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O Decênio Decisivo Propostas para uma Política de Sobrevivência Luiz Marques - Análise Completa

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O Decênio Decisivo Propostas para uma Política de Sobrevivência Luiz Marques - Análise Completa

Filosofia

UFOP

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Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 120 O Antropoceno como aceleração do aquecimento global The Anthropocene as an acceleration of global warming Luiz Marques a RESUMO O conceito de Antropoceno referese primariamente ao aumento da escala da interferência antrópica no sistema Terra mas também à aceleração desse aumento A combinação desses dois fatores escala e velocidade molda o sistema Terra de modo mais decisivo do que a interferência de fatores não antrópicos promovendo um colapso do tempo geológico no tempo histórico Pomos aqui em evidência duas fases da aceleração desse aquecimento 19702015 e 20162040 com suas consequências mais imediatas e dramáticas maior frequência de novos recordes de calor e intensificação das ondas de calor extremo que têm matado mais e mais pessoas e ameaçam a habitabilidade do planeta em latitudes de grande densidade demográfica já no horizonte dos próximos decênios Palavraschave Antropoceno Colapso ecológico Ecologia política Aquecimento global ABSTRACT The Anthropocene concept refers primarily to the increase in scale of human interference in the Earth system but also to the acceleration of this increase The combination of these two factors scale and velocity shapes the Earth system more decisively than the interference of nonanthropic factors promoting a collapse of geological time into historical time Here we highlight two phases of the acceleration of this warming 19702015 and 20162040 with their most immediate and dramatic consequences the greater frequency of new heat records and the intensification of extreme heat waves which have killed more and more people and threaten the habitability of the planet in latitudes of high population density already on the horizon of the next decades Keywords Anthropocene Ecological collapse Political ecology Global warming a Universidade Estadual de Campinas Campinas SP Brasil Correspondência paraCorrespondence to Luiz Marques Email luizmarques4gmailcom Recebido emReceived 04042022 Aprovado emApproved 22052022 Artigo publicado em acesso aberto sob licença CC BY 40 Internacional Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 220 INTRODUÇÃO Na nova época geológica iniciada na segunda metade do século XX o Antropoceno1 a atividade humana tornouse a variável mais importante nas dinâmicas do sistema Terra não apenas por sua mudança de escala mas também pela velocidade crescente dessa mudança isto é por sua aceleração Embora como unidade do tempo geológico o Antropoceno encontrese ainda em vias de ratificação final na terminologia estratigráfica CRUTZEN STOERMER 2000 CRUTZEN 2002 CRUTZEN 2006 STEFFEN et al 2007 STEFFEN et al 2011 ZALASIEWICZ 2015 MARQUES 2018 ele já se tornou um termo amplamente consagrado na literatura científica e das humanidades2 e sua datação prevalentemente a partir de meados do século XX contribui em muito para que Antropoceno e aceleração tornemse termos quase intercambiáveis De fato o programa de pesquisas dedicadas às mudanças globais Global Change International GeosphereBiosphere Programme demonstrou em sua síntese de 2004 IGPB 2004 a emergência de uma Grande Aceleração a partir de 1950 considerado o período 17502000 Eis a síntese de seus resultados A segunda metade do século XX é única em toda a história da existência humana na Terra Muitas atividades humanas alcançaram pontos de decolagem em algum momento do século XX e se aceleraram fortemente no final do século Os últimos 50 anos testemunharam sem dúvida a mais rápida transformação da relação humana com o mundo natural na história da humanidade STEFFEN et al 2004 Essa transformação vertiginosa nas relações entre os humanos e o sistema Terra encontrou seu ícone nos 24 indicadores em interação 12 indicadores socioeconômicos e 12 relativos a mudanças antropogênicas no sistema Terra atualizados em 2015 por Will Steffen e colegas até 2010 STEFFEN et al 2014 Como afirmam os autores desse trabalho seminal É difícil superestimar a escala e a velocidade das mudanças No intervalo de tempo de duas gerações ou o tempo de uma única vida a humanidade ou até pouco tempo uma pequena fração dela tornouse uma força geológica em escala planetária Desde os anos 1970 a comunidade científica e os movimentos ambientalistas vêm se mobilizando para comunicar às sociedades e aos governantes os riscos crescentes implicados nesses saltos em escala e velocidade da interferência antrópica nos equilíbrios planetários impostos por uma economia inerentemente expansiva Num primeiro momento as manifestações dos cientistas pontuam os dois grandes eventos diplomáticos de 1972 e de 1992 a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano ocorrida em Estocolmo e a Eco92 ou Cúpula da Terra que teve lugar no Rio de Janeiro vinte anos depois De 1972 são Only One Earth WARD DUBOS 1972 Blueprint for survival GOLDSMITH ALLEN 1972 e The 1 O Grupo de trabalho sobre Antropoceno da Subcomissão sobre a Estratigrafia do Quaternário assim define o Antropoceno O intervalo de tempo presente no qual muitas condições e processos geológicos significativos são profundamente alterados pelas atividades humanas Estes abrangem erosão transportes de sedimentos associados a uma variedade de processos antropogênicos colonização agricultura urbanização aquecimento global a composição química da atmosfera oceanos e solos com perturbações antropogênicas significativas dos ciclos de elementos como o carbono nitrogênio fósforo vários metais acidificação oceânica ampliação das zonas mortas perturbações da biosfera terrestre e marítima perda de habitat predação invasões de espécies e as mudanças químicas mencionadas acima 2 Sobre as relações do Antropoceno com o Brasil vejase Issberner Lena ogs 2017 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 320 Limits to Growth MEADOWS et al 19723 Entre as diversas manifestações de 1992 destacase a Advertência dos Cientistas do Mundo à Humanidade4 Estes eram apenas os primeiros passos dessa mobilização que dá um salto de radicalidade no segundo decênio do século XXI Em 2013 Anthony Barnosky e colegas publicaram o Consenso Científico sobre a Manutenção dos Sistemas de Sustentação da Vida da Humanidade no Século XXI Informação aos Formuladores de Políticas BARNOSKY et al 2013 endossado por mais de 3700 assinaturas Em 2017 2020 e 2021 William Ripple e colegas RIPPLE et al publicaram três advertências sobre a emergência ambiental e climática subscritas por dezenas de milhares de cientistas de mais de 180 países Desde 2018 sobretudo após o Relatório Especial do IPCC com foco nos impactos diferenciais entre um aquecimento de 15oC e um aquecimento de 2oC verificase um acúmulo de estudos manifestos científicos e estudos interdisciplinares sobre a emergência climática e sobre os riscos crescentes envolvidos na aceleração em curso do aquecimento os quais contudo não têm encontrado a devida ressonância na sociedade e menos ainda na rede corporativa global e nas instâncias políticas decisórias São muitas e bem conhecidas as resistências políticas e econômicas à ciência e às rápidas e radicais transformações por ela preconizadas no sistema econômico globalizado Mas mesmo nas sociedades como um todo constatase uma baixa reatividade aos alertas científicos Ao lado do bloqueio ideológico da desinformação patrocinada e dos interesses em jogo esse descompasso entre a alta voltagem da informação qualificada e a baixa percepção social das crises que se avolumam reside na dificuldade de apreender intuitivamente as implicações da Grande Aceleração O senso comum tende compreensivelmente a prefigurar o futuro a partir das experiências e das métricas do passado Nada contudo pode ser mais enganoso numa dinâmica de aceleração sobretudo quando se levam em conta as respostas não lineares do sistema Terra ao acúmulo de estímulos e perturbações Tomemos por exemplo a elevação do nível do mar No período 19001930 a taxa média de elevação do nível do mar era de 06 mm por ano Entre 2014 e 2017 o nível do mar se elevou em média 5 mm por ano e em 2019 ele se elevou 61 mm em relação a 2018 LINDSEY 2020 Em apenas um século portanto a rapidez da elevação do nível do mar mais que decuplicou Isso significa que a cada 33 anos na média essa rapidez duplicou passando de 06 mm para 12 mm 24 mm e para 48 mm Em 2011 James Hansen e Makiko Sato mostravam a magnitude assombrosa de um aumento exponencial do nível do mar já neste século Conforme o aquecimento aumenta o número de rios de gelo a contribuir para a perda de massa aumentará contribuindo para uma resposta não linear melhor caracterizada por um aumento exponencial do que por um aumento linear Hansen 3 O livro Only One Earth foi encomendado pelo presidente da Conferência das Nações Unidas Maurice Strong sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano em Estocolmo em 1972 o manifesto Blueprint for survival proposto por Edward Teddy Goldsmith e Robert Allen foi publicado pela revista The Ecologist em 1972 também por ocasião da Conferência de Estocolmo desse ano Ele foi assinado por mais de 30 cientistas eminentes entre os quais Julian Huxley Frank Fraser Darling Peter Medawar e Peter Scott Vejase httpwwwtheecologistinfopage33html The Limits to Growth Meadows et al 1972 encomendado pelo Clube de Roma Este estudo pioneiro que ganhou duas atualizações em 1992 e em 2004 analisava os pressupostos teóricos do crescimento econômico a partir de uma teoria de sistemas dinâmicos consubstanciada num modelo computacional elaborado no MIT e intitulado World3 4 Cf World Cientists Warning to Humanity 16VII1992 Patrocinado pela Union of Concerned Scientists do MIT redigido por Henry W Kendall Prêmio Nobel em Física de Partículas em 1990 e assinado por 1700 cientistas incluindo a maioria dos laureados com o Prêmio Nobel em diversos campos das ciências httpswwwucsusaorgresources1992worldscientistswarninghumanity Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 420 2007 sugeriu que um tempo de duplicação a cada 10 anos era plausível e indicou que tal tempo de duplicação a partir de uma contribuição do manto de gelo de 1 mm por ano para o nível do mar na década de 20052015 levaria a 5 metros cumulativos de aumento do nível do mar em 2095 HANSEN SATO 2011 Em 2016 os mesmos autores ao lado de outros colegas reafirmaram com mais dados os resultados de sua análise Nossa hipótese é que a perda de massa do gelo mais vulnerável suficiente para aumentar o nível do mar em vários metros aproximase melhor de uma resposta exponencial do que de uma resposta linear Tempos de duplicação de 10 20 ou 40 anos produzem aumentos de vários metros no nível do mar em cerca de 50 100 ou 200 anos HANSEN SATO 2016 Em apoio a essa hipótese Mohsen Taherkhani e colegas mostram que as probabilidades de inundações extremas na linha costeira dobram aproximadamente a cada cinco anos no futuro TAHERKHANY et al 2020 Paul Voosen reporta predições de Aimée Slangen ainda inéditas segundo as quais quando os níveis do mar aumentarem 25 cm acima dos níveis de 2000 o que pode ser atingido já em 2040 inundações da linha costeira que ocorrem uma vez por século podem ocorrer anualmente VOOSEN 2020 Scott Kulp e Benjamin Strauss do Climate Central projetam enfim que cerca de 300 milhões de pessoas em seis países da Ásia vivem hoje em terrenos que serão inundados durante as marés altas em meados do século XXI algo impensável poucos anos atrás KULP STRAUSS 2019 Como afirmam Robert DeConto e David Pollard 2016 Hoje estamos medindo a elevação do nível do mar em milímetros por ano Falamos de um potencial para medila em centímetros por ano apenas em decorrência do degelo da Antártida De fato a fratura iminente do Thwaites o maior glaciar do mundo flutuante sobre o mar de Amundsen na Antártida desobstruirá o caminho para o mar de imensas quantidades de gelo continental Segundo Erin Pettit se a plataforma de gelo oriental de Thwaites colapsar o gelo nesta região poderá fluir até três vezes mais rápido para o mar E se a geleira desabar completamente ela aumentará o nível do mar em 65 centímetros WITZE 2021 cit A elevação do nível do mar tornouse irreversível Já em seu Terceiro Relatório de Avaliação há pouco mais de 20 anos o IPCC afirmava projetase que o nível do mar continuará a se elevar por muitos séculos IPCC AR3 2001 Tudo o que é possível fazer agora é desacelerar ao máximo esse processo de modo a aumentar as chances de adaptação antes que essa elevação inevitável do nível do mar salinize deltas e aquíferos destrua as praias e em geral os ecossistemas costeiros torne inabitável muitas cidades e ameace as usinas nucleares Mas desacelerar essa elevação só será possível se as sociedades priorizarem a redução das concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa GEE Ocorre que por enquanto essas concentrações estão aumentando aceleradamente A velocidade crescente do aumento das concentrações atmosféricas de CO2 fornece outro exemplo didático da dificuldade de compreender os desdobramentos das dinâmicas de aceleração Guy Stewart Callendar mal podia imaginar o alcance do que escreveu em 1939 É um lugarcomum a afirmação de que o homem é capaz de acelerar os processos da Natureza O homem está agora mudando a composição Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 520 da atmosfera a uma taxa que deve ser excepcional na escala do tempo geológico CALLENDAR 1939 Isso repitase em 1939 Hoje como afirmava em 2017 Pieter Tans a taxa de crescimento das concentrações de CO2 na atmosfera na última década ocorreu 100 a 200 vezes mais rapidamente do que a Terra experimentou durante a transição da última idade do gelo Esse é um choque real para a atmosfera TANS 2017 Em 2020 uma declaração da Geological Society of London reconhece a singularidade dessa aceleração na escala do tempo geológico A velocidade atual da mudança de CO2 induzida pelo homem e do aquecimento é por assim dizer sem precedentes em todos os registros geológicos com a única exceção conhecida do evento meteorítico instantâneo que causou a extinção dos dinossauros não aviários há 66 milhões de anos LEAR et al 2020 Matthias Aengenheyster e colegas expressam o mesmo consenso científico ao afirmarem que o sistema Terra está atualmente em um estado de rápido aquecimento sem precedentes mesmo nos registros geológicos AENGENHEYSTER 2018 Entre 1960 e 1969 o aumento do CO2 atmosférico havia evoluído à taxa média anual de 085 partes por milhão ppm5 Nos seis anos entre 2015 e 2020 elas aumentaram à taxa média anual de 255 ppm6 A velocidade do aumento dessas concentrações portanto triplicou em apenas meio século Já em 2013 quando as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono haviam atingido 395 ppm sua taxa de aumento era considerada sem precedentes nos último 55 milhões de anos SOMERO et al 2013 Em abril de 2021 elas atingiram 4212 ppm as mais altas dos últimos três milhões de anos sendo que as concentrações típicas do Holoceno 11700 AP até 1950 não excediam 280 ppm Como bem diz Ken Caldeira Estamos recriando o mundo dos dinossauros cinco mil vezes mais rápido CALDEIRA 2012 Isso significa que a escala de tempo geológico colapsou na escala do tempo histórico de poucas décadas Em termos de nossa capacidade de perturbar coordenadas cruciais do sistema Terra dez anos de nossa história presente equivalem agora por assim dizer a séculos de nossa história pregressa Duas fases da aceleração do aquecimento entre 1970 e 2020 Os dados fornecidos em janeiro de 2021 pelo Goddard Institute for Space Studies GISS GISTEMP da NASA sobre o aquecimento médio global em 2020 situamse no limite superior da avaliação da Organização Meteorológica Mundial 12oC 01oC para 2020 O relatório de 2020 do GISTEMP afirma A temperatura global de 2020 foi 13C mais quente do que no período base de 18801920 a temperatura global nesse período de referência é uma estimativa razoável da temperatura préindustrial Os seis anos mais quentes no registro GISS ocorrem todos nos últimos seis anos e os 10 anos mais quentes estão todos no século XXI HANSEN et al 2021 5 Cf CO2 acceleration httpswwwco2earthco2acceleration 6 NOAA North Oceanic and Atmospheric Administration httpsgmlnoaagovccggtrendsglgrhtml Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 620 A Figura 1 atualiza a evolução da temperatura até 2021 mostrando a as médias anuais b as médias de cada 11 anos para evitar o ruído de um dos ciclos solares e c a tendência linear dos anos 19702015 Figura 1 Temperaturas médias superficiais terrestres e marítimas combinadas em relação ao período de base 18801920 baseadas nos dados do GISTEMP Médias anuais curvas com quadrados pretos azul curvas médias a cada 11 anos vermelho e melhor tendência linear entre 1970 e 2015 verde com aquecimento médio de 018oC por década As flechas assinalam os efeitos dos dois Super El Niños de 1998 e 2016 Fonte Hansen et al 2021 Em janeiro de 2022 James Hansen Makiko Sato e Reto Ruedy do Earth Institute Columbia University fizeram um balanço da situação climática de 2021 e das perspectivas do clima neste decênio Os dados são do Goddard Institute for Space Studies GISS e os elementos dessa análise fundamental devem ser reportados ipse litteris A temperatura da superfície global em 2021 foi de 112C em relação à média de 18801920 Os anos 2021 e 2018 estão empatados como o 6º ano mais quente nos registros instrumentais Os oito anos mais quentes desses registros ocorreram nos últimos oito anos A taxa de aquecimento sobre a terra é cerca de 25 vezes mais rápida do que sobre o oceano O ciclo irregular El NiñoLa Nina domina a variabilidade interanual da temperatura o que sugere que 2022 não será muito mais quente que 2021 mas 2023 pode estabelecer um novo recorde Além disso três fatores aceleração das emissões de GEE diminuição dos aerossóis e o ciclo de irradiação solar aumentarão um desequilíbrio energético planetário já sem precedentes e levarão a temperatura global além do limite de 15C provavelmente durante a década de 2020 James HANSEN et al 2022 Essa afirmação de Hansen e colegas segundo a qual um aquecimento médio global de 15oC acima do período préindustrial deve ser provavelmente alcançado já durante a presente década baseiase na percepção de que entramos desde 2016 numa segunda fase da aceleração do aquecimento global Como indicado na Figura 1 a tendência linear do período 19702015 mostra um aquecimento médio global de 018oC por década 027oCdécada nas terras emersas e 011oCdécada nos oceanos A estimativa do GISS está quase no centro da estimativa indicada pelo IPCC SR15 2018 segundo a qual o aquecimento global antropogênico está atualmente aumentando em 02oC provavelmente entre 01oC e 03oC por década em decorrências das emissões passadas e atuais alta confiabilidadeIPCC 2018 Essa taxa de aquecimento 1970 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 720 2015 indica a primeira fase de aceleração em relação ao ritmo de aquecimento dos decênios anteriores 18802018 Os dados do NOAA confirmamna ao mostrar que a temperatura global anual se elevou a uma taxa média de 007oC por década desde 1880 e a uma taxa média por década superior ao dobro da taxa anterior 018oC desde 1981 NOAA 2019 Mais recentemente contudo o aquecimento do planeta entrou em uma segunda fase de aceleração Em uma postagem de 14 de dezembro de 2020 em sua página Climate Science Awareness and Solutions Program do Earth Institute da Columbia University justamente intitulada Aceleração do Aquecimento Global James Hansen e Makiko Sato escrevem A temperatura global recorde em 2020 apesar de um forte La Niña nos últimos meses reafirma uma aceleração do aquecimento global demasiado grande para ser um ruído aleatório Isto implica um aumento da taxa de crescimento do forçamento climático global total e do desequilíbrio energético da Terra A taxa de aquecimento global acelerouse nos últimos 67 anos O desvio da média atual dos últimos 5 anos 60 meses em relação à taxa de aquecimento linear é grande e persistente isso implica um aumento do forçamento climático líquido e do desequilíbrio de energia da Terra que impulsiona o aquecimento global HANSEN SATO 2020 Como se pode perceber na Figura 1 no período 20162020 as linhas do aquecimento anual avançam claramente acima da tendência linear do período 19702015 018oC década Essa segunda fase da aceleração do aquecimento foi advertida em 2018 por outros trabalhos entre os quais o de Yangyang Xu Veerabhadran Ramanathan e David Victor Segundo esses autores o aumento das emissões implica que nos próximos 25 anos o aquecimento evoluirá à taxa de 025oC a 32oC por década XU et al 2018 Esse prognóstico foi confirmado em julho de 2021 por James Hansen e Makiko Sato que se indagam sobre a medida do desvio do aquecimento recente em relação à tendência linear dos últimos 50 anos A resposta que oferecem é 014oC além do aumento médio de 018oC por década observado no período 19702015 Portanto a taxa decenal de aquecimento é agora de 032oC Isso é muito e sabemos que se trata de uma mudança de forçamento impulsionada pelo crescente desequilíbrio energético planetário Os autores concluem No momento podemos apenas inferir que o desequilíbrio energético da Terra que era menos de ou cerca de meio Watt por m2 durante o período 19712015 dobrou aproximadamente para cerca de 1 Wattm2 desde 2015 Esse maior desequilíbrio energético é a causa da aceleração do aquecimento global Nossa expectativa é que a taxa de aquecimento global para o quarto de século 20152040 seja cerca do dobro da taxa de aquecimento de 018oC por década durante o período 19702015 a menos que se tomem medidas apropriadas HANSEN SATO 2021 Na primeira fase da aceleração do aquecimento este saltou portanto de uma taxa de 007oC por década desde 1880 para 018oC por década no período 19702015 A presente segunda fase mostra um salto de uma taxa de 018oC por década 19702015 para uma taxa de 032oC por década com tendência para uma taxa de 036oC por década entre 2016 e 2040 A Tabela 1 resume os dados acima expostos sobre a aceleração do aquecimento desde 1880 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 820 Tabela 1 Taxas de aquecimento por década em três períodos 18802040 segundo a National Oceanic and Atmospheric Administration NOAA e o Earth Institute Columbia University EI Períodos 1880 2018 1970 2015 2016 2040 Aquecimento década 007oC NOAA 018oC NOAAEI 036oC EI Fontes NOAA Global Climate Report 2019 Hansen Sato 2020 Hansen Sato 2021 Ondas de calor mais frequentes e mais intensas na atmosfera O desequilíbrio energético do planeta e o aquecimento médio global superficial do planeta terrestre e marítimo combinados em relação ao período préindustrial são as métricas fundamentais para avaliar o nível de desregulação do sistema climático O Mediterrâneo incluindo o Oriente Médio certas regiões dos EUA e a região central do Brasil deverão atingir um aquecimento médio de 2oC no Ártico ela já foi atingida cerca de 10 anos antes da média global em relação ao período préindustria SENEVIRATNE 2016 São portanto regiões particularmente vulneráveis ao aquecimento global Mas aquecimentos médios funcionam apenas como uma referência abstrata e de médio prazo sendo quantificados como tendências na escala de anos ou de décadas O que fustiga os organismos e os mata é a consequência primeira e mais concreta dessas métricas o aumento da frequência de novos recordes de calor O NOAA afirma que de 1900 a 1980 um novo recorde de temperatura foi batido em média a cada 135 anos Mas a cada 3 anos de 1981 a 2019 LINDSEY DAHLMAN 2021 Tão letais quanto esses sucessivos recordes de calor são os extremos meteorológicos entre os quais as ondas de frio e sobretudo as ondas de calor definidas como temperaturas que excedem o 90o percentil das observações climatológicas durante um período de 30 anos Nos últimos decênios a desproporção entre recordes de calor e de frio é gritante Em 2018 ano sem El Niño para 40 recordes de frio as estações meteorológicas registraram 430 recordes absolutos de calor WONG 2019 SENGUPTA 2019 Essas ondas e picos de calor tornamse sempre mais intensas duradouras frequentes e se estendem sobre regiões maiores Elas exacerbam os incêndios florestais e as secas alternadas com inundações por trombas dágua e furacões mais devastadores WITZE 2018 Registramse em suma variações meteorológicas que se distanciam dos valores típicos do sistema climático do século XX com maior probabilidade doravante de anomalias jamais registradas no estado anterior desse sistema7 No século XXI as probabilidades de que essas ondas e picos de calor sejam causadas pela variabilidade natural do sistema climático tendem rapidamente a zero Já em 2013 um trabalho mostrava que globalmente o número de recordes locais de temperaturas extremas nas médias mensais era então em média cinco vezes maior do que seria de se esperar num clima sem uma tendência de aquecimento de longo prazo COUMOU et al 2013 Como afirma um trabalho publicado na Nature Climate Change em 2014 verões extremamente quentes que ocorreriam duas vezes no século no início dos 7 Sobre o conceito de ondas de calor a partir do exemplo da Austrália ver Perkins Alexander 2013 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 920 anos 2000 são agora esperados duas vezes por década CHRISTIDIS et al 2014 Tornaramse portanto 10 vezes mais prováveis Referindose à onda de calor europeia no verão de 2018 Peter Stott do MET Office declarou na COP24 em dezembro de 2018 Nosso estudo provisório comparou modelos baseados no clima de hoje com os do clima natural que teríamos sem emissões antropogênicas de GEE Descobrimos que a intensidade da onda de calor deste verão é cerca de 30 vezes mais provável do que teria sido o caso sem mudanças climáticas MET OFFICE 2018 Nas palavras de Nikolaos Christidis coautor desse estudo há agora 12 de chance de que as próximas temperaturas médias estivais no Reino Unido repetirem as do verão de 2018 máxima de 356oC contra menos de 05 numa situação em que não houvesse mudanças climáticas Mais de 13 da população dos EUA 1246 milhões de pessoas estão agora sofrendo taxas de aquecimento superiores à média global com 499 condados mostrando aquecimento médios superiores a 15oC Na Califórnia 83 da população sofre esse nível de aquecimento sendo que o condado de Ventura a Noroeste de Los Angeles já sofreu um aquecimento de 262oC sempre em relação a 1895 data do início dos registros instrumentais MILMAN 2022 No verão de 2021 quase um em três habitantes dos EUA 32 vivem em um condado que sofreu eventos meteorológicos extremos Além disso quase duas entre três pessoas 64 nesse país sofreram uma onda de calor de vários dias fenômeno que está se tornando a mais perigosa forma de evento meteorológico extremo KAPLAN TRAN 2021 com forte aumento de mortes por excesso de calor em escala global entre 2000 e 2019 ZHAO et al 2021 Ainda há pouco esses eventos meteorológicos extremos eram chamados silent killers matadores silenciosos pois como afirmam Camilo Mora e colegas a doença por calor ou seja a ultrapassagem grave da ótima temperatura interna do corpo é frequentemente mal diagnosticada porque a exposição a calor extremo frequentemente resulta em disfunção de vários órgãos o que pode levar a erro de diagnóstico MORA et al 2017 Mas isso está mudando No trabalho citado Camilo Mora e 17 coautores procuram mostrar justamente o impacto populacional direto do calor quando este ultrapassa o limiar de mortalidade dos humanos Atualmente cerca de 30 da população mundial está exposta a condições climáticas que excedem o limiar de mortalidade por ao menos 20 dias por ano Uma ameaça crescente à vida humana por excesso de calor parece agora inevitável mas será muito agravada se os gases de efeito estufa não forem consideravelmente reduzidos MORA et al 2017 Repercutindo esse trabalho um editorial da revista Nature relembra esse fato a que se começa a dar mais e mais atenção De chuvas extremas à elevação do nível do mar o aquecimento global deve causar caos nas vidas humanas Por vezes o impacto mais direto o próprio aquecimento é esquecido E no entanto o calor mata Afinal o corpo evoluiu para funcionar numa faixa muito estreita de temperaturas Nosso mecanismo de resfriamento baseado em transpiração é rudimentar além de certa combinação de alta temperatura e umidade ele falha Estar ao sol e exposto a tal ambiente por qualquer período de tempo tornase rapidamente uma Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 1020 sentença de morte E esse ambiente está se expandindo Uma zona de morte está se alastrando sobre a superfície da Terra ganhando um pouco mais de terreno a cada ano EDITORIAL 2017 A transpiração é um processo de evaporação que causa resfriamento do corpo pois as moléculas de água com maior energia cinética calor sensível evaporam deixando no corpo as de menor energia calor latente A capacidade dos humanos de transpirar e portanto dissipar calor em ambientes de alta umidade é muito menor do que em ambientes de baixa umidade Quanto maior a umidade relativa do ar maior é a dificuldade de as glândulas transpiratórias acionarem esse mecanismo de resfriamento evaporativo do corpo Em situação de extrema umidade do ar a fisiologia humana atinge seu limite de eficiência evaporativa em níveis muito baixos de calor Esse limite expresso pelo termo temperatura de bulbo úmido wet bulb temperature ou TW é ultrapassado em temperaturas maiores que 35oC TW 35oC SHERWOOD HUBER 2010 Quando combinadas com alta umidade em tais temperaturas o sistema de resfriamento natural inclusive de organismos jovens e saudáveis entra em alto risco de falência mesmo à sombra e com quantidades ilimitadas de hidratação A consequência mais provável é então a morte por hipertermia ou por complicações a ela associadas Algumas localidades costeiras subtropicais afirmam Colin Raymond e colegas já reportaram uma temperatura de bulbo úmido de 35oC e a frequência em geral desse calor extremamente úmido mais que dobrou desde 1979 RAYMOND et al 2020 Além disso o calor pode causar morte por outros muitos fatores entre os quais a desidratação e a insolação Recordes e temperaturas acima de 45oC nos últimos sete anos 2015 janeiro de 2022 Três informações sobre 2021 fornecem uma imagem da catástrofe que se avizinha 1 Mais de 400 estações meteorológicas no mundo todo bateram recordes das mais altas temperaturas dos registros históricos em 2021 ZEE 2022 2 Um total de 18 bilhão de pessoas quase um quarto da população mundial vive em países que tiveram em 2021 o ano mais quente já registrado 3 25 países incluindo China Nigéria e Irã registraram uma média anual recorde em 2021 MILMAN 2022 Por brutais que sejam esses dados não surpreendem mais e não teriam por que surpreender quando lembramos que os últimos oito anos 20142021 foram os mais quentes dos registros históricos HANSEN et al 2022 o que naturalmente implica uma profusão crescente de temperaturas extremas A Tabela 2 mostra algumas das regiões do planeta algumas inclusive distantes do cinturão equatorial nas quais se registraram temperaturas iguais ou acima de 45oC entre 2015 e janeiro de 2022 Tabela 2 Temperaturas máximas entre 45oC e 544oC entre 2015 e janeiro de 2022 País Temperatura Data Argentina8 45oC 2022 Colômbia 45oC 2015 GuinéConakri 45oC 2017 África do Sul Cidade do Cabo9 452oC 2022 8 Cf Una histórica ola de calor con temperaturas de más de 45 grados azota Argentina ABC 12I2022 9 Cf Calor atinge marcas sem precedentes no Sul da África MetSul 23I2022 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 1120 Índia Nova Delí10 454oC 2020 França Verargues Herault 46oC 2019 EUA Colorado 46oC 2019 Chipre 462oC 2020 Egito Kharga 47oC 2021 Sudão Cartum 47oC 2021 Grécia Langadas11 471oC 2021 EUA Las Vegas 472oC 2021 Espanha 473oC 2017 Qatar Doha 48oC 2021 Itália Siracusa Sicília12 488oC 2021 México Gallinas13 488oC 2020 Turquia Cirze14 491oC 2021 EUA Chino Califórnia15 494oC 2020 EUA Woodland Hills Califórnia16 494oC 2020 Austrália Port Augusta17 495oC 2019 Canadá Lytton 496oC 2021 Marrocos Sidi Slimane 496oC 2021 Austrália Nullarbor South Austr 499oC 2019 Tunísia Kairouan 503oC 2021 Saudi Arábia Al Qaysuma 504oC 2021 China Xinjiang 505oC 2017 Austrália Onslow18 507oC 2022 Omã Joba 516oC 2021 Índia Phalodi Rajastão19 51oC 2016 Argélia Ourgla20 513oC 2018 Emirados Árabes Unidos Sweihan 518oC 2021 10 CF JAYASHREE NANDI PARTS OF DELHI SIZZLE AT 45C NO QUICK RESPITE LIKELY IMD HINDUSTAN TIMES 23V2020 11 CF HOTTEST TEMPERATURE ON TUESDAY CLOCKS IN AT 471C AS HEATWAVE CONTINUES EKATHIMERINICOM 3VIII2021 12 Cf Phoebe Weston Jonathan Watts Highest recorded temperature of 488C in Europe apparently logged in Sicily The Guardian 11VIII2021 13 State of the Global Climate 2020 OMM 2021 p 25 14 CF TURKEY BREAKS 1961 RECORD FOR HOTTEST TEMPERATURE WITH 491C DUVAR ENGLISH 21VII2021 HTTPSWWWDUVARENGLISHCOMTURKEYBREAKS1961RECORDFORHOTTESTTEMPERATURE WITH4910CNEWS58257 15 Cf Andrew Freedman California endures recordsetting kilnlike heat as fires rage causing injuries The Washington Post 6IX2020 16 Cf California Heatwave fits a trend Earth Observatory NASA 6IX2020 17 Cf Will Steffen Annika Dean Martin Rice Greg Mullins The Angriest Summer Climate Council of Australia 2019 p 4 18 CF Australia equals hottest day on record at 507C BBC 13I2022 19 Cf Jamie Condifle India experienced its hottest ever recorded temperature of 1238F Gizmodo 20V2016 20 Cf Jason Samenow Africa may have witnessed its alltime hottest temperature Thursday 124 degrees in Algeria The Washington Post 6VII2018 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 1220 Paquistão Turbat21 537C 2017 Iraque 538C 2016 Kuwait Mitribah 539C 2016 Irã Ahvaz22 54oC 2017 EUA Califórnia Furnace Creek 544oC 2020 Fontes Wikipedia List of Weather Records httpsenwikipediaorgwikiListofweatherrecords OMM June ends with exceptional heat 29VI2021 httpspublicwmointenmedianewsjuneends exceptionalheat Mohammed Haddad Mapping the hottest temperatures around the world Aljazeera 1VII2021 Bibi van der Zee More than 400 weather stations beat heat records in 2021 The Guardian 7I2022 Em junho de 2021 a Organização Meteorológica Mundial afirmou ser difícil registrar todos os recordes de temperatura tal sua quantidade OMM 2021 Em Lytton na província de Colúmbia Britânica no Canadá a temperatura chegou em junho a 496oC mais do dobro da temperatura média nessa cidade nesse mês 24oC Na mesma província canadense romperamse no dia 27 de junho 60 recordes de temperatura e no dia 28 mais 59 obrigando o governo a fechar escolas e a abrir refúgios com ar condicionado23 A Sicília bateu por quase 1oC o recorde europeu de 48oC Atenas 1977 ao registrar 488oC em Siracusa em agosto de 2021 WESTON WATTS 2021 As temperaturas no Kuwait estão inviabilizando a vida para os humanos e para outros animais Em 2021 as temperaturas nesse país ultrapassaram pela primeira vez a marca de 50oC já em junho ou seja semanas antes do período de maior calor MACDONALD 2022 Em 5 de julho de 2018 a cidade de Ourgala na Argélia atingiu 513oC a maior temperatura medida de modo confiável na África A temperatura mais baixa do dia 28 de junho de 2018 em Quiriyat em Oman foi 42oC SAMENOW 2018 A temperatura de 507oC atingida em Onslow na Austrália em janeiro de 2022 foi a mais alta já registrada no hemisfério sul Dos 28 países e 36 registros dos últimos sete anos 2015 janeiro de 2022 com temperatura igual ou acima de 45oC registrados na Tabela 2 nada menos que 20 apresentaram temperaturas acima de 49oC sendo 13 acima de 50oC Esses registros são evidentemente apenas ilustrativos mas mostram em todo o caso como afirma Jean Jouzel que as temperaturas extremas e os incêndios a elas associados na Columbia Britânica no Canadá em julho de 2021 não haviam sido previstos E percebemos sobretudo que a temperaturas próximas de 50oC entrávamos em um mundo no qual não se pode controlar mais nada As aldeias se incendeiam a natureza é destruída há perdas humanas e as infraestruturas não resistem JOUZEL 2022 Essas temperaturas extremas mostram também como afirma o editorial da Nature acima citado que o calor está agora ameaçando de morte contingentes populacionais crescentes E esses contingentes crescerão exponencialmente à medida que o aquecimento médio global se aproximar e ultrapassar 15oC nos próximos anos ou no mais tardar na próxima década 21 Cf WMO verifies 3rd and 4th hottest temperature recorded on Earth 18VI2019 22 Cf Iranian City hits 129 degrees hottest ever recorded Global Citizen 30VI2017 23 Cf Manuel Planelles Jaime Porras Ferreyra La ONU advierte sobre la gran ola de calor en Norteamérica Es más propia de Oriente Próximo El País 29VI2021 Canadá registra centenas de mortes súbitas em meio a onda recorde de calor G1 30VI2021 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 1320 Mortes por excesso de calor e os países mais imediatamente afetados Como se pode perceber dos 15 países acima elencados nos quais a temperatura atingiu ou ultrapassou 496oC desde 2016 nove estão no Oriente Médio 6 e no Norte da África 3 Esses são os países ao mesmo tempo mais quentes e mais secos do mundo e ao lado da Índia e do Paquistão podem vir a ser os países situados em regiões inabitáveis do planeta para os humanos e outros animais já nos próximos decênios ou na segunda metade do século Segundo George Zittis e colegas Em cenários de altas emissões e concentrações de GEE em partes do Oriente Médio por exemplo perto do Golfo Pérsico projetase que o efeito combinado de alta temperatura e umidade possa atingir ou mesmo exceder os limites da adaptabilidade humana Considerando intensidades moderadas de intensificação das Ilhas de Calor Urbano prevemos que a temperatura máxima durante as ondas de calor superextremas e ultraextremas em alguns centros urbanos e megacidades no Oriente Médio e no Norte da África poderiam atingir ou mesmo exceder 60C o que seria tremendamente disruptivo para a sociedade A humanidade nesses locais dependerá do resfriamento interno e externo ou será forçada a migrar ZITTIS et al 2021 Depender de refúgios públicos dotados de equipamentos de arcondicionado tal como ocorreu em junho de 2021 na Colúmbia Britânica no Canadá pode ser um bom procedimento emergencial mas não é algo factível em termos energéticos nem mesmo nos países mais ricos Segundo estimativas propostas por Renee Obringer e colegas um aquecimento médio global de 15oC acima do período préindustrial deve implicar um aumento de até 8 5 a 85 na demanda de arcondicionado nos EUA e um aquecimento de 2oC implicaria um aumento de 13 11 a 15 se comparados à média de 20052019 Sem medidas específicas de adaptação a sobrecarga na rede decorrente desse aumento de demanda seria suficiente para engendrar alto risco de queda de oferta de energia elétrica em 75 milhões de residênciadias ou quase 15 dias nos verões em alguns estados dos EUA OBRINGER et al 2021 Isso posto o grande problema permanece o da exposição prolongada ao sol O relatório da Union of Concerned Scientists intitulado Too hot to work afirma que trabalhadores ao ar livre nos EUA têm até 35 vezes maior risco de morrer por exposição ao calor do que a população geral Os autores reportam a recomendação do Center for Disease Control CDC segundo a qual o trabalho ao ar livre deve ser cancelado e reagendado sempre que a temperatura exceder 422oC 108oF dada a gravidade dos riscos E alertam enfim que Com ação lenta ou nenhuma ação para reduzir as emissões globais e assumindo nenhuma mudança no número de trabalhadores ao ar livre a exposição dos trabalhadores ao ar livre da nação a dias com um índice de calor acima de 100F 377oC aumentará três ou quatro vezes em meados do século DAHL LICKER 2021 Nos EUA mais pessoas morrem a cada ano por excesso de calor do que pela soma de tempestades inundações e incêndios florestais KAPLAN 2020 Em 2019 em Phoenix capital do estado do Arizona e em seu condado de Maricopa houve 103 dias com temperaturas acima de 377oC 100oF o que levou à morte 197 pessoas por causas relacionadas a excesso de calor Tratase do quarto ano em seguida de recordes de mortes por calor nessa região Já em julho 2017 esses picos de calor extremo implicaram o cancelamento de dezenas de voos em Phoenix porque os aviões não Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 1420 foram projetados para decolar a temperaturas acima de 47oC Num próximo futuro o aquecimento deve restringir as condições operacionais de cinco modelos de aviação comercial em 19 grandes aeroportos COFFEL et al 2017 Problemas desse tipo foram relatados no aeroporto internacional de Las Vegas em julho de 202124 No verão de 2021 fechouse à visitação o Parthenon em Atenas sob um calor de 42oC entre 1200 e 1700 horas e é provável que num futuro próximo muitas regiões do Mediterrâneo fiquem inacessíveis ao turismo durante boa parte do ano Desde 2016 enfim o Ministério do Trabalho do Kuwait proibiu o trabalho ao ar livre das 1100 às 1600 entre 1º de julho e 31 de agosto dado a letalidade potencial de uma exposição prolongada ao sol25 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse contexto ao lado dos países do Oriente Médio e demais países situados no cinturão equatorial a Índia e o Paquistão permanecem os países mais vulneráveis Em 2018 houve cerca de 300000 mortes em pessoas com mais de 65 anos de idade sobretudo na Índia e na China um aumento de 54 desde 2000 WATT et al 2018 KAI et al 2020 DEY 2020 A Índia já é e será sempre mais um dos locais mais mortíferos do planeta por excesso de calor Das 15 localidades mais quentes do mundo em 2020 10 estavam na Índia RAY 2020 Houve um aumento de 61 no número dessas mortes no país entre 2004 e 2013 segundo dados do National Crime Records Bureau NCRB MALLAPUR 2015 Nos 11 anos entre 2005 e 2015 houve sete anos nos quais ondas de calor causaram mais de mil mortes contra apenas dois anos nos 13 anos entre 1992 e 2004 NARAYANAN 2017 Entre 2013 e 2016 houve registro de 4620 mortes por excesso de calor nos estados de Andra Pradexe e Telangana no Sudoeste da Índia26 Apenas em maio de 2015 em várias regiões do país a temperatura ultrapassou regularmente 47oC com registro de 2500 vítimas fatais a maior parte de trabalhadores pobres urbanos e rurais LANGE 2015 Em junho desse mesmo ano essa onda de calor extremo atingiu o Paquistão com temperaturas até 49oC e causou cerca de 2000 mortes Ambos os países foram vítimas de ondas de calor extremo igualmente em 2017 e em 2018 com temperaturas até 51oC e numerosas mortes Por terríveis que sejam esses números de vítimas fatais do calor são muito subestimados Segundo Dileep Mavalankar diretor do Indian Institute of Public Health IIPH considerando apenas as mortes por insolação clinicamente certificadas elas representam apenas 10 do total das mortes por excesso de calor Mortes por excesso de calor são como um iceberg 90 delas não são visíveis TRIPATHI 2020 As estimativas são de que em 50 anos 12 bilhão de pessoas na Índia viverão em áreas tão quentes quanto o Saara se as emissões de GEE continuarem aumentando TRIPATHI 2020 Em The Ministry for the Future 2020 Kim Stanley Robinson mestre do gênero clifi climate fiction27 propõe uma narrativa cujo ponto de partida é uma onda de calor que extermina 20 milhões de indianos O autor imagina um quadro de traumas individuais e sociais daí decorrentes que talvez nada ou muito pouco tenha de ficcional já no próximo decênio E não apenas na Índia 24 CF Possible issues with flights at McCarran Airport because of extreme heat KTNV Las Vegas 9VII2021 25 Cf Ban on working in sun Arab Times 2VI2016 26 CF Heatwave in India claims 4620 lives in four years Hindustan Times 27IV2017 27 O termo clifi foi cunhado por Dan Bloom em 2007 Vejase httpclifinet Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 1520 REFERÊNCIAS AENGENHEYSTER M FENG QY PLOEG F van der DIJKSTRA HA The point of no return for climate action effects of climate uncertainty and risk tolerance Earth System Dynamics 9 2018 pp 10851095 BARNOSKY A BROWN J DAILY GC DIRZO R et al Scientific Consensus on Maintaining Humanitys Life Support Systems in the 21st Century Information for Policy Makers CALDEIRA Ken The Great Climate Experiment How far can we push the planet Scientific American September 2012 CALLENDAR Guy S The Composition of the Atmosphere through the Ages Meteorological Magazine 74 1939 pp 3339 CHRISTIDIS Nikolaos JONES Gareth S STOTT Peter A Dramatically increasing chance of extremely hot summers since the 2003 heatwave Nature Climate Change 8XII2014 COFFEL Ethan D THOMPSON Terence R HORTON Radley M The impacts of rising temperatures on aircraft takeoff performance Climatic Change 13VII2017 CONDIFLE Jamie India experienced its hottest ever recorded temperature of 1238F Gizmodo 20V2016 COUMOU Dim ROBINSON Alexander RAHMSTORF Stephan Global increase in recordbreaking monthlymean temperatures Climatic Change 118 34 June 2013 pp 771782 CRUTZEN Paul J Geology of mankind Nature 415 6867 2002 CRUTZEN Paul J The Anthropocene in E Ehlers T Krafft eds Earth System Science in the Anthropocene Emerging Issues and Problems Springer 2006 CRUTZEN Paul J STOERMER Eugene F The Anthropocene IGBP Newsletter 41 2000 DAHL Kristina LICKER Rachel Too hot to work Assessing the Threats Climate Change Poses to Outdoor Workers Union of Concerned Scientists Agosto de 2021 DeCONTO Robert POLLARD David Contribution of Antarctica to past and future sealevel rise Nature 531 31III2016 DEY Sushmi 31000 heatrelated deaths of 65 in India in 2018 Report The Times of India 3XII2020 EDITORIAL Mercury rising 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estufa que são os principais responsáveis pelo aquecimento global Marques destaca que a Grande Aceleração ocorrida a partir dos anos 1950 representa um ponto crítico em que o crescimento populacional a industrialização e o avanço tecnológico se intensificaram levando a uma série de consequências drásticas para o meio ambiente O autor ressalta que esses eventos não apenas afetam a biodiversidade mas também comprometem a saúde dos ecossistemas e a qualidade de vida das populações humanas A mudança climática a acidificação dos oceanos e a perda de biodiversidade são algumas das consequências diretas dessa aceleração evidenciando a fragilidade do sistema terrestre diante das pressões humanas Além disso o artigo discute a necessidade urgente de uma mudança de paradigma nas relações sociais econômicas e políticas enfatizando que o progresso científico embora tenha trazido avanços significativos também pode resultar em consequências desastrosas quando não é acompanhado por uma reflexão crítica sobre seus impactos O autor apela para a urgência de uma ação coletiva que envolva tanto a comunidade científica quanto a sociedade civil propondo uma abordagem holística para lidar com os desafios impostos pela crise ambiental Marques conclui que para mitigar os efeitos da crise climática é imprescindível integrar esforços de diversas disciplinas promovendo uma educação que não apenas informe mas também capacite indivíduos e comunidades a tomarem decisões sustentáveis A mudança na forma como interagimos com o meio ambiente é fundamental para garantir um futuro viável onde a convivência entre a humanidade e a natureza seja equilibrada e respeitosa O artigo serve como um chamado à ação instigando leitores a refletirem sobre seu papel na transformação do mundo enfatizando que o tempo para agir é agora O Mito do Progresso Científico e os Desafios do Século XXI As sociedades ocidentais foram moldadas pelo mito do progresso científico uma crença fundamental de que a inovação tecnológica seria a chave para resolver todos os problemas humanos e promover um futuro melhor Este ideal que se consolidou durante a Revolução Industrial e a Era da Ilustração propôs que o avanço da ciência e da tecnologia poderia resultar em prosperidade justiça social e melhorias nas condições de vida No entanto a realidade do século XX revelou um lado sombrio desse progresso com a crescente evidência dos impactos negativos da atividade humana sobre o meio ambiente que se tornaram cada vez mais difíceis de ignorar O século XX foi marcado por um crescimento exponencial das tecnologias que embora tenham proporcionado inovações significativas também geraram consequências ambientais devastadoras A industrialização impulsionada pela ciência e pela tecnologia levou a um aumento considerável na extração de recursos naturais emissões de poluentes e degradação dos ecossistemas Assim a promessa de um futuro mais próspero se tornou uma faca de dois gumes levando a uma reflexão crítica sobre a relação entre desenvolvimento tecnológico e sustentabilidade Nos últimos anos eventos climáticos extremos como secas severas furacões devastadores e incêndios florestais têm destacado a fragilidade dos sistemas ecológicos e a urgência de um novo paradigma A aceleração do aquecimento global alimentada pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa tem mobilizado cientistas ativistas e cidadãos para confrontar não apenas os perigos das transformações ambientais mas também o risco iminente de uma extinção em massa Esses fenômenos naturais extremos são frequentemente atribuídos ao impacto humano levantando questões sobre como as tecnologias que deveriam ser ferramentas de progresso têm contribuído para a crise global Diante desses desafios tornase evidente que as sociedades precisam reavaliar sua dependência de tecnologias tradicionais que priorizam o crescimento econômico em detrimento da saúde ambiental A questão não é simplesmente desacelerar o progresso mas sim redirecionar os esforços tecnológicos para promover soluções sustentáveis Isso inclui a adoção de tecnologias limpas energias renováveis práticas de economia circular e a implementação de sistemas que minimizem a pegada ecológica Além disso a educação e a conscientização sobre tecnologias sustentáveis devem ser integradas nas formações acadêmicas e profissionais À medida que os futuros engenheiros cientistas e gestores são treinados é fundamental que eles sejam equipados com um entendimento das interações complexas entre a tecnologia e o meio ambiente Essa abordagem permitirá que novas inovações sejam desenvolvidas não apenas para atender às necessidades imediatas mas também para assegurar a viabilidade a longo prazo dos recursos do planeta Em suma o mito do progresso científico embora tenha proporcionado avanços significativos precisa ser confrontado com uma nova narrativa que enfatize a responsabilidade ambiental e a sustentabilidade Os desafios do século XXI exigem que a tecnologia seja utilizada como uma aliada na construção de um futuro mais equilibrado e saudável onde as inovações contribuam para a preservação do meio ambiente e para a melhoria da qualidade de vida em vez de exacerbar as crises que enfrentamos A mudança na forma como percebemos e aplicamos a tecnologia será crucial para garantir que o progresso se traduza em benefícios reais para a humanidade e o planeta A Relação com a Engenharia de Minas A Engenharia de Minas ocupa um papel central na discussão sobre as crises ambientais contemporâneas especialmente no contexto do Antropoceno e da aceleração do aquecimento global Essa área da engenharia é responsável pela extração de recursos minerais que são essenciais para o desenvolvimento econômico e tecnológico das sociedades No entanto a forma como esses recursos são extraídos e utilizados tem consequências diretas e significativas para o meio ambiente A pressão sobre os recursos naturais agravada pela crença no progresso infinito tem levado à degradação ambiental perda de biodiversidade e alteração de ecossistemas fazendo com que a atuação do engenheiro de minas se torne cada vez mais crítica e complexa A crise ambiental que vivemos exige que a Engenharia de Minas repense suas práticas tradicionais e adote uma abordagem mais sustentável Os engenheiros precisam se familiarizar com tecnologias e métodos que minimizem os impactos negativos da mineração como a recuperação de áreas degradadas a redução do consumo de água e a mitigação da poluição A aplicação de técnicas de mineração sustentável como a mineração responsável visa equilibrar a necessidade de exploração mineral com a conservação ambiental Essa abordagem não apenas melhora a eficiência dos processos de extração mas também respeita os direitos das comunidades afetadas e promove a responsabilidade social Além disso a tecnologia desempenha um papel fundamental na transformação da Engenharia de Minas A implementação de tecnologias avançadas como drones para mapeamento e monitoramento de áreas sensores IoT para monitoramento em tempo real e sistemas de Big Data para análise de dados operacionais pode melhorar a eficiência das operações e reduzir os impactos ambientais Por exemplo o uso de modelagem digital pode ajudar a prever os impactos da extração mineral e a planejar atividades de forma a minimizar a degradação ambiental Essas inovações tecnológicas não apenas promovem a sustentabilidade mas também asseguram que as empresas mineradoras possam operar de forma mais responsável e competitiva no mercado A formação em Engenharia de Minas portanto deve se adaptar a essa nova realidade incorporando disciplinas que abordem a sustentabilidade a ética ambiental e o uso de tecnologias limpas Os futuros engenheiros precisam ser treinados para pensar criticamente sobre o ciclo de vida dos recursos minerais desde a extração até o descarte considerando sempre as implicações sociais e ambientais de suas ações Além disso a colaboração interdisciplinar com áreas como ciências ambientais geologia e gestão de recursos naturais é essencial para que os engenheiros de minas desenvolvam soluções integradas e eficazes para os desafios que a mineração enfrenta no contexto das mudanças climáticas Em suma a relação entre a Engenharia de Minas e a crise global é complexa e multifacetada À medida que a sociedade avança em direção a um futuro mais sustentável é imperativo que os profissionais dessa área assumam um papel proativo na transformação das práticas de mineração alinhandose às demandas de conservação ambiental e responsabilidade social A adoção de tecnologias inovadoras e uma educação que priorize a sustentabilidade serão fundamentais para que a Engenharia de Minas possa contribuir efetivamente para um mundo que busca um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente

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Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 120 O Antropoceno como aceleração do aquecimento global The Anthropocene as an acceleration of global warming Luiz Marques a RESUMO O conceito de Antropoceno referese primariamente ao aumento da escala da interferência antrópica no sistema Terra mas também à aceleração desse aumento A combinação desses dois fatores escala e velocidade molda o sistema Terra de modo mais decisivo do que a interferência de fatores não antrópicos promovendo um colapso do tempo geológico no tempo histórico Pomos aqui em evidência duas fases da aceleração desse aquecimento 19702015 e 20162040 com suas consequências mais imediatas e dramáticas maior frequência de novos recordes de calor e intensificação das ondas de calor extremo que têm matado mais e mais pessoas e ameaçam a habitabilidade do planeta em latitudes de grande densidade demográfica já no horizonte dos próximos decênios Palavraschave Antropoceno Colapso ecológico Ecologia política Aquecimento global ABSTRACT The Anthropocene concept refers primarily to the increase in scale of human interference in the Earth system but also to the acceleration of this increase The combination of these two factors scale and velocity shapes the Earth system more decisively than the interference of nonanthropic factors promoting a collapse of geological time into historical time Here we highlight two phases of the acceleration of this warming 19702015 and 20162040 with their most immediate and dramatic consequences the greater frequency of new heat records and the intensification of extreme heat waves which have killed more and more people and threaten the habitability of the planet in latitudes of high population density already on the horizon of the next decades Keywords Anthropocene Ecological collapse Political ecology Global warming a Universidade Estadual de Campinas Campinas SP Brasil Correspondência paraCorrespondence to Luiz Marques Email luizmarques4gmailcom Recebido emReceived 04042022 Aprovado emApproved 22052022 Artigo publicado em acesso aberto sob licença CC BY 40 Internacional Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 220 INTRODUÇÃO Na nova época geológica iniciada na segunda metade do século XX o Antropoceno1 a atividade humana tornouse a variável mais importante nas dinâmicas do sistema Terra não apenas por sua mudança de escala mas também pela velocidade crescente dessa mudança isto é por sua aceleração Embora como unidade do tempo geológico o Antropoceno encontrese ainda em vias de ratificação final na terminologia estratigráfica CRUTZEN STOERMER 2000 CRUTZEN 2002 CRUTZEN 2006 STEFFEN et al 2007 STEFFEN et al 2011 ZALASIEWICZ 2015 MARQUES 2018 ele já se tornou um termo amplamente consagrado na literatura científica e das humanidades2 e sua datação prevalentemente a partir de meados do século XX contribui em muito para que Antropoceno e aceleração tornemse termos quase intercambiáveis De fato o programa de pesquisas dedicadas às mudanças globais Global Change International GeosphereBiosphere Programme demonstrou em sua síntese de 2004 IGPB 2004 a emergência de uma Grande Aceleração a partir de 1950 considerado o período 17502000 Eis a síntese de seus resultados A segunda metade do século XX é única em toda a história da existência humana na Terra Muitas atividades humanas alcançaram pontos de decolagem em algum momento do século XX e se aceleraram fortemente no final do século Os últimos 50 anos testemunharam sem dúvida a mais rápida transformação da relação humana com o mundo natural na história da humanidade STEFFEN et al 2004 Essa transformação vertiginosa nas relações entre os humanos e o sistema Terra encontrou seu ícone nos 24 indicadores em interação 12 indicadores socioeconômicos e 12 relativos a mudanças antropogênicas no sistema Terra atualizados em 2015 por Will Steffen e colegas até 2010 STEFFEN et al 2014 Como afirmam os autores desse trabalho seminal É difícil superestimar a escala e a velocidade das mudanças No intervalo de tempo de duas gerações ou o tempo de uma única vida a humanidade ou até pouco tempo uma pequena fração dela tornouse uma força geológica em escala planetária Desde os anos 1970 a comunidade científica e os movimentos ambientalistas vêm se mobilizando para comunicar às sociedades e aos governantes os riscos crescentes implicados nesses saltos em escala e velocidade da interferência antrópica nos equilíbrios planetários impostos por uma economia inerentemente expansiva Num primeiro momento as manifestações dos cientistas pontuam os dois grandes eventos diplomáticos de 1972 e de 1992 a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano ocorrida em Estocolmo e a Eco92 ou Cúpula da Terra que teve lugar no Rio de Janeiro vinte anos depois De 1972 são Only One Earth WARD DUBOS 1972 Blueprint for survival GOLDSMITH ALLEN 1972 e The 1 O Grupo de trabalho sobre Antropoceno da Subcomissão sobre a Estratigrafia do Quaternário assim define o Antropoceno O intervalo de tempo presente no qual muitas condições e processos geológicos significativos são profundamente alterados pelas atividades humanas Estes abrangem erosão transportes de sedimentos associados a uma variedade de processos antropogênicos colonização agricultura urbanização aquecimento global a composição química da atmosfera oceanos e solos com perturbações antropogênicas significativas dos ciclos de elementos como o carbono nitrogênio fósforo vários metais acidificação oceânica ampliação das zonas mortas perturbações da biosfera terrestre e marítima perda de habitat predação invasões de espécies e as mudanças químicas mencionadas acima 2 Sobre as relações do Antropoceno com o Brasil vejase Issberner Lena ogs 2017 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 320 Limits to Growth MEADOWS et al 19723 Entre as diversas manifestações de 1992 destacase a Advertência dos Cientistas do Mundo à Humanidade4 Estes eram apenas os primeiros passos dessa mobilização que dá um salto de radicalidade no segundo decênio do século XXI Em 2013 Anthony Barnosky e colegas publicaram o Consenso Científico sobre a Manutenção dos Sistemas de Sustentação da Vida da Humanidade no Século XXI Informação aos Formuladores de Políticas BARNOSKY et al 2013 endossado por mais de 3700 assinaturas Em 2017 2020 e 2021 William Ripple e colegas RIPPLE et al publicaram três advertências sobre a emergência ambiental e climática subscritas por dezenas de milhares de cientistas de mais de 180 países Desde 2018 sobretudo após o Relatório Especial do IPCC com foco nos impactos diferenciais entre um aquecimento de 15oC e um aquecimento de 2oC verificase um acúmulo de estudos manifestos científicos e estudos interdisciplinares sobre a emergência climática e sobre os riscos crescentes envolvidos na aceleração em curso do aquecimento os quais contudo não têm encontrado a devida ressonância na sociedade e menos ainda na rede corporativa global e nas instâncias políticas decisórias São muitas e bem conhecidas as resistências políticas e econômicas à ciência e às rápidas e radicais transformações por ela preconizadas no sistema econômico globalizado Mas mesmo nas sociedades como um todo constatase uma baixa reatividade aos alertas científicos Ao lado do bloqueio ideológico da desinformação patrocinada e dos interesses em jogo esse descompasso entre a alta voltagem da informação qualificada e a baixa percepção social das crises que se avolumam reside na dificuldade de apreender intuitivamente as implicações da Grande Aceleração O senso comum tende compreensivelmente a prefigurar o futuro a partir das experiências e das métricas do passado Nada contudo pode ser mais enganoso numa dinâmica de aceleração sobretudo quando se levam em conta as respostas não lineares do sistema Terra ao acúmulo de estímulos e perturbações Tomemos por exemplo a elevação do nível do mar No período 19001930 a taxa média de elevação do nível do mar era de 06 mm por ano Entre 2014 e 2017 o nível do mar se elevou em média 5 mm por ano e em 2019 ele se elevou 61 mm em relação a 2018 LINDSEY 2020 Em apenas um século portanto a rapidez da elevação do nível do mar mais que decuplicou Isso significa que a cada 33 anos na média essa rapidez duplicou passando de 06 mm para 12 mm 24 mm e para 48 mm Em 2011 James Hansen e Makiko Sato mostravam a magnitude assombrosa de um aumento exponencial do nível do mar já neste século Conforme o aquecimento aumenta o número de rios de gelo a contribuir para a perda de massa aumentará contribuindo para uma resposta não linear melhor caracterizada por um aumento exponencial do que por um aumento linear Hansen 3 O livro Only One Earth foi encomendado pelo presidente da Conferência das Nações Unidas Maurice Strong sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano em Estocolmo em 1972 o manifesto Blueprint for survival proposto por Edward Teddy Goldsmith e Robert Allen foi publicado pela revista The Ecologist em 1972 também por ocasião da Conferência de Estocolmo desse ano Ele foi assinado por mais de 30 cientistas eminentes entre os quais Julian Huxley Frank Fraser Darling Peter Medawar e Peter Scott Vejase httpwwwtheecologistinfopage33html The Limits to Growth Meadows et al 1972 encomendado pelo Clube de Roma Este estudo pioneiro que ganhou duas atualizações em 1992 e em 2004 analisava os pressupostos teóricos do crescimento econômico a partir de uma teoria de sistemas dinâmicos consubstanciada num modelo computacional elaborado no MIT e intitulado World3 4 Cf World Cientists Warning to Humanity 16VII1992 Patrocinado pela Union of Concerned Scientists do MIT redigido por Henry W Kendall Prêmio Nobel em Física de Partículas em 1990 e assinado por 1700 cientistas incluindo a maioria dos laureados com o Prêmio Nobel em diversos campos das ciências httpswwwucsusaorgresources1992worldscientistswarninghumanity Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 420 2007 sugeriu que um tempo de duplicação a cada 10 anos era plausível e indicou que tal tempo de duplicação a partir de uma contribuição do manto de gelo de 1 mm por ano para o nível do mar na década de 20052015 levaria a 5 metros cumulativos de aumento do nível do mar em 2095 HANSEN SATO 2011 Em 2016 os mesmos autores ao lado de outros colegas reafirmaram com mais dados os resultados de sua análise Nossa hipótese é que a perda de massa do gelo mais vulnerável suficiente para aumentar o nível do mar em vários metros aproximase melhor de uma resposta exponencial do que de uma resposta linear Tempos de duplicação de 10 20 ou 40 anos produzem aumentos de vários metros no nível do mar em cerca de 50 100 ou 200 anos HANSEN SATO 2016 Em apoio a essa hipótese Mohsen Taherkhani e colegas mostram que as probabilidades de inundações extremas na linha costeira dobram aproximadamente a cada cinco anos no futuro TAHERKHANY et al 2020 Paul Voosen reporta predições de Aimée Slangen ainda inéditas segundo as quais quando os níveis do mar aumentarem 25 cm acima dos níveis de 2000 o que pode ser atingido já em 2040 inundações da linha costeira que ocorrem uma vez por século podem ocorrer anualmente VOOSEN 2020 Scott Kulp e Benjamin Strauss do Climate Central projetam enfim que cerca de 300 milhões de pessoas em seis países da Ásia vivem hoje em terrenos que serão inundados durante as marés altas em meados do século XXI algo impensável poucos anos atrás KULP STRAUSS 2019 Como afirmam Robert DeConto e David Pollard 2016 Hoje estamos medindo a elevação do nível do mar em milímetros por ano Falamos de um potencial para medila em centímetros por ano apenas em decorrência do degelo da Antártida De fato a fratura iminente do Thwaites o maior glaciar do mundo flutuante sobre o mar de Amundsen na Antártida desobstruirá o caminho para o mar de imensas quantidades de gelo continental Segundo Erin Pettit se a plataforma de gelo oriental de Thwaites colapsar o gelo nesta região poderá fluir até três vezes mais rápido para o mar E se a geleira desabar completamente ela aumentará o nível do mar em 65 centímetros WITZE 2021 cit A elevação do nível do mar tornouse irreversível Já em seu Terceiro Relatório de Avaliação há pouco mais de 20 anos o IPCC afirmava projetase que o nível do mar continuará a se elevar por muitos séculos IPCC AR3 2001 Tudo o que é possível fazer agora é desacelerar ao máximo esse processo de modo a aumentar as chances de adaptação antes que essa elevação inevitável do nível do mar salinize deltas e aquíferos destrua as praias e em geral os ecossistemas costeiros torne inabitável muitas cidades e ameace as usinas nucleares Mas desacelerar essa elevação só será possível se as sociedades priorizarem a redução das concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa GEE Ocorre que por enquanto essas concentrações estão aumentando aceleradamente A velocidade crescente do aumento das concentrações atmosféricas de CO2 fornece outro exemplo didático da dificuldade de compreender os desdobramentos das dinâmicas de aceleração Guy Stewart Callendar mal podia imaginar o alcance do que escreveu em 1939 É um lugarcomum a afirmação de que o homem é capaz de acelerar os processos da Natureza O homem está agora mudando a composição Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 520 da atmosfera a uma taxa que deve ser excepcional na escala do tempo geológico CALLENDAR 1939 Isso repitase em 1939 Hoje como afirmava em 2017 Pieter Tans a taxa de crescimento das concentrações de CO2 na atmosfera na última década ocorreu 100 a 200 vezes mais rapidamente do que a Terra experimentou durante a transição da última idade do gelo Esse é um choque real para a atmosfera TANS 2017 Em 2020 uma declaração da Geological Society of London reconhece a singularidade dessa aceleração na escala do tempo geológico A velocidade atual da mudança de CO2 induzida pelo homem e do aquecimento é por assim dizer sem precedentes em todos os registros geológicos com a única exceção conhecida do evento meteorítico instantâneo que causou a extinção dos dinossauros não aviários há 66 milhões de anos LEAR et al 2020 Matthias Aengenheyster e colegas expressam o mesmo consenso científico ao afirmarem que o sistema Terra está atualmente em um estado de rápido aquecimento sem precedentes mesmo nos registros geológicos AENGENHEYSTER 2018 Entre 1960 e 1969 o aumento do CO2 atmosférico havia evoluído à taxa média anual de 085 partes por milhão ppm5 Nos seis anos entre 2015 e 2020 elas aumentaram à taxa média anual de 255 ppm6 A velocidade do aumento dessas concentrações portanto triplicou em apenas meio século Já em 2013 quando as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono haviam atingido 395 ppm sua taxa de aumento era considerada sem precedentes nos último 55 milhões de anos SOMERO et al 2013 Em abril de 2021 elas atingiram 4212 ppm as mais altas dos últimos três milhões de anos sendo que as concentrações típicas do Holoceno 11700 AP até 1950 não excediam 280 ppm Como bem diz Ken Caldeira Estamos recriando o mundo dos dinossauros cinco mil vezes mais rápido CALDEIRA 2012 Isso significa que a escala de tempo geológico colapsou na escala do tempo histórico de poucas décadas Em termos de nossa capacidade de perturbar coordenadas cruciais do sistema Terra dez anos de nossa história presente equivalem agora por assim dizer a séculos de nossa história pregressa Duas fases da aceleração do aquecimento entre 1970 e 2020 Os dados fornecidos em janeiro de 2021 pelo Goddard Institute for Space Studies GISS GISTEMP da NASA sobre o aquecimento médio global em 2020 situamse no limite superior da avaliação da Organização Meteorológica Mundial 12oC 01oC para 2020 O relatório de 2020 do GISTEMP afirma A temperatura global de 2020 foi 13C mais quente do que no período base de 18801920 a temperatura global nesse período de referência é uma estimativa razoável da temperatura préindustrial Os seis anos mais quentes no registro GISS ocorrem todos nos últimos seis anos e os 10 anos mais quentes estão todos no século XXI HANSEN et al 2021 5 Cf CO2 acceleration httpswwwco2earthco2acceleration 6 NOAA North Oceanic and Atmospheric Administration httpsgmlnoaagovccggtrendsglgrhtml Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 620 A Figura 1 atualiza a evolução da temperatura até 2021 mostrando a as médias anuais b as médias de cada 11 anos para evitar o ruído de um dos ciclos solares e c a tendência linear dos anos 19702015 Figura 1 Temperaturas médias superficiais terrestres e marítimas combinadas em relação ao período de base 18801920 baseadas nos dados do GISTEMP Médias anuais curvas com quadrados pretos azul curvas médias a cada 11 anos vermelho e melhor tendência linear entre 1970 e 2015 verde com aquecimento médio de 018oC por década As flechas assinalam os efeitos dos dois Super El Niños de 1998 e 2016 Fonte Hansen et al 2021 Em janeiro de 2022 James Hansen Makiko Sato e Reto Ruedy do Earth Institute Columbia University fizeram um balanço da situação climática de 2021 e das perspectivas do clima neste decênio Os dados são do Goddard Institute for Space Studies GISS e os elementos dessa análise fundamental devem ser reportados ipse litteris A temperatura da superfície global em 2021 foi de 112C em relação à média de 18801920 Os anos 2021 e 2018 estão empatados como o 6º ano mais quente nos registros instrumentais Os oito anos mais quentes desses registros ocorreram nos últimos oito anos A taxa de aquecimento sobre a terra é cerca de 25 vezes mais rápida do que sobre o oceano O ciclo irregular El NiñoLa Nina domina a variabilidade interanual da temperatura o que sugere que 2022 não será muito mais quente que 2021 mas 2023 pode estabelecer um novo recorde Além disso três fatores aceleração das emissões de GEE diminuição dos aerossóis e o ciclo de irradiação solar aumentarão um desequilíbrio energético planetário já sem precedentes e levarão a temperatura global além do limite de 15C provavelmente durante a década de 2020 James HANSEN et al 2022 Essa afirmação de Hansen e colegas segundo a qual um aquecimento médio global de 15oC acima do período préindustrial deve ser provavelmente alcançado já durante a presente década baseiase na percepção de que entramos desde 2016 numa segunda fase da aceleração do aquecimento global Como indicado na Figura 1 a tendência linear do período 19702015 mostra um aquecimento médio global de 018oC por década 027oCdécada nas terras emersas e 011oCdécada nos oceanos A estimativa do GISS está quase no centro da estimativa indicada pelo IPCC SR15 2018 segundo a qual o aquecimento global antropogênico está atualmente aumentando em 02oC provavelmente entre 01oC e 03oC por década em decorrências das emissões passadas e atuais alta confiabilidadeIPCC 2018 Essa taxa de aquecimento 1970 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 720 2015 indica a primeira fase de aceleração em relação ao ritmo de aquecimento dos decênios anteriores 18802018 Os dados do NOAA confirmamna ao mostrar que a temperatura global anual se elevou a uma taxa média de 007oC por década desde 1880 e a uma taxa média por década superior ao dobro da taxa anterior 018oC desde 1981 NOAA 2019 Mais recentemente contudo o aquecimento do planeta entrou em uma segunda fase de aceleração Em uma postagem de 14 de dezembro de 2020 em sua página Climate Science Awareness and Solutions Program do Earth Institute da Columbia University justamente intitulada Aceleração do Aquecimento Global James Hansen e Makiko Sato escrevem A temperatura global recorde em 2020 apesar de um forte La Niña nos últimos meses reafirma uma aceleração do aquecimento global demasiado grande para ser um ruído aleatório Isto implica um aumento da taxa de crescimento do forçamento climático global total e do desequilíbrio energético da Terra A taxa de aquecimento global acelerouse nos últimos 67 anos O desvio da média atual dos últimos 5 anos 60 meses em relação à taxa de aquecimento linear é grande e persistente isso implica um aumento do forçamento climático líquido e do desequilíbrio de energia da Terra que impulsiona o aquecimento global HANSEN SATO 2020 Como se pode perceber na Figura 1 no período 20162020 as linhas do aquecimento anual avançam claramente acima da tendência linear do período 19702015 018oC década Essa segunda fase da aceleração do aquecimento foi advertida em 2018 por outros trabalhos entre os quais o de Yangyang Xu Veerabhadran Ramanathan e David Victor Segundo esses autores o aumento das emissões implica que nos próximos 25 anos o aquecimento evoluirá à taxa de 025oC a 32oC por década XU et al 2018 Esse prognóstico foi confirmado em julho de 2021 por James Hansen e Makiko Sato que se indagam sobre a medida do desvio do aquecimento recente em relação à tendência linear dos últimos 50 anos A resposta que oferecem é 014oC além do aumento médio de 018oC por década observado no período 19702015 Portanto a taxa decenal de aquecimento é agora de 032oC Isso é muito e sabemos que se trata de uma mudança de forçamento impulsionada pelo crescente desequilíbrio energético planetário Os autores concluem No momento podemos apenas inferir que o desequilíbrio energético da Terra que era menos de ou cerca de meio Watt por m2 durante o período 19712015 dobrou aproximadamente para cerca de 1 Wattm2 desde 2015 Esse maior desequilíbrio energético é a causa da aceleração do aquecimento global Nossa expectativa é que a taxa de aquecimento global para o quarto de século 20152040 seja cerca do dobro da taxa de aquecimento de 018oC por década durante o período 19702015 a menos que se tomem medidas apropriadas HANSEN SATO 2021 Na primeira fase da aceleração do aquecimento este saltou portanto de uma taxa de 007oC por década desde 1880 para 018oC por década no período 19702015 A presente segunda fase mostra um salto de uma taxa de 018oC por década 19702015 para uma taxa de 032oC por década com tendência para uma taxa de 036oC por década entre 2016 e 2040 A Tabela 1 resume os dados acima expostos sobre a aceleração do aquecimento desde 1880 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 820 Tabela 1 Taxas de aquecimento por década em três períodos 18802040 segundo a National Oceanic and Atmospheric Administration NOAA e o Earth Institute Columbia University EI Períodos 1880 2018 1970 2015 2016 2040 Aquecimento década 007oC NOAA 018oC NOAAEI 036oC EI Fontes NOAA Global Climate Report 2019 Hansen Sato 2020 Hansen Sato 2021 Ondas de calor mais frequentes e mais intensas na atmosfera O desequilíbrio energético do planeta e o aquecimento médio global superficial do planeta terrestre e marítimo combinados em relação ao período préindustrial são as métricas fundamentais para avaliar o nível de desregulação do sistema climático O Mediterrâneo incluindo o Oriente Médio certas regiões dos EUA e a região central do Brasil deverão atingir um aquecimento médio de 2oC no Ártico ela já foi atingida cerca de 10 anos antes da média global em relação ao período préindustria SENEVIRATNE 2016 São portanto regiões particularmente vulneráveis ao aquecimento global Mas aquecimentos médios funcionam apenas como uma referência abstrata e de médio prazo sendo quantificados como tendências na escala de anos ou de décadas O que fustiga os organismos e os mata é a consequência primeira e mais concreta dessas métricas o aumento da frequência de novos recordes de calor O NOAA afirma que de 1900 a 1980 um novo recorde de temperatura foi batido em média a cada 135 anos Mas a cada 3 anos de 1981 a 2019 LINDSEY DAHLMAN 2021 Tão letais quanto esses sucessivos recordes de calor são os extremos meteorológicos entre os quais as ondas de frio e sobretudo as ondas de calor definidas como temperaturas que excedem o 90o percentil das observações climatológicas durante um período de 30 anos Nos últimos decênios a desproporção entre recordes de calor e de frio é gritante Em 2018 ano sem El Niño para 40 recordes de frio as estações meteorológicas registraram 430 recordes absolutos de calor WONG 2019 SENGUPTA 2019 Essas ondas e picos de calor tornamse sempre mais intensas duradouras frequentes e se estendem sobre regiões maiores Elas exacerbam os incêndios florestais e as secas alternadas com inundações por trombas dágua e furacões mais devastadores WITZE 2018 Registramse em suma variações meteorológicas que se distanciam dos valores típicos do sistema climático do século XX com maior probabilidade doravante de anomalias jamais registradas no estado anterior desse sistema7 No século XXI as probabilidades de que essas ondas e picos de calor sejam causadas pela variabilidade natural do sistema climático tendem rapidamente a zero Já em 2013 um trabalho mostrava que globalmente o número de recordes locais de temperaturas extremas nas médias mensais era então em média cinco vezes maior do que seria de se esperar num clima sem uma tendência de aquecimento de longo prazo COUMOU et al 2013 Como afirma um trabalho publicado na Nature Climate Change em 2014 verões extremamente quentes que ocorreriam duas vezes no século no início dos 7 Sobre o conceito de ondas de calor a partir do exemplo da Austrália ver Perkins Alexander 2013 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 920 anos 2000 são agora esperados duas vezes por década CHRISTIDIS et al 2014 Tornaramse portanto 10 vezes mais prováveis Referindose à onda de calor europeia no verão de 2018 Peter Stott do MET Office declarou na COP24 em dezembro de 2018 Nosso estudo provisório comparou modelos baseados no clima de hoje com os do clima natural que teríamos sem emissões antropogênicas de GEE Descobrimos que a intensidade da onda de calor deste verão é cerca de 30 vezes mais provável do que teria sido o caso sem mudanças climáticas MET OFFICE 2018 Nas palavras de Nikolaos Christidis coautor desse estudo há agora 12 de chance de que as próximas temperaturas médias estivais no Reino Unido repetirem as do verão de 2018 máxima de 356oC contra menos de 05 numa situação em que não houvesse mudanças climáticas Mais de 13 da população dos EUA 1246 milhões de pessoas estão agora sofrendo taxas de aquecimento superiores à média global com 499 condados mostrando aquecimento médios superiores a 15oC Na Califórnia 83 da população sofre esse nível de aquecimento sendo que o condado de Ventura a Noroeste de Los Angeles já sofreu um aquecimento de 262oC sempre em relação a 1895 data do início dos registros instrumentais MILMAN 2022 No verão de 2021 quase um em três habitantes dos EUA 32 vivem em um condado que sofreu eventos meteorológicos extremos Além disso quase duas entre três pessoas 64 nesse país sofreram uma onda de calor de vários dias fenômeno que está se tornando a mais perigosa forma de evento meteorológico extremo KAPLAN TRAN 2021 com forte aumento de mortes por excesso de calor em escala global entre 2000 e 2019 ZHAO et al 2021 Ainda há pouco esses eventos meteorológicos extremos eram chamados silent killers matadores silenciosos pois como afirmam Camilo Mora e colegas a doença por calor ou seja a ultrapassagem grave da ótima temperatura interna do corpo é frequentemente mal diagnosticada porque a exposição a calor extremo frequentemente resulta em disfunção de vários órgãos o que pode levar a erro de diagnóstico MORA et al 2017 Mas isso está mudando No trabalho citado Camilo Mora e 17 coautores procuram mostrar justamente o impacto populacional direto do calor quando este ultrapassa o limiar de mortalidade dos humanos Atualmente cerca de 30 da população mundial está exposta a condições climáticas que excedem o limiar de mortalidade por ao menos 20 dias por ano Uma ameaça crescente à vida humana por excesso de calor parece agora inevitável mas será muito agravada se os gases de efeito estufa não forem consideravelmente reduzidos MORA et al 2017 Repercutindo esse trabalho um editorial da revista Nature relembra esse fato a que se começa a dar mais e mais atenção De chuvas extremas à elevação do nível do mar o aquecimento global deve causar caos nas vidas humanas Por vezes o impacto mais direto o próprio aquecimento é esquecido E no entanto o calor mata Afinal o corpo evoluiu para funcionar numa faixa muito estreita de temperaturas Nosso mecanismo de resfriamento baseado em transpiração é rudimentar além de certa combinação de alta temperatura e umidade ele falha Estar ao sol e exposto a tal ambiente por qualquer período de tempo tornase rapidamente uma Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 1020 sentença de morte E esse ambiente está se expandindo Uma zona de morte está se alastrando sobre a superfície da Terra ganhando um pouco mais de terreno a cada ano EDITORIAL 2017 A transpiração é um processo de evaporação que causa resfriamento do corpo pois as moléculas de água com maior energia cinética calor sensível evaporam deixando no corpo as de menor energia calor latente A capacidade dos humanos de transpirar e portanto dissipar calor em ambientes de alta umidade é muito menor do que em ambientes de baixa umidade Quanto maior a umidade relativa do ar maior é a dificuldade de as glândulas transpiratórias acionarem esse mecanismo de resfriamento evaporativo do corpo Em situação de extrema umidade do ar a fisiologia humana atinge seu limite de eficiência evaporativa em níveis muito baixos de calor Esse limite expresso pelo termo temperatura de bulbo úmido wet bulb temperature ou TW é ultrapassado em temperaturas maiores que 35oC TW 35oC SHERWOOD HUBER 2010 Quando combinadas com alta umidade em tais temperaturas o sistema de resfriamento natural inclusive de organismos jovens e saudáveis entra em alto risco de falência mesmo à sombra e com quantidades ilimitadas de hidratação A consequência mais provável é então a morte por hipertermia ou por complicações a ela associadas Algumas localidades costeiras subtropicais afirmam Colin Raymond e colegas já reportaram uma temperatura de bulbo úmido de 35oC e a frequência em geral desse calor extremamente úmido mais que dobrou desde 1979 RAYMOND et al 2020 Além disso o calor pode causar morte por outros muitos fatores entre os quais a desidratação e a insolação Recordes e temperaturas acima de 45oC nos últimos sete anos 2015 janeiro de 2022 Três informações sobre 2021 fornecem uma imagem da catástrofe que se avizinha 1 Mais de 400 estações meteorológicas no mundo todo bateram recordes das mais altas temperaturas dos registros históricos em 2021 ZEE 2022 2 Um total de 18 bilhão de pessoas quase um quarto da população mundial vive em países que tiveram em 2021 o ano mais quente já registrado 3 25 países incluindo China Nigéria e Irã registraram uma média anual recorde em 2021 MILMAN 2022 Por brutais que sejam esses dados não surpreendem mais e não teriam por que surpreender quando lembramos que os últimos oito anos 20142021 foram os mais quentes dos registros históricos HANSEN et al 2022 o que naturalmente implica uma profusão crescente de temperaturas extremas A Tabela 2 mostra algumas das regiões do planeta algumas inclusive distantes do cinturão equatorial nas quais se registraram temperaturas iguais ou acima de 45oC entre 2015 e janeiro de 2022 Tabela 2 Temperaturas máximas entre 45oC e 544oC entre 2015 e janeiro de 2022 País Temperatura Data Argentina8 45oC 2022 Colômbia 45oC 2015 GuinéConakri 45oC 2017 África do Sul Cidade do Cabo9 452oC 2022 8 Cf Una histórica ola de calor con temperaturas de más de 45 grados azota Argentina ABC 12I2022 9 Cf Calor atinge marcas sem precedentes no Sul da África MetSul 23I2022 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 1120 Índia Nova Delí10 454oC 2020 França Verargues Herault 46oC 2019 EUA Colorado 46oC 2019 Chipre 462oC 2020 Egito Kharga 47oC 2021 Sudão Cartum 47oC 2021 Grécia Langadas11 471oC 2021 EUA Las Vegas 472oC 2021 Espanha 473oC 2017 Qatar Doha 48oC 2021 Itália Siracusa Sicília12 488oC 2021 México Gallinas13 488oC 2020 Turquia Cirze14 491oC 2021 EUA Chino Califórnia15 494oC 2020 EUA Woodland Hills Califórnia16 494oC 2020 Austrália Port Augusta17 495oC 2019 Canadá Lytton 496oC 2021 Marrocos Sidi Slimane 496oC 2021 Austrália Nullarbor South Austr 499oC 2019 Tunísia Kairouan 503oC 2021 Saudi Arábia Al Qaysuma 504oC 2021 China Xinjiang 505oC 2017 Austrália Onslow18 507oC 2022 Omã Joba 516oC 2021 Índia Phalodi Rajastão19 51oC 2016 Argélia Ourgla20 513oC 2018 Emirados Árabes Unidos Sweihan 518oC 2021 10 CF JAYASHREE NANDI PARTS OF DELHI SIZZLE AT 45C NO QUICK RESPITE LIKELY IMD HINDUSTAN TIMES 23V2020 11 CF HOTTEST TEMPERATURE ON TUESDAY CLOCKS IN AT 471C AS HEATWAVE CONTINUES EKATHIMERINICOM 3VIII2021 12 Cf Phoebe Weston Jonathan Watts Highest recorded temperature of 488C in Europe apparently logged in Sicily The Guardian 11VIII2021 13 State of the Global Climate 2020 OMM 2021 p 25 14 CF TURKEY BREAKS 1961 RECORD FOR HOTTEST TEMPERATURE WITH 491C DUVAR ENGLISH 21VII2021 HTTPSWWWDUVARENGLISHCOMTURKEYBREAKS1961RECORDFORHOTTESTTEMPERATURE WITH4910CNEWS58257 15 Cf Andrew Freedman California endures recordsetting kilnlike heat as fires rage causing injuries The Washington Post 6IX2020 16 Cf California Heatwave fits a trend Earth Observatory NASA 6IX2020 17 Cf Will Steffen Annika Dean Martin Rice Greg Mullins The Angriest Summer Climate Council of Australia 2019 p 4 18 CF Australia equals hottest day on record at 507C BBC 13I2022 19 Cf Jamie Condifle India experienced its hottest ever recorded temperature of 1238F Gizmodo 20V2016 20 Cf Jason Samenow Africa may have witnessed its alltime hottest temperature Thursday 124 degrees in Algeria The Washington Post 6VII2018 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 1220 Paquistão Turbat21 537C 2017 Iraque 538C 2016 Kuwait Mitribah 539C 2016 Irã Ahvaz22 54oC 2017 EUA Califórnia Furnace Creek 544oC 2020 Fontes Wikipedia List of Weather Records httpsenwikipediaorgwikiListofweatherrecords OMM June ends with exceptional heat 29VI2021 httpspublicwmointenmedianewsjuneends exceptionalheat Mohammed Haddad Mapping the hottest temperatures around the world Aljazeera 1VII2021 Bibi van der Zee More than 400 weather stations beat heat records in 2021 The Guardian 7I2022 Em junho de 2021 a Organização Meteorológica Mundial afirmou ser difícil registrar todos os recordes de temperatura tal sua quantidade OMM 2021 Em Lytton na província de Colúmbia Britânica no Canadá a temperatura chegou em junho a 496oC mais do dobro da temperatura média nessa cidade nesse mês 24oC Na mesma província canadense romperamse no dia 27 de junho 60 recordes de temperatura e no dia 28 mais 59 obrigando o governo a fechar escolas e a abrir refúgios com ar condicionado23 A Sicília bateu por quase 1oC o recorde europeu de 48oC Atenas 1977 ao registrar 488oC em Siracusa em agosto de 2021 WESTON WATTS 2021 As temperaturas no Kuwait estão inviabilizando a vida para os humanos e para outros animais Em 2021 as temperaturas nesse país ultrapassaram pela primeira vez a marca de 50oC já em junho ou seja semanas antes do período de maior calor MACDONALD 2022 Em 5 de julho de 2018 a cidade de Ourgala na Argélia atingiu 513oC a maior temperatura medida de modo confiável na África A temperatura mais baixa do dia 28 de junho de 2018 em Quiriyat em Oman foi 42oC SAMENOW 2018 A temperatura de 507oC atingida em Onslow na Austrália em janeiro de 2022 foi a mais alta já registrada no hemisfério sul Dos 28 países e 36 registros dos últimos sete anos 2015 janeiro de 2022 com temperatura igual ou acima de 45oC registrados na Tabela 2 nada menos que 20 apresentaram temperaturas acima de 49oC sendo 13 acima de 50oC Esses registros são evidentemente apenas ilustrativos mas mostram em todo o caso como afirma Jean Jouzel que as temperaturas extremas e os incêndios a elas associados na Columbia Britânica no Canadá em julho de 2021 não haviam sido previstos E percebemos sobretudo que a temperaturas próximas de 50oC entrávamos em um mundo no qual não se pode controlar mais nada As aldeias se incendeiam a natureza é destruída há perdas humanas e as infraestruturas não resistem JOUZEL 2022 Essas temperaturas extremas mostram também como afirma o editorial da Nature acima citado que o calor está agora ameaçando de morte contingentes populacionais crescentes E esses contingentes crescerão exponencialmente à medida que o aquecimento médio global se aproximar e ultrapassar 15oC nos próximos anos ou no mais tardar na próxima década 21 Cf WMO verifies 3rd and 4th hottest temperature recorded on Earth 18VI2019 22 Cf Iranian City hits 129 degrees hottest ever recorded Global Citizen 30VI2017 23 Cf Manuel Planelles Jaime Porras Ferreyra La ONU advierte sobre la gran ola de calor en Norteamérica Es más propia de Oriente Próximo El País 29VI2021 Canadá registra centenas de mortes súbitas em meio a onda recorde de calor G1 30VI2021 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 1320 Mortes por excesso de calor e os países mais imediatamente afetados Como se pode perceber dos 15 países acima elencados nos quais a temperatura atingiu ou ultrapassou 496oC desde 2016 nove estão no Oriente Médio 6 e no Norte da África 3 Esses são os países ao mesmo tempo mais quentes e mais secos do mundo e ao lado da Índia e do Paquistão podem vir a ser os países situados em regiões inabitáveis do planeta para os humanos e outros animais já nos próximos decênios ou na segunda metade do século Segundo George Zittis e colegas Em cenários de altas emissões e concentrações de GEE em partes do Oriente Médio por exemplo perto do Golfo Pérsico projetase que o efeito combinado de alta temperatura e umidade possa atingir ou mesmo exceder os limites da adaptabilidade humana Considerando intensidades moderadas de intensificação das Ilhas de Calor Urbano prevemos que a temperatura máxima durante as ondas de calor superextremas e ultraextremas em alguns centros urbanos e megacidades no Oriente Médio e no Norte da África poderiam atingir ou mesmo exceder 60C o que seria tremendamente disruptivo para a sociedade A humanidade nesses locais dependerá do resfriamento interno e externo ou será forçada a migrar ZITTIS et al 2021 Depender de refúgios públicos dotados de equipamentos de arcondicionado tal como ocorreu em junho de 2021 na Colúmbia Britânica no Canadá pode ser um bom procedimento emergencial mas não é algo factível em termos energéticos nem mesmo nos países mais ricos Segundo estimativas propostas por Renee Obringer e colegas um aquecimento médio global de 15oC acima do período préindustrial deve implicar um aumento de até 8 5 a 85 na demanda de arcondicionado nos EUA e um aquecimento de 2oC implicaria um aumento de 13 11 a 15 se comparados à média de 20052019 Sem medidas específicas de adaptação a sobrecarga na rede decorrente desse aumento de demanda seria suficiente para engendrar alto risco de queda de oferta de energia elétrica em 75 milhões de residênciadias ou quase 15 dias nos verões em alguns estados dos EUA OBRINGER et al 2021 Isso posto o grande problema permanece o da exposição prolongada ao sol O relatório da Union of Concerned Scientists intitulado Too hot to work afirma que trabalhadores ao ar livre nos EUA têm até 35 vezes maior risco de morrer por exposição ao calor do que a população geral Os autores reportam a recomendação do Center for Disease Control CDC segundo a qual o trabalho ao ar livre deve ser cancelado e reagendado sempre que a temperatura exceder 422oC 108oF dada a gravidade dos riscos E alertam enfim que Com ação lenta ou nenhuma ação para reduzir as emissões globais e assumindo nenhuma mudança no número de trabalhadores ao ar livre a exposição dos trabalhadores ao ar livre da nação a dias com um índice de calor acima de 100F 377oC aumentará três ou quatro vezes em meados do século DAHL LICKER 2021 Nos EUA mais pessoas morrem a cada ano por excesso de calor do que pela soma de tempestades inundações e incêndios florestais KAPLAN 2020 Em 2019 em Phoenix capital do estado do Arizona e em seu condado de Maricopa houve 103 dias com temperaturas acima de 377oC 100oF o que levou à morte 197 pessoas por causas relacionadas a excesso de calor Tratase do quarto ano em seguida de recordes de mortes por calor nessa região Já em julho 2017 esses picos de calor extremo implicaram o cancelamento de dezenas de voos em Phoenix porque os aviões não Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 1420 foram projetados para decolar a temperaturas acima de 47oC Num próximo futuro o aquecimento deve restringir as condições operacionais de cinco modelos de aviação comercial em 19 grandes aeroportos COFFEL et al 2017 Problemas desse tipo foram relatados no aeroporto internacional de Las Vegas em julho de 202124 No verão de 2021 fechouse à visitação o Parthenon em Atenas sob um calor de 42oC entre 1200 e 1700 horas e é provável que num futuro próximo muitas regiões do Mediterrâneo fiquem inacessíveis ao turismo durante boa parte do ano Desde 2016 enfim o Ministério do Trabalho do Kuwait proibiu o trabalho ao ar livre das 1100 às 1600 entre 1º de julho e 31 de agosto dado a letalidade potencial de uma exposição prolongada ao sol25 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse contexto ao lado dos países do Oriente Médio e demais países situados no cinturão equatorial a Índia e o Paquistão permanecem os países mais vulneráveis Em 2018 houve cerca de 300000 mortes em pessoas com mais de 65 anos de idade sobretudo na Índia e na China um aumento de 54 desde 2000 WATT et al 2018 KAI et al 2020 DEY 2020 A Índia já é e será sempre mais um dos locais mais mortíferos do planeta por excesso de calor Das 15 localidades mais quentes do mundo em 2020 10 estavam na Índia RAY 2020 Houve um aumento de 61 no número dessas mortes no país entre 2004 e 2013 segundo dados do National Crime Records Bureau NCRB MALLAPUR 2015 Nos 11 anos entre 2005 e 2015 houve sete anos nos quais ondas de calor causaram mais de mil mortes contra apenas dois anos nos 13 anos entre 1992 e 2004 NARAYANAN 2017 Entre 2013 e 2016 houve registro de 4620 mortes por excesso de calor nos estados de Andra Pradexe e Telangana no Sudoeste da Índia26 Apenas em maio de 2015 em várias regiões do país a temperatura ultrapassou regularmente 47oC com registro de 2500 vítimas fatais a maior parte de trabalhadores pobres urbanos e rurais LANGE 2015 Em junho desse mesmo ano essa onda de calor extremo atingiu o Paquistão com temperaturas até 49oC e causou cerca de 2000 mortes Ambos os países foram vítimas de ondas de calor extremo igualmente em 2017 e em 2018 com temperaturas até 51oC e numerosas mortes Por terríveis que sejam esses números de vítimas fatais do calor são muito subestimados Segundo Dileep Mavalankar diretor do Indian Institute of Public Health IIPH considerando apenas as mortes por insolação clinicamente certificadas elas representam apenas 10 do total das mortes por excesso de calor Mortes por excesso de calor são como um iceberg 90 delas não são visíveis TRIPATHI 2020 As estimativas são de que em 50 anos 12 bilhão de pessoas na Índia viverão em áreas tão quentes quanto o Saara se as emissões de GEE continuarem aumentando TRIPATHI 2020 Em The Ministry for the Future 2020 Kim Stanley Robinson mestre do gênero clifi climate fiction27 propõe uma narrativa cujo ponto de partida é uma onda de calor que extermina 20 milhões de indianos O autor imagina um quadro de traumas individuais e sociais daí decorrentes que talvez nada ou muito pouco tenha de ficcional já no próximo decênio E não apenas na Índia 24 CF Possible issues with flights at McCarran Airport because of extreme heat KTNV Las Vegas 9VII2021 25 Cf Ban on working in sun Arab Times 2VI2016 26 CF Heatwave in India claims 4620 lives in four years Hindustan Times 27IV2017 27 O termo clifi foi cunhado por Dan Bloom em 2007 Vejase httpclifinet Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 1520 REFERÊNCIAS AENGENHEYSTER M FENG QY PLOEG F van der DIJKSTRA HA The point of no return for climate action effects of climate uncertainty and risk tolerance Earth System Dynamics 9 2018 pp 10851095 BARNOSKY A BROWN J DAILY GC DIRZO R et al Scientific Consensus on Maintaining Humanitys Life Support Systems in the 21st Century Information for Policy Makers CALDEIRA Ken The Great Climate Experiment How far can we push the planet Scientific American September 2012 CALLENDAR Guy S The Composition of the Atmosphere through the Ages Meteorological Magazine 74 1939 pp 3339 CHRISTIDIS Nikolaos JONES Gareth S STOTT Peter A Dramatically increasing chance of extremely hot summers since the 2003 heatwave Nature Climate Change 8XII2014 COFFEL Ethan D THOMPSON Terence R HORTON Radley M The impacts of rising temperatures on aircraft takeoff performance Climatic Change 13VII2017 CONDIFLE Jamie India experienced its hottest ever recorded temperature of 1238F Gizmodo 20V2016 COUMOU Dim ROBINSON Alexander RAHMSTORF Stephan Global increase in recordbreaking monthlymean temperatures Climatic Change 118 34 June 2013 pp 771782 CRUTZEN Paul J Geology of mankind Nature 415 6867 2002 CRUTZEN Paul J The Anthropocene in E Ehlers T Krafft eds Earth System Science in the Anthropocene Emerging Issues and Problems Springer 2006 CRUTZEN Paul J STOERMER Eugene F The Anthropocene IGBP Newsletter 41 2000 DAHL Kristina LICKER Rachel Too hot to work Assessing the Threats Climate Change Poses to Outdoor Workers Union of Concerned Scientists Agosto de 2021 DeCONTO Robert POLLARD David Contribution of Antarctica to past and future sealevel rise Nature 531 31III2016 DEY Sushmi 31000 heatrelated deaths of 65 in India in 2018 Report The Times of India 3XII2020 EDITORIAL Mercury rising 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United States Under a Warming Climate Earths Future 29XII2021 OMM State of the Global Climate 2020 2021 PERKINS S E ALEXANDER L V On the measurement of heat waves American Meteorological Society 1VII2013 PLANELLES Manuel FERREYRA Jaime P La ONU advierte sobre la gran ola de calor en Norteamérica Es más propia de Oriente Próximo El País 29VI2021 RAY Meenakshi Of the worlds 15 hottest places 10 are in India Hindustan Times 27V2020 RAYMOND Colin MATTHEWS Tom HORTON Radley M The emergence of heat and humidity too severe for human tolerance Science Advances 6 19 8V2020 RIPPLE WJ WOLF C et al World Scientistss warning to humanity a second notice Bioscience Vol6712 10261028 dec 2017 World Scientistswarning of a climate emergency Bioscience Vol 701 812 jan 2020 e Bioscience Vol 719 894898 SAMENOW Jason Africa may have witnessed its alltime hottest temperature Thursday 124 degrees in Algeria The Washington Post 6VII2018 SCHÄR Christoph Climate extremes The worst heat waves to come Nature Climate Change 6 2016 pp 128129 SENEVIRATNE Sonia et al Allowable CO2 emissions based on regional and impact related climate targets Nature 529 28I2016 SENGUPTA Somini US Midwest Freezes Australia Burns This is the Age of Weather Extremes The New York Times 29I2019 SHERWOOD Steven C HUBER Matthew An adaptability limit to climate change due to heat stress PNAS 107 21 25V2010 pp 95529555 SOMERO George N et al Review of the Federal Ocean Acidification Research and Monitoring Plan US National Research Council of the National Academies Division on Earth and Life Studies 2013 STEFFEN W GRINEVALD J CRUZEN P J MCNEILL J The Anthropocene conceptual and historical perspectives Philos Trans of the R Society 369 2011 pp 842867 STEFFEN Will BROADGATE Wendy DEUTSCH Lisa GAFFNEY Owen LUDWIG Cornelia The trajectory of the Anthropocene The Great Acceleration The Anthropocene Review 2015 21 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 1920 STEFFEN Will CRUTZEN Paul J MCNEILL John The Anthropocene Are Humans Now Overwhelming the Great Forces of Nature Ambio 36 8 2007 STEFFEN Will DEAN Annika RICE Martin MULLINS Greg The Angriest Summer Climate Council of Australia 2019 STEFFEN Will SANDERSON Angelina TYSON Peter D Global Change and the Earth System A Planet Under Pressure The IGBP Book Series Springer 2004 p 131 TAHERKHANI Mohsen et al Sealevel rise exponentially increases coastal flood frequency Scientific Reports 16IV2020 TRIPATHI Bhasker India Underreports Heatwave Deaths Heres why this must change India Spend 15VI2020 VOOSEN Paul Seas are rising faster than ever Science 370 20XI2020 p 901 WARD Barbara DUBOS René Only One Earth The care and maintenance of a small planet Penguin Books Middlesex 1972 WATT Nick et al The 2018 report of the Lancet Countdown on health and climate change shaping the health of nations for centuries to come The Lancet 392 December 2018 WESTON Phoebe WATTS Jonathan Highest recorded temperature of 488C in Europe apparently logged in Sicily The Guardian 11VIII2021 WESTON Phoebe WATTS Jonathan Highest recorded temperature of 488C in Europe apparently logged in Sicily The Guardian 12VIII2021 WGA Working Group on Anthropocene 21V2019 httpquaternarystratigraphyorgworkinggroupsanthropocene WITZE Alexandra Giant cracks push imperilled Antarctic glacier to collapse Nature 14XII2021 WITZE Alexandra Why extreme rains are gaining strength as the climate warms Nature 20XI2018 WMO World Meteorological Organization 2019 WONG Sam So far 2019 has set 35 records for heat and 2 for cold New Scientist 30I2019 XU Yangyang RAMANATHAN Veerabhadran VICTOR David Global Warming will happen faster than we think Nature 5XII2018 ZALASIEWICZ J The Anthropocene as a potential new unit of the Geological Time Scale 2015 httpswwwyoutubecomwatchvyFbbXlgkgE ZEE Bibi van der More than 400 weather stations beat heat records in 2021 The Guardian 7I2022 ZHAO Qi et al Global regional and national burden of mortality associated with non optimal ambient temperatures from 2000 to 2019 a threestage modelling study The Lancet Planetary Health July 2021 Liinc em Revista Rio de Janeiro v 18 n 1 e5968 maio 2022 httpsdoiorg1018617liincv18i15968 2020 ZITTIS George et al Businessasusual will lead to super and ultraextreme heatwaves in the Middle East and North Africa Climate and Atmospheric Science 23III2021 No artigo O Antropoceno como aceleração do aquecimento global Luiz Marques examina a transição da era geológica em que a atividade humana se tornou o principal motor das mudanças ambientais no planeta O autor argumenta que a era do Antropoceno é marcada por uma intensificação sem precedentes das transformações ecológicas decorrentes das práticas industriais do consumo excessivo de recursos naturais e da degradação ambiental Desde a Revolução Industrial a humanidade passou a explorar os recursos do planeta de maneira insustentável resultando em um aumento significativo nas emissões de gases de efeito estufa que são os principais responsáveis pelo aquecimento global Marques destaca que a Grande Aceleração ocorrida a partir dos anos 1950 representa um ponto crítico em que o crescimento populacional a industrialização e o avanço tecnológico se intensificaram levando a uma série de consequências drásticas para o meio ambiente O autor ressalta que esses eventos não apenas afetam a biodiversidade mas também comprometem a saúde dos ecossistemas e a qualidade de vida das populações humanas A mudança climática a acidificação dos oceanos e a perda de biodiversidade são algumas das consequências diretas dessa aceleração evidenciando a fragilidade do sistema terrestre diante das pressões humanas Além disso o artigo discute a necessidade urgente de uma mudança de paradigma nas relações sociais econômicas e políticas enfatizando que o progresso científico embora tenha trazido avanços significativos também pode resultar em consequências desastrosas quando não é acompanhado por uma reflexão crítica sobre seus impactos O autor apela para a urgência de uma ação coletiva que envolva tanto a comunidade científica quanto a sociedade civil propondo uma abordagem holística para lidar com os desafios impostos pela crise ambiental Marques conclui que para mitigar os efeitos da crise climática é imprescindível integrar esforços de diversas disciplinas promovendo uma educação que não apenas informe mas também capacite indivíduos e comunidades a tomarem decisões sustentáveis A mudança na forma como interagimos com o meio ambiente é fundamental para garantir um futuro viável onde a convivência entre a humanidade e a natureza seja equilibrada e respeitosa O artigo serve como um chamado à ação instigando leitores a refletirem sobre seu papel na transformação do mundo enfatizando que o tempo para agir é agora O Mito do Progresso Científico e os Desafios do Século XXI As sociedades ocidentais foram moldadas pelo mito do progresso científico uma crença fundamental de que a inovação tecnológica seria a chave para resolver todos os problemas humanos e promover um futuro melhor Este ideal que se consolidou durante a Revolução Industrial e a Era da Ilustração propôs que o avanço da ciência e da tecnologia poderia resultar em prosperidade justiça social e melhorias nas condições de vida No entanto a realidade do século XX revelou um lado sombrio desse progresso com a crescente evidência dos impactos negativos da atividade humana sobre o meio ambiente que se tornaram cada vez mais difíceis de ignorar O século XX foi marcado por um crescimento exponencial das tecnologias que embora tenham proporcionado inovações significativas também geraram consequências ambientais devastadoras A industrialização impulsionada pela ciência e pela tecnologia levou a um aumento considerável na extração de recursos naturais emissões de poluentes e degradação dos ecossistemas Assim a promessa de um futuro mais próspero se tornou uma faca de dois gumes levando a uma reflexão crítica sobre a relação entre desenvolvimento tecnológico e sustentabilidade Nos últimos anos eventos climáticos extremos como secas severas furacões devastadores e incêndios florestais têm destacado a fragilidade dos sistemas ecológicos e a urgência de um novo paradigma A aceleração do aquecimento global alimentada pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa tem mobilizado cientistas ativistas e cidadãos para confrontar não apenas os perigos das transformações ambientais mas também o risco iminente de uma extinção em massa Esses fenômenos naturais extremos são frequentemente atribuídos ao impacto humano levantando questões sobre como as tecnologias que deveriam ser ferramentas de progresso têm contribuído para a crise global Diante desses desafios tornase evidente que as sociedades precisam reavaliar sua dependência de tecnologias tradicionais que priorizam o crescimento econômico em detrimento da saúde ambiental A questão não é simplesmente desacelerar o progresso mas sim redirecionar os esforços tecnológicos para promover soluções sustentáveis Isso inclui a adoção de tecnologias limpas energias renováveis práticas de economia circular e a implementação de sistemas que minimizem a pegada ecológica Além disso a educação e a conscientização sobre tecnologias sustentáveis devem ser integradas nas formações acadêmicas e profissionais À medida que os futuros engenheiros cientistas e gestores são treinados é fundamental que eles sejam equipados com um entendimento das interações complexas entre a tecnologia e o meio ambiente Essa abordagem permitirá que novas inovações sejam desenvolvidas não apenas para atender às necessidades imediatas mas também para assegurar a viabilidade a longo prazo dos recursos do planeta Em suma o mito do progresso científico embora tenha proporcionado avanços significativos precisa ser confrontado com uma nova narrativa que enfatize a responsabilidade ambiental e a sustentabilidade Os desafios do século XXI exigem que a tecnologia seja utilizada como uma aliada na construção de um futuro mais equilibrado e saudável onde as inovações contribuam para a preservação do meio ambiente e para a melhoria da qualidade de vida em vez de exacerbar as crises que enfrentamos A mudança na forma como percebemos e aplicamos a tecnologia será crucial para garantir que o progresso se traduza em benefícios reais para a humanidade e o planeta A Relação com a Engenharia de Minas A Engenharia de Minas ocupa um papel central na discussão sobre as crises ambientais contemporâneas especialmente no contexto do Antropoceno e da aceleração do aquecimento global Essa área da engenharia é responsável pela extração de recursos minerais que são essenciais para o desenvolvimento econômico e tecnológico das sociedades No entanto a forma como esses recursos são extraídos e utilizados tem consequências diretas e significativas para o meio ambiente A pressão sobre os recursos naturais agravada pela crença no progresso infinito tem levado à degradação ambiental perda de biodiversidade e alteração de ecossistemas fazendo com que a atuação do engenheiro de minas se torne cada vez mais crítica e complexa A crise ambiental que vivemos exige que a Engenharia de Minas repense suas práticas tradicionais e adote uma abordagem mais sustentável Os engenheiros precisam se familiarizar com tecnologias e métodos que minimizem os impactos negativos da mineração como a recuperação de áreas degradadas a redução do consumo de água e a mitigação da poluição A aplicação de técnicas de mineração sustentável como a mineração responsável visa equilibrar a necessidade de exploração mineral com a conservação ambiental Essa abordagem não apenas melhora a eficiência dos processos de extração mas também respeita os direitos das comunidades afetadas e promove a responsabilidade social Além disso a tecnologia desempenha um papel fundamental na transformação da Engenharia de Minas A implementação de tecnologias avançadas como drones para mapeamento e monitoramento de áreas sensores IoT para monitoramento em tempo real e sistemas de Big Data para análise de dados operacionais pode melhorar a eficiência das operações e reduzir os impactos ambientais Por exemplo o uso de modelagem digital pode ajudar a prever os impactos da extração mineral e a planejar atividades de forma a minimizar a degradação ambiental Essas inovações tecnológicas não apenas promovem a sustentabilidade mas também asseguram que as empresas mineradoras possam operar de forma mais responsável e competitiva no mercado A formação em Engenharia de Minas portanto deve se adaptar a essa nova realidade incorporando disciplinas que abordem a sustentabilidade a ética ambiental e o uso de tecnologias limpas Os futuros engenheiros precisam ser treinados para pensar criticamente sobre o ciclo de vida dos recursos minerais desde a extração até o descarte considerando sempre as implicações sociais e ambientais de suas ações Além disso a colaboração interdisciplinar com áreas como ciências ambientais geologia e gestão de recursos naturais é essencial para que os engenheiros de minas desenvolvam soluções integradas e eficazes para os desafios que a mineração enfrenta no contexto das mudanças climáticas Em suma a relação entre a Engenharia de Minas e a crise global é complexa e multifacetada À medida que a sociedade avança em direção a um futuro mais sustentável é imperativo que os profissionais dessa área assumam um papel proativo na transformação das práticas de mineração alinhandose às demandas de conservação ambiental e responsabilidade social A adoção de tecnologias inovadoras e uma educação que priorize a sustentabilidade serão fundamentais para que a Engenharia de Minas possa contribuir efetivamente para um mundo que busca um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente

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