seguir escolhese o texto que melhor reflete toda a turma para ser o seu espelho A atividade tem prosseguimento a partir desse texto 642 CURRÍCULO POR ÁREAS Conteúdo Histórias policiais e literatura social Material MARINHO SILVA João Carlos O gênio do crime Rio de Janeiro Ediouro sd MARIGNY Carlos de Lando das ruas 8 ed São Paulo Brasiliense 1986 CAPARELLI Sérgio Quebraquebra 2 ed Porto Alegre L PM 1982 QUINTELA Ary Cão vivo leão morto 3 ed Belo Horizonte Comunicação 1980 REY Marcos Bemvidos ao Rio São Paulo Ática 1986 Objetivo Proporcionar à criança contato com textos que representem problemas sociais relacionados com a marginalidade no Brasil Procedimentos didáticos Determinação do horizonte de expectativas O professor traz para a sala de aula uma quantidade grande de jornais da semana e os distribui entre os alunos Propõe uma sessão de leitura livre em que cada um pode escolher o jornal e a matéria que deseja ler Enquanto os estudantes lêem o professor circula entre eles observando os assuntos escolhidos para leitura bem como os comentários e as reações dos leitores durante o desenvolvimento da atividade Terminada a leitura o professor promove um debate informal sobre os temas lidos e suas implicações Desse debate extraise o assunto que apaixonou a classe inteira e que será motivo das próximas aulas de literatura Supondose que o noticiário policial tenha atraído maior número de leitores e de opiniões contrastantes o professor sugere que os alunos levantem das notícias lidas os elementos que mais os tocaram Poderão aparecer as figuras envolvidas nos episódios policiais os crimes propriamente ditos a atuação dos investigadores as motivações as características dos locais dos crimes o papel da Justiça os estereótipos do marginal e da polícia etc Atendimento do horizonte de expectativas Para atender aos interesses dos alunos por histórias de crime o professor propõe a leitura em horário extraclasse do livro O gênio do crime A partir da capa da obra tece comentários sobre a trama e as personagens centrais despertando a curiosidade dos alunos sem revelar as pistas e a solução do mistério Numa data previamente combinada com a turma efetuase uma atividade de interrogatório assim desenvolvido a turma se divide em dois grandes grupos ficando o primeiro encarregado de ler a história e preparar questões inusitadas para o segundo grupo responder Esse lê também a história e prevê as perguntas e possíveis respostas que lhe caberá dar O interrogatório pode ser desenvolvido como simples questionário ou como jogo competitivo em que o grupo vencedor será o mais hábil em resolver a sua tarefa deixando o outro em situação difícil É importante que os alunos decidam a forma e o teor do interrogatório a fim de que se sintam participantes ativos na análise do texto e se divirtam com o trabalho Ruptura do horizonte de expectativas Como a atividade de interrogatório revelará um conjunto de elementos textuais que atraíram os leitores com evidente predominância esse será o meio de efetuar a transição para uma literatura de ordem mais exigente Por exemplo percebeuse que quanto a O gênio do crime as questões giraram em torno da figura do heróicriança e das soluções que encontrou para o problema com que se defrontou Em face disso o professor propõe a leitura de Lando das ruas onde o herói também é criança e vive uma experiência traumática semelhante à de Bolão Tal leitura é feita em casa Num prazo marcado segundo orientação do professor a turma se divide em quatro grupos cada um encarregado de contar por escrito a história de uma das cenas das personagens centrais ou seja Lando Boibava Márcio Façanha e Cabeça de Passarinho A vida de cada personagem deverá ser narrada de forma a servir posteriormente de roteiro para uma história em quadrinhos a ser elaborada pelos colegas dos outros grupos Assim sendo deve conter todos os indicadores de espaço sequência de ações tempo e caracterização das personagens bem como falas Cada história incluirá as ações que pertencem à personagem no livro permitindose que na vida de uma apareçam ações da vida de outras desde que essas sejam comuns Concluída a tarefa cada grupo lê em voz alta o seu texto e o restante da turma avalia se a história corresponde à do livro Aprovadas as versões essas são trocadas entre os grupos que as quadrinizam Portanto um grupo vai transformar em quadrinhos a história elaborada por outro grupo obedecendo todas as indicações do texto desse Em tiras largas de papel pardo os integrantes do grupo dividem a história nas ações que a compõem uma para cada quadro Desenham os quadros com pincel atômico e neles as personagens agindo e revelando os traços que as caracterizam Por fim executam o cenário de cada ação e colocam as falas de cada personagem nos balões de praxe Ao final da atividade as tiras são pregadas com fita colante na parede da sala de aula e a turma comenta a sua propriedade em relação ao texto original de Carlos de Marigny Questionamento do horizonte de expectativas Na etapa seguinte do trabalho o professor relembra a atividade inicial de exame do noticiário policial e indaga dos alunos se não gostariam de aprender a fazer uma reportagem como aquelas apoiandose em entrevistas com os heróis das histórias lidas Para isso é elaborado um roteiro de entrevista pelos alunos contendo as perguntas que lhes interesssem Podem estas por exemplo abordar os seguintes tópicos 1 O que o herói passou 2 Quais as condições pessoais com que contava para resolver a situação 3 Como resolveu seus problemas 4 Com que ajuda contou para resolver seu problema 5 Como se sentiu diante de seu agressor 6 O que sentiu quando enfrentou a situação difícil e depois que a resolveu De posse do roteiro organizado os alunos dividemse em dois grupos e cada um entrevista a personagem central de um dos livros consultando o texto e anotando as passagens que respondem às perguntas Com base nessa entrevista cada grupo valendose de alguma das reportagens policiais lidas como modelo escreve a sua reportagem tendo como foco a participação do herói no crime X Essa reportagem será mimeografada pelos alunos e distribuída à classe toda Como atividade culminante se fará um comentário coletivo sobre as duas reportagens que serão lidas pela turma inteira Esse comentário deverá incidir sobre as diferenças entre a situação dos dois heróis observandose as desvantagens e vantagens de um em relação ao outro Ampliação do horizonte de expectativas A discussão anterior possivelmente levou à constatação de que a diferença básica entre os problemas e comportamentos dos heróis das duas histórias está relacionada à posição social de ambos De posse desses dados o professor prepara para a aula seguinte dois cartazes cada um com uma dessas questões 1 Como a sociedade determina o comportamento das pessoas 2 Que outros problemas sociais afetam o comportamento das pessoas Os cartazes são afixados na parede para serem lidos pelos alunos Diante da estranheza desses em face do estímulo o professor os incentiva a relacionar as questões propostas com todo o conteúdo desenvolvido nas aulas anteriores de literatura e com outros livros que tratem de assunto de cunho social A discussão permitirá que os alunos eou o professor indiquem novos textos a serem lidos tais como Quebraquebra Cão vivo leão morto e Bemvindos ao Rio É estipulado um prazo para a leitura dos livros indicados No dia marcado os leitores de cada um dos textos defendem como numa plataforma política as dimensões sociais do livro que leram aconselhandoo aos colegas para o trabalho em classe Seguese a eleição por via direta e maioria simples do título que será estudado dali por diante retomandose todas as etapas do método em questão 643 CURRÍCULO POR DISCIPLINAS Conteúdo Poesia lírica amorosa Material MORAES Vinícius de Antologia poética São Paulo Circulo do Livro 1986 CRUZ E SOUZA Poemas completos Rio de Janeiro Ediouro sd CAMÕES Luís de Lírica São Paulo Cultrix 1963 GOLDSTEIN Norma Versos sons e ritmos São Paulo Ática 1985 PIGNATARI Décio Comunicação poética 3 ed São Paulo Moraes 1981 Objetivo Proporcionar aos alunos experiências de leitura de poemas líricos de diferentes períodos literários explorando a relação somsentido Procedimentos didáticos Determinação do horizonte de expectativas O professor tendo surpreendido leituras e conversas clandestinas sobre relações amorosas na sua classe conta aos alunos como as informações sobre a vida amorosa circulavam às escondidas no seu tempo de adolescente através de questionários secretos Traz um exemplar dessa época e entregao aos alunos para que o leiam Pergunta como a turma costuma trocar esse tipo de informação e diante das respostas sugere a elaboração de um questionário semelhante mas atualizado que seria respondido anonimamente por todos os alunos As questões podem ser da seguinte ordem 1 O que é para você um amigo verdadeiro 2 Como foi seu primeiro encontro 3 Qual a música que lhe traz mais recordações 4 Que pensa do amor 5 Qual seu tipo de ideal 6 O que você mais detesta num homem mulher 7 Qual a palavra que lhe traz melhores lembranças 8 Como foi seu primeiro amor 9 Você já sofreu de amor 10 Qual a sensação de seu primeiro beijo e assim por diante Escrito o questionário num caderno de folhas grandes com uma pergunta em cada folha e todas as linhas numeradas esse circula entre os alunos que devem responder sempre no mesmo número e com absoluta sinceridade Quando todos tiverem respondido ao questionário esse é lido em voz alta por alguns dos alunos pergunta a pergunta O conjunto de informações sobre a vida amorosa da turma é comentado espontaneamente por aqueles que estiverem interessados definindose assim os temas que provocam maior envolvimento junto à maioria dos alunos quanto à questão do amor Atendimento do horizonte de expectativas O conjunto de interesses amorosos detectados pelos procedimentos anteriores sugere como tema a fugacidade do amor a beleza do ser amado o temor da traição a sensualidade e o desejo de sinceridade Para atender tais preferências o professor traz para a sala de aula um disco Vinícius e Toquinho de Vinícius de Moraes Tocao e pede que os alunos extraiam as letras das canções que mais lhes agradam Do disco são feitas tantas audições quantas sejam necessárias para que todos transcrevam suas letras preferidas No encontro seguinte o professor traz mimeografados os poemas na sua versão em livro v Bibliografia Propõe uma comparação entre o texto do livro aquele que foi copiado pelo aluno e ambos em relação à canção do disco Essa comparação atentarà para a disposição dos versos seus limites a composição das estrofes e a sensação que o texto escrito e o musicado despertaram no ouvinte leitor Esse exercício comparativo será efetuado oralmente em grande grupo e de forma coletiva tendo todos oportunidade de expressar sua opinião descobertas e sentimentos Ruptura do horizonte de expectativas Diante dos resultados alcançados na etapa anterior o professor sugere a leitura de textos poéticos de outros autores mais distantes no tempo mas que tratam também de temas amorosos Lê exemplos de poemas de poetas românticos como Castro Alves Álvares de Azevedo Gonçalves Dias Fagundes Varela poetas parnasianos como Olavo Bilac Raimundo Correia Machado de Assis ou poetas simbolistas como Cruz e Souza Alphosus de Guimaraens e outros Os alunos ouvem os poemas manifestandose com relação ao modo como são feitos os versos e quanto à sonoridade dos mesmos com base na experiência anterior Entre esses poetas mais antigos o grupo escolhe um para ser trabalhado em aula Supondose que a escolha tenha recaído sobre Cruz e Souza cabe aos alunos providenciar uma antologia dos poemas amorosos daquele autor através de pesquisa na biblioteca escolar Essa antologia será convertida no material literário a ser usado para análise em classe Os alunos podem apresentála graficamente e a reproduzirem conforme o desejarem por mimeógrafo xerox manuscrito etc Cada integrante da classe deve possuir a sua Noutro encontro o professor solicita que cada estudante leia a sua antologia escolha dela o poema que mais o toca buscando descobrir a sonoridade dos versos Poderá se quiser tamborilar segundo a cadência rítmica ou cantarolar de acordo com as entonações melódicas do poema A tarefa seguinte será a de descobrir a composição fônica e rítmica dos poemas Para isso deverá o aluno pesquisar em livros de versificação tais como o de Norma Goldstein ou de Décio Pignatari Sempre que tiver dúvidas fará a pergunta em voz alta para que o professor a resolva e os outros colegas possam se beneficiar da informação Efetuada essa análise o professor propõe que cada um crie um poema utilizandose dos recursos sonoros percebidos no seu texto e mesmo aproveitando versos desse Os poemas inventados são postos em circulação na sala de aula e os colegas anotam os versos que mais lhes chamam a atenção junto com o nome de seu autor Cada aluno retoma o seu poema e o coteja então com o original de Cruz e Souza que lhe serviu de base anotando as mudanças de sentido ocorridas Essas anotações são entregues ao professor de modo que esse possa verificar a aprendizagem da descrição dos elementos sonoros do poema e a reinterpretação do aluno Questionamento do horizonte de expectativas Em outro encontro o professor solicita que a turma se divida em grupos espontâneos Lembrando a atividade anterior pede que cada grupo escolha um elemento sonoro ou rítmico dentre os já pesquisados que considere importante na composição dos poemas já examinados em classe Esse elemento pode ser rima metro acento aliteração assonância anáfora paralelismo pausa etc Os integrantes do grupo selecionam um poema de Vinícius de Moraes e outro de Cruz e Souza e analisam o comportamento do componente sonoro eou rítmico em ambos prestando atenção às similaridades e diferenças Discutem a seguir os efeitos de sentido provocados pelo comportamento verificado Os resultados do trabalho de cada grupo são apresentados de acordo com a técnica de painel Esse painel é constituído por um representante de cada grupo que fala por tempo limitado sobre as conclusões de seus colegas A plateia após as apresentações debate com os painelistas concordando ou não com as interpretações dos grupos e tentando perceber qual dos dois autores trabalha mais eficazmente com o elemento escolhido na representação do tema amoroso Essa atividade permite que os estudantes avaliem os recursos estéticos dos dois autores na área da sonoridade sem incidir num exercício formalista porque recuperam o sentido através dos procedimentos linguísticos No encontro seguinte o professor propõe um debate coletivo sobre o tema abordado nas aulas anteriores ou seja o amor segundo a opinião dos alunos expressa no questionário e segundo os poemas de Vinícius de Moraes e dos poetas românticos parnasianos e simbolistas em especial Cruz e Souza Nesse debate é salientada a necessidade de os participantes exporem sua posição pessoal quanto a todo esse material significativo Ampliação do horizonte de expectativas Do debate anterior pode ter surgido a necessidade de dar prosseguimento ao assunto Por exemplo a turma pode sentirse insatisfeita com o conteúdo informativo sobre a experiência amorosa a que chegou no debate O professor propõe em vista disso que se busque uma definição de amor mais abrangente Sugere a lírica amorosa de Camões Os alunos consultam a obra na biblioteca da escola ou da comunidade e selecionam os poemas que melhor definem o sentimento amoroso Esses poemas são trazidos para a sala de aula e distribuídos entre os grupos anteriores Cada grupo fica responsável pela gravação de um número igual de poemas em fitas cassetes O professor sugere que além da leitura expressiva com fundo sonoro os alunos utilizem recursos variados para marcar o ritmo e a melodia dos poemas tais como bater em copos de vidro sacudir ou percutir saquinhos ou de plástico ou de pedras bater palmas lápis ou régua assobiar tamborilar em caixa de fósforos ou outro objeto de percussão soprar em pente estalar os dedos etc Após a gravação dos poemas num encontro posterior todos se reúnem para ouvir os resultados do trabalho manifestando sua opinião sobre os mesmos e atentando para o sentido que os poemas expressam com o fundo sonoro criado O poema que receber maior número de opiniões favoráveis dará sequência à retomada do método 7 MÉTODO COMUNICACIONAL 71 Fundamentação teórica A moderna preocupação com as questões relacionadas com a linguagem tem originado uma ênfase característica aos aspectos linguísticos das manifestações humanas em geral Afinal a linguagem é uma constituinte da cultura mas no conjunto dos fenômenos culturais funciona como sua substrutura Jakobson 1969a 123 Adquirindo foros de modelo de organização dos relacionamentos do homem com o mundo a linguagem tem sido um dos objetos de estudo mais constante e minucioso neste século Dela têm se ocupado não só linguístas mas também filósofos e antropólogos Essa tendência à valorização da linguagem também se refletiu no sistema educacional brasileiro por ocasião da Reforma de 1971 O ensino de língua e literatura foi então direcionado para as formas mais amplas e genéricas da Comunicação e Expressão Entretanto o que se observou foi uma assimilação apenas aparente das proposições da linguística contemporânea com a utilização dos esquemas do ato comunicativo em toda sorte de livros didáticos Não se aproveitaram portanto as efetivas contribuições das investigações lingüísticas e semiológicas para o ensino que continuou a se fazer pelas vias gramaticais tradicionais O método comunicacional pretende resgatar o sentido amplo do entendimento da linguagem como molde e descrição do fazer e do pensar humanos deixando em aberto a discussão do lugar prioritário que lhe tem sido conferido como forma de conhecimento e de praxis Importa mais aqui aqueles aspectos das teorias lingüísticas que explicam as trocas comunicativas e dão conta da natureza do fenômeno literário Essas trocas sejam verbais ou não funcionam como um

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Maria da Glória Bordini Vera Teixeira de Aguiar LITERATURA A FORMAÇÃO DO LEITOR ALTERNATIVAS METODOLÓGICAS MERCADO ABERTO Compra Capa Leonardo Menna Barreto Gomes Composição Jorge Cortezi Revisão Rosane Gava Supervisão Sissa Jacoby Editor Roque Jacoby Copyright de Vera Teixeira de Aguiar e Maria da Glória Bordini 1988 Impressão Gráfica Editora Pallotti A 2821 Aguiar Vera Teixeira de Literatura a formação do leitor alternativas metodológicas Vera Teixeira de Aguiar e Maria da Glória Bordini Porto Alegre Mercado Aberto 1988 176 p Série Novas Perspectivas 27 1 Análise Literatura Ensino de 1 e 2 Grau 2 Literatura Análise Ensino de 1 e 2 Grau 3 Ensino de 1 e 2 Grau Análise Literatura I Bordini Maria da Glória II Série Novas Perspectivas 27 III Título CDU 3733500182 8237335001 Bibliotecária responsável Rosemarie Bianchessi dos Santos CRB10797 Todos os direitos reservados a Editora Mercado Aberto Ltda Rua Santo Antonio 282 fone 0512 218595 21 8601 Cx Postal 1432 90220 Porto Alegre RS São Paulo Rua Cardeal Arcoverde 2934 Bairro Pinheiros Fone 011 814 8916 814 9997 05408 São Paulo SP ISBN 8528000605 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 5 1 FORMAÇÃO DO LEITOR 9 11 Fundação social da leitura 9 12 Leitura e não leitura numa sociedade desigual 10 13 Leitura da literatura 13 14 Papel da escola na formação literária 15 2 INTERESSES DE LEITURA E SELEÇÃO DE TEXTOS 21 Determinação dos interesses literários e prazer do texto 18 22 Escolha dos textos 28 3 NECESSIDADE DE METODOLOGIA 32 31 Ensino tradicional de literatura a prática e os currículos 32 32 Necessidade da metodologia de abordagem textual 36 4 MÉTODO CIENTÍFICO 44 41 Fundamentação teórica 44 42 Objetivos e critérios de avaliação 47 43 Etapas de desenvolvimento técnicas 49 44 Exemplos de unidades de ensino 52 441 Currículo por atividades 52 442 Currículo por áreas 55 443 Currículo por disciplinas 58 5 MÉTODO CRIATIVO 62 51 Fundamentação teórica 62 52 Objetivos e critérios de avaliação 65 53 Etapas de desenvolvimento técnicas 67 54 Exemplos de unidades de ensino 72 541 Currículo por atividades 72 542 Currículo por áreas 75 543 Currículo por disciplinas 78 6 MÉTODO RECEPCIONAL 81 61 Fundamentação teórica 81 62 Objetivos e critérios de avaliação 85 63 Etapas de desenvolvimento técnicas 86 64 Exemplos de unidades de ensino 91 641 Currículo por atividades 91 642 Currículo por áreas 96 643 Currículo por disciplinas 99 7 MÉTODO COMUNICACIONAL 103 71 Fundamentação teórica 103 72 Objetivos e critérios de avaliação 107 73 Etapas de desenvolvimento técnicas 108 74 Exemplos de unidades de ensino 118 741 Currículo por atividades 118 742 Currículo por áreas 121 743 Currículo por disciplinas 126 8 MÉTODO SEMIOLÓGICO 132 81 Fundamentação teórica 132 82 Objetivos e critérios de avaliação 136 83 Etapas de desenvolvimento técnicas 137 84 Exemplos de unidades de ensino 142 841 Currículo por atividades 142 842 Currículo por áreas 145 843 Currículo por disciplinas 148 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS 152 BIBLIOGRAFIA 156 APÊNDICE Obras recomendadas para trabalho escolar 159 Currículo por atividades 159 Currículo por áreas 165 Currículo por disciplinas 170 APRESENTAÇÃO Este livro é resultado de um trabalho de pesquisa das condições e problemas do ensino de literatura no Rio Grande do Sul iniciado em 1983 pelo Centro de Pesquisas Literárias da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul CPLPUCRS Concebida de modo a dar conta da realidade das salas de aula e ao mesmo tempo trazer destas as contribuições práticas que pudessem alicerçar a investigação universitária de alternativas metodológicas nessa área essa pesquisa se desenvolveu em dois planos paralelos De um lado entrevistou 240 alunos e 80 professores de escolas públicas e particulares de 1 e 2 graus de Porto Alegre RS sobre como se procedia o ensino de literatura em classe Desse levantamento que contou com o suporte financeiro principal do INEPMEC e com recursos parciais do Programa de Desenvolvimento de Metodologias Aplicáveis ao EnsinoAprendizagem para o Ensino Superior da SDESESuMEC produziuse um relatório intitulado Diagnóstico da situação do ensino de literatura no 1 e 2 graus em escolas de Porto Alegre RS apresentado ao INEPMEC em 1985 As conclusões básicas dessa enquete constatavam um desinteresse crescente pela literatura entre os alunos conforme avançasse o grau de escolaridade e um considerável despreparo entre os professores quanto à abordagem da obra literária nos vários currículos escolares De outro lado no mesmo ano com o apoio financeiro do Programa de Integração UniversidadeEscola de 1 Grau da SDESESuMEC encetouse outra pesquisa de caráter teóricoprático com uma equipe de professores de 1 e 2 graus que buscou a partir das situações problemáticas gradativamente manifestadas no diagnóstico elaborar algumas propostas que apresentassem alternativas para o ensino básico Fundamentada na prática efetiva dos pesquisadores em sala de aula e no estudo das teorias da linguagem e da literatura realizado como parte das tarefas de pósgraduação dessa equipe tal pesquisa chamouse Metodologias alternativas para o ensino de literatura no 1o grau e abrangeu duas etapas a criativa e a experimental À proporção que a pesquisa diagnóstico se completou tornouse possível levar em conta nas propostas em elaboração os dados sobre os setores deficitários da atuação docente e sobre preferências e comportamentos discentes quanto à leitura Dessa forma os métodos e técnicas de ensino então criados fora se aproximando mais e mais das necessidades detectadas no diadia escolar na tentativa de responder a elas Em fins de 1984 além de dispor de um esboço preliminar dos métodos e de várias sugestões quantas técnicas e módulos de ensino de literatura a equipe pesquisadora já havia divulgado os resultados obtidos junto a instituições de ensino superior como a Universidade Federal de Alagoas a Universidade Federal de UberlândiaMG a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e a Faculdade PortoAlegrense de Educação Ciências e Letras a Universidade Federal de PelotasRS a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de UruguaianaRS e a Universidade de Caxias do SulRS em cursos de extensão palestras e atividades de consultoria A parcela maior de clientes todavia foi a dos professores estaduais e municipais em exercício através de cursos de treinamento promovidos pela Secretaria de Educação e CulturaRS e pelo Instituto Estadual do LivroRS No mesmo período as novas metodologias foram submetidas a testagem sistemática na Fundação Alto Taquari de Ensino SuperiorRS em nível de tarefa de pósgraduação em pesquisa literária experimental Tais experiências proporcionaram a discussão das propostas metodológicas em larga escala originando sua reformulação em 1985 e nova testagem com a participação da SECRS na rede escolar de Porto Alegre e Novo Hamburgo desta vez diretamente junto a professores voluntários que após um período de treinamento elaboraram unidades de ensino com apoio nos métodos criados e as aplicaram em suas escolas Finalmente no ano de 1986 numa segunda etapa experimental outra vez com o apoio do Programa de Integração UniversidadeEscola de 1o Grau da SDESESuMEC os métodos já aperfeiçoados foram testados sob rigoroso controle junto a 362 alunos de 1a a 8a séries do 1o grau por uma equipe de 12 professores que receberam o devido treinamento e se apresentaram como voluntários para a fase de experimentação acompanhada por 2 monitores do Curso de Letras do Instituto de Letras e Artes da PUCRS Os póstestes a que os alunos foram submetidos após a implementação das unidades de ensino concebidas a partir das alternativas metodológicas em teste revelaram que 294 sujeitos passaram a se interessar mais pela leitura e pela literatura porque as atividades eram movimentadas e agradáveis e porque as obras estudadas eram melhores do que as já conhecidas em estudos anteriores 31 alunos não evidenciaram crescimento por absenteísmo e segundo seus depoimentos pouco empenho nas tarefas escolares Os 12 professores e os 2 monitores que efetuaram o experimento nas suas avaliações escritas e no seminário final sobre o projeto comprovaram que houve maior receptividade e rendimento em suas classes de literatura com a adoção dos métodos propostos porque exigiam adequação entre o texto literário e as aspirações dos alunos e porque sugeriam práticas docentes mais dinâmicas e motivadoras que aumentaram a segurança do professor ao trabalhar com literatura O parecer conclusivo da equipe pesquisadora enfatizou a progressiva emancipação do aluno em termos de interpretação e crítica bem como o aumento de produtividade relacionado ao prazer da leitura e dos trabalhos de sala de aula e a melhoria das interações alunoprofessor dada a linha de ação educacional prevista pelas metodologias Este livro em vista disso é uma tentativa de recuperação de um longo percurso de pesquisa não no sentido do relato de experiências mas como sistematização de tudo o que se pensou e comprovou num texto de caráter teóricopedagógico A partir de reflexões sobre a função social da leitura e o papel da escola na formação do leitor capítulo 1 levanta dados sobre as expectativas dos alunos quanto à relação literaturaescola e sugere critérios para a seleção de textos no 1o e 2o graus capítulo 2 Com base nesses pressupostos discute a questão metodológica de ensino de literatura enfatizando a necessidade de uma metodização das práticas pedagógicas centrada na natureza do literário e na comunicação leitorobra capítulo 3 Apresenta a seguir cinco métodos de ensino de literatura com fundamentação teórica diferenciada objetivos e parâmetros de avaliação específicos etapas de sistematização das atividades em sala de aula e unidades de ensino exemplificativas para os três níveis curriculares do 1o e 2o graus capítulos 4 a 8 Em apêndice arrolamse autores e títulos com as devidas indicações bibliográficas recomendados para trabalho escolar nos currículos antes referidos Por todas essas razões esta obra não pertence exclusivamente a suas autoras mas a todos os participantes das diversas equipes de investigação treinamento e experimentação bem como aos alunos e professores que se expuseram às metodologias aqui examinadas A eles as autoras manifestam seu reconhecimento e gratidão em especial aos integrantes da equipe de pesquisa de 198384 profas Diana Maria Noronha Elisa Averbuh Tesseler May Maria Celeste Arruda Nezia Helena Riccardi da Silva e Magda Helena Dal Zotto e da equipe de 198586 profs Angela da Rocha Rolla Enio Moraes Dutra e Maria Eduarda Giering Agradecem também à coordenadora do CPLPUCRS e dos Cursos de PósGraduação em Linguística e Letras da PUCRS Profª Dra Regina Zilberman pela esclarecida orientação e supervisão das pesquisas que deram origem a este livro e ao próreitor de Pesquisa e PósGraduação da PUCRS Dr Ir Elvo Clemente pelo apoio e incentivo que sempre concedeu a esses projetos do CPL e aos pesquisadores envolvidos Porto Alegre agosto de 1987 1 FORMAÇÃO DO LEITOR 11 Função social da leitura É através da linguagem que o homem se reconhece como humano pois pode se comunicar com os outros homens e trocar experiências Existe porém uma condição prévia para a manifestação da linguagem é preciso haver um grupo humano no qual o sujeito se confronte com o conjunto e se perceba como indivíduo É portanto na convivência social que nascem as linguagens conforme as necessidades de intercâmbio O grupo social não é simplesmente um todo homogêneo Nele habitam vontades saberes e posicionamentos diversificados mas convergentes que geram as possibilidades de relações internas e com outros grupos Através das trocas linguísticas o indivíduo se certifica de seu conhecimento do mundo e dos outros homens assim como de si mesmo ao mesmo tempo em que participa das transformações em todas essas esferas A linguagem verbal é dentre as formas de expressão e comunicação a mais utilizada pelo homem Podese afirmar mesmo que todas as linguagens humanas são repassadas pela palavra Para Barthes parece cada vez mais difícil conceber um sistema de imagens ou objetos cujos significados possam existir fora da linguagem perceber o que significa uma substância é fatalmente recorrer ao recorte da língua sentido só existe quando denominado e o mundo dos significados não é outro senão o da linguagem 1979 12 Registrando a linguagem verbal através do código escrito o livro é o documento que conserva a expressão do conteúdo de consciência humana individual e social de modo cumulativo Ao decifrarlhe o texto o leitor estabelece elos com as manifestações sócioculturais que lhe são distantes no tempo e no espaço A ampliação do conhecimento que daí decorre permitelhe compreender melhor o presente e seu papel como sujeito histórico O acesso aos mais variados textos informativos e literários proporciona assim a tessitura de um universo de informações sobre a humanidade e o mundo que gera vínculos entre o leitor e os outros homens A socialização do indivíduo se faz para além dos contatos pessoais também através da leitura quando ele se defronta com produções significantes provenientes de outros indivíduos por meio do código comum da linguagem escrita No diálogo que então se estabelece o sujeito obrigase a descobrir sentidos e tomar posições o que o abre para o outro 12 Leitura e não leitura numa sociedade desigual Uma sociedade de classes em que interesses divergentes se entrechocam com a predominância de alguns deles sobre os demais privilegia sobremaneira o texto escrito como objeto de leitura A escrita historicamente representa uma conquista sobre a memória instrumento predominante nas sociedades ágrafas A acumulação do conhecimento através da palavra escrita tem sido apropriada pelas classes que detêm o poder dentro de uma sociedade Como o documento escrito é mais eficiente para a fixação e conservação das idéias leva vantagem sobre a memória coletiva alijando das decisões do grupo aqueles que não são capazes de decifrálo Assim as sociedades gradualmente se dividem em segmentos cultos e incultos tomando como critério distintivo o domínio do código lingüístico escrito Do ponto de vista histórico a situação de desigualdade entre elementos alfabetizados e analfabetos produziu uma relação de domínio dos primeiros sobre os segundos que se acrescentou a todas as outras formas de dominação social Já a Revolução Francesa de 1789 postulava a abertura de escolas públicas com o fim de levar as letras até o povo de modo a promover uma maior igualdade social A escola pública todavia embora nascendo com esse propósito de equalização cedo revelouse mais um aparelho de dominação das classes populares traindo o seu objetivo inicial Talvez essa traição se explique pelo fato de que a escola na verdade surgiu por iniciativa da burguesia emergente que desejava ascender ao status social da aristocracia As classes trabalhadoras menos favorecidas já de início não entraram nesse projeto de promoção cultural determinando a existência de amplos segmentos de analfabetos Se a escola pública se propunha à promoção social é lógico que permitem leituras significativas o fato é que as classes dominantes dão ênfase ao livro como veículo do saber que lhes convém Nessa sentido é importante que as classes menos favorecidas tenham acesso à cultura letrada sob pena de se manterem as diferenças sociais Isso quer dizer que ao se valorizar todas as expressões culturais dominadas não se está pretendendo limitar as classes populares ao conhecimento já adquirido no grupo O que se propõe é abrirlhes o leque de opções de modo a atuar efetivamente na vida social e não apenas como massa de manobra uma vez que elas passam a ser capazes de jogar com as mesmas armas Decorre daí a necessidade nas sociedades democráticas da implementação da alfabetização por ser este o instrumento de apropriação da cultura dominante É sintomático que exatamente nessa tarefa a nossa escola tenha se mostrado tão ineficaz deixando transparecer mesmo a contragosto seu caráter de aparelho ideológico do Estado burguês Tanto a ausência de escolaridade quanto a evasão precoce que hoje ainda se observam a níveis preocupantes se devem ao modo de ser do sistema de organização escolar programado para atender apenas as necessidades das classes media e alta Vejamse itens como horário períodos de férias exigência de assiduidade uniforme material didático etc que ficam aquém das possibilidades das camadas proletárias ou campecinas Para Michael Apple todos esses itens dizem respeito ao currículo oculto que juntamente com o currículo expresso constituemse no modo como instituições de preservação e distribuição cultural como as escolas produzem e reproduzem formas de consciência que permitem a manutenção do controle social sem que os grupos dominantes tenham de recorrer a mecanismos declarados de dominação 1982 12 Acrescentese ao quadro exposto o fato de que os valores defendidos por essa escola através de seus administradores e professores oriundos da classe média pouco concernem às classes baixas que não se vêem nela representadas seja nos conteúdos curriculares seja na estrutura funcional Da colisão dos valores do corpo docente que apontam para a ascensão social com os do corpo discente que se limitam à necessidade de sobrevivência decorrem os problemas crônicos de disciplina as dificuldades de aproveitamento e o consequente afastamento do aluno da escola O analfabeto o não leitor entendido como aquele que aprendeu a ler e deixa de fazêlo e o leitor deficiente cujo nível de compreensão é precário são subprodutos desse modelo escolar Os estímulos que o processo de ensino a eles oferece em relação às classes trabalhadoras pecam pela falta de identidade cultural Os textos dos livros didáticos e esta é o produto que ela oferece em primeiro lugar Antes de se operar a discriminação entre alfabetizados e não alfabetizados aqueles que não tinham acesso às letras podiam adquirir conhecimentos por transmissão oral ou por experiência e não eram por isso socialmente desvalorizados já que a escrita era de domínio restrito de muitos poucos A desvalorização daqueles que não conseguem utilizar o código escrito implica conseqüentemente o desprestígio de todas as outras leituras que os mesmos podem realizar Determina ainda um conceito de texto limitado à língua escrita embora se possa entender o mesmo como todo e qualquer objeto cultural seja verbal ou não em que está implícito o exercício de um código social para organizar sentidos através de alguma substância física Portanto cinema televisão vestuário esportes cozinha moda artesanato jornais falas literatura partilham da qualidade de textos Esse conceito amplo de texto é que fundamenta as posições de Paulo Freire sobre a leitura do mundo como antecedente da leitura da palavra Este Autor insiste na compreensão crítica do ato de ler que não se esgota na descodificação pura da palavra escrita ou de linguagem escrita mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto 198212 Todas as pessoas desde a infância são portanto leitoras em formação uma vez que estão constantemente atribuindo sentidos às mais diversas manifestações da natureza e da cultura Conferindo à escola a função de formar o leitor destruiuse a noção de texto como representação simbólica de todas as produções humanas restando o livro como mediação para qualquer conhecimento Passouse a destacar assim o livro por ser este uma produção da classe dominante a ela pertencente e à qual aspiram as classes dominadas Essa situação de valorização de um objeto específico configura a cisão entre a cultura que o possui e todas as demais dando à primeira poder sobre as outras O conceito de cultura fica deformado expressando apenas a verdade de uma camada social Todavia cultura não se assimila a universo dos letrados Abrange todas as transformações que o homem opera na natureza o que obriga a reconhecer que qualquer grupo humano possui objetos culturais que podem ser lidos de forma válida Não há cultura melhor nem pior há culturas diferentes segundo as experiências dos homens que as produzem Essa concepção de cultura em sua amplitude não supõe que se deva desprezar o texto escrito em favor dos demais objetos culturais como o folclore o cinema ou os quadrinhos Se todas essas manifestações outros livros nada têm a ver com as suas aspirações suas necessidades e interesses imediatos e com sua realidade Dessa perspectiva terseia que circunscrever os problemas de leitura a um segmento determinado da sociedade No entanto sabese que esses fenômenos ocorrem também em outros escalões sociais com a mesma intensidade As causas porém são diversas Não se trata de cisão entre textos e valores representados ou entre escola e projetos culturais Nesse caso a desvalorização da leitura se relaciona ao fato de que talvez esta como atividade intelectual não proporcione acumulação de capital Essa situação se vincula à própria constituição do regime capitalista que marginaliza o intelectual único agente que não gera lucro com os objetos que produz O trabalho intelectual só é reconhecido quando reforça os aparatos de dominação daqueles que detêm o capital Mesmo nos casos em que as obras contestam o sistema pode suceder que este as transforme em mercadorias anulando seu efeito Por isso o leitor de classes elevadas mesmo imbuído da importância da leitura nos bancos escolares acaba por abandonála gradativamente à medida que em sua vida cotidiana voltase para atividades que promovem ganhos Numa sociedade desigual os problemas de leitura se diversificam conforme as características de classe As soluções possíveis se orientam para o pluralismo cultural ou seja a oferta de textos vários que deem conta das diferentes representações sociais Se as classes trabalhadoras também tiverem acesso à alfabetização serão elas não apenas consumidoras passivas mas produtoras de novos textos que se acrescentarão aos que circulam na sociedade e atenderão a seus interesses De qualquer modo todos os segmentos sociais a despeito de suas divergências internas podem ser mobilizados para a leitura quando encontram nas obras o momento catártico que identifica o leitor com o conteúdo expresso Uma das necessidades fundamentais do homem é dar sentido ao mundo e a si mesmo e o livro seja informativo ou ficcional permanece como veículo primordial para esse diálogo 13 Leitura da literatura Todos os livros favorecem a descoberta de sentidos mas são os literários que o fazem de modo mais abrangente Enquanto os textos informativos atêemse aos fatos particulares a literatura dá conta da totalidade do real pois representando o particular logra atingir uma significação mais ampla O texto literário se vale da imitação genérica constituída pelos símbolos linguísticos e atinge sem dúvida um plano de significação igualmente universal através porém de uma reprodução esmerada do concreto e particular Merquior 197278 A linguagem literária extrai dos processos históricopolíticosociais nela representados uma visão típica da existência humana O que importa não é apenas o fato sobre o qual se escreve mas as formas de o homem pensar e sentir esse fato que o identificam com outros homens de tempos e lugares diversos A obra literária pode ser entendida como uma tomada de consciência do mundo concreto que se caracteriza pelo sentido humano dado a esse mundo pelo autor Assim não é um mero reflexo na mente que se traduz em palavras mas o resultado de uma interação ao mesmo tempo receptiva e criadora Essa interação se processa através da mediação da linguagem verbal escrita ou falada O texto produzido graças a essa natureza verbal permite o estabelecimento de trocas comunicativas dentro dos grupos sociais pondo em circulação esse sentido humano A literatura como uma das formas de comunicação participa assim do âmbito maior da cultura ou seja da produção significante relacionandose com outros objetos culturais Entretanto possui características que a diferenciam desses A mais evidente é o uso não utilitário da linguagem No circuito de comunicação o texto literário não se refere diretamente ao contexto não precisa apontar para o objeto real de que ele é signo possuindo portanto uma autonomia de significação Por exemplo uma história infantil ou um romance criam suas próprias regras comunicativas estabelecendo um pacto entre autor e leitor em que a presença do contexto é dispensável Ao ler o texto o leitor entra nesse jogo pondo de lado a sua realidade momentânea e passa a viver imaginativamente todas as vicissitudes das personagens da ficção Dessa forma aceita o mundo criado como um mundo possível para si Essa capacidade do texto literário de independer de referentes reais de forma direta devese à coerência interna dos elementos de que se compõe de modo a tornar autosuficiente o todo assim estruturado A obra se efetiva muito mais pela composição de seus elementos estruturais do que pela relação denotativa com o contexto Esse traço justifica a descoberta da significação mesmo em obras que explicitamente rompem com a realidade concreta e histórica como as de ficção científica de horror e de realismo mágico A estrutura da obra literária decorre das linhas de força estabelecidas entre seus componentes e funções Essa estrutura porém não é um todo uniforme uma vez que nela se alteram continuidade e descontinuidades determinadas pelo próprio limite das frases e períodos linguísticos Constróise na obra literária um mundo possível no qual os objetos e processos nem sempre aparecem totalmente delineados Esse mundo portanto envolve lacunas que são automaticamente preenchidas pelo leitor de acordo com sua experiência Isso explica por que se pode representar toda uma vida numa novela de cem páginas sem que se perca a ilusão de realidade dos eventos narrados A obra apresenta uma série de indicações em potência que o sujeito atualiza no ato da leitura Em contraposição o texto não literário contém indicadores muito mais rígidos e presos ao contexto de comunicação não deixando margem à livre movimentação do leitor A informação que oferece é imediata e restritiva valendo apenas para uma situação definida Por isso podese dizer que o texto literário é plurissignificativo permitindo leituras diversas justamente por seus aspectos em aberto A riqueza polissêmica da literatura é um campo de plena liberdade para o leitor o que não ocorre em outros textos Daí provém o próprio prazer da leitura uma vez que ela mobiliza mais intensa e inteiramente a consciência do leitor sem obrigálo a manterse nas amarras do cotidiano Paradoxalmente por apresentar um mundo esquemático e pouco determinado a obra literária acaba por fornecer ao leitor um universo muito mais carregado de informações porque o leva a participar ativamente da construção dessas com isso forçandoo a reexaminar a sua própria visão da realidade concreta A atividade do leitor de literatura se exprime pela reconstrução a partir da linguagem de todo o universo simbólico que as palavras encerrar e pela concretização desse universo com base nas vivências pessoais do sujeito A literatura desse modo se torna uma reserva de vida paralela onde o leitor encontra o que não pode ou não sabe experimentar na realidade É por essa característica que tem sido acusada ao longo dos tempos de alienante escapista e corruptora mas é também graças a ela que a obra literária captura o seu leitor e o prende a si mesmo por ampliar suas fronteiras existenciais sem ofrecer os riscos da aventura real 14 Papel da escola na formação literária Em virtude da autonomia própria da obra literária mesmo que se reconheça sua gênese na vida social a formação do leitor de literatura não pode ser idêntica à do leitor genérico ou pragmático A leitura em si implica o reconhecimento de um sentido operado pelo deciframento dos signos que foram codificados por outrem para veiculálo Todavia nem esse código que possibilita cifrar e decifrar os signos nem o sentido a que eles apontam são assunto pacífico entre emissor e receptor podendo haver com isso diferenças de entendimento do texto na sua produção e na sua recepção 2 INTERESSES DE LEITURA E SELEÇÃO DE TEXTOS 21 Determinação dos interesses literários e o prazer do texto Considerando a natureza da literatura podese afirmar que se o professor está comprometido com uma proposta transformadora de educação ele encontra no material literário o recurso mais favorável à consecução de seus objetivos Neste caso vale a pena investir na formação do leitor o que significa incentiválo ao hábito de modo a multiplicar a experiência literária O papel da escola é decisivo neste processo e as pesquisas têm mostrado que em toda a parte os estudantes são sem dúvida leitores mais assíduos mas uma vez terminados os estudos eles também se expõem ao perigo de se tornarem não leitores Barker Escarpit 1975122 Para que se assegure a continuidade do comportamento positivo em relação ao livro é preciso que o hábito não seja apenas como um padrão rotineiro de resposta automaticamente provocado e realizado A busca frequente da literatura precisa surgir de uma atitude consciente da disposição de enfrentar o desafio que o texto oferece como nova alternativa existencial O primeiro passo para a formação do hábito de leitura é a oferta de livros próximos à realidade do leitor que levantem questões significativas para ele A literatura brasileira e a literatura infantojuvenil nacionais vêm preencher estes quesitos ao fornecerem textos diante dos quais o aluno facilmente se situa pela linguagem pelo ambiente pelos caracteres das personagens pelos problemas colocados A familiaridade do leitor com a obra gera predisposição para a leitura e o consequente desencadeamento do ato de ler de grupos Os interesses de leitura preenchem as necessidades do leitor através de enredos sensacionalistas histórias vividas por gangues personagens diabólicos histórias sentimentais 5ª fase Os anos de maturidade ou desenvolvimento da esfera líteroestética de leitura 14 a 17 anos Descobrindo o mundo interior e o mundo dos valores o adolescente parte para a hierarquização dos conceitos e a organização de seu universo Aventuras de conteúdo intelectual viagens romances históricos e biográficos histórias de amor literatura engajada e temas relacionados com os interesses vocacionais vão ajudálo a orientarse e estruturarse como adulto O interesse pela leitura varia em qualidade de acordo com a escolaridade do aluno Neste sentido podese também delinear cinco níveis de leitura 1º Préleitura Durante a préescola e o período preparatório para a alfabetização a criança desenvolve capacidades e habilidades que a tornarão apta à aprendizagem da leitura a construção dos símbolos o desenvolvimento da linguagem oral e da percepção permite o estabelecimento de relações entre as imagens e as palavras Os interesses voltamse nesta fase para histórias curtas e rimas em livros com muitas gravuras e pouco texto escrito que permitem a descoberta do sentido muito mais através da linguagem visual que da verbal 2º Leitura compreensiva É o período correspondente ao momento da alfabetização 1ª e 2ª séries em que a criança começa a decifrar o código escrito e faz uma leitura silábica e de palavras A motivação para ler é muito grande e a escolha recai sobre textos semelhantes aos da etapa anterior agora decodificados pelo novo leitor 3º Leitura interpretativa Da 3ª à 5ª série o aluno evolui da simples compreensão imediata à interpretação das idéias do texto adquirindo fluência no ato de ler A aquisição de conceitos de espaço tempo e causa bem como o desenvolvimento das capacidades de classificar ordenar e enumerar dados permitem que o estudante se adentre mais nos textos e exija leituras mais complexas 4º Iniciação à leitura crítica Em torno da 6ª e 7ª séries o estudante atinge o estágio de desenvolvimento que Piaget denomina das operações intelectuais abstratas da formação da personalidade e da inserção afetiva e intelectual na sociedade dos adultos cf 1973624 A capacidade de discernimento do real e a maior experiência de leitura favorecem o exercício de habilidades críticas permitindo ao leitor não só interpretar os dados fornecidos pelo texto como também posicionarse diante deles iniciandose nos juízos de valor As preferências por livros de aventuras em que os problemas são resolvidos por grupos de jovens vêm preencher as necessidades do leitor de iniciarse no questionamento da realidade ampliando sua dimensão social 5º Leitura crítica É o período que abrange a 8ª série e o 2º grau quando o aluno elabora seus juízos de valor e desenvolve a percepção dos conteúdos estéticos Sensível aos problemas sociais o jovem interrogase sobre suas possibilidades de atuação na comunidade adulta A busca da identidade individual e social e o maior exercício da leitura têm como dividendo uma postura crítica diante dos textos através da comparação de idéias da conclusão da tomada de posições Livros que abordam problemas sociais e psicológicos interessam ao aluno deste nível possibilitandolhe a reflexão e a opção por comportamentos que descobre como mais justos e mais autênticos Como a idade e a escolaridade o sexo também é fator determinante dos interesses de leitura Fatores biológicos e principalmente culturais determinam diferenças de comportamento entre os sexos Uma dessas diferenças diz respeito à atitude diante da leitura Os homens escolhem os temas mais arrojados aventuras viagens ficção científica enquanto as mulheres se voltam para as histórias de amor romances vida familiar crianças Tais tendências estão intimamente relacionadas aos fatores culturais Na verdade a sociedade cria estereótipos de comportamento para o homem e para a mulher e esses dirigem suas atitudes e interesses Portanto suas preferências literárias correspondem aos padrões sociais o sexo masculino envolvese em atividades agressivas de luta pelo sucesso e pela sobrevivência enquanto ao sexo feminino são atribuídas atitudes mais passivas voltadas para o trabalho doméstico a educação dos filhos e tarefas afins As preferências de leitura correspondem à necessidade de cada sexo cumprir o papel social que lhe é confiado Questionados sobre suas preferências literárias em pesquisa realizada em Porto Alegre RS os estudantes confirmam este perfil cf Aguiar 19793446 Os meninos revelam maior comprometimento com o real e atração por histórias que se passam em tempos e lugares distantes enquanto as meninas escolhem os elementos de fantasia próximos no tempo e no espaço Essas tendências revelam um melhor aparelhamento para se movimentar na sociedade e uma percepção mais ampla de mundo no sexo masculino restando ao sexo feminino reações escapistas dentro de um espaço limitado Os interesses variam ainda de acordo com o nível sócioeconômico do público leitor observandose o sucesso dos textos em que predominam os ingredientes mágicos entre os estudantes menos favorecidos e a busca de leitura engajada entre os privilegiados cf Aguiar 19794760 A leitura vem satisfazer em cada grupo um tipo de necessidade social para os primeiros supre carências e aponta para um mundo melhor para os últimos serve de instrumento de apropriação do real de forma a favorecer a adaptação social e a promoção Em pesquisa de interesses de leitura conduzida pelo Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS com dados colhidos em 1983 e analisados em 1984 cf Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 1985365383 abrangendo 330 alunos observase que em termos de comportamentos gerais no 1º grau em todas as séries os alunos dão preferência à música como forma de lazer Quando lêem escolhem livros salvo na 6ª série que elege revistas e em casos de narrativas preferem as lineares Da 1ª à 7ª série os alunos demonstram gostar mais de histórias em quadrinhos do que de literatura sendo esta apenas citada na 8ª série Na 1ª série o gênero literário preferido é o poema Os assuntos literários prediletos são os superheróis o humor e os contos de fadas O tempo narrativo de preferência é o presente e o espaço deve ser um local existente o Brasil e montanhas Quanto às personagens da narrativa preferem as jovens sendo que o tipo predileto é o herói seguido de fantasmas robôs e pessoas fadas e anões Em relação aos poemas as crianças preferem os que têm rimas e aliterações com estrofes curtas de teor narrativo e informativo com jogos de grafia e de sons Na 2ª série os alunos são indiferentes quanto ao gênero literário preferido Os assuntos literários mais procurados são superheróis e animais Preferem uma narrativa com muita ação situada no presente em espaço que exista na realidade dando relevo ao urbano A faixa etária das personagens é a infância sendo que os tipos de personagens preferidos são o estudante o herói robôs e pessoas grandes homens pessoas e animais monstros fantasmas e pessoas comuns Quanto aos poemas os alunos preferemnos com estrofes curtas e sem refrões Agradam particularmente os poemas de teor narrativo e informativo com jogos de sons idéias e jogos gráficos Na 3ª série os alunos se mostram indiferentes quanto ao gênero literário Os assuntos literários constantes são animais superheróis e aventuras Eles também manifestam indiferença quanto à ordenação composicional da narrativa e quanto ao tempo nela representado O espaço preferido é o Brasil Estes alunos apreciam personagens crianças e seus tipos favoritos são os heróis e as pessoas comuns Em relação à poesia não indicam preferência quanto à composição mas elegem como prediletos os poemas de teor informativo em que haja jogos de sons e de idéias Na 4ª série há indiferença quanto a gêneros literários e demonstrase apreciação dos seguintes assuntos literários aventuras animais horror ficção esportiva e superheróis Os alunos preferem uma narrativa situada no presente que se passe no Brasil no campo na cidade no espaço sideral no mar em terra nas montanhas na selva em locais variados pois mas existentes Eles não se importam com a faixa etária das personagens mas preferem heróis pessoas comuns animais pessoas e animais robôs e pessoas Quanto à poesia só demonstram preferir os poemas narrativos de teor informativo com jogos gráficos e de idéias Na 5ª série o gênero literário favorito é o poema Dãose preferência aos seguintes assuntos literários aventuras humor animais lendas espionagem horror policial e ficção esportiva Os alunos querem narrativas com muita ação que se passem no presente ou no passado remoto e no futuro O espaço representado pode ser a selva o mar o espaço sideral a cidade o deserto a montanha o Brasil a terra firme devendo ser existente e distante Não há preferência quanto à faixa etária das personagens mas os tipos favorecidos são as pessoas comuns pessoas e animais monstros fantasmas e vilões Quanto aos poemas apreciam ritmos e não demonstram predileção quanto à composição estrófica Leem poemas líricos e narrativos de teor informativo e reflexivo com jogos de idéias de sons e das formas gráficas Na 6ª série os alunos não se mostram particularmente interessados em um gênero literário em especial Os assuntos literários são o humor o horror o amor e as aventuras As narrativas podem acontecer no futuro ou então no presente ou no passado remoto O espaço pode ser o mar o campo o espaço sideral a terra firme a selva a cidade em locais variados portanto existentes mas distantes A faixa etária predileta quanto às personagens é a juventude dandose ênfase a pessoas comuns robôs e pessoas fantasmas e heróis Com relação aos poemas os elementos que chamam a atenção são a rima e os jogos das formas gráficas Preferem poesia lírica e narrativa com assuntos de teor emotivo informativo e por último reflexivo Os alunos de 7ª série são indiferentes quanto ao gênero literário que lêem Os assuntos literários que lhes interessam são aventuras humor e amor Eles preferem narrativas no futuro situadas em terra firme no mar no campo no estrangeiro no Brasil em locais variados existentes mas distantes Também gostam de personagens jovens mostrandose inclinados para tipos como pessoas comuns sábios e cientistas estudantes e grandes homens Em relação à poesia não destacam qualquer elemento sonoro mas preferem as estrofes sem refrões sendo assuntos prediletos os de teor informativo seguidos dos de caráter reflexivo e emotivo O gênero de eleição é o lírico Os alunos da 8ª série são indiferentes quanto a gêneros literários Os assuntos literários preferidos são ficção esportiva aventuras amor humor e policial Quanto ao tempo representado na narrativa pode ser o presente o futuro ou o passado remoto As preferências espaciais são por locais muito variados existentes antes distantes que próximos na seguinte ordem mar terra firme Brasil estrangeiro cidade campo selva montanha e espaço sideral Os alunos se mostram indiferentes quanto à faixa etária das personagens desde que sejam pessoas comuns estudantes sábios e cientistas ou grandes homens Com referência à poesia queremna lírica de ritmos fixos estrofes curtas e com jogos de sons Os assuntos poéticos podem ser de teor informativo ou emotivo e reflexivo Quanto aos alunos do 2º grau todas as séries preferem a música a qualquer outra atividade de lazer leem revistas e jornais mas não livros e quanto ao texto literário quando o lêem chegam a ele por iniciativa própria e dão prioridade à narrativa linear Na 1ª série o gênero literário é indiferente os assuntos prediletos são o policial a aventura o amor e a espionagem O tempo narrativo é o presente e o futuro e o espaço é a cidade locais distantes mas existentes variados o mar o estrangeiro o campo a terra firme a montanha e a selva Quanto às personagens a preferência é por pessoas comuns estudantes e grandes homens Com respeito aos poemas os jovens pedem textos líricos rimados de teor emotivo e depois informativo e reflexivo que joguem com idéias Na 2ª série os alunos não se pronunciam significativamente sobre gêneros literários de preferência Os assuntos literários mais populares são o humor o policial a ficção científica a ficção esportiva a ficção psicológica e a aventura O tempo narrativo é o presente e o passado e o espaço inclui locais variados existentes e distantes o estrangeiro o mar a terra e o Brasil Quanto às personagens da narrativa privilegiam as pessoas comuns e estudantes Com relação aos poemas leem os líricos antes de teor reflexivo mas também os de cunho emotivo e informativo mas não indicam preferências quanto à composição Os alunos da 3ª série preferem como gênero o conto Os assuntos literários eleitos são o humor e a aventura a ficção científica o policial e a ficção esportiva O tempo narrativo é o presente e o espaço abrange locais existentes a terra a cidade a montanha o campo o estrangeiro Quanto às personagens da narrativa a escolha é por pessoas comuns estudantes e grandes homens Com referência aos poemas salientam a lírica sob forma rimada contendo jogos de idéias e com assuntos de teor emotivo informativo e reflexivo nesta ordem Todos esses dados configuram o tipo de público existente a partir do qual podese refletir sobre as práticas de leitura possíveis Convém lembrar porém que as pesquisas sobre interesses contribuem para a elaboração de um perfil de leitor em determinado contexto históricosocial Para tal fazse mister o registro do entrecruzamento das atitudes fundadas nos fatores citados acima e em tantos outros como por exemplo as experiências anteriores de leitura do sujeito Podese chegar então ao conhecimento dos códigos estéticos e ideológicos de que o mesmo se vale no ato de leitura A partir daí o professor vai sustentar seu trabalho em objetivos mais ambiciosos não apenas satisfazer os interesses imediatos do público oferecendolhe leituras repetitivas e redundantes que venham tão somente atender ao gosto mas aguçarlhe a curiosidade para textos que representam a realidade de forma cada vez mais abrangente e profunda Para oferecer ao aluno condições de ampliar seu universo cultural o professor de literatura conta com meios eficientes a natureza do material de leitura e a complexidade das formas de abordálo Partindo das preferências do leitor o trabalho deve orientarse de maneira dinâmica do próximo para o distante no tempo e no espaço Isto significa optar primeiramente por textos conhecidos de autores atuais familiares pela temática apresentada pelos personagens delineados pelos problemas levantados pelas soluções propostas pela forma como se estruturam pela linguagem de que se valem A seguir gradativamente vãose propondo novas obras menos conhecidas de autores contemporâneos eou do passado que introduzam inovações em alguns dos aspectos citados Estes procedimentos inusitados para o leitor rompem sua acomodação e exigem uma postura de aceitação ou descrédito fundada na reflexão crítica o que promove a expansão de suas vivências culturais e existenciais A ampliação do processo vai atingir além do material escolhido as atividades sugeridas Começando pelas mais simples e costumeiras que requerem comportamentos previsíveis buscamse alternativas de trabalho mais exigentes em que o estudante participe do planejamento e de todas as etapas de consecução O estudo de literatura transformase em um pacto entre professor e aluno em que ambos dividem responsabilidades e méritos Dessa forma as estratégias de ensino adotadas não cobrem simplesmente os interesses do estudante que via de regra funciona como elemento passivo recebendo materiais prontos e ordens a serem obedecidas Instigado à ação ele se compromete com o projeto de ensino de literatura exigindo maiores oportunidades de se firmar como sujeito participante de seu grupo Este alinhamento do aluno em toda a dinâmica do processo literário concretizase na medida do prazer que o trabalho provoca As atividades lúdicas vão ao encontro dos interesses da criança e do jovem que têm no jogo o exercício simbólico das práticas sociais e dos sentimentos humanos Suscitadas a partir dos textos estas atividades são expedientes importantes na formação e na continuidade do gosto pela leitura Quebrandose o sentido de obrigatoriedade a leitura perde o ranço de disciplina escolar para se converter em ato espontâneo e estimulante desencadeador de momentos aprazíveis Se os textos devem agradar ao leitor as atividades de exploração dos mesmos estão comprometidas com o fortalecimento desta reciprocidade e não com o seu esvaziamento Quando o ato de ler se configura preferencialmente como atendimento aos interesses do leitor desencadeia o processo de identificação do sujeito com os elementos da realidade representada motivando o prazer da leitura Por outro lado quando a ruptura é incisiva instaurase o diálogo e o conseqüente questionamento das propostas inovadoras da obra lida alargandose o horizonte cultural do leitor O dividendo final é novamente o prazer da leitura agora como apropriação de um mundo inesperado O ato de ler é portanto duplamente gratificante No contato com o conhecido fornece a facilidade da acomodação a possibilidade de o sujeito encontrarse no texto Na experiência com o desconhecido surge a descoberta de modos alternativos de ser e de viver A tensão entre esses dois pólos patrocina a forma mais agradável e efetiva de leitura A literatura pode suscitar prazer porque tem seu fim em si mesma isto é funciona como um jogo em torno da linguagem das idéias e das formas sem estar subordinada a um objectivo prático imediato Essa concepção do fato literário remonta à estética idealista do séc XVIII mais precisamente a Immanuel Kant que define a literatura e a arte em geral como um modo de representação que por si mesmo é final embora sem fim no entanto propicia a cultura dos poderesdamente para a comunicação social 1980 245 Essa teoria chega valorizada ao séc XX que continua prestigiando o fenômeno estético pela sua capacidade de provocar prazer Pela gratuidade daí advinda a literatura aproximase das atividades lúdicas em geral também elas com a finalidade única de emocionar e divertir o sujeito sem oferecerlhe vantagens materiais Gratuito e sem obrigatoriedade o jogo não é entretanto um ato incontrolado mas estruturado a partir de regras às q uais o indivíduo deve se submeter O jogador ingressa no jogo graciosamente sem imposições com liberdade Depois de entrar ele passa necessariamente a obedecer às regras criadas pelo próprio jogo cumprindoas como a um pacto estabelecido entre os jogadores Também a literatura tem esse mesmo caráter uma vez que ao elaborar sua obra o autor institui normas e regras de composição fornecendo indicadores de leitura aos quais o leitor segue num acordo tácito com o criador Ler é imergir num universo imaginário gratuito mas organizado carregado de pistas as quais o leitor vai assumir o compromisso de seguir se quiser levar sua leitura isto é seu jogo literário a termo Embora desinteressado e sem vinculação direta com o real o jogo tem uma função significante isto é tem um sentido gerado por aquilo que está sendo disputado O alvo a ser atingido não responde contudo a uma necessidade imediata da vida prática mas mesmo assim confere um sentido à ação Johan Huizinga define as características do jogo como uma atividade que se processa dentro de certos limites temporais e espaciais segundo uma determinada ordem e um dado número de regras livremente aceitas e fora da esfera da necessidade ou da utilidade material O ambiente em que ele se desenrola é de arrebatamento e entusiasmo e tornase sagrado ou festivo de acordo com a circunstância A ação é acompanhada por um sentimento de exaltação e tensão e seguida por um estado de alegria e de distensão 1980147 A definição de Huizinga vale da mesma forma para a literatura e a arte em geral que participam dessa aérea não lucrativa onde se inserem as atividades prazerosas e lúdicas excluídas do programa de vida de uma sociedade voltada para o ganho Averbuck 1986 66 A obra literária como o jogo simula os conflitos do mundo de forma global buscando a restauração do equilíbrio através de uma proposta alternativa para a existência Essa função mimética é acentuada quando se relacionam texto e estruturas extratextuais pois uma obra artística sendo um modelo determinado do mundo uma mensagem na linguagem da arte não existe pura e simplesmente fora dessa linguagem assim como fora de todas as outras linguagens das comunicações sociais Lotman 1978 101 Walter Benjamin acrescenta à característica de imitação do jogo a capacidade de formação de hábitos considerando que sua essência não é um fazer como se mas um fazer sempre de novo transformação da experiência mais comovente em hábito 198475 Para ele todo hábito entra na vida como jogo que por mobilizar emoções e inspirar prazer exige repetição contínua e renovada Por essas vias chegase por certo ao hábito da leitura literária que permite a multiplicação do prazer através da experiência sempre recomeçada de viver os sentidos do mundo em cada texto percorrido 22 Escolha dos textos Alguns princípios básicos norteiam o ensino de literatura o atendimento aos interesses do leitor a provocação de novos interesses que lhe agucem o senso crítico e a preservação do caráter lúdico do jogo literário Levando em conta esses aspectos o professor está recuperando para o aluno as funções básicas de toda a arte captar o real e repassálo criticamente sintetizandoo de modo inovador através das infinitas possibilidades de arranjo dos signos O resultado final será um comportamento permanente de leitura em que o texto se apresenta como um desafio a ser vencido em inúmeras atividades participativas Sua apreensão redundará em situações gratificantes que vão garantir a continuidade do processo de fruição da leitura O maior obstáculo com que o professor se defronta para alcançar esses alvos está no conhecimento amplo e seguro do acervo de títulos de literatura infantojuvenil e para adultos com que poderá trabalhar em sala de aula Qualquer modalidade de ensino depende antes de tudo do domínio que se tem do objeto a ser ensinado Quando se trata de literatura a experiência de leitura e o senso crítico do professor não podem ser substituídos pelo aparato metodológico por mais aperfeiçoado e atualizado que este seja Uma aula de literatura bem planejada parte não da metodização das atividades mas do próprio conteúdo dos textos a serem estudados Assim sendo o professor precisa ter uma leitura prévia e comprensiva dos mesmos se deseja proporcionar a seus alunos vias eficazes de fruição e conhecimento das obras e da história literária A leitura do professor pois é prérequisito da leitura do aluno mas isto não quer dizer que a interpretação do aluno deva ser atrelada à do professor É evidente que os sentidos que esse deu ao texto influenciarão as atividades propostas para explorálo mas se o aluno através do trabalho textual atinge outros sentidos e consegue comproválos pelas evidências à sua disposição não cabe ao professor questionar a leitura que realizou Dizer que a compreensão e a interpretação orientam o planejamento das experiências de leitura não significa porém que estas se acumulem desordenadamente pois a falta de sistema além de dificultar as operações de pensamento no processo de aprendizagem pode tornar o estudo completamente caótico de modo que o aluno não consiga efetuar as sínteses conceituais que a consecução do conhecimento exige A metodologia de ensino dessa forma é outro prérequisito hierarquicamente colocado em segundo lugar mas de igual maneira indispensável Por outro lado qualquer metodi ção do ensino não se opera num vácuo teórico Tanto a leitura seletiva do professor quanto o método que ele adota após decidir sobre os textos que deverá trabalhar são orientados na sua essência por uma concepção que ele faz do literário Esta lhe oferece os critérios para apreciar as obras e para abordálas com os alunos segundo um ou outro método que faça emergir o conceito de literatura subjacente a todo o processo Se a seleção de textos e a escolha de métodos de abordagem textual é interdependente e mutuamente sustentada por uma noção comum de literatura a conseqüência é que o professor precisa conhecer algumas teorias literárias que lhe definam os limites do seu campo de trabalho Uma teoria literária é um modo de investigação científica que se exerce pela observação e análise de um corpus hipoteticamente delimitado como literário Segundo Souza seu objeto é a literatura stricto sensu ou seja determinadas composições verbais em que a linguagenm se apresenta elaborada de maneira especial e nas quais se dá a constituição de universos imaginários ou ficcionais Num nível ainda mais elaborado de exigências metodológicas devese dizer enfim que o objeto da teoria da literatura é constituído pela literariedade isto é o modo especial de elaboração da linguagem inerente às composições literárias caracterizado por um desvio em relação às ocorrências mais ordinárias da linguagem 1986 47 As teorias literárias investigam seu objeto a partir de diferentes perspectivas sobre o que é literário ou não como se pode observar na afirmação de Souza que restringe o conceito a dois constituintes fundamentais Outros analistas das teorias literárias definiram seu objeto por caminhos diversos ora desconsiderando ora privilegiando o modo de elaboração linguística ora exaltando ora pondo em cheque a idéia de universo imaginário As possibilidades de enfoque nos estudos literários são portanto múltiplas e a exigência que se pode fazer a uma teoria é que estabeleça claramente o que para ela é a literatura e que a investigue com rigor científico a partir dessa definição hipotética O professor egresso de um curso de Letras ou de Magistério nem sempre faz idéia de que sua tarefa de ensino de literatura não é inocente mas vem direta ou indiretamente impregnada de noções que acabam por funcionarem como critérios para a crítica e a avaliação das obras bem como para a organização dos processos de leitura e interpretação ao nível do aluno Para poder discriminar qual o texto de melhor ou pior qualidade literária assim como para optar por um ou outro método de compreensão e interpretação de uma obra específica o professor precisa conscientizar seus pressupostos teóricos no que as teorias literárias podem auxiliálo As mais correntes concepções do literário podem ser agrupadas em duas classes principais as que valorizam o discurso linguístico e suas representações ideais como a estilística a fenomenologia o formalismo russo o estruturalismo e a semiologia e as que valorizam a equivalência entre o universo criado e o universo real como a teoria de Aristóteles a sociologia literária e a estética da recepção Frequentemente teóricos de um ou outro lado ultrapassam essas fronteiras mas a partir delas podemse traçar algumas diretrizes que facilitem ao professor a tomada de decisões nessa área prioritária do ensino de literatura Para Aristóteles em sua Poética 1966 69 a obra de arte literária é mímese uma imitação verbal não do que é mas do que pode ser cujas partes integrantes formam um todo do qual nada pode ser retirado ou acrescentado e onde tudo é necessário e verossímil ou seja cada elemento tem uma explicação lógica aceitável do ponto de vista interior da obra A fim de ajuizar um texto segundo Aristóteles é preciso verificar se tudo que nele aparece tem ligação com o todo se não há elementos desnecessários ou que estão soltos sem desenvolvi mento ou justificativa Em última análise interessa a coerência interna Para os seguidores de Aristóteles o conceito de mímese se torna ambíguo e uns privilegiam a idéia de que a literatura deve corresponder ao universo real imitandoo de forma melhor do que ele é e outros a idéia de que o importante é o universo fictício que pode representar o mundo real ou o mundo possível desde que coerentemente construído pelas palavras Uma das teorias modernas relacionadas com a ênfase no poder da linguagem de criar universos é o estruturalismo que se ocupa com a questão de literariedade entendendo a obra literária como uma estrutura de signos verbais em relação harmônica ou contraditória uns com os outros produzida por procedimentos de composição que tornam esse sistema de signos autônomo em relação à realidade exterior Segundo Jakobson o objeto da ciência da literatura não é a literatura mas a literariedade isto é o que faz de uma obra dada uma obra literária 197315 O estruturalismo evolui para a semiologia ampliando os estudos literários a outras linguagens não verbais e preocupandose em como elas geram significados e comunicação dentro da sociedade O ajuizamento da obra literária na ótica estruturalista e semiológ ica se realiza pela descrição do sistema dos signos descobrindo as relações entre eles e os significados que delas decorrem Como signos se consideram não só as palavras mas suas representações tais como personagens lugares épocas ações emoções símbolos idéias etc O estruturalismo se detém sobre a articulação lógica entre as partes da estrutura textual enquanto a semiologia salienta a relação entre estruturas dos signos e estrutura da realidade São procedimentos descritivos e analíticos não valorativos mas de todo modo acabam por discutir os valores ideológicos da sociedade que os sistemas de signos traduzem A sociologia da literatura conceitua o texto literário como reflexo de uma sociedade histórica apresentando a essência dos fenômenos que nela ocorrem de modo concreto A produção literária para Lukács 1965 289 é a tradução particular de uma verdade universal comum a toda humanidade A literatura não copia os fatos singulares da História mas procura neles o que é representativo para todos os homens e cria um novo fato que veicule essa essência Linha teórica também comprometida com o social é a semiologia de Bakhtin que permite a correlação entre os conflitos sociais e a estrutura literária pela análise da dimensão ideológica do signo lingüístico A avaliação do texto no esquadro sociológico exige o conhecimento prévio da história da sociedade em que ele foi produzido e se efetua pelo cotejo entre os fatos reais e os fatos fictícios A obra é válida quando apreende a essência por trás da história conscientizando o leitor do que é o ser humano resgatandoo das distorções ideológicas que o reificam e alienam A teoria da estética da recepção desenvolve seus estudos em torno da reflexão sobre as relações entre narradortextoleitor Vê a obra como um objeto verbal esquemático a ser preenchido pela atividade de leitura que se realiza sempre a partir de um horizonte de expectativas Roche define este como soma de comportamentos conhecimentos e idéias préconcebidas com que se depara uma obra no momento de sua aparição e segundo a qual é medida 1980 10 Por esse caminho a teoria tenta fechar o círculo entre a abordagem estrutural e a sociológica A obra literária é avaliada a partir da teoria recepcional através da descrição de componentes internos e dos espaços vazios a serem preenchidos pelo leitor Fazse então o confronto entre o texto e suas diversas realizações na leitura e explicamse estas recorrendose às expectativas dos diferentes leitores ou grupos de leitores em sociedades históricas definidas A obra é tanto mais valiosa quanto mais emancipatória ou seja quanto mais propõe ao leitor desafios que as expectativas deste não previam As teorias literárias como se vê possibilitam variadas visões do objeto de ensino do professor a literatura Por meio delas a seleção dos textos pode ser realizada segundo a ótica que melhor se adaptar às necessidades dos alunos e do projeto de educação pelo qual o professor opta De igual modo elas proporcionam procedimentos de trabalho com o texto literário coerentes com a concepção de literatura do professor e os princípios que norteiam sua atividade docente 31 3 NECESSIDADE DE METODOLOGIA 31 Ensino tradicional de literatura a prática e os currículos A situação crítica do ensino de literatura tem sido suficientemente apontada e discutida em pesquisas seminários cursos encontros de professores e no debate público em geral Nessas ocasiões verificase que o ponto nevrálgico da questão reside nas deficiências de domínio da leitura Talvez a causa mais evidente desses fracassos esteja na dificuldade de acesso às fontes de informação por parte dos professores Contudo a formação recebida nos cursos de Letras e nos de 2º grau com terminologia em Magistério bem ou mal propicia uma bagagem de conteúdos relacionados à literatura que deveria sustentar um ensino mais eficiente Da mesma forma o professor em exercício conta com vasta bibliografia para alimentar seus conhecimentos nessa área Isso tudo entretanto parece não resolver a crise pois ainda que eventualmente de posse de todas as referências necessárias o professor vêse desorientado quanto ao modo de organizar experiências e alas atinentes em sala de aula Pesquisa realizada em Porto Alegre concluída em 1984 pelo Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS para o INEPMEC consultou 98 professores desses graus de ensino sobre suas atitudes em relação ao ensino de literatura Através das respostas levantadas foi possível traçar o perfil comportamental do professor de 1º e 2º graus no que tange a material literário utilizado e práticas docentes cf Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 1985 357364 Os modos de atuação do professor revelados demonstram que quanto ao material literário sua tendência é adotar e recomendar o livro didático usando livros de literatura esporadicamente como complemento ao livrotexto Quando não o adota em geral o substitui por folhas avulsas que contém fragmentos de textos acompanhados de exercícios Uma leitura descompromissada livre e estimulante da imaginação e da criatividade ou do senso crítico não é portanto enfatizada A cada leitura correspondem atividades de responder exercícios gramaticais e de redação sem qualquer relação com o caráter artístico de um texto literário ou de interpretação com itens programados e direcionados para uma compreensão literal e primária Quanto aos objetivos os professores se atêm à natureza do hábito de ler preocupandose com formar o hábito da leitura e desenvolver o potencial criativo e crítico dos alunos procurando ao mesmo tempo atender aos interesses dos mesmos Entretanto a presença maciça do livro didático e a ausência da obra literária na íntegra tornam tais metas inexequíveis Os professores apesar de visarem a formação do hábito da leitura e o desenvolvimento do espírito critico não oferecem atividades nem utilizam recursos que permitam a expansão dos conhecimentos das habilidades intelectuais a criatividade ou a tomada de posição embora arrolem esses tópicos em seus critérios de aproveitamento escolar O debate a livre discussão e atividades que extrapolam o âmbito da sala de aula são esquecidos As fórmulas mais carentes de criatividade e mais tradicionalmente empregadas como aulas expositivas e exercícios escritos e orais de interpretação são praticadas pela maioria o que também promove a falta de incentivo e de motivação para a leitura dos alunos Outra situação observada é a de que esses professores querem incentivar posturas críticas e participantes na realidade social mas valemse de atividades repetitivas com alta carga de obrigatoriedade satisfazendose com frequência com a simples leitura dos textos solicitados revelada através de discussões redações dissertativas ou fichas de leitura Em especial para préadolescentes cuja descoberta da complexidade da vida está em efervescência dificilmente tais atitudes podem surtir efeitos positivos em termos de gosto pela leitura O quadro se agrava com o uso dominante do livro didático uma vez que esse sabidamente oferece apenas fragmentos de textos literários e os aborda do ponto de vista gramatical acima de tudo Se os métodos de ensino como ficou comprovado encerram pouca margem para a imaginação e a criatividade e não acolhem práticas familiares ou desafiadoras aos alunos é possível deduzirse que o problema reside mais neles do que na bagagem cultural prévia daqueles que freqüentam a escola Percebeuse também que os professores cônscios de sua responsabilidade de educadores para a leitura contraditoriamente não aliam os 33 interesses vitais de seus educandos com os métodos de trabalho literário Atêmse a técnicas já consagradas e a recursos convencionais de mais fácil acesso e operacionalização Isso possibilitou a inferência de que há uma lacuna entre précondições de leitura e modos de atuação da escola a qual permanece em aberto No que tange à adequação dos textos selecionados pelo professor e os processos de abordagem textual como requisitos básicos para o ensino eficaz de literatura na escola foi constatado que a seleção dos livros a serem lidos pela criança e o jovem centrase na literatura modera erudita seja destinada à infância ou à juventude Viuse igualmente que o volume dessa seleção é pequeno uma vez que suplementa ou complementa o livro didático Um dado animador é que a preferência recai sobre autores da modernidade ou contemporâneos e que se busca a regionalização das obras o que aproxima o livro escolhido de seu leitor incipiente Por outro lado os métodos de abordagem textual parecem nem sequer entrar no âmbito das preocupações do professor Comprovouse que ainda se recorre a fórmulas prontas voltadas para a gramática para a redação e para a interpretação reprodutiva não levando em conta nem às précondições do aluno nem à natureza do próprio texto a ser trabalhado Entre os critérios referentes às estratégias de ensino nenhum professor ao adotar o livro didático revelou preocupação com a orientação de teoria literária dos exercícios ou técnicas de abordagem dos textos o que também não transparece nas respostas relacionadas com os procedimentos didáticos O esvaziamento do ensino de literatura se acentua portanto não só pelo pequeno domínio do conhecimento literário do professor mas também pela falta de uma proposta metodológica que o embase Outra pesquisa do Centro de Pesquisas Literárias da PUCRS realizada nas diretrizes dos Estados da União e concluída em 1985 revela um dado alarmante apenas o Rio Grande do Sul e mesmo assim num currículo por ora em testagem define uma linha metodológica clara o método científico Tendo em vista que essas diretrizes norteiam o processo ensinoaprendizagem determinando planejamentos educacionais e prestações de contas correlativas podese inferir que a atuação do professor em sala de aula peca pela falta de orientação metódica o que explicaria boa parte dos problemas dos alunos na área A análise da situação de leitura nas diretrizes oficiais Aguiar 1983 33 permite algumas considerações sobre os fins da educação e o tipo de homem que o ensino público pretende formar As reflexões teóricas sobre a importância e a concepção de leitura apontam para uma dimensão crítica do ato de ler como possibilidade de crescimento individual Contudo a preocupação moralizante evidencia tendência a prender o sujeito aos padrões estabelecidos pela sociedade em vez de estimulálo ao questionamento e à reelaboração dos valores Os tipos de textos sugeridos para uso da rede oficial de ensino reforçam a voz do adulto e atendem aos objetivos de uma educação que se propõe moldar os jovens segundo os modelos dominantes através de a adaptações que empobrecem o conteúdo das obras e desviam suas finalidades originais b criação de textos pelos planejadores dos currículos cuja linguagem mostra pobreza vocabular excesso de diminutivos e precariedade de rimas Não retrata a fala infantil mas aquela que os mais velhos esperam da criança Os temas procuram despertar sentimentos de submissão como a supervalorização da escola a idolatria à família e à Pátria Alguns são de tal forma repetitivos que dão a idéia de estagnação no tempo e conseqüentemente impossibilidade de crescer como Dia da Árvore Dia da Criança Minhas Férias c orientação para que os professores reformulem os textos elaborados pelos alunos anulando o valor da expressão infantil em relação ao da adulta As sugestões metodológicas ainda podem ser questionadas quanto ao modo como tratam o texto e as atividades propostas O texto literário é neles pretexto para o estudo da gramática e se desencadeia as ações não é vinculado à experiência de vida do aluno o que afeta seu poder de mobilização para o ato de ler As sugestões de trabalho são pouco originais todas propõem os mesmos tipos de atividades e exercícios que se fecham nos limites da escola sem intercâmbio com a comunidade o que torna as aulas estantes e desvinculadas do real Tal situação se acentua pelo desprestígio em que se encontra o livro nesses documentos Há falta de articulação entre os objetivos educacionais definidos e as práticas sugeridas Não se oferecem livros embora se queira desenvolver o gosto pela leitura Raríssimas são as recomendações de leitura o que significa que essas diretrizes enfatizam processos vazios fechados em si mesmos em detrimento do conteúdo que lhes deveria servir de suporte formado por um repertório de obras adequadas à realidade social do estudante e a seus interesses O que se depreende é que tais propostas de educação repetem o modelo de estrutura social que as alimenta na medida em que não proporcionam ao aluno os meios de participar do debate e de atuar de forma dinâmica em seu grupo As orientações curriculares ainda inalteradas que salientam a função da escola como reforço ideológico de um Estado autoritário 35 encerram um elemento crucial para a análise da situação do ensino de literatura que na prática já foi diagnosticada como deficitária É a visão formalista da experiência escolar como algo que deve ser ordenado mas cujo conteúdo precisa ser controlado a distância entre os postulados pedagógicos e o seu preenchimento concreto O discurso oficial é comumente referendado dentro da sala de aula por atitudes apassivadoras que explicam a inércia observada 32 Necessidade da metodologia de abordagem textual O modelo de aula de literatura atualmente em vigor na escola brasileira poderia ser descrito como uma sequência de atividades mais ou menos estáticas ditadas inclusive pelo próprio livro didático apresentação de um texto explicação do vocabulário exercícios de interpretação exercícios gramaticas e composição Tentativas de integração dos conteúdos literários por vezes se fazem com a área de Artes Plásticas ou Música resumidas entretanto ao preenchimento do tempo útil do aluno sem maiores vinculações com o que antes fora proposto A repetição continuada das mesmas tarefas não representa uma organicidade sistêmica do trabalho educacional Uma vez que não há um projeto que as vincule entre si através de objetivos comuns o que se observa é a fragmentação dos conhecimentos a redundância excessiva de tópicos a dispersão do processo de aprendizagem num círculo vicioso em que os mesmos conteúdos são permanentemente ensinados e nunca aprendidos Esse modelo típico de aula de literatura tem raízes na tradição escolar brasileira que remontam à pedagogia jesuítica Nas escolas coloniais e depois do Reinado mantidas pela Companhia de Jesus a literatura só ingressava como exemplo retórico de execução primorosa da língua portuguesa na Metrópole quando ao mesmo tempo trazia normas de moralidade cristã e fidelidade às autoridades constituídas Muito embora frequentemente os textos tivessem qualidade literária estavam a serviço não de si mesmos mas de uma educação cristã dos coloniais Wilson Martins afirma que quaisquer que sejam os métodos especificamente pedagógicos do ensino jesuítico não há como negar que era mentalmente conservador reacionário com relação às orientações reformistas da época e anticientífico estruturalmente estava condenado por antecipação antes a imobilizar do que a promover o desenvolvimento intelectual do Brasil 197722 Essa tradição histórica explica o tratamento dado à literatura que Marisa Lajolo denuncia observando que em situações escolares o texto costuma virar pretexto ser intermediário de aprendizagens outras que não ele mesmo E no entanto texto nenhum nasceu para ser objeto de estudo de dissecação de análise Salvo raras e modernas exceções por exemplo os textos produzidos de encomenda e sob medida para alguns livros escolares um texto costuma ser produto do trabalho individual de seu autor e encontra sua função na leitura individual de um leitor 198653 A dimensão intimista do ato de leitura esbarra com a necessidade de uma educação de massas em que o livro não é posse de cada aluno e a reunião de muitos sujeitos num mesmo espaço obriga à comunicação interpessoal transformando a leitura numa atividade coletiva que ela não é em essência A distância entre a relação leitor pessoal livro e leitor grupal livro certamente desfigura as características do ato de ler o que a escola acentua ainda mais quando pulveriza a leitura tanto no que se refere ao material literário quanto aos modos de abordagem textual A ênfase que se atribui atualmente à produção moderna é sem dúvida nenhuma positiva Contudo essa opção apresenta riscos quando se examinam os textos selecionados que advêm da imprensa crônicas reportagens artigos de jornais e revistas e de obras literárias consideradas em capítulos estrofes fragmentos etc O recorte do material de leitura bastante comum desintegrando o original é uma solução muito fácil e popularizada no ensino de massas pois permite a reprodução pouco onerosa mas atenta ao direito do aluno de conhecer a obra no seu todo Dois aspectos daí decorrem que são passíveis de objeção Em primeiro lugar o trabalho exclusivo com o texto moderno impede a visão da historicidade da literatura esvaziando formas registros linguísticos e sistemas de ideias de sua relação com o passado O ideal seria o cotejo de obras de diferentes épocas para acompanhar a evolução e mudanças de perspectiva que de certo modo também integram o significado do texto atual Em segundo lugar a utilização predominante de excertos em folhas mimeografadas ou coletados no livro didático desvirtua o universo de sentidos das obras produzindo no imaginário do alunoleitor um caos de representações desarticuladas que nem de longe correspondem ou insinuam a proposta de cada original e acabam por fazer da noção de literatura assim construída uma colcha de retalhos em que nada tem a ver com nada Ou melhor tudo tem a ver com as intenções nem sempre louváveis daquele que seleciona os textos e os recor 37 Os modos de tratamento deste material literário convergem todos paradoxalmente para a entronização do texto aliás do fragmento considerado como repositório de idéias fixas verdadeiras e indiscutíveis Essa noção de texto perfeito origina certas atitudes inflexíveis do professor que valendose de sua maior maturidade de leitura impõe interpretações tidas como as melhores e portanto incapazes de serem modificadas ou contestadas pelos alunos A socialização do texto provém de uma postura histórica de valorização da palavra escrita nas civilizações ocidentais especialmente no campo de literatura em que já antes da escrita a fala do narrador ou do poeta conservava a memória da coletividade e indagava o desconhecido revestindose de uma função ao mesmo tempo mágica e prática Os narradores e poetas primitivos já relatavam para o seu público os feitos de seus heróis a origem de suas instituições sua agricultura e seu relacionamento com o divino A criação da imprensa com Gutemberg cristalizou esse prestígio social da fala literária enquanto a destitui de seu caráter de experiência coletiva A escola encontrou no texto impresso a possibilidade de circulação ampla da ciência e da arte a razão de sua existência Investida do papel de transmissora do conhecimento seleciona como material de apoio para o ensino os textos consagrados pelas instâncias sociais que determinam a vida cultural excluindo em geral a produção popular e a intervenção do alunado na constituição do sentido textual uma vez que esse está pronto e traduz a verdade A noção de textomodelo implica a imposição de normas linguísticas estéticas e ideológicas que devem ser assimiladas pelo aluno sem discussão já que está diante de uma autoridade publicamente reconhecida a criação literária A norma estética dominante na seleção e uso da literatura pela escola é a do realismo Mesmo em fragmento a média de textos em trânsito nas salas de aula é extraída de autores do séc XIX ou dos vários neorealismos posteriores como o do romance de 30 e seus seguidores contemporâneos na literatura para adultos e na infantojuvenil que lida com histórias do cotidiano sejam urbanas ou regionalistas O lado aventuresco emocional e fantástico da estética romântica e seus pôsteros é muito menos encontrável sendo que a estética clássica deixou de ser até mencionada A norma linguística a que a utilização da literatura na escola visa é a do padrão culto Se essa atitude se ampara na tradição escolar colonial hoje se torna problemática em virtude de que mesmo as obras contemporâneas de cunho realista introduzem coloquialismos e dialetos diversificados por força da exigência de representarem fielmente os vários meios sociais Mesmo nesses casos aceitamse com maior boa vontade aquelas estruturas e vocabulário admitidos pelo falar culto Embora a literatura faça parte das instituições culturais que constituem a línguapadrão devese lembrar que é nela que esta mesma variante se modifica com maior rapidez A escola entretanto sempre detém esse curso de modificação escolhendo obras menos avançadas em seu discurso Daí a razão da literatura ser tão nacionalmente trabalhada como exemplo de regras gramaticais Nesse caso o que se aprende não é o conhecimento do texto literário mas o da gramática sendo a literatura mero instrumento de exemplificação A par de exercícios gramaticais são apresentados ao aluno questionários e temas para redação que representam as normas ideológicas que o texto ou seu recorte defendem muitas vezes porque descontextualizados Essas normas se traduzem em geral em comportamentos exemplares dos heróis na literatura infantojuvenil e na literatura para adultos pautados por valores falsificados Umberto Eco e Marisa Bonazzi arrolam uma série de tópicos falseados que analisaram em livros didáticos italianos como os pobres o trabalho o herói e a pátria a escola as raças e povos a família a ausência de Deus a educação cívica os menores que trabalham a história nacional a língua a ciência e a técnica o dinheiro a caridade e a previdência social Essa análise mostra que esses problemas são apresentados de uma maneira falsa grotesca risível Que através deles a criança é educada para uma realidade inexistente Que quando os problemas e a resposta a eles fornecida dizem respeito à vida real são colocados e resolvidos de forma a educar um pequeno escravo preparado para aceitar o abuso o sofrimento a injustiça e para ficar satisfeito com isto Enfim os livros de leitura contam mentiras educam os jovens para uma falsa realidade enchem sua cabeça com lugares comuns com coisas chãs com atitudes não críticas E o que é pior cumprem este trabalho de mistificação servindose dos mais reles clichês da pedagogia repressiva do século passado por preguiça ou incapacidade dos seus compiladores 1980 16 Osman Lins diante dos textos brasileiros reafirma essas conclusões declarando que neles pode refletirse todo o perfil de um país 1977 149 Para ele professores e autores de compêndios didáticos fogem portanto ao seu papel natural de mediadores Tornamse no nosso processo cultural ao invés de fatores de ligação uns verdadeiros tropeços A culpa não é somente deles Eles se associam a toda uma corte de homens distraídos tréfegos rapaces inseridos num quadro social propício à aventura aos empreendimentos levianos à irresponsabilidade social para não dizer ao engodo 1977 149 39 Todo o texto entretanto independente do seu grau de realização artística seja ele consagrado ou não pode ser objeto de aulas de literatura desde que seja visto na sua totalidade e que o professor esteja atento para o conjunto de normas que nele se configuram sendo capaz de discriminálas criticamente em contraste com os padrões estéticos e ideológicos de seu tempo Através de uma experiência de leitura acumulada e de posse de estratégias de ensino polemizantes pode promover um trabalho criativo de sentido coletivo encorajando os alunos a comentarem os textos do ponto de vista temático e formal e a cotejarem esses aspectos em obras de variada procedência histórica e geográfica sem submeteremse a eles como verdades definitivas O exame do que se faz e se pensa sobre o ensino da literatura hoje permite traçar algumas linhas de demarcação fundamental para uma proposta alternativa que cumpra esse papel de criatividade e inovação Percebese em primeiro lugar uma nítida preocupação com um modelo de leitura conformado pelas exigências do texto sem muito espaço para a interferência interpretativa ou recriadora do leitor Essas exigências porém têm um caráter mais extrínseco do que intrínseco Partem de fora do texto embora pareçam dele provir É o que ocorre com a ênfase observada em exercícios formalistas voltados para a identificação de elementos textuais mas sem chegar a investigar a funcionalidade destes suas interrelações e seu diálogo com o leitor como se a literatura fosse uma coisa separada dos homens uma espécie de máquina cujas peças apenas devem ser desmontadas para serem conhecidas Essa coisificação parece decorrer da insistência numa postura conservadora que entende literatura como exercício talentoso da língua e vê a está como um sistema de regras a serem memorizadas e aplicadas Verificamse portanto de um lado professores maciçamente acomodados ante o problema da leitura refazendo práticas consagradas pela tradição cultural a leitura gramatical do texto a explicação do texto pelo modelo francês que se limita a redizer o que a obra já diz o ensino pela informação sobre e não pela experiência de enquanto uma minoria dá impulso a posturas mais abertas buscando restituir ao aluno as possibilidades de que ele estabeleça o seu próprio vínculo com a matéria ficcional pesquisando sobretudo na prática soluções para vencer problemas já crônicos como a indiferença o desânimo e a falta de familiaridade com a cultura letrada Tentando unificar essa dispersão a tarefa de uma metodologia voltada para o ensino da literatura está em a partir dessa realidade cheia de contradições pensar a obra e o leitor e com base nessa interação propor meios de ação que coordenem esforços solidarizem a participação nestes e considerem o principal interessado no processo o aluno e suas necessidades enquanto leitor numa sociedade em transformação O problema nessa perspectiva se delimita na órbita da metodologia de ensino Uma vez que o professor possui metas bastante definidas quanto à necessidade de incremento do gosto pela literatura o que lhe faltaria seriam os meios para alcançálas Esses meios derivariam de uma sistematização dos procedimentos didáticos em torno de uma idéiafim quanto à educação literária do aluno ou seja da adoção de um método de ensino cujos pressupostos filosóficos se coadunassem com a concepção de alunoleitor que o professor cultiva É escusado salientar portanto a necessidade de uma metodologia que sirva de suporte para a prática escolar Essa proporcionará resultados produtivos para o aluno na medida em que delimite para si mesma uma finalidade para o ato de aprender Nesse sentido todas as etapas do processo ensinoaprendizagem estariam voltadas para os fins últimos da educação Esse princípio norteador das experiências educativas seria a espinha dorsal de um método o qual se resume em um conjunto de atividades com um nexo sistemático entre si Esse nexo seria dado pela intenção fundamental que é buscada pelas agências educativas Numa sociedade pluralista é no entrechoque de idéias e valores que se aperfeiçoam as instituições sociais Na área educacional lugar privilegiado de aprimoramento da cidadania e da personalidade é onde a maior diversidade deveria ocorrer Nela não se deveriam limitar as possibilidades de livre determinação quanto ao que faz sentido para a comunidade escolar no convívio com os livros e outros artefatos culturais Em especial quando se trata com a literatura modelo simulado de tudo o que diz respeito ao homem e suas aspirações não se pode conceber a uniformidade de posições nem quanto a conteúdos nem quanto a métodos de trabalho A metodologia precisa acolher também em seus domínios a diversidade de posturas ideológicas e a relatividade de soluções ante as instituições rapidamente mutáveis da sociedade contemporânea Cumpre que se metodize o ensino mas não apenas numa direção perseguindo um ideal absoluto de homem como tem sido a norma Com a utilização de um método adequado a cada espécie de alvo filosófico que a escola se proponha atingir garantindose decisões sólidas entre professores e alunos quanto ao que importa ensinar e aprender a circunstância histórica e social seria atendida superandose o imobilismo dos modelos idealistas tradicionais e no que concerne à literatura as atividades de leitura receberiam a ordenação e a referencialidade de que carecem para serem aceitas pelo alunado A adoção de um método de ensino para a literatura depende sobretudo do posicionamento do professor quanto ao aluno que tem à frente Se o leitor que a escola quer formar é aquele que assimila os 41 sentidos acriticamente só para acumular sensações ou informações que de nada lhe servem na vida concreta ou é aquele que não consegue se quer apreender esses sentidos por força de barreiras linguísticas e sóicioculturais não há razão para procurarse a sistematização das atividades uma vez que tais leitores são produzidos in absentia de qualquer método Se o modelo almejado é o do leitor crítico capaz de discriminar intenções e assumir atitudes ante o texto com independência a primeira providencia é sondar as necessidades dos estudantes O distanciamento entre expectativas de professores e alunos gera dispersão de esforços mesmo entre os bemintencionados os que pro pugnam por uma educação igualitária e transformadora Detectadas as précondições e interesses do grupo bem como as possibilidades de leitura oferecidas pelo meio ambiente é neste momento que a escolha e a introdução de um método pedagógico se fazem necessárias a fim de nortear todo o trabalho de classe ou extraclasse em direção aos fins que essa sondagem demonstrou serem importantes para aquele conjunto específico de alunos na sua circunstância fins esses que poderão transformarse durante o trabalho na medida em que a classe se conscientize de novas necessidades ou de novas exigências que venha a enfrentar A partir de cada método dentro de sua especificidade o professor pode organizar a situação de aprendizagem conforme as aspirações do grupo e as peculiaridades do conteúdo a ser trabalhado sem forçar nenhum dos dois pólos e sem renunciar à sua função de orientador do processo educativo A pluralidade de métodos limita o autoritarismo do sistema educacional por não depender de alvos preestabelecidos e imutáveis e pressupõe uma atuação docente flexível pois não permite a repetição rotineira de atividades ou o cumprimento passivo de um programa inalterável Por outro lado aderir a um método não representa uma camisadeforça para o ensinoaprendizagem como a idéia de sistematização poderia conotar desde que esse método estruture os procedimentos didáticos sempre a partir de expectativas efetivas e apenas assinale rotas para que tais expectativas sejam atendidas e ampliadas Alguns dos métodos a seguir delineados já circulam nos meios educacionais tais como os que visam a desenvolver o potencial criativo ou de investigação científica dos alunos Outros derivamse de teorias da literatura e da linguagem e se dirigem especificamente ao trabalho com as propriedades literárias dos textos Cada um deles preocupase em definir traços característicos de acordo com a teoria que o alicerça bem como possui metas explícitas e bem diferenciadas Não se pode negar entretanto que todos advêm de um posicinamento ideológico e filosófico comum que diz respeito à visão última le educação que neles está implícita A concepção de educação que defendem está ligada à noção de transformação sóciocultural que só se viabiliza através de um ensino eminentemente voltado para a realidade do aluno e que deseja alcançar como dividindo final uma postura crítica ante o mundo e a práxis social Toda a atividade de literatura deve em consequência dessas premissas resultar num fazer transformador numa leitura em que o aluno descobre sentidos e reelabora aquilo que ele é e o que pode ser 22 4 Análise das possíveis reações do destinatário 6 Modos de apresentação 7 Prazo para realização do projeto Elaboração do material Em pequenos grupos os alunos criam através de diferentes linguagens alternativas para encaminharem sua reivindicação obedecendo a todos os requisitos de seu projeto Suponhase que as alternativas sejam discurso cartazes painéis passeatas malhaçãodojudas pantomima Apresentadas as alternativas a turma examina a eficácia de cada uma delas descartando as menos factíveis e escolhendo as que puder levar a efeito com os recursos materiais e humanos disponíveis Nas aulas seguintes cada alternativa terá seus passos e materiais preparados Finalmente elas serão escalonadas segundo seu teor de força persuasiva e realizadas pela turma Divulgação do trabalho As diferentes mensagens elaboradas pelo grande grupo são apresentadas na ordem preestabelecida a colegas de outras turmas a professores funcionários administradores e eventualmente à comunidade na dependência da extensão do tema das reivindicações 6 MÉTODO RECEPCIONAL 61 Fundamentação teórica O método recepcional é estranho à escola brasileira em que a preocupação com o ponto de vista do leitor não é parte da tradição Via de regra os estudos literários nela tem se dedicado à exploração de textos e de sua contextualização espaçotemporal num eixo positivista O relativismo de interpretação e portanto de leitura não é tópico de consideração no âmbito acadêmico o que se explica pela tendência ao autoritarismo da própria cultura brasileira que endeusa seus expoentes temerosa de expôlos à crítica O método recepcional não se submete a essa tradição dominante uma vez que sua base teórica defende a idéia do relativismo histórico e cultural já que está fundamentalmente convicta da mutabilidade dos objetos bem como da obra literária dentro do processo histórico Fokkema Kunne Ibisch 1977 138 Se o historicismo positivista entende os fenômenos literários como determinados pelos fatos sociais numa relação de origem unilateral em que a obra é sempre conseqüência e nunca causa o conceito de historicidade da teoria recepcional é o de relação de sistemas de eventos comparados num aquieagora específico a obra é um cruzamento de apreensões que se fizeram e se fazem dela nos vários contextos históricos em que ela ocorreu e no que agora é estudada Nesse sentido discutese o próprio conceito de literatura como um sistema de sentido fechado e definitivo que ela indubitavelmente é enquanto simples objeto escrito anexandoselhe a dimensão da sua leitura como parte inerente a tal sistema o que resulta na abertura desse para relações com o mundo histórico extratexto 23 A recepção é concebida pelos teóricos alemães da Escola de Constança como uma concretização pertinente à estrutura da obra tanto no momento da sua produção como no da sua leitura que pode ser estudada esteticamente o que dá ensejo à denominação da teoria de estética da recepção A noção de concretização é derivada dos trabalhos do polonês Roman Ingarden na década de 30 e do tcheco Felix Vodička na década de 40 Para Ingarden o exame do modo de ser da obra literária descobre que ela é uma estrutura linguísticoimaginária permeada de pontos de indeterminação e de esquemas potenciais de impressões sensoriais os quais no ato de criação ou da leitura são preenchidos e atualizados transformando o que era trabalho artístico do criador em objeto estético do leitor cf Ingarden 1973 Para Vodička a obra é um signo estético dirigido ao leitor o que exige a reconstituição histórica da sensibilidade do público para entenderse como ela se concretiza A concretização nesse caso seria operada por meio de avaliações que o leitor atribui à obrasigno em sua consciência a partir de determinada norma estética vigente Por isso as concretizações de um texto se modificariam constantemente segundo a sociedade avaliasse naquele momento a obra e seus temas e procedimentos estruturais cf Vodička 1978 299300 As idéias de Ingarden e Vodička são reformuladas por teóricos posteriores que entendem o processo de concretização como interação do leitor com o texto em que este atua como pauta e tudo o que não diz ou silencio cria vazios que forçam aquele a interferir criadoramente no texto a dialogar com ele de igual para igual num ato de comunicação legítimo A maior e mais óbvia diferença entre a leitura e todas formas de interação social é o fato de que com a leitura não há a situação faceaface O leitor contudo nunca pode saber do texto o que precisas são suas apreensões sobre ele Não há quadro de referências que governe a relação textoleitor ao contrário Os códigos que poderiam reger tal interação são fragmentados no texto e primeiro precisam ser reagrupados ou na maioria dos casos reestruturados antes que se possa estabelecer qualquer quadro de referências Iser 1980 166 O quadro de referências que permite a comunicação entre dois parceiros sociais é constituído pelas indicações e perguntas que cada falante faz a seu interlocutor para assegurarse de que está controlando a fluência comunicativa Com a obra o leitor isso não é possível uma vez que a obra fornece pistas a serem seguidas pelo leitor mas deixa muitos espaços em branco em que o leitor não encontra orientação e precisa mobilizar seu imaginário para continuar o contato A atitude de interação tem como précondição o fato de que texto e leitor estão mergulhados em horizontes históricos muitas vezes distintos e defasados que precisam fundirse para que a comunicação ocorra São estes os quadros de referências antes aludidos a que Hans Robert Jauss chama de horizontes de expectativas os quais incluem todas as convenções estéticoideológicas que possibilitam a produção recepção de um texto cf 1971 747 Regina Zilberman arrola as seguintes ordens de convenção constitutivas do horizonte de espectativas através do qual o autorleitor concebem e interpretam a obra social pois o individuo ocupa uma posição na hierarquia da sociedade intelectual porque ele detém uma visão de mundo compatível na maior parte das vezes com seu lugar no espectro social mas que atinge após completar o ciclo de sua educação formal ideológica correspondente aos valores circulantes no meio de que se imbuí e dos quais não consegue fugir linguística pois emprega um certo padrão expressivo mais ou menos coincidente com a norma gramatical privilegiada o que decorre tanto de sua educação como do espaço social em que transita literário proveniente das leituras que fez de suas preferências e da oferta artística que a tradição a atualidade e os meios de comunicação incluindose aí a própria escola lhe concedem 1982103 Acrescentemse aos fatores acima os de ordem afetiva que provocam adesões ou rejeições dos demais e terseá idéia da complexidade e importância da noção de horizonte dentro da estética da recepção No ato de produçãorecepção a fusão de horizontes de expectativas se dá obrigatoriamente uma vez que as expectativas do autor se traduzem no texto e as do leitor são a ele transferidas O texto se torna o campo em que os dois horizontes podem identificarse ou estranharse Daí poderse tomar a relação entre expectativas do leitor e a obra em si como parâmetro para a avaliação estética da literatura Segundo Jauss se chamamos distância estética a diferença entre as expectativas e a forma concreta de uma obra nova que pode iniciar uma modificação de horizonte rechaçando experiências familiares ou acentuando outras latentes esta se materializa na variedade das reações do público e dos juízes da crítica êxito espontâneo desprezo provocação aprovação esporádica compreensão cada vez mais crescente ou tardia etc 197177 Portanto a valorização das obras se dá na medida em que em termos temáticos e formais elas produzem alteração ou expansão do horizonte de expectativas do leitor por oporemse às convenções conhecidas e aceitas por esse Uma obra é perene enquanto consegue continuar contribuindo para o alargamento dos horizontes de expectativas de successivas epocas A atitude receptiva se inicia com uma aproximação entre texto e leitor em que toda a historicidade de ambos vem á tona As possibilidades de diálogo com a obra dependem então do grau de identificação ou de distanciamento do leitor em relação a ela no que tange às convenções sociais e culturais a que está vinculado e à consciência que delas possui Se a obra corrobora o sistema de valores e normas do leitor o horizonte de expectativas desse permanece inalterado e sua posição psicológica é de conforto Não admira que a literatura de massas préfabricada para satisfazer a concepção que o leitor tem do mundo dentro de uma certa classe social alcance altos níveis de aceitabilidade Por outro lado obras literárias que desafiam a compreensão por se afastarem do que é esperado e admissível pelo leitor freqüentemente o repelem ao exigirem um esforço de interação demasiado conflitivo com seu sistema de referencias vitais Todavia a obra emancipatória perdura mais no tempo do que a conformadora devendo haver uma justificacão para o investimento de energias psíquicas na comunicação que estabelece com o sujeito Diante de um texto que se distancia de seu horizonte de expectativas o leitor além de responder aos desafios por mera curiosidade ante o novo precisa adotar uma postura de disponibilidade permitindo à obra que atue sobre seu esquema de expectativas através das estratégias textuais intencionadas para a veiculação de novas convenções O reconhecimento dos procedimentos textuais que atraem o leitor a um pacto com a obra difícil se dá por uma tomada de consciencia da distância entre a própria visão de mundo e a da obra que pode ser facilitada pela análise de sua composição estética ou ideológica Esse momento requer certa formação do leitor que o familiarize com as normas de produção dessa espécie de obra Ele precisa conhecer o gênero para perceber as inovações do texto individual as formas e temas de obras famosas anteriores para captar as diferenças de tratamento e a oposição entre uso poético ou prático da linguagem para entender sua repercussão sobre as representações do mundo que eles induzem A capacidade de análise aí implicada se complementa com a de comparação que para além dos limites dos textos também deve abranger as pressuposições históricas e culturais extraliterárias pois as mesmas conduzem a certos tipos de compreensão e valoração O processo de recepção se completa quando o leitor tendo comparado a obra emancipatória ou conformadora com a tradição e os elementos de sua cultura e seu tempo a inclui ou não como componente de seu horizonte de expectativas mantendoo como era ou preparandoo para novas leituras de mesma ordem para novas experiências de ruptura com os esquemas estabelecidos Quanto mais leituras o indivíduo acumula maior a propensão para a modificação de seus horizontes porque a excessiva confirmação de suas expectativas produz monotonia que a obra difícil pode quebrar A ênfase na atitude receptiva emancipadora promove a contínua reformulação das exigências do leitor quanto à literatura bem como quanto aos valores que orientam sua experência do mundo Assim sendo a atividade de leitura fundada nos pressupostos teóricos da estética de recepção deve enfatizar a chamada obra difícil uma vez que nela reside o poder de transformação de esquemas ideológicos passíveis de crítica O caráter iluminista dessa teoria que no fundo pretende investir a literatura de arte de uma forma revolucionária capaz de afetar a História insiste na qualificação dos leitores pela interação ativa com os textos e a sociedade 62 Objetivos e critérios de avaliação A aplicação da estética recepcional à pedagogia da literatura prevê a transferencia dos pressupostos teóricos já citados à prática escolar da leitura Assim como se reflete sobre o fenômeno literário sob a ótica do leitor como elemento atuante do processo o método recepcional de ensino fundase na atitude participariva do aluno em contato com os diferentes textos Partindo do horizonte de expectativas do grupo em termos de interesses literários determinados por suas vivências anteriores o professor provoca situações que propiciem o questionamento desse horizonte Tal atitude implicaria um distanciamento do estudante uma vez que revisa criticamente seu próprio comportamento redundando na ruptura do horizonte de expectativas e seu conseqüente alargamento Com o ajustamento a essa nova situação o passo seguinte é a oferta pelo professor de diferentes leituras que por se oporem às experiências anteriores problematizam o aluno incitandoo a refletir e instaurando a mudança através de um processo contínuo Como o sujeito é entendido como um ser social sua transformação implica a alteração do comportamento de todo o grupo atingindo a escola e a comunidade O sucesso do método recepcional no ensino de literatura é assegurado na medida em que seus objetivos com relação ao aluno sejam alcancados a saber 1 Efetuar leituras compreensivas e críticas 2 Ser receptivo a novos textos e a leituras de outrem 3 Questionar as leituras efetuadas em relação a seu próprio horizonte cultural 4 Transformar os próprios horizontes de expectativas bem como os do professor da escola da comunidade familiar e social O método recepcional de ensino de literatura enfatiza a comparação entre o familiar e o novo entre o próximo e o distante no tempo e no espaço Por conseguinte são sempre cotejados textos que pertencem ao arsenal de leitura do grupo com outros textos documentos de outras épocas regiões e classes sociais em diferentes níveis de estilo e abordagem temáticas variadas O processo de trabalho apoiase no debate constante em todas as suas formas oral e escrito consigo mesmo com os colegas com o professor e com os membros da comunidade A materialização desse constante fazer presentificase na produção de textos pelo estudante os quais passam a tomar parte do acervo a ser questionado Desenvolvemse assim as noções de herança e participação históricocultural O método é portanto eminentemente social ao pensar o sujeito em constante interação com os demais através do debate e ao atentar para a atuação do aluno como sujeito da História Os critérios de avaliação a serem empregados pelo professor tendo em mira os princípios que dirigem o método recepcional abrangem a dinâmica do processo e cada leitura do aluno No desenvolver dos trabalhos esse deve evidenciar capacidade de comparar e contrastar todas as atividades realizadas questionando sua própria atuação e a de seu grupo A resposta final deve ser uma leitura mais exigente que a inicial em termos estéticos e ideológicos 63 Etapas de desenvolvimento técnicas A literatura não se esgota no texto Completase no ato de leitura e o pressupõe prefigurandoo em si através de indícios do comportamento a ser assumido pelo leitor Esse porém pode submeterse ou não a tais pistas de leitura entrando em diálogo com o texto e fazendoo corresponder a seu arsenal de conhecimentos e de interesses O processo de recepção textual portanto implica a participação ativa e criativa daquele que lê sem com isso sufocarse a autonomia da obra Diferentes tipos de textos e de leitores interagem de modos imensamente variados O sujeito ao defrontarse com o texto traz consigo toda sua bagagem de experiências lingüísticas e sociais que deve mobilizar a partir das provocações e lacunas que a obra lhe propõe Por sua vez essa representa uma determinada organização de sentidos efetuada através de procedimentos de composição que restringem as possibilidades de interpretação aos recortes lingüísticos formais ou ideológicos nele executados Nessa medida por ser uma estrutura organizada de sentidos possíveis permite ao leitor uma interação direcionada na qual ele reconhece os significados que lhe são familiares ou enfrenta os desconhecidos mas com indicações que o auxiliam a aceitar ou pelo menos criticar o novo e ao mesmo tempo situar a esse em relação ao que já aceita ou passa a rejeitar O processo de recepção se inicia antes do contato do leitor com o texto O leitor possui um horizonte que o limita mas que pode transformarse continuamente abrindose Esse horizonte é o do mundo de sua vida com tudo que o povoa vivências pessoais culturais sociohistóricas e normas filosóficas religiosas estéticas jurídicas ideológicas que orientam ou explicam tais vivências Munido dessas referências o sujeito busca inserir o texto que se lhe apresenta no esquadro de seu horizonte de valores Por sua vez o texto pode confirmar ou perturbar esse horizonte em termos das expectativas do leitor que o recebe e julga por tudo o que já conhece e aceita O texto quanto mais se distancia do que o leitor espera dele por hábito mais altera os limites desse horizonte de expectativas ampliandoos Isso ocorre porque novas possibilidades de viver e de se expressar foram aceitas e acrescentadas às possibilidades de experiência do sujeito Se a obra se distancia tanto do que é familiar que se torna irreconhecível não se dá a aceitação e o horizonte permanece imóvel Depende portanto da criação ou da natureza do texto a sua integração ou não ao universo vivencial do leitor Quanto mais ele corrobora as normas circulantes na sociedade do leitor menos causa estranheza e se torna também imperceptível o que mantém o horizonte igualmente inalterado É por isso que o papel do texto no processo receptivo é fundamental Sua construção precisa incluir espaços em que a criatividade do leitor possa atuar e seja estimulada a fazêlo Nesse sentido o texto não pode fornecer uma imagem totalmente acabada do universo temático pois se o fizer barra o ingresso do leitor em si mesmo ou tiraniza de tal modo o seu receptor que não lhe deixa lugar para a interpretação Deve predispôlo pois a modificar seu horizonte trabalhando os temas contestadores com alto teor de verossimilhança e coerência Por outro lado essa tarefa de ruptura do texto não se viabiliza se não houver uma contrapartida no sujeito ou seja se ele não se dispõe a ter seu universo estável abalado de alguma forma e não percebe nesse alargamento a realização de algo desejado ou intuído A transformação do horizonte de expectativas no caso de um estudante alvo primeiro do método recepcional de ensino de literatura depende pois da operacionalização de alguns conceitos básicos receptividade disponibilidade de aceitação do novo do diferente do inusitado concretização atualização das potencialidades do texto em termos de vivência imaginativa ruptura ação ocasionada pelo distanciamento crítico de seu próprio horizonte cultural diante das propostas novas que a obra suscita questionamento revisão de usos necessidades interesses idéias comportamentos assimilação percepção e adoção de novos sentidos integrados ao universo vivencial do indivíduo O planejamento de unidades de ensino através do método recepcional deverá prever os esquemas conceituais antes discutidos Na sala de aula o primeiro passo do professor seria o de efetuar a determinação do horizonte de expectativas da classe a fim de prever estratégias de ruptura e transformação do mesmo Esse horizonte de expectativas conterá os valores prezados pelos alunos em termos de crenças modismos estilos de vida preferências quanto a trabalho e lazer preconceitos de ordem moral ou social e interesses específicos da área de leitura As características desse horizonte podem ser constatadas pelo exame das obras anteriormente lidas através de técnicas variadas tais como observação direta do comportamento pelas reações espontâneas a leituras realizadas ou através da expressão dos próprios alunos em debates discussões respostas a entrevistas e questionários papel em jogos dramatizações e outras manifestações quanto a sua experiência das obras O professor poderá ainda examinar as movimentações de títulos através de fichas da biblioteca ou das leituras espontâneas ou de comentários sobre obras em situações informais escolhas de livros em biblioteca de classe e salas de leitura histórias cuja narração é repetidamente solicitada pelas crianças poesias utilizadas em jogos e brincadeiras etc Uma vez detectadas as aspirações valores e familiaridades dos alunos com respeito à literatura a etapa seguinte consiste no atendimento do horizonte de expectativas ou seja proporcionar à classe experiências com os textos literários que satisfaçam as suas necessidades em dois sentidos Primeiro quanto ao objeto uma vez que os textos escolhidos para o trabalho em sala de aula serão aqueles que correspondem ao esperado Segundo quanto à estratégias de ensino que deverão ser organizadas a partir de procedimentos conhecidos dos alunos e de seu agrado Quanto ao material literário o professor proporá textos cujos temas eou composição sejam muito procurados ou na própria literatura ou em outros meios de expressão como televisão quadrinhos folclore espetáculos etc Na segunda alternativa o professor precisa perceber os elementos temáticos ou estruturais que atraem a atenção e o prazer de seus alunos buscando similares para os mesmos nas obras literárias de que dispõe Por exemplo se a classe aprecia espetáculos de humor pela telessão o livro a ser sugerido deve conter ou histórias humorísticas ou recursos de construção que provoquem o riso Se filmes de ficção musical estão fazendo sucesso os livros a serem trabalhados podem conter passagens em que a música jovem apareça tematizada Sobre as atividades podese propor técnicas em que a turma já evidenciou domínio e satisfação É o caso de trabalhos em grupo posteriormente apresentados ao grande grupo debates brinquedos de roda jogos competitivos excursões Evidentemente a atividade não deve ser repetitiva e sim aproveitar a forma familiar variando os passos ou finalidades A próxima etapa é a de ruptura do horizonte de expectativas pela introdução de textos e atividades de leitura que abalem as certezas e costumes dos alunos seja em termos de literatura ou de vivência cultural Essa introdução deve dar continuidade à etapa anterior através do oferecimento de textos que se assemelhem aos anteriores em um aspecto apenas o tema o tratamento a estrutura ou a linguagem Entretanto os demais recursos compositivos devem ser radicalmente diferentes de modo a que o aluno ao mesmo tempo perceba estar ingressando num campo desconhecido mas também não se sinta inseguro demais e rejeite a experiência Por exemplo se na etapa precedente o humor foi privilegiado através de cartuns de jornais depois recriados pelos alunos neste momento o novo texto cou atividade conterá um elemento humorístico mas não sob forma de cartum e sim de crônica e sobre outro tema Outra possibilidade diz respeito aos temas ampliando ou reduzindolhes a abrangência ou mantendoos e mudando o tratamento Um assunto do cotidiano pode ser transformado num de alcance social mais amplo sem perder o teor humorístico O mesmo tema antes abordado comicamente pode ser visto a sério e assim por diante O importante é que os textos dessa etapa apresentem maiores exigências aos alunos seja por discutirem a realidade desautorizando as versões socialmente vigentes seja por utilizarem técnicas compositivas mais complexas Nessa medida podemse ler parábolas como a Revolução dos bichos de G Orwel desde que antes se tenham discutido as fábulas de La Fontaine por exemplo Ou passar da Viagem à aurora do mundo de Erico Verissimo para à Máquina do tempo de Wells As experiências de leitura nesta etapa também precisam manter um vínculo com as da etapa anterior que seja garantido pelo material literário mas divergir quantos às estratégias de trabalho adotadas Estas não serão repetitivas ou desgastadas pelo uso apelando não só para o espírito crítico dos alunos mais exigindo deles participação no planejamento das mesmas A proposta deve representar sempre um desafio por caminhos não percorridos anteriormente pela turma Por exemplo se a classe jamais entrevistou pessoasfonte sobre uma obra literária essa seria uma técnica provocativa Todavia se o procedimento já foi utilizado pelos alunos não será agora empregado A seguir ocorrerá a etapa de questionamento do horizonte de expectativas decorrência da comparação entre as duas anteriores Sobre o material literário já trabalhado a classe exerce sua análise decidindo quais textos através de seus temas e construção exigiram um nivel mais alto de reflexão e diante da descoberta de seus sentidos possíveis trouxeram um grau maior de satisfação Supõese portanto que os textos de melhor realização artística tendem a ser vistos como difíceis num primeiro momento e devidamente decifrados a provocar a admiração do leitor Executada a análise comparativa das experiências de leitura a classe debaterá sobre seu próprio comportamento em relação aos textos lidos detectando os desafios enfrentados processos de superação dos obstáculos textuais tais como pesquisas empreendidas para a compreensão de técnicas de composição ou de sentidos Desse trabalho de autoexame surgir perspectives sobre aspectos que ainda oferecem dificuldades definições de preferência quanto à temática e outros elementos da literatura assim como transposições das situações narrativas ou líricas para a órbita da vida real dos jovens leitores Este é o momento de os alunos verificarem que conhecimentos escolares ou vivências pessoais em qualquer nível do religioso ao político proporcionaram a eles facilidade de entendimento do texto eou abriramlhes caminhos para atacar os problemas encontrados As técnicas para a consecuação desses intentos voltamse para toda a forma de discussão participativa seja em pequeno ou grande grupo modos de registro de constatações do fichário ao diário pessoal ou coletivo implicando a constante retomada dos textos literários ou não utilizados nas etapas anteriores e durante o questionamento em geral Resultante dessa reflexão sobre as relações entre leitura e vida é a última etapa do processo a ampliação do horizonte de expectativas Tendo percebido que as leituras feitas dizem respeito não só a uma tarefa escolar mas ao modo como veem seu mundo os alunos nessa fase tomam consciência das alterações e aquisições obtidas através da experiência com a literatura Cotejando seu horizonte inicial de expectativas com os interesses atuais verificam que suas exigências tornaramse maiores bem como sua capacidade de decifrar o que não é conhecido foi aumentada Essa tomada de consciência é uma atitude individual e grupal dos próprios alunos Devese salientar que sua verbalização acontece por iniciativa dos mesmos sem intervenção direta do professor O papel do mestre neste momento é o de provocar seus alunos e criar condições para que eles avaliem o que foi alcançado e o que resta a fazer Conscientes de suas novas possibilidades de manejo da literatura partem para a busca de novos textos que atendam a suas expectativas ampliadas em termos de temas e composição mais complexos Desse estágio em diante reiniciase todo o processo do método com a ressalva de que a etapa inicial já conta com a participação dos estudantes e portanto proporciona uma carga de motivação bem mais elevada Significa dizer que o final desta etapa é o início de uma nova aplicação do método que evolui em espiral sempre permitindo aos alunos uma postura mais consciente com relação à literatura e à vida Alguns requisitos são básicos porém para que o aluno atinja tal estágio de atuação O primeiro aspecto referese à quantidade e à qualidade de informações que o sujeito recebe o que exige do professor que esteja preparado para selecionar textos referentes à realidade do aluno e ao mesmo tempo capazes de romper com ela O segundo aponta para a importância do desenvolvimento da capacidade de refletir sobre a literatura e os fatores estruturais de seu material por parte dos alunos Dessa forma com o aprimoramento da leitura numa percepção estética e ideológica mais aguda e com a visão crítica sobre sua atuação e a de seu grupo o aluno tornase agente de aprendizagem determinando ele mesmo a continuidade do processo num constante enriquecimento cultural e social ETAPAS DO MÉTODO RECEPCIONAL 1 Determinação do horizonte de expectativas 2 Atendimento do horizonte de expectativas 3 Ruptura do horizonte de expectativas 4 Questionamento do horizonte de expectativas 5 Ampliação do horizonte de expectativas 64 Exemplos de unidades de ensino 641 CURRÍCULO POR ATIVIDADES Conteúdo Contos de fadas Material GRIMM Jacob Wilhelm Joãozinho e Mariazinha Porto Alegre Kuarup 1985 AYALA Walmir A bruxa malvada que virou borboleta Porto Alegre Mercado Aberto 1983 NUNES Lygia Bojunga Os colegas Rio de Janeiro José Olympio 1978 ROCHA Ruth Procurando firme Rio de Janeiro Nova Fronteira 1984 BAUM Frank L O mágíco de Oz Rio de Janeiro Edições de Ouro 1969 Objetivo Proporcionar à criança experiências que lhe permitam distinguir diferentes formas de organização dos contos de fadas tradicionais e modernos Procedimentos didáticos Determinação do horizonte de expectativas O professor observa os comportamentos espontâneos da turma em seus contatos com livros na biblioteca acompanha a retirada de textos das estantes ou os empréstimos circula entre grupos de leitores e verifica os títulos que estão sendo lidos fica atento a comentários dos alunos quando escolhem textos ou os recomendam aos colegas ouve opiniões emitidas durante a leitura das obras Através desse processo percebe que os interesses dos alunos se voltam principalmente para o conto de fadas Lendo os livros mais comentados ou escolhidos descobre que a maioria das crianças opta por histórias em que aparecem personagens fantásticos tais como fadas anões duendes gigantes etc que convivem com personagens humanos e animais falantes Preferem histórias em que o herói é posto à prova e combate um adversário aterrorizante vencendoo por meios mágicos ou pela astúcia Sua vitória é entendida como solução para um problema essencialmente humano de adaptação à realidade Atendimento do horizonte de expectativas A partir dos interesses demonstrados pelas crianças o professor organiza uma exposição de contos de fadas tradicionais na sala de aula utilizando todos os recursos usuais em exposições de livros estantes cartazes de anúncio faixas indicativas catálogo mimeografado quando se tratar de alunos já alfabetizados Os estudantes são convidados a uma visita orientada em que o professor faz às vezes de guia mostrando e comentando os livros expostos Na oportunidade as crianças manuseiam os livros identificam os já conhecidos atentam para os títulos e ilustrações lêem fragmentos das obras No final da visita o professor pede que o grupo eleja o livro de que mais gostou para ser trabalhado em aula Hipoteticamente o livro escolhido é Joãozinho e Mariazinha dos irmãos Grimm No encontro seguinte o professor lê o texto eleito de forma expressiva propiciando a participação dos alunos que comentam o fato narrado e as ilustrações e adiantam o desenvolvimento do enredo O professor pode provocar a participação através de perguntas enquanto lê mostrando as ilustrações eou fazendo pausas que permitam a interpretação das crianças Convém criarse uma atmosfera de igualdade entre o que lê e os que ouvem de modo a gerar o envolvimento emocional que suscita o prazer necessário ao atendimento do interesse manifestado Caso as crianças assim o desejem a atividade com o texto pode prolongarse em outros encontros sob outra forma de trabalho que apreciem Uma sugestão possível é a de dramatizar o texto desde que esse tipo de procedimento já tenha sido utilizado anteriormente e seja do agrado da turma O planejamento de dramatização dependerá das experiências anteriores Por exemplo alguns alunos se oferecem como voluntários para assumir o papel das personagens Os demais preferem apenas assistir Todos juntos decidem a disposição do espaço em que as cenas irão ocorrer fazendo de conta que veem os cenários e sua mudança Os atores voluntários decoram sua falas com a ajuda dos colegas que decidem junto com o professor a marcação dos movimentos no espaço fingido O encontro seguinte é destinado à representação Para essa ocasião a sala é arrumada dividindose a plateia em que ficarão as cadeiras dos assistentes e um espaço livre para o palco imaginário com os objetos que os alunos tiverem escolhido como representação do cenário No momento combinado iniciase a representação desempenhando cada um a função que lhe coube de ator ou espectador Ruptura do horizonte de expectativas O professor noutro encontro promove um debate sobre a peça em que se discutam questões relativas ao conteúdo da história representada o comportamento de João e Maria em casa e na floresta as intenções e ações da bruxa as soluções encontradas pelos heróis O debate pode continuar com a manifestação das crianças sobre suas impressões diante das situações narrativas como se sentiram durante as cenas em que João e Maria estavam perdidos na floresta o que fariam no lugar deles com a bruxa que sentimentos essa lhes despertou o que mais os impressionou na história Supondose que os episódios mais comentados tenham sido aqueles que se referem ao conflito crianças X bruxa e que a personagem mais empolgante tenha sido a bruxa o professor sugere a leitura de outra história de fadas em que a bruxa tenha papel relevante A bruxa malvada que virou borboleta Se se tratar de crianças pequenas o professor lê expressivamente o texto buscando a participação dos ouvintes como na etapa anterior Se as crianças forem maiores pode iniciar a leitura em aula e interrompêla quando os heróis enganam a mãe de Poti e entram na floresta deixando o restante para leitura extraclasse É combinado um prazo para que os alunos leiam o qual permita o uso dos exemplares de cuja existência o professor devese certificar antes na biblioteca escolar Lida a história o professor sugere a montagem de uma salaambiente convidando os alunos a desenvolverem esta técnica de trabalho 1 Definem quantos espaços existem no texto 2 Descrevem cada espaço e arrolam os elementos que o identificam 3 Dividem a sala entre os espaços caracterizados rio floresta gruta subterrânea etc 4 Juntam ou elaboram os elementos que foram escolhidos como caracterizadores tais como espelho significando água galhos secos e papel verde recortado em forma de folhas papel pardo pintado e amassado formando uma gruta etc 5 Listam as personagens e suas características físicas 6 Elaboram bonecos de papelcartão em tamanho grande com base de apoio tendo pelo menos um desenho caracterizador da personagem representada as penas de Poti o chapéu do Saci etc 7 Colocam cada personagem no seu ambiente inicial Montada a sala o professor indaga o que os alunos desejam fazer com ela se querem mostrála a outras pessoas ou preferem brincar com as personagens dentro dela Seja como for o uso da sala implicará que os alunos recontem a história na ordem que lhes aprouver carregando os bonecos das personagens ou achando outra solução para o deslocamento desses aos diferentes espaços Questionamento do horizonte de expectativas Desmontada a salaambiente o professor sugere uma nova atividade à classe o Jogo do igualdiferente A turma é dividida em dois grupos ficando o primeiro responsável pela história de João e Maria e o segundo pela da bruxa malvada Dentro do grupo cada aluno simboliza um elemento da sua história Por exemplo em Joãozinho e Mariazinha um aluno é a casa da bruxa outro é a floresta outro é o rio outros são as personagens etc O mesmo acontecerá com o outro grupo Armase então uma moldura de espelho no meio da sala com tiras largas de papel O jogo consiste em que cada elemento de uma história se defronte no espelho com o seu correspondente na outra história como João e Poti Maria e Saci as duas bruxas as duas florestas os dois rios etc Os reflexos dialogam entre si falando no que têm em comum e de diferente Quando uma dupla esgota o assunto outra substitui na frente do espelho Os elementos que não têm correspondente monologam sozinhos ante o marco do espelho dizendo o que são Terminada a brincadeira o professor convida as crianças a fazerem de conta que as duas histórias são dois espelhos em que os alunos podem se olhar O professor sugere que a turma convide aqueles elementos das histórias representados pela mesma criança da atividade anterior que mais a impressionaram para virem ao outro lado do espelho Provoca um debate coletivo com cada um desses elementos em que a turma do lado de cá do espelho compara as suas vivências com as do elemento refletido que repete as suas experiências na história Ampliação do horizonte de expectativas Para o encontro subsequente os alunos ficam encarregados de trazer de casa um espelho Em aula o professor propõe que cada um se olhe no seu espelho e pense no que está vendo e no que o espelho não mostra de si mesmo respondendo a pergunta Como eu sou por fora e por dentro Eles podem guardar as respostas para si ou manifestálas como quiserem desenhando escrevendo se for o caso de crianças bem alfabetizadas falando etc A seguir o professor pede que escondam os espelhos e lembra que o espelho pode não ser apenas o objeto concreto que os refletiu mas que cada um pode se ver em outros objetos ou pessoas Pede exemplos desses objetos entre os quais surgirá o livro porque já foi anteriormente usado com esse fim O passo seguinte é procurar livros que sejam espelhos para os alunos O professor traz para a sala de aula textos cuja estrutura mantenha relação com o conto de fadas mas que modifiquem os sentidos antes trabalhados Por exemplo Os colegas Procurando firme e O mágico de Oz Mostrando os livros ele faz uma descrição sucinta do assunto de cada um e os entrega às crianças para leitura em pequenos círculos em caso de crianças analfabetas pode convidar um aluno mais adiantado para ler o texto aos menores Os livros circulam entre os grupos de leitura sendo discutidos enquanto proporcionam um espelho para os leitores A seguir escolhese o texto que melhor reflete toda a turma para ser o seu espelho A atividade tem prosseguimento a partir desse texto 642 CURRÍCULO POR ÁREAS Conteúdo Histórias policiais e literatura social Material MARINHO SILVA João Carlos O gênio do crime Rio de Janeiro Ediouro sd MARIGNY Carlos de Lando das ruas 8 ed São Paulo Brasiliense 1986 CAPARELLI Sérgio Quebraquebra 2 ed Porto Alegre L PM 1982 QUINTELA Ary Cão vivo leão morto 3 ed Belo Horizonte Comunicação 1980 REY Marcos Bemvidos ao Rio São Paulo Ática 1986 Objetivo Proporcionar à criança contato com textos que representem problemas sociais relacionados com a marginalidade no Brasil Procedimentos didáticos Determinação do horizonte de expectativas O professor traz para a sala de aula uma quantidade grande de jornais da semana e os distribui entre os alunos Propõe uma sessão de leitura livre em que cada um pode escolher o jornal e a matéria que deseja ler Enquanto os estudantes lêem o professor circula entre eles observando os assuntos escolhidos para leitura bem como os comentários e as reações dos leitores durante o desenvolvimento da atividade Terminada a leitura o professor promove um debate informal sobre os temas lidos e suas implicações Desse debate extraise o assunto que apaixonou a classe inteira e que será motivo das próximas aulas de literatura Supondose que o noticiário policial tenha atraído maior número de leitores e de opiniões contrastantes o professor sugere que os alunos levantem das notícias lidas os elementos que mais os tocaram Poderão aparecer as figuras envolvidas nos episódios policiais os crimes propriamente ditos a atuação dos investigadores as motivações as características dos locais dos crimes o papel da Justiça os estereótipos do marginal e da polícia etc Atendimento do horizonte de expectativas Para atender aos interesses dos alunos por histórias de crime o professor propõe a leitura em horário extraclasse do livro O gênio do crime A partir da capa da obra tece comentários sobre a trama e as personagens centrais despertando a curiosidade dos alunos sem revelar as pistas e a solução do mistério Numa data previamente combinada com a turma efetuase uma atividade de interrogatório assim desenvolvido a turma se divide em dois grandes grupos ficando o primeiro encarregado de ler a história e preparar questões inusitadas para o segundo grupo responder Esse lê também a história e prevê as perguntas e possíveis respostas que lhe caberá dar O interrogatório pode ser desenvolvido como simples questionário ou como jogo competitivo em que o grupo vencedor será o mais hábil em resolver a sua tarefa deixando o outro em situação difícil É importante que os alunos decidam a forma e o teor do interrogatório a fim de que se sintam participantes ativos na análise do texto e se divirtam com o trabalho Ruptura do horizonte de expectativas Como a atividade de interrogatório revelará um conjunto de elementos textuais que atraíram os leitores com evidente predominância esse será o meio de efetuar a transição para uma literatura de ordem mais exigente Por exemplo percebeuse que quanto a O gênio do crime as questões giraram em torno da figura do heróicriança e das soluções que encontrou para o problema com que se defrontou Em face disso o professor propõe a leitura de Lando das ruas onde o herói também é criança e vive uma experiência traumática semelhante à de Bolão Tal leitura é feita em casa Num prazo marcado segundo orientação do professor a turma se divide em quatro grupos cada um encarregado de contar por escrito a história de uma das cenas das personagens centrais ou seja Lando Boibava Márcio Façanha e Cabeça de Passarinho A vida de cada personagem deverá ser narrada de forma a servir posteriormente de roteiro para uma história em quadrinhos a ser elaborada pelos colegas dos outros grupos Assim sendo deve conter todos os indicadores de espaço sequência de ações tempo e caracterização das personagens bem como falas Cada história incluirá as ações que pertencem à personagem no livro permitindose que na vida de uma apareçam ações da vida de outras desde que essas sejam comuns Concluída a tarefa cada grupo lê em voz alta o seu texto e o restante da turma avalia se a história corresponde à do livro Aprovadas as versões essas são trocadas entre os grupos que as quadrinizam Portanto um grupo vai transformar em quadrinhos a história elaborada por outro grupo obedecendo todas as indicações do texto desse Em tiras largas de papel pardo os integrantes do grupo dividem a história nas ações que a compõem uma para cada quadro Desenham os quadros com pincel atômico e neles as personagens agindo e revelando os traços que as caracterizam Por fim executam o cenário de cada ação e colocam as falas de cada personagem nos balões de praxe Ao final da atividade as tiras são pregadas com fita colante na parede da sala de aula e a turma comenta a sua propriedade em relação ao texto original de Carlos de Marigny Questionamento do horizonte de expectativas Na etapa seguinte do trabalho o professor relembra a atividade inicial de exame do noticiário policial e indaga dos alunos se não gostariam de aprender a fazer uma reportagem como aquelas apoiandose em entrevistas com os heróis das histórias lidas Para isso é elaborado um roteiro de entrevista pelos alunos contendo as perguntas que lhes interesssem Podem estas por exemplo abordar os seguintes tópicos 1 O que o herói passou 2 Quais as condições pessoais com que contava para resolver a situação 3 Como resolveu seus problemas 4 Com que ajuda contou para resolver seu problema 5 Como se sentiu diante de seu agressor 6 O que sentiu quando enfrentou a situação difícil e depois que a resolveu De posse do roteiro organizado os alunos dividemse em dois grupos e cada um entrevista a personagem central de um dos livros consultando o texto e anotando as passagens que respondem às perguntas Com base nessa entrevista cada grupo valendose de alguma das reportagens policiais lidas como modelo escreve a sua reportagem tendo como foco a participação do herói no crime X Essa reportagem será mimeografada pelos alunos e distribuída à classe toda Como atividade culminante se fará um comentário coletivo sobre as duas reportagens que serão lidas pela turma inteira Esse comentário deverá incidir sobre as diferenças entre a situação dos dois heróis observandose as desvantagens e vantagens de um em relação ao outro Ampliação do horizonte de expectativas A discussão anterior possivelmente levou à constatação de que a diferença básica entre os problemas e comportamentos dos heróis das duas histórias está relacionada à posição social de ambos De posse desses dados o professor prepara para a aula seguinte dois cartazes cada um com uma dessas questões 1 Como a sociedade determina o comportamento das pessoas 2 Que outros problemas sociais afetam o comportamento das pessoas Os cartazes são afixados na parede para serem lidos pelos alunos Diante da estranheza desses em face do estímulo o professor os incentiva a relacionar as questões propostas com todo o conteúdo desenvolvido nas aulas anteriores de literatura e com outros livros que tratem de assunto de cunho social A discussão permitirá que os alunos eou o professor indiquem novos textos a serem lidos tais como Quebraquebra Cão vivo leão morto e Bemvindos ao Rio É estipulado um prazo para a leitura dos livros indicados No dia marcado os leitores de cada um dos textos defendem como numa plataforma política as dimensões sociais do livro que leram aconselhandoo aos colegas para o trabalho em classe Seguese a eleição por via direta e maioria simples do título que será estudado dali por diante retomandose todas as etapas do método em questão 643 CURRÍCULO POR DISCIPLINAS Conteúdo Poesia lírica amorosa Material MORAES Vinícius de Antologia poética São Paulo Circulo do Livro 1986 CRUZ E SOUZA Poemas completos Rio de Janeiro Ediouro sd CAMÕES Luís de Lírica São Paulo Cultrix 1963 GOLDSTEIN Norma Versos sons e ritmos São Paulo Ática 1985 PIGNATARI Décio Comunicação poética 3 ed São Paulo Moraes 1981 Objetivo Proporcionar aos alunos experiências de leitura de poemas líricos de diferentes períodos literários explorando a relação somsentido Procedimentos didáticos Determinação do horizonte de expectativas O professor tendo surpreendido leituras e conversas clandestinas sobre relações amorosas na sua classe conta aos alunos como as informações sobre a vida amorosa circulavam às escondidas no seu tempo de adolescente através de questionários secretos Traz um exemplar dessa época e entregao aos alunos para que o leiam Pergunta como a turma costuma trocar esse tipo de informação e diante das respostas sugere a elaboração de um questionário semelhante mas atualizado que seria respondido anonimamente por todos os alunos As questões podem ser da seguinte ordem 1 O que é para você um amigo verdadeiro 2 Como foi seu primeiro encontro 3 Qual a música que lhe traz mais recordações 4 Que pensa do amor 5 Qual seu tipo de ideal 6 O que você mais detesta num homem mulher 7 Qual a palavra que lhe traz melhores lembranças 8 Como foi seu primeiro amor 9 Você já sofreu de amor 10 Qual a sensação de seu primeiro beijo e assim por diante Escrito o questionário num caderno de folhas grandes com uma pergunta em cada folha e todas as linhas numeradas esse circula entre os alunos que devem responder sempre no mesmo número e com absoluta sinceridade Quando todos tiverem respondido ao questionário esse é lido em voz alta por alguns dos alunos pergunta a pergunta O conjunto de informações sobre a vida amorosa da turma é comentado espontaneamente por aqueles que estiverem interessados definindose assim os temas que provocam maior envolvimento junto à maioria dos alunos quanto à questão do amor Atendimento do horizonte de expectativas O conjunto de interesses amorosos detectados pelos procedimentos anteriores sugere como tema a fugacidade do amor a beleza do ser amado o temor da traição a sensualidade e o desejo de sinceridade Para atender tais preferências o professor traz para a sala de aula um disco Vinícius e Toquinho de Vinícius de Moraes Tocao e pede que os alunos extraiam as letras das canções que mais lhes agradam Do disco são feitas tantas audições quantas sejam necessárias para que todos transcrevam suas letras preferidas No encontro seguinte o professor traz mimeografados os poemas na sua versão em livro v Bibliografia Propõe uma comparação entre o texto do livro aquele que foi copiado pelo aluno e ambos em relação à canção do disco Essa comparação atentarà para a disposição dos versos seus limites a composição das estrofes e a sensação que o texto escrito e o musicado despertaram no ouvinte leitor Esse exercício comparativo será efetuado oralmente em grande grupo e de forma coletiva tendo todos oportunidade de expressar sua opinião descobertas e sentimentos Ruptura do horizonte de expectativas Diante dos resultados alcançados na etapa anterior o professor sugere a leitura de textos poéticos de outros autores mais distantes no tempo mas que tratam também de temas amorosos Lê exemplos de poemas de poetas românticos como Castro Alves Álvares de Azevedo Gonçalves Dias Fagundes Varela poetas parnasianos como Olavo Bilac Raimundo Correia Machado de Assis ou poetas simbolistas como Cruz e Souza Alphosus de Guimaraens e outros Os alunos ouvem os poemas manifestandose com relação ao modo como são feitos os versos e quanto à sonoridade dos mesmos com base na experiência anterior Entre esses poetas mais antigos o grupo escolhe um para ser trabalhado em aula Supondose que a escolha tenha recaído sobre Cruz e Souza cabe aos alunos providenciar uma antologia dos poemas amorosos daquele autor através de pesquisa na biblioteca escolar Essa antologia será convertida no material literário a ser usado para análise em classe Os alunos podem apresentála graficamente e a reproduzirem conforme o desejarem por mimeógrafo xerox manuscrito etc Cada integrante da classe deve possuir a sua Noutro encontro o professor solicita que cada estudante leia a sua antologia escolha dela o poema que mais o toca buscando descobrir a sonoridade dos versos Poderá se quiser tamborilar segundo a cadência rítmica ou cantarolar de acordo com as entonações melódicas do poema A tarefa seguinte será a de descobrir a composição fônica e rítmica dos poemas Para isso deverá o aluno pesquisar em livros de versificação tais como o de Norma Goldstein ou de Décio Pignatari Sempre que tiver dúvidas fará a pergunta em voz alta para que o professor a resolva e os outros colegas possam se beneficiar da informação Efetuada essa análise o professor propõe que cada um crie um poema utilizandose dos recursos sonoros percebidos no seu texto e mesmo aproveitando versos desse Os poemas inventados são postos em circulação na sala de aula e os colegas anotam os versos que mais lhes chamam a atenção junto com o nome de seu autor Cada aluno retoma o seu poema e o coteja então com o original de Cruz e Souza que lhe serviu de base anotando as mudanças de sentido ocorridas Essas anotações são entregues ao professor de modo que esse possa verificar a aprendizagem da descrição dos elementos sonoros do poema e a reinterpretação do aluno Questionamento do horizonte de expectativas Em outro encontro o professor solicita que a turma se divida em grupos espontâneos Lembrando a atividade anterior pede que cada grupo escolha um elemento sonoro ou rítmico dentre os já pesquisados que considere importante na composição dos poemas já examinados em classe Esse elemento pode ser rima metro acento aliteração assonância anáfora paralelismo pausa etc Os integrantes do grupo selecionam um poema de Vinícius de Moraes e outro de Cruz e Souza e analisam o comportamento do componente sonoro eou rítmico em ambos prestando atenção às similaridades e diferenças Discutem a seguir os efeitos de sentido provocados pelo comportamento verificado Os resultados do trabalho de cada grupo são apresentados de acordo com a técnica de painel Esse painel é constituído por um representante de cada grupo que fala por tempo limitado sobre as conclusões de seus colegas A plateia após as apresentações debate com os painelistas concordando ou não com as interpretações dos grupos e tentando perceber qual dos dois autores trabalha mais eficazmente com o elemento escolhido na representação do tema amoroso Essa atividade permite que os estudantes avaliem os recursos estéticos dos dois autores na área da sonoridade sem incidir num exercício formalista porque recuperam o sentido através dos procedimentos linguísticos No encontro seguinte o professor propõe um debate coletivo sobre o tema abordado nas aulas anteriores ou seja o amor segundo a opinião dos alunos expressa no questionário e segundo os poemas de Vinícius de Moraes e dos poetas românticos parnasianos e simbolistas em especial Cruz e Souza Nesse debate é salientada a necessidade de os participantes exporem sua posição pessoal quanto a todo esse material significativo Ampliação do horizonte de expectativas Do debate anterior pode ter surgido a necessidade de dar prosseguimento ao assunto Por exemplo a turma pode sentirse insatisfeita com o conteúdo informativo sobre a experiência amorosa a que chegou no debate O professor propõe em vista disso que se busque uma definição de amor mais abrangente Sugere a lírica amorosa de Camões Os alunos consultam a obra na biblioteca da escola ou da comunidade e selecionam os poemas que melhor definem o sentimento amoroso Esses poemas são trazidos para a sala de aula e distribuídos entre os grupos anteriores Cada grupo fica responsável pela gravação de um número igual de poemas em fitas cassetes O professor sugere que além da leitura expressiva com fundo sonoro os alunos utilizem recursos variados para marcar o ritmo e a melodia dos poemas tais como bater em copos de vidro sacudir ou percutir saquinhos ou de plástico ou de pedras bater palmas lápis ou régua assobiar tamborilar em caixa de fósforos ou outro objeto de percussão soprar em pente estalar os dedos etc Após a gravação dos poemas num encontro posterior todos se reúnem para ouvir os resultados do trabalho manifestando sua opinião sobre os mesmos e atentando para o sentido que os poemas expressam com o fundo sonoro criado O poema que receber maior número de opiniões favoráveis dará sequência à retomada do método 7 MÉTODO COMUNICACIONAL 71 Fundamentação teórica A moderna preocupação com as questões relacionadas com a linguagem tem originado uma ênfase característica aos aspectos linguísticos das manifestações humanas em geral Afinal a linguagem é uma constituinte da cultura mas no conjunto dos fenômenos culturais funciona como sua substrutura Jakobson 1969a 123 Adquirindo foros de modelo de organização dos relacionamentos do homem com o mundo a linguagem tem sido um dos objetos de estudo mais constante e minucioso neste século Dela têm se ocupado não só linguístas mas também filósofos e antropólogos Essa tendência à valorização da linguagem também se refletiu no sistema educacional brasileiro por ocasião da Reforma de 1971 O ensino de língua e literatura foi então direcionado para as formas mais amplas e genéricas da Comunicação e Expressão Entretanto o que se observou foi uma assimilação apenas aparente das proposições da linguística contemporânea com a utilização dos esquemas do ato comunicativo em toda sorte de livros didáticos Não se aproveitaram portanto as efetivas contribuições das investigações lingüísticas e semiológicas para o ensino que continuou a se fazer pelas vias gramaticais tradicionais O método comunicacional pretende resgatar o sentido amplo do entendimento da linguagem como molde e descrição do fazer e do pensar humanos deixando em aberto a discussão do lugar prioritário que lhe tem sido conferido como forma de conhecimento e de praxis Importa mais aqui aqueles aspectos das teorias lingüísticas que explicam as trocas comunicativas e dão conta da natureza do fenômeno literário Essas trocas sejam verbais ou não funcionam como um

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