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Educação E sociEdadE 1 Relação Escolasociedade Novas Respostas Para um Velho Problema1 Antônio Nóvoa2 Um quadro de Klee chamado Angelus Novus mostra um anjo olhando fixamente para qualquer coisa de que se está a afastar Os seus olhos estão arregalados a boca aberta as asas estendidas A sua face está virada para o passado Onde nós ve mos uma seqüência de acontecimentos ele percebe apenas uma única catástrofe que vai amontoando escombros sobre escombros e os arremessa para a frente dos seus pés Mas um vendaval está a soprar do paraíso e com tal violência que o anjo já não consegue fechar as suas asas Ele tem as costas voltadas para o futuro mas o vendaval apanhao de frente e é para lá que o empurra irresistivelmente enquanto atrás dele o monte de escombros vai crescendo em direcção ao céu Este vendaval é o que nós chamamos progresso Walter Benjamin 1940 A história da escola sempre foi contada como a história do progresso Por aqui passariam os mais importantes esforços civilizacionais a resolução de quase todos os problemas sociais De pouco valeram os avisos de Ortega y Gasset e de tantos outros dizendo que esta análise parte de um erro fundamental o de supor que as nações são grandes porque a sua escola é boa certamente que não há grandes nações sem boas escolas mas o mesmo deve dizerse da sua política da sua economia da sua justiça da sua saúde e de mil coisas mais A escola cresceu nesta crença E os professores acreditaram que lhes estava cometida a missão de arautos do progresso Contra tudo e contra todos se preciso fosse Para isso tiveram num certo sentido de se isolar São bem conhecidos os conselhos para que os professores não se misturassem com o povo mas também não participassem nas festas da burguesia para que os professores se comportassem com isenção não se vinculando a interesses de grupo O reforço da ligação entre dois vértices do triângulo os professores e o Estado conduziu à marginalização do terceiro famílias comunidades Repensar a escola hoje é antes de mais trazer para o cenário educativo este vértice perdido sublinhando a importância de uma participação que não se esgota no nível profissional nem no plano do Estado É procurar encontrar novas respostas para um velho problema A reflexão que vos proponho organizase em três tempos procurando interrogar as relações entre a escola e a sociedade sobretudo a partir de uma análise centrada nos caminhos e descaminhos da profissão docente 1 Este texto transcreve a confe rência que proferi na sessão de abertura do III Congresso Estadu al Paulista sobre a Formação de Educadores Águas de São Pedro 22 de maio de 1994 Tendo em conta os objetivos da presente pu blicação entendi não lhe introduzir grandes alterações respeitando no essencial a sua oralidade 2 Professor na Universidade de Lisboa Portugal O texto conser va as grafias originais do autor que emprega a língua tal como é utiliza da em Portugal Educação E sociEdadE 2 Na primeira parte procuro alertar contra os perigos das visões extremas da escola ora como salvadora ora como mera reprodutora da sociedade Na segunda parte avanço algumas idéias sobre a crise de identidade dos professores sublinhan do a necessidade de um reforço da sua autonomia profissional Finalmente na terceira parte tento juntar os dois argumentos anteriores defendendo que qual quer mudança no terreno educativo tem de passar por um investimento positivo dos diversos poderes em acção na arena educativa Tal como Boaventura Sousa Santos3 também eu me espanto também eu me indigno com o facto de o prodigioso desenvolvimento científico dos últimos séculos de a acumulação de um tão grande conhecimento sobre o mundo se terem traduzido numa tão pequena sabedoria do mundo do homem consigo próprio com os outros com a natureza Temos de mais desta ciência leiase também escola que se quis sinónimo de progresso e acreditou ser o fim da História Agora precisamos de uma outra ciência leiase também escola que não se baseie no excesso do mesmo mas na aceitação do outro que não reivindique uma explicação singular mas que se reconheça na pluralidade dos sentidos que compreenda os limites da sua interpretação e da sua acção no mundo a Escola e os Professores como Regeneradores da sociedade No livromanifesto da Educação Nova Adolphe Ferrière conta uma das mais célebres histórias da pedagogia a história sobre O diabo e a escola4 Conta o pedagogo suíço que um dia deu o diabo uma saltada à terra e verificou não sem despeito que ainda cá se encontravam homens que acreditassem no bem homens bons e felizes O diabo concluiu do seu ponto de vista que as coisas não iam bem e que se tornava necessário modificar isto E disse consigo A infância é o porvir da raça comecemos pois pela infância Mas mudar a infância como De repente teve uma idéia luminosa criar a escola E seguindo o conselho do diabo criouse a escola A criança adora a natureza encerramna dentro de casa A criança gosta de brin car obrigamna a trabalhar A criança pretende saber se a sua actividade serve para qualquer coisa fezse com que a sua actividade não tivesse nenhum fim Gosta de mexerse condenamna à imobilidade Gosta de palpar objectos eila em contacto com idéias Quer servirse das mãos é o cérebro que lhe põem em jogo Gosta de falar impõelhe silêncio Quer esmiuçar as coisas constrangemna a exercícios de memória Pretende buscar a ciência de motu próprio élhe servida já feita Desejaria seguir a sua fantasia fazerna vergar sob o jugo do adulto Quereria entusiasmar se inventaramse os castigos Quereria servir livremente ensinouselhe a obedecer passivamente O diabo ria pela calada 3 SANTOS Boaventura Sou sa Introdução a uma ciência pósmoderna Porto Edições Afrontamento 1989 4 A história é contada no livro Transformons lécole publicado pela primeira vez em 1920 Sirvome da edição portuguesa datada de 1928 a qual segundo o tradutor terá sido censurada em Portugal obrigando a que a sua distribuição se fizesse essencialmente no Brasil Educação E sociEdadE 3 Durante páginas a fio Adolphe Ferrière continua o seu requisitório contra a invenção diabólica que é a escola Diz ele que não tardou que o regime desse frutos A criança aprendeu a adaptarse a estas condições artificiais Dirseia por um instante que a escola levava a melhor O diabo julgavase vitorioso Mas de súbito a história virase do avesso O diabo calculara mal o negócio esquecerase de fechar a escola a sete chaves E viuse a pequenada fugir para os bosques trepar às árvores e até fazer caretas ao pretenso homem de Deus Viramnos correr à aventura governarem a vida tornaremse fortes práticos engenhosos e perseverantes o diabo então deixando de rir à socapa rangeu os dentes ameaçou com o punho berrou Maldi ta geringonça E eclipsouse E com ele desapareceu a escola que tão sabiamente imaginara As palavras finais do pedagogo suíço representam a moral da história desafiando todos os professores a acabarem com estas gaiolas à moda antiga e a edificarem escolas novas Escrita no final da Primeira Grande Guerra esta história é exemplar por muitas razões Até esta altura a escola sempre tinha sido vista como um progresso civilizacional como uma instituição inequi vocamente benéfica consagrada à promoção da cultura e da educação dos homens Agora pela pena de um dos mais brilhantes pedagogos dos anos vinte ela é apresentada como uma instituição maléfica como uma criação diabólica mesmo Ao longo do século XIX em paralelo com a emergência de novos modos de governo e afirmação dos EstadosNação a escola transformase num elemento central do processo de homogeneização cultu ral e de invenção de uma cidadania nacional Através da atribuição a um dado arbitrário cultural de todas as aparências do natural a escola desempenha um papel central na concessão ao Estado do monopólio da violência simbólica que se quer legítima O desenvolvimento da escola de massas faz parte de uma dinâ mica transnacional que inscreve nos diversos contextos nacionais racionalidades e tecnologias de progres so difundidas a nível mundial Fixase então uma espécie de gramática do ensino que marca uma vez que constrói e que organiza a nossa forma de ver a escola alunos agrupados em classe graduadas com uma composição homogênea e um número de efectivos pouco agradável professores actuando sempre a título individual com perfil de generalistas ensino primário ou de especialistas ensino secundário es paços estruturados de acção escolar induzindo uma pedagogia centrada essencialmente na sala de aula horários escolares rigidamente estabelecidos que põem em prática um controlo social do tempo escolar saberes organizados em disciplinas escolares que são as referências estruturantes do ensino e do trabalho pedagógico Inventado muito tempo antes este modelo escolar impõese doravante como a via única de fazer escola excluindo todos os outros possíveis A força deste modelo medese pela sua capacidade de se definir não como o melhor sistema mas como o único aceitável ou mesmo imaginável É esta escola que a história de Adolphe Ferrière quer esconjurar Mas atenção à segunda mensagem da história não é a escola enquanto instituição que está em causa mas sim a escola antiga pois a escola nova essa é fundamentalmente libertadora é uma nova etapa na marcha ascensional do Homem para a perfeição é a condição essencial para que se forme um Homem novo incapaz de se lançar uma e outra vez nos horrores da Guerra A crítica da Educação Nova Educação E sociEdadE 4 à instituição escolar termina assim algo paradoxalmente por uma crença quase ilimitada nas potencia lidades regeneradoras da escola Nunca se acreditou tanto nos benefícios da escola como nestes tempos loucos da pedagogia E esta crença ajudou a consolidar uma imagem dos professores como sacerdotes da religião educativa e como missionários do ABC ao mesmo tempo que criou as condições para uma melhoria da sua formação e do seu estatuto socioprofissional e para o desenvolvimento de uma reflexão científica na área da pedagogia Profissionalização do Professorado e ciências da Educação A profissionalização do professorado acompanhase de uma política de normalização e de controle estatal As escolas normais constituem o lugar certo para disciplinar os professores transformandoos em agentes do projecto social e político da modernidade os discursos aqui produzidos e difundidos bem como as práticas que lhes dão corpo edificam um novo modelo de professor no qual as antigas refe rências religiosas se cruzam com o novo papel de servidores do Estado e da sua razão Este processo é parte integrante de um discurso que tende a redefinir a questão do ensino em paralelo com as novas modalidades de intervenção do Estado na vida social As racionalidades emergentes relocalizam os pro fessores como profissionais ao mesmo tempo que categorizam as crianças como alunos passando a encarálos como uma população que tem de ser gerida segundo padrões institucionais próprios A impo sição de um raciocínio populacional tornado possível em grande medida pela evolução do pensamento e das técnicas estatísticas é uma das características fundamentais dos Estados centrais que teve conse qüências maiores na produção da escola de massas É um processo incorporado nos diversos contextos nacionais a partir de modelos e de dinâmicas que se difundem a nível mundial A afirmação da cientificidade da pedagogia deve ser equacionada à luz do processo histórico de construção das ciências sociais modernas o qual não é compreensível sem uma referência à crise de autoridade intelectual e moral do final do século XIX a especialização do conhecimento concede aos novos profissionais uma função de autoridade no interior do seu campo disciplinar para além de os legitimar num discurso de normalização social A formação das ciências da educação faz parte de uma dinâmica mais vasta de expansão do Estado e de profissionalização do conhecimento A eficácia da nova ideologia profissional implica a defesa da objectividade e a rejeição da história a evidência científica tem de aparecer como um fenómeno natural e não como uma construção social como uma realidade atemporal e não como um processo histórico como a busca da verdade pela verdade e não como um jogo de forças e de poderes A invenção do caleidoscópio ciências da educação nas primeiras décadas do século XX corresponde a um esforço da nova geração de educadores para valorizar o seu papel social e o seu prestígio científico Paradoxalmente a Educação Nova representa a consagração e a morte da pedago gia a consagração porque se assiste a uma verdadeira explosão das práticas inova doras a morte porque a referência à ciência provoca a passagem para as ciências da educação Os inovadores no terreno acabarão por ser enterrados e renegados em nome das ciências da educação da exclusão da prática5 5 HOUSSAYE Jean Lesclave pé dagogue et ses dialogues Éduca tion et Recherche n11984 p47 Educação E sociEdadE 5 Este conjunto de processos estatização profissionalização e cientificação define uma estrutura do ensino que ajuda a perceber as teses da Educação Nova Ao criticarem a escola antiga estes pe dagogos traçam uma caricatura que pretende tornar mais nítidos os contornos da novidade de que se sentem portadores Mas estes homens não põem em causa a gramática da escola antes a aprofundam no contexto de uma crença total nas suas potencialidades regeneradoras A vários títulos somos her deiros ainda hoje de uma imagem da escola e da profissão docente que se fixou nessa altura Quantos de nós não sentimos no mais íntimo do nosso ser que nos está reservado um papel de reparação ou de regeneração da sociedade Em muitos países a desmedida da crença nas potencialidades da escola conduziu por vezes a exageros nefastos Nos anos vinte os novos profissionais do ensino tinham cada vez mais difi culdade em aceitar um destino de Penélope tecendo durante algumas horas o fio educativo que a sociedade tantas vezes desfazia nas restantes horas do dia e da noite Diziam eles que os ambientes familiares sobretudo dos meios populares deitavam por terra todos os seus esforços educativos E por isso muitas vezes reclamaram Para que o professor o corpo docente cumpra com a sua missão e se lhe possa exigir toda a responsabilidade da educação que dá aos seus alunos é indispensável que a criança lhe seja entregue por completo sem intermitências só tirandoa da sua influên cia e acção quando ele a der por pronta6 Hoje esta citação causanos um grande desconforto e uma reação de desagrado Mas no princí pio do século ela faz parte de um projecto de afirmação profissional de homens e cada vez mais de mulheres que acreditaram piamente na função civilizadora e moralizadora da escola As intenções são generosas mas hoje sabemos que nenhum grupo de profissionais tem o direito de se impor ao resto da sociedade mesmo que seja por uma boa causa Num certo sentido é esta perspectiva que será severamente criticada algumas décadas mais tar de nos debates dos anos 60 Pela segunda vez na história da educação a escola é posta sob acusação Mas desta vez a proposta vai mais longe edificar uma sociedade sem escolas Sob o efeito conjugado de movimentos tão diferentes como a descolarização a nãodirectividade ou a sociologia crítica da educação a escola e os professores vão sentarse no bando dos réus acusados a torto e a direito de não terem cumprido as suas promessas de ajudarem a manter uma ordem social injusta de continuarem a contribuir para a reprodução das desigualdades sociais A expansão do ensino não tinha conduzido à sua democratização bem pelo contrário a escola criara novas formas de discriminação e de exclusão social Outrora apóstolos das luzes os professores viamse agora olhados e acusados como meros agentes de reprodução Não espanta que desde então a profissão docente tenha mergulhado numa crise de identi dade que dura até aos dias de hoje A saída desta crise obriga a repensar em termos radicais as relações entre a escola e a sociedade É preciso abandonar sonhos antigos de uma escola que seria capaz por si só de transformar a sociedade Mas é preciso também fazer a crítica das teses que procuram erigir os professores em bodes expiatórios de todos os males sociais A nova inserção da escola na sociedade tem de fazerse em termos mais me 6 Utilizo esta citação propositadamente pois Adolfo Lima era o representante da Educação Nova em Portugal e para além disso um dos mais influentes pedagogos anarquistas Educação e Ensino Educação Integral Lisboa Guimarães e Cª Editores 1914 p 135 Educação E sociEdadE 6 didos mais comedidos num certo sentido mais modestos A escola faz parte de uma rede institucional onde se joga parte do futuro das nossas sociedades o que aqui conseguirmos ganhar é importante mas as visões extremas de um professorsalvadordahumanidade ou no pólo oposto de um professorque selimitaareproduziroquejáexiste não nos servem para tentarmos compreender o nosso papel Os professores têm de afirmar a sua profissionalidade num universo complexo de poderes e de re lações sociais não abdicando de uma definição ética e num certo sentido militante da sua profissão mas não alimentando utopias excessivas que se viram contra eles obrigandoos a carregar aos ombros o peso de grande parte das injustiças sociais A causa do malestar dos professores prendese sem dúvida à defasagem que existe nos dias de hoje entre uma imagem idílica da profissão docente e as realidades concretas com que os professores se deparam no seu diaadia Sem uma compreensão exacta desta crise é impossível encontrar novos caminhos para a educação e para os professores Na segunda parte deste texto proponhome justamente reflectir sobre a crise de identidade dos professores sugerindo a necessidade de definir uma nova profissionalidade docente os Professores em crise um MalEstar que se Prolonga Numa sistematização algo simplista é possível constatar a existência de duas grandes tendências na forma de encarar a crise de identidade dos professores A primeira externa à profissão docente tem procurado multiplicar as instâncias de controlo dos professores por via de uma racionalização do ensino ou de práticas administrativas de avaliação subli nhando as dimensões técnicas do trabalho docente A segunda interna à profissão docente tem procurado reencontrar novos sentidos profissionais reconstruindo identidades a partir de dinâmicas de desenvolvimento pessoal e de valorização profissio nal sublinhando as dimensões reflexivas do trabalho docente A primeira tendência corresponde aos esforços de racionalização do ensino levados a cabo des de os anos setenta que têm como objectivo controlar a priori os factores aleatórios e imprevisíveis do acto educativo expurgando o quotidiano pedagógico de todas as práticas de todos os tempos que não contribuam para o trabalho escolar propriamente dito A introdução de modelos racionalistas de ensino procura separar o trabalho de concepção das tarefas de realização ou dito de outro modo procura se parar a elaboração dos currículos e dos programas da sua concretização pedagógica Os professores são vistos como técnicos cuja tarefa consiste essencialmente na aplicação rigorosa de idéias e procedimen tos elaborados por outros grupos sociais ou profissionais A expansão dos especialistas pedagógicos ou em ciências da educação não é alheia a este projecto de racionalização do ensino que põe obviamente em causa a autonomia profissional dos professores Simultaneamente é importante referir uma outra componente deste processo que alguns autores têm designado por proletarização do professorado relacionada com a intensificação do trabalho docen te inflação de tarefas diárias e sobrecarga permanente de actividades e com a introdução de práticas administrativas de avaliação Educação E sociEdadE 7 A intensificação leva os professores a seguirem por atalhos a economizarem esforços a realizarem apenas o essencial para cumprirem a tarefa que têm entre mãos obriga os professores a apoiaremse cada vez mais nos especialistas a esperarem que lhes digam o que fazer iniciandose um processo de depreciação da ex periência e das capacidades adquiridas ao longo dos anos A qualidade cede o lugar à quantidade Finalmente é a estima profissional que está em jogo quando o próprio trabalho se encontra dominado por outros actores7 A racionalização do ensino e a proletarização do professorado são dois momentos de um mes mo processo de controlo externo da profissão docente de um processo que tem na retórica da priva tização do ensino que implica um controlo dos professores pelos clientes a sua face mais visível nos dias de hoje Racionalização proletarização e privatização do ensino são aspectos diferentes de uma mesma agenda política que tende a olhar para a educação segundo uma lógica economicista e a definir a pro fissão docente segundo critérios essencialmente técnicos Segundo essa tendência a saída da crise de identidade dos professores farseia através de uma espécie de nivelamento por baixo de um esvazia mento das aspirações teóricas e intelectuais do professorado de um controlo mais apertado da profis são docente Hoje em dia esta perspectiva está presente em grande parte dos programas de formação inicial e de formação contínua dos professores bem como em muitas das medidas de política educativa tomadas no contexto da vaga reformadora dos anos 8090 A segunda tendência acima evocada interna à profissão docente tem procurado vias distintas de saída da crise baseados em projectos de afirmação da autonomia dos professores e das bases intelec tuais do trabalho pedagógico Nos últimos dez anos a literatura pedagógica foi literalmente invadida por obras e estudos sobre a vida dos professores o stress e o malestar docente as carreiras e os percursos profissionais o desenvolvimento pessoal e profis sional dos professores etc8 Tratase de uma literatura muito he terogénea inspirada pelos mais diversos objectivos mas que tem tido um mérito indiscutível trazer de novo os professores para o centro dos debates educativos O debate pode ser travado pelo lado corporativo acentuando as semelhanças entre os profes sores derivadas de uma assimilação integradora da cultura profissional dominante É o que Albert Shanker um dos mais influentes líderes sindicais dos professores norteamericanos sublinha num discurso pronunciado em 1974 Dez mil novos professores entraram todos os anos no sistema escolar na cidade de New York devido à morte ou à mudança de emprego dos seus colegas Estes novos professores vêm um pouco de todo o lado representam todo o tipo de religiões de raças de opiniões políticas e de formações profissionais É espantoso que após três semanas na sala de aula já ninguém seja capaz de os distinguir dos professores que vieram substituir9 7 APPLE Michael JUNGCK Susan No hay que ser maestro para enseñar esta unidad la en señanza la tecnologia y el con trol en el aula Revista de Edu cación n291 1990 p156 8 Procurei dar conta desta literatura nalgumas obras que editei em Portugal Profissão Pro fessor Porto Porto Editora 1991 Reformas educativas e formação de professores Lisboa Educa 1992 Os professores e a sua formação Lisboa Publicações D Quixote 1992 e Vidas de professores Porto Porto Editora 1992 Educação E sociEdadE 8 No entanto pareceme mais estimulante enfrentar esta questão pelo lado da diversidade sem pôr em causa a adesão a um conjunto de valores de normas de princípios de acção que são elementos constituintes da profissão do cente A atenção exclusiva às práticas de ensino e à gestão do sistema educativo tem vindo a ser acompanhada por um olhar sobre a vida e a pessoa do professor A afirmação seguinte não prima pela originalidade mas merece ser repetida O professor é a pessoa E uma parte importante da pessoa é o professor A forma como cada um de nós constrói a sua identidade profissional define modos distintos de ser professor marcados pela definição de ideais educativos próprios pela adopção de métodos e prá ticas que colam melhor com a nossa maneira de ser pela escolha de estilos pessoais de reflexão sobre a acção É por isso que em vez de identidade prefiro falar de processo identitário10 um processo único e complexo gra ças ao qual cada um de nós se apropria do sentido da sua história pessoal e profissional Porque é que fazemos o que fazemos na sala de aula Que saber mobilizamos na nossa acção pedagógica Através da resposta a estas duas perguntas espero ser capaz de explicar melhor as mi nhas idéias Por que é que Fazemos o que Fazemos na sala de aula A resposta à pergunta Por que é que fazemos o que fazemos na sala de aula levame a evocar a mistura de vontades de gostos de experiências de acasos até que foram consolidando gestos roti nas comportamentos com os quais nos identificamos como professores Cada um tem a sua maneira própria de organizar as aulas de se movimentar na sala de se dirigir aos alunos de utilizar os meios pedagógicos uma maneira que constitui quase uma segunda pele profissional Há aqui um efeito de rigidez que nos torna a todos num certo sentido indisponíveis para a mu dança E é verdade que os professores são por vezes profissionais muito rígidos que têm dificuldade em abandonar certas práticas nomeadamente quando elas foram empregues com sucesso em momen tos difíceis da sua carreira profissional Muitas vezes nos interrogamos sobre as reformas educativas e o modo como elas mudaram as escolas e os professores e no entanto esquecemonos de referir que foram quase sempre os professores que mudaram as reformas seleccionando alterando ou ignorando as instruções emanadas de cima Mas simultaneamente os professores são desde sempre um grupo profissional muito sensível aos efeitos de moda Hoje mais do que nunca as modas invadem o terreno educativo Em grande parte devido à impressionante circulação de idéias e à velocidade quase delirante das inovações tec nológicas A adesão pela moda é a pior maneira de enfrentar os debates educativos porque traduz uma fuga para a frente um opção preguiçosa porque falar de moda dispensanos de tentar com preender A moda é a nãodirectividade vamos todos praticar a nãodirectividade A moda é o trabalho 9 Cf CUBAN Larry How did teachers teach 1890 1980 Theory into Practice v22 n3 1983 p159 10 Ou processo de construção e reconstrução constante da identi dade profissional do docente Educação E sociEdadE 9 de grupo todos a organizar grupos e mais grupos e mais grupos A moda é a pedagogia por objec tivos cumprase a pedagogia por objectivos A moda é o ensino reflexivo vamos todos reflectir já rapidamente e em força A moda são os audiovisuais ou os computadores ou as histórias de vida ou o construtivismo ou o pensamento crítico do professor ou qualquer outra virá e outra ainda sem que para tal sejamos tidos ou achados Em pedagogia a moda significa quase sempre a vontade de mudar para que tudo fique na mesma Ora neste mundo marcado pela velocidade das comunicações e da disseminação das idéias neste mundo invadido por uma inflação tecnológica sem precedentes é preciso que os professores aprendam a cultivar um ceticismo saudável um ceticismo que não é feito de descrença ou de desen canto mas antes de uma vigilância crítica em relação a tudo quanto lhes é sugerido ou proposto A inovação só tem sentido se passar por dentro de cada um se for objecto de um processo de reflexão e de apropriação pessoal Que saber Mobilizamos na Nossa acção Pedagógica A segunda pergunta Que saber mobilizamos na nossa acção peda gógica tem uma resposta mais difícil Durante muito tempo os profes sores limitaramse a mobilizar um saber disciplinar assumindose fun damentalmente como transmissores de um conhecimento científico em História em Biologia ou em Matemática Não espanta que então pela boca de Bernard Shaw11 se lhes tenha lançado o insulto de que ainda hoje se fala Quem sabe faz quem não sabe ensina É um insulto originado numa incompreensão fundamental a idéia de que o ensino é a mera transposição do conhecimento do plano científico para o domínio escolar Como se tal fosse possível sem submeter o conhecimento a uma alquimia complexa que transforma as disciplinas científicas inte gradas nos seus espaços próprios em currículo escolar A tentativa para banalizar este processo não é inocente bem pelo contrário ela é parte integrante de uma ideologia que tende a relacionar a entrada do professorado com o insucesso nas áreas disciplinares de base Para o ensino iriam apenas os medíocres os incompetentes os falhados Vários autores criticaram duramente esta idéia Lee Shulman por exemplo demonstrou que o professor necessita não só de conhecer a matéria que ensina mas também de compreender a forma como este conhecimento se constituiu historicamente E suge riu um novo aforismo Quem sabe faz quem compreende en sina12 Punha assim a tónica na compreensão dos conteúdos momento prévio da sua reformulação e da sua transformação em produtos de ensino o teste definitivo para confirmar a com preensão de um assunto é a capacidade para o ensinar transfor mando o conhecimento em ensino 11 George Bernard Shaw 1856 1950 dramaturgo e escritor irlan dês de expressão inglesa nascido na cidade de Dublin É considerado depois de Shakespeare uma das maiores personalidades da drama turgia inglesa Também foi um ex celente crítico teatral contado entre os melhores de sua geração 12 Ver o artigo de Lee Shulman Knowledge Gro wth in Teaching Educational Researcher v15 n2 p414 Um autor português do princípio do século Eusébio Tamagnini atribui o dito à sabe doria popular Também o povo cujo poder de in tuição é surpreendente com fina ironia comenta quem sabe faz quem não sabe fazer ensina A extinção das escolar normais superiores Arquivo Pedagógico v IV n14 1930 p109 Educação E sociEdadE 10 Os estudos produzidos pelos autores que trabalham nesta tradição intelectual sublinham a im portância de investir a pessoa do professor e de dar um estatuto ao saber emergente da sua experiência profissional fazendo com que os professores se apropriem dos saberes de que são portadores e os tra balhem do ponto de vista teórico e conceptual Os professores não são apenas consumidores mas são também produtores de saber Os professores não são apenas executores mas são também criadores de instrumentos pedagógicos Os professores não são apenas técnicos mas são também profissionais críticos e reflexivos Assim sendo é preciso rejeitar as tendências que apontam no sentido de separar a concepção da execução tendências que põem nas mãos dos professores pacotes curriculares pré desenhados prontos a serem aplicados que procuram sobrecarregar o quotidiano dos professores com actividades que lhes retiram o tempo necessário à reflexão e à produção de práticas inovadoras Estou convencido de que só é possível enfrentar a crise de identidade dos professores a partir destas bases isto é a partir de uma dinâmica de valorização intelectual de uma consolidação da au tonomia profissional de um reforço do sentimento de que somos nós que controlamos o nosso próprio trabalho É esta segurança profissional que pode levar os professores a saírem do desconforto e do malestar em que têm vivido Escola e sociedade investir Positivamente Todos os Poderes Na primeira parte procurei alertar contra os perigos da idéia de uma escolatodapoderosa uma escolajusticeira cujos professores estariam investidos de uma missão de moralização da sociedade Na segunda parte discuti alguns aspectos da crise de identidade dos professores defendendo que a saída desta crise não passa pela multiplicação de controlos externos mas antes por um trabalho de reflexão interno à própria profissão docente Gostaria para terminar de juntar estas duas idéias insis tindo em que uma nova relação entra a escola e a sociedade tem de basearse simultaneamente num respeito pelo direito das famílias e das comunidades a participarem na acção educativa e num respeito pela autonomia e pelas competências profissionais dos professores Ao longo da história estes dois direitos melhor dizendo estes dois poderes foram quase sempre considerados antagónicos Pessoalmente estou convencido de que não é possível qualquer mudança na arena educativa sem um investimento positivo destes dois poderes Encontrar as estraté gias mais adequadas para o fazer pareceme pois uma das tarefas essenciais de qualquer esforço de inovação educacional Para que este investimento positivo tenha lugar é preciso assegurar pelo menos duas con dições a primeira é que não seja negado às famílias sobretudo às famílias dos meios populares o direito de decidirem e de participarem na educação dos seus filhos a segunda é que os esforços de reforma educativa não tomem os professores como culpados da crise actual dos sistemas de ensino o Poder das Famílias e das comunidades A idéia de que todos os cidadãos mais pertencem à Pátria do que a seus próprios pais para uti Educação E sociEdadE 11 lizar uma idéia corrente no tempo da Revolução Francesa13 foi muitas vezes mobilizada pelos corpos docentes para afastarem as famílias dos processos educativos Sobretudo para afastarem as famílias provenientes dos meios mais pobres e desfavorecidos No decurso da história a escola foise impondo como o meio privilegiado para edu car as crianças olhadas cada vez mais como futuro e não como presente Monopólio é a palavra certa para descrever a forma como a igreja séculos XVI a XVIII e depois o Estado séculos XVIII a XX ocuparam o campo educativo tornando ilegítima a intervenção dos outros actores sociais A pouco e pouco as famílias e as comunidades viramse afastadas da coisa educativa todas as razões serviram para justificar este afastamento a ignorância dos pais os maus costumes das famílias a influência nefasta do meio social etc os discursos foram assumidos em primeira linha pelos professores que demarcaram a sua condição de especialistas contra os agentes educativos naturais Refirase a este propósito a forma como tradicionalmente se procurou negar aos analfabetos o direito de intervirem na escolaridade dos seus filhos Muitas vezes lhes foi mostrado o engano desta pretensão com o argumento de que não tinham capacidade para se debruçarem sobre um assunto que desconheciam Pior ainda quando foram chamados à escola tratouse quase sempre não de os ouvir mas de os criticar por certos hábitos ou comportamentos caseiros Outra estratégia para afastar as famílias dos meios populares das decisões em matéria escolar prendese com a adopção acrítica das teses do fatalismo sociológico ou cultural que serviram muitas vezes como uma espécie de discurso de legitimação de certos professores para continuarem a levar a cabo práticas pedagógicas socialmente discriminatórias pois se os investigadores e os sociólogos já tinham demonstrado cientificamente que as crianças dos meios desfavorecidos estão condenadas ao fracasso Sabemos que não foi isto que os investigadores demonstraram mas sabemos também de que forma estas teses foram utilizadas como discurso de autojustificação dos professores Philippe Perrenoud critica numa curiosa analogia com a justiça as correlações causais que se estabelecem freqüentemente entre a origem social dos alunos e o insucesso escolar Diz ele14 A justiça tal como a escola também fabrica julgamentos Tome mos como variável a explicar o roubo A partir das estatísticas penais é relativamente fácil estabelecer uma forte correlação entre a condenação por roubo e os níveis salariais dos condenados Muito bem mas o que é que podemos daqui concluir Que os pobres têm uma maior propensão para o roubo É a interpretação mais imediata Mas podemos imaginar muitas outras É provável que a polícia encontre e prenda mais facilmente os ladrões com poucas pos ses É provável também que se consigam mais facilmente provas ou confissões É provável ainda que as pessoas com mais posses tenham mais facilidade em obter acordos extrajudiciais Além de que os pobres não têm dinheiro para contratar bons advogados Ou para recorrer das decisões proferidas nos tribunais de 1ª instância Esta analogia põenos de sobreaviso quanto às conclusões demasiado rápidas sobre o fenómeno do insucesso E obriga a escola a repensar a sua própria acção e a forma como pode contribuir para aumentar ou para diminuir as desigualdades sociais 13 Em 1789 14 Esta passagem é a adaptação de uma reflexão apresentada num texto de Philippe Perrenoud De quoi la réussite scolaire estelle fai te Éducation et Recherche n1 1986 p133160 Educação E sociEdadE 12 Estes são apenas dois exemplos entre muitas outras estratégias que procuram pôr em causa o direito legítimo das comunidades a participarem na educação dos seus filhos Hoje em dia é impos sível imaginar qualquer projecto de inovação e de mudança que não passe pelo investimento positivo dos poderes das famílias e das comunidades por uma democratização do sucesso e não apenas do acesso à escola por uma participação efectiva de todos os actores sociais na vida das escolas o Poder dos Professores Para que as relações entre a escola e a sociedade se estabeleçam em novos moldes é preciso simultaneamente investir positivamente os poderes dos professores Não estou a defender um novo monopólio sobre a arena educativa desta vez uma monopólio profissional que conduz quase sem pre a práticas totalitárias Quero dizer sim que não é possível conceber a mudança com base numa espécie de culpabilização e de desvalorização dos professores tal como aconteceu em muitas das reformas educativas dos anos oitenta Os professores encontramse hoje perante vários paradoxos Por um lado são olhados com desconfiança acusados de serem profissionais medíocres e de terem uma formação deficiente por outro lado são bombardeados com uma retórica cada vez mais abundante que os considera elementos essenciais para a melhoria da qualidade do ensino e para o progresso social e cultural Pedeselhes quase tudo Dáselhes quase nada O desabafo de um professor português do princípio do século farto já naquela época da retórica dos professoresmissionários tem ainda hoje algum sentido Ser professor não é um sacerdócio é um suicídio Não é uma vocação é uma abdi cação dos direitos mais rudimentares da existência E pelo visto chegam a espantar que o Estado misericordioso não pensasse ainda em exigir ao professor primário o voto de castidade perpétua para que ele seja em tudo o monge moderno Já o é na obediên cia já o é na pobreza voluntária15 Por outro lado e este é um novo paradoxo a segunda metade do século XX assistiu ao de senvolvimento de uma atenção sem precedentes em relação às crianças Mas simultaneamente as condições de vida social sobretudo a expansão do trabalho feminino levaram a que os pais tenham cada vez menos tempo para cuidarem dos seus filhos projectando na escola desejos e ansiedades de todo o tipo Pedese quase tudo aos professores Dáselhes quase nada É pelo meio destas várias contradições que os professores têm de refazer uma identidade profis sional ao nível individual e colectivo Uma identidade que se diz por novas imagens e que já não se satisfaz com o simplismo das antigas metáforas do professorescultor que molda a matéria prenhe de todas as possibilidades que é a criança do professorpiloto conduzindo a barca da educação pelo meio das tormentas sociais ou do professorespelho pondo diante dos olhos dos meninos bons originais que eles possam imitar Que já não se satisfaz sequer com a metáfora mais célebre da pedagogia da qual somos todos de um ou de outro modo herdeiros o professorjardineiro 15 Artigo publicado na revista Educação Nacional n381 de 10 de janeiro de 1904 Educação E sociEdadE 13 Concebo a faina do professor à semelhança da do jardineiro Em que consiste em última análise o trabalho característico do jardineiro Preparar para a pessoa um ambiente benéfico e rodeála do necessário para que suba ao Espírito educando se a si pela força própria pela autodisciplina da actividade espontânea em comu nidades fraternas Por outras palavras dispor o ambiente de tal maneira que ele ajude o formando a educarse a si mesmo Ninguém diz à roseira que ela deve florir ninguém a manda florir se lhe derem as condições que lhes são favoráveis os botões virão hãode abrirse à luz16 Quantas vezes utilizamos esta imagem para nos dizermos professores Esquecendonos no en tanto de mencionar os instrumentos utilizados pelo jardineiro as tesouras as enxadas os alicates os ancinhos os sachos as forquilhas Ou esquecendonos de olhar para os seus gestos cortar podar enxertar torcer atar arrancar É preciso confessar que a metáfora perde grande parte da sua beleza original E põenos perante o outro lado de todo e qualquer projecto educativo E obriganos a opções as opções que cada um de nós tem de fazer e que cruzam a nossa maneira de ser com a nossa maneira de ensinar e que desvendam na nossa maneira de ensinar a nossa maneira de ser Actualmente a literatura pedagógica tem tendências para utilizar metáforas mais conceptuais e menos simbólicas os professores como investigadores os professores como profissionais reflexivos os professores como experimentadores os professores como decididores os professores como cons trutores do currículo etc apesar das suas diferenças é possível encontrar nestas imagens três linhas de consenso delineadas em torno da valorização das dimensões teóricas e intelectuais do trabalho docente da vontade de construir o saber de referência da profissão docente e a partir de uma reflexão dos próprios professores sobre as suas práticas da certeza de que o professorado não pode continuar submetido a controlos técnicos e burocráticos e tem de gozar de uma efectiva autonomia profissio nal Durante muito tempo os poderes das comunidades e dos professores estiveram em conflito A tese principal que gostaria de sublinhar é que o entendimento em novos moldes dessa relação implica uma compreensão exacta do que se exige hoje na escola e a afirmação radical de que estes dois poderes não se excluem mas antes se incluem se articulam em torno de um mesmo projecto de democratização da escola O debate deve ser travado frente a frente E admitir todas as hipóteses Começando por ques tionar o papel do Estado na gestão dos assuntos educativos e obviamente o estatuto tradicional dos professores É possível que após os ciclos da Igreja e do Estado estejamos agora a assistir a uma nova reconfiguração do campo educativo A agenda da privatização do ensino é um sintoma claro deste fenómeno encarada pela perspectiva da eficácia e da competitividade económica Pela minha parte prefiro equacionar a questão pelo lado da participação e da solidariedade social Uma coisa é certa o fim previsível do Estado educador obriganos a pensar em novos moldes as relações entre a escola e a sociedade privilegiando no triângulo o lado que une os vértices professores e famílias 16 Retiro a citação de um texto do ensa ísta português António Sérgio Paidéia In Ensaios VII Lisboa Livraria Sá da Costa 1954 Todavia seria possível apresentar exemplos da mesma metáfora em quase todas as línguas do mundo Educação E sociEdadE 14 comunidades A sociedade de comunicação a sociedade tecnológica em que vivemos tem ajudado a emergên cia de uma consciência planetária Mas tem criado também novas exclusões sociais mantendo largas camadas sociais à margem dos benefícios científicos e culturais Talvez como diz Pierre Bourdieu a grande miséria do mundo tenha retrocedido menos no entanto do que se costuma apregoar mas é importante compreender que temos assistido a um desenvolvimento sem precedentes de todas as formas da pequena miséria17 É por isso que a escola e os professores não se podem limitar a reproduzir um discurso tecno crático socialmente asséptico culturalmente descomprometido Todo o silên cio é cúmplice e não podemos calar a voz das injustiças que se reproduzem também através da escola Na verdade o que distingue a profissão docente de muitas outras profissões é que ela não se pode definir apenas por critérios técnicos ou por competências científicas Ser professor implica a adesão a princípios e a valores e a crença na possibilidade de todas as crianças terem sucesso na escola A educação não pode portanto ser encarada unicamente segundo uma lógica económica ou tec nológica segundo uma perspectiva de eficácia ou de racionalização Nos dias que ocorrem o fim das grandes ideologias convidanos a uma redescoberta da função social da utopia das pequenas utopias que dão sentido ao nosso trabalho quotidiano como educadores Exercer o ofício e reflectir sobre o ofício que se exerce por um lado esforçarse por seguir uma conduta de cidadão e reflectir sobre o significado e as condições da cidadania por outro lado eis talvez os dois pólos em volta dos quais roda hoje o filosofar essa insatisfeita actividade que assume as perplexidades para tentar superálas criticamente sem excluir outras rotas além daquelas que julga dever traçar Vitorino Magalhães Godinho 1971 É tempo de acabar Em tudo que ficou dito peçovos que vejam apenas a vontade de pensar convosco alguns problemas que afectam os professores de reflectir sobre o ofício que exerço e sobre as condições actuais da cidadania que passam também pelas escolas Enquanto historiador interrogome muitas vezes sobre os actores e os grupos que pensam o futuro que têm uma vi são ampla das mudanças sociais e das suas implicações para a educação E deparome com uma situação no mínimo pro blemática18 Durante muito tempo a classe política produziu um pensamento prospectivo sobre o futuro das sociedades e sobre as melhores estratégias para o antecipar Hoje em dia os aparelhos de Estado estão demasiado ocupados na gestão das diversas crises nacionais e internacionais e os partidos políticos deixaram de ser lugares de doutrina e transformaramse em máquinas eleitorais orientadas para a participação no poder e nas instituições Os políticos visionários são cada vez mais raros e a maior parte limitase a gerir o curto prazo 17 Refirome a um dos úl timos trabalhos de Pierre Bourdieu La misère du mon de Paris Seuil 1993 18 Esta passagem do texto é inspirada num es crito de Philippe Perrenoud Lécole doitelle suivre ou anticiper les changements de société Genève Service de la Recherche Sociologique 1991 Educação E sociEdadE 15 Em termos gerais os sindicatos deixaram de ser forças utópicas dinamizadas pela idéia de um futuro diferente as incertezas e as crises económicas mobilizam mais um discurso de aparelho e de lógica negocial do que uma acção em prol de uma sociedade diferente Os meios de comunicação social desempenharam no passado um importante papel doutrinal sobretudo a imprensa escrita Hoje a lógica dominante é a competição pelo mercado publicitário e a imprensa deixou de ter um papel decisivo na tarefa de pensar o futuro e de avançar novos projectos de sociedade Os próprios intelectuais estão cada vez mais enredados nas teias da sociedade do espetáculo que compra as idéias na moda e que evita uma reflexão coerente e sistemática o seu trabalho é ven dido no mercado mediático e é avaliado pelo sucesso imediato Os investigadores e os cientistas são cada vez mais numerosos mas rareiam os verdadeiros sábios munidos de uma cultura filosófica e conhecedores de várias disciplinas O trabalho científico está fragmentado e especializado é enorme a falta de sábios capazes de produzirem sínteses do conhe cimento que ajudem as sociedades a pensarem e a pensaremse Algumas fundações e organizações têm realizado uma importante acção prospectiva mas pela sua própria natureza estas organizações estão dependentes de equilíbrios políticos frágeis ou de patrocínios económicos que neutralizam os aspectos críticos e inovadores do seu trabalho Nas multinacionais e nas grandes empresas encontramse forças coerentes de previsão do fu turo e existe por vezes uma definição clara das necessidades em matéria de educação mas estas organizações não são instâncias democráticas e podemos recear um mundo no qual as forças visio nárias estariam totalmente dependentes de estratégias de lucro de crescimento e de conquista de mercados O inventário poderia continuar encaminhandonos pouco a pouco para a constatação de que a escola é talvez o lugar onde se concentra hoje em dia o maior número de pessoas altamente qualifica das que se encontram relativamente protegidas dos confrontos políticos das competições comerciais e das tentações gestionárias Será que pertence à escola um papel primordial na tarefa de pensar no futuro Provavelmente sim Para os professores o desafio é enorme Eles constituem não só um dos mais numerosos grupos profissionais mas também um dos mais qualificados do ponto de vista académico Grande parte do potencial cultural e mesmo técnico e científico das sociedades contemporâneas está concentrada nas escolas Não podemos continuar a desprezálo e a minorizar as capacidades dos professores Para muitos o heroísmo consiste apenas em sobreviver em não se deixar arrastar pela descrença e pelo desânimo Não se pode sonhar à força E ninguém sonha unicamente para agradar aos outros Mas quantos dentre nós nos mantemos aqui de corpo inteiro de sentimento inteiro com a consciência de que na profissão docente é impossível separar o eu profissional do eu pessoal sem ilusões que os tempos presentes não estão para tal mas na certeza de que ser professor é uma profissão que só assim vale a pena ser vivida Educação E sociEdadE 16 Referências APPLE M JUNGCK S No hay que ser maestro para enseñar esta unidad la enseñanza la tecnologia y el control en el aula In Revista de Educación n291 1990 CUBAN L How did teachers teach 18901980 Theory into Practice v22 n3 1983 HOUSSAYE J Lesclave pédagogue et ses dialogues Éducation et Recherche n11984 LIMA A Educação e Ensino Educação Integral Lisboa Guimarães e Cª Editores 1914 Perrenoud P De quoi la réussite scolaire estelle faite In Éducation et Recherche n1 1986 Lécole doitelle suivre ou anticiper les changements de société Genève Service de la Recherche So ciologique 1991 SANTOS B S Introdução a uma ciência pósmoderna Porto Edições Afrontamento 1989 SHULMAN L Knowledge Growth in Teaching In Educational Researcher v15 n2 Apóstolos das luzes Esta expressão está ligada à concepção defendida pelo Iluminismo ou filosofia das luzes que teve seu berço na França no século XVIII Em linhas gerais esta corrente de pensamento entendia que a luz do conhecimento ou da razão deveria iluminar com o fulgor do saber todos os seres humanos Os professores então seriam os portadores dessa luz que viriam a partilhar com seus alunos ao iluminarlhes o espírito pelo saber Arauto Do frâncico heriald chefe do exército pelo fr héraut S m 1 Nas monarquias da Idade Média oficial que fazia as proclamações solenes conferia títulos de nobreza transmitia mensagens anunciava a guerra e proclamava a paz 4 P ext Defensor lutador propugnador Aurélio Eletrônico BOURDIEU Pierre 19302002 É considerado o maior nome da Sociologia na França contemporânea responsável por uma renovação das Ciências Sociais que alcançou universidades de todo o mundo Titular desde 1982 da cadeira de Sociologia do Collège de France Bourdieu seguiu a partir dos anos 90 uma tradição da vida cultural francesa que vai de Émile Zola a JeanPaul Sartre ao projetarse cada vez mais como um intelectual público protagonista de polêmicas na imprensa e engajado em causas políticas Não há democracia efetiva sem um verdadeiro contrapoder crítico O intelectual é um deles e de primeira grandeza httpwwwhommemoderneorgsocietesociobourdieumortjdb25012html Caleidoscópio ciências da educação Com esta expressão metafórica o autor referese às inúmeras diferenças e pecu liaridades de cada área do conhecimento que compõe as chamadas ciências da educação a Filosofia da Educação a História da Educação a Psicologia da Educação dentre outras sendo que cada uma delas tem seus próprios objetos de investigação e seus procedimentos metodológicos específicos Ceticismo De céptico ismo S m 1 Filos Atitude ou doutrina segundo a qual o homem não pode chegar a qual quer conhecimento indubitável quer nos domínios das verdades de ordem geral quer no de algum determinado domínio do conhecimento Aurélio Eletrônico Faina Do cat ant faena com hiperbibasmo S f 1 Mar Atividade ou trabalho a que concorre ponderável parcela da tripulação de um navio 2 P ext Qualquer trabalho aturado lida azáfama Aurélio Eletrônico Fatalismo De fatal ismo S m 1 Filos Atitude ou doutrina que admite que o curso dos acontecimentos está pre viamente fixado nada podendo alterálo Aurélio Eletrônico O fatalismo sociológico ou cultural citado pelo autor é uma perspectiva teórica a mais das vezes não explicitada que en tende as condições sociais e culturais em que nasce um indivíduo como determinantes absolutos de seu destino social A M N Z Educação E sociEdadE 17 FERRIÈRE Adolphe 18791960 Um dos educadores franceses que fez parte do Movimento da Escola Nova Este Movimento é de renovação do ensino foi especialmente forte na Europa na América e no Brasil na primeira metade do século XX Escola Ativa ou Escola Progressiva são termos mais apropriados para descrever esse movimento que apesar de muito criticado ainda pode ter muitas idéias interessantes a nos oferecer Os primeiros grandes inspiradores da Escola Nova foram o escritor JeanJacques Rousseau 17121778 e os pedagogos Heinrich Pestalozzi 17461827 e Frei drich Fröebel 17821852 O grande nome do movimento na América foi o filósofo e pedagogo John Dewey 18591952 O psicólogo Edouard Claparède 18731940 e o educador Adolphe Ferrière entre muitos outros foram os expoentes na Europa No Brasil as idéias da Escola Nova foram introduzidas já em 1882 por Rui Barbosa 18491923 No século XX vários educadores se destacaram especialmente após a divulgação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 Podemos mencionar Lourenço Filho 18971970 e Anísio Teixeira 19001971 grandes humanistas e nomes im portantes de nossa história pedagógica Estudaremos detalhadamente este movimento e seus principais representantes nos Cadernos de Formação em História da Educação e de Filosofia da Educação httpwwweducacionalcombrpaisglossariopedagogicoescolanovaasp Gramática do ensino Esta expressão designa para o autor a criação de normas e estruturas de regras simbólicas que ordenamregulam o ensino e a própria caracterização da escola e suas funções sociais aceita pelos educadores Idílico De idílio ico2 Adj 1 Relativo a idílio 2 Que lembra o idílio pelo ambiente campestre e pelo amor suave e terno próprio de idílio um cenário idílico Aurélio Eletrônico Monopólio Do gr monopólion pelo lat monopoliu S m 2 Controle exclusivo de uma atividade atribuído a determinada empresa ou entidade 3 A atividade da qual se atribui controle exclusivo Aurélio Eletrônico Motu próprio moto 1 Do lat motu S m 1 Movimento giro De moto próprio 1 De vontade própria espontanea mente Aurélio Eletrônico Nãodiretivas escolas A concepção de uma escola nãodiretiva basicamente consiste em entender que a escola e por extensão os alunos devem criar mecanismo de autoregulação de modo a formar os alunos numa perspectiva libertária Esta concepção porém embora positiva em princípio chocase com todo um contexto social que não convive positiva mente com esse tipo de orientação ORTEGA Y GASSET José 18831955 Filósofo e reconhecido intelectual espanhol Depois de estudar com os je suítas e de doutorarse em 1904 na universidade de sua cidade natal prosseguiu os estudos filosóficos na Alemanha De regresso à Espanha com apenas 27 anos foi nomeado catedrático de metafísica da Universidade de Madri Sob seu magistério formaramse várias gerações de intelectuais espanhóis entre os quais Xavier Zubiri Julián Marías e Manuel García Morente Criador de revistas como España 1915 e do jornal El Sol 1917 em 1923 fundou a conceituada Revista de Occidente que por meio de suas páginas e da editora do mesmo nome divulgou na Espanha o pensamento europeu e a obra dos principais pensadores e literatos nacionais A obra de Ortega y Gasset sempre sintonizada com a realidade de seu tempo apareceu com freqüência em colaborações e ensaios jornalísticos depois reunidos em livros A primeira fase de estudos como Meditaciones del Quijote 1914 e El tema de nuestro tiempo 1923 levou à elaboração da filosofia da razão vital que se sintetiza em sua famosa sentença Yo soy yo y mis circunstancias afirmação cabal de que a realidade é interação entre o eu e tudo o que o rodeia ou condiciona A vida assim é a autêntica realidade dinâmica e mutável e a razão só se concebe com base nesse dinamismo Em La rebelión de las masas 1929 um de seus livros mais polêmicos Ortega y Gasset postula que dada a progressiva massificação da sociedade contemporânea a liderança social deve caber a uma minoria intelectual aceita pelos demais cidadãos httpwwweducfculptdocentesopombohfeortega Penélope Personagem mítica grega esposa de Ulisses ou Odisseu rei de Ítaca por volta do século VII aC cuja estó ria é narrada na Odisséia de Homero Depois de ter participado da Guerra de Tróia e já na volta a sua ilha natal Ítaca Ulisses é castigado por ofensa dirigida aos deuses e perdese em sua viagem demorando dez anos no mar Durante esse tempo Penélope era assediada por candidatos ao trono de Ítaca que queriam desposála Fiel a Ulisses ou talvez desencantada dos candidatos Penélope lhes disse um dia que só se decidiria a escolher um novo marido no dia em que terminasse a obra de tecido que estava fazendo Encantados com a perspectiva de uma decisão rápida os aspirantes a rei se conformam a esperar Ocorre que Penélope à noite desmanchava todo o trabalho que fizera durante o dia dando assim tempo a Ulisses de retornar A metáfora utilizada pelo autor diz respeito à escola como uma nova Penélope que Educação E sociEdadE 18 educa durante umas horas do dia para seu trabalho ser desmanchado em seguida Proletarização De proletarizar ção S f Sociol 1 Processo social pelo qual indivíduos de camadas superiores perdem seu status social ou tornandose proletários ou adquirindo uma consciência específica própria do proletariado Proletariado De proletário ado2 S m 1 A classe dos proletários 2 Estado ou condição de proletário 3 Camada social formada de indivíduos que se caracterizam por sua qualidade permanente de assalariados e por seus modos de vida atitudes e reações decorrentes de tal situação Aurélio Eletrônico Prospectivo Do lat tard prospectivu Adj 1 Que faz ver adiante ou ao longe 2 Concernente ao futuro Aurélio Eletrônico Sacho Do lat sarculu pela f sarclu S m 1 Pequena enxada estreita e longa em geral com uma orelha 3 pontia guda ou bifurcada na parte superior acima do olho Aurélio Eletrônico Socialmente asséptico O autor aponta com esta expressão um tipo de discurso que segundo ele os educadores devem evitar limpo asséptico dos fatores sociais e culturais SOUSA SANTOS Boaventura Doutor em sociologia do direito pela Universidade Yale EUA professor titular da Universidade de Coimbra é hoje conhecido como um dos principais senão o principal intelectual da língua portuguesa na área de ciência sociais Entre seus diversos livros dois deles publicados recentemente no Brasil merecem destaque Pela Mão de Alice e A Crítica da Razão Indolente Nascido em Portugal Boaventura teve a sua trajetória intelectual inti mamente ligada ao Brasil Desde a pesquisa sobre pluralismo legal feita nas favelas do Rio de Janeiro nos anos 70 às suas constantes visitas a Porto Alegre para estudar o orçamento participativo o país sempre esteve associado às preocupa ções do autor Atualmente o professor Boaventura está envolvido em uma pesquisa sobre a reinvenção da emancipação social Para ele existe no mundo atual uma enorme dissociação entre a experiência e a expectativa Formação Geral Introdução à Educação Bloco1 Módulo 1 Disciplina 1 Educação e Sociedade Universidade Estadual de Alagoas Curso de Profissão Docente e Prática Educativa NOME DO ALUNO RESENHA CRÍTICA ACERCA DO ARTIGO RELAÇÃO ESCOLASOCIEDADE CIDADE 2024 NOME DO ALUNO RESENHA CRÍTICA ACERCA DO ARTIGO RELAÇÃO ESCOLASOCIEDADE Resenha realizada como exigência parcial de nota do curso de profissão docente e prática educativa Universidade Estadual de Alagoas solicitado pela Professora Ivana Carla de Oliveira CIDADE 2024 Introdução A relação entre a escola e a sociedade é um tema complexo e multifacetado que tem sido amplamente debatido e refletido ao longo da história O texto apresentará uma análise aprofundada dessa temática problematizando visões simplistas que enxergam a escola ora como redentora da sociedade ora como mera reprodutora de desigualdades Ademais o texto defende que qualquer mudança educativa deve envolver os diversos atores sociais apresentando uma visão integradora que compreende a complexidade do sistema escolar Essa perspectiva é relevante ao se propor repensar as relações entre a escola a sociedade e o papel dos docentes superando visões dicotômicas e valorizando a autonomia e o protagonismo dos professores como agentes essenciais para a transformação educacional e social Dessa forma a análise convida a uma reflexão crítica sobre as múltiplas dimensões que permeiam a relação entre a escola e a sociedade apontando caminhos para a construção de uma educação mais democrática e integrada à realidade social Relação EscolaSociedade Novas Respostas Para um Velho Problema O texto apresenta uma reflexão relevante sobre a relação entre a escola e a sociedade questionando a visão tradicional que enxerga a escola como a grande impulsionadora do progresso civilizacional O autor inicia destacando as advertências de Ortega y Gasset sobre o erro fundamental de se supor que as nações são grandes devido à qualidade de suas escolas salientando que ele se aplica a outros aspectos como a política a economia a justiça e a saúde Na primeira parte o autor alerta contra os perigos de se ter visões extremadas da escola seja como uma salvadora da sociedade seja como mera reprodutora desta Essa é uma análise relevante pois de fato a escola não pode carregar sozinha todo o peso das transformações sociais sendo necessário compreendêla dentro de um contexto mais amplo Na segunda parte o texto aborda a crise de identidade dos professores e a necessidade de reforçar a sua autonomia profissional Esse é um ponto crucial pois os docentes têm um papel fundamental na mediação entre a escola e a sociedade e precisam de maior protagonismo e valorização para exercer sua função de forma plena Na terceira parte o autor defende que qualquer mudança educativa deve envolver os diversos poderes em jogo na arena educativa apresentando uma visão integradora que compreende a complexidade do sistema escolar Essa perspectiva é importante pois entende que a transformação da escola não depende apenas dela mesma mas da atuação conjunta de diferentes atores sociais Ao final o autor faz uma analogia com a reflexão de Boaventura Sousa Santos sobre o fato de o prodigioso desenvolvimento científico não ter se traduzido em uma maior sabedoria do mundo Dessa forma ele sugere a necessidade de uma outra ciência e por extensão outra escola que não se baseie no excesso do mesmo mas na aceitação do outro reconhecendo a pluralidade de sentidos e os limites de sua interpretação e ação De modo geral o texto traz uma análise aprofundada e crítica sobre a relação entre escola e sociedade problematizando visões simplistas e apontando caminhos para uma transformação educativa mais ampla e participativa A Escola e os Professores como Regeneradores da Sociedade O texto apresenta uma análise aprofundada da famosa história O Diabo e a Escola escrita por Adolphe Ferrière no livromanifesto da Educação Nova Essa análise revelase bastante relevante por iluminar as transformações no entendimento sobre o papel da escola na sociedade Inicialmente o texto destaca como a história de Ferrière representa uma mudança significativa de paradigma em relação à visão tradicional da escola que sempre havia sido enxergada como uma instituição inequivocamente benéfica e promotora do progresso civilizacional Agora a escola é apresentada por um dos brilhantes pedagogos dos anos 1920 como uma criação diabólica desafiando essa noção consolidada O autor aponta que ao longo do século XIX em paralelo com a emergência de novos modos de governo e afirmação dos EstadosNação a escola se transformou em um elemento central no processo de homogeneização cultural e invenção da cidadania nacional Através da atribuição de um dado arbitrário cultural de aparências de naturalidade a escola desempenhou um papel crucial na concessão ao Estado do monopólio da violência simbólica que se quis legítima Dessa forma a escola passou a ser vista como uma instituição fundamental para a afirmação dos EstadosNacionais Esse modelo escolar caracterizado por aspectos como a organização dos alunos em classes graduadas e homogêneas a atuação individual dos professores a estruturação de espaços e tempos escolares rígidos a organização dos saberes em disciplinas entre outros elementos se impôs como a via única de fazer escola excluindo todas as outras possibilidades No entanto o texto ressalta que a história de Ferrière não visa esconjurar a escola enquanto instituição mas sim a escola antiga pois a escola nova é entendida como fundamentalmente libertadora e capaz de formar um Homem novo incapaz de se lançar nos horrores da Guerra Dessa forma a crítica da Educação Nova à instituição escolar termina de modo algo paradoxal por reafirmar uma crença quase ilimitada nas potencialidades regeneradoras da escola Em síntese o texto oferece uma análise crítica relevante e aprofundada sobre as transformações no entendimento do papel da escola na sociedade apontando como a história de Ferrière representa uma mudança de paradigma mesmo que sua crítica à escola antiga acabe por reafirmar uma visão quase redencionista da escola Profissionalização do Professorado e Ciências da Educação O texto apresenta uma análise histórica e crítica profunda sobre o processo de profissionalização do professorado destacando como este acompanhou uma política de normalização e controle estatal sobre a atividade docente O autor inicia apontando que a criação das escolas normais foi fundamental para disciplinar os professores transformandoos em agentes do projeto social e político da modernidade Nesse contexto os discursos e práticas produzidos nessas instituições buscaram edificar um novo modelo de professor no qual as antigas referências religiosas se cruzavam com o papel de servidores do Estado e da sua razão Essa redefinição dos professores como profissionais a serem geridos segundo padrões institucionais próprios é compreendida como parte integrante de um processo mais amplo de construção das ciências sociais modernas no qual a afirmação da cientificidade da pedagogia desempenhou um papel central O autor destaca como essa cientificização implicou a defesa da objetividade e a rejeição da história apresentando a evidência científica como um fenômeno natural e não como uma construção social Paradoxalmente o autor aponta que a Educação Nova ao criticar a escola antiga acabou por reafirmar e aprofundar essa gramática da escola mantendo uma crença total nas suas potencialidades regeneradoras Dessa forma a imagem da escola e da profissão docente que se consolidou nesse período ainda hoje nos assombra com a noção de que os professores teriam um papel de reparação ou regeneração da sociedade No entanto o texto argumenta que essa perspectiva excessivamente redentora da escola e do professorado foi severamente criticada décadas depois nos debates dos anos 1960 Nesse contexto a escola e os professores foram acusados de não cumprir suas promessas e de contribuir para a reprodução das desigualdades sociais O autor destaca que outrora vistos como apóstolos das luzes os professores passaram a ser olhados e acusados como meros agentes de reprodução o que gerou uma profunda crise de identidade na profissão docente Diante dessa crise o autor defende a necessidade de se repensar radicalmente as relações entre a escola e a sociedade abandonando sonhos antigos de uma escola transformadora e evitando a culpabilização dos professores pelos problemas sociais Nesse sentido propõe a definição de uma nova profissionalidade docente que afirme a dimensão ética e militante da profissão sem alimentar utopias excessivas que se voltem contra os próprios docentes Em suma o texto oferece uma análise histórica e crítica extremamente relevante sobre o processo de profissionalização do professorado destacando as implicações dessa dinâmica na construção de uma determinada imagem da escola e do papel dos docentes bem como a necessidade de se repensar esse modelo de forma mais realista e integrada à complexidade da realidade social Os Professores em Crise Um MalEstar que se Prolonga O texto apresenta uma análise aprofundada sobre as duas principais tendências que têm marcado a forma de se encarar a crise de identidade dos professores O autor identifica essas duas tendências de forma bastante sistemática A primeira tendência externa à própria profissão docente é caracterizada pelos esforços de racionalização do ensino levados a cabo desde os anos 1970 que buscam controlar a priori os fatores imprevisíveis e aleatórios do ato educativo Isso se manifesta na tentativa de separar o trabalho de concepção das tarefas de realização pedagógica relegando os professores a meros técnicos cuja função se restringe à aplicação rigorosa de ideias e procedimentos elaborados por outros grupos O autor ressalta que essa tendência à racionalização do ensino está intimamente relacionada à expansão dos especialistas pedagógicos ou em ciências da educação que acabam por pôr em causa a autonomia profissional dos docentes Além disso destacase nesse processo a proletarização do professorado marcada pela intensificação do trabalho docente e a introdução de práticas administrativas de avaliação que acabam por desvalorizar a experiência e as capacidades adquiridas pelos professores ao longo de suas trajetórias O autor argumenta que a racionalização a proletarização e a privatização do ensino são aspectos diferentes de uma mesma agenda política que tende a encarar a educação sob uma lógica economicista e a definir a profissão docente segundo critérios essencialmente técnicos Essa perspectiva propõe uma saída da crise mediante um nivelamento por baixo um esvaziamento das aspirações intelectuais dos professores e um controle mais apertado da profissão Por outro lado a segunda tendência interna à própria profissão docente tem buscado vias distintas de saída da crise baseadas em projetos de afirmação da autonomia dos professores e das bases intelectuais do trabalho pedagógico Nesse sentido destacase a emergência nos últimos anos de uma vasta literatura que traz novamente os professores para o centro dos debates educativos abordando aspectos como o stress o desenvolvimento pessoal e profissional etc O autor argumenta que essa tendência interna à profissão docente enfrenta a questão da identidade pela ótica da diversidade sem negar a adesão a um conjunto de valores e princípios comuns Isso implica reconhecer que a pessoa do professor é indissociável da identidade profissional e que esta se constrói de forma singular a partir da definição de ideais educativos próprios da adoção de métodos e práticas alinhados à sua maneira de ser e da escolha de estilos pessoais de reflexão sobre a ação Em suma o texto oferece uma análise crítica bastante aprofundada das duas principais tendências na forma de se encarar a crise identitária dos docentes ressaltando que a saída dessa crise passa pela afirmação da dimensão intelectual e autônoma do trabalho pedagógico em oposição a uma visão meramente técnica e racionalizadora da profissão Por que é que Fazemos o que Fazemos na Sala de Aula O texto apresenta uma reflexão crítica importante sobre as razões que levam os professores a agirem de determinada forma em sala de aula destacando o papel da identidade profissional na construção dessas práticas O autor argumenta que cada professor desenvolve uma maneira própria de organizar as aulas de se movimentar de se dirigir aos alunos de utilizar os recursos pedagógicos que se torna quase uma segunda pele profissional Há um efeito de rigidez que torna os docentes pouco disponíveis para a mudança especialmente quando certas práticas foram empregadas com sucesso em momentos decisivos de suas carreiras Ao mesmo tempo o texto reconhece que os professores são também um grupo profissional muito sensível às modas que invadem o campo educativo especialmente em um contexto marcado pela impressionante circulação de ideias e pela velocidade quase delirante das inovações tecnológicas O autor destaca que essa adesão acrítica às modas pedagógicas representa uma fuga para a frente uma opção preguiçosa que nos dispensa de tentar compreender os reais desafios educacionais Nesse sentido o autor defende a necessidade de que os professores cultivem um ceticismo saudável em relação a tudo o que lhes é proposto reconhecendo que a inovação só faz sentido se passar por um processo de reflexão e de apropriação pessoal Ou seja as mudanças nas práticas docentes não podem ser fruto de mera adesão a modas passageiras mas devem resultar de um trabalho de ressignificação e de construção da identidade profissional Em suma o texto traz uma contribuição relevante ao problematizar a rigidez e a adesão acrítica às modas que marcam muitas vezes a atuação dos professores em sala de aula Ao mesmo tempo aponta a necessidade de que os docentes desenvolvam um olhar crítico e reflexivo sobre sua prática de forma a promover transformações que tenham sentido e relevância para sua identidade profissional Que Saber Mobilizamos na Nossa Ação Pedagógica O texto apresenta uma análise crítica relevante sobre a natureza do conhecimento mobilizado pelos professores em sua prática pedagógica O autor destaca que durante muito tempo os docentes limitaramse a mobilizar um saber meramente disciplinar assumindose fundamentalmente como transmissores de conhecimentos científicos Essa perspectiva é criticada pelo autor que a considera fruto de uma incompreensão fundamental sobre o ensino Segundo ele o processo de ensinoaprendizagem não se resume à transposição de conhecimentos científicos para o âmbito escolar mas envolve uma alquimia complexa de transformação desses saberes em conteúdos curriculares O texto evoca a crítica de autores como Lee Shulman que demonstraram que o professor necessita não apenas dominar os conteúdos que ensina mas também compreender a forma como esse conhecimento se constituiu historicamente Shulman propôs o aforismo Quem sabe faz quem compreende ensina enfatizando que a capacidade de ensinar é o teste definitivo para confirmar a compreensão do conhecimento Essa perspectiva amplia significativamente a noção de saber docente entendendoo não apenas como o domínio de conhecimentos disciplinares mas como a habilidade de transformálos em produtos de ensino mediante uma profunda reflexão e reelaboração dos conteúdos O texto argumenta então que é preciso valorizar o professor como produtor de saber e não apenas como consumidor ou mero executor de pacotes curriculares prédefinidos Defende se a necessidade de investir na pessoa do professor e de dar estatuto ao saber emergente de sua experiência profissional consolidando sua autonomia e sua segurança enquanto profissional Em suma o texto oferece uma análise crítica relevante sobre a natureza do conhecimento mobilizado pelos professores deslocando o foco da mera transmissão de conteúdo para a compreensão reelaboração e criação de saberes pedagógicos Isso é entendido como fundamental para enfrentar a crise de identidade que tem marcado a profissão docente Escola e Sociedade O texto apresenta uma reflexão final que busca articular as duas ideias centrais desenvolvidas anteriormente a crítica à ideia de uma escolatodopoderosa e a discussão sobre a crise de identidade dos professores O autor argumenta que a saída dessa crise não passa pela multiplicação de controles externos mas por um trabalho de reflexão interno à própria profissão docente Nesse sentido defende que uma nova relação entre a escola e a sociedade deve se basear no respeito pelo direito das famílias e das comunidades a participarem da ação educativa e no respeito pela autonomia e pelas competências profissionais dos professores Historicamente o autor afirma que esses dois direitos ou poderes das famílias e dos docentes são frequentemente vistos como antagônicos No entanto ele se diz convencido de que não é possível promover mudanças educativas significativas sem um investimento positivo nesses dois elementos Para que esse investimento ocorra o texto aponta duas condições essenciais 1 não negar às famílias sobretudo das camadas populares o direito de decidir e participar da educação de seus filhos 2 não tomar os professores como culpados pela crise atual dos sistemas de ensino no bojo dos esforços reformistas Essa reflexão final reforça a necessidade de um equilíbrio entre o reconhecimento da autonomia e competência profissional dos docentes e a participação efetiva das famílias e comunidades na definição e implementação das políticas educacionais O autor defende que essa articulação é fundamental para viabilizar inovações e mudanças substantivas no campo da educação Em suma o texto apresenta uma contribuição relevante ao problematizar a necessidade de uma nova relação entre a escola a sociedade e os professores baseada no respeito mútuo e na valorização de seus respectivos papéis e capacidades O Poder das Famílias e das Comunidades O texto apresenta uma reflexão crítica importante sobre a necessidade de articular o poder das famílias e comunidades com a autonomia e competência profissional dos professores como condição essencial para a inovação e transformação no campo educacional O autor inicia destacando que ao longo da história esses dois poderes das famílias e dos docentes têm sido frequentemente vistos como antagônicos No entanto ele defende que não é possível promover mudanças substantivas na educação sem um investimento positivo nesses dois elementos Para que esse investimento ocorra o texto aponta duas condições fundamentais 1 não negar às famílias especialmente das camadas populares o direito de decidir e participar ativamente da educação de seus filhos 2 não culpabilizar os professores pela crise atual dos sistemas de ensino nos esforços reformistas O autor então realiza uma crítica contundente às estratégias historicamente adotadas para afastar as famílias e comunidades dos processos educativos sobretudo das classes populares Ele argumenta que o discurso da escolatodopoderosa e da escolajusticeira foi muitas vezes mobilizado pelos próprios docentes para legitimar esse distanciamento amparado em concepções de fatalismo sociológico que justificariam práticas pedagógicas discriminatórias Nesse sentido o texto defende a necessidade de uma democratização do sucesso escolar e de uma participação efetiva de todos os atores sociais na vida das escolas superando a visão da escola como um monopólio do Estado ou da Igreja Ao final o texto reforça a ideia de que a inovação educacional depende de um investimento positivo tanto no poder das famílias e comunidades quanto na autonomia e competência profissional dos professores Essa articulação é vista como fundamental para promover transformações substantivas no campo da educação Em suma o texto oferece uma análise crítica bastante profunda sobre a histórica tensão entre esses dois poderes famílias e docentes e a necessidade de superála em prol de uma educação mais democrática e participativa O Poder dos Professores O texto apresenta uma reflexão profunda e abrangente sobre a necessidade de repensar as relações entre a escola a sociedade e o papel dos professores buscando superar visões dicotômicas e antagônicas entre esses diferentes atores O autor inicia argumentando que as transformações no campo educativo não podem se basear em uma culpabilização e desvalorização dos professores como ocorreu em muitas das reformas educacionais do passado Ao contrário ele defende que é preciso investir positivamente os poderes dos professores reconhecendo sua autonomia e competência profissional Nesse sentido o autor critica os paradoxos que os docentes enfrentam atualmente são vistos com desconfiança acusados de serem profissionais medíocres mas ao mesmo tempo são bombardeados por uma retórica que os considera elementos essenciais para a melhoria da qualidade do ensino e do progresso social O texto argumenta que os professores precisam refazer uma identidade profissional que supere as antigas metáforas e concepções reducionistas sobre seu papel O autor defende a necessidade de valorizar as dimensões teóricas e intelectuais do trabalho docente bem como a construção de um saber de referência da profissão a partir da reflexão dos próprios professores sobre suas práticas Além disso o texto destaca a importância de os docentes terem efetiva autonomia profissional não podendo mais ficar submetidos a controles técnicos e burocráticos Outro ponto central da análise é a crítica à histórica tensão entre o poder das comunidades e o poder dos professores O autor defende que esses dois elementos não se excluem mas devem se articular em torno de um mesmo projeto de democratização da escola Nesse sentido ele argumenta que a escola e os professores não podem se limitar a reproduzir um discurso tecnocrático socialmente asséptico culturalmente descomprometido Pelo contrário devem assumir uma postura de cidadania e de utopia buscando dar sentido ao nosso trabalho cotidiano como educadores Por fim o texto problematiza o fato de que os principais atores sociais e instituições políticos sindicatos meios de comunicação intelectuais têm deixado de desempenhar um papel de pensamento prospectivo sobre o futuro da educação e da sociedade Nesse contexto o autor sugere que a escola e os professores podem assumir um papel primordial nessa tarefa uma vez que concentram grande parte do potencial cultural e mesmo técnico e científico das sociedades contemporâneas Conclusão O texto demonstra a necessidade de repensar o papel da escola e dos professores reconhecendoos como agentes ativos na construção de uma educação mais democrática e integrada à realidade social Nesse sentido destacase a importância de valorizar a autonomia e a competência profissional dos docentes reconhecendoos não apenas como transmissores de conhecimentos mas como produtores de saberes pedagógicos relevantes Além disso o texto chama a atenção para a importância de articular o poder das famílias e comunidades com o poder dos professores rejeitando a histórica tensão entre esses diferentes atores Essa articulação é vista como fundamental para viabilizar inovações e transformações substantivas no campo educacional permitindo que a escola e os professores assumam um papel de cidadania e de utopia na construção de um projeto educativo emancipador Por fim a análise sugere que a escola e os professores podem desempenhar um papel primordial no desenvolvimento de um pensamento prospectivo sobre o futuro da educação e da sociedade dada a concentração de grande parte do potencial cultural e mesmo técnico e científico das sociedades contemporâneas nesses âmbitos Em suma a conclusão deste texto convida a uma reflexão profunda sobre a necessidade de repensar as relações entre a escola a sociedade e o papel dos diferentes atores envolvidos com vistas à construção de uma educação mais democrática participativa e comprometida com a transformação social Universidade Estadual de Alagoas Curso de Profissão Docente e Prática Educativa NOME DO ALUNO RESENHA CRÍTICA ACERCA DO ARTIGO RELAÇÃO ESCOLASOCIEDADE CIDADE 2024 NOME DO ALUNO RESENHA CRÍTICA ACERCA DO ARTIGO RELAÇÃO ESCOLASOCIEDADE Resenha realizada como exigência parcial de nota do curso de profissão docente e prática educativa Universidade Estadual de Alagoas solicitado pela Professora Ivana Carla de Oliveira CIDADE 2024 Introdução A relação entre a escola e a sociedade é um tema complexo e multifacetado que tem sido amplamente debatido e refletido ao longo da história O texto apresentará uma análise aprofundada dessa temática problematizando visões simplistas que enxergam a escola ora como redentora da sociedade ora como mera reprodutora de desigualdades Ademais o texto defende que qualquer mudança educativa deve envolver os diversos atores sociais apresentando uma visão integradora que compreende a complexidade do sistema escolar Essa perspectiva é relevante ao se propor repensar as relações entre a escola a sociedade e o papel dos docentes superando visões dicotômicas e valorizando a autonomia e o protagonismo dos professores como agentes essenciais para a transformação educacional e social Dessa forma a análise convida a uma reflexão crítica sobre as múltiplas dimensões que permeiam a relação entre a escola e a sociedade apontando caminhos para a construção de uma educação mais democrática e integrada à realidade social Relação EscolaSociedade Novas Respostas Para um Velho Problema O texto apresenta uma reflexão relevante sobre a relação entre a escola e a sociedade questionando a visão tradicional que enxerga a escola como a grande impulsionadora do progresso civilizacional O autor inicia destacando as advertências de Ortega y Gasset sobre o erro fundamental de se supor que as nações são grandes devido à qualidade de suas escolas salientando que ele se aplica a outros aspectos como a política a economia a justiça e a saúde Na primeira parte o autor alerta contra os perigos de se ter visões extremadas da escola seja como uma salvadora da sociedade seja como mera reprodutora desta Essa é uma análise relevante pois de fato a escola não pode carregar sozinha todo o peso das transformações sociais sendo necessário compreendêla dentro de um contexto mais amplo Na segunda parte o texto aborda a crise de identidade dos professores e a necessidade de reforçar a sua autonomia profissional Esse é um ponto crucial pois os docentes têm um papel fundamental na mediação entre a escola e a sociedade e precisam de maior protagonismo e valorização para exercer sua função de forma plena Na terceira parte o autor defende que qualquer mudança educativa deve envolver os diversos poderes em jogo na arena educativa apresentando uma visão integradora que compreende a complexidade do sistema escolar Essa perspectiva é importante pois entende que a transformação da escola não depende apenas dela mesma mas da atuação conjunta de diferentes atores sociais Ao final o autor faz uma analogia com a reflexão de Boaventura Sousa Santos sobre o fato de o prodigioso desenvolvimento científico não ter se traduzido em uma maior sabedoria do mundo Dessa forma ele sugere a necessidade de uma outra ciência e por extensão outra escola que não se baseie no excesso do mesmo mas na aceitação do outro reconhecendo a pluralidade de sentidos e os limites de sua interpretação e ação De modo geral o texto traz uma análise aprofundada e crítica sobre a relação entre escola e sociedade problematizando visões simplistas e apontando caminhos para uma transformação educativa mais ampla e participativa A Escola e os Professores como Regeneradores da Sociedade O texto apresenta uma análise aprofundada da famosa história O Diabo e a Escola escrita por Adolphe Ferrière no livromanifesto da Educação Nova Essa análise revelase bastante relevante por iluminar as transformações no entendimento sobre o papel da escola na sociedade Inicialmente o texto destaca como a história de Ferrière representa uma mudança significativa de paradigma em relação à visão tradicional da escola que sempre havia sido enxergada como uma instituição inequivocamente benéfica e promotora do progresso civilizacional Agora a escola é apresentada por um dos brilhantes pedagogos dos anos 1920 como uma criação diabólica desafiando essa noção consolidada O autor aponta que ao longo do século XIX em paralelo com a emergência de novos modos de governo e afirmação dos EstadosNação a escola se transformou em um elemento central no processo de homogeneização cultural e invenção da cidadania nacional Através da atribuição de um dado arbitrário cultural de aparências de naturalidade a escola desempenhou um papel crucial na concessão ao Estado do monopólio da violência simbólica que se quis legítima Dessa forma a escola passou a ser vista como uma instituição fundamental para a afirmação dos EstadosNacionais Esse modelo escolar caracterizado por aspectos como a organização dos alunos em classes graduadas e homogêneas a atuação individual dos professores a estruturação de espaços e tempos escolares rígidos a organização dos saberes em disciplinas entre outros elementos se impôs como a via única de fazer escola excluindo todas as outras possibilidades No entanto o texto ressalta que a história de Ferrière não visa esconjurar a escola enquanto instituição mas sim a escola antiga pois a escola nova é entendida como fundamentalmente libertadora e capaz de formar um Homem novo incapaz de se lançar nos horrores da Guerra Dessa forma a crítica da Educação Nova à instituição escolar termina de modo algo paradoxal por reafirmar uma crença quase ilimitada nas potencialidades regeneradoras da escola Em síntese o texto oferece uma análise crítica relevante e aprofundada sobre as transformações no entendimento do papel da escola na sociedade apontando como a história de Ferrière representa uma mudança de paradigma mesmo que sua crítica à escola antiga acabe por reafirmar uma visão quase redencionista da escola Profissionalização do Professorado e Ciências da Educação O texto apresenta uma análise histórica e crítica profunda sobre o processo de profissionalização do professorado destacando como este acompanhou uma política de normalização e controle estatal sobre a atividade docente O autor inicia apontando que a criação das escolas normais foi fundamental para disciplinar os professores transformandoos em agentes do projeto social e político da modernidade Nesse contexto os discursos e práticas produzidos nessas instituições buscaram edificar um novo modelo de professor no qual as antigas referências religiosas se cruzavam com o papel de servidores do Estado e da sua razão Essa redefinição dos professores como profissionais a serem geridos segundo padrões institucionais próprios é compreendida como parte integrante de um processo mais amplo de construção das ciências sociais modernas no qual a afirmação da cientificidade da pedagogia desempenhou um papel central O autor destaca como essa cientificização implicou a defesa da objetividade e a rejeição da história apresentando a evidência científica como um fenômeno natural e não como uma construção social Paradoxalmente o autor aponta que a Educação Nova ao criticar a escola antiga acabou por reafirmar e aprofundar essa gramática da escola mantendo uma crença total nas suas potencialidades regeneradoras Dessa forma a imagem da escola e da profissão docente que se consolidou nesse período ainda hoje nos assombra com a noção de que os professores teriam um papel de reparação ou regeneração da sociedade No entanto o texto argumenta que essa perspectiva excessivamente redentora da escola e do professorado foi severamente criticada décadas depois nos debates dos anos 1960 Nesse contexto a escola e os professores foram acusados de não cumprir suas promessas e de contribuir para a reprodução das desigualdades sociais O autor destaca que outrora vistos como apóstolos das luzes os professores passaram a ser olhados e acusados como meros agentes de reprodução o que gerou uma profunda crise de identidade na profissão docente Diante dessa crise o autor defende a necessidade de se repensar radicalmente as relações entre a escola e a sociedade abandonando sonhos antigos de uma escola transformadora e evitando a culpabilização dos professores pelos problemas sociais Nesse sentido propõe a definição de uma nova profissionalidade docente que afirme a dimensão ética e militante da profissão sem alimentar utopias excessivas que se voltem contra os próprios docentes Em suma o texto oferece uma análise histórica e crítica extremamente relevante sobre o processo de profissionalização do professorado destacando as implicações dessa dinâmica na construção de uma determinada imagem da escola e do papel dos docentes bem como a necessidade de se repensar esse modelo de forma mais realista e integrada à complexidade da realidade social Os Professores em Crise Um MalEstar que se Prolonga O texto apresenta uma análise aprofundada sobre as duas principais tendências que têm marcado a forma de se encarar a crise de identidade dos professores O autor identifica essas duas tendências de forma bastante sistemática A primeira tendência externa à própria profissão docente é caracterizada pelos esforços de racionalização do ensino levados a cabo desde os anos 1970 que buscam controlar a priori os fatores imprevisíveis e aleatórios do ato educativo Isso se manifesta na tentativa de separar o trabalho de concepção das tarefas de realização pedagógica relegando os professores a meros técnicos cuja função se restringe à aplicação rigorosa de ideias e procedimentos elaborados por outros grupos O autor ressalta que essa tendência à racionalização do ensino está intimamente relacionada à expansão dos especialistas pedagógicos ou em ciências da educação que acabam por pôr em causa a autonomia profissional dos docentes Além disso destacase nesse processo a proletarização do professorado marcada pela intensificação do trabalho docente e a introdução de práticas administrativas de avaliação que acabam por desvalorizar a experiência e as capacidades adquiridas pelos professores ao longo de suas trajetórias O autor argumenta que a racionalização a proletarização e a privatização do ensino são aspectos diferentes de uma mesma agenda política que tende a encarar a educação sob uma lógica economicista e a definir a profissão docente segundo critérios essencialmente técnicos Essa perspectiva propõe uma saída da crise mediante um nivelamento por baixo um esvaziamento das aspirações intelectuais dos professores e um controle mais apertado da profissão Por outro lado a segunda tendência interna à própria profissão docente tem buscado vias distintas de saída da crise baseadas em projetos de afirmação da autonomia dos professores e das bases intelectuais do trabalho pedagógico Nesse sentido destacase a emergência nos últimos anos de uma vasta literatura que traz novamente os professores para o centro dos debates educativos abordando aspectos como o stress o desenvolvimento pessoal e profissional etc O autor argumenta que essa tendência interna à profissão docente enfrenta a questão da identidade pela ótica da diversidade sem negar a adesão a um conjunto de valores e princípios comuns Isso implica reconhecer que a pessoa do professor é indissociável da identidade profissional e que esta se constrói de forma singular a partir da definição de ideais educativos próprios da adoção de métodos e práticas alinhados à sua maneira de ser e da escolha de estilos pessoais de reflexão sobre a ação Em suma o texto oferece uma análise crítica bastante aprofundada das duas principais tendências na forma de se encarar a crise identitária dos docentes ressaltando que a saída dessa crise passa pela afirmação da dimensão intelectual e autônoma do trabalho pedagógico em oposição a uma visão meramente técnica e racionalizadora da profissão Por que é que Fazemos o que Fazemos na Sala de Aula O texto apresenta uma reflexão crítica importante sobre as razões que levam os professores a agirem de determinada forma em sala de aula destacando o papel da identidade profissional na construção dessas práticas O autor argumenta que cada professor desenvolve uma maneira própria de organizar as aulas de se movimentar de se dirigir aos alunos de utilizar os recursos pedagógicos que se torna quase uma segunda pele profissional Há um efeito de rigidez que torna os docentes pouco disponíveis para a mudança especialmente quando certas práticas foram empregadas com sucesso em momentos decisivos de suas carreiras Ao mesmo tempo o texto reconhece que os professores são também um grupo profissional muito sensível às modas que invadem o campo educativo especialmente em um contexto marcado pela impressionante circulação de ideias e pela velocidade quase delirante das inovações tecnológicas O autor destaca que essa adesão acrítica às modas pedagógicas representa uma fuga para a frente uma opção preguiçosa que nos dispensa de tentar compreender os reais desafios educacionais Nesse sentido o autor defende a necessidade de que os professores cultivem um ceticismo saudável em relação a tudo o que lhes é proposto reconhecendo que a inovação só faz sentido se passar por um processo de reflexão e de apropriação pessoal Ou seja as mudanças nas práticas docentes não podem ser fruto de mera adesão a modas passageiras mas devem resultar de um trabalho de ressignificação e de construção da identidade profissional Em suma o texto traz uma contribuição relevante ao problematizar a rigidez e a adesão acrítica às modas que marcam muitas vezes a atuação dos professores em sala de aula Ao mesmo tempo aponta a necessidade de que os docentes desenvolvam um olhar crítico e reflexivo sobre sua prática de forma a promover transformações que tenham sentido e relevância para sua identidade profissional Que Saber Mobilizamos na Nossa Ação Pedagógica O texto apresenta uma análise crítica relevante sobre a natureza do conhecimento mobilizado pelos professores em sua prática pedagógica O autor destaca que durante muito tempo os docentes limitaramse a mobilizar um saber meramente disciplinar assumindose fundamentalmente como transmissores de conhecimentos científicos Essa perspectiva é criticada pelo autor que a considera fruto de uma incompreensão fundamental sobre o ensino Segundo ele o processo de ensinoaprendizagem não se resume à transposição de conhecimentos científicos para o âmbito escolar mas envolve uma alquimia complexa de transformação desses saberes em conteúdos curriculares O texto evoca a crítica de autores como Lee Shulman que demonstraram que o professor necessita não apenas dominar os conteúdos que ensina mas também compreender a forma como esse conhecimento se constituiu historicamente Shulman propôs o aforismo Quem sabe faz quem compreende ensina enfatizando que a capacidade de ensinar é o teste definitivo para confirmar a compreensão do conhecimento Essa perspectiva amplia significativamente a noção de saber docente entendendoo não apenas como o domínio de conhecimentos disciplinares mas como a habilidade de transformálos em produtos de ensino mediante uma profunda reflexão e reelaboração dos conteúdos O texto argumenta então que é preciso valorizar o professor como produtor de saber e não apenas como consumidor ou mero executor de pacotes curriculares prédefinidos Defendese a necessidade de investir na pessoa do professor e de dar estatuto ao saber emergente de sua experiência profissional consolidando sua autonomia e sua segurança enquanto profissional Em suma o texto oferece uma análise crítica relevante sobre a natureza do conhecimento mobilizado pelos professores deslocando o foco da mera transmissão de conteúdo para a compreensão reelaboração e criação de saberes pedagógicos Isso é entendido como fundamental para enfrentar a crise de identidade que tem marcado a profissão docente Escola e Sociedade O texto apresenta uma reflexão final que busca articular as duas ideias centrais desenvolvidas anteriormente a crítica à ideia de uma escolatodopoderosa e a discussão sobre a crise de identidade dos professores O autor argumenta que a saída dessa crise não passa pela multiplicação de controles externos mas por um trabalho de reflexão interno à própria profissão docente Nesse sentido defende que uma nova relação entre a escola e a sociedade deve se basear no respeito pelo direito das famílias e das comunidades a participarem da ação educativa e no respeito pela autonomia e pelas competências profissionais dos professores Historicamente o autor afirma que esses dois direitos ou poderes das famílias e dos docentes são frequentemente vistos como antagônicos No entanto ele se diz convencido de que não é possível promover mudanças educativas significativas sem um investimento positivo nesses dois elementos Para que esse investimento ocorra o texto aponta duas condições essenciais 1 não negar às famílias sobretudo das camadas populares o direito de decidir e participar da educação de seus filhos 2 não tomar os professores como culpados pela crise atual dos sistemas de ensino no bojo dos esforços reformistas Essa reflexão final reforça a necessidade de um equilíbrio entre o reconhecimento da autonomia e competência profissional dos docentes e a participação efetiva das famílias e comunidades na definição e implementação das políticas educacionais O autor defende que essa articulação é fundamental para viabilizar inovações e mudanças substantivas no campo da educação Em suma o texto apresenta uma contribuição relevante ao problematizar a necessidade de uma nova relação entre a escola a sociedade e os professores baseada no respeito mútuo e na valorização de seus respectivos papéis e capacidades O Poder das Famílias e das Comunidades O texto apresenta uma reflexão crítica importante sobre a necessidade de articular o poder das famílias e comunidades com a autonomia e competência profissional dos professores como condição essencial para a inovação e transformação no campo educacional O autor inicia destacando que ao longo da história esses dois poderes das famílias e dos docentes têm sido frequentemente vistos como antagônicos No entanto ele defende que não é possível promover mudanças substantivas na educação sem um investimento positivo nesses dois elementos Para que esse investimento ocorra o texto aponta duas condições fundamentais 1 não negar às famílias especialmente das camadas populares o direito de decidir e participar ativamente da educação de seus filhos 2 não culpabilizar os professores pela crise atual dos sistemas de ensino nos esforços reformistas O autor então realiza uma crítica contundente às estratégias historicamente adotadas para afastar as famílias e comunidades dos processos educativos sobretudo das classes populares Ele argumenta que o discurso da escolatodopoderosa e da escolajusticeira foi muitas vezes mobilizado pelos próprios docentes para legitimar esse distanciamento amparado em concepções de fatalismo sociológico que justificariam práticas pedagógicas discriminatórias Nesse sentido o texto defende a necessidade de uma democratização do sucesso escolar e de uma participação efetiva de todos os atores sociais na vida das escolas superando a visão da escola como um monopólio do Estado ou da Igreja Ao final o texto reforça a ideia de que a inovação educacional depende de um investimento positivo tanto no poder das famílias e comunidades quanto na autonomia e competência profissional dos professores Essa articulação é vista como fundamental para promover transformações substantivas no campo da educação Em suma o texto oferece uma análise crítica bastante profunda sobre a histórica tensão entre esses dois poderes famílias e docentes e a necessidade de superála em prol de uma educação mais democrática e participativa O Poder dos Professores O texto apresenta uma reflexão profunda e abrangente sobre a necessidade de repensar as relações entre a escola a sociedade e o papel dos professores buscando superar visões dicotômicas e antagônicas entre esses diferentes atores O autor inicia argumentando que as transformações no campo educativo não podem se basear em uma culpabilização e desvalorização dos professores como ocorreu em muitas das reformas educacionais do passado Ao contrário ele defende que é preciso investir positivamente os poderes dos professores reconhecendo sua autonomia e competência profissional Nesse sentido o autor critica os paradoxos que os docentes enfrentam atualmente são vistos com desconfiança acusados de serem profissionais medíocres mas ao mesmo tempo são bombardeados por uma retórica que os considera elementos essenciais para a melhoria da qualidade do ensino e do progresso social O texto argumenta que os professores precisam refazer uma identidade profissional que supere as antigas metáforas e concepções reducionistas sobre seu papel O autor defende a necessidade de valorizar as dimensões teóricas e intelectuais do trabalho docente bem como a construção de um saber de referência da profissão a partir da reflexão dos próprios professores sobre suas práticas Além disso o texto destaca a importância de os docentes terem efetiva autonomia profissional não podendo mais ficar submetidos a controles técnicos e burocráticos Outro ponto central da análise é a crítica à histórica tensão entre o poder das comunidades e o poder dos professores O autor defende que esses dois elementos não se excluem mas devem se articular em torno de um mesmo projeto de democratização da escola Nesse sentido ele argumenta que a escola e os professores não podem se limitar a reproduzir um discurso tecnocrático socialmente asséptico culturalmente descomprometido Pelo contrário devem assumir uma postura de cidadania e de utopia buscando dar sentido ao nosso trabalho cotidiano como educadores Por fim o texto problematiza o fato de que os principais atores sociais e instituições políticos sindicatos meios de comunicação intelectuais têm deixado de desempenhar um papel de pensamento prospectivo sobre o futuro da educação e da sociedade Nesse contexto o autor sugere que a escola e os professores podem assumir um papel primordial nessa tarefa uma vez que concentram grande parte do potencial cultural e mesmo técnico e científico das sociedades contemporâneas Conclusão O texto demonstra a necessidade de repensar o papel da escola e dos professores reconhecendoos como agentes ativos na construção de uma educação mais democrática e integrada à realidade social Nesse sentido destacase a importância de valorizar a autonomia e a competência profissional dos docentes reconhecendoos não apenas como transmissores de conhecimentos mas como produtores de saberes pedagógicos relevantes Além disso o texto chama a atenção para a importância de articular o poder das famílias e comunidades com o poder dos professores rejeitando a histórica tensão entre esses diferentes atores Essa articulação é vista como fundamental para viabilizar inovações e transformações substantivas no campo educacional permitindo que a escola e os professores assumam um papel de cidadania e de utopia na construção de um projeto educativo emancipador Por fim a análise sugere que a escola e os professores podem desempenhar um papel primordial no desenvolvimento de um pensamento prospectivo sobre o futuro da educação e da sociedade dada a concentração de grande parte do potencial cultural e mesmo técnico e científico das sociedades contemporâneas nesses âmbitos Em suma a conclusão deste texto convida a uma reflexão profunda sobre a necessidade de repensar as relações entre a escola a sociedade e o papel dos diferentes atores envolvidos com vistas à construção de uma educação mais democrática participativa e comprometida com a transformação social
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Educação E sociEdadE 1 Relação Escolasociedade Novas Respostas Para um Velho Problema1 Antônio Nóvoa2 Um quadro de Klee chamado Angelus Novus mostra um anjo olhando fixamente para qualquer coisa de que se está a afastar Os seus olhos estão arregalados a boca aberta as asas estendidas A sua face está virada para o passado Onde nós ve mos uma seqüência de acontecimentos ele percebe apenas uma única catástrofe que vai amontoando escombros sobre escombros e os arremessa para a frente dos seus pés Mas um vendaval está a soprar do paraíso e com tal violência que o anjo já não consegue fechar as suas asas Ele tem as costas voltadas para o futuro mas o vendaval apanhao de frente e é para lá que o empurra irresistivelmente enquanto atrás dele o monte de escombros vai crescendo em direcção ao céu Este vendaval é o que nós chamamos progresso Walter Benjamin 1940 A história da escola sempre foi contada como a história do progresso Por aqui passariam os mais importantes esforços civilizacionais a resolução de quase todos os problemas sociais De pouco valeram os avisos de Ortega y Gasset e de tantos outros dizendo que esta análise parte de um erro fundamental o de supor que as nações são grandes porque a sua escola é boa certamente que não há grandes nações sem boas escolas mas o mesmo deve dizerse da sua política da sua economia da sua justiça da sua saúde e de mil coisas mais A escola cresceu nesta crença E os professores acreditaram que lhes estava cometida a missão de arautos do progresso Contra tudo e contra todos se preciso fosse Para isso tiveram num certo sentido de se isolar São bem conhecidos os conselhos para que os professores não se misturassem com o povo mas também não participassem nas festas da burguesia para que os professores se comportassem com isenção não se vinculando a interesses de grupo O reforço da ligação entre dois vértices do triângulo os professores e o Estado conduziu à marginalização do terceiro famílias comunidades Repensar a escola hoje é antes de mais trazer para o cenário educativo este vértice perdido sublinhando a importância de uma participação que não se esgota no nível profissional nem no plano do Estado É procurar encontrar novas respostas para um velho problema A reflexão que vos proponho organizase em três tempos procurando interrogar as relações entre a escola e a sociedade sobretudo a partir de uma análise centrada nos caminhos e descaminhos da profissão docente 1 Este texto transcreve a confe rência que proferi na sessão de abertura do III Congresso Estadu al Paulista sobre a Formação de Educadores Águas de São Pedro 22 de maio de 1994 Tendo em conta os objetivos da presente pu blicação entendi não lhe introduzir grandes alterações respeitando no essencial a sua oralidade 2 Professor na Universidade de Lisboa Portugal O texto conser va as grafias originais do autor que emprega a língua tal como é utiliza da em Portugal Educação E sociEdadE 2 Na primeira parte procuro alertar contra os perigos das visões extremas da escola ora como salvadora ora como mera reprodutora da sociedade Na segunda parte avanço algumas idéias sobre a crise de identidade dos professores sublinhan do a necessidade de um reforço da sua autonomia profissional Finalmente na terceira parte tento juntar os dois argumentos anteriores defendendo que qual quer mudança no terreno educativo tem de passar por um investimento positivo dos diversos poderes em acção na arena educativa Tal como Boaventura Sousa Santos3 também eu me espanto também eu me indigno com o facto de o prodigioso desenvolvimento científico dos últimos séculos de a acumulação de um tão grande conhecimento sobre o mundo se terem traduzido numa tão pequena sabedoria do mundo do homem consigo próprio com os outros com a natureza Temos de mais desta ciência leiase também escola que se quis sinónimo de progresso e acreditou ser o fim da História Agora precisamos de uma outra ciência leiase também escola que não se baseie no excesso do mesmo mas na aceitação do outro que não reivindique uma explicação singular mas que se reconheça na pluralidade dos sentidos que compreenda os limites da sua interpretação e da sua acção no mundo a Escola e os Professores como Regeneradores da sociedade No livromanifesto da Educação Nova Adolphe Ferrière conta uma das mais célebres histórias da pedagogia a história sobre O diabo e a escola4 Conta o pedagogo suíço que um dia deu o diabo uma saltada à terra e verificou não sem despeito que ainda cá se encontravam homens que acreditassem no bem homens bons e felizes O diabo concluiu do seu ponto de vista que as coisas não iam bem e que se tornava necessário modificar isto E disse consigo A infância é o porvir da raça comecemos pois pela infância Mas mudar a infância como De repente teve uma idéia luminosa criar a escola E seguindo o conselho do diabo criouse a escola A criança adora a natureza encerramna dentro de casa A criança gosta de brin car obrigamna a trabalhar A criança pretende saber se a sua actividade serve para qualquer coisa fezse com que a sua actividade não tivesse nenhum fim Gosta de mexerse condenamna à imobilidade Gosta de palpar objectos eila em contacto com idéias Quer servirse das mãos é o cérebro que lhe põem em jogo Gosta de falar impõelhe silêncio Quer esmiuçar as coisas constrangemna a exercícios de memória Pretende buscar a ciência de motu próprio élhe servida já feita Desejaria seguir a sua fantasia fazerna vergar sob o jugo do adulto Quereria entusiasmar se inventaramse os castigos Quereria servir livremente ensinouselhe a obedecer passivamente O diabo ria pela calada 3 SANTOS Boaventura Sou sa Introdução a uma ciência pósmoderna Porto Edições Afrontamento 1989 4 A história é contada no livro Transformons lécole publicado pela primeira vez em 1920 Sirvome da edição portuguesa datada de 1928 a qual segundo o tradutor terá sido censurada em Portugal obrigando a que a sua distribuição se fizesse essencialmente no Brasil Educação E sociEdadE 3 Durante páginas a fio Adolphe Ferrière continua o seu requisitório contra a invenção diabólica que é a escola Diz ele que não tardou que o regime desse frutos A criança aprendeu a adaptarse a estas condições artificiais Dirseia por um instante que a escola levava a melhor O diabo julgavase vitorioso Mas de súbito a história virase do avesso O diabo calculara mal o negócio esquecerase de fechar a escola a sete chaves E viuse a pequenada fugir para os bosques trepar às árvores e até fazer caretas ao pretenso homem de Deus Viramnos correr à aventura governarem a vida tornaremse fortes práticos engenhosos e perseverantes o diabo então deixando de rir à socapa rangeu os dentes ameaçou com o punho berrou Maldi ta geringonça E eclipsouse E com ele desapareceu a escola que tão sabiamente imaginara As palavras finais do pedagogo suíço representam a moral da história desafiando todos os professores a acabarem com estas gaiolas à moda antiga e a edificarem escolas novas Escrita no final da Primeira Grande Guerra esta história é exemplar por muitas razões Até esta altura a escola sempre tinha sido vista como um progresso civilizacional como uma instituição inequi vocamente benéfica consagrada à promoção da cultura e da educação dos homens Agora pela pena de um dos mais brilhantes pedagogos dos anos vinte ela é apresentada como uma instituição maléfica como uma criação diabólica mesmo Ao longo do século XIX em paralelo com a emergência de novos modos de governo e afirmação dos EstadosNação a escola transformase num elemento central do processo de homogeneização cultu ral e de invenção de uma cidadania nacional Através da atribuição a um dado arbitrário cultural de todas as aparências do natural a escola desempenha um papel central na concessão ao Estado do monopólio da violência simbólica que se quer legítima O desenvolvimento da escola de massas faz parte de uma dinâ mica transnacional que inscreve nos diversos contextos nacionais racionalidades e tecnologias de progres so difundidas a nível mundial Fixase então uma espécie de gramática do ensino que marca uma vez que constrói e que organiza a nossa forma de ver a escola alunos agrupados em classe graduadas com uma composição homogênea e um número de efectivos pouco agradável professores actuando sempre a título individual com perfil de generalistas ensino primário ou de especialistas ensino secundário es paços estruturados de acção escolar induzindo uma pedagogia centrada essencialmente na sala de aula horários escolares rigidamente estabelecidos que põem em prática um controlo social do tempo escolar saberes organizados em disciplinas escolares que são as referências estruturantes do ensino e do trabalho pedagógico Inventado muito tempo antes este modelo escolar impõese doravante como a via única de fazer escola excluindo todos os outros possíveis A força deste modelo medese pela sua capacidade de se definir não como o melhor sistema mas como o único aceitável ou mesmo imaginável É esta escola que a história de Adolphe Ferrière quer esconjurar Mas atenção à segunda mensagem da história não é a escola enquanto instituição que está em causa mas sim a escola antiga pois a escola nova essa é fundamentalmente libertadora é uma nova etapa na marcha ascensional do Homem para a perfeição é a condição essencial para que se forme um Homem novo incapaz de se lançar uma e outra vez nos horrores da Guerra A crítica da Educação Nova Educação E sociEdadE 4 à instituição escolar termina assim algo paradoxalmente por uma crença quase ilimitada nas potencia lidades regeneradoras da escola Nunca se acreditou tanto nos benefícios da escola como nestes tempos loucos da pedagogia E esta crença ajudou a consolidar uma imagem dos professores como sacerdotes da religião educativa e como missionários do ABC ao mesmo tempo que criou as condições para uma melhoria da sua formação e do seu estatuto socioprofissional e para o desenvolvimento de uma reflexão científica na área da pedagogia Profissionalização do Professorado e ciências da Educação A profissionalização do professorado acompanhase de uma política de normalização e de controle estatal As escolas normais constituem o lugar certo para disciplinar os professores transformandoos em agentes do projecto social e político da modernidade os discursos aqui produzidos e difundidos bem como as práticas que lhes dão corpo edificam um novo modelo de professor no qual as antigas refe rências religiosas se cruzam com o novo papel de servidores do Estado e da sua razão Este processo é parte integrante de um discurso que tende a redefinir a questão do ensino em paralelo com as novas modalidades de intervenção do Estado na vida social As racionalidades emergentes relocalizam os pro fessores como profissionais ao mesmo tempo que categorizam as crianças como alunos passando a encarálos como uma população que tem de ser gerida segundo padrões institucionais próprios A impo sição de um raciocínio populacional tornado possível em grande medida pela evolução do pensamento e das técnicas estatísticas é uma das características fundamentais dos Estados centrais que teve conse qüências maiores na produção da escola de massas É um processo incorporado nos diversos contextos nacionais a partir de modelos e de dinâmicas que se difundem a nível mundial A afirmação da cientificidade da pedagogia deve ser equacionada à luz do processo histórico de construção das ciências sociais modernas o qual não é compreensível sem uma referência à crise de autoridade intelectual e moral do final do século XIX a especialização do conhecimento concede aos novos profissionais uma função de autoridade no interior do seu campo disciplinar para além de os legitimar num discurso de normalização social A formação das ciências da educação faz parte de uma dinâmica mais vasta de expansão do Estado e de profissionalização do conhecimento A eficácia da nova ideologia profissional implica a defesa da objectividade e a rejeição da história a evidência científica tem de aparecer como um fenómeno natural e não como uma construção social como uma realidade atemporal e não como um processo histórico como a busca da verdade pela verdade e não como um jogo de forças e de poderes A invenção do caleidoscópio ciências da educação nas primeiras décadas do século XX corresponde a um esforço da nova geração de educadores para valorizar o seu papel social e o seu prestígio científico Paradoxalmente a Educação Nova representa a consagração e a morte da pedago gia a consagração porque se assiste a uma verdadeira explosão das práticas inova doras a morte porque a referência à ciência provoca a passagem para as ciências da educação Os inovadores no terreno acabarão por ser enterrados e renegados em nome das ciências da educação da exclusão da prática5 5 HOUSSAYE Jean Lesclave pé dagogue et ses dialogues Éduca tion et Recherche n11984 p47 Educação E sociEdadE 5 Este conjunto de processos estatização profissionalização e cientificação define uma estrutura do ensino que ajuda a perceber as teses da Educação Nova Ao criticarem a escola antiga estes pe dagogos traçam uma caricatura que pretende tornar mais nítidos os contornos da novidade de que se sentem portadores Mas estes homens não põem em causa a gramática da escola antes a aprofundam no contexto de uma crença total nas suas potencialidades regeneradoras A vários títulos somos her deiros ainda hoje de uma imagem da escola e da profissão docente que se fixou nessa altura Quantos de nós não sentimos no mais íntimo do nosso ser que nos está reservado um papel de reparação ou de regeneração da sociedade Em muitos países a desmedida da crença nas potencialidades da escola conduziu por vezes a exageros nefastos Nos anos vinte os novos profissionais do ensino tinham cada vez mais difi culdade em aceitar um destino de Penélope tecendo durante algumas horas o fio educativo que a sociedade tantas vezes desfazia nas restantes horas do dia e da noite Diziam eles que os ambientes familiares sobretudo dos meios populares deitavam por terra todos os seus esforços educativos E por isso muitas vezes reclamaram Para que o professor o corpo docente cumpra com a sua missão e se lhe possa exigir toda a responsabilidade da educação que dá aos seus alunos é indispensável que a criança lhe seja entregue por completo sem intermitências só tirandoa da sua influên cia e acção quando ele a der por pronta6 Hoje esta citação causanos um grande desconforto e uma reação de desagrado Mas no princí pio do século ela faz parte de um projecto de afirmação profissional de homens e cada vez mais de mulheres que acreditaram piamente na função civilizadora e moralizadora da escola As intenções são generosas mas hoje sabemos que nenhum grupo de profissionais tem o direito de se impor ao resto da sociedade mesmo que seja por uma boa causa Num certo sentido é esta perspectiva que será severamente criticada algumas décadas mais tar de nos debates dos anos 60 Pela segunda vez na história da educação a escola é posta sob acusação Mas desta vez a proposta vai mais longe edificar uma sociedade sem escolas Sob o efeito conjugado de movimentos tão diferentes como a descolarização a nãodirectividade ou a sociologia crítica da educação a escola e os professores vão sentarse no bando dos réus acusados a torto e a direito de não terem cumprido as suas promessas de ajudarem a manter uma ordem social injusta de continuarem a contribuir para a reprodução das desigualdades sociais A expansão do ensino não tinha conduzido à sua democratização bem pelo contrário a escola criara novas formas de discriminação e de exclusão social Outrora apóstolos das luzes os professores viamse agora olhados e acusados como meros agentes de reprodução Não espanta que desde então a profissão docente tenha mergulhado numa crise de identi dade que dura até aos dias de hoje A saída desta crise obriga a repensar em termos radicais as relações entre a escola e a sociedade É preciso abandonar sonhos antigos de uma escola que seria capaz por si só de transformar a sociedade Mas é preciso também fazer a crítica das teses que procuram erigir os professores em bodes expiatórios de todos os males sociais A nova inserção da escola na sociedade tem de fazerse em termos mais me 6 Utilizo esta citação propositadamente pois Adolfo Lima era o representante da Educação Nova em Portugal e para além disso um dos mais influentes pedagogos anarquistas Educação e Ensino Educação Integral Lisboa Guimarães e Cª Editores 1914 p 135 Educação E sociEdadE 6 didos mais comedidos num certo sentido mais modestos A escola faz parte de uma rede institucional onde se joga parte do futuro das nossas sociedades o que aqui conseguirmos ganhar é importante mas as visões extremas de um professorsalvadordahumanidade ou no pólo oposto de um professorque selimitaareproduziroquejáexiste não nos servem para tentarmos compreender o nosso papel Os professores têm de afirmar a sua profissionalidade num universo complexo de poderes e de re lações sociais não abdicando de uma definição ética e num certo sentido militante da sua profissão mas não alimentando utopias excessivas que se viram contra eles obrigandoos a carregar aos ombros o peso de grande parte das injustiças sociais A causa do malestar dos professores prendese sem dúvida à defasagem que existe nos dias de hoje entre uma imagem idílica da profissão docente e as realidades concretas com que os professores se deparam no seu diaadia Sem uma compreensão exacta desta crise é impossível encontrar novos caminhos para a educação e para os professores Na segunda parte deste texto proponhome justamente reflectir sobre a crise de identidade dos professores sugerindo a necessidade de definir uma nova profissionalidade docente os Professores em crise um MalEstar que se Prolonga Numa sistematização algo simplista é possível constatar a existência de duas grandes tendências na forma de encarar a crise de identidade dos professores A primeira externa à profissão docente tem procurado multiplicar as instâncias de controlo dos professores por via de uma racionalização do ensino ou de práticas administrativas de avaliação subli nhando as dimensões técnicas do trabalho docente A segunda interna à profissão docente tem procurado reencontrar novos sentidos profissionais reconstruindo identidades a partir de dinâmicas de desenvolvimento pessoal e de valorização profissio nal sublinhando as dimensões reflexivas do trabalho docente A primeira tendência corresponde aos esforços de racionalização do ensino levados a cabo des de os anos setenta que têm como objectivo controlar a priori os factores aleatórios e imprevisíveis do acto educativo expurgando o quotidiano pedagógico de todas as práticas de todos os tempos que não contribuam para o trabalho escolar propriamente dito A introdução de modelos racionalistas de ensino procura separar o trabalho de concepção das tarefas de realização ou dito de outro modo procura se parar a elaboração dos currículos e dos programas da sua concretização pedagógica Os professores são vistos como técnicos cuja tarefa consiste essencialmente na aplicação rigorosa de idéias e procedimen tos elaborados por outros grupos sociais ou profissionais A expansão dos especialistas pedagógicos ou em ciências da educação não é alheia a este projecto de racionalização do ensino que põe obviamente em causa a autonomia profissional dos professores Simultaneamente é importante referir uma outra componente deste processo que alguns autores têm designado por proletarização do professorado relacionada com a intensificação do trabalho docen te inflação de tarefas diárias e sobrecarga permanente de actividades e com a introdução de práticas administrativas de avaliação Educação E sociEdadE 7 A intensificação leva os professores a seguirem por atalhos a economizarem esforços a realizarem apenas o essencial para cumprirem a tarefa que têm entre mãos obriga os professores a apoiaremse cada vez mais nos especialistas a esperarem que lhes digam o que fazer iniciandose um processo de depreciação da ex periência e das capacidades adquiridas ao longo dos anos A qualidade cede o lugar à quantidade Finalmente é a estima profissional que está em jogo quando o próprio trabalho se encontra dominado por outros actores7 A racionalização do ensino e a proletarização do professorado são dois momentos de um mes mo processo de controlo externo da profissão docente de um processo que tem na retórica da priva tização do ensino que implica um controlo dos professores pelos clientes a sua face mais visível nos dias de hoje Racionalização proletarização e privatização do ensino são aspectos diferentes de uma mesma agenda política que tende a olhar para a educação segundo uma lógica economicista e a definir a pro fissão docente segundo critérios essencialmente técnicos Segundo essa tendência a saída da crise de identidade dos professores farseia através de uma espécie de nivelamento por baixo de um esvazia mento das aspirações teóricas e intelectuais do professorado de um controlo mais apertado da profis são docente Hoje em dia esta perspectiva está presente em grande parte dos programas de formação inicial e de formação contínua dos professores bem como em muitas das medidas de política educativa tomadas no contexto da vaga reformadora dos anos 8090 A segunda tendência acima evocada interna à profissão docente tem procurado vias distintas de saída da crise baseados em projectos de afirmação da autonomia dos professores e das bases intelec tuais do trabalho pedagógico Nos últimos dez anos a literatura pedagógica foi literalmente invadida por obras e estudos sobre a vida dos professores o stress e o malestar docente as carreiras e os percursos profissionais o desenvolvimento pessoal e profis sional dos professores etc8 Tratase de uma literatura muito he terogénea inspirada pelos mais diversos objectivos mas que tem tido um mérito indiscutível trazer de novo os professores para o centro dos debates educativos O debate pode ser travado pelo lado corporativo acentuando as semelhanças entre os profes sores derivadas de uma assimilação integradora da cultura profissional dominante É o que Albert Shanker um dos mais influentes líderes sindicais dos professores norteamericanos sublinha num discurso pronunciado em 1974 Dez mil novos professores entraram todos os anos no sistema escolar na cidade de New York devido à morte ou à mudança de emprego dos seus colegas Estes novos professores vêm um pouco de todo o lado representam todo o tipo de religiões de raças de opiniões políticas e de formações profissionais É espantoso que após três semanas na sala de aula já ninguém seja capaz de os distinguir dos professores que vieram substituir9 7 APPLE Michael JUNGCK Susan No hay que ser maestro para enseñar esta unidad la en señanza la tecnologia y el con trol en el aula Revista de Edu cación n291 1990 p156 8 Procurei dar conta desta literatura nalgumas obras que editei em Portugal Profissão Pro fessor Porto Porto Editora 1991 Reformas educativas e formação de professores Lisboa Educa 1992 Os professores e a sua formação Lisboa Publicações D Quixote 1992 e Vidas de professores Porto Porto Editora 1992 Educação E sociEdadE 8 No entanto pareceme mais estimulante enfrentar esta questão pelo lado da diversidade sem pôr em causa a adesão a um conjunto de valores de normas de princípios de acção que são elementos constituintes da profissão do cente A atenção exclusiva às práticas de ensino e à gestão do sistema educativo tem vindo a ser acompanhada por um olhar sobre a vida e a pessoa do professor A afirmação seguinte não prima pela originalidade mas merece ser repetida O professor é a pessoa E uma parte importante da pessoa é o professor A forma como cada um de nós constrói a sua identidade profissional define modos distintos de ser professor marcados pela definição de ideais educativos próprios pela adopção de métodos e prá ticas que colam melhor com a nossa maneira de ser pela escolha de estilos pessoais de reflexão sobre a acção É por isso que em vez de identidade prefiro falar de processo identitário10 um processo único e complexo gra ças ao qual cada um de nós se apropria do sentido da sua história pessoal e profissional Porque é que fazemos o que fazemos na sala de aula Que saber mobilizamos na nossa acção pedagógica Através da resposta a estas duas perguntas espero ser capaz de explicar melhor as mi nhas idéias Por que é que Fazemos o que Fazemos na sala de aula A resposta à pergunta Por que é que fazemos o que fazemos na sala de aula levame a evocar a mistura de vontades de gostos de experiências de acasos até que foram consolidando gestos roti nas comportamentos com os quais nos identificamos como professores Cada um tem a sua maneira própria de organizar as aulas de se movimentar na sala de se dirigir aos alunos de utilizar os meios pedagógicos uma maneira que constitui quase uma segunda pele profissional Há aqui um efeito de rigidez que nos torna a todos num certo sentido indisponíveis para a mu dança E é verdade que os professores são por vezes profissionais muito rígidos que têm dificuldade em abandonar certas práticas nomeadamente quando elas foram empregues com sucesso em momen tos difíceis da sua carreira profissional Muitas vezes nos interrogamos sobre as reformas educativas e o modo como elas mudaram as escolas e os professores e no entanto esquecemonos de referir que foram quase sempre os professores que mudaram as reformas seleccionando alterando ou ignorando as instruções emanadas de cima Mas simultaneamente os professores são desde sempre um grupo profissional muito sensível aos efeitos de moda Hoje mais do que nunca as modas invadem o terreno educativo Em grande parte devido à impressionante circulação de idéias e à velocidade quase delirante das inovações tec nológicas A adesão pela moda é a pior maneira de enfrentar os debates educativos porque traduz uma fuga para a frente um opção preguiçosa porque falar de moda dispensanos de tentar com preender A moda é a nãodirectividade vamos todos praticar a nãodirectividade A moda é o trabalho 9 Cf CUBAN Larry How did teachers teach 1890 1980 Theory into Practice v22 n3 1983 p159 10 Ou processo de construção e reconstrução constante da identi dade profissional do docente Educação E sociEdadE 9 de grupo todos a organizar grupos e mais grupos e mais grupos A moda é a pedagogia por objec tivos cumprase a pedagogia por objectivos A moda é o ensino reflexivo vamos todos reflectir já rapidamente e em força A moda são os audiovisuais ou os computadores ou as histórias de vida ou o construtivismo ou o pensamento crítico do professor ou qualquer outra virá e outra ainda sem que para tal sejamos tidos ou achados Em pedagogia a moda significa quase sempre a vontade de mudar para que tudo fique na mesma Ora neste mundo marcado pela velocidade das comunicações e da disseminação das idéias neste mundo invadido por uma inflação tecnológica sem precedentes é preciso que os professores aprendam a cultivar um ceticismo saudável um ceticismo que não é feito de descrença ou de desen canto mas antes de uma vigilância crítica em relação a tudo quanto lhes é sugerido ou proposto A inovação só tem sentido se passar por dentro de cada um se for objecto de um processo de reflexão e de apropriação pessoal Que saber Mobilizamos na Nossa acção Pedagógica A segunda pergunta Que saber mobilizamos na nossa acção peda gógica tem uma resposta mais difícil Durante muito tempo os profes sores limitaramse a mobilizar um saber disciplinar assumindose fun damentalmente como transmissores de um conhecimento científico em História em Biologia ou em Matemática Não espanta que então pela boca de Bernard Shaw11 se lhes tenha lançado o insulto de que ainda hoje se fala Quem sabe faz quem não sabe ensina É um insulto originado numa incompreensão fundamental a idéia de que o ensino é a mera transposição do conhecimento do plano científico para o domínio escolar Como se tal fosse possível sem submeter o conhecimento a uma alquimia complexa que transforma as disciplinas científicas inte gradas nos seus espaços próprios em currículo escolar A tentativa para banalizar este processo não é inocente bem pelo contrário ela é parte integrante de uma ideologia que tende a relacionar a entrada do professorado com o insucesso nas áreas disciplinares de base Para o ensino iriam apenas os medíocres os incompetentes os falhados Vários autores criticaram duramente esta idéia Lee Shulman por exemplo demonstrou que o professor necessita não só de conhecer a matéria que ensina mas também de compreender a forma como este conhecimento se constituiu historicamente E suge riu um novo aforismo Quem sabe faz quem compreende en sina12 Punha assim a tónica na compreensão dos conteúdos momento prévio da sua reformulação e da sua transformação em produtos de ensino o teste definitivo para confirmar a com preensão de um assunto é a capacidade para o ensinar transfor mando o conhecimento em ensino 11 George Bernard Shaw 1856 1950 dramaturgo e escritor irlan dês de expressão inglesa nascido na cidade de Dublin É considerado depois de Shakespeare uma das maiores personalidades da drama turgia inglesa Também foi um ex celente crítico teatral contado entre os melhores de sua geração 12 Ver o artigo de Lee Shulman Knowledge Gro wth in Teaching Educational Researcher v15 n2 p414 Um autor português do princípio do século Eusébio Tamagnini atribui o dito à sabe doria popular Também o povo cujo poder de in tuição é surpreendente com fina ironia comenta quem sabe faz quem não sabe fazer ensina A extinção das escolar normais superiores Arquivo Pedagógico v IV n14 1930 p109 Educação E sociEdadE 10 Os estudos produzidos pelos autores que trabalham nesta tradição intelectual sublinham a im portância de investir a pessoa do professor e de dar um estatuto ao saber emergente da sua experiência profissional fazendo com que os professores se apropriem dos saberes de que são portadores e os tra balhem do ponto de vista teórico e conceptual Os professores não são apenas consumidores mas são também produtores de saber Os professores não são apenas executores mas são também criadores de instrumentos pedagógicos Os professores não são apenas técnicos mas são também profissionais críticos e reflexivos Assim sendo é preciso rejeitar as tendências que apontam no sentido de separar a concepção da execução tendências que põem nas mãos dos professores pacotes curriculares pré desenhados prontos a serem aplicados que procuram sobrecarregar o quotidiano dos professores com actividades que lhes retiram o tempo necessário à reflexão e à produção de práticas inovadoras Estou convencido de que só é possível enfrentar a crise de identidade dos professores a partir destas bases isto é a partir de uma dinâmica de valorização intelectual de uma consolidação da au tonomia profissional de um reforço do sentimento de que somos nós que controlamos o nosso próprio trabalho É esta segurança profissional que pode levar os professores a saírem do desconforto e do malestar em que têm vivido Escola e sociedade investir Positivamente Todos os Poderes Na primeira parte procurei alertar contra os perigos da idéia de uma escolatodapoderosa uma escolajusticeira cujos professores estariam investidos de uma missão de moralização da sociedade Na segunda parte discuti alguns aspectos da crise de identidade dos professores defendendo que a saída desta crise não passa pela multiplicação de controlos externos mas antes por um trabalho de reflexão interno à própria profissão docente Gostaria para terminar de juntar estas duas idéias insis tindo em que uma nova relação entra a escola e a sociedade tem de basearse simultaneamente num respeito pelo direito das famílias e das comunidades a participarem na acção educativa e num respeito pela autonomia e pelas competências profissionais dos professores Ao longo da história estes dois direitos melhor dizendo estes dois poderes foram quase sempre considerados antagónicos Pessoalmente estou convencido de que não é possível qualquer mudança na arena educativa sem um investimento positivo destes dois poderes Encontrar as estraté gias mais adequadas para o fazer pareceme pois uma das tarefas essenciais de qualquer esforço de inovação educacional Para que este investimento positivo tenha lugar é preciso assegurar pelo menos duas con dições a primeira é que não seja negado às famílias sobretudo às famílias dos meios populares o direito de decidirem e de participarem na educação dos seus filhos a segunda é que os esforços de reforma educativa não tomem os professores como culpados da crise actual dos sistemas de ensino o Poder das Famílias e das comunidades A idéia de que todos os cidadãos mais pertencem à Pátria do que a seus próprios pais para uti Educação E sociEdadE 11 lizar uma idéia corrente no tempo da Revolução Francesa13 foi muitas vezes mobilizada pelos corpos docentes para afastarem as famílias dos processos educativos Sobretudo para afastarem as famílias provenientes dos meios mais pobres e desfavorecidos No decurso da história a escola foise impondo como o meio privilegiado para edu car as crianças olhadas cada vez mais como futuro e não como presente Monopólio é a palavra certa para descrever a forma como a igreja séculos XVI a XVIII e depois o Estado séculos XVIII a XX ocuparam o campo educativo tornando ilegítima a intervenção dos outros actores sociais A pouco e pouco as famílias e as comunidades viramse afastadas da coisa educativa todas as razões serviram para justificar este afastamento a ignorância dos pais os maus costumes das famílias a influência nefasta do meio social etc os discursos foram assumidos em primeira linha pelos professores que demarcaram a sua condição de especialistas contra os agentes educativos naturais Refirase a este propósito a forma como tradicionalmente se procurou negar aos analfabetos o direito de intervirem na escolaridade dos seus filhos Muitas vezes lhes foi mostrado o engano desta pretensão com o argumento de que não tinham capacidade para se debruçarem sobre um assunto que desconheciam Pior ainda quando foram chamados à escola tratouse quase sempre não de os ouvir mas de os criticar por certos hábitos ou comportamentos caseiros Outra estratégia para afastar as famílias dos meios populares das decisões em matéria escolar prendese com a adopção acrítica das teses do fatalismo sociológico ou cultural que serviram muitas vezes como uma espécie de discurso de legitimação de certos professores para continuarem a levar a cabo práticas pedagógicas socialmente discriminatórias pois se os investigadores e os sociólogos já tinham demonstrado cientificamente que as crianças dos meios desfavorecidos estão condenadas ao fracasso Sabemos que não foi isto que os investigadores demonstraram mas sabemos também de que forma estas teses foram utilizadas como discurso de autojustificação dos professores Philippe Perrenoud critica numa curiosa analogia com a justiça as correlações causais que se estabelecem freqüentemente entre a origem social dos alunos e o insucesso escolar Diz ele14 A justiça tal como a escola também fabrica julgamentos Tome mos como variável a explicar o roubo A partir das estatísticas penais é relativamente fácil estabelecer uma forte correlação entre a condenação por roubo e os níveis salariais dos condenados Muito bem mas o que é que podemos daqui concluir Que os pobres têm uma maior propensão para o roubo É a interpretação mais imediata Mas podemos imaginar muitas outras É provável que a polícia encontre e prenda mais facilmente os ladrões com poucas pos ses É provável também que se consigam mais facilmente provas ou confissões É provável ainda que as pessoas com mais posses tenham mais facilidade em obter acordos extrajudiciais Além de que os pobres não têm dinheiro para contratar bons advogados Ou para recorrer das decisões proferidas nos tribunais de 1ª instância Esta analogia põenos de sobreaviso quanto às conclusões demasiado rápidas sobre o fenómeno do insucesso E obriga a escola a repensar a sua própria acção e a forma como pode contribuir para aumentar ou para diminuir as desigualdades sociais 13 Em 1789 14 Esta passagem é a adaptação de uma reflexão apresentada num texto de Philippe Perrenoud De quoi la réussite scolaire estelle fai te Éducation et Recherche n1 1986 p133160 Educação E sociEdadE 12 Estes são apenas dois exemplos entre muitas outras estratégias que procuram pôr em causa o direito legítimo das comunidades a participarem na educação dos seus filhos Hoje em dia é impos sível imaginar qualquer projecto de inovação e de mudança que não passe pelo investimento positivo dos poderes das famílias e das comunidades por uma democratização do sucesso e não apenas do acesso à escola por uma participação efectiva de todos os actores sociais na vida das escolas o Poder dos Professores Para que as relações entre a escola e a sociedade se estabeleçam em novos moldes é preciso simultaneamente investir positivamente os poderes dos professores Não estou a defender um novo monopólio sobre a arena educativa desta vez uma monopólio profissional que conduz quase sem pre a práticas totalitárias Quero dizer sim que não é possível conceber a mudança com base numa espécie de culpabilização e de desvalorização dos professores tal como aconteceu em muitas das reformas educativas dos anos oitenta Os professores encontramse hoje perante vários paradoxos Por um lado são olhados com desconfiança acusados de serem profissionais medíocres e de terem uma formação deficiente por outro lado são bombardeados com uma retórica cada vez mais abundante que os considera elementos essenciais para a melhoria da qualidade do ensino e para o progresso social e cultural Pedeselhes quase tudo Dáselhes quase nada O desabafo de um professor português do princípio do século farto já naquela época da retórica dos professoresmissionários tem ainda hoje algum sentido Ser professor não é um sacerdócio é um suicídio Não é uma vocação é uma abdi cação dos direitos mais rudimentares da existência E pelo visto chegam a espantar que o Estado misericordioso não pensasse ainda em exigir ao professor primário o voto de castidade perpétua para que ele seja em tudo o monge moderno Já o é na obediên cia já o é na pobreza voluntária15 Por outro lado e este é um novo paradoxo a segunda metade do século XX assistiu ao de senvolvimento de uma atenção sem precedentes em relação às crianças Mas simultaneamente as condições de vida social sobretudo a expansão do trabalho feminino levaram a que os pais tenham cada vez menos tempo para cuidarem dos seus filhos projectando na escola desejos e ansiedades de todo o tipo Pedese quase tudo aos professores Dáselhes quase nada É pelo meio destas várias contradições que os professores têm de refazer uma identidade profis sional ao nível individual e colectivo Uma identidade que se diz por novas imagens e que já não se satisfaz com o simplismo das antigas metáforas do professorescultor que molda a matéria prenhe de todas as possibilidades que é a criança do professorpiloto conduzindo a barca da educação pelo meio das tormentas sociais ou do professorespelho pondo diante dos olhos dos meninos bons originais que eles possam imitar Que já não se satisfaz sequer com a metáfora mais célebre da pedagogia da qual somos todos de um ou de outro modo herdeiros o professorjardineiro 15 Artigo publicado na revista Educação Nacional n381 de 10 de janeiro de 1904 Educação E sociEdadE 13 Concebo a faina do professor à semelhança da do jardineiro Em que consiste em última análise o trabalho característico do jardineiro Preparar para a pessoa um ambiente benéfico e rodeála do necessário para que suba ao Espírito educando se a si pela força própria pela autodisciplina da actividade espontânea em comu nidades fraternas Por outras palavras dispor o ambiente de tal maneira que ele ajude o formando a educarse a si mesmo Ninguém diz à roseira que ela deve florir ninguém a manda florir se lhe derem as condições que lhes são favoráveis os botões virão hãode abrirse à luz16 Quantas vezes utilizamos esta imagem para nos dizermos professores Esquecendonos no en tanto de mencionar os instrumentos utilizados pelo jardineiro as tesouras as enxadas os alicates os ancinhos os sachos as forquilhas Ou esquecendonos de olhar para os seus gestos cortar podar enxertar torcer atar arrancar É preciso confessar que a metáfora perde grande parte da sua beleza original E põenos perante o outro lado de todo e qualquer projecto educativo E obriganos a opções as opções que cada um de nós tem de fazer e que cruzam a nossa maneira de ser com a nossa maneira de ensinar e que desvendam na nossa maneira de ensinar a nossa maneira de ser Actualmente a literatura pedagógica tem tendências para utilizar metáforas mais conceptuais e menos simbólicas os professores como investigadores os professores como profissionais reflexivos os professores como experimentadores os professores como decididores os professores como cons trutores do currículo etc apesar das suas diferenças é possível encontrar nestas imagens três linhas de consenso delineadas em torno da valorização das dimensões teóricas e intelectuais do trabalho docente da vontade de construir o saber de referência da profissão docente e a partir de uma reflexão dos próprios professores sobre as suas práticas da certeza de que o professorado não pode continuar submetido a controlos técnicos e burocráticos e tem de gozar de uma efectiva autonomia profissio nal Durante muito tempo os poderes das comunidades e dos professores estiveram em conflito A tese principal que gostaria de sublinhar é que o entendimento em novos moldes dessa relação implica uma compreensão exacta do que se exige hoje na escola e a afirmação radical de que estes dois poderes não se excluem mas antes se incluem se articulam em torno de um mesmo projecto de democratização da escola O debate deve ser travado frente a frente E admitir todas as hipóteses Começando por ques tionar o papel do Estado na gestão dos assuntos educativos e obviamente o estatuto tradicional dos professores É possível que após os ciclos da Igreja e do Estado estejamos agora a assistir a uma nova reconfiguração do campo educativo A agenda da privatização do ensino é um sintoma claro deste fenómeno encarada pela perspectiva da eficácia e da competitividade económica Pela minha parte prefiro equacionar a questão pelo lado da participação e da solidariedade social Uma coisa é certa o fim previsível do Estado educador obriganos a pensar em novos moldes as relações entre a escola e a sociedade privilegiando no triângulo o lado que une os vértices professores e famílias 16 Retiro a citação de um texto do ensa ísta português António Sérgio Paidéia In Ensaios VII Lisboa Livraria Sá da Costa 1954 Todavia seria possível apresentar exemplos da mesma metáfora em quase todas as línguas do mundo Educação E sociEdadE 14 comunidades A sociedade de comunicação a sociedade tecnológica em que vivemos tem ajudado a emergên cia de uma consciência planetária Mas tem criado também novas exclusões sociais mantendo largas camadas sociais à margem dos benefícios científicos e culturais Talvez como diz Pierre Bourdieu a grande miséria do mundo tenha retrocedido menos no entanto do que se costuma apregoar mas é importante compreender que temos assistido a um desenvolvimento sem precedentes de todas as formas da pequena miséria17 É por isso que a escola e os professores não se podem limitar a reproduzir um discurso tecno crático socialmente asséptico culturalmente descomprometido Todo o silên cio é cúmplice e não podemos calar a voz das injustiças que se reproduzem também através da escola Na verdade o que distingue a profissão docente de muitas outras profissões é que ela não se pode definir apenas por critérios técnicos ou por competências científicas Ser professor implica a adesão a princípios e a valores e a crença na possibilidade de todas as crianças terem sucesso na escola A educação não pode portanto ser encarada unicamente segundo uma lógica económica ou tec nológica segundo uma perspectiva de eficácia ou de racionalização Nos dias que ocorrem o fim das grandes ideologias convidanos a uma redescoberta da função social da utopia das pequenas utopias que dão sentido ao nosso trabalho quotidiano como educadores Exercer o ofício e reflectir sobre o ofício que se exerce por um lado esforçarse por seguir uma conduta de cidadão e reflectir sobre o significado e as condições da cidadania por outro lado eis talvez os dois pólos em volta dos quais roda hoje o filosofar essa insatisfeita actividade que assume as perplexidades para tentar superálas criticamente sem excluir outras rotas além daquelas que julga dever traçar Vitorino Magalhães Godinho 1971 É tempo de acabar Em tudo que ficou dito peçovos que vejam apenas a vontade de pensar convosco alguns problemas que afectam os professores de reflectir sobre o ofício que exerço e sobre as condições actuais da cidadania que passam também pelas escolas Enquanto historiador interrogome muitas vezes sobre os actores e os grupos que pensam o futuro que têm uma vi são ampla das mudanças sociais e das suas implicações para a educação E deparome com uma situação no mínimo pro blemática18 Durante muito tempo a classe política produziu um pensamento prospectivo sobre o futuro das sociedades e sobre as melhores estratégias para o antecipar Hoje em dia os aparelhos de Estado estão demasiado ocupados na gestão das diversas crises nacionais e internacionais e os partidos políticos deixaram de ser lugares de doutrina e transformaramse em máquinas eleitorais orientadas para a participação no poder e nas instituições Os políticos visionários são cada vez mais raros e a maior parte limitase a gerir o curto prazo 17 Refirome a um dos úl timos trabalhos de Pierre Bourdieu La misère du mon de Paris Seuil 1993 18 Esta passagem do texto é inspirada num es crito de Philippe Perrenoud Lécole doitelle suivre ou anticiper les changements de société Genève Service de la Recherche Sociologique 1991 Educação E sociEdadE 15 Em termos gerais os sindicatos deixaram de ser forças utópicas dinamizadas pela idéia de um futuro diferente as incertezas e as crises económicas mobilizam mais um discurso de aparelho e de lógica negocial do que uma acção em prol de uma sociedade diferente Os meios de comunicação social desempenharam no passado um importante papel doutrinal sobretudo a imprensa escrita Hoje a lógica dominante é a competição pelo mercado publicitário e a imprensa deixou de ter um papel decisivo na tarefa de pensar o futuro e de avançar novos projectos de sociedade Os próprios intelectuais estão cada vez mais enredados nas teias da sociedade do espetáculo que compra as idéias na moda e que evita uma reflexão coerente e sistemática o seu trabalho é ven dido no mercado mediático e é avaliado pelo sucesso imediato Os investigadores e os cientistas são cada vez mais numerosos mas rareiam os verdadeiros sábios munidos de uma cultura filosófica e conhecedores de várias disciplinas O trabalho científico está fragmentado e especializado é enorme a falta de sábios capazes de produzirem sínteses do conhe cimento que ajudem as sociedades a pensarem e a pensaremse Algumas fundações e organizações têm realizado uma importante acção prospectiva mas pela sua própria natureza estas organizações estão dependentes de equilíbrios políticos frágeis ou de patrocínios económicos que neutralizam os aspectos críticos e inovadores do seu trabalho Nas multinacionais e nas grandes empresas encontramse forças coerentes de previsão do fu turo e existe por vezes uma definição clara das necessidades em matéria de educação mas estas organizações não são instâncias democráticas e podemos recear um mundo no qual as forças visio nárias estariam totalmente dependentes de estratégias de lucro de crescimento e de conquista de mercados O inventário poderia continuar encaminhandonos pouco a pouco para a constatação de que a escola é talvez o lugar onde se concentra hoje em dia o maior número de pessoas altamente qualifica das que se encontram relativamente protegidas dos confrontos políticos das competições comerciais e das tentações gestionárias Será que pertence à escola um papel primordial na tarefa de pensar no futuro Provavelmente sim Para os professores o desafio é enorme Eles constituem não só um dos mais numerosos grupos profissionais mas também um dos mais qualificados do ponto de vista académico Grande parte do potencial cultural e mesmo técnico e científico das sociedades contemporâneas está concentrada nas escolas Não podemos continuar a desprezálo e a minorizar as capacidades dos professores Para muitos o heroísmo consiste apenas em sobreviver em não se deixar arrastar pela descrença e pelo desânimo Não se pode sonhar à força E ninguém sonha unicamente para agradar aos outros Mas quantos dentre nós nos mantemos aqui de corpo inteiro de sentimento inteiro com a consciência de que na profissão docente é impossível separar o eu profissional do eu pessoal sem ilusões que os tempos presentes não estão para tal mas na certeza de que ser professor é uma profissão que só assim vale a pena ser vivida Educação E sociEdadE 16 Referências APPLE M JUNGCK S No hay que ser maestro para enseñar esta unidad la enseñanza la tecnologia y el control en el aula In Revista de Educación n291 1990 CUBAN L How did teachers teach 18901980 Theory into Practice v22 n3 1983 HOUSSAYE J Lesclave pédagogue et ses dialogues Éducation et Recherche n11984 LIMA A Educação e Ensino Educação Integral Lisboa Guimarães e Cª Editores 1914 Perrenoud P De quoi la réussite scolaire estelle faite In Éducation et Recherche n1 1986 Lécole doitelle suivre ou anticiper les changements de société Genève Service de la Recherche So ciologique 1991 SANTOS B S Introdução a uma ciência pósmoderna Porto Edições Afrontamento 1989 SHULMAN L Knowledge Growth in Teaching In Educational Researcher v15 n2 Apóstolos das luzes Esta expressão está ligada à concepção defendida pelo Iluminismo ou filosofia das luzes que teve seu berço na França no século XVIII Em linhas gerais esta corrente de pensamento entendia que a luz do conhecimento ou da razão deveria iluminar com o fulgor do saber todos os seres humanos Os professores então seriam os portadores dessa luz que viriam a partilhar com seus alunos ao iluminarlhes o espírito pelo saber Arauto Do frâncico heriald chefe do exército pelo fr héraut S m 1 Nas monarquias da Idade Média oficial que fazia as proclamações solenes conferia títulos de nobreza transmitia mensagens anunciava a guerra e proclamava a paz 4 P ext Defensor lutador propugnador Aurélio Eletrônico BOURDIEU Pierre 19302002 É considerado o maior nome da Sociologia na França contemporânea responsável por uma renovação das Ciências Sociais que alcançou universidades de todo o mundo Titular desde 1982 da cadeira de Sociologia do Collège de France Bourdieu seguiu a partir dos anos 90 uma tradição da vida cultural francesa que vai de Émile Zola a JeanPaul Sartre ao projetarse cada vez mais como um intelectual público protagonista de polêmicas na imprensa e engajado em causas políticas Não há democracia efetiva sem um verdadeiro contrapoder crítico O intelectual é um deles e de primeira grandeza httpwwwhommemoderneorgsocietesociobourdieumortjdb25012html Caleidoscópio ciências da educação Com esta expressão metafórica o autor referese às inúmeras diferenças e pecu liaridades de cada área do conhecimento que compõe as chamadas ciências da educação a Filosofia da Educação a História da Educação a Psicologia da Educação dentre outras sendo que cada uma delas tem seus próprios objetos de investigação e seus procedimentos metodológicos específicos Ceticismo De céptico ismo S m 1 Filos Atitude ou doutrina segundo a qual o homem não pode chegar a qual quer conhecimento indubitável quer nos domínios das verdades de ordem geral quer no de algum determinado domínio do conhecimento Aurélio Eletrônico Faina Do cat ant faena com hiperbibasmo S f 1 Mar Atividade ou trabalho a que concorre ponderável parcela da tripulação de um navio 2 P ext Qualquer trabalho aturado lida azáfama Aurélio Eletrônico Fatalismo De fatal ismo S m 1 Filos Atitude ou doutrina que admite que o curso dos acontecimentos está pre viamente fixado nada podendo alterálo Aurélio Eletrônico O fatalismo sociológico ou cultural citado pelo autor é uma perspectiva teórica a mais das vezes não explicitada que en tende as condições sociais e culturais em que nasce um indivíduo como determinantes absolutos de seu destino social A M N Z Educação E sociEdadE 17 FERRIÈRE Adolphe 18791960 Um dos educadores franceses que fez parte do Movimento da Escola Nova Este Movimento é de renovação do ensino foi especialmente forte na Europa na América e no Brasil na primeira metade do século XX Escola Ativa ou Escola Progressiva são termos mais apropriados para descrever esse movimento que apesar de muito criticado ainda pode ter muitas idéias interessantes a nos oferecer Os primeiros grandes inspiradores da Escola Nova foram o escritor JeanJacques Rousseau 17121778 e os pedagogos Heinrich Pestalozzi 17461827 e Frei drich Fröebel 17821852 O grande nome do movimento na América foi o filósofo e pedagogo John Dewey 18591952 O psicólogo Edouard Claparède 18731940 e o educador Adolphe Ferrière entre muitos outros foram os expoentes na Europa No Brasil as idéias da Escola Nova foram introduzidas já em 1882 por Rui Barbosa 18491923 No século XX vários educadores se destacaram especialmente após a divulgação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 Podemos mencionar Lourenço Filho 18971970 e Anísio Teixeira 19001971 grandes humanistas e nomes im portantes de nossa história pedagógica Estudaremos detalhadamente este movimento e seus principais representantes nos Cadernos de Formação em História da Educação e de Filosofia da Educação httpwwweducacionalcombrpaisglossariopedagogicoescolanovaasp Gramática do ensino Esta expressão designa para o autor a criação de normas e estruturas de regras simbólicas que ordenamregulam o ensino e a própria caracterização da escola e suas funções sociais aceita pelos educadores Idílico De idílio ico2 Adj 1 Relativo a idílio 2 Que lembra o idílio pelo ambiente campestre e pelo amor suave e terno próprio de idílio um cenário idílico Aurélio Eletrônico Monopólio Do gr monopólion pelo lat monopoliu S m 2 Controle exclusivo de uma atividade atribuído a determinada empresa ou entidade 3 A atividade da qual se atribui controle exclusivo Aurélio Eletrônico Motu próprio moto 1 Do lat motu S m 1 Movimento giro De moto próprio 1 De vontade própria espontanea mente Aurélio Eletrônico Nãodiretivas escolas A concepção de uma escola nãodiretiva basicamente consiste em entender que a escola e por extensão os alunos devem criar mecanismo de autoregulação de modo a formar os alunos numa perspectiva libertária Esta concepção porém embora positiva em princípio chocase com todo um contexto social que não convive positiva mente com esse tipo de orientação ORTEGA Y GASSET José 18831955 Filósofo e reconhecido intelectual espanhol Depois de estudar com os je suítas e de doutorarse em 1904 na universidade de sua cidade natal prosseguiu os estudos filosóficos na Alemanha De regresso à Espanha com apenas 27 anos foi nomeado catedrático de metafísica da Universidade de Madri Sob seu magistério formaramse várias gerações de intelectuais espanhóis entre os quais Xavier Zubiri Julián Marías e Manuel García Morente Criador de revistas como España 1915 e do jornal El Sol 1917 em 1923 fundou a conceituada Revista de Occidente que por meio de suas páginas e da editora do mesmo nome divulgou na Espanha o pensamento europeu e a obra dos principais pensadores e literatos nacionais A obra de Ortega y Gasset sempre sintonizada com a realidade de seu tempo apareceu com freqüência em colaborações e ensaios jornalísticos depois reunidos em livros A primeira fase de estudos como Meditaciones del Quijote 1914 e El tema de nuestro tiempo 1923 levou à elaboração da filosofia da razão vital que se sintetiza em sua famosa sentença Yo soy yo y mis circunstancias afirmação cabal de que a realidade é interação entre o eu e tudo o que o rodeia ou condiciona A vida assim é a autêntica realidade dinâmica e mutável e a razão só se concebe com base nesse dinamismo Em La rebelión de las masas 1929 um de seus livros mais polêmicos Ortega y Gasset postula que dada a progressiva massificação da sociedade contemporânea a liderança social deve caber a uma minoria intelectual aceita pelos demais cidadãos httpwwweducfculptdocentesopombohfeortega Penélope Personagem mítica grega esposa de Ulisses ou Odisseu rei de Ítaca por volta do século VII aC cuja estó ria é narrada na Odisséia de Homero Depois de ter participado da Guerra de Tróia e já na volta a sua ilha natal Ítaca Ulisses é castigado por ofensa dirigida aos deuses e perdese em sua viagem demorando dez anos no mar Durante esse tempo Penélope era assediada por candidatos ao trono de Ítaca que queriam desposála Fiel a Ulisses ou talvez desencantada dos candidatos Penélope lhes disse um dia que só se decidiria a escolher um novo marido no dia em que terminasse a obra de tecido que estava fazendo Encantados com a perspectiva de uma decisão rápida os aspirantes a rei se conformam a esperar Ocorre que Penélope à noite desmanchava todo o trabalho que fizera durante o dia dando assim tempo a Ulisses de retornar A metáfora utilizada pelo autor diz respeito à escola como uma nova Penélope que Educação E sociEdadE 18 educa durante umas horas do dia para seu trabalho ser desmanchado em seguida Proletarização De proletarizar ção S f Sociol 1 Processo social pelo qual indivíduos de camadas superiores perdem seu status social ou tornandose proletários ou adquirindo uma consciência específica própria do proletariado Proletariado De proletário ado2 S m 1 A classe dos proletários 2 Estado ou condição de proletário 3 Camada social formada de indivíduos que se caracterizam por sua qualidade permanente de assalariados e por seus modos de vida atitudes e reações decorrentes de tal situação Aurélio Eletrônico Prospectivo Do lat tard prospectivu Adj 1 Que faz ver adiante ou ao longe 2 Concernente ao futuro Aurélio Eletrônico Sacho Do lat sarculu pela f sarclu S m 1 Pequena enxada estreita e longa em geral com uma orelha 3 pontia guda ou bifurcada na parte superior acima do olho Aurélio Eletrônico Socialmente asséptico O autor aponta com esta expressão um tipo de discurso que segundo ele os educadores devem evitar limpo asséptico dos fatores sociais e culturais SOUSA SANTOS Boaventura Doutor em sociologia do direito pela Universidade Yale EUA professor titular da Universidade de Coimbra é hoje conhecido como um dos principais senão o principal intelectual da língua portuguesa na área de ciência sociais Entre seus diversos livros dois deles publicados recentemente no Brasil merecem destaque Pela Mão de Alice e A Crítica da Razão Indolente Nascido em Portugal Boaventura teve a sua trajetória intelectual inti mamente ligada ao Brasil Desde a pesquisa sobre pluralismo legal feita nas favelas do Rio de Janeiro nos anos 70 às suas constantes visitas a Porto Alegre para estudar o orçamento participativo o país sempre esteve associado às preocupa ções do autor Atualmente o professor Boaventura está envolvido em uma pesquisa sobre a reinvenção da emancipação social Para ele existe no mundo atual uma enorme dissociação entre a experiência e a expectativa Formação Geral Introdução à Educação Bloco1 Módulo 1 Disciplina 1 Educação e Sociedade Universidade Estadual de Alagoas Curso de Profissão Docente e Prática Educativa NOME DO ALUNO RESENHA CRÍTICA ACERCA DO ARTIGO RELAÇÃO ESCOLASOCIEDADE CIDADE 2024 NOME DO ALUNO RESENHA CRÍTICA ACERCA DO ARTIGO RELAÇÃO ESCOLASOCIEDADE Resenha realizada como exigência parcial de nota do curso de profissão docente e prática educativa Universidade Estadual de Alagoas solicitado pela Professora Ivana Carla de Oliveira CIDADE 2024 Introdução A relação entre a escola e a sociedade é um tema complexo e multifacetado que tem sido amplamente debatido e refletido ao longo da história O texto apresentará uma análise aprofundada dessa temática problematizando visões simplistas que enxergam a escola ora como redentora da sociedade ora como mera reprodutora de desigualdades Ademais o texto defende que qualquer mudança educativa deve envolver os diversos atores sociais apresentando uma visão integradora que compreende a complexidade do sistema escolar Essa perspectiva é relevante ao se propor repensar as relações entre a escola a sociedade e o papel dos docentes superando visões dicotômicas e valorizando a autonomia e o protagonismo dos professores como agentes essenciais para a transformação educacional e social Dessa forma a análise convida a uma reflexão crítica sobre as múltiplas dimensões que permeiam a relação entre a escola e a sociedade apontando caminhos para a construção de uma educação mais democrática e integrada à realidade social Relação EscolaSociedade Novas Respostas Para um Velho Problema O texto apresenta uma reflexão relevante sobre a relação entre a escola e a sociedade questionando a visão tradicional que enxerga a escola como a grande impulsionadora do progresso civilizacional O autor inicia destacando as advertências de Ortega y Gasset sobre o erro fundamental de se supor que as nações são grandes devido à qualidade de suas escolas salientando que ele se aplica a outros aspectos como a política a economia a justiça e a saúde Na primeira parte o autor alerta contra os perigos de se ter visões extremadas da escola seja como uma salvadora da sociedade seja como mera reprodutora desta Essa é uma análise relevante pois de fato a escola não pode carregar sozinha todo o peso das transformações sociais sendo necessário compreendêla dentro de um contexto mais amplo Na segunda parte o texto aborda a crise de identidade dos professores e a necessidade de reforçar a sua autonomia profissional Esse é um ponto crucial pois os docentes têm um papel fundamental na mediação entre a escola e a sociedade e precisam de maior protagonismo e valorização para exercer sua função de forma plena Na terceira parte o autor defende que qualquer mudança educativa deve envolver os diversos poderes em jogo na arena educativa apresentando uma visão integradora que compreende a complexidade do sistema escolar Essa perspectiva é importante pois entende que a transformação da escola não depende apenas dela mesma mas da atuação conjunta de diferentes atores sociais Ao final o autor faz uma analogia com a reflexão de Boaventura Sousa Santos sobre o fato de o prodigioso desenvolvimento científico não ter se traduzido em uma maior sabedoria do mundo Dessa forma ele sugere a necessidade de uma outra ciência e por extensão outra escola que não se baseie no excesso do mesmo mas na aceitação do outro reconhecendo a pluralidade de sentidos e os limites de sua interpretação e ação De modo geral o texto traz uma análise aprofundada e crítica sobre a relação entre escola e sociedade problematizando visões simplistas e apontando caminhos para uma transformação educativa mais ampla e participativa A Escola e os Professores como Regeneradores da Sociedade O texto apresenta uma análise aprofundada da famosa história O Diabo e a Escola escrita por Adolphe Ferrière no livromanifesto da Educação Nova Essa análise revelase bastante relevante por iluminar as transformações no entendimento sobre o papel da escola na sociedade Inicialmente o texto destaca como a história de Ferrière representa uma mudança significativa de paradigma em relação à visão tradicional da escola que sempre havia sido enxergada como uma instituição inequivocamente benéfica e promotora do progresso civilizacional Agora a escola é apresentada por um dos brilhantes pedagogos dos anos 1920 como uma criação diabólica desafiando essa noção consolidada O autor aponta que ao longo do século XIX em paralelo com a emergência de novos modos de governo e afirmação dos EstadosNação a escola se transformou em um elemento central no processo de homogeneização cultural e invenção da cidadania nacional Através da atribuição de um dado arbitrário cultural de aparências de naturalidade a escola desempenhou um papel crucial na concessão ao Estado do monopólio da violência simbólica que se quis legítima Dessa forma a escola passou a ser vista como uma instituição fundamental para a afirmação dos EstadosNacionais Esse modelo escolar caracterizado por aspectos como a organização dos alunos em classes graduadas e homogêneas a atuação individual dos professores a estruturação de espaços e tempos escolares rígidos a organização dos saberes em disciplinas entre outros elementos se impôs como a via única de fazer escola excluindo todas as outras possibilidades No entanto o texto ressalta que a história de Ferrière não visa esconjurar a escola enquanto instituição mas sim a escola antiga pois a escola nova é entendida como fundamentalmente libertadora e capaz de formar um Homem novo incapaz de se lançar nos horrores da Guerra Dessa forma a crítica da Educação Nova à instituição escolar termina de modo algo paradoxal por reafirmar uma crença quase ilimitada nas potencialidades regeneradoras da escola Em síntese o texto oferece uma análise crítica relevante e aprofundada sobre as transformações no entendimento do papel da escola na sociedade apontando como a história de Ferrière representa uma mudança de paradigma mesmo que sua crítica à escola antiga acabe por reafirmar uma visão quase redencionista da escola Profissionalização do Professorado e Ciências da Educação O texto apresenta uma análise histórica e crítica profunda sobre o processo de profissionalização do professorado destacando como este acompanhou uma política de normalização e controle estatal sobre a atividade docente O autor inicia apontando que a criação das escolas normais foi fundamental para disciplinar os professores transformandoos em agentes do projeto social e político da modernidade Nesse contexto os discursos e práticas produzidos nessas instituições buscaram edificar um novo modelo de professor no qual as antigas referências religiosas se cruzavam com o papel de servidores do Estado e da sua razão Essa redefinição dos professores como profissionais a serem geridos segundo padrões institucionais próprios é compreendida como parte integrante de um processo mais amplo de construção das ciências sociais modernas no qual a afirmação da cientificidade da pedagogia desempenhou um papel central O autor destaca como essa cientificização implicou a defesa da objetividade e a rejeição da história apresentando a evidência científica como um fenômeno natural e não como uma construção social Paradoxalmente o autor aponta que a Educação Nova ao criticar a escola antiga acabou por reafirmar e aprofundar essa gramática da escola mantendo uma crença total nas suas potencialidades regeneradoras Dessa forma a imagem da escola e da profissão docente que se consolidou nesse período ainda hoje nos assombra com a noção de que os professores teriam um papel de reparação ou regeneração da sociedade No entanto o texto argumenta que essa perspectiva excessivamente redentora da escola e do professorado foi severamente criticada décadas depois nos debates dos anos 1960 Nesse contexto a escola e os professores foram acusados de não cumprir suas promessas e de contribuir para a reprodução das desigualdades sociais O autor destaca que outrora vistos como apóstolos das luzes os professores passaram a ser olhados e acusados como meros agentes de reprodução o que gerou uma profunda crise de identidade na profissão docente Diante dessa crise o autor defende a necessidade de se repensar radicalmente as relações entre a escola e a sociedade abandonando sonhos antigos de uma escola transformadora e evitando a culpabilização dos professores pelos problemas sociais Nesse sentido propõe a definição de uma nova profissionalidade docente que afirme a dimensão ética e militante da profissão sem alimentar utopias excessivas que se voltem contra os próprios docentes Em suma o texto oferece uma análise histórica e crítica extremamente relevante sobre o processo de profissionalização do professorado destacando as implicações dessa dinâmica na construção de uma determinada imagem da escola e do papel dos docentes bem como a necessidade de se repensar esse modelo de forma mais realista e integrada à complexidade da realidade social Os Professores em Crise Um MalEstar que se Prolonga O texto apresenta uma análise aprofundada sobre as duas principais tendências que têm marcado a forma de se encarar a crise de identidade dos professores O autor identifica essas duas tendências de forma bastante sistemática A primeira tendência externa à própria profissão docente é caracterizada pelos esforços de racionalização do ensino levados a cabo desde os anos 1970 que buscam controlar a priori os fatores imprevisíveis e aleatórios do ato educativo Isso se manifesta na tentativa de separar o trabalho de concepção das tarefas de realização pedagógica relegando os professores a meros técnicos cuja função se restringe à aplicação rigorosa de ideias e procedimentos elaborados por outros grupos O autor ressalta que essa tendência à racionalização do ensino está intimamente relacionada à expansão dos especialistas pedagógicos ou em ciências da educação que acabam por pôr em causa a autonomia profissional dos docentes Além disso destacase nesse processo a proletarização do professorado marcada pela intensificação do trabalho docente e a introdução de práticas administrativas de avaliação que acabam por desvalorizar a experiência e as capacidades adquiridas pelos professores ao longo de suas trajetórias O autor argumenta que a racionalização a proletarização e a privatização do ensino são aspectos diferentes de uma mesma agenda política que tende a encarar a educação sob uma lógica economicista e a definir a profissão docente segundo critérios essencialmente técnicos Essa perspectiva propõe uma saída da crise mediante um nivelamento por baixo um esvaziamento das aspirações intelectuais dos professores e um controle mais apertado da profissão Por outro lado a segunda tendência interna à própria profissão docente tem buscado vias distintas de saída da crise baseadas em projetos de afirmação da autonomia dos professores e das bases intelectuais do trabalho pedagógico Nesse sentido destacase a emergência nos últimos anos de uma vasta literatura que traz novamente os professores para o centro dos debates educativos abordando aspectos como o stress o desenvolvimento pessoal e profissional etc O autor argumenta que essa tendência interna à profissão docente enfrenta a questão da identidade pela ótica da diversidade sem negar a adesão a um conjunto de valores e princípios comuns Isso implica reconhecer que a pessoa do professor é indissociável da identidade profissional e que esta se constrói de forma singular a partir da definição de ideais educativos próprios da adoção de métodos e práticas alinhados à sua maneira de ser e da escolha de estilos pessoais de reflexão sobre a ação Em suma o texto oferece uma análise crítica bastante aprofundada das duas principais tendências na forma de se encarar a crise identitária dos docentes ressaltando que a saída dessa crise passa pela afirmação da dimensão intelectual e autônoma do trabalho pedagógico em oposição a uma visão meramente técnica e racionalizadora da profissão Por que é que Fazemos o que Fazemos na Sala de Aula O texto apresenta uma reflexão crítica importante sobre as razões que levam os professores a agirem de determinada forma em sala de aula destacando o papel da identidade profissional na construção dessas práticas O autor argumenta que cada professor desenvolve uma maneira própria de organizar as aulas de se movimentar de se dirigir aos alunos de utilizar os recursos pedagógicos que se torna quase uma segunda pele profissional Há um efeito de rigidez que torna os docentes pouco disponíveis para a mudança especialmente quando certas práticas foram empregadas com sucesso em momentos decisivos de suas carreiras Ao mesmo tempo o texto reconhece que os professores são também um grupo profissional muito sensível às modas que invadem o campo educativo especialmente em um contexto marcado pela impressionante circulação de ideias e pela velocidade quase delirante das inovações tecnológicas O autor destaca que essa adesão acrítica às modas pedagógicas representa uma fuga para a frente uma opção preguiçosa que nos dispensa de tentar compreender os reais desafios educacionais Nesse sentido o autor defende a necessidade de que os professores cultivem um ceticismo saudável em relação a tudo o que lhes é proposto reconhecendo que a inovação só faz sentido se passar por um processo de reflexão e de apropriação pessoal Ou seja as mudanças nas práticas docentes não podem ser fruto de mera adesão a modas passageiras mas devem resultar de um trabalho de ressignificação e de construção da identidade profissional Em suma o texto traz uma contribuição relevante ao problematizar a rigidez e a adesão acrítica às modas que marcam muitas vezes a atuação dos professores em sala de aula Ao mesmo tempo aponta a necessidade de que os docentes desenvolvam um olhar crítico e reflexivo sobre sua prática de forma a promover transformações que tenham sentido e relevância para sua identidade profissional Que Saber Mobilizamos na Nossa Ação Pedagógica O texto apresenta uma análise crítica relevante sobre a natureza do conhecimento mobilizado pelos professores em sua prática pedagógica O autor destaca que durante muito tempo os docentes limitaramse a mobilizar um saber meramente disciplinar assumindose fundamentalmente como transmissores de conhecimentos científicos Essa perspectiva é criticada pelo autor que a considera fruto de uma incompreensão fundamental sobre o ensino Segundo ele o processo de ensinoaprendizagem não se resume à transposição de conhecimentos científicos para o âmbito escolar mas envolve uma alquimia complexa de transformação desses saberes em conteúdos curriculares O texto evoca a crítica de autores como Lee Shulman que demonstraram que o professor necessita não apenas dominar os conteúdos que ensina mas também compreender a forma como esse conhecimento se constituiu historicamente Shulman propôs o aforismo Quem sabe faz quem compreende ensina enfatizando que a capacidade de ensinar é o teste definitivo para confirmar a compreensão do conhecimento Essa perspectiva amplia significativamente a noção de saber docente entendendoo não apenas como o domínio de conhecimentos disciplinares mas como a habilidade de transformálos em produtos de ensino mediante uma profunda reflexão e reelaboração dos conteúdos O texto argumenta então que é preciso valorizar o professor como produtor de saber e não apenas como consumidor ou mero executor de pacotes curriculares prédefinidos Defende se a necessidade de investir na pessoa do professor e de dar estatuto ao saber emergente de sua experiência profissional consolidando sua autonomia e sua segurança enquanto profissional Em suma o texto oferece uma análise crítica relevante sobre a natureza do conhecimento mobilizado pelos professores deslocando o foco da mera transmissão de conteúdo para a compreensão reelaboração e criação de saberes pedagógicos Isso é entendido como fundamental para enfrentar a crise de identidade que tem marcado a profissão docente Escola e Sociedade O texto apresenta uma reflexão final que busca articular as duas ideias centrais desenvolvidas anteriormente a crítica à ideia de uma escolatodopoderosa e a discussão sobre a crise de identidade dos professores O autor argumenta que a saída dessa crise não passa pela multiplicação de controles externos mas por um trabalho de reflexão interno à própria profissão docente Nesse sentido defende que uma nova relação entre a escola e a sociedade deve se basear no respeito pelo direito das famílias e das comunidades a participarem da ação educativa e no respeito pela autonomia e pelas competências profissionais dos professores Historicamente o autor afirma que esses dois direitos ou poderes das famílias e dos docentes são frequentemente vistos como antagônicos No entanto ele se diz convencido de que não é possível promover mudanças educativas significativas sem um investimento positivo nesses dois elementos Para que esse investimento ocorra o texto aponta duas condições essenciais 1 não negar às famílias sobretudo das camadas populares o direito de decidir e participar da educação de seus filhos 2 não tomar os professores como culpados pela crise atual dos sistemas de ensino no bojo dos esforços reformistas Essa reflexão final reforça a necessidade de um equilíbrio entre o reconhecimento da autonomia e competência profissional dos docentes e a participação efetiva das famílias e comunidades na definição e implementação das políticas educacionais O autor defende que essa articulação é fundamental para viabilizar inovações e mudanças substantivas no campo da educação Em suma o texto apresenta uma contribuição relevante ao problematizar a necessidade de uma nova relação entre a escola a sociedade e os professores baseada no respeito mútuo e na valorização de seus respectivos papéis e capacidades O Poder das Famílias e das Comunidades O texto apresenta uma reflexão crítica importante sobre a necessidade de articular o poder das famílias e comunidades com a autonomia e competência profissional dos professores como condição essencial para a inovação e transformação no campo educacional O autor inicia destacando que ao longo da história esses dois poderes das famílias e dos docentes têm sido frequentemente vistos como antagônicos No entanto ele defende que não é possível promover mudanças substantivas na educação sem um investimento positivo nesses dois elementos Para que esse investimento ocorra o texto aponta duas condições fundamentais 1 não negar às famílias especialmente das camadas populares o direito de decidir e participar ativamente da educação de seus filhos 2 não culpabilizar os professores pela crise atual dos sistemas de ensino nos esforços reformistas O autor então realiza uma crítica contundente às estratégias historicamente adotadas para afastar as famílias e comunidades dos processos educativos sobretudo das classes populares Ele argumenta que o discurso da escolatodopoderosa e da escolajusticeira foi muitas vezes mobilizado pelos próprios docentes para legitimar esse distanciamento amparado em concepções de fatalismo sociológico que justificariam práticas pedagógicas discriminatórias Nesse sentido o texto defende a necessidade de uma democratização do sucesso escolar e de uma participação efetiva de todos os atores sociais na vida das escolas superando a visão da escola como um monopólio do Estado ou da Igreja Ao final o texto reforça a ideia de que a inovação educacional depende de um investimento positivo tanto no poder das famílias e comunidades quanto na autonomia e competência profissional dos professores Essa articulação é vista como fundamental para promover transformações substantivas no campo da educação Em suma o texto oferece uma análise crítica bastante profunda sobre a histórica tensão entre esses dois poderes famílias e docentes e a necessidade de superála em prol de uma educação mais democrática e participativa O Poder dos Professores O texto apresenta uma reflexão profunda e abrangente sobre a necessidade de repensar as relações entre a escola a sociedade e o papel dos professores buscando superar visões dicotômicas e antagônicas entre esses diferentes atores O autor inicia argumentando que as transformações no campo educativo não podem se basear em uma culpabilização e desvalorização dos professores como ocorreu em muitas das reformas educacionais do passado Ao contrário ele defende que é preciso investir positivamente os poderes dos professores reconhecendo sua autonomia e competência profissional Nesse sentido o autor critica os paradoxos que os docentes enfrentam atualmente são vistos com desconfiança acusados de serem profissionais medíocres mas ao mesmo tempo são bombardeados por uma retórica que os considera elementos essenciais para a melhoria da qualidade do ensino e do progresso social O texto argumenta que os professores precisam refazer uma identidade profissional que supere as antigas metáforas e concepções reducionistas sobre seu papel O autor defende a necessidade de valorizar as dimensões teóricas e intelectuais do trabalho docente bem como a construção de um saber de referência da profissão a partir da reflexão dos próprios professores sobre suas práticas Além disso o texto destaca a importância de os docentes terem efetiva autonomia profissional não podendo mais ficar submetidos a controles técnicos e burocráticos Outro ponto central da análise é a crítica à histórica tensão entre o poder das comunidades e o poder dos professores O autor defende que esses dois elementos não se excluem mas devem se articular em torno de um mesmo projeto de democratização da escola Nesse sentido ele argumenta que a escola e os professores não podem se limitar a reproduzir um discurso tecnocrático socialmente asséptico culturalmente descomprometido Pelo contrário devem assumir uma postura de cidadania e de utopia buscando dar sentido ao nosso trabalho cotidiano como educadores Por fim o texto problematiza o fato de que os principais atores sociais e instituições políticos sindicatos meios de comunicação intelectuais têm deixado de desempenhar um papel de pensamento prospectivo sobre o futuro da educação e da sociedade Nesse contexto o autor sugere que a escola e os professores podem assumir um papel primordial nessa tarefa uma vez que concentram grande parte do potencial cultural e mesmo técnico e científico das sociedades contemporâneas Conclusão O texto demonstra a necessidade de repensar o papel da escola e dos professores reconhecendoos como agentes ativos na construção de uma educação mais democrática e integrada à realidade social Nesse sentido destacase a importância de valorizar a autonomia e a competência profissional dos docentes reconhecendoos não apenas como transmissores de conhecimentos mas como produtores de saberes pedagógicos relevantes Além disso o texto chama a atenção para a importância de articular o poder das famílias e comunidades com o poder dos professores rejeitando a histórica tensão entre esses diferentes atores Essa articulação é vista como fundamental para viabilizar inovações e transformações substantivas no campo educacional permitindo que a escola e os professores assumam um papel de cidadania e de utopia na construção de um projeto educativo emancipador Por fim a análise sugere que a escola e os professores podem desempenhar um papel primordial no desenvolvimento de um pensamento prospectivo sobre o futuro da educação e da sociedade dada a concentração de grande parte do potencial cultural e mesmo técnico e científico das sociedades contemporâneas nesses âmbitos Em suma a conclusão deste texto convida a uma reflexão profunda sobre a necessidade de repensar as relações entre a escola a sociedade e o papel dos diferentes atores envolvidos com vistas à construção de uma educação mais democrática participativa e comprometida com a transformação social Universidade Estadual de Alagoas Curso de Profissão Docente e Prática Educativa NOME DO ALUNO RESENHA CRÍTICA ACERCA DO ARTIGO RELAÇÃO ESCOLASOCIEDADE CIDADE 2024 NOME DO ALUNO RESENHA CRÍTICA ACERCA DO ARTIGO RELAÇÃO ESCOLASOCIEDADE Resenha realizada como exigência parcial de nota do curso de profissão docente e prática educativa Universidade Estadual de Alagoas solicitado pela Professora Ivana Carla de Oliveira CIDADE 2024 Introdução A relação entre a escola e a sociedade é um tema complexo e multifacetado que tem sido amplamente debatido e refletido ao longo da história O texto apresentará uma análise aprofundada dessa temática problematizando visões simplistas que enxergam a escola ora como redentora da sociedade ora como mera reprodutora de desigualdades Ademais o texto defende que qualquer mudança educativa deve envolver os diversos atores sociais apresentando uma visão integradora que compreende a complexidade do sistema escolar Essa perspectiva é relevante ao se propor repensar as relações entre a escola a sociedade e o papel dos docentes superando visões dicotômicas e valorizando a autonomia e o protagonismo dos professores como agentes essenciais para a transformação educacional e social Dessa forma a análise convida a uma reflexão crítica sobre as múltiplas dimensões que permeiam a relação entre a escola e a sociedade apontando caminhos para a construção de uma educação mais democrática e integrada à realidade social Relação EscolaSociedade Novas Respostas Para um Velho Problema O texto apresenta uma reflexão relevante sobre a relação entre a escola e a sociedade questionando a visão tradicional que enxerga a escola como a grande impulsionadora do progresso civilizacional O autor inicia destacando as advertências de Ortega y Gasset sobre o erro fundamental de se supor que as nações são grandes devido à qualidade de suas escolas salientando que ele se aplica a outros aspectos como a política a economia a justiça e a saúde Na primeira parte o autor alerta contra os perigos de se ter visões extremadas da escola seja como uma salvadora da sociedade seja como mera reprodutora desta Essa é uma análise relevante pois de fato a escola não pode carregar sozinha todo o peso das transformações sociais sendo necessário compreendêla dentro de um contexto mais amplo Na segunda parte o texto aborda a crise de identidade dos professores e a necessidade de reforçar a sua autonomia profissional Esse é um ponto crucial pois os docentes têm um papel fundamental na mediação entre a escola e a sociedade e precisam de maior protagonismo e valorização para exercer sua função de forma plena Na terceira parte o autor defende que qualquer mudança educativa deve envolver os diversos poderes em jogo na arena educativa apresentando uma visão integradora que compreende a complexidade do sistema escolar Essa perspectiva é importante pois entende que a transformação da escola não depende apenas dela mesma mas da atuação conjunta de diferentes atores sociais Ao final o autor faz uma analogia com a reflexão de Boaventura Sousa Santos sobre o fato de o prodigioso desenvolvimento científico não ter se traduzido em uma maior sabedoria do mundo Dessa forma ele sugere a necessidade de uma outra ciência e por extensão outra escola que não se baseie no excesso do mesmo mas na aceitação do outro reconhecendo a pluralidade de sentidos e os limites de sua interpretação e ação De modo geral o texto traz uma análise aprofundada e crítica sobre a relação entre escola e sociedade problematizando visões simplistas e apontando caminhos para uma transformação educativa mais ampla e participativa A Escola e os Professores como Regeneradores da Sociedade O texto apresenta uma análise aprofundada da famosa história O Diabo e a Escola escrita por Adolphe Ferrière no livromanifesto da Educação Nova Essa análise revelase bastante relevante por iluminar as transformações no entendimento sobre o papel da escola na sociedade Inicialmente o texto destaca como a história de Ferrière representa uma mudança significativa de paradigma em relação à visão tradicional da escola que sempre havia sido enxergada como uma instituição inequivocamente benéfica e promotora do progresso civilizacional Agora a escola é apresentada por um dos brilhantes pedagogos dos anos 1920 como uma criação diabólica desafiando essa noção consolidada O autor aponta que ao longo do século XIX em paralelo com a emergência de novos modos de governo e afirmação dos EstadosNação a escola se transformou em um elemento central no processo de homogeneização cultural e invenção da cidadania nacional Através da atribuição de um dado arbitrário cultural de aparências de naturalidade a escola desempenhou um papel crucial na concessão ao Estado do monopólio da violência simbólica que se quis legítima Dessa forma a escola passou a ser vista como uma instituição fundamental para a afirmação dos EstadosNacionais Esse modelo escolar caracterizado por aspectos como a organização dos alunos em classes graduadas e homogêneas a atuação individual dos professores a estruturação de espaços e tempos escolares rígidos a organização dos saberes em disciplinas entre outros elementos se impôs como a via única de fazer escola excluindo todas as outras possibilidades No entanto o texto ressalta que a história de Ferrière não visa esconjurar a escola enquanto instituição mas sim a escola antiga pois a escola nova é entendida como fundamentalmente libertadora e capaz de formar um Homem novo incapaz de se lançar nos horrores da Guerra Dessa forma a crítica da Educação Nova à instituição escolar termina de modo algo paradoxal por reafirmar uma crença quase ilimitada nas potencialidades regeneradoras da escola Em síntese o texto oferece uma análise crítica relevante e aprofundada sobre as transformações no entendimento do papel da escola na sociedade apontando como a história de Ferrière representa uma mudança de paradigma mesmo que sua crítica à escola antiga acabe por reafirmar uma visão quase redencionista da escola Profissionalização do Professorado e Ciências da Educação O texto apresenta uma análise histórica e crítica profunda sobre o processo de profissionalização do professorado destacando como este acompanhou uma política de normalização e controle estatal sobre a atividade docente O autor inicia apontando que a criação das escolas normais foi fundamental para disciplinar os professores transformandoos em agentes do projeto social e político da modernidade Nesse contexto os discursos e práticas produzidos nessas instituições buscaram edificar um novo modelo de professor no qual as antigas referências religiosas se cruzavam com o papel de servidores do Estado e da sua razão Essa redefinição dos professores como profissionais a serem geridos segundo padrões institucionais próprios é compreendida como parte integrante de um processo mais amplo de construção das ciências sociais modernas no qual a afirmação da cientificidade da pedagogia desempenhou um papel central O autor destaca como essa cientificização implicou a defesa da objetividade e a rejeição da história apresentando a evidência científica como um fenômeno natural e não como uma construção social Paradoxalmente o autor aponta que a Educação Nova ao criticar a escola antiga acabou por reafirmar e aprofundar essa gramática da escola mantendo uma crença total nas suas potencialidades regeneradoras Dessa forma a imagem da escola e da profissão docente que se consolidou nesse período ainda hoje nos assombra com a noção de que os professores teriam um papel de reparação ou regeneração da sociedade No entanto o texto argumenta que essa perspectiva excessivamente redentora da escola e do professorado foi severamente criticada décadas depois nos debates dos anos 1960 Nesse contexto a escola e os professores foram acusados de não cumprir suas promessas e de contribuir para a reprodução das desigualdades sociais O autor destaca que outrora vistos como apóstolos das luzes os professores passaram a ser olhados e acusados como meros agentes de reprodução o que gerou uma profunda crise de identidade na profissão docente Diante dessa crise o autor defende a necessidade de se repensar radicalmente as relações entre a escola e a sociedade abandonando sonhos antigos de uma escola transformadora e evitando a culpabilização dos professores pelos problemas sociais Nesse sentido propõe a definição de uma nova profissionalidade docente que afirme a dimensão ética e militante da profissão sem alimentar utopias excessivas que se voltem contra os próprios docentes Em suma o texto oferece uma análise histórica e crítica extremamente relevante sobre o processo de profissionalização do professorado destacando as implicações dessa dinâmica na construção de uma determinada imagem da escola e do papel dos docentes bem como a necessidade de se repensar esse modelo de forma mais realista e integrada à complexidade da realidade social Os Professores em Crise Um MalEstar que se Prolonga O texto apresenta uma análise aprofundada sobre as duas principais tendências que têm marcado a forma de se encarar a crise de identidade dos professores O autor identifica essas duas tendências de forma bastante sistemática A primeira tendência externa à própria profissão docente é caracterizada pelos esforços de racionalização do ensino levados a cabo desde os anos 1970 que buscam controlar a priori os fatores imprevisíveis e aleatórios do ato educativo Isso se manifesta na tentativa de separar o trabalho de concepção das tarefas de realização pedagógica relegando os professores a meros técnicos cuja função se restringe à aplicação rigorosa de ideias e procedimentos elaborados por outros grupos O autor ressalta que essa tendência à racionalização do ensino está intimamente relacionada à expansão dos especialistas pedagógicos ou em ciências da educação que acabam por pôr em causa a autonomia profissional dos docentes Além disso destacase nesse processo a proletarização do professorado marcada pela intensificação do trabalho docente e a introdução de práticas administrativas de avaliação que acabam por desvalorizar a experiência e as capacidades adquiridas pelos professores ao longo de suas trajetórias O autor argumenta que a racionalização a proletarização e a privatização do ensino são aspectos diferentes de uma mesma agenda política que tende a encarar a educação sob uma lógica economicista e a definir a profissão docente segundo critérios essencialmente técnicos Essa perspectiva propõe uma saída da crise mediante um nivelamento por baixo um esvaziamento das aspirações intelectuais dos professores e um controle mais apertado da profissão Por outro lado a segunda tendência interna à própria profissão docente tem buscado vias distintas de saída da crise baseadas em projetos de afirmação da autonomia dos professores e das bases intelectuais do trabalho pedagógico Nesse sentido destacase a emergência nos últimos anos de uma vasta literatura que traz novamente os professores para o centro dos debates educativos abordando aspectos como o stress o desenvolvimento pessoal e profissional etc O autor argumenta que essa tendência interna à profissão docente enfrenta a questão da identidade pela ótica da diversidade sem negar a adesão a um conjunto de valores e princípios comuns Isso implica reconhecer que a pessoa do professor é indissociável da identidade profissional e que esta se constrói de forma singular a partir da definição de ideais educativos próprios da adoção de métodos e práticas alinhados à sua maneira de ser e da escolha de estilos pessoais de reflexão sobre a ação Em suma o texto oferece uma análise crítica bastante aprofundada das duas principais tendências na forma de se encarar a crise identitária dos docentes ressaltando que a saída dessa crise passa pela afirmação da dimensão intelectual e autônoma do trabalho pedagógico em oposição a uma visão meramente técnica e racionalizadora da profissão Por que é que Fazemos o que Fazemos na Sala de Aula O texto apresenta uma reflexão crítica importante sobre as razões que levam os professores a agirem de determinada forma em sala de aula destacando o papel da identidade profissional na construção dessas práticas O autor argumenta que cada professor desenvolve uma maneira própria de organizar as aulas de se movimentar de se dirigir aos alunos de utilizar os recursos pedagógicos que se torna quase uma segunda pele profissional Há um efeito de rigidez que torna os docentes pouco disponíveis para a mudança especialmente quando certas práticas foram empregadas com sucesso em momentos decisivos de suas carreiras Ao mesmo tempo o texto reconhece que os professores são também um grupo profissional muito sensível às modas que invadem o campo educativo especialmente em um contexto marcado pela impressionante circulação de ideias e pela velocidade quase delirante das inovações tecnológicas O autor destaca que essa adesão acrítica às modas pedagógicas representa uma fuga para a frente uma opção preguiçosa que nos dispensa de tentar compreender os reais desafios educacionais Nesse sentido o autor defende a necessidade de que os professores cultivem um ceticismo saudável em relação a tudo o que lhes é proposto reconhecendo que a inovação só faz sentido se passar por um processo de reflexão e de apropriação pessoal Ou seja as mudanças nas práticas docentes não podem ser fruto de mera adesão a modas passageiras mas devem resultar de um trabalho de ressignificação e de construção da identidade profissional Em suma o texto traz uma contribuição relevante ao problematizar a rigidez e a adesão acrítica às modas que marcam muitas vezes a atuação dos professores em sala de aula Ao mesmo tempo aponta a necessidade de que os docentes desenvolvam um olhar crítico e reflexivo sobre sua prática de forma a promover transformações que tenham sentido e relevância para sua identidade profissional Que Saber Mobilizamos na Nossa Ação Pedagógica O texto apresenta uma análise crítica relevante sobre a natureza do conhecimento mobilizado pelos professores em sua prática pedagógica O autor destaca que durante muito tempo os docentes limitaramse a mobilizar um saber meramente disciplinar assumindose fundamentalmente como transmissores de conhecimentos científicos Essa perspectiva é criticada pelo autor que a considera fruto de uma incompreensão fundamental sobre o ensino Segundo ele o processo de ensinoaprendizagem não se resume à transposição de conhecimentos científicos para o âmbito escolar mas envolve uma alquimia complexa de transformação desses saberes em conteúdos curriculares O texto evoca a crítica de autores como Lee Shulman que demonstraram que o professor necessita não apenas dominar os conteúdos que ensina mas também compreender a forma como esse conhecimento se constituiu historicamente Shulman propôs o aforismo Quem sabe faz quem compreende ensina enfatizando que a capacidade de ensinar é o teste definitivo para confirmar a compreensão do conhecimento Essa perspectiva amplia significativamente a noção de saber docente entendendoo não apenas como o domínio de conhecimentos disciplinares mas como a habilidade de transformálos em produtos de ensino mediante uma profunda reflexão e reelaboração dos conteúdos O texto argumenta então que é preciso valorizar o professor como produtor de saber e não apenas como consumidor ou mero executor de pacotes curriculares prédefinidos Defendese a necessidade de investir na pessoa do professor e de dar estatuto ao saber emergente de sua experiência profissional consolidando sua autonomia e sua segurança enquanto profissional Em suma o texto oferece uma análise crítica relevante sobre a natureza do conhecimento mobilizado pelos professores deslocando o foco da mera transmissão de conteúdo para a compreensão reelaboração e criação de saberes pedagógicos Isso é entendido como fundamental para enfrentar a crise de identidade que tem marcado a profissão docente Escola e Sociedade O texto apresenta uma reflexão final que busca articular as duas ideias centrais desenvolvidas anteriormente a crítica à ideia de uma escolatodopoderosa e a discussão sobre a crise de identidade dos professores O autor argumenta que a saída dessa crise não passa pela multiplicação de controles externos mas por um trabalho de reflexão interno à própria profissão docente Nesse sentido defende que uma nova relação entre a escola e a sociedade deve se basear no respeito pelo direito das famílias e das comunidades a participarem da ação educativa e no respeito pela autonomia e pelas competências profissionais dos professores Historicamente o autor afirma que esses dois direitos ou poderes das famílias e dos docentes são frequentemente vistos como antagônicos No entanto ele se diz convencido de que não é possível promover mudanças educativas significativas sem um investimento positivo nesses dois elementos Para que esse investimento ocorra o texto aponta duas condições essenciais 1 não negar às famílias sobretudo das camadas populares o direito de decidir e participar da educação de seus filhos 2 não tomar os professores como culpados pela crise atual dos sistemas de ensino no bojo dos esforços reformistas Essa reflexão final reforça a necessidade de um equilíbrio entre o reconhecimento da autonomia e competência profissional dos docentes e a participação efetiva das famílias e comunidades na definição e implementação das políticas educacionais O autor defende que essa articulação é fundamental para viabilizar inovações e mudanças substantivas no campo da educação Em suma o texto apresenta uma contribuição relevante ao problematizar a necessidade de uma nova relação entre a escola a sociedade e os professores baseada no respeito mútuo e na valorização de seus respectivos papéis e capacidades O Poder das Famílias e das Comunidades O texto apresenta uma reflexão crítica importante sobre a necessidade de articular o poder das famílias e comunidades com a autonomia e competência profissional dos professores como condição essencial para a inovação e transformação no campo educacional O autor inicia destacando que ao longo da história esses dois poderes das famílias e dos docentes têm sido frequentemente vistos como antagônicos No entanto ele defende que não é possível promover mudanças substantivas na educação sem um investimento positivo nesses dois elementos Para que esse investimento ocorra o texto aponta duas condições fundamentais 1 não negar às famílias especialmente das camadas populares o direito de decidir e participar ativamente da educação de seus filhos 2 não culpabilizar os professores pela crise atual dos sistemas de ensino nos esforços reformistas O autor então realiza uma crítica contundente às estratégias historicamente adotadas para afastar as famílias e comunidades dos processos educativos sobretudo das classes populares Ele argumenta que o discurso da escolatodopoderosa e da escolajusticeira foi muitas vezes mobilizado pelos próprios docentes para legitimar esse distanciamento amparado em concepções de fatalismo sociológico que justificariam práticas pedagógicas discriminatórias Nesse sentido o texto defende a necessidade de uma democratização do sucesso escolar e de uma participação efetiva de todos os atores sociais na vida das escolas superando a visão da escola como um monopólio do Estado ou da Igreja Ao final o texto reforça a ideia de que a inovação educacional depende de um investimento positivo tanto no poder das famílias e comunidades quanto na autonomia e competência profissional dos professores Essa articulação é vista como fundamental para promover transformações substantivas no campo da educação Em suma o texto oferece uma análise crítica bastante profunda sobre a histórica tensão entre esses dois poderes famílias e docentes e a necessidade de superála em prol de uma educação mais democrática e participativa O Poder dos Professores O texto apresenta uma reflexão profunda e abrangente sobre a necessidade de repensar as relações entre a escola a sociedade e o papel dos professores buscando superar visões dicotômicas e antagônicas entre esses diferentes atores O autor inicia argumentando que as transformações no campo educativo não podem se basear em uma culpabilização e desvalorização dos professores como ocorreu em muitas das reformas educacionais do passado Ao contrário ele defende que é preciso investir positivamente os poderes dos professores reconhecendo sua autonomia e competência profissional Nesse sentido o autor critica os paradoxos que os docentes enfrentam atualmente são vistos com desconfiança acusados de serem profissionais medíocres mas ao mesmo tempo são bombardeados por uma retórica que os considera elementos essenciais para a melhoria da qualidade do ensino e do progresso social O texto argumenta que os professores precisam refazer uma identidade profissional que supere as antigas metáforas e concepções reducionistas sobre seu papel O autor defende a necessidade de valorizar as dimensões teóricas e intelectuais do trabalho docente bem como a construção de um saber de referência da profissão a partir da reflexão dos próprios professores sobre suas práticas Além disso o texto destaca a importância de os docentes terem efetiva autonomia profissional não podendo mais ficar submetidos a controles técnicos e burocráticos Outro ponto central da análise é a crítica à histórica tensão entre o poder das comunidades e o poder dos professores O autor defende que esses dois elementos não se excluem mas devem se articular em torno de um mesmo projeto de democratização da escola Nesse sentido ele argumenta que a escola e os professores não podem se limitar a reproduzir um discurso tecnocrático socialmente asséptico culturalmente descomprometido Pelo contrário devem assumir uma postura de cidadania e de utopia buscando dar sentido ao nosso trabalho cotidiano como educadores Por fim o texto problematiza o fato de que os principais atores sociais e instituições políticos sindicatos meios de comunicação intelectuais têm deixado de desempenhar um papel de pensamento prospectivo sobre o futuro da educação e da sociedade Nesse contexto o autor sugere que a escola e os professores podem assumir um papel primordial nessa tarefa uma vez que concentram grande parte do potencial cultural e mesmo técnico e científico das sociedades contemporâneas Conclusão O texto demonstra a necessidade de repensar o papel da escola e dos professores reconhecendoos como agentes ativos na construção de uma educação mais democrática e integrada à realidade social Nesse sentido destacase a importância de valorizar a autonomia e a competência profissional dos docentes reconhecendoos não apenas como transmissores de conhecimentos mas como produtores de saberes pedagógicos relevantes Além disso o texto chama a atenção para a importância de articular o poder das famílias e comunidades com o poder dos professores rejeitando a histórica tensão entre esses diferentes atores Essa articulação é vista como fundamental para viabilizar inovações e transformações substantivas no campo educacional permitindo que a escola e os professores assumam um papel de cidadania e de utopia na construção de um projeto educativo emancipador Por fim a análise sugere que a escola e os professores podem desempenhar um papel primordial no desenvolvimento de um pensamento prospectivo sobre o futuro da educação e da sociedade dada a concentração de grande parte do potencial cultural e mesmo técnico e científico das sociedades contemporâneas nesses âmbitos Em suma a conclusão deste texto convida a uma reflexão profunda sobre a necessidade de repensar as relações entre a escola a sociedade e o papel dos diferentes atores envolvidos com vistas à construção de uma educação mais democrática participativa e comprometida com a transformação social