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Cursos Gerais ·

Metodologia da Pesquisa

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QUESTÕES 1 Defina Resumo indicativo 2 Descreva as características configuraçõesformatação das seguintes citações A metafísica a transcendência o acolhimento do Outro pelo Mesmo de Outrem por Mim produzse concretamente como a impugnação do Mesmo pelo Outro isto é como a ética que cumpre a essência crítica do saber E tal como a crítica precede o dogmatismo a metafísica precede a ontologia LÉVINAS 2008 p30 A filosofia de Lévinas está centrada sobre a consciência humana a subjetividade do eu que defronta o outro como não deixaria de ser uma reflexão fundamentada numa ética O ponto inicial absoluto de toda sua reflexão é a ética uma ética que centraliza sua emergência na responsabilidade presumida que sucede do encontro com o rosto do outro do Outro MARTINS LEPARGNEUR 2014 3 Qual a diferença na utilização das aspas simples e duplas 4 Qualais as finalidades da Nota de Rodapé 5 A conclusão é um espelho da introdução Defina Conclusão ou Considerações Finais de um trabalho acadêmico 6 Em um texto científico devemos considerar as Normas Técnicas para formatação Qualis as finalidades dessas Normas 7 Qual o conceito de plágio 8 Quais os elementos da padronização gráfica de um texto científico 9 Organize as seguintes Referências Bibliográficas conforme as orientações do Manual de Orientação Metodológica da Instituição a Metafísica Aristóteles São Paulo Abril Cultural Tradução Vincenzo Cocco 1973 b Jacques Derrida Tradução Fábio Landa Adeus a Emmanuel Lévinas São Paulo Perspectiva 2013 c CESAR Chico Cesar e Carlos Rennó Quando fecho os olhos VIP Colletion 2009 Disponível em httpswwwvagalumecombrchicocesarquandofechoosolhoshtml Acesso em 22102016 d Prefácio Lévinas e o retorno à ética JeanFrançois Mattéi In HADDOCKLOBO Rafael Da existência ao infinito ensaios sobre Emmanuel Lévinas Local São Paulo Editora Loyola Ano de 2006 Páginas 21 a 27 e Roberto Alvim Corrêa Org Dicionário escolar francêsportuguês portuguêsfrancês 2ª Edição Ano 1961 Departamento Nacional de Educação Ministério da Educação e Cultura Estado da Guanabara 10 Descreva a importância da disciplina Metodologia Científica no conhecimento do acadêmico do curso de Graduação em Filosofia Só é intelectual quem tem uma mente aberta Essa atitude envolve toda a pessoa No nível cultural a inteligência descobre sua verdadeira natureza de intérprete da realidade em contínuo processo de interação com outros saberes Afetivamente a abertura implica uma liberdade fundada na tranquilidade de sua autonomia Teologalmente a abertura reconhece a importância do outro como mediador do Outro maior Edições Loyola visite nosso site wwwloyolacombr ISBN 8515023296 Cód 6259 JOÃO BATISTA LIBANIO INTRODUÇÃO À VIDA INTELECTUAL JOÃO BATISTA LIBANIO humanística Edições Loyola INTRODUÇÃO À VIDA INTELECTUAL J B LIBANIO INTRODUÇÃO À VIDA INTELECTUAL Edições Loyola Preparação Maurício B Leal Revisão Danilo Mondoni SJ Marcos Marcionilo Edições Loyola Rua 1822 nº 347 Ipiranga 04216000 São Paulo SP Caixa Postal 42335 04299970 São Paulo SP 011 69141922 011 61634275 Home page e vendas wwwloyolacombr Editorial loyolaloyolacombr Vendas vendasloyolacombr Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma eou quaisquer meios eletrônico ou mecânico incluindo fotocópia e gravação ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora ISBN 8515023296 EDIÇÕES LOYOLA São Paulo Brasil 2001 SUMÁRIO Introdução 17 Natureza do livro 17 Objetivos 18 Estilo do curso 19 Dinâmicas 19 PARTE I Atitudes fundamentais da vocação intelectual Capítulo 1 A vocação intelectual 27 Vocação é mais que profissão 27 Superação de um saber técnico 28 Inserção em tradição longeva 30 Exigências de uma vocação intelectual 32 Visão cristã 33 Conclusão 34 Bibliografia 34 Dinâmica Recordação de experiências 34 Capítulo 2 Aprender a pensar 37 Nascimento do pensar 37 Do pensar espontâneo ao pensar reflexo 38 Provocador do processo 39 Experiências na base da pergunta 40 Tempo e espaço para pensar sua motivação 41 A leitura dos clássicos 42 Três atitudes para saber pensar 44 O que diz a realidade Distância momento objetivo 44 O que me diz a realidade Proximidade momento subjetivo 45 O que a realidade me faz dizer Comunicação momento Intersubjetivo 45 Pensar as partes no todo e o todo nas partes 47 A cultura do estudo e da leitura 49 Conclusão 50 Bibliografia 51 Dinâmica Exercícios de distinção 52 Capítulo 3 Atitude realista e criativa 53 Clareza de objetivos 54 Objetivos de uma instituição 54 Objetivos específicos do curso ou texto de introdução à vida intelectual 55 Tipos e qualidades dos objetivos 56 Leis dos objetivos 56 Escolha e adequação dos meios 57 Programação 58 O uso do tempo 58 Não há falta de tempo A questão é escolher o que fazer com ele 59 Qualidade do tempo 60 Roteiro prático 62 Pitada de utopia e criatividade 64 Conclusão 66 Bibliografia 67 Dinâmica Exercícios Em grupo ou individualmente 67 Teste pessoal I 67 Teste pessoal II 68 Capítulo 4 Honestidade intelectual 69 Em relação ao pensamento alheio 69 No nível da aproximação 70 No nível da penetração do pensamento alheio 71 No nível da reprodução 72 Intenção do autor e intencionalidade do texto 73 Crítica dos pressupostos 74 Denotar a própria conotação 74 Cultivo do espírito científico 76 Conclusão 77 Bibliografia 78 Dinâmica Análise de pressupostos teóricos de um texto 78 Exercício de fichamento 79 Teste pessoal 80 Capítulo 5 Abertura 81 Nível cultural 81 Nível afetivo 84 Nível teologal 86 Conclusão 88 Bibliografia 88 Dinâmica Problemas da juventude 88 Teste pessoal 89 Capítulo 6 Senso crítico 91 Introdução 91 Atitude fundamental 92 Contexto sociocultural da gênese do senso crítico 92 Estrutura da consciência crítica 94 Empecilhos 95 Falta de visão política 95 Voluntarismo político 95 Cosmovisão fixista 96 Situação familiar 96 Visão religiosa tradicional 96 Círculo ideológico 97 Resistência à mudança 97 Exercícios 97 Análises da realidade 98 Prática do diálogo 98 Experiência do diferente 98 Exercícios didáticos 99 Conclusão 99 Bibliografia 99 Dinâmica de análise de um texto 100 Homilia do cardeal D Paulo Evaristo Arns 101 Capítulo 7 Responsabilidade na vida intelectual 105 Dupla fidelidade em tensão na responsabilidade do intelectual 105 Fundamento da responsabilidade 107 Novidade moderna no espaço da responsabilidade 109 Alcance da responsabilidade diante de quem 110 Responsabilidade diante de si 110 Responsabilidade em relação aos outros 112 Responsabilidade em relação ao cosmo 113 Responsabilidade diante da verdade 116 Responsabilidade diante da fé 118 Equilíbrio entre empenho pessoal e graça de Deus 118 Conclusão 121 Bibliografia 121 Dinâmica Responsabilidade 122 Capítulo 8 Aprendizagem assimilação e originalidade 123 Introdução 123 Reflexão 124 Status quaestionis pergunta central 124 Significado dos termos principais 124 Estruturação da questão e sua lógica 125 Pressupostos e contexto 125 Objeções 125 Existência de um marco referencial 125 Integração dos diversos planos e dimensões 126 Dimensão de originalidade 129 Condições externas e descanso 130 Saúde física e psíquica 130 Descanso 130 Atitudes psicológicas 131 Bom relacionamento humano 134 Ambiente geral 134 Estruturas de apoio 135 Conclusão 136 Bibliografia 136 Dinâmica Resposta a perguntas 137 PARTE II Aspectos da vida de estudo Capítulo 9 Reunião de grupo 143 Aspectos gerais de uma reunião 143 Dinâmicas de apresentação 143 Clima da reunião 144 Natureza da reunião 145 Importância 146 Estrutura 146 Características 147 Riscos inerentes às atuações nas reuniões 147 Tipos de reunião de grupo 148 Fatores decisivos para conduzir uma reunião 150 Objetivo 150 Programa 151 Os participantes 152 Coordenador 154 Técnicas 156 Outros elementos 156 Distribuição de tarefas numa reunião 157 Plenário 159 Conclusão 159 Bibliografia 160 Dinâmica que envolve grupo e plenário 160 Dinâmica alternativa 161 Capítulo 10 Processo de produção intelectual 163 Introdução 163 Fatores decisivos 164 Exercício de aprendizagem 164 Fator de personalidade 164 Decisão de escrever para publicar 165 Forçar as portas 165 Liberdade interior e liberdade exterior 165 Escolha do assunto 165 Motivação e interesse 165 Natureza do trabalho 166 Trabalhos acadêmicos 166 Critérios de escolha 167 Delimitar o tema 167 Exemplos de temas de trabalho 169 Estruturação do trabalho 170 Uso de imagens concretas 171 Descrição do método 171 Exemplificação do método 171 Esquemas teóricos 175 Hexâmetro latino 175 Categorias centrais tempo e espaço 175 Dialético 176 Amor 177 Antropológico 177 Realidade 179 Natureza dos discursos 182 Modelo interpretativo 185 Autonomias e dependências 188 Método de perguntas progressivas 192 Conclusão 195 Bibliografia 195 Dinâmica Esquema lógico 196 Capítulo 11 Estudo de um tema ou de uma tese 197 Estudo pessoal de um tema ou exame de uma tese 197 1º passo estabelecer um quadro maior da problemática 198 2º passo estabelecer o nexo ou a relação com uma questão imediatamente anterior e com a seguinte 198 3º passo definir os conceitos 198 4º passo definição do problema específico 200 5º passo desenvolvimento do trabalho 200 6º passo apontar para consequências do tema 201 7º passo indicar alguns problemas conexos 201 8º passo prever as principais objeções e já antecipar as respostas 202 Dinâmica de estudo de um texto 202 Estudo ou discussão em grupo 202 1º passo escolha do assunto 203 2º passo definição dos termos e conceitos 203 3º passo formulação mais ampla do assunto 203 4º passo distribuição do tempo 204 5º passo discussão dos temas e subtemas 204 6º passo avaliação da atuação do grupo e individual 205 Dinâmica de estudo de um texto 206 Conselhos para um exame complexo de teologia ou filosofia 206 Condições materiais e psíquicas 207 Condições pedagógicas 207 Sugestões didáticas 213 Breve esquema de todo o método 215 Conclusão 216 Bibliografia 217 Dinâmica Elaboração de um roteiro de estudo 217 Capítulo 12 Confecção de uma monografia ou dissertação 219 Aspecto epistemológico 219 1º passo marco teórico inicial 219 2º passo recusa do marco teórico inicial a partir dos novos dados 220 3º passo elaboração final do marco teórico 220 Aspecto didático 221 1º passo definição do tema 221 2º passo finalidade 222 3º passo qualidade do trabalho 222 4º passo partes do trabalho 224 5º passo levantamento bibliográfico 224 6º passo corpo do trabalho 225 7º passo conclusão 230 8º passo introdução 230 9º passo resumo abstract 231 10º passo alguns defeitos mais comuns 232 11º passo notas 233 12º passo uso da biblioteca 235 Conclusão 236 Bibliografia 237 Dinâmica Exame de uma dissertaçãotese 237 Capítulo 13 Leitura 239 Postura fundamental 239 Intelecção da leitura 240 Préleitura survey question 240 Leitura read 242 Pósleitura review 244 Ritmo de leitura 245 Velocidade 245 Arco de reconhecimento 245 Movimento dos olhos 246 Vocalização na leitura 246 Aceleração do ritmo de leitura 247 Tipos de leitura 248 Livro fundamental 248 Obras de referência 248 Monografias e artigos especializados 249 Leitura complementar 249 Leitura de pesquisa 250 Leitura de descanso 250 Leitura de jornal e revistas 250 Seguir revistas especializadas 251 Alguns princípios para a leitura 251 Selecionar 251 Velocidade da leitura 252 Comparação do bom e do mau leitor 252 Leitura ou fala em público 253 Qualidades da leitura 253 Atitude interior e relaxamento 254 Postura diante do auditório 254 Exercícios de voz e postura 255 Conclusão 255 Bibliografia 256 Dinâmica de síntese Perfil da Igreja hoje 256 Capítulo 14 O ensino acadêmico 257 A aula magistral 258 Explicitação 258 Tipos de aula 260 Questões didáticas 260 Dificuldades das aulas 264 Reunião de professores 265 Avaliação 265 Férias 268 Os seminários 270 Finalidade e natureza 270 Tipos 270 A tutoria 274 Natureza 274 Ajudas no campo metodológico 275 Relação com as outras atividades 277 Periodicidade 277 Dificuldades da vida de estudo 278 Conclusão 282 Bibliografia 283 Dinâmica Verbalização 283 Conclusão 285 ANEXOS Anexo I Elenco de dinâmicas de grupo 291 Anexo II Respostas de testes 297 Anexo III Avaliação do curso 299 Bibliografia 301 Ao grupo de jovens dos Encontros de Juiz de Fora para que se preparem para um amanhã esperançoso no árduo tirocínio da inteligência e no exercício do convívio amigo INTRODUÇÃO O coração humano planeja seu rumo mas o Senhor é quem lhe firma os passos Provérbios 169 Natureza do livro Há muitos e diversos livros sobre metodologia Ciência hoje sofisticada já incorpora elementos da tecnologia informatizada Este trabalho trilha outro caminho Remonta a uma tradição das Ordens jesuítica¹ e dominicana² de cultivar a vida intelectual como um todo Num tempo de muito fervor espiritual Santo Inácio pedia moderação a seus estudantes tanto nas penitências como nos exercícios espirituais para que reservassem as energias para o estudo Não se estuda só com a inteligência É todo o ser humano que se compromete com as lides intelectuais Dedicação aos estudos com o homem todo Depois da provação isto é do noviciado quando se dão aos estudos devese por um lado ter cuidado que o ardor do estudo não venha a entibiar o amor das virtudes sólidas e da vida religiosa mas por outro 1 F Charmot A estrada real da inteligência Estudos sobre a educação intelectual e o valor das disciplinas fundamentais do curso secundário Porto Alegre Globo 1944 id La pédagogie des jésuites Ses principes Son actualité Paris Spes 1951 id LArt de se former lesprit et de réussir au baccalauréat Paris de Gigord 1944 2 A D Sertillanges A vida intelectual espírito condições método São Paulo Saraiva 1940 as mortificações orações e meditações prolongadas devem ter menos lugar durante esse período Em verdade darse às ciências que se estudam com pura intenção do serviço divino e que exigem de certo modo o homem todo não será menos mas antes mais agradável a Deus Nosso Senhor durante o tempo dos estudos³ Dedicarse à vida intelectual implica uma vocação que envolve seguramente talentos da ordem cognitiva mas que exige muito mais É uma questão de personalidade E esta se forma por meio de atitudes de comportamentos de valores básicos Esse texto é teóricoprático Teórico porque se oferecem elementos para iluminar a inteligência a respeito da complexidade de uma vida e de uma vocação intelectual nos dias de hoje Prático porque sugere exercícios a serem feitos pelo leitor ou por eventuais alunos quando usado num curso para que se aperfeiçoem nas atividades do espírito É lógico e didático Lógico porque pretende criar um hábito da mente que sirva para todas as atividades relacionadas com o universo do saber Didático porque quer ser uma ajuda de racionalização e organização dos recursos objetivos de que as pessoas dispõem para chegar à maturidade intelectual Este texto nasceu de minha experiência de orientador de estudos e de professor de introdução aos estudos filosóficos eou teológicos Está pensado também como livro de texto para um curso dessa natureza Por isso há várias atividades propostas tipicamente ordenadas a atividades didáticas do curso Objetivos Os objetivos desse texto ou curso se definem por sua natureza Antes de tudo pretende introduzir os estudantes de modo sistemático no mundo da vida intelectual universitária Para isso estuda as atitudes básicas de tal vocação Numa primeira parte indicamse os hábitos e 3 Constituições da Companhia de Jesus e normas complementares São Paulo Loyola 1997 n 340 p 126 atitudes mentais próprios da vida intelectual e oferecemse alguns elementos simples de natureza epistemológica Numa segunda parte o objetivo é apetrechar o estudante com elementos didáticos para melhorar seu desempenho nos estudos Sem privilegiar a confecção de monografia que seria objetivo de um outro tipo de curso e texto não se deixa de apresentar já alguns elementos para o estudante elaborar trabalhos escolares com maior rigor e ordem Há também um objetivo prático que se concretiza por meio de exercícios e dinâmicas Estilo do curso Caso seja dado em forma de curso façamse prelecções com a finalidade de que os alunos reflitam sobre seus comportamentos espontâneos empíricos e dispersos de estudo e adquiram um método reflexo racional e sistemático Em aula e em particular façamse exercícios para os alunos já irem adquirindo hábitos de estudo O aproveitamento de um curso depende da regularidade na frequência às exposições teóricas e da prática dos exercícios pedidos As dinâmicas e os exercícios indicados servem para o leitor ou eventual aluno avaliarse ou ser avaliado O texto oferece explanações dinâmicas exercícios bibliografias além de citações de fontes que elucidam o assunto Só com empenho se consegue adquirir disciplina e uma atitude intelectual séria e aprender a usar os meios didáticos Assim se inicia a criação de hábitos intelectuais de leitura de pesquisa de crítica Tanto em nível de leitura como no de curso facilita uma experiência intelectual frutífera criar um clima livre espontâneo alegre responsável e participativo Dinâmicas Dinâmica para a apresentação dos alunos 1 Cada aluno escolhe um símbolo ou música ou roteiro turístico ou parábola ou alimento que traduza a si próprio 2 Ao ser chamado descreva o que escolheu de tal maneira que nele projete dados de sua pessoa 3 Os colegas façam eventualmente comentários ou peçam explicações 4 Que haja tempo para todos se apresentarem 5 Para que se guardem mais facilmente os nomes dos alunos nas aulas seguintes dediquemse uns cinco minutos a que cada aluno chame um colega segundo o seguinte modo João Henrique chama Tiago Então Tiago prossegue repetindo seu nome Tiago chama André E assim por diante ou Definição das expectativas 1 Conforme o número de alunos todos ou somente alguns aleatoriamente escolhidos ou espontaneamente oferecidos desenhem no quadro um símbolo que traduza suas expectativas 2 Depois todos observem tais símbolos e eventualmente façam comentários ou cada um comente o próprio símbolo Parte I ATITUDES FUNDAMENTAIS DA VOCAÇÃO INTELECTUAL Eu desejaria que se tomasse cuidado de escolherme um preceptor que tivesse mais a inteligência bem feita do que muito cheia Montaigne Capítulo 1 A VOCAÇÃO INTELECTUAL No fundo das nascentes tudo se passa com lentidão F Nietzsche Vocação é mais que profissão É conhecida a distinção entre profissão e vocação Profissão deno ta preparação técnica competência eficiência produtiva ganhapão fun ção social status reconhecimento externo Vocação por sua vez fala de decisão e realização pessoal chamado interior paixão amor e gosto pelo que se faz Alguém escolhe ser intelectual para encontrar um lugar na sociedade e assim manterse a si e a outros Ou alguém descobre que sua missão como ser humano eventualmente como cristão e religioso é dedicarse de corpo e alma a exercer um trabalho intelectual Em termos pastorais usase a expressão apostolado intelectual A vocação intelectual participa da construção do universo O espírito é o último elo de uma evolução Ao atuar essa dimensão o ser humano realiza aquilo que o distingue dos outros seres Como espírito é único e singular na sinfonia da criação Ao longo da história a verdade o tem fascinado e o tem provocado a incessante busca Inserirse nessa aventura é altamente gratificante A vocação alimentase da motivação que é plural Cobre enorme arco que vai desde a autorealização até a maneira objetiva realista do dom de si aos outros numa perspectiva social cristã apostólica Supera a simples funcionalidade e utilidade do uso do aprendido Não há um corte rígido entre profissão e vocação Elas podem alimentarse mutuamente A vocação pede adestramento conhecimen PARTE I 23 A vocação intelectual envolve o homem todo Pedelhe atitudes básicas Muitas são comuns a toda vocação mas adquirem uma feição própria no mister intelectual Cultiválas ao longo da vida tornase a ga rantia de sua autenticidade Preferimos trabalhar um número restrito de atitudes que julgamos mais importantes Veionos em socorro o provér bio latino Non multa sed multum não a quantidade mas a qualidade Breve consideração sobre a vocação intelectual situanos no cora ção de nossas reflexões do primeiro capítulo Passeamos pelo mundo da gratuidade da realização humana profunda Pretendemos superar o espaço da produtividade da pura necessidade Inserirnonos na tradi ção que chama de humanidades um tipo de saber uma qualidade de pensar que parte da experiência primigênia da admiração Buscamos res ponder ao chamado interior que habita todo ser Chamado que se des dobra no nível humano ético cristão e eclesial conforme a postura fundamental do sujeito peça sucessivas explicações O noviciado da vocação intelectual é aprender a pensar Tarefa pessoal Cada um encontra lentamente sua trilha Aventuramonos no segundo capítulo a sugerir alguns roteiros teóricos e práticos para faci litar tal viagem Têm a simplicidade da experiência e o prazer de ver jovens desejosos de poremse a caminho O nascimento do aprendiza do do pensar dáse com o milagre do espelho Nele bate o raio de luz e voltase sobre si mesmo Ao chocarse o pensamento contra si mesmo na estranheza provocada por um real diferente ele se faz reflexivo Pen sase realmente Ir ao longo da vida defrontandose com diferentes en carnados em obras de pensadores clássicos ou em experiências significa tivas obriganos a aprender a pensar E pensase Ouvese a verdade do objeto dizse a si a verdade percebida e interiorizada comunicase a verdade partilhada Processo que nos humaniza porque nos afasta da noite escura do animal da doença sonolenta da alienação espontaneísta e da preguiça do ler e estudar O caminho prossegue no capítulo 3 Não se constroem edifícios sem as pedras disponíveis e bem dispostas Não basta sonhar com voca ção sublime Realizála implica conhecer o real que está aí e a partir dele ir fazendo maravilhas idealizadas A atitude realista respalda a viabi lização de uma vocação Permite equacionar os meios disponíveis em vista de objetivos almejados Educa a uma programação com roteiros bem definidos a fim de transformar o chamado vocação em mis são atuante Todo realismo necessita ser temperado com uma pitada de 24 INTRODUÇÃO À VIDA INTELECTUAL PARTE I 25 esperança e utopia O realismo nos prende ao existente A esperança e a utopia arrancamnos para horizontes mais amplos A honestidade no campo intelectual tem suas regras próprias No capítulo 4 apontamse alguns procedimentos teóricos que são exigí dos na captação na interpretação na citação honesta de pensamentos de outros autores e na abordagem leal dos textos Muitas inteligências foram sacrificadas por conta de manuseios desonestos de seus textos arrancados dos respectivos contextos transferidos de suas culturas e condenados em nome de uma intransigência ahistórica e ageográfica Os textos impõem exigências hermenêuticas cujo desconhecimen to frauda a verdade Muitas pessoas não alimentaram uma vocação intelectual porque se fecharam em dogmatismos fanatismos fundamentalismos ortodo xias rígidas Sem abertura de espírito não se caminha nessa vocação O capítulo 5 permite apontar níveis diferentes de abertura ou de fecha mento que decidem respectivamente sobre a possibilidade ou a inviabilidade de uma trajetória intelectual verdadeira O senso crítico é apanágio do intelectual lúcido Sua carência faz que ele se perca entre a ingenuidade e a rigidez Ambos impedem desenvolver um itinerário intelectual correto O capítulo 6 tenta traçar pequeno mapa dos percalços existentes e dos exercícios necessários na tarefa crítica que deve acompanharnos nas lides da inteligência Sem liberdade não há pensar Sem responsabilidade a liberdá de desvirtuase A responsabilidade faz parte do espaço livre do intelec tual O capítulo 7 sente a necessidade de frisar a importância tanto maior da responsabilidade quanto mais a liberdade de pensamento e de ex pressão adquire cidadania universal e irrestrita Sem o contrapeso da responsabilidade advogase um valor sublime a liberdade que ter mina destruindose em seu cerne de humanidade Pretender a originalidade desde o início é esquecer que ela não nas ce do nada O capítulo 8 debruçase sobre a necessária fase do apren dizado assimilativo Naturalmente mais intenso nos inícios mas sem pre relevante até o fim da vida intelectual O ser humano é sempre um aprendiz E faz parte da aprendizagem apropriarse criativamente dos conteúdos pensamentos e contribuições dos outros Seres em sociedade participamos da vida pelo processo contínuo de interiorização exte riorização e objetivação Sem a primeira a cultura se perderia como as cores num mundo de cegos Essa assimilação não se faz de maneira me cânica mas criativa original Do que aprendemos voamos para outros espaços Do que assimilamos fazemos nova vida Do que recebemos construímos edifícios originais e únicos Assimilação com pitada de originalidade e criatividade Esta primeira parte situouse na ordem das atitudes Aqui estão os pilares de uma vida intelectual Avançaremos na Parte II por trilhas mais concretas com considerações que favoreçam o percurso intelec tual produtivo tos objetivos e técnicos eficiência e produtividade Mas vai além com o espírito que a informa A profissão ganha muito quando consegue despertar no profissional o sabor da vocação É o barco a remo que iza uma vela e navega aqualdo pelo vento A vocação é vela insuflada e a profissão é remo manejado Há horas em que o vento arrefece então o remo vem em auxílio Há outras horas em que o remo pesa então a vela batida pelo vento alivia a navegação Teste da vocação intelectual 1 Estudo de preferência por gosto e amor ou por obrigação 2 O motivo mais importante para estudar é meu futuro profissional ou minha realização pessoal 3 Prefiro uma boa leitura a programas de entretenimento na TV ou à Internet 4 Quando saio de férias preocupome em levar algum livro interessante para ler 5 Estou sempre lendo algum livro além das obrigações escolares 6 Tenho curiosidade em informarme sobre bons livros de meu campo de interesse que estão sendo editados 7 Preocupome em seguir alguma revista estritamente cultural 8 Preencho os tempos ociosos com leitura ou estudo complementar 9 Agradame conversar sobre temas culturais 10 Gosto de conviver com pessoas cultas Para saber seu grau de vocação intelectual veja o número de sim que deu às perguntas Superação de um saber técnico A atividade intelectual conjuga um trabalho de autoconhecimento e de comunhão com a realidade A modernidade no século XVIII assistiu ao surgir de nova idéia de progresso baseada na técnica no desenvolvimento material fruto do desenvolvimento das ciências Houve uma inflexão pragmática na compreensão do trabalho intelectual Nesse texto recuperase a vocação primeira do ser humano para a verdade em toda a sua amplitude Certa vez um pai americano ajudava o filho num exercício de astronomia e lhe explicava o nome e as formas das constelações Em vez de a criança deixarse encantar pela beleza vigorosa dos astros como ele o sentira em sua infância ela lhe pergunta com toda a ingenuidade Quais são as estrelas satélites artificiais que nós americanos pusemos lá em cima Esse mundo dominado pela técnica pela eficiência pelas ciências empíricas vem produzindo um tipo de intelectual competente eficiente ligado à produção Há porém uma vocação intelectual que se engasta na tradição humanista que gira em torno do sentido da gratuidade e da imponência da verdade O desejo nasce de dentro e não de imposições externas Cultivar tal vocação requer compreender o estudo fora do critério único da funcionalidade do rendimento imediato Implica descobrir nele uma gratuidade que permite uma abertura para horizontes sempre amplos Unemse na vida intelectual tanto um sentido de responsabilidade pelo dom da inteligência e das possibilidades concretas como uma percepção realizante da própria caminhada Uma vida intelectual bem regrada amadurece a personalidade A psicologia tem chamado a atenção para o fato de que as novas gerações vivem um dilaceramento entre uma maturidade biológica acelerada em virtude da melhoria da alimentação dos recursos médicos da prática de exercícios físicos e um retardar do amadurecimento psíquico Esse desequilíbrio provoca dificuldades de integração pessoal Uma vida intelectual disciplinada se de um lado se torna bem mais difícil para essas gerações contudo quando conseguida contribui para amadurecêlas ao ir oferecendolhes visões mais profundas da realidade de si dos outros de Deus A vida de estudos apresentase como um desafio com todos os riscos inerentes Por um lado permite aos jovens integrar em si experiências da contingência da ameaçabilidade da arbitrariedade humana da injustiça da insegurança do fracasso da frustração Por outro a cons ciência dos próprios talentos os sucessos as vitórias as alegrias possibilitamlhes pôrse a serviço dos mais necessitados Enfim é teste de realismo que amadurece Inserção em tradição longeva Uma vida intelectual seria pobre se se restringisse unicamente a um saber preocupado com a utilidade imediata com a análise dos objetos Ela pergunta pelo significado da realidade As duas atividades que mais enriquecem a vida do espírito são a filosofia e a teologia porque manifestam uma tendência sempre aberta ao futuro revelam uma estrutura de esperança1 A vocação intelectual pretende superar o mundo do dia de trabalho marcado por utilidade oportunismo produtividade exercício de uma função Este confinase ao campo das necessidades do produto da fome do modo de saciála É dominado pelo objeto comida vestuário habitação estudos trabalho e finalmente gira em torno da atividade útil utilidade comum Tudo isso é parte essencial do bem common A atividade intelectual sem negar nada disso aponta para um bem comum mais amplo que a utilidade antes ligado à inútil vida da contemplação da arte gratuita Uma pequena história de Platão revela a dimensão inútil do homem intelectual Tales de Mileto observador do céu cai no poço Então a criada trácia ri Símbolo da razão prática do ser humano mundano diante da filosofia Platão comenta Sempre de novo o filósofo é ocasião de riso não só para as criadas trácias mas sobretudo para a maioria porque ele estranho ao mundo cai no poço e está sujeito a muitos embaraços2 A mola da vida intelectual é a sedução da verdade é o maravilharse diante do significado da realidade É verdade pelos deuses oh Sócrates meu não cesso de admirarme sobre a significação dessas coisas e algumas vezes até fico tonto ao olhar para elas exclama o jovem matemático Teeteto depois que o esperto benévolo e entonte pericorese de modo que toda verdade está no bem todo bem está na verdade O mesmo se diz do amor e da beleza Todo amor está na verdade toda verdade está no amor Toda beleza está na verdade no amor no bem Enfim essa interpenetração entre esses transcendentais está a indicar uma regra áurea para quem quiser dedicarse à vida intelectual Amar a verdade e a beleza A verdade vem ao encontro dos que a amam E o amor só existe onde reinam a virtude a beleza Visão cristã São Paulo considera o carisma da profecia um dos mais importantes logo depois do dos apóstolos 1Cor 12 28 E o trabalho intelectual aproximase desse dom já que prepara o pregador da Palavra de Deus São Jerônimo recorda que da semente amarga do estudo feito com suor e trabalho se colhem frutos doces7 Nenhum alimento é mais doce do que a ciência e a doutrina8 é grande e útil se unida à caridade9 Elaborouse uma teologia do trabalho que permite ser muito bem aplicada ao trabalho intelectual Seu valor vem de ser orientado a criar a vida Em termos psicopedagógicos víamos que o estudo tem uma dimensão de disciplina de renúncia Em termos teológicos isto significa considerálo na perspectiva da participação na obra redentora de Cristo já que é cruz em vista da vida O trabalho tem duas dimensões assim como a vida de estudo Pelo trabalho transformamos objetivamente a realidade assim como pelo estudo nos apropriamos realmente dela Pelo trabalho o ser humano se realiza subjetivamente assim como pelo estudo encontra o gozo da verdade A vida intelectual levanos a fazer uma experiência dos conselhos evangélicos a seu modo Experimentamos freqüentemente nossa pobreza renunciamos a devaneios da afetividade submetemonos a vontades e planos alheios em vista de uma formação mais completa Praticamos também a fé na Verdade Primeira presente em toda migalha de verdade a esperança da construção de nós e de uma sociedade fraterna e o serviço de nossa inteligência 6 Um dos bestsellers recentes é o livro de A ComteSponville Pequeno tratado das grandes virtudes São Paulo Martins Fontes 1995 que mostra duas coisas a relevância do pensamento estoico e a da virtude em plena atualidade 7 PL 22 1079 23 411685 8 Ambros PL 14 649 9 PL 17 225 O Concílio Vaticano II na constituição Gaudium et spes abrenos perspectivas maravilhosas para nossa vida intelectual ao tratar do fomento sadio do progresso cultural10 Enfim a dedicação à vida intelectual levanos a realizar uma tarefa humana e cristã que merece nosso empenho Conclusão A vocação pertence ao mundo da experiência profunda da realização humana da inspiração maior que bate em nosso coração Situase do lado do carisma Uma vocação intelectual é verdadeiro carisma E este existe fundamentalmente para o bem da comunidade passando pela realização de seu portador Na gratidão e na responsabilidade quem sente essa vocação como diz o próprio termo vocare chamar é chamado por essa voz interior eco da voz divina para empenharse nas lides da inteligência O que segue são subsídios para a realização de tal vocação Bibliografia BOFF L O destino do homem e do mundo ensaio sobre a vocação humana Petrópolis Vozes 2 1973 LIBANIO J B HENGEMÜLE E Mística e missão do professor Petrópolis Vozes 1997 Dinâmica Recordação de experiências 1º momento Introspecção pessoal 1 Cada um repasse a própria vida de estudos e tente recordar uma ou mais experiências humanas realizantes nesse campo Anote alguma palavra que as evoque 2 Num segundo momento releia a vida de estudo sob a perspectiva dos desafios das experiências mais duras e dos próprios limites Anote alguma palavra que as evoque 2º momento Partilha 1 Os que quiserem partilhem no grupo experiências tanto realizantes como frustrantes 2 Abrase espaço para eventuais outros comentários 10 Concílio Vaticano II Constituição pastoral Gaudium et spes Parte II c 2 n 5362 Capítulo 2 APRENDER A PENSAR Não há outro método de pensar a não ser ler os pensadores Alain Nascimento do pensar As plantas sentem Mas como estão atadas ao solo seu sentir nos passa quase totalmente despercebido Se elas pudessem demonstrar seus sentimentos arrancando suas raízes e saindo a dançar de alegria ou de dor de calor ou de frio todos os dias estaríamos vendo maravilhoso balé das árvores No silêncio do inverno elas choram de frio soltando suas folhas secas pelo ar No calor do verão explodem em verde No cair triste do outono enrubescem nas folhas No vigor da primavera rompem a austeridade seca dos galhos em brotos verdes Em momento de festa vestemse de flores Enfim os sentimentos são infinitos mas calados pedindo olhos atentos Porque não se agitam na dor sofrem muito mais agressão dos seres humanos com suas frias e devastadoras serras elétricas Os animais reagem mais fortemente Emitem ruídos diversos Uns bem próximos dos nossos a ponto de confundirmos sua dor com a nossa Agridem em momentos mais intensos Cresce uma sensibilidade humana diante dos sofrimentos dos animais No entanto sofrem mas não sabem que sofrem Certa vez Teilhard de Chardin nas estepes da Ásia não tendo nem pão nem vinho nem altar elevouse por cima dos símbolos até a pura majestade do Real e ofereceu como sacerdote sobre o altar da Terra inteira o trabalho e as dores do Mundo Colocou sobre a patena a messe esperada de todo novo esforço e derramou no cálice a seiva de todos os frutos que serão durante o dia triturados O cálice e a patena são as profundezas de uma alma largamente aberta a todas as forças que num instante vão levantarse de todos os pontos do globo e convergir para o Espírito E assim continuou ele a sua Missa sobre o mundo1 Este mesmo Teilhard em outro momento de sublimidade científica e espiritual vê brotar o espírito das trevas de bilhões de anos de evolução da matéria até o primata Nascimento do pensamento Numa região bem determinada no centro dos mamíferos precisamente onde se formam os mais poderosos cérebros jamais construídos pela natureza elas as linhas filéticas activas chegam ao rubro E já se acende no âmago desta zona um ponto de incandescência Não percamos de vista esta linha que se empurpura de aurora Depois de ter subido por trás do horizonte durante milhares de anos vai agora romper uma chama Ai está o pensamento2 Surge o pensar É uma realidade absolutamente nova em relação a tudo o que existia no mundo Nos inícios o ser humano tinha a rudeza que apenas o separava do animal bruto Trilhará uma longa caminhada Hoje estamos na modernidade tardia segundo uns avançada segundo outros pósmodema segundo outros pensadores ainda É nela que vamos pensar o pensar Do pensar espontâneo ao pensar reflexo Todo ser humano pensa Mas nem sempre o faz de maneira reflexa O pensar espontâneo fixase no objeto pensado Termina praticamente aí seu processo de conhecimento Aprende coisas conhecimentos saberes mecanismos comportamentos Estamos aprendendo a cada momento Invadidos por uma cultura da informação sempre mais rápida abundante de fácil acesso a sensação de estar aprendendo aumenta O pensamento está sempre agitado aguçado por infinitos estímulos informativos Interessanos aqui aprender a pensar Isso significa passar de um nível espontâneo primeiro e imediato a um nível reflexo segundo mediado O termo reflexo tirado da ótica explicita bem o processo A luz na sua espontaneidadevem batese contra o espelho e volta sobre si mesma Assim o nosso pensamento Emerge provocado pelo golpe de um outro Não contente com esse movimento voltase sobre si mesmo O pensamento pensa o próprio pensamento para melhor captálo para distinguir a verdade do erro para julgálo para criticálo Entramos no campo da reflexão Provocador do processo Como aprender a entrar nesse processo e não permanecer unicamente no simples pensamento direto imediato espontâneo O segredo está em saber levantar perguntas aprender a aprender Na sua raiz estão os problemas as dificuldades as suspeitas que provocam essa volta do pensamento sobre ele mesmo O segredo do pensar alguém aprenderá a pensar à medida que souber fazerse perguntas sobre seu pensamento J L Segundo ao tratar do método da libertação da teologia chamado por ele de círculo hermenêutico insiste na importância de uma primeira condição necessária a saber da pergunta O que ele diz ali sobre esse método vale como condição também de saber pensar Devemos saber levantar perguntas ricas gerais básicas novas decisivas suspeitosas que nos obriguem a repensar nosso pensamento3 A capacidade de avançar na reflexão depende de ir se fazendo perguntas respondendoas e em seguida levantando novas perguntas a estas respostas até esgotar toda a facúndia interrogativa Quanto mais longe se consegue ir tanto mais se avança no pensamento refletido e se deixam de lado as aparências os lugarescomuns os slogans o óbvio4 a preguiça intelectual 3 J L Segundo Libertação da teologia São Paulo Loyola 1978 p 11 4 D Ribeiro desmascara uma série de obviedades mostrandolhes o pressuposto ideológico Sobre o óbvio in Encontros com a Civilização Brasileira n 1 1978 pp 922 A interrogação parece ser no início até mesmo um pouco artificial diria retórica Mas à medida que se aprofundam e se atingem questões básicas desenvolvese melhor a arte de pensar Mas será que a pergunta por sua vez não tem um princípio provocador Experiências na base da pergunta Há perguntas superficiais Vêm de simples curiosidade Não carregam nenhuma força existencial própria Há perguntas retóricas Servem para conduzir discursos que visam mais a impressionar os ouvintes A retórica barroca e gongórica conheceuas em abundância Momentos de deleite intelectual sem consequências vitais Há porém perguntas fundamentais A elas nos referimos Estão em jogo a vida o ser os valores transcendes As respostas desgastadas dos lugarescomuns não dão conta delas Esfacelamse diante da simplicidade mas também da radicalidade dessas perguntas básicas O solo das evidências fáceis não resiste ao impacto da gravidade da carga de aparente absurdo das contrações dolorosas que elas provocam Tratase da experiência do diferente da alteridade da ruptura da mesmidade Percebemos como é importante não viver totalmente envolvidos num círculo fechado de afins culturais religiosos humanos que nos trancam na identidade repetitiva de nós mesmos e não permitem que venham a emergir perguntas fundamentais Acontece freqüentemente com os grupos fechados com as tribos juvenis com os movimentos fanáticos com as ideologias totalitárias com as ortodoxias rançosas Ai dentro não há novidade não há diferente não há alteridade Por isso não surgem perguntas fundamentais Girase em torno da mesmidade da identidade da repetição teórica e prática Mundo de esterilidade A dor e o sofrimento do outro a violência que ameaça a carência radical o absurdo de tantos acontecimentos a face esfíngica da morte o paraalém da vida o mistério das origens a grandiosidade do macrocosmo a maravilha da pequez milesimal do mundo quântico o duelo interior de cada um o dilaceramento dos desejos a sede insaciável da felicidade a dor devoradora da falta a busca inconfessada de carinho e ternura o encontro com outra cultura ou religião o choque com um universo diferente de valores enfim infinitas outras experiências estão aí a bater à porta da inteligência humana Levamna a pensar Os nossos hábitos evidências tradições visões se vêem questionados Emergem dúvidas suspeitas Benditas incertezas Assim algumas seguranças afundamse no abismo aberto pelas novas experiências Tempo e espaço para pensar sua motivação De nada adiantariam as experiências as perguntas sempre a brotar se a pessoa não para no tempo e no espaço para pensar A fuga mais freqüente do acicate do pensar é o ativismo o barulho o pleno emprego Non in commotione Dominus 1Rs 1911 O Senhor não está no terremoto assim experimentou Elias A tradição espiritual aplicou essa passagem à vida de contemplação de reflexão Vale também da experiência de pensar No barulho na agitação não se encontra a paz para perceber a presença do Senhor e no nosso caso para captar o emergir das perguntas de dentro de experiências profundas A evasão a fuga a acomodação no fundo comportarse como um animal carinhoso afastamnos da experiência do pensar É possível viver quase sem pensar Ao menos sem ter o hábito do pensamento reflexivo Habitase a superfície da realidade sem nunca mergulhar mais fundo A psicanálise dedicase ardorosamente a investigar os refolhos de nosso inconsciente para descobrir os freios interiores que nos impedem de trafegar pelas vias da reflexão do pensamento Em termos gerais temse medo de perder as seguranças A reflexão abala as evidências fáceis e não discutidas É necessário tomar a decisão de querer pensar E conseqüentemente de dedicar tempo ao silêncio à tranqüilidade para tal E a decisão nasce da motivação A motivação brota da percepção do valor da importância dos benefícios de tal decisão Nada se faz por pura espontaneidade nem improvisadamente seguindo repent es emocionais A arte de pensar faz parte de um conjunto de atitudes a ser pedagogicamente cultivadas A questão da motivação merece atenção O seu oposto é apatia aborrecimento incapacidade de concentração falta de iniciativa própria adiamento indefinido do início da atividade intelectual A motivação é a alavanca que levanta o peso da inércia intelectual Ora é provocada pela própria pessoa a automotivação Ela conversa por assim dizer consigo mesma convencendose da importância de encontrar tempo para pensar ler estudar Ora outro a suscita Esta é uma das funções mais importantes dos professores educadores e mestres Motivar os discípulos abrirlhes a beleza dos horizontes do mundo do saber A motivação alimentase de duas fontes a da utilidade e a da gratuidade Numa sociedade extremamente utilitarista muitos educadores preferem apelar para a necessidade de pensar saber ler a fim de ocupar um lugar de importância na sociedade do saber É o discurso mais comum Hoje perdeu muito de sua convicção Os alunos percebem que muitas coisas que têm de estudar são realmente inúteis no sentido pragmático e duvidosas no sentido realmente formativo A motivação mais digna é a gratuidade o gosto o prazer do estudo da leitura do pensar Atos humanos por excelência Realizamnos numa dimensão de profundidade É um interesse que brota do objeto mesmo do pensar e não tanto da utilidade que tal trará mais tarde A vantagem dessa motivação é que atua no presente A outra deixa o aluno suspenso na esperança de que sua atividade intelectual lhe será útil amanhã No fundo de todo trabalho de motivação está uma convicção de que o ser humano é aberto à verdade de que tem uma natureza capaz de morder a isca do pensar Acontece porém ser esse impulso interior de tal modo sufocado ou terse até mesmo atrofiado por muitas razões que já apenas se consegue algo Os latinos diziam quod natura non dedit Salamanca non praestat O que falta na natureza nem a famosa Universidade de Salamanca conseguiria Falta de motivação crônica revela já uma incapacidade real ou uma estruturação da vontade e da liberdade noutra direção Ai não há muito que fazer A educação para o pensar é questão de dedicar tempo Como veremos em outro momento o tempo se estrutura segundo prioridades pensadas refletidas impostas or sorrateiramente insinuadas Tomálas na mão e decidilas faz parte de uma vida mais humana e consciente A leitura dos clássicos A cultura considera clássicos alguns autores A palavra clássico quer dizer que esses autores merecem ser estudados nas salas de aula Os clássicos abordam problemas humanos em tal nível de profundidade que ultrapassam o tempo e a geografia de suas obras Alcançamnos hoje Trazemnos à tona questões fundamentais da vida A cultura da pósmodernidade tem valorizado demaisadamente o presente a ponto de descuidar o encontro com os clássicos Eles recolocam a permanente tensão de uma cultura a tradição e a atualidade A tentação dos pedagogos dos estudantes e de certos intelectuais é ateremse tãosomente ao último grito ao último livro vendido e comentado às chamadas atualidades Elas põem o presente e a novidade como critério do válido da verdade Esquecemse as propriedades da universalidade e da intemporalidade da verdade Cultivamse assim muito mais a emoção o sensacionalismo a temporalidade breve do presente As atualidades descuram da lição dos clássicos Eles nos ensinam a pensar pela grandiosidade dos problemas que abordam Arrancamnos da pura temporalidade e nos projetam para um arco mais amplo de história Cultura clássica Formase a inteligência com os valores seguros os autores que saíram da moda da avaliação superficial Na cultura o espírito se apropria das obras que são subtraídas à moda ao império do efêmero A cultura constitui também uma atualidade a atualidade do espírito do espírito presente a si mesmo em suas obras Isso não significa que a cultura abstraia da história Pelo contrário ela remonta da temporalidade de evento rápida e factícia a uma medida fundamental do que é e do que se torna Para pensar que tudo passa inclusive as idéias é necessário supor que algo não passa No pensamento fazemos a experiência de que algo é intemporal Diferentemente do jornalista o professor relaciona o indivíduo com os problemas e com as obras Para julgar que algo está superado é necessário uma memória que integre a diferença dos tempos É necessário remontar a durabilidade das obras e à verdade dos problemas e certos problemas são eternos Só uma sólida cultura clássica permite exercer na atualidade um julgamento esclarecido5 Não há melhor escola na arte de pensar que freqüentar quem pensou seriamente I Kant em outro contexto disse algo que vale do pensar Não se aprende nenhuma filosofia Podese aprender a filosofar6 5 JF Robinet Le temps de Ia pensée Paris PUF 1998 p 225 6 I Kant Critique de la raison pure Architectonique Oev Phil Paris Gallimard La Pléiade 1980 l 1389 cit por J F Robinet Le temps p 3 44 INTRODUÇÃO À VIDA INTELECTUAL Aprender a pensar 45 Diria então não se aprendem pensamentos mas a pensar A freqüência à escola do pensar se faz pela leitura ou por cursos7 Três atitudes para saber pensar As caricaturas ridicularizam O intelectual aquele que sabe pensar e desenvolve tal capacidade é freqüentemente apresentado com cara distraída fora da realidade Imerso em seus pensamentos ou de tal modo identificado com a objetividade deles que deixa de ser ele mesmo ou se perde em sua idiossincrasia pensante subjetivista isolada Nada mais equivocado que identificar a arte de pensar seja com a pura objetividade da realidade seja com o ensimesmamento subjetivo do pensador Ela supõe um tríplice movimento a que correspondem três perguntas O que diz a realidade Distância momento objetivo A arte de pensar começa com uma pergunta sobre a realidade É um momento de humildade de escuta de honestidade objetiva Evidentemente sempre está o sujeito primeiro com a pergunta Mas seu interesse se dirige no entanto para captar a objetividade da realidade Toma distância de si para deixar a realidade falar Se se trata de uma leitura a pergunta é saber o que o texto diz por si mesmo Este momento objetivo é altamente educativo Quer evitar o espírito apressado de ir falando sem pôrse antes à escuta Aprendese do texto da realidade A arte de pensar começa com a educação da leitura despojandose enquanto possível dos preconceitos ideológicos religiosos dogmáticos Deixamse de lado os juízos precipitados préfabricados não testados pela objetividade da realidade Obstaculiza a capacidade de pensar iniciar fazendo a realidade e os textos falarem o que queremos e não o que eles falam Voluntarismo fácil Moralismo tradicional É tão comum que às vezes nos surpreendemos trocando os verbos Em vez de usar o verbo ser que é por excelência o respeito pela realidade em questão escorregamnos dos lábios ou da pena o verbo dever ou ex 7 Em outros capítulos trataremos tanto da leitura como dos cursos pressões como é preciso é necessário tem de que revelam muito mais nossos desejos que a objetividade da realidade O que me diz a realidade Proximidade momento subjetivo É o momento da abelha Retiramos o néctar da realidade para fazer o mel de nosso alimento Será o saber que carregaremos conosco que será nosso Quando perguntamos a nós mesmos pela realidade pelo texto lido a resposta será o que assimilamos aprendemos No fundo sabemos o que a realidade ou o texto nos falaram Aqui mora um pouco nossa originalidade Quanto mais pessoal for nosso modo e nossa arte de pensar quanto mais liberdade tivermos depois daquele momento de escuta humilde e objetiva tanto mais construiremos nosso mundo de pensar Agora o texto já faz parte de nosso universo cultural Tem a tintura de nossa inteligência o toque de nosso pensar O ideal é ter tal clareza na maneira de pensar que consigamos ir distinguindo a trajetória do alimento pelos meandros de nosso pensar Fechando os olhos somos capazes de perceber o que o real disse e como nós já nos apropriamos dele de maneira nova original Há uma erudição repetitiva que é mais vaidosa que frutífera Consiste em ir enfileirando citações de leituras feitas num exibicionismo de enciclopedismo sem construir um pensamento pessoal e sem que a realidade se ilumine com ele Importante não é citar os outros As autoridades textuais não fazem a realidade Mas com elas construir pontes teóricas que nos possibilitem o acesso lúcido e crítico ao real Esse momento de proximidade entre nós e o real mediatizado pelo momento do aprendizado anterior consiste no ponto alto do pensar O que a realidade me faz dizer Comunicação momento intersubjetivo No momento anterior dissemos a nós mesmos a realidade o texto A linguagem tem aí a brevidade sucinta suficiente para nossa intelecção No entanto não aprendemos só para nós São Paulo ao falar dos dons ou carismas insiste em sua função social Existem para fazer a comuni Carismas em vista do bem comum Há diversidade de dons mas um mesmo é o Espírito Há diversidade de ministérios mas um mesmo é o Senhor Há diferentes atividades mas um mesmo é Deus que realiza todas as coisas em todos A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum 1Cor 1247 Compararia a leitura em benefício próprio com o dom das línguas Quem fala em línguas edifica a si mesmo 1Cor 144 A leitura pensada em vista do que se vai transmitir equivale ao dom da profecia Quem profetiza fala aos homens ele edifica exorta encoraja edifica a assembléia 1Cor 1434 Por isso conclui Paulo Desejo que todos vós faleis em línguas mas prefiro que profetizeis 1Cor 145 Este é o momento da intersubjetividade A realidade o texto me fazem falar para os outros A arte de pensar termina num serviço qualificado à comunidade Teria coragem de dizer que quanto mais crescer a sociedade da informática da abundância enlouquecida de informação tanto mais importante será a função de quem sabe pensar Este traduzirá para as pessoas os verdadeiros sentidos dessa farândola absurda de dados de notícias de conhecimentos veiculados É o momento pedagógico Não se diz a mesma verdade da mesma maneira a qualquer pessoa a qualquer auditório em qualquer momento Nem se diz qualquer verdade a qualquer pessoa Este momento em que o texto me faz falar vem acompanhado do senso de responsabilidade8 Implica uma capacidade de criticidade diante do texto de mim e de quem me ouve Unindo esses três referentes encontrarei a palavra exata Lucidez da piedade popular palavra certa Dáme a palavra certa Na hora certa E do jeito certo E pra pessoa certa 8 Tema que merecerá abordagem à parte e mais desenvolvida no capítulo 7 te articulálos e assim equacionar criticamente os problemas contemporâneos que afetam nossa cultura e nossa civilização Criar tal pensar implica um duplo movimento De um lado abrirse o máximo possível à interdisciplinaridade Mas aqui nos interessa outra perspectiva Tratase de criar um habitus mentis de nunca abordar uma questão fora do conjunto em que se situa Numa imagem simples nunca se dependura um cabide sem antes estender o varal E cada cabide encontra sua posição correta porque o varal já foi antes armado e porque ele se encontra numa relação de posição no conjunto dos cabides Saber pensar é estender varais e neles estender os problemas individuais numa ordem e numa disposição que os tornem inteligíveis em si e em suas consequências É buscar um saber plural organizado estruturado mas sempre aberto às novidades Capaz de refazer seu sistema a cada momento que novos elementos o exijam Opõese à pura armazenagem de conhecimentos a uma erudição hoje sem sentido já que um clique do computador enchenos a tela de informações Mas nunca nos fará pensar Saber pensar é um ir e vir do todo para as partes das partes para o todo Do todo para as partes localizandoas fazendoas inteligíveis analisandoas Das partes para o todo integrandoas organizandoas sistematizandoas Não se para em nenhum dos dois momentos Nem se privilegia nenhum deles Nem sínteses brilhantes e superficiais Nem análises profundas e desintegradas O pensamento se torna cada vez mais complexo no sentido mais lídimo da etimologia Complexo opõese ao único ao singular É plural Mas complexo opõese também ao desintegrado porque é teia é rede é tecido plexo com outras coisas com numa trama articulada As ciências que ensinam por excelência a pensar são a filosofia a literatura as humanidades A filosofia ensina distinguir e unir colocar tese opor antítese e reconciliar síntese contextualizar conectar articular globalizar sem perder a percepção das singularidades das originalidades O pensamento holístico propiciado atualmente pela ecologia pela nova cosmologia pelas ciências da Terra pela nova antropologia permite superar a crescente fragmentação das ciências9 9 Ver E Morin A cabeça bemfeita Repensar a reforma reformar o pensamento Rio Bertrand Brasil 22000 A filosofia educanos para a distinção Os antigos diziam in distinctione salus na distinção está a solução salvação Dificilmente uma afirmação não suporta um contrário sem contradizêla O exercício de contrários verdadeiro sic et non de Abelardo adestra a inteligência10 O Ocidente pensa freqüentemente em termos de dualidade corpo e alma matéria e espírito sujeito e objeto este mundo e outro mundo anjo e demônio santo e pecador etc A maior parte das vezes a verdade se encontra na unidade sem reduzila à identidade e na dualidade sem cair no dualismo Não há sujeito que não se refira a um objeto mas não se identifica com o objeto Por sua vez o objeto não existe senão em relação com o sujeito sem o dualismo do objetivismo nem subjetivismo À medida que nos habituarmos às distinções mais equilibrado e correto será nosso hábito de pensar Evitamse dogmatismos fundamentalismos ortodoxias rígidas fanatismos Todos inimigos do pensamento Eles já queimaram muitos na fogueira da intransigência A cultura do estudo e da leitura Há uma diferença enorme entre quem freqüenta aulas e se prepara para os exames mesmo com bons resultados e quem adquire a cultura do estudo e da leitura Ao dizerse cultura do estudo querse dizer hábitos comuns comportamentos normais referências consensuais de que estudar ler passar horas em casa às voltas com livros não é loucura raridade ou estranheza de algum caxias exótico mas deveria ser o normal de alguém que vive no mundo de hoje Nunca é demais insistir junto à nova geração na importância da leitura do estudo para além da simples frequência às aulas e da preparação para exames O gosto pelo estudo e pela leitura desenvolvese nos primeiros anos de vida escolar É triste perder o frescor da inteligência a disposição física sadia a limpidez da memória a virgindade da inteligência da idade jovem com uma vida fútil superficial no máximo freqüentando o mundo da TV ou da Internet Ler e estudar fora das horas de aula e por gosto deveria ser um hábito cultivado desde os jovens anos da vida Fabricando fii faber o trabalhador se adestra no trabalho O intelectual o faz lendo e estudando durante toda a vida por hábito e por gosto Quando se pensa no hábito de estudar e de ler entendese uma qualidade uma disposição que a pessoa possui e que a move ao estudo e à leitura Essa qualidade adquirese por educação por esforço por ajuda de outras pessoas por estímulos culturais por motivação da importância e do gosto do estudo O estudo e a leitura inseremnos cada vez mais no mundo humano Faz de nós mais que animaizinhos carinhosos às vezes nem carinhosos mas muito animais Transportanos para horizontes novos diferentes daqueles em que nossos sentidos nos retêm Hábito é um relógio interior que depois de adquirido soa como que espontaneamente Ao entrarmos no próprio quarto ou lugar de estudo imediatamente desperta em nós o apetite de ler e estudar Algo tão natural e normal que o contrário nos parece estranho Implantouse então o hábito do estudo e da leitura O contrário seria se cada hora de estudo ou leitura parecesse uma violência enquanto outras atividades sim gozariam de conaturalidade Conclusão O início da vida intelectual é aprender a pensar Crescer na vida intelectual é continuar aprendendo a pensar O ocaso sábio da vida intelectual é morrer aprendendo a pensar Tarefa de sempre Tem dois olhares Um se volta para os mestres do passado os clássicos de sempre Olhar de leitura e de estudo O outro dobrase sobre si Persegue até o fim o trajeto do próprio pensamento libertandoo das amarras ideológicas fundamentalistas dogmáticas Aprender a pensar é pensar livre com o único compromisso com a verdade Este caminho não existe feito Valem aqui os versos do poeta espanhol Construção do caminho Caminante son tus huellas el camino y nada más caminante no hay camino se hace caminho al andar Al andar se hace camino y al volver la vista atrás se ve la senda que nunca se ha de volver a pisar Caminante no hay camino sino estelas en la mar11 Bibliografia LIBANIO J B A arte de formarse São Paulo Loyola 2001 MORIN E A cabeça bemfeita Repensar a reforma reformar o pensamento Rio de Janeiro Bertrand Brasil 22000 Introdução ao pensamento complexo Lisboa Instituto Piaget 21995 ROBINET JF Le temps de la pensée Paris PUF 1998 pp 19 11 Antonio Machado Proverbios y cantares XXIX Dinâmica Exercícios de distinção 1 O ser humano é racional e irracional Distingo é racional por natureza e é irracional por comportamento 2 O ser humano é bom e é mau Distingo é bom enquanto é um ser criado por Deus é mau enquanto é limitado mal metafísico enquanto age mal mal moral etc 3 Lutero diz que somos ao mesmo tempo justos e pecadores Distingo justos enquanto Deus nos atribui sua graça pecadores enquanto continuamos na situação fundamental de pecadores 4 O Brasil é um país rico e pobre Distingo é rico em potencialidades econômicas e na minoria de privilegiados e é pobre na exploração social de suas riquezas e em suas imensas massas Assim se multiplicam ao infinito as afirmações antitéticas e se vê como as afirmações absolutas em geral claudicam e que é muito mais lógico saber distinguir aspectos afirmativos e negativos de uma mesma afirmação Capítulo 3 ATITUDE REALISTA E CRIATIVA O que não está no horário não existe J B Libanio Todo esforço é produtivo quando metódico e continuado Disciplina e liberdade Renato Russo A utopia não consiste em querer mudar de mundo mas em mudar o mundo G Vahanian Desenvolver uma atividade intelectual sobretudo no sentido de estudar uma disciplina acadêmica é um empreendimento humano que necessita de um mínimo de qualidade A pessoa deve ser capaz de seguir um argumento recordar uma série de fatos e ter uma percepção mais intuitiva do problema a ponto de criar hipóteses novas1 De modo prático a pessoa precisa saber conjugar realisticamente objetivos e meios Tanto mais difícil é este jogo quanto menos palpáveis e verificáveis são as metas intelectuais Por isso o processo de verificação da adequação entre fins e meios é menos evidente e imediato A condição da vida intelectual exige que se cultive uma atitude fundamental de realismo Normalmente a vida intelectual se desenvolve no interior de instituições e cursos que dependem somente em parte 1 A Nichols The shape of Catholic Theology Collegeville The Liturgical Press 1991 p 14 da iniciativa e do manejo do aluno Eles têm exigências anteriores e previamente estabelecidas com as quais se confronta o estudante encontrando seu espaço de liberdade e criatividade Clareza de objetivos Objetivos de uma instituição Antes de qualquer empreendimento intelectual numa instituição de ensino cabe ter diante de si bem claros os princípios fundamentais que a regem Tais princípios decorrem de sua natureza finalidade e razão de ser Nesse texto vamos considerar os estudos numa faculdade de filosofia A natureza de faculdade define já certos objetivos O aspecto acadêmico e estrutural sistemático se impõe Deixase reger pelos cânones da vida acadêmica comumente aceita no Ocidente A longa tradição das faculdades ou universidades cujo berço remonta à Alta Idade Média decide sobre o tipo de estudo a ser desenvolvido Buscase adquirir uma qualificação científica que seja reconhecida quer pela sociedade global quer de modo especial pelo universo acadêmico O diploma que se obtém depois de cumpridos todos os requisitos de cursos exames seminários sinaliza externamente essa qualificação As faculdades são de diversas naturezas Consideramos aqui a faculdade de filosofia A filosofia se propõe a pensar a realidade fazendo passar ao nível conceitual ao nível teórico ao nível da intelecção explícita ao nível do sentido mais profundo a realidade humana em sua complexidade A ingenuidade a imediatez o óbvio dão lugar à crítica às mediações ao reflexamente aceito e percebido Os estudos giram em torno dessa finalidade fundamental de ensinar os alunos a pensar a adquirir uma postura crítica a buscar o sentido humano e histórico do real Existem faculdades de filosofia nas universidades do Estado em instituições particulares ou sob a direção estrita da Igreja a faculdade eclesiástica A característica eclesiástica não define o aluno como tal Nem também seu destino vocacional Configura o espírito com que se estuda a filosofia Dentro do quadro de Igreja a filosofia é entendida não mais como simples ancilla da teologia mas como em sua autonomia de ciência horizonte de sentido aberto ao escatológicosupracriatural da teologia para além do criatural histórico Recentemente João Paulo II tocou em profundidade a relação entre fé e razão Descreveu o drama da separação da fé e da razão na modernidade com efeitos negativos para ambas2 Uma faculdade eclesiástica quer precisamente estabelecer um diálogo frutífero que supõe tanto a autonomia de ambas as ciências como também uma mútua relação Por isso elabora uma filosofia que não se torne incompatível com a fé antes aberta a um contínuo encontro teórico com ela O Papa aponta filosofias que não deixam espaço para a fé tais como o relativismo o fenomenismo radical o materialismo e o panteísmo Além disso mostra os riscos de algumas das tendências filosóficas atuais ecletismo historicismo cientismo pragmatismo e niilismo3 É sempre dentro de uma faculdade concreta que se organiza a vida de estudos Conhecer o lugar de estudo é conhecer ao mesmo tempo a dupla característica de um lugar de conhecimento Ele possibilita e interdita Assim uma faculdade possibilita uma gama enorme de iniciativas planejamentos projetos que cabem dentro de seu leque de abertura Mas ao mesmo tempo ela interdita impossibilita uma outra série de possibilidades que já não sintonizam com suas ondas acadêmicas Objetivos específicos do curso ou texto de introdução à vida intelectual Esse curso ou texto de introdução visa à formação intelectual Formação é ação de formar Formar é marcar alguém com uma forma ou fôrma A imagem é grotesca dura para nossa sensibilidade moderna Mas guarda um realismo insuperável Em toda formação introduzemse na personalidade do aluno modificações segundo algum paradigma ou modelo Os objetivos específicos referemse ao tipo de modificações desejadas Eles são critérios para a avaliação e o juízo sobre sua eficiência Antes de tudo buscase modificar a maneira de pensar de expressarse do formando ao oferecerlhe informações conhecimentos teóricos e técnicas correspondentes para ajudálo a organizar sua vida seus estudos sua pastoral As informações versam sobre dados fixos e constantes indiferentes a qualquer sistematização enquanto os conhecimentos teóricos são noções e princípios que se sistematizam dentro de uma lógica Por isso as informações estão a serviço da teoria e não do seu bloqueio por excesso O curso espera tornar o aluno mais apto para enfrentar os novos problemas que surgem Tal influência intelectual se prolonga para a maneira de agir do aluno Para isso organizamse exercícios em aula e eventualmente em casa a fim de criar nele técnicas hábitos e disciplina de estudo Não se deve temer dizer que se necessita de certos automatismos hábitos habilidades destrezas no campo intelectual tais como tomar nota com rapidez e clareza resumir com perfeição seja de maneira escrita seja oral esquematizar com facilidade consultar livros e revistas fazer sinopses captar o essencial de uma frase A diferença entre o ser racional e os instintos automáticos dos animais é que os automatismos são escolhidos planejados decididos e trabalhados na consciência e na liberdade Mais profundamente se intenta influenciar na maneira de valorar do aluno Provocamse situações fazemse exercícios oferecemse elementos de reflexão que visam a criar valores atitudes preferências ideais de vida intelectual disciplinada Estáse em pleno campo da ética Nada humano é aético Tipos e qualidades dos objetivos Ao se formularem objetivos importa distinguir seu nível de concretude Há os objetivos comuns ou genéricos de alcance universal ou de metas últimas O grau de universalidade depende muito da instituição ou do projeto em questão Há os objetivos intermédios de alcance menor ou de etapas Eles concretizam um pouco mais os objetivos universais Há os objetivos específicos de alcance bem definido e de finalidade imediata Esses tornam ainda mais concretos os anteriores Leis dos objetivos Os objetivos seguem leis Pela lei da concretização se passa de um objetivo genérico a objetivos cada vez mais concretos definidos Pela lei da ampliação acontece uma multiplicação de objetivos cada vez mais concretos e numerosos Pela lei da articulação se busca relacionar os diferentes objetivos entre si Os objetivos específicos devem responder a certos qualificativos Antes de tudo devem manter entre si coerência lógica articulação e pertinência Precisam ser de tal modo claros concretos que sejam avaliáveis verificáveis constatáveis quanto à sua realização Devem ser determinados de antemão de maneira clara precisa e com realismo Que sua formulação não levante dúvidas Só assim é possível depois avaliar a atividade Os termos usados para definir os objetivos precisam ser de tal natureza que excluam o mais possível as alternativas e delimitem o que é desejado Alguns verbos pouco adequados para objetivos conhecer compreender apreciar dominar eles deixam muitas dúvidas sobre o que significam concretamente Por sua vez verbos tais como escrever dizer identificar solucionar construir enumerar comparar permitem definir mais distintamente o objetivo Escolha e adequação dos meios Uma vez determinados os objetivos a tarefa é adequar a eles os meios para sua obtenção Entre objetivos e meios haja uma relação mútua Os objetivos determinam a escolha dos meios e a possibilidade dos meios disponíveis condiciona a determinação dos objetivos Num primeiro momento cabe fazer um levantamento dos meios disponíveis Estes são de natureza teórica ou prática Para os objetivos de um curso os meios disponíveis são pedagógicos tais como preleções exercícios didáticos dinâmicas discussões criação de hábitos e automatismos quadros existentes de valores Num segundo momento processamse a crítica e a escolha dos meios Se os meios são válidos sejam conservados e reforçados Se já não cumprem sua finalidade mesmo que venham sendo praticados rotineiramente sejam abolidos Se cumprem só em parte sejam modificados E finalmente se não estão ainda à disposição sejam criados inventados Programação O uso do tempo A programação implica uma tomada de decisão diante dos meios de sua ordenação entre si dentro de um tempo e de um espaço definidos Antes de mais nada colocase a questão do uso do tempo disponível Tempo não é uma mercadoria a ser usada e jogada fora quando já não se precisa dela Não se economiza o tempo Ele não se deixa guardar em nenhum banco Sempre flui A primeira regra para o uso do tempo é saber tomar o tempo necessário para as ações conforme sua natureza sem sacrificálo em nome de uma lógica da eficácia Não se pode ouvir a Nona Sinfonia de Beethoven em cinco minutos Aí está a figura do jardineiro que espera as flores crescerem o canteiro formarse O tempo não é uma quantidade indiferenciada Não perder tempo é consagrar a cada ação a cada coisa o tempo que lhe convém o tempo que ela reclama Regra de ouro do uso do tempo Saber esperar o ciclo das ações e das coisas e prestar atenção nelas para dedicarlhes o tempo conveniente Por exemplo um discurso longo demais ou uma visita curta demais podem contrariar tal regra pois não respeitam a natureza do ato nem prestam atenção à situação concreta Usar o tempo é saber que o passado já não me pertence mas que lhe posso dar um sentido novo Esse é o significado do arrependimento da conversão E então posso usar bem o tempo assumindo o passado com responsabilidade lucidez e tendo a audácia de criar o futuro Se o passado já não está sob meu domínio o futuro sim me pertence Daí o sentido de sonhar planejar programar4 4 F Laupies Lusage du temps in J Chanteur J Vernette et alii La vie intérieure Une nouvelle demande Annales 19961997 A E S Paris Fayard 1998 pp 101127 Pertence à experiência do óbvio que não se tem tempo no mundo moderno Há poucas expressões tão repetidas nessa cultura de tempo acelerado como a de que não se tem tempo Como já citei acima Darcy Ribeiro numa reflexão sobre o óbvio afirma que ele encerra com frequência um engano cujo desvendamento nos conduz a outra obviedade ainda mais óbvia e assim por diante O óbvio imediato e tradicional não desmascarado necessita ser criticado para que se chegue a núcleos de verdade cada vez mais claros5 A obviedade da expressão não tenho tempo mascara outra obviedade a saber tal coisa não é prioritária pra mim Princípio do tempo a questão do tempo é uma questão de prioridade Temse sempre tempo para o que é prioritário O dia tem horas igualmente para todas as pessoas Tocalhes dividilo em atividades Para as atividades escolhidas para caber dentro das 24 horas terseá sempre tempo Para as descartadas não se encontra tempo Logo o problema não é falta de tempo mas de localização das ações no interior do quadro temporal Lembrese de que o tempo é democrático Ninguém tem mais ou menos tempo do que você T Hindle Histórias do Pe Arrupe Determinado jesuíta não tinha tempo para rezar Então perguntoulhe inocentemente o Pe Arrupe Quando almoças Ao meiodia retrucou ele Então acrescentou o Pe Arrupe faze tua oração ao meiodia e encontrarás certamente mais tarde tempo para almoçar Não há falta de tempo A questão é escolher o que fazer com ele Outro exemplo com dois alunos de filosofia Luiz e Pedro são igualmente inteligentes estudiosos sérios em suas atividades acadêmicas 5 D Ribeiro Sobre o óbvio art cit Pedro não encontra tempo para leituras paralelas de revistas de cultura geral ou das grandes obras de literatura Luiz pelo contrário entra em contato com revistas lê obras literárias escreve ensaios literáriofilosóficos Perguntase por que um encontra tempo e outro não Descendo a uma análise mais detalhada da vida intelectual dos dois encontrase a razão na escolha da prioridade Pedro prioriza o estudo formal a matéria dada pelos professores os livros de texto as exigências estritamente acadêmicas escolares É caxias nos estudos Com isso seu tempo está todo tomado Não tem tempo para outras atividades intelectuais Luiz por sua vez fez a opção por uma formação filosóficohumanista em que os elementos de cultura geral e de literatura são importantes E por isso emprega menos tempo nas tarefas estritamente escolares e dispõe de tempo para outras atividades intelectuais culturais A questão não é de tempo mas de prioridade Qualidade do tempo As atividades não requerem o mesmo tipo de energia atenção qualidade de empenho Uma primeira triagem deve ser feita quanto à natureza de energia que cada atividade requer Os estudos teóricos e especulativos requerem muita energia e boa disposição psicossomática Quanto mais repousada e descansada alguém tiver a mente de quanto mais silêncio e tranqüilidade dispuser quanto mais agradável e recolhido for o ambiente tanto mais valioso será esse tempo para o estudo Sua rentabilidade costuma ser maior Portanto a qualidade do tempo se mede pelas circunstâncias favoráveis ou não à atividade intelectual Distingamos três qualidades de tempo quanto à rentabilidade intelectual de ótima rentabilidade de rentabilidade média e de pouca rentabilidade Pertence a um mínimo de planejamento intelectual dedicar o tempo de rentabilidade máxima às atividades intelectuais mais importantes que demandam mais energia intelectual Em geral são as leituras de textos difíceis que requerem mais esforço de intelecção e assimilação ou os trabalhos escritos quer na sua fase de concepção quer na de redação Além disso o aluno necessita estabelecer uma hierarquia entre as matérias que estuda a fim de dedicar mais tempo e melhor rentabilida de às principais Para essa distinção valem critérios objetivos e subjetivos Em geral nas instituições acadêmicas o número de créditos assinados às matérias revela sua importância segundo o juízo da instituição O aluno tem também seus critérios de escolher as matérias principais seja por pensar numa futura dedicação a alguma delas seja por interesse pessoal seja por perceber quais delas exigem dele mais energia Há outros trabalhos mais simples como leituras leves pequenos resumos reorganização das notas escrever cartas preparar exposições orais simples Tais atividades ocupem o tempo de rentabilidade média em que nossa capacidade intelectual está menos disposta Enfim há outras atividades que fazemos de natureza mais mecânica em que o empenho intelectual é mínimo Para isso existem os tempos mortos de menor rentabilidade como pôr ordem no quarto organizar os arquivos no computador etc A simples organização do tempo conforme sua rentabilidade faz aumentar muito nossa atividade intelectual Uma desordem nesse uso implica desgaste de energia e desperdício de tempo Desgaste inútil de energia Toda vez que observo um aluno ou estudante estudando fico chocado com a quantidade de tempo e energias que desperdiça por causa de um método ruim de trabalho e por desconhecimento das leis do espírito que ninguém pode contrariar impunemente6 Quando se fala do tempo sob o prisma da rentabilidade considerase implicitamente o espaço Pois se num tempo hipoteticamente de melhor rentabilidade se está dentro de um ônibus ele já não é de alta rentabilidade Essa análise não se faz de maneira abstrata mas levando em consideração a vida real e concreta do aluno com as exigências que ela impõe quer como estudante quer como religioso ou leigo quer morando perto ou longe do centro de estudos Todos esses fatores de lugar e de 6 Payot Le Travail intellectuel et la Volonté p 70 cit por F Charmot LArt de se former lesprit et de réussir au baccalauréat op cit p 9 Nos inícios da vida intelectual o ideal é fazer um planejamento mais detalhado com controle exato diário semanal mensal e semestral dos prazos de modo que se vai tendo consciência do realismo dos próprios projetos Quem sempre projeta muito mais do que consegue realizar necessita abaixar o facho da pretensão ou eliminar os fatores que o impedem de cumprir o projeto E viceversa quem facilmente dá conta do projeto e tem ainda tempo de sobra aumente então as próprias exigências Nada tão educativo quanto ir formando uma visão realista de si Além disso evitamse surpresas improvisações angústias de não dar conta Aprendese também o senso da hierarquia das atividades ordenandoas julgandoas segundo seu valor Regra de ouro para perfeccionistas e obsessivos Antes de entregarse a uma tarefa determine de antemão o tempo que lhe vai consagrar proporcionalmente à sua importância E seja fiel a isso Se no final o trabalho não saiu tão bom como esperava diga para si É isso quer posso realizar com tal tempo disponível E volte ao normal sem a sensação de frustração Dessa forma ter um programa prévio em que se determina o tempo a ser empregado para as diversas atividades evita prolongálas indefinidamente É importante aceitar os próprios limites sabendo que nem tudo se faz com o mesmo grau de perfeição O tempo disponível não é infinito Ajuda também conferir com um acompanhante de estudos o próprio horário para ouvir a opinião de quem tem mais experiência de vida intelectual Entretanto nada deve tirar a liberdade Parafraseando Jesus o planejamento é feito para o homem e não o homem para o planejamento Pitada de utopia e criatividade Faz parte do realismo humano uma pitada de utopia e criatividade Depois que pensamos os objetivos os meios e os organizamos em programas tudo pareceria estar pronto Não É o sábado Mas o homem é maior que o sábado disse o Senhor Este maior que nossos programas são a esperança a utopia nossos sonhos nossa capacidade criativa Eles não cabem em nenhum programa Todo programa deve permanecer aberto a possíveis superações por essa força espiritual que habita em nós Sem esse olhar maior ficaremos escravos pequenos presos à camisadeforça de nossos planos Perdemos a asa da águia ficando com o bico de galinha virado para o solo Esse ser inquieto que somos necessita de projetos programas horários do contrário vive na irrealidade vazia de vôos sem rumo No entanto não cabe na pequenez de nenhuma organização que pretenda esgotarlhe as possibilidades Somos morada da Transcendência Morada da Transcendência Creio que a transcendência é talvez o desafio mais secreto e escondido do ser humano Porque nós seres humanos homens e mulheres na verdade somos essencialmente seres de protestação de ação de protesto Protestamos continuamente Recusamonos a aceitar a realidade na qual estamos mergulhados porque somos mais e nos sentimos maiores do que tudo o que nos cerca Desbordamos todos os esquemas nada nos encaixa Nós seres humanos temos uma existência condenada condenada a abrir caminhos sempre novos e sempre surpreendentes8 Formarse consiste em conjugar em justo e real equilíbrio o existente e o possível de ser desejado A atitude realista comparase a uma pista de decolagem Não se levanta vôo em qualquer lugar As pistas limitam o espaço para o avião decolar No entanto elas não existem para segurálo mas para possibilitar vôos para além dela embora a partir dela A formação se faz a partir do existir realismo mas para além do que existe utopia e criatividade Vale recordar a bela definição de utopia do sociólogo português 8 L Boff Tempo de transcendência O ser humano como um projeto infinito Rio de Janeiro Sextante 2000 pp 22s cabenos buscar um equilíbrio entre o realismo organizador e a tendência às jogadas geniais e imprevistas do nosso Garrincha interior Bibliografia Hindle T Como administrar o tempo São Paulo PubliFolha 1999 Lefebvre G Saber organizar saber decidir A gestão nos dias de hoje São Paulo Loyola 1982 Tierno B Las mejores técnicas de estudio Saber leer tomar apuntes y preparar exámenes Madrid Temas de Hoy 51995 Dinâmica Exercícios Em grupo ou individualmente 1 Cada aluno anote numa folha que atividades intelectuais são prioritárias para si em ordem decrescente de importância Faça tal lista não a partir do desejo ou da intenção mas da real prioridade Esta aparece no tempo dedicado a atividades em questão Tudo a que se dedica tempo zero tem prioridade zero Aquilo a que se dedica o máximo de tempo tem a máxima prioridade Um exame um pouco detalhado da distribuição real do tempo oferece o quadro verdadeiro das prioridades 2 Como outro exercício anotar numa folha qual o tempo de máxima o de média e o de pouca rentabilidade que se tem num dia de aula e num dia sem aula Depois ver quais são as atividades que normalmente se fazem nesses horários e analisálas sob o prisma da prioridade e da importância NB Se algum aluno quiser o parecer do professor sobre seu próprio universo de prioridades e uso do tempo confira com ele suas respostas Teste pessoal I Elabore o plano de sua atividade extraacadêmica seguindo os passos do roteiro prático a Identifique claramente a natureza e o objetivo da atividade b Escolha as prioridades c Defina as metas d Defina as ações concretas e os meios adequados e Elabore o cronograma Teste pessoal II Responda para você essas perguntas 1 Qual é o objetivo principal de um curso de Introdução à vida intelectual 2 Que qualidades devem ter os objetivos de um programa ou tarefa 3 Como se escolhem os meios para realizar os objetivos de um programa ou tarefa Capítulo 4 HONESTIDADE INTELECTUAL Não construas um castelo de suspeitas sobre uma palavra Umberto Eco A honestidade é uma qualidade da totalidade da personalidade Afeta portanto todos os rincões do ser humano Honestidade nas relações pessoais honestidade no trabalho honestidade nos negócios Existe também uma honestidade na atividade intelectual Adquire uma conotação própria Entendese sob o aspecto estritamente ético ou epistemológico Sob o aspecto ético a desonestidade intelectual manifestase na apropriação indevida do produto intelectual alheio Tal acontece em grau escandaloso no caso do furto de trabalhos de outrem e publicados no próprio nome Há formas menores como inserir no próprio escrito resumos ou idéias tiradas de outros autores sem citálos Tal comportamento contradiz frontalmente a ética da atividade intelectual Não abordaremos a honestidade intelectual sob tal prisma Dedcaremos um capítulo à responsabilidade ética da vida intelectual Há também uma honestidade intelectual que diz respeito à maneira de trabalhar o pensamento e os escritos de outra pessoa Acontece de alguém falhar nesse campo sem maldade pessoal mas por descuido e falta de orientação metodológica É esse o aspecto que nos interessa Em relação ao pensamento alheio A honestidade em relação ao pensamento alheio manifestase de muitas formas assim como sua violação Distinguimos três níveis o da aproximação o da intelecção e o da reprodução do pensamento No nível da aproximação A honestidade manifestase numa atitude de abertura diante do outro com a disposição mais de salvar que de condenar mais de descobrir a verdade que o erro mais de entender que de rejeitar Exercício prévio Antes de ler esse autor ou texto que sentimentos tenho em relação a ele Que idéias me vêm à mente ao depararme com o nome do autor ou com o título do texto Ponha sob suspeita entre parênteses esses sentimentos e essas idéias No nível da penetração do pensamento alheio A honestidade refletese no esforço de captar a lógica interna do pensamento do outro Para tanto importa conhecer o contexto de sua gênese pessoal cultural sociogeográfica ideológica É desonesto como comumente se faz criticar autores antigos a partir da consciência histórica presente não levando em consideração o contexto histórico cultural religioso ideológico em que eles viveram Além disso um pensamento é percebido no conjunto das idéias do autor Outra desonestidade muito comum acontece no fato de isolar alguma idéia do autor de seu contexto e criticála condenála Numa palavra o primeiro esforço honesto é tentar responder às seguintes perguntas sobre um texto que quer dizer provar o autor Qual é sua tese global e dentro dela como se entende determinada proposição A consideração da consciência possível Lukács não é só uma regra epistemológica correta mas também uma exigência de honestidade científica O horizonte da consciência possível indica o limite em que um pensamento se situa e para além do qual não tem condições objetivas de avançar Consciência possível A consciência possível como diz a própria expressão possibilita chegar a uma consciência real a respeito de uma realidade É o fundamento dela É o máximo grau de adequação à realidade que uma consciência consegue alcançar sem por isso provocar mudança de sua natureza A consciência real é a adequação objetiva à realidade A consciência possível indica a formalimite o máximo de conhecimento ou compreensão que um indivíduo um grupo uma classe social ou toda uma época podem alcançar sobre um problema dados os condicionamentos que limitam sua visão É o horizonte de conhecimento que não se consegue ultrapassar em dado momento cultural No nível da reprodução A honestidade manifestase na fiel reprodução do pensamento do autor Exige que se distinga com clareza e exatidão o que vem do autor e o que são acréscimos considerações observações interpretações livres de quem o cita Considerase falta grave em metodologia a confusão entre as afirmações de um autor citado e as reflexões pessoais de quem o cita Para maior rigor costumase colocar entre aspas as palavras literais do autor citado e indicar a fonte em nota Além disso quando se toma uma idéia de algum autor de modo nãoliteral deve constar na nota uma referência a ele Em geral as citações literais se fazem quando tanto a idéia como a formulação são realmente bem encontradas Não tem sentido citar literalmente idéias já conhecidas ou formulações inexpressivas Basta uma alusão ao autor fonte primeira de tal idéia É importante distinguir o criador de uma idéia e seu eventual vulgarizador Nem sempre é fácil sabêlo Esperase um cuidado em percorrer o rastro histórico de um conceito para encontrar sua primeira fonte À medida que alguém domina um assunto e já o assimilou afastase das citações literais e contentase com a menção da fonte principal de tal idéia Nesse campo o mínimo de honestidade intelectual é a citação correta do pensamento alheio sem deturparlhe o conteúdo sem impingirlhe um sentido diferente e divergente Citação equivocada não só tecnicamente mas sobretudo quanto ao conteúdo desqualifica um trabalho intelectual No início da vida intelectual devese exercitar e estar muito atento à questão das citações e reproduções de pensamento alheio O exercício de resumos condensações fichamentos de livros serve para adestrar o aluno em tal mister Ajuda muito que o aluno se deixe criticar por especialistas no autor a fim de saber se reproduziu bem ou não o pensamento dele O grande inimigo nas interpretações e compreensões de um autor são os chavões os lugarescomuns os estereótipos os clichês vulgarizados as fontes de segunda e terceira mão Nada substitui à volta ao textofonte E daí se percorre o caminho das interpretações e citações Intenção do autor e intencionalidade do texto A distinção entre intenção subjetiva de um autor e intencionalidade objetiva de um texto ajuda a evitar malentendidos A intenção subjetiva livre de um autor pertence a seu mundo interior Não se tem acesso a ela a não ser que o próprio autor nola confesse É verdade que a psicanálise tenta penetrar nas motivações nas intenções subjetivas de um autor Mas o nível pretendido pela psicanálise não é o da intenção livre mas o das pulsões inconscientes Estas não se identificam com a intenção livre a não ser quando assumidas pela pessoa Aventurarse a criticar as intenções subjetivas livres de um autor é outorgarse o atributo divino do juízo O evangelho nos recomenda absternos de tal Lc 637 Um texto permite uma leitura das motivações inconscientes por meio do instrumental psicanalítico Isso já pertence à intencionalidade do texto e não ao mundo da intenção subjetiva livre É uma leitura muito perigosa mas possível Facilmente dá azo a arbitrariedades já que o instrumental psicanalítico aceita uma margem muito grande de interpretação do psicanalista Um texto uma vez produzido cai sob o juízo analítico de qualquer leitor Descobrese nele uma intencionalidade objetiva É possível desocultar de um texto o movimento interno a que ele leva Há poesias que têm uma dinâmica erotizante ou espiritualizante de modo que o leitor é conduzido por elas a viver tal ou tal experiência Daí não se segue que a intenção subjetiva livre do autor tenha sido produzir no leitor tal dinâmica Pode ser que sim pode ser que não Só ele e Deus o sabem Mas o que cai sob a análise são a estrutura e o movimento do texto que conduzem o leitor a determinado objetivo querido ou não sabido ou não consciente ou não por parte do autor Um texto encerra mais dinamicidade teórica que a consciência do escritor consegue prever A hermenêutica moderna trabalha muito o texto fazendoo falar sempre novos significados descobrindo nele estruturas e movimentos Crítica dos pressupostos Cabe no âmbito da honestidade intelectual avançar a crítica até os pressupostos teóricos do texto Nessa análise a honestidade exige antes de tudo que nós mesmos explicitemos o ponto de vista a partir do qual analisamos os pressupostos do autor Em outras palavras confrontamos nossos pressupostos teóricos com os pressupostos do autor É importante que ambos fiquem claros e não critiqueemos o texto como se nos situássemos num nível acima de toda suspeita sem pressuposto absoluto e totalmente objetivo Isso significa que os critérios a partir dos quais se faz a crítica devem ser explicitados e expostos à crítica de ulterior crítica Não há crítica absoluta Toda crítica se faz a partir de pontos assumidos anteriormente que por sua vez podem também estar sujeitos a ulterior crítica O século da crítica Nosso século é o século próprio da crítica à qual tudo deve submeterse A religião por sua santidade e a legislação por sua majestade querem normalmente subtrairse dela Mas então provocam contra elas uma justa suspeita e não podem pretender a este respeito sincero a não ser que a razão o conceda e somente ao que pode suportar seu exame livre e público3 Denotar a própria conotação A reflexão anterior conduz a esse ponto fundamental para a honestidade científica denotar a conotação Denotar significa declarar descrever definir explicitar tematizar de maneira o mais objetiva possível aquelas condições subjetivas que nos envolvem 3 I Kant Critique de la raison pure première préface Oeuvres Philosophiques Paris Gallimard La Pléiade 1980 vol I p 727 cit por JF Robinet Le temps op cit p 105 Conotar significa tocar com nossa subjetividade um dado exposto objetivamente Em toda análise objetiva imbricamse elementos subjetivos do analista É o aspecto de conotação A análise cresce em objetividade à medida que se consegue denotar explicitar os elementos subjetivos envolvidos na análise conotação Denotar a própria conotação é tomar distância o máximo possível da própria situação subjetiva ideológica religiosa racial cultural etc e explicitála tematizála objetivála Esse é o grau máximo de honestidade epistemológica A denotação referese sobretudo ao conjunto de regras que um usuário do sistema lingüístico utiliza em dado momento Denotar é conhecer as condições do uso da linguagem a saber como um usuário aplica em sua atividade científica concreta as regras sintáticas semânticas do sistema de comunicação A cientificidade não se mede sem mais pela logicidade interna do discurso ideologia do cientismo mas pela declaração do lugar social do usuário seus interesses objetivos valores préoptados O ideal de objetividade e lealdade científica consiste numa linguagem o mais denotativa possível Evidentemente é impossível uma absoluta denotação objetiva de todos os fatores conotativos subjetivos já que muitos deles nos escapam à consciência A honestidade intelectual é uma pugna contínua constante e ininterrupta contra as conotações ocultadas consciente ou inconscientemente O caráter ideológico é neutralizado pela explicitação do caráter ideológico das escolhas decisões condições do sujeito que produz o texto ou discurso O fundamento das operações do emissor é sempre ideológico mas o discurso pode ser sempre menos ideológico à medida que tal fundamento é explicitado as condições de produção são declaradas e o discurso não é apresentado nem como único possível nem como único verdadeiro Desideologizar o discurso A linguagem científica se define por uma luta constante e ininterrupta contra a conotação Nas ciências empíricas esta luta se manifesta de várias maneiras A mais importante é o esforço para neutralizar a conotação pela sua explicitação O caráter científico de um processo de construção de uma linguagem que descreve a realidade se expressa na introdução de elementos que denotam as próprias operações realizadas pelo emissor Isto não anula o caráter ideológico das decisões mas neutraliza o seu efeito ideológico 4 Cultivo do espírito científico Caracteriza nossos tempos o espírito científico Moldouse a partir da concepção moderna de ciência com Copérnico Galileu Newton Passa a ser científico somente aquilo que é verificável pela experiência matematizável e submetido a um rigoroso procedimento Os principais elementos da ciência são os conceitos as hipóteses as leis as teorias os modelos as técnicas Esse modo de pensar transformouse no grande paradigma da razão ocidental Todas as outras ciências sofreram o impacto dessa mentalidade científica de modo que tudo o que não caísse sob o severo controle do método científico experimental era relegado ao mundo da poesia da religião do mito das crenças Aí não entra em questão a racionalidade científica As ciências naturais tratam do certo e do errado enquanto a religião do bom ou do mau do com valor ou do sem valor comentava Heisenberg no Círculo da Física Atômica em 1927 O manifesto do Círculo de Viena 1929 afirmava que os conteúdos e métodos das ciências da natureza são a única ferramenta capaz de oferecer uma cosmovisão rigorosa exata científica diante das imprecisões da metafísica e da religião É real tudo e somente o que pode ser integrado no conjunto do edifício da experiência Hoje a perspectiva é bem diversa Aprendeuse das ciências exatas um rigor metodológico que serve para todas as outras ciências mas a seu modo Não se trata de transpor literalmente o mesmo tipo de procedimento O espírito científico significa uma atitude de seriedade no trabalhar a própria disciplina seguindo regras próprias As ciências humanas são chamadas também elas a elaborar seu estatuto teórico e seguilo O espírito científico vai se manifestar na ma 4 E Verón Ideologia estrutura comunicação São Paulo Cultrix 1970 p 182 neira de tratar as fontes de interpretar os textos em seu contexto na correta transposição hermenêutica no respeito aos diferentes métodos no rigor das citações no manuseio exato da bibliografia É uma forma de exercer a honestidade intelectual As investigações em qualquer ciência que seja devem pautarse por procedimentos análogos Implicam um momento de pesquisa cuja forma varia conforme o tipo de ciência No fundo está em jogo um problema cuja solução se busca analisando as hipóteses que surgem até que uma se verifique plausível ou certa O tipo de certeza não é necessariamente empírico mas pode ser demonstrada ou mostrada com argumentos próprios da natureza do saber em questão A atitude científica é comum evitando o amadorismo e a confusão entre opinião e asserções comprovadas Todo esse curso de metodologia visa criar o espírito científico no sentido amplo mas não menos sério e importante superando a ideologia cientista e positivista Na linguagem do segundo Wittgenstein situamonos diante de jogos de linguagem diferentes com suas regras próprias que precisam ser seguidas Entre o cientismo proposto como modelo único de linguagem e o desbordo de todo procedimento regrado há o campo para exercitarse o espírito científico nas diferentes linguagens e ciências O espírito científico caracterizase pelo respeito aos métodos e às regras epistemológicas das diferentes ciências Conclusão Não é importante nessa reflexão se a honestidade é uma virtude ou uma condição prévia para toda virtude Constituise sim numa atitude fundamental para um intelectual Aqui a estudamos sob o aspecto do trabalho científico É um caso concreto que revela um comportamento mais profundo de toda a pessoa A honestidade intelectual exige uma aproximação livre sem preconceitos e ideologias rígidas anteriores a todo e qualquer texto e pensamento É só num segundo momento de compreensão o mais correta possível do pensar alheio que se institui a crítica É o oposto do dito irônico Não li não gostei A honestidade intelectual leva à posição antípoda Li entendi e tenho meus reparos Honestidade intelectual é proceder com humildade modéstia cautela nas críticas A impetuosidade o aço damento terminam por pecar contra a objetividade do texto Os guardiães de orto doxias e os censores de plantão costumam ser pouco honestos Condenam antes de saber de que se trata Têm mais faro que inteligência mais instinto que razão mais paixão que serenidade mais zelo doentio que honestidade Bibliografia SEVERINO A J Metodologia do trabalho científico Diretrizes para o trabalho didáticocientífico na universidade São Paulo CortezAutores associados 51980 pp 7881 VERÓN E Ciência e ideologia para uma pragmática das ciências sociais in id Ideologia estrutura comunicação São Paulo Cultrix 1970 pp 165192 Dinâmica Análise de pressupostos teóricos de um texto 1 Cada aluno analisará o texto de um colega seguindo as regras da honestidade intelectual 2 Cada um escreva um texto de dez a quinze linhas sobre Que é a felicidade 3 A respeito desse texto o colega fará a seguinte análise a Qual o esquema a estrutura do texto Introdução corpo conclusão b Qual sua dinâmica sua lógica interna seu processo de idéias o movimento interno de seu pensamento a natureza do enfoque isto é a que o texto conduz o leitor c Que compreensão de ser humano está presente nele Tal compreensão se descobre com a percepção de como o ser humano é visto em sua relação consigo mesmo com o mundo dos homens com o mundo das coisas e com a Transcendência d Que interesse corporativo político eclesiástico ou de qualquer outro tipo de grupo aparece no texto Isto se descobre com a observação de que instituição que tipo de vida e de valores o texto defende ou ataca O autor revela isso por meio das palavras escolhidas do tipo de discurso das afirmações e omissões dos mecanismos de seleção empregados e Qual é a teologia subjacente ao texto Isso emerge a partir da idéia de Deus Transcendência e de plano de Deus presente no texto f Que visão ética o texto revela Isso aparece com a análise do mundo de valores defendido ou rejeitado g Que compreensão de mundo de ciência tem o texto Isso aparece na relação que o texto estabelece com as coisas os objetos a natureza a história o mundo 4 Passar a análise feita ao autor do texto para que ele comprove a distância entre a sua intenção subjetiva e a intencionalidade objetiva do texto que aparece da análise o nível de honestidade intelectual do analista 5 O aluno pode passar ao professor o exercício para eventuais observações Exercício de fichamento 1 Fichamento bibliográfico a Indicar com clareza o autor e livro em questão b Pesquisar se alguém já fez uma resenha bibliográfica sobre tal livro e indicála c Elementos fundamentais de um fichamento indicar o objetivo tema central e a natureza do livro passar todos os capítulos e indicar sua idéia central 2 Fichamento temático de um livro a Escolhese o tema central do livro b Dáse rápida idéia do tema com recurso a outras fontes c Indicamse os sentidos desse tema na obra analisada 3 Fichamento de autor a Oferecemse alguns dados biográficos do autor b Suas principais obras Fazer o tríplice fichamento do livro H Cl Lima Vaz Escritos de Filosofia III Filosofia e cultura São Paulo Loyola 1997 1 Fichamento da natureza do livro e de suas partes 2 Fichamento do autor 3 Fichamento do conceito cultura Teste pessoal 1 Que significa denotar ou conotar e como você o faz 2 Indique algumas regras para criticar um texto 3 Que atitudes e comportamentos você assume ao trabalhar com espírito científico Capítulo 5 ABERTURA Liberte sua natureza feita para as alturas Deixe nascer o sol dentro de você Leonardo Boff A vida intelectual só se desenvolverá se se mantiver uma atitude de abertura ao diferente ao novo ao questionamento Quando alguém se cansa e se irrita diante das novidades é sinal de que sua estrutura mental se calcificou Começa o processo inverso de esclerose e atrofiamiento intelectual Um termômetro não só de crescimento mas de sua possibilidade é a atitude de abertura ao que vai surgindo de novo de inédito na história A abertura desenvolvese em vários níveis Mas antes de tudo manifestase diante da verdade como tal dos mestres e orientadores dos colegas e dos acontecimentos da vida Nível cultural Toda cultura está inserida em uma tradição Esta é uma força envolvente É o húmus alimentador da cultura Só no seio de uma tradição a cultura é inteligível Mas também é redoma que a protege da novidade Daí surge o conflito entre a tradição e as experiências novas Viver só da tradição termina num processo repetitivo Ao se romper com ela perdese a consciência de identidade O sujeito desestruturase esfumamselhe os pontos de referência A atitude de abertura é a capacidade de assumir uma autocrítica da própria tradição de dentro dela Implica uma compreensão dialé elementos até então dados e os novos elementos que surgem Opõese a uma concepção puramente ortodoxa que trabalha com o binômio excludente sim e não ou ou Assim diante de uma nova experiência ou se rejeita a tradição atendose à experiência ou se refugia a experiência apegandose à tradição Opõese também a uma concepção relativista em que a tradição é desqualificada com a retenção somente da verdade do presente A concepção dialética pelo contrário busca a síntese entre a tradição e a novidade da experiência chegando a novas formas de verdade Retém a positividade da tradição negalhe a negatividade e assume do presente sua força crítica positiva Vãose assim construindo novas e mais ricas sínteses de verdades A teoria quântica permitenos ir além da concepção dialética Esta na verdade reassume os dois elementos em questão tradição e experiência presente numa unidade A teoria quântica permite pensar uma realidade que seja e não seja ao mesmo tempo É a clássica experiência de que o objeto observado é onda e corpúsculo ao mesmo tempo É a lógica do terceiro incluído Lógicas multivalentes em que os elementos aparentemente contraditórios são assumidos simultaneamente Na idade madura o risco maior é o da ortodoxia Na juventude é o do relativismo A ortodoxia no campo epistemológico enrijece o conhecimento Vesteo com a camisadeforça das estruturas já dadas e transmitidas Exclui qualquer corpo estranho como heterodoxo errado falso herético Dedicase à construção de corpos doutrinais bem definidos rígidos que servem de critério de inclusão e exclusão Incluindo no círculo da verdade os que os aceitam excluindo dele os que o questionam O relativismo assume o brilho da abertura Mas no fundo é deletério e intransigente Deletério porque destrói a possibilidade da verdade e do sentido que transcendam o presente Contradiz a estrutura de sentido do ser humano Intransigente em relação a qualquer norma Termina numa posição política anárquica E faz do anarquismo sua ortodoxia Cest défendu défendre É proibido proibir como diziam os estudantes de Maio de 1968 em Paris Acabase proibindo o proibír de modo tão violento que se vai até o confronto à luta à guerra A posição de abertura caminha por Cila e Caribde Deve escapar da ortodoxia sem cair no relativismo Nem fugir de um relativismo a ponto de envolverse no dogmatismo ortodoxo A abertura cultural conjuga o estudo da tradição de ondeħra riqueza com a atenção aos novos sinais do presente e ao despontar do inédito No momento atual esta abertura intelectual situase diante da crise de paradigmas e da emergência de um novo paradigma1 É tema amplo para ser abordado nesse texto mais sapiencial que científico Em todo caso a abertura intelectual hoje implica defrontarse com a crise de um paradigma que encontra suas raízes cinco séculos antes de Cristo e que presidiu a toda a cultura ocidental até os dias de hoje Multiplicamse as expressões para delinear essas gigantescas transformações paradigmáticas Uns se referem a uma orientalização do Ocidente à passagem de um esquema fundamental dualista para outro monista em todos os campos do saber do existir do agir2 L Boff vem trabalhando tal questão em seus últimos escritos Concentrase na mudança de paradigma a partir da nova imagem do mundo que está surgindo das ciências da terra da cosmologia contemporânea e da evolução ampliada3 Os epistemólogos trabalham com a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade em lugar de com os isolamentos e a insularidade de cada ciência nas regras rígidas do próprio saber4 O diálogo interreligioso revoluciona o pensar teológico pedindo novo paradigma para além das posições clássicas de exclusivismo e inclusivismo5 1 M Fabri dos Anjos Teologia e novos paradigmas São Paulo SOTERLoyola 1996 2 Ver o artigo estimulante de Colin Campbell A orientalização do Ocidente Reflexões sobre uma nova teodicéia para um novo milênio Religião e Sociedade 181 1997 pp 529 3 L Boff O pobre a nova cosmologia e a libertação Como enriquecer a teologia da libertação in L C Susin Sarça ardente Teologia na America Latina Prospectivas São Paulo SOTERPaulinas 2000 pp 189207 aqui p 192 4 Charte de la Transdisciplinarité adoptée au Premier Congrès Mondial de la Transdisciplinarité Convento da Arrábida Portugal 26 de novembro de 1994 5 Há tentativas da elaboração de um paradigma pluralista diante do qual até agora a teologia católica se encontra reticente Ver para uma primera informação F Teixeira Teologia das religiões São Paulo Paulinas 1995 O anglicano inglês sugere um paradigma teológico transconfessional construído a partir da solidariedade dos desenraizados solidarity of the shaken A Shanks God and Modernity A new and better way to do theology LondresNova Iorque Routledge 2000 Abertura e pluralismo cultural Tanto mais importante se faz a abertura quanto mais aparece absoluta mente irreversível o pluralismo cultural e sua natureza irredutível O pluralismo antigo se fazia dentro do mesmo horizonte fundamental comum de pensamento de sentimento e de fé O pluralismo hoje aconte ce a respeito de métodos de filosofias de sentimentos básicos de ideologias de posturas fundamentais diante da existência de objetivos de pontos de partida de encaminhamentos do pensamento É dentro dele que as partes em litígio cultural devem entenderse6 Nível afetivo A vida intelectual é de todo homem A inteligência não caminha como uma idéia platônica Ela é faculdade de uma totalidade humana E a abertura deve atingir a essa totalidade Seu centro é a afetividade E Fromm psicólogo da Escola de Frankfurt trabalhou em nível social o que é pensável também em nível individual7 A abertura afetiva ao novo ao diferente que possibilita a inteligência atender a ele depende do processo de individuação Quando este se realiza positivamente no sentido de o sujeito ir desprendendose dos laços originários e firmandose em seu eu livre o sujeito está aberto ao novo sem medo sem angústias Mas quando o sujeito se vê simbioticamente ligado a uma realidade substitutiva da relação autoconfiguradora com a mãe não está de modo nenhum aberto a questionála Ela é constitutiva de sua segurança e qualquer questionamento a abala Se um elemento novo se uma experiência se uma realidade presente tocam essa realidade simbiótica o sujeito desencadeia um processo inconsciente de racionalização por meio do qual descobre infinitas razões para rejeitálos À primeira vista parece um processo lógico E as razões se apresentam sob a ótica da objetividade Mas num segundo momento analítico mais exatamente psicanalítico percebese que se trata de uma autodefesa afetiva que por sua vez provoca o desencadeamento do processo lógico Por isso a solução da discussão nunca se dará no campo lógico Porque a cada argumento contra a posição defendida o sujeito encontra muitos outros para defenderse A causa não é intelectual É afetiva A solução deve ser portanto afetiva A experiência ensina como em muitas discussões ideológicas os fatores afetivos são mais relevantes que os intelectuais E o jogo não se resolve na defesa ou refutação dos argumentos mas na mudança da relação do sujeito com a realidade em questão Só uma outra pessoa com quem ele tem empatia consegue fazêlo perceber que rejeita tal realidade por medo por causa da ameaça que ela lhe causa E só terá coragem de enfrentála se realizar um duplo trabalho diminuição da ameaça e reforço do ego Interessa conhecer tais mecanismos para entender o processo de abertura e fechamento próprio e alheio E assim colocarse numa atitude de de abertura e diálogo com lucidez A abertura para o novo só é possível na liberdade E não há liberdade lá onde atuam o medo e a insegurança inconscientes O medo da liberdade leva o sujeito a submeterse a uma realidade a uma verdade a tal ponto que renuncia à liberdade e por isso já não tem condições de abrirse a um diferente A liberdade implica que o sujeito se coloque diante do diferente e do novo sem medo críticoanaliticamente para num segundo momento tomar posição diante dele Quando o sujeito está ligado intima profunda e simbioticamente a uma realidade romper com ela gera solidão e angústia tão insupor táveis que ele se aferra aos braços dessa realidade e rejeita qualquer novidade qualquer diferente Numa palavra fechase em si mesmo agarrandose a essa realidade com unhas e dentes num duplo possível movimento antitético de submissão incondicional ou de imposição autoritária intransigente O autoritarismo e a subserviência submissa são duas facetas de um mesmo processo de individualização mal conduzido mal trabalhado Os intransigentes e os subservientes não estão abertos ao novo ao diferente de suas identificações O novo lhes aparece como o caos a anomia que devem ser rejeitados para a pessoa superar a angústia dessa ameaça Em termos literários JP Sartre trata de tal temática na peça As Moscas onde os dois personagens centrais Orestes e Electra vivem dramaticamente essa situação Ou assumir a própria liberdade o ato de matricídio ou refugiarse no mundo dos deuses fugindo da própria liberdade e responsabilidade Ultimamente têm causado enorme êxito publicitário os estudos sobre a inteligência emocional Aquilo que era óbvio em todos os tempos recebeu agora subsídios vindos das ciências sobretudo dos estudos do cérebro humano Buscase dar uma fundamentação científica para a verdade da influência das paixões sobre a inteligência Mente emocional A mente emocional é muito mais rápida que a racional agindo irrefletidamente sem parar para pensar Já que a mente racional demora mais para registrar e reagir aos fatos do que a mente emocional o primeiro impulso em circunstâncias emotivas não vem da cabeça mas do coração A mente emocional possui uma lógica associativa elementos que simbolizam uma realidade ou que de alguma forma lembram essa realidade são para a mente emocional a própria realidade A mente emocional reage ao presente como reagiu no passado A tarefa da mente emocional é em grande parte determinar um estado emocional específico ditado por determinadas sensações que são dominantes num dado momento8 Nível teologal Na perspectiva da fé interessamnos também considerações de ordem teológica Além desse duplo nível de abertura há no homem uma janela para a Transcendência Como o homem é uma unidade esta realidade teológica acaba interferindo também no rendimento intelectual na compreensão e percepção da verdade 8 D Goleman Inteligência emocional A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente Rio de Janeiro Objetiva 321995 pp 305310 Há uma tríplice atitude diante do outro do diferente da novidade sob o ponto de vista teologal Numa primeira atitude o homem fechase a esse diferente Envolvese de tal modo consigo num egoísmo radical que qualquer realidade que o questione já a priori é excluída Atitude do sacerdote e do levita que passam à margem do ferido na estrada Lc 1031s Esse fechamento diante do diferente termina por ser um fechamento diante de Deus que se manifesta ao ser humano como diferente como o outro o totalmente outro Em termos teológicos tal rejeição do outro chamase pecado O pecado interfere no processo da verdade da atividade intelectual Há deturpações nesse mister que remontam a essa causa religiosa posto não se explicite como tal Há outro tipo de egoísmo eticamente aceitável comumente praticado como fruto de experiências do cotidiano O ser humano para ser feliz e até mesmo para estar disposto à atividade intelectual necessita de um amor a si que o torna moderado em paz consigo Ele diminui os lampejos de arroubos do desejo e do idealismo para pouparse de sofrimentos desilusões fracassos É um amor a si que vive temeroso de situações que o impactam muito Prefere uma posição mais calada resignada encolhida diante dos diferentes Supõe muitas vezes um cansaço depois de ter passado por uma época de idealismos expectativas esperanças maiores Essa atitude se não impossibilita ao menos dificulta o avanço no processo da verdade Prefere manterse com os dados já adquiridos com o que é mais seguro e provado pela experiência com o que foi decantado pelos anos a lançarse a novidades a experiências inéditas Há uma terceira atitude que é de disponibilidade de radical abertura de fé no amor O amor dirigese a todo diferente que se apresenta Esquecese de si para pensar no outro Esse outro é inspirador questionador mobilizador desinstalador Evidentemente tal atitude cultivada ao longo da vida conserva a pessoa numa situação de crescimento É mais fácil na idade jovem É heróica e maravilhosa na idade adulta e avançada São pessoas fascinantes que rompem a monotonia da existência com sua grandeza espiritual Por isso também diante dos acontecimentos da história das experiências diferentes estão sempre à escuta à espera de algum sinal maior9 9 O Müller foi exemplo desse tipo de pessoa e o que transparece de seus escritos O Müller O primado da caridade São Leopoldo CECREI 1984 Capítulo 6 SENSO CRÍTICO Nur wenige können lieben und auch noch kritisch sein noch weniger kritisch sein und dennoch lieben Só poucos são capazes de amar e de também ainda ser críticos ainda menos os capazes de ser críticos e entretanto amar F Lennartz Introdução O princípio fundamental do cristianismo é a caridade A caridade é uma realidade que deve ser vivida segundo nossa natureza humana ainda que na força da graça divina A graça não supre nem suprime a natureza Ora pertence à nossa natureza a dimensão de racionalidade Por sua vez a racionalidade moderna se descobre crítica isto é capaz de voltarse sobre si mesma e descobrir as razões as motivações os pressupostos que a movem O espírito crítico não aceita nenhuma asserção sem interrogarse antes por seu valor seja sob o ponto de vista de seu conteúdo crítica interna seja sob o de sua origem crítica externa1 O senso crítico colocase a serviço da caridade para que essa seja mais lúdica Em linguagem inaciana charitas discreta uma caridade discernida Embora emocionalmente surja conflito entre a criti 1 A Lalande Vocabulaire technique et critique de la philosophie Paris PUF 1960 p 197 cidade e a caridade contudo no nível profundo de nosso ser humano devese encontrar uma harmonia Este é o ideal do senso crítico serviço à caridade Atitude fundamental Como atitude fundamental o senso crítico quer ser um esforço para superar as primeiras impressões o óbvio o imediato o visivelmente aparente indo às raízes da realidade Permite que se conheçam os pressupostos o jogo ideológico os interesses escondidos nas afirmações nas atitudes e nos comportamentos dos outros Como espírito no mundo espírito na matéria o ser humano inicia sempre seu conhecimento pelos sentidos Nihil in intellectu nisi prius in sensibus nada se faz presente na inteligência sem que antes tenha estado nos sentidos Essa estrutura de nosso conhecimento permite os engodos Os sentidos exercem forte pressão sobre a inteligência Quando esta renuncia a sua qualidade própria de intus legere de ler dentro termina por ser envolvida pelos sentidos pelo imediato pelo aparente pelo primeiro dado A atitude fundamental do senso crítico é partir dessa constatação básica de nosso conhecimento Só se entende realmente lendo dentro atravessando a camada dos sentidos Contexto sociocultural da gênese do senso crítico A inteligência de todos os tempos exerceu essa função uma vez que ser inteligente é ler dentro Mas acontece que o senso crítico adquiriu na idade moderna uma qualidade tão nova que pode ser considerada um atributo da modernidade Até antes da idade moderna a força da tradição garantida pela autoridade era tal que a inteligência se movia praticamente dentro dela Sua criticidade viase circunscrita ao interior da tradição em que vivia Era por conseguinte uma criticidade dentro da tradição cujos limites não rompia Percebia falhas incoerências articulações mal tecidas dentro da doutrina comum Mas não a questionava na sua totalidade nos seus dogmas fundamentais nas suas verdades constitutivas Nasce o senso crítico moderno quando fenômenos importantes permitem à razão autonomia tal que ela pode questionar a tradição A idade moderna caracterizase por uma descoberta da subjetividade O homem percebe a interioridade de sua consciência enquanto oposta à exterioridade do mundo Revelase como sujeito das significações e dos valores pelos quais compreende o mundo Vêse sujeito livre das amarras do quadro antigo estático A razão grita independência ou morte diante dos dogmas das imposições extrínsecas da heteronomia Aude sapere é o grito de ousadia de pensar com a própria cabeça de fazer uso do próprio entendimento I Kant A experiência tornase critério de conhecimento de intelecção da verdade e de decisão da vontade Desenvolvese novo senso crítico baseado na inteligência na experiência na liberdade Ao mesmo tempo desmorona o quadro do mundo antigo No centro estava a terra e em torno dela girava o sol O reinado da terra foi destituído pelo soberano sol O heliocentrismo não significa unicamente uma mudança de lugar e função entre os astros mas uma profunda crise no coração do homem que perde a segurança de sua localização é chamado a desenvolver sua capacidade crítica para reencontrarse de novo Além disso o tempo e o espaço adquirem nova qualidade Na sociedade antiga viviase no interior de um tempo repetitivo e de um espaço linear ou tricêntrico Com o desenvolvimento do mundo moderno o tempo se acelera e o espaço reticulase tornandose pleno Passasse de um espaço a outro com a maior rapidez Com a mudança da imagem ptolomaica do mundo o ser humano vê desmoronar a sociedade de ordens na qual encontrava segurança e ponto de referência Viviase no interior da ordem em que se nascia As regras que definiam as relações entre as ordens e as pessoas eram conhecidas e seguidas A sociedade de ordens espelhavase na natureza construindo assim sua matriz de intelecção As três ordens bellatores oratores e laboratores os guerreiros nobres o clero que rezava e os trabalhadores eram fortemente circunscritas pelo nascimento e pelas regras ligadas a ele O senso crítico era difícil de exercerse entre as ordens Cada um era convidado forçado mesmo a aceitar e resignarse com a ordem em que nascera e se encontrava Com o surgir da sociedade moderna as ordens são substituídas pelas classes sociais que se organizam a partir de interesses Introduzse uma mobilidade e uma possibilidade crítica a respeito dos interesses em questão Em termos mais exatos surge nesse momento a Conclusão Parece simples estar e ser aberto Mas não Implica uma harmonia de personalidade em que a inteligência a afetividade e a dimensão espiritual da pessoa estejam sempre em atitude de escuta de questionamento de crescimento É sem dúvida atitude profundamente humana que faz da pessoa alguém capaz de ir sempre crescendo e por isso irradiando uma força espiritual altamente fascinante Bibliografia GOLEMAN D Inteligência emocional A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente Rio de Janeiro Objetiva 321995 LYONNET S Libertad cristiana y ley del espíritu según San Pablo in id San Pablo Libertad y ley nueva Salamanca Sígueme 21967 pp 85126 Dinâmica Problemas da juventude Desenrolar da dinâmica 1 Finalidade Detalhar com certa rapidez e com a participação de todo o grupo determinado tema 2 Modo a Reúnese todo o grupo num círculo Cada um tenha seu caderno de apontamentos b Num primeiro momento quem tiver algo a dizer na hora indicada pelo coordenador exponha suas idéias sobre o tema proposto Os outros participantes anotem no caderno as observações que julgarem interessantes Depois de certo tempo dividese o grande grupo em dois grupos c Cada subgrupo continua a discussão Então mais pessoas têm condições de participar sugerindo idéias Anotemse as que interessam Depois de outro tempo subdividese de novo o grupo em mais dois grupos Cada vez o grupo fica menor e possibilita maior participação de todos maior aprofundamento do tema menor dispersão e mais detalhamento na análise d A dinâmica pode terminar com pequeno tempo para que cada um em particular estruture complete a análise a partir dos apontamentos que tomou ao longo das discussões nos grupos e À medida que o grupo se subdivide os participantes devem concentrar sua atenção em ir aprofundando os temas julgados mais importantes Tratase de um esforço de concentrarse e não de divagar f É importante que os participantes tenham pequenos esquemas em suas cabeças para irem organizando os dados surgidos nas discussões Teste pessoal 1 Quais os maiores impedimentos que você tem para manter uma atitude de abertura 2 Recorde atitudes de abertura ou fechamento vividas por você na vida acadêmica em relação a professores e colegas Tente entendêlas à luz do que você estudou 3 Como você distingue abertura de acomodação de falta de convicção e de firmeza da própria posição ideologia como um sistema de valores e interesses de determinado grupo defendidos porém como universais Os interesses das classes sofrem um processo de racionalização a fim de ser mais eficientemente assumidos e propostos A possibilidade da consciência moderna dáse quando o presente se torna instância crítica do passado O tempo já não se representa a modo dos mitos o eterno retorno Tornase objeto da razão E isso é possível quando o passado deixa de ser instância determinante sobre a compreensão do presente E este se arvora em lugar crítico do passado Estrutura da consciência crítica Não se trata simplesmente de aprender esquemas a priori técnicas de análise crítica e aplicálos a determinadas realidades como seria o caso de aprender um esquema de análise literária e submeter depois um texto a ele O senso crítico quer ser mais Implica um movimento dialético de inserção e de distância Buscase inserirse numa realidade para captálas os temas os problemas Num segundo momento a pessoa distanciase dessa realidade de maneira crítica em forma de denúncia Para num terceiro momento voltar à realidade com nova proposta e novo anúncio A inteligência não tem acesso direto e imediato a um dado da realidade Em geral as apreensões imaginadas e pensadas como imediatas são mediatizadas por elementos ideológicos não reflexamente conscientes Só se tem acesso a um dado mediamente articulandoo com um significado já anteriormente possuído O senso crítico opera tal articulação de maneira reflexa consciente autocontrolada Não existe uma pura objetividade do dado nem uma pura subjetividade interpretativa dele Interpretase o dado ao ser ele captado captase o dado ao ser ele interpretado O senso crítico implica também que o sujeito se faça presente a si mesmo nesse momento de crítica desvelando para si os pressupostos os interesses os elementos prévios que ele já possui quando se aproxima da realidade Quanto mais autolucidez tanto mais ele desenvolve o senso crítico Menos deixase surpreender e enganar pelos próprios a priori Assalta o senso crítico uma série de inimigos e entravamlhe o exercício muitos empecilhos Empecilhos Falta de visão política A consciência e o senso crítico não se desenvolvem quando se vive num ambiente em que falte uma visão política da realidade social A visão política caracterizase por considerar a realidade social como uma trama de relações criadas pelos seres humanos na sua liberdade e na sua decisão e não como um dado inexorável imposto pelas condições da natureza Se sou pobre não o sou por uma simples condição da natureza isto é por ter nascido numa família pobre mas por causa de relações econômicas que se estabeleceram e se mantiveram a ponto de minha família e eu ainda sermos pobres A consciência política é requisito imprescindível do senso crítico A alienação o descaso e o desinteresse políticos portanto impedemno Voluntarismo político Outro extremo é o voluntarismo político Vivemos esse fenômeno nas eleições do expresidente Fernando Collor A falta de senso crítico fez com que as pessoas atribuíssem quase exclusivamente à vontade de indivíduos isolados a transformação da realidade desconhecendo as leis e estruturas sociais A situação social e política de um país quer nas suas misérias quer também nas conquistas é vista como fruto da vontade de um sujeito no caso a do candidato a presidente Desconhecese o todo social com suas regras e forças reais mais consistentes poderosas e antigas que o indivíduo Evidentemente seria igualmente equivocada uma compreensão determinista e cética da realidade como se tudo fosse regido por leis obscuras deterministas O senso crítico percebe exatamente o jogo e o equilíbrio entre as decisões das liberdades e os limites impostos pelas estruturas já existentes O campo das decisões esbarra com as condições sociopolíticas de possibilidade que não são rígidas mas também não deixam espaço infinito de chances É voluntarismo político pensar que a realidade social é o que queremos e não a trama objetiva dos jogos sociais e políticos Confundimos o real com nossos desejos Os ingleses têm uma expressão muito significativa wishful thinking pensar fruto do desejável e não da realidade Cosmovisão fixista Ao falar da gênese histórica do senso crítico moderno viase que a dissolução da imagem antiga do mundo lhe foi uma condição Por conseguinte quem ainda vive no interior de uma cosmovisão fixista e estática do mundo dificilmente chega a desenvolver o senso crítico Acostumase a ver as realidades humanas e sociais como fruto de situações inexoráveis da natureza ou se vive num mundo religioso envolvente da vontade de Deus Ambos os fatores são impermeáveis ao nosso senso crítico Diante deles existe somente a submissão a aceitação resignada Que crítica se pode fazer a um verão forte Que se pode fazer se é vontade de Deus que tal aconteça Não resta nenhum espaço para o senso crítico Quem vive dentro de tal determinismo natural ou sobrenatural carece de senso crítico Pelo contrário uma visão evolucionista histórica e dialética do conhecimento da verdade da história permite um senso crítico Se tal realidade é assim ela poderia ser diferente E a atividade crítica orientase precisamente na direção de tornála diferente e segundo outros critérios valores e interesses já não mais dados e decididos por outros mas queridos e procurados por nós Situação familiar Outro embaraço é a situação familiar de relações predominantes patriarcais Nesse caso as pessoas são habituadas desde pequenas e ao longo da vida a ver no chefepatriarca da família a única fonte de verdade de normas de valores de comportamento Diante dele cessa toda criticidade E tal comportamento é depois transferido a outros personagens da vida política social eclesiástica de modo que se carece de qualquer criticidade Visão religiosa tradicional Reforça ainda mais a estrutura familiar patriarcal uma visão religiosa mítica que consiste em compreender a realidade humana e histórica como palco da atividade de forças sobrenaturais O ser humano não passa neste caso de um figurante no drama da história Nesse sentido não cabe nenhum senso crítico já que o raio de sua atuação é restrito insignificante mesmo Apelase à Providência divina à ação de Deus para a explicação de acontecimentos humanos históricos e não se vai à trama das vontades e liberdades humanas Círculo ideológico Viver preso a um círculo ideológico impede de exercer a capacidade de crítica O círculo ideológico consiste numa relação entre nossa ação e a compreensão que temos dela de tal forma que a ação reforça o que pensamos dela e o que pensamos dela reforça a ação Ficase então preso a esse círculo sem sair Quanto mais se age mais se pensa daquela maneira Mais se pensa daquela maneira mais se age assim Os interesses reais presentes na ação se escondem já que se situam num nível inconsciente Atuam sem que se perceba e escapam de qualquer momento analíticocrítico Quanto mais ideologizada é uma pessoa isto é quanto mais os seus interesses reais estão camuflados menos senso crítico ela tem Quanto mais ideologizada ela é tanto menos se sabe ideologizada Entra pois num círculo vicioso sem saída² Resistência à mudança Há várias posturas diante da mudança Aqueles que têm uma consciência ingênua intransitiva facilmente ficam presos ao passado e sofrem as mudanças Submetemse a elas quando inexoráveis mas não as acompanham Isso os impede de uma consciência crítica Esta implica um passo à frente de adaptação à mudança de aproximação da realidade e articulação com ela Percebeselhe a lógica Temse a capacidade de promover a mudança de fazer projeções de futuros desejáveis e factíveis de descobrir as próprias leis da mudança Exercícios Ninguém nasce com senso crítico Ele se desenvolve por meio de exercícios ao longo da vida Seguemse algumas pequenas práticas que ajudam a desenvolvêlo 2 J B Libanio Formação da consciência crítica 2 Subsídios sócioanalíticos Rio de JaneiroPetrópolis CRBVozes ⁴1985 pp 27 ss Análises da realidade Aprendese a analisar criticamente exercitandose na análise crítica Para isso é útil dispor de pequenos instrumentos de análise a ser empregados em diferentes situações³ Excelente exercício de seminário é elaborar juntamente com o professor um instrumental de análise e exercitálo sobre realidades concretas por exemplo análise de programas de TV de discursos políticos de propagandas de slogans etc Há excelentes instrumentais já elaborados para desenvolver mais o senso crítico Prática do diálogo A prática do diálogo de maneira explícita madura e reflexa desenvolve o senso crítico O diálogo implica algumas atitudes prévias a Num primeiro momento esforçarse por escutar entender entrar no mundo do parceiro sem nenhuma atitude crítica prévia enquanto possível Deixar de lado num primeiro instante qualquer preconceito b Somente depois de ter compreendido o significado o alcance o contexto os interesses os valores da posição do parceiro é que se toma distância critica de confronto com este universo de significado interesse e valor c O resultado deveria ser normalmente uma situação nova que não é nem igual sem mais à posição do parceiro nem tampouco à própria posição anterior Experiência do diferente Ajuda no desenvolvimento do senso crítico fazer experiências novas diferentes das do universo anteriormente vivido O diferente permite que se levante suspeita sobre a própria posição e desencadeia então um processo crítico A experiência de algo novo e diferente é o princípio da ruptura com o anteriormente aceito como inquestionável e imutável Obriga o sujeito a uma revisão de suas posições Exercícios didáticos Realizar pequenos exercícios didáticos de crítica literária quer sobre o conteúdo quer sobre a forma de um texto desenvolve também uma leitura crítica Superase uma atitude ingênua de ir acomodandose à última idéia que se lê Pessoas do último livro Conclusão A psicanalista Fátima Fenati em conferência sobre o adolescente apontava o sono desproporcional fora do tempo como expressão de fuga de si mesmo dos próprios problemas Em vez de enfrentálos no realismo do momento vígil ele se entrega aos braços de Morfeu E isso vale não só do adolescente Há outros sonos O senso crítico é um acordar dos sonos da consciência ingênua da alienação da irresponsabilidade imatura Não nos traz a felicidade instintiva do animal que o sono proporciona Permitenos sim viver na responsabilidade e na lucidez tanto as horas de alegria como as de dor os sofrimentos e os prazeres A vida intelectual é um contínuo estado de vigilância diante da noite imposta de uma cultura alienante dos slogans rápidos e repetidos dos lugarescomuns repisados A vocação intelectual é ser farol aceso na noite longa de uma cultura da sensação do prazer imediato do marketing barato das emoções violentas do impensar continuado do rodopio frenético da informação Vocação bonita próxima da profética Por isso visitada pelo cansaço da dor e da aparente inutilidade Assumila na lucidez manifesta a descoberta da responsabilidade social de quem põe seus talentos a serviço da comunidade da humanidade Bibliografia LIBANIO J B A consciência crítica do religioso Rio de Janeiro CRB 1974 LIMA VAZ H Cl de Transcendência e religião O desafio das modernidades in id Escritos de filosofia III Filosofia e cultura São Paulo Loyola 1997 pp 223253 Ontologia e história São Paulo Edições Loyola 2ª ed 2001 pp 165ss Dinâmica de análise de um texto Este esquema de análise foi desenvolvido por C Mesters em vista da leitura de textos bíblicos nas comunidades eclesiais de base Serve porém para analisar outros textos como faremos nessa dinâmica C Mesters Flor sem defesa uma explicação da Bíblia a partir do povo Petrópolis Vozes 1983 Escolhese um texto de uma página a ser lido no início da dinâmica Tomemos por exemplo a homilia de D Paulo Evaristo Arns então cardeal arcebispo de São Paulo ver texto abaixo Prétexto É a situação sociopolítica em que se está O sentido de um texto não emerge sem a influência desse lugar interpretativo Analisase esse lugar interpretativo inserindoo numa visão histórica corte diacrônico ou captandolhe a estrutura corte sincrônico a Corte diacrônico Tomese consciência do lugar sociopolítico e cultural em que se lê o texto Isso significa considerar o momento em que se está agora em um processo histórico que afeta as esferas econômica mundo do ter produzir distribuir política mundo do poder do Estado do governo cultural mundo do saber valores ideologias crenças Implica portanto entender a hora presente num contexto histórico maior b Corte sincrônico O corte sincrônico atende a dois aspectos as relações estruturais no tríplice universo econômico político e cultural e como os grupos sociais aí se situam Analisase como estão as relações estáveis e permanentes no momento presente na tríplice esfera econômica política e cultural e como os grupos aí se situam Contexto O termo contexto significaria a mesma coisa que prétexto se se tratasse de um evento alheio à comunidade de fé No entanto C Mesters distingue a situação sociopolítica prétexto da situação da comunidade de fé contexto De novo vale o duplo corte O corte diacrônico pretende situar a comunidade eclesial no desenrolar da vida eclesial O recuo histórico será maior ou menor conforme se desejar O corte sincrônico por sua vez analisa como estão as estruturas eclesiais no momento e como os grupos aí se localizam Texto Os dois passos anteriores têm uma dupla função hermenêutica Antes de tudo tomar consciência a partir de que situação se faz a interpretação do texto E em segundo lugar atentar ao fato de que a situação produz o sentido conferindolhe inteligibilidade e coerência O texto embora seja interpretado em prétexto e em contexto diferentes tem porém uma objetividade própria uma densidade interna independente e normativa Do contrário cairseia no relativismo e na arbitrariedade hermenêutica Para captar a objetividade do texto podese submetêlo a vários tipos de análise textual Tratase logo de início de situálo no contexto sóciohistórico em que foi produzido fazendo com ele o que se fez com o lugar interpretativo O estudo do texto deve permitir conhecer seu conteúdo sua estrutura lógica os conceitos fundamentais usados universo de significação as opções presentes interesses prévios e subjacentes as consequências os efeitos e repercussões na sociedade nos diferentes grupos e classes e na própria Igreja Homilia do cardeal D Paulo Evaristo Arns Celebração eucarística de 7º dia pela morte de W Herzog 30 de março de 1973 Diante da morte só sabemos falar de vida Durante a Missa só queremos falar inspirados pela Fé 1 Que nos diz a Fé sobre a vida Só Deus é dono da vida DELe a origem e só Ele pode decidir de seu fim No entanto para suscitar a vida e desenvolvêla entrega Deus a responsabilidade aos homens Aos Pais O próprio Cristo quis sentir a ternura da Mãe e o calor da Família ao nascer E mesmo depois de morto o cadáver foi devolvido à mãe e aos amigos e familiares Esta justiça lhe fez o representante do Poder romano embora totalmente alheio à Sua missão de Messias Os irmãos além dos pais costumam ser chamados para proteger e desenvolver a vida e se tornam coresponsáveis por ela até a morte e para além da morte Os colegas sabem fazer desabrochar a mesma vida desenvolvendo o grande dom dos mais variados talentos A vida do colega lhes é confiada na hora da maior pujança E a vida desenvolvese toda dentro da comunidade e da sociedade em favor dela Deus nos repete a pergunta desde as primeiras até as últimas páginas do Livro Sagrado Onde está teu irmão A voz do sangue de teu irmão clama da terra por mim Gn 49ss 2 Que nos diz a Fé sobre a dignidade do Homem Se a vida é dom de Deus a dignidade é a lembrança mais visível do mesmo Deus Jesus a conservou mesmo desfigurado Para preservarlhe a dignidade depois de morto os discípulos o puderam envolver em toalhas e depositálo num sepulcro feito por um Amigo Só Deus julga e nós homens devemos lembrarnos de que Ele é cioso da dignidade que imprimiu na face do Homem 3 Que nos diz a Fé sobre a missão de nossa vida Deus a mede pela bondade que tivermos para com nossos irmãos Os homens têm sede e fome de justiça verdade e amor Quem fez justiça pergunta o Juiz Supremo quem cuidou que a verdade fosse dita e o amor tivesse vez Os homens estão muitas vezes nus mas têm dignidade Pergunta o Juiz Quem se encarregou de defenderlhes a dignidade Os homens sofrem prisões Quem os pôde visitar e de lá os tirou Ó Deus é hora de pedir perdão É hora de acordar para a Fé É hora de sermos de novo homens Continuará a oração Também o sacrifício O de Cristo e o nosso Entremos em comunhão com Ele oferecendo recebendo e dando para sermos dignos daqueles que nos precederam na Fé Capítulo 7 RESPONSABILIDADE NA VIDA INTELECTUAL A responsabilidade é uma função do poder e do saber Hans Jonas Dupla fidelidade em tensão na responsabilidade do intelectual Nada melhor para apontar a responsabilidade do intelectual que se defronta com dois mundos em tensão fidelidade à verdade científica e fidelidade a sua consciência ética do que citar um trecho da tragédia Antígona de Sófocles Ela é a expressão do conflito de Antígona diante da lei do Estado significada pela proibição de sepultar seu irmão em Tebas por ordem do tio Cleonte e diante de seu dever natural religioso de fazêlo O intelectual não raras vezes se debate com aquilo que ele julga ser a verdade de suas pesquisas ou o consenso de seus pares e a percepção de que ela pode em dado momento ferir a verdade interna de si mesmo ou de outras pessoas com mal imprevisível Quantos intelectuais para ser considerados tais devem rejeitar a religião de sua infância o Deus de sua fé já que reina no seu mundo intelectual o agnosticismo se não o ateísmo Do contrário nem seriam considerados A comunidade acadêmica é o Estado de Tebas O intelectual na sua solidão crente é Antígona e sua irmã Ismene Ismene cede Antígona prefere a morte Apesar de toda a grandeza da vida intelectual simbolizada na tragédia de Antígona pela força conquistadora e domadora do ser hu Maravilha do ser humano Há muitas maravilhas mas nenhuma é tão maravilhosa quanto o homem Ele atravessa ousado o mar grisalho impulsionado pelo vento sul tempestuoso indiferente às vagas enormes na iminência de abismálo deusa suprema abrindoa com o arado em sua ida e volta ano após ano auxiliado pela espécie equina Ele captura a grei das aves lépidas e as gerações dos animais selvagens e prende a fauna dos profundos mares nas redes envolventes que produz homem de engenho e arte inesgotáveis Com suas armadilhas ele prende a besta agreste nos caminhos íngremes e doma o potro de abundante crina pondolhe na cerviz o mesmo jugo que amansa o fero touro das montanhas Soube aprender sozinho a usar a tala e o pensamento mais veloz que o vento e as leis que disciplinam as cidades e a protegerse das nevascas gélidas duras de suportar a céu aberto e das adversas chuvas fustigantes ocorremlhe recursos para tudo e nada o surpreende sem amparo somente contra a morte clamará em vão por um socorro embora saiba fugir até de males intratáveis Sutil de certo modo na inventiva além do que seria de esperar e na argúcia que o desvia às vezes para a maldade às vezes para o bem se é reverente às leis de sua terra e segue sempre os rumos da justiça jurada pelos deuses ele eleva à máxima grandeza a sua pátria Nem pátria tem aquele que ao contrário adere temerariamente ao mal jamais quem age assim seja acolhido em minha casa e pense igual a mim2 Fundamento da responsabilidade Responsabilidade vinculase necessariamente à liberdade Só se é responsável por aquilo a que se é obrigado a responder de que se deve prestar conta Só respondemos pelos atos que de alguma maneira dependem de nós enquanto seres humanos E o que constitui a humanidade de nossos atos é a racionalidade livre Onde regem as leis indômitas da natureza não há liberdade nem responsabilidade humana Os animais não são responsáveis por nenhuma brutalidade que fazem Os cataclismos da natureza não são responsabilizáveis Os monstros agem sem merecer punição A responsabilidade iniciase com a cultura com a cidade com as relações para além da pura natureza no mundo interhumano A natureza do ato humano enquanto tal tem um fim ora explicitamente estabelecido ora escondido na trama da existência No entanto caracterizalhe o caráter humano a adscrição de um fim E o fim o objetivo a intenção final se movem pela posição de um valor Responsabilidade do teólogo O teólogo não esquecendo jamais que também ele é membro do povo de Deus deve nutrirlhe respeito e esforçarse por dispensarlhe um ensinamento que não venha a lesar de modo algum a doutrina da fé4 Somos todos habitantes do mesmo cosmos A comunhão cósmica fundamenta novas responsabilidades Hoje as pessoas tornamse cada vez mais sensíveis a esse novo tipo de compromisso responsável sobretudo por parte da classe pensante Numa palavra somos responsáveis por causa de nossa condição de seres humanos livres e conscientes Nascemos para dentro de relações interpessoais e societárias Na fé fomos chamados a participar da criação de Deus e ser comunidade Enfim vivemos numa imensa sinfonia cósmica da qual somos uma nota responsável O que nos abriu o espaço da responsabilidade foi a clareza da nossa consciência que nos separou do simples mundo da natureza onde regem as leis deterministas Quanto mais ampla se torna nossa consciência pessoal interpessoal societária religiosa crente eclesial cósmica tanto maior se impõe a responsabilidade Novidade moderna no espaço da responsabilidade Nesse nível abstrato de reflexão os campos da natureza e da história do destino e da decisão do determinismo e da liberdade pareciam claros Tudo o que se processava no mundo da natureza escapava da responsabilidade humana Tudo o que constituía a história era seu espaço de decisão Tal situação parecianos bem definida porque desconhecíamos muitos do que julgávamos caprichos da natureza ou se os conhecíamos não tínhamos nenhum poder de controle sobre eles Além disso ignorávamos a imbricação profunda entre nossas ações humanas históricas e suas repercussões sobre a natureza E esta nos revidava de maneira contundente sem que nos julgássemos responsáveis por tal O desconhecimento das ciências a incapacidade de controle das forças da natureza uma concepção restrita da dinâmica da história impediam que se percebesse o alcance de muitos atos presentes A responsabilidade se restringia ao curto espaço de tempo do presente das pessoas O desenvolvimento da ciência e da tecnologia a percepção do dinamismo da história revolucionaram o mundo da responsabilidade sobretudo a do intelectual Ele já não se situa inocentemente diante de criações e aplicações científicotecnológicas cujos efeitos nefastos para gerações futuras são previsíveis Já não lhe é permitido permanecer indiferente ausente omisso diante de fenômenos da natureza perversos para o ser humano cujo controle já é possível A responsabilidade do intelectual no caso do exemplo citado do cientista ampliouse muito na modernidade Vale tal reflexão de conhecimentos da psicologia da sociologia etc que interferem para bem ou para mal na construção do futuro Quanto maior for nossa possibilidade de conhecimento da realidade e de controle sobre ela tanto maior nossa responsabilidade O intelectual é responsável pelo tipo de conhecimento que produz que deve ter cujos efeitos pode controlar E não lhe é lícito entregálos à inerência do destino nem ao fluir imemorial da natureza5 Alcance da responsabilidade diante de quem Responsabilidade é responder por alguma coisa diante de alguém em relação a alguém O intelectual responde por sua atividade intelectual Diante de quem Em relação a quem Responsabilidade diante de si O intelectual é um sujeito no duplo sentido da palavra Ele sustenta produz faz suas atividades Mas também se submete à objetividade de suas ações Carregaas É sujeito ativo e passivo Produz e submetese Sob este duplo sentido é responsável Responsabilidade do teólogo O teólogo não esquecendo jamais que também ele é membro do povo de Deus deve nutrirlhe respeito e esforçarse por dispensarlhe um ensinamento que não venha a lesar de modo algum a doutrina da fé4 Enquanto sujeito ativo o intelectual se configura se estrutura como pessoa se constrói a si mesmo por suas atividades intelectuais Elas são a argamassa de seu eu histórico Há algo tão importante quanto a construção de si mesmo Nossa responsabilidade nesse processo é enorme Somos aquilo que vamos fazendo de nós mesmos E isso afetará todas as outras realidades com as quais nos relacionamos Nesse sentido de autoconstrução por meio da atividade intelectual somos altamente responsáveis pelo que fazemos de nós mesmos Imagine a terrível subjetividade que os arquitetos os engenheiros os químicos os policiais foram construindo ao se empenharem na produção dos conhecimentos necessários para a criação dos campos de concentração Que personalidade se constrói alguém cuja atividade intelectual é dedicada a gerar conhecimentos para a morte pesquisando bombas napalm armando bombas atômicas elaborando saberes de morte O sujeito é responsável ante sua consciência pelos critérios éticos que o regem na sua atividade intelectual Nunca poderão como o nazista Eichmann delegar a outro mesmo que seja o comandante superior a responsabilidade de sua atividade intelectual Ninguém isenta o intelectual da autoresponsabilidade Numa palavra a atividade intelectual pode ser uma realização de humanidade ou de desumanidade do sujeito que a pratica Somos o que fazemos criamos produzimos As ações humanas não se desvinculam totalmente de seu ser Não só vale o que dizia a Escolástica agere sequitur esse o agir segue o ser como também esse sequitur agere o ser segue o agir Frequentemente no campo cristão a obediência ao superior serviu de desresponsabilização da ação do sujeito Ele procedia como se o único responsável de seu ato fosse o superior Algo absolutamente falso Ninguém desresponsabiliza outra pessoa de seu próprio ato O último critério de moralidade e portanto de responsabilidade é a própria consciência O superior responderá diante da sua consciência pelo ato da sua ordem O súdito pelo ato da sua obediência O conteúdo de ambos os atos caem sob o juízo crítico da ética e do Evangelho O corpo é o de que se alimenta Somos o que lemos somos o que escrevemos somos o que pesquisamos somos o que ensinamos Nessa perspectiva a responsabilidade da vida intelectual recebe nova luz e se torna mais séria e pesada de consequências 1 Apresenta de forma breve e objetiva os pontos principais do documento sem detalhes extensivos ou críticas 2 AÉ uma citação direta longa recuo de 10 cm espaço simples fonte tamanho 10 sobre o autor o nome fica em caixa alta separado por virgula do ano e página da publicação bÉ uma citação indireta não pode ultrapassar mais de 3 linhas e fica dentro do texto ficam ao fim da citação devem ficar dentro dos parênteses e devem ser separadas por ponto e vírgula e em ordem alfabética 3Aspas duplas são usadas para citações diretas enquanto aspas simples destacam palavras ou frases dentro dessas citações 4Fornecer informações adicionais referências bibliográficas e esclarecimentos que complementam o texto sem interromper o fluxo principal 5É a seção de um trabalho acadêmico onde se resumem os principais resultados discutemse as implicações e apresentamse sugestões para futuras pesquisas reafirmando a relevância do estudo 6Garantir uniformidade facilitar a leitura padronizar a apresentação e assegurar a conformidade com padrões acadêmicos e científicos 7Utilização não autorizada de trabalhos ideias ou textos de outra pessoa apresentandoos como próprios sem a devida atribuição de crédito 8Margens tipo e tamanho de fonte espaçamento numeração de páginas formato das citações e referências e estrutura do texto títulos subtítulos parágrafos 9 Correto ARISTÓTELES Metafísica Tradução de Vincenzo Cocco São Paulo Abril Cultural 1973 Correto DERRIDA Jacques Adeus a Emmanuel Levinas Tradução de Fabio Landa São Paulo Perspectiva 2013 Correto CESAR Chico RENNO Carlos Quando fecho os olhos VIP Collection 2009 Disponível em httpswwwvagalumecombrchicocesarquandofechoosolhoshtml Acesso em 22 out 2016 MATTÉI JeanFrançois Prefácio Levinas e o retorno à ética In HADDOCK LOBO Rafael Da existência ao infinito ensaios sobre Emmanuel Levinas São Paulo Editora Loyola 2006 p 2127 CORREA Roberto Alvim org Dicionário escolar francêsportuguês portuguêsfrancês 2 ed Estado da Guanabara Departamento Nacional de Educação Ministério da Cultura 1961 10A disciplina de metodologia científica é fundamental no curso de graduação em filosofia pois proporciona aos estudantes as ferramentas necessárias para conduzir pesquisas rigorosas e sistemáticas Ela ensina técnicas de investigação análise crítica e argumentação lógica essenciais para a elaboração de trabalhos acadêmicos de qualidade Além disso a metodologia científica ajuda a desenvolver habilidades de leitura crítica organização de ideias e comunicação clara fundamentais para o estudo e a prática da filosofia Ao dominar essas técnicas os estudantes são capacitados a contribuir de forma significativa para o campo filosófico produzindo conhecimento original e bem fundamentado O processo de produção intelectual é uma sequência de atividades mentais e metodológicas que culminam na criação de novos conhecimentos ideias teorias ou produtos culturais Este processo iniciase com a inspiração onde ideias iniciais e questionamentos surgem frequentemente desencadeados por observações leitura experiências pessoais ou discussões A próxima fase é a pesquisa e análise na qual o indivíduo coleta informações revisa a literatura existente e analisa dados relevantes para aprofundar sua compreensão sobre o tema Em seguida vem a fase de incubação onde as informações e ideias coletadas são mentalmente processadas permitindo que o subconsciente trabalhe na resolução de problemas e na formulação de novas conexões Esse período pode ser marcado por atividades menos intensivas mas que favorecem a reflexão Após a incubação ocorre a fase de iluminação momento em que surgem insights e soluções criativas que formam o núcleo da produção intelectual Com as ideias principais delineadas entrase na fase de elaboração onde essas ideias são organizadas desenvolvidas e refinadas Nesta etapa é essencial a capacidade de estruturar o pensamento de maneira coerente e lógica resultando em um produto intelectual claro e articulado A fase de revisão é crucial pois permite a avaliação crítica do trabalho correção de erros e aprimoramento de argumentos e conceitos A fase de divulgação envolve a comunicação dos resultados para o público alvo seja através de publicações acadêmicas apresentações livros artigos ou outros meios de difusão Cada etapa do processo de produção intelectual é interdependente e contribui para a construção de um conhecimento robusto e inovador destacandose a importância da disciplina criatividade e rigor metodológico ao longo de todo o processo Fonte Introdução a Vida Intelectual João Batista Libanio Link httpswww2ufjfbrcritt20230130oqueepropriedadeintelectualequais saoasformasdeprotegela Link httpswwwjusbrasilcombrartigospropriedadeintelectualconceitoevolucao historicaenormativaesuaimportancia407435408 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31