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A narrativa do poema que relata que a cidade de Lisboa foi fundada pela personagem do poema homérico Odisseia é verossímil Justifique sua resposta A questão dos gêneros está na ordem do dia A partir dos estudos de Bakhtin 2000 os gêneros do discurso passaram a ser ainda mais objeto de diversos estudos e pesquisas cujos resultados logo se fizeram sentir em situações de ensino A recomendação dos PCNs é que o ensino de língua seja pautado pelos gêneros uma vez que o uso efetivo da língua requer o conhecimento das características próprias de cada gênero como atesta o trecho a seguir Todo texto se organiza dentro de determinado gênero em função das intenções comunicativas como parte das condições de produção dos discursos as quais germ os sociais que os determinam Brasil 1998 22 Quanto ao objeto arte pode representar os homens melhores piores ou iguais a nós Para Aristóteles na epopeia e na tragédia os homens são representados melhores do que um modelo os homens comuns A comédia pelo contrário representa o homem pior do que os homens comuns sendo a representação dos maus costumes particularmente do ridículo Ao falar em melhores ou piores que um modelo Aristóteles ressalta que os seres representados pela arte seres ficcionais têm características éticas como seres reais Se levarmos em conta o modo como ocorre a representação temos a narração diegesis que é o relato da ação e o drama forma de representação que coloca os personagens em ação diante de nós O gênero lírico O adjetivo lírico provém de lira instrumento musical de cordas O nome lírico se explica em originalmente ser cantado tendo por acompanhamento o som produzido por instrumentos musicais como a flauta e a lira O gênero lírico costuma estar centrado no individualpor isso tende a se voltar para a subjetividade para a emoção para o sensível Quem fala no poema por meio de versos é um eu individualizado por isso mesmo chamado de eu lírico que como o narrador nos romances contos e novelas não deve ser confundido com o autor empírico Há casos em que a poesia lírica não está voltada para o subjetivo mas para a realidade objetiva e outros em que trata da passagem da objetividade para a subjetividade Mesmo quando deixaram de ser acompanhados por instrumentos musicais os poemas líricos mantiveram o aspecto musical reforçado pelo uso de recursos sonoros como o ritmo a métrica as rimas o refrão etc Os poemas líricos podem se apresentar em várias formas fixas ou livres São exemplos de formas fixas o soneto e o rondó Psicologia de um vencido Eu filho do carbono e do amoníaco Monstro do escuro e inutilícia Sofro desde a epigênese da infância A influência má dos signos do zodíaco Profundamente hipocondríaco Este ambiente me causa repugnância Sobeme à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco Já o verme este operário das ruínas Que o sangue podre das carnificinas Come e a vida em geral declara guerra poesia Evidentemente essa antecipação pode não se confirmar já que o texto pode ter a forma de um poema e não se configurar como tal O uso dos recursos tipográficos na poesia foi levado ao extremo pela poesia concreta em que a disposição gráfica do texto na página passa a ter função significativa O fato de um texto ser escrito em versos e de apresentar rimas como se disse não é crítico suficiente para classificarlo como poesia basta lembrar que batatinha quando nace é um texto em versos rimados Então qual critério necessário é suficiente para se classificar um texto como poesia A pergunta não é fácil de ser respondida Afirmei neste livro que os critérios de literário e de belo não são absolutos pois estão ligados a juízos de valor embora possam haver consenso sobre a natureza artística de algumas obras O gênero épico O que caracteriza o gênero épico é o fato de contar algo em prosa ou verso por isso se trata de um gênero essencialmente narrativo A presença de um narrador é condição essencial do gênero épico O narrador é o sujeito empírico ou seja o indivíduo biológico com responsabilidades jurídicas e sociais cujo nome ou pseudônimo aparece na capa eou no frontispício da obra Graciliano Ramos Guimarães Rosa José Saramago Marques Rabelo a quem cabe a autoria em todas as suas instâncias quer a direitos quer a deveres Em sua atividade o autor empírico entidade real é responsável pelas estratégias discursivas escolha de um autor textual dos narradores do gênero do tema das personagens etc O autor textual é o enunciador no texto literário e pode delegar a função de enunciador a um ou mais de um narrador No caso das narrativas com narrador não explicitado este se confunde como o autor textual Como essas entidades são ontologicamente distintas pode haver entre elas distâncias particularmente de natureza ideológica de onde não se pode julgar o autor empírico pelo autor textual Lembrese ainda de que quando o autor textual se manifesta no texto por um eu que fala no enunciado ao apropriarse do aparelho formal da língua ele constitui um tu o narratório e instaura um sistema de coordenadas espacionais que serão manifestadas justicamente pelos débitos e tempos verbais No texto literário os débitos não estão relacionados ao mundo factual mas ao mundo construído pela narrativa já que a linguagem literária referese a um conjunto produzido pelo texto O barco da morte de D H Lawrence o débito agora que inicia o poema Agora é outono e os frutos caem e há uma longa jornada para o esquecimento não deve ser entendido como o momento em que o poeta escreveu o verso mas como um tempo ficcional O poema não necessariamente é escrito no outono os frutos podiam não estar caindo Assim como o eu que fala no poema é ficcional todo esse enunciado deve ser lido como ficcional O texto a seguir é o início do capítulo xlv de Dom Casmurro e serve como exemplo para esclarecer a distinção entre autor e narrador Abane a cabeça leitor faça todos os gestos de incredulidade Chegue a deixar fora este livro se o título já não obrigou a isso antes tudo é possível Mas se o não fez antes chegou o tempo de pegar do livro e o que abria na mesma página sem por isso na veracidade do autor Todavia não há nada mais exato Foi assim mesmo que Capitu falou com tais palavras a ninguém Falou do primeiro filho como se fosse a primeira boneca Assis Machado de Dom Casmurro Machado das obras completa Rio de Janeiro Aguilar 1979 p 858 O autor de Dom Casmurro é o escritor brasileiro Machado de Assis mas quem narra é Bentinho o Dom Casmurro Como o trecho anterior é um enunciado narrativoficcional a palavra autor não se refere evidentemente ao autor empírico Machado de Assis mas ao autor ficcional que é o mesmo que não inicia da obra Afrim Agora que expliquei o título passo a escrever o livro Por uma estratégia narrativa quem escreve o livro é uma entidade ficcional Bentinho e não um autor empírico direto O gênero épico apresenta três elementos substantivos personagem evento e espaço ao algum de que toda a narrativa se desenrola no tempo ou seja há sempre antes e depois As narrativas podem estar centradas ou não em um tema como a Ilíada focada na côrde de Aquiles Os sertões de Euclides da Cunha e conto O eu de Natal de Mário de Andrade e numa cela em família na noite de Natal Famigerado de Guimarães Rosa centrando no sentido da palavra que dá título ao conto Outras narrativas centradas são na personagem como o conto épico Odisséia centrado na figura de Ulisses Odisséu e poema épico Odisséia centrado na figura de Ulisses Odisséu e poema épico Odisséia centrado na figura de Ulisses Odisséu Ah Mostrar qual a vi e Empresa dura essa selva selvagem densa e forte que ao relembrála a mente se tortura Ela era amarga quase como a morte Para falar do bem que ali achei de outras coisas direi de variável sorte que se passaram Como entrei não sei era cheio de som aquele instante em que da estrada real me desviei Chegando ao pé de uma colina adiante lá onde a triste landa era acabada que me encherá de horror o peito afrante olhei para o alto e vi iluminada a sua encosta aos raios do planeta que a todos mostrou a rumo de cada estrada AUGHIERI Dante A divina comédia 7 ed Belo Horizonte Vila Rica 1991 pp 101102 Livro das mil e uma noites Disse o autor contase mas Deus conhece mais o que já é ausência e é mais sábio quanto ao que nas crônicas dos povos passou se distanciou e desapareceu que havia em tempos remotos no reino sassânida nas penínsulas da Índia e da Indochina dois reis irmãos o maior chamado Sahriyar e o menor Sahzaman O mais velha Sahriyar era um cavaleiro poderoso um bravo campeão que não deixava apagarse o fogo de sua vingança a qual jamais tardava Do país dominou as regiões mais reconvendas e dos súditos os mais relentes E depois de assehorarse do país e dos súditos entronizou como sultão no governo da terra de Samarcanda seu irmão Sahzaman que por lá se estabeleceu ao passo que ele próprio se estabelecia na Índia e na Indochina Tal situação se prolongou por dois anos ao cabo dos quais Sahriyar saudoso do irmão mandou atrás dele seu vizir o qual tinha duas filhas uma chamada Sahrazad e a outra Dinazad O vizir determinou a esse vizir que fosse até Sahzaman e se apresentasse a ele Assim o vizir minuiuse dos aperfeiçoamentos e cuidados a viver durante dias e noites até chegar à Samarcanda Livro das mil e uma noites 2 ed São Paulo Globo 2005 v 1 p 39 Os textos têm em comum o fato de serem constituídos por sequências narrativas portando enquadráveis no gênero épico Quanto às diferenças o primeiro é escrito em versos o segundo em prosa No primeiro o narrador faz parte da história narrada no segundo não faz parte Evidentemente restringimonos a apresentar apenas as diferenças relativas à estrutura composicional deixando de lado diferenças quanto a tema e estilo Uma sequência narrativa prototípica tem a seguinte característica básica há uma situação inicial marcada pelo equilíbrio que é alterada desencadeando transformações complicação seguese uma série de ações decorrentes dessa transformação que levarão a uma resolução da intriga conflito terminando em uma situação final que se caracteriza por um novo estado de equilíbrio Esquematizando situação inicial complicação ações resolução situação final equilíbrio tensão tensão Guardouo num cofre no primeiro andar sem dizer nada à sua mulher E assim de vez em quando quando se sentia triste e solitárioabria o cofre para ficar a contemplar o rosto do pai Sua mulher observou que ele tinha um aspecto diferente um ar engraçado toda vez que via descro do quarto de cima Começou a espreitar e descobriu que o marido abrira o cofre e ficava longo tempo olhando para dentro dele Depois que o marido saiu uma ideia abri o cofre e nele depois que o marido saiu uma ideia apanstava viu o rosto de uma mulher Inflamada de ciume investida contra o marido e de se entao uma grave briga de familia O marido sustentava até o fim que era o seu pai quem estava escondido no cofre Por sorte passava pela casa delas uma monja Querendo esclarecer de vez a discussão ela pediu que mostrassem o cofre Depois de alguns minutos no primeiro andar a monja comen tou ainda lá de cima Ora vocês estão brigando em vão no cofre não há homem nem mulher mas tão somente uma monja como eu Esse conto apresenta a seguinte sequência narrativa a situação inicial trazer o espelho para casa guardálo e nele mirarse b complicação a descoberta da mulher c ações abertura do cofre pela mulher briga em família justificativa do marido d resolução esclarecimento dado pela monja A coelha era uma mulher magra alta macilenta peito fundo busto arqueado braços compridos delgados largos nos cotovelos grossos nos pulsos mãos grandes ossudas estragadas pelo reumatismo e pelo trabalho unhas grossas chatas e encurvadas cabelo crespo de uma cor indecisa entre o branco sujo e o lourdo grisalho desse cabelo cujo contato parece deverse ao espiro e espinhento boca descaiada numa expressão de desprezo pescoço longo engelhado como o pescoço dos urubus dentes falhos e cariados Esse tipo de descrição desenvolvese por inferências argumentos e contraargumentos a partir de dados pressupostos Podese esquematizar essa sequência desta forma tese ou premissa argumentos contraargumentos conclusão ou nova tese Eu sou Senhor a ovelha desgarrada Cobráia e não quereis pastor divino Perder na vossa ovelha a vossa glória O interesse aqui não é fazer uma análise detalhada do poema Apresento este soneto apenas como exemplo de sequência argumentativa o que pode ser facilmente percebido caso se atente que ele se desenvolve como um silogismo raciocínio tipicamente argumentativo que parte do geral premissa para o particular conclusão Há no soneto uma tese premissa maior à qual se somam argumentos visando a uma conclusão deles decorrente Esquematizando o silogismo A glória de Deus está em perdoar ao pecador premissa maior Eu sou pecador premissa menor Logo Deus tem de me conceder o perdão para manter sua glória conclusão Ou em outros termos A bondade divina se manifesta no perdoar ao pecador premissa maior Sou pecador premissa menor Logo para exercer sua bondade Deus terá de me perdoar conclusão O caráter persuasivo do poema remete a um dilema para que exista perdão é preciso que haja pecado e não haver pecado não existe perdão E como Deus é clemente é necessário que haja o pecado para que Ele possa manifestar sua clemência Na busca de um discurso persuasivo Gregório de Matos se afasta do caráter mais inventivo de certas manifestações literárias Seu discurso não é lúdico O jogo com as palavras seus sentidos e significados é deixado de lado em favor da exposição de um raciocínio persuasivo o lúdico cede lugar ao polêmico Do ponto de vista linguístico a característica dos textos explicativos é marcada pela enunciação no presente do indicativo a partir do qual se instaura um eixo de coordenadas espáciotemporais um aqui e um agora O enunciador muitas vezes deixa marcas explícitas da enunciação no enunciado por meio de expressões como creio pareceme e equivalentes Dada a natureza objetiva e didática dos textos explicativos sua presença na literatura é pouco frequente Numa narrativa o narrador pode dela se valer para apresentar informações para que o leitor sitúe a narrativa num determinado contexto histórico É o que ocorre por exemplo no romance A cartuxa de Parma de Stendhal como se pode observar no trecho a seguir Em 1796 o exército milanês se compunha de vinte e quatro patifes vestidos de vermelho que guardavam da cidade em comum acordo com quatro magníficos regimentos de granadeiros húngaros A liberdade de costumes era extrema mas a paixão muito rara aliás além do desprezo ter de ser contado ao cura sob pena de ruína neste próprio mundo o bom povo de Milão ainda era submetido a certos penhoras que o enganaram no que lhe eram seus vexatórios Por exemplo o agricultor que residia em Milão e governava em nome de enfermo seu primo tivera a lipídica ideia de comandar como condicione de trigo Por consequência houve a proibição aos camponeses de vender seus grãos até que Sua Alteza tivesse enchido os próprios armazéns A sequência dialogal prototípica é formada por uma abertura uma fase transacional e um encerramento e pode ser assim esquematizada Fase 1 Locutor 1 intercâmbio de abertura Locutor 2 Fase 2 Locutor 1 Pergunta Locutor 2 Resposta fase transacional Locutor 1 Avaliação Fase 3 Locutor 1 intercâmbio de fechamento Locutor 2 As sequências dialogais costumam estar inseridas em gêneros narrativos com o propósito de reproduzir as falas das personagens em discurso direto e também na representação teatral Quando isso ocorre a narrativa se bifurca de um lado temos o épico o mundo narrado de outro o dramático Como exemplos de sequências dialogais na literatura podem ser citados o conto Cinquenta mil de Ernest Hemingway já mencionado e o trecho a seguir do poema Morte e vida severina de João Cabral de Melo Neto Atividade 1 Objetivo Reconhecer o gênero a que pertencem os textos Identificar a conteúdo temático b estilo e c estrutura composicional Num romance que é um gênero narrativo de certa extensão podemos encontrar textos pertencentes a outros gêneros como uma carta ou bilhete que uma personagem escreve a outra um poema um anúncio etc Os textos a seguir fazem parte do romance Triste fim de Policarpo Quaresma Solicite a seus alunos que identifiquem o gênero a que pertencem e comentemno à luz das categorias propostas por Bakhtin 2000 conteúdo temático estilo e estrutura composicional Para o texto 2 devem levar em conta apenas a história que uma das personagens lê para as outras Texto 1 Policarpo Quaresma cidadão brasileiro funcionário público certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil certo também de que por esse fato o falar e o escrever em geral sobretudo no campo das letras se vêem na humilde contingência de sofrer as constantes ásperas dos proprietários da língua além que dentro do nosso plano os autores e os escritores especialmente os gramáticos não se entendem no tocante à correção gramatical vendose diariamente surgir apenas polêmicas entre os mais profundos estudos do nosso idoma usando do direito que lhe confere a Constituição vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tipoguarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro Atividade 2 Objetivos 1 Reconhecer as características de um poema lírico particularmente quanto ao seu estrato sonoro 2 Levantar pistas que possibilitem construir um sentido para o texto Observação Para um melhor aproveitamento dos recursos poéticos do texto seria recomendável uma leitura em voz alta Inicialmente devese chamar a atenção dos alunos para a configuração gráfica do texto O fato de ele estar escrito em versos agrupados em estrofes quartetos Mostrar que os versos são regulares todos decassílabos destacando que a regularidade decorre não do número de palavras mas do de sílabas Podemse comparar o verso noites da solidão noites remotas com o verso quando os sons dos violões nas cordas gemem destacando que apesar de primeiro ter cinco palavras e o segundo oito o número de sílabas métricas é idêntico dez Ainda olhando o texto do ponto de vista semiótico mostrar que o final do verso tem sempre coincide com o final da frase ocorrendo o encadeamento ou enjambement Familiarizados com o aspecto visual os alunos deverão ser levados a perceber o estrato fonético começando pelo ritmo observando a sucessão na linha sintagmática de sílabas átonas e tônicas que as ações estão sempre em sílabas pares Além do ritmo destacar outros aspectos do estrato fônico como o esquema rímico rimas cruzadas o primeiro verso de cada estrofe rima com o terceiro e o segundo com o quarto aliterações assonâncias nasalizações marcadas pelo til ou pelas letras m e n em final de sílabas pluralização como a repetição da sílaba Familiarizados com o ritmo e a melodia levar os alunos a atentar para o componente lexical Destacar algumas palavras do texto como substantivos violões soluços choros lamento sons gemidos prantos sussurro adjetivos plangentes murmurantes chorosos suspirados verbos choram soluçando gemem Levar os alunos a perceber que essas palavras remetem à ideia de som portanto a questão da sonoridade vai além do componente fonológico podendo ser observada também no componente lexical O encadeamento de figuras garante a progressividade do texto sendo fator de coesão e coerência Levar por fim os alunos a perceber que a sonoridade é constitutiva do sentido do poema e fazêlos identificar que sentimentos ou emoções esses sons evocat As narrativas começam com a própria história da humanidade e fazem parte de todas as civilizações sejam de onde forem e apresentamse sob os mais variados gêneros mito lenda fábula conto novela romance histórias em quadrinhos cinema etc Segundo Barthes 2011 19 não há em parte alguma povo algum sem narrativa todas as classes todos os grupos humanos têm suas narrativas Ainda sobre o papel das narrativas o escritor austríaco Robert Musil 2006 689 afirma que o básico com si mesmos a maioria dos homens são contadores de histórias Para Aristóteles para quem uma das características da arte era como vimos a mimesis a narrativa diegesis é uma das formas de imitação poética a outra seria a imitação direta feita por atores falando a um público o gênero dramático As narrativas materializamse em textos verbais na forma orais ou escritos portanto qualquer estudo que se volte a narrativa va ter como objeto de investigação o texto As reflexões sobre a narrativa aqui apresentadas restringirseão a textos exclusivamente verbais uma vez que o tema do livro é o texto literário Evidente entretanto pode haver uma unidade mínima narrativa menor que o texto que pode ser descrita em termos morfossintáticos e semânticos como a frase que abre Mrs Dalloway de Virginia Woolf A Sra Dalloway disse que ela própria iria comprar as flores No entanto um texto narrativo não é uma soma de frases narrativas por isso a unidade de análise deverá ser sempre o texto Além disso como se viu um texto é narrativo porque nele predominam sequências textuais narrativas ou seja nesse tipo de texto podemse encontrar também sequências descritivas argumentativas explicativas dialógicas O estudo do texto narrativo deverá então observar como sequências narrativas se articulam que relação esse texto mantém com outros intertextualidade que características composticionais apresenta a que gênero pertence etc Quando me refiro aos conhecimentos prévios destaquei o conhecimento textual Dentro dele podese afirmar que dispõe de uma competência narrativa o que significa que entre os textos que lê o leitor saber distingue aqueles que contam uma história dos que não contam como é capaz de reconhecer versões diferentes de uma mesma história de resumir uma história de inferir quem é o narrador etc As narrativas podem se referir a um fato real ou imaginário O fato narrado é uma ação atribuída a agente humano ou antropomorfizado como nas fábulas A principal característica das narrativas literárias é o fato de serem ficcionais suas formas mais comuns na atualidade são o conto e a novela O conto por ser um gênero narrativo assim como a novela e o romance está centrado em três pilares evento personagem e espaço além do fato de a narrativa se desenrolar num tempo cronológico ou psicológico Tempo cronológico e tempo físico mensurável objetivo tem portanto caráter quantitativo tempo psicológico é o tempo vivido interiormente é subjetivo e não coincide com o tempo cronológico tem caráter qualitativo A experiência demonstra que às vezes o tempo cronológico de um minuto parece durar horas e outras vezes aquilo que ocorreu em horas parece ter transcorrido em minutos que sucede ao desenlace logo que morre ou se casa o herói ou protagonista Evidentemente o autor faz referência a um tipo de desenlace característico do romance sentimental pois o desenlace necessariamente pode não coincidir com a morte ou casamento do protagonista O caráter novatorial do epílogo de Unamuno é que uma vez dar conta dos destinos das personagens secundárias informa ao leitor do destino do protagonista No epílogo de Quincas Borba de Machado de Assis ocorre algo semelhante na medida em que é dado aos leitores do romance o destino do cão do protagonista Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba que adoeceu também ganhou infinitamente fugiu desavergonhadamente em busca do dono e amanheceu morto na rua três dias depois O que caracteriza o romance é o fato de contar uma história A história narrada também chamada diegese é a espinha dorsal dos gêneros narrativos mas diferentemente do conto e da novela a história narrada no romance tem certa extensão Forster 2005 chega a dizer que um romance não pode ter menos do que 50000 palavras e eventualmente pode trazer personagens ramificações histórias paralelas histórias que se entrelaçam em outra história Embora redigida em terceira pessoa o narrador é o próprio autor que relata sua trajetória de cronista iniciada há 64 anos fazendo um breve balanço do que essencial presenciou e relatou como cronistas durante esse tempo para em seguida despedirse dos leitores que liam suas crônicas no jornal Embora não se trate de texto ficcional ao optar por uma narração em terceira pessoa o cronista obtém um efeito de distanciamento que o tornaria mais propenso a abordar o tópico social que teve como foco Nas narrativas mais modernas podese observar alternância de foco narrativo como no conto As babas do Diablo de Julio Cortázar em que o próprio narrador inicia a narrativa dizendo não saber qual a forma que usará para narrar Nunca se saberá como isso deve ser contado se na primeira ou na segunda pessoa usando a terceira do plural ou inventando formas que não serviriam para nada O conto que serviu de argumento ao filme Blowup de Michelangelo Antonioni tem por protagonista um fotógrafo amador Roberto Michel que inicia a narração contando sua própria história portanto um narrador autodiegetico Vamos contar devagar já se verá o que acontece à medida que escrevo No parágrafo seguinte o foco narrativo se altera e um narrador heterodiegético passa a narrar em terceira pessoa a história Roberto Michel francochileno tradutor e fotógrafo amador nas horas vagas saiu do número 11 da Rue MonsieurLePrince no domingo 7 de novembro passado A alternância do foco narrativo prossegue até o final do conto ninguém sabe direito quem é que verdadeiramente está contando se sou eu ou isso que aconteceu ou o que estou vendo Segue um trecho do Livro das mil e uma noites Na noite seguinte Sahrazad disse Contase e reinventou que a jovem dona de casa disse para a califa Então é príncipe dos crentes o jovem que estendeu a mão era seu sete anos e você não se lembrou Alcorão do sua frente desperdício no filho da safra de Gaaba e me convenci da forma e eis que era como o plenilúnio que deixava de seu formoso tal como disse a respeito e não posei p Livro das mil e uma noites 2 ed São Paulo Globo 2005 I p 191 No Livro das mil e uma noites há o encaixamento de narrativas dentro de outras em que cada história há um narrador que pode diferenciarse dos outros quanto ao narrador A ação se passa em um restaurante quando chegam dois pistoleiros A porta do restaurante abriu e dois homens entraram No restaurante havia pelo menos duas pessoas George e Nick Adams que conversavam antes de os pistoleiros entrarem Ele Nick Adams conversava com George quando os dois entraram Quando uma das fatos não é nenhum dos dois mas um narrador que testemunha os acontecimentos é exatamente mesmo que outras pessoas que estiverem no restaurante naquele momento veriam Na focalização interna o narrador adota a perspectiva de uma personagem que pertence à história seja ela o protagonista ou não limitandose a narrar aquilo que vê portanto sua visão é apenas a do espaço em que circula São exemplos de focalização interna os romances São Bernardo de Graciliano Ramos e Grande sertão veredas de Guimarães Rosa cujos narradores são os personagens Paulo Honório e Riobaldo respectivamente Na focalização onisciente temse um narrador cujo conhecimento dos fatos e das personagens é praticamente ilimitado na medida em que não apenas narra o que observa mas também sentimentos e pensamentos mais recônditos como em Quincas Borba de Machado de Assis Nesse tipo de narrativa não se visualiza o narrador E como a história contada é si própria Foco narrativo O foco narrativo referese à participação ou não do narrador no evento narrado se ele é participante ou não da história como personagem O narrador não participante é chamado de heterodiegético por exemplo o narrador de A cartomante de Machado de Assis Quando participa da história é o protagonista será chamado de autodiegético por exemplo Riobaldo em Grande sertão Neste caso de ser uma outra personagem que não o protagonista como o Dr Watson nas narrativas de Conan Doyle em que Sherlock Holmes é o protagonista é Ismael o narrador de Moby Dick de Herman Melville será chamado de homodiegético O ponto de vista diz respeito à atitude do narrador face ao que é narrado ou seja se se trata de uma narração objetiva em que ele procura narrar sem manifestar juízos de valor sendo imparcial ou de uma narração subjetiva em que além de narrar emite opiniões e juízos sobre o que narra E você como vai Jack perguntei Vi esse Walcott No ginasio Vou precisar de muita sorte com esse garoto falou Jack Ele não pode com você não a chumbo admitiu Jack Pareceu concordou Jack Ele não vai durar muito Não vai durando você e eu Jerry mas no momento estou com tudo Rubião fitava a escola eram oito horas da manhã Quem o visse como os polegares metidos no cordão do chambre à janela de uma grande casa de Botafogo cuidaria que ele admirava aquele pedaço de quê mais em verdade vos digo que pensava em outro coisa narrativos a história propriamente dita aquela que reproduzimos para alguém quando nos pede que conte de que trata um romance ou um conto Este conjunto de acontecimentos que se encadeiam cronologicamente ainda sem tratamento literário recebe o nome de fábula segundo os formalistas ou diegese segundo os estudos de narratologia Coisa diferente é a forma como esses acontecimentos são narrados e apresentados literariamente Esse constitui a narrativa Recebe o nome de drama intriga ou enredo Nesta obra uso do termos fábula para a história propriamente dita independentemente da forma como está estruturada e enredo para a forma como a história é narrada ou seja o enredo diz respeito à estrutura do texto Em síntese a fábula relata o que efetivamente ocorreu e de maneira como o leitor toma conhecimento da fábula Se na fábula os acontecimentos se sucedem cronologicamente no enredo o encadeamento se dá por relações de causa e efeito por isso nem sempre o enredo apresenta os fatos em ordem cronológica A distinção que faço entre fábula e enredo é meramente didática já que o texto de uma narrativa ficcional é uma unidade e não se pode portanto separar a história da forma como é contada No dia a dia é comum as pessoas contarem aos outros com suas palavras as histórias das narrativas que leem Iisso dáse o nome de parafrasear mas a paráfrase de uma obra literária não é uma obra literária O que leva a concluir que embora a história narrada seja a matériaprima de um texto literário ela não é por si só garantia da literariedade do texto Todos temos boas histórias para contar dai transformálas em uma obra literária vai um grande passo Um aspecto que julgo importante e que não posso deixar de assinalar é o fato de a verossimilhança de uma narrativa não decorrer da história em si mas da forma como é contada Quando me referi à fábula é porque ela está ligada à imitação O que se imita na obra narrativa são ações e estas é que têm de ser verossiméis isto é as sequências narrativas devem haver uma relação de não contradição que permita ao leitor processar o texto como coerente Na novela A metamorfose de Franz Kafka o leitor aceita que o protagonista Gregor Samsa ao acordar se veja transformando num grande inseto Em Incidente em Antares de Érico Veríssimo também se aceita que mortos se reúnam no correto decompõemse e apresentado a ordem do dia para exigir que sejam sepultados Nosso conhecimento do mundo nos diz que pessoas se transformarem em baratas e mortos se reunirem em protesto são fatos impossíveis de ocorrer na realidade objetiva No entanto a realidade ficcional expressa pela obra literária não obedece às mesmas leis da realidade física Da forma como a novela de Kafka e o romance de Érico Veríssimo foram enredados sem contradições internas e transportando o leitor para um universo ficcional do absurdo ganham um poder de persuasão tal que se aceita a metamorfose de um humano em inseto e mortos reuniremse em praça pública para a caretagem as contas com os vivos Um bom enredo tem a capacidade de anestesiar o leitor fazendo com que ele se deslize do mundo real para leválo a aceitar como verdadeira a mentira mais absurda A fábula resulta de um encadeamento coeso de motivos em sequência narrativas O termo motivo segundo Reis e Lopes 2011 provém da esfera da música em que é usado como unidade mínima musicalmente significativa que tende a repetirse ao longo da partitura Em teoria literária essa palavra passa a ser empregada para designar unidades mínimas temáticas que estruturam uma narrativa O conjunto de motivos de uma narração irá constituir um tema Se o tema de uma obra é abstrato o adultério o amor o crime a vingança etc o mesmo não ocorre com os motivos uma vez que correspondem a ações presentes na narrativa que concretizam o tema A palavra motivo etimologicamente está ligada ao verbo latino movere mover O motivo é pois o que move a narrativa que faz com que ela avance Em outros termos a progressão narrativa se obtém pela sequência coesa de motivos que determina a coerência do texto O tema de Madame Bovary de Gustave Flaubert é o adultério No nível de enunciação o leitor deparase com várias ações de Emma Bovary que se encadeiam formando uma narração Essas ações casarse com Charles sentirse deprimida envolverse com um amante entregarse a ele ter outro amante envenenarse são alguns dos motivos do romance Vladimir Propp 2010 que estudou os contos populares considera motivos trágicos comuns a obras diferentes que se combinam de maneiras diversas e que são responsáveis por funções diversas Segundo esse autor nos contos populares personagens as mais diferentes posições realizam as mesmas ações ou funções Em outras palavras nesse tipo de narrativa muitos são personagens e suas caracterizações mas as funções que exercem são sempre as mesmas e aparecem sempre na mesma ordem de sucesso o que possibilita classificar os contos populares em categorias conforme as funções que são em número limitado 31 São exemplos de funções apontadas por Propp impõese ao herói uma proibição a proibição é transgredida o antagonista procura obter uma informação o antagonista tenta ludibriar sua vítima para apoderarse dela ou de seus bens o herói deixa a casa o herói e seu antagonista se defrontam em combate direto o inimigo é castigado o herói se casa e sobe ao trono Quanto às personagens Propp identifica sete esferas de ação o antagonista o que faz mal o doador o que dá o objeto mágico ao herói o auxiliador o que ajuda o herói no seu percurso a princesa e seu pai não tem de ser obrigatoriamente o rei e mandatário o herói e o falso herói O enredo diz respeito à fábula e se organiza a fim de obter um efeito artístico ou seja é o tratamento literário dado à fábula material préliterário Para melhor compreender isso basta lembrar que a fábula é uma sequência de ações que sucedem no tempo cronológico uma história tem começo meio e fim No entanto o autor valendose de estratégias discursivas pode dispor os acontecimentos em outra ordem fazendo intencionalmente digressões flashbacks ou analepses que alteram a sequência temporal dos fatos narrados No romance policial por exemplo é comum narrarse inicialmente o crime escondendose o seu autor e depois narrámose os fatos que antecederam o crime enredandoos no motim a curiosidade do leitor O conto A morte de Ivan Ilitch de Tolstoi iniciase pelo funeral do protagonista em seguida passa a a narrar retrospectivamente a vida de Ivan até sua morte Outra forma de enredar uma história é apresentar ao leitor episódios que aparentemente não têm relação uns com os outros e num determinado momento da narrativa esses episódios se integram possibilitando ao leitor estabelecer conexões entre eles como no romance Detetives selvagens do escritor chileno Roberto Bolaño Nesse romance essas aparentes desvinculações dos episódios é ainda reforçada pelo fato de eles ocorrerem em tempos e lugares distintos O capítulo 19 por exemplo fala da personagem Amadeo Salvatierra que é do México em 1976 No capítulo seguinte a personagem Xosé Lendoiro está em Roma em 1992 Em O complexo de Portnoy de Philip Roth o narrador autodiegético Alexander Portnoy narra sua vida a um psicanalista segundo o tempo de suas lembranças que não coincide com a cronologia da sua vida Assim num momento ele relata um fato de sua vida adulta e no momento seguinte um fato de sua infância Cabe ao leitor como uma técnica psicanalítica construir a trajetória de vida de Portnoy a partir de fragmentos narrados sem aparente relação de uns com os outros Em outras narrativas modernas podese observar até mesmo o abandono de formas tradicionais de enredo em que ocorre desconstruologização a narração passa a seguir o fluxo de consciência da personagem como pode se observar nos romances de Virginia Woolf William Faulkner James Joyce Clarice Lispector por exemplo Uma obra aqui mencionada o romance O jogo da amarelinha de Julio Cortázar apresentam uma técnica inovadora de narrar tanto o romance pode ser lido de diversas formas O leitor é quem decide a forma de lêlo podendo fazêlo do modo tradicional página após página ou lendo os capítulos não na ordem em que aparecem no livro mas em outra sequência sugerida pelo autor o que evidentemente renderá histórias diferentes Se a fábula é o material préliterário a leitura de um texto literário narrativo pressupõe que o leitor não se restrinja ao nível da fábula mas que perceba como o autor a apresentou por isso não tem sido uma prática comum entre estudantes ler já no meio da narrativa ligase não se limita à leitura de resumos já que por mais elaborado que seja o resumo ele costuma ficar restrito ao nível da fábula não conseguindo reproduzir o trabalho do autor com o enredo O mesmo ocorre com a adaptação de obras literárias para outras linguagens cinema televisão história em quadrinhos Se a fábula pode ser parafraseada há uma intradutibilidade do enredo construído verbalmente para uma linguagem que se apoia em outro sistema de signos pois no nível do discurso não são os acontecimentos narrados que contam mas a forma de contálos Não é sem razão que Ernest Hemingway em sua obra As correntes da primavera num determinado momento a narrativa alerta diretamente o leitor para ria e o tempo do discurso A relação entre esses dois tempos é essencial para a organização da narrativa literária O tempo da fábula tem extensão variável A história narrada pode ter duração do um dia como nos romances Ulisses de James Joyce e Mrs Dalloway de Virginia Woolf ou mesmo anos como em Cem anos de solidão de Gabriel García Márquez Normalmente a passagem do tempo da fábula é marcada linguisticamente por meio de expressões como na semana seguinte Depois das quatro horas foi dormir Pouco dublado acordou às sete horas Um homem célebre Machado de Assis etc assim como indicações de quando os fatos narrados ocorreram Era no tempo do rei Memórias de um sargento de milícias de Manuel Antônio de Almeida No princípio do mês de abril de 1813 Amulher de trinta anos de Balzac Em alguns contos e especialmente nos contos de fadas prevalece a indicação de tempo de forma vaga Era uma vez um homem e uma mulher que havia muito desejavam ter filhos mas nunca tinham conseguido Rapunzel recolhido pelos irmãos Grimm Foi de incer tamente a evento Famigerado de Guimarães Rosa Nesses casos a indicação temporal tem mais a função de distanciar o acontecimento no tempo da matéria narrada do que de situálo As narrativas ficcionais podem comportar um outro tempo da fábula um tempo subjetivo vivenciado pela personagem e que não pode ser medido em tempos cronológicos a que damos o nome de tempo psicológico como ocorre por exemplo em romances de Virginia Woolf e em narrativas de Clarice Lispector Tratase de um tempo subjetivo em que a personagem mergulha em si mesma retornando ao passado pela memória ou projetandose num futuro Uma das técnicas mais usadas para marcar o tempo psicológico é o monólogo interior ou solilóquio pelo qual se reconstitui a fluxo de consciência de personagens O monólogo interior diferese do monólogo comum na medida em que é um discurso que não possui auditor que ouve não a própria personagem temse uma expressão íntima do pensamento da personagem quanto à sua forma a organização sintática dos enunciados costuma afastarse de um padrão convencional na medida em que os elementos responsáveis pela coesão gramatical nem sempre estão presentes configurando muitas vezes um discurso caótico como neste trecho de Ulisses de James Joyce O sim é a tia dele gostava muito de ostras mas eu lhe disse o que eu pensava dela sugerindo que eu fizesse para ele que ficasse sozinho com ela na ida e rebaxir expondo as dos as ligas que encontrei no quarto dela na sextafeira em que ela saiu aqui foi o bastante para mim um pouco demais o rosto dela se infloi do caiu dizendo que eu tinha semanas de trabalho em cuido disso e melhor passar de todo essa vez ela arrumou os quartos em mesma mais rápido a não pela infeliz da cozinha e a limpeza do pôr do eu tinha nele de qualquer forma ou ela ou eu saiu de casa eu não podia sequer tocar nele se eu pensasse que ele estava com uma sua mentirosa desgraçada e deselexada À medida que se lê percebese que não só o tempo da história passa ora mais rápido ora mais devagar em outros casos até retornando a um acontecimento que ficou lá no passado mas também que o tempo que se destina a leitura também passa Podese em uma hora de leitura acompanhar anos de uma história ou ficar dias lendo história que ocorreram num dia como no Ulisses de Joyce que em suas mais de 900 páginas e mais de 400000 palavras narra um dia 16 de junho de 1904 vida do protagonista Leopold Bloom em Dublin Irlanda No romance e isso vale para as demais formas narrativas o tempo da fábula pode estar indicado na narrativa um do caso de Ulisses em com no romance Cem anos de solidão no entanto não são todos os acontecimentos ocorridos nesse tempo que são narrados na medida em que ocorrerá sob trazidos para Em relação ao tempo da fábula Memórias póstumas de Brás Cubas percorre toda a vida do narradorpersonagem desde seu nascimento até sua morte portanto 64 anos O ponto de vista temporal do narrador o tempo da enunciação ou tempo do discurso é presente marco pelo qual o narrador vai organizar a temporalidade retornando no nível da fábula a acontecimentos passados esperei às duas horas da tarde de uma sextafeira do mês de agosto de 1869 Para saber mais A palavra personagem do latim persona ae traz em si a ideia de máscara Persona de per sonare soar através de e a máscara usada pelos atores nas representações que possibilita que o som da voz chegasse bem aos espectadores Há narrativas com protagonista dual ou seja duas pessoas protagonizando as ações no mesmo nível de importância Perguntando qual o protagonista de Romeu e Julieta não haveria como responder citando apenas um deles No romance machadiano Esau e Jacó dois imãos gêmeos Pedro e Paulo protagonizam os acontecimentos Napoleão no romance Guerra e paz de Tolstói passa a ser uma personagem ficcional como Pierre Natasha Nikolai Andrei Sônia e tantos outros que fazem parte da narrativa pois o Napoleão éali retratado contra verdadeira fidelidade à uma criação literária de Tolstói reconstruída a partir do Napoleão real que Tolstói conheceu e estudou pelos livros A principal intenção deste estudo passional está em evocar uma Cidade a Cidade como personagem essencial que associada aos estados dalma aconselha dissuade induz a agir Assim dentro da realidade esta Bruges que elegemos com ardor aparece quase humana exercendo sua ascendência sobre todos seus habitantes nobilitandoos segundo seus lugares e seus sino Quando tratei de narrativas centradas no espaço citei como exemplos os romances O cortiço e Bruges a morta Cumpre destacar que o cortiço e a cidade de Bruges nesses romances não são meros cenários mas ambientes na medida em que são determinantes no comportamento das personagens aos conhecimentos textuais defendo que os textos literários têm características próprias que os diferem de outros textos e isso não reside apenas no gênero pois como assinalei nem tudo que é escrito em versos é poesia como nem todo romance é literatura Além disso comece este livro discutindo que não é pacífica a classificação de um texto como literário O caminho por que optei foi abordar os textos literários a partir dos gêneros ao contrário do que comumente se faz na escola em que o estudo da literatura se concentra em aspectos relativos ao estilo de época Embora os gêneros literários historicamente sofram mudanças o romance atual difere do romance do século XIX a poesia moderna difere da poesia do século XVII há algo que permanece nos gêneros e não permaneceresse seria outro gênero Bakhtin ressalta que os gêneros são formas relativamente estáveis Intentei explicar o que caracteriza um romance um conto uma novela um poema Cabe ao leitor de posse dos conceitos apresentados ver como eles se configuram nas diversas obras literárias Ao mostrar como na romance há personagem fábula enredo narrador tempo espaço procurei fornecer subsídios para que se observe como tais componentes desse gênero narrativo se manifestam em diferentes textos concretos ou seja os aspectos teóricos levantados servem de guia para orientar a leitura levando o observar o papel do narrador das personagens como a história é enredada como se desenrolam os acontecimentos no tempo etc ADAM JeanMichel A linguística textual introdução à análise textual dos discursos São Paulo Cortez 2011 AGUIAR e SILVA Vítor Manuel de Teoria da literatura 8 ed Coimbra Almedina 2011 ALIGHIERI Dante A divina comédia 7 ed Belo Horizonte Vila Rica 1991 ALMEIDA Júlia Lopes de A canção In MORCÓN Talo Org Os em melhores contos brasileiros do século Rio de Janeiro Objetiva 2001 pp 3945 ALMEIDA Manuel Antônio de Memórias de um sorteio de milícias Cotia Belo HorizonteRio de Janeiro 2004 ANDRADE Míriam Macunama o herói sem nenhum caráter 38 ed Rio de Janeiro 2004 ANJOS Augusto dos Ee outras poesias 31 ed Rio de Janeiro Livraria São José 1971 ANJOS Cryo dos O amanhecer Belmira 8 ed Rio de Janeiro José Olympio 1975 ARISTÓTELES Arte Retórica e Arte Política São Paulo Discurso do Livro 1959 ASSIS Machado de Dom Casmurro Machado de Assis obra completa Rio de Janeiro Aguilar 1979 Memórias póstumas de Brás Cubas Machado de Assis obra completa Rio de Janeiro Aguilar 1979 Quinicas Borba Machado de Assis obra completa Rio de Janeiro Aguilar 1979 AZEVEDO Aluísio O cortiço Porto Alegre Ed Magalhães 1990 A pista para os alunos perceberem a forma como se dispõe o enredo encontrase no próprio título do conto Desenredo O título do conto atua como funcionalizador A partir dele o leitor cria um contexto cognitivo que orientará sua leitura É cedi em partes essa contextualização prospectiva dada pelo título pode não se confirmar o que não é o caso do conto de Guimarães Rosa na medida em que o título é pista que possibilita ao leitor construir o sentido do texto Questionar os estudantes sobre o autor optou por esse título e não por outro como A mulher traidora A esposa infiel A mariposa voadora por exemplo Esperase que os estudantes identifiquem que se enreda uma história e a seguir ela é desenredada O conto serve portanto como excelente ilustração de como se construiu uma narrativa ficcional Quanto à perspectiva a focalização é onisciente quanto à participação tratase de um narrador heterodiegético e quanto ao ponto de vista narrador subjetivo O final do percurso se aproxima e por isso gostaria de fazer um balanço do que aqui foi discutido O objetivo não foi apresentar uma obra para especialistas tampouco tive a pretensão de esgotar o tema As reflexões apresentadas procuraram fornecer subsídios para uma leitura eficaz de textos literários Ressalto que nada supre a leitura dos próprios textos pois a formação do leitor literário se faz pela leitura contínua e atenta de romances contos poemas crônicas de autores diversos de épocas diversas de nacionalidades diversas Comentei que a intertextualidade é constitutiva dos textos Um texto remete a outro que por sua vez remete a outro de forma que o conhecimento do que se produz e produziu em literatura é essencial para entender os textos e esse conhecimento se adquire pela leitura Falei que no ato de ler estão envolvidos diversos conhecimentos linguísticos enciclopédicos textuais interacionais Quanto Baixmt Mikhail Os gêneros do discurso Estética da criação verbal 3 ed São Paulo Martins Fontes 2007 pp 277286 Banan Huda A lírica em prosa São Paulo Rocco 2012 Barbero Lima Triste fim de Policarpo Quarentena São Paulo Penguin 2012 Bartels Roland Introdução à análise estrutural na narrativa 1 ed Petrópolis Vozes 2011 pp 1962 Beaudoin RobertAlain de Dressler Wolfgang Introdução à linguística de texto 3 ed Barcelona Ariel 2005 Benvensite Emílie A subjetividade na linguagem Problemas de lingüística geral 1 ed Campinas Pontes Editora da Universidade Estadual de Campinas 1995 pp 28493 Ernani Terra é doutor em Língua Portuguesa pela PUCSP onde defendeu tese sobre leituras de professores Desenvolve pesquisas sobre leitura do texto literário e sobre estudos de linguagem para ensino de Português Exerce o magistério desde 1974 lecionando nos ensinos fundamental médio e superior nas disciplinas Língua Portuguesa Literaturas de Língua Portuguesa Práticas de Leitura e Escrita e Metodologia do Trabalho Científico É autor de obras didáticas paradidáticas e artigos acadêmicos nas áreas de Língua Portuguesa Literatura e Leitura e Produção de Textos É coautor do livro Ensino de língua portuguesa oralidade escrita e leitura publicado pela Editora Contexto