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Trabalho de Antropologia Teológica Fichamento de citação Do Livro Corpo e Transcendência A antropologia filosófica na Teologia de São João Paulo II Autor JAROSLAW MERECKI SDS Traduzido por D hugo Cda SCavalcante OSB e Pe Valdir M dos Santos Filho SCJ Edições CNBB 1a Edição 2014 Professor Roberto Aluno Jonatas Bentes Picanço FACULDADE ALUNOS FICHAMENTO DE CITAÇÃO CIDADE 2022 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA MERECKI Jaroslaw Corpo e Transcendência A Antropologia filosófica na teologia do corpo de São João paulo II Edições CNBB 2014 São João Paulo II na sua teologia do corpo atravessa o limiar do pecado original e desenvolve uma hermenêutica do princípio teológico do homem Na teologia do corpo temos a visão integral do homem que compreende em si seja a sua dimensão experimental dada na experiência e analisada na reflexão filosófica seja a sua dimensão sobrenatural dada na revelação O método de São João Paulo II poderia justamente ser definido como a hermenêutica fenomenológica do princípio O texto bíblico ajuda neste contexto a indagar esta dimensão da experiência humana a qual se encontra além da experiência histórica do próprio homem que ficaria dificilmente acessível ao nosso conhecimento sem o apoio das Escrituras Entre estes dois estados protohistórico e histórico existe também certa continuidade que nos permite aproximarse ao estado proto histórico à experiência que era própria do homem antes do pecado original Subjetividade humana Para São João Paulo II é a experiência do corpo que nos põe em contato com o estado protohistórico e com o vivido pelo primeiro homem homem e mulher Não obstante o pecado original e as suas consequências a experiência do corpo conserva a sua continuidade entre o estado proto histórico e o estado histórico O homem sempre experimentando a si mesmo vive como encarnado e todas as suas experiências de alguma maneira estão ligadas à corporeidade Como veremos na filosofia moderna esta dimensão do vivido humano foi às vezes subestimada naquilo que queremos chamar o dualismo antropológico para depois ser retomada e valorizada na filosofia contemporânea A expressão dualismo antropológico a utilizamos no sentido específico da neutralização axiológica do corpo ela pertence então ao campo da moral Segundo São João Paulo II a situação protohistórica do homem pode ser descrita com três coordenadas a solidão a unidade e a nudez originais A solidão original exprime conjuntamente a constituição ontológica do homem como tal e a sua gênese como sujeito pessoal sobre o plano experimental Trataremos aprofundar este conjunto de problemas com a ajuda da filosofia da pessoa elaborada no livro Pessoa e ato A unidade original reenvia a outro aspecto essencial do homem ou seja a sua abertura em relação ao outro O estado natural do homem é aquele da luta de todos contra todos como sustentava Hobbes ou sem negar o potencial de agressão presente no homem possamos dizer que existe também outra e mais profunda verdade do homem Ou em caso de resposta positiva como poderemos descobrila A existência da pessoa humana no corpo significa que o homem existe no tempo e na história Desde o início da sua existência sobre a terra o homem vive também no horizonte da morte a qual faz parte do seu destino natural A estrutura natural do corpo como toda estrutura mais complexa está submetida à lei da entropia Por outro lado porém o homem não quer contentarse da finitude inscrita no seu corpo e põe a questão sobre a imortalidade e sobre o escopo da história O tomismo existencial que via na descoberta do papel do actus essendi a principal característica da filosofia de São Tomás A assim chamada escola de Lublin enriqueceu essa interpretação sobretudo com a aprofundada reflexão metodológica O pensamento filosófico de São Tomás está presente na visão antropológica e ética de Wojtyla Na sua filosofia Wojtyla busca porém enriquecer a abordagem metafísica com o método próprio da filosofia moderna isto é com o método fenomenológico Em certo sentido se poderia dizer que ele busca construir uma ponte entre estas duas orientações filosóficas entre a metafísica clássica e a fenomenologia Encontrou essa última valorizando a possibilidade de construir a ética cristã na base do sistema ético de Max Scheler A experiência como primeira e insubstituível fonte da filosofia A primeira e mais importante fonte da antropologia de Wojtyla é portanto a experiência do homem Vale a pena sublinhar o fato que o traço característico da antropologia elaborada por Wojtyla consiste em pensar o homem nas categorias que foram tomadas do sistema filosófico mais geral p ex da metafísica mas naquelas que foram elaboradas a partir da pró pria experiência do homem Desse modo ele acolhe o grande postulado do pensamento moderno mas ao mesmo tempo o corrige que quer filosofar a partir do homem Na verdade nós não conhecemos nada fora de nós se não fazemos ao mesmo tempo a experiência de nós mesmos Escreve Wojtyla A experiência de toda coisa situada fora do homem se associa sempre à sua própria experiência E ele não experimenta jamais alguma coisa fora de si sem de alguma maneira experimentar a si mesmo Na filosofia moderna este fato conduziu muitas vezes a negação da autonomia da realidade externa isto é ao idealismo filosófico A experiência do homem tem também a sua especificidade pela qual ela se difere de todas as outras formas de experiência A expressão a experiência do homem pode ser entendida no sentido análogo das experiências dos objetos não humanos isto é o homem nos pode ser dado como objeto da nossa experiência Nesse caso existe uma diferença entre o sujeito e o objeto da experiência Mas o sujeito da experiência é sempre o homem Para a fenomenologia tudo aquilo que se apresenta corporalmente leibhaft é objeto da experiência Desse modo existe não somente a experiência sensível mas também aquela estética moral religiosa ou do homem entendida no sentido que vai além dos dados fornecidos pelas ciências empíricas porque todos esses modos da experiência se referem aos seus objetos próprios Quando pensamos em uma pessoa ou melhor quando a imaginamos aquilo que nos vem a mente é sobretudo a imagem exterior do seu corpo Não nos interessa muito a estrutura interior do seu organismo Essa identidade da pessoa com o corpo na experiência vivida é confirmada por uma outra intuição Quem toca o meu corpo não entra somente em contato com uma res exten sa mas não entra em contato com uma res alguma coisa mas com uma pessoa alguém com um eu Deveremos ainda retornar a riqueza do presente conteúdo nessa experiência À primeira vista ela pode aparecer assaz banal mas nela se exprime aquilo que constitui a própria essência do ser pessoa Se a nossa língua gem permite as duas expressões alguém toca a minha mão e alguém me toca esse fato significa que vivemos a nossa relação com o corpo segundo duas modalidades diferentes possuímos o nosso corpo dizemos exatamente o meu corpo e somos o nosso corpo Na terminologia de Karol Wojtyla de Pessoa e ato diremos que o eu é ao mesmo tempo imanente no seu corpo e transcendente em relação ao seu corpo O corpo e aqui já encontramos a primeira dimensão do corpo como sinal permite o contato imediato com a pessoa do outro constitui um sinal que quase não percebemos medium quo no nosso contato com o outro porque normalmente a nossa atenção não se detém sobre o corpo como objeto mas espontânea e imediatamente a nossa atenção se dirige para a pessoa do outro ou seja para o sujeito O corpo humano não é então objeto como os outros objetos no mundo no Livro do Génesis o primeiro homem sendo criado como corpo entre os ou tros corpos se descobre sozinho isto é diferente de todos os cor pos que o circundam mas sendo expressão do sujeito que o vive a partir de dentro adquire ele mesmo o valor subjetivo no sentido metafísico desse termo Por outro lado o corpo de um animal não é somente expressão de uma res mesmo se não representa um sujeito não o podemos tratar como uma simples coisa aquilo que infelizmente acontece nas nossas sociedades industriais nesse sentido a tradicional distinção jurídica entre persona O animal porém não tem consciência do seu corpo no sentido de poder tomar as distâncias em relação a ele experimenta o seu corpo interiormente como experimentamos nós mas não é capaz de dizer Este é o meu corpo O corpo humano propriamente dito não é somente um organismo vivente No nosso conceito de corpo tem algo mais do que a simples referência à vida entendida no seu sentido biológico É a ciência a tratar o cor po como organismo do qual descobre as leis próprias O método fenomenológico nos permite porém mostrar que o nosso corpo e os corpos dos outros são percebidos por nós não como meros organismos e que o conceito de organismo é justamente já o fruto da abstração científica O princípio unificante que faz do organismo vivente o corpo humano verdadeiro e próprio um corpo vivido por alguém como o seu corpo não pertence ao nível biológico e por isso a nossa compreensão do homem na sua corporeidade não pode ser confiada somente à ciência mas deve chamar em causa a filosofia e ultimamente como veremos também a teologia Karol Wojtyla e depois São João Paulo II analisou esta realidade a partir do fenômeno do pudor sexual Se o homem espontaneamente esconde os seus órgãos sexuais não o faz certamente por vergonha de possuílos Faz isso porque não quer ser tratado apenas como objeto de desejo mas quer ser percebido e afirmado na sua subjetividade ontológica O próprio fato de que o homem perceba o seu corpo desse modo demonstra que o vive como sinal do seu ser pessoa como expressão exterior da sua subjetividade Naturalmente nem todas as partes do corpo exprimem isso da mesma maneira Para algumas especialmente o rosto e os olhos cabe um papel especial O fato de que o homem esconda os órgãos sexuais significa antes de tudo que eleela quer afastar a atenção do outro para essas partes do seu corpo que exprimem a sua subjetividade a sua transcendência pessoal no modo mais imediato Podemos dizer que o corpo humano é uma espécie de palavra que comunica um noema é uma manifesta ção sensível e objetiva daquilo que por natureza é subjetivo isto é do eu humano O nosso agir no mundo não pode prescindir daquilo que disse o corpo ou melhor o pode fazer mas com isso mesmo ou engana o outro ou fere a sua dignidade de um outro modo Vemos aquí como o corpo e a sua linguagem adquirem o valor moral Wojtyla demonstra que o homem é pessoa mas ao mesmo tempo como o homem vive a si mesmo como pessoa Com ele a fenomenologia nos conduz ao limiar da ontologia e viceversa a ontologia adquire a dimensão fenomenológica experimental Desse modo chegouse à conclusão de que quem não vive atualmente a sua relação de autopossessão em relação ao seu corpo não é ainda pessoa ou já não o é mais Em certo sentido podemos dizer que a filosofia moderna ou melhor uma parte dela na sua análise privilegiou a experiência da autopossessão deixando porém na sombra a experiência da identidade da pessoa com o seu corpo Wojtyla fala do corpo como meio de expressão da pessoa consideran do que a pessoa humana é sempre conjuntamente imanente no seu corpo e transcendente em relação a ele Enquanto os pensadores como Platão privilegiam a experiência da posse do corpo e por isso falam da morte no sentido de libertação das limitações que a existência no corpo necessariamente comporta o corpo como prisão da alma outros filósofos põem a ênfase justamente sobre a identidade do homem com o seu corpo eu sou o meu corpo identificando a morte do corpo com a morte da pessoa O estatuto fenomenológico do corpo nos foi revelado como aquele do sinal e expressão do eu humano por outro lado ao contrário vimos que o seu estatuto metafísico àquele que pertence à dimensão do ser consiste naquilo que para a pessoa humana significa existir ou seja viver no corpo Por isso a criação como ação de Deus significa não somente chamar do nada à existência e o estabelecer a existência do mundo e do homem no mundo mas significa também segundo a primeira narrativa beresit bara doação uma doação fundamental e radical ou seja uma doação na qual o dom surge exatamente do nadaNessa perspectiva também o corpo na sua configuração masculina e feminina adquire a dimensão do dom a partir do momento em que a pessoa não o cria mas o descobre como já dado propriamente doado mas como o primeiro dom porque idêntico com dom da existência como vimos no mundo a pes soa humana existe somente no corpo que a pessoa é chamada a aceitar e desenvolver segundo o desígnio originário inscrito nele desde o princípio pelo Criador O sacramento na sua forma históricouniversal é portanto em primeiro lugar expressão da experiência que Deus encontra o homem de maneira humana nos sinais da comunhão humana e na transformação daquilo que é puramente biológico em algo de humano que no ato religioso experimenta a sua transformação em uma terceira dimensão a garantia do divino no humano Quatro momentos da vida humana nos quais estes sacramentos originais se fazem especialmente presentes o nascimento a morte a refeição e o ato sexual Não é difícil notar que todos esses momentos estão ligados ao corpo que nessa perspectiva pode ser visto como um verdadeiro e próprio pré sacramento O homem que vivendo no corpo experimenta a precariedade do seu existir sobre a terra põe a questão sobre o princípio da sua existência e não pode responder a essa questão se não puser outra questão ainda mais radical a questão sobre o princípio de toda a realidade ou seja a questão metafisica A resposta à questão antropológica não pode então prescindir da questão metafísica da pergunta radical sobre o ser Na sua teologia do corpo São João Paulo II responde a essa questão partindo do princípio que na sua reflexão possui seja o sentido teológico que aquele filosófico Para São João Paulo II o princípio possui não somente o valor metafísico mas também fenomenológico Na verdade do ponto de vista fenomenológico a experiência do homem antes do pecado original isto é na situação do seu princípio teológico aparece como particularmente rica de conteúdo Poderia se dizer que exatamente aqui nos tornamos quase testemunhas oculares da gênese da pessoa isto é do modo no qual se constituem as fundamentais estruturas pessoais e do modo no qual o homem toma consciência dela Todas as outras experiências originais do homem são relevantes para a sua fenomenologia mas no que se refere o constituirse pela pessoa como tal a importância particular cabe à solidão original Na filosofia princípio significa não somente um retorno às fontes ao início mas também a busca daquilo que é essencial que vai além daquilo que se apresenta imediatamente significa buscar a essência mais profunda do ser no nosso caso do ser humano significa buscar a sua arché Na fenomenologia o postulado de ir ao essencial encontrou a sua expressão na assim chamada variação eidética na qual o filósofo busca identificar os elementos de um determinado ser sem os quais ele deixaria de ser si mesmo Nesse sentido podemos dizer que na sua teologia do corpo São João Paulo II com a ajuda da filosofia do homem desenvolvida já antes procura identificar estes elementos essências do ser humano e ao mesmo tempo aquilo que é um outro passo de lhe dar a interpretação que vai além da descrição fenomenológica ou seja propõe uma forma daquilo que chamamos de fenomenologia No caso da teologia do corpo a trans fenomenologia transcende a descrição inicial para a interpretação seja metafísica seja teológica dos dados que o filósofo encontrou na experiência Na visão de Platão Deus é entendido como Demiurgo que ordena o mundo segundo as ideias que são eternas Graças às ações de DeusDemiurgo a matéria da sua originária condição caótica é transformada em um cosmos Hierarquicamente porém esse Deus é inferior às ideias elas não são feitas por ele assim como a matéria não é o fruto da sua intervenção criativa Em Aristóteles encontramos uma concepção muito elevada do Absoluto que ultimamente é identificado com o Pensamento que pensa a si mesmo noesis noeseos dado que na visão aristotélica a atividade racional é uma atividade a mais perfeita que possa existir Esse Pensamento constitui o vértice de todo o universo é absolutamente perfeito e autossuficiente é o ato mais perfeito pensamento da faculdade mais perfeita a razão nos confrontos do objeto mais perfeito o próprio Absoluto Mas exatamente a causa da sua perfeição o Absoluto permanece fechado em si mesmo Mesmo se atrai todas as esferas celestes o Absoluto não se interessa pelo mundo e nem mesmo pode interessarse por ele porque isso significaria para ele uma imperfeição O ato da criação significa ver todo o criado na ótica do dom O mundo e o homem no mundo existe não por necessidade mas por que querido pelo Criador A contingência do ser encontra a sua última explicação na dimensão pessoal no ato em que se revela a bondade de Deus Consequentemente se poderia afirmar que todo homem pode descobrir uma doação no simples fato do seu existir Cada um foi doado a si mesmo e nesse sentido também confiado a si mesmo Assim a doação é recíproca o mundo é dado ao homem mas também o homem é dado para o mundo Dizer que o sujeito é objetivamente alguma coisa ou alguém significa que o sujeito possui também ele a estrutura objetiva que pode ser indagada pela filosofia A filosofia do homem de Wojtyla consiste exatamente na tentativa de descrever esta estrutura objetiva da subjetividade de fornecer um saber objetivo e universal sobre o sujeito um saber que mantém a sua validade não obstante as diferenças culturais e temporais Podemos agora passar à especificidade das narrativas sobre a criação do mundo Recordamos que a nossa análise também aqui não tem o caráter exegético mas justamente busca identificar o significado filosófico da narração bíblica Como vimos São João Paulo II se utiliza nesse âmbito da mesma metodologia que já tinha utilizado em Pessoa e ato ou seja vė duas narrativas bíblicas como duas abordagens da única verdade do homem o ponto de vista objetivo metafísico na primeira narrativa e a abordagem subjetiva fenomenológica na segunda A verdade que na primeira narrativa é expressa nas categorias objetivas na segunda se torna objeto da experiência do primeiro homem e da primeira mulher Seguindo com o Papa a narração bíblica na segunda narrativa nos tornamos quase testemunhas oculares da gênese da subjetividade A segunda narrativa será o objeto da nossa reflexão nos parágrafos seguintes nesse momento queremos ver mais de perto a carga metafísica da primeira narrativa Na primeira narrativa o ato da criação do homem é inserido no ritmo da criação do mundo mas ao mesmo tempo possui o seu próprio caráter ao criar o homem Deus para deliberar quase quebra a regularidade do ritmo da criação e cria o homem a sua imagem e semelhança Por um lado na sua dimensão material o homem é plasmado do solo da terra portanto faz parte do cosmo e como parece poderia ser entendido da mesma maneira dos outros seres do mundo Essa forma de explicação pode ser definida como redução cosmológica do homem Por outro lado porém a narrativa bíblica não fala da semelhança do homem com os objetos do mundo mas vê no homem a imagem do Deus invisível no mundo visível A redução cosmológica do homem pode assumir duas formas científica ou filosófica Na filosofia temos ao invés o que fazer com uma outra forma de redução cosmológica também essa justificada a qual encontrou a sua expressão clássica na definição aristotélica do homem homo est animal rationale Também nesse caso o homem é reduzido a um dos objetos do mundo é um ser vivente é o seu gênero mais próximo que se distingue pela sua racionalidade a sua diferença específica Segundo Wojtyla a moderna filosofia do sujeito pode dar uma importante contribuição à filosofia do homem exatamente porque busca indagar aquilo que por sua natureza não pode ser reduzido a nada mais que a si mesmo e pode ser somente mostrado O momento em que se revela essa irredutibilidade do homem é a sua experiência vividaPor sua natureza a experiência se opõe à redução mas isso não significa que exilados da nossa consciência Ela exige somente ser conhecida de modo diferente ou seja com um método mediante uma análise que seja tal a revelar e mostrar a sua essência O método da análise fenomenológica nos permite nos deter sobre a experiência como irredutível A sua subjetividade inclui a sua autoconsciência A autoconsciência se desperta ao invés do contato cognoscitivo com o mundo quando o homem por assim dizer sai de si verso o mundo que é já constituído Podemos dizer o ser precede a consciência E saindo de si transcendendo os limites da sua subjetividade o homem é capaz de fazer a pergunta sobre a verdade do ser Assim na experiência da solidão original encontramos as características que diferenciam o homem do resto do criado a possibilidade de fazer a pergunta sobre a verdade do ser e a capacidade de decidir o curso do seu agir isso significa ao mês o tempo a capacidade de decidir sobre si mesmo Wojtyla a chama de auto teleologia do homem Essas duas características tão estreitamente ligadas entre elas Busquemos aprofundar e sentido fazendo referência à antropologia desenvolvida pelo sofo Wojtyla Consciência e autoconsciência Autopossessão autodomínio e autodeterminação Com o passar do tempo Wojtyla chega sempre mais à formulação original do seu pensamento e as referências explícitas a São Tomás se fazem sempre mais raras Devemos porém nos perguntar se esse fato equivale ao total desaparecimento da inspiração tomista do pensamento de Wojtyla Ao menos em linha de princípio não deve ser assim O fato de que um pensador não é explicitamente citado não significa que a sua importação não está presente em um determinado sistema filosófico Pareceme que isso acontece na filosofia wojtyiana mesmo se como veremos ainda Wojtyla não quer simplesmente continuar e interpretar o sistema filosófico tomista mas em alguns pontos se afasta da interpretação de São Tomás ou a enriquece afrontando os mesmos problemas do seu ponto de vista Geralmente podemos dizer que Wojtyla está convicto de que toda a história da filosofia moderna de Descartes em diante que buscou fazer filosofia a partir do sujeito não é somente uma grande aberração um erro grosseiro que deve ser totalmente rejeitado ou ignorado Quando São João Paulo II comenta a primeira narrativa da criação do homem se refere exatamente aos conceitos de ser e existir esse de São Tomás Não é difícil reconhecer aqui toda a terminologia tomista que vem exatamente do tomismo existencial e a estima pelos pensadores que souberam interpretar o ser desse modo Na concepção de São Tomás de fato a consciência e a autoconsciência na verdade não são senão os atributos da natureza racional que subsistem na pessoa O sujeito do conhecimento e da ação é sempre a pessoa que é consciente do seu saber e do seu agir e não mais da consciência como tal A pessoa vista desse modo é firmemente ancorada na realidade é uma substância concreta que realiza as suas potencialidades por meio das próprias ações Isso distingue São Tomás de tantas concepções de pessoa desenvolvidas mais tarde que a definem somente por intermédio de algumas propriedades mentais que existem ou não existem em um homem concreto Essas definições de pessoa não são naturalmente privadas das suas consequências práticas Se a pessoa é definida por meio de algumas propriedades mentais quem não possui essas propriedades não é considerado pessoa e não pode gozar do status que cabe a quem é perfectissimum in tota natura Se ultimamente alguns filósofos avançaram na proposta de substituir a expressão direito do homem com a expressão direito da pessoa essa proposta fundamentase exatamente na concepção atualística de pessoa Como pessoa com os direitos que lhe cabem pode ser considerada somente quem possui as propriedades mentais quais autoconsciência memória a faculdade de autodeterminação etc A visão objetivista de São Tomás nos defende contra essas propostas cujas consequências são para não poucos homens letais porque segundo essa concepção todo homem deve ser considerado pessoa em força da sua natureza natural que possui objetivamente pelo fato de pertencer à espécie humana é pois outra questão em que mede os atributos do seu ser pessoa se fazem efetivamente presentes em todo caso a distinção entre o atributo e a substância permite afirmar que a personalidade está presente também naqueles que não são capazes de exprimila por exemplo pelo fato de que não desenvolveram ainda determinada faculdade não a desenvolveram jamais ou perderam a sua posse Wojtyla está convicto de que a reflexão filosófica sobre o homem não pode limitarse à análise objetiva com as categorias próprias da metafísica daquele ente específico que é o ser humano mas deve levar em consideração o fato de que o homem viva a própria humanidade a partir de dentro Em um importante ensaio do qual já o título é muito significativo A subjetividade e a irredutibilidade no homem Wojtyla reivindica a necessidade de objetivar o problema da subjetividade do homem recordando ao mesmo tempo em que a subjetividade Descartes a propor a solução do problema corpoalma que entrou na história do pensamento moderno sob o nome de dualismo Enquanto para São Tomás o homem é uma substância na qual os intérpretes do seu pensamento não conseguem fazer isso Por isso a sua visão pode ser considerada um dualismo antropológico Um dos motivos que impulsionaram São João Paulo II à preparação da teologia do corpo consistia exatamente em revelar e justificar ulteriormente o fundamento personalista da moral sexual e especialmente da norma da encíclica Humanae vitae Enquanto o mundo se humaniza e se torna sempre mais acolhedor para o homem o homem se naturaliza e deriva os seus fins sempre mais das paixões incontroladas e sempre menos de uma ideia reguladora do bem É exatamente isso que encontramos na teologia do corpo de São João Paulo II É preciso recordar que também na teologia faltava uma verdadeira e própria reflexão sobre o significado teológico do corpo Naturalmente a teologia católica jamais cedeu às visões de cunho maniqueísta na qual o corpo era visto somente de modo negativo Não podia fazer isso pelo fato de que o cristianismo acredita na ressurreição isto é está convicto de que o corpo não é uma espécie de estorvo que em algum momento deve ser deixado para trás mas faz parte do destino escatológico do homem É também verdade porém que seja na teologia que na pregação estava sempre presente algum traço do dualismo antropológico de modo que se colocava a acentuação sobretudo sobre a salvação da alma deixando o corpo um pouco na sombra Com a sua teologia do corpo São João Paulo II buscou então revelar o significado personalista do corpo e o seu nexo com a transcendência A natureza comunional da pessoaSobre o cenário da solidão existencial do homem isto é sobre a base da sua irredutibilidade cosmológica e a sua transcendência em confronto com o mundo emerge a segunda coordenada da situação protohistórica a unidade original do homem e da mulher Na análise de São João Paulo II o sentido da solidão não é de fato somente positivo a partir do momento em que exprime a subjetividade pessoal do homem mas também é negativo A diferença que conduz à comunhão em que se reflete o seu modelo primeiro é realmente a diferença sexual Por isso considero que a diferença sexual pertença indiscutivelmente àquilo que constitui a diferença cristã isto é à sua identidade A diferença sexual é também ela o ponto zero isto é um dado de onde partir no concerne a explicação do homem Podemos dizer que a pessoa humana se explica através da outra pessoa porque somente na outra pessoa encontra alguém com quem pode entrar na relação de amor Essa explicação não é porém definitiva Também o amor participa da contingência do ser humano e portanto deseja ser ancorado no Absoluto da existência Esses são naturalmente somente alguns acenos que não podem ser desenvolvidos nesse lugar mas indicam de novo o ligame que existe entre a diferença sexual e a diferença ontológica A superação da solidão advém então da dimensão do corpo Na experiência do corpo está presente portanto a verdade do ser pessoal pelo qual a pessoa é uma substância metafísica que tem necessidade de entrar em relação com outra pessoa outras pessoas para realizar plenamente aquilo que é Realmente a função do sexo que é em um certo sentido constitutivo da pessoa não somente atributo da pessoa demonstra quão profundamente o homem com toda a sua solidão espiritual com a unicidade e irrepetibilidade pró pria da pessoa seja constituído do corpo como ele ou ela A presença do elemento familiar ao lado daquele masculino e junto com ele tem um significado de um enriquecimento para o homem em toda a prospectiva da sua história O corpo aparece assim não como um fator de distinção e separação porém mais como princípio de comunhão o homem é para a mulher e a mulher é para o homem É isso que São João Paulo II chama o sentido esponsal do corpo O corpo na sua configuração sexual encerra em si a capacidade de exprimir o amor a potencialidade de ser não somente com mas também para que caracteriza a existência esponsal Naturalmente também nesse caso não se pode ignorar o fato de que o corpo de uma outra pessoa possa ser abusado No estado histórico essa possibilidade é real e dele faz fé o fenômeno do pudor sexual que analisaremos no capítulo seguinte Mas como ainda veremoso mesmo pudor reenvia àquele sentido originário da diferença sexual pelo qual no corpo está inscrito a necessidade da comunhão Não é bom que o homem esteja só Na experiência do amor como dom de si é envolvida também a transcendência vertical da pessoa O amor entre o homem e a mulher que está na base da sua comunhão amor que se exprime na dimensão do corpo não se desenvolve ao nível da natureza mesmo se o é indicado pela tendência natural inscrita no corpo mas ao nível da pessoa Retomando a distinção de Wojtyla introduzida em Pessoa e ato podemos dizer que visto nessa ótica o amor não é somente alguma coisa que advém no homem mas sobretudo é um verdadeiro e próprio ato da pessoa em que é envolvida pela sua operatividade Isso é possível porque a pessoa é pela vertical isto é possui a si mesma e pode decidir por si mesma Sobre a base da dúplice transcendência da pessoa que torna possível o amor como dom realizase a união entre homem e mulher que encontra o seu culmine na maternidade e na paternidade Temos aqui em consideração uma outra forma de transcendência que é a transcendência em direção ao terceiro Essa dimensão possui uma importância fundamental não somente pela interpretação filosófica da relação homemmulher mas para toda a visão do homem Vale a pena colocála em foco O simples fato de que na narração bíblica o nascimento do filho aconteça depois do pecado original é carregado de significado Se esse aspecto essencial da união entre homem e mulher se realiza depois do pecado então a verdade original do homem mesmo se a sua situação foi radicalmente mudada por causa do pecado original não foi totalmente destruída mas permanece sempre presente na sua história É essa verdade que permanece para ele o ponto de referência fundamental na busca da sua Identidade que continua também na fase histórica Também aqui na geração do outro homem e mulher realizam a fundamental abertura em direção ao outro que faz parte da estrutura ontológica do homem Na experiência da mulher essa abertura se torna muito concreta enquanto o filho nos primeiros meses da sua existência vive nela pode nascer no mundo porque ela o aceitou na própria interioridade Essa experiência que inúmeras mulheres vivem no curso da história possui um eminente significado antropológico que vale naturalmente também para o homemmacho Sempre de novo e não obstante várias formas de fechamento ela reafirma essa verdade original pela qual o homem é capaz de levar em si o outro homem A transcendência em direção ao terceiro possui duas dimensões De uma parte é uma transcendência em direção ao terceiro escrito com a minúscula em direção ao filho mas de outra parte é também transcendência em direção ao Terceiro o Criador que no ato conjugal se faz presente propriamente como Criador O homem é a mulher unindose entre eles no ato conjugal assim estreitamente a se tornar uma só carne re descobrem por assim dizer cada vez e em modo especial o mistério da criação retornam assim àquela união na humanidade carne da minha carne osso dos meus ossos que lhes permite de se reconhecer reciprocamente e como a primeira vez de se chamar por nome A transcendência em direção ao terceiro o filho a atitude que em Amor e responsabilidade Wojtyla descreve como cons ciente do fato que posso me tornar mãe posso me tornar pai ao mesmo tempo protege o ato sexual do perigo de se degenerar no ato que impulsiona a usar o corpo do outro para o fim do próprio prazer Isso não significa que cada ato sexual moralmente justo deva ser fecundo mas somente que a perspectiva da transcendência em direção ao terceiro não deve ser intencionalmente excluída Somente assim o ato sexual exprime verdadeiramente o sentido original do eros que já Platão via ao sair do próprio restrito eu e ao abrirse podemos acrescentar àquela novidade mais radical que é uma nova vida humana A realização da pretensão presente no ato erótico levaria por tanto ao desaparecimento da pessoa aquilo que de resto está pre sente em algumas formas do erotismo Normalmente porém não se chega a uma consequência tão extrema O que acontece então com o ato erótico Segundo Bataille ele é vivido como uma forma do egoísmo de duas pessoas que não conseguem superar a sua solidão e são condenadas a permanecer fechadas em seu egoísmo Sob o limiar dessa violência à qual corresponde o sentimento da contínua violência da individualidade descontínuacomeça a esfera do costume e do egoísmo a dois que significa uma nova forma da descontinuidade Nessa perspectiva o homem não é ultimamente capaz de ultrapassar o abismo que o separa do outro homemNa experiência erótica o homem ou deve buscar suprimir a individualidade do outro homem chegando a um tipo de fusão com ele aquilo que ultimamente não é possível ou mesmo deve se contentar com a lógica da apropriação como diria Lévinas O outro é aqui objetivado e dissolvido no Idêntico O corpo permanece sempre um fator distinção na linguagem de Bataille da descontinuidade o homem não consegue superar a sua solidão ligada à corporeidade que o separa dos outros Recapitulando podemos dizer que na antropologia de Wojtyla a superação da solidão advém na comunhão das pessoas Mesmo se a solidão está inserida na constituição do corpo na dimensão pessoal é possível uma verdadeira e própria comu nhão que porém não equivale à fusão A comunhão acontece entre dois polos que constituem o ser pessoal entre a subjetividade e a relacionalidade sem cancelar nenhum deles Por isso a superação da solidão do corpo não consiste na sua supressão mas na sua assunção Essa superação contém em si certa assunção da solidão do corpo do segundo eu como própria A superação da solidão culmina ao invés na maternidade e paternidade quando o homem e a mulher se transcendem em direção ao terceiro à criança Concluímos com um outro verso dos Raggi di paternità Assim se livram os homens dessa herança que é a comunidade mais estranha a comunidade de solidão Ética personalista Ausência do pudor como plena percepção da dignidade pessoal A hermenêutica do dom concerne toda a realidade da pessoa não a podemos compreender e afirmar prescindindo da lei do dom A sociedade na qual a lei do dom viria menos se tornaria uma sociedade absolutamente desumana Geralmente falando podemos dizer que a vida social do homem é organizada segundo duas leis fundamentais a lei do mercado e a lei do dom Segundo a lei do mercado um deve pagar o preço estabelecido para os bens e os serviços de que necessita A troca dos bens que se chama o livre mercado apoia sob essa lei Quando vou para um negócio não posso pretender que as coisas me sejam dadas gratuitamente devo pagar o seu equivalente estipulado pelo vendedor Ao contrário na vida humana existem bens que pela sua natureza não podem ser nem vendidos nem comprados Tais bens podem ser somente dados gratuitamente podem ser somente doados O primeiro desses bens é a mesma pessoa humana A pretensão de vender ou comprar a pessoa humana infelizmente realizada na história está em direta contradição com aquilo que a pessoa é sui iuris et alteri incommunicabilis Como já vimos as pessoas são constitutivas das estruturas de autopossessão e autodeterminação Justamente por causa dessa sua estrutura ôntica somente a pessoa interessada pode doar a si mesma enquanto ela não pode ser doada e nem tampouco vendida por nenhum outro O mesmo se refere ao corpo humano enquanto sinal da pessoa humana não é lícito vender ou comprar o corpo da pessoa porque isso significaria vender ou comprar a própria pessoa Também o amor pela sua natureza pertence ao âmbito da lei do dom A pretensão de comprar ou vender o amor destrói o próprio amor não é mais amor o que se vende ou se compra mas um simulacro O amor pode ser somente doado gratuitamente A lei do dom pertence ao núcleo do ethos humano O dom de si que constitui a comunidade matrimonial possui também a característica de reciprocidade Na perspectiva metafísica se poderia dizer que o dom de si reenvia sempre ao Primeiro Doador porque aquilo que é doado a pessoa é também ele um dom um doa aquilo que eleela mesmo recebeu em dom Nesse sentido o dom se revela verdadeiramente como a propriedade mais profunda da existência da pessoa a pessoa que existe como dom encontra o seu cumprimento no amor o qual consiste no dom de si ao outro Na comunhão conjugal o dom de si possui enfim a dimensão de transcendência tornase fecunda no nascimento do filho Assim como já falamos da transcendência em direção ao terceiro que caracteriza a união conjugal nesse lugar queremos dirigir a atenção somente para alguns aspectos que no texto bíblico analisado por São João Paulo II são filosoficamente relevantes

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Trabalho de Antropologia Teológica Fichamento de citação Do Livro Corpo e Transcendência A antropologia filosófica na Teologia de São João Paulo II Autor JAROSLAW MERECKI SDS Traduzido por D hugo Cda SCavalcante OSB e Pe Valdir M dos Santos Filho SCJ Edições CNBB 1a Edição 2014 Professor Roberto Aluno Jonatas Bentes Picanço FACULDADE ALUNOS FICHAMENTO DE CITAÇÃO CIDADE 2022 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA MERECKI Jaroslaw Corpo e Transcendência A Antropologia filosófica na teologia do corpo de São João paulo II Edições CNBB 2014 São João Paulo II na sua teologia do corpo atravessa o limiar do pecado original e desenvolve uma hermenêutica do princípio teológico do homem Na teologia do corpo temos a visão integral do homem que compreende em si seja a sua dimensão experimental dada na experiência e analisada na reflexão filosófica seja a sua dimensão sobrenatural dada na revelação O método de São João Paulo II poderia justamente ser definido como a hermenêutica fenomenológica do princípio O texto bíblico ajuda neste contexto a indagar esta dimensão da experiência humana a qual se encontra além da experiência histórica do próprio homem que ficaria dificilmente acessível ao nosso conhecimento sem o apoio das Escrituras Entre estes dois estados protohistórico e histórico existe também certa continuidade que nos permite aproximarse ao estado proto histórico à experiência que era própria do homem antes do pecado original Subjetividade humana Para São João Paulo II é a experiência do corpo que nos põe em contato com o estado protohistórico e com o vivido pelo primeiro homem homem e mulher Não obstante o pecado original e as suas consequências a experiência do corpo conserva a sua continuidade entre o estado proto histórico e o estado histórico O homem sempre experimentando a si mesmo vive como encarnado e todas as suas experiências de alguma maneira estão ligadas à corporeidade Como veremos na filosofia moderna esta dimensão do vivido humano foi às vezes subestimada naquilo que queremos chamar o dualismo antropológico para depois ser retomada e valorizada na filosofia contemporânea A expressão dualismo antropológico a utilizamos no sentido específico da neutralização axiológica do corpo ela pertence então ao campo da moral Segundo São João Paulo II a situação protohistórica do homem pode ser descrita com três coordenadas a solidão a unidade e a nudez originais A solidão original exprime conjuntamente a constituição ontológica do homem como tal e a sua gênese como sujeito pessoal sobre o plano experimental Trataremos aprofundar este conjunto de problemas com a ajuda da filosofia da pessoa elaborada no livro Pessoa e ato A unidade original reenvia a outro aspecto essencial do homem ou seja a sua abertura em relação ao outro O estado natural do homem é aquele da luta de todos contra todos como sustentava Hobbes ou sem negar o potencial de agressão presente no homem possamos dizer que existe também outra e mais profunda verdade do homem Ou em caso de resposta positiva como poderemos descobrila A existência da pessoa humana no corpo significa que o homem existe no tempo e na história Desde o início da sua existência sobre a terra o homem vive também no horizonte da morte a qual faz parte do seu destino natural A estrutura natural do corpo como toda estrutura mais complexa está submetida à lei da entropia Por outro lado porém o homem não quer contentarse da finitude inscrita no seu corpo e põe a questão sobre a imortalidade e sobre o escopo da história O tomismo existencial que via na descoberta do papel do actus essendi a principal característica da filosofia de São Tomás A assim chamada escola de Lublin enriqueceu essa interpretação sobretudo com a aprofundada reflexão metodológica O pensamento filosófico de São Tomás está presente na visão antropológica e ética de Wojtyla Na sua filosofia Wojtyla busca porém enriquecer a abordagem metafísica com o método próprio da filosofia moderna isto é com o método fenomenológico Em certo sentido se poderia dizer que ele busca construir uma ponte entre estas duas orientações filosóficas entre a metafísica clássica e a fenomenologia Encontrou essa última valorizando a possibilidade de construir a ética cristã na base do sistema ético de Max Scheler A experiência como primeira e insubstituível fonte da filosofia A primeira e mais importante fonte da antropologia de Wojtyla é portanto a experiência do homem Vale a pena sublinhar o fato que o traço característico da antropologia elaborada por Wojtyla consiste em pensar o homem nas categorias que foram tomadas do sistema filosófico mais geral p ex da metafísica mas naquelas que foram elaboradas a partir da pró pria experiência do homem Desse modo ele acolhe o grande postulado do pensamento moderno mas ao mesmo tempo o corrige que quer filosofar a partir do homem Na verdade nós não conhecemos nada fora de nós se não fazemos ao mesmo tempo a experiência de nós mesmos Escreve Wojtyla A experiência de toda coisa situada fora do homem se associa sempre à sua própria experiência E ele não experimenta jamais alguma coisa fora de si sem de alguma maneira experimentar a si mesmo Na filosofia moderna este fato conduziu muitas vezes a negação da autonomia da realidade externa isto é ao idealismo filosófico A experiência do homem tem também a sua especificidade pela qual ela se difere de todas as outras formas de experiência A expressão a experiência do homem pode ser entendida no sentido análogo das experiências dos objetos não humanos isto é o homem nos pode ser dado como objeto da nossa experiência Nesse caso existe uma diferença entre o sujeito e o objeto da experiência Mas o sujeito da experiência é sempre o homem Para a fenomenologia tudo aquilo que se apresenta corporalmente leibhaft é objeto da experiência Desse modo existe não somente a experiência sensível mas também aquela estética moral religiosa ou do homem entendida no sentido que vai além dos dados fornecidos pelas ciências empíricas porque todos esses modos da experiência se referem aos seus objetos próprios Quando pensamos em uma pessoa ou melhor quando a imaginamos aquilo que nos vem a mente é sobretudo a imagem exterior do seu corpo Não nos interessa muito a estrutura interior do seu organismo Essa identidade da pessoa com o corpo na experiência vivida é confirmada por uma outra intuição Quem toca o meu corpo não entra somente em contato com uma res exten sa mas não entra em contato com uma res alguma coisa mas com uma pessoa alguém com um eu Deveremos ainda retornar a riqueza do presente conteúdo nessa experiência À primeira vista ela pode aparecer assaz banal mas nela se exprime aquilo que constitui a própria essência do ser pessoa Se a nossa língua gem permite as duas expressões alguém toca a minha mão e alguém me toca esse fato significa que vivemos a nossa relação com o corpo segundo duas modalidades diferentes possuímos o nosso corpo dizemos exatamente o meu corpo e somos o nosso corpo Na terminologia de Karol Wojtyla de Pessoa e ato diremos que o eu é ao mesmo tempo imanente no seu corpo e transcendente em relação ao seu corpo O corpo e aqui já encontramos a primeira dimensão do corpo como sinal permite o contato imediato com a pessoa do outro constitui um sinal que quase não percebemos medium quo no nosso contato com o outro porque normalmente a nossa atenção não se detém sobre o corpo como objeto mas espontânea e imediatamente a nossa atenção se dirige para a pessoa do outro ou seja para o sujeito O corpo humano não é então objeto como os outros objetos no mundo no Livro do Génesis o primeiro homem sendo criado como corpo entre os ou tros corpos se descobre sozinho isto é diferente de todos os cor pos que o circundam mas sendo expressão do sujeito que o vive a partir de dentro adquire ele mesmo o valor subjetivo no sentido metafísico desse termo Por outro lado o corpo de um animal não é somente expressão de uma res mesmo se não representa um sujeito não o podemos tratar como uma simples coisa aquilo que infelizmente acontece nas nossas sociedades industriais nesse sentido a tradicional distinção jurídica entre persona O animal porém não tem consciência do seu corpo no sentido de poder tomar as distâncias em relação a ele experimenta o seu corpo interiormente como experimentamos nós mas não é capaz de dizer Este é o meu corpo O corpo humano propriamente dito não é somente um organismo vivente No nosso conceito de corpo tem algo mais do que a simples referência à vida entendida no seu sentido biológico É a ciência a tratar o cor po como organismo do qual descobre as leis próprias O método fenomenológico nos permite porém mostrar que o nosso corpo e os corpos dos outros são percebidos por nós não como meros organismos e que o conceito de organismo é justamente já o fruto da abstração científica O princípio unificante que faz do organismo vivente o corpo humano verdadeiro e próprio um corpo vivido por alguém como o seu corpo não pertence ao nível biológico e por isso a nossa compreensão do homem na sua corporeidade não pode ser confiada somente à ciência mas deve chamar em causa a filosofia e ultimamente como veremos também a teologia Karol Wojtyla e depois São João Paulo II analisou esta realidade a partir do fenômeno do pudor sexual Se o homem espontaneamente esconde os seus órgãos sexuais não o faz certamente por vergonha de possuílos Faz isso porque não quer ser tratado apenas como objeto de desejo mas quer ser percebido e afirmado na sua subjetividade ontológica O próprio fato de que o homem perceba o seu corpo desse modo demonstra que o vive como sinal do seu ser pessoa como expressão exterior da sua subjetividade Naturalmente nem todas as partes do corpo exprimem isso da mesma maneira Para algumas especialmente o rosto e os olhos cabe um papel especial O fato de que o homem esconda os órgãos sexuais significa antes de tudo que eleela quer afastar a atenção do outro para essas partes do seu corpo que exprimem a sua subjetividade a sua transcendência pessoal no modo mais imediato Podemos dizer que o corpo humano é uma espécie de palavra que comunica um noema é uma manifesta ção sensível e objetiva daquilo que por natureza é subjetivo isto é do eu humano O nosso agir no mundo não pode prescindir daquilo que disse o corpo ou melhor o pode fazer mas com isso mesmo ou engana o outro ou fere a sua dignidade de um outro modo Vemos aquí como o corpo e a sua linguagem adquirem o valor moral Wojtyla demonstra que o homem é pessoa mas ao mesmo tempo como o homem vive a si mesmo como pessoa Com ele a fenomenologia nos conduz ao limiar da ontologia e viceversa a ontologia adquire a dimensão fenomenológica experimental Desse modo chegouse à conclusão de que quem não vive atualmente a sua relação de autopossessão em relação ao seu corpo não é ainda pessoa ou já não o é mais Em certo sentido podemos dizer que a filosofia moderna ou melhor uma parte dela na sua análise privilegiou a experiência da autopossessão deixando porém na sombra a experiência da identidade da pessoa com o seu corpo Wojtyla fala do corpo como meio de expressão da pessoa consideran do que a pessoa humana é sempre conjuntamente imanente no seu corpo e transcendente em relação a ele Enquanto os pensadores como Platão privilegiam a experiência da posse do corpo e por isso falam da morte no sentido de libertação das limitações que a existência no corpo necessariamente comporta o corpo como prisão da alma outros filósofos põem a ênfase justamente sobre a identidade do homem com o seu corpo eu sou o meu corpo identificando a morte do corpo com a morte da pessoa O estatuto fenomenológico do corpo nos foi revelado como aquele do sinal e expressão do eu humano por outro lado ao contrário vimos que o seu estatuto metafísico àquele que pertence à dimensão do ser consiste naquilo que para a pessoa humana significa existir ou seja viver no corpo Por isso a criação como ação de Deus significa não somente chamar do nada à existência e o estabelecer a existência do mundo e do homem no mundo mas significa também segundo a primeira narrativa beresit bara doação uma doação fundamental e radical ou seja uma doação na qual o dom surge exatamente do nadaNessa perspectiva também o corpo na sua configuração masculina e feminina adquire a dimensão do dom a partir do momento em que a pessoa não o cria mas o descobre como já dado propriamente doado mas como o primeiro dom porque idêntico com dom da existência como vimos no mundo a pes soa humana existe somente no corpo que a pessoa é chamada a aceitar e desenvolver segundo o desígnio originário inscrito nele desde o princípio pelo Criador O sacramento na sua forma históricouniversal é portanto em primeiro lugar expressão da experiência que Deus encontra o homem de maneira humana nos sinais da comunhão humana e na transformação daquilo que é puramente biológico em algo de humano que no ato religioso experimenta a sua transformação em uma terceira dimensão a garantia do divino no humano Quatro momentos da vida humana nos quais estes sacramentos originais se fazem especialmente presentes o nascimento a morte a refeição e o ato sexual Não é difícil notar que todos esses momentos estão ligados ao corpo que nessa perspectiva pode ser visto como um verdadeiro e próprio pré sacramento O homem que vivendo no corpo experimenta a precariedade do seu existir sobre a terra põe a questão sobre o princípio da sua existência e não pode responder a essa questão se não puser outra questão ainda mais radical a questão sobre o princípio de toda a realidade ou seja a questão metafisica A resposta à questão antropológica não pode então prescindir da questão metafísica da pergunta radical sobre o ser Na sua teologia do corpo São João Paulo II responde a essa questão partindo do princípio que na sua reflexão possui seja o sentido teológico que aquele filosófico Para São João Paulo II o princípio possui não somente o valor metafísico mas também fenomenológico Na verdade do ponto de vista fenomenológico a experiência do homem antes do pecado original isto é na situação do seu princípio teológico aparece como particularmente rica de conteúdo Poderia se dizer que exatamente aqui nos tornamos quase testemunhas oculares da gênese da pessoa isto é do modo no qual se constituem as fundamentais estruturas pessoais e do modo no qual o homem toma consciência dela Todas as outras experiências originais do homem são relevantes para a sua fenomenologia mas no que se refere o constituirse pela pessoa como tal a importância particular cabe à solidão original Na filosofia princípio significa não somente um retorno às fontes ao início mas também a busca daquilo que é essencial que vai além daquilo que se apresenta imediatamente significa buscar a essência mais profunda do ser no nosso caso do ser humano significa buscar a sua arché Na fenomenologia o postulado de ir ao essencial encontrou a sua expressão na assim chamada variação eidética na qual o filósofo busca identificar os elementos de um determinado ser sem os quais ele deixaria de ser si mesmo Nesse sentido podemos dizer que na sua teologia do corpo São João Paulo II com a ajuda da filosofia do homem desenvolvida já antes procura identificar estes elementos essências do ser humano e ao mesmo tempo aquilo que é um outro passo de lhe dar a interpretação que vai além da descrição fenomenológica ou seja propõe uma forma daquilo que chamamos de fenomenologia No caso da teologia do corpo a trans fenomenologia transcende a descrição inicial para a interpretação seja metafísica seja teológica dos dados que o filósofo encontrou na experiência Na visão de Platão Deus é entendido como Demiurgo que ordena o mundo segundo as ideias que são eternas Graças às ações de DeusDemiurgo a matéria da sua originária condição caótica é transformada em um cosmos Hierarquicamente porém esse Deus é inferior às ideias elas não são feitas por ele assim como a matéria não é o fruto da sua intervenção criativa Em Aristóteles encontramos uma concepção muito elevada do Absoluto que ultimamente é identificado com o Pensamento que pensa a si mesmo noesis noeseos dado que na visão aristotélica a atividade racional é uma atividade a mais perfeita que possa existir Esse Pensamento constitui o vértice de todo o universo é absolutamente perfeito e autossuficiente é o ato mais perfeito pensamento da faculdade mais perfeita a razão nos confrontos do objeto mais perfeito o próprio Absoluto Mas exatamente a causa da sua perfeição o Absoluto permanece fechado em si mesmo Mesmo se atrai todas as esferas celestes o Absoluto não se interessa pelo mundo e nem mesmo pode interessarse por ele porque isso significaria para ele uma imperfeição O ato da criação significa ver todo o criado na ótica do dom O mundo e o homem no mundo existe não por necessidade mas por que querido pelo Criador A contingência do ser encontra a sua última explicação na dimensão pessoal no ato em que se revela a bondade de Deus Consequentemente se poderia afirmar que todo homem pode descobrir uma doação no simples fato do seu existir Cada um foi doado a si mesmo e nesse sentido também confiado a si mesmo Assim a doação é recíproca o mundo é dado ao homem mas também o homem é dado para o mundo Dizer que o sujeito é objetivamente alguma coisa ou alguém significa que o sujeito possui também ele a estrutura objetiva que pode ser indagada pela filosofia A filosofia do homem de Wojtyla consiste exatamente na tentativa de descrever esta estrutura objetiva da subjetividade de fornecer um saber objetivo e universal sobre o sujeito um saber que mantém a sua validade não obstante as diferenças culturais e temporais Podemos agora passar à especificidade das narrativas sobre a criação do mundo Recordamos que a nossa análise também aqui não tem o caráter exegético mas justamente busca identificar o significado filosófico da narração bíblica Como vimos São João Paulo II se utiliza nesse âmbito da mesma metodologia que já tinha utilizado em Pessoa e ato ou seja vė duas narrativas bíblicas como duas abordagens da única verdade do homem o ponto de vista objetivo metafísico na primeira narrativa e a abordagem subjetiva fenomenológica na segunda A verdade que na primeira narrativa é expressa nas categorias objetivas na segunda se torna objeto da experiência do primeiro homem e da primeira mulher Seguindo com o Papa a narração bíblica na segunda narrativa nos tornamos quase testemunhas oculares da gênese da subjetividade A segunda narrativa será o objeto da nossa reflexão nos parágrafos seguintes nesse momento queremos ver mais de perto a carga metafísica da primeira narrativa Na primeira narrativa o ato da criação do homem é inserido no ritmo da criação do mundo mas ao mesmo tempo possui o seu próprio caráter ao criar o homem Deus para deliberar quase quebra a regularidade do ritmo da criação e cria o homem a sua imagem e semelhança Por um lado na sua dimensão material o homem é plasmado do solo da terra portanto faz parte do cosmo e como parece poderia ser entendido da mesma maneira dos outros seres do mundo Essa forma de explicação pode ser definida como redução cosmológica do homem Por outro lado porém a narrativa bíblica não fala da semelhança do homem com os objetos do mundo mas vê no homem a imagem do Deus invisível no mundo visível A redução cosmológica do homem pode assumir duas formas científica ou filosófica Na filosofia temos ao invés o que fazer com uma outra forma de redução cosmológica também essa justificada a qual encontrou a sua expressão clássica na definição aristotélica do homem homo est animal rationale Também nesse caso o homem é reduzido a um dos objetos do mundo é um ser vivente é o seu gênero mais próximo que se distingue pela sua racionalidade a sua diferença específica Segundo Wojtyla a moderna filosofia do sujeito pode dar uma importante contribuição à filosofia do homem exatamente porque busca indagar aquilo que por sua natureza não pode ser reduzido a nada mais que a si mesmo e pode ser somente mostrado O momento em que se revela essa irredutibilidade do homem é a sua experiência vividaPor sua natureza a experiência se opõe à redução mas isso não significa que exilados da nossa consciência Ela exige somente ser conhecida de modo diferente ou seja com um método mediante uma análise que seja tal a revelar e mostrar a sua essência O método da análise fenomenológica nos permite nos deter sobre a experiência como irredutível A sua subjetividade inclui a sua autoconsciência A autoconsciência se desperta ao invés do contato cognoscitivo com o mundo quando o homem por assim dizer sai de si verso o mundo que é já constituído Podemos dizer o ser precede a consciência E saindo de si transcendendo os limites da sua subjetividade o homem é capaz de fazer a pergunta sobre a verdade do ser Assim na experiência da solidão original encontramos as características que diferenciam o homem do resto do criado a possibilidade de fazer a pergunta sobre a verdade do ser e a capacidade de decidir o curso do seu agir isso significa ao mês o tempo a capacidade de decidir sobre si mesmo Wojtyla a chama de auto teleologia do homem Essas duas características tão estreitamente ligadas entre elas Busquemos aprofundar e sentido fazendo referência à antropologia desenvolvida pelo sofo Wojtyla Consciência e autoconsciência Autopossessão autodomínio e autodeterminação Com o passar do tempo Wojtyla chega sempre mais à formulação original do seu pensamento e as referências explícitas a São Tomás se fazem sempre mais raras Devemos porém nos perguntar se esse fato equivale ao total desaparecimento da inspiração tomista do pensamento de Wojtyla Ao menos em linha de princípio não deve ser assim O fato de que um pensador não é explicitamente citado não significa que a sua importação não está presente em um determinado sistema filosófico Pareceme que isso acontece na filosofia wojtyiana mesmo se como veremos ainda Wojtyla não quer simplesmente continuar e interpretar o sistema filosófico tomista mas em alguns pontos se afasta da interpretação de São Tomás ou a enriquece afrontando os mesmos problemas do seu ponto de vista Geralmente podemos dizer que Wojtyla está convicto de que toda a história da filosofia moderna de Descartes em diante que buscou fazer filosofia a partir do sujeito não é somente uma grande aberração um erro grosseiro que deve ser totalmente rejeitado ou ignorado Quando São João Paulo II comenta a primeira narrativa da criação do homem se refere exatamente aos conceitos de ser e existir esse de São Tomás Não é difícil reconhecer aqui toda a terminologia tomista que vem exatamente do tomismo existencial e a estima pelos pensadores que souberam interpretar o ser desse modo Na concepção de São Tomás de fato a consciência e a autoconsciência na verdade não são senão os atributos da natureza racional que subsistem na pessoa O sujeito do conhecimento e da ação é sempre a pessoa que é consciente do seu saber e do seu agir e não mais da consciência como tal A pessoa vista desse modo é firmemente ancorada na realidade é uma substância concreta que realiza as suas potencialidades por meio das próprias ações Isso distingue São Tomás de tantas concepções de pessoa desenvolvidas mais tarde que a definem somente por intermédio de algumas propriedades mentais que existem ou não existem em um homem concreto Essas definições de pessoa não são naturalmente privadas das suas consequências práticas Se a pessoa é definida por meio de algumas propriedades mentais quem não possui essas propriedades não é considerado pessoa e não pode gozar do status que cabe a quem é perfectissimum in tota natura Se ultimamente alguns filósofos avançaram na proposta de substituir a expressão direito do homem com a expressão direito da pessoa essa proposta fundamentase exatamente na concepção atualística de pessoa Como pessoa com os direitos que lhe cabem pode ser considerada somente quem possui as propriedades mentais quais autoconsciência memória a faculdade de autodeterminação etc A visão objetivista de São Tomás nos defende contra essas propostas cujas consequências são para não poucos homens letais porque segundo essa concepção todo homem deve ser considerado pessoa em força da sua natureza natural que possui objetivamente pelo fato de pertencer à espécie humana é pois outra questão em que mede os atributos do seu ser pessoa se fazem efetivamente presentes em todo caso a distinção entre o atributo e a substância permite afirmar que a personalidade está presente também naqueles que não são capazes de exprimila por exemplo pelo fato de que não desenvolveram ainda determinada faculdade não a desenvolveram jamais ou perderam a sua posse Wojtyla está convicto de que a reflexão filosófica sobre o homem não pode limitarse à análise objetiva com as categorias próprias da metafísica daquele ente específico que é o ser humano mas deve levar em consideração o fato de que o homem viva a própria humanidade a partir de dentro Em um importante ensaio do qual já o título é muito significativo A subjetividade e a irredutibilidade no homem Wojtyla reivindica a necessidade de objetivar o problema da subjetividade do homem recordando ao mesmo tempo em que a subjetividade Descartes a propor a solução do problema corpoalma que entrou na história do pensamento moderno sob o nome de dualismo Enquanto para São Tomás o homem é uma substância na qual os intérpretes do seu pensamento não conseguem fazer isso Por isso a sua visão pode ser considerada um dualismo antropológico Um dos motivos que impulsionaram São João Paulo II à preparação da teologia do corpo consistia exatamente em revelar e justificar ulteriormente o fundamento personalista da moral sexual e especialmente da norma da encíclica Humanae vitae Enquanto o mundo se humaniza e se torna sempre mais acolhedor para o homem o homem se naturaliza e deriva os seus fins sempre mais das paixões incontroladas e sempre menos de uma ideia reguladora do bem É exatamente isso que encontramos na teologia do corpo de São João Paulo II É preciso recordar que também na teologia faltava uma verdadeira e própria reflexão sobre o significado teológico do corpo Naturalmente a teologia católica jamais cedeu às visões de cunho maniqueísta na qual o corpo era visto somente de modo negativo Não podia fazer isso pelo fato de que o cristianismo acredita na ressurreição isto é está convicto de que o corpo não é uma espécie de estorvo que em algum momento deve ser deixado para trás mas faz parte do destino escatológico do homem É também verdade porém que seja na teologia que na pregação estava sempre presente algum traço do dualismo antropológico de modo que se colocava a acentuação sobretudo sobre a salvação da alma deixando o corpo um pouco na sombra Com a sua teologia do corpo São João Paulo II buscou então revelar o significado personalista do corpo e o seu nexo com a transcendência A natureza comunional da pessoaSobre o cenário da solidão existencial do homem isto é sobre a base da sua irredutibilidade cosmológica e a sua transcendência em confronto com o mundo emerge a segunda coordenada da situação protohistórica a unidade original do homem e da mulher Na análise de São João Paulo II o sentido da solidão não é de fato somente positivo a partir do momento em que exprime a subjetividade pessoal do homem mas também é negativo A diferença que conduz à comunhão em que se reflete o seu modelo primeiro é realmente a diferença sexual Por isso considero que a diferença sexual pertença indiscutivelmente àquilo que constitui a diferença cristã isto é à sua identidade A diferença sexual é também ela o ponto zero isto é um dado de onde partir no concerne a explicação do homem Podemos dizer que a pessoa humana se explica através da outra pessoa porque somente na outra pessoa encontra alguém com quem pode entrar na relação de amor Essa explicação não é porém definitiva Também o amor participa da contingência do ser humano e portanto deseja ser ancorado no Absoluto da existência Esses são naturalmente somente alguns acenos que não podem ser desenvolvidos nesse lugar mas indicam de novo o ligame que existe entre a diferença sexual e a diferença ontológica A superação da solidão advém então da dimensão do corpo Na experiência do corpo está presente portanto a verdade do ser pessoal pelo qual a pessoa é uma substância metafísica que tem necessidade de entrar em relação com outra pessoa outras pessoas para realizar plenamente aquilo que é Realmente a função do sexo que é em um certo sentido constitutivo da pessoa não somente atributo da pessoa demonstra quão profundamente o homem com toda a sua solidão espiritual com a unicidade e irrepetibilidade pró pria da pessoa seja constituído do corpo como ele ou ela A presença do elemento familiar ao lado daquele masculino e junto com ele tem um significado de um enriquecimento para o homem em toda a prospectiva da sua história O corpo aparece assim não como um fator de distinção e separação porém mais como princípio de comunhão o homem é para a mulher e a mulher é para o homem É isso que São João Paulo II chama o sentido esponsal do corpo O corpo na sua configuração sexual encerra em si a capacidade de exprimir o amor a potencialidade de ser não somente com mas também para que caracteriza a existência esponsal Naturalmente também nesse caso não se pode ignorar o fato de que o corpo de uma outra pessoa possa ser abusado No estado histórico essa possibilidade é real e dele faz fé o fenômeno do pudor sexual que analisaremos no capítulo seguinte Mas como ainda veremoso mesmo pudor reenvia àquele sentido originário da diferença sexual pelo qual no corpo está inscrito a necessidade da comunhão Não é bom que o homem esteja só Na experiência do amor como dom de si é envolvida também a transcendência vertical da pessoa O amor entre o homem e a mulher que está na base da sua comunhão amor que se exprime na dimensão do corpo não se desenvolve ao nível da natureza mesmo se o é indicado pela tendência natural inscrita no corpo mas ao nível da pessoa Retomando a distinção de Wojtyla introduzida em Pessoa e ato podemos dizer que visto nessa ótica o amor não é somente alguma coisa que advém no homem mas sobretudo é um verdadeiro e próprio ato da pessoa em que é envolvida pela sua operatividade Isso é possível porque a pessoa é pela vertical isto é possui a si mesma e pode decidir por si mesma Sobre a base da dúplice transcendência da pessoa que torna possível o amor como dom realizase a união entre homem e mulher que encontra o seu culmine na maternidade e na paternidade Temos aqui em consideração uma outra forma de transcendência que é a transcendência em direção ao terceiro Essa dimensão possui uma importância fundamental não somente pela interpretação filosófica da relação homemmulher mas para toda a visão do homem Vale a pena colocála em foco O simples fato de que na narração bíblica o nascimento do filho aconteça depois do pecado original é carregado de significado Se esse aspecto essencial da união entre homem e mulher se realiza depois do pecado então a verdade original do homem mesmo se a sua situação foi radicalmente mudada por causa do pecado original não foi totalmente destruída mas permanece sempre presente na sua história É essa verdade que permanece para ele o ponto de referência fundamental na busca da sua Identidade que continua também na fase histórica Também aqui na geração do outro homem e mulher realizam a fundamental abertura em direção ao outro que faz parte da estrutura ontológica do homem Na experiência da mulher essa abertura se torna muito concreta enquanto o filho nos primeiros meses da sua existência vive nela pode nascer no mundo porque ela o aceitou na própria interioridade Essa experiência que inúmeras mulheres vivem no curso da história possui um eminente significado antropológico que vale naturalmente também para o homemmacho Sempre de novo e não obstante várias formas de fechamento ela reafirma essa verdade original pela qual o homem é capaz de levar em si o outro homem A transcendência em direção ao terceiro possui duas dimensões De uma parte é uma transcendência em direção ao terceiro escrito com a minúscula em direção ao filho mas de outra parte é também transcendência em direção ao Terceiro o Criador que no ato conjugal se faz presente propriamente como Criador O homem é a mulher unindose entre eles no ato conjugal assim estreitamente a se tornar uma só carne re descobrem por assim dizer cada vez e em modo especial o mistério da criação retornam assim àquela união na humanidade carne da minha carne osso dos meus ossos que lhes permite de se reconhecer reciprocamente e como a primeira vez de se chamar por nome A transcendência em direção ao terceiro o filho a atitude que em Amor e responsabilidade Wojtyla descreve como cons ciente do fato que posso me tornar mãe posso me tornar pai ao mesmo tempo protege o ato sexual do perigo de se degenerar no ato que impulsiona a usar o corpo do outro para o fim do próprio prazer Isso não significa que cada ato sexual moralmente justo deva ser fecundo mas somente que a perspectiva da transcendência em direção ao terceiro não deve ser intencionalmente excluída Somente assim o ato sexual exprime verdadeiramente o sentido original do eros que já Platão via ao sair do próprio restrito eu e ao abrirse podemos acrescentar àquela novidade mais radical que é uma nova vida humana A realização da pretensão presente no ato erótico levaria por tanto ao desaparecimento da pessoa aquilo que de resto está pre sente em algumas formas do erotismo Normalmente porém não se chega a uma consequência tão extrema O que acontece então com o ato erótico Segundo Bataille ele é vivido como uma forma do egoísmo de duas pessoas que não conseguem superar a sua solidão e são condenadas a permanecer fechadas em seu egoísmo Sob o limiar dessa violência à qual corresponde o sentimento da contínua violência da individualidade descontínuacomeça a esfera do costume e do egoísmo a dois que significa uma nova forma da descontinuidade Nessa perspectiva o homem não é ultimamente capaz de ultrapassar o abismo que o separa do outro homemNa experiência erótica o homem ou deve buscar suprimir a individualidade do outro homem chegando a um tipo de fusão com ele aquilo que ultimamente não é possível ou mesmo deve se contentar com a lógica da apropriação como diria Lévinas O outro é aqui objetivado e dissolvido no Idêntico O corpo permanece sempre um fator distinção na linguagem de Bataille da descontinuidade o homem não consegue superar a sua solidão ligada à corporeidade que o separa dos outros Recapitulando podemos dizer que na antropologia de Wojtyla a superação da solidão advém na comunhão das pessoas Mesmo se a solidão está inserida na constituição do corpo na dimensão pessoal é possível uma verdadeira e própria comu nhão que porém não equivale à fusão A comunhão acontece entre dois polos que constituem o ser pessoal entre a subjetividade e a relacionalidade sem cancelar nenhum deles Por isso a superação da solidão do corpo não consiste na sua supressão mas na sua assunção Essa superação contém em si certa assunção da solidão do corpo do segundo eu como própria A superação da solidão culmina ao invés na maternidade e paternidade quando o homem e a mulher se transcendem em direção ao terceiro à criança Concluímos com um outro verso dos Raggi di paternità Assim se livram os homens dessa herança que é a comunidade mais estranha a comunidade de solidão Ética personalista Ausência do pudor como plena percepção da dignidade pessoal A hermenêutica do dom concerne toda a realidade da pessoa não a podemos compreender e afirmar prescindindo da lei do dom A sociedade na qual a lei do dom viria menos se tornaria uma sociedade absolutamente desumana Geralmente falando podemos dizer que a vida social do homem é organizada segundo duas leis fundamentais a lei do mercado e a lei do dom Segundo a lei do mercado um deve pagar o preço estabelecido para os bens e os serviços de que necessita A troca dos bens que se chama o livre mercado apoia sob essa lei Quando vou para um negócio não posso pretender que as coisas me sejam dadas gratuitamente devo pagar o seu equivalente estipulado pelo vendedor Ao contrário na vida humana existem bens que pela sua natureza não podem ser nem vendidos nem comprados Tais bens podem ser somente dados gratuitamente podem ser somente doados O primeiro desses bens é a mesma pessoa humana A pretensão de vender ou comprar a pessoa humana infelizmente realizada na história está em direta contradição com aquilo que a pessoa é sui iuris et alteri incommunicabilis Como já vimos as pessoas são constitutivas das estruturas de autopossessão e autodeterminação Justamente por causa dessa sua estrutura ôntica somente a pessoa interessada pode doar a si mesma enquanto ela não pode ser doada e nem tampouco vendida por nenhum outro O mesmo se refere ao corpo humano enquanto sinal da pessoa humana não é lícito vender ou comprar o corpo da pessoa porque isso significaria vender ou comprar a própria pessoa Também o amor pela sua natureza pertence ao âmbito da lei do dom A pretensão de comprar ou vender o amor destrói o próprio amor não é mais amor o que se vende ou se compra mas um simulacro O amor pode ser somente doado gratuitamente A lei do dom pertence ao núcleo do ethos humano O dom de si que constitui a comunidade matrimonial possui também a característica de reciprocidade Na perspectiva metafísica se poderia dizer que o dom de si reenvia sempre ao Primeiro Doador porque aquilo que é doado a pessoa é também ele um dom um doa aquilo que eleela mesmo recebeu em dom Nesse sentido o dom se revela verdadeiramente como a propriedade mais profunda da existência da pessoa a pessoa que existe como dom encontra o seu cumprimento no amor o qual consiste no dom de si ao outro Na comunhão conjugal o dom de si possui enfim a dimensão de transcendência tornase fecunda no nascimento do filho Assim como já falamos da transcendência em direção ao terceiro que caracteriza a união conjugal nesse lugar queremos dirigir a atenção somente para alguns aspectos que no texto bíblico analisado por São João Paulo II são filosoficamente relevantes

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