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O SISTEMA PRONOMINAL DO PORTUGUÊS DO BRASIL Odete Pereira da Silva Menon A grande maioria dos manuais escolares continua a apresentar o para digma dos pronomes pessoais sujeito doravante PSUJ como consti tuído das formas eutuele nósvóseles respectivamente pessoas do singular e do plural independentemente das mudanças já ocorridas e reconhe cidas como tais nesse sistema1É um fato inquestionável que vos já desapareceu completamente do uso tanto oral como escrito no português do Brasil doravante PB independente de região salvo nas mesmas gramáticas escolares Versões anteriores deste texto foram apresentadas e discutidas no Curso de Extensão em Língua Portuguesa promovido pelo Departamento de Lingüística Letras Clássicas c Vernáculas da Universidade Federal do Paraná Curitiba 310893 a 040993 e na mesaredonda Estratégias para a interface com a escola promovida pelo GT de Sociolingüística no IX Encontro Nacional da ANPOLL Associação Nacional de Pesquisa e PósGraduação em Letras e Lingüística realizado em Caxambu MG de 12 a 160694 Partes da primeira versão deste artigo foram lidas e comentadas por Basilio Agostini Iara Bemquerer Costa e José Luiz da Veiga Mercer aos quais agradeço pelas sugestões Universidade Federal do Paraná 1 A noção de sistema empregada aqui corresponde às noções de sistema estabelecidas por Saussure 1955 e posteriormente por Coseriu 1979 a língua é um sistema abstrato de relações oposilivas ao qual o falante não tem acesso direto ele só acede a este sistema via enunciados efetivamente produzidos Este sistema é composto de subsistemas fonológico morfológico sintático ou morfossintático segundo alguns autores semântico O sistema dos pronomes pessoais seria então uma parte do subsistema morfológico ou morfossintático que se oporia ao sistema dos pronomes pessoais objeto por exemplo constituindo ele mesmo um conjunto de relações abstratas cujas oposições significativas seriam os traços singular e pessoa de um lado e depois no traço pessoa haveria uma oposição 1 pessoa ou 21 pessoa segundo se queira privilegiar uma delas Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR 91 MENON O P da S O sistema pronominal do portugués onde ainda se defende e se impõe o conhecimento e uso desta forma de maneira artificial O mesmo não acontece seguramente com o seu correlato do singular pois embora o uso de você seja uma realidade na maior parte do Brasil ainda subsistem áreas mais ou menos definidas onde a vitalidade do uso de tu é característica dos dialetos2 Paralelamente aos PSUJ está a situação dos pronomes pessoais objeto diretos e indiretos doravante POBJ assim como a dos pronomes posses sivos doravante PPOS associados intimamente aos PSUJ Exemplos são a não aceitação da substituição do POBJ o pelo pronome ele na função anafórica de objeto direto3 ou seu como pronome de segunda pessoa ou ainda dele como PPOS de terceira pessoa A nãocompreensão por desconhecimento ou por caturrice das modifi cações ocorridas ao longo do tempo no sistema pronominal e verbal do português tem gerado uma série de confusões na interpretação de certos fatos Vou arrolar um exemplo recente em que a articulista faz uma afirmação no mínimo equivocada sobre os PPOS no português ao tentar explicar uma dificuldade no aprendizado da língua inglesa por parte dos estudantes brasilei ros Essa postura parece ser prototípica daqueles que lidam no diaadia com o ensino de línguas O desconhecimento de como funciona a língua materna faz produzir equívocos dc toda ordem Assim Bittencourt 1993 p63 ss discorrendo sobre a teoria da trans ferência fundamento psicológico da análise contrastiva diz que ela seria a responsável por uma série de interferências do sistema do português no aprendi zado do inglês por estudantes brasileiros Uma dessas transferências de sistema seria um dos erros mais comuns cometidos por estudantes brasileiros na área da gramática a Shes a student your name is Mary The reason for this error is that in Portuguese the possessive adjectives do not agree with the possessor Ela é uma estudante seu nome é Maria p 66 2 Dialeto é empregado no sentido de qualquer variedade da língua histórica geográfica social estilística 3 ele POBJ não se confunde com ele PSUJ em função de vários fatores entre os quais a ordem dos elementos na frase Poderiam ser chamados de formas homônimas assim como o pronome você na mesma situação conforme será exposto mais adiante 92 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués No final do artigo voltarei a comentar a colocação acima após ter discutido as modificações ocorridas no sistema pronominal do português4 No Quadro I o sistema corresponde ao que normalmente é veiculado nos manuais escolares Quadro I Sistema Pronominal PESSOA PSUJ POBJDIR POBJIND POBJPREP PPOS 1 Sin eu me me mim meu minha 2 Sin tu te te ti teu tua 3 Sins ele ela o a lhe si ele ela seu sua 1 Plur nós nos nos nós nosso nossa 2 Plur vós vos vos vós vosso vossa 3 Plur eles elas os as Iii es si eles elas seu sua Evolução do sistema de representação da 2apessoa as modificações de forma no pronome referente às segundas pessoas do discurso começou pela forma plural por ser esta a menos marcada No português medieval ate o século XIV Faraco 1982 p 185 a forma vós tanto podia ser empregada quando havia mais de um interlocutor correspondendo à noção de 2a pessoa do plural como quando havendo um único interlocutor de posição social ou hierárquica mais elevada ou por razões de idade as convenções sociais vigentes exigiam do falante a utilização de uma forma de tratamento respeitoso O vos nesse caso era a forma polida de se dirigir ao interlocutor como acontece ainda hoje em línguas como o francês em que a oposição tuvous é produtiva íntimoformal ou respeitoso O tratamento com tu era reservado para os iguais ou de superior para inferior sendo por conseguinte bem marcado Para se entender a noção de marca devese levar em conta que uma pessoa não podia empregar tu ao se dirigir a outra desconhecida Isso seria violar as regras de conduta da sociedade da época por ter a forma tu um uso bem específico em casos bem determinados Ao contrário a forma vós podia ser empregada mais largamente por não ter restrições de uso sendo assim menos marcada não se transgride nenhuma regra social não se ofende ninguém com um tratamento respeitoso Ao lado dessa forma polida de 2a pessoa como decorrência de modifi cações profundas na economia e nas relações sociais na sociedade portuguesa 4 Não são discutidas no presente trabalho as questões que envolvem o pronome se na função de sujeito pois foi objeto de outro estudo Mcnon 1993 93 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués e como conseqüência nas formas de tratamento para expressar tais relações no século XIV e sobretudo no século XV houve a introdução de formas mais respeitosas para se dirigir ao rei5 Vossa Mercê Vossa Senhoria Vossa Alteza Vossa Excelência Vossa Majestade Tais construções por eqüivalerem a uma locução nominal substantiva empregavam o verbo na 3a pessoa Vossa Nome observese que vossa de vós forma respeitosa de tratamento Dessas a mais antiga parece ser Vossa Mercê documentada em um texto das Cortes de 1331 Faraco 1982 p190 citando Santos Luz Por sua vez Koss Senhoria está documentada em 1434 Vossa Majestade em 1442 Vssa Alteza em 1450 e Vossa Excelência em 1455 Segundo Faraco 1982 p 191 Kassa Mercê e Vossa Senhoria são criações tipicamente medievais que refletem duas das principais instituições medievais a mercê do rei o qual distribuía a justiça e a proteção real e o senhorio ou o poder feudal propriedade de vastos domínios e direito à vas salagem No entanto com as modificações havidas na sociedade portuguesa ambas as formas em função da alteração de valores que elas expressavam passaram a ser empregadas como formas habituais de tratamento nãoíntimo entre os nobres isto é entre iguais os quais também exigiam essa forma de tratamento respeitosa da parte de pessoas de posição social inferior quando se dirigiam aos nobres As pessoas das categorias sociais mais baixas imitavam os nobres e também utilizavam as formas respeitosas na mesma escala isto é servos e artesãos se tratavam respeitosamente como os nobres o faziam entre si Assim tais formas acabaram perdendo seu valor honorífico e em seguida passaram sobretudo Vossa Mercê a ser empregadas por todo mundo O resul 5 Com o declínio do sistema feudal e da ascensão da burguesia o rei tinha se ornado uma personagem sem par Lembrese sempre que no sistema feudal o rei era um entre muitos pares isto é os senhores feudais Em geral o rei era o senhor que conseguia manter o maior número de vassalos e como coaseqüència tinha mais poderes que os outros senhores feudais pois quanto mais vassalos tinha um senhor mais dispunha de exército poder força e por mais tempo já que a vassalagem era um serviço militar gratuito e obrigatório por determinado tempo devido pelo vassalo Segundo Faraco 1982 p 186 ss a ascensão ao poder de João I 13831433 como resultado da chamada revolução de 1383 apoiado pela alta burguesia fez desaparecer quase por completo a antiga nobreza da época da Reconquista que havia apoiado a regente Leonor Telles e o rei de Castcla contra João de Avis filho bastardo de Pedro I Essa burguesia passa a ser a nova aristocracia rica adquirindo cada vez mais terras e se beneficiando da expansão colonial do século XV Conseqüentemente o governo real se firmou e se expandiu assim como as necessidades da administração do enorme império colonial A corte foi ficando cada vez mais numerosa exigente e luxuosa o protocolo das novas relações foi se tornando cada vez mais elaborado e formal Assim novos hábitos de vestir comer e de se relacionar foram introduzidos e adotados E a linguagem tinha que se adaptar a essa reformulação da sociedade produzindo expressões verbais adequadas às novas relações e situações 94 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués tado como seria de esperar é que essas formas deixaram de ser usadas cm relação ao rei para este segundo os textos das Cortes passou a ser preferida a forma Vossa Alteza de 44 em 145554 em 1477 para 99 cm 1490 Kassa Mercê perde terreno para Vossa Senhoria cm 1477 18 e 28 respectiva mente até desaparecer dos textos em 1490 cf Faraco 1982 p193 citando Santos Luz onde se pode obter uma descrição mais detalhada do processo de mudança Assim Vossa Alteza e ossa Majestade passam a ser o tratamento dirigido ao rei por volta do final de século XV e começo do século XVI com o segundo substituindo gradualmente o primeiro que se especializa no trata mento do restante da família real conforme os decretos reais de 1597 e 1739 Como vimos Vossa Mercê desapareceu do uso honorífico das Cortes em 1490 Já estava sendo empregado por uma parcela considerável da população provavelmente ainda com valor respeitoso mas sem a dignidade de forma honorífica Essa expansão no uso vai acarretar mudanças de ordem fonética na expressão Vários autores já se ocuparam das diferentes formas da evolução Vossa Mercê você e por conseguinte cê no PB no português do Brasil e de Portugal Nascentes 1956 Amaral 1920 Faraco 1982 Paiva Boléo 1946 Rodrigues Lapa 1970 entre outros É importante destacar que a foima você oriunda de uma forma honorífica seguiu uma trajetória de modificação de valor ao lado da modificação fonética No entanto sempre foi uma forma de se dirigir ao interlocutor a clássica segunda pessoa primeiro numa relação de inferior para superior em seguida numa relação de igual para igual e de superior para inferior ou em outras palavras de um tratamento nãoíntimo para um trata mento íntimo No Brasil diferentemente de Portugal a forma vocês passou a ser a forma de tratamento íntimo em quase todo o país provavelmente em decorrência do uso desde o início da colonização de formas variantes de Vossa Mercê para o tratamento da segunda pessoa Cabe lembrar que quando o Brasil começou a ser colonizado em Portugal já estava avançado o processo de arcaização do vós que segundo Lindley Cintra apud Faraco 1982p203 se tornou comple tamente arcaico no século XVIII assim como o processo de mutação fonética de Vossa Mercê na época já utilizado em Portugal entre os nãonobres 6 Ver no entanto a afirmação de Epiphanio Dias 1970 1916p23 a propósito do uso de vocês em Portugal No sul do pais não se costuma empregar na prática familiar a 2pessoa do plural mas a 3por isso que substituimos o pronome vós pela palavra vocês No 69 alínea c do capítulo em que trata dos pronomes referese novamente a esse uso No sul do país não costiunamos empregar na conversação o plural do proit da 2pess substituimos a forma vos do compl directo por osas vos indirecto por lhes vós por vocês p 73 95 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués Com a introdução desse novo par vocêvocês para o tratamento da segunda pessoa a língua passou a ter uma assimetria no paradigma dos PSUJ as novas formas passaram a coocorrer com a antiga oposição tuvós suplantando primeiro a forma vós que como vimos se tornou arcaica Assim vocês se integrou completamente no paradigma caracterizando basicamente o plural real da segunda pessoa os falantes percebem ali a marca de plural o que não acontecia com o outro par constituído de palavras diferentes Porém o antigo uso respeitoso do plural continua a existir nessa nova forma não com a mesma intensidade ou vitalidade mas é ainda perceptível e válido em algumas situações Quem ainda não se sentiu levemente embaraçado em se decidir entre o uso de você e o de o a senhor a ao telefonar a uma empresa ou a chegar numa loja ou escritório e perguntar à pessoa 1 vocês fazem isso ou 2 vocês fornecem o produto xl ou 3 vocês dão desconto embora se dirigindo a uma única pessoa No singular continua a haver a coocorrência e a concorrência das formas tavocê com o senso comum indica e os estudos comprovam uma nítida predominância no uso do você salvo em algumas regiões do país Mas mesmo nessas regiões Santa Catarina Rio Grande do Sul algumas áreas do Norte e do Nordeste ainda não bem delimitadas podese observar um fenômeno interes sante do ponto de vista da variação lingüística há casos de uso do pronome tu seguido do verbo sem a marca de segunda pessoa Eu prefiro utilizar essa explicação à tradicionalmente usada que consiste em dizer que o verbo está na terceira pessoa pelo motivos que passo a expor na seqüência Composição do paradigma dos PSUJ após a modificação das formas de segunda pessoa com a introdução de uma nova forma para as segundas pessoas o paradigma verbal também sofreu modificações Isso é resultado da contínua imperfeição do sistema lingüístico uma modificação em alguma parte do sistema sempre acarreta modificações em outras partes Como tal fato se apresenta com a modificação sofrida no PSUJ Historicamente como foi demonstrado a forma vocês originase de uma locução nominal constituída de um pronome possessivo mais um substan tivo e nessa categoria passa a requerer o verbo na terceira pessoa No entanto durante o processo de modificação fonética e de valor social a forma se pronominalizou isto é passou por um processo de gramaticalização mudando de categoria de nome visto que uma locução nominal segundo a gramática tradicional equivale a um nome substantivo ou adjetivo exercendo as 96 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués mesmas funções gramaticais para pronome Este novo pronome 6 de segunda pessoa logo a forma verbal que o acompanha também passa a ser uma forma de segunda pessoa Então não faz sentido algum continuar a dizer que o verbo está na terceira pessoa com um pronome de segunda pessoa Essa afirmação contrariaria inclusive uma das regras do sistema de concordância verbal do português o verbo deve concordar com o sujeito em número e pessoa O que a língua portuguesa passa a ter em função da modificação do PSUJ é uma reestruturação no seu paradigma verbal em que a segunda pessoa do singular passa a ter duas formas uma continua a ter o morfema tradicional por exemplo s para o presente do indicativo e a outra apresenta um morfema 4 de pessoa segundo o pronome pessoal que o falante utiliza Assim num dialeto em que os falantes usam consistentemente a forma tu c de se esperar que a forma verbal seja produzida com o morfema tradicionalmente atribuído à 2 pessoa do singular Paralelamente um falante dc um dialeto que emprega de maneira consiste o pronome você utilizará a forma verbal portadora do morfema j E são essas duas formas que coexistem hoje para a expressão da segunda pessoa Tal afirmação seria totalmente verdadeira não fossem certos usos já fartamente mencionados na literatura lingüística Faraco 1982 p 200 por exemplo e até referidos por alguns autores de gramáticas como desvios ultrajantes da língua portuguesa Tratase da utilização do pronome tu seguido de forma verbal com morfema f A minha hipótese é a de que os falantes interiorizaram a forma verbal com morfema c como a marca de segunda pessoa e a variação recai simples mente no uso do pronome Assim no paradigma verbal já teria havido a mudança de forma e a variação continuaria a existir a nível de escolha determinada pelo dialeto que o falante utiliza entre dois pronomes possíveis tu ou você Um fator a reforçar essa hipótese é a utilização mesmo por falantes onde tu é a forma preferida no singular da forma plural vocês Como vocês é o plural de tu basta subtrair da forma verbal o morfema de plural m e se disporá da forma singular à qual se adiciona o pronome tu Se essa hipótese é verdadeira resta ainda saber como o sistema lingüís tico vai lidar com uma identidade de formas no paradigma verbal já mencionada acima não há mais diferença formal isto é morfológica entre a segunda e a terceira pessoas tanto do singular como do plural Ao que tudo indica para 97 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués h t compensar a ambigüidade de formas os falantes estão se servindo cada vez mais dos pronomes sujeitos expressos ou seja as desinencias verbais não conseguem mais definir os sujeitos por isso é necessário exprimilos ver Tarailo 1991 Paredes da Silva 1991 Scherre 1991 Omena 1992 Duarte 1993 entre outros Uma outra prova de que os falantes estão preenchendo a casa do sujeito com um pronome ou um sujeito lexical é o fato de mesmo na Ia pessoa tanto do singular como do plural esta a mais marcada de todas pois em todos os tempos e modos verbais ela tem o morfema mos a presença do PSUJ correspondente é uma realidade constatada Assim não é um fato isolado o uso do pronome de 2a ou 3a pessoa verbal para resolver a ambigüidade da forma verbal Tratase de um movimento de alcance mais amplo que reestrutura globalmente o sistema lingüístico que tenta se aperfeiçoar sempre compen sando as assimetrias que as mudanças lingüísticas causam Modificações ocorridas no POBJ tradicionalmente os pronomes pes soais que exercem função de objeto são classificados como diretos e indiretos c tônicos ou átonos Mesmo na gramática tradicional se percebeu que os pronomes átonos somente apresentam diferenciação na 3a pessoa em que há formas distintas para os objetos direto e indireto ooslhes Nas primeiras pessoas mete são formas homônimas Reconhecese há algum tempo um declínio acentuado no uso do pronome objeto direto de 3a pessoa no PB Costumase dizer que na língua popular descuidada o objeto direto passou a ser expresso pelo pronome ele Basta aguçar o ouvido cm qualquer situação para verificar que tal uso não se restringe às classes populares ele já atingiu pessoas de classes sociais e escolaridade mais elevadas Até o professor de português utiliza ele cm função objetiva porém depois nega veementemente que usou Como em toda variação existem formas que são mais marcadas e outras que são menos marcadas por isso aceitas Por exemplo no caso do ele 7 Em alguns tempos verbais há total coincidência de formas nas três pessoas do singular como é o caso do imperfeito do indicativo e do subjuntivo Seria possível falar então que as formas são nãomarcadas c que a sua identificação se daria por meio do uso do pronome sujeito que seria em certas situações imprescindível para identificar o antecedente Além disso o reconhecimento de uma forma nãomarcada para o português daria conta de outras situações como aquela de a geme que pode indicar além de uma terceira pessoa referente indeterminada o também a 1 pessoa do singular ou do plural Conseqüentemente nossa afirmação acima de que a forma verbal que acompanha o pronome você c de segunda pessoa deveria ser reformulada não seria mais a forma verbal que marcaria a pessoa mas o pronome sujeito Visto que a língua se serve de uma forma verbal nãomarcada para o traço pessoa este vai determinado exclusivamente pelo pronome a ser empregado pelo falante nessa situação não se encaixaria a referência à 1 pessoa do singular Este fato também iria modificar os princípios da concordância verbal em português 98 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués 8 ninguém ou quase ninguém chamaria a atenção de alguém que admiüsse o seguinte enunciado 4 Deixe ele falar A argumentação poderia levar em conta o fato de que ele é sujeito de falar portanto a construção seria boa Ora segundo a gramática tradicional tratase de uma construção em que o pronome é ao mesmo tempo o objeto direto de um verbo e o sujeito do outro A construção canónica deveria ser então 5 para cumprir as regras prescritas pela gramática normativa 5 Deixeo falar No entanto a gramáüca normativa impõe um uso prescritivo dc formas baseado quase sempre em critérios obscuros9 porém a língua enquanto sistema tem a sua gramática que procura harmonizar e regularizar as oposições pertinentes No nosso exemplo duas explicações são possíveis A primeira é considerar aquilo que os pesquisadores vem estudando sob o título de apa gamento do clítico objeto ou seja o falo de o português permitir que não se expresse o objeto direto fato percebido e explicado por muitos autores Galves Pagotto Raposo Farrcll Nessa perspectiva o verbo deixe não teria o seu complemento direto expresso ele seria j ou nulo ou apagado segundo as várias terminologias e ele seria o sujeito expresso de falar Vejase como essa postura reforçaria fato anteriormente mencionado o do uso cada vez mais freqüente do sujeito expresso Ela é também menos estigmatizada c por isso mais bem aceita cjue a segunda apesar de fazer referência a fato posterior na história da língua Na segunda possibilidade ele seria considerado o complemento direto de deixe e o sujeito de falar estaria oculto ou nulo ou vazio ou apagado pois a língua não aceita ao que parece a repetição em casos como este g PEREIRA 1948 p 219 no entanto ainda considerava essa construção um erro vulgar Porém o fato de ele condenar semelhante construção significa que o emprego já era suficientemente corrente para provocar tal reação num gramático o que ateta a sua vitalidade c é um dado a se considerar na variação do emprego do pronome pessoal sujeito cm concorrência com o pronome objeto 9 Por exemplo nesse caso não é somente o pronome que constitui o objeto direto de deixe O verbo constitutivo dessa oração teria o seu sentido completado por tudo o que vem depois c o pronome faz parte do objeto direto ao mesmo tempo em que é sujeito do infinitivo Agradeço a Basilio Agostini a menção a este fato 10 José Luiz Mercer me fez a observação de que o fenômeno do uso de ele por o é historicamente anterior ao apagamento do clítico além de ter área de difusão muito mais abrangente que o segundo 99 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués 6 Deixe ele ele falar Parece que essa opção é muito mais marcada quer dizer choca muito mais do que a primeira Esta análise seria então considerada menos boa que a anterior na qual se a construção não corresponde à forma dita canónica as infrações contra a gramática normativa não são tão gritantes Elas são até plausíveis Em relação ao pronome indireto lhe o que se pode aventar é que ele passou por um processo de regularização dc formas à semelhança dos seus companheiros de paradigma mete Mas não foi simplesmente transformado em pronome bifuncional capaz de exercer duas funções Ele passou a ser empre gado junto com pronome você em razão provavelmente da origem do pro nome como aconteceu com a forma verbal correspondente o lhe teria sido carregado com o significado de 2 pessoa acompanhando o pronome você na sua jornada de pronominalização Daí apareceram na língua enunciados como 7 dirigido ao interlocutor1 7 Eu lhe 13 vi ontem no cinema Segundo a gramática normativa tal construção é uma aberração gramati cal decorrente da confusão e da mistura dos pronomes de pessoas diferentes Idénticamente seria um erro crasso produzir 8 caso que veremos a seguir 8 Você já fez o que te pedi Como se constata vários são os efeitos da introdução de você no paradigma dos PSUJ no PB O uso de lhete complementos dc verbos transitivos com o pronome você não pode e não deve ser considerado erro Há que se analisar cm que condições ocorrem as utilizações de lhete pois elas não são aleatórias Há várias possibilidades de combinação dos pronomes atualmente Em algumas variedades do PB é possível encontrar as correspondências canóni cas tute vocêlhe assim como vocête íntimo vocêlhe nãoíntimo 11 O uso do asterisco corresponde à nãogramaticalidade do enunciado segundo uma tradição que já tem foro na lingüística 12 Ao que tudo indica o enunciado Eu lhe vi ontem no cinema jamais seria empregado para fazer referência a uma terceira pessoa Dessa forma lite e ele não se confundem o primeiro faz referência ao interlocutor e o segundo indicaria uma outra pessoa não presente na situação dialógica 13 PEREIRA atenta para o falo de na língua antiga se admitir por ser corrente a construção de verbos como ver fazer ouvir com objeto direto lhe Fizlhes ou filos esperar 1948 P 219 100 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués Vou me basear aqui no dialeto empregado cm Curitiba no qual parece haver a utilização de ambas as formas com diferenciação segundo o interlocutor Parto da premissa a partir de observações assistcmálicas que mesmo o pro nome você no dialeto curitibano pode ser usado com valor íntimo c com valor respeitoso nesse caso também o uso de verbo na terceira pessoa sem sujeito expresso que seria unia estratégia de nãomarcação das relações de poder entre os interlocutores conforme foi demonstrado por Abreu 1987 além do uso das formas polidas oa senhora e que este uso vai se manifestar no emprego de lhete cm função de objeto Os enunciados 9 a 15 abaixo parecem ser representantes dessa constatação 9 Você disse que não linha carro mas cu te vi na festa 10 Eu te dou o que você quiser ao lado de 11 Disse que não tinha carro mas eu lhe vi na lesta 12 Eu lhe dou o que j quiser 13 Nós lhe fornecemos mercadoria na quantidade quequiser 14 Eu lhe laço companhia no aeroporto quando j lor viajar e 15 Eu te faço companhia no aeroporto quando você for viajar Ao lado dessas construções há a utilização ao que tudo indica cres cente do pronome pleno 16 Eu faço companhia a vocêao senhor no aeroporto quando vocêo senhor for viajar Modificações ocorridas no PPOS os pronomes possessivos são sempre apresentados depois dos pronomes pessoais e mostram as relações que mantêm com estes Os PPOS são então classificados como possessivos de lä 2ä ou 3ä pessoa meunosso teuvosso seu Já é possível perceber que existe ambigüi dade do pronome de 3ä pessoa cuja forma é comum ao singular e ao plural Alem dessa ambigüidade o pronome seu passou a ser utilizado também como 14 Parece que 110 PB jamais ocorreria 1 forma a si que seria empregada no portugués europeu cf Dias 1970 1916 p 72 A forma si seria a forma tônica correspondente conforme mimt ao uso com preposição porém ela solrc restrições por ser uma forma exclusivamente rellexiva no PB Há porem um uso que parece ser uin tamo empregado no dialeto curitibano que é o uso sempre condenado pelos professores da forma consigo em frases como Costaria ele falar consigo dirigida a uma pessoa mais velha ou dc posição social mais elevada 101 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués forma de 2a pessoa acompanhando o pronome vocês da mesma forma que o POBJ Assim temos no PB atualmente dois pronomes para 2a pessoa teuseu Em alguns dialetos parece ser a forma seu a empregada com mais freqüência noutros como parece ser o caso do dialeto curitíbano há o mesmo tipo de relação que o mencionado acima para os POBJ na situação de comunicação o inter locutor é que vai determinar qual o pronome a ser empregado Se as relações de intimidadenãointimidade de um lado e de poder de outro determinam as formas de tratamento formalinformal o senhorvocê vão também ser fatores de decisão no emprego dos possessivos teiseu que manifestem de alguma forma que mesmo o falante utilizando você existe algum tipo de cerceamento da intimidade Por exemplo se eu me dirigir a alguém que conheço a quem trate por você mas com quem não tenha intimidade cuja mãe esteja doente vou perguntar 17 Como vai a sua mãe Logo em seguida poderei dizer com toda naturalidade 18 O teu carro está consumindo muito Como podemos perceber há outros fatores além do puramente lingüís tico que entram em jogo no processo de comunicação e que não são meramente estilísticos à livre escolha do falante mas são regulados por mecanismos sociais Voltamos à questão do rearranjo no sistema Como é que a língua vai compensar esse movimento do pronome seu para 2a pessoa Adotando como possessivas formas compostas da preposição de os pronomes pessoais sujeito de 3a pessoa delesdelas15 Conseqüentemente o sistema pronominal se reestruturou preenchendo os vazios criados pelo deslocamento do pronome seu para o paradigma de 2a pessoa ao mesmo tempo que desfez a antiga ambigüidade ser idêntico para o singular e para o plural Mais que isso a nova 16 forma de possessivo está se estendendo para as outras pessoas em 15 Ver SILVA 1991 16 Ver no entanto a posição adotada por PERINI 1985 e a réplica de KATO 1985 no mesmo volume 102 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués alguns dialetos de vocês17 parece ser já unia forma corrente embora de mim de nós sofram ainda restrições O Quadro II abaixo esquematiza globalmente a nova distribuição dos pronomes pessoais sem conludo indicar qual a sua distribuição c combinação nas diferentes variedades do PB Não incluímos certas formas como o último caso mencionado acima por serem muito marcadas e de uso não muito freqüente ao que tudo indica Devese lembrar que existe ainda a possibilidade de objeto nulo no PB porém não marcamos essa opção no quadro Também não incluímos aqui a possibilidade de a gente representar a primeira pessoa do singular ou do plural Quadro II Sistema Pronominal em uso PES PSUJ pom DIR lOIU IN POIU PKEP lPOS 1 S eu me me mim meu minha 2 S tu voce te lhe se te lhese voce li leutuaseusua 3 S ele ela ele ela ele ela lhe ele ela si seu sun dele dela IP nós nos nos nós nosso nossa 2 P vocês vocês lhes se vocês lhes se vocês seus suas de vocês 3 P eles elas eles elas eles elas lhes eles elas si seus suas deles delas Ao que tudo indica é essa a composição atual do sistema pronominal pessoal no PB Entretanto cumpre observar que algumas das variações apresen tadas já se tornaram muchinça efetiva em algumas variedades do PB inclusive a padrão enquanto outras estão em plena efervescência sem lerem ainda se fixado Com base nas colocações acima podemos voltar agora a demonstrar por que a afirmação de Bittencourt não corresponde à realidade pronominal do PB A autora comete um equívoco pois não analisa adequadamente nem a causa da interferência nem por que razão o estudante produziria o enunciado usando your ao invés de her Não é seguramente pela razão que ela expôs E falso dizer que o possessivo não concorda com o possuidor no sistema do PB pelo menos em relação ao traço de pessoa Possivelmente a articulista 17 Igualmente dos senltoresdus scnliorass 18 A autora presenciou uma situação em julho de 1994 posterior portanto às primeiras redações do texto em que Julian um menino de 5 anos ao indagar aos pais apontando para determinado objeto Isso também é de nós recebeu deles corno resposta em uníssono Não é de nós tem que dizer nosso 103 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués quis se referir à concordância em gênero do PPOS que em inglês se faz tomando em consideração o sexo do possuidor mas isto não está claramente especificado no seu texto Sea menção diz respeito à concordância de pessoa ao menos na 38 pessoa essa concordância existe no PB e a tradução do enunciado em inglês deveria sen 19 Ela é uma estudante o nome dela é Maria Na tradução dada o seu nome é Maria a autora traduz perfeitamente bem a dificuldade do aluno mas sem atinar para o verdadeiro problema your é a tradução perfeita que o estudante brasileiro faz do PPOS seu Não se trata por conseguinte de falta concordância do pronome com o possuidor O que fica evidenciado é que nem o professor nem o estudante percebem ou sabem que existe como vimos uma ambigüidade de formas possessivas de 2i e 3S pessoa no PB e que essa ambigüidade não existe em inglês em que your é forma exclusiva de 2a pessoa O uso de your por um estudante brasileiro não tem pois relação alguma com o fato de em inglês o pronome possessivo concordar com o sexo do possuidor Se o professor ensinasse ao aluno que as formas possessivas hisher em inglês correspondem às portuguesas deledela haveria uma forte probabili dade de que os estudantes nunca mais errassem nessa construção RESUMO Partindo de uma afirmação de Bittencourt 1993 procuramos demonstrar que o desconhecimento tanto do estado atual do sistema pronominal do português do Brasil como do seu funcionamento pode provocar inúmeros problemas e equívocos no ensino de língua Palavraschave Sistema pronominal do PB Morfossintaxe Variação Pronomi nal 104 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués RESUME Prenant comme point de départ une affirmation de Bittencourt 1993 nous cherchons à démontrer comment létat actuel de méconnaissance du système pronominal du portugais du Brésil ainsi que de son fonctionnement provoque dinnombrables problèmes et malentendus dans lenseignement de la langue REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU María Teresa dos Santos Formas de tratamento no dialeto oral urbano de Curitiba 1987 Dissertação de Mestrado Universidade Federal de Santa Catarina AMARAL Amadeu O dialeto caipira gramática e vocabulário São Paulo O Livro 1920 277 p BITTENCOURT Ana Marilza The role of the first language in prononciation Letras Santa Maria n5 p 6379 janjun 1993 CHEDIAK Antônio José org A elaboração da iwmenclatura gramatical brasileira Rio de Janeiro MECDESCADES 1960 COSERIU Eugênio Teoria da linguagem e lingüistica geral cinco estudos Rio de Janeiro Presença São Paulo EDUSP 1979 CUNHA Celso CINTRA Luís F Lindley Nova gramática do português contem porâneo 3 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DIAS Augusto Epiphanio da Silva Syntaxe histórica portuguesa 5 ed Lisboa Livraria Clássica Editora 1970 19161918 446 p DUARTE Maria Eugênia Lamoglia Do pronome nulo ao pronome pleno a trajetória do sujeito no português do Brasil In ROBERTS Ian KATO Mary A orgs Português brasileiro uma viagem diacrônica Campinas Unicamp 1993 p107 128 KATO Mary A A complementaridade dos possessivos e das construções genitivas no português coloquial réplica a Perini 1985 DEL TA São Paulo n 1 2 p 107120 1985 FARACO Carlos Alberto The imperative sentence in Portuguese a semantic and historical discussion 1982Tese de doutoramento University of Salford UK FARREL Patrick Object demotion in Brazilian Portuguese Probus DordrechtHoi landRiverton USA n13 p341367 1989 GALVES Charlotte C O enfraquecimento da concordância no português brasileiro In ROBERTS Ian KATO Mary A orgs Portugués brasileiro uma viagem diacrônica Campinas Unicamp 1993 p 387408 MENON Odete Pereira da Silva Considerações em tomo do se 1 Se passivo Letras Curitiba n 4142 p 171198 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR 105 MENON O P da S O sistema pronominal do portugués NASCENTES Antenor 1922 O linguajar carioca 2 ed Complrefundida Rio de Janeiro Simões 19531922 221 p OMENA Nelize Pires de Influências morfosintáticas e semánticas In MOLLJCA María Cecilia org Introdução à sociolingüistica variacionista Rio de Janeiro UFRJ Cadernos Didáticos UFRJ 4 1992 PAGOTTO Emilio G Clíticos mudança e seleção natural In ROBERTS Ian KATO Maty A orgs Português brasileiro uma viagem diacrônica Campinas Unicamp p 185206 PAIVA BOLÉO M de Introdução ao estudo da filologia portuguesa Lisboa Revista de Portugal 1946 PAREDES DA SILVA Vera Lúcia Por trás das freqüências Organon Porto Alegre n 18 p23361991 PEREIRA Eduardo Carlos Gramática expositiva curso superior 73 ed São Paulo Nacional 1948 PERINI Mário A O surgimento do sistema possessivo do português coloquial uma interpretação funcional DELTA São Paulo n12 p 01161985 RAPOSO Eduardo On the null object in European Portuguese In JAEGGLI Osvaldo SILVACORVALÁN Carmen eds Studies in Romance Linguistics Publications in Language Sciences 24 Foris DordrechtHolland Riverton USA 1986 p373 390 RODRIGUES LAPA M Estilística da língua portuguesa Rio de Janeiro Acadêmica 1970 SAUSSURE Ferdinand de Cours de linguistique générale Paris Payot 1955 SCHERRE Maria Marta Pereira A concordância de número nos predicativos e par ticipios passivos Organon Porto Alegre n 18 p5270 SILVA Giselle Machline de Oliveira e Um caso de definitude Organon Porto Alegre n18 p 901081991 TARALLO Femando Reflexões sobre o conceito de mudança Organon Porto Alegre n 18 p1122 106 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR
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O SISTEMA PRONOMINAL DO PORTUGUÊS DO BRASIL Odete Pereira da Silva Menon A grande maioria dos manuais escolares continua a apresentar o para digma dos pronomes pessoais sujeito doravante PSUJ como consti tuído das formas eutuele nósvóseles respectivamente pessoas do singular e do plural independentemente das mudanças já ocorridas e reconhe cidas como tais nesse sistema1É um fato inquestionável que vos já desapareceu completamente do uso tanto oral como escrito no português do Brasil doravante PB independente de região salvo nas mesmas gramáticas escolares Versões anteriores deste texto foram apresentadas e discutidas no Curso de Extensão em Língua Portuguesa promovido pelo Departamento de Lingüística Letras Clássicas c Vernáculas da Universidade Federal do Paraná Curitiba 310893 a 040993 e na mesaredonda Estratégias para a interface com a escola promovida pelo GT de Sociolingüística no IX Encontro Nacional da ANPOLL Associação Nacional de Pesquisa e PósGraduação em Letras e Lingüística realizado em Caxambu MG de 12 a 160694 Partes da primeira versão deste artigo foram lidas e comentadas por Basilio Agostini Iara Bemquerer Costa e José Luiz da Veiga Mercer aos quais agradeço pelas sugestões Universidade Federal do Paraná 1 A noção de sistema empregada aqui corresponde às noções de sistema estabelecidas por Saussure 1955 e posteriormente por Coseriu 1979 a língua é um sistema abstrato de relações oposilivas ao qual o falante não tem acesso direto ele só acede a este sistema via enunciados efetivamente produzidos Este sistema é composto de subsistemas fonológico morfológico sintático ou morfossintático segundo alguns autores semântico O sistema dos pronomes pessoais seria então uma parte do subsistema morfológico ou morfossintático que se oporia ao sistema dos pronomes pessoais objeto por exemplo constituindo ele mesmo um conjunto de relações abstratas cujas oposições significativas seriam os traços singular e pessoa de um lado e depois no traço pessoa haveria uma oposição 1 pessoa ou 21 pessoa segundo se queira privilegiar uma delas Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR 91 MENON O P da S O sistema pronominal do portugués onde ainda se defende e se impõe o conhecimento e uso desta forma de maneira artificial O mesmo não acontece seguramente com o seu correlato do singular pois embora o uso de você seja uma realidade na maior parte do Brasil ainda subsistem áreas mais ou menos definidas onde a vitalidade do uso de tu é característica dos dialetos2 Paralelamente aos PSUJ está a situação dos pronomes pessoais objeto diretos e indiretos doravante POBJ assim como a dos pronomes posses sivos doravante PPOS associados intimamente aos PSUJ Exemplos são a não aceitação da substituição do POBJ o pelo pronome ele na função anafórica de objeto direto3 ou seu como pronome de segunda pessoa ou ainda dele como PPOS de terceira pessoa A nãocompreensão por desconhecimento ou por caturrice das modifi cações ocorridas ao longo do tempo no sistema pronominal e verbal do português tem gerado uma série de confusões na interpretação de certos fatos Vou arrolar um exemplo recente em que a articulista faz uma afirmação no mínimo equivocada sobre os PPOS no português ao tentar explicar uma dificuldade no aprendizado da língua inglesa por parte dos estudantes brasilei ros Essa postura parece ser prototípica daqueles que lidam no diaadia com o ensino de línguas O desconhecimento de como funciona a língua materna faz produzir equívocos dc toda ordem Assim Bittencourt 1993 p63 ss discorrendo sobre a teoria da trans ferência fundamento psicológico da análise contrastiva diz que ela seria a responsável por uma série de interferências do sistema do português no aprendi zado do inglês por estudantes brasileiros Uma dessas transferências de sistema seria um dos erros mais comuns cometidos por estudantes brasileiros na área da gramática a Shes a student your name is Mary The reason for this error is that in Portuguese the possessive adjectives do not agree with the possessor Ela é uma estudante seu nome é Maria p 66 2 Dialeto é empregado no sentido de qualquer variedade da língua histórica geográfica social estilística 3 ele POBJ não se confunde com ele PSUJ em função de vários fatores entre os quais a ordem dos elementos na frase Poderiam ser chamados de formas homônimas assim como o pronome você na mesma situação conforme será exposto mais adiante 92 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués No final do artigo voltarei a comentar a colocação acima após ter discutido as modificações ocorridas no sistema pronominal do português4 No Quadro I o sistema corresponde ao que normalmente é veiculado nos manuais escolares Quadro I Sistema Pronominal PESSOA PSUJ POBJDIR POBJIND POBJPREP PPOS 1 Sin eu me me mim meu minha 2 Sin tu te te ti teu tua 3 Sins ele ela o a lhe si ele ela seu sua 1 Plur nós nos nos nós nosso nossa 2 Plur vós vos vos vós vosso vossa 3 Plur eles elas os as Iii es si eles elas seu sua Evolução do sistema de representação da 2apessoa as modificações de forma no pronome referente às segundas pessoas do discurso começou pela forma plural por ser esta a menos marcada No português medieval ate o século XIV Faraco 1982 p 185 a forma vós tanto podia ser empregada quando havia mais de um interlocutor correspondendo à noção de 2a pessoa do plural como quando havendo um único interlocutor de posição social ou hierárquica mais elevada ou por razões de idade as convenções sociais vigentes exigiam do falante a utilização de uma forma de tratamento respeitoso O vos nesse caso era a forma polida de se dirigir ao interlocutor como acontece ainda hoje em línguas como o francês em que a oposição tuvous é produtiva íntimoformal ou respeitoso O tratamento com tu era reservado para os iguais ou de superior para inferior sendo por conseguinte bem marcado Para se entender a noção de marca devese levar em conta que uma pessoa não podia empregar tu ao se dirigir a outra desconhecida Isso seria violar as regras de conduta da sociedade da época por ter a forma tu um uso bem específico em casos bem determinados Ao contrário a forma vós podia ser empregada mais largamente por não ter restrições de uso sendo assim menos marcada não se transgride nenhuma regra social não se ofende ninguém com um tratamento respeitoso Ao lado dessa forma polida de 2a pessoa como decorrência de modifi cações profundas na economia e nas relações sociais na sociedade portuguesa 4 Não são discutidas no presente trabalho as questões que envolvem o pronome se na função de sujeito pois foi objeto de outro estudo Mcnon 1993 93 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués e como conseqüência nas formas de tratamento para expressar tais relações no século XIV e sobretudo no século XV houve a introdução de formas mais respeitosas para se dirigir ao rei5 Vossa Mercê Vossa Senhoria Vossa Alteza Vossa Excelência Vossa Majestade Tais construções por eqüivalerem a uma locução nominal substantiva empregavam o verbo na 3a pessoa Vossa Nome observese que vossa de vós forma respeitosa de tratamento Dessas a mais antiga parece ser Vossa Mercê documentada em um texto das Cortes de 1331 Faraco 1982 p190 citando Santos Luz Por sua vez Koss Senhoria está documentada em 1434 Vossa Majestade em 1442 Vssa Alteza em 1450 e Vossa Excelência em 1455 Segundo Faraco 1982 p 191 Kassa Mercê e Vossa Senhoria são criações tipicamente medievais que refletem duas das principais instituições medievais a mercê do rei o qual distribuía a justiça e a proteção real e o senhorio ou o poder feudal propriedade de vastos domínios e direito à vas salagem No entanto com as modificações havidas na sociedade portuguesa ambas as formas em função da alteração de valores que elas expressavam passaram a ser empregadas como formas habituais de tratamento nãoíntimo entre os nobres isto é entre iguais os quais também exigiam essa forma de tratamento respeitosa da parte de pessoas de posição social inferior quando se dirigiam aos nobres As pessoas das categorias sociais mais baixas imitavam os nobres e também utilizavam as formas respeitosas na mesma escala isto é servos e artesãos se tratavam respeitosamente como os nobres o faziam entre si Assim tais formas acabaram perdendo seu valor honorífico e em seguida passaram sobretudo Vossa Mercê a ser empregadas por todo mundo O resul 5 Com o declínio do sistema feudal e da ascensão da burguesia o rei tinha se ornado uma personagem sem par Lembrese sempre que no sistema feudal o rei era um entre muitos pares isto é os senhores feudais Em geral o rei era o senhor que conseguia manter o maior número de vassalos e como coaseqüència tinha mais poderes que os outros senhores feudais pois quanto mais vassalos tinha um senhor mais dispunha de exército poder força e por mais tempo já que a vassalagem era um serviço militar gratuito e obrigatório por determinado tempo devido pelo vassalo Segundo Faraco 1982 p 186 ss a ascensão ao poder de João I 13831433 como resultado da chamada revolução de 1383 apoiado pela alta burguesia fez desaparecer quase por completo a antiga nobreza da época da Reconquista que havia apoiado a regente Leonor Telles e o rei de Castcla contra João de Avis filho bastardo de Pedro I Essa burguesia passa a ser a nova aristocracia rica adquirindo cada vez mais terras e se beneficiando da expansão colonial do século XV Conseqüentemente o governo real se firmou e se expandiu assim como as necessidades da administração do enorme império colonial A corte foi ficando cada vez mais numerosa exigente e luxuosa o protocolo das novas relações foi se tornando cada vez mais elaborado e formal Assim novos hábitos de vestir comer e de se relacionar foram introduzidos e adotados E a linguagem tinha que se adaptar a essa reformulação da sociedade produzindo expressões verbais adequadas às novas relações e situações 94 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués tado como seria de esperar é que essas formas deixaram de ser usadas cm relação ao rei para este segundo os textos das Cortes passou a ser preferida a forma Vossa Alteza de 44 em 145554 em 1477 para 99 cm 1490 Kassa Mercê perde terreno para Vossa Senhoria cm 1477 18 e 28 respectiva mente até desaparecer dos textos em 1490 cf Faraco 1982 p193 citando Santos Luz onde se pode obter uma descrição mais detalhada do processo de mudança Assim Vossa Alteza e ossa Majestade passam a ser o tratamento dirigido ao rei por volta do final de século XV e começo do século XVI com o segundo substituindo gradualmente o primeiro que se especializa no trata mento do restante da família real conforme os decretos reais de 1597 e 1739 Como vimos Vossa Mercê desapareceu do uso honorífico das Cortes em 1490 Já estava sendo empregado por uma parcela considerável da população provavelmente ainda com valor respeitoso mas sem a dignidade de forma honorífica Essa expansão no uso vai acarretar mudanças de ordem fonética na expressão Vários autores já se ocuparam das diferentes formas da evolução Vossa Mercê você e por conseguinte cê no PB no português do Brasil e de Portugal Nascentes 1956 Amaral 1920 Faraco 1982 Paiva Boléo 1946 Rodrigues Lapa 1970 entre outros É importante destacar que a foima você oriunda de uma forma honorífica seguiu uma trajetória de modificação de valor ao lado da modificação fonética No entanto sempre foi uma forma de se dirigir ao interlocutor a clássica segunda pessoa primeiro numa relação de inferior para superior em seguida numa relação de igual para igual e de superior para inferior ou em outras palavras de um tratamento nãoíntimo para um trata mento íntimo No Brasil diferentemente de Portugal a forma vocês passou a ser a forma de tratamento íntimo em quase todo o país provavelmente em decorrência do uso desde o início da colonização de formas variantes de Vossa Mercê para o tratamento da segunda pessoa Cabe lembrar que quando o Brasil começou a ser colonizado em Portugal já estava avançado o processo de arcaização do vós que segundo Lindley Cintra apud Faraco 1982p203 se tornou comple tamente arcaico no século XVIII assim como o processo de mutação fonética de Vossa Mercê na época já utilizado em Portugal entre os nãonobres 6 Ver no entanto a afirmação de Epiphanio Dias 1970 1916p23 a propósito do uso de vocês em Portugal No sul do pais não se costuma empregar na prática familiar a 2pessoa do plural mas a 3por isso que substituimos o pronome vós pela palavra vocês No 69 alínea c do capítulo em que trata dos pronomes referese novamente a esse uso No sul do país não costiunamos empregar na conversação o plural do proit da 2pess substituimos a forma vos do compl directo por osas vos indirecto por lhes vós por vocês p 73 95 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués Com a introdução desse novo par vocêvocês para o tratamento da segunda pessoa a língua passou a ter uma assimetria no paradigma dos PSUJ as novas formas passaram a coocorrer com a antiga oposição tuvós suplantando primeiro a forma vós que como vimos se tornou arcaica Assim vocês se integrou completamente no paradigma caracterizando basicamente o plural real da segunda pessoa os falantes percebem ali a marca de plural o que não acontecia com o outro par constituído de palavras diferentes Porém o antigo uso respeitoso do plural continua a existir nessa nova forma não com a mesma intensidade ou vitalidade mas é ainda perceptível e válido em algumas situações Quem ainda não se sentiu levemente embaraçado em se decidir entre o uso de você e o de o a senhor a ao telefonar a uma empresa ou a chegar numa loja ou escritório e perguntar à pessoa 1 vocês fazem isso ou 2 vocês fornecem o produto xl ou 3 vocês dão desconto embora se dirigindo a uma única pessoa No singular continua a haver a coocorrência e a concorrência das formas tavocê com o senso comum indica e os estudos comprovam uma nítida predominância no uso do você salvo em algumas regiões do país Mas mesmo nessas regiões Santa Catarina Rio Grande do Sul algumas áreas do Norte e do Nordeste ainda não bem delimitadas podese observar um fenômeno interes sante do ponto de vista da variação lingüística há casos de uso do pronome tu seguido do verbo sem a marca de segunda pessoa Eu prefiro utilizar essa explicação à tradicionalmente usada que consiste em dizer que o verbo está na terceira pessoa pelo motivos que passo a expor na seqüência Composição do paradigma dos PSUJ após a modificação das formas de segunda pessoa com a introdução de uma nova forma para as segundas pessoas o paradigma verbal também sofreu modificações Isso é resultado da contínua imperfeição do sistema lingüístico uma modificação em alguma parte do sistema sempre acarreta modificações em outras partes Como tal fato se apresenta com a modificação sofrida no PSUJ Historicamente como foi demonstrado a forma vocês originase de uma locução nominal constituída de um pronome possessivo mais um substan tivo e nessa categoria passa a requerer o verbo na terceira pessoa No entanto durante o processo de modificação fonética e de valor social a forma se pronominalizou isto é passou por um processo de gramaticalização mudando de categoria de nome visto que uma locução nominal segundo a gramática tradicional equivale a um nome substantivo ou adjetivo exercendo as 96 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués mesmas funções gramaticais para pronome Este novo pronome 6 de segunda pessoa logo a forma verbal que o acompanha também passa a ser uma forma de segunda pessoa Então não faz sentido algum continuar a dizer que o verbo está na terceira pessoa com um pronome de segunda pessoa Essa afirmação contrariaria inclusive uma das regras do sistema de concordância verbal do português o verbo deve concordar com o sujeito em número e pessoa O que a língua portuguesa passa a ter em função da modificação do PSUJ é uma reestruturação no seu paradigma verbal em que a segunda pessoa do singular passa a ter duas formas uma continua a ter o morfema tradicional por exemplo s para o presente do indicativo e a outra apresenta um morfema 4 de pessoa segundo o pronome pessoal que o falante utiliza Assim num dialeto em que os falantes usam consistentemente a forma tu c de se esperar que a forma verbal seja produzida com o morfema tradicionalmente atribuído à 2 pessoa do singular Paralelamente um falante dc um dialeto que emprega de maneira consiste o pronome você utilizará a forma verbal portadora do morfema j E são essas duas formas que coexistem hoje para a expressão da segunda pessoa Tal afirmação seria totalmente verdadeira não fossem certos usos já fartamente mencionados na literatura lingüística Faraco 1982 p 200 por exemplo e até referidos por alguns autores de gramáticas como desvios ultrajantes da língua portuguesa Tratase da utilização do pronome tu seguido de forma verbal com morfema f A minha hipótese é a de que os falantes interiorizaram a forma verbal com morfema c como a marca de segunda pessoa e a variação recai simples mente no uso do pronome Assim no paradigma verbal já teria havido a mudança de forma e a variação continuaria a existir a nível de escolha determinada pelo dialeto que o falante utiliza entre dois pronomes possíveis tu ou você Um fator a reforçar essa hipótese é a utilização mesmo por falantes onde tu é a forma preferida no singular da forma plural vocês Como vocês é o plural de tu basta subtrair da forma verbal o morfema de plural m e se disporá da forma singular à qual se adiciona o pronome tu Se essa hipótese é verdadeira resta ainda saber como o sistema lingüís tico vai lidar com uma identidade de formas no paradigma verbal já mencionada acima não há mais diferença formal isto é morfológica entre a segunda e a terceira pessoas tanto do singular como do plural Ao que tudo indica para 97 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués h t compensar a ambigüidade de formas os falantes estão se servindo cada vez mais dos pronomes sujeitos expressos ou seja as desinencias verbais não conseguem mais definir os sujeitos por isso é necessário exprimilos ver Tarailo 1991 Paredes da Silva 1991 Scherre 1991 Omena 1992 Duarte 1993 entre outros Uma outra prova de que os falantes estão preenchendo a casa do sujeito com um pronome ou um sujeito lexical é o fato de mesmo na Ia pessoa tanto do singular como do plural esta a mais marcada de todas pois em todos os tempos e modos verbais ela tem o morfema mos a presença do PSUJ correspondente é uma realidade constatada Assim não é um fato isolado o uso do pronome de 2a ou 3a pessoa verbal para resolver a ambigüidade da forma verbal Tratase de um movimento de alcance mais amplo que reestrutura globalmente o sistema lingüístico que tenta se aperfeiçoar sempre compen sando as assimetrias que as mudanças lingüísticas causam Modificações ocorridas no POBJ tradicionalmente os pronomes pes soais que exercem função de objeto são classificados como diretos e indiretos c tônicos ou átonos Mesmo na gramática tradicional se percebeu que os pronomes átonos somente apresentam diferenciação na 3a pessoa em que há formas distintas para os objetos direto e indireto ooslhes Nas primeiras pessoas mete são formas homônimas Reconhecese há algum tempo um declínio acentuado no uso do pronome objeto direto de 3a pessoa no PB Costumase dizer que na língua popular descuidada o objeto direto passou a ser expresso pelo pronome ele Basta aguçar o ouvido cm qualquer situação para verificar que tal uso não se restringe às classes populares ele já atingiu pessoas de classes sociais e escolaridade mais elevadas Até o professor de português utiliza ele cm função objetiva porém depois nega veementemente que usou Como em toda variação existem formas que são mais marcadas e outras que são menos marcadas por isso aceitas Por exemplo no caso do ele 7 Em alguns tempos verbais há total coincidência de formas nas três pessoas do singular como é o caso do imperfeito do indicativo e do subjuntivo Seria possível falar então que as formas são nãomarcadas c que a sua identificação se daria por meio do uso do pronome sujeito que seria em certas situações imprescindível para identificar o antecedente Além disso o reconhecimento de uma forma nãomarcada para o português daria conta de outras situações como aquela de a geme que pode indicar além de uma terceira pessoa referente indeterminada o também a 1 pessoa do singular ou do plural Conseqüentemente nossa afirmação acima de que a forma verbal que acompanha o pronome você c de segunda pessoa deveria ser reformulada não seria mais a forma verbal que marcaria a pessoa mas o pronome sujeito Visto que a língua se serve de uma forma verbal nãomarcada para o traço pessoa este vai determinado exclusivamente pelo pronome a ser empregado pelo falante nessa situação não se encaixaria a referência à 1 pessoa do singular Este fato também iria modificar os princípios da concordância verbal em português 98 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués 8 ninguém ou quase ninguém chamaria a atenção de alguém que admiüsse o seguinte enunciado 4 Deixe ele falar A argumentação poderia levar em conta o fato de que ele é sujeito de falar portanto a construção seria boa Ora segundo a gramática tradicional tratase de uma construção em que o pronome é ao mesmo tempo o objeto direto de um verbo e o sujeito do outro A construção canónica deveria ser então 5 para cumprir as regras prescritas pela gramática normativa 5 Deixeo falar No entanto a gramáüca normativa impõe um uso prescritivo dc formas baseado quase sempre em critérios obscuros9 porém a língua enquanto sistema tem a sua gramática que procura harmonizar e regularizar as oposições pertinentes No nosso exemplo duas explicações são possíveis A primeira é considerar aquilo que os pesquisadores vem estudando sob o título de apa gamento do clítico objeto ou seja o falo de o português permitir que não se expresse o objeto direto fato percebido e explicado por muitos autores Galves Pagotto Raposo Farrcll Nessa perspectiva o verbo deixe não teria o seu complemento direto expresso ele seria j ou nulo ou apagado segundo as várias terminologias e ele seria o sujeito expresso de falar Vejase como essa postura reforçaria fato anteriormente mencionado o do uso cada vez mais freqüente do sujeito expresso Ela é também menos estigmatizada c por isso mais bem aceita cjue a segunda apesar de fazer referência a fato posterior na história da língua Na segunda possibilidade ele seria considerado o complemento direto de deixe e o sujeito de falar estaria oculto ou nulo ou vazio ou apagado pois a língua não aceita ao que parece a repetição em casos como este g PEREIRA 1948 p 219 no entanto ainda considerava essa construção um erro vulgar Porém o fato de ele condenar semelhante construção significa que o emprego já era suficientemente corrente para provocar tal reação num gramático o que ateta a sua vitalidade c é um dado a se considerar na variação do emprego do pronome pessoal sujeito cm concorrência com o pronome objeto 9 Por exemplo nesse caso não é somente o pronome que constitui o objeto direto de deixe O verbo constitutivo dessa oração teria o seu sentido completado por tudo o que vem depois c o pronome faz parte do objeto direto ao mesmo tempo em que é sujeito do infinitivo Agradeço a Basilio Agostini a menção a este fato 10 José Luiz Mercer me fez a observação de que o fenômeno do uso de ele por o é historicamente anterior ao apagamento do clítico além de ter área de difusão muito mais abrangente que o segundo 99 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués 6 Deixe ele ele falar Parece que essa opção é muito mais marcada quer dizer choca muito mais do que a primeira Esta análise seria então considerada menos boa que a anterior na qual se a construção não corresponde à forma dita canónica as infrações contra a gramática normativa não são tão gritantes Elas são até plausíveis Em relação ao pronome indireto lhe o que se pode aventar é que ele passou por um processo de regularização dc formas à semelhança dos seus companheiros de paradigma mete Mas não foi simplesmente transformado em pronome bifuncional capaz de exercer duas funções Ele passou a ser empre gado junto com pronome você em razão provavelmente da origem do pro nome como aconteceu com a forma verbal correspondente o lhe teria sido carregado com o significado de 2 pessoa acompanhando o pronome você na sua jornada de pronominalização Daí apareceram na língua enunciados como 7 dirigido ao interlocutor1 7 Eu lhe 13 vi ontem no cinema Segundo a gramática normativa tal construção é uma aberração gramati cal decorrente da confusão e da mistura dos pronomes de pessoas diferentes Idénticamente seria um erro crasso produzir 8 caso que veremos a seguir 8 Você já fez o que te pedi Como se constata vários são os efeitos da introdução de você no paradigma dos PSUJ no PB O uso de lhete complementos dc verbos transitivos com o pronome você não pode e não deve ser considerado erro Há que se analisar cm que condições ocorrem as utilizações de lhete pois elas não são aleatórias Há várias possibilidades de combinação dos pronomes atualmente Em algumas variedades do PB é possível encontrar as correspondências canóni cas tute vocêlhe assim como vocête íntimo vocêlhe nãoíntimo 11 O uso do asterisco corresponde à nãogramaticalidade do enunciado segundo uma tradição que já tem foro na lingüística 12 Ao que tudo indica o enunciado Eu lhe vi ontem no cinema jamais seria empregado para fazer referência a uma terceira pessoa Dessa forma lite e ele não se confundem o primeiro faz referência ao interlocutor e o segundo indicaria uma outra pessoa não presente na situação dialógica 13 PEREIRA atenta para o falo de na língua antiga se admitir por ser corrente a construção de verbos como ver fazer ouvir com objeto direto lhe Fizlhes ou filos esperar 1948 P 219 100 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués Vou me basear aqui no dialeto empregado cm Curitiba no qual parece haver a utilização de ambas as formas com diferenciação segundo o interlocutor Parto da premissa a partir de observações assistcmálicas que mesmo o pro nome você no dialeto curitibano pode ser usado com valor íntimo c com valor respeitoso nesse caso também o uso de verbo na terceira pessoa sem sujeito expresso que seria unia estratégia de nãomarcação das relações de poder entre os interlocutores conforme foi demonstrado por Abreu 1987 além do uso das formas polidas oa senhora e que este uso vai se manifestar no emprego de lhete cm função de objeto Os enunciados 9 a 15 abaixo parecem ser representantes dessa constatação 9 Você disse que não linha carro mas cu te vi na festa 10 Eu te dou o que você quiser ao lado de 11 Disse que não tinha carro mas eu lhe vi na lesta 12 Eu lhe dou o que j quiser 13 Nós lhe fornecemos mercadoria na quantidade quequiser 14 Eu lhe laço companhia no aeroporto quando j lor viajar e 15 Eu te faço companhia no aeroporto quando você for viajar Ao lado dessas construções há a utilização ao que tudo indica cres cente do pronome pleno 16 Eu faço companhia a vocêao senhor no aeroporto quando vocêo senhor for viajar Modificações ocorridas no PPOS os pronomes possessivos são sempre apresentados depois dos pronomes pessoais e mostram as relações que mantêm com estes Os PPOS são então classificados como possessivos de lä 2ä ou 3ä pessoa meunosso teuvosso seu Já é possível perceber que existe ambigüi dade do pronome de 3ä pessoa cuja forma é comum ao singular e ao plural Alem dessa ambigüidade o pronome seu passou a ser utilizado também como 14 Parece que 110 PB jamais ocorreria 1 forma a si que seria empregada no portugués europeu cf Dias 1970 1916 p 72 A forma si seria a forma tônica correspondente conforme mimt ao uso com preposição porém ela solrc restrições por ser uma forma exclusivamente rellexiva no PB Há porem um uso que parece ser uin tamo empregado no dialeto curitibano que é o uso sempre condenado pelos professores da forma consigo em frases como Costaria ele falar consigo dirigida a uma pessoa mais velha ou dc posição social mais elevada 101 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués forma de 2a pessoa acompanhando o pronome vocês da mesma forma que o POBJ Assim temos no PB atualmente dois pronomes para 2a pessoa teuseu Em alguns dialetos parece ser a forma seu a empregada com mais freqüência noutros como parece ser o caso do dialeto curitíbano há o mesmo tipo de relação que o mencionado acima para os POBJ na situação de comunicação o inter locutor é que vai determinar qual o pronome a ser empregado Se as relações de intimidadenãointimidade de um lado e de poder de outro determinam as formas de tratamento formalinformal o senhorvocê vão também ser fatores de decisão no emprego dos possessivos teiseu que manifestem de alguma forma que mesmo o falante utilizando você existe algum tipo de cerceamento da intimidade Por exemplo se eu me dirigir a alguém que conheço a quem trate por você mas com quem não tenha intimidade cuja mãe esteja doente vou perguntar 17 Como vai a sua mãe Logo em seguida poderei dizer com toda naturalidade 18 O teu carro está consumindo muito Como podemos perceber há outros fatores além do puramente lingüís tico que entram em jogo no processo de comunicação e que não são meramente estilísticos à livre escolha do falante mas são regulados por mecanismos sociais Voltamos à questão do rearranjo no sistema Como é que a língua vai compensar esse movimento do pronome seu para 2a pessoa Adotando como possessivas formas compostas da preposição de os pronomes pessoais sujeito de 3a pessoa delesdelas15 Conseqüentemente o sistema pronominal se reestruturou preenchendo os vazios criados pelo deslocamento do pronome seu para o paradigma de 2a pessoa ao mesmo tempo que desfez a antiga ambigüidade ser idêntico para o singular e para o plural Mais que isso a nova 16 forma de possessivo está se estendendo para as outras pessoas em 15 Ver SILVA 1991 16 Ver no entanto a posição adotada por PERINI 1985 e a réplica de KATO 1985 no mesmo volume 102 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués alguns dialetos de vocês17 parece ser já unia forma corrente embora de mim de nós sofram ainda restrições O Quadro II abaixo esquematiza globalmente a nova distribuição dos pronomes pessoais sem conludo indicar qual a sua distribuição c combinação nas diferentes variedades do PB Não incluímos certas formas como o último caso mencionado acima por serem muito marcadas e de uso não muito freqüente ao que tudo indica Devese lembrar que existe ainda a possibilidade de objeto nulo no PB porém não marcamos essa opção no quadro Também não incluímos aqui a possibilidade de a gente representar a primeira pessoa do singular ou do plural Quadro II Sistema Pronominal em uso PES PSUJ pom DIR lOIU IN POIU PKEP lPOS 1 S eu me me mim meu minha 2 S tu voce te lhe se te lhese voce li leutuaseusua 3 S ele ela ele ela ele ela lhe ele ela si seu sun dele dela IP nós nos nos nós nosso nossa 2 P vocês vocês lhes se vocês lhes se vocês seus suas de vocês 3 P eles elas eles elas eles elas lhes eles elas si seus suas deles delas Ao que tudo indica é essa a composição atual do sistema pronominal pessoal no PB Entretanto cumpre observar que algumas das variações apresen tadas já se tornaram muchinça efetiva em algumas variedades do PB inclusive a padrão enquanto outras estão em plena efervescência sem lerem ainda se fixado Com base nas colocações acima podemos voltar agora a demonstrar por que a afirmação de Bittencourt não corresponde à realidade pronominal do PB A autora comete um equívoco pois não analisa adequadamente nem a causa da interferência nem por que razão o estudante produziria o enunciado usando your ao invés de her Não é seguramente pela razão que ela expôs E falso dizer que o possessivo não concorda com o possuidor no sistema do PB pelo menos em relação ao traço de pessoa Possivelmente a articulista 17 Igualmente dos senltoresdus scnliorass 18 A autora presenciou uma situação em julho de 1994 posterior portanto às primeiras redações do texto em que Julian um menino de 5 anos ao indagar aos pais apontando para determinado objeto Isso também é de nós recebeu deles corno resposta em uníssono Não é de nós tem que dizer nosso 103 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués quis se referir à concordância em gênero do PPOS que em inglês se faz tomando em consideração o sexo do possuidor mas isto não está claramente especificado no seu texto Sea menção diz respeito à concordância de pessoa ao menos na 38 pessoa essa concordância existe no PB e a tradução do enunciado em inglês deveria sen 19 Ela é uma estudante o nome dela é Maria Na tradução dada o seu nome é Maria a autora traduz perfeitamente bem a dificuldade do aluno mas sem atinar para o verdadeiro problema your é a tradução perfeita que o estudante brasileiro faz do PPOS seu Não se trata por conseguinte de falta concordância do pronome com o possuidor O que fica evidenciado é que nem o professor nem o estudante percebem ou sabem que existe como vimos uma ambigüidade de formas possessivas de 2i e 3S pessoa no PB e que essa ambigüidade não existe em inglês em que your é forma exclusiva de 2a pessoa O uso de your por um estudante brasileiro não tem pois relação alguma com o fato de em inglês o pronome possessivo concordar com o sexo do possuidor Se o professor ensinasse ao aluno que as formas possessivas hisher em inglês correspondem às portuguesas deledela haveria uma forte probabili dade de que os estudantes nunca mais errassem nessa construção RESUMO Partindo de uma afirmação de Bittencourt 1993 procuramos demonstrar que o desconhecimento tanto do estado atual do sistema pronominal do português do Brasil como do seu funcionamento pode provocar inúmeros problemas e equívocos no ensino de língua Palavraschave Sistema pronominal do PB Morfossintaxe Variação Pronomi nal 104 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR MENON O P da S O sistema pronominal do portugués RESUME Prenant comme point de départ une affirmation de Bittencourt 1993 nous cherchons à démontrer comment létat actuel de méconnaissance du système pronominal du portugais du Brésil ainsi que de son fonctionnement provoque dinnombrables problèmes et malentendus dans lenseignement de la langue REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU María Teresa dos Santos Formas de tratamento no dialeto oral urbano de Curitiba 1987 Dissertação de Mestrado Universidade Federal de Santa Catarina AMARAL Amadeu O dialeto caipira gramática e vocabulário São Paulo O Livro 1920 277 p BITTENCOURT Ana Marilza The role of the first language in prononciation Letras Santa Maria n5 p 6379 janjun 1993 CHEDIAK Antônio José org A elaboração da iwmenclatura gramatical brasileira Rio de Janeiro MECDESCADES 1960 COSERIU Eugênio Teoria da linguagem e lingüistica geral cinco estudos Rio de Janeiro Presença São Paulo EDUSP 1979 CUNHA Celso CINTRA Luís F Lindley Nova gramática do português contem porâneo 3 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1985 DIAS Augusto Epiphanio da Silva Syntaxe histórica portuguesa 5 ed Lisboa Livraria Clássica Editora 1970 19161918 446 p DUARTE Maria Eugênia Lamoglia Do pronome nulo ao pronome pleno a trajetória do sujeito no português do Brasil In ROBERTS Ian KATO Mary A orgs Português brasileiro uma viagem diacrônica Campinas Unicamp 1993 p107 128 KATO Mary A A complementaridade dos possessivos e das construções genitivas no português coloquial réplica a Perini 1985 DEL TA São Paulo n 1 2 p 107120 1985 FARACO Carlos Alberto The imperative sentence in Portuguese a semantic and historical discussion 1982Tese de doutoramento University of Salford UK FARREL Patrick Object demotion in Brazilian Portuguese Probus DordrechtHoi landRiverton USA n13 p341367 1989 GALVES Charlotte C O enfraquecimento da concordância no português brasileiro In ROBERTS Ian KATO Mary A orgs Portugués brasileiro uma viagem diacrônica Campinas Unicamp 1993 p 387408 MENON Odete Pereira da Silva Considerações em tomo do se 1 Se passivo Letras Curitiba n 4142 p 171198 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR 105 MENON O P da S O sistema pronominal do portugués NASCENTES Antenor 1922 O linguajar carioca 2 ed Complrefundida Rio de Janeiro Simões 19531922 221 p OMENA Nelize Pires de Influências morfosintáticas e semánticas In MOLLJCA María Cecilia org Introdução à sociolingüistica variacionista Rio de Janeiro UFRJ Cadernos Didáticos UFRJ 4 1992 PAGOTTO Emilio G Clíticos mudança e seleção natural In ROBERTS Ian KATO Maty A orgs Português brasileiro uma viagem diacrônica Campinas Unicamp p 185206 PAIVA BOLÉO M de Introdução ao estudo da filologia portuguesa Lisboa Revista de Portugal 1946 PAREDES DA SILVA Vera Lúcia Por trás das freqüências Organon Porto Alegre n 18 p23361991 PEREIRA Eduardo Carlos Gramática expositiva curso superior 73 ed São Paulo Nacional 1948 PERINI Mário A O surgimento do sistema possessivo do português coloquial uma interpretação funcional DELTA São Paulo n12 p 01161985 RAPOSO Eduardo On the null object in European Portuguese In JAEGGLI Osvaldo SILVACORVALÁN Carmen eds Studies in Romance Linguistics Publications in Language Sciences 24 Foris DordrechtHolland Riverton USA 1986 p373 390 RODRIGUES LAPA M Estilística da língua portuguesa Rio de Janeiro Acadêmica 1970 SAUSSURE Ferdinand de Cours de linguistique générale Paris Payot 1955 SCHERRE Maria Marta Pereira A concordância de número nos predicativos e par ticipios passivos Organon Porto Alegre n 18 p5270 SILVA Giselle Machline de Oliveira e Um caso de definitude Organon Porto Alegre n18 p 901081991 TARALLO Femando Reflexões sobre o conceito de mudança Organon Porto Alegre n 18 p1122 106 Letras Curitiba n44 p91106 1995 Editora da UFPR