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5 A espiritualidade de Jesus mística profecia e sabedoria Lúcia PedrosaPádua1 Na espiritualidade cristã mística sabedoria e profecia não se separam como nos faz ver a forma de ser e viver de Jesus de Nazaré Observando os Evangelhos vemos como em Jesus estas três dimensões se exigem e enriquecem mutuamente Por isso no seguimento do Mestre cada cristão também testemunha a místicasabedoriaprofecia Pela mística nasce uma nova relação com Deus pela sabedoria são tecidas formas de viver e de se relacionar de maneira mais humanizada segundo a lógica de Deus cf Mc 833 pela profecia a Igreja e a sociedade são dotadas de opções ousadas e transformadoras dignas da Palavra geradora de Deus no mundo Olhemos para a espiritualidade de Jesus Jesus o profeta Iniciemos com a dimensão profética de Jesus pois sabemos pelos Evangelhos que ele foi reconhecido como profeta e assim se via a si próprio Ele mesmo disse que nenhum profeta é bem acolhido em sua própria pátria Lc 424 Como profeta Jesus2 falou claramente criticando o seu próprio país sociedade e mesmo instituições religiosas em suas contradições e infidelidades ao projeto de amor e justiça de Deus 1 Lúcia PedrosaPádua é doutora em teologia sistemática pela PUCRio onde é pesquisadora e professora em tempo contínuo Atua nas áreas de Antropologia Teológica Mariologia e Espiritualidade Graduada em teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia Belo Horizonte MG e em Economia pela UFMG Coordena o Ataendi Centro de Espiritualidade da Instituição Teresiana no Brasil dedicado à formação de cristãos leigos e leigas e trabalha na ação pastoral junto a comunidades 2 Cf NOLAN A Jesus Hoje uma espiritualidade de liberdade radical São Paulo Paulinas p 101107 1017771PUCRioCRE35489 6 soube ler os sinais dos tempos e ao contrário dos líderes religiosos soube perceber a situação dos trabalhadores do campo e das cidades e o sofrimento dos pobres que empobreciam a cada dia e nisso não foi ingênuo teve consciência da tensão e conflito que provocava Mas este conflito é vivido como bemaventurança felizes sereis quando vos odiarem e rejeitarem Lc 62223 teve também consciência do destino incompreendido e violento dos profetas cf Mt 232935 Jesus é assim um homem em constante e audaz missão a serviço dos demais Seus seguidores aprendem como seu Mestre a falar e a agir com ousadia Jesus o místico O Jesus místico é tão forte quanto o Jesus profeta Os evangelhos nos mostram como sua atividade e missão são sustentadas por uma experiência única daquele que ele chamava de Abbá Pai A relação de Jesus com o Pai se dá através de constante oração e de profunda contemplação Jesus rezava porque necessitava de fato da luz da força e do discernimento que vem de Deus3 Os discípulos viram Jesus frequentemente em oração Às vezes ele se afastava para rezar Textos bíblicos indicam que Jesus aproveitava todas as oportunidades possíveis para retirarse e entregarse à oração e à reflexão Mc 135 646 Lc 442 111 2241 Mt 1423 2636 E o fazia com regularidade pois Lucas observa que ele permanecia retirado em lugares desertos e orava Lc 516 Além disso Jesus recomendou a oração na intimidade do quarto não como os 3 Para o tema da oração de Jesus cf AZEVEDO M A oração na vida desafio e dom São Paulo Loyola 1988 p117133 ESPEJA J Espiritualidade Cristã Petrópolis Vozes 1995 p 341357 GARCIA RUBIO A O Encontro com Jesus Cristo vivo 14ª ed São Paulo Paulinas 2010 p 8688 NOLAN op cit p107117 PAGOLA JA Jesus Aproximação histórica Petrópolis Vozes 2010 p 363398 1017771PUCRioCRE35489 7 hipócritas que gostam de ser vistos pelos outros cf Mt 656 Assim podemos estar certos de que Jesus passava muito tempo rezando em lugar oculto A oração de Jesus é vivida em relação com os acontecimentos mais significativos de sua vida Segundo os evangelhos Jesus orou depois de seu batismo Lc 321 no início de sua missão Lc 41 em dias de intensa atividade Mc 135 Lc 516 Mt 1423 antes de vários momentos significativos como a eleição dos apóstolos Lc 612 a profissão de Pedro Lc 918 a oração do PaiNosso Lc 111 a ressurreição de Lázaro Jo 1141 sua paixão e morte Jo 17126 Jesus orou no acontecimento da transfiguração Lc 92829 no Getsêmani antes de sua morte Mt 263644 Mc 143234 Lc 22324144 na cruz em que oferece o perdão e entrega sua vida Mc 1534 Mt 2746 Lc 233446 Sua oração estava vinculada à sua vida e à sua missão sem fuga ou alienação Oração e vida se fecundam mutuamente a oração está relacionada à missão e esta com a oração Jesus passou por situações de alegria ânimo êxito e aclamação mas também por duros momentos de dificuldade crise fracasso e perseguição até a morte Em todos estes momentos está presente a oração sempre como um diálogo como relação pessoal com DeusÁgape gratuito e próximo4 A oração que melhor traduz a relação de Jesus com o Pai é o PaiNosso Mt 6 912 Lc 11 13 Ela é também o modelo de nossa oração Nela Jesus ensina a chamar a Deus de Abbá que poderia ser traduzido como paizinho Ela revela 4 Cf GARCIA RUBIO A opcit p 8186 1017771PUCRioCRE35489 8 a relação próxima e de total confiança de Jesus com seu Pai Os discípulos se lembram de ver Jesus se dirigindo a Deus com esta palavra familiar e que ele os ensinava a fazer o mesmo Por uma palavra pouco convencional foi conservada no NT no original aramaico AbbáPai Mc 1436 Gl 46 Rm 815 Esta relação entre Jesus e o Pai é a fonte da sabedoria discernimento confiança e liberdade de Jesus sem a qual não é possível compreender o seu amor para com todos inclusive aos inimigos e o porquê de suas ações O centro da oração que Jesus ensina o Pai Nosso é o Reino de Deus que pedimos e com o qual nos comprometemos com o perdão e a partilha do pão Mas Jesus faz sérias críticas a formas de oração que não levam ao Reino Aquela oração sem coerência de vida Mt 6 5 mecânica sem compromisso que multiplica palavras Mt 67 separada do acolhimento concreto da vontade de Deus Mt 7 2123 não basta dizer Senhor Senhor A oração arrogante e cheia de auto contemplação Lc 18 1112 não estabelece um diálogo de abertura ao dom de Deus ao contrário reforça o fechamento do ser humano em si mesmo Leva ao narcisismo e ao autoengano A verdadeira relação com Deus ao contrário recria as relações fundamentais do ser humano com Deus consigo mesmo com os irmãos e com a natureza Na vida de Jesus mística e profecia se unem de uma forma extraordinariamente simples Um todo inseparável Por isso denominar a tradição espiritual cristã como tradição místicoprofética é uma forma de ultrapassar os antagonismos do passado e de hoje Algumas pessoas pensam que a oração não tem relação alguma com as atitudes e formas de atuar mas os evangelhos nos mostram o contrário A oração fecunda uma vida que busca amar concretamente e que opta pela justiça especialmente aquela relativa aos pobres e aos excluídos 1017771PUCRioCRE35489 9 Jesus o sábio A esta místicaprofecia devemos unir a sabedoria Jesus é mestre de sabedoria5 É um sábio O Evangelho de Mateus manifesta este reconhecimento Diante dos ensinamentos de Jesus os ouvintes perguntam admirados Donde lhe vem esta sabedoria Mt 1354 Jesus não apenas se expressa como os sábios ele vai mais além pois nele a sabedoria de Deus se manifesta Lemos em Mt 112830 Vinde a mim todos vós que estais cansados sob o peso do fardo e eu vos darei descanso Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus porque eu sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas Sim o meu jugo é fácil de carregar e o meu fardo é leve Ora no Livro do Eclesiástico 512329 encontramos palavras semelhantes atribuídas à Sabedoria Jesus por sua vez se expressa em primeira pessoa vinde a mim Isto nos mostra porque para a fé cristã Jesus mesmo é a sabedoria vinda de Deus A sabedoria de Jesus orienta o bem viver segundo os critérios do Reino de Deus Ela penetra o cotidiano da vida e das relações sociais de forma de humanizar a convivência dar sentido às atividades ajudar a amar com paciência e perdão viver o cotidiano sem medir as pessoas pelo resultado ensinar a servir ser bom e confiar Uma atitude de escuta e de prática deve caracterizar o seguidor de Jesus Especialmente os que governam devem se imbuir desta sabedoria mães pais mestres grupos governantes O estilo pedagógico de Jesus faz parte de sua sabedoria Ele parte da vida cotidiana como podemos encontrar nas parábolas Estas falam de pastor e de ovelhas de 5 Cf GILBERT M Sabiduría In ROSSANO P et al dir Nuevo Diccionario de Teología Bíblica Madrid Paulinas 1990 p 17111728 e BRITO Jacil Rodrigues Faça de sua casa um lugar de encontro de sábios São Paulo Paulinas 2011 1017771PUCRioCRE35489 10 videiras de compra e venda de moeda perdida de casa a ser construída de tesouro a empregar Os personagens são um rei um pai um filho um empregado um senhor uma dona de casa Referemse à vida rural e do campo Muitos discursos de Jesus também apresentam um perfil sapiencial orientam a vida e as relações humanas e comunitárias como o sermão da montanha Mt 57 ou o discurso do pão da vida Jo 6 Como os sábios Jesus se expressa através de máximas conselhos e exortações cf Mt 2652 Mt 1625 At 2035 Mc 940 Mt 822 Mt 2221 etc O apóstolo Paulo por sua vez coloca em evidência que a sabedoria de Deus é manifestada em Cristo crucificado 1Cor 12324 Ressalta como a lógica do Reino trazido por Jesus contradiz a lógica das pretensões humanas Por isso a sabedoria do Reino é considerada loucura por uns e escandaliza outros No entanto é esta não outra a sabedoria de Deus A separação errônea acontecida na história Na história das religiões não faltaram análises que privilegiaram a contraposição entre mística e profecia Separavam inclusive as religiões proféticas das religiões místicas6 A profecia foi associada à afirmação da pessoa do mundo e da história a mística à negação destas realidades Segundo este dualismo a profecia propõe uma transformação do mundo enquanto a mística tende à fuga a profecia propicia uma relação histórica com Deus enquanto a mística vive uma experiência ahistórica a profecia é ativa e evangelizadora enquanto a mística é passiva e contemplativa sem ação 6 Cf MARTIN VELASCO Juan El fenómeno místico Estudio comparado Madrid Trotta 1999 p 2528 1017771PUCRioCRE35489 11 Esta contraposição atingiu inclusive a relação da mística com a ética 7 Segundo esta contraposição haveria pessoas que encarnam ou uma coisa ou outra como se fossem duas formas diferentes e incompatíveis de realização da existência humana A ética ou moral estaria ligada ao dever ao esforço à vontade de atitude e compromisso A mística se relacionaria à passividade e gratuidade ao entusiasmo ao êxtase e à despreocupação com o que se encontra ao redor Contraposição que figura como um dos tantos dualismos fortemente enraizados em nossa cultura de raízes platônicas e neoplatônicas 8 Algumas tendências místicas também ajudaram nesta contraposição Mas estas contraposições têm escasso fundamento Vimos como a espiritualidade de Jesus é místicoprofética sábia interrelacionadas de maneira extraordinariamente simples e integrada Concluindo O convite de trilhar o mesmo caminho de Jesus continua aberto Cada cristão e cristã é chamado a viver integradamente a mística como um estar em relação com o mistério de Deus cuja Encarnação engloba o mistério de cada um do mundo e da natureza a sabedoria como arte de discernir os caminhos de Deus tanto no ser e viver cotidianos de tal forma que o modo de ser de Jesus que foi contracorrente questione o mundo consumista individualista e indiferente e crie formas mais sábias e solidárias de viver 7 Cf MARTIN VELASCO El fenómeno místico p 457466 8 GARCIA RUBIO Alfonso Unidade na pluralidade O ser humano à luz da fé e da reflexão cristãs 4ª ed São Paulo Paulus 2006 p 95114 1017771PUCRioCRE35489 12 a profecia como fogo que não deixa calar e que em tempos difíceis abre com audácia caminhos do mundo novo que Deus deseja Sejamos místicos sábios e profetas Assim poderemos também sonhar com a humanização do mundo pelas mãos de Deus Bibliografía AZEVEDO Marcelo A oração na vida desafio e dom São Paulo Loyola 1988 BRITO Jacil Rodrigues Faça de sua casa um lugar de encontro de sábios São Paulo Paulinas 2011 ESPEJA Jesús Espiritualidade Cristã Petrópolis Vozes 1995 GARCIA RUBIO Alfonso O Encontro com Jesus Cristo vivo 14ª ed São Paulo Paulinas 2010 Unidade na pluralidade O ser humano à luz da fé e da reflexão cristãs 4ª ed São Paulo Paulus 2006 GILBERT M Sabiduría In ROSSANO P et al dir Nuevo Diccionario de Teología Bíblica Madrid Paulinas 1990 p 17111728 MARTÍN VELASCO Juan El fenómeno místico Estudio comparado Madrid Trotta 1999 p 2528 NOLAN Albert Jesus Hoje uma espiritualidade de liberdade radical São Paulo Paulinas p 101107 PAGOLA José Antonio A Jesus Aproximação histórica Petrópolis Vozes 2010 PEDROSAPÁDUA Lúcia Mística e profecia na espiritualidade cristã O testemunho de Santa Teresa de Jesus Horizonte Belo Horizonte v 10 n 27 p 757778 julset 2012 Acessível em httpperiodicospucminasbrindexphphorizontearticleview 1017771PUCRioCRE35489 13 P217558412012v10n27p7574251 Acesso em 30 de junho de 2018 1017771PUCRioCRE35489
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5 A espiritualidade de Jesus mística profecia e sabedoria Lúcia PedrosaPádua1 Na espiritualidade cristã mística sabedoria e profecia não se separam como nos faz ver a forma de ser e viver de Jesus de Nazaré Observando os Evangelhos vemos como em Jesus estas três dimensões se exigem e enriquecem mutuamente Por isso no seguimento do Mestre cada cristão também testemunha a místicasabedoriaprofecia Pela mística nasce uma nova relação com Deus pela sabedoria são tecidas formas de viver e de se relacionar de maneira mais humanizada segundo a lógica de Deus cf Mc 833 pela profecia a Igreja e a sociedade são dotadas de opções ousadas e transformadoras dignas da Palavra geradora de Deus no mundo Olhemos para a espiritualidade de Jesus Jesus o profeta Iniciemos com a dimensão profética de Jesus pois sabemos pelos Evangelhos que ele foi reconhecido como profeta e assim se via a si próprio Ele mesmo disse que nenhum profeta é bem acolhido em sua própria pátria Lc 424 Como profeta Jesus2 falou claramente criticando o seu próprio país sociedade e mesmo instituições religiosas em suas contradições e infidelidades ao projeto de amor e justiça de Deus 1 Lúcia PedrosaPádua é doutora em teologia sistemática pela PUCRio onde é pesquisadora e professora em tempo contínuo Atua nas áreas de Antropologia Teológica Mariologia e Espiritualidade Graduada em teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia Belo Horizonte MG e em Economia pela UFMG Coordena o Ataendi Centro de Espiritualidade da Instituição Teresiana no Brasil dedicado à formação de cristãos leigos e leigas e trabalha na ação pastoral junto a comunidades 2 Cf NOLAN A Jesus Hoje uma espiritualidade de liberdade radical São Paulo Paulinas p 101107 1017771PUCRioCRE35489 6 soube ler os sinais dos tempos e ao contrário dos líderes religiosos soube perceber a situação dos trabalhadores do campo e das cidades e o sofrimento dos pobres que empobreciam a cada dia e nisso não foi ingênuo teve consciência da tensão e conflito que provocava Mas este conflito é vivido como bemaventurança felizes sereis quando vos odiarem e rejeitarem Lc 62223 teve também consciência do destino incompreendido e violento dos profetas cf Mt 232935 Jesus é assim um homem em constante e audaz missão a serviço dos demais Seus seguidores aprendem como seu Mestre a falar e a agir com ousadia Jesus o místico O Jesus místico é tão forte quanto o Jesus profeta Os evangelhos nos mostram como sua atividade e missão são sustentadas por uma experiência única daquele que ele chamava de Abbá Pai A relação de Jesus com o Pai se dá através de constante oração e de profunda contemplação Jesus rezava porque necessitava de fato da luz da força e do discernimento que vem de Deus3 Os discípulos viram Jesus frequentemente em oração Às vezes ele se afastava para rezar Textos bíblicos indicam que Jesus aproveitava todas as oportunidades possíveis para retirarse e entregarse à oração e à reflexão Mc 135 646 Lc 442 111 2241 Mt 1423 2636 E o fazia com regularidade pois Lucas observa que ele permanecia retirado em lugares desertos e orava Lc 516 Além disso Jesus recomendou a oração na intimidade do quarto não como os 3 Para o tema da oração de Jesus cf AZEVEDO M A oração na vida desafio e dom São Paulo Loyola 1988 p117133 ESPEJA J Espiritualidade Cristã Petrópolis Vozes 1995 p 341357 GARCIA RUBIO A O Encontro com Jesus Cristo vivo 14ª ed São Paulo Paulinas 2010 p 8688 NOLAN op cit p107117 PAGOLA JA Jesus Aproximação histórica Petrópolis Vozes 2010 p 363398 1017771PUCRioCRE35489 7 hipócritas que gostam de ser vistos pelos outros cf Mt 656 Assim podemos estar certos de que Jesus passava muito tempo rezando em lugar oculto A oração de Jesus é vivida em relação com os acontecimentos mais significativos de sua vida Segundo os evangelhos Jesus orou depois de seu batismo Lc 321 no início de sua missão Lc 41 em dias de intensa atividade Mc 135 Lc 516 Mt 1423 antes de vários momentos significativos como a eleição dos apóstolos Lc 612 a profissão de Pedro Lc 918 a oração do PaiNosso Lc 111 a ressurreição de Lázaro Jo 1141 sua paixão e morte Jo 17126 Jesus orou no acontecimento da transfiguração Lc 92829 no Getsêmani antes de sua morte Mt 263644 Mc 143234 Lc 22324144 na cruz em que oferece o perdão e entrega sua vida Mc 1534 Mt 2746 Lc 233446 Sua oração estava vinculada à sua vida e à sua missão sem fuga ou alienação Oração e vida se fecundam mutuamente a oração está relacionada à missão e esta com a oração Jesus passou por situações de alegria ânimo êxito e aclamação mas também por duros momentos de dificuldade crise fracasso e perseguição até a morte Em todos estes momentos está presente a oração sempre como um diálogo como relação pessoal com DeusÁgape gratuito e próximo4 A oração que melhor traduz a relação de Jesus com o Pai é o PaiNosso Mt 6 912 Lc 11 13 Ela é também o modelo de nossa oração Nela Jesus ensina a chamar a Deus de Abbá que poderia ser traduzido como paizinho Ela revela 4 Cf GARCIA RUBIO A opcit p 8186 1017771PUCRioCRE35489 8 a relação próxima e de total confiança de Jesus com seu Pai Os discípulos se lembram de ver Jesus se dirigindo a Deus com esta palavra familiar e que ele os ensinava a fazer o mesmo Por uma palavra pouco convencional foi conservada no NT no original aramaico AbbáPai Mc 1436 Gl 46 Rm 815 Esta relação entre Jesus e o Pai é a fonte da sabedoria discernimento confiança e liberdade de Jesus sem a qual não é possível compreender o seu amor para com todos inclusive aos inimigos e o porquê de suas ações O centro da oração que Jesus ensina o Pai Nosso é o Reino de Deus que pedimos e com o qual nos comprometemos com o perdão e a partilha do pão Mas Jesus faz sérias críticas a formas de oração que não levam ao Reino Aquela oração sem coerência de vida Mt 6 5 mecânica sem compromisso que multiplica palavras Mt 67 separada do acolhimento concreto da vontade de Deus Mt 7 2123 não basta dizer Senhor Senhor A oração arrogante e cheia de auto contemplação Lc 18 1112 não estabelece um diálogo de abertura ao dom de Deus ao contrário reforça o fechamento do ser humano em si mesmo Leva ao narcisismo e ao autoengano A verdadeira relação com Deus ao contrário recria as relações fundamentais do ser humano com Deus consigo mesmo com os irmãos e com a natureza Na vida de Jesus mística e profecia se unem de uma forma extraordinariamente simples Um todo inseparável Por isso denominar a tradição espiritual cristã como tradição místicoprofética é uma forma de ultrapassar os antagonismos do passado e de hoje Algumas pessoas pensam que a oração não tem relação alguma com as atitudes e formas de atuar mas os evangelhos nos mostram o contrário A oração fecunda uma vida que busca amar concretamente e que opta pela justiça especialmente aquela relativa aos pobres e aos excluídos 1017771PUCRioCRE35489 9 Jesus o sábio A esta místicaprofecia devemos unir a sabedoria Jesus é mestre de sabedoria5 É um sábio O Evangelho de Mateus manifesta este reconhecimento Diante dos ensinamentos de Jesus os ouvintes perguntam admirados Donde lhe vem esta sabedoria Mt 1354 Jesus não apenas se expressa como os sábios ele vai mais além pois nele a sabedoria de Deus se manifesta Lemos em Mt 112830 Vinde a mim todos vós que estais cansados sob o peso do fardo e eu vos darei descanso Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus porque eu sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas Sim o meu jugo é fácil de carregar e o meu fardo é leve Ora no Livro do Eclesiástico 512329 encontramos palavras semelhantes atribuídas à Sabedoria Jesus por sua vez se expressa em primeira pessoa vinde a mim Isto nos mostra porque para a fé cristã Jesus mesmo é a sabedoria vinda de Deus A sabedoria de Jesus orienta o bem viver segundo os critérios do Reino de Deus Ela penetra o cotidiano da vida e das relações sociais de forma de humanizar a convivência dar sentido às atividades ajudar a amar com paciência e perdão viver o cotidiano sem medir as pessoas pelo resultado ensinar a servir ser bom e confiar Uma atitude de escuta e de prática deve caracterizar o seguidor de Jesus Especialmente os que governam devem se imbuir desta sabedoria mães pais mestres grupos governantes O estilo pedagógico de Jesus faz parte de sua sabedoria Ele parte da vida cotidiana como podemos encontrar nas parábolas Estas falam de pastor e de ovelhas de 5 Cf GILBERT M Sabiduría In ROSSANO P et al dir Nuevo Diccionario de Teología Bíblica Madrid Paulinas 1990 p 17111728 e BRITO Jacil Rodrigues Faça de sua casa um lugar de encontro de sábios São Paulo Paulinas 2011 1017771PUCRioCRE35489 10 videiras de compra e venda de moeda perdida de casa a ser construída de tesouro a empregar Os personagens são um rei um pai um filho um empregado um senhor uma dona de casa Referemse à vida rural e do campo Muitos discursos de Jesus também apresentam um perfil sapiencial orientam a vida e as relações humanas e comunitárias como o sermão da montanha Mt 57 ou o discurso do pão da vida Jo 6 Como os sábios Jesus se expressa através de máximas conselhos e exortações cf Mt 2652 Mt 1625 At 2035 Mc 940 Mt 822 Mt 2221 etc O apóstolo Paulo por sua vez coloca em evidência que a sabedoria de Deus é manifestada em Cristo crucificado 1Cor 12324 Ressalta como a lógica do Reino trazido por Jesus contradiz a lógica das pretensões humanas Por isso a sabedoria do Reino é considerada loucura por uns e escandaliza outros No entanto é esta não outra a sabedoria de Deus A separação errônea acontecida na história Na história das religiões não faltaram análises que privilegiaram a contraposição entre mística e profecia Separavam inclusive as religiões proféticas das religiões místicas6 A profecia foi associada à afirmação da pessoa do mundo e da história a mística à negação destas realidades Segundo este dualismo a profecia propõe uma transformação do mundo enquanto a mística tende à fuga a profecia propicia uma relação histórica com Deus enquanto a mística vive uma experiência ahistórica a profecia é ativa e evangelizadora enquanto a mística é passiva e contemplativa sem ação 6 Cf MARTIN VELASCO Juan El fenómeno místico Estudio comparado Madrid Trotta 1999 p 2528 1017771PUCRioCRE35489 11 Esta contraposição atingiu inclusive a relação da mística com a ética 7 Segundo esta contraposição haveria pessoas que encarnam ou uma coisa ou outra como se fossem duas formas diferentes e incompatíveis de realização da existência humana A ética ou moral estaria ligada ao dever ao esforço à vontade de atitude e compromisso A mística se relacionaria à passividade e gratuidade ao entusiasmo ao êxtase e à despreocupação com o que se encontra ao redor Contraposição que figura como um dos tantos dualismos fortemente enraizados em nossa cultura de raízes platônicas e neoplatônicas 8 Algumas tendências místicas também ajudaram nesta contraposição Mas estas contraposições têm escasso fundamento Vimos como a espiritualidade de Jesus é místicoprofética sábia interrelacionadas de maneira extraordinariamente simples e integrada Concluindo O convite de trilhar o mesmo caminho de Jesus continua aberto Cada cristão e cristã é chamado a viver integradamente a mística como um estar em relação com o mistério de Deus cuja Encarnação engloba o mistério de cada um do mundo e da natureza a sabedoria como arte de discernir os caminhos de Deus tanto no ser e viver cotidianos de tal forma que o modo de ser de Jesus que foi contracorrente questione o mundo consumista individualista e indiferente e crie formas mais sábias e solidárias de viver 7 Cf MARTIN VELASCO El fenómeno místico p 457466 8 GARCIA RUBIO Alfonso Unidade na pluralidade O ser humano à luz da fé e da reflexão cristãs 4ª ed São Paulo Paulus 2006 p 95114 1017771PUCRioCRE35489 12 a profecia como fogo que não deixa calar e que em tempos difíceis abre com audácia caminhos do mundo novo que Deus deseja Sejamos místicos sábios e profetas Assim poderemos também sonhar com a humanização do mundo pelas mãos de Deus Bibliografía AZEVEDO Marcelo A oração na vida desafio e dom São Paulo Loyola 1988 BRITO Jacil Rodrigues Faça de sua casa um lugar de encontro de sábios São Paulo Paulinas 2011 ESPEJA Jesús Espiritualidade Cristã Petrópolis Vozes 1995 GARCIA RUBIO Alfonso O Encontro com Jesus Cristo vivo 14ª ed São Paulo Paulinas 2010 Unidade na pluralidade O ser humano à luz da fé e da reflexão cristãs 4ª ed São Paulo Paulus 2006 GILBERT M Sabiduría In ROSSANO P et al dir Nuevo Diccionario de Teología Bíblica Madrid Paulinas 1990 p 17111728 MARTÍN VELASCO Juan El fenómeno místico Estudio comparado Madrid Trotta 1999 p 2528 NOLAN Albert Jesus Hoje uma espiritualidade de liberdade radical São Paulo Paulinas p 101107 PAGOLA José Antonio A Jesus Aproximação histórica Petrópolis Vozes 2010 PEDROSAPÁDUA Lúcia Mística e profecia na espiritualidade cristã O testemunho de Santa Teresa de Jesus Horizonte Belo Horizonte v 10 n 27 p 757778 julset 2012 Acessível em 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