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UnisulVirtual Palhoça 2016 Universidade e Ciência Universidade Sul de Santa Catarina Créditos Universidade do Sul de Santa Catarina Unisul Reitor Sebastião Salésio Herdt ViceReitor Mauri Luiz Heerdt PróReitor de Ensino de Pesquisa e de Extensão Mauri Luiz Heerdt PróReitor de Desenvolvimento Institucional Luciano Rodrigues Marcelino PróReitor de Operações e Serviços Acadêmicos Valter Alves Schmitz Neto Diretor do Campus Universitário de Tubarão Heitor Wensing Júnior Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Hércules Nunes de Araújo Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual Fabiano Ceretta Campus Universitário UnisulVirtual Diretor Fabiano Ceretta Unidade de Articulação Acadêmica UnA Ciências Sociais Direito Negócios e Serviços Amanda Pizzolo coordenadora Unidade de Articulação Acadêmica UnA Educação Humanidades e Artes Felipe Felisbino coordenador Unidade de Articulação Acadêmica UnA Produção Construção e Agroindústria Anelise Leal Vieira Cubas coordenadora Unidade de Articulação Acadêmica UnA Saúde e Bemestar Social Aureo dos Santos coordenador Gerente de Operações e Serviços Acadêmicos Moacir Heerdt Gerente de Ensino Pesquisa e Extensão Roberto Iunskovski Gerente de Desenho Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos Márcia Loch Gerente de Prospecção Mercadológica Eliza Bianchini Dallanhol Livro didático UnisulVirtual Palhoça 2016 Designer instrucional Carmelita Schulze Universidade e Ciência Alexandre De Medeiros Mota Conceição Aparecida Kindermann Diane Dal Mago Josefina Maria Hassmann Patricia Da Silva Meneghel Livro Didático Copyright UnisulVirtual 2016 Professores conteudistas Alexandre De Medeiros Mota Conceição Aparecida Kindermann Diane Dal Mago Josefina Maria Hassmann Patricia Da Silva Meneghel Designer instrucional Carmelita Schulze Projeto gráfico e capa Equipe UnisulVirtual Diagramadora Frederico Trilha Revisor Diane Dal Mago ISBN 9788550600703 eISBN 9788550600697 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul U51 Universidade e ciência livro didático conteudistas Alexandre de Medeiros Motta Conceição Aparecida Kindermann Diane Dal Mago Josefina Maria Hassmann Patrícia da Silva Meneghel design instrucional Carmelita Schulze Palhoça UnisulVirtual 2016 86 p il 28 cm Inclui bibliografia ISBN 9788550600703 eISBN 9788550600697 1Universidade Educação 2 Ciência Educação I Mota Alexandre de Medeiros II Kindermann Conceição Aparecida III Dal Mago Diane IV Hassmann Josefina Maria V Meneghel Patrícia da Silva VI Schulze Carmelita VII Título CDD 21 ed 378007 Sumário Introdução 7 Capítulo 1 Trajetória e desafios da universidade em nossa sociedade 9 Capítulo 2 Os caminhos da leitura e da pesquisa 19 Capítulo 3 Trabalhos acadêmicos quais caminhos percorrer 39 Capítulo 4 A linguagem e seu funcionamento 55 Considerações Finais 79 Referências 81 Sobre os Professores Conteudistas 85 Introdução A Unidade de Aprendizagem Universidade e Ciência nos leva a compreender que a universidade por sua natureza e excelência é o contexto privilegiado para o encontro de todos nós com a ciência É nesse espaço que o conhecimento científico se estabelece progride e se expande para o entorno do espaço acadêmico A sociedade de uma forma geral busca esclarecer suas dúvidas seus questionamentos origem situação destino colocar em prova suas verdades por meio da ciência Neste livro didático no capítulo 1 você conhecerá um pouco sobre a história da universidade e o papel por ela desenvolvido no ambiente acadêmico e na sociedade Um desses papéis é trabalhar com o ensino a pesquisa e a extensão levando o aluno a ter um olhar holístico a desenvolver habilidades da pesquisa e com isso inserilo em um contexto de conhecimento globalizado Em relação ao capítulo 2 a abordagem está voltada para compreender e interpretar o universo linguístico da leitura Isso tem o intuito de levar o estudante a desenvolver esse olhar mais holístico e descontruir o que está solidificado transformando o conhecimento do senso comum em algo de caráter mais analítico científico No capítulo 3 o seu contato será com o conhecimento científico Dessa forma o capítulo aborda as particularidades do texto acadêmico e as especificidades do método e trabalho científico Além disso você conhecerá as partes que compõem um Projeto de Pesquisa e desenvolverá habilidades relacionadas a isso A escolha dos elementos linguísticos que compõem a nossa produção textual nos habilita a compreender a linguagem e seu funcionamento isso você verá no capítulo 4 Com isso compreenderá o que é ser autor de um texto o papel dos gêneros discursivos e a importância deles Ademais você verá alguns elementos necessários para a construção de sentido de um texto Por fim conhecerá a linguagem e a estrutura do texto científico A partir dos conhecimentos adquiridos você estará apto para efetuar as leituras produzir textos com uma linguagem apropriada para cada contexto e trabalhar a pesquisa científica Essas habilidades serão muito importantes tanto para a vida acadêmica quanto profissional Bom estudo 9 Capítulo 1 Trajetória e desafios da universidade em nossa sociedade Neste capítulo abordamse questões que se relacionam à história da universidade na Europa e no Brasil bem como as finalidades da universidade as quais são ensino pesquisa e extensão e seus principais dilemas no cenário contemporâneo principalmente temas adjacentes que percorrem debates recorrentes na sociedade pautados em valores visões de mundo como as questões étnicoraciais as políticas de desenvolvimento sustentável e os direitos humanos Tudo isso para que você possa ser competente na análise e compreensão de contextos e assim desenvolva habilidades como refletir criticamente detectar contradições argumentar entre outras Seção 1 História da universidade Para entender a trajetória da universidade como instituição é necessário mergulhar no passado e contextualizar os momentos históricos que marcaram a sua formação desde a antiguidade ocidental até sua trajetória no Brasil Assim abordamse as etapas históricas que permitem localizar a universidade no tempo 11 A universidade na Europa Tudo começa na antiguidade clássica na Grécia e em Roma quando aparecem as primeiras escolas de ensino superior que objetivam a formação completa dos jovens especializandoos nas áreas de Medicina Filosofia Retórica e Direito Nessas escolas cabia aos discípulos aprender lições do mestre considerado espelho e modelo de aperfeiçoamento 10 Capítulo 1 Recordase nesse contexto que os romanos incorporaram a educação grega preocupandose basicamente com a oratória A originalidade do ensino latino decorrente da influência romana consistiu na carreira jurídica difundindo o ensino grego Porém com a crise no Império Romano e as consequentes invasões bárbaras ocorridas nos séculos V a X o processo de ensino superior foi interrompido Contudo a universidade como instituição que a conhecemos hoje tem suas raízes no período medieval Nesse sentido com base em Trindade 2000 apresentase a seguir os quatro principais períodos que marcaram a história da universidade na Europa O primeiro do século XII até o Renascimento foi o período da invenção da universidade Em plena Idade Média é que se constituiu o modelo da universidade tradicional a partir das experiências precursoras de Paris e Bolonha da sua implantação em todo território europeu sob a proteção da Igreja Nesse período o ensino tornase um atributo exclusivo da Igreja Católica As escolas leigas são substituídas pelas religiosas transformandose em um instrumento de aquisição e transmissão de cultura O segundo período iniciouse no século XV época em que a universidade renascentista recebe o impacto das transformações comerciais do capitalismo e do humanismo literário e artístico mas sofre também os efeitos da Reforma e da Contrarreforma No terceiro a partir do século XVII marcado por descobertas científicas em vários campos do saber e do Iluminismo do XVIII a universidade começou a institucionalizar a ciência não sem resistências numa transição para os novos modelos de investigação em busca do conhecimento Nesse cenário o do século XVIII a universidade caracterizada pelas repetições dogmáticas de cátedras não consegue mais acompanhar as novas necessidades culturais oriundas do rápido desenvolvimento da mentalidade individualista e da ciência moderna Assim no século XVIII o movimento iluminista questiona o saber medieval O caráter canônico do ensino começa a ruir diante das pressões capitalistas Com a Revolução Industrial e a consolidação do modo de produção capitalista surgiram exigências de especializações e técnicas que se ajustaram à nova divisão social do trabalho WANDERLEY 1991 p 18 No quarto período no século XIX implantouse a universidade estatal moderna e essa etapa que se desdobra até os nossos dias introduz uma nova relação entre Estado e universidade estabelecendo suas principais variantes institucionais No século XIX na França de Napoleão a industrialização institui uma universidade voltada para a formação profissional a partir da estruturação de escolas superiores Nessa mesma época a Universidade de Berlim 1810 torna se um centro de pesquisa e na Irlanda o Cardeal Newman 1851 funda uma universidade como lugar do ensino do saber universal LUCKESI et al 1991 11 Universidade e Ciência Sob o influxo e a disseminação das ideias liberais buscouse a integração entre o ensino e a pesquisa Paulatinamente as universidades terão que se adequar aos processos de desenvolvimento econômico e social segundo as características peculiares de cada nação Pensadas então para formar os filhos da burguesia logo elas serão pressionadas a atender aos reclames de mobilidade social dos filhos da classe média Pouco a pouco elas se transformaram no lugar apropriado para conceder a permissão para o exercício das profissões através do reconhecimento dos títulos e diplomas conferidos por órgãos de classe e governamentais WANDERLEY 1991 p 18 Como se observa no decorrer da história da universidade encontrase o esforço pela transição da humanidade da vida rural para a vida urbana do pensamento dogmático para o racionalismo do mundo eterno e espiritual para o mundo temporal e terreno enfim do medieval para o moderno Nesse esforço busca se pela livre autonomia como condição indispensável para questionar investigar propor soluções de problemas levantados pela atividade humana LUCKESI et al 1991 p 33 12 A universidade no Brasil No Brasil Colônia até a chegada da família real portuguesa em 1808 os lusobrasileiros em especial os religiosos faziam seus estudos na Europa principalmente na Universidade de Coimbra Existiam na colônia apenas cursos superiores de Filosofia e Teologia oferecidos pelos Jesuítas Porém após a implantação da Corte portuguesa em território brasileiro cria se o ensino superior para atender as necessidades militares de proteção às famílias portuguesas instaladas no Rio de Janeiro A partir de então em 1808 criase a Faculdade de Medicina da Bahia seguida pelas Faculdades de Direito de São Paulo e do Recife em 1854 Mais tarde em 1874 no Rio de Janeiro os cursos civis separamse dos militares formandose a Escola Militar e a Escola Politécnica e logo a seguir em Ouro Preto inaugurase a Escola de Engenharia Desse modo por volta de 1900 o ensino superior brasileiro consolidavase nos moldes de Escola Superior LUCKESI et al 1991 p 34 Como se observa no Brasil Império 1822 a 1889 a expansão do ensino superior continua muito lenta por meio do surgimento de cursos isolados em várias áreas já que o modelo econômico agroexportador não necessitava de profissionais com formação superior FIGUEIREDO 2005 12 Capítulo 1 Com a proclamação da República em 1889 as discussões sobre a Educação especificamente sobre as universidades surgem com mais força Em decorrência da industrialização e urbanização ocorre pela primeira vez no Brasil uma ação planejada visando à organização nacional da educação Com isso após 1930 em plena Era Vargas iniciase o processo de transformação do ensino superior para a condição de universidade a partir do agrupamento de três ou mais faculdades Assim neste mesmo ano surgem as Universidades de Minas Gerais e de São Paulo com a proposta de superar o simples agrupamento de faculdades o que ocorre em 1934 Em seguida em 1935 o professor Anísio Teixeira defende uma universidade como centro livre de discussão de ideias isso é interrompido pela ditadura do Estado Novo de 1937 Apesar dessas iniciativas nesse período devido ao processo de industrialização predomina a preocupação com o ensino profissionalizante Em geral o populismo de Vargas somado à federalização das faculdades estaduais e privadas ocorridas no início da década de 50 tornase responsável pela ampliação do ensino superior gratuito e pela criação das universidades federais que hoje existem no país inclusive no segmento militar Anos mais tarde em 1962 Darcy Ribeiro discípulo de Anísio Teixeira em conjunto com outros intelectuais funda a Universidade de Brasília propondo o rompimento do modelo de universidade como mero agrupamento de escolas e faculdades Porém com o Golpe de 1964 que implantou a ditadura militar no Brasil essas ideias inovadoras são derrubadas e os seus intelectuais professores e cientistas exilados do país Em 1968 o governo federal para acabar com a autonomia da Universidade perante o Estado e manter o controle político e ideológico da educação decreta a Reforma Universitária por meio da Lei n 5540 O trinômio racionalização expansão e controle passa a orientar a implantação de um novo modelo de universidade no Brasil A Lei 55401968 extingue a cátedra especialista ou autoridade em determinado assunto unifica o vestibular passando a ser classificatório aglutina as faculdades em universidade visando a uma maior produtividade com a concentração de recursos cria o sistema de créditos permitindo a matrícula por disciplina Além disso conforme Aranha 1996 p 214 a nomeação dos reitores e diretores de unidade essa agora dividida em departamentos dispensa a necessidade de ser do corpo docente da universidade podendo ser qualquer pessoa de prestígio da vida pública ou empresarial Houve também a fragmentação das Faculdades de Filosofia Ciências e Letras resultando na criação das Faculdades ou Centros de Educação 13 Universidade e Ciência A reforma universitária atendeu a demanda dos grupos ligados ao regime instalado com o Golpe de 1964 que buscava vincular mais fortemente o ensino superior aos mecanismos de mercado e à criação de mão de obra técnica para as multinacionais no âmbito da expansão capitalista americana assim como a incorporação naquelas que já estavam instaladas no país Também houve a contenção de gastos governamentais por meio da expansão das faculdades isoladas ou privadas contrariando a expansão do ensino público gratuito Concretizase assim o processo de privatização sem precedentes do ensino no país caracterizando a educação enquanto um grande negócio destinando verba pública para a iniciativa privada Tal posicionamento tem continuidade nas décadas seguintes Em decorrência das políticas adotadas na década de 90 principalmente pelo Governo de Fernando Henrique Cardoso FHC as universidades públicas sofrem cortes drásticos nas verbas inclusive sem abertura de novos concursos públicos ao contrário das faculdades particulares que se multiplicam assim como não se cria uma política efetiva de assistência estudantil Com a eleição de Lula para a presidência da República as universidades federais ganham novo fôlego concursos públicos são abertos e criase o Projeto Universidade para Todos ProUNI contribuindo inclusive para a expansão das universidades comunitárias Porém ainda são necessárias outras mudanças no modelo universitário herança da reforma universitária da década de sessenta e do modelo sóciopolíticoeconômico adotado pelo Brasil nas últimas décadas Seção 2 Finalidades da universidade ensino pesquisa e extensão A universidade é responsável pelo ensino por meio do contato sistemático com a cultura universal Além disso deve ampliar e diversificar esses conhecimentos adquiridos por meio da pesquisa que produz novos saberes vinculado ao ensino e a aprendizagem como atividade essencial para a formação acadêmica O mesmo vale para a extensão ou prestação de serviços à comunidade uma forma de garantir responsabilidade social à universidade e estimulála a aproximar se dos diferentes saberes promover iniciativas comunitárias sustentáveis reconhecer a diversidade cultural e aperfeiçoar o exercício das potencialidades humanas Por isso é fundamental que uma universidade seja reconhecida sobretudo como um espaço do ensino da pesquisa e da extensão 14 Capítulo 1 No Brasil isso ocorreu em função da luta de entidades sindicais e científicas do campo da Educação que se reuniram no Fórum da Educação na Constituinte responsável pela inserção na carta constitucional de 1988 do artigo 207 o qual prescreve As universidades gozam de autonomia didáticocientífica administrativa e de gestão e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensão Essa autonomia e indissociabilidade passaram a formar um padrão de qualidade em um projeto de universidade voltado para os interesses da maioria da população O tripé ensino pesquisa e extensão apresentase então como uma expressão de responsabilidade social Há um pensamento universal de integrar ensino e pesquisa porém no caso brasileiro a ênfase quase sempre recaiu na formação profissional tornando a integração bastante complicada Por muito tempo a universidade foi concebida como lugar da busca desinteressada do saber Isso implica dizer que suas raízes ramificamse na herança cultural grecoromana e católica Além disso a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB n 939496 em seu art 45 ao estabelecer que a educação superior será ministrada em instituições de ensino superior públicas e privadas com variados graus de abrangências ou especialização abre caminho para que pelo decreto n 230697 fosse introduzida uma nova tipologia das instituições de ensino superior Nessa tipologia os institutos e faculdades isolados podem prescindir da pesquisa e da extensão valendose apenas do ensino para exercer sua função educativa BRASIL 1996 Acreditase que essa medida foi a forma ideal encontrada pelos legisladores para atender aos interesses de mantenedoras do setor privado permitindo grande redução nos custos dos serviços oferecidos por tais instituições se comparados às universidades que garantem as três funções organicamente associadas além de cumprir exigências como corpo docente titulado e contratado em regime de dedicação exclusiva com produção intelectual qualificada O cenário apresentado configurou a coexistência de dois modelos de ensino superior no Brasil como argumenta Sguissardi 2004 p 41 as IES neonapoleônicas destinadas à formação técnico profissional dos estudantes nas quais predominam critérios como não exigência de pesquisa e extensão corpo docente majoritariamente sem qualificação para a produção de conhecimento com dedicação exclusiva às atividades de ensino alocados em unidades isoladas entre outros E as IES neohumboldtianas voltadas à formação de profissionais pesquisadores nas quais predominam critérios e indicadores como existência de produção científica com programas de pós graduação stricto sensu consolidados docentes em regime de tempo integral e qualificados para a produção científica estrutura acadêmica integrada em torno de projetos entre outros 15 Universidade e Ciência Para Mazzilli 2005 a consecução da associação entre ensino pesquisa e extensão demanda a existência de projetos institucionais que anunciem as diretrizes e os compromissos que os orientam e as ações previstas para sua realização projetos coletivos de trabalho associando ações acadêmicas e administrativas práticas de avaliação institucional abrangendo todo o trabalho realizado pela universidade como instrumento de autoconhecimento institucional modelos de gestão que possibilitem a participação de todos os segmentos no processo de decisão e de avaliação do trabalho acadêmico corpo docente com sólida formação científica e pedagógica organicamente vinculada ao projeto da universidade e principalmente condições materiais para a realização do projeto pretendido No caso da Unisul por exemplo a pesquisa o ensino e a extensão são entendidos como atividades formativas inerentes ao ambiente acadêmico constituindose em componentes curriculares Nesse sentido não se pensam estruturas específicas para a consolidação de cada uma dessas atividades em função de suas especificidades Por isso o tripé pesquisa ensino e extensão deve estar inserido na integralização curricular dos itinerários formativos de cada curso desta instituição Seção 3 Dilemas que desafiam a universidade no mundo contemporâneo Em nossa sociedade o conhecimento científico ainda está profundamente ligado ao espaço da universidade É imprescindível que a universidade seja um espaço democrático e dessa forma que esse conhecimento possa circular em todos os outros espaços e principalmente trazer contribuições A universidade em seu papel social deve voltarse para a melhoria da qualidade de vida atendendo tanto aos direitos individuais como aos da coletividade No entanto os desafios não se esgotam nessas ideias requisitando questionamentos como Qual o significado de universidade A que e a quem ela serve Que caminho está rumando Certamente as respostas a essas perguntas são muitas e por isso precisamos refletir nessa seção sobre o papel da universidade na formação do cidadão Trindade 2000 ressalta que uma instituição de ensino superior não pode se deixar dominar pela lógica do mercado ou do poder Essa é a questão que está no centro do conceito de autonomia universitária mesmo que historicamente ele tenha se transformado nas diferentes etapas da evolução da sociedade em relação a sua forma medieval originária 16 Capítulo 1 Como instituição que se dedica à produção e socialização de conhecimento a universidade não tem como deixar de ser afetada pelo modo como as épocas históricas e as sociedades entendem o conhecimento Mas essa ideia não é única e não resume jamais o papel da universidade Em sua trajetória a universidade pode ser vista como o lugar historicamente propício para a criação e divulgação do saber para o desenvolvimento da ciência para a formação de profissionais de nível superior técnicos e intelectuais que os sistemas necessitam bem como ser vista como a instituição social que articula pesquisa ensino e extensão para satisfazer os requisitos estabelecidos pela sociedade Todavia dentro de certos limites é permitida à universidade relativa autonomia desde que não se contraponha aos objetivos postos pelos governantes e setores privados mantenedores WANDERLEY 1991 Quanto às concepções de universidade há aqueles que a veem como um dos aparelhos ideológicos privilegiados da formação social capitalista tanto na reprodução das condições materiais e da divisão social do trabalho em intelectual e manual quanto para garantir as funções de inculcação política e ideológica dos grupos e classes dominantes Outros procuram colocála dentro do contexto contraditório do capitalismo analisando seus limites e possibilidades inserindoa no conjunto das lutas sociais Existem também os que defendem o otimismo pedagógico acreditando em uma educação como mola propulsora da mudança social e do desenvolvimento Por fim há outro grupo que considera a universidade como ultrapassada obsoleta com a necessidade de ser totalmente reformulada ou acabada WANDERLEY 1991 Sendo assim entendemos que a universidade se torna um lugar específico para o conhecimento da cultura universal e das várias ciências onde se cria e divulga o saber desde que se desenvolva conjuntamente o ensino a pesquisa e a extensão Cumpre à universidade gerar pensamento crítico organizar e articular os saberes formar cidadãos profissionais e lideranças pensantes Porém há questionamentos mais radicais que em pleno ritmo de globalização capitalista e informacionalização alertam para o fato do conhecimento ter se tornado um bem de mercado como forma dos seus consumidores galgarem uma melhor adaptação ao mundo do trabalho extremamente competitivo Por isso fazse necessário que a universidade enfrente seriamente o desafio de rever constantemente seus fundamentos propriamente acadêmicos científicos e filosóficos Mas isso não se resolve em um plano abstrato além de que a universidade está sempre determinada pelo movimento histórico a que pertence Ela não é perfeita nem inquestionável e não está acima da sociedade nem desvinculada dela Seu corpo docente sua estrutura administrativa seus dirigentes estatutos e tradições e seus estudantes incidem sobre sua imagem e seu desempenho 17 Universidade e Ciência A universidade brasileira tem se debatido intensamente numa crise que não parece ter fim uma vez que tumultua e desorganiza sua estrutura mas que também se abre para novos horizontes e possibilidades na medida em que se mostra essencialmente como desafio e derruba hábitos e procedimentos pouco funcionais ou referidos rigidamente a padrões anteriores de vida intelectual educação e gestão Como afirma Lukesi 1991 p 41 uma universidade que se propõe a ser crítica e aberta não tem o direito de estratificar absolutizar qualquer conhecimento como um valor em si ao contrário reconhece que toda conquista do pensamento do homem passa a ser relativa na medida em que se espaciotemporaliza Há sempre a necessidade de um entendimento novo Sustentabilidade crise econômica mundial mudanças climáticas escassez da mão de obra inovação Essas são as palavraschaves que compõem o vocabulário das mudanças pelas quais passa o mundo e que inevitavelmente impõem a cada um de nós a busca por um novo modelo de vida no planeta Nesse cenário a educação tem peso de ouro e as universidades passam a assumir um papel fundamental no processo reflexivo da sociedade COELHO 2009 Não há dúvidas de que o caminho do crescimento passa pela promoção do desenvolvimento profissional pela sustentabilidade e pela inovação A universidade precisa se voltar para a construção de um modelo social e ambiental mais justo E como se inserem esses dilemas no espaço universitário Será que a universidade continua sendo capaz de desempenhar suas históricas atribuições Que conhecimento ela está gerando hoje Como as posições geradas em seu interior entram em circulação que função cumpre Qual sua efetiva contribuição para o país São muitas as interrogações que precisam urgentemente ser discutidas e nada melhor do que o espaço da própria universidade para instigar tais preocupações Seção 4 Universidade espaço de formação do cidadão A globalização é um fenômeno econômico resultante do próprio sistema capitalista na ânsia de conquistas por novos mercados em decorrência da saturação de setores da economia em alguns locais Isso tem provocado transformações profundas em nossa sociedade que precisam ser tratadas em suas relações sem isolálas É nesse contexto que se insere a universidade ou seja um ambiente dinâmico com diversos conhecimentos 18 Capítulo 1 A universidade deve ser o lugar da reflexão das formulações das perguntas e das proposições de soluções ponto de encontro de pessoas com objetivos em comum É espaço em que se desenvolve o olhar crítico sobretudo um olhar capaz de considerar o currículo sob a perspectiva da sociedade em que estamos inseridos a comunidade que nos circunda buscando soluções para a efetividade de uma lugar mais humano e mais sustentável para se viver É exatamente nessa perspectiva que temas atuais os quais demandam reflexões e soluções da sociedade para a própria sociedade emerjam na constituição do contexto universitário principalmente no que diz respeito às questões étnico raciais às políticas de desenvolvimento sustentável e aos direitos humanos Essas questões implicam não só reflexões como também ações por parte de todos nós É necessária a adoção de atitudes coerentes com uma educação centrada no exercício da cidadania Nesse sentido é possível acreditar que temas recorrentes e fundamentais como os que são tratados nesta seção ampliem os horizontes das áreas de conhecimento para além dos seus domínios específicos para a formação integral do ser humano Assim a universidade se move no sentido de transformar a sociedade não só por questões que discutem e permeiam as formações específicas dos seus cursos mas de maneira muito significativa por aquelas que perpassam a formação de cidadãos críticos investigativos e partícipes de uma sociedade justa e igualitária Como você estudante durante a trajetória universitária se comportará em relação a esses temas Como profissional como se comportará em relação a esses temas Como vai promover os direitos humanos em sua trajetória E o desenvolvimento sustentável o que é Tratase de um modismo não se aplicará ao que você pretende para sua trajetória profissional Para responder a todas essas perguntas é preciso conhecer os pressupostos básicos sobre esses temas Para isso disponibilizamos materiais na Midiateca do nosso Espaço Virtual de Aprendizagem EVA Esses materiais são os seguintes 1 Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico Raciais publicado pelo MEC 2 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações ÉtnicoRaciais e para o Ensino de História e Cultura AfroBrasileira e Africana publicado pelo MEC 3 A ecologia política e as relações e os conflitos socioambientais autora Denize Demarche Minatti Ferreira 4 O desenvolvimento sustentável perspectiva histórica autora Denize Demarche Minatti Ferreira 5 Dimensões e impacto do desenvolvimento sustentável autora Denize Demarche Minatti Ferreira 19 Capítulo 2 Os caminhos da leitura e da pesquisa Para ingressar no contexto da universidade a leitura desempenha um papel fundamental pois é um dos atos que nos move para a construção do nosso conhecimento Conforme vimos no capítulo anterior o ensino a pesquisa e a extensão constituemse em pilares fundamentais para ser uma universidade Nesse sentido o conteúdo proposto neste capítulo visa a abrir caminhos para o estudante entender a importância da leitura e aplicála tanto na vida acadêmica quanto profissional A universidade também tem a responsabilidade de formar cidadãos que possam se inserir no mundo globalizado Dessa forma Formar cidadãos é também formar leitores competentes sem o que não poderíamos pretender pessoas com pensamento complexo capazes de resolver problemas complexos como propõe o ensino com enfoque globalizador SABBAG 2012 Seção 1 A leitura nos move O ato de leitura é inerente ao ser humano pois mesmo não sabendo decodificar a palavra escrita uma pessoa consegue fazer leituras porque estamos constantemente lendo o que nos rodeia ou seja pessoas lugares situações fatos Poderíamos considerar inicialmente o conceito mais amplo ler é decodificar códigos Mas será que apenas juntar as letras e decodificar as palavras basta para que se faça uma leitura Obviamente que não A leitura é uma atividade muito mais abrangente pois o ato de ler é um processo que envolve habilidades as quais vão além da simples decodificação como fica claro no fragmento abaixo A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto a partir de seus objetivos de seu conhecimento sobre o assunto sobre o autor de tudo o que sabe sobre a linguagem etc Não se trata de extrair informação 20 Capítulo 2 decodificando letra por letra palavra por palavra Tratase de uma atividade que implica estratégias de seleção antecipação inferência e verificação sem as quais não é possível proficiência O uso desses procedimentos que possibilitam controlar o que vai sendo lido permite tomar decisões diante de dificuldades de compreensão avançar na busca de esclarecimentos validar suposições feitas PCN terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental língua portuguesaSecretaria de Educação Fundamental Brasília MECSEF 1998 pp6970 Assim mais do que decodificar códigos o que fazemos durante uma leitura é construir significados a partir daquilo que lemos Portanto se adotamos essa perspectiva de leitura não podemos mais considerála um simples ato de decodificação de um produto pronto mas sim um processo de significação e de construção de sentido do texto Nessa perspectiva devemos levar em consideração que a leitura é um processo que se dá a partir da interação entre leitor e texto Assim sendo o leitor constrói o significado do texto a partir dos objetivos que guiam a sua leitura Pense um pouco quais motivos levariam você à realização de uma leitura Talvez sejam diversos os objetivos que o impulsionam a ler um texto iniciando pelos mais prazerosos como devanear preencher um momento de lazer passando pelos mais instrumentais como procurar uma informação concreta seguir uma pauta de instruções para realizar atividades cozinhar conhecer regras de um jogo até os mais complexos como confirmar ou refutar um conhecimento prévio aplicar a informação obtida com a leitura em um processo de avaliação ou para a realização de um trabalho científico Independente do objetivo que o conduza ao ato de ler você deve atentar para o fato de que na realização de qualquer atividade de leitura como destaca Orlandi 2006 alguns fatores se impõem entre eles destacamos As especificidades e a história do sujeito leitor Os modos e os efeitos de leitura de cada época e segmento social Dessa forma ainda que o conteúdo de um texto não mude é possível que dois leitores com histórias de leitura e objetivos diferentes subtraiam dessa leitura informações distintas 21 Universidade e Ciência Segundo Orlandi 2006 p 10 a leitura é o momento crítico da produção da unidade textual da sua realidade significante É nesse momento que os interlocutores se identificam como interlocutores e ao fazêlo desencadeiam o processo de significação do texto Leitura e sentido ou melhor sujeitos e sentidos se constituem simultaneamente num mesmo processo Devemos considerar então a leitura como construção de significado para podermos desenvolver as competências desta Unidade de Aprendizagem Iniciemos o nosso roteiro de leitura pela observação de dois textos aqui propostos A seguir apresentamos dois textos para o exercício da leitura Fazemos a você o convite para que leia apenas o título desses textos como momento inicial depois pense nas possibilidades de abordagem de conteúdo em cada caso apenas com o enfoque nestes títulos vamos lá Depois leia esses textos e então perceba a relação do título com o texto como um todo Esse é o momento de pensar inclusive no papel que um título possui entenda que no texto acadêmico científico essa forma de representação do texto o seu título precisa se relacionar com o contexto a que ele se refere deve fazer sentido com os objetivos desejados pois não deve levar a interpretações equivocadas sobre o texto Texto 1 Ler pouco Jovem eu sonhava ter uma grande biblioteca E fui assim pela vida comprando os livros que podia Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade porque o dinheiro e o tempo eram poucos Entrava na livraria separava todos os livros que desejava comprar e ao me aproximar do caixa colocavaos sobre o balcão e me perguntava diante de cada um Tenho necessidade imediata desse livro Tenho outros em casa ainda não lidos Posso esperar E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa mais do que suficiente para as minhas necessidades Notei à medida em que envelhecia uma mudança nas minhas preferências passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias Os livros de ciência a gente lê uma vez fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo Com os livros de arte acontece diferente Cada vez que os abrimos é um encantamento novo Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis 22 Capítulo 2 Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão Não me incomodo Pois em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos eu inspirado por teólogos e poetas considero a maturidade como uma doença a ser curada Bem reza a Adélia Prado Meu Deus me dá cinco anos me cura de ser grande E não pensem que isso é maluquice de poeta Peter Berger um sociólogo inteligente e com senso de humor definiu maturidade essa qualidade tão valorizada como um estado de mente que se acomodou ajustouse ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização Menino de cinco anos eu passava horas vendo um livro da minha mãe cheio de figuras Lembrome uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação Nos Estados Unidos há casas de dez andares E havia a figura de um caçador de jacarés e de crianças esquimós saudando a chegada do sol O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que olhando para aquelas estantes cheias de livros eu me perguntei Já sou velho Terei tempo de ler todos esses livros Eu quero ler todos esses livros Não nem tenho tempo e nem quero Então por que guardálos Resolvi dar os livros que eu não amava Compreendi então que não se pode falar em amor pelos livros em geral Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma Nunca se apaixonará O mesmo vale para os livros Assim fui aos meus livros com a pergunta Você me ama Acha que estou louco É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja Há muitos livros que dão provas de que me odeiam Outros me ignoram totalmente nada querem de mim Vou querer ler você de novo Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado Essa coisa de amor universal aos livros fezme lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto em que ele recorda que a palavra grega que designa o sábio se prende etimologicamente a sapio eu saboreio sapiens o degustador sisyphos o homem de gosto mais apurado um apurado degustar e distinguir um significativo discernimento constitui pois a arte peculiar do filósofo A ciência sem essa seleção sem esse refinamento de gosto precipita se sobre tudo o que é possível saber na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas E depois no Zaratustra ele comenta com ironia Mastigar e digerir tudo essa é uma maneira suína O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína mastigando e engolindo o que não desejam Depois é claro vomitam tudo Como eu já passei dessa fase posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina Nenhum cachorro abocanha a comida Primeiro ele cheira Se o nariz não disser sim ele não come Faço o mesmo com os livros Primeiro cheiro O que procuro O cheiro do escritor Se não tem cheiro humano não como Nietzsche também cheirava primeiro Dizia só amar os livros escritos com sangue 23 Universidade e Ciência Ler é um ritual antropofágico Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu No tempo em que eu não era antropófago isto é no tempo em que eu não devorava livros e os livros não são homens não contém a substância o próprio sangue do homem A antropofagia não se fazia por razões alimentares Faziase por razões mágicas Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo Como na eucaristia cristã que é um ritual antropofágico Esse pão é a minha carne esse vinho é o meu sangue Cada livro é um sacramento Cada leitura é um ritual mágico Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor Já aconteceu comigo Disponível em https rubemalveswordpresscom Acesso em 10 mar 2016 Texto 2 Pensar Quando eu era menino na escola as professoras me ensinaram que o Brasil estava destinado a um futuro grandioso porque as suas terras estavam cheias de riquezas ferro ouro diamantes florestas e coisas semelhantes Ensinaram errado O que me disseram equivale a predizer que um homem será um grande pintor por ser dono de uma loja de tintas Mas o que faz um quadro não é a tinta são as ideias que moram na cabeça do pintor São as ideias dançantes na cabeça que fazem as tintas dançar sobre a tela Por isso sendo um país tão rico somos um povo tão pobre somos pobres em ideias Não sabemos pensar Nisto nos parecemos com os dinossauros que tinham excesso de massa muscular e cérebros de galinha Hoje nas relações de troca entre os países o bem mais caro o bem mais cuidadosamente guardado o bem que não se vende são as ideias É com as ideias que o mundo é feito Prova disso são os tigres asiáticos Japão Coréia Formosa que pobres de recursos naturais enriqueceramse por ter se especializado na arte de pensar Minha filha me fez uma pergunta O que é pensar Disseme que esta era uma pergunta que o professor de filosofia havia imposto à classe Pelo que lhe dou os parabéns Primeiro por ter ido diretamente à questão essencial Segundo por ter tido a sabedoria de fazer a pergunta sem dar a resposta Porque se tivesse dado a resposta teria com ela cortado as asas do pensamento O pensamento é como a águia que só alça voo nos espaços vazios do desconhecido Pensar é voar sobre o que não se sabe Não existe nada mais fatal para o pensamento que o ensino das respostas certas Para isso existem as escolas não para ensinar as respostas mas para ensinar as perguntas As respostas nos permitem andar sobre a terra firme Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido 24 Capítulo 2 E no entanto não podemos viver sem respostas As asas para o impulso inicial do voo dependem dos pés apoiados na terra firme Os pássaros antes de saber voar aprendem a se apoiar sobre os seus pés Também as crianças antes de aprender a voar têm de aprender a caminhar sobre a terra firme Terra firme as milhares de perguntas para as quais as gerações passadas já descobriram as respostas O primeiro momento da educação é a transmissão desse saber Nas palavras de Roland Barthes Há um momento em que se ensina o que se sabe E o curioso é que este aprendizado é justamente para nos poupar da necessidade de pensar As gerações mais velhas ensinam às mais novas as receitas que funcionam Sei amarrar os meus sapatos automaticamente sei dar o nó na minha gravata automaticamente as mãos fazem o trabalho com destreza enquanto as ideias andam por outros lugares Aquilo que um dia eu não sabia me foi ensinado eu aprendi com o corpo e esqueci com a cabeça E a condição para que as minhas mãos saibam bem é que a cabeça não pense sobre o que elas estão fazendo Um pianista que na hora da execução pensa sobre os caminhos que seus dedos deverão seguir tropeçará fatalmente Há a história de uma centopeia que andava feliz pelo jardim quando foi interpelada por um grilo Dona centopeia sempre tive a curiosidade sobre uma coisa quando a senhora anda qual entre as suas cem pernas é aquela que a senhora movimenta primeiro Curioso ela respondeu Sempre andei mas nunca me propus esta questão Da próxima vez prestarei atenção Termina a história dizendo que a centopeia nunca mais voltou a andar Todo mundo fala e fala bem Ninguém sabe como a linguagem foi ensinada e nem como ela foi aprendida A despeito disso o ensino foi tão eficiente que não preciso pensar em falar Ao falar não sei se estou usando um substantivo um verbo ou um adjetivo e nem me lembro das regras da gramática Quem para falar tem que se lembrar dessas coisas não sabe falar Há um nível de aprendizado em que o pensamento é um estorvo Só se sabe bem com o corpo aquilo que a cabeça esqueceu E assim escrevemos lemos andamos de bicicleta nadamos pregamos prego guiamos carros sem saber com a cabeça porque o corpo sabe melhor É um conhecimento que se tornou parte inconsciente de mim mesmo E isso me poupa do trabalho de pensar o já sabido Ensinar aqui é inconscientizar O sabido é o não pensado que fica guardado pronto para ser usado como receita na memória deste computador que se chama cérebro Basta apertar a tecla adequada para que a receita apareça no vídeo da consciência Aperto a tecla moqueca A receita aparecerá no meu vídeo cerebral panela de barro azeite peixe tomate cebola coentro cheiroverde urucum sal pimenta seguidos de uma série de instruções sobre o que fazer 25 Universidade e Ciência Não é coisa que eu tenha inventado Me foi ensinado Não precisei pensar Gostei Foi para a memória Esta é a regra fundamental desse computador que vive no corpo humano só vai para a memória aquilo que é objeto do desejo A tarefa primordial do professor seduzir o aluno para que ele deseje e desejando aprenda E o saber fica memorizado de cor etimologicamente no coração à espera de que o teclado desejo de novo o chame de seu lugar de esquecimento Memória um saber que o passado sedimentou Indispensável para se repetir as receitas que os mortos nos legaram E elas são boas Tão boas que nos fazem esquecer que é preciso voar Permitem que andemos pelas trilhas batidas Mas nada têm a dizer sobre os mares desconhecidos Muitas pessoas de tanto repetir as receitas metamorfosearamse de águias em tartarugas E não são poucas as tartarugas que possuem diplomas universitários Aqui se encontra o perigo das escolas de tanto ensinar o que o passado legou e ensinou bem fazem os alunos se esquecer de que o seu destino não é passado cristalizado em saber mas um futuro que se abre como vazio um não saber que somente pode ser explorado com as asas do pensamento Compreendese então que Barthes tenha dito que seguindose ao tempo em que se ensina o que se sabe deve chegar o tempo em que se ensina o que não se sabe Disponível em httpsrubemalves wordpresscom Acesso em 10 mar 2016 Análise de alguns pontos significativos dos textos Você acaba de ler dois textos de Rubem Alves um grande educador brasileiro e pode estar se questionando quanto ao conteúdo abordado pois há um certa provocação para o leitor Vejamos No texto 1 o autor levanos a pensar e questionar sobre as formas de selecionarmos as leituras pois muitas dessas formas com o tempo e o desenvolvimento intelectual tornamse obsoletas levando o leitor a procurar outras leituras e métodos para fazêlas O significado desse texto se constrói à medida que o leitor tem um conhecimento relacionado com o contexto com as ideias veiculadas pelo autor ou seja quando se insere nessa fala ou se exclui O processo de inclusão acontecerá se a leitura vier ao encontro do que o leitor espera ou necessita assim será reflexiva crítica levando a uma transformação pessoal e social Já o leitor que se sentir excluído desse contexto não consegue estabelecer uma 26 Capítulo 2 relação de significado entre o que o texto diz e aquilo que procurava em virtude de não se sentir atraído pelo conteúdo apresentado Assim na universidade cada vez que o aluno não dá conta da leitura do texto sugerido para o estudo deve se incentiválo a fazer leituras menos complexas para aos poucos introduzilo nos textos com um grau maior de complexidade já que há a necessidade de ampliar o conhecimento Uma outra sugestão para atrair o estudante em relação ao conteúdo é fazêlo compreender o momento da produção contexto e o momento da leitura Levando em conta o ato de pensar conforme nos apresenta o texto 2 precisamos ter a percepção de que isso ocorre quando vamos desconstruindo algo sedimentado assim passase a ter outros valores os quais ampliam as oportunidades de busca de um novo conhecimento enfim criamse novos olhares em relação a ideias já postas como verdadeiras Muitas vezes essa tarefa tornase árdua por isso ocorre a aceitação daquilo que está pronto que a sociedade estabelece como correto dessa forma não se estabelece a relação de conceitos refinados Sendo assim conforme menciona o texto 1 nas palavras de Nietzsche ciência sem essa seleção sem esse refinamento de gosto precipitase sobre tudo o que é possível saber na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas Perceba que essas ideias de Nietzsche e de Rubem Alves vêm ao encontro da proposta desta Unidade de Aprendizagem a qual visa a trabalhar também a pesquisa Para isso precisamos de leituras investigativas críticas que levem à construção do conhecimento científico portanto precisam ser mais aprofundadas elaboradas No texto 2 Rubem Alves levanos a refletir sobre o ato de pensar a construção de significado desse texto relacionase à atitude de refletir analisar questionar enfim devemos fugir do que está posto como indiscutível Dando continuidade aos estudos desta Unidade de Aprendizagem no texto 2 o autor tece alguns comentários orientações sobre como iniciar os estudos científicos tendo em vista que eles exigem reflexões e questionamentos para avançar naquilo que se propõe a investigar De acordo com Alves somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido pois a leitura e o estudo científico nos obrigam a sair do senso comum Nesse sentido estamos diante da ideia da problematização tópico esse presente em um projeto em estudos científicos É na inquietação das ideias provocada pelo ato de ler que a ciência se desenvolve aperfeiçoa e vai transformando a história da humanidade 27 Universidade e Ciência O saber científico não busca respostas prontas pelo contrário quer despertar aguçar a busca pelo novo pela mudança assim progride a humanidade Pensar induznos a entender que fazer ciência construir o conhecimento são tarefas diárias Resumidamente expomos alguns argumentos apresentados pelo autor ou seja certos significados expressos nos textos Você pode ir além disso pois ainda há muito a ser analisado nesses textos haja vista o amplo contexto a que Rubem Alves nos insere É indispensável ressaltar que conforme deve ter percebido não há uma receita para aprender a ler Não há roteiro preestabelecido que dê conta de nortear a leitura de todos os textos O que propusemos nesta seção é mostrar a você alguns pontos os quais nunca podem ser desconsiderados nessa atividade Vejamos Busque se informar sobre o contexto conhecer o autor e prestar atenção na época e no local de publicação do texto isso já fornece pistas de como a leitura deve ser conduzida Diante da constatação de quem escreveu e quem é o leitor alvo você já consegue elaborar algumas expectativas sobre a forma de abordagem do tema Por exemplo Rubem Alves o autor dos textos 1 e 2 é um grande educador filósofo sociólogo pensador brasileiro portanto também preocupado com a formação educacional tendo na leitura o elemento norteador para o melhor desempenho na construção do conhecimento Leia quantas vezes for necessário para identificar o tema a tese defendida se for o caso e os argumentos que sustentam essa tese Escreva isso em tópicos e observe como esses tópicos estão divididos nos parágrafos Volte ao texto e confira se você sabe o significado de todos os termos utilizados Use o dicionário A compreensão de um texto exige trabalho concentração e dedicação Para isso um bom recurso é usar uma estratégia de leitura Leda Tessari CastelloPereira 2003 no livro Leitura de estudo ler para aprender a estudar e estudar para aprender a ler destaca algumas estratégias que são excelentes recursos para efetuar uma boa leitura Veja algumas dessas estratégias a Roteiro essa estratégia sugere que o leitor efetue determinadas ações veja Destaque a tese defendida Selecione os argumentos em favor da tese Analise e destaque os contraargumentos levantados em teses contrárias Apresente a coerência entre tese e argumento 28 Capítulo 2 b Comentários de margem Podem ser resultantes de uma ideia que o texto suscitou da lembrança de outros textos Servem para registrar o assunto principal daquele parágrafo Devem ser bastante objetivos e sintéticos Funcionam como disparador da memória c Esquema É uma forma de reorganizar um texto em tópicos sequenciais Ajuda na seleção e na organização das informações mais importantes Deve apresentar apenas o esqueleto ou seja as palavras chave do texto d Roteiro de Leitura Conjunto de instruções apresentadas na forma de tópicos para orientar a leitura Formulação de perguntas que possam guiar a leitura Um bom exemplo de roteiro pode ser feito a partir dos seguintes itens encontrar o assunto problema tese e argumentos ou encontrar definições exemplos ou apresentar a linha argumentativa utilizada pelo autor e Sublinhar É destacar as ideias principais Sua finalidade é destacar elementos que servirão de orientação para consulta futura por isso tem de ser objetivo e se restringir a palavras ou frases É uma estratégia que monitora a compreensão e permite fazer um mapeamento do texto Auxilia na concentração na hora da leitura pois com um objetivo uma tarefa a realizar uma ação concreta temse mais facilidade de fixar a atenção na leitura e na compreensão das ideias Possibilita voltar ao texto lido num outro momento e analisar esses destaques Permite fazer uma retomada do texto 29 Universidade e Ciência Até aqui nossa intenção foi motivar você a ler e mostrar que a leitura é um ato complexo porque exige mais que a simples decodificação das palavras Como aluno do ensino superior você não deve discordar de que as leituras efetuadas a partir de agora exigem um comprometimento maior Assim sendo qualquer atividade de leitura para você deve envolver disciplina intelectual comprometimento e postura crítica pois o objetivo certamente será a apropriação da significação profunda de um texto CASTELLOPEREIRA 2003 p 55 Intertextualidade uma leitura além do texto Com muita frequência um texto retoma passagens de outro Quando um texto de caráter científico cita outros textos isto é feito de maneira explícita O texto citado vem entre aspas e em nota indicase o autor e o livro donde se extraiu a citação PLATÃO e FIORIN 2007 p 9 Podemos ver que os textos sempre mantêm uma relação com outros textos ou seja com algo já lido mencionado em outro lugar a isso damos o nome de intertextualidade Conforme citação acima no texto científico há muito a presença de outros autores citados direta ou indiretamente visando a dar mais credibilidade valor sentido significado dessa forma podemos escrever com mais aptidão e propriedade Para quem lê a intertextualidade permite uma leitura além do que está escrito pois leva o leitor a dialogar com outros textos autores construindo novas visões sobre o mesmo tema Nesse sentido devese ter a percepção da existência e da pertinência das alusões efetuadas no texto quando se lê pois caso não se saiba o porquê da presença de tal elemento de intertextualidade não fará sentido essa presença Nos dois textos de Rubem Alves apresentados acima há vários exemplos de intertextualidade No texto 1 temos a escritora Adélia Prado o filósofo Nietzsche o escritor Murilo Mendes veja que a citação desses pensadores auxilia na construção de sentido do texto pois os conceitos estabelecidos por eles vêm ao encontro da proposta apresentada por Alves em relação ao ato de ler Em relação ao escritor Murilo Mendes ele se utiliza do recurso da intertextualidade para parodiar para inverter contestar e deformar alguns dos sentidos do texto citado para polemizar com ele PLATÃO e FIORIN 2007 p 20 o famoso poema Canção do Exílio conforme podemos verificar a seguir 30 Capítulo 2 Texto original Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá Nosso céu tem mais estrelas Nossas várzeas têm mais flores Nossos bosques têm mais vida Nossa vida mais amores Em cismar sozinho à noite Mais prazer encontro eu lá Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá Minha terra tem primores Que tais não encontro eu cá Em cismar sozinho à noite Mais prazer encontro eu lá Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá Não permita Deus que eu morra Sem que eu volte para lá Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá Sem quinda aviste as palmeiras Onde canta o Sabiá Gonçalves Dias Texto da paródia Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista os sargentos do exército são monistas cubistas Os filósofos são polacos vendendo a prestações A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda Eu morro sufocado em terra estrangeira Nossa flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem milréis a dúzia Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá com certidão de identidade Murilo Mendes Mendes utilizouse do poema de Gonçalves Dias para satirizar polemizar uma determinada situação por isso temos uma paródia nesse poema acima No texto 2 há intertextualidade com o sociólogo e o crítico literário Roland Barthes também como intuito de reforçar os argumentos e trazer mais um ponto de vista No texto científico a intertextualidade leva o leitor a buscar mais informações sobre aquilo que lê justamente para ampliar a visão dessa leitura e ter um olhar sobre o que os autores mencionados em um texto têm a dizer sobre o assunto assim temse mais um caminho para pesquisar Vale ressaltar que todo trabalho acadêmico científico busca um respaldo em diversos autores e teorias portanto sempre ocorre a relação entre textos ou seja o intertexto 31 Universidade e Ciência Temos vários gêneros relacionados à intertextualidade como citação epígrafe alusão paródia a Citação aqui há a citação direta quando se menciona as palavras do próprio autor e a citação indireta chamada de paráfrase Essa última consiste na reprodução das ideias do autor por meio de quem escreve mas sem fazer cópia ou seja quem se apropria da citação indireta reescreve o texto sem alterar o sentido da versão original Tanto a forma direta quanto a indireta é usada de forma muito recorrente nos mais diversos tipos de texto acadêmicos científicos técnicos pelos motivos expostos anteriormente isto é com o intuito de dar credibilidade fundamentação sentido ao que se escreve b Epígrafe essa forma de intertexto é pouco usada pode ser observada em alguns livros teses monografias como uma escrita introdutória antes do texto principal Essa citação é pequena apenas algumas linhas normalmente no canto inferior direito de uma página visa a fazer uma reflexão sobre algo pessoal ou sobre o trabalho efetuado c Alusão faz referência a uma determinada teoria conceito estudo Positivismo Iluminismo Pedagogia Ciência da Informação ou a autores Nos textos 1 e 2 acima há alusões a Nietzsche Roland Barthes entre outros d Paródia a paródia visa a satirizar criticar uma determinada situação social ou alguma obra Ao parodiarmos deveremos conservar a estrutura do texto primitivo para que o leitor possa reconhecer a origem da paródia Deste modo as alterações recairão em certos trechos ou vocábulos mas o arcabouço será mantido É importante que o texto a ser parodiado seja conhecido dos leitores a quem se dirige a paródia Se não for assim parodiar não terá razão de ser OLIVIER 2002 Acima você leu uma paródia de Murilo Mendes em relação ao texto de Gonçalves Dias Agora segue um trecho da paródia da Canção do Exílio elaborada por Jô Soares veja 32 Capítulo 2 Canção do Exílio às Avessas Jô Soares Minha Dinda tem cascatas Onde canta o curió Não permita Deus que eu tenha De voltar pra Maceió Minha Dinda tem coqueiros Da Ilha de Marajó As aves aqui gorjeiam Não fazem cocoricó O meu céu tem mais estrelas Minha várzea tem mais cores Este bosque reduzido deve ter custado horrores E depois de tanta planta Orquídea fruta e cipó Não permita Deus que eu tenha De voltar pra Maceió Minha Dinda tem piscina Heliporto e tem jardim feito pela Brasils Garden Não foram pagos por mim Em cismar sozinho à noite sem gravata e paletó Olho aquelas cachoeiras Onde canta o curió Fonte Soares 2012 Perceba que é mantida a mesma estrutura do texto original mas o enfoque crítico altera o sentido do poema 33 Universidade e Ciência Seção 2 A leitura do texto literário e científico Vamos analisar os dois textos que seguem Texto 3 A preocupação com o funcionamento da linguagem na educação científica e tecnológica temnos levado a percorrer caminhos que procuram desfazer a ilusão da transparência da linguagem Trazemos uma reflexão sobre as atividades desenvolvidas no âmbito de uma disciplina na qual privilegiamos discussões sobre a noção de discurso e aprofundamentos acerca dos sentidos construídos sobre as relações entre ciência tecnologia e sociedade CTS Entendemos que esses discursos não apenas comunicam sobre tais conteúdos mas que aquilo que se fala e como se fala dasobre ciência e tecnologia produz efeitos de sentidos Além disso compreendemos que aquilo que não é dito também contribui para a produção de sentidos Dessa forma enfatizamos o trabalho com as histórias de leituras de estudantes como uma forma pertinente de abordar a heterogeneidade de formações discursivas essas pautadas em experiências conhecimentos e expectativas construídos ao longo de suas vidas culminando em diferentes entendimentos sobre ciência e tecnologia Histórias de leituras produzindo sentidos sobre Ciência e Tecnologia Suzani Cassian Irlan von Linsingen Patricia Montanari Giraldi Texto 4 O grande desastre aéreo de ontem Vejo sangue no ar vejo o piloto que levava uma flor para a noiva abraçado com a hélice E o violinista em que a morte acentuou a palidez despenharse com sua cabeleira negra e seu estradivárius Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor Vejo sangue no ar vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires Vejo a nadadora belíssima no seu último salto de banhista mais rápida porque vem sem vida Vejo três meninas caindo rápidas enfunadas como se dançassem ainda E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas e a primadona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa E o sino que ia para uma capela do oeste vir dobrando finados pelos pobres mortos Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo tão tranquila e cega Ó amigos o paralítico vem com extrema rapidez vem como uma estrela cadente vem com as pernas do vento Chove sangue sobre as nuvens de Deus E há poetas míopes que pensam que é o arrebol LIMA Jorge de Poesia completa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1980 2 v v 1 p 237 34 Capítulo 2 Podemos logo perceber que os textos possuem algo que os diferencia ou seja a linguagem utilizada Em um primeiro momento no texto 3 há uma linguagem técnica não literária pois a abordagem está relacionada à construção de um texto de caráter científico Já no texto 4 observamos uma outra leitura de cunho literário haja vista a presença de palavras e expressões plurissignificativas levandoos a fazer diversas interpretações e a analisar um fato verídico que é descrito com emoções e palavras que não se constituem em termos técnicos nem objetivos No texto 3 as informações são precisas e têm o objetivo de informar pois se trata de um resumo de artigo científico o qual você lerá na íntegra ao estudar esta Unidade de Aprendizagem No entanto no texto 4 a intenção do autor é despertar emoção É brincar com o tema e as palavras Nesse sentido temos a presença da subjetividade Também no texto 4 por sua vez algumas palavras têm significados diferentes daqueles que encontramos no dicionário Analise este trecho vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas e a prima dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa Aqui vemos que a relação entre o ramalhete de rosas e o paraquedas constituise em uma linguagem metafórica subjetiva visando a dar emoção e um significado mais abstrato à escrita tendo vista que esse texto literário remete a algo que realmente ocorreu Dessa forma temos a presença da linguagem conotativa Já no texto 3 identificamos a linguagem denotativa pois o significado das palavras remete ao seu sentido real não levando a interpretações subjetivas plurissignificativas em virtude de estarmos diante de termos que representam o texto científico A partir dessas diferenças podemos traçar algumas características do texto literário Primeiramente é preciso considerar que para conhecer o texto literário devemos partir do princípio de que ele não tem compromisso com a realidade com a verdade com a informação Literatura é a arte da ficção São textos escritos para emocionar mas também para instruir e deleitar Nesse sentido a literatura tem uma importante função na formação do ser humano pois como já nos diz Umberto Eco 2003 p 12 Ela representa visões de mundo e como tal objetiva despertar sensações no leitor para que ele sofra se alegre reflita sonhe conteste argumente Para tanto podemos dizer que o texto literário É plurissignificativo e portanto aberto a várias interpretações Tem uma intenção estética procurando provocar a surpresa e o prazer Para tal recorre a processos estilísticos que refletem um modo original diferente de ver e de falar do mundo Apresenta o compromisso com a verdade da mensagem em um plano secundário Apresenta como recursos predominantes a função poética da linguagem e o uso do sentido conotativo das palavras 35 Universidade e Ciência É preciso tomar cuidado porém com a multissignificação que a linguagem conotativa nos possibilita pois como afirma Umberto eco Há uma perigosa heresia crítica típica de nossos dias para a qual de uma obra literária podese fazer o que se queira nela lendo aquilo que nossos mais incontroláveis impulsos nos sugeriram ECO 2003 p 12 Platão e Fiorin 2007 p 102 também nos alertam para os perigos da interpretação equivocada da linguagem literária No livro Para entender o texto leitura e redação os autores afirmam que Sem dúvida há várias possibilidades de interpretar um texto mas há limites Os autores ainda alertam O leitor cauteloso deve abandonar as interpretações que não encontrem apoio em elementos do texto 2007 p 102 e 104 No texto não literário por sua vez a linguagem utilizada tende a ser mais objetiva São textos que lemos nos jornais nas revistas nos artigos científicos etc Assim sendo o texto não literário Evita a ambiguidade procurando a objetividade Tem uma intenção utilitária de esclarecer e informar Tem como função predominante a referencial voltada para fatos reais centrada em uma temática presente em textos acadêmicos científicos jornalísticos Possui linguagem denotativa Seção 3 A leitura implícita Dando continuidade ao nosso roteiro de leitura propomos que você estude os níveis de informação textual Quando lemos um texto podemos perceber que algumas informações estão explícitas isto é aparecem claramente expressas enquanto outras não ou seja estão implícitas essas são representadas por pressupostos e subentendidos Segundo Platão e Fiorin 2008 p 307 e 310 Pressupostos são ideias não expressas de maneira explícita que decorrem logicamente do sentido de certas palavras ou expressões contidas na frase Subentendidos são insinuações não marcadas linguisticamente contidas numa frase ou num conjunto de frases 36 Capítulo 2 Por exemplo na frase o professor parou de fumar inferimos que o professor fumava anteriormente Esse tipo de inferência classificamos como pressuposição presente no verbo parar Mas ainda podemos inferir que o professor tomou consciência de que fumar é prejudicial à saúde Esse tipo de inferência pode ser classificada como subentendido pois é uma dedução do contexto perceba que não há marca linguística que leva a isso Observe a análise efetuada nas duas charges seguintes Figura 21 Charge Fonte Orlandeli 2013 Figura 22 Charge FonteApocalipsetotalwordpresscom 2013 37 Universidade e Ciência Nessas charges o que há de informação explícita é exatamente aquilo que expressa a fala do texto ou dos personagens Na primeira charge o personagem mostra a situação brasileira em relação à educação no passado no presente e no futuro ou seja qual seria o resultado dessa relação Ele pontua que por falta de investimento em educação as pessoas sofrem diversas consequências maléficas No plano implícito podemos observar que a preocupação do governante é somente com sua eleição não pensando no coletivo apenas no individual Podese pensar que pela falta de educação ocorre a desvalorização de si mesmo também com pouco investimento educacional temos o reflexo de uma sociedade não comprometida com os problemas sociais por isso acabam existindo as depredações as pessoas drogadas além de haver um baixo nível de escolaridade O resultado de tudo isso é um país com baixa produtividade e um nível cultural aquém do necessário para ser classificado como um país em desenvolvimento Na charge seguinte vemos como explícito o questionamento de um estudante em relação aos cargos públicos os quais muitas vezes não exigem a formação específica para exercer tal função Por outro lado a informação implícita leva a inferir que a política voltase a algo positivo apenas para o sistema controlador da sociedade ou seja a massa governante Fica implícito também que a população em geral não se beneficia dessas funções públicas nas quais não se exige uma formação específica isso remete implicitamente aos famosos cargos comissionados De forma também implícita a fala da professora nos leva a pensar sobre o autoritarismo e a falta de liberdade do aluno para fazer certos questionamentos que põem em dúvida as ações de quem governa a sociedade É relevante você saber que só compreendemos isso porque acionamos o conhecimento que temos do contexto Sendo a charge um dos modelos de humor de grande conotação sociopolítica seu propósito é ironizar questões atuais da sociedade exigindo do leitor conhecimento de mundo isto é dos fatores extralinguísticos aos quais elas se referem para que ocorra de fato a compreensão no momento de leitura Isso significa que para a compreensão de enunciados segundo Ilari e Geraldi 1987 é necessário que o interlocutor faça inferências isto é leia as informações que se apresentam no texto de forma implícita Assim sendo podemos afirmar que todo texto tem conteúdo explícito e implícito Ou seja informações explícitas são exatamente aquelas ditas no texto que aparecem claramente expressas As informações implícitas por sua vez são as que o leitor pode inferir da leitura do texto 39 Capítulo 3 Trabalhos acadêmicos quais caminhos percorrer Escrever um trabalho científico requer algumas orientações sistematizadas dado que se trata de resultados de investigação ou mesmo de estudos sobre uma questão determinada Podese dizer que a pesquisa é uma forma de se aplicar o conhecimento adquirido para resolver determinada dificuldade problema e depois sistematizála em um relatório trabalho científico Esse fazer pesquisa é um processo que precisa ser discutido com mais propriedade para que se possa entender os caminhos que vão desde a observação de uma realidade da projeção e execução da pesquisa até chegar à construção do trabalho científico Seção 1 Que diálogo há entre pesquisa e trabalho acadêmico Na vida acadêmica fazse necessário criar uma cultura de pesquisa É fundamental os estudantes produzirem trabalhos científicos que se vinculem as dimensões do ensino da pesquisa e da extensão A elaboração de um trabalho científico é parte de um processo que vai desde a transformação individual como também social uma vez que traz descobertas ou desvelamento do novo Como se percebe esse processo é um desafio que se relaciona às observações diárias nos mais variados lugares ou ligadas às próprias experiências no campo de trabalho Preferencialmente o trabalho científico deve responder a problemas práticos por meio de pesquisas de campo estudos de caso experimentos etc não impedindo que sejam desenvolvidas também pesquisas bibliográficas ou documentais MOTTA 2015 40 Capítulo 3 Com base nessas colocações discutemse abaixo vários assuntos ligados ao processo de elaboração do trabalho científico que vão desde o seu tipo até a noção de pesquisa científica 11 Quais tipos de trabalho desenvolver Há vários tipos de trabalhos científicos que se pode desenvolver no meio acadêmico tais como a resumo condensação de ideias resumo indicativo e resumo informativo b resenha crítica apreciação crítica de uma obra valor da obra c fichamento registro de informações para arquivamento eou armazenamento d paper posicionamento crítico em relação a um temaproblema e artigo científico discussão dos resultados podendo ser do tipo original ou de revisão f projeto de pesquisa planejamento da pesquisa g monografia dissertar sobre um só tema delimitado demonstrando profundidade de análise h relatório técnicocientífico descrição formal e nos pormenores das etapas de um estudo Na midiateca você encontra de forma detalhada esses gêneros científicoacadêmico típicos que circulam na universidade resumo resenha crítica artigo científico paper position paper relatório técnicocientífico e monografia 12 Quais normas seguir Com relação à apresentação e estrutura do trabalho científico há aspectos que são normativos como a formatação os elementos prétextuais textuais e póstextuais as citações as referências a apresentação de figuras gráficos e tabelas entre outros Também há detalhes que dependem da criatividade e da necessidade do autor do trabalho em função da natureza do tema como a maneira de expor as citações se indiretas ou diretas o tamanho das figuras em geral o tamanho e a quantidade de parágrafos entre outros 41 Universidade e Ciência Ressaltase que a natureza do problema da pesquisa é fator que gera as particularidades da redação do trabalho científico sem deixar de se amparar nas diretrizes da ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas Nesse sentido a maioria das universidades disponibiliza materiais didáticos próprios que orientam os estudantes quanto à elaboração e apresentação gráfica da produção científica Na Unisul por exemplo existe a obra intitulada Trabalhos Acadêmicos na Unisul organizada pelas bibliotecárias da instituição É uma obra de fácil entendimento disponível tanto em meio impresso como na página online da biblioteca no endereço wwwunisulbrbiblioteca Além das diretrizes da ABNT para se elaborar um trabalho científico é necessário também que se aborde a noção de pesquisa e de método científico uma vez que são elementos fundamentais nesse processo Sendo assim a seguir apresentamse aspectos inerentes as noções de pesquisa e de método científico 13 Que ligação há entre método e trabalho científico No processo de construção do trabalho científico o estudante deve primeiramente identificar o tema da pesquisa delimitado na sua extensão conceitual e em condições de receber tratamento científico adequado por meio da condução de um método científico seja o de abordagem ou o de procedimento e demais ações afins Só assim podese dizer que o problema será respondido mediante um processo investigatório Fora disso é pura especulação ou conjectura 42 Capítulo 3 Quadro 31 Esquema sobre o método científico Método de abordagem Dedutivo Indutivo Hipotéticodedutivo Fenomenológico Bibliográfico Documental Experimental Estudo de caso controle Levantamento Estudo de caso Estudo de campo Pesquisaação Pesquisa participante Exploratória Descritiva Explicativa Qualitativa Quantitativa Quanto ao nível ou objetivo Quanto à abordagem Quanto aos procedimentos Métodos de procedimentos Comparativo Estatístico Monográfico Etnográfico Histórico Fonte Elaboração do autor 2016 Desse modo para se conseguir maiores esclarecimentos sobre o assunto veja na sala virtual de aprendizagem no nosso EVA o que é método métodos de abordagem métodos de procedimento técnicas de pesquisa e variáveis elementos imprescindíveis no processo de sistematização do trabalho Seção 2 Que pesquisa decidir no trabalho A pesquisa pode ser entendida como atividade racional que almeja concretizar vários aspectos responder precisamente ao problema fornecer novas informações sobre ele permitir maior conforto e controle diante do problema e gerar novos questionamentos paradoxo para a formação de linhas de pesquisa A noção de pesquisa vinculase à atividade voltada para a solução de problemas como busca indagação investigação inquirição da realidade tendo duas justificativas principais para desenvolvêla que são satisfação da curiosidade do pesquisador e guia para as próximas ações DAMBRÓSIO 2004 p 21 43 Universidade e Ciência O maior ganho em seguir e entender esse processo é sem dúvida a garantia de atingir convicção no que e sobre o que se pesquisa O ato científico nesse sentido abrange o domínio dos processos de abordagens específicos aos problemas que são a síncrese a análise e a síntese Estas interagem como numa sequência dialética por isso não se excluem mutuamente São fundamentais no estudo e desenvolvimento temático do trabalho científico De imediato as ideias ou assuntos pertinentes ao trabalho científico emergem numa unidade confusa ou sincrética que torna imprescindível a atuação da análise e da síntese para que o tema ganhe um foco e se torne o objeto de estudo A análise é um processo de decomposição de um todo em partes visando separar os elementos de uma realidade complexa que pode ser tanto um objeto individual ou uma ideia É um método que parte de um dado singular para chegar aos princípios gerais A síntese ao contrário é um processo de composição dos elementos visando chegar a uma totalidade É um método que partindo de um todo estabelece ordem entre os elementos chegando às últimas consequências À medida que se prossegue nos estudos para o entendimento cada vez mais profundo do tema do trabalho científico maior é o grau de maturidade alcançado pelo pesquisador e por conseguinte o conhecimento se desdobra em outros de modo a configurar um processo de aprendizagem contínuo Assim deve ser o cotidiano do pesquisador que enfrenta o seu aprimoramento no fazer científico estimulado pela construção do trabalho científico Por conta disso as exigências e criticidades intensificamse na sua formação acadêmica e profissional O ganho na apreensão de competências e habilidades no mercado de trabalho por exemplo é imensurável num futuro próximo Ainda com relação ao tema da pesquisa é necessário lembrar que o pesquisador o defina delimite dentro do limite de seu próprio conhecimento e em seguida busque pelo convencimento do leitor de que o seu ponto de vista tem validade científica e social para campo de estudo em questão Além disso para esta tarefa é necessário que se prime por outras ações como ter em mente as linhas de pesquisa do programa almejado e do seu orientador escolher um tema do seu interesse ler muito sobre o tema e questionar mais ainda buscar por artigos sobre o tema em periódicos conceituados questionar sobre a relevância eou aplicabilidade social do tema conversar a respeito com outras pessoas independente se especialista ou não no tema Vinculado ao tema aparece o problema ou a pergunta que o instiga e move a composição sistemática da dissertação Podese escrever uma redação por exemplo tendo como pergunta Que interesse maior a carreira docente desperta entre os alunos concluintes do ensino médio em sua cidade Certamente as respostas a essa pergunta gerarão um texto focado no mercado de trabalho 44 Capítulo 3 ligado ao magistério tendo a necessidade do escrevente obter um conhecimento devido e atualizado sobre a área da educação Dessa forma não há como fugir do assunto delimitado uma vez que se sabe o que é com base em quem escrever Lembrese de que o problema deve ser sempre formulado como pergunta estar situado no tempo e no espaço e ser uma pergunta viável cuja resposta se concretize no processo científico No campo das ciências humanas e sociais é comum que se classifique as pesquisas mediante o estabelecimento de critérios conforme os listados a seguir a critério dos objetivos exploratória descritiva e explicativa b critério da abordagem qualitativa quantitativa e quantitativaqualitativa c critério do procedimento na coleta de dados bibliográfica documental experimental estudo caso controle levantamento estudo de caso estudo de campo pesquisaação e pesquisaparticipante d critério da natureza experimental ou provocada e nãoexperimental ou observacional e critério das finalidades pura ou básica ou fundamental e aplicada prática Assim se escolher em desenvolver o trabalho científico por meio de pesquisa de campo levantamento estudo de caso etc isso requisitará do estudante tempo disponível para a coleta quantificação e análise dos dados Se ao contrário escolher a pesquisa bibliográfica o estudante terá como desafio maior a seleção coerente das fontes publicadas essenciais ao tema proposto Em ambas as situações o desafio é visível Tanto o caminho bibliográfico como os demais levam a respostas interessantes e ricas em saberes Seção 3 Por que se deve planejar a pesquisa A pesquisa é uma atividade organizada e sistemática que segue um planejamento na forma de um projeto para responder ou solucionar um problema Tratase de uma atividade ligada a um processo complexo constituído de várias etapas não havendo por isso como aceitar a ideia de que exista pesquisa de fácil resolução no sentido de simplificar a complexidade do processo de construção de um trabalho científico É na fase do planejamento da pesquisa que se determina o caminho a ser percorrido na investigação do objeto de estudo do trabalho acadêmico garantindo o caráter científico Por isso toda investigação científica requer uma estrutura complexa não se reduzindo as explanações simplificadas e soltas 45 Universidade e Ciência O ponto de partida da pesquisa é o problema uma pergunta que é motivada pela resposta ou solução vinculada aos objetivos da pesquisa Assim a pesquisa requer qualidades diferenciadas de outras atividades acadêmicas Por isso conforme Motta 2015 o estudante para ser considerado um pesquisador deve prestar bem atenção em requisitos como 1 a Espírito científico saber analisar questionar e julgar a validade e o fundamento da solução b Raciocínio lógico estabelecer encadeamento de ideias c Espírito criativo a criatividade caminha junto com a imaginação sem excluir o conhecimento específico no assunto da pesquisa d Rigor científico saber procurar pelo melhor método e melhores condições de coleta de dados e Vontade disciplinada apresentar seriedade e dedicação nos estudos f Afinidade com o assunto do trabalho ter convicção nos propósitos da pesquisa Em outras palavras a pesquisa consiste no ato de livrarse de uma dúvida buscar uma resposta para isso mesmo estando ligada ao senso comum É inerente à ação e à vida pois se trata de um conjunto de atividades que tem por finalidade a descoberta de novos conhecimentos no domínio científico literário artístico etc é a investigação ou indagação minuciosa é o exame de laboratório e assim por diante DAMBRÓSIO 2004 p 1112 Essa experiência é de vital importância para a formação acadêmica uma vez que proporciona ao estudante o primeiro contato com a prática da pesquisa bem como permite aplicar os conceitos ensinados na sala de aula em ambientes não formais De modo prático a pesquisa envolve três etapas logicamente distintas estudo planejamento execução e redação A elaboração do projeto corresponde à primeira etapa Minayo 1996 chama essa fase de exploratória pois compreende várias etapas da construção de uma trajetória de investigação Sua condução de modo precário acarretará grandes dificuldades à investigação no todo A ideia de planejamento pode ser entendida também como a previsão racional de um evento atividade comportamento ou objeto que se pretende realizar a partir da perspectiva científica do pesquisador BARRETO HONORATO 1998 p 59 1 Perceba como os dois primeiros itens são dependentes de uma leitura qualificada tema tratado no capítulo anterior desse livro 46 Capítulo 3 O planejamento assume assim condição fundamental para o sucesso de qualquer trabalho que procure pela melhoria da qualidade Lembrando que essa condição só se concretiza quando seu planejamento ocorrer de forma organizada inserida em uma sequência de eventos prédeterminada numa dimensão sistemática É necessário que o estudante entenda que no meio acadêmico devese saber onde se pretende chegar pois do contrário qualquer caminho servirá Assim não é diferente para o planejamento da pesquisa que se traduz na elaboração de um trabalho científico Tratase de uma experiência única que um estudante universitário pode ter pois mesmo que não siga a carreira de pesquisador ele terá a oportunidade de complementar sua formação acadêmica aprimorar seu conhecimento e se preparar melhor para a vida profissional Voltando à noção de pesquisa Gil 2002 fala em procedimento racional e sistemático e para ser realizada são imprescindíveis métodos e caminhos técnicos dentre os chamados procedimentos científicos Neste alicerce funda se o edifício da ciência na qual a construção dos conhecimentos é elaborada com rigor cuidado e parâmetros que oferecem segurança e legitimidade às informações descobertas O objetivo central deste processo consiste principalmente na sistematização dos procedimentos revestida de um tratamento metodológico comumente denominado de científico O ato de pesquisa presume um cuidadoso processo de planejamento Neste contexto para efetivar este planejamento é necessário que se estabeleça como etapa inicial a elaboração do Projeto de Pesquisa Assim cabe dizer que planejar é uma forma de se antecipar o futuro não se deixar engolir pelo problema e dessa maneira o projeto funciona como um instrumento de planejamento uma ferramenta que delineia procedimentos e ações que se desenrolarão no decorrer da pesquisa 31 Elaboração do Projeto de Pesquisa O projeto de pesquisa consiste em estudar a maneira mais eficaz de se pesquisar o temaproblema permitindo ao estudante visualizar e focar quais ações serão fundamentais para a sua resposta ou solução Para Silva 2004 a composição do projeto está vinculada a duas capacidades principais a de produzir uma imagem mental de uma situação futura e a de conceber um plano de ação a ser executado em um tempo determinado Assim o projeto é um modo de se prever ou pressupor eficácia no processo de investigação Esse tipo de trabalho referese à fase provisória que antecede à pesquisa propriamente dita e está propenso portanto a sofrer mudanças superficiais ou significativas em sua estrutura dependendo de fatores internos e externos inerentes ao temaproblema 47 Universidade e Ciência É certo que a produção textual do projeto certamente sofrerá alterações na fase de elaboração do trabalho científico e isso não é fator para desqualificálo A meta maior nessa etapa é buscar atingir o melhor modo para se escrever o referido trabalho É importante que se entenda o projeto como parte do fazer científico Não há sentido desvincular a fase do planejamento da fase posterior quando se executa a pesquisa e se chega à construção final do trabalho Afinal o projeto não se basta em si mesmo pois é parte do processo de tratamento científico ao problema Nesse sentido o estudante deve preocuparse em desenhar a estrutura do projeto de modo pragmático a fim de visualizar concretamente a arquitetura do trabalho científico Por isso o estudante não deve ficar desmotivado caso seu projeto sofra alterações na fase de execução da pesquisa ou mesmo no primeiro encontro com o professor orientador pois se trata de um documento que serve de base ou de ponto de partida para gerar condições de solução ou resposta ao temaproblema Não se trata portanto de um trabalho concludente que se fecha em si mesmo capaz de determinar a certeza da resolução do problema Na redação do projeto as frases devem estar direcionadas para um futuro próximo de curto ou médio prazo como propostas concretas e atualizadas de pesquisa Já o trabalho científico ao contrário se escreve no tempo presente mas não desvinculada do projeto como forma de buscar por um resultado decorrente de um processo investigativo Existem vários modelos de projeto que proporcionam boas orientações no planejamento da pesquisa Aqui não é diferente Então segue um roteiro com as principais etapas relacionadas Roteiro para projeto de pesquisa 1 Tema da pesquisa O tema é a determinação do objeto da pesquisa que corresponde à seleção de uma fração da realidade a partir do referencial teóricometodológico escolhido BARRETO HONORATO 1998 p 62 A convicção na decisão pelo tema adequado ao problema de pesquisa 2 é um bom indício de que o trabalho científico a ser desenvolvido será de qualidade Heerdt 2004 afirma que o tema de pesquisa é na verdade uma área de interesse a ser abordada É uma primeira delimitação ainda ampla Exemplos de tema Navegações marítimas Direito do consumidor Gestão financeira pessoal 2 Delimitação do tema A delimitação do tema é o enunciado tema de conteúdo mais detalhado que responde simultânea e aleatoriamente às perguntas O que pesquisar Que período pesquisar Que lugar ou ambiente pesquisar Quem pesquisar sujeitos da pesquisa 2 Tema adequado àquela pergunta que o pesquisador deseja responder com a pesquisa 48 Capítulo 3 As questões acima elencadas são indispensáveis em pesquisas de campo estudos de casos ou experimentais 3 Caso seja uma pesquisa bibliográfica ou documental na delimitação podese dispensar o fator lugar ou período assim como os sujeitos dependendo da natureza do problema levantado Como exemplo tomese o seguinte tema Gestão financeira pessoal Para isso buscase pela seguinte delimitação do tema Gestão financeira pessoal ferramentas para a tomada de decisão entre os funcionários do setor de televendas da empresa X 3 Problema de pesquisa O problema é uma pergunta inteligente planejada que revela claramente o objeto de pesquisa ou questão central sentida na realidade a ser respondida pela pesquisa Em sua construção até chegar à pergunta central devese observar com atenção a sequência lógica das seguintes indagações 1º O que me perturba ou me incomoda em relação ao tema Leitura da realidade circundante 2º Que questões me instigam a pesquisálo Indagações 3º Qual é a questão central da pesquisa Problema da pesquisa Marinho 1980 apud LEITE 2011 p 61 afirma que na formulação do problema são fundamentais os aspectos da viabilidade o problema pode ser eficazmente resolvido por meio da pesquisa relevância é capaz de trazer conhecimentos novos a uma indagação antiga ainda não esgotada ou examinada de forma satisfatória novidade se está adequado ao estágio atual da evolução científica exequibilidade o problema conduz a uma conclusão válida e oportunidade permite ao pesquisador apresentar conclusões sobre o tema proposto Rauen 2015 p 133 defende que se deve formular o problema na forma de uma pergunta direta Quando um tema está razoavelmente delimitado é possível convertêlo numa questão de pesquisa Por exemplo podese anteceder o tema com um pronome interrogativo Quais acrescido das devidas adaptações linguísticas e finalizálo com ponto de interrogação 4 Hipóteses É uma proposição que responde a um problema de pesquisa derivada de uma teoria que se obtém por meio de inferência dedutiva e que permite verificação empírica 3 Sobre o que são esses itens consulte material referente na nossa midiateca 49 Universidade e Ciência Para Richardson 1999 p 104 uma vez determinado o problema o pesquisador enfrenta uma variedade de possíveis respostas ou hipóteses desconhecendo qual é a mais adequada Assim a hipótese assume a condição de enunciado da solução provisória que explica um dado problema ou a proposição testável que tende a ser a solução do problema Conforme Henrique e Medeiros 2014 p 89 a hipótese é uma solução tentativa que consiste em uma resposta destinada a explicar provisoriamente um problema até que os fatos venham a contradizêla ou confirmála isto é uma formulação provisória de prováveis causas do problema objetivando explicálo de forma científica Tomese como exemplo a seguinte hipótese Inflação de menos de 2 ao ano leva o crescimento econômico industrial a 3 Essa foi formulada com clareza ao contrário da seguinte Políticos desonestos não conseguem reeleição pois nessa faltam dados para a verificação empírica da resposta HENRIQUES MEDEIROS 2014 É necessário lembrar contudo que as hipóteses devem ser expressas somente nas pesquisas que objetivam verificar relações de associação ou dependência entre variáveis 5 Justificativa A justificativa é um texto dissertativo que apresenta conteúdo problematizado justificando a necessidade da pesquisa por meio de argumentos próprios Apresenta sobretudo a importância científica e social da pesquisa pretendida como também suas intenções e finalidades Os motivos da justificativa devem tornar relevante a realização da pesquisa correspondendo às perguntas centrais por que se deseja realizar a pesquisa e e qual sua relevância social científica ou profissional Barral 2003 p 8889 oferece alguns itens importantes que podem fazer parte de uma boa justificativa São eles a atualidade do tema b ineditismo do trabalho c interesse do autor d relevância do tema e pertinência do tema Na composição do texto da justificativa cada pergunta apontada anteriormente pode ser convertida em parágrafo de modo a caracterizar uma redação dissertativa com a inserção de citações para a devida fundamentação dos argumentos necessários ao tema proposto no projeto de pesquisa É prático pensar também que no início da redação da justificativa apresentese o estado da arte que se refere ao ponto no qual se encontram as pesquisas científicas sobre o tema escolhido e antecipa o futuro RAUEN 2015 p 138 Diz respeito à situação atual das pesquisas sobre o tema de interesse e a sua correspondente projeção no futuro 50 Capítulo 3 6 Objetivos O objetivo expressa a ação para a solução do problema A elaboração do objetivo viabiliza a construção dos capítulos do trabalho científico por isso recomenda se que os objetivos devam ser expressos no infinitivo para indicar a ideia de ação ou estado Esses respondem simultaneamente às perguntas Para que vou pesquisar o tema Que ações respondem ao problema da pesquisa Os objetivos são as ações exigidas pelo temaproblema proposto no projeto de forma a garantir uma coerência lógica entre os capítulos que formarão o trabalho científico Essas ações são vitais para a construção lógica e capitular do trabalho sem as quais se perderá o nexo entre as partes Não se tratam portanto de ações condicionadas pela pura conveniência do autor do trabalho mas decorrem diretamente em função da natureza do problema sendo que por isso os objetivos expressam uma certeza verbo no infinitivo Esses por sua vez se classificam em dois tipos geral e específico O objetivo geral é a afirmativa que apresenta com clareza na forma de ação a ideia central da pesquisa nível teórico mais abrangente Para a sua composição são sugeridos verbos no infinitivo como Conhecer Compreender Analisar Interpretar Avaliar etc Os objetivos específicos são afirmativas que apresentam um desdobramento do objetivo principal em ações específicas nível prático mais particular na forma de tópicos Desse modo a ação apresentada por cada objetivo específico pode corresponder mas não necessariamente ao conteúdo de cada capítulo que fará parte do desenvolvimento do trabalho científico excetuandose a introdução e a conclusão Segundo Oliveira 2011 p 37 os objetivos específicos fazem o detalhamento do objetivo geral e devem ser iniciados com o verbo no infinitivo Para a sua composição são elencados verbos como Identificar Relacionar Calcular Caracterizar Apontar Comparar Definir Ressaltar etc Por exemplo se o objetivo geral de um projeto é analisar o índice de escolaridade de uma dada comunidade inserida em um determinado período os objetivos específicos deverão estar orientados para este alvo como os seguintes identificar os aspectos socioculturais que constituem a comunidade em análise comparar a comunidade em estudo com a situação de outras comunidades limítrofes caracterizar a ocorrência e a dinâmica do índice de escolaridade na comunidade em estudo Cumpridos esses objetivos parciais certamente o aluno conseguirá atingir com certa convicção seu objetivo mais amplo 7 Revisão de literatura ou Revisão bibliográfica A revisão de literatura é o texto que discorre sobre o tema da pesquisa atendose à definição de seus termos e conceitos essenciais Nesse item não há necessidade de o estudante se preocupar demasiadamente com os argumentos próprios pois o texto da revisão é parte do planejamento e não diretamente da defesa da tese o que ocorrerá inevitavelmente na fase de execução do trabalho científico Nesse sentido recomendase desenvolver no projeto no mínimo três páginas de revisão 51 Universidade e Ciência Assim o termo revisão assume sentido de abordagem teórica ou geral restrito às ideias dos autores O propósito dessa etapa é expor conceitos que corroborem com a temática da pesquisa o que não quer dizer que seu conteúdo se constitua de um amontoado de citações como simples colcha de retalhos O primordial é que o estudante demonstre capacidade de síntese como forma de revelar certo domínio sobre as teorias essenciais ao tema proposto No mínimo devem ser referenciadas no texto três fontes bibliográficas de diferentes autores Na composição da revisão de literatura afirmam Silva e Menezes 2001 p 30 o estudante deverá responder às seguintes questões Quem já escreveu e o que já foi publicado sobre o assunto Que aspectos já foram abordados Quais as lacunas existentes na literatura Para Rauen 2015 p 140 a revisão da bibliografia consiste em um conjunto essencial de procedimentos que embora se apresente numa sequência deve ser executado em todas as etapas da pesquisa Nada surge do nada e por isso é muito importante que o estudante reconheça a criação intelectual de outros autores e dê crédito a ela Os resultados de hoje certamente decorrem do esforço das gerações anteriores Recomendase então que a redação do texto da revisão bibliográfica tome como parâmetro as perguntas Com quais bases teóricas devo especificar o tema O que dizem os autores sobre o tema Quais pesquisas já existem sobre o tema Não se pode esquecer ainda que os autores citados nesse item do projeto certamente farão parte da fundamentação teórica do trabalho científico quando já se executou a pesquisa revelando aprofundamento dos conhecimentos pelo estudante sobre o tema proposto 8 Metodologia da pesquisa ou delineamento da pesquisa A metodologia é uma sessão do projeto que se dedica principalmente a apresentar a caracterização do tipo de pesquisa a ser desenvolvida e concomitantemente do método a ser aplicado as questões ou hipóteses do estudo os procedimentos de coleta e de análise dos dados ou achados o cronograma de execução da pesquisa e o orçamento O delineamento da pesquisa segundo Gil 1995 p 70 refere se ao planejamento da mesma em sua dimensão mais ampla ou seja neste momento o investigador estabelece os meios técnicos da investigação prevendo os instrumentos e os procedimentos utilizados para a coleta de dados Diz respeito à etapa que se busca essencialmente pela pergunta Como se pretende obter os resultados Se o estudante na fase do trabalho científico conseguir responder claramente a essa pergunta é sinal de que a metodologia aplicada no trabalho ficou bem definida e articulada com a natureza do problema e com os objetivos traçados no projeto de pesquisa 52 Capítulo 3 Essa fase é uma grande oportunidade para que o estudante aprenda que de acordo com a complexidade da pesquisa as metas que subentendem um problema operacional e não necessariamente os objetivos específicos podem ser desenvolvidas em ações e essas ações em procedimentos RAUEN 2015 p 144 Para isso é necessário que se desenvolva o planejamento do trabalho científico como um produto científico na perspectiva das seguintes tarefas a Caracterizar o tipo de pesquisa segundo os critérios do objetivo exploratória descritiva explicativa do procedimento bibliográfica documental experimental estudo de caso controle levantamento estudo de caso estudo de campo pesquisaação pesquisa participante e da abordagem qualitativa quantitativa quantiqualitativa 4 b Descrever a população ou corpus a ser investigado Se a pesquisa for de campo eou envolver o método estatístico o tipo de amostragem também precisará ser explicado c Apresentar os critérios de composição do corpus ou da população ou do objeto de pesquisa d Descrever sucintamente os métodos de abordagem dedutivo indutivo hipotéticodedutivo dialético fenomenológico e de procedimento comparativo etnográfico monográfico estatístico histórico entre outros e Detalhar o processo de levantamento registro análise e interpretação dos dados descrever sucintamente as técnicas a serem utilizadas para coletar os dados incluindo seus respectivos instrumentos questionário entrevista formulário observação análise de conteúdo fichamento entre outros e também como esses dados serão registrados e analisados Em síntese é a descrição da forma como serão analisados os dados da pesquisa Existem duas grandes tendências a se a pesquisa for qualitativa as respostas podem ser interpretadas global e individualmente b se for quantitativa provavelmente serão utilizadas tabelas e estatística HEERDT 2004 f Apresentar em detalhes o cronograma e o orçamento que se prevê para o processo da pesquisa Caso a pesquisa seja estudo de campo estudo de caso experimental etc devese escrever em média um parágrafo para cada item acima relacionado Se ao contrário for pesquisa bibliográfica ou documental dispensamse os itens relacionados acima a a f devendo o aluno discorrer sobre as ideias ou teses dos autores especializados no tema proposto Para isso ele deve escrever no mínimo quatro parágrafos 4 Para saber mais sobre esses tipos de abordagem consultar na midiateca No Eva texto referente 53 Universidade e Ciência 9 Cronograma O cronograma é o item da metodologia em que se detalham as ações inerentes à aplicação e composição da pesquisa no decorrer do tempo Pode ser também a distribuição adequada das tarefas por ordem de importância em relação ao tempo previsto É costumeiro apresentar as ações e datas na forma de tópicos ou de quadro Salientase ainda que esta etapa preveja cronologicamente as atividades inerentes à estruturação da monografia e não do projeto uma vez que este corresponde ao planejamento daquela 10 Referências As referências dizem respeito à etapa em que se listam as obras citadas no texto do projeto em ordem alfabética e alinhadas à esquerda conforme a NBR 6023 vigente da ABNT 55 Capítulo 4 A linguagem e seu funcionamento Nesta unidade de aprendizagem começamos capítulo 1 por entender o que significa universidade seu papel para a formação da cidadania sua base tríplice ensino pesquisa e extensão e percebemos que sem leitura capítulo 2 não há como transformarmudarpropor assim consideramos que é por meio da pesquisa e da extensão capítulo 3 que poderemos também dar a nossa contribuição para a sociedade que nos acolhe por último e tão importante quanto os demais capítulos trataremos do funcionamento da linguagem É a linguagem que nos constitui sujeitos e que nos permite todas as interações sociais possíveis com ela podemos construir o universo no qual estamos inseridos Seção 1 A linguagem como prática social Um dos mitos desde Aristóteles que chama a atenção sobre a linguagem é o de atribuir a ela a simples função de possibilitar a transmissão de informações entre as pessoas Entretanto muito mais do que transmitir cabe à linguagem a função de representar a realidade na medida em que ela própria possibilita efeitos de sentidos múltiplos a cada vez que se materializa numa dada enunciação 1 Não é à toa que Carlos Drummond de Andrade escreveu em Procura da Poesia o seguinte fragmento Chega mais perto e contempla as palavras Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta sem interesse pela resposta pobre ou terrível que lhe deres Trouxeste a chave grifo nosso 1 Enunciação entendida aqui como ato de utilização da língua pelo falante ao produzir um enunciado em um dado contexto comunicativo 56 Capítulo 4 Grifamos cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra justamente porque a cada ato comunicativo enunciação a palavra aparece com um efeito de sentido diverso e ao mesmo tempo único decorrente daquele ato daquele instante presente Imaginemos num exemplo prático do dia a dia alguém pronunciando a frase hoje estou engolindo sapos A palavra sapos aparece em um sentido conotativo visto que naturalmente não se engole sapos O efeito de sentido torna possível a compreensão de que no dia de hoje se está com problemas dificuldades tensões Assim a linguagem é uma forma de representação de mundo de sentimentos de emoções mas não somente isso Segundo Richter 2000 p 50 a linguagem serve para fazer coisas ela literalmente transforma o mundo e não só o representa justamente porque permite a argumentação a contra argumentação o questionamento e as possibilidades de sentidos diversos atribuídos a cada contexto enunciativo de maneira única irrepetível Essa forma de representartransformar o mundo torna a linguagem responsável pela efetividade do contexto históricosocial do homem ao longo dos anos que compreendem sua existência permitindo o estabelecimento das relações sociais e suas consequentes transformações Graças à linguagem todo conhecimento produzido está a nossa disposição Ao mesmo tempo em que nos apropriamos desse conhecimento sócio historicamete produzido também somos produtores desses conhecimentos E aqui na universidade lugar de produção e circulação do conhecimento é um lugar legitimado não só para o ensino mas principalmente para a produção de pesquisas que de formas variadas retornam em certa medida à comunidade 57 Universidade e Ciência Seção 2 Autoria Estudar a língua é estudar as práticas de linguagem em situações reais de uso A autoria está em relação com o sujeito que produz um texto ou seja o sujeito autor o qual usa a linguagem em determinada situação Por conseguinte o que caracteriza a autoria é a produção de um gesto de interpretação quer dizer quem produz o texto é responsável por uma formulação que faz sentido O modo como ele o sujeito faz isso caracteriza sua autoria ORLANDI 2001 p 76 Veja o texto a seguir Muitos pensamos que o que move o mundo é o dinheiro os bens materiais que tanto nos atraem ou mesmo a busca pelo prestígio e poder Tudo isso é muito importante e mexe de verdade com o comportamento humano porém o que mais é capaz de provocar mudanças transcender teorias e transformar o mundo é de fato a linguagem As palavras são muito poderosas quando saem de nossa boca tem o potencial de criar ou dissipar estresses cativar ou afastar pessoas conquistar ou destruir sonhos provocar paixão ou abrir feridas que duram por uma vida inteira Tudo vai depender de nossa habilidade de lidar com elas no tempo dose forma e tempero adequado COSTA 2016 p 1 Podemos então afirmar que o autor emerge como o produtor da linguagem produzindo o texto com todos os aspectos que o tornem texto tais como coesão coerência progressão não contradição e fim Notem que todas as possibilidades de frases estão no repertório da língua são potencialidades e estão no nível do repetível Em outras palavras todas as estruturas possíveis de frases estão disponíveis na língua para todos nós mas no momento em que cada um de nós faz uso dessas frases em um texto elas deixam de estar no nível do repetível potencialidade e materializamse no texto Então no processo de elaboração do texto levase em conta essas estruturas que já existem na língua aspectos gramaticais lexicais e são atualizados no texto O que é produzido tornase novo porque está inserido em uma dada circunstância é uma prática social Esse texto é um acontecimento novo uma 58 Capítulo 4 vez que aí intervêm os aspectos discursivos a situação real de uso da língua nas interações sociais E aí é que entra o autor Nesse ato de enunciar de produção do texto é considerada a situação em que estamos envolvidos o nosso propósito interacional o outro para quem enderecemos o nosso texto Para atender a esses propósitos interacionais mobilizamos não só recursos gramaticais como também recursos discursivos o interlocutoro outro a situação sóciohistórica a posição que ocupa nas determinadas esferas da atividade humana e os gêneros discursivos Levando em consideração esses aspectos podese falar em autoria Assim em cada produção de linguagem materializada em texto como unidade de sentido ou seja com coerência há o sujeito autor aquele que produziu o texto Assim a autoria está para todos os textos assim como o autor está para o sujeito que o elaborou O autor é o sujeito que produz o texto em uma situação sociointerativa com todos os critérios de coesão e coerência como prática social Podemos falar dessa forma em níveis de autoria Quanto mais conhecimento sobre o funcionamento da linguagem de seus mecanismos de coesão mais se efetiva a autoria Seção 3 A materialização da linguagem texto Um texto segundo a sua materialidade é um objeto com começo meio e fim tem relação com outros textos existentes possíveis ou imaginários com suas condições de produção os sujeitos e a situação e com sua exterioridade constitutiva Podemos definir o texto como prática de linguagem com materialidades diversas matéria que possibilita a prática da linguagem somsilêncio letra movimento do corpo dança tintaformas na pintura mármoremadeira na escultura etc São matérias que pela ação do sujeito transformamse em materialidade simbólica linguagens É um espaço significante o texto produzido intencionalmente pelo sujeito já que é linguagem em uso Em função disso como há linguagens verbais e não verbais há textos também verbais e não verbais 59 Universidade e Ciência Exemplificamos Essa imagem é um texto Algumas das propriedades consideradas importantes no processo de produção de textos verbais Um texto não é um aglomerado de frases Mais do que isso as partes devem estar articuladas entre si compondo um todo significativo Todo texto é produzido por um sujeito em um determinado tempo em um determinado espaço com uma determinada finalidade Por isso o texto revela ideias e concepções de um grupo social de uma determinada época Todo texto é escrito intencionalmente para um interlocutor ou um grupo de interlocutores o que implica a escolha da estrutura e da linguagem adequadas O texto além de ter uma materialidade específica também está relacionado com os contextos de uso Em cada esfera da sociedade circulam textos com certas regularidades comuns dessa esfera Isso trataremos a seguir sobre os gêneros discursivos 60 Capítulo 4 Seção 4 Gêneros discursivos Os gêneros discursivos são formas típicas de enunciados que se realizam em condições específicas e com variadas finalidades nas diferentes situações de interação social Para melhor entender imaginemos os gêneros que a secretária de uma empresa precisa saber redigir no seu dia a dia de trabalho Ela pode precisar elaborar um memorando para solicitar algum material de expediente um email para se comunicar com o chefe que está viajando Deve saber redigir ainda uma ata para registrar o que foi discutido numa reunião ou até mesmo um convite caso haja um evento na empresa e ela seja a responsável pela organização desse evento É importante registrar ainda que no processo de produção dos mais diversos gêneros utilizamonos das tipologias textuais também conhecidas como sequências textuais as quais são modos de organização do texto As mais comuns são descrição narração e dissertação É provável que no gênero relatório por exemplo encontremse as tipologias narrativa relato dos fatos e dos procedimentos descritiva caracterizando ou retratando os objetos em uso e dissertativa apresentando uma opinião ou um ponto de vista sobre os fatos É preciso ficar claro que as tipologias ou sequências textuais estão a serviço dos gêneros E mais fazer uso desta ou daquela tipologia e mesmo lançar mão de mais de uma delas dependerá de qual gênero se vai elaborar Assim também a opção por este ou aquele gênero é uma questão a se decidir e a decisão dependerá de um conjunto de fatores tais como as características e a finalidade do texto a quem ele se destinará etc Você já parou para pensar quais são os gêneros discursivos que o cercam em seu dia a dia Aqui na Universidade circulam principalmente artigos científicos ensaios monografias projetos relatórios Trabalho de Conclusão de Curso etc É preciso deixar claro ainda que os gêneros não se apresentam de forma fixa pelo contrário podem ser constituídos e reconstituídos ao longo de nossa existência Há alguns anos para nos comunicarmos com alguém que estava em um outro país usávamos a carta Hoje porém com a tecnologia da informação usamos o email o MSN o facebook etc Assim estudar sobre gêneros discursivos possibilita compreender que um texto é uma unidade que contém uma estrutura e uma organização específicas e o mais importante exerce uma função social 61 Universidade e Ciência 41 Gênero e suporte Fazse oportuno mencionar ainda a respeito do suporte em que os gêneros são fixados ou produzidos Tratase do local veículo meio ou ambiente no qual os textos diversos podem aparecer Na antiguidade por exemplo os homens usavam as tabuinhas ou as paredes das cavernas para escreverem seus textos Hoje há diversos suportes como o papel livros jornais revistas apostilas etc as telas da televisão do computador as diferentes mídias ou qualquer espaço virtual Os suportes essenciais para a circulação dos gêneros podem variar de acordo com as necessidades de quem os está usando Por exemplo posso usar um telefone celular para mandar um bilhete ou ler uma notícia Os suportes são tão importantes que podem definir o gênero Consideremos o texto abaixo Paulo te amo me ligue o mais rápido que puder Se encontrarmos esse texto num papel sobre a mesa ele será um BILHETE Se o encontrarmos numa secretária eletrônica é um RECADO Se for enviado pelo correio é um TELEGRAMA Caso esteja em um celular será uma MENSAGEM E se estiver num outdoor é uma declaração de amor A partir do que foi apresentado acima podemos dizer que o suporte é uma superfície física em formato específico que suporta fixa e mostra um texto Essa ideia compreende três aspectos 1 suporte é um lugar físico ou virtual 2 suporte tem formato específico livro revista 3 suporte serve para fixar e mostrar o texto 42 Gênero e contexto de ocorrência Os gêneros podem estar associados a um contexto de ocorrência que pode ser do âmbito literário jornalístico acadêmico publicitário empresarial humorístico etc Apresentamos abaixo um quadro com uma pequena relação de gêneros em seus respectivos contextos de ocorrência Nesse quadro é preciso estar atento a alguns detalhes 62 Capítulo 4 a Um mesmo gênero textual pode ser recorrente em diferentes contextos de ocorrência Por exemplo a crônica por sua variedade lírica reflexiva humorística enquadrase como texto literário jornalístico humorístico b Os gêneros textuais não constituem uma lista definitiva Novos gêneros surgem em decorrência de novos propósitos para a utilização da linguagem e de novas tecnologias Quadro 41 Alguns exemplos de gêneros em determinadas ocorrências 1 Textos literários a Crônica b Novela c Poema d Conto e Romance 2 Textos jornalísticos a Notícia b Editorial c Artigo de opinião d Resenha e Classificados 3 Textos acadêmicos a Resumo b Resenha c Relatório d Artigo e Monografia 4 Textos empresariais a Carta b Memorando c Ata d Recibo e Ofício 7 Textos publicitários a Anúncio b Outdoor 6 Textos humorísticos a História em quadrinhos b Charge c Piada Fonte Adaptação do autor 2012 63 Universidade e Ciência Seção 5 Texto e construção de sentido Ao se olhar para dentro de um texto isto é para as partes que o compõem é possível observar não só os elementos linguísticos que os constituem as palavras os períodos e os parágrafos mas também as ideias que por ali passam Esse conjunto vem a ser responsável por estabelecer a coerência e a coesão textuais 51 Coerência Um texto é coerente quando apresenta ideias organizadas e argumentos relacionados em sequência lógica de forma a permitir que o leitor chegue às conclusões desejadas pelo autor Assim um texto coerente deve satisfazer a quatro critérios básicos A continuidade diz respeito à necessária retomada de elementos no decorrer do discurso Tem a ver com a unidade temática do texto Uma sequência de temas diferentes a cada parágrafo não será aceita como texto A progressão o texto deve retomar seus elementos conceituais e formais mas não pode se limitar a essa repetição É preciso que apresente novas informações a propósito dos elementos retomados A não contradição as ocorrências presentes no texto não podem se contradizer devem ser compatíveis entre si e com o mundo ao qual o texto representa A articulação referese à maneira como os fatos e os conceitos apresentados no texto se encadeiam como se organizam que papéis e valores exercem uns com relação aos outros Observe os exemplos a seguir A escolha da profissão não é um ato simples ao qual se possa chegar sem hesitações e dúvidas Entretanto esse momento deve ser respeitado pelos pais 64 Capítulo 4 Nesse caso o que fere a coerência é a contradição existente entre os dois períodos Vamos analisar a relação entre esses períodos do seguinte modo a Ideia A a escolha da profissão é um ato difícil b Ideia B o momento da escolha da profissão deve ser respeitado pelos pais Perceba que as ideias A e B não se contradizem pelo contrário B é consequência de A Porém no texto as ideias A e B estão associadas pelo conectivo entretanto cuja função é ligar informações opostas Estabelecese então a contradição o leitor sabe que não há oposição entre os sentidos de A e B mas é forçado diante do conectivo entretanto a fazer tal leitura Onde está o problema Na escolha do conectivo O equívoco do autor se resume em ter utilizado um conectivo de oposição enquanto pretendia estabelecer ideia de conclusão Para desfazer a contradição e dar coerência ao texto basta substituir entretanto por algumas opções como portanto logo desse modo assim Vamos analisar mais um caso de incoerência Observe este texto Meu filho não estuda na UNISUL Ele não sabe que a primeira Universidade do mundo românico foi a de Bolonha Essa universidade possui um imenso espaço verde Uma sequência de três períodos sobre o mesmo assunto universidade não implica um texto coerente Nesse exemplo o que ocorre é a falta de continuidade pois o autor provoca uma ruptura ao se referir a diferentes universidades sem a mínima relação estabelecida entre elas Fique atento É fácil perceber que não há coerência nos exemplos anteriores No entanto muitas vezes você conseguirá detectar esse problema em textos produzidos por outras pessoas sem perceber que o mesmo ocorre em seus textos Portanto sempre releia com atenção o que escreve antes de enviar aos leitores Para finalizar esse item acompanhe a definição apresentada por Fávero 2004 p 10 A coerência referese aos modos como os componentes do universo textual isto é os conceitos e as relações subjacentes ao texto de superfície unemse numa configuração de maneira reciprocamente acessível e relevante 65 Universidade e Ciência 52 Coesão Um texto é coeso quando suas partes estão estruturalmente bem organizadas Entre os elementos de coesão estão os conectores conjunções pronomes advérbios preposições que podem aparecer entre palavras orações períodos e parágrafos e outros recursos gramaticais a substituição vocabular por meio de sinônimos hiperônimos e hipônimos a elipse etc São os elementos de coesão que garantem a tessitura a amarração ou a ligação entre as partes componentes de um texto Além disso vão possibilitar a retomada de algumas palavras no texto sem que seja preciso repetilas Explicando com exemplos Observemos como alguns recursos linguísticos estabelecem a coesão textual a O presidente chegará amanhã ao Estado de Tocantins onde ele participará de uma reunião com os líderes do MST b A acadêmica fez a apresentação de seu trabalho c O juiz olhou para o auditório Ali estavam os parentes e amigos do réu aguardando ansiosos o veredicto final No enunciado a onde está associado a Tocantins e ele a presidente Em b seu faz referência à acadêmica e em c ali remete a auditório Em todos esses exemplos os itens destacados são os recursos de ordem gramatical que fazem referência a termos já citados no enunciado Tratase da referenciação ou seja um processo por meio do qual se retoma uma palavra ou uma expressão a fim de se evitar a repetição Além desse recurso de referenciação há outras possibilidades de se evitar a repetição de palavras dentro dos textos Podemos além de retomar nomes com pronomes fazer uso da substituição vocabular e da elipse Dando sequência aos exemplos temos d Todos queriam que o aluno participasse da pesquisa mas por ser um acadêmico de primeira fase seu projeto não foi aceito e Os vereadores deveriam aprovar o projeto No entanto não participaram da reunião 66 Capítulo 4 Em d temos a substituição do termo aluno por acadêmico o que caracteriza um caso de substituição vocabular No enunciado e há um vazio na posição indicada antes do verbo mas sabemos que o ato de não comparecer está ligado a vereadores Logo o termo vereadores é retomado de forma implícita pois não está expresso e esse recurso de omissão de palavras é definido como elipse Embora haja quem pense diferentemente podese dizer que coerência e coesão são aspectos interligados ainda que não sejam dependentes Assim sendo é provável que se um texto estiver mal estruturado o sentido estará comprometido Porém é possível que mesmo sem uma coesão estabelecida por elementos coesivos um texto apresentese com coerência Nesse caso a falta de ligação por meio de elementos linguísticos coesivos não impediu o sentido entre as ideias Observemos um exemplo em que o texto sofre de ambos os problemas isto é não apresenta nem coesão nem coerência Como todos estavam decididos a votar contra a alteração da data Temse aí um caso de enunciado com sentido incompleto A pergunta que se faz é Como todos estão decididos a isso o que acontecerá Falta coesão pois falta articular uma última parte a essa ideia Também falta coerência uma vez que não se completou a ideia Já em outros casos a falta de elementos coesivos não perturba a coerência do texto Observemos este exemplo dado em Fávero 2004 Luiz Paulo estuda na Cultura Inglesa Fernanda vai todas as tardes no laboratório de física do colégio Mariana fez 75 pontos na FUVEST Todos os meus filhos são estudiosos O texto está destituído dos elementos de coesão ou seja não há elementos de ligação mas há coerência pois o último período justifica os anteriores atribuindo sentido ao todo Algumas vezes ao contrário desse último exemplo temos situações em que os elementos coesivos não contribuem para dar coerência ao texto 67 Universidade e Ciência Vejamos Maria está na cozinha Lá os azulejos são brancos Também o leite é branco Apesar de haver os elementos de referência lá e também não há relação de sentido entre as partes Falar de coerência e coesão como mecanismos de construção de sentido dos textos levounos a falar em vários momentos sobre elementos coesivos ou de ligação o que equivale a falar em conectivos É de fundamental importância que você saiba fazer uso dos conectivos em seus textos pois são eles os elementos responsáveis pelo encadeamento lógico das ideias o que justifica denominálos de conectores argumentativos Mas o que seriam esses conectores Como a própria palavra define conectores são elementos que unem ligam elementos Na língua portuguesa os conectores são elementos que permitem a costura do texto deixandoo mais coeso Podemos utilizar diversos conectivos em nossos textos como pronomes pessoais ele ela nós o a lhe pronomes possessivos meu teu seu pronomes demonstrativos este esse aquele pronomes relativos que o qual a qual Além dos exemplos citados acima podemos usar também os conectivos que traduzem relações de espaço aqui ali defronte à lá fora tempo depois antigamente já causa por causa de em razão de conclusão portanto dessa forma assim sendo por isso finalidade a fim de de modo a para contrasteoposição por outro lado ou ao contrário de mas porém no entanto todavia Cada um desses conectivos tem um valor e tem como objetivo além de ligar partes do texto estabelecer relação semântica de causa finalidade conclusão contraste oposição etc Dessa forma ao produzirmos nossos textos temos de ter o cuidado de usar o elemento adequado para exprimir o tipo de relação que se quer estabelecer como já enfatizam Platão e Fiorin 2007 68 Capítulo 4 Vejamos o exemplo que os autores citados apresentam Israel possui um solo árido e pouco apropriado à agricultura porém chega a exportar certos produtos agrícolas 2007 p 279 De acordo com Platão e Fiorin o conectivo PORÉM usado para unir as duas frases apresenta uma relação de contradição entre elas Nesse caso não teria sentido usar por exemplo o termo PORQUE pois sabemos que esse termo indica causa e se assim o fosse o enunciado apresentado ficaria sem sentido pois a exportação de produtos agrícolas não pode ser vista como a causa de Israel ter um solo árido Certo Veja a seguir um quadro organizado por grupos de conectores com suas funções textuais Quadro 42 Conectores argumentativos Para estabelecer ideia de OPOSIÇÃO Para estabelecer ideia de ADIÇÃO Para apresentar EXPLICAÇÃO CAUSA Para apresentar CONCLUSÃO CONSEQUÊNCIA Para estabelecer uma CONDIÇÃO Para estabelecer uma COMPARAÇÃO MAS E PORQUE LOGO SE DE UM LADO PORÉM NEM JÁ QUE PORTANTO CASO POR OUTRO TODAVIA NÃO SÓ MAS TAMBÉM VISTO QUE ENTÃO CONTANTO ENQUANTO CONTUDO COMO ASSIM DESDE QUE COMO NO ENTANTO POIS DESSE MODO MAIS DO QUE ENTRETANTO PORQUANTO POIS MENOS DO QUE EMBORA UMA VEZ QUE POR CONSEGUINTE MESMO POR ISSO APESAR DE DE FORMA QUE AINDA QUE NÃO OBSTANTE Fonte Elaboração do autor 2012 69 Universidade e Ciência Podemos conectar várias ideias em um único período utilizando os recursos da tabela Em princípio temos um aglomerado de frases desconectadas As mulheres sempre lutaram pelos seus direitos Em muitas empresas os homens continuam ganhando mais que as mulheres Ainda há muita discriminação em relação às mulheres As possibilidades de se elaborar um período coeso e coerente podem ser muitas Eis dois exemplos As mulheres sempre lutaram pelos seus direitos mas ainda há muita discriminação em relação a elas pois os homens em muitas empresas ainda ganham mais Explicando a Mas estabelece relação de sentido entre ideias opostas b Elas retoma mulheres evitando repetição do termo c Pois introduz uma explicação para a ideia anterior Em muitas empresas os homens continuam ganhando mais que as mulheres o que indica haver ainda muita discriminação em relação a elas apesar de sempre terem lutado pelos seus direitos Explicando a elas retoma mulheres evitando repetição do termo b Apesar de estabelece relação de sentido entre ideias opostas Como finalização desta seção refletiremos sobre alguns dos problemas mais recorrentes e que devem ser evitados quando se pretende produzir textos objetivos e adequados à língua padrão 70 Capítulo 4 53 Ambiguidade Possuem ambiguidade as palavras as expressões ou os períodos com mais de um sentido A ambiguidade pode ser estrutural lexical ou de referência Estrutural quando a duplicidade de sentido ocorre em função da organização da frase O garoto viu o incêndio do prédio Há duas possibilidades de leitura o garoto viu um incêndio que ocorreu no prédio ou o garoto estava no prédio e de lá viu um incêndio Lexical quando a duplicidade de sentido ocorre em função de um item lexical possuir mais de um sentido eu o vi no banco Sem o contexto não podemos saber se o enunciado se refere a um banco de praça ou a uma instituição financeira De referência quando não fica definido qual é o nome que um pronome deve retomar Os alunos disseram aos professores que todos eles deveriam ser responsabilizados pelo fato Há uma tentativa de usar os pronomes todos eles para fazer referência a um termo anterior no entanto não sabemos se eles se refere a alunos ou a professores Importante Estamos listando ambiguidade como algo que deve ser evitado nos textos No entanto cabe um comentário a ambiguidade é um problema em textos técnicos científicos empresariais jurídicos ou seja textos informativos em geral que exigem clareza e objetividade Em outras situações como em textos humorísticos ou publicitários a ambiguidade passa a ser um recurso usado de forma intencional Vejamos por exemplo uma piada Marido 1 Como você ousa dizer palavrões na frente da minha esposa Marido 2 Por quê Era a vez dela 71 Universidade e Ciência Nesse caso o sentido de humor constrói exatamente pela ambiguidade O leitor deve inicialmente interpretar na frente como marcador de espaço para depois perceber que o sentido desejado da expressão na frente é como marcador de tempo Seção 6 Discurso O texto pelo viés do discurso Para estabelecermos uma relação entre texto e discurso haveremos de traçar uma linha não de equivalência mas de interdependência entre um e outro Queremos então partir da ideia de que um texto é uma unidade de sentido produzida por alguém para um outro alguém com uma determinada intenção Dito isso um texto é um espaço significante lugar de jogo de sentidos de trabalho da linguagem de funcionamento da discursividade ORLANDI 1999 p 72 Isso porque por ele passa o discurso Mas o que vem a ser discurso Enquanto o texto é a entidade física na forma verballinguística ou não verbal não linguística o discurso conforme Meurer 1997 manifestase como um conjunto de princípios valores e significados por trás do texto Isso leva a crer que Todo discurso é investido de ideologias isto é maneiras específicas de conceber a realidade Além disso todo discurso é também reflexo de uma certa hegemonia isto é exercício de poder e domínio de uns sobre outros ibidem Tendo forma abstrata o discurso não só se materializa no texto verbal e não verbal por onde passarão conjuntamente a história e a ideologia como também apresenta incompletude isto é não tem começo nem fim Isso porque o sujeito discursivo manifestase dividido a elaborar seu dizer a partir de outros dizeres ditos em outros lugares e em outros momentos É portanto no espaço significante do texto que o discurso irá se constituir Não se pode perder de vista que todo texto é influenciado por e depende de textos que já ocorreram anteriormente Tratase do fenômeno da intertextualidade sem a qual um texto não se efetiva Nesse sentido pode se dizer que todo texto traz em si outros textos ou apresenta um grau de intertextualidade constituída De outro lado haverá sempre na base de um discurso outros discursos que por sua vez vêm demarcados in memória Trata se do fenômeno da interdiscursividade 72 Capítulo 4 Reside aí a razão para se ver o discurso conforme Orlandi 1999 como um processo em curso como uma prática o que o faz ser por princípio um dizer que não se fecha pelo contrário está aberto a uma dispersão de textos e de sujeitos porque é desse modo que verdadeiramente os textos se fazem por uma dispersão de sujeitos Daí poderse dizer que o discurso é sempre incompleto assim como são incompletos os sujeitos e os sentidos ORLANDI 2001 p 113 Compreender um discurso é portanto muito mais que decodificar mensagens é antes buscar estabelecer uma relação de reciprocidade entre o dizer e o não dizer do outro sendo essa relação permeada pela ideologia Vejamos um exemplo de Intertextualidade na qual reside a interdiscursividade Figura 41 Charge Vida de Passarinho Caulos Jornal do Brasil Rio de Janeiro 1978 Fonte ENEM 2001 73 Universidade e Ciência Você pode notar que o escritor Caulos 1978 lança mão do pensamento de Gonçalves Dias para compor sua crítica em defesa da natureza brasileira bastante ameaçada Ou seja Caulos utilizouse da intertextualidade abordada no capítulo 2 ao trazer para seu texto a ideia e as palavras de Gonçalves Dias expressas nos versos do poema Canção do Exílio escrito pelos idos do século XIX na época do Romantismo no Brasil É possível observar que enquanto Gonçalves Dias canta a exuberância da natureza naquela época Caulos reflete sobre a degradação de nossa mata por meio de uma crítica ambiental e política Podemos então dizer que há neste texto a materialização do discurso ambiental e também do discurso político uma vez que envolvem questões a serem decididas nas instâncias da Assembleia Legislativa como também do Senado Federal tais como reforma agrária reforma política leis ambientais que garantam a preservação etc Diante dessa reflexão podese concluir dizendo que a habilidade de leitura bem como a competência de leitor implicam atribuir sentido a um texto seja lá em que situação comunicativa for E isso depende da mobilização por parte do leitor de alguns conhecimentos que se fazem indispensáveis entre eles o de que o discurso dá vida ao texto tal como o texto é o suporte material para a existência do discurso Seção 7 Que linguagem buscar no processo científico 71 Redação Científica A escrita de textos acadêmicos requer uma estrutura que deve atender às exigências da instituição de ensino do professor do avaliador ou até mesmo de outros leitores Os trabalhos acadêmicos devem ser planejados escritos construídos elaborados por seus autores Transcrever em parte ou na íntegra informações ou ideias produzidas por outros autores sem mencionar a fonte no próprio texto é plágio E lembrese plágio é crime Nesta seção você conhecerá alguns elementos que envolvem a redação científica Na produção textual de um trabalho científico é necessário primeiramente que o autor você se coloque na condição de leitor esforçando se em pensar nas suas qualidades e expectativas pois o objetivo maior dessa produção é fazer com que as suas ideias sejam compreensíveis trocando informações e ao mesmo tempo desenvolvendo o processo de comunicação efetivo entre ambos 74 Capítulo 4 72 Estrutura lógica do trabalho acadêmico A estrutura geral do trabalho acadêmico compreende três elementos pré textuais textuais e póstextuais Nesta seção serão tratados somente os elementos textuais A estrutura lógica do trabalho acadêmico 2 compreende três partes organicamente relacionadas introdução desenvolvimento e conclusão Essa estrutura reproduz as fases características do pensamento reflexivo do sincrético totalidade pelo analítico ao sintético Assim a a introdução representaria o momento da síncrese pois apenas apresenta uma visão geral do trabalho b o desenvolvimento representaria a análise pois o seu conteúdo está analiticamente dividido em partes c a conclusão representaria a síntese pois articula de forma breve as principais ideias contidas em cada parte do desenvolvimento do trabalho Seguem algumas explicações 721 Introdução O objetivo principal da introdução é apresentar o assunto de maneira clara e precisa e também a maneira como a pesquisa foi desenvolvida Os principais requisitos para a redação da introdução são a definição do assunto consiste em anunciar a ideia geral e precisa sobre o tema Primeiramente é contextualizada a área de conhecimento em que o tema se situa e depois é apresentada de maneira bem específica a questão ou as questões que o trabalho se propõe a responder Tratase da problematização da pesquisa b objetivos apresentam as ações que deverão ser desenvolvidas na pesquisa O verbo no infinitivo analisar demonstrar identificar descrever etc deve ser usado na redação do enunciado apresentando de maneira mais clara o que deverá ser abordado no trabalho É necessário tomar cuidado para não apresentar objetivos na introdução que não sejam cumpridos no desenvolvimento do trabalho 2 Você acompanhou no capítulo 3 as partes de um projeto de pesquisa aqui estamos vendo as partes do trabalho pronto Tenha clareza também que um trabalho acadêmico pode ser um relatório uma resenha crítica etc não só um projeto de pesquisa 75 Universidade e Ciência c justificativa consiste em apresentar a relevância teórica científica prática e social da pesquisa Devemse esclarecer os motivos que levaram à escolha do tema e chamar a atenção do leitor para a atualidade do assunto Uma justificativa bem feita desperta o interesse para a leitura do trabalho d metodologia informa sobre os procedimentos metodológicos da pesquisa ou seja os recursos que foram utilizados para a coleta de informações na tentativa de buscar respostas para o problema Se a pesquisa for puramente bibliográfica convém informar já de início as principais fontes e os principais autores que foram utilizados para fundamentar o assunto Dependendo da natureza da pesquisa este item pode merecer um capítulo especial no desenvolvimento do trabalho e plano de desenvolvimento do trabalho finaliza a introdução e deve conter os tópicos principais as ideiasmestras que serão apresentadas no desenvolvimento Se as divisões do trabalho forem muito extensas capítulos grandes é possível antecipar uma ideia geral para cada capítulo A introdução deve ser a última parte do trabalho a ser elaborada A redação deverá ser iniciada pelo desenvolvimento do trabalho 722 Desenvolvimento O desenvolvimento é dividido em partes e é a fração mais extensa do trabalho pois nele são apresentados os resultados de tudo aquilo que se pesquisou O desenvolvimento corresponde ao corpo do trabalho Salomom apud SEVERINO 2000 afirma que essa é a fase de fundamentação lógica do trabalho e tem por objetivo explicar discutir e demonstrar a Explicar é tornar evidente ou compreensível o que estava obscuro ou complexo é descrever classificar definir b Discutir é aproximar comparativamente questões antagônicas ou convergentes c Demonstrar é argumentar provar apresentar ideias que se sustentam em premissas admitidas como verdadeiras O desenvolvimento do trabalho começa a se materializar no momento em que o pesquisador estabelece os objetivos e o plano de assunto da pesquisa Os objetivos específicos devem servir de base para a composição dos capítulos 76 Capítulo 4 A elaboração do plano de assunto por sua vez permite que se visualize a estruturação do trabalho em suas divisões e subdivisões Enquanto o desenvolvimento representa a parte analítica do trabalho a conclusão representa a parte sintética Analisar é decompor em partes e sintetizar é recompor as partes que foram decompostas na análise 723 Conclusão A conclusão é a parte que finaliza a construção lógica do trabalho e deve fazer um balanço geral dos principais resultados alcançados Não é conveniente detalhar ideias que não tenham sido tratadas no desenvolvimento e nem se deve apresentar um mero resumo do trabalho Entretanto na parte inicial podemos relembrar de maneira breve as principais ideias que foram expostas no decorrer dos capítulos A conclusão deve apresentar um posicionamento reflexivo na forma de interpretação crítica das principais ideias apresentadas no texto Deve definir o ponto de vista do autor e trazer sua marca pessoal O trabalho também deve ser avaliado quanto ao seu alcance e limitações Quanto ao alcance é importante realçar ou valorizar os resultados afinal foram despendidos esforços para se chegar aonde se chegou Quanto às limitações é importante que se reconheçam as fraquezas ou qualquer dificuldade que tenha ameaçado a qualidade ou o caráter de cientificidade do trabalho Ao final da conclusão você pode vislumbrar apenas apontar sem desenvolver outros temas que mantenham relação com o tema pesquisado e que possam ser investigados em novas pesquisas 73 O estilo na redação de um texto científico Os elementos que enfatizam o estilo na redação de um texto científico em geral são objetividade clareza e concisão simplicidade e coerência a Objetividade linguagem direta sem considerações irrelevantes com as ideias apresentadas sem ambiguidade e utilizando frases curtas e simples com vocabulário adequado ao tema proposto na redação b Clareza e concisão expressar as ideias em poucas palavras evitando a argumentação muito abstrata e a repetição desnecessária de detalhes que não sejam relevantes à fundamentação do tema abordado na redação 77 Universidade e Ciência c Simplicidade utilizar apenas as palavras necessárias para o entendimento do tema da redação evitando o abuso do uso de jargões técnicos e de sinônimos pelo simples prazer da variedade de palavras d Coerência as ideias devem ser apresentadas segundo uma sequência lógica e ordenada permitindo ao leitor acompanhar o raciocínio do autor da redação do começo ao fim Outros aspectos a serem considerados ao escrever o texto acadêmico a não misturar as pessoas verbais escolhendo apenas uma pessoa para compor o seu texto uso da 1ª pessoa do plural ou 3ª pessoa do singular em outras palavras manter a uniformidade na escolha b evite iniciar ou terminar a redação dos capítulos com citação seja direta ou indireta pois essa citação tem a função de endossar ou de ajudar na argumentação das ideias do autor da redação 74 Gêneros discursivos típicos da esfera acadêmicocientífica Na esfera acadêmicocientífica há alguns gêneros discursivos essenciais à vida acadêmica e que precisam ser apropriados dado que as pesquisas realizadas estruturamse a partir desses gêneros discursivos Assim convidamos você a acessar o EVA São apresentados lá gêneros como resumo resenha crítica artigo científico paper position paper relatório técnicocientífico e monografia 79 Considerações Finais A universidade é o lugar que não só reflete o atual momento do conhecimento e das relações sociais como também produz mudanças a nossa maneira de agir e compreender visando a transformações É um espaço de criaçãosocialização do conhecimento principalmente o científico acerca das dinâmicas do mundo seja no âmbito das relações sociais políticas econômicas tecnológicas seja no contexto de questionamentos aparentemente simples Tais conhecimentos são validados ou não por meio do processo de pesquisas cujos resultados devem vir ao encontro da manutenção e transformação da vida em sociedade Mais do que espaço de reflexão crítica de produção do conhecimento é preciso considerar a universidade uma instância em que se articulem conhecimentos ao compromisso de transformação da sociedade tornandoa justa A universidade somos todos nós que pensamos questionamos produzimos conhecimentos e passamos a enxergar o mundo por olhos críticos indo além da contemplação E assim ocupar um campo investigativo mais profundo pautado nos métodos científicos que fundamentam a pesquisa e validam seus resultados e essencialmente pautado em nosso compromisso social A unidade de aprendizagem Universidade e Ciência está exatamente nesse contexto e em função disso nas páginas desse livro percorreram conceitos que fundamentam e legitimam a Universidade dentro da tríade indissociável do ensino da pesquisa e da extensão Ao longo dos quatro capítulos são oferecidos a vocês estudantes meios necessários para que possam enxergar o mundo por olhos críticos para ocupar um campo investigativo e desenvolver conhecimentos Assim caminhase nesta unidade de aprendizagem pelo próprio conhecimento que se deve ter do funcionamento da linguagem da leitura e da escritaautoria em gêneros que circulam nas esferas acadêmicas sem perder de vista o nosso compromisso com toda a sociedade Os conteúdos apresentados neste livro não pretenderam esgotar todas as informações referentes à Unidade de Aprendizagem até porque muitos dos conteúdos a serem estudados estarão disponíveis no Espaço Virtual de Aprendizagem mas sem sombra de dúvida permitiram o acesso com consistência às informações iniciais para aquele que tem a pretensão de iniciar se no mundo da pesquisa e da vida acadêmica Agradecemos sua companhia e mais uma vez enfatizamos o desejo de que este livro tenha contribuído para o seu itinerário formativo e oferecido informações necessárias para fazer ciência e pesquisa desenvolvendo as habilidades e competências apresentadas como objetivos do presente estudo Um grande abraço 81 Referências ALVES Rubem Ler pouco 2008 Disponível em httpsrubemalveswordpress com Acesso em 20 de maio 2016 Pensar 2008 Disponível em httpsrubemalveswordpresscom Acesso em 10 mar 2016 Apocalipsetotalwordpresscom 2013 Disponível em https esquadraodoconhecimentofileswordpresscom201312chargebrasil educac3a7c3a3opessoasjpgjpg Acesso em 16 maio 2016 COELHO Cínthia Nascimento O papel da universidade brasileira Revista Ietec2009 Disponível em httpwwwtechojecombrsitetechojecategoria detalheartigo772 Acesso em 20 fev 2015 BRASIL Orientações e Ações para a Educação das Relações ÉtnicoRaciais MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA 2016 Disponível em httpportalmec govbrdmdocumentsorientacoesetnicoraciaispdf Acesso em 20 maio 2016 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações ÉtnicoRaciais e para o Ensino de História e Cultura AfroBrasileira e Africana 2004 Disponível em httpwwwacaoeducativaorgbrfdhwpcontent uploads201210DCNsEducacaodasRelacoesEtnicoRaciaispdf Acesso em 18 maio 2016 1998 PCN terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental língua portuguesaSecretaria de Educação Fundamental Brasília MECSEF 1998 pp6970 BAKHTIN M Os gêneros do discurso In Estética da criação verbal São Paulo Martins Fontes 1992 BARRAL Welber Metodologia da pesquisa jurídica 2 ed Florianópolis FUncação Boitex 2003 BARRETO Alcyrus Vieira Pinto HONORATO Cezar de Freitas Manual de sobrevivência na selva acadêmica Rio de Janeiro Objeto Direto 1998 CASSIAN Suzani LINSINGEN Irlan von GIRALDI Patrícia Montanar Histórias de leituras produzindo sentidos sobre Ciência e Tecnologia 2011 Disponível em httpwwwscielobrpdfppv22n106pdf Acesso em 18 mar 2016 82 Universidade do Sul de Santa Catarina CASTELLOPEREIRA Leda Tessari Leitura de estudo ler para aprender a estudar e estudar para aprender a ler Campinas SP Editora Alínea 2003 COSTA Evaldo O poder da linguagem Disponível em httpwww dicasprofissionaiscombropoderdalinguagem Acesso em 04 maio 2016 DAMBRÓSIO Ubiratan Prefácio In BORBA Marcelo de C ARAUJO Jussara de L Org Pesquisa qualitativa em educação matemática Belo Horizonte Autêntica 2004 p 1123 ECO Umberto Sobre a literatura Rio de Janeiro Record 2003 GIL A C Como elaborar projetos de pesquisa 4 ed São Paulo Atlas 2002 HEERDT Mauri Luiz LEONEL Vilson Metodologia científica disciplina na modalidade a distância 2 ed rev Palhoça UnisulVirtual 2006 HENRIQUES Antônio MEDEIROS João Bosco Monografia no curso de Direito como elaborar o Trabalho de Conclusão de Curso TCC 8 ed São Paulo Atlas 2014 LIMA Jorge de Poesia completa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1980 2 v v 1 p 237 MENDES Murilo Poemas Rio de Janeiro José Olympio 1959 MOTTA Alexandre de Medeiros O TCC e o fazer científico da elaboração à defesa pública 2 Ed Ver Ampl E atual Tubarão ED Copiart 2015 OLIVIER Wladimir Paródia Usina das Letras Disponível em httpwww usinadeletrascombrexibelotexto Acesso em 3 abr 2016 ORLANDELI Walmir Américo Disponível em httparquiteturadpalavrablogspot combr 2013 Acesso em 13 maio 2016 ORLANDI Eni P Discurso e leitura Campinas Unicamp 2006 PLATÃO Francisco Savioli FIORIN José Luiz Lições de texto leitura e redação 5 ed São Paulo Ática 2007 PINTO R O interacionismo sociodiscursivo a inserção social a construção da cidadania e a formação de crenças e valores do agir individual In GUIMARAES A M M MACHADO A R COUTINHO A Interacionismo sociodiscursivo questões epistemológicas e metodológicas CampinasSP Mercado das Letras 2007 RICHARDSON Roberto Jarry Pesquisa Social métodos e técnicas 3 Ed São Paulo Atlas 1999 Universidade e Ciência 83 RICHTER Marcos Gustavo Ensino do português e interatividade Santa Maria Editora da UFSM 2000 SABBAG Sandra Papesky Práticas de leitura e reflexão para uma educação sustentável 2012 Disponível em httpswwwgrupoacombrrevistapatio artigo7957praticasdeleituraereflexaoparaumaeducacaosustentavelaspx Acesso em 13 maio 2016 SOARES Jô Canção do Exílio às avessas In Recanto poético Disponível em httprecantopoeticolettig3blogspotcombr201204cancaodoexilioas avessasjosoareshtml 2012 Acesso em 13 abr 2016 TRINDADE Hélgio Saber e poder os dilemas da universidade brasileira Estudos avançados v 14 n 40 São Paulo setdez 2000 Disponível em httpwww scielobrscielophpscriptsciarttextpidS010340142000000300013 Acesso em 20 jun 2014 85 Sobre os Professores Conteudistas Alexandre De Medeiros Mota É natural do município de Tubarão SC é graduado em Estudos Sociais e História pela extinta Fundação Educacional do Sul de Santa Catarina FESSC atual Universidade do Sul de Santa Catarina UNISUL especialista em Metodologia do Ensino Superior também pela extinta FESSC mestre em Ciências da Linguagem pela UNISUL desde 2005 Atuou como professor de História no ensino fundamental e médio nas redes de ensino público e privada do município de Tubarão Desde 1987 atua como professor nos cursos de graduação e de pósgraduação da Unisul tanto na modalidade presencial quanto a distância principalmente nas disciplinas da área de pesquisa Por ora coordena também as Licenciaturas de História e de Geografia da Unisul Conceição Aparecida Kindermann Graduada em Letras PortuguêsInglês e suas respectivas literaturas Especialista em Metodologia para o Ensino Mestre em Ciências da Linguagem com foco no estudo de gêneros textuaisdiscursivos e doutoranda também em Ciências da Linguagem Pesquisadora na área de EaD e constituição do sujeito autor e leitor em Análise de Discurso de linha francesa É professora da Universidade do Sul de Santa Catarina onde atua tanto no ensino presencial quanto a distância Diane Dal Mago Possui graduação em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina 1997 e mestrado em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina 2001 Atualmente é professora horista da Universidade do Sul de Santa Catarina UNISUL onde ministra disciplinas referentes à área de Língua Portuguesa tanto no ensino presencial quanto a distância Tem experiência na área de Linguística com ênfase em sociolinguística atua principalmente nos seguintes temas variação mudança e marcador discursivo Já atuou com professora de pós graduação com a disciplina de Gramática e Ensino e também trabalhou de 2006 a 2010 na elaboração de projetos pedagógicos do ensino a distância tanto de graduação quanto de pósgraduação na UNISUL Além do trabalho docente na Universidade do Sul de Santa Catarina também faz revisão ortográfica de material didático da Unisul Virtual 86 Universidade do Sul de Santa Catarina Josefina Maria Hassmann Nasceu em BrusqueSC É pósgraduada em Língua Portuguesa pela Univali 1992 e Graduada em Licenciatura em Letras pelas FURB 1976 Atua como professora em diversas disciplinas ligadas a sua área de formação acadêmica Tem também diversas participações em Bancas examinadoras Patricia Da Silva Meneghel Doutora em Ciências da Linguagem Mestre em Educação e graduada em Ciência da Computação pela Universidade do Sul de Santa Catarina Atualmente é professora titular da Universidade do Sul de Santa Catarina Presencial e Virtual e Gestora das Unidades de Aprendizagem Virtual UAV da UnisulVirtual
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UnisulVirtual Palhoça 2016 Universidade e Ciência Universidade Sul de Santa Catarina Créditos Universidade do Sul de Santa Catarina Unisul Reitor Sebastião Salésio Herdt ViceReitor Mauri Luiz Heerdt PróReitor de Ensino de Pesquisa e de Extensão Mauri Luiz Heerdt PróReitor de Desenvolvimento Institucional Luciano Rodrigues Marcelino PróReitor de Operações e Serviços Acadêmicos Valter Alves Schmitz Neto Diretor do Campus Universitário de Tubarão Heitor Wensing Júnior Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Hércules Nunes de Araújo Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual Fabiano Ceretta Campus Universitário UnisulVirtual Diretor Fabiano Ceretta Unidade de Articulação Acadêmica UnA Ciências Sociais Direito Negócios e Serviços Amanda Pizzolo coordenadora Unidade de Articulação Acadêmica UnA Educação Humanidades e Artes Felipe Felisbino coordenador Unidade de Articulação Acadêmica UnA Produção Construção e Agroindústria Anelise Leal Vieira Cubas coordenadora Unidade de Articulação Acadêmica UnA Saúde e Bemestar Social Aureo dos Santos coordenador Gerente de Operações e Serviços Acadêmicos Moacir Heerdt Gerente de Ensino Pesquisa e Extensão Roberto Iunskovski Gerente de Desenho Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos Márcia Loch Gerente de Prospecção Mercadológica Eliza Bianchini Dallanhol Livro didático UnisulVirtual Palhoça 2016 Designer instrucional Carmelita Schulze Universidade e Ciência Alexandre De Medeiros Mota Conceição Aparecida Kindermann Diane Dal Mago Josefina Maria Hassmann Patricia Da Silva Meneghel Livro Didático Copyright UnisulVirtual 2016 Professores conteudistas Alexandre De Medeiros Mota Conceição Aparecida Kindermann Diane Dal Mago Josefina Maria Hassmann Patricia Da Silva Meneghel Designer instrucional Carmelita Schulze Projeto gráfico e capa Equipe UnisulVirtual Diagramadora Frederico Trilha Revisor Diane Dal Mago ISBN 9788550600703 eISBN 9788550600697 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul U51 Universidade e ciência livro didático conteudistas Alexandre de Medeiros Motta Conceição Aparecida Kindermann Diane Dal Mago Josefina Maria Hassmann Patrícia da Silva Meneghel design instrucional Carmelita Schulze Palhoça UnisulVirtual 2016 86 p il 28 cm Inclui bibliografia ISBN 9788550600703 eISBN 9788550600697 1Universidade Educação 2 Ciência Educação I Mota Alexandre de Medeiros II Kindermann Conceição Aparecida III Dal Mago Diane IV Hassmann Josefina Maria V Meneghel Patrícia da Silva VI Schulze Carmelita VII Título CDD 21 ed 378007 Sumário Introdução 7 Capítulo 1 Trajetória e desafios da universidade em nossa sociedade 9 Capítulo 2 Os caminhos da leitura e da pesquisa 19 Capítulo 3 Trabalhos acadêmicos quais caminhos percorrer 39 Capítulo 4 A linguagem e seu funcionamento 55 Considerações Finais 79 Referências 81 Sobre os Professores Conteudistas 85 Introdução A Unidade de Aprendizagem Universidade e Ciência nos leva a compreender que a universidade por sua natureza e excelência é o contexto privilegiado para o encontro de todos nós com a ciência É nesse espaço que o conhecimento científico se estabelece progride e se expande para o entorno do espaço acadêmico A sociedade de uma forma geral busca esclarecer suas dúvidas seus questionamentos origem situação destino colocar em prova suas verdades por meio da ciência Neste livro didático no capítulo 1 você conhecerá um pouco sobre a história da universidade e o papel por ela desenvolvido no ambiente acadêmico e na sociedade Um desses papéis é trabalhar com o ensino a pesquisa e a extensão levando o aluno a ter um olhar holístico a desenvolver habilidades da pesquisa e com isso inserilo em um contexto de conhecimento globalizado Em relação ao capítulo 2 a abordagem está voltada para compreender e interpretar o universo linguístico da leitura Isso tem o intuito de levar o estudante a desenvolver esse olhar mais holístico e descontruir o que está solidificado transformando o conhecimento do senso comum em algo de caráter mais analítico científico No capítulo 3 o seu contato será com o conhecimento científico Dessa forma o capítulo aborda as particularidades do texto acadêmico e as especificidades do método e trabalho científico Além disso você conhecerá as partes que compõem um Projeto de Pesquisa e desenvolverá habilidades relacionadas a isso A escolha dos elementos linguísticos que compõem a nossa produção textual nos habilita a compreender a linguagem e seu funcionamento isso você verá no capítulo 4 Com isso compreenderá o que é ser autor de um texto o papel dos gêneros discursivos e a importância deles Ademais você verá alguns elementos necessários para a construção de sentido de um texto Por fim conhecerá a linguagem e a estrutura do texto científico A partir dos conhecimentos adquiridos você estará apto para efetuar as leituras produzir textos com uma linguagem apropriada para cada contexto e trabalhar a pesquisa científica Essas habilidades serão muito importantes tanto para a vida acadêmica quanto profissional Bom estudo 9 Capítulo 1 Trajetória e desafios da universidade em nossa sociedade Neste capítulo abordamse questões que se relacionam à história da universidade na Europa e no Brasil bem como as finalidades da universidade as quais são ensino pesquisa e extensão e seus principais dilemas no cenário contemporâneo principalmente temas adjacentes que percorrem debates recorrentes na sociedade pautados em valores visões de mundo como as questões étnicoraciais as políticas de desenvolvimento sustentável e os direitos humanos Tudo isso para que você possa ser competente na análise e compreensão de contextos e assim desenvolva habilidades como refletir criticamente detectar contradições argumentar entre outras Seção 1 História da universidade Para entender a trajetória da universidade como instituição é necessário mergulhar no passado e contextualizar os momentos históricos que marcaram a sua formação desde a antiguidade ocidental até sua trajetória no Brasil Assim abordamse as etapas históricas que permitem localizar a universidade no tempo 11 A universidade na Europa Tudo começa na antiguidade clássica na Grécia e em Roma quando aparecem as primeiras escolas de ensino superior que objetivam a formação completa dos jovens especializandoos nas áreas de Medicina Filosofia Retórica e Direito Nessas escolas cabia aos discípulos aprender lições do mestre considerado espelho e modelo de aperfeiçoamento 10 Capítulo 1 Recordase nesse contexto que os romanos incorporaram a educação grega preocupandose basicamente com a oratória A originalidade do ensino latino decorrente da influência romana consistiu na carreira jurídica difundindo o ensino grego Porém com a crise no Império Romano e as consequentes invasões bárbaras ocorridas nos séculos V a X o processo de ensino superior foi interrompido Contudo a universidade como instituição que a conhecemos hoje tem suas raízes no período medieval Nesse sentido com base em Trindade 2000 apresentase a seguir os quatro principais períodos que marcaram a história da universidade na Europa O primeiro do século XII até o Renascimento foi o período da invenção da universidade Em plena Idade Média é que se constituiu o modelo da universidade tradicional a partir das experiências precursoras de Paris e Bolonha da sua implantação em todo território europeu sob a proteção da Igreja Nesse período o ensino tornase um atributo exclusivo da Igreja Católica As escolas leigas são substituídas pelas religiosas transformandose em um instrumento de aquisição e transmissão de cultura O segundo período iniciouse no século XV época em que a universidade renascentista recebe o impacto das transformações comerciais do capitalismo e do humanismo literário e artístico mas sofre também os efeitos da Reforma e da Contrarreforma No terceiro a partir do século XVII marcado por descobertas científicas em vários campos do saber e do Iluminismo do XVIII a universidade começou a institucionalizar a ciência não sem resistências numa transição para os novos modelos de investigação em busca do conhecimento Nesse cenário o do século XVIII a universidade caracterizada pelas repetições dogmáticas de cátedras não consegue mais acompanhar as novas necessidades culturais oriundas do rápido desenvolvimento da mentalidade individualista e da ciência moderna Assim no século XVIII o movimento iluminista questiona o saber medieval O caráter canônico do ensino começa a ruir diante das pressões capitalistas Com a Revolução Industrial e a consolidação do modo de produção capitalista surgiram exigências de especializações e técnicas que se ajustaram à nova divisão social do trabalho WANDERLEY 1991 p 18 No quarto período no século XIX implantouse a universidade estatal moderna e essa etapa que se desdobra até os nossos dias introduz uma nova relação entre Estado e universidade estabelecendo suas principais variantes institucionais No século XIX na França de Napoleão a industrialização institui uma universidade voltada para a formação profissional a partir da estruturação de escolas superiores Nessa mesma época a Universidade de Berlim 1810 torna se um centro de pesquisa e na Irlanda o Cardeal Newman 1851 funda uma universidade como lugar do ensino do saber universal LUCKESI et al 1991 11 Universidade e Ciência Sob o influxo e a disseminação das ideias liberais buscouse a integração entre o ensino e a pesquisa Paulatinamente as universidades terão que se adequar aos processos de desenvolvimento econômico e social segundo as características peculiares de cada nação Pensadas então para formar os filhos da burguesia logo elas serão pressionadas a atender aos reclames de mobilidade social dos filhos da classe média Pouco a pouco elas se transformaram no lugar apropriado para conceder a permissão para o exercício das profissões através do reconhecimento dos títulos e diplomas conferidos por órgãos de classe e governamentais WANDERLEY 1991 p 18 Como se observa no decorrer da história da universidade encontrase o esforço pela transição da humanidade da vida rural para a vida urbana do pensamento dogmático para o racionalismo do mundo eterno e espiritual para o mundo temporal e terreno enfim do medieval para o moderno Nesse esforço busca se pela livre autonomia como condição indispensável para questionar investigar propor soluções de problemas levantados pela atividade humana LUCKESI et al 1991 p 33 12 A universidade no Brasil No Brasil Colônia até a chegada da família real portuguesa em 1808 os lusobrasileiros em especial os religiosos faziam seus estudos na Europa principalmente na Universidade de Coimbra Existiam na colônia apenas cursos superiores de Filosofia e Teologia oferecidos pelos Jesuítas Porém após a implantação da Corte portuguesa em território brasileiro cria se o ensino superior para atender as necessidades militares de proteção às famílias portuguesas instaladas no Rio de Janeiro A partir de então em 1808 criase a Faculdade de Medicina da Bahia seguida pelas Faculdades de Direito de São Paulo e do Recife em 1854 Mais tarde em 1874 no Rio de Janeiro os cursos civis separamse dos militares formandose a Escola Militar e a Escola Politécnica e logo a seguir em Ouro Preto inaugurase a Escola de Engenharia Desse modo por volta de 1900 o ensino superior brasileiro consolidavase nos moldes de Escola Superior LUCKESI et al 1991 p 34 Como se observa no Brasil Império 1822 a 1889 a expansão do ensino superior continua muito lenta por meio do surgimento de cursos isolados em várias áreas já que o modelo econômico agroexportador não necessitava de profissionais com formação superior FIGUEIREDO 2005 12 Capítulo 1 Com a proclamação da República em 1889 as discussões sobre a Educação especificamente sobre as universidades surgem com mais força Em decorrência da industrialização e urbanização ocorre pela primeira vez no Brasil uma ação planejada visando à organização nacional da educação Com isso após 1930 em plena Era Vargas iniciase o processo de transformação do ensino superior para a condição de universidade a partir do agrupamento de três ou mais faculdades Assim neste mesmo ano surgem as Universidades de Minas Gerais e de São Paulo com a proposta de superar o simples agrupamento de faculdades o que ocorre em 1934 Em seguida em 1935 o professor Anísio Teixeira defende uma universidade como centro livre de discussão de ideias isso é interrompido pela ditadura do Estado Novo de 1937 Apesar dessas iniciativas nesse período devido ao processo de industrialização predomina a preocupação com o ensino profissionalizante Em geral o populismo de Vargas somado à federalização das faculdades estaduais e privadas ocorridas no início da década de 50 tornase responsável pela ampliação do ensino superior gratuito e pela criação das universidades federais que hoje existem no país inclusive no segmento militar Anos mais tarde em 1962 Darcy Ribeiro discípulo de Anísio Teixeira em conjunto com outros intelectuais funda a Universidade de Brasília propondo o rompimento do modelo de universidade como mero agrupamento de escolas e faculdades Porém com o Golpe de 1964 que implantou a ditadura militar no Brasil essas ideias inovadoras são derrubadas e os seus intelectuais professores e cientistas exilados do país Em 1968 o governo federal para acabar com a autonomia da Universidade perante o Estado e manter o controle político e ideológico da educação decreta a Reforma Universitária por meio da Lei n 5540 O trinômio racionalização expansão e controle passa a orientar a implantação de um novo modelo de universidade no Brasil A Lei 55401968 extingue a cátedra especialista ou autoridade em determinado assunto unifica o vestibular passando a ser classificatório aglutina as faculdades em universidade visando a uma maior produtividade com a concentração de recursos cria o sistema de créditos permitindo a matrícula por disciplina Além disso conforme Aranha 1996 p 214 a nomeação dos reitores e diretores de unidade essa agora dividida em departamentos dispensa a necessidade de ser do corpo docente da universidade podendo ser qualquer pessoa de prestígio da vida pública ou empresarial Houve também a fragmentação das Faculdades de Filosofia Ciências e Letras resultando na criação das Faculdades ou Centros de Educação 13 Universidade e Ciência A reforma universitária atendeu a demanda dos grupos ligados ao regime instalado com o Golpe de 1964 que buscava vincular mais fortemente o ensino superior aos mecanismos de mercado e à criação de mão de obra técnica para as multinacionais no âmbito da expansão capitalista americana assim como a incorporação naquelas que já estavam instaladas no país Também houve a contenção de gastos governamentais por meio da expansão das faculdades isoladas ou privadas contrariando a expansão do ensino público gratuito Concretizase assim o processo de privatização sem precedentes do ensino no país caracterizando a educação enquanto um grande negócio destinando verba pública para a iniciativa privada Tal posicionamento tem continuidade nas décadas seguintes Em decorrência das políticas adotadas na década de 90 principalmente pelo Governo de Fernando Henrique Cardoso FHC as universidades públicas sofrem cortes drásticos nas verbas inclusive sem abertura de novos concursos públicos ao contrário das faculdades particulares que se multiplicam assim como não se cria uma política efetiva de assistência estudantil Com a eleição de Lula para a presidência da República as universidades federais ganham novo fôlego concursos públicos são abertos e criase o Projeto Universidade para Todos ProUNI contribuindo inclusive para a expansão das universidades comunitárias Porém ainda são necessárias outras mudanças no modelo universitário herança da reforma universitária da década de sessenta e do modelo sóciopolíticoeconômico adotado pelo Brasil nas últimas décadas Seção 2 Finalidades da universidade ensino pesquisa e extensão A universidade é responsável pelo ensino por meio do contato sistemático com a cultura universal Além disso deve ampliar e diversificar esses conhecimentos adquiridos por meio da pesquisa que produz novos saberes vinculado ao ensino e a aprendizagem como atividade essencial para a formação acadêmica O mesmo vale para a extensão ou prestação de serviços à comunidade uma forma de garantir responsabilidade social à universidade e estimulála a aproximar se dos diferentes saberes promover iniciativas comunitárias sustentáveis reconhecer a diversidade cultural e aperfeiçoar o exercício das potencialidades humanas Por isso é fundamental que uma universidade seja reconhecida sobretudo como um espaço do ensino da pesquisa e da extensão 14 Capítulo 1 No Brasil isso ocorreu em função da luta de entidades sindicais e científicas do campo da Educação que se reuniram no Fórum da Educação na Constituinte responsável pela inserção na carta constitucional de 1988 do artigo 207 o qual prescreve As universidades gozam de autonomia didáticocientífica administrativa e de gestão e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensão Essa autonomia e indissociabilidade passaram a formar um padrão de qualidade em um projeto de universidade voltado para os interesses da maioria da população O tripé ensino pesquisa e extensão apresentase então como uma expressão de responsabilidade social Há um pensamento universal de integrar ensino e pesquisa porém no caso brasileiro a ênfase quase sempre recaiu na formação profissional tornando a integração bastante complicada Por muito tempo a universidade foi concebida como lugar da busca desinteressada do saber Isso implica dizer que suas raízes ramificamse na herança cultural grecoromana e católica Além disso a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB n 939496 em seu art 45 ao estabelecer que a educação superior será ministrada em instituições de ensino superior públicas e privadas com variados graus de abrangências ou especialização abre caminho para que pelo decreto n 230697 fosse introduzida uma nova tipologia das instituições de ensino superior Nessa tipologia os institutos e faculdades isolados podem prescindir da pesquisa e da extensão valendose apenas do ensino para exercer sua função educativa BRASIL 1996 Acreditase que essa medida foi a forma ideal encontrada pelos legisladores para atender aos interesses de mantenedoras do setor privado permitindo grande redução nos custos dos serviços oferecidos por tais instituições se comparados às universidades que garantem as três funções organicamente associadas além de cumprir exigências como corpo docente titulado e contratado em regime de dedicação exclusiva com produção intelectual qualificada O cenário apresentado configurou a coexistência de dois modelos de ensino superior no Brasil como argumenta Sguissardi 2004 p 41 as IES neonapoleônicas destinadas à formação técnico profissional dos estudantes nas quais predominam critérios como não exigência de pesquisa e extensão corpo docente majoritariamente sem qualificação para a produção de conhecimento com dedicação exclusiva às atividades de ensino alocados em unidades isoladas entre outros E as IES neohumboldtianas voltadas à formação de profissionais pesquisadores nas quais predominam critérios e indicadores como existência de produção científica com programas de pós graduação stricto sensu consolidados docentes em regime de tempo integral e qualificados para a produção científica estrutura acadêmica integrada em torno de projetos entre outros 15 Universidade e Ciência Para Mazzilli 2005 a consecução da associação entre ensino pesquisa e extensão demanda a existência de projetos institucionais que anunciem as diretrizes e os compromissos que os orientam e as ações previstas para sua realização projetos coletivos de trabalho associando ações acadêmicas e administrativas práticas de avaliação institucional abrangendo todo o trabalho realizado pela universidade como instrumento de autoconhecimento institucional modelos de gestão que possibilitem a participação de todos os segmentos no processo de decisão e de avaliação do trabalho acadêmico corpo docente com sólida formação científica e pedagógica organicamente vinculada ao projeto da universidade e principalmente condições materiais para a realização do projeto pretendido No caso da Unisul por exemplo a pesquisa o ensino e a extensão são entendidos como atividades formativas inerentes ao ambiente acadêmico constituindose em componentes curriculares Nesse sentido não se pensam estruturas específicas para a consolidação de cada uma dessas atividades em função de suas especificidades Por isso o tripé pesquisa ensino e extensão deve estar inserido na integralização curricular dos itinerários formativos de cada curso desta instituição Seção 3 Dilemas que desafiam a universidade no mundo contemporâneo Em nossa sociedade o conhecimento científico ainda está profundamente ligado ao espaço da universidade É imprescindível que a universidade seja um espaço democrático e dessa forma que esse conhecimento possa circular em todos os outros espaços e principalmente trazer contribuições A universidade em seu papel social deve voltarse para a melhoria da qualidade de vida atendendo tanto aos direitos individuais como aos da coletividade No entanto os desafios não se esgotam nessas ideias requisitando questionamentos como Qual o significado de universidade A que e a quem ela serve Que caminho está rumando Certamente as respostas a essas perguntas são muitas e por isso precisamos refletir nessa seção sobre o papel da universidade na formação do cidadão Trindade 2000 ressalta que uma instituição de ensino superior não pode se deixar dominar pela lógica do mercado ou do poder Essa é a questão que está no centro do conceito de autonomia universitária mesmo que historicamente ele tenha se transformado nas diferentes etapas da evolução da sociedade em relação a sua forma medieval originária 16 Capítulo 1 Como instituição que se dedica à produção e socialização de conhecimento a universidade não tem como deixar de ser afetada pelo modo como as épocas históricas e as sociedades entendem o conhecimento Mas essa ideia não é única e não resume jamais o papel da universidade Em sua trajetória a universidade pode ser vista como o lugar historicamente propício para a criação e divulgação do saber para o desenvolvimento da ciência para a formação de profissionais de nível superior técnicos e intelectuais que os sistemas necessitam bem como ser vista como a instituição social que articula pesquisa ensino e extensão para satisfazer os requisitos estabelecidos pela sociedade Todavia dentro de certos limites é permitida à universidade relativa autonomia desde que não se contraponha aos objetivos postos pelos governantes e setores privados mantenedores WANDERLEY 1991 Quanto às concepções de universidade há aqueles que a veem como um dos aparelhos ideológicos privilegiados da formação social capitalista tanto na reprodução das condições materiais e da divisão social do trabalho em intelectual e manual quanto para garantir as funções de inculcação política e ideológica dos grupos e classes dominantes Outros procuram colocála dentro do contexto contraditório do capitalismo analisando seus limites e possibilidades inserindoa no conjunto das lutas sociais Existem também os que defendem o otimismo pedagógico acreditando em uma educação como mola propulsora da mudança social e do desenvolvimento Por fim há outro grupo que considera a universidade como ultrapassada obsoleta com a necessidade de ser totalmente reformulada ou acabada WANDERLEY 1991 Sendo assim entendemos que a universidade se torna um lugar específico para o conhecimento da cultura universal e das várias ciências onde se cria e divulga o saber desde que se desenvolva conjuntamente o ensino a pesquisa e a extensão Cumpre à universidade gerar pensamento crítico organizar e articular os saberes formar cidadãos profissionais e lideranças pensantes Porém há questionamentos mais radicais que em pleno ritmo de globalização capitalista e informacionalização alertam para o fato do conhecimento ter se tornado um bem de mercado como forma dos seus consumidores galgarem uma melhor adaptação ao mundo do trabalho extremamente competitivo Por isso fazse necessário que a universidade enfrente seriamente o desafio de rever constantemente seus fundamentos propriamente acadêmicos científicos e filosóficos Mas isso não se resolve em um plano abstrato além de que a universidade está sempre determinada pelo movimento histórico a que pertence Ela não é perfeita nem inquestionável e não está acima da sociedade nem desvinculada dela Seu corpo docente sua estrutura administrativa seus dirigentes estatutos e tradições e seus estudantes incidem sobre sua imagem e seu desempenho 17 Universidade e Ciência A universidade brasileira tem se debatido intensamente numa crise que não parece ter fim uma vez que tumultua e desorganiza sua estrutura mas que também se abre para novos horizontes e possibilidades na medida em que se mostra essencialmente como desafio e derruba hábitos e procedimentos pouco funcionais ou referidos rigidamente a padrões anteriores de vida intelectual educação e gestão Como afirma Lukesi 1991 p 41 uma universidade que se propõe a ser crítica e aberta não tem o direito de estratificar absolutizar qualquer conhecimento como um valor em si ao contrário reconhece que toda conquista do pensamento do homem passa a ser relativa na medida em que se espaciotemporaliza Há sempre a necessidade de um entendimento novo Sustentabilidade crise econômica mundial mudanças climáticas escassez da mão de obra inovação Essas são as palavraschaves que compõem o vocabulário das mudanças pelas quais passa o mundo e que inevitavelmente impõem a cada um de nós a busca por um novo modelo de vida no planeta Nesse cenário a educação tem peso de ouro e as universidades passam a assumir um papel fundamental no processo reflexivo da sociedade COELHO 2009 Não há dúvidas de que o caminho do crescimento passa pela promoção do desenvolvimento profissional pela sustentabilidade e pela inovação A universidade precisa se voltar para a construção de um modelo social e ambiental mais justo E como se inserem esses dilemas no espaço universitário Será que a universidade continua sendo capaz de desempenhar suas históricas atribuições Que conhecimento ela está gerando hoje Como as posições geradas em seu interior entram em circulação que função cumpre Qual sua efetiva contribuição para o país São muitas as interrogações que precisam urgentemente ser discutidas e nada melhor do que o espaço da própria universidade para instigar tais preocupações Seção 4 Universidade espaço de formação do cidadão A globalização é um fenômeno econômico resultante do próprio sistema capitalista na ânsia de conquistas por novos mercados em decorrência da saturação de setores da economia em alguns locais Isso tem provocado transformações profundas em nossa sociedade que precisam ser tratadas em suas relações sem isolálas É nesse contexto que se insere a universidade ou seja um ambiente dinâmico com diversos conhecimentos 18 Capítulo 1 A universidade deve ser o lugar da reflexão das formulações das perguntas e das proposições de soluções ponto de encontro de pessoas com objetivos em comum É espaço em que se desenvolve o olhar crítico sobretudo um olhar capaz de considerar o currículo sob a perspectiva da sociedade em que estamos inseridos a comunidade que nos circunda buscando soluções para a efetividade de uma lugar mais humano e mais sustentável para se viver É exatamente nessa perspectiva que temas atuais os quais demandam reflexões e soluções da sociedade para a própria sociedade emerjam na constituição do contexto universitário principalmente no que diz respeito às questões étnico raciais às políticas de desenvolvimento sustentável e aos direitos humanos Essas questões implicam não só reflexões como também ações por parte de todos nós É necessária a adoção de atitudes coerentes com uma educação centrada no exercício da cidadania Nesse sentido é possível acreditar que temas recorrentes e fundamentais como os que são tratados nesta seção ampliem os horizontes das áreas de conhecimento para além dos seus domínios específicos para a formação integral do ser humano Assim a universidade se move no sentido de transformar a sociedade não só por questões que discutem e permeiam as formações específicas dos seus cursos mas de maneira muito significativa por aquelas que perpassam a formação de cidadãos críticos investigativos e partícipes de uma sociedade justa e igualitária Como você estudante durante a trajetória universitária se comportará em relação a esses temas Como profissional como se comportará em relação a esses temas Como vai promover os direitos humanos em sua trajetória E o desenvolvimento sustentável o que é Tratase de um modismo não se aplicará ao que você pretende para sua trajetória profissional Para responder a todas essas perguntas é preciso conhecer os pressupostos básicos sobre esses temas Para isso disponibilizamos materiais na Midiateca do nosso Espaço Virtual de Aprendizagem EVA Esses materiais são os seguintes 1 Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico Raciais publicado pelo MEC 2 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações ÉtnicoRaciais e para o Ensino de História e Cultura AfroBrasileira e Africana publicado pelo MEC 3 A ecologia política e as relações e os conflitos socioambientais autora Denize Demarche Minatti Ferreira 4 O desenvolvimento sustentável perspectiva histórica autora Denize Demarche Minatti Ferreira 5 Dimensões e impacto do desenvolvimento sustentável autora Denize Demarche Minatti Ferreira 19 Capítulo 2 Os caminhos da leitura e da pesquisa Para ingressar no contexto da universidade a leitura desempenha um papel fundamental pois é um dos atos que nos move para a construção do nosso conhecimento Conforme vimos no capítulo anterior o ensino a pesquisa e a extensão constituemse em pilares fundamentais para ser uma universidade Nesse sentido o conteúdo proposto neste capítulo visa a abrir caminhos para o estudante entender a importância da leitura e aplicála tanto na vida acadêmica quanto profissional A universidade também tem a responsabilidade de formar cidadãos que possam se inserir no mundo globalizado Dessa forma Formar cidadãos é também formar leitores competentes sem o que não poderíamos pretender pessoas com pensamento complexo capazes de resolver problemas complexos como propõe o ensino com enfoque globalizador SABBAG 2012 Seção 1 A leitura nos move O ato de leitura é inerente ao ser humano pois mesmo não sabendo decodificar a palavra escrita uma pessoa consegue fazer leituras porque estamos constantemente lendo o que nos rodeia ou seja pessoas lugares situações fatos Poderíamos considerar inicialmente o conceito mais amplo ler é decodificar códigos Mas será que apenas juntar as letras e decodificar as palavras basta para que se faça uma leitura Obviamente que não A leitura é uma atividade muito mais abrangente pois o ato de ler é um processo que envolve habilidades as quais vão além da simples decodificação como fica claro no fragmento abaixo A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto a partir de seus objetivos de seu conhecimento sobre o assunto sobre o autor de tudo o que sabe sobre a linguagem etc Não se trata de extrair informação 20 Capítulo 2 decodificando letra por letra palavra por palavra Tratase de uma atividade que implica estratégias de seleção antecipação inferência e verificação sem as quais não é possível proficiência O uso desses procedimentos que possibilitam controlar o que vai sendo lido permite tomar decisões diante de dificuldades de compreensão avançar na busca de esclarecimentos validar suposições feitas PCN terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental língua portuguesaSecretaria de Educação Fundamental Brasília MECSEF 1998 pp6970 Assim mais do que decodificar códigos o que fazemos durante uma leitura é construir significados a partir daquilo que lemos Portanto se adotamos essa perspectiva de leitura não podemos mais considerála um simples ato de decodificação de um produto pronto mas sim um processo de significação e de construção de sentido do texto Nessa perspectiva devemos levar em consideração que a leitura é um processo que se dá a partir da interação entre leitor e texto Assim sendo o leitor constrói o significado do texto a partir dos objetivos que guiam a sua leitura Pense um pouco quais motivos levariam você à realização de uma leitura Talvez sejam diversos os objetivos que o impulsionam a ler um texto iniciando pelos mais prazerosos como devanear preencher um momento de lazer passando pelos mais instrumentais como procurar uma informação concreta seguir uma pauta de instruções para realizar atividades cozinhar conhecer regras de um jogo até os mais complexos como confirmar ou refutar um conhecimento prévio aplicar a informação obtida com a leitura em um processo de avaliação ou para a realização de um trabalho científico Independente do objetivo que o conduza ao ato de ler você deve atentar para o fato de que na realização de qualquer atividade de leitura como destaca Orlandi 2006 alguns fatores se impõem entre eles destacamos As especificidades e a história do sujeito leitor Os modos e os efeitos de leitura de cada época e segmento social Dessa forma ainda que o conteúdo de um texto não mude é possível que dois leitores com histórias de leitura e objetivos diferentes subtraiam dessa leitura informações distintas 21 Universidade e Ciência Segundo Orlandi 2006 p 10 a leitura é o momento crítico da produção da unidade textual da sua realidade significante É nesse momento que os interlocutores se identificam como interlocutores e ao fazêlo desencadeiam o processo de significação do texto Leitura e sentido ou melhor sujeitos e sentidos se constituem simultaneamente num mesmo processo Devemos considerar então a leitura como construção de significado para podermos desenvolver as competências desta Unidade de Aprendizagem Iniciemos o nosso roteiro de leitura pela observação de dois textos aqui propostos A seguir apresentamos dois textos para o exercício da leitura Fazemos a você o convite para que leia apenas o título desses textos como momento inicial depois pense nas possibilidades de abordagem de conteúdo em cada caso apenas com o enfoque nestes títulos vamos lá Depois leia esses textos e então perceba a relação do título com o texto como um todo Esse é o momento de pensar inclusive no papel que um título possui entenda que no texto acadêmico científico essa forma de representação do texto o seu título precisa se relacionar com o contexto a que ele se refere deve fazer sentido com os objetivos desejados pois não deve levar a interpretações equivocadas sobre o texto Texto 1 Ler pouco Jovem eu sonhava ter uma grande biblioteca E fui assim pela vida comprando os livros que podia Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade porque o dinheiro e o tempo eram poucos Entrava na livraria separava todos os livros que desejava comprar e ao me aproximar do caixa colocavaos sobre o balcão e me perguntava diante de cada um Tenho necessidade imediata desse livro Tenho outros em casa ainda não lidos Posso esperar E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa mais do que suficiente para as minhas necessidades Notei à medida em que envelhecia uma mudança nas minhas preferências passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias Os livros de ciência a gente lê uma vez fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo Com os livros de arte acontece diferente Cada vez que os abrimos é um encantamento novo Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis 22 Capítulo 2 Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão Não me incomodo Pois em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos eu inspirado por teólogos e poetas considero a maturidade como uma doença a ser curada Bem reza a Adélia Prado Meu Deus me dá cinco anos me cura de ser grande E não pensem que isso é maluquice de poeta Peter Berger um sociólogo inteligente e com senso de humor definiu maturidade essa qualidade tão valorizada como um estado de mente que se acomodou ajustouse ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização Menino de cinco anos eu passava horas vendo um livro da minha mãe cheio de figuras Lembrome uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação Nos Estados Unidos há casas de dez andares E havia a figura de um caçador de jacarés e de crianças esquimós saudando a chegada do sol O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que olhando para aquelas estantes cheias de livros eu me perguntei Já sou velho Terei tempo de ler todos esses livros Eu quero ler todos esses livros Não nem tenho tempo e nem quero Então por que guardálos Resolvi dar os livros que eu não amava Compreendi então que não se pode falar em amor pelos livros em geral Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma Nunca se apaixonará O mesmo vale para os livros Assim fui aos meus livros com a pergunta Você me ama Acha que estou louco É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja Há muitos livros que dão provas de que me odeiam Outros me ignoram totalmente nada querem de mim Vou querer ler você de novo Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado Essa coisa de amor universal aos livros fezme lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto em que ele recorda que a palavra grega que designa o sábio se prende etimologicamente a sapio eu saboreio sapiens o degustador sisyphos o homem de gosto mais apurado um apurado degustar e distinguir um significativo discernimento constitui pois a arte peculiar do filósofo A ciência sem essa seleção sem esse refinamento de gosto precipita se sobre tudo o que é possível saber na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas E depois no Zaratustra ele comenta com ironia Mastigar e digerir tudo essa é uma maneira suína O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína mastigando e engolindo o que não desejam Depois é claro vomitam tudo Como eu já passei dessa fase posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina Nenhum cachorro abocanha a comida Primeiro ele cheira Se o nariz não disser sim ele não come Faço o mesmo com os livros Primeiro cheiro O que procuro O cheiro do escritor Se não tem cheiro humano não como Nietzsche também cheirava primeiro Dizia só amar os livros escritos com sangue 23 Universidade e Ciência Ler é um ritual antropofágico Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu No tempo em que eu não era antropófago isto é no tempo em que eu não devorava livros e os livros não são homens não contém a substância o próprio sangue do homem A antropofagia não se fazia por razões alimentares Faziase por razões mágicas Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo Como na eucaristia cristã que é um ritual antropofágico Esse pão é a minha carne esse vinho é o meu sangue Cada livro é um sacramento Cada leitura é um ritual mágico Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor Já aconteceu comigo Disponível em https rubemalveswordpresscom Acesso em 10 mar 2016 Texto 2 Pensar Quando eu era menino na escola as professoras me ensinaram que o Brasil estava destinado a um futuro grandioso porque as suas terras estavam cheias de riquezas ferro ouro diamantes florestas e coisas semelhantes Ensinaram errado O que me disseram equivale a predizer que um homem será um grande pintor por ser dono de uma loja de tintas Mas o que faz um quadro não é a tinta são as ideias que moram na cabeça do pintor São as ideias dançantes na cabeça que fazem as tintas dançar sobre a tela Por isso sendo um país tão rico somos um povo tão pobre somos pobres em ideias Não sabemos pensar Nisto nos parecemos com os dinossauros que tinham excesso de massa muscular e cérebros de galinha Hoje nas relações de troca entre os países o bem mais caro o bem mais cuidadosamente guardado o bem que não se vende são as ideias É com as ideias que o mundo é feito Prova disso são os tigres asiáticos Japão Coréia Formosa que pobres de recursos naturais enriqueceramse por ter se especializado na arte de pensar Minha filha me fez uma pergunta O que é pensar Disseme que esta era uma pergunta que o professor de filosofia havia imposto à classe Pelo que lhe dou os parabéns Primeiro por ter ido diretamente à questão essencial Segundo por ter tido a sabedoria de fazer a pergunta sem dar a resposta Porque se tivesse dado a resposta teria com ela cortado as asas do pensamento O pensamento é como a águia que só alça voo nos espaços vazios do desconhecido Pensar é voar sobre o que não se sabe Não existe nada mais fatal para o pensamento que o ensino das respostas certas Para isso existem as escolas não para ensinar as respostas mas para ensinar as perguntas As respostas nos permitem andar sobre a terra firme Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido 24 Capítulo 2 E no entanto não podemos viver sem respostas As asas para o impulso inicial do voo dependem dos pés apoiados na terra firme Os pássaros antes de saber voar aprendem a se apoiar sobre os seus pés Também as crianças antes de aprender a voar têm de aprender a caminhar sobre a terra firme Terra firme as milhares de perguntas para as quais as gerações passadas já descobriram as respostas O primeiro momento da educação é a transmissão desse saber Nas palavras de Roland Barthes Há um momento em que se ensina o que se sabe E o curioso é que este aprendizado é justamente para nos poupar da necessidade de pensar As gerações mais velhas ensinam às mais novas as receitas que funcionam Sei amarrar os meus sapatos automaticamente sei dar o nó na minha gravata automaticamente as mãos fazem o trabalho com destreza enquanto as ideias andam por outros lugares Aquilo que um dia eu não sabia me foi ensinado eu aprendi com o corpo e esqueci com a cabeça E a condição para que as minhas mãos saibam bem é que a cabeça não pense sobre o que elas estão fazendo Um pianista que na hora da execução pensa sobre os caminhos que seus dedos deverão seguir tropeçará fatalmente Há a história de uma centopeia que andava feliz pelo jardim quando foi interpelada por um grilo Dona centopeia sempre tive a curiosidade sobre uma coisa quando a senhora anda qual entre as suas cem pernas é aquela que a senhora movimenta primeiro Curioso ela respondeu Sempre andei mas nunca me propus esta questão Da próxima vez prestarei atenção Termina a história dizendo que a centopeia nunca mais voltou a andar Todo mundo fala e fala bem Ninguém sabe como a linguagem foi ensinada e nem como ela foi aprendida A despeito disso o ensino foi tão eficiente que não preciso pensar em falar Ao falar não sei se estou usando um substantivo um verbo ou um adjetivo e nem me lembro das regras da gramática Quem para falar tem que se lembrar dessas coisas não sabe falar Há um nível de aprendizado em que o pensamento é um estorvo Só se sabe bem com o corpo aquilo que a cabeça esqueceu E assim escrevemos lemos andamos de bicicleta nadamos pregamos prego guiamos carros sem saber com a cabeça porque o corpo sabe melhor É um conhecimento que se tornou parte inconsciente de mim mesmo E isso me poupa do trabalho de pensar o já sabido Ensinar aqui é inconscientizar O sabido é o não pensado que fica guardado pronto para ser usado como receita na memória deste computador que se chama cérebro Basta apertar a tecla adequada para que a receita apareça no vídeo da consciência Aperto a tecla moqueca A receita aparecerá no meu vídeo cerebral panela de barro azeite peixe tomate cebola coentro cheiroverde urucum sal pimenta seguidos de uma série de instruções sobre o que fazer 25 Universidade e Ciência Não é coisa que eu tenha inventado Me foi ensinado Não precisei pensar Gostei Foi para a memória Esta é a regra fundamental desse computador que vive no corpo humano só vai para a memória aquilo que é objeto do desejo A tarefa primordial do professor seduzir o aluno para que ele deseje e desejando aprenda E o saber fica memorizado de cor etimologicamente no coração à espera de que o teclado desejo de novo o chame de seu lugar de esquecimento Memória um saber que o passado sedimentou Indispensável para se repetir as receitas que os mortos nos legaram E elas são boas Tão boas que nos fazem esquecer que é preciso voar Permitem que andemos pelas trilhas batidas Mas nada têm a dizer sobre os mares desconhecidos Muitas pessoas de tanto repetir as receitas metamorfosearamse de águias em tartarugas E não são poucas as tartarugas que possuem diplomas universitários Aqui se encontra o perigo das escolas de tanto ensinar o que o passado legou e ensinou bem fazem os alunos se esquecer de que o seu destino não é passado cristalizado em saber mas um futuro que se abre como vazio um não saber que somente pode ser explorado com as asas do pensamento Compreendese então que Barthes tenha dito que seguindose ao tempo em que se ensina o que se sabe deve chegar o tempo em que se ensina o que não se sabe Disponível em httpsrubemalves wordpresscom Acesso em 10 mar 2016 Análise de alguns pontos significativos dos textos Você acaba de ler dois textos de Rubem Alves um grande educador brasileiro e pode estar se questionando quanto ao conteúdo abordado pois há um certa provocação para o leitor Vejamos No texto 1 o autor levanos a pensar e questionar sobre as formas de selecionarmos as leituras pois muitas dessas formas com o tempo e o desenvolvimento intelectual tornamse obsoletas levando o leitor a procurar outras leituras e métodos para fazêlas O significado desse texto se constrói à medida que o leitor tem um conhecimento relacionado com o contexto com as ideias veiculadas pelo autor ou seja quando se insere nessa fala ou se exclui O processo de inclusão acontecerá se a leitura vier ao encontro do que o leitor espera ou necessita assim será reflexiva crítica levando a uma transformação pessoal e social Já o leitor que se sentir excluído desse contexto não consegue estabelecer uma 26 Capítulo 2 relação de significado entre o que o texto diz e aquilo que procurava em virtude de não se sentir atraído pelo conteúdo apresentado Assim na universidade cada vez que o aluno não dá conta da leitura do texto sugerido para o estudo deve se incentiválo a fazer leituras menos complexas para aos poucos introduzilo nos textos com um grau maior de complexidade já que há a necessidade de ampliar o conhecimento Uma outra sugestão para atrair o estudante em relação ao conteúdo é fazêlo compreender o momento da produção contexto e o momento da leitura Levando em conta o ato de pensar conforme nos apresenta o texto 2 precisamos ter a percepção de que isso ocorre quando vamos desconstruindo algo sedimentado assim passase a ter outros valores os quais ampliam as oportunidades de busca de um novo conhecimento enfim criamse novos olhares em relação a ideias já postas como verdadeiras Muitas vezes essa tarefa tornase árdua por isso ocorre a aceitação daquilo que está pronto que a sociedade estabelece como correto dessa forma não se estabelece a relação de conceitos refinados Sendo assim conforme menciona o texto 1 nas palavras de Nietzsche ciência sem essa seleção sem esse refinamento de gosto precipitase sobre tudo o que é possível saber na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas Perceba que essas ideias de Nietzsche e de Rubem Alves vêm ao encontro da proposta desta Unidade de Aprendizagem a qual visa a trabalhar também a pesquisa Para isso precisamos de leituras investigativas críticas que levem à construção do conhecimento científico portanto precisam ser mais aprofundadas elaboradas No texto 2 Rubem Alves levanos a refletir sobre o ato de pensar a construção de significado desse texto relacionase à atitude de refletir analisar questionar enfim devemos fugir do que está posto como indiscutível Dando continuidade aos estudos desta Unidade de Aprendizagem no texto 2 o autor tece alguns comentários orientações sobre como iniciar os estudos científicos tendo em vista que eles exigem reflexões e questionamentos para avançar naquilo que se propõe a investigar De acordo com Alves somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido pois a leitura e o estudo científico nos obrigam a sair do senso comum Nesse sentido estamos diante da ideia da problematização tópico esse presente em um projeto em estudos científicos É na inquietação das ideias provocada pelo ato de ler que a ciência se desenvolve aperfeiçoa e vai transformando a história da humanidade 27 Universidade e Ciência O saber científico não busca respostas prontas pelo contrário quer despertar aguçar a busca pelo novo pela mudança assim progride a humanidade Pensar induznos a entender que fazer ciência construir o conhecimento são tarefas diárias Resumidamente expomos alguns argumentos apresentados pelo autor ou seja certos significados expressos nos textos Você pode ir além disso pois ainda há muito a ser analisado nesses textos haja vista o amplo contexto a que Rubem Alves nos insere É indispensável ressaltar que conforme deve ter percebido não há uma receita para aprender a ler Não há roteiro preestabelecido que dê conta de nortear a leitura de todos os textos O que propusemos nesta seção é mostrar a você alguns pontos os quais nunca podem ser desconsiderados nessa atividade Vejamos Busque se informar sobre o contexto conhecer o autor e prestar atenção na época e no local de publicação do texto isso já fornece pistas de como a leitura deve ser conduzida Diante da constatação de quem escreveu e quem é o leitor alvo você já consegue elaborar algumas expectativas sobre a forma de abordagem do tema Por exemplo Rubem Alves o autor dos textos 1 e 2 é um grande educador filósofo sociólogo pensador brasileiro portanto também preocupado com a formação educacional tendo na leitura o elemento norteador para o melhor desempenho na construção do conhecimento Leia quantas vezes for necessário para identificar o tema a tese defendida se for o caso e os argumentos que sustentam essa tese Escreva isso em tópicos e observe como esses tópicos estão divididos nos parágrafos Volte ao texto e confira se você sabe o significado de todos os termos utilizados Use o dicionário A compreensão de um texto exige trabalho concentração e dedicação Para isso um bom recurso é usar uma estratégia de leitura Leda Tessari CastelloPereira 2003 no livro Leitura de estudo ler para aprender a estudar e estudar para aprender a ler destaca algumas estratégias que são excelentes recursos para efetuar uma boa leitura Veja algumas dessas estratégias a Roteiro essa estratégia sugere que o leitor efetue determinadas ações veja Destaque a tese defendida Selecione os argumentos em favor da tese Analise e destaque os contraargumentos levantados em teses contrárias Apresente a coerência entre tese e argumento 28 Capítulo 2 b Comentários de margem Podem ser resultantes de uma ideia que o texto suscitou da lembrança de outros textos Servem para registrar o assunto principal daquele parágrafo Devem ser bastante objetivos e sintéticos Funcionam como disparador da memória c Esquema É uma forma de reorganizar um texto em tópicos sequenciais Ajuda na seleção e na organização das informações mais importantes Deve apresentar apenas o esqueleto ou seja as palavras chave do texto d Roteiro de Leitura Conjunto de instruções apresentadas na forma de tópicos para orientar a leitura Formulação de perguntas que possam guiar a leitura Um bom exemplo de roteiro pode ser feito a partir dos seguintes itens encontrar o assunto problema tese e argumentos ou encontrar definições exemplos ou apresentar a linha argumentativa utilizada pelo autor e Sublinhar É destacar as ideias principais Sua finalidade é destacar elementos que servirão de orientação para consulta futura por isso tem de ser objetivo e se restringir a palavras ou frases É uma estratégia que monitora a compreensão e permite fazer um mapeamento do texto Auxilia na concentração na hora da leitura pois com um objetivo uma tarefa a realizar uma ação concreta temse mais facilidade de fixar a atenção na leitura e na compreensão das ideias Possibilita voltar ao texto lido num outro momento e analisar esses destaques Permite fazer uma retomada do texto 29 Universidade e Ciência Até aqui nossa intenção foi motivar você a ler e mostrar que a leitura é um ato complexo porque exige mais que a simples decodificação das palavras Como aluno do ensino superior você não deve discordar de que as leituras efetuadas a partir de agora exigem um comprometimento maior Assim sendo qualquer atividade de leitura para você deve envolver disciplina intelectual comprometimento e postura crítica pois o objetivo certamente será a apropriação da significação profunda de um texto CASTELLOPEREIRA 2003 p 55 Intertextualidade uma leitura além do texto Com muita frequência um texto retoma passagens de outro Quando um texto de caráter científico cita outros textos isto é feito de maneira explícita O texto citado vem entre aspas e em nota indicase o autor e o livro donde se extraiu a citação PLATÃO e FIORIN 2007 p 9 Podemos ver que os textos sempre mantêm uma relação com outros textos ou seja com algo já lido mencionado em outro lugar a isso damos o nome de intertextualidade Conforme citação acima no texto científico há muito a presença de outros autores citados direta ou indiretamente visando a dar mais credibilidade valor sentido significado dessa forma podemos escrever com mais aptidão e propriedade Para quem lê a intertextualidade permite uma leitura além do que está escrito pois leva o leitor a dialogar com outros textos autores construindo novas visões sobre o mesmo tema Nesse sentido devese ter a percepção da existência e da pertinência das alusões efetuadas no texto quando se lê pois caso não se saiba o porquê da presença de tal elemento de intertextualidade não fará sentido essa presença Nos dois textos de Rubem Alves apresentados acima há vários exemplos de intertextualidade No texto 1 temos a escritora Adélia Prado o filósofo Nietzsche o escritor Murilo Mendes veja que a citação desses pensadores auxilia na construção de sentido do texto pois os conceitos estabelecidos por eles vêm ao encontro da proposta apresentada por Alves em relação ao ato de ler Em relação ao escritor Murilo Mendes ele se utiliza do recurso da intertextualidade para parodiar para inverter contestar e deformar alguns dos sentidos do texto citado para polemizar com ele PLATÃO e FIORIN 2007 p 20 o famoso poema Canção do Exílio conforme podemos verificar a seguir 30 Capítulo 2 Texto original Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá Nosso céu tem mais estrelas Nossas várzeas têm mais flores Nossos bosques têm mais vida Nossa vida mais amores Em cismar sozinho à noite Mais prazer encontro eu lá Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá Minha terra tem primores Que tais não encontro eu cá Em cismar sozinho à noite Mais prazer encontro eu lá Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá Não permita Deus que eu morra Sem que eu volte para lá Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá Sem quinda aviste as palmeiras Onde canta o Sabiá Gonçalves Dias Texto da paródia Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista os sargentos do exército são monistas cubistas Os filósofos são polacos vendendo a prestações A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda Eu morro sufocado em terra estrangeira Nossa flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem milréis a dúzia Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá com certidão de identidade Murilo Mendes Mendes utilizouse do poema de Gonçalves Dias para satirizar polemizar uma determinada situação por isso temos uma paródia nesse poema acima No texto 2 há intertextualidade com o sociólogo e o crítico literário Roland Barthes também como intuito de reforçar os argumentos e trazer mais um ponto de vista No texto científico a intertextualidade leva o leitor a buscar mais informações sobre aquilo que lê justamente para ampliar a visão dessa leitura e ter um olhar sobre o que os autores mencionados em um texto têm a dizer sobre o assunto assim temse mais um caminho para pesquisar Vale ressaltar que todo trabalho acadêmico científico busca um respaldo em diversos autores e teorias portanto sempre ocorre a relação entre textos ou seja o intertexto 31 Universidade e Ciência Temos vários gêneros relacionados à intertextualidade como citação epígrafe alusão paródia a Citação aqui há a citação direta quando se menciona as palavras do próprio autor e a citação indireta chamada de paráfrase Essa última consiste na reprodução das ideias do autor por meio de quem escreve mas sem fazer cópia ou seja quem se apropria da citação indireta reescreve o texto sem alterar o sentido da versão original Tanto a forma direta quanto a indireta é usada de forma muito recorrente nos mais diversos tipos de texto acadêmicos científicos técnicos pelos motivos expostos anteriormente isto é com o intuito de dar credibilidade fundamentação sentido ao que se escreve b Epígrafe essa forma de intertexto é pouco usada pode ser observada em alguns livros teses monografias como uma escrita introdutória antes do texto principal Essa citação é pequena apenas algumas linhas normalmente no canto inferior direito de uma página visa a fazer uma reflexão sobre algo pessoal ou sobre o trabalho efetuado c Alusão faz referência a uma determinada teoria conceito estudo Positivismo Iluminismo Pedagogia Ciência da Informação ou a autores Nos textos 1 e 2 acima há alusões a Nietzsche Roland Barthes entre outros d Paródia a paródia visa a satirizar criticar uma determinada situação social ou alguma obra Ao parodiarmos deveremos conservar a estrutura do texto primitivo para que o leitor possa reconhecer a origem da paródia Deste modo as alterações recairão em certos trechos ou vocábulos mas o arcabouço será mantido É importante que o texto a ser parodiado seja conhecido dos leitores a quem se dirige a paródia Se não for assim parodiar não terá razão de ser OLIVIER 2002 Acima você leu uma paródia de Murilo Mendes em relação ao texto de Gonçalves Dias Agora segue um trecho da paródia da Canção do Exílio elaborada por Jô Soares veja 32 Capítulo 2 Canção do Exílio às Avessas Jô Soares Minha Dinda tem cascatas Onde canta o curió Não permita Deus que eu tenha De voltar pra Maceió Minha Dinda tem coqueiros Da Ilha de Marajó As aves aqui gorjeiam Não fazem cocoricó O meu céu tem mais estrelas Minha várzea tem mais cores Este bosque reduzido deve ter custado horrores E depois de tanta planta Orquídea fruta e cipó Não permita Deus que eu tenha De voltar pra Maceió Minha Dinda tem piscina Heliporto e tem jardim feito pela Brasils Garden Não foram pagos por mim Em cismar sozinho à noite sem gravata e paletó Olho aquelas cachoeiras Onde canta o curió Fonte Soares 2012 Perceba que é mantida a mesma estrutura do texto original mas o enfoque crítico altera o sentido do poema 33 Universidade e Ciência Seção 2 A leitura do texto literário e científico Vamos analisar os dois textos que seguem Texto 3 A preocupação com o funcionamento da linguagem na educação científica e tecnológica temnos levado a percorrer caminhos que procuram desfazer a ilusão da transparência da linguagem Trazemos uma reflexão sobre as atividades desenvolvidas no âmbito de uma disciplina na qual privilegiamos discussões sobre a noção de discurso e aprofundamentos acerca dos sentidos construídos sobre as relações entre ciência tecnologia e sociedade CTS Entendemos que esses discursos não apenas comunicam sobre tais conteúdos mas que aquilo que se fala e como se fala dasobre ciência e tecnologia produz efeitos de sentidos Além disso compreendemos que aquilo que não é dito também contribui para a produção de sentidos Dessa forma enfatizamos o trabalho com as histórias de leituras de estudantes como uma forma pertinente de abordar a heterogeneidade de formações discursivas essas pautadas em experiências conhecimentos e expectativas construídos ao longo de suas vidas culminando em diferentes entendimentos sobre ciência e tecnologia Histórias de leituras produzindo sentidos sobre Ciência e Tecnologia Suzani Cassian Irlan von Linsingen Patricia Montanari Giraldi Texto 4 O grande desastre aéreo de ontem Vejo sangue no ar vejo o piloto que levava uma flor para a noiva abraçado com a hélice E o violinista em que a morte acentuou a palidez despenharse com sua cabeleira negra e seu estradivárius Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor Vejo sangue no ar vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires Vejo a nadadora belíssima no seu último salto de banhista mais rápida porque vem sem vida Vejo três meninas caindo rápidas enfunadas como se dançassem ainda E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas e a primadona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa E o sino que ia para uma capela do oeste vir dobrando finados pelos pobres mortos Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo tão tranquila e cega Ó amigos o paralítico vem com extrema rapidez vem como uma estrela cadente vem com as pernas do vento Chove sangue sobre as nuvens de Deus E há poetas míopes que pensam que é o arrebol LIMA Jorge de Poesia completa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1980 2 v v 1 p 237 34 Capítulo 2 Podemos logo perceber que os textos possuem algo que os diferencia ou seja a linguagem utilizada Em um primeiro momento no texto 3 há uma linguagem técnica não literária pois a abordagem está relacionada à construção de um texto de caráter científico Já no texto 4 observamos uma outra leitura de cunho literário haja vista a presença de palavras e expressões plurissignificativas levandoos a fazer diversas interpretações e a analisar um fato verídico que é descrito com emoções e palavras que não se constituem em termos técnicos nem objetivos No texto 3 as informações são precisas e têm o objetivo de informar pois se trata de um resumo de artigo científico o qual você lerá na íntegra ao estudar esta Unidade de Aprendizagem No entanto no texto 4 a intenção do autor é despertar emoção É brincar com o tema e as palavras Nesse sentido temos a presença da subjetividade Também no texto 4 por sua vez algumas palavras têm significados diferentes daqueles que encontramos no dicionário Analise este trecho vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas e a prima dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa Aqui vemos que a relação entre o ramalhete de rosas e o paraquedas constituise em uma linguagem metafórica subjetiva visando a dar emoção e um significado mais abstrato à escrita tendo vista que esse texto literário remete a algo que realmente ocorreu Dessa forma temos a presença da linguagem conotativa Já no texto 3 identificamos a linguagem denotativa pois o significado das palavras remete ao seu sentido real não levando a interpretações subjetivas plurissignificativas em virtude de estarmos diante de termos que representam o texto científico A partir dessas diferenças podemos traçar algumas características do texto literário Primeiramente é preciso considerar que para conhecer o texto literário devemos partir do princípio de que ele não tem compromisso com a realidade com a verdade com a informação Literatura é a arte da ficção São textos escritos para emocionar mas também para instruir e deleitar Nesse sentido a literatura tem uma importante função na formação do ser humano pois como já nos diz Umberto Eco 2003 p 12 Ela representa visões de mundo e como tal objetiva despertar sensações no leitor para que ele sofra se alegre reflita sonhe conteste argumente Para tanto podemos dizer que o texto literário É plurissignificativo e portanto aberto a várias interpretações Tem uma intenção estética procurando provocar a surpresa e o prazer Para tal recorre a processos estilísticos que refletem um modo original diferente de ver e de falar do mundo Apresenta o compromisso com a verdade da mensagem em um plano secundário Apresenta como recursos predominantes a função poética da linguagem e o uso do sentido conotativo das palavras 35 Universidade e Ciência É preciso tomar cuidado porém com a multissignificação que a linguagem conotativa nos possibilita pois como afirma Umberto eco Há uma perigosa heresia crítica típica de nossos dias para a qual de uma obra literária podese fazer o que se queira nela lendo aquilo que nossos mais incontroláveis impulsos nos sugeriram ECO 2003 p 12 Platão e Fiorin 2007 p 102 também nos alertam para os perigos da interpretação equivocada da linguagem literária No livro Para entender o texto leitura e redação os autores afirmam que Sem dúvida há várias possibilidades de interpretar um texto mas há limites Os autores ainda alertam O leitor cauteloso deve abandonar as interpretações que não encontrem apoio em elementos do texto 2007 p 102 e 104 No texto não literário por sua vez a linguagem utilizada tende a ser mais objetiva São textos que lemos nos jornais nas revistas nos artigos científicos etc Assim sendo o texto não literário Evita a ambiguidade procurando a objetividade Tem uma intenção utilitária de esclarecer e informar Tem como função predominante a referencial voltada para fatos reais centrada em uma temática presente em textos acadêmicos científicos jornalísticos Possui linguagem denotativa Seção 3 A leitura implícita Dando continuidade ao nosso roteiro de leitura propomos que você estude os níveis de informação textual Quando lemos um texto podemos perceber que algumas informações estão explícitas isto é aparecem claramente expressas enquanto outras não ou seja estão implícitas essas são representadas por pressupostos e subentendidos Segundo Platão e Fiorin 2008 p 307 e 310 Pressupostos são ideias não expressas de maneira explícita que decorrem logicamente do sentido de certas palavras ou expressões contidas na frase Subentendidos são insinuações não marcadas linguisticamente contidas numa frase ou num conjunto de frases 36 Capítulo 2 Por exemplo na frase o professor parou de fumar inferimos que o professor fumava anteriormente Esse tipo de inferência classificamos como pressuposição presente no verbo parar Mas ainda podemos inferir que o professor tomou consciência de que fumar é prejudicial à saúde Esse tipo de inferência pode ser classificada como subentendido pois é uma dedução do contexto perceba que não há marca linguística que leva a isso Observe a análise efetuada nas duas charges seguintes Figura 21 Charge Fonte Orlandeli 2013 Figura 22 Charge FonteApocalipsetotalwordpresscom 2013 37 Universidade e Ciência Nessas charges o que há de informação explícita é exatamente aquilo que expressa a fala do texto ou dos personagens Na primeira charge o personagem mostra a situação brasileira em relação à educação no passado no presente e no futuro ou seja qual seria o resultado dessa relação Ele pontua que por falta de investimento em educação as pessoas sofrem diversas consequências maléficas No plano implícito podemos observar que a preocupação do governante é somente com sua eleição não pensando no coletivo apenas no individual Podese pensar que pela falta de educação ocorre a desvalorização de si mesmo também com pouco investimento educacional temos o reflexo de uma sociedade não comprometida com os problemas sociais por isso acabam existindo as depredações as pessoas drogadas além de haver um baixo nível de escolaridade O resultado de tudo isso é um país com baixa produtividade e um nível cultural aquém do necessário para ser classificado como um país em desenvolvimento Na charge seguinte vemos como explícito o questionamento de um estudante em relação aos cargos públicos os quais muitas vezes não exigem a formação específica para exercer tal função Por outro lado a informação implícita leva a inferir que a política voltase a algo positivo apenas para o sistema controlador da sociedade ou seja a massa governante Fica implícito também que a população em geral não se beneficia dessas funções públicas nas quais não se exige uma formação específica isso remete implicitamente aos famosos cargos comissionados De forma também implícita a fala da professora nos leva a pensar sobre o autoritarismo e a falta de liberdade do aluno para fazer certos questionamentos que põem em dúvida as ações de quem governa a sociedade É relevante você saber que só compreendemos isso porque acionamos o conhecimento que temos do contexto Sendo a charge um dos modelos de humor de grande conotação sociopolítica seu propósito é ironizar questões atuais da sociedade exigindo do leitor conhecimento de mundo isto é dos fatores extralinguísticos aos quais elas se referem para que ocorra de fato a compreensão no momento de leitura Isso significa que para a compreensão de enunciados segundo Ilari e Geraldi 1987 é necessário que o interlocutor faça inferências isto é leia as informações que se apresentam no texto de forma implícita Assim sendo podemos afirmar que todo texto tem conteúdo explícito e implícito Ou seja informações explícitas são exatamente aquelas ditas no texto que aparecem claramente expressas As informações implícitas por sua vez são as que o leitor pode inferir da leitura do texto 39 Capítulo 3 Trabalhos acadêmicos quais caminhos percorrer Escrever um trabalho científico requer algumas orientações sistematizadas dado que se trata de resultados de investigação ou mesmo de estudos sobre uma questão determinada Podese dizer que a pesquisa é uma forma de se aplicar o conhecimento adquirido para resolver determinada dificuldade problema e depois sistematizála em um relatório trabalho científico Esse fazer pesquisa é um processo que precisa ser discutido com mais propriedade para que se possa entender os caminhos que vão desde a observação de uma realidade da projeção e execução da pesquisa até chegar à construção do trabalho científico Seção 1 Que diálogo há entre pesquisa e trabalho acadêmico Na vida acadêmica fazse necessário criar uma cultura de pesquisa É fundamental os estudantes produzirem trabalhos científicos que se vinculem as dimensões do ensino da pesquisa e da extensão A elaboração de um trabalho científico é parte de um processo que vai desde a transformação individual como também social uma vez que traz descobertas ou desvelamento do novo Como se percebe esse processo é um desafio que se relaciona às observações diárias nos mais variados lugares ou ligadas às próprias experiências no campo de trabalho Preferencialmente o trabalho científico deve responder a problemas práticos por meio de pesquisas de campo estudos de caso experimentos etc não impedindo que sejam desenvolvidas também pesquisas bibliográficas ou documentais MOTTA 2015 40 Capítulo 3 Com base nessas colocações discutemse abaixo vários assuntos ligados ao processo de elaboração do trabalho científico que vão desde o seu tipo até a noção de pesquisa científica 11 Quais tipos de trabalho desenvolver Há vários tipos de trabalhos científicos que se pode desenvolver no meio acadêmico tais como a resumo condensação de ideias resumo indicativo e resumo informativo b resenha crítica apreciação crítica de uma obra valor da obra c fichamento registro de informações para arquivamento eou armazenamento d paper posicionamento crítico em relação a um temaproblema e artigo científico discussão dos resultados podendo ser do tipo original ou de revisão f projeto de pesquisa planejamento da pesquisa g monografia dissertar sobre um só tema delimitado demonstrando profundidade de análise h relatório técnicocientífico descrição formal e nos pormenores das etapas de um estudo Na midiateca você encontra de forma detalhada esses gêneros científicoacadêmico típicos que circulam na universidade resumo resenha crítica artigo científico paper position paper relatório técnicocientífico e monografia 12 Quais normas seguir Com relação à apresentação e estrutura do trabalho científico há aspectos que são normativos como a formatação os elementos prétextuais textuais e póstextuais as citações as referências a apresentação de figuras gráficos e tabelas entre outros Também há detalhes que dependem da criatividade e da necessidade do autor do trabalho em função da natureza do tema como a maneira de expor as citações se indiretas ou diretas o tamanho das figuras em geral o tamanho e a quantidade de parágrafos entre outros 41 Universidade e Ciência Ressaltase que a natureza do problema da pesquisa é fator que gera as particularidades da redação do trabalho científico sem deixar de se amparar nas diretrizes da ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas Nesse sentido a maioria das universidades disponibiliza materiais didáticos próprios que orientam os estudantes quanto à elaboração e apresentação gráfica da produção científica Na Unisul por exemplo existe a obra intitulada Trabalhos Acadêmicos na Unisul organizada pelas bibliotecárias da instituição É uma obra de fácil entendimento disponível tanto em meio impresso como na página online da biblioteca no endereço wwwunisulbrbiblioteca Além das diretrizes da ABNT para se elaborar um trabalho científico é necessário também que se aborde a noção de pesquisa e de método científico uma vez que são elementos fundamentais nesse processo Sendo assim a seguir apresentamse aspectos inerentes as noções de pesquisa e de método científico 13 Que ligação há entre método e trabalho científico No processo de construção do trabalho científico o estudante deve primeiramente identificar o tema da pesquisa delimitado na sua extensão conceitual e em condições de receber tratamento científico adequado por meio da condução de um método científico seja o de abordagem ou o de procedimento e demais ações afins Só assim podese dizer que o problema será respondido mediante um processo investigatório Fora disso é pura especulação ou conjectura 42 Capítulo 3 Quadro 31 Esquema sobre o método científico Método de abordagem Dedutivo Indutivo Hipotéticodedutivo Fenomenológico Bibliográfico Documental Experimental Estudo de caso controle Levantamento Estudo de caso Estudo de campo Pesquisaação Pesquisa participante Exploratória Descritiva Explicativa Qualitativa Quantitativa Quanto ao nível ou objetivo Quanto à abordagem Quanto aos procedimentos Métodos de procedimentos Comparativo Estatístico Monográfico Etnográfico Histórico Fonte Elaboração do autor 2016 Desse modo para se conseguir maiores esclarecimentos sobre o assunto veja na sala virtual de aprendizagem no nosso EVA o que é método métodos de abordagem métodos de procedimento técnicas de pesquisa e variáveis elementos imprescindíveis no processo de sistematização do trabalho Seção 2 Que pesquisa decidir no trabalho A pesquisa pode ser entendida como atividade racional que almeja concretizar vários aspectos responder precisamente ao problema fornecer novas informações sobre ele permitir maior conforto e controle diante do problema e gerar novos questionamentos paradoxo para a formação de linhas de pesquisa A noção de pesquisa vinculase à atividade voltada para a solução de problemas como busca indagação investigação inquirição da realidade tendo duas justificativas principais para desenvolvêla que são satisfação da curiosidade do pesquisador e guia para as próximas ações DAMBRÓSIO 2004 p 21 43 Universidade e Ciência O maior ganho em seguir e entender esse processo é sem dúvida a garantia de atingir convicção no que e sobre o que se pesquisa O ato científico nesse sentido abrange o domínio dos processos de abordagens específicos aos problemas que são a síncrese a análise e a síntese Estas interagem como numa sequência dialética por isso não se excluem mutuamente São fundamentais no estudo e desenvolvimento temático do trabalho científico De imediato as ideias ou assuntos pertinentes ao trabalho científico emergem numa unidade confusa ou sincrética que torna imprescindível a atuação da análise e da síntese para que o tema ganhe um foco e se torne o objeto de estudo A análise é um processo de decomposição de um todo em partes visando separar os elementos de uma realidade complexa que pode ser tanto um objeto individual ou uma ideia É um método que parte de um dado singular para chegar aos princípios gerais A síntese ao contrário é um processo de composição dos elementos visando chegar a uma totalidade É um método que partindo de um todo estabelece ordem entre os elementos chegando às últimas consequências À medida que se prossegue nos estudos para o entendimento cada vez mais profundo do tema do trabalho científico maior é o grau de maturidade alcançado pelo pesquisador e por conseguinte o conhecimento se desdobra em outros de modo a configurar um processo de aprendizagem contínuo Assim deve ser o cotidiano do pesquisador que enfrenta o seu aprimoramento no fazer científico estimulado pela construção do trabalho científico Por conta disso as exigências e criticidades intensificamse na sua formação acadêmica e profissional O ganho na apreensão de competências e habilidades no mercado de trabalho por exemplo é imensurável num futuro próximo Ainda com relação ao tema da pesquisa é necessário lembrar que o pesquisador o defina delimite dentro do limite de seu próprio conhecimento e em seguida busque pelo convencimento do leitor de que o seu ponto de vista tem validade científica e social para campo de estudo em questão Além disso para esta tarefa é necessário que se prime por outras ações como ter em mente as linhas de pesquisa do programa almejado e do seu orientador escolher um tema do seu interesse ler muito sobre o tema e questionar mais ainda buscar por artigos sobre o tema em periódicos conceituados questionar sobre a relevância eou aplicabilidade social do tema conversar a respeito com outras pessoas independente se especialista ou não no tema Vinculado ao tema aparece o problema ou a pergunta que o instiga e move a composição sistemática da dissertação Podese escrever uma redação por exemplo tendo como pergunta Que interesse maior a carreira docente desperta entre os alunos concluintes do ensino médio em sua cidade Certamente as respostas a essa pergunta gerarão um texto focado no mercado de trabalho 44 Capítulo 3 ligado ao magistério tendo a necessidade do escrevente obter um conhecimento devido e atualizado sobre a área da educação Dessa forma não há como fugir do assunto delimitado uma vez que se sabe o que é com base em quem escrever Lembrese de que o problema deve ser sempre formulado como pergunta estar situado no tempo e no espaço e ser uma pergunta viável cuja resposta se concretize no processo científico No campo das ciências humanas e sociais é comum que se classifique as pesquisas mediante o estabelecimento de critérios conforme os listados a seguir a critério dos objetivos exploratória descritiva e explicativa b critério da abordagem qualitativa quantitativa e quantitativaqualitativa c critério do procedimento na coleta de dados bibliográfica documental experimental estudo caso controle levantamento estudo de caso estudo de campo pesquisaação e pesquisaparticipante d critério da natureza experimental ou provocada e nãoexperimental ou observacional e critério das finalidades pura ou básica ou fundamental e aplicada prática Assim se escolher em desenvolver o trabalho científico por meio de pesquisa de campo levantamento estudo de caso etc isso requisitará do estudante tempo disponível para a coleta quantificação e análise dos dados Se ao contrário escolher a pesquisa bibliográfica o estudante terá como desafio maior a seleção coerente das fontes publicadas essenciais ao tema proposto Em ambas as situações o desafio é visível Tanto o caminho bibliográfico como os demais levam a respostas interessantes e ricas em saberes Seção 3 Por que se deve planejar a pesquisa A pesquisa é uma atividade organizada e sistemática que segue um planejamento na forma de um projeto para responder ou solucionar um problema Tratase de uma atividade ligada a um processo complexo constituído de várias etapas não havendo por isso como aceitar a ideia de que exista pesquisa de fácil resolução no sentido de simplificar a complexidade do processo de construção de um trabalho científico É na fase do planejamento da pesquisa que se determina o caminho a ser percorrido na investigação do objeto de estudo do trabalho acadêmico garantindo o caráter científico Por isso toda investigação científica requer uma estrutura complexa não se reduzindo as explanações simplificadas e soltas 45 Universidade e Ciência O ponto de partida da pesquisa é o problema uma pergunta que é motivada pela resposta ou solução vinculada aos objetivos da pesquisa Assim a pesquisa requer qualidades diferenciadas de outras atividades acadêmicas Por isso conforme Motta 2015 o estudante para ser considerado um pesquisador deve prestar bem atenção em requisitos como 1 a Espírito científico saber analisar questionar e julgar a validade e o fundamento da solução b Raciocínio lógico estabelecer encadeamento de ideias c Espírito criativo a criatividade caminha junto com a imaginação sem excluir o conhecimento específico no assunto da pesquisa d Rigor científico saber procurar pelo melhor método e melhores condições de coleta de dados e Vontade disciplinada apresentar seriedade e dedicação nos estudos f Afinidade com o assunto do trabalho ter convicção nos propósitos da pesquisa Em outras palavras a pesquisa consiste no ato de livrarse de uma dúvida buscar uma resposta para isso mesmo estando ligada ao senso comum É inerente à ação e à vida pois se trata de um conjunto de atividades que tem por finalidade a descoberta de novos conhecimentos no domínio científico literário artístico etc é a investigação ou indagação minuciosa é o exame de laboratório e assim por diante DAMBRÓSIO 2004 p 1112 Essa experiência é de vital importância para a formação acadêmica uma vez que proporciona ao estudante o primeiro contato com a prática da pesquisa bem como permite aplicar os conceitos ensinados na sala de aula em ambientes não formais De modo prático a pesquisa envolve três etapas logicamente distintas estudo planejamento execução e redação A elaboração do projeto corresponde à primeira etapa Minayo 1996 chama essa fase de exploratória pois compreende várias etapas da construção de uma trajetória de investigação Sua condução de modo precário acarretará grandes dificuldades à investigação no todo A ideia de planejamento pode ser entendida também como a previsão racional de um evento atividade comportamento ou objeto que se pretende realizar a partir da perspectiva científica do pesquisador BARRETO HONORATO 1998 p 59 1 Perceba como os dois primeiros itens são dependentes de uma leitura qualificada tema tratado no capítulo anterior desse livro 46 Capítulo 3 O planejamento assume assim condição fundamental para o sucesso de qualquer trabalho que procure pela melhoria da qualidade Lembrando que essa condição só se concretiza quando seu planejamento ocorrer de forma organizada inserida em uma sequência de eventos prédeterminada numa dimensão sistemática É necessário que o estudante entenda que no meio acadêmico devese saber onde se pretende chegar pois do contrário qualquer caminho servirá Assim não é diferente para o planejamento da pesquisa que se traduz na elaboração de um trabalho científico Tratase de uma experiência única que um estudante universitário pode ter pois mesmo que não siga a carreira de pesquisador ele terá a oportunidade de complementar sua formação acadêmica aprimorar seu conhecimento e se preparar melhor para a vida profissional Voltando à noção de pesquisa Gil 2002 fala em procedimento racional e sistemático e para ser realizada são imprescindíveis métodos e caminhos técnicos dentre os chamados procedimentos científicos Neste alicerce funda se o edifício da ciência na qual a construção dos conhecimentos é elaborada com rigor cuidado e parâmetros que oferecem segurança e legitimidade às informações descobertas O objetivo central deste processo consiste principalmente na sistematização dos procedimentos revestida de um tratamento metodológico comumente denominado de científico O ato de pesquisa presume um cuidadoso processo de planejamento Neste contexto para efetivar este planejamento é necessário que se estabeleça como etapa inicial a elaboração do Projeto de Pesquisa Assim cabe dizer que planejar é uma forma de se antecipar o futuro não se deixar engolir pelo problema e dessa maneira o projeto funciona como um instrumento de planejamento uma ferramenta que delineia procedimentos e ações que se desenrolarão no decorrer da pesquisa 31 Elaboração do Projeto de Pesquisa O projeto de pesquisa consiste em estudar a maneira mais eficaz de se pesquisar o temaproblema permitindo ao estudante visualizar e focar quais ações serão fundamentais para a sua resposta ou solução Para Silva 2004 a composição do projeto está vinculada a duas capacidades principais a de produzir uma imagem mental de uma situação futura e a de conceber um plano de ação a ser executado em um tempo determinado Assim o projeto é um modo de se prever ou pressupor eficácia no processo de investigação Esse tipo de trabalho referese à fase provisória que antecede à pesquisa propriamente dita e está propenso portanto a sofrer mudanças superficiais ou significativas em sua estrutura dependendo de fatores internos e externos inerentes ao temaproblema 47 Universidade e Ciência É certo que a produção textual do projeto certamente sofrerá alterações na fase de elaboração do trabalho científico e isso não é fator para desqualificálo A meta maior nessa etapa é buscar atingir o melhor modo para se escrever o referido trabalho É importante que se entenda o projeto como parte do fazer científico Não há sentido desvincular a fase do planejamento da fase posterior quando se executa a pesquisa e se chega à construção final do trabalho Afinal o projeto não se basta em si mesmo pois é parte do processo de tratamento científico ao problema Nesse sentido o estudante deve preocuparse em desenhar a estrutura do projeto de modo pragmático a fim de visualizar concretamente a arquitetura do trabalho científico Por isso o estudante não deve ficar desmotivado caso seu projeto sofra alterações na fase de execução da pesquisa ou mesmo no primeiro encontro com o professor orientador pois se trata de um documento que serve de base ou de ponto de partida para gerar condições de solução ou resposta ao temaproblema Não se trata portanto de um trabalho concludente que se fecha em si mesmo capaz de determinar a certeza da resolução do problema Na redação do projeto as frases devem estar direcionadas para um futuro próximo de curto ou médio prazo como propostas concretas e atualizadas de pesquisa Já o trabalho científico ao contrário se escreve no tempo presente mas não desvinculada do projeto como forma de buscar por um resultado decorrente de um processo investigativo Existem vários modelos de projeto que proporcionam boas orientações no planejamento da pesquisa Aqui não é diferente Então segue um roteiro com as principais etapas relacionadas Roteiro para projeto de pesquisa 1 Tema da pesquisa O tema é a determinação do objeto da pesquisa que corresponde à seleção de uma fração da realidade a partir do referencial teóricometodológico escolhido BARRETO HONORATO 1998 p 62 A convicção na decisão pelo tema adequado ao problema de pesquisa 2 é um bom indício de que o trabalho científico a ser desenvolvido será de qualidade Heerdt 2004 afirma que o tema de pesquisa é na verdade uma área de interesse a ser abordada É uma primeira delimitação ainda ampla Exemplos de tema Navegações marítimas Direito do consumidor Gestão financeira pessoal 2 Delimitação do tema A delimitação do tema é o enunciado tema de conteúdo mais detalhado que responde simultânea e aleatoriamente às perguntas O que pesquisar Que período pesquisar Que lugar ou ambiente pesquisar Quem pesquisar sujeitos da pesquisa 2 Tema adequado àquela pergunta que o pesquisador deseja responder com a pesquisa 48 Capítulo 3 As questões acima elencadas são indispensáveis em pesquisas de campo estudos de casos ou experimentais 3 Caso seja uma pesquisa bibliográfica ou documental na delimitação podese dispensar o fator lugar ou período assim como os sujeitos dependendo da natureza do problema levantado Como exemplo tomese o seguinte tema Gestão financeira pessoal Para isso buscase pela seguinte delimitação do tema Gestão financeira pessoal ferramentas para a tomada de decisão entre os funcionários do setor de televendas da empresa X 3 Problema de pesquisa O problema é uma pergunta inteligente planejada que revela claramente o objeto de pesquisa ou questão central sentida na realidade a ser respondida pela pesquisa Em sua construção até chegar à pergunta central devese observar com atenção a sequência lógica das seguintes indagações 1º O que me perturba ou me incomoda em relação ao tema Leitura da realidade circundante 2º Que questões me instigam a pesquisálo Indagações 3º Qual é a questão central da pesquisa Problema da pesquisa Marinho 1980 apud LEITE 2011 p 61 afirma que na formulação do problema são fundamentais os aspectos da viabilidade o problema pode ser eficazmente resolvido por meio da pesquisa relevância é capaz de trazer conhecimentos novos a uma indagação antiga ainda não esgotada ou examinada de forma satisfatória novidade se está adequado ao estágio atual da evolução científica exequibilidade o problema conduz a uma conclusão válida e oportunidade permite ao pesquisador apresentar conclusões sobre o tema proposto Rauen 2015 p 133 defende que se deve formular o problema na forma de uma pergunta direta Quando um tema está razoavelmente delimitado é possível convertêlo numa questão de pesquisa Por exemplo podese anteceder o tema com um pronome interrogativo Quais acrescido das devidas adaptações linguísticas e finalizálo com ponto de interrogação 4 Hipóteses É uma proposição que responde a um problema de pesquisa derivada de uma teoria que se obtém por meio de inferência dedutiva e que permite verificação empírica 3 Sobre o que são esses itens consulte material referente na nossa midiateca 49 Universidade e Ciência Para Richardson 1999 p 104 uma vez determinado o problema o pesquisador enfrenta uma variedade de possíveis respostas ou hipóteses desconhecendo qual é a mais adequada Assim a hipótese assume a condição de enunciado da solução provisória que explica um dado problema ou a proposição testável que tende a ser a solução do problema Conforme Henrique e Medeiros 2014 p 89 a hipótese é uma solução tentativa que consiste em uma resposta destinada a explicar provisoriamente um problema até que os fatos venham a contradizêla ou confirmála isto é uma formulação provisória de prováveis causas do problema objetivando explicálo de forma científica Tomese como exemplo a seguinte hipótese Inflação de menos de 2 ao ano leva o crescimento econômico industrial a 3 Essa foi formulada com clareza ao contrário da seguinte Políticos desonestos não conseguem reeleição pois nessa faltam dados para a verificação empírica da resposta HENRIQUES MEDEIROS 2014 É necessário lembrar contudo que as hipóteses devem ser expressas somente nas pesquisas que objetivam verificar relações de associação ou dependência entre variáveis 5 Justificativa A justificativa é um texto dissertativo que apresenta conteúdo problematizado justificando a necessidade da pesquisa por meio de argumentos próprios Apresenta sobretudo a importância científica e social da pesquisa pretendida como também suas intenções e finalidades Os motivos da justificativa devem tornar relevante a realização da pesquisa correspondendo às perguntas centrais por que se deseja realizar a pesquisa e e qual sua relevância social científica ou profissional Barral 2003 p 8889 oferece alguns itens importantes que podem fazer parte de uma boa justificativa São eles a atualidade do tema b ineditismo do trabalho c interesse do autor d relevância do tema e pertinência do tema Na composição do texto da justificativa cada pergunta apontada anteriormente pode ser convertida em parágrafo de modo a caracterizar uma redação dissertativa com a inserção de citações para a devida fundamentação dos argumentos necessários ao tema proposto no projeto de pesquisa É prático pensar também que no início da redação da justificativa apresentese o estado da arte que se refere ao ponto no qual se encontram as pesquisas científicas sobre o tema escolhido e antecipa o futuro RAUEN 2015 p 138 Diz respeito à situação atual das pesquisas sobre o tema de interesse e a sua correspondente projeção no futuro 50 Capítulo 3 6 Objetivos O objetivo expressa a ação para a solução do problema A elaboração do objetivo viabiliza a construção dos capítulos do trabalho científico por isso recomenda se que os objetivos devam ser expressos no infinitivo para indicar a ideia de ação ou estado Esses respondem simultaneamente às perguntas Para que vou pesquisar o tema Que ações respondem ao problema da pesquisa Os objetivos são as ações exigidas pelo temaproblema proposto no projeto de forma a garantir uma coerência lógica entre os capítulos que formarão o trabalho científico Essas ações são vitais para a construção lógica e capitular do trabalho sem as quais se perderá o nexo entre as partes Não se tratam portanto de ações condicionadas pela pura conveniência do autor do trabalho mas decorrem diretamente em função da natureza do problema sendo que por isso os objetivos expressam uma certeza verbo no infinitivo Esses por sua vez se classificam em dois tipos geral e específico O objetivo geral é a afirmativa que apresenta com clareza na forma de ação a ideia central da pesquisa nível teórico mais abrangente Para a sua composição são sugeridos verbos no infinitivo como Conhecer Compreender Analisar Interpretar Avaliar etc Os objetivos específicos são afirmativas que apresentam um desdobramento do objetivo principal em ações específicas nível prático mais particular na forma de tópicos Desse modo a ação apresentada por cada objetivo específico pode corresponder mas não necessariamente ao conteúdo de cada capítulo que fará parte do desenvolvimento do trabalho científico excetuandose a introdução e a conclusão Segundo Oliveira 2011 p 37 os objetivos específicos fazem o detalhamento do objetivo geral e devem ser iniciados com o verbo no infinitivo Para a sua composição são elencados verbos como Identificar Relacionar Calcular Caracterizar Apontar Comparar Definir Ressaltar etc Por exemplo se o objetivo geral de um projeto é analisar o índice de escolaridade de uma dada comunidade inserida em um determinado período os objetivos específicos deverão estar orientados para este alvo como os seguintes identificar os aspectos socioculturais que constituem a comunidade em análise comparar a comunidade em estudo com a situação de outras comunidades limítrofes caracterizar a ocorrência e a dinâmica do índice de escolaridade na comunidade em estudo Cumpridos esses objetivos parciais certamente o aluno conseguirá atingir com certa convicção seu objetivo mais amplo 7 Revisão de literatura ou Revisão bibliográfica A revisão de literatura é o texto que discorre sobre o tema da pesquisa atendose à definição de seus termos e conceitos essenciais Nesse item não há necessidade de o estudante se preocupar demasiadamente com os argumentos próprios pois o texto da revisão é parte do planejamento e não diretamente da defesa da tese o que ocorrerá inevitavelmente na fase de execução do trabalho científico Nesse sentido recomendase desenvolver no projeto no mínimo três páginas de revisão 51 Universidade e Ciência Assim o termo revisão assume sentido de abordagem teórica ou geral restrito às ideias dos autores O propósito dessa etapa é expor conceitos que corroborem com a temática da pesquisa o que não quer dizer que seu conteúdo se constitua de um amontoado de citações como simples colcha de retalhos O primordial é que o estudante demonstre capacidade de síntese como forma de revelar certo domínio sobre as teorias essenciais ao tema proposto No mínimo devem ser referenciadas no texto três fontes bibliográficas de diferentes autores Na composição da revisão de literatura afirmam Silva e Menezes 2001 p 30 o estudante deverá responder às seguintes questões Quem já escreveu e o que já foi publicado sobre o assunto Que aspectos já foram abordados Quais as lacunas existentes na literatura Para Rauen 2015 p 140 a revisão da bibliografia consiste em um conjunto essencial de procedimentos que embora se apresente numa sequência deve ser executado em todas as etapas da pesquisa Nada surge do nada e por isso é muito importante que o estudante reconheça a criação intelectual de outros autores e dê crédito a ela Os resultados de hoje certamente decorrem do esforço das gerações anteriores Recomendase então que a redação do texto da revisão bibliográfica tome como parâmetro as perguntas Com quais bases teóricas devo especificar o tema O que dizem os autores sobre o tema Quais pesquisas já existem sobre o tema Não se pode esquecer ainda que os autores citados nesse item do projeto certamente farão parte da fundamentação teórica do trabalho científico quando já se executou a pesquisa revelando aprofundamento dos conhecimentos pelo estudante sobre o tema proposto 8 Metodologia da pesquisa ou delineamento da pesquisa A metodologia é uma sessão do projeto que se dedica principalmente a apresentar a caracterização do tipo de pesquisa a ser desenvolvida e concomitantemente do método a ser aplicado as questões ou hipóteses do estudo os procedimentos de coleta e de análise dos dados ou achados o cronograma de execução da pesquisa e o orçamento O delineamento da pesquisa segundo Gil 1995 p 70 refere se ao planejamento da mesma em sua dimensão mais ampla ou seja neste momento o investigador estabelece os meios técnicos da investigação prevendo os instrumentos e os procedimentos utilizados para a coleta de dados Diz respeito à etapa que se busca essencialmente pela pergunta Como se pretende obter os resultados Se o estudante na fase do trabalho científico conseguir responder claramente a essa pergunta é sinal de que a metodologia aplicada no trabalho ficou bem definida e articulada com a natureza do problema e com os objetivos traçados no projeto de pesquisa 52 Capítulo 3 Essa fase é uma grande oportunidade para que o estudante aprenda que de acordo com a complexidade da pesquisa as metas que subentendem um problema operacional e não necessariamente os objetivos específicos podem ser desenvolvidas em ações e essas ações em procedimentos RAUEN 2015 p 144 Para isso é necessário que se desenvolva o planejamento do trabalho científico como um produto científico na perspectiva das seguintes tarefas a Caracterizar o tipo de pesquisa segundo os critérios do objetivo exploratória descritiva explicativa do procedimento bibliográfica documental experimental estudo de caso controle levantamento estudo de caso estudo de campo pesquisaação pesquisa participante e da abordagem qualitativa quantitativa quantiqualitativa 4 b Descrever a população ou corpus a ser investigado Se a pesquisa for de campo eou envolver o método estatístico o tipo de amostragem também precisará ser explicado c Apresentar os critérios de composição do corpus ou da população ou do objeto de pesquisa d Descrever sucintamente os métodos de abordagem dedutivo indutivo hipotéticodedutivo dialético fenomenológico e de procedimento comparativo etnográfico monográfico estatístico histórico entre outros e Detalhar o processo de levantamento registro análise e interpretação dos dados descrever sucintamente as técnicas a serem utilizadas para coletar os dados incluindo seus respectivos instrumentos questionário entrevista formulário observação análise de conteúdo fichamento entre outros e também como esses dados serão registrados e analisados Em síntese é a descrição da forma como serão analisados os dados da pesquisa Existem duas grandes tendências a se a pesquisa for qualitativa as respostas podem ser interpretadas global e individualmente b se for quantitativa provavelmente serão utilizadas tabelas e estatística HEERDT 2004 f Apresentar em detalhes o cronograma e o orçamento que se prevê para o processo da pesquisa Caso a pesquisa seja estudo de campo estudo de caso experimental etc devese escrever em média um parágrafo para cada item acima relacionado Se ao contrário for pesquisa bibliográfica ou documental dispensamse os itens relacionados acima a a f devendo o aluno discorrer sobre as ideias ou teses dos autores especializados no tema proposto Para isso ele deve escrever no mínimo quatro parágrafos 4 Para saber mais sobre esses tipos de abordagem consultar na midiateca No Eva texto referente 53 Universidade e Ciência 9 Cronograma O cronograma é o item da metodologia em que se detalham as ações inerentes à aplicação e composição da pesquisa no decorrer do tempo Pode ser também a distribuição adequada das tarefas por ordem de importância em relação ao tempo previsto É costumeiro apresentar as ações e datas na forma de tópicos ou de quadro Salientase ainda que esta etapa preveja cronologicamente as atividades inerentes à estruturação da monografia e não do projeto uma vez que este corresponde ao planejamento daquela 10 Referências As referências dizem respeito à etapa em que se listam as obras citadas no texto do projeto em ordem alfabética e alinhadas à esquerda conforme a NBR 6023 vigente da ABNT 55 Capítulo 4 A linguagem e seu funcionamento Nesta unidade de aprendizagem começamos capítulo 1 por entender o que significa universidade seu papel para a formação da cidadania sua base tríplice ensino pesquisa e extensão e percebemos que sem leitura capítulo 2 não há como transformarmudarpropor assim consideramos que é por meio da pesquisa e da extensão capítulo 3 que poderemos também dar a nossa contribuição para a sociedade que nos acolhe por último e tão importante quanto os demais capítulos trataremos do funcionamento da linguagem É a linguagem que nos constitui sujeitos e que nos permite todas as interações sociais possíveis com ela podemos construir o universo no qual estamos inseridos Seção 1 A linguagem como prática social Um dos mitos desde Aristóteles que chama a atenção sobre a linguagem é o de atribuir a ela a simples função de possibilitar a transmissão de informações entre as pessoas Entretanto muito mais do que transmitir cabe à linguagem a função de representar a realidade na medida em que ela própria possibilita efeitos de sentidos múltiplos a cada vez que se materializa numa dada enunciação 1 Não é à toa que Carlos Drummond de Andrade escreveu em Procura da Poesia o seguinte fragmento Chega mais perto e contempla as palavras Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta sem interesse pela resposta pobre ou terrível que lhe deres Trouxeste a chave grifo nosso 1 Enunciação entendida aqui como ato de utilização da língua pelo falante ao produzir um enunciado em um dado contexto comunicativo 56 Capítulo 4 Grifamos cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra justamente porque a cada ato comunicativo enunciação a palavra aparece com um efeito de sentido diverso e ao mesmo tempo único decorrente daquele ato daquele instante presente Imaginemos num exemplo prático do dia a dia alguém pronunciando a frase hoje estou engolindo sapos A palavra sapos aparece em um sentido conotativo visto que naturalmente não se engole sapos O efeito de sentido torna possível a compreensão de que no dia de hoje se está com problemas dificuldades tensões Assim a linguagem é uma forma de representação de mundo de sentimentos de emoções mas não somente isso Segundo Richter 2000 p 50 a linguagem serve para fazer coisas ela literalmente transforma o mundo e não só o representa justamente porque permite a argumentação a contra argumentação o questionamento e as possibilidades de sentidos diversos atribuídos a cada contexto enunciativo de maneira única irrepetível Essa forma de representartransformar o mundo torna a linguagem responsável pela efetividade do contexto históricosocial do homem ao longo dos anos que compreendem sua existência permitindo o estabelecimento das relações sociais e suas consequentes transformações Graças à linguagem todo conhecimento produzido está a nossa disposição Ao mesmo tempo em que nos apropriamos desse conhecimento sócio historicamete produzido também somos produtores desses conhecimentos E aqui na universidade lugar de produção e circulação do conhecimento é um lugar legitimado não só para o ensino mas principalmente para a produção de pesquisas que de formas variadas retornam em certa medida à comunidade 57 Universidade e Ciência Seção 2 Autoria Estudar a língua é estudar as práticas de linguagem em situações reais de uso A autoria está em relação com o sujeito que produz um texto ou seja o sujeito autor o qual usa a linguagem em determinada situação Por conseguinte o que caracteriza a autoria é a produção de um gesto de interpretação quer dizer quem produz o texto é responsável por uma formulação que faz sentido O modo como ele o sujeito faz isso caracteriza sua autoria ORLANDI 2001 p 76 Veja o texto a seguir Muitos pensamos que o que move o mundo é o dinheiro os bens materiais que tanto nos atraem ou mesmo a busca pelo prestígio e poder Tudo isso é muito importante e mexe de verdade com o comportamento humano porém o que mais é capaz de provocar mudanças transcender teorias e transformar o mundo é de fato a linguagem As palavras são muito poderosas quando saem de nossa boca tem o potencial de criar ou dissipar estresses cativar ou afastar pessoas conquistar ou destruir sonhos provocar paixão ou abrir feridas que duram por uma vida inteira Tudo vai depender de nossa habilidade de lidar com elas no tempo dose forma e tempero adequado COSTA 2016 p 1 Podemos então afirmar que o autor emerge como o produtor da linguagem produzindo o texto com todos os aspectos que o tornem texto tais como coesão coerência progressão não contradição e fim Notem que todas as possibilidades de frases estão no repertório da língua são potencialidades e estão no nível do repetível Em outras palavras todas as estruturas possíveis de frases estão disponíveis na língua para todos nós mas no momento em que cada um de nós faz uso dessas frases em um texto elas deixam de estar no nível do repetível potencialidade e materializamse no texto Então no processo de elaboração do texto levase em conta essas estruturas que já existem na língua aspectos gramaticais lexicais e são atualizados no texto O que é produzido tornase novo porque está inserido em uma dada circunstância é uma prática social Esse texto é um acontecimento novo uma 58 Capítulo 4 vez que aí intervêm os aspectos discursivos a situação real de uso da língua nas interações sociais E aí é que entra o autor Nesse ato de enunciar de produção do texto é considerada a situação em que estamos envolvidos o nosso propósito interacional o outro para quem enderecemos o nosso texto Para atender a esses propósitos interacionais mobilizamos não só recursos gramaticais como também recursos discursivos o interlocutoro outro a situação sóciohistórica a posição que ocupa nas determinadas esferas da atividade humana e os gêneros discursivos Levando em consideração esses aspectos podese falar em autoria Assim em cada produção de linguagem materializada em texto como unidade de sentido ou seja com coerência há o sujeito autor aquele que produziu o texto Assim a autoria está para todos os textos assim como o autor está para o sujeito que o elaborou O autor é o sujeito que produz o texto em uma situação sociointerativa com todos os critérios de coesão e coerência como prática social Podemos falar dessa forma em níveis de autoria Quanto mais conhecimento sobre o funcionamento da linguagem de seus mecanismos de coesão mais se efetiva a autoria Seção 3 A materialização da linguagem texto Um texto segundo a sua materialidade é um objeto com começo meio e fim tem relação com outros textos existentes possíveis ou imaginários com suas condições de produção os sujeitos e a situação e com sua exterioridade constitutiva Podemos definir o texto como prática de linguagem com materialidades diversas matéria que possibilita a prática da linguagem somsilêncio letra movimento do corpo dança tintaformas na pintura mármoremadeira na escultura etc São matérias que pela ação do sujeito transformamse em materialidade simbólica linguagens É um espaço significante o texto produzido intencionalmente pelo sujeito já que é linguagem em uso Em função disso como há linguagens verbais e não verbais há textos também verbais e não verbais 59 Universidade e Ciência Exemplificamos Essa imagem é um texto Algumas das propriedades consideradas importantes no processo de produção de textos verbais Um texto não é um aglomerado de frases Mais do que isso as partes devem estar articuladas entre si compondo um todo significativo Todo texto é produzido por um sujeito em um determinado tempo em um determinado espaço com uma determinada finalidade Por isso o texto revela ideias e concepções de um grupo social de uma determinada época Todo texto é escrito intencionalmente para um interlocutor ou um grupo de interlocutores o que implica a escolha da estrutura e da linguagem adequadas O texto além de ter uma materialidade específica também está relacionado com os contextos de uso Em cada esfera da sociedade circulam textos com certas regularidades comuns dessa esfera Isso trataremos a seguir sobre os gêneros discursivos 60 Capítulo 4 Seção 4 Gêneros discursivos Os gêneros discursivos são formas típicas de enunciados que se realizam em condições específicas e com variadas finalidades nas diferentes situações de interação social Para melhor entender imaginemos os gêneros que a secretária de uma empresa precisa saber redigir no seu dia a dia de trabalho Ela pode precisar elaborar um memorando para solicitar algum material de expediente um email para se comunicar com o chefe que está viajando Deve saber redigir ainda uma ata para registrar o que foi discutido numa reunião ou até mesmo um convite caso haja um evento na empresa e ela seja a responsável pela organização desse evento É importante registrar ainda que no processo de produção dos mais diversos gêneros utilizamonos das tipologias textuais também conhecidas como sequências textuais as quais são modos de organização do texto As mais comuns são descrição narração e dissertação É provável que no gênero relatório por exemplo encontremse as tipologias narrativa relato dos fatos e dos procedimentos descritiva caracterizando ou retratando os objetos em uso e dissertativa apresentando uma opinião ou um ponto de vista sobre os fatos É preciso ficar claro que as tipologias ou sequências textuais estão a serviço dos gêneros E mais fazer uso desta ou daquela tipologia e mesmo lançar mão de mais de uma delas dependerá de qual gênero se vai elaborar Assim também a opção por este ou aquele gênero é uma questão a se decidir e a decisão dependerá de um conjunto de fatores tais como as características e a finalidade do texto a quem ele se destinará etc Você já parou para pensar quais são os gêneros discursivos que o cercam em seu dia a dia Aqui na Universidade circulam principalmente artigos científicos ensaios monografias projetos relatórios Trabalho de Conclusão de Curso etc É preciso deixar claro ainda que os gêneros não se apresentam de forma fixa pelo contrário podem ser constituídos e reconstituídos ao longo de nossa existência Há alguns anos para nos comunicarmos com alguém que estava em um outro país usávamos a carta Hoje porém com a tecnologia da informação usamos o email o MSN o facebook etc Assim estudar sobre gêneros discursivos possibilita compreender que um texto é uma unidade que contém uma estrutura e uma organização específicas e o mais importante exerce uma função social 61 Universidade e Ciência 41 Gênero e suporte Fazse oportuno mencionar ainda a respeito do suporte em que os gêneros são fixados ou produzidos Tratase do local veículo meio ou ambiente no qual os textos diversos podem aparecer Na antiguidade por exemplo os homens usavam as tabuinhas ou as paredes das cavernas para escreverem seus textos Hoje há diversos suportes como o papel livros jornais revistas apostilas etc as telas da televisão do computador as diferentes mídias ou qualquer espaço virtual Os suportes essenciais para a circulação dos gêneros podem variar de acordo com as necessidades de quem os está usando Por exemplo posso usar um telefone celular para mandar um bilhete ou ler uma notícia Os suportes são tão importantes que podem definir o gênero Consideremos o texto abaixo Paulo te amo me ligue o mais rápido que puder Se encontrarmos esse texto num papel sobre a mesa ele será um BILHETE Se o encontrarmos numa secretária eletrônica é um RECADO Se for enviado pelo correio é um TELEGRAMA Caso esteja em um celular será uma MENSAGEM E se estiver num outdoor é uma declaração de amor A partir do que foi apresentado acima podemos dizer que o suporte é uma superfície física em formato específico que suporta fixa e mostra um texto Essa ideia compreende três aspectos 1 suporte é um lugar físico ou virtual 2 suporte tem formato específico livro revista 3 suporte serve para fixar e mostrar o texto 42 Gênero e contexto de ocorrência Os gêneros podem estar associados a um contexto de ocorrência que pode ser do âmbito literário jornalístico acadêmico publicitário empresarial humorístico etc Apresentamos abaixo um quadro com uma pequena relação de gêneros em seus respectivos contextos de ocorrência Nesse quadro é preciso estar atento a alguns detalhes 62 Capítulo 4 a Um mesmo gênero textual pode ser recorrente em diferentes contextos de ocorrência Por exemplo a crônica por sua variedade lírica reflexiva humorística enquadrase como texto literário jornalístico humorístico b Os gêneros textuais não constituem uma lista definitiva Novos gêneros surgem em decorrência de novos propósitos para a utilização da linguagem e de novas tecnologias Quadro 41 Alguns exemplos de gêneros em determinadas ocorrências 1 Textos literários a Crônica b Novela c Poema d Conto e Romance 2 Textos jornalísticos a Notícia b Editorial c Artigo de opinião d Resenha e Classificados 3 Textos acadêmicos a Resumo b Resenha c Relatório d Artigo e Monografia 4 Textos empresariais a Carta b Memorando c Ata d Recibo e Ofício 7 Textos publicitários a Anúncio b Outdoor 6 Textos humorísticos a História em quadrinhos b Charge c Piada Fonte Adaptação do autor 2012 63 Universidade e Ciência Seção 5 Texto e construção de sentido Ao se olhar para dentro de um texto isto é para as partes que o compõem é possível observar não só os elementos linguísticos que os constituem as palavras os períodos e os parágrafos mas também as ideias que por ali passam Esse conjunto vem a ser responsável por estabelecer a coerência e a coesão textuais 51 Coerência Um texto é coerente quando apresenta ideias organizadas e argumentos relacionados em sequência lógica de forma a permitir que o leitor chegue às conclusões desejadas pelo autor Assim um texto coerente deve satisfazer a quatro critérios básicos A continuidade diz respeito à necessária retomada de elementos no decorrer do discurso Tem a ver com a unidade temática do texto Uma sequência de temas diferentes a cada parágrafo não será aceita como texto A progressão o texto deve retomar seus elementos conceituais e formais mas não pode se limitar a essa repetição É preciso que apresente novas informações a propósito dos elementos retomados A não contradição as ocorrências presentes no texto não podem se contradizer devem ser compatíveis entre si e com o mundo ao qual o texto representa A articulação referese à maneira como os fatos e os conceitos apresentados no texto se encadeiam como se organizam que papéis e valores exercem uns com relação aos outros Observe os exemplos a seguir A escolha da profissão não é um ato simples ao qual se possa chegar sem hesitações e dúvidas Entretanto esse momento deve ser respeitado pelos pais 64 Capítulo 4 Nesse caso o que fere a coerência é a contradição existente entre os dois períodos Vamos analisar a relação entre esses períodos do seguinte modo a Ideia A a escolha da profissão é um ato difícil b Ideia B o momento da escolha da profissão deve ser respeitado pelos pais Perceba que as ideias A e B não se contradizem pelo contrário B é consequência de A Porém no texto as ideias A e B estão associadas pelo conectivo entretanto cuja função é ligar informações opostas Estabelecese então a contradição o leitor sabe que não há oposição entre os sentidos de A e B mas é forçado diante do conectivo entretanto a fazer tal leitura Onde está o problema Na escolha do conectivo O equívoco do autor se resume em ter utilizado um conectivo de oposição enquanto pretendia estabelecer ideia de conclusão Para desfazer a contradição e dar coerência ao texto basta substituir entretanto por algumas opções como portanto logo desse modo assim Vamos analisar mais um caso de incoerência Observe este texto Meu filho não estuda na UNISUL Ele não sabe que a primeira Universidade do mundo românico foi a de Bolonha Essa universidade possui um imenso espaço verde Uma sequência de três períodos sobre o mesmo assunto universidade não implica um texto coerente Nesse exemplo o que ocorre é a falta de continuidade pois o autor provoca uma ruptura ao se referir a diferentes universidades sem a mínima relação estabelecida entre elas Fique atento É fácil perceber que não há coerência nos exemplos anteriores No entanto muitas vezes você conseguirá detectar esse problema em textos produzidos por outras pessoas sem perceber que o mesmo ocorre em seus textos Portanto sempre releia com atenção o que escreve antes de enviar aos leitores Para finalizar esse item acompanhe a definição apresentada por Fávero 2004 p 10 A coerência referese aos modos como os componentes do universo textual isto é os conceitos e as relações subjacentes ao texto de superfície unemse numa configuração de maneira reciprocamente acessível e relevante 65 Universidade e Ciência 52 Coesão Um texto é coeso quando suas partes estão estruturalmente bem organizadas Entre os elementos de coesão estão os conectores conjunções pronomes advérbios preposições que podem aparecer entre palavras orações períodos e parágrafos e outros recursos gramaticais a substituição vocabular por meio de sinônimos hiperônimos e hipônimos a elipse etc São os elementos de coesão que garantem a tessitura a amarração ou a ligação entre as partes componentes de um texto Além disso vão possibilitar a retomada de algumas palavras no texto sem que seja preciso repetilas Explicando com exemplos Observemos como alguns recursos linguísticos estabelecem a coesão textual a O presidente chegará amanhã ao Estado de Tocantins onde ele participará de uma reunião com os líderes do MST b A acadêmica fez a apresentação de seu trabalho c O juiz olhou para o auditório Ali estavam os parentes e amigos do réu aguardando ansiosos o veredicto final No enunciado a onde está associado a Tocantins e ele a presidente Em b seu faz referência à acadêmica e em c ali remete a auditório Em todos esses exemplos os itens destacados são os recursos de ordem gramatical que fazem referência a termos já citados no enunciado Tratase da referenciação ou seja um processo por meio do qual se retoma uma palavra ou uma expressão a fim de se evitar a repetição Além desse recurso de referenciação há outras possibilidades de se evitar a repetição de palavras dentro dos textos Podemos além de retomar nomes com pronomes fazer uso da substituição vocabular e da elipse Dando sequência aos exemplos temos d Todos queriam que o aluno participasse da pesquisa mas por ser um acadêmico de primeira fase seu projeto não foi aceito e Os vereadores deveriam aprovar o projeto No entanto não participaram da reunião 66 Capítulo 4 Em d temos a substituição do termo aluno por acadêmico o que caracteriza um caso de substituição vocabular No enunciado e há um vazio na posição indicada antes do verbo mas sabemos que o ato de não comparecer está ligado a vereadores Logo o termo vereadores é retomado de forma implícita pois não está expresso e esse recurso de omissão de palavras é definido como elipse Embora haja quem pense diferentemente podese dizer que coerência e coesão são aspectos interligados ainda que não sejam dependentes Assim sendo é provável que se um texto estiver mal estruturado o sentido estará comprometido Porém é possível que mesmo sem uma coesão estabelecida por elementos coesivos um texto apresentese com coerência Nesse caso a falta de ligação por meio de elementos linguísticos coesivos não impediu o sentido entre as ideias Observemos um exemplo em que o texto sofre de ambos os problemas isto é não apresenta nem coesão nem coerência Como todos estavam decididos a votar contra a alteração da data Temse aí um caso de enunciado com sentido incompleto A pergunta que se faz é Como todos estão decididos a isso o que acontecerá Falta coesão pois falta articular uma última parte a essa ideia Também falta coerência uma vez que não se completou a ideia Já em outros casos a falta de elementos coesivos não perturba a coerência do texto Observemos este exemplo dado em Fávero 2004 Luiz Paulo estuda na Cultura Inglesa Fernanda vai todas as tardes no laboratório de física do colégio Mariana fez 75 pontos na FUVEST Todos os meus filhos são estudiosos O texto está destituído dos elementos de coesão ou seja não há elementos de ligação mas há coerência pois o último período justifica os anteriores atribuindo sentido ao todo Algumas vezes ao contrário desse último exemplo temos situações em que os elementos coesivos não contribuem para dar coerência ao texto 67 Universidade e Ciência Vejamos Maria está na cozinha Lá os azulejos são brancos Também o leite é branco Apesar de haver os elementos de referência lá e também não há relação de sentido entre as partes Falar de coerência e coesão como mecanismos de construção de sentido dos textos levounos a falar em vários momentos sobre elementos coesivos ou de ligação o que equivale a falar em conectivos É de fundamental importância que você saiba fazer uso dos conectivos em seus textos pois são eles os elementos responsáveis pelo encadeamento lógico das ideias o que justifica denominálos de conectores argumentativos Mas o que seriam esses conectores Como a própria palavra define conectores são elementos que unem ligam elementos Na língua portuguesa os conectores são elementos que permitem a costura do texto deixandoo mais coeso Podemos utilizar diversos conectivos em nossos textos como pronomes pessoais ele ela nós o a lhe pronomes possessivos meu teu seu pronomes demonstrativos este esse aquele pronomes relativos que o qual a qual Além dos exemplos citados acima podemos usar também os conectivos que traduzem relações de espaço aqui ali defronte à lá fora tempo depois antigamente já causa por causa de em razão de conclusão portanto dessa forma assim sendo por isso finalidade a fim de de modo a para contrasteoposição por outro lado ou ao contrário de mas porém no entanto todavia Cada um desses conectivos tem um valor e tem como objetivo além de ligar partes do texto estabelecer relação semântica de causa finalidade conclusão contraste oposição etc Dessa forma ao produzirmos nossos textos temos de ter o cuidado de usar o elemento adequado para exprimir o tipo de relação que se quer estabelecer como já enfatizam Platão e Fiorin 2007 68 Capítulo 4 Vejamos o exemplo que os autores citados apresentam Israel possui um solo árido e pouco apropriado à agricultura porém chega a exportar certos produtos agrícolas 2007 p 279 De acordo com Platão e Fiorin o conectivo PORÉM usado para unir as duas frases apresenta uma relação de contradição entre elas Nesse caso não teria sentido usar por exemplo o termo PORQUE pois sabemos que esse termo indica causa e se assim o fosse o enunciado apresentado ficaria sem sentido pois a exportação de produtos agrícolas não pode ser vista como a causa de Israel ter um solo árido Certo Veja a seguir um quadro organizado por grupos de conectores com suas funções textuais Quadro 42 Conectores argumentativos Para estabelecer ideia de OPOSIÇÃO Para estabelecer ideia de ADIÇÃO Para apresentar EXPLICAÇÃO CAUSA Para apresentar CONCLUSÃO CONSEQUÊNCIA Para estabelecer uma CONDIÇÃO Para estabelecer uma COMPARAÇÃO MAS E PORQUE LOGO SE DE UM LADO PORÉM NEM JÁ QUE PORTANTO CASO POR OUTRO TODAVIA NÃO SÓ MAS TAMBÉM VISTO QUE ENTÃO CONTANTO ENQUANTO CONTUDO COMO ASSIM DESDE QUE COMO NO ENTANTO POIS DESSE MODO MAIS DO QUE ENTRETANTO PORQUANTO POIS MENOS DO QUE EMBORA UMA VEZ QUE POR CONSEGUINTE MESMO POR ISSO APESAR DE DE FORMA QUE AINDA QUE NÃO OBSTANTE Fonte Elaboração do autor 2012 69 Universidade e Ciência Podemos conectar várias ideias em um único período utilizando os recursos da tabela Em princípio temos um aglomerado de frases desconectadas As mulheres sempre lutaram pelos seus direitos Em muitas empresas os homens continuam ganhando mais que as mulheres Ainda há muita discriminação em relação às mulheres As possibilidades de se elaborar um período coeso e coerente podem ser muitas Eis dois exemplos As mulheres sempre lutaram pelos seus direitos mas ainda há muita discriminação em relação a elas pois os homens em muitas empresas ainda ganham mais Explicando a Mas estabelece relação de sentido entre ideias opostas b Elas retoma mulheres evitando repetição do termo c Pois introduz uma explicação para a ideia anterior Em muitas empresas os homens continuam ganhando mais que as mulheres o que indica haver ainda muita discriminação em relação a elas apesar de sempre terem lutado pelos seus direitos Explicando a elas retoma mulheres evitando repetição do termo b Apesar de estabelece relação de sentido entre ideias opostas Como finalização desta seção refletiremos sobre alguns dos problemas mais recorrentes e que devem ser evitados quando se pretende produzir textos objetivos e adequados à língua padrão 70 Capítulo 4 53 Ambiguidade Possuem ambiguidade as palavras as expressões ou os períodos com mais de um sentido A ambiguidade pode ser estrutural lexical ou de referência Estrutural quando a duplicidade de sentido ocorre em função da organização da frase O garoto viu o incêndio do prédio Há duas possibilidades de leitura o garoto viu um incêndio que ocorreu no prédio ou o garoto estava no prédio e de lá viu um incêndio Lexical quando a duplicidade de sentido ocorre em função de um item lexical possuir mais de um sentido eu o vi no banco Sem o contexto não podemos saber se o enunciado se refere a um banco de praça ou a uma instituição financeira De referência quando não fica definido qual é o nome que um pronome deve retomar Os alunos disseram aos professores que todos eles deveriam ser responsabilizados pelo fato Há uma tentativa de usar os pronomes todos eles para fazer referência a um termo anterior no entanto não sabemos se eles se refere a alunos ou a professores Importante Estamos listando ambiguidade como algo que deve ser evitado nos textos No entanto cabe um comentário a ambiguidade é um problema em textos técnicos científicos empresariais jurídicos ou seja textos informativos em geral que exigem clareza e objetividade Em outras situações como em textos humorísticos ou publicitários a ambiguidade passa a ser um recurso usado de forma intencional Vejamos por exemplo uma piada Marido 1 Como você ousa dizer palavrões na frente da minha esposa Marido 2 Por quê Era a vez dela 71 Universidade e Ciência Nesse caso o sentido de humor constrói exatamente pela ambiguidade O leitor deve inicialmente interpretar na frente como marcador de espaço para depois perceber que o sentido desejado da expressão na frente é como marcador de tempo Seção 6 Discurso O texto pelo viés do discurso Para estabelecermos uma relação entre texto e discurso haveremos de traçar uma linha não de equivalência mas de interdependência entre um e outro Queremos então partir da ideia de que um texto é uma unidade de sentido produzida por alguém para um outro alguém com uma determinada intenção Dito isso um texto é um espaço significante lugar de jogo de sentidos de trabalho da linguagem de funcionamento da discursividade ORLANDI 1999 p 72 Isso porque por ele passa o discurso Mas o que vem a ser discurso Enquanto o texto é a entidade física na forma verballinguística ou não verbal não linguística o discurso conforme Meurer 1997 manifestase como um conjunto de princípios valores e significados por trás do texto Isso leva a crer que Todo discurso é investido de ideologias isto é maneiras específicas de conceber a realidade Além disso todo discurso é também reflexo de uma certa hegemonia isto é exercício de poder e domínio de uns sobre outros ibidem Tendo forma abstrata o discurso não só se materializa no texto verbal e não verbal por onde passarão conjuntamente a história e a ideologia como também apresenta incompletude isto é não tem começo nem fim Isso porque o sujeito discursivo manifestase dividido a elaborar seu dizer a partir de outros dizeres ditos em outros lugares e em outros momentos É portanto no espaço significante do texto que o discurso irá se constituir Não se pode perder de vista que todo texto é influenciado por e depende de textos que já ocorreram anteriormente Tratase do fenômeno da intertextualidade sem a qual um texto não se efetiva Nesse sentido pode se dizer que todo texto traz em si outros textos ou apresenta um grau de intertextualidade constituída De outro lado haverá sempre na base de um discurso outros discursos que por sua vez vêm demarcados in memória Trata se do fenômeno da interdiscursividade 72 Capítulo 4 Reside aí a razão para se ver o discurso conforme Orlandi 1999 como um processo em curso como uma prática o que o faz ser por princípio um dizer que não se fecha pelo contrário está aberto a uma dispersão de textos e de sujeitos porque é desse modo que verdadeiramente os textos se fazem por uma dispersão de sujeitos Daí poderse dizer que o discurso é sempre incompleto assim como são incompletos os sujeitos e os sentidos ORLANDI 2001 p 113 Compreender um discurso é portanto muito mais que decodificar mensagens é antes buscar estabelecer uma relação de reciprocidade entre o dizer e o não dizer do outro sendo essa relação permeada pela ideologia Vejamos um exemplo de Intertextualidade na qual reside a interdiscursividade Figura 41 Charge Vida de Passarinho Caulos Jornal do Brasil Rio de Janeiro 1978 Fonte ENEM 2001 73 Universidade e Ciência Você pode notar que o escritor Caulos 1978 lança mão do pensamento de Gonçalves Dias para compor sua crítica em defesa da natureza brasileira bastante ameaçada Ou seja Caulos utilizouse da intertextualidade abordada no capítulo 2 ao trazer para seu texto a ideia e as palavras de Gonçalves Dias expressas nos versos do poema Canção do Exílio escrito pelos idos do século XIX na época do Romantismo no Brasil É possível observar que enquanto Gonçalves Dias canta a exuberância da natureza naquela época Caulos reflete sobre a degradação de nossa mata por meio de uma crítica ambiental e política Podemos então dizer que há neste texto a materialização do discurso ambiental e também do discurso político uma vez que envolvem questões a serem decididas nas instâncias da Assembleia Legislativa como também do Senado Federal tais como reforma agrária reforma política leis ambientais que garantam a preservação etc Diante dessa reflexão podese concluir dizendo que a habilidade de leitura bem como a competência de leitor implicam atribuir sentido a um texto seja lá em que situação comunicativa for E isso depende da mobilização por parte do leitor de alguns conhecimentos que se fazem indispensáveis entre eles o de que o discurso dá vida ao texto tal como o texto é o suporte material para a existência do discurso Seção 7 Que linguagem buscar no processo científico 71 Redação Científica A escrita de textos acadêmicos requer uma estrutura que deve atender às exigências da instituição de ensino do professor do avaliador ou até mesmo de outros leitores Os trabalhos acadêmicos devem ser planejados escritos construídos elaborados por seus autores Transcrever em parte ou na íntegra informações ou ideias produzidas por outros autores sem mencionar a fonte no próprio texto é plágio E lembrese plágio é crime Nesta seção você conhecerá alguns elementos que envolvem a redação científica Na produção textual de um trabalho científico é necessário primeiramente que o autor você se coloque na condição de leitor esforçando se em pensar nas suas qualidades e expectativas pois o objetivo maior dessa produção é fazer com que as suas ideias sejam compreensíveis trocando informações e ao mesmo tempo desenvolvendo o processo de comunicação efetivo entre ambos 74 Capítulo 4 72 Estrutura lógica do trabalho acadêmico A estrutura geral do trabalho acadêmico compreende três elementos pré textuais textuais e póstextuais Nesta seção serão tratados somente os elementos textuais A estrutura lógica do trabalho acadêmico 2 compreende três partes organicamente relacionadas introdução desenvolvimento e conclusão Essa estrutura reproduz as fases características do pensamento reflexivo do sincrético totalidade pelo analítico ao sintético Assim a a introdução representaria o momento da síncrese pois apenas apresenta uma visão geral do trabalho b o desenvolvimento representaria a análise pois o seu conteúdo está analiticamente dividido em partes c a conclusão representaria a síntese pois articula de forma breve as principais ideias contidas em cada parte do desenvolvimento do trabalho Seguem algumas explicações 721 Introdução O objetivo principal da introdução é apresentar o assunto de maneira clara e precisa e também a maneira como a pesquisa foi desenvolvida Os principais requisitos para a redação da introdução são a definição do assunto consiste em anunciar a ideia geral e precisa sobre o tema Primeiramente é contextualizada a área de conhecimento em que o tema se situa e depois é apresentada de maneira bem específica a questão ou as questões que o trabalho se propõe a responder Tratase da problematização da pesquisa b objetivos apresentam as ações que deverão ser desenvolvidas na pesquisa O verbo no infinitivo analisar demonstrar identificar descrever etc deve ser usado na redação do enunciado apresentando de maneira mais clara o que deverá ser abordado no trabalho É necessário tomar cuidado para não apresentar objetivos na introdução que não sejam cumpridos no desenvolvimento do trabalho 2 Você acompanhou no capítulo 3 as partes de um projeto de pesquisa aqui estamos vendo as partes do trabalho pronto Tenha clareza também que um trabalho acadêmico pode ser um relatório uma resenha crítica etc não só um projeto de pesquisa 75 Universidade e Ciência c justificativa consiste em apresentar a relevância teórica científica prática e social da pesquisa Devemse esclarecer os motivos que levaram à escolha do tema e chamar a atenção do leitor para a atualidade do assunto Uma justificativa bem feita desperta o interesse para a leitura do trabalho d metodologia informa sobre os procedimentos metodológicos da pesquisa ou seja os recursos que foram utilizados para a coleta de informações na tentativa de buscar respostas para o problema Se a pesquisa for puramente bibliográfica convém informar já de início as principais fontes e os principais autores que foram utilizados para fundamentar o assunto Dependendo da natureza da pesquisa este item pode merecer um capítulo especial no desenvolvimento do trabalho e plano de desenvolvimento do trabalho finaliza a introdução e deve conter os tópicos principais as ideiasmestras que serão apresentadas no desenvolvimento Se as divisões do trabalho forem muito extensas capítulos grandes é possível antecipar uma ideia geral para cada capítulo A introdução deve ser a última parte do trabalho a ser elaborada A redação deverá ser iniciada pelo desenvolvimento do trabalho 722 Desenvolvimento O desenvolvimento é dividido em partes e é a fração mais extensa do trabalho pois nele são apresentados os resultados de tudo aquilo que se pesquisou O desenvolvimento corresponde ao corpo do trabalho Salomom apud SEVERINO 2000 afirma que essa é a fase de fundamentação lógica do trabalho e tem por objetivo explicar discutir e demonstrar a Explicar é tornar evidente ou compreensível o que estava obscuro ou complexo é descrever classificar definir b Discutir é aproximar comparativamente questões antagônicas ou convergentes c Demonstrar é argumentar provar apresentar ideias que se sustentam em premissas admitidas como verdadeiras O desenvolvimento do trabalho começa a se materializar no momento em que o pesquisador estabelece os objetivos e o plano de assunto da pesquisa Os objetivos específicos devem servir de base para a composição dos capítulos 76 Capítulo 4 A elaboração do plano de assunto por sua vez permite que se visualize a estruturação do trabalho em suas divisões e subdivisões Enquanto o desenvolvimento representa a parte analítica do trabalho a conclusão representa a parte sintética Analisar é decompor em partes e sintetizar é recompor as partes que foram decompostas na análise 723 Conclusão A conclusão é a parte que finaliza a construção lógica do trabalho e deve fazer um balanço geral dos principais resultados alcançados Não é conveniente detalhar ideias que não tenham sido tratadas no desenvolvimento e nem se deve apresentar um mero resumo do trabalho Entretanto na parte inicial podemos relembrar de maneira breve as principais ideias que foram expostas no decorrer dos capítulos A conclusão deve apresentar um posicionamento reflexivo na forma de interpretação crítica das principais ideias apresentadas no texto Deve definir o ponto de vista do autor e trazer sua marca pessoal O trabalho também deve ser avaliado quanto ao seu alcance e limitações Quanto ao alcance é importante realçar ou valorizar os resultados afinal foram despendidos esforços para se chegar aonde se chegou Quanto às limitações é importante que se reconheçam as fraquezas ou qualquer dificuldade que tenha ameaçado a qualidade ou o caráter de cientificidade do trabalho Ao final da conclusão você pode vislumbrar apenas apontar sem desenvolver outros temas que mantenham relação com o tema pesquisado e que possam ser investigados em novas pesquisas 73 O estilo na redação de um texto científico Os elementos que enfatizam o estilo na redação de um texto científico em geral são objetividade clareza e concisão simplicidade e coerência a Objetividade linguagem direta sem considerações irrelevantes com as ideias apresentadas sem ambiguidade e utilizando frases curtas e simples com vocabulário adequado ao tema proposto na redação b Clareza e concisão expressar as ideias em poucas palavras evitando a argumentação muito abstrata e a repetição desnecessária de detalhes que não sejam relevantes à fundamentação do tema abordado na redação 77 Universidade e Ciência c Simplicidade utilizar apenas as palavras necessárias para o entendimento do tema da redação evitando o abuso do uso de jargões técnicos e de sinônimos pelo simples prazer da variedade de palavras d Coerência as ideias devem ser apresentadas segundo uma sequência lógica e ordenada permitindo ao leitor acompanhar o raciocínio do autor da redação do começo ao fim Outros aspectos a serem considerados ao escrever o texto acadêmico a não misturar as pessoas verbais escolhendo apenas uma pessoa para compor o seu texto uso da 1ª pessoa do plural ou 3ª pessoa do singular em outras palavras manter a uniformidade na escolha b evite iniciar ou terminar a redação dos capítulos com citação seja direta ou indireta pois essa citação tem a função de endossar ou de ajudar na argumentação das ideias do autor da redação 74 Gêneros discursivos típicos da esfera acadêmicocientífica Na esfera acadêmicocientífica há alguns gêneros discursivos essenciais à vida acadêmica e que precisam ser apropriados dado que as pesquisas realizadas estruturamse a partir desses gêneros discursivos Assim convidamos você a acessar o EVA São apresentados lá gêneros como resumo resenha crítica artigo científico paper position paper relatório técnicocientífico e monografia 79 Considerações Finais A universidade é o lugar que não só reflete o atual momento do conhecimento e das relações sociais como também produz mudanças a nossa maneira de agir e compreender visando a transformações É um espaço de criaçãosocialização do conhecimento principalmente o científico acerca das dinâmicas do mundo seja no âmbito das relações sociais políticas econômicas tecnológicas seja no contexto de questionamentos aparentemente simples Tais conhecimentos são validados ou não por meio do processo de pesquisas cujos resultados devem vir ao encontro da manutenção e transformação da vida em sociedade Mais do que espaço de reflexão crítica de produção do conhecimento é preciso considerar a universidade uma instância em que se articulem conhecimentos ao compromisso de transformação da sociedade tornandoa justa A universidade somos todos nós que pensamos questionamos produzimos conhecimentos e passamos a enxergar o mundo por olhos críticos indo além da contemplação E assim ocupar um campo investigativo mais profundo pautado nos métodos científicos que fundamentam a pesquisa e validam seus resultados e essencialmente pautado em nosso compromisso social A unidade de aprendizagem Universidade e Ciência está exatamente nesse contexto e em função disso nas páginas desse livro percorreram conceitos que fundamentam e legitimam a Universidade dentro da tríade indissociável do ensino da pesquisa e da extensão Ao longo dos quatro capítulos são oferecidos a vocês estudantes meios necessários para que possam enxergar o mundo por olhos críticos para ocupar um campo investigativo e desenvolver conhecimentos Assim caminhase nesta unidade de aprendizagem pelo próprio conhecimento que se deve ter do funcionamento da linguagem da leitura e da escritaautoria em gêneros que circulam nas esferas acadêmicas sem perder de vista o nosso compromisso com toda a sociedade Os conteúdos apresentados neste livro não pretenderam esgotar todas as informações referentes à Unidade de Aprendizagem até porque muitos dos conteúdos a serem estudados estarão disponíveis no Espaço Virtual de Aprendizagem mas sem sombra de dúvida permitiram o acesso com consistência às informações iniciais para aquele que tem a pretensão de iniciar se no mundo da pesquisa e da vida acadêmica Agradecemos sua companhia e mais uma vez enfatizamos o desejo de que este livro tenha contribuído para o seu itinerário formativo e oferecido informações necessárias para fazer ciência e pesquisa desenvolvendo as habilidades e competências apresentadas como objetivos do presente estudo Um grande abraço 81 Referências ALVES Rubem Ler pouco 2008 Disponível em httpsrubemalveswordpress com Acesso em 20 de maio 2016 Pensar 2008 Disponível em httpsrubemalveswordpresscom Acesso em 10 mar 2016 Apocalipsetotalwordpresscom 2013 Disponível em https esquadraodoconhecimentofileswordpresscom201312chargebrasil educac3a7c3a3opessoasjpgjpg Acesso em 16 maio 2016 COELHO Cínthia Nascimento O papel da universidade brasileira Revista Ietec2009 Disponível em httpwwwtechojecombrsitetechojecategoria detalheartigo772 Acesso em 20 fev 2015 BRASIL Orientações e Ações para a Educação das Relações ÉtnicoRaciais MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA 2016 Disponível em httpportalmec govbrdmdocumentsorientacoesetnicoraciaispdf Acesso em 20 maio 2016 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações ÉtnicoRaciais e para o Ensino de História e Cultura AfroBrasileira e Africana 2004 Disponível em httpwwwacaoeducativaorgbrfdhwpcontent uploads201210DCNsEducacaodasRelacoesEtnicoRaciaispdf Acesso em 18 maio 2016 1998 PCN terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental língua portuguesaSecretaria de Educação Fundamental Brasília MECSEF 1998 pp6970 BAKHTIN M Os gêneros do discurso In Estética da criação verbal São Paulo Martins Fontes 1992 BARRAL Welber Metodologia da pesquisa jurídica 2 ed Florianópolis FUncação Boitex 2003 BARRETO Alcyrus Vieira Pinto HONORATO Cezar de Freitas Manual de sobrevivência na selva acadêmica Rio de Janeiro Objeto Direto 1998 CASSIAN Suzani LINSINGEN Irlan von GIRALDI Patrícia Montanar Histórias de leituras produzindo sentidos sobre Ciência e Tecnologia 2011 Disponível em httpwwwscielobrpdfppv22n106pdf Acesso em 18 mar 2016 82 Universidade do Sul de Santa Catarina CASTELLOPEREIRA Leda Tessari Leitura de estudo ler para aprender a estudar e estudar para aprender a ler Campinas SP Editora Alínea 2003 COSTA Evaldo O poder da linguagem Disponível em httpwww dicasprofissionaiscombropoderdalinguagem Acesso em 04 maio 2016 DAMBRÓSIO Ubiratan Prefácio In BORBA Marcelo de C ARAUJO Jussara de L Org Pesquisa qualitativa em educação matemática Belo Horizonte Autêntica 2004 p 1123 ECO Umberto Sobre a literatura Rio de Janeiro Record 2003 GIL A C Como elaborar projetos de pesquisa 4 ed São Paulo Atlas 2002 HEERDT Mauri Luiz LEONEL Vilson Metodologia científica disciplina na modalidade a distância 2 ed rev Palhoça UnisulVirtual 2006 HENRIQUES Antônio MEDEIROS João Bosco Monografia no curso de Direito como elaborar o Trabalho de Conclusão de Curso TCC 8 ed São Paulo Atlas 2014 LIMA Jorge de Poesia completa Rio de Janeiro Nova Fronteira 1980 2 v v 1 p 237 MENDES Murilo Poemas Rio de Janeiro José Olympio 1959 MOTTA Alexandre de Medeiros O TCC e o fazer científico da elaboração à defesa pública 2 Ed Ver Ampl E atual Tubarão ED Copiart 2015 OLIVIER Wladimir Paródia Usina das Letras Disponível em httpwww usinadeletrascombrexibelotexto Acesso em 3 abr 2016 ORLANDELI Walmir Américo Disponível em httparquiteturadpalavrablogspot combr 2013 Acesso em 13 maio 2016 ORLANDI Eni P Discurso e leitura Campinas Unicamp 2006 PLATÃO Francisco Savioli FIORIN José Luiz Lições de texto leitura e redação 5 ed São Paulo Ática 2007 PINTO R O interacionismo sociodiscursivo a inserção social a construção da cidadania e a formação de crenças e valores do agir individual In GUIMARAES A M M MACHADO A R COUTINHO A Interacionismo sociodiscursivo questões epistemológicas e metodológicas CampinasSP Mercado das Letras 2007 RICHARDSON Roberto Jarry Pesquisa Social métodos e técnicas 3 Ed São Paulo Atlas 1999 Universidade e Ciência 83 RICHTER Marcos Gustavo Ensino do português e interatividade Santa Maria Editora da UFSM 2000 SABBAG Sandra Papesky Práticas de leitura e reflexão para uma educação sustentável 2012 Disponível em httpswwwgrupoacombrrevistapatio artigo7957praticasdeleituraereflexaoparaumaeducacaosustentavelaspx Acesso em 13 maio 2016 SOARES Jô Canção do Exílio às avessas In Recanto poético Disponível em httprecantopoeticolettig3blogspotcombr201204cancaodoexilioas avessasjosoareshtml 2012 Acesso em 13 abr 2016 TRINDADE Hélgio Saber e poder os dilemas da universidade brasileira Estudos avançados v 14 n 40 São Paulo setdez 2000 Disponível em httpwww scielobrscielophpscriptsciarttextpidS010340142000000300013 Acesso em 20 jun 2014 85 Sobre os Professores Conteudistas Alexandre De Medeiros Mota É natural do município de Tubarão SC é graduado em Estudos Sociais e História pela extinta Fundação Educacional do Sul de Santa Catarina FESSC atual Universidade do Sul de Santa Catarina UNISUL especialista em Metodologia do Ensino Superior também pela extinta FESSC mestre em Ciências da Linguagem pela UNISUL desde 2005 Atuou como professor de História no ensino fundamental e médio nas redes de ensino público e privada do município de Tubarão Desde 1987 atua como professor nos cursos de graduação e de pósgraduação da Unisul tanto na modalidade presencial quanto a distância principalmente nas disciplinas da área de pesquisa Por ora coordena também as Licenciaturas de História e de Geografia da Unisul Conceição Aparecida Kindermann Graduada em Letras PortuguêsInglês e suas respectivas literaturas Especialista em Metodologia para o Ensino Mestre em Ciências da Linguagem com foco no estudo de gêneros textuaisdiscursivos e doutoranda também em Ciências da Linguagem Pesquisadora na área de EaD e constituição do sujeito autor e leitor em Análise de Discurso de linha francesa É professora da Universidade do Sul de Santa Catarina onde atua tanto no ensino presencial quanto a distância Diane Dal Mago Possui graduação em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina 1997 e mestrado em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina 2001 Atualmente é professora horista da Universidade do Sul de Santa Catarina UNISUL onde ministra disciplinas referentes à área de Língua Portuguesa tanto no ensino presencial quanto a distância Tem experiência na área de Linguística com ênfase em sociolinguística atua principalmente nos seguintes temas variação mudança e marcador discursivo Já atuou com professora de pós graduação com a disciplina de Gramática e Ensino e também trabalhou de 2006 a 2010 na elaboração de projetos pedagógicos do ensino a distância tanto de graduação quanto de pósgraduação na UNISUL Além do trabalho docente na Universidade do Sul de Santa Catarina também faz revisão ortográfica de material didático da Unisul Virtual 86 Universidade do Sul de Santa Catarina Josefina Maria Hassmann Nasceu em BrusqueSC É pósgraduada em Língua Portuguesa pela Univali 1992 e Graduada em Licenciatura em Letras pelas FURB 1976 Atua como professora em diversas disciplinas ligadas a sua área de formação acadêmica Tem também diversas participações em Bancas examinadoras Patricia Da Silva Meneghel Doutora em Ciências da Linguagem Mestre em Educação e graduada em Ciência da Computação pela Universidade do Sul de Santa Catarina Atualmente é professora titular da Universidade do Sul de Santa Catarina Presencial e Virtual e Gestora das Unidades de Aprendizagem Virtual UAV da UnisulVirtual