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VÍRUS EBOLA\nRicardo Delfini Perci *\n\nResumo\nA febre hemorrágica causada pelo vírus Ebola vem aterrorizando a África e o mundo desde o final da década de 60. Os casos, com números controversos, são causados pelos vírus Ebola variedade Zaire, Ebola variedade Sudão, Ebola variedade Restro e pelo vírus Marburg. As péssimas condições sócio-econômicas e de higiene, aliadas às más condições dos hospitais da região, contribuíram para o aparecimento e manutenção do surto. Cuidados universais com sangue e secreções, a adequada esterilização dos materiais médico-hospitalares e adequadas técnicas de isolamento, são medidas que contribuem eficientemente para o controle de surtos pelo vírus.\n\nAbstract\nThe hemorrhage fever caused by the \"Ebola virus\", has been terrifying Africa and the world since the end of 60's. The cases, with controverted numbers, are caused by the Virus Zaire variety Ebola, Sudan variety Ebola, Restro variety and by Marburg virus. The worst social-economic conditions of hygienics, plus the bad conditions of the region hospitals, contributed to the appearing and maintained of the soaring. Universal cares with blood and secretions, the suitable techniques of isolation, are steps that efficiently contribute to the control of the soarings by the virus.\n\n1. HISTÓRICO\nOs primeiros relatos do aparecimento de um novo vírus causador de febre hemorrágica datam de 1967, quando o surto ocorreu em profissionais de laboratório que manipulavam cultivos celulares com órgãos de macacos verdes, vindos de Uganda, há cerca de um mês antes do início do surto. Este surto ocorreu na Alemanha e na Iugoslávia, e se estendeu aos familiares do pessoal do laboratório. O vírus isolado foi classificado como Filovírus (vírus filamentosos), do gênero Marburg, cujo nome se refere à cidade Alemã onde apareceram os casos, sendo a taxa de mortalidade, naquela cidade, de 23%.\nApós 8 anos, um novo surto ocorreu na África do Sul, semelhante ao ocorrido anteriormente, e em 1976, no Sudão e no Zaire, cerca de 500 pessoas foram acometidas por febre hemorrágica de etiologia desconhecida na época, mantendo 53% dos contaminados no Zaire, e 88% no Sudão. Aquele vírus era muito semelhante ao Marburg isolado anteriormente, na Alemanha, e foi batizado como Ebola, variedade Zaire, e variedade Sudão. As formas de contágio desta nova epidemia, logo foram descritas: seringas e agulhas contaminadas (não havia esterilização adequada dos materiais médico-hospitalares), e secreções, pois cerca de 3 a 17% dos contactantes das vítimas e dos profissionais da saúde foram envolvidos. Os fatores descritos são a contágio aéreo do vírus, nem o contágio por contato esporádico com as vítimas.\nA epidemia foi logo debelada através da introdução dos cuidados universais com sangue e secreções, esterilização adequada dos materiais médicos hospitalares, educação sanitária (alguns hospitais jogavam seu lixo hospitalar próximo à área hospitalar, e não existia saneamento básico). Em um estudo ocorrido no Zaire, sendo, no Sudão, relatados 34 casos com taxa de letalidade de 65%. Em 1989 o vírus foi isolado nos EUA, em macacos importados das Filipinas.\nNovo surto em macacos de laboratórios da Itália e dos EUA ocorreu em 1992, também em macacos importados das Filipinas; a taxa de mortalidade destes animais chegou a 52%, e a positividade na pesquisa de anticorpos no sangue (Imunofluorescência Indireta - IFI) foi de 25,9%.\nEm 1994 um novo surto de febre hemorrágica se inicia na cidade de Kikwit, no Zaire, porém as taxas de mortalidade são, provavelmente, maiores que as dos outros surtos anteriores daquele. Alguns estudos etiológicos das febres hemorrágicas, foram isolados os vírus Marburg em 25% dos casos, e o vírus Ebola variedade Sudão, em 50% dos casos (relatos controversos de isolamento de até 90% do vírus Ebola variedade Zaire), e talvez existam outros vírus que ainda não foram diagnosticados sorologicamente. Mais uma vez o vírus aparece numa região de floresta equatorial africana (entre o Zaire, Sudão, Quênia e Uganda), com precárias condições de higiene e saneamento básico, que fatalmente facilitou a manutenção do surto.\nEstudos retrospectivos da epidemia de febre amarela ocorreram na Etiópia entre 1961 e 1962, revelaram a presença de infecção com o Ebola e o vírus da febre amarela, mostrando que as epidemias com novos agentes etiológicos já estavam sendo ocorridas há décadas atrás, porém não foram diagnosticadas sorologicamente. aguda da doença. O isolamento viral em cultivos celulares deve ser realizado em laboratórios de nível 4 de segurança, sendo portanto um procedimento que não é utilizado de rotina.\n\nDosagem de anticorpos séricos (pela imunofluorescência indireta e pela fixação de complemento) podem ser realizados; o método de pesquisa ELISA revelou uma positividade alta em tecidos de primatas infectados.\n\n5. PREVENÇÃO E TRATAMENTO\n\nO tratamento se baseia apenas nas medidas de manutenção das condições vitais dos pacientes, como controle das hemorragias, do quadro pulmonar e do coma; não existe tratamento etiológico (ou seja, contra o vírus).\n\nQuanto às medidas preventivas, o isolamento dos hospitais afetados pela epidemia africana forma suficientes para seu controle, além dos cuidados universais com sangue e secreções, uso apropriado de roupas para isolamento, máscaras, luvas, esterilização de materiais e limpeza hospitalar adequada.\n\nEstudos com vacinas estão sendo realizados, além de estudos com soro hiperimune; porém ainda não foram padronizados e nem confirmada a sua eficácia.\n\nCONCLUSÃO\n\nAs condições precárias de higiene e saúde dos países africanos, assim como seu ecosistema pouco explorado, facilitam o aparecimento, em humanos, de doenças animais pouco conhecidas, e de agentes etiológicos novos, como a febre hemorrágica pelo vírus Ebola. Bibliografia\n\n1. DALGRADO,D.W. 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