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Linguística

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Escritos por especialistas e voltados principalmente para estudantes os volumes que compõem a coleção Para Conhecer são introduções atualizadas e bem cuidadas redigidas em linguagem clara e acessível acompanhadas de exercícios práticos PARA CONHECER Sinta A Sintaxe é a área da Linguística que investiga corno as palavras são organizadas de modo a formar frases em urna língua natural corno o português Os autores apresentam neste volume os conceitoschave da área revisam a nomenclatura sobre funções sintáticas que encontramos nas gramáticas normativas tradicionais e mostram as ferramentas básicas de análise além de opções teóricas e metodológicas mais produtivas Esta obra voltada a estudantes e professores universitários serve corno urna introdução para iniciar o leitor nos principais ternas da área instigando a curiosidade linguística pela investigação de algumas propriedades sintátiéas da língua portuguesa editora contexto PARA ONHECER la PARA CONHECER tax 111 I Conhecer Sintaxe é em geral pesquisar fenômenos gramaticais que acontecem nos limites entre a palavra e a frase Quando pronun ciamos ou escrevemos palavras não o fazemos de maneira alea tória na cadeia de fala ou de es crita Portanto a articulação entre palavras numa frase é controlada por regras e princípios básicos de ordenação e de concordância além de estar submetida a outros fenômenos linguísticos O sintati cista é o estudioso que se dedica a COLEÇÃO 1m PARA CONHECER Aquisição da Linguagem Elaine Grolla e Maria Cristina Figueiredo Silva Fonética e Fonologia do Português Brasileiro lzabel Christine Seara Vanessa Gonzaga Nunes e Cristiane LazzarottoVolcão Morfologia Maria Cristina Figueiredo Silva e Alessandro Boechat de Medeiros Norma Linguística Carlos Alberto Faraco e Ana Maria Zilles Semântica Ana Qjiadros Gomes e Luciana Sanchez Mendes Sintaxe Eduardo Kenedy e Gabriel de Ávila Othero Sociolínguística lzete Lehmkuhl Coelho Edair Maria Gorski Christiane Maria N de Souza e Guilherme Henrique May Coordenadores da coleção Renato Miguel Basso Izete Lehmkuhl Coelho Proibida a reprodução total ou parcial em qualquer mídia sem a autorização escrita da editora Os infratores estão sujeitos às penas da lei A Editora não é responsável pelo conteúdo deste livro Os Autores conhecem os fatos narrados pelos quais são responsáveis assim como se responsabilizam pelos juízos emitidos Consulte nosso catálogo completo e últimos lançamentos em wwweditoracontextocombr Eduardo Kenedy Gabriel de Ávila Othero itoracontexto Copyrigbt 2018 dos Autores Todos os direitos desta edição reservados à Editora Contexto Editora Pinsky Ltda Montagem de capa e diagramaçdo Gustavo S Vilas Boas Preparaçdo de textos Daniela Marini Iwamoto Revisdo Lilian Aquino Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Kenedy Eduardo Para conhecer sintaxe I Eduardo Kenedy e Gabriel de Ávila Othero coordenação de Renato Miguel Basso e Izete Lehmkuhl Coelho São Paulo Contexto 2018 192 p il Para conhecer Bibliografia ISBN 9788552000693 1 Língua portuguesa Sintaxe 2 Linguística I Título II Othero Gabriel de Ávila 181027 Andreia de Almeida CRB87889 Índice para catálogo sistemático 1 Língua portuguesa Sintaxe 2018 EmTORA CoNTEXTO Diretor editorial Jaime Pinsky Rua Dr José Elias 520 Alto da Lapa 05083030 São Paulo SP PABX 11 3832 5838 contextoeditoracontextocom br wwweditoracontextocombr CDD 4695 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 9 A NOÇÃO DE CONSTITUINTE 15 Objetivos gerais do capítulo 15 1 Unidades de análise constituintes sintáticos 16 2 Testes de identificação de constituintes 21 3 Sintagmas em português 28 4 Complemento do núcleo 29 5 Especificador do núcleo 32 6 Especificador núcleo e complemento 33 7 Adjunção 35 a Recursividade 37 9 Sintagmas nominais 38 10 Sintagmas verbais 41 11 Sintagmas preposicionais 48 12 Sintagmas adjetivais 50 13 Outros sintagmas 52 Leituras complementares 53 Exercícios 53 FUNÇÕES SINTÁTICAS 55 5 Orações correlatas 127 Objetivos gerais do capítulo 55 6 Orações desgarradas 128 1 o que são funções sintáticas 56 1 Casos limítrofes 129 2 Desenhando árvores 57 Leituras complementares 131 3 A NGB 58 Exercícios 132 4 Frase oração e período 51 5 Sujeito e predicado 62 b I f N d 0 t 64 51 Su c ass1 1caçoes o SUJei o DUAS ABORDAGENS NO ESTUDO DA SINTAXE 133 Objetivos gerais do capítulo 133 52 Subclassificações do predicado 68 1 A abordagem tradicionalnormativa e a abordagem formalista 134 6 Objetos 70 2 Abordagem funcionalista 136 1 Predicativos 73 21 lconicidade 138 8 Complemento nominal 73 9 Agente da passiva 7 4 10 Adjuntos 76 11 Funções discursivas 77 12 Outras funções 78 22 Funções comunicativas e sua expressão sintática 142 23 Sintaxe e os subprincípios da iconicidade 145 24 Marcação 14 7 25 Teoria sintática e usos linguísticos 149 3 Abordagem experimental 150 31 Métodos offline e métodos online 155 13 Crítica 82 32 Tarefa experimental 162 Leituras complementares 85 33 Controle de variáveis 163 Exercícios 86 34 Condições experimentais e desenho fatoria1 164 35 Estímulos linguísticos 166 ARTICULAÇÃO ENTRE ORAÇÕES 87 36 Seleção de participantes e sua distribuição na tarefa 170 Objetivos gerais do capítulo 87 37 Aplicação do experimento 171 1 Múltiplas orações no período 88 38 Análise estatística 172 2 Encaixamento 90 39 Sintaxe Experimental no Brasil e no resto do mundo 173 21 Conectivos subordinativos 1 01 Leituras complementares 17 4 22 Encaixadas reduzidas 1 07 Exercícios 175 3 Hipotaxe 113 31 Conectivos hipotáticos 118 32 Hipotáticas reduzidas 121 CONSIDERAÇÕES FINAIS 177 4 Parataxe 122 BIBLIOGRAFIA 181 41 Conectivos paratáticos 124 42 Paratáticas reduzidas 126 OS AUTORES 185 APRESENTAÇÃO A Sintaxe é a área da Linguística que investiga como as palavras são organizadas de modo a formar frases em uma língua natural como por exemplo o português a Libras o karajá o espanhol ou o inglês Por isso costumamos dizer que o domínio mínimo da análise de um sintaticista é limitado pela palavra investigar o comportamento de elementos menores do que um item lexical é tarefa de um morfólogo ou de um fonólogo acer ca dos componentes da gramática diferentes da sintaxe veja os demais livros da coleção Para Conhecer como por exemplo Para conhecer fonética e fonologia Para conhecer mmfologia e Para conhecer semânti ca Por sua vez o domínio máximo de investigação em Sintaxe costuma ser a frase muito embora existam sintaticistas que estudem também as re lações entre frases conforme mostraremos nos capítulos finais deste livro De qualquer maneira conhecer sintaxe é em geral pesquisar fenômenos gramaticais que acontecem nos limites entre a palavra e a frase Quando falamos ou escrevemos utilizamos as palavras de nossa lín gua para organizarmos nossas ideias em sequências sonoras ou escritas estruturadas e ordenadas Não pronunciamos nem escrevemos palavras de maneira aleatória na cadeia de fala ou de escrita Com efeito a articulação entre palavras numa frase é controlada por regras e princípios básicos de ordenação e de concordância Por exemplo uma sequência arbitrária 9 PARA CONHECER Sintaxe de palavras como se vê em 1 não resulta numa frase válida em língua portuguesa ainda que todos os itens dessa pseudofrase façam parte do re pertório lexical de nossa língua 1 Amigos Maria João os da o conhecem Conforme notação corrente em teoria linguística utilizamos neste livro o asterisco para indicar uma sequência sintaticamente malformada na língua Para que 1 se tome uma frase legítima em português é preciso or denar essa sequência de palavras de uma maneira muito específica Por exemplo nessa língua artigos devem preceder linearmente os substan tivos Desse modo são aceitáveis as sequências os amigos a Maria o João mas não as cadeias amigos os Maria a João o Além disso numa dada frase arranjos de palavras como os amigos da Ma ria e o João devem ser concatenados entre si na forma de constituintes ordenados ou seja devem ser dispostos lado a lado sob certas limitações estruturais do contrário o resultado será novamente uma sequência de pa lavras inaceitável na língua É por essa razão que 2 continua sendo uma estrutura sintaticamente malformada em português apesar de a regra sobre o ordenamento entre artigo e substantivo estar aqui sendo preservada 2 Os amigos da Maria o João conhecem Todas as línguas naturais possuem um padrão básico para a disposição linear dos constituintes de uma frase Em português brasileiro PB esse padrão é manifestado na ordenação sujeito verbo complemento Ou seja sempre que temos em nossa língua frases com esses três constituin tes eles normalmente aparecem nessa ordem com exceção dos contextos de ênfase ou de contraste que demandam outro tipo de linearização Na sequência em 2 a ordenação básica do português foi violada sem que se tratasse de algum contexto especial É essa violação que dispara a sensação de inaceitabilidade da frase Repare na representação sintática de 2 feita em 3a a seguir que essa frase possui constituintes ordenados de maneira diferente do que se vê em 3b É somente nesse último caso que em acor do com o padrão frasal do PB o sujeito antecede o verbo que é sucedido por seu complemento 10 Apresentação 3 a Os amigos da Maria t o João 1 t conhecem b SUJei o comp emen o ver o b Os amigos da MariaLuieito conhecemLerbo o Joãolcomp1emento Desvendar as regras e os princípios que controlam a fmmação de frases nas diferentes línguas humanas é o principal objetivo da pesquisa em Sin taxe Nesse empreendimento científico a ordenação linear de palavras e de constituintes é apenas um fenômeno entre muitos outros na agenda de tra balho de sintaticistas no Brasil e no restante do mundo De fato as proprie dades sintáticas das línguas naturais são diversas e complexas É inclusive possível que um fato sintático se manifeste em interface com outro compo nente da gramática de uma língua Por exemplo a concordância é uma área de interação entre Sintaxe e Morfologia conhecida como Morfossintaxe Um sintaticista deve estar atento a esse ponto de interface porque restrições de natureza morfossintática podem limitar a composição de estruturas frasais tanto quanto o podem os fenômenos puramente sintáticos Repare como 4 também não é uma frase bem formada em português apesar de não haver nela nenhuma violação das regras de ordenação linear da língua 4 O amigos do Maria t conheço b as João 1 t suJei o ver o comp emen o O que falta para 4 ser considerada uma frase gramaticalmente acei tável em PB é justamente a concordância entre os elementos da frase Com efeito em todas as modalidades do português artigo e substantivo devem manifestar os mesmos traços de gênero Assim por exemplo João sendo um substantivo masculino não pode ser antecedido por um artigo feminino como a Por sua vez os traços de número não são em PB compartilhados entre artigo e substantivo de maneira tão rígida como os de gênero Na verdade uma das mais evidentes características do portu guês do Brasil é a variabilidade das regras de concordância de número em constituintes nominais e verbais Nas modalidades da língua consideradas não padrão a expressão do plural em sequências compostas por artigo e substantivo se dá normalmente apenas no artigo porém não no substanti vo que permanece em sua forma de singular sem portanto manifesta ção de concordância o amigo Já nas modalidades padrão sobretudo em gêneros formais e escritos o número plural é quase sempre marcado nas duas palavras veiculando assim concordância O amigo Para um 11 PARA CONHECER Sintaxe sintaticista o interessante nesse caso é identificar as regras subjacentes ao uso variável da concordância verbonominal no PB Por exemplo em nenhuma modalidade dessa língua a expressão do plural é feita somente no substantivo e não no artigo o amigo Tal restrição dentre outras revela que a concordância de número não é estabelecida de modo aleatório pelos falantes brasileiros mas antes é também regida por regras e princípios Para uma discussão sobre as modalidades da língua portuguesa no Brasil veja Para conhecer sociolinguística e Para conhecer norma linguística desta coleção O PB é uma língua fortemente marcada pela concordância verbal e nominal variável Embora nem sempre estejam conscientes disso os falantes das va riedades padrão da língua também produzem e compreendem normalmente sequências nominais sem concordância con1o Os amigo da Maria Mi nhas nota etc bem como sequências verbonominais sem concordância como Os amigo de Maria conhece A comparação de fenômenos sintáticos entre diferentes línguas é es pecialmente importante para um sintaticista Com base no método compa rativo ele poderá descobrir como certos parâmetros sintáticos ou morfos sintáticos se manifestam ou não da mesma maneira em idiomas distintos Por exemplo em inglês o número plural na sequência artigo substanti vo é expresso num padrão estrutural sem concordância oposto ao encon trado no PB não padrão Naquela língua o plural deve ser marcado apenas no substantivo e não no artigo the friend versus the friend Já no francês falado padrão o plural sem concordância se expressa somente no artigo mas não no substantivo tal como ocone nas variedades não pa drão do PB Noutras línguas como nos diferentes dialetos do chinês um fenômeno como a concordância de gênero e de número simplesmente não existe Nesses casos a distinção entre masculino e feminino ou entre sin gular e plural é feita no componente pragmático e não na interação da sintaxe com a morfologia Conhecer as diferenças sintáticas entre as lín guas é importante para compreendermos a variabilidade da sintaxe dentro de uma mesma língua específica O sintaticista é portanto um estudioso que se dedica a observar descrever e explicar as regras e os princípios gramaticais que subjazem 12 Apresentação aos fenômenos sintáticos das línguas naturais tais como ordem e concor dância O propósito do presente volume da coleção Para Conhecer é apresentar ao leitor os fundamentos do fazer desse tipo de linguista suas ferramentas básicas de análise e suas opções teóricas e metodológicas mais produtivas Se nosso objetivo for alcançado este livro servirá a estudantes e pro fessores universitários como uma introdução teoricamente neutra ao es tudo da Sintaxe Isto é este volume iniciará o leitor aos principais temas da Sintaxe sem se limitar a nenhuma teoria sintática específica Nosso ob jetivo aqui é apresentar os conceitoschave dos estudos sintáticos revisar a nomenclatura sobre funções sintáticas que encontramos nas gramáticas normativas tradicionais e despertar a curiosidade linguística do leitor para a investigação de algumas propriedades sintáticas da língua portuguesa É verdade que parte do que apresentaremos nos próximos quatro capítulos será influenciado pelos conceitos basilares da Sintaxe Normativa tradi cional da Sintaxe Gerativa e da Sintaxe Funcional Não obstante em nenhum momento do livro exigiremos do leitor qualquer conhecimento prévio sobre essas abordagens linguísticas Antes de passarmos propriamente ao início deste livro devemos re gistrar aqui nosso agradecimento a algumas pessoas o professor Renato Basso UFSCar e a professora Izete Coelho UFSC leram todo o manus crito e colaboraram enormemente com a redação final do trabalho Luciana Pinsky nossa editora foi paciente e receptiva ao nosso projeto mesmo quando decidimos alterar significativamente toda a estrutura e grande parte do conteúdo do livro os professores Sergio Menuzzi UFRGS Humberto Menezes UFRJ e Marcus Maia UFRJ nossos orientadores de pósgra duação e possivelmente os principais culpados por trabalharmos com Sintaxe hoje inspiram nossas investigações cotidianas sobre a linguagem e são os responsáveis indiretos por grande parte do conteúdo deste livro por fim mas não com menos importância todos os nossos alunos que ao lon go de décadas vêm nos forçando a ser cada vez mais precisos e ao mesmo tempo cada vez mais didáticos na tarefa nada fácil de ensinar Sintaxe de uma maneira cientificamente adequada Todas as inconsistências no texto no entanto são de nossa inteira responsabilidade 13 A NOÇÃO DE CONSTITUINTE Objetivos gerais do capítulo Constituintes discutiremos a noção de constituinte sintático e relacio naremos essa noção às funções sintáticas Hierarquia sintagmática apresentaremos a estrutura interna dos sin tagmas com as relações entre núcleo complemento e especificador bem como suas relações externas com a adjunção Sintagmas em português descreveremos quatro tipos de sintagmas em língua portuguesa sintagma nominal SN sintagma verbal SV sin tagma preposicional SP e sintagma adjetivai SA demostrando suas constituições hierárquicas internas 15 PARA CONHECER Sintaxe 1 UNIDADES DE ANÁLISE CONSTITUINTES SINTÁTICOS Vimos na apresentação deste volume que a Sintaxe é um nível espe cífico da descrição linguística e que a unidade mínima de análise nesse nível é a palavra Outros níveis descritivos de uma língua dedicamse ao estudo das unidades inferiores à palavra como a Fonologia e a Morfologia mas é somente quando o domínio desses componentes se esgota com a noção de item lexical pleno que a descrição sintática tem início A Sintaxe possui também uma unidade máxima de análise a frase entendida como período ou sentença Acima dessa unidade têm lugar fenômenos mais complexos da linguagem tais como o texto e o discurso os quais por sua vez costumam ser objeto de estudo de outros níveis da descrição linguísti ca como a Pragmática e a Análise Discursiva Um fato interessante no estudo da sintaxe é que as unidades míni mas desse componente linguístico as palavras não formam diretamente as suas unidades máximas as frases Entre um extremo e outro da análi se a Sintaxe opera sobre unidades intermediárias que são denominadas constituintes ou sintagmas A rigor há casos em que uma única palavra pode ser ela mesma um constituinteum sintagma assim como uma frase em termos estritos é também um sintagma No entanto é uma convenção entre os estudiosos da Sintaxe teservar o termo sintagma às unidades intermediárias da análise os constituintes maiores do que a palavra e menores do que a frase Com efeito quando estudamos as tradicionais funções sintáticas conforme veremos no próximo capítulo devemos atentar que não são as palavras isoladas que desempenham as funções sintáticas em uma frase Via de regra são os sintagmas isto é os agrupamentos de palavras que desempenham tais funções Veja a análise da frase a seguir por exemplo 1 O Pedro sabe que a Terra é redonda O sujeito de 1 não é o artigo definido o nem o substantivo Pedro mas o constituinte formado pelo conjunto dessas duas palavras o Pedro Da mesma forma o predicado é também um conjunto de palavras isto é um sintagma um constituinte sabe que a Terra é redonda Ao anali sarmos as funções sintáticas no interior desse predicado verificamos que 16 A noção de constituinte o complemento da forma verbal sabe é toda a oração encaixada que a Terra é redonda a que dessa forma se configura como um novo sintag ma inserido dentro de outro o predicado Note portanto que as funções sintáticas sujeito predicado e objeto por exemplo são desempenhadas por sintagmas isto é por um conjunto de palavras que estão sob alguma organização Note também que os sintagmas podem ser inseridos dentro de outros sintagmas Veremos detalhes sobre esse aspecto recursivo dos sintagmas mais adiante ainda neste capítulo Eventualmente como dissemos uma única palavra pode ser um cons tituinte e dessa forma será capaz de desempenhar uma função sintática como é o caso do predicativo do sujeito da oração que a Terra é redonda Aqui o sujeito da oração encaixada é o sintagma a Terra enquanto seu predicativo se expressa simplesmente pelo nome adjetivo redonda Adjetivos e substantivos são subcategorias da categoria nome A clássi ca oposição machadiana em Memórias póstumas de Brás Cubas entre defunto autor um morto que escreve e autor defunto um escritor que morreu bem ilustra que ambos os nomes autor e defunto só se distin guem como adjetivo ou substantivo em seu emprego sintagmático Esse é o caso da grande maioria dos nomes em língua portuguesa Sobre esse assun to uma discussão acessível ao leitor pode ser consultada em dois livros do professor Mário Perini Perini 1989 e 2006 Repare que no exemplo 1 redonda também é um constituinte ou seja um sintagma Vejamos por quê Ora os sintagmas são sempre um conjunto e conforme sabemos da matemática elementar conjuntos podem ser unitários ou até mesmo vazios sem nenhum elemento visível Nesse caso o predicativo do sujeito na oração encaixada que a Tena é redonda é um sintagma constituído de um único elemento isto é tratase de um conjunto unitário FRASE O Pedro sabe que a Terra é redonda siNTAGMA O Pedro sujeito do verbo saber 81NTAGMA sabe que a Terra é redonda predicado SINTAGMA que a Tena é redonda complemento verbal siNTAGMA a Terra sujeito do verbo ser SINTAGMA UNITÁRio redonda predicativo do sujeito 17 PARA CONHECER Sintaxe A eventual coincidência entre unidade mínima palavra e unidade in termediária sintagma na análise sintática não deve nos confundir Assim como redonda é no exemplo um predicativo do sujeito seria muito bem possível encontrar levemente redonda em seu lugar 2 O Pedro sabe que a Terra é levemente redonda Agora o predicativo do sujeito é constituído por um conjunto for mado por mais de uma palavra fato que toma mais fácil sua identificação como sintagma levemente redonda Concentrese nos pontos centrais acerca dos constituintes de uma fra se que são elencados a seguir i são eles que estruturam o período e não as palavras isoladamente ii são eles que desempenham funções sintáticas na frase sujeito predi cado predicativo do sujeito etc e não palavras isoladas iii eles são denominados sintagmas e correspondem normalmente a um conjunto de palavras iv eles podem ocorrer como sintagmas unitários ou vazios tal como acontece com os conjuntos da matemática Ainda que essencial ao entendimento da sintaxe a noção de consti tuinte infelizmente costuma ser ignorada pelos estudos sintáticos de na tureza normativa tradicional Com raras exceções a gramática de Celso Pedro Luft Moderna gramática brasileira sendo uma delas as gramáti cas normativas de base tradicional ignoram os constituintes sintáticos que formam as orações e as frases em português SINTAXE NORMATIVA TRADICIONAL Quando falamos de Sintaxe Normativa Tradicional estamos nos referindo aos estudos sintáticos comumente perpetrados pela tradição das gramáticas normativoprescritivas que foram por muito tempo usadas em salas de aula no ensino de língua portuguesa no Brasil Um texto que aborda com detalhes o tema é o capítulo Sintaxe Normativa Tradicional do professor José Carlos Azeredo Azeredo 2015 Vejamos um exemplo dessa situação Nas gramáticas normativas tradicionais um pronome pessoal normalmente é definido como um ele 18 A noção de constituinte mento que pode substituir um nome substantivo É o que aparece nesta definição que encontramos na gramática de Cegalla Novíssima gramáti ca da língua portuguesa por exemplo Pronomes pessoais são palavras que substituem os nomes e representam as pessoas do discurso Cegalla 1996 170 Se essa noção acerca do uso de um pronome pessoal estiver correta e um pronome de fato substituir um substantivo então poderíamos substi tuir os substantivos do próximo exemplo pelos pronomes correspondentes como mostramos a seguir 3 Os amigos da Maria conhecem o João Substantivos Pronomes amigos eles Maria ela João ele Ou seja se essa definição estiver correta poderemos substituir os substantivos amigos masculino plural Maria feminino singular e João masculino singular pelos pronomes pessoais correspondentes de 3a pessoa eles masculino plural ela feminino singular ele mascu lino singular mantendo a correção gramatical da frase Contudo não é isso o que acontece Repare como as sequências a seguir são malforma das em português 4 Os eles da Maria conhecem o João 5 Os amigos da ela conhecem o João 6 Os amigos da Maria conhecem o ele Nenhuma dessas sequências é uma frase bem formada na língua Isso acontece porque nesses exemplos aplicamos uma regra gramatical que não explica adequadamente os fenômenos sintáticos do português e na verdade de nenhuma língua conhecida Essa regra da Gramática Norma tiva Tradicional falha justamente por ignorar que as frases de uma língua unidades máximas da sintaxe não são estruturadas diretamente por pala vras unidades mínimas mas sim por constituintes sintáticos os sintag mas unidades intermediárias Portanto ao contrário do que podem dizer alguns gramáticos tradicionais pronomes não substituem nomes 19 PARA CONHECER Sintaxe Na verdade pronomes podem substituir sintagrnas de valor nominal isto é sintagrnas cujo núcleo é um nome substantivo os sintagrnas nominais ve remos detalhes sobre os tipos de sintagmas mais à frente ainda neste capítulo Por ora basta dizer que no caso do exemplo 3 há três constituintes desse tipo Os amigos da Matia a Maria e o João Esses três sintagmas pos suem a mesma natureza gramatical Por exemplo todos eles podem ocupar as funções sintáticas de sujeito e de objeto do verbo Repare como podemos formar as frases a seguir em que tais sintagrnas estão desempenhando a função de sujeito 7 e de objeto do verbo com preposição 8 ou sem preposição 9 7 a Os amigos da Maria estudam Sintaxe SUJeitO b A Maria estuda Sintaxe sujeito c O João estuda Sintaxe sujelto 8 a Eu gosto dos amigos da MariaLbjeto b Eu gosto da Mariaobjeto c Eu gosto do JoãoLbjeto 9 a Ontem à noite eu vi os amigos da Maria Lbjeto b Ontem à noite eu vi a MariaLbjeto c Ontem à noite eu vi o JoãoLbjeto Ou seja estamos aqui diante de agrupamentos de palavras que for mam um constituinte sintático encabeçado por um nome substantivo um sintagma nominal portanto Como dissemos anteriormente é essa gene ralização que muitas vezes escapa aos estudos sintáticos de base normativa tradicional Veja a seguir como podemos usar pronomes para substituir sintagmas nominais e obtermos frases gramaticalmente bem formadas na língua ao contrário do que vimos em 4 a 6 10 Os amigos da Maria conhecem o João Sintagmas nominais Pronomes os amigos da Maria eles a Maria ela o João ele 11 Eles conhecem o João 12 Os amigos dela conhecem o João 13 Os amigos da Maria conhecem ele 20 A noção de constituinte Na próxima seção analisaremos alguns testes e métodos capazes de identificar os diferentes constituintes das frases de uma língua natural 2 TESTES DE IDENTIFICAÇÃO DE CONSTITUINTES Substituir constituintes por pronomes é na verdade um conhecido teste em literatura sintática que usamos justamente para identificar sin tagmas nominais É o chamado teste da pronominalização Teste da pronominalização um constituinte sintático de natureza nominal pode ser pronominalizado ou seja substituído por um pronome pessoal Além da pronominalização existem outros testes que capturam ou explicitam nossas intuições linguísticas acerca dos constituintes de uma frase Vejamos alguns desses testes de constituintes aplicados a dados do português Tais testes nos permitirão reconhecer de que forma sintagmas da mesma natureza apresentam o mesmo comportamento gramatical I O teste da interrogação Esse teste é na prática um subtipo de pronominalização No caso iden tificaremos um sintagma caso uma palavra ou uma sequência delas puder ser substituída por um pronome intenogativo como quem o que quando onde etc No exemplo 11 anterior o sintagrna Os amigos de Maria foi pronomi nalizado pelo item eles Se utilizarmos o teste da interrogação esse mesmo sintagma será substituído pelo pronome quem Quem conhece João li O teste do deslocamento Uma das características de um constituinte sintático é poder ser des locado para diferentes posições ao longo da frase Apesar de a frase em português apresentar a ordem canônica sujeitoverboobjeto SVO como costumamos encontrar na literatura temos na língua alguma liberdade para mover constituintes para diferentes posições lineares especialmente quando se trata de elementos de natureza adverbial Esses deslocamentos não podem ser feitos com palavras isoladas nem com pedaços de cons tituintes É isso o que observamos nos exemplos a seguir 21 PARA CONHECER Sintaxe 14 Visitei o meu velho amigo de infância ontem 15 Ontem visitei o meu velho amigo de infância 16 Visitei ontem o meu velho amigo de infância 17 O meu velho amigo de infância visitei ontem Em 15 16 e 17 deslocamos os constituintes ontem e O meu velho amigo de infância de sua posição original representada em 14 O teste do deslocamento foi portanto capaz de revelar que ontem e O meu velho amigo de infância são sintagmas uma vez que podemos mover esses constituintes para outras posições na frase Repare que quando se trata de sintagmas formados por mais de uma palavra deslocar apenas uma parte aleatória desse constituinte tornará a sequência a gramatical em português 18 O meu velho ontem visitei amigo de infância 19 De infância ontem visitei o meu velho amigo A impossibilidade de deslocamento representada em 18 e 19 nos indica que o meu velho e de infância não são constituintes independentes a ponto de poderem ser deslocados pois estão inseridos noutro constituinte maior como parte constitutiva dele Ao deslocarmos tais fragmentos esta mos rompendo a unidade de um constituinte sintático fato que provoca a agramaticalidade atestada em 18 e 19 Dado que um constituinte se com porta como uma única unidade sintática essa operação de movimento exige que o respectivo constituinte seja deslocado em sua integralidade III O teste da clivagem Clivagem é uma operação sintática formada pela sequência forma do verbo ser constituinte clivado partícula que Ou seja uma construção clivada apresenta um constituinte ensan duichado entre um verbo como É ou Foi e o item que ou quem em algumas circunstâncias conforme vemos a seguir 20 Foi o João que leu Os Lusíadas nas férias 21 É o Leonardo que sabe grego antigo O interessante dessa operação é que só é possível clivar constituintes sintáticos mas não palavras isoladas Tratase portanto de um bom teste para identificação de sintagmas Vejamos mais alguns exemplos 22 22 Foi o João que leu Os Lusíadas nas férias 23 Foi Os Lusíadas que o João leu nas férias 24 Foi nas férias que João leu Os Lusíadas 25 É o Leonardo que sabe grego antigo 26 É grego antigo que o Leonardo sabe A noção de constituinte Não é possível clivar elementos maiores do que um constituinte e tampouco quebrar um constituinte para clivar apenas uma de suas partes internas tal como a máformação dos exemplos seguintes atesta 27 Foi Os Lusíadas nas férias que o João leu 28 É grego que o Leonardo sabe clássico Essas duas últimas frases soam um tanto estranhas mas é possível que uma pronúncia e um contexto bem específicos possam legitimar sua aceitabilidade É por isso que seguindo notação corrente entre sintaticis tas marcamos essas frases com dois pontos de interrogação Vimos que as sequências malformadas na língua agramaticais foram até agora assinaladas com um asterisco confira os exemplos a gramaticais das pági nas anteriores Já se a frase soa estranha mas sua aceitabilidade é duvido sa podemos marcála com um ponto de interrogação ou dois conforme o maior ou menor grau de estranhamento da frase GRAMATICALIDADE E ACEITABILIDADE Ao estudarmos sintaxe seguidamente queremos saber se tal construção é boa na língua ou não se tal frase é estranha gramatical agrama tical aceitável ou inaceitável Como já anunciamos usaremos ao longo deste livro a notação tradicional de marcar com um asterisco as sequências que julgamos agramaticais em português ou seja aquelas sequências de palavras que julgamos não fazer parte de nenhum dialeto do português São sequências de palavras que violam regras ou princípios sin táticos e provavelmente não seriam aceitas como exemplares de frases por nenhum falante nativo da língua Também usaremos a notação tradicional de marcar frases estranhas ou marginais com um ponto de interrogação ou dois a depender do grau de estranheza que julgamos que a construção tenha Uma boa discussão sobre os conceitos de gramaticalidade e aceitabi lidade em Linguística pode ser conferida no livro Os fimdamentos da teoria linguística de Chomsky do professor Max Guimarães Guimarães 2017 23 PARA CONHECER Sintaxe Considerandose que a construção clivada tem o papel de realçar ou enfatizar um elemento da frase poderíamos pensar num contexto em que 27 e 28 pudessem ser aceitáveis Por exemplo no diálogo a seguir isso nos parece possível 29 a Ei eu ouvi dizer que o João leu A Ilíada durante o mês de provas b Não não foi nada disso Foi Os Lusíadas nas férias que o João leu e não A Iíada durante as provas Nesse caso contudo note que a clivagem se aplica na verdade sobre dois constituintes e não apenas um Os Lusíadas e nas férias Se apli carmos um dos outros testes que até agora já conhecemos essa intuição ficará bem clara Interrogação O João leu Os Lusíadas nas fériastO João leu o que nas férias O João leu Os Lusíadas nas férias tO João leu Os Lusíadas quando Deslocamento O João leu Os Lusíadas nas férias t Nas férias o João leu Os Lusíadas tO João nas férias leu Os Lusíadas tO João leu nas férias Os Lusíadas t Os Lusíadas o João leu nas férias Efeito semelhante tem a frase 30 podemos imaginar um diálogo em que 28 parece ser usada com menos estranhamento 30 a O Leonardo conhece grego moderno e latim clássico b Não é nada disso É grego que o Leonardo sabe clássico E não latim A função informacional da construção clivada um fenômeno semân ticopragmático pode embaçar um pouco a clareza dos testes de iden tificação de constituintes sintáticos Por isso é fundamental conhecermos diferentes testes A depender da frase específica um teste pode revelarse mais adequado do que outros 24 A noção de constituinte CLIVADAS E ORDEM DOS CONSTITUINTES NA FRASE As construções clivadas têm uma rica história de investigação em portu guês Aqui usamos as clivadas apenas como um instrumento para diag nosticar constituintes Para saber mais sobre as construções clivadas e seu papel na articulação informacional discursiva remetemos o leitor a Modes to 2001 2003 A ordem dos constituintes na frase muitas vezes tem motivações funcio nais Isso quer dizer que a organização sintática dos elementos de uma frase é também o resultado de exigências comunicativas e de natureza informa cional Elaboramos mais sobre esse assunto no último capítulo na seção destinada à Sintaxe Funcional IV O teste da interpolação Vimos que na língua portuguesa podemos deslocar elementos na fra se com alguma liberdade desde que esses elementos sejam constituintes sintáticos independentes Tais elementos deslocados se movem de sua posição original para outra na frase Considerandose isso o que o teste da interpolação vai nos mostrar é que o lugar de pouso de um constituinte deslocado não pode ser o interior de outro constituinte Para ilustrar tal restrição retomemos os exemplos 15 16 e 17 15 Ontem visitei o meu velho amigo de infância Abaixo deslocaremos ontem para duas posições distintas nas fra ses 16 e 17 ambas às margens do sintagma nominal o meu velho ami go de infância 16 Visitei ontem o meu velho amigo de infância 17 Visitei o meu velho amigo de infância ontem Entretanto não podemos deslocar ontem para interior de o meu melhor amigo de infância Observe nos exemplos a seguir como caso essa inserção seja feita tais construções resultam em sequências gramati calmente malformadas 31 Visitei o ontem meu velho amigo de infância 32 Visitei o meu ontem velho amigo de infância 25 PARA CONHECER Sintaxe 33 Visitei o meu velho ontem amigo de infância 34 Visitei o meu velho amigo ontem de infância 35 Visitei o meu velho amigo de ontem infância Vemos aqui que não é possível inserir um constituinte em outro de tal maneira que a integridade do segundo seja afetada A interpolação é por tanto um teste útil para verificarmos a extensão de um sintagma dado que não podemos mover um constituinte alheio para o seu interior V O teste da elipse O teste da elipse é também útil na identificação de constituintes sintáti cos Para realizálo basta omitir uma palavra ou uma sequência delas numa estrutura coordenada fazendo com que essa palavra ou sequência não seja foneticamente produzida e tenha de ser inferida Quando é possível fazer esse tipo de omissão o constituinte elidido é um sintagma Vejamos dois exemplos 36 a A Paula viu a novela na sala e o João no quarto b A Maria faltou à aula e o José também Em 36a viu a novela sofre elipse na segunda oração o que indica que esse é um constituinte da frase A mesma coisa acontece em 36b quando faltou à aula hoje é elidido na oração coordenada logo depois do advérbio também A interpretação de 36a e de 36b é feita como segue 36 a A Paula viu a novela na sala e o João viu a no v ela no quarto b AMaria faltou à aula e o José também faltou à aula Repare como a vírgula é utilizada em 36a para marcar a elipse do consti tuinte aqui indicada com um risco sobre o constituinte elidido Tratase de um uso interessante de um recurso de pontuação em prol da interpretação sintática e semântica da frase O importante acerca de todos os testes de identificação de constituin tes é que pelo menos um deles funcionará quando precisarmos delimitar os sintagmas numa determinada frase Por exemplo numa frase ambígua como 37a é possível usar o teste da interrogação ou outro de modo a identificar as duas estruturas sintáticas possíveis 26 A noção de constituinte 3 7 a O Supremo julgou o deputado inocente b O Supremo julgou quem inocente o deputado c O Supremo julgou quem o deputado inocente A ambiguidade em 3 7 a reside no fato de não sabermos se o de putado inocente foi julgado ou se o deputado foi julgado e o veredito desse julgamento foi inocente Em 3 7b a interrogação feita sobre o sintagma o deputado indica que inocente é na verdade outro sintagma independente de o deputado Por sua vez em 37c interrogamos todo o constituinte o deputado inocente substituindoo pelo pronome quem Isso indica que nesse caso o deputado inocente é um único sintagma dessa maneira a inocência é apresentada como uma característica inerente ao deputado e nada se diz sobre qual foi o julgamento do Supremo se culpado ou inocente Experimente realizar os testes da pronominalização e da clivagem com o exemplo 37 para perceber ainda mais claramente o efeito de ambiguidade estrutural dessa frase Agora que sabemos o que é um constituinte e aprendemos a identifi cálo vejamos a estrutura interna de quatro tipos de constituintes sintáticos do português os sintagmas nominal verbal preposicional e adjetivai SOBRE A REALIDADE PSICOLÓGICA DE UM CONSTITUINTE SINTÁTICO Mais do que apenas ser uma noção gramatical os constituintes sintáticos são fenômenos gramaticais que têm sua realidade psicológica atestada Isso quer dizer que os falantes reconhecem intuitiva e inconscientemente um constituinte e sabem manipulálo Foi o que tentamos mostrar com os testes anteriores por exemplo Outra evidência empírica sobre a existência dos constituintes sintáticos foi apresentada nos trabalhos clássicos de Fodor e Bever 1965 e Garret Bever e Fodor 1966 Os autores apresentaram frases com sequências de palavras idênticas como eu lia um livro do José de Alencar a diversos informantes Em algumas frases essa sequência de palavras formava um constituinte como em a em outras não como em b a Enquanto eu lia um livro do José de Alencar minha irmã telefonou b Enquanto eu lia um livro do José de Alencar caiu da estante 27 PARA CONHECER Sintaxe 3 Os informantes ouviam frases como essas usando um fone de ouvi do Num dado momento os pesquisadores disparavam um ruído de clique no meio da frase Quando o clique era ouvido no interior de um constituinte muitos informantes ficavam com a impressão de te rem ouvido o ruído na fronteira do constituinte e não dentro dele O experimento mostrou que ruídos externos à comunicação costumam ser interpretados nas fronteiras dos constituintes sintáticos atestando a existência de um constituinte em sua unidade e atestando a percepção ainda que inconsciente que os ouvintes têm de constituintes sintáticos formando uma frase SINTAGMAS EM PORTUGUÊS A existência dos sintagmas como unidade intermediária entre as pa lavras e a frase evidencia uma propriedade fundamental da sintaxe das lín guas naturais a hierarquia Com efeito as palavras encontramse estru turadas em sintagmas os quais se organizam dentro de outros sintagmas de maneira recursiva até que o sintagma final da estrutura a frase seja constituído Essa organização no interior dos sintagmas é o que denomina mos de hierarquia O aspecto mais básico da hierarquia dos sintagmas é que todos eles são organizados em função de seu núcleo um sintagma é sempre um cons tituinte endocêntrico isto é um constituinte estruturado em função de um núcleo que determina sua categoria mesmo que se trate de um sintagma unitário ou de um sintagma nulovazio Representamos isso na ilustração a seguir Comece a ler a figura de baixo para cima e perceba que o núcleo é hierarquicamente inferior ao sintagma que lhe é superior Sintagma I núcleo Os quatro tipos de núcleo que definem os principais sintagmas lexi cais da língua portuguesa são estabelecidos por sua categoria morfológi ca Assim temos SN o sintagma nominal nucleado por um nome subs tantivo SV o sintagma verbal nucleado por um verbo SP o sintagma 28 A noção de constituinte preposicional cujo núcleo é uma preposição e SA o sintagma adjetivai encabeçado por um nome adjetivo Podemos ver na figura a seguir que o tipo morfológico do núcleo projeta a natureza do sintagma superior SN sv SP SA I I I I N v p A Na hierarquia interna a cada um desses tipos de constituinte o núcleo do sintagma pode estabelecer até duas relações estruturais com outros ele mentos o complemento e o especificador 4 COMPLEMENTO DO NÚCLEO O núcleo como vimos pode ser o único elemento constitutivo de um sintagma Na maioria das vezes no entanto um núcleo sintagmá tico estabelece relações sintáticas com outros elementos Por exemplo aprendemos na escola básica nas aulas sobre transitividade verbal que certos verbos podem selecionar algum tipo de complemento O conjunto formado pelo núcleo verbal e seu complemento constituirá portanto um sintagma o SV Na verdade ao contrário do que pode sugerir esse tra tamento especial dispensado na Sintaxe Normativa Tradicional à tran sitividade dos verbos selecionar um complemento é uma propriedade que pode se manifestar em qualquer tipo de núcleo V N P ou A Essa generalização qualquer núcleo de sintagma pode ter um complemento é ilustrada na seguinte figura Sintagma núcleo complemento Em português o complemento de um núcleo é normalmente posi cionado à sua direita isto é núcleos antecedem complementos porém é possível modificar essa ordenação aplicandose por exemplo uma regra de movimento de modo a deslocar um complemento para alguma posição linear anterior a seu respectivo núcleo Noutras línguas por exemplo o japonês verificase um padrão inverso núcleos sucedem complementos 29 PARA CONHECER Sintaxe No início deste capítulo mencionamos que os constituintes se orga nizam na frase uns dentro dos outros de maneira recursiva Essa noção ficará mais explícita agora quando respondermos à seguinte questão que tipo de elemento pode ser o complemento de um núcleo sintagmático Ora um complemento de núcleo é sempre um novo constituinte isto é um novo sintagma ou até mesmo uma oração como as subordinadas substantivas que veremos com detalhe no capítulo Articulação entre orações Na hie rarquia dos constituintes um núcleo projeta para cima um sintagma de acordo com a sua categoria morfológica ao mesmo tempo em que se for o caso seleciona à sua direita outro sintagma como seu complemento Vemos isso representado na figura que se segue núcleo Sintagma Para exemplificar o que acabamos de dizer tomemos um núcleo como comprar Ele projetará um SV uma vez que se trata de um núcleo V Tal núcleo verbal específico tem a característica de ser transitivo direto e assim seleciona como complemento um SN Suponhamos que esse SN seja um sintagma unitário com o núcleo livros Nesse caso o SV com prar livros será constituído pelo núcleo comprar e pelo complemento livros Essa estrutura hierárquica pode ser visualizada em colchetes eti quetados conforme se segue sv comprar sN livros Nesse tipo de representação o início de um sintagma é indicado com a abe1tura de um colchete e o apontamento imediato de sua categoria com a sigla subscrita O sintagma se encena quando seu colchete é fechado Entre um colchete abertura e outro fechamento pode haver outros colchetes que abrem e fecham sintagmas no interior do sintagma máximo da hierar quia É o que vimos anteriormente com o SN que se insere no SV Note que a ilustração em colchetes não explícita a categoria do núcleo dos sintagmas além de poder ser de dificil interpretação no caso de sintagmas muito com plexos É por essa razão que muitos sintaticistas preferem ilustrar as estrutu ras sintagmáticas por meio de árvores as chamadas estruturas arbóreas 30 A noção de constituinte ou representações arbóreas ou árvores sintáticas Nesse tipo de ilustra ção os núcleos são sempre representados Um galho para cima do núcleo indicará uma ramificação sintagmática Um complemento se houver estará representado na mesma ramificação do núcleo como se fosse seu irmão à direita Numa estrutura arbórea um SV como comprar livros receberá a seguinte representação sv V SN I comprar N I livros Vemos aqui que comprar é um núcleo de natureza V que projeta portanto um nódulo SV Na ramificação de SV para V encontramos um sintagma irmão o SN livros que assim se caracteriza como comple mento de V Esse novo sintagma por sua vez possui sua própria estrutura interna que no caso é bastante simples por se tratar de um conjunto uni tário ele só possui seu núcleo N Mais à frente ainda neste capítulo apresentaremos detalhes sobre a recursividade de combinação entre constituintes Por ora vejamos outro tipo de elemento que pode existir no interior de um constituinte e estabele cer relações sintáticas com um núcleo de sintagma o especificador Há mais de uma maneira de analisar a estrutura interna de uma frase ou de um sintagma usando árvores sintáticas O que as árvores mostram e que via de regra escapa à gramática normativa tradicional é que há uma hierarquia de organização dos elementos que constituem as frases e seus constituintes Pelo caráter introdutório deste livro apresentaremos árvores relativamente planas e não nos concentraremos nos detalhes de hierar quia entre os constituintes Para estudos em português um pouco mais avançados nesse sentido remetemos o leitor a Othero 2006 Mioto et al 2013 e Kenedy 2013 31 PARA CONHECER Sintaxe 5 ESPECIFICADOR DO NÚCLEO Imagine um sintagma como muitos livros É fácil identificar a sua categoria SN dado que o núcleo livros é um nome substantivo N Re pare que tal sintagma não possui complemento uma vez que selecionar esse tipo de constituinte não é uma característica específica do item li vros Na hierarquia desse sintagma particular qual seria a natureza da palavra muitos A resposta a essa pergunta é útil para nos demonstrar o segundo tipo de relação estrutural que se estabelece no interior de qualquer sintagma a relação entre um núcleo e seu especificador muitos é especificador de livros especificador núcleo Em português os especificadores tipicamente antecedem o núcleo posicionandose à sua esquerda Entretanto como já mencionamos o por tuguês possui uma ordenação sintática linear relativamente flexível dessa maneira em certos casos um especificador pode ser linearizado depois de seu núcleo Noutras línguas podemos encontrar um padrão perfeitamente inverso especificadores sucedem seus núcleos e podem ser movidos para posições lineares anteriores a eles Voltando à língua portuguesa vemos na estrutura que se segue mais uma vez a hierarquia de um SV li muitos livros Esse SV é projetado pelo núcleo V que nesse caso específico não possui especificador e sele ciona à direita um complemento SN Tal SN por sua vez está organizado em função de seu núcleo N que é antecedido por um especificador abre viado esp Como sabemos o item livros não tem a propriedade de selecionar complemento logo o SN na árvore sintática que segue só possui a relação sintática especificador núcleo 32 A noção de constituinte sv v SN li esp N I I muitos livros Um especificador pode desempenhar diferentes tipos de relações gra maticais com o seu núcleo a depender da categoria morfológica desse Por exemplo pode exercer a função de determinante nos SNs e assim ser preenchido por um artigo ou por um dos diferentes tipos de pronomes ou ainda por um numeral ex os livros muitos livros aqueles livros dez livros No SV um especificador pode funcionar como modificador adverbial ex quase comprei não comprei certamente comprarei o mesmo ocorrendo no âmbito dos SPs ex quase sem nenhum dinheiro sempre com muitos amigos Nos SAs especificadores expressam no ções como grau ex muito alto pouco cansado e circunstâncias ex silenciosamente satisfeito Já sabemos que na estrutura interna dos constituintes haverá um nú cleo sintagmático que poderá estabelecer uma relação sintática com um complemento à direita ou com um especificador à esquerda O que acontecerá quando um determinado núcleo porventura receber um espe cificador e ao mesmo tempo selecionar também um complemento com pondo desse modo duas relações sintáticas dentro de um mesmo consti tuinte Veremos isso na próxima seção 6 ESPECIFICADOR NÚCLEO E COMPLEMENTO Um constituinte sintático pode manifestar além de seu núcleo a presença de um complemento e também de um especificador É o caso do sintagma nunca vi um unicórnio Temos aqui um SV cujo núcleo é o verbo flexionado vi Esse item seleciona como complemento o SN um unicórnio e é modificado pelo especificador nunca Tratase portanto de um constituinte complexo cujas três posições hierárqui 33 PARA CONHECER Sintaxe cas especificador núcleo e complemento encontramse preenchidas Analise a representação a seguir e procure identificar a estrutura que acabamos de descrever sv esp V I nunca V vi SN esp I N I um unicórnio Note que o núcleo V possui um complemento à direita e um especifica dor à esquerda Para representar numa árvore sintática essas duas relações usamos o artifício gráfico de repetir a identificação no núcleo e marcar a segunda ocorrência com uma pequena barra um traço de seu lado supe rior direito Nesse exemplo temos o núcleo V que seleciona um SN como complemento e temos V pronunciase Vbarra ou Vlinha que sofre uma especificação esp Essa representação é inclusive importante para nos in formar que a modificação feita pelo especificador se dá sobre o composto núcleo complemento no nível indicado com a barra e não somente sobre o núcleo isolado Por exemplo veja que na frase O João quebrou o vaso o SN sujeito que ocupa portanto a posição de especificador é um sujeito agente No entanto na frase O João quebrou a perna com o mesmo SN sujeito e com o mesmo verbo quebrar o sujeito é paciente Quem atribui esse papel semântico ao sujeito não é portanto apenas o verbo mas sim o V isto é o agrupamento fmmado pelo verbo mais seu complemento Repare também que nunca ocupa a posição de especificador do SV porém não é o sujeito do verbo Os sujeitos são SNs que são movidos para fora do domínio do SV uma vez que o SV corresponde via de regra ao predicado de uma frase Por isso poderíamos ter um sujeito expresso ou nulo na seguinte estrutura FRASE 8N eu0 sv nunca vi um unicórnio Na figura que segue apresentamos essa generalização de maneira abstrata ou seja sem fazer referência a nenhum sintagma específico 34 A noção de constituinte Sintagma especificador núcleo núcleo Sintagma A duplicação da representação de um núcleo diferenciado de sua pri meira ocorrência pelo uso da barra ocorre sempre que um núcleo sintagmá tico qualquer N V P ou A possuir mais de uma relação sintática seja com a presença de especificador e de complemento seja com a presença de mais de um complemento como no caso dos verbos bitransitivos Quando um nú cleo for o único constituinte de um sintagma ou quando ele mantiver relação com somente um elemento especificador ou complemento não precisare mos recorrer à representação com a barra Perceba que é isso o que acontece no interior do SN da figura no início da presente seção Nele o núcleo N só manifesta um tipo de relação sintática a relação com o seu especificador Na literatura linguística o conjunto das relações entre um núcleo sintático seu especificador e seus argumentos é denominado estrutura argu mentai Nesse tipo de estudo um núcleo lexical N V P ou A que mani festa a propriedade de selecionar elementos identificase como predicador ao passo que os elementos por esse predicador selecionados complemen to eou especificador são chamados de argumentos Para mais detalhes acerca das relações sintáticas entre um predicador seus complementos argumento s interno s e seu especificador argumento externo sugeri mos a leitura de Mioto et al 2013 e Kenedy 2013 Na próxima seção trataremos dos adjuntos e veremos como eles se encaixam na estrutura sintática da oração tal como elaboramos aqui 1 ADJUNÇÃO Uma vez estruturado por suas relações internas um sintagma ain da poderá ser combinado com outro constituinte dando origem a um novo sintagma mais complexo Quando isso acontece estamos diante do fenômeno da adjunção Sintagmas podem ser adjuntos uns dos outros de maneira livre nas línguas naturais Perceba na figura a seguir que a 35 PARA CONHECER Sintaxe adjunção não ocorre entre um sintagma e um núcleo As relações entre um núcleo seu complemento e seu especificador são como vimos mais rígidas e se estabelecem no interior de um dado sintagma Na adjunção ao contrário encontramos sintagmas adjungidos um ao outro tal como representamos a seguir Sintagma Sintagma Sintagma Essa árvore abstrata deve ser interpretada da seguinte maneira o sin tagma inferior da esquerda recebeu como adjunto um novo sintagma à sua direita da adjunção entre esses dois sintagmas um novo constituinte foi projetado o sintagma superior que contém os outros dois abaixo de si É somente nas relações internas de cada um dos sintagmas que foram adjungidos que encontraríamos as relações entre um núcleo e eventuais especificador e complemento Para exemplificar mais concretamente tomemos o sintagma nunca vi um unicórnio no carnaval Já sabemos que nunca vi um unicórnio é um SV A esse sintagma se adjunge o SP no carnaval que se caracteriza como tal em função de seu núcleo P a preposição em que aparece amal gamada ao artigo o resultando na contração no Tal contração é na ver dade um fenômeno morfofonológico Por essa razão nas representações sintáticas recuperamos a categoria morfológica dos itens amalgamados para representar sua posição em uma estrutura sintagmática Assim em figura como núcleo do SP enquanto o é o especificador do SN seleciona do como complemento de P 36 sv sv SP esp I nunca V I V SN p I em SN esp I A noção de constituinte N I Vl esp N o carnaval I I um unicórnio Essa figura ilustra que o SV nunca vi um unicórnio recebeu como adjunto o SP no carnaval O resultado dessa adjunção é um novo SV cuja estrutura interna é SV SP nunca vi um unicórnio no carnaval O sintag ma projetado pela adjunção entre SV e SP é um novo SV porque foi um SV que recebeu a adjunção de um SP ou seja é o SP que é o adjunto e não o contrário Dizendo de outra forma o constituinte nunca vi um unicórnio no carnaval é um SV e não um SP a RECURSIVIDADE A figura anterior nos permite compreender uma das características mais importantes dos constituintes sintáticos a recursividade ou recursão Sin tagmas podem ser inseridos dentro de outros de uma maneira recursiva isto é em número ilimitado de vezes Por exemplo vimos na ilustração anterior um SP inserido num SV ao mesmo tempo em que dentro desse SP se encaixa como complemento de P um SN Poderíamos complexificar essas estruturas muito mais Seria possível digamos que o N núcleo do SN complemento de P fosse uma palavra transitiva e assim selecionasse um novo sintagma como complemento Na realidade mesmo ao final de uma frase complexa poderíamos inserila numa outra na forma de um de seus constituintes Nesse caso tal frase deixaria de ser apenas uma frase e passaria a ser uma oração encaixada eu disse que nunca vi um unicórnio no carnaval E poderíamos inserir essa nova frase dentro de outra o João acha que eu disse que nunca 37 PARA CONHECER Sintaxe vi um unicórnio no carnaval Essa por sua vez poderia também ser inserida dentro de outra como a Maria disse que o João acha que eu disse que nunca vi um unicórnio no carnaval e assim sucessivamente Veremos mais sobre a combinação entre orações no capítulo Articulação entre orações A recursividade é um fenômeno pervasivo na linguagem humana Na sintaxe ela é especialmente relevante porque nos permite construir um número ilimitado de frases na língua que dominamos cada qual com um conteúdo semânticopragmático específico Agora que já conhecemos a hierarquia dos constituintes sintáticos e podemos reconhecer suas relações internas núcleo complemento e espe cificador e externas adjunção passemos a analisar exemplos dos princi pais sintagmas lexicais da língua portuguesa Comecemos pelo SN 9 SINTAGMAS NOMINAIS Como já vimos um SN pode desempenhar a função sintática de sujei to ou de objeto direto por exemplo Sujeito Predicado 8N Ele 8N O Pedro 8N A minha amiga acabou de chegar 8N O amigo da prima do tio do José 8N A menina que estudava Sintaxe escondida da mãe Sujeito Predicado Verbo Objeto direto 8N ele 8N o Pedro Eu amo 8N a minha amiga 8N o amigo da prima do tio do José 8N a menina que estudava Sintaxe escondida da mãe Analisando os exemplos podemos descrever diferentes tipos de SN Na verdade vários estudos já fizeram isso veja Lemle 1984 Lobato 1986 Souza e Silva e Koch 1993 Perini 1996 e Othero 2014 para introduções à descrição sintática básica do SN em português brasileiro Por isso façamos uma descrição do SN baseada nesses estudos 38 SN csp SA N pron 0 A noção de constituinte SA SP oRAÇÃO Essa regra denominada regra de reescritura ou de reescrita é uma maneira explícita de descrever a estrutura interna mais complexa que um SN pode ter Para compreendermos tal regra precisamos nos familiari zar com um pouco de notação gramatical Façamos isso em partes O que a regra quer dizer inicialmente é que o único elemento que sempre aparecerá em todos os SNs é o seu núcleo N Todos os demais elementos constitutivos de um sintagma complementos especificadores e adjuntos podem simplesmente não ocorrer num SN específico é essa opcionalidade que se representa com os parênteses entre os outros consti tuintes inseríveis nesse tipo de sintagma Além disso a regra nos aponta que o núcleo do SN nem sempre será um nome substantivo explícito Em seu lugar como já sabemos pode ocorrer um pronome indicado em pron ou um elemento nulo 0 con junto vazio indicado por 0 Dessa maneira o SN mínimo possível pode receber uma das reescrituras formalizadas a seguir SN N Exemplos N livros N Paulo N Maria N felicidade SN pron Exemplos pron eu pron vocês pron ele pron elas pron quem isso 0 Para ilustrar o caso de SNs pronominais ou nulos na função de sujei to ou de objeto direto considere as seguintes frases 38 pergunta Você viu o João resposta 1 pron Ele acabou de sair resposta 2 nulo 0 Acabou de sair 39 Sabe o João Encontrei pron ele ontem no cinema 40 Sabe o último livro do Chomsky Comprei nulo 0 ontem na livraria Em seguida a regra nos indica que um SN pode ser formado por um especificador se houver seguido do núcleo N 39 PARA CONHECER Sintaxe SN esp N Exemplos o Pedro um amigo aquelas N gurias este N esp N esp N esp esp livro meu pai nenhuma N guria qualquer N amigo dez esp N esp esp esp N pessoas Além disso a regra nos aponta que o SN pode ser formado por um especificador seguido de um SAque é adjungido antes do núcleo N Esses dois elementos prenominais são como vimos opcionais SN det SA N Exemplos um antigo inimigo aquela sA grande N pessoa esp SA N esp sA ótima N educação sA belas N palavras Um SN conforme indica a regra também pode ser formado por ad juntos pósnominais como um SA um SP ou uma oração encaixada ORA ÇÃO conforme atestamos a seguir SN esp N SA SP ORAÇÃO Exemplos espuma N história sA fictícia esp um N time sP de futebol esp aqueles N livros oRAçÃo que já li Exemplo complexo esp aquele N professor sA maravilhoso sP de Linguís tica oRAçÃo que conhece histórias fantásticas Chamamos agora a sua atenção para uma limitação das regras de re escrita elas não são capazes de diferenciar na estrutura interna dos sin tagmas elementos de natureza opcional adjuntos daqueles obrigatórios complementos Por exemplo muitos SNs podem ser nucleados por um nome derivado de um verbo ex invenção invasão compra ida etc e por isso manifestarão a propriedade de selecionar um SP ou uma oração ORAÇÃO como complemento ao passo que a maior parte dos Ns não ma nifestará tal propriedade ex casa escola livro pessoa óculo etc Ora como poderíamos diferenciar um caso do outro Na tentativa de contornar esse problema Souza e Silva e Koch 1993 propuseram o uso na regra de reescritura de uma notação su bescrita a SP e a ORAÇÃO com o objetivo de indicar que esses consti tuintes podem ser a depender do núcleo nominal específico adjuntos ou complementos Por exemplo em livro de Maria o SP de Maria é 40 A noção de constituinte um adjunto do SN unitário livro mas já em descoberta da América e em necessidade de que tudo dê certo o SP da América e a ORAÇÃO de que tudo dê certo são complementos respectivamente dos núcleos descoberta e necessidade Essa distinção seria segundo as autoras capturada com a seguinte ampliação da regra SNespSA N SA SP complementJ ORAÇÃO complemento SP adjunt ORAÇÃO adjunt pron 0 Tal modificação é útil porque conseguimos com ela distinguir por um lado os casos de adjunto adnominal versus complemento nominal bem como por outro lado os casos de oração adjetiva versus oração completiva nominal Adjuntos adnominais e orações relativas são res pectivamente SP e orações adjungidos a um SN enquanto complemen tos nominais e orações completivas são SP e orações selecionados como complemento de um núcleo N A proposta de Souza e Silva e Koch 1993 consegue contornar par cialmente a questão O problema que permanecerá é de fato inerente à natureza das regras de reescrita elas não são capazes de capturar os casos específicos em que um adjunto ocorrerá numa frase tampouco podem pre ver os núcleos particulares que selecionarão complementos Veremos a seguir que essa limitação das regras de reescrita pennanecerá também na descrição dos SVs 10 SINTAGMAS VERBAIS Um SV é conforme vimos o sintagma nucleado por um verbo Numa sentença qualquer ele sempre desempenha a função sintática de predicado e contém todos os outros constituintes presentes na frase com exceção do sujeito e de eventuais vocativos 41 PARA CONHECER Sintaxe Sujeito Predicado sv sorriu sv estudou a matéria da prova A aluna 8v gosta de sintaxe 8v está cansada sv disse que seus país foram ao exterior durante as férias de verão Dessa vez a velha lição das gramáticas normativas tradicionais está correta Afinal o predicado realmente é o conjunto de todos os constituintes de uma frase para além do sujeito e do vocativo Considerandose que o SV conterá um verbo e os elementos a ele eventualmente relacionados como complemento s especificador es e adjunto s a estrutura desse tipo de sin tagma pode ser bastante variável A regra de reescrita a seguir nos indica que um SV é formado pelo seu núcleo V e por virtualmente todos os outros tipos de constituintes sintáticos existentes Alguns desses elementos como os ad juntos podem inclusive ocorrer mais de uma vez numa mesma sentença SV esp V SN SP SA ORAÇÃO A riqueza estrutural dos SV s é como todos os demais fenômenos da sinta xe regida por regras Sendo assim a presença de complementos de V num dado predicado seja na forma de SN de SP ou de ORAÇÃO nunca acontece de modo aleatório Antes decorre da natureza do verbo específico que ocupa a posição de núcleo do SV Essa variabilidade dos predicados em função de um verbo particular é um tema bastante rico nos estudos gramaticais a transitividade verbal Aprendemos com esses estudos que verbos intransitivos não selecio nam complementos e assim podem caracterizar os casos de um SV constituído apenas pelo seu núcleo isto é um predicado formado somente pelo verbo tal como vemos nos exemplos a seguir note que os SNs citados desempenham a função de sujeito e dessa forma não estão contidos no predicado svv Exemplos Meu filho 8v v nasceu Eu 8v v chorei O menino 8v v caiu Os verbos intransitivos assim como na verdade todos os outros tipos verbais podem ser modificados à esquerda por um especificador É isso o que se captura com a seguinte reescritura 42 A noção de constituinte SV esp V Exemplos Meu filho sv espjá v nasceu Eu sv esp quase v chorei O menino sv esp não v caiu Por sua vez verbos transitivos se caracterizam por selecionarem pelo menos um complemento Tradicionalmente esses tipos de verbo são subclassificados de acordo com a tipologia de seu sintagma complemen to transitivos diretos quando o complemento é um SN e transitivos indiretos quando o complemento é um SP Já os verbos que manifestam a particularidade de selecionar dois complementos um SN e um SP são chamados bitransitivos ou transitivos diretos e indiretos O complemento de verbos transitivos pode em muitas ocasiões figu rar na forma de uma oração encaixada ou seja em vez de SN ou SP tais verbos podem selecionar ORAÇÃO à sua direita Ilustramos em seguida cada uma dessas diferentes possibilidades de predicado SV esp V SN SP ORAÇÃO Exemplos v comprei 8N livros v precisamos 8P de dinheiro v colo caram 8N o carro 8P na garagem v disseram oRAçÃo que você lê árabe esp não v ouvimos 8N nada A distinção binária entre SV com verbos transitivos e intransitivos é uma simplificação difundida pela gramática normativa tradicional Na verda de os chamados verbos intransitivos são na literatura linguística com preendidos como verbos monoargumentais isto é V que possuem apenas um argumento sujeito ou objeto Essa classe verbal distingue os verbos inergativos que selecionam apenas sujeito ex Maria sorriu e os verbos inacusativos que selecionam apenas objeto ex Maria chegou Para mais informações sobre essas classes de verbo remetemos o leitor mais uma vez a Mioto et al 2013 e Kenedy 2013 Além dos verbos intransitivos e transitivos os chamados verbos de ligação ou copulativos podem da mesma forma nuclear um SV O in teressante é que diferentemente dos outros tipos de V esses verbos são categorias mais gramaticais do que lexicais e por isso mesmo não se ca racterizam como o núcleo de um predicado pois não realizam predicação mas somente relacionam explicitamente um predicado nominal a seu 43 PARA CONHECER Sintaxe respectivo sujeito tal como o rótulo ligaçãocópula indica Na realidade a expressão predicado nominal tão cara à Gramática Normativa Tradi cional pode ser enganosa A ela se opõe outra predicado verbal Ora predicados verbais apresentam um elemento verbal como núcleo fato que nos induz a pensar que o núcleo de predicados nominais deve ser neces sariamente um nome SN Muitas vezes não é isso o que acontece Com efeito nossa tradição gramatical poderia substituir a expressão predicado nominal por predicado não verbal Isso deixaria claro que no predicado verbal é o núcleo de V isto é um verbo que estabelece a predicação ao passo que no predicado não verbal o predicador da frase é uma categoria diferente de V ou seja N P ou A Veja a seguir exemplos de predicação não verbal em que um verbo de ligaçãocopulativo apenas insere na frase elementos de natureza gra matical como flexão e aspecto ao ligar o núcleo do predicado SN SP ou SA a um sujeito que aqui deixamos sempre oculto SV esp V SN SP SA Exemplos v é sN uma grande pessoa v estou srem casa v parece sA feliz esr nunca v ficamos 8A satisfeitos PREDICAÇÃO Predicação é um termo que a Sintaxe herdou da Lógica Tratase do conjun to das relações que se estabelecem entre um dado predicador e seus argu mentos Um predicador descreve certa categoria ou evento relativamente a um conjunto de indivíduos ou objetos Em Sintaxe o predicador é expresso num item lexical qualquer N V P ou A e seus argumentos encerram seu especificador e seus complementos Para mais infonnações sobre esse assunto o leitor pode consultar Perini 2008 e 20 16 por exemplo Neste momento é interessante retornar à regra de reescrita apresentada anteriormente e perceber que ela não é capaz de distinguir SP e orações que são adjuntos ou complementos No entanto essa distinção é muito importan te Ao contrário dos complementos adjuntos podem por um lado simples mente não ocorrer no interior de predicados ou por outro lado podem ser utilizados de uma maneira ilimitada e imprevisível Isso quer dizer que não é possível determinar por uma regra as circunstâncias específicas em que um 44 A noção de constituinte SV não terá adjuntos ou em que ele terá um determinado número deles Veja nos exemplos seguintes um pouco da riqueza e da diversidade das infinitas possibilidades de adjunção num SV Usaremos mais uma vez a indicação subscrita proposta por Souza e Silva e Koch 1993 a fim de diferenciar complementos versus adjuntos tal como fizemos na descrição dos SNs SV esp V SN SP SA ORAÇÃO SP ORA complemento complemento adJunto ÇÃO adjunto Exemplos v é 8N uma grande pessoa sr com certeza v estou sr em casa srneste momento v parece 8A feliz sr com o emprego v nunca v ficamos 8A satisfeitos srem viagens v disse oRAçÃo que você é feliz oRAçÃo quando ouve músicas v vi 8N você 8Pno teatro sr no domingo sr com um amigo oRAçÃo enquanto esperava o meu Uber Os adjuntos tipicamente SP e orações podem como dissemos ser inseridos no interior de outros sintagmas de acordo com a intenção comu nicativa dos falantes sem se submeter aos rigores das relações estabeleci das entre um núcleo sintagmático seus complementos e seu especifi cador Por essa razão uma regra de rescrita que descreva todos os casos particulares de adjunção é virtualmente impossível diferentemente do que o estudo da transitividade verbal consegue fazer acerca de complementos Você deve ter notado que até aqui todos os exemplos arrolados apresentam apenas um verbo como núcleo de SV porém isso não quer dizer que a posição sintagmática V seja sempre ocupada por um e so mente um verbo De fato dois ou mais verbos podem ocupar em con junto a posição V Quando isso acontece estamos diante de uma lo cução verbal Nas locuções verbais um V é constituído por um verbo principal pri antecedido por um ou mais verbos auxiliares aux Um verbo principal possui valor lexical é o predicador da frase e aparece numa forma infinita infinitivo gerúndio ou particípio enquanto um verbo auxiliar possui valor gramatical flexão aspecto modo não faz predicação e ocorre em forma finita Por exemplo o SV vou trabalhar de manhã é estruturado como se segue sv vaux vou pri trabalhar sr de manhã 45 PARA CONHECER Sintaxe As locuções verbais são uma boa ilustração de que nem sempre a noção de constituinte coincide com a de palavra Ao identificmmos o núcleo V preci samos portanto estar sensíveis ao fato de que não é qualquer item verbal pa lavra que projetará um SV mas somente aqueles de natureza lexical Outros itens verbais de valor gramatical como os auxiliares podem oconer numa de terminada frase sem nos fazer acreditar que eles projetarão seus próprios SVs LOCUÇÕES VERBAIS I As locuções verbais são formadas por verbos auxiliares e verbos lexicais ou seja verbos que têm apenas status gramatical e verbos que têm estatuto semântico como vimos no exemplo anterior vou trabalhar Repare como aqui o verbo ir é usado para marcar uma forma de futuro e carregar as marcas flexionais de concordância de número o verbo principal trabalhar por outro lado carrega a carga semântica do SV no sentido de que esse verbo é usado com seu significado lexical e não meramente gramatical Existem na literatura linguística alguns testes de auxiliaridade que indi cam se estamos lidando com uma construção que apresentadois verbos lexi cais ou com uma estrutura de verbo auxiliar mais verbo lexical Por exemplo um verbo auxiliar não costuma permitir a negação de seu verbo principal Em uma construção com dois verbos plenos como é o caso das frases em b ao contrário podemos negar tanto o primeiro como o segundo verbo a O João vai trabalhar de manhã O João não vai trabalhar de manhã O João vai não trabalhar de manhã b O João adora trabalhar de manhã O João não adora trabalhar de manhã O João adora não trabalhar de manhã O João não adora não trabalhar de manhã Isso significa entre outras coisas que o verbo ir pode ser empregado como auxiliar de futuro mesmo em contruções condenadas por prescritivistas sem pre prontos a defender o idioma pátrio eu vou ir é uma construção grama ticalmente bem formada e bastante lógica na língua assim como eu vou vir Nessas construções temos uma locução verbal formada por um verbo au xiliar ir marcador de futuro e um verbo pleno ir e vir em nossos exemplos Dois textos clássicos sobre os auxiliares em PB são Pontes 1973 e Lobato 1975 já acessíveis ao leitor Uma discussão resumida e exemplificada pode ser encontrada em Othero 2009 46 A noção de constituinte Por fim um predicado pode apresentar um tipo de constituinte que nem sempre é analisado apropriadamente nas gramáticas normativas tra dicionais razão pela qual devemos a ele dedicar especial atenção Tratase das miniorações Mo também muito conhecidas por seu nome em inglês small clauses na literatura Uma minioração tal como o termo usado pelos sintaticistas sugere é um protótipo de uma oração com verbo de ligaçãocopulativo Ela apresenta uma estrutura de predicação inferível com a particularidade de não expli citar nenhum verbo Para compreender melhor isso vejamos um exemplo 41 Eu achei a sua proposta completamente descabida Aqui identificamos uma minioração em a sua proposta completa mente descabida Perceba que completamente descabida caracterizase como um predicado acerca de a sua proposta Tratase semanticamente de um juízo em relação a um tema Ou seja estamos diante de uma predi cação entre um SA e um SN ainda que um verbo de ligação copulativo não esteja presente e possa se quisermos ser subentendido sN a sua proposta é sA completamente descabida Em miniorações encontraremos sempre o núcleo do SV seguido por pelo menos dois sintagmas Ora devemos nos perguntar qual é o tipo de relação sintática que esses sintagmas estabelecem com V Nas gramáticas normativas tradicionais dizse que verbos como achar considerarjulgar chamar declarar etc nomeados como transobjetivos manifestam um sentido especial de um verbo originalmente transitivo Por esse motivo eles selecionariam dois complementos interdependentes um objeto SN e um predicativo desse objeto SA ou SN ou SP e caracterizariam um pre dicado misto que seria ao mesmo tempo verbal e nominal o chamado pre dicado verbonominal Tal tipo de explicação parece falhar não somente por ser vaga ao mencionar um sentido especial de alguns verbos mas principalmente por afirmar que em construções dessa natureza oconeria uma espécie de verbo bitransitivo Vejamos a seguir por que assumir que em frases como 41 e 42 V seleciona apenas um constituinte como com plemento a saber uma Mo parece ser descritivamente mais adequado do que afirmar que verbos como achar possuem dupla complementação 47 PARA CONHECER Sintaxe 42 O professor achou aquele livro uma obra de arte 43 O professor achou aquele livro O que nos interessa nesse caso é observar que sem a predicação que se estabelece entre os SNs aquele livro e uma obra de arte no exemplo 42 o significado de achar terá de ser outro em vez de considerar a au sência da predicação existente numa minioração conferirá a achar o sentido de encontrar como ocorre em 43 Com isso estamos dizendo que os ver bos que verdadeiramente selecionam dois complementos estabelecem eles próprios a predicação de cada um de seus complementos É o que acontece com itens como ceder dar oferecer colocar etc Já com os verbos que sele cionam como complemento uma minioração se passa algo diferente neles não é o verbo que faz a predicação ela é feita no domínio da Mo Evidência a favor disso é o fato de que quando explicitamos o verbo dentro da minio ração e então teremos uma oração plena não mais uma mini daremos vida a somente um constituinte mas não a dois Senão vejamos 44 Eu achei que a sua proposta era completamente descabida 45 O professor achou que aquele livro era uma obra de arte Nesses dois casos tornase explícito que V seleciona como comple mento somente um constituinte compareos aos exemplos 41 e 42 respectivamente Logo não parece correto afirmar que sem a explicitação do verbo de ligação isto é numa Mo o mesmo V passaria a selecionar dois complementos Por tudo o que dissemos devemos adicionar um tipo específico de SV à nossa regra de reescrita aquele em que V seleciona uma mini oração SV esp V SN SP SA ORAÇÃO Mo Na próxima seção estudaremos a estrutura interna dos sintagmas pre posicionais SP também denominados sintagmas preposicionados 11 SINTAGMAS PREPOSICIONAIS Os SPs são sintagmas que apresentam uma preposição como núcleo Sua diversidade estrutural é representada na seguinte reescritura 48 A noção de constituinte SN esp P SN N ORAÇAO Como se pode perceber tratase de um tipo sintagmático bem menos variável do que os demais já apresentados Ele tipicamente manifestará seu núcleo seguido de um SN da maneira como vemos a seguir SP P SN Exemplos P com sN poucos problemas p sem sN certezas P para 8N a alegria de todos Em sentenças cotidianas P quase sempre selecionará um SN como complemento Isso ocorre porque a presença de uma preposição sem seu respectivo complemento é uma construção agramatical em português bem como não é licenciada na língua a manifestação do SN antes de P Ilustra mos isso nos casos a seguir 46 Vamos construir uma casa de 47 Dinheiro todo mundo precisa de A bem da verdade existem exceções à regra P SN Entretanto são raros os casos de preposições lexicalizadas que podem ocorrer numa fra se sem o seu complemento devidamente explicitado Podemos verificar dois exemplos desse tipo incomum de construção ao ler as frases Eu sou contra e Vou falar sobre Igualmente são restritas em língua portuguesa as circunstâncias em que o SN pode ser deslocado para posições anterio res a P como acontece em Internet não consigo ficar sem Não obstante devido a particularidades morfofonológicas em algumas línguas como no caso do inglês a anteposição do SN complemento de Pé gramatical mente licenciada Além da sequência P SN a estrutura de um SP pode ser comple xificada com a anteposição de um especificador que desempenhará uma função adverbial SP esp P SN Exemplos esp realmente P com 8N poucos problemas esp quase P sem 8N certezas espsó Ppara Na alegria de poucos 49 PARA CONHECER Sintaxe Por fim tal como sucede com SN e SV o núcleo de um SP pode sele cionar como complemento uma oração encaixada independentemente da presença ou da ausência de um especificador Nesse caso o complemento de P será ORAÇÃO e por isso não haverá seleção de SN como complemen to afinal preposições normalmente não são bitransitivas SP esp P ORAÇÃO Exemplos esp deliberadamente P para oRAçÃo irritar os vizinhos P para oRAçÃo que você se sinta melhor Antes de passarmos à análise de outro tipo sintagmático é importante destacar que o português ao lado de outras línguas manifesta o fenômeno das locuções prepositivas Portanto em expressões como para com todos por entre os espaços ou o proscrito ante ao exposto etc encontraremos duas preposições contíguas Nesses casos é possível interpretar que o nú cleo P seja constituído por dois elementos em locução tal como descre vemos a respeito das locuções verbais Alternativamente é possível que uma nova categoria no caso um SP seja adicionada à regra de reescrita do próprio SP conforme postulado em Othero 2009 por exemplo SN esp P SN ORAÇAO SP Tal adição nos informa que um núcleo P pode selecionar como com plemento um novo SP dentro do qual uma preposição será encontrada o que fará com que a regra seja reaplicada Passemos finalmente ao último tipo de sintagma que estudaremos aqui o sintagma adjetivai SA 12 SINTAGMAS ADJETIVAIS Os SAs possuem a seguinte regra de reescritura SA esp A SP ORAÇÃO 50 A noção de constituinte Vemos portanto que o núcleo A pode ser o único constituinte de um SA como sintagma unitário SAA Exemplos A inteligente A limitado A preocupada Tal como se dá com os SN s e SV s o núcleo de um SA pode figurar modificado por um especificador quando é o caso de esse ser introduzi do numa frase Interessantemente muitos especificadores podem ocorrer à direita ou à esquerda de um núcleo A em língua portuguesa Ilustramos isso a seguir SA espA Exemplos muitoAinteligente extremamenteAlimitado nada esp esp esp A preOCUpada A pequeno esp demais A preOCUpada esp excessivamente Por fim no interior dos SAs pode haver SPs que ou são adjungidos àquele sintagma ou são selecionados por um núcleo A SA esp A SP Exemplos A sujo sp com graxa A consciente sp da situação esp pouco A decorada sp com quadros esp completamente A consciente sr da situação Nesses exemplos os adjetivos sujo e decorada não manifestam pro priedades selecionais e desse modo não possuem complementos situação distinta do núcleo A consciente que seleciona um SP como complemento Além disso o complemento de A com propriedades transitivas pode ser em vez de SP uma oração encaixada SA espAORAÇÃO Exemplos A consciente oRAçÃo que o problema é grave esp muito A an sioso oRAçÃo que a festa comece Repare que nesses exemplos pode ocorrer uma preposição antes da oração encaixada consciente de que o problema é grave muito ansioso para que a festa comece Nesse caso o complemento de A seria um SP cujo núcleo Pé que seleciona uma ORAÇÃO como complemento A cons ciente sr de oRAçÃo que o problema é grave esp muito A ansioso sp para oRAçÃo que a festa comece 51 PARA CONHECER Sintaxe 13 OUTROS SINTAGMAS Nas seções anteriores descrevemos e analisamos os quatro principais sintagmas existentes na língua portuguesa Antes de encerrarmos este ca pítulo gostaríamos de instigar o leitor com a seguinte indagação SN SV SP e SA são todos os sintagmas que encontraremos ao estudarmos mais a fundo a sintaxe do português e de outras línguas A resposta a essa pergunta é negativa Você deve notar que todos os sintagmas até aqui apresentados possuem um núcleo de natureza lexical isto é uma palavra que possui conteúdo referencial nomes substantivos verbos preposições e nomes adjetivos Essas quatro categorias são o sufi ciente para descrevennos a tipologia sintagmática lexical das línguas mui to embora autores como Othero 2009 incluam em suas análises mais um constituinte lexical o sintagma adverbial SAdv Ora se esses são os sintagmas lexicais você pode se questionar quais seriam os sintagmas gramaticais ou funcionais existentes nas línguas Ao se aprofundar em seus estudos de Sintaxe você descobrirá que os sin tagmas funcionais são essenciais para a estruturação das sentenças e dos sintag mas nominais Por exemplo no domínio da fiase o sintagma flexionai SF é responsável entre outras funções por atribuir uma flexão ao núcleo de um SV e por essa razão seu núcleo F pode ser preenchido por morfemas por palavras como os verbos auxiliares que então não serão mais interpretados como uma locução no interior do SV ou ser foneticamente nulo Já o sintag ma complementador ou complementizador SC desempenha o papel de conector entre orações e por isso seu núcleo C pode ser preenchido por uma conjunção como que além de marcar valores discursivos numa sentença tais como força ilocucionária tópico e foco No domínio do SN o sintagma deter minante SD atribui aos nomes substantivos um valor funcional estabelecen do sua definitude sua quantificação e diversos tipos de informações gramati cais veiculadas através de artigos pronomes numerais e outras categorias que anteriormente descrevemos apenas como especificadores de N Ao dar sequência a seus estudos em Sintaxe você aprenderá a identi ficar esses e outros tipos de sintagmas funcionais que são impmiantes para a compreensão de como os mecanismos gramaticais de uma língua natural atuam sobre os traços lexicais presentes nos SNs nos SVs nos SPs e nosSAs de modo a construir sentenças em sua integral complexidade de estrutura 52 A noção de constituinte Leituras complementares Ao longo do capítulo apresentamos sugestões de leitura sobre cada assunto específico que abordamos A base da Sintaxe que apresentamos aqui pode ser vista também em manuais de Linguística Gerativa como Lobato 1986 Raposo 1992 Mioto et al 2013 e Kenedy 2013 Se o leitor desejar acessar diretamente a fonte em que essas obras se ba seiam poderá consultar por exemplo uma recente tradução comentada do trabalho clássico e pioneiro de Noam Chomsky Estruturas sintáticas Chomsky 2015 1957 Grande parte do que discutimos nas descrições dos quatro tipos de sintagmas lexicais que vimos neste capítulo foi baseada em Lemle 1984 Lobato 1986 Souza e Silva e Koch 1993 Perini 1996 e Othero 2006 2009 2014 Todos esses trabalhos são leituras acessíveis ao leitor após o término deste capítulo Exercícios 1 O que é um sintagma Exemplifique e aplique alguns dos testes que você aprendeu neste capítulo para identificar constituintes 2 Por que o conceito de pronome da Gramática Normativa Tradicional está equivocado 3 Faça as árvores sintáticas das seguintes frases a DeiTUbaram o muro ontem à noite b Os meus amigos moram em Porto Alegre c O João é um cara que não bebe d O avô do Pedro contou a seus netos suas peripécias de criança e A Maria quebrou a perna f A Maria quebrou a perna da Ana g O amigo da Ana disse que ela vai viajar para o Peru 53 FUNÇÕES SINTÁTICAS Objetivos gerais do capítulo Funções sintáticas discutiremos a noção de função sintática dos ele mentos do período abordando a dualidade entre forma sintagmática e função sintática Inventário das funções sintáticas revisaremos as lições de análise sintática da tradição gramatical brasileira em cotejo crítico com a des crição linguística contemporânea É importante lembrar que a leitura deste capítulo pressupõe o domínio dos conceitos explorados no capítulo anterior 55 PARA CONHECER Sintaxe 1 O QUE SÃO FUNÇÕES SINTÁTICAS O conceito de função sintática é derivado da noção de constituin te Portanto não é por acaso que neste livro tenhamos primeiramente estudado os sintagmas lexicais da língua portuguesa para que então possamos analisar de maneira adequada as funções sintáticas do perío do Com efeito uma função sintática qualquer é sempre o papel que um constituinte desempenha em relação a outro numa dada estmtura frasal Dessa maneira compreendemos que os estudos sintáticos de natureza normativa tradicional incorrem em grave erro didático e teórico ao da rem ênfase a um conceito secundário isto é funções sintáticas e quase sempre ignorarem a noção primária constituintes da sentença que sus tenta a própria razão de ser da análise sintática Ilustremos isso com o seguinte exemplo 1 Os alunos leram o livro de Sintaxe Quando procedemos à análise das funções sintáticas dessa frase ou na verdade de qualquer outra precisamos em primeiro lugar identificar as fronteiras dos sintagmas que a constituem Por exemplo é necessário que nessa frase específica assinalemos que os alunos é um SN ante posto ao SV leram o livro de Sintaxe bem como devemos destacar dentro desse SV a presença de outro SN que é complemento do núcleo V o livro de Sintaxe No domínio desse segundo SN identificaremos ainda a existência de um SP de Sintaxe como seu adjunto A descrição sintagmática do exemplo só será esgotada quando anotarmos a ocorrên cia de os e o como respectivamente especificadores dos N alunos e livro núcleos de sintagmas que por preencherem a posição de esp se distinguem do SN unitário Sintaxe Ora é somente após toda essa anotação sintagmática que aprendemos no capítulo anterior que se tornará possível analisar com precisão a função sintática que cada um dos constituintes de uma sentença desempenha em relação a seus vizi nhos estmturais Quando as gramáticas normativas tradicionais omitem esse longo processo de análise sintagmática e saltam diretamente para a análise das funções sintáticas o estudo da Sintaxe tornase um tanto obscuro Muitas vezes os estudantes têm a sensação de que sintaxe 56 Funções sintáticas não passa de uma mera lista de funções que deve ser memorizada me canicamente Neste capítulo procuraremos desmitificar essa impressão apresentando ao leitor uma abordagem integrada entre função sintática e estmtura sintagmática 2 DESENHANDO ÁRVORES À semelhança do que aprendemos no capítulo anterior desenhar re presentações arbóreas é um recurso extremamente útil também no estudo das funções sintáticas Para ilustrarmos isso vejamos a árvore sintática a seguir frase SN sv esp N v SN I I I leram os alunos SN SP esp N p SN I I I I o livro de N I sintaxe Com esse recurso visual todos os sintagmas existentes na estrutura são mapeados o que nos permitirá identificar mais facilmente a função sintática que cada constituinte desempenha em relação aos outros Assim percebemos que no exemplo 1 há uma frase constituída imediatamente por um SN miiculado a um SV Esses dois constituintes desempenham fun ção sintática um relativamente ao outro tal como apontado na respectiva seta na figura Dentro do SV aparece outro SN que exerce função relativa ao núcleo V Por sua vez no interior dos SN s os alunos e o livro nota mos a existência de especificadores os e o que assumem uma função sintática em relação ao núcleo N alunos e livro de maneira respecti 57 PARA CONHECER Sintaxe va Finalmente nosso esquema arbóreo indica a existência de um SP que no que se refere ao SN presente no domínio do SV desempenha função de adjunto Uma árvore sintática permite também o reconhecimento da função sintá tica do núcleo de cada constituinte da frase O núcleo de um sintagma é tipicamente o núcleo da função sintática desempenhada pelo sintagma que o domina imediatamente por exemplo se um SN desempenha a função de sujeito então seu núcleo N desempenhará a função de núcleo do sujeito Uma exceção deve ser feita ao núcleo do SP por se tratar de uma catego ria com propriedades lexicais e funcionais tradicionalmente não se atribui função sintática à preposição P Uma vez que tenhamos reconhecido a hierarquia das relações sintag máticas de uma frase poderemos então nomear cada uma de suas funções sintáticas Nesse exemplo de que maneira poderíamos classificar as fun ções identificadas anteriormente Ou seja quais são os termos que deve mos utilizar para caracterizar as funções sintáticas do período Durante muitos anos gramáticos tradicionais linguistas e professores utilizavam livremente os termos de sua preferência fato que causava muita confusão na descrição do componente sintático da língua e bastante frus tração entre os estudantes Os alunos precisavam aprender uma nomen clatura diferente a cada gramática que consultavam ou a cada escola que frequentassem ao longo de sua vida acadêmica Essa Torre de Babel teve fim somente em 1959 ano em que se estabeleceu a terminologia adotada até hoje em nossas gramáticas e livros didáticos por meio da Portaria n 36 do Ministério da Educação Essa Portaria ficou conhecida como Nomen clatura Gramatical Brasileira a NGB 3 A NGB A NGB representou à sua época uma contribuição importante para os estudos gramaticais brasileiros De fato a existência de uma nomenclatura oficial a ser adotada por todos os estudiosos do país pôs fim à verdadeira anarquia terminológica que existia até então Só para termos uma ideia da confusão que era gerada por uma excessiva diversidade de termos empre 58 Funções sintáticas gados para descrever as funções sintáticas vejamos o caso do SP que é se lecionado como complemento de N ou de A Hoje a função desempenhada por esse SP é universalmente descrita como complemento nominal No entanto antes da NGB essa mesma função era designada por diferentes termos como entre outros objeto nominal complemento restritivo complemento terminativo e adjunto restritivo Além disso nos estu dos gramaticais préNGB era muito comum que o vocabulário da análise lógica fosse misturado ao da descrição gramatical fato que produzia in compreensão quanto ao valor sintático de certas notações tais como com plemento lógico adjunto inampliado constituinte incompleto entre outros casos É muito importante portanto que nos estudos gramaticais tenhamos uma nomenclatura uniforme que possa ser empregada por todos os professores e estudantes do Brasil É por essa razão que utilizaremos nas seções a seguir os termos padronizados pela NGB ANGB A Nomenclatura Gramatical Brasileira NGB é um documento que foi ela borado na segunda metade de 1950 por gramáticos e filólogos reconhecidos à época como Serafim Silva Neto Rocha Lima e Celso Cunha por exem plo Seu objetivo como dissemos foi padronizar os termos gramaticais utilizados no estudo de língua portuguesa nos currículos escolares e em consequência nos livros didáticos e gramáticas escolares de maneira que todos os gramáticos professores e estudantes utilizassem a mesma ter minologia em suas reflexões e seus estudos gramaticais no Brasil O do cumento da NGB pode ser consultado gratuitamente online Ele pode ser baixado em PDF deste endereço httpsdocsufprbrborgespublicacoes notaveisNGB pdf Portugal também conta com sua nomenclatura gramatical muito próxima da nossa É a Nomenclatura Gramatical Portuguesa NGP de 1967 que também pode ser consultada online neste endereço httpwwwpmial dalinguaportuguesaorgactionnomenclatura A NGB no entanto não é uma boa nomenclatura Na verdade ela apresenta inúmeras falhas graves Por exemplo para citarmos apenas três casos i diversas funções sintáticas são na NGB definidas por parâmetros semânticos algo descritivamente inadequado ao tratarmos especificamen te do componente sintático da língua ex sujeito como o ser que pratica 59 PARA CONHECER Sintaxe uma ação ii funções sintáticas idênticas são descritas por termos di ferentes ex complementos recebem nomes específicos se seu respectivo núcleo é V ou N A e iii funções sintáticas diferentes são descritas com a mesma nomenclatura ex especificadores e SPs adjuntos a SN são nomea dos igualmente como adjuntos adnominais Por conseguinte é importante empregannos a NGB com bastante crítica até que finalmente tenhamos no Brasil uma nomenclatura oficial depurada de tantos erros para estudar mais sobre esse tema remetemos o leitor a Perini 1985 1995 Henriques 2009 e Kenedy 2010 Um dos maiores erros relativos à NGB decorre da compreensão in correta que muitos gramáticos professores escolas e editoras de livros fizeram da Portaria no 36 de 28 de janeiro de 1959 Gramáticas escolares e livros didáticos lançados após essa data converteram maciçamente a NGB em conteúdo programático das lições de língua portuguesa Os termos en tão propostos para descrever fenômenos gramaticais passaram a ser eles mesmos o objetivo final da análise da língua deixando a própria língua em segundo plano O que fora proposto pela NGB como um meio um con junto de instruções notacionais foi interpretado nos livros didáticos como o fim o conteúdo a ser ministrado na escola básica INVENTÁRIO DAS FUNÇÕES SINTÁTICAS DA NGB Termos essenciais da oração Sujeito simples composto indetenninado inexistente Predicado verbal nominal verbonominal Predicativo do sujeito do objeto Termos integrantes da oração Complemento verbal objeto direito objeto indireto Complemento nominal Agente da passiva Termos acessórios da oração Adjunto adnominal Adjunto adverbial Aposto Termo à parte Vocativo 60 Funções sintáticas 4 FRASE ORAÇÃO E PERÍODO As frases que interessam à análise sintática são tipicamente consti tuídas por pelo menos uma predicação verbal Dessa forma apesar de a rigor uma frase poder ser qualquer enunciado linguístico somente aquelas que possuem no mínimo um SV tornamse objeto de estudo passível de classificação em tennos de funções sintáticas Cada SV presente numa fra se indica a existência de uma oração A seguir ilustramos em 2a o caso de uma frase sem qualquer pre dicação verbal denominada frase nominal Em 2b vemos a ocorrência de uma frase constituída por uma única oração e em 2c temos um exem plo de frase composta por mais de uma oração 2 a Um quarto grande com janelas largas e bela vista para o mar b Todos gostam de filmes românticos c O professor disse que a prova não está difícil A frase em 2a não se presta para os fins da análise em Sintaxe porque na falta de um SV não há funções a serem atribuídas aos sin tagmas presentes no enunciado pois é somente a partir de uma predi cação verbal que podemos mapear as demais relações sintáticas de uma estrutura frasal Em 2b por sua vez identificamos o SVs gostam de filmes românticos ao passo que em 2c destacamos dois SVs disse que a prova não será difícil e não será difícil estando o segundo in serido no domínio do primeiro Ambas as frases verbais em 2b e 2c caracterizam a noção de período que nos estudos de Sintaxe deve ser tomada como sinônimo de sentença A única diferença entre essas duas frases é que em 2b a extensão do período coincide com a da oração isto é temos um período simples oração absoluta enquanto em 2c o período é composto por duas orações Tanto num caso como no ou tro encontramos frases com SV o que nos habilita a dar início à análise das funções sintáticas da sentença 61 PARA CONHECER Sintaxe QUESTÕES DE NOMENCLATURA I Frase nominal frase sem verbo Frase verbal frase com pelo menos um SV Oração predicação entre um SV predicado e um SN sujeito Período simples frase verbal com somente uma oração Período composto frase verbal com mais de uma oração Período sinônimo de frase verbal Sentença sinônimo de frase verbal Uma oração é uma estrutura bimembre Isto é uma oração é sempre constituída por dois constituintes básicos dentro dos quais todos os outros se encontrarão de alguma forma encaixados Esses dois constituintes são SN e SV Vemos isso representado na seguinte figura SN sv Os constituintes imediatos de uma oração isto é SN e SV podem aparecer numa frase específica em ordem direta SN t SV ou ordem inversa SV t SN Além disso é possível como já sabemos que um SN não seja preenchido por nenhum elemento foneticamente realizado con junto vazio mas ainda assim ele possuirá valor sintático É importante ter sempre em mente essas noções porque é a partir da identificação do SN e do SV imediatamente ramificados de uma oração que conseguiremos analisar todas as funções sintáticas de uma sentença 5 SUJEITO E PREDICADO Sujeito e predicado são considerados os termos essenciais de uma oração porque correspondem respectivamente ao SN e ao SV que com põem de maneira imediata uma frase verbal Sendo assim a cada vez que encontramos uma oração numa sentença devemos identificar o SN ainda que foneticamente nulo e o SV que estruturam diretamente tal oração pois as demais funções sintáticas do período serão desempenhadas ou den tro do SN sujeito ou no interior do SV predicado 62 SN sujeito sv predicado Funções sintáticas No exemplo 3 sujeito e predicado são identificados conforme sere presenta nos colchetes etiquetados que se seguem Como somente um par da relação SN t SV indicada na figura pode ser encontrado nessa frase estamos portanto diante do caso de um período simples 3 ORAÇÃO SN sujeito Todos sv predicado gostam de filmes românticos Na frase em 4 a segunda oração encontrase encaixada no domínio da primeira fato que exemplifica a estruturação de um período composto Você deve notar que tanto na primeira quanto na segunda oração dessa frase a estrutura bimembre SN sujeito SV predicado encontrase rami ficada diretamente da oração 4 0 RAçA0 SN 1 O professor sv d d disse que 0 RAçA0 SN a sujei o pre tca o sujeito prova SV predicado não está difícil A ocorrência de SN e de SV ramificados diretamente de uma oração mais de uma vez numa mesma frase período composto se tomará mais evidente com o uso da seguinte representação arbórea simplificada oração SN SUJeitO sv d d pre tca o o professor oração v disse que SN sujeito SV predicado a prova não está difícil Vemos assim que as funções sintáticas de sujeito e predicado se defi nem na hierarquia da estrutura sintagmática da sentença o sujeito é o SN que se ramifica diretamente de uma oração enquanto o predicado é o SV que se ramifica diretamente dessa oração 63 PARA CONHECER Sintaxe Considerandose a recursividade da combinação entre sintagmas você já pode ver que o SN sujeito e o SV predicado podem conter den tro de si outros constituintes núcleos complementos especificadores e adjuntos Tais elementos por um lado serão termos integrantes ou acessórios da função sintática hierarquicamente superior dentro da qual se encontram encaixados sujeito ou predicado Por outro lado desempe nharão alguma função sintática específica como núcleo do sujeito núcleo do predicado ou outras como objeto direto complemento nominal que veremos ainda neste capítulo Na próxima seção analisaremos as sub classificações do sujeito s1 Subclassificações do sujeito Na tradição dos estudos gramaticais brasileiros o sujeito de uma ora ção costuma receber um dos quatro tipos de subclassificação preconiza dos pela NGB simples composto indeterminado ou inexistente Como se vê a NGB não previu casos em que o sujeito pode ser determinado mas foneticamente nulo como é o caso do sujeito oculto por isso podemos encontrar em gramáticas escolares também os termos sujeito implícito sujeito elíptico sujeito subentendido sujeito nulo ou sujeito desi nencial para designar o que aqui chamamos de sujeito oculto Você deve perceber que tais subclassificações não dizem respeito estritamente à noção de função sintática mas sim à quantidade de nú cleos que um sujeito manifesta se um simples ou mais de um com posto e à interpretação semânticopragmática do sujeito quando esse não é realizado foneticamente se oculto indeterminado ou inexistente Portanto as subclassificações do sujeito não são uma parte relevante da análise sintática e só persistem em nossas gramáticas em nossos manuais de Sintaxe e em nossas aulas de Língua Portuguesa devido à repetição da tradição herdada desde a NGB A distinção entre sujeito simples ou composto se estabelece em vir tude da quantidade de núcleos N presentes no sujeito de uma oração A ocorrência de um e somente um SN como sujeito levará à classificação dessa função sintática como simples isto é constituída de somente um nú 64 Funções sintáticas cleo N foneticamente realizado Por oposição a isso quando dois ou mais SNs são coordenados entre si na função de sujeito então pelo menos dois núcleos N foneticamente explícitos serão realizados na sentença o que resultará num sujeito composto Em 5a vemos representado um sujeito simples isto é com somente um SN enquanto em 5b ocorrem três SNs coordenados dando origem a um sujeito composto 5 a sN O Brasil já foi campeão mundial de futebol b sN Brasil sN Argentina e 8N Uruguai já foram campeões mun diais de futebol Note bem A ocorrência de um núcleo N no plural ou a presença de SN no domínio do sujeito ocupando dentro dele uma posição diferente da de núcleo isto é especificador complemento ou adjunto não caracteriza o caso de sujeito composto É isso o que vemos no exemplo 6 No caso o núcleo do sujeito da oração é somente o N países Os demais SNs no domínio do sujeito América e o sul desempenham em seu interior na posição de adjunto outras funções sintáticas 6 8N Diversos países da América do Sul já foram campões mundiais de futebol Por sua vez a distinção entre sujeito oculto indeterminado ou ine xistente é de outra ordem Essas três subclassificações compartilham a propriedade de não realizarem foneticamente o SN sujeito Logo a oração em todos os três casos apresentará um SN nulovazio 0 A distinção en tre esses três subtipos de sujeito decorre de uma interpretação semântico pragmática Para entendermos isso comparemos os exemplos 7a em que ocorre um sujeito oculto com 7b em que há um sujeito indeterminado e com 7c no qual há um sujeito inexistente 7 a 8N 0 cheguei cedo b 8N 0 roubaram meu carro c 8N 0 choveu durante a noite toda Em 7a estamos diante de uma das características do sujeito nulo nas línguas que como o português permitem esse tipo de fenômeno podemos não realizar foneticamente o sujeito de uma oração porque ele 65 PARA CONHECER Sintaxe é inferível pela flexão morfológica do verbo Tratase nesse caso da primeira pessoa do singular eu e a depender da frase pode ser outra como primeira do plural nós ou segunda do singular tu você Quando isso acontece subclassificamos tal tipo de sujeito como oculto isto é de dutível pela desinência verbal Também há casos em que o sujeito oculto é recuperável por meio de uma retomada anafórica na própria oração como em O João chegou e 0 pegou um livro ou mesmo em frases ou porções textuais anteriores como em O João comprou cinco novos livros hoje na livraria nova do campus Amanhã 0 pretende voltar lá para adquirir mais alguns Uma oconência especial dessa omissão fonética do sujeito ocorre quando se trata especificamente da terceira pessoa do plural eleselas conforme vemos em 7b Nesse caso dáse uma interpretação pragmá tica particular ao não preenchimento fonético do sujeito ou não se sabe ou não se quer explicitar o conteúdo do SN sujeito o que o caracteriza como indeterminado Além da terceira pessoa do plural não preenchida foneticamente também a terceira pessoa do singular de verbos intransitivos de ligação e transiti vos indiretos articulados com a partícula SE indicam a indeterminação do sujeito Exemplos respectivos morrese de desgosto foise feliz naquele tempo e precisase de professores Em 7b provavelmente não se sabe quem roubou o cano por isso o SN não é realizado de maneira plena com um nome próprio ou uma expressão descritiva Note que se estivéssemos diante de um período com posto e o conteúdo do SN sujeito foneticamente nulo relacionado a um predicado com um verbo na terceira pessoa do plural pudesse ser inferido a partir de alguma informação presente numa outra oração então não es taríamos diante de um sujeito indeterminado mas de um sujeito oculto É justamente isso o que acontece em 8 8 8N Os ladrões simularam um pedido de ajuda e depois 8N 0 rouba ram o meu carro Ora qual seria a diferença sintática entre o 5N 0 em 7b como sujeito indeterminado e em 8 como sujeito oculto Não há nenhuma 66 Funções sintáticas Por isso tal subclassificação não encerra um fenômeno de fato do domí nio da sintaxe O exemplo em 7c oração sem sujeito ou sujeito inexistente ilustra mais um caso de inadequação descritiva cometida pela NGB Afi nal se não houvesse sujeito em determinadas orações como essa função sintática poderia ser um termo essencial do período como a própria NGB assevera E ainda se não há sujeito numa dada frase como ele poderia ser classificado e subclassificado Na verdade o que ocorre em casos como 7c são os sujeitos foneticamente nulos que diferentemente de su jeitos ocultos e indeterminados não possuem nenhuma interpretação se mântica ou pragmática Tratase de orações que possuem sujeitos nulos expletivos isto é SNs vazios que não adicionam qualquer informação semântica ao SV predicado da sentença Expletivos nulos são tipicamen te selecionados como sujeitos de orações com verbos que exprimem fe nômenos naturais chover ventar nevar trovejar etc meteorológicos estar tarde fazer frio etc relativos a tempo transcurso fazer tantos anos haver tanto tempo etc e demais verbos impessoais haver com valor existencial Como vemos tratase mais uma vez de uma subclas sificação motivada por critérios extrassintáticos EXPLETIVOS Nos estudos de Sintaxe elementos expletivos são aqueles que possuem valor puramente sintático sem qualquer repercussão no componente se mântico da língua Em português sujeitos inexistentes são sempre rea lizados por expletivos nulos mas noutras línguas tais expletivos podem ser realizados por um pronome expletivo pronunciado Por exemplo a rase 5N 0 choveu o dia todo deve ser traduzida para o inglês como 5N lt ramed all day e para o francês como 5N il a plu toute la journée Expletivos nulos como 0 em português ou pronominais como it em inglês ou il em francês são categorias que quando usadas na função de sujeito o fazem em razão de fatores estritamente sintáticos a necessidade de realizar um sujeito SN gramatical para toda e qualquer sentença nas línguas naturais 67 PARA CONHECER Sintaxe 52 Subclassificações do predicado Um predicado se subclassifica conforme a categoria morfossintática do núcleo que exerce a predicação na respectiva oração Assim dado que verbos transitivos e intransitivos são sempre predicadores eles serão iden tificados como o núcleo V de um predicado verbal 9 a Os alunos sv estudaram toda a matéria b Vários países da América do Sul sv precisam de atenção inter nacional c O bebê sv sorriu d Meu time sv foi desclassificado da competição Notamos nos exemplos anteriores que em 9a é o núcleo V estu daram que realiza a predicação entre os argumentos os alunos e toda a matéria Em 9b o verbo precisaram estabelece a predicação entre seu sujeito vários países da América do Sul e seu complemento precisam de atenção internacional Da mesma forma em 9c o núcleo verbal sonir predica sobre seu único argumento o sujeito o bebê Todos esses predica dos são pois subclassificados como verbais É interessante notar que em 9d há uma locução verbal no SV foi desclassificado Nela o verbo au xiliar o item ser devidamente flexionado desempenha papel puramente funcional sem realizar predicação a qual é exercida pelo núcleo lexical da locução o particípio desclassificado Infinitivos particípios e gerúndios são formas reduzidas da categoria V fato que nos fará classificar como verbal os predicados que apresentarem uma dessas formas como núcleo de V ou como verbo principal numa locução Numa dada oração a predicação pode ser feita por uma categoria morfossintática diferente de V Isso é ilustrado a seguir 10 a Os alunos sv parecem satisfeitos b O Brasil sv é desigual c O livro sv está sobre a mesa d Sintaxe sv é um componente da gramática Em todos os exemplos em 10 o núcleo do SV desempenha um pa pel meramente funcional atribuindo à sentença alguma flexão verbal e 68 Funções sintáticas expressando os valores aspectuais próprios de cada um dos itens parecer ser e estar Tratase pmianto dos chamados verbos de ligação ou copula tivos Esse tipo de núcleo V não manifesta a propriedade de predicar Per ceba que em lOa e lOb o predicador da oração não é o verbo mas sim respectivamente os núcleos A satisfeitos e desigual que prdicaU so bre seu único argumento o respectivo sujeito os alunos e o Brasil Em 1 O c ocorre o mesmo a predicação não é exercida por V mas pelo núcleo P sobre que relaciona espacialmente seus dois argumentos o livro e a mesa No exemplo lOd a predicação é feita pelo N componente núcleo de um SN que se compõe também por um especificador um e um adjunto SP da gramática o qual predica acerca de seu sujeito Sintaxe Nesses casos o predicado deverá ser subclassificado como não verbal já que seu núcleo predicador é uma categoria diferente de V isto é N A ou P Entretanto o termo adotado pela NGB a fim de classificar predicados não verbais é predicado nominal Atente porém que tal predicado nominal não é necessariamente nucleado por um substantivo N Também adjetivos e preposições podem atuar como núcleo de um predicado não verbal Aos estudos normativos tradicionais escapa especialmente a percep ção de que preposições possuem propriedades lexicais e assim podem rea lizar predicação e desempenhar a função de núcleo do predicado Em fun ção dessa limitação diante de frases como lOc gramáticas tradicionais identificam enoneamente um caso de predicado verbal sob a alegação de que o verbo estar assumiria no caso o valor intransitivo de localização espacial Ora a diferença entre predicados como está sobre a mesa ver sus está feliz é dada não pelo verbo estar mas antes pela categoria não verbal que o sucede Em lOc o valor espacialrelacional é conferido pelo núcleo P não por V Por fim como aprendemos no capítulo anterior predicados podem apresentar no domínio do SV uma minioração ao lado de um verbo tran sitivo ou intransitivo Quando isso acontece a oração será estruturada por meio de duas predicações a da categoria verbal V e a da categoria não verbal N ou A presente no interior da mini oração A nomenclatura oficial para a subclassificação desse tipo de predicação dupla é predicado verbo nominal A seguir veremos exemplos desse caso 69 PARA CONHECER Sintaxe 11 a O autor sv achou o lançamento do livro um sucesso b Todos sv saíram assustados da festa Em lia o verbo achar define um predicado verbal pois se trata de uma categoria V que perfaz a predicação entre o sujeito o autor e a mi nioração o lançamento do livro um sucesso Por sua vez no domínio da minioração ocorre outra predicação agora não verbal posto que o núcleo do SN um sucesso encerra uma predicação sobre seu argumento o lan çamento do livro Como no SV identificase predicação verbal e não ver bal o respectivo predicado é subclassificado como verbonominal Caso semelhante acontece em llb Aqui tanto o núcleo V saíram quanto o núcleo A assustados são predicadores do sujeito todos Há novamente um predicado verbonominal ou seja tratase de uma dupla predicação articulada por uma categoria verbal e outra não verbal 6 OBJETOS Quando o núcleo de um predicado verbal é um verbo transitivo di reto a respectiva categoria V selecionará como complemento um SN ou um SP ou mesmo uma nova oração Em tais casos a função sintática do complemento de V será classificada como objeto direto ou objeto indireto A diferença entre ambas as funções sintáticas é a categoria do sintagma complemento se o complemento é um SN a função será objeto direto se se trata de um SP a função será objeto indireto TRANSITIVIDADE DE V OBJETO DIRETO PREPOSICIONADO E CLÍTICOS A Gramática Normativa Tradicional contradiz a noção de objeto direto ao classificar certos complementos verbais como objetos diretos preposicio nados em frases como amar a Deus Na verdade esses complementos são SPs em um caso bastante específico de objeto direto aqui o que define a classificação do subtipo de objeto não é o sintagma se SN Óu SP sele cionado como complemento mas sim a transitividade de V Dessa forma como o V amar é transitivo direto então seu complemento será sempre um objeto direto ainda que preposicionado O mesmo acontece nos objetos diretos preposicionados em expressões como comer do bolo e beber do vinho Esses V são também transitivos diretos 70 Funções sintáticas Uma atenção especial deve ser dispensada à função sintática dos pronomes clíticos me te se nos lhe o a etc Entre os clíticos do português há alguns que podem exercer o papel de ambos os tipos de complementos verbais como me em A Maria me ama objeto direto e A Maria me enviou umajlor objeto indireto Não obstante outros clíticos desempenham ape nas a função de objeto direto como o e a já em completo desuso no ver náculo brasileiro enquanto outros como o clítico lhe exercem geralmente a função de objeto indireto Ou seja também os pronomes clíticos têm sua função sintática determinada não por si mesmos mas sim pela transitivi dade do V que os seleciona Um estudo pioneiro e abrangente sobre o uso dos clíticos no vernáculo do PB pode ser encontrado em Monteiro 1994 12 a A escola sv encomendou sN diversos livros importantes b O povo brasileiro sv necessita sP de muito mais investimentos na Educação c sv Demos sv um belo presente 8P ao orador da turma d Ele sv disse oRAçÃo que o filme veicula ideias progressistas e sv Não se esqueça oRAçÃo de que todo poder deveria emanar do povo Nos exemplos anteriores verificamos que em 12a o complemento de V é um SN caracterizando assim um objeto direto Já em 12b V é complementado por um SP definindo portanto um objeto indireto Em 12c temos o verbo bitransitivo dar que possui ambos SN e SP como complementos respectivamente classificados como objeto direto e objeto indireto Por fim lüd e lüe ilustram ocorrências de complementos de V em forma de oração encaixada No segundo caso a oração se encaixa na matriz por meio de uma preposição o que a identifica como um caso de objeto indireto oracional Isso a difere do primeiro caso em que a ora ção se encaixa diretamente na matriz se caracterizando como um objeto direto oracional 71 PARA CONHECER Sintaxe OBJETO NULO E ELIPSE DO OBJETO Assim como acontece com o sujeito o objeto direto também pode não ser pronunciado Isso pode acontecer basicamente em dois casos na retomada anafórica do objeto ou em sua omissão No primeiro caso introduzimos um SN que será retomado por uma anáfora zero na função de objeto É o que vemos no seguinte exemplo Ganhei um livro do Chomsky mas ainda não consegui ler 0 Repare que poderíamos usar um pronome como complemento verbal nessa frase mas ainda não consegui lêlo ou mas ainda não consegui ler ele Contudo a retomada anafórica por objeto nulo é uma estratégia muito pro dutiva em PB ao contrário do que vemos no português europeu por exem plo e costuma acontecer quando o antecedente se refere a um ser inanima do especialmente quando for não humano como um livro do Chomsky no nosso exemplo Com antecedentes humanos a retomada anafórica pro nominal é favorecida Julgue você mesmo estes dois exemplos e pense em qual deles parece soar mais natural em seu dialeto Conheci uma professora de Linguística mas não encontrei mais ela pelo campus Conheci uma professora de Linguística mas não encontrei mais 0 pelo campus Os casos de omissão do objeto por outro lado costumam ser mais pro blemáticos para uma análise baseada na tradição gramatical Aqui estamos diante de verbos que são considerados canonicamente como transitivos diretos beber fumar chutar cortar etc e que passam a ser usados de maneira intransitiva Alguns mudam seu significado outros não Compare os seguintes pares de exemplos com os verbosjitmar e beber O João júma charutos x O João fitma A Maria bebe muita água no verão x A Maria bebe muito no verão Repare como o uso intransitivo desses verbos parece especializálosfiunar intransitivo significa fumar cigarros não charutos e beber intransitivo significa beber bebidas alcóolicas não água ou suco Outros verbos quando usados intransitivamente não alteram sua carga se mântica como chutar e cortar por exemplo Ronaldo chutou a bola x Ronaldo chuta muito Essa faca corta queijo x Essa faca corta bem O leitor interessado no estudo dos objetos nulos pode encontrar uma dis cussão mais aprofundada e muito acessível em Monteiro 1994 e Bagno 2011 Sobre a omissão de objeto há uma tese relativamente recente que traz um panorama sobre o assunto Loredo Neta 2014 72 Funções sintáticas 7 PREDICATIVOS Nos predicados nominais e verbonominais a predicação não ver bal será exercida justamente por uma categoria não verbal N A ou P O sintagma que domina cada um desses núcleos deverá ser classificado no domínio do predicado com a função sintática denominada predicativo Vejamos alguns exemplos 13 a O povo sv está 8A extremamente ultrajado b Aquela palestra sv foi 8N uma beleza c Eu sv considerei a aula sA muito proveitosa d Os impunes sv comemoraram sA aliviados e A Maria sv é sP de Florianópolis O SA extremamente ultrajado e o SN uma beleza são predica tivos no interior do predicado nominal no qual se inserem respectiva mente em 13a e 13b Tais predicativos em virtude de se estrutu rarem num predicado não verbal farão sempre a predicação acerca do sujeito da oração razão pela qual se subclassificam como predicativo do sujeito Por sua vez 13c e 13d demonstram o caso de predicados mistos isto é verbonominais Nesses casos o sintagma com a função de predicativo poderá referirse ao sujeito da oração como acontece com o SA aliviados em 13d ou poderá se caracterizar como um predicativo do objeto referindose ao complemento de V objeto conforme acontece em 13c SVIPREDICADO COnsiderei SNOBJETO a aula SAPREDICATIVO muito proveitosa Finalmente em 13e vemos um predicativo do sujeito estruturado como um SP algo não reconhecido pela tradição gramatical Temos aqui uma preposição lexical que denota a ideia de origem ao passo que o verbo copulativo como já vimos não predica sobre o sujeito da oração a COMPLEMENTO NOMINAL No domínio do SN sujeito ou do SV predicado podem ser estrutura dos diferentes tipos de sintagmas Esses sintagmas conforme já estudamos 73 PARA CONHECER Sintaxe acerca do fenômeno da recursividade poderão possuir eles próprios ou tros sintagmas dentro de si Quando em alguma posição da oração encon tramos um complemento SP selecionado por um núcleo N ou um núcleo A teremos nesse SP tal como ilustrado a seguir caracterizada a função sintática de complemento nominal 14 a 8N A invasão 8P de privacidade tomouse comum no mundo mo demo b Os políticos 8v não parecem 8A conscientes 8P de sua responsabi lidade social c Ela 8v está 8A convencida oRAçÃo de que será uma excelente pre sidenta Notamos em 14a que o SP de privacidade é selecionado como complemento do núcleo do sujeito invasão Tratase assim de um com plemento nominal Essa mesma função sintática pode ser identificada em 14b no interior do predicado na forma do SP de sua responsabilidade social que é complemento no núcleo do predicativo o adjetivo cons cientes Já em 14c uma oração inteira é selecionada como complemento nominal do núcleo adjetivai convencida Tratase de um complemen to nominal oracional 9 AGENTE DA PASSIVA A NGB define como voz passiva analítica a estrutura sintática que manifesta um sujeito com valor semântico de paciente relacionado a um predicado articulado por uma locução verbal Nessa locução o verbo prin cipal pertencerá a uma categoria transitiva e aparecerá na forma de particí pio O verbo auxiliar por sua vez será tipicamente o item ser em alguma de suas flexões muito embora outros verbos como ficar e ter também possam ocupar a posição de auxiliar nesse tipo de SV 15 8N João 8v foi eleito líder sindical Nesse exemplo estamos diante de uma voz passiva porque o SN sujeito possui interpretação semântica de paciente e o SV predicado encontrase na forma da locução ser particípio Em tais tipos de 74 Funções sintáticas construção sintática é possível expressar na sintaxe o agente semân tico responsável pela ação descrita na locução verbal Nesse caso tal elemento será veiculado por um SP que receberá a classificação de agente da passiva 16 8N João 8v foi eleito líder sindical 8P pela maioria dos votantes Você deve ter percebido que mais uma vez a NGB nomeia uma função sintática em razão de preocupações puramente semânticas Afi nal agente é uma categoria conceitual o famigerado ser que pratica uma ação que não é útil para a caracterização de fenômenos estrita mente sintáticos O chamado agente da passiva é na verdade um SP adjunto cujo papel semântico infelizmente tornouse o nome oficial de uma função sintática Por outro lado uma outra observação pertinente envolvendo a inter face sintaxesemântica é via de regra esquecida pela tradição gramatical Ao contrário do que se pode inferir a partir de uma lição sobre conver são entre ativas e passivas não são todas as orações ativas com verbos transitivos diretos que podem ser convertidas a estruturas passivas corres pondentes Repare como podemos fazer a conversão com 17 mas não chegamos a um resultado aceitável com 18 17 a O Pedro quebrou a perna da mesa jogando pinguepongue ATIVA b A perna da mesa foi quebrada pelo Pedro jogando pinguepongue PASSIVA 18 a O Pedro quebrou a perna jogando futebol ATIVA b A pema do Pedro foi quebrada por ele jogando futebol PASSIVA A frase em 18b é estranha porque o sujeito da voz ativa em 18a é um sujeito paciente que sofre a ação verbal Por isso nossa tentati va de transformálo em agente da passiva em 18b resulta em uma construção tão estranha O que muitas gramáticas não nos contam é que na conversão entre voz ativa e voz passiva há uma restrição sintática apenas orações com verbos transitivos diretos podem ser expressas na voz passiva e semântica apenas sujeitos agentes em orações expressas na voz ativa podem figurar como justamente agentes da passiva na voz passiva correspondente 75 PARA CONHECER Sintaxe VOZ PASSIVA SINTÉTICA A NGB prescreve ainda a classificação voz passiva sintética para os casos de verbos transitivos articulados com a partícula SE como em elegeuse o líder sindical De acordo com esse preceito o SN tipicamente posposto à construção verbo transitivo SE deve ser interpretado como o sujeito da oração Tratase de uma prescrição contraintuitiva considerandose o uso pervasivo da partícula SE como índice de indeterminação do sujeito em terceira pessoa do singular mesmo com verbos transitivos diretos cf FerrariNeto Silva e Fortes 2010 Não é por outra razão que nas chama das orações com passivas sintáticas raramente ocorre concordância com o suposto sujeito posposto inclusive nos registros mais formais da escrita quando esse se encontra no plural por exemplo aceitase encomendas 10 ADJUNTOS Como já estudamos anteriormente sobre a noção de constituinte os sintagmas de uma língua depois de serem constituídos internamente por seu núcleo seu complemento e seu especificador podem sofrer livre mente a adjunção de outros sintagmas ou orações A função sintática a ser atribuída a esses elementos adjungidos é a de adjunto adverbial ou adjunto adnominal A diferença entre essas duas nomenclaturas não diz respeito propriamente ao adjunto mas antes ao sintagma que recebe a adjunção se um SP ou uma oração se adjunge a um SV eleela será caracterizadoa como um adjunto verbal isto é adverbial já se um SA um SP ou uma oração se adjunge a um SN então teremos um adjunto não verbal isto é adnominal 19 a O aluno sv concluiu a avaliação sp em menos de dez minutos 76 b sN Um cidadão sA honesto não vota em ficha suja c Todos compraram sN o livro sP de Sintaxe d sN Livros sP de sN análise sA sintática sA bem escritos não são raros e A chuva sv começou oRAçÃo quando eu cheguei em casa f sN O filme oRAçÃo que você me recomendou é mesmo muito interessante Funções sintáticas Nesses exemplos podemos analisar casos de adjunção a SN adjunto adnominal exercidas por um SA um SP ou uma oração bem como ad junções feitas a um SV adjunto adverbial levadas a cabo por um SP ou por uma oração Em 19a o SP em menos de dez minutos foi adjungido a um SV caracterizandose como adjunto adverbial Também em 19e é um SV que recebe o termo adjunto quando eu cheguei em casa o qual nesse caso é uma oração inteira um adjunto adverbial oracional Nas frases 19b e 19c temos a função de adjunto adnominal dado que no primeiro caso o SA honesto se adjunge ao SN um cidadão enquan to no segundo o SP de Sintaxe é adjungido ao SN o livro Em 19f ilustrase o caso de um adjunto adnominal oracional pois a oração que você me recomendou foi adjungida ao SN o filme Note agora que o exemplo 19d é particularmente interessante Nele acontecem múltiplas adjunções nominais o SP de análise é adjungido ao SN livros em se guida o SA sintática se adjunge ao SN análise presente no domínio do SP à sua esquerda e finalmente o SA bem escritos faz adjunção a todo o SN livros de análise sintática Eis aqui um belo exemplo da recursividade de adjunções sintáticas Devemos destacar que nas lições de análise sintática mais tradicionais e normativas os adjuntos adverbiais costumam ter especificado ao lado de sua classificação sintática o tipo semântico da modificação que efetuam sobre o sintagma que sofreu a adjunção Assim estudantes familiarizados com a NGB devem reconhecer expressões como adjunto adverbial de tem po oração adverbial de modo adjunto adverbial de dúvida oração adverbial proporcional etc Essa hiperespecificação semântica pode ser útil para a discussão de aspectos conceituais dos adjuntos mas ela não ca racteriza de modo algum tipos particulares de adjunção sintática Adjun tos em Sintaxe são somente adjuntos sejam sintagmáticos oracionais adjungidos a elementos verbais ou não verbais 11 FUNÇÕES DISCURSIVAS A NGB reserva fmalmente a classificação de duas funções sintáticas que de fato não dizem respeito ao papel desempenhado entre si por núcleos 77 PARA CONHECER Sintaxe complementos especificadores ou adjuntos Tratase de elementos de valor discmsivo alocados à pmie numa dada frase São eles o vocativo e o aposto O vocativo é a função dos chamamentos feitos ao interlocutor a quem a frase se dirige Vocativos podem ocorrer antes da oração ao seu fim ou mesmo intercalados no interior da oração tal como vemos res pectivamente a seguir 20 a vocATivo Senhor presidente o povo exige respeito a seus direitos b Não fale assim tão alto vocATivo meu amigo c Este livro vocATivo caro leitor foi feito especialmente para você Um aposto por seu turno introduz na oração um termo relativo a outro já mencionado na frase Em 21 podemos identificar apostos que discursivamente apresentam informação adicional ao nome citado imedia tamente à sua esquerda 21 a Ontem encontramos João APosTo pai de Maria no ônibus b Linguística ArosTo a ciência da linguagem possui inúmeras subdivisões c Muitos cientistas são bons escritores APosTo Darwin Pinker Dawkins Sagan Devido à sua natureza discmsiva o aposto assumirá numa frase di versos tipos de valor informacional em relação ao termo a que se apõe explicação enumeração resumo recapitulação comparação entre outros Nada disso no entanto caracteriza algum de fenômeno de interesse para o estudo da sintaxe stricto sensu 12 OUTRAS FUNÇÕES Alguns gramáticos como Luft Bechara Rocha Lima reconheceram que a NGB falhava ao não prever que um constituinte de natureza adverbial pudesse ser selecionado como complemento por um verbo que descreve semanticamente um movimento no espaço físico como ir chegar etc Em predicados com verbos dessa natureza a Sintaxe Normativa Tradicional peca mais uma vez ao designar como adjunto adverbial um SP que é na verdade complemento de V tal como podemos ver a seguir 78 22 a O carioca sv vai sP à praia mesmo sem sol b O carioca sv vai Funções sintáticas Para a Gramática Normativa Tradicional o núcleo do SV da frase em 22a deve ser classificado como intransitivo e por isso mesmo não selecionaria nenhum complemento O SP dessa oração seria assim um adjunto adverbial de lugar Ora tratase de uma análise flagrantemente incorreta pois a ausência do referido SP provoca a agramaticalidade na sentença conforme se atesta em 22b Sabemos desde o capítulo anterior que a propriedade de provocar agramaticalidade quando ausentes é privati va dos complementos a rigor dos argumentos Dessa maneira tal SP não pode ser identificado como adjunto A fim de contornar o equívoco alguns gramáticos sugeriram a adição de mais um termo no inventário de nossas funções sintáticas o complemento circunstancial ou complemento ad verbial ou ainda complemento locativo novamente aqui temos uma variação na terminologia adotada por cada gramático uma vez que essa função sintática não foi prevista pela NGB Um complemento circunstancial é um SP como o presente em 22a que é selecionado por um verbo transitivo circunstancial isto é um verbo que seleciona como complemento uma categoria adverbial Esse SP não se confundirá com um objeto indireto porque esse último possui valor nominal e não circunstancial Vemos tal diferença no contraste que segue 23 a Eu preciso sroBJETorNDIRETo de uma casa b Eu cheguei srcoMPLEMENTo ciRcuNrANCIAL em uma casa Além dessa uma outra função sintática não oficial vem sendo farta mente utilizada por linguistas e bons gramáticos na descrição das línguas o parentético Tratase de um termo que assim como o aposto aparece interpolado numa oração e desempenha função discursiva Os parentéticos inserem verdadeiros parênteses num período os quais veiculam comen tários paralelos à oração numa espécie de frase à parte 24 a Esse livro PARENTÉnco aliás um gigante calhamaço digase de pas sagem é muito interessante b O show vai começar PARENTÉTrco disseram os organizadores às 21h 79 PARA CONHECER Sintaxe c Aquele deputado disse PARENTÉnco que mentira PARENTÉnco que cara de pau que não é dono do dinheiro em sua conta Um parentético não se confundiria com um aposto porque não se ca racterizaria como uma explicação ou um detalhamento acerca de algum tenno já citado na frase Ele teria de fato a propriedade de veicular co mentários muito mais livres e independentes conforme podemos fazer na língua escrita com o recurso dos parênteses O parentético é um fenômeno interessante que demonstra um tipo de construção dinâmica que se estabe lece na fronteira entre sintaxe e discurso Outra função que se situa na fronteira entre sintaxe e discurso é a função de tópico muito cara aos estudos sintáticos de base funcionalista como veremos no capítulo Duas abordagens no estudo da Sintaxe O tópico codificado como um SN que normalmente ocupa a posição inicial da sentença por vezes confundese com o sujeito da frase É o que vemos por exemplo em construções como as seguintes 25 TóPico Essa mesa cabe bastante gente 26 TóPico Essa janela aberta venta muito 27 TóPico Meu carro furou o pneu quando eu chegava no campus 28 TóPico A roupa está lavando Repare como esses elementos topicalizados se parecem com o sujei to são todos SNs que figuram no início da frase Contudo esses elementos não têm algumas características semânticas que consideramos prototípicas em SN que atuam como sujeito tais como ter um papel semântico de agen te e denotar um ser animado e volitivo Além disso alguns deles parecem poder aparecer preposicionados caso a frase fosse sintaticamente mais comportada isto é mais semelhantes ao registo formal padrão na língua como nos casos de 25 26 e 27 25 Cabe bastante gente nesta mesa 26 Venta muito por essa janela aberta 27Furou o pneu do meu carro quando eu chegava no campus Além disso as construções parecem perverter a valência verbal tra dicional Por exemplo o verbo lavar exige um sujeito agente mas o que 80 Funções sintáticas vemos em 28 é um elemento paciente Na verdade o objeto direto de lavar está ocupando a posição inicial da frase tal como um sujeito faria Eu estou lavando a roupa seria uma versão mais padrão de 28 Finalmente os tópicos costumam receber um tratamento prosódico diferenciado Eles geral mente se encontram isolados do restante da frase por uma pausa entoacional Daí por que encontramos nas produções escritas de nossos alunos frequen temente uma vírgula separando o tópico do restante da frase 25 TóPicoEssa mesa cabe bastante gente 26 TóPico Essa janela aberta venta muito 27 TóPico Meu carro furou o pneu quando eu chegava ao campus 28 TóPico A roupa está lavando As construções de tópico são muito frequentes na fala vernacular bra sileira ainda que muito menos comuns na escrita padrão em PB TÓPICOS E TOPICALIZAÇÃO Uma estratégia de topicalização produtiva em português é aquela em que o sujeito gramatical desempenha a função discursiva de tópico da frase como vemos com os sintagmas destacados entre colchetes nos seguintes exemplos A O que o João fez B O João chutou o Pedro A Você sabe quem pegou o dinheiro que estava aqui B Eu Eu não sei Os elementos destacados entre colchetes nas respostas de B desempenham dupla função atuam tanto como sujeitos do verbo e como tópicos da frase uma função dupla na interface entre sintaxe e discurso De maneira geral os elementos topicalizados recebem uma posição de destaque na estrutura sintática da frase além de um realce em termos prosódicos como disse mos Outra construção de topicalização produtiva em PB é o simples deslo camento de constituintes da frase como vemos abaixo A Você tem visto o João B O João eu vi ele ontem mesmo no cinema A O que tem dentro desta gaveta B Nesta gaveta eu guardo todos os meus segredos 81 PARA CONHECER Sintaxe Finalmente há ainda construções em que o tópico aparece como sujeito de verbos em construções normalmente não aceitas pela Gramática Normativa Tradicional e atípicas no português europeu como vimos nos exemplos an teriores que ficaram fora desta caixa explicativa Os dois estudos pioneiros e acessíveis sobre tópicos em PB foram Pontes 1986 e 1987 Desde en tão obviamente a investigação linguística avançou muito no Brasil e por isso a literatura especializada é vasta Concluiremos este capítulo a seguir apresentando algumas críticas à NGB e ao ensino de Gramática Tradicional e taxonômica que era a regra nas escolas até alguns anos atrás 13 CRÍTICA Nas aulas de Sintaxe nas gramáticas e nos livros didáticos as fun ções sintáticas poderiam ser designadas por um inventário de termos muito mais simples do que o proposto pela NGB no ano de 1959 e até hoje em vigência Kenedy 2010 por exemplo propôs a redução das 11 funções e das 1 O subfunções preconizadas na NGB para um conjunto for mado por somente 4 termos sujeito predicado complemento e adjunto Tal proposta não eliminaria os detalhes das quase duas dúzias de termos preconizados pela NGB Os 4 termos propostos deverão receber subclas sificações de acordo com o nível de detalhes sintáticos e não semânti cos que se deseja empregar numa dada análise Com efeito as subclas sificações do sujeito em nulo ou preenchido do predicado em verbal não verbal ou misto do complemento em verbal ou não verbal e do adjunto em verbal ou não verbal não definem novas funções sintáticas mas antes apresentam características do núcleo do sujeito ou do núcleo do predicado e formulam especificações sobre o núcleo selecionador de argumentos ou de adjuntos 82 Funções sintáticas HIPERINFLAÇÃO TERMINOLÓGICA A NGB também peca ao conferir nomes extensos e de dificil memorização às funções sintáticas quando desempenhadas por orações e não por sintag mas não oracionais Neste livro fazemos referência a constituintes oracionais simplesmente como por exemplo objeto direto oracional complemento no minai oracional etc Na NGB infelizmente os termos não são tão simples as sim Note na tabela abaixo a inflação gerada com a adição de novos e com plexos nomes propostos na NGB para o período composto acerca de funções sintáticas que receberam uma nomenclatura específica no período simples Função sintática Quando oracional Sujeito Oração subordinada substantiva subjetiva desenvolvida ou reduzida de infinitivo gerúndio ou particípio Predicado Objeto direto Oração subordinada substantiva objetiva direta desenvolvida ou reduzida de infinitivo gerúndio ou particípio Objeto indireto Oração subordinada objetiva indireta desenvolvida ou reduzida de infinitivo gerúndio ou particípio Complemento nominal Oração subordinada substantiva completiva nominal desenvolvida ou reduzida de infinitivo gerúndio ou particípio Predicativo Oração subordinada substantiva predicativa desenvolvida ou reduzida de infinitivo gerúndio ou particípio Agente da passiva Oração subordinada substantiva agentiva desenvolvida ou reduzida de infinitivo gerúndio ou particípio Adjunto adverbial Oração subordinada adverbial e sua especificação semântica desenvolvida ou reduzida de infinitivo gerúndio ou particípio Adjunto adnominal Oração subordinada adjetiva restritiva desenvolvida ou reduzida de infinitivo gerúndio ou particípio Vocativo Oração subordinada vocativa Aposto Oração subordinada apositiva 83 PARA CONHECER Sintaxe Na verdade considerandose a árvore sintática apresentada no início deste capítulo reproduzida novamente a seguir o estudo integrado da no ção de constituinte e do conceito de função sintática parece se apresentar de forma espontânea Senão vejamos frase SN sv esp N v SN I I I leram os alunos SN SP r esp N p SN I I I I o livro de N I sintaxe A identificação do SN mais alto na estrutura da frase poderá ser as sociada de maneira sistemática à noção de sujeito sem que se faça qual quer apelo a entidades semânticas como ser que pratica ação coisa sobre a qual se fala indesejáveis no estudo do componente sintático da língua Da mesma forma a análise dos constituintes e das funções sintáticas internas a esse SN sujeito revelará com as noções de especifi cadoradjunto e núcleo do sujeito um padrão sintático que poderá ser en contrado em outros SNs presentes numa oração Por exemplo será fácil para o estudante identificar as relações de especificadoradjunto e núcleo do complemento no SN complemento de V o livro o qual se amplia pelo adjunto de sintaxe que também se presta para a análise da relação formafunção como núcleo do adjunto assumindo que preposições não desempenham funções sintáticas Do mesmo modo a noção de predicado poderá ser relacionada à identificação do SV de uma estrutura frasal o que dispensará o recurso a definições extrassintáticas como aquilo que se declara sobre o sujeito A identificação por exemplo numa árvore sintática da categoria mor 84 Funções sintáticas fossintática do núcleo predicado V N A ou P também tornará mais evidente a motivação para os subtipos de predicado Em suma o estudo da sintaxe conduzido de uma maneira científica em que se respeitem o princípio da parcimônia e a ordenação didática entre fenômenos primiti vos estrutura sintagmática e derivados função sintática poderá tornar na escola o aprendizado da teoria sintática uma atividade muito mais racional e agradável aos estudantes Esperamos que o capítulo tenha aberto a mente do leitor sobre a possibilidade de prosseguir com seus estudos sintáticos de base formal e descritiva A seguir deixamos algumas sugestões de leituras comple mentares que o leitor pode fazer para se aprofundar nos temas aborda dos no capítulo Leituras complementares Para se aprofundar na análise sintática dos termos da oração nada melhor do que ler e se familiarizar com uma boa gramática Entre as gra máticas mais tradicionais o leitor pode consultar por exemplo as gra máticas de Celso Pedro Luft Evanildo Bechara Rocha Lima ou Celso Cunha e Lindley Cintra Entre as gramáticas mais modernas há boas opções no mercado edi torial brasileiro como Azeredo 2008 Castilho 2010 Bagno 2011 Hauy 2014 e Perini 2016 Acreditamos que todo estudante de Letras ou de Linguística deveria ler integralmente pelo menos uma gramática norma tiva tradicional e uma gramática mais moderna Faça esse exercício depois de terminar a leitura deste livro Sobre a NGB e os estudos gramaticais brasileiros recomendamos Henriques 2009 e Kenedy 2010 Sobre temas específicos tratados no capítulo recomendamos as leituras sugeridas dentro das caixas explicati vas ao longo do capítulo 85 PARA CONHECER Sintaxe Exercícios 1 O que é a NGB Quando e por que ela foi criada 2 Efetue a análise sintática das seguintes frases identificando a função sintática dos agrupamentos destacados por colchetes a Derrubaram o muro ontem à noite b Por quem foram examinados aqueles candidatos ao mestrado c Quem não chora não mama d Muitos dos meus amigos moram em Porto Alegre e O João é um cara que não bebe f Não me agrada lembrar o passado g O avô do Pedro contou a seus netos suas peripécias de criança h O medo de avião do João me deixa irritado 3 Nas frases a seguir diga se os termos destacados são predicados verbais ou verbonominais ou se ambas as leituras são possíveis Utilize os testes de pronominalização e clivagem para corroborar suas escolhas a A Maria bebeu o café gelado b O Pedro chamou o João de idiota c Eu quero este carro veloz 4 Comente o seguinte trecho de Perini 1985 6 86 As falhas da Gramática Tradicional são em geral resumidas em três grandes pontos sua inconsistência teórica e falta de coerência interna seu caráter predominantemente normativo e o enfoque centrado em uma variedade da língua o dialeto padrão escrito com exclusão de todas as outras variantes ARTICULAÇÃO ENTRE ORAÇÕES Objetivos gerais do capítulo Noção de oração caracterizaremos oração como um nível de análise em Sintaxe e descreveremos as diferentes formas de um período com posto por pelo menos duas orações Tipos de articulação entre orações analisaremos orações articuladas por encaixamento por hipotaxe e por parataxe Casos complexos abordaremos fenômenos limítrofes entre as tra dicionais categorias de subordinação e coordenação bem como daremos atenção especial aos casos dos períodos mistos das orações correlatas e das orações desgarradas É importante lembrar que a leitura deste capítulo pressupõe o domínio dos conceitos explorados nos capítulos anteriores deste livro 87 PARA CONHECER Sintaxe 1 MÚLTIPLAS ORAÇÕES NO PERÍODO A principal propriedade da linguagem humana é a sua produtivi dade Qualquer língua natural seja aquela de tradição letrada milenar ou a ágrafa de povos caçadorescoletores é capaz de expressar todos os tipos de conceitos e proposições que tomam forma em nossos pen samentos Não há limite para o que podemos dizer ou compreender quando dominamos uma língua específica como o português a Libras ou o pirahã É isso o que os linguistas querem significar com o termo produtividade Tal propriedade distingue a espécie humana de todo o restante da natureza conhecida porque os sistemas de comunicação mais complexos encontrados entre os animais cognitivamente mais so fisticados como macacos vervet e golfinhos não são produtivos isto é tais sistemas de comunicação permitem a veiculação de apenas um número muito limitado de expressões como a indicação de perigo ou de fonte de alimento Ocorre que na verdade a produtividade é consequência de uma característica mais básica das línguas humanas a articulação As diferentes articulações da linguagem haviam sido apontadas já no final dos anos 1950 pelo célebre linguista francês An dré Martinet cf Martinet 1970 1960 Mas o que é articulação e como ela se dá entre unidades linguísticas Em todos os seus níveis estruturais uma língua natural é composta por unidades básicas que se articulam entre si para dar origem a unidades mais complexas em uma camada estruturalmente superior Por exemplo na fonologia fonemas se articulam de forma a construir sílabas As síla bas por sua vez são articuladas no nívellinguístico imediatamente supe rior a morfologia de modo a dar à luz unidades significativas os mor femas Por seu turno morfemas se articulam entre si e geram unidades superiores as palavras no nívellexical A articulação entre unidades linguísticas não se esgota com a estruturação do léxico Como estudamos no primeiro capítulo as palavras deixam o nível lexical e adentram no nível sintático quando se articulam e compõem um sintagma o qual uma vez constituído pode se combinar com outro a fim de estruturar um novo e mais complexo sintagma 88 Articulação entre orações Nem sempre uma unidade de nível estruturalmente superior é formada por duas unidades de um nível mais básico Com efeito há fonemas como as vogais em português que podem compor uma sílaba por si mesmos sem a obrigatoriedade de articulação com outro ex amor Também há casos em que um fonema coincide com a noção de morfema mas não com a de sílaba ex livros Além disso uma sílaba pode coincidir com a noção de morfema e de item lexical ex mar para saber mais a esse respeito veja os volumes Para conhecer morfologia e Para conhecer fonética e fonolo gia do português brasileiro desta coleção Um sintagma da mesma forma pode ser composto por apenas um item lexical ex casas bem como uma sentença inteira pode ser articulada por somente uma palavra foneticamente realizada num predicado com sujeito nulo ex 0 choveu como discutimos nos capítulos anteriores Os parágrafos de introdução deste capítulo apresentam portanto uma sim plificação didática Ainda no nível da sintaxe vimos no capítulo anterior que um SV predicado se articula a um SN sujeito numa estrutura de predicação particularmente importante para a análise linguística a oração Ora até o presente momento vínhamos dando ênfase às estruturas sintáticas do chamado período simples no âmbito do qual a noção de oração coincide com a de frase ou seja analisamos até aqui exemplos em que uma frase é composta por uma e somente uma oração Pois bem é hora de estendermos a complexidade de nossa análise aos diferentes tipos de pe ríodo composto Neles duas ou mais orações cada qual com sua própria predicação entre SV predicado e SN sujeito são articuladas entre si na estruturação de uma frase A articulação entre orações na composição do período é o nível mais complexo da análise sintática Acima do limite da sentença a articulação entre unidades linguísticas atinge o nível máximo da complexidade de uma língua natural e dá origem ao fenômeno do discurso Note no esquema a seguir como as unidades mais básicas à esquerda se articulam e vão dando origem a estruturas mais complexas à direita FONEMA SÍLABA MORFEMA PALAVRA SINTAGMA ORAÇÃO FRASE DISCURSO 89 PARA CONHECER Sintaxe Você certamente já estudou o tema da articulação entre orações duran te os anos de sua formação na educação básica Infelizmente por conta de nossa tradição gramatical normativa é provável que tenha aprendido noções simplificadas e descritivamente inadequadas acerca do chamado período composto Por exemplo nossas gramáticas tradicionais reduzem o fenô meno da articulação de orações à dicotomia subordinação versus coor denação e por isso você deve ter sido levado a acreditar que identificar e classificar orações subordinadas ou coordenadas era tudo o que se podia co nhecer sobre o assunto Na realidade o encaixamento entre orações nome ado tradicionalmente como subordinação ou a justaposição entre elas a chamada coordenação representam apenas os extremos de um continuum de relações sintáticas em que diversos tipos de articulação oracional podem acontecer numa língua Vejamos nas seções que seguem casos dessa rique za estrutural nem sempre adequadamente explorada por estudos de natureza normativa a começar pelo encaixamento entre as orações 2 ENCAIXAMENTO O encaixamento entre orações ocorre quando uma dada oração é um constituinte de outra Ou seja uma oração encaixada é parte da estru tura sintática daquela na qual se insere chamada oração matriz A ora ção encaixada desempenha uma função sintática com relação ao verbo da oração matriz Vejamos num exemplo como esse tipo de articulação oracional se dá 1 MATRiz Aquele sociólogo disse ENCAIXADA que a elite detestava o povo pobre Em 1 existem duas predicações mediadas por verbo la aquele sociólogo que é o sujeito e disse que a elíte detestava o povo pobre que é o predicado 2 a elite que é o sujeito e detestava o povo pobre que é o pre dicado Ora como cada predicação veiculada por um SV caracteriza uma oração logo estamos diante de duas orações articuladas entre si numa 90 Articulação entre orações mesma frase O interessante nessa estrutura sintática é o fato de a se gunda predicação acontecer no interior da primeira Com efeito a ora ção encaixada que a elite detestava o povo pobre é o complemento do núcleo do SV um objeto direto oracional portanto da oração matriz aquele sociólogo disse É justamente a seleção de um constituinte em forma de oração e não de um simples sintagma como um SN aquilo que confere mais complexidade estrutural ao período composto por en caixamento Vemos em 2a a seguir um SN encaixado complemento de V numa ilustração de um período simples Compare esse encaixe de sintagma com o de uma oração tal como o que se vê em 2b uma re presentação sintagmática mais detalhada do exemplo 1 2 a oRAçÃo sN Aquele sociólogo sv disse sN uma verdade incômo da b oRAçÃo MATRiz sN Aquele sociólogo sv disse oRAçÃo ENCAIXADA que sN a elite sv detestava sN o povo pobre Como exercício sugerimos que você represente a estrutura arbórea dessas duas frases tal como esboçamos anteriormente com os colchetes rotulados Se for preciso retorne aos capítulos anteriores para lembrarse como fazêlo No fenômeno da articulação entre orações um encaixamento sintático acontece portanto quando uma oração integra a estrutura sintagmá tica de outra Dizendo de outra maneira orações encaixadas inseremse no domínio de uma oração matriz na condição de um de seus constituintes seja como complemento seja como especificador seja como adjunto E por isso a oração encaixada desempenha uma função sintática de sujei to complemento verbal etc com relação à oração matriz em cuja estrutura se encontra encaixada Aliás é essa assimetria estrutural entre as duas ou mais orações articuladas num período que gramáticos de orientação nor mativa tradicional tentam capturar com os termos oração subordinada a encaixada e oração principal a matriz Você já deve ter lido algumas vezes a afirmação tradicional se gundo a qual uma oração subordinada é sempre dependente de sua principal De um ponto de vista estritamente sintático tal afirmativa não deve ser considerada incorreta afinal como acabamos de ver 91 PARA CONHECER Sintaxe uma encaixada é mesmo um constituinte da oração matriz sendolhe assim dependentesubordinada em termos sintáticoestruturais No en tanto alguns gramáticos ao empregarem a noção de dependência muitas vezes confundem análise sintática com análise semântico discursiva Uma oração principal diriam eles manifestaria o conteú do semântico ou proposicional mais importante da frase enquanto a subordinada veicularia significados dependentes daquele expres so na oração principal cf Bechara 2005 113 por exemplo Ora isso nem sempre é verdadeiro É possível que uma dada informação seja considerada a informação mais importante em termos discursivos e ao mesmo tempo esteja codificada sintaticamente numa oração encai xada Num exemplo extremo notemos que na frase aquele que mor reu foi aquele que esteve aqui ontem a oração matriz é a seguinte aquele foi aquele Isso mesmo Essa é a oração matriz que conta com duas outras orações subordinadas que morreu e que esteve aqui ontem Repare como não faz sentido imaginarmos que o conteúdo principal dessa frase esteja na oração matriz aquele foi aquele uma vez que o conteúdo informacional da sentença se encontra de fato nas duas subordinadas que morreu e que esteve aqui ontem Aqui obviamente ilustramos o ponto com um caso extremo mas vários ou tros exemplos podem ser verificados diariamente em produções espon tâneas pelos falantes da língua As lições que devemos depreender aqui são as seguintes i devemos evitar ao máximo possível fazer uso de explicações semânticas na descrição de fenômenos sintáticos e ii não podemos afirmar que uma oração subordinada é dependente de uma oração matriz em termos semânticodiscursivos essa dependência se dá apenas no nível da estrutura sintática Por conseguinte para analisarmos a articulação entre orações pa recenos mais acertado empregar somente termos descritivos da própria sintaxe abandonando as tradicionais explicações de natureza semântico discursiva dos gramáticos normativos Sendo assim poderíamos dizer acerca do referido exemplo que aquele foi aquele é a oração matriz dentro da qual as orações que morreu e que esteve aqui ontem estão en caixadas respectivamente como adjuntos dos SNs aquele e aquele 92 Articulação entre orações veremos detalhes sobre esse tipo de encaixamento em SN mais adiante ainda nesta seção Ao agir desse modo isto é ao usarmos apenas a meta linguagem da Sintaxe no estudo de fenômenos sintáticos estaríamos de um lado conferindo maior adequação descritiva a nosso trabalho como linguistas e de outro estaríamos sendo didaticamente mais precisos em nosso trabalho como professores Um único período pode conter em si mais de uma oração encaixa da Você deve se lembrar da noção de recursividade que estudamos an teriormente Em relação aos encaixamentos oracionais a recursividade nos indica que podemos ter numa mesma frase sucessivos encaixes de uma oração em outra isto é podemos ter num período uma oração encaixada dentro de outra oração encaixada dentro de outra oração en caixada dentro de outra oração encaixada numa sucessão de encaixes teoricamente ilimitada 3 MATRIZ 0 funcionário afirmOU ENCAIXADA que SeU chefe disse ENCAIXA DA que a aposentadoria será extinta Nesse exemplo encontramos três orações ou seja três estruturas de predicação mediadas por um SV la O funcionário que é o sujeito e afirmou que seu chefe disse que a aposentadoria será extinta que é o predicado 2a seu chefe que é sujeito e disse que a aposentadoria será extin ta que é o predicado 3a a aposentadoria que é o sujeito e será extinta que é o pre dicado Como exercício faça aestrutura em árvore da frase em 3 ficaadica você vai precisar de um espaço bem grande na folha de papel Você deve perceber que a oração matriz é a primeira dentro da qual a segunda está imediatamente encaixada como complemento do verbo afir mar ao passo que é no domínio da segunda oração que se encaixa a tercei ra o complemento do verbo dizer 93 PARA CONHECER Sintaxe Você conseguiria criar uma frase com quatro e outra com cinco orações encaixadas E com seis ou sete Qual é o limite de encaixadas que você consegue compreender O encaixamento de orações na articulação de um período pode darse em diversas posições sintáticas da oração matriz Nos exemplos anteriores as orações subordinadas se encaixam na matriz como complemento de V na função de objeto direto A seguir ilustramos o caso de encaixamento como objeto indireto em 4a como complemento nominal em 4b como predicativo do sujeito 4c e como sujeito em 4d Repare como todas es sas orações encaixadas podem desempenhar as mesmas funções sintáticas que já estudamos no capítulo anterior e que eram desempenhadas por sintagmas como o SN o SA e o SP 4 a Aquele político não gosta de que o chamem de conservador b O povo tem consciência de que o Brasil é um país muito desi gual c Meu maior desejo é que as coisas mudem para melhor d Que haja justiça é sempre desejável Em 4a a encaixada foi selecionada como complemento do verbo transitivo indireto gostar É por isso que a oração que o chamem de con servador é encaixada na matriz aquele político não gosta por entre meio da preposição de regida por V Tratase assim de um objeto indire to oracional Já em 4b a oração encaixada que o Brasil é um país muito desigual também foi selecionada como complemento de um núcleo pre sente na oração matriz Desta vez o núcleo selecionador é uma categoria não verbal o nome substantivo consciência e por isso temos o caso de um complemento não verbal ou em termos tradicionais um complemento no minal Note que aqui mais uma vez uma oração se encaixa na matriz por intermédio de uma preposição de mas não se trata de um objeto indireto porque a preposição no caso é regida pela categoria N e não V Vemos dessa forma o caso de um complemento nominal oracional 94 Articulação entre orações Na fala espontânea e nos registros menos formais da escrita é comum que preposições articuladoras de orações sejam omitidas ex aquele político não gosta o chamem de conservador o povo tem consciência o Brasil é um país muito desigual No entanto a omissão da preposição não altera o status sintático da oração encaixada Na frase ilustrada em 4c o sujeito meu maior desejo toma como predicativo uma oração inteira que as coisas mudem para melhor fato que caracteriza a ocorrência de um predicativo oracional Por último na frase em 4d encontramos o caso de um sujeito oracional A oração que haja justiça é encaixada em sua matriz na posição de sujeito do predica tivo SA presente no domínio SV nucleado por um verbo copulativo que haja justiça sv é 8A desejável SUJEITO ORACIONAL OU ORAÇÕES COMPLETIVAS Quando anteposto ao predicado um constituinte oracional como que haja justiça que ele seja candidato que todos façam a sua parte etc assume de fato as feições de um sujeito oracional Vemos isso nas frases que se seguem que haja justiça é sempre desejável que ele seja candidato é improvável que todos façam a sua parte é necessário Entretanto em extraposição isto é quando localizadas ao fim da frase tais orações encaixadas se assemelham mais intuitivamente a complemen tos nominais tal como se ilustra abaixo é sempre desejável que haja justiça é improvável que ele seja candidato é necessário que todos façam a sua parte 95 PARA CONHECER Sintaxe Nesse caso em português para que essas encaixadas possam ser analisadas como complemento de A o adjetivo o sujeito na respectiva oração matriz deverá ser analisado como um expletivo nulo 0 à semelhança do que ocor re em inglês com pronomes expletivos foneticamente realizados tal como em it is important to take care o f the elders traduzível como 0 é impor tante que cuidemos dos idosos Nessa frase it é o sujeito expletivo do pre dicado is important to take care ofthe elders enquanto to take care ofthe elders é complemento do núcleo A important Logo em português parece possível assumir uma análise semelhante em que o sujeito de é importante que cuidemos dos idosos seja o expletivo nulo 0 ao passo que que cuide mos dos idosos seria encaixado como complemento nominal oracional e não como o próprio sujeito da oração matriz conforme a seguir 0 é sempre desejável que haja justiça 0 é improvável que ele seja candidato 0 é necessário que todos façam a sua parte Essa análise se tornaria ainda mais coerente quando fizéssemos a oposição entre pares de sentença como que haja justiça é o desejável versus que haja justiça é desejável Nesses casos gramáticos tradicionais afirmam que o desejável deve ser o sujeito da oração matriz por se tratar de um SN enquanto desejável seria o predicado da matriz já que se trata de um SA Ora vimos no capítulo anterior que diversos tipos de sintagma podem desempenhar a função de predicativo inclusive um SN É por essa razão que uma análise não tradicional desses períodos pode ganhar em adequação descritiva ao assumir que tanto o desejável quanto desejável sejam am bos predicativos de um sujeito expletivo 0 Você deve ter percebido que em todos os exemplos até aqui apresen tados ilustramos casos de orações encaixadas ou como complemento ob jeto direto objeto indireto complemento nominal ou como especificador sujeito predicativo de um núcleo lexical presente na matriz Orações en caixadas como complementos ou como especificadores são denominadas tradicionalmente de orações substantivas Com esse termo o que se quer dizer é que tais orações encaixadas são selecionadas como argumento de um núcleo N V ou A existente no domínio da matriz Um tipo diferente de encaixamento entre orações ocorre quando a subordinada é encaixada como adjunto de um SN localizado no interior da oração matriz Orações adjungidas a SN são denominadas orações rela 96 Articulação entre orações tivas ou mais tradicionalmente orações adjetivas restritivas Em língua portuguesa uma oração relativa sempre se encaixa à direita do SN ao qual impõe uma modificação adnominal É isso o que vemos a seguir 5 MATRiz 8N O livro ENCAIXADA que o professor indicou é mesmo muito interessante O SN o livro é o sujeito da oração matriz cujo predicado é é mesmo muito interessante No domínio desse SN a oração relativa que o professor indicou foi encaixada como adjunto Note que o N livro não possui a pro priedade de selecionar argumentos logo a ele não seria relacionada uma oração substantiva como uma completiva nominal É por essa razão que as encaixa das relativas se caracterizam como adjuntos e não como argumentos oracionais Repare que essa discussão não deixa de ser um reflexo da que apresentamos no capítulo anterior quando estudamos as funções sintáticas A diferença aqui é que as funções sintáticas são desempenhadas por orações e não por sintagmas simples Uma relativa em português pode ser encaixada em um SN que se en contre em qualquer posição sintática no interior da oração matriz Em 5 a oração foi encaixada em um SN que desempenha a função de sujeito na oração matriz Já em 6 a seguir a relativa se encaixa num SN em posição de objeto direto na matriz 6 MATRiz Os alunos leram 8N os textos ENCAIXADA que o professor reco mendou Relativas como aquela no exemplo 5 ilustram um encaixamento cen tral Nesses casos a encaixada se insere no meio de sua oração matriz di vidindoa em duas partes descontínuas conforme se vê no exemplo o livro é mesmo muito interessante Já em 6 temos um caso de encaixamen to final a relativa se posicionada à direita da oração matriz adjungindose a um SN posicionado ao seu fim Essa distinção entre encaixe central ou final de uma relativa é relevante para os casos de encaixamentos recursivos Note a seguir que múltiplos encaixamentos finais de uma relativa não provocam dificuldade na compreensão das frases tal como se ilustra no célebre poema de Carlos Drummond de Andrade citado parcialmente em 7a 97 PARA CONHECER Sintaxe 7 a MATRiz João amava 8N Teresa ENCAIXADA que amava 8N Raimun do ENCAIXADA que amava 8N Maria ENCAIXADA que amava 8N Joa quim ENCAixADA que amava 8N Lili ENCAIXADA que não amava nin guém Como exercício faça a estrutura em árvore dessa frase ficaadica você vai precisar de um espaço bem grande na folha de papel Por contraste relativas de encaixe recursivo central impõem dificulda des de interpretação já no segundo encaixe como acontece em 7b e tor namse praticamente ininterpretáveis do terceiro encaixe em diante como é o caso de 7c Essa dificuldade de compreensão decorre das limitações da memória humana que enfrenta problemas no processamento psicolinguísti co das estruturas descontínuas produzidas por múltiplos encaixes centrais muito embora relativas como 7b e 7c sejam perfeitamente gramaticais Não é por outra razão que relativas de encaixe central recursivo são raras na produção linguística espontânea 7 b MATRIZ SN 0 ratO ENCAIXADA que SN O gatO ENCAIXADA que SN O Ca chOrrO espantou perseguia fugiu C MATRIZ SN 0 ratO ENCAIXADA que SN O gatO ENCAIXADA que SN O CaChOlTO ENCAIXADA que o menino espantou mordeu perseguia fugiu SN Para facilitar a sua leitura eis aqui as mesmas frases sem os colchetes eti quetados 7b O rato que o gato que o cachono espantou perseguia fugiu 7 c O rato que o gato que o cachorro que o menino espantou mordeu per seguia fugiu E para facilitar a compreensão dessas frases visualizeas assim 7b O rato fugiu 7c O rato 98 que o gato que o cachorro espantou que o gato perseguia fugiu perseguia que o cachono mordeu que o menino espantou Articulação entre orações Em 7a a predicação entre o sujeito João e o predicado amava Tereza é saturada localmente na oração matriz Já em 7b e 7c a saturação ocorre à longa distância pois no primeiro caso o sujeito da matriz o rato está separado de seu predicado fugiu por duas orações encaixadas enquanto no segundo caso três relativas separam o sujeito e o predicado da oração matriz além disso a predicação existente den tro das próprias relativas de encaixe central não se satura localmente visto que o gato e perseguia em 7b e o cachorro e mordeu em 7c encontramse descontínuos em virtude do encaixamento de outras orações relativas centrais que os separam tal como tentamos mostrar visualmente no box anterior DISTÂNCIA LINEAR VERSUS DISTÂNCIA ESTRUTURAL As orações com encaixamento central podem ilustrar bem o ponto en tre distância linear e distância estrutural O caráter linear do signo lin guístico cf Saussure 1997 1916 é uma contingência natural dadas as limitações do nosso aparelho fonador e auditivo temos de emitir sons numa sequência linear item por item formando uma cadeia tal como mostramos na escala que começou com os fonemas e foi até o discurso no início deste capítulo O processamento sintático contudo não trabalha apenas com a noção de linearidade mas antes com a noção de estrutura É como diz uma máxima muito conhecida entre sintaticistas experimentais ver próximo capítulo falamos linearmente mas interpretamos incrementalmente Repare como uma frase com duas orações encaixadas por encaixamento central como 1 é muito mais difícil de ser interpretada do que uma frase muito mais longa que tem apenas um encaixamento desse tipo como 2 1 O rato que o gato que o cachorro espantou perseguia fugiu 2 O rato que meu amigo tinha comprado numa feira de animais domésti cos peculiares no centro de Porto Alegre fugiu Em 1 o núcleo do SN sujeito rato está linearmente muito mais próximo de seu verbo fugiu do que em 2 em 1 há 8 palavras entre rato e fugiu ao passo que em 2 há 15 palavras Contudo a frase 2 é muito mais facilmente interpretada Isso acontece porque 2 é estruturalmente mais simples do que 1 como podemos ver com os colchetes rotulados faça as árvores das duas frases para ver isso de modo ainda mais claro 99 PARA CONHECER Sintaxe 1 MATRIZ SN 0 rato ENCAIXADA que SN 0 gatO ENCAIXADA que SN 0 CaChOrrO espantou perseguia fugiu 2 MATRIZ sN O rato ENCAIXADA que meu amigo tinha comprado numa feira de animais domésticos peculiares no centro de Porto Alegre fugiu Uma boa discussão sobre o assunto aparece no documentário francês bas tante peculiar de Michel Gondry sobre Noam Chomsky Is the Man Who Is Tal Happy de 2013 Por fim as orações relativas podem ser encaixadas em SNs nulos isto é SN s presentes na oração matriz que não manifestam nenhum conteúdo fonético um conjunto vazio Vemos isso em 8 a seguir 8 MATRIZ Aquela pessoa só namora 8N 0 ENCAIXADA quem não presta Orações encaixadas em SN s nulos são chamadas de relativas livres ou relativas sem núcleo Note que no exemplo anterior a relativa quem não presta não está contígua a nenhum SN visível Nessa relativa livre não se pode utilizar o item que pois isso provocaria agramaticalidade na frase conforme se atesta em 9a A utilização do que no lugar de quem em casos assim forçaria a ocorrência de uma relativa com SN ex plícito tal como se dá em 9b 9 a MATRrzAquela pessoa só namora 8N 0 ENcAIXADA que não presta b MATRiz Aquela pessoa só namora 8N gente ENCAIXADA que não presta Constituintes como o a aquele aquela e seus respectivos plurais podem figurar no interior de um SN como especificadores de N como acontece em 9 e nos exemplos anteriores Além disso é também possível que esses itens configurem um SN unitário assumindo eles pró prios a posição do núcleo N É isso o que se ilustra a seguir 1 O a MATRiz sN O ENCAIXADA que você disse não está correto b MATRiz sN Aquele ENCAIXADA que morreu foi sN aquele ENCAIXADA que esteve aqui ontem Em lOa o é o núcleo do sujeito do predicado não está correto da oração matriz Esse SN é modificado pelo encaixamento da relativa que você disse Na frase lüb por usa vez representamos um exem 100 Articulação entre orações plo anteriormente citado uma oração matriz composta pelo sujeito SN aquele e pelo predicado foi aquele Nessa frase ambos os SNs são compostos por seu núcleo pronominal e sofrem o encaixamento de uma oração relativa Tais casos portanto não configuram exemplos de rela tivas livres já que neles o respectivo SN na oração matriz não é vazio mas sim constituído por um núcleo pronominal demonstrativo os pro nomes o aquele ou suas flexões QUESTÕES DE NOMENCLATURA li Frase nominal frase sem verbo Frase verbal frase com pelo menos um SV Oração predicação entre um SV predicado e um SN sujeito Período simples frase verbal com somente uma oração Período composto frase verbal com mais de uma oração Período sinônimo de frase verbal Sentença sinônimo de frase verbal Cláusula sinônimo de oração Orações substantivas orações encaixadas como argumento Orações adjetivas orações encaixadas como adjuntos de SN Orações adverbiais orações hipotáticas com função de adjunto adverbial Orações adjetivas explicativas orações hipotáticas com função de aposto a um SN Orações coordenadas orações paratáticas 21 Conectivos subordinativos Na articulação entre uma oração encaixada e a sua respectiva ma triz é comum que um conectivo demarque a posição sintática em que o encaixamento entre ambas as orações acontece Por exemplo a cone xão entre uma substantiva e a sua matriz pode ser explicitada por um complementador também chamado complementizador que se rea liza como o conectivo que ou o se a depender da força ilocucionária da oração encaixada se declarativa como em lla ou interrogativa como em llb 11 a O cidadão disse que o povo votará nos melhores candidatos b O cidadão perguntou se o povo votará nos melhores candidatos 101 PARA CONHECER Sintaxe Repare como as frases em 11 ficariam malformadas se usássemos os co nectivos de maneira inversa 11 a O cidadão disse se o povo votará nos melhores candidatos b O cidadão perguntou o povo votará nos melhores candidatos Isso quer dizer que usamos o complementador que em frases declarativas e o se em interrogativas diretas ou indiretas Veja o contraste entre estas duas frases A Maria perguntou se o João estava em casa x A Maria perguntou que o João estava em casa Já nas orações relativas o conectivo que liga a encaixada à matriz é um pronome relativo Esse conectivo pode ser realizado de diferentes formas tais como que o qual e flexões os quais a qual as quais quem onde ou cujo Vejamos a seguir exemplos de cada um desses empregos 12 a Os alunos assistiram asN o filme que ganhou prêmios interna cionais b Todos leram sN o livro do qual os conservadores sempre falam mal c sN A professora com quem estudei Sintaxe era muito compe tente d Meu pai foi visitar sN a cidade onde ele nasceu e O povo votou nsN o candidato cujo partido havia se destacado Nas frases em 11 e 12 um conectivo delimita obrigatoriamente a fronteira entre a oração matriz e a encaixada A ausência do complementa dor nas substantivas e do pronome nas relativas provoca a agramaticali dade da frase conforme verificamos nas sentenças em 13 13 a O cidadão disse o povo votará nos melhores candidatos b O cidadão perguntou o povo votará nos melhores candidatos c Os alunos assistiram asN o filme ganhou prêmios internacio nais d Todos leram sN o livro de os conservadores sempre falam mal e sN A professora com estudei Sintaxe era muito competente f Meu pai foi visitar sN a cidade ele nasceu g O povo votou nsN o candidato partido havia se destacado 102 Articulação entre orações ORAÇÕES DESENVOLVIDAS Quando uma oração encaixada é introduzida por um conectivo qualquer uma correlação morfossintática interessante acontece o verbo da oração subordinada será flexionado em alguma forma finita Ou seja quando substantivas e relativas são ligadas à matriz por meio de um conectivo o verbo da encaixada assumirá marcas específicas de tempo modo as pecto número e pessoa Orações subordinadas que apresentem verbos flexionados plenos são tradicionalmente classificadas como orações de senvolvidas Por contraste as orações que se encaixam diretamente na matriz sem qualquer conectivo explícito não apresentam verbos desen volvidos são os casos das orações reduzidas que analisaremos mais à frente neste capítulo Conectivos subordinativos são em vista desses exemplos verdadeiros elos coesivos utilizados na articulação do período composto Mas quais se riam as diferenças existentes entre complementadores e pronomes relativos Complementadores são simples introdutores de oração substantiva Eles não desempenham qualquer outro papel estrutural no interior da ora ção matriz ou da oração encaixada Sua única função na articulação entre orações é demarcar a fronteira entre a matriz e a encaixada Observe a estrutura sintagmática da encaixada substantiva que se segue e você verá que todas as posições sintáticas em toda a extensão do período estão pre enchidas por algum constituinte e nenhum deles faz qualquer referência ao complementador que 14 MATRIZ sujeito O cidadão predicado disse ENCAIXADA que sujeito 0 povo predicado votará objto indireto nos melhores candidatos Por sua vez pronomes relativos são verdadeiros operadores mor fossintáticos na articulação entre orações Eles estabelecem vínculo gra matical explícito entre de um lado um SN presente no domínio da oração matriz e de outro uma lacuna isto é uma posição sintática não preen chida por algum constituinte foneticamente realizado existente na oração encaixada Na frase seguinte podemos observar que o pronome que vin cula o SN da oração matriz o candidato à lacuna presente na posição de complemento do verbo escolheu da encaixada 103 PARA CONHECER Sintaxe 15 O candidato ENcAIXADA que 1 o povo d d escolheu MATRIZ suJeito sujei o pre 1ca o lacuna predicado venceu objeto direto as eleições Faça um contraste entre as sentenças 14 e 15 e você perceberá que na substantiva em 14 não há nenhuma lacuna enquanto na relativa em 15 o objeto direto da encaixada não foi manifestado por nenhum item lexi cal Com efeito é na posição de complemento de V no domínio da relativa que localizamos uma lacuna Nessa frase tal lacuna deve ser associada ao SN da oração matriz que sofre o encaixamento da relativa de modo que o candidato seja identificado como o referente do objeto do verbo escolheu Ora essa associação é levada a cabo justamente pelo pronome relativo que Você deve perceber que a lacuna existente numa oração relativa é uma categoria a ser ligada a um referente na oração matriz Portanto não deve haver confusão entre esse tipo de constituinte e os sintagmas nulos 0 como sujeitos ou objetos ocultos que ocorrem no período simples e podem ser empregados em orações substantivas ou em qualquer tipo de sentença complexa No exemplo seguinte o sujeito da encaixada substantiva é nulo oculto portanto não ocorre o tipo de lacuna que descrevemos acerca das encaixadas relativas Note que o sujeito da encaixada é coneferente ao da matriz ou seja se referem à mesma entidade daí o pronome 0 que po deria ser nonnalmente substituído por ele MATRIZ sujeito 0 cidadão predicado disse ENCAIXADA sujeito 0 predicado VOtará b d nos melhores candidatos o 1eto In treto Na ilustração a seguir indicamos a maneira pela qual o conectivo que vincula o SN no domínio da matriz à lacuna representada com um traço no interior da oração encaixada 16 sN O candidato que o povo escolheu venceu as eleições t t t Os conectivos em orações relativas caracterizamse poanto como elementos anafóricos pois retomam um referente já mencionado na frase e também como catafóricos já que se ligam a uma posição posterior no enunciado A seguir apresentamos uma representação abstrata da anáfora e da catáfora que pronomes relativos simultaneamente produzem na articu lação entre orações Chamamos a sua atenção para o próprio termo relati vo que evidencia a natureza relacional desse tipo de pronome 104 Articulação entre orações SN da oração matliz pronome relativo lacuna dentro da encaixada anáfora catáfora Na condição de elemento anafórico um pronome relativo incorpora os mesmos traços gramaticais manifestados pelo SN da oração matriz ao qual se refere Por exemplo na frase 12b ilustrada mais anteriormente Todos leram o livro do qual os conservadores sempre falam mal o pronome o qual assume os traços de gênero e de número masculino singular pre sentes no SN o livro Da mesma forma em 12c A professora com quem estudei Sintaxe era muito competente o pronome quem é marcado com o traço humano presente em seu referente a professora assim como em 12d o relativo onde assume o traço locativo manifestado no SN da matriz a cidade Meu pai foi visitar a cidade onde ele nasceu Na fala espontânea e na escrita menos formal o pronome onde é frequente mente empregado com valor de relativo locativo figurado e não de espaço físico concreto Por exemplo a noite onde te conheci relacionamento onde só há interesse financeiro época onde eu era feliz e não sabia Para saber mais sobre esse tema veja Oliveira 1998 e Zilles e Kersch 2015 Já como elemento catafórico um pronome relativo vincula seu refe rente a uma dada lacuna no domínio da encaixada Tomando os mesmos exemplos recémcitados poderemos ver que em 12b a lacuna encontrase na posição de objeto indireto falam mal do qual Em 12c a relativa eu cabeçada pelo pronome quem faz referência na encaixada a uma lacuna sintática em posição de adjunto adverbial estudei Sintaxe com quem N es ses exemplos tanto o qual quanto quem são precedidos de uma pre posição tratase das relativas preposicionadas sobre esse tipo de relativas ver o quadro a seguir Na frase 12d o relativo onde relacionase à lacuna em posição de adjunto adverbial ele nasceu onde Por fim na sentença 12e O povo votot no candidato cujo partido havia se destacado o prono me cujo alude na relativa à lacuna em posição de adjunto adnominal par tido cujo isto é partido dele seu partido Ora como um pronome relativo é um agente duplo anáfora e catáfora nele se unem de modo que os falantes do português em relação aos exemplos citados sempre interpretarão 12b como falam mal do livro 12c como estudei com a professora 12d como nas ceu na cidade e 12e como o partido do candidato 105 PARA CONHECER Sintaxe Articulação entre orações COMO REALMENTE FALAMOS RELATIVAS FORA DO PADRÃO NORMATIVO Na fala espontânea do português brasileiro é comum que na articulação de orações relativas preposicionadas um elemento P seja omitido e o introdu tor da encaixada seja o conectivo que A professora J1f eu estudei Sintaxe era muito competente Todos leram o livro J1f os conservadores falam mal Essas relativas em decorrência do corte da preposição são denominadas relativas cortadoras Por sua vez exceto na escrita e na fala mais formais o pronome cujo é de emprego raríssimo em nossa língua Normalmente esse elemento é substi tuído na fala vernacular pelo conectivo que em relativas que não explici tam lexicalmente a relação de posse genitiva entre o SN relativizado e a expressão nominal dentro da relativa O povo votou no candidato que o partido havia se destacado Relativas como essa são denominadas relativas cortadoras genitivas A relação genitiva de uma relativa mediada por que pode ser evidenciada por meio do emprego de um pronome copiador ou resumptivo isto é um pronome que copia os traços de gênero e de número do núcleo do SN relativizado O povo pobre votou no candidato J1f o partido dele era socialista Nesse caso estamos diante de relativas copiadoras genitivas ou relativas resumptivas genitivas Também nas relativas preposicionadas um elemen to que pode introduzir uma expressão copiadora como acontece em A professora que eu estudei Sintaxe com ela era muito competente Todos leram o livro J1f os conservadores falam mal dele Nessas relativas a preposição ocorre ao meio ou ao fim da relativa nunca ao início e é sucedida por um pronome copiadorresumptivo Tais orações denominamse relativas copiadoras ou relativas resumptivas Em rela tivas copiadorasresumptivas não ocorre lacuna pois a posição sintática associada ao pronome relativo será ocupada justamente por um pronome copiadorresumptivo como ele ela e flexões Para saber mais sobre o assunto consulte especialmente Tarallo 1983 Corrêa 1998 Kenedy 2003 2007 e Kato 2018 106 22 Encaixadas reduzidas A articulação entre uma oração encaixada e a sua matriz nem sempre é mediada por um conectivo Na língua portuguesa é também possível que uma oração subordinada se encaixe diretamente em sua matriz Quando isso acontece dizemos estar diante de encaixadas reduzidas Vejamos dois exemplos desse tipo de conexão entre orações 17 a MATRiz Aquele juiz rico alegou ENCAIXADA precisar de auxílio moradia b MATRiz A polícia observou sN os alunos ENCAIXADA protestando na praça Em 17a estamos diante de uma oração substantiva Note que a en caixada precisar de auxíliomoradia é complemento do verbo alegou núcleo do predicado da oração matriz Já na frase 17b temos o caso de uma relativa pois a encaixada protestando na praça foi adjungida ao SN da matriz os alunos O interessante nesses exemplos é que ambas as en caixadas foram imediatamente articuladas à sua matriz sem a interveniên cia de qualquer conectivo Tratase dessa maneira de encaixamentos de orações reduzidas A ausência de conectivo não é no entanto a única característica estrutural de uma encaixada reduzida Além dessa característica o verbo presente no interior dessas orações apresenta uma particularidade morfo lógica ele não manifesta marcas de tempo presente passado ou futuro ou de pessoa gramatical primeira segunda ou terceira do singular ou do plural com uma exceção interessante que veremos a seguir Isto é os verbos das orações encaixadas reduzidas por oposição aos verbos das orações matrizes e das encaixadas desenvolvidas não manifestam flexão e se apresentam em forma infinita Uma forma verbal infinita caracte rizase justamente pela falta de expressão de algum tempo específico Note que no exemplo 17a o verbo da oração matriz alegou encontra se flexionado no pretérito perfeito do indicativo e faz concordância na terceira pessoa do singular com o seu sujeito aquele juiz rico Portanto alegou é uma forma finita Já o verbo da substantiva encaixada nes se mesmo exemplo encontrase em uma forma infinita precisar Tal 107 PARA CONHECER Sintaxe forma não manifesta marcas morfológicas de nenhum tempo específico presente passado ou futuro O mesmo se passa com o exemplo 17b o verbo da matriz é observou que expressa o pretérito perfeito do in dicativo e a concordância númeropessoal com o seu sujeito ao passo que na relativa encaixada o verbo protestando não assume nenhuma morfologia temporal ou pessoal específica As formas infinitas verbais são também denominadas formas nomi nais do verbo Essas formas recebem esse nome porque desprovidos da flexão morfossintática tipicamente verbal assumem características lin guísticas de algum elemento de natureza não verbal como N ADV ou A Você deve lembrar de suas lições da gramática tradicional que são três as formas nominais em português infinitivo getúndio e particípio Vejamos a seguir como se definem cada uma dessas categorias em breves termos morfológicos e semânticos para que logo em seguida analisemos de que maneira orações reduzidas dessas três classes compõem tipos particulares de período composto LOCUÇÕES VERBAIS li Locuções verbais quase sempre apresentam um verbo auxiliar aux ple namente flexionado e um verbo principal pri em alguma forma nominal Portanto orações subordinadas em que ocorra esse tipo de articulação ver bal entre aux e pri não caracterizam casos de encaixadas reduzidas Nos exemplos a seguir o verbo auxiliar caracteriza juntamente ao conectivo subordinativo uma oração desenvolvida MATRiz O juiz alegou ENCAIXADA que vai precisar de auxílio moradia MATRIZ A polícia observou 8N os alunos ENCAIXADA que estavam protestando na praça Compare com as construções abaixo sem o conectivo MATRIZ O juiz alegou ENCAIXADA ir precisar de auxílio moradia MATRiz A polícia observou 8N os alunos ENcAIXADA estar em protestando na praça O infinitivo é didaticamente conhecido como o nome do verbo De fato essa é a forma nominal escolhida quase universalmente como entra da de dicionário para verbos Se durante a leitura de um romance você se deparar com um item desconhecido como resfolegavam deverá procurar 108 Articulação entre orações num dicionário pela forma resfolegar e não resfolegava resfolegaria res folegaram etc isto é deve procurar pelo infinitivo do verbo em questão Tratase da forma básica e não marcada de um verbo qualquer curiosida de nos dicionários de latim as entradas para os verbos apresentam a forma verbal flexionada na primeira pessoa do singular no tempo presente Mor fologicamente o infinitivo caracterizase pela terminação r justaposta à base lexical do verbo estudar combater resistir Em termos semânticos o infinitivo expressa a noção aspectual de ação fora do tempo infinita justa mente O infinitivo é a forma nominal que se assemelha às características morfossintáticas da categoria N e realmente expressões como sala de es tar e aparelho de jantar são muitas vezes percebidas intuitivamente como SNs simples e não como SNs modificados por orações reduzidas Nas sentenças que se seguem os verbos das orações encaixadas encontramse em forma nominal infinitiva 18 a MATRIZ Nós vimos ENCAIXADA o Brasil mudar naqueles tempos b MATRiz Procuro 8N um livro ENCAIXADA para ler no fim de semana Em 18a temos o caso de uma oração substantiva reduzida de infinitivo A encaixada o Brasil mudar naqueles tempos articulase dire tamente à sua matriz sem auxílio de conectivo e manifesta sua categoria V em forma nominal no caso em infinitivo mudar Por sua vez na sentença 18b ocorre o encaixamento de uma oração relativa reduzida de infinitivo Aqui o SN um livro presente na matriz é modificado pela relativa preposicionada para ler no fim de semana O verbo dessa encai xada encontrase em forma infinitiva ler Talvez você já siba que em língua portuguesa o infinitivo encerra uma característica morfossintática peculiar ele pode expressar concordân cia de pessoa e de número com o seu sujeito Como bem dizem os gra máticos tradicionais o infinitivo em português pode ser pessoal isto é com marca específica de pessoa e número gramaticais ou impessoaluni pessoal sem marca específica na terceira do singular forma básica não marcada Em 19a a substantiva reduzida não faz concordância com seu sujeito plural e assim temos um infinitivo não flexionado ao contrário do que vemos em 19b em que ocorre um infinitivo flexionado 109 PARA CONHECER Sintaxe 19 a MATRIZ Eu vi ENCAIXADA os meninos defender seu professor b MATRIZ Eu vi ENCAIXADA os meninos defenderem seu professor Tratase de uma propriedade interessante porque conforme vimos formas infinitas normalmente não manifestam modulações morfológicas Logo um infinitivo flexionado parece uma noção linguística autocon traditória No entanto tal excentricidade do português não invalida o em prego do termo infinitivo para qualificar certos tipos de articulação entre orações afinal pelo menos em relação à expressão do tempo essa forma nominal não se flexiona Sua flexão ocorre como dissemos somente para traços de número e pessoa O gerúndio é a forma nominal de um verbo caracterizada pela terminação morfológica ndo estudando combatendo resistindo A literatura gramatical tradicional nos ensina que essa forma infinita assume características morfossintáticas da categoria ADV em virtu de de veicular uma ação em processo isto é o gerúndio expressa semanticamente um processo verbal em pleno desenvolvimento Na sentença 20 encontramos um exemplo de oração relativa reduzida de gerúndio 20 MATRiz A polícia observou sN os alunos ENCAIXADA protestando na pra ça 110 Articulação entre orações INFINITIVO FLEXIONADO As poucas línguas em que o fenômeno do infinitivo pessoal já foi catalogado por linguistas são em ordem alfabética abaza abkhaziano adygheano astu riano galego húngaro karbardiano leonês mirandês português sardenho e siciliano No mapa abaixo podemos ter uma dimensão de quão diminuto é esse tipo de estrutura morfossintática entre as línguas humanas As marcas mais escuras indicam as regiões do planeta em que alguma língua com infi nitivo flexionado é falada Fonte linguisticmapstumblrcom Nessa oração encaixada a categoria V se expressa na forma de ge rúndio protestando Note que apesar da ausência de um conectivo a relação anafórica entre a lacuna no interior da relativa e o seu referente na matriz se dá à semelhança do que ocorre nas orações desenvolvidas Aqui o sujeito do verbo protestando é uma lacuna que deve ser interpretada em correferência com o SN os alunos que sofre a relativização Na oração matriz esse SN ocupa a posição de complemento verbal Você certamen te identificará nesse exemplo o valor adverbial comumente associado ao gerúndio O verbo protestar nessa forma nominal de fato assume caracte rísticas de um elemento circunstancial 111 PARA CONHECER Sintaxe Em nossa experiência como professores de Sintaxe encontramos com re corrência estudantes que identificam relativas reduzidas de gerúndio ina dequadamente como orações adverbiais Tal equívoco comum é motivado pela natureza adverbial do gerúndio de uma forma geral Nesses casos re corremos ao artifício tradicional de cotejar uma relativa reduzida com a sua contraparte desenvolvida Ex A polícia observou sN os manifestantes oRAçÃo protestando na praça versus A polícia observou sN os manifestantes oRAçÃo que protestavam na praça Tratase de um recurso didático que pode ser útil na identificação de rela tivas gerundivas Por fim o particípio é a forma nominal de V que assume proprie dades morfossintáticas da categoria não verbal de adjetivo como por exemplo a concordância de gênero masculino ou feminino e de número singular plural com o seu referente Particípios são formas infinitas que manifestam o aspecto semântico do perfectivo isto é exprimem uma ação já desenvolvida e concluída no tempo Morfologicamente o particípio é marcado pela terminação regular ado ou ido e suas respectivas flexões nominais de gênero e número estudado estudada estudados estudadas combatido combatida combatidos combatidas resistido resistida resistidos resistidas Em formas irregulares os par ticípios são majoritariamente marcados com to ou so como em dito feito escrito preso submerso suspenso e suas flexões de gênero e número No exemplo a seguir há um caso de uma oração relativa re duzida de particípio 21 MATRiz A mídia elogiou sN o economista ENCAIXADA enviado do exte rior Você deve perceber que o predicado da oração encaixada manifesta em seu núcleo V participial os traços masculino e singular em concordân cia com o SN que sofre o encaixamento da relativa Q economista No caso se tal SN manifestasse os traços feminino eou plural o particípio da encaixada copiaria esses mesmos traços sN os economistas ENCAIXADA 112 Articulação entre orações enviados do exterior sN ªeconomista ENCAIXADA enviada do exterior sN as economistas ENCAIXADA enviadas do exterior É impmiante que você fique atento à natureza adjetivai das relativas reduzidas de particípio Muitas vezes podemos deixar de perceber que nesses tipos de construção sintática ocorre um período articulado por uma encaixada reduzida afinal expressões como trabalho feito aula dada mis são cumprida etc se parecem com SNs simples modificados por um SA adjunto No caso o adjunto é uma oração inteira cujo verbo assume uma forma nominal semelhante à categoria A 3 HIPOTAXE Em comparação às estruturas encaixadas as orações vinculadas por hipotaxe apresentam grau inferior de articulação sintática O encaixamento de orações conforme vimos ocorre de maneira rígida e sistemática De fato as substantivas se caracterizam como um encaixamento de efeito pu ramente sintático dado que compreendem argumentos oracionais Ora ções relativas por seu turno são encaixadas de efeito sintáticosemânti co uma vez que se adjungem numa matriz sempre à direita de um SN que deve sofrer modificação referencial restritiva Com as orações hipotáticas temos um fenômeno linguístico diferente Tratase de uma articulação de efeito sintáticodiscursivo 22 HIPOTÁrrcA Se você leu o livro MATRiz o conteúdo da avaliação pare cerá fácil Em 22 podemos identificar que cada oração possui a sua pró pria estrutura de predicação caracterizando assim um caso de período composto Na hipotática o SN você é o sujeito do predicado verbal presente no SV leu o livro enquanto na matriz o predicado nominal no SV parecerá fácil seleciona como sujeito o SN o conteúdo da ava liação Como se pode ver uma hipotática assim como as encaixadas também desempenha função sintática em relação a uma oração matriz Nesse caso essa função se restringe a somente duas adjunto adverbial como em 22 ou aposto Como veremos a seguir a articulação entre a 113 PARA CONHECER Sintaxe matriz e uma ou mais orações hipotáticas se dá de maneira livre e fora das restrições estruturais impostas a argumentos e a adjuntos adnominais oracionais razão pela qual hipotáticas adverbiais e hipotáticas apositivas desempenham na articulação do período composto valor sintáticodis cursivo Comecemos pelas orações adverbiais As hipotáticas adverbiais são advérbios oracionais que marcam va lores de natureza circunstancial junto à matriz Na escola básica você aprendeu a identificar essas orações como subordinadas adverbiais No entanto diversas características sintáticas diferenciam o status gramatical das adverbiais do das substantivas e relativas Por exemplo uma oração adverbial pode adjungirse em diferentes posições lineares ao longo do período seja à esquerda ou à direita da oração matriz ou mesmo nela en tremeada à maneira dos próprios advérbios Ora tal liberdade posicional não se verifica com estruturas sintáticas realmente encaixadas A mobilida de linear de uma oração hipotática é ilustrada a seguir 23 a MATRiz Aquele político mudou o seu discurso HIPOTÁTICA quando percebeu que era conveniente b HIPOTÁncA Quando percebeu que era conveniente MATRIZ aquele político mudou o seu discurso c MATRiz Aquele político HIPOTÁTicA quando percebeu que era con veniente mudou o seu discurso Note que na sentença 23a a hipotática adverbial posicionase à di reita da matriz para nela marcar uma circunstância temporal Podemos desse modo ser levados a interpretar que essa oração é um adjunto do SV mudou o seu discurso presente na matriz tal como o fazem os gramáticos tradicionais É essa suposta adjunção ao SV da matriz que motiva a classifi cação de uma oração dessa natureza como adverbial Contudo linguis tas como Michael Halliday Cristian Matthiessen e Sandra Thompson cf Matthiessen e Thompson 1988 e Halliday e Matthiessen 20l4 1985 já vêm indicando desde os anos 1980 que as adverbiais se associam livre mente a uma oração matriz na articulação de um período composto e não são necessariamente adjuntos de SV Os exemplos 23b e 23c deixam isso claro A adverbial nessas frases não é um adjunto rigidamente encai xado no SV da matriz da mesma forma que uma relativa é um adjunto en 114 Articulação entre orações caixado de maneira rígida num SN da oração matriz Pelo contrário a ad junção dessa oração pode acontecer antes de toda a matriz à sua esquerda portanto em locus linearmente distante do SV conforme se vê em 23b A adjunção adverbial oracional pode ainda ocorrer até mesmo em posição intercalada na matriz em algum ponto de fronteira sintagmática comove mos acontecer em 23c exemplo no qual a hipotática é adjungida entre 0 SN sujeito e o SV predicado da chamada oração principal Por contraste substantivas e relativas não são passíveis dessa múltipla distribuição linear Antes são orações rigidamente encaixadas num locus específico comple mento ou especificador de um núcleo lexical N V ou A ou adjuntos de um SN Por conseguinte é correto assumir que orações adverbiais não são constituintes encaixados ou em termos tradicionais não são orações subordinadas Alternativamente é mais adequado descrever esse tipo de articulação entre orações como hipotaxe adverbial Orações hipotáticas adverbiais cumprem na articulação entre ora ções diversas funções discursivas a depender do valor circunstancial que imprimem junto à matriz Em consequência disso advérbios oracio nais manifestam grande riqueza e variedade estrutural e informacional Algumas adverbiais por exemplo só podem ser adjungidas à direita da matriz sob pena de agramaticalidade como se vê na oposição entre o par de sentenças a seguir 24 a MATRiz Ele trabalhou o dia inteiro HIPOTÁTicA então dormiu sos segado b HIPOTÁTicA Então dormiu sossegado MATRiz ele trabalhou o dia inteiro Interessantemente outros tipos de oração adverbial só podem ser alo cados à esquerda da matriz caso contrário resultarão agramaticais 25 a MATRiz Eu cancelei a reunião HIPOTÁTicA como você não vinha b HIPOTÁTicA Como você não vinha MATRiz eu cancelei a reunião A oração hipotática dos exemplos em 24 expressa valor circuns tancial consecutivo Por essa razão sua antecipação à esquerda do con teúdo que discursivamente veicula a causa da consequência revelada na adverbial provoca uma anomalia uma violação a um princípio icônico 115 PARA CONHECER Sintaxe de organização frasal como veremos com mais detalhe no próximo capí tulo Caso o valor circunstancial fosse outro por exemplo finalidade a disposição linear da hipotática não seria rigidamente controlada na frase Vemos isso ilustrado a seguir 26 a MATRIZ Ele trabalhou o dia inteiro HiroTÁTicA para que dormisse sossegado b HIPOTÁTICA Para que dormisse sossegado MATRiz ele trabalhou o dia inteiro Nesse caso a oração adverbial poderia ocupar diferentes nichos na estrutura do período inclusive alguma posição entremeada na matriz ex Ele para que dormisse sossegado trabalhou o dia inteiro A opção por cada uma dessas possibilidades de posicionamento linear será motivada por fatores discursivos que estão além da compreensão puramente sintáti ca da articulação entre orações É por essa razão que a hipotaxe representa um tipo de articulação entre constituintes oracionais de efeito sintático discursivo distinto do fenômeno puramente sintático do encaixamento de subordinadas que estudamos na primeira metade deste capítulo Além das adverbiais o período composto por hipotaxe compreende também as hipotáticas apositivas De acordo com o que estudamos no capí tulo anterior um aposto é uma função naturalmente hipotática pois consiste na introdução de um constituinte à parte de outro Ou seja um aposto retoma o conteúdo ou a referência de um termo já citado na sentença posicionando se ao seu lado para imprimirlhe algum valor discursivo como explicação enumeração recapitulação resumo etc Em virtude de seu caráter eminen temente textual um aposto caracterizase como função sintática isolada na própria NGB como vimos anteriormente Portanto orações apositivas não podem ser caracterizadas como um caso de encaixamento sintático Tratase com efeito de mais um tipo de articulação oracional por hipotaxe Nos ensinamentos da gramática n01mativa tradicional orações hi potáticas apositivas são inadequadamente descritas como subordinadas substantivas apositivas ou como subordinadas adjetivas explicativas Em seguida apresentamos em 27a uma hipotática que se associa dis cursivamente ao conteúdo da oração matriz e em 27b ilustramos uma hipotática que assume a referência de um SN específico da matriz 116 Articulação entre orações 27 a MATRiz Ele disse uma coisa importante B 1 HIPOTÁTCA que 0 ras1 será o Colosso do Sul b MATRiz O Brasil HIPOTÁTicA que será o Colosso do Sul ainda não resolveu seus problemas sociais mais básicos Em 27a a oração hipotática desempenha função de aposto em relação ao conteúdo proposicional expresso pela matriz isto é que 0 Brasil será o Colosso do Sul é o conteúdo da apositiva o qual revela a tal coisa importante que ele disse anunciada na matriz Gramáticos normativos identificam orações apositivas como que o Brasil será 0 Colosso do Sul no exemplo citado equivocadamente como orações substantivas Tal confusão decorre da semelhança superficial entre ora ções que são diretamente inseridas na matriz encaixamento e orações que são apostas a um constituinte hipotaxe o qual por sua vez é 0 que de fato se encaixa em alguma posição sintática da matriz Realmen te a oração hipotática do exemplo poderia ter sido selecionada como complemento do verbo disse núcleo do predicado da matriz fato que a caracterizaria como um objeto direto oracional Ele disse que 0 Bra sil será o Colosso do Sul Todavia essa possibilidade é irrelevante para os interesses da análise sintática já que a construção disse que não figura na frase O que vemos objetivamente na sentença referida é que o complemento de V é o SN uma coisa importante e não a oração apositiva Portanto não estamos diante de um caso de encaixamento entre orações O que vemos é na verdade uma oração hipotática que se posiciona à parte da matriz fazendolhe uma aposição num período composto por hipotaxe Em 27b a oração que será o Colosso do Sul se a põe ao SN oBra sil Tratase por isso de um aposto referencial de natureza explicativa Essa aposição cumpre o objetivo de adicionar informação ao referente ci tado de modo a produzir algum efeito na representação discursiva da frase Orações hipotáticas apostas a SN também são chamadas de relativas apo sitivas de relativas explicativas ou ainda de relativas não restritivas A razão para identificálas como relativas é bastante direta esse tipo de oração i toma um SN específico como referente e ii possui em seu inte rior uma lacuna a ser vinculada a tal SN bem à semelhança do que vimos 117 PARA CONHECER Sintaxe acerca das relativas restritivas Por sua vez a motivação para o termo ex plicativa decorre do efeito discursivo promovido pelo aposto oracional Relativas hipotáticas e relativas encaixadas articulamse à oração ma triz de maneira distinta Enquanto as encaixadas se adjungem a um SN modificandolhe a referência as hipotáticas são apostas a um SN e não lhe modificam a referência Comprove isso com as frases a seguir 28 a MATRIZ sN O povo ENcAIXADA que sempre luta vence b MATRIZ sN O povo HIPOTÁTicA que sempre luta vence Na primeira frase a relativa encaixada restringe a referência do SN o povo Logo o efeito sintáticosemântico da frase é o seguinte nem todo tipo de povo vence somente aquele povo que luta sempre o povo lutador é que vence Já na segunda frase a relativa hipotática apenas acrescenta ao SN o povo uma de suas características próprias o fato de o povo sempre lutar Assim sendo o efeito sintáticodiscursivo dessa frase é o seguinte todos os povos ao final vencem pois lutar sempre é uma característica do povo Tamanha diferença na representação conceitual de frases superfi cialmente tão parecidas não se produz por acaso Na verdade a distinção semânticodiscursiva entre 28a e 28b decorre da articulação sintática estabelecida na composição do período respectivamente se encaixamento ou se hipotaxe Como você pode ver a simplificação perpetrada em gra máticas normativas tradicionais na descrição de relativas restritivas e de relativas explicativas que são igualmente interpretadas como subordina das e diferenciadas em função do mero emprego do recurso gráfico da vír gula incorre em grave inadequação descritiva e deixa escapar as sutilezas de interpretação que uma grande diferença sintática pode produzir 31 Conectivos hipotáticos Na articulação entre orações conectivos adverbiais funcionam como complementadores Sendo assim são introdutores de hipotáticas adverbiais Contudo em comparação aos complementadores de orações substantivas eles possuem uma natureza muito mais semânticodiscur siva do que propriamente sintática Isso quer dizer que elementos como 118 Articulação entre orações quando e embora não são simples conectares de oração cujo papel na estrutura do período seja somente demarcar fronteiras sintáticas Em vez disso complementadores adverbiais são legítimos operadores de signifi cado que explicitam o valor semânticodiscursivo da oração que introdu zem Vemos na tabela que segue uma lista não exaustiva desses tipos de conectivo Perceba que muitos complementadores adverbiais configuram locuções conectivas Significado Conectivos Causa porque uma vez que visto que como etc Consequência tão que de modo que de forma que então etc Comparação como tal qual que do que assim como etc Conformidade conforme segundo consoante etc Concessão embora se bem que ainda que etc Condição se caso contanto que salvo se etc Proporção à medida que na proporção que etc Finalidade para que a fim de que com o fim de etc Tempo quando enquanto sempre que etc De um ponto de vista estritamente sintático não existem subclassifica ções para as orações hipotáticas adverbiais Um sintaticista as descreveria sim plesmente como adjuntos adverbiais oracionais ou orações adverbiais A especificação do tipo semânticodiscursivo de uma adverbiallevada a cabo por termos como causal concessiva condicional etc configura um ótimo exercício de natureza conceitual o qual não obstante se encontra fora do escopo da sintaxe mais estrita Da mesma forma a reescritura de um mes mo tipo semânticodiscursivo de uma oração adverbial por meio de diferentes conectivos ou locuções conectivas caracteriza um excelente treino epilinguís tico de produção textual Esse recurso didático entretanto também está além da fronteira ontológica e epistemológica da descrição e da análise sintáticas stricto sensu Por sua vez relativas hipotáticas são introduzidas pelos mesmos pro nomes relativos que encabeçam relativas restritivas Também listamos os mais comuns desses conectivos a seguir Pronomes invariáveis Pronomes variáveis que quem onde o qual a qual os quais as quais cujo cuja cujos cujas 119 PARA CONHECER Sintaxe Nas relativas hipotáticas os pronomes relativos realizam a mesma dupla operação anáforacatáfora que descrevemos acerca das relativas restritivas Logo também nesse tipo de relativas o introdutor da oração é um operador morfossintático que assumirá um referente SN na matriz e o associará a uma lacuna no domínio da hipotática tal como se ilustra em seguida 29 MATRiz sN Você HIPOTÁTrcA que eu conheço há anos não me trai t t t Nesse exemplo o pronome relativo que vincula seu referente o SN você à lacuna em posição de objeto direto no interior da oração relativa hipotática Na língua portuguesa assim como nas subordinadas restritivas essa operação relativizadora pode acontecer em qualquer posição sintática nas relativas explicativas tanto no SN referente da matriz quanto na lacuna na hipotática É notável que na ausência de uma preposição anterior o emprego de o qual e suas flexões seja mais aceitável em relativas apositivas do que em relativas restritivas Vejamos 30 a MATRiz O filme ENCAIXADA que nós vimos é muito importante b MATRIZ O filme ENCAIXADA o qual nós vimos é muito importan te c MATRiz O filme ENCAIXADA que todos devem ver é muito impor tante d MATRiz O filme ENCAIXADA o qual todos devem ver é muito im portante Em relação ao português europeu as professoras Ana Maria Brito e Inês Duarte são categóricas ao afirmar que em relativas restritivas que não é comutável por o qual o que distingue as relativas restritivas das apositivas cf Mateus et al 2003 662 No português do Brasil não temos tanta certeza da agramaticalidade de 30b Em verdade o item que se caracteriza com um elemento multifuncional em língua portugue sa razão pela qual é muito comum que estudantes e escritores procurem substituílo por outra forma linguística na elaboração de um texto a fim de evitar excessivas repetições vocabulares Em razão disso é normal que o 120 Articulação entre orações qual e suas flexões sejam identificados como bons usos da língua dos quais muitos usuários tentam se aproximar às vezes de maneira desajei tada veja por exemplo essa disfluência real encontrada na redação de um calouro universitário A faculdade a qual que o ser humano tem inata é a linguagem Assim sendo é possível que nossa incerteza sobre 30b reflita valores sociolinguísticos de prestígio associados ao uso desse tipo de pronome em particular 32 Hipotáticas reduzidas Orações adverbiais também podem ser articuladas à matriz sem a interveniência de conectivos e com um verbo em forma nominal Veja mos exemplos de oração adverbial reduzida de gerúndio de infinitivo e de particípio 31 a HIPOTÁTicA Chegando em casa MATRiz você deve avisar aos amigos b MATRIZ O povo se mobilizará HIPOTÁTicA para o Brasil mudar c HIPOTÁTicA Definidas as candidaturas MATRIZ começará a campanha No primeiro exemplo uma adverbial antecede sua matriz e marcalhe uma circunstância temporal O verbo nessa oração encontrase no gerúndio chegando e possui um sujeito oculto você que é correferente ao sujeito da oração matriz você Essa correferência é entretanto acidental Note que em 31 b o sujeito da adverbial de valor final é o SN o Brasil ao passo que o sujeito da matriz é o povo Nessa hipotática a categoria V se encontra no infinitivo caracterizando assim o caso de uma adverbial re duzida Note bem em 3la não ocorre oração reduzida na matriz apesar da ocorrência de infinitivo no verbo avisar Você pode explicar por quê Por fim as orações da sentença em 31 c também são articuladas sem a presença de conectivos e com o verbo da hipotática em forma infinita Nesse caso temos uma reduzida de particípio definidas as candidaturas É interessante atentarmos para o fato de que a identificação do valor semânticodiscursivo das hipotáticas adverbiais reduzidas não pode ser de duzida de sua estrutura sintática Por exemplo contraste o valor temporal de 31a com o que se diz em 32 121 PARA CONHECER Sintaxe 32 HIPorÃncA Votando assim MATRiz nós não mudaremos este país Ambas as sentenças possuem o mesmo tipo de articulação entre ora ções isto é são estruturadas por hipotaxe com uma adverbial reduzida de gerúndio anteposta à matriz Inclusive o fenômeno da correferência entre os sujeitos de cada oração também se verifica nessas duas frases No entanto o valor semântico de 32 não é o mesmo que se verifica em 31 Com efeito votando assim veicula uma noção condicional diferente do conteúdo temporal de chegando em casa Uma versão desenvolvida des sas frases seria provavelmente articulada por conectivos distintos quando versus se Logo estamos mais uma vez diante de um bom exercício de análise semânticodiscursiva que escapa dos limites da sintaxe estrita Vejamos agora casos de relativas hipotáticas reduzidas 33 a MATRiz sNAquele filme HIPOTÁTICA elogiado por tanta gente deve ria ser premiado b MATRiz sN Ajuíza HIPOTÁncA sendo uma pessoa pública deveria ter mais cuidado com o que posta em redes sociais c MATRiz Ele só tem um objetivo na vida HIPOTÁTicA chegar ao poder As frases 33a e 33b representam casos de orações relativas apo sitivas enquanto 33c encerra um caso de uma hipotática apositiva Em 33a temos uma oração hipotática relativa apositiva reduzida de par ticípio em função da forma nominal elogiado Já em 33b ocorre uma relativa apositiva reduzida de gerúndio dada a forma infinita sendo A frase 33c por fim exemplifica uma oração hipotática apositiva reduzida de infinitivo dada a forma não flexionada de V em chegar 4 PARA TAXE A articulação por parataxe consiste na simples justapÓsição entre orações Tal justaposição caracterizase pela disposição de uma oração imediatamente ao lado de outra sem que haja interseção sintática entre elas Ou seja num período composto por parataxe cada oração compõe sua própria estrutura sintática de maneira isolada o que significa que orações paratáticas são sintaticamente autônomas Por conseguinte a pa 122 Articulação entre orações rataxe representa em termos sintáticos um caso de articulação entre ora ções ainda mais livre e menos rígido do que a hipotaxe Nos compêndios de Gramática Normativa Tradicional a articulação por parataxe recebe 0 nome de coordenação de orações Em sua expressão mais extrema uma frase composta via parataxe pode apresentar orações tão somente enfileiradas segundo algum crité rio discursivo como por exemplo sequência cronológica tal como vemos a seguir 34 oRAçÃo Fui à praia oRAçÃo dei um mergulho oRAçÃo voltei para casa Repare como ao mesmo tempo em que cada oração é sintaticamente inde pendente da outra podemos depreender uma relação temporal entre elas Essa relação é expressa pelo simples ordenamento paratático linear entre as orações Em outras palavras interpretamos a frase 34 como uma sequência narrativa de ações no mundo real ou fictício que tem início na primeira oração fui à praia e fim na última voltei para casa Esse efeito de linea ridade na organização da frase reflete um princípio icônico veja o próximo capítulo sobre a organização dos eventos no mundo Se trocarmos a ordem das orações também entenderemos que a ordem dos eventos no mundo foi alterada isto é alteramos o conteúdo proposicional da frase Veja Voltei para casa dei um mergulho fui à praia Apesar de não encontrarmos nenhuma marca morfológica presente na es truturação sintática entre essas orações um conectivo uma marca especí fica de flexão verbal etc entendemos que essa frase descreve eventos no mundo numa ordem diferente da que temos em 34 E esse efeito é causado pelo simples ordenamento paratático entre as orações Nesse exemplo uma frase compõese de três orações Na primeira ocor re uma estrutura de predicação entre o sujeito oculto eu e o predicado verbal fui à praia Em seguida novamente um SV possui um predicador verbal dar que predica sobre um sujeito oculto e o mesmo acontece na terceira oração entre o núcleo do SV voltei e um SN oculto Tratase portanto de um caso de período composto mas você deve perceber que a estrutura sintática de cada uma dessas orações independe das demais Ou seja a segunda oração não se caracteriza como argumento nem como 123 PARA CONHECER Sintaxe adjunto da primeira assim como a terceira não é um dos constituintes da segunda Note que não há em nenhuma das três orações qualquer estru tura seja por encaixamento por hipotaxe ou mesmo por lacuna que crie conexão sintática entre elas Eis aqui uma boa ilustração do tipo de inde pendência estrutural que as orações articuladas por parataxe possuem Com base no exemplo 34 seria possível também que três frases independentes cada qual com somente uma oração fossem articuladas no discurso também por justaposição e veiculassem o mesmo conteúdo pro posicional que 34 Conferimos isso a seguir 35 Fui à praia Dei um mergulho Voltei para casa Apesar de veicularem o mesmo conteúdo 34 e 35 divergem em sua estruturação sintática porque no primeiro caso três orações paratáticas compõem somente um período enquanto no segundo enfileiramse três períodos cada qual com uma oração absoluta Essa comparação é rele vante para percebermos que o fato de orações ou frases compartilharem um ou mais referente no discurso e desse modo possuírem constituintes correferentes não configura vínculo sintático Tanto 34 quanto 35 com partilham a referência do sujeito Isso no entanto é acidental Em 36 podemos ver um período articulado por parataxe novamente com três ora ções cada qual com seu próprio sujeito 36 oRAçÃo João estuda inglês oRAçÃo Maria é professora oRAçÃo Pe dro vende importados Aqui temos novamente três orações distintas que fmmam um período por parataxe Cada oração tem seu próprio sujeito e sua organização sintá tica interna própria 41 Conectivos paratáticos A relação de significado estabelecida em 34 e 36 deve ser inferida pela pessoa que ouve ou lê essas frases num determinado contexto comuni cativo Em ambas as orações são discursivamente interpretadas como adi ção de informações a segunda oração agrega uma informação à primeira e a terceira confere outra informação ao conjunto do que já havia sido dito 124 Articulação entre orações Em 34 vimos também que uma relação de temporalidade entre as ações expressas pelas orações pode ser da mesma forma depreendida Não obs tante as línguas normalmente dispõem de itens lexicais que podem ser empregados na articulação do período de modo a explicitar a relação se mânticodiscursiva que se estabelece entre as orações paratáticas Tratase das chamadas conjunções ou locuções conjuntivas coordenativas Conjunções paratáticas são conectivos de valor conceitual semelhan tes aos que estudamos acerca da articulação por hipotaxe adverbial Isto é eles não são marcadores de fronteira oracional como nas encaixadas tampouco são operadores morfossintáticos como nas relativas Sua fim ção é expressar o valor conceitual que se depreende da articulação entre duas orações miiculadas via parataxe Vemos isso ilustrado a seguir Perce ba a partir do exemplo 3 7b que na articulação para tática um conectivo pode posicionarse ao longo da segunda ou terceira etc oração e não imediatamente ao seu início diferentemente do que ocorre com as encai xadas e as hipotáticas 37 a oRAçÃo Fui à praia oRAçÃo porém não tomei sol b oRAçÃo O presidente prometeu mudanças oRAçÃo até agora no entanto nada foi feio c oRAçÃo Não havia provas oRAçÃo portanto o caso deveria ser en cerrado d oRAçÃo Você espera aqui mesmo oRAçÃo que volto já Em 37a o conectivo porém explícita a noção de quebra de expec tativa na segunda oração relativamente ao conteúdo da primeira Você deve ter analisado orações desse tipo na escola como coordenadas ad versativas Na frase seguinte o mesmo valor conceitual é veiculado pela locução no entanto As relações semânticas dos conectivos destacados em 37c e 37d são respectivamente uma conclusão na segunda ora ção a partir do valor proposicional da primeira e uma explicação com o já nosso conhecido e polivalente que que introduz uma justificativa para o comando expresso na oração anterior A seguir apresentamos um quadro não exaustivo das principais relações de significado estabelecidas entre orações paratáticas 125 PARA CONHECER Sintaxe Significado Conectivos Adição e nem também Contraste mas porém contudo todavia etc Alternância Ou quer seja etc Conclusão portanto logo pois por isso etc Explicação pois que porque etc Tradicionalmente orações paratáticas que explicitam num conecti vo seu valor semânticodiscursivo são batizadas com o termo coordenadas sindéticas por contraste ao valor oposto orações assindéticas emprega do quando não há conectivo expresso e a relação conceitual entre as para táticas deve ser inferida Como se vê o baixo grau de vinculação sintática entre as orações de um período composto por para taxe faz com que a maior fração do aparato descritivo empregado na análise desse tipo de estrutura linguística seja de natureza semântica eou pragmática 4z Paratáticas reduzidas Orações paratáticas também podem ser articuladas entre si de for ma reduzida Nesse tipo de estruturação o que tipicamente acontece é a segunda oração articularse à primeira com seu V em forma de gerúndio conferindolhe uma adição tal como se vê em seguida 3 8 oRAçÃo O jornalista reconheceu seu erro oRAçÃo desculpandose logo em seguida Noutros casos a segunda oração pode se articular à primeira como redu zida de infinitivo Nesse caso a interpretação discursiva a ser atribuída à coor denada não é tão facihnente identificável conforme vemos acontecer em 39 39 oRAçÃo O acusado mentiu friamente oRAçÃo sem demonstrar re morso Aqui a segunda oração parece associar um valor modal à primeira mas é também possível inferir entre as duas orações uma relação explica tiva De todo modo exemplos como esses evidenciam os casos limítrofes na articulação entre orações nos quais nem sempre é possível distinguir claramente hipotaxe e parataxe Analisaremos esses casos problemáticos mais à frente neste capítulo 126 Articulação entre orações 5 ORAÇÕES CORRELATAS Na análise do período composto por encaixamento por hipotaxe ou por parataxe sempre é possível identificar a região de fronteira entre uma oração e outra Isto é seja pela demarcação feita por um conectivo seja pela clara independência de distintas estruturas de predicação não é difícil identificarmos o ponto preciso na linearidade da sentença em que a ora ção matriz termina e uma encaixada ou uma hipotática tem início ou em que uma paratática se inicia após a anterior Com as orações correlatas um fenômeno bem distinto acontece Nesse tipo de articulação sintática duas orações são articuladas de maneira interdependente de modo que não é possível delimitar com clareza em que ponto deixamos o domínio de uma oração e adentramos no da outra Isto é num período constituído por correlação duas orações implicamse mutuamente 40 a Aquele político não só é corrupto como também é racista correlação b O orador falou tão baixo que ninguém entendeu o discurso correlação Nesses exemplos notamos que no domínio do que chamaríamos de primeira oração ocorre um constituinte que já antecipa parte do que será enunciado na oração seguinte Em 40b o termo correlativo tão sele ciona outro item dessa mesma natureza que Note que cada um dos dois elementos correlativos ocorre no domínio de predicações verbais distintas falou tão que ninguém entendeu É fato que esse período se cons titui por duas orações já que há nele duas predicações mediadas por um SV porém algo na composição da primeira oração tão pressupõe a articulação da segunda bem como algo na segunda oração que é articulado como continuação da primeira Não podemos portanto nos precipitar na descrição de uma frase como essa e identificar o que como um claro demarcador de fronteira pois antes dele o item tão já antevê a integração entre constituintes oracionais Por seu turno em 40a a expres são correlativa não só acontece no domínio do que também chamaríamos 127 PARA CONHECER Sintaxe de primeira oração Tal expressão pressupõe sua contraparte como tam bém a qual ocorre somente na oração seguinte Ora tanto em 40a como em 40b estamos diante de um caso de coarticulação oracional Tratase detlm tipo de composição de período composto distinto de tudo o que ha víamos estudado até aqui As orações correlatas não devem ser confundidas com as hipotáticas adverbiais pois essas não se implicam reciprocamente por meio de arti culadores descontínuos como ocorre na correlação A necessidade dessa distinção já havia sido anunciada pelo professor José de Oiticica no ano de 1919 No entanto nossa tradição gramatical normativa até o presen te ignora o fenômeno das orações conelatas tratandoas como casos de orações adverbiais De fato ainda são relativamente poucos os trabalhos acadêmicos que tratam do tema como os de Rodrigues 200 1 e Rosário 2012 2017 6 ORAÇÕES DESGARRADAS A professora Maria Beatriz Decat c f Decat 2011 define as ora ções desgarradas como estruturas oracionais que se relacionam a uma matriz de forma sintaticamente isolada à maneira de um frase inde pendente Essas orações se comportam como se fossem uma hipotática sem matriz Podemos ver alguns exemplos desse tipo de construção em 41 a seguir 41 a A confusão começou em 2014 Quando as eleições foram en cerradas b Ele não compareceu à reunião Embora tenha sido avisado com antecedência c Maria gosta de IPA Que é seu tipo de cerveja favorita d Aquele candidato só falou bobagens O que afinal não é sur preendente Em todos esses casos uma oração realiza modificação hipotáti ca numa oração à sua esquerda bem à maneira das adverbiais e das relativas explicativas Porém fazem isso num período à parte como 128 Articulação entre orações se tivessem sido desgarradas de uma frase para a outra No primeiro exemplo temos a ocorrência de uma adverbial temporal que interes santemente não se encontra no mesmo período da oração matriz à qual imprime esse valor circunstancial O mesmo se verifica em 41 b em que a concessão expressa pela adverbial ocorre numa frase separada da respectiva matriz Já em 41 c a segunda frase estruturase como apos to oracional do SN IPA o que o caracteriza como uma relativa hipotá tica No entanto essa relativa localizase em outro período com relação àquele que contém o SN que sofre o aposto Por fim 41d revela um caso ainda mais intrigante temos uma relativa restritiva adjunta ao SN unitário o Ocorre que SN relativa não estão inseridos em nenhu ma oração matriz Na verdade o pronome o retoma anaforicamente toda a frase anterior o que caracteriza a construção como mais um caso de uma oração desgarrada O uso de orações desgarradas é extremamente produtivo na produção oral e escrita em diferentes gêneros discursivos cf Decat 1999 2001 2005 2011 Portanto não se trata de uma má estruturação do período como uma análise superficial poderia sugerir Pelo contrário tratase de um recurso textual importante em certas estratégias argumentativas 7 CASOS LIMÍTROFES Antes de concluirmos este capítulo gostaríamos de dizer que nos textos da vida real uma frase pode ser articulada por mais de um tipo de vinculação entre orações Ou seja podemos encontrar num mesmo perío do orações encaixadasorações hipotáticas e orações paratáticas além de orações correlatas e eventuais desgarradas Na frase que segue por exem plo diferentes tipos de articulação oracional acontecem 42 Ele disse que a eleição transcorrerá em paz embora haja muita expec tativa de provocações entre os eleitores que defenderão seus candida tos mas sempre mantendo o respeito pelos outros Encontramos aqui um caso de encaixamento ele disse que a elei ção transcorrerá em paz seguido de uma hipotaxe adverbial embora haja 129 PARA CONHECER Sintaxe muita expectativa de provocações entre os eleitores em cujo domínio há um SN modificado por uma relativa apositiva que defenderão seus can didatos na qual uma para tática reduzida de getúndio é enfileirada mas sempre mantendo o respeito pelos outros Apresentamos neste capítulo diferentes expedientes sintáticos de estruturação de frases complexas de maneira separada em função da natureza didática de nossa exposição neste livro Em situações reais de uso contudo nosso mundo linguístico pode ser muito mais interessan te e complexo Além disso é importante apontarmos o fato de que nem sempre é possível traçar nitidamente um limite entre certos tipos de articulação ora cional Por exemplo no par de frases a seguir é comum que sintaticistas vacilem em decidir se ocone hipotaxe ou parataxe 43 Aquele biscoito vende mais porque é fresquinho No caso porque é fresquinho representa a causa adverbial por tanto hipotática da venda excepcional do biscoito ou representa uma explicação portanto paratática para a afirmação veiculada na primeira oração Talvez você possa sustentar sua escolha por uma das duas análises mas um colega seu poderá discordar e apresentar argumentos em favor de uma análise alternativa Veja a seguir mais um caso delicado Em 44 temos o caso de uma relativa hipotática reduzida ou temos uma adverbial reduzida 44 Você sendo meu amigo não deveria me trair Não parece possível decidir definitivamente por uma análise ou outra Na hipotática você que é meu amigo não deveria me trair temos cla ramente um caso de relativa explicativa assim como em você já que é meu amigo não deveria me trair há um caso nítido de uma adverbial No entanto a reduzida em 44 poderia ser parafraseada tanto pela explicativa como pela adverbial citadas Além disso não é claro se frases nominais em que a elipse de formas verbais é evidente deveriam ser analisadas como casos de pe ríodo composto Por exemplo como poderíamos analisar casos como Farinha pouca meu pirão primeiro ou Casa de ferreiro espeto de pau 130 Articulação entre orações Temos aqui formas abreviadas dos períodos compostos Se a farinha é pouca façase meu pirão primeiro e A casa é de ferreiro mas 0 espeto é de pau Por fim frases feitas e provérbios devem ser analisados normal mente como casos de hipotaxe ou de parataxe Ou esses são casos de estruturas indecomponíveis e assim inanalisáveis em termos de funções sintáticas Isso quer dizer que na prática não temos como definir a sin taxe de sentenças como Bateu levou ou Escreveu não leu o pau comeu Parece fácil inferir que há circunstâncias adverbiais nesses exemplos Se me bater vai levar Se escreve1 mas não ler vai apanhar Portanto tratase de hipotaxe Casos como esses entre diversos outros indicam que ainda há muito o que se descobrir sobre a sintaxe das línguas em geral e a do português em particular Não é por outra razão que a pesquisa linguística é rica em abordagens dedicadas aos estudos de sintaxe como vimos até aqui e como veremos no capítulo seguinte Leituras complementares Neste capítulo estudamos as relações entre as orações algo que cos tuma aparecer sobre o rótulo de análise sintática externa nas gramáticas escolares O leitor deve ter percebido que extrapolamos o que costuma mos encontrar nessas gramáticas apesar de estarmos muitíssimo longe de esgotar o assunto pelo contrário aqui talvez tenhamos apresentado os primeiros passos para uma análise que vai além da tradição gramatical O leitor interessado pode encontrar outros textos acessíveis dispo níveis no mercado editorial brasileiro como o estudo pioneiro de Othon Garcia Comunicação em prosa moderna de 1967 Além desse estudo pio neiro há também alguns manuais e gramáticas que trazem análises inte ressantes sobre os fenômenos que estudamos no capítulo como Moreno e Guedes 1979 Moura Neves 2000 Azeredo 2008 Rodrigues 2010 Bagno 2011 Hauy 2014 131 PARA CONHECER Sintaxe Exercícios 1 Explique o que se entende por encaixamento hipotaxe e parataxe em Sintaxe 2 Faça as árvores sintáticas das seguintes frases a Aquele político não gosta de que o chamem de conservador b O povo tem consciência de que o Brasil é um país muito desigual c Meu maior desejo é que as coisas mudem para melhor d Que haja justiça é sempre desejável 3 Faça as árvores das seguintes frases e discuta qual é a melhor análise para classificar o sujeito da frase se estamos diante de um sujeito ex pletivo ou oracional a Que haja justiça é sempre desejável b É sempre desejável que haja justiça 4 Faça as árvores sintáticas das frases seguintes e explique em suas pala vras a diferença entre distância linear e distância estrutural a O rato que o gato que o cachorro espantou perseguia fugiu b O rato que meu amigo tinha comprado numa feira de animais do mésticos peculiares no centro de Porto Alegre fugiu 5 Pegue o livro que estiver mais próximo de você sem ser este que está em suas mãos agora Abra aleatoriamente numa página e faça a aná lise sintática da primeira frase em que você botar os olhos Repare nos recursos sintáticos que o autor do texto usou para expressar a informa ção veiculada na frase em questão Veja a frase seguinte e a anterior e repare nas ligações de significado que elas mantêm com a frase que você analisou 132 DUAS ABORDAGENS NO ESTUDO DA SINTAXE Objetivos gerais do capítulo Tradição normativa e formalismo explicitaremos a orientação da Gra mática Tradicional e da tradição Gerativista subjacente às análises sin táticas dos capítulos anteriores Funcionalismo e demais teorias baseadas no uso descrevemos as prin cipais hipóteses teóricas e as mais importantes categorias analíticas da Sintaxe de orientação Funcional Experimentos em Sintaxe descrevemos os fundamentos epistemoló gicos e metodológicos da pesquisa experimental sobre Sintaxe 133 PARA CONHECER Sintaxe 1 A ABORDAGEM TRADICIONAL NORMATIVA E A ABORDAGEM FORMALISTA Com este livro temos a intenção de apresentar ao público univer sitário as ferramentas teóricas e descritivas essenciais à iniciação no estudo da Sintaxe A cada página procuramos oferecer a você leitor uma oportunidade de compreender noções indispensáveis ao trabalho do sintaticista Com efeito as categorias linguísticas que aqui exami namos como item lexical sintagma função sintática oração frase hierarquia ordenamento e articulação entre orações perpassam em maior ou menor grau todos os estudos sérios sobre Sin taxe em qualquer língua natural como o português o inglês a Libras o ticuna o mandarim Sendo assim acreditamos que seja qual for a corrente teórica que você como estudante venha a adotar no aprofun damento futuro de sua formação linguística os conceitos contemplados ao longo deste livro constituirão os alicerces de seu conhecimento so bre Sintaxe Além de nossa preocupação puramente científica esperamos que os conteúdos apresentados nos três capítulos anteriores lhe sejam úteis tam bém em sua atuação como professorprofessora Esforçamonos ao máximo para reunir neste volume os melhores subsídios para a sua vida docente Sabemos do grande desafio que será a sua tarefa de pesquisar eou ensinar Sintaxe de maneira descritivamente adequada no contexto brasileiro Até o presente capítulo introduzimos o leitor aos elementos fun damentais no estudo da Sintaxe com ênfase em dados do português bra sileiro sem nos atermos explicitamente a nenhuma abordagem teórica específica Para sermos honestos muito do que apresentamos nas pági nas anteriores esteve de alguma forma sustentado em conhecimentos de Sintaxe produzidos pela Gramática Normativa Tradicional e pela Lin guística Gerativa Baseamonos nos ensinamentos de Sintaxe da tradi ção gramatical porque julgamos que você já tenha se familiarizado ao longo de sua jornada acadêmica com a análise de cunho tradicionalnor mativo presente em diferentes gramáticas escolares e livros didáticos de língua portuguesa veiculados no Brasil Sempre que as noções de Gramá tica Tradicional falharam ou se mostraram limitadas expandimos nossas 134 Duas abordagens no estudo da Sintaxe explicações apresentando conceitos oriundos da tradição da Linguística Gerativa como por exemplo a noção de sintagma e as representações de estruturas em árvores sintáticas Adotamos essa orientação formalis ta por dois motivos básicos ABORDAGEM FORMALISTA E GERATIVISMO Uma abordagem formalista caracterizase como tal por seu esforço em ela borar descrições linguísticas de modo formal isto é da maneira mais ex plícita possível com recurso a fórmulas e demais técnicas de formalização como árvores sintáticas e formas lógicas Além disso análises linguísticas formais abstraem das línguas naturais todas as suas funções práticas como a comunicação e a interação de modo que se torne possível produzir for malizações acerca das estruturas linguísticas abstratas que subjazem ao uso real de uma língua Não raramente abordagens formalistas são simplifica damente identificadas como aquelas dedicadas às formas linguísticas inde pendentes de suas funções A Linguística Gerativa é a mais conhecida abordagem formal das ciên cias da linguagem O nome do fundador e principal teórico dessa cor rente linguística Noam Chomsky está fortemente associado aos ter mos formal formalismo etc Não obstante uma abordagem formal não se restringe ao gerativismo nem ao estudo da Sintaxe Há pesquisa dores formalistas não gerativistas e há formalismos acerca de todos os componentes da linguagem humana Na Linguística em geral portanto além da Sintaxe Formal existem também áreas como Semântica For mal Pragmática Formal etc Em primeiro lugar nós autores tivemos formação em Sintaxe Ge rativa ao longo de muitos anos como estudantes e como pesquisadores da área Em segundo lugar o formalismo gerativista é salvo melhor juízo a teoria mais estudada e mais desenvolvida no estudo de Sintaxe tanto em universidades estrangeiras sobretudo as dos EUA como brasileiras basta ver por exemplo que diversos manuais didáticos difundidos nos cursos de graduação e pósgraduação stricto sensu do país contam com capítulos de introdução à abordagem gerativa cf Mussalim e Bentes 2001 Fio rin 2002 Guimarães e Zoppi Fontana 2006 Martelotta 2008a Schwindt 2014 por exemplo Instrumentalizar você nesses dois modelos de Sintaxe é principal missão deste volume 135 PARA CONHECER Sintaxe Neste nosso último capítulo do livro desejamos ampliar seus conhe cimentos básicos em Sintaxe apresentandolhe duas abordagens teóricas distintas da Gramática Tradicional e da Linguística Gerativa a Sintaxe Funcional e a Sintaxe Experimental Tanto o Funcionalismo Linguístico quanto a Sintaxe Experimental são abordagens exploradas via de regra apenas em cursos de mestrado e de doutorado nos melhores programas de pósgraduação em Letras em Linguística e em Estudos da Linguagem do país Portanto ao apresentarmos as seções a seguir visamos não somente enriquecer sua formação como bacharel eou licenciado como também estimular seu desejo de aprofundamento nos estudos de Sintaxe para além da graduação SINTAXE SINTAXES Em 2015 nós autores organizamos pela editora Contexto o livro Sintaxe sintaxes uma introdução Nele o leitor encontrará capítulos introdutórios e bastante elucidativos sobre onze diferentes vertentes contemporâneas de estudos em sintaxe Sintaxe Gerativa Sintaxe Minimalista Sintaxe Experi mental Sintaxe Tipológica Sintaxe Lexical Sintaxe Computacional Sin taxe Funcional Sintaxe Construcionista Sintaxe Descritiva Sintaxe Nor mativa Tradicional e Sintaxe em Teoria da Otimidade Convidamos você a conhecer tal livro para assim manter contato inicial com diversas outras abordagens no estudo sintático das línguas 2 ABORDAGEM FUNCIONALISTA O funcionalismo é a vertente mais madura dos estudos linguísticos que se reconhecem como abordagens baseadas no uso de uma língua Se quisermos estudar Sintaxe pelo viés teórico funcionalista devemos compreender a língua como um código comunicativo isto é como um sistema cuja finalidade é veicular informação numa situaçãó comunica tiva real Em decorrência disso quando um funcionalista se dedica ao estudo da Sintaxe ele assumirá que os fenômenos desse componente linguístico refletirão em algum grau diferentes valores e intenções co municativas construídos no uso real da língua De fato uma das ideias centrais da abordagem funcionalista é a de que as estruturas das línguas 136 Duas abordagens no estudo da Sintaxe são fortemente determinadas por suas funções Para um funcionalista pesquisar a sintaxe de uma língua é compreender e descrever 0 valor funcional em termos comunicativos e de estrutura informacional das diversas unidades estruturais existentes na gramática dessa língua A Sintaxe Funcionalista é portanto uma abordagem que procura enfati zar a relação entre forma e função na organização sintática e grama tical da língua ORIGENS DO FUNCIONALISMO Os principais linguistas dos anos de formação do funcionalismo foram Ni kolai Trubetzkoy Roman Jakobson e André Martinet Nikolai Trubetzkoy 18901938 de origem russa foi o principal fundador da Escola Linguística de Praga e um dos pioneiros em trabalhos na inter face entre Morfologia e Fonologia Juntamente com Jakobson Trubetzkoy estabeleceu conceitos fundamentais para a Fonética e a Fonologia reunidos em sua obra póstuma Princípios de fonologia Roman Jakobson 18961982 desenvolveu seu trabalho preocupado com a maneira pela qual uma forma linguística poderia servir à sua função principal a comunicação Juntamente com Trubetzkoy Jakobson desen volveu importantes trabalhos na Escola Linguística de Praga Com a Se gunda Guerra Mundial Jakobson emigrou para os Estados Unidos e em 1949 passou a trabalhar na Universidade de Harvard Um de seus legados mais importantes e lembrados na Linguística talvez seja a noção de fun ções da linguagem André Martinet 19081999 foi um 1inguista francês de grande importân cia nos estudos funcionalistas muito influenciado pela Escola Linguística de Praga Ele foi também o fundador da Sociedade de Linguística Funcio nal e um dos pioneiros no trabalho funcional da Sintaxe Seu livro mais conhecido foi publicado em 1960 o Elementos de linguística geral As principais diretrizes da Sintaxe Funcional e do funcionalismo em geral podem ser assim resumidas i entender a linguagem como uma competência comunicativa dos fa lantes e com base nesse axioma estudar o que as pessoas comunicam isto é que tipos de informação são codificados linguisticamente e como elas fazem isso isto é como a mensagem a ser transmitida 137 PARA CONHECER Sintaxe pode ser codificada em unidades como fonemas morfemas sintag mas orações frases e discursos ii entender que a competência gramatical de um falante não é arbitrá ria ela é antes reflexo de sua competência comunicativa Em outras palavras a gramática de uma língua é motivada pelas funções perti nentes à comunicação Daí se depreende que deve existir uma relação natural isto é motivada e não arbitrária entre formaestmtura gra matical de um lado e funçãouso linguístico de outro Ambas as diretrizes orientarão diretamente o fazer da Sintaxe funcio nalista em qualquer língua natural Vejamos como isso acontece Para co meçar analisemos o conhecido princípio da iconicidade conceito semió tico aplicado nos estudos da linguagem especialmente por funcionalistas nos EUA o chamado funcionalismo norteamericano 21 lconicidade Um exemplo de iconicidade na língua é a relação semiótica entre signo linguístico e evento real representado Por exemplo é natural pen sarmos que um evento no mundo físico que não envolva nenhum partici pante seja codificado por uma estrutura sintática sem nenhum argumento conforme 1 a seguir De maneira semelhante um evento que envolva um único participante poderá ser naturalmente codificado por um verbo com apenas um argumento nesse caso o sujeito como se vê em 2 Já um evento que envolva dois participantes no mundo pode ser codificado por uma estmtura com dois argumentos gramaticais um sujeito e um comple mento verbal tal como em 3 1 0 choveu ontem evento sem participantes 2 João dormiu evento com um participante 3 João viu Maria evento com dois participantes Essa é uma maneira icônica de representar um evento no mundo real chover dormir e ver em nossos exemplos por meio de formas linguísti cas Ou seja tratase de uma maneira icônica de codificar linguisticamente uma cena do mundo 138 Duas abordagens no estudo da Sintaxe PRINCÍPIO DA ICONICIDADE Um ícone é algo como um retrato ou uma escultura de uma pessoa Ou seja um ícone se assemelha a seu referente é a reprodução que mais di retamente espelha esse referente A iconicidade seria portanto o princípio por meio do qual se pode criar uma estreita relação de semelhança entre uma coisa uma imagem ou fotografia e outra o ser ou objeto retratado Dutra 2003 41 Outro exemplo da influência do princípio da iconicidade na gra mática de uma língua pode estar refletido na organização linear dos constituintes da frase Para entender isso imagine a seguinte cena Em um jogo de futebol você vê um jogador com a bola nos pés De repente ele chuta a bola Essa cena em língua portuguesa seria muito pro vavelmente verbalizada como O jogador chutou a bola Com efeito na maioria das línguas do mundo verbalizamos essa cena numa frase estruturada como 4 ou 5 4 O jogadorsujeito chutouLrbo a bolaobjeto 5 O jogador 1 a bola b 1 chutou b suJei o o e o ver o Em um estudo tipológico Dryer 2005 demonstrou que entre 1056 línguas catalogadas e organizadas em função da disposição linear de constituintes sintáticos 497 seguem o padrão sujeitoobjetoverbo SOV como é o caso do coreano e do japonês por exemplo e 435 seguem o padrão sujeitoverboobjeto SVO como o português e o mandarim por exemplo Ou seja parece haver uma generalização de um princípio icônico de estruturação sintática em que o sujeito é o primeiro elemento da frase pois ele antecede seu predicado em quase 90 das línguas pes quisadas Naturalmente esses dados dizem respeito a frases declarativas simples com uma estrutura infonnacional neutra sem por exemplo ênfases ou contrastes Noutras condições discursivas outros tipos de or denação linear podem ser mais produtivos Não obstante perceba que as frases 4 e 5 parecem descrever a cena conforme supomos que ela aconteça seja no mundo real seja em nossa representação mental sobre esse mundo um jogador sujeito desempenha uma ação verbo com um objeto do mundo objeto do verbo Podemos dizer portanto que a 139 PARA CONHECER Sintaxe organização sintática SVO em português ou SOV noutras línguas por refletir a cena que descreve pode ser entendida como uma organização gramatical icônica Mais um exemplo de iconicidade é a proximidade linear entre as ex pressões linguísticas e o escopo da interpretação que dela fazemos Essa proximidade pode representar uma relação entre as entidades ou os concei tos denotados numa frase Vejamos o exemplo a seguir 6 O João disse que a Maria chegou ontem u l b Lj L i t J Repare como o sujeito de cada verbo aparece próximo a ele nas sequências lineares O João disse e a Maria chegou Da mesma manei ra o advérbio ontem tem escopo sobre a oração subordinada a Maria chegou e não sobre a oração matriz O João disse Ou seja o advérbio ontem modifica o verbo da oração em que está contido a Maria chegou ontem e não O João disse ontem Se quisermos que esse advérbio seja in terpretado como modificador do verbo da oração matriz disse precisa mos movêlo de sua posição original e alocálo justamente mais próximo do verbo dessa oração como acontece em 7 a seguir ou então podemos tentar marcálo prosodicamente de modo a indicar que esse constituin te adverbial não pertence ao mesmo agrupamento sintático e prosódico da oração subordinada em 8 tentamos mostrar esse efeito prosódi co com recurso ao travessão Ao ocupar outro nicho sintático ou ao ser marcado prosodicamente o ADV ontem não pertencerá portanto ao mesmo agrupamento da oração subordinada fato que o licenciará para atuar fora desse constituinte 7 O João disse ontem que a Maria chegou 8 O João disse que a Maria chegou ontem Um exemplo de iconicidade menos autoevidente é o uso da posição ini cial ou da posição final de uma frase como espaço para codificar a saliência informacional e comunicativa do que se quer dizer num enunciado A posi ção inicial de uma frase normalmente codifica o tópico frasal ou seja um tema um assunto uma informação velha ou compartilhada comuni 140 Duas abordagens no estudo da Sintaxe cativamente como discutimos ao final do capítulo Funções sintáticas Por sua vez a posição final da frase costuma ser destinada à veiculação da informação nova isto é ao foco informacional do que se diz Veja os seguintes exemplos 9 AMaria tem dois irmãos o Paulo e o João Ela gosta muito do Paulo a t O João ela não suporta optco b Ela não suporta tópicJo João lO Como o João chegou em casa ontem a Ele chegou em casa rocJ cansado b focJCansado ele chegou em casa Os pontos de interrogação à frente da frase marcam a estranhe za do enunciado num dado contexto Note que as frases em b são bem formadas gramaticalmente mas soam estranhas no contexto dado Isso acontece porque em 9b o tópico está na posição final da frase um espaço sintático reservado a elementos focalizados Já em lOb o foco informacional aparece no começo da frase uma posição como vimos em que se esperam elementos que funcionam como tópicos Repare nos contextos dos exemplos a seguir como as frases em b soam agora bem mais naturais ao passo em que as frases em a é que parecem anômalas 11 Qual de seus irmãos a Maria não suporta O Paulo ou o João a focJO João ela não suporta b Ela não suporta rocJo João 12 João saiu da aula muito cansado E assim a ele chegou em casa tópicJ cansado b t cansado eie chegou em casa opte o Como as respostas em 11 e 12 têm outra configuração discursiva ainda que tenham a mesma estrutura sintática superficial que as respostas em 9 e 10 respectivamente o efeito de estranheza ou aceitabilidade em a e b foi invertido Esse fenômeno evidencia o princípio da iconi cidade porque durante uma interação comunicativa informações novas foco são normalmente apresentadas a partir de uma informação já com partilhada tópico e não o contrário É a organização sintática a serviço 141 PARA CONHECER Sintaxe da organização informacional e comunicativa Voltaremos a falar dessa or ganização frasal em tópicofoco mais adiante neste capítulo 22 Funções comunicativas e sua expressão sintática Nas décadas de 1980 e 1990 o linguista norteamericano Talmy Givón formulou a ideia de que a linguagem humana poderia ser ca racterizada a partir de duas funções básicas a função representacio nal e a função comunicativa A primeira dessas funções diz respeito à possibilidade de representarmos pela linguagem a nossa percepção do mundo real Em outras palavras essa função linguística nos permite falar sobre o mundo em que vivemos tal como ele é por nós percebido Para Givón tal função aparece codificada em diferentes propriedades sintáticas e morfológicas das línguas como entre outras i a expressão da relação entre ações processos estados e seus participantes ii a contiguidade linear entre núcleos e seus argumentos iii a expressão de funções semânticas dos participantes de uma ação ou de um pro cesso agente paciente tema instrumento etc por meio de funções sintáticas mais ou menos correspondentes sujeito objeto direto objeto indireto adjunto etc TALMYGIVÓN Givón foi um dos fundadores da Linguística Funcional nos EUA Ele funda mentou suas generalizações funcionalistas em pesquisas empíricas realiza das nas mais diversas famílias linguísticas do mundo semíticas africanas ameríndias austronésias sinotibetanas e indoeuropeias Ele é também um notável estudioso da gramaticalização em línguas pidgins e crioulas A segunda função mencionada por Givón diz respeito ao modo como falamos isto é à maneira pela qual codificamos informações liriguísticas durante a comunicação Givón 1995 distingue dois subtipos da função comunicativa a função interpessoal que se refere à codificação dos as pectos pertinentes à interação comunicativa e a função textual referente à organização do fluxo de informação linguística para o processamento cognitivo eficiente da comunicação 142 Duas abordagens no estudo da Sintaxe A função interpessoal está relacionada a como interagimos com nos so interlocutor por meio da linguagem verbal Essa função refletese por exemplo nos diferentes tipos gramaticais de orações declarativas inter rogativas imperativas exclamativas que produzem diferentes efeitos de atos de fala e seus respectivos modos de interação com o interlocutor Givón chamou a atenção para o fato de a linguagem nos permitir a codi ficação de diferentes forças elocutivas em um dado enunciado conforme vemos a seguir Note que cada frase a seguir veicula um modo distinto de interação entre quem fala e o seu interlocutor 13 Está chovendo Preciso de um guardachuva declaração 14 Está chovendo Você pode me emprestar seu guardachuva pedido 15 Está chovendo Me dá seu guardachuva ordem Um bom exemplo da função interpessoal da linguagem humana são os pronomes de tratamento Esses itens lexicais não somente indicam as pessoas do discurso mas também revelam o modo de participação de cada locutor numa dada interação comunicativa Em português por exemplo o uso de diferentes formas de tratamento senhor senhora tu você e sua forma reduzida cê por exemplo ao lado de certas formas verbais verbos flexionados no futuro do pretérito por exemplo marcam o status do inter locutor com relação ao falante Esse status pode veicular respeito forma lidade afastamento igualdade proximidade familiar informalidade etc Repare isso nos seguintes exemplos que partem da expressão mais formal em 16 à menos formal em 19 16 O senhor gostaria de me entregar seu casaco 17 Você quer me entregar seu casaco 18 Tu quer me entregâr teu casaco 19 Cê quer me entregar teu casaco Mais uma vez percebemos que um princípio comunicativo está atuando diretamente em aspectos sintáticos de organização da informa ção na língua 143 PARA CONHECER Sintaxe ATOS DE FALA O filósofo da linguagem J L Austin 19111960 propôs a teoria dos atos de fala continuada especialmente por seu aluno J R Searle A ideia básica dos atos de fala é que quando falamos fazemos mais do que simplesmente expressar conteúdos proposicionais nossos enunciados são também dota dos de forças comunicativas Austin 1962 propõe que o ato comunicativo pode se apresentar em vá rios níveis sendo os mais relevantes o ato locutivo o ato ilocutivo e o ato perlocutivo Ato locutivo resumese no ato de proferir uma sentença com certo significado e um conteúdo informacional ou seja o sentido restrito da sentença a descrição dos estados de coisas Ato ilocutivo é a intenção do proferimento do falante ou seja as ações que realizamos quando falamos ordenamos perguntamos avi samos etc Ato perlocutivo são os efeitos obtidos pelo ato ilocutivo ou seja o resultado que conseguimos com nosso ato de fala assustamos con vencemos desagradamos etc Cançado 2012 146 Por seu turno a função textual está relacionada à maneira como orga nizamos o discurso em um fluxo coerente De um ponto de vista comuni cativo essa maneira deve ser a ótima isto é a melhor possível Para Givón e outros funcionalistas norteamericanos os princípios que regem a função textual não são arbitrários nem específicos da linguagem verbal Pelo con trário esses princípios seriam decorrentes de aspectos gerais da cognição humana tal como a maneira como agrupamos e processamos informações de natureza não linguística De fato as línguas naturais dispõem de recur sos para organizar a comunicação de forma a tornar salientes determinados pedaços de informação Por exemplo o princípio de organização infor macional determina como já vimos que elementos novos no disçurso de vem ocupar a posição final da frase ao passo que elementos já conhecidos pelo interlocutor devem ocupar a posição inicial da frase Vejamos a seguir mais um exemplo desse tipo de organização frasal 20 a Quem você vai convidar para a festa h 1 Eu vou convidar o João o Pedro e a Maria üplCO lOCO 144 Duas abordagens no estudo da Sintaxe Compare 20 que se caracteriza com um diálogo natural a 21 em que a resposta em h nos causa estranhamento 21 a Quem você vai convidar para a festa h O João o Pedro e a Maria 16 eu vou convidar 10CO piCO O estranhamento de 21 h decorre de aspectos relacionados à arti culação informacional da frase e não somente de questões puramente sintáticas associadas à ordem dos constituintes Isso ficará mais evidente a partir da análise dos exemplos que se seguem 22 a Quem te convidou para a festa h Quem me convidou foi o irmão do João 23 a Quem te convidou para a festa h O irmão do João me convidou Nesses dois exemplos ocorre o mesmo que se vê em 20 e 21 isto é em 22 há uma resposta com a organização tópicofoco e em 23 a resposta veicula a ordem focotópico Repare como a resposta em 22b soa bastante natural Por contraste 23b nos causa certo estranhamento a menos que usemos uma prosódia marcada para a frase que confira ênfase acentuai ao sujeito o irmão do João algo do tipo o IRMÃO DO JOÃO me convidou Tal sensação de estranheza acontece porque as posi ções entre tópico e foco foram invertidas nesse exemplo fato que gera uma estrutura informacional inesperada como também já havíamos exa minado no início deste capítulo 22 SINTAXE E OS SUBPRINCÍPIOS DA ICONICIDADE Givón e outros funcionalistas tornaram mais explícitas as relações entre estruturas sintáticas e a iconicidade semiótica ao formularem três divisões para esse princípio funcional os subprincípios da quantidade da integração e da ordem De acordo com o subprincípio da quantidade devemos entender que quanto maior for a quantidade de informação a ser veiculada maior será a quantidade de estruturas linguísticas necessárias para estabelecer a co municação Um interessante desdobramento desse princípio pode ser per 145 PARA CONHECER Sintaxe cebido na relação entre a quantidade de materiallinguístico morfemas e itens lexicais e o distanciamento entre locutor e interlocutor em termos de graus de formalidade no seguinte sentido quanto mais formal for a situação comunicativa em que estivermos engajados mais material lin guístico iremos usar para expressar em uma frase ou mais aquilo que queremos comunicar É algo que já pudemos antecipar nos exemplos 16 a 19 Veja em seguida que as frases 24 e 25 expressam o mesmo conteúdo proposicional ou seja têm basicamente o mesmo significado porém a quantidade de estrntura formal de itens lexicais presente no pri meiro exemplo é bem maior em relação ao segundo Essa assimetria revela o nível de formalidade existente entre locutor e interlocutor em cada uma dessas situações comunicativas 24 O senhor poderia por gentileza me alcançar o jornal pedido formal 25 Cê me alcança o jornal pedido informal O subprincípio da integração por sua vez determina que quanto maior a integração cognitiva entre conteúdos maior a integração das estrn turas sintáticas que veiculam tais conteúdos Um exemplo morfossintático desse princípio pode ser visto na concordância verbal variável fenômeno ubíquo no português brasileiro Nesse caso a presença de materiallinguís tico interveniente entre sujeito e verbo tornará a relação entre esses dois constituintes menos integrada cognitivamente de modo que quanto mais elementos separarem o sujeito e o verbo tanto menor será a chance de ocorrer concordância morfossintática entre esses dois elementos Para ver um exemplo real desse fenômeno tomemos o seguinte exemplo retirado de um corpus apresentado por Costa 1995 26 Há pouco tempo atrás dois bárbaros assassinatos o da atriz Daniela Perez e o da menina que foi queimada pelos sequestradores ressusci tou a polêmica da Pena de Morte corpus DGNatal p 321 Vemos aqui que o sujeito dois bárbaros assassinatos é separado de seu respectivo predicado ressuscitou a polêmica da Pena de Morte pelo longo aposto o da atriz Daniela Perez e o da menina que foi quei mada pelos sequestradores A presença desse material entre sujeito e verbo fez com que a concordância fosse enfraquecida assim o número 146 Duas abordagens no estudo da Sintaxe plural do sujeito não foi marcado também no verbo que permaneceu no singular Repare como esse efeito se desfaz se retirarmos o aposto inter veniente entre sujeito e verbo 26Há pouco tempo atrás dois bárbaros assassinatos ressuscitaram a polêmica da Pena de Morte Finalmente o subprincípio da ordem estipula que há uma tendên cia de a ordem sintática dos elementos na frase refletirem a ordem se mântica dos acontecimentos no mundo conforme já demonstramos anteriormente nos exemplos 4 e 5 A organização sintática além de refletir o princípio da ordem semântica guiase também pelos princí pios comunicativos de organização do fluxo informacional como já vimos É por essa razão que numa frase como o jogador chutou a bola vemos convergir a iconicidade da cena no mundo e a ordenação semântica dessa estrntura sintática z3 Marcação Em Sintaxe Funcional é importante fazer a distinção entre formas linguísticas marcadas e formas não marcadas As formas não marcadas são as mais frequentes no uso da língua e as que envolvem menos material linguístico Uma forma marcada por sua vez é aquela menos frequente e que demanda mais codificação linguística Podemos ilustrar o princípio da marcação com a morfologia flexionai de número e gênero em portu guês Com efeito uma forma não marcada é um substantivo masculino no singular como presidente É essa a forma que consta por exemplo na entrada em qualquer dicionário de língua portuguesa Em relação à forma não marcada expressões como presidentes presidenta e presidentas serão interpretadas justamente como formas marcadas já que expressam mais informações a saber gênero feminino eou número plural e são me nos frequentes no uso da língua Outro exemplo de estrntura marcada e não marcada em sintaxe pode ser observado na oposição entre frases na voz verbal ativa e na voz passiva Uma frase ativa é considerada não marcada isto é mais 147 PARA CONHECER Sintaxe frequente e com menos demanda de codificação linguística Por outro lado sua contraparte passiva é linguisticamente marcada o que signifi ca dizer que ela é menos frequente e envolve mais materiallinguístico Veja a seguir um exemplo da assimetria entre as vozes verbais en quanto temos 4 itens lexicais na frase expressa na voz ativa sua passiva correspondente apresenta 6 itens Corruptos depuseram o presidente 1 2 3 4 O presidente foi deposto por corruptos 1 2 3 4 5 6 Note bem uma abordagem funcionalista deve esperar que uma forma marcada tenha alguma boa motivação comunicativa para ser empregada no uso real da língua Afinal por que as pessoas escolheriam uma determi nada forma em detrimento de outra para expressarem o conteúdo que de sejam veicular Devemos imaginar que exista alguma diferença no uso de cada uma dessas formas senão não haveria motivo para ambas existirem Aqui mais uma vez estamos frente a um princípio caro aos funcionalistas cada forma deve ter uma função no sistema linguístico No caso das vozes verbais uma passiva pode ser usada quando desejamos promover o objeto direto do verbo a uma posição de maior saliência discursiva ao mesmo tempo em que demovemos o sujeito dessa saliência por exemplo Veja mos no seguinte minidiálogo como isso acontece 27 a O que aconteceu h O João matou o Paulo h O Paulo foi morto pelo João Nesse exemplo o falante A faz uma pergunta a B sem demons trar ter a priori nenhum conhecimento sobre o que tenha acontecido A resposta mais natural de B parece ser 27b uma construÇão como vimos não marcada em português Sem qualquer motivação aparente a oração passiva em 27b promove o paciente da ação o Paulo a uma posição de destaque da frase Ora a falta de contexto para 27b é a causa do estranhamento do emprego de uma voz passiva como resposta para 27a 148 Duas abordagens no estudo da Sintaxe Um efeito ainda mais estranho se verifica no próximo exemplo Ago ra A sabe que aconteceu algo envolvendo o João mas não sabe exatamente o que aconteceu 28 a O que aconteceu com o João h Ele matou o Paulo h O Paulo foi morto por ele A resposta em 28b não é apenas estranha mas de fato inaceitável no contexto e por isso a marcamos com o sinal Ou seja não há qual quer razão comunicativa para o emprego de uma forma sintática marcada nesse caso O que vemos na resposta 28b é a bem da verdade uma in versão do que esperaríamos encontrar em termos de organização informa cional da frase Repare que ali o foco aparece no início da frase e o tópico no fim e o paciente aparece em primeiro plano em posição de figura e o agente em posição de fundo Em contraste a resposta 28b é funcional mente aceitável justamente porque preserva os princípios comunicativos de organização sintática do fluxo informacional 24 TEORIA SINTÁTICA E USOS LINGUÍSTICOS Contemporaneamente as propostas originais do funcionalismo lin guístico evoluíram para um conjunto de princípios epistemológicos e me todológicos que tomam corpo nas chamadas abordagens baseadas no uso cf Martelotta 2011 Tais abordagens unificam um grupo heterogêneo de pesquisadores das mais diferentes afiliações acadêmicas como sociolin guistas construcionistas conexionistas sociocognitivistas certos psico linguistas além dos próprios sintaticistas funcionalistas Essencialmente pesquisadores dessa nova abordagem funcional sustentam que a sintaxe de uma língua natural seja um fenômeno inex trincavelmente relacionado aos seus usos reais Portanto tratase de um aprofundamento das premissas originais funcionalistas de acordo com as quais as formas linguísticas decorrem de suas funções A novidade dessa abordagem é a caracterização da sintaxe como um sistema emergente di nâmico e flexível Esse sistema se encontraria em reformulação constante 149 PARA CONHECER Sintaxe em razão de diversas e complexas propriedades estruturantes que só to mam vida a cada uso específico que falantes de uma língua vão fazendo em sua vida cotidiana Em especial os novos funcionalistas assumem que tais propriedades espelham características genéricas da cognição humana e por conseguinte não podem ser interpretadas nos termos estritamente linguísticos da análise sintática como supõem pesquisadores de outras correntes como os gerativistas O objetivo mais ambicioso dos desdobramentos mais recentes das abordagens funcionalistas é desenvolver teorias e análises linguísticas que descrevam como as estruturas sintáticas das línguas refletem proces sos cognitivos gerais como analogia automatização atenção e categori zação Esses processos de acordo com os linguistas orientados pelo uso são bem conhecidos nos estudos de outras funções cognitivas como a memória o raciocínio a visão o planejamento de ações a conceitualiza ção entre outros Logo a agenda presente e futura dessa abordagem de verá concentrarse na tarefa de desvendar como a sintaxe de uma língua como o português ou qualquer outra é na verdade um epifenômeno de uma pletora de fenômenos cognitivos e interacionais que tomam forma no uso e pelo uso linguístico 3 ABORDAGEM EXPERIMENTAL A abordagem da Sintaxe Experimental não se configura como uma teoria específica sobre a natureza da linguagem humana por isso ela não deve ser compreendida como uma alternativa ao funcionalismo ou ao for malismo em Linguística Com efeito o recurso à experimentação consti tuise como uma opção metodológica de pesquisa que pode ser adotada por linguistas das mais diferentes correntes epistemológicas e ideológicas Existem inclusive diversos trabalhos experimentais em desenvolvimento no Brasil e no restante do mundo que são dedicados a componentes lin guísticos distintos da Sintaxe nos campos da Semântica Experimental e da Pragmática Experimental por exemplo Nesse sentido quais seriam as características que definem em especial a Sintaxe Experimental como abordagem metodológica De que maneira tal abordagem pode ser adotada 150 Duas abordagens no estudo da Sintaxe por um sintaticista nela interessado Apresentaremos ao longo desta parte final do livro as respostas mais maduras de que hoje dispomos para ques tionamentos como esses Em essência o que distingue a Sintaxe Experimental tanto de abor dagens puramente teóricoabstratas quanto daquelas baseadas em dados extraídos de corpora constitutivos de usos da língua é a possibilidade de formulação e testagem empírica de previsões comportamentais Isso quer dizer que essa abordagem é capaz de pôr à prova as predições de uso derivadas de algum modelo em Sintaxe isto é predições de da dos de produção ou de compreensão linguística a serem ainda revelados pelos falantes Compreensão é um termo abrangente utilizado na literatura experimental em linguagem para fazer referência não somente à interpretação semântica ou pragmática de um enunciado mas também à percepção e à análise estru tural inconsciente de estruturas linguísticas Em termos abstratos o que a Sintaxe Experimental se propõe a ve rificar são previsões formuladas mais ou menos da seguinte maneira de acordo com tal teoria ou tal descrição sintática dado comportamento lin guístico deverá ser sistematicamente registrado sob tal circunstância Veja mos mais na prática como isso se dá Toda e qualquer pesquisa experimental em Sintaxe deve eleger como objeto de estudo um fenômeno sintático que possa de ser mensurado com portamentalmente seja pelo registro de tempo de reação de índice de acer tos numa tarefa de emissão de julgamentos de gramaticalidade ou aceita bilidade ou de qualqueroutro tipo de medida objetivamente registrável Essa é na verdade a única restrição imposta ao sintaticista interessado na área Tratase na verdade de uma limitação natural e necessária pois um paradigma experimental em linguagem sempre produzirá dados empíricos de natureza comportamental isto é dados do desempenho linguístico de um falante obtidos numa situação laboratorial específica de compreensão ou de produção oral ou escrita usamos aqui o termo falante de forma genérica e assim nos referimos a falantes ouvintes escritores leitores e pessoas surdas 151 PARA CONHECER Sintaxe Alternativamente a dados comportamentais abordagens de cunho neurolin guístico como a eletroencefalografia e o imageamento cerebral são capa zes de produzir dados de natureza neurofisiológica Para assimilarmos melhor a lógica da experimentação em Sintaxe pensemos no seguinte exemplo Imagine uma teoria sintática de acordo com a qual estruturas com preposição órfã como as que se apresentam em 29 e 30 a seguir fazem parte da gramática da língua portuguesa Essa teoria seria capaz de formular uma previsão comportamental bastante clara e direta falantes nativos dessa língua julgarão de modo sistemático tal tipo de estrutura como aceitável e gramatical 29 Internet é uma coisa que não consigo viver sem hoje em dia 30 Não imagino o lugar que deixei meu celular em hoje de manhã Ora a previsão de tal modelo poderia ser verificada por um para digma experimental como o juízo imediato de gramaticalidade Nesse caso se numa dada amostra populacional de falantes nativos do portu guês o percentual de julgamentos positivos a respeito de 29 e de 30 for significativamente superior ao seu total de julgamentos negativos então essa medida comportamental poderá ser usada como evidência em favor das previsões do modelo teórico citado Como você pode deduzir a expe rimentação é um recurso importante para fazer avançar o conhecimento científico sobre a sintaxe das línguas naturais afinal modelos que geram previsões não confirmadas por experimentos podem ser abandonados em favor de outros que sob evidência experimental melhor expliquem o com portamento linguístico humano Por um lado a principal diferença entre um experimento de juízo de gramaticalidade e os famosos julgamentos intuitivos informais utiliza dos por gerativistas clássicos é o maior poder científico dos dados obtidos experimentalmente Afinal como anotado por Wayne Cowart 1997 um dos estudiosos pioneiros em Sintaxe Experimental julgamentos auferi dos com amostras populacionais significativas por meio de paradigmas rigorosamente controlados e submetidos a testes estatísticos confiáveis assentamse sobre dados quantitativa e qualitativamente muito superio 152 Duas abordagens no estudo da Sintaxe res aos da intuição de um linguista isolado em seu gabinete De fato em decorrência de inúmeros fatores alheios a um formalista mais radical as intuições gramaticais de uma pessoa específica num dado momento de reflexão metalinguística podem não corresponder ao que de fato se passa com as estruturas sintáticas de uma língua no tempo real da produção e da compreensão linguística JULGAMENTOS INTUITIVOS Já é tradição entre os sintaticistas gerativistas utilizarem julgamentos pró prios ou de pessoas próximas para atestar ou não a boa formação de deter minadas construções sintáticas Ou seja é uma praxe comum perguntarmos a nós mesmos se tal frase é boa ruim ou aceitável Para isso consultamos nossa própria intuição gramatical enquanto falantes nativos da língua É o que viemos fazendo ao longo deste livro Apesar de a prática ser tacitamente aceita na comunidade acadêmica há du ras críticas contra ela assim como várias alternativas propostas para subs tituir ou aperfeiçoar esse método c f Labov 1987 Fillmore 1992 Maia 2012 2015 e Guimarães 2017 para discussão Por outro lado comportamentos induzidos em situação laboratorial são ontologicamente diferentes de dados reais extraídos de corpus Isso acontece porque experimentos restringem ao máximo as condições de produção e de compreensão de uma dada estrutura de tal modo que se toma possível isolar os fatores gramaticais que concorrem para a exis tência ou não de um fenômeno sintático específico numa dada língua Para entender isso tomemos o seguinte exemplo Dados de uso extraídos de jornais ou do Faceook poderiam atestar casos de preposição órfã em português tais como os citados em 29 e 30 No entanto esses usos específicos quase nada poderiam dizer sobre o status gramatical das preposições órfãs em nossa língua A limitada capacidade de genera lização dos chamados usos reais decorre do fato de que dados anota dos em corpora são gerados pela confluência de uma miríade de fatores linguísticos e comunicativos que não estão sob o controle do sintaticista Assim sendo esse estudioso nunca saberia a respeito do exemplo dado se tais ocorrências resultaram da influência de uma língua estrangeira 153 PARA CONHECER Sintaxe sobre um falante específico ou se se trata de dados produzidos de ma neira assistemática por falantes diferentes em situações distintas ou se há variabilidade na aceitação da estrutura de acordo com cada preposição da língua ou se o fenômeno é mais ou menos produtivo em determinado gênero do discurso entre diversas outras dúvidas Com tudo isso o que queremos dizer é que diante das práticas metodológicas de formalistas e de funcionalistas típicos a Sintaxe Experimental configurase pois como uma ferramenta capaz de superar tanto as limitações das intuições assistemáticas de um indivíduo isolado como também a indeterminação das causas dos usos registrados em corpora A bem da verdade uma pesquisa experimental em Sintaxe não se limita à mera captura de julgamentos de gramaticalidade acerca de uma es trutura linguística isolada De maneira nenhuma Com efeito entre outras aplicações o recurso à experimentação se presta sobretudo ao cotejo de di ferentes teorias sintáticas que fazem generalizações discrepantes sobre um fenômeno linguístico específico ou sobre a tipologia geral de uma língua Na vida de estudantes e de pesquisadores de pósgraduação não raramen te encontramos em revistas especializadas em dissertações de mestrado e em teses de doutorado propostas descritivas diferentes ou francamen te opostas na interpretação de certos fenômenos sintáticos Pois bem é justamente em casos como esses que a experimentação se qualifica como um recurso capaz de testar as previsões de cada uma das propostas alter nativas de modo a verificar em favor de qual delas os dados obtidos em situação experimental se encaminham Para elencarmos alguns exemplos concretos a esse respeito pense em como a Sintaxe Experimental poderia ser uma opção metodológica importante no esforço científico de responder perguntas como as que se seguem 154 Qual é a condição tipológica da topicalização no português do Brasil tratase de uma língua orientada para a sentença ou para o discurso Qual é a natureza do elemento que introdutor de orações relativas em português é ele um pronome ou um complementador Orações adverbias são um caso de hipotaxe ou de subordinação Duas abordagens no estudo da Sintaxe Diferentes respostas a cada um desses questionamentos poderão de rivar distintas previsões comportamentais Caberia portanto a um sin taticista experimental formular tais previsões e compor um desenho ex perimental apto a testálas Como se elabora um desenho experimental Veremos isso nas seções a seguir 31 Métodos offline e métodos online Existem dois tipos de medidas que definem dois grandes grupos de técnicas experimentais em Sintaxe medidas online e medidas offline As medidas online são aferidas durante o curso do processamento cognitivo que uma pessoa realiza inconscientemente enquanto recebe um estímulo linguístico oral ou escrito ou gestual no caso de línguas de sinais Medidas online envolvem o registro de tempos muito rápidos e são grava dos por um computador em milésimos de segundo Essas medidas envol vem também a mensuração de algum comportamento automático como a movimentação dos olhos durante o exercício da leitura Experimentos que recolham medidas online precisam ser necessariamente programados e apli cados em equipamentos especializados como softwares desenvolvidos para a realização de tarefas experimentais e hardwares projetados para monitorar os movimentos oculares humanos Equipamentos dessa natureza são capa zes de registrar dados comportamentais muito precisos e finos As técnicas experimentais online mais produtivas na pesquisa em Sintaxe na Linguística brasileira são o monitoramento ocular a leitura segmentada autocadeitciada também chamada leitura automonitora da e a audição segmentada autocadenciada veremos exemplos de ex perimentos com esses métodos a seguir Dados obtidos por meio de técni cas online como essas refletem mais diretamente o funcionamento natural de uma língua já que envolvem a medição de comportamentos automati zados independentes da inspeção consciente e da reflexão metalinguística dos participantes de um experimento Um exemplo interessante do emprego de monitoramento ocular numa pesquisa em Sintaxe Experimental é o estudo de Maia 20 15 155 PARA CONHECER Sintaxe Esse pesquisador utilizou um rastreador ocular para registrar os movi mentos e as fixações dos olhos dos participantes durante uma atividade de leitura de frases que envolviam o fenômeno da lacuna preenchida veja os exemplos 31 e 32 a seguir se precisar volte à discussão sobre lacunas no capítulo anterior No caso falantes nativos do portu guês todos estudantes de nível superior liam frases num computador a fim de responder perguntas interpretativas de cunho geral enquanto o rastreador ocular discretamente gravava os movimentos oculares ou sacadas de cada indivíduo de um ponto da frase para outro bem como as fixações do olhar em locais específicos do período Em um ter ço dos estímulos lidos pelos participantes uma frase apresentava uma lacuna vazia como ilustrado em 31 ou uma lacuna preenchida como em 32 note que a posição da lacuna em ambos os casos é indicada aqui pelo sublinhado mas essa marcação não acontecia nas frases do experimento original 31 Que livro o professor escreveu sem ler a tese antes 32 Que livro o professor escreveu a tese sem ler antes Maia 20 15 com base em sua teoria sintática sobre lacunas for mulou a previsão comportamental de que em comparação a 31 frases do tipo 32 registrariam maior fixação do olhar na região imediata mente após o verbo escreveu pois isso indicaria uma quebra de ex pectativa da estrutura sintática aguardada tacitamente pelo falante leia a frase em 31 com atenção e perceba como tendemos a interpretar que livro como objeto do verbo escreveu Tal efeito surpresa em frases com a lacuna preenchida como 32 seria desencadeado porque nesse tipo de frase há um constituinte no lugar da lacuna que a princí pio deveria estar vazia e assim disponível para associação anafórica ao sintagma que livro posicionado no início da frase Perceba que tal efeito surpresa seria anotado pelo rastreador na forma dé maiores fixações oculares na região surpreendente sem que o participante da tarefa sequer tomasse consciência do fenômeno afinal tratase de uma metodologia online 156 Duas abordagens no estudo da Sintaxe PROGRAMAR E RODAR EXPERIMENTOS Linguistas e estudantes interessados em pesquisa experimental têm à sua dis posição grande variedade de softwares desenhados especificamente para pro gramar e aplicar experimentos Entre os programas gratuitos o PsychoPy é um dos mais utilizados no meio acadêmico para pesquisas online e offline Tratase de um software aberto escrito em linguagem Python compatível com sistemas operacionais diversos Windows Linux e Mac os Também o Google Forms o Typeform e o EdPuzzle são boas ferramentas gratuitas disponíveis na internet especialmente úteis para pesquisas de questionários entre outras medidas offline Por sua vez o Paradigm é um dos melhores programas pagos do mercado em função de seu sistema desenhado para Windows de uso fácil e intuitivo Esse software permite aplicação de experi mentos em tablets e smartphones além de computadores de mesa ou laptops Estudantes conseguem comprálo pela internet com descontos especiais Os resultados reportados em Maia 20 15 confirmaram suas previsões e assim serviram de sustentação empírica para seu modelo sintático Na figura a seguir podemos ver um exemplo do mapa de calor gerado pelo rastreador utilizado pelo pesquisador As regiões mais escuras ao centro da figura na segunda frase indicam maior fixação do olhar exatamente na po sição pósverbal na qual ocone uma lacuna preenchida Por oposição na primeira frase na mesma posição após o verbo as cores do mapa são bem mais claras fato de que indica pouca fixação de olhar nessa região Tal dife rença teria oconido segundo Maia porque nesse caso o falante confirmou sua expectativa estrutural ao encontrar uma lacuna sintática realmente vazia Figura 1 Maia 20 15 imagem com autorização do autor Que livro o professor escreveu seTt ler a tese antes Que livro o professor escreveu a tese sem ler antes 157 PARA CONHECER Sintaxe A leitura segmentada autocadenciada é outra técnica experimental online útil e muito mais barata se comparada ao monitoramento ocu lar Nesse paradigma o participante do experimento deve ler frases na tela de um computador com objetivo de responder perguntas de cunho interpretativo genérico ou seja perguntas não relacionadas ao objeto tácito da pesquisa em questão Ocorre que essa leitura é realizada em partes isto é em segmentos constituintes menores do que a frase como um todo palavra por palavra ou sintagma por sintagma conforme a conveniência do pesquisador Enquanto lê os segmentos de cada frase o participante manipula uma caixa de respostas Essa é uma espécie de joystick no qual o acionamento de um botão específico dispara a passagem de um segmento a outro enquanto outros botões dispararão a resposta sim ou não diante de perguntas interpretativas A seguir ilus tramos uma tela desse tipo de experimento em plena execução Nesse caso note que o participante se encontra no segundo segmento da frase já tendo concluído a leitura do primeiro e prestes a disparar a leitura do terceiro item Perceba com o auxílio dessa imagem que nesse para digma de leitura os segmentos já lidos e os ainda a ler ficam ocultos na tela do computador pelas linhas pontilhadas Assim que o participante em sua velocidade natural de leitura passa de um segmento ao outro conforme pressiona o botão adequado para isso o segmento imedia tamente posterior àquele que acabou de ser lido revelase sobre seu pontilhado e ao mesmo tempo o segmento anterior volta a ocultarse na forma de pontos Figura 2 Um experimento de leitura de frase em leitura segmentada autocadenciada em execução democracia Nesse tipo de experimento o tempo consumido durante a leitura de cada segmento é registrado pelo computador enquanto um participante realiza a leitura de cada frase Como se trata de uma leitura autocaden 158 Duas abordagens no estudo da Sintaxe ciada isto é como é o próprio participante que determina o tempo ne cessário para a conclusão da leitura de cada segmento tempos maiores despendidos em um segmento específico comparativamente a outros serão tomados como evidência comportamental de maior dificuldade na computação sintática necessária para a leitura desse segmento em par ticular em relação a outro em que tal lentidão não se registre Foi essa lógica experimental que Kenedy 20 11 explorou ao comparar a integra ção com um SV predicado de SN em posição de sujeito como em 33 a seguir e de SN em posição de tópico como em 34 O autor tinha a intenção de verificar se sujeitos e tópicos representariam custos sintáti cos diferentes em sua integração com um SV A medição do tempo des sa integração sintática foi feita no segundo segmento ilustrado a seguir Você deve perceber que ambas as frases possuem três segmentos cada qual separado do outro nessa representação mas não no experimento original por barras inclinadas Será que as duas palavras do segundo seg mento seriam lidas com velocidades diferentes a depender da categoria sintática do primeiro segmento 33 Essa janela I fica abetia I no verão 34 Essa janela I venta muito I no verão sujeitopredicado tópicocomentário De acordou com sua teoria sintática sobre a condição tipológica de sujeitos e de tópicos no português do Brasil Kenedy formulou a previsão comportamental de que o segundo segmento em frases como 33 seria lido em tempos significativamente inferiores à média de leitura desse mesmo segmento em frases do tipo 34 Por certo suas previsões foram confirma das SVs antecedidos de SN em posição de sujeito foram lidos em média a 475 milésimos de segundo mais rapidamente do que SVs pospostos a SN em tópico uma diferença que apesar de aparentemente pequena foi atestada como significativa em termos estatísticos Na posse desses dados o autor acreditou ter reunido evidência empírica em favor da hipótese se gundo a qual o português brasileiro seja uma língua com proeminência de sujeitos seguidos de predicados e não de tópicos seguidos de comentários ao contrário do que sustentam outros modelos de descrição da língua A audição segmentada autocadenciada é idêntica ao paradigma da lei tura segmentada A diferença entre ambas as técnicas reside obviamente 159 PARA CONHECER Sintaxe no fato de nesse caso os estímulos serem apresentados aos participantes em segmentos orais Na ilustração seguinte vemos uma participante que ouve frases segmentadas num fone de ouvido enquanto segura uma caixa de resposta A cada segmento ouvido ela pressiona um botão nessa caixa de modo a disparar o áudio do segmento seguinte Figura 3 Patticipante executa audição de frase segmentada autocadenciada Retirado de Kenedy 2013 imagem com permissão do autor Em 2014 Kenedy realizou uma versão oral do experimento comes tímulos escritos apresentado anteriormente Dessa vez os participantes ouviam cada um dos três segmentos das frases em 33 e 34 com as ca racterísticas prosódicas que poderiam favorecer de um lado a integração entre um SN sujeito e o seu predicado e de outro a integração de um SN tópico a seu respectivo comentário Os resultados do experimento de audi ção indicaram que SNs tópicos são integrados a um comentário tão pronta mente quanto os SNs sujeitos se integram a seu predicado desde que haja nos estímulos pistas melódicas que indiquem quando um SN se encon tra em posição sintática topicalizada Para Kenedy 2014 essa restrição prosódica imposta exclusivamente à computação sintática de constituintes topicalizados seria um indicativo da condição de fenômeno márcado que a topicalização possui em português Segundo o autor os resultados de ambos os paradigmas online confirmavam as previsões derivadas de seu modelo sobre topicalização em línguas naturais Por oposição aos dados online medidas offline são aquelas aferidas após a conclusão do processamento cognitivo da informação linguística e 160 Duas abordagens no estudo da Sintaxe por conseguinte envolvem reflexões mais conscientes e deliberadas por parte daqueles que participam de uma tarefa experimental Esse tipo de ex perimentação não impõe a necessidade de software ou hardware especiali zados embora preferencialmente seja realizado em equipamentos simples como programas experimentais gratuitos e computadores com caixa de resposta que permitem inclusive a medição do tempo consumido durante a realização de uma tarefa offline Com efeito alguns experimentos lin guísticos offline podem ser realizados até mesmo por meio de um formu lário impresso a ser respondido com uma caneta como o julgamento de aceitabilidade de frases ou a produção induzida num preenchimento de questionário ou por meio de gravações de áudio ou vídeo com equipa mentos amadores comuns As técnicas experimentais offline são inúmeras e podem inclusive ser inventadas ou adaptadas confmme a criatividade e a necessidade do pesquisador Não obstante as mais utilizadas em pesquisas empíricas aqui no Brasil são o já citado juízo imediato de gramaticalidade ou aceitabi lidade a produção induzida de fala ou de escrita o reconhecimento de palavras as respostas a perguntas interpretativas e a testagem do efeito de priming que encontramos entre outras condições quando um estímulo sugestiona o falante a produzir outro semelhante por exemplo expomos nosso informante a uma série de frases na voz passiva depois perguntamos algo a ele para verificar se ele responderá utilizando uma estrutura passiva por influência do input que recebeu Em função de sua natureza mais consciente ou mesmo metalinguís tica dados offline ape11as indiretamente refletem a realidade mais natural e espontânea no uso das estruturas sintáticas da língua uma vez que em situações mais reflexivas e deliberadas diversos domínios linguísticos e diferentes domínios não linguísticos interagem em tempo real durante a produção ou a compreensão de sintagmas e frases Neste livro não dis pomos de espaço suficiente para ilustrar cada um desses paradigmas No entanto nas seções que se seguem enquanto apresentamos as proprieda des fundamentais de um desenho experimental teremos a oportunidade de ilustrar conceitos e técnicas com base em alguns projetos offline 161 PARA CONHECER Sintaxe 32 Tarefa experimental Um experimento linguístico utiliza no caso típico participantes ingê nuos naive ou seja pessoas que não sejam especialistas em Linguística ou estudiosos de Gramática Por essa razão a tarefa experimental de uma pesquisa deve ser sempre clara simples e objetiva livre inclusive de utilização de metalinguagem na medida do possível Em experimentos online as tarefas experimentais mais comuns são como vimos 1 ler ou ouvir uma frase apresentada em segmentos num computador enquanto um software registra o tempo que é consumido na leitura ou na audição de cada segmento 2 ler com naturalidade palavras ou frases numa tela de computador enquanto um equipamento monitora o comportamento ocular inconscientemente produzido ao longo da leitura Já em experimentos offline por outro lado as tarefas mais típicas são 1 julgar ftases binariamente declarandoas aceitáveis versus inaceitáveis 2 julgar frases por meio de escalas de aceitabilidade atribuindolhes uma nota por exemplo de O a 4 conforme se ilustra na Figura 4 3 preencher formulários dando continuidade a uma frase oral ou escrita como se vê na Figura 5 4 declarar o reconhecimento ou a familiaridade com uma palavra ou um expressão apresentada por escrito ou oralmente 5 responder a ques tionários variados 6 declarar o reconhecimento ou a familiaridade com um detenninado estímulo após a apresentação de outro priming Figura 4 Exemplo de julgamento de aceitabilidade em escala O participante lê a frase ao topo da tela e conferelhe uma das quatros notas da lista conforme sua intuição sintática tácita Internet é mesmo algo que todo mundo precisa de atualmente O completamente inaceitável 1 pouco aceitável 2 provoca dúvida 3 bastante aceitável 4 perfeitamente aceitável 162 Duas abordagens no estudo da Sintaxe Figura 5 Exemplo de preenchimento de um formulário Aqui os pesq d u1sa ores Haag e Othero 2003 investigaram como os informantes tendiam a fazer a correferência pronominal numa frase escrita 1 Os políticos adoram os carros importados porque eles 2 A minha amiga acha que foi bem na prova especialmente porqueela 3 O gato é o único animal de que meu pai não gosta afinal 4 Meu tio tem alergia ao meu cachorro Acho que é porque ele 5 Aquela tarefa estava muito dificil e minha irmã quase não conseguiu completála No entanto ela Em resumo ao delinear uma pesquisa o sintaticista experimental deverá formular previsões comportamentais com base no tipo de ta refa a que os participantes de seu experimento serão submetidos Por hipótese as respostas obtidas durante o experimento não ocorrerão de maneira aleatória Antes elas decorrerão das variáveis experimentais controladas no experimento 33 Controle de variáveis Definir variáveis é uma das etapas mais importantes no delineamen to de um projeto experimental em Sintaxe ou em qualquer outro nível da descrição gramatical Por um lado o estudioso deverá delimitar os fenômenos que de acordo com sua hipótese de trabalho são capazes de provocar certo comportamento a ser registrado durante a execução de uma tarefa Por outro lado ele também deve estabelecer que tipo de métrica registrará esse comportamento Os fenômenos selecionados como possíveis causadores do com portamento são denominados variáveis independentes enquanto as medidas aferidas numa tarefa denominamse variáveis dependentes Va riáveis independentes são também denominadas variáveis controladas enquanto variáveis dependentes também são chamadas de variáveis de resposta ou medidas dependentes Por exemplo numa pesquisa sobre digamos concordância verbal um pesquisador poderia definir a posição do sujeito relativamente ao verbo se anteposto ou posposto como uma variável independente capaz de desencadear como variável dependente maior ou menor índice de estabelecimento da concordância numa tarefa de produção de fala induzida 163 PARA CONHECER Sintaxe Figura 6 As variáveis de uma pesquisa experimental ESTÍMULO COMPORTAMENTO Variável independente Variável dependente Num dado experimento pode haver mais de uma variável inde pendente eou mais de uma variável dependente a critério das hipó teses e das previsões da pesquisa específica O importante é que todas essas variáveis sejam definidas com a maior clareza e mais do que isso é fundamental que haja o máximo controle sobre outras variáveis que podem igualmente provocar ou influenciar determinado comportamen to Continuando com o exemplo de uma pesquisa sobre concordância verbal existem muitos fatores que podem influenciar o estabelecimen to ou não da concordância tais como natureza do verbo se regular ou irregular de qual conjugação 1 a 2a ou 3a a posição do sujeito em rela ção ao verbo se anteposto ou posposto o número e o tipo de itens le xicais intervenientes entre sujeito e verbo a distinção morfofonológica entre formas do singular e do plural a frequência e a familiaridade de verbos específicos o grau de instrução e letramento dos participantes da tarefa etc Portanto numa pesquisa sobre concordância o estudioso não poderá deixar de controlar tais variáveis do contrário as chamadas variáveis de confusão isto é aquelas que não foram controladas pelo pesquisador podem influenciar o comportamento registrado no expe rimento e assim enfraquecer ou anular o poder explicativo atribuído às variáveis independentes 34 Condições experimentais e desenho fatorial Nos estímulos a serem apresentados aos participantes de uma tare fa experimental as variáveis independentes são concretizadas em for mas linguísticas específicas que realizam as condições experimentais da pesquisa Por exemplo em nosso hipotético estudo sobre concor dância verbal se a seleção da posição relativa entre o sujeito e o verbo 164 Duas abordagens no estudo da Sintaxe for eleita como uma variável independente então essa variável será concretizada em dois níveis que no caso de um experimento com uma única variável independente serão também as duas condições experi mentais 1 estímulos em que o sujeito antecede o verbo e 2 estímu los em que o sujeito sucede o verbo Nos experimentos que possuem mais de uma variável independente as condições experimentais são concretizadas a partir da multiplicação entre os níveis de cada variável selecionada Imaginese por exemplo que no citado experimento sobre concordância verbal o traço de ani macidade do sujeito também fosse selecionado como uma variável in dependente juntamente com a posição do sujeito Nesse caso o respec tivo experimento possuiria quatro condições experimentais resultantes da multiplicação entre os dois níveis de cada uma das duas variáveis independentes escolhidas 1 anteposição ao verbo sujeito animado 2 anteposição ao verbo sujeito inanimado 3 posposição ao verbo sujeito animado e 4 posposição ao verbo sujeito inanimado Figura 7 Ilustração de um experimento 2x2 sobre concordância verbal Exemplo Experimento offine preenchimento de formulário Tarefa preencher lacunas com verbo flexionado ou não 3 p singplural Variáveis independentes posição do verbo animacidade do sujeito Níveis da VI posição SV VS animacidade animado animado Condições SV an SV an VS an VS an Variável dependente indice de concordância Nesse exemplo teríamos um experimento com o desenho fatorial 2x2 no qual há duas VI isto é duas variáveis independentes primeira variável vezes segunda variável cada qual com dois níveis que com binados geram quatro condições experimentais dois níveis da primeira variável vezes dois níveis da segunda variável Em sua execução prática 165 PARA CONHECER Sintaxe junto aos participantes um experimento como esse poderia ser conduzi do por exemplo através de uma tarefa de preenchimento de espaços em branco mais ou menos como ilustramos a seguir i Condição SV an Os funcionários na hora do início do experimento ver bo chegar ii Condição VS an os funcionários recémcontratados pela empresa verbo chegar iii Condição SV an Os produtos já no primeiro dia de venda verbo acaba ram iv Condição VS an os produtos à venda na promoção verbo acabar Se nesse experimento fosse incluída uma terceira variável indepen dente digamos a conjugação verbal com três níveis la 2a e 3a conjuga ções então o desenho do experimento passaria a ser 2x2x3 o que daria à luz doze condições experimentais Ao delinear seus experimentos um pesquisador em Sintaxe deverá portanto definir seu desenho fatorial determinando quais são as condições experimentais de sua pesquisa Recomendase fortemente que os experi mentos contenham um número reduzido de condições para que por um lado se evite a fadiga do participante durante a execução da tarefa e por outro para que se diminua a possibilidade de reconhecimento explícito ou tácito do propósito da tarefa experimental Sendo assim um desenho 2x2x3 pode não ser aconselhável a depender da distribuição dos estímulos por participante conforme veremos a seguir na seção Seleção de partici pantes e sua distribuição na tarefa 35 Estímulos linguísticos As condições experimentais assumem na prática de uma tarefa al guma forma linguística concreta e específica No caso da Sintaxe Experi 166 Duas abordagens no estudo da Sintaxe mental essa fmma será um constituinte como um sintagma uma oração ou uma sentença Tais formas são denominadas estímulos experimentais A tradição das pesquisas com experimentos estabelece que cada condição experimental deve ser apresentada aos participantes de uma tarefa pelo menos quatro vezes na forma de quatro estímulos verbais distintos de modo que um padrão de reação a tal condição se houver possa ser detectado Ora se um estímulo fosse apresentado ao partici pante uma única vez não seria possível saber se o respectivo compor tamento provocado ocorreu de maneira sistemática ou se se deveu a um evento único e aleatório daí a necessidade da apresentação de no mínimo quatro exposições de uma dada condição experimental a cada sujeito específico Na elaboração de estímulos o pesquisador deve aplicar o máximo de esmero Deve controlar entre outros fatores a extensão dos estímulos de cada condição em número de sílabas ou palavras bem como a frequência e a familiaridade dos itens lexicais utilizados Esse controle visa à tentativa de evitar que fatores outros variáveis de confusão diferentes da variável in dependente possam afetar o desempenho dos participantes da tarefa por exemplo o tempo de reação a um determinado estímulo em digamos duas condições experimentais deve variar em função da variável independente selecionada na pesquisa e não porque os estímulos de uma condição pos suem muito mais palavras do que o da outra condição e assim obviamente demandam mais tempo de reação ou ainda a sensação de estranhamento a um estímulo deve decorrer da variável controlada pelo pesquisador e não da presença de uma palavra pouco frequente ou ambígua que acaba inter ferindo no julgamento Além do cuidado necessário na equivalência entre os estímulos de cada condição o pesquisador também deve empregar em qualquer experimento estímulos distrativos também denominados como dis tratores Tais estímulos não devem possuir nenhuma relação com as variáveis independentes de pesquisa e cumprem apenas a função de evitar que o participante reconheça explicitamente ou não o tipo de estmtura linguística que está sendo apresentada nos estímulos das con dições experimentais Por convenção os estímulos distrativos de um 167 PARA CONHECER Sintaxe experimento devem perfazer pelo menos dois terços do número total de estímulos da tarefa Sendo assim em um experimento com apenas uma variável independente e duas condições experimentais cada par ticipante será exposto a pelo menos 8 estímulos experimentais e 16 estímulos distrativos Figura 8 Exemplo de Abraçado 2015 Tarefa offline de escolha de opções de classificação colunas à direita Repare que somente as frases que seguem setas interessavam à pesquisadora As demais constituíam distratores distribuídos aleatoriamente entre os estímulos experimentais cAtaque matam o homem qve gritava éM mele a maniféstáÇÕt na Slrla rDllma sanciona a Comlssllo da Vndade lupl vai devolvar dlãrfas de viagem Em Slo Paulo projeto ambiental ajuda a preservar Rodnha fat a elo contra a denrue Ministro nilo quis comentar demlnclas Agênela ratlra aprovaclo de remédro contra o dncer de mama Juiza manda afastar presidente do Metrô de SP Durante ocupação na Rocinha a polÍcia prendeu quatro pessoas cNa tarde dé ontem agentes Bope apreenderem dots mfsselt ê duas bazuças GllpO faz2ápÓ ófeQ vatar no mar do RJ Por fim um experimento pode conter também estímulos de controle cuja função é pe1mitir o cotejo entre uma condição em que determinado fenômeno está presente com outra de controle em que ele é ausente Por exemplo numa pesquisa sobre ambiguidade sintática o desempenho dos participantes diante de estímulos ambíguos deve ser comparado com o que se passa com estímulos de controle não ambíguos o que permitirá a iden tificação de eventuais reações específicas na condição com ambiguidade Vemos isso ilustrado a seguir 35 Um paciente entrou na sala de muletas ambiguidade livre 36 O policial viu o suspeito com um binóculo ambiguidade enviesada 37 O pivete bateu na velhinha com a bengala ambiguidade enviesada 38 O casal se deslocou para o trabalho de transporte público controle Nos exemplos 35 a 37 podemos notar que ocorre uma ambi guidade na aposição de um SP ou seja esse sintagma pode ser adjun 168 Duas abordagens no estudo da Sintaxe gido a mais de um constituinte sintático em cada sentença Em 35 não nos sentimos propensos a escolher nenhuma das duas resoluções da ambiguidade isto é não preferimos interpretar que de muletas seja um modificador adnominal de sala ou um predicativo do sujeito Será que você tem a mesma impressão Já em 36 é provável que você prefira interpretar que um binóculo seja um adjunto adverbial que caracteriza uma circunstância conferida ao predicado viu o suspeito e não uma modificação nominal do próprio suspeito que então possuiria consigo um binóculo Se você possui uma preferência de interpretação como essa ou outra então esse seria o caso de uma ambiguidade enviesada O mesmo acontece no exemplo 37 em que consideramos mais prová vel que o SP com a bengala represente como ajunto adnominal o ins trumento usado pela velhinha Você concorda com a nossa impressão Por contraste 38 não apresenta ambiguidade na aposição do consti tuinte de transporte público Tratase portanto de um estímulo de controle Esse controle serviria num experimento de leitura de frases como baseline isto é como uma medida basal de tal forma que o tem po de reação a SPs ambíguos com diferentes enviesamentos possam ser cotejados ao tempo de leitura de SP não ambíguos a fim de que even tuais preferências estruturais na percepção de ambiguidades sintáticas sejam identificadas Afinal como seria a leitura de SPs ambíguos como 35 36 e 37 Seriam diferentes ou semelhantes ao tempo consumi do na reação de SPs não ambíguos como em 38 E sim se você não concorda nossas intuições sobre o enviesamento na interpretação desses exemplos só mesmo o recurso à experimentação poderia nos dar bases mais sólidas para discutir objetivamente o assunto Estímulos experimentais e distrativos também os de controle se houver devem ser apresentados ao participante de maneira randomizada isto é aleatória sem qualquer padrão de sequência linear Softwares espe cializados em experimentos já produzem randomização de estímulos de maneira automática No caso de pesquisas mais simples com formulário de papel a ser preenchido a caneta é o próprio pesquisador que deve sortear aleatoriamente a ordem de apresentação dos estímulos embaralhando os dois terços de distrativos ao terço final de estímulos experimentais 169 PARA CONHECER Sintaxe 36 Seleção de participantes e sua distribuição na tarefa Os participantes de um determinado experimento podem na ver dade constituir uma variável independente Ou seja se o pesquisador assumir que o comportamento a ser registrado numa tarefa pode variar de acordo com o tipo de participante por exemplo bilíngues versus mono língues com patologia versus sem patologia estudantes de L2 fluentes versus não fluentes pessoas com nível superior versus pessoas analfabe tas etc Nesse caso o experimento possuirá uma variável grupal tam bém chamada de fator grupal Se não for esse o caso o linguista deverá apenas determinar o perfil sociocultural das pessoas que podem partici par da tarefa fatores como idade sexo escolaridade região e outros que se mostrem relevantes e deverá também estabelecer como se dá a distribuição das condições experimentais pelos participantes Na distribuição dos participantes existem duas possibilidades a serem adotadas Na primeira delas todos os participantes são expos tos a todas as condições experimentais Essa distribuição denomina se dentre participantes withinsubjects em inglês ou intraparti cipantes Na outra cada participante é exposto a uma e somente uma condição experimental Nesse caso haveria um grupo de participantes separado para cada condição do experimento razão pela qual tal distri buição denominase entre participantes between subjects em inglês ou interparticipantes A distribuição dentre participantes tem a vantagem de exigir um número menor de indivíduos desempenhando as tarefas do experimen to já que todos são utilizados em todas as condições Porém essa op ção tem a desvantagem de facilitar o efeito de familiaridade isto é o aprendizado da tarefa durante a realização do experimento e a identi ficação explícita ou não de padrões nos estímulos considerandose que uma mesma pessoa é estimulada por todas as condições experimentais pelo menos quatro vezes em cada Com a distribuição entre participan tes as chances de ocorrer o efeito de familiaridade são menores mas para isso é demandado um número maior de participantes dado que eles devem distribuirse em igual número em cada uma das condições do experimento 170 Duas abordagens no estudo da Sintaxe Quando se opta pela distribuição dentre participantes os estímulos experimentais devem receber um tratamento adicional o controle num quadrado latino Esse recurso permite o balanceamento dos estímulos presentes em cada condição experimental evitandose que o mesmo parti cipante seja exposto a estímulos muito parecidos de diferentes condições distintos apenas em função da variável independente do experimento Com o quadrado latino estabelecese que um participante numa distribuição withinsubjects será exposto a todas as condições type do experimento mas em cada condição serão usados itens lexicais específicos tokens de modo que a relação entre essas condições não se torne evidente durante a realização da tarefa Por exemplo um participante que veja um estímulo do tipo verbo sujeito como Chegaram as encomendas seria exposto na condição sujeito verbo a um estímulo como As reclamações cessaram e não As encomendas chegaram Figura 9 Controle da distribuição dos estímulos experimentais num quadrado latino B é uma versão idêntica do estímulo A itens lexicais e estruturas sintáticosemântica são repetidos com exceção da condição experimental manipulada como projeção da variável independente Grupo 1 Grupo 2 Condição 1 Estímulos la 2a 3a 4a Estímulos 5a 6a 7a 8a Condição 2 Estímulos 5b 6b 7b 8b Estímulos 1 b 2b 3b 4b 37 Aplicação do experimento Após o longo percurso de elaboração de um experimento o pesqui sador deve manter a vigilância ainda durante a condução das tarefas com os participantes Eles devem receber todas as instruções e demonstrações necessárias para a perfeita realização da tarefa e devem ser submetidos a um breve treinamento o aquecimento na presença do experimen tador por meio de um préteste constituído somente por estímulos dis trativos cujo objetivo é evitar que o desempenho durante o experimento propriamente dito possa ser prejudicado devido a questões mecânicas ou a fatores decorrentes da incompreensão da tarefa Quando os participantes demonstram ter compreendido perfeitamente o que devem fazer durante o experimento o treinamento pode ser finalizado e o experimento iniciado 171 PARA CONHECER Sintaxe Dando início ao experimento os participantes devem encontrarse so zinhos numa sala isolada sem elementos que possam distrair a sua aten ção e interferir na realização da tarefa Devese registrar o tempo médio despendido na tarefa bem como após a realização do experimento deve se receber umfeedback dos participantes a fim de verificar se eles repor tam alguma anomalia ou mesmo se confessam ter identificado o padrão subjacente à tarefa ou o fenômeno linguístico em análise 3s Análise estatística Com a aplicação do experimento concluída é possível passar à aná lise dos resultados para verificar se os dados coletados se encaminham ou não em favor das previsões da pesquisa Nesse momento o pesquisador precisará contatar os serviços de um profissional de estatística ou poderá utilizar ele mesmo softwares de pacotes estatísticos para organizar e in terpretar os resultados numéricos do experimento A depender da variável dependente em questão do tipo de distribui ção dos participantes e da normalidade distributiva dos dados comporta mentais coletados diferentes tipos de análise estatística podem ser aplica dos Os mais comuns são análise da variância teste T quiquadrado e regressão logística Há uma grande variedade de softwares estatísticos no mercado O mais recomentado pelos estatísticos é o R programa gratuito de software aberto que requer o aprendizado de certos comandos manuais O R possuiu uma adaptação para a interface do Microsoft Excel no aplicativo brasileiro ActionStat que ao dispensar comandos em prompt costuma ser considerado bem mais amigável por usuários menos iniciados em estatís tica Outro software largamente empregado no Brasil é o SPSS abreviatura em inglês para Statistical Package for the Social Sciences ou Pacote Es tatístico para Ciências Sociais Esse no entanto requer o pagamento de uma licença bem cara para os típicos orçamentos miúdos de pesquisado res em Letras e Linguística no país O objetivo de um teste estatístico é por um lado descrever a distri buição dos dados obtidos no experimento e por outro verificar se o com 172 Duas abordagens no estudo da Sintaxe portamento típico encontrado nesses dados pode ser interpretado como provavelmente decorrente das variáveis independentes selecionadas na pesquisa ou se alternativamente são grandes as chances de o compor tamento manifestado pelos participantes ter sido provocado por fatores aleatórios O famoso pvalor utilizado nos resultados de análises esta tísticas é justamente o resultado de cálculos matemáticos complexos que medem a atuação das variáveis da pesquisa no cotejo com o acaso Simplificadamente estudos experimentais em Sintaxe assumem um ní vel de significância de no mínimo 95 o que significa dizer que um p valor igual ou inferior a 005 indica baixa probabilidade igual ou inferior a 5 de os resultados da pesquisa terem sido gerados aleatoriamente isto é sem a atuação da variável independente controlada na pesquisa Com resultados dentro dessa margem os dados reunidos por um projeto experimental em linguagem podem ser interpretados como indicadores da relevância de uma ou mais variáveis independentes eou da interação entre duas ou mais delas 39 Sintaxe Experimental no Brasil e no resto do mundo A linha de investigação mais proeminente na exploração expe rimental de questões sintáticas relevantes para a linguística teórica é certamente a autointitulada Sintaxe Experimental O texto seminal de Cowart 1997 indicava como já dissemos que os julgamentos de gra maticalidade utilizados informalmente entre gerativistas poderiam ser transformados numa ferramenta metodológica séria ao incorporar os ri gores das ciências experimentais Os trabalhos de Sprouse 2007 no ex terior e de Kenedy 2007 no Brasil foram provavelmente as primeiras teses de doutoramento em teoria sintática formal a adotar explicitamente a abordagem experimental a fim de investigar fenômenos sintáticos Des de então a área tem crescido exponencialmente e vem abrindo espaços institucionais importantes na Linguística Formal Fora do escopo do gerativismo a abordagem experimental em Linguística também vem sendo explorada de maneira significativa em 173 PARA CONHECER Sintaxe pesquisas de orientação funcionalista modernas No exterior o livro de Bybee 2010 e no Brasil a publicação de Abraçado e Kenedy 2014 indicam que a lógica subjacente à exploração experimental de questões sintáticas não depende de uma concepção teórica específica Na coletâ nea organizada por Abraçado e Kenedy por exemplo foram desenvol vidas tarefas com técnicas offline a fim de testar previsões derivadas das teorias funcionalistas sobre transitividade verbal que correlacionam Sintaxe Semântica e Pragmática Neste capítulo apresentamos ao leitor duas correntes contemporâ neas no estudo dos fenômenos sintáticos Esperamos que você possa usar este texto para desenvolver suas próprias investigações sintáticas acerca de fenômenos da língua portuguesa ou de outra língua de seu domínio Veja as sugestões de leituras complementares a seguir e boa empreitada em sua trajetória sintática Leituras complementares Neste capítulo como dissemos exploramos duas abordagens nos es tudos de Sintaxe das línguas naturais a Sintaxe Funcional e a Experimen tal Por sorte já contamos com boas traduções para o português de alguns livros importantes na área além de diversos trabalhos originais escritos por pesquisadores brasileiros Sobre Sintaxe Funcional o leitor pode a partir da leitura deste capítulo consultar os seguintes textos em português Halliday 1976 Naro e Votre 1989 Ilari 1992 Neves 1994 1997 Pe zatti e Camacho 1997 Votre 1997 Pezatti 2004 Martelotta 2008b Rodrigues e Menuzzi 2011 Givón 2012 e Rosário 2015 Para saber mais sobre a abordagem experimental em Sintaxe o leitor pode consultar também em português Maia e Finger 2005 Maia 2012 2015 Kenedy 2009 2015 2017 e Roeper 2012 174 Duas abordagens no estudo da Sintaxe Exercícios 1 Defina em linhas gerais as áreas da Sintaxe Funcional e da Sintaxe Experimental 2 Dissemos em várias ocasiões ao longo do livro que o domínio máxi mo de análise da sintaxe era a frase Essa afirmação continua válida nos estudos de Sintaxe Funcional Por quê 3 No capítulo anterior dissemos que falamos linearmente mas interpre tamos incrementalmente Essa afirmação parece fazer mais sentido agora que você conhece um pouco mais sobre a Sintaxe Experimental Explique a afirmação em suas próprias palavras e se possível ilustre sua resposta com algum exemplo 175 CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim deste volume Nossa ideia central com este livro foi apresentar ao leitor alguns conceitoschave no estudo da sintaxe de uma língua natural Por isso começamos trabalhando no primeiro capítulo com uma noção fundamental no estudo da sintaxe de qualquer língua a de cons tituinte Vimos que apesar de seu reconhecimento ser essencial no estudo da ordem e da estrutura sintática das línguas os sintagmas são largamente ignorados pela tradição gramatical brasileira que insiste em estudar a frase como se essa fosse o resultado de um mero ordenamento linear de pala vras Uma vez que entendemos que as frases da língua são constituídas por sintagmas e que os sintagmas são por sua vez constituídos por palavras ou por outros sintagmas de maneira estruturalmente organizada voltamo nos então aos quatro tipos principais de sintagmas lexicais em português o SN o SV o SP e o SA Estudamos sua estrutura interna e vimos as rela ções de complemento especificador e adjuntos que se estabelecem nesses constituintes sintáticos No meio do caminho também passamos a conhe cer uma propriedade inerente e muito poderosa do sistema computacional gramatical das línguas a propriedade de recursividade lembrase do poe ma Quadrilha do Drummond Com esse conhecimento em mãos partimos no segundo capítulo ao estudo das funções sintáticas que podem ser exercidas pelos sintagmas na 177 PARA CONHECER Sintaxe organização de uma frase Voltamos no tempo para resgatar e então discutir a Nomenclatura Gramatical Brasileira NGB que ainda hoje baliza em maior ou menor grau os estudos de língua portuguesa no país Acredita mos que seja muito importante que você leitor conheça esse documento e tenha uma postura crítica frente a ele Foi o que tentamos fazer aqui incitar você a conhecer os termos sintáticos presentes na NGB e discutilos no co tejo com o que teorias contemporâneas de Sintaxe vêm descobrindo sobre a organização e a estrutura sintática das línguas humanas Fizemos isso de maneira incipiente é bem claro dado o caráter introdutório deste livro No entanto esperamos ter mostrado o começo do caminho para que você consiga pensar e argumentar sintaticamente frente ao que encontramos na análise sintática de tradição gramatical Não mencionamos ao longo do capítulo mas a NGB traz também uma relação de termos gramaticais caros aos estudos em Morfologia uma relação tão ou mais problemática do que aquela que encontramos no estudo da Sintaxe O leitor pode encontrar uma boa discussão desses termos morfológicos constantes na NGB no volume Para conhecer Moifologia desta coleção Se no segundo capítulo como dissemos trabalhamos com as funções sintáticas desempenhadas por sintagmas no nível da frase no terceiro pas samos então a investigar o período composto por mais de uma oração Vi mos que as orações também podem elas mesmas desempenhar funções sintáticas em relação a outras num mesmo período Trabalhamos com as relações sintáticas entre orações na primeira parte do capítulo e vimos no final relações que escapam à análise sintática tradicional em especial os casos de as orações correlatas e desgarradas No último capítulo finalmente apresentamos duas abordagens con temporâneas no estudo sintático das línguas Como mencionamos na apre sentação do livro nossas análises e nossa exposição se basearam muito no estudo sintático já perpetuado pela tradição gramatical e também em alguns conceitos fundamentais da Sintaxe Gerativa Reservamos para o último capítulo o espaço para apresentarmos alguns dos pressupostos da Sintaxe Funcional e da Sintaxe Experimental Vimos que a Sintaxe basi camente se ocupa com o estudo da organização interna da frase Contu do a organização entre os constituintes da frase obedece muitas vezes a 178 Considerações finais princípios guiados pela organização otimizada do fluxo informacional Ou seja para entendermos a organização sintática de uma dada frase numa dada situação comunicativa concreta é preciso algumas vezes entender a motivação funcional ou discmsiva que levou os constituintes da frase a figmarem naquela posição e não em outra No estudo da abordagem experimental da Sintaxe por outro lado vimos como podemos investigar questões relacionadas à interpretação sin tática e à produção de frases aplicando métodos de investigação que nos permitem monitorar em tempo real ou a posteriori como o falanteouvin te produz ou compreende uma dada construção sintática Vimos ao longo do livro que produzimos frases linearmente mas esse caráter linear revela apenas a superfície da organização sintática das palavras em sintagmas e dos sintagmas em frases Os estudos em Sintaxe Experimental permitem analisar justamente essa propriedade de organização estrutural das frases de maneira bastante clara e cientificamente embasada Esperemos que você tenha encontrado neste livro um material útil em sua iniciação como sintaticista Desejamos a você bons estudos mais aprofundados em Sintaxe 179 BIBLIOGRAFIA ABRACADO J Ordem objetoverbo no português do Brasil mecanismo de expressão de subjetividade Alfa Revista de Linguística v 59 2015 ABRACADO J KENEDY E Orgs Tiansitividade traço a traço Niterói Eduff 2014 AusTIN J L How to Do Things with Words Harvard Harvard University Press 1962 AzEREDO J C Gramática Houaiss da língua portuguesa São Paulo Publifolha 2008 Sintaxe normativa tradicional In 0THERO G A KENEDY E Orgs Sintaxe sintaYes uma introdução São Paulo Contexto 2015 BAGNO M Gramática pedagógica do português brasileiro São Paulo Parábola 2011 BYBEE Joan Language Usage and Cognition Cambridge Cambridge University Press 2010 CANÇADO M Manual de semântica noções básicas e exercícios 3 ed São Paulo Contexto 2012 CAsTILHO A T Nova gramática do português brasileiro São Paulo Contexto 2010 CEGALLA D P Novíssima gramática da língua portuguesa 39 ed melhorada e ampliada São Paulo Editora Nacional 1996 CHOMSKY N Estruturas sintáticas Petrópolis Vozes 2015 CoELHO I L et al Para conhecer sociolinguística São Paulo Contexto 2015 CoRRÊA V Oração relativa o que se fala e o que se aprende no português do Brasil Campinas 1998 Tese doutorado em Linguística Unicamp CosTA M A Procedimentos de manifestação do sujeito Natal 1995 Dissertação mestrado em Estu dos da Linguagem UFRN CoWART W Experimental Syntax Applying Objective Methods to Sentence Judgments Thousand Oaks Sage Publications 1997 DECAT M B N Uma abordagemfimcionalista da hipotaxe adverbial em português Unesp v 1 1999 Orações adjetivas explicativas no português brasileiro e no português europeu aposição rumo ao desgarramento Scripta v 5 n 9 2001 Orações relativas apositivas SNs soltos como estratégia de focalização e argumentação Veredas v 1 e 2 2005 Estruturas desgarradas em língua portuguesa Campinas Pontes 2011 DRYER M Order of Subject Object and Verb In HASPELMATH M et al Eds The World Atlas of Language Structures Oxford Oxford University Press 2005 DuTRA R O falante gramático introdução à prática de estudo e ensino do português Campinas Mercado de Letras 2003 181 PARA CONHECER Sintaxe FIGUEIREDO SILVA M C MEDEIROS A B Para conhecer M01jologia São Paulo Contexto 2016 FtLLMORE c J Corpus Linguistics or ComputerAidedArmchair Linguistics In SvARTVIK J Ed Directions in C01pus Linguistics Proceedings ofNobel Symposium 82 BerlinNew York Mou ton de Gruyter 1992 FIORIN J L Org Introdução à linguística São Paulo Contexto 2002 F oDOR J A BEVER T G The Psychological Reality of Linguistic Segments Joumal of Verbal Learning and Verbal Behavior v 4 n 5 1965 GARCIA O M Comunicação em prosa moderna aprendendo a escrever aprendendo a pensar São Paulo FGV 1988 GARRETT M BEVER T FoDOR J The Active Use of Grammar in Speech Perception Attention Perception Psychophysics v 1 n 1 1966 GIVÓN T Functionalism and Grammar Amsterdam J Benjamins 1995 A compreensão da gramática São Paulo Cortez Natal EDUFRN 2012 1 ed 1979 GUIMARÃES E ZoPPI FoNTANA M Orgs Introdução às ciências da linguagem a palavra e a fiase Campinas Pontes 2006 GUIMARÃES M Os fimdamentos da teoria linguística de Chomsky Petrópolis Vozes 2017 HAAG C R 0THERO G A O processamento anafórico um experimento sobre a resolução de ambi guidades em anáforas pronominais Linguagem em Discurso v 4 2003 HALLIDAY M A K Estrutura e função da linguagem In LvoNs J Org Novos horizontes em linguís tica São Paulo CultrixEdusp 1976 HALLIDAY M A K MATTHIESSEN C An Introduction to Functional Grammar Routledge 2014 HAuv A Gramática da língua portuguesa padrão São Paulo Edusp 2014 HENRIQUES C C Nomenclatura gramatical brasileira 50 anos depois São Paulo Parábola 2009 ILARI R A perspectiva fimcional da fiase portuguesa Campinas Editora da Unicamp 1992 KATo M Recontando a história das relativas em uma perspectiva paramétrica In RoBERTS I KATO M Orgs Português brasileiro uma viagem diacrônica São Paulo Contexto 2018 KENEDY E Aspectos estruturais da relativização em português uma análise baseada no modelo rai sing Rio de Janeiro 2003 Dissertação mestrado em Linguística UFRJ A antinaturalidde de piedpiping em orações relativas Rio de Janeiro 2007 Tese doutorado em Linguística UFRJ Análise de co1pus a intuição do linguista e metodologia experimental na pesquisa sobre as orações relativas do PB e doPE Linguística v 4 2009 pp 3051 Rudimentos para uma nova sintaxe na NGB Revista Escrita Revista do Curso de Letras da Uniabeu v 1 n 1 2010 Tópicos e sujeitos no PB uma abordagem experimental Revista da Anpoll v 31 2011 Curso básico de linguística gerativa São Paulo Contexto 2013 O status tipo lógico das construções de tópico no português brasileiro uma abordagem expe rimental Revista da Abralin v xm 2014 Psicolinguística na descrição gramatical In MAIA M Org Psicolinguísticapiscolinguísti cas uma introdução São Paulo Contexto 2015 A língua portuguesa no Brasil e em Portugal o caso das orações relativas Niterói EdUFF 2017 LABov W Some Observations on the Foundation ofLinguistics 1987 Disponível em httpwww lingupenneduwlabovPapersFoundationshtml Acesso em 12 jun 2018 LEMLE M Análise sintática teoria geral e descrição do português São Paulo Ática 1984 LoaATO L M P Os verbos auxiliares em português contemporâneo Critério de auxiliaridade In LoBA TO L M P et a Análises linguísticas Petrópolis Vozes 1975 Sintaxe gerativa do português da teoria padrão à teoria da regência e ligação Belo Horizonte Vigília 1986 LoREDO NETA M M Objeto direto condições de omissão no português do Brasil Belo Horizonte 2014 Tese doutorado em Estudos Linguísticos Universidade Federal de Minas Gerais LuFT CP Moderna gramática brasileira 7 ed Porto AlegreRio de Janeiro Globo 1986 MAIA M FINGER I Orgs Processamento de linguagem Pelotas Educa 2005 182 Bibliografia Sintaxe experimental uma entrevista com Marcus Maia ReVEL v 10 n 18 2012 Sintaxe experimental In 0THERo G A KENEDY E Sintaxe sintaxes uma introdução São Paulo Contexto 2015 MARTELOTTA M E Org Manual de linguística São Paulo Contexto 2008a Funções da linguagem In Org Manual de linguística São Paulo Contexto 2008b Mudança linguística uma abordagem baseada no uso São Paulo Cortez 2011 MARTINET A Elementos de linguística geral 2 ed Lisboa Sá da Costa 1970 MA TEUS M et ai Gramática da língua portuguesa Lisboa Caminho 2003 MATTHIESSEN C THOMPSON S A The Structure ofDiscourse and Subordination Clause Combi ning in Grammar and Discowse v 18 1988 Mmm C SILVA M C F LoPES R E V Novo manual de sintaxe São Paulo Contexto 2013 MoDESTO M As construções clivadas no português do Brasil relações entre interpretação focal mo vimento sintático e prosódia São Paulo Humanitas FFLCHIUSP 2001 A interpretação das sentenças clivadas In Semântica formal 2003 MoNTEIRo J L Pronomes pessoais subsídios para uma gramática do pmtuguês do Brasil Fortaleza Edições UFC 1994 MoRENO C GuEDEs P C Curso básico de redação São Paulo Ática 1979 MouRA NEvEs M H Uma visão geral da gramática funcional Alfa Revista de Linguística v 38 1994 A gramáticafimcional São Paulo Martins Fontes 1997 Gramática de usos do português São Paulo Unesp 2000 MussALIM F BENTEs A C Introdução à linguística domínios e fronteiras v 1 São Paulo Cortez 2001 NARO A VoTRE S Mecanismos funcionais do uso da língua DELTA 5 1989 NEm J F et a A interpretação passivaindeterminada de construções com a partícula se em tempos simples do português brasileiro um estudo em sintaxe experimental DLCV Língua Linguís tica Literatura v 7 n I 2010 0ITTCICA J Manual de análise léxica e sintática Rio de Janeiro Typographia Baptista de Souza 1919 OLIVEIRA M R Repetição em diálogos análise funcional da conversação Niterói Eduff 1998 0THERO G A Teoria Xbarra descrição do português e aplicação computacional São Paulo Con texto 2006 A gramática dafiase em português algumas reflexões para a fonnalização da estrutura frasal em português Porto Alegre EdipmTs 2009 Sintaxe In ScHWINDT L C Org Manual de linguística fonologia morfologia e sintaxe Petrópolis Vozes 2014 PERINI M A Para uma nova gramática do português São Paulo Ática 1985 Sintaxe portuguesa metodologia e funções São Paulo Ática 1989 Gramática descritiva do português São Paulo Ática 1995 Org O sintagma nominal em português estrutura significado e função Revista de Estu dos da Linguagem ano 5 n especial 1996 Princípios de linguística descritiva introdução ao pensamento gramatical São Paulo Pará bola 2006 Estudos de gramática descritiva as valências verbais São Paulo Parábola 2008 Gramática descritiva do português brasileiro Petrópolis Vozes 2016 PEZATTI E G O funcionalismo em linguística In MussALIM F BENTES A C Orgs Introdução à linguística fundamentos epistemológicos v 3 São Paulo Cortez 2004 PEZZATI E G CAMACHO R G Aspectos funcionais da ordem de constituintes DELTA v 13 n 2 1997 PoNTES Eunice Verbos auxiliares no português Petrópolis Vozes 1973 Sujeito da sintaxe ao discurso São Paulo Ática Brasília INL Fundação Nacional PróMe mória 1986 O tópico no português do Brasil Campinas Pontes 1987 183 PARA CONHECER Sintaxe RAPoso E P Teoria da gramática A faculdade da linguagem Lisboa Caminho 1992 RoDRIGUEs G R MENUZZI S M Articulação informacional In PIRES DE OLIVEIRA R MIOTO C Orgs Percursos em teoria da gramática Florianópolis Editora da UFSC 2011 RoDRIGUEs V V Construções comparativas estruturas oracionais Rio de Janeiro 2001 Tese dou torado UFRJ Org Articulação entre orações pesquisa e ensino Rio de Janeiro Ed da UFRJ 2010 RoEPER T Sintaxe experimental uma entrevista com Thomas Roeper ReVEL v 10 n 182012 RosÁRIO I C Expressão da concessividade em construções do português do Brasil Rio de Janeiro 2012 Tese doutorado UFRJ Sintaxe funcional In ÜTHERO G A KENEDY E Sintaxe sintaxes uma introdução São Pau lo Contexto 2015 Construções correlatas aditivas e disjuntivas Revista Odisseia v especial 2017 SAUSSURE F Curso de linguística geral São Paulo Cultrix 1997 1 ed 1916 ScHWINDT L C Org Manual de linguística fonologia morfologia e sintaxe Petrópolis Vozes 2014 SEARA I C et ai Para conhecerfonética e fonologia do português brasileiro São Paulo Contexto 2014 SouzA E SILVA CP KocH L V Linguística aplicada ao português sintaxe São Paulo Cortez 1993 SPROUSE J A Programfor Experimental Syntax Finding the Relationship Between Acceptability and Grammatical Knowledge Dissertation University ofMaryland College Park 2007 TARALLO F Relativization Strategies in Brazilian Portuguese PhD Thesis Philadelphia Univ of Pennsylvania 1983 VoTRE S Um paradigma para a linguística funcional Alfa Revista de Linguística v 41 n 1 1997 ZILLES A M S FARACO C A Para conhecer norma linguística São Paulo Contexto 2017 KERscH D F Onde prescrição proscrição descrição e ensino In FARACO C A Orgs Pedagogia da variação linguística língua diversidade e ensino São Paulo Parábola 2015 184 OS AUTORES Eduardo Kenedy é doutor e mestre em Linguística pela Universida de Federal do Rio de Janeiro UFRJ e licenciado em Letras pela Univer sidade Federal Fluminense UFF Na UFF é professor do Departamento de Ciências da Linguagem e membro permanente do Programa de Pós Graduação em Estudos de Linguagem filiado à linha de pesquisa Teoria e Análise Linguística com ênfase em Psicolinguística e Linguística Gerati va Fundou o Laboratório do Grupo de Estudos e Pesquisas em Linguística Teórica e Experimental GepexUFF atuando como orientador de traba lhos sobre processamento linguístico sobre Sintaxe Gerativa e sobre Psi colinguística Translacional para a Educação Em 2013 recebeu da Faperj o prêmio Jovem Cientista do Nosso Estado É bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq desde o ano de 2017 Pela Editora Contexto publi cou Curso básico de linguística gerativa 2013 Sintaxe sintaxes uma introdução 20 15 coorganizado com Gabriel de Á vila Othero além de ser o coautor nas obras Manual de linguística 2008 e Psicolinguística piscolinguísticas uma introdução 2015 185 PARA CONHECER Sintaxe Gabriel de Ávila Othero é professor do Departamento de Linguísti ca Filologia e Teoria Literária e do Programa de PósGraduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS Tem graduação em Letras Português e Letras PortuguêsInglês pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos 2001 é especialista em estruturas da língua portuguesa pela Universidade Luterana do Brasil Ulbra 2002 concluiu seu mestrado 2005 e doutorado 2009 em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUCRS e fez pósdoutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS 20092010 e na Universidade Estadual de Campinas Unicamp 20172018 Também é editor da Revista Virtual de Estudos da Linguagem ReVEL juntamente com Cassiano R Haag e Cândida M Selau desde 2003 É autor pela Con texto dos livros Teoria Xbarra descrição do português e aplicação com putacional 2006 e Sintaxe sintaxes uma introdução juntamente com Eduardo Kenedy 2015 Atua nas áreas de Sintaxe e sua interface com Semântica estrutura informacional e prosódia gramática do português brasileiro Teoria da Otimidade e Linguística Computacional 186 LEIA TAMBÉM PARA CONHECER SEMÂNTICA Ana Quadros Gomes e Luciana SanchezMendes Escritos por especialistas e voltados principalmente para estudantes os volumes que compõem a coleção Para Conhecer são introduções atuali zadas e bem cuidadas redigidas em linguagem clara e acessível acompa nhadas de exercícios práticos A Semântica Formal estuda o significado linguístico das línguas naturais Ela se dedica a explicar como qualquer falante nativo produz e compreen de sentenças com significado formadas na sua língua Esta obra aborda os conceitos básicos da Semântica Formal e sua aplicação na descrição do português do Brasil Com este livro os leitores terão a oportunidade de um primeiro contato básico e estimulante com as ques tões da investigação científica do significado além de ampliar seu conhe cimento sobre o português brasileiro pelo viés semântico Cadastrese no site da Contexto e fique por dentro dos nossos lançamentos e eventos wwweditoracontextocom br Formação de Professores 1 Educação História 1 Ciências Humanas Língua Portuguesa I Linguística Geografia Comunicação Turismo Economia Geral Faça parte de nossa rede 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