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Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 305 Ginástica artística e especialização precoce Introdução Ginástica artística e especialização precoce cedo demais para especializar tarde demais para ser campeão CDD 20ed 796073 79641 Myrian NUNOMURA Paulo Daniel Sabino CARRARA Mariana Harumi Cruz TSUKAMOTO Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto Univer sidade de São Paulo Escola de Educa ção Física e Esporte Universidade de São Paulo Resumo Na ginástica artística é comum observarmos ginastas em tenra idade treinando competindo e obtendo resultados expressivos no âmbito internacional Assim frequentemente a modalidade recebe críticas severas sobre as suas práticas e a necessidade dos ginastas iniciarem o treinamento tão jovens Mas no Brasil ainda há poucos dados sobre a realidade da iniciação e da especialização esportiva na ginástica artística O objetivo do presente estudo foi investigar entre os técnicos da modalidade sobre a idade que eles consideram a ideal para o início da prática e a especialização e os respectivos argumentos Foram entrevistados 46 técnicos do Brasil que trabalham em todas as categorias de formação que visam ao alto nível Utilizamos a técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin 2001 para o tratamento de dados Os dados revelam que a prática e a especialização iniciam em tenra idade em ambos os gêneros Os técnicos do setor masculino e do feminino citam que a especialização precoce ocorre devido à própria natureza da modalidade à idade de participação em eventos oficiais e ao tempo de preparação necessário para que os ginastas apresentem condições para competir No setor masculino em particular a necessidade dos ginastas de ingressar no mercado de trabalho pressiona os técnicos a obterem resultados antes que eles comecem a abandonar o esporte Unitermos Ginástica artística Treinamento Especialização Especialização precoce O crescimento do esporte é um fenômeno mun dial Mccullick Belcher ScheMpp 2005 que vem repercutindo em todas as esferas da sociedade Devido à diversidade de opções de práticas espor tivas pais e seus filhos podem ficar indecisos sobre o que praticar quando iniciar e quando competir Há afirmações de que quanto mais cedo iniciar no esporte melhor Mas melhor para quem ou em que sentido Crianças e jovens são atraídos para o esporte e provavelmente há aqueles que sonham em chegar ao pódio ou participar dos Jogos Olímpicos ainda que não conheçam o caminho que deverão percorrer até merecer uma medalha no peito O processo de preparação esportiva visa consolidar a funcionalidade do atleta em longo prazo e atingir a excelência na modalidade escolhida em idades supe riores Há sugestões de modelos de formação espor tiva na literatura como por exemplo Balyi 2003 BoMpa 2000 Weineck 1999 chaurra Zuluaga e peña 1998 e Zakharov 1992 A especialização é parte natural desse processo quando os esforços e tempo são canalizados para uma única modalidade após um período de prática variada Contrariamente a especialização precoce referese à especialização antes do período considerado ideal quando fases do processo de formação são antecipadas ou anuladas BoMpa 2000 MarqueS 1991 Weineck 1999 A idade de início do treinamento especializado varia de acordo com a cultura e a modalidade espor tiva BoMpa 2000 Zakharov 1992 o gênero a vida útil de prestação esportiva e o ápice esportivo caraZZato 1995 Na Ginástica Artística GA em particular muita atenção é necessária pois acre ditase que a especialização esportiva seja realmente precoce O período ótimo de desenvolvimento de capacidades coordenativas e da flexibilidade arkaev Suchilin 2004 e as vantagens biomecânicas de proporções corporais menores DaMSgaarD 2001 306 Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 NUNOMURA M CARRARA PDS TSUKAMOTO MHC Métodos Amostra são os argumentos mais utilizados na GA competi tiva mas ainda assim levantam críticas e debates seja na Pedagogia do Esporte ou nas demais áreas BoMpa 2000 gonçalveS 1999 e coelho 1988 associam a especialização precoce ao fato de muitas pes soas acreditarem que quanto mais cedo a criança iniciar na modalidade esportiva mais chances de sucesso ela terá E apesar da literatura atual tentar esclarecer essa visão equivocada de especialização e esta associação não encontrar apoio na ciência a especialização precoce é explorada amplamente no esporte contemporâneo A especialização precoce é desaconselhada pois acarreta uma série de consequências negativas aos praticantes como redução do repertório motor aumento da incidência de lesões BoMpa 2000 galDino Ma chaDo 2008 MarqueS 1991 prejuízos gerais ao desenvolvimento da criança SeaBra catela 1998 manifestação de efeitos psicológicos negativos como o burnout WattS 2002 desmotivação coelho 1988 e prejuízos à formação escolar Weineck 1999 O treino sistemático iniciase antes da puberdade nas modalidades artísticas Balyi 2003 DaMSga arD 2001 Mas não podemos inferir que seja con senso entre os técnicos de GA que a especialização na modalidade deva ocorrer bem cedo Entretanto não raras vezes técnicos argumentam a necessidade e a obrigatoriedade de se iniciar os treinamentos sistemáticos e intensivos ainda em tenra idade Não há problemas com o treinamento sistematizado quando os ginastas atravessaram todo o processo de preparação e adaptação até demonstrarem condições de suportar as cargas de treinamento da modalidade Mas quando crianças e jovens competem segundo as regras oficiais surgem questionamentos como quanto tempo eles treinaram até atingir esse padrão técnico e com que idade iniciaram os treinos Ainda que as crianças demonstrem talento para a GA o treinamen to intensivo e uni direcionado pode comprometer a saúde e o envolvimento em longo prazo E talvez o seu potencial para o alto rendimento na modalidade jamais seja desenvolvido O esporte competitivo tem sua própria característica e a crítica não se reporta à exigência do alto rendimento para adultos mas quando estas mesmas exigências são feitas às crianças A GA pode contribuir para a formação esportiva geral pois estimula as capacidades físicas e motoras que também são importantes para a prática de ou tras modalidades esportivas Mas será que na GA é preciso iniciar cedo os treinamentos especializados para evoluir ao alto nível Seria uma exigência real da modalidade Os objetivos do presente estudo foram 1 analisar a opinião dos técnicos da GA competi tiva sobre a idade e o conteúdo ideal para o início da prática e da especialização na modalidade 2 discutir as respectivas argumentações que sustentam seu ponto de vista sobre a especialização precoce Realizamos uma investigação em campo e entrevistamos 46 técnicos 34 do setor feminino e 12 do masculino que orientam ginastas das categorias de base da GA os quais competem em torneios oficiais das respectivas Federações eou da Confederação Brasileira de Ginástica CBG O recorte foi estabelecido sobre o Estado de São Paulo e cidades do Rio de Janeiro Curitiba e Porto Alegre devido à representatividade numérica e qualitativa destas localidades no cenário nacional da GA O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da EEFEUSP Apoiados em um roteiro préestabelecido os técnicos foram entrevistados individualmente e seus Procedimentos depoimentos foram integralmente registrados em miniDV Solicitouse que eles relatassem sobre a idade ideal para o início da prática e a especialização na GA e também o seu ponto de vista sobre a especialização precoce na GA justificando as respostas Para o tratamento dos dados optamos pela téc nica de análise de conteúdo proposta por BarDin 2001 que envolve o tratamento bruto dos dados leitura a categorização organização dos dados e a codificação definição das unidades de significado e unidades de contexto para posterior discussão à luz da teoria que circunstancia o fenômeno A análise ocorreu discriminadamente para o grupo de técnicos do setor feminino e do masculino Este procedimento foi adotado porque identifica mos entre os sexos diferenças significativas que demarcam o processo de formação esportiva como a idade de início e as particularidades do processo de maturação Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 307 Ginástica artística e especialização precoce Resultados Os dados foram organizados em duas categorias para ambos os sexos 1 Idade do praticante e 2 Conteúdo das atividades para cada um dos questionamentos Os quadros a seguir resumem as opiniões apresentadas pelos técnicos QUADRO 1 Resultados apresentados pelos técnicos do setor feminino Idade Conteúdo das atividades Ideal para iniciar Alguns técnicos dizem que entre 57 anos de ida de seria a idade ideal para iniciar Outros mencionam que entre 34 anos de idade a criança já deveria frequentar o ambiente da GA Os técnicos lembram a importância das atividades lúdicas nas etapas inicias No entanto ao citarem exemplos de atividades referemse a atividades típicas do treinamento espe cializado Ideal para especializar De 67 a no máximo 910 anos de idade Os técnicos alegam que os regulamentos das fede rações e confederações estimulam a especialização A pressão das instituições para a obtenção de resul tados também justifica a necessidade de especializa ção na opinião dos técnicos Alguns técnicos acreditam que a prontidão do atle ta pode permitir que a detecção de uma boa resposta ao treinamento ainda que este seja iniciado antes da idade considerada ideal Ponto de vista sobre a especialização precoce Os técnicos concordam que a especialização aos 45 anos de idade seja precoce Ainda assim muitos se manifestam favoráveis à es pecialização entre 47 anos de idade A formação do atleta deve ocorrer em longo prazo Portanto alguns técnicos mencionam que não há ra zão para apressar este processo Os regulamentos vigentes na modalidade são apon tados mais uma vez como uma justificativa para a propensão à especialização precoce na modalidade Os técnicos apontam o esgotamento e a incidência de lesões como consequências deste processo Idade Conteúdo das atividades Ideal para iniciar Entre os 57 anos de idade Entre os 34 anos de idade a criança pode começar a frequentar o ambiente da GA Os técnicos mencionam priorizar atividades que despertem o gosto pela prática Afirmam que não cobram ou pressionam as crian ças para que treinem Ideal para especializar Aproximadamente aos 7 anos de idade Foco na formação da base motora para a modali dade Alguns técnicos mencionam que em virtude das características do treinamento este pode se tornar monótono e levar ao esgotamento Um pequeno grupo de técnicos demonstra a preo cupação em manter a ludicidade e a diversão durante as aulas O conteúdo das atividades é influenciado pelas exi gências dos regulamentos das competições Ponto de vista sobre a especialização precoce Os técnicos dizem que a ideia de especialização pre coce não existe mais no país Para as crianças mais jovens entre 45 anos de ida de recomendase que sejam desenvolvidos elemen tos básicos e de coordenação A inserção precoce em situações de treinamento sistematizado e especializado consequentemente en volverá as crianças em situações competitivas QUADRO 2 Resultados apresentados pelos técnicos do setor masculino 308 Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 NUNOMURA M CARRARA PDS TSUKAMOTO MHC Discussão Setor feminino Ideal para iniciar na GA Idade alguns técnicos citam que é necessário iniciar por volta dos 57 anos de idade o que tem apoio na literatura arkaev Suchilin 2004 BoMpa 2000 enquanto outros alegam que aos 34 anos a criança deveria começar a frequentar o ambiente da GA Uma minoria dos técnicos acredita que não haja argumenta ção consistente sobre a idade ideal de início na GA e ainda que estes não concordem eles parecem seguir o padrão de idade adotado na maioria das instituições Há técnicos que não citaram idades ou períodos e estes alegam que a nossa realidade não permite impor limites nem estabelecer padrões cronológicos ideais Caso contrário correse o risco de perder material humano Essa visão realista é reforçada por exemplos como a ginasta Daiane dos Santos que iniciou na GA além da idade ideal recomendada e foi expressão no contexto internacional Um argumento utilizado pelos técnicos é o fato de considerarem a individualidade dos ginastas e não estabelecer uma idade ideal para iniciar mas aproveitar o potencial de cada um Conteúdo observamos que alguns técnicos têm considerado o aspecto lúdico nas atividades iniciais a fim de amenizar o estresse excessivo e o esgotamento das crianças E citam que a GA pode se tornar repetitiva e monótona dependendo das estratégias adotadas As ações destes técnicos focam no conhecimento e na familiarização com o am biente da GA Mas alguns técnicos se contradizem pois citam atividades características do treinamento especializado para aqueles que estão iniciando na modalidade Os técnicos citaram que eles também focam no desenvolvimento motor geral ainda que seja papel das escolas Certamente é um dos pontos críticos para o crescimento do Esporte no nosso país pois os técnicos precisam preencher esta lacuna da Educação Física Escolar Percebemos que os modelos de formação esporti va Balyi 2003 BoMpa 2000 chaurra Zuluaga peña 1998 se enquadram em um sistema cuja Educação Física Escolar cumpre seu papel o que raras vezes ocorre no nosso país A noção de que a formação esportiva é um processo de longo prazo ficou evidente no depoimento de alguns técnicos e encontra apoio na literatura pois esta menciona que sejam necessários em média de oito a 10 anos de preparação até atingir o pico de rendimento Ideal para especializar na GA Idade para os técnicos a especialização deve iniciar entre os 67 anos de idade e no máximo até os 910 anos As opiniões estão divididas para que a especialização ocorra entre um a cinco anos após o início da prática na GA As justificativas mais recorrentes são as vantagens das proporções corporais menores de crianças com maturação tardia e os períodos sensíveis em que as capacidades são desenvolvidas principalmente a coordenativa e a flexibilidade légliSe 1996 nunoMura pireS carrara 2009 tSukaMoto nunoMura 2003 Conteúdo os técnicos alegam que os regulamen tos vigentes das federações e confederação induzem à especialização precoce o que muitas vezes contradiz o seu conceito de formação esportiva Segundo a literatura claeSSenS Malina lefevre Beunen Stijnen MaeS veer 1992 SoBral 1994 os indícios da especialização precoce são evidentes na GA se comparadas às demais modalidades esporti vas Um dos técnicos citou que tem discutido o fato com a federação e a confederação a fim de reverter este quadro pois as regras se aplicam às ginastas talentosas e desconsideram aquelas normais A exigência das regras também preocupa os demais técnicos pois está associada à desistência entre as ginastas lopeS nunoMura 2007 A pressão também vem das próprias instituições pois há expectativa de que o investimento no setor competitivo revertase em resultados ainda nas catego riais iniciais Outra argumentação para a especialização precoce baseiase nos padrões internacionais da GA atual de que seja inevitável e essencial especializar cedo para ser competitivo conforme os depoimentos na GA as crianças não podem acordar muito tarde T8 ou que se não vier com bagagem motora antes dos 12 anos não vai render o que precisa T10 ou os clubes não pegam crianças com mais de nove anos T26 entre outras afirmações que induzem a própria criança e os pais a acreditarem que mesmo sendo criança é velha demais para a GA competitiva A prontidão necessária para o ingresso no sistema de treinamento especializado também foi citada por alguns técnicos Estes acreditam que se as crianças forem talentosas estas serão capazes de responder bem às exigências do treinamento especializado ainda que a literatura considere cedo O processo de crescimento e de maturação foi apontado por alguns técnicos como fator negativo pois dificultaria Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 309 Ginástica artística e especialização precoce a evolução na GA devido ao aumento das proporções corporais A desvantagem biomecânica é fato mas outras qualidades podem ter efeito compensatório como a melhoria das capacidades físicas cognitivas e a maturidade psicológica para suportar as demandas Contrariamente alguns técnicos acreditam na vantagem de especializar o atleta mais tarde a fim de prolongar a participação esportiva da ginasta e citam que muitas ginastas que iniciaram cedo também abandona ram cedo Provavelmente o abandono tem relação com as altas exigências dos treinamentos e das competições o que tem apoio da literatura Brenner counSil on SportS MeDicine anD fitneSS cSMf 2007 E heDStroM e goulD 2004 e BoMpa 2000 citam que não há dados que comprovem que a especialização pre coce tenha revelado atletas expoentes nas fases adultas Mesmo que seja consenso entre os técnicos de que o caminho para atingir o alto nível na GA seja iniciar cedo muitos admitem que inúmeros fatores afetam o sucesso no esporte e citam suas próprias experiências Tem lugares que trabalham uma menina talentosa e começam a forçar para ser campeã brasileira infantil e quando chega no juvenil a menina tá quebrada es tourada T15 como é o caso também de T10 e T28 Assim ao excluir ginastas do setor competitivo ou sim plesmente negarlhes a oportunidade de demonstrar seu talento pode causar o desperdício de muitos potenciais A adaptação ao treinamento tem sido respeitada por alguns técnicos os quais citam o aumento gradual do tempo de treino à medida que as crianças avançam na idade Mas não podemos negar a individualidade das mesmas especialmente sobre os princípios do treinamento e as respostas individuais Weineck 1999 pois a idade cronológica não é o único parâme tro para prescrever o volume e a intensidade de treino Além do início prematuro entre os 56 anos de idade devemos considerar a quantidade de horas de treino no alto nível que tem variado entre 24 a 36 horas semanais distribuídos em cinco ou seis dias por semana arkaev Suchilin 2004 nunoMu ra pireS carrara 2009 richarDS acklanD elliott 1999 Para crianças prépúberes ou púberes o limite sugerido de 15 horas de treino por semana parece razoável DaMSgaarD 2001 Brenner e cSMf 2007 recomendam o limite má ximo de cinco dias semanais de atividade esportiva e descanso mínimo de um dia de qualquer atividade física sistematizada E mais os atletas deveriam ter no mínimo de dois a três meses por ano de férias de sua modalidade Além das lesões por overuse se não houver tempo suficiente para a recuperação sufi ciente o jovem poderá estar sob o risco de burnout Segundo os técnicos a especialização precoce incide sobre a idade a individualidade os objetivos de longo prazo o esgotamento entre outros aspectos e tem raízes nas tendências internacionais da GA Idade a maioria dos técnicos concorda que seja precoce iniciar o treino sistematizado aos 45 anos seja precoce O debate sobre a idade de especialização na GA é antigo BoMpa 2000 légliSe 1996 1998 MarqueS 1991 nunoMura pireS carrara 2009 WattS 2002 e estamos longe de chegar a um consenso Com base nas próprias experiências há técnicos que são favoráveis à especialização das crianças entre os 47 anos de idade ou seja abaixo do que se recomenda na literatura Estes justificam que aquelas que iniciaram cedo quatro anos têm postura diferente daquelas que começaram mais tarde sete anos e que as talentosas têm condições de começar cedo Há aqueles contrários à ideia de que a especialização deva ser cedo pois acre ditam que a mesma leva ao esgotamento e abandono prematuros prejudica a saúde e que a criança tão jovem necessita de muita assistência Assim as atividades devem estimular a formação motora geral Weineck 1999 A individualidade é citada no caso de talentos como aquelas que iniciaram mais tarde 1011 anos de idade e se destacaram na GA como foi o caso da ginasta Daiane Os técnicos também se referiram às me ninas que iniciaram cedo 56 anos e que aos 17 anos já encerraram a carreira O relato revela a preocupação desses técnicos em prolongar o período de participação esportiva araújo 1998 gonçalveS 1999 Conteúdo como o processo de formação esportiva ocorre em longo prazo não há motivos para apressar o ápice da ginasta e um técnico T9 cita se a menina tem sete anos hoje ela só vai competir em 2017 então pra que exigir um duplo mortal agora Mas outro técnico T26 argumenta Ninguém quer saber de investimento para médio ou longo prazo Todo mundo quer a curto prazo talvez referindose às cobranças da instituição ou do próprio sistema da GA que permite a participação de jovens de 13 anos de idade em eventos da categoria adulta Mas a decisão é do técnico e se ele não visa aos resultados imediatos não deve queimar etapas e apressar a participação de ginastas na categoria superior O esgotamento foi muito comentado e os argu mentos estão associados ao início precoce do treino especializado e às frustrações em eventos nos quais as ginastas confrontam adversários superiores O risco de lesão também foi citado e está associado às demandas das categorias competitivas superiores pettrone ricciarDelli 1987 Ponto de vista sobre a especialização precoce 310 Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 NUNOMURA M CARRARA PDS TSUKAMOTO MHC Os técnicos relataram as tendências mundiais das regras da Federação Internacional de Ginástica FIG as quais consequentemente direcionam aquelas da CBG e das federações Um técnico T28 comentou que concordem ou não eles devem seguir estas normas Contrariamente alguns técnicos acreditam que a FIG tem revisto a questão e há perspectivas de elevarem a idade mínima para participação das meninas nos torneios internacionais dos atuais 16 para 18 anos de idade no próximo ciclo olímpico O técnico T29 cita que atual mente encontramos ginastas acima dos 25 anos de idade competindo e obtendo resultados expressivos no cenário internacional o que indica que a carreira das ginastas pode avançar para a fase adulta e ser bem sucedida Observamos que a maioria dos técnicos tem consciência dos riscos e prejuízos da especialização precoce mas ao mesmo tempo sentemse limitados pelas regras atuais da GA Privar as crianças de com petições é eliminar um dos fatores motivacionais importantes heDStroM goulD 2004 lopeS nunoMura 2007 relvaS 2005 e a dedicação destas aos treinos também pode perder sentido Por outro lado mesmo que o técnico julgue prematuro a instituição pode exigir que as ginastas participem Assim para o técnico é um dilema que poderia ser resolvido através de esclarecimentos aos demais envol vidos no esporte como pais e coordenadores de que se deve priorizar e preservar a integridade das crianças Uma sugestão é monitorar regularmente os parâmetros que indicam o desenvolvimento como peso corporal me didas antropométricas estágio maturacional registros de lesões distúrbios de sono entre outros Brenner cSMf 2007 DaMSgaarD 2001 e verificar se as crianças se enquadram dentro na normalidade Setor masculino Ideal para iniciar na GA Idade as faixas etárias mencionadas são semelhantes as do setor feminino A maioria dos técnicos acredita que seja necessário iniciar entre os 57 anos de idade arkaev Suchilin 2004 BoMpa 2000 e que aos 34 anos a criança pode começar a frequentar o ambiente da GA A formação generalizada é defendida pelos técnicos que pensam que a nãoespecialização nas fases iniciais garantiria a evolução posterior e não esgotaria precocemente as crianças Weineck 1999 Os técnicos também citaram o papel que a Educação Física Escolar deveria prestar ou seja o de estimular a formação motora inicial mas que não é cumprida em sua totalidade pela maioria das escolas Conteúdo os técnicos mencionaram também que procuram desenvolver o gosto pela prática es portiva e afirmam que não cobram ou pressionam as crianças para que treinem Assim como no setor feminino há técnicos que apontam para a realidade do país em que a seleção rigorosa e principalmente o suposto limite de idade para iniciar na GA tem impacto sobre o número de praticantes Estes técnicos reforçam que nas insti tuições municipais a filosofia é não excluir o que é coerente pois o número de praticantes de GA no setor masculino é ainda menor se comparado ao feminino Entre as instituições visitadas observamos que apenas 12 oferecem GA para os homens Então a ex clusão daqueles que não apresentam o perfil ideal para a GA ou que são considerados velhos para iniciar contribuiria para diminuir o nível de participação Há técnicos preocupados em prolongar a partici pação de seus ginastas Eles citam que as exigências do esporte competitivo nas idades baixas podem levar muitas crianças a desistirem cedo e antes mesmo de se destacarem na modalidade particularmente no mas culino em que o pico de performance ocorre a partir dos 1718 anos de idade arkaev Suchilin 2004 Ideal para especializar na GA Idade contrário ao setor feminino a literatura tem revelado o início mais tardio da especialização entre os meninos SoBral 1994 Mas assim como no setor feminino os técnicos se vêem presos aos regu lamentos das competições e muitos pensam que estas aconteçam muito cedo O menino pode começar a competir com nove anos de idade E segundo um técnico T2 são necessários no mínimo dois anos para que esteja preparado para competir Assim a maioria dos técnicos cita que os ginastas deveriam iniciar a especialização por volta dos sete anos de idade para terem mais chances de resultados na sua categoria O quadro é ainda mais delicado pois as crianças podem competir em categorias superiores no último ano de sua categoria o que eleva o grau de dificuldade das regras O fato pode aumentar a pressão para que a especialização ocorra pois devido à escassez de ginastas estes muitas vezes são obrigados a participar em outras categorias para completar as equipes nunoMura pireS carrara 2009 O treino da GA competitiva é orientado pelas regras das competições Nas categorias inferiores as federações e a CBG criam regras adaptadas da FIG e festivais com exigências menores a fim de permitir uma participação mais segura das faixas etárias mais baixas Porém essa é Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 311 Ginástica artística e especialização precoce uma entre as diversas adaptações necessárias no esporte para que beneficie e se adeque às crianças e aos jovens Os técnicos mencionam o processo de crescimento e de maturação que no masculino é favorável pois com a entrada na puberdade eles melhoram a performance devido ao ganho de massa muscular e de força Bale gooDWay 1990 Ao contrário do feminino em que as ginastas têm dificuldades para progredir devido ao aumento da massa adiposa e das proporções corporais Por outro lado os técnicos consideram que seja uma fase delicada pois coincide com o período em que mui tos jovens necessitam ingressar no mercado de trabalho para ajudar nas despesas familiares Outro fator de impacto nesta fase é a prioridade atribuída à formação profissional mas que não é contestada pelos técnicos A GA não é um esporte profissional e a ansiedade para ingressar no mercado de trabalho é normal entre os jovens brasileiros e muitas vezes uma necessidade Conteúdo os técnicos mencionaram a formação da base motora e observamos que as crianças são encaminhadas ao treinamento diário entre os 79 anos de idade e conforme a literatura este fato caracteriza o treinamento especializado conforme a literatura claeSSenS et al 1992 Silva fernanDeS celani 2001 É interessante o depoimento de T4 que relata que antes pregava o início e a especialização precoce das crianças mas atualmente percebe que se elas iniciam muito cedo perdem rapidamente o interesse pela GA Alguns técnicos citaram o esgotamento das crianças e argumentaram que a prática da GA é mo nótona e repetitiva e que cansa facilmente O aspecto lúdico também foi mencionado ainda que em menor expressão mas revela a preocupação do técnico em atender às necessidades da idade que é de brincar e de se divertir Bee 2003 gallahue oZMun 2005 Outro relato interessante foi o do técnico T8 No nosso meio é utopia né mas o ideal é que o gi nasta tenha um bom trabalho psicomotor no início e que passe por um bom treinamento de preparação técnica básica que depois vai desenvolvendo para diferentes fases e passando pelos treinadores que tenham conhecimento técnico adequado para po der evoluir o trabalho O depoimento revela que o técnico tem consciência do ideal e da necessidade da formação de base mas que poucos profissionais e ele próprio não têm oportunidade ou condições de realizar As exigências das instituições para que os gi nastas participem de competições pode ser uma das justificativas Silva fernanDeS celani 2001 Ponto de vista sobre a especialização precoce Idade sobre a especialização precoce na GA masculina os técnicos citaram que a ideia de que se deve iniciar e especializar cedo no treinamento não existe mais no país Conteúdo os técnicos condenam o esgotamento seja físico ou psicológico e sugerem que se desenvolva a coordenação e os movimentos básicos nas crianças menores 45 anos com baixo volume de atividades arkaev Suchilin 2004 e sem exigências ou pressões Weineck 1999 Eles acreditam que se as crianças estiverem envolvidas no treinamento sistema tizado e especializado elas também serão inseridas em situações competitivas E assim seriam duas condições demandadoras para as quais as crianças poderiam não apresentar condições de responder com sucesso Considerações finais A partir do exposto foi possível observar alguns ângulos do processo de formação esportiva na GA do Brasil O sistema competitivo em si merece considerações pois muitos técnicos citaram inade quações O quadro não é muito diferente nas demais modalidades mas em especial na GA é ainda mais crítico pois envolve crianças muito jovens Por que iniciar as crianças tão jovens no sistema competitivo Sobre estas críticas a própria FIG tem respondido com a elevação da idade mínima de participação em torneios internacionais conforme citado ante riormente Mesmo que haja regras para a idade de participação nas competições não há necessidade de que as crianças experimentem todas essas fases A frustração acumulada de uma série de participações sem sucesso por não estar devidamente preparado pode ser mais prejudicial do que participar menos e ter oportunidade de experimentar o sucesso As regras adaptadas às categorias se aproximam mais à realidade dos ginastas e potencialmente levam a uma maior ocorrência de sucesso o que pode esti mular a participação prolongada no esporte Em geral os técnicos estão conscientes de que na fase inicial é necessário desenvolver uma base mo tora geral através de atividades lúdicas e também moderar as cargas de treinamento nas fases iniciais 312 Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 NUNOMURA M CARRARA PDS TSUKAMOTO MHC Há aqueles que dizem seguir modelos e padrões sem discutir as suas adequações Apesar de haver programasmodelo de GA para se orientarem os técnicos não devem se apoiar somente nestes pois há particularidades do nosso contexto que devem ser atendidas Assim eles deveriam fazer esse julga mento e adaptações com muito critério Foi citada a falta da Educação Física escolar para promover as experiências motoras básicas e o gosto pelo exercício físico e pela prática esportiva Então não é possível seguir integralmente os modelos internacionais pois os níveis de formação esportiva na GA foram estabelecidos a partir do pressuposto de que as crianças têm uma base motora geral homogênea A contradição na prática de alguns técnicos ficou evidente pois ainda que mencionem a importância de formar uma base motora do amadurecimento emocional e cognitivo ao mesmo tempo iniciam seus ginastas em treino especializado muito antes de terem atingido um grau de maturação nestas dimensões Um dos argumentos defendidos pelos técnicos é que esses ginastas são talentos e portanto são capazes de responder às demandas do esporte de alto nível o que confirma o pressuposto de SoBral 1994 A disseminação dos programas de identifi cação e de desenvolvimento de talentos levou muitos técnicos a acreditarem que todos os atletas podem ser enquadrados em dois grupos talentosos ou não talentosos Assim pressupõese que os talentosos são aqueles com maiores chances de vencer no esporte Os diagnósticos não preconizam os eventos imprevi síveis como lesões condições psicológicas mudança de residência troca de técnicos etc Tudo tem uma parcela de influência e por vezes aquele classificado como nãotalentoso pode apresentar ao longo da carreira esportiva condições muito mais favoráveis do que o talentoso Ainda que sejam talentosos os atletas têm limites e estes devem ser respeitados O fato de ser talentoso não significa que esteja motivado a ser submetido às mesmas demandas de atletas adultos Observamos principalmente no setor feminino que os técnicos acreditam que as ginastas deveriam começar bem cedo antes da puberdade pois após esta fase haveria poucas chances de sucesso Certamente as vantagens biomecânicas são incontestáveis Mas por outro lado com o avanço da idade qualidades desejáveis também podem surgir como por exemplo a maturidade psicológica Isto pode compensar os aspectos negativos como o ganho de massa e altura É importante ressaltar que o início na GA com a finalidade de familiarizar os praticantes com o ambiente da prática e receber estímulos físicos e motores gerais não incorre em danos às crianças mais jovens E potencialmente estas poderão se destacar na modalidade assim como aquelas que não tiveram oportunidade de iniciar cedo desde que sejam adequadamente orientadas A maturação e o crescimento são processos previsíveis para todos porém ocorrerão em momentos e intensidades distintos Um técnico consciente e esclarecido será capaz de atuar positivamente para que essas mudanças sejam incorporadas na rotina esportiva sem comprometer a participação e o interesse pelo esporte Esclarecer os atletas dessas mudanças e do impacto sobre a sua performance e resultados ameniza e facilita a adaptação e diminui a possibilidade de abandono do esporte Em geral no período de ingresso no ensino superior muitos atletas brasileiros estão encerrando sua carreira esportiva pois são raros aqueles que recebem apoio financeiro para arcar com os custos ou bolsas de estu do das próprias Universidades No nosso país muitos atletas também são obrigados a ingressar no mercado de trabalho pois a dedicação ao esporte não lhes garante as condições de sustento para as necessidades básicas Assim não é realista esperar que o atleta atinja a maio ridade para começar a se destacar no esporte pois no nosso caso é justamente o período em que ocorre o término da sua carreira Uma sugestão seria adotar um sistema integrado entre as instituições esportivas e de en sino para apoiar os atletas Podese utilizar o parâmetro de rendimento esportivo combinado ao de necessidade social assim como aquele aplicado pelo Ministério do Esporte As instituições Federações e a Confederação deveriam atrair e incentivar o empresariado a apoiar os atletas os quais poderiam se beneficiar com a dedução fiscal e como meio de divulgação de sua marca A formação esportiva é um processo longo e assim o imediatismo ou a supressão de qualquer uma de suas fases terá consequências seja em médio ou longo prazo Certamente as crianças e os jovens serão aqueles que mais sofrerão as consequências negativas da especialização precoce caso esta seja a opção dos técnicos pois geralmente serão acompanhadas por altas demandas pressões por rendimento e resultados imediatos E mais provavelmente estas crianças e jovens encerrarão a carreira esportiva e levarão para o futuro experiências pouco encorajadoras para se manterem fisicamente ativos E provavelmente estes estarão pouco motivados a incentivar as gerações futuras à participação esportiva Ou poderão se tornar técnicos e acreditar que a especialização precoce seja inevitável e consequentemente procederão da mesma forma É possível aproximarmos do ideal de formação esportiva mas as mudanças devem ser graduais para Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 313 Ginástica artística e especialização precoce que o sistema atual não entre em colapso É fato que os técnicos precisam manter suas posições e para justificá las devem competir e obter resultados que satisfaçam as instituições os pais e se for o caso os patrocinadores A alternativa seria esclarecêlos sobre as particularidades do Esporte e da GA Reportar progressos individuais dos atletas seu grau de satisfação no esporte suas conquistas e superações individuais pode amenizar a ênfase sobre a competição e os resultados Os técnicos e demais envolvidos no esporte não devem poupar esforços para proteger os atletas para prolongar sua participação e principalmente para proporcionarlhes experiências positivas no esporte Mesmo que o atleta não seja um destaque se bem orientado ele poderá incentivar gerações futuras E eventualmente poderá surgir um campeão ainda que não seja este o principal objetivo da participação esportiva Abstract Artistic gymnastics and early specialization too young to specialize too old to be a champion In Artistic Gymnastics we usually observe very young gymnasts committed to training and competition and getting outstanding results in the international context Therefore this discipline has been frequently targeted for the doubtfulness of its practices and the actual need to start systematic training at earlier ages However in Brazil we could not find any data regarding initiation and specialization in Artistic Gymnastics so far The purpose of this study was to investigate and to analyse the point of view of coaches regarding the ideal age to initiate and specialize in Artistic Gymnastics and their concerns We interviewed 46 Brazilian coaches who are coaching developing young competitive gymnasts at all levels of skills The content analysis technique proposed by Bardin 2001 was used for data treatment The results showed that both boys and girls start to practice at early age The women and men gymnasts coaches revealed that the early specialization occurs due to the inherent nature of the Artistic Gymnastics the age of participation in the official competition and the required time to develop a gymnast until hisher readiness to compete Particularly regarding the male gymnasts some of them need to start working and coaches feel pressured to pursuit results before the period when dropout begins Uniterms Artistic gymnastics Training Specialization Early specialization Referências ARAÚJO CM O treino dos jovens ginastas Horizonte Lisboa v15 n85 p112 1998 Caderno Especial ARKAEV L SUCHILIN N How to create champions Oxford Meyer Meyer Sport 2004 BALE P GOODWAY J Performance variables associated with the competitive gymnast Sports Medicine Auckland v10 n3 p13945 1990 BALYI I O desenvolvimento do praticante a longo prazo sistema e soluções Treino Desportivo Lisboa n23 p2227 2003 BARDIN L Análise de conteúdo Lisboa Edições 70 2001 BEE H A criança em desenvolvimento Tradução de Maria Veronese Porto Alegre Artmed 2003 BOMPA T O Total training for young champions Champaign Human Kinetics 2000 p129 BRENNER J COUNCIL ON SPORTS MEDICINE AND FITNESS CSMF Overuse injuries overtraining and burnout in child and adolescent athletes Pediatrics Elk Grove Village v119 n6 p124245 2007 CARAZZATO JG A criança e o esporte idade ideal para o início da prática esportiva competitiva Revista Brasileira de Medicina do Esporte São Paulo v1 n4 p97101 1995 CHAURRA JT ZULUAGA LFA PEÑA NM Escuelas de formación deportiva com enfoque integral y entrena miento deportivo infantil uma experiencia investigativa Armênia Kinesis 1998 CLAESSENS AL MALINA RM LEFEVRE J BEUNEN G STIJNEN V MAES H VEER FM Growth and menarcheal status of elite female gymnasts Medicine Science in Sports Exercise Madison v 24 n7 p75563 1992 314 Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 NUNOMURA M CARRARA PDS TSUKAMOTO MHC Nota Apoio FAPESP COELHO O Pedagogia do desporto contributos para uma compreensão do desporto juvenil Lisboa Livros Horizonte 1988 DAMSGAARD R Children in competitive sports clinical implications FIS Medical Committee Educational Series 2001 Disponível em httpwwwfisskicomdatadocumentchildrencompetitondamsgaardpdf Acesso em 20 ago 2008 GALDINO ML MACHADO AA Pontos e contrapontos acerca da especialização precoce nos esportes In MACHADO AA Org Especialização esportiva precoce perspectivas atuais da psicologia do esporte Jundiaí Fontoura 2008 p12947 GALLAHUE D OZMUN J Compreendendo o desenvolvimento motor bebês crianças adolescentes e adultos Tradução de Maria Araújo São Paulo Phorte 2005 GONÇALVES C Um olhar sobre o processo de formação do jovem praticante Treino Desportivo Lisboa n2 p428 1999 Edição Especial HEDSTROM R GOULD D Research in youth sports critical issues status Michigan Institute for the Study of Youth Sports 2004 Disponível em httpedweb3educmsueduysiprojectCriticalIssuesYouthSportspdf Acesso em 20 ago 2008 LÉGLISE M Children and highlevel sport Olympic Review Lausanne v7 n25 p525 1996 Limits on young gymnasts involvement in highlevel sport Technique Indianapolis v18 n4 p814 1998 LOPES P NUNOMURA M Motivação para a prática e permanência na ginástica artística de alto nível Revista Brasileira de Educação Física e Esporte São Paulo v21 n3 p17787 2007 MARQUES AT A especialização precoce na preparação desportiva Treino Desportivo Lisboa n19 p915 1991 McCULLICK B BELCHER D SCHEMPP P What works in coaching and sport instructor certification programs The participants view Physical Education and Sport Pedagogy Florence v10 n2 p12137 2005 NUNOMURA M PIRES F CARRARA P Análise do treinamento na ginástica artística brasileira Revista Brasileira de Ciências do Esporte Campinas v31 n1 p2540 2009 PETTRONE F RICCIARDELLI E Gymnastic injuries the Virginia experience 198283 American Journal of Sports Medicine Chicago v15 n1 p5962 1987 RELVAS H Adjustments within coaches and young athletes regarding sport participation Treino Desportivo Lisboa n4 p47 2005 RICHARDS EJ ACKLAND RT ELLIOTT BC The effect of training volume and growth on gymnastic performance in young women Pediatric Exercise Science Nedlands v11 n4 p34963 1999 SEABRA A CATELA D Maturação crescimento físico e prática desportiva em crianças Horizonte Lisboa v14 n83 p157 1998 SILVA FS FERNANDES L CELANI FO Desporto de crianças e jovens um estudo sobre as idades de iniciação Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Porto v1 n2 p4555 2001 SOBRAL F Desporto infantil prontidão e talento Braga Horizonte 1994 TSUKAMOTO MHC NUNOMURA M Aspectos maturacionais de atletas de ginástica olímpica do sexo feminino Motriz Rio Claro v9 n2 p11926 2003 WATTS J Perspectives on sport specialization Journal of Physical Education Recreation and Dance Reston v73 n8 p327 2002 WEINECK J Treinamento ideal Tradução de Beatriz Maria Romano Carvalho São Paulo Manole 1999 ZAKHAROV A Ciência do treinamento desportivo Rio de Janeiro Grupo Palestra Sport 1992 enDeReçO Myrian Nunomura Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto USP Av dos Bandeirantes 3900 14040907 Ribeirão Preto SP BRASIL email mnunomuruspbr Recebido para publicação 14042009 Revisado em 04012010 Aceito 07012010 RESENHA CRÍTICA O esporte vem se desenvolvimento ao longo dos anos e a partir a alta divulgação para sua prática pais ficam indecisões em qual esfera esportiva inserir seus filhos A influência e os estímulos em busca do podium é tão grande e constante que as crianças buscam de forma constante o alcance em grandes eventos como os olímpicos por exemplo Entretanto nem sempre tudo é o que parece O aperfeiçoamento de capacidades físicas em crianças e adolescentes em um contexto de saúde deve instigar ao desenvolvimento sócio cultural e não visar apenas um desempenho esportivo Quando o intuito é alcançar méritos esportivos esse direcionamento muda e vai em uma direção totalmente diferente Aplicar estratégias competitivas em crianças e adolescentes pode remeter a anular etapas essenciais para o crescimento e desenvolvimento motor o que pode gerar conflitos a longo prazo O momento certo para iniciar a estimulação esportiva depende muito de aspectos sócio culturais Alguns palpites de autores da área sugerem que quanto antes o início melhor será o êxito entretanto a literatura apresenta controvérsias É de grande importância compreender que a estimulação esportiva para crianças gera determinados impactos e nos adultos os impactos gerados são diferentes Para alguns autores o início na prática esportiva tanto para meninas quanto para meninos deve ser entre três e sete anos Em relação ao início da especialização seis e dez anos A partir de tais informações meu ponto de vista sugere que o início da prática esportiva deva respeitar os aspectos naturais da criança bem como o desenvolvimento natural de seus gestos motores e capacidades físicas A estimulação em si se faz importante porém não deve ultrapassar os limites saudáveis Precisamos cultivar atletas que representem nosso país ou região isso é de grande importância entretanto é preciso considerar que o ser humano é um ser complexo e pode ser estimulado a partir de diversos setores e não somente o físico em busca do desempenho
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Texto de pré-visualização
Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 305 Ginástica artística e especialização precoce Introdução Ginástica artística e especialização precoce cedo demais para especializar tarde demais para ser campeão CDD 20ed 796073 79641 Myrian NUNOMURA Paulo Daniel Sabino CARRARA Mariana Harumi Cruz TSUKAMOTO Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto Univer sidade de São Paulo Escola de Educa ção Física e Esporte Universidade de São Paulo Resumo Na ginástica artística é comum observarmos ginastas em tenra idade treinando competindo e obtendo resultados expressivos no âmbito internacional Assim frequentemente a modalidade recebe críticas severas sobre as suas práticas e a necessidade dos ginastas iniciarem o treinamento tão jovens Mas no Brasil ainda há poucos dados sobre a realidade da iniciação e da especialização esportiva na ginástica artística O objetivo do presente estudo foi investigar entre os técnicos da modalidade sobre a idade que eles consideram a ideal para o início da prática e a especialização e os respectivos argumentos Foram entrevistados 46 técnicos do Brasil que trabalham em todas as categorias de formação que visam ao alto nível Utilizamos a técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin 2001 para o tratamento de dados Os dados revelam que a prática e a especialização iniciam em tenra idade em ambos os gêneros Os técnicos do setor masculino e do feminino citam que a especialização precoce ocorre devido à própria natureza da modalidade à idade de participação em eventos oficiais e ao tempo de preparação necessário para que os ginastas apresentem condições para competir No setor masculino em particular a necessidade dos ginastas de ingressar no mercado de trabalho pressiona os técnicos a obterem resultados antes que eles comecem a abandonar o esporte Unitermos Ginástica artística Treinamento Especialização Especialização precoce O crescimento do esporte é um fenômeno mun dial Mccullick Belcher ScheMpp 2005 que vem repercutindo em todas as esferas da sociedade Devido à diversidade de opções de práticas espor tivas pais e seus filhos podem ficar indecisos sobre o que praticar quando iniciar e quando competir Há afirmações de que quanto mais cedo iniciar no esporte melhor Mas melhor para quem ou em que sentido Crianças e jovens são atraídos para o esporte e provavelmente há aqueles que sonham em chegar ao pódio ou participar dos Jogos Olímpicos ainda que não conheçam o caminho que deverão percorrer até merecer uma medalha no peito O processo de preparação esportiva visa consolidar a funcionalidade do atleta em longo prazo e atingir a excelência na modalidade escolhida em idades supe riores Há sugestões de modelos de formação espor tiva na literatura como por exemplo Balyi 2003 BoMpa 2000 Weineck 1999 chaurra Zuluaga e peña 1998 e Zakharov 1992 A especialização é parte natural desse processo quando os esforços e tempo são canalizados para uma única modalidade após um período de prática variada Contrariamente a especialização precoce referese à especialização antes do período considerado ideal quando fases do processo de formação são antecipadas ou anuladas BoMpa 2000 MarqueS 1991 Weineck 1999 A idade de início do treinamento especializado varia de acordo com a cultura e a modalidade espor tiva BoMpa 2000 Zakharov 1992 o gênero a vida útil de prestação esportiva e o ápice esportivo caraZZato 1995 Na Ginástica Artística GA em particular muita atenção é necessária pois acre ditase que a especialização esportiva seja realmente precoce O período ótimo de desenvolvimento de capacidades coordenativas e da flexibilidade arkaev Suchilin 2004 e as vantagens biomecânicas de proporções corporais menores DaMSgaarD 2001 306 Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 NUNOMURA M CARRARA PDS TSUKAMOTO MHC Métodos Amostra são os argumentos mais utilizados na GA competi tiva mas ainda assim levantam críticas e debates seja na Pedagogia do Esporte ou nas demais áreas BoMpa 2000 gonçalveS 1999 e coelho 1988 associam a especialização precoce ao fato de muitas pes soas acreditarem que quanto mais cedo a criança iniciar na modalidade esportiva mais chances de sucesso ela terá E apesar da literatura atual tentar esclarecer essa visão equivocada de especialização e esta associação não encontrar apoio na ciência a especialização precoce é explorada amplamente no esporte contemporâneo A especialização precoce é desaconselhada pois acarreta uma série de consequências negativas aos praticantes como redução do repertório motor aumento da incidência de lesões BoMpa 2000 galDino Ma chaDo 2008 MarqueS 1991 prejuízos gerais ao desenvolvimento da criança SeaBra catela 1998 manifestação de efeitos psicológicos negativos como o burnout WattS 2002 desmotivação coelho 1988 e prejuízos à formação escolar Weineck 1999 O treino sistemático iniciase antes da puberdade nas modalidades artísticas Balyi 2003 DaMSga arD 2001 Mas não podemos inferir que seja con senso entre os técnicos de GA que a especialização na modalidade deva ocorrer bem cedo Entretanto não raras vezes técnicos argumentam a necessidade e a obrigatoriedade de se iniciar os treinamentos sistemáticos e intensivos ainda em tenra idade Não há problemas com o treinamento sistematizado quando os ginastas atravessaram todo o processo de preparação e adaptação até demonstrarem condições de suportar as cargas de treinamento da modalidade Mas quando crianças e jovens competem segundo as regras oficiais surgem questionamentos como quanto tempo eles treinaram até atingir esse padrão técnico e com que idade iniciaram os treinos Ainda que as crianças demonstrem talento para a GA o treinamen to intensivo e uni direcionado pode comprometer a saúde e o envolvimento em longo prazo E talvez o seu potencial para o alto rendimento na modalidade jamais seja desenvolvido O esporte competitivo tem sua própria característica e a crítica não se reporta à exigência do alto rendimento para adultos mas quando estas mesmas exigências são feitas às crianças A GA pode contribuir para a formação esportiva geral pois estimula as capacidades físicas e motoras que também são importantes para a prática de ou tras modalidades esportivas Mas será que na GA é preciso iniciar cedo os treinamentos especializados para evoluir ao alto nível Seria uma exigência real da modalidade Os objetivos do presente estudo foram 1 analisar a opinião dos técnicos da GA competi tiva sobre a idade e o conteúdo ideal para o início da prática e da especialização na modalidade 2 discutir as respectivas argumentações que sustentam seu ponto de vista sobre a especialização precoce Realizamos uma investigação em campo e entrevistamos 46 técnicos 34 do setor feminino e 12 do masculino que orientam ginastas das categorias de base da GA os quais competem em torneios oficiais das respectivas Federações eou da Confederação Brasileira de Ginástica CBG O recorte foi estabelecido sobre o Estado de São Paulo e cidades do Rio de Janeiro Curitiba e Porto Alegre devido à representatividade numérica e qualitativa destas localidades no cenário nacional da GA O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da EEFEUSP Apoiados em um roteiro préestabelecido os técnicos foram entrevistados individualmente e seus Procedimentos depoimentos foram integralmente registrados em miniDV Solicitouse que eles relatassem sobre a idade ideal para o início da prática e a especialização na GA e também o seu ponto de vista sobre a especialização precoce na GA justificando as respostas Para o tratamento dos dados optamos pela téc nica de análise de conteúdo proposta por BarDin 2001 que envolve o tratamento bruto dos dados leitura a categorização organização dos dados e a codificação definição das unidades de significado e unidades de contexto para posterior discussão à luz da teoria que circunstancia o fenômeno A análise ocorreu discriminadamente para o grupo de técnicos do setor feminino e do masculino Este procedimento foi adotado porque identifica mos entre os sexos diferenças significativas que demarcam o processo de formação esportiva como a idade de início e as particularidades do processo de maturação Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 307 Ginástica artística e especialização precoce Resultados Os dados foram organizados em duas categorias para ambos os sexos 1 Idade do praticante e 2 Conteúdo das atividades para cada um dos questionamentos Os quadros a seguir resumem as opiniões apresentadas pelos técnicos QUADRO 1 Resultados apresentados pelos técnicos do setor feminino Idade Conteúdo das atividades Ideal para iniciar Alguns técnicos dizem que entre 57 anos de ida de seria a idade ideal para iniciar Outros mencionam que entre 34 anos de idade a criança já deveria frequentar o ambiente da GA Os técnicos lembram a importância das atividades lúdicas nas etapas inicias No entanto ao citarem exemplos de atividades referemse a atividades típicas do treinamento espe cializado Ideal para especializar De 67 a no máximo 910 anos de idade Os técnicos alegam que os regulamentos das fede rações e confederações estimulam a especialização A pressão das instituições para a obtenção de resul tados também justifica a necessidade de especializa ção na opinião dos técnicos Alguns técnicos acreditam que a prontidão do atle ta pode permitir que a detecção de uma boa resposta ao treinamento ainda que este seja iniciado antes da idade considerada ideal Ponto de vista sobre a especialização precoce Os técnicos concordam que a especialização aos 45 anos de idade seja precoce Ainda assim muitos se manifestam favoráveis à es pecialização entre 47 anos de idade A formação do atleta deve ocorrer em longo prazo Portanto alguns técnicos mencionam que não há ra zão para apressar este processo Os regulamentos vigentes na modalidade são apon tados mais uma vez como uma justificativa para a propensão à especialização precoce na modalidade Os técnicos apontam o esgotamento e a incidência de lesões como consequências deste processo Idade Conteúdo das atividades Ideal para iniciar Entre os 57 anos de idade Entre os 34 anos de idade a criança pode começar a frequentar o ambiente da GA Os técnicos mencionam priorizar atividades que despertem o gosto pela prática Afirmam que não cobram ou pressionam as crian ças para que treinem Ideal para especializar Aproximadamente aos 7 anos de idade Foco na formação da base motora para a modali dade Alguns técnicos mencionam que em virtude das características do treinamento este pode se tornar monótono e levar ao esgotamento Um pequeno grupo de técnicos demonstra a preo cupação em manter a ludicidade e a diversão durante as aulas O conteúdo das atividades é influenciado pelas exi gências dos regulamentos das competições Ponto de vista sobre a especialização precoce Os técnicos dizem que a ideia de especialização pre coce não existe mais no país Para as crianças mais jovens entre 45 anos de ida de recomendase que sejam desenvolvidos elemen tos básicos e de coordenação A inserção precoce em situações de treinamento sistematizado e especializado consequentemente en volverá as crianças em situações competitivas QUADRO 2 Resultados apresentados pelos técnicos do setor masculino 308 Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 NUNOMURA M CARRARA PDS TSUKAMOTO MHC Discussão Setor feminino Ideal para iniciar na GA Idade alguns técnicos citam que é necessário iniciar por volta dos 57 anos de idade o que tem apoio na literatura arkaev Suchilin 2004 BoMpa 2000 enquanto outros alegam que aos 34 anos a criança deveria começar a frequentar o ambiente da GA Uma minoria dos técnicos acredita que não haja argumenta ção consistente sobre a idade ideal de início na GA e ainda que estes não concordem eles parecem seguir o padrão de idade adotado na maioria das instituições Há técnicos que não citaram idades ou períodos e estes alegam que a nossa realidade não permite impor limites nem estabelecer padrões cronológicos ideais Caso contrário correse o risco de perder material humano Essa visão realista é reforçada por exemplos como a ginasta Daiane dos Santos que iniciou na GA além da idade ideal recomendada e foi expressão no contexto internacional Um argumento utilizado pelos técnicos é o fato de considerarem a individualidade dos ginastas e não estabelecer uma idade ideal para iniciar mas aproveitar o potencial de cada um Conteúdo observamos que alguns técnicos têm considerado o aspecto lúdico nas atividades iniciais a fim de amenizar o estresse excessivo e o esgotamento das crianças E citam que a GA pode se tornar repetitiva e monótona dependendo das estratégias adotadas As ações destes técnicos focam no conhecimento e na familiarização com o am biente da GA Mas alguns técnicos se contradizem pois citam atividades características do treinamento especializado para aqueles que estão iniciando na modalidade Os técnicos citaram que eles também focam no desenvolvimento motor geral ainda que seja papel das escolas Certamente é um dos pontos críticos para o crescimento do Esporte no nosso país pois os técnicos precisam preencher esta lacuna da Educação Física Escolar Percebemos que os modelos de formação esporti va Balyi 2003 BoMpa 2000 chaurra Zuluaga peña 1998 se enquadram em um sistema cuja Educação Física Escolar cumpre seu papel o que raras vezes ocorre no nosso país A noção de que a formação esportiva é um processo de longo prazo ficou evidente no depoimento de alguns técnicos e encontra apoio na literatura pois esta menciona que sejam necessários em média de oito a 10 anos de preparação até atingir o pico de rendimento Ideal para especializar na GA Idade para os técnicos a especialização deve iniciar entre os 67 anos de idade e no máximo até os 910 anos As opiniões estão divididas para que a especialização ocorra entre um a cinco anos após o início da prática na GA As justificativas mais recorrentes são as vantagens das proporções corporais menores de crianças com maturação tardia e os períodos sensíveis em que as capacidades são desenvolvidas principalmente a coordenativa e a flexibilidade légliSe 1996 nunoMura pireS carrara 2009 tSukaMoto nunoMura 2003 Conteúdo os técnicos alegam que os regulamen tos vigentes das federações e confederação induzem à especialização precoce o que muitas vezes contradiz o seu conceito de formação esportiva Segundo a literatura claeSSenS Malina lefevre Beunen Stijnen MaeS veer 1992 SoBral 1994 os indícios da especialização precoce são evidentes na GA se comparadas às demais modalidades esporti vas Um dos técnicos citou que tem discutido o fato com a federação e a confederação a fim de reverter este quadro pois as regras se aplicam às ginastas talentosas e desconsideram aquelas normais A exigência das regras também preocupa os demais técnicos pois está associada à desistência entre as ginastas lopeS nunoMura 2007 A pressão também vem das próprias instituições pois há expectativa de que o investimento no setor competitivo revertase em resultados ainda nas catego riais iniciais Outra argumentação para a especialização precoce baseiase nos padrões internacionais da GA atual de que seja inevitável e essencial especializar cedo para ser competitivo conforme os depoimentos na GA as crianças não podem acordar muito tarde T8 ou que se não vier com bagagem motora antes dos 12 anos não vai render o que precisa T10 ou os clubes não pegam crianças com mais de nove anos T26 entre outras afirmações que induzem a própria criança e os pais a acreditarem que mesmo sendo criança é velha demais para a GA competitiva A prontidão necessária para o ingresso no sistema de treinamento especializado também foi citada por alguns técnicos Estes acreditam que se as crianças forem talentosas estas serão capazes de responder bem às exigências do treinamento especializado ainda que a literatura considere cedo O processo de crescimento e de maturação foi apontado por alguns técnicos como fator negativo pois dificultaria Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 309 Ginástica artística e especialização precoce a evolução na GA devido ao aumento das proporções corporais A desvantagem biomecânica é fato mas outras qualidades podem ter efeito compensatório como a melhoria das capacidades físicas cognitivas e a maturidade psicológica para suportar as demandas Contrariamente alguns técnicos acreditam na vantagem de especializar o atleta mais tarde a fim de prolongar a participação esportiva da ginasta e citam que muitas ginastas que iniciaram cedo também abandona ram cedo Provavelmente o abandono tem relação com as altas exigências dos treinamentos e das competições o que tem apoio da literatura Brenner counSil on SportS MeDicine anD fitneSS cSMf 2007 E heDStroM e goulD 2004 e BoMpa 2000 citam que não há dados que comprovem que a especialização pre coce tenha revelado atletas expoentes nas fases adultas Mesmo que seja consenso entre os técnicos de que o caminho para atingir o alto nível na GA seja iniciar cedo muitos admitem que inúmeros fatores afetam o sucesso no esporte e citam suas próprias experiências Tem lugares que trabalham uma menina talentosa e começam a forçar para ser campeã brasileira infantil e quando chega no juvenil a menina tá quebrada es tourada T15 como é o caso também de T10 e T28 Assim ao excluir ginastas do setor competitivo ou sim plesmente negarlhes a oportunidade de demonstrar seu talento pode causar o desperdício de muitos potenciais A adaptação ao treinamento tem sido respeitada por alguns técnicos os quais citam o aumento gradual do tempo de treino à medida que as crianças avançam na idade Mas não podemos negar a individualidade das mesmas especialmente sobre os princípios do treinamento e as respostas individuais Weineck 1999 pois a idade cronológica não é o único parâme tro para prescrever o volume e a intensidade de treino Além do início prematuro entre os 56 anos de idade devemos considerar a quantidade de horas de treino no alto nível que tem variado entre 24 a 36 horas semanais distribuídos em cinco ou seis dias por semana arkaev Suchilin 2004 nunoMu ra pireS carrara 2009 richarDS acklanD elliott 1999 Para crianças prépúberes ou púberes o limite sugerido de 15 horas de treino por semana parece razoável DaMSgaarD 2001 Brenner e cSMf 2007 recomendam o limite má ximo de cinco dias semanais de atividade esportiva e descanso mínimo de um dia de qualquer atividade física sistematizada E mais os atletas deveriam ter no mínimo de dois a três meses por ano de férias de sua modalidade Além das lesões por overuse se não houver tempo suficiente para a recuperação sufi ciente o jovem poderá estar sob o risco de burnout Segundo os técnicos a especialização precoce incide sobre a idade a individualidade os objetivos de longo prazo o esgotamento entre outros aspectos e tem raízes nas tendências internacionais da GA Idade a maioria dos técnicos concorda que seja precoce iniciar o treino sistematizado aos 45 anos seja precoce O debate sobre a idade de especialização na GA é antigo BoMpa 2000 légliSe 1996 1998 MarqueS 1991 nunoMura pireS carrara 2009 WattS 2002 e estamos longe de chegar a um consenso Com base nas próprias experiências há técnicos que são favoráveis à especialização das crianças entre os 47 anos de idade ou seja abaixo do que se recomenda na literatura Estes justificam que aquelas que iniciaram cedo quatro anos têm postura diferente daquelas que começaram mais tarde sete anos e que as talentosas têm condições de começar cedo Há aqueles contrários à ideia de que a especialização deva ser cedo pois acre ditam que a mesma leva ao esgotamento e abandono prematuros prejudica a saúde e que a criança tão jovem necessita de muita assistência Assim as atividades devem estimular a formação motora geral Weineck 1999 A individualidade é citada no caso de talentos como aquelas que iniciaram mais tarde 1011 anos de idade e se destacaram na GA como foi o caso da ginasta Daiane Os técnicos também se referiram às me ninas que iniciaram cedo 56 anos e que aos 17 anos já encerraram a carreira O relato revela a preocupação desses técnicos em prolongar o período de participação esportiva araújo 1998 gonçalveS 1999 Conteúdo como o processo de formação esportiva ocorre em longo prazo não há motivos para apressar o ápice da ginasta e um técnico T9 cita se a menina tem sete anos hoje ela só vai competir em 2017 então pra que exigir um duplo mortal agora Mas outro técnico T26 argumenta Ninguém quer saber de investimento para médio ou longo prazo Todo mundo quer a curto prazo talvez referindose às cobranças da instituição ou do próprio sistema da GA que permite a participação de jovens de 13 anos de idade em eventos da categoria adulta Mas a decisão é do técnico e se ele não visa aos resultados imediatos não deve queimar etapas e apressar a participação de ginastas na categoria superior O esgotamento foi muito comentado e os argu mentos estão associados ao início precoce do treino especializado e às frustrações em eventos nos quais as ginastas confrontam adversários superiores O risco de lesão também foi citado e está associado às demandas das categorias competitivas superiores pettrone ricciarDelli 1987 Ponto de vista sobre a especialização precoce 310 Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 NUNOMURA M CARRARA PDS TSUKAMOTO MHC Os técnicos relataram as tendências mundiais das regras da Federação Internacional de Ginástica FIG as quais consequentemente direcionam aquelas da CBG e das federações Um técnico T28 comentou que concordem ou não eles devem seguir estas normas Contrariamente alguns técnicos acreditam que a FIG tem revisto a questão e há perspectivas de elevarem a idade mínima para participação das meninas nos torneios internacionais dos atuais 16 para 18 anos de idade no próximo ciclo olímpico O técnico T29 cita que atual mente encontramos ginastas acima dos 25 anos de idade competindo e obtendo resultados expressivos no cenário internacional o que indica que a carreira das ginastas pode avançar para a fase adulta e ser bem sucedida Observamos que a maioria dos técnicos tem consciência dos riscos e prejuízos da especialização precoce mas ao mesmo tempo sentemse limitados pelas regras atuais da GA Privar as crianças de com petições é eliminar um dos fatores motivacionais importantes heDStroM goulD 2004 lopeS nunoMura 2007 relvaS 2005 e a dedicação destas aos treinos também pode perder sentido Por outro lado mesmo que o técnico julgue prematuro a instituição pode exigir que as ginastas participem Assim para o técnico é um dilema que poderia ser resolvido através de esclarecimentos aos demais envol vidos no esporte como pais e coordenadores de que se deve priorizar e preservar a integridade das crianças Uma sugestão é monitorar regularmente os parâmetros que indicam o desenvolvimento como peso corporal me didas antropométricas estágio maturacional registros de lesões distúrbios de sono entre outros Brenner cSMf 2007 DaMSgaarD 2001 e verificar se as crianças se enquadram dentro na normalidade Setor masculino Ideal para iniciar na GA Idade as faixas etárias mencionadas são semelhantes as do setor feminino A maioria dos técnicos acredita que seja necessário iniciar entre os 57 anos de idade arkaev Suchilin 2004 BoMpa 2000 e que aos 34 anos a criança pode começar a frequentar o ambiente da GA A formação generalizada é defendida pelos técnicos que pensam que a nãoespecialização nas fases iniciais garantiria a evolução posterior e não esgotaria precocemente as crianças Weineck 1999 Os técnicos também citaram o papel que a Educação Física Escolar deveria prestar ou seja o de estimular a formação motora inicial mas que não é cumprida em sua totalidade pela maioria das escolas Conteúdo os técnicos mencionaram também que procuram desenvolver o gosto pela prática es portiva e afirmam que não cobram ou pressionam as crianças para que treinem Assim como no setor feminino há técnicos que apontam para a realidade do país em que a seleção rigorosa e principalmente o suposto limite de idade para iniciar na GA tem impacto sobre o número de praticantes Estes técnicos reforçam que nas insti tuições municipais a filosofia é não excluir o que é coerente pois o número de praticantes de GA no setor masculino é ainda menor se comparado ao feminino Entre as instituições visitadas observamos que apenas 12 oferecem GA para os homens Então a ex clusão daqueles que não apresentam o perfil ideal para a GA ou que são considerados velhos para iniciar contribuiria para diminuir o nível de participação Há técnicos preocupados em prolongar a partici pação de seus ginastas Eles citam que as exigências do esporte competitivo nas idades baixas podem levar muitas crianças a desistirem cedo e antes mesmo de se destacarem na modalidade particularmente no mas culino em que o pico de performance ocorre a partir dos 1718 anos de idade arkaev Suchilin 2004 Ideal para especializar na GA Idade contrário ao setor feminino a literatura tem revelado o início mais tardio da especialização entre os meninos SoBral 1994 Mas assim como no setor feminino os técnicos se vêem presos aos regu lamentos das competições e muitos pensam que estas aconteçam muito cedo O menino pode começar a competir com nove anos de idade E segundo um técnico T2 são necessários no mínimo dois anos para que esteja preparado para competir Assim a maioria dos técnicos cita que os ginastas deveriam iniciar a especialização por volta dos sete anos de idade para terem mais chances de resultados na sua categoria O quadro é ainda mais delicado pois as crianças podem competir em categorias superiores no último ano de sua categoria o que eleva o grau de dificuldade das regras O fato pode aumentar a pressão para que a especialização ocorra pois devido à escassez de ginastas estes muitas vezes são obrigados a participar em outras categorias para completar as equipes nunoMura pireS carrara 2009 O treino da GA competitiva é orientado pelas regras das competições Nas categorias inferiores as federações e a CBG criam regras adaptadas da FIG e festivais com exigências menores a fim de permitir uma participação mais segura das faixas etárias mais baixas Porém essa é Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 311 Ginástica artística e especialização precoce uma entre as diversas adaptações necessárias no esporte para que beneficie e se adeque às crianças e aos jovens Os técnicos mencionam o processo de crescimento e de maturação que no masculino é favorável pois com a entrada na puberdade eles melhoram a performance devido ao ganho de massa muscular e de força Bale gooDWay 1990 Ao contrário do feminino em que as ginastas têm dificuldades para progredir devido ao aumento da massa adiposa e das proporções corporais Por outro lado os técnicos consideram que seja uma fase delicada pois coincide com o período em que mui tos jovens necessitam ingressar no mercado de trabalho para ajudar nas despesas familiares Outro fator de impacto nesta fase é a prioridade atribuída à formação profissional mas que não é contestada pelos técnicos A GA não é um esporte profissional e a ansiedade para ingressar no mercado de trabalho é normal entre os jovens brasileiros e muitas vezes uma necessidade Conteúdo os técnicos mencionaram a formação da base motora e observamos que as crianças são encaminhadas ao treinamento diário entre os 79 anos de idade e conforme a literatura este fato caracteriza o treinamento especializado conforme a literatura claeSSenS et al 1992 Silva fernanDeS celani 2001 É interessante o depoimento de T4 que relata que antes pregava o início e a especialização precoce das crianças mas atualmente percebe que se elas iniciam muito cedo perdem rapidamente o interesse pela GA Alguns técnicos citaram o esgotamento das crianças e argumentaram que a prática da GA é mo nótona e repetitiva e que cansa facilmente O aspecto lúdico também foi mencionado ainda que em menor expressão mas revela a preocupação do técnico em atender às necessidades da idade que é de brincar e de se divertir Bee 2003 gallahue oZMun 2005 Outro relato interessante foi o do técnico T8 No nosso meio é utopia né mas o ideal é que o gi nasta tenha um bom trabalho psicomotor no início e que passe por um bom treinamento de preparação técnica básica que depois vai desenvolvendo para diferentes fases e passando pelos treinadores que tenham conhecimento técnico adequado para po der evoluir o trabalho O depoimento revela que o técnico tem consciência do ideal e da necessidade da formação de base mas que poucos profissionais e ele próprio não têm oportunidade ou condições de realizar As exigências das instituições para que os gi nastas participem de competições pode ser uma das justificativas Silva fernanDeS celani 2001 Ponto de vista sobre a especialização precoce Idade sobre a especialização precoce na GA masculina os técnicos citaram que a ideia de que se deve iniciar e especializar cedo no treinamento não existe mais no país Conteúdo os técnicos condenam o esgotamento seja físico ou psicológico e sugerem que se desenvolva a coordenação e os movimentos básicos nas crianças menores 45 anos com baixo volume de atividades arkaev Suchilin 2004 e sem exigências ou pressões Weineck 1999 Eles acreditam que se as crianças estiverem envolvidas no treinamento sistema tizado e especializado elas também serão inseridas em situações competitivas E assim seriam duas condições demandadoras para as quais as crianças poderiam não apresentar condições de responder com sucesso Considerações finais A partir do exposto foi possível observar alguns ângulos do processo de formação esportiva na GA do Brasil O sistema competitivo em si merece considerações pois muitos técnicos citaram inade quações O quadro não é muito diferente nas demais modalidades mas em especial na GA é ainda mais crítico pois envolve crianças muito jovens Por que iniciar as crianças tão jovens no sistema competitivo Sobre estas críticas a própria FIG tem respondido com a elevação da idade mínima de participação em torneios internacionais conforme citado ante riormente Mesmo que haja regras para a idade de participação nas competições não há necessidade de que as crianças experimentem todas essas fases A frustração acumulada de uma série de participações sem sucesso por não estar devidamente preparado pode ser mais prejudicial do que participar menos e ter oportunidade de experimentar o sucesso As regras adaptadas às categorias se aproximam mais à realidade dos ginastas e potencialmente levam a uma maior ocorrência de sucesso o que pode esti mular a participação prolongada no esporte Em geral os técnicos estão conscientes de que na fase inicial é necessário desenvolver uma base mo tora geral através de atividades lúdicas e também moderar as cargas de treinamento nas fases iniciais 312 Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 NUNOMURA M CARRARA PDS TSUKAMOTO MHC Há aqueles que dizem seguir modelos e padrões sem discutir as suas adequações Apesar de haver programasmodelo de GA para se orientarem os técnicos não devem se apoiar somente nestes pois há particularidades do nosso contexto que devem ser atendidas Assim eles deveriam fazer esse julga mento e adaptações com muito critério Foi citada a falta da Educação Física escolar para promover as experiências motoras básicas e o gosto pelo exercício físico e pela prática esportiva Então não é possível seguir integralmente os modelos internacionais pois os níveis de formação esportiva na GA foram estabelecidos a partir do pressuposto de que as crianças têm uma base motora geral homogênea A contradição na prática de alguns técnicos ficou evidente pois ainda que mencionem a importância de formar uma base motora do amadurecimento emocional e cognitivo ao mesmo tempo iniciam seus ginastas em treino especializado muito antes de terem atingido um grau de maturação nestas dimensões Um dos argumentos defendidos pelos técnicos é que esses ginastas são talentos e portanto são capazes de responder às demandas do esporte de alto nível o que confirma o pressuposto de SoBral 1994 A disseminação dos programas de identifi cação e de desenvolvimento de talentos levou muitos técnicos a acreditarem que todos os atletas podem ser enquadrados em dois grupos talentosos ou não talentosos Assim pressupõese que os talentosos são aqueles com maiores chances de vencer no esporte Os diagnósticos não preconizam os eventos imprevi síveis como lesões condições psicológicas mudança de residência troca de técnicos etc Tudo tem uma parcela de influência e por vezes aquele classificado como nãotalentoso pode apresentar ao longo da carreira esportiva condições muito mais favoráveis do que o talentoso Ainda que sejam talentosos os atletas têm limites e estes devem ser respeitados O fato de ser talentoso não significa que esteja motivado a ser submetido às mesmas demandas de atletas adultos Observamos principalmente no setor feminino que os técnicos acreditam que as ginastas deveriam começar bem cedo antes da puberdade pois após esta fase haveria poucas chances de sucesso Certamente as vantagens biomecânicas são incontestáveis Mas por outro lado com o avanço da idade qualidades desejáveis também podem surgir como por exemplo a maturidade psicológica Isto pode compensar os aspectos negativos como o ganho de massa e altura É importante ressaltar que o início na GA com a finalidade de familiarizar os praticantes com o ambiente da prática e receber estímulos físicos e motores gerais não incorre em danos às crianças mais jovens E potencialmente estas poderão se destacar na modalidade assim como aquelas que não tiveram oportunidade de iniciar cedo desde que sejam adequadamente orientadas A maturação e o crescimento são processos previsíveis para todos porém ocorrerão em momentos e intensidades distintos Um técnico consciente e esclarecido será capaz de atuar positivamente para que essas mudanças sejam incorporadas na rotina esportiva sem comprometer a participação e o interesse pelo esporte Esclarecer os atletas dessas mudanças e do impacto sobre a sua performance e resultados ameniza e facilita a adaptação e diminui a possibilidade de abandono do esporte Em geral no período de ingresso no ensino superior muitos atletas brasileiros estão encerrando sua carreira esportiva pois são raros aqueles que recebem apoio financeiro para arcar com os custos ou bolsas de estu do das próprias Universidades No nosso país muitos atletas também são obrigados a ingressar no mercado de trabalho pois a dedicação ao esporte não lhes garante as condições de sustento para as necessidades básicas Assim não é realista esperar que o atleta atinja a maio ridade para começar a se destacar no esporte pois no nosso caso é justamente o período em que ocorre o término da sua carreira Uma sugestão seria adotar um sistema integrado entre as instituições esportivas e de en sino para apoiar os atletas Podese utilizar o parâmetro de rendimento esportivo combinado ao de necessidade social assim como aquele aplicado pelo Ministério do Esporte As instituições Federações e a Confederação deveriam atrair e incentivar o empresariado a apoiar os atletas os quais poderiam se beneficiar com a dedução fiscal e como meio de divulgação de sua marca A formação esportiva é um processo longo e assim o imediatismo ou a supressão de qualquer uma de suas fases terá consequências seja em médio ou longo prazo Certamente as crianças e os jovens serão aqueles que mais sofrerão as consequências negativas da especialização precoce caso esta seja a opção dos técnicos pois geralmente serão acompanhadas por altas demandas pressões por rendimento e resultados imediatos E mais provavelmente estas crianças e jovens encerrarão a carreira esportiva e levarão para o futuro experiências pouco encorajadoras para se manterem fisicamente ativos E provavelmente estes estarão pouco motivados a incentivar as gerações futuras à participação esportiva Ou poderão se tornar técnicos e acreditar que a especialização precoce seja inevitável e consequentemente procederão da mesma forma É possível aproximarmos do ideal de formação esportiva mas as mudanças devem ser graduais para Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 313 Ginástica artística e especialização precoce que o sistema atual não entre em colapso É fato que os técnicos precisam manter suas posições e para justificá las devem competir e obter resultados que satisfaçam as instituições os pais e se for o caso os patrocinadores A alternativa seria esclarecêlos sobre as particularidades do Esporte e da GA Reportar progressos individuais dos atletas seu grau de satisfação no esporte suas conquistas e superações individuais pode amenizar a ênfase sobre a competição e os resultados Os técnicos e demais envolvidos no esporte não devem poupar esforços para proteger os atletas para prolongar sua participação e principalmente para proporcionarlhes experiências positivas no esporte Mesmo que o atleta não seja um destaque se bem orientado ele poderá incentivar gerações futuras E eventualmente poderá surgir um campeão ainda que não seja este o principal objetivo da participação esportiva Abstract Artistic gymnastics and early specialization too young to specialize too old to be a champion In Artistic Gymnastics we usually observe very young gymnasts committed to training and competition and getting outstanding results in the international context Therefore this discipline has been frequently targeted for the doubtfulness of its practices and the actual need to start systematic training at earlier ages However in Brazil we could not find any data regarding initiation and specialization in Artistic Gymnastics so far The purpose of this study was to investigate and to analyse the point of view of coaches regarding the ideal age to initiate and specialize in Artistic Gymnastics and their concerns We interviewed 46 Brazilian coaches who are coaching developing young competitive gymnasts at all levels of skills The content analysis technique proposed by Bardin 2001 was used for data treatment The results showed that both boys and girls start to practice at early age The women and men gymnasts coaches revealed that the early specialization occurs due to the inherent nature of the Artistic Gymnastics the age of participation in the official competition and the required time to develop a gymnast until hisher readiness to compete Particularly regarding the male gymnasts some of them need to start working and coaches feel pressured to pursuit results before the period when dropout begins Uniterms Artistic gymnastics Training Specialization Early specialization Referências ARAÚJO CM O treino dos jovens ginastas Horizonte Lisboa v15 n85 p112 1998 Caderno Especial ARKAEV L SUCHILIN N How to create champions Oxford Meyer Meyer Sport 2004 BALE P GOODWAY J Performance variables associated with the competitive gymnast Sports Medicine Auckland v10 n3 p13945 1990 BALYI I O desenvolvimento do praticante a longo prazo sistema e soluções Treino Desportivo Lisboa n23 p2227 2003 BARDIN L Análise de conteúdo Lisboa Edições 70 2001 BEE H A criança em desenvolvimento Tradução de Maria Veronese Porto Alegre Artmed 2003 BOMPA T O Total training for young champions Champaign Human Kinetics 2000 p129 BRENNER J COUNCIL ON SPORTS MEDICINE AND FITNESS CSMF Overuse injuries overtraining and burnout in child and adolescent athletes Pediatrics Elk Grove Village v119 n6 p124245 2007 CARAZZATO JG A criança e o esporte idade ideal para o início da prática esportiva competitiva Revista Brasileira de Medicina do Esporte São Paulo v1 n4 p97101 1995 CHAURRA JT ZULUAGA LFA PEÑA NM Escuelas de formación deportiva com enfoque integral y entrena miento deportivo infantil uma experiencia investigativa Armênia Kinesis 1998 CLAESSENS AL MALINA RM LEFEVRE J BEUNEN G STIJNEN V MAES H VEER FM Growth and menarcheal status of elite female gymnasts Medicine Science in Sports Exercise Madison v 24 n7 p75563 1992 314 Rev bras Educ Fís Esporte São Paulo v24 n3 p30514 julset 2010 NUNOMURA M CARRARA PDS TSUKAMOTO MHC Nota Apoio FAPESP COELHO O Pedagogia do desporto contributos para uma compreensão do desporto juvenil Lisboa Livros Horizonte 1988 DAMSGAARD R Children in competitive sports clinical implications FIS Medical Committee Educational Series 2001 Disponível em httpwwwfisskicomdatadocumentchildrencompetitondamsgaardpdf Acesso em 20 ago 2008 GALDINO ML MACHADO AA Pontos e contrapontos acerca da especialização precoce nos esportes In MACHADO AA Org Especialização esportiva precoce perspectivas atuais da psicologia do esporte Jundiaí Fontoura 2008 p12947 GALLAHUE D OZMUN J Compreendendo o desenvolvimento motor bebês crianças adolescentes e adultos Tradução de Maria Araújo São Paulo Phorte 2005 GONÇALVES C Um olhar sobre o processo de formação do jovem praticante Treino Desportivo Lisboa n2 p428 1999 Edição Especial HEDSTROM R GOULD D Research in youth sports critical issues status Michigan Institute for the Study of Youth Sports 2004 Disponível em httpedweb3educmsueduysiprojectCriticalIssuesYouthSportspdf Acesso em 20 ago 2008 LÉGLISE M Children and highlevel sport Olympic Review Lausanne v7 n25 p525 1996 Limits on young gymnasts involvement in highlevel sport Technique Indianapolis v18 n4 p814 1998 LOPES P NUNOMURA M Motivação para a prática e permanência na ginástica artística de alto nível Revista Brasileira de Educação Física e Esporte São Paulo v21 n3 p17787 2007 MARQUES AT A especialização precoce na preparação desportiva Treino Desportivo Lisboa n19 p915 1991 McCULLICK B BELCHER D SCHEMPP P What works in coaching and sport instructor certification programs The participants view Physical Education and Sport Pedagogy Florence v10 n2 p12137 2005 NUNOMURA M PIRES F CARRARA P Análise do treinamento na ginástica artística brasileira Revista Brasileira de Ciências do Esporte Campinas v31 n1 p2540 2009 PETTRONE F RICCIARDELLI E Gymnastic injuries the Virginia experience 198283 American Journal of Sports Medicine Chicago v15 n1 p5962 1987 RELVAS H Adjustments within coaches and young athletes regarding sport participation Treino Desportivo Lisboa n4 p47 2005 RICHARDS EJ ACKLAND RT ELLIOTT BC The effect of training volume and growth on gymnastic performance in young women Pediatric Exercise Science Nedlands v11 n4 p34963 1999 SEABRA A CATELA D Maturação crescimento físico e prática desportiva em crianças Horizonte Lisboa v14 n83 p157 1998 SILVA FS FERNANDES L CELANI FO Desporto de crianças e jovens um estudo sobre as idades de iniciação Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Porto v1 n2 p4555 2001 SOBRAL F Desporto infantil prontidão e talento Braga Horizonte 1994 TSUKAMOTO MHC NUNOMURA M Aspectos maturacionais de atletas de ginástica olímpica do sexo feminino Motriz Rio Claro v9 n2 p11926 2003 WATTS J Perspectives on sport specialization Journal of Physical Education Recreation and Dance Reston v73 n8 p327 2002 WEINECK J Treinamento ideal Tradução de Beatriz Maria Romano Carvalho São Paulo Manole 1999 ZAKHAROV A Ciência do treinamento desportivo Rio de Janeiro Grupo Palestra Sport 1992 enDeReçO Myrian Nunomura Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto USP Av dos Bandeirantes 3900 14040907 Ribeirão Preto SP BRASIL email mnunomuruspbr Recebido para publicação 14042009 Revisado em 04012010 Aceito 07012010 RESENHA CRÍTICA O esporte vem se desenvolvimento ao longo dos anos e a partir a alta divulgação para sua prática pais ficam indecisões em qual esfera esportiva inserir seus filhos A influência e os estímulos em busca do podium é tão grande e constante que as crianças buscam de forma constante o alcance em grandes eventos como os olímpicos por exemplo Entretanto nem sempre tudo é o que parece O aperfeiçoamento de capacidades físicas em crianças e adolescentes em um contexto de saúde deve instigar ao desenvolvimento sócio cultural e não visar apenas um desempenho esportivo Quando o intuito é alcançar méritos esportivos esse direcionamento muda e vai em uma direção totalmente diferente Aplicar estratégias competitivas em crianças e adolescentes pode remeter a anular etapas essenciais para o crescimento e desenvolvimento motor o que pode gerar conflitos a longo prazo O momento certo para iniciar a estimulação esportiva depende muito de aspectos sócio culturais Alguns palpites de autores da área sugerem que quanto antes o início melhor será o êxito entretanto a literatura apresenta controvérsias É de grande importância compreender que a estimulação esportiva para crianças gera determinados impactos e nos adultos os impactos gerados são diferentes Para alguns autores o início na prática esportiva tanto para meninas quanto para meninos deve ser entre três e sete anos Em relação ao início da especialização seis e dez anos A partir de tais informações meu ponto de vista sugere que o início da prática esportiva deva respeitar os aspectos naturais da criança bem como o desenvolvimento natural de seus gestos motores e capacidades físicas A estimulação em si se faz importante porém não deve ultrapassar os limites saudáveis Precisamos cultivar atletas que representem nosso país ou região isso é de grande importância entretanto é preciso considerar que o ser humano é um ser complexo e pode ser estimulado a partir de diversos setores e não somente o físico em busca do desempenho