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PRESENÇA DE D PEDRO II NA PARAÍBA I CIDADE DA PARAÍBA UM PEQUENO AGLOMERADO URBANO A Cidade da Paraíba no início da segunda metade do século passado era como as demais capitais das menores Províncias do Império um aglomerado urbano pequeno pobre e dos mais atrasados O total de sua população não pode ser afirmado com precisão por falta de dados à base de censo oficial o primeiro censo viria somente no ano de 1872 Temos por isso de nos arrimar quanto à estimativa populacional nos levantamentos empíricos feitos pelas Prelazias em 1850 sem técnicas censitárias e portanto falhos em seu conteúdo Entretanto cremos que a nossa Capital em 1859 possuía cerca de 25 mil habitantes entre brancos pretos e mestiços A Cidade como ainda hoje tinha as suas áreas funcionais condicionadas à sua topografia a parte alta e a parte baixa Esta última era mais conhecida como Varadouro A primeira daquelas áreas a al ta tinha 17 ruas travessas e becos sendo as principais a Rua Nova da Misericórdia da Matriz das Mercês da Cadeia das Trincheiras e o Largo do Erário O Varadouro a área baixa contava com 16 artérias entre ruas travessas e becos devendo ser salientadas dentre elas as ruas das Convertidas do Varadouro da Areia do Império da Viração do Quartel e das Flores Excetuandose a Rua Direita e uma parte do Varadouro as demais não eram calçadas apresentando aspecto deplorável na época da estação invernosa com o lamaçal envolvendo as suas dimensões esburacadas e com grandes sulcos produzidos pela erosão das águas pluviais daí as dificuldades do trânsito dos pedestres e dos veículos a tração animal Faziase necessário então tão logo cessassem as chuvas que o Poder Público restaurasse essas vias citadinas em face dos estragos provocados pelas enxurradas aliás nem sempre isto era realizado com presteza e a contento Nem todas as ruas eram ocupadas por edificações havendo em sua grande maioria construções esparsas descontínuas Geralmente entre uma e outra casa havia sempre espaço suficiente para o preparo de um jardim mesmo nas áreas destinadas às novas construções No Centro correspondente hoje à Rua Direita isto ocorria com menor incidência em sua maioria com as naturais exceções havia interligação As casas residenciais tinham a arquitetura típica da época baixas beiral lançando à água do seu telhado em dias de chuvas na calçada às vezes no próprio leito da rua aumentando os agentes erosivos e dificultando ainda mais o trânsito de quantos procu ravam nesses dias abrigarse junto às paredes Era comum este espetáculo o pedestre compelido a caminhar no leito da rua quase sempre convertido em um único atoleiro aos saltos transpondo os lamaçais e os sulcos encharcados Surgia a vegetação comum ao ambiente a erva o bredo o capim rasteiro medravam nas ruas servindo quase sempre de pasto para carneiros vacas e burros Frequentemente o lixo era jogado negligentemente pelos escravos na via pública em frente às moradias ou terrenos baldios das cercanias Em Sobrados e Mucambos Gilberto Freyre recordou este quadro nordestino Os logradouros que apresentavam maior concentração de edificações por ordem numérica eram as ruas das Convertidas Direita e da Areia Tinham todas elas em 1859 aproximadamente 1500 casas não chegando a possuir 50 sobrados número reduzido pertencentes em sua maioria à aristocracia rural A Rua Direita orgulhavase de possuir quase duas dúzias desses sobrados senhoriais vindo logo em seguida o Varadouro e a Rua das Corvertidas com cifras mais reduzidas Algumas casas tinham ornatos em suas janelas de guilhotinas com vidros em cores e balcões de cantaria lavrados com acentuado bomgosto artístico A densidade populacional era maior nas artérias que hoje formam as ruas Direita Nova da Areia e Maciel Pinheiro A zona de Tambiá por exemplo era constituída de chácaras cada uma possuindo até vários hectares de terra Em esforço válido de racionalização e uniformidade urbanísticas evitandose as disparidades até então reinantes o Presidente da Província Ambrósio Leitão da Cunha sancionou a Lei nº 26 de 30 de setembro de 1859 que disciplinava a construção das edificações estipulando a altura das fachadas das casas dos sobrados e de suas janelas como também a largura estabelecendo ainda normas no preparo das construções das calçadas que deveriam ser revestidas de pedras lageadas Tal legislação proibia degraus de pedras ou tijolos do lado exterior da construção mandando retirar dentro de um ano os existentes Proibia ainda a existência de canos de esgotos com lançamento nas ruas de dejetos ou líquidos que não fossem águas pluviais assim como ordenava a colocação de calhas nas extremidades dos telhados voltados para as ruas A maioria das ruas não possuía sequer meiofio e as casas não estavam em alinhamento perfeito existindo umas mais recuadas e outras mais salientes Por outro lado não havia regularidade em sua largura ora com uma dimensão ora com outra ao longo de sua extensão A lei citada mandava que fosse de 80 palmos para as novas ruas abertas na cidade e nos povoados do seu termo Estas e outras medidas foram tomadas com o intuito exclusivo de amenizar o feio quadro urbanístico da Cidade que mais fazia lembrar uma metrópole medieval Na época eram comuns os banhos de pessoas despidas na Fonte Pública de Tambiá em Gravatá na Cacimba do Povo na Fonte dos Milagres e de Maria Feia No cais da Cidade também se tomava banho da mesma maneira sem roupas Hábito herdado do índio mesmo salutar e prático feito com naturalidade não mais se enquadrava numa Cidade que aos poucos ganhava foros de cidade civilizada o hábito deixou de ser praticado por força de lei passando o Poder Público a multar os infratores com dois mil réis os que se banhassem despidos de 6 às 19 horas se reincidente com o dobro do gravame estipulado Não era raro o encontro de homens nas ruas apenas de calças sem camisas isto foi também vedado pela legislação editada e o infrator que incidisse na vedação estaria sujeito a multa de igual valor nos casos de banhos em total nudez nas Fontes Públicas A água de boa qualidade era retirada das cacimbas existentes no fundo dos quintais puxada em latas amarradas a cordas ou então trazida em barris das Fontes Públicas no lombo de burros tangidos por escravos ou ainda comprada àqueles que se dedicavam a tais encargos de abastecimento residencial do líquido A Cidade não tinha saneamento sendo os banheiros localizados fora do corpo da casa no quintal junto às fossas nem sempre existentes com os requisitos higiênicos compatíveis Os edifícios públicos eram em pequeno número sem imponência com precária conservação O Palácio da Presidência ocupava desde 1771 a Casa do Colégio dos Jesuítas localizandose aí em outra ala ocupada pelos Seminários dos Jesuítas as dependências do Liceu A Cidade contava também com uma Cadeia o Prédio Novo por ser de construção mais recente a Casa do Tesouro Provincial e a Casa da Pólvora assim como possuia Quartel para o Corpo da Guarnição e para o Corpo de Polícia Entretanto as Igrejas apresentavam marcante imponência em suas construções grande beleza arquitetônica com seus lavores em madeira ou canta ria Na realidade esses templos católicos davam certo prestígio à paisagem urbana da Cidade da Paraíba Podemos citar alguns devorados pela pressão do progresso como as igrejas das Mercês da Conceição do Rosário Outros ainda permanecem como testemunhos de uma época e em abono de nossa afirmação decorridos tantos anos superando mesmo as edificadas posteriormente a Igreja e Mosteiro de São Francisco possuidora do mais amplo e artístico adro do Brasil com seus azulejos descrevendo a história de José do Egito e seus altares entalhados em madeira e revestidos a ouro o Convento de Nossa Senhora do Carmo e a sua bela Igreja a Igreja da Santa Casa construída por Duarte Gomes da Silveira Senhor de Engenho que a levantou às suas expensas e nela está sepultado ao lado de sua mulher a Igreja do Senhor do Bomfim onde estiveram expostas as cabeças e as mãos dos mártires paraibanos da malograda Revolução de 1817 e ainda a Matriz de Nossa Senhora das Neves Algumas dessas Igrejas conservavamse abertas até às 20 horas e grande número de sepultamentos era feito em suas dependências A partir de 1850 esta prática foi diminuindo com a construção do Cemitério do Senhor da Boa Sentença edificado com o investimento de dois contos de réis A partir de 21 horas era dado o toque de silêncio e de recolhimento na Cidade simultaneamente pelos sinos das Igrejas de São Francisco São Bento e do Carmo Como a Cidade era pequena e não houvesse qualquer poluição sonora a ordem era ouvida em toda a área citadina morrendo as ondas sonoras muito além do perímetro urbano Silenciados os sinos eram fechadas as portas das poucas casas de comércio com o recolhimento dos respectivos proprietários ao interior de cada uma ali onde normalmente moravam Permaneciam abertas no entanto as boticas onde eram aviadas as receitas subscritas pelos poucos facultativos existentes Nessa época não contávamos com um teatro A primeira casa do gênero de iniciativa particular localizada na Rua da Areia já havia encerrado as suas atividades Somente no ano de 1861 José de Lima Penante contou com a colaboração de alguns amigos para abrir no Largo das Mercês atual Praça 1817 o Ginásio Paraibano no exato local onde hoje se ergue a Igreja Presbiteriana Uma referência especial merece a situação da iluminação pública da Cidade Com efeito as ruas becos largos e travessas em número de 40 eram iluminados por uma centena de lampiões providos de candieiros com pavios de algodão alimentados a óleo de mamona ou de peixe Os lampiões quase sempre eram presos a um suporte de ferro na maioria das vezes chumbado na parede das casas de preferência numa esquina Como seu número fosse pequeno os lampiões eram também colocados à grande distância um do outro mesmo tratandose de uma Cidade pequena a reduzida luz produzida mergulhava as artérias em penumbra fato que denunciava a precariedade da iluminação Sair à noite depois do toque de recolher seria quase temeridade somente em casos especiais de muita urgência a população ousava fazêlo Mesmo assim eram tomadas as necessárias precauções Quem saísse à rua era sempre acompanhado de escravos conduzindo archotes O Governo entregava o serviço de iluminação pública a adjudicatários que se obrigavam a conservar em bom estado e em perfeito funcionamento os lampiões estes deveriam permanecer acesos sempre que preciso A iluminação da Capital custou aos cofres da Província no ano de 1859 a importância de oito contos de réis com os gastos assim distribuídos seis contos com a manutenção e dois na aquisição de novos lampiões Eis o primeiro indício prático das providências adotadas pela Cidade na preparação da visita do Imperador D Pedro II que todos chamavam a visita imperial Os lampiões permaneciam acesos das seis e meia da tarde às cinco da manhã em noites de maior escuridão Em noites de luar eram acesos um quarto de hora antes da lua desaparecer assim ficavam até o amanhecer Nas quatro noites subsequentes à Lua Nova os lampiões continuavam iluminando das seis e trinta às cinco da manhã Por outro lado em noites de Lua Cheia permaneciam apagados durante as duas noites que a antecediam e acompanhavam a fase lunar A Cidade ainda possuía segundo os registros daquela época aspectos particulares e interessantes A medicina de então era das mais atrasadas Nada ou quase nada poderia fazer para debelar as febres como eram rotulados todos os processos infecciosos acompanhados de elevação de temperatura Morriase de febre tifóide infecção endêmica em grande parte decorrente da falta de cuidados higiênicos de febre amarela impaludismo caimbras de sangue sífilis cólera etc Nessa época e mesmo anos depois os facultativos ainda acreditavam nos miasmas como se depreende da leitura do Relatório de um médico do século passado que dizia Este fenômeno que se repete anualmente só pode ser expli cado pelo excesso de miasmas palustres e telúricos que desprendese dos inúmeros focos de infecção existentes dentro e fora do perímetro desta Capital A terapêutica girava em torno dos chás sinapismos sangrias e clysters Sangravamse os hemorragicos aplicavamse purgativos nos disentéricos e para esconder a ignorância usavamse expressões em trôpego latim A Cidade contava com o Hospital Militar e o da Santa Casa de Misericórdia aquele atendia aos militares e este aos indigentes que quase sempre morbriam buscando a cura Os pacientes ricos eram tratados em casa não se internavam no hospital A Instrução não poderia ter outra imagem limitavase a poucas e precárias escolas de primeiras letras nas quais os alunos aprendiam a ler e a escrever assim como rudimentos de aritmética e catecismo Existiam ainda aulas de latim nas quais os alunos liam e traduzíam clássicos da língua referida O ensino no Liceu era mais eficiente preparando aqueles que iam estudar Direito em Olinda ou Medicina no Rio de Janeiro Nesse educandário eram ensinadas as seguintes cadeiras Latim Francês Retórica Poética Geografia e História Filosofia Racional e Moral Trigonometria Aritmética Geometria Álgebra até equação do segundo grau e Desenho Seguiase a duras penas o sistema de ensino em vigor no Império Era esta em síntese a situação geral da Cidade da Paraíba antes de um auspicioso evento a visita do Imperador D Pedro II II RUMO AO NORDESTE Desde cedo o Imperador D Pedro II manifestou desejo de conhecer as Províncias do Império não somente como estudioso também como Chefe de Estado Não poucas vezes ele ressaltou o interesse de ver in loco as necessidades peculiaridades e particularidades de cada região imperial para envolver uma visão global da grande Nação que governava Parecialhe indispensável esse conhecimento a fim de que mais seguramente pudesse adotar providências quanto às diversas áreas geográficas do Império em proveito do desenvolvimento nacional Assim por motivos circunstanciais decidiu começar pelo Sul indo em 1845 às Províncias de Santa Catarina São Pedro do Rio Grande do Sul e São Paulo Quatorze anos depois em 1859 deliberou empreender a segunda excursão fixandose nas Províncias do Norte e do Nordeste regiões sabidamente das mais atrasadas como aliás ainda hoje ocorre em confronto com o CentroSul do País D Pedro II formalizou a comunicação oficial do seu intento através da Fala do Trono de 11 de setembro de 1859 assim expressandose Para melhor conhecer as Províncias do meu Império cujos melhoramentos morais e materiais são o alvo de meus constantes desejos e dos esforços do meu Governo decidi visitar as que ficam ao Norte do Rio de Janeiro sentindo que a estreiteza do tempo que media entre as sessões legislativas me façam a percorrer somente as Províncias do Espírito Santo Bahia Sergipe Alagoas Pernambuco e Paraíba reservando a visita às outras para mais tarde Durante seu longo Reinado foi impedido por motivos de ordem pessoal e política de visitar todo o Brasil Disto queixouse no exílio poucos dias antes de morrer em conversa com Taunay Eis o que Taunay lhe ouviu Se voltasse ao Brasil trataria de satisfazer logo um ardente desejo que tenho o de visitar cinco vastas circunscrições da nossa terra que não conheço de visu Mato Grosso Goiás Maranhão Pará e Amazonas Assim apagaria uma lacuna que muito me aflige Mesmo no exílio pobre doente despojado do seu poder temporal e esquecido por aqueles que mais dele receberam excetuados os poucos amigos leais que o acompanharam seu pensamento continuava voltado para a Nação que sabiamente governou durante quase meio século Resolvida a realização da viagem D Pedro II designou através dos canais competentes os membros da sua comitiva que ficou assim constituída Visconde de Sapucahy camareiro Conselheiro Luiz Pereira do Couto Ferraz veador Conselheiro Antonio Manuel de Melo guardaroupa Dr Francisco Bonifácio de Abreu médico da Imperial Câmara Dr Antonio de Araujo Ferreira Jacobina mordomo Cônego Antonio José de Melo capelão Dona Josefina da Fonseca Costa dama da Imperatriz Conselheiro João de Almeida Pereira Filho Ministro e Secretário dos Negócios do Império e Dionísio Antonio Ribeiro Feijó Oficial de Gabinete Além destes ainda figurou na comitiva imperial um escalão de segunda linha auxiliar com nomes inscritos nos livros da Mordomia um mestre de copa e seu ajudante um maitre de cozinha três cozinheiros sendo um de 1ª classe e dois de 2ª mais um ajudante um padeiro a criada particular da Imperatriz Maria José da Conceição de Araujo o criado particular do Imperador Manuel Joaquim de Paiva um escriturário seis moços da prata um varredor um moço de montaria cinco cocheiros três moços da estribeira três moços auxiliares subalternos e quatro escravos A Família Imperial embarcou no vapor APA da Companhia Brasileira de Paquetes a Vapor comboiado pela Fragata Amazonas pela Canhoneira Belmonte e pela Corveta Paraense A esquadra assim composta era comandada pelo ViceAlmirante Joaquim Marques Lisboa futuro Marquês de Tamandaré No APA embarcaram além de Suas Majestades o futuro Marquês de Tamandaré acompanhado de seu Ajudante de Ordens Primeiro Tenente Manuel Carneiro da Rocha seu Secretário Primeiro Tenente Antônio Marcelino da Ponte Ribeiro Conselheiro Luiz Pereira o visconde de Sapucahy Conselheiro Antonio Manuel de Melo Dr Francisco Bonifácio de Abreu Antonio de Araujo Ferreira Jacobina Cônego Antônio José de Melo D Josefina da Fonseca Costa Con selheiro João de Almeida Pereira Filho e Dionísio Antônio Feijó O vapor APA possuía a seguinte oficialidade Comandante Capitão de Mar e Guerra Francisco Pereira Pinto Oficiais Capitão de Fragata José Secundino Gomensoro CapitãesTenentes João Carlos Tavares e Francisco Edwiges Brício e o Dr Propício Pedroso Barreto de Albuquerque médicocirurgião A Fragata Amazonas era comandada pelo CapitãoTenente Teotônio Raimundo de Brito e contava com a seguinte tripulação PrimeirosTenentes José Manoel de Araujo Cavalcanti de A Lins Silvino José de Carvalho Rocha Henrique Francisco Martins e Bonifácio Joaquim de Santana Guarda Marinha José Carlos Palmeira Dr Francisco Henriques da Costa Cirurgião e Capelão Padre João de Santa Presciliana Melo A Canhoneira Belmont era comandada pelo PrimeiroTenente Antonio de Mariz e Barros contando com a seguinte oficialidade SegundoTenente João Antônio Alves Nogueira GuardaMarinha Frederico G Lorena Conduzia também o Dr Joaquim Monteiro Caminhoá médicocirurgião Por sua vez a Corveta Paraense viajou sob o comando do CapitãoTenente Delfim Carlos de Carvalho e a seguinte tripulação PrimeirosTenentes Joaquim Guilherme Melo Carrão João Evangelista Cordeiro de Araujo Lima e Pedro Ferreira de Oliveira além do Dr Ermelino Cesar da Silva cirurgião Um fato merece especial saliência todas as despesas efetuadas com a viagem à Paraíba e às demais Províncias correram por conta pessoal de D Pedro II como se o Imperador estivesse empreendendo uma excursão turística para regalo íntimo como se não estivesse no desempenho de um dever inerente às suas funções conspícuas Não dispondo de numerário bastante naquela ocasião D Pedro II teve que fazer empréstimos o primeiro dos quais da ordem de vinte contos de réis Os membros de sua comitiva e os empregados foram gratificados regiamente pelos serviços prestados durante toda a viagem realizada O total despendido com as gratificações distribuídas elevouse em demasia tendose em vista os preços correntes na época ultrapassando a casa dos sete contos de réis Por isso algumas dessas gratificações tiveram de ser pagas parceladamente como foi o caso da Dama da Imperatriz que recebeu a importância de 3600000 em seis prestações III EXPECTATIVA DA CHEGADA Governava a Província da Paraíba o Dr Ambrósio Leitão da Cunha natural do Pará e formado em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de São Paulo contava então apenas 34 anos de idade Após a visita do Imperador foi ele agraciado com o título de Barão de Mamoré ostentava ainda os graus de Comendador da Ordem da Rosa e da Ordem de Cristo Em 12 de agosto de 1859 o Presidente da Província recebeu ofício do Senhor Ministro dos Negócios do Império comunicando que Suas Majestades visitariam a Paraíba ao mesmo tempo enviava o oficiante a importância de um conto de réis para a cobertura das despesas que seriam feitas nos alojamentos onde deveriam ficar Suas Majestades Em 6 de setembro do mesmo ano o Dr Ambrósio Leitão receberia mais três contos de réis para a aquisição de mobílias e objetos de decoração O Palácio da Presidência da Paraíba funcionava no antigo Colégio dos Jesuítas a construção da tando do século XVIII fora adaptada às novas exigências depois de pequenas reformas Não dispunha o casarão dos requisitos de conforto e bomgosto à altura da hierarquia dos visitantes Era de todo necessário remodelar seu interior com a substituição total ou parcial dos móveis revestimento de paredes colocação de tapetes etc A situação preocupava o Presidente da Província que sobre o assunto dirigiu ofício ao Ministro dos Negócios da Fazenda Conselheiro Angelo Muniz da Silva Ferraz da leitura do ofício depreendese o estado de penúria da Residência Presidencial na Paraíba O expediente com efeito dizia Havendome V Exa determinado que fizesse decorar o Palácio da Presidência onde devem residir SS MM II enquanto aqui estiverem vi logo que não existe no Palácio cousa alguma que pudesse ser aproveitado convenientemente para o serviço de SS MM no estado em que se achava A mobília toda da casa o serviço de mesa eram tão ordinários ou deficientes que forçosamente deviam ser substituídos ou aumentados Além disso as salas e quartos ou não tinham papel nas paredes e esteiras no chão ou as tinham completamente estragados Nestes termos resolvi o caso de modo conveniente a receber Sua Majestade não com luxo mas ao menos com a necessária decência o que não pude conseguir apesar da mais restrita economia que empreguei para haver a mobília e objetos de decoração sem que as respectivas contas se elevassem a 6797920 A adjudicação a terceiros da tarefa de adaptar o Palácio para a residência temporária de Suas Majestades Imperiais critério que prevaleceu na Bahia não se tem notícia sobre se igualmente em Pernambuco pareceu ao Presidente Ambrósio Leitão não ser compatível com a dignidade do Governo nem com o decoro nacional mormente em proveito de uma economia de dois ou três contos de réis muito insignificante acrescentou o Presidente ao meu ver em relação ao objetivo extraordinário e elevado de que se tratava O comerciante Francisco Alves de Souza Carvalho foi incumbido de adquirir no Rio de Janeiro e em Pernambuco a mobília e o material de decoração a serem utilizados no Palácio da Presidência Eis a relação dos equipamentos adquiridos por aquele comerciante para esse fim autorizado pelo Governo da Província uma mobília completa de último gosto para a sala de recepção 158 côvados de tapetes finos para o chão da mesma sala e 13 ditos para o docel uma cama para casados com todos os acessórios bem como mobília e utensílios próprios de um quarto para Suas Majestades Imperiais e 2 ditos de vestir um para Sua Majestade o Imperador e outra para Sua Majestade a Imperatriz um serviço fino e completo para almoço jantar e chá 50 peças de papel fino para forro das salas e alcovas 225 jardas de esteira para chão de salas e quartos O Governo ainda comprou outros objetos indispensáveis à dignidade dos ilustres hóspedes um serviço de prata lavrada para refeições outras mobílias destinadas às demais dependências de salas e quartos sem considerar os utensílios para o décor de porcelana bronze e cristais para embelezamento dos ambientes interiores do Palácio Com o Palácio futuro Paço foi despendida a importância de 6797920 Como só dispusesse o Presidente de uma verba extraordinária de 4 contos de réis concedida pelo Ministro dos Negócios da Fazenda foi necessário solicitar reforço do numerário correspondente à diferença no valor de 2797920 A solicitação foi de pronto atendida ante as justificativas apresentadas principalmente a falta de meios financeiros nos cofres da Província O Governo preparava a cidade para receber os augustos visitantes As despesas iam subindo em progressão geométrica obrigando a Assembléia Legislativa a decretar sob sanção do Presidente a Lei nº 30 de 3 de outubro de 1859 O Presidente ficou autorizado por ela a despender nas forças do cofre provincial a quantia que for necessária para solenizar convenientemente a honrosa e patriótica visita de Sua Majestade Apesar da amplitude da autorização contida na referida Lei ficava ainda o Presidente arcando com despesas muito superiores aos parcos recursos do Tesouro Provincial No decurso da conjuntura eis que recebe dos abastados sobretudo os componentes da aristocracia rural uma ajuda financeira para acudir às despesas elevadas da época com a recepção programada A cidade preparavase para a visita Imperial com a limpeza do mato e o conserto dos buracos nas vias públicas principalmente nas artérias por onde deveria passar o cortejo de Sua Majestade As casas foram caiadas por dentro e por fora retirandose o musgo que medrava nos beirais das residências Os castiçais das Igrejas e das casas particulares os candieiros de cobre e bronze foram polidos com limão sal vinagre e cinza de borralho Os militares inspe cionavam seus comandados verificando o estado de conservação das fardas bonés espingardas sabres e espadas As damas da sociedade faziam descer das prateleiras peças e mais peças de seda francesa transformadas em vestidos a serem exibidos nas várias solenidades Havia no movimento da cidade uma excitação inusitada a visita de Suas Majestades tonificava o clima social como assunto dominante em todas as rodas e conversações O regozijo contagiava era geral atingia todas as camadas da comunidade Os móveis residenciais de jacarandá amarelo vinhático mogno e jurema passaram a ser restaurados e envernizados as palhinhas das cadeiras canapés sofás e conversadeiras foram substituídas por outras novinhas Janelas e portas receberam guarnições de cortinas adamascadas ou de cassa Escravos foram postos a trabalho dobrado limpando lavando escovando dando em tudo um ar de novo A cidade vivia uma atmosfera diferente na aproximação da data de tão auspiciosa visita Nas cosinhas grandes espaçosas mas quase sempre mal iluminadas com pisos de tijolo cosido não faltava a fumaça da lenha usada nos fogões onde também a azáfama não era pequena o correcorre era constante Os tachos de cobre foram areados polidos e entregues às escravas quituteiras que neles preparavam doces de coco caju peluche banana e demais frutas da estação Não esqueceram as donas de casa de fazer os bolinhos de goma raivas sequilhos e cavaquinhos juntando massa de mandioca para a preparação dos pésdemoleque e outras guloseimas Não havendo hotéis todos ou quase todos os possuidores de residências na Capital hospedar iam pa rentes ou amigos vindos do interior durante a estada de Suas Majestades para participar das solenidades ou simplesmente ver de perto os Imperadores Muitos aqui chegaram com a antecedência de vários dias com tempo para a confecção de roupa adequada nas costureiras ou alfaiates da melhor categoria Era uma imposição do momento segundo os costumes de então as residências estariam preparadas a capricho para receber condignamente com mesa farta e rica em sobremesas aqueles que vinham assistir aos atos tão ansiosamente esperados Os perus e os capões cevados pelo bico tinham previamente traçados os calendários de sacrifício Enfim era toda uma cidade regorgitante que se aprontava para o grande dia Os escravos e criados não foram esquecidos tiveram preparo condigno e participariam sem desar no sereno dos festejos tiveram direito a roupa nova com calças e camisas de tecido riscado para os homens e vestido de chita colorida para as mulheres No dia 18 de outubro de 1859 a Câmara Municipal reuniuse para tratar da chegada e recebimento de Suas Majestades Imperiais em visita a esta Província ocasião em que o vereador Dr Sérgio Rangel apresentou as indicações seguintes 1ª que se mandasse celebrar um Te Deum Laudamus ao terceiro dia da chegada de Suas Majestades Imperiais em felicitações e ação de graça pela próspera viagem 2ª que a Câmara conserve durante todas as noites enquanto Suas Majestades aqui estiverem a iluminação da frente do Paço 3a que se nomeie uma comissão de três membros para promover assinaturas entre os vereadores e dirigir o Te Deum A Câmara Municipal era presidida pelo Dr Francisco de Carvalho Junior secretariada por Joaquim Francisco Monteiro da Franca e tendo ainda dentre os seus membros Bezerra Cavalcanti de Albuquerque e Narciso de Carvalho A Presidência da Província determinou que a Guarda Nacional praticasse exercícios todas as quintasfeiras até a data da chegada de Suas Majestades Imperiais que deveriam ser recebidos com limpeza e garbo A Corporação encontravase carente de disciplina e instrução indispensáveis a uma tropa regular O Dr Ambrósio Leitão da Cunha queixavase do seu Comandante Superior que residia fora da Capital no seu engenho distante três léguas Outro tanto ocorria em relação ao Chefe do Estado Maior da Guarda Nacional que também morava em seu engenho nada menos de quatorze léguas fora da Capital O empreiteiro Francisco Soares da Silva Retumba foi incumbido de superintender a reforma a ser feita no Paço e de tudo que estivesse ligado à visita de Suas Majestades sob a supervisão do próprio Presidente Da Comissão dos Festejos criada pelo Chefe do Governo faziam parte Coronel Francisco Alves de Souza Carvalho Dr Felizardo Toscano de Brito e Dr João José Inocêncio Pogge A 26 de novembro de 1859 o público tomou conhecimento através dos jornais do programa da recepção assim descrito O Presidente da Província recomenda que por ocasião da chegada de Suas Majestades Imperiais a esta Província se observe o seguinte se o contrário não for determinado 1º Logo que da Fortaleza de Cabedelo avistarse a Esquadra Imperial içarseá nesta o Pavilhão Nacional com dois tiros de peça Este sinal será correspondido pelo telégrafo colocado na torre do Colégio aí será içado o Pavilhão Nacional com dois tiros de canhão no Quartel do Meio Batalhão e subindo imediatamente ao ar duas girândolas com intervalos de dois minutos de uma para outra Em seguida repicarão os sinos das Igrejas da Capital com espaços de dez minutos 2º Ao aproximarse da barra a Esquadra salvará a Fortaleza de Cabedelo o Pavilhão Imperial logo que a mesma esquadra passar pela Fortaleza esta salvará novamente assim como o navio ou navios de guerra porventura existentes na ocasião dentro do Porto 3º As embarcações surtas no Porto deverão tomar posições convenientes e colocarse de modo a não impedir ou embaraçar o trânsito ou a aproximação da Esquadra Imperial ao cais O capitão do Porto dará as instruções necessárias para a colocação dos navios e para o mais que convier à Polícia do mesmo Porto sujeitando as instruções à aprovação da Presidência 4º Ao primeiro sinal da aproximação da Esquadra Imperial formará a Brigada composta do 1º Batalhão da Guarda Nacional e do Meio Batalhão de Linha no Largo do Quartel deste sob o comando do Comandante Superior ou do seu substituto na forma das ordens em vigor marchando para o Varadouro Dalí desfilará em alas até a Porta do Palácio pelas ruas que estão indicadas para o trânsito de Suas Majestades Imperiais Estes corpos irão formados em pelotões na retaguarda da Comitiva Imperial até o pátio do Palácio onde farão as marchas em continência darão as descargas e os vivas de estilo Depois destacandose a Guarda de Honra que deverá ficar no Paço Imperial a força será recolhida aos quartéis se não houver outra ordem 5º São convidados os funcionários públicos civis militares e eclesiásticos bem como todos os cidadãos para assistirem ao desembarque de Suas Majestades Imperiais 6º Depois da cerimônia de ósculo do crucifixo que será apresentado pelo Rvm Visitador ou na sua falta pelo Rvm Vigário da Capital no Pavilhão que se achará preparado na Praça do Varadouro a Câmara Municipal apresentará suas homenagens às Suas MM II 7º As senhoras que comparecerem à recepção de Suas Majestades Imperiais ficarão no Pavilhão donde sairão para irem receber a mesma Augusta Senhora no ato de seu desembarque e acompanhála até o Paço Imperial 8º No trajeto de Suas MM II até o Palácio observarseá esta ordem a os cidadãos que não estiverem compreendidos nas classes abaixo designadas b os funcionários públicos que não são especialmente indicados nos seguintes números c os oficiais do Exército que não estiverem em forma os da armada das extintas milícias e da Guarda Nacional assim como as pessoas que gozam de honras militares d as pessoas condecoradas com as diversas ordens honoríficas os que têm o tratamento de Senhoría os ViceCônsules os Chefes de Repartição Pública os Juízes de Direito os Membros da Assembléia Legislativa os Deputados à Assembléia Geral e os Fidalgos da Casa Imperial e os cléricos regulares e seculares os párocos f atrás do pálio as senhoras os grandes do Império as pessoas da Casa Imperial e os que têm tratamento de Excelência g os quatro Juízes de Paz do Distrito da Capital são incumbidos de man ter a ordem do préstito como fica determinado h desembarcando Suas Majestades Imperiais na ponte predisposta para esse fim no Varadouro e saindo do respectivo Pavilhão seguirão o trânsito seguinte se outra ordem não for dada Calçada do Varadouro Rua da Areia Rua da Conciliação Praça do Quartel Ladeira das Pedras Rua Direita e por aí ao Paço Imperial fazendo antes oração na Igreja do Colégio querendo i se da Fortaleza de Cabedelo avistarse a Esquadra Imperial à noite içarseá no mastro da bandeira um lampião com dois tiros de peça correspondendo o telégrafo de Palácio em sinal idêntico menos os tiros Neste caso formará a força da Guarnição em seus respectivos quartéis e aguardará as ordens desta Presidência Um grupo de paraibanos com a aquiescência do Presidente da Província criou o chamado Batalhão Patriótico com a finalidade de homenagear Suas Majestades Imperiais acompanhando e escoltando o Imperador nas suas visitas à Capital e ao Interior Entretanto quando já criado e organizado eis que surge um outro grupo intitulado Batalhão Popular comandado por José Lucas de Souza Rangel Eram as facções políticas da época as rivalidades provincianas a inveja como ainda hoje existem em nosso meio talvez herdadas do ranço lusitano Aqueles que integravam o Batalhão Patriótico primeiramente organizado deram uma lição de civismo e desprendimento dissolvendo a organização e in corporandose à outra facção posteriormente criada para que não fossem empanadas com rivalidades locais as manifestações de regozijo às Suas Majestades Imperiais Na imprensa local o Comandante e Oficiais do Batalhão Patriótico fizeram publicar o seguinte manifesto Os abaixo assinados Comandante e Oficiais do Batalhão Patriótico que começou a organizarse para solenizar e vitoriar a memorável visita dos nossos Augustos Monarcas a esta Capital observando a criação de um outro Batalhão denominado Popular com o mesmo louvável fim a cuja frente deverá apresentarse o distinto cidadão Sr José Lucas de Souza Rangel um dos mártires de nossa liberdade ancião muito respeitável e credor por todos os títulos de tão subida honra que mesmo já havia sido consultado por deliberação espontânea do sobredito Comandante e Oficiais para assumir aquele honroso posto no citado Batalhão Patriótico do que são órgãos considerando que para festejar tão honrosa visita todos os brasileiros qualquer que seja sua cor política devem unirse em um só pensamento forçando assim o desgosto que traz consigo a rivalidade ponderando que a nossa escassa população não pode suportar a formatura de dois Batalhões em força suficiente a apresentaremse numerosos sendo muito sensível o espetáculo de duas facções que não obstante animadas de um mesmo sentimento manifes tam todavia por aquele fato desuniao refletindo que muitas pessoas importantes desta Capital conhecendo agora a excelencia da ideia aparecem atualmente em campo animadas de todo entusiasmo para levarem ao cabo tao patriotica empresa reconhecendo nessas mesmas pessoas mais titulos e habilitacoes que os abaixos firmados possuem para execucao de um objeto tao grandioso e digno o Comandante e Oficiais do sobredito Batalhao Patriotico resolveram declinar da honra que lhes foi concedida em presença das razoes expostas e dissolvem como de fato por esta tem dissolvido o mesmo Batalhao desligando de seus compromissos todos aqueles individuos que se dignaram anuir ao seu convite cujo concurso poderoso os deixa assas penhorados e agradecidos incitandoos para engrossar as fileiras do Batalhao Popular sob o Comando do digno Chefe indicado do qual eles mesmos indistintamente e como simples praqas farão parte a fim de que SSMMII reconheçam que o povo desta Capital e unanime e compacto em vitorialos e deixa a margem quaisquer caprichos mesquinhos e intrigas individuais quando se trata de provarlhes seu amor e adesao Paraiba 24 de novembro de 1859 Joao Rodolfo Gomes Manuel Cactano Veloso Antonio Francisco DAvila Jucundiano Rodolfo de Oliveira Jose Francisco de Ataide e Melo Joaquim da Costa Serafim Dr Francisco Antonio Vital de Oliveira Elias Francisco Min delo Severiano Elisio de Souza Gouveia Firmino Xavier Vidal Vicente Gomes Pessoa Antonio Jose Lopes Francisco Jose do Rosario Junior Joao Francisco da Rocha Ataide Candido Gregorio dos Santos Siqueira Manoel Odorico Cavalcanti de Albuquerque Joao Pinto Rodrigues de Paiva Antonio Francisco Ramos Estanislau Dantas Galesia e Dominiciano Lucas de Souza Rangel Durante a noite de 1 de dezembro reuniuse o Batalhao Popular em casa do seu Comandante Jose Lucas de Souza Rangel suas fileiras foram engrossadas por aqueles que integravam o movimento dissolvido Nesta reuniao foram eleitos os Oficiais Após o término dirigiramse tendo á frente o seu Comandante e a Banda de Música á residencia do Presidente da Provincia percorrendo as ruas da cidade dando vivas às Suas Majestades Imperiais O Batalhao Popular tomou a iniciativa da limpeza do Cruzeiro de Sao Francisco e do Adro do mesmo Templo retirando o musgo de suas paredes e erradicando as gramineas que medravam emprestando aspecto de total limpeza ao local então considerado um dos mais belos da Capital O Presidente da Provincia apressouse em escrever ao Juiz de Direito da cidade de Pilar Dr Luiz Correia de Queiroz comunicandolhe que Sua Majestade desejava percorrer alguns povoados próximos do litoral e possivelmente estariam incluidos no roteiro aquela comunidade e a povoacao de Gurinhem O Presidente também solicitou ao magistrado como principal autoridade nestes lugares que promovesse os necessarios arranjos para a conveniente recepcao de Sua Majestade Os padres Bento proprietários do Engenho Marau foram por igual cientificados de que D Pedro II por la passaria O Presidente ainda solicitou que fossem tomadas as providencias cabiveis dirigindose no mesmo sentido aos Srs Francisco Manuel Carneiro da Cunha proprietário do Engenho Tibiri e CapitãoMor Jose Francisco de Albuquerque Maranhão dono do Engenho Santo Amaro Tornarseia indispensavel ademais promover os reparos necessarios nas pontes existentes sobre os riachos que passavam ao lado de suas fabricas de acucar Novas cartas de igual teor foram dirigidas aos outros proprietarios rurais nas quais lhes era pedido uma série de providencias diferentes visandose ao mesmo fim de modo que por onde passasse o Imperador tudo fosse observado a contento Todas as atenções estiveram concentradas no móqno evento da presença do Imperador Chegando ao seu conhecimento que em Mamanguape havia indiferenca da populacao quanto à visita Imperial motivada por certas rivalidades locais o Presidente da Provincia dirigiuse ao Dr Francisco Antonio de Almeida e Albuquerque pedindo encarecidamente sua interferência no sentido de harmonizar os ânimos e terem todos o mesmo ponto de vista A referida autoridade foi bem sucedida Em 5 de dezembro já se sabia que D Pedro II aqui estaria a 24 do mesmo mês e nesta data o Dr Ambrósio Leitão fez um apelo escrito ao 1º VicePresidente Dr Flavio Clementino da Silva Freire que se encontrava em Mamanguape para que se dirigisse a esta Capital o mais depressa possível a fim de preparar sua casa para hospedar o Ministro do Império como também ajudálo na tarefa de conseguir cavalos para a comitiva Imperial A Presidência da Província enviou ao Sr Antonio F Serrano a importância de 400000 a fim de ser aplicada nos melhoramentos necessários à Câmara Municipal de Mamanguape ali possivelmente se hospedaria o Imperador O Presidente determinou ao engenheiro David Polemann que fizesse construir no ponto de desembarque de Suas Majestades e sua comitiva um Pavilhão de madeira no dizer dos jornais de então maior e mais bonito que o de Pernambuco no qual Suas Majestades deveriam receber as primeiras homenagens da Província Documentos da época descrevem longamente esse Pavilhão A ponte de desembarque tem de comprimento 80 palmos e de largura 20 A plataforma que se une à ponte tem 45 palmos de largura e 40 de fundo Por traz desta elevase o frontispício do Pavilhão que geralmente é executado em estilo romano A entrada é formada por três pilastras de 30 palmos de altura ornados de capitéis de ordem toscana entre as quais se acham colocados três arcos o do meio com 25 palmos de altura e 12 de largura os dois laterais com 23 palmos de altura e largura correspondente O vão do arco maior é ornado de um círculo composto de folhas verdes com as iniciais P T pendentes de uma coroa Imperial tudo feito de folhas naturais Estes arcos assentamse sobre pilares salientes de 18 palmos de altura ornados com capitéis correspondentes Em cima dos capitéis principais assen tamse o arquitrave e cornija de ordem toscana com friso largo que tem o dístico Vivam Suas Majestades e Altesas Imperiais limitado por cima com 7 cornijas principais sobre as quais elevamse 5 degraus destinados para trazerem as Armas e as Bandeiras Nacionais e mais 8 bandeiras de diferentes cores raiantes semicirculantes Todo o frontispício tem uma altura de 55 palmos e 45 de largura Detrás do frontispício que forma um arco triunfal estendese o Pavilhão num comprimento de 64 palmos e 45 de largura Cada lado é formado por 6 arcadas de 11 palmos de altura e 9 de largura cujas pilastras se acham igualmente ornadas com capitéis Em cima destas arcadas achase a cornija correspondente e um parapeito interrompido por 5 pilastras e enfeitado de grinaldas de veludo verde O frontão do lado do fundo é formado por 4 pilastras de 24 palmos de altura ornados de capitéis sobre os quais assentamse o arquitrave e a cornija do oitão que acaba em um docel do qual pendem cortinas de veludo verde com franjas amarelas cujas pontas são presas em duas pequenas pilastras laterais ornadas com vasos de porcelana com flores naturais Por baixo do docel achamse as Armas Brasileiras e duas ricas cadeiras de mogno com estofos de damasco amarelo e por cima a Bandeira Nacional e quatro outras de diferentes cores O interior como também toda plataforma e a ponte é alcafifado de tapetes de damasco e decorado com cortinas de seda o docel do lado direito de veludo verde ornado com cortinas de chamalote de seda cor de rosa com franjas Do teto pendem três candelabros As pilastras das arcadas são envoltas com flores artificiais na forma de espiral Em derredor delas circula grande número de arandelas Seis mastros existem aos lados do frontispício ornados cada um com 4 bandeiras de diferentes cores e um Pendão Nacional No percurso a ser feito por Suas Majestades do Porto até o Palácio os lugares de honra foram assinalados com três arcos símbolos do triunfo sob os quais deveria passar o cortejo É provável que o engenheiro Polemann idealizador do Pavilhão localizado no ponto de desembarque tenha também sido o autor ou inspirador dos arcos O primeiro construído com dinheiro do comércio da Capital foi erguido no local denominado Paço com a seguinte descrição Este arco o do Paço é sustentado por duas pilastras com seus capitéis sobre os quais se acham dois jarros com folhas de independência no centro do arco do lado do mar achavase colocada uma grande coroa de metal dourado e do lado da Cidade um globo do mesmo metal O arco sustentava um grande mastro em forma de gávea de navio em que tremulava o Pavilhão Nacional desciam pelos lados várias bandeiras em forma de signos figurando um mastro de navio em dia de grande gala Finalmente uma grande quantidade de pequeninas bandeiras de diversas nações guarneciam o fuste do mesmo arco O segundo arco foi colocado na Rua da Areia na junção desta com a Rua da Conciliação Era de es tilo gótico com 3 arcadas sobre pilastras tendo a do centro 18 palmos de largura e as laterais dez sendo sua elevação pouco superior a sua total largura No centro dos remates góticos que fixavam as arcadas achavamse várias inscrições sobre os quatro lados externos segundo um jornal da época foram colocados quatro mastros venezianos com elegantes bandeiras de seda de diferentes cores No feixe superior da arcada do meio veemse as Armas Imperiais ao natural sendo a Coroa de metal dourado bem como os ramos de fumo e café do mesmo metal pintado o escudo com as estrelas representativas das 20 Províncias de madeira pintada e envernizada saindo do mesmo centro 2 outros com os Pavilhões Brasileiro tudo em seda A meia altura das pilastras achavamse colocados os escudos com as Armas Imperiais tendo de cada lado duas pequenas bandeiras também em seda conforme descrição incluída em documento do século passado O terceiro arco foi erigido em frente à Igreja da Santa Casa de Misericórdia na Rua Direita Este arco é formado de quatro colunas dóricas duas de cada lado sobre pedestais com frisos e cornijas figurando mármore branco tendo nos capitéis e cornijas algumas molduras douradas que faziam realçar a obra existindo de cada lado por cima da cornija um jarro da altura de 8 palmos com ramo de independência O arco fechavase com uma cortina de damasco cujos lados se prendem nas colunas sustentando no meio uma grande coroa de metal dourado e formando por cima de tudo um arco com 6 bandeiras sendo as do centro brasileiras as duas do meio napolitanas uma portuguesa e outra austríaca Na programação foi inscrita uma legenda em homenagem muito especial à Sua Majestade a Imperatriz colocandose nesse arco uma bandeira napolitana gesto que deve ter tocado à bondosa dama fazendoa talvez lembrarse naquela solene ocasião de sua Pátria de origem Por outro lado a D Pedro II abriase um toque de sensibilidade com a presença das bandeiras de Portugal e da Áustria pátrias de seus pais D Pedro I e D Leopoldina respectivamente O Palácio do Governo como já foi dito recebeu uma decoração primorosa com móveis novos tapetes candelabros jarros de porcelana castiçais de cristal etc Houve um milagre de transformação pois o velho casarão pobre e sem móveis despido de objetos de valor e bom gosto era agora uma vivenda nobre confortável e aprazível Para isso muito contribuiu a própria família do Presidente Ambrósio Leitão da Cunha tendo mesmo uma de suas filhas bordado uma almofada que constituiu adorno da sala de despacho de D Pedro II Os documentos da época assim descrevem o Palácio do Governo O Paço Imperial achavase colocado em um ponto central do Bairro Alto em que se divide esta Cidade Ocupa uma das mais belas posições topográficas correndo a fachada do Edifício ao Noroeste e lado direito ao Suleste Tem em frente um largo campo em forma quadrada e do lado direito outro de não inferior dimensão Domina um belo ponto de vista pela frente a Rua Direita desde o magnífico cruzeiro de São Francisco até a das Trincheiras a Rua das Mercês que corre em um dos ângulos do quadro e outras que desembocam no campo e pelo fundo o Bairro Baixo o Rio Paraíba que borda a Cidade e o ancoradouro são os pontos de vista que fecham o horizonte que se oferece aos olhos do observador Na extremidade oposta achavase plantado o Paço da Assembléia Provincial convertido em grande salão ali a Província pretende oferecer às SSMMII um esplendido baile pela visita com que se dignaram de nos honrar No centro contíguo ao Paço Imperial erguese um belo templo que outrora era o Colégio dos Jesuitas depois de sua expulsão entregue este templo à profanação do século já não tinha aquele asseio e decência que são imprescindíveis à morada do Senhor Mas hoje graças ao zelo e sentimentos religiosos de S Exa o Sr Dr Ambrósio Leitão da Cunha o templo oferece aos devotos o asseio e a decência necessários para a celebração do mais sublime sacramento o da Eucaristia O Paço Imperial fora decorado com a maior simplicidade revelandose isso na combinação das cores e na simetria dos ornatos do mais apurado gosto Subindose por uma escadaria de pedra de cantaria fácil se tornava a comunicação com os diversos salões Tanto a escadaria como o corredor foram atapetados com um fino damasco cor de rosa com listras verdes e amarelas sobre forro de esteiras A primeira sala era a de espera decorada com sobriedade O assoalho apresentavase forrado de esteiras e as paredes de papel branco adamascado A mobília era de jacarandá Ornavam as mesas jarros de porcelana dourada castiçais de cristal A mesa do centro foi revestida com um pano de veludo A segunda sala destinavase à recepção de SM Imperial sua apresentação era de gosto O assoalho todo coberto por um fino tapete aveludado sobre fundo branco as paredes forradas com um belo papel branco adamascado com sanefas verdes e as portas pintadas a óleo azul cerúleo No limiar capachos de lã de carneiro Dois grandes reposteiros flutuavam nas duas salas de entrada um para o Gabinete particular de SM o Imperador outro para a sala do docel Dois grandes reposteiros que bordados a agulha desenhavam as Armas Imperiais Essa última sala fora decorada com uma rica mobília de jacarandá primorosamente entalhada ao gosto de Luiz XV sobressaindo um sofá de artístico e custoso entalho Por sobre os consolos e mesa de meio cobertos de fino mármore serpentinas e candelabros de bronze dourados com pingentes de cristal Derredor das paredes arandelas Grandes vasos de porcelana dourada de Sevres enfeitavam o amplo das mesas No fundo da sala um piano de jacarandá Uma comunicação para um terraço a céu aberto estilizavase no ladrilho preparado com pedra de mármore Jarros de flores numa varanda de ferro que deitava para o saguão do edifício coloriam o ambiente A terceira sala era a do docel Viamse o assoalho forrado com um tapete de veludo sobre fundo escuro e as paredes de papel branco adamascado com frisos dourados Pendiam dos umbrais das portas presas por lanças douradas bambidelas de cassa da Índia No centro do teto desenhavamse com dourados e cores nacionais as Armas Imperiais No fundo o trono com os degraus forrados de veludo verde e frisos dourados Cortinados de damasco de seda verde franjados de fino galão e presos por bordas de ouro deixavam ver a efígie de SM o Imperador A quarta sala fora reservada para o Gabinete de Despachos de SM o Imperador Com o assoalho forrado de tapetes e as paredes de papel adamascado de branco e azul ainda mais se avivava o cenário com uma rica mobília de jacarandá composta toda de cadeiras de braços com esmero entalhados Os consolos cobertos de mármore jarros de vidros com frisos dourados e castiçais de bronze dourados tinham lustre Sobre um sofá notavase uma lindíssima almofada de encosto de veludo carmesim primorosamente bordada a ponto de marca e contas por uma das filhas do Presidente da Província a tela revelava apurado gosto e suma perfeição No fundo uma grande mesa de jacarandá em forma de escrivaninha Um projeto de ponte de ferro sobre o Rio Sanhuaú oferecido por Thomas Dixon Lowdem e um vaso de porcelana contendo trigo produzido na Província completavam os arranjos A quinta sala destinavase às refeições O assoalho apresentavase forrado de esteiras e as paredes de um belo papel com paisagens de Nápoles No centro uma grande mesa elástica em amarelo vinhático numa das cabeceiras outra menor da mesma madeira especialmente reservada para SSMMII Ornavam os lados quatro aparadores de mogno cobertos de mármore além de outro de maior dimensão em amarelo vinhático contendo um serviço de prata primorosamente lavrada para almoço com salvas paliteiros e dois guardaroupas da mesma madeira pejados de diferentes peças do serviço de mesa de porcelana dourada de Sèvres Vinhos finos gulozeimas de confeitaria e uma variedade de doces alguns preparados com apreciadas frutas do Pará A sexta sala compunha o compartimento reservado à toalete de SM a Imperatriz O chão era forrado de fina esteira e as paredes de papel adamascado com listas verdes O mobiliário era de gosto um guardavestido com desenhos de madeira nas portas um toucador de erable embutido de mogno e coberto de pedra mármore ornado com uma serpentina de bronze dourado com pingentes de cristal e objetos de boa perfumaria um lavatório da mesma madeira com um espelho no centro e mais um serviço da mais fina porcelana de Sèvres toalhas de linho com labirintos um grande espelho para vestir da mesma madeira um consolo de mogno coberto de pedra mármore tendo sobre ele castiçais de bronze dourado com pingentes de cristal e uma bonita escrivaninha de prata em forma de concha com a figura de Mercúrio sobre um globo dourado cadeiras de mogno e apetrechos complementares A sétima sala compunha o camarim de dormir Assoalho forrado de fina esteira e paredes de papel adamascado No centro uma bela cama francesa de erable com guarnição de mogno Uma colcha de seda pesada de cor amarela sobre finos lençóis de linho cobria o colchão Almofadas umas de setim cor de rosa e outras amarelas vestidas de fronhas de fino linho com crivos bordados à agulha adornando as cabeceiras da cama Da cúpula cercada de sanefas de seda verde desprendiase sobre a cama riquíssimo cortinado de lindíssimo linho branco todo bordado à agulha Na cabeceira da cama duas banquinhas de erable com guarnecidos de mogno cobertas de pedra mármore aos lados capachos de lã de carneiro Toda a mobília é de mogno As vidraças abertas sobre o camarim foram forradas de seda amarela com franjas verdes A oitava sala a do camarim de vestir de SM o Imperador tinha o assoalho forrado de esteiras e as paredes de papel branco adamascado Possuía um lindo guardaroupa de mogno do mesmo gosto que o de SM a Imperatriz Um lavatório de erable guarnecido de mogno coberto de mármore contendo todo o serviço de porcelana variada perfumaria e ao lado uma bela toalha de linho fino com bordado a agulha dois consolos de mogno cobertos de pedra mármore granitosa tendo sobre eles quatro castiçais de bronze dourado fingindo figuras de Orpheu uma linda charuteira com os mais finos charutos e um pequeno castiçal de prata próprio para a charuteira Uma cama de mogno coberta com uma colcha do damasco ver de que ocultava um brando colchão com almofadas de encosto de setim cor de rosa vestidas de fronhas de linho fino bordado à agulha De uma das paredes da sala pendia uma linda adalia de floco para descanso de relógio A nona sala a do aposento da Dama de Honor de S M a Imperatriz possuia as paredes forradas de papel escuro damascado A sala estava decentemente mobiliada com trastes de jacarandá As demais salas da 10ª a 15ª todas convenientemente mobiliadas com trastes de jurema A 16ª equipada com móveis de jacarandá apresentava nas paredes vários quadros um dos quais desenhava o catálogo de todos os CapitãesMores Governadores Governo Provisório Presidentes e VicePresidentes que administraram a Província desde o ano de 1684 outro quadro desenhava o Planisfério do Mundo e mais um a planta da Cidade levantada pelo CapitãoEngenheiro e Bacharel Francisco Pereira da Silva A décimasétima era a Sala de Orações de SS MM II Contígua à CapelaMor da Igreja do Colégio e à tribuna da mesma capela que é a do Paço estava esteirada A mobília era de jacarandá tendo sobre as mesas castiçais de cristal Na tribuna que deitava para a CapelaMor onde SS MM II assistiam à celebração de atos religiosos existia um genuflexório de damasco verde Finalmente a décimaoitava sala destinouse às ablusoes de SSMMII nela existiram uma grande banheira e outros móveis de jurema O corredor principal achavase forrado de esteiras com cadeiras de braços derredor das paredes globos dourados No andar térreo existiram outras salas devidamente mobiliadas para os criados de SSMMII uma grande cosinha e uma cocheira O alinhavo agora ultimado foi subtraído das notas constantes dos documentários A leitura permite ver que as cores dominantes nas cortinas tapetes colchas de cama etc foram o verde e o amarelo numa compreensível alusão às cores de nossa Bandeira Não existindo na época alcatife para revestimento do piso prevaleceram as esteiras revestidas ou não de tecidos alegravam o ambiente e ocultavam as falhas da madeira usada nos assoalhos A decoração do Paço foi planejada e executada com muito esmero e cuidado notandose no conjunto e nas minúcias a expressão do bom gosto Nada foi esquecido nem os perfumes e os charutos do D Pedro II O revestimento das paredes da sala de refeições fora propositadamente feito com papel e desenhos de paisagens do Reino de Nápoles fazendo D Tereza Cristina evocar cenas de sua infância e juventude Apesar de aqui radicada há muitos anos inteiramente ligada à vida brasileira e de considerarse como filha deste País não deixou de lhe ser cara a delicada e bela lembrança da Paraíba Não dispondo a Igreja Matriz na qual SS MM II deviam assistir ao Te Deum paramentos con dignos à cerimônia mandouse comprar em Pernambuco ricas alfaías e um palium que foram entregues ao vigário para serem usados no dia daquele ato religioso tais relíquias foram incorporadas ao seu patrimônio Além do palium vieram cinco capas de asperge e um véu de ombro importando sua aquisição em 3922940 Por outro lado encontrandose a Capela do Colégio situada ao lado do Palácio da Presidência em deplorável estado de conservação e devendo ser ela utilizada por D Pedro II e D Tereza Cristina durante sua estada aqui a Presidência resolveu reparála totalmente fornecendolhe ainda os paramentos e serviços dos altares necessários ao culto Os objetos de prata que antigamente foram de propriedade da Igreja e que se achavam depositados na Tesouraria da Fazenda vieram a ser retirados e postos na Capela ficando esta pronta para ser utilizada durante e posteriormente à visita dos Imperadores Com tais medidas a Igreja da Conceição permaneceu com as mesmas características de quando era frequentada pelos Jesuítas O Presidente desejou ser tanto quanto possível fiel à tradição O Presidente da Província não se esqueceu mediante cartacircular de convidar as autoridades civis militares e eclesiásticas assim como as pessoas de projeção e a sociedade para juntamente com seus familiares comparecer ao desembarque de SS MM II no Cais do Porto e acompanhálos ao Paço da Cidade IV O DESEMBARQUE DO IMPERADOR NA PARAÍBA No dia 24 de dezembro de 1859 a uma hora da tarde a esquadrilha Imperial passava em frente ao Forte de Cabedelo O Pavilhão Nacional luzia O Forte saudoua com uma descarga de canhão para logo em seguida ao entrar a esquadrilha no estuário do Paraíba tornar a saudála com duas descargas de todas as peças O ruído o cheiro da pólvora as ordens de comando o recuar das peças e a agitação reinante faziam lembrar os dias de glória desta sentinela avançada da Paraíba Por mais de uma vez teve ela de defender a terra onde está plantada Duas girândolas subiram ao ar com intervalo de dois minutos partindo da torre do Colégio Dois tiros de canhão foram disparados do Quartel de 1ª Linha e o repicar de todos os sinos das Igrejas da Capital anunciava à população que a Esquadra Imperial sulcava as águas do Paraíba aproximandose da Cidade Imediatamente o meio Batalhão de Linha e a Guarda Nacional ambas de prontidão o povo os fun cionários públicos as autoridades o clero e a aristocracia todos em direção ao Cais do Porto situado no Varadouro Ali aguardariam com ansiedade a aproximação dos augustos visitantes A massa aglomerada fazia conjecturas sobre como seriam o Imperador a Imperatriz os membros do séquito etc As autoridades mais discretas a custo conseguiam conter o nervosismo dominante O ambiente generalizava a expectativa geral todos desejavam a chegada queriam ver ombro a ombro Suas Majestades na mesma terra no mesmo ar na mesma comunicação de alma As três horas da tarde avistouse o navio APA deslizando serenamente no Rio Paraíba o rio parecia regozijarse também com suas águas limpas e tranqüilas Ouviase o espocar de inúmeras e sucessivas girândolas partindo de todos os pontos da Cidade As embarcações nacionais e estrangeiras ancoradas no Porto embandeiradas colocaramse em linha saudando a passagem do APA com tiros de canhão e vivas retumbantes Finalmente às três horas e cinco minutos da tarde o navio conduzindo o Imperador e sua comitiva fundeava no Porto Ouviase com emoção o Hino Nacional tocado pela Banda de Música a bordo do APA A multidão que se encontrava no porto e as tripulações dos navios reunidos espraiavam estusiásticos vivas ao Imperador e à Sua Majestade a Imperatriz Ao som de Bandas de Música de terra das frenéticas aclamações a Suas Majestades e do ruído ensurdecedor de girândolas e bombas o Presidente Leitão da Cunha anunciou acompanhado do seu Secretário e Ajudante de Ordem que Suas Majestades desembarcariam às quatro horas e trinta minutos daquela memorável tarde véspera do Natal De fato dentro da programação do cerimonial à hora aprazada Suas Majestades Imperiais desceram à galeota juntamente com sua ilustre comitiva e o Presidente da Província passando em frente das embarcações enfileiradas de um lado e dos barcos jangadas e canoas também embandeirados do outro lado por toda parte sinais sonoros de hosana D Pedro II vestido de General e acompanhado de D Tereza Cristina assomou a ponte de desembarque sendo recebido pela Câmara de Vereadores em seu uniforme e por mais de cinquenta senhoras que se encontravam no Pavilhão Ali mesmo a mão de Sua Majestade foi beijada sob os mais frenéticos e entusiásticos vivas e aclamações do povo Dali sob o pálio dirigiramse para o Pavilhão onde lhes foi oferecido pelo Padre Chacon visitador da Província o crucifixo a ser beijado Ainda ali no Pavilhão onde estava sentado ao lado da Imperatriz ambos em ricas cadeiras de mogno estufados em damasco amarelo D Pedro recebeu as chaves da cidade colocadas numa bandeja de prata as chaves lhes foram oferecidas pelo Presidente da Câmara Municipal Dr Francisco Alves de Souza Carvalho que se fazia acompanhar de todos os integrantes da referida Câmara O ofertante pronunciou na ocasião um pequeno discurso de recepção Os soldados do Primeiro Batalhão da Guarda Nacional e os de Primeira Linha totalizando seis mil homens postaramse de um lado e do outro das ruas a serem percorridas por Suas Majestades desde o Pavilhão de desembarque até o Paço Imperial Varadouro Paço Ruas da Areia e da Conciliação Largo do Quartel Ladeira das Pedras Rua Nova Todo o trajeto estava coberto de folhas de pitanga junco e canela Das varandas dos sobrados e das janelas das casas térreas pendiam Bandeiras Imperiais e colchas de damasco As senhoras lançavam flores e davam vivas a SSMMII acenando lenços brancos O povo ali postado regorgitando nas ruas vitoriava SSMM II com igual fervor e entusiasmo No chamado Paço local do Varadouro o cortejo passou sob o primeiro arco erigido pelo comércio da Capital Adiante entrando na Rua da Areia atravessou outro arco triunfal Juntavamse perto vinte meninas vestidas de branco e cabelos soltos aproximadamente da mesma idade trazendo na cabeça capelas de flores brancas naturais e banda larga de estofo nas cores verde e amarelo em cada uma liase o nome de uma das vinte Províncias do Império A menina que representava a Paraíba adiantouse para oferecer a D Pedro II um ramo de lindas flores naturais Ela recitou trêmula de emoção Deus te salve ó Soberano Filho de D Pedro I O Imperador visivelmente comovido deulhe carinhosamente a mão para beijar Esta mesma garota em seguida ofereceu outro ramalhete idêntico ao primeiro à Imperatriz dizendolhe Deus te salve Augusta Esposa Do Monarca brasileiro D Tereza Cristina recebeu as flores carinhosamente estendendo a mão ao beijo da ofertante Todas as demais meninas beijaram em seguida as mãos do Imperador e da Imperatriz O séquito desfilou depois rumo à Matriz acompanhado de grande multidão A cada instante novas ovações de todos que se encontravam nas janelas varandas e calçadas O templo com flores nos altares e suas melhores alfaiais recebeu os Augustos Visitantes seus acompanhantes e parte da massa popular Ao fim do Te Deum o pregador da Capela Imrial Padre Lindolfo José Correia das Neves fez longo e bem preparado sermão alusivo ao ato dando graças a Deus pela próspera e feliz viagem de Suas Majestades a esta Província Terminada a cerimônia religiosa dirigiuse o cortejo ao Paço Imperial sempre sob aplausos e vivas ouvindose girândolas ao longo do trajeto Os distintos visitantes sob o pálio conduzido pelos integrantes da Câmara Municipal passaram por baixo do arco construído em frente à Igreja da Santa Casa de Misericórdia Uma vez no Paço Suas Majestades dirigiramse a uma das janelas abertas ante à praça recebendo as maiores demonstrações de amizade e carinho traduzidas por vivas continuados ao Imperador e à Imperatriz Na sala do doçel forrada com um tapete de veludo e de paredes revestidas com papel adamascado viase o trono ao fundo cujos degraus eram cobertos de veludo verde D Pedro II entregouse ali à cerimônia do beijamão As senhoras seguidas do Corpo Consular tiveram a precedência O Cônsul Britânico fez uma saudação em nome de todos os representantes consulares Após a alocução do diplomata Henrique Krausee as demais pessoas que se encontravam no recinto dirigiramse ao trono e também beijaram as mãos de Suas Majestades Imperiais A cidade encontravase toda iluminada as casas os arcos o pavilhão as ruas sobressaindose a iluminação em frente ao Paço As ruas normalmente desertas eram percorridas por Bandas de Música e grande número de pessoas entre vivas e mais vivas às Suas Majestades os vivas prolongaramse pelo tempo em fora Às 9 horas da noite foi servido o jantar numa grande mesa central da Sala de Refeições Nela tiveram assento semanarios o Ministro do Império o Presidente da Província sua Senhora D Maria José e sua filha Maurícia o Chefe de Polícia e o Senador Frederico de Almeida e Albuquerque Em mesa menor situada numa das cabeceiras sentaramse D Pedro II e D Tereza Cristina À sobremesa foram servidos doces e frutas do Pará encomendados pelo Dr Ambrósio Leitão da Cunha À meianoite Suas Majestades e comitiva passaram à Igreja da Conceição a Capela Imperial contígua ao Palácio e a este comunicandose através de uma porta Assistiram à Santa Missa de Natal celebrada pelo Cônego José de Melo Capelão de Suas Majestades recolhendose em seguida aos seus aposentos Com exceção do Ministro do Império que se alojou em casa do Primeiro VicePresidente Dr Flávio Clementino da Silva Freire todos os membros da comitiva imperial hospedaramse no Paço Para ainda mais avivar através do tempo a gratidão do Povo Paraibano J Tertuliano de Medeiros compôs um hino dedicado a D Pedro II rapidamente difundido recitado e cantado por todos com a seguinte letra De dezembro o vinte e quatrc Raiou alegre e faqueiro Já se acha em nossos braços O Monarca Brasileiro Estribilho Temos por dita Um céu danil Monarca exímio De encantos mil Nossa Excelsa Imperatriz A maior das Soberanas Honrou com sua visita As plagas paraibanas Temos por dita Entre as Nações do Universo É o Brasil mui ditoso Áureo cetro nele empunha Um Monarca estudioso Temos por dita Paraibanos cantemos Neste tão festivo dia A Pedro e a tirse bela Hinos damor dalegria Temos por dita Seja o céu sempre propício A Pedro a sua consorte Que feliz se tornará O Brasil de Sul a Norte Temos por dita Aos Augustos visitantes Juremos sempre amizade Juremos ser sempre unidos Juremos fidelidade Temos por dita Um céu danil Monarca exímio De encantos mil No dia 25 de dezembro domingo dia imediato à chegada de D Pedro II logo cedo às 6 da manhã o Imperador saiu de Palácio montado a cavalo dirigindose ao Porto do Varadouro Ali em companhia do Presidente da Província do Ministro e de várias pessoas de sua comitiva embarcou no navio APA com destino a Cabedelo Durante todo o percurso de subida e descida do Rio Paraíba D Pedro II fez sentar ao seu lado o Dr Ambrósio Leitão da Cunha a quem ouviu e interpelo inteirandose dos problemas e da situação em que se encontrava a Província Seu objetivo central na visita a Cabedelo era conhecer o Forte do mesmo nome verificando in loco seu estado de conservação Sua Majestade percorreu toda a povoação visitando a Escola Pública a Fortaleza e o Lazareto da Ilha da Restinga sempre fazendo indagações e anotandoas numa caderneta de bolso Tais anotações que tivemos a oportunidade de examinar no Arquivo da Casa Imperial guardado no Museu Imperial de Petrópolis fazem parte do seu Diário de Viagem escritas a lápis constituem notas alinhavadas em cima da perna muitas vezes montado a cavalo ou em percursos feitos a pé Os dados e observações eram escritos rapidamente com letra ruim nem sempre legível muitas foram passadas a limpo posteriormente As anotações da visita à Paraíba não estão transcritas ou repassadas pelo autor apresentandose como rabiscadas durante sua estada nesta Província frases soltas denunciam a pressa com que foram escritas Nessas viagens as distâncias a percorrer eram grandes Mas mesmo assim a curiosidade do Imperador que de tudo desejava inteirarse era ainda maior exigindo pressa para melhor aproveitar o tempo Daí não poder escrever com vagar tudo quanto presumisse necessário anotar para posteriormente lhe servir de orientação em suas decisões Durante sua visita a Cabedelo D Pedro II fez as seguintes anotações valendose de um vernáculo que bem demonstrava sua pressa Cabedelo 25 xadres 1 militar e 4 de Justiça Frente para rua e ar bafio A povoação boa a 800 almas com aula de meninos com 34 matr 16 a 20 freq Capelinha da Fortaleza de Sta Catarina O Xadrez da esquerda que serve agora ainda é mais escuro e menos arejado 50 a 60 arrobas de pólvora não há dos particulares Não há livro de entradas e saída de pólvora particular e do Estado outro da carga geral O Comandante diz que não há ordem para haver livro para a pólvora particular 6 soldados e 1 cabo da G Nacional do interior Há uma casa destelhada e meio arruina da sobre arcos que diz o Comandante ter sido mandada desmanchar por Fernando de Portugal por exceder a altura da muralha fora feita para casa do Comandante A casa abobadada da pólvora úmido 40 peças das quais 21 mal montadas Peça portuguesa Sta Catarina amolgada por uma bala do lado no sentido do eixo Peça com a cifra GAC num escudo com esta figura desenho 16291662 Wilen Wegewærk me Fecit Hagae Peça espanhola de Felipe 4 D Pedro Pacheco Marques de Castro Fuerte del Consejo de Guerra Capitan Gl de Artilla Outra espanhola 1D Outra outra outra Nos ângulos havia peças mas taparam as aberturas para as peças e fizeram barquetes para a infantaria Fortaleza espanhola hexagonal irregular com baluartes e redentes Lado do sul com grande brecha que começou em 1825 A do Brum é menor Um dos espanhóis tem uma parte do rebordo da boca levado por uma bala Peça holandeza das sereias Em baixo Die GeoctroiErde Wesh Indice Compnih e Amsterdam Worten me Fecerunt Ivirecht ver o papel Tarja com instrumentos de guerra e um escudete com leão rompante armado de espada curva na mão direita Peça espanhola 1D Outra 1D Peça da galera Manuel Monte que encalhou Há 4 meses 2 espanholas 1D Peça com as armas espanholas 1622 Iohannes Sithub me Fecit Bruxelles Lazareto na Ilha da Restinga Convento de S Bento Pedido de terra 1599 Começo suposto da edificação 1600 Claustro reedificado é sacristia Linda vista do salão Nor sic Descobrese quase toda a cidade e o Cabedelo muito longe Cerca muito pequena Não tem biblioteca Talha da capelamor nova Hnic est chorus como em Olinda As cadeiras muito estragadas Cornija e umbrais de pedra pintada para fingir mármore Lápide mais antiga de 1758 O Comandante da Fortaleza de Cabedelo Capitão Luiz Estanislau Rodrigues Chaves prestou a Sua Majestade todas as informações que lhe foram solicitadas providenciando o polimento das inscrições de várias peças a fim facilitar a leitura do visitante D Pedro II muito modestamente como de costume não relata no seu Diário que deixou trezentos mil réis entregues aos necessitados da povoação e quantia igual para ser investida no cemitério local Um velho soldado aproximouse pedindolhe uma ajuda queixandose de que seu soldo de reformado era insuficiente para mantêlo O Imperador ordenou que lhe fosse dada uma régia esmola e ainda mandou que ele requeresse aumento do seu soldo de reformado Sua Majestade retornou à Capital a bordo do APA tendo sempre ao lado o Presidente da Província com quem conversou durante todo o percurso desembarcou no Cais do Varadouro às 11 horas e montou garboso cavalo dirigindose a galope para o Paço juntamente com seus companheiros de viagem a Cabedelo e dos integrantes do Batalhão Popular Tanto no cais como no trajeto o Imperador foi ovacionado pelos que se encontravam nas varandas janelas e ruas ouvindose sucessivo pipocar das girândolas Aproximadamente a uma hora da tarde Sua Majestade recebeu uma comissão da cidade de Areia uma das mais florescentes da Província ia pedirlhe a honra de visitála O Imperador ponderou ser de todo impossível como já havia asseverado no dia anterior ao Dr Fausto Benjamin da Cruz Gouveia Juiz Municipal daquela cidade seu tempo disponível era nenhum O Presidente da Província havia pedido anteriormente ao Coronel Ismael da Cruz Gouveia residente naquela cidade para preparar uma casa onde D Pedro II pudesse hospedarse acaso fosse conhecer Areia Logo após o encontro o ilustre visitante saiu a cavalo acompanhado pelo Batalhão Popular para visitar as Igrejas do Rosário Mercês e Misericórdia os Conventos de São Francisco e de São Bento e a Ponte do Sanhauá A propósito dessa visitação o Imperador fez as seguintes anotações em seu Diário CARMO Começada Igreja 1764 acabada 1779 Altares de pedra pintada fingindo mármore As cadeiras dos 2 coros estão bem conservadas Igreja de boas proporções Mais bonita que a de S Bento Sepultura de 1677 perto dos cancelos O Convento serviu 30 anos desde 1817 até 46200000 por ano de patrimônio que poderia integrado dar 3 a 4 contos anuais esbanjados pelos procuradores Claustro em ruinas A Igreja está arruinada A Praça do Mercado está em patrimônio do Convento segundo diz o Provincial Hinc est chorus A livraria desapareceu Degraus de pedra que quase desapareceram com o pisar SÃO FRANCISCO Belisário e Cruzeiro Os 1os religiosos vieram em 1590 O Guardião fretou o Cabedelo e um forte defronte que foi reparado pelo mesmo 2 anos depois morreu num combate 135 Guardiães desde o 1 como consta de um livro manuscrito do Convento No teto da casa de oração dos 3os onde há o andor da procissão de cinzas existe representada a visão de um dos fundadores do Convento que viu um companheiro arrebatado ao céu num carro de fogo para tomar por sua humildade o lugar que Lúcifer perdeu por sua soberba Sepultura que parece antiga cuja data não se lê estando as letras gastas É de Frei José Monteiro da França corpo da Igreja Outra no claustro de Frei Luiz da Anunciação Claustro o maior depois do da Bahia Sepultura na Capela do Tte Coronel Gonçalo Royé de Castro sua mr e herdos com data de 1706 Serve de consistório da Irmandade de São Benedito Degraus de pedra gastos Grande cerca arrendada com poço de boa água para beber Livro das alfaías do Convento de S Antonio da Paraíba Ano 1741 Jaboatão Fecit mas a má letra não parece a mesma que a do Jaboatão Fecit em baixo da folhâ do frontespício MISERICÓRDIA Capela de S Salvador onde o sacramento está à esquerda 1639 Duarte Gomes da Silveira e sua mulher cujos retratos estão no altar da Capela Hospital de antes dos holandeses reparado por Duarte etc e em 1755 6 mulheres e 3 homens asseado mas não admitindo mais de 40 camas 2 celas para doidos em baixo estreitas Dr Inocêncio Pogge Procurador Dr Assis Pª Rocha ROSÁRIO Compromisso aprovado em 1780 MERCÊS Está dourando o altarmor PONTE DO SANHAUÁ não tem 80 braças Projeto Lowden Esteios da ponte já carcomidos estrado estragado carecendo a ponte de reconstrução Passei pelo Horto Botânico que tem muitas ervas Achase apenas cercado de paus finos e com algumas árvores plantadas Mora aí um homem com o fim de cuidar do jardim mas não o traz limpo descese do Palácio para lá ir A Santa Casa de Misericórdia o Imperador D Pedro II fez uma doação de 6 contos de réis As demais Igrejas e Capelas doou 2 contos e 800 mil réis do seu próprio bolso do seu bolso saíram todas as doações feitas aqui e em qualquer outra parte de sua excursão oficial pelo Nordeste Os tempos mudaram Aquela época o Chefe de Estado viajava inspecionando a Nação às suas próprias expensas A quantos possa isto constituir balela bastará consultar os Livros da Mordomia os registros comprovam a parcimônia do Imperador em relação ao emprego dos dinheiros públicos Ademais observando o estado precário em que se encontrava a Ponte do Sanhauá e percebendo sua grande importância uma vez que por ela tinha vasão todo o tráfego em demanda do interior da Paraíba D Pedro II ordenou ao Presidente da Província que se mandasse com urgência fazer um plano e proceder o orçamento que lhe deveriam ser remetidos para a Corte Dessa incumbência ficou encarregado o Engenheiro Carlos Bleess que reformulou dois estudos de sua autoria um para uma ponte de madeira e outro para uma de ferro com pilares de pedra orçadas respectivamente em 75555881 e 292226950 Além desses estudos foi remetido ao Ministro do Império para apreciação de Sua Majestade uma terceira planta do Engenheiro inglês Thomaz Dixon Lowdem que se propunha fazer uma ponte de ferro por 24 mil libras Nessa mesma tarde após curto descanso o Imperador voltou a sair às 5 da tarde retornando às 9 da noite Saiu em visita ao Quartel do Batalhão de 1ª Linha à Cadeia e ao Quartel de Polícia Mais uma vez seu Diário seria nutrido Tarde recrutas com sentenciados Novas espingardas más 5 14 Quartel do Meio Batalhão bom ainda que algumas comp estejam acanhadas Armamento pouco limpo e velho Queixas como em todos os Quartéis dos fornecimentos do Arsenal de Pernambuco Mochilas novas que molestam os soldados Comida que parece boa menos a farinha deixei de ver todos os gêneros por não os haver a mostra na arrecadação e ter ido o arroz para o Hospital As camas são de ferro com tábuas Disseram que não havia mais economia de rancho e achando eu sobra responderam que fora para a caixa do rancho e não das economias sic Tem pouco dinheiro em cofre Água de cacimba próxima em depósito Hospital bem arranjado menos o despejo em cubas de pau na latrina do Quartel que vai depositar tudo num vão da terra O aparelho cirúrgico está em casa do 1º cirurgião do Hospital que se defende dizendo que ficara em sua casa para o ter limpo apesar de haver cirurgião de dia no Hospital Os gêneros são pedidos pelo agente dos fornecedores não há arrecadação deles no Hospital CADEIA ótima a não ser a má construção feita por arrematação e limpeza das latrinas apesar de haver cacimba e bomba que poderia elevar a água que jorrasse dentro das latrinas O Chefe de Policia ficou de dar a lista dos presos O aspecto exterior não deixa de darme vista e logo notei este edifício ao aproximarme do porto da cidade QUARTEL DA POLICIA Sofrível edifício e bonito por fora Espingardas de pederneira Tarimbas Baia com assoalho de madeira pois a pedra ofende os cascos dos cavalos que não são ferrados mas com esgotos de pedra por baixo Ração de um cavalo por dia 12 arroba de capim que é mau comprandose a carga de um cavalo 5 arrobas por 4400 164 de alqueire de milho dobro do Rio por 6400 e mel cada canada a 300 e tantos rs Rancho fora Clavina com vareta solta tudo de pederneira Batalhão Popular Ai estão provas do empenho de D Pedro II em inteirarse acerca de tudo verificando a alimentação dos soldados o estado sanitário da Cadeia alojamentos etc O Imperador estranhou que o cirurgiãomor Dr Inocêncio Pogge conservasse em sua casa o material cirúrgico Após as inspeções Sua Majestade voltou a cavalo para o Paço onde chegou às 9 horas Mais uma vez foi ovacionado com entusiasmo por uma grande multidão que se encontrava no Largo em frente Aí também se achava o Batalhão Popular apresentando um número de cavaleiros superior a 300 todos se incorporaram às manifestações populares de regozijo dando vivas à Sua Majestade No Largo encontravamse as Bandas de Música militares locais e mais a do navio APA tocando ininterruptamente até altas horas com grande massa empolgada com o espetáculo tão inédito na Província a presença honrosa do Imperador a cidade com iluminação feérica para a época e mais três Bandas bem afinadas tocando para o deleite de todos Enquanto isso se passava fora dentro do Paço Sua Majestade recebia os cumprimentos do clero e dos membros da Assembléia Provincial falando na oportunidade os Padres Chacon e Galvão em nome dos presentes respectivamente O Presidente da Assembléia Dr Felinto Henrique de Almeida faziase acompanhar dos Deputados Dr João Leite Ferreira Francisco Inácio de Souza Gouveia Dr Antonio Alves de Souza Carvalho Padre Felipe Benício F Galvão Padre Leonardo Antunes Meira Henriques Padre Bernardino da Rocha Formiga Padre Lindolfo José Correia das Neves Antonio do Rego Moura Padre Francisco Pinto Pessoa João Florentino Meira de Vasconcelos Francisco José Rosário Junior Dr Antonio da Cruz Cordeiro Dr Claudino Bezerra Cavalcanti Pedro Travassos da Costa Manoel de Assunção Santiago Padre Augusto Cirilo de O Melo Dr Elias Eliaco da Costa Ramos Padre Bento de Barros Mendonça Marcolino Xavier Tavares da Silva e Manoel da Fonseca de Andrade Em seguida Sua Majestade concedeu o beijamão ao Batalhão Popular sua Guarda de Honra que o acompanhava a cavalo toda vez que saia do Paço Em fila dupla tendo à frente o Comandante e os Oficiais os integrantes da corporação transitória beijaram a mão de D Pedro II que se encontrava sentado no trono instalado na sala do docel No dia seguinte segundafeira 26 de dezembro em companhia do Presidente da Província do Ministro do Império do Chefe de Polícia Visconde de Sapucahy do Comandante da Guarda Nacional de Deputados da Assembléia Legislativa e outras autoridades de pessoas grades e do Batalhão Popular D Pedro II viajaria com destino a Pilar e Mamanguape locais escolhidos para serem visitados pela Comitiva Imperial Antes de aparecer o sol às 4 horas da manhã Sua Majestade saiu do Paço com os membros de sua comitiva todos montados a cavalo dando início à jornada Dizem os relatos da época que a caravana deveria chegar às 6 horas da manhã ao Engenho São João do Coronel José Teixeira de Vasconcelos onde seus componentes tomariam a primeira refeição e às 9 horas ao Engenho Maraú de propriedade dos Frades de São Bento onde almoçariam Às 530 horas chegava D Pedro II ao primeiro engenho tomando café com os membros de sua comitiva As 8 horas Instituição UEPB Universidade Estadual da Paraíba Disciplina Docente Discente Arlayne Data 30052023 ALMEIDA Maurilio Augusto De Pesença de D Pedro II na Paraíba1975 No livro intitulado Pesença de D Pedro II na Paraíba o autor aborda a visita de Dom Pedro II à Paraíba que ocorreu durante o século XIX O evento é considerado importante para a história do estado e do Brasil uma vez que representa a presença do monarca brasileiro em uma das regiões do país A visita de Dom Pedro II à Paraíba teve impactos na urbanização da cidade políticos sociais e econômicos significativos demonstrando o poder e a influência da monarquia na época A vinda de Dom Pedro II à Paraíba ocorreu no contexto do Segundo Reinado 18401889 um período marcado pela consolidação da monarquia constitucional no Brasil Dom Pedro II foi o segundo e último imperador do Brasil tendo reinado de 1831 a 1889 A visita de Dom Pedro II à Paraíba teve várias motivações incluindo o estreitamento dos laços entre a coroa e as províncias o conhecimento direto das realidades locais e a promoção do desenvolvimento econômico da região Naquela época as condições de urbanização da cidade eram bem precárias ou um pouca defasadas um quantitativo considerável de ruas ainda não era calçado o que gerava pequenos infortúnios nas épocas chuvosas em que se tornava comum ver ruas enlameadas e esburacadas a arquitetura das casas também contribuía para o aparecimento de buracos na rua de modo que os beirais lançavam a água da chuva diretamente nas calçadas aliado a isso o descarte do lixo era feito negligentemente nas ruas e a má iluminação pública contribuía para uma visão de uma cidade pouca urbanizada e atrasada mas ainda naquele tempo a Lei n 26 de 30 de setembro de 1859 foi criada para mitigar o feio quadro urbanístico Outro problema constatado na época eram problemas sociais exemplificando isso teríamos a medicina pouco avançada e alguns problemas com surtos de doenças em paralelo a isso alguns costumes considerados não civilizados como por exemplo tomar banhos em fontes públicas completamente desnudos o que fora abandonado com o tempo após a criação de leis que multavam os praticantes desses atos Com a notícia da vinda do imperador a Paraíba houve uma intensa comoção para a preparação da cidade e pautas como festas de recepção da comitiva do imperador reformas de prédios públicos eram discutidas na câmara municipal A estética das vias públicas por onde D Pedro II passaria se tornou umas das prioridades da preparação da cidade a limpeza dos matos e o conserto dos buracos foi uma das principais medidas atrelado a isso foi ordenado a reforma de algumas pontes pertencentes a alguns engenhos locais A iluminação pública também foi uma das pautas discutidas e executadas antes da chegada do imperador Com a chegada do imperador em 24 de dezembro de 1859 pelo rio Paraíba várias embarcações se enfileiraram para receber D Pedro II de maneira calorosa recebendo as chaves da cidade como ato simbólico Desde o pavilhão de desembarque até o Paço imperial os monarcas foram recebidos pela festividade Te Dum Logo após a sua chegada o monarca se dispôs a visitar a província de Cabedelo com um dos principais objetivos averiguar o estado de conservação do forte que levava o memo nome da província Dom Pedro II também passou pela escola pública sempre fazendo suas anotações para a tomada de decisões futuras fez doações a Santa Casa da Misericórdia e a algumas igrejas o que de certa forma contribuía para o aquecimento da economia local e para possíveis reformas Impacto político em relação presença do imperador na Paraíba fortaleceu o prestígio e a autoridade do governo imperial na região reforçando os laços entre a monarquia e as elites locais A visita também proporcionou uma oportunidade para Dom Pedro II conhecer e se envolver em questões políticas específicas da Paraíba Impacto social a chegada de Dom Pedro II à Paraíba despertou grande entusiasmo na população que se mobilizou para recebêlo e prestar homenagens e festas A presença do imperador também trouxe visibilidade para as questões sociais e culturais do estado como por exemplo a pobreza e a medicina considerada atrasada até mesmo para aquela época o que não era incomum pessoas morrem por febre tifoide pois não havia investimento e desenvolvimento da área de medicina local Essa visita do imperador acabou estimulando o interesse e o desenvolvimento dessas áreas O impacto econômico durante a visita foi constatada pela realização de inaugurações de obras públicas e incentivos ao comércio local como a doação de trezentos mil réis ao comércio fez doações a Santa Casa da Misericórdia e a algumas igrejas o que de certa forma contribuía para o aquecimento da economia local e para possíveis reformas urbanas futuras o que impulsionou a economia da Paraíba A presença do imperador fez com o que falhas estruturais fossem observadas e medidas cabíveis fossem tomadas para sanar os problemas o que exemplifica isso foi a elaboração de um plano de reforma da ponte de Sanhauá elaborado pelo engenheiro Carlos Blesss a mando de sua majestade uma vez que o monarca percebeu a grande importância daquele trajeto para o trânsito de pessoas e para o escoamento de mercadorias para o interior da Paraíba também estimulou investimentos e despertou o interesse de empresários em estabelecer negócios na região Suas majestades deixaram a Paraíba no dia 30 de dezembro a passagem de Dom Pedro II à Paraíba deixou um legado importante para a história do estado sendo lembrada como um marco histórico O evento levou de volta a convicção de que deveriam ser melhorados o sistema de comunicações o sistema administrativo da província a legislação militar e o mecanismo de justiça tudo foi registrado em documentos fotografias e relatos da época fornecendo um testemunho valioso sobre a visita do monarca ao nordeste brasileiro
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PRESENÇA DE D PEDRO II NA PARAÍBA I CIDADE DA PARAÍBA UM PEQUENO AGLOMERADO URBANO A Cidade da Paraíba no início da segunda metade do século passado era como as demais capitais das menores Províncias do Império um aglomerado urbano pequeno pobre e dos mais atrasados O total de sua população não pode ser afirmado com precisão por falta de dados à base de censo oficial o primeiro censo viria somente no ano de 1872 Temos por isso de nos arrimar quanto à estimativa populacional nos levantamentos empíricos feitos pelas Prelazias em 1850 sem técnicas censitárias e portanto falhos em seu conteúdo Entretanto cremos que a nossa Capital em 1859 possuía cerca de 25 mil habitantes entre brancos pretos e mestiços A Cidade como ainda hoje tinha as suas áreas funcionais condicionadas à sua topografia a parte alta e a parte baixa Esta última era mais conhecida como Varadouro A primeira daquelas áreas a al ta tinha 17 ruas travessas e becos sendo as principais a Rua Nova da Misericórdia da Matriz das Mercês da Cadeia das Trincheiras e o Largo do Erário O Varadouro a área baixa contava com 16 artérias entre ruas travessas e becos devendo ser salientadas dentre elas as ruas das Convertidas do Varadouro da Areia do Império da Viração do Quartel e das Flores Excetuandose a Rua Direita e uma parte do Varadouro as demais não eram calçadas apresentando aspecto deplorável na época da estação invernosa com o lamaçal envolvendo as suas dimensões esburacadas e com grandes sulcos produzidos pela erosão das águas pluviais daí as dificuldades do trânsito dos pedestres e dos veículos a tração animal Faziase necessário então tão logo cessassem as chuvas que o Poder Público restaurasse essas vias citadinas em face dos estragos provocados pelas enxurradas aliás nem sempre isto era realizado com presteza e a contento Nem todas as ruas eram ocupadas por edificações havendo em sua grande maioria construções esparsas descontínuas Geralmente entre uma e outra casa havia sempre espaço suficiente para o preparo de um jardim mesmo nas áreas destinadas às novas construções No Centro correspondente hoje à Rua Direita isto ocorria com menor incidência em sua maioria com as naturais exceções havia interligação As casas residenciais tinham a arquitetura típica da época baixas beiral lançando à água do seu telhado em dias de chuvas na calçada às vezes no próprio leito da rua aumentando os agentes erosivos e dificultando ainda mais o trânsito de quantos procu ravam nesses dias abrigarse junto às paredes Era comum este espetáculo o pedestre compelido a caminhar no leito da rua quase sempre convertido em um único atoleiro aos saltos transpondo os lamaçais e os sulcos encharcados Surgia a vegetação comum ao ambiente a erva o bredo o capim rasteiro medravam nas ruas servindo quase sempre de pasto para carneiros vacas e burros Frequentemente o lixo era jogado negligentemente pelos escravos na via pública em frente às moradias ou terrenos baldios das cercanias Em Sobrados e Mucambos Gilberto Freyre recordou este quadro nordestino Os logradouros que apresentavam maior concentração de edificações por ordem numérica eram as ruas das Convertidas Direita e da Areia Tinham todas elas em 1859 aproximadamente 1500 casas não chegando a possuir 50 sobrados número reduzido pertencentes em sua maioria à aristocracia rural A Rua Direita orgulhavase de possuir quase duas dúzias desses sobrados senhoriais vindo logo em seguida o Varadouro e a Rua das Corvertidas com cifras mais reduzidas Algumas casas tinham ornatos em suas janelas de guilhotinas com vidros em cores e balcões de cantaria lavrados com acentuado bomgosto artístico A densidade populacional era maior nas artérias que hoje formam as ruas Direita Nova da Areia e Maciel Pinheiro A zona de Tambiá por exemplo era constituída de chácaras cada uma possuindo até vários hectares de terra Em esforço válido de racionalização e uniformidade urbanísticas evitandose as disparidades até então reinantes o Presidente da Província Ambrósio Leitão da Cunha sancionou a Lei nº 26 de 30 de setembro de 1859 que disciplinava a construção das edificações estipulando a altura das fachadas das casas dos sobrados e de suas janelas como também a largura estabelecendo ainda normas no preparo das construções das calçadas que deveriam ser revestidas de pedras lageadas Tal legislação proibia degraus de pedras ou tijolos do lado exterior da construção mandando retirar dentro de um ano os existentes Proibia ainda a existência de canos de esgotos com lançamento nas ruas de dejetos ou líquidos que não fossem águas pluviais assim como ordenava a colocação de calhas nas extremidades dos telhados voltados para as ruas A maioria das ruas não possuía sequer meiofio e as casas não estavam em alinhamento perfeito existindo umas mais recuadas e outras mais salientes Por outro lado não havia regularidade em sua largura ora com uma dimensão ora com outra ao longo de sua extensão A lei citada mandava que fosse de 80 palmos para as novas ruas abertas na cidade e nos povoados do seu termo Estas e outras medidas foram tomadas com o intuito exclusivo de amenizar o feio quadro urbanístico da Cidade que mais fazia lembrar uma metrópole medieval Na época eram comuns os banhos de pessoas despidas na Fonte Pública de Tambiá em Gravatá na Cacimba do Povo na Fonte dos Milagres e de Maria Feia No cais da Cidade também se tomava banho da mesma maneira sem roupas Hábito herdado do índio mesmo salutar e prático feito com naturalidade não mais se enquadrava numa Cidade que aos poucos ganhava foros de cidade civilizada o hábito deixou de ser praticado por força de lei passando o Poder Público a multar os infratores com dois mil réis os que se banhassem despidos de 6 às 19 horas se reincidente com o dobro do gravame estipulado Não era raro o encontro de homens nas ruas apenas de calças sem camisas isto foi também vedado pela legislação editada e o infrator que incidisse na vedação estaria sujeito a multa de igual valor nos casos de banhos em total nudez nas Fontes Públicas A água de boa qualidade era retirada das cacimbas existentes no fundo dos quintais puxada em latas amarradas a cordas ou então trazida em barris das Fontes Públicas no lombo de burros tangidos por escravos ou ainda comprada àqueles que se dedicavam a tais encargos de abastecimento residencial do líquido A Cidade não tinha saneamento sendo os banheiros localizados fora do corpo da casa no quintal junto às fossas nem sempre existentes com os requisitos higiênicos compatíveis Os edifícios públicos eram em pequeno número sem imponência com precária conservação O Palácio da Presidência ocupava desde 1771 a Casa do Colégio dos Jesuítas localizandose aí em outra ala ocupada pelos Seminários dos Jesuítas as dependências do Liceu A Cidade contava também com uma Cadeia o Prédio Novo por ser de construção mais recente a Casa do Tesouro Provincial e a Casa da Pólvora assim como possuia Quartel para o Corpo da Guarnição e para o Corpo de Polícia Entretanto as Igrejas apresentavam marcante imponência em suas construções grande beleza arquitetônica com seus lavores em madeira ou canta ria Na realidade esses templos católicos davam certo prestígio à paisagem urbana da Cidade da Paraíba Podemos citar alguns devorados pela pressão do progresso como as igrejas das Mercês da Conceição do Rosário Outros ainda permanecem como testemunhos de uma época e em abono de nossa afirmação decorridos tantos anos superando mesmo as edificadas posteriormente a Igreja e Mosteiro de São Francisco possuidora do mais amplo e artístico adro do Brasil com seus azulejos descrevendo a história de José do Egito e seus altares entalhados em madeira e revestidos a ouro o Convento de Nossa Senhora do Carmo e a sua bela Igreja a Igreja da Santa Casa construída por Duarte Gomes da Silveira Senhor de Engenho que a levantou às suas expensas e nela está sepultado ao lado de sua mulher a Igreja do Senhor do Bomfim onde estiveram expostas as cabeças e as mãos dos mártires paraibanos da malograda Revolução de 1817 e ainda a Matriz de Nossa Senhora das Neves Algumas dessas Igrejas conservavamse abertas até às 20 horas e grande número de sepultamentos era feito em suas dependências A partir de 1850 esta prática foi diminuindo com a construção do Cemitério do Senhor da Boa Sentença edificado com o investimento de dois contos de réis A partir de 21 horas era dado o toque de silêncio e de recolhimento na Cidade simultaneamente pelos sinos das Igrejas de São Francisco São Bento e do Carmo Como a Cidade era pequena e não houvesse qualquer poluição sonora a ordem era ouvida em toda a área citadina morrendo as ondas sonoras muito além do perímetro urbano Silenciados os sinos eram fechadas as portas das poucas casas de comércio com o recolhimento dos respectivos proprietários ao interior de cada uma ali onde normalmente moravam Permaneciam abertas no entanto as boticas onde eram aviadas as receitas subscritas pelos poucos facultativos existentes Nessa época não contávamos com um teatro A primeira casa do gênero de iniciativa particular localizada na Rua da Areia já havia encerrado as suas atividades Somente no ano de 1861 José de Lima Penante contou com a colaboração de alguns amigos para abrir no Largo das Mercês atual Praça 1817 o Ginásio Paraibano no exato local onde hoje se ergue a Igreja Presbiteriana Uma referência especial merece a situação da iluminação pública da Cidade Com efeito as ruas becos largos e travessas em número de 40 eram iluminados por uma centena de lampiões providos de candieiros com pavios de algodão alimentados a óleo de mamona ou de peixe Os lampiões quase sempre eram presos a um suporte de ferro na maioria das vezes chumbado na parede das casas de preferência numa esquina Como seu número fosse pequeno os lampiões eram também colocados à grande distância um do outro mesmo tratandose de uma Cidade pequena a reduzida luz produzida mergulhava as artérias em penumbra fato que denunciava a precariedade da iluminação Sair à noite depois do toque de recolher seria quase temeridade somente em casos especiais de muita urgência a população ousava fazêlo Mesmo assim eram tomadas as necessárias precauções Quem saísse à rua era sempre acompanhado de escravos conduzindo archotes O Governo entregava o serviço de iluminação pública a adjudicatários que se obrigavam a conservar em bom estado e em perfeito funcionamento os lampiões estes deveriam permanecer acesos sempre que preciso A iluminação da Capital custou aos cofres da Província no ano de 1859 a importância de oito contos de réis com os gastos assim distribuídos seis contos com a manutenção e dois na aquisição de novos lampiões Eis o primeiro indício prático das providências adotadas pela Cidade na preparação da visita do Imperador D Pedro II que todos chamavam a visita imperial Os lampiões permaneciam acesos das seis e meia da tarde às cinco da manhã em noites de maior escuridão Em noites de luar eram acesos um quarto de hora antes da lua desaparecer assim ficavam até o amanhecer Nas quatro noites subsequentes à Lua Nova os lampiões continuavam iluminando das seis e trinta às cinco da manhã Por outro lado em noites de Lua Cheia permaneciam apagados durante as duas noites que a antecediam e acompanhavam a fase lunar A Cidade ainda possuía segundo os registros daquela época aspectos particulares e interessantes A medicina de então era das mais atrasadas Nada ou quase nada poderia fazer para debelar as febres como eram rotulados todos os processos infecciosos acompanhados de elevação de temperatura Morriase de febre tifóide infecção endêmica em grande parte decorrente da falta de cuidados higiênicos de febre amarela impaludismo caimbras de sangue sífilis cólera etc Nessa época e mesmo anos depois os facultativos ainda acreditavam nos miasmas como se depreende da leitura do Relatório de um médico do século passado que dizia Este fenômeno que se repete anualmente só pode ser expli cado pelo excesso de miasmas palustres e telúricos que desprendese dos inúmeros focos de infecção existentes dentro e fora do perímetro desta Capital A terapêutica girava em torno dos chás sinapismos sangrias e clysters Sangravamse os hemorragicos aplicavamse purgativos nos disentéricos e para esconder a ignorância usavamse expressões em trôpego latim A Cidade contava com o Hospital Militar e o da Santa Casa de Misericórdia aquele atendia aos militares e este aos indigentes que quase sempre morbriam buscando a cura Os pacientes ricos eram tratados em casa não se internavam no hospital A Instrução não poderia ter outra imagem limitavase a poucas e precárias escolas de primeiras letras nas quais os alunos aprendiam a ler e a escrever assim como rudimentos de aritmética e catecismo Existiam ainda aulas de latim nas quais os alunos liam e traduzíam clássicos da língua referida O ensino no Liceu era mais eficiente preparando aqueles que iam estudar Direito em Olinda ou Medicina no Rio de Janeiro Nesse educandário eram ensinadas as seguintes cadeiras Latim Francês Retórica Poética Geografia e História Filosofia Racional e Moral Trigonometria Aritmética Geometria Álgebra até equação do segundo grau e Desenho Seguiase a duras penas o sistema de ensino em vigor no Império Era esta em síntese a situação geral da Cidade da Paraíba antes de um auspicioso evento a visita do Imperador D Pedro II II RUMO AO NORDESTE Desde cedo o Imperador D Pedro II manifestou desejo de conhecer as Províncias do Império não somente como estudioso também como Chefe de Estado Não poucas vezes ele ressaltou o interesse de ver in loco as necessidades peculiaridades e particularidades de cada região imperial para envolver uma visão global da grande Nação que governava Parecialhe indispensável esse conhecimento a fim de que mais seguramente pudesse adotar providências quanto às diversas áreas geográficas do Império em proveito do desenvolvimento nacional Assim por motivos circunstanciais decidiu começar pelo Sul indo em 1845 às Províncias de Santa Catarina São Pedro do Rio Grande do Sul e São Paulo Quatorze anos depois em 1859 deliberou empreender a segunda excursão fixandose nas Províncias do Norte e do Nordeste regiões sabidamente das mais atrasadas como aliás ainda hoje ocorre em confronto com o CentroSul do País D Pedro II formalizou a comunicação oficial do seu intento através da Fala do Trono de 11 de setembro de 1859 assim expressandose Para melhor conhecer as Províncias do meu Império cujos melhoramentos morais e materiais são o alvo de meus constantes desejos e dos esforços do meu Governo decidi visitar as que ficam ao Norte do Rio de Janeiro sentindo que a estreiteza do tempo que media entre as sessões legislativas me façam a percorrer somente as Províncias do Espírito Santo Bahia Sergipe Alagoas Pernambuco e Paraíba reservando a visita às outras para mais tarde Durante seu longo Reinado foi impedido por motivos de ordem pessoal e política de visitar todo o Brasil Disto queixouse no exílio poucos dias antes de morrer em conversa com Taunay Eis o que Taunay lhe ouviu Se voltasse ao Brasil trataria de satisfazer logo um ardente desejo que tenho o de visitar cinco vastas circunscrições da nossa terra que não conheço de visu Mato Grosso Goiás Maranhão Pará e Amazonas Assim apagaria uma lacuna que muito me aflige Mesmo no exílio pobre doente despojado do seu poder temporal e esquecido por aqueles que mais dele receberam excetuados os poucos amigos leais que o acompanharam seu pensamento continuava voltado para a Nação que sabiamente governou durante quase meio século Resolvida a realização da viagem D Pedro II designou através dos canais competentes os membros da sua comitiva que ficou assim constituída Visconde de Sapucahy camareiro Conselheiro Luiz Pereira do Couto Ferraz veador Conselheiro Antonio Manuel de Melo guardaroupa Dr Francisco Bonifácio de Abreu médico da Imperial Câmara Dr Antonio de Araujo Ferreira Jacobina mordomo Cônego Antonio José de Melo capelão Dona Josefina da Fonseca Costa dama da Imperatriz Conselheiro João de Almeida Pereira Filho Ministro e Secretário dos Negócios do Império e Dionísio Antonio Ribeiro Feijó Oficial de Gabinete Além destes ainda figurou na comitiva imperial um escalão de segunda linha auxiliar com nomes inscritos nos livros da Mordomia um mestre de copa e seu ajudante um maitre de cozinha três cozinheiros sendo um de 1ª classe e dois de 2ª mais um ajudante um padeiro a criada particular da Imperatriz Maria José da Conceição de Araujo o criado particular do Imperador Manuel Joaquim de Paiva um escriturário seis moços da prata um varredor um moço de montaria cinco cocheiros três moços da estribeira três moços auxiliares subalternos e quatro escravos A Família Imperial embarcou no vapor APA da Companhia Brasileira de Paquetes a Vapor comboiado pela Fragata Amazonas pela Canhoneira Belmonte e pela Corveta Paraense A esquadra assim composta era comandada pelo ViceAlmirante Joaquim Marques Lisboa futuro Marquês de Tamandaré No APA embarcaram além de Suas Majestades o futuro Marquês de Tamandaré acompanhado de seu Ajudante de Ordens Primeiro Tenente Manuel Carneiro da Rocha seu Secretário Primeiro Tenente Antônio Marcelino da Ponte Ribeiro Conselheiro Luiz Pereira o visconde de Sapucahy Conselheiro Antonio Manuel de Melo Dr Francisco Bonifácio de Abreu Antonio de Araujo Ferreira Jacobina Cônego Antônio José de Melo D Josefina da Fonseca Costa Con selheiro João de Almeida Pereira Filho e Dionísio Antônio Feijó O vapor APA possuía a seguinte oficialidade Comandante Capitão de Mar e Guerra Francisco Pereira Pinto Oficiais Capitão de Fragata José Secundino Gomensoro CapitãesTenentes João Carlos Tavares e Francisco Edwiges Brício e o Dr Propício Pedroso Barreto de Albuquerque médicocirurgião A Fragata Amazonas era comandada pelo CapitãoTenente Teotônio Raimundo de Brito e contava com a seguinte tripulação PrimeirosTenentes José Manoel de Araujo Cavalcanti de A Lins Silvino José de Carvalho Rocha Henrique Francisco Martins e Bonifácio Joaquim de Santana Guarda Marinha José Carlos Palmeira Dr Francisco Henriques da Costa Cirurgião e Capelão Padre João de Santa Presciliana Melo A Canhoneira Belmont era comandada pelo PrimeiroTenente Antonio de Mariz e Barros contando com a seguinte oficialidade SegundoTenente João Antônio Alves Nogueira GuardaMarinha Frederico G Lorena Conduzia também o Dr Joaquim Monteiro Caminhoá médicocirurgião Por sua vez a Corveta Paraense viajou sob o comando do CapitãoTenente Delfim Carlos de Carvalho e a seguinte tripulação PrimeirosTenentes Joaquim Guilherme Melo Carrão João Evangelista Cordeiro de Araujo Lima e Pedro Ferreira de Oliveira além do Dr Ermelino Cesar da Silva cirurgião Um fato merece especial saliência todas as despesas efetuadas com a viagem à Paraíba e às demais Províncias correram por conta pessoal de D Pedro II como se o Imperador estivesse empreendendo uma excursão turística para regalo íntimo como se não estivesse no desempenho de um dever inerente às suas funções conspícuas Não dispondo de numerário bastante naquela ocasião D Pedro II teve que fazer empréstimos o primeiro dos quais da ordem de vinte contos de réis Os membros de sua comitiva e os empregados foram gratificados regiamente pelos serviços prestados durante toda a viagem realizada O total despendido com as gratificações distribuídas elevouse em demasia tendose em vista os preços correntes na época ultrapassando a casa dos sete contos de réis Por isso algumas dessas gratificações tiveram de ser pagas parceladamente como foi o caso da Dama da Imperatriz que recebeu a importância de 3600000 em seis prestações III EXPECTATIVA DA CHEGADA Governava a Província da Paraíba o Dr Ambrósio Leitão da Cunha natural do Pará e formado em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de São Paulo contava então apenas 34 anos de idade Após a visita do Imperador foi ele agraciado com o título de Barão de Mamoré ostentava ainda os graus de Comendador da Ordem da Rosa e da Ordem de Cristo Em 12 de agosto de 1859 o Presidente da Província recebeu ofício do Senhor Ministro dos Negócios do Império comunicando que Suas Majestades visitariam a Paraíba ao mesmo tempo enviava o oficiante a importância de um conto de réis para a cobertura das despesas que seriam feitas nos alojamentos onde deveriam ficar Suas Majestades Em 6 de setembro do mesmo ano o Dr Ambrósio Leitão receberia mais três contos de réis para a aquisição de mobílias e objetos de decoração O Palácio da Presidência da Paraíba funcionava no antigo Colégio dos Jesuítas a construção da tando do século XVIII fora adaptada às novas exigências depois de pequenas reformas Não dispunha o casarão dos requisitos de conforto e bomgosto à altura da hierarquia dos visitantes Era de todo necessário remodelar seu interior com a substituição total ou parcial dos móveis revestimento de paredes colocação de tapetes etc A situação preocupava o Presidente da Província que sobre o assunto dirigiu ofício ao Ministro dos Negócios da Fazenda Conselheiro Angelo Muniz da Silva Ferraz da leitura do ofício depreendese o estado de penúria da Residência Presidencial na Paraíba O expediente com efeito dizia Havendome V Exa determinado que fizesse decorar o Palácio da Presidência onde devem residir SS MM II enquanto aqui estiverem vi logo que não existe no Palácio cousa alguma que pudesse ser aproveitado convenientemente para o serviço de SS MM no estado em que se achava A mobília toda da casa o serviço de mesa eram tão ordinários ou deficientes que forçosamente deviam ser substituídos ou aumentados Além disso as salas e quartos ou não tinham papel nas paredes e esteiras no chão ou as tinham completamente estragados Nestes termos resolvi o caso de modo conveniente a receber Sua Majestade não com luxo mas ao menos com a necessária decência o que não pude conseguir apesar da mais restrita economia que empreguei para haver a mobília e objetos de decoração sem que as respectivas contas se elevassem a 6797920 A adjudicação a terceiros da tarefa de adaptar o Palácio para a residência temporária de Suas Majestades Imperiais critério que prevaleceu na Bahia não se tem notícia sobre se igualmente em Pernambuco pareceu ao Presidente Ambrósio Leitão não ser compatível com a dignidade do Governo nem com o decoro nacional mormente em proveito de uma economia de dois ou três contos de réis muito insignificante acrescentou o Presidente ao meu ver em relação ao objetivo extraordinário e elevado de que se tratava O comerciante Francisco Alves de Souza Carvalho foi incumbido de adquirir no Rio de Janeiro e em Pernambuco a mobília e o material de decoração a serem utilizados no Palácio da Presidência Eis a relação dos equipamentos adquiridos por aquele comerciante para esse fim autorizado pelo Governo da Província uma mobília completa de último gosto para a sala de recepção 158 côvados de tapetes finos para o chão da mesma sala e 13 ditos para o docel uma cama para casados com todos os acessórios bem como mobília e utensílios próprios de um quarto para Suas Majestades Imperiais e 2 ditos de vestir um para Sua Majestade o Imperador e outra para Sua Majestade a Imperatriz um serviço fino e completo para almoço jantar e chá 50 peças de papel fino para forro das salas e alcovas 225 jardas de esteira para chão de salas e quartos O Governo ainda comprou outros objetos indispensáveis à dignidade dos ilustres hóspedes um serviço de prata lavrada para refeições outras mobílias destinadas às demais dependências de salas e quartos sem considerar os utensílios para o décor de porcelana bronze e cristais para embelezamento dos ambientes interiores do Palácio Com o Palácio futuro Paço foi despendida a importância de 6797920 Como só dispusesse o Presidente de uma verba extraordinária de 4 contos de réis concedida pelo Ministro dos Negócios da Fazenda foi necessário solicitar reforço do numerário correspondente à diferença no valor de 2797920 A solicitação foi de pronto atendida ante as justificativas apresentadas principalmente a falta de meios financeiros nos cofres da Província O Governo preparava a cidade para receber os augustos visitantes As despesas iam subindo em progressão geométrica obrigando a Assembléia Legislativa a decretar sob sanção do Presidente a Lei nº 30 de 3 de outubro de 1859 O Presidente ficou autorizado por ela a despender nas forças do cofre provincial a quantia que for necessária para solenizar convenientemente a honrosa e patriótica visita de Sua Majestade Apesar da amplitude da autorização contida na referida Lei ficava ainda o Presidente arcando com despesas muito superiores aos parcos recursos do Tesouro Provincial No decurso da conjuntura eis que recebe dos abastados sobretudo os componentes da aristocracia rural uma ajuda financeira para acudir às despesas elevadas da época com a recepção programada A cidade preparavase para a visita Imperial com a limpeza do mato e o conserto dos buracos nas vias públicas principalmente nas artérias por onde deveria passar o cortejo de Sua Majestade As casas foram caiadas por dentro e por fora retirandose o musgo que medrava nos beirais das residências Os castiçais das Igrejas e das casas particulares os candieiros de cobre e bronze foram polidos com limão sal vinagre e cinza de borralho Os militares inspe cionavam seus comandados verificando o estado de conservação das fardas bonés espingardas sabres e espadas As damas da sociedade faziam descer das prateleiras peças e mais peças de seda francesa transformadas em vestidos a serem exibidos nas várias solenidades Havia no movimento da cidade uma excitação inusitada a visita de Suas Majestades tonificava o clima social como assunto dominante em todas as rodas e conversações O regozijo contagiava era geral atingia todas as camadas da comunidade Os móveis residenciais de jacarandá amarelo vinhático mogno e jurema passaram a ser restaurados e envernizados as palhinhas das cadeiras canapés sofás e conversadeiras foram substituídas por outras novinhas Janelas e portas receberam guarnições de cortinas adamascadas ou de cassa Escravos foram postos a trabalho dobrado limpando lavando escovando dando em tudo um ar de novo A cidade vivia uma atmosfera diferente na aproximação da data de tão auspiciosa visita Nas cosinhas grandes espaçosas mas quase sempre mal iluminadas com pisos de tijolo cosido não faltava a fumaça da lenha usada nos fogões onde também a azáfama não era pequena o correcorre era constante Os tachos de cobre foram areados polidos e entregues às escravas quituteiras que neles preparavam doces de coco caju peluche banana e demais frutas da estação Não esqueceram as donas de casa de fazer os bolinhos de goma raivas sequilhos e cavaquinhos juntando massa de mandioca para a preparação dos pésdemoleque e outras guloseimas Não havendo hotéis todos ou quase todos os possuidores de residências na Capital hospedar iam pa rentes ou amigos vindos do interior durante a estada de Suas Majestades para participar das solenidades ou simplesmente ver de perto os Imperadores Muitos aqui chegaram com a antecedência de vários dias com tempo para a confecção de roupa adequada nas costureiras ou alfaiates da melhor categoria Era uma imposição do momento segundo os costumes de então as residências estariam preparadas a capricho para receber condignamente com mesa farta e rica em sobremesas aqueles que vinham assistir aos atos tão ansiosamente esperados Os perus e os capões cevados pelo bico tinham previamente traçados os calendários de sacrifício Enfim era toda uma cidade regorgitante que se aprontava para o grande dia Os escravos e criados não foram esquecidos tiveram preparo condigno e participariam sem desar no sereno dos festejos tiveram direito a roupa nova com calças e camisas de tecido riscado para os homens e vestido de chita colorida para as mulheres No dia 18 de outubro de 1859 a Câmara Municipal reuniuse para tratar da chegada e recebimento de Suas Majestades Imperiais em visita a esta Província ocasião em que o vereador Dr Sérgio Rangel apresentou as indicações seguintes 1ª que se mandasse celebrar um Te Deum Laudamus ao terceiro dia da chegada de Suas Majestades Imperiais em felicitações e ação de graça pela próspera viagem 2ª que a Câmara conserve durante todas as noites enquanto Suas Majestades aqui estiverem a iluminação da frente do Paço 3a que se nomeie uma comissão de três membros para promover assinaturas entre os vereadores e dirigir o Te Deum A Câmara Municipal era presidida pelo Dr Francisco de Carvalho Junior secretariada por Joaquim Francisco Monteiro da Franca e tendo ainda dentre os seus membros Bezerra Cavalcanti de Albuquerque e Narciso de Carvalho A Presidência da Província determinou que a Guarda Nacional praticasse exercícios todas as quintasfeiras até a data da chegada de Suas Majestades Imperiais que deveriam ser recebidos com limpeza e garbo A Corporação encontravase carente de disciplina e instrução indispensáveis a uma tropa regular O Dr Ambrósio Leitão da Cunha queixavase do seu Comandante Superior que residia fora da Capital no seu engenho distante três léguas Outro tanto ocorria em relação ao Chefe do Estado Maior da Guarda Nacional que também morava em seu engenho nada menos de quatorze léguas fora da Capital O empreiteiro Francisco Soares da Silva Retumba foi incumbido de superintender a reforma a ser feita no Paço e de tudo que estivesse ligado à visita de Suas Majestades sob a supervisão do próprio Presidente Da Comissão dos Festejos criada pelo Chefe do Governo faziam parte Coronel Francisco Alves de Souza Carvalho Dr Felizardo Toscano de Brito e Dr João José Inocêncio Pogge A 26 de novembro de 1859 o público tomou conhecimento através dos jornais do programa da recepção assim descrito O Presidente da Província recomenda que por ocasião da chegada de Suas Majestades Imperiais a esta Província se observe o seguinte se o contrário não for determinado 1º Logo que da Fortaleza de Cabedelo avistarse a Esquadra Imperial içarseá nesta o Pavilhão Nacional com dois tiros de peça Este sinal será correspondido pelo telégrafo colocado na torre do Colégio aí será içado o Pavilhão Nacional com dois tiros de canhão no Quartel do Meio Batalhão e subindo imediatamente ao ar duas girândolas com intervalos de dois minutos de uma para outra Em seguida repicarão os sinos das Igrejas da Capital com espaços de dez minutos 2º Ao aproximarse da barra a Esquadra salvará a Fortaleza de Cabedelo o Pavilhão Imperial logo que a mesma esquadra passar pela Fortaleza esta salvará novamente assim como o navio ou navios de guerra porventura existentes na ocasião dentro do Porto 3º As embarcações surtas no Porto deverão tomar posições convenientes e colocarse de modo a não impedir ou embaraçar o trânsito ou a aproximação da Esquadra Imperial ao cais O capitão do Porto dará as instruções necessárias para a colocação dos navios e para o mais que convier à Polícia do mesmo Porto sujeitando as instruções à aprovação da Presidência 4º Ao primeiro sinal da aproximação da Esquadra Imperial formará a Brigada composta do 1º Batalhão da Guarda Nacional e do Meio Batalhão de Linha no Largo do Quartel deste sob o comando do Comandante Superior ou do seu substituto na forma das ordens em vigor marchando para o Varadouro Dalí desfilará em alas até a Porta do Palácio pelas ruas que estão indicadas para o trânsito de Suas Majestades Imperiais Estes corpos irão formados em pelotões na retaguarda da Comitiva Imperial até o pátio do Palácio onde farão as marchas em continência darão as descargas e os vivas de estilo Depois destacandose a Guarda de Honra que deverá ficar no Paço Imperial a força será recolhida aos quartéis se não houver outra ordem 5º São convidados os funcionários públicos civis militares e eclesiásticos bem como todos os cidadãos para assistirem ao desembarque de Suas Majestades Imperiais 6º Depois da cerimônia de ósculo do crucifixo que será apresentado pelo Rvm Visitador ou na sua falta pelo Rvm Vigário da Capital no Pavilhão que se achará preparado na Praça do Varadouro a Câmara Municipal apresentará suas homenagens às Suas MM II 7º As senhoras que comparecerem à recepção de Suas Majestades Imperiais ficarão no Pavilhão donde sairão para irem receber a mesma Augusta Senhora no ato de seu desembarque e acompanhála até o Paço Imperial 8º No trajeto de Suas MM II até o Palácio observarseá esta ordem a os cidadãos que não estiverem compreendidos nas classes abaixo designadas b os funcionários públicos que não são especialmente indicados nos seguintes números c os oficiais do Exército que não estiverem em forma os da armada das extintas milícias e da Guarda Nacional assim como as pessoas que gozam de honras militares d as pessoas condecoradas com as diversas ordens honoríficas os que têm o tratamento de Senhoría os ViceCônsules os Chefes de Repartição Pública os Juízes de Direito os Membros da Assembléia Legislativa os Deputados à Assembléia Geral e os Fidalgos da Casa Imperial e os cléricos regulares e seculares os párocos f atrás do pálio as senhoras os grandes do Império as pessoas da Casa Imperial e os que têm tratamento de Excelência g os quatro Juízes de Paz do Distrito da Capital são incumbidos de man ter a ordem do préstito como fica determinado h desembarcando Suas Majestades Imperiais na ponte predisposta para esse fim no Varadouro e saindo do respectivo Pavilhão seguirão o trânsito seguinte se outra ordem não for dada Calçada do Varadouro Rua da Areia Rua da Conciliação Praça do Quartel Ladeira das Pedras Rua Direita e por aí ao Paço Imperial fazendo antes oração na Igreja do Colégio querendo i se da Fortaleza de Cabedelo avistarse a Esquadra Imperial à noite içarseá no mastro da bandeira um lampião com dois tiros de peça correspondendo o telégrafo de Palácio em sinal idêntico menos os tiros Neste caso formará a força da Guarnição em seus respectivos quartéis e aguardará as ordens desta Presidência Um grupo de paraibanos com a aquiescência do Presidente da Província criou o chamado Batalhão Patriótico com a finalidade de homenagear Suas Majestades Imperiais acompanhando e escoltando o Imperador nas suas visitas à Capital e ao Interior Entretanto quando já criado e organizado eis que surge um outro grupo intitulado Batalhão Popular comandado por José Lucas de Souza Rangel Eram as facções políticas da época as rivalidades provincianas a inveja como ainda hoje existem em nosso meio talvez herdadas do ranço lusitano Aqueles que integravam o Batalhão Patriótico primeiramente organizado deram uma lição de civismo e desprendimento dissolvendo a organização e in corporandose à outra facção posteriormente criada para que não fossem empanadas com rivalidades locais as manifestações de regozijo às Suas Majestades Imperiais Na imprensa local o Comandante e Oficiais do Batalhão Patriótico fizeram publicar o seguinte manifesto Os abaixo assinados Comandante e Oficiais do Batalhão Patriótico que começou a organizarse para solenizar e vitoriar a memorável visita dos nossos Augustos Monarcas a esta Capital observando a criação de um outro Batalhão denominado Popular com o mesmo louvável fim a cuja frente deverá apresentarse o distinto cidadão Sr José Lucas de Souza Rangel um dos mártires de nossa liberdade ancião muito respeitável e credor por todos os títulos de tão subida honra que mesmo já havia sido consultado por deliberação espontânea do sobredito Comandante e Oficiais para assumir aquele honroso posto no citado Batalhão Patriótico do que são órgãos considerando que para festejar tão honrosa visita todos os brasileiros qualquer que seja sua cor política devem unirse em um só pensamento forçando assim o desgosto que traz consigo a rivalidade ponderando que a nossa escassa população não pode suportar a formatura de dois Batalhões em força suficiente a apresentaremse numerosos sendo muito sensível o espetáculo de duas facções que não obstante animadas de um mesmo sentimento manifes tam todavia por aquele fato desuniao refletindo que muitas pessoas importantes desta Capital conhecendo agora a excelencia da ideia aparecem atualmente em campo animadas de todo entusiasmo para levarem ao cabo tao patriotica empresa reconhecendo nessas mesmas pessoas mais titulos e habilitacoes que os abaixos firmados possuem para execucao de um objeto tao grandioso e digno o Comandante e Oficiais do sobredito Batalhao Patriotico resolveram declinar da honra que lhes foi concedida em presença das razoes expostas e dissolvem como de fato por esta tem dissolvido o mesmo Batalhao desligando de seus compromissos todos aqueles individuos que se dignaram anuir ao seu convite cujo concurso poderoso os deixa assas penhorados e agradecidos incitandoos para engrossar as fileiras do Batalhao Popular sob o Comando do digno Chefe indicado do qual eles mesmos indistintamente e como simples praqas farão parte a fim de que SSMMII reconheçam que o povo desta Capital e unanime e compacto em vitorialos e deixa a margem quaisquer caprichos mesquinhos e intrigas individuais quando se trata de provarlhes seu amor e adesao Paraiba 24 de novembro de 1859 Joao Rodolfo Gomes Manuel Cactano Veloso Antonio Francisco DAvila Jucundiano Rodolfo de Oliveira Jose Francisco de Ataide e Melo Joaquim da Costa Serafim Dr Francisco Antonio Vital de Oliveira Elias Francisco Min delo Severiano Elisio de Souza Gouveia Firmino Xavier Vidal Vicente Gomes Pessoa Antonio Jose Lopes Francisco Jose do Rosario Junior Joao Francisco da Rocha Ataide Candido Gregorio dos Santos Siqueira Manoel Odorico Cavalcanti de Albuquerque Joao Pinto Rodrigues de Paiva Antonio Francisco Ramos Estanislau Dantas Galesia e Dominiciano Lucas de Souza Rangel Durante a noite de 1 de dezembro reuniuse o Batalhao Popular em casa do seu Comandante Jose Lucas de Souza Rangel suas fileiras foram engrossadas por aqueles que integravam o movimento dissolvido Nesta reuniao foram eleitos os Oficiais Após o término dirigiramse tendo á frente o seu Comandante e a Banda de Música á residencia do Presidente da Provincia percorrendo as ruas da cidade dando vivas às Suas Majestades Imperiais O Batalhao Popular tomou a iniciativa da limpeza do Cruzeiro de Sao Francisco e do Adro do mesmo Templo retirando o musgo de suas paredes e erradicando as gramineas que medravam emprestando aspecto de total limpeza ao local então considerado um dos mais belos da Capital O Presidente da Provincia apressouse em escrever ao Juiz de Direito da cidade de Pilar Dr Luiz Correia de Queiroz comunicandolhe que Sua Majestade desejava percorrer alguns povoados próximos do litoral e possivelmente estariam incluidos no roteiro aquela comunidade e a povoacao de Gurinhem O Presidente também solicitou ao magistrado como principal autoridade nestes lugares que promovesse os necessarios arranjos para a conveniente recepcao de Sua Majestade Os padres Bento proprietários do Engenho Marau foram por igual cientificados de que D Pedro II por la passaria O Presidente ainda solicitou que fossem tomadas as providencias cabiveis dirigindose no mesmo sentido aos Srs Francisco Manuel Carneiro da Cunha proprietário do Engenho Tibiri e CapitãoMor Jose Francisco de Albuquerque Maranhão dono do Engenho Santo Amaro Tornarseia indispensavel ademais promover os reparos necessarios nas pontes existentes sobre os riachos que passavam ao lado de suas fabricas de acucar Novas cartas de igual teor foram dirigidas aos outros proprietarios rurais nas quais lhes era pedido uma série de providencias diferentes visandose ao mesmo fim de modo que por onde passasse o Imperador tudo fosse observado a contento Todas as atenções estiveram concentradas no móqno evento da presença do Imperador Chegando ao seu conhecimento que em Mamanguape havia indiferenca da populacao quanto à visita Imperial motivada por certas rivalidades locais o Presidente da Provincia dirigiuse ao Dr Francisco Antonio de Almeida e Albuquerque pedindo encarecidamente sua interferência no sentido de harmonizar os ânimos e terem todos o mesmo ponto de vista A referida autoridade foi bem sucedida Em 5 de dezembro já se sabia que D Pedro II aqui estaria a 24 do mesmo mês e nesta data o Dr Ambrósio Leitão fez um apelo escrito ao 1º VicePresidente Dr Flavio Clementino da Silva Freire que se encontrava em Mamanguape para que se dirigisse a esta Capital o mais depressa possível a fim de preparar sua casa para hospedar o Ministro do Império como também ajudálo na tarefa de conseguir cavalos para a comitiva Imperial A Presidência da Província enviou ao Sr Antonio F Serrano a importância de 400000 a fim de ser aplicada nos melhoramentos necessários à Câmara Municipal de Mamanguape ali possivelmente se hospedaria o Imperador O Presidente determinou ao engenheiro David Polemann que fizesse construir no ponto de desembarque de Suas Majestades e sua comitiva um Pavilhão de madeira no dizer dos jornais de então maior e mais bonito que o de Pernambuco no qual Suas Majestades deveriam receber as primeiras homenagens da Província Documentos da época descrevem longamente esse Pavilhão A ponte de desembarque tem de comprimento 80 palmos e de largura 20 A plataforma que se une à ponte tem 45 palmos de largura e 40 de fundo Por traz desta elevase o frontispício do Pavilhão que geralmente é executado em estilo romano A entrada é formada por três pilastras de 30 palmos de altura ornados de capitéis de ordem toscana entre as quais se acham colocados três arcos o do meio com 25 palmos de altura e 12 de largura os dois laterais com 23 palmos de altura e largura correspondente O vão do arco maior é ornado de um círculo composto de folhas verdes com as iniciais P T pendentes de uma coroa Imperial tudo feito de folhas naturais Estes arcos assentamse sobre pilares salientes de 18 palmos de altura ornados com capitéis correspondentes Em cima dos capitéis principais assen tamse o arquitrave e cornija de ordem toscana com friso largo que tem o dístico Vivam Suas Majestades e Altesas Imperiais limitado por cima com 7 cornijas principais sobre as quais elevamse 5 degraus destinados para trazerem as Armas e as Bandeiras Nacionais e mais 8 bandeiras de diferentes cores raiantes semicirculantes Todo o frontispício tem uma altura de 55 palmos e 45 de largura Detrás do frontispício que forma um arco triunfal estendese o Pavilhão num comprimento de 64 palmos e 45 de largura Cada lado é formado por 6 arcadas de 11 palmos de altura e 9 de largura cujas pilastras se acham igualmente ornadas com capitéis Em cima destas arcadas achase a cornija correspondente e um parapeito interrompido por 5 pilastras e enfeitado de grinaldas de veludo verde O frontão do lado do fundo é formado por 4 pilastras de 24 palmos de altura ornados de capitéis sobre os quais assentamse o arquitrave e a cornija do oitão que acaba em um docel do qual pendem cortinas de veludo verde com franjas amarelas cujas pontas são presas em duas pequenas pilastras laterais ornadas com vasos de porcelana com flores naturais Por baixo do docel achamse as Armas Brasileiras e duas ricas cadeiras de mogno com estofos de damasco amarelo e por cima a Bandeira Nacional e quatro outras de diferentes cores O interior como também toda plataforma e a ponte é alcafifado de tapetes de damasco e decorado com cortinas de seda o docel do lado direito de veludo verde ornado com cortinas de chamalote de seda cor de rosa com franjas Do teto pendem três candelabros As pilastras das arcadas são envoltas com flores artificiais na forma de espiral Em derredor delas circula grande número de arandelas Seis mastros existem aos lados do frontispício ornados cada um com 4 bandeiras de diferentes cores e um Pendão Nacional No percurso a ser feito por Suas Majestades do Porto até o Palácio os lugares de honra foram assinalados com três arcos símbolos do triunfo sob os quais deveria passar o cortejo É provável que o engenheiro Polemann idealizador do Pavilhão localizado no ponto de desembarque tenha também sido o autor ou inspirador dos arcos O primeiro construído com dinheiro do comércio da Capital foi erguido no local denominado Paço com a seguinte descrição Este arco o do Paço é sustentado por duas pilastras com seus capitéis sobre os quais se acham dois jarros com folhas de independência no centro do arco do lado do mar achavase colocada uma grande coroa de metal dourado e do lado da Cidade um globo do mesmo metal O arco sustentava um grande mastro em forma de gávea de navio em que tremulava o Pavilhão Nacional desciam pelos lados várias bandeiras em forma de signos figurando um mastro de navio em dia de grande gala Finalmente uma grande quantidade de pequeninas bandeiras de diversas nações guarneciam o fuste do mesmo arco O segundo arco foi colocado na Rua da Areia na junção desta com a Rua da Conciliação Era de es tilo gótico com 3 arcadas sobre pilastras tendo a do centro 18 palmos de largura e as laterais dez sendo sua elevação pouco superior a sua total largura No centro dos remates góticos que fixavam as arcadas achavamse várias inscrições sobre os quatro lados externos segundo um jornal da época foram colocados quatro mastros venezianos com elegantes bandeiras de seda de diferentes cores No feixe superior da arcada do meio veemse as Armas Imperiais ao natural sendo a Coroa de metal dourado bem como os ramos de fumo e café do mesmo metal pintado o escudo com as estrelas representativas das 20 Províncias de madeira pintada e envernizada saindo do mesmo centro 2 outros com os Pavilhões Brasileiro tudo em seda A meia altura das pilastras achavamse colocados os escudos com as Armas Imperiais tendo de cada lado duas pequenas bandeiras também em seda conforme descrição incluída em documento do século passado O terceiro arco foi erigido em frente à Igreja da Santa Casa de Misericórdia na Rua Direita Este arco é formado de quatro colunas dóricas duas de cada lado sobre pedestais com frisos e cornijas figurando mármore branco tendo nos capitéis e cornijas algumas molduras douradas que faziam realçar a obra existindo de cada lado por cima da cornija um jarro da altura de 8 palmos com ramo de independência O arco fechavase com uma cortina de damasco cujos lados se prendem nas colunas sustentando no meio uma grande coroa de metal dourado e formando por cima de tudo um arco com 6 bandeiras sendo as do centro brasileiras as duas do meio napolitanas uma portuguesa e outra austríaca Na programação foi inscrita uma legenda em homenagem muito especial à Sua Majestade a Imperatriz colocandose nesse arco uma bandeira napolitana gesto que deve ter tocado à bondosa dama fazendoa talvez lembrarse naquela solene ocasião de sua Pátria de origem Por outro lado a D Pedro II abriase um toque de sensibilidade com a presença das bandeiras de Portugal e da Áustria pátrias de seus pais D Pedro I e D Leopoldina respectivamente O Palácio do Governo como já foi dito recebeu uma decoração primorosa com móveis novos tapetes candelabros jarros de porcelana castiçais de cristal etc Houve um milagre de transformação pois o velho casarão pobre e sem móveis despido de objetos de valor e bom gosto era agora uma vivenda nobre confortável e aprazível Para isso muito contribuiu a própria família do Presidente Ambrósio Leitão da Cunha tendo mesmo uma de suas filhas bordado uma almofada que constituiu adorno da sala de despacho de D Pedro II Os documentos da época assim descrevem o Palácio do Governo O Paço Imperial achavase colocado em um ponto central do Bairro Alto em que se divide esta Cidade Ocupa uma das mais belas posições topográficas correndo a fachada do Edifício ao Noroeste e lado direito ao Suleste Tem em frente um largo campo em forma quadrada e do lado direito outro de não inferior dimensão Domina um belo ponto de vista pela frente a Rua Direita desde o magnífico cruzeiro de São Francisco até a das Trincheiras a Rua das Mercês que corre em um dos ângulos do quadro e outras que desembocam no campo e pelo fundo o Bairro Baixo o Rio Paraíba que borda a Cidade e o ancoradouro são os pontos de vista que fecham o horizonte que se oferece aos olhos do observador Na extremidade oposta achavase plantado o Paço da Assembléia Provincial convertido em grande salão ali a Província pretende oferecer às SSMMII um esplendido baile pela visita com que se dignaram de nos honrar No centro contíguo ao Paço Imperial erguese um belo templo que outrora era o Colégio dos Jesuitas depois de sua expulsão entregue este templo à profanação do século já não tinha aquele asseio e decência que são imprescindíveis à morada do Senhor Mas hoje graças ao zelo e sentimentos religiosos de S Exa o Sr Dr Ambrósio Leitão da Cunha o templo oferece aos devotos o asseio e a decência necessários para a celebração do mais sublime sacramento o da Eucaristia O Paço Imperial fora decorado com a maior simplicidade revelandose isso na combinação das cores e na simetria dos ornatos do mais apurado gosto Subindose por uma escadaria de pedra de cantaria fácil se tornava a comunicação com os diversos salões Tanto a escadaria como o corredor foram atapetados com um fino damasco cor de rosa com listras verdes e amarelas sobre forro de esteiras A primeira sala era a de espera decorada com sobriedade O assoalho apresentavase forrado de esteiras e as paredes de papel branco adamascado A mobília era de jacarandá Ornavam as mesas jarros de porcelana dourada castiçais de cristal A mesa do centro foi revestida com um pano de veludo A segunda sala destinavase à recepção de SM Imperial sua apresentação era de gosto O assoalho todo coberto por um fino tapete aveludado sobre fundo branco as paredes forradas com um belo papel branco adamascado com sanefas verdes e as portas pintadas a óleo azul cerúleo No limiar capachos de lã de carneiro Dois grandes reposteiros flutuavam nas duas salas de entrada um para o Gabinete particular de SM o Imperador outro para a sala do docel Dois grandes reposteiros que bordados a agulha desenhavam as Armas Imperiais Essa última sala fora decorada com uma rica mobília de jacarandá primorosamente entalhada ao gosto de Luiz XV sobressaindo um sofá de artístico e custoso entalho Por sobre os consolos e mesa de meio cobertos de fino mármore serpentinas e candelabros de bronze dourados com pingentes de cristal Derredor das paredes arandelas Grandes vasos de porcelana dourada de Sevres enfeitavam o amplo das mesas No fundo da sala um piano de jacarandá Uma comunicação para um terraço a céu aberto estilizavase no ladrilho preparado com pedra de mármore Jarros de flores numa varanda de ferro que deitava para o saguão do edifício coloriam o ambiente A terceira sala era a do docel Viamse o assoalho forrado com um tapete de veludo sobre fundo escuro e as paredes de papel branco adamascado com frisos dourados Pendiam dos umbrais das portas presas por lanças douradas bambidelas de cassa da Índia No centro do teto desenhavamse com dourados e cores nacionais as Armas Imperiais No fundo o trono com os degraus forrados de veludo verde e frisos dourados Cortinados de damasco de seda verde franjados de fino galão e presos por bordas de ouro deixavam ver a efígie de SM o Imperador A quarta sala fora reservada para o Gabinete de Despachos de SM o Imperador Com o assoalho forrado de tapetes e as paredes de papel adamascado de branco e azul ainda mais se avivava o cenário com uma rica mobília de jacarandá composta toda de cadeiras de braços com esmero entalhados Os consolos cobertos de mármore jarros de vidros com frisos dourados e castiçais de bronze dourados tinham lustre Sobre um sofá notavase uma lindíssima almofada de encosto de veludo carmesim primorosamente bordada a ponto de marca e contas por uma das filhas do Presidente da Província a tela revelava apurado gosto e suma perfeição No fundo uma grande mesa de jacarandá em forma de escrivaninha Um projeto de ponte de ferro sobre o Rio Sanhuaú oferecido por Thomas Dixon Lowdem e um vaso de porcelana contendo trigo produzido na Província completavam os arranjos A quinta sala destinavase às refeições O assoalho apresentavase forrado de esteiras e as paredes de um belo papel com paisagens de Nápoles No centro uma grande mesa elástica em amarelo vinhático numa das cabeceiras outra menor da mesma madeira especialmente reservada para SSMMII Ornavam os lados quatro aparadores de mogno cobertos de mármore além de outro de maior dimensão em amarelo vinhático contendo um serviço de prata primorosamente lavrada para almoço com salvas paliteiros e dois guardaroupas da mesma madeira pejados de diferentes peças do serviço de mesa de porcelana dourada de Sèvres Vinhos finos gulozeimas de confeitaria e uma variedade de doces alguns preparados com apreciadas frutas do Pará A sexta sala compunha o compartimento reservado à toalete de SM a Imperatriz O chão era forrado de fina esteira e as paredes de papel adamascado com listas verdes O mobiliário era de gosto um guardavestido com desenhos de madeira nas portas um toucador de erable embutido de mogno e coberto de pedra mármore ornado com uma serpentina de bronze dourado com pingentes de cristal e objetos de boa perfumaria um lavatório da mesma madeira com um espelho no centro e mais um serviço da mais fina porcelana de Sèvres toalhas de linho com labirintos um grande espelho para vestir da mesma madeira um consolo de mogno coberto de pedra mármore tendo sobre ele castiçais de bronze dourado com pingentes de cristal e uma bonita escrivaninha de prata em forma de concha com a figura de Mercúrio sobre um globo dourado cadeiras de mogno e apetrechos complementares A sétima sala compunha o camarim de dormir Assoalho forrado de fina esteira e paredes de papel adamascado No centro uma bela cama francesa de erable com guarnição de mogno Uma colcha de seda pesada de cor amarela sobre finos lençóis de linho cobria o colchão Almofadas umas de setim cor de rosa e outras amarelas vestidas de fronhas de fino linho com crivos bordados à agulha adornando as cabeceiras da cama Da cúpula cercada de sanefas de seda verde desprendiase sobre a cama riquíssimo cortinado de lindíssimo linho branco todo bordado à agulha Na cabeceira da cama duas banquinhas de erable com guarnecidos de mogno cobertas de pedra mármore aos lados capachos de lã de carneiro Toda a mobília é de mogno As vidraças abertas sobre o camarim foram forradas de seda amarela com franjas verdes A oitava sala a do camarim de vestir de SM o Imperador tinha o assoalho forrado de esteiras e as paredes de papel branco adamascado Possuía um lindo guardaroupa de mogno do mesmo gosto que o de SM a Imperatriz Um lavatório de erable guarnecido de mogno coberto de mármore contendo todo o serviço de porcelana variada perfumaria e ao lado uma bela toalha de linho fino com bordado a agulha dois consolos de mogno cobertos de pedra mármore granitosa tendo sobre eles quatro castiçais de bronze dourado fingindo figuras de Orpheu uma linda charuteira com os mais finos charutos e um pequeno castiçal de prata próprio para a charuteira Uma cama de mogno coberta com uma colcha do damasco ver de que ocultava um brando colchão com almofadas de encosto de setim cor de rosa vestidas de fronhas de linho fino bordado à agulha De uma das paredes da sala pendia uma linda adalia de floco para descanso de relógio A nona sala a do aposento da Dama de Honor de S M a Imperatriz possuia as paredes forradas de papel escuro damascado A sala estava decentemente mobiliada com trastes de jacarandá As demais salas da 10ª a 15ª todas convenientemente mobiliadas com trastes de jurema A 16ª equipada com móveis de jacarandá apresentava nas paredes vários quadros um dos quais desenhava o catálogo de todos os CapitãesMores Governadores Governo Provisório Presidentes e VicePresidentes que administraram a Província desde o ano de 1684 outro quadro desenhava o Planisfério do Mundo e mais um a planta da Cidade levantada pelo CapitãoEngenheiro e Bacharel Francisco Pereira da Silva A décimasétima era a Sala de Orações de SS MM II Contígua à CapelaMor da Igreja do Colégio e à tribuna da mesma capela que é a do Paço estava esteirada A mobília era de jacarandá tendo sobre as mesas castiçais de cristal Na tribuna que deitava para a CapelaMor onde SS MM II assistiam à celebração de atos religiosos existia um genuflexório de damasco verde Finalmente a décimaoitava sala destinouse às ablusoes de SSMMII nela existiram uma grande banheira e outros móveis de jurema O corredor principal achavase forrado de esteiras com cadeiras de braços derredor das paredes globos dourados No andar térreo existiram outras salas devidamente mobiliadas para os criados de SSMMII uma grande cosinha e uma cocheira O alinhavo agora ultimado foi subtraído das notas constantes dos documentários A leitura permite ver que as cores dominantes nas cortinas tapetes colchas de cama etc foram o verde e o amarelo numa compreensível alusão às cores de nossa Bandeira Não existindo na época alcatife para revestimento do piso prevaleceram as esteiras revestidas ou não de tecidos alegravam o ambiente e ocultavam as falhas da madeira usada nos assoalhos A decoração do Paço foi planejada e executada com muito esmero e cuidado notandose no conjunto e nas minúcias a expressão do bom gosto Nada foi esquecido nem os perfumes e os charutos do D Pedro II O revestimento das paredes da sala de refeições fora propositadamente feito com papel e desenhos de paisagens do Reino de Nápoles fazendo D Tereza Cristina evocar cenas de sua infância e juventude Apesar de aqui radicada há muitos anos inteiramente ligada à vida brasileira e de considerarse como filha deste País não deixou de lhe ser cara a delicada e bela lembrança da Paraíba Não dispondo a Igreja Matriz na qual SS MM II deviam assistir ao Te Deum paramentos con dignos à cerimônia mandouse comprar em Pernambuco ricas alfaías e um palium que foram entregues ao vigário para serem usados no dia daquele ato religioso tais relíquias foram incorporadas ao seu patrimônio Além do palium vieram cinco capas de asperge e um véu de ombro importando sua aquisição em 3922940 Por outro lado encontrandose a Capela do Colégio situada ao lado do Palácio da Presidência em deplorável estado de conservação e devendo ser ela utilizada por D Pedro II e D Tereza Cristina durante sua estada aqui a Presidência resolveu reparála totalmente fornecendolhe ainda os paramentos e serviços dos altares necessários ao culto Os objetos de prata que antigamente foram de propriedade da Igreja e que se achavam depositados na Tesouraria da Fazenda vieram a ser retirados e postos na Capela ficando esta pronta para ser utilizada durante e posteriormente à visita dos Imperadores Com tais medidas a Igreja da Conceição permaneceu com as mesmas características de quando era frequentada pelos Jesuítas O Presidente desejou ser tanto quanto possível fiel à tradição O Presidente da Província não se esqueceu mediante cartacircular de convidar as autoridades civis militares e eclesiásticas assim como as pessoas de projeção e a sociedade para juntamente com seus familiares comparecer ao desembarque de SS MM II no Cais do Porto e acompanhálos ao Paço da Cidade IV O DESEMBARQUE DO IMPERADOR NA PARAÍBA No dia 24 de dezembro de 1859 a uma hora da tarde a esquadrilha Imperial passava em frente ao Forte de Cabedelo O Pavilhão Nacional luzia O Forte saudoua com uma descarga de canhão para logo em seguida ao entrar a esquadrilha no estuário do Paraíba tornar a saudála com duas descargas de todas as peças O ruído o cheiro da pólvora as ordens de comando o recuar das peças e a agitação reinante faziam lembrar os dias de glória desta sentinela avançada da Paraíba Por mais de uma vez teve ela de defender a terra onde está plantada Duas girândolas subiram ao ar com intervalo de dois minutos partindo da torre do Colégio Dois tiros de canhão foram disparados do Quartel de 1ª Linha e o repicar de todos os sinos das Igrejas da Capital anunciava à população que a Esquadra Imperial sulcava as águas do Paraíba aproximandose da Cidade Imediatamente o meio Batalhão de Linha e a Guarda Nacional ambas de prontidão o povo os fun cionários públicos as autoridades o clero e a aristocracia todos em direção ao Cais do Porto situado no Varadouro Ali aguardariam com ansiedade a aproximação dos augustos visitantes A massa aglomerada fazia conjecturas sobre como seriam o Imperador a Imperatriz os membros do séquito etc As autoridades mais discretas a custo conseguiam conter o nervosismo dominante O ambiente generalizava a expectativa geral todos desejavam a chegada queriam ver ombro a ombro Suas Majestades na mesma terra no mesmo ar na mesma comunicação de alma As três horas da tarde avistouse o navio APA deslizando serenamente no Rio Paraíba o rio parecia regozijarse também com suas águas limpas e tranqüilas Ouviase o espocar de inúmeras e sucessivas girândolas partindo de todos os pontos da Cidade As embarcações nacionais e estrangeiras ancoradas no Porto embandeiradas colocaramse em linha saudando a passagem do APA com tiros de canhão e vivas retumbantes Finalmente às três horas e cinco minutos da tarde o navio conduzindo o Imperador e sua comitiva fundeava no Porto Ouviase com emoção o Hino Nacional tocado pela Banda de Música a bordo do APA A multidão que se encontrava no porto e as tripulações dos navios reunidos espraiavam estusiásticos vivas ao Imperador e à Sua Majestade a Imperatriz Ao som de Bandas de Música de terra das frenéticas aclamações a Suas Majestades e do ruído ensurdecedor de girândolas e bombas o Presidente Leitão da Cunha anunciou acompanhado do seu Secretário e Ajudante de Ordem que Suas Majestades desembarcariam às quatro horas e trinta minutos daquela memorável tarde véspera do Natal De fato dentro da programação do cerimonial à hora aprazada Suas Majestades Imperiais desceram à galeota juntamente com sua ilustre comitiva e o Presidente da Província passando em frente das embarcações enfileiradas de um lado e dos barcos jangadas e canoas também embandeirados do outro lado por toda parte sinais sonoros de hosana D Pedro II vestido de General e acompanhado de D Tereza Cristina assomou a ponte de desembarque sendo recebido pela Câmara de Vereadores em seu uniforme e por mais de cinquenta senhoras que se encontravam no Pavilhão Ali mesmo a mão de Sua Majestade foi beijada sob os mais frenéticos e entusiásticos vivas e aclamações do povo Dali sob o pálio dirigiramse para o Pavilhão onde lhes foi oferecido pelo Padre Chacon visitador da Província o crucifixo a ser beijado Ainda ali no Pavilhão onde estava sentado ao lado da Imperatriz ambos em ricas cadeiras de mogno estufados em damasco amarelo D Pedro recebeu as chaves da cidade colocadas numa bandeja de prata as chaves lhes foram oferecidas pelo Presidente da Câmara Municipal Dr Francisco Alves de Souza Carvalho que se fazia acompanhar de todos os integrantes da referida Câmara O ofertante pronunciou na ocasião um pequeno discurso de recepção Os soldados do Primeiro Batalhão da Guarda Nacional e os de Primeira Linha totalizando seis mil homens postaramse de um lado e do outro das ruas a serem percorridas por Suas Majestades desde o Pavilhão de desembarque até o Paço Imperial Varadouro Paço Ruas da Areia e da Conciliação Largo do Quartel Ladeira das Pedras Rua Nova Todo o trajeto estava coberto de folhas de pitanga junco e canela Das varandas dos sobrados e das janelas das casas térreas pendiam Bandeiras Imperiais e colchas de damasco As senhoras lançavam flores e davam vivas a SSMMII acenando lenços brancos O povo ali postado regorgitando nas ruas vitoriava SSMM II com igual fervor e entusiasmo No chamado Paço local do Varadouro o cortejo passou sob o primeiro arco erigido pelo comércio da Capital Adiante entrando na Rua da Areia atravessou outro arco triunfal Juntavamse perto vinte meninas vestidas de branco e cabelos soltos aproximadamente da mesma idade trazendo na cabeça capelas de flores brancas naturais e banda larga de estofo nas cores verde e amarelo em cada uma liase o nome de uma das vinte Províncias do Império A menina que representava a Paraíba adiantouse para oferecer a D Pedro II um ramo de lindas flores naturais Ela recitou trêmula de emoção Deus te salve ó Soberano Filho de D Pedro I O Imperador visivelmente comovido deulhe carinhosamente a mão para beijar Esta mesma garota em seguida ofereceu outro ramalhete idêntico ao primeiro à Imperatriz dizendolhe Deus te salve Augusta Esposa Do Monarca brasileiro D Tereza Cristina recebeu as flores carinhosamente estendendo a mão ao beijo da ofertante Todas as demais meninas beijaram em seguida as mãos do Imperador e da Imperatriz O séquito desfilou depois rumo à Matriz acompanhado de grande multidão A cada instante novas ovações de todos que se encontravam nas janelas varandas e calçadas O templo com flores nos altares e suas melhores alfaiais recebeu os Augustos Visitantes seus acompanhantes e parte da massa popular Ao fim do Te Deum o pregador da Capela Imrial Padre Lindolfo José Correia das Neves fez longo e bem preparado sermão alusivo ao ato dando graças a Deus pela próspera e feliz viagem de Suas Majestades a esta Província Terminada a cerimônia religiosa dirigiuse o cortejo ao Paço Imperial sempre sob aplausos e vivas ouvindose girândolas ao longo do trajeto Os distintos visitantes sob o pálio conduzido pelos integrantes da Câmara Municipal passaram por baixo do arco construído em frente à Igreja da Santa Casa de Misericórdia Uma vez no Paço Suas Majestades dirigiramse a uma das janelas abertas ante à praça recebendo as maiores demonstrações de amizade e carinho traduzidas por vivas continuados ao Imperador e à Imperatriz Na sala do doçel forrada com um tapete de veludo e de paredes revestidas com papel adamascado viase o trono ao fundo cujos degraus eram cobertos de veludo verde D Pedro II entregouse ali à cerimônia do beijamão As senhoras seguidas do Corpo Consular tiveram a precedência O Cônsul Britânico fez uma saudação em nome de todos os representantes consulares Após a alocução do diplomata Henrique Krausee as demais pessoas que se encontravam no recinto dirigiramse ao trono e também beijaram as mãos de Suas Majestades Imperiais A cidade encontravase toda iluminada as casas os arcos o pavilhão as ruas sobressaindose a iluminação em frente ao Paço As ruas normalmente desertas eram percorridas por Bandas de Música e grande número de pessoas entre vivas e mais vivas às Suas Majestades os vivas prolongaramse pelo tempo em fora Às 9 horas da noite foi servido o jantar numa grande mesa central da Sala de Refeições Nela tiveram assento semanarios o Ministro do Império o Presidente da Província sua Senhora D Maria José e sua filha Maurícia o Chefe de Polícia e o Senador Frederico de Almeida e Albuquerque Em mesa menor situada numa das cabeceiras sentaramse D Pedro II e D Tereza Cristina À sobremesa foram servidos doces e frutas do Pará encomendados pelo Dr Ambrósio Leitão da Cunha À meianoite Suas Majestades e comitiva passaram à Igreja da Conceição a Capela Imperial contígua ao Palácio e a este comunicandose através de uma porta Assistiram à Santa Missa de Natal celebrada pelo Cônego José de Melo Capelão de Suas Majestades recolhendose em seguida aos seus aposentos Com exceção do Ministro do Império que se alojou em casa do Primeiro VicePresidente Dr Flávio Clementino da Silva Freire todos os membros da comitiva imperial hospedaramse no Paço Para ainda mais avivar através do tempo a gratidão do Povo Paraibano J Tertuliano de Medeiros compôs um hino dedicado a D Pedro II rapidamente difundido recitado e cantado por todos com a seguinte letra De dezembro o vinte e quatrc Raiou alegre e faqueiro Já se acha em nossos braços O Monarca Brasileiro Estribilho Temos por dita Um céu danil Monarca exímio De encantos mil Nossa Excelsa Imperatriz A maior das Soberanas Honrou com sua visita As plagas paraibanas Temos por dita Entre as Nações do Universo É o Brasil mui ditoso Áureo cetro nele empunha Um Monarca estudioso Temos por dita Paraibanos cantemos Neste tão festivo dia A Pedro e a tirse bela Hinos damor dalegria Temos por dita Seja o céu sempre propício A Pedro a sua consorte Que feliz se tornará O Brasil de Sul a Norte Temos por dita Aos Augustos visitantes Juremos sempre amizade Juremos ser sempre unidos Juremos fidelidade Temos por dita Um céu danil Monarca exímio De encantos mil No dia 25 de dezembro domingo dia imediato à chegada de D Pedro II logo cedo às 6 da manhã o Imperador saiu de Palácio montado a cavalo dirigindose ao Porto do Varadouro Ali em companhia do Presidente da Província do Ministro e de várias pessoas de sua comitiva embarcou no navio APA com destino a Cabedelo Durante todo o percurso de subida e descida do Rio Paraíba D Pedro II fez sentar ao seu lado o Dr Ambrósio Leitão da Cunha a quem ouviu e interpelo inteirandose dos problemas e da situação em que se encontrava a Província Seu objetivo central na visita a Cabedelo era conhecer o Forte do mesmo nome verificando in loco seu estado de conservação Sua Majestade percorreu toda a povoação visitando a Escola Pública a Fortaleza e o Lazareto da Ilha da Restinga sempre fazendo indagações e anotandoas numa caderneta de bolso Tais anotações que tivemos a oportunidade de examinar no Arquivo da Casa Imperial guardado no Museu Imperial de Petrópolis fazem parte do seu Diário de Viagem escritas a lápis constituem notas alinhavadas em cima da perna muitas vezes montado a cavalo ou em percursos feitos a pé Os dados e observações eram escritos rapidamente com letra ruim nem sempre legível muitas foram passadas a limpo posteriormente As anotações da visita à Paraíba não estão transcritas ou repassadas pelo autor apresentandose como rabiscadas durante sua estada nesta Província frases soltas denunciam a pressa com que foram escritas Nessas viagens as distâncias a percorrer eram grandes Mas mesmo assim a curiosidade do Imperador que de tudo desejava inteirarse era ainda maior exigindo pressa para melhor aproveitar o tempo Daí não poder escrever com vagar tudo quanto presumisse necessário anotar para posteriormente lhe servir de orientação em suas decisões Durante sua visita a Cabedelo D Pedro II fez as seguintes anotações valendose de um vernáculo que bem demonstrava sua pressa Cabedelo 25 xadres 1 militar e 4 de Justiça Frente para rua e ar bafio A povoação boa a 800 almas com aula de meninos com 34 matr 16 a 20 freq Capelinha da Fortaleza de Sta Catarina O Xadrez da esquerda que serve agora ainda é mais escuro e menos arejado 50 a 60 arrobas de pólvora não há dos particulares Não há livro de entradas e saída de pólvora particular e do Estado outro da carga geral O Comandante diz que não há ordem para haver livro para a pólvora particular 6 soldados e 1 cabo da G Nacional do interior Há uma casa destelhada e meio arruina da sobre arcos que diz o Comandante ter sido mandada desmanchar por Fernando de Portugal por exceder a altura da muralha fora feita para casa do Comandante A casa abobadada da pólvora úmido 40 peças das quais 21 mal montadas Peça portuguesa Sta Catarina amolgada por uma bala do lado no sentido do eixo Peça com a cifra GAC num escudo com esta figura desenho 16291662 Wilen Wegewærk me Fecit Hagae Peça espanhola de Felipe 4 D Pedro Pacheco Marques de Castro Fuerte del Consejo de Guerra Capitan Gl de Artilla Outra espanhola 1D Outra outra outra Nos ângulos havia peças mas taparam as aberturas para as peças e fizeram barquetes para a infantaria Fortaleza espanhola hexagonal irregular com baluartes e redentes Lado do sul com grande brecha que começou em 1825 A do Brum é menor Um dos espanhóis tem uma parte do rebordo da boca levado por uma bala Peça holandeza das sereias Em baixo Die GeoctroiErde Wesh Indice Compnih e Amsterdam Worten me Fecerunt Ivirecht ver o papel Tarja com instrumentos de guerra e um escudete com leão rompante armado de espada curva na mão direita Peça espanhola 1D Outra 1D Peça da galera Manuel Monte que encalhou Há 4 meses 2 espanholas 1D Peça com as armas espanholas 1622 Iohannes Sithub me Fecit Bruxelles Lazareto na Ilha da Restinga Convento de S Bento Pedido de terra 1599 Começo suposto da edificação 1600 Claustro reedificado é sacristia Linda vista do salão Nor sic Descobrese quase toda a cidade e o Cabedelo muito longe Cerca muito pequena Não tem biblioteca Talha da capelamor nova Hnic est chorus como em Olinda As cadeiras muito estragadas Cornija e umbrais de pedra pintada para fingir mármore Lápide mais antiga de 1758 O Comandante da Fortaleza de Cabedelo Capitão Luiz Estanislau Rodrigues Chaves prestou a Sua Majestade todas as informações que lhe foram solicitadas providenciando o polimento das inscrições de várias peças a fim facilitar a leitura do visitante D Pedro II muito modestamente como de costume não relata no seu Diário que deixou trezentos mil réis entregues aos necessitados da povoação e quantia igual para ser investida no cemitério local Um velho soldado aproximouse pedindolhe uma ajuda queixandose de que seu soldo de reformado era insuficiente para mantêlo O Imperador ordenou que lhe fosse dada uma régia esmola e ainda mandou que ele requeresse aumento do seu soldo de reformado Sua Majestade retornou à Capital a bordo do APA tendo sempre ao lado o Presidente da Província com quem conversou durante todo o percurso desembarcou no Cais do Varadouro às 11 horas e montou garboso cavalo dirigindose a galope para o Paço juntamente com seus companheiros de viagem a Cabedelo e dos integrantes do Batalhão Popular Tanto no cais como no trajeto o Imperador foi ovacionado pelos que se encontravam nas varandas janelas e ruas ouvindose sucessivo pipocar das girândolas Aproximadamente a uma hora da tarde Sua Majestade recebeu uma comissão da cidade de Areia uma das mais florescentes da Província ia pedirlhe a honra de visitála O Imperador ponderou ser de todo impossível como já havia asseverado no dia anterior ao Dr Fausto Benjamin da Cruz Gouveia Juiz Municipal daquela cidade seu tempo disponível era nenhum O Presidente da Província havia pedido anteriormente ao Coronel Ismael da Cruz Gouveia residente naquela cidade para preparar uma casa onde D Pedro II pudesse hospedarse acaso fosse conhecer Areia Logo após o encontro o ilustre visitante saiu a cavalo acompanhado pelo Batalhão Popular para visitar as Igrejas do Rosário Mercês e Misericórdia os Conventos de São Francisco e de São Bento e a Ponte do Sanhauá A propósito dessa visitação o Imperador fez as seguintes anotações em seu Diário CARMO Começada Igreja 1764 acabada 1779 Altares de pedra pintada fingindo mármore As cadeiras dos 2 coros estão bem conservadas Igreja de boas proporções Mais bonita que a de S Bento Sepultura de 1677 perto dos cancelos O Convento serviu 30 anos desde 1817 até 46200000 por ano de patrimônio que poderia integrado dar 3 a 4 contos anuais esbanjados pelos procuradores Claustro em ruinas A Igreja está arruinada A Praça do Mercado está em patrimônio do Convento segundo diz o Provincial Hinc est chorus A livraria desapareceu Degraus de pedra que quase desapareceram com o pisar SÃO FRANCISCO Belisário e Cruzeiro Os 1os religiosos vieram em 1590 O Guardião fretou o Cabedelo e um forte defronte que foi reparado pelo mesmo 2 anos depois morreu num combate 135 Guardiães desde o 1 como consta de um livro manuscrito do Convento No teto da casa de oração dos 3os onde há o andor da procissão de cinzas existe representada a visão de um dos fundadores do Convento que viu um companheiro arrebatado ao céu num carro de fogo para tomar por sua humildade o lugar que Lúcifer perdeu por sua soberba Sepultura que parece antiga cuja data não se lê estando as letras gastas É de Frei José Monteiro da França corpo da Igreja Outra no claustro de Frei Luiz da Anunciação Claustro o maior depois do da Bahia Sepultura na Capela do Tte Coronel Gonçalo Royé de Castro sua mr e herdos com data de 1706 Serve de consistório da Irmandade de São Benedito Degraus de pedra gastos Grande cerca arrendada com poço de boa água para beber Livro das alfaías do Convento de S Antonio da Paraíba Ano 1741 Jaboatão Fecit mas a má letra não parece a mesma que a do Jaboatão Fecit em baixo da folhâ do frontespício MISERICÓRDIA Capela de S Salvador onde o sacramento está à esquerda 1639 Duarte Gomes da Silveira e sua mulher cujos retratos estão no altar da Capela Hospital de antes dos holandeses reparado por Duarte etc e em 1755 6 mulheres e 3 homens asseado mas não admitindo mais de 40 camas 2 celas para doidos em baixo estreitas Dr Inocêncio Pogge Procurador Dr Assis Pª Rocha ROSÁRIO Compromisso aprovado em 1780 MERCÊS Está dourando o altarmor PONTE DO SANHAUÁ não tem 80 braças Projeto Lowden Esteios da ponte já carcomidos estrado estragado carecendo a ponte de reconstrução Passei pelo Horto Botânico que tem muitas ervas Achase apenas cercado de paus finos e com algumas árvores plantadas Mora aí um homem com o fim de cuidar do jardim mas não o traz limpo descese do Palácio para lá ir A Santa Casa de Misericórdia o Imperador D Pedro II fez uma doação de 6 contos de réis As demais Igrejas e Capelas doou 2 contos e 800 mil réis do seu próprio bolso do seu bolso saíram todas as doações feitas aqui e em qualquer outra parte de sua excursão oficial pelo Nordeste Os tempos mudaram Aquela época o Chefe de Estado viajava inspecionando a Nação às suas próprias expensas A quantos possa isto constituir balela bastará consultar os Livros da Mordomia os registros comprovam a parcimônia do Imperador em relação ao emprego dos dinheiros públicos Ademais observando o estado precário em que se encontrava a Ponte do Sanhauá e percebendo sua grande importância uma vez que por ela tinha vasão todo o tráfego em demanda do interior da Paraíba D Pedro II ordenou ao Presidente da Província que se mandasse com urgência fazer um plano e proceder o orçamento que lhe deveriam ser remetidos para a Corte Dessa incumbência ficou encarregado o Engenheiro Carlos Bleess que reformulou dois estudos de sua autoria um para uma ponte de madeira e outro para uma de ferro com pilares de pedra orçadas respectivamente em 75555881 e 292226950 Além desses estudos foi remetido ao Ministro do Império para apreciação de Sua Majestade uma terceira planta do Engenheiro inglês Thomaz Dixon Lowdem que se propunha fazer uma ponte de ferro por 24 mil libras Nessa mesma tarde após curto descanso o Imperador voltou a sair às 5 da tarde retornando às 9 da noite Saiu em visita ao Quartel do Batalhão de 1ª Linha à Cadeia e ao Quartel de Polícia Mais uma vez seu Diário seria nutrido Tarde recrutas com sentenciados Novas espingardas más 5 14 Quartel do Meio Batalhão bom ainda que algumas comp estejam acanhadas Armamento pouco limpo e velho Queixas como em todos os Quartéis dos fornecimentos do Arsenal de Pernambuco Mochilas novas que molestam os soldados Comida que parece boa menos a farinha deixei de ver todos os gêneros por não os haver a mostra na arrecadação e ter ido o arroz para o Hospital As camas são de ferro com tábuas Disseram que não havia mais economia de rancho e achando eu sobra responderam que fora para a caixa do rancho e não das economias sic Tem pouco dinheiro em cofre Água de cacimba próxima em depósito Hospital bem arranjado menos o despejo em cubas de pau na latrina do Quartel que vai depositar tudo num vão da terra O aparelho cirúrgico está em casa do 1º cirurgião do Hospital que se defende dizendo que ficara em sua casa para o ter limpo apesar de haver cirurgião de dia no Hospital Os gêneros são pedidos pelo agente dos fornecedores não há arrecadação deles no Hospital CADEIA ótima a não ser a má construção feita por arrematação e limpeza das latrinas apesar de haver cacimba e bomba que poderia elevar a água que jorrasse dentro das latrinas O Chefe de Policia ficou de dar a lista dos presos O aspecto exterior não deixa de darme vista e logo notei este edifício ao aproximarme do porto da cidade QUARTEL DA POLICIA Sofrível edifício e bonito por fora Espingardas de pederneira Tarimbas Baia com assoalho de madeira pois a pedra ofende os cascos dos cavalos que não são ferrados mas com esgotos de pedra por baixo Ração de um cavalo por dia 12 arroba de capim que é mau comprandose a carga de um cavalo 5 arrobas por 4400 164 de alqueire de milho dobro do Rio por 6400 e mel cada canada a 300 e tantos rs Rancho fora Clavina com vareta solta tudo de pederneira Batalhão Popular Ai estão provas do empenho de D Pedro II em inteirarse acerca de tudo verificando a alimentação dos soldados o estado sanitário da Cadeia alojamentos etc O Imperador estranhou que o cirurgiãomor Dr Inocêncio Pogge conservasse em sua casa o material cirúrgico Após as inspeções Sua Majestade voltou a cavalo para o Paço onde chegou às 9 horas Mais uma vez foi ovacionado com entusiasmo por uma grande multidão que se encontrava no Largo em frente Aí também se achava o Batalhão Popular apresentando um número de cavaleiros superior a 300 todos se incorporaram às manifestações populares de regozijo dando vivas à Sua Majestade No Largo encontravamse as Bandas de Música militares locais e mais a do navio APA tocando ininterruptamente até altas horas com grande massa empolgada com o espetáculo tão inédito na Província a presença honrosa do Imperador a cidade com iluminação feérica para a época e mais três Bandas bem afinadas tocando para o deleite de todos Enquanto isso se passava fora dentro do Paço Sua Majestade recebia os cumprimentos do clero e dos membros da Assembléia Provincial falando na oportunidade os Padres Chacon e Galvão em nome dos presentes respectivamente O Presidente da Assembléia Dr Felinto Henrique de Almeida faziase acompanhar dos Deputados Dr João Leite Ferreira Francisco Inácio de Souza Gouveia Dr Antonio Alves de Souza Carvalho Padre Felipe Benício F Galvão Padre Leonardo Antunes Meira Henriques Padre Bernardino da Rocha Formiga Padre Lindolfo José Correia das Neves Antonio do Rego Moura Padre Francisco Pinto Pessoa João Florentino Meira de Vasconcelos Francisco José Rosário Junior Dr Antonio da Cruz Cordeiro Dr Claudino Bezerra Cavalcanti Pedro Travassos da Costa Manoel de Assunção Santiago Padre Augusto Cirilo de O Melo Dr Elias Eliaco da Costa Ramos Padre Bento de Barros Mendonça Marcolino Xavier Tavares da Silva e Manoel da Fonseca de Andrade Em seguida Sua Majestade concedeu o beijamão ao Batalhão Popular sua Guarda de Honra que o acompanhava a cavalo toda vez que saia do Paço Em fila dupla tendo à frente o Comandante e os Oficiais os integrantes da corporação transitória beijaram a mão de D Pedro II que se encontrava sentado no trono instalado na sala do docel No dia seguinte segundafeira 26 de dezembro em companhia do Presidente da Província do Ministro do Império do Chefe de Polícia Visconde de Sapucahy do Comandante da Guarda Nacional de Deputados da Assembléia Legislativa e outras autoridades de pessoas grades e do Batalhão Popular D Pedro II viajaria com destino a Pilar e Mamanguape locais escolhidos para serem visitados pela Comitiva Imperial Antes de aparecer o sol às 4 horas da manhã Sua Majestade saiu do Paço com os membros de sua comitiva todos montados a cavalo dando início à jornada Dizem os relatos da época que a caravana deveria chegar às 6 horas da manhã ao Engenho São João do Coronel José Teixeira de Vasconcelos onde seus componentes tomariam a primeira refeição e às 9 horas ao Engenho Maraú de propriedade dos Frades de São Bento onde almoçariam Às 530 horas chegava D Pedro II ao primeiro engenho tomando café com os membros de sua comitiva As 8 horas Instituição UEPB Universidade Estadual da Paraíba Disciplina Docente Discente Arlayne Data 30052023 ALMEIDA Maurilio Augusto De Pesença de D Pedro II na Paraíba1975 No livro intitulado Pesença de D Pedro II na Paraíba o autor aborda a visita de Dom Pedro II à Paraíba que ocorreu durante o século XIX O evento é considerado importante para a história do estado e do Brasil uma vez que representa a presença do monarca brasileiro em uma das regiões do país A visita de Dom Pedro II à Paraíba teve impactos na urbanização da cidade políticos sociais e econômicos significativos demonstrando o poder e a influência da monarquia na época A vinda de Dom Pedro II à Paraíba ocorreu no contexto do Segundo Reinado 18401889 um período marcado pela consolidação da monarquia constitucional no Brasil Dom Pedro II foi o segundo e último imperador do Brasil tendo reinado de 1831 a 1889 A visita de Dom Pedro II à Paraíba teve várias motivações incluindo o estreitamento dos laços entre a coroa e as províncias o conhecimento direto das realidades locais e a promoção do desenvolvimento econômico da região Naquela época as condições de urbanização da cidade eram bem precárias ou um pouca defasadas um quantitativo considerável de ruas ainda não era calçado o que gerava pequenos infortúnios nas épocas chuvosas em que se tornava comum ver ruas enlameadas e esburacadas a arquitetura das casas também contribuía para o aparecimento de buracos na rua de modo que os beirais lançavam a água da chuva diretamente nas calçadas aliado a isso o descarte do lixo era feito negligentemente nas ruas e a má iluminação pública contribuía para uma visão de uma cidade pouca urbanizada e atrasada mas ainda naquele tempo a Lei n 26 de 30 de setembro de 1859 foi criada para mitigar o feio quadro urbanístico Outro problema constatado na época eram problemas sociais exemplificando isso teríamos a medicina pouco avançada e alguns problemas com surtos de doenças em paralelo a isso alguns costumes considerados não civilizados como por exemplo tomar banhos em fontes públicas completamente desnudos o que fora abandonado com o tempo após a criação de leis que multavam os praticantes desses atos Com a notícia da vinda do imperador a Paraíba houve uma intensa comoção para a preparação da cidade e pautas como festas de recepção da comitiva do imperador reformas de prédios públicos eram discutidas na câmara municipal A estética das vias públicas por onde D Pedro II passaria se tornou umas das prioridades da preparação da cidade a limpeza dos matos e o conserto dos buracos foi uma das principais medidas atrelado a isso foi ordenado a reforma de algumas pontes pertencentes a alguns engenhos locais A iluminação pública também foi uma das pautas discutidas e executadas antes da chegada do imperador Com a chegada do imperador em 24 de dezembro de 1859 pelo rio Paraíba várias embarcações se enfileiraram para receber D Pedro II de maneira calorosa recebendo as chaves da cidade como ato simbólico Desde o pavilhão de desembarque até o Paço imperial os monarcas foram recebidos pela festividade Te Dum Logo após a sua chegada o monarca se dispôs a visitar a província de Cabedelo com um dos principais objetivos averiguar o estado de conservação do forte que levava o memo nome da província Dom Pedro II também passou pela escola pública sempre fazendo suas anotações para a tomada de decisões futuras fez doações a Santa Casa da Misericórdia e a algumas igrejas o que de certa forma contribuía para o aquecimento da economia local e para possíveis reformas Impacto político em relação presença do imperador na Paraíba fortaleceu o prestígio e a autoridade do governo imperial na região reforçando os laços entre a monarquia e as elites locais A visita também proporcionou uma oportunidade para Dom Pedro II conhecer e se envolver em questões políticas específicas da Paraíba Impacto social a chegada de Dom Pedro II à Paraíba despertou grande entusiasmo na população que se mobilizou para recebêlo e prestar homenagens e festas A presença do imperador também trouxe visibilidade para as questões sociais e culturais do estado como por exemplo a pobreza e a medicina considerada atrasada até mesmo para aquela época o que não era incomum pessoas morrem por febre tifoide pois não havia investimento e desenvolvimento da área de medicina local Essa visita do imperador acabou estimulando o interesse e o desenvolvimento dessas áreas O impacto econômico durante a visita foi constatada pela realização de inaugurações de obras públicas e incentivos ao comércio local como a doação de trezentos mil réis ao comércio fez doações a Santa Casa da Misericórdia e a algumas igrejas o que de certa forma contribuía para o aquecimento da economia local e para possíveis reformas urbanas futuras o que impulsionou a economia da Paraíba A presença do imperador fez com o que falhas estruturais fossem observadas e medidas cabíveis fossem tomadas para sanar os problemas o que exemplifica isso foi a elaboração de um plano de reforma da ponte de Sanhauá elaborado pelo engenheiro Carlos Blesss a mando de sua majestade uma vez que o monarca percebeu a grande importância daquele trajeto para o trânsito de pessoas e para o escoamento de mercadorias para o interior da Paraíba também estimulou investimentos e despertou o interesse de empresários em estabelecer negócios na região Suas majestades deixaram a Paraíba no dia 30 de dezembro a passagem de Dom Pedro II à Paraíba deixou um legado importante para a história do estado sendo lembrada como um marco histórico O evento levou de volta a convicção de que deveriam ser melhorados o sistema de comunicações o sistema administrativo da província a legislação militar e o mecanismo de justiça tudo foi registrado em documentos fotografias e relatos da época fornecendo um testemunho valioso sobre a visita do monarca ao nordeste brasileiro