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Parasitologia Humana
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Texto de pré-visualização
Autores Profa Kátia Regina Silva Aranda Prof Luiz Carlos Barone Colaboradores Prof Juliano Rodrigo Guerreiro Profa Laura Cristina da Cruz Dominciano Diagnóstico Laboratorial de Infecções Parasitárias Professores conteudistas Kátia Regina Silva Aranda Luiz Carlos Barone Kátia Regina Silva Aranda Graduada no curso de Ciências Biológicas Modalidade Médica pela Universidade de Mogi das Cruzes em 1999 Professora pela Universidade Paulista UNIP lecionando no curso de Farmácia em São Paulo desde 2019 Possui doutorado pela Universidade Federal de São Paulo concluído em 2005 Possui pósdoutorado pela Universidade Federal de São Paulo concluído em 2010 Trabalhos de pesquisa nas áreas das Ciências da Saúde como Microbiologia e Biotecnologia Luiz Carlos Barone Graduado no curso de Ciências Biológicas Modalidade Médica pela Universidade de Mogi das Cruzes em 1988 Pósgraduado pela Escola Paulista de Medicina no curso especialista em citologia oncótica vaginal e mamária concluído em 2000 Mestrando em parasitologia médica pelo Instituto de Assistência Médica do Servidor Público Estadual IAMSPE com parceria do Centro Universitário Saúde do ABC Faculdade de Medicina do ABC FMABC FUABC Professor pela Universidade Paulista UNIP Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma eou quaisquer meios eletrônico incluindo fotocópia e gravação ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP A662d Aranda Kátia Regina Silva Diagnóstico Laboratorial de Infecções Parasitárias Kátia Regina Silva Aranda Luiz Carlos Barone São Paulo Editora Sol 2021 200 p il Nota este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP Série Didática ISSN 15179230 1 Protozoário 2 Hospedeiro 3 Diagnóstico I Aranda Kátia Regina Silva II Barone Luiz Carlos III Título CDU 616 U51072 21 Prof Dr João Carlos Di Genio Reitor Prof Fábio Romeu de Carvalho ViceReitor de Planejamento Administração e Finanças Profa Melânia Dalla Torre ViceReitora de Unidades Universitárias Profa Dra Marília AnconaLopez ViceReitora de PósGraduação e Pesquisa Profa Dra Marília AnconaLopez ViceReitora de Graduação Unip Interativa EaD Profa Elisabete Brihy Prof Marcello Vannini Prof Dr Luiz Felipe Scabar Prof Ivan Daliberto Frugoli Material Didático EaD Comissão editorial Dra Angélica L Carlini UNIP Dr Ivan Dias da Motta CESUMAR Dra Kátia Mosorov Alonso UFMT Apoio Profa Cláudia Regina Baptista EaD Profa Deise Alcantara Carreiro Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico Prof Alexandre Ponzetto Revisão Bruno Barros Vitor Andrade Sumário Diagnóstico Laboratorial de Infecções Parasitárias APRESENTAÇÃO 7 INTRODUÇÃO 8 Unidade I 1 ASSOCIAÇÕES MECANISMOS DE AÇÃO E INTERAÇÕES DOS PARASITAS 11 11 Conceitos importantes em parasitologia 11 111 Tipos de associações entre os animais 11 112 Ação dos parasitas sobre o hospedeiro 12 113 Interação entre parasita hospedeiro e vetor 13 114 Classificação dos parasitas 14 115 Como os parasitas causam doença 14 2 ARTHROPODA 15 3 ORDENS 18 31 Diptera 18 32 Hemiptera 22 33 Anoplura24 34 Siphonaptera 26 35 Acarina 28 351 Escabiose 30 352 Febre maculosa 30 4 AULA PRÁTICA IDENTIFICAÇÃO DE ARTRÓPODES EM LÂMINAS DE MICROSCOPIA 38 Unidade II 5 PROTOZOA 44 51 Protozoários intestinais 48 511 Entamoeba histolytica 49 512 Giardia lamblia 53 513 Isospora belli 56 514 Cryptosporidium sp 60 515 Aula prática exame coproparasitológico para pesquisa de protozoários intestinais técnicas de Sheater e Faust 65 52 Protozoários sanguíneos 75 521 Trypanosoma cruzi 75 522 Plasmodium spp 81 523 Toxoplasma gondii87 524 Leishmania spp 90 525 Aula prática identificação de protozoários sanguíneos em lâminas de microscopia Leishmania spp Trypanosona cruzi Plasmodium spp e Toxoplasma gondii 96 6 OUTROS PROTOZOÁRIOS 98 61 Trichomonas spp 98 Unidade III 7 PLATYHELMINTES 108 71 Trematoda108 711 Schistosoma mansoni 108 712 Fasciola hepatica 113 72 Cestoda 118 721 Taenia 119 722 Echinococcus 128 723 Hymenolepis 135 724 Diphyllobothrium 139 725 Aula prática exame coproparasitológico para pesquisa de helmintos técnicas de Willis e de Hoffman 142 8 ASCHELMINTHES 144 81 Nematoda 144 811 Ascaris lumbricoides 144 812 Enterobius vermiculares 148 813 Strongyloides stercoralis 153 814 Ancylostoma 158 815 Wuchereria bancrofti 164 816 Trichuris trichiura 171 817 Larva migrans cutânea visceral e ocular 175 818 Aula prática identificação de helmintos em lâminas e frascos visualização das estruturas dos parasitas 180 7 APRESENTAÇÃO Ao estudar esta disciplina vamos mostrar a você como aplicar diferentes métodos laboratoriais de diagnóstico para que seja possível a identificação das principais parasitoses que acometem a espécie humana como artrópodes protozoários e helmintos Lembrese que é muito importante que você se mantenha organizado em seus estudos Dessa forma será possível acompanhar melhor a evolução dos conteúdos além de evoluir adequadamente na construção do seu conhecimento Desejamos um bom estudo e esperamos junto com você sempre alcançar um dos objetivos maiores na sua trajetória acadêmica que é o conhecimento capaz de fazer toda a diferença na sua carreira profissional Vamos agora contar um pouco sobre o conteúdo que vamos estudar Baseandose na importância de auxiliar você a analisar e tirar conclusões diante dos métodos laboratoriais de diagnóstico este conteúdo abordará inicialmente os tipos de associações entre os animais os mecanismos de ação dos parasitas e o papel deles os parasitas como agentes causadores de doença Em relação ao parasita vamos conhecer de forma detalhada os agentes etiológicos e os aspectos morfológicos que este agente pode apresentar durante sua vida e principalmente a forma infectante ou seja a morfologia adotada pelo parasita para causar doença Para que possamos entender o mecanismo de ação dos parasitas vamos conhecer as alterações clínicas que ocorrem em seres que são portadores deste parasita e qual profilaxia adotada ou seja como evitar a contaminação por esse agente patogênico Os aspectos relacionados à epidemiologia que conheceremos nesse conteúdo são de grande importância para entendermos a prevalência das parasitoses pelo mundo e a relação com as condições humanas Por fim vamos conhecer as formas parasitárias que são identificadas pelos processos técnicolaboratoriais de diagnóstico parasitológico O objetivo desta disciplina é o de conhecer os artrópodes os protozoários e os helmintos que atuam na integridade da saúde do homem conferindo conhecimento habilidades e atitudes favoráveis ao fortalecimento do sentido de responsabilidade e de competência com a saúde humana Dessa forma você será capaz de identificar as parasitoses nacionais por meio dos principais métodos de diagnósticos vigentes A disciplina criará condições para que você possa adquirir e produzir os conhecimentos necessários para o desenvolvimento do seu raciocínio lógico para desenvolver ações diagnósticas e preventivas de doenças de origem parasitárias baseadas em estudos científicos propondo projetos que envolvam medidas de proteção e reabilitação da saúde do homem dentro das condições sociais nacionais no Brasil Este conteúdo prepara você para identificar os agentes que parasitam o homem o seu conceito biológico além de ajudálo a conhecer as técnicas de identificação para o diagnóstico da infecção Dessa forma este material oferece as competências e habilidades que você deve possuir para agir como um parasitologista competente e preparado para realizar o diagnóstico preciso das infecções parasitárias 8 INTRODUÇÃO Atualmente as infecções parasitárias são consideradas pela OMS Organização Mundial de Saúde uma das seis doenças infecciosas mais perniciosas que atinge a humanidade Apesar de países desenvolvidos não estarem sujeitos a muitos dos parasitas prejudiciais porque possuem boas condições de higiene saneamento básico e padrão educacional em países subdesenvolvidos ainda é um problema de saúde pública Estudos concluem que a globalização causou grande mudança nas condições sociais e biológicas e isso determina as enfermidades infecciosas como um problema de saúde pública ou seja essas questões atingem de forma gradativa direta ou indiretamente a saúde da população principalmente em países subdesenvolvidos Por décadas a relação da variação climática de acordo com as regiões geográficas foi considerada a grande vilã das doenças parasitárias e que tornaria as parasitoses de difícil controle Entretanto com diversos estudos notouse que a responsabilidade da disseminação e descontrole das parasitoses estão relacionados entre outros fatores à pobreza falta de educação ambiental e desigualdade social Sem dúvida a distribuição geográfica e a migração humana independentemente da situação socioeconômica do país são os grandes vilões no combate às parasitoses como a presença de hospedeiros susceptíveis migrações condições ambientais hábitos religiosos e princípios higiênicos Mesmo em países desenvolvidos como os Estados Unidos notase que o processo de erradicação de algumas infecções é complexo visto o aumento do número de viagens pelo mundo e a desinformação dos imigrantes O setor econômico também sofre com as parasitoses Diferentes regiões do mundo sofrem com altas taxas de mortalidade prejuízos alimentícios e diminuição na produtividade humana As doenças parasitárias são consideradas síndromes complexas de difícil controle devido a sua relação íntima com o comportamento humano O estudo dos agentes envolvidos na doença parasitária tais como reservatórios vetores mecanismos de transmissão ciclo biológico do parasita são essenciais para o controle dessas doenças bem como para o tratamento e intervenções clínicas e medicamentosas Nesta unidade vamos conhecer os diferentes tipos de associação entre os animais como são classificados e principalmente vamos conhecer os mecanismos de ação dos parasitas em seus hospedeiros A identificação da interação entre o parasita o seu hospedeiro e o vetor de transmissão é de grande importância para a compreensão das doenças parasitárias e seu diagnóstico Vamos iniciar nosso estudo conhecendo os artrópodes conhecidos como ectoparasitas eles são os parasitas que vivem de forma externa ao hospedeiro e classificados em diferentes ordens Nas ordens abordadas conheceremos insetos ácaros carrapatos piolhos e pulgas que podem atuar como vetores e como causadores de doença Conheceremos de forma detalhada a doença febre 9 maculosa que é uma importante parasitose que leva muito dos seus hospedeiros à morte E por fim vamos conhecer como é realizada a identificação laboratorial dos artrópodes abordados Depois vamos conhecer e compreender os aspectos relacionados à classe Protozoa composta por seres unicelulares eucarióticos Vamos conhecer também os principais parasitas de importância médica que são causadores de doenças e muitas delas podem levar o hospedeiro à morte Inicialmente conheceremos os protozoários intestinais seres unicelulares que habitam o intestino e causam determinadas parasitoses como a giardíase e amebíase que afetam principalmente as crianças Na sequência estudaremos as parasitoses sanguíneas como os agentes causadores da doença de Chagas malária toxoplasmose e leishmaniose Em cada uma das doenças parasitárias veremos os vetores agentes etiológicos o ciclo biológico do parasita a profilaxia e o diagnóstico clínico e laboratorial de cada uma Aprenderemos também as técnicas de diagnóstico laboratorial para a identificação tanto dos parasitas protozoários intestinais como os sanguíneos Dessa forma será possível compreendermos todos os aspectos envolvidos para um diagnóstico fidedigno do material biológico analisado Destacase que é importante saber que a supervisão e o acompanhamento das doenças parasitárias que devem ser realizados pelas autoridades de saúde são vitais para o controle e a prevenção das parasitoses Assim a detecção imediata e notificação aos órgãos responsáveis das doenças parasitárias é fundamental para o processo de vigilância epidemiológica para que seja possível a identificação de regiões endêmicas os índices de contaminação e os estudos epidemiológicos complementares à parasitologia Por fim vamos conhecer os parasitas classificados como endoparasitas ou seja os seres que vivem no interior do corpo do hospedeiro Esses endoparasitas que pertencem ao grupo dos helmintos vermes são divididos em três filos Platyhelminthes Cestoda corpo alongado e Trematoda vermes achatados Aschelminthes Nematoda vermes redondos e Acantocephala vermes arredondados com pseudossegmentação e uma probóscida armada de ganchos 11 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Unidade I 1 ASSOCIAÇÕES MECANISMOS DE AÇÃO E INTERAÇÕES DOS PARASITAS 11 Conceitos importantes em parasitologia 111 Tipos de associações entre os animais Sabemos que naturalmente os animais nascem crescem reproduzemse envelhecem e morrem Entretanto cada espécie se adapta evolui e permanece como uma população ou grupo Esses fenômenos são regulados por diversos fatores que permitem a cada ser vivo as melhores condições de obter alimentos e abrigo Observação Seres vivos competem entre si pelo meio ambiente onde o conceito de seleção natural é seguido pela natureza O desiquilíbrio ecológico pode causar impactos irreversíveis na relação dos animais com o ambiente Os diferentes tipos de associação foram gerados a partir da convivência em um mesmo ambiente Essas associações podem ser Harmônica ou positiva benefício mútuo ou ausência de prejuízo mútuo Desarmônica ou negativa prejuízo para algum dos participantes Em relação à harmônica considerase o comensalismo o mutualismo a simbiose e como desarmônicas a competição o canibalismo o predatismo e o parasitismo Comensalismo é a associação entre organismos de espécies diferentes na qual um dos associados é beneficiado e o outro não ganha nem perde Mutualismo é quando duas espécies se associam para viver e ambas são beneficiadas É uma associação obrigatória sendo por muitos autores considerada como uma simbiose Simbiose é a associação de dois ou mais organismos de espécies diferentes ambos ou todos com vantagens recíprocas Neste tipo de associação as espécies realizam funções complementares indispensáveis à vida de cada uma De um modo geral são conhecidos como simbiontes os indivíduos que vivem em simbiose 12 Unidade I Competição associação desarmônica na qual seres da mesma espécie ou espécies diferentes buscam o mesmo abrigo ou alimento sendo que a espécie em desvantagem perde Canibalismo associação em que um animal se alimenta de outro da mesma espécie ou da mesma família Predatismo é a associação em que uma espécie depende da morte de outra espécie para sua sobrevivência Observação Em nosso dia a dia encontramos esse tipo de associação na cadeia alimentar quando vemos a onça se alimentar de pacas e quando gaviões se alimentam de pequenas aves e roedores Parasitismo é a associação em que o benefício é unilateral ou seja o ser vivo hospedeiro que abriga o parasita oferece benefícios como alimento e abrigo porém essa relação busca um equilíbrio pois a morte deste hospedeiro é uma desvantagem para a sobrevivência do parasita O parasitismo é uma forma de associação que possui diferentes manifestações como exemplo adequação no processo evolutivo Com relação à evolução esses organismos são altamente especializados o que permite a sobrevivência em seus hospedeiros adequados Como os parasitas têm que competir por alimento não somente com o hospedeiro mas também com outros membros de sua própria espécie e ainda com outras espécies o mecanismo de reprodução é uma das estratégias para garantir o seu estabelecimento no hospedeiro Assim alguns parasitas têm a capacidade de produzir grande número de ovos e cistos contaminando o ambiente e consequentemente atingindo o homem de forma mais ampla Cada parasita tem uma forma particular de transmissão e isso será demonstrado detalhadamente quando for citada cada uma das parasitoses entretanto sob o ponto de vista da saúde pública para que ocorra a transmissão de um parasita são necessários os seguintes fatores fonte de infecção veículo de transmissão e via de penetração 112 Ação dos parasitas sobre o hospedeiro A intensidade da doença parasitária depende de um equilíbrio entre diferentes fatores que envolvem o hospedeiro e o parasita O número de formas infectantes e o potencial de virulência deste parasita e as condições do hospedeiro tais como idade estado nutricional e o grau da resposta imunológica podem determinar o grau de evolução da doença parasitária Além disso os mecanismos utilizados pelo parasita para sobreviver no hospedeiro e obter seus nutrientes e abrigo variam de acordo com a espécie e são muito variáveis podendo ser assim as principais apresentadas a seguir Ação espoliativa esse mecanismo de ação é utilizado pelo parasita para absorver nutrientes ou sangue do hospedeiro Podemos ilustrar com o exemplo dos Ancylostomatidae que fazem a 13 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS sucção de sangue da parede intestinal do hospedeiro e após esse processo abandonam o local causando pontos hemorrágicos na mucosa Ação tóxica o parasita produz enzimas ou metabólitos que podem causar lesão ao hospedeiro Como exemplo citamos as reações alérgicas causadas pelo A lumbricoides em seu processo de infecção Ação mecânica ocorre quando o parasita bloqueia ou dificulta o fluxo de substâncias vitais ao hospedeiro Um exemplo é o Giardia lamblia que produz um tapete na mucosa intestinal obstruindo a absorção de água e nutrientes pelo intestino 113 Interação entre parasita hospedeiro e vetor Hospedeiro é um organismo no qual o parasita obtém nutrientes e no qual algum ou uma parte do ciclo de vida parasita ocorre Muitos parasitas têm exigências específicas para completar seu ciclo de vida Ainda que essencialmente todas as espécies animais tenham parasitas esses são frequentemente muito específicos para o hospedeiro Todavia se as condições forem adequadas os parasitas que são normalmente encontrados em um hospedeiro podem sobreviver e até serem bemsucedidos em outro hospedeiro que não o seu natural Com relação aos hospedeiros podemos classificálos como Hospedeiro definitivo também conhecido como hospedeiro principal Neste hospedeiro encontramos o parasita na fase de vida sexual madura ou forma adulta Alguns parasitas requerem dois ou mais hospedeiros para completar seu ciclo de vida Hospedeiro intermediário é um organismo necessário para completar o ciclo biológico do parasita além do hospedeiro definitivo No hospedeiro intermediário normalmente ocorre a fase assexuada ou larvária do parasita Hospedeiro reservatório é um organismo além do hospedeiro definitivo e que pode abrigar um parasita e servir de fonte de infecção Ainda sobre a relação parasita e hospedeiro o parasita pode ser classificado de acordo com o número de hospedeiros necessários para seu desenvolvimento Assim são caracterizados como Monoxênico ou monogenéticos são parasitas que desenvolvem seu ciclo evolutivo em um único hospedeiro Heteroxênico ou digenéticos são parasitas com mais de um hospedeiro ou seja para completarem o seu ciclo evolutivo necessitam de pelo menos dois hospedeiros Já o vetor é um organismo vivo transmissor ou seja transporta o parasita de um hospedeiro para outro O vetor pode ser 14 Unidade I Vetor biológico é um hospedeiro essencial para o ciclo de vida Exemplo o mosquito é um vetor para o Plasmodium Vetor mecânico transmite a doença mecanicamente Exemplo moscas que pousam em fezes infectadas e depois pousam em alimentos podem carregar estágios infectantes dos parasitas de um lugar para outro 114 Classificação dos parasitas Os parasitas podem ser classificados de acordo com os locais onde são normalmente encontrados e também com suas características morfológicas Na classificação dos parasitas quanto a sua localização são apresentados os endoparasitas e ectoparasitas Endoparasitas são os seres que vivem no interior do corpo do hospedeiro Podem ser divididos em parasitas intestinais exemplo Ascaris lumbricoides e parasitas sanguíneos exemplo Plasmodium Ectoparasitas são os parasitas que vivem de forma externa no hospedeiro na grande maioria na pele Podemos citar o exemplo do Scarcoptes scabiei agente causador da sarna Com relação às características morfológicas os parasitas são divididos em protozoários seres unicelulares helmintos seres multicelulares cilíndricos ou achatados e artrópodes Esses grupos são incluídos em cinco grandes filos Protozoa animais unicelulares Platyhelminthes ou vermes achatados Aschelminthes Nematoda vermes redondos Acantocephala vermes arredondados com pseudossegmentação e uma probóscida armada de ganchos e Arthropoda insetos e ácaros Nesta unidade mais adiante estudaremos o filo Arthropoda 115 Como os parasitas causam doença Nas infecções parasitárias os efeitos podem ser assintomáticos ausência de sintomas sintomas suaves ou moderados ou ainda a morte A doença parasitária acontece quando os danos se tornam severos o suficiente para causar mudanças patológicas no hospedeiro Os fatores que influenciam a severidade da infecção são tratamento do parasita quantidade de parasitas localização da infecção toxicidade do parasita condições do hospedeiro Agora que já conhecemos a origem dos parasitas e como eles se associam com o hospedeiro estudaremos as principais características de cada filo incluindo os parasitas que pertencem a cada um respectivamente e para cada espécie conheceremos a morfologia biologia métodos de diagnóstico epidemiologia profilaxia e citações de drogas mais eficazes para a terapêutica 15 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS 2 ARTHROPODA O filo Arthropoda inclui os invertebrados e corresponde a um grupo de parasitas que possuem pares de patas articuladas Esses parasitas são denominados ectoparasitas pois são encontrados na superfície do corpo de um hospedeiro Este filo é o maior grupo do reino animal com cerca de 80 de espécies descritas na literatura parasitária e é o mais importante economicamente para a agricultura com efeitos tanto benéficos como nocivos Cerca de 1 milhão destas espécies vivem na terra ar ou água onde sua alimentação varia de diversas fontes inclusive de sangue dos hospedeiros De modo geral esses tipos de ectoparasitas possuem simetria bilateral com um esqueleto externo formado por um tegumento composto por epiderme e cutícula Este tegumento por sua vez tem a função de proteger sustentar e impedir a perda de água A cutícula quando recémformada pelo artrópoda é flexível e mole porém com o tempo fica enrijecida de quitina tornandose a porção mais externa da cutícula denominado exoesqueleto o qual impede o crescimento progressivo do ectoparasita O corpo do artrópoda é dividido em duas partes cefalotórax e abdome cabeça e tronco ou em três cabeça tórax e abdome Na cabeça do artrópoda existem estruturas com a função sensorial perfuradora ou mastigadora Possuem um sistema nervoso formado por uma cadeia de gânglios ventrais onde o sistema circulatório é do tipo aberto contendo no seu interior um líquido denominado hemolinfa impulsionado pelo coração O sistema respiratório é formado por uma rede de traqueias que se liga com a parte exterior do parasita através de aberturas respiratórias denominadas espiráculos Seu sistema digestório é formado pela abertura oral seguido do tubo digestivo e terminando na abertura anal localizada na parte posterior do parasita Geralmente seu crescimento ocorre devido a mudas que também são denominadas ecdises Essas mudas ocorrem durante o tempo de vida do ectoparasita promovendo alterações em seu corpo e conduzindo à sua maturidade sexual juntamente por hormônios produzidos por ele Os artrópodes geralmente ficam presos à superfície do hospedeiro graças aos seus pares de patas O processo de localização do hospedeiro ocorre devido a alguns estímulos específicos como a presença de CO2 a temperatura da umidade do ambiente O mecanismo de percepção dessas condições pelo artrópoda ocorre por sensores espalhados pelo seu corpo que estão localizados principalmente nas suas peças bucais e antenas O filo Arthropoda está subdivido em subfilos e classes como apresentado de forma resumida na figura seguinte 16 Unidade I Arthropoda FILO CLASSE ORDEM Acarina Peças bucais articuladas com o corpo carrapatos tamanho macroscópico pernas longas exoesqueleto com ou sem escudo exoparasitas microácaros 200 a 400 µm pernas curtas endoparasitas Hemiptera percevejos verdadeiros dois pares de asas metamorfose simples Diptera moscas e mosquitos dois pares de asas um atrofiado metamorfose completa Anoplura piolhos sem asas achatados dorsoventralmente ectoparasitas permanentes metamorfose simples Siphonaptera pulgas sem asas achatados lateralmente metamorfose completa Insecta Cabeça tórax e abdome são segmentos distintos um par de antenas e em geral um par de olhos três pares de pernas e muitas vezes asas no tórax Arachnida Sem cabeça distinta sem antenas abdome e tórax fundidos quatro pares de pernas no adulto metamorfose simples compreende aranhas escorpiões carrapatos e microácaros Invertebrados exoesqueleto quitinoso apêndices articulados Figura 1 Representação esquemática resumida do filo Arthropoda Os Arthropodas em estudo clínico humano estão distribuídos em três classes importantes a Insecta a Arachnida e Crustacea pois podem tanto causar patologias no hospedeiro como também serem veículos de transporte de outros parasitas serem hospedeiros intermediários ou até mesmo transmitir infecções a hospedeiros definitivos Sobre a classe Insecta são conhecidas mais de 8 milhões de espécies devidamente catalogadas no mundo A classe ou o grupo dos insetos apresenta o corpo dividido em três regiões distintas denominadas cabeça tórax e abdome Na cabeça encontramse um par de olhos compostos duas antenas com formas e tamanhos variáveis e com funções sensoriais e as peças bucais com funções baseadas em sucção e mastigação No tórax quando o inseto é alado encontrase um par de asas No abdome estão as patas que se apresentam distribuídas em três pares localizadas e restritas no abdome Internamente possui sistema digestivo composto por boca faringe esôfago papo e proventrículo O sistema respiratório também presente nesses insetos possui um conjunto de tubos e traqueias com uma ramificação muito intensa permitindo que as trocas gasosas sejam feitas totalmente por meio celular dispensando o auxílio da hemolinfa A respiração é controlada por um sistema nervoso central sofisticado que possui vários filamentos nervosos por todo o corpo do inseto e como 17 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS característica básica dependendo da espécie determina a capacidade de voar Com relação ao sistema reprodutor o método de reprodução usual é o cruzamento entre macho e fêmea Esses ectoparasitas possuem um tamanho pequeno e evoluem em curtas gerações apresentando diferentes estratégias de crescimento e desenvolvimento O seu ciclo biológico pode ocorrer de diferentes formas de acordo com processos de modificações complexos regulados por hormônios A maioria das espécies da classe Insecta é ovípara sendo variável o local de oviposição ou seja podemos encontrar esses ovos em qualquer ambiente Grande parte dos Insecta sofrem o que chamamos de metamorfose incompleta ou completa É denominado metamorfose incompleta ou hemimetabolia a evolução que ocorre a partir do ovo até a fase adulta Esse processo de metamorfose pode apresentar três fases ovo ninfa imago sendo que a ninfa é semelhante a um adulto porém sem órgãos genitais e sem asas Já imago é o adulto sexualmente maduro No processo da metamorfose completa ou holometabolia ocorrem quatro etapas de evolução ovo larva pupa imago sendo que a fase de pupa corresponde a um período em que a larva fica presa a um casulo e é completamente diferente do adulto inclusive biologicamente Na classe Insecta temos as ordens Diptera Hemiptera Anoplura e Siphonaptera Nesta unidade estudaremos apenas os insetos de importância médica pertencentes a essas ordens porém devemos saber que existem milhares de espécies com funções muito importantes como por exemplo polinização das flores decomposição de matéria orgânica participação no equilíbrio biológico entre outros Lembrete Os insetos de importância médica são os causadores de doença e os mais próximos de nós especialmente em países subdesenvolvidos Na classe Arachnida os aracnídeos possuem corpo fundido com cefalotórax e abdome com quatro pares de patas e sem antenas Na parte anterior chamada de gnatosoma esses ectoparasitas apresentam peças bucais articuladas com o corpo que são de grande importância para o estudo clínico em hospedeiros humanos Essas pinças bucais são formadas por quelíceras e palpos ou pedipalpos As quelíceras ou pinças possuem a função de cortar ou perfurar tecidos já os palpos ou pedipalpos são órgãos que auxiliam na alimentação Embora sejam considerados parasitas que não ataquem diretamente podem causar danos ao hospedeiro humano devido aos venenos que possuem muitas vezes com efeitos de reações de hipersensibilidade inflamatórios e de toxicidade ao hospedeiro podendo levar à morte 18 Unidade I Lembrete A classe Arachnida corresponde às ordens de interesse médico e veterinário sendo que alguns deles fazem secreção e inoculação de venenos A classe Arachnida apresenta três ordens Scorpiones Araneida e Acari sendo o último o de maior interesse médico e o que vamos estudar neste capítulo 3 ORDENS 31 Diptera Os artrópodes da classe Insecta e da ordem considerada Diptera são os insetos que na fase adulta possuem como característica um par de asas funcionais e um segundo par vestiginal sendo reduzido a uma estrutura semelhante a halteres também chamada de balancins Em sua morfologia a cabeça geralmente é subesférica com dois olhos compostos e com antenas que podem ser tri ou plurissegmentadas O aparelho bucal pode ser picador sugador pungitivo portanto hematófagos ou sugador não pungitivo os lambedores No tórax estão fixadas as asas e três pares de patas Na região final do abdome estão os segmentos que compõem a genitália masculina ou feminina Sua evolução é do tipo holometabólica ou seja completa e apresenta as fases de ovo larva pupa e adulto O local da postura da larva é variado podendo ser encontrada em diferentes matérias orgânicas em decomposição fezes cadáveres etc Esses ovos podem eclodir e formar as larvas que se alimentam do tecido morto ou vivo do hospedeiro Este tipo de parasitismo pelas larvas é conhecido como miíases proveniente do grego myie mosca e ase forma semelhantes à das crisálidas das borboletas ou conhecidas na linguagem popular como bicheiras Esta ordem é representada pelas moscas e mosquitos As moscas são consideradas insetos e são as mais numerosas catalogadas em mais de cem famílias e várias espécies Algumas moscas podem ser consideradas hematófagas já outras podem depositar ovos em feridas ou no corpo do hospedeiro Os mosquitos considerados hematófagos são capazes de causar desde reações alérgicas ao hospedeiro até a transmissão de agentes infecciosos pela saliva como por exemplo os vírus A grande preocupação com a ordem Diptera é a possibilidade de transferência mecânica de agentes contaminantes presentes nas fezes ou solos para os alimentos por meio das pernas ou outras estruturas do inseto Dessa forma podemos afirmar que hábitos inadequados de higiene também colaboram para a disseminação da doença parasitária Algumas famílias pertencentes à ordem Diptera são consideradas de importância clínica em relação ao hospedeiro humano Dentre essas famílias vamos estudar a Culicidae e a Phlebotomidae 19 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Culicidae Esta família particularmente é de grande interesse médico pois é onde se concentra o maior número de insetos hematófagos e com grande capacidade de adaptação biológica Esse grupo se adapta muito bem em ambientes peridomiciliares áreas externas de uma residência geralmente em um raio de 100 metros e domiciliares podendo causar diversas parasitoses em seres humanos Os culicídeos são conhecidos como pernilongos mosquitos muriçocas etc Esses insetos durante a hematofagismo causam grande perturbação ao hospedeiro espoliando seu sangue e podem transmitir doenças virais como a febre amarela doenças protozoárias como a malária e até helmintoses como a Wuchereria bancrofti que vamos estudar adiante As fêmeas fazem sua oviposição na água ou em ambientes úmidos Apenas as fêmeas possuem hábitos noturnos e se alimentam de sangue do hospedeiro Os machos se alimentam de suco de frutas fluidos dos vegetais e néctar Como característica morfológica podem apresentar corpo e asas cobertos por escamas que podem possuir tonalidades uniformes ou diferentes No seu ciclo biológico o ovo após um período de aproximadamente quatro dias eclode liberando a larva Após dez a vinte dias a larva evolui e atinge a forma de pupa e em seguida após três dias atinge a forma adulta Essa forma adulta possui um período limitado de vida que dura cerca de dois meses no verão e seis meses no inverno Para este grupo destacamos as espécies Anopheles Aedes e Culex que conseguem transmitir agentes causadores de doenças ao hospedeiro O Anopheles darlingi é a mais importante espécie transmissora de malária no Brasil e está representado na figura seguinte A espécie Anopheles é encontrada em diferentes criadouros como a água de represa desde que seja límpida e sombreada Seu deslocamento ocorre nos períodos vespertinos e matutinos e se adapta a qualquer ambiente habitacional No Brasil é pouco encontrado nas regiões mais secas e nas regiões do extremo sul do país Sobre a malária vamos conhecer um pouco mais no outro capítulo Figura 2 Mosquito da espécie Anopheles 20 Unidade I O Aedes aegypti demonstrado na figura seguinte é o principal transmissor da febre amarela e da dengue em todo o mundo Disseminase bem por toda a faixa tropical e as fêmeas ovipõem na parede dos recipientes desde que eles contenham água parada principalmente em domicílios e peridomicílios Os hábitos de hematofagia e oviposição são diurnos sendo que a hematofagia ocorre preferencialmente em hospedeiros humanos tendo como consequência a inoculação das partículas virais causadoras de doenças Figura 3 Mosquito Aedes aegypti O Culex é o inseto transmissor da filariose bancrofitiana doença que vamos estudar em outro capítulo Este inseto é extremamente perturbador do sono noturno em vários países tropicais e está demonstrado na figura seguinte Por possuir o hábito noturno pica dentro dos domicílios e se prolifera em águas paradas que estejam poluídas com matéria orgânica e localizadas próximas às casas O controle desses insetos deve ser feito pelo homem com o uso de inseticidas Porém também se sabe que esses insetos podem apresentar resistência aos inseticidas de acordo com o uso contínuo e portanto a melhor forma de combate é eliminando os focos de criadouros de larvas Figura 4 Mosquito da família Culex 21 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Phlebotomidae Na família Phlebotomidae estão os flebotomíneos que podem transmitir protozoários vírus e bactérias por meio de sua picada No Brasil a patologia de leishmaniose que vamos estudar adiante é transmitida por um inseto desta família denominado Lutzomyia longipalpis que em muitas regiões são chamados pela população residente de mosquito birigui palha tatuquira asa branca e asa dura Esses flebotomíneos medem até 4 mm de comprimento e possuem o corpo coberto por pelos finos A maioria das fêmeas realizam a hematofagia noturna e possuem hábitos restritos a florestas e matas Dessa forma a melhor maneira de controle é o uso de mosquiteiros e de roupas protetoras que cubram pescoço braços e pernas Figura 5 Mosquito macho da família Phlebotomidae Figura 6 Mosquito Lutzomyia longipalpis transmissor da leishmaniose 22 Unidade I 32 Hemiptera A ordem Hemiptera que pertence à classe Insecta possui cerca de 37 mil espécies e representa a maior diversidade de insetos de metamorfose incompleta São classificados pela presença de um par de asas anterior com uma metade basal rígida ou corácea e a outra metade distal membranosa Nessas asas encontramse as nervuras também chamadas de hemélitros Além deste par de asa este inseto possui um outro par membranoso sem características determinadas Os insetos da ordem Hemiptera possuem aparelho bucal probóscida ou tromba do tipo picador sugador que se origina anteriormente aos olhos constituído por um par de mandíbulas e um de maxilas envolvidos por um lábio tri ou tetrassegmentado e sem palpos Possuem dois pares de asas que se sobressaem horizontalmente no abdome Os hemípteros possuem um achatamento moderado característica muito comum principalmente nos que vivem em fendas No corpo existem variações morfológicas e cromáticas que ajudam na identificação desses insetos A cabeça desses insetos é alongada dividida em anteocular e pósocular Entre essa divisão encontrase um par de olhos e na parte anteocular um par de antenas tetrassegmentadas A probóscida possui um par de mandíbulas e um de maxilas formando um canal salivar e um canal alimentar No tórax a região dorsal é dividida em lobo anterior e posterior e na região ventral que possui a probóscida encontrase um sulco estridulatório As patas compostas por coxa ou quadril trocânter fêmur tíbia tarsos e garras estão localizados na parte ventral do tórax O abdome é alongado e ovoide formado por região ventral dorsal e lateral É na parte lateral que se encontram as principais características para identificação dos triatomíneos com a presença de manchas claras e escuras características essas de cada espécie O tamanho é variável sendo que as dimensões variam de milímetros a vários centímetros de comprimento A grande maioria se alimenta de seiva de vegetais chamados de fitófagos Uma outra parte é constituída por predadores que se alimentam de insetos e pequenos vertebrados Uma terceira parte se alimenta de sangue de vertebrados incluindo o homem São hematófagos os hemípteros das famílias Polyctenidae ectoparasitos de morcegos Cimicidae parasitas de muitas aves e mamíferos incluindo os percevejos de cama que parasitam humanos e os barbeiros insetos da família Reduviidae pertencentes à subfamília Triatominae 23 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Figura 7 Triatoma infestans pertencente à família Triatominae A família Triatominae que são os hemípteros hematófagos transmitem o Trypanossoma cruzi parasita causador da doença de Chagas que vamos estudar mais adiante Esses triatomíneos possuem cabeça alongada pescoço unindo cabeça ao tórax e probóscida reta e trissegmentada A principal espécie de interesse médico é o Triatoma infestans representado na figura anterior A fêmea pode apresentar de 2 a 3 cm com cor negra ou marromescuro marcações amarelas e cabeça negra O seu tempo de vida é de um ano e meio e durante esse período pode botar até 300 ovos sendo o período de incubação desses ovos de vinte dias O ciclo biológico ocorre na sequência ovo eclosão ninfa 1 muda ninfa 2 muda ninfa 3 muda ninfa 4 muda ninfa 5 muda adulto Devese destacar a importância da eliminação de dejetos por esses triatomíneos após o processo de hematofagia no homem pois é através desse processo que ocorre a transmissão do parasita causador da doença de Chagas Saiba mais O texto apresenta as principais características e a forma de transmissão da doença de Chagas BRASIL Ministério da Saúde Doença de Chagas Brasília mar 2005 Disponível em httpsbvsmssaudegovbrbvsdicas77chagashtml Acesso em 27 nov 2020 24 Unidade I Esses insetos vivem predominantemente em casas de barro e pauapique caminhando entre as frestas dessas construções Esses domicílios fornecem ao inseto condições necessárias para sua sobrevivência como temperatura e umidade adequadas locais para esconderijo frestas e alimento animais domésticos e o homem São encontrados de forma massiva no Brasil principalmente nos estados de Alagoas Pernambuco Piauí e Paraíba mas é possível encontrálos também em outras regiões do país Para o controle do Triatominae devese observar o ambiente em que ele vive Por isso melhoria habitacional educação sanitária uso de inseticidas são de grande importante nesse processo 33 Anoplura Na ordem Anoplura que pertence ao filo Arthropoda encontramos os insetos conhecidos popularmente de piolhos Se alimentam de sangue hematófagos e possuem uma metamorfose gradual Apresentam aproximadamente 532 espécies distribuídas em 15 famílias das quais apenas duas apresentam espécies que parasitam o homem a Pediculidae com as espécies Pediculus capitis Pediculus humanus humanus que é o piolho da cabeça e Pediculus humanus Pediculus humanus corporis que é o piolho do corpo ou popularmente chamado de muquirana b Pthiridae com a espécie Pthirus pubis Phthirus pubis vulgarmente conhecida como chato Estes piolhos que por muito tempo pulularam o homem geralmente são transmitidos por contato direto A incidência desses Anoplura está associada a condições socioeconômicas falta de higiene pessoas que vivem em aglomerados moradores de rua presídios e transportes coletivos Atualmente crianças em idade escolar podem mostrar a presença desse inseto devido ao alto contato com outras crianças hábitos de aproximação salas de aula cheias e falta de controle Além do prurido esses insetos podem transmitir doenças como o tifo exantemático febre das trincheiras e a febre recorrente Como este inseto é hematófago durante a picada provoca uma dermatite que pode evoluir com a presença de infecções secundárias A infestação por piolhos é chamada de pediculose podendo ocorrer no corpo e no couro cabeludo No caso do chato a infestação é chamada de pitiríase e a sua transmissão ocorre por contato sexual Como sintoma dessa infestação o paciente apresenta prurido local irritação na pele e assim como o piolho pode abrir portas para infecções bacterianas secundárias Em casos mais severos da infestação desses Anoplura o paciente parasitado pode apresentar anemias pela deficiência de ferro subtraído na hematofagia Os piolhos são considerados insetos pequenos Em relação a sua morfologia não apresentam asas e possuem um aparelho bucal picadorsugador suas pernas são fortes e no tarso notase uma forte garra que se opõe a um processo na tíbia Esse conjunto garra e processo tibial forma uma pinça com a 25 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS qual o inseto fica firmemente aderido ao pelo do hospedeiro Piolhos possuem uma multiplicação muito rápida com um ciclo de vida médio de 45 dias São hematófagos e possuem um ciclo biológico ovo eclosão ninfa muda 1 muda 2 muda 3 adulto Seus ovos possuem uma coloração brancaamarelada com aproximadamente 08 mm São chamados de lêndeas e ficam aderidos ao fio de cabelo ou pelos e eclodem aproximadamente entre seis a nove dias A partir dos ovos surgem as linfas que sofrem várias mudas que originarão o piolho adulto Para o tratamento não basta somente o uso de medicamento É recomentado para a pediculose do corpo que se retire a roupa parasitada e a mergulhe por duas horas em água fria contendo formol ou Lysoform Esta operação deve ser repetida com frequência e na roupa de toda a família Para a pediculose na cabeça é recomentado além do uso de medicação e xampus com inseticida que se realize penteação com pente fino e que se faça regularmente uma inspeção nas pessoas em contato direto com o hospedeiro Para o tratamento do chato também podem ser usados os mesmos medicamentos e aconselhase a tricotomia da região pubiana Figura 8 Pediculus capitis conhecido como piolho de cabeça Figura 9 Ovo de Pediculus capitis chamado de lêndea 26 Unidade I 34 Siphonaptera Outros artrópodes da ordem Siphonaptera e pertencentes à classe Insecta são as pulgas como demonstrado na figura seguinte A ordem Siphonaptera siphon tubo aptera sem asas compreende insetos hematófagos de ambos os sexos vulgarmente conhecidos como pulgas e bichosdepé Representam mais de 2400 espécies e são encontrados em todo o mundo As pulgas fazem parte de um grupo de grande destaque na parasitologia visto que assumem função de transmissores ou hospedeiros intermediários Na fase adulta as pulgas são ectoparasitas de aves e mamíferos enquanto na fase larvária apresentam vida livre e aparelho bucal do tipo mastigador Nascem de ovos na forma de larva e iniciam a metamorfose passando por vários estágios do seu ciclo biológico assumindo a forma de pupa e depois subsequentemente a forma adulta Esses insetos são agentes espoliadores sanguíneos ou seja são hematófagos e continuam esse processo mesmo após estarem repletos de sangue do hospedeiro Ao picar o hospedeiro para se alimentar injetam saliva causando uma reação no hospedeiro com intensidade variável podendo acarretar manifestações clínicas como prurido passageiro inchaço local e dermatites alérgicas Algumas espécies apresentam especificidades de hospedeiro Entre os primatas apenas o homem é o hospedeiro habitual Do ponto de vista epidemiológico os roedores são os hospedeiros mais importantes pelo fato de suas espécies serem apontadas como os principais reservatórios de várias infecções ao longo da história como a peste tularemia e tifo murino A maioria das espécies de pulgas vive no hospedeiro onde se alimentam intermitentemente Morfologicamente as pulgas são consideradas insetos pequenos de cor castanhoescuro e corpo achatado lateralmente facilitando sua locomoção no hospedeiro Não possuem asas e seu último par de pernas é adaptado para saltar várias vezes o seu tamanho Possuem um aparelho bucal do tipo picadorsugador Apresentam um dimorfismo sexual os machos são menores que as fêmeas diferenciandose delas pela morfologia dos órgãos genitais enquanto nos machos a extremidade posterior que alberga o órgão copulador tem um formato espiralado e pontudo voltado para cima nas fêmeas a extremidade posterior é arredondada exibindo uma estrutura visível após clarificação entre os segmentos VII e VIII do abdome com paredes quitinizadas e com função de reservatório de espermatozoides Em seu abdome as pulgas possuem numerosas cerdas O tempo de vida é muito variável dependendo de cada espécie temperatura umidade do ambiente e de sua alimentação Em seu ciclo biológico as pulgas passam por três estágios larvares antes de se tornarem adultas Quando chegam na fase adulta são obrigatoriamente hematófagos Na fase em que ainda são larvas vivem no solo ou ninho de animais 27 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Figura 10 Imagem representativa da pulga Siphonaptera A ordem Siphonaptera apresenta três famílias e oito espécies como demonstrada no quadro seguinte Quadro 1 Representação esquemática resumida da ordem Siphonaptera Ordem Família Espécies Siphonaptera Pulicidae Pulex irritans Xenopsylla cheopis Xenopsylla brasiliensis Ctenocephalides canis Ctenocephalides felis Rhopalopsyllidae Polygenis bohlsi Polygenis tripus Tungidae Tunga penetrans Das oito famílias as quais pertencem as pulgas cinco espécies são de importância médica e que possuem características morfológicas permitindo sua diferenciação Citamos a seguir essas espécies Pulex irritans possuem uma cor marromclara de tamanho relativamente grande em relação às demais espécies de pulga típica da espécie humana Xenopsylla cheops podem fazer o parasitismo tanto no homem quanto em roedores São transmissoras da bactéria Yersinia pestes causadora da peste bubônica peste negra no século XIV 28 Unidade I Ctenocephalides felis são classificadas como cosmopolita e são menos seletivas quando se trata do tipo de sangue a ser ingerido Estão presentes em quase todo o mundo Possuem cor marromescura e têm grande facilidade de reprodução em diversos ambientes e habitats Ctenocephalides canis seus hospedeiros de preferência são os cães e só parasitam o homem quando não há opções de se alimentar de sangue de outro mamífero Seu corpo é de cor marrom e seu tamanho é relativamente grande As pulgas da espécie Tunga penetrans possuem uma morfologia diferenciada em relação às demais espécies de pulgas Este gênero também é conhecido popularmente de bicho de pé em muitas regiões do Brasil O seu corpo é mais arredondado possui um tórax mais comprido e curto fazendo com que essa modificação anatômica favoreça a sua penetração na derme do hospedeiro No momento em que essa pulga penetra na pele deixa sua extremidade posterior para fora da derme favorecendo a eliminação de excrementos e dos ovos para o meio externo do hospedeiro Os ovos liberados pelas pulgas adultas quando em contato com o chão úmido e sombreado dão origem às larvas que passam por apenas dois estágios As larvas dão origem às pupas e essas aos adultos O ciclo biológico tem o período de vinte a trinta dias após a oviposição Machos e fêmeas permanecem em locais secos próximos de chiqueiros montes de esterco e no peridomicílio jardins hortas Como esses insetos não são parasitas exclusivos do homem seu método de controle exige aplicações específicas Assim indicase o combate em três habitats diferentes do parasita nos animais domésticos no interior das habitações e no ambiente ao redor dessas habitações No caso dos animais realizase a catação manual lavagem dos pelos e escovação frequente No interior dos domicílios a varrição periódica o uso de aspiradores de pó e a lavagem dos pisos são métodos de combate indicados No ambiente peridomiciliar indicase a limpeza frequente e cuidado com o transporte de esterco e matéria orgânica Para combater esse parasita também são indicados métodos químicos como o uso de inseticidas e inibidores de crescimento porém ressaltase que esses insetos podem produzir resistência a esses produtos 35 Acarina Como já vimos os Arthropodas estão distribuídos em três classes importantes a Insecta a Arachnida e Crustacea Até o momento conhecemos as ordens mais relevantes da classe Insecta Diptera Anoplura e Siphonaptera Agora vamos conhecer a ordem Acarina pertencente à classe Arachnida também conhecidos como aracnídeos 29 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Da ordem Acarina vamos estudar as subordens Ixodides e a Sarcoptiformes Na subordem Ixodides temos a família Ixodidae na qual encontramos os carrapatos da espécie Amblyomma cajannense Na subordem Sarcoptiformes podemos descrever os ácaros Sarcoptes scabiei causadores da sarna Os carrapatos Amblyomma cajannense são a espécie mais comum no Brasil e a mais importante transmissora de doença ao homem além de poderem atacar os equídeos Os carrapatos adultos são chamados de carrapatoestrela e sua picada pode causar ferimentos na pele Além disso podem conter o vírus da febre amarela e a bactéria Rickettsia richettsi causadora da febre maculosa doença que vamos estudar mais adiante As fêmeas após sugarem o sangue do hospedeiro procuram abrigo no solo e liberam milhões de ovos Após a oviposição as fêmeas morrem e esses ovos pequenos e de cor castanha com boas condições de temperatura eclodem e liberam as larvas que no estágio seguinte mudam para ninfa Após a implantação das pinças bucais na pele do hospedeiro hopóstomo a glândula salivar libera substâncias com funções anticoagulantes e citolíticas o que promove aumento da permeabilidade vascular dilatação dos vasos sanguíneos e prurido intenso São ectoparasitas muito resistentes à falta de alimentos e ficam à espera de algum hospedeiro para se alimentar O controle desses carrapatos inclui a limpeza da vegetação e o uso de acaricidas Os ácaros Sarcoptes scabiei causadores da sarna ou escabiose possuem o corpo arredondado pernas curtas e sem garras As suas formas adultas produzem túneis na pele iniciando a doença e como a transmissão é feita por contato direto como medida profilática indicase a higiene da casa com o uso de aspirador de pó e pano úmido e troca periódica da roupa de cama com lavagem e secagem ao sol A seguir vamos entender melhor a doença escabiose causada pelo Sarcoptes scabiei Figura 11 Amblyomma cajannense conhecido como carrapatoestrela 30 Unidade I 351 Escabiose A escabiose é causada por um ácaro produtor de sarna da espécie Sarcoptes scabiei É uma doença contagiosa por transmissão direta Como característica clínica é bastante pruriginosa especialmente à noite quando os corpos dos hospedeiros se aquecem estimulando a atividade dos ácaros Este ácaro se alimenta de sangue e ao picar provoca coceiras Dentre as principais razões para o aumento da população deste ácaro estão o maior contato em ambientes coletivos ônibus por exemplo promiscuidade sexual e mudança no comportamento humano em geral Em relação a sua morfologia possui um corpo globoso medindo cerca de 400 pm de comprimento por 300 pm de largura tem pernas curtas sem garras A cutícula é marcada por estrias finas frequentemente interrompidas por áreas com cerdas finas e flexíveis espinhos curtos e robustos e escamas de forma triangular que são características do gênero Estes ácaros não resistem muito tempo fora do hospedeiro vivendo em torno de 24 horas aproximadamente Seu ciclo de vida vai desde o ovo até a fase adulta num período aproximado de 15 dias e vivem em torno de dois meses no hospedeiro As fêmeas de ácaros costumam cavar galerias na pele do hospedeiro para depositar seus ovos Já os machos caminham mais além de permanecerem mais tempo na superfície da pele para fecundar as fêmeas para depois morrerem Para o tratamento na espécie humana é recomendado submeter o paciente a um banho morno demorado com sabão próprio para amolecer e retirar as crostas Com relação às roupas é necessário que se lave e passe com ferro quente incluindo as roupas de cama do paciente enquanto durar o tratamento O uso de medicamentos de aplicação local também é indicado no tratamento 352 Febre maculosa A febre maculosa é uma doença considerada silvestre que afeta o homem É transmitida pela picada do carrapato da espécie Amblyomma cajennense quando este vetor no momento da picada inocula uma bactéria denominada Rickettsia rickettsii no hospedeiro Outras espécies de animais silvestres também são afetadas por esta parasitose e se tornam um reservatório natural tais como o cachorrodomato Cerdcyon thous gambás Didelphis sp ratos silvestres pacas Myrmecophaga sp todas as aves silvestres e capivaras Hidrochoerus hodrichoeris Esta parasitose no decorrer dos anos vem crescendo em todo mundo No Brasil seu crescimento destacase muito pois é considerada a mais letal das riquetsioses dentre as demais que são encontradas em outros países tornandose um problema de saúde pública em certas regiões do país Nos Estados Unidos são notificados entre 600 a 1200 casos anuais de febre nas áreas de montanhas rochosas assim chamada neste país 31 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS A febre maculosa das montanhas rochosas foi descrita no século XIX por pesquisadores do centronorte dos Estados Unidos Em 1904 Wilson e Chowning observando pacientes doentes parasitados e residentes em montanhas publicaram as características clínicas dos pacientes Nestes estudos que incluíram análises anatomopatológicos caracterizouse esta patologia que até então era desconhecida na literatura médica Por volta de 1906 o cientista Rickettis define que esta doença seria de origem infecciosa causada por bactérias e que teria como vetor os carrapatos Em 1912 esta doença passou a fazer parte da lista nacional de notificações nos Estados Unidos Em 1919 outro pesquisador da febre das montanhas rochosas Wolbach conseguiu identificar a presença de riquetsias bactérias dentro de células endoteliais humanas No Brasil a febre maculosa foi descrita inicialmente em 1929 em São Paulo em uma área urbana que atualmente compreende os bairros de Perdizes Sumaré e Pinheiros como também sendo uma riquetsiose Depois de algum tempo outros focos foram descritos em Mogi das Cruzes Diadema e Santo André Nas décadas entre 1930 e 1940 focos foram descritos em Minas Gerais Outros focos descritos em 1985 foram vistos na bacia dos rios Atibaia e Jaguaribe e na região do Jequitinhonha Atualmente focos de febre maculosa foram descritos em São Paulo Rio de Janeiro Minas Gerais Bahia Espírito Santo e Santa Catarina Mecanismo de transmissão A transmissão da febre maculosa brasileira ocorre por causa da picada dos carrapatos ixodídeos do gênero Amblyomma Na América do Norte as espécies do carrapato mais prevalentes são D variabilis e D andersoni pertencentes ao gênero Demacentor sp Quando o carrapato que possui a bactéria R rickettsii pica o hospedeiro este por sua vez e por meio da inoculação da saliva transmite esta bactéria No Brasil na região sudeste encontramos principalmente a espécie A cajennense conhecido popularmente como carrapatoestrela Também é sabido que fatores climáticos e ambientais afetam o crescimento da população de carrapatos Atividades de lazer como por exemplo ecoturismo trekking acampamentos pesca e cavalgadas em regiões em que pode ser encontrado o carrapato são considerados hoje como sendo fatores de risco em contrair esta parasitose Outras atividades como lavouras e criação de animais vêm contribuindo para aumento de pessoas parasitadas pelo carrapato Atualmente existem estudos feitos em animais como os equinos e bovinos fora da sua região de origem e expostos temporariamente em regiões domésticas que comprovam que essas atividades também vêm contribuindo como fator de risco no aumento da incidência da doença em humanos Os carrapatos são classificados como ectoparasitas artrópodes e hematófagos ou seja podem se fixar na pele do hospedeiro permanecendo dias ou meses alimentandose do sangue do hospedeiro Ao se alimentarem secretam saliva que inativa a coagulação sanguínea no local onde ocorre sua fixação e as reações imunológicas de defesa do hospedeiro Sua saliva é composta de substâncias vasoativas que ajudam a produzir dilatação dos vasos sanguíneos no local de picada facilitando assim a ingestão progressiva de sangue do hospedeiro Os carrapatos possuem uma outra forma de alimentação além 32 Unidade I da ingestão do sangue Por apresentarem em sua constituição anatômica bucal peças adaptadas que perfuram e penetram na pele conseguem realizar a ingestão da linfa e de restos tossicares presentes na pele do hospedeiro Morfologia Em uma classificação parasitária o carrapato pertence ao filo Arthropoda ou seja é um ectoparasita com característica biológica anatômica cujo corpo apresenta um exoesqueleto de quitina organizado na forma de placas separadas por áreas membranosas Possui um sistema nervoso formado por uma cadeia de gânglios ventrais e o sistema circulatório é do tipo aberto contendo no seu interior um líquido denominado hemolinfa que é impulsionado pelo coração O sistema respiratório é formado por uma rede de traqueias que se liga com a parte exterior do parasita por meio de aberturas respiratórias denominadas espiráculos Seu sistema digestório é formado por uma abertura oral um tubo digestivo e termina na abertura anal localizada na parte posterior do parasita Geralmente seu crescimento ocorre devido a mudas também denominadas ecdises que ocorrem durante o tempo de vida deste ectoparasita promovendo alterações em seu corpo chegando à maturidade sexual devido à ação de hormônios produzidos por ele Figura 12 Representação do carrapato da espécie Amblyomma cajennense Ciclo biológico O carrapato da espécie Amblyomma cajennense é considerado um reservatório transovariano da bactéria Rickettsia rickettsii e um vetor da doença febre maculosa O carrapato inicia seu ciclo quando as fêmeas fecundadas pelos machos e cheias de sangue que foi sugado do hospedeiro se desprendem e caem em locais onde existe vegetação ideal para sua sobrevivência Após doze dias em média a fêmea do carrapato inicia a oviposição Apenas uma fêmea pode produzir cerca de 5 mil ovos em um período de 25 dias para depois morrer Estes ovos em uma vegetação com condições ideais de temperatura 25 ºC e umidade após um período médio de incubação de trinta dias sofrem a eclosão e se tornam larvas Estas larvas se locomovem na vegetação até encontrarem um hospedeiro ideal Ao encontrálo se fixam no hospedeiro 33 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS e iniciam o processo que dura em média de três a seis dias de alimentação por linfa sangue ou tecidos Após este período desprendemse do hospedeiro novamente retornam ao solo e em um período de aproximadamente seis dias sofrem uma alteração morfológica assumindo a forma de ninfa também chamada de micuim As ninfas que agora estão no solo e já apresentam pares de patas estão prontas para se fixarem no hospedeiro Após se fixarem começam a sugar o sangue do hospedeiro por aproximadamente cinco a sete dias até ficarem totalmente cheias de sangue momento esse em que se desprendem e caem ao solo Patogenia e sintomas A transmissão da bactéria Rickettsia rickettsii ocorre por meio da inoculação desta bactéria pela saliva do carrapato no hospedeiro Os principais sintomas começam a surgir em um período médio de 6 a 10 horas devido à disseminação da bactéria por via sanguínea e linfática podendo atingir a circulação sistêmica e pulmonar A Rickettsia rickettsii é uma bactéria do gênero Rickettsia com a morfologia de cocobacilos obrigatoriamente intracelulares São divididas em três grupos o grupo tifo o grupo da febre maculosa e o grupo ancestral Esta bactéria tem como potencial patogênico a capacidade de se disseminar por todo o organismo e invadir células endoteliais dos vasos sanguíneos À medida que se multiplicam por divisão binária e invadem as células dos vasos sanguíneos causam o processo infeccioso neste local Este processo infeccioso caracteriza as primeiras lesões cutâneas denominadas exantemas maculopapulares À medida que a doença evolui nos vasos sanguíneos surgem lesões em vasos mais calibrosos que acabam por acometer inúmeros órgãos vitais Outros sintomas podem ser observados devido a essas alterações vasculares como petéquias e sufusões hemorrágicas Com um agravamento das lesões nos vasos sanguíneos ocorre um aumento da permeabilidade do vaso lesionado com perda de líquido para o espaço extravascular levando o hospedeiro a ter complicações de hipoalbuminemia hipotensão choques hipovolêmicos edema agudo de pulmão e o óbito Um quadro laboratorial do paciente pode ser observado em um hemograma completo com aumento de leucócitos muitas vezes com desvio à esquerda escalonado devido ao processo inflamatório acentuado no paciente Observase também uma redução do número de plaquetas plaquetopenia em 32 a 52 dos casos Os resultados bioquímicos do sangue do paciente geralmente apresentam valores aumentados de ureia creatinina enzimas hepáticas e hiperbilirribinemia No exame de líquido cefalorraquidiano podemos observar pleiocitose linfomonocitaria com níveis variáveis de proteinorraquia e glicorraquia Em exames radiológicos do tórax podem ser observados infiltrados intersticiais com acometimento dos alvéolos pulmonares em que o paciente apresentará um quadro de dificuldade respiratória intensa 34 Unidade I Figura 13 Visualização microscópica da bactéria Rickettsia rickettsii em inclusão celular Figura 14 Paciente apresentando exantema petequial causado pela infecção da bactéria Rickettsia rickettsii Diagnóstico O diagnóstico clínico inicial ocorre com o surgimento do estado febril do paciente e de exantemas Neste ponto se faz necessária a identificação do histórico e antecedentes epidemiológicos Até o momento não existem exames de rotinas para os doentes na fase aguda A confirmação laboratorial é feita após a instalação da doença e por diagnóstico sorológico e é muito importante que o soro seja coletado durante o período dos primeiros sintomas como também após trinta dias No diagnóstico laboratorial da febre maculosa geralmente são utilizados testes imunológicos específicos imunofluorescência indireta utilizando antígenos da bactéria R rickettsii O diagnóstico após óbito é feito com o uso da técnica de ensaios imunoistoquimicos e biologia molecular reação de polimerização em cadeia 35 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Epidemiologia No Brasil a febre maculosa é encontrada de forma predominante nas regiões Sul Sudeste e Nordeste No estado de São Paulo ocorre consideravelmente na região metropolitana principalmente em áreas urbanas que têm divisa com regiões de Mata Atlântica No Rio Grande do Sul existe uma probabilidade da presença significante da febre maculosa na região do Pampa local onde já foram encontrados carrapatos adultos de Amblyomma tigrinum infectados com a espécie patogênica Rickettsia parkeri em áreas rurais e com relatos prévios de febre maculosa em humanos Este perfil é semelhante com o padrão epidemiológico sugerido em algumas regiões da Argentina onde A tigrinum é apontado como o vetor da R parkeri e também em outros países onde Amblyomma triste e Amblyomma maculatum são vetores reconhecidos de R parkeri para humanos Segundo a Portaria do MS de consolidação n 4 de 03 de outubro de 2017 todo caso de febre maculosa é de notificação obrigatória às autoridades locais de saúde Devese realizar a investigação epidemiológica em até 48 horas após a notificação avaliando a necessidade de adoção de medidas de controle pertinentes sendo que essa investigação deverá ser encerrada até sessenta dias após a notificação A unidade de saúde notificadora deve utilizar a ficha de notificaçãoinvestigação do Sistema de Informação de Agravos de Notificação Sinan encaminhandoa para ser processada conforme o fluxo estabelecido pela Secretaria Municipal de Saúde As tabelas apresentadas a seguir mostram o número de casos de febre maculosa e de óbitos no período de 2008 a 2018 por essa doença em diferentes estados brasileiros Tabela 1 Casos confirmados de febre maculosa nas grandes regiões do Brasil de 2008 a 2018 Região UF 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Região Norte 0 0 0 0 0 0 0 2 2 3 1 Rondônia 0 0 0 0 0 0 0 2 2 0 0 Acre 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Amazonas 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Roraima 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Pará 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 Amapá 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Tocantins 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 Região Nordeste 0 2 1 0 2 4 2 3 1 2 3 Maranhão 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 2 Piauí 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Ceará 0 0 1 0 1 4 2 3 0 1 0 Rio Grande do Norte 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Paraíba 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 Pernambuco 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Alagoas 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 Sergipe 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Bahia 0 2 0 0 1 0 0 0 0 0 0 36 Unidade I Região UF 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Região Sudeste 60 79 78 106 92 80 107 125 104 119 43 Minas Gerais 11 10 11 14 7 15 11 16 21 33 10 Espírito Santo 2 0 4 7 5 4 3 5 7 6 0 Rio de Janeiro 8 8 5 13 6 4 22 14 14 16 0 São Paulo 39 61 58 72 74 57 71 90 62 64 33 Região Sul 27 41 27 28 41 36 66 26 29 39 12 Paraná 2 1 3 2 4 2 4 6 3 9 0 Santa Catarina 25 38 24 25 37 32 51 20 26 28 12 Rio Grande do Sul 0 2 0 1 0 2 1 0 0 2 0 Região CentroOeste 0 0 1 0 3 1 0 4 7 2 1 Mato Grosso do Sul 0 0 0 0 1 1 0 2 2 0 1 Mato Grosso 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 Goiás 0 0 1 0 2 0 0 2 2 2 0 Distrito Federal 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 Brasil 87 122 107 134 138 121 165 160 143 165 60 Fonte Brasil 2018 Tabela 2 Casos de óbitos por febre maculosa nas grandes regiões do Brasil de 2008 a 2018 Região UF 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Região Norte 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Rondônia 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Acre 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Amazonas 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Roraima 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Pará 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Amapá 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Tocantins 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Região Nordeste 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 Maranhão 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Piauí 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Ceará 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Rio Grande do Norte 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Paraíba 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Pernambuco 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Alagoas 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Sergipe 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Bahia 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 37 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Região UF 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Região Sudeste 22 30 26 45 52 40 65 64 52 57 17 Minas Gerais 5 4 1 5 4 6 4 4 5 15 2 Espírito Santo 0 0 0 1 5 2 0 3 3 4 0 Rio de Janeiro 3 3 1 4 2 1 7 2 7 6 0 São Paulo 14 23 24 35 41 31 54 55 37 32 15 Região Sul 0 1 1 0 0 0 0 0 0 1 0 Paraná 0 1 1 0 0 0 0 2 0 1 0 Santa Catarina 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Rio Grande do Sul 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Região CentroOeste 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Fonte Brasil 2018 Profilaxia e tratamento Para a profilaxia da febre maculosa recomendase que sejam feitos os seguintes procedimentos e cuidados Utilização de roupas e calçados claros que protejam todo o corpo Controle do ambiente Controle de manuseio adequados da população de reservatórios silvestres sobretudo as capivaras Manutenção da vegetação em locais de riscos Medidas educativas com informações à população Vigilância epidemiológica Notificações imediatas dos casos aos órgãos competentes Para o tratamento da febre maculosa é utilizada a antibioticoterapia As drogas que são mais eficazes para combater essa infecção pela bactéria Rickettsia rickettssi são o cloranfenicol e a doxiciclina Caso haja necessidade o suporte vital deve ser realizado Importante saber que ainda não existe vacina para febre maculosa As medidas de controle contra o artrópoda não são fáceis O uso de substâncias químicas amplamente difundidas pode trazer diversos problemas ao ambiente e à saúde do homem Além disso também já são conhecidos casos de resistência desses vetores aos inseticidas mais utilizados 38 Unidade I 4 AULA PRÁTICA IDENTIFICAÇÃO DE ARTRÓPODES EM LÂMINAS DE MICROSCOPIA Para entendermos a identificação dos ectoparasitas pela microscopia óptica não podemos esquecer que eles possuem um exoesqueleto de quitina normalmente firme e pigmentado o que pode inviabilizar um exame acurado da morfologia de algumas espécies O início do processo de identificação é a montagem do agente estudado sobre uma lâmina de vidro coberta com uma lamínula também de vidro Caso não ocorra a adesão completa da lamínula na lâmina o espaço deve ser preenchido com alguma substância que permita a passagem da luz sem desviála permitindo assim a visualização correta das estruturas Diferentes fixadores podem ser utilizados nas preparações como por exemplo o bálsamo do Canadá Neste processo ocorre inicialmente a clarificação e depois a desidratação do material Na clarificação utilizase hidróxido de potássio KOH fenol e o lactofenol O álcool etílico em diferentes concentrações é utilizado na desidratação dos insetos Para diafanização o xilol e o creosoto são bastante empregados A finalização da montagem ocorre com o uso do verniz vitral incolor que possui baixo custo Técnica bálsamo do Canadá I Clarificação A solução de KOH a 10 fria durante 12 horas apenas para materiais fortemente quitinizados II Desidratação álcool 70 15 minutos álcool 80 15 minutos álcool 90 15 minutos álcool 95 10 minutos álcool absoluto 10 minutos III Clarificação B creosoto de faia 24 horas IV Montagem com bálsamo do Canadá entre lâmina e lamínula V Secagem preferencialmente em estufa a 40 45 C o que favorece a eliminação de eventuais pequenas bolhas de ar Muitos pesquisadores têm estudado diferentes formas de armazenagem desses ectoparasitas em lâminas buscando uma maior durabilidade e um custo mais baixo Saiba mais O artigo a seguir mostra o estudo de uma técnica alternativa de montagem de lâminas permanente de artrópodes HUBER F REIS F H Técnica alternativa para montagem de insetos em lâminas permanentes para visualização em microscopia óptica EntomoBrasilis v 4 n 1 p 1319 2011 39 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Agora em nossa aula prática vamos visualizar os artrópodes em diferentes fases do ciclo de vida ovos larvas ninfas e adultos em lâminas e em frascos Procedimento I Colocar a objetiva de menor aumento na direção da luz através de movimento do revólver II Colocar a lâmina com lamínula para cima na platina III Encostar o condensador na lâmina e ligar a luz IV Movimentar o parafuso macrométrico até focalizar o parasito em imagem nítida V Aperfeiçoar o foco com o parafuso micrométrico e observar a imagem das respectivas estruturas indicadas pelo professor que podem ser detectados neste aumento VI Ajustar a iluminação Resumo Neste capítulo conhecemos os tipos de associações entre os animais e mais que isso a importância do papel do vetor parasita e hospedeiro no processo da doença parasitária Podemos perceber que a intensidade do mecanismo de ação dos parasitas e seu ciclo biológico são decisivos no estágio de infecção e no desenvolvimento da doença É essencial compreendermos a importância dos artrópodes tanto no papel de parasitas como de vetor de outros microrganismos causadores de doenças Sabemos que alguns desses artrópodes por exemplo os piolhos mosquitos e carrapatos hematófagos parasitam o homem mas não podemos esquecer que outros têm um papel importante na transmissão de outros agentes e consequentemente na transmissão de doenças Não podemos esquecer do mecanismo de transmissão mecânico ou seja quando este artrópode transmite pelas pernas ou peças bucais um agente causador de doença presente nas fezes ou em solo contaminado para alimentos Assim fica claro que é imprescindível que sempre haja boas condições de higiene e de armazenamento dos alimentos que consumimos para uma boa prevenção de contaminação Em alguns casos vimos que o artrópoda assume o papel de vetor biológico quando o desenvolvimento do parasita ocorre no seu interior Dessa forma um dos métodos adotados para o controle da transmissão de 40 Unidade I uma parasitose é a eliminação do vetor e por isso é de grande importância o conhecimento da espécie do Arthropoda quando este é parte essencial do ciclo de vida do parasita para que se tenha uma profilaxia eficiente Alguns ectoparasitas como mutucas borrachudos e carrapatos são hematófagos e podem causar no hospedeiro intensa irritação na pele ao se alimentarem levandoo a buscar o desalojamento do artrópode Já outras espécies como os percevejos piolhos mosquitos e barbeiro sua solenefagia que é uma forma derivada de hematofagia acaba sendo menos sentida pelo hospedeiro sendo assim promove menos sintomas na superfície da pele deixando o ectoparasita mais tempo preso a ela Portanto não podemos esquecer que outros problemas são causados por essa classe e entre eles a importunação reações de hipersensibilidade à picada perda de sangue e infecções secundárias Ainda existe uma variedade dos artrópodes como as aranhas que podem causar o trauma mecânico devido à resposta do hospedeiro frente ao veneno produzido por esses ectoparasitas Outro aspecto importante é o conhecimento de vetores transmissores de doenças parasitárias e microbianas Como vimos muitos vetores do filo Arthropoda são extremamente importantes e devem ser controlados de forma eficaz para a diminuição da disseminação não só da doença parasitária como das doenças causadas por agentes microbianos Nesta unidade conhecemos a febre maculosa doença que leva ao óbito e é distribuída em todo o território nacional A identificação desses parasitas nos métodos de análises clínicas faz do profissional um agente capacitado e prestador de serviços de excelência 41 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Exercícios Questão 1 Unioeste 2017 A malária é uma parasitose que afeta mais de 200 milhões de pessoas em todo o planeta principalmente nas regiões tropicais Com relação à malária e ao parasita causador desta endemia assinale a alternativa correta com relação aos tipos de reprodução do parasita ao longo de seu ciclo A Reprodução assexuada no interior das hemácias humanas reprodução sexuada no estômago do mosquito reprodução assexuada no interior dos cistos presentes na parede gástrica do inseto B Reprodução sexuada no interior das hemácias humanas reprodução assexuada no estômago do mosquito reprodução assexuada no interior dos cistos presentes na parede gástrica do inseto C Reprodução sexuada no interior das hemácias humanas reprodução sexuada no estômago do mosquito reprodução assexuada no interior dos cistos presentes na parede gástrica do inseto D Reprodução assexuada no interior das hemácias humanas reprodução sexuada no estômago do mosquito reprodução sexuada no interior dos cistos presentes na parede gástrica do inseto E Reprodução assexuada no interior das hemácias humanas reprodução assexuada no estômago do mosquito reprodução sexuada no interior dos cistos presentes na parede gástrica do inseto Resposta correta alternativa A Análise das alternativas A Alternativa correta Justificativa no ciclo do Plasmodium spp causador da malária há uma fase assexuada no homem fígado e hemácias e uma fase sexuada esporogonia no tubo digestório do vetor mosquitoprego ou Anopheles Na parede do estômago do inseto ainda ocorre uma reprodução assexuada com liberação dos esporozoítos que migram para as glândulas salivares do mosquito B Alternativa incorreta Justificativa reprodução assexuada no interior das hemácias humanas e reprodução sexuada no tubo digestório do mosquito C Alternativa incorreta Justificativa reprodução assexuada no interior das hemácias humanas 42 Unidade I D Alternativa incorreta Justificativa reprodução assexuada no interior dos cistos presentes na parede gástrica do inseto E Alternativa incorreta Justificativa reprodução sexuada no estômago do mosquito reprodução assexuada no interior dos cistos presentes na parede gástrica do inseto Questão 2 Sudamérica 2011 Considere a imagem a seguir retratando um tipo de moradia ainda muito comum no interior do país Figura 15 Esse tipo de moradia não é recomendado pela OMS uma vez que A Favorece a instalação de morcegos vetores de graves doenças ao homem como por exemplo a febre maculosa B Favorece a instalação de barbeiros insetos vetores do Trypanosoma cruzi C Favorece a instalação de escorpiões insetos que podem provocar a morte de crianças com suas picadas D Favorece a contaminação por ancilostomose visto que os ovos do parasita passam a dispor de um ambiente mais favorável à sua eclosão E Favorece a contaminação de mosquito transmissor da dengue Resposta correta alternativa B 43 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Análise das alternativas A Alternativa incorreta Justificativa morcegos podem transmitir raiva e a febre maculosa é causada pela picada de carrapato infectado por bactérias da família Rickettsia B Alternativa correta Justificativa a foto mostra uma casa de pauapique Este tipo de moradia possui muitas frestas na parede onde o barbeiro vetor do Trypanosoma cruzi se esconde durante o dia À noite ao sair para se alimentar acaba transmitindo o Trypanosoma cruzi para a pessoa Cabe ressaltar que a contaminação não ocorre durante a picada do barbeiro O protozoário é eliminado nas fezes do inseto e penetra pela pele Disponível em httpswwwvestibulandowebcombreducacaobiologia questoescomentadasprotozoarios Acesso em 3 jun 2020 C Alternativa incorreta Justificativa escorpiões são aracnídeos e se instalam em locais quentes e úmidos D Alternativa incorreta Justificativa a contaminação por ancilostomose se dá por verme quando a pele entra em contato com solo contaminado assim como mãos contaminadas que vão à boca sem serem lavadas E Alternativa incorreta Justificativa o Aedes vetor geralmente busca água parada para se proliferar
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Texto de pré-visualização
Autores Profa Kátia Regina Silva Aranda Prof Luiz Carlos Barone Colaboradores Prof Juliano Rodrigo Guerreiro Profa Laura Cristina da Cruz Dominciano Diagnóstico Laboratorial de Infecções Parasitárias Professores conteudistas Kátia Regina Silva Aranda Luiz Carlos Barone Kátia Regina Silva Aranda Graduada no curso de Ciências Biológicas Modalidade Médica pela Universidade de Mogi das Cruzes em 1999 Professora pela Universidade Paulista UNIP lecionando no curso de Farmácia em São Paulo desde 2019 Possui doutorado pela Universidade Federal de São Paulo concluído em 2005 Possui pósdoutorado pela Universidade Federal de São Paulo concluído em 2010 Trabalhos de pesquisa nas áreas das Ciências da Saúde como Microbiologia e Biotecnologia Luiz Carlos Barone Graduado no curso de Ciências Biológicas Modalidade Médica pela Universidade de Mogi das Cruzes em 1988 Pósgraduado pela Escola Paulista de Medicina no curso especialista em citologia oncótica vaginal e mamária concluído em 2000 Mestrando em parasitologia médica pelo Instituto de Assistência Médica do Servidor Público Estadual IAMSPE com parceria do Centro Universitário Saúde do ABC Faculdade de Medicina do ABC FMABC FUABC Professor pela Universidade Paulista UNIP Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma eou quaisquer meios eletrônico incluindo fotocópia e gravação ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP A662d Aranda Kátia Regina Silva Diagnóstico Laboratorial de Infecções Parasitárias Kátia Regina Silva Aranda Luiz Carlos Barone São Paulo Editora Sol 2021 200 p il Nota este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP Série Didática ISSN 15179230 1 Protozoário 2 Hospedeiro 3 Diagnóstico I Aranda Kátia Regina Silva II Barone Luiz Carlos III Título CDU 616 U51072 21 Prof Dr João Carlos Di Genio Reitor Prof Fábio Romeu de Carvalho ViceReitor de Planejamento Administração e Finanças Profa Melânia Dalla Torre ViceReitora de Unidades Universitárias Profa Dra Marília AnconaLopez ViceReitora de PósGraduação e Pesquisa Profa Dra Marília AnconaLopez ViceReitora de Graduação Unip Interativa EaD Profa Elisabete Brihy Prof Marcello Vannini Prof Dr Luiz Felipe Scabar Prof Ivan Daliberto Frugoli Material Didático EaD Comissão editorial Dra Angélica L Carlini UNIP Dr Ivan Dias da Motta CESUMAR Dra Kátia Mosorov Alonso UFMT Apoio Profa Cláudia Regina Baptista EaD Profa Deise Alcantara Carreiro Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico Prof Alexandre Ponzetto Revisão Bruno Barros Vitor Andrade Sumário Diagnóstico Laboratorial de Infecções Parasitárias APRESENTAÇÃO 7 INTRODUÇÃO 8 Unidade I 1 ASSOCIAÇÕES MECANISMOS DE AÇÃO E INTERAÇÕES DOS PARASITAS 11 11 Conceitos importantes em parasitologia 11 111 Tipos de associações entre os animais 11 112 Ação dos parasitas sobre o hospedeiro 12 113 Interação entre parasita hospedeiro e vetor 13 114 Classificação dos parasitas 14 115 Como os parasitas causam doença 14 2 ARTHROPODA 15 3 ORDENS 18 31 Diptera 18 32 Hemiptera 22 33 Anoplura24 34 Siphonaptera 26 35 Acarina 28 351 Escabiose 30 352 Febre maculosa 30 4 AULA PRÁTICA IDENTIFICAÇÃO DE ARTRÓPODES EM LÂMINAS DE MICROSCOPIA 38 Unidade II 5 PROTOZOA 44 51 Protozoários intestinais 48 511 Entamoeba histolytica 49 512 Giardia lamblia 53 513 Isospora belli 56 514 Cryptosporidium sp 60 515 Aula prática exame coproparasitológico para pesquisa de protozoários intestinais técnicas de Sheater e Faust 65 52 Protozoários sanguíneos 75 521 Trypanosoma cruzi 75 522 Plasmodium spp 81 523 Toxoplasma gondii87 524 Leishmania spp 90 525 Aula prática identificação de protozoários sanguíneos em lâminas de microscopia Leishmania spp Trypanosona cruzi Plasmodium spp e Toxoplasma gondii 96 6 OUTROS PROTOZOÁRIOS 98 61 Trichomonas spp 98 Unidade III 7 PLATYHELMINTES 108 71 Trematoda108 711 Schistosoma mansoni 108 712 Fasciola hepatica 113 72 Cestoda 118 721 Taenia 119 722 Echinococcus 128 723 Hymenolepis 135 724 Diphyllobothrium 139 725 Aula prática exame coproparasitológico para pesquisa de helmintos técnicas de Willis e de Hoffman 142 8 ASCHELMINTHES 144 81 Nematoda 144 811 Ascaris lumbricoides 144 812 Enterobius vermiculares 148 813 Strongyloides stercoralis 153 814 Ancylostoma 158 815 Wuchereria bancrofti 164 816 Trichuris trichiura 171 817 Larva migrans cutânea visceral e ocular 175 818 Aula prática identificação de helmintos em lâminas e frascos visualização das estruturas dos parasitas 180 7 APRESENTAÇÃO Ao estudar esta disciplina vamos mostrar a você como aplicar diferentes métodos laboratoriais de diagnóstico para que seja possível a identificação das principais parasitoses que acometem a espécie humana como artrópodes protozoários e helmintos Lembrese que é muito importante que você se mantenha organizado em seus estudos Dessa forma será possível acompanhar melhor a evolução dos conteúdos além de evoluir adequadamente na construção do seu conhecimento Desejamos um bom estudo e esperamos junto com você sempre alcançar um dos objetivos maiores na sua trajetória acadêmica que é o conhecimento capaz de fazer toda a diferença na sua carreira profissional Vamos agora contar um pouco sobre o conteúdo que vamos estudar Baseandose na importância de auxiliar você a analisar e tirar conclusões diante dos métodos laboratoriais de diagnóstico este conteúdo abordará inicialmente os tipos de associações entre os animais os mecanismos de ação dos parasitas e o papel deles os parasitas como agentes causadores de doença Em relação ao parasita vamos conhecer de forma detalhada os agentes etiológicos e os aspectos morfológicos que este agente pode apresentar durante sua vida e principalmente a forma infectante ou seja a morfologia adotada pelo parasita para causar doença Para que possamos entender o mecanismo de ação dos parasitas vamos conhecer as alterações clínicas que ocorrem em seres que são portadores deste parasita e qual profilaxia adotada ou seja como evitar a contaminação por esse agente patogênico Os aspectos relacionados à epidemiologia que conheceremos nesse conteúdo são de grande importância para entendermos a prevalência das parasitoses pelo mundo e a relação com as condições humanas Por fim vamos conhecer as formas parasitárias que são identificadas pelos processos técnicolaboratoriais de diagnóstico parasitológico O objetivo desta disciplina é o de conhecer os artrópodes os protozoários e os helmintos que atuam na integridade da saúde do homem conferindo conhecimento habilidades e atitudes favoráveis ao fortalecimento do sentido de responsabilidade e de competência com a saúde humana Dessa forma você será capaz de identificar as parasitoses nacionais por meio dos principais métodos de diagnósticos vigentes A disciplina criará condições para que você possa adquirir e produzir os conhecimentos necessários para o desenvolvimento do seu raciocínio lógico para desenvolver ações diagnósticas e preventivas de doenças de origem parasitárias baseadas em estudos científicos propondo projetos que envolvam medidas de proteção e reabilitação da saúde do homem dentro das condições sociais nacionais no Brasil Este conteúdo prepara você para identificar os agentes que parasitam o homem o seu conceito biológico além de ajudálo a conhecer as técnicas de identificação para o diagnóstico da infecção Dessa forma este material oferece as competências e habilidades que você deve possuir para agir como um parasitologista competente e preparado para realizar o diagnóstico preciso das infecções parasitárias 8 INTRODUÇÃO Atualmente as infecções parasitárias são consideradas pela OMS Organização Mundial de Saúde uma das seis doenças infecciosas mais perniciosas que atinge a humanidade Apesar de países desenvolvidos não estarem sujeitos a muitos dos parasitas prejudiciais porque possuem boas condições de higiene saneamento básico e padrão educacional em países subdesenvolvidos ainda é um problema de saúde pública Estudos concluem que a globalização causou grande mudança nas condições sociais e biológicas e isso determina as enfermidades infecciosas como um problema de saúde pública ou seja essas questões atingem de forma gradativa direta ou indiretamente a saúde da população principalmente em países subdesenvolvidos Por décadas a relação da variação climática de acordo com as regiões geográficas foi considerada a grande vilã das doenças parasitárias e que tornaria as parasitoses de difícil controle Entretanto com diversos estudos notouse que a responsabilidade da disseminação e descontrole das parasitoses estão relacionados entre outros fatores à pobreza falta de educação ambiental e desigualdade social Sem dúvida a distribuição geográfica e a migração humana independentemente da situação socioeconômica do país são os grandes vilões no combate às parasitoses como a presença de hospedeiros susceptíveis migrações condições ambientais hábitos religiosos e princípios higiênicos Mesmo em países desenvolvidos como os Estados Unidos notase que o processo de erradicação de algumas infecções é complexo visto o aumento do número de viagens pelo mundo e a desinformação dos imigrantes O setor econômico também sofre com as parasitoses Diferentes regiões do mundo sofrem com altas taxas de mortalidade prejuízos alimentícios e diminuição na produtividade humana As doenças parasitárias são consideradas síndromes complexas de difícil controle devido a sua relação íntima com o comportamento humano O estudo dos agentes envolvidos na doença parasitária tais como reservatórios vetores mecanismos de transmissão ciclo biológico do parasita são essenciais para o controle dessas doenças bem como para o tratamento e intervenções clínicas e medicamentosas Nesta unidade vamos conhecer os diferentes tipos de associação entre os animais como são classificados e principalmente vamos conhecer os mecanismos de ação dos parasitas em seus hospedeiros A identificação da interação entre o parasita o seu hospedeiro e o vetor de transmissão é de grande importância para a compreensão das doenças parasitárias e seu diagnóstico Vamos iniciar nosso estudo conhecendo os artrópodes conhecidos como ectoparasitas eles são os parasitas que vivem de forma externa ao hospedeiro e classificados em diferentes ordens Nas ordens abordadas conheceremos insetos ácaros carrapatos piolhos e pulgas que podem atuar como vetores e como causadores de doença Conheceremos de forma detalhada a doença febre 9 maculosa que é uma importante parasitose que leva muito dos seus hospedeiros à morte E por fim vamos conhecer como é realizada a identificação laboratorial dos artrópodes abordados Depois vamos conhecer e compreender os aspectos relacionados à classe Protozoa composta por seres unicelulares eucarióticos Vamos conhecer também os principais parasitas de importância médica que são causadores de doenças e muitas delas podem levar o hospedeiro à morte Inicialmente conheceremos os protozoários intestinais seres unicelulares que habitam o intestino e causam determinadas parasitoses como a giardíase e amebíase que afetam principalmente as crianças Na sequência estudaremos as parasitoses sanguíneas como os agentes causadores da doença de Chagas malária toxoplasmose e leishmaniose Em cada uma das doenças parasitárias veremos os vetores agentes etiológicos o ciclo biológico do parasita a profilaxia e o diagnóstico clínico e laboratorial de cada uma Aprenderemos também as técnicas de diagnóstico laboratorial para a identificação tanto dos parasitas protozoários intestinais como os sanguíneos Dessa forma será possível compreendermos todos os aspectos envolvidos para um diagnóstico fidedigno do material biológico analisado Destacase que é importante saber que a supervisão e o acompanhamento das doenças parasitárias que devem ser realizados pelas autoridades de saúde são vitais para o controle e a prevenção das parasitoses Assim a detecção imediata e notificação aos órgãos responsáveis das doenças parasitárias é fundamental para o processo de vigilância epidemiológica para que seja possível a identificação de regiões endêmicas os índices de contaminação e os estudos epidemiológicos complementares à parasitologia Por fim vamos conhecer os parasitas classificados como endoparasitas ou seja os seres que vivem no interior do corpo do hospedeiro Esses endoparasitas que pertencem ao grupo dos helmintos vermes são divididos em três filos Platyhelminthes Cestoda corpo alongado e Trematoda vermes achatados Aschelminthes Nematoda vermes redondos e Acantocephala vermes arredondados com pseudossegmentação e uma probóscida armada de ganchos 11 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Unidade I 1 ASSOCIAÇÕES MECANISMOS DE AÇÃO E INTERAÇÕES DOS PARASITAS 11 Conceitos importantes em parasitologia 111 Tipos de associações entre os animais Sabemos que naturalmente os animais nascem crescem reproduzemse envelhecem e morrem Entretanto cada espécie se adapta evolui e permanece como uma população ou grupo Esses fenômenos são regulados por diversos fatores que permitem a cada ser vivo as melhores condições de obter alimentos e abrigo Observação Seres vivos competem entre si pelo meio ambiente onde o conceito de seleção natural é seguido pela natureza O desiquilíbrio ecológico pode causar impactos irreversíveis na relação dos animais com o ambiente Os diferentes tipos de associação foram gerados a partir da convivência em um mesmo ambiente Essas associações podem ser Harmônica ou positiva benefício mútuo ou ausência de prejuízo mútuo Desarmônica ou negativa prejuízo para algum dos participantes Em relação à harmônica considerase o comensalismo o mutualismo a simbiose e como desarmônicas a competição o canibalismo o predatismo e o parasitismo Comensalismo é a associação entre organismos de espécies diferentes na qual um dos associados é beneficiado e o outro não ganha nem perde Mutualismo é quando duas espécies se associam para viver e ambas são beneficiadas É uma associação obrigatória sendo por muitos autores considerada como uma simbiose Simbiose é a associação de dois ou mais organismos de espécies diferentes ambos ou todos com vantagens recíprocas Neste tipo de associação as espécies realizam funções complementares indispensáveis à vida de cada uma De um modo geral são conhecidos como simbiontes os indivíduos que vivem em simbiose 12 Unidade I Competição associação desarmônica na qual seres da mesma espécie ou espécies diferentes buscam o mesmo abrigo ou alimento sendo que a espécie em desvantagem perde Canibalismo associação em que um animal se alimenta de outro da mesma espécie ou da mesma família Predatismo é a associação em que uma espécie depende da morte de outra espécie para sua sobrevivência Observação Em nosso dia a dia encontramos esse tipo de associação na cadeia alimentar quando vemos a onça se alimentar de pacas e quando gaviões se alimentam de pequenas aves e roedores Parasitismo é a associação em que o benefício é unilateral ou seja o ser vivo hospedeiro que abriga o parasita oferece benefícios como alimento e abrigo porém essa relação busca um equilíbrio pois a morte deste hospedeiro é uma desvantagem para a sobrevivência do parasita O parasitismo é uma forma de associação que possui diferentes manifestações como exemplo adequação no processo evolutivo Com relação à evolução esses organismos são altamente especializados o que permite a sobrevivência em seus hospedeiros adequados Como os parasitas têm que competir por alimento não somente com o hospedeiro mas também com outros membros de sua própria espécie e ainda com outras espécies o mecanismo de reprodução é uma das estratégias para garantir o seu estabelecimento no hospedeiro Assim alguns parasitas têm a capacidade de produzir grande número de ovos e cistos contaminando o ambiente e consequentemente atingindo o homem de forma mais ampla Cada parasita tem uma forma particular de transmissão e isso será demonstrado detalhadamente quando for citada cada uma das parasitoses entretanto sob o ponto de vista da saúde pública para que ocorra a transmissão de um parasita são necessários os seguintes fatores fonte de infecção veículo de transmissão e via de penetração 112 Ação dos parasitas sobre o hospedeiro A intensidade da doença parasitária depende de um equilíbrio entre diferentes fatores que envolvem o hospedeiro e o parasita O número de formas infectantes e o potencial de virulência deste parasita e as condições do hospedeiro tais como idade estado nutricional e o grau da resposta imunológica podem determinar o grau de evolução da doença parasitária Além disso os mecanismos utilizados pelo parasita para sobreviver no hospedeiro e obter seus nutrientes e abrigo variam de acordo com a espécie e são muito variáveis podendo ser assim as principais apresentadas a seguir Ação espoliativa esse mecanismo de ação é utilizado pelo parasita para absorver nutrientes ou sangue do hospedeiro Podemos ilustrar com o exemplo dos Ancylostomatidae que fazem a 13 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS sucção de sangue da parede intestinal do hospedeiro e após esse processo abandonam o local causando pontos hemorrágicos na mucosa Ação tóxica o parasita produz enzimas ou metabólitos que podem causar lesão ao hospedeiro Como exemplo citamos as reações alérgicas causadas pelo A lumbricoides em seu processo de infecção Ação mecânica ocorre quando o parasita bloqueia ou dificulta o fluxo de substâncias vitais ao hospedeiro Um exemplo é o Giardia lamblia que produz um tapete na mucosa intestinal obstruindo a absorção de água e nutrientes pelo intestino 113 Interação entre parasita hospedeiro e vetor Hospedeiro é um organismo no qual o parasita obtém nutrientes e no qual algum ou uma parte do ciclo de vida parasita ocorre Muitos parasitas têm exigências específicas para completar seu ciclo de vida Ainda que essencialmente todas as espécies animais tenham parasitas esses são frequentemente muito específicos para o hospedeiro Todavia se as condições forem adequadas os parasitas que são normalmente encontrados em um hospedeiro podem sobreviver e até serem bemsucedidos em outro hospedeiro que não o seu natural Com relação aos hospedeiros podemos classificálos como Hospedeiro definitivo também conhecido como hospedeiro principal Neste hospedeiro encontramos o parasita na fase de vida sexual madura ou forma adulta Alguns parasitas requerem dois ou mais hospedeiros para completar seu ciclo de vida Hospedeiro intermediário é um organismo necessário para completar o ciclo biológico do parasita além do hospedeiro definitivo No hospedeiro intermediário normalmente ocorre a fase assexuada ou larvária do parasita Hospedeiro reservatório é um organismo além do hospedeiro definitivo e que pode abrigar um parasita e servir de fonte de infecção Ainda sobre a relação parasita e hospedeiro o parasita pode ser classificado de acordo com o número de hospedeiros necessários para seu desenvolvimento Assim são caracterizados como Monoxênico ou monogenéticos são parasitas que desenvolvem seu ciclo evolutivo em um único hospedeiro Heteroxênico ou digenéticos são parasitas com mais de um hospedeiro ou seja para completarem o seu ciclo evolutivo necessitam de pelo menos dois hospedeiros Já o vetor é um organismo vivo transmissor ou seja transporta o parasita de um hospedeiro para outro O vetor pode ser 14 Unidade I Vetor biológico é um hospedeiro essencial para o ciclo de vida Exemplo o mosquito é um vetor para o Plasmodium Vetor mecânico transmite a doença mecanicamente Exemplo moscas que pousam em fezes infectadas e depois pousam em alimentos podem carregar estágios infectantes dos parasitas de um lugar para outro 114 Classificação dos parasitas Os parasitas podem ser classificados de acordo com os locais onde são normalmente encontrados e também com suas características morfológicas Na classificação dos parasitas quanto a sua localização são apresentados os endoparasitas e ectoparasitas Endoparasitas são os seres que vivem no interior do corpo do hospedeiro Podem ser divididos em parasitas intestinais exemplo Ascaris lumbricoides e parasitas sanguíneos exemplo Plasmodium Ectoparasitas são os parasitas que vivem de forma externa no hospedeiro na grande maioria na pele Podemos citar o exemplo do Scarcoptes scabiei agente causador da sarna Com relação às características morfológicas os parasitas são divididos em protozoários seres unicelulares helmintos seres multicelulares cilíndricos ou achatados e artrópodes Esses grupos são incluídos em cinco grandes filos Protozoa animais unicelulares Platyhelminthes ou vermes achatados Aschelminthes Nematoda vermes redondos Acantocephala vermes arredondados com pseudossegmentação e uma probóscida armada de ganchos e Arthropoda insetos e ácaros Nesta unidade mais adiante estudaremos o filo Arthropoda 115 Como os parasitas causam doença Nas infecções parasitárias os efeitos podem ser assintomáticos ausência de sintomas sintomas suaves ou moderados ou ainda a morte A doença parasitária acontece quando os danos se tornam severos o suficiente para causar mudanças patológicas no hospedeiro Os fatores que influenciam a severidade da infecção são tratamento do parasita quantidade de parasitas localização da infecção toxicidade do parasita condições do hospedeiro Agora que já conhecemos a origem dos parasitas e como eles se associam com o hospedeiro estudaremos as principais características de cada filo incluindo os parasitas que pertencem a cada um respectivamente e para cada espécie conheceremos a morfologia biologia métodos de diagnóstico epidemiologia profilaxia e citações de drogas mais eficazes para a terapêutica 15 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS 2 ARTHROPODA O filo Arthropoda inclui os invertebrados e corresponde a um grupo de parasitas que possuem pares de patas articuladas Esses parasitas são denominados ectoparasitas pois são encontrados na superfície do corpo de um hospedeiro Este filo é o maior grupo do reino animal com cerca de 80 de espécies descritas na literatura parasitária e é o mais importante economicamente para a agricultura com efeitos tanto benéficos como nocivos Cerca de 1 milhão destas espécies vivem na terra ar ou água onde sua alimentação varia de diversas fontes inclusive de sangue dos hospedeiros De modo geral esses tipos de ectoparasitas possuem simetria bilateral com um esqueleto externo formado por um tegumento composto por epiderme e cutícula Este tegumento por sua vez tem a função de proteger sustentar e impedir a perda de água A cutícula quando recémformada pelo artrópoda é flexível e mole porém com o tempo fica enrijecida de quitina tornandose a porção mais externa da cutícula denominado exoesqueleto o qual impede o crescimento progressivo do ectoparasita O corpo do artrópoda é dividido em duas partes cefalotórax e abdome cabeça e tronco ou em três cabeça tórax e abdome Na cabeça do artrópoda existem estruturas com a função sensorial perfuradora ou mastigadora Possuem um sistema nervoso formado por uma cadeia de gânglios ventrais onde o sistema circulatório é do tipo aberto contendo no seu interior um líquido denominado hemolinfa impulsionado pelo coração O sistema respiratório é formado por uma rede de traqueias que se liga com a parte exterior do parasita através de aberturas respiratórias denominadas espiráculos Seu sistema digestório é formado pela abertura oral seguido do tubo digestivo e terminando na abertura anal localizada na parte posterior do parasita Geralmente seu crescimento ocorre devido a mudas que também são denominadas ecdises Essas mudas ocorrem durante o tempo de vida do ectoparasita promovendo alterações em seu corpo e conduzindo à sua maturidade sexual juntamente por hormônios produzidos por ele Os artrópodes geralmente ficam presos à superfície do hospedeiro graças aos seus pares de patas O processo de localização do hospedeiro ocorre devido a alguns estímulos específicos como a presença de CO2 a temperatura da umidade do ambiente O mecanismo de percepção dessas condições pelo artrópoda ocorre por sensores espalhados pelo seu corpo que estão localizados principalmente nas suas peças bucais e antenas O filo Arthropoda está subdivido em subfilos e classes como apresentado de forma resumida na figura seguinte 16 Unidade I Arthropoda FILO CLASSE ORDEM Acarina Peças bucais articuladas com o corpo carrapatos tamanho macroscópico pernas longas exoesqueleto com ou sem escudo exoparasitas microácaros 200 a 400 µm pernas curtas endoparasitas Hemiptera percevejos verdadeiros dois pares de asas metamorfose simples Diptera moscas e mosquitos dois pares de asas um atrofiado metamorfose completa Anoplura piolhos sem asas achatados dorsoventralmente ectoparasitas permanentes metamorfose simples Siphonaptera pulgas sem asas achatados lateralmente metamorfose completa Insecta Cabeça tórax e abdome são segmentos distintos um par de antenas e em geral um par de olhos três pares de pernas e muitas vezes asas no tórax Arachnida Sem cabeça distinta sem antenas abdome e tórax fundidos quatro pares de pernas no adulto metamorfose simples compreende aranhas escorpiões carrapatos e microácaros Invertebrados exoesqueleto quitinoso apêndices articulados Figura 1 Representação esquemática resumida do filo Arthropoda Os Arthropodas em estudo clínico humano estão distribuídos em três classes importantes a Insecta a Arachnida e Crustacea pois podem tanto causar patologias no hospedeiro como também serem veículos de transporte de outros parasitas serem hospedeiros intermediários ou até mesmo transmitir infecções a hospedeiros definitivos Sobre a classe Insecta são conhecidas mais de 8 milhões de espécies devidamente catalogadas no mundo A classe ou o grupo dos insetos apresenta o corpo dividido em três regiões distintas denominadas cabeça tórax e abdome Na cabeça encontramse um par de olhos compostos duas antenas com formas e tamanhos variáveis e com funções sensoriais e as peças bucais com funções baseadas em sucção e mastigação No tórax quando o inseto é alado encontrase um par de asas No abdome estão as patas que se apresentam distribuídas em três pares localizadas e restritas no abdome Internamente possui sistema digestivo composto por boca faringe esôfago papo e proventrículo O sistema respiratório também presente nesses insetos possui um conjunto de tubos e traqueias com uma ramificação muito intensa permitindo que as trocas gasosas sejam feitas totalmente por meio celular dispensando o auxílio da hemolinfa A respiração é controlada por um sistema nervoso central sofisticado que possui vários filamentos nervosos por todo o corpo do inseto e como 17 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS característica básica dependendo da espécie determina a capacidade de voar Com relação ao sistema reprodutor o método de reprodução usual é o cruzamento entre macho e fêmea Esses ectoparasitas possuem um tamanho pequeno e evoluem em curtas gerações apresentando diferentes estratégias de crescimento e desenvolvimento O seu ciclo biológico pode ocorrer de diferentes formas de acordo com processos de modificações complexos regulados por hormônios A maioria das espécies da classe Insecta é ovípara sendo variável o local de oviposição ou seja podemos encontrar esses ovos em qualquer ambiente Grande parte dos Insecta sofrem o que chamamos de metamorfose incompleta ou completa É denominado metamorfose incompleta ou hemimetabolia a evolução que ocorre a partir do ovo até a fase adulta Esse processo de metamorfose pode apresentar três fases ovo ninfa imago sendo que a ninfa é semelhante a um adulto porém sem órgãos genitais e sem asas Já imago é o adulto sexualmente maduro No processo da metamorfose completa ou holometabolia ocorrem quatro etapas de evolução ovo larva pupa imago sendo que a fase de pupa corresponde a um período em que a larva fica presa a um casulo e é completamente diferente do adulto inclusive biologicamente Na classe Insecta temos as ordens Diptera Hemiptera Anoplura e Siphonaptera Nesta unidade estudaremos apenas os insetos de importância médica pertencentes a essas ordens porém devemos saber que existem milhares de espécies com funções muito importantes como por exemplo polinização das flores decomposição de matéria orgânica participação no equilíbrio biológico entre outros Lembrete Os insetos de importância médica são os causadores de doença e os mais próximos de nós especialmente em países subdesenvolvidos Na classe Arachnida os aracnídeos possuem corpo fundido com cefalotórax e abdome com quatro pares de patas e sem antenas Na parte anterior chamada de gnatosoma esses ectoparasitas apresentam peças bucais articuladas com o corpo que são de grande importância para o estudo clínico em hospedeiros humanos Essas pinças bucais são formadas por quelíceras e palpos ou pedipalpos As quelíceras ou pinças possuem a função de cortar ou perfurar tecidos já os palpos ou pedipalpos são órgãos que auxiliam na alimentação Embora sejam considerados parasitas que não ataquem diretamente podem causar danos ao hospedeiro humano devido aos venenos que possuem muitas vezes com efeitos de reações de hipersensibilidade inflamatórios e de toxicidade ao hospedeiro podendo levar à morte 18 Unidade I Lembrete A classe Arachnida corresponde às ordens de interesse médico e veterinário sendo que alguns deles fazem secreção e inoculação de venenos A classe Arachnida apresenta três ordens Scorpiones Araneida e Acari sendo o último o de maior interesse médico e o que vamos estudar neste capítulo 3 ORDENS 31 Diptera Os artrópodes da classe Insecta e da ordem considerada Diptera são os insetos que na fase adulta possuem como característica um par de asas funcionais e um segundo par vestiginal sendo reduzido a uma estrutura semelhante a halteres também chamada de balancins Em sua morfologia a cabeça geralmente é subesférica com dois olhos compostos e com antenas que podem ser tri ou plurissegmentadas O aparelho bucal pode ser picador sugador pungitivo portanto hematófagos ou sugador não pungitivo os lambedores No tórax estão fixadas as asas e três pares de patas Na região final do abdome estão os segmentos que compõem a genitália masculina ou feminina Sua evolução é do tipo holometabólica ou seja completa e apresenta as fases de ovo larva pupa e adulto O local da postura da larva é variado podendo ser encontrada em diferentes matérias orgânicas em decomposição fezes cadáveres etc Esses ovos podem eclodir e formar as larvas que se alimentam do tecido morto ou vivo do hospedeiro Este tipo de parasitismo pelas larvas é conhecido como miíases proveniente do grego myie mosca e ase forma semelhantes à das crisálidas das borboletas ou conhecidas na linguagem popular como bicheiras Esta ordem é representada pelas moscas e mosquitos As moscas são consideradas insetos e são as mais numerosas catalogadas em mais de cem famílias e várias espécies Algumas moscas podem ser consideradas hematófagas já outras podem depositar ovos em feridas ou no corpo do hospedeiro Os mosquitos considerados hematófagos são capazes de causar desde reações alérgicas ao hospedeiro até a transmissão de agentes infecciosos pela saliva como por exemplo os vírus A grande preocupação com a ordem Diptera é a possibilidade de transferência mecânica de agentes contaminantes presentes nas fezes ou solos para os alimentos por meio das pernas ou outras estruturas do inseto Dessa forma podemos afirmar que hábitos inadequados de higiene também colaboram para a disseminação da doença parasitária Algumas famílias pertencentes à ordem Diptera são consideradas de importância clínica em relação ao hospedeiro humano Dentre essas famílias vamos estudar a Culicidae e a Phlebotomidae 19 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Culicidae Esta família particularmente é de grande interesse médico pois é onde se concentra o maior número de insetos hematófagos e com grande capacidade de adaptação biológica Esse grupo se adapta muito bem em ambientes peridomiciliares áreas externas de uma residência geralmente em um raio de 100 metros e domiciliares podendo causar diversas parasitoses em seres humanos Os culicídeos são conhecidos como pernilongos mosquitos muriçocas etc Esses insetos durante a hematofagismo causam grande perturbação ao hospedeiro espoliando seu sangue e podem transmitir doenças virais como a febre amarela doenças protozoárias como a malária e até helmintoses como a Wuchereria bancrofti que vamos estudar adiante As fêmeas fazem sua oviposição na água ou em ambientes úmidos Apenas as fêmeas possuem hábitos noturnos e se alimentam de sangue do hospedeiro Os machos se alimentam de suco de frutas fluidos dos vegetais e néctar Como característica morfológica podem apresentar corpo e asas cobertos por escamas que podem possuir tonalidades uniformes ou diferentes No seu ciclo biológico o ovo após um período de aproximadamente quatro dias eclode liberando a larva Após dez a vinte dias a larva evolui e atinge a forma de pupa e em seguida após três dias atinge a forma adulta Essa forma adulta possui um período limitado de vida que dura cerca de dois meses no verão e seis meses no inverno Para este grupo destacamos as espécies Anopheles Aedes e Culex que conseguem transmitir agentes causadores de doenças ao hospedeiro O Anopheles darlingi é a mais importante espécie transmissora de malária no Brasil e está representado na figura seguinte A espécie Anopheles é encontrada em diferentes criadouros como a água de represa desde que seja límpida e sombreada Seu deslocamento ocorre nos períodos vespertinos e matutinos e se adapta a qualquer ambiente habitacional No Brasil é pouco encontrado nas regiões mais secas e nas regiões do extremo sul do país Sobre a malária vamos conhecer um pouco mais no outro capítulo Figura 2 Mosquito da espécie Anopheles 20 Unidade I O Aedes aegypti demonstrado na figura seguinte é o principal transmissor da febre amarela e da dengue em todo o mundo Disseminase bem por toda a faixa tropical e as fêmeas ovipõem na parede dos recipientes desde que eles contenham água parada principalmente em domicílios e peridomicílios Os hábitos de hematofagia e oviposição são diurnos sendo que a hematofagia ocorre preferencialmente em hospedeiros humanos tendo como consequência a inoculação das partículas virais causadoras de doenças Figura 3 Mosquito Aedes aegypti O Culex é o inseto transmissor da filariose bancrofitiana doença que vamos estudar em outro capítulo Este inseto é extremamente perturbador do sono noturno em vários países tropicais e está demonstrado na figura seguinte Por possuir o hábito noturno pica dentro dos domicílios e se prolifera em águas paradas que estejam poluídas com matéria orgânica e localizadas próximas às casas O controle desses insetos deve ser feito pelo homem com o uso de inseticidas Porém também se sabe que esses insetos podem apresentar resistência aos inseticidas de acordo com o uso contínuo e portanto a melhor forma de combate é eliminando os focos de criadouros de larvas Figura 4 Mosquito da família Culex 21 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Phlebotomidae Na família Phlebotomidae estão os flebotomíneos que podem transmitir protozoários vírus e bactérias por meio de sua picada No Brasil a patologia de leishmaniose que vamos estudar adiante é transmitida por um inseto desta família denominado Lutzomyia longipalpis que em muitas regiões são chamados pela população residente de mosquito birigui palha tatuquira asa branca e asa dura Esses flebotomíneos medem até 4 mm de comprimento e possuem o corpo coberto por pelos finos A maioria das fêmeas realizam a hematofagia noturna e possuem hábitos restritos a florestas e matas Dessa forma a melhor maneira de controle é o uso de mosquiteiros e de roupas protetoras que cubram pescoço braços e pernas Figura 5 Mosquito macho da família Phlebotomidae Figura 6 Mosquito Lutzomyia longipalpis transmissor da leishmaniose 22 Unidade I 32 Hemiptera A ordem Hemiptera que pertence à classe Insecta possui cerca de 37 mil espécies e representa a maior diversidade de insetos de metamorfose incompleta São classificados pela presença de um par de asas anterior com uma metade basal rígida ou corácea e a outra metade distal membranosa Nessas asas encontramse as nervuras também chamadas de hemélitros Além deste par de asa este inseto possui um outro par membranoso sem características determinadas Os insetos da ordem Hemiptera possuem aparelho bucal probóscida ou tromba do tipo picador sugador que se origina anteriormente aos olhos constituído por um par de mandíbulas e um de maxilas envolvidos por um lábio tri ou tetrassegmentado e sem palpos Possuem dois pares de asas que se sobressaem horizontalmente no abdome Os hemípteros possuem um achatamento moderado característica muito comum principalmente nos que vivem em fendas No corpo existem variações morfológicas e cromáticas que ajudam na identificação desses insetos A cabeça desses insetos é alongada dividida em anteocular e pósocular Entre essa divisão encontrase um par de olhos e na parte anteocular um par de antenas tetrassegmentadas A probóscida possui um par de mandíbulas e um de maxilas formando um canal salivar e um canal alimentar No tórax a região dorsal é dividida em lobo anterior e posterior e na região ventral que possui a probóscida encontrase um sulco estridulatório As patas compostas por coxa ou quadril trocânter fêmur tíbia tarsos e garras estão localizados na parte ventral do tórax O abdome é alongado e ovoide formado por região ventral dorsal e lateral É na parte lateral que se encontram as principais características para identificação dos triatomíneos com a presença de manchas claras e escuras características essas de cada espécie O tamanho é variável sendo que as dimensões variam de milímetros a vários centímetros de comprimento A grande maioria se alimenta de seiva de vegetais chamados de fitófagos Uma outra parte é constituída por predadores que se alimentam de insetos e pequenos vertebrados Uma terceira parte se alimenta de sangue de vertebrados incluindo o homem São hematófagos os hemípteros das famílias Polyctenidae ectoparasitos de morcegos Cimicidae parasitas de muitas aves e mamíferos incluindo os percevejos de cama que parasitam humanos e os barbeiros insetos da família Reduviidae pertencentes à subfamília Triatominae 23 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Figura 7 Triatoma infestans pertencente à família Triatominae A família Triatominae que são os hemípteros hematófagos transmitem o Trypanossoma cruzi parasita causador da doença de Chagas que vamos estudar mais adiante Esses triatomíneos possuem cabeça alongada pescoço unindo cabeça ao tórax e probóscida reta e trissegmentada A principal espécie de interesse médico é o Triatoma infestans representado na figura anterior A fêmea pode apresentar de 2 a 3 cm com cor negra ou marromescuro marcações amarelas e cabeça negra O seu tempo de vida é de um ano e meio e durante esse período pode botar até 300 ovos sendo o período de incubação desses ovos de vinte dias O ciclo biológico ocorre na sequência ovo eclosão ninfa 1 muda ninfa 2 muda ninfa 3 muda ninfa 4 muda ninfa 5 muda adulto Devese destacar a importância da eliminação de dejetos por esses triatomíneos após o processo de hematofagia no homem pois é através desse processo que ocorre a transmissão do parasita causador da doença de Chagas Saiba mais O texto apresenta as principais características e a forma de transmissão da doença de Chagas BRASIL Ministério da Saúde Doença de Chagas Brasília mar 2005 Disponível em httpsbvsmssaudegovbrbvsdicas77chagashtml Acesso em 27 nov 2020 24 Unidade I Esses insetos vivem predominantemente em casas de barro e pauapique caminhando entre as frestas dessas construções Esses domicílios fornecem ao inseto condições necessárias para sua sobrevivência como temperatura e umidade adequadas locais para esconderijo frestas e alimento animais domésticos e o homem São encontrados de forma massiva no Brasil principalmente nos estados de Alagoas Pernambuco Piauí e Paraíba mas é possível encontrálos também em outras regiões do país Para o controle do Triatominae devese observar o ambiente em que ele vive Por isso melhoria habitacional educação sanitária uso de inseticidas são de grande importante nesse processo 33 Anoplura Na ordem Anoplura que pertence ao filo Arthropoda encontramos os insetos conhecidos popularmente de piolhos Se alimentam de sangue hematófagos e possuem uma metamorfose gradual Apresentam aproximadamente 532 espécies distribuídas em 15 famílias das quais apenas duas apresentam espécies que parasitam o homem a Pediculidae com as espécies Pediculus capitis Pediculus humanus humanus que é o piolho da cabeça e Pediculus humanus Pediculus humanus corporis que é o piolho do corpo ou popularmente chamado de muquirana b Pthiridae com a espécie Pthirus pubis Phthirus pubis vulgarmente conhecida como chato Estes piolhos que por muito tempo pulularam o homem geralmente são transmitidos por contato direto A incidência desses Anoplura está associada a condições socioeconômicas falta de higiene pessoas que vivem em aglomerados moradores de rua presídios e transportes coletivos Atualmente crianças em idade escolar podem mostrar a presença desse inseto devido ao alto contato com outras crianças hábitos de aproximação salas de aula cheias e falta de controle Além do prurido esses insetos podem transmitir doenças como o tifo exantemático febre das trincheiras e a febre recorrente Como este inseto é hematófago durante a picada provoca uma dermatite que pode evoluir com a presença de infecções secundárias A infestação por piolhos é chamada de pediculose podendo ocorrer no corpo e no couro cabeludo No caso do chato a infestação é chamada de pitiríase e a sua transmissão ocorre por contato sexual Como sintoma dessa infestação o paciente apresenta prurido local irritação na pele e assim como o piolho pode abrir portas para infecções bacterianas secundárias Em casos mais severos da infestação desses Anoplura o paciente parasitado pode apresentar anemias pela deficiência de ferro subtraído na hematofagia Os piolhos são considerados insetos pequenos Em relação a sua morfologia não apresentam asas e possuem um aparelho bucal picadorsugador suas pernas são fortes e no tarso notase uma forte garra que se opõe a um processo na tíbia Esse conjunto garra e processo tibial forma uma pinça com a 25 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS qual o inseto fica firmemente aderido ao pelo do hospedeiro Piolhos possuem uma multiplicação muito rápida com um ciclo de vida médio de 45 dias São hematófagos e possuem um ciclo biológico ovo eclosão ninfa muda 1 muda 2 muda 3 adulto Seus ovos possuem uma coloração brancaamarelada com aproximadamente 08 mm São chamados de lêndeas e ficam aderidos ao fio de cabelo ou pelos e eclodem aproximadamente entre seis a nove dias A partir dos ovos surgem as linfas que sofrem várias mudas que originarão o piolho adulto Para o tratamento não basta somente o uso de medicamento É recomentado para a pediculose do corpo que se retire a roupa parasitada e a mergulhe por duas horas em água fria contendo formol ou Lysoform Esta operação deve ser repetida com frequência e na roupa de toda a família Para a pediculose na cabeça é recomentado além do uso de medicação e xampus com inseticida que se realize penteação com pente fino e que se faça regularmente uma inspeção nas pessoas em contato direto com o hospedeiro Para o tratamento do chato também podem ser usados os mesmos medicamentos e aconselhase a tricotomia da região pubiana Figura 8 Pediculus capitis conhecido como piolho de cabeça Figura 9 Ovo de Pediculus capitis chamado de lêndea 26 Unidade I 34 Siphonaptera Outros artrópodes da ordem Siphonaptera e pertencentes à classe Insecta são as pulgas como demonstrado na figura seguinte A ordem Siphonaptera siphon tubo aptera sem asas compreende insetos hematófagos de ambos os sexos vulgarmente conhecidos como pulgas e bichosdepé Representam mais de 2400 espécies e são encontrados em todo o mundo As pulgas fazem parte de um grupo de grande destaque na parasitologia visto que assumem função de transmissores ou hospedeiros intermediários Na fase adulta as pulgas são ectoparasitas de aves e mamíferos enquanto na fase larvária apresentam vida livre e aparelho bucal do tipo mastigador Nascem de ovos na forma de larva e iniciam a metamorfose passando por vários estágios do seu ciclo biológico assumindo a forma de pupa e depois subsequentemente a forma adulta Esses insetos são agentes espoliadores sanguíneos ou seja são hematófagos e continuam esse processo mesmo após estarem repletos de sangue do hospedeiro Ao picar o hospedeiro para se alimentar injetam saliva causando uma reação no hospedeiro com intensidade variável podendo acarretar manifestações clínicas como prurido passageiro inchaço local e dermatites alérgicas Algumas espécies apresentam especificidades de hospedeiro Entre os primatas apenas o homem é o hospedeiro habitual Do ponto de vista epidemiológico os roedores são os hospedeiros mais importantes pelo fato de suas espécies serem apontadas como os principais reservatórios de várias infecções ao longo da história como a peste tularemia e tifo murino A maioria das espécies de pulgas vive no hospedeiro onde se alimentam intermitentemente Morfologicamente as pulgas são consideradas insetos pequenos de cor castanhoescuro e corpo achatado lateralmente facilitando sua locomoção no hospedeiro Não possuem asas e seu último par de pernas é adaptado para saltar várias vezes o seu tamanho Possuem um aparelho bucal do tipo picadorsugador Apresentam um dimorfismo sexual os machos são menores que as fêmeas diferenciandose delas pela morfologia dos órgãos genitais enquanto nos machos a extremidade posterior que alberga o órgão copulador tem um formato espiralado e pontudo voltado para cima nas fêmeas a extremidade posterior é arredondada exibindo uma estrutura visível após clarificação entre os segmentos VII e VIII do abdome com paredes quitinizadas e com função de reservatório de espermatozoides Em seu abdome as pulgas possuem numerosas cerdas O tempo de vida é muito variável dependendo de cada espécie temperatura umidade do ambiente e de sua alimentação Em seu ciclo biológico as pulgas passam por três estágios larvares antes de se tornarem adultas Quando chegam na fase adulta são obrigatoriamente hematófagos Na fase em que ainda são larvas vivem no solo ou ninho de animais 27 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Figura 10 Imagem representativa da pulga Siphonaptera A ordem Siphonaptera apresenta três famílias e oito espécies como demonstrada no quadro seguinte Quadro 1 Representação esquemática resumida da ordem Siphonaptera Ordem Família Espécies Siphonaptera Pulicidae Pulex irritans Xenopsylla cheopis Xenopsylla brasiliensis Ctenocephalides canis Ctenocephalides felis Rhopalopsyllidae Polygenis bohlsi Polygenis tripus Tungidae Tunga penetrans Das oito famílias as quais pertencem as pulgas cinco espécies são de importância médica e que possuem características morfológicas permitindo sua diferenciação Citamos a seguir essas espécies Pulex irritans possuem uma cor marromclara de tamanho relativamente grande em relação às demais espécies de pulga típica da espécie humana Xenopsylla cheops podem fazer o parasitismo tanto no homem quanto em roedores São transmissoras da bactéria Yersinia pestes causadora da peste bubônica peste negra no século XIV 28 Unidade I Ctenocephalides felis são classificadas como cosmopolita e são menos seletivas quando se trata do tipo de sangue a ser ingerido Estão presentes em quase todo o mundo Possuem cor marromescura e têm grande facilidade de reprodução em diversos ambientes e habitats Ctenocephalides canis seus hospedeiros de preferência são os cães e só parasitam o homem quando não há opções de se alimentar de sangue de outro mamífero Seu corpo é de cor marrom e seu tamanho é relativamente grande As pulgas da espécie Tunga penetrans possuem uma morfologia diferenciada em relação às demais espécies de pulgas Este gênero também é conhecido popularmente de bicho de pé em muitas regiões do Brasil O seu corpo é mais arredondado possui um tórax mais comprido e curto fazendo com que essa modificação anatômica favoreça a sua penetração na derme do hospedeiro No momento em que essa pulga penetra na pele deixa sua extremidade posterior para fora da derme favorecendo a eliminação de excrementos e dos ovos para o meio externo do hospedeiro Os ovos liberados pelas pulgas adultas quando em contato com o chão úmido e sombreado dão origem às larvas que passam por apenas dois estágios As larvas dão origem às pupas e essas aos adultos O ciclo biológico tem o período de vinte a trinta dias após a oviposição Machos e fêmeas permanecem em locais secos próximos de chiqueiros montes de esterco e no peridomicílio jardins hortas Como esses insetos não são parasitas exclusivos do homem seu método de controle exige aplicações específicas Assim indicase o combate em três habitats diferentes do parasita nos animais domésticos no interior das habitações e no ambiente ao redor dessas habitações No caso dos animais realizase a catação manual lavagem dos pelos e escovação frequente No interior dos domicílios a varrição periódica o uso de aspiradores de pó e a lavagem dos pisos são métodos de combate indicados No ambiente peridomiciliar indicase a limpeza frequente e cuidado com o transporte de esterco e matéria orgânica Para combater esse parasita também são indicados métodos químicos como o uso de inseticidas e inibidores de crescimento porém ressaltase que esses insetos podem produzir resistência a esses produtos 35 Acarina Como já vimos os Arthropodas estão distribuídos em três classes importantes a Insecta a Arachnida e Crustacea Até o momento conhecemos as ordens mais relevantes da classe Insecta Diptera Anoplura e Siphonaptera Agora vamos conhecer a ordem Acarina pertencente à classe Arachnida também conhecidos como aracnídeos 29 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Da ordem Acarina vamos estudar as subordens Ixodides e a Sarcoptiformes Na subordem Ixodides temos a família Ixodidae na qual encontramos os carrapatos da espécie Amblyomma cajannense Na subordem Sarcoptiformes podemos descrever os ácaros Sarcoptes scabiei causadores da sarna Os carrapatos Amblyomma cajannense são a espécie mais comum no Brasil e a mais importante transmissora de doença ao homem além de poderem atacar os equídeos Os carrapatos adultos são chamados de carrapatoestrela e sua picada pode causar ferimentos na pele Além disso podem conter o vírus da febre amarela e a bactéria Rickettsia richettsi causadora da febre maculosa doença que vamos estudar mais adiante As fêmeas após sugarem o sangue do hospedeiro procuram abrigo no solo e liberam milhões de ovos Após a oviposição as fêmeas morrem e esses ovos pequenos e de cor castanha com boas condições de temperatura eclodem e liberam as larvas que no estágio seguinte mudam para ninfa Após a implantação das pinças bucais na pele do hospedeiro hopóstomo a glândula salivar libera substâncias com funções anticoagulantes e citolíticas o que promove aumento da permeabilidade vascular dilatação dos vasos sanguíneos e prurido intenso São ectoparasitas muito resistentes à falta de alimentos e ficam à espera de algum hospedeiro para se alimentar O controle desses carrapatos inclui a limpeza da vegetação e o uso de acaricidas Os ácaros Sarcoptes scabiei causadores da sarna ou escabiose possuem o corpo arredondado pernas curtas e sem garras As suas formas adultas produzem túneis na pele iniciando a doença e como a transmissão é feita por contato direto como medida profilática indicase a higiene da casa com o uso de aspirador de pó e pano úmido e troca periódica da roupa de cama com lavagem e secagem ao sol A seguir vamos entender melhor a doença escabiose causada pelo Sarcoptes scabiei Figura 11 Amblyomma cajannense conhecido como carrapatoestrela 30 Unidade I 351 Escabiose A escabiose é causada por um ácaro produtor de sarna da espécie Sarcoptes scabiei É uma doença contagiosa por transmissão direta Como característica clínica é bastante pruriginosa especialmente à noite quando os corpos dos hospedeiros se aquecem estimulando a atividade dos ácaros Este ácaro se alimenta de sangue e ao picar provoca coceiras Dentre as principais razões para o aumento da população deste ácaro estão o maior contato em ambientes coletivos ônibus por exemplo promiscuidade sexual e mudança no comportamento humano em geral Em relação a sua morfologia possui um corpo globoso medindo cerca de 400 pm de comprimento por 300 pm de largura tem pernas curtas sem garras A cutícula é marcada por estrias finas frequentemente interrompidas por áreas com cerdas finas e flexíveis espinhos curtos e robustos e escamas de forma triangular que são características do gênero Estes ácaros não resistem muito tempo fora do hospedeiro vivendo em torno de 24 horas aproximadamente Seu ciclo de vida vai desde o ovo até a fase adulta num período aproximado de 15 dias e vivem em torno de dois meses no hospedeiro As fêmeas de ácaros costumam cavar galerias na pele do hospedeiro para depositar seus ovos Já os machos caminham mais além de permanecerem mais tempo na superfície da pele para fecundar as fêmeas para depois morrerem Para o tratamento na espécie humana é recomendado submeter o paciente a um banho morno demorado com sabão próprio para amolecer e retirar as crostas Com relação às roupas é necessário que se lave e passe com ferro quente incluindo as roupas de cama do paciente enquanto durar o tratamento O uso de medicamentos de aplicação local também é indicado no tratamento 352 Febre maculosa A febre maculosa é uma doença considerada silvestre que afeta o homem É transmitida pela picada do carrapato da espécie Amblyomma cajennense quando este vetor no momento da picada inocula uma bactéria denominada Rickettsia rickettsii no hospedeiro Outras espécies de animais silvestres também são afetadas por esta parasitose e se tornam um reservatório natural tais como o cachorrodomato Cerdcyon thous gambás Didelphis sp ratos silvestres pacas Myrmecophaga sp todas as aves silvestres e capivaras Hidrochoerus hodrichoeris Esta parasitose no decorrer dos anos vem crescendo em todo mundo No Brasil seu crescimento destacase muito pois é considerada a mais letal das riquetsioses dentre as demais que são encontradas em outros países tornandose um problema de saúde pública em certas regiões do país Nos Estados Unidos são notificados entre 600 a 1200 casos anuais de febre nas áreas de montanhas rochosas assim chamada neste país 31 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS A febre maculosa das montanhas rochosas foi descrita no século XIX por pesquisadores do centronorte dos Estados Unidos Em 1904 Wilson e Chowning observando pacientes doentes parasitados e residentes em montanhas publicaram as características clínicas dos pacientes Nestes estudos que incluíram análises anatomopatológicos caracterizouse esta patologia que até então era desconhecida na literatura médica Por volta de 1906 o cientista Rickettis define que esta doença seria de origem infecciosa causada por bactérias e que teria como vetor os carrapatos Em 1912 esta doença passou a fazer parte da lista nacional de notificações nos Estados Unidos Em 1919 outro pesquisador da febre das montanhas rochosas Wolbach conseguiu identificar a presença de riquetsias bactérias dentro de células endoteliais humanas No Brasil a febre maculosa foi descrita inicialmente em 1929 em São Paulo em uma área urbana que atualmente compreende os bairros de Perdizes Sumaré e Pinheiros como também sendo uma riquetsiose Depois de algum tempo outros focos foram descritos em Mogi das Cruzes Diadema e Santo André Nas décadas entre 1930 e 1940 focos foram descritos em Minas Gerais Outros focos descritos em 1985 foram vistos na bacia dos rios Atibaia e Jaguaribe e na região do Jequitinhonha Atualmente focos de febre maculosa foram descritos em São Paulo Rio de Janeiro Minas Gerais Bahia Espírito Santo e Santa Catarina Mecanismo de transmissão A transmissão da febre maculosa brasileira ocorre por causa da picada dos carrapatos ixodídeos do gênero Amblyomma Na América do Norte as espécies do carrapato mais prevalentes são D variabilis e D andersoni pertencentes ao gênero Demacentor sp Quando o carrapato que possui a bactéria R rickettsii pica o hospedeiro este por sua vez e por meio da inoculação da saliva transmite esta bactéria No Brasil na região sudeste encontramos principalmente a espécie A cajennense conhecido popularmente como carrapatoestrela Também é sabido que fatores climáticos e ambientais afetam o crescimento da população de carrapatos Atividades de lazer como por exemplo ecoturismo trekking acampamentos pesca e cavalgadas em regiões em que pode ser encontrado o carrapato são considerados hoje como sendo fatores de risco em contrair esta parasitose Outras atividades como lavouras e criação de animais vêm contribuindo para aumento de pessoas parasitadas pelo carrapato Atualmente existem estudos feitos em animais como os equinos e bovinos fora da sua região de origem e expostos temporariamente em regiões domésticas que comprovam que essas atividades também vêm contribuindo como fator de risco no aumento da incidência da doença em humanos Os carrapatos são classificados como ectoparasitas artrópodes e hematófagos ou seja podem se fixar na pele do hospedeiro permanecendo dias ou meses alimentandose do sangue do hospedeiro Ao se alimentarem secretam saliva que inativa a coagulação sanguínea no local onde ocorre sua fixação e as reações imunológicas de defesa do hospedeiro Sua saliva é composta de substâncias vasoativas que ajudam a produzir dilatação dos vasos sanguíneos no local de picada facilitando assim a ingestão progressiva de sangue do hospedeiro Os carrapatos possuem uma outra forma de alimentação além 32 Unidade I da ingestão do sangue Por apresentarem em sua constituição anatômica bucal peças adaptadas que perfuram e penetram na pele conseguem realizar a ingestão da linfa e de restos tossicares presentes na pele do hospedeiro Morfologia Em uma classificação parasitária o carrapato pertence ao filo Arthropoda ou seja é um ectoparasita com característica biológica anatômica cujo corpo apresenta um exoesqueleto de quitina organizado na forma de placas separadas por áreas membranosas Possui um sistema nervoso formado por uma cadeia de gânglios ventrais e o sistema circulatório é do tipo aberto contendo no seu interior um líquido denominado hemolinfa que é impulsionado pelo coração O sistema respiratório é formado por uma rede de traqueias que se liga com a parte exterior do parasita por meio de aberturas respiratórias denominadas espiráculos Seu sistema digestório é formado por uma abertura oral um tubo digestivo e termina na abertura anal localizada na parte posterior do parasita Geralmente seu crescimento ocorre devido a mudas também denominadas ecdises que ocorrem durante o tempo de vida deste ectoparasita promovendo alterações em seu corpo chegando à maturidade sexual devido à ação de hormônios produzidos por ele Figura 12 Representação do carrapato da espécie Amblyomma cajennense Ciclo biológico O carrapato da espécie Amblyomma cajennense é considerado um reservatório transovariano da bactéria Rickettsia rickettsii e um vetor da doença febre maculosa O carrapato inicia seu ciclo quando as fêmeas fecundadas pelos machos e cheias de sangue que foi sugado do hospedeiro se desprendem e caem em locais onde existe vegetação ideal para sua sobrevivência Após doze dias em média a fêmea do carrapato inicia a oviposição Apenas uma fêmea pode produzir cerca de 5 mil ovos em um período de 25 dias para depois morrer Estes ovos em uma vegetação com condições ideais de temperatura 25 ºC e umidade após um período médio de incubação de trinta dias sofrem a eclosão e se tornam larvas Estas larvas se locomovem na vegetação até encontrarem um hospedeiro ideal Ao encontrálo se fixam no hospedeiro 33 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS e iniciam o processo que dura em média de três a seis dias de alimentação por linfa sangue ou tecidos Após este período desprendemse do hospedeiro novamente retornam ao solo e em um período de aproximadamente seis dias sofrem uma alteração morfológica assumindo a forma de ninfa também chamada de micuim As ninfas que agora estão no solo e já apresentam pares de patas estão prontas para se fixarem no hospedeiro Após se fixarem começam a sugar o sangue do hospedeiro por aproximadamente cinco a sete dias até ficarem totalmente cheias de sangue momento esse em que se desprendem e caem ao solo Patogenia e sintomas A transmissão da bactéria Rickettsia rickettsii ocorre por meio da inoculação desta bactéria pela saliva do carrapato no hospedeiro Os principais sintomas começam a surgir em um período médio de 6 a 10 horas devido à disseminação da bactéria por via sanguínea e linfática podendo atingir a circulação sistêmica e pulmonar A Rickettsia rickettsii é uma bactéria do gênero Rickettsia com a morfologia de cocobacilos obrigatoriamente intracelulares São divididas em três grupos o grupo tifo o grupo da febre maculosa e o grupo ancestral Esta bactéria tem como potencial patogênico a capacidade de se disseminar por todo o organismo e invadir células endoteliais dos vasos sanguíneos À medida que se multiplicam por divisão binária e invadem as células dos vasos sanguíneos causam o processo infeccioso neste local Este processo infeccioso caracteriza as primeiras lesões cutâneas denominadas exantemas maculopapulares À medida que a doença evolui nos vasos sanguíneos surgem lesões em vasos mais calibrosos que acabam por acometer inúmeros órgãos vitais Outros sintomas podem ser observados devido a essas alterações vasculares como petéquias e sufusões hemorrágicas Com um agravamento das lesões nos vasos sanguíneos ocorre um aumento da permeabilidade do vaso lesionado com perda de líquido para o espaço extravascular levando o hospedeiro a ter complicações de hipoalbuminemia hipotensão choques hipovolêmicos edema agudo de pulmão e o óbito Um quadro laboratorial do paciente pode ser observado em um hemograma completo com aumento de leucócitos muitas vezes com desvio à esquerda escalonado devido ao processo inflamatório acentuado no paciente Observase também uma redução do número de plaquetas plaquetopenia em 32 a 52 dos casos Os resultados bioquímicos do sangue do paciente geralmente apresentam valores aumentados de ureia creatinina enzimas hepáticas e hiperbilirribinemia No exame de líquido cefalorraquidiano podemos observar pleiocitose linfomonocitaria com níveis variáveis de proteinorraquia e glicorraquia Em exames radiológicos do tórax podem ser observados infiltrados intersticiais com acometimento dos alvéolos pulmonares em que o paciente apresentará um quadro de dificuldade respiratória intensa 34 Unidade I Figura 13 Visualização microscópica da bactéria Rickettsia rickettsii em inclusão celular Figura 14 Paciente apresentando exantema petequial causado pela infecção da bactéria Rickettsia rickettsii Diagnóstico O diagnóstico clínico inicial ocorre com o surgimento do estado febril do paciente e de exantemas Neste ponto se faz necessária a identificação do histórico e antecedentes epidemiológicos Até o momento não existem exames de rotinas para os doentes na fase aguda A confirmação laboratorial é feita após a instalação da doença e por diagnóstico sorológico e é muito importante que o soro seja coletado durante o período dos primeiros sintomas como também após trinta dias No diagnóstico laboratorial da febre maculosa geralmente são utilizados testes imunológicos específicos imunofluorescência indireta utilizando antígenos da bactéria R rickettsii O diagnóstico após óbito é feito com o uso da técnica de ensaios imunoistoquimicos e biologia molecular reação de polimerização em cadeia 35 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Epidemiologia No Brasil a febre maculosa é encontrada de forma predominante nas regiões Sul Sudeste e Nordeste No estado de São Paulo ocorre consideravelmente na região metropolitana principalmente em áreas urbanas que têm divisa com regiões de Mata Atlântica No Rio Grande do Sul existe uma probabilidade da presença significante da febre maculosa na região do Pampa local onde já foram encontrados carrapatos adultos de Amblyomma tigrinum infectados com a espécie patogênica Rickettsia parkeri em áreas rurais e com relatos prévios de febre maculosa em humanos Este perfil é semelhante com o padrão epidemiológico sugerido em algumas regiões da Argentina onde A tigrinum é apontado como o vetor da R parkeri e também em outros países onde Amblyomma triste e Amblyomma maculatum são vetores reconhecidos de R parkeri para humanos Segundo a Portaria do MS de consolidação n 4 de 03 de outubro de 2017 todo caso de febre maculosa é de notificação obrigatória às autoridades locais de saúde Devese realizar a investigação epidemiológica em até 48 horas após a notificação avaliando a necessidade de adoção de medidas de controle pertinentes sendo que essa investigação deverá ser encerrada até sessenta dias após a notificação A unidade de saúde notificadora deve utilizar a ficha de notificaçãoinvestigação do Sistema de Informação de Agravos de Notificação Sinan encaminhandoa para ser processada conforme o fluxo estabelecido pela Secretaria Municipal de Saúde As tabelas apresentadas a seguir mostram o número de casos de febre maculosa e de óbitos no período de 2008 a 2018 por essa doença em diferentes estados brasileiros Tabela 1 Casos confirmados de febre maculosa nas grandes regiões do Brasil de 2008 a 2018 Região UF 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Região Norte 0 0 0 0 0 0 0 2 2 3 1 Rondônia 0 0 0 0 0 0 0 2 2 0 0 Acre 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Amazonas 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Roraima 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Pará 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 Amapá 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Tocantins 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 Região Nordeste 0 2 1 0 2 4 2 3 1 2 3 Maranhão 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 2 Piauí 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Ceará 0 0 1 0 1 4 2 3 0 1 0 Rio Grande do Norte 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Paraíba 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 Pernambuco 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Alagoas 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 Sergipe 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Bahia 0 2 0 0 1 0 0 0 0 0 0 36 Unidade I Região UF 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Região Sudeste 60 79 78 106 92 80 107 125 104 119 43 Minas Gerais 11 10 11 14 7 15 11 16 21 33 10 Espírito Santo 2 0 4 7 5 4 3 5 7 6 0 Rio de Janeiro 8 8 5 13 6 4 22 14 14 16 0 São Paulo 39 61 58 72 74 57 71 90 62 64 33 Região Sul 27 41 27 28 41 36 66 26 29 39 12 Paraná 2 1 3 2 4 2 4 6 3 9 0 Santa Catarina 25 38 24 25 37 32 51 20 26 28 12 Rio Grande do Sul 0 2 0 1 0 2 1 0 0 2 0 Região CentroOeste 0 0 1 0 3 1 0 4 7 2 1 Mato Grosso do Sul 0 0 0 0 1 1 0 2 2 0 1 Mato Grosso 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 Goiás 0 0 1 0 2 0 0 2 2 2 0 Distrito Federal 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 Brasil 87 122 107 134 138 121 165 160 143 165 60 Fonte Brasil 2018 Tabela 2 Casos de óbitos por febre maculosa nas grandes regiões do Brasil de 2008 a 2018 Região UF 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Região Norte 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Rondônia 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Acre 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Amazonas 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Roraima 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Pará 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Amapá 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Tocantins 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Região Nordeste 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 Maranhão 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Piauí 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Ceará 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Rio Grande do Norte 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Paraíba 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Pernambuco 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Alagoas 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Sergipe 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Bahia 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 37 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Região UF 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Região Sudeste 22 30 26 45 52 40 65 64 52 57 17 Minas Gerais 5 4 1 5 4 6 4 4 5 15 2 Espírito Santo 0 0 0 1 5 2 0 3 3 4 0 Rio de Janeiro 3 3 1 4 2 1 7 2 7 6 0 São Paulo 14 23 24 35 41 31 54 55 37 32 15 Região Sul 0 1 1 0 0 0 0 0 0 1 0 Paraná 0 1 1 0 0 0 0 2 0 1 0 Santa Catarina 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Rio Grande do Sul 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Região CentroOeste 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Fonte Brasil 2018 Profilaxia e tratamento Para a profilaxia da febre maculosa recomendase que sejam feitos os seguintes procedimentos e cuidados Utilização de roupas e calçados claros que protejam todo o corpo Controle do ambiente Controle de manuseio adequados da população de reservatórios silvestres sobretudo as capivaras Manutenção da vegetação em locais de riscos Medidas educativas com informações à população Vigilância epidemiológica Notificações imediatas dos casos aos órgãos competentes Para o tratamento da febre maculosa é utilizada a antibioticoterapia As drogas que são mais eficazes para combater essa infecção pela bactéria Rickettsia rickettssi são o cloranfenicol e a doxiciclina Caso haja necessidade o suporte vital deve ser realizado Importante saber que ainda não existe vacina para febre maculosa As medidas de controle contra o artrópoda não são fáceis O uso de substâncias químicas amplamente difundidas pode trazer diversos problemas ao ambiente e à saúde do homem Além disso também já são conhecidos casos de resistência desses vetores aos inseticidas mais utilizados 38 Unidade I 4 AULA PRÁTICA IDENTIFICAÇÃO DE ARTRÓPODES EM LÂMINAS DE MICROSCOPIA Para entendermos a identificação dos ectoparasitas pela microscopia óptica não podemos esquecer que eles possuem um exoesqueleto de quitina normalmente firme e pigmentado o que pode inviabilizar um exame acurado da morfologia de algumas espécies O início do processo de identificação é a montagem do agente estudado sobre uma lâmina de vidro coberta com uma lamínula também de vidro Caso não ocorra a adesão completa da lamínula na lâmina o espaço deve ser preenchido com alguma substância que permita a passagem da luz sem desviála permitindo assim a visualização correta das estruturas Diferentes fixadores podem ser utilizados nas preparações como por exemplo o bálsamo do Canadá Neste processo ocorre inicialmente a clarificação e depois a desidratação do material Na clarificação utilizase hidróxido de potássio KOH fenol e o lactofenol O álcool etílico em diferentes concentrações é utilizado na desidratação dos insetos Para diafanização o xilol e o creosoto são bastante empregados A finalização da montagem ocorre com o uso do verniz vitral incolor que possui baixo custo Técnica bálsamo do Canadá I Clarificação A solução de KOH a 10 fria durante 12 horas apenas para materiais fortemente quitinizados II Desidratação álcool 70 15 minutos álcool 80 15 minutos álcool 90 15 minutos álcool 95 10 minutos álcool absoluto 10 minutos III Clarificação B creosoto de faia 24 horas IV Montagem com bálsamo do Canadá entre lâmina e lamínula V Secagem preferencialmente em estufa a 40 45 C o que favorece a eliminação de eventuais pequenas bolhas de ar Muitos pesquisadores têm estudado diferentes formas de armazenagem desses ectoparasitas em lâminas buscando uma maior durabilidade e um custo mais baixo Saiba mais O artigo a seguir mostra o estudo de uma técnica alternativa de montagem de lâminas permanente de artrópodes HUBER F REIS F H Técnica alternativa para montagem de insetos em lâminas permanentes para visualização em microscopia óptica EntomoBrasilis v 4 n 1 p 1319 2011 39 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Agora em nossa aula prática vamos visualizar os artrópodes em diferentes fases do ciclo de vida ovos larvas ninfas e adultos em lâminas e em frascos Procedimento I Colocar a objetiva de menor aumento na direção da luz através de movimento do revólver II Colocar a lâmina com lamínula para cima na platina III Encostar o condensador na lâmina e ligar a luz IV Movimentar o parafuso macrométrico até focalizar o parasito em imagem nítida V Aperfeiçoar o foco com o parafuso micrométrico e observar a imagem das respectivas estruturas indicadas pelo professor que podem ser detectados neste aumento VI Ajustar a iluminação Resumo Neste capítulo conhecemos os tipos de associações entre os animais e mais que isso a importância do papel do vetor parasita e hospedeiro no processo da doença parasitária Podemos perceber que a intensidade do mecanismo de ação dos parasitas e seu ciclo biológico são decisivos no estágio de infecção e no desenvolvimento da doença É essencial compreendermos a importância dos artrópodes tanto no papel de parasitas como de vetor de outros microrganismos causadores de doenças Sabemos que alguns desses artrópodes por exemplo os piolhos mosquitos e carrapatos hematófagos parasitam o homem mas não podemos esquecer que outros têm um papel importante na transmissão de outros agentes e consequentemente na transmissão de doenças Não podemos esquecer do mecanismo de transmissão mecânico ou seja quando este artrópode transmite pelas pernas ou peças bucais um agente causador de doença presente nas fezes ou em solo contaminado para alimentos Assim fica claro que é imprescindível que sempre haja boas condições de higiene e de armazenamento dos alimentos que consumimos para uma boa prevenção de contaminação Em alguns casos vimos que o artrópoda assume o papel de vetor biológico quando o desenvolvimento do parasita ocorre no seu interior Dessa forma um dos métodos adotados para o controle da transmissão de 40 Unidade I uma parasitose é a eliminação do vetor e por isso é de grande importância o conhecimento da espécie do Arthropoda quando este é parte essencial do ciclo de vida do parasita para que se tenha uma profilaxia eficiente Alguns ectoparasitas como mutucas borrachudos e carrapatos são hematófagos e podem causar no hospedeiro intensa irritação na pele ao se alimentarem levandoo a buscar o desalojamento do artrópode Já outras espécies como os percevejos piolhos mosquitos e barbeiro sua solenefagia que é uma forma derivada de hematofagia acaba sendo menos sentida pelo hospedeiro sendo assim promove menos sintomas na superfície da pele deixando o ectoparasita mais tempo preso a ela Portanto não podemos esquecer que outros problemas são causados por essa classe e entre eles a importunação reações de hipersensibilidade à picada perda de sangue e infecções secundárias Ainda existe uma variedade dos artrópodes como as aranhas que podem causar o trauma mecânico devido à resposta do hospedeiro frente ao veneno produzido por esses ectoparasitas Outro aspecto importante é o conhecimento de vetores transmissores de doenças parasitárias e microbianas Como vimos muitos vetores do filo Arthropoda são extremamente importantes e devem ser controlados de forma eficaz para a diminuição da disseminação não só da doença parasitária como das doenças causadas por agentes microbianos Nesta unidade conhecemos a febre maculosa doença que leva ao óbito e é distribuída em todo o território nacional A identificação desses parasitas nos métodos de análises clínicas faz do profissional um agente capacitado e prestador de serviços de excelência 41 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Exercícios Questão 1 Unioeste 2017 A malária é uma parasitose que afeta mais de 200 milhões de pessoas em todo o planeta principalmente nas regiões tropicais Com relação à malária e ao parasita causador desta endemia assinale a alternativa correta com relação aos tipos de reprodução do parasita ao longo de seu ciclo A Reprodução assexuada no interior das hemácias humanas reprodução sexuada no estômago do mosquito reprodução assexuada no interior dos cistos presentes na parede gástrica do inseto B Reprodução sexuada no interior das hemácias humanas reprodução assexuada no estômago do mosquito reprodução assexuada no interior dos cistos presentes na parede gástrica do inseto C Reprodução sexuada no interior das hemácias humanas reprodução sexuada no estômago do mosquito reprodução assexuada no interior dos cistos presentes na parede gástrica do inseto D Reprodução assexuada no interior das hemácias humanas reprodução sexuada no estômago do mosquito reprodução sexuada no interior dos cistos presentes na parede gástrica do inseto E Reprodução assexuada no interior das hemácias humanas reprodução assexuada no estômago do mosquito reprodução sexuada no interior dos cistos presentes na parede gástrica do inseto Resposta correta alternativa A Análise das alternativas A Alternativa correta Justificativa no ciclo do Plasmodium spp causador da malária há uma fase assexuada no homem fígado e hemácias e uma fase sexuada esporogonia no tubo digestório do vetor mosquitoprego ou Anopheles Na parede do estômago do inseto ainda ocorre uma reprodução assexuada com liberação dos esporozoítos que migram para as glândulas salivares do mosquito B Alternativa incorreta Justificativa reprodução assexuada no interior das hemácias humanas e reprodução sexuada no tubo digestório do mosquito C Alternativa incorreta Justificativa reprodução assexuada no interior das hemácias humanas 42 Unidade I D Alternativa incorreta Justificativa reprodução assexuada no interior dos cistos presentes na parede gástrica do inseto E Alternativa incorreta Justificativa reprodução sexuada no estômago do mosquito reprodução assexuada no interior dos cistos presentes na parede gástrica do inseto Questão 2 Sudamérica 2011 Considere a imagem a seguir retratando um tipo de moradia ainda muito comum no interior do país Figura 15 Esse tipo de moradia não é recomendado pela OMS uma vez que A Favorece a instalação de morcegos vetores de graves doenças ao homem como por exemplo a febre maculosa B Favorece a instalação de barbeiros insetos vetores do Trypanosoma cruzi C Favorece a instalação de escorpiões insetos que podem provocar a morte de crianças com suas picadas D Favorece a contaminação por ancilostomose visto que os ovos do parasita passam a dispor de um ambiente mais favorável à sua eclosão E Favorece a contaminação de mosquito transmissor da dengue Resposta correta alternativa B 43 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE INFECÇÕES PARASITÁRIAS Análise das alternativas A Alternativa incorreta Justificativa morcegos podem transmitir raiva e a febre maculosa é causada pela picada de carrapato infectado por bactérias da família Rickettsia B Alternativa correta Justificativa a foto mostra uma casa de pauapique Este tipo de moradia possui muitas frestas na parede onde o barbeiro vetor do Trypanosoma cruzi se esconde durante o dia À noite ao sair para se alimentar acaba transmitindo o Trypanosoma cruzi para a pessoa Cabe ressaltar que a contaminação não ocorre durante a picada do barbeiro O protozoário é eliminado nas fezes do inseto e penetra pela pele Disponível em httpswwwvestibulandowebcombreducacaobiologia questoescomentadasprotozoarios Acesso em 3 jun 2020 C Alternativa incorreta Justificativa escorpiões são aracnídeos e se instalam em locais quentes e úmidos D Alternativa incorreta Justificativa a contaminação por ancilostomose se dá por verme quando a pele entra em contato com solo contaminado assim como mãos contaminadas que vão à boca sem serem lavadas E Alternativa incorreta Justificativa o Aedes vetor geralmente busca água parada para se proliferar