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Fisiologia Vegetal
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UFAL
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SAÚDE MENTAL\nNA ESCOLA\nO QUE OS EDUCADORES DEVEM SABER\n\ngustavo m. ESTANISLAU\nrodrigo affonseca BRESSAN\nORGANIZADORES\n\n2014 Translados do espectro autista\nDaniela Bordini\nAna Rita Bruni\n\nUm caso de autismo\nSou professora do 1º ano de uma escola municipal e tenho um\naluno que me parece muito diferente. Ele passa a maior parte do\ntempo isolado, não se interessa por conversar nem brincar com as outras\ncrianças. Quando o chamo pelo nome, ele não olha, não responde, parece surdo.\nNas aulas, fica avoado, não se concentra na explicação do conteúdo, passa a maior\nparte do tempo rodando um lápis bem próximo aos olhos e se balançando para frente e\npara trás. Estou muito preocupada, pois não sei como agir com ele em sala de aula\ne como vou alfabetizá-lo. Já conversei com os pais sobre esses comportamentos,\nmas eles têm dificuldade de enxergar o que eu enxergo. Cobram avanços na parte\npedagógica e atenção individualizada, mas tenho me sentido muito desamparada quanto\naos recursos que devo usar com ele. Não conto com mais ninguém para me ajudar em\numa sala com 20 crianças da mesma idade.\n\nO QUE SÃO OS TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA?\nOs transtornos do espectro autista (TEAs) são transtornos complexos, de in-\nfância precoce (antes dos 3 anos), que se mantêm ao longo da vida e que fre-\nquentemente ocasionam muitos prejuízos ao portador e aos familiares. Até\npouco tempo, os TEAs eram chamados de transtornos globais (ou invasivos)\ndo desenvolvimento (TGD’s).\n\nPor terem início na infância, é importantíssimo que sejam conhecidos no\ntambiente escolar. Lá, a convivência entre crianças da mesma idade favorece\na observação de comportamentos que estejam fora do esperado para uma de-\nterminada faixa etária. Por isso, educadores são parceiros fundamentais do\npais na identificação precoce de comportamentos de risco, no auxílio ao en-\ncaminhamento para avaliação e durante o processo terapêutico. 220\nEstanislau & Bressan (orgs.)\n\nO QUE É O AUTISMO?\nAutismo é uma condição que reflete alterações no neurodesenvolvimento de\numa pessoa, determinando quadros muito distintos, que têm em comum um\ngrande prejuízo na sociabilidade. O autismo é considerado uma síndrome\nneuropsiquiátrica, pois é caracterizado por um conjunto de sinais clínicos,\nnem sempre provocados por uma causa comum.\n\nDe maneira esquemática, os TEAs podem afetar as esferas illustradas na\nFigura 16.1.\n\nPor muito tempo, o autismo foi considerado uma forma precoce de esquizofrenia.\nAtualmente, os dois diagnósticos são considerados distintos, sendo que um dos\ngrandes diferenciais entre eles é que a esquizofrenia não costuma ocorrer tão\necou da vida da pessoa.\n\nO QUE É ESPECTRO AUTISTA?\nEspectro autista é um conceito que facilita a compreensão de que o autis-\nmo é uma condição muito variável de um caso para outro. Ele propõe que\no transtorno seja relacionado a uma linha de dificuldades e competências,\ncompreendendo desde quadros mais graves, com maior dependência de ou-\tras pessoas (autismo de baixo funcionamento), até quadros mais leves, com\nSociabilidade\n\nComunicação\n\nTEA\n\nSintomas associados\n\nComportamentos repetitivos\n\n> Figura 16.1 Esferas afetadas pelos TEAs. Qual a frequência dos TEAs?\n\nRecentemente, devido ao maior conhecimento científico na área (que levou à identificação de casos mais leves) e à difusão de informações sobre autismo na mídia, o que se percebe é que houve um aumento importante na identificação de TEAs. Isso não significa, necessariamente, que o número de casos de autismo tenha aumentado ao longo do tempo na população, e sim que eles passaram a ser mais bem identificados.\n\nEm relação à distribuição entre os sexos, os quadros de TEAs são nitidamente mais frequentes em meninos, em uma proporção de 4 ou 5 meninos para 1 menina. Quando observam cores meninos, em geral são mais graves, pois também são mais com deficiência intelectual.\n\nOutros aspectos, como raça ou classe social, parecem não influenciar a ocorrência de casos de autismo. COMO OS TEAs SE APRESENTAM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES?\n\nComo vimos, os TEAs são muito variáveis e complexos, por vezes muito difíceis de identificar. Há crianças que não falam, que são muito isoladas, com muitos comportamentos repetitivos e quanto superficial. Essas crianças apresentam o quadro mais clássico, mas reconhecido pelos profissionais da saúde e da educação e geralmente são diagnosticadas mais cedo. Porém, há também crianças com apresentações bem mais sutis e sintomas mais \"leves\"; estas costumam ser diagnosticadas e iniciar tratamento mais tarde.\n\nEmbora os quadros possam ser bastante diferentes, são classificados igualmente como TEAs por apresentarem características centrais a essa condição. Tais características são relacionadas com:\n\nProblemas de sociabilidade: pouca interação ou interesse por pessoas da mesma idade, podendo se relacionar melhor com adultos. Geralmente, evita participar de atividades de dupla ou grupo, não demonstrando iniciativa no contato com os demais nem compartilhando prazer ou interesses; portanto, têm dificuldades em fazer amizades. Frequentemente, essas crianças são vítimas de brincadeiras e bullying, o que acaba piorando a interação com os colegas.\n\nProblemas na comunicação: essa esfera é muito variável, pois as crianças podem tanto atrasar bastante como nunca adquirir a linguagem verbal, assim como podem falar de modo \"estranho\", diferente. Outras alterações comuns são falar de si na terceira pessoa (p. ex., \"O José vai comer o papa\" – falando de si mesmo), apresentar vocabulário muito sofisticado para a idade, repetir muito palavras ou frases que ouviu (ecolalia), inventar palavras novas (neologismos), falar frequentemente como um personagem de televisão. Outro aspecto muito importante é o prejuízo da linguagem não verbal. Essas crianças usam menos mímicas ou gestos e não triangulam a ação com o interlocutor e o objeto de interesse (atenção compartilhada). Tais alterações na comunicação dificultam muito o contato com outras pessoas. A causa dos TEAs é complexa e depende de diversos fatores. Estudos provaram que cerca de 90% das manifestações clínicas do autismo podem ter influências genéticas. Além disso, quando uma família tem uma criança com um TEA, parece haver uma chance de 3 a 7% de recorrência do quadro em outros filhos, o que é uma possibilidade bem maior do que a da população em geral.\n\nAlém da genética, fatores ambientais, como interações no parto e durante a gestação, rubéola congênita, meningite, uso de bebidas alcoólicas, substâncias abortivas e de determinadas medicações durante a gestação, bem como idade paterna avançada, têm sido estudados no desencadeamento de casos de TEA.\n\nPortanto, a interação da genética com fatores ambientais de risco e de proteção é a hipótese mais aceita para a determinação do autismo atualmente. Comportamentos e interesses restritos e estereotipados: caracterizam-se pela presença de movimentos repetitivos sem finalidade, como balançar para frente e para trás, andar na ponta dos pés, girando em torno de si mesmo, movimentar os dedos em frente aos olhos ou ficar fazendo movimentos repetitivos com objetos sem um motivo definido. A criança pode apresentar obsessão por assuntos específicos, como dinossauros, astronomia, números, bandeiras, personagens de desenhos animados, etc. Geralmente, essa predição é tão intensa que essas crianças podem demonstrar muita dificuldade de falar ou brincar de outras coisas. Elas podem ter também muito apego a rotinas, dificuldade em lidar com mudanças ou imprevistos, podendo ficar muito agitadas ou irritadas quando há mudanças nos horários, no lugar de sentar na sala, na programação das aulas, etc.\n\nComportamentos associados: pode haver alterações dos sentidos (tato, visão, audição, olfato), como hipersensibilidade auditiva (incômodo desproporcional com alguns tipos de barulho), hipersensibilidade tátil (incômodo com alguns tipos de toque ou contato físico), dificuldade em aceitar alguns tipos de alinhamento, etc. Podem ocorrer também alterações de sono (insônia, sono agitado), auto-mutilação (comportamento autolesivo), como bater a cabeça na parede, dar socos da cara, principalmente em situações de estresse e quando há dificuldades para comunicar suas necessidades e desejos), oscilações de calma e agitação, entre outros comportamentos. Tais condições não são critérios obrigatórios para o diagnóstico, embora sejam bastante frequentes.\n\nDurante a observação, a qualidade (ou seja, a maneira como a criança apresenta) e a frequência de alguns comportamentos são mais importantes do que sua simples presença ou ausência.\n\nQUAL É A TRAJETÓRIA DO AUTISMO?\n\nA trajetória dos TEAs é muito variável e depende de uma série de fatores, como diagnóstico precoce, gravidade dos sintomas, tratamento adequado, adesão ao tratamento, suporte familiar e outros problemas coexistentes (psiquiátricos ou não).\n\nCOMO É FEITO O DIAGNÓSTICO?\n\nO diagnóstico de autismo é clínico, feito por profissionais da saúde, com base na história colhida com os pais, no relato da escola e na observação da criança. Não existem, até o momento, exames capazes de identificar o autismo. Os exames de laboratório e de imagem que às vezes são solicitados só são feitos para descartar outros problemas que podem se manifestar de forma semelhante.\n\nNão existem, até o momento, exames capazes de identificar o autismo.\n\nInicialmente, os pais costumam buscar o pediatra com suspeita de surdez ou porque a criança está demandando para começar a falar. Ao perceberem a suspeita de autismo, é bastante comum que procurem outras opiniões, que podem ser médicas, religiosas ou de amigos. Buscam inconscientemente \"explicações alternativas\", como diagnósticos de transtorno obsessivo-compulsivo ou transtorno de déficit de atenção/hiperatividade.\n\nPais que recebem esse diagnóstico vivem o luto do filho que sonhavam. Podem se sentir frustrados, culpados, com raiva e com vergonha. É bastante comum que, nesse período, enfrentem dificuldades como casal, principalmente se não concordarem com o diagnóstico. Essa etapa só se encerra com a aceitação da criança, e para isso precisam de muito apoio dos que os cercam.\n\nPais \"de primeira viagem\" têm mais dificuldade em visualizar as dificuldades do filho, pois não tiveram a oportunidade de conviver com uma criança de desenvolvimento normal.\n\nO PAPEL DAS ESCALAS NO AUTISMO\n\nCom autorização dos pais, algumas escalas podem ser utilizadas como auxiliares no rastreamento de comportamentos que justifiquem uma avaliação especializada, por exemplo:\n\nModified Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT): possibilita identificar sinais precoces de autismo em crianças de 1 ano e meio até 3 anos. É de fácil aplicação.\n\nChildhood Autism Rating Scale (CARS): pode ser usada para crianças com mais de 2 anos. Auxilia na definição da gravidade do autismo e na diferenciação entre autismo e retardo mental. É rápida e fácil de aplicar.\n\nInstrumentos como estes, se utilizados com o consentimento dos pais e com sensibilização, podem contribuir naqueles casos em que os pais negam as dificuldades do filho. Há outras escalas, não mencionadas neste livro, que também podem ter muita utilidade. Para encontrá-las, visite o site da Associação de Amigos do Autista (http://www.ama.org.br/site/escalas.html).\n\nCONDIÇÕES QUE PODEM OCORRER ASSOCIADAS AO AUTISMO\n\nA condição associada mais comum nos casos de autismo é o retardo mental. Porém, estudos têm demonstrado que o número de pessoas com autismo e retardo mental é bem mais baixo do que se imaginava.\n\nMuitos casos de autismo não estão associados ao retardo mental.\n\nAlém disso, cerca de um terço das crianças com autismo apresenta problemas médicos, como epilepsia (convulsões), síndrome de Down, paralisia cerebral, esclerose tuberosa, fenilcetonúria não tratada, surdez, cegueira, entre outros.\n\nQUE ESTRATÉGIAS OS PROFESSORES PODEM USAR EM SALA DE AULA?\n\nO primeiro passo é lembrar sempre que cada aluno é diferente do outro, principalmente quando se trata de alunos com transtornos do espectro autista. Nem sempre o que funciona para um irá funcionar para outro, mesmo que ambos tenham o mesmo diagnóstico médico. O currículo precisa ser adaptado individualmente, sempre levando em consideração as áreas de potencialidades e as áreas de maior deficiência.\n\nESTRATÉGIAS BÁSICAS PARA A SALA DE AULA:\n1. Compare cada aluno apenas com ele mesmo.\n2. Não infira que o aluno não pode aprender.\n3. Utilize linguagem adequada à criança.\n4. Certifique-se de que a criança esteja prestando atenção em você antes de passar uma instrução.\n5. Monitore o desempenho do aluno constantemente.\n6. Sempre reforce positivamente os bons comportamentos e a aprendizagem adquirida. Saúde mental na escola\n\n(Continuação)\n\n7. Promova rotinas: prepare uma cartolina com os horários das atividades diárias; se possível, faça essa construção em sala de aula, com a ajuda dos alunos. Esse material deverá ficar o mais próximo possível do aluno, para orientá-lo.\n8. Evite exposição do aluno a situações em que já se sabe ou se imagina que ele terá mais dificuldades que os outros.\n9. Esteja atento ao fato de que atividades ou eventos com muito barulho podem desencadear comportamento de desorganização.\n10. Respeite o limite do aluno em relação ao tempo das atividades. Às vezes, uma simples volta no pátio ou no banheiro já é suficiente para que ele se reorganize e volte para as atividades.\n11. Estabeleça prazos curtos e atividades com número reduzido de exercícios, a fim de facilitar a execução.\n12. Utilize recursos visuais como estratégia de ensino. Porém, observe que o excesso de cartazes em sala de aula pode distrair demais.\n13. Organize o material de forma que a criança saiba o que tem de fazer.\n14. Não ofereça muito material inicialmente (poucos lápis ou tintas, para começar).\n15. Se necessário, adapte o material gráfico, por exemplo, com uso de letras de tamanho maior, somente maiúsculas, maior espaço para registro, entre outras adaptações.\n16. Faça questões sobre interesses específicos da criança para chamar a atenção dela, ajudando a incentivá-la, ensinar cores, letras e outros conteúdos.\n17. Apresente os conteúdos em ordem crescente de complexidade. Se preciso, antecipe os assuntos com a ajuda dos terapeutas ou auxiliares. Lembre-se sempre de que qualquer mudança repentina nooxidade pode causar estranheza e rigidez no comportamento. A familiaridade traz segurança.\n18. Utilize estratégias “passo a passo”.\n19. Elogie: algumas crianças não se motivam como a forma corriqueira de elogiar. talvez seja interessante tentar métodos diferentes, como adesivos ou objetos de que elas gostam (um livro ou um brinquedo, por exemplo).\n20. Ao término da atividade, demonstre claramente que uma atividade chegou ao fim o que está por vir (para onde vão e o que vão fazer).\n21. Use um termo de uma ou duas palavras significando uma orientação. Por exemplo, “enchedor” para o momento das refeições.\n22. Forneça imagens que simbolizem opções de escolha para que o aluno demonstre o que quer fazer.\n23. Facilite a linguagem conectando palavras com gestos e objetos.\n24. Auxilie a compreensão socioemocional, explicando de maneira acessível os pensamentos e sentimentos dos outros, esclarecendo piadas ou expressões do duplo sentido, etc.\n25. Forneça apoio e incentivo para a integração do aluno com as outras crianças tanto nas atividades de aprendizado como nos horários de lazer e brincadeiras.\n\n(Continua)
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Além disso, quando uma família tem uma criança com um TEA, parece haver uma chance de 3 a 7% de recorrência do quadro em outros filhos, o que é uma possibilidade bem maior do que a da população em geral.\n\nAlém da genética, fatores ambientais, como interações no parto e durante a gestação, rubéola congênita, meningite, uso de bebidas alcoólicas, substâncias abortivas e de determinadas medicações durante a gestação, bem como idade paterna avançada, têm sido estudados no desencadeamento de casos de TEA.\n\nPortanto, a interação da genética com fatores ambientais de risco e de proteção é a hipótese mais aceita para a determinação do autismo atualmente. Comportamentos e interesses restritos e estereotipados: caracterizam-se pela presença de movimentos repetitivos sem finalidade, como balançar para frente e para trás, andar na ponta dos pés, girando em torno de si mesmo, movimentar os dedos em frente aos olhos ou ficar fazendo movimentos repetitivos com objetos sem um motivo definido. 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Tais condições não são critérios obrigatórios para o diagnóstico, embora sejam bastante frequentes.\n\nDurante a observação, a qualidade (ou seja, a maneira como a criança apresenta) e a frequência de alguns comportamentos são mais importantes do que sua simples presença ou ausência.\n\nQUAL É A TRAJETÓRIA DO AUTISMO?\n\nA trajetória dos TEAs é muito variável e depende de uma série de fatores, como diagnóstico precoce, gravidade dos sintomas, tratamento adequado, adesão ao tratamento, suporte familiar e outros problemas coexistentes (psiquiátricos ou não).\n\nCOMO É FEITO O DIAGNÓSTICO?\n\nO diagnóstico de autismo é clínico, feito por profissionais da saúde, com base na história colhida com os pais, no relato da escola e na observação da criança. Não existem, até o momento, exames capazes de identificar o autismo. 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Lembre-se sempre de que qualquer mudança repentina nooxidade pode causar estranheza e rigidez no comportamento. A familiaridade traz segurança.\n18. Utilize estratégias “passo a passo”.\n19. Elogie: algumas crianças não se motivam como a forma corriqueira de elogiar. talvez seja interessante tentar métodos diferentes, como adesivos ou objetos de que elas gostam (um livro ou um brinquedo, por exemplo).\n20. Ao término da atividade, demonstre claramente que uma atividade chegou ao fim o que está por vir (para onde vão e o que vão fazer).\n21. Use um termo de uma ou duas palavras significando uma orientação. Por exemplo, “enchedor” para o momento das refeições.\n22. Forneça imagens que simbolizem opções de escolha para que o aluno demonstre o que quer fazer.\n23. Facilite a linguagem conectando palavras com gestos e objetos.\n24. Auxilie a compreensão socioemocional, explicando de maneira acessível os pensamentos e sentimentos dos outros, esclarecendo piadas ou expressões do duplo sentido, etc.\n25. Forneça apoio e incentivo para a integração do aluno com as outras crianças tanto nas atividades de aprendizado como nos horários de lazer e brincadeiras.\n\n(Continua)