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Filosofia
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A concepção do homem nos póshegelianos Após a morte de Hegel 1831 seus discípulos dividiramse em duas correntes que ficaram conhecidas como direita hegeliana e esquerda hegeliana A primeira professava uma estrita fidelida de ao pensamento de Hegel em sua forma sistemáticas A segunda foi buscar em Hegel inspiração para fazer da filosofia uma arma de crítica social e política arma que acaba voltandose contra o próprio Hegel como pensador sistemático e contra a natureza con siderada teológica de seu Sistema Os representantes da ortodo xia hegeliana como K Michelet J E Erdmann e K Rosenkranz conservaram se fiéis à Filosofia do Espírito subjetivo tal como fora desenvolvida por Hegel limitandose a discutir a ordem de seus tópicos Já a crítica da esquerda hegeliana concentrouse sobre a estrutura sistemática da Filosofia do Espírito na tentativa de pro por uma reinterpretação puramente antropológica do pensamen to de Hegel Seus dois principais representantes foram Ludwig Feuerbach 18041872 e Karl Marx 18181883 Em síntese podese dizer que a crítica de Feuerbach exerceuse sobretudo no terreno da Filosofia do Espírito Subjetivo enquanto a crítica de Marx teve como alvo a Filosofia do Espírito Objetivo Para ambos no entanto propunhase como tarefa fundamental operar uma inversão mate rialista da Lógica e por conseguinte da Metafisica hegelianas cujas conseqüências haveriam de atingir em primeiro lugar a Filosofia do Espírito Absoluto Religião e Filosofia para incidir em seguida de modo profundo sobre a concepção do homem Na verdade porém Feuerbach e Marx acabaram trilhando caminhos diferen tes e mesmo opostos nessa sua tarefa de crítica do hegelianismo A posição de L Feuerbach na história da filosofia é tipi camente uma posição intermediária ou de transição entre os gran des sistemas do Idealismo Alemão e a herança da Ilustração e do Romantismo que eles recolhem de uma parte e de outra o ma terialismo histórico de Marx e o materialismo cientificista da se gunda metade do século XIX Essa posição intermediária de Feuerbach já fora realçada por F Engels e ela se caracteriza justamente pela inflexão antropológica que Feuerbach imprime aalgumasalgumas das categorias herdadas de Hegel Na verdade a filosofia3 de Feuerbach será um antropocentrismo radical mas este difere profundamente da representação central do homem na estrutura do cosmos antigo Ao contrário da homologia macrocosmomi crocosmo ou da reflexão mútua entre o homem e o universo antropologia feuerbachiana representa o mundo do homem como uma projeção do homem natural ou seja dotado dos predicados da sensibilidade Sinnlichkeit e do sentimento Gefühl Feuerbach propõe assim uma concepção rigorosamente mate rialista do homem definido como ser sensível Ele se afasta por tanto decididamente da tradição clássica do animal racional ou do kantiano Vernunftwesen e rejeita igualmente o conceito hegeliano de Espírito Geist Mas a idéia feuerbachiana do homem apresenta peculiaridades que explicam sua profunda influência primeiramente no pensamento do jovem Marx ou no chamado humanismo marxista e mais recentemente na reviravolta antropocêntrica que teve lugar na teologia crista Com efeito para encontrar um fio condutor no discurso antropológico de Feuerbach convém seguilo em seu exame crítico da tradição teo lógica Na verdade a antropologia feuerbachiana será uma desmitologização da teologia operada por meio da reversão so bre o próprio homem da projeção imaginária da qual resultam a idéia de Deus e todas as representações da dogmática crista O antropocentrismo de Feuerbach será pois um antropoteísmo o homem é o único deus para o homem e os atributos de Deus que comparecem no discurso teológico cristão deverão finalmente constituir a estrutura e a seqüência do discurso antropológico Em seu texto Complementos e esclarecimentos sobre a essência da religião 1846 Feuerbach em oposição a Hegel define a religião como a consciência da própria essência do homem Tanto a an tropologia como a fisiologia estudo da natureza apresentam se assim como herança e crítica da teologia em sua explicação do homem e do mundo A filosofia é portanto na visão de Feuerbach a dissolução da teologia na antropologia De um lado essa dissolução tem como resultado uma antropo logia materialista o homem como ser sensível definese intei ramente por suas carências Bedürfnisse e conseqüentemente por sua relação com o mundo objetivo essa relação permite ca racterizar o homem como um ser genérico Gattungswesen ousaja aberto aos outros homens ou à totalidade do gênero humano que na verdade é o sujeito real dos atributos que o homem indi vidual projeta em Deus75 O dissiparse na ilusão do Deus transcen dente é a descoberta da relação essencial EuTu e nela do caráter radical e fundante da experiência do Outro primeiro dogma da Freligião do homem que Feuerbach a partir da Essência do Cris tianismo propunha como meta para uma nova idade A partir porém de 1844 a evolução do pensamento feuerbachiano levao ao abandono da noção de Gattungswesen ainda demasiado hegeliana a seus olhos e a fixarse cada vez mais na idéia da relação ime diata do homem com a Natureza a religião da Natureza vem ocupar progressivamente o lugar da religião do homem 78 Karl Marx foi antes de tudo um teórico da ação revolucionária e política e um teórico da análise econômica Suas concepções filosóficas procedem de fontes diversas e provavelmente não lo grou ele unificálas num todo doutrinal coerente No que diz respeito à antropologia Feuerbach foi seu principal inspirador não obstante o fato de ter ele introduzido modificações profundas na concepção feuerbachiana As linhas fundamentais da idéia marxiana do homem encontramse delineadas nos chamados escritos da juventude 18391849 que chegaram até nós seja sob a forma de escritos de ocasião seja como fragmentos tendo vários deles permanecido inéditos e sido editados apenas neste século Dentre esses escritos os que oferecem maior interesse para o estudo das concepções antropológicas de Marx são aqueles nos quais a idéia do homem se apresenta como instância normativa à luz da qual é possível julgar as teorias e práticas sociais da época e mais ambiciosamente desvendar a própria significação da his tória humana Para uma exposição ordenada da concepção filosófica do ho mem que Marx deixou esboçada em suas diversas obras podemos seguir a seriação proposta por Jon Elster dos seguintes tópicos fundamentais82 a o homem e a Natureza b a natureza humana c as relações sociais d a filosofia da história Cada um desses tópicos desdobrase em aspectos que adqui rem maior ou menor relevo conforme os interesses teóricos e práticos de Marx nas diversas fases de sua evolução Para Marx a especificidade do homem se destaca sobre o fun do das características que ele tem em comum com os animais Seja o homem seja o animal se definem pelo tipo de relação que os une à natureza isto é pela forma como vivem sua vida Ora enquanto o animal é sua própria vida ao homem cabe produzir a sua Essa produção da própria vida irá implicar no homem os predicados especificamente humanos da consciênciadesi da intencionalidade da linguagem da fabricação e uso de instrumen tos e da cooperação com seus semelhantes Conquanto algumas dessas características como a intencionalidade a fabricação e uso de instrumentos e o comportamento gregário possam encontrar se igualmente nos animais pelo menos sob uma forma análoga a consciênciadesi e a linguagem são predicados exclusivos do ho mem e como capacidades cognitivas são capazes de imprimir uma feição especificamente humana às outras características É provavelmente na noção de necessidades humanas que Marx encontra a diferença específica para formular a definição da natu reza humana Essas necessidades são pluriformes ou seja biológi cas psicossociais e culturais mas na medida em que são experi mentadas conscientemente como tais tornamse fundamento de urn desejos Não obstante essas formas múltiplas de necessidades Bedürfnisse needs besoins o fato antropológico fundamental aos olhos de Marx é a existência da necessidade como caracterís tica específica e universal da natureza humana De acordo com Marx é o caráter social e a interpretação das necessidades que constituem o fundamento para o estudo de sua plena satisfação ou seja de sua satisfação segundo uma medida plenamente hu mana o que se supõe terá lugar na sociedade comunista Correlativa à noção de necessidade e de sua satisfação é na visão antropológica de Marx a noção de alienação Entfremdung Não obstante a opinião de alguns estudiosos como L Althusser essa noção sob enfoques diversos acompanha o pensamento de Marx desde os escritos da juventude até os da maturidade Elster seguindo a Plamenatz e Wood distingue em Marx dois tipos fundamentaisdamentais de alienação a alienação espiritual ou a deficiência de ser que sobrevém ao homem por não alcançar sua autoreali zação e a alienação social representada pelo domínio do produto sobre o seu criador No primeiro caso a alienação relacionase seja subjetiva seja objetivamente com a possibilidade de satisfa ção das necessidades e com a relação entre a medida dessas ne cessidades e a medida de sua satisfação Uma forma da alienação espiritual que parece predominar nos escritos da maturidade de Marx é a chamada coisificação Verdinglichung reification réification que se dá propriamente com a separação e rigidez das necessidades e capacidades que não se integram no desenvolvi mento harmonioso da pessoa ou se fixam separada e compulsiva mente sobre o seu objeto assim a avareza seria um caso típico de alienação espiritual ou coisificação A coisificação como carac terística de determinado estágio histórico da natureza humana é como que o sinal negativo do que será essa natureza plenamente desenvolvida ou desalienada tal como se realizará no reino da liberdade ou na sociedade comunista É exatamente na caracte rização do indivíduo desalienado conciliando em medida supre ma auto realização e altruísmo que aparecem alguns dos traços mais significativos da face utópica do pensamento de Marxº2 Por r outro lado em virtude de sua visão estritamente historicista que identifica o homem com sua realização históricosocial Marx es tabelece dois níveis conceptuais na estrutura do homem como ser social ou seja histórico que estão necessariamente interrela cionados nível da natureza humana definida por suas carências ou necessidades e pela dialética da satisfação dessas necessidades desdobrandose seja na relação do homem com a natureza exterior pelo trabalho seja em sua relação com os outros homens pela sociedade nível da situação histórica definido pelo estágio das forças e relações de produção e pelo fenômeno da alienação social que resulta da inadequação desse estágio às exigências de realização da natureza humana Tal fenômeno se verifica de maneira exem plar no capitalismo onde se pode identificar explicitamente o fe nômeno da fetichização das relações sociais alienadas que apare cem como propriedades naturais das coisas São pois os diversos tipos de fetichismo que configuram a alienação social do indivíduo Tratase de um processo histórico que atinge seu auge no modo de produção capitalista mostrando aí suas diversas faces e caracterizando desse modo uma profun da alienação espiritual alienação econômica alienação política aliena ção cultural alienação religiosa Em todas a começar pela alienação econômica da qual as outras procedem repetese o mesmo meca nismo alienatório ou seja nelas o homem produz entidades reais como nas relações sociais ou imaginárias como na religião que adquirem uma existência independente e passam a se opor a seus produtores e a dominálos Tal se apresenta a categoria de aliena ção que é talvez a mais constante ao longo do desenvolvimento do pensamento marxiano não obstante as variações que se podem observar em sua formulação e nas exemplificações aduzidas por Marx94 É pois a noção de alienação que enfeixando os diversos as pectos da concepção marxiana do homem está igualmente nos fundamentos de sua filosofia da história Nesta podemos distinguir uma dimensão teórica ou uma teoria da história conforme o mo delo proposto por Hegel segundo o qual a divisão da história em épocas obedece ao desenvolvimento da dialética que orienta o devire histórico Para Marx de acordo com sua definição do homem como serqueproduz é o modo de produção dominante em cada época que permite a seriação dialética da história em quatro grandes épocas o modo asiático de produção o escravismo antigo o feudalismo e o capitalismo moderno que gera necessariamente o socialismo ou a socialização dos meios de produção como fase de transição para o comunismo estágio final da histórias A teoria da história diz respeito à periodização dialética do curso histórico Já a filosofia da história propriamente dita ocupase com a teleologia imanente ao desenrolar histórico e nela adquire relevo o problema do fim da história e da necessidade dialética que encadeia as épocas históricas na direção desse fim A face escatológica do pensamento de Marx aparece aí em plena luz na qual o advento da sociedade sem classes aparece como o fim necessário da história O problema do fim da história capítulo final da antropologia marxiana mostrase assim o terreno em que seu pensamento abandona os caminhos da razão para enveredar pela trilha do mito Ciências do homem e filosofia no século XIX O século XIX assistiu ao rápido desenvolvimento das ciências do homem num arco muito vasto que vai das ciências da vida às ciências da cultura passando pela geografia humana pelas ciências econômicas e sociais e pelas ciências do psiquismo Na Introdução já tivemos ocasião de assinalar os principais problemas filosóficos que o advento das ciências humanas renovou ou fez surgir no âmbito da Antropologia filosófica A repercussão dessas ciências sobre a reflexão filosófica que tem por objeto o homem em suas diversas dimensões foise tornando mais ampla e profunda na medida em que elas se desenvolviam e diversifica vam O espírito científico no século XIX e ainda na primeira me tade do século XX foi dominado pela idéia de Evolução que se estendeu do campo do conhecimento biológico onde foi formula da como hipótese para a explicação da transformação e diversifi cação dos seres vivos por J B de Monet de Lamarck 17441829 e Charles Darwin 18091882 a todos os ramos do conhecimento e em particular às ciências humanas 98 As correntes filosóficas que na primeira metade do século XIX refletiram de modo mais direto o aparecimento e desenvolvimen to das ciências humanas foram na França os chamados ideólogos e posteriormente o Positivismo seja na forma ortodoxa que lhe deu seu fundador Auguste Comte 17981857 seja em sua onipresente influência que veio a constituirse em espírito ou men talidade característicos da vida científica da época A escola dos ideólogos se distingue pela primazia conferida ao problema da origem das idéias e pelo método rigorosamente ana lítico com que é tratado e segundo o qual as idéias se reduzem a elementos simples na sensação Na verdade porém o movimento dos ideólogos abrangeu os diversos ramos da cultura e da políti ca e sua influência embora não devidamente realçada pelos his toriadores 100 marcou profundamente o pensamento francês no século XIX Já Auguste Comte é considerado o fundador da Sociologia tendoa considerado o único saber positivo sobre o homem Ao conferir à sociedade primazia sobre o indivíduo ele desenvolve em sua enciclopédia do saber uma física social em que a socieda de é analisada tanto do ponto de vista estático como do ponto de vista dinâmico segundo os conceitos e leis do mundo físico A sociologia encontrou em Herbert Spencer 18201903 e em Émile e Durkheim 18581917 seus continuadores sendo Durkheim consii derado o fundador do método sociológico Já a Psicologia experi mental não obstante sua rejeição por Comte do sistema do saber positivo encontrou também na mentalidade positivista o clima propício para sua constituição em ciência por obra sobretudo de Wilhelm Wundt 18321920
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Karl Marx 18181883 Em síntese podese dizer que a crítica de Feuerbach exerceuse sobretudo no terreno da Filosofia do Espírito Subjetivo enquanto a crítica de Marx teve como alvo a Filosofia do Espírito Objetivo Para ambos no entanto propunhase como tarefa fundamental operar uma inversão mate rialista da Lógica e por conseguinte da Metafisica hegelianas cujas conseqüências haveriam de atingir em primeiro lugar a Filosofia do Espírito Absoluto Religião e Filosofia para incidir em seguida de modo profundo sobre a concepção do homem Na verdade porém Feuerbach e Marx acabaram trilhando caminhos diferen tes e mesmo opostos nessa sua tarefa de crítica do hegelianismo A posição de L Feuerbach na história da filosofia é tipi camente uma posição intermediária ou de transição entre os gran des sistemas do Idealismo Alemão e a herança da Ilustração e do Romantismo que eles recolhem de uma parte e de outra o ma terialismo histórico de Marx e o materialismo cientificista da se gunda metade do século 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antropológicas de Marx são aqueles nos quais a idéia do homem se apresenta como instância normativa à luz da qual é possível julgar as teorias e práticas sociais da época e mais ambiciosamente desvendar a própria significação da his tória humana Para uma exposição ordenada da concepção filosófica do ho mem que Marx deixou esboçada em suas diversas obras podemos seguir a seriação proposta por Jon Elster dos seguintes tópicos fundamentais82 a o homem e a Natureza b a natureza humana c as relações sociais d a filosofia da história Cada um desses tópicos desdobrase em aspectos que adqui rem maior ou menor relevo conforme os interesses teóricos e práticos de Marx nas diversas fases de sua evolução Para Marx a especificidade do homem se destaca sobre o fun do das características que ele tem em comum com os animais Seja o homem seja o animal se definem pelo tipo de relação que os une à natureza isto é pela forma como vivem sua vida Ora enquanto o animal é sua própria vida ao homem cabe 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needs besoins o fato antropológico fundamental aos olhos de Marx é a existência da necessidade como caracterís tica específica e universal da natureza humana De acordo com Marx é o caráter social e a interpretação das necessidades que constituem o fundamento para o estudo de sua plena satisfação ou seja de sua satisfação segundo uma medida plenamente hu mana o que se supõe terá lugar na sociedade comunista Correlativa à noção de necessidade e de sua satisfação é na visão antropológica de Marx a noção de alienação Entfremdung Não obstante a opinião de alguns estudiosos como L Althusser essa noção sob enfoques diversos acompanha o pensamento de Marx desde os escritos da juventude até os da maturidade Elster seguindo a Plamenatz e Wood distingue em Marx dois tipos fundamentaisdamentais de alienação a alienação espiritual ou a deficiência de ser que sobrevém ao homem por não alcançar sua autoreali zação e a alienação social representada pelo domínio do produto sobre o seu criador No 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elas se desenvolviam e diversifica vam O espírito científico no século XIX e ainda na primeira me tade do século XX foi dominado pela idéia de Evolução que se estendeu do campo do conhecimento biológico onde foi formula da como hipótese para a explicação da transformação e diversifi cação dos seres vivos por J B de Monet de Lamarck 17441829 e Charles Darwin 18091882 a todos os ramos do conhecimento e em particular às ciências humanas 98 As correntes filosóficas que na primeira metade do século XIX refletiram de modo mais direto o aparecimento e desenvolvimen to das ciências humanas foram na França os chamados ideólogos e posteriormente o Positivismo seja na forma ortodoxa que lhe deu seu fundador Auguste Comte 17981857 seja em sua onipresente influência que veio a constituirse em espírito ou men talidade característicos da vida científica da época A escola dos ideólogos se distingue pela primazia conferida ao problema da origem das idéias e pelo método rigorosamente ana lítico com que é tratado e segundo o qual as idéias se reduzem a elementos simples na sensação Na verdade porém o movimento dos ideólogos abrangeu os diversos ramos da cultura e da políti ca e sua influência embora não devidamente realçada pelos his toriadores 100 marcou profundamente o pensamento francês no século XIX Já Auguste Comte é considerado o fundador da Sociologia tendoa considerado o único saber positivo sobre o homem Ao conferir à sociedade primazia sobre o indivíduo ele desenvolve em sua enciclopédia do saber uma física social em que a socieda de é analisada tanto do ponto de vista estático como do ponto de vista dinâmico segundo os conceitos e leis do mundo físico A sociologia encontrou em Herbert Spencer 18201903 e em Émile e Durkheim 18581917 seus continuadores sendo Durkheim consii derado o fundador do método sociológico Já a Psicologia experi mental não obstante sua rejeição por Comte do sistema do saber positivo encontrou também na mentalidade positivista o clima propício para sua 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