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VII Congresso Brasileiro de Geógrafos AGB e a Geografia brasileira no contexto das lutas sociais frente aos projetos hegemônicos. Vitória/ES 10 a 16 de Agosto de 2014 ANAIS DO VII CBG - ISBN: 978-85-98539-04-1 O III REICH COMO VITRINE DAS TEORIAS GEOPOLÍTICAS CLÁSSICAS: Os fundamentos de Ratzel e Haushofer. Fabio Ferreira Ramos GERES/Geografia - Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG). Bolsista de Iniciação Científica FAPEMIG. viva.la.fabio@hotmail.com Flamarion Dutra Alves Prof. Dr. Líder do GERES/Geografia - Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG). dutram@yahoo.com.br INTRODUÇÃO Para Friedrich Ratzel a partir do momento que um grupo social se une para proteger seu território, tem início o Estado e, para ele, entende-se por território o espaço em que este grupo social vive. A proteção e manutenção do território é algo primordial para o bem do Estado, e para tal é necessário conhecer o território, suas características físicas, como recursos naturais e aspectos sociais. A geografia, como estudo do espaço, é algo fundamental para manutenção territorial, tanto para expansão como para proteção. Para um melhor entendimento, tornam-se necessárias contextualizações. Primeiramente será contextualizado o momento histórico e geográfico em que viveu Friedrich Ratzel, esclarecendo assim as características metodológicas e filosóficas de seu trabalho. Necessária também se faz a contextualização do III Reich, momento onde Karl Haushofer se torna figura importante no Estado Alemão, aplicando seu trabalho, tornado assim o III Reich numa vitrine da geopolítica clássica, grande instrumento imperialista. OBJETIVOS Esta pesquisa tem por objetivo explicar as bases teóricas de Ratzel, no que tange os conceitos de Estado, território, espaço vital e geografia política, em busca de uma compreensão concreta de suas teorias, analisando a aplicação destas por Haushofer no III Reich, bem como a geopolítica clássica e a geografia clássica. METODOLOGIAS VII Congresso Brasileiro de Geógrafos AGB e a Geografia brasileira no contexto das lutas sociais frente aos projetos hegemônicos. Vitória/ES 10 a 16 de Agosto de 2014 ANAIS DO VII CBG - ISBN: 978-85-98539-04-1 A pesquisa segue algumas etapas visando atingir os objetivos propostos: a primeira fase de caráter explicativo acerca da história da geografia em especial da geografia política e geopolítica. A segunda etapa consistirá no estudo do III Reich, englobando o período pós I Guerra Mundial II Guerra Mundial, em suma uma contextualização do período que compreende a época da geopolítica clássica. A terceira etapa com o objetivo de se aprofundar nos teóricos da geografia política geopolítica, Ratzel e Haushofer, bem como os conceitos utilizados de espaço vital, território e Estado. Por fim fazer as considerações do que de fato essas teorias passaram ter contribuído ao Estado Nazista. Estudo histórico bibliográfico, interpretar os trabalhos deste autores, correlacionando-os e buscando compreender a história do pensamento geopolítico, a respeito da geopolítica, geografia militar. RESULTADOS PRELIMINARES Busca-se com este trabalho, um entendimento da aplicação da geopolítica, das teorias da geografia clássica e das contribuições aos Estados imperialistas, além de compreender a evolução da geopolítica, os conceitos trabalhados por ela e como o conhecimento geográfico pode auxiliar nas ações políticas de um Estado. A proposta da pesquisa visa entender a aplicabilidade dessas teorias e sua validade no cenário geopolítico atual, ou seja, quais são as lacunas e fragilidades dessas teorias em uma sociedade globalizada. Geopolítica Alemã Friedrich Ratzel (1844-1904) pode ser considerado como principal sistematizador da geografia humana, sendo um dos primeiros geógrafos a discutir as relações humanas e suas disputas territoriais (manutenção e expansão). Ele trabalhou o estudo do espaço sob três perspectivas: física, biológica e antropológica. Partindo desses pontos, Ratzel desenvolveu suas obras “Antropogeografia”, “Raças Humanas” e “Geografia Política” sob a relação: Território, Povo, Estado. Os pilares do ideal nazista – supremacia ariana, Estado com força militar, não miscigenação – são temas do trabalho de Ratzel. Karl Haushofer (1869-1946), geógrafo nazista, colocou as teorias de Ratzel, de forma adaptada, na política do III Reich. Sendo assim é grande a influência de Ratzel no regime nazista. Primeiramente, o nazismo via como necessidade para a formação de um Estado forte o grande poderio militar, isto seria via para defesa do VII Congresso Brasileiro de Geógrafos AGB e a Geografia brasileira no contexto das lutas sociais frente aos projetos hegemônicos. Vitória/ES 10 a 16 de Agosto de 2014 ANAIS DO VII CBG - ISBN: 978-85-98539-04-1 território e, possivelmente, expansão do espaço vital. Os conceitos “Estado”, “território” e “espaço vital” são explicados na tradução do trabalho de Ratzel (1882), de Antonio Carlos Robert Moraes (1990)¹. O território seria, em sua definição, uma determinada porção da superfície terrestre apropriada por um grupo humano. Observa-se que a propriedade qualifica o território, numa concepção que remonta às origens do termo na zoologia e na botânica (onde ele é concebido como área de dominância de uma espécie animal ou vegetal). Dessa forma, o território é como um espaço que alguém possui, é a posse que lhe atribui identidade. (MORAES, 1990, p.23) Observa-se que a relação de posse entre um grupo social e um espaço caracteriza o território. Já o espaço vital se caracteriza pela relação de necessidade que o grupo social mantém com esse território. O espaço vital manifesta a necessidade territorial de uma sociedade tendo em vista seu equipamento tecnológico, seu efetivo demográfico e seus recursos naturais disponíveis. Servi-nos ainda uma relação de equilíbrio e se equaciona pela mediação pela capacidade técnica. Sendo assim, o espaço vital é necessário para a reprodução de uma dada comunidade. (MORAES, 1990, p.23) Ambos os conceitos já são uma indicativa do caminho da formulação ratzeliana, onde a defesa, manutenção e (principalmente) conquista do espaço são a chave do progresso de grupos sociais. Dessa forma o surgimento do Estado é fundamental para as civilizações. Para Ratzel, o Estado surge da organização de dado grupo social na busca da proteção de seu território. Uma vez constituído, o Estado se desenvolve, na avaliação de Ratzel, por uma lógica própria que o faz ir se autonomizando da dinâmica social que lhe deu vida. No processo de sua efetivação, ele acaba por subjugar a sociedade, expandindo o seu “egoísmo político”. Torna-se, finalmente, o agente primordial do processo histórico, acabando por concretizar a teorização ratzeliana, movimenta-se a partir de interesses próprios, ¹O livro de Antonio Carlos Robert Moraes (1990) contém textos traduzidos de Friedrich Ratzel. No caso, a citação é uma reprodução da obra original Geografia do homem [Antropogeografia]. RATZEL(1882). VII Congresso Brasileiro de Geógrafos ANAIS DO VII CBG - ISBN: 978-85-98539-04-1 A AGB e a Geografia brasileira no contexto das lutas sociais frente aos projetos hegemônicos. 10 a 16 de Agosto de 2014 Vitória/ES entre os quais destaca-se o “apetite territorial”. Sua lógica intrínseca é garantir e aumentar o espaço vital. (MORAES, 1990, p.25) O mito do corpo do povo alemão, também carrega conceitos ratzelianos, principalmente no que diz respeito à supremacia ariana. O discurso nazista estava impregnado com a preocupação em manter a raça pura, como exemplo o discurso de Juluis Streicher, governador da Francônia Superior e editor do “Der Stürmer”, no sexto congresso do partido nazista diz que a nação se baseia na pureza racial, sendo esta condição necessária ao bem estar da nação. O ideário imperialista do regime nazista tem como um de seus pilares as formulações ratzelianas, estas fundamentadas em uma espécie de “determinismo complexo”, negando ao determinismo simplista, que não leva em conta a ação humana. Ratzel foi um crítico do determinismo simplista, o qual em sua opinião prestou um desserviço à geografia ao tentar explicar de forma inadequada e via especulativa, sem base empírica – a complexa questão das influências das condições naturais sobre a humanidade. [...]A aceitação da existência de influências das condições naturais não implica, na argumentação de Ratzel, uma passividade total do elemento humano. (MORAES, 1990, p. 10 -11). Enquanto que Ratzel se apoiava em muitas vezes das teorias naturalistas e darwinistas (darwinismo social), aliando as concepções naturais ao Estado e às raças (determinismo ambiental), Haushofer imprimiria à geopolítica a noção das forças mundiais e militares, dividindo os continentes com os países controladores das zonas (figura 1). Haushofer fornece ao regime nazista, política “na prática”, embasamento teórico e estratégico para ações fundamentadas no ideal de Estado de Ratzeliano, onde este aplicado, diferente das formulações, se faz centralizado em Adolf Hitler, mantendo o papel de administrador de espaço vital, e buscando a expansão deste. VII Congresso Brasileiro de Geógrafos ANAIS DO VII CBG - ISBN: 978-85-98539-04-1 A AGB e a Geografia brasileira no contexto das lutas sociais frente aos projetos hegemônicos. 10 a 16 de Agosto de 2014 Vitória/ES Figura 1 – Zonas de influências propostas por Haushofer- 1924. Fonte: (MELLO, 1999, p.81). Haushofer vai aplicar de fato as noções de poder e militarismo espacialmente, dividindo em quatro blocos de influência: 1) Zona dos EUA: Novo Continente; 2) Zona Alemã: Europa menos Rússia, África e Oriente Médio; 3) Zona Russa: Quase toda Ásia e saída para o Índico; 4) Zona do Japão: Sudeste Asiático, Extremo Sul e Oceania. Haushofer não fora um grande teorizador da geografia política, mas sim geopolítica, seu trabalho tem um caráter prático, com aplicação na política dos grandes Estados, no seu caso específico, dada contextualização de sua época, utilizou da teoria principal de Ratzel, aplicando-a ao regime nazista. De fato, Haushofer não estava preocupado com os fundamentos da geografia política em si, mas na sua articulação com a ciência política em geral, cujo resultado (a geopolítica) fosse útil aos “homens de Estado” encarregados da política externa de seu país. (COSTA, 2008, p.127) Observa-se a necessidade da diferenciação entre os conceitos “geografia política” e “geopolítica” no entendimento da aplicação das sistematizações de Ratzel no regime nazista. Entende-se ser por geografia política a teorização acerca da administração e organização espacial, já a geopolítica é entendida como a prática ou instrumentalização das teorias que também a geografia política. Segundo Wanderley Messias da Costa, Haushofer tinha uma relação polêmica com o nazismo, sendo ele que não era um total VII Congresso Brasileiro de Geógrafos ANAIS DO VII CBG - ISBN: 978-85-98539-04-1 A AGB e a Geografia brasileira no contexto das lutas sociais frente aos projetos hegemônicos. 10 a 16 de Agosto de 2014 Vitória/ES apoiador do regime, dessa forma o governo nazista apenas utilizou suas teorias aplicadas. O III Reich Compreendido entre 1933 e 1945, o III Reich foi o período que a Alemanha foi governada pelo partido nazista (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães), comandado por Adolf Hitler. A política nazista tinha como substrato as ideias que formaram o mito do corpo do povo alemão. Neste mito, o povo alemão formaria um corpo, que deveria se manter saudável e limpo para trabalhar em prol da defesa e do progresso do espaço vital alemão, e o Führer a cabeça que comandaria este corpo. Observa-se, que o Estado se personifica na figura do Führer, dando a Adolf Hitler o controle do território alemão e toda sua estruturação social. Hitler, a frente do partido nazista, tinha domínio sobre todos os setores sociais da Alemanha, e enquanto líder do partido caracterizou-o por completo, como exposto no documentário “Arquitetura da Destruição”, de Peter Cohen. Segundo Cohen, Hitler foi forte para o nazismo, esteticamente e politicamente, com suas propostas. Propostas estas, frutos da influência de Richard Wagner, artista e político alemão, em sua mentalidade. Na visão nazista, a raça ariana era o ideal de perfeição humana, e o nazismo tomou como uma de suas obrigações “purificar” a Alemanha, purificação esta que englobava todos os setores sociais. O III Reich foi marcado pelo ideal nazista centralizador. João Ribeiro Júnior evidencia, em sua obra “O que é Nazismo?”, o caráter totalitário do regime nazista. O nazismo solidificou-se a partir do desenvolvimento de três frentes. Na primeira, os nazistas fizeram uso da autoridade legal para gerir os recursos do Estado e sua máquina administrativa, o que lhes garantiu o controle da política, a neutralidade do exército e o poder, só o chefe do governo tinha autorização para demitir todos os oficiais suspeitos de oposição ou de indiferença para com o regime. A segunda frente era de terrorismo, que atuava como método para impor medo permanente da violência, sendo ela uma medida preparatória, cuja eficácia garantia, depois que Goebbels tornou-se ministro da Cultura e da Propaganda, um absoluto controle sobre toda mentalidade e pensamento da Alemanha. (RIBEIRO JUNIOR, 1987, p.40) VII Congresso Brasileiro de Geógrafos ANÁIS DO VII CBG - ISBN: 978-85-98539-04-1 Dessa forma, esse regime político se caracterizou como vitrine dos postulados tóricos e idealizados pelos geopolíticos alemães, Ratzel e Haushofer. Sendo Ratzel o precursor da geografia política, mas com Haushofer dando suporte político e prático as teorias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO. Direção e Roteiro: Peter Cohen. Estados Unidos da América. 1989. (119 min.) CASTRO, Iná Elias. Geografia e Política - Território, escalas de ação e instituições. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2005. CLAVAL, Paul. História da Geografia. Lisboa: Edições 70, 2006.. COSTA, Wanderley Messias. Geografia Política e Geopolítica. São Paulo: Edusp - Editora da Universidade de São Paulo, 2008 BINIMELIS, Cecília Quintana. Em torno das origens da geopolítica alemã. p.1-19. Revista CENEGRI. n.5, v.1, 2006. HESKE, Henning. Karl Haushofer: his role in German geopolitics and in Nazi politics. p.135-144. Political Geography Quarterly. v.6, n.2, 1987. LACOSTE, Yves. A geografia: isso serve em primeiro lugar, para fazer a guerra. Tradução: Maria Cecília França. 12 ed. Campinas: Papirus, 2006. MELLO, Leonel Itaussu Almeida. Quem tem medo da Geopolítica? São Paulo: Hucitec, 1999. MORAES, Antonio Carlos Robert. (org.). Ratzel. Geografia. Coleção grandes cientistas sociais. Ática: São Paulo, 1990. RIBEIRO JUNIOR, João. O que é Nazismo? 2.ed. Brasiliense: São Paulo, 1987. O TRIUNFO DA VONTADE. Direção: Leni Riefenstahl. Berlim, Alemanha. 1935. (114 min.)