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Problemáticas dos espaços de formação docente o liso o estriado e a poética da história Claércio Ivan Schneider Discussing spaces for teachers education the smooth the striated and the poetics of history Abstract This text highlights the formative roles of individuals in the educational field It aims to discuss the spaces that mediate the relationship between teacher education and the prospects of teaching History taking into consideration the variables that directly or indirectly involve the training of History teachers Keywords education teacher education History Discusión de los espacios para la formación del profesorado liso estriado y la poética de la historia Resumen Este texto en particular pone de relieve el papel de formación de las personas en el ámbito educativo con el objetivo de discutir los espacios que medían la relación entre la educación y las perspectivas de formación docente y la enseñanza de Historia Entender las variables que directa o indirectamente implican en la formación de maestros en la historia Palabras claves educación la formación docente la historia Resumo Neste texto em particular colocamse em evidência os papéis formativos dos sujeitos no campo educacional objetivando problematizar os espaços que intermedeiam a relação entre a formação docente e as perspectivas do ensino de História Compreendendo variáveis que implicam direta e indiretamente na formação dos docentes em História PalavrasChave ensino formação docente História O ensino de História e a formação docente agregam práticas e saberes de todas as ordens Saberes tradicionais conhecimentos científicos e imaginação histórica se interrelacionam na prática do ensino apontando os diferentes caminhos que a experiência e a reflexão docente oportunizam na representação da história As relações inter e transdisciplinares as múltiplas formas de narrativa as novas tecnologias educacionais e a valorização da heterogeneidade das manifestações culturais implicam diferentes posturas e compreensões no saber fazer histórico Problemas estes que tornam o ofício de professor de História uma atividade educativa que exige mais do que nunca criação e criatividade voltadas à essência da razão poética como perspectiva sensível para as interpretações as percepções e os sentidos sempre plurais e inconclusivos que o ensino e a pesquisa implicam no mundo contemporâneo O docente deve estar atento às novas formas de comunicação e de linguagens compreendendo a importância decisiva que as subjetividades as sensibilidades e as narrativas fazem entender investindo na dimensão poética da arte de se compreender ensinar e escrever histórias Neste texto em particular colocamse em evidência os papéis formativos dos sujeitos no campo educacional objetivando problematizar os espaços que intermedeiam a relação entre a formação docente e as perspectivas do ensino de História Como entender os espaços as linhas as direções e as dimensões que implicam direta e indiretamente na formação dos docentes em História Prof Dr Depto de História UNICENTROIratiPR e Programa de PósGraduação em História UNICENTRO O que permanece e o que modifica na natureza do percurso dessa formação De que forma os valores tradicionais e tecnológicos entre os sujeitos e a instituição são misturados urdidos ou antagonizados neste ou por este processo Qual a importância da dimensão poética no saber e no aprender histórias Há uma constante tensão entre a lógica docente e a discente Espaços perspectivas interesses e subjetividades superpõemse situando professores e discentes em campos que ora se aproximam ora se opõem entre o respeito e a crença às regras institucionais ou a indisciplina e a busca pela quebra das hierarquias No cotidiano escolar questões socioculturais são engendradas nas experiências dos sujeitos na e a partir da Instituição seja ela pública ou privada As tensões demarcam posições características que remetem às posturas do professor de um lado aluno de outro o ensino de História de um lado e o saber discente de outro a instituição de um lado os estudantes de outro Direta ou indiretamente estas formas dualistas de situar os papéis dos sujeitos e as regras na universidade correspondem à distinção que Gilles Deleuze e Félix Guattari constroem na obra Mil Platós capitalismo e esquizofrenia19951997 entre o que identificam como espaço estriado e espaço liso e que para este texto se torna substancial discussão teórica para se lidar com os problemas acima destacados A conceituação possibilita refletir duas formas de se situar no campo de formação universitária de um lado a do professor investido pelas regras institucionais que caracteriza o espaço estriado de outro os discentes sujeitos cujas lógicas transgridem ameaçam zombam ou mesmo colocam em xeque o sentido institucional do ensino que recebem ou de que são alvos Estes são entendidos no espaço liso caracterizado pela ausência das regras que implica resistência e descrença para com a instituição Nas palavras dos autores O espaço liso e o espaço estriado o espaço nômade e o espaço sedentário o espaço onde se desenvolve a máquina de guerra e o espaço instituído pelo aparelho de Estado não são da mesma natureza Por vezes podemos marcar uma oposição simples entre os dois tipos de espaço Outras vezes devemos indicar uma diferença muito mais complexa que faz com que os termos sucessivos das oposições consideradas não coincidam inteiramente Outras vezes ainda devemos lembrar que os dois espaços só existem de fato graças às misturas entre si o espaço liso não para de ser traduzido transvertido num espaço estriado o espaço estriado é constantemente revertido devolvido a um espaço liso 1997 p 147148 É possível perceber que os espaços não se comunicam entre si da mesma maneira embora se misturem Essa complexidade que faz com que os dois espaços se comuniquem entre oposições e misturas é identificada no meio educacional Tensão que perpassa por todos os graus de formação e que implicam posturas que como será discutido parece reverter as posições no espaço Em outras palavras o campo educacional de formação docente agrega dimensões que urdem os espaços fazendo com que docentes e discentes percorram espaços lisos e estriados concomitantemente em prol da formação multicultural Nesse sentido por mais que os acadêmicos sejam disciplinados vigiados e instruídos pelos professores técnicos às regras institucionais a permanência de valores e atitudes marginais superpõese à organização imposta pelo Estado Assim o controle não é eficaz até mesmo porque os currículos também abrem brechas como formas de resistências discentes e mesmo docentes O espaço estriado entendido como o espaço institucional é dirigido e modificado segundo a natureza do percurso Em se tratando do campo educacional principalmente na área de formação do docente em História os currículos entendidos como mapas ou roteiros de viagem que são os instrumentos do espaço estriado institucionalizado identificam um percurso mensurável O discente no entanto embora consciente do percurso estriado mantém um espaço de intensidade de valor e de interesse incerto afrontando entre o liso e o estriado A universidade nesse sentido não significa espaço estriado por natureza uma vez que nela ocorrem os dois espaços o liso e o estriado que se comunicam se contaminam não necessariamente são opostos Por questões como esta a universidade apesar da intenção uniformizadora e das ferramentas de estrialização regras estatutos currículos dominantes de seu espaço continua abrindo brechas para os estudantes preservarem os espaços lisos Impossível neutralizar ou estrializar esses sujeitos em sua completude Em meio a esta discussão que intermedeia a relação entre os espaços dos sujeitos no campo educacional é fundamental compreender os diferentes sentidos que a educação o ensino de História e a formação de professores implicam na atualidade Este texto busca mapear a natureza e as implicações dos afrontamentos que caracterizam esse universo relacional Defendese a necessidade de investimento em uma perspectiva de História que sobrevalorize a dimensão poética A construção de uma sociedade participativa pautada no respeito à multiplicidade de manifestações e sentidos é um compromisso que extrapola os espaços formativos e que sugere novas formas de investimentos de sentidos de subjetividades de sensibilidades no espaço do saber fazer histórico Nesse sentido para a análise que se propõe associase às formulações de Deleuze e Guattari a noção de poética da história promovida por Paul Zumthor Problemáticas do espaço de atuação e de formação docente Aprender de forma medíocre é mediorcizar quem aprende pela absolutização do conteúdo da informação É desumanizar o ser humano na aquisição da sua segunda natureza mediocrizada É uma semiformação que gera um outro tipo de formação que bem poderia ser chamada de deformação pois produz a esquizofrenia pessoal e social FERREIRA 2004 p 123 Naura S C Ferreira no artigo Repensando e ressignificando a gestão democrática da educação na cultura globalizada discute com propriedade as características da contemporaneidade e a necessidade de se pensar e de se ressignificar a formação de profissionais da educação e da gestão educacional A banalização entendida como despreocupação com as questões políticas sociais e culturais aparece como um sintoma crônico de uma sociedade que a autora percebe como resultante de uma construção midiática voltada à promoção do consumo do hedonismo e do narcisismo como fórmula do sucesso Banalizase a vida e também a morte De outro lado àqueles que não têm acesso a este mundo do fascínio tecnológico gerase uma violência das faltas de que causam indignidade ódio miséria discriminação intolerâncias E o que resta Insegurança vazio medo angústia terror solidão Restou a produção em massa de mercadorias que coisificam as pessoas e personalizam as coisas FERREIRA 2004 p 1235 A mediocridade se tornou característica principal na fórmula de um ensino tecnicista que deixou de privilegiar a dimensão humana na prática formativa entendida como deformação haja vista a constituição de um mundo globalizado construído como fetiche no qual as relações éticopolíticas se coadunam na promoção de uma única perspectiva neoliberal de sociabilidade humana viável entendida como nova era do mercado cada vez mais individualista e utilitarista FERREIRA 2004 p 1230 Revista TEL Revista Tempo Espaço Linguagem V 04 N 03 SetDez 2013 Neste universo estriado pelo mercado e pelos órgãos promotores das políticas públicas a educação e a formação de profissionais da educação1 aparecem reduzidas ao economicismo do emprego e da empregabilidade da eficiência e da eficácia da competitividade da produtividade e consequente entropia da formação humana e da cidadania FERREIRA 2004 p 1231 Banalizase a realidade concreta as diferenças os espaços lisos constituintes de uma sociedade que atende cada vez mais a qualificações e capacitações mais elevadas no entanto desprovidas do alicerce da ética humana Por isso Mais do que nunca se faz necessário humanizar a formação e as condições de trabalho e de existência dos profissionais da educação Mais do que nunca se faz necessário ressignificar a gestão da educação a partir de outra ética que permita fazer frente aos desafios constante da cultura globalizada na sociedade transbordante insatisfeita constituída por ressentimentos e de exacerbação do individualismo FERREIRA 2004 p 1231 Ressignificar se torna palavrachave para a educação Nesse sentido Naura defende o investimento em uma gestão democrática que implica na formação de profissionais da educação fundamentados na ética da cidadania Cidadania compreendida como soberania e autoconsciência e não dependência alienação e subserviência Cidadania que se dará pelo conhecimento Assim O estatuto e o valor da formação para a cidadania hoje necessitam se constituir de todos os elementos e recursos que permitam ao novo cidadão ter possibilidade de trânsito entre as culturas dos diferentes povos E transitar com uma compreensão democrática de respeito a todas as diferenças e com a permanente possibilidade de acesso aos recursos necessários a essa formação e que esta se assente em uma nova ética humana alicerçada na solidariedade e na justiça social no respeito às diferenças e aos direitos de todos FERREIRA 2004 p 123940 As questões destacadas por Ferreira apontam para a necessidade da construção de uma nova gestão educacional que acata e respeita o multiculturalismo Nesse sentido novas práticas novos currículos novos sentidos devem ser agregados à formação dos docentes Como gestores que tomam decisões que organizam e que dirigem os profissionais da educação têm a responsabilidade com o social o que implica o exercício do diálogo e a compreensão das contradições Diálogo como fraternização de idéias e de culturas que se respeitam porque constituem diferentes produções humanas Diálogo como verdadeira forma de comunicação humana na tentativa de superar as estruturas de poder autoritário que permeiam as relações sociais e as práticas educativas a fim de se construir coletivamente na escola na sociedade e em todos os espaços do mundo uma nova ética humana e solidária Uma nova ética que seja o princípio e o fim da gestão democrática da educação comprometida com a verdadeira formação da cidadania FERREIRA 2004 p 124243 O compromisso da gestão democrática da educação na perspectiva de Ferreira deve estar pautado na conquista da cidadania O diálogo nesse sentido parece se constituir em uma via privilegiada no sentido de humanizar a formação Mas será que se o conceito de cidadania quando ligada à realidade presente no universo de ensino e de formação docente realmente se faz presente Será que o discurso e a prática de uma cidadania estriada institucionalizada atende aos direitos das comunidades ou grupos de estudantes marginalizados que abraçam causas modos de vida e sentidos formativos diferenciados Em comunicação proferida no Simpósio Internacional sobre a Juventude no Rio de Janeiro em 2004 José Machado Paes discute as diferentes dimensões do conceito de cidadania investindo especial atenção à cidadania participativa como forma de atender aos grupos que tradicionalmente são ISSN 21776644 11 Revista TEL Revista Tempo Espaço Linguagem V 04 N 03 SetDez 2013 excluídos dela Corroborando com o quadro contemporâneo apresentado por Ferreira que identifica o descompromisso e o desencanto dos jovens com as instituições e os modos tradicionais de participação política Paes por outro lado investe no reconhecimento das diferentes formas de cidadania que os jovens reivindicam a partir de novas subjetividades e identidades grupais Na escala do espaço liso pensando na perspectiva do discente o autor demonstra com clareza a afirmação de uma identidade que investe na autoimagem que reivindica o uso livre do corpo da sexualidade dos estilos de vida que pressupõe variedades de vivências de afeto e de opções de vida Neste quadro a hipótese que se debate é a do exercício da cidadania poder também expressarse no poder inventivo das margens que se manifestam insurrectas em relação às estratégias de encerramento e que ganham todo o seu fulgor nos jogos de abertura PAES 2005 p 56 Paes fazendo referência ao arcabouço conceitual de Deleuze e Guattari decodifica os espaços lisos e estriados que caracterizam os jovens na atualidade Focando especial atenção às ruas ao movimento dos brekdancers rappers graffiters skaters etc o autor percebe as diferentes maneiras pelas quais os jovens reinventam e articulam os espaços entendendo a cidadania como um movimento de rejeição à cidade planificada a favor da cidade praticada como abrigo das manifestações culturais O conceito de cidadania participada é construído a partir das relações e dos intercâmbios entre estes espaços como forma de fluidez de ideias de criatividade produzida pelas margens Assim Sugerimos que as margens podem ser produtoras de resistência de criatividade de formas reactivas de cidadania cultural que se rebelam contra formas arcaicas de cidadania imposta No entanto se é certo que as margens culturais de onde emergem as mais criativas culturas juvenis se podem constituir em territórios de crítica aos poderes estabelecidos também podem por estes ser absorvidas como acontece com boa parte das criações musicais Ou então converterse em formas de pura alienação social PAES 2005 p 62 As discussões e problematizações de Ferreira e de Paes são cruciais para pensarmos o campo de formação docente As diferentes percepções em torno da noção de cidadania estriada e lisa se coadunam na medida em que ambas reclamam a necessidade do diálogo sempre tenso e inconcluso entre a esfera institucional formativa estriada fechada e a esfera discente nômade marginal subjetiva aberta Novamente com Paes 2005 p 60 O espaço nômade é localizado não limitado Limitado é o espaço estriado que Deleuze e Guattari denominam de global relativo é um espaço limitado em suas partes às que correspondem direções constantes separadas por fronteiras é também um espaço limitador que restringe e exclui A cidadania não é exclusiva do global relativo Onde ela se vive em toda a sua plenitude é no absoluto local um absoluto que tem sua manifestação no local Para Deleuze e Guattari o absoluto confundese com o lugar não limitado não se trata de uma globalização ou universalização centradas em princípios abstratos ou em direitos de Estado antes tratase de uma sucessão infinita de operações locais que dão lugar a uma cidadania participada Para exemplificar esta discussão tomase o trabalho do professor Luis Fernando Cerri Cidade e identidade região e ensino de história Neste texto o autor problematiza a dimensão espacial no exercício de formação de professores aprendizes o que implica um olhar para a própria identidade Segundo ele Compreendese que simplesmente ensinar uma dada História local a dominante ao conjunto dos alunos significaria necessariamente contribuir com a alienação no sentido de distanciamento entre sujeito o aluno e o objeto a cidade e o passado alienação que seria marcada pelo fato de o indivíduo assumir uma identidade que objetivamente não é a sua A história local deve ser uma composição de pluralidades e experiências diversas que se encontram num mesmo lugar a ISSN 21776644 12 Revista TEL Revista Tempo Espaço Linguagem V 04 N 03 SetDez 2013 cidade que entretanto não as determina não as congrega não lhes atribui uma lógica unificada obrigatória terapêutica A cidade só as reúne CERRI 2008 p 3940 Experiências diversas entre espaços diversos em diferentes situações O ensino de histórias se torna questão central para a composição das identidades pessoais e coletivas A questão dos espaços a pluralidade dos sentidos e as múltiplas experiências que a prática docente proporciona evidenciam a que o local não está no espaço e sim na experiência dos indivíduos CERRI 2008 p 37 Logo a história local pode mostrar que não é necessário ou obrigatório que as histórias se encaixem em uma só lógica pelo contrário não há uma lógica comum a todos os eventos nos vários níveis da atividade humana mas uma multiplicidade de sentidos em que a história se desenvolve CERRI 2008 p 4041 Cabe ao docente e este texto explora em especial o docente de História compreender as distâncias e as aproximações que intercruzam o espaço formativo na tentativa de fomentar a cidadania participativa na perspectiva plural priorizada na dimensão humana Nesse sentido defendese o direito à igualdade na diversidade das formas de se manifestar de se sentir de se fazer histórias de se falar Mas como no saber fazer docente esta prática se tornaria viável Rui Bebiano em artigo intitulado Sobre a poética da história oferece e explora a dimensão poética do saberfazer histórico na atualidade que pode ser entendida como forma de se ressignificar a prática formadora investindo cada vez mais no plano subjetivo em detrimento do saber científico Segundo ele Vivemos uma época de heterodoxias na qual também as formas de produção do conhecimento do passado e da sua comunicação se recriam multiplicam e mais do que nunca divergem Redefinemse critérios relativizamse conceitos e ciência deixa igualmente neste campo de ser sinônimo de verdade inquestionável salientandose o caráter lacunar as características polimórficas e a opacidade dos documentos reassumindose o uso da narrativa e voltando mesmo em muitos casos a afirmarse uma preocupação com a vertente artística das suas formas de expressão Assistese igualmente ao convívio quase sempre pacífico e silencioso mas inevitável e pleno de consequências entre os historiadores que defendem ou praticam uma história cientista que se pretende objectiva e se quer explicativa e aqueles outros que desenvolvem experiências de investigação e de escrita que atribuem um papel decisivo ao elemento subjectivo à dimensão poética e à vertente assumidamente interpretativa do seu trabalho BEBIANO 2000 p 2 A compreensão que se constata aplicada ao ensino de História e à formação de professores aprendizes pode ser representada a partir desta realidade contemporânea Grande parte dos professores de História se identifica ao primeiro grupo apontado por Bebiano que se preocupa em defender e em praticar uma história científica objetiva explicativa e conteudista apoiada quase que exclusivamente em livros didáticos e artigos científicos Resultado desta perspectiva que se mantém fechada à renovação de suas ferramentas e linguagens é a crise que caracteriza a área evidenciada principalmente no desinteresse generalizado pela História por grande parte dos discentes secundaristas e universitários Como entender esta desmotivação O sentido da educação os valores e os métodos defendidos por grande parte dos docentes da área sinalizam para a crise dos paradigmas da História e consequentemente do ensino de História Perspectivas desatualizadas práticas já ultrapassadas apoiadas na ditadura dos conteúdos e na prisão dos livros didáticos e de artigos científicos que se tornam manuais seguros de uma história verdade Pontos que podem ser ampliados à falta de sensibilidade histórica e a arrogância de uma pseudoautoridade docente que privilegia o adestrar o disciplinar o padronizar o estriar como estratégias insuperáveis de uma ciência histórica que ao invés de questionar de sensibilizar de ISSN 21776644 13 Revista TEL V 04 N 03 SetDez 2013 emocionar de um refletir acerca de ação e transformação privilegia a inércia provocando o desinteresse e por fim uma forma de considerar a história como objeto morto Sim a História que se busca ensinar principalmente nas escolas parece morta Estática distante da realidade dos alunos objetiva reducionista Não emociona entedia Não sensibiliza desmotiva Não provoca indignação aliena Não aguça reflexões e nem privilegia a imaginação O espaço estriado já não atende às perspectivas de formação que a atualidade exige E os discentes estão vivos sensíveis emotivos estão à flor da pele Formados em uma perspectiva racionalizadora que atende aos interesses de uma sociedade conservadora excludente e adestrados ao mundo do trabalho e do consumo Como lidar com estas discrepâncias Será que o futuro da História nas salas de aula está determinado apenas a esta perspectiva estriada de ensino Por que a história reduzida aos manuais didáticos em histórias únicas ainda escamoteia ou desprestigia realidades diversas os espaços lisos opostos ou distantes aos objetivos oficiais Até que ponto os professores contribuem para a perpetuação desta realidade educacional Por outro lado como superála Como valorizar a História por sua poética função social e humanizadora A valorização dos saberes e das práticas tradicionais a referência aos espaços lisos sensíveis e subjetivos dos discentes poderiam se constituir em temas de referência para o ensino da História contrastando com os conteúdos de conotação científica usualmente utilizados nas salas de aula É mais que urgente e necessário rever e superar as perspectivas oficializadoras do ensino e da formação dos docentes em História Atentar ao caráter plural e dinâmico das diferentes formas de pensamento e de sentidos construídos na contemporaneidade Sobrevalorizar a dimensão multicultural rompendo com a presunção cientista e assumindo com frequência o caráter poético como tal recorrentemente indeterminado e dependente da criatividade da concepção da escrita e da comunicação em História BEBIANO 2000 p 1 Histórias importam Muitas histórias importam Mas o ensino de histórias únicas estereotipadas veiculadoras de preconceitos e excludentes ainda prevalece na maioria das escolas e nas universidades É preciso nesse sentido ressignificar a própria performance do professor de História compreendido aqui como um ator político que impõe energias e sentidos na difícil tarefa de instruir jovens expressando ou narrando histórias Ensinar histórias também é uma arte O professor de História lida com a arte histórica com a arte de transmitir histórias com representações da história O docente pode ser visto como um ator que interpreta que transmite e que provoca questionamentos e sentidos construídos ao longo do tempo e do espaço Atua sobre textos imagens narrativas fazendo uso de estratégias para conduzir os alunos a campos possíveis de interpretações Um público diverso e heterogêneo com dificuldades e perspectivas diversas seduzidos por um mundo midiático que direciona seus desejos e sentidos para o imediatismo do presente sempre incompleto Mas um mundo no qual a servidão parece voluntária se pensarmos a adesão e o fascínio quase que irrestritos ao mundo tecnológico capitalista e consumista os discentes se recusam a confiar no professor pior muitos o veem como inimigo como um adversário a ser combatido Contradição que pode ser compreendida na medida em que boa parte dos jovens reclamam cidadanias diferentes daquelas que lhes são oferecidas A rebeldia o desrespeito a indisciplina representam ISSN 21776644 14 Revista TEL V 04 N 03 SetDez 2013 sintomas de descontentamento e estranhamento dos discentes com relação às instituições Os desejos de participação e de protagonismo que a história oficial lhes nega podem ser adquiridos a partir de espaços tecnológicos em que assumem a sua individualidade Cabe ao professor formador atentar a esses campos compreendêlos como constituintes de uma nova realidade que deve ser apreendida Como destaca Bebiano 2000 p 15 O papel cada vez mais determinante da imagem e dos restantes elementos multimídia na apreensão do real presente ou passado por parte das novas gerações que é já uma forma autônoma e incontornável de apreensão do mundo a explosão da oferta televisiva e as novas capacidades trazidas pelo cabo e pela alta definição o recurso ao vídeo e ao DVD a generalização galopante da Internet e a integração que esta permite de uma quantidade impressionante de conteúdos formativos e informativos a funcionalidade múltipla facultada pelos chamados telemóveis de terceira geração são aspectos que colocam também novos desafios ao historiador no imprescindível processo de comunicação do seu trabalho Os quais passam uma vez mais pelo desenvolvimento de técnicas de elaboração e de comunicação que não podem deixar de ter em conta a experiência multimoda da narração A importância de se compreender a história a partir da multiplicidade linguística e discursiva não se torna apenas uma necessidade metodológica e pedagógica que caracteriza diferentes dimensões do mundo contemporâneo Implica atingir um públicoalvo no caso estudantes de História que se alimentam destas tecnologias reformulando interpretações interrogações e sentidos O cinema é exemplo marcante deste movimento Criam a partir delas manifestações do que se pode entender como arte aberta segundo Paes aberta ao futuro Afinal que sentido podem os discentes dar à história se se sentem fora ou excluídos dela O historiador Jorge Nóvoa em conferência de abertura do I Congreso Internacional de Historia Y Cine fala com propriedade acerca da a importância que o discurso cinematográfico adquiriu no século XX denominado como século das imagens Apontando para a historicidade desta arte poética o autor explora a dimensão que esta linguagem faz compreender quando articulada ao registro histórico e literário O impacto que atualmente as imagens principalmente cinematográficas provocam na formação de uma consciência histórica exigem abordagens transdiciplinares nas quais técnica e imaginação se fundem Segundo o autor O século XXI será aquele da conquista de novas formas de narrativas e representações da história e de um novo paradigma educativo baseado não mais na razão pura mas na razãosentimento na razão poética Se mais de 80 das informações que são também formadoras são estruturadas pelas imagens se a proliferação das novas tecnologias são mais que incontornáveis como poderão os historiadores permanecer à margem desses novos processos sobretudo considerando que a razão histórica como a razão cinematográfica é fundadora de um novo paradigma o da razão poética ou sensitiva NÓVOA 2008 p 8 Jorge Nóvoa toca em um ponto fundamental para se pensar o campo de formação docente da necessidade de outra lógica de compreensão para se lidar com os problemas da educação A formação de individualidades estanques definidas segundo modelos racionais e científicos já não se sustenta para a construção da cidadania participativa A razão sentimento ou o investimento nas subjetividades nas possibilidades de uma formação plural múltipla se mostra um caminho mais do que urgente Nesse sentido o próprio diálogo que se estabelece entre o local e o global também merece ser redefinido apoiados no que Deleuze compreende como multiplicidade que reforça a ideia de um ensino que invista nas conexões entre as dimensões na tentativa de aumentar as possibilidades de conexões com o mundo O que deve interessar aos professores como destacam os autores ISSN 21776644 15 Revista TEL V 04 N 03 SetDez 2013 são as passagens e as combinações nas operações de estriagem de alisamento Como o espaço é constantemente estriado sob a coação de forças que nele se exercem mas também como ele desenvolve outras forças e secreta novos espaços lisos através da estriagem Mesmo a cidade mais estriada secreta espaços lisos habitar a cidade como o nômade ou troglodita Às vezes bastam movimentos de velocidade ou de lentidão para recriar um espaço liso Evidentemente os espaços lisos por si só não são liberadores Mas é neles que a luta muda se desloca e que a vida reconstitui seus desafios afronta novos obstáculos inventa novos andamentos modifica os adversários Jamais acreditar que um espaço liso basta para nos salvar DELEUZE GUATTARI 1997 p 189 Como já destacado o espaço institucional de formação docente é um espaço caracteristicamente estriado Regulado por regras e procedimentos por técnicas e condutas científicas que privilegia como resultado a padronização de um saber fazer direcionado às dinâmicas e interesses estatais do mercado de trabalho No entanto o espaço de formação docente também é fundamentalmente se constitui como espaço liso exatamente por sintetizar principalmente entre os discentes espaços de afeto de intensidades e de distâncias que não podem ser medidas controladas haja vista as subjetividades ímpares dos sujeitos envolvidos O que não significa espaço de salvação ou libertação Mas de luta de resistência no qual podem reconstituir desafios inventar novos caminhos Nesse sentido são nômades por manterem um espaço liso São nômades por mais que não se movam não migrem são nômades por manterem um espaço liso que se recusam a abandonar e que só abandonam para conquistar e morrer Viagem no mesmo lugar esse é o nome de todas as intensidades mesmo que elas se desenvolvam também em extensão Pensar é viajar o que distingue as viagens não é a qualidade objetiva dos lugares nem a quantidade mensurável do movimento nem algo que estaria unicamente no espírito mas o modo de espacialização a maneira de estar no espaço de ser no espaço Viajar de modo liso ou estriado assim como pensar Mas sempre as passagens de um a outro as transformações de um no outro as reviravoltas Viajar de modo liso é todo um devir e ainda um devir difícil incerto É hoje e nos sentido os mais diversos que prossegue o afrontamento entre o liso e estriado as passagens alternâncias e superposições DELEUZE GUATTARI 1997 p 166167 Por mais simples que pareça não é fácil situar a oposição que se apresenta no campo de formação docente O que fica evidenciado desta relação nem sempre harmoniosa entre sujeitos formadores e formandos ou seja entre professores e discentes é a natureza da disjunção inclusiva se pensarmos na fórmula deleuziana Cabe aos professores formadores traduzirem suas experiências objetivando oportunizar aos discentes formas de autonomia que lhes transformem em protagonistas Assim Traduzir é uma operação que sem dúvida consiste em domar sobrecodificar metrificar o espaço liso neutralizálo mas consiste igualmente em proporcionarlhe um meio de propagação de extensão de refração de renovação de impulso sem o qual ele talvez morresse por si só como uma máscara sem a qual não poderia haver respiração nem forma geral de expressão A ciência maior tem perpetuamente necessidade de uma inspiração que proceda da menor mas a ciência menor não seria nada se não afrontasse às mais altas exigências científicas e se não passasse por elas Nunca nada se acaba a maneira pela qual um espaço se deixa estriar mas também a maneira pela qual um espaço estriado restitui o liso com valores alcances e signos eventualmente muito diferentes Talvez seja preciso dizer que todo progresso se faz por e no espaço estriado mas é no espaço liso que se produz todo devir DELEUZE GUATTARI 1997 p 171 Por uma poética da história Vivendo em um tempo caracterizado pela crise de veracidade uma palavra se torna chave para o exercício docente no tempo presente inconformismo O professor deve ter o compromisso de ISSN 21776644 16 permitir em um mundo estriado construído por alienações midiáticas constituído por mediocridades e futilidades por valores distorcidos altamente narcisistas e preconceituosos como apontado acima que os professores aprendizes consigam atuar em espaços lisos imaginar mundos paralelos e alternativos que se não ameacem a ordem préexistente pelo menos consigam questionála afetando suas estruturas não as consolidando Nas aulas de História devem ter o compromisso de fazer com que os alunos possam pensar os assuntos de modos diferentes Para isso como defendido neste texto sua linguagem sua postura seus métodos sua visão de história de tempo presente precisa estar carregada por novas sensibilidades emoções pois o professor é um orientador é uma antena que capta e processa as ilusões os símbolos os discursos os valores sempre limitados sempre excludentes sempre políticos O professor é compreendido como um artista que sempre anda na corda bamba do conhecimento Crente e descrente seguro em sua insegurança muitas vezes consciente da omissão de seu compromisso social coerentemente incerto Isso porque não está só Carrega o peso da sociedade por suas contradições insolúveis Sua capacidade intelectual e intuitiva está à prova a todo contato nas salas de aulas A excelência de seu saberfazer está na capacidade de estimular os alunos que necessitam rever suas próprias posições O professor se torna um performer quando desmascara o seu próprio tempo Se ativo não se cala e não se rende aos currículos oficiais O seu tempo o presente dos alunos o local tornamse matéria de referência de discussão de conhecimento Busca iluminar com energia a própria obscuridade que impera nos livros didáticos ou textos científicos apontando para suas incongruências Age por palavras por atitudes por reflexão e desconstrução Naturalmente desconfiando das teorias o professor deve tentar esclarecer as implicações dos afrontamentos entre diferentes historicidades e isso só ocorre por meio da narração Nesse sentido o docente tem como material a emoção o sentimento a sensibilidade de se fazer crer e politicamente provocar nos alunos uma forma de revitalização que provoque o interesse a fuga da inércia confrontando valores sentidos atitudes na busca da autoafirmação e da autonomia como sujeito histórico Paul Zumthor no capítulo A imaginação crítica discute o que ele designa como objeto do historiador um conjunto de textos poéticos pertencentes ao passado Especialista em História Medieval Zumthor apresenta sua angústia da busca ilusória da verdade que define como um conjunto de narrativas que produzem ou reelaboram sentimentos por meio de nossa própria historicidade É no seio desta condição comum que o presente se torna o lugar de um saber sem curiosidade verdadeira nem paixão pelo atual nenhuma memória do passado pode ser viva ZUMTHOR 2007 p 98 A crítica que o autor faz à racionalidade está no fato dela instituir uma verdade a que todos devem perseguir Nesse sentido a crise de verdade é uma crise de racionalidade de teoria de método que aterroriza intelectuais que se negam a andar nos trilhos ou nas normas de um campo fundamentalmente estriado pela ciência A questão é a natureza de um conhecimento O que queremos saber e qual será o estatuto do que teremos aprendido a operação de todo historiador é da ordem da arte ZUMTHOR 2007 p 99 Nesse sentido De fato em história temse menos necessidade de uma ciência que de um saber Um infelizmente exclui muitas vezes o outro a ciência tomou entre nós durante dois ou três séculos hábitos de tirania e o saber como reação se cobre das roupas velhas de uma sabedoria Não é mais disso que se trata mas de visar por meio da ciência um saber a primeira usando a abstração da idéia o segundo se constituindo em discurso e desmecando em uma ação A ciência parte de uma observação o saber de uma experiência que falta articular em discurso isto é em testemunho pois o saber procede de uma confrontação com o ISSN 21776644 17 objeto de um esboço de diálogo com o que ele tem de único ZUMTHOR 2007 p 100 Nem a ciência nem o saber são seguros A realidade sempre será um talvez conflitual e heterogênea Observação e experiência se articulam na difícil tarefa de buscar verdades sempre relativas e inconclusivas Zumthor sugere metaforicamente que neste ambiente o que está em relevo é o jogo Assim Nessa área do jogo e da experiência na experiência desse jogo operase a transição entre o eu e o inacessível real uma captação me é dada sobre este sua possessão fantasmática me é oferecida ao mesmo tempo que um prazer Não são as próprias coisas assim conhecidas que jogam aos nosso olhos elas jogam em nós na consciência que nós delas tomamos isto é o jogo está em mim de mim que a tradição acadêmica veste de modo ridículo sob o título de pesquisador de sábio de historiador sei lá o quê e também do mesmo jeito em e de você meu leitor meu ouvinte meu aluno meu Outro O saber é um longo lento sabor ZUMTHOR 2007 p 103104 Zumthor apresenta com propriedade o que pode ser lido na simbiose dos espaços liso e estriado já demonstrado com Deleuze e Guattari O jogo que jogamos como formadores como docentes como historiadores é traçado por métodos por teorias por conceitos e regulamentos que estriam os espaços Mas o contrário não é menos verdadeiro e aparece como possibilidade de transgressão a esta racionalidade Ou seja a crise do jogo dos jogadores e de todos os métodos que os ordenam oferecem novos espaços lisos de concentração Neste ponto o saber a experiência e a imaginação entendidos como possibilitadores de uma poética da história se voltam a favor da construção de novas compreensões do mundo mais sensíveis mais subjetivas mais pautadas no viver Com Zumthor estamos do lado da poesia No sentido forte e transhistórico da palavra relativo não às figuras da linguagem como tais mas a uma maneira de conhecer o mundo uma modalidade eminente do saber sua forma é imagem Falemos a esse propósito de imaginação ZUMTHOR 2007 p 105 Ainda com o autor A imaginação faculdade poética age segundo duas modalidades Ela parte de uma apreensão intensamente concreta do real particular mas esta apreensão se faz acompanhar sem que os tempos nisto se distinguam sempre de uma colocação das coisas e de uma recomposição dos elementos percebidos em virtude de analogias diversas Quando esta imagem reveste a linguagem e a anima esta pronunciandose a si própria diz descobre cria formas de outro modo inacessíveis latentes no que foi um objeto Sem dúvida é assim que as crianças sentem pensam e se exprimem pelo tempo em que permanecem puras A imaginação contrariamente ao ditado não é louca simplesmente ela desrazoa Em vez de deduzir do objeto com o qual se confronta possíveis consequências ela o faz trabalhar Certamente há o perigo o objeto ela pode quebrálo Mas onde não há perigo ZUMTHOR 2007 p 105106 A imaginação desrazoa Zumthor está preocupado com a produção de sentidos e estes são o resultado de séculos de informação e que implica decodificação quando confrontado com a própria historicidade É no encontro do objeto com a historicidade do sujeito que se constrói a relação poética Em todos os objetos que sobressaem da história e portanto da historiografia é preciso procurar o lugar do nosso encontro O que isto quer dizer se não reorganizar os dados que se inventariou e deles imaginar o sentido Fazer nascer de seu fruto de um fruto provável essa matriz significante Um adágio paradoxal assegura que toda história é contemporânea O que afirmo é a natureza poética desse envolvimento ZUMTHOR 2007 p 108 A natureza poética do envolvimento entre o objeto e o sujeito ressoa como uma receita que ISSN 21776644 18 valoriza o caráter narrativo da história A arte de historiar de um querer imaginar se faz na e pela articulação dos espaços revelando afrontamentos posições e sensibilidades que fogem de uma racionalidade que se quer como verdadeira Investir neste campo procurando nos objetos o lugar de nosso encontro de nossa história gera um prazer um prazer de historiar que hoje parece distante na compreensão que se tem e que se defende para o ensino e a formação dos docentes Em virtude de seu caráter analógico e pois ficcional o discurso poético do historiador por natureza é narrativo esse discurso não diz nada e ressoa orgulhosamente ás vezes no vão do absurdo E em sua qualidade de narração que o discurso mantido pelo historiador declara sua relação com o lugar singular de sua dupla origem Só assim há uma chance de dar a sentir uma presença e talvez uma beleza A beleza vem a mais como uma graça Mas da presença gerase um prazer E o prazer é o mais alto valor do espírito pois é ao mesmo tempo alegria e signo o signo de uma vitória de e sobre a vida esta vitória que nos faz humanos ZUMTHOR 2007 p 108109 A presença a beleza a graça e a alegria que Zumthor reclama à história e ao historiador são pressupostos básicos para a formação docente A consciência de si do caráter narrativo do saber fazer histórico dos limites racionais da profissionalização da experiência que se funda no contato direto e subjetivo com a realidade é ainda que de forma limitada aspecto constituinte para a formação da subjetividade plural e múltipla que define um docente em História Os espaços mais do que se opõem se complementam Nesse sentido as contradições devem ser tomadas como formas de se suspender um mundo constituído por verdades provocando nos discentes a valorização de formas plurais de se perceberem e de visualizarem o mundo a sua volta Ao ensino e à escrita da História associamse conhecimento criatividade destreza e argumentação o que implica cuidados com a forma narrativa e com a exposição compreendida desde Aristóteles como retórica da arte da persuasão No entanto o estatuto cientificista ou a pretensão científica que norteia o saberfazer histórico que persegue desde o período das Luzes a obtenção de uma verdade passa na contemporaneidade a ser questionado e o que se assiste principalmente no diálogo com a literatura e outras formas artísticas como o cinema uma reaproximação com o campo das artes Tendência que sinaliza um rompimento com a presunção científica e voltase ao caráter poético da História compreendida como dependente da criatividade da escrita da concepção e da comunicação De tudo o que foi exposto uma pergunta se torna imperativa o que significa ensinar História hoje Ensinar é mostrar e mostrar não significa doutrinar significa dar informação mas também mostrar como compreendêla e analisála como raciocinar e questionar esta informação Significa identificar aqueles que escrevem ou produzem sentidos sobre a História seus objetivos seus interesses seus juízos e pretensões Ensinar é mostrar que a educação é uma ferramenta da cidadania participativa PAES 2005 do exercício crítico da democracia da emotividade da formação de valores de sentidos e de opinião O papel do professor é fazer os alunos pensarem duvidarem se perguntarem Para isso é fundamental valorizar e estimular os valores humanos sensíveis artísticos com a intenção de que estes sujeitos adquirirem consciência crítica da realidade humanizandoa Adotar a sensibilidade e a percepção poética como parte de um arsenal didático do saber fazer docente se transforma em um método que privilegia a dimensão humana da ciência histórica A concentração no aluno como leitor sujeito e personagem cruzando leituras e performances aguçando imaginação e sensibilidade é o caminho para a poética Uma poética que estimule os discentes ISSN 21776644 19 docentes a construírem linhas de fuga para o estabelecido o já conhecido e nomeado Que privilegie a multiplicidade e o multiculturalismo como chaves de leitura de um mundo sempre construído entre os espaços lisos e os estriados Nesse sentido cabe ao docente formador colaborar para que os futuros docentes possam se constituir a partir da formação de subjetividades flexíveis fluídas como o mundo também o é constituído Intervir no mundo de forma poética tal qual defendida por Zumthor Pensar e construir o saber histórico de forma derivesca Compreender narrar e ensinar história na sua vertente poética permite ao professor criar condições para transformar a compreensão do presente e do passado renovando métodos e a fim de tornála viva que vá ao encontro das expectativas e interesses dos alunos Afinal de contas como afirma Bebiano a história serve para humanizar as pessoas e para as preparar para o exercício da cidadania através do enriquecimento cultural e que serve também para divertir dessa mesma forma que foi usada geração após geração pela ancestral tradição de contar e de ouvir histórias BEBIANO 2000 p 14 Este texto buscou apontar na problemática do campo de formação do docente em História para as diferentes formas de saber que representam modos de estar e de viver no mundo A linha conceitual de Deleuze e Guattari a partir dos conceitos de espaço liso e espaço estriado foram tomados como base teórica para se compreender a complexidade deste meio Como forma de mediar a problemática sugeriuse um caminho formativo nomeado como poética da história que atenda ainda que de forma inconclusiva haja vista as heterogeneidades e singularidades de cada sujeito aos desafios que o saberfazer histórico implicam na e para a profissionalização dos docentes em História Espero ter ficado claro como o espaço liso e o espaço estriado no campo educacional podem ser experimentados O processo formativo implica capturar espaços estriandoos mas também é na própria prática e subjetividade dos discentes formandos que se alisam os espaços Referências BEBIANO Rui Sobre a história como poética 2000 Disponível em httpruibebianonetdocs hpoeticapdf Acessado em 13jun2011 CERRI Luis Fernando Cidade e identidade Região e ensino de História In ALEGRO Regina Célia et al Temas e questões para o ensino de História do Paraná Londrina EDUEL 2088 p 2741 CHAUI Marilena As humanidades contra o humanismo In SANTOS Gislene A org Universidade formação cidadania São Paulo Cortez 2001 DELEUZE Gilles GUATTARI Félix Mil platôs capitalismo e esquizofrenia V5 Ed 34 São Paulo 1997 FERREIRA Naura Syria Carapeto Repensando e ressignificando a gestão democrática da educação na cultura globalizada In Educação e Sociedade Campinas v25 n89 p12271249 SetDez 2004 NÓVOA Jorge A relação cinemahistória e a razão poética na reconstrução do paradigma histórico In Olho da História n10 abril de 2008 ISSN 21776644 20 PAES José Machado Jovens e cidadania In Sociologia problemas e práticas N49 2005 p 5370 ZUMTHOR Paul Performance recepção leitura São Paulo Cosac Naify 2007 Recebido em 10112012 Aprovado em 19122013 ¹ Atentar para ampliar esta discussão ao texto de Marilena Chaui As humanidades contra o Humanismo no qual a filósofa desenvolve um estudo acerca do consenso de interesses entre as instituições promotoras e financiadoras do ensino superior no Brasil e na América Latina Analisando as Leis de Diretrizes e Bases da Educação documentos da reitoria da USP e o documento do Banco Interamericano de Desenvolvimento BID Chaui mostra a homogeneidade do pensamento administrativo que entende a universidade direcionada à razão de mercado O mais instigante nessa análise é a observação da autora para o desaparecimento de outra realidade uma vez que a gestão é entendida apenas a partir das categorias do custobenefício recompensapunição e desempenho As funções profissionais e técnicas são privilegiadas e nesse sentido a universidade perde sua maior razão de ser CHAUI Marilena As humanidades contra o humanismo In SANTOS Gislene A org Universidade formação cidadania São Paulo Cortez 2001 ISSN 21776644 21