Texto 1 Ginastica Escolar

10 Saberes da Ginástica na educação escolar\nMarynelma Camargo Garanhani\n\nCom a intenção de propiciar ao indivíduo de nossa sociedade a vivência de diferentes situações de movimento para seu desenvolvimento e educação, profissionais da Educação Física utilizam diversas práticas, sistematizadas ao longo de um processo histórico-cultural.\n\nEntre as práticas de movimento presentes na atual sociedade brasileira, destacam-se no contexto da educação escolar: o jogo, a dança, o esporte, as lutas e as ginásticas. Essas constatações nos mobilizam a (re)pensar os saberes de práticas de movimento como conteúdo da Educação Física Escolar e a Ginástica foi o tema eleito para reflexões e proposições. 212\nInicialmente, apresentamos definições e formas da Ginástica visualizadas nos dias atuais. Esse procedimento se justifica pela intenção de propor uma sístese. Na sequência, abordaremos orientações para a seleção e a organização de saberes da Ginástica desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. Para focalizar as discussões no trabalho pedagógico da Ginástica, na educação da criança, desenvolvemos reflexões sobre a prática pedagógica do movimento na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.\n\nFinalizamos o estudo com propostas metodológicas que justificam a prática da Ginástica na fase inicial da escolarização infantil.\n\nGinástica: definições e práticas\n\nAo sistematizar reflexões e propostas sobre a Ginástica na Educação Física escolar, faz-se necessário iniciar pela sua definição, ou seja, apresentar conceitos e, consequentemente, compreender suas formas de aplicação no âmbito da sociedade em geral. Segundo Soares et al. (1992, p. 77), entende-se Ginástica \"como uma forma particular de exercitação onde, com ou sem uso de aparelhos, abre-se a possibilidade de atividades que provocam valiosas experiências corporais, enriquecedoras da cultura corporal, em particular, e do homem, em geral\". Esses autores mostram que a Ginástica poderá ser uma prática que oportuniza aos indivíduos conhecimento, reconhecimento e compreensão da movimentação do seu corpo, como também os movimentos construídos no contexto sociocultural a que pertencem. 213\nEssas definições nos levam a concluir que a definição de Ginástica se constrói conforme o contexto em que essa prática encontra-se inserida e os objetivos a que se propõe.\n\nSilveira (s/d) apresenta uma classificação para a Ginástica que caracteriza suas formas com base nas seguintes finalidades:\n\n• Ginástica educativa ou formativa: são atividades desenvolvidas no contexto escolar, com o objetivo de contribuir na formação educacional do aluno.\n• Ginástica de manutenção: são atividades utilizadas visando à manutenção das capacidades físicas e à conservação da saúde.\n• Ginástica de compensação: são movimentos utilizados para a movimentação de grupos musculares menos favorecidos pelas atividades profissionais ou pela falta de atividade física.\n• Ginástica de condicionamento: são movimentos utilizados na preparação física de atletas, bailarinos etc.\n• Ginástica desportiva: são grupos de movimentos codificados, visando ao julgamento durante a competição.\n• Ginástica especial: são movimentos aplicados em indivíduos que estão em situações especiais, como gestantes, portadores de deficiências, reabilitação física etc.\n\nEssa classificação oferece elementos não só para a caracterização das atividades ginascticas de nosso contexto sociocultural, mas também propostas que orientam sistematizações de conteúdos referentes à Ginástica nos programas curriculares de Educação Física escolar. A Ginástica na Educação Física escolar apresenta-se como um campo educativo que propicia a vivência de atividades de movimentos de caráter formativo que propicia a vivência de atividades de movimentos de.literalmente (correr, saltar, rolar etc.), manipulação (lançar, pegar, quicar etc.), equilíbrio (girar, balançar, agachar etc.) e utiliza como procedimento metodológico vivências de formas variadas de movimentos (com e sem deslocamento) em diferentes posições corporais, em direções diversas etc.), com ou sem uso de materiais auxiliares.\n\nVivências de atividades ginásticas no contexto escolar propiciam à criança e ao jovem a oportunidade de conhecer seu corpo, suas possibilidades de movimento e, consequentemente, o domínio de seus movimentos, auxiliando no desenvolvimento de sua expressão e comunicação corporal.\n\nA Ginástica pode ser considerada como atividade motora base, pois, segundo Hostal (1982), essa prática coloca o aluno em relação com o seu próprio corpo, permitindo-lhe descobrir diversos segmentos, exercer o jogo das articulações, sentir e realizar melhor os vários movimentos que elas desencadeiam, logo, é uma conscientização geral da existência do corpo e dos deslocamentos em um espaço onde as distâncias, os intervalos, as direções e os sentidos são avaliados e controlados. Na Ginástica, o corpo se encontra, geralmente, em situações e posições incomuns, sendo o momento de dominar os elementos socioafetivos: emoção, atenção e concentração. Além disso, a Ginástica nos ensina a enfrentar progressivamente, a partir de situações seguras, situações mais rigorosas e vencer sozinho a dificuldade do problema proposto. Portanto, sendo um meio privilegiado, a Ginástica permite melhor domínio do corpo, quer pela prática de exercícios de forma fixa, quer, também, pela prática de atividades de expressão corporal.\n\nAlém desses objetivos, o conhecimento e a prática da Ginástica no âmbito da Educação Física escolar poderão desenvolver no aluno: • o hábito da prática de movimentos e do cuidado com o corpo;\n• o (re)conhecimento de critérios para a seleção de atividades físicas;\n• o domínio de movimentos para a participação em atividades artísticas, esportivas e físico-recreativas;\n• o conhecimento de movimentos sobre o corpo para que saibam reconhecer e apreciar manifestações culturais que envolvam a sua movimentação.\n\nMas como sistematizar seus conteúdos? Que saberes da Ginástica devem ser contemplados nos programas da Educação Física escolar? Para a realização da tarefa, foi necessário recorrer a referenciais teóricos que tratam da configuração do conhecimento em saber escolar.\n\nSegundo Saviani (1998), o conhecimento apresentado na escola e organizado em áreas ou componentes curriculares, e cada um desses componentes possui suas características, especificidades e objetivos próprios.\n\nEssa autora enfatiza que, embora o conhecimento de uma determinada área seja específico, os elementos que constituem a estrutura do conhecimento são únicos. Portanto, o conhecimento é expresso na escola por intermédio dos seguintes elementos: ideias, conceitos, fatos, princípios, habilidades, técnicas, hábitos, atitudes, valores e normas. Com base nesses pressupostos, configuramos a Educação Física escolar como um conjunto de conhecimentos sobre o movimento humano e suas práticas, composto e organizado por conceitos, fatos, princípios, habilidades, valores, atitudes e normas que podemos aprender, compreender e utilizar em todos os momentos em que houver a intenção de fazê-lo.\n\nEsses pressupostos poderão orientar a seleção de conteúdos da Educação Física nas diferentes fases da educação escolar. Mas é importante ressaltar que, apesar de os elementos que estruturam o saber escolar estarem sempre presentes no ensino/aprendizagem de conteúdos em qualquer fase da educação, estes deverão ser enfocados com maior ou menor predominância, dependendo das características da idade em que serão desenvolvidos. Por exemplo: 1. Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental (do 1º ao 3º ano): a criança, nesta fase educacional, encontra-se em um momento de identificação e organização da realidade que vive. Segundo Wallon, o movimento, nessa fase, serve como instrumento de exploração do mundo físico, voltando a ação da criança à adaptação à realidade objetiva (Galvão, 1995). Com base nessas características, o desenvolvimento de conteúdos da Educação Física escolar deverá propiciar a aprendizagem de movimentos. Portanto, o conhecimento a ser ensinado será constituído, predominantemente, de habilidades e procedimentos.\n\n2. Anos intermediários do Ensino Fundamental (do 4º ao 7º ano): nesta fase, a criança e, na sequência, o adolescente, encontram-se em um período de iniciação à sistematização do conhecimento. Segundo o Coletivo de Autores (1992, p. 35),\n\no aluno vai adquirindo a consciência de sua atividade mental, suas possibilidades de abstração, confronta os dados da realidade com as representações de seu pensamento sobre eles. Começa a estabelecer nexos, dependências e relações complexas, representando no conceito e no real aparente, ou seja, no aparecer social.\n\nO desenvolvimento de conteúdos da Educação Física escolar deverá propiciar, então, a aprendizagem sobre o movimento. Portanto, o ensino de conceitos, fatos e princípios sobre o movimento predominara no desenvolvimento de conteúdos.\n\n3. Anos finais do Ensino Fundamental (8º e 9º ano) e Ensino Médio: o jovem que se encontra nesta fase tem condições de ampliar e aprofundar a sistematização do conhecimento adquirido. Apresenta condições de compreender e refletir os significados que constituem os conteúdos aprendidos na escola. No âmbito da Educação Física escolar, deverá prevalecer a aprendizagem para o movimento. Portanto, os conteúdos a serem ensinados deverão ressaltar as atitudes, os valores e as normas das práticas de movimentos presentes na sociedade atual. Com base nessas considerações, propomos diretrizes para a seleção e a sistematização de saberes da Ginástica na Educação Física escolar, as quais configuramos da seguinte forma:\n\n1. Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental (do 1º ao 3º ano): a Educação Física escolar, nesta fase, poderá proporcionar formas ginásticas que impliquem vivência das diferentes possibilidades de movimentação do corpo, em situações e ambientes de aprendizagem diversificados, como, por exemplo:\n\n• vivência de movimentos sem a utilização de materiais didático-pedagógicos; utilizando somente do seu próprio corpo e/ou o corpo do colega;\n• aprendizagem de movimentos realizados em materiais didático-pedagógicos, como pendurar-se em cordas, subir em caixotes, andar sobre uma superfície elevada etc.;\n• aprendizagem de movimentos realizados com materiais didático-pedagógicos, como manipular bolas, arcos, lenços, cordas etc.;\n\n2. Anos intermediários do Ensino Fundamental (do 4º ao 7º ano): já nesta fase, a Educação Física escolar poderá ensinar formas técnicas das diversas atividades ginásticas presentes em nossa sociedade e os elementos que as configuram. Por exemplo: ensinar aos alunos os elementos que caracterizam a Ginástica como esporte e os princípios que os diferenciam; mostrar-lhes diferentes programas de Ginástica que têm o objetivo de promover a saúde e o bem-estar do indivíduo; ensiná-los a identificar os elementos ginásticos presentes nas demonstrações artísticas de determinado contexto sociocultural etc. Portanto, a aprendizagem da técnica de um movimento na Educação Física escolar é necessária quando permite que o aluno possa conhecer e brincar com as possibilidades de movimento do seu corpo. Com base nessas considerações, propomos diretrizes para a seleção e a sistematização de saberes da Ginástica na Educação Física escolar, as quais configuramos da seguinte forma:\n\n1. Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental (do 1º ao 3º ano): a Educação Física escolar, nesta fase, poderá proporcionar formas ginásticas que impliquem vivência das diferentes possibilidades de movimentação do corpo, em situações e ambientes de aprendizagem diversificados, como, por exemplo:\n\n• vivência de movimentos sem a utilização de materiais didático-pedagógicos; utilizando somente seu próprio corpo e/ou o corpo do colega;\n• aprendizagem de movimentos realizados em materiais didático-pedagógicos, como pendurar-se em cordas, subir em caixotes, andar sobre uma superfície elevada etc.;\n• aprendizagem de movimentos realizados com materiais didático-pedagógicos, como manipular bolas, arcos, lenços, cordas etc.;\n\n2. Anos intermediários do Ensino Fundamental (do 4º ao 7º ano): já nesta fase, a Educação Física escolar poderá ensinar formas técnicas das diversas atividades ginásticas presentes em nossa sociedade e os elementos que as configuram. Por exemplo: ensinar aos alunos os elementos que caracterizam a Ginástica como esporte e os princípios que os diferenciam; mostrar-lhes diferentes programas de Ginástica que têm o objetivo de promover a saúde e o bem-estar do indivíduo; ensiná-los a identificar os elementos ginásticos presentes nas demonstrações artísticas de determinado contexto sociocultural etc. Portanto, a aprendizagem da técnica de um movimento na Educação Física escolar é necessária quando permite que o aluno possa conhecer e brincar com as possibilidades de movimento do seu corpo. o desafio;\n\no lúdico;\n\na oportunidade;\n\na reflexão.\n\nEsses princípios deverão estar presentes na organização da prática docente do professor de Educação Física que trabalhará com a Ginástica na escola, e a Ginástica para Todos (Ginástica Geral) se apresenta como uma estratégia metodológica para o desenvolvimento de seus conteúdos, especialmente nos anos intermediários e finais do Ensino Fundamental e também no Ensino Médio. Mas o que é Ginástica para Todos (Ginástica Geral)?\n\nGinástica para Todos (Ginástica Geral) é uma prática que busca a participação de todos aqueles que se sentem atraídos pela vivência e demonstração de movimentos de forma criativa e original e que oportuniza o conhecimento e/ou reconhecimento dos limites e das possibilidades do corpo. Oferece um extenso número de atividades de expressão ginástica, como c/sim aparelhos, que se apoiam nos aspectos da cultura nacional do grupo que a pratica. É uma prática que oportuniza a parceria entre a educação, o lazer e a arte. Em razão desses aspectos, pode ser realizada nos diferentes espaços educacionais (escola, clubes, associações etc.) que valorizam a movimentação do corpo, independentemente de padrões técnicos, artísticos e esportivos presentes na sociedade.\n\nA Ginástica para Todos (Ginástica Geral) constitui-se em ferramenta para a vivência e o ensino/aprendizagem de formas ginásticas não só no âmbito do Ensino Fundamental e Ensino Médio, mas também nos cursos de formação inicial e continuada de professores de Educação Física.\nDiante dessas considerações e propostas, concluímos que é necessário que o profissional atuante na Educação Física escolar e na formação de professores tenha conhecimento consistente sobre os fundamentos e as aplicações dessa prática nos diferentes contextos educacionais da sociedade e as aplicações dessa prática para organizar e desenvolver um fazer pedagógico que contemple os saberes da Ginástica.\n\nA Ginástica na Educação Escolar da criança\n\nA Ginástica na Educação Infantil e em anos iniciais do Ensino Fundamental também se constitui como atividade motora base, pois atende a necessidade da criança em vivenciar as possibilidades de movimentação do seu corpo para que possa dominá-lo nas mais diversas situações do cotidiano, utilizá-lo como meio de expressão de suas vontades e intenções e, consequentemente, compreendê-lo como uma ferramenta para a comunicação com o meio.\n\nNessa fase da educação escolar, a prática pedagógica do movimento deverá ser norteda por três eixos (Garanhani, 2004, 2010):\n\n- aprendizagens que envolvem o corpo em movimento para o desenvolvimento físico e motor, proporcionando, assim, o conhecimento, o domínio e a consciência do corpo, condições necessárias para a autonomia e a identidade corporal infantil;\n- aprendizagens que levam à compreensão de movimentos do corpo como uma forma de linguagem utilizada na interação por meio da socialização;\n- aprendizagens que levam à ampliação do conhecimento de práticas corporais infantis historicamente produzidas na e pela cultura em que a criança se encontra.\n\nEsses eixos deverão se apresentar integrados no fazer pedagógico da Educação Infantil, embora na elaboração das atividades