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Pedagogia ·
Sociologia
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Educação Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas Marx Durkheim e Weber Paula Cristina Lopes Índice 1 A educação em Karl Marx 2 2 A educação em Émile Durkheim 4 3 A educação em Max Weber 8 Notas finais 10 Bibliografia 11 Resumo Educação sistemas políticas e proces sos educativos têmse tornado questões cen trais nas sociedades contemporâneas A dis cussão implica uma reflexão sobre o próprio conceito de educação na verdade os de bates contemporâneos neste âmbito podem já ser desvendados na tradição clássica Nem todos os clássicos da Sociologia deram par ticular relevo às questões relacionadas com educação Há três nomes incontornáveis neste domínio Karl Marx Émile Durkheim e Max Weber Embora Marx e Weber não se tenham debruçado explicitamente so bre os sistemas educativos e apenas tenham Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Autónoma de Lisboa Centro de Inves tigação e Estudos de Sociologia do ISCTEIUL Bol seira de Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia Email PaulaCristinaLopes isctept abordado a questão de modo ocasional in tegrando uma teoria geral Durkheim pro duziu uma série de documentos seminais da sociologia da educação Ao longo de uma carreira académica com mais de três décadas muitos foram os textos cursos e comunicações que gerou alcançando reco nhecimento não só como sociólogo mas tam bém como ideólogo da pedagogia Palavraschave Sociologia da Educação Teorias Sociológicas Clássicas Karl Marx Émile Durkheim Max Weber Abstract Education systems policies and educa tional processes have become central issues in contemporary societies The discussion implies reflecting on the very concept of e ducation In fact current debates in this area could already be seen in the classical tradi tion Not all the Sociology classics paid par ticular attention to educationrelated issues Three names are mandatory reading in this field Karl Marx Emile Durkheim and Max Weber While Marx and Weber did not ex plicitly grapple with educational systems and only occasionally addressed the issue as part of a general theory Durkheim produced a se 2 Paula Cristina Lopes ries of seminal papers in the sociology of e ducation Throughout his over threedecade long academic career he produced numerous texts courses and papers and became known not only as a sociologist but also as an edu cational theorist Keywords Sociology of Education Clas sical Sociological Theory Karl Marx Émile Durkheim Max Weber 1 A educação em Karl Marx1 A sociologia materialista histórica dialéctica de Karl Marx 18181883 é a sociologia da luta de classes a so ciologia das relações de poder no seio das sociedades capitalistas do estrutura lismo sócioeconómicopolítico Em pou cas palavras digamos que o marxismo é a sociologia do conflito isto é do antago nismo Aron 1991 181 As contradições da sociedade capitalista nomeadamente en tre classes entre forças e relações de pro dução e entre progressão das riquezas e miséria crescente da maioria conduzirão à crise revolucionária a revolução do pro letariado feita pela maioria em benefício de todos Na sequência e em consequên cia dessa revolução ocorrerá a supressão si multânea do capitalismo e das classes Aron 1991 147 A educação não é temática dominante na 1Karl Marx faz referência a educação nos do cumentos Manifesto do Partido Comunista 1848 Instruções aos Delegados do Congresso da As sociação Internacional dos Trabalhadores 1866 ou O Capital 18671894 por exemplo Para aceder a todos os documentos do autor sobre educação ou outras temáticas sugerimos a con sulta do sítio httpwwwmarxistsorg portuguesmarxindexhtm obra de Karl Marx Neste campo tal como em muitos outros o enquadramento fazse em relação ao seu desenvolvimento no pro cesso histórico das sociedades a concepção marxista de educação tem também por base o materialismo histórico A educação é uma forma de socializa ção de integração dos indivíduos numa so ciedade sem classes no contexto do materia lismo histórico No modelo marxista infra estrutural superestrutural dialéctico de relação recíproca a escola faz parte da superestrutura tal como o Estado ou a família por exemplo e a educação é assu midamente um elemento de manutenção da hierarquia social de controlo das classes dominantes sobre as classes dominadas isto é de dominação da burguesia sobre o pro letariado As ideologias que estabelecem as regras são as das classes dominantes dos ideólogos produtos típicos das universi dades burguesas Morrow e Torres 1997 25 As ideias da classe dominante são em todas as épocas as ideias do minantes ou seja a classe que é o poder material dominante da sociedade é ao mesmo tempo o seu poder espiritual dominante A classe que tem à sua disposição os meios para a produção material dispõe assim ao mesmo tempo dos meios para a produção es piritual pelo que lhe estão as sim ao mesmo tempo submeti das em média as ideias daque les a quem faltam os meios para a produção espiritual As ideias dominantes não são mais do que a expressão ideal ideell das re wwwboccubipt Educação Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas 3 lações materiais dominantes as re lações materiais dominantes con cebidas como ideias portanto das relações que precisamente tornam dominante uma classe portanto as ideias do seu domínio Os in divíduos que constituem a classe dominante também têm entre ou tras coisas consciência e daí que pensem na medida portanto em que dominam como classe e de terminam todo o conteúdo de uma época histórica é evidente que o fazem em toda a sua extensão e portanto entre outras coisas do minam também como pensadores como produtores de ideias regu lam a produção e a distribuição de ideias do seu tempo que portanto as suas ideias são as ideias domi nantes da época Marx e Engels 18451846 A Ideologia Alemã2 As ideias passadas pela escola burguesa à classe operária passadas ao proletariado por professores ao serviço da reprodução culturalsocial e neste sentido o educador tem ele próprio de ser educado3 criam uma falsa consciência de classe Para su perar essa tensão Marx apresenta várias pro postas dispersas por obras mais ou menos relevantes ao longo dos anos Em 1848 Karl Marx propõe um modelo 2Marx Karl Engels Friedrich 1845 A Ideologia Alemã Retirado em Setembro 7 2010 de httpwwwmarxistsorgportugues marx1845ideologiaalemaoecap2 htmi10 3Marx Karl 1845 Teses sobre Feuer bach Retirado em Setembro 7 2010 de httpwwwmarxistsorgportugues marx1845tesfeuerhtm de educação igualitário para todos os indiví duos no propagandístico Manifesto do Par tido Comunista No segundo capítulo do texto intitulado Proletários e Comunistas Marx defende que uma das medidas ine vitáveis como meios de revolucionamento de todo o mundo é a Educação pública e gra tuita de todas as crianças4 A educação reivindicada como direito pela classe ope rária institucionalizase como paradigma social Caminhase em direcção à universa lização e à massificação do ensino em di recção à educação de e para todos O modelo de educação preconizado por Marx é apresentado com maior detalhe no I Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores em 1866 O documento Ins truções aos Delegados do Congresso da AIT define o que se entende por educação numa perspectiva marxista Por educação entendemos três coisas 1 Educação intelectual 2 Educação corporal tal como é pro duzida pelos exercícios de ginástica e militares 3 Educação tecnológica abrangendo os princípios gerais e científicos de to dos os processos de produção e ao mesmo tempo iniciando as crianças e os adolescentes na manipulação dos instrumentos elementares de todos os ramos da indústria A divisão das cri anças e dos adolescentes em três cate 4Marx Karl Engels Friedrich 1848 Manifesto do Partido Comunista Reti rado em Setembro 7 2010 de http wwwmarxistsorgportuguesmarx 1848ManifestoDoPartidoComunista cap2htm wwwboccubipt 4 Paula Cristina Lopes gorias de 9 a 18 anos deve compreen der um curso graduado e progressivo para a sua educação intelectual corpo ral e politécnica Os custos destas es colas politécnicas devem ser em parte cobertos pela venda das suas próprias produções Marx 1978 223 O trabalho é em Marx um princípio e ducativo O homem total constituise a par tir da articulação ensino trabalho desde a infância a partir de uma preparação politéc nica para desenvolver o maior número pos sível de ocupações Aron 1991 169 Na base deste processo de preparação do indiví duo encontrase a tríade educação intelec tual educação física educação profis sional Nas Minutas das Sessões do Con selho Geral da Associação Internacional de Trabalhadores de 17 de Agosto de 1869 podem lerse algumas referências a este propósito o trabalho mental deve ser com binado com o corporal com a ginástica e a instrução tecnológica a educação deve ser nacional sem ser governamental pública por um lado é preciso uma mudança das circunstâncias sociais para criar um ade quado sistema de educação por outro lado é preciso um sistema de educação adequado para poder mudar as circunstâncias sociais5 dialéctica entre o social e o educativo en tre teoria e prática Como se depreende esta é uma formação para a acção de cariz político laico e público participativo de construção de melhores cidadãos Mais e ducação equivale a mais liberdade social 5Para uma leitura mais aprofundada cf Marx Karl 1869 On General Education Retirado em Setembro 7 2010 de httpwwwmarxists orghistoryinternationaliwma documents1869educationspeechhtm A educação tem por missão histórica a emancipação do homem a sua libertação praxis libertadora que levará à construção de uma nova ordem social O processo e ducativo deve ser entendido como o processo pelo qual os indivíduos produzem a sua e xistência homemcidadão sujeito produtor do seu próprio processo histórico numa perspectiva abrangente em vários sentidos e como meio de combate a uma alienação crescente típica das sociedades capitalistas A ideia de que a necessidade capitalista de uma força de trabalho mais flexível obriga à introdução da escolaridade básica pública e à constituição das escolas técnicas é também desenvolvida no primeiro volume da obra O Capital publicada em três tomos entre 1867 e 1894 Morrow e Torres 1997 25 A formaçãoinstrução do proletariado é a porta para o conhecimento mas também a porta para a transformação da sociedade Este é o carácter revolucionário da educação Santos 2005b a evolução é sempre um produto revolucionário A implementação da educação politécni caindustrial é outro dos paradigmas edu cativos em análise e discussão desde Karl Marx 2 A educação em Émile Durkheim6 A sociologia estruturalista funcionalista sistémica de Émile Durkheim 18581917 é a sociologia da objectivação do social da coisificação das relações sociais Cruz 6Os principais documentos de Émile Durkheim sobre educação são Educação e Sociologia A Edu cação Moral e A Evolução Pedagógica em França publicados em 1922 já após a sua morte pelo seu discípulo Paul Fauconnet wwwboccubipt Educação Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas 5 1989 XI Esta ciência autónoma e em pírica assente na teoria do facto social é a solução científica para decifrar o mundo Em poucas palavras digamos que é uma so ciologia do consenso e da ordem da coe são social da moral entendida como pro duto social Marx está para as relações de poder como Durkheim está para as relações de coesão social A sociologia durkheimiana ensina o respeito pelas normas colectivas Aron 1991 383 A teoria da educação durkheimiana inspirase na sua teoria sociológica geral Durkheim interessouse desde cedo pela educação enquanto objecto de estudo so ciológico pelo carácter socialhistórico do fenómeno educativo pelos métodos de educação de cada sociedade em determi nado período histórico pela forma como uma sociedade disciplina e integra através da educação pela forma como favorece a realização dos seus membros Foi o primeiro autor clássico a afirmar a educação como processo social como fenómeno social capaz de ser descrito analisado e explicado sociologicamente Sebastião 2009 23 como função essencialmente social Durkheim 2009 61 como coisa eminentemente social Durkheim 2009 94 Este clássico da pedagogia francesa teórico fundador da sociologia da educação considera que os fins da educação devem ser determinados pela sociologia A sua teoria define a educação como bem social A sociedade considerada como meio condiciona o sistema de e ducação Todo o sistema de edu cação exprime uma sociedade res ponde a exigências sociais mas tem também por função perpetuar os valores da colectividade A es trutura da sociedade considerada como causa determina a estrutura do sistema de educação e este tem por fim ligar os indivíduos à colec tividade e convencêlos a tomarem como objecto do seu respeito ou da sua dedicação a própria sociedade Aron 1991 374 Tal como vimos na proposta educativa de Marx também o modelo durkheimiano de ensino assenta na ideia de uma escolarização pública e laica embora defenda que a edu cação deva ser submetida à acção do Estado Durkheim não prevê a monopolização estatal do ensino o indivíduo é mais facilmente i novador do que o Estado Durkheim 2009 61 E tal como no marxismo está lhe subjacente uma teoria da reprodução Durkheim vê a transmissão do saber como modo de perpetuação da ordem social de re produção da organização social A educação tem uma função social colectiva Uma sociedade predominantemente caracterizada pela solidariedade orgânica assenta na di fusão de valores morais e na divisão do tra balho A consolidação deste tipo de soli dariedade passa pela difusão de uma edu cação secular e científica Sebastião 2009 25 educação que contribui para a coesão social através da inculcação moral e da qua lificação e redistribuição dos indivíduos pela estrutura social Sebastião 2009 28 Como salienta Ortega no texto La Educación como Forma de Dominación Una Interpretación de la Sociologia de la Educación Durkhei miana a escola configurase como institui ção total envolvente que possibilita a indi vidualidade apenas enquanto esta é uma ex pressão de uma função social concreta da wwwboccubipt 6 Paula Cristina Lopes posição ocupada dentro da divisão social do trabalho Ortega 1999 13 A proposta educativa de Durkheim as senta na socialização progressiva das no vas gerações como meio de preservar a or dem social a pedagogia reproduz a orga nização social Para que haja educação é pois necessário termos em presença uma geração de adultos e uma geração de jovens e uma acção exercida pelos primeiros sobre os segundos Durkheim 2009 49 Pela leitura da sua definição a fórmula de e ducação a educação é a acção exercida pelas gerações adultas sobre aque las que ainda não estão maduras para a vida social Tem por objecto suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físi cos intelectuais e morais que lhe exigem a sociedade política no seu conjunto e o meio ao qual se des tina particularmente Durkheim 2009 53 deduzimos a ampliação do conceito a e ducação é a acção exercida por pais e pro fessores sobre a criança é uma acção que ocorre ininterruptamente é uma acção que constitui a criança como um ser individual e nesta abordagem aproximase em ter mos de colaboração teórica à psicologia mas também como um ser social Durkheim afirma a existência no indivíduo de dois seres distintos embora separáveis apenas por abstracção o ser individual estados mentais particulares e o ser social sis tema de ideias sentimentos e hábitos que experimem o grupo ou grupos a que per tencemos O fim da educação é constituir esse ser social Durkheim 2009 53 A educação perpetua e reforça a homogenei dade entre os seus membros fixando com antecedência na alma da criança as simili tudes que a vida colectiva exige Durkheim 2009 52 Ela cria no homem um novo ser Durkheim 2009 54 o ser novo que a acção colectiva por via da educação edifica assim em cada um de nós representa o que há de melhor em nós o que há em nós de verdadeiramente hu mano O homem com efeito só é um homem porque vive em so ciedade Durkheim 2009 57 A educação é um processo de socializa ção constante do indivíduo que tem por fi nalidade fazer dele um ser verdadeiramente humano Durkheim 2009 59 um ser novo assegurando simultaneamente e em consequência entre os cidadãos uma co munhão de ideias e de sentimentos sem os quais qualquer sociedade é impossível Durkheim 2009 61 Há portanto uma dupla consequência a progressão indivi dual e a manutenção social Na sociolo gia durkheimiana entre sociedade e indi víduo não existe propriamente conflito pelo contrário sociedade e indivíduo são ideias interdependentes Do ponto de vista durhkeimiano o sis tema educativo deve ser meritocrático de expressão das capacidades individuais em bora reconheça o peso da herança cega mesmo que o percurso de uma criança não fosse em grande parte predeterminado por uma hereditariedade cega a diversidade moral das profissões não deixaria de arras tar consigo uma grande diversidade pedagó wwwboccubipt Educação Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas 7 gica Durkheim 2009 50 Neste par ticular como cada profissão é caracterizada por uma bateria de competências teórico práticas a partir de uma certa idade a educação não poderá manterse a mesma para todos os indivíduos aos quais se aplica Durkheim 2009 97 o que nos leva por um lado à ideia de uma crescente divisão do trabalho social e por outro à de uma cres cente especialização é a sociedade que para poder sub sistir precisa que o trabalho se di vida entre os seus membros e de uma forma mais do que de outra É por isso que prepara com as suas próprias mãos pela via da e ducação os trabalhadores especia lizados de que precisa É pois por ela e através dela que a educação é tão diversificada Durkheim 2009 98 O significado social do trabalho do edu cador também é abordado O professor laico deve acreditar na sua tarefa e na grandeza da sua tarefa já que ele é a voz de uma grande pessoa moral que o ultrapassa é a sociedade Da mesma forma que o padre é o intérprete do seu deus ele é o intérprete das grandes ideias morais do seu tempo e do seu país Durkheim 2009 69 Este intér prete deve atender à individualidade que há em cada criança e deve procurar favorecer o seu desenvolvimento interessante como também Marx abordou a questão embora de forma absolutamente distinta ao criticar a concepção burguesa de educação que na sua perspectiva não considera as crianças como seres concretos mas como seres abstractos Em vez de aplicar a todos de uma forma invariável a mesma regulamentação impes soal e uniforme deverá pelo contrário di versificar os métodos segundo os tempera mentos e as características próprias de cada inteligência Uma educação empírica maquinal não pode deixar de ser compreen siva e niveladora Durkheim 2009 84 Durkheim distingue educação de peda gogia A educação é a matéria da peda gogia a pedagogia é a reflexão sobre fac tos da educação é por assim dizer uma teo ria prática Na mesma linha conceptual de fine práticas educativas como modalidades da relação entre gerações que servem de objecto a uma ciência a ciência da edu cação As práticas educativas não são factos isolados uns dos outros mas para uma mesma sociedade estão ligados num mesmo sistema em que todas as partes con tribuem para um mesmo fim é o sistema de educação próprio de um lugar e de um tempo Durkheim 2009 75 As aspi rações ideais de uma sociedade que variam consoante o momento histórico que atra vessa traduzemse em doutrinas pedagógi cas que dependem também elas do estado do ensino em cada momento Só a história do ensino e da pedagogia permite determinar os fins que a educação deve seguir em cada momento o ideal pedagógico de uma época exprime antes de mais o estado da so ciedade na época considerada Durkheim 2009 89 A educação é assim na teoria durkhei miana um meio de autorenovação das so ciedades o cimento que une os indivíduos numa suficiente homogeneidade afirmando se simultaneamente a coexistência da diver sidade que assegura a manutenção a coesão social Para além da família por exemplo a escola é um dos pilares do processo de so wwwboccubipt 8 Paula Cristina Lopes cialização do indivíduo mas também uma das instituições mais poderosas de combate à anomia ao dispor de uma sociedade O seu papel central na integração sucessiva de cidadãos em dada comunidade está im plicitamente correlacionado com a sua cen tralidade enquanto motor e reprodutor de diferenciação social Os fins da educação são sociais os meios que emprega são sociais as necessidades a que responde são sociais Mas também morais a educação é um pilar basilar da construção e manutenção de uma comunidade moral As propostas educativas pedagógicas de Durkheim mantêm a actualidade há mais de um século como referencial teórico metodológico a nível de reflexividade social isto é de investigação das funções do sis tema educativo e dos processos educativos desenvolvida a um nível teórico eou em pírico ou de acção social implicada no curso histórico das sociedades particular mente na questão das políticas educativas e em concreto da educação para a cidadania 3 A educação em Max Weber7 A sociologia accionalista compreensiva interpretativa explicativa de Max Weber 18641920 é a sociologia da acção social dotada de sentido e de significado subjec tivo o sentido é interactivo porque tem sig nificado social é subjectivo porque indivi dual A sociologia de Weber é a ciência 7O pensamento de Max Weber sobre educação consta em textos como Ensaios de Sociologia A Ciência como Vocação Os Letrados Chineses Buro cracia ou Sobre a Universidade ou em discursos académicos como A Profissão e a Vocação de Cien tista A Profissão e a Vocação do Homem Político Universidade de Munique 1918 que se propõe compreender interpretativa mente a acção social para deste modo a ex plicar causalmente no seu desenrolar e nos seus efeitos Cruz 1989 584 a acção é o comportamento humano dotado de sentido subjectivo a acção social é a acção onde o sentido se refere ao comportamento à con duta de outras pessoas Há quatro tipos de acção a acção racional relativamente a um fim a acção racional relativamente a um valor a acção afectiva a acção tradicional a que correspondem três tipos de domi nação racional carismática tradicional Em poucas palavras digamos que a sociolo gia weberiana é a uma teoria racionalista da acção social dotada de intencionalidade sig nificativa Cruz 1989 XII Ao contrário de Durkheim que pretendia explicar factos sociais Weber procura cap tar para depois compreender e interpre tar conexões de sentido o conteúdo sim bólico nas acções dos indivíduos O en tendimento dos fenómenos sociais é pos sível pelo método compreensivo compreen der significa sempre apreensão interpreta tiva do sentido Weber defende a utiliza ção do tipo ideal o centro da sua dou trina racionalista O conceito de tipo ideal ligase à noção de compreensão ao processo de racionalização e à concepção analítica e parcial da causalidade Aron 1991 495 São exemplo de tipos ideais o capitalismo a democracia a sociedade a burocracia a lei Olhemos mais de perto o tipo ideal buro cracia é a organização permanente da co operação entre numerosos indiví duos exercendo cada um deles uma função especializada O buro crata exerce uma profissão sepa wwwboccubipt Educação Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas 9 rada da vida familiar desligada como poderíamos dizer da perso nalidade que lhe é própria Aron 1991 507 Ao contrário de Marx para Weber a ca racterística mais evidente da sociedade capi talista é a racionalização burocrática A es trutura social de poder assenta em três tipos de ordem a económica que se exprime nas classes a social que se exprime no status e a da luta pelo poder que se exprime nos partidos Tal como em Karl Marx a educação não é temática dominante na obra de Max We ber Na verdade a sua influência nesta área data de finais dos anos 60 início dos anos 70 do século XX e pode sistematizarse da seguinte forma Weber trabalha um modelo implícito de reprodução no âmbito da teoria da burocracia atribuindo ao Estado um pa pel de agente de uma racionalização societal global e de mediador de conflitos entre gru pos sociais Morrow e Torres 1997 27 A proposta weberiana possibilita a compreen são da dinâmica micro e macro do fenó meno educativo nomeadamente as suas re laçõesconexões com outras esferas do so cial instituições e grupos por exemplo A educação relação associativa como qual quer relação social modo de preparação dos homens para a vida social é para We ber tal como para Karl Marx um meca nismo que contribui para a manutenção de uma situação de dominação de um grupo em relação a outro na perspectiva webe riana seja a dominação racional carismática ou tradicional Os exames nas universi dades são exemplo dessa dominação obe diência Mas vai mais longe segundo We ber a ambivalência dos exames traduzse por um lado na selecção de indivíduos de classes sociais privilegiadas que vêm a ocu par posições privilegiadas na sociedade por outro esse sistema pode resultar na consti tuição e reprodução de uma casta privi legiada O diploma símbolo de prestígio social ao mesmo tempo que certifica a es pecialização dos indivíduos peritos abre portas à obtenção de vantagens económi cas e sociais por exemplo pelo ingresso nas instituições públicas e privadas e pela ocu pação de cargos nessas estruturas burocráti cas A selecção social é um elemento per manente na sociedade e a educação contribui para essa selecção social favorecendo o ê xito individual O diploma é um critério de selecção social A educação é portanto fac tor de estratificação social A escola é palco de relações de poder logo de dominação combina a dominação tradi cional com a burocrática No centro da pro posta weberiana está a identificação de três tipos de educação a carismática a huma nista de cultivo a racionalburocrática especializada Historicamente os dois pólos opostos no campo das finalidades educacionais são despertar o carisma isto é qualidades herói cas ou dons mágicos e transmi tir o conhecimento especializado O primeiro tipo corresponde à es trutura carismática do domínio o segundo corresponde à estrutura moderna de domínio racional e burocrático Os dois tipos não se opõem sem ter conexões ou transições entre si O herói guer reiro ou o mágico também neces sita de treino especial e o fun wwwboccubipt 10 Paula Cristina Lopes cionário especializado em geral não é preparado exclusivamente para o conhecimento São porém pólos opostos dos tipos de edu cação e formam contrastes mais radicais Entre eles estão aque les tipos que pretendem preparar o aluno para a conduta da vida seja de carácter mundano ou religioso Weber 1971 482 Os três tipos de dominação correspon dem aos três tipos de educação sendo que cada um deles é mais ou menos valorizado pelas instituições burocráticas políticaseconómicassociais em determi nada época a dominação carismática corres ponde à educação de carisma sendo identifi cada com a antiguidade a dominação tradi cional prendese com a educação human ista do homem culto sendo caracterís tica do patriarcalismo a dominação racional relacionase com uma educação racional burocrática do especialista e encontra se subjacente ao capitalismo As instâncias dominantes em cada período histórico par ticipam na definição das finalidades da edu cação Como sabemos o capitalismo é para We ber a forma mais elevada de racionaliza ção Numa sociedade capitalistaracional burocrática os indivíduos distinguemse pelas suas qualificações havendo neces sidade de funcionários especializados profissionalmente mais informados a e ducação é o elemento que contribui para a selecção social é um dos recursos possíveis para se manter ou melhorar o status e quanto mais reduzido for o grupo maior o prestígio social dos seus membros Também para Weber tal como para Durkheim a edu cação é um processo de socialização perma nente constante que para além da escola se consubstancia igualmente na família de reprodução e manutenção social A actualidade do pensamento weberiano é por demais evidente está presente no crescente processo de burocratização das so ciedades e das instituições dos processos e dos sistemas educativos está presente na necessidade de especialização nomeada mente tecnológica tendo no horizonte a so ciedade da informação ou do conheci mento está presente na diversificação de formas de educação traduzida em currícu los e políticas educativas renovadas a grande rotação Notas finais No pensamento marxista a educação é um espaço de reprodução ideológica dos inte resses da classe dominante a burguesia em Durkheim a educação é vista como ins tituição integradora essencial à ordem so cial na perspectiva weberiana a educação é fonte de um novo princípio de controlo en quanto racionalidade instrumental de domi nação burocrática Morrow e Torres 1997 24 Se em Marx a educação pode oprimir ou emancipar o indivíduo no sentido de li bertação em Durkheim a educação é o mecanismo pelo qual ele se torna membro de uma sociedade se torna um ser novo Weber vai mais longe a educação é factor de selecção e de estratificação sociais Marx e Durkheim centraramse no poder das forças externas ao indivíduo Weber centrouse na capacidade de acção do indivíduo sobre o ex terior Margaret Archer no texto The sociology of educational systems sintetiza numa ló wwwboccubipt Educação Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas 11 gica comparativa o pensamento dos três clássicos os três autores partilham uma orientação comum apesar das suas diferentes abordagens teóri cas Em primeiro lugar unanime mente trataram a educação como instituição social macroscópica e não como um amontoado de or ganizações escolas faculdades universidades ou como um con junto de colectividades profes sores alunos e directores nem como um aglomerado de pro priedades separadas inputs pro cessos outputs Em segundo lugar Marx Weber e Durkheim colocaram firmemente a institui ção educacional na estrutura so cial mais ampla e propuseram problemas interessantes sobre a sua relação com outras institui ções sociais economia burocra cia e acção política respectiva mente Em terceiro lugar todos os três perceberam que a posição da educação na estrutura social e sua relação com outras insti tuições eram a chave para com preender a dinâmica da mudança educacional Embora somente Durkheim tenha teorizado profun damente sobre os reais mecanis mos de desenvolvimento educa cional nenhum deles deixou dúvi das de que esta deveria ser uma parte integrante das suas macroteo rias para Marx a mudança e ducacional nasceu do jogo dialéc tico entre infraestrutura e super estrutura para Weber ela estava associada à dinâmica de burocra tização embora esta ligação es tivesse escondida em algum ponto decisivo para Durkheim ela es taria e deveria estar unida à acção política e deste modo ao de senvolvimento de uma sociedade orgânica integrada e normativa Archer 1980 234 Evidentemente o pensamento dos clássi cos condiciona enquanto pilar seminal re flexivo o pensamento dos contemporâneos Há algumas correlações lógicas embora não exaustivas a que une Marx a Althusser Establet e Baudelot Bourdieu e Passeron Dahrendorf a que une Durkheim a Par sons Merton ou Basil Bernstein mas tam bém LéviStrauss Saussure Barthes a que une Weber a Parsons Bourdieu e Passeron Boudon Só a partir da leitura das teorias clássicas da sociologia se poderá chegar a um entendimento mínimo do que foi e do que é pensar a educação Bibliografia Archer M 1980 The sociology of e ducational systems in T Bottomore S Nowak M Sokolowska Socio logy of the State of Art London Sage Publications Aron R 1991 As Etapas do Pensamento Sociológico Lisboa Publicações Dom Quixote Cruz M B 1989 Teorias Sociológicas Os Fundadores e os Clássicos Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian wwwboccubipt 12 Paula Cristina Lopes Durkheim E 2009 Educação e Sociolo gia Lisboa Edições 70 Marx K 1978 Crítica da Educação e do Ensino Lisboa Moraes Morrow R A Torres C A 1997 Teoria Social e Educação Uma Crítica das Teorias da Reprodução Social e Cultural Porto Edições Afronta mento Ortega F 1999 La educación como forma de dominación una inter pretación de la sociologia de la edu cación durkheimiana in M F Enguita Sociologia de la Educación Barcelona Ariel Santos B S 2005a A universidade no século XXI Para uma reforma democrática e emancipatória da univer sidade in Educação Sociedade Cul turas No 23 137202 Santos R 2005b Considerações so bre a educação na perspectiva marxista in Espaço Académico No 44 Ano IV ISSN 15196186 Sebastião J 2009 Democratização do Ensino Desigualdades Sociais e Tra jectórias Escolares Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian Weber M 1971 Ensaios de Sociologia Rio de Janeiro Zahar wwwboccubipt Esta e em grandes linhas a obra pedag6gica de Durkheim Para os educadores ela oferece uma doutrina original e vigorosa envolven do os principais problemas pedag6gicos Para os soci610gos ela es clarece as concepoes que Durkheim expos em outras obras so bre alguns pontos essenciais rela90es entre 0 indivfduo e a socie dade entre a ciencia e a pratica a natureza da moralidade e a do entendimento Sejam educadores ou soci610gos muitos eram os que aguardavam a publica9ao desta importante obra wwwvozescombr IIiEDITORA Y VOlES Uma vida pelo born livro vendosvozescombr m 0 C C l 0 l 0 m f 0 Q 0 5 Cl l m 3 II 0 c r II 3 EDUCACAO E SOCIOLOGIA 0 U u e UJ w 0 w I Z C5 z LL X w I Qual a relalfao entre Sociologia e Educalfao A oportuna ediao deste Iivro esclarece a importante contrlbullfao desta obra de Emile Durkheim para 0 esclarecimento da verdadelra natureza da educaao como fato eminentemente social Para estabeiecer fronteiras com a Biologia e com a Psicologia Durkheim pretende estudar as fatos da vida moral mediante urna cilncia positlva a Ciencia da Moral Por discordar dos auto res socialistas e por dlscordar da dialetica a sua proposta e a de conciliaao entre ciencia e moral para ele so aparenternente contraditorias Os fatos morais sao fatos socia is passiveis de observaao descrilfao e classlficalfao para se chegar as leis gerais que os expiquem Se a liberdade implica negaao de uma lei determinada pela sociedade ela e um obstaculo para a realizaao da ciencia positiva devendo ser negada Nesse contexto a EducaCao desempenha papel preponderante por constltuirse tai como a moral um fato social Sendo sua natureza eminentemente social e repousando sobre a base comum de fatos morais a Educalfao varia de sociedade para sociedade uma vez que cada uma constitui a especificidade na qual se forma para seu uso urn certo tipo ideal de homem Esse ideal e 0 exo educativ mediante 0 qual a sociedade prepara a criana instaurando pela educacao as condicoes ideals de sua existencia A educactao e vista entao como forma de civllizar 0 ser egoista e antlssocial que exlste na criana Atraves da educacao da crianca a sociedade cria e reproduz as condioes de sua propria existencia Francsea Eleodora Santos Severino Unisantos E OUCAAO E SOC IOLOGIA COLEAO rEXTOS F UNDANTES DE E OUCAGAO CoordeJnd01 Anttmio Joaquim Severino A mUlICo turbulenta Esudos sobre os retardame1JlOS e OJ ollomains do desenvovimento motor emelita Henri Wallon A reprodufrio Elemelllos para ullIa teoria do sistema de CflsitJo Pierre Buurclieu e JeanClaude Passeron 0 wme com um mundo estilhaJ A R Luria Do ao no pe1JsametJlO Ellsaio de psicgia compara Henri Wallon De 1lIogistro Samo Agostinho Eperiillda e rducollo John Dewey Psicogcllese e hist6ria das dindus Jean Piagcc c Rolando Garcia Educaiio e Socigja Emilc D urkheim Edut70 pam uma waedode em trrtmjonnaiio W II Kilpatrick Dudos Internacionais de Cataloguao na Publjcacao eIIJ Camara Hrasileira do Livro SP Brasil Durkheim Emile 18581917 Educa9uo c Sociologia Emile Durkheim rradu930 de Stephania Matousek Petr6polis RJ Vozes 2011 Coe9ao Textos Fundantes de Educa930 Titulo original Educarion et sociulogie ISBN 9788532624635 1 Sociologia educacion3 r T itulo 1011968 indIces para catalogo Slstematlcu 1 Sociulogia ambiental 30643 CDD30643 EM ILE DURIHEI M EOUCACAO E SOC10LOG1A Traduoao de Stephania Matousek Ib EDITORA Y VOlES Petro polis Direiws de publ icaao em lingua porrugllesa 2011 Editora Vozes Ltda Rua Frei L UIs 100 25689900 Perr6polis RJ Internee httpwvwvozescombr Brasil Titulo original frances EducatiON et sociJie Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta ubrl podera ser rcproiuzida Oll transmitida por qualquer forma cou quaisqller meios eletronico ou mccanico incluindu foroc6pia c gravaao ou arq uivada ern qualquer siscema ou banco de dados scm pcrmissao escrita da Ed itora Dirctor editorial Frei Am6nio Moser Editores AJ ine dos Santos Carneiro Jos6 Maria da Silva I fdio Peretti Marilac Loraine Oleniki Sccretano executivo 10ao Batista Kreuch Editortlpio Frci Andre Luiz da Rocha Henriq ues Plvjeto gnffico AGSR Desenv Gdfico Capo Maria foernanda de Novaes ISBN 9788532624635 ediao brasileira ISBN 2 13055329X cdiao francesa Edicado con forme 0 novo acordo ortografico Esre livro foi composto e impresso pela Editora Vozes Lda Rua Frci Luis 100 Petr6polis RJ llrasil CEP 25689900 Caixa PoStal 90023 TeL 24 22339000 Fax 24 22114676 SUMA RlO AjJrescl1tOiio ria cocelio 7 Antonio Joaquim Severino ftrodupo A obra pedag6gica de DurNteim 9 Prof Paul Fallconnet A educailo sua natureza e seu papel 43 11 As definioes da educa9ao examc crlrico 43 12 Oefiniilo da educaao 49 13 Consequencia da defi niyao anterior canttee social da educa9ao 54 14 0 papel do Estado em materia de Edlleaao 61 15 Poder da edueJ91io meios de aao 65 2 Natureza e metodo d Pedagogia 75 3 Pedagogia e Sociologia 97 APRESENTACAO DA COLECAO A hist6ria da cultura ocidental revelanos que educaao e filo sofia sempre estiveram juntas e pr6ximas numa relaao de vfn culo intrfnseco A filosofia sempre se constituiu vinculada a uma imen9ao pedagogica formativa do humano E a educa9ao embo fa se expressando como uma praxis social nunca deixou de refc firse a fundamentos filos6ficos mesmo quando fazia dcles uma utilizavao puramente ideologica Por isso mesmo a grande maio ria dos pensadores que construfram a culrura ocidcntal scmpre registrou essa produ9ao tc6rica em tcxtos dircta ou indircramen te relacionados a rcmatica cducacional discurindo seja aspectos epistcmologicos axiol6gicos ou antropol6gicos da educav3o Estc testcmunho da hist6ria ja e suficiente para demonstrar o quanto e necessaria ainda hoje manter vivo e atuante esse vinculo entre a ViS30 filos6fica e a intenC30 pedag6gica Vale di zer que e extremamente relevante e imprescindivel a formaC30 filos6fica do educador N o enmnro a experiencia cotidiana reve la ainda que em nossa cultura no que concerne a formaC30 e a aruaC3o desses profissionais ocorre separaC3o muito acentuada entre a filosofia enquanto fundamento te6rico do saber e do agir e a educaC3o enquanto saber ou pratica concretos E evi dente que essa pratica traz implicitos seus fundamentos filos6fi cos sem que deles tenha clara consciencia 0 educador Nao hi duvida de que al6m das deficiencias pedag6gicas e curriculares do pr6prio processo de formacao desses profissio nais tambem a falta de mediacoes e recursos culrurais dificulta 8 Colerao Textos Fundantes de Educarao muito a apropria9ao por parte deles desses elemeoms que daD conta da intima e relevante vincuia9ao da educay30 com a filo sofia Oaf a razao de ser desta cole9ao destinada a reeditar textos do pensamento filos6ficoeducacional que por variadas raz6es acabam se esgotando e tornandose inacessiveis as novas gera 9ues de estudantes e profissionais da area 0 objetivo desra co icr3o sera pois 0 de coiocar ao alcance dos estudiosos os textos fundamentais da rcftcxao filos6ficoeducacional desenvolvida por pensadores significativos que contribufram espccificamente para a compreensao filos6fica do processo educacional ao lon go de nossa hist6ria cultural Buscase assim toTnaf permanente urn precioso acervo de estudos de diversos campos cientfficos de alcance abrangente para a discussao da problematica educa cional dada a intima vinculavao entre a educayao e as cicncias humanas em geral AtJtotJio J Severino Coordenador da coleao INTRODUCAO A OBRA PEDAGOG1CA DE DURKHE1M Ao longo de sua vida Uurkheim ensinou a Pedagogia e a Sociologia ao mesmo tempo Na Faculdade de Letras de Bor deaux de 1887 a 1902 ele ministrou uma hora de aula de Peda gogia par semana Os ouvintes eram em sua maioria rnembros do Ensino Primario Na Sorbonne foi na cadeira de Ciencia da Educorio que em 1902 ele supriu a vaga de Ferdinand Buis son a qual de passou a ocupar definitivamente a partir de 1906 Ate a sua morte de reservou a Pedagogia pclo menos urn terco e muitas vezes dois tercos dessas aulas sess5es pllblicas con ferencias para os membros do Ensino Primario curso para os alunos da Escola Normal Superior Esta obra pedag6gica pcr maneee quase toda inedita Scm duvida nenhum dos seus ou vintes conseguiu abranger toda a sua extensao Gostarfamos de apresentaIa aqui brevemente I Durkheim nao dividiu 0 seu tempo e nem 0 seu pensamen to entre duas atividades distintas ligadas uma a outra de modo acid ental E pelo seu aspecro de faro social que ele aborda a educa930 sua doutrina da educavao e urn elemenro esseneial de sua Sociologia Soci6Jogo diz eIe e sobretudo enquanro soci6 logo que falarei a voces sobre educacao Alias nao acredito me 10 Colerao Textos Fundantes de Educaao expor aver e mostrar as caisas por lima perspecriva deformadora ao proceder assirn pais tenho certeza de que ao cOI1mirio nao existe metodo mais apto a ressaltar a verdadeira natureza das caisas p 98 A educacao e alga eminentemente social A observacao pode provalo Antes de tuda em toda socie dade ha tantas educa90es especfficas quanto meios sociais di ferentes E mesmo em sociedades igualinirias Como as nossas que rendem a eliminar as dife rencas injustas a cducacao va ria e deve necssar iamene variar de acordo com as profissocs Scm duvida wdas cstas cducalYocs cspccificas repOlIsam sabre uma hase comum Porcm csta cducacao comum varia de lima sociedade para ourra Cada socicdade alimenca urn ceno ideal humano E esre ideal que e 0 polo da edueaao p 53 Para caua socicuade a educarao e a rneia pelo qual ela prepara na coraao das criantas as condiGoes essenciais de sua pr6pria exis tcncia Assim cada tipo de povo possui uma educasao que Ihe 6 propria e que pade detiniIo ao mesmo tIUlo que a sua organi 7aao moral politica e religiosa p 104 A observaao dos btos conduz portanw a seguinre definisao A educasao e a aaa exercida pelas gerasoes adultas sobre aquelas que ainda nao es tao ITIaUras para a vida social Ela rem coma abjetivo suscitar e desenvolver na c riana urn certa numera de estados ffsicos intelectuais e morais exigidas tanto pelo conjunro da sociedade polftica quanto pelo meio especifico ao qual ela esta destinada em particular p 53 Em suma a educaao e uma soc iali zaao da geraao jovem cf p 53 109 Mas por que ha de ser assim necessariamente Porque em cada urn de nos podese dizer existem dois seres que em bora se mostrem inseparaveis a HaO ser por a b s traao nao dcixam de ser distintos Um e composto de todas os estados Educarao e Sociologia 11 mentais que dizem respeito apenas a nos mesmos e aos acon tecirnenros ua nossa vida pessoal eo que sc poderia chamar de ser individual 0 utrO e urn sistema de ideias sentimentos e habitos que exprime m em n6s nao a nossa personalidade mas sim 0 grupo ou os grupos diferentes dos quais fazemos parte tais como as crenras rcligiosas as crenas e praticas morais as tradioes nacionais au profissionais e as opini6es coletivas de todD tipo Esre conjulltO forma 0 ser social Constituir este ser em cada urn de n6s e 0 objetivo da educaao p 5354 109 Scm a civili zaao 0 homem seria apenas urn animal Foi aa ves da coo peraao e da tradisao sociais que 0 homem se tar nou homcm Moralidades linguagens religi6es e ciencias sao obras colctivas coisas sociais Ora e atraves da moralidade que o homcm cstabelece a fara de vontadc dcntro de si dominan do 0 descjo c a linguagem que 0 eleva acima da sensaao pura e primeiro nas religioes e depois nas cic ncias que se elaboram as no6es carucais das quais e feita a intel igencia propria men te humana Estc ser social J nao se cncona ja pronto na constituiyao primitiva do homem J Foi a pr6pria sociedade que a medida que ia se formando e se consolidando rirau do seu seio estas grandes furcas marais J Ao entrar na vida a criansa rraz apenas a sua natureza de indivfduo Portanto a cada nova gerayao a sociedade se encontra em presena de uma tabula quase rasa sobre a qual ela deve eonstruir nova mente f preciso que pclos meios mais capidos cia substitua o ser egaisra e associal que acaba de nascer par urn Hltro capaz de levar lima vida moral e social Esta e a ohra da cducaao J p 54 110 A hcreditariedade transmite os mecanismos instintivos que garantcm a vida organica e nos animais que vivem ern sociedadc uma vida social e bastantc simples Mas 12 Coteao Textos Fundantes de Educ3ao ela nao basta para transmitir as habilidades que a vida social do homcm supoe habilidades complexas demais para poderem materializarse sob a forma de predisposicoes organicas p 56 111 Por serem sociais as caracrerisricas cspecfficas que disdnguem 0 homcm sao uansmitidas por uma via social a e duca ao Para a mente acostumada a enxergar as caisas por esra pers pectiva esta concepao sociol6gica da natureza e do pape da educacao sc imp6e como uma COn53aao 6bvia Durkheim a considera como urn axioma fundamental p 99 Mais CX3 tamenre digamos que e uma vcrdade comprovada pcla cxpe riencia Quando nos posicionamos como hisroriadorcs vcmos c1arameme que a educarao em Espana era a civilizacrao lace demtmia crianclo espartanos para a p6lis lacedemtmia que a educaao ateniense nos tempos de Pericles era a civilizarao arcniense criando homens con formes ao ripo ideal de homem ral como Arenas 0 conccbia naquela epoca para a p61is arenien se e ao mesma tempo para a humanidade tal como Arenas a rcpresentava a partir de suas rela6es com cIa Basta antecipar o futuro para comprcender como os historiadores interpretaeao a educaao francesa no seculo XX mesmo nas suas tentativas mais audaciosamcme idealistas e humanitlrias ela e produto cia civ ili zaao francesa ela consiste em transmitiIa enfim ela busca ceiar homens con formes ao tipu ideal de hom em ao qual esta civilizarao aspira criar homens para a Franra e tHmbem para a humanidade tal como a Franra a represenra a partir de suas relaroes Com ela No enranto csta verclade evidente foi e m geraJ ignurada sobrerudo durante os ultimos s6culos Fil6sofos e pedagugos se concertam para considerar a Educarau como uma coisa emi EduC3ao e Sociologia 13 nentemente individual Para Kant escreve Dllrkhcim tanto para Kant quanta para Mill tanto para Herbarr q uanta para Spencer 0 objetivo da educacao scria antes de rudo realizar em cada individuo os atributos cunstitutivos cia espccie hu mana em geraJ elevandoos porem ao seu mais alto grau de perfeicao p 995 Comudo este concerto de opinioes nao equivale a lima presu ny30 de verda de lsto porquc sabemos que a Filosofia ciassica quase sempre esqueceu de considerar o homem real de lima epoca e de urn pais 0 unico concrc tamente observavel para especular sobre a natureza humana universal produto arbitrario de uma abstrarao fcita sem me todD a partir de urn numero bern restrito de amostras huma nas Atualmcnte admirese em geral que 0 sell caratcr abstratO diswrccu em larga medida a especulacao politica do seculo XVIII por exemplo individualista em cxcesso desatada de mais da hisria ela frequentemcnte legifera para urn homem de cOTIven9ao independence de qualquer meio social defini do 0 progresso que no seculo XIX as ciencias poHticas rea lizaram sob a inflllencia da hisr6ria e das filosofias inspiradas na hist6ria progresso em cuja direyao se orientam no final do seculo wcias as ciencias morais cleve pur sua vez ser rcaliza do pela Filosofia da Educaiio A educatyao c coisa social isw qucr tiizer que ela coloca a crianra em contata com urna determinada sociedade e nao com a sociedade in genere Se esta afi rmaao for verdadeira ela nao somente cleve comandar a reflexao especlilariva sobre a edu catao como tambem exercer influencia sobre a pr6pria ativi clade educariva Em realidade esta influcncia 6 incontestivel em direiw ela e com freqllencia contestaua Vamos examinar algumas das resistcilcias que a afirmaao de Durkhei 111 provoca quandu expressa 14 Coleao Textos Fundantes de Educaao Primciro se repercute a oposiao que sc pode chamar de unl vcrsitaria ou humanista Ela acusa a Sociologia de incentivar um nacionalismo esrreiw e rnesmo de favorecer as interesses do Estado e mais ainda dos de urn regime poifticQ em detrimen to dos da humanidade Durante a guerra com frequencia upu seram a Educa9ao germanica e a latina a primeira puramcntc nacional e visando somcme 0 beneficia do Esmdu e Csta ulti ma liberal e humana Scm duvida disserarn a edllcaao cduca a crian9a para a parria mas tOlllbim para a humanidadc Em SlIma de diversas formas estabelecese urn antagonismo entre as se guintes refmos educasao social educatao humana sociedade e humanidadc Ora 0 pensamento de Durkheim plana bem aci ma de objer0es deste genero Enquanto educador ele nunCa teve a inten ao de fazer os fins nacionais prevalecerem sabre os fins humanos Oizer que a educaao e coisa social nao significa formular urn programa de Educaao mas sim constatar LIm faro Durkheim sustenta este faro como vcrdadeiro em qualquer lu gar seja qual for a tendencia predominante aqui au la 0 cos mopolitismo nao e menos social do que 0 nacionalismo Exis rem civilizar6es que incitam 0 cdwador a elevar a patria acima de tudo olltras que 0 incitam a subordinar os fins nacionais aos humanos au melhor a harmonizaIos 0 ideal universalista csta ligado a uma civi li zaao sinrcrica que tende a combinar todas as outras Alias no mundo conremporaneo cada naao aprcsen fa 0 seu cosmopolitismo 0 seu humanismo proprio no qual se pode reconhecer 0 seu rem peramenro De raw qual e para n6s franceses do seculo XX 0 valor relativo dos deveres pcrante a humanidade e 0 dos perantc a parria Como eles pod em entrar em conflito Como se pode eonciliaIos Nobres e dificeis ques toes as quais 0 sociulogo nao resolve em proveiro do nacionalis Educaao e Sociologia 15 m definindo como ele 0 faz a educarao Quando elc abordar estes problemas suas maos estarao livres Reconhecer 0 carater social que rcalmenre pertencc a educarao nao diz nada sobre a maneira como scrao analisadas as foras morais que orientam 0 cducador em direr6es diversas ou opostas A mesma res posta vale contra as obje6es individualisras Durkheirn define a educaao como uma socializa9ao da crianra Mas entaO podcse pensar 0 que e feiro do valor da pessoa humana da iniciativa da responsabilidade do aperfeioamento proprios do indivfduo Arraigousc taO profundamente 0 habito de opor a sociedade c individuo que toda doutrina que use fre quentcmente a palavra sociedade parece sacrificar 0 individuo Aqui mais uma vez ha urn equivac Se ja existiu urn homem que foi um individua uma pessoa com tudo 0 que rermo im plica de originalidade criadora e resisrencia aos arrebaramentos coletivos este homem foi Durkheim E a sua doutrina moral corresponde tanto ao sell proprio cadCr que nao seria paradoxal dar a esta dourrina 0 nome de individualismo Seu primciro livro A divisiio do trobalho social propoe Oda uma filosofia da hist6ria na qual a genese a diferenciaao e a liberraao do individuo sur gem como 0 trao mais marcame do progresso da c i v ilizaao a exaltaao da pessoa humana como 0 seu resultado atua E esta filosofia da historia culmina na seguinte rcgra moral dcstaque se seja uma pessoa Como entao tal dautrina poderia enxcrgar na educaao urn processo qualquer de d cspersonalizaao Se criar uma pessoa constitui 3tualmente a objctivo da educaao e se educar consiste em socializar vamos porranro concluir que segundo Durkheim 6 possfvcl individualizar socializando Este e no rundo seu pensamcnto Podesc discurir sabre a ma neira como cle concebe a cducaao da individualidade Pocem 16 Coll30 Textos Fundantes de Educaao sua definicao de educa9aO provem de urn pensador que em ncnhum momento ignora ou subestima 0 papcl all 0 valor do indivfduo E e preciso dizer aos soci61ogos que e na analise da educacao de Uurkheim que eles pcrceberao melhor a essencia do seu pensamenco sobre as rcJa90es da sociedade e do indivi duo e 0 papel dos indivfduos dc elite no progresso social Por fim em nome do ideal podese tambem emergir uma resistencia ao realismo de Durkheim Ele ja oi acusado de hu milhar a razao c desalentar 0 esforyo como se ele fizesse a apolo gia sistematica de como e a realidade presente e permanecessc indiferente a como ela deve ser Para en tender como pelo con rario estc rcalismo sociol6gico lhe parece apto a dirigir a a98oO vejamos que ideia ele nutria a respeito da Pedagogia II Todo 0 ensino de Durkheim satisfaz uma necessidade pro funda do sell intelecto uma exigencia esscncial imposta pelo proprio espirito cientifico Durkheim sente uma verdadeira rcpulsa com relayao as constru9oes arbitrarias e aos programas de 39ao que traduzem somente as tcndencias de sells autores Rle precisa refletir sabre urn dado uma realidade observavel 0 que ele chama de coisa Considcrar as fatos sociais como coisas constitui a primeira regra do seu metodo Quando tomava a pa lavra sobre assumos relativos a moral ele primeiro apresentava fatos coisas e as seus proprios gestos indicavam que embora se tcatasse de coisas espirituais nao materiais ele nao se limita va a analisar conceitos mas aprcendia mOtrava e manipulava rcalidades A educa9ao c uma coisa ou em outras palavras urn faro Em realidade em todas as sociedades ele observa uma edueavao Conformemente a rradivoes h1biros regras expHci EdUCI30 e Sociologia 17 as au impllcitas em urn dctcrminado contexto de insritui90cS com uma aparelhagem propria sob a influencia de ideias c sen timentos colcrivos na Fran9a no seculo XX educadorcs edll lm e crianas sao cducadas Tuda isto pode sec dcscrito anali sado e explicado A 110910 de Ciencia da Educavao e portanw uma idcia completamente clara Ela desempcnha 0 importante papd de conhecer e compreender a realidadc Nao se confunde nem com a atividade efetiva do educador nem mesmo com a Pedagogia que visa a dirigir esra atividadc A Educa9ao e 0 seu objero por esa afirmayao devemos cntender nao que ela tenda aDs mesmos fins que a Educatao mas pelo cOI1ulrio que ela a supoe visco que a observa Durkheim nao contesta de forma algllma que esta citncia seja em larga medida de ordem psicol6gica Somente a Psi coiogia baseada na Biologia ampliada pel a Patologia permite compreender por que a crianca hllmana precisa de educacao em que ela se distingue do adulro como se formam e cvoJuem os sells senti dos memoria faculdades de associarao e de atcn Cao imagina9ao pensamento abstrato linguagem sentimentos carater for9a de vontade A psicologia da criang3 ligada a do homem adlliw c compJetada pela psicologia propria do educa dor constitui uma das vias pelas quais a ciencia pode abordar 0 estudo da edllca9ao Esta ideia e aceita universal mente Contudo a Psieologia e apenas uma das duas vias de acesso posslveis Quem a seguir exclusivamente se exponi a abordar SOrnente uma das duas faces do fato educa9ao Isto porque ob viamente a PsicoJogia e incompetente quando se deve dizer nao mais 0 que e a crianca qlle recebe eduCa9ao slla maneira es pecifica de assimilaIa e reagir a ela mas sim a pr6pria natUreza da civilizarao quc a educacao rransmite e a aparelhagem a qual 18 Colerao Textos Fundantes de Educaao ela reeoere para transmitjIa A Frana do seculo XX dispensa quarro Ensinos 0 Primario 0 Secundariu 0 Superior e 0 Tecni co cujas reJaoes nao sao as mesmas que na Alemanha Inglater fa a u Estados Unidos Seu Ensino Secundario se apoia no fran ces lnguas chlssicas IInguas vivas hisr6ria c cie ncias por volta de 1600 clc sc apoiava exclusivamente no latim c no grego na Idade Media na diai6rica 0 nosso en sino abrc cspao para 0 metoda inwirivo c experimental 0 dos Escados Unioos mais ainda enquanto que a Educaao medieval e humanista era ex clusivamente livresca Ora e claro que as institui6es escolares as disciplinas e as metodos sao faws sociais 0 pr6prio livro 6 urn fata social 0 culta do livro e 0 declfnio deste culta dependcm de causas socia is E diffcil ver como a Psicologia poderia concebc las A educatao fisica moral e inteiectual que Ufna sociedade oferece em um momentO de sua hist6ria e manifestamente da cumpetencia da Sociologia Para eswdar a educaao de forma cientifica como urn fato dado a observa930 a Soeiologia deve colaborar com a Psieologia Sob urn dos seus dois aspectos a Ci encia da Ed u eaao e uma ciencia sociol6gica Era a partir desta perspectiva que Durkheim a abordava Levado pela 16gica interna de seu pr6prio pensamemo ele estava ahrindo um novo caminho sendo 0 precursor e nao 0 imitador de dourrinas atualmente bastante em yoga as quais a dele ultrapassa em clareza e fecundidade A Alemanha eriou 0 termo Sozialpdtlagogik as Estados U nidos 0 termo Educatiol101 Sociology que maream indubitavelmente a mesma tendeneia1 1 NATORp Paul SozialfJiidagogiJ Theoric der Willenserziehung auf der Grundlage der Gemeinschaf 3 ed Sruttgm Frommann 1909 1 cd 1899 Cf as defi niocs da Fr1umliona SocigJ em MONROE Paul A cyclopedia of FdlJCJliolt l olno Nova York Macmillan 19 11 p 361 Educatao e ociologia 19 Porem sob estas palavras com freq uencia ainda sc misturam coisas bern disrimas Ha por exemplo de urn lado uma orien taao mais ou menos incerta no sentido do estudo sociol6gico da educafYao tal como Ourkheim a eoncebe e do Olltro lado um sistema de Educaao que se preocupa mais especificamente em preparar 0 homem para a vida social formar 0 cidadao StaolS blirgerliche E1Ziehullg como Kcrschensteiner2 0 chama A ideia americana de EdufXJtilai Sociology se aplica de maneira confusa ao estudo sociol6gico da cducaao e ao mesmo tempo a intro ducao da Sociologia nas salas de aula como materia de ensino A Ciencia tia Ed ucaao definida por Durkheim e sociol6gica em uma accpao bem mais clara do tenTIo Quanro ao que ele enrende por Pedagogia nao e nem a ati vidadc educativa propriarneme dira nem a ciencia especulativa da cd ucaao Trarase da reaao sisremhica desta iiltima sobre a primeira efejto de uma reflexao que busca nos resultados da Psicologia e da Socioiogia principios para a conduta ou reform a da cducafYao Assim concebida a Pedagogia poue ser idealista sem cair na utopia Que urn grande nurnero de pedagogos ilustres tcnha cedido ao esplrito de sistema atribufdo a educacao urn objctivo inaces sfvcl ou arbitrariamenre eseolhido proposw processos arrificiais Durkheim n a somenre naa 0 nega como tambem nos previne melhor do que qualquer um sohrc 0 perigo desta concepao A Sociologia cambate aqui 0 inimigo que cia esta acoswmada a encontrar em tad os os domfnios na moral na politica e mes mo na economia politica 0 cstudo cientifico das i n stitui6es foi 2 KERSCHENSTEINER Geore Der BegTif der sloatsbiirgerlicitm Entie 20 Coleao Textos Fundantes de Educaao prccedido por uma filosofia essencialmeme mtiicialista que pre tendia formular receitas para garantir aos indivfduos e aos povos o maximo de felicidade scm antes conhecer 0 bastante suas COI1 dit6es de exisc8ncia Nada pode sec mais conwhio aos habitus do soci61ogo do que dizcr de entrada vejam como se cleve eclucar as crianas fazcndo tabula rasa cia educaifao que Ihcs 6 realmen ce oferecida Estrmuras escolares programas de cnsi no mewdos tradicues habiws rendencias ideias e idcais dos professores sao faws cujas origens e evolUloes a Pedagogia busca descobrir lon ge de pretender mudar estes faws A Educ3cao francesa e ex trcmamente tradicional pOlleo disposca a se encaixar nas formas t6cnicas de merodos combinados cia da imenso credito as facul dades de intuicao taro iniciativa dos professores respeita a evo 1lJao livre da criana e ate rcsulta em grande parte nao da asao sistemitica dos professorcs mas sim da aao difusa e involumaria do meio Tudo ism e urn fato que apresenta causas e responde grosse modo as condisocs de existencia da sociedade franccsa Ponamo a Pedagogia inspirada na Sociologia nao corre risco de fazer a apologia de urn sistema duvidoso ou de recomendar uma mecaltiztJiJo oa erian9a que comprometeria sell desenvol vi memo espontanco Assim se anulam as objeocs de pensadores eminentes que se obstinam a opor Educaao e Pedagogia como se refletir sobre a aao exercida significassc necessariamente se condenar a dcformar esra acao Entretanto nao se deve concluir que a rcflcxao ciendfica seja praticamcntc esteril e que 0 realismo provcnha de urn espirito conservador que aceita pregui90samente tudo 0 que a realidade apresenta Saber para prever e prover ja dizia Augusto Comte da ciencia positiva De fatD quanto mals bern eonhecemos a natureza das eoisas mais chances temos de utilizala com eficacia Educaao e Sociologia 21 a educador e obrigado por exemplo a govcrnar a atCn9ao da criarwa Ninguem pode negar que ele a govcrnara rnelhor se eo nhecer a natureza dela mais exatamentc A Psicologia acarreta porcanto apljcaoes praticas cujas regras para a Educa9aO sao formuladas peJa Pedagogia Da mesma forrna a ciencia socio l6gica da educay3o rode aearretar aplica 6es praticas Em que consiste a laicizayao da moralidade Quais sao suas causas De onde vern as resistcncias que ela provoca Que dificuldades a edueavao moral deve veneer quando se dissocia da rciigiosa Problema manifestamente social e atual para as sociedaues con temponineas como contescar que urn estudo desinteressado so bre mesmo possa conduzir a formular regras pedag6gicas nas quais 0 professor frances do seculo XX ganharia em sc inspirar para a sua pdtica educativa As crises e conflitos sociais tern causas 0 que nao quer dizer que seja proibido buscar sardas e remedios As inst itui6es nao sao nem absolutamente ftexiveis e nem absolutamente refratarias a toda modificaao deliberada Adaptalas com prudencia aos seus pap6is respectivos adapta las umas as outras e cada uma dclas a civilizaao na qual se in corporam constitui urn bclo campo de aao para uma politica racional e quando sc trata de inscitui6es educativas para uma pedagogia racional ou seja uma pedagogia que nao seja nern conservadora c ncm rcvolucionaria eficaz dentro dos limites em que a a9ao dclibcrada do hOlnem pode ser eficaz Assim 0 rcalismo e 0 idealismo podem se conciliar Os ideais Sao realidadcs Par exemplo a Frana contemporanea tern urn ideal intclcetual ela concebe um tipo ideal de inteligencia e o propoc as crian as Porem este ideal e complexo e confuso Os publiciscas que pretendem exprimiIo em geral mOstram cada urn por sua vcz apenas uma das faces lim dos elementos 22 Co leao Textos Fundantes de Educarao elementos de origens idades e por assim dizer orientacoes di versas elementos solidarios uns para com certas tendencias so ciais outros para com tendencias diferentes au opostas E passi vel ratar este ideal complexo como uma caisa au scja analisar as seus componenrcs determinar sua genese suas causas e as necessidadcs as quais des correspondem Porem este cswdo inicialmente desintcrcssado e a melhor preparacao para a esco Iha que uma conscicncia scnsata pode desejar fazer entre os di versos programas de ensino concehfveis e as regras a seguir para aplicae 0 programa escolhido Podemos dizer 0 mesma mutatis mlllmldis sabre a educayao moral cas questues de detaIhe assim como sobre problemas de ordem mais geral Enfim a opiniao o legislador a administra9ao as pais e os professores devem a rem po todo fazer escolhas seja para reformar profundamente as insriruioes au fazelas funcionarem no cotidiano Ora eles trabalham numa materia resistente que nao sc ucixa manipular arbitrariamente meio social institlliyoes habitos tradiyoes e tcndencias eoletivas Enquanto depender da Sociologia a Pe dagogia sera uma preparaao racional para esras cscolhas Durkheim dava a maior impordincia nao somcntc enquanto intclcctual mas tambem como cidadao a esra conccpcao racio nalista da a9ao Embora osse hosril it agira9ao reformi sta que pcrrurba scm melhorar nada sobrerudo nas reformas negativas que dcsrroem sem propor algo novo ele carregava a acao nas veias No cnranto para que a aao osse fertil ele sustenrava que ela deveria envolver aquilo que e passivel limitado defi nido dcrerminado nas condi9oes sociais em que ela se exercer Dirigido a educadores 0 seu ensino pedag6gico sempre apre sentou urn cararer imediaramenre pr1rieo Absorvido em seus outros trabalhos ele nao teve tempo de se invcstir em pesquisas Educaao e Sociologia 23 puramcnrc especularivas sobre a eduea9ao Em suas aulas os as suntos sao abordados de aeordo com 0 metodo cienrifico definido ha poueo Porcm a cscolha dos mesmos e dirada pelas difieulda des pdtieas que 0 cducador publico encontra na Frana conrem poranea e e a conclusoes pcdag6gicas Clue 0 professor chega III Durkheim deixou eompletamenre rcdigido 0 manuSCflto de urn curso dividido em dezoito aulas sabre 0 ensino do moral no Escola Plimaria Vamos percorrer esta obra rapidameorc A primeira aula e lima introdUlao sobre a moral laiea Durkhcim define a rarefa moral que ineumbe ao professor na Franya con tcmpodinca para ele tratase de dar uma educaao moral laica e racionalista Esra laicizClao da moralidade e determinada por todo 0 dcsenvolvimento hist6rico Mas ela e diffei Na hist6ria da civilizacao a rcligiao e a moralidade sempre estiveram taO inrimamenrc ligadas que sua necessaria dissoeiaao nao poderia Scr uma operacao simples Se nos contentarmos em tirar todo conteudo religioso da moralidade acabaremos murjlandoa Isto porque a religiao cxprme do seu modo arraves de lima lin guagem simb6lica coisas verdadeiras Nao se deve perder csras verdades junto com os sfmbolos que sao rejeirados e preciso reeneonrr1las projetandoas no plano do pensamento laico Os Sistemas racionalistas sobretudo os nao merafisieos em geral apresentam uma imagem da moralidade simplificada demais Ao se tornar sociol6gica a analise moral pode fornecer uma base raeional nem religiosa e nem mcraflsica para uma moralidade rao complexa quanta a moralidadc rcligiosa rradicional e inclu sive mais rica sob certos aspectos al6m de chegar are as fontes das fonas morais mais cncrgeticas 24 Colerao Textos Fundantes de Educarao As aulas seguintcs se dividem em duas partes bern distintas plano que ilustra 0 que dissemos sabre a contribuitao que de urn lado a Sociologia e de outrO a Psicologia trazem a Peda gogia A primeira parte estuda a moralidade propria mente dita ou scja a civ ilizaao moral que a cducacao uansmire a criana tratase de uma analise sociol6gica A segunda estuda a nature za da criana que assimi lara csta moralidade aqui a Psicologia ocupa 0 primeiro plano As aim aulas que Durkheim dedicou a analise da moralidade constituem 0 que dc legol de mais completo sobre cste assun to visto que sua mOTte 0 interrompeu no momentO em que es tava redigindo para publicacrao ulterior os prolcgomenos de sua Mora Elas pod em ser comparadas com as paginas publicadas no Bulletin de la Societe Frallaise de Philosophie sabre A deter minaryao do faw moral nas quais e1e nao diseorre sabre deveres diversos mais sim sobre aspectos gerais da moralidade Em sua obra isw 6 equivalente ao que os 1l6sofos chamam de Moral Te6rica Entretando metoda que e1e apliea e inavador E fiei cmender como a Sociologia pode estudar 0 que de faw sao a famnia 0 Estado a propriedade 0 comrata Mas quando se tram do bem e do dever parece que nos enconrramos fjce a puros coneeitos e nau insriruiy6es e que se impue en taD urn metOdo de analise abstrata ja que a observaryao e ina plicavel Vejamos a perspectiva pela qual Durkheim borda a assuntO Scm duvida a educaao moral desempenha 0 papel de iniciar a erianya aos diversos dcveres e de suscitar uma a uma virtudes especificas Mas ela tambem desenvolve a aptidao ge ral a moralidade e as disposi 5cs fundamentais encontradas na raiz da vida moral al6m de constituir no espirito da erianya 0 agente moral disposco a tomar iniciativas das quais depcnde 0 Educacao e Sociologia 25 progresso Quais sao de faw na sociedadc francesa con tempo ranea os elementos do tcmperamento moral cuja realizaao eo objetivo ao qual deve aspirar a educacao moral geral Podemos descrever estes elementos e compreender a sua natureza e pa pel Em suma e esta descricao que forma 0 conteudo das marais ditas reoricas Cada fi16sofo define a sua maneira estes elemen tOS fundam entais mas mais construindo do que descrevendo Podemos refazer mesmo trabalho tomando como objew nao mais 0 nosso ideal pessoal mas sim a ideal que pertence de faro a nossa civilizaCiio Desta forma estudo da educaao moral nos permite apreender em meio aos faws as rcalidadcs as quais correspondem os conceitos bastante absrraros que os fi16sofos manipulam Ele habilita a ciencia dos modos c costumes a ob servar 0 que e a maralidade em seus aspectos mais gerais pois na educacao percebemos a moralidade no momenta em que ela se transmite e por consequencia distinguese com mais clareza das consciencias individuais em cuja complexidade ela esc ha bitualmente envolvida Durkhcim da enfase a tres elementos fundamentais da n05 sa moralidade 0 cspiriro de disciplina 0 de abnegasao e 0 de au Onamia A titulo de cxemplo cabe mencionar 0 plano seguido par Durkhcim para analisar a primeiro elemento 0 espfrito de disciplina C ao mesmo tempo a ciencia da e a simpatia pela regu laridadc e limitasao dos desejos Ele implica 0 respeito da regra que obriga 0 indivfduo a inibir impulsos e se esforsar Por que a vida social exige regularidade limitasao e esforco Alem disso como 0 indivfduo consegue afinal aceitar estas penosas exigen cias condic5es para a sua pr6pria felicidade Responder a estas perguntas equivale a dizer qual e a funsao da disciplina Como a sociedade pode estar apea a impor a disciplina e principalmente 26 Coleao Textos Fundantes de Educarao despertar no individuo 0 scntimenro do respeito devido a au wridadc de urn imperativo caregoricQ que surge como trans cendente Responder a esta perguma equivale a reftetir sabre a naUreza da disciplina e sell fundamento acional Enfim por que a regra pode e deve ser concebida como independente de qualquer simbolismo religioso e mesma metafisico 0 que esta laicizaao da disciplina modi fica no pr6prio conteudo da ideia de disciplina naquilo que ela exige e permite Aqui associ a mos a natureza e fun9ao da disciplina nao mais as condi9oes da civiliza9ao em geral mas aquelas especfficas da cxisrencia oa civiiiza9ao em que vivemos E buscamos saber sc 0 espfrito de disciplina que pr etence a nels franccscs 6 rcalmcntc rudo aqui 10 que de cleve sec sc nao csta ratologicamcnte enfraquecido c COffiO a cducacao respcitando os sellS carateres pr6prios pode mclhorar a nossa moralidade nacional Uma ana lise simetrica pode ser aplicada a todD espfrito de abncgacao 0 que e e para que serve este ultimo tanto do ponto de vista da sociedade como do do indivfduo A que fins n6s franceses do seculo XX devemos nos dedicar Qual e a hie rarquia destes fins de onde vern como podem conciliar seus antagonismos parciais Mesmas questoes com 0 espirito de autonomia A analise deste ultimo elemento e parricularmente ferril pois se trata aqui de urn dos aspectos mais recenres da moralidade 0 mais caracteristico da moralidade laica e raciona lista de nossas sociedades democraticas Hastam estas observacoes sumarias para notar uma das prin cipais superioridades do metodo seguido por Durkheim Ele conseguc mastrar toda a camplexidade roda a riqueza da vida moral riqueza feita de oposicoes que nao podem ser amalgama das apenas parcialmenre em uma sfnrese harmoniosa riqueza Educaao e ociologia 27 taO abundante que nenhum individuo por maior que seja a sua grandeza pode algum dia aspirar a carregar dentro de si rodos estes elementos no mais alto grau de desenvolvimenro que adngirem e realizar assim inregralmenre somenre para si roda a moralidade Pessoalmente assim como Kant Durkheim foi antes de tudo urn homem de vontade e disciplina Eo aspecro kantiano da moralidade que ele ve primeiro e com mais c1areza E ja quiseram afirmar que segundo ete a cocnao era a unica arao que a sociedadc cxcrcia sobre 0 individuo Sua verdadcira doutrina e infinitamcnte mais comprccnsfvel c talvez nao haja nenhuma filosofia moral que se assemelhe a ela neste ponto Ele demonstrou muito bern por exemplo que as forras morais que cornpeiem e mesmo agridem a natureza animal do homem tam bern exercem neste iltimo uma atrarao uma seduao E a estes dais aspectos do fato moral que ambas as noroes de dever e de bem respondem Para estes dois polos se orientam duas ati vidades marais distintas das quais nem uma nem outra e indife rente ao agente moral bem constiruido mas que dependendo de qual delas prevalecer distinguem os agenres morais em dois tipos diferentes 0 homem do sentimenro e do enrusiasmo no qual domina a aptidao a generosidade e 0 homem da vonta de mais frio e austero no qual domina 0 espfriro de regra Os pr6prios eudemonismo e hedonismo ocupam urn lugar na vida moral e preciso dizia urn dia Durkheim que haja epicurianos Assim disparates e mesmo contrarios se misturam na riqueza da civilizaao moral riqueza que a analise abstrata dos fil6sofos esa geralmcnre fadada a empobrecer porque tende por exem plo a deduzir a ideia do bern da do dever conciliar os conceitos de obrigaao e autonomia e reduzir assim uma realidade bastan te complexa ao conjunto 16gico de algumas ideias simples 28 Colerao Textos Fundantes de Educarao As nove aulas que formam a segunda parte do curso abor dam 0 problema propriameme pedagogico Foram enumerados e definidos os elementos da moralidadc que devemos constituir na criana Como a narufeza desta ultima se presta a receb Ia Que reCUfSOS engrenagens e tam hem obstaculos sao encontra dos pclo ed ucador Os drulos das aulas ja apomam a dire9ao do pcnsamento a disciplillu f a psicgia do erialfa primeif a dircipltllo escoar a pellolitladee as recompeflsas escolares em scgui da 0 altruismo lIa clianya c a itfi uencia do meio escolar nu jOrtJlO tio do espirito JadcI e por fim a influencia geml do ensino das ciencias letras histdria oa propria moral e tambem da culwra estetica na j01lJ1afiO clo espirito de autotJOmia A autonomia 6 a atitude de uma consciencia que ace ita as regras porque rcconhece que elas sejam racionalmeme fun damemadas Ela sup6e a aplica3o livre porem met6dica da imeligencia no exame das regras ja prontas que a c riana rece be primeiro da soeiedade na qual eia esta crescendo Longe de aceiniIas passiva rnente a criana deve pouco a pOlleo aprender a animalas coneil iaIas eliminar ou reformar sellS elementos obsoletos para adaptaIos as condioes de cxistencia cambiantes da sociedadc da qual ela acaba se tornando um membro ativo Durkheim diz que e a ciencia que confere allconomia Sornentc ela ensina a reeonhecer 0 que e fundam entado na natureza das coisas natureza ffsica mas tamb6m moral Someme ela ens ina a reconheeer 0 que e inelutavcl modificlvel normal quais sao afinal as limites da a9ao eficaz para melhorar a natureza tanto flsiea q uanta moral Oeste ponto de visra todo ensino tern urn destino moral desde 0 cnsino das ciencias cosmol6gi cas ate c sobretudo 0 ensino do pr6prio homem pela Hist6ria e Sociologia E e assim que hoje a cduCOfiio moral completa Educarao e Sociologia 29 demanda um eflsillo da moral duas coisas que D urkheim dis tingue clarameme embora a segunda sirva para completar a primeira PareceIhe indispensavei mesmo na Escola Primaria que 0 professor ensine a criana 0 q ue sao as sociedades onde ela esd destinada a viver amflia corpora9ao na9ao comunhao de civi li zaao que tcnde a incorporar a humanidade imeira cornu elas se forma ram e se transformaram q ue aao elas exereem so bre 0 individuo e que papcl estc ultimo desempcnha nelas Do curso que cle ministrou varias vczes sobre este Fnsino do moral na Escola Primalia possufmos apenas rascunhos de redaao ou pianos de aulas Neles Durkhei m mostra aos professores como e posslvel traduzi r adaptandoos as inteIigcncias infantis os re sultados do que ele chamava de Fisiologia do direito e dos cos tumes ou seja a vll i ga ri zaao da ciencia dos costumes a qual alias ele dedicou a maior parte de seus livros e aulas IV A EducOfiio ifltelectualna Escola Primdria e 0 tema de u ma aula eompletamente redigida em paralelo a que diz respeito a educaao moral e construida mais ou menos a partir do mes ffiO plano Durkheim nao a considerava satisfat6ria ele semi a a dificuldade de afinar 0 seu trabalbo E que 0 ideal intelectual da nossa democracia esta menos definido que a seu ideal mo ral seu estudo cientffico roi menos bern pre parada e a assumo e mais novo Aqui mais uma vez ha duas partes com orienta90es dife remes uma esta virada para 0 objetivo visado e a outra para os meios empregados a primeira exige que a Sociologia defina 0 tipo intelectual que a nossa sociedade se esfor9a para realizar e a Outra interroga a L6gica e a Psicologia para saber que beneficio 30 Coecao Ttxtos Fundantes de Educarao cada disciplina forneee que recursos engrenagcns c rcsistcn cias 0 intelecto da crianca apresenta ao educador que uabalha para realizar este tipo Denue as aulas puramente psicol6gicas vamos ressaltar someme as que refletem sabre a aten930 elas demonstram 0 que Durkheim era eapaz de fazer quando se de diea va i Psieologia Para designar a E ducaao intelectual prima ria urn objetivo determinado Durkheim estuda as origens e a maneira como de faw 0 Ensino Primario romou consciencia de sua natureza e pa pel proprius E le se desenvolveu depois do Ensino Secundario c se definiu em cerra medida em uposicao a dc E oa ohra de dois de seus principais iniciadores Comenius e Pcstaiozzi que Durkhcim busca desvendar 0 sell ideal em gestaeao Ambos se perguntaram como urn ensino podia ser ao mesmo tempo cnci clopedieo e basico dar lima ideia do todo formar uma mente justa e equilibrada ou seja uma mente eapaz de aprecnder a realidade inteira sem esquecer nenhum elemento essencial mas tambem se dirigir a todas as crianas sem excCao das quais a maioria devera se contentar com noroes sumarias faceis de assimilar com rapidez Ao interpretar criticamente as tentativas de Comenius e Pestalozzi Durkheim elabora a sua detinirao do ideal a ser realizado Assim como a moralidade a intelec tualidade requerida aos franceses contemporaneos exige deles um ceno numero de aptidoes mentais essenciais Durkheim as chama de calegonas noc6eschave centros de inteligibilidade que sao as estruturas e instrumentos do pensamento 16gico Emendase por categoria nao someme as foe mas mais abstea ras do pensamemo a nOtao de causa ou substancia mas tam bem as ideias mais ricas em conteudo que peesidem a nossa interpretaao do real a nossa imerpretatyao atual tlossa ideia do Educaao e Socioiogia 31 mundo fisico lJOJIa idcia da vida IJOJsa ideia do homcm por exemplo Esras catcgorias nao sao inaras ao intelecto humano Elas possuem lima hist6ria e foram consruidas poueo a poueo ao longo da evolutyao da civilizacao Na nossa civilizacao isto se deu atraVes do desenvolvimento das ciencias fisicas e morais Um born intelecto e um inrelecto cujas ideias mestras que re gulam 0 exercicio do pensamenro estejam em harmonia com as ciencias fundamentais tais como elas estao atualmeme consti tuidas munido desta maneira este imelecto pode trabalhar em meio a verdade tal como n6s a concebemos Portamo e preciso ensinar a criana os elementos das ciencias fundamemais OU melhor das disciplinas fundamemais uma vez que a Gramatica e a Histuria por exemplo tamb6m cooperam exrremamente a formaao do entcndimcnw J unw com tantos grandcs pcdagogos Durkheim rccomcnda portanw 0 que chamamos atrav6s de urn tcrmo barbaro de cul tura onllal formar 0 cspirico e nao preenchelo Nao 6 pOT sua utilidade que os conhccimencos valem em primeiro lugar nan ha nada menos utilinl rio do que esta conceprao da instruCao Porem seu formalismo e original e se op6e claramentc ao de urn pensador como Montaigne e ao dos humanistas Dc faw a transmissao de urn saber positivo do mestre ao aluno e a assimi laao pel a criana de uma materia the parece ser a condityao para uma verdadeira formacao intelectual E faeil ver a razao disto a analise sociol6gica do entendirnento provoca consequendas pe dagugicas A rnem6ria a atentyao e a faculdade de associarao sao disposity6es congenitas na criantya que se desenvolvem quando exerciradas e some nte no comexto da experiencia individual seja qual for 0 objeto ao qual estas faculdades se aplicarem As ideias diretrizes elaboradas pel a nossa civilizacao sao pelo 32 Coleao Textos Fundantes de Educaao conmirio ideias coierivas que devem sec rransmitidas a crian a pais e1a nao saheria eJaboralas sozinha N inguem rei nventa a ciencia com a sua cxpcricncia pr6pria ja que ela e social e nao individual c ja que ela se aprende Sem duvida ela nao e transvasada de uma mente para DUtra eo pr6prio vasa ou seja a intcligcncia que se cleve modelar pela e a partir cia ciencia Assim em bora as ideias diretrizes sejam farmas nao e passivel transmitiIas vazias Augusto Cornte ja dizia que nao se pode estudar a J6gica sem a ciencia 0 metoda elas ciencias sem sua dOlltrina iniciarse ao sell sistema sem assimilar alguns de sellS resultados Durkheim tambem pensa que e preciso aprcndcr caisas adquirir sabecloria abstratao feita ate do valor cspccffico dos conhecimencos pais estes ultimas estao neccssariamcnrc envolvidos nas or mas constitutivas do entendimcmo Para observar Uda 0 que Durkheim tira dcstcs pri ndpios seria preciso eotrar nos dctalhes da scgunda parte do curso no qual ele estuda succssivamcntc a didatica de alguns ensinos fundameotais a Matcmatica e as categorias de numero e forma a Ffsica e a notao de realidade a Geografia e a notao de meio planetario a Ilist6ria e as n090es de tempo e desenvolvimento hist6ricos lista cnumcrayao ainda esta incompleta Em seus outros escritos Durkheim abordoll a educayao J6gica atraves das Ifnguas dando apenas exemplos Alias seria necessaria a colahora9ao de cspccial istas para seguir em detalhe toclas as consequencias didaticas dos principios estabelecidos Vcjamos por exemplo a noao de tempo hist6rico A hist6 ria co dcscnvolvirnento temporal de sociedades humanas Mas esrc tempo ultrapassa infinirameme os tempos que 0 individuo conhece os tempos que ele vivencia diretamenre A hist6ria nao pode fazer sentido para uma mente que nao possua uma certa Educaao Sociologia 33 represcnta9ao dcste tempo hist6rico lim born intclecto 6 nota velmente um inteiecto que a posslla Ora sozinha a crianya nao e capaz de construir esta represeotaao cujos elementos nao Ihe sao forneddos nem pel a sensaao e nem pela mem6ria indivi dual Portanto e preciso ajudaIa a constrll fIa Na verdade esta e uIlla das funcoes que 0 ensino da Hist6ria desempenha Mas cle a desempenha podese dizcr involllntariamente E digno de nota que 0 mesue raramente sinta a inanidade das daras e a necessidade de trabalhar sistcmaticamente para Ihes dar urn sig nificado Ensinase ii criana batal ha de Tolbiac ano 496 Como a crianta poderia ver urn sentido preciso nesta data tendo em vista que a representacyao de urn passado mesmo pr6xirno ja lhe e tao dificil E necessaria tOdo um trabaIho cujas eta pas poderiam ser as seguintcs dar a ideia de urn seculo acreSCen tando uma a outra 0 perlodo de reS ou quauo geraoes come a ndo poc exemplo pela da era crista e explicando por que 0 nascimento de Cristo foi escolhido corno origem Entre 0 ponto de partida e a cpoea awal demarcar 0 tempo com pomos de rc ferencia concretos como a biografia de persona gens ou evcntos simb6licos Constituir assim lim primeiro esquema cllja Uama sera POLICO a pouco consol idada Em seguida mostrar que 0 pon to inicial de nossa cra e convencional que existem olltras eras Outras hist6rias difcrentes da nos sa que estas eras pertenccm a urn perfotlo ao qual a cronologia humana nao se aplica mais que os primciros tempos permanecem obseuros para n6s etc Quao pOlleos dcntre n6s lembram erem reeebido de seus pro fcssores de Hisroria aulas inspiradas em tais principius E claro que com 0 passar do tempo adquirimos as nooes mencionadas nao se pode dizer que salvo exceao elas enham sido metod i camcnte constitufdas Urn dos resultados essenciais do cnsino 34 Coleao Textos Fundantes de Educarao da Hist6ria e portanto mais ou menos obtido de fata sem seT c1aramcntc pcrcebido nem intencionado Ora a brevi dade da Educatao Primaria cxige que se busque alcanar as objetivos sem rodeios sc esta Educaao quiser ser plena mente eficaz Padese dizcr que atc os dias atuais 0 ensino da Gramatica e da Literatura e 0 unico que cnha tido plena consciencia de seu papell6gico ele ensinaporaonltor us conhecimentos que ele rransmite sao voluntariamente utilizados para a constirui9ao do entendimento Em certa medida 0 cnsino da Matematica se atribui 0 mesmo papel no enranto aqui a funao educativa e criativa dos conhecimentos com frequcncia jd e perdida de vista e as conhecimentos passam a ser aprcciados por si mes mos Vese que a didarica de Durkheim se asscmclha a de Her barr mas com inovaC6es Bern siruada na historia das domrinas pedag6gicas ela parece resolver 0 conftito do ormoliJmo e de seu conrrario a oposicao do saber e da cultura Ela fornecc 0 princfpio que sozinho permire superar as dificuldades cm meio as quais se debar em os nossos Ensinos Prirnario e Seeundario presos entre as aspica6es enciclopedicas e 0 legftimo senti men to dos perigos que elas engendram Cada uma das disciplinas fundamentais implica uma filosofia latente au seja urn siste ma de noyoes cardeais que resumem 0 aspectos mais gerais das coisas tais como n6s as concebemo e que coman dam a intcrpretayao delas E eS3 filosofia fcmo do trabalhado acu muladu por gerayoes que se deve transmitir a cr iana pais e1a constirui a pc6prio esqueleto da inteligncia Filos6jieo c bdsieo nao sao tecmos que se excluem muito pelo contririo 0 ensino mais basi co deve sec 0 mais filos6fico Mas e 6bvio que o que chamamos aqui de filosofia nao deve ser expos to em uma forma abstrata Ela deve emanar do ensino mais familiar Educatao e oclologia 35 sem nunca ser formulada Pacem para emanar assim e preciso primeiro que ela 0 inspire v A Edl1caao inre1ectual basica sc divide em dois tipos En sino Prima rio para a massa e Scclindario para a elite E a Edu caao da elite que suscita na Frana contemporanea as prohle mas mais embaraosos Hi mais de urn secuIo 0 nosso Ensino Secundario vem atravessando uma crise cuja soluyao ainda sc mostra incerra Podese falar sem exagero sobre a questao so cial do Ensino Secundario QuaJ e exaramente a sua natureza eo seu papel Que causas determinaram a crise em que csta ultima consiste de faro como se pode prever a sua solucao F a estas quest5es que Durkheim dedicou uma de suas mais belas aulas sabre A floupio e 0 popel do Ellsllo SeclInddrio tlfJ Frrwo de a ministrou varias vezes e deixou duas reda9ues cornplctas dela Ele as havia comeado a pedido do Reitor Liard que quis organizar pela primeira vez urn ensino pedag6gico para futuros professores do Ensino Secundario Oestinado aus candidatOs de wdas as modalidades da agregayao ranto cientfficas quantO li terarias e1e tinha como objetivo na concepyao de Durkhcim despertar em rod os e ao mesmo tempo 0 sentimenro de tarefa comum sentimento indispensavel se quisessemos que discipli nas diversas contribuissern para urn ensino que assim como a mente que cle forma deve apresemar uma unidade E provclvel que as fmuros professores do Ensino Secundario sintam lllll dia por si mesmos a necessidade de refletir metodicamente sob a direao de urn mestre sabre a natureza e a funyao especfficas da 3 lhnase de urn dos concursos para professor da Frana INC 36 COleiiO Textos Fundantes de Educaao instituisao que eles devem manter viva E neste dia a li ao de Durkheim surgini como 0 guia mais seguro para esra reAexao Sell autor considerava que as pesquisas que havia efe wado e a docum c ma ao que havia consultado eram insarisfar6rias em va rios pontOs Antes de julgar a ohra nao se pode esquecer que ele dedicou somcntc urn ou dois anus de trabalho a este vasto as sunto Desra forma csta aula e urn modelo incompanlvel do que a aplic3ao do metoda socio16gico as coisas da Educ39ao pode engendrar Eo lll1ico exempl0 complcto que Durkheim deixou da anal ise hist6rica de urn sistema de instituiocs escolares Para saber 0 que e 0 Ensino Sccundario awal da Iran9a Uurkheim observa como ele se formou As cstruturas datam da Idade Media periodo no qual foram instauradas as univcrsida des E no seio da universidade atraves do confinamento pro gressivo nos colegios do ensino dado na Faculdadc de Arres que 0 Ensino Secunda rio nasceu diferenciandosc do Ensino Superior Assim suas afinidades pod em ser explicadas urn prc para para Outro 0 ensino dialetico e na ldade Mcdia a pro pedeutica geral pois a dialetica e en taO 0 metodo universal ensino formal cultura geral rransmitida atraves de uma discipli na bastante especffica ele ja possui as aspectos que ao longo de toda a sua hist6ria Ensino Secundario mantera PorCI11 cm bora as estruturas estejam constituidas desde a Idade Media a disciplina educativa muda no seculo XVI a L6gica e substitufda pclas humanidades grecolatinas Originario do Renascimento na frana 0 humanismo foi posto em pratica principaliYlenre pe los jcsuftas Eles impregnaramno com sua marca pr6pria e em bora SellS rivais como 0 Orat6rio PorrRoyal e a universidade wnham remperado a sistema deles foi 0 modo como os jesuicas imerpreraram 0 humanismo que foi pOT excclc ncia 0 cducador Educaao e Sociologia 37 da mente ciassica francesa Em nenhuma sociedade europeia a inftuencia do hllmanismo foi excillsiva atraves de algumas de suas caracterfscicas dominances 0 nosso espirito nacional se ex prime no e ao mesmo tempo resulta do humanismo com suas qualidades e defeitos No en tantO sobretudo a partir do secuio XVIII OlltraS tendencias sc manifestam a pedagogia dim realista ataca 0 hllmanismo Ela prirneiro produz dUlltrinas sem exercer a3o imediata nas instituioes escalares Dcpois ela cria jun to com as Escolas Ccntrais da Canven3o um sistema escolar completamentc novo cuja duraao e efemera E 0 seclllo XIX faz 0 antigo e 0 novo sistema se enfrentarem sem conseguir eliminar nenhum dos dois e nem conciliaIos definitivamente E e este conAito que ainda buscamos superar Ao permitirnos compreendeIo a hist6ria nos da armas para resolveIo VI Em geral 0 ensino pedag6gico anre lim amplo espao a his tdria crftica das doutrinas da educaao Durkheim reconhece a importaneia dcste esrudo ao qual sc aplicou durante um born tempo Nas duas aulas sobre a Educasao intelectual Primaria e Secllndaria ele introduz a hist6ria das dolltrinas a de Comenius entre olltras chamau sua lte nao Elc deixou pIanos e notas de aulas que formam uma hist6ria das principais dourrinas pedag6 gicas na Frana desde 0 Renascimento La Revue de Afetaphysi qlle et de Alorale publicou 0 plano dctalhado de suas aulas sobre jeanJacques Rousseau Por fim cle redigiu inregralmente urn curso dc urn ana inreiro sobre Pestalozzi e Herbart Vejamos aqui somcnte que metodo ele scguiu Primeiro d e discingue claramencc a hist6ria das teorias da edu cacyao e a da pr6pria educ3ao Com frequcncia se faz confusao 38 Colecao Textos Fundantes de Educalao entre as duas Trarase entretanto de duas coisas fao distintas quanto a hist6ria da Filosofia Polftica e a das institui96es poli tieas Seria preferivel que nossos educadores conhecessem me lhor a hist6ria de nossas instituiroes escolares e nao pensassem como acontece de fato que a conhecem atraves de Rousseau ou Montaigne Em scguida Durkheim aborda as doutrinas como faws e e a educatao do espirito hist6rico que de tern a inten9ao de alcan 9ar aD estudalas Normalmente e de forma bastante difcrente que elas sao cxaminadas Iomemos como exemplo os livros de Gabriel Compayre manuais chissicos de hist6ria da Pedagogia familiares a todos os nossos professores Apesar de seu nome nao sao hisrorias propria mente ditas Eles sem duvida prestam servivos mas lembram de modo lamenravei uma cerra concep vao da historia da Fiiosofia felizmentc obsoleta Parece que os grandes pedagogos como Rabelais Montaigne Rollin e Rous seau surgem ai como colaboradores do tc6rico que atualmen te busca definir a doutrina pedagogica Tcmse a impressao de que h1 uma verdadc pedag6gica eterna valida de forma uni versal da qual eles haviam propos to concep9oes aproximativas Na doutrina deJes buscase separar 0 joio do trigo sustentar os preceitos utilizaveis atualmente pelos mcstres rejeitar seus paradoxos e erros A critica dogmatica suplanta a hist6ria e 0 elogio au a condena9ao a explicayao das ideias 0 residuo e 0 proveito intelecrual sao bastante escassos Nao 6 atraves do eon fronto dialetieo das teorias do passado teorias mais imbuidas dc intuiyoes confusas do que construidas de forma cientifiea que se tern chance de claborar uma doutrina salida e feeunda na pritiea Acantece habitual mente de os pedagogos de segun da categoria ec1eticos moderados e cujo raciocfnio e bastante Educalao e Sociologia 39 fraco resistirem bern melhor a esta critica do que as mentes de primeira categoria 0 bornsen so de um Rollin se mostra mais vantajoso quando comparado as extravaganeias de urn Rous seau Se a Pcdagogia Fosse uma ciencia sua hist6ria apresenta ria urn estranho aspecto a genialidade a teria conduzido em erro na maior parte das vezes ao passo que a mediocridade a reria manti do no caminho cerro Decididamente Durkheim reconhece que se possa buscar identificar atraves de uma discussao crftica os elementos de verdade contidos em uma doutrina No prefaeio que escreveu para 0 livro p6stumo de Hamelin 0 sistema de Descmtes ele ex pos urn metoda de imerpretayao tanto hist6rico quanto crftico o qual ele pr6prio aplicou ao estudo de PestaJozzi e Herbart Ele admirava 0 pensamento consistente e profundo destes grandes iniciadores e longe de ignorar a sua fecundidade pergumavase se as vezes nao Ihes atribula algumas das ideias cujos primei fOS cantoroos ele acreditava encontrar ern suas obras Porem seja qual for 0 seu valor dogmjxico Durkheim procura identi ficar nas doutrinas sobretudo as for9as sociais que inspiram urn sistema de Educa9ao ou trabalham para modificalo A hist6ria da Pedagogia nao e a hist6ria da educayao pois as re6ricos nao expressam exatamente 0 que de faw ocorre e nem 0 que de fato ocorrera Contudo as ideias tambem sao fatos e quando tern grande repercussao faws sociais 0 prodigioso suces so de Emflio deriva de causas diferentes da genialidade de Rousseau ele manifcsta tendencias confusas porem ener gicas da sociedadc curopeia do seculo XVIII Hi pedagogos Conservadores tais como Jouvency e Rollin que refletem 0 ideal pedag6gico dos jesuftas au da universidade do seculo XVII E principal mente visto que as grandes doutrinas se 40 Coleao Textos Fundantes de Educatao prolifcram em epocas de crise ha pedagogos rcvolucionarios que traduzem coisas coletivas essenciais para 0 observador e qua se impossfvcis de observar diretamente aspira90es idcais em gesta930 rebeliocs contra institui90es que se tornaram obsocras Durkheim estudou dcste ponto de vista por exernplo as ideias pedag6gicas do Renascimcnto e distinguiu melhor do que qual quer urn antes dele as duas grandes correntes predominantes a que atfavessa a obra de Rabclais e a autra bastante diferente apesar de sua misrura parcial que atravessa a ohra de Erasmo Esa 6 em grandes lin has a obra pedag6gica de Durkheim Este resumo basta para mostrar a sua cxtensao e as estreitas re la90es que ela mantem com 0 conjunto de sua ohra sociol6gica Para os educadores ela oferece uma dourrina original e vigo rosa envolvendo os principais problemas pedag6gicos Para as soci610gos ela esclarece as concepoes que Durkheim exp6s em outras obras sabre alguns pontos csscnciais rela5es entre 0 individuo e a sociedade entre a cicncia c a pratica a natureza da moralidade e a do entendimento Scjam educadores ou soci6 logos muitos sao os que desejam que csta obra pedag6gica nao permane9a inedita Vamos rentar publicar as principais aulas o pequeno volume que estamos lancando hoje Ihes servi ra de introdu9ao Reirnprimimos aqui apenas os estudos peda gogicos que Durkheim ja havia publicado4 Os dois primeiros reproduzem os artigos Education e Pedagogie do Nouveau 4 Cabe no emamo mcncionar 1 0 artigo Enfance no DictiolJltaire de Ptdflfofie que Durkheim assinoll em colaborayao com Buisson 2 A paJestra sobre EducalioTl sexlIele feita na Societe Fran9aise de Philosophie Butelirt que se assemelha sobretudo aos rrabalhos de Dllrkheim sabre a familia e a casamenw 0 estudo p6stuTlla sabre Emflio publicado na Revue de Mftaphysique el de A4amle t XXVI 1919 p 153 nao pode ser separado de urn outro suhre 0 cOlltrata social nesta mesma revista t xxv 1918 Educaao e Socioiogia 41 Dictionnaire de Pedagogie et dftlstruction Primaire publicado sob a direcao de E Buisson Paris Hachette 1911 e 0 terceiro e a aula dc aberrura que foi dada quando Ourkheim tomou posse de sua cadeira na Sorbo nne em 1902 e que foi puhlicada no nu mero de janeiro de 1903 da Revue de MitajJhysique et de Morale Algumas paginas sao redundantes Nos dois primeiros eStli dos ha inclusive decalques textuais do tercciro Mas pensamos que remanejar 0 original ocasionaria mais inconvenientes do que algumas repeti6es Paullaucollllet 1 A EOUCACAO SUA NATUREZA E SEU PAPEL 11 As definiyoes da educaiio exarne critico A palavra ectucaClo ja oi empregada com urn sentido bas rante vasto para designar 0 conjunto das influencias que a natureza au os DUUDS homens padem exercer sabre a nossa inteligencia au vOl1tade Stuart Mill diz que ela compreende tuda 0 que fazemos por conta pr6pria e tuda 0 que os DUOS fazem para n6s com 0 objetivo de nos aproximar da perfeiao da nos sa natureza Em sua acepyao mais larga ela compreende inclusive os efeitos indiretos produzidos no carater e nas fa culdades do homem por coisas cujo objetivo e compieramente diferente leis farmas de governo artes industriais e mesma faws fisicos independentes da vontade do homem ais como o clima 0 solo e a posiao local Porem esta definicao en globa fatos bastante dispares que nao podem ser reunidos sob urn mesmo VOClbulo sem dar lugar a confus6es Em funao de seus procedimentos e resultados a aao das coisas sobre os homens difere muito da que provem dos pr6prios homens e a acao entre hom ens pertencentes a mesma faixa eniria difere da que os adultos exercem sobre os mais jovens 0 que nos interessa aqui e somente esta ultima a qual por conseguinte Convem reservar a palavra educacao 44 Colerao Textos Fundantes de Educarao Mas em que consisre esta aao sui gtlleris A esta pergunta ja foram dadas respostas bastamc difcrcnrcs que podem se dividir em dois ripos principais Segundo Kant 0 objetivo da educ3yao c descnvolvcr em cad a jndivfduo Qda a perfei9ao da qual ele 6 capaz Mas 0 que se deve enrender por perfeiyao Ja foi frequentemente dito que se trata do desenvolvimenro harmonica de todas as faculdades humanas Elevar ao ponto mais alto passive I Ddas as pmencia lidades que se encontram dentro de 116s realizaIas de forma tao complera quanta passivel mas sem deixaIas prejudicarem umas as outras naa e Lim ideal acima de qualquer autro Mas embora em cena medida ele seja de faro necessaria e desejavei este desenvolvimento harmonica nao e totalmente realizivel pois ele contradiz uma outra regea da conduta huma na que nao e menos imperiosa e a que faz com que nos dedique mos a uma taeefa especifica e restrita Nao podemos nem deve mos wdos nos devatur au mesmo genero de vida dependendo das nossas aptidoes temus funoes diferentes a desempenhar c 6 precisu estar em harmonia cum aquela que nos incumbe Nem rodos nus fomos feiros para reHetie sao precisus humens de sensaau e a9ao Ao conmirio ao precisos outros cujo traha lho seja pensar Ora 0 pcnsamenro s pode se desenvolver ao se desprender do movimcnro recolhendosc em si mcsmo e desviando 0 sujeito cia aao exterior para que e lc mergulhe por complero em sua pr6pria mente Oaf uma primeira distinao que nao se da scm uma ruptura de equilfbrio E assim como o pensamento a asao por sua vez pode adotar uma multipli ciclade de formas diferentes e especfficas Scm duvicia csta especiaiiza9ao nao excl ui uma ccrta hase comum e por eonse guinte uma cerra oscilaao tanto clas fun90es orgfinieas quanto Educaao e Sociologia 45 das psiquicas oscila9ao sem a qllal a saude do individuo bern como a coesao social estariam comprometidas Nao e menos verdade porem que a harmonia perfeita nao pode ser apresen tada como 0 objetivo final da conduta e cdllCaao Ainda menos satisEn6ria 6 a definiao lltilitarista seglmdo a qual a educayuo teria como objeto transformar 0 individllo em urn instrumento de felicidade para si mesmo e sellS scme Ihantes James Mill pais a felicidade 6 lima coisa essencial mente subjetiva que cada urn estirna da sua maneira Com tal formulay8o 0 objctivo da educ1cao permanece portanw inde terminado bern como a propria educayao que fica submetida a arbitrariedade individual E verdade que Spencer tenmu dennir a felicidade objetivamente Para ele HS condic6es da felicidade sao as mesmas da vida A felicidade plena e a vida plena Mas o que se deve enrcndcr por vida Quando se trata sornente da vida fisica podese mencionar aquila cuja ausencia a irnpos sibiliaria ela impliea de faro 11m cerm equilibrio entre 0 or ganismo e seu n1eio e ja que os dois termos relacionados sao dados definiveis 0 mesmo deve valer para a reia9ao entre eles Po rem s6 se pode exprimir assim as necessidades vitais mais irnediatas Ora para 0 hamem e sobretudo para 0 homem de hoje esra vida nao e a vida Esperamos da vida outra coisa a16m do funcionamento mais ou menos normal de nossos 6rgaos Urn individuo culto prefere laO viver do que renuneiar aos prazeres da inreligencia Ate do ponto de visea arenas material tudo 0 que excede estritamene necessario foge de qualquer tentati va de determinacao 0 standard of life como dizem os inglescs au seja 0 padrao de vida 0 minimo ao qual podemos conscnrir varia infinitamente de aeordo com as cond i6es os meios c os tempos 0 que ontem aehavamos que era suficiente nos parece 46 Cofeao Textos Fundantes de Educacao hoje oao cstar a alwra cia dignidade humana tal como a sen timos no momenta presence e welo leva a crer que as nossas cxigcncias oeste POntO 56 faraD aumentar Esbarramos aqu i na condenaao geral a que todas estas de finioes se expoem Elas partem do postulado de que ha uma ed ll caao ideal perfeita valida sem distin9ao para toelos os ho mens e e esta educaao universal e unica que u tc6rico tenra detinir Mas primeiro se a hist6ria e levada em consiucrarao nada que confirme tal hip6tese pade sec encontrauo A cuuca rao variou muito de acordo com os tempos cos palses Nas polis gregas e latinas a ecluc39ao ensinava 0 indivfduo a sc subordinar cegamente a coletividade tornafse a coisa oa socicdacie Hoje ela tenta uansformalo em uma personalidade autonoma Em Arenas buscavase formar intelecws finos pcrspicazes sutis amames de proporau e harmonia capazes de g07ar da beleza e clos prazeres da pura investigaJo em Roma dcscjavase antes de Udo que as crianas se tornassem homcns de a3o apaixo nados pela gl6ria militar indiferenres a tudo 0 que envolve as letras e artes Na Idade Media a cducaao era acima de mdo crista no Renascimento cia adquirc urn canitcr mais laico eli renlrio hoje a ciencia tcnde a wmar 0 lugar que a arte oeupava antigamente Podese redarguir que faro nao corresponde ao ideal que se a eduCa9Jo mudou 6 rorquc os homens se enga naram sobre 0 que ela dcvcria ser No entanro se a edueaao co mana tivesse sido marcada por lim individua lismo parecido com o nosso a polis romana nao tcria podido se manter a civilizasao latina e consequemcmcme a moderna que ern parte deriva da quela nao teriam podido sc constituir As sociedades cristas da Jdade Media nao teriam podido sobrevivcr sc tivessem concedi do a reAexao livre a impurtaneia que Ihc damos hoje Existem Educarao e ociologia 47 portanro neeessidades ineluniveis que e impossivcl abstrair lJe que adianta imaginar uma edueaeao que seria fatal para a soc ie dade que a coloeasse em pdtica Este pr6prio postulado aparentemente incomestavcl re pOllsa sobre urn erro de ordem mais geral Se comearmos a nos pergumar assim qual deve ser a educaeao ideal abstracao fcita de toda condiCao de tempo c lugar isto significa que admitimos de modo implicito que urn sistema educativo nao e por si mcs mo nem urn poueo real Acabamos nao venda urn conjunto de praticas e instituic6es que se organizaram lemamente ao longo do tempo que saO solidarias com wdas as ourras instituicoes sociais exprimindoas e que por eonscguinte bern como a pr6 pria estrurura da soeiedade nao podem ser modifieadas a vonta de Parece que estamos diante de urn plIfO sistema de eonceitos concretizados que a este titulo impliea apenas a lagiea Podese imaginar que homens de todas as cpoeas 0 organizam volunta riamente para alcancar determinado fim que se esta organiza cao nao e a mesma em todo lugar 6 porque houve urn engano com reia930 a natureza ou do objetivo que con vern buscar ou dos meios que permitem atingiIo Oestc ponto de vista as edu eac5es do passado surgem como erros totais ou pareiais Nao se deve partanto levalas em conside raao nao somas obrigados a assumir os erros de observacao ou de 16giea dos nossos prede cessores mas podemos e devemos abordar 0 problema sem lidar com as soluoes encontradas anteriormcnre au seja deixando de lado tudo 0 que foi feito devemos nos perguntar somente 0 que deve ser feito a ensino de hist6ria pode no maximo seNir para nos poupar a repetiao de eeros ja cometidos Parem na verdade cada sociedadc eonsiderada em deter minado momento de seu desenvolvimcmo tern um sistema de 48 Co leao Textos Fundantes de Educaao educatao que se impoe aos individuos com uma fora gcralmcn te irresistlvel Naa adianta crer que podcmos CdUCaf os nossos tilhos como quisennos Hi costumes aos quais somos obrigados a nos conformar se os transgrcdirmos demais eles acabarrl se vin gando nos nossos filhos Uma vcz adulws estes tiltimos acredi rarao nao poder viver em meio aos sellS contemporaneos com os quais nao cstarao em harmonia Pouco importa se foram cTiadas com idcias arcaicas ou avanradas demais tanto em um easo como no outro cles nao terao condic6es de viver uma vida normal Por tanto em qualquer epoca existe urn ripe regulador de educacao do qual nao pademos nos distanciar sem nos chocarmos com vi gorosas resistcncias que escondem dissidencias frustradas Ora nao fomos n6s individualmente que invemamos os COStumes e ideias que dererminam esre ripo de educarao E les sao 0 produto da vida em comum e reflerem suas necessida des Em sua maior parte eles sao inclusive fruto das geracoes anteriores Todo 0 passado da humanidade contribuiu para ela borar este conjunro de maximas que dirige a educaao de hoje nela esta gravada teda a nossa hist6ria e mesmo a hist6ria dos povos que nos precederam Este mecanismo e similar ao dos arganismos superiores que carregam como que 0 ceo de teela a evolu9ao biol6gica da qual eles sao 0 resultado Quando se estuda historicamente a maneira como os sistemas de educaao se formaram e se desenvolveram percebesc que eles sempre dependeram da religiao da urganizacao polftica do grau de desenvolvimento das ciencias du estado oa indllstria etc Se forern desconecrados de codas as causas histjricas cles se corna rao incompreensiveis Como entao 0 individuo pode pretender reconstfuir somente a partir de sua reflexao pcssoal 0 que nao e fruto do pensamenro individual Ele nao se encontra diantc de Educaao e Sociologia 49 uma tabula rasa sabre a qual poded edifiear a que quiser mas sim de realidades existenres as quais ele nao pode nem criar nem destruir nem transformar a vontade Ele s6 pode influen cialas na medida em que aprender a conhedlas e souber qual e a sua natureza e as condi6es das quais elas depend em e s6 conseguira saber cudo isto se seguir 0 seu exemplo se come9ar a observaIas como 0 ffsico 0 faz com a materia bruta e 0 biolo gista com as seres vivos Alias como proceder de ourra forma Quando se quer deter minar 0 que deve ser a educa9ao unicamente atraves da dialeti ca e preciso comear estabelecendo que fins ela deve ter Mas que nos permite dizer que a educacao tern tais fins e nao outros Nao sabemos aptian qual e a funao da respira9ao ou da circula crao no ser vivo Que privilegio faria com que soubessemos me lhor 0 que diz respeiro a fUI1cao educariva Pudese responder que obviamente ela rem como objetivo criar as crianas Mas isto equivale a colocar 0 problema em termos quase iguais e nao resolvelo Seria preciso dizer em que eonsistc csta criacao aquilo a que ela tendc que necessidades humanas cia satisfaz Ora s6 se pode responder a tais quesroes comeando par ob servar em que ela consistiu e que necessidades cia satisfez no passado Desra forma ntm que seja apenas para constituir a no ao preliminar de educa9ao e determinar a coisa que se chama assim a observa9ao histurica surge como indispensavel 12 Definiao da educaao Para definir a educ3cao e preciso portanto levar em consi deraao os sistemas educativos que existcm ou que ja exisriram camparalos e identificar as aspectos em comum A reuniao des tes aspectos consrituinl a defini9ao que buscamos III 50 Coleao Textos Fundantes de Educaao Ao longo do nosso caminho ja determinamos dais ele mentos Para que haja edllcaao 6 preciso que uma ge raao de adultos e uma de jovens se encomrcm face a face e que uma aao seja exercida pelos primeiros sabre os segundos Resranos defin ir a natureza desta aao Nao existe por assim dizer nenhuma sociedade em que 0 sistema de educaao nao apresente urn duplo carater ele e ao mesmo tempo singular e multiplo Ele 6 multiplo Ue faro em certo senti do podcse dizer que em tal sociedade hCt tantos tipos quanto meios de cducacao di fcrentes Tal sociedade por exemplo e form ada por eastas A educatao varian de uma casta para Dutra ados ariswcratas nao era igua a dos pJeheus ados bra manes nao era igual a uos su dras Oa mcsma forma na dade Media que despropor9ao entre a eliitura rcccbida pelos jovens pajens insullidos em wdas as artes da cavalaria e ados camponeses livres que iam aprender na escola de sua par6quia alguns escassos ele mentos de compu to canto e grami cica Ainda hoje nao vernos a educacao variar com as classes sociais ou rnesmo com os habitats A da cidade nao e igua a do campo a do burgues nao e igual a do openirio Dirao por al que csta organizarao nao e rnoralmente justificivel e pode ser considerada como urn anacronisrno destinado a desa parecer A tese e ficil de defender E 6bvio que a educa9ao dos nossos tilhos nao deveria depender do acaso que as faz nascer aqui au la de tais pais em vez de outros Porem mesmo que a consciencia moral de nosso tempo tivesse side satisfeita neste pomo nem por isso a cducaao seria mais uniforme Mesrno que a carreira de cada c ri a na nao fosse em grande parte pre determinada por uma cega hereditariedade a diversidade moral das profissocs nao deixaria de exigir uma grande diversidade Educarao e Socioiogia 51 pedag6gica De fa to cada profissao constitui um melO SUt ge neris que demanda aptidoes e conhecimentos especificos urn ll1eio no qual predominam cerras ideias usos e maneiras de ver as eoisas e ja que a crianca deve estar preparada com vistas a funcao que sera levada a cumprir a educacao a partir de de terminada idade nao pode mais continuar a mesma para to dos as sujeitos aos quais ela se aplicar E por isto que em todos os paises civilizados ela Cnde cada vcz mais a se divcrsificar e se especializar e esta especializayao a sc tornar cada vez mais precoce A heterogeneidaue produzida assim na fepousa sobre inegavel injusti9a como a que observamos agora ha pouco mas ela nao e menor Para encontrar lima educarao absolutamente homogenea e igualitaria 6 preciso vol tar no tempo ate as so ciedades prchist6ricas no scio das quais nao existia nenhuma diferencia9ao c ainda assim estes tipos de sociedades represen tam apenas 11m mOffiCnto 16gico na hist6ria da humanidade Contudo scja qual for a importancia destas educatXoes espe cificas elas na sao a educaao roda Podese ate dizer que elas nao sao autossuficicntcs em tOdos as lugares em que se pode observiIas elas s6 divcrgem umas das outras a partir de cecto ponto aqucm do qual elas se confundem Todas elas repousam sobre uma basc C0111um Nao ha povo em que nao exista cerro numero de ideias SCntinlcntoS e praricas que a educacao deve inculcar em todas as crianyas sern distinyao seja qual for a cate goria social a qllal elas pertencem Mesma quando a sociedadc e dividida em castas fechadas umas as olltras sempre hi uma religiao comum a todas e por consegllime os princfpios da cultura religiosa que c entaO fundamental sao as mesmos na faixa intcira da populasao Embora cada casra e cada familia tenha seus deuses cspecfficos hi divindadcs gerais reconhecidas pOT todo 0 mundo 52 Colecao Textos Fundantes de Educacao as quais todas as crianas aprendem a adoral E vista que estas divindades encarnam e personificarn certos sentimentos c ma neiras de conccber 0 mundo e a vida naa se pode ser iniciado ao culto dclas scm adquirir ao mesmo tempo todo tipo de hibitos menta is que excedem a esfcra da vida puramenre religiosa Oa mesma forma na ldade Media servos camponeses burgueses e nobres recebiam igualmente a mcsma educ39ao crista Se e assim em sociedades em que a divcrsidade intelectual e moral atinge esre nfvel de contraste entaa fica mail do que claro que o mcsmo vale para povos mais avanados nos quais as classes cmbora permanc9am disrinras sao separadas por urn abismo mcnos profunda Estes elementos comuns de toda eduea9ao nao deixam de existir mesmo quando nao se manifestam em forma de simbolos religiosos Ao longo da nossa hist6ria eons tiwiuse todo urn conjunto de ideias sobre a natureza humana a importancia respectiva de nossas diferentes faculdades 0 di reiw e 0 dever a sociedade 0 individua 0 progresso a ciencia a arte etc ideias que se encontram na pr6pria base do nosso espfrito nacional toda educa9ao tanto a do rico quanto a do pobTe tanto a que conduz as profiss6es liberals quanta a qlle prepara para as fun90es industriais tern como objetivo nxaIas nas consciencJas o resultado destes fatos e que cad a sociedade elabora urn cerro ideal do hornem 011 seja daquilo que ele deve ser tanto do ponto de vista intelectual q uanto ffsico e moral que este ideal e em eerra rnedida 0 mesmo para todos os eidadaos que a partir de certo ponto ele se diferencia de acordo com os meios singulares que toda sociedade compreende em seu seio E este ideal unico e diverso ao mesmo tempo que e 0 polo da educa9ao Portanto a fun9ao desta ultima e suscitar na criama Educaao e Sociologia 53 to urn ceno numero de estados fisicos e mentais que a soeieda de a qual ela pertence exige de todos as seus membros 2 cer tQS estados ffsicos e mentais que a grupo social espedfico casta classe familia profissao tambem considera como obrigat6rios em todos aqucles que 0 formam Assim e 0 conjunto da socie dade e eacia meio social especifico que determinam este ideal que a educayllo realiza A socicdade so po de viver se existir uma homogeneidade sufieientc entre seus membros a educaao perpetua e fortalece esta homogcneidade gravando previamen te na alma da cdanta as semelhanas essenciais exigidas pela vida coletiva No entanto por outro lado qualqucr cooperatao seria impossIvel sem uma certa diversidade a eduCa93o assegll fa a persistencia desta necessaria diversidadc divcrsificandose e especializandose a si mesma Se a sociedade tivcr acan9ado 0 nivel de desenvolvimento em que as andgas divisocs em castas e classes nao podem mais se manter ela prescrevera uma educa gao mais una em sua base Se no mesmo momento 0 trabalho estiver mais dividido ela provocara nas criancas a pardr de urn primeiro deposito de ideias e sentimentos comuns uma diversi dade de aptid6es profissionais mais rica Se ela viver em cstado de guerra com as sociedades ambientes ela se esforyara para for mar os intelectos a partir de urn modelo alta mente nacional se a Concorrencia internacional adotar uma forma mais pacffica 0 dpo que eIa buscara realizar e mais geral e humano Portanto para a sociedade a edllcaao e apenas 0 modo pelo qual ela prepa ra no cora9ao das crianas as condit6es esseneiais de sua propria existencia Veremos rna is para a frente como 0 pr6prio indivfduo encontra vantagens em se sub meter a estas exigencias Chegamos ponamo ao seguinte enunciado A eduuliio t a apIa exercida pelas gerafoes adultas sabre aqueloJ que aillda lIiia fJtiio 54 Colecao Textos Fundantes de Educacao flourns para a vida social lila em como objetivo slIscitar e descll valver IO aiOfJO 11m cerlo tlumero de esados jisicos illteleellais e marais exigidos tmlto pelo cOlljZWIO do sociedade potica quofllo pelo meio especifieo 00 qual do eSld desifada tm particular 13 Consequmcia da definiyao anterior carater social da educayao A partir da dcfini9ao precedence podcsc conciuir que a cdllcaao consistc em lima socializaa mcodica das novas gc railes Em cada lim de n6s podcsc dizcr cxistcm dois seres que cmbora scjam inscparavcis a nao ser por abstrasao nao dcixam de ser distintos Urn 6 composto de wdos as estados mentais que dizcm respeito apenas a n6s mesmos e aos acon tecimcntos da nossa vida pessoal eo que se poderia chamar de ser individual 0 Outro e urn sistema de ideias sentimentos e habiws que exprimem em n6s nao a nossa personalidade mas si m a grupo ou as grupos diferentes dos quais fazemos parte tais como as crenyas religiosas as crenas e praticas morais as tradioes nacionais au profissionais e as opinioes coletivas de todo tipo Este conjunto forma 0 ser social ConstilJir esre ser em cada urn de n6s e 0 objerivo da educayao Alias e af que se manifesta melhor a importancia do seu pa pel c a fecundidade da sua a93o De faro esre ser social nao someme nao se enconua ja promo na constiruiyao primiriva do homem como tambem nao resulta de lim desenvolvimenro es pomaneo Esponraneamenre 0 hom em nao tinha tendencia a se submeter a uma autoridade polftica respeirar lima discipli na moral dedicarse e sacrificarse A nossa natureza congenira nao aprescntava nada que nos predispusesse necessariamenre a nos tornarmos scrvidores de divindades emblemas simb6licos Educao e 50clologia 55 da sociedade a Ihes prestarmos culto au a nos privarmos para honnilas Foi a pr6pria tiociedade que a medida que ia se for mando e se consolidando tirou do seu seio estas grandes fora s morais diante das quais 0 homem sentiu a sua inferioridade Ora com exce9ao de tendencias vagas e incerras que podem ser auibufdas a hereditariedade ao entrar na vida a crian9a traz apenas a sua natureza de indivfduo Portanto a cada nova gera ao a sociedade se encontra ern presenca de uma tabula quase rasa sabre a qual eta deve construir novamente f preciso que petos meios mais ipidos ela substitua 0 ser egoista e associal que aeaba de nascer por urn outro capaz de levar uma vida moral e social Esra e a obra da educaao cuja grandeza podemos reco nhecer Ela 1130 sc limita a reforar as rendencias naturaimentc marcanres do organismo individual au seja desenvolver poten cialidades ocultas que so estao esperando para serem revel ad as Ela cria urn novo ser no homem Esta virtude criadora e alias um privilcgio especifico da educacao hUlnana A que os animais recebem c completamente diferente se e que podemos chamar de eduCa9ao 0 treinamenco progressivQ ao qual elcs sao submetidos par seus pais Este trei namento bem pode acclerar 0 desenvolvimento de certos ins tintos que estao latentes no animal mas nao 0 inicia a uma nova vida Ele facilita 0 movimento das funtyoes naturais mas nao cria nada InsIuido pela mae a filhote sabera voar au fazer 0 ni nho de forma mais dpida mas nao aprendera quase nada a nao ser atraves de sua experiencia individual E que as animais ou vivem fora de todo estado social ou formam sociedades bastan te simples que funcionam a partir de mecanismos instintivos que cada individuo carrega consigo perfeitamcnte consiruidos desde 0 nascimento Porranto a ed ucaao nao pode acrescentar 56 Coleao Textos Fundantes de Educaao nada de essencial a nawrcza visro que esta ultima e imeiramen te suficieme tanto para a vida do grupo quanto para a do indi vfduo No homem ao conwhio as aptidoes de todD tipo que a vida social sup6c sao complexas demais para pocterem de eeno modo encarnarse nos recidos e materializarse sob a forma de predisposic6cs organicas Poc conseguinrc elas nao podem sec uansmitidas de lima geraeao para a uutra auaves da hereditarie dade E a educ3eyao que garanrc a transmissao No cnranto podese objetar se de faro e possfvel conceber que as qualidades propria mente morais 56 podem sec suscitadas em n6s por uma 39ao vinda do exterior lima vez que clas im poem priv390es ao individuo c rcprirnem os seus movimentos nacurais nao haveria ounas qualidades que todo homem tern interesse em adquirir e busca espontaneamente Pensemos por cxernplo nas diversas qualidades da inteligencia que Ihe penni tern adaprar melhar a sua eonduta a natureza das coirms Pense mos tamb6m nas qualidadcs ffsicas e em tudo 0 que contribui para 0 vigor e a saude do organismo Com reiatao a estas ulti mas pelo menos parece que a educaao ao desenvolveIas nao fata ITlais do que tomar a dianteira do pr6prio desenvolvimenro natUral alando a individuo a urn estado de perfei9ao relativa a qual ele teode por si mesmo embora possa alcan9alo de forma mais nipida com a ajuda da sociedade Por6m apesar das aparcncias 0 que mostra bern que taow aqui como alhures a educaao satisfaz acirna de tudo necessi dades sociais 6 que cxistem sociedades em que cstas qualida des nao foram absulutamente cuitivadas e que em todo caso foram compreendidas de modo muito diferente dcpendendo das sociedades Nem todos as povos recoohecerarn as vantagens de uma s6Iida cultura intcleetual A ciencia eo espfrito crltico Educaao e Sociologia 57 os quais valorizamos tanto atualmente durante muito tempo foram vistos com dcsconfiana Nao conhecemos uma grande doutrina segundo a qual sao bemaventurados os pobres de es pfriro Nao se deve pensar que esta indife rena com reia9ao ao saber tenha side artificial mente imposta aos homens contra a natureza deles Eles nao tem por si mesmos 0 apetire instintivo de ciencia que Ihes 6 frequeme e arbitrariameme anibufdo e s6 desejam a ciencia na medida em que a experiencia Ihes mosna o quao imprescindlvel eIa 6 para eles Ora no que diz respeito a organizaao de sua vida individual eles nao se interessavam nem urn pouco peia ciencia Como ja dizia Rousseau para satis fazer as necessidades vitais a seosacao a experiencia e 0 inscin to podiam bastar para 0 homem assim como para 0 animal Se 0 hom em nao tivesse senti do outras necessidades a16m daq uelas bastante simples cujas rafzes prov6m de sua constituiao indi vidual ele nao teria corrido atras da ciencia ainda mais que ela nao foi obtida sem laboriosos e dolorosos esforos Ele s6 sentiu a sede do saber quando a sociedade a provocou neie e a socie dade s6 a provocou quando ela mesma sentiu esta necessidade Isto aconteCu quando a vida social soh todas as suas fonnas tornous complcxa demais para poder funcionar de ouna forma a nao ser com base na reflexao ou seja no pensamento ilumi nado pela cieneia A cultura eientffiea se Ornou entao indispen savel e e por isto que a sociedade a cxige de seus membros e a impoe como urn dever Entretamo em suas origens enquanto a organizatao social for ba5tante simples muito pouco variada e semprc fiel a 5i mesma a cega tradiao oastara assim como o instinru para animal Neste contexto 0 raciocfnio e 0 livre pensamento sao inuteis e ate perigosos ja que necessariameme ameasariam a tradisao E por isto que des sao proscritos 58 Coleao Textos Fundantes de Educa3o o mcsmo vale ate para as qualidades ffsicas Se 0 escado do meio social inclinar a consciencia publica para 0 ascetismo a educaao ffsica sera rejeitada para 0 segundo plano f lim pOlleo o que acontecia nas escolas da Idadc Media e este ascetismo era necessaria pois a mica maneira de se adaptar it rudeza daqueles tempos diffceis era amandoa Oa mesma forma dependendo das linhas de opinifro esta mcsma educaao sera emendida nos mais diferemes sentidos Em Espana ela tinha como objctivo sobrewdo endurecer os mcmbros contra 0 cansa90 em Arenas ela era um meiu de modclar bel as carpos para serem adm irados na epoca da cavalaria csperavase que ela formassc gucrrciros ageis e flexiveis hojc em dia ela s6 visa a higicnc c sc preo cllpa sobretudo em conter os perigosos efeitos de uma cliltura intelectual demasiado intensa Assim 0 indivfduo s6 busca as qualidades que a primeira vista parecem tao espontaneamente desejaveis quando a sociedade 0 incita nesta dirccao E ele as busca da maneira que ela Ihe prescreve Escamos agora aptos a responder a uma qucstao levanta da por tudo 0 que acabamos de ver Enquanto moscravamos a sociedade modclando os individuos de acordo com as suas ne cessidades podia parecer que ees sofriam assim lima insllpor dvel tirania Porcm na realidade eles proprios tem interesse nesta submissao pois 0 novo ser que a a9ao coletiva ed ifica em cada urn de n6s atraves da educa9ao reprcsenca 0 que hft de melhor em n6s ou seja 0 que ha de propriarnenre huma no em n6s Dc faro 0 homem s6 e homem porque vive em sociedadc E diffcil demonstrar com rigor em urn arrigo uma afirma9ao tao geral e importante e que resume os trabalhos da Sociologia contcmporanea Mas ja podemos pelo menos dizer que e1a esta sendo cada vez menos contestada Alcm disso e Educarao e ociologia 59 posslvellembrar su mariamcnte as fatos mais essenciais que a justificam Antes de tudo se existe hoje urn fato historicamente es tabelecido eo fato de que a moral cultiva estreitas relacoes com a natureza das sociedades visto que como ja mostramos ames ela muda quando as sociedades mudam Isro significa portanro que a moral resulta da vida em comum De faro 6 a sociedade que nos faz sail de n6s mesmos que nos obriga a considerar interesses diferenres dos nossos que nos ensinou a dominar as nossos fmpetos e instintos a sujeitalos a leis a nos reprimir privar sacrificar subordinar os nossos fins pes soais a fins mais clevados Foi a sociedadc que instituiu nas nossas consciencias todo 0 sistema de representa9ao que ali menta em n6s a idcia c 0 sentimento da regra e da disci pI ina canto internas quanto cxternas Foi assim que adquirimos 0 poder de resistir a nos mesmos au seja 0 domfnio sabre as nossas vantades lim dos tra90s marcantes da fisionomia hu mana desenvolvido a mcdida que nos tornamos mais plena mente humanos Do ponto de vista intclccttJal nao devemos menos a socie dade E a ciencia que elabora as n090es cardeais que dirigem 0 nosso pensamento n090es de causa leis espaco numera cor pas vida consciencia sociedade etc Todas estas ideias funda mentais estao em constante cvolu9ao e que elas sao 0 resumo eo resultado de todo 0 trabalho cientifico e nao 0 seu ponto de partida como acreditava Pestalozzi Nao consideramos hoje o hom em a natureza as causas e inclusive 0 espaco como eles cram considerados na ldadc Media e que os nossos conheci menws e metodos ciendficos nao SaO mais os mesmos Ora a ciencia e uma cbra coletiva vista que supoe uma vasta coope 60 Coleao Textos Fundantes de Educarao wao cntre rodos os sa bios nao somenrcde urn mesma perfodo como tambem de todas as epucas sllcessivas da hist6ria Antes de as ciencias estarem constitufdas a religiao desempenhava 0 mesma papel pais toda mitologia consiste em uma represcn taao ja bastanre elaborada do homem e do universo Alias a ciencia e herdeira da rcligilio que por sua vez e lima instirui930 social Ao aprendcr lima lingua aprendemos todo urn sistema de ideias disrinras c classificadas e herdamos todo 0 trabalho do qual sao oriundas estas classifica90es que resumcm seculos de experiencia E tern mais sem a linguagem nao tcriamos por assim dizer ncnhuma ideia geral pais e a palavra que ao fixar as conceitos Ihcs da consistencia suficiente para que eJes possam ser manipulados comodamente pelo intelccto Pmtanto foi a linguagem que nos permitiu elevarnos acima da pura sensavao e e desncccssario demonsrrar que a linguagem e pm excelen cia uma coisa social Estes exemplos mosrram que se wdo 0 que a sociedade deu ao hom em Ihe fosse retirado elc scria redllzido a cate goria do animal Se ele pode ultrapassar 0 esdgio no qual os animais se estagnaram foi primeiro porque ele nao se contenta somenre com 0 fruto dos seus esfonos pessoais mas coopera regularmente com as seus semelhanres 0 que refona 0 rendi mcnw da atividade de cada urn Foi tambem e sobretudo porque os produtos do trabalho de uma geracao deixam assirn de screm perdidos pela gerayJo scguinte De Udo 0 que urn animal aprende ao longo de sua cxisrcneia individual quasc nada fica para a sua posteridadc as resultados da experiencia humana ao conrrario conservarnse quase que integralmenrc e arc em seus detalhes gra3S aos livros monumentos figll rativos ferrarnentas instrumenros de todo tipo transmitidos Educaao e Sociologia 61 de geraryJo em geraao tradivao oral etc 0 solo da natureza e assim recoberro por urn rico aluviao que vai crescendo scm parar Ao inves de se dissipar rodas as vezes em que uma gera ao se extingue e e substituida por outra a sabedoria humana se acumula sem cessar e e esta infinita acumulaao que eleva o homem acima da besta e de si mesmo Todavia assim como a cooperaao que mencionamos aeima esta acumulavao s6 e possivel na e pela sociedade Isro porque para que 0 Jegado de cada geraao possa ser conservado e cransmirido para as outras e preci50 que haja uma personalidade moral que atravesse as geraryocs que passam e que as ligue umas as outras e a socie dade Assim 0 antagonismo que muiras vczcs se sup6s existir entre a sociedade e 0 individuo nao corresponde a realidade Estes dois rcrmos estao longe de se oporem c 56 poderem se desenvolvcr de modo divergente Na verdade urn implica 0 outro Ao qucrer a sociedade 0 individuo quer a si mesmo 0 objetivo e 0 efeiw da aao que ela exerce sobre cle principal menre arraves da educaao nao sao nem urn poueo reprimilo dimi nuiIo desnaruralo mas sim amplificaIo c transformaIo em lim ser verdadciramente humano Sem dllvida cle s6 pode crescer desra forma fazendo esforo Mas jusramente 0 poder de fazer esforyo de modo volunrario e uma das caracteristicas mais essenciais do hom ern 14 0 papel do Estado em materia de Educaiio Esta definiryao da educaao permite resolver facilmente a questao tao comroversa dos deveres e direitos do Estado em materia de Edueayao A estes op6emse as direiros da familia Aercditase que a crianca pertencc primeiro aos seus pais porranro e a eles que 62 Coleao Textos Fundantes de Educaao cabc dirigir como bem entenderem 0 sell desenvolvimento intclecmal e moral A educacao e entao concebida como uma coisa essencialrnente privada e domestica Quando adotamos este ponto de vista tendemos de forma narurai a reduzir a inter vencao do Estado ao minima posslvel Ele deveria dizemos li mitarse a servir como auxiliar e substituto das familias Quando elas se encontram inaptas a cumprir os seus de veres e natural que ele se encarregue dos mesmos E natural ate que de Ihcs facilire aD maximo a tarefa colocando a slla dispo s i ao cscolas aande possam enviar seus filhos se quiserem Mas etc deve sc manter estritamente denero destes limites e se impcdir de rcali zac qualquer 3cao destinada a gravar determinada oricntaao na alma da juventude Porem 0 seu pape nao cleve permanceer tao negativo Se como tentamos motitrar aqui a edlleaao descmpenha acima de tuclo uma fun9ao coletiva c tern como objetivo adaptar a criansa ao mcio social no qual cia csta destinada a viver e im possivel que a socicdadc se dcsinteresse de tal operaao Se a sociedadc constitui 0 ponto de referencia para a educa3o dirigir a sua aao como cia poderia ficar ausente desta ultima Portanto 6 a cia que cabc constantemence lembrar ao profes sor que idcias c sentimentos ele deve arraigar na crianca para que a mcsma entre em harmonia com 0 seu meio social Se ela nao estivessc scm pre presence e vigilante para obrigar a aao peJag6gica a se exercer em urn sentido social esta ultima se colocaria nccessariamente a servio de crenas pardculares e a grande alma da patria se dividiria e se dissolveria em uma pluralidadc incoerente de pequenas almas fragmentarias em conflito umas com as outras Nada e mais contrario ao objetivo fundamental de toda educa3o do que ism E preciso escolher Educaao e Sociologia 63 se quisermos valorizar a cxist6ncia da sociedade acabamos de ver 0 que eia significa para nds e preciso que a educaC3o esrabcle9a uma comunhao de ideias e sentimentos suficiente entre os cidadaos comunhao sem a qual qualquer sociedade e impossivel e para que possa produzir cste resultado a educa vao nao pode ficar totalmenre amerce das arbitrarias vontades individuais Uma vez que a educaao e lima funao essencialmente so cial 0 Estauo nau pode se desinteressar dela PeIo cumrario tudo 0 que 6 cuuCa9aO deve se1 em certa medicla submetido a sua avao Tsto nao significa no entanto que elc deva necessa ria mente monopolizar 0 ensino A questao e demasiado COITI plexa para que possamos trataIa assim sem entrar em detalhes vamos reservaIa para mais tarde Podese pensar que os pro gressos escolares sao mais simples e rapidos quando uma cer ta margem de manobra e concedida as iniciativas inclividuais pois 0 individuo e mais facilmenre inovador do que 0 Estado Porem 0 fam de 0 Estado dever em prot do interesse publico autorizar 0 funcionamento de outras escolas al6m daquelas sob sua responsabilidade direta nao implica que ele permanesa in diferente ao que acontece dentro destas instituicocs A Edu cacao que elas forneccm cleve pelo coorfhio ficar submetida ao seu controle Nao 6 nem mesmo admissivel que a fumao de educador seja desempenhada por algucm que nao apresente garantias especfficas que somente 0 Estado pode julgar Sem duvida os limites dcntro dos quais a sua intervenyao cleve se manter sao diffceis de se determinar de modo definitivu mas o principio de intervencao nao pode ser contestado Nau h1 es cola que possa reivindicar 0 direito de dar com toda liberdade lima Educacao antissocial 64 Co l e a o Textos Fundantes de Ed uca a o No entanto e necessario reconhecer que 0 esrado de divisao em que atualmeme se encontram as mentes na FranIYa5 faz corn que este dever do Estado se Orne especial mente dclicado e ao mesmo tempo mais importante Dc faw nao cahc ao Esta do criac csta comunhao de ideias e scmimentos sem a quai nao exisrc sociedade ela deve se constituir pDf si 56 e a lnica caisa que de pode fazer 6 consagraIa manrcIa e wcnaIa mais cons ciente para as pessoas Ora infelizmcnte no nosso pals Fanyal esta unidade mural nao e em Odos os angulos que ela de veria sec Ficamos divididos entre conceploes divergentes e as vczcs ate contradit6rias Em mcio a estas divcrgcncias ha urn faw que e imposslve negar e quc e preciso levar em considera ao Nao se rara de conceder ao grupo majoritario 0 direito de impor suas ideias as crianas pertcncemes ao grupo minoritario A escola nao deve ser a coisa de urn partido eo professor faltara an sell dever se usar a autoridade da qual dispoe para embarcar os sellS alunos a bordo de slias parciais visoes pessoais por mais bern fundadas que elas Ihe possam parecer Porem a despeito ue todas as dissidcncias ja ha desde agora na base da nossa civilizayao urn certO nlimero de princfpios que implfcita ou cx plicicameme sao comuns a wdos principios que em todo caso muito pOUCOS ousam negar de forma aberta c frontal respcito ua razao da ciencia e das ideias e semimentOs que sustentam a moral democrarica 0 pape uo Estado consiste em identiflcar estes principius essenciais fazer com que ecs sejam ensinados nas escolas garantir que em lugar algum os adultos deixem as crianyas ignoraIos e certificarse de que pDf toda pane se fale deles com 0 respeiro que Ihes 6 devido Sen do assim poucse 5 Esta obra roi escrira tendo comu fxo inicial a Franrra INE Educaa o e Sociologia 65 excrcer uma aao que talvez sera tanto mais eficaz quanto me noS agressiva e violenta for e quanto melhor sc mantivcr dentro de lirnites sensatos 1S Poder da educaao meios de a1io Uma vcz detcrminado objetivo da cduca9ao 6 preciso bus car definir como c em que meuida 6 possfvcl atingiIo ou seja como e em que meuida a educa9ao pode ser eAcaz Esta questao scm pre foi controversa Para Fontenelle a boa educacao nao forma 0 bom cadter e a ma tampouco 0 destr6i Para Locke c Hclvetius ao contdrio a educayao e onipotente Segundo cste dtimo todos as hom ens nasccm iguais e com aptidoes semelhantes some me a edu caao da origem as dife rencyas A teoria de Jacotot se aproxima da anterior A soluyao que se da ao problema depende de um lade da ideia que se tern da importancia e da natureza das predisposiY0es inatas e de Outro do poder dos meios de ayao disponveis para 0 educador A educacao nao forma 0 homem a partir do nada como acre ditavam Locke e Helvetills mas se aplica a disposiyoes que ja se encontram na crianya De modo geral podese admitir que estas tendcncias congcnitas sejam bastante fones e difkeis de dcstruir au transformar radical mente pois depend em de condi ues organicas sobre as quais 0 educador nao tem muito contro Ie Seguindo este raciodnio na medida em que estas tendcncias tern urn objew definido e incJinam 0 intelecto e carater para maneiras de agir e pensar estreitamente estabelecidas todo 0 futuro do individllo se vc determinado de antemao e a educa ao na resta muita coisa a fazer Felizmcntc porem uma das caracCristicas do homcm 6 0 faro de as suas prcdispsiics inatas scrcm hastantc gerais c vagas 66 Coletao Textos Fundantes de EdUC3t30 De fato 0 ripe de predisposi8o fixa rfgida invariavel e que impede a a9ao de causas exteriores e 0 instinto Ora podemos nos pergumar fie existe no homem um inico instinco propria mente dito Falase as vezes do insrimo de conse rvaao Mas a expressao 5 inadcquada pais 0 instinro e urn sistema de movi mentos detcrminados que sao sempre identicos e que uma vez estimulados pela sensa9ao cncadeiamse automaticamente uns aos DUUOS ate chegarem ao sell termino natural sem que a refte xao passa imervir em algum momento Ora as movimentOs que executamos q uando nossa vida csta em perigo naa apresentam Hbsolutamente esta derenninasao c invariabilidade automatica liles mudam de acordo com as situas6es c nus us adaptamos as circunsrancias Isto significa porcanro que cles sao acompanha uos pur uma cena escolha conscience em bora ripida Aquilo que chamamos de instinto de conservatyao nau passa no fim das cuntas de urn irnpulso geral que nos leva a fugir ua murte E os meios pdos quais tentamos evitaIa nao sao prcdctcrminados llma vcz por rodas 0 mesmo vale para aquilo que as vczes eha mamos de forma igualmente inadequada de instinto materno instinto paterno e mesrno instimo sexual Sao forsas que inci tam em determinada dire9ao mas os meios pelos quais cstas fonas se concrctizam mudam de urn indivfd uo para 0 Olltro e de llma ocasiao para a outra Existe portanto llrna grande rnargem de manobra para as tcmarivas adaptaoes pessoais e por consc guinte para a asau dc fatores que 56 podem exercer influcncia depois do nascimento Ora a educa9ao e urn des res faro res ja se anrmou 6 vcrdadc que a criana as vezes herdava Uma tcndcncia bastanrc forw a cometer determinados atos como 0 suiddio U fOu no 0 assassinato a raude etc Mas estas afi rrna 90CS nao correspond em nem um POllCO a realidade Pouem rer Educarao e Sociologia 67 dito 0 que for mas ningucm nasce criminoso e muiro menos predestinado a tal au tal tipo de crime 0 paradoxa dos crirrlino logisras iraiianos hoje em dia nao conca mais com muitos defen sores 0 que e herdado e uma certa falta de equillbrio mental que leva 0 individuo a ser mais refratario a uma condma regular e disciplinada Mas tal temperarnento nao predestina um ho mem a ser mais urn eriminoso do que urn apaixonado aventurei ro um profeta urn precursor polftico urn inventor etc 0 mes rna vale para codas as aptidoes profissionais Como nota Bain 0 filho de urn grande fii6iogo nao hcrda urn unico voeabulo o filho de urn grande viajame pode na cscola scr dcixauo para mis em Geografia pelo filho de urn mineiro 0 que a crian ca rccebe dos sellS pais sao faculdades bastantc gerais como por exemplo dcterminada capacidade de arenao certa dose de perseveran9a born discernimenro im ag i naao etc Mas cada uma desras faculdades pode servir a diferentes tipos de prop6si tos A criana dowda de Ulna imaginaao vivaz pode conforme as circunsrancias e influencias que pesarao sobre si rornarse pinwr ou poeta engenheiro criativo ou empresario ousado E partanw consideravel a distaneia que existe entre as qualidades naturais e a forma especifica que elas devem adotar para serem utilizadas na vida lsto significa que 0 futuro nao se encontra estreitamente predeterminado pela nossa constituicao congeni tao E faeil entender a razao disQ As unicas formas de atividade transmitidas hereditariamente sao as que se repetem sempre de maneira bastante identica para poderem se fixar em uma for ma rfgida nos tecidos organicos Ora a vida humana depende de condioes rnultiplas complexas e consequenremente cambian res e preciso partanw que ela pr6pria mude e se modifique sem cessar Assim e imposslvel que ela se cristalize ern uma 68 Colerao Textos Fundantes de Educa ao forma definida e definitiva Porem somente disposioes muito gerais e vagas que exprimam as caracterfsticas e m comum de tOdas as experiencias singularcs podem sobreviver e passar de lima gerarao para a Outra Dizer que as caractcrfsticas inatas sao em sua maioria muito gerais e 0 mesmo que dizcr que elas sao bastante malcivcis e Hexiveis visto que poucm ser dererminadas de modos bastante diversos Entre as virwalidades indecisas que constiwcm 0 ho mem no momento em que ele acaba de nascer c a pcrsonalidade bastante definida que ele deve modelar para dcscmpenhar lim papel util na socicdade a distancia e portanw imcnsa E esta discancia que a educaao deve fazer a crian9a pcrcorrer Um vas to campo est3 abcrto para a sua aao Mas para excutar esa aao sera que da possu i meios com energia suficientc Para dar uma ideia do que consiui a a8o cducativa e mos trar 0 sell podcr um psic61ogo comemporanco Guyau compa roua com a sllgcstao hipn6jca e a comparaao nao deixa de ef fundamento De faro a sllgestao hipn6ica sup6e as duas seguintes con dioes 1 0 estado ern que se encontra 0 sujeito hipnotizado se caracteriza por Slla excepcional passividauc 0 intelecto fica quase que reduzido ao esrado de abula rasa lima especie de vazio 6 criado na conscicncia e a vontade sc e ncontra como que paralisada Por onseguime como ela l1ao se confroma com ne nhuma ideia contraria a ideia sugerida pode se instaurar com o minimo de rcsistcncia 2 No entanro como a vazia nunca e complero e prcciso ninda que a ideia ire da pr6pria sugestao um poder de a8o especial Para isso e necessario que a mag nerizador empreguc urn tom de camanda e fale com autorida Educaao e Sociologia 69 de Ele deve dizer Ell quem indicar que a desobcdiencia nao 6 oem mesmo concebivel que a ato deve ser realizado que a coisa deve sec vista do modo cornu ele a mostra c q lie nao pode ser de outra forma Se ele fraquejar 0 sujito hesitant resistira e as vezes atc desobedecera E se de comear a discutir 0 seu poeler aca bOil Quantu mais a sugcstao ir contra 0 ternperamemo natural do hipnmizado mais tom imperativo sera indispensavel Ora estas duas condi6es sao realizadas nas rela6es que 0 educador mant6m com a criana subrrleriela a sua aao 1 A criansa se CIlontra natural mente em urn estado de passivida de comparavcl com aqueJe no qual 0 hipnotizado se encomra artificialmcnre mergulhada Sua consciencia ainda nao comem mais do que um pequeno numero de represe maoes capazes de lurar contra as que the sao sugeridas sua vomade ainda e rudi mentar E por isto que ela e taO facilmente sugestionavel Pela mesma razao ela e bastante permeavel ao exemplo e a imita9ao 2 A primazia que a professor tern naUralmeme sobre 0 aluno devido a superioridade de sua experiencia e cultura abaswce nauraimenre a sua aao com a eficacia que the e necessaria A c011lparaao da educ3ao com a sugesao hipnotica cujo pader e nor6rio mastra 0 quae porenres sao as armas do educa dor Portama se a aao educativa apresenra embora em menor grau uma eficacia analoga podese alcanar grandes resultados contanro que se saiba utilizaIa correrameme Longe de nos senirmos desmotivados face a nossa impo ncia devemos mais C ficar espanrados com a exensao do nosso poder Se profes Sores e pais percebessem de modo mais constante que nada aCOmece dianre da crialwa sem deixar algllm vestigia neia que a configuraao do seu intelecto e Cafater depende daqllelas mi Ihares de as6czinhas insensfveis que ocarrem a todo instance II 70 Coerao Textos Fundantes de Educarao sem chamar a nossa aremao em funao de sua aparente insigni ficancia como clcs romariam mais cuidado com a sua linguagem e condura Ccrtameme a eduCa930 naa se mostra encaz quando age cum brusquidao e imermitencia Como diz Herbart nao e admoestando a criana com veemencia de vez em quando que sc pode provocar grande impactu em sua mente Parern quando a cducayao se masua pacience e continua e nao busca sucessos imcdiatos e aparentes mas se da calma mente em um sentido bern determinado sem se dcixar desviar por incidentes exte riores e circunsrancias fortuitas cIa dispoe de wdos os melos necessarios para marcar as almas profundamente Vemos ao mesmo tempo qual e 0 rnecanismo essencial da aao educativa 0 que cria a influencia do magnetizador 6 a au wridade que ele ohtcm das circunstancias Por anaiogia pode se dizer desde ja que a cducayao deve ser em sua essencia uma questao de autoridade Esta imporrame afirmaao rode alias sel diretamente estabelecida De fiHo ja vimos que a educaao tem como ohjetivo substiruir 0 sel individualista c assacial que somas ao nascermos por um seT inteiramente novo Ela deve nos conduzir a deixarmos para wis a nossa natureza inicial esta e a condiau para que a criana se torne humem Ora s6 pode mos nos superar atraves de lim esfor90 mais ou menos cuswso Nada e rao errado e enganador quanto a concepao epicurista da educa9ao a concepyao de Momaigne por exemplo segundo a qual 0 hom em pode se fonnar utilizando como tlnico estimulo a atra9ao do prazer Embora a vida nao seja sombria e embora afir mar artificial mente 0 comrario as crian9as seja urn crime ela nao deixa de ser s6ria e grave e a educarao que prepara para a vida deve participar desta gravidade Para aprender a domar 0 seu egofsmo natural subordinarse a fins mais elevados submeter r Educaao e Sociologia 71 os seus desejos ao imperio da sua fona de vonrade e contelos dentro de limites scnsatos 6 preciso que a crianca excrca uma forte reprcssao sabre si mcsma Ora as duas tmicas razoes que fazem com que nos nos coibamos sao a necessidade flsica au 0 clever moral Po rem a criana nao sente a necessidade que nos impoe fisicamente estes esfo ros pois nao esra imediatamente em contato com as duras realidades da vida que Droarn esta atitude indispensavel Ela ainda nao comeou a Iurar embo ra Spencer 0 tenha aconselhado nao podemos deixaIa exposta as severas reaoes das caisas E precisa que ela ja esteja em grande pane formada quando real mente tiver de enfrentalas Portanto nao se pode comar com a pressao exercida pela reali dade para dererminar a criana a ter fora de vomade e adq uirir o autoconrrole necessario Resta 0 dever Para a criana e inclusive para 0 adulto e 0 senti memo do dever que e por exceiencia 0 estimulante do esforo Por si s6 a amorpr6prio ja supoe isto pais para ser sen sfvel as puni90es e recompensas como se convem e preciso ter consciencia da sua dignidade e por conseguinte do seu dever Todavia a cr iana so aprende 0 dever com os sells professores ou pais s6 podendo saber em que ele consiste pe10 modo como estes liltimos 0 revelam atraves da sua linguagem e comporra mento Portanto e preciso que des encarnem e personifiquem 0 dever para cia lsto significa que a auwridade moral e a principal qualidadc do educador pois 6 atraves desta autoridade contida nde que 0 dever c dever 0 que de possui de completamente Jui generis 6 0 tom imperativo com 0 qual se dirige as conscien eias 0 respcito que inspira aDs desejos alheios e com 0 qual as subjuga taO logo se pronuncia Assim e indispensavel que uma impressao do meSffiO genero emane cia pessoa do professor 72 Coleao Textos Fundantes de Educ3ao E desnecessario demonstrar que a auwridadc cnrendida des a forma laO tern nada a ver Com a violencia OU a repressao ela consiste por inteiro em uma certa primazia moral Ela sup5e que 0 professor respcitc duas principais condi90es Ele deve primeiro ter dcrcrminarao pois a autoridade implica a confian 9a e a crian9a nao cantia em ninguem que hesite tergiverse e volte atras a rcspcito de suas decisoes Mas esta primeira condi 9ao nao c a mais essencial 0 mais importance e que 0 professor realmcntc sima dentra de si a auwridade cujo semimento etc deve transmirir Ela cOl1stirui uma fOf9a que ele 56 pode man i festar sc cfctivamente a possuir Mas afinal de onde cia vern Sera que 6 do poder material do qual esta munido Sera que e do dircito que eJe tern de punir e recompensar Mas 0 medo do castigo 6 algo muito diferente do respeito da autoridade Elc s6 possui valor moral se 0 castigo for reconhecido como justo pclo individuo que 0 recebe 0 que implica que a autoridadc quc pune ja tenha sido reconhecida como legitima A questao 6 justamcnte esta Nao e de fora que 0 professor pode adquirir a sua autoridade mas sim de si mesmo ela s6 pode ter origem em uma f6 interior Ele deve crer sem duvida nao em si mesmo Oll nas qualidades superiores de sua inteligencia ou cora9iio mas sim na sua tarefa e na grandeza da mesma 0 que constr6i a au tori dade que impregna rao facilmente a palavra do eclesiistico 6 a elevada ideia que eJe nuue a respeito de sua missao pois cle fala em nome de um Ueus do qual ele se senre mais pr6ximo do que a multidao dos profanos 0 professor laico pode e deve alimcntar urn pouco deste sentimento Ele tambcm constitui 0 6rgao de uma grande entidade moral que pertence a urn nfvcl superior a soeiedade Assim como 0 padre e 0 imerprete do sell Deus cle c por sua vez 0 interprete das grandes ideias morais Educarao e Sociologia 73 da sua epoca e naCao Sc cle for apegado a estas ideias e sentir toda a grandeza das mesmas a auwridade que elas revestern e da qual ele esta ciente nao pode deixar de se manifestar em sua pessoa e em tudo 0 que emana dela Em uma autoridade oriun da de uma fome rao impessoal qUJllto esea nao pode entrar nem orgulho nem vaidade e nem pedantismo Ela e inteirameme consriwfda pelo respeito que ele nutre com relagao as suas fun 6es e se podemos falar assim ao sell minist6rio E este respei to que atrav6s oa palavra e da linguagern gestual c transmitido da sua consci6ncia para a da crian9a a se opuseram a liberdade e a autoridade como se estes dois fatores da educa9ao se contradissessem e se restringisscm Mas esra oposiyao e uma falacia Na verdade la nge de se excJuirm estes dais term os sao complememares A liberdade 6 filha dOl autoridade bem aplicada pois ser livre nao significa fazer que bem entender n1as sim ter autocontrole e saber agir guiado pcb razao e cumprir 0 seu dever Ora a autoridade do professor que e apenas um aspecto da autoridade do clever e da razao deve ser empregada jusramenre para dmar a crianca deste autocontrole A criama deve portanto estar acostumada a reconhecer a auto ridade na palavra do educador e a respeitar a sua superioridaoc Esta e a condicao para que mais tarde ela a reencontre em sua Consciencia e acare 0 que ela prescrcver 2 NATUREZA E METODO DA PEDAGOG lA Muitas vezes se confunde educagao e pedagogia rerrnas que no en tanto pedem para ser cuidadosamente diferenciados A educayao e a a930 exercida nas criaoras pelos pais e pro fessores Esta 3yaO e constante e geral Naa ha nenhum perfodo na vida social e oem mesmo por assim dizer nenhum momento do dia em que as novas gerayoes nao estejam em contato com os mais velhos e por conseguinre nao receham a influencia cdu c3dora destes ultimos Isto porq ue esta influencia oao 6 scntida somente nos instantes bastante curtos em que os pais ou profcs sores compartilham de modo conscienre c atravcs de urn cnsi no propriamentc diw os resultados de suas cxpericncias com aqueles que nasceram Gepois dcles Existc LIma educayao in consciente c inccssante Atravcs do nosso exemplo das palavras que dizemos c dos aws que executamos fabricamos a alma dos nossos fi ihos de modo constante A Pedagogia e algo completamente diferente Ela consisre nao em aao mas sim em reorias ESas reorias expiiciram as tnanciras de conceber a educa9ao e nao de praricaIa Elas se disringucm as vezes das praricas vi genres a ponro de se oporem a elas As pedagogias de Rabeiais de Rousseau ou de Pesa lozzi se enconrram en1 oposi9ao com a educa9ao de suas epocas POrtanro a cducayao consrirui apenas a modalidadc pratica da 76 Colerao Textos Fundantes de Educailo Pedagogia que par sua vez consistc em uma cerra maneira de refletir sobre as qucstocs rclativas a edllCatao E 0 que faz Com que a Pedagogia pelo menos no passado seja intcrmircmc ao passo que a educa3o e continua Existem povos que nao tiveram uma Pedagogia propriameme dita alias csta iltima surge apenas em uma epoca relativamentc adiantada da hist6ria Ela e encontrada na Grecia somemc dcpois ua cpoea de Pericles com PlacITo Xenofonte e Arisrrclcs Ela quase nao existiu em Roma Nas sociedades crisras c ia 56 produziu obras imporrantes no seculu XVI e 0 progrcsso que ela entaD seguiu se desacelerou no seculo seguinre s6 rctomando 0 sell vigor ao lon go do XVIII Isto ocorrcu porquc 0 homem nao reflete a tempo inteiro mas sumentc quando 6 necessaria e parque as condi6es da reflexao nao cstao dadas em OdD lugar e momenta Sendo assirn c prcciso que busquemos saber quais sao as carac terfsticas da reflexao pedag6gica e os seus efeiros Sera que se deve consideraIa como urn conjllnto de douuinas propria mente cientffi CdS e dizcrque a Pcdagogia e uma ciencia a ciencia da educaao Ou sera que conv6m darIhe urn outro norne Neste casa que nome A natureza do mcOdo pedag6gico sera compreendida de modo bas tante diferente can forme a resposta dada a esta pergLlnta T Primeiro e tacil demonstrar que as coisas da educacao eon sideradas de lim certo POnto de vista possam ser 0 objcto de uma diseiplina que apresema todas as caracterfsticas das outras disciplinas eientfieas De faw para que possamos chamar de ciencia um conjunto de estudos e preciso e basta que e1as possuam as seguimcs ca raetcristicas Educarao e Socioiogia 77 1 Elas devem abordar faws conclufdos realizados e pron toS para a observaao Afinal uma eiencia sc define pdo seu objcto de escudo e consequenremenre sup6e que cstc objew exista possa ser apomado com precisao e localizado denno do conjunto da realidade ZO Estes faws uevem apresemar uma harnogeneidade Sll ficicnte entre si para rodcrcm ser c1assificados em uma 111esma caregoria Se eles fossem irrcdutfvcis uns aos outros haveria nao uma ciencia mas sim tantas cicncias quanto especies distinras de objetos de esrudo Muitas vczcs acontece de as ciencias nas centes envolverem de modo bastantc confuso uma pluralidade de objetos diferentes Foi a caso par exemplo da Geografia da Amropologia etc Mas esta sempre e apenas uma fase rransiro ria do desenvolvimemo das ciencias 3 Pur fim a ciencia estucla esres fatos para conhccelos c so mente para isto de maneira absolutamente desinrercssada Em pregamos de prop6siw aqui a palavra c01JheCel que e meio geral e vaga scm deixar claro em que pode consistir 0 conhecimento dito cientifico Dc faro pouco importa se a sabia prefere con5ti tuir tipos em vez de descobrir leis contentarse em descrever ou emar explicar A cincia comea a partir do momenta em que 0 saber seja elc qual for 6 buscadu por si s6 Scm duvida a sabia eSta pcrfeitamentc cicnte cia probabilidade de as suas descober tas serem lJtilizadas mais tarde Pode ate acamecer de ele privi legiar tal au tal ponto de mas pcsquisas ao pressentir que assin1 elas serao mais provcitosas c pcrmitirao satisfazer necessidades llrgentcs Parem enquanto cstiver mergulhado na investiga9ao cienrffica ele ficad indiferemc com relaao as consequencias praticas Ele diz 0 que 6 constata 0 que as caisas sao e se con tenta com isto Ele nao se prcocupa em saber se as verdades que 78 Coletao Textos Fundantes de E ducaao descobre agradarao OU desconcertarao os outros se seria melhor que as rcJ aOcs que ele estabelece permanccesscm 0 que sao ou fossem difcrentes 0 seu papel consisc em exprimir 0 real e nao em julgaIo Senda assim nao hi motivo para que a educa9ao nau se rorne o objeto de lim escudo que saEisfaya todas estas condisocs c por conseguime apresente rod as as caracteristicas de uma cicncia De liuo a eduCd9ao vigente em dcterminada socicuade e COI1 siderada em determinado momento de sua evouao 6 urn conjun Q de pnhicas manciras de agir e costumes que constiwcm faws perfeiramcmc ucfinidos e taO ceais quanto os outrOS faws socia is Estas pnhicas nao sao como se acreditou durante muiw tempo combinagoes mais ou menos arbitrarias e artificiais cuja existencia clecorre apenas cia temperamental inftuencia de desejos geralmen te fortuitos E las sao ao contnlrio verdadciras instiwi90es sociais Nao existc homem que possa fazer com qlle lima sociedade enhl em detcrminado mornenro urn sistema de cducaao diferenre da quelc que csta contido em sua cstrutura bem como e imposslve que urn organislno vivo tenha 6rgaos e funcoes diferentes claq ue les que estao encerrados em sua constitllicao Se torem necessa rias outras razoes alem das que ji foram dadas para fundamentar esta concepyao basta tamar consciencia da fona imperativa com a qual esras praticas se impoem a n6s Nao adiama acreditar que podemos educar os nossos fi lhos como quisermos Somos forca dos a seguir as regras reinantcs no meio social em que vivcmos A opiniao nos impoe este comporramenro e a opiniao 6 Llma forca moral cujo poder opressivo nao 6 menor do que 0 da forca nsica Sua autoridade impregna usns que par isto mesmo sao em larga medida excluidos cia a930 clos indivfduos Podemos at6 infringir as foras morais mas e1a5 acabarao rcagindo conua n65 E pur causa r Educacao e Sociologia 79 da superioridade delas dificilrnente sairemos vencedores Logo podemos ate nos revolrar contra as foras materia is das quais de pendemos e tentar viver de modo diferente daquele dererminado pela natureza do nosso meio fisico mas entaO a morte au a do cn acabam sendo a san9ao da nossa revolra Oa mesma forma cstamos mergulhados em uma atmosfera de ideias e senti men toS coletivos que nos nao podemos modificar a vontauc E 6 em ideias e sentimentos dcste gencro que as praticas educativas se baseiam Portanto clas sao coisas distintas de n6s ja que rcsistcm a nossa vOl1tade realidadcs que tcm uma natureza pr6pria defini da e complcta que sc imp6e a n6s Par consegui nte pode ser born observala buscar conheccIa somente para conhecela Alem dis so as priticas educativas sejam elas quais forem e tendo as dife rcmas que tiverem tem em cornum um aspecto essencial tOdas elas resultam da aao exercida por uma geraaa sabre a geraao seguinte no imuito de adaprar a mesma ao meio social no qual esta destinada a viver Porra nco tOdas elas sao modalidades diversas desra rela9ao fundamental Consequenternente elas consriruem faws de uma mesma especie pertencendo a LIma mesma catego ria l6gica Elas podem emao servir de objeto a uma unica e mesma ciencia a ciencia cia educaao Vamos apamar desde ja apenas para tafI1ar as icleias mais clams alguns dos principais problemas dos q uais esra ciencia cleve trarar As praticas educarivas nao SaO ratoS isolados uns dos outros PunSm para uma mesma socieclade elas esrao ligadas em urn mes mo sisrema do qual todas as partes conrribuem para UTml mesma finalidade 6 a sistema de educagao proprio daquele pais e daque la epoca Caela povo rem 0 seu assim como tern 0 sell sistema moral religioso economica erc Mas por ourro lado povos da 80 Coleao Textos Fundantes de Educaao mesma espeCle Oll seja povos que se parecem em U119ao de aspectos essenciais de sua constituiao devem praticar sistemas de educaao comparaveis entre si As semelhanas que a sua orga nizarao geml apresenta devem necessariamente acarretar outras igualmente imponantes em sua organizarao educativa Por COll seguime comparando identificando os paralelismos e eliminando as diferenras decerto se pode constituir as tipos genericos de edu C3rao q lie correspondem as diferentes especies de socicdade Por exemplo no regime de trioo a caracterfstica principal cia cuucacao e ser difusa dada scm distincao pOf todos os mcmbros do cia Nao h3 profcssores design ados c nem supcrvisorcs cspeciais encar regados de formar os jovcns Sao wdos os anciaos e 0 conjunto das gerasocs antcriores que desempenha esce papel No maximo aeonteee de ccrtos anciaos sercm designados em especial para mi nistrar cerms ensinos fundamentais Em outras sociedades mais avansadas esta difusao acaba ou pelo menos atenuase A edu caSao sc conccntra nas maos de funcionarios especiais Na India e no Egiro sao os sacerdotes que sao responsaveis por esta funyao A educacao 6 urn atributo do poder sacerdotal Ora esta primeira caracterfstica diferencial provoca outras Quando em vez de per manecer completarnente difusa assim como em suas origens a vida religiosa cria para si mesma urn orgao especial encarregado de dirigila e administrala ou seja quando se forma uma classe ou casta sacerdotal 0 que a religiao tem de propria mente reflexivo e intelecrual alcanya um desenvolvimenro ate entao desconhecido Foi nos meios sacerdotais que apareceram os primeiros prodro mos as form as primarias e rudimenrares da ciencia Astronomia Matematica Cosmologia E um faro que Comte observara havia muito tempo e que e facilmente explicavel E bastante natural que uma organizacao cujo efeiro e concentrar em um grupo restriro Educaao e Sociologia 81 wda a vida meditativa que entao existe estimule e desenvolva esta ultima Logo a educayao nao mais se limita como no prindpio a inculcar praticas na crianya e condicionala a cenas maneiras de agir Criase entao conteudo suficiente para uma certa instruyao o sacerdote cnsina os elementos desras ciencias que se estaO for mando S6 que esta instruyao e estes conhecimemos especulati vos nao sao ensinados por ensinar mas sim por causa das relayoes que des entretem com as crenyas religiosas Eles of ere cern urn carater sagrado c sao plenos de elementos propriarnentc religiosos porque se formaram no prprio seio da rciigiao sendo assim inse paniveis da mesma Em outros lugarcs como pot exemplo nas polis gregas e latinas a educacao fica dividida numa proponao variavel conforme as polis entre 0 Estado e a familia Nada de casta sacerdocal E 0 Esrado que substirui a vida rcligiosa Logo visto que ele 11aO priviJegia a medicacao mas sim a aao e a pratica e fora dele e consequentemente fora da religiao quc a cicncia nasce quando surge a necessidade Os filosofos e sibios da Grecia sao sujeitos laicos A propria ciencia adquire entao rapidamentc uma tendencia antirreligiosa Do pomo de vista que nos imercssa o resultado e que a insrruyao tambem adquire urn cararer laico e privado assim que surge 0 grammateus de Arenas era UlTI simples cidadao sem ligayoes oficiais ou cararer religioso E iUlltil continuar com os exemplos cujo interesse e apenas ilusrrativo Bastam os citados acima para mostrar como ao corn parar sociedades da mesma especie poderfamos consriwir ripos de educaao assim como constirufmos ripos de famflia Estado ou rcligiao Alias esta classificayao nao resolveria todos os pro blemas cienrfficos que podem se impor a respeiro da educayao cIa so fornece os elementos necessarios para resolver lIrn Olltro problema rnais importante Uma vez os tipos estabelecidos 82 Coleao Textos Fundantes de Educarao seria preciso ex plicalos ou scja bllscar as condi90es das quais dependem as propricdadcs caractcristicas de cada LIm deles e como Ins dcram origem aos outras Seriam obtidas assim as leis q1lC dominam a cvoluao dos sistemas de edllcaao Poderia mos cntao perceber em que diretyao a educayao se desenvolveu quais sao as causas que deteflninaram este desenvolvimento e que 0 explicam questao cerrarnente bastame re6rica mas cuja soiuttao visivelmente reria ITIUit3S aplicayoes priiticas Eis desde ja urn vasto campo de estudos aherto a pesquisa ciendfica E no entanto linda existem outros problemas que poderiam sec abordados com 0 mesmu espfrito Tudo que aca bamos de ver diz respeito ao passadu tais pcsquisas nos ajuda riam a entender de que manira as nossas i nst itUi oes pedag6 gicas se consritufram Mas elas podem ser considcradas de um Outro POntO de vista Uma vcz form ad as elas real mente funeio nam e poderfamos cstudar de que mancira elas funcionam au seja que resultados e1as produzem e que condi90es fazem estes resultados varia rem Para ism seria preciso lima boa esrarisrica es colar Em coda cscola hi uma disciplina e urn sistema de puni6es e recompcnsas 0 quao imeressame seria saber nao somente a partir de impress6es empfricas mas tambem de obseJvac6es me tdicas de que modo este sistema funciona nas diferentes escolas de uma mcsma localidade nas diferentes regi6es nos diferemes momcntos do anD nos diferemes momemos do dia quais sao os dcl iws escolares mais frequenres como sua proponao varia no conjunw do terrir6rio Oll conforme os paises como ela depende da idadc da criana da sua siruarao familiar etc Todas as ques toes lue se colocam com relayao aos delitos cia adulto podem ser colocadas aqui de forma igualmente uti Assim como existe uma criminologia do homern feito existe uma da criama E a Educaao e Sociologia 83 disciplina nao e a unica instituityao educativa que poderia sec es tudada seguindo estc metoda Nao hi metoda pedag6gico cujos efeitos nao possam ser medidos da mesma maneira suponuo evidentcmente que tenha sido instaurado 0 instrumento neces saria para tal escudo uma boa estatistica II Vimos porranto dais grupos de problemas cujo carater pu ramente cienrffico nao pode ser eontestado Uns sao relarivos a genese e as ourfOS ao funcionamcnro dos sistemas de educa C30 Em todos as estudos tratase simplesmente de descrever coisas presentes ou passadas ou e ntaD de buscar as causas ou efeiros das mesmas Elas constiruem uma ciencia isro e 0 que e ou melhor 0 que scria a Cicncia da Educacao Porem 0 pr6prio CSbOS0 que acabamos cle traar demonstra claramente que as teorias consideradas como pedag6gicas con sisrem em reftcxoes muito diferenres De fata elas nem bus cam 0 mesmo objctiva e nem empregam os mesmos mewdos o seu ubjctivo nao 6 descrever all explicar 0 que existe ou 0 que existiu mas sim dererminar 0 que deve existir como deve ser Rlas nao sc orienran1 nem para 0 presenre e nem para a passa do mas sim para 0 futuro nao se prop6em exprimir fidmnte realidadcs ja dadas mas sim decretar preceitos de conduta Elas nao dizcm cis 0 que existe e 0 porque disto mas sim eis 0 que deve ser fe ito E rem mais geralmente quando as te6ricos da eclucaao falam das pdticas tradicionais do presente e do pas sad 0 e com um desprezo quase que sisrematico Eles apontam sobrcrudo as imperfeic6es das mesmas Quase todos os grandcs pedagogos como llabelais Montaigne Rousseau e Pestalozzi Sao espfritos rcvolucionarios e revolrados contra os usos dos seus 84 Colecao Textos Fu ndantes de Educaao contemporancos Elts s6 mencionam os sistemas antigos ou vi gentes para conucnaloN e declarar que sao infundados fazendo mais au menos tabula rasa destes sistemas e construi ndo algo inreiramente novo no lugar GOS mesmos Partama para entender bern c enconuar urn equilibria e preciso distinguir cuidadosame nte dais tipos de rdlexoes bastante diferen tes A Pedagogia e alga discinto cia Ciencia ua Educa9ao Mas entaD o que ela 6 Para fazer uma escolha bern fundada nao basta saber aquilo que cia nao e mas e preciso apontar em que cia cOl1siste Pod cmos dizer que e uma acte Pareee que sim pais no1 mal mente nau se ve intermediario entre estes dois extremos e atribuisc tcrmo trte a todo produw de uma reftcxao que nao e ei6ncia Porem isto significa estender 0 senti do da palavra arre a ponto dc incluir nele coisas muiro diferenres De faro tambcm chamarnos de arre a experiencia pratica ad quirida pelo professor em contato com cria na s e no exerdcio oa sua profissao Ora csca expcrieneia e manifesrarrleme alga muito difereme das teorias do pedagogo Um raw de obselvayao corrente faz com que esra difercna seja bem perceptivel Podese ao mes rno tempo ser um professor perfeito mas completamente incapa7 de proeeder as reft exoes da Pedagogia 0 rneStle habil sabe tazer o que e preciso fazcr mas nem sempre consegue dizer as raZQes que justificam as proccdimentos que emprega 0 pedagogo por sua vez pode carecer de qualqllcr habilidade pratica n6s naa da rfamos uma turma nas maos de Rousseau e nem de Montaigne E meSlllo de Pestalazzi que era urn homem do meliel mas que devia possuir de modo apenas incompleto a arre do educador cornu provam os sells repetidos fracassos A Illesma confUS30 e cita ern outras csfcras Chamasc de aete 0 savoirfailT do homem de Estaclo expert na adm inj s traao publica Porem camberll se diz r Educaao e Sociologia 85 que os cscritos de Plati Arist6tcles c Rousseau sao tratadns em arte polftica c 6 6bvio que naa se pode consideraIos como obras realmcme ciendficas vistO que elas nao tern por objetivo estudar 0 real mas sim construir um ideal E conwdo hi lim abismo entre o pensamemo que deu origem a um livro como Do contrao social e aquele que edifica a administrayao do Esrado Rousseau provavel mente teria sido pessimo ranto como ministfo quanta como edllca dor TIlmbem e par isro que os melhores te6ricos da Medicina nao sao os melhores medicos lange disto Portanw e melhor naa designar com a mesma palavra duas form as de atividade tao diferentes Acreditamos que e preciso reservar 0 termo arte para tudo aquilo que e pratica pura sem tcoria Todo mundo entcndc Cste termo quando d e se refere a arte do sold ado a do advogado e a do professor lIma arte e urn sistema de maneiras de agir adequadas a fi ns espcciais e rcsuitantes Oll de urna expericncia tradieional transmitida pcJa edueatao ou cia expericncia pessoaJ do indivfduo S6 sc pode adquiriIas mexendo com as coisas sobre as quais a a910 deve sec exercida e agindo por si mesmo Sem dllvida pode aconteeer de a arte sel guiada peia refiexaa mas a reft exao nao e urn elemen to essencial da arte vis to que ela pode existir sem esta ultima E mais nao existe nenhuma arte em que tuda seja reftetido Porem entre a arte assim definida e a ciencia propria mente dita hi Iugar para uma 3tirude mental intermediiria Em vez de agir sabre as coisas au os seres seguindo determinados mod as podese refletir sobre as processos de a930 assim empregados nao no intuito de conheceIos e explici Ios mas sim de esti mar 0 valor deles descobrir se eles sao 0 que devem ser se nao seria util modificaIos e de que maneira inclusive substitufIos totaimenre por novas processos Estas reftexoes tomam forma de 86 CoJeao Textos Fundantes de Educaao tcorias sao combina9oes de ideias e nao de atos aproxirnandose assim cia ciencia Comucio as ideias combinadas deste modo naD tern por objetivo cxprcssar a natureza das caisas ja dadas mas sim dirigir a acao Elas nao consistcm em movimemos mas estao bem pr6ximas do rnovimento que devcm orientar Emhora nau sejam acoes elas sao pelo menos programas de acao c por isto aproximamse cia arte Alguns exemplos sao as Corias m6dicas politicas estrategicas etc Para exprimir 0 carater misto dcstGs ri pas de refiexao vamos chamalas de teorias pdticas A Pcdagogia e uma eoria pratica deste genero Ela nao estuda cientificameme os siswmas de educasao mas reflete sabre eles no intuito de for necer a atividade do educador ideias que 0 dirigem III Porcm a Pcdagogia vista desta forma esta sUJelta a uma objqao cuja gravidadc nau pode ser omitida Sem duvida vao dizcr uma Coria pratica e pusslvel e legltima quando ela pode se apoiar em uma ciencia constitufda e incontestavel da qual ela consdtui apenas a aplicacao Neste caso de fatD as n090es te6ricas das quais sc deduzcm as consequeneias ptieas pos suem um valor cicntffico que impregna as conclusOes oriundas delas E assim que a Quimica Aplicada e uma teoria pnhica que nao passa da implel11enta9ao das tcorias da Qufmiea pura Mas o valor de llma teoria pradea dependc do das ciencias eujus no 90es fundamentais ela toma cmprestado Ora em que cincias a Pedagogia pode se apoiar Primeiro na Ciencia da Educacau pois para saber 0 que a educayao deve ser antes de tudo seria preciso saber qual e a natureza dela as diversas condi9ucs das quais ela dcpcnde e as leis que guiaram a sua evoluClio atravcs da hist6ria Contudo a Ciencia da Educaclio existe sumeme em r Educaao e Socioiogia 87 esrado embrionario Restam de urn lado os outros ramos da Socioiogia que poderiam ajudar a Pedagogia a fixar 0 objetivo da educav3o com a orientacao geral dos metodos e de DUtro a Psicologia cujas li90es poderiam ser bastante lteis para a deter mina9ao detalhada dos procedimentos pedag6gicos Mas a 50 ciologia e uma cicncia ainda emergente dispondo so mente de poucas proposi6cs estabelecidas se c que dispoe realmente A propria Psicologia embora se tenha constiwido mais cedo du que as cieneias sociais provoca todo tipo de conuoversias nao hi questocs psicol6gicas em torno das quais ainda nao se defen dam as teses mais opostas possivcis Sendo assim qual 0 valor de conclusoes praticas com base em dados cientfficos ao mcsmo tempo tao incerros e incomplctos Qual 0 valor de uma rcftexao pedag6gica que careee de qllalquer base au cujas bases quando nao cstao wtalmente ausentcs carecem tanto de solidez o faw que invocamos assim para negar qualquer autoridadea Pedagogia e em si mesmo incontestavel E 6bvio que a Cicncia da Educ39ao resta a ser feita por inteiro e que a Socioogia bern Como a Psicologia ainda cstao bem POllCO adiamadas Portanto se nos fosse permitido cspcrar seria prudente e mct6dico tel paciencia ate que as ciencias tivessem feito progrcssos e pudes sem ser utilizadas com mais seguran9a 0 problema 6 que justa mente a paciencia nae nos e permitida Nao temos a liberdade de nos colocar OtI de aeliar a quesrao ela nos e colocada au me Ihor imposta pelas proprias caisas pelos faws pela necessidade de viver E tern mais somos levados pel a corrcnteza e e preciso seguir em reme Em muitos aspecQs 0 nosso sistema tradicional de educa9ao nlio sc cncontra em harmonia Com as nossas ideias e necessidades Portanto as unicas escolhas que nos restam sao as seguintes temar manter as pracicas legadas pelo passado embora 88 Coleao Textos Fundantes de Educaao elas nao satisfagam mais as exigencias da situa910 ou entao eo tar destemidamcnte restabelecer a harmonia perdida rcalizando as modificayoes nccessarias Destas duas escolhas a primeira e irrealizavel Nada 6 mais ilus6rio do que estas tentativas de dar uma vida artificial e uma aparente autoridade a instituiy6es cn vclhecidas e desacrediradas 0 fracasso e ineviravel nao se pode abafar as ideias que estas institui90es contradizem e nem calar as ncccssidades que elas dcixam insaasfeiras As forgas contra as quais sc enta assim lurar nunca sa em perdendo S6 nos resta portanto ref coragem para comc9ar a trabalhar buscar as mudangas que se impoem e realizaJas Mas como des cobrilas a naD ser atraves da rcflexao Somenre a consciencia re ftexiva pode preencher as lacunas de uma traditao obsoleta Ora o que e a Pedagogia senao a reflexao aplicada da maneira mais met6dica possfvel as coisas relativas a educatao no intuito de re gular 0 seu desenvolvimento Sem duvida nao remos em maos todos os elementos que desejamos para resolver 0 problema mas isto nao e morivo para nao buscar resolveIo ja que elc deve ser resolvido orranto nao temos mais nada a fazer senao agir da melhor forma possfvei juntando 0 maximo de faws instrurivos e interpretandoos com 0 maximo de metodo para reduzir ao mi nimo as chances de erra Este e 0 pape do pedagogo Nada e mais vao e esreril do que aquele puritanismo cienttfico que sob o pretexto de que a ciencia ainda nao esta prama recomcnda a abstenao e aconsclha os homens a assistirem indiferentes ou pelo menos resign ados a marcha dos acontecimentos Ao lado do sofisma de ignorancia esta 0 sofisma de ciencia nao men os pcri goso Sem duvida agindo nestas eondioes correse riscos Mas a atao nunea se da sem riscos pOl mais avan9ada que seja a ciencia nao pode eliminaIos udo a que podemos fazer e empregar toda Educacao e Sociologia 89 a nossa eiencia por mais imperfeita que ela seja e toda a nossa consciencia para prevenir estes riscos na medida das nossas capa cidades E e justameme este 0 papd da Pedagogia Comudo a Pedagogia nao e util someme em perfodos educos nos quais e preciso com urgencia restabelecer a harmonia entre um sistema escolar e as necessidades da epoc3 hoje em dia pelo menos ela se tornou uma auxiliar con stante e indispensavel da educaao Isto porque em bora a arre do educador seja kita sobretu do de instinros e hibitos que se tornaram quase instintivos a inteligencia continua sendo necessaria A reflexao nao po deria substitufIa mas 0 professor nao conseguiria dispensar a reflexao pelo menDs a partir do momento em que os povos tenham atingido urn cerro grau de civiliza9ao Oe fato tendo em vista que a personalidade individual se tomou urn elemen to essencial da eulrura intelectual e moral da humanidade 0 educador deve levar em conta 0 germe de individualidade que existe em roda criana Ele deve por todos os meios possfveis buscar favorecer 0 desenvolvimento dele Em vez de aplicar a todos invariavelmente 0 mesmo regula memo impessoal e uniforme ele deveria ao contrario variar e diversificar os mcto dos de acordo com os tempera memos e a disposi9aO de cada in teligeneia Todavia para poder acomodar com discernimento as praticas educativas a variedade de casos particulares e preciso saber quais sao as suas tendencias as raz6es dos diferentes pro cessos que as comp6em e os efeitos que elas produzem em dife rentes circunsrancias em suma e preciso submeteIas a reflexao pedag6gica Uma educaao empiriea e mecanica nao pode nao ser Opressiva e niveladora Alem disso a medida que avan9amos na hiSt6ria a evoIu9ao social se acelera uma epoca nao se assemelha mais a anterior cada uma tendo a sua propria fisionomia Novas 90 Coleao Textos Fundantes de Educatao necessidades e ideias surgem sem parar para poder acompanhar as ffiudanras incessantes que atingem as opini6es e costumes a propria educarao deve mudar e consequentemente apresentar lima cons tame maleabilidade permitindo assim a mudana Ora o unico meio de impediIa de sucumbir ao jugo do habito e dege ncrar em automatismo mccanico e imuravel e mantendoa eter namente vivaz atravcs da rcflcxao Quando ele analisa oobjetivo e a razao de seT dos m6todos que emprega 0 educador esra apm a julgalos c logo disposto a l11odificalos se aehar que oobjetivo nao 6 mais 0 mesmo au que os meios devem seI diferentes A rcflcxao e por exceicncia a fona anmgonica da roeina e a rotina 6 0 obstaculo aos progressos necessarios it por isra que como dissemos no comecyo embora seja verda de que a Pedagogia so surge na historia de modo intermitente ela tende cada vez mais a se rarnar uma funcyao continua da vida so ciaL A Idade Media nao tinha necessidade dela era uma epoca de conformismo na qual todos pensavam e sentiam da mesma for ma todas as mentes eram como que tiradas do mesmo molde as dissidencias individuais eram raras e inclusive proibidas Por isto a Educacao era impessoal nas escolas medievais 0 professor se dirigia coletivamente a rados os alunos sem imaginar que pudes se adaptar a sua acyao a natureza de cada um Ao mesmo tempo a imutabilidade das crenas fundamentais impedia 0 sistema edu cativo de evoluir rapidamente Por estas duas razoes 0 professor tinha menos necessidade de se guiar pelo pensamento pedag6gi co Tudo muda porem no Renascimento as personalidades in dividuais se destacam da massa social em que se mantinham ate entao absorvidas e misturadas as mentes se diversificam 0 de senvolvimento historico se acelera sirnultaneamente e uma nova civilizacao se constimi Para acompanhar todas estas mudanas a Educaao e Sociologia 91 reflexao pedag6gica irrompe e embora nem sempre brilhe com a mesma intensidade nunca mais se apaga complctamcnte IV Porcm para que cia possa produzir os efeitos uteis que e mos 0 direiw de esperar dela a reflexao pedagogica deve se submeter a uma culrura apropriada 1 1a vimos que a Pedagogia nao e e nao poderia substituir a educaao Seu papeJ nao consiste em fazer as vezes da pracica mas sim guiala esclareceIa ajudaIa quando necessario a preencher as lacunas que sobrevierem e remediar as deficiencias constatadas Porramo 0 pedagogo nao rem de construir de alto a baixo urn sis tema de ensino como se ja nao exiscisse urn antes dele devendo ao contrario empenharse sobretudo em conhecer e compreender o sistema de sua epoca esra e a condicyao para que ele esteja apto a usaIo com discernimento e julgar 0 que pode estar errado nele No entanto para compreendeIo nao basta consideralo tal Como ele se apresenta hoje em dia pois este sistema de edu caao e urn produto historico que somente a historia pode ex plicar Tratase de uma verdadeira instituiao social Alias nao existem muitos sistemas de educaao em que toda a hist6ria do pais repercuta de modo tao completo As escolas francesas traduzem e exprimem 0 espirito frances Porranto nao enten deremos nada sobre a essencia delas e 0 objetivo que buscam se na soubermos 0 que compoe 0 nos so espirito nacional quais sao os seus diversos elementos tanto os que dependem de cau Sas permanentes e profundas quanto os que ao contrario sao devidos a aao de fatores mais ou menos acidentais e passa geiros todas as questoes que somente a analise historica pode esclarecer Frequentememe se discute sobre 0 lugar que cabe 92 Coleao Textos Fundantes de Educaao a Escola Primaria no conjullw da nossa organizavao escolar e na vida da sociedade em gera Mas 0 problema sera insolUvel se ignorarmos como a nossa organizaao escolar se ormoll de onde vern as suas caracterfsticlS marcantes 0 que determinoll no passado 0 lugar que 0 Ensino Basico ocupa hoje as causas que favoreceram ou entravaram 0 desenvolvimemo etc Assim a hisdria do ensino pelo menus do ensino nacional e a primcira las propcdeuricas de uma culrura J1cdag6gica Natural mente SC sc tratar de Pcdagogia Primaria 60 cstudo oa histria do Ensino Primario que devcremos privilcgiar Por6m pcla razao que acabamos de apontar ele nao pode seT complcramcntc scparado do sistema escolar corna um rodo do qual ele nao passa de uma parte l No enranw esre sisrema escoJar nao e composto unicamen te de pratiC3s estabelecidas e mewdos consagrados pelo usc he ran do passado Nele se encomram a16m disso tendcncias para o fmuro e aspirac6es de um novo ideal emrevistO de forma rnais ou menos clara E importante conhecer bern estas aspirac6es para poder esrimar que lugar convem Ihes arribuir dentro da realidade escolar Ora elas vern manifesrarse nas douuinas pedag6gicas a hisr6ria destas doutrinas deve portanto completar a do ensino Podese pensar e claro que para cumprir a sua util missao esta hist6ria nao precise ir muito longe no passado podendo sem inconveniente sec basranre curta Nao basta ria saber as teorias em torno das quais as mentes conremporaneas esrao di vididas Todas as ourras dos seculos anreriores estao hoje obso lecas e parecem rer proveito apenas para os eruditos Porem acredimmos que este modernismo enfraqueca uma das principais fomes nas quais a reflexao pedag6gica se alimema De fato as domrinas mais recenres nao nasceram ontem elas sao a continuacao das anteriores sem as quais elas consequen Educarao e Sociologia 93 rcmenre nao pod em ser compreendidas Assim para descobrir as causas dererminanres de uma corrente pedag6gica com alguma impocrancia em geml e preciso urna a uma volrar basrame no tempo Alias isto e indispensavel para rer certeza de que as novas vis6es que fascinam as memes hoje nao sao brilhames improvisa c6es fadadas a cair m breve no esq uecimemo Poc exemplo para compreender a anral tcndcncia a ensinar atraves das coisas 0 que se pode chamar de rcalismo pcdag6gico nao dvemos nos comen rar em ver como tal au tal professor contemporanco a segue mas sim vol tar are 0 momentO em que cia surgc ou scja no mcio do seeulo XVIII na Frana e por volta do tim do XVIT em eerros paises protestantes 86 0 faro de ela ticar assim associ ada as suas primci ras origens fad com que a pedagogia realista se aprescnte sob urn ourro aspecro perceberemos melhor a quanw ela se deve a causas profundas impessoais e influences em todos os palses europcus c ao mesmo tempo reremos melhores chances de observar quais sao esras causas e logo de medir a verdadeira reperCllSSaO deste mavimenro Mas alem disso esra corrente pedag6gica se consti miu em oposicao a uma corrente comriria a do ensino humanista e livresco Portamo s6 poderemos analisar a primeira com sabe doria se tambem conhecermos a segunda Somos cntao obrigados a vahar bern mais no tempo Para que ela de Odos os scm fruws csta hist6ria da Pedagogia nao deve alias ser separada da historia do ensino Embora as tenhamos distinguido aqui na vcrdadc elas sao complementares pais em cada epoca as doutrinas dependem do estado do ensino qual elas refletem ao rnesmo tempo em que rcagem contra cle AJem disso na medida em que exercem uma aao eficaz e1as contribuem para determinalo Portamo a cultura pedag6gica deve ter lima base extre mameme hist6rica S6 assim a Pedagogia pod era evirar uma 94 Co l eao Textos Fundantes de Edu caao aCUS3yao que com frcquencia e levanrada contra ela e que ja pre judicou bastamc a slIa amoridade Muiros pedagogos e demrc eles os mais ilusrres quiseram edificar os seus sistemas fazcndo abstra9ao do que havia existido ames deles Neste ponto traca m enro aD qual Ponocrates submete GargJntua6 antes de iniciaIo aos novas mewdos e significativo de faz uma lavagem cerebral com heleboro de Anticira de modo a fazeIo esquecer tuda o que ele havia aprendido Com os sellS antigos preceptores 150 significa va dizer de forma aleg6rica que a nova pedagogia nao deveria tef nada em C01l1um com a anterior Mas ao mesmo tempo isto equivalia a se distanciar das condioes da realidade o futuro nao pode ser imaginado a partir do nada s6 podemos construfIo com as materiais que 0 passada nos legau Urn ideal construfdo na direao oposta do estado das coisas exisrentes nao C nIlizavcl ja que nao possui ralzes na realidade Alias 6 claro que passado tinha suas razoes de ser do jeiw que foi ele nao podcria ter durada se nao tivesse satisfeiw necessidades legftimas que nao paderiarn desaparecer da noiw para 0 dia Portanto nao se pode ser taO radical e finer cibula rasa a nao ser que ignoremos necessidades vita is Foi assim que muitas vezcs a Pedagogia nao passou de uma forma de iirerarura ut6pica Terfamos pen a de crianas nas quais a mewdo de Rousseau ou de Pestalozzi Fosse aplicado com rigor Sem duvida estas utopias desempenharam um papel util na hisr6ria 0 pr6prio simplismo delas Ihes perrni riu aringir as men res com mais intcnsidade e estimulaIas a agir Porem primeiro estas vamagens nao deixam de rer inconvenien es E segundo para aquda pcdagogia do dia a dia da qual Odo professor precisa para entendcr c guiar a sua pnhica cotidiana e 6 Trdt3se de urn romance de Franois Rabelais escrito em IS41NT I Educaao e Sociologia 95 preciso menos treinamento fanatico e unilateral e ao contrario mais metoda urn sentimento mais presente da realidade e das multiplas dificuldades que sc deve enfremar E este sentimemo que levant a uma culrura hist6rica bern compreendida 3 S6 a hist6ria do ensino e da Pedagogia perm ire derermi nar as metas que a educalYao deve buscar a todo momento No emanto e na Psicologia que cabe procurar os mcios necessarios a realizacao desras metas De faro 0 ideal pedag6gico de uma epoca expressa antes de rudo estado da sociedacle na epoca considerada Contudo para que cste ideal se tOme realidade e preciso ainda fazer com que a con sci en cia da crianlYa se conforme a ele Ora a conscicncia tern as suas proprias leis as quais e preciso conhecer antes de modificar se quisermos evirar tantO quanta possivel as cenrati vas empfricas que a Pedagogia busca jusramenre reduzir ao mf nimo Para poder estimular 0 desenvolvimento da arividade em uma cena dirqao 6 preciso saber quais sao os mecanismos que a mavem e a natureza ddes S6 assim sera possivel aplicar ai com conhecimento de causa a a9ao adequada Sera que se trara por exemplo de despertar 0 amor da parria OU 0 sentimento de hu manidade Saberemos oricmar mdhor a sensibilidade moral dos alunos neste ou naqllcle senrido quando tivermos nocoes mais completas e precisas sobre 0 conjunto dos fen6menos que cha mamas de cendencias habiws dcsejos emocoes erc sobre as diversas condicoes que os regem e tiobre a forma sob a qual eles se manifestam na criana Con forme virmos as rendencias como produtos das expericncias agradavcis ou nao que a especie viveu ou ao conu3rio como urn faeo primitivo anterior aos estados afe rivos que acompanham a seu mecanismo deveremos agir de mo dus basta me diferemes para regular 0 seu funcionamemo Ora e 96 Colerao Textos Fundantes de Educarao a Psicologia e em especial a Psicologia Infantil que cabc resolver cscas quest6es Ponamo embora ela seja incompetence para 6 xar 0 objetivo ja que 0 mesmo varia dcpcndcndo dos estados sociais ela certameme tern urn papcl Iti1 a desempenhar na consjtlliao dos metodos E mais como nenhum mewdo pode ser aplicado da mesma maneira nas diferentes criancas e mais uma vez a Psicologia que deve nos ajudar a nos situar em meio a diversidade das inteljgencias c carareres lnfel izmente sabemos que ainda esramos longc do momento em que ela realmente es tara apta a satisfazcr cstc desideratum Urn ramo espccffico da Psicologia rem uma importancia ca pital para u pedagogo a Psicologia Coletiva Ue faw uma tur rna e uma pequcna sociedade Por isto nao se deve conduziIa como sc ela fossc apenas uma simples agiomera9ao de sujeitos independenrcs tIns dos OlltroS CrianlYas reunidas em uma tur rna pensam sentem e agem de modo diferente de quando estao isoladas Em uma turma produzemse fen6rnenos de contagio desmotivaao coletiva agita9ao mutua e efervescencia saudavcl que 6 prcciso saber discernir no intuito de prevenir Oil combatcr uns c uti lizar os OUtros Sem duvida esta ciencia ainda 6 uma criana No en tanto existe desde ja urn cereo numero oe teses que nao se deve ignorar Estas sao as principais disciplinas que podem ocsperrar e alimentar a reflexao pedag6gica Em vez de huscar decretar lim c6uigo abstrato de regras rnetodol6gicas para a Pedagogia ini ciativa que a partir de uma investiga9ao tao composta e eomple xa nao e plenamente realizavel achamos mclhor indicar de que maneira em nos sa opiniao a pedagogo dcvc ser farmada Uma certa atitude mental face aos problemas que cabe a eJe resolver sc masua por isto mesmo determinada 3 PEDAGOGIA E SOCIOLOGIA Senhorcs Para mim e lima grande honra cujo valor eu simo intensa mente ter de substituir nesta cadeira homem de grande bom scnso e firme vontade ao qual a frana deve em larguissima parte a renovaao do seu Ensino P rimario Tendo estado em contato Intima com as professorcs das nossas escolas desde que eomecei a ensinar a Pedagogia na Universidade de Bordeaux ha quinze anos pude ver de perro a obra a qual 0 nome do Sr Buisson ticara definitivamentc associ ada Por conseguime re conhe90 coda a sua grandeza sobrctudo quando me lembro do estado no qual se encontrava estc Ensi no no momenta em que a reforrna toi empreendida 5 impossivel nao admirar a impor tancia dos resultados ohtidos e a rapidez dos progressos realiza dos Multiplicaao e transformacao rnaterial de escolas substi tuilYaO das velhas rotinas de antigamente por metodos racionais Urn verdadeiro impulso na rcf1exao pedag6gica e um estimulo geral de todas as iniciativas tudo isto certameme consritui uma das maiores e mais bemsucedidas revolu90es que ocorreram na hist6ria da nossa Educacao nacional Portanto para a ciencia foi lima verdadeira sone quanoo ao considerar a sua rarefa como eoncluida 0 Sr Buisson rcnunciou as suas exaustivas fun90es para compartilhar atraves do ensino os resultados de sua io Comparavel experiencia Uma cxtcnsa pnitica guiada por uma 98 Coleao Ttxtos Fundantes de Educaao vasta filosofia ao mesmo tempo prudente e curiosa a respeito de wdas as nov ida des devia necessariamcnre dar a sua pala vea lima auwridade auwcidacie esr3 reallYada al6m disso pelo prestigio moral oa sua pessoa e pelo reconhccimc nto dos ser viyos presrados a todas as grandes causas as quais 0 Sr Buisson dedicou a sua vida Eu nao POSSllO nada qucse pareca com uma competcncia tao especifica Por isto eu ceria razao de me sentir pacricuiarmcn te assustado diante das dificuldades da minha tarefa se naD me acalmasse com a ideia de que problemas tao complexos podem sec estudados de forma util par mentes e pOntOS de vista di versos Sociulogo e sobretudo enquanto soci6iogo que falarei a voces sobrc cducacao Alias nao acredito me expor aver e mos trar as coisas pur uma perspectiva deformauora aO proceder as sim pois cnho certeza de que ao contrario nao existe metodo mais apto a rcssaltar a verdadeira natureza das coisas De fato na minha opiniao 0 postulado de toda jn ves ti gaao pedag6gica e a tese de que a educacao e uma coisa eminentcmente social tantO par suas origcns quanto por suas funt6es e que logu a Pe dagogia dependc mais da Sociologia do que de quaiquer outra ciencia E tendo em vista que esta ideia dominara todo 0 meu ensino assim como cia ja dominava 0 ensino semclhantc que eu ministrava antes em uma outra universidade parccellme ser conveniente usar esta primeira aula para identificala c tornaIa mais precisa para que voces possam seguir melhor as aplicacocs uiteriores Nao que seja possivel fazer lima demonstracao cx pressa durante uma unica aula Urn principio tao gcral e cujas repercussoes sao taO extcnsas s6 pode ser analisado progrcssiva mente a medida que entramos nos detalhes dos faws e vemos como cle se aplica ai Porem a que podemos fazer desde ja e Educaao e Socioiogia 99 dar urn panorama indicar as principais razoes pcbs quais ete deve ser aceiro desde 0 inicio do estudo a titulo de presuncao provis6ria e sob reserva de verificacoes nccessarias e por fim revelar ao mesmo tempo Uda a sua cxtcnsao e as seus limites cste sera 0 tema da nossa primeira aula I It necessario ehamar imediatamente a atenrao de voces para este axiom a fundamental que em geral e ignorado Ate alguns an os atras e mesmo assim as exceroes podem ser cootadas nos dedos7 os pedagogos ll1odernos cram unanimes em vcr a cd ucaao como li ma caisa eminentemcnte individual e logo a Pedagogia como urn coroIario imediato e direto somcote da Psicologia Tanto para Kane quaneo para Mill e tanto para Her bart quanto para Spencer 0 objetivo da educarao seria antes de tudo realizar em cada indivfduo os atributos constitlJtivos da especie humana em gerai elevandoos porem ao seu mais alto grau de perfeicao Supunhase como uma vcrdadc evidcnte que 7 A ideia ja havia sido formulada por Lange em uma aula de abercura pu blicada em MOlloshefte derConufliulgesellsdwjt t III p 107 Ela foi retoma da por Lorenz von Stein em VermoluIIgslehre t V A esta mesma corrente pertencem WILLMANN Qno Didaktik als Bildullgslehre Nach ihren Beziehungen zur Sozialforschung und wr Geschichte deT Bildung 2 vol Leipzig Gr bner 18821889 NAJQRP Paul SozialJiidagogik Theorie deT Willenscrzichung auf de Grundlage de GemeinschafL 3 ed SWt tgart Frommann 1909 fl ed 1899J BERGEMANN Paul Soziae Pt1e dagogik auf erfahrungiwissenschaftlicheT GTundlage und mit Hilfe deT induktiven Methode als universalistische oder KulturP dagogik Gera T Hofma nn 1900 Vamos mcncionar tambem VINCENT George Edgard The socia mind and eriuCtJtiofi Nova York Macmillan 1897 ELSLAN DER JeanF rano i s LidliCOfioll t111 point de vue socigique Bruxelles J Lebegue 1899 100 Coleao Textos Fundantes de Educarao havia lima unica educaao que excluindo qualquer Dutra COI1 vinha indistintamente a rodos as homens fossem quais fossem as condi90es hist6ricas e sociais em meio as quais eles viviam e este ideal abstrato e unico que os te6ricos da edLlcaao se propu nham determinar Admiriase que havia uma natureza humana cujas form as e propriedades eram determiniveis uma vez por rodas C 0 prohlema pedag6gicu consistia em buscar saber de que mancira a asao cducadora deveria se exeTerr na natureza humana assim dcfinida Scm dlivida ningucm nunca pensou que 0 homcm Fosse imcdiacamcntc assim que cntrassc na vida lido 0 que ele pode e deve seT E bastantc 6bvio que seT hu ITlano 56 se constitui de modo progress iva ao longo dc urn lemu processo que comea no nascimento e so termina na maturida de Porem imaginavase que este processo nao fazia TIais do que atualizar virtualidacles revelar energias lmentes que existiam ja preformadas no organismo ffsico e mental cia crian93 PorwntD o educador naG teria nada de essencial a acrescemar a obra cia natureza nao criando nada novo 0 seu papel se limitaria a impe dir que estas virrualidades exjstentes se atrofiassem par causa da inatividade au se desviassem de sua direao normal au ainda se desenvolvessem com demasiada lenticlao Assim as condiyoes cle tempo e lugar e 0 estado em que se encontra a meio social per dem tada a utilidade para a Pedagogia Ja que 0 hom em carrega dentro de si tDdos os germes do seu clesenvolvimento e ele e someme ele que e preciso observar quando se quer determinar em que semido e de que maneira este desenvolvimento deve ser orientado 0 imponame e saber quais sao as faculdades inatas e a natureza das mesmas Ora a ciencia cujo objetivo e descrever e explicar 0 homem individual e a Psicologia Panama ela deve bastar para todas as necessidadcs do pedagogo Educaao e ociologia 101 T nfelizmcnrc eta concepc3o cia educaC30 esni em conua diCao formal com tuelo 0 Clue a hist6ria nos ensina de faro nao existe nenhum povo em que cia Cnha sido colocada em prarica Em primeiro lugar nao hi uma educaao universal mente valida para 0 genero humane inteiro em todas as sociedades por as sim dizer sistemas pedag6gicos diferentcs coexistem c funcio nam em paralelo Tal saciedade e fannada par eastas A eduCJ cao varian de uma casta para a outra ados aristDcratas nao era igual ados plebeus ados bramanes nao era iguaJ ados sudras Oa mcsma forma na Idade Media que desproPor9ao entre a cultura rccebida pelos jovens pajens instruiclos em wdas as ar tes da cavalaria e ados camponeses livres que iam aprender na escola de sua par6qllia alguns escassos elementos de complIto canto e gramatica Ainda hoje nao vemos a educacao variar com as classes sociais ou mesmo com os habitats A da cidade nao e igual a do campo a do burgues nao e igual a do opera rio Dirao par af que esta organizayao nao e moral mente justifidvel e pade ser considerada como urn anacronismo destinada a desaparecer A lese e ficil de defender E 6bvio que a educayao dos nossos fi Ihos nao deveria depender do acaso que oS faz nascer aqui au hi de ais pais ern vez de outros Porcm mesma que a consciencia moral de nosso tempo tivesse sido satisfeita neste pomo nem por isso a educacao seria mais uniforme Mesmo que a carreira de cada crianca nao fosse em grande parte predeterminada por uma cega heredirariedade a divcrsidade moral das profiss6es nao deixaria de exigir uma grande diversidade pectag6gica De fatD cada profissao constitui urn meio sui generis que demanda aptid6es e conhecimentos especfficos urn meio no qual pre do minam certas ideias usos e rnanciras de vcr as coisas e ja que a crianca deve estar preparada com vistas a funao que sed levacla 102 Coleao Textos Fundantes de Educaao a cumprir a cdUC31aO a partir de determinada idade naD pode mais continuar a mesma para todos os sujeitos aos quais ela se aplicar E por ism que em todos os paises civilizados ela ende cada vez mais a se diversificar c sc especiaiizar e esta especia lizaao a se tornar cada vez mais precoce A hererogeneidadc produzida assim nao repousa sobre inegavel injustica como a que observamos agora hi poueo rnas ela nao e menor Para e n contrar uma eduCtao absolutamente homogenea e igualicaria e preciso voltar no tempo ate as sociedades prehist6ricas no seio das quais nau existia nenhuma diferencia9ao c ainda assim estes tipos de sociedadcs representam apenas urn momento 16 gico na hist6ria da humanidade Ora e 6bvio que estas ed l1ca6es especifieas nao sao nem urn pall co organizadas com fins individuais Sem ddvida as vezes acomece de e1as provocarem nos indivfduus 0 descnvolvimemo de aptidoes singularcs que ja se encontravam imanentes e s6 es ravam esperando para enrrarem em aao neste senti do podese dizer que elas us ajudavam a realizarem a natureza deles Porem sabemos 0 quanto estas voca6es estreitameme dennidas sao ex cepcionais Dc modo mais geral 0 nosso tcmperamenw inrelec cual ou moral nao nos predestina a uma funao bern dererminada o homem medio 6 eminentemente plistico podendo ser urili zado da mesma forma em empregos basta nrc variados Ponamo se ele se especial iza e se 0 faz de cal mudD em vez de ourro na e por razoes intcriores e nem pel as necessidades da natureza E a sociedade que para se manter exige que 0 trabalho se divida entre os seus mcm bros e de tal maneira em vez de outra E por isto que ela prepara COfn as suas pr6prias maos atraves da educa ao os trabalhadores especializados dos quais precisa Portamo foi para e poc ela que a educaao se diversificuu assim Educaao e Sociologia 103 E tern mais Longe de nos aproximar necessariamcnte da perfeiao hurnana esta cultura espedfica engendra uma deca den cia parcial e ism acontece embora ela se encontre em har monia corn as predisposi90es naturais do individuo Isto porque nao podemos desenvolver com a intensidade necessaria as fa culdadcs privilegiadas pe1a nossa funao sem deixar as outras se entorpeccrem com a inatividade e scm ahdicar par conseguin re de toda uma parte da nossa natureza Pur exemplo enquanto indivfduo 0 hom em nao e men os feiro para agir do que para pensar Alias tendo em vista que ele 6 antes de tudo um ser vivo e que a vida e a930 as faculdades ativas talvez the sejam mais essenciais do que as ouuas E no en tanto a partir do mo mento em que a vida intelecrual das socicdades atinge um cer ro grau de dcsenvolvirnento hi e deve nccessariamente haver homens que se dediquem a ela de modo exclusivo ou seja que nao faam omra coisa senao pensar Ora pensamento s6 pode se desenvolver desligandose do movimcnto recolhendose em si mesma desviando u sujeito da a910 Assim focmamse aqlle las naturezas incompietas em que wdas as energias da atividade se convertem poc assim dizer em reAexao naturezas que pOT mais mutiladas que estejam em certos aspectos constituem emretamo os agentes indispensaveis do progresso cientitico A analise abstrata da constituiao humana jamais teria permitido preyer que 0 homem fosse capaz de alterar assim 0 que e consi derado a sua essen cia e nem que Fosse necessaria uma educavao que preparasse estas dteis altera6es Contudo seja qual for a importancia dcstas educaoes cs pecificas elas nao sao a edueaao toda Podese are dizer que elas nao sao autossuficiemes em todos os lugares em que sc pode observalas elas 56 divergem umas das outras a partir de 104 Coletao Textos Fundantes de Educaao cerro POnto aquem do qual elas se confundcm Todas elas re pousam sabre uma base comulTI Nao hi ncnhull1 povo em que nao exisra certo numero de ideias senti memos e pnhicas que a educacriio dcvc inculcar em codas as crianas sem disrincrao seja qual for a cmegoria social a qual elas pertencem E inclu sive esta cdllcaao comum que e considerada em geral como a verdadcira educavao So mente cia parece plenamente mcrcccr sec dcsignada desta forma A cia e concedida uma espccic de prcdominancia com reiaiio as outfas Panama e suorctudo esra cducaao que e importante invesrigar para saber como se su poe se ela esnl conrida pDf inteiro na nOlao de homcm e pade sec deduzida da mesma Para dizer a verdadc a qllestao nem se coloca a respeito de wdo 0 que envolvc os sistemas de educaao que a hist6ria nos apresenta Eles estao tao obviamente ligadus a sistemas socia is determinados que acabarn sendo inseparavcis deles mbora houvesse em Ruma lima educaao comum a todos os romanos apesar das difercncas que separavam a aristocracia da plebe esra educa9ao sc caracterizava por ser essencialmente romana Ela reftetia tuda a organiza9ao da p6lis ao mesmo tempo em que era a sua base 0 mcsrno vale para todas as sociedades hist6ri cas Cada tipo de povo possui uma educacao que Ihe e pr6pria e que pode definiIo ao mesmo tfudo que a sua organizaao moral politica e religiosa Trarase de urn dus elementos da sua fisio nomia Esta c a razao pela qual a educacao variou de forma tao prodigiosa de acordo com as epoCas e palses pela qual aqui na Fran9a ela far 0 indivfduo entregar a sua personalidade com pleramente nas maos do Estado ao passo que em outros lugares ela forma ao contnirio seres auronomos e donas de sua pr6pria condura e pela qual ela era ascetica na Idade Media liberal no EducaClo e Sociologia 105 Renascimento lireraria no seculo XVll e cientffica hoje em dia Isto nao significa que por causa de aberra9oes os homens se ten ham enganado a respeito de sua natureza humana e de suas necessidadcs mas sim que estas necessidades variaram e varia ram porquc as condicocs sociais das quais e1as depend em nao pennaneceram inalteradas Porem por lIma contradicao inconsciente recusamos com rela9ao ao presenre e mais ainda com rclasao au futuro aquilo que admirimos facilmenre corn re la ao ao passado Todo 0 mun do reconhece sem discllrir que em Roma c na Grecia 0 unico objetivo da educaao era formar gregos e romanos e que par conseguinte a educa9ao estava associ ada a todo urn conjunto de instirui6es poifticas morais econornicas e rcligiosas No en tanto imaginamos alegremenre que a nossa educaao moderna foge a lei comum e que awalmente ela dcpcnde cada vez me nus das contingencias socia is pois tende a se libcrtar wtalmente delas nu futuro Nao reperimos sem parar que queremus trans formar os nossos filhos em homens antes mesmo de transforma los em cidadaos E nao parece que a nossa qualidadc humana seja naruralmente imune as inAuencias colerivas ja que pela logiea e anterior as mesmas E todavia nao seria uma especie de milagrc se a natureza da educacao tivesse mudado tao completamente depois de ter tido todas as caracterfsticas de uma institui930 social durante s6culos c em todas as sociedades conhecidas Tal transforma ao parece ainda mais surpreendeme se levarmos em conside raao que 0 momentO em que ela ceria aconrecido 6 jusramente aquele em que a educacrao come90u a se tornar urn verdadei co servico publico desde 0 final do seculo passado cia rende lao somente na Frana mas em toda a Europa a fiear cada vez 106 Coleao Textos Fundantes de Educaao mais diretamente sob 0 controle e a direcao do Estado Sem duvida os objetivos que cia busca se afasram cada vez mais das condioes locais ou 6tnicas que antigamente as singularizavam tornanduse mais gerais e abscraQs Mas eles nao deixam de ser essencialmcnte colerivos De fata nao e a coletividadc que os impoc Nao e ela que nos ordena a desenvolvcr nos nossos n Ihos antes de wcla as qualidades que eles compartilham com codas as homens E em mais ela nau somcow cxerce sabre n6s uma pressao moral atraves da opiniao para que eorcndamos assim os nossos cleveres de educadorcs como tambem valoriza mow a educacao q lie cornu eu acabci de dizer ela pr6pria se encarrega cia tarefa E facil adivinhar que se ela preza a edu cacao a este pomo e porquc cia vc as vamagens que a mesma pode Ihe oferecer E de faw somente uma culw ra amplamente humana pode dar as socicdades modernas os cidadiios dos quais e1as precisam Ism porque cada urn dos grandes povos europe us cobre urn imenso habitat e engloba as racas mais diversas Alem elissa 0 trabalho 6 cxtremal11ente dividido os indivfduos que o comp5em sao tao diferentes uns dos OUtfOS que nao ha mais quase nada em comum emre eles salvo a sua qualidade humana em gera Portanto eles s6 podem manter a homogeneidade in dispensavei a qualqucr cotlsetlso social se forem tao semelhanws quanto possivcl no Jnico aspecto em que toelos se parecem ou seja enquanw wdos forem seres humanos Em outfas paiavras em socicdadcs tao cliferenciadas a Jnico tipo coletivo que pode haver 6 0 tipo generico de homem Se ele perclesse urn pouco cia sua gcncralidade ou deixasse 0 antigo particularismo reaparccer os grandcs Estados europeus se dividiriam em uma pluralidade de pequenos grupos fragmemarios e se decomporiam Logo 0 nosso ideal pedag6gico reflete a nossa estrutura social assim Educaao e Sociologia 107 como ados gregos e romanos s6 pode ser com precndiclo a partir da organizacao das p61is Se a nossa educa9ao moderna nao e mais csrreitameme nacional e em funcao cia maneira como as na90cs modern as se constituiram E isto nao c tudo a sociedacle nao somente eleva 0 tipo hu mana a dignidade de modelo para 0 educador reproduzir como tambem 0 constr6i e 0 constr6i de acordo COm as suas neccssi dades E urn equivoco pensar que ele ja esteja dado por intciro na consriw icao nawral do homem que basta uma observaao met6dica desta ultima para descobriIo sem se abster no cn tanto de ernbelezalo mentalmente em seguicla imaginando a mais alto grau de desenvolvimemo daquilo que ainda se en contra em estado rudimcntar 0 homem que a educacao deve realizar em n6s nao e a homcm tal como a natureza crioll mas sim tal como a sociedadc quer que de seja e ela quer que cle seja da forma exigida pela sua economia interior A prova disto e a maneira como a concepsao ti homem variou con form e as sociedades Assim como n6s os homens dOl Antiguidade tam bern acreditavam esrarem formando os seus 1lhos para seren1 homens Se eles se recusavam a eonsiderar um estrangeiro como seu semelhante e jusramencc porque na opiniao cleles somente a edueasao cia p61is era capaz de formar seres verdadeira e pro priamente hllmanos S6 que elcs eoncebiam a humaniclacle da maneira deles que nao e a mesma que a nossa Toda mudana urn poueo importante na organ izasao de uma sociedade provoca uma mudansa de iguaJ importancia na ideia que 0 homcm nu tre a respeito de si mesmo Se 0 rrabalho social se dividir ainda mais sob a pressao da crescence concorrencia e a especializ3ao de cada trabalhador for ao mesmo tempo mais intensa e preeo ce 0 conjullto de coisas que a cducaao comum engloba devera 108 Coleao Textos Fundantes de Educarao necessaria mente se rcuuzir c por conseguime as caractcristi cas do tipo humano diminuirao Antigamente a cultura litcraria era considerada como urn elemento essencial de toua cultura humana IIojc csra chegando a epoca em que c ia talvez nao passe de uma cspecialidade Ua mesma forma entre as nossas faculdadcs cxiste uma hierarquia comprovada atfibuimos lima espccic dc superioridade a algumas delas as quais devernos por isto mcsmo desenvolver mais do que as outras Parem isto nao significa que esta dignidade seja intrfnseca as mesmas ou seja que a pr6pria natureza Ihes tenha designado para a eternidade csea eminente posilao mas sim que elas rem mais valor para a sociedade Logo como a cscala destes valores muda necessaria mente com as sociedadcs csea hierarquia nunCd permanece a mesma em dois momentos difcrenres da hist6ria Omem era a coragem que ocupava 0 primeiro plano com todas as faculdades exigidas pela virrude miliear Hoje eo pensamenw e a rcftcxao Amanha talvez seja 0 rcfinamento e a sensibilidade com rclacao as coisas anlsricas Assim tanto no presenre quanto no passa do 0 nosso ideal pcuag6gico e nos mfnimos detalhcs fruto da sociedade E ela que rraa 0 retraro do homem que devemos ser rerrato no qlIal se refletem todas as parricularidades da sua organizlcao II Em suma individuo e os seus interesses nao sao 0 unico ou principal objetivo da educacao a Qual e antes de tudo 0 meio peIo qual a socicdade renova eternamente as condi6es da sua pr6pria existcncia A sociedade s6 pode viver sc cxistir uma ho mogeneidade suficiente enrre os seus memhros A educ3ao per pewa e reforca esta homogeneidade ao fixar de anrcmao na alma Educaao e Sociologia 109 da crianca as semclhancas essenciais que a vida coletiva slIpoe Porem ao mesmo ecmpo qualquer eooperacao seria impossivel sem uma certa diversidade A educacao garame a continuidade desta necessaria diversidade diversific3nciosc c especializando se a si mesma Portanw cia consisre em um ou outro destes aspectos em Ulna sociali7aao met6dica das novas geracoes Em cada urn de n6s podese dizer existem dois seres que embora se rnostrem inseparaveis a nao ser por abstraao nao deixam de ser distintos Um e composw de wdos os estados mentais que dizem rcspeiw apenas a ns mesmos e aos acontecimentos da nos sa vida pessoal eo que se poderia chamar de ser indivi dual 0 outro c urn sistema de ideias sentimenros e hiibiws que exprimem em nos nao a nossa personalidade mas sirn 0 grupo ou os grupos diferentes dos quais fazemos pane rais como as crenas religiosas as crenas e praticas morais as tradi6es na cionais ou profissionais e as opini6es coletivas de todo tipo Este conjunto forma 0 sef social Constituir este ser em cada urn de nos e 0 objetivo cia cducacao Alias e ai que sc manifesta melhor a irnpordineia do seu pa pcl e a fecundidade da sua acao Dc faro este ser social nao somente nao se cncontra ja pronto na constituiCao primitiva do homem como tarn bern nao resulta de urn desenvolvimento es pomaneo Espomancamente 0 homem nao tinha tendencia a sc submeter a uma allwridade poiftica respeitar uma disciplina moral dedicarse e sacrificarse A nossa natureza congenita nao aprcsentava nada que nos predispllsessc necessariamente a nos tornarmos servidorcs de divindades emhlemas simb6licos da socicdade a Ihes prcstarmos cllito ou a nos privarmos para hon dIas Foi a pr6pria sociedade que a medida que ia se formando c se consolidando tiruu do sell seio estas grandes fonas mora is 110 Coeao Textos Fundantes de Educarao diante das quais 0 homem scntiu a sua inferioridadc Ora com eXCe30 de tendencias vagas c incenas que podcm ser auibufdas a hcrcdirariedade ao cntrar na vida a crianlYa tcaz apenas a sua naUlreza de indivfduu Partama a cada nova ge raao a socieda de se enCQmra em prcsena de uma tcibula quase rasa sabre a qual ela deve construir novamenre E prcciso que pelos meios mais rapid os ela subsriwa 0 sec egolsra c associal que Hea oa de nascer por urn Dutro capaz de levar uma vida moral e social Esta e a abea da cduca9ao cuja grandeza podemos reconheccr Ela nao se limita a reforar as tendencias naturalmente marcantes do organismo individual au seja desenvolver potencialidades ocultas q ue s6 estao esperando para serem reveladas Ela cria um novo ser no homem e este homem e feiro de tudo 0 que h de melhor em n6s e de tudo 0 que d valor e dignidade a vida Esta virtude criadora e alias um privilegio cspecif1co da eduCa9ao humana A que os animais recebem e complemmenre diferente se e q ue podemos charnar de eduea9ao 0 treinamen to progressivo ao qual eles sao submeridos por sellS pais Este treinamcnto bern pode acclerar 0 desenvolvimcnto de eertos instinros que estao latentcs no animal mas nao 0 inieia a uma nova vida Ele faeilita 0 movimento das fUI190es natura is mas nao eria nada lnsrrufdo pcla mae 0 filhore sa bed voar ou fazer o ninho de forma mais dpida mas nao aprendera qU3se nada a oao ser arr3ves de sua cxperiencia individual E que os animais ou vivcm fora de todo estado social ou formam sociedades bastan te simples que funcionam a partir de mecanismos inscimivos que Cdda indivfduo carrega consigo perfeitameme constiwfdos desde 0 nascimento Ponamo a educacao nao pode acresccntar naela de es sencial a nawreza vista que esta ultima e inteiramenre suficiente tanto para a vida do grupo quanto para a do inelividuo No homem Educacao e Sociologia 111 ao contdrio as aptidoes de todo tipo que a vida social sup5e sao complexas demais para poderem de certo modo encarnarse nos recidos e marerializarse sob a forma de predisposioes orga nicas Poc conseguime elas nao poclem ser transmiridas de uma geracao para a ouna atravcs da heredirariedade E a educacao que garanrc a rransmissao Este aspecto marcame cia cducacao humana e 0 fato de 0 ho mem reIo senrido bem cedo podem ser comprovados atraves de uma cerimonia realizaela em muitas sociedades a inicia9ao Ela ocorre quando a educaao term ina em geml cIa ate feeha 0 ul timo perfodo em que as anciaos estao concluindo a insrruao dos rapazes revelandoIhes as crencas mais fundamentais e os rims mais sagraclos da tribo Depois que cia acaba 0 sujeito que a river recebido passa a oClipar urn lugar na sociedade Elc se destaca do grupo das tnulheres no meio das quais viveu durante toela a sua infancia e se junta aD dos guerreiros dentro do qual tern a partir de entao umCl posicao bern definida Ao mesmo tempo ele toma eonscicncia do seu sexo cujos direitos e deveres passa a rer ja qlle se tornou lim hom em e um eidadao Ora lima crcn93 univer salmenrc difundida em wdos estes povos e que este sujeito pelo pr6prio faw de ter sido iniciado tornase urn homem inteiramen te novo cle muda de personalidade c ate de nome 0 q ual nao e entaO considerado como urn simples signo verbal mas sim como um elemento essencial da sua pessoa A iniciaCao e vista como um segundo nascimento A mente primitiva simboliza esta rrans formacao imaginando qlle urn principia espiritual lima especic de alma nova encarnouse no indivfduo Porem se e1iminarmos as form as miticas que cnvolvem esta erema nao veremos sob 0 simbolo desta ideia e de forma obscura que a educatao cria urn ser novo no homem Tratase do ser social 112 Coleao Textos Fundantes de Educaao No entanto podese objcrar se de fato e possfvel conceber que as qualidades propriamenre marais s6 podcm sec susciradas em nos poc uma actao vinda do exterior uma vez que elas im poem priva6es ao individuo e reprimem os seus movimentos naturais nao haveria outras qualidades que todo hom em tern interesse em adquirir c busca espontaneamente Pensemos por exempl0 nas diversas qualidades da intcligencia q ue the pcrmi tern adaptar melhor a sua conduta a natureza das coisas Pcnse ruos tambem nas quaJidades ffsicas c em tudo 0 que contribui para 0 vigor e a saude do organismo Com rela930 a cstas lilti mas pelo menus parece que a educa9ao ao desenvolveIas nao faca mais do que wmar a dianteira do pr6prio desenvolvimemo natural aiando 0 individuo a urn cscado de perfei9aO relariva a qual ele tende por si mesmo embora possa alcan9alo de forma mais rapida com a ajuda da sociedade Porem apcsar das aparencias 0 que rnostra bern que tamo aqui como alhurcs a educaao satisfaz acima de rudo necessida des ex tern a ou seja sociais e que existem sociedades em que estas qualidadcs nao foram absolutamente cultivadas e que em todo caso foram compreendidas de modo muito diferente de pendendo das sociedades Nem todos as povos rccanheceram as vantagens de uma s6lida cultura intelectual A ciencia e 0 espfrito critico as quais valorizamos tanto atualmente durante muito tempo foram vistas com dcsconfiantya N ao conhecemos uma grande doutrina segundo a qual sao bemavcnturados as pobres de cspfrito Nao se deve pensar que esta indiferen9a com rela9ao ao saber teoha sido artificialmcnte imposta aos ho mens contra a natureza deles Eles nao tin ham por si mesmos nenhum descjo de cicncia simplesmente porque as sociedades das quais eles faziam parte nao sentiam a men or necessidade Educa ao e Sociologia 113 Para poder viver des prccisavam ames de rudo de tradioes fortes e respeitadas Ora a tradityao nao desperta 0 pensamcnto e a reftexao mas tende ao contrttrio a excluilos 0 mesmo vale para as qualidades ffsieas Se 0 estado do meio social inclinar a conseiencia pllblica para 0 ascetismo a educaao ffsica sed automaticamente rejeitada para 0 segundo plano E urn pouco o que acontecia nas escolas da ldade Media Oa mcsma forma dcpendendo das linhas de opiniilo esta mesma cducaao sera emendida nos mais diferentes semidos Em Esparta cia tinha como objetivo sobretudo endurecer os mcmhros contra a can satyo em Arenas ela era urn meio de modclar bel os corpas para serem admirados na epoca da cavalaria espcravase que ela formasse guerreiros age is e flexiveis hoje em dia cia s6 visa a higiene e se preocupa sobretudo ern comer os pcrigosos cfcitos de lima cultura imelectual demasiado intensa Assim 0 indi viduo s6 busca as quaJidades que a primcira vista parccem tao espomaneamente desejaveis quando a socicoade 0 ineita nesta dire930 E ele as busca da maneira que cia Ihc prescreve Voces estao venda a que ponto a Psicologia pura e simples e insufieiente para 0 pedagogo Como eu mostTci agora h1 poueo nao somente e a sociedade que tta9a 0 ideal que 0 indivfduo deve realizar atraves da eduCl9aO como tambem nao ha tenoencias determinadas na natureza individual ou seja nao existem esta dos definidos que sejam como uma primeira aspiratyao a este ideal e que possam ser vistos como a forma interior e antecipa da do mesmo Sem duvida isw laO significa que nao existam em n6s aptid6es bastante gerais scm as quais cstc ideal seria obviamente irrealizavel Se 0 hom em pode aprendcr a se sacrifi car e porque ele e capaz de sacriflcio se cle pade se submeter a disciplina da ciencia e porque ele sa be se adaptar a mesm3 S6 114 Coltlo Textos Fundantes de Educaao peIo fato de sermos parte integrantc do universa somas capazes de prcocuparmonos com outras coisas a1em de nos mesmos as sim cxiste em ns I1ma primeira impessoalidade que peepara ao dcsprcndimcnto Oa mesma forma 56 pelo fato de sermos seres pensanrcs temos cerra tendencia ao conhecimento Purem urn abismo separa esras predisposi6cs vagas c confusas misturadas alias a todo tipo de predisposi90es contrarias e a forma tao bern definida e singular que elas adotam sob a a9ao da sociedadc Mesma corn a analise mais perspicaz e impasslvel prever 0 que estes germes indistintos se tornarao uma vez que a coletivi dade os river fecundado pais esta ultima nao se canrenta em intensificaIos mas acrescentaIhes mais alguma coisa Ela lhes fornece a sua pr6pria energia e par isto mesma transformaos produzindo efeitos que nao estavam primitivamente cantidos neles Logo mesmo que a conscicncia individual nao fosse mais urn misrerio para n6s e a Psicologia uma ciencia completa ela nao poderia dizer ao professor 0 objetivo que ele deve buscar S6 a Sociologia pode ou nos ajudar a compreendcIo ligandoa aos estados sociais dos quais ele depende e os quais ele expres sa ou a descobriIo quando a conscicncia publica pecturbada e incerta nao sabe rna is a que ele deve ser III Contudo se 0 papel da Sociologia e preponderante para a de termina9ao dos fins que a eduCa9aO deve buscar sera que ela rem a mesma importancia no que diz respeiro a escolha dos meios Ai a Psicologia volta em cena Embora 0 ideal pedag6gico expresse necessidades socia is antes de tudo ele s6 pode se rea lizar nos e pelos individuos Para que ele seja algo mais do que uma simples conCeP9ao mental e uma va injun9ao da socieda Educacao e Sociologia 115 de aos seus membros e preciso descobrir 0 meio de fazer com que a consciencia da crian9a se conforme a ele Ora a conscicn cia tem as suas pr6prias leis as quais e preciso conhecer antes de modificar se quisermos evitar as tentativas empfricas que a Pedagogia busca justamente reduzir ao minima Para poder estimular 0 desenvolvimento da atividade em uma cecta dire9l0 e preciso saber quais sao os mecanismos que a movem e a natu reza deles S6 assim sera possivel aplicar ai com conhecimento de causa a acao adequada Sera que se trata par exemplo de dcspertar 0 amor da patria ou 0 sentimenro de humanidade Sa bcremos orientar melhor a sensibilidade moral dos alunos neste au naquele sentido quando tivermos n090es mais completas e precisas sobre 0 conjunto dos fen6menos que chamamos de ten dencias habitos desejos emo90es etc sohre as divcrsas condi 90es que os regem e sabre a forma soh a qual eles se manifestam na crian9a Con forme virmos as tendcncias como produtos das experiencias agradaveis ou nao que a esp6cic viveu au ao C011 trario como urn faro primitivu anterior aos cstados afetivos que acompanham 0 seu funcionamenro devcrcmos agir de mod os bastante diferentes para regular 0 seu desenvolvimento Ora e a Psicologia e em especial a Psicologia Infantil que cahe resol ver estas questoes Partanto em bora ela seja incompetente para fixar 0 objetivo ou melhor os ohjetivos da educaao ela certa mente tem urn papel util a descmpenhar na constirui9ao dos metodos E mais como nenhum metodo pode ser aplicado da mesma maneira nas diferentcs eriancas e mais uma vez a Psi cologia que deve nos ajudar a nos situar em meio a divcrsidade das inteligcncias e carateres Infclizmente sabemos que ainda estamos longe do momento em que cia real mente estari apta a satisfazer este desideratum 116 Coleao Textos Fundantes de Educaao Portanw nao se deve ignorar as vantagens que a ciencia do indivfduo pode oferecer it Pedagogia cujo valor n6s vamos reco nheccr aqui No entamQ mesmo nos amhitos em que ela e util para 0 pedagogo esclarecer certos problemas cia esta lange de poder dispensar a Sociologia Primeiro ja que as fins da educacao sao sociais os mcios pelos quais estes fins podem sec alcamados dcvcm ncccssa riameme ree 0 mesmo carater E de faro dcntre todas as ins titui6es pedagdgicas talvez oao haja ncnhuma que nao seja analoga a uma instituiao social cujos aspectos principai s ela reproduz de forma rcduzida c como que abreviada Tanto na escola quanto na cidadc impocsc uma disci pi ina As regras que fixam os devcrcs dos alunos sao comparaveis as que prescre vern a condura clos homcns feitos As puni90es e recompensas assuciadas as primciras sc parecem com as que as segundas san cionam Ensinamos as criamas a eiencia ja feia mas a ciencia que csa sen do fcita cambe m se ensina Ela nao fica fechada no ccrcbro daquclcs que a concebem 56 se mrnando realmente ativa sc for compartilhada com as DUfOS homens Ora a nature za dcsta conlunicacao que coloca em pdrica wda uma cede de mccanismos socia is constiwi um ensino que embora se dirija a adultos nao sc diferencia daquele que 0 aluno recebe do seu mcstrc Nao se diz alias que as sa bios sao os mesres c10s seus contcmporaneos Nao se chama de escolas as grupos que se formam em wrno c1eles8 Podectamos dar varios exemplos E que de faw como a vida escolar nao passa do germe da vida so 8 Cf VILLMANN Octo Didoktik ols Bildllllgslehe Nach i hrn Be ziehungen zur Sozialforschung und zur Geschichrc der Bildune Vol 1 Leipzig Gr bner 1882 p 40 Educaao e Sociologia 117 cial assim corno esra ulrima nao passa cia continuacao e mawci dade daquela os principais processos pel os quais uma fundona se encontram obviamente na outra Portanm podese esperar que a Sociologia ci2ncia das in stitu i 6es sociais ajudenos a compreender 0 que sao ou a conjeturar 0 que devem sec as institui9ues pedaggicas Quanto melhor conhecermos a socie dade melhor pcrccbcremos wdo 0 que se passa no microcosmu sucial que a escola 6 Voces estao venda como ao contrario con vern uriiizar com prudencia e rnodera3o os dados da Psicologia rncsmo quando se fata de deterrninar os metodos Pm si 56 ela nao podcria nos forn ecer os elementos necessarios para cons rruir uma tecnica que por definiao rira 0 sell pror6ripo nao do indivlduo mas sim da coleividade Alias as esrados sociais dos quais os fins pedag6gicos depen dem nao limitam a stla aao af Eles tamb6m afetam a concep ao dos metodos a natureza do objeivo impliCd em parte ados meios Se a sociedade se orientar por exempo em um senti do individualisra todos os processos educacionais que possam re primir 0 indivfduo e ignorar a sua espontaneidade interna serao considerados como inrolenlveis e reprovados Se ao contrario sob a pressao de circunstancias duniveis ou passageiras ela sen tir novamente necessidade de impor lim conformismo mais ri goroso a rodas sera proibido udo 0 que possa provocar al6m da conta a iniciativa da inteligencia Na realidade rodas as vezcs em que 0 sistema de metodos educativos foi profundamentc uansformado foi sob a influencia de uma daquelas grandes COf rentes socia is cuja a1o se repercmiu em todas as areas da vida coleriva Nao foi em funao de descobertas psicologicas que 0 Renascimento opos tOdo um conjullw de novas mctodos aos que a ldade Media uiliz3va 0 que aconteceu foi que como 118 Colecao Textos Fundantes de Educacao consequencia de mudanas ocorridas oa estrutura das socieda des europcias lima nova concepao do hornem c do seu lugar no mundo acabou surgindo Oa mesma forma os pedagogos que no final do seculo XVIII au no comeo do XIX comea ram a substituir 0 metoda abstrato pelo intuitivo esravam an tes de tudo reftetindo aspiragocs vigen res naquela epoca Nem Basedow nem Pestalozzi e nem Froebel eram grandes psic6lo gos 0 que a doutrina delcs cxprime e sobretudo respeito pela liberdade interior horror diante de qualquer repressao e amor pelo hornem e logo pcla crianga nogoes que se encontram na base do nos so individualismo maderno Assim seja qual for 0 aspecto pelo qual abordemos a edu cagao ela semprc se apresenta com 0 mesmo Carater Sejam os fins que e1a busca ou os meios que ela emprega sao semprc necessidades sociais que ela satisfaz e ideias e sentimentos co letivos que cia expressa Sem duvida 0 proprio indivfduo sai ganhando com este mecanismo Nos ja nao admitimos ciara mente quc aquilo que temos de melhor e devido a educaao E aquilo que temos de melhor e de origem social Portanto devemos sempre nos concentfar no estudo da sociedade e somcnte nele que 0 pedagogo vai encontrar os princfpios da sua investigaao A Psicologia bern pode Ihe apontar qual e a melhor maneira de agir para apliear na crianca estes principios uma vez que as mesmos estiverem consolidados Porem ela na pode ajudalo a descobriIos Para eonciuir eu gostaria de aerescentar que se ja existiu uma epoea e urn pais em que 0 ponto de vista soeiol6gico se im pas de modo particular mente urgente aos pedagogos esta epo ca c este pais e 0 infcio do seculo XX e a Franca Quando uma sociedade se encontra em urn estado de relativa estabilidade e Educarao e Sociologia 119 equilibrio temporario como par exemplo a sociedade francesa do seculo XVII quando por conseguinte estabelecese urn sis tema de educaCao que igualmente durante certo tempo nao e contestado por ninguem as micas questoes urgentes que se co locam sao questoes de aplicaCao pdtica Nao emerge nenhuma dtlVida s6ria sabre 0 objetivo a alcancar e nem sobre a orientacao geral dos metodos Portanto s pode haver controversia com relacao a melhor maneira de colodlos em pratica e estas difi culdades podem ser resolvidas pcla Psicologia Eu nao preciso ensinar a voces que a firmcza intclectual e moral nao predomina mais no nos so seculo 0 que ao mesmo tempo e a sua miseria e a sua grandeza As profundas transformasoes que as socieda des contemporaneas sofreram ou cstao sofrendo demandam transformaC6es correspondentes na EducaCao naciunal Porem em bora realmenre simamos que mudancas sao necessarias nao sabemos muito bern como elas devem ser Sejam quais forem as convicc6es pessoais dos indivfduos ou partidos a opiniao pu blica permanece indecisa e apreensiva Portanto nos nao abor damos 0 problema pedagogico com a mesma serenidade que os homens do seculo XVII Nao se trata mais de colocar ideias prontas em pratica mas sim de descobrir ideias que nos guiem Como poderfamos fazeIo se nao observassemos a propria ori gem da vida educativa ou seja a sociedadc Logo e a sociedade que e preciso estudar e sao as suas necessidades que e preciso conhecer ja que sao estas tIitimas que 6 prcciso satisfazer Fi car olhando so mente para 0 proprio umbigo significa desviar os nossos olhares da propria realidade que devemos acessar enos impedir de compreender 0 movimento que leva 0 mundo ao nosso red or bern como nos mesmos junto com ele Portanto ao dizer que uma cultura sociol6gica nunca foi mais necessaria 120 Colerao Textos Fundantes de Educaao ao educador naa aehu que CStou deixandomc guiar por um sim ples preconceito 011 sucumbindo a urn amor cxagerado por uma ciencia que cultivci durante a minha vida intcira Nao e que a Sociolugia possa nos dar de mao beijada proccssos ja fontos os quais basta urilizar Alias sent que poderia ser assim Pacem eia pode mais c melhor fornecernos aquilu de que tcmos mais ur gcnrcmcme necessidade quero dizer urn corpo de idcias dircti vas que sejam a alma da nossa pratica sustcntandoa dando urn scnrido a nossa avao e nos ligando intimamcmc a mcsma 0 que e lima cond iyao obrigat6ria para que esta aao scja fccunda Nascido em 15 de abril de 1858 em Epinal Francta de familia de origem judia e de pai rabino Emile Ourkhelm e 0 principal representante da escola de sociologia francesa Ao lado de Karl Marx e de Max Weber Ourkheim e considerado um dos pais da sociologia Ele define sua vocaao sociol6gica como missao de fundar uma nova ciencia para uma nova sociedade qual seja a socledade industrial fato que 0 diferencia de Marx e de Weber que se dedicam a Sociologia que tem por fundamentos respectivamente a Economia e a Politica Com isso contribui para 0 desenvolvimento do espirito universitario na Europa inaugurando as cadeiras de SocioJogla e de Antropologia Social Casouse e teve um casal de filhos Ele vlveu 0 clima das grandes convulsoes socials que abalaram a Europa desde 1848 ate a Primeira Guerra Mundial Em funao desse clima Durkheim propoese a fundar uma nova ciencia que de conta da explicaao da sociedade que estaria nascendo desse processo Crla entao a Ciencia da Moral Em 1915 seu filho e morto lutando no front de Salonique em 1917 Durkheim morre em Paris RESENHA 1 EDUCAÇÃO E SOCIOLOGIA Para Durkheim 198451 A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão maduras para a vida social Tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos intelectuais e morais que são exigências próprias da sociedade política no seu conjunto e do meio social ao qual está particularmente destinado Sendo assim é definido que a educação nada mais é do que um conjunto de todas as características naturais que possuímos á nascença mais a ação da geração mais velha sobre a geração mais nova É inviável e incabível rotular uma definição de educação ideal pois existem múltiplos maneiras de educar lidando diretamente com o fato do tempo e espaço experiência entre gerações anteriores e incontáveis acontecimentos históricos políticos e religiosos de cada sociedade Para Durkheim existem diferentes tipos de Educação e não apenas uma Essas diferenças podem ser de âmbito regional ou global pois a educação foi feita apara atender as demandas sociais Assim como em lugares mais ricos a demanda de educação pareça ser maior os pobres também são educados da maneira deles para a sobrevivência em sociedade A Educação deveria formar o ser social já que o homem por natureza seria egoísta A Educação iria inserilo na sociedade já com sua mente preparada para seguir todas as regras e leis determinadas por esta mesma sociedade E essa Educação sempre seria voltada para a sociedade a qual pertencia e sempre repassaria valores dessa sociedade e de sua cultura vigente Durkheim entende que o papel do Estado na educação é um papel simultaneamente passivo em que o Estado só interviria em caso de impossibilidade óbvia dos pais cumprirem o seu dever de dirigir e orientar o desenvolvimento moral e intelectual da criança e ativo na medida em que cabe ao Estado zelar pelos princípios pelos quais a sociedade se rege mantendo a ação educativa sob o seu controlo Relativamente aos objetivos da educação levantamse sempre algumas questões controversas quando este assunto é abordado Como pode ser uma educação considerada eficaz Segundo Durkheim o homem que a educação deve realizar em nós não é o homem tal como a natureza o fez mas tal como a sociedade quer que ele seja Assim o ideal pedagógico deve ser construído tendo base em todas as características e comportamentos da sociedade vivenciada pelo individuo de forma em que o encaixe corretamente para a convivência social Durante a leitura fica massivo e repetitivo apenas enumerar os objetivos da educação e qual seria o papel do educador ao atingir desses objetivos falando também da importância da sociedade na definição dos objetivos e o livro é daqueles que trás a sensação de ler o mesmo capítulo mais de uma vez causando estranhamento e certa confusão Apesar desse fato a obra nos remete muito o tempo atual principalmente sobre determinados pontos de vista Um dos conceitos apresentado pelo autor é o da existência de um sistema educacional como instituição socializadora das novas gerações nos valores regras comportamentos e normas que caracterizam cada sociedade É verdade que todos os indivíduos nascem com capacidades inatas e com instintos próprios e que a partir do momento do nascimento começa o processo de socialização É necessário atribuir aos pais um papel importante na construção daquilo que Durkheim chama o ser social mas é uma ilusão pensar que podemos educar os nossos filhos como queremos Determinadas regras normas de comportamento princípios deverão ser transmitidas obrigatoriamente quer se goste quer não se goste sob pena de o indivíduo não conseguir viver em harmonia na sociedade em que se integra O ser social existe dentro de cada sociedade e age de acordo com aquilo que a sociedade define como sendo normal Muitos indivíduos fogem àquilo que é considerado normal e são excluídos socialmente dessa sociedade O normal segundo Durkheim é tudo aquilo que é aceito em sociedade são as regrasnormas morais e de conduta que a sociedade ditou que têm que ser seguidas e às quais o homem que vive nessa sociedade tem que se adaptar Isto é o que Durkheim considera o poder coercivo da sociedade sobre o homem 2 São estas normasregras que são ensinadas às crianças durante o processo educativo pelos pais e pelos educadores A partir disso ele infere e exemplifica que a educação variou muito de acordo com tempos e países Nas pólis gregas elatinas o que era ensinado visava à subordinação à coletividade Em Atenas a educação era pautada em buscar intelectos finos e sutis Em Roma o desejo era de que a educação estimulasse a gostar do que era militar e anular tudo o que envolvia letras e artes Apresentados esses exemplos o autor em questão ressalta que o ensino da história está aí para nos poupar da reprodução de erros já cometidos no que diz respeito à educação A educação sempre busca atingir a coletividade a partir de reconstruções individuais Seus meios métodos e fins tentam satisfazer ideias e sentimentos coletivos Apesar de a Psicologia ainda aponte ao pedagogo formas para agir sobre o indivíduo é apenas estudando a sociedade e seus comportamentos que ele vai encontrar os princípios para a sua investigação E a partir disto Durkheim chama atenção para o fato de que as profundas transformações sociais da contemporaneidade tiveram reflexo direto sobre os sistemas educacionais Para encerrar ele bate na tecla da necessidade de estudar a sociedade para que apenas após isso possamos então compreender a importância de uma cultura social para os educadores que os acompanhem de acordo com a sociedade em que vivem Para Durkheim a sociologia situa um corpo de ideias diretas e indiretas que formam a alma de nossas práticas Fazendo esse resumo que une a relação entre Educação e Sociologia essa última orientando a ação da primeira como atividade fundamental podemos perceber e destacar que os inúmeros aspectos que fazem parte da abordagem Durkheim o mais importante de todos é considerar a sociedade como base para compreender a educação é de suma importância assim como de uma necessidade indispensável para a compreensão da mesma RESENHA 2 Educação Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas Marx Durkheim e Weber Esse artigo foi idealizado para que pudesse existir uma comparação entre as teorias sobre educação de grandes nomes da sociologia mundial Embora Marx e Weber não se tenham se manifestado diretamente ao sistema educacional abordando apenas de maneira pontual visto que quando se estuda uma sociedade a educação é primordial Durkheim conseguiu de manifestar de maneira direta criando mais teorias e focando no âmbito da educação assim teremos grandes teorias unidas em prol de um conhecimento vasto Em sua teoria Karl Marx visualiza a a educação como um objeto de pesquisa que está inserida em uma sociedade que existe a luta de classes Antes de tudo é importante destacar que ele não elaborou uma teoria da educação não se dedicou Durkheim mesmo assim a sua obra nos deixou o legado de alguns princípios importantes que necessitam ser levados em consideração quando for preciso estabelecer uma prática educacional transformadora do contexto social no qual estamos inseridos o capitalismo Em uma de suas teses a Feuerbach Marx discursa que Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras mas o que importa é transformálo assim ele critica uma postura contemplativa da filosofia que apenas observava e nunca intervinha na realidade Para Marx é necessário que se estabeleça uma prática revolucionária uma teoria viva que passa a existir a partir da prática concreta da luta da revolução Para Durkheim existem diferentes tipos de Educação e não apenas uma Essas diferenças podem ser de âmbito regional ou global pois a educação foi feita apara atender as demandas sociais Assim como em lugares mais ricos a demanda de educação pareça ser maior os pobres também são educados da maneira deles para a sobrevivência em sociedade A Educação deveria formar o ser social já que o homem por natureza seria egoísta A Educação iria inserilo na sociedade já com sua mente preparada para seguir todas as regras e leis determinadas por esta mesma sociedade E essa Educação sempre seria voltada para a sociedade a qual pertencia e sempre repassaria valores dessa sociedade e de sua cultura vigente Um dos conceitos principais de Weber baseiase no fato que as motivações das ações dos indivíduos possuem um sentido determinado por seu autor o conceito de ação social Oposto a Marx e Durkheim ele não acreditava nos fatalismos externos e sim que todo ser humano era livre para agir e construir sua realidade e que caberia a sociologia entender os fatores que determinam essas ações ou seja Weber começou a estudar a individualidade dos seres Weber sem seus estudos não criar um padrão educacional apenas e exclusivamente apontava algumas questões que julgava importante como por exemplo ele acreditava que podíamos definir a Educação em três tipos principais a educação para o cultivo do saber racional para a burocracia e a carismática que contribuíram para que os indivíduos desempenhassem papéis sociais diferenciados e que dependendo da época um determinado tipo de educação era mais valorizado
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Educação Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas Marx Durkheim e Weber Paula Cristina Lopes Índice 1 A educação em Karl Marx 2 2 A educação em Émile Durkheim 4 3 A educação em Max Weber 8 Notas finais 10 Bibliografia 11 Resumo Educação sistemas políticas e proces sos educativos têmse tornado questões cen trais nas sociedades contemporâneas A dis cussão implica uma reflexão sobre o próprio conceito de educação na verdade os de bates contemporâneos neste âmbito podem já ser desvendados na tradição clássica Nem todos os clássicos da Sociologia deram par ticular relevo às questões relacionadas com educação Há três nomes incontornáveis neste domínio Karl Marx Émile Durkheim e Max Weber Embora Marx e Weber não se tenham debruçado explicitamente so bre os sistemas educativos e apenas tenham Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Autónoma de Lisboa Centro de Inves tigação e Estudos de Sociologia do ISCTEIUL Bol seira de Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia Email PaulaCristinaLopes isctept abordado a questão de modo ocasional in tegrando uma teoria geral Durkheim pro duziu uma série de documentos seminais da sociologia da educação Ao longo de uma carreira académica com mais de três décadas muitos foram os textos cursos e comunicações que gerou alcançando reco nhecimento não só como sociólogo mas tam bém como ideólogo da pedagogia Palavraschave Sociologia da Educação Teorias Sociológicas Clássicas Karl Marx Émile Durkheim Max Weber Abstract Education systems policies and educa tional processes have become central issues in contemporary societies The discussion implies reflecting on the very concept of e ducation In fact current debates in this area could already be seen in the classical tradi tion Not all the Sociology classics paid par ticular attention to educationrelated issues Three names are mandatory reading in this field Karl Marx Emile Durkheim and Max Weber While Marx and Weber did not ex plicitly grapple with educational systems and only occasionally addressed the issue as part of a general theory Durkheim produced a se 2 Paula Cristina Lopes ries of seminal papers in the sociology of e ducation Throughout his over threedecade long academic career he produced numerous texts courses and papers and became known not only as a sociologist but also as an edu cational theorist Keywords Sociology of Education Clas sical Sociological Theory Karl Marx Émile Durkheim Max Weber 1 A educação em Karl Marx1 A sociologia materialista histórica dialéctica de Karl Marx 18181883 é a sociologia da luta de classes a so ciologia das relações de poder no seio das sociedades capitalistas do estrutura lismo sócioeconómicopolítico Em pou cas palavras digamos que o marxismo é a sociologia do conflito isto é do antago nismo Aron 1991 181 As contradições da sociedade capitalista nomeadamente en tre classes entre forças e relações de pro dução e entre progressão das riquezas e miséria crescente da maioria conduzirão à crise revolucionária a revolução do pro letariado feita pela maioria em benefício de todos Na sequência e em consequên cia dessa revolução ocorrerá a supressão si multânea do capitalismo e das classes Aron 1991 147 A educação não é temática dominante na 1Karl Marx faz referência a educação nos do cumentos Manifesto do Partido Comunista 1848 Instruções aos Delegados do Congresso da As sociação Internacional dos Trabalhadores 1866 ou O Capital 18671894 por exemplo Para aceder a todos os documentos do autor sobre educação ou outras temáticas sugerimos a con sulta do sítio httpwwwmarxistsorg portuguesmarxindexhtm obra de Karl Marx Neste campo tal como em muitos outros o enquadramento fazse em relação ao seu desenvolvimento no pro cesso histórico das sociedades a concepção marxista de educação tem também por base o materialismo histórico A educação é uma forma de socializa ção de integração dos indivíduos numa so ciedade sem classes no contexto do materia lismo histórico No modelo marxista infra estrutural superestrutural dialéctico de relação recíproca a escola faz parte da superestrutura tal como o Estado ou a família por exemplo e a educação é assu midamente um elemento de manutenção da hierarquia social de controlo das classes dominantes sobre as classes dominadas isto é de dominação da burguesia sobre o pro letariado As ideologias que estabelecem as regras são as das classes dominantes dos ideólogos produtos típicos das universi dades burguesas Morrow e Torres 1997 25 As ideias da classe dominante são em todas as épocas as ideias do minantes ou seja a classe que é o poder material dominante da sociedade é ao mesmo tempo o seu poder espiritual dominante A classe que tem à sua disposição os meios para a produção material dispõe assim ao mesmo tempo dos meios para a produção es piritual pelo que lhe estão as sim ao mesmo tempo submeti das em média as ideias daque les a quem faltam os meios para a produção espiritual As ideias dominantes não são mais do que a expressão ideal ideell das re wwwboccubipt Educação Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas 3 lações materiais dominantes as re lações materiais dominantes con cebidas como ideias portanto das relações que precisamente tornam dominante uma classe portanto as ideias do seu domínio Os in divíduos que constituem a classe dominante também têm entre ou tras coisas consciência e daí que pensem na medida portanto em que dominam como classe e de terminam todo o conteúdo de uma época histórica é evidente que o fazem em toda a sua extensão e portanto entre outras coisas do minam também como pensadores como produtores de ideias regu lam a produção e a distribuição de ideias do seu tempo que portanto as suas ideias são as ideias domi nantes da época Marx e Engels 18451846 A Ideologia Alemã2 As ideias passadas pela escola burguesa à classe operária passadas ao proletariado por professores ao serviço da reprodução culturalsocial e neste sentido o educador tem ele próprio de ser educado3 criam uma falsa consciência de classe Para su perar essa tensão Marx apresenta várias pro postas dispersas por obras mais ou menos relevantes ao longo dos anos Em 1848 Karl Marx propõe um modelo 2Marx Karl Engels Friedrich 1845 A Ideologia Alemã Retirado em Setembro 7 2010 de httpwwwmarxistsorgportugues marx1845ideologiaalemaoecap2 htmi10 3Marx Karl 1845 Teses sobre Feuer bach Retirado em Setembro 7 2010 de httpwwwmarxistsorgportugues marx1845tesfeuerhtm de educação igualitário para todos os indiví duos no propagandístico Manifesto do Par tido Comunista No segundo capítulo do texto intitulado Proletários e Comunistas Marx defende que uma das medidas ine vitáveis como meios de revolucionamento de todo o mundo é a Educação pública e gra tuita de todas as crianças4 A educação reivindicada como direito pela classe ope rária institucionalizase como paradigma social Caminhase em direcção à universa lização e à massificação do ensino em di recção à educação de e para todos O modelo de educação preconizado por Marx é apresentado com maior detalhe no I Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores em 1866 O documento Ins truções aos Delegados do Congresso da AIT define o que se entende por educação numa perspectiva marxista Por educação entendemos três coisas 1 Educação intelectual 2 Educação corporal tal como é pro duzida pelos exercícios de ginástica e militares 3 Educação tecnológica abrangendo os princípios gerais e científicos de to dos os processos de produção e ao mesmo tempo iniciando as crianças e os adolescentes na manipulação dos instrumentos elementares de todos os ramos da indústria A divisão das cri anças e dos adolescentes em três cate 4Marx Karl Engels Friedrich 1848 Manifesto do Partido Comunista Reti rado em Setembro 7 2010 de http wwwmarxistsorgportuguesmarx 1848ManifestoDoPartidoComunista cap2htm wwwboccubipt 4 Paula Cristina Lopes gorias de 9 a 18 anos deve compreen der um curso graduado e progressivo para a sua educação intelectual corpo ral e politécnica Os custos destas es colas politécnicas devem ser em parte cobertos pela venda das suas próprias produções Marx 1978 223 O trabalho é em Marx um princípio e ducativo O homem total constituise a par tir da articulação ensino trabalho desde a infância a partir de uma preparação politéc nica para desenvolver o maior número pos sível de ocupações Aron 1991 169 Na base deste processo de preparação do indiví duo encontrase a tríade educação intelec tual educação física educação profis sional Nas Minutas das Sessões do Con selho Geral da Associação Internacional de Trabalhadores de 17 de Agosto de 1869 podem lerse algumas referências a este propósito o trabalho mental deve ser com binado com o corporal com a ginástica e a instrução tecnológica a educação deve ser nacional sem ser governamental pública por um lado é preciso uma mudança das circunstâncias sociais para criar um ade quado sistema de educação por outro lado é preciso um sistema de educação adequado para poder mudar as circunstâncias sociais5 dialéctica entre o social e o educativo en tre teoria e prática Como se depreende esta é uma formação para a acção de cariz político laico e público participativo de construção de melhores cidadãos Mais e ducação equivale a mais liberdade social 5Para uma leitura mais aprofundada cf Marx Karl 1869 On General Education Retirado em Setembro 7 2010 de httpwwwmarxists orghistoryinternationaliwma documents1869educationspeechhtm A educação tem por missão histórica a emancipação do homem a sua libertação praxis libertadora que levará à construção de uma nova ordem social O processo e ducativo deve ser entendido como o processo pelo qual os indivíduos produzem a sua e xistência homemcidadão sujeito produtor do seu próprio processo histórico numa perspectiva abrangente em vários sentidos e como meio de combate a uma alienação crescente típica das sociedades capitalistas A ideia de que a necessidade capitalista de uma força de trabalho mais flexível obriga à introdução da escolaridade básica pública e à constituição das escolas técnicas é também desenvolvida no primeiro volume da obra O Capital publicada em três tomos entre 1867 e 1894 Morrow e Torres 1997 25 A formaçãoinstrução do proletariado é a porta para o conhecimento mas também a porta para a transformação da sociedade Este é o carácter revolucionário da educação Santos 2005b a evolução é sempre um produto revolucionário A implementação da educação politécni caindustrial é outro dos paradigmas edu cativos em análise e discussão desde Karl Marx 2 A educação em Émile Durkheim6 A sociologia estruturalista funcionalista sistémica de Émile Durkheim 18581917 é a sociologia da objectivação do social da coisificação das relações sociais Cruz 6Os principais documentos de Émile Durkheim sobre educação são Educação e Sociologia A Edu cação Moral e A Evolução Pedagógica em França publicados em 1922 já após a sua morte pelo seu discípulo Paul Fauconnet wwwboccubipt Educação Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas 5 1989 XI Esta ciência autónoma e em pírica assente na teoria do facto social é a solução científica para decifrar o mundo Em poucas palavras digamos que é uma so ciologia do consenso e da ordem da coe são social da moral entendida como pro duto social Marx está para as relações de poder como Durkheim está para as relações de coesão social A sociologia durkheimiana ensina o respeito pelas normas colectivas Aron 1991 383 A teoria da educação durkheimiana inspirase na sua teoria sociológica geral Durkheim interessouse desde cedo pela educação enquanto objecto de estudo so ciológico pelo carácter socialhistórico do fenómeno educativo pelos métodos de educação de cada sociedade em determi nado período histórico pela forma como uma sociedade disciplina e integra através da educação pela forma como favorece a realização dos seus membros Foi o primeiro autor clássico a afirmar a educação como processo social como fenómeno social capaz de ser descrito analisado e explicado sociologicamente Sebastião 2009 23 como função essencialmente social Durkheim 2009 61 como coisa eminentemente social Durkheim 2009 94 Este clássico da pedagogia francesa teórico fundador da sociologia da educação considera que os fins da educação devem ser determinados pela sociologia A sua teoria define a educação como bem social A sociedade considerada como meio condiciona o sistema de e ducação Todo o sistema de edu cação exprime uma sociedade res ponde a exigências sociais mas tem também por função perpetuar os valores da colectividade A es trutura da sociedade considerada como causa determina a estrutura do sistema de educação e este tem por fim ligar os indivíduos à colec tividade e convencêlos a tomarem como objecto do seu respeito ou da sua dedicação a própria sociedade Aron 1991 374 Tal como vimos na proposta educativa de Marx também o modelo durkheimiano de ensino assenta na ideia de uma escolarização pública e laica embora defenda que a edu cação deva ser submetida à acção do Estado Durkheim não prevê a monopolização estatal do ensino o indivíduo é mais facilmente i novador do que o Estado Durkheim 2009 61 E tal como no marxismo está lhe subjacente uma teoria da reprodução Durkheim vê a transmissão do saber como modo de perpetuação da ordem social de re produção da organização social A educação tem uma função social colectiva Uma sociedade predominantemente caracterizada pela solidariedade orgânica assenta na di fusão de valores morais e na divisão do tra balho A consolidação deste tipo de soli dariedade passa pela difusão de uma edu cação secular e científica Sebastião 2009 25 educação que contribui para a coesão social através da inculcação moral e da qua lificação e redistribuição dos indivíduos pela estrutura social Sebastião 2009 28 Como salienta Ortega no texto La Educación como Forma de Dominación Una Interpretación de la Sociologia de la Educación Durkhei miana a escola configurase como institui ção total envolvente que possibilita a indi vidualidade apenas enquanto esta é uma ex pressão de uma função social concreta da wwwboccubipt 6 Paula Cristina Lopes posição ocupada dentro da divisão social do trabalho Ortega 1999 13 A proposta educativa de Durkheim as senta na socialização progressiva das no vas gerações como meio de preservar a or dem social a pedagogia reproduz a orga nização social Para que haja educação é pois necessário termos em presença uma geração de adultos e uma geração de jovens e uma acção exercida pelos primeiros sobre os segundos Durkheim 2009 49 Pela leitura da sua definição a fórmula de e ducação a educação é a acção exercida pelas gerações adultas sobre aque las que ainda não estão maduras para a vida social Tem por objecto suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físi cos intelectuais e morais que lhe exigem a sociedade política no seu conjunto e o meio ao qual se des tina particularmente Durkheim 2009 53 deduzimos a ampliação do conceito a e ducação é a acção exercida por pais e pro fessores sobre a criança é uma acção que ocorre ininterruptamente é uma acção que constitui a criança como um ser individual e nesta abordagem aproximase em ter mos de colaboração teórica à psicologia mas também como um ser social Durkheim afirma a existência no indivíduo de dois seres distintos embora separáveis apenas por abstracção o ser individual estados mentais particulares e o ser social sis tema de ideias sentimentos e hábitos que experimem o grupo ou grupos a que per tencemos O fim da educação é constituir esse ser social Durkheim 2009 53 A educação perpetua e reforça a homogenei dade entre os seus membros fixando com antecedência na alma da criança as simili tudes que a vida colectiva exige Durkheim 2009 52 Ela cria no homem um novo ser Durkheim 2009 54 o ser novo que a acção colectiva por via da educação edifica assim em cada um de nós representa o que há de melhor em nós o que há em nós de verdadeiramente hu mano O homem com efeito só é um homem porque vive em so ciedade Durkheim 2009 57 A educação é um processo de socializa ção constante do indivíduo que tem por fi nalidade fazer dele um ser verdadeiramente humano Durkheim 2009 59 um ser novo assegurando simultaneamente e em consequência entre os cidadãos uma co munhão de ideias e de sentimentos sem os quais qualquer sociedade é impossível Durkheim 2009 61 Há portanto uma dupla consequência a progressão indivi dual e a manutenção social Na sociolo gia durkheimiana entre sociedade e indi víduo não existe propriamente conflito pelo contrário sociedade e indivíduo são ideias interdependentes Do ponto de vista durhkeimiano o sis tema educativo deve ser meritocrático de expressão das capacidades individuais em bora reconheça o peso da herança cega mesmo que o percurso de uma criança não fosse em grande parte predeterminado por uma hereditariedade cega a diversidade moral das profissões não deixaria de arras tar consigo uma grande diversidade pedagó wwwboccubipt Educação Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas 7 gica Durkheim 2009 50 Neste par ticular como cada profissão é caracterizada por uma bateria de competências teórico práticas a partir de uma certa idade a educação não poderá manterse a mesma para todos os indivíduos aos quais se aplica Durkheim 2009 97 o que nos leva por um lado à ideia de uma crescente divisão do trabalho social e por outro à de uma cres cente especialização é a sociedade que para poder sub sistir precisa que o trabalho se di vida entre os seus membros e de uma forma mais do que de outra É por isso que prepara com as suas próprias mãos pela via da e ducação os trabalhadores especia lizados de que precisa É pois por ela e através dela que a educação é tão diversificada Durkheim 2009 98 O significado social do trabalho do edu cador também é abordado O professor laico deve acreditar na sua tarefa e na grandeza da sua tarefa já que ele é a voz de uma grande pessoa moral que o ultrapassa é a sociedade Da mesma forma que o padre é o intérprete do seu deus ele é o intérprete das grandes ideias morais do seu tempo e do seu país Durkheim 2009 69 Este intér prete deve atender à individualidade que há em cada criança e deve procurar favorecer o seu desenvolvimento interessante como também Marx abordou a questão embora de forma absolutamente distinta ao criticar a concepção burguesa de educação que na sua perspectiva não considera as crianças como seres concretos mas como seres abstractos Em vez de aplicar a todos de uma forma invariável a mesma regulamentação impes soal e uniforme deverá pelo contrário di versificar os métodos segundo os tempera mentos e as características próprias de cada inteligência Uma educação empírica maquinal não pode deixar de ser compreen siva e niveladora Durkheim 2009 84 Durkheim distingue educação de peda gogia A educação é a matéria da peda gogia a pedagogia é a reflexão sobre fac tos da educação é por assim dizer uma teo ria prática Na mesma linha conceptual de fine práticas educativas como modalidades da relação entre gerações que servem de objecto a uma ciência a ciência da edu cação As práticas educativas não são factos isolados uns dos outros mas para uma mesma sociedade estão ligados num mesmo sistema em que todas as partes con tribuem para um mesmo fim é o sistema de educação próprio de um lugar e de um tempo Durkheim 2009 75 As aspi rações ideais de uma sociedade que variam consoante o momento histórico que atra vessa traduzemse em doutrinas pedagógi cas que dependem também elas do estado do ensino em cada momento Só a história do ensino e da pedagogia permite determinar os fins que a educação deve seguir em cada momento o ideal pedagógico de uma época exprime antes de mais o estado da so ciedade na época considerada Durkheim 2009 89 A educação é assim na teoria durkhei miana um meio de autorenovação das so ciedades o cimento que une os indivíduos numa suficiente homogeneidade afirmando se simultaneamente a coexistência da diver sidade que assegura a manutenção a coesão social Para além da família por exemplo a escola é um dos pilares do processo de so wwwboccubipt 8 Paula Cristina Lopes cialização do indivíduo mas também uma das instituições mais poderosas de combate à anomia ao dispor de uma sociedade O seu papel central na integração sucessiva de cidadãos em dada comunidade está im plicitamente correlacionado com a sua cen tralidade enquanto motor e reprodutor de diferenciação social Os fins da educação são sociais os meios que emprega são sociais as necessidades a que responde são sociais Mas também morais a educação é um pilar basilar da construção e manutenção de uma comunidade moral As propostas educativas pedagógicas de Durkheim mantêm a actualidade há mais de um século como referencial teórico metodológico a nível de reflexividade social isto é de investigação das funções do sis tema educativo e dos processos educativos desenvolvida a um nível teórico eou em pírico ou de acção social implicada no curso histórico das sociedades particular mente na questão das políticas educativas e em concreto da educação para a cidadania 3 A educação em Max Weber7 A sociologia accionalista compreensiva interpretativa explicativa de Max Weber 18641920 é a sociologia da acção social dotada de sentido e de significado subjec tivo o sentido é interactivo porque tem sig nificado social é subjectivo porque indivi dual A sociologia de Weber é a ciência 7O pensamento de Max Weber sobre educação consta em textos como Ensaios de Sociologia A Ciência como Vocação Os Letrados Chineses Buro cracia ou Sobre a Universidade ou em discursos académicos como A Profissão e a Vocação de Cien tista A Profissão e a Vocação do Homem Político Universidade de Munique 1918 que se propõe compreender interpretativa mente a acção social para deste modo a ex plicar causalmente no seu desenrolar e nos seus efeitos Cruz 1989 584 a acção é o comportamento humano dotado de sentido subjectivo a acção social é a acção onde o sentido se refere ao comportamento à con duta de outras pessoas Há quatro tipos de acção a acção racional relativamente a um fim a acção racional relativamente a um valor a acção afectiva a acção tradicional a que correspondem três tipos de domi nação racional carismática tradicional Em poucas palavras digamos que a sociolo gia weberiana é a uma teoria racionalista da acção social dotada de intencionalidade sig nificativa Cruz 1989 XII Ao contrário de Durkheim que pretendia explicar factos sociais Weber procura cap tar para depois compreender e interpre tar conexões de sentido o conteúdo sim bólico nas acções dos indivíduos O en tendimento dos fenómenos sociais é pos sível pelo método compreensivo compreen der significa sempre apreensão interpreta tiva do sentido Weber defende a utiliza ção do tipo ideal o centro da sua dou trina racionalista O conceito de tipo ideal ligase à noção de compreensão ao processo de racionalização e à concepção analítica e parcial da causalidade Aron 1991 495 São exemplo de tipos ideais o capitalismo a democracia a sociedade a burocracia a lei Olhemos mais de perto o tipo ideal buro cracia é a organização permanente da co operação entre numerosos indiví duos exercendo cada um deles uma função especializada O buro crata exerce uma profissão sepa wwwboccubipt Educação Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas 9 rada da vida familiar desligada como poderíamos dizer da perso nalidade que lhe é própria Aron 1991 507 Ao contrário de Marx para Weber a ca racterística mais evidente da sociedade capi talista é a racionalização burocrática A es trutura social de poder assenta em três tipos de ordem a económica que se exprime nas classes a social que se exprime no status e a da luta pelo poder que se exprime nos partidos Tal como em Karl Marx a educação não é temática dominante na obra de Max We ber Na verdade a sua influência nesta área data de finais dos anos 60 início dos anos 70 do século XX e pode sistematizarse da seguinte forma Weber trabalha um modelo implícito de reprodução no âmbito da teoria da burocracia atribuindo ao Estado um pa pel de agente de uma racionalização societal global e de mediador de conflitos entre gru pos sociais Morrow e Torres 1997 27 A proposta weberiana possibilita a compreen são da dinâmica micro e macro do fenó meno educativo nomeadamente as suas re laçõesconexões com outras esferas do so cial instituições e grupos por exemplo A educação relação associativa como qual quer relação social modo de preparação dos homens para a vida social é para We ber tal como para Karl Marx um meca nismo que contribui para a manutenção de uma situação de dominação de um grupo em relação a outro na perspectiva webe riana seja a dominação racional carismática ou tradicional Os exames nas universi dades são exemplo dessa dominação obe diência Mas vai mais longe segundo We ber a ambivalência dos exames traduzse por um lado na selecção de indivíduos de classes sociais privilegiadas que vêm a ocu par posições privilegiadas na sociedade por outro esse sistema pode resultar na consti tuição e reprodução de uma casta privi legiada O diploma símbolo de prestígio social ao mesmo tempo que certifica a es pecialização dos indivíduos peritos abre portas à obtenção de vantagens económi cas e sociais por exemplo pelo ingresso nas instituições públicas e privadas e pela ocu pação de cargos nessas estruturas burocráti cas A selecção social é um elemento per manente na sociedade e a educação contribui para essa selecção social favorecendo o ê xito individual O diploma é um critério de selecção social A educação é portanto fac tor de estratificação social A escola é palco de relações de poder logo de dominação combina a dominação tradi cional com a burocrática No centro da pro posta weberiana está a identificação de três tipos de educação a carismática a huma nista de cultivo a racionalburocrática especializada Historicamente os dois pólos opostos no campo das finalidades educacionais são despertar o carisma isto é qualidades herói cas ou dons mágicos e transmi tir o conhecimento especializado O primeiro tipo corresponde à es trutura carismática do domínio o segundo corresponde à estrutura moderna de domínio racional e burocrático Os dois tipos não se opõem sem ter conexões ou transições entre si O herói guer reiro ou o mágico também neces sita de treino especial e o fun wwwboccubipt 10 Paula Cristina Lopes cionário especializado em geral não é preparado exclusivamente para o conhecimento São porém pólos opostos dos tipos de edu cação e formam contrastes mais radicais Entre eles estão aque les tipos que pretendem preparar o aluno para a conduta da vida seja de carácter mundano ou religioso Weber 1971 482 Os três tipos de dominação correspon dem aos três tipos de educação sendo que cada um deles é mais ou menos valorizado pelas instituições burocráticas políticaseconómicassociais em determi nada época a dominação carismática corres ponde à educação de carisma sendo identifi cada com a antiguidade a dominação tradi cional prendese com a educação human ista do homem culto sendo caracterís tica do patriarcalismo a dominação racional relacionase com uma educação racional burocrática do especialista e encontra se subjacente ao capitalismo As instâncias dominantes em cada período histórico par ticipam na definição das finalidades da edu cação Como sabemos o capitalismo é para We ber a forma mais elevada de racionaliza ção Numa sociedade capitalistaracional burocrática os indivíduos distinguemse pelas suas qualificações havendo neces sidade de funcionários especializados profissionalmente mais informados a e ducação é o elemento que contribui para a selecção social é um dos recursos possíveis para se manter ou melhorar o status e quanto mais reduzido for o grupo maior o prestígio social dos seus membros Também para Weber tal como para Durkheim a edu cação é um processo de socialização perma nente constante que para além da escola se consubstancia igualmente na família de reprodução e manutenção social A actualidade do pensamento weberiano é por demais evidente está presente no crescente processo de burocratização das so ciedades e das instituições dos processos e dos sistemas educativos está presente na necessidade de especialização nomeada mente tecnológica tendo no horizonte a so ciedade da informação ou do conheci mento está presente na diversificação de formas de educação traduzida em currícu los e políticas educativas renovadas a grande rotação Notas finais No pensamento marxista a educação é um espaço de reprodução ideológica dos inte resses da classe dominante a burguesia em Durkheim a educação é vista como ins tituição integradora essencial à ordem so cial na perspectiva weberiana a educação é fonte de um novo princípio de controlo en quanto racionalidade instrumental de domi nação burocrática Morrow e Torres 1997 24 Se em Marx a educação pode oprimir ou emancipar o indivíduo no sentido de li bertação em Durkheim a educação é o mecanismo pelo qual ele se torna membro de uma sociedade se torna um ser novo Weber vai mais longe a educação é factor de selecção e de estratificação sociais Marx e Durkheim centraramse no poder das forças externas ao indivíduo Weber centrouse na capacidade de acção do indivíduo sobre o ex terior Margaret Archer no texto The sociology of educational systems sintetiza numa ló wwwboccubipt Educação Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas 11 gica comparativa o pensamento dos três clássicos os três autores partilham uma orientação comum apesar das suas diferentes abordagens teóri cas Em primeiro lugar unanime mente trataram a educação como instituição social macroscópica e não como um amontoado de or ganizações escolas faculdades universidades ou como um con junto de colectividades profes sores alunos e directores nem como um aglomerado de pro priedades separadas inputs pro cessos outputs Em segundo lugar Marx Weber e Durkheim colocaram firmemente a institui ção educacional na estrutura so cial mais ampla e propuseram problemas interessantes sobre a sua relação com outras institui ções sociais economia burocra cia e acção política respectiva mente Em terceiro lugar todos os três perceberam que a posição da educação na estrutura social e sua relação com outras insti tuições eram a chave para com preender a dinâmica da mudança educacional Embora somente Durkheim tenha teorizado profun damente sobre os reais mecanis mos de desenvolvimento educa cional nenhum deles deixou dúvi das de que esta deveria ser uma parte integrante das suas macroteo rias para Marx a mudança e ducacional nasceu do jogo dialéc tico entre infraestrutura e super estrutura para Weber ela estava associada à dinâmica de burocra tização embora esta ligação es tivesse escondida em algum ponto decisivo para Durkheim ela es taria e deveria estar unida à acção política e deste modo ao de senvolvimento de uma sociedade orgânica integrada e normativa Archer 1980 234 Evidentemente o pensamento dos clássi cos condiciona enquanto pilar seminal re flexivo o pensamento dos contemporâneos Há algumas correlações lógicas embora não exaustivas a que une Marx a Althusser Establet e Baudelot Bourdieu e Passeron Dahrendorf a que une Durkheim a Par sons Merton ou Basil Bernstein mas tam bém LéviStrauss Saussure Barthes a que une Weber a Parsons Bourdieu e Passeron Boudon Só a partir da leitura das teorias clássicas da sociologia se poderá chegar a um entendimento mínimo do que foi e do que é pensar a educação Bibliografia Archer M 1980 The sociology of e ducational systems in T Bottomore S Nowak M Sokolowska Socio logy of the State of Art London Sage Publications Aron R 1991 As Etapas do Pensamento Sociológico Lisboa Publicações Dom Quixote Cruz M B 1989 Teorias Sociológicas Os Fundadores e os Clássicos Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian wwwboccubipt 12 Paula Cristina Lopes Durkheim E 2009 Educação e Sociolo gia Lisboa Edições 70 Marx K 1978 Crítica da Educação e do Ensino Lisboa Moraes Morrow R A Torres C A 1997 Teoria Social e Educação Uma Crítica das Teorias da Reprodução Social e Cultural Porto Edições Afronta mento Ortega F 1999 La educación como forma de dominación una inter pretación de la sociologia de la edu cación durkheimiana in M F Enguita Sociologia de la Educación Barcelona Ariel Santos B S 2005a A universidade no século XXI Para uma reforma democrática e emancipatória da univer sidade in Educação Sociedade Cul turas No 23 137202 Santos R 2005b Considerações so bre a educação na perspectiva marxista in Espaço Académico No 44 Ano IV ISSN 15196186 Sebastião J 2009 Democratização do Ensino Desigualdades Sociais e Tra jectórias Escolares Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian Weber M 1971 Ensaios de Sociologia Rio de Janeiro Zahar wwwboccubipt Esta e em grandes linhas a obra pedag6gica de Durkheim Para os educadores ela oferece uma doutrina original e vigorosa envolven do os principais problemas pedag6gicos Para os soci610gos ela es clarece as concepoes que Durkheim expos em outras obras so bre alguns pontos essenciais rela90es entre 0 indivfduo e a socie dade entre a ciencia e a pratica a natureza da moralidade e a do entendimento Sejam educadores ou soci610gos muitos eram os que aguardavam a publica9ao desta importante obra wwwvozescombr IIiEDITORA Y VOlES Uma vida pelo born livro vendosvozescombr m 0 C C l 0 l 0 m f 0 Q 0 5 Cl l m 3 II 0 c r II 3 EDUCACAO E SOCIOLOGIA 0 U u e UJ w 0 w I Z C5 z LL X w I Qual a relalfao entre Sociologia e Educalfao A oportuna ediao deste Iivro esclarece a importante contrlbullfao desta obra de Emile Durkheim para 0 esclarecimento da verdadelra natureza da educaao como fato eminentemente social Para estabeiecer fronteiras com a Biologia e com a Psicologia Durkheim pretende estudar as fatos da vida moral mediante urna cilncia positlva a Ciencia da Moral Por discordar dos auto res socialistas e por dlscordar da dialetica a sua proposta e a de conciliaao entre ciencia e moral para ele so aparenternente contraditorias Os fatos morais sao fatos socia is passiveis de observaao descrilfao e classlficalfao para se chegar as leis gerais que os expiquem Se a liberdade implica negaao de uma lei determinada pela sociedade ela e um obstaculo para a realizaao da ciencia positiva devendo ser negada Nesse contexto a EducaCao desempenha papel preponderante por constltuirse tai como a moral um fato social Sendo sua natureza eminentemente social e repousando sobre a base comum de fatos morais a Educalfao varia de sociedade para sociedade uma vez que cada uma constitui a especificidade na qual se forma para seu uso urn certo tipo ideal de homem Esse ideal e 0 exo educativ mediante 0 qual a sociedade prepara a criana instaurando pela educacao as condicoes ideals de sua existencia A educactao e vista entao como forma de civllizar 0 ser egoista e antlssocial que exlste na criana Atraves da educacao da crianca a sociedade cria e reproduz as condioes de sua propria existencia Francsea Eleodora Santos Severino Unisantos E OUCAAO E SOC IOLOGIA COLEAO rEXTOS F UNDANTES DE E OUCAGAO CoordeJnd01 Anttmio Joaquim Severino A mUlICo turbulenta Esudos sobre os retardame1JlOS e OJ ollomains do desenvovimento motor emelita Henri Wallon A reprodufrio Elemelllos para ullIa teoria do sistema de CflsitJo Pierre Buurclieu e JeanClaude Passeron 0 wme com um mundo estilhaJ A R Luria Do ao no pe1JsametJlO Ellsaio de psicgia compara Henri Wallon De 1lIogistro Samo Agostinho Eperiillda e rducollo John Dewey Psicogcllese e hist6ria das dindus Jean Piagcc c Rolando Garcia Educaiio e Socigja Emilc D urkheim Edut70 pam uma waedode em trrtmjonnaiio W II Kilpatrick Dudos Internacionais de Cataloguao na Publjcacao eIIJ Camara Hrasileira do Livro SP Brasil Durkheim Emile 18581917 Educa9uo c Sociologia Emile Durkheim rradu930 de Stephania Matousek Petr6polis RJ Vozes 2011 Coe9ao Textos Fundantes de Educa930 Titulo original Educarion et sociulogie ISBN 9788532624635 1 Sociologia educacion3 r T itulo 1011968 indIces para catalogo Slstematlcu 1 Sociulogia ambiental 30643 CDD30643 EM ILE DURIHEI M EOUCACAO E SOC10LOG1A Traduoao de Stephania Matousek Ib EDITORA Y VOlES Petro polis Direiws de publ icaao em lingua porrugllesa 2011 Editora Vozes Ltda Rua Frei L UIs 100 25689900 Perr6polis RJ Internee httpwvwvozescombr Brasil Titulo original frances EducatiON et sociJie Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta ubrl podera ser rcproiuzida Oll transmitida por qualquer forma cou quaisqller meios eletronico ou mccanico incluindu foroc6pia c gravaao ou arq uivada ern qualquer siscema ou banco de dados scm pcrmissao escrita da Ed itora Dirctor editorial Frei Am6nio Moser Editores AJ ine dos Santos Carneiro Jos6 Maria da Silva I fdio Peretti Marilac Loraine Oleniki Sccretano executivo 10ao Batista Kreuch Editortlpio Frci Andre Luiz da Rocha Henriq ues Plvjeto gnffico AGSR Desenv Gdfico Capo Maria foernanda de Novaes ISBN 9788532624635 ediao brasileira ISBN 2 13055329X cdiao francesa Edicado con forme 0 novo acordo ortografico Esre livro foi composto e impresso pela Editora Vozes Lda Rua Frci Luis 100 Petr6polis RJ llrasil CEP 25689900 Caixa PoStal 90023 TeL 24 22339000 Fax 24 22114676 SUMA RlO AjJrescl1tOiio ria cocelio 7 Antonio Joaquim Severino ftrodupo A obra pedag6gica de DurNteim 9 Prof Paul Fallconnet A educailo sua natureza e seu papel 43 11 As definioes da educa9ao examc crlrico 43 12 Oefiniilo da educaao 49 13 Consequencia da defi niyao anterior canttee social da educa9ao 54 14 0 papel do Estado em materia de Edlleaao 61 15 Poder da edueJ91io meios de aao 65 2 Natureza e metodo d Pedagogia 75 3 Pedagogia e Sociologia 97 APRESENTACAO DA COLECAO A hist6ria da cultura ocidental revelanos que educaao e filo sofia sempre estiveram juntas e pr6ximas numa relaao de vfn culo intrfnseco A filosofia sempre se constituiu vinculada a uma imen9ao pedagogica formativa do humano E a educa9ao embo fa se expressando como uma praxis social nunca deixou de refc firse a fundamentos filos6ficos mesmo quando fazia dcles uma utilizavao puramente ideologica Por isso mesmo a grande maio ria dos pensadores que construfram a culrura ocidcntal scmpre registrou essa produ9ao tc6rica em tcxtos dircta ou indircramen te relacionados a rcmatica cducacional discurindo seja aspectos epistcmologicos axiol6gicos ou antropol6gicos da educav3o Estc testcmunho da hist6ria ja e suficiente para demonstrar o quanto e necessaria ainda hoje manter vivo e atuante esse vinculo entre a ViS30 filos6fica e a intenC30 pedag6gica Vale di zer que e extremamente relevante e imprescindivel a formaC30 filos6fica do educador N o enmnro a experiencia cotidiana reve la ainda que em nossa cultura no que concerne a formaC30 e a aruaC3o desses profissionais ocorre separaC3o muito acentuada entre a filosofia enquanto fundamento te6rico do saber e do agir e a educaC3o enquanto saber ou pratica concretos E evi dente que essa pratica traz implicitos seus fundamentos filos6fi cos sem que deles tenha clara consciencia 0 educador Nao hi duvida de que al6m das deficiencias pedag6gicas e curriculares do pr6prio processo de formacao desses profissio nais tambem a falta de mediacoes e recursos culrurais dificulta 8 Colerao Textos Fundantes de Educarao muito a apropria9ao por parte deles desses elemeoms que daD conta da intima e relevante vincuia9ao da educay30 com a filo sofia Oaf a razao de ser desta cole9ao destinada a reeditar textos do pensamento filos6ficoeducacional que por variadas raz6es acabam se esgotando e tornandose inacessiveis as novas gera 9ues de estudantes e profissionais da area 0 objetivo desra co icr3o sera pois 0 de coiocar ao alcance dos estudiosos os textos fundamentais da rcftcxao filos6ficoeducacional desenvolvida por pensadores significativos que contribufram espccificamente para a compreensao filos6fica do processo educacional ao lon go de nossa hist6ria cultural Buscase assim toTnaf permanente urn precioso acervo de estudos de diversos campos cientfficos de alcance abrangente para a discussao da problematica educa cional dada a intima vinculavao entre a educayao e as cicncias humanas em geral AtJtotJio J Severino Coordenador da coleao INTRODUCAO A OBRA PEDAGOG1CA DE DURKHE1M Ao longo de sua vida Uurkheim ensinou a Pedagogia e a Sociologia ao mesmo tempo Na Faculdade de Letras de Bor deaux de 1887 a 1902 ele ministrou uma hora de aula de Peda gogia par semana Os ouvintes eram em sua maioria rnembros do Ensino Primario Na Sorbonne foi na cadeira de Ciencia da Educorio que em 1902 ele supriu a vaga de Ferdinand Buis son a qual de passou a ocupar definitivamente a partir de 1906 Ate a sua morte de reservou a Pedagogia pclo menos urn terco e muitas vezes dois tercos dessas aulas sess5es pllblicas con ferencias para os membros do Ensino Primario curso para os alunos da Escola Normal Superior Esta obra pedag6gica pcr maneee quase toda inedita Scm duvida nenhum dos seus ou vintes conseguiu abranger toda a sua extensao Gostarfamos de apresentaIa aqui brevemente I Durkheim nao dividiu 0 seu tempo e nem 0 seu pensamen to entre duas atividades distintas ligadas uma a outra de modo acid ental E pelo seu aspecro de faro social que ele aborda a educa930 sua doutrina da educavao e urn elemenro esseneial de sua Sociologia Soci6Jogo diz eIe e sobretudo enquanro soci6 logo que falarei a voces sobre educacao Alias nao acredito me 10 Colerao Textos Fundantes de Educaao expor aver e mostrar as caisas por lima perspecriva deformadora ao proceder assirn pais tenho certeza de que ao cOI1mirio nao existe metodo mais apto a ressaltar a verdadeira natureza das caisas p 98 A educacao e alga eminentemente social A observacao pode provalo Antes de tuda em toda socie dade ha tantas educa90es especfficas quanto meios sociais di ferentes E mesmo em sociedades igualinirias Como as nossas que rendem a eliminar as dife rencas injustas a cducacao va ria e deve necssar iamene variar de acordo com as profissocs Scm duvida wdas cstas cducalYocs cspccificas repOlIsam sabre uma hase comum Porcm csta cducacao comum varia de lima sociedade para ourra Cada socicdade alimenca urn ceno ideal humano E esre ideal que e 0 polo da edueaao p 53 Para caua socicuade a educarao e a rneia pelo qual ela prepara na coraao das criantas as condiGoes essenciais de sua pr6pria exis tcncia Assim cada tipo de povo possui uma educasao que Ihe 6 propria e que pade detiniIo ao mesmo tIUlo que a sua organi 7aao moral politica e religiosa p 104 A observaao dos btos conduz portanw a seguinre definisao A educasao e a aaa exercida pelas gerasoes adultas sobre aquelas que ainda nao es tao ITIaUras para a vida social Ela rem coma abjetivo suscitar e desenvolver na c riana urn certa numera de estados ffsicos intelectuais e morais exigidas tanto pelo conjunro da sociedade polftica quanto pelo meio especifico ao qual ela esta destinada em particular p 53 Em suma a educaao e uma soc iali zaao da geraao jovem cf p 53 109 Mas por que ha de ser assim necessariamente Porque em cada urn de nos podese dizer existem dois seres que em bora se mostrem inseparaveis a HaO ser por a b s traao nao dcixam de ser distintos Um e composto de todas os estados Educarao e Sociologia 11 mentais que dizem respeito apenas a nos mesmos e aos acon tecirnenros ua nossa vida pessoal eo que sc poderia chamar de ser individual 0 utrO e urn sistema de ideias sentimentos e habitos que exprime m em n6s nao a nossa personalidade mas sim 0 grupo ou os grupos diferentes dos quais fazemos parte tais como as crenras rcligiosas as crenas e praticas morais as tradioes nacionais au profissionais e as opini6es coletivas de todD tipo Esre conjulltO forma 0 ser social Constituir este ser em cada urn de n6s e 0 objetivo da educaao p 5354 109 Scm a civili zaao 0 homem seria apenas urn animal Foi aa ves da coo peraao e da tradisao sociais que 0 homem se tar nou homcm Moralidades linguagens religi6es e ciencias sao obras colctivas coisas sociais Ora e atraves da moralidade que o homcm cstabelece a fara de vontadc dcntro de si dominan do 0 descjo c a linguagem que 0 eleva acima da sensaao pura e primeiro nas religioes e depois nas cic ncias que se elaboram as no6es carucais das quais e feita a intel igencia propria men te humana Estc ser social J nao se cncona ja pronto na constituiyao primitiva do homem J Foi a pr6pria sociedade que a medida que ia se formando e se consolidando rirau do seu seio estas grandes furcas marais J Ao entrar na vida a criansa rraz apenas a sua natureza de indivfduo Portanto a cada nova gerayao a sociedade se encontra em presena de uma tabula quase rasa sobre a qual ela deve eonstruir nova mente f preciso que pclos meios mais capidos cia substitua o ser egaisra e associal que acaba de nascer par urn Hltro capaz de levar lima vida moral e social Esta e a ohra da cducaao J p 54 110 A hcreditariedade transmite os mecanismos instintivos que garantcm a vida organica e nos animais que vivem ern sociedadc uma vida social e bastantc simples Mas 12 Coteao Textos Fundantes de Educ3ao ela nao basta para transmitir as habilidades que a vida social do homcm supoe habilidades complexas demais para poderem materializarse sob a forma de predisposicoes organicas p 56 111 Por serem sociais as caracrerisricas cspecfficas que disdnguem 0 homcm sao uansmitidas por uma via social a e duca ao Para a mente acostumada a enxergar as caisas por esra pers pectiva esta concepao sociol6gica da natureza e do pape da educacao sc imp6e como uma COn53aao 6bvia Durkheim a considera como urn axioma fundamental p 99 Mais CX3 tamenre digamos que e uma vcrdade comprovada pcla cxpe riencia Quando nos posicionamos como hisroriadorcs vcmos c1arameme que a educarao em Espana era a civilizacrao lace demtmia crianclo espartanos para a p6lis lacedemtmia que a educaao ateniense nos tempos de Pericles era a civilizarao arcniense criando homens con formes ao ripo ideal de homem ral como Arenas 0 conccbia naquela epoca para a p61is arenien se e ao mesma tempo para a humanidade tal como Arenas a rcpresentava a partir de suas rela6es com cIa Basta antecipar o futuro para comprcender como os historiadores interpretaeao a educaao francesa no seculo XX mesmo nas suas tentativas mais audaciosamcme idealistas e humanitlrias ela e produto cia civ ili zaao francesa ela consiste em transmitiIa enfim ela busca ceiar homens con formes ao tipu ideal de hom em ao qual esta civilizarao aspira criar homens para a Franra e tHmbem para a humanidade tal como a Franra a represenra a partir de suas relaroes Com ela No enranto csta verclade evidente foi e m geraJ ignurada sobrerudo durante os ultimos s6culos Fil6sofos e pedagugos se concertam para considerar a Educarau como uma coisa emi EduC3ao e Sociologia 13 nentemente individual Para Kant escreve Dllrkhcim tanto para Kant quanta para Mill tanto para Herbarr q uanta para Spencer 0 objetivo da educacao scria antes de rudo realizar em cada individuo os atributos cunstitutivos cia espccie hu mana em geraJ elevandoos porem ao seu mais alto grau de perfeicao p 995 Comudo este concerto de opinioes nao equivale a lima presu ny30 de verda de lsto porquc sabemos que a Filosofia ciassica quase sempre esqueceu de considerar o homem real de lima epoca e de urn pais 0 unico concrc tamente observavel para especular sobre a natureza humana universal produto arbitrario de uma abstrarao fcita sem me todD a partir de urn numero bern restrito de amostras huma nas Atualmcnte admirese em geral que 0 sell caratcr abstratO diswrccu em larga medida a especulacao politica do seculo XVIII por exemplo individualista em cxcesso desatada de mais da hisria ela frequentemcnte legifera para urn homem de cOTIven9ao independence de qualquer meio social defini do 0 progresso que no seculo XIX as ciencias poHticas rea lizaram sob a inflllencia da hisr6ria e das filosofias inspiradas na hist6ria progresso em cuja direyao se orientam no final do seculo wcias as ciencias morais cleve pur sua vez ser rcaliza do pela Filosofia da Educaiio A educatyao c coisa social isw qucr tiizer que ela coloca a crianra em contata com urna determinada sociedade e nao com a sociedade in genere Se esta afi rmaao for verdadeira ela nao somente cleve comandar a reflexao especlilariva sobre a edu catao como tambem exercer influencia sobre a pr6pria ativi clade educariva Em realidade esta influcncia 6 incontestivel em direiw ela e com freqllencia contestaua Vamos examinar algumas das resistcilcias que a afirmaao de Durkhei 111 provoca quandu expressa 14 Coleao Textos Fundantes de Educaao Primciro se repercute a oposiao que sc pode chamar de unl vcrsitaria ou humanista Ela acusa a Sociologia de incentivar um nacionalismo esrreiw e rnesmo de favorecer as interesses do Estado e mais ainda dos de urn regime poifticQ em detrimen to dos da humanidade Durante a guerra com frequencia upu seram a Educa9ao germanica e a latina a primeira puramcntc nacional e visando somcme 0 beneficia do Esmdu e Csta ulti ma liberal e humana Scm duvida disserarn a edllcaao cduca a crian9a para a parria mas tOlllbim para a humanidadc Em SlIma de diversas formas estabelecese urn antagonismo entre as se guintes refmos educasao social educatao humana sociedade e humanidadc Ora 0 pensamento de Durkheim plana bem aci ma de objer0es deste genero Enquanto educador ele nunCa teve a inten ao de fazer os fins nacionais prevalecerem sabre os fins humanos Oizer que a educaao e coisa social nao significa formular urn programa de Educaao mas sim constatar LIm faro Durkheim sustenta este faro como vcrdadeiro em qualquer lu gar seja qual for a tendencia predominante aqui au la 0 cos mopolitismo nao e menos social do que 0 nacionalismo Exis rem civilizar6es que incitam 0 cdwador a elevar a patria acima de tudo olltras que 0 incitam a subordinar os fins nacionais aos humanos au melhor a harmonizaIos 0 ideal universalista csta ligado a uma civi li zaao sinrcrica que tende a combinar todas as outras Alias no mundo conremporaneo cada naao aprcsen fa 0 seu cosmopolitismo 0 seu humanismo proprio no qual se pode reconhecer 0 seu rem peramenro De raw qual e para n6s franceses do seculo XX 0 valor relativo dos deveres pcrante a humanidade e 0 dos perantc a parria Como eles pod em entrar em conflito Como se pode eonciliaIos Nobres e dificeis ques toes as quais 0 sociulogo nao resolve em proveiro do nacionalis Educaao e Sociologia 15 m definindo como ele 0 faz a educarao Quando elc abordar estes problemas suas maos estarao livres Reconhecer 0 carater social que rcalmenre pertencc a educarao nao diz nada sobre a maneira como scrao analisadas as foras morais que orientam 0 cducador em direr6es diversas ou opostas A mesma res posta vale contra as obje6es individualisras Durkheirn define a educaao como uma socializa9ao da crianra Mas entaO podcse pensar 0 que e feiro do valor da pessoa humana da iniciativa da responsabilidade do aperfeioamento proprios do indivfduo Arraigousc taO profundamente 0 habito de opor a sociedade c individuo que toda doutrina que use fre quentcmente a palavra sociedade parece sacrificar 0 individuo Aqui mais uma vez ha urn equivac Se ja existiu urn homem que foi um individua uma pessoa com tudo 0 que rermo im plica de originalidade criadora e resisrencia aos arrebaramentos coletivos este homem foi Durkheim E a sua doutrina moral corresponde tanto ao sell proprio cadCr que nao seria paradoxal dar a esta dourrina 0 nome de individualismo Seu primciro livro A divisiio do trobalho social propoe Oda uma filosofia da hist6ria na qual a genese a diferenciaao e a liberraao do individuo sur gem como 0 trao mais marcame do progresso da c i v ilizaao a exaltaao da pessoa humana como 0 seu resultado atua E esta filosofia da historia culmina na seguinte rcgra moral dcstaque se seja uma pessoa Como entao tal dautrina poderia enxcrgar na educaao urn processo qualquer de d cspersonalizaao Se criar uma pessoa constitui 3tualmente a objctivo da educaao e se educar consiste em socializar vamos porranro concluir que segundo Durkheim 6 possfvcl individualizar socializando Este e no rundo seu pensamcnto Podesc discurir sabre a ma neira como cle concebe a cducaao da individualidade Pocem 16 Coll30 Textos Fundantes de Educaao sua definicao de educa9aO provem de urn pensador que em ncnhum momento ignora ou subestima 0 papcl all 0 valor do indivfduo E e preciso dizer aos soci61ogos que e na analise da educacao de Uurkheim que eles pcrceberao melhor a essencia do seu pensamenco sobre as rcJa90es da sociedade e do indivi duo e 0 papel dos indivfduos dc elite no progresso social Por fim em nome do ideal podese tambem emergir uma resistencia ao realismo de Durkheim Ele ja oi acusado de hu milhar a razao c desalentar 0 esforyo como se ele fizesse a apolo gia sistematica de como e a realidade presente e permanecessc indiferente a como ela deve ser Para en tender como pelo con rario estc rcalismo sociol6gico lhe parece apto a dirigir a a98oO vejamos que ideia ele nutria a respeito da Pedagogia II Todo 0 ensino de Durkheim satisfaz uma necessidade pro funda do sell intelecto uma exigencia esscncial imposta pelo proprio espirito cientifico Durkheim sente uma verdadeira rcpulsa com relayao as constru9oes arbitrarias e aos programas de 39ao que traduzem somente as tcndencias de sells autores Rle precisa refletir sabre urn dado uma realidade observavel 0 que ele chama de coisa Considcrar as fatos sociais como coisas constitui a primeira regra do seu metodo Quando tomava a pa lavra sobre assumos relativos a moral ele primeiro apresentava fatos coisas e as seus proprios gestos indicavam que embora se tcatasse de coisas espirituais nao materiais ele nao se limita va a analisar conceitos mas aprcendia mOtrava e manipulava rcalidades A educa9ao c uma coisa ou em outras palavras urn faro Em realidade em todas as sociedades ele observa uma edueavao Conformemente a rradivoes h1biros regras expHci EdUCI30 e Sociologia 17 as au impllcitas em urn dctcrminado contexto de insritui90cS com uma aparelhagem propria sob a influencia de ideias c sen timentos colcrivos na Fran9a no seculo XX educadorcs edll lm e crianas sao cducadas Tuda isto pode sec dcscrito anali sado e explicado A 110910 de Ciencia da Educavao e portanw uma idcia completamente clara Ela desempcnha 0 importante papd de conhecer e compreender a realidadc Nao se confunde nem com a atividade efetiva do educador nem mesmo com a Pedagogia que visa a dirigir esra atividadc A Educa9ao e 0 seu objero por esa afirmayao devemos cntender nao que ela tenda aDs mesmos fins que a Educatao mas pelo cOI1ulrio que ela a supoe visco que a observa Durkheim nao contesta de forma algllma que esta citncia seja em larga medida de ordem psicol6gica Somente a Psi coiogia baseada na Biologia ampliada pel a Patologia permite compreender por que a crianca hllmana precisa de educacao em que ela se distingue do adulro como se formam e cvoJuem os sells senti dos memoria faculdades de associarao e de atcn Cao imagina9ao pensamento abstrato linguagem sentimentos carater for9a de vontade A psicologia da criang3 ligada a do homem adlliw c compJetada pela psicologia propria do educa dor constitui uma das vias pelas quais a ciencia pode abordar 0 estudo da edllca9ao Esta ideia e aceita universal mente Contudo a Psieologia e apenas uma das duas vias de acesso posslveis Quem a seguir exclusivamente se exponi a abordar SOrnente uma das duas faces do fato educa9ao Isto porque ob viamente a PsicoJogia e incompetente quando se deve dizer nao mais 0 que e a crianca qlle recebe eduCa9ao slla maneira es pecifica de assimilaIa e reagir a ela mas sim a pr6pria natUreza da civilizarao quc a educacao rransmite e a aparelhagem a qual 18 Colerao Textos Fundantes de Educaao ela reeoere para transmitjIa A Frana do seculo XX dispensa quarro Ensinos 0 Primario 0 Secundariu 0 Superior e 0 Tecni co cujas reJaoes nao sao as mesmas que na Alemanha Inglater fa a u Estados Unidos Seu Ensino Secundario se apoia no fran ces lnguas chlssicas IInguas vivas hisr6ria c cie ncias por volta de 1600 clc sc apoiava exclusivamente no latim c no grego na Idade Media na diai6rica 0 nosso en sino abrc cspao para 0 metoda inwirivo c experimental 0 dos Escados Unioos mais ainda enquanto que a Educaao medieval e humanista era ex clusivamente livresca Ora e claro que as institui6es escolares as disciplinas e as metodos sao faws sociais 0 pr6prio livro 6 urn fata social 0 culta do livro e 0 declfnio deste culta dependcm de causas socia is E diffcil ver como a Psicologia poderia concebc las A educatao fisica moral e inteiectual que Ufna sociedade oferece em um momentO de sua hist6ria e manifestamente da cumpetencia da Sociologia Para eswdar a educaao de forma cientifica como urn fato dado a observa930 a Soeiologia deve colaborar com a Psieologia Sob urn dos seus dois aspectos a Ci encia da Ed u eaao e uma ciencia sociol6gica Era a partir desta perspectiva que Durkheim a abordava Levado pela 16gica interna de seu pr6prio pensamemo ele estava ahrindo um novo caminho sendo 0 precursor e nao 0 imitador de dourrinas atualmente bastante em yoga as quais a dele ultrapassa em clareza e fecundidade A Alemanha eriou 0 termo Sozialpdtlagogik as Estados U nidos 0 termo Educatiol101 Sociology que maream indubitavelmente a mesma tendeneia1 1 NATORp Paul SozialfJiidagogiJ Theoric der Willenserziehung auf der Grundlage der Gemeinschaf 3 ed Sruttgm Frommann 1909 1 cd 1899 Cf as defi niocs da Fr1umliona SocigJ em MONROE Paul A cyclopedia of FdlJCJliolt l olno Nova York Macmillan 19 11 p 361 Educatao e ociologia 19 Porem sob estas palavras com freq uencia ainda sc misturam coisas bern disrimas Ha por exemplo de urn lado uma orien taao mais ou menos incerta no sentido do estudo sociol6gico da educafYao tal como Ourkheim a eoncebe e do Olltro lado um sistema de Educaao que se preocupa mais especificamente em preparar 0 homem para a vida social formar 0 cidadao StaolS blirgerliche E1Ziehullg como Kcrschensteiner2 0 chama A ideia americana de EdufXJtilai Sociology se aplica de maneira confusa ao estudo sociol6gico da cducaao e ao mesmo tempo a intro ducao da Sociologia nas salas de aula como materia de ensino A Ciencia tia Ed ucaao definida por Durkheim e sociol6gica em uma accpao bem mais clara do tenTIo Quanro ao que ele enrende por Pedagogia nao e nem a ati vidadc educativa propriarneme dira nem a ciencia especulativa da cd ucaao Trarase da reaao sisremhica desta iiltima sobre a primeira efejto de uma reflexao que busca nos resultados da Psicologia e da Socioiogia principios para a conduta ou reform a da cducafYao Assim concebida a Pedagogia poue ser idealista sem cair na utopia Que urn grande nurnero de pedagogos ilustres tcnha cedido ao esplrito de sistema atribufdo a educacao urn objctivo inaces sfvcl ou arbitrariamenre eseolhido proposw processos arrificiais Durkheim n a somenre naa 0 nega como tambem nos previne melhor do que qualquer um sohrc 0 perigo desta concepao A Sociologia cambate aqui 0 inimigo que cia esta acoswmada a encontrar em tad os os domfnios na moral na politica e mes mo na economia politica 0 cstudo cientifico das i n stitui6es foi 2 KERSCHENSTEINER Geore Der BegTif der sloatsbiirgerlicitm Entie 20 Coleao Textos Fundantes de Educaao prccedido por uma filosofia essencialmeme mtiicialista que pre tendia formular receitas para garantir aos indivfduos e aos povos o maximo de felicidade scm antes conhecer 0 bastante suas COI1 dit6es de exisc8ncia Nada pode sec mais conwhio aos habitus do soci61ogo do que dizcr de entrada vejam como se cleve eclucar as crianas fazcndo tabula rasa cia educaifao que Ihcs 6 realmen ce oferecida Estrmuras escolares programas de cnsi no mewdos tradicues habiws rendencias ideias e idcais dos professores sao faws cujas origens e evolUloes a Pedagogia busca descobrir lon ge de pretender mudar estes faws A Educ3cao francesa e ex trcmamente tradicional pOlleo disposca a se encaixar nas formas t6cnicas de merodos combinados cia da imenso credito as facul dades de intuicao taro iniciativa dos professores respeita a evo 1lJao livre da criana e ate rcsulta em grande parte nao da asao sistemitica dos professorcs mas sim da aao difusa e involumaria do meio Tudo ism e urn fato que apresenta causas e responde grosse modo as condisocs de existencia da sociedade franccsa Ponamo a Pedagogia inspirada na Sociologia nao corre risco de fazer a apologia de urn sistema duvidoso ou de recomendar uma mecaltiztJiJo oa erian9a que comprometeria sell desenvol vi memo espontanco Assim se anulam as objeocs de pensadores eminentes que se obstinam a opor Educaao e Pedagogia como se refletir sobre a aao exercida significassc necessariamente se condenar a dcformar esra acao Entretanto nao se deve concluir que a rcflcxao ciendfica seja praticamcntc esteril e que 0 realismo provcnha de urn espirito conservador que aceita pregui90samente tudo 0 que a realidade apresenta Saber para prever e prover ja dizia Augusto Comte da ciencia positiva De fatD quanto mals bern eonhecemos a natureza das eoisas mais chances temos de utilizala com eficacia Educaao e Sociologia 21 a educador e obrigado por exemplo a govcrnar a atCn9ao da criarwa Ninguem pode negar que ele a govcrnara rnelhor se eo nhecer a natureza dela mais exatamentc A Psicologia acarreta porcanto apljcaoes praticas cujas regras para a Educa9aO sao formuladas peJa Pedagogia Da mesma forrna a ciencia socio l6gica da educay3o rode aearretar aplica 6es praticas Em que consiste a laicizayao da moralidade Quais sao suas causas De onde vern as resistcncias que ela provoca Que dificuldades a edueavao moral deve veneer quando se dissocia da rciigiosa Problema manifestamente social e atual para as sociedaues con temponineas como contescar que urn estudo desinteressado so bre mesmo possa conduzir a formular regras pedag6gicas nas quais 0 professor frances do seculo XX ganharia em sc inspirar para a sua pdtica educativa As crises e conflitos sociais tern causas 0 que nao quer dizer que seja proibido buscar sardas e remedios As inst itui6es nao sao nem absolutamente ftexiveis e nem absolutamente refratarias a toda modificaao deliberada Adaptalas com prudencia aos seus pap6is respectivos adapta las umas as outras e cada uma dclas a civilizaao na qual se in corporam constitui urn bclo campo de aao para uma politica racional e quando sc trata de inscitui6es educativas para uma pedagogia racional ou seja uma pedagogia que nao seja nern conservadora c ncm rcvolucionaria eficaz dentro dos limites em que a a9ao dclibcrada do hOlnem pode ser eficaz Assim 0 rcalismo e 0 idealismo podem se conciliar Os ideais Sao realidadcs Par exemplo a Frana contemporanea tern urn ideal intclcetual ela concebe um tipo ideal de inteligencia e o propoc as crian as Porem este ideal e complexo e confuso Os publiciscas que pretendem exprimiIo em geral mOstram cada urn por sua vcz apenas uma das faces lim dos elementos 22 Co leao Textos Fundantes de Educarao elementos de origens idades e por assim dizer orientacoes di versas elementos solidarios uns para com certas tendencias so ciais outros para com tendencias diferentes au opostas E passi vel ratar este ideal complexo como uma caisa au scja analisar as seus componenrcs determinar sua genese suas causas e as necessidadcs as quais des correspondem Porem este cswdo inicialmente desintcrcssado e a melhor preparacao para a esco Iha que uma conscicncia scnsata pode desejar fazer entre os di versos programas de ensino concehfveis e as regras a seguir para aplicae 0 programa escolhido Podemos dizer 0 mesma mutatis mlllmldis sabre a educayao moral cas questues de detaIhe assim como sobre problemas de ordem mais geral Enfim a opiniao o legislador a administra9ao as pais e os professores devem a rem po todo fazer escolhas seja para reformar profundamente as insriruioes au fazelas funcionarem no cotidiano Ora eles trabalham numa materia resistente que nao sc ucixa manipular arbitrariamente meio social institlliyoes habitos tradiyoes e tcndencias eoletivas Enquanto depender da Sociologia a Pe dagogia sera uma preparaao racional para esras cscolhas Durkheim dava a maior impordincia nao somcntc enquanto intclcctual mas tambem como cidadao a esra conccpcao racio nalista da a9ao Embora osse hosril it agira9ao reformi sta que pcrrurba scm melhorar nada sobrerudo nas reformas negativas que dcsrroem sem propor algo novo ele carregava a acao nas veias No cnranto para que a aao osse fertil ele sustenrava que ela deveria envolver aquilo que e passivel limitado defi nido dcrerminado nas condi9oes sociais em que ela se exercer Dirigido a educadores 0 seu ensino pedag6gico sempre apre sentou urn cararer imediaramenre pr1rieo Absorvido em seus outros trabalhos ele nao teve tempo de se invcstir em pesquisas Educaao e Sociologia 23 puramcnrc especularivas sobre a eduea9ao Em suas aulas os as suntos sao abordados de aeordo com 0 metodo cienrifico definido ha poueo Porcm a cscolha dos mesmos e dirada pelas difieulda des pdtieas que 0 cducador publico encontra na Frana conrem poranea e e a conclusoes pcdag6gicas Clue 0 professor chega III Durkheim deixou eompletamenre rcdigido 0 manuSCflto de urn curso dividido em dezoito aulas sabre 0 ensino do moral no Escola Plimaria Vamos percorrer esta obra rapidameorc A primeira aula e lima introdUlao sobre a moral laiea Durkhcim define a rarefa moral que ineumbe ao professor na Franya con tcmpodinca para ele tratase de dar uma educaao moral laica e racionalista Esra laicizClao da moralidade e determinada por todo 0 dcsenvolvimento hist6rico Mas ela e diffei Na hist6ria da civilizacao a rcligiao e a moralidade sempre estiveram taO inrimamenrc ligadas que sua necessaria dissoeiaao nao poderia Scr uma operacao simples Se nos contentarmos em tirar todo conteudo religioso da moralidade acabaremos murjlandoa Isto porque a religiao cxprme do seu modo arraves de lima lin guagem simb6lica coisas verdadeiras Nao se deve perder csras verdades junto com os sfmbolos que sao rejeirados e preciso reeneonrr1las projetandoas no plano do pensamento laico Os Sistemas racionalistas sobretudo os nao merafisieos em geral apresentam uma imagem da moralidade simplificada demais Ao se tornar sociol6gica a analise moral pode fornecer uma base raeional nem religiosa e nem mcraflsica para uma moralidade rao complexa quanta a moralidadc rcligiosa rradicional e inclu sive mais rica sob certos aspectos al6m de chegar are as fontes das fonas morais mais cncrgeticas 24 Colerao Textos Fundantes de Educarao As aulas seguintcs se dividem em duas partes bern distintas plano que ilustra 0 que dissemos sabre a contribuitao que de urn lado a Sociologia e de outrO a Psicologia trazem a Peda gogia A primeira parte estuda a moralidade propria mente dita ou scja a civ ilizaao moral que a cducacao uansmire a criana tratase de uma analise sociol6gica A segunda estuda a nature za da criana que assimi lara csta moralidade aqui a Psicologia ocupa 0 primeiro plano As aim aulas que Durkheim dedicou a analise da moralidade constituem 0 que dc legol de mais completo sobre cste assun to visto que sua mOTte 0 interrompeu no momentO em que es tava redigindo para publicacrao ulterior os prolcgomenos de sua Mora Elas pod em ser comparadas com as paginas publicadas no Bulletin de la Societe Frallaise de Philosophie sabre A deter minaryao do faw moral nas quais e1e nao diseorre sabre deveres diversos mais sim sobre aspectos gerais da moralidade Em sua obra isw 6 equivalente ao que os 1l6sofos chamam de Moral Te6rica Entretando metoda que e1e apliea e inavador E fiei cmender como a Sociologia pode estudar 0 que de faw sao a famnia 0 Estado a propriedade 0 comrata Mas quando se tram do bem e do dever parece que nos enconrramos fjce a puros coneeitos e nau insriruiy6es e que se impue en taD urn metOdo de analise abstrata ja que a observaryao e ina plicavel Vejamos a perspectiva pela qual Durkheim borda a assuntO Scm duvida a educaao moral desempenha 0 papel de iniciar a erianya aos diversos dcveres e de suscitar uma a uma virtudes especificas Mas ela tambem desenvolve a aptidao ge ral a moralidade e as disposi 5cs fundamentais encontradas na raiz da vida moral al6m de constituir no espirito da erianya 0 agente moral disposco a tomar iniciativas das quais depcnde 0 Educacao e Sociologia 25 progresso Quais sao de faw na sociedadc francesa con tempo ranea os elementos do tcmperamento moral cuja realizaao eo objetivo ao qual deve aspirar a educacao moral geral Podemos descrever estes elementos e compreender a sua natureza e pa pel Em suma e esta descricao que forma 0 conteudo das marais ditas reoricas Cada fi16sofo define a sua maneira estes elemen tOS fundam entais mas mais construindo do que descrevendo Podemos refazer mesmo trabalho tomando como objew nao mais 0 nosso ideal pessoal mas sim a ideal que pertence de faro a nossa civilizaCiio Desta forma estudo da educaao moral nos permite apreender em meio aos faws as rcalidadcs as quais correspondem os conceitos bastante absrraros que os fi16sofos manipulam Ele habilita a ciencia dos modos c costumes a ob servar 0 que e a maralidade em seus aspectos mais gerais pois na educacao percebemos a moralidade no momenta em que ela se transmite e por consequencia distinguese com mais clareza das consciencias individuais em cuja complexidade ela esc ha bitualmente envolvida Durkhcim da enfase a tres elementos fundamentais da n05 sa moralidade 0 cspiriro de disciplina 0 de abnegasao e 0 de au Onamia A titulo de cxemplo cabe mencionar 0 plano seguido par Durkhcim para analisar a primeiro elemento 0 espfrito de disciplina C ao mesmo tempo a ciencia da e a simpatia pela regu laridadc e limitasao dos desejos Ele implica 0 respeito da regra que obriga 0 indivfduo a inibir impulsos e se esforsar Por que a vida social exige regularidade limitasao e esforco Alem disso como 0 indivfduo consegue afinal aceitar estas penosas exigen cias condic5es para a sua pr6pria felicidade Responder a estas perguntas equivale a dizer qual e a funsao da disciplina Como a sociedade pode estar apea a impor a disciplina e principalmente 26 Coleao Textos Fundantes de Educarao despertar no individuo 0 scntimenro do respeito devido a au wridadc de urn imperativo caregoricQ que surge como trans cendente Responder a esta perguma equivale a reftetir sabre a naUreza da disciplina e sell fundamento acional Enfim por que a regra pode e deve ser concebida como independente de qualquer simbolismo religioso e mesma metafisico 0 que esta laicizaao da disciplina modi fica no pr6prio conteudo da ideia de disciplina naquilo que ela exige e permite Aqui associ a mos a natureza e fun9ao da disciplina nao mais as condi9oes da civiliza9ao em geral mas aquelas especfficas da cxisrencia oa civiiiza9ao em que vivemos E buscamos saber sc 0 espfrito de disciplina que pr etence a nels franccscs 6 rcalmcntc rudo aqui 10 que de cleve sec sc nao csta ratologicamcnte enfraquecido c COffiO a cducacao respcitando os sellS carateres pr6prios pode mclhorar a nossa moralidade nacional Uma ana lise simetrica pode ser aplicada a todD espfrito de abncgacao 0 que e e para que serve este ultimo tanto do ponto de vista da sociedade como do do indivfduo A que fins n6s franceses do seculo XX devemos nos dedicar Qual e a hie rarquia destes fins de onde vern como podem conciliar seus antagonismos parciais Mesmas questoes com 0 espirito de autonomia A analise deste ultimo elemento e parricularmente ferril pois se trata aqui de urn dos aspectos mais recenres da moralidade 0 mais caracteristico da moralidade laica e raciona lista de nossas sociedades democraticas Hastam estas observacoes sumarias para notar uma das prin cipais superioridades do metodo seguido por Durkheim Ele conseguc mastrar toda a camplexidade roda a riqueza da vida moral riqueza feita de oposicoes que nao podem ser amalgama das apenas parcialmenre em uma sfnrese harmoniosa riqueza Educaao e ociologia 27 taO abundante que nenhum individuo por maior que seja a sua grandeza pode algum dia aspirar a carregar dentro de si rodos estes elementos no mais alto grau de desenvolvimenro que adngirem e realizar assim inregralmenre somenre para si roda a moralidade Pessoalmente assim como Kant Durkheim foi antes de tudo urn homem de vontade e disciplina Eo aspecro kantiano da moralidade que ele ve primeiro e com mais c1areza E ja quiseram afirmar que segundo ete a cocnao era a unica arao que a sociedadc cxcrcia sobre 0 individuo Sua verdadcira doutrina e infinitamcnte mais comprccnsfvel c talvez nao haja nenhuma filosofia moral que se assemelhe a ela neste ponto Ele demonstrou muito bern por exemplo que as forras morais que cornpeiem e mesmo agridem a natureza animal do homem tam bern exercem neste iltimo uma atrarao uma seduao E a estes dais aspectos do fato moral que ambas as noroes de dever e de bem respondem Para estes dois polos se orientam duas ati vidades marais distintas das quais nem uma nem outra e indife rente ao agente moral bem constiruido mas que dependendo de qual delas prevalecer distinguem os agenres morais em dois tipos diferentes 0 homem do sentimenro e do enrusiasmo no qual domina a aptidao a generosidade e 0 homem da vonta de mais frio e austero no qual domina 0 espfriro de regra Os pr6prios eudemonismo e hedonismo ocupam urn lugar na vida moral e preciso dizia urn dia Durkheim que haja epicurianos Assim disparates e mesmo contrarios se misturam na riqueza da civilizaao moral riqueza que a analise abstrata dos fil6sofos esa geralmcnre fadada a empobrecer porque tende por exem plo a deduzir a ideia do bern da do dever conciliar os conceitos de obrigaao e autonomia e reduzir assim uma realidade bastan te complexa ao conjunto 16gico de algumas ideias simples 28 Colerao Textos Fundantes de Educarao As nove aulas que formam a segunda parte do curso abor dam 0 problema propriameme pedagogico Foram enumerados e definidos os elementos da moralidadc que devemos constituir na criana Como a narufeza desta ultima se presta a receb Ia Que reCUfSOS engrenagens e tam hem obstaculos sao encontra dos pclo ed ucador Os drulos das aulas ja apomam a dire9ao do pcnsamento a disciplillu f a psicgia do erialfa primeif a dircipltllo escoar a pellolitladee as recompeflsas escolares em scgui da 0 altruismo lIa clianya c a itfi uencia do meio escolar nu jOrtJlO tio do espirito JadcI e por fim a influencia geml do ensino das ciencias letras histdria oa propria moral e tambem da culwra estetica na j01lJ1afiO clo espirito de autotJOmia A autonomia 6 a atitude de uma consciencia que ace ita as regras porque rcconhece que elas sejam racionalmeme fun damemadas Ela sup6e a aplica3o livre porem met6dica da imeligencia no exame das regras ja prontas que a c riana rece be primeiro da soeiedade na qual eia esta crescendo Longe de aceiniIas passiva rnente a criana deve pouco a pOlleo aprender a animalas coneil iaIas eliminar ou reformar sellS elementos obsoletos para adaptaIos as condioes de cxistencia cambiantes da sociedadc da qual ela acaba se tornando um membro ativo Durkheim diz que e a ciencia que confere allconomia Sornentc ela ensina a reeonhecer 0 que e fundam entado na natureza das coisas natureza ffsica mas tamb6m moral Someme ela ens ina a reconheeer 0 que e inelutavcl modificlvel normal quais sao afinal as limites da a9ao eficaz para melhorar a natureza tanto flsiea q uanta moral Oeste ponto de visra todo ensino tern urn destino moral desde 0 cnsino das ciencias cosmol6gi cas ate c sobretudo 0 ensino do pr6prio homem pela Hist6ria e Sociologia E e assim que hoje a cduCOfiio moral completa Educarao e Sociologia 29 demanda um eflsillo da moral duas coisas que D urkheim dis tingue clarameme embora a segunda sirva para completar a primeira PareceIhe indispensavei mesmo na Escola Primaria que 0 professor ensine a criana 0 q ue sao as sociedades onde ela esd destinada a viver amflia corpora9ao na9ao comunhao de civi li zaao que tcnde a incorporar a humanidade imeira cornu elas se forma ram e se transformaram q ue aao elas exereem so bre 0 individuo e que papcl estc ultimo desempcnha nelas Do curso que cle ministrou varias vczes sobre este Fnsino do moral na Escola Primalia possufmos apenas rascunhos de redaao ou pianos de aulas Neles Durkhei m mostra aos professores como e posslvel traduzi r adaptandoos as inteIigcncias infantis os re sultados do que ele chamava de Fisiologia do direito e dos cos tumes ou seja a vll i ga ri zaao da ciencia dos costumes a qual alias ele dedicou a maior parte de seus livros e aulas IV A EducOfiio ifltelectualna Escola Primdria e 0 tema de u ma aula eompletamente redigida em paralelo a que diz respeito a educaao moral e construida mais ou menos a partir do mes ffiO plano Durkheim nao a considerava satisfat6ria ele semi a a dificuldade de afinar 0 seu trabalbo E que 0 ideal intelectual da nossa democracia esta menos definido que a seu ideal mo ral seu estudo cientffico roi menos bern pre parada e a assumo e mais novo Aqui mais uma vez ha duas partes com orienta90es dife remes uma esta virada para 0 objetivo visado e a outra para os meios empregados a primeira exige que a Sociologia defina 0 tipo intelectual que a nossa sociedade se esfor9a para realizar e a Outra interroga a L6gica e a Psicologia para saber que beneficio 30 Coecao Ttxtos Fundantes de Educarao cada disciplina forneee que recursos engrenagcns c rcsistcn cias 0 intelecto da crianca apresenta ao educador que uabalha para realizar este tipo Denue as aulas puramente psicol6gicas vamos ressaltar someme as que refletem sabre a aten930 elas demonstram 0 que Durkheim era eapaz de fazer quando se de diea va i Psieologia Para designar a E ducaao intelectual prima ria urn objetivo determinado Durkheim estuda as origens e a maneira como de faw 0 Ensino Primario romou consciencia de sua natureza e pa pel proprius E le se desenvolveu depois do Ensino Secundario c se definiu em cerra medida em uposicao a dc E oa ohra de dois de seus principais iniciadores Comenius e Pcstaiozzi que Durkhcim busca desvendar 0 sell ideal em gestaeao Ambos se perguntaram como urn ensino podia ser ao mesmo tempo cnci clopedieo e basico dar lima ideia do todo formar uma mente justa e equilibrada ou seja uma mente eapaz de aprecnder a realidade inteira sem esquecer nenhum elemento essencial mas tambem se dirigir a todas as crianas sem excCao das quais a maioria devera se contentar com noroes sumarias faceis de assimilar com rapidez Ao interpretar criticamente as tentativas de Comenius e Pestalozzi Durkheim elabora a sua detinirao do ideal a ser realizado Assim como a moralidade a intelec tualidade requerida aos franceses contemporaneos exige deles um ceno numero de aptidoes mentais essenciais Durkheim as chama de calegonas noc6eschave centros de inteligibilidade que sao as estruturas e instrumentos do pensamento 16gico Emendase por categoria nao someme as foe mas mais abstea ras do pensamemo a nOtao de causa ou substancia mas tam bem as ideias mais ricas em conteudo que peesidem a nossa interpretaao do real a nossa imerpretatyao atual tlossa ideia do Educaao e Socioiogia 31 mundo fisico lJOJIa idcia da vida IJOJsa ideia do homcm por exemplo Esras catcgorias nao sao inaras ao intelecto humano Elas possuem lima hist6ria e foram consruidas poueo a poueo ao longo da evolutyao da civilizacao Na nossa civilizacao isto se deu atraVes do desenvolvimento das ciencias fisicas e morais Um born intelecto e um inrelecto cujas ideias mestras que re gulam 0 exercicio do pensamenro estejam em harmonia com as ciencias fundamentais tais como elas estao atualmeme consti tuidas munido desta maneira este imelecto pode trabalhar em meio a verdade tal como n6s a concebemos Portamo e preciso ensinar a criana os elementos das ciencias fundamemais OU melhor das disciplinas fundamemais uma vez que a Gramatica e a Histuria por exemplo tamb6m cooperam exrremamente a formaao do entcndimcnw J unw com tantos grandcs pcdagogos Durkheim rccomcnda portanw 0 que chamamos atrav6s de urn tcrmo barbaro de cul tura onllal formar 0 cspirico e nao preenchelo Nao 6 pOT sua utilidade que os conhccimencos valem em primeiro lugar nan ha nada menos utilinl rio do que esta conceprao da instruCao Porem seu formalismo e original e se op6e claramentc ao de urn pensador como Montaigne e ao dos humanistas Dc faw a transmissao de urn saber positivo do mestre ao aluno e a assimi laao pel a criana de uma materia the parece ser a condityao para uma verdadeira formacao intelectual E faeil ver a razao disto a analise sociol6gica do entendirnento provoca consequendas pe dagugicas A rnem6ria a atentyao e a faculdade de associarao sao disposity6es congenitas na criantya que se desenvolvem quando exerciradas e some nte no comexto da experiencia individual seja qual for 0 objeto ao qual estas faculdades se aplicarem As ideias diretrizes elaboradas pel a nossa civilizacao sao pelo 32 Coleao Textos Fundantes de Educaao conmirio ideias coierivas que devem sec rransmitidas a crian a pais e1a nao saheria eJaboralas sozinha N inguem rei nventa a ciencia com a sua cxpcricncia pr6pria ja que ela e social e nao individual c ja que ela se aprende Sem duvida ela nao e transvasada de uma mente para DUtra eo pr6prio vasa ou seja a intcligcncia que se cleve modelar pela e a partir cia ciencia Assim em bora as ideias diretrizes sejam farmas nao e passivel transmitiIas vazias Augusto Cornte ja dizia que nao se pode estudar a J6gica sem a ciencia 0 metoda elas ciencias sem sua dOlltrina iniciarse ao sell sistema sem assimilar alguns de sellS resultados Durkheim tambem pensa que e preciso aprcndcr caisas adquirir sabecloria abstratao feita ate do valor cspccffico dos conhecimencos pais estes ultimas estao neccssariamcnrc envolvidos nas or mas constitutivas do entendimcmo Para observar Uda 0 que Durkheim tira dcstcs pri ndpios seria preciso eotrar nos dctalhes da scgunda parte do curso no qual ele estuda succssivamcntc a didatica de alguns ensinos fundameotais a Matcmatica e as categorias de numero e forma a Ffsica e a notao de realidade a Geografia e a notao de meio planetario a Ilist6ria e as n090es de tempo e desenvolvimento hist6ricos lista cnumcrayao ainda esta incompleta Em seus outros escritos Durkheim abordoll a educayao J6gica atraves das Ifnguas dando apenas exemplos Alias seria necessaria a colahora9ao de cspccial istas para seguir em detalhe toclas as consequencias didaticas dos principios estabelecidos Vcjamos por exemplo a noao de tempo hist6rico A hist6 ria co dcscnvolvirnento temporal de sociedades humanas Mas esrc tempo ultrapassa infinirameme os tempos que 0 individuo conhece os tempos que ele vivencia diretamenre A hist6ria nao pode fazer sentido para uma mente que nao possua uma certa Educaao Sociologia 33 represcnta9ao dcste tempo hist6rico lim born intclecto 6 nota velmente um inteiecto que a posslla Ora sozinha a crianya nao e capaz de construir esta represeotaao cujos elementos nao Ihe sao forneddos nem pel a sensaao e nem pela mem6ria indivi dual Portanto e preciso ajudaIa a constrll fIa Na verdade esta e uIlla das funcoes que 0 ensino da Hist6ria desempenha Mas cle a desempenha podese dizcr involllntariamente E digno de nota que 0 mesue raramente sinta a inanidade das daras e a necessidade de trabalhar sistcmaticamente para Ihes dar urn sig nificado Ensinase ii criana batal ha de Tolbiac ano 496 Como a crianta poderia ver urn sentido preciso nesta data tendo em vista que a representacyao de urn passado mesmo pr6xirno ja lhe e tao dificil E necessaria tOdo um trabaIho cujas eta pas poderiam ser as seguintcs dar a ideia de urn seculo acreSCen tando uma a outra 0 perlodo de reS ou quauo geraoes come a ndo poc exemplo pela da era crista e explicando por que 0 nascimento de Cristo foi escolhido corno origem Entre 0 ponto de partida e a cpoea awal demarcar 0 tempo com pomos de rc ferencia concretos como a biografia de persona gens ou evcntos simb6licos Constituir assim lim primeiro esquema cllja Uama sera POLICO a pouco consol idada Em seguida mostrar que 0 pon to inicial de nossa cra e convencional que existem olltras eras Outras hist6rias difcrentes da nos sa que estas eras pertenccm a urn perfotlo ao qual a cronologia humana nao se aplica mais que os primciros tempos permanecem obseuros para n6s etc Quao pOlleos dcntre n6s lembram erem reeebido de seus pro fcssores de Hisroria aulas inspiradas em tais principius E claro que com 0 passar do tempo adquirimos as nooes mencionadas nao se pode dizer que salvo exceao elas enham sido metod i camcnte constitufdas Urn dos resultados essenciais do cnsino 34 Coleao Textos Fundantes de Educarao da Hist6ria e portanto mais ou menos obtido de fata sem seT c1aramcntc pcrcebido nem intencionado Ora a brevi dade da Educatao Primaria cxige que se busque alcanar as objetivos sem rodeios sc esta Educaao quiser ser plena mente eficaz Padese dizcr que atc os dias atuais 0 ensino da Gramatica e da Literatura e 0 unico que cnha tido plena consciencia de seu papell6gico ele ensinaporaonltor us conhecimentos que ele rransmite sao voluntariamente utilizados para a constirui9ao do entendimento Em certa medida 0 cnsino da Matematica se atribui 0 mesmo papel no enranto aqui a funao educativa e criativa dos conhecimentos com frequcncia jd e perdida de vista e as conhecimentos passam a ser aprcciados por si mes mos Vese que a didarica de Durkheim se asscmclha a de Her barr mas com inovaC6es Bern siruada na historia das domrinas pedag6gicas ela parece resolver 0 conftito do ormoliJmo e de seu conrrario a oposicao do saber e da cultura Ela fornecc 0 princfpio que sozinho permire superar as dificuldades cm meio as quais se debar em os nossos Ensinos Prirnario e Seeundario presos entre as aspica6es enciclopedicas e 0 legftimo senti men to dos perigos que elas engendram Cada uma das disciplinas fundamentais implica uma filosofia latente au seja urn siste ma de noyoes cardeais que resumem 0 aspectos mais gerais das coisas tais como n6s as concebemo e que coman dam a intcrpretayao delas E eS3 filosofia fcmo do trabalhado acu muladu por gerayoes que se deve transmitir a cr iana pais e1a constirui a pc6prio esqueleto da inteligncia Filos6jieo c bdsieo nao sao tecmos que se excluem muito pelo contririo 0 ensino mais basi co deve sec 0 mais filos6fico Mas e 6bvio que o que chamamos aqui de filosofia nao deve ser expos to em uma forma abstrata Ela deve emanar do ensino mais familiar Educatao e oclologia 35 sem nunca ser formulada Pacem para emanar assim e preciso primeiro que ela 0 inspire v A Edl1caao inre1ectual basica sc divide em dois tipos En sino Prima rio para a massa e Scclindario para a elite E a Edu caao da elite que suscita na Frana contemporanea as prohle mas mais embaraosos Hi mais de urn secuIo 0 nosso Ensino Secundario vem atravessando uma crise cuja soluyao ainda sc mostra incerra Podese falar sem exagero sobre a questao so cial do Ensino Secundario QuaJ e exaramente a sua natureza eo seu papel Que causas determinaram a crise em que csta ultima consiste de faro como se pode prever a sua solucao F a estas quest5es que Durkheim dedicou uma de suas mais belas aulas sabre A floupio e 0 popel do Ellsllo SeclInddrio tlfJ Frrwo de a ministrou varias vezes e deixou duas reda9ues cornplctas dela Ele as havia comeado a pedido do Reitor Liard que quis organizar pela primeira vez urn ensino pedag6gico para futuros professores do Ensino Secundario Oestinado aus candidatOs de wdas as modalidades da agregayao ranto cientfficas quantO li terarias e1e tinha como objetivo na concepyao de Durkhcim despertar em rod os e ao mesmo tempo 0 sentimenro de tarefa comum sentimento indispensavel se quisessemos que discipli nas diversas contribuissern para urn ensino que assim como a mente que cle forma deve apresemar uma unidade E provclvel que as fmuros professores do Ensino Secundario sintam lllll dia por si mesmos a necessidade de refletir metodicamente sob a direao de urn mestre sabre a natureza e a funyao especfficas da 3 lhnase de urn dos concursos para professor da Frana INC 36 COleiiO Textos Fundantes de Educaao instituisao que eles devem manter viva E neste dia a li ao de Durkheim surgini como 0 guia mais seguro para esra reAexao Sell autor considerava que as pesquisas que havia efe wado e a docum c ma ao que havia consultado eram insarisfar6rias em va rios pontOs Antes de julgar a ohra nao se pode esquecer que ele dedicou somcntc urn ou dois anus de trabalho a este vasto as sunto Desra forma csta aula e urn modelo incompanlvel do que a aplic3ao do metoda socio16gico as coisas da Educ39ao pode engendrar Eo lll1ico exempl0 complcto que Durkheim deixou da anal ise hist6rica de urn sistema de instituiocs escolares Para saber 0 que e 0 Ensino Sccundario awal da Iran9a Uurkheim observa como ele se formou As cstruturas datam da Idade Media periodo no qual foram instauradas as univcrsida des E no seio da universidade atraves do confinamento pro gressivo nos colegios do ensino dado na Faculdadc de Arres que 0 Ensino Secunda rio nasceu diferenciandosc do Ensino Superior Assim suas afinidades pod em ser explicadas urn prc para para Outro 0 ensino dialetico e na ldade Mcdia a pro pedeutica geral pois a dialetica e en taO 0 metodo universal ensino formal cultura geral rransmitida atraves de uma discipli na bastante especffica ele ja possui as aspectos que ao longo de toda a sua hist6ria Ensino Secundario mantera PorCI11 cm bora as estruturas estejam constituidas desde a Idade Media a disciplina educativa muda no seculo XVI a L6gica e substitufda pclas humanidades grecolatinas Originario do Renascimento na frana 0 humanismo foi posto em pratica principaliYlenre pe los jcsuftas Eles impregnaramno com sua marca pr6pria e em bora SellS rivais como 0 Orat6rio PorrRoyal e a universidade wnham remperado a sistema deles foi 0 modo como os jesuicas imerpreraram 0 humanismo que foi pOT excclc ncia 0 cducador Educaao e Sociologia 37 da mente ciassica francesa Em nenhuma sociedade europeia a inftuencia do hllmanismo foi excillsiva atraves de algumas de suas caracterfscicas dominances 0 nosso espirito nacional se ex prime no e ao mesmo tempo resulta do humanismo com suas qualidades e defeitos No en tantO sobretudo a partir do secuio XVIII OlltraS tendencias sc manifestam a pedagogia dim realista ataca 0 hllmanismo Ela prirneiro produz dUlltrinas sem exercer a3o imediata nas instituioes escalares Dcpois ela cria jun to com as Escolas Ccntrais da Canven3o um sistema escolar completamentc novo cuja duraao e efemera E 0 seclllo XIX faz 0 antigo e 0 novo sistema se enfrentarem sem conseguir eliminar nenhum dos dois e nem conciliaIos definitivamente E e este conAito que ainda buscamos superar Ao permitirnos compreendeIo a hist6ria nos da armas para resolveIo VI Em geral 0 ensino pedag6gico anre lim amplo espao a his tdria crftica das doutrinas da educaao Durkheim reconhece a importaneia dcste esrudo ao qual sc aplicou durante um born tempo Nas duas aulas sobre a Educasao intelectual Primaria e Secllndaria ele introduz a hist6ria das dolltrinas a de Comenius entre olltras chamau sua lte nao Elc deixou pIanos e notas de aulas que formam uma hist6ria das principais dourrinas pedag6 gicas na Frana desde 0 Renascimento La Revue de Afetaphysi qlle et de Alorale publicou 0 plano dctalhado de suas aulas sobre jeanJacques Rousseau Por fim cle redigiu inregralmente urn curso dc urn ana inreiro sobre Pestalozzi e Herbart Vejamos aqui somcnte que metodo ele scguiu Primeiro d e discingue claramencc a hist6ria das teorias da edu cacyao e a da pr6pria educ3ao Com frequcncia se faz confusao 38 Colecao Textos Fundantes de Educalao entre as duas Trarase entretanto de duas coisas fao distintas quanto a hist6ria da Filosofia Polftica e a das institui96es poli tieas Seria preferivel que nossos educadores conhecessem me lhor a hist6ria de nossas instituiroes escolares e nao pensassem como acontece de fato que a conhecem atraves de Rousseau ou Montaigne Em scguida Durkheim aborda as doutrinas como faws e e a educatao do espirito hist6rico que de tern a inten9ao de alcan 9ar aD estudalas Normalmente e de forma bastante difcrente que elas sao cxaminadas Iomemos como exemplo os livros de Gabriel Compayre manuais chissicos de hist6ria da Pedagogia familiares a todos os nossos professores Apesar de seu nome nao sao hisrorias propria mente ditas Eles sem duvida prestam servivos mas lembram de modo lamenravei uma cerra concep vao da historia da Fiiosofia felizmentc obsoleta Parece que os grandes pedagogos como Rabelais Montaigne Rollin e Rous seau surgem ai como colaboradores do tc6rico que atualmen te busca definir a doutrina pedagogica Tcmse a impressao de que h1 uma verdadc pedag6gica eterna valida de forma uni versal da qual eles haviam propos to concep9oes aproximativas Na doutrina deJes buscase separar 0 joio do trigo sustentar os preceitos utilizaveis atualmente pelos mcstres rejeitar seus paradoxos e erros A critica dogmatica suplanta a hist6ria e 0 elogio au a condena9ao a explicayao das ideias 0 residuo e 0 proveito intelecrual sao bastante escassos Nao 6 atraves do eon fronto dialetieo das teorias do passado teorias mais imbuidas dc intuiyoes confusas do que construidas de forma cientifiea que se tern chance de claborar uma doutrina salida e feeunda na pritiea Acantece habitual mente de os pedagogos de segun da categoria ec1eticos moderados e cujo raciocfnio e bastante Educalao e Sociologia 39 fraco resistirem bern melhor a esta critica do que as mentes de primeira categoria 0 bornsen so de um Rollin se mostra mais vantajoso quando comparado as extravaganeias de urn Rous seau Se a Pcdagogia Fosse uma ciencia sua hist6ria apresenta ria urn estranho aspecto a genialidade a teria conduzido em erro na maior parte das vezes ao passo que a mediocridade a reria manti do no caminho cerro Decididamente Durkheim reconhece que se possa buscar identificar atraves de uma discussao crftica os elementos de verdade contidos em uma doutrina No prefaeio que escreveu para 0 livro p6stumo de Hamelin 0 sistema de Descmtes ele ex pos urn metoda de imerpretayao tanto hist6rico quanto crftico o qual ele pr6prio aplicou ao estudo de PestaJozzi e Herbart Ele admirava 0 pensamento consistente e profundo destes grandes iniciadores e longe de ignorar a sua fecundidade pergumavase se as vezes nao Ihes atribula algumas das ideias cujos primei fOS cantoroos ele acreditava encontrar ern suas obras Porem seja qual for 0 seu valor dogmjxico Durkheim procura identi ficar nas doutrinas sobretudo as for9as sociais que inspiram urn sistema de Educa9ao ou trabalham para modificalo A hist6ria da Pedagogia nao e a hist6ria da educayao pois as re6ricos nao expressam exatamente 0 que de faw ocorre e nem 0 que de fato ocorrera Contudo as ideias tambem sao fatos e quando tern grande repercussao faws sociais 0 prodigioso suces so de Emflio deriva de causas diferentes da genialidade de Rousseau ele manifcsta tendencias confusas porem ener gicas da sociedadc curopeia do seculo XVIII Hi pedagogos Conservadores tais como Jouvency e Rollin que refletem 0 ideal pedag6gico dos jesuftas au da universidade do seculo XVII E principal mente visto que as grandes doutrinas se 40 Coleao Textos Fundantes de Educatao prolifcram em epocas de crise ha pedagogos rcvolucionarios que traduzem coisas coletivas essenciais para 0 observador e qua se impossfvcis de observar diretamente aspira90es idcais em gesta930 rebeliocs contra institui90es que se tornaram obsocras Durkheim estudou dcste ponto de vista por exernplo as ideias pedag6gicas do Renascimcnto e distinguiu melhor do que qual quer urn antes dele as duas grandes correntes predominantes a que atfavessa a obra de Rabclais e a autra bastante diferente apesar de sua misrura parcial que atravessa a ohra de Erasmo Esa 6 em grandes lin has a obra pedag6gica de Durkheim Este resumo basta para mostrar a sua cxtensao e as estreitas re la90es que ela mantem com 0 conjunto de sua ohra sociol6gica Para os educadores ela oferece uma dourrina original e vigo rosa envolvendo os principais problemas pedag6gicos Para as soci610gos ela esclarece as concepoes que Durkheim exp6s em outras obras sabre alguns pontos csscnciais rela5es entre 0 individuo e a sociedade entre a cicncia c a pratica a natureza da moralidade e a do entendimento Scjam educadores ou soci6 logos muitos sao os que desejam que csta obra pedag6gica nao permane9a inedita Vamos rentar publicar as principais aulas o pequeno volume que estamos lancando hoje Ihes servi ra de introdu9ao Reirnprimimos aqui apenas os estudos peda gogicos que Durkheim ja havia publicado4 Os dois primeiros reproduzem os artigos Education e Pedagogie do Nouveau 4 Cabe no emamo mcncionar 1 0 artigo Enfance no DictiolJltaire de Ptdflfofie que Durkheim assinoll em colaborayao com Buisson 2 A paJestra sobre EducalioTl sexlIele feita na Societe Fran9aise de Philosophie Butelirt que se assemelha sobretudo aos rrabalhos de Dllrkheim sabre a familia e a casamenw 0 estudo p6stuTlla sabre Emflio publicado na Revue de Mftaphysique el de A4amle t XXVI 1919 p 153 nao pode ser separado de urn outro suhre 0 cOlltrata social nesta mesma revista t xxv 1918 Educaao e Socioiogia 41 Dictionnaire de Pedagogie et dftlstruction Primaire publicado sob a direcao de E Buisson Paris Hachette 1911 e 0 terceiro e a aula dc aberrura que foi dada quando Ourkheim tomou posse de sua cadeira na Sorbo nne em 1902 e que foi puhlicada no nu mero de janeiro de 1903 da Revue de MitajJhysique et de Morale Algumas paginas sao redundantes Nos dois primeiros eStli dos ha inclusive decalques textuais do tercciro Mas pensamos que remanejar 0 original ocasionaria mais inconvenientes do que algumas repeti6es Paullaucollllet 1 A EOUCACAO SUA NATUREZA E SEU PAPEL 11 As definiyoes da educaiio exarne critico A palavra ectucaClo ja oi empregada com urn sentido bas rante vasto para designar 0 conjunto das influencias que a natureza au os DUUDS homens padem exercer sabre a nossa inteligencia au vOl1tade Stuart Mill diz que ela compreende tuda 0 que fazemos por conta pr6pria e tuda 0 que os DUOS fazem para n6s com 0 objetivo de nos aproximar da perfeiao da nos sa natureza Em sua acepyao mais larga ela compreende inclusive os efeitos indiretos produzidos no carater e nas fa culdades do homem por coisas cujo objetivo e compieramente diferente leis farmas de governo artes industriais e mesma faws fisicos independentes da vontade do homem ais como o clima 0 solo e a posiao local Porem esta definicao en globa fatos bastante dispares que nao podem ser reunidos sob urn mesmo VOClbulo sem dar lugar a confus6es Em funao de seus procedimentos e resultados a aao das coisas sobre os homens difere muito da que provem dos pr6prios homens e a acao entre hom ens pertencentes a mesma faixa eniria difere da que os adultos exercem sobre os mais jovens 0 que nos interessa aqui e somente esta ultima a qual por conseguinte Convem reservar a palavra educacao 44 Colerao Textos Fundantes de Educarao Mas em que consisre esta aao sui gtlleris A esta pergunta ja foram dadas respostas bastamc difcrcnrcs que podem se dividir em dois ripos principais Segundo Kant 0 objetivo da educ3yao c descnvolvcr em cad a jndivfduo Qda a perfei9ao da qual ele 6 capaz Mas 0 que se deve enrender por perfeiyao Ja foi frequentemente dito que se trata do desenvolvimenro harmonica de todas as faculdades humanas Elevar ao ponto mais alto passive I Ddas as pmencia lidades que se encontram dentro de 116s realizaIas de forma tao complera quanta passivel mas sem deixaIas prejudicarem umas as outras naa e Lim ideal acima de qualquer autro Mas embora em cena medida ele seja de faro necessaria e desejavei este desenvolvimento harmonica nao e totalmente realizivel pois ele contradiz uma outra regea da conduta huma na que nao e menos imperiosa e a que faz com que nos dedique mos a uma taeefa especifica e restrita Nao podemos nem deve mos wdos nos devatur au mesmo genero de vida dependendo das nossas aptidoes temus funoes diferentes a desempenhar c 6 precisu estar em harmonia cum aquela que nos incumbe Nem rodos nus fomos feiros para reHetie sao precisus humens de sensaau e a9ao Ao conmirio ao precisos outros cujo traha lho seja pensar Ora 0 pcnsamenro s pode se desenvolver ao se desprender do movimcnro recolhendosc em si mcsmo e desviando 0 sujeito cia aao exterior para que e lc mergulhe por complero em sua pr6pria mente Oaf uma primeira distinao que nao se da scm uma ruptura de equilfbrio E assim como o pensamento a asao por sua vez pode adotar uma multipli ciclade de formas diferentes e especfficas Scm duvicia csta especiaiiza9ao nao excl ui uma ccrta hase comum e por eonse guinte uma cerra oscilaao tanto clas fun90es orgfinieas quanto Educaao e Sociologia 45 das psiquicas oscila9ao sem a qllal a saude do individuo bern como a coesao social estariam comprometidas Nao e menos verdade porem que a harmonia perfeita nao pode ser apresen tada como 0 objetivo final da conduta e cdllCaao Ainda menos satisEn6ria 6 a definiao lltilitarista seglmdo a qual a educayuo teria como objeto transformar 0 individllo em urn instrumento de felicidade para si mesmo e sellS scme Ihantes James Mill pais a felicidade 6 lima coisa essencial mente subjetiva que cada urn estirna da sua maneira Com tal formulay8o 0 objctivo da educ1cao permanece portanw inde terminado bern como a propria educayao que fica submetida a arbitrariedade individual E verdade que Spencer tenmu dennir a felicidade objetivamente Para ele HS condic6es da felicidade sao as mesmas da vida A felicidade plena e a vida plena Mas o que se deve enrcndcr por vida Quando se trata sornente da vida fisica podese mencionar aquila cuja ausencia a irnpos sibiliaria ela impliea de faro 11m cerm equilibrio entre 0 or ganismo e seu n1eio e ja que os dois termos relacionados sao dados definiveis 0 mesmo deve valer para a reia9ao entre eles Po rem s6 se pode exprimir assim as necessidades vitais mais irnediatas Ora para 0 hamem e sobretudo para 0 homem de hoje esra vida nao e a vida Esperamos da vida outra coisa a16m do funcionamento mais ou menos normal de nossos 6rgaos Urn individuo culto prefere laO viver do que renuneiar aos prazeres da inreligencia Ate do ponto de visea arenas material tudo 0 que excede estritamene necessario foge de qualquer tentati va de determinacao 0 standard of life como dizem os inglescs au seja 0 padrao de vida 0 minimo ao qual podemos conscnrir varia infinitamente de aeordo com as cond i6es os meios c os tempos 0 que ontem aehavamos que era suficiente nos parece 46 Cofeao Textos Fundantes de Educacao hoje oao cstar a alwra cia dignidade humana tal como a sen timos no momenta presence e welo leva a crer que as nossas cxigcncias oeste POntO 56 faraD aumentar Esbarramos aqu i na condenaao geral a que todas estas de finioes se expoem Elas partem do postulado de que ha uma ed ll caao ideal perfeita valida sem distin9ao para toelos os ho mens e e esta educaao universal e unica que u tc6rico tenra detinir Mas primeiro se a hist6ria e levada em consiucrarao nada que confirme tal hip6tese pade sec encontrauo A cuuca rao variou muito de acordo com os tempos cos palses Nas polis gregas e latinas a ecluc39ao ensinava 0 indivfduo a sc subordinar cegamente a coletividade tornafse a coisa oa socicdacie Hoje ela tenta uansformalo em uma personalidade autonoma Em Arenas buscavase formar intelecws finos pcrspicazes sutis amames de proporau e harmonia capazes de g07ar da beleza e clos prazeres da pura investigaJo em Roma dcscjavase antes de Udo que as crianas se tornassem homcns de a3o apaixo nados pela gl6ria militar indiferenres a tudo 0 que envolve as letras e artes Na Idade Media a cducaao era acima de mdo crista no Renascimento cia adquirc urn canitcr mais laico eli renlrio hoje a ciencia tcnde a wmar 0 lugar que a arte oeupava antigamente Podese redarguir que faro nao corresponde ao ideal que se a eduCa9Jo mudou 6 rorquc os homens se enga naram sobre 0 que ela dcvcria ser No entanro se a edueaao co mana tivesse sido marcada por lim individua lismo parecido com o nosso a polis romana nao tcria podido se manter a civilizasao latina e consequemcmcme a moderna que ern parte deriva da quela nao teriam podido sc constituir As sociedades cristas da Jdade Media nao teriam podido sobrevivcr sc tivessem concedi do a reAexao livre a impurtaneia que Ihc damos hoje Existem Educarao e ociologia 47 portanro neeessidades ineluniveis que e impossivcl abstrair lJe que adianta imaginar uma edueaeao que seria fatal para a soc ie dade que a coloeasse em pdtica Este pr6prio postulado aparentemente incomestavcl re pOllsa sobre urn erro de ordem mais geral Se comearmos a nos pergumar assim qual deve ser a educaeao ideal abstracao fcita de toda condiCao de tempo c lugar isto significa que admitimos de modo implicito que urn sistema educativo nao e por si mcs mo nem urn poueo real Acabamos nao venda urn conjunto de praticas e instituic6es que se organizaram lemamente ao longo do tempo que saO solidarias com wdas as ourras instituicoes sociais exprimindoas e que por eonscguinte bern como a pr6 pria estrurura da soeiedade nao podem ser modifieadas a vonta de Parece que estamos diante de urn plIfO sistema de eonceitos concretizados que a este titulo impliea apenas a lagiea Podese imaginar que homens de todas as cpoeas 0 organizam volunta riamente para alcancar determinado fim que se esta organiza cao nao e a mesma em todo lugar 6 porque houve urn engano com reia930 a natureza ou do objetivo que con vern buscar ou dos meios que permitem atingiIo Oestc ponto de vista as edu eac5es do passado surgem como erros totais ou pareiais Nao se deve partanto levalas em conside raao nao somas obrigados a assumir os erros de observacao ou de 16giea dos nossos prede cessores mas podemos e devemos abordar 0 problema sem lidar com as soluoes encontradas anteriormcnre au seja deixando de lado tudo 0 que foi feito devemos nos perguntar somente 0 que deve ser feito a ensino de hist6ria pode no maximo seNir para nos poupar a repetiao de eeros ja cometidos Parem na verdade cada sociedadc eonsiderada em deter minado momento de seu desenvolvimcmo tern um sistema de 48 Co leao Textos Fundantes de Educaao educatao que se impoe aos individuos com uma fora gcralmcn te irresistlvel Naa adianta crer que podcmos CdUCaf os nossos tilhos como quisennos Hi costumes aos quais somos obrigados a nos conformar se os transgrcdirmos demais eles acabarrl se vin gando nos nossos filhos Uma vcz adulws estes tiltimos acredi rarao nao poder viver em meio aos sellS contemporaneos com os quais nao cstarao em harmonia Pouco importa se foram cTiadas com idcias arcaicas ou avanradas demais tanto em um easo como no outro cles nao terao condic6es de viver uma vida normal Por tanto em qualquer epoca existe urn ripe regulador de educacao do qual nao pademos nos distanciar sem nos chocarmos com vi gorosas resistcncias que escondem dissidencias frustradas Ora nao fomos n6s individualmente que invemamos os COStumes e ideias que dererminam esre ripo de educarao E les sao 0 produto da vida em comum e reflerem suas necessida des Em sua maior parte eles sao inclusive fruto das geracoes anteriores Todo 0 passado da humanidade contribuiu para ela borar este conjunro de maximas que dirige a educaao de hoje nela esta gravada teda a nossa hist6ria e mesmo a hist6ria dos povos que nos precederam Este mecanismo e similar ao dos arganismos superiores que carregam como que 0 ceo de teela a evolu9ao biol6gica da qual eles sao 0 resultado Quando se estuda historicamente a maneira como os sistemas de educaao se formaram e se desenvolveram percebesc que eles sempre dependeram da religiao da urganizacao polftica do grau de desenvolvimento das ciencias du estado oa indllstria etc Se forern desconecrados de codas as causas histjricas cles se corna rao incompreensiveis Como entao 0 individuo pode pretender reconstfuir somente a partir de sua reflexao pcssoal 0 que nao e fruto do pensamenro individual Ele nao se encontra diantc de Educaao e Sociologia 49 uma tabula rasa sabre a qual poded edifiear a que quiser mas sim de realidades existenres as quais ele nao pode nem criar nem destruir nem transformar a vontade Ele s6 pode influen cialas na medida em que aprender a conhedlas e souber qual e a sua natureza e as condi6es das quais elas depend em e s6 conseguira saber cudo isto se seguir 0 seu exemplo se come9ar a observaIas como 0 ffsico 0 faz com a materia bruta e 0 biolo gista com as seres vivos Alias como proceder de ourra forma Quando se quer deter minar 0 que deve ser a educa9ao unicamente atraves da dialeti ca e preciso comear estabelecendo que fins ela deve ter Mas que nos permite dizer que a educacao tern tais fins e nao outros Nao sabemos aptian qual e a funao da respira9ao ou da circula crao no ser vivo Que privilegio faria com que soubessemos me lhor 0 que diz respeiro a fUI1cao educariva Pudese responder que obviamente ela rem como objetivo criar as crianas Mas isto equivale a colocar 0 problema em termos quase iguais e nao resolvelo Seria preciso dizer em que eonsistc csta criacao aquilo a que ela tendc que necessidades humanas cia satisfaz Ora s6 se pode responder a tais quesroes comeando par ob servar em que ela consistiu e que necessidades cia satisfez no passado Desra forma ntm que seja apenas para constituir a no ao preliminar de educa9ao e determinar a coisa que se chama assim a observa9ao histurica surge como indispensavel 12 Definiao da educaao Para definir a educ3cao e preciso portanto levar em consi deraao os sistemas educativos que existcm ou que ja exisriram camparalos e identificar as aspectos em comum A reuniao des tes aspectos consrituinl a defini9ao que buscamos III 50 Coleao Textos Fundantes de Educaao Ao longo do nosso caminho ja determinamos dais ele mentos Para que haja edllcaao 6 preciso que uma ge raao de adultos e uma de jovens se encomrcm face a face e que uma aao seja exercida pelos primeiros sabre os segundos Resranos defin ir a natureza desta aao Nao existe por assim dizer nenhuma sociedade em que 0 sistema de educaao nao apresente urn duplo carater ele e ao mesmo tempo singular e multiplo Ele 6 multiplo Ue faro em certo senti do podcse dizer que em tal sociedade hCt tantos tipos quanto meios de cducacao di fcrentes Tal sociedade por exemplo e form ada por eastas A educatao varian de uma casta para Dutra ados ariswcratas nao era igua a dos pJeheus ados bra manes nao era igual a uos su dras Oa mcsma forma na dade Media que despropor9ao entre a eliitura rcccbida pelos jovens pajens insullidos em wdas as artes da cavalaria e ados camponeses livres que iam aprender na escola de sua par6quia alguns escassos ele mentos de compu to canto e grami cica Ainda hoje nao vernos a educacao variar com as classes sociais ou rnesmo com os habitats A da cidade nao e igua a do campo a do burgues nao e igual a do openirio Dirao por al que csta organizarao nao e rnoralmente justificivel e pode ser considerada como urn anacronisrno destinado a desa parecer A tese e ficil de defender E 6bvio que a educa9ao dos nossos tilhos nao deveria depender do acaso que as faz nascer aqui au la de tais pais em vez de outros Porem mesmo que a consciencia moral de nosso tempo tivesse side satisfeita neste pomo nem por isso a cducaao seria mais uniforme Mesrno que a carreira de cada c ri a na nao fosse em grande parte pre determinada por uma cega hereditariedade a diversidade moral das profissocs nao deixaria de exigir uma grande diversidade Educarao e Socioiogia 51 pedag6gica De fa to cada profissao constitui um melO SUt ge neris que demanda aptidoes e conhecimentos especificos urn ll1eio no qual predominam cerras ideias usos e maneiras de ver as eoisas e ja que a crianca deve estar preparada com vistas a funcao que sera levada a cumprir a educacao a partir de de terminada idade nao pode mais continuar a mesma para to dos as sujeitos aos quais ela se aplicar E por isto que em todos os paises civilizados ela Cnde cada vcz mais a se divcrsificar e se especializar e esta especializayao a sc tornar cada vez mais precoce A heterogeneidaue produzida assim na fepousa sobre inegavel injusti9a como a que observamos agora ha pouco mas ela nao e menor Para encontrar lima educarao absolutamente homogenea e igualitaria 6 preciso vol tar no tempo ate as so ciedades prchist6ricas no scio das quais nao existia nenhuma diferencia9ao c ainda assim estes tipos de sociedades represen tam apenas 11m mOffiCnto 16gico na hist6ria da humanidade Contudo scja qual for a importancia destas educatXoes espe cificas elas na sao a educaao roda Podese ate dizer que elas nao sao autossuficicntcs em tOdos as lugares em que se pode observiIas elas s6 divcrgem umas das outras a partir de cecto ponto aqucm do qual elas se confundem Todas elas repousam sobre uma basc C0111um Nao ha povo em que nao exista cerro numero de ideias SCntinlcntoS e praricas que a educacao deve inculcar em todas as crianyas sern distinyao seja qual for a cate goria social a qllal elas pertencem Mesma quando a sociedadc e dividida em castas fechadas umas as olltras sempre hi uma religiao comum a todas e por consegllime os princfpios da cultura religiosa que c entaO fundamental sao as mesmos na faixa intcira da populasao Embora cada casra e cada familia tenha seus deuses cspecfficos hi divindadcs gerais reconhecidas pOT todo 0 mundo 52 Colecao Textos Fundantes de Educacao as quais todas as crianas aprendem a adoral E vista que estas divindades encarnam e personificarn certos sentimentos c ma neiras de conccber 0 mundo e a vida naa se pode ser iniciado ao culto dclas scm adquirir ao mesmo tempo todo tipo de hibitos menta is que excedem a esfcra da vida puramenre religiosa Oa mesma forma na ldade Media servos camponeses burgueses e nobres recebiam igualmente a mcsma educ39ao crista Se e assim em sociedades em que a divcrsidade intelectual e moral atinge esre nfvel de contraste entaa fica mail do que claro que o mcsmo vale para povos mais avanados nos quais as classes cmbora permanc9am disrinras sao separadas por urn abismo mcnos profunda Estes elementos comuns de toda eduea9ao nao deixam de existir mesmo quando nao se manifestam em forma de simbolos religiosos Ao longo da nossa hist6ria eons tiwiuse todo urn conjunto de ideias sobre a natureza humana a importancia respectiva de nossas diferentes faculdades 0 di reiw e 0 dever a sociedade 0 individua 0 progresso a ciencia a arte etc ideias que se encontram na pr6pria base do nosso espfrito nacional toda educa9ao tanto a do rico quanto a do pobTe tanto a que conduz as profiss6es liberals quanta a qlle prepara para as fun90es industriais tern como objetivo nxaIas nas consciencJas o resultado destes fatos e que cad a sociedade elabora urn cerro ideal do hornem 011 seja daquilo que ele deve ser tanto do ponto de vista intelectual q uanto ffsico e moral que este ideal e em eerra rnedida 0 mesmo para todos os eidadaos que a partir de certo ponto ele se diferencia de acordo com os meios singulares que toda sociedade compreende em seu seio E este ideal unico e diverso ao mesmo tempo que e 0 polo da educa9ao Portanto a fun9ao desta ultima e suscitar na criama Educaao e Sociologia 53 to urn ceno numero de estados fisicos e mentais que a soeieda de a qual ela pertence exige de todos as seus membros 2 cer tQS estados ffsicos e mentais que a grupo social espedfico casta classe familia profissao tambem considera como obrigat6rios em todos aqucles que 0 formam Assim e 0 conjunto da socie dade e eacia meio social especifico que determinam este ideal que a educayllo realiza A socicdade so po de viver se existir uma homogeneidade sufieientc entre seus membros a educaao perpetua e fortalece esta homogcneidade gravando previamen te na alma da cdanta as semelhanas essenciais exigidas pela vida coletiva No entanto por outro lado qualqucr cooperatao seria impossIvel sem uma certa diversidade a eduCa93o assegll fa a persistencia desta necessaria diversidadc divcrsificandose e especializandose a si mesma Se a sociedade tivcr acan9ado 0 nivel de desenvolvimento em que as andgas divisocs em castas e classes nao podem mais se manter ela prescrevera uma educa gao mais una em sua base Se no mesmo momento 0 trabalho estiver mais dividido ela provocara nas criancas a pardr de urn primeiro deposito de ideias e sentimentos comuns uma diversi dade de aptid6es profissionais mais rica Se ela viver em cstado de guerra com as sociedades ambientes ela se esforyara para for mar os intelectos a partir de urn modelo alta mente nacional se a Concorrencia internacional adotar uma forma mais pacffica 0 dpo que eIa buscara realizar e mais geral e humano Portanto para a sociedade a edllcaao e apenas 0 modo pelo qual ela prepa ra no cora9ao das crianas as condit6es esseneiais de sua propria existencia Veremos rna is para a frente como 0 pr6prio indivfduo encontra vantagens em se sub meter a estas exigencias Chegamos ponamo ao seguinte enunciado A eduuliio t a apIa exercida pelas gerafoes adultas sabre aqueloJ que aillda lIiia fJtiio 54 Colecao Textos Fundantes de Educacao flourns para a vida social lila em como objetivo slIscitar e descll valver IO aiOfJO 11m cerlo tlumero de esados jisicos illteleellais e marais exigidos tmlto pelo cOlljZWIO do sociedade potica quofllo pelo meio especifieo 00 qual do eSld desifada tm particular 13 Consequmcia da definiyao anterior carater social da educayao A partir da dcfini9ao precedence podcsc conciuir que a cdllcaao consistc em lima socializaa mcodica das novas gc railes Em cada lim de n6s podcsc dizcr cxistcm dois seres que cmbora scjam inscparavcis a nao ser por abstrasao nao dcixam de ser distintos Urn 6 composto de wdos as estados mentais que dizcm respeito apenas a n6s mesmos e aos acon tecimcntos da nossa vida pessoal eo que se poderia chamar de ser individual 0 Outro e urn sistema de ideias sentimentos e habiws que exprimem em n6s nao a nossa personalidade mas si m a grupo ou as grupos diferentes dos quais fazemos parte tais como as crenyas religiosas as crenas e praticas morais as tradioes nacionais au profissionais e as opinioes coletivas de todo tipo Este conjunto forma 0 ser social ConstilJir esre ser em cada urn de n6s e 0 objerivo da educayao Alias e af que se manifesta melhor a importancia do seu pa pel c a fecundidade da sua a93o De faro esre ser social nao someme nao se enconua ja promo na constiruiyao primiriva do homem como tambem nao resulta de lim desenvolvimenro es pomaneo Esponraneamenre 0 hom em nao tinha tendencia a se submeter a uma autoridade polftica respeirar lima discipli na moral dedicarse e sacrificarse A nossa natureza congenira nao aprescntava nada que nos predispusesse necessariamenre a nos tornarmos scrvidores de divindades emblemas simb6licos Educao e 50clologia 55 da sociedade a Ihes prestarmos culto au a nos privarmos para honnilas Foi a pr6pria tiociedade que a medida que ia se for mando e se consolidando tirou do seu seio estas grandes fora s morais diante das quais 0 homem sentiu a sua inferioridade Ora com exce9ao de tendencias vagas e incerras que podem ser auibufdas a hereditariedade ao entrar na vida a crian9a traz apenas a sua natureza de indivfduo Portanto a cada nova gera ao a sociedade se encontra ern presenca de uma tabula quase rasa sabre a qual eta deve construir novamente f preciso que petos meios mais ipidos ela substitua 0 ser egoista e associal que aeaba de nascer por urn outro capaz de levar uma vida moral e social Esra e a obra da educaao cuja grandeza podemos reco nhecer Ela 1130 sc limita a reforar as rendencias naturaimentc marcanres do organismo individual au seja desenvolver poten cialidades ocultas que so estao esperando para serem revel ad as Ela cria urn novo ser no homem Esta virtude criadora e alias um privilcgio especifico da educacao hUlnana A que os animais recebem c completamente diferente se e que podemos chamar de eduCa9ao 0 treinamenco progressivQ ao qual elcs sao submetidos par seus pais Este trei namento bem pode acclerar 0 desenvolvimento de certos ins tintos que estao latentes no animal mas nao 0 inicia a uma nova vida Ele facilita 0 movimento das funtyoes naturais mas nao cria nada InsIuido pela mae a filhote sabera voar au fazer 0 ni nho de forma mais dpida mas nao aprendera quase nada a nao ser atraves de sua experiencia individual E que as animais ou vivem fora de todo estado social ou formam sociedades bastan te simples que funcionam a partir de mecanismos instintivos que cada individuo carrega consigo perfeitamcnte consiruidos desde 0 nascimento Porranto a ed ucaao nao pode acrescentar 56 Coleao Textos Fundantes de Educaao nada de essencial a nawrcza visro que esta ultima e imeiramen te suficieme tanto para a vida do grupo quanto para a do indi vfduo No homem ao conwhio as aptidoes de todD tipo que a vida social sup6c sao complexas demais para pocterem de eeno modo encarnarse nos recidos e materializarse sob a forma de predisposic6cs organicas Poc conseguinrc elas nao podem sec uansmitidas de lima geraeao para a uutra auaves da hereditarie dade E a educ3eyao que garanrc a transmissao No cnranto podese objetar se de faro e possfvel conceber que as qualidades propria mente morais 56 podem sec suscitadas em n6s por uma 39ao vinda do exterior lima vez que clas im poem priv390es ao individuo c rcprirnem os seus movimentos nacurais nao haveria ounas qualidades que todo homem tern interesse em adquirir e busca espontaneamente Pensemos por cxernplo nas diversas qualidades da inteligencia que Ihe penni tern adaprar melhar a sua eonduta a natureza das coirms Pense mos tamb6m nas qualidadcs ffsicas e em tudo 0 que contribui para 0 vigor e a saude do organismo Com reiatao a estas ulti mas pelo menos parece que a educaao ao desenvolveIas nao fata ITlais do que tomar a dianteira do pr6prio desenvolvimenro natUral alando a individuo a urn estado de perfei9ao relativa a qual ele teode por si mesmo embora possa alcan9alo de forma mais nipida com a ajuda da sociedade Por6m apesar das aparcncias 0 que mostra bern que taow aqui como alhures a educaao satisfaz acirna de tudo necessi dades sociais 6 que cxistem sociedades em que cstas qualida des nao foram absulutamente cuitivadas e que em todo caso foram compreendidas de modo muito diferente dcpendendo das sociedades Nem todos as povos recoohecerarn as vantagens de uma s6Iida cultura intcleetual A ciencia eo espfrito crltico Educaao e Sociologia 57 os quais valorizamos tanto atualmente durante muito tempo foram vistos com dcsconfiana Nao conhecemos uma grande doutrina segundo a qual sao bemaventurados os pobres de es pfriro Nao se deve pensar que esta indife rena com reia9ao ao saber tenha side artificial mente imposta aos homens contra a natureza deles Eles nao tem por si mesmos 0 apetire instintivo de ciencia que Ihes 6 frequeme e arbitrariameme anibufdo e s6 desejam a ciencia na medida em que a experiencia Ihes mosna o quao imprescindlvel eIa 6 para eles Ora no que diz respeito a organizaao de sua vida individual eles nao se interessavam nem urn pouco peia ciencia Como ja dizia Rousseau para satis fazer as necessidades vitais a seosacao a experiencia e 0 inscin to podiam bastar para 0 homem assim como para 0 animal Se 0 hom em nao tivesse senti do outras necessidades a16m daq uelas bastante simples cujas rafzes prov6m de sua constituiao indi vidual ele nao teria corrido atras da ciencia ainda mais que ela nao foi obtida sem laboriosos e dolorosos esforos Ele s6 sentiu a sede do saber quando a sociedade a provocou neie e a socie dade s6 a provocou quando ela mesma sentiu esta necessidade Isto aconteCu quando a vida social soh todas as suas fonnas tornous complcxa demais para poder funcionar de ouna forma a nao ser com base na reflexao ou seja no pensamento ilumi nado pela cieneia A cultura eientffiea se Ornou entao indispen savel e e por isto que a sociedade a cxige de seus membros e a impoe como urn dever Entretamo em suas origens enquanto a organizatao social for ba5tante simples muito pouco variada e semprc fiel a 5i mesma a cega tradiao oastara assim como o instinru para animal Neste contexto 0 raciocfnio e 0 livre pensamento sao inuteis e ate perigosos ja que necessariameme ameasariam a tradisao E por isto que des sao proscritos 58 Coleao Textos Fundantes de Educa3o o mcsmo vale ate para as qualidades ffsicas Se 0 escado do meio social inclinar a consciencia publica para 0 ascetismo a educaao ffsica sera rejeitada para 0 segundo plano f lim pOlleo o que acontecia nas escolas da Idadc Media e este ascetismo era necessaria pois a mica maneira de se adaptar it rudeza daqueles tempos diffceis era amandoa Oa mesma forma dependendo das linhas de opinifro esta mcsma educaao sera emendida nos mais diferemes sentidos Em Espana ela tinha como objctivo sobrewdo endurecer os mcmbros contra 0 cansa90 em Arenas ela era um meiu de modclar bel as carpos para serem adm irados na epoca da cavalaria csperavase que ela formassc gucrrciros ageis e flexiveis hojc em dia ela s6 visa a higicnc c sc preo cllpa sobretudo em conter os perigosos efeitos de uma cliltura intelectual demasiado intensa Assim 0 indivfduo s6 busca as qualidades que a primeira vista parecem tao espontaneamente desejaveis quando a sociedade 0 incita nesta dirccao E ele as busca da maneira que ela Ihe prescreve Escamos agora aptos a responder a uma qucstao levanta da por tudo 0 que acabamos de ver Enquanto moscravamos a sociedade modclando os individuos de acordo com as suas ne cessidades podia parecer que ees sofriam assim lima insllpor dvel tirania Porcm na realidade eles proprios tem interesse nesta submissao pois 0 novo ser que a a9ao coletiva ed ifica em cada urn de n6s atraves da educa9ao reprcsenca 0 que hft de melhor em n6s ou seja 0 que ha de propriarnenre huma no em n6s Dc faro 0 homem s6 e homem porque vive em sociedadc E diffcil demonstrar com rigor em urn arrigo uma afirma9ao tao geral e importante e que resume os trabalhos da Sociologia contcmporanea Mas ja podemos pelo menos dizer que e1a esta sendo cada vez menos contestada Alcm disso e Educarao e ociologia 59 posslvellembrar su mariamcnte as fatos mais essenciais que a justificam Antes de tudo se existe hoje urn fato historicamente es tabelecido eo fato de que a moral cultiva estreitas relacoes com a natureza das sociedades visto que como ja mostramos ames ela muda quando as sociedades mudam Isro significa portanro que a moral resulta da vida em comum De faro 6 a sociedade que nos faz sail de n6s mesmos que nos obriga a considerar interesses diferenres dos nossos que nos ensinou a dominar as nossos fmpetos e instintos a sujeitalos a leis a nos reprimir privar sacrificar subordinar os nossos fins pes soais a fins mais clevados Foi a sociedadc que instituiu nas nossas consciencias todo 0 sistema de representa9ao que ali menta em n6s a idcia c 0 sentimento da regra e da disci pI ina canto internas quanto cxternas Foi assim que adquirimos 0 poder de resistir a nos mesmos au seja 0 domfnio sabre as nossas vantades lim dos tra90s marcantes da fisionomia hu mana desenvolvido a mcdida que nos tornamos mais plena mente humanos Do ponto de vista intclccttJal nao devemos menos a socie dade E a ciencia que elabora as n090es cardeais que dirigem 0 nosso pensamento n090es de causa leis espaco numera cor pas vida consciencia sociedade etc Todas estas ideias funda mentais estao em constante cvolu9ao e que elas sao 0 resumo eo resultado de todo 0 trabalho cientifico e nao 0 seu ponto de partida como acreditava Pestalozzi Nao consideramos hoje o hom em a natureza as causas e inclusive 0 espaco como eles cram considerados na ldadc Media e que os nossos conheci menws e metodos ciendficos nao SaO mais os mesmos Ora a ciencia e uma cbra coletiva vista que supoe uma vasta coope 60 Coleao Textos Fundantes de Educarao wao cntre rodos os sa bios nao somenrcde urn mesma perfodo como tambem de todas as epucas sllcessivas da hist6ria Antes de as ciencias estarem constitufdas a religiao desempenhava 0 mesma papel pais toda mitologia consiste em uma represcn taao ja bastanre elaborada do homem e do universo Alias a ciencia e herdeira da rcligilio que por sua vez e lima instirui930 social Ao aprendcr lima lingua aprendemos todo urn sistema de ideias disrinras c classificadas e herdamos todo 0 trabalho do qual sao oriundas estas classifica90es que resumcm seculos de experiencia E tern mais sem a linguagem nao tcriamos por assim dizer ncnhuma ideia geral pais e a palavra que ao fixar as conceitos Ihcs da consistencia suficiente para que eJes possam ser manipulados comodamente pelo intelccto Pmtanto foi a linguagem que nos permitiu elevarnos acima da pura sensavao e e desncccssario demonsrrar que a linguagem e pm excelen cia uma coisa social Estes exemplos mosrram que se wdo 0 que a sociedade deu ao hom em Ihe fosse retirado elc scria redllzido a cate goria do animal Se ele pode ultrapassar 0 esdgio no qual os animais se estagnaram foi primeiro porque ele nao se contenta somenre com 0 fruto dos seus esfonos pessoais mas coopera regularmente com as seus semelhanres 0 que refona 0 rendi mcnw da atividade de cada urn Foi tambem e sobretudo porque os produtos do trabalho de uma geracao deixam assirn de screm perdidos pela gerayJo scguinte De Udo 0 que urn animal aprende ao longo de sua cxisrcneia individual quasc nada fica para a sua posteridadc as resultados da experiencia humana ao conrrario conservarnse quase que integralmenrc e arc em seus detalhes gra3S aos livros monumentos figll rativos ferrarnentas instrumenros de todo tipo transmitidos Educaao e Sociologia 61 de geraryJo em geraao tradivao oral etc 0 solo da natureza e assim recoberro por urn rico aluviao que vai crescendo scm parar Ao inves de se dissipar rodas as vezes em que uma gera ao se extingue e e substituida por outra a sabedoria humana se acumula sem cessar e e esta infinita acumulaao que eleva o homem acima da besta e de si mesmo Todavia assim como a cooperaao que mencionamos aeima esta acumulavao s6 e possivel na e pela sociedade Isro porque para que 0 Jegado de cada geraao possa ser conservado e cransmirido para as outras e preci50 que haja uma personalidade moral que atravesse as geraryocs que passam e que as ligue umas as outras e a socie dade Assim 0 antagonismo que muiras vczcs se sup6s existir entre a sociedade e 0 individuo nao corresponde a realidade Estes dois rcrmos estao longe de se oporem c 56 poderem se desenvolvcr de modo divergente Na verdade urn implica 0 outro Ao qucrer a sociedade 0 individuo quer a si mesmo 0 objetivo e 0 efeiw da aao que ela exerce sobre cle principal menre arraves da educaao nao sao nem urn poueo reprimilo dimi nuiIo desnaruralo mas sim amplificaIo c transformaIo em lim ser verdadciramente humano Sem dllvida cle s6 pode crescer desra forma fazendo esforo Mas jusramente 0 poder de fazer esforyo de modo volunrario e uma das caracteristicas mais essenciais do hom ern 14 0 papel do Estado em materia de Educaiio Esta definiryao da educaao permite resolver facilmente a questao tao comroversa dos deveres e direitos do Estado em materia de Edueayao A estes op6emse as direiros da familia Aercditase que a crianca pertencc primeiro aos seus pais porranro e a eles que 62 Coleao Textos Fundantes de Educaao cabc dirigir como bem entenderem 0 sell desenvolvimento intclecmal e moral A educacao e entao concebida como uma coisa essencialrnente privada e domestica Quando adotamos este ponto de vista tendemos de forma narurai a reduzir a inter vencao do Estado ao minima posslvel Ele deveria dizemos li mitarse a servir como auxiliar e substituto das familias Quando elas se encontram inaptas a cumprir os seus de veres e natural que ele se encarregue dos mesmos E natural ate que de Ihcs facilire aD maximo a tarefa colocando a slla dispo s i ao cscolas aande possam enviar seus filhos se quiserem Mas etc deve sc manter estritamente denero destes limites e se impcdir de rcali zac qualquer 3cao destinada a gravar determinada oricntaao na alma da juventude Porem 0 seu pape nao cleve permanceer tao negativo Se como tentamos motitrar aqui a edlleaao descmpenha acima de tuclo uma fun9ao coletiva c tern como objetivo adaptar a criansa ao mcio social no qual cia csta destinada a viver e im possivel que a socicdadc se dcsinteresse de tal operaao Se a sociedadc constitui 0 ponto de referencia para a educa3o dirigir a sua aao como cia poderia ficar ausente desta ultima Portanto 6 a cia que cabc constantemence lembrar ao profes sor que idcias c sentimentos ele deve arraigar na crianca para que a mcsma entre em harmonia com 0 seu meio social Se ela nao estivessc scm pre presence e vigilante para obrigar a aao peJag6gica a se exercer em urn sentido social esta ultima se colocaria nccessariamente a servio de crenas pardculares e a grande alma da patria se dividiria e se dissolveria em uma pluralidadc incoerente de pequenas almas fragmentarias em conflito umas com as outras Nada e mais contrario ao objetivo fundamental de toda educa3o do que ism E preciso escolher Educaao e Sociologia 63 se quisermos valorizar a cxist6ncia da sociedade acabamos de ver 0 que eia significa para nds e preciso que a educaC3o esrabcle9a uma comunhao de ideias e sentimentos suficiente entre os cidadaos comunhao sem a qual qualquer sociedade e impossivel e para que possa produzir cste resultado a educa vao nao pode ficar totalmenre amerce das arbitrarias vontades individuais Uma vez que a educaao e lima funao essencialmente so cial 0 Estauo nau pode se desinteressar dela PeIo cumrario tudo 0 que 6 cuuCa9aO deve se1 em certa medicla submetido a sua avao Tsto nao significa no entanto que elc deva necessa ria mente monopolizar 0 ensino A questao e demasiado COITI plexa para que possamos trataIa assim sem entrar em detalhes vamos reservaIa para mais tarde Podese pensar que os pro gressos escolares sao mais simples e rapidos quando uma cer ta margem de manobra e concedida as iniciativas inclividuais pois 0 individuo e mais facilmenre inovador do que 0 Estado Porem 0 fam de 0 Estado dever em prot do interesse publico autorizar 0 funcionamento de outras escolas al6m daquelas sob sua responsabilidade direta nao implica que ele permanesa in diferente ao que acontece dentro destas instituicocs A Edu cacao que elas forneccm cleve pelo coorfhio ficar submetida ao seu controle Nao 6 nem mesmo admissivel que a fumao de educador seja desempenhada por algucm que nao apresente garantias especfficas que somente 0 Estado pode julgar Sem duvida os limites dcntro dos quais a sua intervenyao cleve se manter sao diffceis de se determinar de modo definitivu mas o principio de intervencao nao pode ser contestado Nau h1 es cola que possa reivindicar 0 direito de dar com toda liberdade lima Educacao antissocial 64 Co l e a o Textos Fundantes de Ed uca a o No entanto e necessario reconhecer que 0 esrado de divisao em que atualmeme se encontram as mentes na FranIYa5 faz corn que este dever do Estado se Orne especial mente dclicado e ao mesmo tempo mais importante Dc faw nao cahc ao Esta do criac csta comunhao de ideias e scmimentos sem a quai nao exisrc sociedade ela deve se constituir pDf si 56 e a lnica caisa que de pode fazer 6 consagraIa manrcIa e wcnaIa mais cons ciente para as pessoas Ora infelizmcnte no nosso pals Fanyal esta unidade mural nao e em Odos os angulos que ela de veria sec Ficamos divididos entre conceploes divergentes e as vczcs ate contradit6rias Em mcio a estas divcrgcncias ha urn faw que e imposslve negar e quc e preciso levar em considera ao Nao se rara de conceder ao grupo majoritario 0 direito de impor suas ideias as crianas pertcncemes ao grupo minoritario A escola nao deve ser a coisa de urn partido eo professor faltara an sell dever se usar a autoridade da qual dispoe para embarcar os sellS alunos a bordo de slias parciais visoes pessoais por mais bern fundadas que elas Ihe possam parecer Porem a despeito ue todas as dissidcncias ja ha desde agora na base da nossa civilizayao urn certO nlimero de princfpios que implfcita ou cx plicicameme sao comuns a wdos principios que em todo caso muito pOUCOS ousam negar de forma aberta c frontal respcito ua razao da ciencia e das ideias e semimentOs que sustentam a moral democrarica 0 pape uo Estado consiste em identiflcar estes principius essenciais fazer com que ecs sejam ensinados nas escolas garantir que em lugar algum os adultos deixem as crianyas ignoraIos e certificarse de que pDf toda pane se fale deles com 0 respeiro que Ihes 6 devido Sen do assim poucse 5 Esta obra roi escrira tendo comu fxo inicial a Franrra INE Educaa o e Sociologia 65 excrcer uma aao que talvez sera tanto mais eficaz quanto me noS agressiva e violenta for e quanto melhor sc mantivcr dentro de lirnites sensatos 1S Poder da educaao meios de a1io Uma vcz detcrminado objetivo da cduca9ao 6 preciso bus car definir como c em que meuida 6 possfvcl atingiIo ou seja como e em que meuida a educa9ao pode ser eAcaz Esta questao scm pre foi controversa Para Fontenelle a boa educacao nao forma 0 bom cadter e a ma tampouco 0 destr6i Para Locke c Hclvetius ao contdrio a educayao e onipotente Segundo cste dtimo todos as hom ens nasccm iguais e com aptidoes semelhantes some me a edu caao da origem as dife rencyas A teoria de Jacotot se aproxima da anterior A soluyao que se da ao problema depende de um lade da ideia que se tern da importancia e da natureza das predisposiY0es inatas e de Outro do poder dos meios de ayao disponveis para 0 educador A educacao nao forma 0 homem a partir do nada como acre ditavam Locke e Helvetills mas se aplica a disposiyoes que ja se encontram na crianya De modo geral podese admitir que estas tendcncias congcnitas sejam bastante fones e difkeis de dcstruir au transformar radical mente pois depend em de condi ues organicas sobre as quais 0 educador nao tem muito contro Ie Seguindo este raciodnio na medida em que estas tendcncias tern urn objew definido e incJinam 0 intelecto e carater para maneiras de agir e pensar estreitamente estabelecidas todo 0 futuro do individllo se vc determinado de antemao e a educa ao na resta muita coisa a fazer Felizmcntc porem uma das caracCristicas do homcm 6 0 faro de as suas prcdispsiics inatas scrcm hastantc gerais c vagas 66 Coletao Textos Fundantes de EdUC3t30 De fato 0 ripe de predisposi8o fixa rfgida invariavel e que impede a a9ao de causas exteriores e 0 instinto Ora podemos nos pergumar fie existe no homem um inico instinco propria mente dito Falase as vezes do insrimo de conse rvaao Mas a expressao 5 inadcquada pais 0 instinro e urn sistema de movi mentos detcrminados que sao sempre identicos e que uma vez estimulados pela sensa9ao cncadeiamse automaticamente uns aos DUUOS ate chegarem ao sell termino natural sem que a refte xao passa imervir em algum momento Ora as movimentOs que executamos q uando nossa vida csta em perigo naa apresentam Hbsolutamente esta derenninasao c invariabilidade automatica liles mudam de acordo com as situas6es c nus us adaptamos as circunsrancias Isto significa porcanro que cles sao acompanha uos pur uma cena escolha conscience em bora ripida Aquilo que chamamos de instinto de conservatyao nau passa no fim das cuntas de urn irnpulso geral que nos leva a fugir ua murte E os meios pdos quais tentamos evitaIa nao sao prcdctcrminados llma vcz por rodas 0 mesmo vale para aquilo que as vczes eha mamos de forma igualmente inadequada de instinto materno instinto paterno e mesrno instimo sexual Sao forsas que inci tam em determinada dire9ao mas os meios pelos quais cstas fonas se concrctizam mudam de urn indivfd uo para 0 Olltro e de llma ocasiao para a outra Existe portanto llrna grande rnargem de manobra para as tcmarivas adaptaoes pessoais e por consc guinte para a asau dc fatores que 56 podem exercer influcncia depois do nascimento Ora a educa9ao e urn des res faro res ja se anrmou 6 vcrdadc que a criana as vezes herdava Uma tcndcncia bastanrc forw a cometer determinados atos como 0 suiddio U fOu no 0 assassinato a raude etc Mas estas afi rrna 90CS nao correspond em nem um POllCO a realidade Pouem rer Educarao e Sociologia 67 dito 0 que for mas ningucm nasce criminoso e muiro menos predestinado a tal au tal tipo de crime 0 paradoxa dos crirrlino logisras iraiianos hoje em dia nao conca mais com muitos defen sores 0 que e herdado e uma certa falta de equillbrio mental que leva 0 individuo a ser mais refratario a uma condma regular e disciplinada Mas tal temperarnento nao predestina um ho mem a ser mais urn eriminoso do que urn apaixonado aventurei ro um profeta urn precursor polftico urn inventor etc 0 mes rna vale para codas as aptidoes profissionais Como nota Bain 0 filho de urn grande fii6iogo nao hcrda urn unico voeabulo o filho de urn grande viajame pode na cscola scr dcixauo para mis em Geografia pelo filho de urn mineiro 0 que a crian ca rccebe dos sellS pais sao faculdades bastantc gerais como por exemplo dcterminada capacidade de arenao certa dose de perseveran9a born discernimenro im ag i naao etc Mas cada uma desras faculdades pode servir a diferentes tipos de prop6si tos A criana dowda de Ulna imaginaao vivaz pode conforme as circunsrancias e influencias que pesarao sobre si rornarse pinwr ou poeta engenheiro criativo ou empresario ousado E partanw consideravel a distaneia que existe entre as qualidades naturais e a forma especifica que elas devem adotar para serem utilizadas na vida lsto significa que 0 futuro nao se encontra estreitamente predeterminado pela nossa constituicao congeni tao E faeil entender a razao disQ As unicas formas de atividade transmitidas hereditariamente sao as que se repetem sempre de maneira bastante identica para poderem se fixar em uma for ma rfgida nos tecidos organicos Ora a vida humana depende de condioes rnultiplas complexas e consequenremente cambian res e preciso partanw que ela pr6pria mude e se modifique sem cessar Assim e imposslvel que ela se cristalize ern uma 68 Colerao Textos Fundantes de Educa ao forma definida e definitiva Porem somente disposioes muito gerais e vagas que exprimam as caracterfsticas e m comum de tOdas as experiencias singularcs podem sobreviver e passar de lima gerarao para a Outra Dizer que as caractcrfsticas inatas sao em sua maioria muito gerais e 0 mesmo que dizcr que elas sao bastante malcivcis e Hexiveis visto que poucm ser dererminadas de modos bastante diversos Entre as virwalidades indecisas que constiwcm 0 ho mem no momento em que ele acaba de nascer c a pcrsonalidade bastante definida que ele deve modelar para dcscmpenhar lim papel util na socicdade a distancia e portanw imcnsa E esta discancia que a educaao deve fazer a crian9a pcrcorrer Um vas to campo est3 abcrto para a sua aao Mas para excutar esa aao sera que da possu i meios com energia suficientc Para dar uma ideia do que consiui a a8o cducativa e mos trar 0 sell podcr um psic61ogo comemporanco Guyau compa roua com a sllgcstao hipn6jca e a comparaao nao deixa de ef fundamento De faro a sllgestao hipn6ica sup6e as duas seguintes con dioes 1 0 estado ern que se encontra 0 sujeito hipnotizado se caracteriza por Slla excepcional passividauc 0 intelecto fica quase que reduzido ao esrado de abula rasa lima especie de vazio 6 criado na conscicncia e a vontade sc e ncontra como que paralisada Por onseguime como ela l1ao se confroma com ne nhuma ideia contraria a ideia sugerida pode se instaurar com o minimo de rcsistcncia 2 No entanro como a vazia nunca e complero e prcciso ninda que a ideia ire da pr6pria sugestao um poder de a8o especial Para isso e necessario que a mag nerizador empreguc urn tom de camanda e fale com autorida Educaao e Sociologia 69 de Ele deve dizer Ell quem indicar que a desobcdiencia nao 6 oem mesmo concebivel que a ato deve ser realizado que a coisa deve sec vista do modo cornu ele a mostra c q lie nao pode ser de outra forma Se ele fraquejar 0 sujito hesitant resistira e as vezes atc desobedecera E se de comear a discutir 0 seu poeler aca bOil Quantu mais a sugcstao ir contra 0 ternperamemo natural do hipnmizado mais tom imperativo sera indispensavel Ora estas duas condi6es sao realizadas nas rela6es que 0 educador mant6m com a criana subrrleriela a sua aao 1 A criansa se CIlontra natural mente em urn estado de passivida de comparavcl com aqueJe no qual 0 hipnotizado se encomra artificialmcnre mergulhada Sua consciencia ainda nao comem mais do que um pequeno numero de represe maoes capazes de lurar contra as que the sao sugeridas sua vomade ainda e rudi mentar E por isto que ela e taO facilmente sugestionavel Pela mesma razao ela e bastante permeavel ao exemplo e a imita9ao 2 A primazia que a professor tern naUralmeme sobre 0 aluno devido a superioridade de sua experiencia e cultura abaswce nauraimenre a sua aao com a eficacia que the e necessaria A c011lparaao da educ3ao com a sugesao hipnotica cujo pader e nor6rio mastra 0 quae porenres sao as armas do educa dor Portama se a aao educativa apresenra embora em menor grau uma eficacia analoga podese alcanar grandes resultados contanro que se saiba utilizaIa correrameme Longe de nos senirmos desmotivados face a nossa impo ncia devemos mais C ficar espanrados com a exensao do nosso poder Se profes Sores e pais percebessem de modo mais constante que nada aCOmece dianre da crialwa sem deixar algllm vestigia neia que a configuraao do seu intelecto e Cafater depende daqllelas mi Ihares de as6czinhas insensfveis que ocarrem a todo instance II 70 Coerao Textos Fundantes de Educarao sem chamar a nossa aremao em funao de sua aparente insigni ficancia como clcs romariam mais cuidado com a sua linguagem e condura Ccrtameme a eduCa930 naa se mostra encaz quando age cum brusquidao e imermitencia Como diz Herbart nao e admoestando a criana com veemencia de vez em quando que sc pode provocar grande impactu em sua mente Parern quando a cducayao se masua pacience e continua e nao busca sucessos imcdiatos e aparentes mas se da calma mente em um sentido bern determinado sem se dcixar desviar por incidentes exte riores e circunsrancias fortuitas cIa dispoe de wdos os melos necessarios para marcar as almas profundamente Vemos ao mesmo tempo qual e 0 rnecanismo essencial da aao educativa 0 que cria a influencia do magnetizador 6 a au wridade que ele ohtcm das circunstancias Por anaiogia pode se dizer desde ja que a cducayao deve ser em sua essencia uma questao de autoridade Esta imporrame afirmaao rode alias sel diretamente estabelecida De fiHo ja vimos que a educaao tem como ohjetivo substiruir 0 sel individualista c assacial que somas ao nascermos por um seT inteiramente novo Ela deve nos conduzir a deixarmos para wis a nossa natureza inicial esta e a condiau para que a criana se torne humem Ora s6 pode mos nos superar atraves de lim esfor90 mais ou menos cuswso Nada e rao errado e enganador quanto a concepao epicurista da educa9ao a concepyao de Momaigne por exemplo segundo a qual 0 hom em pode se fonnar utilizando como tlnico estimulo a atra9ao do prazer Embora a vida nao seja sombria e embora afir mar artificial mente 0 comrario as crian9as seja urn crime ela nao deixa de ser s6ria e grave e a educarao que prepara para a vida deve participar desta gravidade Para aprender a domar 0 seu egofsmo natural subordinarse a fins mais elevados submeter r Educaao e Sociologia 71 os seus desejos ao imperio da sua fona de vonrade e contelos dentro de limites scnsatos 6 preciso que a crianca excrca uma forte reprcssao sabre si mcsma Ora as duas tmicas razoes que fazem com que nos nos coibamos sao a necessidade flsica au 0 clever moral Po rem a criana nao sente a necessidade que nos impoe fisicamente estes esfo ros pois nao esra imediatamente em contato com as duras realidades da vida que Droarn esta atitude indispensavel Ela ainda nao comeou a Iurar embo ra Spencer 0 tenha aconselhado nao podemos deixaIa exposta as severas reaoes das caisas E precisa que ela ja esteja em grande pane formada quando real mente tiver de enfrentalas Portanto nao se pode comar com a pressao exercida pela reali dade para dererminar a criana a ter fora de vomade e adq uirir o autoconrrole necessario Resta 0 dever Para a criana e inclusive para 0 adulto e 0 senti memo do dever que e por exceiencia 0 estimulante do esforo Por si s6 a amorpr6prio ja supoe isto pais para ser sen sfvel as puni90es e recompensas como se convem e preciso ter consciencia da sua dignidade e por conseguinte do seu dever Todavia a cr iana so aprende 0 dever com os sells professores ou pais s6 podendo saber em que ele consiste pe10 modo como estes liltimos 0 revelam atraves da sua linguagem e comporra mento Portanto e preciso que des encarnem e personifiquem 0 dever para cia lsto significa que a auwridade moral e a principal qualidadc do educador pois 6 atraves desta autoridade contida nde que 0 dever c dever 0 que de possui de completamente Jui generis 6 0 tom imperativo com 0 qual se dirige as conscien eias 0 respcito que inspira aDs desejos alheios e com 0 qual as subjuga taO logo se pronuncia Assim e indispensavel que uma impressao do meSffiO genero emane cia pessoa do professor 72 Coleao Textos Fundantes de Educ3ao E desnecessario demonstrar que a auwridadc cnrendida des a forma laO tern nada a ver Com a violencia OU a repressao ela consiste por inteiro em uma certa primazia moral Ela sup5e que 0 professor respcitc duas principais condi90es Ele deve primeiro ter dcrcrminarao pois a autoridade implica a confian 9a e a crian9a nao cantia em ninguem que hesite tergiverse e volte atras a rcspcito de suas decisoes Mas esta primeira condi 9ao nao c a mais essencial 0 mais importance e que 0 professor realmcntc sima dentra de si a auwridade cujo semimento etc deve transmirir Ela cOl1stirui uma fOf9a que ele 56 pode man i festar sc cfctivamente a possuir Mas afinal de onde cia vern Sera que 6 do poder material do qual esta munido Sera que e do dircito que eJe tern de punir e recompensar Mas 0 medo do castigo 6 algo muito diferente do respeito da autoridade Elc s6 possui valor moral se 0 castigo for reconhecido como justo pclo individuo que 0 recebe 0 que implica que a autoridadc quc pune ja tenha sido reconhecida como legitima A questao 6 justamcnte esta Nao e de fora que 0 professor pode adquirir a sua autoridade mas sim de si mesmo ela s6 pode ter origem em uma f6 interior Ele deve crer sem duvida nao em si mesmo Oll nas qualidades superiores de sua inteligencia ou cora9iio mas sim na sua tarefa e na grandeza da mesma 0 que constr6i a au tori dade que impregna rao facilmente a palavra do eclesiistico 6 a elevada ideia que eJe nuue a respeito de sua missao pois cle fala em nome de um Ueus do qual ele se senre mais pr6ximo do que a multidao dos profanos 0 professor laico pode e deve alimcntar urn pouco deste sentimento Ele tambcm constitui 0 6rgao de uma grande entidade moral que pertence a urn nfvcl superior a soeiedade Assim como 0 padre e 0 imerprete do sell Deus cle c por sua vez 0 interprete das grandes ideias morais Educarao e Sociologia 73 da sua epoca e naCao Sc cle for apegado a estas ideias e sentir toda a grandeza das mesmas a auwridade que elas revestern e da qual ele esta ciente nao pode deixar de se manifestar em sua pessoa e em tudo 0 que emana dela Em uma autoridade oriun da de uma fome rao impessoal qUJllto esea nao pode entrar nem orgulho nem vaidade e nem pedantismo Ela e inteirameme consriwfda pelo respeito que ele nutre com relagao as suas fun 6es e se podemos falar assim ao sell minist6rio E este respei to que atrav6s oa palavra e da linguagern gestual c transmitido da sua consci6ncia para a da crian9a a se opuseram a liberdade e a autoridade como se estes dois fatores da educa9ao se contradissessem e se restringisscm Mas esra oposiyao e uma falacia Na verdade la nge de se excJuirm estes dais term os sao complememares A liberdade 6 filha dOl autoridade bem aplicada pois ser livre nao significa fazer que bem entender n1as sim ter autocontrole e saber agir guiado pcb razao e cumprir 0 seu dever Ora a autoridade do professor que e apenas um aspecto da autoridade do clever e da razao deve ser empregada jusramenre para dmar a crianca deste autocontrole A criama deve portanto estar acostumada a reconhecer a auto ridade na palavra do educador e a respeitar a sua superioridaoc Esta e a condicao para que mais tarde ela a reencontre em sua Consciencia e acare 0 que ela prescrcver 2 NATUREZA E METODO DA PEDAGOG lA Muitas vezes se confunde educagao e pedagogia rerrnas que no en tanto pedem para ser cuidadosamente diferenciados A educayao e a a930 exercida nas criaoras pelos pais e pro fessores Esta 3yaO e constante e geral Naa ha nenhum perfodo na vida social e oem mesmo por assim dizer nenhum momento do dia em que as novas gerayoes nao estejam em contato com os mais velhos e por conseguinre nao receham a influencia cdu c3dora destes ultimos Isto porq ue esta influencia oao 6 scntida somente nos instantes bastante curtos em que os pais ou profcs sores compartilham de modo conscienre c atravcs de urn cnsi no propriamentc diw os resultados de suas cxpericncias com aqueles que nasceram Gepois dcles Existc LIma educayao in consciente c inccssante Atravcs do nosso exemplo das palavras que dizemos c dos aws que executamos fabricamos a alma dos nossos fi ihos de modo constante A Pedagogia e algo completamente diferente Ela consisre nao em aao mas sim em reorias ESas reorias expiiciram as tnanciras de conceber a educa9ao e nao de praricaIa Elas se disringucm as vezes das praricas vi genres a ponro de se oporem a elas As pedagogias de Rabeiais de Rousseau ou de Pesa lozzi se enconrram en1 oposi9ao com a educa9ao de suas epocas POrtanro a cducayao consrirui apenas a modalidadc pratica da 76 Colerao Textos Fundantes de Educailo Pedagogia que par sua vez consistc em uma cerra maneira de refletir sobre as qucstocs rclativas a edllCatao E 0 que faz Com que a Pedagogia pelo menos no passado seja intcrmircmc ao passo que a educa3o e continua Existem povos que nao tiveram uma Pedagogia propriameme dita alias csta iltima surge apenas em uma epoca relativamentc adiantada da hist6ria Ela e encontrada na Grecia somemc dcpois ua cpoea de Pericles com PlacITo Xenofonte e Arisrrclcs Ela quase nao existiu em Roma Nas sociedades crisras c ia 56 produziu obras imporrantes no seculu XVI e 0 progrcsso que ela entaD seguiu se desacelerou no seculo seguinre s6 rctomando 0 sell vigor ao lon go do XVIII Isto ocorrcu porquc 0 homem nao reflete a tempo inteiro mas sumentc quando 6 necessaria e parque as condi6es da reflexao nao cstao dadas em OdD lugar e momenta Sendo assirn c prcciso que busquemos saber quais sao as carac terfsticas da reflexao pedag6gica e os seus efeiros Sera que se deve consideraIa como urn conjllnto de douuinas propria mente cientffi CdS e dizcrque a Pcdagogia e uma ciencia a ciencia da educaao Ou sera que conv6m darIhe urn outro norne Neste casa que nome A natureza do mcOdo pedag6gico sera compreendida de modo bas tante diferente can forme a resposta dada a esta pergLlnta T Primeiro e tacil demonstrar que as coisas da educacao eon sideradas de lim certo POnto de vista possam ser 0 objcto de uma diseiplina que apresema todas as caracterfsticas das outras disciplinas eientfieas De faw para que possamos chamar de ciencia um conjunto de estudos e preciso e basta que e1as possuam as seguimcs ca raetcristicas Educarao e Socioiogia 77 1 Elas devem abordar faws conclufdos realizados e pron toS para a observaao Afinal uma eiencia sc define pdo seu objcto de escudo e consequenremenre sup6e que cstc objew exista possa ser apomado com precisao e localizado denno do conjunto da realidade ZO Estes faws uevem apresemar uma harnogeneidade Sll ficicnte entre si para rodcrcm ser c1assificados em uma 111esma caregoria Se eles fossem irrcdutfvcis uns aos outros haveria nao uma ciencia mas sim tantas cicncias quanto especies distinras de objetos de esrudo Muitas vczcs acontece de as ciencias nas centes envolverem de modo bastantc confuso uma pluralidade de objetos diferentes Foi a caso par exemplo da Geografia da Amropologia etc Mas esta sempre e apenas uma fase rransiro ria do desenvolvimemo das ciencias 3 Pur fim a ciencia estucla esres fatos para conhccelos c so mente para isto de maneira absolutamente desinrercssada Em pregamos de prop6siw aqui a palavra c01JheCel que e meio geral e vaga scm deixar claro em que pode consistir 0 conhecimento dito cientifico Dc faro pouco importa se a sabia prefere con5ti tuir tipos em vez de descobrir leis contentarse em descrever ou emar explicar A cincia comea a partir do momenta em que 0 saber seja elc qual for 6 buscadu por si s6 Scm duvida a sabia eSta pcrfeitamentc cicnte cia probabilidade de as suas descober tas serem lJtilizadas mais tarde Pode ate acamecer de ele privi legiar tal au tal ponto de mas pcsquisas ao pressentir que assin1 elas serao mais provcitosas c pcrmitirao satisfazer necessidades llrgentcs Parem enquanto cstiver mergulhado na investiga9ao cienrffica ele ficad indiferemc com relaao as consequencias praticas Ele diz 0 que 6 constata 0 que as caisas sao e se con tenta com isto Ele nao se prcocupa em saber se as verdades que 78 Coletao Textos Fundantes de E ducaao descobre agradarao OU desconcertarao os outros se seria melhor que as rcJ aOcs que ele estabelece permanccesscm 0 que sao ou fossem difcrentes 0 seu papel consisc em exprimir 0 real e nao em julgaIo Senda assim nao hi motivo para que a educa9ao nau se rorne o objeto de lim escudo que saEisfaya todas estas condisocs c por conseguime apresente rod as as caracteristicas de uma cicncia De liuo a eduCd9ao vigente em dcterminada socicuade e COI1 siderada em determinado momento de sua evouao 6 urn conjun Q de pnhicas manciras de agir e costumes que constiwcm faws perfeiramcmc ucfinidos e taO ceais quanto os outrOS faws socia is Estas pnhicas nao sao como se acreditou durante muiw tempo combinagoes mais ou menos arbitrarias e artificiais cuja existencia clecorre apenas cia temperamental inftuencia de desejos geralmen te fortuitos E las sao ao contnlrio verdadciras instiwi90es sociais Nao existc homem que possa fazer com qlle lima sociedade enhl em detcrminado mornenro urn sistema de cducaao diferenre da quelc que csta contido em sua cstrutura bem como e imposslve que urn organislno vivo tenha 6rgaos e funcoes diferentes claq ue les que estao encerrados em sua constitllicao Se torem necessa rias outras razoes alem das que ji foram dadas para fundamentar esta concepyao basta tamar consciencia da fona imperativa com a qual esras praticas se impoem a n6s Nao adiama acreditar que podemos educar os nossos fi lhos como quisermos Somos forca dos a seguir as regras reinantcs no meio social em que vivcmos A opiniao nos impoe este comporramenro e a opiniao 6 Llma forca moral cujo poder opressivo nao 6 menor do que 0 da forca nsica Sua autoridade impregna usns que par isto mesmo sao em larga medida excluidos cia a930 clos indivfduos Podemos at6 infringir as foras morais mas e1a5 acabarao rcagindo conua n65 E pur causa r Educacao e Sociologia 79 da superioridade delas dificilrnente sairemos vencedores Logo podemos ate nos revolrar contra as foras materia is das quais de pendemos e tentar viver de modo diferente daquele dererminado pela natureza do nosso meio fisico mas entaO a morte au a do cn acabam sendo a san9ao da nossa revolra Oa mesma forma cstamos mergulhados em uma atmosfera de ideias e senti men toS coletivos que nos nao podemos modificar a vontauc E 6 em ideias e sentimentos dcste gencro que as praticas educativas se baseiam Portanto clas sao coisas distintas de n6s ja que rcsistcm a nossa vOl1tade realidadcs que tcm uma natureza pr6pria defini da e complcta que sc imp6e a n6s Par consegui nte pode ser born observala buscar conheccIa somente para conhecela Alem dis so as priticas educativas sejam elas quais forem e tendo as dife rcmas que tiverem tem em cornum um aspecto essencial tOdas elas resultam da aao exercida por uma geraaa sabre a geraao seguinte no imuito de adaprar a mesma ao meio social no qual esta destinada a viver Porra nco tOdas elas sao modalidades diversas desra rela9ao fundamental Consequenternente elas consriruem faws de uma mesma especie pertencendo a LIma mesma catego ria l6gica Elas podem emao servir de objeto a uma unica e mesma ciencia a ciencia cia educaao Vamos apamar desde ja apenas para tafI1ar as icleias mais clams alguns dos principais problemas dos q uais esra ciencia cleve trarar As praticas educarivas nao SaO ratoS isolados uns dos outros PunSm para uma mesma socieclade elas esrao ligadas em urn mes mo sisrema do qual todas as partes conrribuem para UTml mesma finalidade 6 a sistema de educagao proprio daquele pais e daque la epoca Caela povo rem 0 seu assim como tern 0 sell sistema moral religioso economica erc Mas por ourro lado povos da 80 Coleao Textos Fundantes de Educaao mesma espeCle Oll seja povos que se parecem em U119ao de aspectos essenciais de sua constituiao devem praticar sistemas de educaao comparaveis entre si As semelhanas que a sua orga nizarao geml apresenta devem necessariamente acarretar outras igualmente imponantes em sua organizarao educativa Por COll seguime comparando identificando os paralelismos e eliminando as diferenras decerto se pode constituir as tipos genericos de edu C3rao q lie correspondem as diferentes especies de socicdade Por exemplo no regime de trioo a caracterfstica principal cia cuucacao e ser difusa dada scm distincao pOf todos os mcmbros do cia Nao h3 profcssores design ados c nem supcrvisorcs cspeciais encar regados de formar os jovcns Sao wdos os anciaos e 0 conjunto das gerasocs antcriores que desempenha esce papel No maximo aeonteee de ccrtos anciaos sercm designados em especial para mi nistrar cerms ensinos fundamentais Em outras sociedades mais avansadas esta difusao acaba ou pelo menos atenuase A edu caSao sc conccntra nas maos de funcionarios especiais Na India e no Egiro sao os sacerdotes que sao responsaveis por esta funyao A educacao 6 urn atributo do poder sacerdotal Ora esta primeira caracterfstica diferencial provoca outras Quando em vez de per manecer completarnente difusa assim como em suas origens a vida religiosa cria para si mesma urn orgao especial encarregado de dirigila e administrala ou seja quando se forma uma classe ou casta sacerdotal 0 que a religiao tem de propria mente reflexivo e intelecrual alcanya um desenvolvimenro ate entao desconhecido Foi nos meios sacerdotais que apareceram os primeiros prodro mos as form as primarias e rudimenrares da ciencia Astronomia Matematica Cosmologia E um faro que Comte observara havia muito tempo e que e facilmente explicavel E bastante natural que uma organizacao cujo efeiro e concentrar em um grupo restriro Educaao e Sociologia 81 wda a vida meditativa que entao existe estimule e desenvolva esta ultima Logo a educayao nao mais se limita como no prindpio a inculcar praticas na crianya e condicionala a cenas maneiras de agir Criase entao conteudo suficiente para uma certa instruyao o sacerdote cnsina os elementos desras ciencias que se estaO for mando S6 que esta instruyao e estes conhecimemos especulati vos nao sao ensinados por ensinar mas sim por causa das relayoes que des entretem com as crenyas religiosas Eles of ere cern urn carater sagrado c sao plenos de elementos propriarnentc religiosos porque se formaram no prprio seio da rciigiao sendo assim inse paniveis da mesma Em outros lugarcs como pot exemplo nas polis gregas e latinas a educacao fica dividida numa proponao variavel conforme as polis entre 0 Estado e a familia Nada de casta sacerdocal E 0 Esrado que substirui a vida rcligiosa Logo visto que ele 11aO priviJegia a medicacao mas sim a aao e a pratica e fora dele e consequentemente fora da religiao quc a cicncia nasce quando surge a necessidade Os filosofos e sibios da Grecia sao sujeitos laicos A propria ciencia adquire entao rapidamentc uma tendencia antirreligiosa Do pomo de vista que nos imercssa o resultado e que a insrruyao tambem adquire urn cararer laico e privado assim que surge 0 grammateus de Arenas era UlTI simples cidadao sem ligayoes oficiais ou cararer religioso E iUlltil continuar com os exemplos cujo interesse e apenas ilusrrativo Bastam os citados acima para mostrar como ao corn parar sociedades da mesma especie poderfamos consriwir ripos de educaao assim como constirufmos ripos de famflia Estado ou rcligiao Alias esta classificayao nao resolveria todos os pro blemas cienrfficos que podem se impor a respeiro da educayao cIa so fornece os elementos necessarios para resolver lIrn Olltro problema rnais importante Uma vez os tipos estabelecidos 82 Coleao Textos Fundantes de Educarao seria preciso ex plicalos ou scja bllscar as condi90es das quais dependem as propricdadcs caractcristicas de cada LIm deles e como Ins dcram origem aos outras Seriam obtidas assim as leis q1lC dominam a cvoluao dos sistemas de edllcaao Poderia mos cntao perceber em que diretyao a educayao se desenvolveu quais sao as causas que deteflninaram este desenvolvimento e que 0 explicam questao cerrarnente bastame re6rica mas cuja soiuttao visivelmente reria ITIUit3S aplicayoes priiticas Eis desde ja urn vasto campo de estudos aherto a pesquisa ciendfica E no entanto linda existem outros problemas que poderiam sec abordados com 0 mesmu espfrito Tudo que aca bamos de ver diz respeito ao passadu tais pcsquisas nos ajuda riam a entender de que manira as nossas i nst itUi oes pedag6 gicas se consritufram Mas elas podem ser considcradas de um Outro POntO de vista Uma vcz form ad as elas real mente funeio nam e poderfamos cstudar de que mancira elas funcionam au seja que resultados e1as produzem e que condi90es fazem estes resultados varia rem Para ism seria preciso lima boa esrarisrica es colar Em coda cscola hi uma disciplina e urn sistema de puni6es e recompcnsas 0 quao imeressame seria saber nao somente a partir de impress6es empfricas mas tambem de obseJvac6es me tdicas de que modo este sistema funciona nas diferentes escolas de uma mcsma localidade nas diferentes regi6es nos diferemes momcntos do anD nos diferemes momemos do dia quais sao os dcl iws escolares mais frequenres como sua proponao varia no conjunw do terrir6rio Oll conforme os paises como ela depende da idadc da criana da sua siruarao familiar etc Todas as ques toes lue se colocam com relayao aos delitos cia adulto podem ser colocadas aqui de forma igualmente uti Assim como existe uma criminologia do homern feito existe uma da criama E a Educaao e Sociologia 83 disciplina nao e a unica instituityao educativa que poderia sec es tudada seguindo estc metoda Nao hi metoda pedag6gico cujos efeitos nao possam ser medidos da mesma maneira suponuo evidentcmente que tenha sido instaurado 0 instrumento neces saria para tal escudo uma boa estatistica II Vimos porranto dais grupos de problemas cujo carater pu ramente cienrffico nao pode ser eontestado Uns sao relarivos a genese e as ourfOS ao funcionamcnro dos sistemas de educa C30 Em todos as estudos tratase simplesmente de descrever coisas presentes ou passadas ou e ntaD de buscar as causas ou efeiros das mesmas Elas constiruem uma ciencia isro e 0 que e ou melhor 0 que scria a Cicncia da Educacao Porem 0 pr6prio CSbOS0 que acabamos cle traar demonstra claramente que as teorias consideradas como pedag6gicas con sisrem em reftcxoes muito diferenres De fata elas nem bus cam 0 mesmo objctiva e nem empregam os mesmos mewdos o seu ubjctivo nao 6 descrever all explicar 0 que existe ou 0 que existiu mas sim dererminar 0 que deve existir como deve ser Rlas nao sc orienran1 nem para 0 presenre e nem para a passa do mas sim para 0 futuro nao se prop6em exprimir fidmnte realidadcs ja dadas mas sim decretar preceitos de conduta Elas nao dizcm cis 0 que existe e 0 porque disto mas sim eis 0 que deve ser fe ito E rem mais geralmente quando as te6ricos da eclucaao falam das pdticas tradicionais do presente e do pas sad 0 e com um desprezo quase que sisrematico Eles apontam sobrcrudo as imperfeic6es das mesmas Quase todos os grandcs pedagogos como llabelais Montaigne Rousseau e Pestalozzi Sao espfritos rcvolucionarios e revolrados contra os usos dos seus 84 Colecao Textos Fu ndantes de Educaao contemporancos Elts s6 mencionam os sistemas antigos ou vi gentes para conucnaloN e declarar que sao infundados fazendo mais au menos tabula rasa destes sistemas e construi ndo algo inreiramente novo no lugar GOS mesmos Partama para entender bern c enconuar urn equilibria e preciso distinguir cuidadosame nte dais tipos de rdlexoes bastante diferen tes A Pedagogia e alga discinto cia Ciencia ua Educa9ao Mas entaD o que ela 6 Para fazer uma escolha bern fundada nao basta saber aquilo que cia nao e mas e preciso apontar em que cia cOl1siste Pod cmos dizer que e uma acte Pareee que sim pais no1 mal mente nau se ve intermediario entre estes dois extremos e atribuisc tcrmo trte a todo produw de uma reftcxao que nao e ei6ncia Porem isto significa estender 0 senti do da palavra arre a ponto dc incluir nele coisas muiro diferenres De faro tambcm chamarnos de arre a experiencia pratica ad quirida pelo professor em contato com cria na s e no exerdcio oa sua profissao Ora csca expcrieneia e manifesrarrleme alga muito difereme das teorias do pedagogo Um raw de obselvayao corrente faz com que esra difercna seja bem perceptivel Podese ao mes rno tempo ser um professor perfeito mas completamente incapa7 de proeeder as reft exoes da Pedagogia 0 rneStle habil sabe tazer o que e preciso fazcr mas nem sempre consegue dizer as raZQes que justificam as proccdimentos que emprega 0 pedagogo por sua vez pode carecer de qualqllcr habilidade pratica n6s naa da rfamos uma turma nas maos de Rousseau e nem de Montaigne E meSlllo de Pestalazzi que era urn homem do meliel mas que devia possuir de modo apenas incompleto a arre do educador cornu provam os sells repetidos fracassos A Illesma confUS30 e cita ern outras csfcras Chamasc de aete 0 savoirfailT do homem de Estaclo expert na adm inj s traao publica Porem camberll se diz r Educaao e Sociologia 85 que os cscritos de Plati Arist6tcles c Rousseau sao tratadns em arte polftica c 6 6bvio que naa se pode consideraIos como obras realmcme ciendficas vistO que elas nao tern por objetivo estudar 0 real mas sim construir um ideal E conwdo hi lim abismo entre o pensamemo que deu origem a um livro como Do contrao social e aquele que edifica a administrayao do Esrado Rousseau provavel mente teria sido pessimo ranto como ministfo quanta como edllca dor TIlmbem e par isro que os melhores te6ricos da Medicina nao sao os melhores medicos lange disto Portanw e melhor naa designar com a mesma palavra duas form as de atividade tao diferentes Acreditamos que e preciso reservar 0 termo arte para tudo aquilo que e pratica pura sem tcoria Todo mundo entcndc Cste termo quando d e se refere a arte do sold ado a do advogado e a do professor lIma arte e urn sistema de maneiras de agir adequadas a fi ns espcciais e rcsuitantes Oll de urna expericncia tradieional transmitida pcJa edueatao ou cia expericncia pessoaJ do indivfduo S6 sc pode adquiriIas mexendo com as coisas sobre as quais a a910 deve sec exercida e agindo por si mesmo Sem dllvida pode aconteeer de a arte sel guiada peia refiexaa mas a reft exao nao e urn elemen to essencial da arte vis to que ela pode existir sem esta ultima E mais nao existe nenhuma arte em que tuda seja reftetido Porem entre a arte assim definida e a ciencia propria mente dita hi Iugar para uma 3tirude mental intermediiria Em vez de agir sabre as coisas au os seres seguindo determinados mod as podese refletir sobre as processos de a930 assim empregados nao no intuito de conheceIos e explici Ios mas sim de esti mar 0 valor deles descobrir se eles sao 0 que devem ser se nao seria util modificaIos e de que maneira inclusive substitufIos totaimenre por novas processos Estas reftexoes tomam forma de 86 CoJeao Textos Fundantes de Educaao tcorias sao combina9oes de ideias e nao de atos aproxirnandose assim cia ciencia Comucio as ideias combinadas deste modo naD tern por objetivo cxprcssar a natureza das caisas ja dadas mas sim dirigir a acao Elas nao consistcm em movimemos mas estao bem pr6ximas do rnovimento que devcm orientar Emhora nau sejam acoes elas sao pelo menos programas de acao c por isto aproximamse cia arte Alguns exemplos sao as Corias m6dicas politicas estrategicas etc Para exprimir 0 carater misto dcstGs ri pas de refiexao vamos chamalas de teorias pdticas A Pcdagogia e uma eoria pratica deste genero Ela nao estuda cientificameme os siswmas de educasao mas reflete sabre eles no intuito de for necer a atividade do educador ideias que 0 dirigem III Porcm a Pcdagogia vista desta forma esta sUJelta a uma objqao cuja gravidadc nau pode ser omitida Sem duvida vao dizcr uma Coria pratica e pusslvel e legltima quando ela pode se apoiar em uma ciencia constitufda e incontestavel da qual ela consdtui apenas a aplicacao Neste caso de fatD as n090es te6ricas das quais sc deduzcm as consequeneias ptieas pos suem um valor cicntffico que impregna as conclusOes oriundas delas E assim que a Quimica Aplicada e uma teoria pnhica que nao passa da implel11enta9ao das tcorias da Qufmiea pura Mas o valor de llma teoria pradea dependc do das ciencias eujus no 90es fundamentais ela toma cmprestado Ora em que cincias a Pedagogia pode se apoiar Primeiro na Ciencia da Educacau pois para saber 0 que a educayao deve ser antes de tudo seria preciso saber qual e a natureza dela as diversas condi9ucs das quais ela dcpcnde e as leis que guiaram a sua evoluClio atravcs da hist6ria Contudo a Ciencia da Educaclio existe sumeme em r Educaao e Socioiogia 87 esrado embrionario Restam de urn lado os outros ramos da Socioiogia que poderiam ajudar a Pedagogia a fixar 0 objetivo da educav3o com a orientacao geral dos metodos e de DUtro a Psicologia cujas li90es poderiam ser bastante lteis para a deter mina9ao detalhada dos procedimentos pedag6gicos Mas a 50 ciologia e uma cicncia ainda emergente dispondo so mente de poucas proposi6cs estabelecidas se c que dispoe realmente A propria Psicologia embora se tenha constiwido mais cedo du que as cieneias sociais provoca todo tipo de conuoversias nao hi questocs psicol6gicas em torno das quais ainda nao se defen dam as teses mais opostas possivcis Sendo assim qual 0 valor de conclusoes praticas com base em dados cientfficos ao mcsmo tempo tao incerros e incomplctos Qual 0 valor de uma rcftexao pedag6gica que careee de qllalquer base au cujas bases quando nao cstao wtalmente ausentcs carecem tanto de solidez o faw que invocamos assim para negar qualquer autoridadea Pedagogia e em si mesmo incontestavel E 6bvio que a Cicncia da Educ39ao resta a ser feita por inteiro e que a Socioogia bern Como a Psicologia ainda cstao bem POllCO adiamadas Portanto se nos fosse permitido cspcrar seria prudente e mct6dico tel paciencia ate que as ciencias tivessem feito progrcssos e pudes sem ser utilizadas com mais seguran9a 0 problema 6 que justa mente a paciencia nae nos e permitida Nao temos a liberdade de nos colocar OtI de aeliar a quesrao ela nos e colocada au me Ihor imposta pelas proprias caisas pelos faws pela necessidade de viver E tern mais somos levados pel a corrcnteza e e preciso seguir em reme Em muitos aspecQs 0 nosso sistema tradicional de educa9ao nlio sc cncontra em harmonia Com as nossas ideias e necessidades Portanto as unicas escolhas que nos restam sao as seguintes temar manter as pracicas legadas pelo passado embora 88 Coleao Textos Fundantes de Educaao elas nao satisfagam mais as exigencias da situa910 ou entao eo tar destemidamcnte restabelecer a harmonia perdida rcalizando as modificayoes nccessarias Destas duas escolhas a primeira e irrealizavel Nada 6 mais ilus6rio do que estas tentativas de dar uma vida artificial e uma aparente autoridade a instituiy6es cn vclhecidas e desacrediradas 0 fracasso e ineviravel nao se pode abafar as ideias que estas institui90es contradizem e nem calar as ncccssidades que elas dcixam insaasfeiras As forgas contra as quais sc enta assim lurar nunca sa em perdendo S6 nos resta portanto ref coragem para comc9ar a trabalhar buscar as mudangas que se impoem e realizaJas Mas como des cobrilas a naD ser atraves da rcflexao Somenre a consciencia re ftexiva pode preencher as lacunas de uma traditao obsoleta Ora o que e a Pedagogia senao a reflexao aplicada da maneira mais met6dica possfvel as coisas relativas a educatao no intuito de re gular 0 seu desenvolvimento Sem duvida nao remos em maos todos os elementos que desejamos para resolver 0 problema mas isto nao e morivo para nao buscar resolveIo ja que elc deve ser resolvido orranto nao temos mais nada a fazer senao agir da melhor forma possfvei juntando 0 maximo de faws instrurivos e interpretandoos com 0 maximo de metodo para reduzir ao mi nimo as chances de erra Este e 0 pape do pedagogo Nada e mais vao e esreril do que aquele puritanismo cienttfico que sob o pretexto de que a ciencia ainda nao esta prama recomcnda a abstenao e aconsclha os homens a assistirem indiferentes ou pelo menos resign ados a marcha dos acontecimentos Ao lado do sofisma de ignorancia esta 0 sofisma de ciencia nao men os pcri goso Sem duvida agindo nestas eondioes correse riscos Mas a atao nunea se da sem riscos pOl mais avan9ada que seja a ciencia nao pode eliminaIos udo a que podemos fazer e empregar toda Educacao e Sociologia 89 a nossa eiencia por mais imperfeita que ela seja e toda a nossa consciencia para prevenir estes riscos na medida das nossas capa cidades E e justameme este 0 papd da Pedagogia Comudo a Pedagogia nao e util someme em perfodos educos nos quais e preciso com urgencia restabelecer a harmonia entre um sistema escolar e as necessidades da epoc3 hoje em dia pelo menos ela se tornou uma auxiliar con stante e indispensavel da educaao Isto porque em bora a arre do educador seja kita sobretu do de instinros e hibitos que se tornaram quase instintivos a inteligencia continua sendo necessaria A reflexao nao po deria substitufIa mas 0 professor nao conseguiria dispensar a reflexao pelo menDs a partir do momento em que os povos tenham atingido urn cerro grau de civiliza9ao Oe fato tendo em vista que a personalidade individual se tomou urn elemen to essencial da eulrura intelectual e moral da humanidade 0 educador deve levar em conta 0 germe de individualidade que existe em roda criana Ele deve por todos os meios possfveis buscar favorecer 0 desenvolvimento dele Em vez de aplicar a todos invariavelmente 0 mesmo regula memo impessoal e uniforme ele deveria ao contrario variar e diversificar os mcto dos de acordo com os tempera memos e a disposi9aO de cada in teligeneia Todavia para poder acomodar com discernimento as praticas educativas a variedade de casos particulares e preciso saber quais sao as suas tendencias as raz6es dos diferentes pro cessos que as comp6em e os efeitos que elas produzem em dife rentes circunsrancias em suma e preciso submeteIas a reflexao pedag6gica Uma educaao empiriea e mecanica nao pode nao ser Opressiva e niveladora Alem disso a medida que avan9amos na hiSt6ria a evoIu9ao social se acelera uma epoca nao se assemelha mais a anterior cada uma tendo a sua propria fisionomia Novas 90 Coleao Textos Fundantes de Educatao necessidades e ideias surgem sem parar para poder acompanhar as ffiudanras incessantes que atingem as opini6es e costumes a propria educarao deve mudar e consequentemente apresentar lima cons tame maleabilidade permitindo assim a mudana Ora o unico meio de impediIa de sucumbir ao jugo do habito e dege ncrar em automatismo mccanico e imuravel e mantendoa eter namente vivaz atravcs da rcflcxao Quando ele analisa oobjetivo e a razao de seT dos m6todos que emprega 0 educador esra apm a julgalos c logo disposto a l11odificalos se aehar que oobjetivo nao 6 mais 0 mesmo au que os meios devem seI diferentes A rcflcxao e por exceicncia a fona anmgonica da roeina e a rotina 6 0 obstaculo aos progressos necessarios it por isra que como dissemos no comecyo embora seja verda de que a Pedagogia so surge na historia de modo intermitente ela tende cada vez mais a se rarnar uma funcyao continua da vida so ciaL A Idade Media nao tinha necessidade dela era uma epoca de conformismo na qual todos pensavam e sentiam da mesma for ma todas as mentes eram como que tiradas do mesmo molde as dissidencias individuais eram raras e inclusive proibidas Por isto a Educacao era impessoal nas escolas medievais 0 professor se dirigia coletivamente a rados os alunos sem imaginar que pudes se adaptar a sua acyao a natureza de cada um Ao mesmo tempo a imutabilidade das crenas fundamentais impedia 0 sistema edu cativo de evoluir rapidamente Por estas duas razoes 0 professor tinha menos necessidade de se guiar pelo pensamento pedag6gi co Tudo muda porem no Renascimento as personalidades in dividuais se destacam da massa social em que se mantinham ate entao absorvidas e misturadas as mentes se diversificam 0 de senvolvimento historico se acelera sirnultaneamente e uma nova civilizacao se constimi Para acompanhar todas estas mudanas a Educaao e Sociologia 91 reflexao pedag6gica irrompe e embora nem sempre brilhe com a mesma intensidade nunca mais se apaga complctamcnte IV Porcm para que cia possa produzir os efeitos uteis que e mos 0 direiw de esperar dela a reflexao pedagogica deve se submeter a uma culrura apropriada 1 1a vimos que a Pedagogia nao e e nao poderia substituir a educaao Seu papeJ nao consiste em fazer as vezes da pracica mas sim guiala esclareceIa ajudaIa quando necessario a preencher as lacunas que sobrevierem e remediar as deficiencias constatadas Porramo 0 pedagogo nao rem de construir de alto a baixo urn sis tema de ensino como se ja nao exiscisse urn antes dele devendo ao contrario empenharse sobretudo em conhecer e compreender o sistema de sua epoca esra e a condicyao para que ele esteja apto a usaIo com discernimento e julgar 0 que pode estar errado nele No entanto para compreendeIo nao basta consideralo tal Como ele se apresenta hoje em dia pois este sistema de edu caao e urn produto historico que somente a historia pode ex plicar Tratase de uma verdadeira instituiao social Alias nao existem muitos sistemas de educaao em que toda a hist6ria do pais repercuta de modo tao completo As escolas francesas traduzem e exprimem 0 espirito frances Porranto nao enten deremos nada sobre a essencia delas e 0 objetivo que buscam se na soubermos 0 que compoe 0 nos so espirito nacional quais sao os seus diversos elementos tanto os que dependem de cau Sas permanentes e profundas quanto os que ao contrario sao devidos a aao de fatores mais ou menos acidentais e passa geiros todas as questoes que somente a analise historica pode esclarecer Frequentememe se discute sobre 0 lugar que cabe 92 Coleao Textos Fundantes de Educaao a Escola Primaria no conjullw da nossa organizavao escolar e na vida da sociedade em gera Mas 0 problema sera insolUvel se ignorarmos como a nossa organizaao escolar se ormoll de onde vern as suas caracterfsticlS marcantes 0 que determinoll no passado 0 lugar que 0 Ensino Basico ocupa hoje as causas que favoreceram ou entravaram 0 desenvolvimemo etc Assim a hisdria do ensino pelo menus do ensino nacional e a primcira las propcdeuricas de uma culrura J1cdag6gica Natural mente SC sc tratar de Pcdagogia Primaria 60 cstudo oa histria do Ensino Primario que devcremos privilcgiar Por6m pcla razao que acabamos de apontar ele nao pode seT complcramcntc scparado do sistema escolar corna um rodo do qual ele nao passa de uma parte l No enranw esre sisrema escoJar nao e composto unicamen te de pratiC3s estabelecidas e mewdos consagrados pelo usc he ran do passado Nele se encomram a16m disso tendcncias para o fmuro e aspirac6es de um novo ideal emrevistO de forma rnais ou menos clara E importante conhecer bern estas aspirac6es para poder esrimar que lugar convem Ihes arribuir dentro da realidade escolar Ora elas vern manifesrarse nas douuinas pedag6gicas a hisr6ria destas doutrinas deve portanto completar a do ensino Podese pensar e claro que para cumprir a sua util missao esta hist6ria nao precise ir muito longe no passado podendo sem inconveniente sec basranre curta Nao basta ria saber as teorias em torno das quais as mentes conremporaneas esrao di vididas Todas as ourras dos seculos anreriores estao hoje obso lecas e parecem rer proveito apenas para os eruditos Porem acredimmos que este modernismo enfraqueca uma das principais fomes nas quais a reflexao pedag6gica se alimema De fato as domrinas mais recenres nao nasceram ontem elas sao a continuacao das anteriores sem as quais elas consequen Educarao e Sociologia 93 rcmenre nao pod em ser compreendidas Assim para descobrir as causas dererminanres de uma corrente pedag6gica com alguma impocrancia em geml e preciso urna a uma volrar basrame no tempo Alias isto e indispensavel para rer certeza de que as novas vis6es que fascinam as memes hoje nao sao brilhames improvisa c6es fadadas a cair m breve no esq uecimemo Poc exemplo para compreender a anral tcndcncia a ensinar atraves das coisas 0 que se pode chamar de rcalismo pcdag6gico nao dvemos nos comen rar em ver como tal au tal professor contemporanco a segue mas sim vol tar are 0 momentO em que cia surgc ou scja no mcio do seeulo XVIII na Frana e por volta do tim do XVIT em eerros paises protestantes 86 0 faro de ela ticar assim associ ada as suas primci ras origens fad com que a pedagogia realista se aprescnte sob urn ourro aspecro perceberemos melhor a quanw ela se deve a causas profundas impessoais e influences em todos os palses europcus c ao mesmo tempo reremos melhores chances de observar quais sao esras causas e logo de medir a verdadeira reperCllSSaO deste mavimenro Mas alem disso esra corrente pedag6gica se consti miu em oposicao a uma corrente comriria a do ensino humanista e livresco Portamo s6 poderemos analisar a primeira com sabe doria se tambem conhecermos a segunda Somos cntao obrigados a vahar bern mais no tempo Para que ela de Odos os scm fruws csta hist6ria da Pedagogia nao deve alias ser separada da historia do ensino Embora as tenhamos distinguido aqui na vcrdadc elas sao complementares pais em cada epoca as doutrinas dependem do estado do ensino qual elas refletem ao rnesmo tempo em que rcagem contra cle AJem disso na medida em que exercem uma aao eficaz e1as contribuem para determinalo Portamo a cultura pedag6gica deve ter lima base extre mameme hist6rica S6 assim a Pedagogia pod era evirar uma 94 Co l eao Textos Fundantes de Edu caao aCUS3yao que com frcquencia e levanrada contra ela e que ja pre judicou bastamc a slIa amoridade Muiros pedagogos e demrc eles os mais ilusrres quiseram edificar os seus sistemas fazcndo abstra9ao do que havia existido ames deles Neste ponto traca m enro aD qual Ponocrates submete GargJntua6 antes de iniciaIo aos novas mewdos e significativo de faz uma lavagem cerebral com heleboro de Anticira de modo a fazeIo esquecer tuda o que ele havia aprendido Com os sellS antigos preceptores 150 significa va dizer de forma aleg6rica que a nova pedagogia nao deveria tef nada em C01l1um com a anterior Mas ao mesmo tempo isto equivalia a se distanciar das condioes da realidade o futuro nao pode ser imaginado a partir do nada s6 podemos construfIo com as materiais que 0 passada nos legau Urn ideal construfdo na direao oposta do estado das coisas exisrentes nao C nIlizavcl ja que nao possui ralzes na realidade Alias 6 claro que passado tinha suas razoes de ser do jeiw que foi ele nao podcria ter durada se nao tivesse satisfeiw necessidades legftimas que nao paderiarn desaparecer da noiw para 0 dia Portanto nao se pode ser taO radical e finer cibula rasa a nao ser que ignoremos necessidades vita is Foi assim que muitas vezcs a Pedagogia nao passou de uma forma de iirerarura ut6pica Terfamos pen a de crianas nas quais a mewdo de Rousseau ou de Pestalozzi Fosse aplicado com rigor Sem duvida estas utopias desempenharam um papel util na hisr6ria 0 pr6prio simplismo delas Ihes perrni riu aringir as men res com mais intcnsidade e estimulaIas a agir Porem primeiro estas vamagens nao deixam de rer inconvenien es E segundo para aquda pcdagogia do dia a dia da qual Odo professor precisa para entendcr c guiar a sua pnhica cotidiana e 6 Trdt3se de urn romance de Franois Rabelais escrito em IS41NT I Educaao e Sociologia 95 preciso menos treinamento fanatico e unilateral e ao contrario mais metoda urn sentimento mais presente da realidade e das multiplas dificuldades que sc deve enfremar E este sentimemo que levant a uma culrura hist6rica bern compreendida 3 S6 a hist6ria do ensino e da Pedagogia perm ire derermi nar as metas que a educalYao deve buscar a todo momento No emanto e na Psicologia que cabe procurar os mcios necessarios a realizacao desras metas De faro 0 ideal pedag6gico de uma epoca expressa antes de rudo estado da sociedacle na epoca considerada Contudo para que cste ideal se tOme realidade e preciso ainda fazer com que a con sci en cia da crianlYa se conforme a ele Ora a conscicncia tern as suas proprias leis as quais e preciso conhecer antes de modificar se quisermos evirar tantO quanta possivel as cenrati vas empfricas que a Pedagogia busca jusramenre reduzir ao mf nimo Para poder estimular 0 desenvolvimento da arividade em uma cena dirqao 6 preciso saber quais sao os mecanismos que a mavem e a natureza ddes S6 assim sera possivel aplicar ai com conhecimento de causa a a9ao adequada Sera que se trara por exemplo de despertar 0 amor da parria OU 0 sentimento de hu manidade Saberemos oricmar mdhor a sensibilidade moral dos alunos neste ou naqllcle senrido quando tivermos nocoes mais completas e precisas sobre 0 conjunto dos fen6menos que cha mamas de cendencias habiws dcsejos emocoes erc sobre as diversas condicoes que os regem e tiobre a forma sob a qual eles se manifestam na criana Con forme virmos as rendencias como produtos das expericncias agradavcis ou nao que a especie viveu ou ao conu3rio como urn faeo primitivo anterior aos estados afe rivos que acompanham a seu mecanismo deveremos agir de mo dus basta me diferemes para regular 0 seu funcionamemo Ora e 96 Colerao Textos Fundantes de Educarao a Psicologia e em especial a Psicologia Infantil que cabc resolver cscas quest6es Ponamo embora ela seja incompetence para 6 xar 0 objetivo ja que 0 mesmo varia dcpcndcndo dos estados sociais ela certameme tern urn papcl Iti1 a desempenhar na consjtlliao dos metodos E mais como nenhum mewdo pode ser aplicado da mesma maneira nas diferentes criancas e mais uma vez a Psicologia que deve nos ajudar a nos situar em meio a diversidade das inteljgencias c carareres lnfel izmente sabemos que ainda esramos longc do momento em que ela realmente es tara apta a satisfazcr cstc desideratum Urn ramo espccffico da Psicologia rem uma importancia ca pital para u pedagogo a Psicologia Coletiva Ue faw uma tur rna e uma pequcna sociedade Por isto nao se deve conduziIa como sc ela fossc apenas uma simples agiomera9ao de sujeitos independenrcs tIns dos OlltroS CrianlYas reunidas em uma tur rna pensam sentem e agem de modo diferente de quando estao isoladas Em uma turma produzemse fen6rnenos de contagio desmotivaao coletiva agita9ao mutua e efervescencia saudavcl que 6 prcciso saber discernir no intuito de prevenir Oil combatcr uns c uti lizar os OUtros Sem duvida esta ciencia ainda 6 uma criana No en tanto existe desde ja urn cereo numero oe teses que nao se deve ignorar Estas sao as principais disciplinas que podem ocsperrar e alimentar a reflexao pedag6gica Em vez de huscar decretar lim c6uigo abstrato de regras rnetodol6gicas para a Pedagogia ini ciativa que a partir de uma investiga9ao tao composta e eomple xa nao e plenamente realizavel achamos mclhor indicar de que maneira em nos sa opiniao a pedagogo dcvc ser farmada Uma certa atitude mental face aos problemas que cabe a eJe resolver sc masua por isto mesmo determinada 3 PEDAGOGIA E SOCIOLOGIA Senhorcs Para mim e lima grande honra cujo valor eu simo intensa mente ter de substituir nesta cadeira homem de grande bom scnso e firme vontade ao qual a frana deve em larguissima parte a renovaao do seu Ensino P rimario Tendo estado em contato Intima com as professorcs das nossas escolas desde que eomecei a ensinar a Pedagogia na Universidade de Bordeaux ha quinze anos pude ver de perro a obra a qual 0 nome do Sr Buisson ticara definitivamentc associ ada Por conseguime re conhe90 coda a sua grandeza sobrctudo quando me lembro do estado no qual se encontrava estc Ensi no no momenta em que a reforrna toi empreendida 5 impossivel nao admirar a impor tancia dos resultados ohtidos e a rapidez dos progressos realiza dos Multiplicaao e transformacao rnaterial de escolas substi tuilYaO das velhas rotinas de antigamente por metodos racionais Urn verdadeiro impulso na rcf1exao pedag6gica e um estimulo geral de todas as iniciativas tudo isto certameme consritui uma das maiores e mais bemsucedidas revolu90es que ocorreram na hist6ria da nossa Educacao nacional Portanto para a ciencia foi lima verdadeira sone quanoo ao considerar a sua rarefa como eoncluida 0 Sr Buisson rcnunciou as suas exaustivas fun90es para compartilhar atraves do ensino os resultados de sua io Comparavel experiencia Uma cxtcnsa pnitica guiada por uma 98 Coleao Ttxtos Fundantes de Educaao vasta filosofia ao mesmo tempo prudente e curiosa a respeito de wdas as nov ida des devia necessariamcnre dar a sua pala vea lima auwridade auwcidacie esr3 reallYada al6m disso pelo prestigio moral oa sua pessoa e pelo reconhccimc nto dos ser viyos presrados a todas as grandes causas as quais 0 Sr Buisson dedicou a sua vida Eu nao POSSllO nada qucse pareca com uma competcncia tao especifica Por isto eu ceria razao de me sentir pacricuiarmcn te assustado diante das dificuldades da minha tarefa se naD me acalmasse com a ideia de que problemas tao complexos podem sec estudados de forma util par mentes e pOntOS de vista di versos Sociulogo e sobretudo enquanto soci6iogo que falarei a voces sobrc cducacao Alias nao acredito me expor aver e mos trar as coisas pur uma perspectiva deformauora aO proceder as sim pois cnho certeza de que ao contrario nao existe metodo mais apto a rcssaltar a verdadeira natureza das coisas De fato na minha opiniao 0 postulado de toda jn ves ti gaao pedag6gica e a tese de que a educacao e uma coisa eminentcmente social tantO par suas origcns quanto por suas funt6es e que logu a Pe dagogia dependc mais da Sociologia do que de quaiquer outra ciencia E tendo em vista que esta ideia dominara todo 0 meu ensino assim como cia ja dominava 0 ensino semclhantc que eu ministrava antes em uma outra universidade parccellme ser conveniente usar esta primeira aula para identificala c tornaIa mais precisa para que voces possam seguir melhor as aplicacocs uiteriores Nao que seja possivel fazer lima demonstracao cx pressa durante uma unica aula Urn principio tao gcral e cujas repercussoes sao taO extcnsas s6 pode ser analisado progrcssiva mente a medida que entramos nos detalhes dos faws e vemos como cle se aplica ai Porem a que podemos fazer desde ja e Educaao e Socioiogia 99 dar urn panorama indicar as principais razoes pcbs quais ete deve ser aceiro desde 0 inicio do estudo a titulo de presuncao provis6ria e sob reserva de verificacoes nccessarias e por fim revelar ao mesmo tempo Uda a sua cxtcnsao e as seus limites cste sera 0 tema da nossa primeira aula I It necessario ehamar imediatamente a atenrao de voces para este axiom a fundamental que em geral e ignorado Ate alguns an os atras e mesmo assim as exceroes podem ser cootadas nos dedos7 os pedagogos ll1odernos cram unanimes em vcr a cd ucaao como li ma caisa eminentemcnte individual e logo a Pedagogia como urn coroIario imediato e direto somcote da Psicologia Tanto para Kane quaneo para Mill e tanto para Her bart quanto para Spencer 0 objetivo da educarao seria antes de tudo realizar em cada indivfduo os atributos constitlJtivos da especie humana em gerai elevandoos porem ao seu mais alto grau de perfeicao Supunhase como uma vcrdadc evidcnte que 7 A ideia ja havia sido formulada por Lange em uma aula de abercura pu blicada em MOlloshefte derConufliulgesellsdwjt t III p 107 Ela foi retoma da por Lorenz von Stein em VermoluIIgslehre t V A esta mesma corrente pertencem WILLMANN Qno Didaktik als Bildullgslehre Nach ihren Beziehungen zur Sozialforschung und wr Geschichte deT Bildung 2 vol Leipzig Gr bner 18821889 NAJQRP Paul SozialJiidagogik Theorie deT Willenscrzichung auf de Grundlage de GemeinschafL 3 ed SWt tgart Frommann 1909 fl ed 1899J BERGEMANN Paul Soziae Pt1e dagogik auf erfahrungiwissenschaftlicheT GTundlage und mit Hilfe deT induktiven Methode als universalistische oder KulturP dagogik Gera T Hofma nn 1900 Vamos mcncionar tambem VINCENT George Edgard The socia mind and eriuCtJtiofi Nova York Macmillan 1897 ELSLAN DER JeanF rano i s LidliCOfioll t111 point de vue socigique Bruxelles J Lebegue 1899 100 Coleao Textos Fundantes de Educarao havia lima unica educaao que excluindo qualquer Dutra COI1 vinha indistintamente a rodos as homens fossem quais fossem as condi90es hist6ricas e sociais em meio as quais eles viviam e este ideal abstrato e unico que os te6ricos da edLlcaao se propu nham determinar Admiriase que havia uma natureza humana cujas form as e propriedades eram determiniveis uma vez por rodas C 0 prohlema pedag6gicu consistia em buscar saber de que mancira a asao cducadora deveria se exeTerr na natureza humana assim dcfinida Scm dlivida ningucm nunca pensou que 0 homcm Fosse imcdiacamcntc assim que cntrassc na vida lido 0 que ele pode e deve seT E bastantc 6bvio que seT hu ITlano 56 se constitui de modo progress iva ao longo dc urn lemu processo que comea no nascimento e so termina na maturida de Porem imaginavase que este processo nao fazia TIais do que atualizar virtualidacles revelar energias lmentes que existiam ja preformadas no organismo ffsico e mental cia crian93 PorwntD o educador naG teria nada de essencial a acrescemar a obra cia natureza nao criando nada novo 0 seu papel se limitaria a impe dir que estas virrualidades exjstentes se atrofiassem par causa da inatividade au se desviassem de sua direao normal au ainda se desenvolvessem com demasiada lenticlao Assim as condiyoes cle tempo e lugar e 0 estado em que se encontra a meio social per dem tada a utilidade para a Pedagogia Ja que 0 hom em carrega dentro de si tDdos os germes do seu clesenvolvimento e ele e someme ele que e preciso observar quando se quer determinar em que semido e de que maneira este desenvolvimento deve ser orientado 0 imponame e saber quais sao as faculdades inatas e a natureza das mesmas Ora a ciencia cujo objetivo e descrever e explicar 0 homem individual e a Psicologia Panama ela deve bastar para todas as necessidadcs do pedagogo Educaao e ociologia 101 T nfelizmcnrc eta concepc3o cia educaC30 esni em conua diCao formal com tuelo 0 Clue a hist6ria nos ensina de faro nao existe nenhum povo em que cia Cnha sido colocada em prarica Em primeiro lugar nao hi uma educaao universal mente valida para 0 genero humane inteiro em todas as sociedades por as sim dizer sistemas pedag6gicos diferentcs coexistem c funcio nam em paralelo Tal saciedade e fannada par eastas A eduCJ cao varian de uma casta para a outra ados aristDcratas nao era igual ados plebeus ados bramanes nao era iguaJ ados sudras Oa mcsma forma na Idade Media que desproPor9ao entre a cultura rccebida pelos jovens pajens instruiclos em wdas as ar tes da cavalaria e ados camponeses livres que iam aprender na escola de sua par6qllia alguns escassos elementos de complIto canto e gramatica Ainda hoje nao vemos a educacao variar com as classes sociais ou mesmo com os habitats A da cidade nao e igual a do campo a do burgues nao e igual a do opera rio Dirao par af que esta organizayao nao e moral mente justifidvel e pade ser considerada como urn anacronismo destinada a desaparecer A lese e ficil de defender E 6bvio que a educayao dos nossos fi Ihos nao deveria depender do acaso que oS faz nascer aqui au hi de ais pais ern vez de outros Porcm mesma que a consciencia moral de nosso tempo tivesse sido satisfeita neste pomo nem por isso a educacao seria mais uniforme Mesmo que a carreira de cada crianca nao fosse em grande parte predeterminada por uma cega heredirariedade a divcrsidade moral das profiss6es nao deixaria de exigir uma grande diversidade pectag6gica De fatD cada profissao constitui urn meio sui generis que demanda aptid6es e conhecimentos especfficos urn meio no qual pre do minam certas ideias usos e rnanciras de vcr as coisas e ja que a crianca deve estar preparada com vistas a funao que sed levacla 102 Coleao Textos Fundantes de Educaao a cumprir a cdUC31aO a partir de determinada idade naD pode mais continuar a mesma para todos os sujeitos aos quais ela se aplicar E por ism que em todos os paises civilizados ela ende cada vez mais a se diversificar c sc especiaiizar e esta especia lizaao a se tornar cada vez mais precoce A hererogeneidadc produzida assim nao repousa sobre inegavel injustica como a que observamos agora hi poueo rnas ela nao e menor Para e n contrar uma eduCtao absolutamente homogenea e igualicaria e preciso voltar no tempo ate as sociedades prehist6ricas no seio das quais nau existia nenhuma diferencia9ao c ainda assim estes tipos de sociedadcs representam apenas urn momento 16 gico na hist6ria da humanidade Ora e 6bvio que estas ed l1ca6es especifieas nao sao nem urn pall co organizadas com fins individuais Sem ddvida as vezes acomece de e1as provocarem nos indivfduus 0 descnvolvimemo de aptidoes singularcs que ja se encontravam imanentes e s6 es ravam esperando para enrrarem em aao neste senti do podese dizer que elas us ajudavam a realizarem a natureza deles Porem sabemos 0 quanto estas voca6es estreitameme dennidas sao ex cepcionais Dc modo mais geral 0 nosso tcmperamenw inrelec cual ou moral nao nos predestina a uma funao bern dererminada o homem medio 6 eminentemente plistico podendo ser urili zado da mesma forma em empregos basta nrc variados Ponamo se ele se especial iza e se 0 faz de cal mudD em vez de ourro na e por razoes intcriores e nem pel as necessidades da natureza E a sociedade que para se manter exige que 0 trabalho se divida entre os seus mcm bros e de tal maneira em vez de outra E por isto que ela prepara COfn as suas pr6prias maos atraves da educa ao os trabalhadores especializados dos quais precisa Portamo foi para e poc ela que a educaao se diversificuu assim Educaao e Sociologia 103 E tern mais Longe de nos aproximar necessariamcnte da perfeiao hurnana esta cultura espedfica engendra uma deca den cia parcial e ism acontece embora ela se encontre em har monia corn as predisposi90es naturais do individuo Isto porque nao podemos desenvolver com a intensidade necessaria as fa culdadcs privilegiadas pe1a nossa funao sem deixar as outras se entorpeccrem com a inatividade e scm ahdicar par conseguin re de toda uma parte da nossa natureza Pur exemplo enquanto indivfduo 0 hom em nao e men os feiro para agir do que para pensar Alias tendo em vista que ele 6 antes de tudo um ser vivo e que a vida e a930 as faculdades ativas talvez the sejam mais essenciais do que as ouuas E no en tanto a partir do mo mento em que a vida intelecrual das socicdades atinge um cer ro grau de dcsenvolvirnento hi e deve nccessariamente haver homens que se dediquem a ela de modo exclusivo ou seja que nao faam omra coisa senao pensar Ora pensamento s6 pode se desenvolver desligandose do movimcnto recolhendose em si mesma desviando u sujeito da a910 Assim focmamse aqlle las naturezas incompietas em que wdas as energias da atividade se convertem poc assim dizer em reAexao naturezas que pOT mais mutiladas que estejam em certos aspectos constituem emretamo os agentes indispensaveis do progresso cientitico A analise abstrata da constituiao humana jamais teria permitido preyer que 0 homem fosse capaz de alterar assim 0 que e consi derado a sua essen cia e nem que Fosse necessaria uma educavao que preparasse estas dteis altera6es Contudo seja qual for a importancia dcstas educaoes cs pecificas elas nao sao a edueaao toda Podese are dizer que elas nao sao autossuficiemes em todos os lugares em que sc pode observalas elas 56 divergem umas das outras a partir de 104 Coletao Textos Fundantes de Educaao cerro POnto aquem do qual elas se confundcm Todas elas re pousam sabre uma base comulTI Nao hi ncnhull1 povo em que nao exisra certo numero de ideias senti memos e pnhicas que a educacriio dcvc inculcar em codas as crianas sem disrincrao seja qual for a cmegoria social a qual elas pertencem E inclu sive esta cdllcaao comum que e considerada em geral como a verdadcira educavao So mente cia parece plenamente mcrcccr sec dcsignada desta forma A cia e concedida uma espccic de prcdominancia com reiaiio as outfas Panama e suorctudo esra cducaao que e importante invesrigar para saber como se su poe se ela esnl conrida pDf inteiro na nOlao de homcm e pade sec deduzida da mesma Para dizer a verdadc a qllestao nem se coloca a respeito de wdo 0 que envolvc os sistemas de educaao que a hist6ria nos apresenta Eles estao tao obviamente ligadus a sistemas socia is determinados que acabarn sendo inseparavcis deles mbora houvesse em Ruma lima educaao comum a todos os romanos apesar das difercncas que separavam a aristocracia da plebe esra educa9ao sc caracterizava por ser essencialmente romana Ela reftetia tuda a organiza9ao da p6lis ao mesmo tempo em que era a sua base 0 mcsrno vale para todas as sociedades hist6ri cas Cada tipo de povo possui uma educacao que Ihe e pr6pria e que pode definiIo ao mesmo tfudo que a sua organizaao moral politica e religiosa Trarase de urn dus elementos da sua fisio nomia Esta c a razao pela qual a educacao variou de forma tao prodigiosa de acordo com as epoCas e palses pela qual aqui na Fran9a ela far 0 indivfduo entregar a sua personalidade com pleramente nas maos do Estado ao passo que em outros lugares ela forma ao contnirio seres auronomos e donas de sua pr6pria condura e pela qual ela era ascetica na Idade Media liberal no EducaClo e Sociologia 105 Renascimento lireraria no seculo XVll e cientffica hoje em dia Isto nao significa que por causa de aberra9oes os homens se ten ham enganado a respeito de sua natureza humana e de suas necessidadcs mas sim que estas necessidades variaram e varia ram porquc as condicocs sociais das quais e1as depend em nao pennaneceram inalteradas Porem por lIma contradicao inconsciente recusamos com rela9ao ao presenre e mais ainda com rclasao au futuro aquilo que admirimos facilmenre corn re la ao ao passado Todo 0 mun do reconhece sem discllrir que em Roma c na Grecia 0 unico objetivo da educaao era formar gregos e romanos e que par conseguinte a educa9ao estava associ ada a todo urn conjunto de instirui6es poifticas morais econornicas e rcligiosas No en tanto imaginamos alegremenre que a nossa educaao moderna foge a lei comum e que awalmente ela dcpcnde cada vez me nus das contingencias socia is pois tende a se libcrtar wtalmente delas nu futuro Nao reperimos sem parar que queremus trans formar os nossos filhos em homens antes mesmo de transforma los em cidadaos E nao parece que a nossa qualidadc humana seja naruralmente imune as inAuencias colerivas ja que pela logiea e anterior as mesmas E todavia nao seria uma especie de milagrc se a natureza da educacao tivesse mudado tao completamente depois de ter tido todas as caracterfsticas de uma institui930 social durante s6culos c em todas as sociedades conhecidas Tal transforma ao parece ainda mais surpreendeme se levarmos em conside raao que 0 momentO em que ela ceria aconrecido 6 jusramente aquele em que a educacrao come90u a se tornar urn verdadei co servico publico desde 0 final do seculo passado cia rende lao somente na Frana mas em toda a Europa a fiear cada vez 106 Coleao Textos Fundantes de Educaao mais diretamente sob 0 controle e a direcao do Estado Sem duvida os objetivos que cia busca se afasram cada vez mais das condioes locais ou 6tnicas que antigamente as singularizavam tornanduse mais gerais e abscraQs Mas eles nao deixam de ser essencialmcnte colerivos De fata nao e a coletividadc que os impoc Nao e ela que nos ordena a desenvolvcr nos nossos n Ihos antes de wcla as qualidades que eles compartilham com codas as homens E em mais ela nau somcow cxerce sabre n6s uma pressao moral atraves da opiniao para que eorcndamos assim os nossos cleveres de educadorcs como tambem valoriza mow a educacao q lie cornu eu acabci de dizer ela pr6pria se encarrega cia tarefa E facil adivinhar que se ela preza a edu cacao a este pomo e porquc cia vc as vamagens que a mesma pode Ihe oferecer E de faw somente uma culw ra amplamente humana pode dar as socicdades modernas os cidadiios dos quais e1as precisam Ism porque cada urn dos grandes povos europe us cobre urn imenso habitat e engloba as racas mais diversas Alem elissa 0 trabalho 6 cxtremal11ente dividido os indivfduos que o comp5em sao tao diferentes uns dos OUtfOS que nao ha mais quase nada em comum emre eles salvo a sua qualidade humana em gera Portanto eles s6 podem manter a homogeneidade in dispensavei a qualqucr cotlsetlso social se forem tao semelhanws quanto possivcl no Jnico aspecto em que toelos se parecem ou seja enquanw wdos forem seres humanos Em outfas paiavras em socicdadcs tao cliferenciadas a Jnico tipo coletivo que pode haver 6 0 tipo generico de homem Se ele perclesse urn pouco cia sua gcncralidade ou deixasse 0 antigo particularismo reaparccer os grandcs Estados europeus se dividiriam em uma pluralidade de pequenos grupos fragmemarios e se decomporiam Logo 0 nosso ideal pedag6gico reflete a nossa estrutura social assim Educaao e Sociologia 107 como ados gregos e romanos s6 pode ser com precndiclo a partir da organizacao das p61is Se a nossa educa9ao moderna nao e mais csrreitameme nacional e em funcao cia maneira como as na90cs modern as se constituiram E isto nao c tudo a sociedacle nao somente eleva 0 tipo hu mana a dignidade de modelo para 0 educador reproduzir como tambem 0 constr6i e 0 constr6i de acordo COm as suas neccssi dades E urn equivoco pensar que ele ja esteja dado por intciro na consriw icao nawral do homem que basta uma observaao met6dica desta ultima para descobriIo sem se abster no cn tanto de ernbelezalo mentalmente em seguicla imaginando a mais alto grau de desenvolvimemo daquilo que ainda se en contra em estado rudimcntar 0 homem que a educacao deve realizar em n6s nao e a homcm tal como a natureza crioll mas sim tal como a sociedadc quer que de seja e ela quer que cle seja da forma exigida pela sua economia interior A prova disto e a maneira como a concepsao ti homem variou con form e as sociedades Assim como n6s os homens dOl Antiguidade tam bern acreditavam esrarem formando os seus 1lhos para seren1 homens Se eles se recusavam a eonsiderar um estrangeiro como seu semelhante e jusramencc porque na opiniao cleles somente a edueasao cia p61is era capaz de formar seres verdadeira e pro priamente hllmanos S6 que elcs eoncebiam a humaniclacle da maneira deles que nao e a mesma que a nossa Toda mudana urn poueo importante na organ izasao de uma sociedade provoca uma mudansa de iguaJ importancia na ideia que 0 homcm nu tre a respeito de si mesmo Se 0 rrabalho social se dividir ainda mais sob a pressao da crescence concorrencia e a especializ3ao de cada trabalhador for ao mesmo tempo mais intensa e preeo ce 0 conjullto de coisas que a cducaao comum engloba devera 108 Coleao Textos Fundantes de Educarao necessaria mente se rcuuzir c por conseguime as caractcristi cas do tipo humano diminuirao Antigamente a cultura litcraria era considerada como urn elemento essencial de toua cultura humana IIojc csra chegando a epoca em que c ia talvez nao passe de uma cspecialidade Ua mesma forma entre as nossas faculdadcs cxiste uma hierarquia comprovada atfibuimos lima espccic dc superioridade a algumas delas as quais devernos por isto mcsmo desenvolver mais do que as outras Parem isto nao significa que esta dignidade seja intrfnseca as mesmas ou seja que a pr6pria natureza Ihes tenha designado para a eternidade csea eminente posilao mas sim que elas rem mais valor para a sociedade Logo como a cscala destes valores muda necessaria mente com as sociedadcs csea hierarquia nunCd permanece a mesma em dois momentos difcrenres da hist6ria Omem era a coragem que ocupava 0 primeiro plano com todas as faculdades exigidas pela virrude miliear Hoje eo pensamenw e a rcftcxao Amanha talvez seja 0 rcfinamento e a sensibilidade com rclacao as coisas anlsricas Assim tanto no presenre quanto no passa do 0 nosso ideal pcuag6gico e nos mfnimos detalhcs fruto da sociedade E ela que rraa 0 retraro do homem que devemos ser rerrato no qlIal se refletem todas as parricularidades da sua organizlcao II Em suma individuo e os seus interesses nao sao 0 unico ou principal objetivo da educacao a Qual e antes de tudo 0 meio peIo qual a socicdade renova eternamente as condi6es da sua pr6pria existcncia A sociedade s6 pode viver sc cxistir uma ho mogeneidade suficiente enrre os seus memhros A educ3ao per pewa e reforca esta homogeneidade ao fixar de anrcmao na alma Educaao e Sociologia 109 da crianca as semclhancas essenciais que a vida coletiva slIpoe Porem ao mesmo ecmpo qualquer eooperacao seria impossivel sem uma certa diversidade A educacao garame a continuidade desta necessaria diversidade diversific3nciosc c especializando se a si mesma Portanw cia consisre em um ou outro destes aspectos em Ulna sociali7aao met6dica das novas geracoes Em cada urn de n6s podese dizer existem dois seres que embora se rnostrem inseparaveis a nao ser por abstraao nao deixam de ser distintos Um e composw de wdos os estados mentais que dizem rcspeiw apenas a ns mesmos e aos acontecimentos da nos sa vida pessoal eo que se poderia chamar de ser indivi dual 0 outro c urn sistema de ideias sentimenros e hiibiws que exprimem em nos nao a nossa personalidade mas sirn 0 grupo ou os grupos diferentes dos quais fazemos pane rais como as crenas religiosas as crenas e praticas morais as tradi6es na cionais ou profissionais e as opini6es coletivas de todo tipo Este conjunto forma 0 sef social Constituir este ser em cada urn de nos e 0 objetivo cia cducacao Alias e ai que sc manifesta melhor a irnpordineia do seu pa pcl e a fecundidade da sua acao Dc faro este ser social nao somente nao se cncontra ja pronto na constituiCao primitiva do homem como tarn bern nao resulta de urn desenvolvimento es pomaneo Espomancamente 0 homem nao tinha tendencia a sc submeter a uma allwridade poiftica respeitar uma disciplina moral dedicarse e sacrificarse A nossa natureza congenita nao aprcsentava nada que nos predispllsessc necessariamente a nos tornarmos servidorcs de divindades emhlemas simb6licos da socicdade a Ihes prcstarmos cllito ou a nos privarmos para hon dIas Foi a pr6pria sociedade que a medida que ia se formando c se consolidando tiruu do sell seio estas grandes fonas mora is 110 Coeao Textos Fundantes de Educarao diante das quais 0 homem scntiu a sua inferioridadc Ora com eXCe30 de tendencias vagas c incenas que podcm ser auibufdas a hcrcdirariedade ao cntrar na vida a crianlYa tcaz apenas a sua naUlreza de indivfduu Partama a cada nova ge raao a socieda de se enCQmra em prcsena de uma tcibula quase rasa sabre a qual ela deve construir novamenre E prcciso que pelos meios mais rapid os ela subsriwa 0 sec egolsra c associal que Hea oa de nascer por urn Dutro capaz de levar uma vida moral e social Esta e a abea da cduca9ao cuja grandeza podemos reconheccr Ela nao se limita a reforar as tendencias naturalmente marcantes do organismo individual au seja desenvolver potencialidades ocultas q ue s6 estao esperando para serem reveladas Ela cria um novo ser no homem e este homem e feiro de tudo 0 que h de melhor em n6s e de tudo 0 que d valor e dignidade a vida Esta virtude criadora e alias um privilegio cspecif1co da eduCa9ao humana A que os animais recebem e complemmenre diferente se e q ue podemos charnar de eduea9ao 0 treinamen to progressivo ao qual eles sao submeridos por sellS pais Este treinamcnto bern pode acclerar 0 desenvolvimcnto de eertos instinros que estao latentcs no animal mas nao 0 inieia a uma nova vida Ele faeilita 0 movimento das fUI190es natura is mas nao eria nada lnsrrufdo pcla mae 0 filhore sa bed voar ou fazer o ninho de forma mais dpida mas nao aprendera qU3se nada a oao ser arr3ves de sua cxperiencia individual E que os animais ou vivcm fora de todo estado social ou formam sociedades bastan te simples que funcionam a partir de mecanismos inscimivos que Cdda indivfduo carrega consigo perfeitameme constiwfdos desde 0 nascimento Ponamo a educacao nao pode acresccntar naela de es sencial a nawreza vista que esta ultima e inteiramenre suficiente tanto para a vida do grupo quanto para a do inelividuo No homem Educacao e Sociologia 111 ao contdrio as aptidoes de todo tipo que a vida social sup5e sao complexas demais para poderem de certo modo encarnarse nos recidos e marerializarse sob a forma de predisposioes orga nicas Poc conseguime elas nao poclem ser transmiridas de uma geracao para a ouna atravcs da heredirariedade E a educacao que garanrc a rransmissao Este aspecto marcame cia cducacao humana e 0 fato de 0 ho mem reIo senrido bem cedo podem ser comprovados atraves de uma cerimonia realizaela em muitas sociedades a inicia9ao Ela ocorre quando a educaao term ina em geml cIa ate feeha 0 ul timo perfodo em que as anciaos estao concluindo a insrruao dos rapazes revelandoIhes as crencas mais fundamentais e os rims mais sagraclos da tribo Depois que cia acaba 0 sujeito que a river recebido passa a oClipar urn lugar na sociedade Elc se destaca do grupo das tnulheres no meio das quais viveu durante toela a sua infancia e se junta aD dos guerreiros dentro do qual tern a partir de entao umCl posicao bern definida Ao mesmo tempo ele toma eonscicncia do seu sexo cujos direitos e deveres passa a rer ja qlle se tornou lim hom em e um eidadao Ora lima crcn93 univer salmenrc difundida em wdos estes povos e que este sujeito pelo pr6prio faw de ter sido iniciado tornase urn homem inteiramen te novo cle muda de personalidade c ate de nome 0 q ual nao e entaO considerado como urn simples signo verbal mas sim como um elemento essencial da sua pessoa A iniciaCao e vista como um segundo nascimento A mente primitiva simboliza esta rrans formacao imaginando qlle urn principia espiritual lima especic de alma nova encarnouse no indivfduo Porem se e1iminarmos as form as miticas que cnvolvem esta erema nao veremos sob 0 simbolo desta ideia e de forma obscura que a educatao cria urn ser novo no homem Tratase do ser social 112 Coleao Textos Fundantes de Educaao No entanto podese objcrar se de fato e possfvel conceber que as qualidades propriamenre marais s6 podcm sec susciradas em nos poc uma actao vinda do exterior uma vez que elas im poem priva6es ao individuo e reprimem os seus movimentos naturais nao haveria outras qualidades que todo hom em tern interesse em adquirir c busca espontaneamente Pensemos por exempl0 nas diversas qualidades da intcligencia q ue the pcrmi tern adaptar melhor a sua conduta a natureza das coisas Pcnse ruos tambem nas quaJidades ffsicas c em tudo 0 que contribui para 0 vigor e a saude do organismo Com rela930 a cstas lilti mas pelo menus parece que a educa9ao ao desenvolveIas nao faca mais do que wmar a dianteira do pr6prio desenvolvimemo natural aiando 0 individuo a urn cscado de perfei9aO relariva a qual ele tende por si mesmo embora possa alcan9alo de forma mais rapida com a ajuda da sociedade Porem apcsar das aparencias 0 que rnostra bern que tamo aqui como alhurcs a educaao satisfaz acima de rudo necessida des ex tern a ou seja sociais e que existem sociedades em que estas qualidadcs nao foram absolutamente cultivadas e que em todo caso foram compreendidas de modo muito diferente de pendendo das sociedades Nem todos as povos rccanheceram as vantagens de uma s6lida cultura intelectual A ciencia e 0 espfrito critico as quais valorizamos tanto atualmente durante muito tempo foram vistas com dcsconfiantya N ao conhecemos uma grande doutrina segundo a qual sao bemavcnturados as pobres de cspfrito Nao se deve pensar que esta indiferen9a com rela9ao ao saber teoha sido artificialmcnte imposta aos ho mens contra a natureza deles Eles nao tin ham por si mesmos nenhum descjo de cicncia simplesmente porque as sociedades das quais eles faziam parte nao sentiam a men or necessidade Educa ao e Sociologia 113 Para poder viver des prccisavam ames de rudo de tradioes fortes e respeitadas Ora a tradityao nao desperta 0 pensamcnto e a reftexao mas tende ao contrttrio a excluilos 0 mesmo vale para as qualidades ffsieas Se 0 estado do meio social inclinar a conseiencia pllblica para 0 ascetismo a educaao ffsica sed automaticamente rejeitada para 0 segundo plano E urn pouco o que acontecia nas escolas da ldade Media Oa mcsma forma dcpendendo das linhas de opiniilo esta mesma cducaao sera emendida nos mais diferentes semidos Em Esparta cia tinha como objetivo sobretudo endurecer os mcmhros contra a can satyo em Arenas ela era urn meio de modclar bel os corpas para serem admirados na epoca da cavalaria espcravase que ela formasse guerreiros age is e flexiveis hoje em dia cia s6 visa a higiene e se preocupa sobretudo ern comer os pcrigosos cfcitos de lima cultura imelectual demasiado intensa Assim 0 indi viduo s6 busca as quaJidades que a primcira vista parccem tao espomaneamente desejaveis quando a socicoade 0 ineita nesta dire930 E ele as busca da maneira que cia Ihc prescreve Voces estao venda a que ponto a Psicologia pura e simples e insufieiente para 0 pedagogo Como eu mostTci agora h1 poueo nao somente e a sociedade que tta9a 0 ideal que 0 indivfduo deve realizar atraves da eduCl9aO como tambem nao ha tenoencias determinadas na natureza individual ou seja nao existem esta dos definidos que sejam como uma primeira aspiratyao a este ideal e que possam ser vistos como a forma interior e antecipa da do mesmo Sem duvida isw laO significa que nao existam em n6s aptid6es bastante gerais scm as quais cstc ideal seria obviamente irrealizavel Se 0 hom em pode aprendcr a se sacrifi car e porque ele e capaz de sacriflcio se cle pade se submeter a disciplina da ciencia e porque ele sa be se adaptar a mesm3 S6 114 Coltlo Textos Fundantes de Educaao peIo fato de sermos parte integrantc do universa somas capazes de prcocuparmonos com outras coisas a1em de nos mesmos as sim cxiste em ns I1ma primeira impessoalidade que peepara ao dcsprcndimcnto Oa mesma forma 56 pelo fato de sermos seres pensanrcs temos cerra tendencia ao conhecimento Purem urn abismo separa esras predisposi6cs vagas c confusas misturadas alias a todo tipo de predisposi90es contrarias e a forma tao bern definida e singular que elas adotam sob a a9ao da sociedadc Mesma corn a analise mais perspicaz e impasslvel prever 0 que estes germes indistintos se tornarao uma vez que a coletivi dade os river fecundado pais esta ultima nao se canrenta em intensificaIos mas acrescentaIhes mais alguma coisa Ela lhes fornece a sua pr6pria energia e par isto mesma transformaos produzindo efeitos que nao estavam primitivamente cantidos neles Logo mesmo que a conscicncia individual nao fosse mais urn misrerio para n6s e a Psicologia uma ciencia completa ela nao poderia dizer ao professor 0 objetivo que ele deve buscar S6 a Sociologia pode ou nos ajudar a compreendcIo ligandoa aos estados sociais dos quais ele depende e os quais ele expres sa ou a descobriIo quando a conscicncia publica pecturbada e incerta nao sabe rna is a que ele deve ser III Contudo se 0 papel da Sociologia e preponderante para a de termina9ao dos fins que a eduCa9aO deve buscar sera que ela rem a mesma importancia no que diz respeiro a escolha dos meios Ai a Psicologia volta em cena Embora 0 ideal pedag6gico expresse necessidades socia is antes de tudo ele s6 pode se rea lizar nos e pelos individuos Para que ele seja algo mais do que uma simples conCeP9ao mental e uma va injun9ao da socieda Educacao e Sociologia 115 de aos seus membros e preciso descobrir 0 meio de fazer com que a consciencia da crian9a se conforme a ele Ora a conscicn cia tem as suas pr6prias leis as quais e preciso conhecer antes de modificar se quisermos evitar as tentativas empfricas que a Pedagogia busca justamente reduzir ao minima Para poder estimular 0 desenvolvimento da atividade em uma cecta dire9l0 e preciso saber quais sao os mecanismos que a movem e a natu reza deles S6 assim sera possivel aplicar ai com conhecimento de causa a acao adequada Sera que se trata par exemplo de dcspertar 0 amor da patria ou 0 sentimenro de humanidade Sa bcremos orientar melhor a sensibilidade moral dos alunos neste au naquele sentido quando tivermos n090es mais completas e precisas sobre 0 conjunto dos fen6menos que chamamos de ten dencias habitos desejos emo90es etc sohre as divcrsas condi 90es que os regem e sabre a forma soh a qual eles se manifestam na crian9a Con forme virmos as tendcncias como produtos das experiencias agradaveis ou nao que a esp6cic viveu au ao C011 trario como urn faro primitivu anterior aos cstados afetivos que acompanham 0 seu funcionamenro devcrcmos agir de mod os bastante diferentes para regular 0 seu desenvolvimento Ora e a Psicologia e em especial a Psicologia Infantil que cahe resol ver estas questoes Partanto em bora ela seja incompetente para fixar 0 objetivo ou melhor os ohjetivos da educaao ela certa mente tem urn papel util a descmpenhar na constirui9ao dos metodos E mais como nenhum metodo pode ser aplicado da mesma maneira nas diferentcs eriancas e mais uma vez a Psi cologia que deve nos ajudar a nos situar em meio a divcrsidade das inteligcncias e carateres Infclizmente sabemos que ainda estamos longe do momento em que cia real mente estari apta a satisfazer este desideratum 116 Coleao Textos Fundantes de Educaao Portanw nao se deve ignorar as vantagens que a ciencia do indivfduo pode oferecer it Pedagogia cujo valor n6s vamos reco nheccr aqui No entamQ mesmo nos amhitos em que ela e util para 0 pedagogo esclarecer certos problemas cia esta lange de poder dispensar a Sociologia Primeiro ja que as fins da educacao sao sociais os mcios pelos quais estes fins podem sec alcamados dcvcm ncccssa riameme ree 0 mesmo carater E de faro dcntre todas as ins titui6es pedagdgicas talvez oao haja ncnhuma que nao seja analoga a uma instituiao social cujos aspectos principai s ela reproduz de forma rcduzida c como que abreviada Tanto na escola quanto na cidadc impocsc uma disci pi ina As regras que fixam os devcrcs dos alunos sao comparaveis as que prescre vern a condura clos homcns feitos As puni90es e recompensas assuciadas as primciras sc parecem com as que as segundas san cionam Ensinamos as criamas a eiencia ja feia mas a ciencia que csa sen do fcita cambe m se ensina Ela nao fica fechada no ccrcbro daquclcs que a concebem 56 se mrnando realmente ativa sc for compartilhada com as DUfOS homens Ora a nature za dcsta conlunicacao que coloca em pdrica wda uma cede de mccanismos socia is constiwi um ensino que embora se dirija a adultos nao sc diferencia daquele que 0 aluno recebe do seu mcstrc Nao se diz alias que as sa bios sao os mesres c10s seus contcmporaneos Nao se chama de escolas as grupos que se formam em wrno c1eles8 Podectamos dar varios exemplos E que de faw como a vida escolar nao passa do germe da vida so 8 Cf VILLMANN Octo Didoktik ols Bildllllgslehe Nach i hrn Be ziehungen zur Sozialforschung und zur Geschichrc der Bildune Vol 1 Leipzig Gr bner 1882 p 40 Educaao e Sociologia 117 cial assim corno esra ulrima nao passa cia continuacao e mawci dade daquela os principais processos pel os quais uma fundona se encontram obviamente na outra Portanm podese esperar que a Sociologia ci2ncia das in stitu i 6es sociais ajudenos a compreender 0 que sao ou a conjeturar 0 que devem sec as institui9ues pedaggicas Quanto melhor conhecermos a socie dade melhor pcrccbcremos wdo 0 que se passa no microcosmu sucial que a escola 6 Voces estao venda como ao contrario con vern uriiizar com prudencia e rnodera3o os dados da Psicologia rncsmo quando se fata de deterrninar os metodos Pm si 56 ela nao podcria nos forn ecer os elementos necessarios para cons rruir uma tecnica que por definiao rira 0 sell pror6ripo nao do indivlduo mas sim da coleividade Alias as esrados sociais dos quais os fins pedag6gicos depen dem nao limitam a stla aao af Eles tamb6m afetam a concep ao dos metodos a natureza do objeivo impliCd em parte ados meios Se a sociedade se orientar por exempo em um senti do individualisra todos os processos educacionais que possam re primir 0 indivfduo e ignorar a sua espontaneidade interna serao considerados como inrolenlveis e reprovados Se ao contrario sob a pressao de circunstancias duniveis ou passageiras ela sen tir novamente necessidade de impor lim conformismo mais ri goroso a rodas sera proibido udo 0 que possa provocar al6m da conta a iniciativa da inteligencia Na realidade rodas as vezcs em que 0 sistema de metodos educativos foi profundamentc uansformado foi sob a influencia de uma daquelas grandes COf rentes socia is cuja a1o se repercmiu em todas as areas da vida coleriva Nao foi em funao de descobertas psicologicas que 0 Renascimento opos tOdo um conjullw de novas mctodos aos que a ldade Media uiliz3va 0 que aconteceu foi que como 118 Colecao Textos Fundantes de Educacao consequencia de mudanas ocorridas oa estrutura das socieda des europcias lima nova concepao do hornem c do seu lugar no mundo acabou surgindo Oa mesma forma os pedagogos que no final do seculo XVIII au no comeo do XIX comea ram a substituir 0 metoda abstrato pelo intuitivo esravam an tes de tudo reftetindo aspiragocs vigen res naquela epoca Nem Basedow nem Pestalozzi e nem Froebel eram grandes psic6lo gos 0 que a doutrina delcs cxprime e sobretudo respeito pela liberdade interior horror diante de qualquer repressao e amor pelo hornem e logo pcla crianga nogoes que se encontram na base do nos so individualismo maderno Assim seja qual for 0 aspecto pelo qual abordemos a edu cagao ela semprc se apresenta com 0 mesmo Carater Sejam os fins que e1a busca ou os meios que ela emprega sao semprc necessidades sociais que ela satisfaz e ideias e sentimentos co letivos que cia expressa Sem duvida 0 proprio indivfduo sai ganhando com este mecanismo Nos ja nao admitimos ciara mente quc aquilo que temos de melhor e devido a educaao E aquilo que temos de melhor e de origem social Portanto devemos sempre nos concentfar no estudo da sociedade e somcnte nele que 0 pedagogo vai encontrar os princfpios da sua investigaao A Psicologia bern pode Ihe apontar qual e a melhor maneira de agir para apliear na crianca estes principios uma vez que as mesmos estiverem consolidados Porem ela na pode ajudalo a descobriIos Para eonciuir eu gostaria de aerescentar que se ja existiu uma epoea e urn pais em que 0 ponto de vista soeiol6gico se im pas de modo particular mente urgente aos pedagogos esta epo ca c este pais e 0 infcio do seculo XX e a Franca Quando uma sociedade se encontra em urn estado de relativa estabilidade e Educarao e Sociologia 119 equilibrio temporario como par exemplo a sociedade francesa do seculo XVII quando por conseguinte estabelecese urn sis tema de educaCao que igualmente durante certo tempo nao e contestado por ninguem as micas questoes urgentes que se co locam sao questoes de aplicaCao pdtica Nao emerge nenhuma dtlVida s6ria sabre 0 objetivo a alcancar e nem sobre a orientacao geral dos metodos Portanto s pode haver controversia com relacao a melhor maneira de colodlos em pratica e estas difi culdades podem ser resolvidas pcla Psicologia Eu nao preciso ensinar a voces que a firmcza intclectual e moral nao predomina mais no nos so seculo 0 que ao mesmo tempo e a sua miseria e a sua grandeza As profundas transformasoes que as socieda des contemporaneas sofreram ou cstao sofrendo demandam transformaC6es correspondentes na EducaCao naciunal Porem em bora realmenre simamos que mudancas sao necessarias nao sabemos muito bern como elas devem ser Sejam quais forem as convicc6es pessoais dos indivfduos ou partidos a opiniao pu blica permanece indecisa e apreensiva Portanto nos nao abor damos 0 problema pedagogico com a mesma serenidade que os homens do seculo XVII Nao se trata mais de colocar ideias prontas em pratica mas sim de descobrir ideias que nos guiem Como poderfamos fazeIo se nao observassemos a propria ori gem da vida educativa ou seja a sociedadc Logo e a sociedade que e preciso estudar e sao as suas necessidades que e preciso conhecer ja que sao estas tIitimas que 6 prcciso satisfazer Fi car olhando so mente para 0 proprio umbigo significa desviar os nossos olhares da propria realidade que devemos acessar enos impedir de compreender 0 movimento que leva 0 mundo ao nosso red or bern como nos mesmos junto com ele Portanto ao dizer que uma cultura sociol6gica nunca foi mais necessaria 120 Colerao Textos Fundantes de Educaao ao educador naa aehu que CStou deixandomc guiar por um sim ples preconceito 011 sucumbindo a urn amor cxagerado por uma ciencia que cultivci durante a minha vida intcira Nao e que a Sociolugia possa nos dar de mao beijada proccssos ja fontos os quais basta urilizar Alias sent que poderia ser assim Pacem eia pode mais c melhor fornecernos aquilu de que tcmos mais ur gcnrcmcme necessidade quero dizer urn corpo de idcias dircti vas que sejam a alma da nossa pratica sustcntandoa dando urn scnrido a nossa avao e nos ligando intimamcmc a mcsma 0 que e lima cond iyao obrigat6ria para que esta aao scja fccunda Nascido em 15 de abril de 1858 em Epinal Francta de familia de origem judia e de pai rabino Emile Ourkhelm e 0 principal representante da escola de sociologia francesa Ao lado de Karl Marx e de Max Weber Ourkheim e considerado um dos pais da sociologia Ele define sua vocaao sociol6gica como missao de fundar uma nova ciencia para uma nova sociedade qual seja a socledade industrial fato que 0 diferencia de Marx e de Weber que se dedicam a Sociologia que tem por fundamentos respectivamente a Economia e a Politica Com isso contribui para 0 desenvolvimento do espirito universitario na Europa inaugurando as cadeiras de SocioJogla e de Antropologia Social Casouse e teve um casal de filhos Ele vlveu 0 clima das grandes convulsoes socials que abalaram a Europa desde 1848 ate a Primeira Guerra Mundial Em funao desse clima Durkheim propoese a fundar uma nova ciencia que de conta da explicaao da sociedade que estaria nascendo desse processo Crla entao a Ciencia da Moral Em 1915 seu filho e morto lutando no front de Salonique em 1917 Durkheim morre em Paris RESENHA 1 EDUCAÇÃO E SOCIOLOGIA Para Durkheim 198451 A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão maduras para a vida social Tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos intelectuais e morais que são exigências próprias da sociedade política no seu conjunto e do meio social ao qual está particularmente destinado Sendo assim é definido que a educação nada mais é do que um conjunto de todas as características naturais que possuímos á nascença mais a ação da geração mais velha sobre a geração mais nova É inviável e incabível rotular uma definição de educação ideal pois existem múltiplos maneiras de educar lidando diretamente com o fato do tempo e espaço experiência entre gerações anteriores e incontáveis acontecimentos históricos políticos e religiosos de cada sociedade Para Durkheim existem diferentes tipos de Educação e não apenas uma Essas diferenças podem ser de âmbito regional ou global pois a educação foi feita apara atender as demandas sociais Assim como em lugares mais ricos a demanda de educação pareça ser maior os pobres também são educados da maneira deles para a sobrevivência em sociedade A Educação deveria formar o ser social já que o homem por natureza seria egoísta A Educação iria inserilo na sociedade já com sua mente preparada para seguir todas as regras e leis determinadas por esta mesma sociedade E essa Educação sempre seria voltada para a sociedade a qual pertencia e sempre repassaria valores dessa sociedade e de sua cultura vigente Durkheim entende que o papel do Estado na educação é um papel simultaneamente passivo em que o Estado só interviria em caso de impossibilidade óbvia dos pais cumprirem o seu dever de dirigir e orientar o desenvolvimento moral e intelectual da criança e ativo na medida em que cabe ao Estado zelar pelos princípios pelos quais a sociedade se rege mantendo a ação educativa sob o seu controlo Relativamente aos objetivos da educação levantamse sempre algumas questões controversas quando este assunto é abordado Como pode ser uma educação considerada eficaz Segundo Durkheim o homem que a educação deve realizar em nós não é o homem tal como a natureza o fez mas tal como a sociedade quer que ele seja Assim o ideal pedagógico deve ser construído tendo base em todas as características e comportamentos da sociedade vivenciada pelo individuo de forma em que o encaixe corretamente para a convivência social Durante a leitura fica massivo e repetitivo apenas enumerar os objetivos da educação e qual seria o papel do educador ao atingir desses objetivos falando também da importância da sociedade na definição dos objetivos e o livro é daqueles que trás a sensação de ler o mesmo capítulo mais de uma vez causando estranhamento e certa confusão Apesar desse fato a obra nos remete muito o tempo atual principalmente sobre determinados pontos de vista Um dos conceitos apresentado pelo autor é o da existência de um sistema educacional como instituição socializadora das novas gerações nos valores regras comportamentos e normas que caracterizam cada sociedade É verdade que todos os indivíduos nascem com capacidades inatas e com instintos próprios e que a partir do momento do nascimento começa o processo de socialização É necessário atribuir aos pais um papel importante na construção daquilo que Durkheim chama o ser social mas é uma ilusão pensar que podemos educar os nossos filhos como queremos Determinadas regras normas de comportamento princípios deverão ser transmitidas obrigatoriamente quer se goste quer não se goste sob pena de o indivíduo não conseguir viver em harmonia na sociedade em que se integra O ser social existe dentro de cada sociedade e age de acordo com aquilo que a sociedade define como sendo normal Muitos indivíduos fogem àquilo que é considerado normal e são excluídos socialmente dessa sociedade O normal segundo Durkheim é tudo aquilo que é aceito em sociedade são as regrasnormas morais e de conduta que a sociedade ditou que têm que ser seguidas e às quais o homem que vive nessa sociedade tem que se adaptar Isto é o que Durkheim considera o poder coercivo da sociedade sobre o homem 2 São estas normasregras que são ensinadas às crianças durante o processo educativo pelos pais e pelos educadores A partir disso ele infere e exemplifica que a educação variou muito de acordo com tempos e países Nas pólis gregas elatinas o que era ensinado visava à subordinação à coletividade Em Atenas a educação era pautada em buscar intelectos finos e sutis Em Roma o desejo era de que a educação estimulasse a gostar do que era militar e anular tudo o que envolvia letras e artes Apresentados esses exemplos o autor em questão ressalta que o ensino da história está aí para nos poupar da reprodução de erros já cometidos no que diz respeito à educação A educação sempre busca atingir a coletividade a partir de reconstruções individuais Seus meios métodos e fins tentam satisfazer ideias e sentimentos coletivos Apesar de a Psicologia ainda aponte ao pedagogo formas para agir sobre o indivíduo é apenas estudando a sociedade e seus comportamentos que ele vai encontrar os princípios para a sua investigação E a partir disto Durkheim chama atenção para o fato de que as profundas transformações sociais da contemporaneidade tiveram reflexo direto sobre os sistemas educacionais Para encerrar ele bate na tecla da necessidade de estudar a sociedade para que apenas após isso possamos então compreender a importância de uma cultura social para os educadores que os acompanhem de acordo com a sociedade em que vivem Para Durkheim a sociologia situa um corpo de ideias diretas e indiretas que formam a alma de nossas práticas Fazendo esse resumo que une a relação entre Educação e Sociologia essa última orientando a ação da primeira como atividade fundamental podemos perceber e destacar que os inúmeros aspectos que fazem parte da abordagem Durkheim o mais importante de todos é considerar a sociedade como base para compreender a educação é de suma importância assim como de uma necessidade indispensável para a compreensão da mesma RESENHA 2 Educação Sociologia da Educação e Teorias Sociológicas Clássicas Marx Durkheim e Weber Esse artigo foi idealizado para que pudesse existir uma comparação entre as teorias sobre educação de grandes nomes da sociologia mundial Embora Marx e Weber não se tenham se manifestado diretamente ao sistema educacional abordando apenas de maneira pontual visto que quando se estuda uma sociedade a educação é primordial Durkheim conseguiu de manifestar de maneira direta criando mais teorias e focando no âmbito da educação assim teremos grandes teorias unidas em prol de um conhecimento vasto Em sua teoria Karl Marx visualiza a a educação como um objeto de pesquisa que está inserida em uma sociedade que existe a luta de classes Antes de tudo é importante destacar que ele não elaborou uma teoria da educação não se dedicou Durkheim mesmo assim a sua obra nos deixou o legado de alguns princípios importantes que necessitam ser levados em consideração quando for preciso estabelecer uma prática educacional transformadora do contexto social no qual estamos inseridos o capitalismo Em uma de suas teses a Feuerbach Marx discursa que Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras mas o que importa é transformálo assim ele critica uma postura contemplativa da filosofia que apenas observava e nunca intervinha na realidade Para Marx é necessário que se estabeleça uma prática revolucionária uma teoria viva que passa a existir a partir da prática concreta da luta da revolução Para Durkheim existem diferentes tipos de Educação e não apenas uma Essas diferenças podem ser de âmbito regional ou global pois a educação foi feita apara atender as demandas sociais Assim como em lugares mais ricos a demanda de educação pareça ser maior os pobres também são educados da maneira deles para a sobrevivência em sociedade A Educação deveria formar o ser social já que o homem por natureza seria egoísta A Educação iria inserilo na sociedade já com sua mente preparada para seguir todas as regras e leis determinadas por esta mesma sociedade E essa Educação sempre seria voltada para a sociedade a qual pertencia e sempre repassaria valores dessa sociedade e de sua cultura vigente Um dos conceitos principais de Weber baseiase no fato que as motivações das ações dos indivíduos possuem um sentido determinado por seu autor o conceito de ação social Oposto a Marx e Durkheim ele não acreditava nos fatalismos externos e sim que todo ser humano era livre para agir e construir sua realidade e que caberia a sociologia entender os fatores que determinam essas ações ou seja Weber começou a estudar a individualidade dos seres Weber sem seus estudos não criar um padrão educacional apenas e exclusivamente apontava algumas questões que julgava importante como por exemplo ele acreditava que podíamos definir a Educação em três tipos principais a educação para o cultivo do saber racional para a burocracia e a carismática que contribuíram para que os indivíduos desempenhassem papéis sociais diferenciados e que dependendo da época um determinado tipo de educação era mais valorizado