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Ciências Econômicas ·

Macroeconomia 1

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TEORIA MACROECONÔMICA I São Paulo 1º semestre de 2023 PROF DR ROGÉRIO CÉSAR DE SOUZA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC SP TEORIA GERAL DO EMPREGO DO JURO E DA MOEDA JOHN MAYNARD KEYNES EDITORA SARAIVA 2012 5 A escolha das unidades I Vamos dedicar este capítulo e os três seguintes a tentar esclarecer certas dúvidas que não têm relação peculiar ou exclusiva com os problemas que constituem o objeto especial do nosso estudo Assim estes capítulos são por sua natureza UMA DIGRESSÃO que nos afastará temporariamente do nosso tema principal Estas questões são aqui estudadas porque em nenhuma outra parte foram tratadas de modo que me parecesse adequado às necessidades da minha investigação particular As três perplexidades a escolha das UNIDADES QUANTITATIVAS adequadas aos problemas do sistema econômico no seu conjunto o papel representado pelas EXPECTATIVAS na análise econômica e a definição de RENDIMENTO 6 A escolha das unidades Uma dificuldade que podese apresentar ao leitor da Teoria Geral está no entendimento das unidades de quantidade que Keynes utiliza em sua análise Para Keynes as unidades de quantidade são importantes pois à medida que a macroeconomia intenta ir além da simplificação da economia de uma mercadoria devese dar um tratamento à mensuração dos agregados econômicos assim como outros grandes economistas procuraram dar consistência aos agregados econômicos como Adam Smith teoria do comando de trabalho Ricardo e Marx teoria do valor trabalho Podemos adiantar que na TG os agregados econômicos serão mensurados de três maneiras Em termos monetários nominal money Em unidades de trabalho labour units ou quantities of employment Em unidades de salário wage units 7 A escolha das unidades II A imperfeição das unidades com que os economistas costumam trabalhar pode ser ilustrada pelos conceitos de Dividendo nacional Estoque de capital real e Nível geral de preços As dificuldades apresentadas nesses conceitos diz Keynes são encaradas como charadas No entanto tais dificuldades são puramente teóricas no sentido em que nunca desconcertam os homens de negócios nas suas tomadas de decisão nem nestas interferem de nenhuma maneira Segundo Keynes tais conceitos não só carecem de precisão como são portanto também desnecessários 8 A escolha das unidades III Keynes nos lembra que em cada situação concreta cabe ao empresário tomar decisões quanto à escala em que usará um dado equipamento de capital e quando afirmamos que a EXPECTATIVA de um acréscimo da demanda ou seja de uma ELEVAÇÃO DA FUNÇÃO DA DEMANDA AGREGADA INDUZ UM AUMENTO DA PRODUÇÃO AGREGADA o que realmente queremos dizer é que as empresas que possuem o equipamento de capital se verão incitadas a associarlhe um MAIOR VOLUME AGREGADO DE TRABALHO 9 A escolha das unidades Ou ainda Quando para efeitos de descrição ou de simples comparação queremos falar do aumento da produção temos de nos apoiar no pressuposto geral de que o volume de emprego associado a determinado equipamento de capital será um índice satisfatório do montante da produção que daí resulta supondose que ambos aumentem e diminuam simultaneamente ainda que não numa proporção numérica definida Keynes proporá utilizar apenas DUAS UNIDADES DE QUANTIDADE Quantidades de valor monetário e Quantidades de emprego As primeiras são estritamente homogêneas e quanto às segundas podemos convertêlas para que o sejam 10 A escolha das unidades Chamaremos UNIDADE DE TRABALHO à unidade em que se mede o volume de emprego e UNIDADE DE SALÁRIO ao salário nominal de uma unidade de trabalho Portanto se E representar o total dos salários e vencimentos em geral W a unidade de salário e N a quantidade de emprego E N W Esta hipótese de homogeneidade na oferta de trabalho não se altera pelo fato evidente de haver grandes diferenças nas qualificações profissionais dos diversos trabalhadores e na sua adequação para as diversas tarefas 11 A escolha das unidades Mensuração em unidades de salário ANO 2 ANO 1 15000000 10000000 Renda agregada em termos monetários Y 12 10 Salários monetários por unidade de trabalho 1250000 1000000 Renda agregada em unidades de salário Yw 12 A escolha das unidades IV A função da oferta agregada para determinada empresa e de modo semelhante para determinada indústria ou para a indústria no seu todo é dada por Zr φr Nr em que Z representa o produto deduzido o custo de uso cuja expectativa motivará um volume de emprego Nr 13 A escolha das unidades Se a relação entre emprego e produção for tal que um emprego Nr resulte numa produção Or na qual Or ψr Nr seguese que 𝒓 𝒓 𝒓 𝒓 𝒓 𝒓 𝒓 𝒓 𝒓 é a curva ordinária da oferta em que UrNr é o custo de uso esperado correspondente a um volume de emprego Nr Assim para todas as mercadorias homogêneas relativamente às quais Or ψr Nr tenha um valor definido podemos avaliar Zr φr Nr da maneira comum mas então podemos agregar as quantidades Nr de uma forma que não é possível aplicar às Or porque Or não é uma quantidade numérica Além disso se nos for permitido supor que em determinadas circunstâncias um dado emprego agregado será repartido univocamente entre as indústrias de tal modo que Nr seja função de N podemos conseguir ainda mais simplificações CAPÍTULO 5 A EXPECTATIVA COMO DETERMINANTE DO PRODUTO E DO EMPREGO 15 Expectativa determinante do produto e do emprego I Toda a produção se destina em última análise a satisfazer um consumidor Habitualmente pode passar algum tempo às vezes muito entre o momento em que o produtor incorre nos custos tendo em vista o consumidor e a compra da produção pelo consumidor final Entretanto o empresário e nesta designação incluemse tanto o produtor como o investidor tem DE FORMAR AS MELHORES EXPECTATIVAS possíveis sobre o que os consumidores estarão dispostos a lhe pagar quando após um lapso de tempo que pode ser considerável estiver em condições de lhe fornecer direta ou indiretamente e NÃO TEM OUTRA HIPÓTESE SENÃO GUIARSE POR ESSAS EXPECTATIVAS uma vez que tem de PRODUZIR POR MEIO DE PROCESSOS QUE REQUEREM TEMPO 16 Expectativa determinante do produto e do emprego Estas EXPECTATIVAS das quais dependem as decisões da atividade econômica subdividemse em dois grupos EXPECTATIVAS DE CURTO PRAZO diz respeito ao PREÇO que um fabricante pode esperar obter por sua produção acabada no momento em que decide iniciar o processo que levará a esse objetivo sendo que do ponto de vista do fabricante os produtos estão acabados quando ficam prontos para serem usados ou vendidos a uma segunda parte EXPECTATIVAS DE LONGO PRAZO diz respeito ao que o empresário pode ESPERAR GANHAR sob a forma de RENDIMENTOS FUTUROS no caso de comprar ou eventualmente manufaturar produtos acabados para adicionálos ao seu equipamento de capital 17 Expectativa determinante do produto e do emprego O COMPORTAMENTO de cada empresa individual ao fixar a sua produção quotidiana será determinado pelas EXPECTATIVAS DE CURTO PRAZO expectativas relativas ao custo da produção em diversas escalas possíveis e expectativas relativas aos proventos da venda dessa produção embora no caso de adições ao equipamento de capital ou mesmo de vendas a distribuidores essas expectativas de curto prazo dependam em grande parte das expectativas de longo prazo ou prazo médio de outras partes É dessas diversas expectativas que DEPENDE o VOLUME DE EMPREGO oferecido pelas empresas Os resultados efetivamente realizados do fabrico e da venda da produção só serão pertinentes para o emprego na medida em que contribuam para modificar as expectativas posteriores Por outro lado também SÃO IRRELEVANTES as expectativas iniciais que induziram a empresa a adquirir o equipamento de capital e o estoque de produtos intermédios e materiais semiacabados de que dispõe no momento em que tem de decidir a produção do dia seguinte 18 Expectativa determinante do produto e do emprego Portanto sempre que tiver de SER TOMADA UMA DECISÃO ela será tomada levandose em conta certamente esse equipamento e esses estoques MAS à LUZ DAS EXPECTATIVAS ATUAIS a respeito dos custos e dos proventos prospectivos Em geral uma MUDANÇA NAS EXPECTATIVAS quer de curto quer de longo prazo só produzirá pleno efeito sobre o emprego após um lapso de tempo considerável 19 Expectativa determinante do produto e do emprego No caso das EXPECTATIVAS DE LONGO PRAZO o equipamento que não for substituído continuará a fornecer emprego até se desgastar ao passo que se a mudança de expectativa de longo prazo for favorável o emprego pode situarse no princípio a um nível mais elevado do que aquele em que se encontrará depois de passado o tempo necessário para ajustar o equipamento à nova situação Embora as expectativas possam mudar com frequência de maneira que o volume real do emprego nunca tenha tido tempo de alcançar o emprego de longo prazo correspondente ao estado das expectativas existentes a CADA ESTADO DAS EXPECTATIVAS CORRESPONDE UM VOLUME ESPECÍFICO DE EMPREGO DE LONGO PRAZO 20 Expectativa determinante do produto e do emprego Uma SIMPLES MUDANÇA DE EXPECTATIVA pode pelo desenrolar do seu processo provocar oscilação comparável a um movimento cíclico Um processo de transição ININTERRUPTO para uma nova posição de longo prazo pode complicarse nos seus pormenores A evolução real dos acontecimentos é ainda mais complexa pois o ESTADO DAS EXPECTATIVAS ESTÁ SUJEITO A VARIAÇÕES CONSTANTES surgindo novas expectativas antes mesmo de a anterior alteração ter esgotado todos os seus efeitos de modo que a máquina econômica está continuamente ocupada com numerosas atividades que se sobrepõem cuja existência se deve aos vários estados anteriores das expectativas 21 Expectativa determinante do produto e do emprego II Do que foi dito anteriormente se torna evidente que num certo sentido o volume de emprego num determinado momento depende não apenas do estado atual das expectativas mas também de todos os estados de expectativa vigentes durante todo um período anterior Todavia as EXPECTATIVAS PASSADAS que ainda não acabaram de produzir todos os seus efeitos estão incorporadas no equipamento de capital atual em função do qual o empresário tem de tomar as suas decisões de hoje e só influem nessas últimas na medida em que assim tenham sido incorporadas Por conseguinte e a despeito do que se expôs o EMPREGO DE HOJE É DETERMINADO PELAS EXPECTATIVAS DE HOJE CONSIDERADAS EM CONJUNTO COM O EQUIPAMENTO DE CAPITAL DE HOJE 22 Expectativa determinante do produto e do emprego Na prática o processo de REVISÃO das expectativas de curto prazo é GRADUAL E CONTÍNUO ocorrendo na sua maior parte à luz dos resultados realizados de forma que os resultados esperados e os realizados confluem e se sobrepõem uns aos outros nos seus efeitos Efetivamente embora a produção e o emprego sejam determinados pelas expectativas de curto prazo do produtor e não pelos resultados do passado os RESULTADOS MAIS RECENTES normalmente desempenham um papel predominante na determinação dessas expectativas Seria demasiado complexo elaborar as expectativas ab ovo cada vez que se iniciasse um processo produtivo Além disso seria perder tempo porque de modo geral grande parte das circunstâncias se mantêm praticamente invariáveis de um dia para o outro 23 Expectativa determinante do produto e do emprego Portanto é razoável que os produtores baseiem as suas expectativas na hipótese de que a maioria dos resultados observados mais recentemente será mantida salvo no caso de haver razões precisas para se esperar uma mudança Por isso na PRÁTICA os efeitos sobre o emprego decorrentes dos proventos das vendas já realizadas da produção recente se sobrepõem em grande medida aos decorrentes das vendas da produção corrente que se espera realizar E é mais frequente os produtores modificarem gradualmente as suas previsões à luz dos resultados obtidos do que em função das mudanças prospectivas 24 Expectativa determinante do produto e do emprego Não se deve esquecer que no caso dos bens duradouros as expectativas de curto prazo do produtor se baseiam nas atuais expectativas de longo prazo do investidor e que é da natureza das expectativas de longo prazo não poderem ser revistas a curtos intervalos à luz dos resultados realizados Além disso as expectativas de longo prazo estão sujeitas a revisões súbitas como veremos no Capítulo 12 onde serão analisadas mais pormenorizadamente Assim o fator das atuais expectativas de longo prazo não pode ser eliminado ou substituído pelos resultados realizados CAPÍTULO 6 DEFINIÇÃO DE RENDIMENTO POUPANÇA E INVESTIMENTO 26 Definição de rendimento poupança e investimento Y renda A vendas de produto final A1 vendas entre empresários G valor real do equipamento de capital estoques de matérias primas estoques de mercadorias acabadas não vendidas trabalho em andamento no final do período valor desses estoques no início do período vendas A1 exaustão devido ao uso 27 Definição de rendimento poupança e investimento B manutenção ótima do capital se deixado sem utilização G valor do equipamento de capital e estoques no final do período no caso de ocorrência de B G B valor líquido máximo que poderia ter sido conservado do período anterior se não tivesse sido utilizado para produzir A F custo do fator para produzir A U custo de uso de A Π lucro bruto receita total de venda menos custo primário V custo suplementar depreciação involuntária do capital perdas fortuitas não previstas resultantes da passagem do tempo 28 Definição de rendimento poupança e investimento Lucro bruto Π A F U Lucro líquido Π A F U V Renda bruta Y F Π A U Renda disponível Y A U V renda disponível para consumo Investimento bruto A1 U Investimento líquido A1 U V Consumo A A1 29 Definição de rendimento poupança e investimento Rendimento valor da produção consumo investimento Poupança rendimento consumo Portanto poupança investimento A equivalência entre a quantidade de poupança e a quantidade de investimento decorre do caráter bilateral das transações entre por um lado o produtor e por outro lado o consumidor ou o comprador de equipamento de capital O rendimento é criado pelo excedente de valor em relação ao CUSTO DE USO que o produtor obtém da produção que vendeu 30 Definição de rendimento poupança e investimento Custo de uso U G B G A1 em que A1 representa o montante das compras que o empresário faz de outros empresários G o valor efetivo do seu equipamento de capital no fim do período e G o valor que esse equipamento teria no fim do período se ele não o tivesse utilizado e tivesse gasto a soma ótima B para sua manutenção e melhoramento Note que G G B a saber o excedente do valor do equipamento do empresário sobre o valor líquido proveniente do período anterior representa o investimento corrente do empresário feito no seu equipamento que pode ser expresso por I Assim U o custo de uso do seu volume de negócios A é igual a A1 I em que A1 representa o que comprou de outros empresários e I o que investiu correntemente no seu próprio equipamento 31 Definição de rendimento poupança e investimento O custo de uso é um dos ELOS QUE LIGAM O PRESENTE AO FUTURO Ao fixar a sua escala de produção o empresário tem de escolher entre utilizar imediatamente o seu equipamento ou conserválo para utilizá lo mais tarde CAPÍTULO 7 CONSIDERAÇÕES COMPLEMENTARES SOBRE O SIGNIFICADO DE POUPANÇA E INVESTIMENTO 33 Outras considerações Há dificuldades com as definições que aparecem no Capítulo 7 em relação àquelas expostas no Capítulo 6 Segundo Vitória Chick Macroeconomia após Keynes um reexame da Teoria Geral a definição de INVESTIMENTO dada no Capítulo 7 difere da do Capítulo 6 em dois aspectos i Inclui mudanças não intencionais nos inventários ii Tanto as famílias quanto as empresas podem fazer investimento Com relação à definição de POUPANÇA a confusão que pode restar diz respeito ainda segundo Chick à possível falta de percepção da diferença de significado entre poupança individual e agregada TEORIA MACROECONÔMICA I São Paulo 1º semestre de 2023 PROF DR ROGÉRIO CÉSAR DE SOUZA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC SP