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Texto de pré-visualização
Meu tio o Iauaretê João Guimarães Rosa ROSA João Guimarães Estas estórias 5 ed Rio de JaneiroNova Fronteira 2001 Hum Eheh É Nhor sim Ãhã quer entrar pode entrar Hum hum Mecê sabia que eu moro aqui Como é que sabia Humhum Eh Nhor não nt nt Cavalo seu é esse só Ixe Cavalo tá manco aguado Presta mais não Axi Pois sim Hum hum Mecê enxergou este foguinho meu de longe É A pois Mecê entra cê pode ficar aqui Hãhã Isto não é casa É Havéra Acho Sou fazendeiro não sou morador Eh também sou morador não Eu toda a parte Tou aqui quando eu quero eu mudo É Aqui eu durmo Hum Nhem Mecê é que tá falando Nhor não Cê vai indo ou vem vindo Hã pode trazer tudo pra dentro Erê Mecê desarreia cavalo eu ajudo Mecê peia cavalo eu ajudo Traz alforje pra dentro traz saco seus dobros Hum hum Pode Mecê cipriuara homem que veio pra mim visita minha iánhã Bom Bonito Cê pode sentar pode deitar no jirau Jirau é meu não Eu rede Durmo em rede Jirau é do preto Agora eu vou ficar agachado Também é bom Assopro o fogo Nhem Se essa é minha nhem Minha é a rede Hum Humhum É Nhor não Hum hum Então por que é que cê não quer abrir saco mexer no que tá dentro dele Atié Mecê é lobo gordo Atié É meu algum Que é que eu tenho com isso Eu tomo suas coisas não furto não Ahé ahé nhor sim eu quero Eu gosto Pode botar no coité Eu gosto demais Bom Bonito Ahã Essa sua cachaça de mecê é muito boa Queria uma medidadelitro dela Ah munhãmunhã bobagem Tou falando bobagem munhamunhando Tou às boas Apê Mecê é homem bonito tão rico Nhem Nhor não Às vez Aperceio Quage nunca Sei fazer eu faço faço de cajú de fruta do mato do milho Mas não é bom não Tem esse fogo bombonito não Dá muito trabalho Tenho dela hoje não Tenho nenhum Mecê não gosta É cachaça suja de pobre Ãhã preto vem mais não Preto morreu Eu cá sei Morreu por aí morreu de doença Macio de doença É de verdade Tou falando verdade Hum Camarada seu demora chega só manhã de tarde Mais Nhor sim eu bebo Apê Cachaça boa Mecê só trouxe esse garrafão Eh eh Camarada de mecê tá aqui manhã com a condução Será Cê tá com febre Camarada decerto traz remédio Humhum Nhor não Bebo chá do mato Raiz de planta Sei achar minha mãe me ensinou eu mesmo conheço Nunca tou doente Só pereba feridabrava em perna essas ziquiziras curuba Trem ruim eu sou bicho do mato Hum não adianta mais percurar Os animais foram por longe Camarada não devia ter deixado Camarada ruim nt nt Nhor não Fugiram depressa a pois Mundo muito grande isso por aí é gerais tudo sertão bruto tapuitama Manhã camarada volta traz outros Hum hum cavalo plos matos Eu sei achar escuto o caminhado deles Escuto com a orelha no chão Cavalo correndo popóre Sei acompanhar rastro Ti agora posso não adianta não aqui é muito lugaroso Foram por longe Onça tá comendo aqueles Cê fica triste É minha culpa não é culpa mmha algum Fica triste não Cê é rico tem muito cavalo Mas esses onça já comeu atiúca Cavalo chegou perto do mato tá comido Os macacos gritaram então onça tá pegando Eh mais nhor sim Eu gosto Cachaça de primeira Mecê tem fumo também É fumo pra mascar pra pitar Mecê tem mais tem muito Hahã É bom Fumo muito bonito fumo forte Nhor sim a pois Mecê quer me dar eu quero Apreceio Pitume muito bom Esse fumo é chicosilva Hoje tá tudo muito bom cê não acha Mecê quer decomer Tem carne tem mandioca Eh oh paçoca Muita pimenta Sal tenho não Tem mais não Que cheira bom bonito é carne Tamanduá que eu cacei Mecê não come tamanduá é bom Tem farinha rapadura Cê pode comer tudo manhã eu caço mais mato veado Manhã mato veado não carece não Onça já pegou cavalo de mecê pulou nele sangrou na veia altéia Bicho grande já morreu mesmo E ela inda não larga tá em riba dele Quebrou cabeça do cavalo rasgou pescoço Quebrou Quebroou Chupou o sangue todo comeu um pedação de carne Despois carregou cavalo morto puxou pra a beira do mato puxou na boca Tapou com folhas Agora ela tá dormindo no mato fechado Pintada começa comendo a bunda a anca Suaçurana começa pla pá plos peitos Anta elas duas principeiam p la barriga couro é grosso Mecê creditou Mas suaçurana mata anta não não é capaz Pinima mata pinima é meu parente Nhem Manhã cedo ela volta lá come mais um pouco Aí vai beber água Chego lá junto com os urubus Porqueira desses uns urubus eles moram na Lapa do Baú Chego lá corto pedaço de carne pra mim Agora eu já sei onça é que caça pra mim quando ela pode Onça é meu parente Meus parentes meus parentes ai ai ai Tou rindo de mecê não Tou munhamunhando sozinho pra mim anhum Carne do cavalo manhã tá podre não Carne de cavalo muito boa de primeira Eu como carne pôdre não axe Onça também come não Quando é suaçurana que matou gosto menos ela tapa tudo com areia também suja de terra Café tem não Hum preto bebia café gostava Não quero morar mais com preto nenhum nunca mais Macacão Preto tem catinga Mas preto dizia que eu também tenho catinga diferente catinga aspra Nhem Rancho não é meu não rancho não tem dono Não era do preto também não Buriti do rancho tá podre de velho mas não entra chuva só pipica um pouquim Ixe quando eu mudar embora daqui toco fogo em rancho pra ninguém mais poder não morar Ninguém mora em riba do meu cheiro Mecê pode comer paçoca é de tamanduá não Paçoca de carne boa tatúhú Tatú que eu matei Tomei de onça não Bicho pequeno elas não guardam comem inteirinho ele todo Muita pimenta hã Nhem Ãhã é tá escuro Lua ainda não veio Lua tá vesprando mais logo sobe Hum não tem Tem candieiro não luz nenhuma Sopro o fogo Faz mal não rancho não pega fogo tou olhando olholho Foguinho debaixo da rede é bombonito alumêia esquenta Aqui tem graveto araçá lenha boa Pra mim só não carece eu sei entender no escuro Enxergo dentro dos matos Ei no meio do mato tá lumiando vai ver não é olho nenhum não é tiquira gota dágua resina de árvore bichode pau aranha grande Cê tem medo Mecê então não pode ser onça Cê não podeentender onça Cê pode Fala Eu aguento calor guento frio Preto gemia com frio Preto trabalhador muito gostava Buscava lenha cozinhava Plantou mandioca Quando mandioca acabar eu mudo daqui Eh essa cachaça é boa Nhenhem Eu cacei onça demais Sou muito caçador de onça Vim pra aqui pra caçar onça só pra mor de caçar onça Nhô Nhuão Guede me trouxe pra cá Me pagava Eu ganhava o couro ganhava dinheiro por onça gue eu matava Dinheiro bom glimglim Só eu é que sabia caçar onça Por isso Nhô Nhuão Guede me mandou ficar aqui mor de desonçar este mundo todo Anhum sozinho mesmo Araã Vendia couro ganhava mais dinheiro Comprava chumbo pólvora Comprava sal comprava espoleta Eh ia longe daqui pra comprar tudo Rapadura também Eu longe Sei andar muito demais andar ligeiro sei pisar do jeito que a gente não cansa pé direitinho pra diante eu caminho noite inteira Teve vez que fui até no Boi do Urucúia É A pé Quero cavalo não gosto não Eu tinha cavalo morreu que foi tem mais não cuéra Morreu de doença De verdade Tou falando verdade Também não quero cachorro Cachorro faz barulho onça mata Onça gosta de matar tudo Hui Atiê Atimbora Mecê não pode falar que eu matei onça pode não Eu posso Não fala não Eu não mato mais onça mato não É feio que eu matei Onça meu parente Matei montão Cê sabe contar Conta quatro dez vezes tá í esse monte mecê bota quatro vezes Tanto Cada que matei ponhei uma pedrinha na cabaça Cabaça não cabe nem outra pedrinha Agora vou jogar cabaça cheia de pedrinhas dentro do rio Quero ter matado onça não Se mecê falar que eu matei onça fico brabo Fala que eu não matei não táhá Falou Aé ãã Bom bonito de verdade Mecê meu amigo Nhor sim cá por mim vou bebendo Cachaça boa especial Mecê bebe também cachaça é sua de mecê cachacinha é remédio Cê tá espiando Cê quer dar pra mim esse relógio Ah não pode não quer tá bom Tá bom deistá Quero relógio nenhum não Deistá Pensei que mecê queria ser meu amigo Hum Humhum É Hum lá axi Quero canivete não Quero dinheiro não Hum Eu vou lá fora Cê pensa que onça não vem em beira do rancho não come esse outro seu cavalo manco Ih ela vem Ela põe a mão pra a frente enorme Capim mexeu redondo balançadinho devagarim mansim é ela Vem por de dentro Onça mão onça pé onça rabo Vem calada quer comer Mecê carece de ter medo Tem Se ela urrar eh mocanhemo cê tem medo Esturra urra de engrossar a goela e afundar os vazios Urrurrúrrrurrú Troveja até Tudo treme Bocão que cabe muita coisa bocão duasbocas Apê Cê tem medo Bom eu sei cê tem medo não Cê é querembáua bom bonito corajoso Mas então agora pode me dar canivete e dinheiro dinheirim Relógio quero não tá bom tava era brincando Pra quê que eu quero relógio Não careço Ei eu também não sou ridico Mecê quer couro de onça Hã hã mecê tá vendo ãhã Courame bonito Tudo que eu mesmo cacei faz muito tempo Esses eu não vendi mais não Não quis Esses aí Cangussú macho matei na beira do rio Sorongo Matei com uma chuçada só mor de não estragar couro Eh pajé Macharrão machôrro Ele mordeu o cabo da zagaia taca que ferrou marca de dente Aquilo ele onção virou mexer de bola revirando molemole de relâmpago feio feito sucurí desmanchando o corpo de raiva debaixo de meu ferro Torcia danado braceiro e miava rosno bruto inda queria me puxar pra o matinho fechado todo de espinho Quage pôde comigo Essa outra pintada também mas malhalarga jaguara pinima onção que mia grosso Matei a tiro tava trepada em árvore Sentada num galho da árvore Ela tava lá sem pescoço Parecia que tava dormindo Tava mas era me olhando Me olhava até com desprezo Nem deixei ela arrebitar as orelhas por isso por isso pum pôrro de fogo Tiro na boca mor de não estragar o couro Ãhã inda quis agarrar de unha no ramo de baixo cadê fôlego pra isso mais Ficou pendurada comprida despois caiu mesmo lá de riba despencou quebrou dois galhos Bateu no chão ih eh Nhem Onça preta Aqui tem muita pixuna muita Eu matava a mesma coisa Hum hum onça preta cruza com onça pintada Elas vinham nadando uma por trás da outra as cabeças de fora fiodascostas de fora Trepei num pau na beirada do rio matei a tiro Mais primeiro a macha onça jaguaretêpinima que vinha primeira Onça nada Eh bicho nadador Travessa rio grande numa direitura de rumo sai adonde é que quer Suaçurana nada também mas essa gosta de travessar rio não Aquelas duas de casal que tou contando foi na banda de baixo noutro rio sem nome nenhum um rio sujo A fêmea era pixuna mas não era preta feito carvão preto era preta cor de café Cerquei os defuntos no raso perdi5 os couros não Bom mas mecê não fala que eu matei onça hem Mecê escuta e não fala Não pode Hã Será Hué Ói que eu gosto de vermelho Mecê já sabe Bom vou tomar um golinho Uai eu bebo até suar até dar cinza na língua Cãuinhuara Careço de beber pra ficar alegre Careço pra poder prosear Se eu não beber muito então não falo não sei tou só cansado Deistá manhã mecê vai embora Eu fico sozinho anhum Que me importa Eh esse é couro bom da pequena onça cabeçuda Cê quer esse Leva Mecê deixa o resto da cachaça pra mim Mecê tá com febre Devia deitar no jirau rebuçar com a capa cobrir com couro dormir Quer Cê tira a roupa bota relógio dentro do casco de tatú bota o revólver também ninguém bole Eu vou bulir em seus trens não Eu acendo fogo maior fico de olho tomo conta do fogo mecê dorme Casco de tatú tem só esse pedaço de sabão dentro É meu não era do preto Gosto de sabão não Mecê não quer dormir Tá bom tá bom não falei nada não falei Cê quer saber de onça Eh eh elas morrem com uma raiva tão falando o que a gente não fala Num dia só eu cacei três Eh essa era uma suaçurana onça vermelhoraposa gatão de uma cor só toda Tava dormindo de dia escondida no capim alto Eh suaçurana é custoso a gente caçar corre muito trepa em árvore Vaga muito mas ela vive no cerradão na chapada Pinima não deixa suaçurana viver em beira de brejo pinima toca suaçurana embora Carne dela eu comi Boa mais gostosa mais macia Cozinhei com jembê de carurú bravo Muito sal pimenta forte Da pinima eu comia só o coração delas mixiri comi sapecado moqueado de todo o jeito E esfregava meu corpo todo com a banha Pra eu nunca eu não ter medo Nhor Nhor sim Muitos muitos anos Acabei com as onças em três lugares Da banda dali é o rio Sucuriú vai entrar no rio Sorongo Lá é sertão de matavirgem Mas da banda de cá é o rio Ururáu depois de vinte léguas é a Barra do Frade já pode ter fazenda lá pode ter gado Matei as onças todas Eh aqui ninguém não pode morar gente que não é eu Eh nhem Ahã hã Casa tem nenhuma Casa tem atrás dos buritis seis léguas no meio do brejo Morava veredeiro seu Rauremiro Veredeiro morreu mulher dele as filhas menino pequeno Morreu tudo de doença De verdade Tou falando verdade Aqui não vem ninguém é muito custoso Muito dilatado pra vir gente Só por muito longe uma semana de viagem é que vão lá caçador rico jaguariara vêm todo ano mês de agosto pra caçar onça também Eles trazem cachorros grandes cachorro onceiro Cada um tem carabina boa espingarda eu queria ter uma Hum hum onça não é bobo elas fogem dos cachorros trepam em árvore Cachorro dobra de latir barrôa Se a onça arranja jeito pega o mato sujo fechadão eh lá é custoso homem poder enxergar que tem onça Acôo acuação com os cachorros ela então esbraveja mopoama mopoca peteca mata cachorro de todo lado eh ela pode mexer de cada maneira Ãhã Esperando deitada então é o jeito mais perigoso quer matar ou morrer de todo Eh ronca feito porco cachorro chega nela não Não vem nada Um tapa chega Tapão tapeja Ela vira e pula de lado mecê não vê de donde ela vem Zuzune Mesmo morrendo ela ainda mata cachorrão É cada urro cada rosnado Arranca a cabeça do cachorro Mecê tem medo Vou ensinar hem mecê vê do lado de donde não tá vindo o vento aí mecê vigia porque daí é que onça de repente pode aparecer pular em mecê Pula de lado muda o repulo no ar Pula emcruz É bom mecê aprender É um pulo e um despulo orelha dela repinica cataca um estalinho feito chuva de pedra Ela vem fazendo atalhos Cê já viu cobra Pois é Apê Poranga suú suújucáiucá Às vez faz um barulhinho piriri nas folhas secas pisando nos gravetos eh eh passarinho foge Capivara dá um grito de longe cê ouve au e pula nágua onça já tá aqui perto Quando pinima vai saltar pra comer mecê o rabo dela encurvêia com a ponta pra riba despois concerta firme Esticadinha a cabeça dá de maior pra riba quando ela escancara a boca as pintas ficam mais compridas os olhos vão pra os lados reprega a cara Ói a boca ói a bigodeira salta Língua lá redobrada de lado Abre os braços já tá mexendo pra pular demora nas pernas ei ei nas pernas de trás Onça acuada vira demônio senta no chão quebra pau espedaça Ela levanta fica em pé Quem chegou tá rebentado Eh tapa de mão de onça é pior que porrete Mecê viu a sombra Então mecê tá morto Ah ah ah à ããã Tem medo não eu tou aqui A pois eu vou bebendo mecê não importa Agora é que tou alegre Eu cá também não sou sovina decomer e cachaça é pra se gastar logo enquanto que a gente tem vontade É bom é encher barriga Cachaça muito boa tava me fazendo falta Eh lenha ruim mecê tá chorando dos olhos com essa fumaceira Nhem É mecê é quem tá falando Eu acho triste não Acho bonito não É é como é mesmo que nem todo lugar Tem caça boa poço bom pra a gente nadar Lugar nenhum não é bonito nem feio não é pra ser Lugar é pra a gente morar vim pra aqui pago pra matar onça Agora mato mais não nunca mais Mato capivara lontra vendo o couro Nhor sim eu gosto de gente gosto Caminho ando longe pra encontrar gente à vez Eu sou corredor feito veado do campo Tinha uma mulher casada na beira do chapadão barra do córrego da Veredinha do Xunxúm Lá passa caminho caminho de fazenda Mulher muito boa chamava Maria Quirinéia Marido dela era dôido seo Siruvéio vivia seguro com corrente pesada Marido falava bobagem em noite de lua incerta ele gritava bobagem gritava nheengava Eles morreram não Morreram todos dois de doença não Eh gente Cachacinha gostosa Gosto de bochechar com ela beber despois Humhum Ããã Aqui roda a roda só tem eu e onça O resto é comida pra nós Onça elas também sabem de muita coisa Tem coisas que ela vê e a gente vê não não pode Ih tanta coisa Gosto de saber muita coisa não cabeça minha pega a doer Sei só o que onça sabe Mas isso eu sei tudo Aprendi Quando vim pra aqui vim ficar sozinho Sozinho é ruim a gente fica muito judiado Nhô Nhuão Guede homem tão ruim trouxe a gente pra ficar sozinho Atié Saudade de minha mãe que morreu çacyara Arãa Eu nhum sozinho Não tinha emparamento nenhum Aí eu aprendi Eu sei fazer igual onça Poder de onça é que não tem pressa aquilo deita no chão aproveita o fundo bom de qualquer buraco aproveita o capim percura o escondido de detrás de toda árvore escorrega no chão mundéumundéu vai entrando e saindo maciinho pôpu pôpu até pertinho da caça que quer pegar Chega olha olha não tem licença de cansar de olhar eh tá medindo o pulo Hã hã Dá um bote às vez dá dois Se errar passa fome o pior e que ela quage morre de vergonha Aí vai pular olha demais de forte olha pra fazer medo tem pena de ninguém Estremece de diante pra trás arruma as pernas toma o açôite e pula pulão é bonito Ei quando tá em riba do pobre do veado no tanto de matar cada bola que estremece no corpo dela a fora até ela as pintas brilham mesmo mais as pernas ajudam eh perna dobrada gorda que nem de sapo o rabo enrosca coisa que ela aqui e ali parece chega vai arrebentar o pescoço acompridado Apê Vai matando vai comendo vai Carne de veado estrala Onça urra alto de tarará o rabo ruim em pé aí ela unha forte ôi unhas de fora urra outra vez chega Festa de comer e beber Se é coelho bichinho pequeno ela comeu até às juntas engolindo tudo mucunando que mal deixou os ossos Barrigada e miúdos ela gosta não Onça é bonito Mecê já viu Bamburral destremece um pouco estremeceuzinho àtoinha é uma é uma eh pode ser Cê viu despois ela evém caminhando de barriga cheia Ãhã Que vem de cabeça abaixada evém andando devagar apruma as costas cocurute levanta um ombro levanta o outro cada apá cada anca redondosa Onça fêmea mais bonita é MariaMaria Eh mecê quer saber Não isso eu não conto Conto não de jeito nenhum Mecê quer saber muita coisa Me deixaram aqui sozinho eu nhum Me deixaram pra trabalhar de matar de tigreiro Não deviam Nhô Nhuão Guede não devia Não sabiam que eu era parente delas Oh ho Oh ho Tou amaldiçoando tou desgraçando porque matei tanta onça por que é que eu fiz isso Sei xingar sei Eu xingo Tiss nt nt Quando tou de barriga cheia não gosto de ver gente não gosto de lembrar de ninguém fico com raiva Parece que eu tenho de falar com a lembrança deles Quero não Tou bom tou calado Antes de primeiro eu gostava de gente Agora eu gosto é só de onça Eu aprecêio o bafo delas MariaMaria onça bonita cangussú boa bonita Ela é nova Cê olha olha ela acaba de comer tosse mexe com os bigodes eh bigode duro branco bigode pra baixo faz cócega em minha cara ela muquirica tão gostoso Vai beber água O mais bonito que tem é onça MariaMaria esparramada no chão bebendo água Quando eu chamo ela acode Cê quer ver Mecê tá tremendo eu sei Tem medo não ela não vem não vem só se eu chamar Se eu não chamar ela não vem Ela tem medo de mim também feito mecê Eh este mundo de gerais é terra minha eh isto aqui tudo meu Minha mãe havêra de gostar Quero todo o mundo com medo de mim Mecê não mecê é meu amigo Tenho outro amigo nenhum Tenho algum Hum Hum hum Nhem Aqui mais perto tinha só três homens geralistas uma vez beira da chapada Aqueles eram criminosos fugidos jababora vieram viver escondidos aqui Nhem Como é que chamavam Pra quê é que mecê carece de saber Eles eram seus parentes Axi Geralista um chamava Gugué era meio gordo outro chamava Antunias aquele tinha dinheiro guardado O outro era seo Riopôro homem zangado homem bruto eu gostava dele não O quê que eles faziam Ãhã Jababora pesca caça plantam mandioca vão vender couro compram pólvora chumbo espoleta trem bom Eh ficam na chapada na campina Terra lá presta não Mais longe daqui no Cachorro Preto tem muito jababora mecê pode ir lá espiar Esses tiram leite de mangabeira Gente pobre Nem não têm roupa mais pra vestir não Eh uns ficam nú de todo Ixe Eu tenho roupa meus panos calumbé Nhem Os três geralistas Sabiam caçar onça não tinham medo muito Capaz de caçar onça com zagaia não feito eu caço A gente berganhava fumo por sal conversava emprestava pedaço de rapadura Morreram eles três morreu tudo tudo cuéra Morreram de doença eh eh De verdade Tou falando verdade tou brabo Com minha zagaia Mato mais onça não Não falei Ah mas eu sei Se quiser mato mesmo Como é que é Eu espero Onça vem Heeé Vem anda andando ligeiro cê não vê o vulto com esses olhos de mecê Eh rosna pula não Vem só bracejando gatinhando rente Pula nunca não Eh ela chega nos meus pés eu encosto a zagaia Erê Encosto a folha da zagaia ponta no peito no lugar que é A gente encostando qualquer coisa ela vai deita no chão Fica querendo estapear ou pegar as coisas quer se abraçar com tudo Fica empezinha às vez Onça mesma puxa a zagaia pra ponta vir nela Eh eu enfio Ela boqueia logo Sangue sai vermelho outro sai quage preto Curuz pobre da onça coitada sacapira da zagaia entrando lá nela Teité Morrer picado de faca Humhum Deus me livre Palpar o ferro chegar entrando no vivo da gente Atiúca Cê tem medo Eu tenho não Eu sinto dor não Hã hã cê não pensa que é assim vagaroso manso não Eh heé Onça sufoca de raiva Debaixo da zagaia ela escorrega ciririca forceja Onça é onça feito cobra Revira pra todo o lado mecê pensa que ela é muitas tá virando outras Eh até o rabo dá pancada Ela enrosca enrola cambalhota eh dobra toda destorce encolhe Mecê não tá costumado nem não vê não é capaz resvala A força dela mecê não sabe Escancara boca escarra medonho tá rouca tá rouca Ligeireza dela é dôida Puxa mecê pra baixo Ai ai ai Às vez inda foge escapa some no bamburral danada Já tá na derradeira e inda mata vai matando Mata mais ligeiro que tudo Cachorro descuidou mão de onça pegou ele por detrás rasgou a roupa dele toda Apê Bom bonito Eu sou onça Eu onça Mecê acha que eu pareço onça Mas tem horas em que eu pareço mais Mecê não viu Mecê tem aquilo espelhim será Eu queria ver minha cara Tiss nt nt Eu tenho olho forte Eh carece de saber olhar a onça encarado olhar com coragem hã ela respeita Se mecê olhar com medo ela sabe mecê então tá mesmo morto Pode ter medo nenhum Onça sabe quem mecê é sabe o que tá sentindo Isso eu ensino mecê aprende Hum Ela ouve tudo enxerga todo movimento Rastrear onça não rastreia Ela não tem faro bom não é cachorro Ela caça é com os ouvidos Boi soprou no sono quebrou um capinzinhodaí a meia légua onça sabe Nhor não Onça não tocaia de riba de árvore não Só suaçurana é que vai de árvore em árvore pegando macaco Suaçurana pula pra riba de árvore pintada não pula não pintada sobe direito que nem gato Mecê já viu Eh eh eu trepo em árvore tocaio Eu sim Espiar de lá de riba é melhor Ninguém não vê que eu tou vendo Escorregar no chão pra vir perto da caça eu aprendi melhor foi com onça Tão devagarim que a gente mesmo não abala que tá avançando do lugar Todo movimento da caça a gente tem que aprender Eu sei como é que mecê mexe mão que cê olha pra baixo ou pra riba já sei quanto tempo mecê leva pra pular se carecer Sei em que perna primeiro é que mecê levanta Mecê quer sair lá fora Pode ir Vigia a lua como subiu com esse luar grande elas tão caçando noite clara Noite preta elas caçam não só de tardinha no escurecer e quando é em volta de madrugada De dia todas ficam dormindo no tabocal beira de brejo ou no escuro do mato em touceiras de gravatá no meio da capoeira Nhor não neste tempo quage que onça não mia Vão caçar caladas Pode passar uma porção de dias que mecê não escuta nem um miado só Agora fez barulho foi sariema culata Humhum Mecê entra Senta no jirau Quer deitar na rede Rede é minha mas eu deixo Eu asso mandioca pra mecê Abom Então vou tomar mais um golinho Se deixar eu bebo até no escorropicho Nt mp aah Donde foi que aprendi Aprendi longe destas terras por lá tem outros homens sem medo quage feito eu Me ensinaram com zagaia Uarentin Maria e Gugué Maria dois irmãos Zagaia que nem esta cabo de metro e meio travessa boa bom alvado Tinha Nhô Inácio também velho Nhuão Inácio preto esse mas preto homem muito bom abaeté abaúna Nhô Inácio zagaieiro mestre homem desarmado só com azagaia zagaia muito velha ele brinca com onça Irmão dele Rei Inácio tinha trabuco Nhahem Hãhã É porque onça não contava uma pra outra não sabem que eu vim pra mor de acabar com todas Tinham dúvida em mim não farejam que eu sou parente delas Eh onça é meu tio o jaguaretê todas Fugiam de mim não então eu matava Despois só na hora é que ficavam sabendo com muita raiva Ehjuro pra mecê matei mais não Não mato Posso não não devia Castigo veio fiquei panema caipora7 Gosto de pensar que matei não Meu parente como é que posso Ai ai ai meus parentes Careço de chorar senão elas ficam com raiva Nhor sim umas já me pegaram Comeram pedaço de mim olha Foi aqui no gerais não Foi no rio de lá outra parte Os outros companheiros erraram o tiro ficaram com medo Eh pinima malhalarga veio no meio do pessoal rolou com a gente todos Ela ficou dôida Arrebentou a tampa dos peitos de um arrancou o bofe a gente via o coração dele lá dentro lá nele batendo no meio de montão de sangue Arriou o couro da cara de um outro homem Antonho Fonseca Riscou esta cruz em minha testa rasgou minha perna unha veio funda esbandalha muçuruça dá feridabrava Unha venenosa não é afiada fina não por isso é que estraga azanga Dente também Pa lá iá eh tapa de onça pode tirar a zagaia da mão do zagaieiro Deram nela mais de trinta pra quarenta facadas Hum cê tivesse lá cê agora tava morto Ela matou quage cinco homens Tirou a carne toda do braço do zagaieiro ficou o osso com o nervo grande e a veia esticada Eu tava escondido atrás da palmeira com a faca na mão Pinima me viu abraçou comigo eu fiquei por baixo dela misturados Hum o couro dela é custoso pra se firmar escorrega que nem sabão pepêgo de quiabo destremece a tôrto e a direito feito cobra mesmo eh cobra Ela queria me estraçalhar mas já tava cansada tinha gastado muito sangue Segurei a boca da bicha ela podia mais morder não Unhou meu peito desta banda de cá tenho mais maminha não Foi com três mãos Rachou meu braço minhas costas morreu agarrada comigo das facadas que já tinham dado derramou o sangue todo Manhuaçá de onça Tinha babado em minha cabeça cabelo meu ficou fedendo aquela catinga muitos dias muitos dias Hum hum Nhor sim Elas sabem que eu sou do povo delas Primeira que eu vi e não matei foi MariaMaria Dormi no mato aqui mesmo perto na beira de um foguinho que eu fiz De madrugada eu tava dormindo Ela veio Ela me acordou tava me cheirando Vi aqueles olhos bonitos olho amarelo com as pintinhas pretas bubuiando bom adonde aquela luz Aí eu fingi que tava morto podia fazer nada não Ela me cheirou cheira cheirando pata suspendida pensei que tava percurimdo meu pescoço Urucuera piou sapo tava tava bichos do mato aí eu escutando toda a vida Mexi não Era um lugar fofo prazível eu deitado no alecrinzinho Fogo tinha apagado mas ainda quentava calor de borralho Ela chega esfregou em mim tava me olhando Olhos dela encostavam um no outro os olhos lumiavam pingo pingo olho brabo pontudo fincado bota na gente quer munguitar tira mais não Muito tempo ela não fazia nada também Depois botou mão zona em riba de meu peito com muita fineza Pensei agora eu tava morto porque elaviu que meu coração tava ali Mas ela só calcava de leve com uma mão afofado com a outra de sossoca queria me acordar Eh eh eu fiquei sabendo Onça que era onça que ela gostava de mim fiquei sabendo Abri os olhos encarei Falei baixinho Ei MariaMaria Carece de caçar juízo MariaMaria Eh ela rosneou e gostou tornou a se esfregar em mim miãomiã Eh ela falava comigo jaguanhenhém jaguanhém Já tava de rabo duro sacudindo sacêsacemo rabo de onça sossega quage nunca ã ã Vai ela saiu foi pra me espiar meio de mais longe ficou agachada Eu não mexi de como era que tava deitado de costas fui falando com ela e encarando sempre dei só bons conselhos Quando eu parava de falar ela miava piado jaguanhenhém Tava de barriga cheia lambia as patas lambia o pescoço Testa pintadinha tiquira de aruvalhinho em redor das ventas Então deitou encostada em mim o rabo batia bonzinho na minha cara Dormiu perto Ela repuxa o olho dormindo Dormindo e redormindo com a cara na mão com o nariz do focinho encostado numa mão Vi que ela tava secando leite vi o cinhim dos peitinhos Filhotes dela tinham morrido sei lá de quê Mas agora ela vai ter filhote nunca mais não ara vai não Nhem Despois Despois ela dormiu uê Roncou com a cara virada pra uma banda amostrava a dentaria braba encostando as orêlhas pra trás Era por causa que uma suaçurana que vinha vindo Suaçurana clara maçaroca Suaçurana esbarrou Ela é a pior bicho maldoso sangradeira Vi aquele olhão verde olhos dela de luz também redondados parece que vão cair Humhum MariaMaria roncou suaçurana foi saindo saindo Eh catú bom bonito porãporanga melhor de tudo MariaMaria solevantou logo botava as orêlhas espetadas pra diante Eh foi indo devagar no diário dela andar que mecê pensa que é pesado mas se ela quiser vira pra ligeiro leviano é só carecer Ela balança bonito jerejereba fremosa porção de pêlo mão macia Chegou no pau de peroba empinada fincou as unhas riscou de riba pra baixo tava amolando fino unhando o perobão Despois foi no ipêbranco Deixou marcado mecê pode ir ver adonde é que ela faz Aí eu quisesse podia matar Quis não Como é que ia querer matar MariaMaria Também eu nesse tempo eu já tava triste triste eu aqui sozinho eu nhum e mais triste e caipora de ter matado onças eu tava até amorviado Dês que esse dia matei mais nennhuma não só que a derradeira que matei foi aquela suaçurana fui atrás dela Mas suaçurana não é meu parente parente meu é a onça preta e a pintada Matei a tal em quando que o sol manheceu Suaçurana tinha comido um veadinho catingueiro Acabei com ela mais foi de raiva por causa que ali donde eu tava dormindo era adonde lugar que ela vinha lá fazer sujeira achei no bamburral tudo estrume Eh elas tapam com terra mas o macho tapa menos macho é mais porco Àhã MariaMaria é bonita mecê devia de ver Bonita mais do que alguma mulher Ela cheira à flor de paudalho na chuva Ela não é grande demais não É cangussú cabeçudinha afora as pintas ela é amarela clara clara Tempo da seca elas inda tão mais claras Pele que brilha macia macia Pintas que nenhuma não é preta mesmo preta não vermelho escuronas assim ruivo roxeado Tem não Tem de tudo Mece já comparou as pintas e argolas delas Cê conta pra ver varêia tanto que duas mesmo iguais cê não acha não MariaMaria tem montão de pinta miúda Cara mascarada pequetita bonita toda sarapintada assim assim Uma pintinha em cada canto da boca outras atrás das orelhinhas Dentro das orêlhas é branquinho algodão espuxado Barriga também Barriga e por debaixo do pescoço e nopor de dentro das pernas Eu posso fazer festa tempão ela aprecêia Ela lambe minha mão lambe mimoso do jeito que elas sabem pra alimpar o sujo de seus filhotes delas se não ninguém não aguentava o rapo daquela língua grossa aspra tem lixa pior que a de folha de sambaíba mas senão como é que ela lambe lambe e não rasga com a língua o filhotinho dela Nhem Ela ter macho MariaMaria Ela tem macho não Xô PaI Atimbora Se algum macho vier eu mato mato mato pode ser meu parente o que for A bom mas agora mecê carece de dormir Eu também Ói muito tarde Sejuçú já tá alto olha as estrelinhas dele Eu vou dormir não tá quage em hora d eu sair por aí todo dia eu levanto cedo muito em antes do romper da aurora Mecê dorme Por que é que não deita fica só acordado me preguntando coisas despois eu respondo despois cê pregunta outra vez outras coisas Pra que Daí eh eu bebo sua cachaça toda Hum hum fico bêbado não Fico bêbado só quando eu bebo muito muito sangue Cê pode dormir sossegado eu tomo conta sei ter olho em tudo Tou vendo cê tá com sono Ói se eu quero eu risco dois redondos no chão pra ser seus olhos de mecê despois piso em riba cê dorme de repente Ei mas mecê também é corajoso capaz de encarar homem Mecê tem olho forte Podia até caçar onça Fica quieto Mecê é meu amigo Nhem Nhor não disso não sei não Sei só de onça Boi sei não Boi pra comer Boi fêmea boi macho marruá Meu pai sabia Meu pai era bugre Índio não meu pai era homem branco branco feito mecê meu pai Chico Pedro mimbauamanhanaçara vaqueiro desses homem muito bruto Morreu no Tunto Tungo nos gerais de Goiás fazenda da Cachoeira Brava Mataram Sei dele não Pai de todo o mundo Homem burro Nhor Hã hã nhor sim Ela pode vir aqui perto pode vir rodear o rancho Tão por aí cada onça vive sozinha por seu lado quage o ano todo Tem casal morando sempre junto não só um mês algum tempo Só jaguatirica gatodomato grande é que vive par junto Ih tem muitas montão Eh isto aqui agora eu não mato mais é jaguaretama terra de onças por demais Eu conheço sei delas todas Pode vir nenhuma pra cá mais não as que moram por aqui não deixam senão acabam com a caça que há Agora eu não mato mais não agora elas todas têm nome Que eu botei Axi Que eu botei só não eu sei que era mesmo o nome delas Atié Então se não é como é que mecê quer saber Pra quê mecê tá preguntando Mecê vai comprar onçaVai prosear com onça algum Teité Axe Eu sei mecê quer saber só se é pra ainda ter mais medo delas táhá Hã abom Ói em uma covoca da banda dali aqui mesmo pertinho tem a onça Mopoca cangussú fêmeo Pariu tarde tá com filhote novo jaguaraÍm Mopoca onça boa mãe tava sempre mudando com os filhos carregando oncinha na boca Agora sossegou lá lugar bom Nem sai de perto nem come direito Quage não sai Sai pra beber água Pariu tá magra magra tá sempre com sede toda a vida Filhote jaguaraÍm cachorrinho onço oncinho é dois tão aquelas bolotas parece bichodepau pôdre nem sabem mexer direito A Mopoca tem leite muito oncim mama o tempo todo Nháem Eh mais outras Ói mais adiante no rumo mesmo obra de cinco léguas tá a onça pior de todas a Maramnhangara ela manda briga com as outras entesta Da outra banda na beirada do brejo tem a Porreteira malhalarga enorme só mecê vendo o mãozo dela as unhas mão chata Mais adiante tem a Tatacica preta preta jaguaretêpixuna é de perna comprida é muito braba Essa pega muito peixe Hem outra preta A Uinhúa que mora numa soroca boa buraco de cova no barranco debaixo de raizão de gameleira Tem a Rapàltapa pinima velha malhalarga ladina ela sai daqui vai caçar até a umas vinte léguas tá em toda a parte RapaRapa tá morando numa lapinha onça gosta muito de lapa aprecêia A Mpú mais a Nhãã é que foram tocadas pra longe daqui as outras tocaram por o decomer não chegar Eh elas mudam muito de lugar de viver por via disso Sei mais delas não tão aqui mais não Cangussú braba é a Tibitaba onça com sobrancelhas mecê vê ela fica de lá deitada em riba de barranco bem na beirada as mãos meio penduradas mesmo Tinha outras tem mais não a CoemaPiranga vermelhona morreu engasgada com ôsso danada A onça Putuca velha velha com costela alta vivia passando fome judiação de fome nos matos Nhem Hum hum MariaMaria eu falo adonde ela mora não Sei lá se mecê quer matar Sei lá de nada Hãhã E os machos Muito ih montão Se mecê vê o Paga Gente macharrão malhalarga assustando de grande Cada presa de riba que nem quicé carniceira suja de amarelado eh tabaquista Tem um Puxuêra também tá velho dentão de detrás de cortar carnaça já tá gastado roído SuúSuú é jaguaretêpixuna preto demais tem um esturro danado de medonho cê escuta cê treme treme treme Ele gosta da onça Mopoca Apiponga é pixuna não é o macho pintado mais bonito mecê não vê outro o narizão dele Mais é o que tá sempre gordo sabe caçar melhor de todos Tem um macho cangussú Petecaçara que tá meio maluco ruim do miôlo ele é que anda só de dia vaguêia eu acho que esse é o que parece com o bocatorta Uitauêra é um Uatauêra é outro eles são irmãos eh mas eu é que sei eles nem não sabem A bom agora chega Prosêio não Senão manhece o dia mecê não dormiu camarada vem com os cavalos mecê não pode viajar tá doente tá cansado Mecê agora dorme Dorme Quer que eu vou embora pra mecê dormir aqui sozinho Eu vou Quer não Então converso mais não Fico calado calado O rancho é meu Hum Humhum Pra quê mecê pregunta pregunta e não dorme Sei não Suaçurana tem nome não Suaçurana parente meu não onça medrosa Só a lombopreto é que é braba Suaçurana ri com os filhotes Eh ela é vermelha mas os filhotes são pintados Hum agora eu vou conversar mais não prosêio não não atiço o fogo Deistá Mecê dorme será Hum É Humhum Nhor não Hum Humhum Hum Nhem Camarada traz outro garrafão Mecê me dá Hãhã Ããã Apê Mecê quer saber Eu falo Mecê bombonito meu amigo meu Quando é que elas casam Ixe casar é isso Porqueira Mecê vem cá no fim do frio quando ipê tá de flor mecê vê Elas ficam aluadas Assanham urram urram miando e roncando o tempo todo quage nem caçam pra mor de comer ficam magras saem plos matos fora do sentido mijam por toda a parte caruca que fede feio forte Onça fêmea saída mia mais miado diferente miado bobo Ela vem com o pêlo do lombo rupeiado se esfregando em árvores deita no chão vira a barriga pra riba aruê É só arrúarrú arrarrúuuu Mecê foge logo se não nesse tempo mecê tá comido mesmo Macho vem atrás caminha légua e mais légua Vem dois Vem três Eh mecê não queira ver a briga deles não Pêlo deles voa longe Ai despois um sozinho fica com a fêmea Então é que é Eles espirram Ficam chorando ganam de chorar e remiar noite inteira rolam no chão sai briga Capim acaba amassado bamburral baixo moita de mato achatada o chão eles arrancam touceiras quebram galhos Macho fica zurêta encoscora o corpo abre a goela hi amostra as presas Ói rabo duro batendo com força Cê corre foge Tá eSClatando Eu eu vou no rastro É cada pezão grande rastro sem unhas Eu vou Um dia eu não volto Eh não o macho e a fêmea vão caçar juntos não Cada um pra si Mas eles ficam companheiros o dia todo deitados dormindo Cabeça encostada um no outro Um virado pra uma banda a outra pra a outra Ói onça MariaMaria eu vou trazer pra cá deixo macho nenhum com ela não Se eu chamar ela vem Mecê quer ver Cê não atira nela com esse revólver seu não Ei quem sabe revólver seu tá panema hã Deixa eu ver Se tiver panema eu dou jeito Ah cê não quer não Cê deixa eu pegar em revólver seu não Mecê já fechou os olhos três vezes já abriu a boca abriu a boca Se eu contar mais cê dorme será Eh quando elas criam eu acho o ninho Soroca muito escondida no mato pior buracão em grota No entrançado Onça mãe vira demônio De primeiro quando eu matava onça esperava seis meses mode não deixar os filhotes à míngua Matava a mãe deixava filhote crescer Nhem Tinha dó não era só pra não perder paga e o dinheiro do couro Eh sei miar que nem filhote onça vem desesperada Tinha onça com ninhada dela jaguaretêpixuna muito grande muito bonita muito feia Miei miei jaguarainhém jaguaranhinhenhém Ela veio maluca com um ralhado cochichado não sabia pra adonde ir Eu miei aqui dentro do rancho pixuna mãe chegou até aqui perto me pedindo pra voltar pra o ninho Ela abriu a mão ali Quis matar não por não perder os filhotes esperdiçar Esbarrei de miar dei um tiro àtoa Pixuna correu de volta ligeiro se mudou levou suas crias dela pra daí a meia légua arranjou outro ninho no mato do brejo Filhotes dela eram pixunas não eram oncinhas pintadas pinima Ela ferra cada cria plo couro da nuca vai carregando pula barranco pula moita Eh bicho burro Mas mecê pode falar que ela é burra não eh Eu posso Nhor sim Tou bebendo sua cachaça de mecê toda É foguinho bom ela esquenta corpo também Tou alegre tou alegre Nhem Sei não gosto de ficar nú só de calça velha faixa na cintura Eu cá tenho couro duro Ãhã mas tenho roupa guardada roupa boa camisa chapéu bonito Boto um dia quero ir em festa muita Calçar botina quero não não gosto Nada no pé gosto não mundéu ixe lá Aqui tem festa não Nhem Missa não de jeito nenhum Ir pra o céu eu quero Padre não missionário não gosto disso não não quero conversa Tenho medalhinha de pendurar em mim gosto de santo Tem São Bento livra a gente de cobra Mas veneno de cobra pode comigo não tenho chifre de veado boto sara Alma de defunto tem não tagoaíba sombração aqui no gerais tem não nunca vi Tem o capeta nunca vi também não Humhum Nhenhém Eu cá Mecê é que tá preguntando Mas eu sei porque é que tá preguntando Hum Ãhã por causa que eu tenho cabelo assim olho miudinho É Pai meu não Ele era branco homem Índio não A pois minha mãe era ela muito boa Caraó não Péua minha mãe gentio Tacunapéua muito longe daqui Caraó não caraó muito medroso quage todos tinham medo de onça Mãe minha chamava Marlara Maria bugra Despois foi que morei com caraó morei com eles Mãe boa bonita me dava comida me dava decomer muito bom muito montão Eu já andei muito fiz viagem Caraó tem chuço só um caraó sabia matar onça com chuço Auá Nhoaquim Pereira Xapudo nome dele também era Quim Crênhe esse tinha medo de nada não Amigo meu Arco frecha frecha longe Nhem Ah eu tenho todo nome Nome meu minha mãe pôs Bacuriquirepa Breó Beró também Pai meu me levou pra o missionário Batizou batizou Nome de Tonico bonito será Antonho de Eiesús Despois me chamavam de Macuncôzo nome era deliro sítio que era de outro dono é um sítio que chamam de Macuncôzo Agora tenho nome nenhum não careço Nhô Nhuão Guede me chamava de Tonho Tigreiro Nhô Nhuão Guede me trouxe pr aqui eu nhum sozim Não devia Agora tenho nome mais não Nhãhem é barulho de onça não Barulho de anta ensinando filhote a nadar Muita anta por aqui Carne muito boa Dia quente anta fica pensando tudo sabendo tudo dentro d água Nhem Eh não onça pinima come anta come todas Anta briga não anta corre foge Quando onça pulou nela ela pode correr carregando a onça não jeito nenhum que não pode não é capaz Quando pinima pula em anta mata logo já matou Jaguaretê sangra a anta Ôi noite clara boa pra onça caçar Nhor não Isso é zoeira de outros bichos curiango mãeda lua corujãodomato piando Quem gritou foi lontra com fome Gritou Irra Lontra vai nadando veredaacima Eh ela sai de qualquer água com o pêlo seco Capivara De longe mecê escuta a barulhada delas pastando meio dentro meio fora d água Se onça urrar eu falo qual é Eh nem carece não Se ela esturrar ou miar mecê logo sabe Mia sufocado do fundo da goela eh goela é enorme Heeé Apê Mecê tem medoTem medo não Pois vai ter O mato todo tem medo Onça é carrasca Manhã cê vai ver eu mostro rastro dela pipura Um dia luanova mecê vem cá vem ver meu rastro feito rastro de onça eh sou onça Hum mecê não acredita não Ô homem dôido Ô homem dôido Eu onça Nhum Sou o diabo não Mecê é que é diabo o bocatorta Mecê é ruim ruim feio Diabo Capaz que eu seja Eu moro em rancho sem paredes Nado muito muito Já tive bexiga da preta Nhoaquim Caraó tinha uma carapuça de pena de gavião Pena de arara de guará também Rodinha de pena de ema no joelho nas pernas na cintura Mas eu sou onça Jaguaretê tio meu irmão de minha mãe tutira Meus parentes Meus parentes Ói me dá sua mão aqui Dá sua mão deixa eu pegar Só um tiquinho Eh cê tá segurando revólver Humhum Carece de ficar pegando no revólver não Mecê tá com medo de onça chegar aqui no rancho Hãhã onça Uinhúa travessou a vereda eu sei veio caçar paca tá indo escorregada no capim grosso Ela vai anda deitada de escarrapacho com as orêlhas pra diante dá estalinho assim com as orêlhas quaquave Onça Uinhúa é preta capeta de preta que rebrilha com a lua Fica peba no chão Capim de ponta cutuca dentro do nariz dela ela não gosta assopra Come peixe pássarodágua socó saracura Mecê escuta o uêuê de narccjão voando embora o narcejão vai voando de a tôrto e a direito Passarinho com frio foge fica calado Uinhúa fez pouca conta dele Mas paca assustou pulou Cê ouviu o roró dágua Onça Uinhúa deve de tá danada Toda molhada de mururú do aruvalho muquiada de barro branco de beira de rio Evém ela Ela já sabe que mecê tá aqui esse seu cavalo Evém ela tuxa morubixa Evém Iquente Ói cavalo seu barulhando com medo Eh carece de nada não a Uinhúa esbarrou Evém Vem não foi tataca de algua rã Tem medo não se ela vier eu enxoto escramuço eu mando embora Eu fico quieto quieto ela não me vê Deixa o cavalo rinchar ele deve de tá tremendo tá com as orêlhas esticadas Peia é boa Peiado forte Foge não Também esse cavalo seu de mecê presta mais pra nada Espera Mecê vira seu revólver pra outra banda ih Vem mais não Hoje a Uinhúa não teve coragem Deistá xa pra lá de fome ela não morre pega qualquer acutia por aí rato bichinho Isso come até porcoespim Manhã cedo cê vê o rastro Onça larga catinga a gente acha se a gente passar de fresco Manha cedo a gente vai lavar corpo Mecê quer Nhem Catinga delas mais forte é no lugar donde elas pariram e moraram com cria fede muito Eu gosto Agora mecê pode ficar sossegado quieto torna a guardar revólver no bolso Onça Uinhúa vem mais não Ela nem não é desta banda de cá Travessou a vereda só se a Maramonhangara foi lá adonde que é o terreiro dela aí a Uinhúa ficou enjerizada se mudou Tudo tem lugar certo lugar de beber água a Tibitaba vai no pocinho adonde tem o buriti dobrado PapaGente bebe no mesmo lugar junto com o SuúSuú na barra da Veredinha Nomeio da vereda larga tem uma pedramorta PapaGente nada pra lá pisa na pedramorta parece que tá empé dentro dágua é dando de feio Sacode uma perna sacode outra sacode o corpo pra secar Espia tudo espia a lua PapaGente gosta de morar em ilha capoama de ilha ahé Nhem Papa não Axi Onça enfiou mão por um buraco da cafua pegou menino pequeno no jirau abriu barriguinha dele Foi aqui não foi nos roçados da Chapada Nova eh Onça velha tigra de uma onça conhecida jaguarapinima muito grande demais o povo tinha chamado de PédePanela Pai do menino pequeno era sitiante pegou espingarda foi atrás de onça sacaquera sacaquera Onça PédePanela tinha matado o menino pequeno tinha matado uma mula Onça que vem perto de casa tem medo de ser enxotada não onça velha onça chefa come gente bicho perigoso que nem até quage que feito homem ruim Sitiante foi indo no rastro sacaquera sacaquera Pinima caminha muito caminha longe a noite toda Mas a PédePanela tinha comido comido comido bebeu sangue da mula bebeu água deixou rastro foi dormir no fecho do mato num furado toda desenroscada Eu achei o rastro não falei contei a ninguém não Sitiante não disse que a onça era dele Sitiante foi buscar os cachorros cachorro deu barroado acharam a onça Acuaram Sitiante chegou gritou de raiva espingarda negou fogo Péde Panela rebentou o sitiante rebentou cabeça dele enfiou cabelo dentro de miôlo Enterraram o sitiante junto com o menino pequeno filho dele o que sobrava eu fui lá fui espiar Me deram comida cachaça comida boa eu também chorei junto Eh aí davam dinheiro pra quem matar PédePanela Eu quis Falaram em rastrear Humhum Como é que podiam rastrear de achar rastreando Ela tava longe Como é que pode Hum não Mas eu sei Eu não percurei Deitei no lugar cheirei o cheiro dela Eu viro onça Então eu viro onça mesmo hão Eu mio Aí eu fiquei sabendo Dobrei pra o Monjolinho na croa da vereda E era mesmo lá madrugada aquela PédePanela já tinha vindo comeu uma porca dono da porca era um Rima Toruquato no Saó fazendeiro Fazendeiro também prometeu dar mais dinheiro pra eu matar PédePanela Eu quis Eu pedi outra porca só emprestada marrei no pé de almecegueira Noite escurecendo PédePanela sabia nada de mim não então ela veio buscar a outra porca Mas nem não veio não Chegou só de manhã cedinho dia já tava clareando Ela rosnou abriu a boca perto de mim eu porrei fogo dentro da goela dela e gritei Come isto meu tio Aí eu peguei o dinheiro de todos ganhei muito decomer muitos dias Me emprestaram um cavalo arreado Então Nhô Nhuão Guede me mandou vir pra cá pra desonçar Porqueira dele Homem ruim Mas eu vim Eu não devia Ãã eu sei no começo eu não devia Onça é povo meu meus parentes Elas não sabiam Eh eu sou ladino ladino Tenho medo não Não sabiam que eu era parente brabo traiçoeiro Tinha medo só de um dia topar com uma onça grande que anda com os pés pra trás vindo do mato virgem Será que tem será Humhum Apareceu nunca não tenho medo mais nenhum Tem não Teve a onça Maneta que também enfiou a mão dentro de casa igual feito a PédePanela Povo de dentro de casa ficaram com medo Ela ficou com a mão enganchada eles podiam sair pra matar cá da banda de fora Ficaram com medo cortaram só a mão com foice Onça urrava eles toravam a munheca dela Era onça preta Conheci não Toraram a mão ela pôde ir sembora Mas pegou a assustar o povo comia gente comia criação deixava pipura de três pés andava manquitola E ninguém não atinava com ela pra mor de caçar Prometiam dinheiro bom nada Conheci não Era a Onça Maneta Despois sumiu por este mundo Assombra Ói mecê ouviu Essa é miado Pode escutar Miou longe É macho Apiponga que caçou bicho grande porcodomato Tá enchendo barriga Matou em beira do capão no desbarrancado fez carniça lá Manhã vou lá Eh Mecê conhece Apiponga não é o que urra mais danado mais forte Eh pula um pulo Toda noite ele caça mata Mata um mata bonito Come sai despois logo volta De dia ele dorme quentando sol dorme espichado Mosquito chega eh ele dana Vai lá pra mecê ver Apiponga lugar dele dormir de dia é em cabeceira do mato montão de mato pedreira grande Lá mesmo ele comeu um homem Ih ixe Um dia uma vez ele comeu um homem Nhem Cê quer saber donde é que MariaMaria dorme de dia hã Pra quê que quer saber Pra quê Lugar dela é no alecrimda crôa no furado do matinho aqui mesmo perto pronto Quê que adiantou Cê não sabe adonde que é eheheh Se mecê topar com MariaMaria não vale nada ela ser a onça mais bonita mecê morre de medo dela Ói abre os olhos ela vem vem vem com a boca meio aberta língua lá dentro mexendo É um arquejo miúdo quando tá fazendo calor a língua pra diante e pra trás mas não sai do céudaboca Bate o pé no chão macião espreguiça despois toda fecha os olhos Eh bota as mãos pra a frente abre os dedos põe pra fora cada unha maior que seu dedo mindinho de mecê Aí me olha me olha Ela gosta de mim Se eu der mecê pra ela comer ela come Mecê espia cá fora Lua tá redonda Tou falando nada Lua meu compadre não Bobagem Mecê não bebe eu me avexo bebendo sozinho tou acabando sua cachaça toda Lua compadre de caraó Caraó falava só bobagem Auá Caraó chamado Curiuã queria casar com mulher branca Trouxe coisas deu pra ela esteira bonita cacho de banana tucano manso de bico amarelho casco de jaboti pedra branca com pedra azul dentro Mulher tinha marido Ãhã foi isto mulher branca gostou das coisas que caraó Curiuã trazia Mas não queria casar com ele não que era pecado Caraó Curiuã ficou rindo falou que tava doente só mulher branca querendo deitar com ele na rede era que ele sarava Carecia de casar de verdade não deitar uma vez só chegava Armou rede ali perto de lá ficou deitado não comia nada Marido da mulher chegou mulher contou pra ele Homem branco ficou danado de brabo Encostou carabina nos peitos dele caraó Curiuã ficou chorando homem branco matou caraó Curiuã tava com muita raiva Hum hum Ói eu tava lá matei nunca ninguém No Socó Boi também matei ninguém não Matei nunca podia não minha mãe falou pra eu não matar Tinha medo de soldado Eu não posso ser preso minha mãe contou que eu posso ser preso não se ficar preso eu morro por causa que eu nasci em tempo de frio em hora em que o sejuçú tava certinho no meio do alto do céu Mecê olha o sejuçú tem quatro estrelinhas mais duas A bom cê enxerga a outra que falta Enxerga não A outra é eu Mãe minha me disse Mãe minha bugra boa boa pra mim mesmo que onça com os filhotes delas jaguaraím Mecê já viu onça com as oncinhas Viu não Mãe lambe lambe fala com eles jaguanhenhém alisa toma conta Mãe onça morre por conta deles deixa ninguém chegar perto não Só suaçurana é que é pixote foge larga os filhotes pra quem quiser Eh parente meu é a onça jaguaretê meu povo Mãe minha dizia mãe minha sabia uê uê Jaguaretê é meu tio tio meu à hã Nhem Mas eu matei onça Matei pois matei Mas não mato mais não No SocóBoi aquele Pedro Pampolino queria encomendou pra eu matar o outro homem por ajuste Quis não Eu não Pra soldado me pegarTinha oTiaguim esse quis ganhou o dinheiro que era pra ser para mim foi esperar o outro homem na beira da estrada Nhem como é que foi Sei não me alembro não Eu nem não ajudei ajudei algum Quis saber de nada Tiaguim mais Missiano mataram muitos Despois foi pra um homem velho Homem velho raivado jurando que bebia o sangue de outro do homem moço eu escutei Tiaguim mais Missiano amarraram o homem moço o homem velho cortou o pescoço dele com facão aparava o sangue numa bacia Aí eu larguei o serviço que tinha fui m embora fui esbarrar na Chapada Nova Aquele Nhô Nhuão Guede pai da moça gorda pior homem que tem me botou aqui Falou Mata as onças todas Me deixou aqui sozinho eu nhum sozinho de não poder falar sem escutar Sozinho o tempo todo periquito passa gritando grilo assovia a noite inteira não é capaz de parar de assoviar Vem chuva chove chove Tenho pai nem mãe Só matava onça Não devia Onça tão bonita parente meu Aquele Pedro Pampolino disse que eu não prestava Tiaguim falou que eu era mole mole membeca Matei montão de onça Nhô Nhuão Guede trouxe eu pr aqui ninguém não queria me deixar trabalhar junto com outros Por causa que eu não prestava Só ficar aqui sozinho o tempo todo Prestava mesmo não sabia trabalhar direito não não gostava Sabia só matar onça Ah não devia Ninguém não queria me ver gostavam de mim não todo o mundo me xingando MariaMaria veio veio Então eu ia matar MariaMaria Como é que eu podia Podia matar onça nenhuma não onça parente meu tava triste de ter matado Tava com medo por ter matado Nhum nenhum Ai ai gente De noite eu fiquei mexendo sei nada não mexendo por mexer dormir não podia não que começa que não acaba sabia não como é que é não Fiquei com a vontade Vontade dôida de virar onça eu eu onça grande Sair de onça no escurinho da madrugada Tava urrando calado dentro de em mim Eu tava com as unhas Tinha soroca sem dono de jaguaretêpinima que eu matei saí pra lá Cheiro dela inda tava forte Deitei no chão Eh fico frio frio Frio vai saindo de todo mato em roda saindo da parte do rancho Eu arrupêio Frio que não tem outro frio nenhum tanto assim Que eu podia tremer de despedaçar Aí eu tinha uma câimbra no corpo todo sacudindo dei acesso Quando melhorei tava de pé e mão no chão danado pra querer caminhar Ô sossego bom Eu tava ali dono de tudo sozinho alegre bom mesmo todo o mundo carecia de mim Eu tinha medo de nada Nessa hora eu sabia o que cada um tava pensando Se mecê vinha aqui eu sabia tudo o que mecê tava pensando Sabia o que onça tava pensando também Mecê sabe o que é que onça pensa Sabe não Eh então mecê aprende onça pensa só uma coisa é que tá tudo bonito bom bonito bom sem esbarrar Pensa só isso O tempo todo comprido sempre a mesma coisa só e vai pensando assim enquanto que tá andando tá comendo tá dormindo tá fazendo o que fizer Quando algua coisa ruim acontece então de repente ela ringe urra fica com raiva mas nem que não pensa nada nessa horinha mesma ela esbarra de pensar Daí só quando tudo tornou a ficar quieto outra vez é que ela torna a pensar igual feito em antes Eh agora cê sabe será Hãhã Nhem Aã pois eu saí caminhando de mão no chão fui indo Deu em mim uma raiva grande vontade de matar tudo cortar na unha no dente Urrei Eh eu esturrei No outro dia cavalo branco meu que eu trouxe me deram cavalo tava estraçalhado meio comido morto eu manheci todo breado de sangue seco Nhem Fez mal não gosto de cavalo não Cavalo tava machucado na perna prestava mais não Aí eu queria ir ver MariaMaria Nhem Gosto de mulher não Às vez gosto Vou indo como elas onças fazem por meio de espinheiro vagarinho devagarinho faço barulho não Mas não espinha não quage que não Quando espinha pé estraga a gente passa dias doente pode caçar não fica curtindo fome É mas MariaMaria se ficar assim eu levo decomer pra ela hã hãã Hum hum Esse é barulho de onça não Urucuéra piou e um bichinho correu destabocado Eh como é que eu sei Pode ser veado caititú capivara Como é Aqui tem é tudo tem capão capoeira pertinho do campo O resto é sapo é grilo do mato Passarinho também que pia no meio de dormindo Ói se eu dormir mais primeiro mecê também dorme Cê pode encostar a cabeça no surrão surrão é de ninguém não surrão era do preto Dentro tem coisa boa não tem roupa velha vale nada Tinha retrato da mulher do preto preto era casado Preto morreu eu peguei em retrato virei pra não poder ver levei pra longe escondi em oco de pau Longe longe gosto de retrato aqui comigo não Eh urrou e mecê não ouviu não Urrou cochichado Mecê tem medo Tem medo não Mecê tem medo não é mesmo tou vendo Humhum Eh cê tando perto cê sabe o que é que é medo Quando onça urra homem estremece todo Zagaieiro tem medo não hora nenhuma Eh homem zagaieiro é custoso achar tem muito poucos Zagaieiro gente sem soluço Os outros todos têm medo Preto é que tem mais Eh onça gosta de carne de preto Quando tem um preto numa comitiva onça vem acompanhando seguindo escondida por escondidos atrás atrás atrás ropitando tendo olho nele Preto rezava ficava seguro na gente tremia todo Foi esse não que morou no rancho não esse que morou aqui preto Tiodoro Foi outro preto preto Bijibo a gente vinha beiradeando o rio Urucúia despois o Riacho Morto despois O velho barbado barba branca tinha botas botas de couro de sucurijú Velho das botas tinha trabuco Ele mais os filhos e o carapina bêbado iam pra outra banda pra a Serra Bonita varavam dessa mão de lá mo de ir Preto Bijibo tinha coragem não carecia de viajar sozinho tava voltando pra algum lugar sei lá longe Preto tinha medo sabia que onça tava de tocaia onça vinha sacaquera toda noite eu sabia que ela tava rodeando de uauaca perto do foguinho do arranchamento Aí eu falei com o preto falei que também ia com ele até no Formoso Carecia de arma nenhuma não eu tinha garrucha espingarda tinha faca facão zagaia minha Mentira que eu falei eu tava era voltando pr aqui tinha ido falar brabo com Nhô Nhuão Guede que eu não ia matar onça nenhuma mais não que eu tinha falado Eu tava voltando pr aqui dei volta tão longe por conta do preto só Mas preto Bijibo sabia não ele foi viajar comigo Ói eu tava achando nada de ruim não tava jeriza não eu gostei do preto Bijibo tava com dó dele em mesmo queria era ajudar por causa que ele tinha muita comida boa mantimento por pena assim que ele carecia de viajar sozim Preto Bijibo era bom com aquele medo dôido ele não me largava em hora nenhuma A gente caminhamos três dias Preto conversava conversava Eu gostava dele Preto Bijibo tinha farinha queijo sal rapadura feijão carne seca tinha anzol pra pegar peixe toicinho salgado AveMaria preto carregava aquilo tudo nas costas eu ajudava não gosto não sei lá como é que ele podia Eu caçava matei veado jacú codorna Preto comia Atié Atié que ele comia comia só queria era comer até nunca vi assim não Preto Bijibo cozinhava Me dava do decomer dele eu comia de encher barriga Mas preto Bijibo não esbarrava de comer não Comia falava em comida eu então ficava vendo ele comer e eu inda comia mais ficava empazinado chega arrotava A gente tava arranchados debaixo de pau de árvore acendemos fogo Olhei preto Bijigo comendo ele lá com aquela alegria dôida de comer todo dia todo dia enchendo boca enchendo barriga Fiquei com raiva daquilo raiva raiva danada Axe axi Preto Bijibo gostando tanto de comer comendo de tudo bom arado e pobre da onça vinha vindo com fome querendo comer preto Bijibo Fui ficando com mais raiva Cê não fica com raiva Falei nada não Ãhã Apois falei só com preto Bijibo que ali era o lugar perigoso pior de toda banda tinha soroca de onçapintada Ih preto esbarrou logo de comer preto custou pra dormir Eh aí eu não tinha mais raiva não queria era brincar com o preto Saí calado calado devagar que nem nenhum ninguém Tirei o decomer todo todo levei escondi em galho de árvore muito longe Eh voltei desmanchei meu rastro eh que eu queria rir alegre Dei muita andada por uma banda e por outra e voltei pra trás trepei em pau alto fiquei escondido Diaba diaba onça nem não vinha De manhã cedo dava gosto ver quando preto Bijibo acordou e não me achou não O dia todo ele chorava percurava percurava não tava acreditando Eh arregalava os olhos Chega que andava em roda zuretado Me percurou até em buraco de formigueiro Mas ele tava com medo de gritar e espiritar a onça então falava baixinho meu nome Preto Bijibo tremia que eu escutava dente estalando que escutava Tremia feito piririca de carne que a gente assa em espeto Despois ele ficava estuporado deitava no chão debruço tapava os ouvidos Tapava a cara Esperei o dia inteiro trepado no pau eu também já tava com fome e sede mas agora eu queria nem sei queria ver jaguaretê comendo o preto Nhem Preto tinha me ofendido não Preto Bijibo muito bom homem acomodado Eu tinha mais raiva dele não Nhem Não tava certo Como é que mecê sabe Cê não tava lá Ãhã preto não era parente meu não devia de ter querido vir comigo Levei o preto pra a onça Preto porque quis me acompanhar uê Eu tava no meu costume Hum por que é que mecê tá percurando mão no revólver Humhum Aã arma boa será Hãhã revólver bom Erê Cê deixa eu pegar com minha mão mor de ver direito A nhã não deixa não deixa Gosta não que eu pego Tem medo não Mão minha bota arma caipora não Também não deixo pegar em arma mas é mulher mulher eu não deixo deixo nem ver não devede Bota panema caipora Hum hum Nhor não É É Hum um Mecê e que sabe Hum Hum É É não Eh nt nt Axi É Nhor não sei não Humhum Nhor não tou agravado não revólver é seu mecê é que é dono dele Eu tava pedindo só por querer ver arma boa bonito revólver Mas mão minha bota caipora não pa sou mulher não Eu panema não eu marupiara Mecê não quer deixar mecê não acredita Eu falo mentira não Tá bom eu bebo mais um gole Cê bebe também Tou vexado não Apê cachaça bom de boa Ói mecê gosta de ouvir contar apois eu conto Despois que teve o preto Bijibo Eu voltei uai Cheguei aqui achei outro preto já morando mesmo dentro de rancho Primeiro eu pulei pra pensar este é irmão dele outro veio tirar vingança ôi ôi Era não Preto chamado Tiodoro Nhô Nhuão Guede justou pra ficar no despois pra matar as onças todas mor d eu não querer matar onça nenhuma mais não Falou que o rancho era dele que Nhô Nhuão Guede tinha falado tinha dado rancho pra preto Tiodoro pra toda a vida Mas que eu podia morar junto eu tinha de buscar lenha buscar água Eu Hum eu não mesmo não Fiz tipoia pra mim com folhagem de buriti perto da soroca de MariaMaria Ahã pretoTiodoro havéra de vir caçar por ali A bom a bom Preto Tiodoro caçava onça não ele tinha mentido pra Nhô Nhuão Guede Preto Tiodoro boa pessoa tinha medo mas medo montão Tinha quatro cachorros grandes cachorro latidor Apiponga matou dois um sumiu no mato Maramonhangara comeu o outro Ehehhe Cachorro Caçou onça nenhuma não Também preto Tiodoro ficou morando em rancho só uma lua nova aí ele morreu pronto Preto Tiodoro queria ver outra gente passear Me dava de comer me chamava pra ir passear mais ele junto Eh sei ele tava com medo de andar sozinho por aí Chegava em beira de vereda pegava a ter medo de sucruiú Eu eh eu tenho meu porrete bom amarrado com tira forte de embira passava a tira no pescoço ia com o porrete pendurado tinha medo de nada Aí preto A gente fomos lá muitas léguas no meio do brejo terra boa pra plantar Veredeiro seo Rauremiro bom homem mas chamava a gente por assovio feito cachorro Sou cachorro sou Seo Rauremiro falava Entra em quarto da gente não fica pra lá tu é bugre Seo Rauremiro conversava com preto Tiodoro proseava Me dava comida mas não conversava comigo não Saí de lá com uma raiva mas raiva de todos de seo Rauremiro mulher dele as filhas menino pequeno Chamei o preto Tiodoro despois da gente comer a gente vinha s embora Preto Tiodoro queria só passar na barra da Veredinha deitar na esteira com a mulher do homem dôido mulher muito boa Maria Quirinéia A gente passou lá Então uê pediram pra eu sair da casa um tem pão ficar espiando o mato espiando no caminho aruê pra ver se vinha alguém Muito homem que tava acostumado iam lá Muito homem jababora geralista aqueles três que já morreram Lá por perto vi rastro Rastro redondo pipura da onça Porreteira dela ir caçar Tava chovendo fino só cruviando quage Eu escondi em baixo de árvore Preto Tiodoro não saía de lá de dentro não com aquela mulher Maria Quirinéia O dôido marido dela nem não tava gritando devia de tá dormindo encorrentado Uai então eu enxerguei que vinha vindo geralista aquele seo Riopôro homem ruim feito ele só tava toda hora furiado Seo Riopôro vinha vestido com coroça grande de paijla de buriti mor de não molhar a roupa vinha respingado fincava pé na lama Saí de debaixo de árvore fui lá encontrar com ele mor de cercar mor d ele não vir que preto Tiodoro tinha mandado Que é que tu tá fazendo por aqui onceiro senvergonha foi que ele falou me gritou gritou valente mesmo Tou espiando o rabo da chuva que eu falei Pois por que tu não vai espiar tua mãe desgraçado que ele tornou a gritar inda gritou mais muito Ô homem aquele pra ter raiva Ah gritou pois gritou Pa Mãe minha foi Ah pois foi Pa A bom A bom Aí eu falei com ele que a onça Porreteira tava escondida lá no fundão da pirambeira do desbarrancado X eu ver x eu ver já que ele falou E Txi é mentira tua não Tu diabo mente por senvergonheira Mas ele veio chegou na beira da pirambeira na beiradinha debruçou espiando pra baixo Empurrei Empurrei foi só um tiquinho nem não foi com força geralista seo Riopôro despencou no ar Apê Nhemnhem o que Matei eu matei A pois matei não Ele inda tava vivo quando caiu lá em baixo quando onça Porreteira começou a comer Bom bonito Eh ps eh porã Erê Come esse meu tio Falei nada com o preto ói Mulher Maria Quirinéia me deu café falou que eu era Índio bonito A gente veio s embora Preto Tiodoro ficava danado comigo calado Porque eu sabia caçar onça ele sabia não Eu tapijara sapijara achava os bichos as árvores planta do mato todas ele nem não Eu tinha esses couros todos nem não queria vender mais não Ele olhava com olho de cachorro acho que queria couros todos pra ele pra vender muito dinheiro Ah preto Tiodoro contou mentira de mim pra os outros geralistas Aquele jababora Gugué homem bom mas mesmo bom nunca me xingou não Eu queria passear ele gostava de caminhar não só ficava deitado em rede no capim dia inteiro dia inteiro Pedia até pra eu trazer água na cabaça mor de ele beber Fazia nada Dormia pitava espichava deitado proseava Eu também Aquele Gugué puxava prosa danada de boa Eh fazia nada caçava nada não cavacava chão pra tirar mandioca queria passear não Então peguei a não querer espiar pra ele Eh raiva não só um enfaro Cê sabe Cê já viu Aquele homem mole mole perrengando por querer panema ixe Até me esfriava Eu queria ter raiva dele não queria fazer nada não não queria não queria Homem bom Falei que ia membora Vai embora não que ele falou Vamos conversar Mas ele era que dormia dormia o dia todo De repente eh eu oncei lá Eu agüentei não Arrumei cipó arranjei embira boa forte Amarrei aquele Gugué na rede Amarrei ligeiro amarrei perna amarrei braço Quando ele queria gritar hum xô Axi aí deixei não atochei folha folha lá nele boca a dentro Tinha ninguém lá Carreguei aquele Gugué com rede enrolada Pesadão pesado eh Levei pra o PapaGente PapaGente onça chefe onço comeu jababora Gugué PapaGente onção enorme come rosnando rosnando até parece oncinho novo Despois eu inté fiquei triste com pena daquele Gugué tão bonzinho teitê Aí era de noite fui conversar com o outro geralista que inda tinha chamado Antunias jababora ué Ô homem amarelo de ridico Não dava nada não guardava tudo pra ele emprestava um bago de chumbo só se a gente depois pagava dois lxe Ueh Cheguei lá ele tava comendo escondeu o decomer debaixo do cesto de cipó assim mesmo eu vi Então eu pedi pra poder dormir dentro do rancho Dormir pode Mas vai buscar graveto pra o fogo isto que arrenegou Eh tá de noite tá escuro manhã cedo eu carrego lenha boa que eu falei Mas então ele me mandou consertar uma alprecata velha Falou que manhã cedo ele ia na Maria Quirinéia que eu não podia ficar sozinho no rancho mor de não bulir nos trens dele não A pois eu falei acho que onça pegou Gugué Ei Tunia que era assim que Gugué falava Arregalou olho Preguntou como era que eu achava Falei que tinha escutado grito do Gugué e urro de onça comedeira Cê já viu Sabe o quê que ele falou Axi Que onça tinha pegado Gugué então tudo o que era do Gugué ficava sendo dele Que despois ele ia s embora pra outra serra que se eu queria ir junto mor de ajudar a carregar os trens todos dele tralha Que eu vou mesmo que eu falei Ah mas isto eu não conto que não conto que não conto de jeito nenhum Por quê mecê quer saber Quer saber tudo Cê é soldado A bom a bom eu conto mecê é meu amigo Eu encostei ponta da zagaia nele X eu mostrar como é que foi Ah quer não não pode Cê tem medo deu encostar ponta da zagaia em seus peitos eh será nhem Mas então pra quê que quer saber Axe mecê homem frouxo Cê tem medo o tempo todo A bom ele careceu de ir andando chorando sacêmo no escuro caía levantava Não pode gritar não pode gritar que eu falava ralhava cutucava empurrei com a ponta da zagaia Levei pra MariaMaria Manhã cedo eu queria beber café Pensei eu ia pedir café de visita pedir àquela mulher Maria Quirinéia Fui indo pra lá fui vendo curuz De toda banda ladeza da chapada tinha rastro de onça Ei minhas onças Mas todas têm de saber de mim eh sou parente eh se não eu taco fogo no campo no mato lapa de mato soroca delas taco fogo em tudo no fim da seca Aquela mulher Maria Quirinéia muito boa Deu café deu de comer Marido dela dôido tava quieto seo Suruvéio era lua dele não só ria ria não gritava Eh mas Maria Quirinéia principiou a olhar pra mim de jeito estúrdio diferente mesmo cada olho se brilhando ela ria abria as ventas pegou em minha mão alisou meu cabelo Falou que eu era bonito mais bonito Eu gostei Mas aí ela queria me puxar pra a esteira com ela eh uê uê Me deu uma raiva grande tão grande montão de raiva eu queria matar Maria Quirinéia dava pra a onça Tatacica dava pra as onças todas Eh aí eu levantei ia agarrar Maria Quirinéia na goela Mas foi ela que falou Ói sua mãe deve de ter sido muito bonita boazinha muito boa será Aquela mulher Maria Quirinéia muito boa bonita gosto dela muito me alembro Falei que todo o mundo tinha morrido comido de onça que ela carecia de ir s embora de mudada naquela mesma da hora ir já ir já logo mesmo Pra qualquer outro lugar carecia de ir Maria Quirinéia pegou medo enorme montão disse que não podia ir por conta do marido dôido Eu falei eu ajudava levava Levar até na Vereda da Conceição lá ela tinha pessoas conhecidas Eh fui junto Marido dela dôido nem deu trabalho quage Eu falava Vamos passear seo Nhô Suruvéio mais adiante Ele arrespondia A pois vamos vamos vamos Vereda cheia tempo de chuva isso os deu mais trabalho Mas a gente chegou lá Maria Quirinéia falou despedida Mecê homem bom homem corajoso homem bonito Mas mecê gosta de mulher não AÍ que eu falei Gosto mesmo não Eu eu tenho unha grande Ela riu riu eu voltei sozinho beiradeando essas veredas todas Uê uê rodeei volta despois cacei jeito por detrás dos brejos queria ver veredeiro seo Rauremiro não Eu tava com fome mas queria decomer dele não homem muito soberbo Comi araticúm e fava dôce em beira de um cerrado eu descansei Uma hora deu aquele frio frio aquele torceu minha perna Eh despois não sei não acordei eu tava na casa do veredeiro era de manhã cedinho Eu tava m barro de sangue unhas todas vermelhas de sangue Veredeiro tava mordido morto mulher do veredeiro as filhas menino pequeno Eh jucajucá atiê atiuca Aí eu fiquei com dó fiquei com raiva Hum nhem Cê fala que eu matei Mordi mas matei não Não quero ser preso Tinha sangue deles em minha boca cara minha Hum saí andei sozim plos matos fora de sentido influição de subir em árvore eh mato é muito grande Que eu andei que eu andei sei quanto tempo foi não Mas quando que eu fiquei bom de mim outra vez tava nú de todo morrendo de fome Sujo de tudo de terra com a boca amargosa atiê amargoso feito casca de peroba Eu tava deitado no alecrinzinho no lugar MariaMaria chegou lá perto de mim Mecê tá ouvindo nhem Tá aperceiando Eu sou onça não falei Axi Não falei eu viro onça Onça grande tubixaba Ói unha minha mecê olha unhão preto unha dura Cê vem me cheira tenho catinga de onça Preto Tiodoro falou eu tenho ei ei Todo dia eu lavo corpo no poço Mas mecê pode dormir hum hum vai ficar esperando camarada não Mecê tá doente carece de deitar no jirau Onça vem cá não cê pode guardar revólver Aaã Mecê já matou gente com ele Matou a pois matou Por quê que não falou logo Ãhã matou mesmo Matou quantos Matou muito Hãhã mecê homem valente meu amigo Eh vamos beber cachaça até a língua da gente picar de areia Tou imaginando coisa boa bonita a gente vamos matar camarada manhã A gente mata camarada camarada ruim presta não deixou cavalo fugir plos matos Vamos matar Uh uh atimbora fica quieto no lugar Mecê tá muito sopitado Ói mecê não viu MariaMaria ah pois não viu Carece de ver Daqui a pouco ela vem se eu quero ela vem vem munguitar mecê Nhem A bom a pois Trastanto que eu tava lá no alecrinzinho com ela cê devia de ver MariaMaria é careteira raspa o chão com a mão pula de lado pulo frouxo de onça bonito bonito Ela ouriça o fio da espinha incha o rabo abre a boca e fecha ligeiro feito gente com sono Feito mecê eh eh Que anda que anda balançando vagarosa tem medo de nada cada anca levantando aquele pêlo lustroso ela vem sisuda mais bonita de todas cheia de cerimônia Ela rosnava baixinho pra mim queria vir comigo pegar o preto Tiodoro Aí me deu aquele frio aquele friiÍio a câimbra toda Eh eu sou magro travesso em qualquer parte o preto era meio gordo Eu vim andando mão no chão Preto Tiodoro com os olhos dôidos de medo ih olho enorme de ver Ô urro Mecê gostou ã Preto prestava não Ô Ô Ô Ói mecê presta cê é meu amigo Ói deixa eu ver mecê direito deix eu pegar um tiquinho em mecê tiquinho só encostar minha mão Ei ei que é que mecê tá fazendo Desvira esse revólver Mecê brinca não vira o revólver pra outra banda Mexo não tou quieto quieto Ói cê quer me matar ui Tira tira revólver pra lá Mecê tá doente mecê tá variando Veio me prender Ói tou pondo mão no chão é por nada não é àtoa Ói o frio Mecê tá dôido Atiê Sai pra fora rancho é meu xô Atimbora Mecê me mata camarada vem manda prender mecê Onça vem MariaMaria come mecê Onça meu parente Ei por causa do preto Matei preto não tava contando bobagem Ói a onça Ui ui mecê é bom faz isso comigo não me mata não Eu Macuncôzo Faz isso não faz não Nhenhenhém Heeé Hé Aarrrã Aaãh Cê me arrhoôu Remuaci Rêiucàanacê Araaã Uhm Ui Ui Uh uh êeêê êê ê ê
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Texto de pré-visualização
Meu tio o Iauaretê João Guimarães Rosa ROSA João Guimarães Estas estórias 5 ed Rio de JaneiroNova Fronteira 2001 Hum Eheh É Nhor sim Ãhã quer entrar pode entrar Hum hum Mecê sabia que eu moro aqui Como é que sabia Humhum Eh Nhor não nt nt Cavalo seu é esse só Ixe Cavalo tá manco aguado Presta mais não Axi Pois sim Hum hum Mecê enxergou este foguinho meu de longe É A pois Mecê entra cê pode ficar aqui Hãhã Isto não é casa É Havéra Acho Sou fazendeiro não sou morador Eh também sou morador não Eu toda a parte Tou aqui quando eu quero eu mudo É Aqui eu durmo Hum Nhem Mecê é que tá falando Nhor não Cê vai indo ou vem vindo Hã pode trazer tudo pra dentro Erê Mecê desarreia cavalo eu ajudo Mecê peia cavalo eu ajudo Traz alforje pra dentro traz saco seus dobros Hum hum Pode Mecê cipriuara homem que veio pra mim visita minha iánhã Bom Bonito Cê pode sentar pode deitar no jirau Jirau é meu não Eu rede Durmo em rede Jirau é do preto Agora eu vou ficar agachado Também é bom Assopro o fogo Nhem Se essa é minha nhem Minha é a rede Hum Humhum É Nhor não Hum hum Então por que é que cê não quer abrir saco mexer no que tá dentro dele Atié Mecê é lobo gordo Atié É meu algum Que é que eu tenho com isso Eu tomo suas coisas não furto não Ahé ahé nhor sim eu quero Eu gosto Pode botar no coité Eu gosto demais Bom Bonito Ahã Essa sua cachaça de mecê é muito boa Queria uma medidadelitro dela Ah munhãmunhã bobagem Tou falando bobagem munhamunhando Tou às boas Apê Mecê é homem bonito tão rico Nhem Nhor não Às vez Aperceio Quage nunca Sei fazer eu faço faço de cajú de fruta do mato do milho Mas não é bom não Tem esse fogo bombonito não Dá muito trabalho Tenho dela hoje não Tenho nenhum Mecê não gosta É cachaça suja de pobre Ãhã preto vem mais não Preto morreu Eu cá sei Morreu por aí morreu de doença Macio de doença É de verdade Tou falando verdade Hum Camarada seu demora chega só manhã de tarde Mais Nhor sim eu bebo Apê Cachaça boa Mecê só trouxe esse garrafão Eh eh Camarada de mecê tá aqui manhã com a condução Será Cê tá com febre Camarada decerto traz remédio Humhum Nhor não Bebo chá do mato Raiz de planta Sei achar minha mãe me ensinou eu mesmo conheço Nunca tou doente Só pereba feridabrava em perna essas ziquiziras curuba Trem ruim eu sou bicho do mato Hum não adianta mais percurar Os animais foram por longe Camarada não devia ter deixado Camarada ruim nt nt Nhor não Fugiram depressa a pois Mundo muito grande isso por aí é gerais tudo sertão bruto tapuitama Manhã camarada volta traz outros Hum hum cavalo plos matos Eu sei achar escuto o caminhado deles Escuto com a orelha no chão Cavalo correndo popóre Sei acompanhar rastro Ti agora posso não adianta não aqui é muito lugaroso Foram por longe Onça tá comendo aqueles Cê fica triste É minha culpa não é culpa mmha algum Fica triste não Cê é rico tem muito cavalo Mas esses onça já comeu atiúca Cavalo chegou perto do mato tá comido Os macacos gritaram então onça tá pegando Eh mais nhor sim Eu gosto Cachaça de primeira Mecê tem fumo também É fumo pra mascar pra pitar Mecê tem mais tem muito Hahã É bom Fumo muito bonito fumo forte Nhor sim a pois Mecê quer me dar eu quero Apreceio Pitume muito bom Esse fumo é chicosilva Hoje tá tudo muito bom cê não acha Mecê quer decomer Tem carne tem mandioca Eh oh paçoca Muita pimenta Sal tenho não Tem mais não Que cheira bom bonito é carne Tamanduá que eu cacei Mecê não come tamanduá é bom Tem farinha rapadura Cê pode comer tudo manhã eu caço mais mato veado Manhã mato veado não carece não Onça já pegou cavalo de mecê pulou nele sangrou na veia altéia Bicho grande já morreu mesmo E ela inda não larga tá em riba dele Quebrou cabeça do cavalo rasgou pescoço Quebrou Quebroou Chupou o sangue todo comeu um pedação de carne Despois carregou cavalo morto puxou pra a beira do mato puxou na boca Tapou com folhas Agora ela tá dormindo no mato fechado Pintada começa comendo a bunda a anca Suaçurana começa pla pá plos peitos Anta elas duas principeiam p la barriga couro é grosso Mecê creditou Mas suaçurana mata anta não não é capaz Pinima mata pinima é meu parente Nhem Manhã cedo ela volta lá come mais um pouco Aí vai beber água Chego lá junto com os urubus Porqueira desses uns urubus eles moram na Lapa do Baú Chego lá corto pedaço de carne pra mim Agora eu já sei onça é que caça pra mim quando ela pode Onça é meu parente Meus parentes meus parentes ai ai ai Tou rindo de mecê não Tou munhamunhando sozinho pra mim anhum Carne do cavalo manhã tá podre não Carne de cavalo muito boa de primeira Eu como carne pôdre não axe Onça também come não Quando é suaçurana que matou gosto menos ela tapa tudo com areia também suja de terra Café tem não Hum preto bebia café gostava Não quero morar mais com preto nenhum nunca mais Macacão Preto tem catinga Mas preto dizia que eu também tenho catinga diferente catinga aspra Nhem Rancho não é meu não rancho não tem dono Não era do preto também não Buriti do rancho tá podre de velho mas não entra chuva só pipica um pouquim Ixe quando eu mudar embora daqui toco fogo em rancho pra ninguém mais poder não morar Ninguém mora em riba do meu cheiro Mecê pode comer paçoca é de tamanduá não Paçoca de carne boa tatúhú Tatú que eu matei Tomei de onça não Bicho pequeno elas não guardam comem inteirinho ele todo Muita pimenta hã Nhem Ãhã é tá escuro Lua ainda não veio Lua tá vesprando mais logo sobe Hum não tem Tem candieiro não luz nenhuma Sopro o fogo Faz mal não rancho não pega fogo tou olhando olholho Foguinho debaixo da rede é bombonito alumêia esquenta Aqui tem graveto araçá lenha boa Pra mim só não carece eu sei entender no escuro Enxergo dentro dos matos Ei no meio do mato tá lumiando vai ver não é olho nenhum não é tiquira gota dágua resina de árvore bichode pau aranha grande Cê tem medo Mecê então não pode ser onça Cê não podeentender onça Cê pode Fala Eu aguento calor guento frio Preto gemia com frio Preto trabalhador muito gostava Buscava lenha cozinhava Plantou mandioca Quando mandioca acabar eu mudo daqui Eh essa cachaça é boa Nhenhem Eu cacei onça demais Sou muito caçador de onça Vim pra aqui pra caçar onça só pra mor de caçar onça Nhô Nhuão Guede me trouxe pra cá Me pagava Eu ganhava o couro ganhava dinheiro por onça gue eu matava Dinheiro bom glimglim Só eu é que sabia caçar onça Por isso Nhô Nhuão Guede me mandou ficar aqui mor de desonçar este mundo todo Anhum sozinho mesmo Araã Vendia couro ganhava mais dinheiro Comprava chumbo pólvora Comprava sal comprava espoleta Eh ia longe daqui pra comprar tudo Rapadura também Eu longe Sei andar muito demais andar ligeiro sei pisar do jeito que a gente não cansa pé direitinho pra diante eu caminho noite inteira Teve vez que fui até no Boi do Urucúia É A pé Quero cavalo não gosto não Eu tinha cavalo morreu que foi tem mais não cuéra Morreu de doença De verdade Tou falando verdade Também não quero cachorro Cachorro faz barulho onça mata Onça gosta de matar tudo Hui Atiê Atimbora Mecê não pode falar que eu matei onça pode não Eu posso Não fala não Eu não mato mais onça mato não É feio que eu matei Onça meu parente Matei montão Cê sabe contar Conta quatro dez vezes tá í esse monte mecê bota quatro vezes Tanto Cada que matei ponhei uma pedrinha na cabaça Cabaça não cabe nem outra pedrinha Agora vou jogar cabaça cheia de pedrinhas dentro do rio Quero ter matado onça não Se mecê falar que eu matei onça fico brabo Fala que eu não matei não táhá Falou Aé ãã Bom bonito de verdade Mecê meu amigo Nhor sim cá por mim vou bebendo Cachaça boa especial Mecê bebe também cachaça é sua de mecê cachacinha é remédio Cê tá espiando Cê quer dar pra mim esse relógio Ah não pode não quer tá bom Tá bom deistá Quero relógio nenhum não Deistá Pensei que mecê queria ser meu amigo Hum Humhum É Hum lá axi Quero canivete não Quero dinheiro não Hum Eu vou lá fora Cê pensa que onça não vem em beira do rancho não come esse outro seu cavalo manco Ih ela vem Ela põe a mão pra a frente enorme Capim mexeu redondo balançadinho devagarim mansim é ela Vem por de dentro Onça mão onça pé onça rabo Vem calada quer comer Mecê carece de ter medo Tem Se ela urrar eh mocanhemo cê tem medo Esturra urra de engrossar a goela e afundar os vazios Urrurrúrrrurrú Troveja até Tudo treme Bocão que cabe muita coisa bocão duasbocas Apê Cê tem medo Bom eu sei cê tem medo não Cê é querembáua bom bonito corajoso Mas então agora pode me dar canivete e dinheiro dinheirim Relógio quero não tá bom tava era brincando Pra quê que eu quero relógio Não careço Ei eu também não sou ridico Mecê quer couro de onça Hã hã mecê tá vendo ãhã Courame bonito Tudo que eu mesmo cacei faz muito tempo Esses eu não vendi mais não Não quis Esses aí Cangussú macho matei na beira do rio Sorongo Matei com uma chuçada só mor de não estragar couro Eh pajé Macharrão machôrro Ele mordeu o cabo da zagaia taca que ferrou marca de dente Aquilo ele onção virou mexer de bola revirando molemole de relâmpago feio feito sucurí desmanchando o corpo de raiva debaixo de meu ferro Torcia danado braceiro e miava rosno bruto inda queria me puxar pra o matinho fechado todo de espinho Quage pôde comigo Essa outra pintada também mas malhalarga jaguara pinima onção que mia grosso Matei a tiro tava trepada em árvore Sentada num galho da árvore Ela tava lá sem pescoço Parecia que tava dormindo Tava mas era me olhando Me olhava até com desprezo Nem deixei ela arrebitar as orelhas por isso por isso pum pôrro de fogo Tiro na boca mor de não estragar o couro Ãhã inda quis agarrar de unha no ramo de baixo cadê fôlego pra isso mais Ficou pendurada comprida despois caiu mesmo lá de riba despencou quebrou dois galhos Bateu no chão ih eh Nhem Onça preta Aqui tem muita pixuna muita Eu matava a mesma coisa Hum hum onça preta cruza com onça pintada Elas vinham nadando uma por trás da outra as cabeças de fora fiodascostas de fora Trepei num pau na beirada do rio matei a tiro Mais primeiro a macha onça jaguaretêpinima que vinha primeira Onça nada Eh bicho nadador Travessa rio grande numa direitura de rumo sai adonde é que quer Suaçurana nada também mas essa gosta de travessar rio não Aquelas duas de casal que tou contando foi na banda de baixo noutro rio sem nome nenhum um rio sujo A fêmea era pixuna mas não era preta feito carvão preto era preta cor de café Cerquei os defuntos no raso perdi5 os couros não Bom mas mecê não fala que eu matei onça hem Mecê escuta e não fala Não pode Hã Será Hué Ói que eu gosto de vermelho Mecê já sabe Bom vou tomar um golinho Uai eu bebo até suar até dar cinza na língua Cãuinhuara Careço de beber pra ficar alegre Careço pra poder prosear Se eu não beber muito então não falo não sei tou só cansado Deistá manhã mecê vai embora Eu fico sozinho anhum Que me importa Eh esse é couro bom da pequena onça cabeçuda Cê quer esse Leva Mecê deixa o resto da cachaça pra mim Mecê tá com febre Devia deitar no jirau rebuçar com a capa cobrir com couro dormir Quer Cê tira a roupa bota relógio dentro do casco de tatú bota o revólver também ninguém bole Eu vou bulir em seus trens não Eu acendo fogo maior fico de olho tomo conta do fogo mecê dorme Casco de tatú tem só esse pedaço de sabão dentro É meu não era do preto Gosto de sabão não Mecê não quer dormir Tá bom tá bom não falei nada não falei Cê quer saber de onça Eh eh elas morrem com uma raiva tão falando o que a gente não fala Num dia só eu cacei três Eh essa era uma suaçurana onça vermelhoraposa gatão de uma cor só toda Tava dormindo de dia escondida no capim alto Eh suaçurana é custoso a gente caçar corre muito trepa em árvore Vaga muito mas ela vive no cerradão na chapada Pinima não deixa suaçurana viver em beira de brejo pinima toca suaçurana embora Carne dela eu comi Boa mais gostosa mais macia Cozinhei com jembê de carurú bravo Muito sal pimenta forte Da pinima eu comia só o coração delas mixiri comi sapecado moqueado de todo o jeito E esfregava meu corpo todo com a banha Pra eu nunca eu não ter medo Nhor Nhor sim Muitos muitos anos Acabei com as onças em três lugares Da banda dali é o rio Sucuriú vai entrar no rio Sorongo Lá é sertão de matavirgem Mas da banda de cá é o rio Ururáu depois de vinte léguas é a Barra do Frade já pode ter fazenda lá pode ter gado Matei as onças todas Eh aqui ninguém não pode morar gente que não é eu Eh nhem Ahã hã Casa tem nenhuma Casa tem atrás dos buritis seis léguas no meio do brejo Morava veredeiro seu Rauremiro Veredeiro morreu mulher dele as filhas menino pequeno Morreu tudo de doença De verdade Tou falando verdade Aqui não vem ninguém é muito custoso Muito dilatado pra vir gente Só por muito longe uma semana de viagem é que vão lá caçador rico jaguariara vêm todo ano mês de agosto pra caçar onça também Eles trazem cachorros grandes cachorro onceiro Cada um tem carabina boa espingarda eu queria ter uma Hum hum onça não é bobo elas fogem dos cachorros trepam em árvore Cachorro dobra de latir barrôa Se a onça arranja jeito pega o mato sujo fechadão eh lá é custoso homem poder enxergar que tem onça Acôo acuação com os cachorros ela então esbraveja mopoama mopoca peteca mata cachorro de todo lado eh ela pode mexer de cada maneira Ãhã Esperando deitada então é o jeito mais perigoso quer matar ou morrer de todo Eh ronca feito porco cachorro chega nela não Não vem nada Um tapa chega Tapão tapeja Ela vira e pula de lado mecê não vê de donde ela vem Zuzune Mesmo morrendo ela ainda mata cachorrão É cada urro cada rosnado Arranca a cabeça do cachorro Mecê tem medo Vou ensinar hem mecê vê do lado de donde não tá vindo o vento aí mecê vigia porque daí é que onça de repente pode aparecer pular em mecê Pula de lado muda o repulo no ar Pula emcruz É bom mecê aprender É um pulo e um despulo orelha dela repinica cataca um estalinho feito chuva de pedra Ela vem fazendo atalhos Cê já viu cobra Pois é Apê Poranga suú suújucáiucá Às vez faz um barulhinho piriri nas folhas secas pisando nos gravetos eh eh passarinho foge Capivara dá um grito de longe cê ouve au e pula nágua onça já tá aqui perto Quando pinima vai saltar pra comer mecê o rabo dela encurvêia com a ponta pra riba despois concerta firme Esticadinha a cabeça dá de maior pra riba quando ela escancara a boca as pintas ficam mais compridas os olhos vão pra os lados reprega a cara Ói a boca ói a bigodeira salta Língua lá redobrada de lado Abre os braços já tá mexendo pra pular demora nas pernas ei ei nas pernas de trás Onça acuada vira demônio senta no chão quebra pau espedaça Ela levanta fica em pé Quem chegou tá rebentado Eh tapa de mão de onça é pior que porrete Mecê viu a sombra Então mecê tá morto Ah ah ah à ããã Tem medo não eu tou aqui A pois eu vou bebendo mecê não importa Agora é que tou alegre Eu cá também não sou sovina decomer e cachaça é pra se gastar logo enquanto que a gente tem vontade É bom é encher barriga Cachaça muito boa tava me fazendo falta Eh lenha ruim mecê tá chorando dos olhos com essa fumaceira Nhem É mecê é quem tá falando Eu acho triste não Acho bonito não É é como é mesmo que nem todo lugar Tem caça boa poço bom pra a gente nadar Lugar nenhum não é bonito nem feio não é pra ser Lugar é pra a gente morar vim pra aqui pago pra matar onça Agora mato mais não nunca mais Mato capivara lontra vendo o couro Nhor sim eu gosto de gente gosto Caminho ando longe pra encontrar gente à vez Eu sou corredor feito veado do campo Tinha uma mulher casada na beira do chapadão barra do córrego da Veredinha do Xunxúm Lá passa caminho caminho de fazenda Mulher muito boa chamava Maria Quirinéia Marido dela era dôido seo Siruvéio vivia seguro com corrente pesada Marido falava bobagem em noite de lua incerta ele gritava bobagem gritava nheengava Eles morreram não Morreram todos dois de doença não Eh gente Cachacinha gostosa Gosto de bochechar com ela beber despois Humhum Ããã Aqui roda a roda só tem eu e onça O resto é comida pra nós Onça elas também sabem de muita coisa Tem coisas que ela vê e a gente vê não não pode Ih tanta coisa Gosto de saber muita coisa não cabeça minha pega a doer Sei só o que onça sabe Mas isso eu sei tudo Aprendi Quando vim pra aqui vim ficar sozinho Sozinho é ruim a gente fica muito judiado Nhô Nhuão Guede homem tão ruim trouxe a gente pra ficar sozinho Atié Saudade de minha mãe que morreu çacyara Arãa Eu nhum sozinho Não tinha emparamento nenhum Aí eu aprendi Eu sei fazer igual onça Poder de onça é que não tem pressa aquilo deita no chão aproveita o fundo bom de qualquer buraco aproveita o capim percura o escondido de detrás de toda árvore escorrega no chão mundéumundéu vai entrando e saindo maciinho pôpu pôpu até pertinho da caça que quer pegar Chega olha olha não tem licença de cansar de olhar eh tá medindo o pulo Hã hã Dá um bote às vez dá dois Se errar passa fome o pior e que ela quage morre de vergonha Aí vai pular olha demais de forte olha pra fazer medo tem pena de ninguém Estremece de diante pra trás arruma as pernas toma o açôite e pula pulão é bonito Ei quando tá em riba do pobre do veado no tanto de matar cada bola que estremece no corpo dela a fora até ela as pintas brilham mesmo mais as pernas ajudam eh perna dobrada gorda que nem de sapo o rabo enrosca coisa que ela aqui e ali parece chega vai arrebentar o pescoço acompridado Apê Vai matando vai comendo vai Carne de veado estrala Onça urra alto de tarará o rabo ruim em pé aí ela unha forte ôi unhas de fora urra outra vez chega Festa de comer e beber Se é coelho bichinho pequeno ela comeu até às juntas engolindo tudo mucunando que mal deixou os ossos Barrigada e miúdos ela gosta não Onça é bonito Mecê já viu Bamburral destremece um pouco estremeceuzinho àtoinha é uma é uma eh pode ser Cê viu despois ela evém caminhando de barriga cheia Ãhã Que vem de cabeça abaixada evém andando devagar apruma as costas cocurute levanta um ombro levanta o outro cada apá cada anca redondosa Onça fêmea mais bonita é MariaMaria Eh mecê quer saber Não isso eu não conto Conto não de jeito nenhum Mecê quer saber muita coisa Me deixaram aqui sozinho eu nhum Me deixaram pra trabalhar de matar de tigreiro Não deviam Nhô Nhuão Guede não devia Não sabiam que eu era parente delas Oh ho Oh ho Tou amaldiçoando tou desgraçando porque matei tanta onça por que é que eu fiz isso Sei xingar sei Eu xingo Tiss nt nt Quando tou de barriga cheia não gosto de ver gente não gosto de lembrar de ninguém fico com raiva Parece que eu tenho de falar com a lembrança deles Quero não Tou bom tou calado Antes de primeiro eu gostava de gente Agora eu gosto é só de onça Eu aprecêio o bafo delas MariaMaria onça bonita cangussú boa bonita Ela é nova Cê olha olha ela acaba de comer tosse mexe com os bigodes eh bigode duro branco bigode pra baixo faz cócega em minha cara ela muquirica tão gostoso Vai beber água O mais bonito que tem é onça MariaMaria esparramada no chão bebendo água Quando eu chamo ela acode Cê quer ver Mecê tá tremendo eu sei Tem medo não ela não vem não vem só se eu chamar Se eu não chamar ela não vem Ela tem medo de mim também feito mecê Eh este mundo de gerais é terra minha eh isto aqui tudo meu Minha mãe havêra de gostar Quero todo o mundo com medo de mim Mecê não mecê é meu amigo Tenho outro amigo nenhum Tenho algum Hum Hum hum Nhem Aqui mais perto tinha só três homens geralistas uma vez beira da chapada Aqueles eram criminosos fugidos jababora vieram viver escondidos aqui Nhem Como é que chamavam Pra quê é que mecê carece de saber Eles eram seus parentes Axi Geralista um chamava Gugué era meio gordo outro chamava Antunias aquele tinha dinheiro guardado O outro era seo Riopôro homem zangado homem bruto eu gostava dele não O quê que eles faziam Ãhã Jababora pesca caça plantam mandioca vão vender couro compram pólvora chumbo espoleta trem bom Eh ficam na chapada na campina Terra lá presta não Mais longe daqui no Cachorro Preto tem muito jababora mecê pode ir lá espiar Esses tiram leite de mangabeira Gente pobre Nem não têm roupa mais pra vestir não Eh uns ficam nú de todo Ixe Eu tenho roupa meus panos calumbé Nhem Os três geralistas Sabiam caçar onça não tinham medo muito Capaz de caçar onça com zagaia não feito eu caço A gente berganhava fumo por sal conversava emprestava pedaço de rapadura Morreram eles três morreu tudo tudo cuéra Morreram de doença eh eh De verdade Tou falando verdade tou brabo Com minha zagaia Mato mais onça não Não falei Ah mas eu sei Se quiser mato mesmo Como é que é Eu espero Onça vem Heeé Vem anda andando ligeiro cê não vê o vulto com esses olhos de mecê Eh rosna pula não Vem só bracejando gatinhando rente Pula nunca não Eh ela chega nos meus pés eu encosto a zagaia Erê Encosto a folha da zagaia ponta no peito no lugar que é A gente encostando qualquer coisa ela vai deita no chão Fica querendo estapear ou pegar as coisas quer se abraçar com tudo Fica empezinha às vez Onça mesma puxa a zagaia pra ponta vir nela Eh eu enfio Ela boqueia logo Sangue sai vermelho outro sai quage preto Curuz pobre da onça coitada sacapira da zagaia entrando lá nela Teité Morrer picado de faca Humhum Deus me livre Palpar o ferro chegar entrando no vivo da gente Atiúca Cê tem medo Eu tenho não Eu sinto dor não Hã hã cê não pensa que é assim vagaroso manso não Eh heé Onça sufoca de raiva Debaixo da zagaia ela escorrega ciririca forceja Onça é onça feito cobra Revira pra todo o lado mecê pensa que ela é muitas tá virando outras Eh até o rabo dá pancada Ela enrosca enrola cambalhota eh dobra toda destorce encolhe Mecê não tá costumado nem não vê não é capaz resvala A força dela mecê não sabe Escancara boca escarra medonho tá rouca tá rouca Ligeireza dela é dôida Puxa mecê pra baixo Ai ai ai Às vez inda foge escapa some no bamburral danada Já tá na derradeira e inda mata vai matando Mata mais ligeiro que tudo Cachorro descuidou mão de onça pegou ele por detrás rasgou a roupa dele toda Apê Bom bonito Eu sou onça Eu onça Mecê acha que eu pareço onça Mas tem horas em que eu pareço mais Mecê não viu Mecê tem aquilo espelhim será Eu queria ver minha cara Tiss nt nt Eu tenho olho forte Eh carece de saber olhar a onça encarado olhar com coragem hã ela respeita Se mecê olhar com medo ela sabe mecê então tá mesmo morto Pode ter medo nenhum Onça sabe quem mecê é sabe o que tá sentindo Isso eu ensino mecê aprende Hum Ela ouve tudo enxerga todo movimento Rastrear onça não rastreia Ela não tem faro bom não é cachorro Ela caça é com os ouvidos Boi soprou no sono quebrou um capinzinhodaí a meia légua onça sabe Nhor não Onça não tocaia de riba de árvore não Só suaçurana é que vai de árvore em árvore pegando macaco Suaçurana pula pra riba de árvore pintada não pula não pintada sobe direito que nem gato Mecê já viu Eh eh eu trepo em árvore tocaio Eu sim Espiar de lá de riba é melhor Ninguém não vê que eu tou vendo Escorregar no chão pra vir perto da caça eu aprendi melhor foi com onça Tão devagarim que a gente mesmo não abala que tá avançando do lugar Todo movimento da caça a gente tem que aprender Eu sei como é que mecê mexe mão que cê olha pra baixo ou pra riba já sei quanto tempo mecê leva pra pular se carecer Sei em que perna primeiro é que mecê levanta Mecê quer sair lá fora Pode ir Vigia a lua como subiu com esse luar grande elas tão caçando noite clara Noite preta elas caçam não só de tardinha no escurecer e quando é em volta de madrugada De dia todas ficam dormindo no tabocal beira de brejo ou no escuro do mato em touceiras de gravatá no meio da capoeira Nhor não neste tempo quage que onça não mia Vão caçar caladas Pode passar uma porção de dias que mecê não escuta nem um miado só Agora fez barulho foi sariema culata Humhum Mecê entra Senta no jirau Quer deitar na rede Rede é minha mas eu deixo Eu asso mandioca pra mecê Abom Então vou tomar mais um golinho Se deixar eu bebo até no escorropicho Nt mp aah Donde foi que aprendi Aprendi longe destas terras por lá tem outros homens sem medo quage feito eu Me ensinaram com zagaia Uarentin Maria e Gugué Maria dois irmãos Zagaia que nem esta cabo de metro e meio travessa boa bom alvado Tinha Nhô Inácio também velho Nhuão Inácio preto esse mas preto homem muito bom abaeté abaúna Nhô Inácio zagaieiro mestre homem desarmado só com azagaia zagaia muito velha ele brinca com onça Irmão dele Rei Inácio tinha trabuco Nhahem Hãhã É porque onça não contava uma pra outra não sabem que eu vim pra mor de acabar com todas Tinham dúvida em mim não farejam que eu sou parente delas Eh onça é meu tio o jaguaretê todas Fugiam de mim não então eu matava Despois só na hora é que ficavam sabendo com muita raiva Ehjuro pra mecê matei mais não Não mato Posso não não devia Castigo veio fiquei panema caipora7 Gosto de pensar que matei não Meu parente como é que posso Ai ai ai meus parentes Careço de chorar senão elas ficam com raiva Nhor sim umas já me pegaram Comeram pedaço de mim olha Foi aqui no gerais não Foi no rio de lá outra parte Os outros companheiros erraram o tiro ficaram com medo Eh pinima malhalarga veio no meio do pessoal rolou com a gente todos Ela ficou dôida Arrebentou a tampa dos peitos de um arrancou o bofe a gente via o coração dele lá dentro lá nele batendo no meio de montão de sangue Arriou o couro da cara de um outro homem Antonho Fonseca Riscou esta cruz em minha testa rasgou minha perna unha veio funda esbandalha muçuruça dá feridabrava Unha venenosa não é afiada fina não por isso é que estraga azanga Dente também Pa lá iá eh tapa de onça pode tirar a zagaia da mão do zagaieiro Deram nela mais de trinta pra quarenta facadas Hum cê tivesse lá cê agora tava morto Ela matou quage cinco homens Tirou a carne toda do braço do zagaieiro ficou o osso com o nervo grande e a veia esticada Eu tava escondido atrás da palmeira com a faca na mão Pinima me viu abraçou comigo eu fiquei por baixo dela misturados Hum o couro dela é custoso pra se firmar escorrega que nem sabão pepêgo de quiabo destremece a tôrto e a direito feito cobra mesmo eh cobra Ela queria me estraçalhar mas já tava cansada tinha gastado muito sangue Segurei a boca da bicha ela podia mais morder não Unhou meu peito desta banda de cá tenho mais maminha não Foi com três mãos Rachou meu braço minhas costas morreu agarrada comigo das facadas que já tinham dado derramou o sangue todo Manhuaçá de onça Tinha babado em minha cabeça cabelo meu ficou fedendo aquela catinga muitos dias muitos dias Hum hum Nhor sim Elas sabem que eu sou do povo delas Primeira que eu vi e não matei foi MariaMaria Dormi no mato aqui mesmo perto na beira de um foguinho que eu fiz De madrugada eu tava dormindo Ela veio Ela me acordou tava me cheirando Vi aqueles olhos bonitos olho amarelo com as pintinhas pretas bubuiando bom adonde aquela luz Aí eu fingi que tava morto podia fazer nada não Ela me cheirou cheira cheirando pata suspendida pensei que tava percurimdo meu pescoço Urucuera piou sapo tava tava bichos do mato aí eu escutando toda a vida Mexi não Era um lugar fofo prazível eu deitado no alecrinzinho Fogo tinha apagado mas ainda quentava calor de borralho Ela chega esfregou em mim tava me olhando Olhos dela encostavam um no outro os olhos lumiavam pingo pingo olho brabo pontudo fincado bota na gente quer munguitar tira mais não Muito tempo ela não fazia nada também Depois botou mão zona em riba de meu peito com muita fineza Pensei agora eu tava morto porque elaviu que meu coração tava ali Mas ela só calcava de leve com uma mão afofado com a outra de sossoca queria me acordar Eh eh eu fiquei sabendo Onça que era onça que ela gostava de mim fiquei sabendo Abri os olhos encarei Falei baixinho Ei MariaMaria Carece de caçar juízo MariaMaria Eh ela rosneou e gostou tornou a se esfregar em mim miãomiã Eh ela falava comigo jaguanhenhém jaguanhém Já tava de rabo duro sacudindo sacêsacemo rabo de onça sossega quage nunca ã ã Vai ela saiu foi pra me espiar meio de mais longe ficou agachada Eu não mexi de como era que tava deitado de costas fui falando com ela e encarando sempre dei só bons conselhos Quando eu parava de falar ela miava piado jaguanhenhém Tava de barriga cheia lambia as patas lambia o pescoço Testa pintadinha tiquira de aruvalhinho em redor das ventas Então deitou encostada em mim o rabo batia bonzinho na minha cara Dormiu perto Ela repuxa o olho dormindo Dormindo e redormindo com a cara na mão com o nariz do focinho encostado numa mão Vi que ela tava secando leite vi o cinhim dos peitinhos Filhotes dela tinham morrido sei lá de quê Mas agora ela vai ter filhote nunca mais não ara vai não Nhem Despois Despois ela dormiu uê Roncou com a cara virada pra uma banda amostrava a dentaria braba encostando as orêlhas pra trás Era por causa que uma suaçurana que vinha vindo Suaçurana clara maçaroca Suaçurana esbarrou Ela é a pior bicho maldoso sangradeira Vi aquele olhão verde olhos dela de luz também redondados parece que vão cair Humhum MariaMaria roncou suaçurana foi saindo saindo Eh catú bom bonito porãporanga melhor de tudo MariaMaria solevantou logo botava as orêlhas espetadas pra diante Eh foi indo devagar no diário dela andar que mecê pensa que é pesado mas se ela quiser vira pra ligeiro leviano é só carecer Ela balança bonito jerejereba fremosa porção de pêlo mão macia Chegou no pau de peroba empinada fincou as unhas riscou de riba pra baixo tava amolando fino unhando o perobão Despois foi no ipêbranco Deixou marcado mecê pode ir ver adonde é que ela faz Aí eu quisesse podia matar Quis não Como é que ia querer matar MariaMaria Também eu nesse tempo eu já tava triste triste eu aqui sozinho eu nhum e mais triste e caipora de ter matado onças eu tava até amorviado Dês que esse dia matei mais nennhuma não só que a derradeira que matei foi aquela suaçurana fui atrás dela Mas suaçurana não é meu parente parente meu é a onça preta e a pintada Matei a tal em quando que o sol manheceu Suaçurana tinha comido um veadinho catingueiro Acabei com ela mais foi de raiva por causa que ali donde eu tava dormindo era adonde lugar que ela vinha lá fazer sujeira achei no bamburral tudo estrume Eh elas tapam com terra mas o macho tapa menos macho é mais porco Àhã MariaMaria é bonita mecê devia de ver Bonita mais do que alguma mulher Ela cheira à flor de paudalho na chuva Ela não é grande demais não É cangussú cabeçudinha afora as pintas ela é amarela clara clara Tempo da seca elas inda tão mais claras Pele que brilha macia macia Pintas que nenhuma não é preta mesmo preta não vermelho escuronas assim ruivo roxeado Tem não Tem de tudo Mece já comparou as pintas e argolas delas Cê conta pra ver varêia tanto que duas mesmo iguais cê não acha não MariaMaria tem montão de pinta miúda Cara mascarada pequetita bonita toda sarapintada assim assim Uma pintinha em cada canto da boca outras atrás das orelhinhas Dentro das orêlhas é branquinho algodão espuxado Barriga também Barriga e por debaixo do pescoço e nopor de dentro das pernas Eu posso fazer festa tempão ela aprecêia Ela lambe minha mão lambe mimoso do jeito que elas sabem pra alimpar o sujo de seus filhotes delas se não ninguém não aguentava o rapo daquela língua grossa aspra tem lixa pior que a de folha de sambaíba mas senão como é que ela lambe lambe e não rasga com a língua o filhotinho dela Nhem Ela ter macho MariaMaria Ela tem macho não Xô PaI Atimbora Se algum macho vier eu mato mato mato pode ser meu parente o que for A bom mas agora mecê carece de dormir Eu também Ói muito tarde Sejuçú já tá alto olha as estrelinhas dele Eu vou dormir não tá quage em hora d eu sair por aí todo dia eu levanto cedo muito em antes do romper da aurora Mecê dorme Por que é que não deita fica só acordado me preguntando coisas despois eu respondo despois cê pregunta outra vez outras coisas Pra que Daí eh eu bebo sua cachaça toda Hum hum fico bêbado não Fico bêbado só quando eu bebo muito muito sangue Cê pode dormir sossegado eu tomo conta sei ter olho em tudo Tou vendo cê tá com sono Ói se eu quero eu risco dois redondos no chão pra ser seus olhos de mecê despois piso em riba cê dorme de repente Ei mas mecê também é corajoso capaz de encarar homem Mecê tem olho forte Podia até caçar onça Fica quieto Mecê é meu amigo Nhem Nhor não disso não sei não Sei só de onça Boi sei não Boi pra comer Boi fêmea boi macho marruá Meu pai sabia Meu pai era bugre Índio não meu pai era homem branco branco feito mecê meu pai Chico Pedro mimbauamanhanaçara vaqueiro desses homem muito bruto Morreu no Tunto Tungo nos gerais de Goiás fazenda da Cachoeira Brava Mataram Sei dele não Pai de todo o mundo Homem burro Nhor Hã hã nhor sim Ela pode vir aqui perto pode vir rodear o rancho Tão por aí cada onça vive sozinha por seu lado quage o ano todo Tem casal morando sempre junto não só um mês algum tempo Só jaguatirica gatodomato grande é que vive par junto Ih tem muitas montão Eh isto aqui agora eu não mato mais é jaguaretama terra de onças por demais Eu conheço sei delas todas Pode vir nenhuma pra cá mais não as que moram por aqui não deixam senão acabam com a caça que há Agora eu não mato mais não agora elas todas têm nome Que eu botei Axi Que eu botei só não eu sei que era mesmo o nome delas Atié Então se não é como é que mecê quer saber Pra quê mecê tá preguntando Mecê vai comprar onçaVai prosear com onça algum Teité Axe Eu sei mecê quer saber só se é pra ainda ter mais medo delas táhá Hã abom Ói em uma covoca da banda dali aqui mesmo pertinho tem a onça Mopoca cangussú fêmeo Pariu tarde tá com filhote novo jaguaraÍm Mopoca onça boa mãe tava sempre mudando com os filhos carregando oncinha na boca Agora sossegou lá lugar bom Nem sai de perto nem come direito Quage não sai Sai pra beber água Pariu tá magra magra tá sempre com sede toda a vida Filhote jaguaraÍm cachorrinho onço oncinho é dois tão aquelas bolotas parece bichodepau pôdre nem sabem mexer direito A Mopoca tem leite muito oncim mama o tempo todo Nháem Eh mais outras Ói mais adiante no rumo mesmo obra de cinco léguas tá a onça pior de todas a Maramnhangara ela manda briga com as outras entesta Da outra banda na beirada do brejo tem a Porreteira malhalarga enorme só mecê vendo o mãozo dela as unhas mão chata Mais adiante tem a Tatacica preta preta jaguaretêpixuna é de perna comprida é muito braba Essa pega muito peixe Hem outra preta A Uinhúa que mora numa soroca boa buraco de cova no barranco debaixo de raizão de gameleira Tem a Rapàltapa pinima velha malhalarga ladina ela sai daqui vai caçar até a umas vinte léguas tá em toda a parte RapaRapa tá morando numa lapinha onça gosta muito de lapa aprecêia A Mpú mais a Nhãã é que foram tocadas pra longe daqui as outras tocaram por o decomer não chegar Eh elas mudam muito de lugar de viver por via disso Sei mais delas não tão aqui mais não Cangussú braba é a Tibitaba onça com sobrancelhas mecê vê ela fica de lá deitada em riba de barranco bem na beirada as mãos meio penduradas mesmo Tinha outras tem mais não a CoemaPiranga vermelhona morreu engasgada com ôsso danada A onça Putuca velha velha com costela alta vivia passando fome judiação de fome nos matos Nhem Hum hum MariaMaria eu falo adonde ela mora não Sei lá se mecê quer matar Sei lá de nada Hãhã E os machos Muito ih montão Se mecê vê o Paga Gente macharrão malhalarga assustando de grande Cada presa de riba que nem quicé carniceira suja de amarelado eh tabaquista Tem um Puxuêra também tá velho dentão de detrás de cortar carnaça já tá gastado roído SuúSuú é jaguaretêpixuna preto demais tem um esturro danado de medonho cê escuta cê treme treme treme Ele gosta da onça Mopoca Apiponga é pixuna não é o macho pintado mais bonito mecê não vê outro o narizão dele Mais é o que tá sempre gordo sabe caçar melhor de todos Tem um macho cangussú Petecaçara que tá meio maluco ruim do miôlo ele é que anda só de dia vaguêia eu acho que esse é o que parece com o bocatorta Uitauêra é um Uatauêra é outro eles são irmãos eh mas eu é que sei eles nem não sabem A bom agora chega Prosêio não Senão manhece o dia mecê não dormiu camarada vem com os cavalos mecê não pode viajar tá doente tá cansado Mecê agora dorme Dorme Quer que eu vou embora pra mecê dormir aqui sozinho Eu vou Quer não Então converso mais não Fico calado calado O rancho é meu Hum Humhum Pra quê mecê pregunta pregunta e não dorme Sei não Suaçurana tem nome não Suaçurana parente meu não onça medrosa Só a lombopreto é que é braba Suaçurana ri com os filhotes Eh ela é vermelha mas os filhotes são pintados Hum agora eu vou conversar mais não prosêio não não atiço o fogo Deistá Mecê dorme será Hum É Humhum Nhor não Hum Humhum Hum Nhem Camarada traz outro garrafão Mecê me dá Hãhã Ããã Apê Mecê quer saber Eu falo Mecê bombonito meu amigo meu Quando é que elas casam Ixe casar é isso Porqueira Mecê vem cá no fim do frio quando ipê tá de flor mecê vê Elas ficam aluadas Assanham urram urram miando e roncando o tempo todo quage nem caçam pra mor de comer ficam magras saem plos matos fora do sentido mijam por toda a parte caruca que fede feio forte Onça fêmea saída mia mais miado diferente miado bobo Ela vem com o pêlo do lombo rupeiado se esfregando em árvores deita no chão vira a barriga pra riba aruê É só arrúarrú arrarrúuuu Mecê foge logo se não nesse tempo mecê tá comido mesmo Macho vem atrás caminha légua e mais légua Vem dois Vem três Eh mecê não queira ver a briga deles não Pêlo deles voa longe Ai despois um sozinho fica com a fêmea Então é que é Eles espirram Ficam chorando ganam de chorar e remiar noite inteira rolam no chão sai briga Capim acaba amassado bamburral baixo moita de mato achatada o chão eles arrancam touceiras quebram galhos Macho fica zurêta encoscora o corpo abre a goela hi amostra as presas Ói rabo duro batendo com força Cê corre foge Tá eSClatando Eu eu vou no rastro É cada pezão grande rastro sem unhas Eu vou Um dia eu não volto Eh não o macho e a fêmea vão caçar juntos não Cada um pra si Mas eles ficam companheiros o dia todo deitados dormindo Cabeça encostada um no outro Um virado pra uma banda a outra pra a outra Ói onça MariaMaria eu vou trazer pra cá deixo macho nenhum com ela não Se eu chamar ela vem Mecê quer ver Cê não atira nela com esse revólver seu não Ei quem sabe revólver seu tá panema hã Deixa eu ver Se tiver panema eu dou jeito Ah cê não quer não Cê deixa eu pegar em revólver seu não Mecê já fechou os olhos três vezes já abriu a boca abriu a boca Se eu contar mais cê dorme será Eh quando elas criam eu acho o ninho Soroca muito escondida no mato pior buracão em grota No entrançado Onça mãe vira demônio De primeiro quando eu matava onça esperava seis meses mode não deixar os filhotes à míngua Matava a mãe deixava filhote crescer Nhem Tinha dó não era só pra não perder paga e o dinheiro do couro Eh sei miar que nem filhote onça vem desesperada Tinha onça com ninhada dela jaguaretêpixuna muito grande muito bonita muito feia Miei miei jaguarainhém jaguaranhinhenhém Ela veio maluca com um ralhado cochichado não sabia pra adonde ir Eu miei aqui dentro do rancho pixuna mãe chegou até aqui perto me pedindo pra voltar pra o ninho Ela abriu a mão ali Quis matar não por não perder os filhotes esperdiçar Esbarrei de miar dei um tiro àtoa Pixuna correu de volta ligeiro se mudou levou suas crias dela pra daí a meia légua arranjou outro ninho no mato do brejo Filhotes dela eram pixunas não eram oncinhas pintadas pinima Ela ferra cada cria plo couro da nuca vai carregando pula barranco pula moita Eh bicho burro Mas mecê pode falar que ela é burra não eh Eu posso Nhor sim Tou bebendo sua cachaça de mecê toda É foguinho bom ela esquenta corpo também Tou alegre tou alegre Nhem Sei não gosto de ficar nú só de calça velha faixa na cintura Eu cá tenho couro duro Ãhã mas tenho roupa guardada roupa boa camisa chapéu bonito Boto um dia quero ir em festa muita Calçar botina quero não não gosto Nada no pé gosto não mundéu ixe lá Aqui tem festa não Nhem Missa não de jeito nenhum Ir pra o céu eu quero Padre não missionário não gosto disso não não quero conversa Tenho medalhinha de pendurar em mim gosto de santo Tem São Bento livra a gente de cobra Mas veneno de cobra pode comigo não tenho chifre de veado boto sara Alma de defunto tem não tagoaíba sombração aqui no gerais tem não nunca vi Tem o capeta nunca vi também não Humhum Nhenhém Eu cá Mecê é que tá preguntando Mas eu sei porque é que tá preguntando Hum Ãhã por causa que eu tenho cabelo assim olho miudinho É Pai meu não Ele era branco homem Índio não A pois minha mãe era ela muito boa Caraó não Péua minha mãe gentio Tacunapéua muito longe daqui Caraó não caraó muito medroso quage todos tinham medo de onça Mãe minha chamava Marlara Maria bugra Despois foi que morei com caraó morei com eles Mãe boa bonita me dava comida me dava decomer muito bom muito montão Eu já andei muito fiz viagem Caraó tem chuço só um caraó sabia matar onça com chuço Auá Nhoaquim Pereira Xapudo nome dele também era Quim Crênhe esse tinha medo de nada não Amigo meu Arco frecha frecha longe Nhem Ah eu tenho todo nome Nome meu minha mãe pôs Bacuriquirepa Breó Beró também Pai meu me levou pra o missionário Batizou batizou Nome de Tonico bonito será Antonho de Eiesús Despois me chamavam de Macuncôzo nome era deliro sítio que era de outro dono é um sítio que chamam de Macuncôzo Agora tenho nome nenhum não careço Nhô Nhuão Guede me chamava de Tonho Tigreiro Nhô Nhuão Guede me trouxe pr aqui eu nhum sozim Não devia Agora tenho nome mais não Nhãhem é barulho de onça não Barulho de anta ensinando filhote a nadar Muita anta por aqui Carne muito boa Dia quente anta fica pensando tudo sabendo tudo dentro d água Nhem Eh não onça pinima come anta come todas Anta briga não anta corre foge Quando onça pulou nela ela pode correr carregando a onça não jeito nenhum que não pode não é capaz Quando pinima pula em anta mata logo já matou Jaguaretê sangra a anta Ôi noite clara boa pra onça caçar Nhor não Isso é zoeira de outros bichos curiango mãeda lua corujãodomato piando Quem gritou foi lontra com fome Gritou Irra Lontra vai nadando veredaacima Eh ela sai de qualquer água com o pêlo seco Capivara De longe mecê escuta a barulhada delas pastando meio dentro meio fora d água Se onça urrar eu falo qual é Eh nem carece não Se ela esturrar ou miar mecê logo sabe Mia sufocado do fundo da goela eh goela é enorme Heeé Apê Mecê tem medoTem medo não Pois vai ter O mato todo tem medo Onça é carrasca Manhã cê vai ver eu mostro rastro dela pipura Um dia luanova mecê vem cá vem ver meu rastro feito rastro de onça eh sou onça Hum mecê não acredita não Ô homem dôido Ô homem dôido Eu onça Nhum Sou o diabo não Mecê é que é diabo o bocatorta Mecê é ruim ruim feio Diabo Capaz que eu seja Eu moro em rancho sem paredes Nado muito muito Já tive bexiga da preta Nhoaquim Caraó tinha uma carapuça de pena de gavião Pena de arara de guará também Rodinha de pena de ema no joelho nas pernas na cintura Mas eu sou onça Jaguaretê tio meu irmão de minha mãe tutira Meus parentes Meus parentes Ói me dá sua mão aqui Dá sua mão deixa eu pegar Só um tiquinho Eh cê tá segurando revólver Humhum Carece de ficar pegando no revólver não Mecê tá com medo de onça chegar aqui no rancho Hãhã onça Uinhúa travessou a vereda eu sei veio caçar paca tá indo escorregada no capim grosso Ela vai anda deitada de escarrapacho com as orêlhas pra diante dá estalinho assim com as orêlhas quaquave Onça Uinhúa é preta capeta de preta que rebrilha com a lua Fica peba no chão Capim de ponta cutuca dentro do nariz dela ela não gosta assopra Come peixe pássarodágua socó saracura Mecê escuta o uêuê de narccjão voando embora o narcejão vai voando de a tôrto e a direito Passarinho com frio foge fica calado Uinhúa fez pouca conta dele Mas paca assustou pulou Cê ouviu o roró dágua Onça Uinhúa deve de tá danada Toda molhada de mururú do aruvalho muquiada de barro branco de beira de rio Evém ela Ela já sabe que mecê tá aqui esse seu cavalo Evém ela tuxa morubixa Evém Iquente Ói cavalo seu barulhando com medo Eh carece de nada não a Uinhúa esbarrou Evém Vem não foi tataca de algua rã Tem medo não se ela vier eu enxoto escramuço eu mando embora Eu fico quieto quieto ela não me vê Deixa o cavalo rinchar ele deve de tá tremendo tá com as orêlhas esticadas Peia é boa Peiado forte Foge não Também esse cavalo seu de mecê presta mais pra nada Espera Mecê vira seu revólver pra outra banda ih Vem mais não Hoje a Uinhúa não teve coragem Deistá xa pra lá de fome ela não morre pega qualquer acutia por aí rato bichinho Isso come até porcoespim Manhã cedo cê vê o rastro Onça larga catinga a gente acha se a gente passar de fresco Manha cedo a gente vai lavar corpo Mecê quer Nhem Catinga delas mais forte é no lugar donde elas pariram e moraram com cria fede muito Eu gosto Agora mecê pode ficar sossegado quieto torna a guardar revólver no bolso Onça Uinhúa vem mais não Ela nem não é desta banda de cá Travessou a vereda só se a Maramonhangara foi lá adonde que é o terreiro dela aí a Uinhúa ficou enjerizada se mudou Tudo tem lugar certo lugar de beber água a Tibitaba vai no pocinho adonde tem o buriti dobrado PapaGente bebe no mesmo lugar junto com o SuúSuú na barra da Veredinha Nomeio da vereda larga tem uma pedramorta PapaGente nada pra lá pisa na pedramorta parece que tá empé dentro dágua é dando de feio Sacode uma perna sacode outra sacode o corpo pra secar Espia tudo espia a lua PapaGente gosta de morar em ilha capoama de ilha ahé Nhem Papa não Axi Onça enfiou mão por um buraco da cafua pegou menino pequeno no jirau abriu barriguinha dele Foi aqui não foi nos roçados da Chapada Nova eh Onça velha tigra de uma onça conhecida jaguarapinima muito grande demais o povo tinha chamado de PédePanela Pai do menino pequeno era sitiante pegou espingarda foi atrás de onça sacaquera sacaquera Onça PédePanela tinha matado o menino pequeno tinha matado uma mula Onça que vem perto de casa tem medo de ser enxotada não onça velha onça chefa come gente bicho perigoso que nem até quage que feito homem ruim Sitiante foi indo no rastro sacaquera sacaquera Pinima caminha muito caminha longe a noite toda Mas a PédePanela tinha comido comido comido bebeu sangue da mula bebeu água deixou rastro foi dormir no fecho do mato num furado toda desenroscada Eu achei o rastro não falei contei a ninguém não Sitiante não disse que a onça era dele Sitiante foi buscar os cachorros cachorro deu barroado acharam a onça Acuaram Sitiante chegou gritou de raiva espingarda negou fogo Péde Panela rebentou o sitiante rebentou cabeça dele enfiou cabelo dentro de miôlo Enterraram o sitiante junto com o menino pequeno filho dele o que sobrava eu fui lá fui espiar Me deram comida cachaça comida boa eu também chorei junto Eh aí davam dinheiro pra quem matar PédePanela Eu quis Falaram em rastrear Humhum Como é que podiam rastrear de achar rastreando Ela tava longe Como é que pode Hum não Mas eu sei Eu não percurei Deitei no lugar cheirei o cheiro dela Eu viro onça Então eu viro onça mesmo hão Eu mio Aí eu fiquei sabendo Dobrei pra o Monjolinho na croa da vereda E era mesmo lá madrugada aquela PédePanela já tinha vindo comeu uma porca dono da porca era um Rima Toruquato no Saó fazendeiro Fazendeiro também prometeu dar mais dinheiro pra eu matar PédePanela Eu quis Eu pedi outra porca só emprestada marrei no pé de almecegueira Noite escurecendo PédePanela sabia nada de mim não então ela veio buscar a outra porca Mas nem não veio não Chegou só de manhã cedinho dia já tava clareando Ela rosnou abriu a boca perto de mim eu porrei fogo dentro da goela dela e gritei Come isto meu tio Aí eu peguei o dinheiro de todos ganhei muito decomer muitos dias Me emprestaram um cavalo arreado Então Nhô Nhuão Guede me mandou vir pra cá pra desonçar Porqueira dele Homem ruim Mas eu vim Eu não devia Ãã eu sei no começo eu não devia Onça é povo meu meus parentes Elas não sabiam Eh eu sou ladino ladino Tenho medo não Não sabiam que eu era parente brabo traiçoeiro Tinha medo só de um dia topar com uma onça grande que anda com os pés pra trás vindo do mato virgem Será que tem será Humhum Apareceu nunca não tenho medo mais nenhum Tem não Teve a onça Maneta que também enfiou a mão dentro de casa igual feito a PédePanela Povo de dentro de casa ficaram com medo Ela ficou com a mão enganchada eles podiam sair pra matar cá da banda de fora Ficaram com medo cortaram só a mão com foice Onça urrava eles toravam a munheca dela Era onça preta Conheci não Toraram a mão ela pôde ir sembora Mas pegou a assustar o povo comia gente comia criação deixava pipura de três pés andava manquitola E ninguém não atinava com ela pra mor de caçar Prometiam dinheiro bom nada Conheci não Era a Onça Maneta Despois sumiu por este mundo Assombra Ói mecê ouviu Essa é miado Pode escutar Miou longe É macho Apiponga que caçou bicho grande porcodomato Tá enchendo barriga Matou em beira do capão no desbarrancado fez carniça lá Manhã vou lá Eh Mecê conhece Apiponga não é o que urra mais danado mais forte Eh pula um pulo Toda noite ele caça mata Mata um mata bonito Come sai despois logo volta De dia ele dorme quentando sol dorme espichado Mosquito chega eh ele dana Vai lá pra mecê ver Apiponga lugar dele dormir de dia é em cabeceira do mato montão de mato pedreira grande Lá mesmo ele comeu um homem Ih ixe Um dia uma vez ele comeu um homem Nhem Cê quer saber donde é que MariaMaria dorme de dia hã Pra quê que quer saber Pra quê Lugar dela é no alecrimda crôa no furado do matinho aqui mesmo perto pronto Quê que adiantou Cê não sabe adonde que é eheheh Se mecê topar com MariaMaria não vale nada ela ser a onça mais bonita mecê morre de medo dela Ói abre os olhos ela vem vem vem com a boca meio aberta língua lá dentro mexendo É um arquejo miúdo quando tá fazendo calor a língua pra diante e pra trás mas não sai do céudaboca Bate o pé no chão macião espreguiça despois toda fecha os olhos Eh bota as mãos pra a frente abre os dedos põe pra fora cada unha maior que seu dedo mindinho de mecê Aí me olha me olha Ela gosta de mim Se eu der mecê pra ela comer ela come Mecê espia cá fora Lua tá redonda Tou falando nada Lua meu compadre não Bobagem Mecê não bebe eu me avexo bebendo sozinho tou acabando sua cachaça toda Lua compadre de caraó Caraó falava só bobagem Auá Caraó chamado Curiuã queria casar com mulher branca Trouxe coisas deu pra ela esteira bonita cacho de banana tucano manso de bico amarelho casco de jaboti pedra branca com pedra azul dentro Mulher tinha marido Ãhã foi isto mulher branca gostou das coisas que caraó Curiuã trazia Mas não queria casar com ele não que era pecado Caraó Curiuã ficou rindo falou que tava doente só mulher branca querendo deitar com ele na rede era que ele sarava Carecia de casar de verdade não deitar uma vez só chegava Armou rede ali perto de lá ficou deitado não comia nada Marido da mulher chegou mulher contou pra ele Homem branco ficou danado de brabo Encostou carabina nos peitos dele caraó Curiuã ficou chorando homem branco matou caraó Curiuã tava com muita raiva Hum hum Ói eu tava lá matei nunca ninguém No Socó Boi também matei ninguém não Matei nunca podia não minha mãe falou pra eu não matar Tinha medo de soldado Eu não posso ser preso minha mãe contou que eu posso ser preso não se ficar preso eu morro por causa que eu nasci em tempo de frio em hora em que o sejuçú tava certinho no meio do alto do céu Mecê olha o sejuçú tem quatro estrelinhas mais duas A bom cê enxerga a outra que falta Enxerga não A outra é eu Mãe minha me disse Mãe minha bugra boa boa pra mim mesmo que onça com os filhotes delas jaguaraím Mecê já viu onça com as oncinhas Viu não Mãe lambe lambe fala com eles jaguanhenhém alisa toma conta Mãe onça morre por conta deles deixa ninguém chegar perto não Só suaçurana é que é pixote foge larga os filhotes pra quem quiser Eh parente meu é a onça jaguaretê meu povo Mãe minha dizia mãe minha sabia uê uê Jaguaretê é meu tio tio meu à hã Nhem Mas eu matei onça Matei pois matei Mas não mato mais não No SocóBoi aquele Pedro Pampolino queria encomendou pra eu matar o outro homem por ajuste Quis não Eu não Pra soldado me pegarTinha oTiaguim esse quis ganhou o dinheiro que era pra ser para mim foi esperar o outro homem na beira da estrada Nhem como é que foi Sei não me alembro não Eu nem não ajudei ajudei algum Quis saber de nada Tiaguim mais Missiano mataram muitos Despois foi pra um homem velho Homem velho raivado jurando que bebia o sangue de outro do homem moço eu escutei Tiaguim mais Missiano amarraram o homem moço o homem velho cortou o pescoço dele com facão aparava o sangue numa bacia Aí eu larguei o serviço que tinha fui m embora fui esbarrar na Chapada Nova Aquele Nhô Nhuão Guede pai da moça gorda pior homem que tem me botou aqui Falou Mata as onças todas Me deixou aqui sozinho eu nhum sozinho de não poder falar sem escutar Sozinho o tempo todo periquito passa gritando grilo assovia a noite inteira não é capaz de parar de assoviar Vem chuva chove chove Tenho pai nem mãe Só matava onça Não devia Onça tão bonita parente meu Aquele Pedro Pampolino disse que eu não prestava Tiaguim falou que eu era mole mole membeca Matei montão de onça Nhô Nhuão Guede trouxe eu pr aqui ninguém não queria me deixar trabalhar junto com outros Por causa que eu não prestava Só ficar aqui sozinho o tempo todo Prestava mesmo não sabia trabalhar direito não não gostava Sabia só matar onça Ah não devia Ninguém não queria me ver gostavam de mim não todo o mundo me xingando MariaMaria veio veio Então eu ia matar MariaMaria Como é que eu podia Podia matar onça nenhuma não onça parente meu tava triste de ter matado Tava com medo por ter matado Nhum nenhum Ai ai gente De noite eu fiquei mexendo sei nada não mexendo por mexer dormir não podia não que começa que não acaba sabia não como é que é não Fiquei com a vontade Vontade dôida de virar onça eu eu onça grande Sair de onça no escurinho da madrugada Tava urrando calado dentro de em mim Eu tava com as unhas Tinha soroca sem dono de jaguaretêpinima que eu matei saí pra lá Cheiro dela inda tava forte Deitei no chão Eh fico frio frio Frio vai saindo de todo mato em roda saindo da parte do rancho Eu arrupêio Frio que não tem outro frio nenhum tanto assim Que eu podia tremer de despedaçar Aí eu tinha uma câimbra no corpo todo sacudindo dei acesso Quando melhorei tava de pé e mão no chão danado pra querer caminhar Ô sossego bom Eu tava ali dono de tudo sozinho alegre bom mesmo todo o mundo carecia de mim Eu tinha medo de nada Nessa hora eu sabia o que cada um tava pensando Se mecê vinha aqui eu sabia tudo o que mecê tava pensando Sabia o que onça tava pensando também Mecê sabe o que é que onça pensa Sabe não Eh então mecê aprende onça pensa só uma coisa é que tá tudo bonito bom bonito bom sem esbarrar Pensa só isso O tempo todo comprido sempre a mesma coisa só e vai pensando assim enquanto que tá andando tá comendo tá dormindo tá fazendo o que fizer Quando algua coisa ruim acontece então de repente ela ringe urra fica com raiva mas nem que não pensa nada nessa horinha mesma ela esbarra de pensar Daí só quando tudo tornou a ficar quieto outra vez é que ela torna a pensar igual feito em antes Eh agora cê sabe será Hãhã Nhem Aã pois eu saí caminhando de mão no chão fui indo Deu em mim uma raiva grande vontade de matar tudo cortar na unha no dente Urrei Eh eu esturrei No outro dia cavalo branco meu que eu trouxe me deram cavalo tava estraçalhado meio comido morto eu manheci todo breado de sangue seco Nhem Fez mal não gosto de cavalo não Cavalo tava machucado na perna prestava mais não Aí eu queria ir ver MariaMaria Nhem Gosto de mulher não Às vez gosto Vou indo como elas onças fazem por meio de espinheiro vagarinho devagarinho faço barulho não Mas não espinha não quage que não Quando espinha pé estraga a gente passa dias doente pode caçar não fica curtindo fome É mas MariaMaria se ficar assim eu levo decomer pra ela hã hãã Hum hum Esse é barulho de onça não Urucuéra piou e um bichinho correu destabocado Eh como é que eu sei Pode ser veado caititú capivara Como é Aqui tem é tudo tem capão capoeira pertinho do campo O resto é sapo é grilo do mato Passarinho também que pia no meio de dormindo Ói se eu dormir mais primeiro mecê também dorme Cê pode encostar a cabeça no surrão surrão é de ninguém não surrão era do preto Dentro tem coisa boa não tem roupa velha vale nada Tinha retrato da mulher do preto preto era casado Preto morreu eu peguei em retrato virei pra não poder ver levei pra longe escondi em oco de pau Longe longe gosto de retrato aqui comigo não Eh urrou e mecê não ouviu não Urrou cochichado Mecê tem medo Tem medo não Mecê tem medo não é mesmo tou vendo Humhum Eh cê tando perto cê sabe o que é que é medo Quando onça urra homem estremece todo Zagaieiro tem medo não hora nenhuma Eh homem zagaieiro é custoso achar tem muito poucos Zagaieiro gente sem soluço Os outros todos têm medo Preto é que tem mais Eh onça gosta de carne de preto Quando tem um preto numa comitiva onça vem acompanhando seguindo escondida por escondidos atrás atrás atrás ropitando tendo olho nele Preto rezava ficava seguro na gente tremia todo Foi esse não que morou no rancho não esse que morou aqui preto Tiodoro Foi outro preto preto Bijibo a gente vinha beiradeando o rio Urucúia despois o Riacho Morto despois O velho barbado barba branca tinha botas botas de couro de sucurijú Velho das botas tinha trabuco Ele mais os filhos e o carapina bêbado iam pra outra banda pra a Serra Bonita varavam dessa mão de lá mo de ir Preto Bijibo tinha coragem não carecia de viajar sozinho tava voltando pra algum lugar sei lá longe Preto tinha medo sabia que onça tava de tocaia onça vinha sacaquera toda noite eu sabia que ela tava rodeando de uauaca perto do foguinho do arranchamento Aí eu falei com o preto falei que também ia com ele até no Formoso Carecia de arma nenhuma não eu tinha garrucha espingarda tinha faca facão zagaia minha Mentira que eu falei eu tava era voltando pr aqui tinha ido falar brabo com Nhô Nhuão Guede que eu não ia matar onça nenhuma mais não que eu tinha falado Eu tava voltando pr aqui dei volta tão longe por conta do preto só Mas preto Bijibo sabia não ele foi viajar comigo Ói eu tava achando nada de ruim não tava jeriza não eu gostei do preto Bijibo tava com dó dele em mesmo queria era ajudar por causa que ele tinha muita comida boa mantimento por pena assim que ele carecia de viajar sozim Preto Bijibo era bom com aquele medo dôido ele não me largava em hora nenhuma A gente caminhamos três dias Preto conversava conversava Eu gostava dele Preto Bijibo tinha farinha queijo sal rapadura feijão carne seca tinha anzol pra pegar peixe toicinho salgado AveMaria preto carregava aquilo tudo nas costas eu ajudava não gosto não sei lá como é que ele podia Eu caçava matei veado jacú codorna Preto comia Atié Atié que ele comia comia só queria era comer até nunca vi assim não Preto Bijibo cozinhava Me dava do decomer dele eu comia de encher barriga Mas preto Bijibo não esbarrava de comer não Comia falava em comida eu então ficava vendo ele comer e eu inda comia mais ficava empazinado chega arrotava A gente tava arranchados debaixo de pau de árvore acendemos fogo Olhei preto Bijigo comendo ele lá com aquela alegria dôida de comer todo dia todo dia enchendo boca enchendo barriga Fiquei com raiva daquilo raiva raiva danada Axe axi Preto Bijibo gostando tanto de comer comendo de tudo bom arado e pobre da onça vinha vindo com fome querendo comer preto Bijibo Fui ficando com mais raiva Cê não fica com raiva Falei nada não Ãhã Apois falei só com preto Bijibo que ali era o lugar perigoso pior de toda banda tinha soroca de onçapintada Ih preto esbarrou logo de comer preto custou pra dormir Eh aí eu não tinha mais raiva não queria era brincar com o preto Saí calado calado devagar que nem nenhum ninguém Tirei o decomer todo todo levei escondi em galho de árvore muito longe Eh voltei desmanchei meu rastro eh que eu queria rir alegre Dei muita andada por uma banda e por outra e voltei pra trás trepei em pau alto fiquei escondido Diaba diaba onça nem não vinha De manhã cedo dava gosto ver quando preto Bijibo acordou e não me achou não O dia todo ele chorava percurava percurava não tava acreditando Eh arregalava os olhos Chega que andava em roda zuretado Me percurou até em buraco de formigueiro Mas ele tava com medo de gritar e espiritar a onça então falava baixinho meu nome Preto Bijibo tremia que eu escutava dente estalando que escutava Tremia feito piririca de carne que a gente assa em espeto Despois ele ficava estuporado deitava no chão debruço tapava os ouvidos Tapava a cara Esperei o dia inteiro trepado no pau eu também já tava com fome e sede mas agora eu queria nem sei queria ver jaguaretê comendo o preto Nhem Preto tinha me ofendido não Preto Bijibo muito bom homem acomodado Eu tinha mais raiva dele não Nhem Não tava certo Como é que mecê sabe Cê não tava lá Ãhã preto não era parente meu não devia de ter querido vir comigo Levei o preto pra a onça Preto porque quis me acompanhar uê Eu tava no meu costume Hum por que é que mecê tá percurando mão no revólver Humhum Aã arma boa será Hãhã revólver bom Erê Cê deixa eu pegar com minha mão mor de ver direito A nhã não deixa não deixa Gosta não que eu pego Tem medo não Mão minha bota arma caipora não Também não deixo pegar em arma mas é mulher mulher eu não deixo deixo nem ver não devede Bota panema caipora Hum hum Nhor não É É Hum um Mecê e que sabe Hum Hum É É não Eh nt nt Axi É Nhor não sei não Humhum Nhor não tou agravado não revólver é seu mecê é que é dono dele Eu tava pedindo só por querer ver arma boa bonito revólver Mas mão minha bota caipora não pa sou mulher não Eu panema não eu marupiara Mecê não quer deixar mecê não acredita Eu falo mentira não Tá bom eu bebo mais um gole Cê bebe também Tou vexado não Apê cachaça bom de boa Ói mecê gosta de ouvir contar apois eu conto Despois que teve o preto Bijibo Eu voltei uai Cheguei aqui achei outro preto já morando mesmo dentro de rancho Primeiro eu pulei pra pensar este é irmão dele outro veio tirar vingança ôi ôi Era não Preto chamado Tiodoro Nhô Nhuão Guede justou pra ficar no despois pra matar as onças todas mor d eu não querer matar onça nenhuma mais não Falou que o rancho era dele que Nhô Nhuão Guede tinha falado tinha dado rancho pra preto Tiodoro pra toda a vida Mas que eu podia morar junto eu tinha de buscar lenha buscar água Eu Hum eu não mesmo não Fiz tipoia pra mim com folhagem de buriti perto da soroca de MariaMaria Ahã pretoTiodoro havéra de vir caçar por ali A bom a bom Preto Tiodoro caçava onça não ele tinha mentido pra Nhô Nhuão Guede Preto Tiodoro boa pessoa tinha medo mas medo montão Tinha quatro cachorros grandes cachorro latidor Apiponga matou dois um sumiu no mato Maramonhangara comeu o outro Ehehhe Cachorro Caçou onça nenhuma não Também preto Tiodoro ficou morando em rancho só uma lua nova aí ele morreu pronto Preto Tiodoro queria ver outra gente passear Me dava de comer me chamava pra ir passear mais ele junto Eh sei ele tava com medo de andar sozinho por aí Chegava em beira de vereda pegava a ter medo de sucruiú Eu eh eu tenho meu porrete bom amarrado com tira forte de embira passava a tira no pescoço ia com o porrete pendurado tinha medo de nada Aí preto A gente fomos lá muitas léguas no meio do brejo terra boa pra plantar Veredeiro seo Rauremiro bom homem mas chamava a gente por assovio feito cachorro Sou cachorro sou Seo Rauremiro falava Entra em quarto da gente não fica pra lá tu é bugre Seo Rauremiro conversava com preto Tiodoro proseava Me dava comida mas não conversava comigo não Saí de lá com uma raiva mas raiva de todos de seo Rauremiro mulher dele as filhas menino pequeno Chamei o preto Tiodoro despois da gente comer a gente vinha s embora Preto Tiodoro queria só passar na barra da Veredinha deitar na esteira com a mulher do homem dôido mulher muito boa Maria Quirinéia A gente passou lá Então uê pediram pra eu sair da casa um tem pão ficar espiando o mato espiando no caminho aruê pra ver se vinha alguém Muito homem que tava acostumado iam lá Muito homem jababora geralista aqueles três que já morreram Lá por perto vi rastro Rastro redondo pipura da onça Porreteira dela ir caçar Tava chovendo fino só cruviando quage Eu escondi em baixo de árvore Preto Tiodoro não saía de lá de dentro não com aquela mulher Maria Quirinéia O dôido marido dela nem não tava gritando devia de tá dormindo encorrentado Uai então eu enxerguei que vinha vindo geralista aquele seo Riopôro homem ruim feito ele só tava toda hora furiado Seo Riopôro vinha vestido com coroça grande de paijla de buriti mor de não molhar a roupa vinha respingado fincava pé na lama Saí de debaixo de árvore fui lá encontrar com ele mor de cercar mor d ele não vir que preto Tiodoro tinha mandado Que é que tu tá fazendo por aqui onceiro senvergonha foi que ele falou me gritou gritou valente mesmo Tou espiando o rabo da chuva que eu falei Pois por que tu não vai espiar tua mãe desgraçado que ele tornou a gritar inda gritou mais muito Ô homem aquele pra ter raiva Ah gritou pois gritou Pa Mãe minha foi Ah pois foi Pa A bom A bom Aí eu falei com ele que a onça Porreteira tava escondida lá no fundão da pirambeira do desbarrancado X eu ver x eu ver já que ele falou E Txi é mentira tua não Tu diabo mente por senvergonheira Mas ele veio chegou na beira da pirambeira na beiradinha debruçou espiando pra baixo Empurrei Empurrei foi só um tiquinho nem não foi com força geralista seo Riopôro despencou no ar Apê Nhemnhem o que Matei eu matei A pois matei não Ele inda tava vivo quando caiu lá em baixo quando onça Porreteira começou a comer Bom bonito Eh ps eh porã Erê Come esse meu tio Falei nada com o preto ói Mulher Maria Quirinéia me deu café falou que eu era Índio bonito A gente veio s embora Preto Tiodoro ficava danado comigo calado Porque eu sabia caçar onça ele sabia não Eu tapijara sapijara achava os bichos as árvores planta do mato todas ele nem não Eu tinha esses couros todos nem não queria vender mais não Ele olhava com olho de cachorro acho que queria couros todos pra ele pra vender muito dinheiro Ah preto Tiodoro contou mentira de mim pra os outros geralistas Aquele jababora Gugué homem bom mas mesmo bom nunca me xingou não Eu queria passear ele gostava de caminhar não só ficava deitado em rede no capim dia inteiro dia inteiro Pedia até pra eu trazer água na cabaça mor de ele beber Fazia nada Dormia pitava espichava deitado proseava Eu também Aquele Gugué puxava prosa danada de boa Eh fazia nada caçava nada não cavacava chão pra tirar mandioca queria passear não Então peguei a não querer espiar pra ele Eh raiva não só um enfaro Cê sabe Cê já viu Aquele homem mole mole perrengando por querer panema ixe Até me esfriava Eu queria ter raiva dele não queria fazer nada não não queria não queria Homem bom Falei que ia membora Vai embora não que ele falou Vamos conversar Mas ele era que dormia dormia o dia todo De repente eh eu oncei lá Eu agüentei não Arrumei cipó arranjei embira boa forte Amarrei aquele Gugué na rede Amarrei ligeiro amarrei perna amarrei braço Quando ele queria gritar hum xô Axi aí deixei não atochei folha folha lá nele boca a dentro Tinha ninguém lá Carreguei aquele Gugué com rede enrolada Pesadão pesado eh Levei pra o PapaGente PapaGente onça chefe onço comeu jababora Gugué PapaGente onção enorme come rosnando rosnando até parece oncinho novo Despois eu inté fiquei triste com pena daquele Gugué tão bonzinho teitê Aí era de noite fui conversar com o outro geralista que inda tinha chamado Antunias jababora ué Ô homem amarelo de ridico Não dava nada não guardava tudo pra ele emprestava um bago de chumbo só se a gente depois pagava dois lxe Ueh Cheguei lá ele tava comendo escondeu o decomer debaixo do cesto de cipó assim mesmo eu vi Então eu pedi pra poder dormir dentro do rancho Dormir pode Mas vai buscar graveto pra o fogo isto que arrenegou Eh tá de noite tá escuro manhã cedo eu carrego lenha boa que eu falei Mas então ele me mandou consertar uma alprecata velha Falou que manhã cedo ele ia na Maria Quirinéia que eu não podia ficar sozinho no rancho mor de não bulir nos trens dele não A pois eu falei acho que onça pegou Gugué Ei Tunia que era assim que Gugué falava Arregalou olho Preguntou como era que eu achava Falei que tinha escutado grito do Gugué e urro de onça comedeira Cê já viu Sabe o quê que ele falou Axi Que onça tinha pegado Gugué então tudo o que era do Gugué ficava sendo dele Que despois ele ia s embora pra outra serra que se eu queria ir junto mor de ajudar a carregar os trens todos dele tralha Que eu vou mesmo que eu falei Ah mas isto eu não conto que não conto que não conto de jeito nenhum Por quê mecê quer saber Quer saber tudo Cê é soldado A bom a bom eu conto mecê é meu amigo Eu encostei ponta da zagaia nele X eu mostrar como é que foi Ah quer não não pode Cê tem medo deu encostar ponta da zagaia em seus peitos eh será nhem Mas então pra quê que quer saber Axe mecê homem frouxo Cê tem medo o tempo todo A bom ele careceu de ir andando chorando sacêmo no escuro caía levantava Não pode gritar não pode gritar que eu falava ralhava cutucava empurrei com a ponta da zagaia Levei pra MariaMaria Manhã cedo eu queria beber café Pensei eu ia pedir café de visita pedir àquela mulher Maria Quirinéia Fui indo pra lá fui vendo curuz De toda banda ladeza da chapada tinha rastro de onça Ei minhas onças Mas todas têm de saber de mim eh sou parente eh se não eu taco fogo no campo no mato lapa de mato soroca delas taco fogo em tudo no fim da seca Aquela mulher Maria Quirinéia muito boa Deu café deu de comer Marido dela dôido tava quieto seo Suruvéio era lua dele não só ria ria não gritava Eh mas Maria Quirinéia principiou a olhar pra mim de jeito estúrdio diferente mesmo cada olho se brilhando ela ria abria as ventas pegou em minha mão alisou meu cabelo Falou que eu era bonito mais bonito Eu gostei Mas aí ela queria me puxar pra a esteira com ela eh uê uê Me deu uma raiva grande tão grande montão de raiva eu queria matar Maria Quirinéia dava pra a onça Tatacica dava pra as onças todas Eh aí eu levantei ia agarrar Maria Quirinéia na goela Mas foi ela que falou Ói sua mãe deve de ter sido muito bonita boazinha muito boa será Aquela mulher Maria Quirinéia muito boa bonita gosto dela muito me alembro Falei que todo o mundo tinha morrido comido de onça que ela carecia de ir s embora de mudada naquela mesma da hora ir já ir já logo mesmo Pra qualquer outro lugar carecia de ir Maria Quirinéia pegou medo enorme montão disse que não podia ir por conta do marido dôido Eu falei eu ajudava levava Levar até na Vereda da Conceição lá ela tinha pessoas conhecidas Eh fui junto Marido dela dôido nem deu trabalho quage Eu falava Vamos passear seo Nhô Suruvéio mais adiante Ele arrespondia A pois vamos vamos vamos Vereda cheia tempo de chuva isso os deu mais trabalho Mas a gente chegou lá Maria Quirinéia falou despedida Mecê homem bom homem corajoso homem bonito Mas mecê gosta de mulher não AÍ que eu falei Gosto mesmo não Eu eu tenho unha grande Ela riu riu eu voltei sozinho beiradeando essas veredas todas Uê uê rodeei volta despois cacei jeito por detrás dos brejos queria ver veredeiro seo Rauremiro não Eu tava com fome mas queria decomer dele não homem muito soberbo Comi araticúm e fava dôce em beira de um cerrado eu descansei Uma hora deu aquele frio frio aquele torceu minha perna Eh despois não sei não acordei eu tava na casa do veredeiro era de manhã cedinho Eu tava m barro de sangue unhas todas vermelhas de sangue Veredeiro tava mordido morto mulher do veredeiro as filhas menino pequeno Eh jucajucá atiê atiuca Aí eu fiquei com dó fiquei com raiva Hum nhem Cê fala que eu matei Mordi mas matei não Não quero ser preso Tinha sangue deles em minha boca cara minha Hum saí andei sozim plos matos fora de sentido influição de subir em árvore eh mato é muito grande Que eu andei que eu andei sei quanto tempo foi não Mas quando que eu fiquei bom de mim outra vez tava nú de todo morrendo de fome Sujo de tudo de terra com a boca amargosa atiê amargoso feito casca de peroba Eu tava deitado no alecrinzinho no lugar MariaMaria chegou lá perto de mim Mecê tá ouvindo nhem Tá aperceiando Eu sou onça não falei Axi Não falei eu viro onça Onça grande tubixaba Ói unha minha mecê olha unhão preto unha dura Cê vem me cheira tenho catinga de onça Preto Tiodoro falou eu tenho ei ei Todo dia eu lavo corpo no poço Mas mecê pode dormir hum hum vai ficar esperando camarada não Mecê tá doente carece de deitar no jirau Onça vem cá não cê pode guardar revólver Aaã Mecê já matou gente com ele Matou a pois matou Por quê que não falou logo Ãhã matou mesmo Matou quantos Matou muito Hãhã mecê homem valente meu amigo Eh vamos beber cachaça até a língua da gente picar de areia Tou imaginando coisa boa bonita a gente vamos matar camarada manhã A gente mata camarada camarada ruim presta não deixou cavalo fugir plos matos Vamos matar Uh uh atimbora fica quieto no lugar Mecê tá muito sopitado Ói mecê não viu MariaMaria ah pois não viu Carece de ver Daqui a pouco ela vem se eu quero ela vem vem munguitar mecê Nhem A bom a pois Trastanto que eu tava lá no alecrinzinho com ela cê devia de ver MariaMaria é careteira raspa o chão com a mão pula de lado pulo frouxo de onça bonito bonito Ela ouriça o fio da espinha incha o rabo abre a boca e fecha ligeiro feito gente com sono Feito mecê eh eh Que anda que anda balançando vagarosa tem medo de nada cada anca levantando aquele pêlo lustroso ela vem sisuda mais bonita de todas cheia de cerimônia Ela rosnava baixinho pra mim queria vir comigo pegar o preto Tiodoro Aí me deu aquele frio aquele friiÍio a câimbra toda Eh eu sou magro travesso em qualquer parte o preto era meio gordo Eu vim andando mão no chão Preto Tiodoro com os olhos dôidos de medo ih olho enorme de ver Ô urro Mecê gostou ã Preto prestava não Ô Ô Ô Ói mecê presta cê é meu amigo Ói deixa eu ver mecê direito deix eu pegar um tiquinho em mecê tiquinho só encostar minha mão Ei ei que é que mecê tá fazendo Desvira esse revólver Mecê brinca não vira o revólver pra outra banda Mexo não tou quieto quieto Ói cê quer me matar ui Tira tira revólver pra lá Mecê tá doente mecê tá variando Veio me prender Ói tou pondo mão no chão é por nada não é àtoa Ói o frio Mecê tá dôido Atiê Sai pra fora rancho é meu xô Atimbora Mecê me mata camarada vem manda prender mecê Onça vem MariaMaria come mecê Onça meu parente Ei por causa do preto Matei preto não tava contando bobagem Ói a onça Ui ui mecê é bom faz isso comigo não me mata não Eu Macuncôzo Faz isso não faz não Nhenhenhém Heeé Hé Aarrrã Aaãh Cê me arrhoôu Remuaci Rêiucàanacê Araaã Uhm Ui Ui Uh uh êeêê êê ê ê