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Atualizado 26 de agosto de 2022 Abordagem Sociopsicológica da Violência CBFPM MANUAL DO PARTICIPANTE ABORDAGEM SOCIOPSICOLÓGICA DA VIOLÊNCIA CBFPM 20222023 17 UD I Abordagem conceitual Notas Objetivos Ao finalizar esta unidade o participante esperase que o participante tenha alcançado os seguintes objetivos 1 Ampliar seus conhecimentos para compreender o fenômeno da violência e da criminalidade 2 Desenvolver habilidades de interrelacionar os conceitos de modo a utilizálos em seu dia a dia na atividade policial militar 3 Fortalecer atitudes para refletir sobre os fatores e situações inerentes à violência e à criminalidade de acordo com os conceitos básicos da unidade CBFPM 20222023 Abordagem conceitual NOTAS DE AULA Atualizado 26 de agosto de 2022 Abordagem Sociopsicológica da Violência CBFPM 2 Introdução A violência se constitui em uma temática que há muito tempo preocupa a comunidade científica e tenta entender e descrever este fenômeno Áreas como História Sociologia e Psicologia vêm se voltando para o estudo da criminalidade e da violência de forma a elucidar o fenômeno em termos de suas variações no tempo em relação às estruturas e processos mais amplos e de longa duração Poucos problemas sociais mobilizam tanto a opinião pública como a criminalidade e a violência nos dias atuais pois afetam toda a população independente de classe raça credo religioso sexo ou estado civil São consequências que se repercutem tanto no imaginário cotidiano das pessoas como nas cifras extraordinárias a respeito dos custos diretos da criminalidade violenta BRASIL 2014 Neste capítulo serão abordados conceitos fundamentais que contribuirão na formação e prática do policial militar 3 Conceitos básicos a Sociedade Tipo especial de sistema social que como todos os sistemas sociais distinguese por suas características culturais estruturais e demográficasecológicas Especificamente tratase de um sistema definido por um território geográfico que poderá ou não coincidir com as fronteiras de naçõesestado dentro do qual uma população compartilha de uma cultura e estilo de vidas comuns em condições de autonomia independência e autossuficiência relativas b Indivíduo Na democracia o indivíduo é considerado conforme seu nível de empreendimento na participação social sua importância e relevância individual advém da consideração de seus pares a respeito dos seus atos em favor do coletivo No sistema capitalista a valoração do indivíduo também considera os resultados do seu trabalho em prol do coletivo lhe atribuindo importância e valor positivo ou na ausência de produção de forma injustificada valor negativo por isso ele próprio será culpado de sua condição O conceito de indivíduo faz referência a cada pessoa que faz parte de uma sociedade reconhecendo que todos têm liberdade para decidir sobre suas ações assim como têm o conhecimento sobre as coisas que fazem Na sociologia vários autores como Beck Bauman e Giddens definem o indivíduo ou seja a pessoa como a célula da sociedade que junto a outros indivíduos forma um conjunto histórico social diferente c Sociologia É o estudo da vida e do comportamento social sobretudo em relação a sistemas sociais como funcionam como mudam suas consequências e sua complexa relação com a vida dos indivíduos É uma CBFPM 20222023 Abordagem conceitual NOTAS DE AULA Atualizado 26 de agosto de 2022 Abordagem Sociopsicológica da Violência CBFPM Ciência Social que estuda e analisa o conjunto de fenômenos instituições grupos sociais poderes e relações de força que se manifestam pelo fato de os homens viverem em sociedade Constituise num conjunto de conhecimentos sistemáticos baseados igualmente na observação análise e na pesquisa objetiva dos fatos sociais Neste sentido a Sociologia é uma ciência que trata das relações sociais das formas de associação destacandose os caracteres gerais comuns a todas as classes de fenômenos sociais que se produzem nas relações entre seres humanos Estuda o homem e o meio ambiente em suas interações recíprocas se baseia em estudos objetivos que melhor podem revelar a verdadeira natureza dos fenômenos sociais e desta forma o estudo e o conhecimento objetivo da realidade social Como exemplos podemos citar a formação e desintegração de grupos a divisão da sociedade em camadas a mobilidade de indivíduos e grupos nas camadas sociais processos de competição e cooperação d Estrutura social É a trama a rede de relações de interdependência relativamente estáveis que existem em um determinado conjunto de posições sociais papéis instituições grupos classes ou outros componentes da realidade social de nível igual como membros de uma família ou de nível diferente como acontece numa formação econômicosocial independentemente da identidade dos componentes que se revezam como sujeitos das relações Tratase de um conjunto dinâmico de disposições sobrepostas que grava armazena e prolonga a influência dos diversos ambientes sucessivos da vida de uma pessoa Diz respeito à forma como a sociedade se organiza e Ordem social Seu conceito de pode apresentar vários significados embora relacionados A primeira definição destaca que esta seria a coesão social pela qual os sistemas se mantém integrados o que constitui um dos interesses básicos da perspectiva funcionalista No segundo sentido pode ser tratado como sinônimo de controle social de meios institucionais e de outros métodos usados para assegurar que indivíduos obedeçam às normas e sustentem valores No terceiro referese aos padrões relativamente previsíveis de comportamento e experiências que caracterizam a vida nos próprios sistemas referidos também como organização social Se combinássemos todos esses significados poderíamos dizer que todo sistema social é uma ordem social f Controle social É o conjunto das sanções positivas e negativas a que uma sociedade recorre para assegurar a conformidade das condutas aos modelos estabelecidos O controle social pode ser informal natural espontâneo baseado nas relações pessoais e íntimas que ligam os componentes do grupo e formal artificial organizado exercido principalmente pelos grupos secundários No Brasil a expressão controle social tem sido utilizada como sinônimo de controle da sociedade civil sobre as ações do Estado especificamente no campo das políticas sociais desde o período da CBFPM 20222023 Abordagem conceitual NOTAS DE AULA Atualizado 26 de agosto de 2022 Abordagem Sociopsicológica da Violência CBFPM redemocratização dos anos de 1980 g Senso comum É o conjunto diversamente sistemático e coerente de representações da realidade do homem da sociedade da natureza e do sobrenatural de juízos morais e afetivos sobre suas ações e condições de crenças sobre a relação das causas e efeitos entre os eventos humanos naturais e sobrenaturais de esquemas interpretativos úteis para orientar e conferir ordem e significado à vida quotidiana e que cada ser humano forma naturalmente e inconscientemente no curso da socialização primária e secundária Da mesma forma o senso comum seria um saber que nasce da experiência cotidiana da vida que os homens levam em sociedade É assim um saber acerca dos elementos da realidade em que vivemos um saber sobre os hábitos os costumes as práticas as tradições e as regras de conduta Há de se considerar também o conceito de senso comum como oposição o que para um grupo de teóricos é definido de maneira geral como um pensamento simples e superficial oposto ao conhecimento científico DOURADO 2018 h Teoria Forma de pensar e entender algum fenômeno a partir da observação Em ciência a definição de teoria científica difere bastante da acepção de teoria em senso comum ou de simples especulação o conceito moderno de teoria científica se estabelece entre outros como uma resposta ao problema da demarcação entre o que é efetivamente científico e o que não o é i Cultura É o conjunto acumulado de símbolos ideias e produtos materiais associados a um sistema social seja ele uma sociedade inteira ou uma família Há três concepções fundamentais de entendimento da cultura tais sejam 1 modos de vida que caracterizam uma coletividade 2 obras e práticas da arte da atividade intelectual e do entretenimento e 3 fator de desenvolvimento humano j Diversidade cultural Fatores de identidade que distinguem o conjunto dos elementos simbólicos presentes nas culturas os quais reforçam as diferenças entre grupos de seres humanos Representa o conjunto das distintas culturas que existem no planeta k Alteridade O conceito de alteridade nos fala sobre ser capaz de notar as diferenças entre as pessoas do respeito que se deve ter pelo outro em suas particularidades e de como seria bom se ao invés de repudiarmos algo diferente pudéssemos tentar compreender possibilitando assim a propagação de culturas diversas l Etnocentrismo É a superestimação do grupo a que se pertence examinando todo e qualquer assunto com os preconceitos desse grupo Conceito antropológico usado para definir atitudes nas quais consideramos nossos hábitos e condutas como superiores aos de outrem Fenômeno que possui dimensões intelectuais racionais e afetivas psicológicas que estão na CBFPM 20222023 Abordagem conceitual NOTAS DE AULA Atualizado 26 de agosto de 2022 Abordagem Sociopsicológica da Violência CBFPM gênese de quase todas as atitudes e comportamentos preconceituosos radicais e xenófobos m Relativismo É uma doutrina que prega que algo é relativo contrário de uma ideia absoluta categórica atitude ou doutrina que afirma que as verdades morais religiosas políticas científicas etc variam conforme a época o lugar o grupo social e os indivíduos de cada lugar Na filosofia e na antropologia o relativismo é a postura segundo qual toda avaliação é relativa a algum padrão seja qual for e os padrões derivam de culturas O relativismo dessa forma leva em consideração diversos tipos de análise mesmo sendo aparentemente contraditórias As diversas culturas humanas geram diferentes padrões segundo os quais as avaliações são geradas Este conceito difere pois do etnocentrismo que leva em consideração apenas um ponto de vista em detrimento aos demais Assim podemos concluir que o relativismo é um termo filosófico que se baseia na relatividade do conhecimento e repudia qualquer verdade ou valor absoluto Todo ponto de vista é válido n Relativismo cultural Traz a reflexão na qual a humanidade não deve necessariamente atingir o mesmo patamar tecnológico de outro povo para ser melhor ou pior Ao invés de utilizar termos como superior ou inferior busca compreender certos comportamentos de acordo com a dinâmica social da população considerada o Vínculo social Resulta de um relacionamento lógico ou de dependência ou de ligação afetiva ou moral entre duas ou mais pessoas p Habitus Sistema de disposições duráveis e transponíveis que considera as experiências passadas e funciona como uma matriz de percepções apreciações e ações q Adaptação Referese a um conjunto de respostas de um organismo vivo que a todo o momento precisa lidar com situações que o modificam permitindo a manutenção de sua organização e assegurando compatibilidade com a vida r Resiliência Diz respeito à capacidade do sujeito de enfrentar situações problemáticas ou perturbadoras de forma saudável apresentando comportamentos adaptativos frente a elas s Teoria da Identidade Social De acordo com esta visão o fato de pertencer a um grupo social cria no indivíduo o sentimento de nós e a percepção de uma identidade coletiva Quanto mais a pessoa se engaja na organização mais se identifica com este segmento da sociedade e mais facilmente aceita as suas normas e valores O foco das ações desse grupo pode variar desde o desenvolvimento a criação ou a construção de algo até uma eventual autodestruição CBFPM 20222023 Abordagem conceitual NOTAS DE AULA Atualizado 26 de agosto de 2022 Abordagem Sociopsicológica da Violência CBFPM t Prevenção primária Referese às intervenções que objetivam prevenir violência e crime antes que ocorram Tem como alvo a população em geral atuando através de intervenções que educam promovem a competência social incentivam mudanças e ampliam as redes sociais u Prevenção secundária Referese às estratégias voltadas para pessoas mais vulneráveis ou suscetíveis de práticas ou de serem vítimas de algum tipo de violência v Prevenção terciária Tratase das estratégias que envolvem programas e projetos direcionados a pessoas que já tenham praticado violência e crimes A prevenção é instituída após ter ocorrido uma condição de abuso e cujas ações visam a reduzir sequelas e a evitar reincidências Atualizado em 26set22 Análise Criminal CBFPM MP 31 MANUAL DO PARTICIPANTE ABORDAGEM SOCIOPSICOLÓGICA DA VIOLÊNCIA CBFPM 20222023 17 UD II Estudos contemporâneos Notas Objetivos Ao finalizar esta unidade o participante esperase que o participante tenha alcançado os seguintes objetivos 1 Refletir sobre a complexidade dos fenômenos criminais entendendo o conceito de crime sob o aspecto formal 2 Analisar e entender os diferentes conceitos sobre violência 3 Fortalecer atitudes para refletir sobre os fatores e situações inerentes à violência e à criminalidade de acordo com as informações recebidas CBFPM 20222023 Estudos contemporâneos NOTAS DE AULA Atualizado em 26set22 Análise Criminal CBFPM MP 32 1 Introdução Atualmente as teorias científicas sobre a violência e a criminalidade são utilizadas para a compreensão e investigação do fenômeno criminoso indagando porque determinadas pessoas são tratadas como criminosas vislumbrando o predomínio dos elementos sociais e situacionais sobre a personalidade e orientando na formulação de políticas públicas Sendo assim tornase indispensável conhecer os modelos teóricos que abordam os eventos de crimes nos seus três níveis de análise individual micro e macroestrutural O nível individual enfoca o princípio da escolha racional em que ele pondera sobre custos e benefícios de ações criminosas O nível microestrutural enfoca os processos de socialização aprendizado e de introjeção de autocontrole produzidos pelos grupos de referência O nível macroestrutural enfatiza os conflitos econômicos os conflitos morais e culturais a pressão pela aquisição de bens e a desigualdade de oportunidades Esperase que com este módulo o policial militar tenha condições de compreender de forma mais ampla o fenômeno da violência e do crime a partir de uma prévia visão do homem e da sociedade desenvolva habilidades de discutir as variáveis e pressupostos dos diferentes modelos teóricos que abordam a violência e os eventos do crime bem como as formas de intervenção nas ações de segurança pública e ainda refletir sobre os fatores e situações inerentes à violência e à criminalidade de acordo com o espaço público de sua atuação 2 Abordagem sobre o crime O crime é um dos conceitos mais intrincados e discutíveis haja vista que depende da época e do lugar para que seja considerado como tal De regra nos meios policiais prevalece o conceito de crime em seu sentido formal em que o mesmo é visto como um ato ou omissão que viola uma lei penal incriminadora Por esta perspectiva o crime é um comportamento que foi tipificado por um código um código penal um produto de convenções localizadas no tempo e no espaço Entender o que leva as pessoas a cometer crimes é uma tarefa árdua Afinal não há consenso sobre uma verdade universal mesmo que esta se refira a uma determinada cultura em um dado momento histórico Como explicar que em uma comunidade onde haja dois irmãos gêmeos um deles enverede pela via do narcotráfico ao passo que o outro prefira seguir o caminho da CBFPM 20222023 Estudos contemporâneos NOTAS DE AULA Atualizado em 26set22 Análise Criminal CBFPM MP 33 legalidade Os criminólogos que principalmente a partir do início do século XX estudaram o assunto identificaram uma série de fatores criminogênicos que combinados em proporções e situações específicas poderiam explicar a causação do crime Desse modo o que há na literatura são inúmeros modelos que focalizam alguns fatores em particular Portanto melhor do que perceber cada um dos modelos como uma panaceia que explique situações tão díspares ou mesmo como modelos que deem conta da generalidade do mundo criminal menos ingênuo seria interpretálos como matizes que podem ajudar a compor um quadro Do ponto de vista da intervenção pública para a manutenção da paz social não importa conhecer a verdade Importa antes de mais nada reconhecer se em uma determinada região há alguma regularidade estatística entre aqueles fatores criminogênicos concretos presença de armas drogas etc ou imaginários supervisão familiar reconhecimento etc e além disso saber se o Estado possui instrumentos para intervir nessa regularidade direta ou indiretamente com a participação da própria sociedade As teorias de causação do crime ao lançarem luz sobre determinadas variáveis e sua epidemiologia permitem que o planejador do Estado escolha dentre inúmeras variáveis aquelas que supostamente devem ser as mais importantes Os modelos empíricos ao detalharem a metodologia de aferição possibilitam a centralização das atenções e dos escassos recursos públicos em algumas poucas variáveis que podem não explicar uma verdade universal mas interferem decisivamente com maior probabilidade na dinâmica criminal daquela região onde se quer intervir Desse modo o planejador público que acreditar piamente em um único modelo de causação criminal seja qual for para tomar suas decisões e orientar suas ações e recursos estará fadado a utilizar um leito de Procusto algumas vezes com êxito outras não a depender do cliente ou da situação em particular Daí a necessidade da multidisciplinaridade um meio de aumentar o conjunto de instrumentos de análise e de intervenção pública para um objeto extremamente complexo É evidente a complexidade do fenômeno e a dificuldade em creditar a umas poucas variáveis os determinantes da criminalidade que tem raízes na primeira infância até a préadolescência passando pela supervisão e elos com a família com os amigos e com a escola e terminando com outras virtuais fontes de tensão social inerentes a um espectro mais amplo que envolve as instituições e a forma de organização macroestrutural Por outro lado desse ambiente micro e macroestrutural decorrem os resultados acerca da distribuição do produto da economia aferido objetivamente a partir de variáveis como renda per capita graus de desigualdade da renda probabilidade de se estar empregado e acesso às oportunidades e serviços que possibilitem a obtenção de moradia saúde e alimentação e cultura pelos indivíduos condições necessárias para a inclusão social CBFPM 20222023 Estudos contemporâneos NOTAS DE AULA Atualizado em 26set22 Análise Criminal CBFPM MP 34 Em uma outra mão existem as variáveis dissuasórias que levariam o indivíduo a se abster de cometer crimes Dentre essas há em primeiro lugar o controle interno individual controle social traduzido aqui pela percepção e sentimento de concordância do indivíduo para com o conjunto vigente de normas e valores sociais que faz estreitar os elos desse para com a sociedade Por fim há o controle externo imposto pelas instituições pertencentes ao fluxo de justiça criminal que se inicia pela polícia passando pela justiça e terminando nos sistemas punitivos que indicariam as probabilidades de aprisionamento e a magnitude das punições A depender da cultura da região e do momento histórico vivido algumas dessas variáveis podem incidir de forma mais decisiva para explicar determinada dinâmica criminal Muitas vezes elas interagem em vários níveis conforme apontado no modelo ecológico fazendo com que as próprias dinâmicas criminais funcionem como motivadoras de outras 3 Abordagem sobre a violência O comportamento classificado como violento da mesma forma as ações denominadas violentas tem feito parte ao longo da história da humanidade Violência não se refere a um evento homogêneo porquanto assume diversas formas e práticas sociais política física psicológica moral cultural econômica sexual ecológica educacional etc De acordo com a época e o lugar há diferentes teorias e explicações sobre os atos reputados como violentos Inicialmente podese destacar que a violência pode ocorrer de forma explícita ou implícita Explícita é aquela relacionada com assaltos homicídios estupros sequestros lesões corporais Este tipo de violência está diretamente relacionado com o dia a dia da atividade polícia militar Além do mais existe também a denominada violência implícita que diz respeito à fome analfabetismo baixo salário desemprego impunidade corrupção preconceito falta de saneamento básico mortalidade infantil etc Nesse sentido a Brigada Militar como dito atua na maioria das vezes na violência explícita porém segundo Hoffmann 2012 os atos de violência implícita na maioria das vezes praticados pelas classes que detêm o poder não são facilmente percebidos como violência e requerem um exercício de reflexão para que seja detectado o seu grau de nocividade ao meio social CBFPM 20222023 Estudos contemporâneos NOTAS DE AULA Atualizado em 26set22 Análise Criminal CBFPM MP 35 A filósofa brasileira Chauí 1999 conceitua violência da seguinte maneira violência é um ato de brutalidade sevícia e abuso físico eou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação pelo medo e o terror A violência se opõe à ética porque trata seres racionais e sensíveis dotados de linguagem e de liberdade como se fossem coisas isto é irracionais insensíveis mudos e inertes ou passivos Vista da perspectiva da saúde pública a violência é definida pela Organização Mundial da Saúde como o uso deliberado da força física ou do poder seja em grau de ameaça ou efetivo contra si mesmo outra pessoa ou um grupo ou comunidade que cause ou tenha muitas probabilidades de causar lesões morte danos psicológicos transtornos de desenvolvimento ou privações Conforme o Dicionário de Ciências Sociais de Alain Birou De modo geral dizse que há violência na sociedade e no exercício da vida social sempre que uma pessoa ou grupo constituindo uma força emprega meios de coação para obrigar materialmente os outros a adotarem atitudes contra a vontade ou a realizarem atos que não realizariam se a isso não fossem coagidos Constitui um atentado direto e consciente à liberdade com emprego da força ou da ameaça Nem toda a coação é violenta mas toda a forma de violência implica em coação Segundo Costa 1987 p 238 estudos de Sociologia da Violência demonstram que Não existe na sociedade humana uma violência instintiva como entre os animais Também não existe uma noção absoluta de violência Existem violências sob formas diversas em diferentes circunstâncias Há a violência institucionalizada oficial praticada pela policia pelo Estado a violência internacional entre dois mundos em conflito a violência não oficial mas também organizada entre bandos armados que se defrontam pelo domínio de atividades ilegais drogas jogos etc ou pelo domínio de terras como os bandos de jagunços dos proprietários rurais a violência como explosão de movimentos de massa como os linchamentos a violência resultante do preconceito contra mulheres negros homossexuais sob a forma individual ou organizada a exemplo da Ku Kux Klan organização direitista e racista norteamericana Ao falarmos em estudos contemporâneos título proposto pela presente unidade didática não se pode esquecer da relação entre violência e mídia Nos dias atuais a mídia oficial e não oficial está cada vez mais presente nas diversas dimensões da sociedade e em todos os seus estratos Padrões de comportamento valores condutas certas ou erradas são criadas principalmente via televisão redes sociais graças à facilidade de acesso e a seus recursos de áudio e vídeo CBFPM 20222023 Estudos contemporâneos NOTAS DE AULA Atualizado em 26set22 Análise Criminal CBFPM MP 36 Segundo nos ensina Hoffmann 2012 no que se refere à Segurança Pública as relações com a mídia podem ser especialmente verificadas I na construção do que a sociedade considera ou não como violência e crime II na sensação de segurança e de insegurança III nas situações de investigação em que pode atuar como parceira ou obstáculo e IV na divulgação ou omissão de notícias de interesse da coletividade além da participação em possíveis encaminhamentos para a busca de soluções Em grande proporção a mídia constrói a realidade que conhecemos Para um evento existir ou não ele necessita de divulgação pela grande imprensa Desse modo tornase público o que é alvo de seus enfoques Em contrapartida mantémse privado o que não passa pelos veículos de comunicação Se algo não é divulgado é como se não existisse sociologicamente falando De acordo com Rondelli 1998 citado por Hoffmann 20212 se a violência é também linguagem ou forma de comunicar alguma coisa a mídia age como amplificadora da linguagem primeira da violência Frequentemente os meios de comunicação criam eou alteram a imagem que o leitor tem dos fatos uma vez que a cobertura não chega a representálos fielmente e sim os aspectos que pretendem divulgar Os eventos considerados violentos extrapolam a sua condição de fenômenos sociais e psicológicos são transformados em matériaprima como produtos comerciais para assegurar audiência e anunciantes Digase a receita obtida por meio de anúncios costuma ser maior que aquela fruto das vendas de exemplares Diante disso a mídia acaba atuando como agente de divulgação e muitas vezes de exaltação à violência A complexidade dos fatos é reduzida à superficialidade maniqueísta e linear em que alguém é rotulado como bom e um outro alguém seria mau No lugar de estudos sobre origens situações contextos influências possibilidades e soluções são reencarnados à exaustão personagens como vilão versus mocinho agressor versus vítima Não obstante a mídia acaba funcionando como um tribunal que apura julga e sentencia constrói uma justiça e uma ética próprias paralelamente às instituições oficiais Considerando as finalidades comerciais dos meios de comunicação não é difícil imaginar os prejuízos decorrentes de tal prática Entre eles o aumento da exclusão e da separação entre os diversos estratos da sociedade uma vez que a mídia tende a dar ênfase somente a alguns tipos de delitos e a determinados autores desses eventos Por fim ainda nos ensinamentos de Hoffmann 2012 em vez de explorar as tragédias como espetáculo a mídia poderia detalhar o ocorrido com diferentes opiniões e pareceres formados por profissionais da área pesquisadores e representantes dos envolvidos Em lugar do sensacionalismo demagógico a mídia deveria privilegiar a busca de soluções e mudanças que previnam contra novas desgraças O grande desafio parece consistir na definição do que possa ser considerada de um lado liberdade de expressão e de outro respeito ou limitação ao que convém que seja preservado MODELO ECOLÓGICO Segundo Cerqueira e Lobão 2003 CBFPM 20222023 Estudos contemporâneos NOTAS DE AULA Atualizado em 26set22 Análise Criminal CBFPM MP 37 Vários autores procuraram elaborar um modelo integrado para explicar a violência cujo enfoque se dá nos vários níveis estrutural institucional interpessoal e individual Tais anseios decorreram da percepção empírica que a violência e a sua tolerância variam significativamente entre as sociedades entre as comunidades e entre os vários indivíduos Um primeiro uso foi de Bronfenbrenner 1977 que procurou explicar o desenvolvimento humano e a psicologia social Outros autores buscaram explicar por meio dessa abordagem a etiologia de dinâmicas criminais específicas como Belsky 1980 que se preocupou com o abuso infantil Dutton 1988 e Edelson e Tolman 1992 que estudaram a violência doméstica contra a mulher e Brown 1995 cujo estudo foi voltado para a coersão sexual Segundo essa abordagem mais do que atribuir importância a determinadas características isoladas o modelo que ficou conhecido como modelo ecológico ver Shrades 2000 considera que a combinação de tais atributos pertencentes àqueles diferentes níveis ocuparia um papel central para explicar a violência Por outro lado esses vários níveis se reforçariam a depender da sua combinação Dentre as variáveis que constituiriam os níveis supramencionados no plano individual há o histórico pessoal os fatores ontogenéticos e as respostas da personalidade individual diante de situações de tensão No contexto mais íntimo do indivíduo onde a violência poderia se processar há as relações interpessoais com familiares e com outros conhecidos íntimos No plano institucional figuram as associações formais e informais comunitárias profissionais religiosas ou outras redes sociais em que haja a identidade dos grupos No nível macroestrutural inserem se as estruturas econômica política e social que incorporam crenças e normas culturais que permeiam a sociedade conforme apontado na Figura 1 baseada em Moser e Shrader 1999 Figura 1 Arcabouço integrado para a causalidade da violência Atualizado em 26 set22 Teorias e análise CBFPM MP 111 MANUAL DO PARTICIPANTE ABORDAGEM SOCIOPSICOLÓGICA DA VIOLÊNCIA CBFPM 20222023 17 UD III Principais Teorias e análise psicossocial da violência Notas Objetivos Ao finalizar esta unidade o participante esperase que o participante tenha alcançado os seguintes objetivos 1 Ampliar seus conhecimentos para compreender o fenômeno da violência a partir de uma visão sobre as principais teorias que explicam o crime 2 Desenvolver e exercitar habilidades para discutir as variáveis e os pressupostos das diferentes estruturas do aparelho psíquico humano sob o aspecto da criminalidade 3 Fortalecer atitudes para refletir sobre os fatores e situações inerentes à violência e à criminalidade de acordo com o comportamento humano CBFPM 20222023 Teorias e análise NOTAS DE AULA Atualizado em 26 set22 Teorias e análise CBFPM MP 112 2 Introdução Apresentamos neste capítulo as causas sociopsicológicas da violência suas principais teorias e com o apoio de textos pesquisados nos sites de buscas da internet as principais explicações sociológicas para a violência e a criminalidade na sociedade brasileira causas estruturais econômicas causas políticas impossibilidade de constituição da cidadania plena causas institucionais inexistência de agências mediadoras democráticas e causas culturais quebra de redes de sociabilidade e também as instituições prisionais 11 Principais teorias O que leva as pessoas a cometerem crimes e comportamentos desviantes dos socialmente aceitos Seriam tais comportamentos frutos de traços pessoais e idiossincráticos ou resultado de um processo deformado de aculturação na fase préadulta Ou ainda seria o resultado de um ambiente de desagregação e injustiças sociais É possível aventar por outro lado a hipótese de tal fenômeno ser meramente um resultado do processo de racionalização onde a cultura moderna da individualização seria uma base ética para contrapor à Lei de Ouro fazer para o próximo o que quero que seja feito para mim Então como explicar a ocorrência de tais fenômenos ao longo da história 12 Teorias Focadas Nas Patologias Individuais Dentre as teorias que explicam o comportamento criminoso a partir de patologias individuais se poderia dividilas em três grupos de natureza biológica psicológica e psiquiátrica Tais desenvolvimentos encontramse no limiar da criminologia sendo uma das abordagens mais conhecidas conforme já salientado anteriormente aquela devida a Lombroso 1893 1910 editada em 1968 em que a formação óssea do crânio e o formato de orelhas entre outras características constituiriam indicadores da patologia criminosa Tal perspectiva lombrosiana inspirou ainda trabalhos no campo da psiquiatria cuja hipótese era de que criminosos constituíam um tipo de indivíduo inferior caracterizado por desordens mentais alcoolismo neuroses entre outras características Muitos trabalhos foram desenvolvidos logo após a 1ª Guerra em que se tentava medir objetivamente o grau em que criminosos eram psicologicamente diferentes de nãocriminosos Após a Segunda Guerra tais teorias sobre as características psicológicas intrínsecas que criminosos teriam foram abandonadas principalmente em função do seu conteúdo racista além do que novos estudos e experimentos trataram de mostrar que não havia nenhuma distinção entre criminosos e nãocriminosos seja por grau de inteligência ou outro traço psicológico intrínseco CBFPM 20222023 Teorias e análise NOTAS DE AULA Atualizado em 26 set22 Teorias e análise CBFPM MP 113 13 Teoria Da Desorganização Social Tratase de uma abordagem sistêmica cujo enfoque gira em torno das comunidades locais sendo essas entendidas como um complexo sistema de redes de associações formais e informais de relações de amizades parentescos e de todas as outras que de alguma forma contribuam para o processo de socialização e aculturação do indivíduo Tais relações seriam condicionadas por fatores estruturais como status econômico heterogeneidade étnica e mobilidade residencial Além desses a teoria tem sido estendida para comportar outras variáveis como fatores de desagregação familiar e urbanização Sob esse ponto de vista a organização social e a desorganização social constituiriam laços inextricáveis de redes sistêmicas para facilitar ou inibir o controle social Sampson 1997 Desse modo a criminalidade emergiria como consequência de efeitos indesejáveis na organização dessas relações sociais em nível comunitário e das vizinhanças Entorf e Spengler 2002 como por exemplo redes de amizades esparsas grupos de adolescentes sem supervisão ou orientação ou baixa participação social 14 Teoria da Associação Diferencial Teoria do Aprendizado Social Essa abordagem inaugurada por Sutherland 1942 centra seu foco de análise no processo pelo qual as pessoas principalmente os jovens determinavam seus comportamentos a partir de suas experiências pessoais com relação a situações de conflito Essas determinações de comportamentos favoráveis ou desfavoráveis ao crime seriam apreendidas a partir das interações pessoais com base no processo de comunicação Nesse sentido a família o grupo de amizades e a comunidade ocupam papel central Contudo os efeitos decorrentes da interação desses atores são indiretos cujas influências seriam captadas pela variável latente determinação favorável ao crime DEF uma vez que essa variável não pode ser mensurada diretamente e sim resulta da conjunção de uma série de variáveis Dentre as variáveis mensuradas normalmente utilizadas para captar essa variável latente DEF estão grau de supervisão familiar intensidade de coesão nos grupos de amizades existência de amigos que foram em algum momento pegos pela polícia percepção dos jovens acerca de outros jovens na vizinhança que se envolvem em problemas e se o jovem mora com os dois pais 15 Teoria do Controle Social Ao contrário das demais teorias que procuram explicar o que leva as pessoas a cometerem crimes a presente abordagem procura entender por que alguns se abstêm de cometer crimes Nesse sentido a questão aqui é explicar os elementos que levam o cidadão a ser dissuadido do caminho criminoso O enfoque utilizado ao contrário da teoria do homem econômico por CBFPM 20222023 Teorias e análise NOTAS DE AULA Atualizado em 26 set22 Teorias e análise CBFPM MP 114 exemplo de que tais elementos dissuasórios seriam consubstanciados pela probabilidade de o criminoso ser descoberto cometendo o delito e o custo associado à respectiva punição baseiase inteiramente na ideia do controle social a partir do sentido de ligação que a pessoa tem com a sociedade ou dito de outra forma a partir da crença e concordância dessa pessoa no trato ou acordo social Desse modo quanto maior o envolvimento do cidadão no sistema social quanto maiores forem os seus elos com a sociedade e maiores os graus de concordância com os valores e normas vigentes menores seriam as chances de esse ator tornarse um criminoso 16 Teoria do Autocontrole Segundo Gottfredson e Hirschi 1990 que desenvolveram a teoria do autocontrole o que diferenciaria os indivíduos que têm comportamentos desviantes ou desenvolvem vícios jogos de azar promiscuidade sexual fumo drogaadicção alcoolismo etc de outros indivíduos é o fato de os primeiros não terem desenvolvido mecanismos psicológicos de autocontrole na fase entre os dois ou três anos até a fase préadolescente Tal anormalidade decorreria de deformações no processo de socialização da criança motivadas pela ineficácia na conduta educacional ministrada pelos pais que falharam em não impor e estabelecer limites à criança seja por consequência da falta de uma supervisão mais próxima ou seja por negligenciar eventuais faltas de comportamento da criança não impondo relativas punições à mesma endossando assim o seu comportamento egoísta Como resultante da má formação desse mecanismo de autocontrole o indivíduo a partir da adolescência passa a exibir uma persistente tendência de agir baseado exclusivamente em seus próprios interesses com vistas à obtenção do prazer no curto prazo sem considerar contudo eventuais consequências de longo prazo e os impactos de suas ações sobre terceiros 17 Teoria da Anomia Uma das mais tradicionais explicações de cunho sociológico acerca da criminalidade é a teoria da anomia de Merton 1938 Segundo essa abordagem a motivação para a delinquência decorreria da impossibilidade de o indivíduo atingir metas desejadas por ele como sucesso econômico Cohen 1955 estendeu a abordagem para compreender a questão do status social Um ponto importante de como operacionalizar essa teoria ou de como elaborar variáveis ou questões que traduzam o sentido da mesma fez com que surgissem três perspectivas distintas quanto à sua aferição que veem a questão a partir de a diferenças das aspirações individuais e os meios econômicos disponíveis ou expectativa de realização b oportunidades bloqueadas Agnew 1987 e Burton e Cullen 1992 e c privação relativa Burton et alii 1994 Apesar de as diferenças entre as três perspectivas serem bastante sutis a escolha da alternativa implica diretamente as questões específicas relacionadas para o questionário de entrevista Sob a primeira perspectiva o CBFPM 20222023 Teorias e análise NOTAS DE AULA Atualizado em 26 set22 Teorias e análise CBFPM MP 115 processo de anomia ou tensão decorreria da diferença entre as aspirações individuais e as suas reais expectativas Nesse caso um exemplo de questão que poderia flagrar a existência desse fenômeno seria eu gostaria de possuir um carro uma casa um tênis da moda etc Mas eu acho que não conseguirei dinheiro ou condições para satisfazer tais aspirações Sob a segunda ótica o foco de divergências com as normas instituídas passa a existir a partir do momento em que o indivíduo percebe que o seu insucesso decorre de condições externas à sua vontade o que suportaria afirmações do tipo toda vez que tento ir pra frente algo me segura ou eu não tenho sucesso pois não participo de uma rede de conexões Já a privação relativa coloca ênfase na distância entre o ideal de sucesso da sociedade vivido por alguns e aquela situação específica em que o indivíduo se encontra Sob esse raciocínio um exemplo seria sintome irritado com o fato de alguns terem muito ao passo que não possuo o suficiente para viver adequadamente 18 Teoria Interacional Segundo Thornberry 1996 a proposição do modelo interacional é a de que o comportamento desviante ocorre em um processo interacional dinâmico Desse modo mais do que perceber a delinquência como uma consequência de um conjunto de fatores e processos sociais a perspectiva interacional procura entendêla simultaneamente como causa e consequência de uma variedade de relações recíprocas desenvolvidas ao longo do tempo Entorf e Spengler 2002 destacam que há dois elementos importantes suportando essa abordagem a perspectiva evolucionária e os efeitos recíprocos A perspectiva evolucionária consubstanciase pela presunção de que o crime não é uma constante na vida do indivíduo mas é um processo em que a pessoa inicia sua atividade criminosa em torno dos 12 ou 13 anos iniciação aumenta o seu envolvimento em tais atividades por volta dos 16 ou 17 anos desenvolvimento finalizando esse processo até os 30 anos Os efeitos recíprocos dizem respeito às virtuais endogeneidades das variáveis explicativas entre si e delas com relação ao que se deseja explicar Os modelos interacionais normalmente são inspirados a partir das teorias da associação diferencial e do controle social que sugerem as variáveis a serem utilizadas Normalmente algumas delas são ligação com os pais notas envolvimento escolar grupos de amizades punição paternal para desvios ligação com grupos delinqüentes etc 19 Teoria Econômica da Escolha Racional Gary Becker 1968 com o artigo seminal Crime and Punishment An Economic Approach impôs um marco à abordagem acerca dos determinantes da criminalidade ao desenvolver um modelo formal em que o ato criminoso decorreria de uma avaliação racional em torno dos benefícios e custos esperados aí envolvidos comparados aos resultados da alocação do seu tempo no mercado de trabalho legal Basicamente a decisão de cometer ou não o CBFPM 20222023 Teorias e análise NOTAS DE AULA Atualizado em 26 set22 Teorias e análise CBFPM MP 116 crime resultaria de um processo de maximização de utilidade esperada em que o indivíduo confrontaria de um lado os potenciais ganhos resultante da ação criminosa o valor da punição e as probabilidades de detenção e aprisionamento associadas e de outro o custo de oportunidade de cometer crime traduzido pelo salário alternativo no mercado de trabalho Vários artigos que se seguiram dentro da abordagem da escolha racional basicamente trabalharam com inovações em torno da ideia já estabelecida por Becker em que dois vetores de variáveis estariam condicionando o comportamento do potencial delinquente De um lado os fatores positivos que levariam o indivíduo a escolher o mercado legal como o salário a dotação de recursos do indivíduo etc E de outro os fatores negativos ou dissuasórios deterrence como o aparelho policial e a punição 1 Comportamento Psicopatológico 21 Personalidade É o conjunto total de características próprias do indivíduo que integrada estabelecem a forma pela qual ele reage costumeiramente ao meio Define a pessoa como entidade dotada de propriedades que a distinguem individualmente e a configuram física psíquica social e culturalmente A palavra personalidade deriva do latim persona e a sua raiz pessoa é usada ordinariamente no sentido empírico de manifestação da pessoa Significa a própria pessoa tal como se revela nas suas manifestações empíricas Todavia persona passou a significar mais tarde o ator colocado atrás da máscara isto é o seu verdadeiro conjunto de qualidades íntimas e pessoais Há diversas concepções e teorias da personalidade às quais correspondem várias definições Segundo Allport na década de 30 tinhamse identificado mais de 50 definições de personalidade definindoa como a organização dinâmica no indivíduo dos sistemas psicofísicos que determinam o seu comportamento e o seu pensamento característico Apesar da diversificação dos conceitos a personalidade representa essencialmente a noção de unidade integrativa da pessoa com todas as características diferenciais permanentes inteligência caráter temperamento constituição entre outras e as suas modalidades únicas de comportamento Assim personalidade não é mais do que a organização dinâmica dos aspectos cognitivos afetivos conativos fisiológicos e morfológicos do indivíduo Tratase de uma ideia dinâmica de personalidade em constante mutação dinâmica essa que depende da interação entre todos aqueles aspectos Eysenck definiu personalidade como a organização mais ou menos estável e persistente do caráter temperamento intelecto e físico do indivíduo que permite o seu ajustamento único ao meio 22 Teoria Psicanalítica A Psicanálise é uma Teoria criada pelo Dr Sigmund Freud no final do século XIX que traz a humanidade uma nova visão do homem CBFPM 20222023 Teorias e análise NOTAS DE AULA Atualizado em 26 set22 Teorias e análise CBFPM MP 117 Sigmund Freud Viena1856 Londres 1939 médico neurologista austríaco e fundador da psicanálise Nascido em Freiberg na Moravia ou Pribor na República Tcheca em 6 de maio de 1856 Baseado na pesquisa e prática clínica Freud alicerçou as bases dessa Teoria em duas grandes Tópicas das quais pela Primeira a chamada Topográfica foram construídos os conceitos de Consciente PréConsciente e Inconsciente já que pela Segunda Tópica a chamada Estrutural foi definido a Estrutura do Aparelho psíquico Id Ego e Seperego bem como identificados os Mecanismos de Defesa 23 Aparelho Psíquico Freud propôs a teoria de que as neuroses surgiriam de um distúrbio na função e na respectiva descarga dos instintos sexuais resultante de conflitos internos entre estes instintos e o restante da personalidade do indivíduo Considerou os instintos sexuais infantis assim como as recordações como integrantes de uma área da função denominada Sistema Inconsciente enquanto todas as outras funções mentais integrariam os instintos do ego ocorrendo nos sistemas Pré Consciente e Consciente 24 Teorias do funcionamento do aparelho psíquico Teoria topográfica CONSCIENTE PRÉCONSCIENTE E INCONSCIENTE Consciente É definido como aspectos da função mental que no momento em que são observados estão dentro da consciência do indivíduo o que inclui grande variedade de pensamentos sensações e sentimentos mas o importante é o indivíduo deles ter conhecimento e neles focalizar parte da sua atenção Constitui tudo a quilo que estamos cientes num determinado momento PréConsciente está relacionada àqueles processos mentais que estão num determinado momento dentro do conhecimento consciente do indivíduo mas a ele podem ser trazidos com o mínimo gasto de energia psíquica Constituemse das memórias que podem se tornar acessíveis a qualquer momento Inconsciente É definido por todas as funções mentais que não fazem parte da percepção consciente do indivíduo exigindo grande quantidade de energia psíquica para serem trazidos à consciência Teoria Estrutural ID EGO E SUPEREGO Concebeu uma mente mais dinâmica e não estática como a topográfica anterior e considerou três instâncias psíquicas Id Ego e Superego O aparelho psíquico é dividido em três grandes grupos funcionais id CBFPM 20222023 Teorias e análise NOTAS DE AULA Atualizado em 26 set22 Teorias e análise CBFPM MP 118 ego e superego O id é a porção do aparelho cuja função é dar à mente uma representação psíquica para as enérgicas forças instintivas originadas da constituição biológica do organismo A palavra instinto tem sido fonte de muita confusão portanto na teoria psicanalítica tem sido usada com significado diferente daquele da teoria biológica em geral Por meio de mecanismos ainda desconhecidos algumas dessas forças biológicas adquirem eventualmente uma representação psíquica motivo pelo qual são conhecidas na teoria psicanalítica como impulsos ou pulsões O id é na sua totalidade inconsciente e suas funções estão organizadas de acordo com o princípio do prazer e do processo primário O principio do prazer envolve o conceito de que os impulsos procuram satisfação direta e imediata não obstante os outros fatores ou forças que influenciem a situação O processo primário caracteriza o modo de pensar peculiar dos primeiros processos de pensamento da infância O ego por sua vez é definido como aquele grupo de processos mentais cuja função é perceber e reconhecer as variadas forças que influenciam o organismo tanto do ambiente interno quanto do externo sintetizandoas e integrandoas e executar as funções e atividades necessárias para manter um estado de adaptação interna e externa Esse grupo de funções implica percepção memória pensamento inteligência funções motoras juízo e valoração da realidade Implica também os esforços que faz o organismo para alterar o meio ambiente interno ou externo ou para adaptarse a qualquer deles O ego opera de acordo como princípio da realidade em oposição ao princípio do prazer do id O princípio de realidade implica a valoração da situação total inclusive de todas as forças que influenciam o indivíduo com uma seleção final ou julgamento para a escolha da resposta fundamentada no benefício a longo prazo e no que for melhor para o organismo todo O superego é aquela parte do aparelho cuja função é julgar criticamente as outras funções mentais em termos de um padrão moral de certo e errado bom e mau recompensa e castigo O superego é em parte consciente e préconsciente correspondente ao que se costuma chamar de consciência moral Mas é também inconsciente relacionandose com considerações de punição e recompensa as mais primitivas e arcaicas A formação do superego envolve a interiorização em vários graus das atitudes dos modelos paternos sobre conceitos de certo e errado punição e recompensa Esses conceitos são experimentados na criança desde a mais tenra idade e são influenciados principalmente pelas tentativas que a criança faz para identificarse com seus pais na resolução do Complexo de Édipo Essas primeiras imagens paternas incorporadas que vão formar o núcleo da função do superego inconsciente não refletem necessariamente as atitudes e modelos dos pais como realmente se apresentam São isto sim interiorizações destas atitudes porém da maneira como a criança as percebe antecipa e interpreta A criança tenderá também a projetar em seus pais os próprios impulsos hostis e CBFPM 20222023 Teorias e análise NOTAS DE AULA Atualizado em 26 set22 Teorias e análise CBFPM MP 119 agressivo e então antecipará na mesma forma a reação destes Dessa maneira as ameaças e exigências do superego implicam as distorções e projeções da criança em relação aos pais e suas atitudes no momento em que acontece tal identificação e incorporação As funções do superego consciente e préconsciente podem sofrer contínuas modificações já que são influenciadas por relacionamentos e identificações com outros que não os pais principalmente com a turma da adolescência Contudo as imagens paternas infantis que foram incorporadas às funções do superego essas permanecem imutáveis já que não têm acesso à informação consciente Conceito extraído do Livro Psicoterapia uma Abordagem Dinâmica Paul Dewald 25 Pulsões ou impulsos Representam um ímpeto energético e motor que faz tender o organismo para um fim Podemos distinguir três momentos no desenvolvimento do processo pulsional 1 a fonte é um estado de excitação no interior do corpo 2 o fim é suprimir essa excitação 3 o objeto é o instrumento por meio do qual se obtém satisfação A pulsão é portanto um conceitolimite entre o biológico e o mental Sigmund Freud observou que haviam pulsões de vida e pulsões de morte As pulsões de vida eros tendem a ligar a manter a coesão entre as partes da substância viva Buscam a conservação de unidades vitais mais englobantes As pulsões de morte thanatos representam a tendência fundamental de todo ser vivo para retornar ao estado anorgânico As duas fusionamse no funcionamento do sujeito sendo que todas as condutas são oposições ou combinações dos dois grupos Lagache A Psicanálise Laplanche e Pontalis Vocabulário de Psicanálise 26 Mecanismos de defesa A verdadeira essência da vida é a adaptação Ao curso da evolução as espécies desenvolveram determinados mecanismos no sentido de uma adaptação às condições vitais o homem desenvolveu mecanismos de adaptação somáticos e psíquicos que procuram protegêlo de experiências e situações que seriam perturbadoras e angustiantes Assim no decorrer do longo período de desenvolvimento a personalidade adquire várias técnicas psicológicas através das quais tenta defenderse estabelece compromissos entre impulsos conflitantes e alivia tensões internas Kolb Psiquiatria Clínica Os mecanismos mentais de defesa do ego podem classificarse em 1 defesa bem sucedida aquelas que proporcionando certa forma de gratificação eliminam os impulsos indesejáveis do id e 2 defesa fracassada por necessitarem repetição ou perpetuação a fim de manter repelido o impulso proibido desgastando assim as energias do ego voltado quase que CBFPM 20222023 Teorias e análise NOTAS DE AULA Atualizado em 26 set22 Teorias e análise CBFPM MP 1110 exclusivamente contra tais impulsos constituindose nas defesas patológicas Todos os mecanismos de defesa são encontrados em atividade na pessoa sem que isso signifique perturbação mental pois em grau moderado aparecem nos indivíduos normais e adaptados Dentre as finalidades dos mecanismos de defesa destacamse 1 proteger a personalidade do sujeito 2 satisfazer suas necessidades emocionais 3 estabelecer e manter harmonia entre suas tendências opostas 4 reduzir a tensão e angústia que surgem dos impulsos inaceitáveis que devem ser reprimidos 5 modificar a realidade para fazêla mais tolerante A seguir descrevemos sucintamente os principais mecanismos de defesa do ego utilizados pelo sujeito Negação é a tendência de negar as sensações dolorosas Nas crianças pequenas é muito comum a negação de realidades desagradáveis Esta negação realiza desejos bem como exprime a efetividade do princípio do prazer Melanie Klein referese à negação dando um exemplo bem típico de seu uso num adulto a morte de uma pessoa amada Neste caso podem existir dois aspectos da negação Um deles é a negação da perda em si e o outro é a negação de que o objeto pessoa era amado Regressão é um movimento retroativo no qual o desenvolvimento reflui a estágios onde as frustrações foram superadas com maior êxito ou seja sempre que alguém se depara com uma frustração há tendência a ter saudades de épocas anteriores da vida em que as experiências eram mais prazerosas Melanie Klein referese à regressão como defesa afirmando que para que isto ocorra é importante a fixação existente Ela cita o exemplo de um garoto que regredia a um estágio oral como defesa contra as novas ansiedades que surgiam na posição genital Dissociação é um mecanismo que leva o ego a dividirse em uma parte consciente que sabe da realidade e uma parte inconsciente que a nega Projeção consiste em projetar seus próprios impulsos seus conflitos internos ou seja em considerálos como provenientes de outrem e mais generalizadamente do mundo externo Dicionário Aurélio Constitui sob muitos aspectos uma forma de deslocamento e um meio de defesa que em grau limitado pode ser observado diariamente e que é visto em grau psicótico na paranóia e em outros tipos de psicose Atuando como uma defesa contra a angústia a projeção se dirige para fora e atribui a outras pessoas aqueles traços de caráter atitudes objeções a que se quer negar Identificação é a moldagem inconsciente que o sujeito faz de si mesmo seguindo o modelo de outro ou obedecendo a sua sensação de uma espécie de unidade com uma segunda pessoa Somatização mecanismo que provoca sensação de dores e sintomas físicos provenientes de distúrbios psíquicos Kaplan Intelectualização processo pelo qual o sujeito procura dar uma formulação discursiva aos seus conflitos e às suas emoções de modo a dominálos Há uma tentativa para manter o controle dos processos pulsionais CBFPM 20222023 Teorias e análise NOTAS DE AULA Atualizado em 26 set22 Teorias e análise CBFPM MP 1111 mediante a sua vinculação a ideias que podem ser manejadas na consciência Racionalização processo no qual o indivíduo procura apresentar uma explicação coerente do ponto de vista moral para uma atitude uma ação uma ideia um sentimento etc de cujos motivos verdadeiros não se apercebe fala se especialmente da racionalização de um sintoma de uma compulsão defensiva de uma formação reativa Não implica um evitar sistemático dos afetos mas atribui a estas motivações mais plausíveis do que verdadeiras dandolhe uma justificação de ordem racional e ideal Idealização defesa na qual o próprio self ou objeto são revestidos de características grandiosas As qualidades e o valor do objeto são levados à perfeição Para Klein a idealização do objeto seria essencialmente uma defesa contra as pulsões destrutivas Exemplo No luto o objeto morto é revestido de características todas boas como se não tivesse nenhum defeito Sublimação é um processo que foi postulado por Freud para explicar atividades do homem sem qualquer relação aparente com a sexualidade e todavia encontrariam o seu elemento propulsor na força da pulsão sexual Freud definiu como atividades de sublimação principalmente a atividade artística e a investigação intelectual Laplanche e Pontalis Para a sublimação ser possível se deve inibir a expressão direta das pulsões não só as de vida como as de morte Grimberg Como exemplo podese citar qualquer trabalho só que em atividades alimentadas por um desejo que não visa de maneira manifesta um alvo sexual