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Psicologia Social
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Teoria e técnica na entrevista e nos grupos Ensino Superior Bureau Juridico Nesta obra Bleger aborda do ponto de vista teórico e técnico dois temas fundamentais da psicologia Sobre o primeiro a entrevista psicológica é feita uma apresentação de indicações práticas para sua realização um ensaio de categorização e um estudo dos aspectos psicológicos da entrevista Sobre os grupos o segundotema o autor estuda os grupos operativos no ensino O problema do grupo nas instituições e como instituição e finalmente a administração das técnicas nos planos de prevenção ou em outros termos a estratégia com grupos José Bleger TEMAS DE PSICOLOGIA Tradução RITA MARIA M DE MORAES Revisão LUÍS LORENZO RIVERA CAPA Projeto gráfico Alexandre Marlins Fontes Kalia Harumi Terasaka Ilustração Rex Design Martins Fontes São Paulo 2003 EnsinoSuperior 8ureau Jklcô Título original TEMAS DE PSICOLOGÍA ENTREVISTAS Y GRUPOS Copyright by Ediciones Nueva Visión SAlC Buenos Aires 1979 Copyright 1980 Livraria Marfins Fontes Editora Ltda São Paulo para a presente edição 1 edição abril de 1980 7ª tiragem abril de 1995 2ª edição maio de 1998 3ªtiragem outubro de 2003 Revisão da tradução Luis Loremo Rivera Revisão gráfica Rosângela Ramos da Silva Produção gráfica Geraldo Alves PaginaçãolFotolitos Studio 3 Desenvolvimento Editorial Capa Alexandre Martins Fontes Katia Harumi Terasaka A entrevista psicológica Seu emprego no diagnóstico e na investigação Ensaio de categorização da entrevista 49 Grupos operativos no ensino 59 Ogrupo como instituição e o grupo nas instituições 101 Administração das técnicas e dos conhecimentos de grupo 123 Dados Internacionais de Catalogação na Pnblieação CIP Câmara Brasileira do Livro 8P Brasil Bleger José Temas de psicologia entrevista e grupos I José Bleger tradução Rita Maria M de Maraes revisão Luis Lorenzo Rivera 2i ed São Paulo Martins Fontes 1998 Psícologia e pedagogia Índices para catálogo sistemático 1 Psicologia 150 Todos os direitos desta edição reservados à Livraria Marfins Fontes Editora Ltda Rua Conselheiro Ramalho 330340 01325000 São Paulo SP Brasil Tel lI 32413677 Fax lI 31056867 email infomartinsfontescombr hltpwwwmartinsfontescombr A entrevista psicológica Seu emprego no diagnóstico e na investigação Publicado pelo Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e Letras Universidade de Buenos Aires 1964 A entrevista é um instrumento fundamental do mé todo clínico e é portanto uma técnica de investigação científica em psicologia Como técnica tem seus pró prios procedimentos ou regras empíricas com os quais não só se amplia e se verifica como também ao mesmo tempo se aplica o conhecimento científico Como ve remos essa dupla face da técnica tem especial gravita ção no caso da entrevista porque entre outras razões identifica ou faz coexistir no psicólogo as funções de investigador e de profissional já que a técnica é o pon to de interação entre a ciência e as necessidades práti cas é assim que a entrevista alcança a aplicação de co nhecimentos científicos e ao mesmo tempo obtém ou possibilita levar a vida diária do ser humano ao nível do conhecimento e da elaboração científica E tudo isso em um processo ininterrupto de interação A entrevista é um instrumento muito difundido e devemos delimitar o seu alcance tanto como o enqua 2 Temasdepsicologia A entrevistapsicológica 3 dramento da presente exposição A entrevista pode ter em seus múltiplos usos uma grande variedade de obje tivos como no caso do jornalista chefe de empresa di retor de escola professor juiz etc Aqui nos interessa a entrevista psicológica entendida como aquela na qual se buscam objetivos psicológicos investigaçãodiagnós tico terapia etc Dessa maneira nosso objetivo fica limitado ao estudo da entrevista psicológica não so mente para assinalar algumas das regras práticas que possibilitam seu emprego eficaz e correto como tam bém para desenvolver em certa medida o estudo psico lógico da entrevista psicológica Nesse sentido boa par te do que se desenvolverá aqui pode ser utilizado ou aplicado em todo tipo de entrevista porque em todas elas intervêm inevitavelmente fatores ou dinamismos psicológicos A entrevista psicológica dessa maneira deriva sua denominação exclusivamente de seus objeti vos ou finalidades tal como já assinalei Na consideração da entrevista psicológica como téc nica incluímos dois aspectos um é o das regras ou in dicações práticas de sua execução e o outro é a psico logia da entrevista psicológica que fundamenta as pri meiras Em outros termos incluímos a técnica e a teo ria da técnica da entrevista psicológica Circunscrita dessa maneira a entrevista psicológi ca é o instrumento fundamental de trabalho não somen te para o psicólogo como também para outros profis sionais psiquiatra assistente social sociólogo etc A entrevista pode ser de dois tipos fundamentais aberta e fechada Na segunda as perguntas já estão pre vistas assim como a ordem e a maneira de formuláIas e o entrevistador não pode alterar nenhuma destas dis posições Na entrevista aberta pelo contrário o entre vistador tem ampla liberdade para as perguntas ou para suas intervenções permitindose toda a flexibilidade necessária em cada caso particular A entrevista fecha da é na realidade um questionário que passa a ter uma relação estreita com a entrevista na medida em que uma manipulação de certos princípios e regras facilita e pos sibilita a aplicação do questionário Contudo a entrevista aberta não se caracteriza es sencialmente pela liberdade de colocar perguntas por que como veremos mais adiante o fundamento da en trevista psicológica não consiste em perguntar nem no propósito de recolher dados da história do entrevistado Embora os fundamentos sejam apresentados um pouco mais adiante devemos desde já sublinhar que a liberda de do entrevistador no caso da entrevista aberta reside numa flexibilidade suficiente para permitir na medida do possível que o entrevistado configure o campo da entrevista segundo sua estrutura psicológica particular ou dito de outra maneira que o campo da entrevista se configure o máximo possível pelas variáveis que dependem da personalidade do entrevistado Considerada dessa maneira a entrevista aberta possibilita uma investigação mais ampla e profunda da personalidade do entrevistado embora a entrevista fe 4 Temas de psicologia chada permita uma melhor comparação sistemática de dados além de outras vantagens próprias de todo méto do padronizado De outro ponto de vista considerando o número de participantes distinguese a entrevista em individual e grupal segundo sejam um ou mais os entrevistadores eou os entrevistados A realidade é que em todos os casos a entrevista é sempre um fenômeno grupaljá que mesmo com a participação de um só entrevistado sua relação com o entrevistador deve ser considerada em função da psicologia e da dinâmica de grupo Podese diferenciar também as entrevistas segundo o beneficiário do resultado assim podemos distinguir a a entrevista que se realiza em beneficio do entrevistado que é o caso da consulta psicológica ou psiquiátrica b a entrevista cujo objetivo é a pesquisa na qual importam os resultados científicos c a entrevista que se realiza para um terceiro uma instituição Cada uma delas im plica variáveis distintas a serem levadas em conta já que modificam ou atuam sobre a atitude do entrevistador as SIm como do entrevistado e sobre o campo total da en trevista Uma diferença fundamental é que excetuando o primeiro tipo de entrevista os dois outros requerem que o entrevistador desperte interesse e participação que motive o entrevistado Tanto o método clínico como a técnica da entrevis ta procedem do campo da medicina porém a prática mé dica inclui procedimentos semelhantes que sem dúvida não devem ser confundidos com a entrevista psicológi ca nem superpostos a ela A consulta consiste na solicitação da assistência téc nica ou profissional que pode ser prestada ou satisfeita de formas diversas uma das quais pode ser a entrevis ta Consulta não é sinônimo de entrevista esta última é apenas um dos procedimentos de que o técnico ou pro fissional psicólogo ou médico dispõe para atender a uma consulta Em segundo lugar a entrevista não é uma anamne se Esta implica uma compilação de dados preestabele cidos de tal amplitude e detalhe que permita obter uma síntese tanto da situação presente como da história de um indivíduo de sua doença e de sua saúde Embora uma boa anamnese se faça com base na utilização cor reta dos princípios que regem a entrevista esta última é sem dúvida algo muito diferente Na anamnese a preo cupação e a finalidade residem na compilação de da dos e o paciente fica reduzido a um mediador entre sua enfermidade sua vida e seus dados por um lado e o médico por outro Se o paciente não fornece informa ções elas devem ser extraídas dele Mas além dos da dos que o médico previu como necessários toda contri buição do paciente é considerada como uma perturba 6 Temas de psicologia ção da anamnese freqüentemente tolerada por corte sia porém considerada como supérflua ou desnecessá ria Não são poucas as ocasiões em que a anamnese é feita por razões estatísticas ou para cumprir obrigações regulamentares de uma instituição nesses casos fica em mãos de pessoal auxiliar Diferentemente da consulta e da anamnese a entre vista psicológica objetiva o estudo e a utilização do com portamento total do indivíduo em todo o curso da rela ção estabelecida com o técnico durante o tempo em que essa relação durar Na prática médica é extremamente útil levar em con ta e utilizar os conhecimentos da técnica da entrevista e tudo o que se refere à relação interpessoal Uma parte do tempo de uma consulta deve ser empregada como entre vista e a outra para completar a indagação ou os dados necessários para a anarnnese porém não existem razões para que ela se transforme em um interrogatório A entrevista psicológica é uma relação com carac terísticas particulares que se estabelece entre duas ou mais pessoas O específico ou particular dessa relação reside em que um dos integrantes é um técnico da psi cologia que deve atuar nesse papel e o outro ou os outros necessita de sua intervenção técnica Porém e isso é um ponto fundamental o técnico não só utili za a entrevista para aplicar seus conhecimentos psico lógicos no entrevistado como também essa aplicação se produz precisamente através de seu próprio compor tamento no decorrer da entrevista A entrevista psicoló gica é então uma relação entre duas ou mais pessoas em que estas intervêm como tais Para sublinhar o aspecto fundamental da entrevista poderseia dizer de outra maneira que ela consiste em uma relação humana na qual um dos integrantes deve procurar saber o que está acontecendo e deve atuar segundo esse conhecimento A realização dos objetivos possíveis da entrevista inves tigação diagnóstico orientação etc depende desse sa ber e da atuação de acordo com esse saber Dessa teoria da entrevista originamse algumas orien tações para sua realização A regra básica já não consiste em obter dados completos da vida total de uma pessoa mas em obter dados completos de seu comportamento total no decorrer da entrevista Esse comportamento to tal inclui o que recolheremos aplicando nossa função de escutar porém também nossa função de vivenciar e obser var de tal maneira que ficam incluídas as três áreas do comportamento do entrevistado A teoria da entrevista foi enormemente influencia da por conhecimentos provenientes da psicanálise da Gestalt da topologia e do behaviorismo Ainda que não possamos selecionar especificamente a contribuição de cada um deles convém assinalar sumariamente que a psicanálise influenciou com o conhecimento da dimen são inconsciente do comportamento da transferência e contratransferência da resistência e repressão da pro jeção e introjeção etc A Gestalt reforçou a compreen são da entrevista como um todo no qual o entrevistador é um de seus integrantes considerando o comportamen to deste como um dos elementos da totalidade A topo logia levou a delinear e reconhecer o campo psicológico e suas leis assim como o enfoque situaciona1 O beha viorismo influenciou com a importância da observação do comportamento Tudo isso conduziu à possibilidade de realizar a entrevista em condições metodológicas mais restritas convertendoa em instrumento científico no qual a arte da entrevista foi reduzida em função de uma sis tematização das variáveis e é esta sistematização que possibilita um maior rigor em sua aplicação e em seus resultados Podese ensinar e aprender a realizar entre vistas sem que se tenha de depender de um dom ou virtu de imponderáve1 O estudo científico da entrevista a pes quisa do instrumento tem reduzido sua proporção de arte e incrementado sua operacionalidade e utilização como técnica científica A investigação científica do instrumento tem feito com que a entrevista incorpore algumas das exigências do método experimental mas também faz com que a entrevista psicológica em geral constitua um procedi mento de observação em condições controladas ou pe lo menos em condições conhecidas Dessa maneira a entrevista pode ser considerada em certa medida da mesma forma que o tubo de ensaio para o químico se gundo uma comparação feliz de Young Dessa teoria da técnica da entrevista que continua remos desenvolvendo dependem as regras práticas ou empíricas esta é a única forma racional de compreen dêIas aprendêIas aplicáIas e enriquecêIas O empenho em diferenciar a entrevista da anamne se provém do interesse em constituir um campo com ca racterísticas definidas ideais para a investigação da per sonalidade Como na anamnese temos na entrevista um campo configurado e com isso queremos dizer que entre os participantes se estrutura uma relação da qual depende tudo que nela acontece A diferença básica neste sentido entre entrevista e qualquer outro tipo de relação interpes soal como a anamnese é que a regra fundamental da en trevista sob este aspecto é procurar fazer com que o cam po seja configurado especialmente e em seu maior grau pelas variáveis que dependem do entrevistado Apesar de todo emergente ser sempre situacional ou dito em outras palavras provir de um campo dize mos que na entrevista tal campo está determinado pre dominantemente pelas modalidades da personalidade do entrevistado De outra forma poderseia dizer que o entrevistador controla a entrevista porém quem a dirige é o entrevistado A relação entre ambos delimita e determina o campo da entrevista e tudo o que nela acontece porém o entrevistador deve permitir que o campo da relação interpessoal seja predominantemente estabelecido e configurado pelo entrevistado Todo ser humano tem sua personalidade sistemati zada em uma série de pautas ou em um conjunto ou re pertório de possibilidades e são estas que esperamos que atuem ou se exteriorizem durante a entrevista As sim pois a entrevista funciona como uma situação em que se observa parte da vida do paciente que se desen volve em relação a nós e diante de nós Nenhuma situação pode conseguir a emergência da totalidade do repertório de condutas de uma pessoa e portanto nenhuma entrevista pode esgotar a personali dade do paciente mas somente um segmento dela A en trevista não pode substituir nem excluir outros procedi mentos de investigação da personalidade porém eles também não podem prescindir da entrevista De modo es pecífico a entrevista não pode suprir o conhecimento e a investigação de caráter muito mais extenso e profundo que se obtém por exemplo em um tratamento psicanalíti co o qual no decorrer de um tempo prolongado permite a emergência e a manifestação dos núcleos e segmentos mais diferentes da personalidade Para obter o campo particular de entrevista que des crevi devemos contar com um enquadramento rígido que consiste em transformar um conjunto de variáveis em constantes Dentro deste enquadramento incluemse não apenas a atitude técnica e o papel do entrevistador tal como assinalei como também os objetivos o lugar e o tempo da entrevista O enquadramento funciona como uma espécie de padronização da situação estímulo que oferecemos ao entrevistador com isso não pretendemos que esta situação deixe de atuar como estímulo para ele mas que deixe de oscilar como variável para o entrevista dor Se o enquadramento se modifica por exemplo por que a entrevista se realiza em um local diferente esta mo dificação deve ser considerada como uma variável su jeita a observação tanto como o é o entrevistado Cada entrevista tem um contexto definido conjunto de cons tantes e variáveis em função do qual ocorrem os emer gentes que só têm sentido em função de tal contexto O campo da entrevista também não é fixo e sim dinâ mico o que significa que ele está sujeito a uma perma nente mudança e que a observação se deve estender do campo específico existente em cada momento à continui dade e sentido destas mudanças Na realidade poderseia dizer que a observação da continuidade e da contigüidade das mudanças é o que permite completar a observação e inferir a estrutura e o sentido de cada campo responden do a esta modalidade do processo real devese dizer que o campo da entrevista cobre a sua totalidade embora ca da campo não seja senão um momento desse campo to tal e da sua dinâmica Gestaltung2 Uma sistematização que permite o estudo detalhado da entrevista como campo consiste em centrar o estudo sobre a o entrevistador incluindo sua atitude sua dis sociação instrumental contratransferência identificação etc b o entrevistado incluindose aqui transferência estruturas de comportamento traços de caráter ansie dades defesas etc c a relação interpessoal na qual se 1 Contexto ou enquadramento foram estudados em J Eleger Psi coaná1isis dei enquadre psicoanalítico em Simbiosis e ambigüedad Pai dós Buenos Aires 1967 2 Gestaltung processo de formação de Gestalten inclui a interação entre os participantes o processo de comunicação projeção introjeção identificação etc o problema da ansiedade etc Embora não pretenda aprofundar aqui cada um dos fenômenos assinalados porque isso abarcaria em grande parte quase toda a psicologia e psicopatologia estes aspectos estão incluí dos nas considerações que se seguem vida atual que manterão entre si relação de complemen tação ou de contradição As lacunas dissociações e contradições que indi quei levam alguns pesquisadores a considerar a entre vista como instrumento não muito confiável Sem dúvi da nesses casos o instrumento não faz mais que refletir o que corresponde a características do objeto de estudo As dissociações e contradições que observamos corres pondem a dissociações e contradições da própria perso nalidade e ao refletiIas a entrevista permitenos tra balhar com elas se elas serão trabalhadas ou não irá de pender da intensidade da angústia que se pode provocar e da tolerância do entrevistado a essa angústia Igual mente os conflitos trazidos pelo entrevistado podem não ser os conflitos fundamentais assim como as motiva ções que alega são geralmente racionalizações A simulação perde o valor que tem na anamnese co mo fator de perturbação já que na entrevista a simula ção deve ser considerada como uma parte dissociada da personalidade que o entrevistado não reconhece total mente como sua Pode acontecer que o mesmo entre vistador ou diferentes entrevistadores recolham em mo mentos diferentes partes distintas e ainda contraditórias da mesma personalidade Os dados não devem ser ava liados em função de certo ou errado mas como graus ou fenômenos de dissociação da personalidade Uma si tuação típica e em certa medida inversa à que comento é a do entrevistado que tem rigidamente organizada sua história e seu esquema de vida presente como meio de Uma diferença fundamental entre entrevista e anam nese no que diz respeito à teoria da personalidade e à teoria da técnica reside em que na anamnese trabalha se com a suposição de que o paciente conhece sua vida e está capacitado portanto para fornecer dados sobre ela enquanto a hipótese da entrevista é que cada ser hu mano tem organizada uma história de sua vida e um es quema de seu presente e desta história e deste esquema temos de deduzir o que ele não sabe Em segundo lu gar aquilo que não nos pode dar como conhecimento explícito nos é oferecido ou emerge através do seu com portamento nãoverbal e este último pode informar so bre sua história ou seu presente em graus muito variá veis de coincidência ou contradição com o que expressa de modo verbal e consciente Por outro lado além disso em diferentes entrevistas o entrevistado pode oferecer nos diferentes histórias ou diferentes esquemas de sua defesa contra a penetração do entrevistador e ao seu pró prio contato com áreas de conflito de sua situação real e de sua personalidade esse tipo de entrevistado repete a mesma história estereotipada em diferentes entrevistas seja com o mesmo ou com diferentes entrevistadores Quando vários integrantes de um grupo ou instituição em família escola fábrica etc são entrevistados essas divergências e contradições são muito mais freqüentes e notórias e constituem dados muito importantes sobre co mo cada um de seus membros organiza numa mesma rea lidade um campo psicológico que lhe é específico A to talidade nos dá um índice fiel do caráter do grupo ou da instituição de suas tensões ou conflitos tanto como de sua organização particular e dinâmica psicológica De tudo o que foi exposto deduzse facilmente que a técnica e sua teoria estão estreitamente entrelaçadas com a teoria da personalidade com a qual se trabalha o grau de interação que um entrevistador é capaz de conseguir entre elas dá o modelo de sua operacionalidade como investiga dor A entrevista não consiste em aplicar instruções mas em investigar a personalidade do entrevistado ao mesmo tempo que nossas teorias e instrumentos de trabalho N as ciências da natureza segundo o ponto de vista tradicional a observação científica é objetiva no senti do de que o observador registra o que ocorre os fenô menos que são externos e independentes dele com abs tração ou exclusão total de suas impressões sensações sentimentos e de todo estado subjetivo um registro de tal tipo é o que permite a verificação do observado por terceiros que podem reconstruir as condições da obser vação Não interessa agora discutir a validade deste esquema que já se mostrou estreito e ingênuo também para as mesmas ciências naturais Interessame em com pensação observar que na entrevista o entrevistador é parte do campo quer dizer em certa medida condiciona os fenômenos que ele mesmo vai registrar Colocase então a questão da validade dos dados assim obtidos Tal summum de objetividade na investigação não se cumpre em nenhum outro campo científico e menos ain da em psicologia na qual o objeto de estudo é o homem Em compensação a máxima objetividade só pode ser alcançada quando se incorpora o sujeito observador co mo uma das variáveis do campo Se o observador está condicionando o fenômeno que observa podese objetar que neste caso não estamos estudando o fenômeno tal como ele é mas sim em rela ção com a nossa presença e assim já não se faz uma observação em condições naturais A isso se pode responder de modo global dizendo que esse tipo de objeção não é válido porque se baseia em uma quantidade de pressuposições incorretas Veja mos algumas dessas pressuposições o que se quer dizer com a expressão observação em condições naturais Certamente referese a uma observa ção realizada nas mesmas condições em que se dá real mente o fenômeno As considerações ontológicas super põemse às de tipo gnosiológico nas primeiras admitese a existência de um mundo objetivo que existe por si inde pendentemente de que o conheçamos ou não Já nas se gundas somos nós que conhecemos e por isso temos de nos incluir necessariamente no processo do conhecimento tal como ocorre na realidade Esta segunda afirmação não invalida de nenhuma maneira a primeira porque ambas se referem a coisas diferentes uma à existência dos fenôme nos e outra ao conhecimento que deles se obtém Mas além disso as condições naturais da conduta humana são as condições humanas Toda conduta se dá sempre num contexto de vínculos e relações huma nas e a entrevista não é uma distorção das pretendidas condições naturais e sim o contrário a entrevista é a situação natural em que se dá o fenômeno que preci samente nos interessa estudar o fenômeno psicológi co Desta maneira o enfoque ontológico e gnosiológico coincidem e são a mesma coisa Poderseá insistir ainda em que a entrevista não tem validade de instrumento científico porque as mani festações do objeto que estudamos dependem nesse caso da relação que se estabeleça com o entrevistador e portanto todos os fenômenos que aparecem estão con dicionados por essa relação Esse tipo de objeção deriva de uma concepção metafisica do mundo o supor que ca da objeto tem qualidades que dependem de sua natureza interna própria e que determinadas relações modificam ou subvertem essa pureza ontológica ou essas qualida des naturais O certo é que as qualidades de todo objeto são sempre relacionais derivam das condições e rela ções nas quais se acha cada objeto em cada momento Cada situação humana é sempre original e única portanto a entrevista também o é porém isso não rege somente os fenômenos humanos como também os fe nômenos da natureza coisa que Heráclito já sabia Essa originalidade de cada acontecimento não impede o es tabelecimento de constantes gerais quer dizer das con dições que se repetem com mais freqüência O indivi dual não exclui o geral nem a possibilidade de introdu zir a abstração e categorias de análise Is se opõ a um narcisismo subjacente ao campo cent1fIco da pSIcologIa cada ser humano considera a SI mesmo como um ser distinto e único resultado de uma diferença particular de Deus do destino ou da na tureza O ser humano descobre paulatinamente e com assombro que tem as mesmas vísceras que seus seme lhantes assim como descobre ou resiste a descobrir que sua vida pessoal se tece sobre um fundo comum a todos os seres humanos No caso da entrevista isso não VIgora apenas para o narcisismo do entrevistado como também para o do entrevistador que também deve as sumir a sua condição humana e não se sentir acima do entrevistado ou em situação privilegiada diante dele E isso que é fácil dizer não é nada fácil realizar Uma certa concepção aristocrática ou monopolista da ciência tem feito supor que a investigação é tarefa de eleitos que estão acima ou além dos fatos cotidianos e comuns Assim a entrevista é nesta concepção um instrumento ou uma técnica da prática com a qual se pretende diagnosticar isto é aplicar conhecimentos cien tíficos que em si mesmos são provenientes de outras fontes a investigação científica O certo é que não há possibilidade de uma entrevis ta correta e frutífera se não se incluir a investigação Em outros termos a entrevista é um campo de trabalho no qual se investiga a conduta e a personalidade de seres humanos Que isto se realize ou não é coisa que já não depende do instrumento do mesmo modo como não in validamos ou duvidamos do método experimental pelo fato de que um investigador possa utilizar o laboratório sem se ater às exigências do método experimental Uma utilização correta da entrevista integra na mesma pes soa e no mesmo ato o profissional e o pesquisador A chave fundamental da entrevista está na investiga ção que se realiza durante o seu transcurso As obser vações são sempre registradas em função de hipóteses que o observador vai emitindo Esclareçamos melhor o que se quer dizer com isso Afirmase geralmente de maneira muito formal que a investigação consta de eta pas nítidas e sucessivas que se escalonam uma após a outra na seguinte ordem primeiro intervém a observa ção depois a hipótese e posteriormente a verificação O certo contudo é que a observação se realiza sempre em função de certos pressupostos e que quando estes são conscientes e utilizados como tais a observação se enriquece Assim a forma de observar bem é ir formu lando hipóteses enquanto se observa e durante a entre vista verificar e retificar as hipóteses no momento mesmo em que ocorrem em função das observações subseqüen tes que por sua vez se enriquecem com as hipóteses prévias Observar pensar e imaginar coincidem total mente e formam parte de um só e único processo dialé tico Quem não utiliza a sua fantasia poderá ser um bom verificador de dados porém nunca um investigador Em todas as ações humanas devese pensar sobre o que se está fazendo e quando isso acontece sistematica mente em um campo de trabalho definido submetendo se à verificação o que se pensou está sendo realizada uma investigação O trabalho profissional do psicólogo do psiquiatra e do médico somente adquire sua real en vergadura e transcendência quando nele coincide a inves tigação e a tarefa profissional porque estas são as uni dades de uma práxis que resguarda da desumanização a tarefa mais humana compreender e ajudar outros seres humanos Indagação e atuação teoria e prática devem ser manejadas como momentos inseparáveis forman do parte de um só processo Com freqüência alegase falta de tempo para realizar entrevistas exaustivas ou corretas Aconselho reali zar bem pelo menos uma entrevista periódica e regular 20 Temas de psicologia vista o entrevistador observa como e através do que o entrevistado condiciona sem o saber efeitos dos quais ele mesmo se queixa ou é vítima Interessam particular mente os momentos de mudança na comunicação e as situações e temas ante os quais ocorrem assim como as inibições interceptações e bloqueios Ruesch estabeleceu uma classificação da persona lidade baseada nos sistemas predominantes que cada indivíduo põe emjogo na comunicação Porém o tipo de comunicação não é importante ape nas por oferecer dados de observação direta que inclu sive podem ser registrados mas porque é o fenômeno chave de toda a relação interpessoal que por sua vez pode ser manipulado pelo entrevistador e assim gra duar ou orientar a entrevista mente descobrirseá rapidamente como é útil não ter tempo e como é fácil racionalizar e negar as dificuldades Entrevistador e entrevistado formam um grupo ou seja um conjunto ou uma totalidade na qual os integran tes estão interrelacionados e em que a conduta de ambos é interdependente Diferenciase de outros grupos pelo fato de que um de seus integrantes assume um papel es pecífico e tende a cumprir determinados objetivos A interdependência e a interrelação o condicio namento recíproco de suas respectivas condutas reali zamse através do processo da comunicação entenden dose por isso o fato de que a conduta de um conscien te ou não atua de forma intencional ou não como estímulo para a conduta do outro que por sua vez rea tua como estímulo para as manifestações do primeiro Nesse processo a palavra tem um papel de enorme gra vitação no entanto também a comunicação préverbal intervém ativamente atitudes timbre e tonalidade afe tiva da voz etc O tipo de comunicação que se estabelece é alta mente significativo da personalidade do entrevistado especialmente do caráter de suas relações interpessoais ou seja da modalidade do seu relacionamento com seus semelhantes Nesse processo que se produz na entre Na relação que se estabelece na entrevista devese contar com dois fenômenos altamente significativos a transferência e a contratransferência A primeira referese à atualização na entrevista de sentimentos atitudes e con dutas inconscientes por parte do entrevistado que corres pondem a modelos que este estabeleceu no curso do de senvolvimento especialmente na relação interpessoal com seu meio familiar Distinguese a transferência negativa da positiva porém ambas coexistem sempre embora com um predomínio relativo estável ou alternante de uma so bre a outra Integram a parte irracional ou inconsciente da conduta e constituem aspectos não controlados pelo pa ciente Uma outra noção similar acentua na transferên cia as atitudes afetivas que o entrevistado vivencia ou atualiza em relação ao entrevistador A observação des ses fenômenos colocanos em contato com aspectos da conduta e da personalidade do entrevistado que não se incluem entre os elementos que ele pode referir ou trazer voluntária ou conscientemente mas que acrescentam uma dimensão importante ao conhecimento da estrutura de sua personalidade e ao caráter de seus conflitos N a transferência o entrevistado atribui papéis ao en trevistador e comportase em função deles Em outros termos transfere situações e modelos para uma realida de presente e desconhecida e tende a configuráIa co mo situação já conhecida repetitiva Com a transferência o entrevistado fornece aspec tos irracionais ou imaturos de sua personalidade seu grau de dependência sua onipotência e seu pensamen to mágico É neles que o entrevistador poderá descobrir aquilo que o entrevistado espera dele sua fantasia da entrevista sua fantasia de ajuda ou seja o que acredita que é ser ajudado e estar são incluídas as fantasias pa tológicas de cura que são com muita freqüência aspi rações neuróticas Poderseá igualmente despistar outro fator importante que é o da resistência à entrevista ou o de ser ajudado ou curado e a intenção de satisfazer desejos frustrados de dependência ou de proteção Na contratransferência incluemse todos os fenô menos que aparecem no entrevistador como emergen tes do campo psicológico que se configura na entrevis ta são as respostas do entrevistador às manifestações do entrevistado o efeito que têm sobre eles Dependem em alto grau da história pessoal do entrevistador porém se elas aparecem ou se atualizam em um dado momento da entrevista é porque nesse momento existem fatores que agem para que isso aconteça Durante muito tempo foram considerados como elementos perturbadores da entrevista porém progressivamente reconheceuse que são indefectíveis e iniludíveis em seu aparecimento e o entrevistador deve também registráIos como emergen tes da situação presente e das reações que o entrevista do provoca Portanto à observação na entrevista acres centase também a autoobservação A contratransferência não constitui uma percepção em sentido rigoroso ou limitado do termo mas sim um indício de grande significação e valor para orientar o entrevistador no estudo que realiza No entanto não é de fácil manejo e requer uma boa preparação experiên cia e um alto grau de equilíbrio mental para que possa ser utilizada com alguma validade e eficiência Transferência e contratransferência são fenômenos que aparecem em toda relação interpessoal e por isso mesmo também ocorrem na entrevista A diferença é que na entrevista devem ser utilizados como instrumen tos técnicos de observação e compreensão A interação transferênciacontratransferência pode também ser estu 25 A entrevista psicológica dada como uma atribuição de papéis por parte do entre vistado e uma percepção deles por parte do entrevista dor Se por exemplo a atitude do entrevistado irrita e provoca rejeição no entrevistador ele deve procurar es tudar e observar sua reação como efeito do comporta mento do entrevistado para ajudáIo a corrigir aquela conduta de cujos resultados ele mesmo pode queixar se por exemplo de que não tem amigos e de que mn guém gosta dele Se o entrevistador não for capaz de objetivar e estudar sua reação ou reagir com irritação e rejeição assumindo o papel projetado indicará que a manipulação que faz da contratransferência está pertur bada e que portanto está se saindo mal na entrevista A ansiedade constitui um indicador do desenvolvi mento de uma entrevista e deve ser atentamente acompa nhada pelo entrevistador tanto a que se produz nele co mo a que aparece no entrevistado Devese estar atento não somente ao seu aparecimento como também ao seu grau ou intensidade porque embora dentro de determi nados limites a ansiedade seja um agente motor da re lação interpessoal pode perturbáIa totalmente e fugir completamente ao controle se ultrapassar certo nível Por isso o limite de tolerância à ansiedade deve ser perma nentemente detectado Se entrevistado e entrevistador defrontarem com uma situação desconhecida ante a qual ainda não estabilizaram linhas reacionais adequadas e essa situação não organizada implicar certa desorgani zação da personalidade de cada um dos participantes tal desorganização é a ansiedade O entrevistado solicita ajuda técnica ou profissio nal quando sente ansiedade ou se vê perturbado por me canismos defensivos diante dela Durante a entrevista tanto sua ansiedade como seus mecanismos de defesa podem aumentar porque o desconhecido que enfrenta não é somente a situação externa nova mas também o perigo daquilo que desconhece em sua própria perso nalidade Se esses fatores não se apresentam faz parte da função do entrevistador motivar o entrevistado con seguir que apareçam em uma certa medida na entrevis ta Em alguns casos a ansiedade achase delegada ou projetada em outra pessoa que é quem solicita a entre vista e manifesta interesse em que ela se realize A ansiedade do entrevistador é um dos fatores mais dificeis de manipular porque é o motor do interesse na investigação e do interesse em penetrar no desconheci do Toda investigação implica a presença de ansiedade diante do desconhecido e o investigador deve ter capa cidade para toleráIa e poder instrumentalizáIa sem o que se fecha a possibilidade de uma investigação eficaz isso ocorre também quando o investigador se vê opri mido pela ansiedade ou recorre a mecanismos de defe sa ante ela racionalização formalismo etc que o objeto que deve estudar é outro ser humano de tal maneira que ao examinar a vida dos demais se acha di retamente implicada a revisão e o exame de sua própria vida de sua personalidade conflitos e frustrações A vida e a vocação de psicólogo de médico e de psi quiatra merecem um estudo detalhado que não empreen derei agora quero porém lembrar que são os técnicos encarregados profissionalmente de estar todos os dias em contato estreito e direto com o submundo da doença dos conflitos da destruição e da morte Foi necessário recorrer à simulação e à dissociação para o desenvolvi mento e exercício da psicologia e da medicina ocupar se de seres humanos como se não o fossem O treina mento do médico inconsciente e defensivamente tende a isto ao iniciar toda aprendizagem pelo contato com o cadáver Quando queremos nos ocupar da doença em seres humanos considerados como tal nossas ansieda des aumentam mas ao mesmo tempo precisamos pôr de lado o bloqueio e as defesas Por tudo isto a psicolo gia demorou tanto para se desenvolver e infiltrarse na medicina e na psiquiatria Isso seria paradoxal se não considerássemos os processos defensivos porém o médico cuja profissão é tratar doentes é quem propor cionalmente mais escotomiza ou nega suas próprias doenças ou as de seus familiares Em psiquiatria em medicina psicossomática e em psicologia tudo isto já não é possível o contato direto com seres humanos co mo tais coloca o técnico diante da sua própria vida sua própria saúde ou doença seus próprios conflitos e frus Diante da ansiedade do entrevistado não se deve re correr a nenhum procedimento que a dissimule ou repri ma como o apoio direto ou o conselho A ansiedade so mente deve ser trabalhada quando se compreende os fa tores pelos quais ela aparece e quando se atua segundo essa compreensão Se o que predomina são os mecanis mos de defesa diante dela a tarefa do entrevistador é desarmar em certa medida estas defesas para que apa reça certo grau de ansiedade o que será um indicador da possibilidade de atualização dos conflitos Toda essa ma nipulação técnica da ansiedade deve ser feita tendose sempre em conta a personalidade do entrevistado e so bretudo o beneficio que para ele pode significar a mobi lização da ansiedade de tal forma que mesmo diante de situações muito claras não se deve ser ativo se isso sig nificar oprimir o entrevistado com conflitos que não po derá tolerar Isso corresponde a um aspecto muito dificil o do denominado timing da entrevista que é o tempo próprio ou pessoal do entrevistado que depende do grau e tipo de organização de sua personalidade para enfrentar seus conflitos e para resolvêIos O instrumento de trabalho do entrevistador é ele mesmo sua própria personalidade que participa inevi tavelmente da relação interpessoal com a agravante de trações Caso ele não consiga graduar este impacto sua tarefa tornase impossível ou tem muita ansiedade e então não pode atuar ou bloqueia a ansiedade e sua tarefa é estéril Na sua atuação o entrevistador deve estar dissocia do em parte atuar com uma identificação projetiva com o entrevistado e em parte permanecer fora desta iden tificação observando e controlando o que ocorre de ma neira a graduar o impacto emocional e a desorganização ansiosa Nesse sentido seria necessário desenvolver es tudos tanto sobre a psicologia e a psicopatologia do psi quiatra e do psicólogo como sobre o problema de sua formação profissional e de seu equilíbrio mental Essa dissociação com que o entrevistador trabalha é por sua vez funcional ou dinâmica no sentido de que pro jeção e introjeção devem atuar permanentemente e deve ser suficientemente plástica ou porosa para que possa permanecer nos limites de uma atitude profissionaL Em sua tarefa o psicólogo pode oscilar facilmente entre a an siedade e o bloqueio sem que isto a perturbe desde que possa resolver ambos na medida em que surjam Na entrevista a passagem do normal ao patológico acontece de modo imperceptível Uma má dissociação com ansiedade intensa e permanente leva o psicólogo a desenvolver condutas fóbicas ou obsessivas ante os en trevistados evitando as entrevistas ou interpondo instru mentos e testes para evitar o contato pessoal e a ansieda de conseqüente A clássica aflição do médico que tanto se emprega na sátira é uma permanente fuga fóbica aos doentes Por outro lado a defesa obsessiva manifestase em entrevistas estereotipadas nas quais tudo é regrado e previsto na elaboração rotineira de histórias clínicas ou seja o instrumento de trabalho a entrevista transfor mase num ritual Por trás disso está o bloqueio que faz com que sempre aplique e diga a mesma coisa sempre ve ja a mesma coisa aplique o que sabe e sintase seguro A pressa em fazer diagnósticos e a compulsão a empre gar drogas são outros dos elementos desta fuga e deste ritual do médico diante do doente Nisso se desenvolve a alienação do psicólogo e do psiquiatra e a alienação do paciente e toda a estrutura hospitalar e de sanatório passa a ter o efeito de um fator alienante a mais Outro perigo é o da projeção dos próprios conflitos do tera peuta sobre o entrevistado e uma certa compulsão a cen trar seu interesse sua investigação ou a encontrar per turbações justamente na esfera na qual nega que tenha perturbações A rigidez e a projeção levam a encontrar somente o que se busca e se necessita e a condicionar o que se encontra tanto como o que não se encontra Um exemplo muito ilustrativo de tudo isto mas bastante co mum é o caso de um jovem médico que iniciava seu treinamento em psiquiatria e que presenciando uma en trevista e o diagnóstico de um caso de fobia disse que não era isso que o paciente não tinha nem fobia nem doença porque ele também a tinha Se num dado momento a projeção com que o técni co atua é muito intensa pode aparecer uma reação fó bica no próprio campo de trabalho Pelo contrário se for excessivamente bloqueada haverá uma alienação e não se entenderá o que ocorre Diferentes tipos de pessoas podem provocar reações contratransferenciais típicas no entrevistador e este de ve continuamente poder observáIas e resolvêIas para poder utilizáIas como informação e instrumento duran te a entrevista Podese de outra maneira descrever esta dissociação dizendo que o entrevistador tem de desempenhar os pa péis que lhe são fomentados pelo entrevistado mas sem assumiIos totalmente Se por exemplo sentir rejeição as sumir o papel seria mostrar e atuar a rejeição rejeitando efetivamente o entrevistado seja verbalmente ou com a atitude ou de qualquer outra maneira desempenhar o pa pel significa perceber a rejeição compreendêIa encon trar os elementos que a motivam as motivações do en trevistado para que isso aconteça e utilizar toda esta infor mação que agora possui para esclarecer o problema ou provocar sua modificação no entrevistado Quanto mais psicopata for o entrevistado maior a possibilidade de que o entrevistador assuma e represente os papéis Assumir o papel implicará a ruptura do enquadramento da entrevis ta Fastio cansaço sono irritação bloqueio compaixão carinho rejeição sedução etc são indícios contratrans ferenciais que o entrevistador deve perceber como tais à medida que se produzem e terá de resolvêIos anali sandoos consigo mesmo em função da personalidade do entrevistado da sua própria do contexto e do momen to em que aparecem na comunicação o psiquiatra inseguro ou pouco experiente não sa berá o que fazer com todos estes dados e para não ficar vexado recorrerá com freqüência à receita interpondo entre ele e seu paciente os medicamentos nestas condi ções a farmacologia tornase um fator alienante porque fomenta a magia no paciente e no médico e os dissocia novamente de seus respectivos conflitos Algo muito se melhante é o que o psicólogo faz freqüentemente com os testes Para combater isto é importante e mesmo im prescindível que o psiquiatra e psicólogo não trabalhem isolados que formem pelo menos grupos de estudo e de discussão nos quais o trabalho que se realiza seja re visto para cair na estereotipia não há clima melhor do que o do isolamento profissional porque o isolamento acaba encobrindo as dificuldades com a onipotência Examinar as contingências de uma entrevista signi ficaria simplesmente passar em revista toda a psicolo gia psiquiatria e psicopatologia por isso só me referirei aqui a algumas situações típicas no campo da psicologia clínica e em especial àquelas que habitualmente não são consideradas e no entanto são muito importantes De modo geral para que uma pessoa procure uma entrevista é necessário que tenha chegado a uma certa preocupação ou insight de que algo não está bem de que algo mudou ou se modificou ou então perceba suas pró prias ansiedades ou temores Esses últimos podem ser tão intensos ou intoleráveis que poderá recorrer na en trevista a uma negação e resistência sistemática de mo do que se assegurre logicamente de que não está acon tecendo nada conseguindo fazer com que o técnico não perceba nada anormal nela Em algum lugar já se defi niu o doente como toda pessoa que solicita uma consul ta fazendose abstração de que tal definição carece de valor real é sem dúvida certo que o entrevistador deve aceitar esse critério ainda que somente como incentivo para questionar detalhadamente o que está por trás das re pressões e negações ou escotomizações do entrevistado Schilder classificou em cinco grupos os indivíduos que procuram o médico ou porque estão sofrendo ou fa zendo os outros sofrer são eles a os que acorrem por problemas corporais b por problemas mentais c por fal ta de êxito d por dificuldades na vida diária e por quei xas de outras pessoas Seguindo por outro lado a divisão de E Pichon Riviere das áreas da conduta podemos considerar três grupos conforme o predomínio de inibições sintomas queixas ou protestos recaia mais sobre a área da mente do corpo ou do mundo exterior O paciente pode apre sentar queixas lamentações ou acusações no primeiro caso predomina a ansiedade depressiva enquanto no se gundo a ansiedade paranóide Esses agrupamentos não tendem a diferenciar os doentes orgânicos dos doentes mentais nem as doenças orgânicas das funcionais ou psicogenéticas Aplicamse a todos os tipos de entrevistados que procuram um es pecialista e tendem mais a uma orientação sobre a per sonalidade do sujeito pela forma com que procura re duzir suas tensões aliviar ou resolver seus conflitos Podemos reconhecer e distinguir entre o entrevista do que vem consultar e o que é trazido ou aquele a quem mandaram Nessas atitudes já temos um índice de im portância embora esteja longe de ser sistemático ou pa tognomônico Aquele que vem tem um certo insight ou percepção da sua doença e corresponde ao paciente neu rótico enquanto o psicótico é trazido Aquele que não tem motivos para vir mas vem porque o mandaram cor responde à psicopatia é o que faz o outro atuar e delega aos outros suas preocupações e malestares Temos entre outros o caso daquele que vem con sultar por um familiar Nesse caso realizamos a entre vista com o que vem indagando sobre sua personalida de e conduta Com isso já passamos do entrevistado ao grupo familiar Caso o entrevistado sej a precedido por um informante devese comunicar a este que o que ele disser sobre o paciente serIheá comunicado dizendo isso antes que ele dê qualquer informação Isto tenderá a limpar o campo e a romper com divisões muito difí ceis de trabalhar posteriormente Aquele que vem à consulta é sempre um emergente dos conflitos grupais da família diferenciamos além disso entre o que vem só e o que vem acompanhado que representam grupos familiares diferentes 35 A entrevista psicológica o que vem sozinho é o representante de um grupo familiar esquizóide em que a comunicação entre seus membros é muito precária vivem dispersos ou separa dos com um grau acentuado de bloqueio afetivo Com freqüência diante destes o técnico tende a perguntar se com quem pode falar ou a quem informar Outro gru po familiar de caráter oposto a este é aquele no qual comparecem vários membros à consulta e o técnico tem necessidade de perguntar quem é o entrevistado ou por quem eles vêm é o grupo epileptóide viscoso ou agluti nado no qual há uma falta ou déficit na personificação de seus membros com um alto grau de simbiose ou in terdependência Assim como no caso anterior o doente está isolado e abandonado neste caso ele está excessiva mente rodeado por um cuidado exagerado ou asfixiante Esses dois tipos polares podem ser encontrados em suas formas extremas ou em formas menos caracteri zadas ou mistas Outro tipo é o que vem acompanhado por uma pessoa familiar ou amigo é o caso do fóbico que necessita do acompanhante O caso dos casais cujos integrantes se culpam mutuamente de neurose infide lidade etc é outra situação na qual como em todas as anteriores a entrevista se realiza com todos os que vie ram procedendose como com um grupo diagnóstico que como veremos é sempre em parte terapêutico nesse o técnico atua como observador participante in tervindo em momentos de tensão ou quando a comuni cação é interrompida ou para assinalar entrecruzamen tos projetivos Nos grupos que vêm à consulta o psicólogo não tem por que aceitar o critério da família sobre quem é o doente mas deve atuar considerando todos os seus mem bros como implicados e o grupo como doente Nesse caso o estudo do interjogo de papéis e da dinâmica do grupo são os elementos que servirão de orientação para fazer com que todo o grupo obtenha um insight da si tuação O equilíbrio da doença em um grupo familiar é de grande importância Por exemplo em um casal em que um é fóbico e o outro seu acompanhante quando o primeiro apresenta melhora ou se cura aparece a fobia no segundo O acompanhante do fóbico é então também um fóbico contudo distribuem os papéis entre o casal Em outras ocasiões a família só aparece quando o tratamento de um paciente já está adiantado e ele me lhorou ou está em vias de fazêIo a normalização do paciente faz com que a tensão do grupo familiar já não se descarregue mais através dele e aparece então o desequilíbrio ou a doença no grupo familiar Tudo isso explica em grande parte um fenômeno com o qual se deve contar na família de um doente a culpa elemento que deve ser devidamente levado em conta para valorizáIo e trabalháIo adequadamente É muito mais clara no caso da doença mental em crianças ou em defi cientes intelectuais Isso se relaciona também com o fenô meno que foi chamado a criança errada em que os pais trazem à consulta o filho mais sadio e depois de se asse gurarem de que o técnico não os culpa nem acusa podem falar ou consultar sobre o filho mais doente 36 Temas de psicologia 37 A entrevista psicológica Aqui e em relação a todos estes fenômenos a psico logia grupal seu conhecimento e sua utilização tem uma importância fundamental não somente para as entre vistas diagnósticas e terapêuticas mas também para ava liar as curas ou decidir sobre a alta de uma intemação etc ções comerciais ou de amizade nem pretender outro be neficio da entrevista que não sejam os seus honorários e o seu interesse científico ou profissional Tampouco a entrevista deve ser utilizada como uma gratificação nar cisista na qual se representa o mágico com uma de monstração de onipotência A curiosidade deve limitar se ao necessário para o beneficio do entrevistado Tudo o que sinta ou viva como reação contratransferencial de ve ser considerado como um dado da entrevista não se devendo responder nem atuar diante da rejeição da ri validade ou da inveja do entrevistado A petulância ou a atitude arrogante ou agressiva do entrevistado não de vem ser domadas nem subjugadas não se trata nem de triunfar nem de imporse ao entrevistado O que nos compete é averiguar a que se devem como funcionam e quais os efeitos que acarretam para o entrevistado Esse último tem direito embora tomemos nota disso a fazer uso por exemplo de sua repressão ou sua descon fiança Com muitíssima freqüência o grau de repres são do entrevistado depende muito do grau de repressão do entrevistador em relação a determinados temas se xualidade inveja etc Quando fazemos uma interven ção com perguntas elas devem ser diretas e sem subter fúgios sem segundas intenções adequadas à situação e ao grau de tolerância do ego do entrevistado A abertura da entrevista também não deve ser am bígua recorrendose a frases gerais ou de duplo sentido A entrevista deve começar por onde começar o entrevis tado Devese ter em conta o quanto pode ter sido custo Insisti em que o campo da entrevista deve ser con figurado fundamentalmente pelas variáveis da perso nalidade do entrevistado Isso implica que aquilo que o entrevistador oferece deve ser suficientemente ambí guo para permitir o maior engajamento da personalidade do entrevistado Embora tudo isso seja certo existe entretanto uma área delimitada em que a ambigüidade não deve existir ou ao contrário cujos limites devem ser mantidos e às vezes defendidos pelo entrevistador ela abrange todos os fatores que intervêm no enquadramento da entrevis ta tempo lugar e papel técnico do profissional O tem po referese a um horário e um limite na extensão da en trevista o espaço abarca o quadro ou o terreno ambiental no qual se realiza a entrevista O papel técnico implica que em nenhum caso o entrevistador deve permitir que seja apresentado como um amigo num encontro fortuito O entrevistador também não deve entrar com suas rea ções nem com o relato de sua vida nem entrar em rei a 38 Temasdepsicologia A entrevistapsicológica 39 so para ele decidirse a vir à entrevista e o que pode sig nificar como humilhação e menosprezo O entrevistado deve ser recebido cordialmente porém não efusivamen te quando temos informações sobre o entrevistado for necidas por outra pessoa devemos informáIo assim co mo conforme já dissemos antecipar ao informante no começo da entrevista que esses dados que se referem a terceiros não serão mantidos em reserva Isso tenderá a manter o enquadramento e a evitar as divisões esquizói des e a atuação psicopática assim como a eliminar tudo o que possa travar a espontaneidade do técnico que não deve ter compromissos contraídos que pesem negativa mente sobre a entrevista A discrição do entrevistador para com as informações que o entrevistado fornece está implícita na entrevista e se for fornecido um relato so bre ela a uma instituição o entrevistado também deve ter conhecimento disso A reserva e o segredo profis sional vigoram também entre os pacientes psicóticos e no material de entrevistas com adolescentes ou crian ças nesse último caso não nos devemos sentir autori zados a relatar aos pais por exemplo detalhes da entre vista com seus filhos O silêncio do entrevistado é o fantasma do entre vistador principiante para quem esse silêncio pode sig nificar um fracasso ou uma demonstração de imperícia Com um mínimo de experiência no entanto não há en trevistas fracassadas se se observar bem toda entrevis ta fornece informações importantes sobre a personali dade do entrevistado É necessário reconhecer os dife rentes tipos de silêncio silêncio paranóide depressivo fóbico confusional etc e trabalhar em função deste co nhecimento Se o silêncio total não é o melhor na entrevista do ponto de vista do entrevistador tampouco o é a catarse intensa do ponto de vista do entrevistado Com freqüên cia aquele que fala muito na realidade deixa de dizer o mais importante porque a linguagem não é somente um meio de transmitir informação mas também um po deroso meio para evitáIa Todos esses são certamente dados valiosos que devem ser considerados e valoriza dos A descarga emocional intensa também não é o melhor de uma entrevista com isso geralmente o entre vistado consegue depositar maciçamente sobre o entrevis tador e logo se distancia e entra numa relação persecutó ria como esta o confessor transformase facilmente em perseguidor Como todo o enquadramento o fim da entrevista de ve ser respeitado A reação à separação é um dado mui to importante assim como a avaliação sobre o estado do entrevistado ao partir e da nossa contratransferência em relação a ele Entrevistas bem realizadas consomem um tempo muito grande do qual com freqüência não se dispõe especialmente em instituições escolas hospitais indús trias etc Nesses casos o mais conveniente é reservar do tempo disponível um período para realizar pelo me nos uma entrevista diária em condições ótimas Isso im pedirá as estereotipias no trabalho e as racionalizações 40 Temas de psicologia A entrevista psicológica 41 da evitação fóbica Além disso é importante reservarse o tempo necessário para estudar as entrevistas realiza das e melhor ainda se isso for feito em grupos de traba lho O psicólogo e o psiquiatra não devem trabalhar iso lados porque isto favorece sua alienação no trabalho O primeiro fator terapêutico é sempre a compreensão do entrevistador que deve comunicar alguns elementos dessa compreensão que possam ser úteis ao entrevistado Na entrevista diagnóstica segundo nossa opinião deve se interpretar sobretudo cada vez que a comunicação tenda a interromperse ou distorcerse Outro caso mui to freqüente em que temos de intervir é para relacionar aquilo que o próprio entrevistado esteve comunicando Para interpretar devemos guiarnos pelo volume de an siedade que estamos resolvendo e pelo volume de ansie dade que criamos tendose em conta também se serão dadas outras oportunidades para que o entrevistado pos sa resolver ansiedades que vamos mobilizar Em todos os casos devemos interpretar somente com base nos emer gentes no que realmente está acontecendo no aqui e ago ra da entrevista Uma indicação fundamental para guiar a interpre tação é sempre o beneficio do entrevistado e não a des carga de uma ansiedade do entrevistador Além disso sempre que se interpreta devese saber que a interpre tação é uma hipótese que deve ser verificada ou retifi cada no campo de trabalho pela resposta que mobiliza mos ou condicionamos ao pôr em jogo tal hipótese Con tudo convém que o entrevistador principiante se limite primeiro e durante algum tempo a compreender o en trevistado até que adquira experiência e conhecimento suficientes para utilizar a interpretação O alcance ótimo de uma entrevista é o da entrevista operativa na qual se procura compreender e esclarecer um problema ou uma Uma questão freqüente e importante é a de saber se se deve interpretar nas entrevistas realizadas com fins diag nósticos Nesse sentido existem posições muito variadas Entre elas se encontra por exemplo a de Rogers que não somente não interpreta como tampouco pergunta estimu lando o entrevistado a prosseguir por meio de diferentes técnicas como por exemplo repetir de forma interrogati va a última palavra do entrevistado ou estimuláIo com um olhar um gesto ou uma atitude a prosseguir A entrevista é sempre uma experiência vital muito importante para o entrevistado significa com muita fre qüência a única possibilidade que tem de falar o mais sinceramente possível de si mesmo com alguém que não o julgue mas que o compreenda Dessa maneira a en trevista atua sempre como um fator normativo ou de aprendizagem embora não se recorra a nenhuma medi da especial para conseguir isso Em outros termos a en trevista diagnóstica é sempre e ao mesmo tempo em parte terapêutica 42 Temas de psicologia situação que o entrevistado traz como sendo o centro ou motivo da entrevista Nesse sentido freqüentemente uma entrevista tem êxito quando consegue esclarecer qual é o verdadeiro problema que está por trás daquilo que é trazido de modo manifesto Aconselho a leitura do artigo de Reik O abuso da interpretação e a ter presentes pelo menos duas coisas toda interpretação fora de contexto e de timing é uma agressão e parte da formªção do psicólogo consiste tam bém em aprender a calar E como regra de ouro se é que elas existem é tanto mais necessário calarse quan to maior for a compulsão para interpretar quizofrênico diagnóstico psiquiátrico em uma pessoa com insuficiência cardíaca diagnóstico médico e per sonalidade obsessiva diagnóstico psicológico enten dendose que esse exemplo só serve como tal para dife renciar os três tipos de informes que nem sempre ne cessariamente ocorrem juntos A ordem em que se redige um informe não tem nada a ver com a ordem em que foram recolhidos os dados ou com a ordem em que foram sendo feitas as deduções O informe psicológico tem como finalidade conden sar ou resumir conclusões referentes ao objeto de estudo Incluímos aqui somente o informe que se refere ao estu do da personalidade que pode ser empregado em diferen tes campos da atividade psicológica e em cada um deles se deverá ter em conta e responder especificamente ao objetivo com que tal estudo se efetuou Tratase por outro lado apenas de um guia e não de formulários a preencher No campo da medicina por exemplo um estudo completo abrange um tríplice diagnóstico ou um trípli ce informe o diagnóstico médico o psiquiátrico e o psi cológico Pode ser o caso por exemplo de um surto es 1 Dados pessoais nome idade sexo estado civil nacionalidade domicílio profissão ou oficio 2 Procedimentos utilizados entrevistas número e freqüência técnica utilizada clima lugar em que se realizaram Testes especificar os utili zados jogo de desempenho de papéis registros objetivos especificar etc Questionários espe cificar Outros procedimentos 3 Motivos do estudo por quem foi solicitado e objetivos Atitude do entrevistado e referência a suas motivações conscientes 4 Descrição sintética do grupo familiar e de ou tros que tiveram ou têm importância na vida do entrevistado Relações do grupo familiar com a comunidade status socioeconômico outras re lações Constituição dinâmica e papéis comu nicação e trocas significativas do grupo fami liar Saúde acidentes e doenças do grupo e de seus membros Mortes idade e ano em que ti veram lugar causas Atitude da família ante as mudanças a doença e o doente Possibilidade de incluir o grupo em alguma das classificações reconhecidas 5 Problemática vital relato sucinto de sua vida e conflitos atuais de seu desenvolvimento aquisi ções perdas mudanças temores aspirações ini bições e do modo como os enfrenta ou suporta Diferenciar aquilo que é afirmado pelo entrevis tado e por outras pessoas de seu meio daquilo que é inferido pelo psicólogo Diferenciar o que se afirma daquilo que se postula como provável Quando houver algum dado de valor muito espe cial especificar a técnica através da qual se infe riu ou detectou esse dado Incluir uma resenha das situações vitais mais significativas presentes e passadas especialmente aquelas que assumem o caráter de situações conflitivas eou repetitivas 6 Descrição de padrões de conduta diferencian do os predominantes dos acessórios Mudanças observadas 7 Descrição de traços de caráter e de personali dade incluindo a dinâmica psicológica ansieda de defesas citando a organização patográfica se houver Incluir uma avaliação do grau de ma turidade da personalidade Constituição citar a tipologia empregada Características emocio nais e intelectuais incluindo manipulação da lin guagem léxica e sintáxica etc nível de concei tuação emissão de juízos antecipação e planeja mento de situações canal preferido na comuni cação nível ou grau de coordenação diferenças entre comportamento verbal e motor capacidade de observação análise e síntese grau de atenção e concentração Relações entre o desempenho intelectual social profissional e emocional e ou tros itens significativos em cada caso particular Considerar as particularidades e alterações do de senvolvimento psicossexual mudanças na perso nalidade e na conduta 8 No caso de um informe muito detalhado ou mui to rigoroso por exemplo um informe pericial incluir os resultados de cada teste e de cada exa me complementar realizado 9 Conclusão diagnóstico e caracterização psico lógica do indivíduo e do seu grupo Responder especificamente aos objetivos do estudo por exemplo no caso da seleção de pessoal orien tação vocacional informe escolar etc 10 Incluir uma possibilidade prognóstica do ponto de vista psicológico fundamentando os elemen tos sobre os quais se baseia 11 Orientação possível indicar se são necessários novos exames e de que tipo Indicar a forma pos sível de remediar aliviar ou orientar o entrevis tado de acordo com o motivo do estudo ou se gundo as necessidades da instituição que soli citou o informe A entrevista psicológica 47 Abdt L E The Analysis of Structural Clinical Interview J Clin Psychol 5 1949 Baranger W La situación analítica como campo dinámico Rev Urug Psicoanal IVp 1 196162 Barilari M e Grasso L La vida deI enfermo y su interpretación Anamnesis El Ateneo Buenos Aires 1948 Berg C The First Interview G Allen and Unwin Londres 1954 Binger C The Doctor s Job Norton Nova York 1945 Bird B La conversación com lospacientes Vitae Buenos Aires 1960 Bogardus E S The New Social Research Jesse R Miler Los Angeles 1926 Brammer L M e Shostrom E L Psicología terapéutica Her rero México 1960 Buhler C El curso de Ia vida humana como problema psicológi co EspasaCalpe Buenos Aires 1943 Deutsch F e Murphy W F The Clinical Interview Int Univ Press 1955 Dollard J Criteriafor Life History Yale Univ Press 1935 Festinger L e Katz 0 Les méthodes de recherche dans les sciences sociales PUF Paris 1959 Finesinger J E Psychiatric Interviewing Am J Psychiatry 1051948 Fromm Reichmann FPrincipios de psicoterapia intensiva Hor mé Buenos Aires 1958 Garret A M Interviewing Its PrincipIes and Methods Family Welfare Association of America Nova York 1942 Gelbman F e Weke 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uma função social dentro das seguintes linhas a oferecer a possibilidade de um tra tamento psicanalítico limitado a um ano de duração a car go de Candidatos do Instituto de Psicanálise b podiam ser admitidos como pacientes pessoas sem muitos recur sos econômicos e cujo exercício profissional envolvesse o contato com outras pessoas de tal maneira que o benefI cio de um tratamento psicanalítico limitado a um ano pu desse redundar indiretamente num beneficio para as pes soas que estivessem em contato profissional com elas professores enfermeiros etc c os honorários para es ses tratamentos eram baixos e quem os recebia era o Cen tro Racker e não o Candidato encarregado do tratamento d o Candidato obtinha uma supervisão semanal gratuita a título de aprendizagem e dadas essas condições funda mentais decidiuse que não seriam admitidos pacientes que apresentassem clinicamente perversões sexuais psicose psicopatias e caracteropatias ou em geral per turbações ou estruturas que não pudessem obter beneficio com um ano de tratamento A seleção de pacientes passou por diferentes alter nativas porém fundamentalmente foi realizada sem pre com base em entrevistas em alguns casos ou perío dos acrescentouse o psicodiagnóstico de Rorschach e um pequeno questionário prévio O primeiro diretor do Centro Racker foi o dr David Liberman o segundo foi a dra Marie Langer e o terceiro fui eu Ao encarregarme da Direção do Centro Racker en tre outras atividades propus uma avaliação dos resulta dos do tratamento psicanalítico efetuado em condições tão particulares tanto como o estudo dos critérios implí citos na aceitação ou recusa dos pacientes nas entrevis tas de forma a poder chegar a um esboço de categoriza ção das entrevistas Esse esboço foi elaborado basicamente durante os estudos das entrevistas e dos protocolos de entrevistas de anos anteriores e também durante os Ateneus Clínicos se manais nos quais se contou com a valiosa colaboração dos drs Benito López e Carlos Paz Não se chegou a resultados totalmente satisfatórios ou completos porque sem esperar a avaliação que estávamos realizando uma Assembléia da Associação Psicanalítica reunida para deliberar sobre as funções do Centro Racker resolveu suprimir essa ativida de e portanto a experiência ficou truncada A apresentação agora deste esboço inconcluso e não submetido a uma prova totalmente satisfatória re flete o desejo de que possa servir também como guia pa ra a seleção de pacientes para a psicoterapia curta ou analiticamente orientada sem dúvida um problema de grande importância para o qual temos a impressão de que esse esboço pode ser útil Alguns autores vêem o diagnóstico de modo depre ciativo consideramno como para a psicanálise e a psiquiatria dinâmica prolongamento de um hobby de psiquiatras como diz 1M Thiel Não tratamos des se problema embora tenhamos consultado a literatura correspondente Outra avaliação da experiência do Centro Racker foi realizada separadamente sob a direção da dra Lily S Bleger e a colaboração dos drs Sheila Navarro de Ló pez Carlos Paz e Vera Campos Não se deve esquecer em momento algum o fato de que o esboço que apresentamos aqui foi elaborado com base numa amostra particular constituída por pacientes com as características assinaladas anteriormente e entre elas um ponto fundamental é a exclusão de pacientes com psicose clínica vício em drogas perversões psicopatias ou caracteropatias graves por considerar a priori inade quado para eles o tratamento psicanalítico limitado a um ano tal como o Centro o havia organizado Nosso proble ma era escolher pacientes que pudessem beneficiarse com um ano de tratamento psicanalítico mas além dis so devíamos ter a garantia até onde isso fosse possível de que o tratamento psicanalítico não iria provocar ne les distúrbios psicóticos ou psicopáticos perversões ou tentativas de suicídio até então encobertos ou desco nhecidos pelo paciente procurouse evitar também os pacientes que com um ano de tratamento começaram a ter condições de poder continuar com êxito ou produti vamente seu tratamento psicanalítico Paciente e analista tinham ao término do ano a liberdade de estabelecer um novo contrato com honorá rios iguais ou não se isso conviesse a ambos mas tam bém ignorávamos se isto constituía uma condição dese jável ou não Não vou me ocupar das características condições ou técnica com as quais se realizavam as entrevistas direi somente que elas se efetuavam de acordo com as diretri zes assinaladas no capítulo Entrevista psicológica Era evidente para nós que os diagnósticos psiquiá tricos tradicionais não nos ajudariam a resolver nosso problema ou seja a selecionar os pacientes para o tra tamento psicanalítico de tempo limitado e b avaliar os eventuais beneficios obtidos com esses tratamentos ou em todo caso saber o que estava acontecendo ou havia acontecido quando se fazia o que estávamos fazendo até aquele momento O estudo final para o qual nos encaminhávamos era de caráter estatístico e o especialista contratado pelo Centro Racker para esta função necessitava dos dados que tínhamos de fornecer Este projeto tinha também o seguinte objetivo prover os técnicos dos elementos ne cessários para que pudessem trabalhar estatisticamente Dadas as reformas que foram introduzidas o estudo es tatístico tampouco pôde ser concluído Em síntese queríamos elaborar um instrumento pa ra poder chegar a saber o que aconteceu considerandose a maneira como se procedeu na seleção dos pacientes e a modalidade da realização do tratamento psicanalítico de tempo limitado Com isso quero sublinhar que não se tra ta de apresentar um quadro diagnóstico ou um perfil de personalidade mas sim da apresentação de vetores parâmetros ou indicadores com os quais se poderia even tualmente chegar a um estudo estatístico Creio que atualmente e ainda com a experiência frustrada esse esboço possa servir para a seleção de pacientes em terapias de tempo limitado e quando che gar o momento para avaliação de tais tratamentos Devemos também levar em consideração que o es quema que elaboramos nos servia em parte para aceitar ou recusar pacientes mas que além disso era um instru mento a posteriori isto é um estudo dos fatores pelos quais em anos anteriores haviam sido admitidos ou recu sados pacientes e do grau ou tipo de beneficio obtido O esquema elaborado baseiase no conhecimento das partes neurótica e psicótica da personalidade cha madas em seu conjunto respectivamente neurotismo e psicotismo cada um deles dividido por sua vez em uma certa quantidade de indicadoresl 1Depois de adotadas as denominações de neurotismo e psicotismo observei que havia utilizado uma terminologia empregada por Eysenck 54 Temas de psicologia Nossos pressupostos teóricos eram que quanto mais predominasse o neurotismo melhor seria o prognóstico em uma terapia de tempo limitado e que também quan to maior fosse a flexibilidade o prognóstico e o benefI cio de um tratamento nas condições assinaladas seriam também melhores O oposto acontece com o psicotismo e a rigidez ou estereotipia Depois de tentar longas listagens chegamos a estes dois itens que denominamos neurotismo e psicotismo Cada um deles neurotismo e psicotismo se situavapor sua vez em uma escala de porcentagens e além disso divididos em rigidez ou flexibilidade Desenvolvi em outros escritos o que entendo por partes neurótica e psicótica da personalidade podese dizer que tudo o que mostra desenvolvimento do ego discriminação estabelecimento das posições esquizo paranóide e depressiva incluise dentro do neurotismo e tudo o que demonstre estar em nível de fusão falta ou déficit de discriminação fundamentalmente entre eu e nãoeu incluise dentro do que denomino psicotismo Defrontamonos logo com o problema de que ne nhum paciente apresenta absoluta ou totalmente caracte rísticas próprias do neurotismo ou do psicotismo que para cada um dos indicadores que utilizamos não se dá a mesma proporção nem as mesmas características de rigidez ou flexibilidade vimonos assim forçados a complicar um quadro que inicialmente parecia relativa mente simples Os indicadores para neurotismo e psi cotismo são os seguintes I Sintomas neuróticos presença de conflitos neu róticos e ansiedade 2 Transferência neurótica 3 Contratransferência neurótica 4 Manutenção da clivagem 5 Defesas fóbicas histéricas obsessivas paranói des Predomínio de projeçãointrojeção 6 Insight 7 Independência 8 Comunicação simbólica 1 Objetos de identificação não destruidos 9 Identidade personificação Discriminação homo heterossexual Sonhos faço aqui esta referência porque quero esclarecer que não existe nenhuma semelhança com o significado dos termos nem com a posição teórica e téc nica adotada por esse autor da qual estou totalmente afastado Pareceume e ainda me parece absolutamente prejudicial e errôneo modificar uma ter minologia pelo fato de que com antecedência Eysenck a tivesse usado com objetivo e posições teóricas diferentes das que sustento e desenvolvo 10 Amplitude do Ego 11 Ciúmes rivalidade 12 Sublimação 1 Doença orgânica atual Tensão 2 Transferência psicótica Narcisismo 3 Contratransferência de caráter psicótico 4 Clivagem não conservada ou em perigo de perderse 5 Defesas caracteropáticas hipocondríacas me lancólicas maníacas perversas Predomínio de identificações proj etivas introj etivas 6 Falta de insight 7 Dependência 8 Comunicação préverbal 9 Identidade dispersão ambigüidade confusão onirismo Sonhos 10 Restrição do Ego 11 Inveja Obtidos estes indicadores trabalhouse com eles tentandose diferentes representações gráficas e numé ricas não se tendo chegado a nenhuma definitiva Em um dos ensaios limitávamonos a fazer uma lista dos in dicadores classificando sua intensidade em uma escala de zero a cem e acrescentando em cada caso um sinal positivo ou negativo para significar seu caráter de fle xibilidade ou estereotipia esperavase com isso poder proceder ulteriormente a um cruzamento estatístico das variáveis Esses dados passaram também a ser represen tados em gráficos em um deles uma linha horizontal se 57 Ensaio de categorização da entrevista para flexibilidade de estereotipia e sobre uma coordena da estabelecese uma escala porcentual anotandose cada indicador na dupla especificação de intensidade e fle xibilidadeestereotipia Em outra tentativa uma linha ver tical separa neurotismo e psicotismo outra horizontal separa flexibilidade de estereotipia e sobre as coorde nadas verticais fixase a intensidade de zero a cem Já se sabe que uma equação algébrica pode ser re presentada por um gráfico e que da mesma forma um gráfico pode ser reduzido a uma equação algébrica Pen sávamos que poderíamos chegar a um ponto no qual a avaliação poderia ser representada algebricamente Nes te ponto as possibilidades ficaram totalmente abertas para serem desenvolvidas Ficou também pendente nosso propósito de confec cionar um Manual do Tabulador que teria de surgir de um consenso da equipe que em certa medida já chega ra a têlo Eysenck H J C1assification and Prob1ems of Diagnosis em Handbook of Abnormal Psychology Pitman Londres 1960 Frosck J Stone L e Zetze1 E An Examination of Noso10gy According to Psychoana1ytica1Approach to the C1assification ofMenta1 Disorder J Ment Sei 78 1932 López B Rabih M Entrevista inicial y contraidentificación Asociac Psicoanal Arg 1966 Nagera H The Deve10pmenta1 Profi1e The Psychoanal Study ofthe Child XVIII The Univ Press Nova York Paz C A Analizabilidad Apresentado na Asoc Psicoanal Argentina Ross N Report ofPane1 on An Examination ofNoso10gy Accord ing to Psychoana1ytic Concepts J Amer Psychoanal Assoe 8 1960 Scott W C M A Rec1assification ofPsychopatho10gica1 States fnt J PsychoAnal 431962 Stenge1 E The C1assification ofMenta1 Disorders Bul World Health Org 211959 Zetze1 E R The Use and Misuse ofPsychoana1ysis in Psychi atric Eva1uation and Psychotherapeutic Practice Prac 6th fnt Congress Psychotherapy Kerger Basiléia e Nova York 1965 Conferência pronunciada em 1961 na Associa ção Argentina de Psicologia e Psicoterapia de Grupo Seu resumo foi publicado na Revista de Psicologia e Psicoterapia de Grupo 121961 Exemplares mimeografados foram utilizados pe lo corpo docente da Faculdade de Medicina de Montevidéu e da Escola de Psicologia da Uni versidade de Havana o grupo operativo segundo a definição do inicia dor do método Enrique J PichonRiviere é um con junto de pessoas com um objetivo comum que procuram abordar trabalhando como equipe A estrutura de equi pe só se consegue na medida em que opera grande par te do trabalho do grupo operativo consiste em resumo no treinamento para trabalhar como equipe No campo do ensino o grupo preparase para apren der e isto só se alcança enquanto se aprende quer dizer enquanto se trabalha O grupo operativo tem objetivos problemas recur sos e conflitos que devem ser estudados e considerados pelo próprio grupo à medida que vão aparecendo serão examinados em relação com a tarefa e em função dos objetivos propostos Através de sua atividade os seres humanos entram em determinadas relações entre si e com as coisas além da mera vinculação técnica com a tarefa a realizar e este 60 Temasdepsicologia complexo de elementos subjetivos e de relação consti tui o seu fator humano mais específico N o ensino o grupo operativo trabalha sobre um tó pico de estudo dado porém enquanto o desenvolve se forma nos diferentes aspectos do fator humano Embo ra o grupo esteja concretamente aplicado a uma tarefa o fator humano tem importância primordial já que cons titui o instrumento de todos os instrumentos Não exis te nenhum instrumento que funcione sem o ser humano Opomonos à velha ilusão tão difundida de que uma ta refa é mais bem realizada quando são excluídos os chama dos fatores subjetivos e ela é considerada apenas obje tivamente pelo contrário afirmamos e garantimos na prática que o mais alto grau de eficiência em uma tare fa é obtido quando se incorpora sistematicamente a ela o ser humano total Por outro lado e com isto estamos ape nas aceitando os fatos como são incorporamos o ser hu mano na teoria e na condução operativa da tarefa porque já estava incluído de fato Porém esta inclusão é agora desalienante de tal maneira que o todo fique integrado e que a tarefa e as coisas não acabem absorvendo alie nando os seres humanos No mundo humano alcançase maior objetividade ao incorporarse o ser humano inclu sive os fatores subjetivos quer dizer tomando as coisas tal como acontecem para entendêIas e poder fazer com que aconteçam da melhor maneira De modo algum estas considerações saem do nosso tema porque entre os instrumentos sociais de alienação está em lugar relevante o ensino e a forma com que em geral se realiza desumanizada e desumanizante Para a presente exposição baseeime na Experiên cia Rosário na experiência de grupos operativos da Es cola Privada de Psiquiatria que já completou três anos de experiência e na experiência realizada em diferen tes cátedras em várias faculdades 1 Embora sem seguir estritamente esta ordem vou procurar desenvolver as seguintes questões a como se realiza a aprendizagem nos grupos operativos b porque se procede assim c a experiência obtida e d de modo geral o que se pode dizer sobre a aprendizagem em fun ção desta experiência com grupos operativos Tratase de grupos de aprendizagem ou grupos de en sino Na realidade de ambas as coisas e este é um ponto fundamental de nossa colocação Ensino e aprendizagem constituem passos dialéticos inseparáveis integrantes de um processo único em permanente movimento porém não só pelo fato de que quando existe alguém que apren de tem de haver outro que ensina como também em vir tude do princípio segundo o qual não se pode ensinar cor 1 E PichonRiviere e colab Técnica de 10s grupos operativos Acta Neuropsiquiátrica Argentina 6 p 32 1960 62 Temas de psicologia retamente enquanto não se aprende e durante a própria tarefa de ensinar Este processo de interação deve resta belecerse plenamente no emprego do grupo operativo Na proposição tradicional existe uma pessoa ou gru po um status que ensina e outro que aprende Esta dis sociação deve ser suprimida porém tal supressão cria necessariamente ansiedade devido à mudança e aban dono de uma conduta estereotipada De fato as normas são nos seres humanos condutas e toda conduta é sem pre um papel a manutenção e repetição das mesmas condutas e normas de modo ritual acarreta a vanta gem de não se enfrentarem mudanças nem coisas novas e assim evitarse a ansiedade Porém o preço dessa se gurança e tranqüilidade é o bloqueio do ensino e da aprendizagem e a transformação desses instrumentos no oposto daquilo que devem ser um meio de alienação do ser humano Em uma cátedra ou em uma equipe de trabalho a simples colocação da necessidade da interação entre en sino e aprendizagem ameaça romper estereótipos e pro voca o aparecimento de ansiedades O mesmo acontece quando se abordam mudanças nos cursos magistrais estereotipados e naqueles em que tudo já está correto e nos quais sempre se repete o mesmo esta reação im plica um bloqueio uma verdadeira neurose do learning que por sua vez incide sobre os estudantes como dis torção da aprendizagem Não se pode pretender organi zar o ensino em grupos operativos sem que o pessoal do cente entre no mesmo processo dialético que os estu dantes sem dinamizar e relativizar os papéis e sem abrir amplamente a possibilidade de um ensino e de uma apren dizagem mútua e recíproca O corpo docente teme a rup tura do status e o conseqüente caos e nesse sentido é necessário analisar as ansiedades de ficar nu sem sta tus diante do estudante que aparece então com toda a magnitude de um verdadeiro objeto persecutório deve se criar consciência de que a melhor defesa é conhe cer o que se vai ensinar e ser honesto na valorização do que se sabe e do que se desconhece Um ponto culmi nante desse processo é o momento em que aquele que ensina pode dizer não sei e admitir assim que realmen te desconhece algum tema ou tópico Esse momento é de suma importância porque implica entre outras coisas o abandono da atitude de onipotência a redução do narcisismo a adoção de atitudes adequadas na relação interpessoal a indagação e a aprendizagem e a coloca ção como ser humano diante de outros seres humanos e das coisas tais como elas são O nível do não sei é atingido quando se toma possí vel problematizar e quando se possui os instrumentos ne cessários para resolver os problemas suscitados Não es tou defendendo nem fazendo proselitismo da ignorância mas enfatizando a necessidade de colocar as coisas dentro do limite do humano e assinalando com isso a possibili dade de uma maior integração e aperfeiçoamento na tare fa A imagem realizada do professor onipotente e onis ciente perturba a aprendizagem em primeiro lugar do próprio professor O mais importante em todo campo 65 Grupos operativos no ensino do conhecimento não é dispor de informação acabada mas possuir instrumentos para resolver os problemas que se apresentam em tal campo quem se sentir possuidor de informação acabada tem esgotadas suas possibilidades de aprender e de ensinar de forma realmente proveitosa No ensino e na aprendizagem em grupos operativos não se trata só de transmitir informação mas também de conseguir que seus integrantes incorporem e mani pulem os instrumentos de indagação E isto só é possí vel depois que o corpo docente já o tiver conseguido para si Sublinho que o mais importante em um campo científico não é o acúmulo de conhecimentos adquiri dos mas a sua utilização como instrumento para indagar e atuar sobre a realidade Existe grande diferença entre o conhecimento acumulado e o utilizado o primeiro alie na inclusive o sábio o segundo enriquece a tarefa e o ser humano Seguindo em parte Montesquieu podese voltar a dizer que encher cabeças não é o mesmo que for mar cabeças E menos ainda formar tantas que cada um tenha a própria Não existe ser humano que não possa ensinar algo quando mais não seja pelo simples fato de ter certa ex periência de vida Esclareçamos também que não se trata só de aprender no sentido limitado de recolher in formação explicitada mas sim de converter em ensino e aprendizagem toda conduta e experiência relação ou ocupação Aprendizagem e ensino estão tão solidaria mente relacionados que com freqüência nos grupos ope rativos que se ocupam deste tema cunhouse um neolo gismo que apareceu primeiro como lapso e que integra os dois termos Ensinagem O coordenador de um grupo operativo e o diretor de um ensino organizado operativamente devem traba lhar ou melhor dizendo cotrabalhar ou copensar como diz E PichonRiviere com os estudantes e com todos os auxiliares Quando essa proposição surgiu em um gru po operativo de auxiliares de uma cátedra alguns ale garam que se se trabalhasse assim haveria o risco de que os estudantes acreditassem que existem coisas que não sabemos E a resposta foi que isso é certo e que os estudantes terão razão se pensarem assim e que nós também temos de admitiIo como verdade A organização do ensino em grupos operativos exi ge que se desarmem e se rompam uma série de estereóti pos que se vêm repetindo e que servem como defesas da ansiedade mas que paralisam o processo dialético de ensino e aprendizagem Não se deve fomentar nenhuma imagem falsa nem de professores nem de estudantes e devese transmitir a informação no nível em que ela se encontre sem deixar de apresentar os fatos duvidosos contraditórios ou não resolvidos Grande parte da facili tação ou simplificação efetuadas com finalidades didáti cas como ocorre na maior parte dos textos administram a informação como alimento prédigerido e servem para encher cabeças mas não para formáIas Os sistemas educativos e pedagógicos são por outro lado institui ções que se modelam na luta de interesses de classes sociais e os métodos antiquados de ensino são instru 66 Temas de psicologia 67 Grupos operativos no ensino mentos de bloqueio e controle que nesse sentido preen chem amplamente seus objetivos políticos sociais e ideológicos E como se transmitem aos estudantes os instrumen tos de problematização e indagação Só existe uma for ma de fazêIo é empregáIos transformando os estudan tes de receptores passivos em coautores dos resultados conseguindo que utilizem que se encarreguem de suas potencialidades como seres humanos Em outros termos devese energizar ou dinamizar as capacidades dos es tudantes assim como as do corpo docente ensinar o já comprovado o depurado o trabalho com grupos operativos pelo contrário conduziunos à con vicção de que se deve partir do atual e presente e que toda a história de uma ciência deve ser reelaborada em função disso Não se devem ocultar as lacunas nem as dúvidas nem preenchêIas com improvisações A instituição em que se oferece o ensino deve em sua totalidade ser organizada como instrumento de ensi no e por sua vez ser radical e permanentemente pro blematizada Os conflitos de ordem institucional trans cendem de forma implícita e aparecem como distor ções do próprio ensino Os conflitos não explicitados nem resolvidos no nível da organização institucional canalizamse nos níveis inferiores de tal maneira que o estudante se torna uma espécie de recipiente no qual os conflitos poderão cair ou causar impacto No decorrer do ensino em grupos operativos deve se estudar e investigar o próprio ensino bem como pro blematizar os conhecimentos e instrumentos de todo tipo Nesse e em todo sentido o clima de liberdade é imprescindível No ensino operativo devese procurar caminhar pa ra o desconhecido para a indagação daquilo que ainda não está suficientemente elucidado Se existe uma or dem geral básica que deve ser levada em conta é a de romper estereótipos em todos os níveis e planos em que apareçam A estereotipia é a traça das cátedras Em ciên cia não só se avança encontrando soluções mas tam bém e fundamentalmente criando problemas novos e A técnica operativano ensino modifica substancial mente a organização e sua administração tanto como os objetivos que se desejam alcançar Problematiza em primeiro lugar o próprio ensino e promove a explicita ção das dificuldades e conflitos que a perturbam ou dis torcem É um instrumento de trabalho e não constitui uma panacéia que resolve todos os problemas o que aliás é utópico Toda a informação científica tem de ser transformada e incorporada como instrumento para ope rar e de nenhuma maneira deve tender à simples acumu lação de conhecimentos Isso obriga a sistematizar o con teúdo dos programas ou as matérias de uma maneira dis tinta da tradicional Geralmente supõese que se deve 68 Temas de psicologia 69 Grupos operativos no ensino é necessário educarse para perder o medo de provocá los Nessa ação o estudante aprende com sua partici pação direta a problematizar tanto corno a empregar os instrumentos para encontrar e estabelecer as possíveis vias de solução quece com os resultados da sua aplicação Procuramos fazer com que toda informação seja incorporada ou as similada corno instrumento para voltar a aprender e con tinuar criando e resolvendo os problemas do campo cien tífico ou do terna tratado o termo aprender está bastante contaminado pelo intelectualismo assim concebese o processo corno a operação intelectual de acumular informação Outra de finição ainda que correta em certo sentido traduz a aprendizagem em urna linguagem reducionista e afir ma que é urna modificação do sistema nervoso produ zida pela experiência Preferimos o conceito de que a aprendizagem é a modificação mais ou menos estável de linhas de conduta entendendose por conduta todas as modificações do ser humano seja qual for a área em que apareçam nesse sentido pode haver aprendizagem ainda que não se tenha a sua formulação intelectual Pode haver também uma captação intelectual corno fór mula mas ficar tudo reduzido a isso nesse caso dáse urna dissociação na aprendizagem resultado muito co mum dos procedimentos correntes A técnica operativa também implica uma verdadei ra concepção da totalidade do processo essa concepção é instrumentada pela técnica que por sua vez se enri A distorção ideológica do ensino tradicional che gou a tal ponto que é necessário hoje reincorporar o ser humano à aprendizagem da qual foi marginalizado em nome de urna pretensa objetividade Urna verdade óbvia é que não existe aprendizagem sem a intervenção do ser humano mas na prática ignorouse isso corno se o objetivo não fosse realmente conseguir que o ser humano assimilasse instrumentos para o seu desenvol vimento mas que se transformasse em um instrumento desumanizado alienado não se tratava somente de do minar objetos com o conhecimento mas também de domi nar e controlar seres humanos com a aprendizagem e o ensmo O ser humano está integralmente incluído em tudo aquilo em que intervém de tal maneira que quando exis te urna tarefa sem resolução há ao mesmo tempo urna tensão ou um conflito psicológico e quando é encon trada urna solução para um problema ou tarefa simul taneamente fica superada urna tensão ou um conflito psi 70 Temasdepsicologia Gruposoperativosno ensino 71 cológico O conhecimento adquirido de um objeto é ao mesmo tempo unicamente uma conduta do ser huma no Quando se trabalha um objeto não apenas o objeto está sendo modificado mas também o sujeito e vice versa e as duas coisas ocorrem ao mesmo tempo Não se pode operar além das possibilidades reais do objeto tampouco além das possibilidades reais e momentâneas do sujeito e as possibilidades psicológicas do sujeito são tão reais e objetivas como as do objeto Assim todo impedimento déficit ou distorção da aprendizagem é ao mesmo tempo um impedimento dé ficit ou distorção da personalidade do sujeito e vice versa todos os transtornos da personalidade neurose psicose caracteropatias perversões são transtornos da aprendizagem O tratamento psicanalítico tende a rom per estes estereótipos de conduta a reabrir e possibilitar de novo uma aprendizagem e portanto uma retifica ção daquilo que foi obtido anteriormente Dessa manei rajá não há uma diferença essencial entre aprendizagem e terapia na teoria e na técnica dos grupos operativos a diferença está tãosomente na tarefa explícita que o grupo se propõe realizar O grupo operativo que chega a se constituir em equipe que aprende consegue impli citamente uma certa retificação de vínculos estereoti pados e portanto um certo grau de efeito terapêutico Isso não quer dizer de modo algum que qualquer tarefa realizada em qualquer condição seja terapêutica tampouco que basta pôr um doente para trabalhar indi vidualmente ou em grupo para conseguir sua cura Nis so se baseia em grande parte o erro de muitos sistemas de terapia ocupacional que acreditam que o trabalho cura O trabalho em si é uma abstração que não cura nem faz adoecero que cura enriquece apersonalidade ou faz adoecer são as condições humanas e inumanas em que o trabalho é realizado o tipo de vínculo ou relação interpessoal que se estabelece durante o trabalho O grupo operativo tende a atingir um vínculo óti mo que enriqueça a personalidade e a tarefa e retifique padrões estereotipados e distorcidos A propósito con vém esclarecer que a simples estereotipia ou bloqueio da aprendizagem já é por si só e por isso mesmo uma distorção da conduta neurótica ou psicótica O restabelecimento da espiral e a ruptura de este reótipos são as ações conjuntas às quais o coordenador do grupo operativo deve estar atento à medida que o consegue as dissociações vão sendo superadas Uma delas que já consideramos é a de sujeitoobjeto como par dialético outra de suma importância é a da disso ciação tão freqüente entre teoria e prática entre infor mação e realização ou entre o que se sabe ou diz que se sabe e o que realmente se faz Desse modo as dissocia ções perturbações neuróticas eou aprendizagem che gam a uma proporção alarmante que abrange todos os graus desde a informação enciclopédica acompanhada de uma prática grosseira até a falta de informação unida a uma grande habilidade e olho clínico na práti ca Em ambos os casos está desumanizada a tarefa e o ser humano A práxis enriquece a tarefa e o ser humano 73 Grupos operativos no ensino e é isto que devemos conseguir no grupo rompendo as dissociações entre teoria e prática em cada uma e em to das as modalidades em que elas podem ocorrer inclusi ve dissociação e contradição tão freqüente entre ideolo gia e ação Elas não são apenas perturbações da tarefa mas são também ao mesmo tempo dissociações da per sonalidade e ao superáIas o resultado é duplo Embora se possam utilizar e se utilizem técnicas operativas em grupos terapêuticos os grupos de ensino não são diretamente terapêuticos mas a tarefa da apren dizagem implica terapia toda aprendizagem bem reali zada e toda educação são sempre implicitamente tera pêuticas A necessidade de recorrer a procedimentos te rapêuticos específicos seria um indicador de que a téc nica operativa foi mal utilizada mobilizando e forçando ansiedades além do que indicavam os emergentes do pró prio grupo e além daquilo que é possível fazer de mo do implícito na tarefa da aprendizágem Todos os procedimentos pedagógicos tenderam sem pre a formar e modificar adequadamente a personali dade do estudante Agora isso tornouse possível atra vés das técnicas operativas A confusão entre terapia e ensino não pertence a essas últimas mas sim aos peda gogos que procuraram o que temiam encontrar e agora temem o que foi encontrado o pensar é o eixo da aprendizagem e nos grupos ope rativos ao estabelecerse a espiral fazse com que o pensa mento intervenha ativamente Há uma aprendizagem ou parte dela que tem lugar exclusivamente na área corporal como por exemplo aprender a escrever à máquina ou andar de bicicleta e nestes casos devese completáIa le vando ao plano do pensamento o que se fez ou se aprendeu no nível corporal Uma alta porcentagem do trabalho em nossa cultura industrial realizase exclusivamente na área corporal tanto o trabalho de um operário como o de um profissional o que facilita ou condiciona a dissociação entre o que se faz e o que se pensa durante a execução da tarefa Um aprendizado bemsucedido exige a eliminação desta dissociação e o conseqüente enriquecimento da tare fa com aquilo que se pensa e o enriquecimento do que se pensa com aquilo que se faz Se nos perguntassem se pensamos responderíamos afirmativamente e inclusive consideraríamos a pergun ta ofensiva óbvia ou absurda Contudo muito do que se chama pensar é somente um círculo vicioso e este reotipado Outras vezes ou ligado ao anterior chamase pensar a uma dissociação na tarefa um pensar que não antecede nem segue à ação mas que a substitui Todas essas formas distorcidas do pensar não são só condutas psicológicas com motivações individuais mas são fun damentalmente padrões culturais e formam parte da 74 Temas de psicologia superestrutura da organização socioeconâmica vigente Parte desse arsenal ideológico está constituído pela ló gica formal que fragmenta elementariza o processo do pensamento Esse é sempre um processo dialético a lógica formal não é um pensamento criador e sim a estereotipia e o controle do pensamento O espontâneo é o pensamento dialético que está limitado e reprimido pelo pensamento formal porque com ele na realidade não se pensa mas se critica e se controla o pensar dia lético até um limite em que inclusive se chega a blo queáIo A ruptura desse bloqueio traz como se verá mais adiante confusão e dispersão porém é uma pas sagem necessária para o restabelecimento do pensamen to dialético Mencionemos de passagem que nem todos os que falam de dialética realmente a empregam e que é freqüente a coexistência de um pensamento rigidamen te formal com uma defesa verbal da dialética Para poder pensar é preciso haver chegado a um ní vel no qual seja possível admitir e tolerar um certo vo lume de ansiedade provocada pelo aparecimento da es piral com a conseqüente abertura de possibilidades e perda de estereotipias ou seja de controles seguros e fixos Em outros termos pensar equivale a abandonar um marco de segurança e verse lançado numa corrente de possibilidades No pensamento o objeto e o sujeito sempre coincidem e não se pode remover o objeto sem remover e problematizar o sujeito no medo de pensar está incluído o temor de passar ansiedades e con fusões e ficar encerrado nelas sem poder sair Ansieda des e confusões são por outro lado iniludíveis no pro cesso do pensar e portanto da aprendizagem Uma das maiores virtudes do grupo operativo é a possibilidade que oferece de aprender a agir pensar e fantasiar com liberdade a reconhecer o nexo estreito e a sutil passagem que existe entre imaginar fantasiar pensar e propor hipóteses científicas Nesse sentido é muito comum o medo de cair na loucura ou no descon trole do pensamento e da fantasia a louca da casa Todavia sem fantasia e sem imaginação não existe pen samento criador A realidade ultrapassa a imaginação e a fantasia de todos os homens juntos Devese ajudar o grupo a trabalhar esse medo da loucura e do descontro le ensináIo a aceitar jogar com o pensamento e com a tarefa e a obter prazer com eles A situação mais feliz é aquela em que trabalho e hobby coincidem no sentido de que o trabalho seja ao mesmo tempo fonte de pra zer Sem dúvida e paradoxalmente medos e sofrimen tos são momentos do processo criador que se aceitam com mais facilidade do que os momentos do prazer de pensar e trabalhar Um problema muito freqüente nos grupos operativos é o aparecimento de sentimentos de culpa por pensar como outro bloqueio E quando se con segue que o grupo aceite sem culpa o prazer de pensar e o prazer do trabalho podese enfrentar problemas li gados ao sentimento de culpa por ensinar a pensar e pelo prazer e gratificação que isso provoca no corpo docente Não existe maior gratificação na docência do que o ensinar a pensar a atuar segundo o que se pensa e a pensar segundo o que se faz enquanto se faz Porém o pensar não é inofensivo e fazer pensar tam bém não o é Basta lembrar o destino de Sócrates e com paráIo com o de seus acusadores Meleto Anito e Li con representantes da tradição e da estereotipia Bachelard dizia que pensamos sempre contra al guém é preciso acrescentar que também pensamos com alguém e para alguém ou algo Na realidade todos esses vínculos coexistem e se alternam como momentos de um só processo que sem dúvida pode ser perturbado e ficar paralisado em algum desses momentos É muito freqüen te o caso de indivíduos que só podem pensar contra outro contra o que pensa o outro nesse caso comprovase que se o sujeito não age assim entra em confusão Em com pensação mantémse livre dela enquanto atribui a outro o papel de sua própria parte contraditória No ensino em grupos operativos devese também suprir a necessidade de pensar com rigor terminológico e técnico envolvendo quando necessário a análise se mântica de modo que a comunicação verbal se preste o menos possível a ser veículo de malentendidos O processo de aprendizagem funciona no grupo como uma verdadeira maiêutica não no sentido de que tudo consiste em tirar de cada um o que já tem dentro de si mas no de que é o grupo que cria seus objetivos e faz suas descobertas através da ativação daquilo que exis te em cada ser humano de riqueza e experiência ainda que pelo simples fato de viver Os integrantes do grupo não só aprendem a pensar como também que a abertura da espiral permite que se aprenda a observar e escutar a relacionar as próprias opiniões com as alheias a admitir que outros pensem de modo diferente e a formular hipóteses em uma tare fa de equipe Junto com isso os integrantes do grupo também aprendem a ler e estudar Comentase habitual mente nos ambientes profissionais que o estudante ou o profissional interessado na sua tarefa tende apenas a se informar isto é a digerir uma grande quantidade de livros e revistas que vê superficialmente porque para ele o importante é captar o novo e fazer aprovisiona mento de bibliografia e informação o grupo operativo leva a pensar durante a leitura e a considerar isso como o mais importante da leitura de modo que ela seja utili zada como diálogo produtivo e não estereotipado ou blo queante2 Neste sentido um só artigo consistente pode bastar para a meditação durante semanas Para que o grupo realize tudo isto seu coordenador deve trabalhar fundamentalmente a estereotipia e ana lisar os esquemas referenciais do grupo bem como man ter um nível ótimo de ansiedade Não é preciso fazer nada para que se estabeleça o processo dialético do pensar porque ele é espontâneo porém há muito o que fazer para remover as barreiras e bloqueios que impedem seu funcionamento grupo operativo amplia as possibilidades racionais e im plica um exame da fonte vulgar do conhecimento e por tanto também a reorganização e o seu aproveitamento racional na tarefa científica aceitando uma continuidade entre o conhecimento científico e o vulgar Assim como o esquema referencial de caráter dinâ mico e plástico é a condição necessária para a aprendi zagem o estereotipado transformase em barreira O questionamento do esquema referencial é o método para romper estereótipos porém é só ao ser usado que ele pode ser questionado e mudado A técnica do grupo opera tivo deve orientarse para a participação livre espontânea de seus integrantes que assim trarão seus esquemas refe renciais e os colocarão à prova numa realidade mais ampla fora dos limites da estereotipia do autismo ou do narcisis mo tomando consciência deles com a conseqüente retifi cação Por outro lado não se trata de obter uma modifica ção do esquema referencial em um sentido ou modalidade prefixada nem de conseguir um esquema referencial já completo ou estruturado A aprendizagem consiste funda mentalmente e de modo ótimo em obter a possibilidade de uma permanente revisão do esquema referencial em função das experiências de cada situação tanto dentro do grupo como fora dele Tratase portanto de aprender a manter um esquema referencial plástico e não estereotipa do como instrumento que se vai continuamente retifican do criando modificando e aperfeiçoando O esquema referencial constitui em síntese uma cer ta integração unitária do mundo e do corpo e com ele O esquema referencial é o conjunto de experiên cias conhecimentos e afetos com os quais o indivíduo pensa e atua É o resultado dinâmico da cristalização organizada e estruturada na personalidade de um gran de conjunto de experiências que refletem uma certa es trutura do mundo externo conjunto segundo o qual o sujeito pensa e atua sobre o mundo No grupo operativo a tática deve ser dirigida à re visão do esquema referencial que deve ser objeto de questionamento constante Não havendo um esquema re ferencial adequado os fenômenos não são percebidos porém para que se forme o esquema referencial neces sário é imprescindível manterse em contato e em inter jogo com o objeto de indagação Quando descobrimos o fenômeno estamos além disso criando conscientemen te o esquema referencial para percebêIo mas para con seguir isso é preciso uma longa experiência prévia com o objeto que leve a produzir uma impregnação progres siva e gradual do sujeito pelo objeto até o momento em que ocorre o salto dialético e o esquema referencial se torna consciente O esquema referencial consciente não é a única coisa importante mas também o são todos os seus componentes inconscientes ou dissociados que entram emjogo e que não sendo conhecidos distorcem ou bloqueiam a aprendizagem Em grande parte o es quema referencial é o a priori irracional do conheci mento racional e do trabalho científico Sua revisão no 80 Temas de psicologia controlamse tensões e impedese a irrupção traumáti ca de situações ou fatos novos A graduação das ansie dades é um fator importante para a revisão do esquema referencia1 No grupo operativo constróise paulatinamente um esquema referencial grupal que é o que realmente pos sibilita a sua atuação corno equipe com unidade e coe rência Isso não quer dizer que todos pensem igual o que em última instância seria o contrário do que desejamos do grupo operativo Unidade não significa em seu sen tido dialético exclusão de opostos mas inversamente a unidade inclui e implica a existência de opostos em seu seio Essa é a verdadeira unidade de um grupo ope rativo O ótimo se dá quando existe urna máxima hete rogeneidade dos integrantes com máxima homogenei dade da tarefa O esquema referencial é sempre urna parte integran te das ideologias e estas entram sempre e inevitavel mente no grupo operativo tanto corno em toda tarefa de ensino e aprendizagem Devese conseguir que cada membro trabalhe com a sua ideologia e isto constitui a sua melhor crítica e revisão não se trata de defendêIa em urna exposição teórica mas de usáIa Aparecerão então dificuldades e dissociações bem corno contradi ções e coexistência de ideologias excludentes ou de seg mentos não integrados A ideologia é integrada e defen dida quando se trabalha com ela e não falando sobre ela Incluímos nestas considerações as ideologias de todo tipo políticas científicas sociais econômicas religio sas etc bem corno as específicas de alguns campos científicos psiquiatria psicologia etc O problema muito difundido de ambigüidade e coexistência não questio nadas de elementos de ideologias opostas tende a ser resolvido nessa tarefa do grupo operativo Devemos con seguir que a ideologia seja um instrumento para o ser humano e não que ele se transforme em instrumento da ideologia Também não se trata de considerar as ideo logias corno fenômenos nocivos mas isso sim de que o grupo as utilize e operando com elas submetaas à prova e verificação de que possam ampliarse e retifi carse e tenham integração coerência força diretriz e convicção No grupo operativo procuramos fazer com que cada um utilize seus esquemas referenciais assim corno suas ideologias O resto acontece sozinho A tarefa de aprender e o terna correspondente ca nalizam a atenção direta do grupo e de seu coordena dor mas embora dando atenção à tarefa o que funda mentalmente nos interessa são os seres humanos nela implicados de tal maneira que sem poder separar tare fa e participantes urna boa tarefa é simultânea à inte gração e à aprendizagem grupa1 A relação entre tarefa ou objetivo e os seres humanos implicados verificase através da análise do esquema referencial e da graduação das ansiedades que isso implica A informação que deve ser assimilada constitui o conteúdo manifesto enquanto o esquema referencial é o conteúdo latente precisamos trabalhar e dar atenção a ambos permanentemente O grupo operativo trabalha a partir de certa infor mação porém ela pode aparecer de diferentes maneiras no grupo pode ser trazida diretamente em forma inte lectual e nesse caso o grupo reconstrói a totalidade a partir do que foi trazido fragmentado por seus membros e as dificuldades são examinadas em função do fracio namento e das omissões e distorções O grupo enrique ce a informação à medida que a reconstrói e quando a aprende ela já é superior à informação originariamente fragmentada Porém a informação pode ser levada ao grupo de forma latente ou então através de uma atuação Neste último caso o grupo ou alguns de seus integran tes representa a informação se por exemplo o tema é o da família do esquizofrênico o grupo operativo pode representar ou atuar com alguma das características so bre as quais tenha se informado Esse é um aspecto mui to atraente que aparece quase sistematicamente nos gru pos operativos que trabalham no ensino da psiquiatria embora não se observe o mesmo no sentido da psicolo gia Épossível que uma das causas seja o grau de ansie dade despertada pela informação no sentido de que a uma ansiedade maior corresponde uma maior identifi cação enquanto para uma ansiedade menor a informa ção pode ser recebida ou incorporada simbolicamente como conteúdo intelectual Isso está estritamente vin culado às teorias que afirmam que o aparecimento de condutas na área da mente depende da possibilidade de transferir respostas Nos grupos operativos o processo de aprendizagem só se estabelece e se leva a cabo ao se regular a distan cia com o objeto de conhecimento Existe uma distância ótima que corresponde a uma ansiedade ótima acima ou abaixo da qual a aprendizagem fica prejudicada Um princípio técnico básico que E PichonRiviere cha mou a regra de ouro da técnica dos grupos operativos é respeitar o emergente do grupo ou seja trabalhar com a informação que o grupo atualiza a cada momento e que corresponde ao que momentaneamente pode admi tir e elaborar Respeitando o emergente mantémse e trabalhase a distância com o objeto de conhecimento que o grupo pode tolerar Sem ansiedade não se aprende e com muita ansie dade também não O nível ótimo é aquele no qual a an siedade funciona como um sinal de alarme Existem duas condutas grupais extremas e típicas uma é aquela na qual não existe ansiedade e o grupo não trabalha já sa bem tudo e não existem dúvidas de modo que fica blo queado o aparecimento de qualquer novo emergente No primeiro caso devese questionar a ansiedade em fun ção do tema não é raro surgir uma situação de desper sonalização no grupo ou em algum de seus membros No segundo caso devese questionar o bloqueio tam bém em função do impacto do tema Em ambos há um obstáculo epistemológico agindo através de uma rup tura muito brusca do esquema referencial num caso e da estereotipia no outro O desconhecido é perigoso persecutório e pode desorganizar as defesas do grupo que se vê então inva dido pelo tema Na outra situação também freqüente devese fazer com que o cotidiano e comum o já co nhecido tornese estranho Quer dizer mostráIo sob aspectos diferentes dos estereotipados dessa maneira inclusive o cotidiano e o comum convertemse em obje to de indagação e aprendizagem porque o desconheci do está presente inclusive nos fenômenos correntes Devese tornar estranha a experiência corrente atitu de que por outro lado é o procedimento de indagação entre outros do artista que nos apresenta o cotidiano sob uma nova faceta ou sob um enfoque ou perspectiva real mas diferente do que temos habitualmente Desse modo na realidade aprender não é senão aprender a indagar Não há investigação possível sem ansiedade no campo de trabalho provocada pelo des conhecido que por ser desconhecido é perigoso Para investigar é preciso manter em qualquer idade inclusi ve na maturidade um pouco da desorganização ou da facilidade para a desorganização que têm a criança e o adolescente a capacidade de assombrarse Na realida de os problemas do adolescente não se resolvem nunca conseguese apenas bloqueáIos Para investigar e por tanto para aprender é necessário reter ou conservar sem pre em certa proporção essa angústia do adolescente diante do desconhecido Em toda aprendizagem aparecem simultaneamente coexistindo ou alternandose tanto ansiedades paranói des como depressivas as primeiras pelo perigo que re presenta o novo e desconhecido e as segundas pela perda de um esquema referencial e de um certo vínculo que a aprendizagem sempre envolve Devese graduar a quantidade e o momento da infor mação para não tornar maciças as ansiedades caso em que a desorganização pode chegar a uma ansiedade con fusional Em toda aprendizagem existem sempre no mo mento de ruptura de estereótipos certos momentos de confusão que são etapas normais Esta confusão no en tanto deve ser dosada de modo a permitir que essas etapas possam ser discriminadas trabalhadas e elaboradas No grupo operativo resumindo podem existir três reações típicas segundo o tipo de ansiedade predomi nante a reação paranóide a depressiva e a confusional que aparece quando o objeto de conhecimento ultrapas sa a capacidade de discriminação e de controle do ego ou também quando da irrupção de temas não conheci dos não discriminados de objetos que confundem A aprendizagem é um processo constituído por mo mentos que se sucedem ou alternam mas que podem também isolarse ou estereotiparse nesse caso apare cem perturbações Cada um desses momentos da apren dizagem implica que os integrantes do grupo assumam determinadas condutas ou papéis Esse problema foi especialmente estudado utilizan dose questionários entre os estudantes inscritos em um curso de Introdução à Psicologia na Faculdade de Filo sofia e Letras de Buenos Aires O questionário propu nhase detectar a atitude dos estudantes ante a psicolo gia como objeto de conhecimento Obtiveramse assim respostas típicas Todas as atitudes estudadas ou diag nosticadas aparecem normalmente como momentos no processo de aprendizagem cada momento desse pro cesso implica uma estrutura de conduta ou um papel assumidos pelo grupo ou por alguns de seus membros Podem ser reduzidos a oito em suas formas típicas a Momento paranóide o objeto de conhecimento é vivenciado como perigoso e é adotada uma atitude de desconfiança ou hostilidade ou então há uma reação direta com a ansiedade correspondente b Momento fóbico o objeto de conhecimento é evi tado estabelecendose uma distância em relação a ele fugindose ao contato ou à aproximação c Momento contrafóbico precipitação compulsiva ou agressiva sobre o objeto de conhecimento que é ata cado ou ridicularizado d Momento obsessivo tentativa de controle e imo bilização do objeto de conhecimento e um controle da distância em relação a esse objeto por meio de um ri tual uma estereotipia do esquema referencial ou de per guntas que tendem a controlar e Momento confusional a defesa qualquer uma das anteriores fracassa e acontece a entrada numa situação de confusão entre o eu e o objeto com seus diferentes aspectos que não podem ser discriminados f Momento esquizóide organização relativamente estável da evitação fóbica há uma estabilização da dis tância em relação ao objeto através do alheamento e vol ta para os objetos internos g Momento depressivo os diferentes aspectos do objeto de conhecimento foram introjetados e procedese ou tentase proceder à sua elaboração h Momento epileptóide reação contra o objeto pa ra destruíIo Se esses diferentes momentos aparecem de forma iso lada e estereotipada em um indivíduo ou no grupo é indí cio de uma perturbação e bloqueio do processo de aprendi zagem Cada integrante do grupo tem mais facilidade para assumir momentos diferentes desse processo o que indivi dualmente constitui um defeito da aprendizagem converte se numa virtude na tarefa grupal quando cada um intervém com seu papel Em outros termos com os papéis indivi duais refazse no grupo o processo total da aprendiza gem tendo em conta que cada integrante pode assumir funcionalmente papéis diferentes conforme o tema os mo mentos ou níveis da aprendizagem O treinamento do grupo para funcionar como equi pe depende da inserção oportuna de cada papel de ca da momento de aprendizagem no processo total de tal maneira que como totalidade se alcance uma aprendi zagem de alto nível e de grande resultado Como exemplo tomemos o caso do papel esqui zóide o indivíduo que o assume tem a qualidade de ser muito bom observador mas comunica com dificuldade seus dados e os elabora deficientemente Considerado individualmente tem por sua estereotipia no papel uma perturbação da aprendizagem porque só realiza um momento dela Porém localizado na tarefa da equi pe por sua inserção no contexto da tarefa convertese em um momento importante e altamente frutífero da totalidade do processo É complementado por exem plo com o papel momento depressivo que tem a par ticularidade de ocuparse da consecução de objetivos concretos e para isso pode aplicarse com mais facili dade à elaboração de dados É complementado por sua vez com o papel momento obsessivo cuja particula ridade é a de especializarse ou preocuparse com os meios corretos que se devem empregar embora sua defi ciência resida justamente em se estereotipar nesse pa pel e perder de vista os objetivos inserido no contexto total da tarefa grupal sua deficiência é compensada com os papéis dos demais e seu interesse fundamental con vertese de uma perturbação individual em uma ope ração de alto rendimento para a tarefa grupal Se a tarefa do grupo operativo se reduzisse a isso estaríamos alienando seres humanos e convertendoos em instrumentos em parafusos de uma única engre nagem Porém o processo da comunicação faz com que na tarefa do grupo cada um incorpore o outro genera lizado como G Mead denominou a introjeção dos pa péis dos outros integrantes Dessa maneira cada um vai incorporando momentos dos demais e retifica as sim paulatinamente sua própria estereotipia com isso atingese não só um alto rendimento grupal como tam bém uma integração da informação da aprendizagem e do eu de cada membro Isso é comprovado no fato de que progressivamente cada um deles vai alternando seus papéis desempenhando o papel dos demais incorpo rando desse modo os diferentes momentos da aprendi zagem e conseguindo maior integração do eu Às vezes a alternância dos papéis é maciça e produzemse vira das totais que também se retificam gradualmente Embora já tenhamos feito uma rápida referência a esse tópico sua importância justifica que agora nos ocupemos dele mais detalhadamente A informação que um grupo recebe é maior do que a que ele mesmo pode verbalizar e isto é válido também para seus inte grantes considerados individualmente em outros ter mos sempre se aprende mais do que se pensa do que se pode demonstrar verbalmente ou declarar conscien temente 90 Temas de psicologia Grupos operativos no ensino 91 Se a infonnação cria ansiedade excessiva é muito mais provável que surja uma drarnatização ou atuação da informação que pode ser assim considerada como uma primeira introjeção do tema embora sem a distân cia ótima necessária de tal maneira que se obtém uma verdadeira identificação introjetiva mas no nível cor poral Geneticamente essa é a aprendizagem mais pri mitiva porque tudo começa e tudo termina no corpo e com o corpo No princípio tudo é ação Nesse nível dá se a regressão quando a informação recebida cria muita ansiedade Na atuação não só se dramatiza a informação rece bida como também e com muita freqüência a reação à ansiedade que tal informação provoca despersonaliza ção reações fóbicas paranóides obsessivas etc Esse é o material direto e vivenciado do qual nos valemos na Escola Privada de Psiquiatria paríl ensinar psiquiatria e medicina psicossomática nele se integra o aspecto fe nomenológico élvivência que provoca com a compreen são dinâmica da conduta em função do vínculo grupal e do fator desencéldeante AproveitartlOSa já tão conhecida formulação da Continuidade entre OS fenômenos normais e os patológicos e integramos no estudante uma experiên cia que dificilmnte poderá obter deoutra maneira Entre o pensar e o atuar existem relações muito es treitas e a aprndizagem deve ser completada com a intervenção de ambos porém com muita freqüência se dissociam eXcluem ou substiwem um ao outro As sim por exemplo no papel obsessívo substituise a ação pelo pensamento ao qual o sujeito fica aderido perse verantemente sem poder transcender para a ação en quanto no histérico se substitui facilmente o pensamen to pela ação dramatização No grupo operativo cada um atua em sua medida pessoal com seu próprio reper tório de conduta e em sua forma caraterística o coor denador não deve esperar nada específico de ninguém o que cada qual dá é suficiente e não existe maneira de não dar Cada uma das modalidades pessoais deve di namizarse e localizarse no processo e no contexto total Só a dramatização ou só o pensar tomados isola damente são momentos parciais com os quais não fica completa a indagação nem enriquecida a aprendizagem porém no interj ogo de papéis cada um aprende que o que ele faz de uma maneira outro pode fazer de forma diferente e em função disso aprecia o que tem e o que têm os demais O trabalho em grupo operativo valoriza a contribuição de cada um e de todos contudo é uma aprendizagem de modéstia e humildade no conheci mento e das limitações humanas diante do desconhecido e do conhecido O falar é uma terceira manifestação muito impor tante no grupo operativo e constitui a comunicação no nível mais integrado e de resultados plenos Sem dúvi da a linguagem pode ser um atuar que paralise uma co municação mais efetiva e plena Entre o diálogo a elo qüência e a oratória existem diferenças fundamentais que é necessário distinguir em função da comunicação que se estabelece com eles O falar pode ser o papel Grupos operativos no ensino 93 especializado de um membro do grupo e tanto pode im plicar facilitação da comunicação grupal como seu blo queio e controle essa última alternativa se dá por exem plo no caso dos que falam e não dizem nada dos que só o fazem para tapar a boca do outro como um total desligamento narcisista ou como uma utilização neu rótica da informação ou da bibliografia Em todos esses casos existem perturbações da comunicação uma de gradação do nível simbólico da linguagem e uma con seqüente perturbação da aprendizagem devem ser cor rigidos na tarefa grupal tornandoos úteis para o traba lho de conjunto Aqui também como no caso dos momentos da aprendizagem pensar falar e atuar considerados de for ma excludente e isolada são dificuldades da aprendi zagem porém no grupo operativo elas coexistem se su cedem e potencializam Observase com relativa facilidade que existem ex perts com mais sensibilidade para perceber determina dos aspectos da informação ou para detectar certo tipo de conduta conflito ou doença existem igualmente quem conte com tópicos específicos para bloquear ou apresentar escotomas ou para distorcer a informação Apesar de contar já com uma certa experiência às vezes não deixa de ser impressionante a distorção que sofre uma informação e a diferença entre o que se disse ou se quis dizer e o que o auditório entendeu levandose sem pre em conta que esse último não é um conjunto unifor me mas uma totalidade heterogênea e multifacetada Cada grupo escreve sua própria história e deve ser respeitado em suas características peculiares sem pre tender forçar sua operatividade nem seu rendimento o grupo trabalha no melhor nível que pode em cada mo mento e como totalidade O coordenador do grupo trabalha o tema com sua técnica e de acordo com os objetivos que o grupo se pro põe alcançar porém sua tarefa deverá centrarse nos seres humanos que integram o grupo A forma de tratar o tema é o conteúdo normativo da tarefa Em outros ter mos quando se integra uma tarefa obtémse ao mesmo tempo uma integração das personalidades dos seres hu manos que nela intervêm integração que abrange tanto as funções instrumentais ego como as normativas su perego A espiral do processo do conhecimento funcio na não só na tarefa grupal mas em cada um dos integran tes do grupo total porém considerado isoladamente O grupo operativo nos ensina que num grupo pode ocorrer não apenas uma degradação das funções psico lógicas superiores e uma reativação de níveis regressi vos e psicóticos segundo os estudos que vão desde Le Bon até Bion mas também podese alcançar o mais completo grau de elaboração e funcionamento dos ní veis mais integrados e superiores do ser humano com um rendimento que não se pode alcançar no trabalho individual Todas essas grandes diferenças em sua di nâmica e seus resultados não constituem qualidades es Grupos operativos no ensino 95 senciais do grupo mas emergentes de sua organização O grupo pode assim tanto adoecer como curar organi zar como desorganizar integrar como desintegrar etc Tudo o que se disser do grupo convertese em uma abs tração ou enteléquia se não se particularizar e relacio nar o grupo o momento e a organização ou estrutura e não se especificar se esta estrutura por exemplo regres siva é estável permanente ou funcional A técnica do grupo operativo só pode ser aprendida através da experiência pessoal da mesma maneira que a base fundamental de uma preparação psicanalítica só pode ser aprendida passandose pela análise O funcionamento de um grupo operativo oscila en tre graus variáveis de coesão e de dispersão sendo todos eles necessários da mesma maneira que as varia ções entre homogeneidade e heterogeneidade Seu fun cionamento ótimo está nas condições de heterogenei dade de papéis e dispersão integrada que também não se alcança de uma vez por todas como um nível de esta bilização definitivo A dinâmica grupal passa necessa riamente por períodos de confusão de intensidade e duração diferentes e que são certamente por alguns momentos ou períodos um caos produtivo que se veri fica em todos os grupos O coordenador do grupo deve procurar facilitar o diálogo e estabelecer a comunicação incluindose aqui o respeito aos silêncios produtivos criadores ou que signifiquem um certo insight e elaboração não se pode afirmar que um grupo operativo tenha um funcionamen to ótimo pelo simples fato de nunca haver silêncio De vese evitar confrontos estereotipados de tal maneira que as contradições se resolvam num processo dialéti co de síntese ou de localização de cada termo contradi tório no contexto da espiral do processo dialético Nenhuma opinião ou sugestão deve ser subestima da a priori ou em nome do senso comum se isso acon tecer é indispensável que seja assinalado pelo coorde nador do grupo Devese seguir o sentido do possível sem que isso impeça examinar as linhas ou direções mais inesperadas da mesma maneira que se deve atentar pa ra o ajuste plástico dos fins ou objetivos aos meios dis poníveis no momento Devese ajudar o grupo a sair dos estereótipos do já conhecido não é dificil o coor denador do grupo canalizar para si a agressão ou hosti lidade ao procurar romper estes estereótipos Insisto em que se deve ajudar e não impor respeitando o tem po de que o grupo necessita para o processo de elabora ção Aferrarse ao passado em qualquer setor é um estereótipo neurótico que tende a evitar as ansiedades do presente e do novo Da mesma maneira o coordena dor deve devolver as perguntas que lhe são feitas e de sarmar as dependências no caso de um integrante do grupo que diz por exemplo Desculpe eu quis dizer o coordenador pode para tentar desfazer a dependên cia simplesmente responder E por que pede descul pa O coordenador deve fazer o possível para estabe lecer o diálogo entre os componentes do grupo e não encampar tudo nem centrar tudo em si Assim quando 96 Temas de psicologia Grupos operativos no ensino 97 o diálogo e a comunicação funcionam bem o coorde nador não deve intervir Não se deve ser crítico nem coercitivo com nenhum membro do grupo seja qual for o caráter de sua intervenção é o próprio grupo que deve aprender a trabalhar e retificar as atitudes ou intervenções evasivas paranóides ou em disco isto é a intervenção daqueles que sempre repetem a mesma coisa ou citam bibliografia em lugar de participar com sua própria contribuição pensando e intervindo ativa mente É evidente que estão excluídos os conselhos por parte do coordenador que também não deve assumir os papéis que são projetados nele como no caso por exemplo dos grupos que perguntam insistentemente e pedem informação que querem aprender rapidamente e se queixam de estar perdendo tempo Podese resumir as qualidades do coordenador em três palavras arte ciência e paciência De modo algum o coordenador deve esquecer que na técnica operativa interessamnos os resultados da tare fa ou do tema e queparte de nossa funçãoé preocuparmo nos com os seres humanos que intervêm de tal modo que a forma de realizar a aprendizagem tenha efeito nor mativo Para compreender melhor pensemos no exem plo seguinte suponhamos que uma mãe ensine seu fi lho a brincar com massa plástica e lhe mostre como se faz um boneco Nesta tarefa o menino estará aprenden do um hábito instrumental ou em outros termos estará formando ou integrando seu ego Mas existe algo mais a forma com que a mãe o ensina com carinho impa ciência irritação agressão etc será um aspecto norma tivo da personalidade do menino no sentido de que o levará a aprender normas de relação e de convivência ou em outras palavras a formar ou integrar seu superego O mesmo acontece nos grupos operativos nos quais a aprendizagem se propõe a ser muito mais que a forma ção de uma equipe para trabalhar com conhecimentos Nosso objetivo é o enriquecimento do ser humano na tarefa isto além de outras coisas diferencia o grupo operativo de outras técnicas tais como o brain storming promoção de idéias tempestade cerebral nas quais a atenção é colocada fundamentalmente na obtenção de novas idéias e não no melhoramento dos seres humanos e da relação interpessoal técnicas de Osborn Gordon Philips etc O grupo operativo deve funcionar com um tempo li mitado e previsto e com freqüência regular Não res tam dúvidas de que é melhor fazêIo em sessões de mais de uma hora de duração porque geralmente é depois dos primeiros 50 ou 60 minutos que começa o melhor rendimento Isso está em total contradição com a nor ma tradicional das aulas de uma hora baseadas no fato de que a atenção se esgota ao cabo desse tempo quan do se trabalha de maneira diferente o grupo logo após Grupos operativos no ensino 99 esse período relaxa ou distende e começa a trabalhar em nível superior E PichonRiviere insistiu reiteradamente no alto rendimento do trabalho acumulativo ou seja durante várias horas seguidas e inclusive diariamente A expe riência confirma amplamente essa afirmação é notá vel a falta de cansaço nos grupos que trabalham bem sem tensões ou resolvendoas à medida que aparecem Dedicaremos algumas palavras ao relato de situações típicas ou freqüentes observadas em nossa experiência especialmente na cadeira de Introdução à Psicologia Observouse que alguns estudantes em seu primeiro contato com a psicologia tratam de decidir rapidamente que posição tomar e outros que já têm uma posição to mada tendem a defendêIa e a fazer proselitismo A compulsão para afiliarse rapidamente a uma escola quando ainda não se conta com os elementos de juízo necessários constitui uma perturbação da aprendizagem e da formação científica porque se utiliza a afiliação co mo um objeto protetor e assim configurase uma este reotipia O mesmo acontece com aqueles que se dispõem a ficar sempre contra outros os do contra fazendo consistir nisso fundamentalmente sua aprendizagem Não se trata de impedir que o estudante tenha uma posi ção ideológica filosófica ou política mas que a empre gue de tal maneira que perturbe seu próprio desenvolvi mento ou o desenvolvimento de sua ideologia Estudouse detidamente o fenômeno da contradição entre a nossa maneira de ensinar e de organizar o ensi no e o regime de exames Neles em razão da grande quantidade de estudantes e do escasso número de pro fessores exigese somente informação quando na rea lidade o examinando foi preparado para ter critério e pensamento psicológico o estudante fica muito frus trado porque dentro do escasso tempo que cada aluno dispõe ele não pode demonstrar o que aprendeu Com freqüência os estudantes solicitam que o exame conti nue e que se lhes pergunte mais e sobre outras coisas Vêm dispostos com toda razão a manter durante o exame um diálogo com o professor e não a que se exija deles respostas concretas e rápidas Outro problema que se comprovou com certa fre qüência é que os exames parciais coincidem com mo mentos de elaboração ou de confusão na aprendizagem e portanto os estudantes não terminaram de elaborar e integrar o tema quando já se exige que se submetam às provas Os estudantes afirmam com freqüência que a maté ria tomase fácil porque aprenderam a trabalhar e estudar com prazer e também é freqüente entregarem traba lhos nos quais estudaram um tema emitiram opiniões pessoais e solicitam a opinião dos professores A tarefa foi em resumo muito proveitosa e agra dável Os problemas que se colocam dependem bem mais da relação com a organização institucional do en sino porém como disse Freud já que se invocaram os fantasmas não é o caso de sair correndo quando eles aparecem ogrupo como instituição e o grupo nas instituições Conferência pronunciada na V Jornada Sul Riograndense de Psiquiatria Dinâmica de Porto Alegre de I e 2 de maio de 1970 a convite dos organizadores Meu propósito é contribuir com uma certa experiên cia um certo conhecimento e uma boa dose de reflexão para repensar o conceito generalizado do que é um gru po e o que é um grupo numa instituição Na concepção generalizada do que é um grupo incluo aquela defini ção que o postula como um conjunto de indivíduos que interagem entre si compartilhando certas normas numa tarefa Ocupeime dessa questão em outras oportunidades tomando como ponto de partida o problema da simbio se e do sincretismo Entendo por isso os estratos da per sonalidade que permanecem em estado de não discrimi nação e que existem em toda constituição organização e funcionamento de grupo baseados numa comunica ção préverbal subclínica difícil de detectar e concei tualmente dificil de caracterizar Em função disso temos de formular fenômenos comum tipo de pensamento e categorização cuja estrutura está muito distante deles ogrupo como instituição e o grupo nas instituições 103 Minhas postulações nesse sentido me levam a con siderar em todo grupo um tipo de relação que é para doxalmente uma nãorelação no sentido de uma não individualização que se impõe como matriz ou como estrutura básica de todo grupo e que persiste de manei ra variável durante toda a sua vida Chamarei esta rela ção de sociabilidade sincrética para diferenciáIa da so ciabilidade por interação com a qual se estruturou nos so conhecimento atual de psicologia grupal A existência ou a identidade de uma pessoa ou de um grupo são dadas na ordem do cotidiano e manifestadas pela estrutura e integração que alcança o ego individual e grupal em cada caso considerando como ego grupal o grau de organização amplitude e integração do conjunto daquelas manifestações incluídas no que chamamos ver balização motricidade ação juízo raciocínio pensa mento etc Porém esta individualização personificação ou identidade que um indivíduo ou um grupo têm ou es peram ter baseiamse necessariamente numa certa imobi lização dos estratos sincréticos ou não discriminados da personalidade ou do grupo Descrevi em outros artigos como se instala entre ambos os estratos da personalidade ou da identidade uma forte clivagem que impede que entrem em relação um com o outro pela imobilização dos aspectos sincréticos permitese a organização a mo bilização a dinâmica e o trabalho terapêutico dos aspec tos mais integrados da personalidade e do grupo Podese alegar que embora seja realmente assim isso não tira o valor do trabalho terapêutico e da com preensão dos dinamismos grupais que chegamos a ter desses estratos mais integrados da personalidade con cordo com essa afirmação porém de qualquer modo creio necessário o aprofundamento nos conhecimentos da parte clivada da personalidade ou do grupo já que é aqui através de sua mobilização que deparamos com um trabalho terapêutico mais profundo embora muito mais incômodo e difícil As crises mais profundas que um grupo atravessa devemse à ruptura dessa clivagem e ao surgimento na seqüência dos níveis sincréticos A identidade paradoxalmente não é dada só pelo ego mas também pelo ego sincrético Quero agora abordar esse problema procurando cap táIo e tornáIo mais visível através do exame dos aspectos institucionalizados do grupo ou seja daqueles padrões normas e estruturas que se organizaram ou que já vêm or ganizados de uma maneira dada Para esse objetivo neces sito descartar por razões metodológicas e didáticas os grupos nos quais a clivagemjá vem rompida ou não exis te tal como ocorre por exemplo em certos grupos de psi cóticos ou personalidades psicopáticas Feita esta primei ra delimitação quero considerar os aspectos institucionais do grupo terapêutico que funciona fora das instituições e em segundo lugar os grupos terapêuticos que funcionam em instituições Embora essa última divisão seja útil por razões expositivas e de pesquisa tenho desde já de obser var em outro nível que com freqüência não me ocupa rei só de grupos terapêuticos da experiência psiquiátri ogrupo como instituição e o grupo nas instituições 105 ca mas também de outros tipos de grupo fazendo par te todos do nosso trabalho em dinâmica Um grupo é um conjunto de pessoas que entram em interação entre si porém além disso o grupo é funda mentalmente uma sociabilidade estabelecida sobre um fundo de indiferenciação ou de sincretismo no qual os indivíduos não têm existência como tais e entre eles atua um transitivismo permanente O grupo terapêutico ca racterizase também por essas mesmas qualidades acres cido o fato de que um dos integrantes do grupo o tera peuta intervém com um papel especializado e predeter minado mas isso essa última função se realiza sobre uma base na qual o terapeuta está envolvido no mesmo fundo de sincretismo que o grupo Aparentemente a lógica do senso comum nos mos tra com evidência que um conjunto de pessoas pode ter um encontro marcado em hora e local determinados por um terapeuta e que o grupo começa a funcionar quan do essas pessoas diferentes até então separadas estão a uma distância suficiente e relativamente isoladas de outros contextos como para poder interatuar Poderia recordar a esse respeito a concepção sar treana que afirma que enquanto não se estabelece a in teração não existe o grupo mas somente uma seriali dade no sentido de que cada indivíduo é equivalente a outro e todos constituem um número de pessoas equi paráveis e sem distinção entre si Aparentemente a concepção sartreana nega o que estou afirmando como tese nesta exposição porém um exame mais detalhado pode levar à conclusão como penso de que essa serialidade éjustamente o fundo de solidariedade de indiscriminação ou sincretismo que constitui o vínculo mais poderoso entre os membros do grupo Sem ele a interação não seria possível Nesta descrição assim como em outras que virão a seguir quero que se considerem as limitações da lingua gem e da organização do nosso pensamento conceitual para captar níveis muito diferentes de sociabilidade des sa sociabilidade muito particular que se caracteriza por uma nãorelação e por uma indiferenciação na qual ca da indivíduo não se diferencia do outro ou não se acha discriminado do outro e na qual não existe discrimina ção estabelecida entre eu e nãoeu nem entre corpo e espaço nem entre eu e o outro Uma limitação a que me quero referir porque pesa rá muito na possibilidade de podermos nos entender diz respeito às diferenças entre o ponto de vista natura lista e o ponto de vista fenomenológico Por ponto de vista naturalista entendemos a descrição de um fenô meno realizada por um observador que o descreve de fora quer dizer como um fenômeno da natureza que existe independentemente do sujeito observador e nes te sentido a definição do grupo como conjunto de in divíduos que interatuam com papéis status etc é uma descrição tipicamente naturalista Por descrição ou observação fenomenológica deve mos entender aquela que se realiza a partir do interior dos próprios fenômenos tal como são percebidos vi venciados ou organizados pelos que participam do fe nômeno ou de um acontecimento dado Nesse sentido com muita freqüência vejome obriga do por limitações semânticas e conceituais a descrever fe nômenos a partir do ponto de vista fenomenológico com uma linguagem que corresponde ao ponto de vista natura lista incorro nisto por exemplo quando digo que para certo nível um grupo se caracteriza por uma nãorelação ou por um fenômeno de não discriminação entre os indiví duos e entre o ego e os objetos Esta última definição que tenta abranger ou tenta ser construída a partir de um ponto de vista fenomenológico realizase por meio da negação da descrição do ponto de vista naturalista A esse respeito penso por exemplo que muito do que descrevemos como identificação projetiva e introjetiva corresponde a uma descrição naturalista daquilo que do ponto de vista feno menológico corresponde ao sincretismo Estaria fora de lugar e levaria muito tempo ocupar me das relações entre as observações realizadas a partir de um ponto de vista fenomenológico e aquelas realiza das a partir de um ponto de vista naturalista e além disso essas relações estão ainda num terreno de muita contro vérsia e não existe acordo sobre elas Assim há quem veja nesses dois pontos de vista posições excludentes enquanto outros vêem posições complementares e ou tros entre os quais me incluo vêem descrições limita das à espera de um ponto de vista unitário que mantenha e supere ambas Aufhebung Referirmeei brevemente às implicações desse en foque Um pequeno exemplo poderá servir para ilustrar não demonstrará nem abrangerá a totalidade desses pro blemas Tratase somente de um exemplo Numa sala encontrase uma mãe lendo olhando a tela da televisão ou costurando na mesma sala encon trase seu filho concentrado e isolado em seu brinquedo Se nos guiamos pelos níveis de interação não va mos encontrar comunicação entre essas duas pessoas não se falam não se olham cada um atua independen temente de modo isolado e podemos dizer que não há interação ou que estão incomunicáveis Isto é correto se considerarmos somente os níveis de interação Continuemos com o exemplo a mãe num determinado momento deixa o que estava fazendo e sai da sala o menino pára imediatamente sua brinca deira e sai correndo para estar com ela Agora podemos compreender que quando a mãe e seu filho estavam cada um numa tarefa distinta sem se falar e incomuni cáveis nos níveis de interação sem dúvida havia entre eles uma ligação profunda préverbal que nem sequer necessita das palavras ou que pelo contrário as pala vras perturbam Em outros termos enquanto falta a in teração enquanto não se falam nem se olham está pre sente a sociabilidade sincrética na qual cada um dos que de um ponto de vista naturalista pensamos que se jam pessoas isoladas achamse em um estado de fusão ou de indiscriminação Este grupo pode servir de exem plo daquilo que freqüentemente o silêncio significa nos grupos terapêuticos e de como o modelo da comunica ção verbal tende às vezes a distorcer ou ocultar a com preensão desse fenômeno Para evitarequívocosdevodizer que admito que uma mãe e um menino que se comportem sempre única e exclusivamente desta maneira darão lugar a uma séria perturbação no desenvolvimento da personalidade e da relação entre ambos mas ainda assim acredito que quan do falta o nível de sociabilidade sincrética também exis te uma perturbação muito séria no grupo e no desenvol vimento da personalidade de cada um Vejoa falta de um marco para essa sociabilidade sincrética por exemplo nas personalidades psicopáticas fáticas ambíguas as if de H Deutsch Retomando o exemplo o menino isolado brincan do pode precisamente estar isolado e conseguir brincar com tudo o que brincar significa do ponto de vista psi cológico na medida em que tenha a segurança de man ter clivada em um depositário fiel a sociabilidade sin crética simbiose Um dos exemplos que Sartre apresenta como típico da serialidade é o de uma fila de pessoas esperando um ônibus ele supõe que a característica fundamental da serialidade consiste em que cada um dos integrantes dessa fila é um indivíduo totalmente isolado esses indivíduos enquanto números são intercambiáveis um pelo outro Para mim ainda no exemplo de uma fila à espera de um ônibus está presente a sociabilidade sin crética depositada nos modelos e normas que vigoram para todos os indivíduos Cada um dos integrantes da fila conta com essa segurança de tal forma que nem sequer chega a ter consciência dela tanto que o próprio Sartre foi levado a ignoráIa Podemos nos comportar como indivíduos em interação na medida em que parti cipamos de uma convenção de modelos e normas que são mudas mas que estão presentes e graças às quais podemos então formar outros modelos de comporta mento Para que haja interação deve haver um fundo comum de sociabilidade A interação é a figura de uma Gestalt sobre o fundo da sociabilidade sincrética Pode se dizer que o segundo é o código do primeiro Quando um conjunto de pessoas marcam hora en quanto pessoas para um grupo terapêutico e têm seu primeiro encontro no consultório do terapeuta ou num lugar até então desconhecido para todos todo terapeuta observa de imediato fenômenos que catalogamos como reações paranóides e penso que todos concordam em considerar essas reações paranóides como normais sig nificando medo de uma experiência nova e medo do des conhecido Pode haver alguma diferença na formulação mas podem ser todas reduzidas à experiência que aca bo de enunciar Não ponho em dúvida a existência da reação para nóide O que ponho em dúvida é que através dessa for mulação possamos entenderrealmente aquilo que ocor re de mais importante esse momento Quando dizemos nesse caso que o grupo reage com medo de uma expe riência nova do indeterminado ou do desconhecido es tamos dizendo uma verdade muito mais ampla do que a que nós mesmos reconhecemos e que portanto o grupo também não pode reconhecer a não ser apenas os as pectos superficiais dessa afirmação Não é somente o novo que produz medo mas sim o desconhecido que existe dentro do conhecido recordese que isto é a es sência do estranho Unheimlich Quando assinalamos as ansiedades paranóides o medo do desconhecido ou da situação nova estamos realmente dizendo ou assinalando embora sem com preender no todo que o medo se produz diante do des conhecido que cada pessoa traz consigo em forma de nãopessoa e em forma de nãoidentidade ou de ego sincrético Em outros termos para sermos mais claros o que estamos dizendo com a formulação das ansieda des paranóides é o medo de não poder continuar rea gindo com os modelos estabilizados que já assimilaram enquanto pessoas e o medo do encontro com uma so ciabilidade que as destitua enquanto pessoas e as con verta em um só meio homogêneo sincrético no qual cada um não sobressaia enquanto figura como pessoa do fundo mas que submerja nesse mesmo fundo o que implica uma dissolução da identidade estruturada pelos níveis mais integrados do ego do self ou da personali dade O medo é dessa organização e não só da desorga nização visto de fora e do ponto de vista naturalista poderemos continuar reconhecendo indivíduos ou pes soas porém do ponto de vista fenomenológico signi fica perda de identidade de uma identidade e signifi ca imersão numa identidade grupal que está mais além ou mais aquém da identidade convencional que reconhe cemos como tal constituída pelos níveis mais integrados da personalidade Dito de outra maneira estamos assina lando o medo por parte do grupo de uma regressão a ní veis de uma sociabilidade sincrética que não está consti tuída por uma interrelação ou interação mas que exige uma dissolução de individualidades e a recuperação dos níveis da sociabilidade incontinente como a chamou Wallon que não aparecem nesse momento mas que es tiveram presentes já antes de vir ao grupo e desde o pri meiro momento do encontro no grupo Quero insistir em que estou falando neste momen to de grupos terapêuticos integrados por pessoas neu róticas isto é pessoas que conservam ou atingiram um bom nível de integração da personalidade apesar das di ficuldades ou da sintomatologia neurótica que apresen tam Esta observação é pertinente e deve ser reiterada neste momento dado que alguns grupos formados por pessoas que não alcançaram um certo grau de individua lização ou de identidade individual buscam de início o estabelecimento de uma situação simbiótica de depen dência e de identidade grupal e esta última é tudo o que podem obter A identidade grupal tem dois níveis em todos os gru pos um é o da identidade proporcionada por um traba lho em comum e que chega a estabelecer modelos de interação e modelos de comportamento que são institu cionalizados no grupo essa identidade é dada pela ten ogrupo como instituição e o grupo nas instituições 113 dência à integração e interação dos indivíduos ou pes soas Porém outra identidade que existe em todos os grupos e que às vezes é a única ou a única que se atin ge em grupo é uma identidade muito particular que podemos chamar identidade grupal sincrética Essa não é dada com base numa integração numa interação em modelos de níveis evoluídos mas com base numa so cialização em que esses limites não existem e cada um daqueles que do ponto de vista naturalista vemos co mo sujeitos ou indivíduos ou pessoas não têm identida de enquanto tal mas sua identidade reside no seu per tencimento ao grupo Podemos estabelecer aqui uma equiparação uma equivalência ou uma fórmula dizendo que quanto maior for o grau de pertencimento a um grupo maior será a identidade grupal sincrética em oposição à identidade por integração E quanto maior for a identidade por inte gração menor será o pertencimento sincrético ao grupo Quero também referirme sumariamente citando apenas ao fato de que o pertencimento é paradoxal mente sempre uma dependência nos níveis da sociabi lidade sincrética Existem grupos terapêuticos que bus cam tais fenômenos e outros que reagem com pânico ou desintegração diante deles Para dar maior clareza à exposição quero assinalar brevemente três tipos de grupos ou três tipos de indiví duos que podem integrar diferentes grupos ou um mes mo grupo Um dos tipos corresponde aos indivíduos dependen tes ou simbióticos que vão utilizar de imediato o grupo como um grupo de dependência ou de pertencimento e que tentarão estabilizar sua identidade através da iden tidade grupal como identidade mais completa alcança da por eles no curso da evolução Tratase de indivíduos para os quais a organização simbiótica persistiu mais do que o necessário ou então nunca foi suficientemen te normal para poder se dissolver e dar lugar aos fenô menos de individuação e personificação Procurarão transformar o grupo de forma manifesta em uma or ganização estável a interação será superficial com uma tendência a não dar lugar aoprocesso grupa1 Um segundo tipo é o daqueles indivíduos aos quais me referi mais detidamente até agora que chamamos neuróticos ou normais nos quais reconhecemos a neu rose apenas como uma parte da personalidade na me dida em que alcançaram uma boa proporção de indivi duação e personificação isto é aquilo que comumente chamamos de aspectos maduros ou realísticos da per sonalidade Tenderão a moverse na sociabilidade de in teração e podem apresentarse como grupos muito ati vos muito motivados mas somente em um plano e garantindo a clivagem Podem acontecer muitas coisas para que nada aconteça Um terceiro tipo corresponde àqueles que nunca ti veram uma relação simbiótica e que também não irão es tabelecêIa no grupo a não ser após um árduo processo terapêutico entre esses incluímos as personalidades psi 114 Temas de psicologia ogrupo como instituição e o grupo nas instituições 115 copáticas perversas as as if personalities descritas por H Deutsch e todas as personalidades ambíguas entre as quais incluo o tipo as if Para eles o grupo parece de sempenhar um papel muito subsidiário e pouco impor tante Não é assim São os que tendem ao grupo de socia bilidade sincrética não manifesta mais préverbal Como disse e salvo indicação em contrário farei re ferência apenas ao segundo tipo de pessoas ou grupos objetivo o objetivo propriamente terapêutico do grupo A organização da interação chega a um ponto em que se torna antiterapêutica Isto ocorre por duas razões funda mentais ou em dois níveis organizamse os níveis de interação de uma maneira fixa e estável mas por sua vez a fixação e a estereotipia da organização baseiamse também e fundamentalmente no estabelecimento do controle sobre a clivagem entre ambos os níveis de tal maneira que a sociabilidade sincrética seja imobilizada Esse fenômeno corresponde ao que considero uma lei geral das organizações isto é em todas elas os objeti vos explícitos para os quais foram criadas correm sem pre o risco de passar a um segundo plano passando ao primeiro plano a perpetuação da organização como tal E isto ocorre não só para resguardar a estereotipia dos níveis de interação mas principalmente para resguardar e assegurar a clivagem a depositação e a imobilização da sociabilidade sincrética ou parte psicótica do grupo Já assinalei que um grupo que deixou de ser um pro cesso para estabilizarse como organização se transfor mou de grupo terapêutico em grupo antiterapêutico1 Em outros termos diria que o grupo se burocratizou en tendendo por burocracia a organização na qual os meios se transformam em fins e se deixa de lado o fato de se ter recorrido aos meios para conseguir determinados objetivos ou fins Até aqui desenvolvi as características fundamentais do grupo para poder entender o seu papel como institui ção e nas instituições O conceito de instituição foi utilizado com significa dos muito diferentes aqui recorrerei a duas acepções en tre as muitas possíveis que desejo esclarecer utilizarei a palavra instituição como o conjunto de normas e padrões e atividades agrupadas em torno de valores e funções so ciais Embora instituição também se defina como organi zação no sentido de uma distribuição hierárquica de fun ções que se realizam geralmente dentro de um edificio área ou espaço delimitado Para esta segunda acepção utilizarei exclusivamente a palavra organização O grupo é sempre uma instituição muito complexa ou melhor é sempre um conjunto de instituições mas ao mesmo tempo tende a estabilizarse como uma orga nização com padrões fixos e próprios A importância está no fato de que quanto mais o grupo tende a se esta bilizar como organização tanto mais tende ao objetivo de existir por si mesmo margeando ou sujeitando a este 1 Ampliei a compreensão desses fenômenos também à chamada Reação terapêutica negativa 116 Temasdepsicologia ogrupo como instituição e ogrupo nas instituições 117 Existe em tudo isso no entanto um aspecto de con siderável importância que não quero passar por cima poderia começar dizendo que toda organização tende a ter a mesma estrutura que o problema que deve enfren tar e para o qual foi criada Assim um hospital acaba tendo enquanto organização as mesmas característi cas que os próprios doentes isolamento privação sen sorial déficit de comunicação etc Nossas organizações psiquiátricas nossas terapias nossas teorias e nossas técnicas têm também a mesma estrutura que os fenômenos que enfrentamos Torna ramse e são apenas organizações e cumprem por tanto uma função igual de manutenção e controle da cli vagem uma tendência à burocratização A função iatrogênica e de garantia das doenças que desempenham nossos hospitais psiquiátricos não preci sa ser comentada aqui já que é conhecida de todos e constitui um aspecto sobre o qual se insiste muto na atualidade mas esquecemonos de outros tantos aspec tos que têm o mesmo efeito burocrático iatrogênico e igual função latente a de manter a clivagem controlan do a sociabilidade sincrética A sociedade tende a instalar uma clivagem entre o que considera sadio e doente entre o que considera nor mal e anormal Assim estabelece uma clivagem muito profunda entre ela a sociedade sadia e todos aque les que como os loucos os delinqüentes e as prostitu tas são desvios doenças que spõese nada têm a ver com a estrutura social A sociedade autodefendese não dos loucos dos delinqüentes e das prostitutas mas de sua própria loucura de sua própria delinqüência e de sua própria prostituição e dessa maneira aliena desco nhece e trata como se fossem alheias e não lhe corres pondessem Isso ocorre através de uma profunda cliva gemo Essa segregação e essa clivagem se transferem lo go para os nossos instrumentos e conhecimentos Assim respeitar a clivagem de um grupo terapêutico e não exa minar os níveis de sociabilidade sincrética significa admi tir essa segregação sancionada pela sociedade assim como admitir os mecanismos pelos quais determinados sujeitos se tornam doentes e segregados e também admi tir o critério adaptativo de saúde e doença e sua segre gação como cura Não é possível no tempo de que disponho deta lhar as vicissitudes de cada um desses fenômenos que A tendência à organização e à burocratização ou em outros termos a tendência antiprocesso não se deve unicamente a uma preservação ou a uma compulsão à repetição das interações mas como já assinalei basica mente ao fato de se garantir a clivagem e com ela des cobrir ou bloquear os níveis simbióticos ou sincréticos Não é necessário chegar à burocratização extrema um grupo pode trabalhar bem e estar rompendo este reótipos e isso pode ser real mas se dá apenas no nível de interação Se isso persiste leva o grupo a mudar per manentemente na realidade é uma mudança para não mudar no fundo não acontece nada 118 Temasdepsicologia ogrupo como instituição e ogrupo nas instituições 119 assinalo dentro da dinâmica grupal porém não será di fícil para o leitor extrair as conseqüências e analisáIas em seu próprio trabalho com grupos Pelo que nos diz respeito mais diretamente acrescentarei apenas que um stafftécnico de um hospital ou a sua equipe admi nistrativa tendem também a estruturarse como orga nizações e as resistências à mudança não provêm ne cessariamente sempre ou apenas dos pacientes ou de seus familiares mas muito mais freqüentemente de nós mes mos enquanto integramos organizações e as organiza ções são parte de nossa personalidade O que ocorre é que nas organizações além do mais os conflitos susci tados em níveis superiores se manifestam ou detectam em níveis inferiores ocorrerá então que os conflitos do staff técnico não se manifestarão neles mesmos mas nos pacientes ou no pessoal subalterno assim como as tensões e conflitos entre os pais com muita freqüência não aparecem no nível deles mas como sintomas em seus filhos Os exemplos serviriam pará todas as orga nizações civis governamentais militares religiosas etc zações Tudo isto não é correto e é herança das concep ções associacionistas e mecanicistas O ser humano antes de ser pessoa é sempre um grupo mas não no sentido de que pertence a um grupo e sim no de que sua persona lidade é o grupo A esse respeito remeto os interessa dos ao livro de Whyte El hombre organización Assim compreendese que a dissolução ou a tentati va de mudança de uma organização possa ser diretamen te uma desagregação da personalidade não por proje ção mas porque diretamente o grupo e a organização são a personalidade de seus integrantes Assim se expli ca a grande freqüência de doenças orgânicas graves nos aposentados recentes e podemos entender melhor como o ostracismo na Grécia antiga era mais destrutivo para a personalidade do que a prisão e o fuzilamento Existe então uma espécie de transfusão nos pro blemas que estou estudando já que insisti anteriormen te que todo grupo tende a ser uma organização e agora ao ocuparme de organizações afirmo que elas consti tuem partes da personalidade dos indivíduos e às vezes toda a personalidade que eles possuem E Jaques afirmou que as instituições servem como defesa ante ansiedades psicóticas Esta afirmação é li mitada e é mais correto dizer que as instituições e or ganizações são depositárias da sociabilidade sincrética ou da parte psicótica e que isso explica muito da ten dência à burocracia e da resistência à mudança Quando falamos de organizações e do trabalho de psiquiatras psicólogos e psicoterapeutas nas organiza No parágrafo anterior assinalei que as organizações formam parte de nossa personalidade e quero retomar essa afirmação muito sumariamente porque me parece de importância vital para o que estou desenvolvendo Em nossas teorias e categorias conceituais contra pomos indivíduo a grupo e organização a grupo do mes mo modo como supomos que os indivíduos existem isolados e se reúnem para formar os grupos e as organi 120 Temasdepsicologia ogrupo como instituiçãoe ogrupo nas instituições 121 ções geralmente se subentende que nos referimos à te rapia de grupo em organizações psiquiátricas ou hospita lares Não nos conscientizamos no entanto pelo menos em psicologia e psicoterapia de grupo das necessidades e problemas que nos coloca a quarta revolução psiquiá trica que pode ser definida como a orientação para a prevenção primária e uma concentração de esforços na administração de recursos Embora tenhamos conheci mentos e técnicas de grupo bastante desenvolvidos não é menos certo que carecemos de uma estratégia para a utilização dessas técnicas e conhecimentos quando te mos de trabalhar em psicologia institucional em orga nizações em instituições que não sejam psiquiátricas ou hospitalares Pode acontecer também que nestas a melhor forma de administrar nossos recursos não seja organizar grupos terapêuticos mas sim aplicar nossos esforços e conhecimentos na própria organização Quando trabalhamos em organizações em psicolo gia institucional a dinâmica de grupo é uma técnica pa ra enfrentar problemas organizacionais Entretanto para utilizar essa técnica devemos contar com uma estraté gia geral de nossa intervenção assim como com um diagnóstico da situação da organização Um dos problemas básicos nas organizaçõesnão é só a dinâmica intragrupal mas a dinâmica intergrupal e nosso objetivo pode não ser os grupos mas o organo grama Numa organização o recurso às técnicas de grupo e a escolha do tipo de técnica de grupo que iremos uti lizar estão determinados não só por um esforço para re formar nossofuror curandis mas também por um diag nóstico que permita entender qual é o grau de burocra tização ou o grau em que se produziu uma fissura pela qual a clivagem entre os níveis de integração e os níveis de sociabilidade sincrética já não pode ser mantida bem como a existência e correlação entre as estruturas de grupo primário e as de grupo secundário etc Freqüentemente nossos objetivos ao trabalhar com dinâmica de grupo em organizações referemse à aná lise das implicações psicológicas das tarefas que se rea lizam e da forma pela qual os objetivos são ou não cum pridos juntando a dimensão humana ou psicológica ao trabalho que realizam e à forma pela qual o realizam Não conheço erro mais grosseiro do que transferir junto com as técnicas de grupo o hospital psiquiátrico para o hospital geral e ambos para as organizações in dústrias escolas etc Em síntese defini o grupo por dois níveis de socia bilidade um é a chamada sociabilidade de interação e outro é a sociabilidade sincrética Assinalei que o gru po tende a burocratizarse como organização e a fazerse antiterapêutico não só por uma reiteração de modelos dos níveis de interação mas fundamentalmente pela necessidade de manutenção da clivagem ou separação entre ambos os níveis Passei então a mostrar como as organizações têm essa mesma função de clivagem e como nossos conhe cimentos e técnicas de grupo têm de ser precedidos se quisermos trabalhar com dinâmica de grupo em orga nizações por um estudo diagnóstico e por uma estraté gia dentro da qual as técnicas grupais constituem ape nas um instrumento Assinalei embora sem desenvolvêIas em profun didade algumas leis das organizações assim como al gumas das linhas para as quais deve tender nossa fun ção no plano da psiquiatria preventiva e de prevenção primária Mais do que um desenvolvimento exaustivo esta exposição tem a função de provocar incitar ou es timular tanto uma mudança de nossas estereotipias teó ricas e técnicas como uma mudança na administração de nossos recursos Administração das técnicas e dos conhecimentos de grupo Conferência pronunciada na V Jornada SulRi 0 grandense de Psiquiatria Dinâmica Porto Ale gre 1970 Na história da psiquiatria podemos contar quatro re voluções a primeira é a realizada por Pinel a segunda pela introdução de terapias biológicas e farmacológicas embora com uma certa defasagem entre umas e outras podem ser assimiladas em uma única a terceira pela introdução da psicoterapia e a quarta pela preocupação por uma mudança na administração de recursos No desenvolvimento da psicoterapia de grupo con tamos embora reconhecendo nossas limitações com re cursos teóricos e técnicos bastante desenvolvidos mas penso que temos ainda de introduzir mais sistematica mente essa revolução na administração dos recursos Como profissionais ou cientistas somos geralmen te pouco propensos a nos ocupar de aspectos adminis trativos Essa propensão pode ter múltiplas causas não quero porém referirme a elas mas sim ao processo revolucionário de mudança que no meu entender fal taria introduzir mais sistemática e radicalmente em tudo Administração das técnicas e dos conhecimentos de grupo 125 aquilo que se refere aos conhecimentos e técnicas con cernentes à dinâmica de grupo no campo da psiquiatria dinâmica Sem dúvida por menor que seja nossa tendência a ocuparmonos do problema da administração precisamos nos conscientizar de que de qualquer maneira temos organizada uma administração Podemos caracterizáIa como a do profissional que atende grupos terapêuticos de doentes que vieram consultáIo em sua prática pri vada no sanatório ou no hospital Quero dizer que de qualquer forma bem ou mal estamos administrando nossos recursos e que se não nos queremos ocupar da sua administração saibamos que de qualquer modo temos uma administração a qual aceitamos obedece mos dirigimos e impomos ou se impõe a nós nos diri ge e nos limita Creio que muitos problemas assim como muitas li mitações e muitas questões que não podemos resolver estão baseados nesse tipo de administração de nossos recursos A administração não é independente de nos sas teorias técnicas problemas soluções etc Meu ponto de vista é o de que precisamos adminis trar nossos recursos de modo diferente incluindo entre eles os nossos conhecimentos as nossas teorias e as nossas técnicas grupais A palavra administração refe rese a uma utilização e distribuição que gostaríamos que fosse diferente mais racional e mais eficiente A eficiência da terapia de grupo não depende exclusiva mente do desenvolvimento dos conhecimentos e do aper feiçoamento de nossas técnicas mas também da forma como os administramos E nesta simples palavra admi nistração reside nada menos que uma revolução psi quiátrica que devemos estender o que em parte já foi feito a nossos recursos em tudo o que se refere à tera pia de grupo O problema não diz respeito apenas à saúde públi ca ou à saúde mental o que por si só seria suficiente mas também à profundidade e extensão de nossas teo rias bem como ao tipo de problemas que temos de en frentar do ponto de vista cintífico de tal maneira que a prática profissional e a investigação não são de modo algum independentes do fato de já termos administra do esses recursos ou de têIos mal administrados Digo freqüentemente que nós conhecemos menos do que deveríamos que além disso sabemos menos do que o que é conhecido e que sabemos e conhecemos muito mais do que aquilo que aplicamos ou utilizamos Podese dizer que isso ocorre em todos os campos cien tíficos e profissionais e estou de acordo isso porém não nos deve impedir de pensar no problema Poderia acrescentar a tudo isso uma complicação que reside no fato de que se administrarmos nossos recursos de mo do diferente pode acontecer que esses recursos mudem aumentem ou se tornem mais eficazes Devemos lem brar que a administração dos recursos é parte de uma práxis e que geralmente damonos por satisfeitos com uma práxis limitada que vá da teoria à prática mas que teoria e prática estão em interação entre si no melhor dos casos no entanto sem uma interação com contex tos mais amplos dessa maneira a práxis não está somen te entre teoria e prática mas além disso estas interagem com a administração dos recursos ou então poderíamos dizer que a administração faz parte de tal prática e que toda prática sempre é administrada de alguma forma definida Dessa maneira enfatizo que me oponho termi nantemente por consideráIa errada àquela posição que supõe que a administração é função de administradores e que a nossa função é exclusivamente profissional e cien tífica A razão fundamental da minha oposição reside em que nossa prática profissional e científica realizase den tro de um contexto administrativo particular e que de uma forma ou de outra administramos nossos recursos bem ou mal de maneira estreita ou limitada Freqüentemente é real o ditado em casa de ferreiro espeto de pau Poderíamos dar muitos exemplos limite monos contudo a assinalar que assim como aplicamos muito pouco e utilizamos deficientemente nossos conhe cimentos psicanalíticos nos procedimentos de ensino da psicanálise isto é na didática aplicamos também de ma neira deficiente ou absolutamente não aplicamos nossos conhecimentos e nossas técnicas de grupo à administra ção que fazemos de nossos recursos nessa esfera do co nhecimento e da prática E também não utilizamos nos sos conhecimentos dos psicodinamismos grupais para conseguir mudanças com uma administração diferente Poderia dizêIo em outras palavras que apesar de possuirmos conhecimentos e técnicas de grupo bastan te desenvolvidas não é menos certo que necessitamos de estratégias para a utilização dessas técnicas e conhe cimentos Essa estratégia essa mudança na administração po de ser resumida dizendo que temos de introduzir as téc nicas de grupo e nossos conhecimentos dos dinamis mos grupais nos programas de prevenção primária não só na terapia e na prevenção de doenças mentais ou per turbações psicológicas o que já é muito mas que tam bém devemos inclinarnos a um dos objetivos fundamen tais da prevenção primária que é promover a saúde Se admitimos a necessidade dessa colocação precisa mos em segundo lugar assumir o fato de que uma mudan ça como a exigida por essa perspectiva na administração dos recursos significa também uma mudança nas linhas profissionais e nas linhas ou nos contextos da investigação Temos de sair da chamada atividade intramural e isto sig nifica que precisamos não apenas alternar nossa atividade nos hospitais psiquiátricos nos serviços psiquiátricos dos hospitais gerais mas também alternar todas estas ativida des com outra que se desenvolve nos grupos naturais no seu próprio meio e nas funções e organizações específicas que eles possuem Isso significa que em todos os lugares onde há seres humanos existem grupos e temos de ir até eles e não esperar que eles venham até nós Porém ir até esses grupos naturais significa a necessidade de respei tar o meio os objetivos as funções e as organizações espe cíficas dentro dos quais se desenvolvem os grupos huma nos e entendase que não estou falando somente da ativi 128 Temas de psicologia dade ou do trabalho mas também do ócio e da recreação e de outras inúmeras coisas que não enumero À profunda modificação de linhas profissionais jun tase de imediato o confronto com o problema de que não vamos curar e então precisamos tornar claros os nossos objetivos Estes podem resumirse na fórmula promoção de saúde entendendo por saúde não só a ausência de doen ça mas um aproveitamento mais eficiente de todos os recursos com que conta cada grupo para mobilizar sua própria atividade na procura de melhores condições de vida tanto no campo material como no cultural no so cial e no psicológico Quando nos dispomos a adminis trar do modo indicado nossos recursos técnicas e co nhecimentos de grupo um dos problemas que indu bitavelmente temos de enfrentar é o fato de que a se guir deparamos com uma perda da segurança que nos dá a organização e a institucionalização da administração que agora está em curso organizada como linhas pro fissionais específicas bem determinadas ou claramente definidas Temos aqui um importante problema de psi cologia de grupo começando por nós mesmos para além disso tomar consciência como novo problema teó rico do papel da institucionalização e da organização nas atividades que desempenhamos como indivíduos dian te dos grupos enquanto profissionais A forma como de vemos ir até esses grupos naturais em seus meios espe cíficos é um problema técnico e teórico que devemos também enfrentar como problema de dinâmica de grupo no sentido de que a forma pela qual se realiza a inser ção do profissional pode em grande parte marcar ou delimitar o destino do trabalho posterior que realize ou que não possa realizar Necessitamos elaborar técni cas de inserção grupal para o trabalho grupal além de estudar e de pôr em prática técnicas de desinserção ou desenraizamento de nossos padrões atuais e reconheci dos nos quais nos movemos com facilidade Percebemos assim muito mais claramente como o que fazemos e a forma como o fazemos não é só uma ati vidade mas também parte de nossa personalidade e que uma mudança de conhecimentos ou técnicas bem co mo uma mudança na administração desses recursos signi fica uma crise na estrutura de nossa própria personalidade Até agora nossas técnicas de grupo são sobretudo uma finalidade em si mesmas porém uma mudança na administração pode levarnos a entender que são técni cas que podem ser utilizadas dentro de outros contex tos e outras finalidades Assim por exemplo o trabalho diagnóstico dentro de uma instituição requer conheci mentos e uma estratégia dentro dos quais as técnicas de grupo constituem um dos recursos ou poderseia di zer recurso por antonomásia até agora mas que de to da maneira se conhecemos só essa técnica não domi namos a estratégia do trabalho institucional nossa ati vidade na prevenção primária verseá seriamente afe tada e inclusive impossibilitada de se desenvolver Até agora no campo da psiquiatria dinâmica no que concerne especificamente aos conhecimentos e técni cas de dinâmica de grupo podemos assemelharnos a pessoas possuidoras de riquezas mas que ao mesmo tempo não podem aplicáIas de maneira frutífera Não se é rico em conhecimentos pelo simples fato de pos suílos mas fundamentalmente pela forma de aplicá los E este é um dos problemas críticos e chave que en frentamos na dinâmica de grupo Todos esses aspectos psicológicos da nossa própria condição de profissionais administrando nossos recur sos de uma maneira particular ou limitada não são pro blemas acessórios e se não entendermos isso teremos dificuldades para compreender quando por exemplo no trabalho institucional podemos trabalhar com os pro blemas ou as situações psicológicas que um grupo en frentapara administrarou administrarseusrecursos Que ro insistir em que essa mudança que postulo e apóio é imprescindível mas só estaremos em condições de fa zêIa eficientemente ao compreender cada vez melhor a psicologia de grupo envolvida em nossa própria admi nistração e o que significa psicologicamente para um grupo profissional uma mudança na administração dos seus recursos ou na sua organização Estou plenamente convencido de que a cada tipo de administração corresponde um tipo de problema e um nível de conhecimento tanto como um desenvolvimen to técnico próprio e que uma mudança na administra ção não é somente um aspecto formal ou secundário mas que implica necessariamente uma mudança de pers pectivas uma ampliação de problemáticas um aprofun damento e uma reelaboração de teorias um aperfeiçoa mento das nossas técnicas assim como também a in clusão das técnicas de grupo num capítulo mais amplo de estratégias Essas significam por exemplo no tra balho institucional que não só devemos conhecer teoria e técnicas de grupo mas também saber diagnosticar situações e distinguir o grupo sobre o qual se deve atuar numa organização assim como selecionar o tipo de téc nica adequada para esse grupo para as funções que rea liza e a problemática que enfrenta Aqui o decisivo pode ser o setor em que trabalha o psiquiatra e não a técnica de grupo Isto pode exigir de nós um esforço comple mentar uma vez que esse tipo de avaliaçãonão é impres cindível nas condições nas quais trabalhamos atualmen tejá que na prática privada ou no hospital cada um pode aperfeiçoarse em uma técnica e aplicáIa aos pacien tes embora no trabalho com a prevenção primária a es colha do grupo em função do diagnóstico da organização seja um problema fundamental que nas atuais condições em que exercemos não tem vigência como problema Poderseá alegar que o trabalho na prevenção pri mária exige de nós certos conhecimentos humanistas sociológicos econômicos antropológicos etc e con cordo que isso é de fato necessário com isso teríamos de dirigir nossos esforços também para uma mudança na formação dos técnicos em dinâmica de grupo Outra objeção que tenho ouvido com freqüência assinala que o trabalho do técnico em dinâmica de grupo vai con fundir seus limites com os do psicólogo social do psi cólogo clínico do antropólogo ou de outros profissio nais que também utilizam técnicas de grupo Conside ro isso verdadeiro mas não me inquieta e mais do que como uma desvantagem vejoo como uma vantagem Embora com o risco de provocar mais desânimo do que entusiasmo por uma tal mudança na administração tenho de me referir a outras implicações que exigem um esforço não menor do que as exigências que expus anteriormente Já não será suficiente conhecer como conhecemos a dinâmica e as técnicas de grupo mas teremos de apren der a psicologia do ócio a psicologia do trabalho a psi cologia da organização etc O trabalho com o grupo numa instituição em função da prevenção primária não tende à cura mas sim às pos sibilidades de desenvolvimento das capacidades e ati tudes dos seres humanos Contudo isto pode chocarse ou entrar em conflito com as funções da instituição e então depararemos não só com a resistência de um gru po mas com uma resistência da organização Mencionei em outro lugar que em toda organiza ção chega um momento em que a manutenção da orga nização pode entrar em conflito e ganhar terreno sobre os objetivos para os quais foi criada quer dizer que os grupos de seres humanos que integram uma organização tendem em um dado momento mais do que a cumprir os objetivos da organização a satisfazer necessidades psicológicas Aqui defrontamonos com uma aparente contradição já que se isto é certo as necessidades psi cológicas estão satisfeitas nossa participação ou inter venção na prevenção primária das organizações não te ria sentido porém esta contradição é apenas aparente já que temos necessidades psicológicas que correspon dem à dinâmica do grupo primário mas também temos as que correspondem ao grupo secundário Podemos trabalhar na prevenção primária em fun ção daquilo que de modo geral poderíamos chamar a eficácia e a produtividade Nesse sentido a experiên cia mostranos que quando somos chamados a uma or ganização porque seus objetivos explícitos não estão sen do cumpridos na medida desejada ou possível nossa tarefa se aceitamos o motivo da consulta como legíti mo e não percebemos o seu objetivo latente geralmen te se reduz a transformar grupos primários em secundá rios ou seja a conseguir uma formalização mais rígida da organização e dos modelos institucionais dentro de la Evidentemente isso pode acontecer e freqüente mente acontece possuímos conhecimentos e técnicas suficientes para atingir em parte esses objetivos co mo por exemplo melhorar o nível dos vendedores de uma empresa fazendo com que vendam mais ou fazer uma seção de fábrica produzir mais ou produzir elemen tos de melhor qualidade Mas embora isso seja possível precisamos considerar que tendo aceitado esses objetivos e estas finalidades não estamos trabalhando em função da prevenção primária mas ao contrário como agentes de uma organização que utiliza nossos conhecimentos para que sejam utilizados os seres humanos que a integram Existem formas de trabalhar no campo da prevenção primária sem que isso aconteça mas trazem necessa riamente complicações que às vezes levam à segrega ção do terapeuta e ao fracasso de sua intervenção Existem casos em que o problema das organizações é totalmente oposto já que às vezes somos consultados para intervir em organizações muito formais e rígidas de modo que somos solicitados a intervir como agentes de mudança para introduzir o grupo primário sufocado Ainda nesses casos nossa tarefa não é fácil nem está li vre de complicações e problemas de todo tipo Devemos entender que em toda organização a pró pria organização faz parte é parte da personalidade dos seres humanos que a integram e que mobilizar padrões hábitos e normas de conduta significa mobilizar ansie dades dos indivíduos e dos grupos que a constituem Porém quero ressaltar um aspecto importante é nas or ganizações que as estruturas mais primitivas e a socia bilidade sincrética de quejáfalei estão imobilizadas Se voltarmos agora aos grupos podemos entender o fato de que quando um grupo terapêutico ou um tra balho de grupo para prevenção primária tende a se es tabilizar como organização é porque tende ao mesmo tempo a imobilizar a sociabilidade sincrética e uma par te importante da estrutura grupal ficando assim esta última imobilizada e clivada E Jacques que se ocupou em parte deste proble ma chegou à conclusão de que as instituições servem como defesas das ansiedades psicóticas Minha conclu são é em certa medida coincidente mas também diver gente Coincide no caráter defensivo dinâmico psicoló gico das instituições e organizações mas acredito que nestas últimas se acham diretamente imobilizados os es tratos mais primitivos da personalidade ou a sociabili dade sincrética grupal Se continuamos examinando o problema das técni cas de grupo na prevenção primária podemos citar o ca so em que a nossa intervenção recai sobre a organiza ção como totalidade sobre o seu organograma e não só sobre alguns de seus setores As dificuldades aqui são maiores e exigem um gran de ajustamento das formulações teóricas e de nossa estra tégia na utilização das técnicas de grupo Para dar uma idéia da amplitude desta problemática quero recordar uma formulação que cada vez mais me inclino a consi derar como uma lei geral que uma organização tende a ter as mesmas modalidades que o problema que tem de resolver e a estruturarse dessa forma assim vamos en contrar um círculo vicioso no qual a organização não só não resolve o problema para o qual foi explicitamente criada mas consolida ainda mais a sua existência e para tanto servelhe de ftedback Isto pode parecer um para doxo e num primeiro momento absolutamente incorre to sem dúvida minha experiência e a de meus colabora dores tendem a garantir essa formulação Poderia citar o exemplo de um asilo de velhos que foi criado para miti gar as condições dos anciãos e as características psicoló Administração das técnicas e dos conhecimentos de grupo 137 A estabilização da organização que os grupos tera pêuticos alcançam é genuinamente antiterapêutica ou então é o limite da nossa terapia se não enfrentamos uma desorganização de tais grupos E a experiência de monstra que esse é o momento crítico em que o grupo se dissolve com racionalizações ou com uma concep ção maníaca da cura tanto por parte do grupo como por parte do terapeuta Esse problema atinge o seu ponto culminante quan do trabalhamos no campo da prevenção primária com técnicas de grupo dentro de uma organização uma vez que inevitavelmente o trabalho de grupo realizado em profundidade e em benefício dos seres humanos que in tegram uma organização tende necessariamente a ques tionar e a dissolver ou desagregar a organização No entanto não nos devemos alarmar demais porque quan do se está para alcançar esse ponto geralmente somos segregados da organização ou nos segregamos espon taneamente seja com uma sensação de fracasso ou com racionalizações Por outro lado posso assegurar que os problemas reais são muito mais complicados e difíceis do que o que selecionei aqui já que por razões didáticas apre sentei uma linha esquemática de desenvolvimento e pro curei apresentar as situações mais simples mas omiti muitas situações e problemas justamente em função de um objetivo didático Sei que não ofereço soluções fáceis e às vezes nem sequer soluções difíceis mas elas só podem emergir no melhor dos casos de uma proposição correta dos proble mas que devemos enfrentar e com isso entendo assim mesmo que estamos envolvidos como agentes de mudan ça mas também como agentes que asseguram uma orga nização que constitui uma resistência à mudança gicas já conhecidas privação sensorial incomunicabili dade paralisação pela angústia de morte etc E sem dú vida a organização tem em sua totalidade embora dentro dos mesmos conjuntos ou stafJs do organograma as mes mas características de incomunicabilidade privação sen sorial bloqueio diante da morte etc Esse exemplo serve também para ilustrar como a instituição ajuda a que se depositem nela justamen te tanto o que se quer resolver como os aspectos da so ciabilidade que caracterizei como sincrética É óbvio que nestas condições a tática no trabalho de grupo no campo da prevenção primária tem de se di rigir mais às estruturas da organização fundamental mente aos stafJs administrativos executivos terapêuti cos etc Todavia não precisamos afastarnos muito para en contrar um exemplo muito próximo de nós que é o da luta permanente que se faz necessária num hospital psi quiátrico para que ele não promova a alienação a margi nalização e a segregação dos doentes mentais caracte rísticas que a instituição deveria resolver mas que sem dúvida consolida
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Teoria e técnica na entrevista e nos grupos Ensino Superior Bureau Juridico Nesta obra Bleger aborda do ponto de vista teórico e técnico dois temas fundamentais da psicologia Sobre o primeiro a entrevista psicológica é feita uma apresentação de indicações práticas para sua realização um ensaio de categorização e um estudo dos aspectos psicológicos da entrevista Sobre os grupos o segundotema o autor estuda os grupos operativos no ensino O problema do grupo nas instituições e como instituição e finalmente a administração das técnicas nos planos de prevenção ou em outros termos a estratégia com grupos José Bleger TEMAS DE PSICOLOGIA Tradução RITA MARIA M DE MORAES Revisão LUÍS LORENZO RIVERA CAPA Projeto gráfico Alexandre Marlins Fontes Kalia Harumi Terasaka Ilustração Rex Design Martins Fontes São Paulo 2003 EnsinoSuperior 8ureau Jklcô Título original TEMAS DE PSICOLOGÍA ENTREVISTAS Y GRUPOS Copyright by Ediciones Nueva Visión SAlC Buenos Aires 1979 Copyright 1980 Livraria Marfins Fontes Editora Ltda São Paulo para a presente edição 1 edição abril de 1980 7ª tiragem abril de 1995 2ª edição maio de 1998 3ªtiragem outubro de 2003 Revisão da tradução Luis Loremo Rivera Revisão gráfica Rosângela Ramos da Silva Produção gráfica Geraldo Alves PaginaçãolFotolitos Studio 3 Desenvolvimento Editorial Capa Alexandre Martins Fontes Katia Harumi Terasaka A entrevista psicológica Seu emprego no diagnóstico e na investigação Ensaio de categorização da entrevista 49 Grupos operativos no ensino 59 Ogrupo como instituição e o grupo nas instituições 101 Administração das técnicas e dos conhecimentos de grupo 123 Dados Internacionais de Catalogação na Pnblieação CIP Câmara Brasileira do Livro 8P Brasil Bleger José Temas de psicologia entrevista e grupos I José Bleger tradução Rita Maria M de Maraes revisão Luis Lorenzo Rivera 2i ed São Paulo Martins Fontes 1998 Psícologia e pedagogia Índices para catálogo sistemático 1 Psicologia 150 Todos os direitos desta edição reservados à Livraria Marfins Fontes Editora Ltda Rua Conselheiro Ramalho 330340 01325000 São Paulo SP Brasil Tel lI 32413677 Fax lI 31056867 email infomartinsfontescombr hltpwwwmartinsfontescombr A entrevista psicológica Seu emprego no diagnóstico e na investigação Publicado pelo Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e Letras Universidade de Buenos Aires 1964 A entrevista é um instrumento fundamental do mé todo clínico e é portanto uma técnica de investigação científica em psicologia Como técnica tem seus pró prios procedimentos ou regras empíricas com os quais não só se amplia e se verifica como também ao mesmo tempo se aplica o conhecimento científico Como ve remos essa dupla face da técnica tem especial gravita ção no caso da entrevista porque entre outras razões identifica ou faz coexistir no psicólogo as funções de investigador e de profissional já que a técnica é o pon to de interação entre a ciência e as necessidades práti cas é assim que a entrevista alcança a aplicação de co nhecimentos científicos e ao mesmo tempo obtém ou possibilita levar a vida diária do ser humano ao nível do conhecimento e da elaboração científica E tudo isso em um processo ininterrupto de interação A entrevista é um instrumento muito difundido e devemos delimitar o seu alcance tanto como o enqua 2 Temasdepsicologia A entrevistapsicológica 3 dramento da presente exposição A entrevista pode ter em seus múltiplos usos uma grande variedade de obje tivos como no caso do jornalista chefe de empresa di retor de escola professor juiz etc Aqui nos interessa a entrevista psicológica entendida como aquela na qual se buscam objetivos psicológicos investigaçãodiagnós tico terapia etc Dessa maneira nosso objetivo fica limitado ao estudo da entrevista psicológica não so mente para assinalar algumas das regras práticas que possibilitam seu emprego eficaz e correto como tam bém para desenvolver em certa medida o estudo psico lógico da entrevista psicológica Nesse sentido boa par te do que se desenvolverá aqui pode ser utilizado ou aplicado em todo tipo de entrevista porque em todas elas intervêm inevitavelmente fatores ou dinamismos psicológicos A entrevista psicológica dessa maneira deriva sua denominação exclusivamente de seus objeti vos ou finalidades tal como já assinalei Na consideração da entrevista psicológica como téc nica incluímos dois aspectos um é o das regras ou in dicações práticas de sua execução e o outro é a psico logia da entrevista psicológica que fundamenta as pri meiras Em outros termos incluímos a técnica e a teo ria da técnica da entrevista psicológica Circunscrita dessa maneira a entrevista psicológi ca é o instrumento fundamental de trabalho não somen te para o psicólogo como também para outros profis sionais psiquiatra assistente social sociólogo etc A entrevista pode ser de dois tipos fundamentais aberta e fechada Na segunda as perguntas já estão pre vistas assim como a ordem e a maneira de formuláIas e o entrevistador não pode alterar nenhuma destas dis posições Na entrevista aberta pelo contrário o entre vistador tem ampla liberdade para as perguntas ou para suas intervenções permitindose toda a flexibilidade necessária em cada caso particular A entrevista fecha da é na realidade um questionário que passa a ter uma relação estreita com a entrevista na medida em que uma manipulação de certos princípios e regras facilita e pos sibilita a aplicação do questionário Contudo a entrevista aberta não se caracteriza es sencialmente pela liberdade de colocar perguntas por que como veremos mais adiante o fundamento da en trevista psicológica não consiste em perguntar nem no propósito de recolher dados da história do entrevistado Embora os fundamentos sejam apresentados um pouco mais adiante devemos desde já sublinhar que a liberda de do entrevistador no caso da entrevista aberta reside numa flexibilidade suficiente para permitir na medida do possível que o entrevistado configure o campo da entrevista segundo sua estrutura psicológica particular ou dito de outra maneira que o campo da entrevista se configure o máximo possível pelas variáveis que dependem da personalidade do entrevistado Considerada dessa maneira a entrevista aberta possibilita uma investigação mais ampla e profunda da personalidade do entrevistado embora a entrevista fe 4 Temas de psicologia chada permita uma melhor comparação sistemática de dados além de outras vantagens próprias de todo méto do padronizado De outro ponto de vista considerando o número de participantes distinguese a entrevista em individual e grupal segundo sejam um ou mais os entrevistadores eou os entrevistados A realidade é que em todos os casos a entrevista é sempre um fenômeno grupaljá que mesmo com a participação de um só entrevistado sua relação com o entrevistador deve ser considerada em função da psicologia e da dinâmica de grupo Podese diferenciar também as entrevistas segundo o beneficiário do resultado assim podemos distinguir a a entrevista que se realiza em beneficio do entrevistado que é o caso da consulta psicológica ou psiquiátrica b a entrevista cujo objetivo é a pesquisa na qual importam os resultados científicos c a entrevista que se realiza para um terceiro uma instituição Cada uma delas im plica variáveis distintas a serem levadas em conta já que modificam ou atuam sobre a atitude do entrevistador as SIm como do entrevistado e sobre o campo total da en trevista Uma diferença fundamental é que excetuando o primeiro tipo de entrevista os dois outros requerem que o entrevistador desperte interesse e participação que motive o entrevistado Tanto o método clínico como a técnica da entrevis ta procedem do campo da medicina porém a prática mé dica inclui procedimentos semelhantes que sem dúvida não devem ser confundidos com a entrevista psicológi ca nem superpostos a ela A consulta consiste na solicitação da assistência téc nica ou profissional que pode ser prestada ou satisfeita de formas diversas uma das quais pode ser a entrevis ta Consulta não é sinônimo de entrevista esta última é apenas um dos procedimentos de que o técnico ou pro fissional psicólogo ou médico dispõe para atender a uma consulta Em segundo lugar a entrevista não é uma anamne se Esta implica uma compilação de dados preestabele cidos de tal amplitude e detalhe que permita obter uma síntese tanto da situação presente como da história de um indivíduo de sua doença e de sua saúde Embora uma boa anamnese se faça com base na utilização cor reta dos princípios que regem a entrevista esta última é sem dúvida algo muito diferente Na anamnese a preo cupação e a finalidade residem na compilação de da dos e o paciente fica reduzido a um mediador entre sua enfermidade sua vida e seus dados por um lado e o médico por outro Se o paciente não fornece informa ções elas devem ser extraídas dele Mas além dos da dos que o médico previu como necessários toda contri buição do paciente é considerada como uma perturba 6 Temas de psicologia ção da anamnese freqüentemente tolerada por corte sia porém considerada como supérflua ou desnecessá ria Não são poucas as ocasiões em que a anamnese é feita por razões estatísticas ou para cumprir obrigações regulamentares de uma instituição nesses casos fica em mãos de pessoal auxiliar Diferentemente da consulta e da anamnese a entre vista psicológica objetiva o estudo e a utilização do com portamento total do indivíduo em todo o curso da rela ção estabelecida com o técnico durante o tempo em que essa relação durar Na prática médica é extremamente útil levar em con ta e utilizar os conhecimentos da técnica da entrevista e tudo o que se refere à relação interpessoal Uma parte do tempo de uma consulta deve ser empregada como entre vista e a outra para completar a indagação ou os dados necessários para a anarnnese porém não existem razões para que ela se transforme em um interrogatório A entrevista psicológica é uma relação com carac terísticas particulares que se estabelece entre duas ou mais pessoas O específico ou particular dessa relação reside em que um dos integrantes é um técnico da psi cologia que deve atuar nesse papel e o outro ou os outros necessita de sua intervenção técnica Porém e isso é um ponto fundamental o técnico não só utili za a entrevista para aplicar seus conhecimentos psico lógicos no entrevistado como também essa aplicação se produz precisamente através de seu próprio compor tamento no decorrer da entrevista A entrevista psicoló gica é então uma relação entre duas ou mais pessoas em que estas intervêm como tais Para sublinhar o aspecto fundamental da entrevista poderseia dizer de outra maneira que ela consiste em uma relação humana na qual um dos integrantes deve procurar saber o que está acontecendo e deve atuar segundo esse conhecimento A realização dos objetivos possíveis da entrevista inves tigação diagnóstico orientação etc depende desse sa ber e da atuação de acordo com esse saber Dessa teoria da entrevista originamse algumas orien tações para sua realização A regra básica já não consiste em obter dados completos da vida total de uma pessoa mas em obter dados completos de seu comportamento total no decorrer da entrevista Esse comportamento to tal inclui o que recolheremos aplicando nossa função de escutar porém também nossa função de vivenciar e obser var de tal maneira que ficam incluídas as três áreas do comportamento do entrevistado A teoria da entrevista foi enormemente influencia da por conhecimentos provenientes da psicanálise da Gestalt da topologia e do behaviorismo Ainda que não possamos selecionar especificamente a contribuição de cada um deles convém assinalar sumariamente que a psicanálise influenciou com o conhecimento da dimen são inconsciente do comportamento da transferência e contratransferência da resistência e repressão da pro jeção e introjeção etc A Gestalt reforçou a compreen são da entrevista como um todo no qual o entrevistador é um de seus integrantes considerando o comportamen to deste como um dos elementos da totalidade A topo logia levou a delinear e reconhecer o campo psicológico e suas leis assim como o enfoque situaciona1 O beha viorismo influenciou com a importância da observação do comportamento Tudo isso conduziu à possibilidade de realizar a entrevista em condições metodológicas mais restritas convertendoa em instrumento científico no qual a arte da entrevista foi reduzida em função de uma sis tematização das variáveis e é esta sistematização que possibilita um maior rigor em sua aplicação e em seus resultados Podese ensinar e aprender a realizar entre vistas sem que se tenha de depender de um dom ou virtu de imponderáve1 O estudo científico da entrevista a pes quisa do instrumento tem reduzido sua proporção de arte e incrementado sua operacionalidade e utilização como técnica científica A investigação científica do instrumento tem feito com que a entrevista incorpore algumas das exigências do método experimental mas também faz com que a entrevista psicológica em geral constitua um procedi mento de observação em condições controladas ou pe lo menos em condições conhecidas Dessa maneira a entrevista pode ser considerada em certa medida da mesma forma que o tubo de ensaio para o químico se gundo uma comparação feliz de Young Dessa teoria da técnica da entrevista que continua remos desenvolvendo dependem as regras práticas ou empíricas esta é a única forma racional de compreen dêIas aprendêIas aplicáIas e enriquecêIas O empenho em diferenciar a entrevista da anamne se provém do interesse em constituir um campo com ca racterísticas definidas ideais para a investigação da per sonalidade Como na anamnese temos na entrevista um campo configurado e com isso queremos dizer que entre os participantes se estrutura uma relação da qual depende tudo que nela acontece A diferença básica neste sentido entre entrevista e qualquer outro tipo de relação interpes soal como a anamnese é que a regra fundamental da en trevista sob este aspecto é procurar fazer com que o cam po seja configurado especialmente e em seu maior grau pelas variáveis que dependem do entrevistado Apesar de todo emergente ser sempre situacional ou dito em outras palavras provir de um campo dize mos que na entrevista tal campo está determinado pre dominantemente pelas modalidades da personalidade do entrevistado De outra forma poderseia dizer que o entrevistador controla a entrevista porém quem a dirige é o entrevistado A relação entre ambos delimita e determina o campo da entrevista e tudo o que nela acontece porém o entrevistador deve permitir que o campo da relação interpessoal seja predominantemente estabelecido e configurado pelo entrevistado Todo ser humano tem sua personalidade sistemati zada em uma série de pautas ou em um conjunto ou re pertório de possibilidades e são estas que esperamos que atuem ou se exteriorizem durante a entrevista As sim pois a entrevista funciona como uma situação em que se observa parte da vida do paciente que se desen volve em relação a nós e diante de nós Nenhuma situação pode conseguir a emergência da totalidade do repertório de condutas de uma pessoa e portanto nenhuma entrevista pode esgotar a personali dade do paciente mas somente um segmento dela A en trevista não pode substituir nem excluir outros procedi mentos de investigação da personalidade porém eles também não podem prescindir da entrevista De modo es pecífico a entrevista não pode suprir o conhecimento e a investigação de caráter muito mais extenso e profundo que se obtém por exemplo em um tratamento psicanalíti co o qual no decorrer de um tempo prolongado permite a emergência e a manifestação dos núcleos e segmentos mais diferentes da personalidade Para obter o campo particular de entrevista que des crevi devemos contar com um enquadramento rígido que consiste em transformar um conjunto de variáveis em constantes Dentro deste enquadramento incluemse não apenas a atitude técnica e o papel do entrevistador tal como assinalei como também os objetivos o lugar e o tempo da entrevista O enquadramento funciona como uma espécie de padronização da situação estímulo que oferecemos ao entrevistador com isso não pretendemos que esta situação deixe de atuar como estímulo para ele mas que deixe de oscilar como variável para o entrevista dor Se o enquadramento se modifica por exemplo por que a entrevista se realiza em um local diferente esta mo dificação deve ser considerada como uma variável su jeita a observação tanto como o é o entrevistado Cada entrevista tem um contexto definido conjunto de cons tantes e variáveis em função do qual ocorrem os emer gentes que só têm sentido em função de tal contexto O campo da entrevista também não é fixo e sim dinâ mico o que significa que ele está sujeito a uma perma nente mudança e que a observação se deve estender do campo específico existente em cada momento à continui dade e sentido destas mudanças Na realidade poderseia dizer que a observação da continuidade e da contigüidade das mudanças é o que permite completar a observação e inferir a estrutura e o sentido de cada campo responden do a esta modalidade do processo real devese dizer que o campo da entrevista cobre a sua totalidade embora ca da campo não seja senão um momento desse campo to tal e da sua dinâmica Gestaltung2 Uma sistematização que permite o estudo detalhado da entrevista como campo consiste em centrar o estudo sobre a o entrevistador incluindo sua atitude sua dis sociação instrumental contratransferência identificação etc b o entrevistado incluindose aqui transferência estruturas de comportamento traços de caráter ansie dades defesas etc c a relação interpessoal na qual se 1 Contexto ou enquadramento foram estudados em J Eleger Psi coaná1isis dei enquadre psicoanalítico em Simbiosis e ambigüedad Pai dós Buenos Aires 1967 2 Gestaltung processo de formação de Gestalten inclui a interação entre os participantes o processo de comunicação projeção introjeção identificação etc o problema da ansiedade etc Embora não pretenda aprofundar aqui cada um dos fenômenos assinalados porque isso abarcaria em grande parte quase toda a psicologia e psicopatologia estes aspectos estão incluí dos nas considerações que se seguem vida atual que manterão entre si relação de complemen tação ou de contradição As lacunas dissociações e contradições que indi quei levam alguns pesquisadores a considerar a entre vista como instrumento não muito confiável Sem dúvi da nesses casos o instrumento não faz mais que refletir o que corresponde a características do objeto de estudo As dissociações e contradições que observamos corres pondem a dissociações e contradições da própria perso nalidade e ao refletiIas a entrevista permitenos tra balhar com elas se elas serão trabalhadas ou não irá de pender da intensidade da angústia que se pode provocar e da tolerância do entrevistado a essa angústia Igual mente os conflitos trazidos pelo entrevistado podem não ser os conflitos fundamentais assim como as motiva ções que alega são geralmente racionalizações A simulação perde o valor que tem na anamnese co mo fator de perturbação já que na entrevista a simula ção deve ser considerada como uma parte dissociada da personalidade que o entrevistado não reconhece total mente como sua Pode acontecer que o mesmo entre vistador ou diferentes entrevistadores recolham em mo mentos diferentes partes distintas e ainda contraditórias da mesma personalidade Os dados não devem ser ava liados em função de certo ou errado mas como graus ou fenômenos de dissociação da personalidade Uma si tuação típica e em certa medida inversa à que comento é a do entrevistado que tem rigidamente organizada sua história e seu esquema de vida presente como meio de Uma diferença fundamental entre entrevista e anam nese no que diz respeito à teoria da personalidade e à teoria da técnica reside em que na anamnese trabalha se com a suposição de que o paciente conhece sua vida e está capacitado portanto para fornecer dados sobre ela enquanto a hipótese da entrevista é que cada ser hu mano tem organizada uma história de sua vida e um es quema de seu presente e desta história e deste esquema temos de deduzir o que ele não sabe Em segundo lu gar aquilo que não nos pode dar como conhecimento explícito nos é oferecido ou emerge através do seu com portamento nãoverbal e este último pode informar so bre sua história ou seu presente em graus muito variá veis de coincidência ou contradição com o que expressa de modo verbal e consciente Por outro lado além disso em diferentes entrevistas o entrevistado pode oferecer nos diferentes histórias ou diferentes esquemas de sua defesa contra a penetração do entrevistador e ao seu pró prio contato com áreas de conflito de sua situação real e de sua personalidade esse tipo de entrevistado repete a mesma história estereotipada em diferentes entrevistas seja com o mesmo ou com diferentes entrevistadores Quando vários integrantes de um grupo ou instituição em família escola fábrica etc são entrevistados essas divergências e contradições são muito mais freqüentes e notórias e constituem dados muito importantes sobre co mo cada um de seus membros organiza numa mesma rea lidade um campo psicológico que lhe é específico A to talidade nos dá um índice fiel do caráter do grupo ou da instituição de suas tensões ou conflitos tanto como de sua organização particular e dinâmica psicológica De tudo o que foi exposto deduzse facilmente que a técnica e sua teoria estão estreitamente entrelaçadas com a teoria da personalidade com a qual se trabalha o grau de interação que um entrevistador é capaz de conseguir entre elas dá o modelo de sua operacionalidade como investiga dor A entrevista não consiste em aplicar instruções mas em investigar a personalidade do entrevistado ao mesmo tempo que nossas teorias e instrumentos de trabalho N as ciências da natureza segundo o ponto de vista tradicional a observação científica é objetiva no senti do de que o observador registra o que ocorre os fenô menos que são externos e independentes dele com abs tração ou exclusão total de suas impressões sensações sentimentos e de todo estado subjetivo um registro de tal tipo é o que permite a verificação do observado por terceiros que podem reconstruir as condições da obser vação Não interessa agora discutir a validade deste esquema que já se mostrou estreito e ingênuo também para as mesmas ciências naturais Interessame em com pensação observar que na entrevista o entrevistador é parte do campo quer dizer em certa medida condiciona os fenômenos que ele mesmo vai registrar Colocase então a questão da validade dos dados assim obtidos Tal summum de objetividade na investigação não se cumpre em nenhum outro campo científico e menos ain da em psicologia na qual o objeto de estudo é o homem Em compensação a máxima objetividade só pode ser alcançada quando se incorpora o sujeito observador co mo uma das variáveis do campo Se o observador está condicionando o fenômeno que observa podese objetar que neste caso não estamos estudando o fenômeno tal como ele é mas sim em rela ção com a nossa presença e assim já não se faz uma observação em condições naturais A isso se pode responder de modo global dizendo que esse tipo de objeção não é válido porque se baseia em uma quantidade de pressuposições incorretas Veja mos algumas dessas pressuposições o que se quer dizer com a expressão observação em condições naturais Certamente referese a uma observa ção realizada nas mesmas condições em que se dá real mente o fenômeno As considerações ontológicas super põemse às de tipo gnosiológico nas primeiras admitese a existência de um mundo objetivo que existe por si inde pendentemente de que o conheçamos ou não Já nas se gundas somos nós que conhecemos e por isso temos de nos incluir necessariamente no processo do conhecimento tal como ocorre na realidade Esta segunda afirmação não invalida de nenhuma maneira a primeira porque ambas se referem a coisas diferentes uma à existência dos fenôme nos e outra ao conhecimento que deles se obtém Mas além disso as condições naturais da conduta humana são as condições humanas Toda conduta se dá sempre num contexto de vínculos e relações huma nas e a entrevista não é uma distorção das pretendidas condições naturais e sim o contrário a entrevista é a situação natural em que se dá o fenômeno que preci samente nos interessa estudar o fenômeno psicológi co Desta maneira o enfoque ontológico e gnosiológico coincidem e são a mesma coisa Poderseá insistir ainda em que a entrevista não tem validade de instrumento científico porque as mani festações do objeto que estudamos dependem nesse caso da relação que se estabeleça com o entrevistador e portanto todos os fenômenos que aparecem estão con dicionados por essa relação Esse tipo de objeção deriva de uma concepção metafisica do mundo o supor que ca da objeto tem qualidades que dependem de sua natureza interna própria e que determinadas relações modificam ou subvertem essa pureza ontológica ou essas qualida des naturais O certo é que as qualidades de todo objeto são sempre relacionais derivam das condições e rela ções nas quais se acha cada objeto em cada momento Cada situação humana é sempre original e única portanto a entrevista também o é porém isso não rege somente os fenômenos humanos como também os fe nômenos da natureza coisa que Heráclito já sabia Essa originalidade de cada acontecimento não impede o es tabelecimento de constantes gerais quer dizer das con dições que se repetem com mais freqüência O indivi dual não exclui o geral nem a possibilidade de introdu zir a abstração e categorias de análise Is se opõ a um narcisismo subjacente ao campo cent1fIco da pSIcologIa cada ser humano considera a SI mesmo como um ser distinto e único resultado de uma diferença particular de Deus do destino ou da na tureza O ser humano descobre paulatinamente e com assombro que tem as mesmas vísceras que seus seme lhantes assim como descobre ou resiste a descobrir que sua vida pessoal se tece sobre um fundo comum a todos os seres humanos No caso da entrevista isso não VIgora apenas para o narcisismo do entrevistado como também para o do entrevistador que também deve as sumir a sua condição humana e não se sentir acima do entrevistado ou em situação privilegiada diante dele E isso que é fácil dizer não é nada fácil realizar Uma certa concepção aristocrática ou monopolista da ciência tem feito supor que a investigação é tarefa de eleitos que estão acima ou além dos fatos cotidianos e comuns Assim a entrevista é nesta concepção um instrumento ou uma técnica da prática com a qual se pretende diagnosticar isto é aplicar conhecimentos cien tíficos que em si mesmos são provenientes de outras fontes a investigação científica O certo é que não há possibilidade de uma entrevis ta correta e frutífera se não se incluir a investigação Em outros termos a entrevista é um campo de trabalho no qual se investiga a conduta e a personalidade de seres humanos Que isto se realize ou não é coisa que já não depende do instrumento do mesmo modo como não in validamos ou duvidamos do método experimental pelo fato de que um investigador possa utilizar o laboratório sem se ater às exigências do método experimental Uma utilização correta da entrevista integra na mesma pes soa e no mesmo ato o profissional e o pesquisador A chave fundamental da entrevista está na investiga ção que se realiza durante o seu transcurso As obser vações são sempre registradas em função de hipóteses que o observador vai emitindo Esclareçamos melhor o que se quer dizer com isso Afirmase geralmente de maneira muito formal que a investigação consta de eta pas nítidas e sucessivas que se escalonam uma após a outra na seguinte ordem primeiro intervém a observa ção depois a hipótese e posteriormente a verificação O certo contudo é que a observação se realiza sempre em função de certos pressupostos e que quando estes são conscientes e utilizados como tais a observação se enriquece Assim a forma de observar bem é ir formu lando hipóteses enquanto se observa e durante a entre vista verificar e retificar as hipóteses no momento mesmo em que ocorrem em função das observações subseqüen tes que por sua vez se enriquecem com as hipóteses prévias Observar pensar e imaginar coincidem total mente e formam parte de um só e único processo dialé tico Quem não utiliza a sua fantasia poderá ser um bom verificador de dados porém nunca um investigador Em todas as ações humanas devese pensar sobre o que se está fazendo e quando isso acontece sistematica mente em um campo de trabalho definido submetendo se à verificação o que se pensou está sendo realizada uma investigação O trabalho profissional do psicólogo do psiquiatra e do médico somente adquire sua real en vergadura e transcendência quando nele coincide a inves tigação e a tarefa profissional porque estas são as uni dades de uma práxis que resguarda da desumanização a tarefa mais humana compreender e ajudar outros seres humanos Indagação e atuação teoria e prática devem ser manejadas como momentos inseparáveis forman do parte de um só processo Com freqüência alegase falta de tempo para realizar entrevistas exaustivas ou corretas Aconselho reali zar bem pelo menos uma entrevista periódica e regular 20 Temas de psicologia vista o entrevistador observa como e através do que o entrevistado condiciona sem o saber efeitos dos quais ele mesmo se queixa ou é vítima Interessam particular mente os momentos de mudança na comunicação e as situações e temas ante os quais ocorrem assim como as inibições interceptações e bloqueios Ruesch estabeleceu uma classificação da persona lidade baseada nos sistemas predominantes que cada indivíduo põe emjogo na comunicação Porém o tipo de comunicação não é importante ape nas por oferecer dados de observação direta que inclu sive podem ser registrados mas porque é o fenômeno chave de toda a relação interpessoal que por sua vez pode ser manipulado pelo entrevistador e assim gra duar ou orientar a entrevista mente descobrirseá rapidamente como é útil não ter tempo e como é fácil racionalizar e negar as dificuldades Entrevistador e entrevistado formam um grupo ou seja um conjunto ou uma totalidade na qual os integran tes estão interrelacionados e em que a conduta de ambos é interdependente Diferenciase de outros grupos pelo fato de que um de seus integrantes assume um papel es pecífico e tende a cumprir determinados objetivos A interdependência e a interrelação o condicio namento recíproco de suas respectivas condutas reali zamse através do processo da comunicação entenden dose por isso o fato de que a conduta de um conscien te ou não atua de forma intencional ou não como estímulo para a conduta do outro que por sua vez rea tua como estímulo para as manifestações do primeiro Nesse processo a palavra tem um papel de enorme gra vitação no entanto também a comunicação préverbal intervém ativamente atitudes timbre e tonalidade afe tiva da voz etc O tipo de comunicação que se estabelece é alta mente significativo da personalidade do entrevistado especialmente do caráter de suas relações interpessoais ou seja da modalidade do seu relacionamento com seus semelhantes Nesse processo que se produz na entre Na relação que se estabelece na entrevista devese contar com dois fenômenos altamente significativos a transferência e a contratransferência A primeira referese à atualização na entrevista de sentimentos atitudes e con dutas inconscientes por parte do entrevistado que corres pondem a modelos que este estabeleceu no curso do de senvolvimento especialmente na relação interpessoal com seu meio familiar Distinguese a transferência negativa da positiva porém ambas coexistem sempre embora com um predomínio relativo estável ou alternante de uma so bre a outra Integram a parte irracional ou inconsciente da conduta e constituem aspectos não controlados pelo pa ciente Uma outra noção similar acentua na transferên cia as atitudes afetivas que o entrevistado vivencia ou atualiza em relação ao entrevistador A observação des ses fenômenos colocanos em contato com aspectos da conduta e da personalidade do entrevistado que não se incluem entre os elementos que ele pode referir ou trazer voluntária ou conscientemente mas que acrescentam uma dimensão importante ao conhecimento da estrutura de sua personalidade e ao caráter de seus conflitos N a transferência o entrevistado atribui papéis ao en trevistador e comportase em função deles Em outros termos transfere situações e modelos para uma realida de presente e desconhecida e tende a configuráIa co mo situação já conhecida repetitiva Com a transferência o entrevistado fornece aspec tos irracionais ou imaturos de sua personalidade seu grau de dependência sua onipotência e seu pensamen to mágico É neles que o entrevistador poderá descobrir aquilo que o entrevistado espera dele sua fantasia da entrevista sua fantasia de ajuda ou seja o que acredita que é ser ajudado e estar são incluídas as fantasias pa tológicas de cura que são com muita freqüência aspi rações neuróticas Poderseá igualmente despistar outro fator importante que é o da resistência à entrevista ou o de ser ajudado ou curado e a intenção de satisfazer desejos frustrados de dependência ou de proteção Na contratransferência incluemse todos os fenô menos que aparecem no entrevistador como emergen tes do campo psicológico que se configura na entrevis ta são as respostas do entrevistador às manifestações do entrevistado o efeito que têm sobre eles Dependem em alto grau da história pessoal do entrevistador porém se elas aparecem ou se atualizam em um dado momento da entrevista é porque nesse momento existem fatores que agem para que isso aconteça Durante muito tempo foram considerados como elementos perturbadores da entrevista porém progressivamente reconheceuse que são indefectíveis e iniludíveis em seu aparecimento e o entrevistador deve também registráIos como emergen tes da situação presente e das reações que o entrevista do provoca Portanto à observação na entrevista acres centase também a autoobservação A contratransferência não constitui uma percepção em sentido rigoroso ou limitado do termo mas sim um indício de grande significação e valor para orientar o entrevistador no estudo que realiza No entanto não é de fácil manejo e requer uma boa preparação experiên cia e um alto grau de equilíbrio mental para que possa ser utilizada com alguma validade e eficiência Transferência e contratransferência são fenômenos que aparecem em toda relação interpessoal e por isso mesmo também ocorrem na entrevista A diferença é que na entrevista devem ser utilizados como instrumen tos técnicos de observação e compreensão A interação transferênciacontratransferência pode também ser estu 25 A entrevista psicológica dada como uma atribuição de papéis por parte do entre vistado e uma percepção deles por parte do entrevista dor Se por exemplo a atitude do entrevistado irrita e provoca rejeição no entrevistador ele deve procurar es tudar e observar sua reação como efeito do comporta mento do entrevistado para ajudáIo a corrigir aquela conduta de cujos resultados ele mesmo pode queixar se por exemplo de que não tem amigos e de que mn guém gosta dele Se o entrevistador não for capaz de objetivar e estudar sua reação ou reagir com irritação e rejeição assumindo o papel projetado indicará que a manipulação que faz da contratransferência está pertur bada e que portanto está se saindo mal na entrevista A ansiedade constitui um indicador do desenvolvi mento de uma entrevista e deve ser atentamente acompa nhada pelo entrevistador tanto a que se produz nele co mo a que aparece no entrevistado Devese estar atento não somente ao seu aparecimento como também ao seu grau ou intensidade porque embora dentro de determi nados limites a ansiedade seja um agente motor da re lação interpessoal pode perturbáIa totalmente e fugir completamente ao controle se ultrapassar certo nível Por isso o limite de tolerância à ansiedade deve ser perma nentemente detectado Se entrevistado e entrevistador defrontarem com uma situação desconhecida ante a qual ainda não estabilizaram linhas reacionais adequadas e essa situação não organizada implicar certa desorgani zação da personalidade de cada um dos participantes tal desorganização é a ansiedade O entrevistado solicita ajuda técnica ou profissio nal quando sente ansiedade ou se vê perturbado por me canismos defensivos diante dela Durante a entrevista tanto sua ansiedade como seus mecanismos de defesa podem aumentar porque o desconhecido que enfrenta não é somente a situação externa nova mas também o perigo daquilo que desconhece em sua própria perso nalidade Se esses fatores não se apresentam faz parte da função do entrevistador motivar o entrevistado con seguir que apareçam em uma certa medida na entrevis ta Em alguns casos a ansiedade achase delegada ou projetada em outra pessoa que é quem solicita a entre vista e manifesta interesse em que ela se realize A ansiedade do entrevistador é um dos fatores mais dificeis de manipular porque é o motor do interesse na investigação e do interesse em penetrar no desconheci do Toda investigação implica a presença de ansiedade diante do desconhecido e o investigador deve ter capa cidade para toleráIa e poder instrumentalizáIa sem o que se fecha a possibilidade de uma investigação eficaz isso ocorre também quando o investigador se vê opri mido pela ansiedade ou recorre a mecanismos de defe sa ante ela racionalização formalismo etc que o objeto que deve estudar é outro ser humano de tal maneira que ao examinar a vida dos demais se acha di retamente implicada a revisão e o exame de sua própria vida de sua personalidade conflitos e frustrações A vida e a vocação de psicólogo de médico e de psi quiatra merecem um estudo detalhado que não empreen derei agora quero porém lembrar que são os técnicos encarregados profissionalmente de estar todos os dias em contato estreito e direto com o submundo da doença dos conflitos da destruição e da morte Foi necessário recorrer à simulação e à dissociação para o desenvolvi mento e exercício da psicologia e da medicina ocupar se de seres humanos como se não o fossem O treina mento do médico inconsciente e defensivamente tende a isto ao iniciar toda aprendizagem pelo contato com o cadáver Quando queremos nos ocupar da doença em seres humanos considerados como tal nossas ansieda des aumentam mas ao mesmo tempo precisamos pôr de lado o bloqueio e as defesas Por tudo isto a psicolo gia demorou tanto para se desenvolver e infiltrarse na medicina e na psiquiatria Isso seria paradoxal se não considerássemos os processos defensivos porém o médico cuja profissão é tratar doentes é quem propor cionalmente mais escotomiza ou nega suas próprias doenças ou as de seus familiares Em psiquiatria em medicina psicossomática e em psicologia tudo isto já não é possível o contato direto com seres humanos co mo tais coloca o técnico diante da sua própria vida sua própria saúde ou doença seus próprios conflitos e frus Diante da ansiedade do entrevistado não se deve re correr a nenhum procedimento que a dissimule ou repri ma como o apoio direto ou o conselho A ansiedade so mente deve ser trabalhada quando se compreende os fa tores pelos quais ela aparece e quando se atua segundo essa compreensão Se o que predomina são os mecanis mos de defesa diante dela a tarefa do entrevistador é desarmar em certa medida estas defesas para que apa reça certo grau de ansiedade o que será um indicador da possibilidade de atualização dos conflitos Toda essa ma nipulação técnica da ansiedade deve ser feita tendose sempre em conta a personalidade do entrevistado e so bretudo o beneficio que para ele pode significar a mobi lização da ansiedade de tal forma que mesmo diante de situações muito claras não se deve ser ativo se isso sig nificar oprimir o entrevistado com conflitos que não po derá tolerar Isso corresponde a um aspecto muito dificil o do denominado timing da entrevista que é o tempo próprio ou pessoal do entrevistado que depende do grau e tipo de organização de sua personalidade para enfrentar seus conflitos e para resolvêIos O instrumento de trabalho do entrevistador é ele mesmo sua própria personalidade que participa inevi tavelmente da relação interpessoal com a agravante de trações Caso ele não consiga graduar este impacto sua tarefa tornase impossível ou tem muita ansiedade e então não pode atuar ou bloqueia a ansiedade e sua tarefa é estéril Na sua atuação o entrevistador deve estar dissocia do em parte atuar com uma identificação projetiva com o entrevistado e em parte permanecer fora desta iden tificação observando e controlando o que ocorre de ma neira a graduar o impacto emocional e a desorganização ansiosa Nesse sentido seria necessário desenvolver es tudos tanto sobre a psicologia e a psicopatologia do psi quiatra e do psicólogo como sobre o problema de sua formação profissional e de seu equilíbrio mental Essa dissociação com que o entrevistador trabalha é por sua vez funcional ou dinâmica no sentido de que pro jeção e introjeção devem atuar permanentemente e deve ser suficientemente plástica ou porosa para que possa permanecer nos limites de uma atitude profissionaL Em sua tarefa o psicólogo pode oscilar facilmente entre a an siedade e o bloqueio sem que isto a perturbe desde que possa resolver ambos na medida em que surjam Na entrevista a passagem do normal ao patológico acontece de modo imperceptível Uma má dissociação com ansiedade intensa e permanente leva o psicólogo a desenvolver condutas fóbicas ou obsessivas ante os en trevistados evitando as entrevistas ou interpondo instru mentos e testes para evitar o contato pessoal e a ansieda de conseqüente A clássica aflição do médico que tanto se emprega na sátira é uma permanente fuga fóbica aos doentes Por outro lado a defesa obsessiva manifestase em entrevistas estereotipadas nas quais tudo é regrado e previsto na elaboração rotineira de histórias clínicas ou seja o instrumento de trabalho a entrevista transfor mase num ritual Por trás disso está o bloqueio que faz com que sempre aplique e diga a mesma coisa sempre ve ja a mesma coisa aplique o que sabe e sintase seguro A pressa em fazer diagnósticos e a compulsão a empre gar drogas são outros dos elementos desta fuga e deste ritual do médico diante do doente Nisso se desenvolve a alienação do psicólogo e do psiquiatra e a alienação do paciente e toda a estrutura hospitalar e de sanatório passa a ter o efeito de um fator alienante a mais Outro perigo é o da projeção dos próprios conflitos do tera peuta sobre o entrevistado e uma certa compulsão a cen trar seu interesse sua investigação ou a encontrar per turbações justamente na esfera na qual nega que tenha perturbações A rigidez e a projeção levam a encontrar somente o que se busca e se necessita e a condicionar o que se encontra tanto como o que não se encontra Um exemplo muito ilustrativo de tudo isto mas bastante co mum é o caso de um jovem médico que iniciava seu treinamento em psiquiatria e que presenciando uma en trevista e o diagnóstico de um caso de fobia disse que não era isso que o paciente não tinha nem fobia nem doença porque ele também a tinha Se num dado momento a projeção com que o técni co atua é muito intensa pode aparecer uma reação fó bica no próprio campo de trabalho Pelo contrário se for excessivamente bloqueada haverá uma alienação e não se entenderá o que ocorre Diferentes tipos de pessoas podem provocar reações contratransferenciais típicas no entrevistador e este de ve continuamente poder observáIas e resolvêIas para poder utilizáIas como informação e instrumento duran te a entrevista Podese de outra maneira descrever esta dissociação dizendo que o entrevistador tem de desempenhar os pa péis que lhe são fomentados pelo entrevistado mas sem assumiIos totalmente Se por exemplo sentir rejeição as sumir o papel seria mostrar e atuar a rejeição rejeitando efetivamente o entrevistado seja verbalmente ou com a atitude ou de qualquer outra maneira desempenhar o pa pel significa perceber a rejeição compreendêIa encon trar os elementos que a motivam as motivações do en trevistado para que isso aconteça e utilizar toda esta infor mação que agora possui para esclarecer o problema ou provocar sua modificação no entrevistado Quanto mais psicopata for o entrevistado maior a possibilidade de que o entrevistador assuma e represente os papéis Assumir o papel implicará a ruptura do enquadramento da entrevis ta Fastio cansaço sono irritação bloqueio compaixão carinho rejeição sedução etc são indícios contratrans ferenciais que o entrevistador deve perceber como tais à medida que se produzem e terá de resolvêIos anali sandoos consigo mesmo em função da personalidade do entrevistado da sua própria do contexto e do momen to em que aparecem na comunicação o psiquiatra inseguro ou pouco experiente não sa berá o que fazer com todos estes dados e para não ficar vexado recorrerá com freqüência à receita interpondo entre ele e seu paciente os medicamentos nestas condi ções a farmacologia tornase um fator alienante porque fomenta a magia no paciente e no médico e os dissocia novamente de seus respectivos conflitos Algo muito se melhante é o que o psicólogo faz freqüentemente com os testes Para combater isto é importante e mesmo im prescindível que o psiquiatra e psicólogo não trabalhem isolados que formem pelo menos grupos de estudo e de discussão nos quais o trabalho que se realiza seja re visto para cair na estereotipia não há clima melhor do que o do isolamento profissional porque o isolamento acaba encobrindo as dificuldades com a onipotência Examinar as contingências de uma entrevista signi ficaria simplesmente passar em revista toda a psicolo gia psiquiatria e psicopatologia por isso só me referirei aqui a algumas situações típicas no campo da psicologia clínica e em especial àquelas que habitualmente não são consideradas e no entanto são muito importantes De modo geral para que uma pessoa procure uma entrevista é necessário que tenha chegado a uma certa preocupação ou insight de que algo não está bem de que algo mudou ou se modificou ou então perceba suas pró prias ansiedades ou temores Esses últimos podem ser tão intensos ou intoleráveis que poderá recorrer na en trevista a uma negação e resistência sistemática de mo do que se assegurre logicamente de que não está acon tecendo nada conseguindo fazer com que o técnico não perceba nada anormal nela Em algum lugar já se defi niu o doente como toda pessoa que solicita uma consul ta fazendose abstração de que tal definição carece de valor real é sem dúvida certo que o entrevistador deve aceitar esse critério ainda que somente como incentivo para questionar detalhadamente o que está por trás das re pressões e negações ou escotomizações do entrevistado Schilder classificou em cinco grupos os indivíduos que procuram o médico ou porque estão sofrendo ou fa zendo os outros sofrer são eles a os que acorrem por problemas corporais b por problemas mentais c por fal ta de êxito d por dificuldades na vida diária e por quei xas de outras pessoas Seguindo por outro lado a divisão de E Pichon Riviere das áreas da conduta podemos considerar três grupos conforme o predomínio de inibições sintomas queixas ou protestos recaia mais sobre a área da mente do corpo ou do mundo exterior O paciente pode apre sentar queixas lamentações ou acusações no primeiro caso predomina a ansiedade depressiva enquanto no se gundo a ansiedade paranóide Esses agrupamentos não tendem a diferenciar os doentes orgânicos dos doentes mentais nem as doenças orgânicas das funcionais ou psicogenéticas Aplicamse a todos os tipos de entrevistados que procuram um es pecialista e tendem mais a uma orientação sobre a per sonalidade do sujeito pela forma com que procura re duzir suas tensões aliviar ou resolver seus conflitos Podemos reconhecer e distinguir entre o entrevista do que vem consultar e o que é trazido ou aquele a quem mandaram Nessas atitudes já temos um índice de im portância embora esteja longe de ser sistemático ou pa tognomônico Aquele que vem tem um certo insight ou percepção da sua doença e corresponde ao paciente neu rótico enquanto o psicótico é trazido Aquele que não tem motivos para vir mas vem porque o mandaram cor responde à psicopatia é o que faz o outro atuar e delega aos outros suas preocupações e malestares Temos entre outros o caso daquele que vem con sultar por um familiar Nesse caso realizamos a entre vista com o que vem indagando sobre sua personalida de e conduta Com isso já passamos do entrevistado ao grupo familiar Caso o entrevistado sej a precedido por um informante devese comunicar a este que o que ele disser sobre o paciente serIheá comunicado dizendo isso antes que ele dê qualquer informação Isto tenderá a limpar o campo e a romper com divisões muito difí ceis de trabalhar posteriormente Aquele que vem à consulta é sempre um emergente dos conflitos grupais da família diferenciamos além disso entre o que vem só e o que vem acompanhado que representam grupos familiares diferentes 35 A entrevista psicológica o que vem sozinho é o representante de um grupo familiar esquizóide em que a comunicação entre seus membros é muito precária vivem dispersos ou separa dos com um grau acentuado de bloqueio afetivo Com freqüência diante destes o técnico tende a perguntar se com quem pode falar ou a quem informar Outro gru po familiar de caráter oposto a este é aquele no qual comparecem vários membros à consulta e o técnico tem necessidade de perguntar quem é o entrevistado ou por quem eles vêm é o grupo epileptóide viscoso ou agluti nado no qual há uma falta ou déficit na personificação de seus membros com um alto grau de simbiose ou in terdependência Assim como no caso anterior o doente está isolado e abandonado neste caso ele está excessiva mente rodeado por um cuidado exagerado ou asfixiante Esses dois tipos polares podem ser encontrados em suas formas extremas ou em formas menos caracteri zadas ou mistas Outro tipo é o que vem acompanhado por uma pessoa familiar ou amigo é o caso do fóbico que necessita do acompanhante O caso dos casais cujos integrantes se culpam mutuamente de neurose infide lidade etc é outra situação na qual como em todas as anteriores a entrevista se realiza com todos os que vie ram procedendose como com um grupo diagnóstico que como veremos é sempre em parte terapêutico nesse o técnico atua como observador participante in tervindo em momentos de tensão ou quando a comuni cação é interrompida ou para assinalar entrecruzamen tos projetivos Nos grupos que vêm à consulta o psicólogo não tem por que aceitar o critério da família sobre quem é o doente mas deve atuar considerando todos os seus mem bros como implicados e o grupo como doente Nesse caso o estudo do interjogo de papéis e da dinâmica do grupo são os elementos que servirão de orientação para fazer com que todo o grupo obtenha um insight da si tuação O equilíbrio da doença em um grupo familiar é de grande importância Por exemplo em um casal em que um é fóbico e o outro seu acompanhante quando o primeiro apresenta melhora ou se cura aparece a fobia no segundo O acompanhante do fóbico é então também um fóbico contudo distribuem os papéis entre o casal Em outras ocasiões a família só aparece quando o tratamento de um paciente já está adiantado e ele me lhorou ou está em vias de fazêIo a normalização do paciente faz com que a tensão do grupo familiar já não se descarregue mais através dele e aparece então o desequilíbrio ou a doença no grupo familiar Tudo isso explica em grande parte um fenômeno com o qual se deve contar na família de um doente a culpa elemento que deve ser devidamente levado em conta para valorizáIo e trabalháIo adequadamente É muito mais clara no caso da doença mental em crianças ou em defi cientes intelectuais Isso se relaciona também com o fenô meno que foi chamado a criança errada em que os pais trazem à consulta o filho mais sadio e depois de se asse gurarem de que o técnico não os culpa nem acusa podem falar ou consultar sobre o filho mais doente 36 Temas de psicologia 37 A entrevista psicológica Aqui e em relação a todos estes fenômenos a psico logia grupal seu conhecimento e sua utilização tem uma importância fundamental não somente para as entre vistas diagnósticas e terapêuticas mas também para ava liar as curas ou decidir sobre a alta de uma intemação etc ções comerciais ou de amizade nem pretender outro be neficio da entrevista que não sejam os seus honorários e o seu interesse científico ou profissional Tampouco a entrevista deve ser utilizada como uma gratificação nar cisista na qual se representa o mágico com uma de monstração de onipotência A curiosidade deve limitar se ao necessário para o beneficio do entrevistado Tudo o que sinta ou viva como reação contratransferencial de ve ser considerado como um dado da entrevista não se devendo responder nem atuar diante da rejeição da ri validade ou da inveja do entrevistado A petulância ou a atitude arrogante ou agressiva do entrevistado não de vem ser domadas nem subjugadas não se trata nem de triunfar nem de imporse ao entrevistado O que nos compete é averiguar a que se devem como funcionam e quais os efeitos que acarretam para o entrevistado Esse último tem direito embora tomemos nota disso a fazer uso por exemplo de sua repressão ou sua descon fiança Com muitíssima freqüência o grau de repres são do entrevistado depende muito do grau de repressão do entrevistador em relação a determinados temas se xualidade inveja etc Quando fazemos uma interven ção com perguntas elas devem ser diretas e sem subter fúgios sem segundas intenções adequadas à situação e ao grau de tolerância do ego do entrevistado A abertura da entrevista também não deve ser am bígua recorrendose a frases gerais ou de duplo sentido A entrevista deve começar por onde começar o entrevis tado Devese ter em conta o quanto pode ter sido custo Insisti em que o campo da entrevista deve ser con figurado fundamentalmente pelas variáveis da perso nalidade do entrevistado Isso implica que aquilo que o entrevistador oferece deve ser suficientemente ambí guo para permitir o maior engajamento da personalidade do entrevistado Embora tudo isso seja certo existe entretanto uma área delimitada em que a ambigüidade não deve existir ou ao contrário cujos limites devem ser mantidos e às vezes defendidos pelo entrevistador ela abrange todos os fatores que intervêm no enquadramento da entrevis ta tempo lugar e papel técnico do profissional O tem po referese a um horário e um limite na extensão da en trevista o espaço abarca o quadro ou o terreno ambiental no qual se realiza a entrevista O papel técnico implica que em nenhum caso o entrevistador deve permitir que seja apresentado como um amigo num encontro fortuito O entrevistador também não deve entrar com suas rea ções nem com o relato de sua vida nem entrar em rei a 38 Temasdepsicologia A entrevistapsicológica 39 so para ele decidirse a vir à entrevista e o que pode sig nificar como humilhação e menosprezo O entrevistado deve ser recebido cordialmente porém não efusivamen te quando temos informações sobre o entrevistado for necidas por outra pessoa devemos informáIo assim co mo conforme já dissemos antecipar ao informante no começo da entrevista que esses dados que se referem a terceiros não serão mantidos em reserva Isso tenderá a manter o enquadramento e a evitar as divisões esquizói des e a atuação psicopática assim como a eliminar tudo o que possa travar a espontaneidade do técnico que não deve ter compromissos contraídos que pesem negativa mente sobre a entrevista A discrição do entrevistador para com as informações que o entrevistado fornece está implícita na entrevista e se for fornecido um relato so bre ela a uma instituição o entrevistado também deve ter conhecimento disso A reserva e o segredo profis sional vigoram também entre os pacientes psicóticos e no material de entrevistas com adolescentes ou crian ças nesse último caso não nos devemos sentir autori zados a relatar aos pais por exemplo detalhes da entre vista com seus filhos O silêncio do entrevistado é o fantasma do entre vistador principiante para quem esse silêncio pode sig nificar um fracasso ou uma demonstração de imperícia Com um mínimo de experiência no entanto não há en trevistas fracassadas se se observar bem toda entrevis ta fornece informações importantes sobre a personali dade do entrevistado É necessário reconhecer os dife rentes tipos de silêncio silêncio paranóide depressivo fóbico confusional etc e trabalhar em função deste co nhecimento Se o silêncio total não é o melhor na entrevista do ponto de vista do entrevistador tampouco o é a catarse intensa do ponto de vista do entrevistado Com freqüên cia aquele que fala muito na realidade deixa de dizer o mais importante porque a linguagem não é somente um meio de transmitir informação mas também um po deroso meio para evitáIa Todos esses são certamente dados valiosos que devem ser considerados e valoriza dos A descarga emocional intensa também não é o melhor de uma entrevista com isso geralmente o entre vistado consegue depositar maciçamente sobre o entrevis tador e logo se distancia e entra numa relação persecutó ria como esta o confessor transformase facilmente em perseguidor Como todo o enquadramento o fim da entrevista de ve ser respeitado A reação à separação é um dado mui to importante assim como a avaliação sobre o estado do entrevistado ao partir e da nossa contratransferência em relação a ele Entrevistas bem realizadas consomem um tempo muito grande do qual com freqüência não se dispõe especialmente em instituições escolas hospitais indús trias etc Nesses casos o mais conveniente é reservar do tempo disponível um período para realizar pelo me nos uma entrevista diária em condições ótimas Isso im pedirá as estereotipias no trabalho e as racionalizações 40 Temas de psicologia A entrevista psicológica 41 da evitação fóbica Além disso é importante reservarse o tempo necessário para estudar as entrevistas realiza das e melhor ainda se isso for feito em grupos de traba lho O psicólogo e o psiquiatra não devem trabalhar iso lados porque isto favorece sua alienação no trabalho O primeiro fator terapêutico é sempre a compreensão do entrevistador que deve comunicar alguns elementos dessa compreensão que possam ser úteis ao entrevistado Na entrevista diagnóstica segundo nossa opinião deve se interpretar sobretudo cada vez que a comunicação tenda a interromperse ou distorcerse Outro caso mui to freqüente em que temos de intervir é para relacionar aquilo que o próprio entrevistado esteve comunicando Para interpretar devemos guiarnos pelo volume de an siedade que estamos resolvendo e pelo volume de ansie dade que criamos tendose em conta também se serão dadas outras oportunidades para que o entrevistado pos sa resolver ansiedades que vamos mobilizar Em todos os casos devemos interpretar somente com base nos emer gentes no que realmente está acontecendo no aqui e ago ra da entrevista Uma indicação fundamental para guiar a interpre tação é sempre o beneficio do entrevistado e não a des carga de uma ansiedade do entrevistador Além disso sempre que se interpreta devese saber que a interpre tação é uma hipótese que deve ser verificada ou retifi cada no campo de trabalho pela resposta que mobiliza mos ou condicionamos ao pôr em jogo tal hipótese Con tudo convém que o entrevistador principiante se limite primeiro e durante algum tempo a compreender o en trevistado até que adquira experiência e conhecimento suficientes para utilizar a interpretação O alcance ótimo de uma entrevista é o da entrevista operativa na qual se procura compreender e esclarecer um problema ou uma Uma questão freqüente e importante é a de saber se se deve interpretar nas entrevistas realizadas com fins diag nósticos Nesse sentido existem posições muito variadas Entre elas se encontra por exemplo a de Rogers que não somente não interpreta como tampouco pergunta estimu lando o entrevistado a prosseguir por meio de diferentes técnicas como por exemplo repetir de forma interrogati va a última palavra do entrevistado ou estimuláIo com um olhar um gesto ou uma atitude a prosseguir A entrevista é sempre uma experiência vital muito importante para o entrevistado significa com muita fre qüência a única possibilidade que tem de falar o mais sinceramente possível de si mesmo com alguém que não o julgue mas que o compreenda Dessa maneira a en trevista atua sempre como um fator normativo ou de aprendizagem embora não se recorra a nenhuma medi da especial para conseguir isso Em outros termos a en trevista diagnóstica é sempre e ao mesmo tempo em parte terapêutica 42 Temas de psicologia situação que o entrevistado traz como sendo o centro ou motivo da entrevista Nesse sentido freqüentemente uma entrevista tem êxito quando consegue esclarecer qual é o verdadeiro problema que está por trás daquilo que é trazido de modo manifesto Aconselho a leitura do artigo de Reik O abuso da interpretação e a ter presentes pelo menos duas coisas toda interpretação fora de contexto e de timing é uma agressão e parte da formªção do psicólogo consiste tam bém em aprender a calar E como regra de ouro se é que elas existem é tanto mais necessário calarse quan to maior for a compulsão para interpretar quizofrênico diagnóstico psiquiátrico em uma pessoa com insuficiência cardíaca diagnóstico médico e per sonalidade obsessiva diagnóstico psicológico enten dendose que esse exemplo só serve como tal para dife renciar os três tipos de informes que nem sempre ne cessariamente ocorrem juntos A ordem em que se redige um informe não tem nada a ver com a ordem em que foram recolhidos os dados ou com a ordem em que foram sendo feitas as deduções O informe psicológico tem como finalidade conden sar ou resumir conclusões referentes ao objeto de estudo Incluímos aqui somente o informe que se refere ao estu do da personalidade que pode ser empregado em diferen tes campos da atividade psicológica e em cada um deles se deverá ter em conta e responder especificamente ao objetivo com que tal estudo se efetuou Tratase por outro lado apenas de um guia e não de formulários a preencher No campo da medicina por exemplo um estudo completo abrange um tríplice diagnóstico ou um trípli ce informe o diagnóstico médico o psiquiátrico e o psi cológico Pode ser o caso por exemplo de um surto es 1 Dados pessoais nome idade sexo estado civil nacionalidade domicílio profissão ou oficio 2 Procedimentos utilizados entrevistas número e freqüência técnica utilizada clima lugar em que se realizaram Testes especificar os utili zados jogo de desempenho de papéis registros objetivos especificar etc Questionários espe cificar Outros procedimentos 3 Motivos do estudo por quem foi solicitado e objetivos Atitude do entrevistado e referência a suas motivações conscientes 4 Descrição sintética do grupo familiar e de ou tros que tiveram ou têm importância na vida do entrevistado Relações do grupo familiar com a comunidade status socioeconômico outras re lações Constituição dinâmica e papéis comu nicação e trocas significativas do grupo fami liar Saúde acidentes e doenças do grupo e de seus membros Mortes idade e ano em que ti veram lugar causas Atitude da família ante as mudanças a doença e o doente Possibilidade de incluir o grupo em alguma das classificações reconhecidas 5 Problemática vital relato sucinto de sua vida e conflitos atuais de seu desenvolvimento aquisi ções perdas mudanças temores aspirações ini bições e do modo como os enfrenta ou suporta Diferenciar aquilo que é afirmado pelo entrevis tado e por outras pessoas de seu meio daquilo que é inferido pelo psicólogo Diferenciar o que se afirma daquilo que se postula como provável Quando houver algum dado de valor muito espe cial especificar a técnica através da qual se infe riu ou detectou esse dado Incluir uma resenha das situações vitais mais significativas presentes e passadas especialmente aquelas que assumem o caráter de situações conflitivas eou repetitivas 6 Descrição de padrões de conduta diferencian do os predominantes dos acessórios Mudanças observadas 7 Descrição de traços de caráter e de personali dade incluindo a dinâmica psicológica ansieda de defesas citando a organização patográfica se houver Incluir uma avaliação do grau de ma turidade da personalidade Constituição citar a tipologia empregada Características emocio nais e intelectuais incluindo manipulação da lin guagem léxica e sintáxica etc nível de concei tuação emissão de juízos antecipação e planeja mento de situações canal preferido na comuni cação nível ou grau de coordenação diferenças entre comportamento verbal e motor capacidade de observação análise e síntese grau de atenção e concentração Relações entre o desempenho intelectual social profissional e emocional e ou tros itens significativos em cada caso particular Considerar as particularidades e alterações do de senvolvimento psicossexual mudanças na perso nalidade e na conduta 8 No caso de um informe muito detalhado ou mui to rigoroso por exemplo um informe pericial incluir os resultados de cada teste e de cada exa me complementar realizado 9 Conclusão diagnóstico e caracterização psico lógica do indivíduo e do seu grupo Responder especificamente aos objetivos do estudo por exemplo no caso da seleção de pessoal orien tação vocacional informe escolar etc 10 Incluir uma possibilidade prognóstica do ponto de vista psicológico fundamentando os elemen tos sobre os quais se baseia 11 Orientação possível indicar se são necessários novos exames e de que tipo Indicar a forma pos sível de remediar aliviar ou orientar o entrevis tado de acordo com o motivo do estudo ou se gundo as necessidades da instituição que soli citou o informe A entrevista psicológica 47 Abdt L E The Analysis of Structural Clinical Interview J Clin Psychol 5 1949 Baranger W La situación analítica como campo dinámico Rev Urug Psicoanal IVp 1 196162 Barilari M e Grasso L La vida deI enfermo y su interpretación Anamnesis El Ateneo Buenos Aires 1948 Berg C The First Interview G Allen and Unwin Londres 1954 Binger C The Doctor s Job Norton Nova York 1945 Bird B La conversación com lospacientes Vitae Buenos Aires 1960 Bogardus E S The New Social Research Jesse R Miler Los Angeles 1926 Brammer L M e Shostrom E L Psicología terapéutica Her rero México 1960 Buhler C El curso de Ia vida humana como problema psicológi co EspasaCalpe Buenos Aires 1943 Deutsch F e Murphy W F The Clinical Interview Int Univ Press 1955 Dollard J Criteriafor Life History Yale Univ Press 1935 Festinger L e Katz 0 Les méthodes de recherche dans les sciences sociales PUF Paris 1959 Finesinger J E Psychiatric Interviewing Am J Psychiatry 1051948 Fromm Reichmann FPrincipios de psicoterapia intensiva Hor mé Buenos Aires 1958 Garret A M Interviewing Its PrincipIes and Methods Family Welfare Association of America Nova York 1942 Gelbman F e Weke F R An Experimental Study of the Initial InterviewPsych Quart Supl 231949 Gill M Newman R e Red1ich F C The Initial Interview in Psychiatric Practice Int Univ Press Nova York 1954 Hamilton G Teoría y práctica deI trabajo social de casos La Prensa Médica Mexicana México 1960 Kahn R L e Cannell C The Dynamics of Interviewing J Wi1ey1957 Lagache D E1problema de Ia transferencia Rev Urug Psic 13 e 14 1956 Laín Entra1go PLa historia clínica Historia y teoría deI relato patográfico Madri 1950 Libermann D Semiología psicosomática López Etchegoyen Buenos Aires 1947 Menninger M Manual for Psychiatric Case Study Grune and Stratton Nova York 1952 Nahoun C Lentretien psychiatrique PUF Paris 1958 Nunberg H lnterre1ación psicológica entre médico y paciente Rev Psicoanal 8 p 31951 Pages M La psychotherapie non directive LÉvol Psychia trique 31952 Prew PW Outline ofPsychiatric Case Study Hoover Nova York 1943 Racker H Estudios sobre técnica psicoanalítica Paidós Bue nos Aires 1960 Reik T Cómo se lega a ser psicólogo Biblioteca de Psicoaná 1isisBuenos Aires 1945 E1 abuso de Ia interpretación Rev Psicoanálisis V 194748 Ruesch JDisturbed Communication Norton Nova York 1957 Therapeutic Communication Norton Nova York 1961 Stevenson 1 The Psychiatric Interview em Arieti S Ameri can Handbook of Psychiatry capo 9 Basic Books Nova York 1959 Sullivan H S The Psychiatric Interview Norton Nova York 1954 Ulloa F Entrevista operativa Ficha Dep Psicologia Buenos Aires Van Dyke Bingham W e Moore B v Cómo entrevistar Rialp Madri 1960 Whitehorn 1 C Guide to Interviewing and Clinical Personality StudyArch Neurol and Psychiatry 52 p 197 1944 Young P v Métodos científicos de investigación social Inst In vestigac Sociales de Ia Universidad Nacional México 1953 Síntese da exposição realizada na Reunião Cien tífica de 8 de julho de 1969 na Associação Psi canalítica Argentina o Centro de Orientação e Investigação E Racker da Associação Psicanalítica Argentina propôsse desde sua fundação preencher também uma função social dentro das seguintes linhas a oferecer a possibilidade de um tra tamento psicanalítico limitado a um ano de duração a car go de Candidatos do Instituto de Psicanálise b podiam ser admitidos como pacientes pessoas sem muitos recur sos econômicos e cujo exercício profissional envolvesse o contato com outras pessoas de tal maneira que o benefI cio de um tratamento psicanalítico limitado a um ano pu desse redundar indiretamente num beneficio para as pes soas que estivessem em contato profissional com elas professores enfermeiros etc c os honorários para es ses tratamentos eram baixos e quem os recebia era o Cen tro Racker e não o Candidato encarregado do tratamento d o Candidato obtinha uma supervisão semanal gratuita a título de aprendizagem e dadas essas condições funda mentais decidiuse que não seriam admitidos pacientes que apresentassem clinicamente perversões sexuais psicose psicopatias e caracteropatias ou em geral per turbações ou estruturas que não pudessem obter beneficio com um ano de tratamento A seleção de pacientes passou por diferentes alter nativas porém fundamentalmente foi realizada sem pre com base em entrevistas em alguns casos ou perío dos acrescentouse o psicodiagnóstico de Rorschach e um pequeno questionário prévio O primeiro diretor do Centro Racker foi o dr David Liberman o segundo foi a dra Marie Langer e o terceiro fui eu Ao encarregarme da Direção do Centro Racker en tre outras atividades propus uma avaliação dos resulta dos do tratamento psicanalítico efetuado em condições tão particulares tanto como o estudo dos critérios implí citos na aceitação ou recusa dos pacientes nas entrevis tas de forma a poder chegar a um esboço de categoriza ção das entrevistas Esse esboço foi elaborado basicamente durante os estudos das entrevistas e dos protocolos de entrevistas de anos anteriores e também durante os Ateneus Clínicos se manais nos quais se contou com a valiosa colaboração dos drs Benito López e Carlos Paz Não se chegou a resultados totalmente satisfatórios ou completos porque sem esperar a avaliação que estávamos realizando uma Assembléia da Associação Psicanalítica reunida para deliberar sobre as funções do Centro Racker resolveu suprimir essa ativida de e portanto a experiência ficou truncada A apresentação agora deste esboço inconcluso e não submetido a uma prova totalmente satisfatória re flete o desejo de que possa servir também como guia pa ra a seleção de pacientes para a psicoterapia curta ou analiticamente orientada sem dúvida um problema de grande importância para o qual temos a impressão de que esse esboço pode ser útil Alguns autores vêem o diagnóstico de modo depre ciativo consideramno como para a psicanálise e a psiquiatria dinâmica prolongamento de um hobby de psiquiatras como diz 1M Thiel Não tratamos des se problema embora tenhamos consultado a literatura correspondente Outra avaliação da experiência do Centro Racker foi realizada separadamente sob a direção da dra Lily S Bleger e a colaboração dos drs Sheila Navarro de Ló pez Carlos Paz e Vera Campos Não se deve esquecer em momento algum o fato de que o esboço que apresentamos aqui foi elaborado com base numa amostra particular constituída por pacientes com as características assinaladas anteriormente e entre elas um ponto fundamental é a exclusão de pacientes com psicose clínica vício em drogas perversões psicopatias ou caracteropatias graves por considerar a priori inade quado para eles o tratamento psicanalítico limitado a um ano tal como o Centro o havia organizado Nosso proble ma era escolher pacientes que pudessem beneficiarse com um ano de tratamento psicanalítico mas além dis so devíamos ter a garantia até onde isso fosse possível de que o tratamento psicanalítico não iria provocar ne les distúrbios psicóticos ou psicopáticos perversões ou tentativas de suicídio até então encobertos ou desco nhecidos pelo paciente procurouse evitar também os pacientes que com um ano de tratamento começaram a ter condições de poder continuar com êxito ou produti vamente seu tratamento psicanalítico Paciente e analista tinham ao término do ano a liberdade de estabelecer um novo contrato com honorá rios iguais ou não se isso conviesse a ambos mas tam bém ignorávamos se isto constituía uma condição dese jável ou não Não vou me ocupar das características condições ou técnica com as quais se realizavam as entrevistas direi somente que elas se efetuavam de acordo com as diretri zes assinaladas no capítulo Entrevista psicológica Era evidente para nós que os diagnósticos psiquiá tricos tradicionais não nos ajudariam a resolver nosso problema ou seja a selecionar os pacientes para o tra tamento psicanalítico de tempo limitado e b avaliar os eventuais beneficios obtidos com esses tratamentos ou em todo caso saber o que estava acontecendo ou havia acontecido quando se fazia o que estávamos fazendo até aquele momento O estudo final para o qual nos encaminhávamos era de caráter estatístico e o especialista contratado pelo Centro Racker para esta função necessitava dos dados que tínhamos de fornecer Este projeto tinha também o seguinte objetivo prover os técnicos dos elementos ne cessários para que pudessem trabalhar estatisticamente Dadas as reformas que foram introduzidas o estudo es tatístico tampouco pôde ser concluído Em síntese queríamos elaborar um instrumento pa ra poder chegar a saber o que aconteceu considerandose a maneira como se procedeu na seleção dos pacientes e a modalidade da realização do tratamento psicanalítico de tempo limitado Com isso quero sublinhar que não se tra ta de apresentar um quadro diagnóstico ou um perfil de personalidade mas sim da apresentação de vetores parâmetros ou indicadores com os quais se poderia even tualmente chegar a um estudo estatístico Creio que atualmente e ainda com a experiência frustrada esse esboço possa servir para a seleção de pacientes em terapias de tempo limitado e quando che gar o momento para avaliação de tais tratamentos Devemos também levar em consideração que o es quema que elaboramos nos servia em parte para aceitar ou recusar pacientes mas que além disso era um instru mento a posteriori isto é um estudo dos fatores pelos quais em anos anteriores haviam sido admitidos ou recu sados pacientes e do grau ou tipo de beneficio obtido O esquema elaborado baseiase no conhecimento das partes neurótica e psicótica da personalidade cha madas em seu conjunto respectivamente neurotismo e psicotismo cada um deles dividido por sua vez em uma certa quantidade de indicadoresl 1Depois de adotadas as denominações de neurotismo e psicotismo observei que havia utilizado uma terminologia empregada por Eysenck 54 Temas de psicologia Nossos pressupostos teóricos eram que quanto mais predominasse o neurotismo melhor seria o prognóstico em uma terapia de tempo limitado e que também quan to maior fosse a flexibilidade o prognóstico e o benefI cio de um tratamento nas condições assinaladas seriam também melhores O oposto acontece com o psicotismo e a rigidez ou estereotipia Depois de tentar longas listagens chegamos a estes dois itens que denominamos neurotismo e psicotismo Cada um deles neurotismo e psicotismo se situavapor sua vez em uma escala de porcentagens e além disso divididos em rigidez ou flexibilidade Desenvolvi em outros escritos o que entendo por partes neurótica e psicótica da personalidade podese dizer que tudo o que mostra desenvolvimento do ego discriminação estabelecimento das posições esquizo paranóide e depressiva incluise dentro do neurotismo e tudo o que demonstre estar em nível de fusão falta ou déficit de discriminação fundamentalmente entre eu e nãoeu incluise dentro do que denomino psicotismo Defrontamonos logo com o problema de que ne nhum paciente apresenta absoluta ou totalmente caracte rísticas próprias do neurotismo ou do psicotismo que para cada um dos indicadores que utilizamos não se dá a mesma proporção nem as mesmas características de rigidez ou flexibilidade vimonos assim forçados a complicar um quadro que inicialmente parecia relativa mente simples Os indicadores para neurotismo e psi cotismo são os seguintes I Sintomas neuróticos presença de conflitos neu róticos e ansiedade 2 Transferência neurótica 3 Contratransferência neurótica 4 Manutenção da clivagem 5 Defesas fóbicas histéricas obsessivas paranói des Predomínio de projeçãointrojeção 6 Insight 7 Independência 8 Comunicação simbólica 1 Objetos de identificação não destruidos 9 Identidade personificação Discriminação homo heterossexual Sonhos faço aqui esta referência porque quero esclarecer que não existe nenhuma semelhança com o significado dos termos nem com a posição teórica e téc nica adotada por esse autor da qual estou totalmente afastado Pareceume e ainda me parece absolutamente prejudicial e errôneo modificar uma ter minologia pelo fato de que com antecedência Eysenck a tivesse usado com objetivo e posições teóricas diferentes das que sustento e desenvolvo 10 Amplitude do Ego 11 Ciúmes rivalidade 12 Sublimação 1 Doença orgânica atual Tensão 2 Transferência psicótica Narcisismo 3 Contratransferência de caráter psicótico 4 Clivagem não conservada ou em perigo de perderse 5 Defesas caracteropáticas hipocondríacas me lancólicas maníacas perversas Predomínio de identificações proj etivas introj etivas 6 Falta de insight 7 Dependência 8 Comunicação préverbal 9 Identidade dispersão ambigüidade confusão onirismo Sonhos 10 Restrição do Ego 11 Inveja Obtidos estes indicadores trabalhouse com eles tentandose diferentes representações gráficas e numé ricas não se tendo chegado a nenhuma definitiva Em um dos ensaios limitávamonos a fazer uma lista dos in dicadores classificando sua intensidade em uma escala de zero a cem e acrescentando em cada caso um sinal positivo ou negativo para significar seu caráter de fle xibilidade ou estereotipia esperavase com isso poder proceder ulteriormente a um cruzamento estatístico das variáveis Esses dados passaram também a ser represen tados em gráficos em um deles uma linha horizontal se 57 Ensaio de categorização da entrevista para flexibilidade de estereotipia e sobre uma coordena da estabelecese uma escala porcentual anotandose cada indicador na dupla especificação de intensidade e fle xibilidadeestereotipia Em outra tentativa uma linha ver tical separa neurotismo e psicotismo outra horizontal separa flexibilidade de estereotipia e sobre as coorde nadas verticais fixase a intensidade de zero a cem Já se sabe que uma equação algébrica pode ser re presentada por um gráfico e que da mesma forma um gráfico pode ser reduzido a uma equação algébrica Pen sávamos que poderíamos chegar a um ponto no qual a avaliação poderia ser representada algebricamente Nes te ponto as possibilidades ficaram totalmente abertas para serem desenvolvidas Ficou também pendente nosso propósito de confec cionar um Manual do Tabulador que teria de surgir de um consenso da equipe que em certa medida já chega ra a têlo Eysenck H J C1assification and Prob1ems of Diagnosis em Handbook of Abnormal Psychology Pitman Londres 1960 Frosck J Stone L e Zetze1 E An Examination of Noso10gy According to Psychoana1ytica1Approach to the C1assification ofMenta1 Disorder J Ment Sei 78 1932 López B Rabih M Entrevista inicial y contraidentificación Asociac Psicoanal Arg 1966 Nagera H The Deve10pmenta1 Profi1e The Psychoanal Study ofthe Child XVIII The Univ Press Nova York Paz C A Analizabilidad Apresentado na Asoc Psicoanal Argentina Ross N Report ofPane1 on An Examination ofNoso10gy Accord ing to Psychoana1ytic Concepts J Amer Psychoanal Assoe 8 1960 Scott W C M A Rec1assification ofPsychopatho10gica1 States fnt J PsychoAnal 431962 Stenge1 E The C1assification ofMenta1 Disorders Bul World Health Org 211959 Zetze1 E R The Use and Misuse ofPsychoana1ysis in Psychi atric Eva1uation and Psychotherapeutic Practice Prac 6th fnt Congress Psychotherapy Kerger Basiléia e Nova York 1965 Conferência pronunciada em 1961 na Associa ção Argentina de Psicologia e Psicoterapia de Grupo Seu resumo foi publicado na Revista de Psicologia e Psicoterapia de Grupo 121961 Exemplares mimeografados foram utilizados pe lo corpo docente da Faculdade de Medicina de Montevidéu e da Escola de Psicologia da Uni versidade de Havana o grupo operativo segundo a definição do inicia dor do método Enrique J PichonRiviere é um con junto de pessoas com um objetivo comum que procuram abordar trabalhando como equipe A estrutura de equi pe só se consegue na medida em que opera grande par te do trabalho do grupo operativo consiste em resumo no treinamento para trabalhar como equipe No campo do ensino o grupo preparase para apren der e isto só se alcança enquanto se aprende quer dizer enquanto se trabalha O grupo operativo tem objetivos problemas recur sos e conflitos que devem ser estudados e considerados pelo próprio grupo à medida que vão aparecendo serão examinados em relação com a tarefa e em função dos objetivos propostos Através de sua atividade os seres humanos entram em determinadas relações entre si e com as coisas além da mera vinculação técnica com a tarefa a realizar e este 60 Temasdepsicologia complexo de elementos subjetivos e de relação consti tui o seu fator humano mais específico N o ensino o grupo operativo trabalha sobre um tó pico de estudo dado porém enquanto o desenvolve se forma nos diferentes aspectos do fator humano Embo ra o grupo esteja concretamente aplicado a uma tarefa o fator humano tem importância primordial já que cons titui o instrumento de todos os instrumentos Não exis te nenhum instrumento que funcione sem o ser humano Opomonos à velha ilusão tão difundida de que uma ta refa é mais bem realizada quando são excluídos os chama dos fatores subjetivos e ela é considerada apenas obje tivamente pelo contrário afirmamos e garantimos na prática que o mais alto grau de eficiência em uma tare fa é obtido quando se incorpora sistematicamente a ela o ser humano total Por outro lado e com isto estamos ape nas aceitando os fatos como são incorporamos o ser hu mano na teoria e na condução operativa da tarefa porque já estava incluído de fato Porém esta inclusão é agora desalienante de tal maneira que o todo fique integrado e que a tarefa e as coisas não acabem absorvendo alie nando os seres humanos No mundo humano alcançase maior objetividade ao incorporarse o ser humano inclu sive os fatores subjetivos quer dizer tomando as coisas tal como acontecem para entendêIas e poder fazer com que aconteçam da melhor maneira De modo algum estas considerações saem do nosso tema porque entre os instrumentos sociais de alienação está em lugar relevante o ensino e a forma com que em geral se realiza desumanizada e desumanizante Para a presente exposição baseeime na Experiên cia Rosário na experiência de grupos operativos da Es cola Privada de Psiquiatria que já completou três anos de experiência e na experiência realizada em diferen tes cátedras em várias faculdades 1 Embora sem seguir estritamente esta ordem vou procurar desenvolver as seguintes questões a como se realiza a aprendizagem nos grupos operativos b porque se procede assim c a experiência obtida e d de modo geral o que se pode dizer sobre a aprendizagem em fun ção desta experiência com grupos operativos Tratase de grupos de aprendizagem ou grupos de en sino Na realidade de ambas as coisas e este é um ponto fundamental de nossa colocação Ensino e aprendizagem constituem passos dialéticos inseparáveis integrantes de um processo único em permanente movimento porém não só pelo fato de que quando existe alguém que apren de tem de haver outro que ensina como também em vir tude do princípio segundo o qual não se pode ensinar cor 1 E PichonRiviere e colab Técnica de 10s grupos operativos Acta Neuropsiquiátrica Argentina 6 p 32 1960 62 Temas de psicologia retamente enquanto não se aprende e durante a própria tarefa de ensinar Este processo de interação deve resta belecerse plenamente no emprego do grupo operativo Na proposição tradicional existe uma pessoa ou gru po um status que ensina e outro que aprende Esta dis sociação deve ser suprimida porém tal supressão cria necessariamente ansiedade devido à mudança e aban dono de uma conduta estereotipada De fato as normas são nos seres humanos condutas e toda conduta é sem pre um papel a manutenção e repetição das mesmas condutas e normas de modo ritual acarreta a vanta gem de não se enfrentarem mudanças nem coisas novas e assim evitarse a ansiedade Porém o preço dessa se gurança e tranqüilidade é o bloqueio do ensino e da aprendizagem e a transformação desses instrumentos no oposto daquilo que devem ser um meio de alienação do ser humano Em uma cátedra ou em uma equipe de trabalho a simples colocação da necessidade da interação entre en sino e aprendizagem ameaça romper estereótipos e pro voca o aparecimento de ansiedades O mesmo acontece quando se abordam mudanças nos cursos magistrais estereotipados e naqueles em que tudo já está correto e nos quais sempre se repete o mesmo esta reação im plica um bloqueio uma verdadeira neurose do learning que por sua vez incide sobre os estudantes como dis torção da aprendizagem Não se pode pretender organi zar o ensino em grupos operativos sem que o pessoal do cente entre no mesmo processo dialético que os estu dantes sem dinamizar e relativizar os papéis e sem abrir amplamente a possibilidade de um ensino e de uma apren dizagem mútua e recíproca O corpo docente teme a rup tura do status e o conseqüente caos e nesse sentido é necessário analisar as ansiedades de ficar nu sem sta tus diante do estudante que aparece então com toda a magnitude de um verdadeiro objeto persecutório deve se criar consciência de que a melhor defesa é conhe cer o que se vai ensinar e ser honesto na valorização do que se sabe e do que se desconhece Um ponto culmi nante desse processo é o momento em que aquele que ensina pode dizer não sei e admitir assim que realmen te desconhece algum tema ou tópico Esse momento é de suma importância porque implica entre outras coisas o abandono da atitude de onipotência a redução do narcisismo a adoção de atitudes adequadas na relação interpessoal a indagação e a aprendizagem e a coloca ção como ser humano diante de outros seres humanos e das coisas tais como elas são O nível do não sei é atingido quando se toma possí vel problematizar e quando se possui os instrumentos ne cessários para resolver os problemas suscitados Não es tou defendendo nem fazendo proselitismo da ignorância mas enfatizando a necessidade de colocar as coisas dentro do limite do humano e assinalando com isso a possibili dade de uma maior integração e aperfeiçoamento na tare fa A imagem realizada do professor onipotente e onis ciente perturba a aprendizagem em primeiro lugar do próprio professor O mais importante em todo campo 65 Grupos operativos no ensino do conhecimento não é dispor de informação acabada mas possuir instrumentos para resolver os problemas que se apresentam em tal campo quem se sentir possuidor de informação acabada tem esgotadas suas possibilidades de aprender e de ensinar de forma realmente proveitosa No ensino e na aprendizagem em grupos operativos não se trata só de transmitir informação mas também de conseguir que seus integrantes incorporem e mani pulem os instrumentos de indagação E isto só é possí vel depois que o corpo docente já o tiver conseguido para si Sublinho que o mais importante em um campo científico não é o acúmulo de conhecimentos adquiri dos mas a sua utilização como instrumento para indagar e atuar sobre a realidade Existe grande diferença entre o conhecimento acumulado e o utilizado o primeiro alie na inclusive o sábio o segundo enriquece a tarefa e o ser humano Seguindo em parte Montesquieu podese voltar a dizer que encher cabeças não é o mesmo que for mar cabeças E menos ainda formar tantas que cada um tenha a própria Não existe ser humano que não possa ensinar algo quando mais não seja pelo simples fato de ter certa ex periência de vida Esclareçamos também que não se trata só de aprender no sentido limitado de recolher in formação explicitada mas sim de converter em ensino e aprendizagem toda conduta e experiência relação ou ocupação Aprendizagem e ensino estão tão solidaria mente relacionados que com freqüência nos grupos ope rativos que se ocupam deste tema cunhouse um neolo gismo que apareceu primeiro como lapso e que integra os dois termos Ensinagem O coordenador de um grupo operativo e o diretor de um ensino organizado operativamente devem traba lhar ou melhor dizendo cotrabalhar ou copensar como diz E PichonRiviere com os estudantes e com todos os auxiliares Quando essa proposição surgiu em um gru po operativo de auxiliares de uma cátedra alguns ale garam que se se trabalhasse assim haveria o risco de que os estudantes acreditassem que existem coisas que não sabemos E a resposta foi que isso é certo e que os estudantes terão razão se pensarem assim e que nós também temos de admitiIo como verdade A organização do ensino em grupos operativos exi ge que se desarmem e se rompam uma série de estereóti pos que se vêm repetindo e que servem como defesas da ansiedade mas que paralisam o processo dialético de ensino e aprendizagem Não se deve fomentar nenhuma imagem falsa nem de professores nem de estudantes e devese transmitir a informação no nível em que ela se encontre sem deixar de apresentar os fatos duvidosos contraditórios ou não resolvidos Grande parte da facili tação ou simplificação efetuadas com finalidades didáti cas como ocorre na maior parte dos textos administram a informação como alimento prédigerido e servem para encher cabeças mas não para formáIas Os sistemas educativos e pedagógicos são por outro lado institui ções que se modelam na luta de interesses de classes sociais e os métodos antiquados de ensino são instru 66 Temas de psicologia 67 Grupos operativos no ensino mentos de bloqueio e controle que nesse sentido preen chem amplamente seus objetivos políticos sociais e ideológicos E como se transmitem aos estudantes os instrumen tos de problematização e indagação Só existe uma for ma de fazêIo é empregáIos transformando os estudan tes de receptores passivos em coautores dos resultados conseguindo que utilizem que se encarreguem de suas potencialidades como seres humanos Em outros termos devese energizar ou dinamizar as capacidades dos es tudantes assim como as do corpo docente ensinar o já comprovado o depurado o trabalho com grupos operativos pelo contrário conduziunos à con vicção de que se deve partir do atual e presente e que toda a história de uma ciência deve ser reelaborada em função disso Não se devem ocultar as lacunas nem as dúvidas nem preenchêIas com improvisações A instituição em que se oferece o ensino deve em sua totalidade ser organizada como instrumento de ensi no e por sua vez ser radical e permanentemente pro blematizada Os conflitos de ordem institucional trans cendem de forma implícita e aparecem como distor ções do próprio ensino Os conflitos não explicitados nem resolvidos no nível da organização institucional canalizamse nos níveis inferiores de tal maneira que o estudante se torna uma espécie de recipiente no qual os conflitos poderão cair ou causar impacto No decorrer do ensino em grupos operativos deve se estudar e investigar o próprio ensino bem como pro blematizar os conhecimentos e instrumentos de todo tipo Nesse e em todo sentido o clima de liberdade é imprescindível No ensino operativo devese procurar caminhar pa ra o desconhecido para a indagação daquilo que ainda não está suficientemente elucidado Se existe uma or dem geral básica que deve ser levada em conta é a de romper estereótipos em todos os níveis e planos em que apareçam A estereotipia é a traça das cátedras Em ciên cia não só se avança encontrando soluções mas tam bém e fundamentalmente criando problemas novos e A técnica operativano ensino modifica substancial mente a organização e sua administração tanto como os objetivos que se desejam alcançar Problematiza em primeiro lugar o próprio ensino e promove a explicita ção das dificuldades e conflitos que a perturbam ou dis torcem É um instrumento de trabalho e não constitui uma panacéia que resolve todos os problemas o que aliás é utópico Toda a informação científica tem de ser transformada e incorporada como instrumento para ope rar e de nenhuma maneira deve tender à simples acumu lação de conhecimentos Isso obriga a sistematizar o con teúdo dos programas ou as matérias de uma maneira dis tinta da tradicional Geralmente supõese que se deve 68 Temas de psicologia 69 Grupos operativos no ensino é necessário educarse para perder o medo de provocá los Nessa ação o estudante aprende com sua partici pação direta a problematizar tanto corno a empregar os instrumentos para encontrar e estabelecer as possíveis vias de solução quece com os resultados da sua aplicação Procuramos fazer com que toda informação seja incorporada ou as similada corno instrumento para voltar a aprender e con tinuar criando e resolvendo os problemas do campo cien tífico ou do terna tratado o termo aprender está bastante contaminado pelo intelectualismo assim concebese o processo corno a operação intelectual de acumular informação Outra de finição ainda que correta em certo sentido traduz a aprendizagem em urna linguagem reducionista e afir ma que é urna modificação do sistema nervoso produ zida pela experiência Preferimos o conceito de que a aprendizagem é a modificação mais ou menos estável de linhas de conduta entendendose por conduta todas as modificações do ser humano seja qual for a área em que apareçam nesse sentido pode haver aprendizagem ainda que não se tenha a sua formulação intelectual Pode haver também uma captação intelectual corno fór mula mas ficar tudo reduzido a isso nesse caso dáse urna dissociação na aprendizagem resultado muito co mum dos procedimentos correntes A técnica operativa também implica uma verdadei ra concepção da totalidade do processo essa concepção é instrumentada pela técnica que por sua vez se enri A distorção ideológica do ensino tradicional che gou a tal ponto que é necessário hoje reincorporar o ser humano à aprendizagem da qual foi marginalizado em nome de urna pretensa objetividade Urna verdade óbvia é que não existe aprendizagem sem a intervenção do ser humano mas na prática ignorouse isso corno se o objetivo não fosse realmente conseguir que o ser humano assimilasse instrumentos para o seu desenvol vimento mas que se transformasse em um instrumento desumanizado alienado não se tratava somente de do minar objetos com o conhecimento mas também de domi nar e controlar seres humanos com a aprendizagem e o ensmo O ser humano está integralmente incluído em tudo aquilo em que intervém de tal maneira que quando exis te urna tarefa sem resolução há ao mesmo tempo urna tensão ou um conflito psicológico e quando é encon trada urna solução para um problema ou tarefa simul taneamente fica superada urna tensão ou um conflito psi 70 Temasdepsicologia Gruposoperativosno ensino 71 cológico O conhecimento adquirido de um objeto é ao mesmo tempo unicamente uma conduta do ser huma no Quando se trabalha um objeto não apenas o objeto está sendo modificado mas também o sujeito e vice versa e as duas coisas ocorrem ao mesmo tempo Não se pode operar além das possibilidades reais do objeto tampouco além das possibilidades reais e momentâneas do sujeito e as possibilidades psicológicas do sujeito são tão reais e objetivas como as do objeto Assim todo impedimento déficit ou distorção da aprendizagem é ao mesmo tempo um impedimento dé ficit ou distorção da personalidade do sujeito e vice versa todos os transtornos da personalidade neurose psicose caracteropatias perversões são transtornos da aprendizagem O tratamento psicanalítico tende a rom per estes estereótipos de conduta a reabrir e possibilitar de novo uma aprendizagem e portanto uma retifica ção daquilo que foi obtido anteriormente Dessa manei rajá não há uma diferença essencial entre aprendizagem e terapia na teoria e na técnica dos grupos operativos a diferença está tãosomente na tarefa explícita que o grupo se propõe realizar O grupo operativo que chega a se constituir em equipe que aprende consegue impli citamente uma certa retificação de vínculos estereoti pados e portanto um certo grau de efeito terapêutico Isso não quer dizer de modo algum que qualquer tarefa realizada em qualquer condição seja terapêutica tampouco que basta pôr um doente para trabalhar indi vidualmente ou em grupo para conseguir sua cura Nis so se baseia em grande parte o erro de muitos sistemas de terapia ocupacional que acreditam que o trabalho cura O trabalho em si é uma abstração que não cura nem faz adoecero que cura enriquece apersonalidade ou faz adoecer são as condições humanas e inumanas em que o trabalho é realizado o tipo de vínculo ou relação interpessoal que se estabelece durante o trabalho O grupo operativo tende a atingir um vínculo óti mo que enriqueça a personalidade e a tarefa e retifique padrões estereotipados e distorcidos A propósito con vém esclarecer que a simples estereotipia ou bloqueio da aprendizagem já é por si só e por isso mesmo uma distorção da conduta neurótica ou psicótica O restabelecimento da espiral e a ruptura de este reótipos são as ações conjuntas às quais o coordenador do grupo operativo deve estar atento à medida que o consegue as dissociações vão sendo superadas Uma delas que já consideramos é a de sujeitoobjeto como par dialético outra de suma importância é a da disso ciação tão freqüente entre teoria e prática entre infor mação e realização ou entre o que se sabe ou diz que se sabe e o que realmente se faz Desse modo as dissocia ções perturbações neuróticas eou aprendizagem che gam a uma proporção alarmante que abrange todos os graus desde a informação enciclopédica acompanhada de uma prática grosseira até a falta de informação unida a uma grande habilidade e olho clínico na práti ca Em ambos os casos está desumanizada a tarefa e o ser humano A práxis enriquece a tarefa e o ser humano 73 Grupos operativos no ensino e é isto que devemos conseguir no grupo rompendo as dissociações entre teoria e prática em cada uma e em to das as modalidades em que elas podem ocorrer inclusi ve dissociação e contradição tão freqüente entre ideolo gia e ação Elas não são apenas perturbações da tarefa mas são também ao mesmo tempo dissociações da per sonalidade e ao superáIas o resultado é duplo Embora se possam utilizar e se utilizem técnicas operativas em grupos terapêuticos os grupos de ensino não são diretamente terapêuticos mas a tarefa da apren dizagem implica terapia toda aprendizagem bem reali zada e toda educação são sempre implicitamente tera pêuticas A necessidade de recorrer a procedimentos te rapêuticos específicos seria um indicador de que a téc nica operativa foi mal utilizada mobilizando e forçando ansiedades além do que indicavam os emergentes do pró prio grupo e além daquilo que é possível fazer de mo do implícito na tarefa da aprendizágem Todos os procedimentos pedagógicos tenderam sem pre a formar e modificar adequadamente a personali dade do estudante Agora isso tornouse possível atra vés das técnicas operativas A confusão entre terapia e ensino não pertence a essas últimas mas sim aos peda gogos que procuraram o que temiam encontrar e agora temem o que foi encontrado o pensar é o eixo da aprendizagem e nos grupos ope rativos ao estabelecerse a espiral fazse com que o pensa mento intervenha ativamente Há uma aprendizagem ou parte dela que tem lugar exclusivamente na área corporal como por exemplo aprender a escrever à máquina ou andar de bicicleta e nestes casos devese completáIa le vando ao plano do pensamento o que se fez ou se aprendeu no nível corporal Uma alta porcentagem do trabalho em nossa cultura industrial realizase exclusivamente na área corporal tanto o trabalho de um operário como o de um profissional o que facilita ou condiciona a dissociação entre o que se faz e o que se pensa durante a execução da tarefa Um aprendizado bemsucedido exige a eliminação desta dissociação e o conseqüente enriquecimento da tare fa com aquilo que se pensa e o enriquecimento do que se pensa com aquilo que se faz Se nos perguntassem se pensamos responderíamos afirmativamente e inclusive consideraríamos a pergun ta ofensiva óbvia ou absurda Contudo muito do que se chama pensar é somente um círculo vicioso e este reotipado Outras vezes ou ligado ao anterior chamase pensar a uma dissociação na tarefa um pensar que não antecede nem segue à ação mas que a substitui Todas essas formas distorcidas do pensar não são só condutas psicológicas com motivações individuais mas são fun damentalmente padrões culturais e formam parte da 74 Temas de psicologia superestrutura da organização socioeconâmica vigente Parte desse arsenal ideológico está constituído pela ló gica formal que fragmenta elementariza o processo do pensamento Esse é sempre um processo dialético a lógica formal não é um pensamento criador e sim a estereotipia e o controle do pensamento O espontâneo é o pensamento dialético que está limitado e reprimido pelo pensamento formal porque com ele na realidade não se pensa mas se critica e se controla o pensar dia lético até um limite em que inclusive se chega a blo queáIo A ruptura desse bloqueio traz como se verá mais adiante confusão e dispersão porém é uma pas sagem necessária para o restabelecimento do pensamen to dialético Mencionemos de passagem que nem todos os que falam de dialética realmente a empregam e que é freqüente a coexistência de um pensamento rigidamen te formal com uma defesa verbal da dialética Para poder pensar é preciso haver chegado a um ní vel no qual seja possível admitir e tolerar um certo vo lume de ansiedade provocada pelo aparecimento da es piral com a conseqüente abertura de possibilidades e perda de estereotipias ou seja de controles seguros e fixos Em outros termos pensar equivale a abandonar um marco de segurança e verse lançado numa corrente de possibilidades No pensamento o objeto e o sujeito sempre coincidem e não se pode remover o objeto sem remover e problematizar o sujeito no medo de pensar está incluído o temor de passar ansiedades e con fusões e ficar encerrado nelas sem poder sair Ansieda des e confusões são por outro lado iniludíveis no pro cesso do pensar e portanto da aprendizagem Uma das maiores virtudes do grupo operativo é a possibilidade que oferece de aprender a agir pensar e fantasiar com liberdade a reconhecer o nexo estreito e a sutil passagem que existe entre imaginar fantasiar pensar e propor hipóteses científicas Nesse sentido é muito comum o medo de cair na loucura ou no descon trole do pensamento e da fantasia a louca da casa Todavia sem fantasia e sem imaginação não existe pen samento criador A realidade ultrapassa a imaginação e a fantasia de todos os homens juntos Devese ajudar o grupo a trabalhar esse medo da loucura e do descontro le ensináIo a aceitar jogar com o pensamento e com a tarefa e a obter prazer com eles A situação mais feliz é aquela em que trabalho e hobby coincidem no sentido de que o trabalho seja ao mesmo tempo fonte de pra zer Sem dúvida e paradoxalmente medos e sofrimen tos são momentos do processo criador que se aceitam com mais facilidade do que os momentos do prazer de pensar e trabalhar Um problema muito freqüente nos grupos operativos é o aparecimento de sentimentos de culpa por pensar como outro bloqueio E quando se con segue que o grupo aceite sem culpa o prazer de pensar e o prazer do trabalho podese enfrentar problemas li gados ao sentimento de culpa por ensinar a pensar e pelo prazer e gratificação que isso provoca no corpo docente Não existe maior gratificação na docência do que o ensinar a pensar a atuar segundo o que se pensa e a pensar segundo o que se faz enquanto se faz Porém o pensar não é inofensivo e fazer pensar tam bém não o é Basta lembrar o destino de Sócrates e com paráIo com o de seus acusadores Meleto Anito e Li con representantes da tradição e da estereotipia Bachelard dizia que pensamos sempre contra al guém é preciso acrescentar que também pensamos com alguém e para alguém ou algo Na realidade todos esses vínculos coexistem e se alternam como momentos de um só processo que sem dúvida pode ser perturbado e ficar paralisado em algum desses momentos É muito freqüen te o caso de indivíduos que só podem pensar contra outro contra o que pensa o outro nesse caso comprovase que se o sujeito não age assim entra em confusão Em com pensação mantémse livre dela enquanto atribui a outro o papel de sua própria parte contraditória No ensino em grupos operativos devese também suprir a necessidade de pensar com rigor terminológico e técnico envolvendo quando necessário a análise se mântica de modo que a comunicação verbal se preste o menos possível a ser veículo de malentendidos O processo de aprendizagem funciona no grupo como uma verdadeira maiêutica não no sentido de que tudo consiste em tirar de cada um o que já tem dentro de si mas no de que é o grupo que cria seus objetivos e faz suas descobertas através da ativação daquilo que exis te em cada ser humano de riqueza e experiência ainda que pelo simples fato de viver Os integrantes do grupo não só aprendem a pensar como também que a abertura da espiral permite que se aprenda a observar e escutar a relacionar as próprias opiniões com as alheias a admitir que outros pensem de modo diferente e a formular hipóteses em uma tare fa de equipe Junto com isso os integrantes do grupo também aprendem a ler e estudar Comentase habitual mente nos ambientes profissionais que o estudante ou o profissional interessado na sua tarefa tende apenas a se informar isto é a digerir uma grande quantidade de livros e revistas que vê superficialmente porque para ele o importante é captar o novo e fazer aprovisiona mento de bibliografia e informação o grupo operativo leva a pensar durante a leitura e a considerar isso como o mais importante da leitura de modo que ela seja utili zada como diálogo produtivo e não estereotipado ou blo queante2 Neste sentido um só artigo consistente pode bastar para a meditação durante semanas Para que o grupo realize tudo isto seu coordenador deve trabalhar fundamentalmente a estereotipia e ana lisar os esquemas referenciais do grupo bem como man ter um nível ótimo de ansiedade Não é preciso fazer nada para que se estabeleça o processo dialético do pensar porque ele é espontâneo porém há muito o que fazer para remover as barreiras e bloqueios que impedem seu funcionamento grupo operativo amplia as possibilidades racionais e im plica um exame da fonte vulgar do conhecimento e por tanto também a reorganização e o seu aproveitamento racional na tarefa científica aceitando uma continuidade entre o conhecimento científico e o vulgar Assim como o esquema referencial de caráter dinâ mico e plástico é a condição necessária para a aprendi zagem o estereotipado transformase em barreira O questionamento do esquema referencial é o método para romper estereótipos porém é só ao ser usado que ele pode ser questionado e mudado A técnica do grupo opera tivo deve orientarse para a participação livre espontânea de seus integrantes que assim trarão seus esquemas refe renciais e os colocarão à prova numa realidade mais ampla fora dos limites da estereotipia do autismo ou do narcisis mo tomando consciência deles com a conseqüente retifi cação Por outro lado não se trata de obter uma modifica ção do esquema referencial em um sentido ou modalidade prefixada nem de conseguir um esquema referencial já completo ou estruturado A aprendizagem consiste funda mentalmente e de modo ótimo em obter a possibilidade de uma permanente revisão do esquema referencial em função das experiências de cada situação tanto dentro do grupo como fora dele Tratase portanto de aprender a manter um esquema referencial plástico e não estereotipa do como instrumento que se vai continuamente retifican do criando modificando e aperfeiçoando O esquema referencial constitui em síntese uma cer ta integração unitária do mundo e do corpo e com ele O esquema referencial é o conjunto de experiên cias conhecimentos e afetos com os quais o indivíduo pensa e atua É o resultado dinâmico da cristalização organizada e estruturada na personalidade de um gran de conjunto de experiências que refletem uma certa es trutura do mundo externo conjunto segundo o qual o sujeito pensa e atua sobre o mundo No grupo operativo a tática deve ser dirigida à re visão do esquema referencial que deve ser objeto de questionamento constante Não havendo um esquema re ferencial adequado os fenômenos não são percebidos porém para que se forme o esquema referencial neces sário é imprescindível manterse em contato e em inter jogo com o objeto de indagação Quando descobrimos o fenômeno estamos além disso criando conscientemen te o esquema referencial para percebêIo mas para con seguir isso é preciso uma longa experiência prévia com o objeto que leve a produzir uma impregnação progres siva e gradual do sujeito pelo objeto até o momento em que ocorre o salto dialético e o esquema referencial se torna consciente O esquema referencial consciente não é a única coisa importante mas também o são todos os seus componentes inconscientes ou dissociados que entram emjogo e que não sendo conhecidos distorcem ou bloqueiam a aprendizagem Em grande parte o es quema referencial é o a priori irracional do conheci mento racional e do trabalho científico Sua revisão no 80 Temas de psicologia controlamse tensões e impedese a irrupção traumáti ca de situações ou fatos novos A graduação das ansie dades é um fator importante para a revisão do esquema referencia1 No grupo operativo constróise paulatinamente um esquema referencial grupal que é o que realmente pos sibilita a sua atuação corno equipe com unidade e coe rência Isso não quer dizer que todos pensem igual o que em última instância seria o contrário do que desejamos do grupo operativo Unidade não significa em seu sen tido dialético exclusão de opostos mas inversamente a unidade inclui e implica a existência de opostos em seu seio Essa é a verdadeira unidade de um grupo ope rativo O ótimo se dá quando existe urna máxima hete rogeneidade dos integrantes com máxima homogenei dade da tarefa O esquema referencial é sempre urna parte integran te das ideologias e estas entram sempre e inevitavel mente no grupo operativo tanto corno em toda tarefa de ensino e aprendizagem Devese conseguir que cada membro trabalhe com a sua ideologia e isto constitui a sua melhor crítica e revisão não se trata de defendêIa em urna exposição teórica mas de usáIa Aparecerão então dificuldades e dissociações bem corno contradi ções e coexistência de ideologias excludentes ou de seg mentos não integrados A ideologia é integrada e defen dida quando se trabalha com ela e não falando sobre ela Incluímos nestas considerações as ideologias de todo tipo políticas científicas sociais econômicas religio sas etc bem corno as específicas de alguns campos científicos psiquiatria psicologia etc O problema muito difundido de ambigüidade e coexistência não questio nadas de elementos de ideologias opostas tende a ser resolvido nessa tarefa do grupo operativo Devemos con seguir que a ideologia seja um instrumento para o ser humano e não que ele se transforme em instrumento da ideologia Também não se trata de considerar as ideo logias corno fenômenos nocivos mas isso sim de que o grupo as utilize e operando com elas submetaas à prova e verificação de que possam ampliarse e retifi carse e tenham integração coerência força diretriz e convicção No grupo operativo procuramos fazer com que cada um utilize seus esquemas referenciais assim corno suas ideologias O resto acontece sozinho A tarefa de aprender e o terna correspondente ca nalizam a atenção direta do grupo e de seu coordena dor mas embora dando atenção à tarefa o que funda mentalmente nos interessa são os seres humanos nela implicados de tal maneira que sem poder separar tare fa e participantes urna boa tarefa é simultânea à inte gração e à aprendizagem grupa1 A relação entre tarefa ou objetivo e os seres humanos implicados verificase através da análise do esquema referencial e da graduação das ansiedades que isso implica A informação que deve ser assimilada constitui o conteúdo manifesto enquanto o esquema referencial é o conteúdo latente precisamos trabalhar e dar atenção a ambos permanentemente O grupo operativo trabalha a partir de certa infor mação porém ela pode aparecer de diferentes maneiras no grupo pode ser trazida diretamente em forma inte lectual e nesse caso o grupo reconstrói a totalidade a partir do que foi trazido fragmentado por seus membros e as dificuldades são examinadas em função do fracio namento e das omissões e distorções O grupo enrique ce a informação à medida que a reconstrói e quando a aprende ela já é superior à informação originariamente fragmentada Porém a informação pode ser levada ao grupo de forma latente ou então através de uma atuação Neste último caso o grupo ou alguns de seus integran tes representa a informação se por exemplo o tema é o da família do esquizofrênico o grupo operativo pode representar ou atuar com alguma das características so bre as quais tenha se informado Esse é um aspecto mui to atraente que aparece quase sistematicamente nos gru pos operativos que trabalham no ensino da psiquiatria embora não se observe o mesmo no sentido da psicolo gia Épossível que uma das causas seja o grau de ansie dade despertada pela informação no sentido de que a uma ansiedade maior corresponde uma maior identifi cação enquanto para uma ansiedade menor a informa ção pode ser recebida ou incorporada simbolicamente como conteúdo intelectual Isso está estritamente vin culado às teorias que afirmam que o aparecimento de condutas na área da mente depende da possibilidade de transferir respostas Nos grupos operativos o processo de aprendizagem só se estabelece e se leva a cabo ao se regular a distan cia com o objeto de conhecimento Existe uma distância ótima que corresponde a uma ansiedade ótima acima ou abaixo da qual a aprendizagem fica prejudicada Um princípio técnico básico que E PichonRiviere cha mou a regra de ouro da técnica dos grupos operativos é respeitar o emergente do grupo ou seja trabalhar com a informação que o grupo atualiza a cada momento e que corresponde ao que momentaneamente pode admi tir e elaborar Respeitando o emergente mantémse e trabalhase a distância com o objeto de conhecimento que o grupo pode tolerar Sem ansiedade não se aprende e com muita ansie dade também não O nível ótimo é aquele no qual a an siedade funciona como um sinal de alarme Existem duas condutas grupais extremas e típicas uma é aquela na qual não existe ansiedade e o grupo não trabalha já sa bem tudo e não existem dúvidas de modo que fica blo queado o aparecimento de qualquer novo emergente No primeiro caso devese questionar a ansiedade em fun ção do tema não é raro surgir uma situação de desper sonalização no grupo ou em algum de seus membros No segundo caso devese questionar o bloqueio tam bém em função do impacto do tema Em ambos há um obstáculo epistemológico agindo através de uma rup tura muito brusca do esquema referencial num caso e da estereotipia no outro O desconhecido é perigoso persecutório e pode desorganizar as defesas do grupo que se vê então inva dido pelo tema Na outra situação também freqüente devese fazer com que o cotidiano e comum o já co nhecido tornese estranho Quer dizer mostráIo sob aspectos diferentes dos estereotipados dessa maneira inclusive o cotidiano e o comum convertemse em obje to de indagação e aprendizagem porque o desconheci do está presente inclusive nos fenômenos correntes Devese tornar estranha a experiência corrente atitu de que por outro lado é o procedimento de indagação entre outros do artista que nos apresenta o cotidiano sob uma nova faceta ou sob um enfoque ou perspectiva real mas diferente do que temos habitualmente Desse modo na realidade aprender não é senão aprender a indagar Não há investigação possível sem ansiedade no campo de trabalho provocada pelo des conhecido que por ser desconhecido é perigoso Para investigar é preciso manter em qualquer idade inclusi ve na maturidade um pouco da desorganização ou da facilidade para a desorganização que têm a criança e o adolescente a capacidade de assombrarse Na realida de os problemas do adolescente não se resolvem nunca conseguese apenas bloqueáIos Para investigar e por tanto para aprender é necessário reter ou conservar sem pre em certa proporção essa angústia do adolescente diante do desconhecido Em toda aprendizagem aparecem simultaneamente coexistindo ou alternandose tanto ansiedades paranói des como depressivas as primeiras pelo perigo que re presenta o novo e desconhecido e as segundas pela perda de um esquema referencial e de um certo vínculo que a aprendizagem sempre envolve Devese graduar a quantidade e o momento da infor mação para não tornar maciças as ansiedades caso em que a desorganização pode chegar a uma ansiedade con fusional Em toda aprendizagem existem sempre no mo mento de ruptura de estereótipos certos momentos de confusão que são etapas normais Esta confusão no en tanto deve ser dosada de modo a permitir que essas etapas possam ser discriminadas trabalhadas e elaboradas No grupo operativo resumindo podem existir três reações típicas segundo o tipo de ansiedade predomi nante a reação paranóide a depressiva e a confusional que aparece quando o objeto de conhecimento ultrapas sa a capacidade de discriminação e de controle do ego ou também quando da irrupção de temas não conheci dos não discriminados de objetos que confundem A aprendizagem é um processo constituído por mo mentos que se sucedem ou alternam mas que podem também isolarse ou estereotiparse nesse caso apare cem perturbações Cada um desses momentos da apren dizagem implica que os integrantes do grupo assumam determinadas condutas ou papéis Esse problema foi especialmente estudado utilizan dose questionários entre os estudantes inscritos em um curso de Introdução à Psicologia na Faculdade de Filo sofia e Letras de Buenos Aires O questionário propu nhase detectar a atitude dos estudantes ante a psicolo gia como objeto de conhecimento Obtiveramse assim respostas típicas Todas as atitudes estudadas ou diag nosticadas aparecem normalmente como momentos no processo de aprendizagem cada momento desse pro cesso implica uma estrutura de conduta ou um papel assumidos pelo grupo ou por alguns de seus membros Podem ser reduzidos a oito em suas formas típicas a Momento paranóide o objeto de conhecimento é vivenciado como perigoso e é adotada uma atitude de desconfiança ou hostilidade ou então há uma reação direta com a ansiedade correspondente b Momento fóbico o objeto de conhecimento é evi tado estabelecendose uma distância em relação a ele fugindose ao contato ou à aproximação c Momento contrafóbico precipitação compulsiva ou agressiva sobre o objeto de conhecimento que é ata cado ou ridicularizado d Momento obsessivo tentativa de controle e imo bilização do objeto de conhecimento e um controle da distância em relação a esse objeto por meio de um ri tual uma estereotipia do esquema referencial ou de per guntas que tendem a controlar e Momento confusional a defesa qualquer uma das anteriores fracassa e acontece a entrada numa situação de confusão entre o eu e o objeto com seus diferentes aspectos que não podem ser discriminados f Momento esquizóide organização relativamente estável da evitação fóbica há uma estabilização da dis tância em relação ao objeto através do alheamento e vol ta para os objetos internos g Momento depressivo os diferentes aspectos do objeto de conhecimento foram introjetados e procedese ou tentase proceder à sua elaboração h Momento epileptóide reação contra o objeto pa ra destruíIo Se esses diferentes momentos aparecem de forma iso lada e estereotipada em um indivíduo ou no grupo é indí cio de uma perturbação e bloqueio do processo de aprendi zagem Cada integrante do grupo tem mais facilidade para assumir momentos diferentes desse processo o que indivi dualmente constitui um defeito da aprendizagem converte se numa virtude na tarefa grupal quando cada um intervém com seu papel Em outros termos com os papéis indivi duais refazse no grupo o processo total da aprendiza gem tendo em conta que cada integrante pode assumir funcionalmente papéis diferentes conforme o tema os mo mentos ou níveis da aprendizagem O treinamento do grupo para funcionar como equi pe depende da inserção oportuna de cada papel de ca da momento de aprendizagem no processo total de tal maneira que como totalidade se alcance uma aprendi zagem de alto nível e de grande resultado Como exemplo tomemos o caso do papel esqui zóide o indivíduo que o assume tem a qualidade de ser muito bom observador mas comunica com dificuldade seus dados e os elabora deficientemente Considerado individualmente tem por sua estereotipia no papel uma perturbação da aprendizagem porque só realiza um momento dela Porém localizado na tarefa da equi pe por sua inserção no contexto da tarefa convertese em um momento importante e altamente frutífero da totalidade do processo É complementado por exem plo com o papel momento depressivo que tem a par ticularidade de ocuparse da consecução de objetivos concretos e para isso pode aplicarse com mais facili dade à elaboração de dados É complementado por sua vez com o papel momento obsessivo cuja particula ridade é a de especializarse ou preocuparse com os meios corretos que se devem empregar embora sua defi ciência resida justamente em se estereotipar nesse pa pel e perder de vista os objetivos inserido no contexto total da tarefa grupal sua deficiência é compensada com os papéis dos demais e seu interesse fundamental con vertese de uma perturbação individual em uma ope ração de alto rendimento para a tarefa grupal Se a tarefa do grupo operativo se reduzisse a isso estaríamos alienando seres humanos e convertendoos em instrumentos em parafusos de uma única engre nagem Porém o processo da comunicação faz com que na tarefa do grupo cada um incorpore o outro genera lizado como G Mead denominou a introjeção dos pa péis dos outros integrantes Dessa maneira cada um vai incorporando momentos dos demais e retifica as sim paulatinamente sua própria estereotipia com isso atingese não só um alto rendimento grupal como tam bém uma integração da informação da aprendizagem e do eu de cada membro Isso é comprovado no fato de que progressivamente cada um deles vai alternando seus papéis desempenhando o papel dos demais incorpo rando desse modo os diferentes momentos da aprendi zagem e conseguindo maior integração do eu Às vezes a alternância dos papéis é maciça e produzemse vira das totais que também se retificam gradualmente Embora já tenhamos feito uma rápida referência a esse tópico sua importância justifica que agora nos ocupemos dele mais detalhadamente A informação que um grupo recebe é maior do que a que ele mesmo pode verbalizar e isto é válido também para seus inte grantes considerados individualmente em outros ter mos sempre se aprende mais do que se pensa do que se pode demonstrar verbalmente ou declarar conscien temente 90 Temas de psicologia Grupos operativos no ensino 91 Se a infonnação cria ansiedade excessiva é muito mais provável que surja uma drarnatização ou atuação da informação que pode ser assim considerada como uma primeira introjeção do tema embora sem a distân cia ótima necessária de tal maneira que se obtém uma verdadeira identificação introjetiva mas no nível cor poral Geneticamente essa é a aprendizagem mais pri mitiva porque tudo começa e tudo termina no corpo e com o corpo No princípio tudo é ação Nesse nível dá se a regressão quando a informação recebida cria muita ansiedade Na atuação não só se dramatiza a informação rece bida como também e com muita freqüência a reação à ansiedade que tal informação provoca despersonaliza ção reações fóbicas paranóides obsessivas etc Esse é o material direto e vivenciado do qual nos valemos na Escola Privada de Psiquiatria paríl ensinar psiquiatria e medicina psicossomática nele se integra o aspecto fe nomenológico élvivência que provoca com a compreen são dinâmica da conduta em função do vínculo grupal e do fator desencéldeante AproveitartlOSa já tão conhecida formulação da Continuidade entre OS fenômenos normais e os patológicos e integramos no estudante uma experiên cia que dificilmnte poderá obter deoutra maneira Entre o pensar e o atuar existem relações muito es treitas e a aprndizagem deve ser completada com a intervenção de ambos porém com muita freqüência se dissociam eXcluem ou substiwem um ao outro As sim por exemplo no papel obsessívo substituise a ação pelo pensamento ao qual o sujeito fica aderido perse verantemente sem poder transcender para a ação en quanto no histérico se substitui facilmente o pensamen to pela ação dramatização No grupo operativo cada um atua em sua medida pessoal com seu próprio reper tório de conduta e em sua forma caraterística o coor denador não deve esperar nada específico de ninguém o que cada qual dá é suficiente e não existe maneira de não dar Cada uma das modalidades pessoais deve di namizarse e localizarse no processo e no contexto total Só a dramatização ou só o pensar tomados isola damente são momentos parciais com os quais não fica completa a indagação nem enriquecida a aprendizagem porém no interj ogo de papéis cada um aprende que o que ele faz de uma maneira outro pode fazer de forma diferente e em função disso aprecia o que tem e o que têm os demais O trabalho em grupo operativo valoriza a contribuição de cada um e de todos contudo é uma aprendizagem de modéstia e humildade no conheci mento e das limitações humanas diante do desconhecido e do conhecido O falar é uma terceira manifestação muito impor tante no grupo operativo e constitui a comunicação no nível mais integrado e de resultados plenos Sem dúvi da a linguagem pode ser um atuar que paralise uma co municação mais efetiva e plena Entre o diálogo a elo qüência e a oratória existem diferenças fundamentais que é necessário distinguir em função da comunicação que se estabelece com eles O falar pode ser o papel Grupos operativos no ensino 93 especializado de um membro do grupo e tanto pode im plicar facilitação da comunicação grupal como seu blo queio e controle essa última alternativa se dá por exem plo no caso dos que falam e não dizem nada dos que só o fazem para tapar a boca do outro como um total desligamento narcisista ou como uma utilização neu rótica da informação ou da bibliografia Em todos esses casos existem perturbações da comunicação uma de gradação do nível simbólico da linguagem e uma con seqüente perturbação da aprendizagem devem ser cor rigidos na tarefa grupal tornandoos úteis para o traba lho de conjunto Aqui também como no caso dos momentos da aprendizagem pensar falar e atuar considerados de for ma excludente e isolada são dificuldades da aprendi zagem porém no grupo operativo elas coexistem se su cedem e potencializam Observase com relativa facilidade que existem ex perts com mais sensibilidade para perceber determina dos aspectos da informação ou para detectar certo tipo de conduta conflito ou doença existem igualmente quem conte com tópicos específicos para bloquear ou apresentar escotomas ou para distorcer a informação Apesar de contar já com uma certa experiência às vezes não deixa de ser impressionante a distorção que sofre uma informação e a diferença entre o que se disse ou se quis dizer e o que o auditório entendeu levandose sem pre em conta que esse último não é um conjunto unifor me mas uma totalidade heterogênea e multifacetada Cada grupo escreve sua própria história e deve ser respeitado em suas características peculiares sem pre tender forçar sua operatividade nem seu rendimento o grupo trabalha no melhor nível que pode em cada mo mento e como totalidade O coordenador do grupo trabalha o tema com sua técnica e de acordo com os objetivos que o grupo se pro põe alcançar porém sua tarefa deverá centrarse nos seres humanos que integram o grupo A forma de tratar o tema é o conteúdo normativo da tarefa Em outros ter mos quando se integra uma tarefa obtémse ao mesmo tempo uma integração das personalidades dos seres hu manos que nela intervêm integração que abrange tanto as funções instrumentais ego como as normativas su perego A espiral do processo do conhecimento funcio na não só na tarefa grupal mas em cada um dos integran tes do grupo total porém considerado isoladamente O grupo operativo nos ensina que num grupo pode ocorrer não apenas uma degradação das funções psico lógicas superiores e uma reativação de níveis regressi vos e psicóticos segundo os estudos que vão desde Le Bon até Bion mas também podese alcançar o mais completo grau de elaboração e funcionamento dos ní veis mais integrados e superiores do ser humano com um rendimento que não se pode alcançar no trabalho individual Todas essas grandes diferenças em sua di nâmica e seus resultados não constituem qualidades es Grupos operativos no ensino 95 senciais do grupo mas emergentes de sua organização O grupo pode assim tanto adoecer como curar organi zar como desorganizar integrar como desintegrar etc Tudo o que se disser do grupo convertese em uma abs tração ou enteléquia se não se particularizar e relacio nar o grupo o momento e a organização ou estrutura e não se especificar se esta estrutura por exemplo regres siva é estável permanente ou funcional A técnica do grupo operativo só pode ser aprendida através da experiência pessoal da mesma maneira que a base fundamental de uma preparação psicanalítica só pode ser aprendida passandose pela análise O funcionamento de um grupo operativo oscila en tre graus variáveis de coesão e de dispersão sendo todos eles necessários da mesma maneira que as varia ções entre homogeneidade e heterogeneidade Seu fun cionamento ótimo está nas condições de heterogenei dade de papéis e dispersão integrada que também não se alcança de uma vez por todas como um nível de esta bilização definitivo A dinâmica grupal passa necessa riamente por períodos de confusão de intensidade e duração diferentes e que são certamente por alguns momentos ou períodos um caos produtivo que se veri fica em todos os grupos O coordenador do grupo deve procurar facilitar o diálogo e estabelecer a comunicação incluindose aqui o respeito aos silêncios produtivos criadores ou que signifiquem um certo insight e elaboração não se pode afirmar que um grupo operativo tenha um funcionamen to ótimo pelo simples fato de nunca haver silêncio De vese evitar confrontos estereotipados de tal maneira que as contradições se resolvam num processo dialéti co de síntese ou de localização de cada termo contradi tório no contexto da espiral do processo dialético Nenhuma opinião ou sugestão deve ser subestima da a priori ou em nome do senso comum se isso acon tecer é indispensável que seja assinalado pelo coorde nador do grupo Devese seguir o sentido do possível sem que isso impeça examinar as linhas ou direções mais inesperadas da mesma maneira que se deve atentar pa ra o ajuste plástico dos fins ou objetivos aos meios dis poníveis no momento Devese ajudar o grupo a sair dos estereótipos do já conhecido não é dificil o coor denador do grupo canalizar para si a agressão ou hosti lidade ao procurar romper estes estereótipos Insisto em que se deve ajudar e não impor respeitando o tem po de que o grupo necessita para o processo de elabora ção Aferrarse ao passado em qualquer setor é um estereótipo neurótico que tende a evitar as ansiedades do presente e do novo Da mesma maneira o coordena dor deve devolver as perguntas que lhe são feitas e de sarmar as dependências no caso de um integrante do grupo que diz por exemplo Desculpe eu quis dizer o coordenador pode para tentar desfazer a dependên cia simplesmente responder E por que pede descul pa O coordenador deve fazer o possível para estabe lecer o diálogo entre os componentes do grupo e não encampar tudo nem centrar tudo em si Assim quando 96 Temas de psicologia Grupos operativos no ensino 97 o diálogo e a comunicação funcionam bem o coorde nador não deve intervir Não se deve ser crítico nem coercitivo com nenhum membro do grupo seja qual for o caráter de sua intervenção é o próprio grupo que deve aprender a trabalhar e retificar as atitudes ou intervenções evasivas paranóides ou em disco isto é a intervenção daqueles que sempre repetem a mesma coisa ou citam bibliografia em lugar de participar com sua própria contribuição pensando e intervindo ativa mente É evidente que estão excluídos os conselhos por parte do coordenador que também não deve assumir os papéis que são projetados nele como no caso por exemplo dos grupos que perguntam insistentemente e pedem informação que querem aprender rapidamente e se queixam de estar perdendo tempo Podese resumir as qualidades do coordenador em três palavras arte ciência e paciência De modo algum o coordenador deve esquecer que na técnica operativa interessamnos os resultados da tare fa ou do tema e queparte de nossa funçãoé preocuparmo nos com os seres humanos que intervêm de tal modo que a forma de realizar a aprendizagem tenha efeito nor mativo Para compreender melhor pensemos no exem plo seguinte suponhamos que uma mãe ensine seu fi lho a brincar com massa plástica e lhe mostre como se faz um boneco Nesta tarefa o menino estará aprenden do um hábito instrumental ou em outros termos estará formando ou integrando seu ego Mas existe algo mais a forma com que a mãe o ensina com carinho impa ciência irritação agressão etc será um aspecto norma tivo da personalidade do menino no sentido de que o levará a aprender normas de relação e de convivência ou em outras palavras a formar ou integrar seu superego O mesmo acontece nos grupos operativos nos quais a aprendizagem se propõe a ser muito mais que a forma ção de uma equipe para trabalhar com conhecimentos Nosso objetivo é o enriquecimento do ser humano na tarefa isto além de outras coisas diferencia o grupo operativo de outras técnicas tais como o brain storming promoção de idéias tempestade cerebral nas quais a atenção é colocada fundamentalmente na obtenção de novas idéias e não no melhoramento dos seres humanos e da relação interpessoal técnicas de Osborn Gordon Philips etc O grupo operativo deve funcionar com um tempo li mitado e previsto e com freqüência regular Não res tam dúvidas de que é melhor fazêIo em sessões de mais de uma hora de duração porque geralmente é depois dos primeiros 50 ou 60 minutos que começa o melhor rendimento Isso está em total contradição com a nor ma tradicional das aulas de uma hora baseadas no fato de que a atenção se esgota ao cabo desse tempo quan do se trabalha de maneira diferente o grupo logo após Grupos operativos no ensino 99 esse período relaxa ou distende e começa a trabalhar em nível superior E PichonRiviere insistiu reiteradamente no alto rendimento do trabalho acumulativo ou seja durante várias horas seguidas e inclusive diariamente A expe riência confirma amplamente essa afirmação é notá vel a falta de cansaço nos grupos que trabalham bem sem tensões ou resolvendoas à medida que aparecem Dedicaremos algumas palavras ao relato de situações típicas ou freqüentes observadas em nossa experiência especialmente na cadeira de Introdução à Psicologia Observouse que alguns estudantes em seu primeiro contato com a psicologia tratam de decidir rapidamente que posição tomar e outros que já têm uma posição to mada tendem a defendêIa e a fazer proselitismo A compulsão para afiliarse rapidamente a uma escola quando ainda não se conta com os elementos de juízo necessários constitui uma perturbação da aprendizagem e da formação científica porque se utiliza a afiliação co mo um objeto protetor e assim configurase uma este reotipia O mesmo acontece com aqueles que se dispõem a ficar sempre contra outros os do contra fazendo consistir nisso fundamentalmente sua aprendizagem Não se trata de impedir que o estudante tenha uma posi ção ideológica filosófica ou política mas que a empre gue de tal maneira que perturbe seu próprio desenvolvi mento ou o desenvolvimento de sua ideologia Estudouse detidamente o fenômeno da contradição entre a nossa maneira de ensinar e de organizar o ensi no e o regime de exames Neles em razão da grande quantidade de estudantes e do escasso número de pro fessores exigese somente informação quando na rea lidade o examinando foi preparado para ter critério e pensamento psicológico o estudante fica muito frus trado porque dentro do escasso tempo que cada aluno dispõe ele não pode demonstrar o que aprendeu Com freqüência os estudantes solicitam que o exame conti nue e que se lhes pergunte mais e sobre outras coisas Vêm dispostos com toda razão a manter durante o exame um diálogo com o professor e não a que se exija deles respostas concretas e rápidas Outro problema que se comprovou com certa fre qüência é que os exames parciais coincidem com mo mentos de elaboração ou de confusão na aprendizagem e portanto os estudantes não terminaram de elaborar e integrar o tema quando já se exige que se submetam às provas Os estudantes afirmam com freqüência que a maté ria tomase fácil porque aprenderam a trabalhar e estudar com prazer e também é freqüente entregarem traba lhos nos quais estudaram um tema emitiram opiniões pessoais e solicitam a opinião dos professores A tarefa foi em resumo muito proveitosa e agra dável Os problemas que se colocam dependem bem mais da relação com a organização institucional do en sino porém como disse Freud já que se invocaram os fantasmas não é o caso de sair correndo quando eles aparecem ogrupo como instituição e o grupo nas instituições Conferência pronunciada na V Jornada Sul Riograndense de Psiquiatria Dinâmica de Porto Alegre de I e 2 de maio de 1970 a convite dos organizadores Meu propósito é contribuir com uma certa experiên cia um certo conhecimento e uma boa dose de reflexão para repensar o conceito generalizado do que é um gru po e o que é um grupo numa instituição Na concepção generalizada do que é um grupo incluo aquela defini ção que o postula como um conjunto de indivíduos que interagem entre si compartilhando certas normas numa tarefa Ocupeime dessa questão em outras oportunidades tomando como ponto de partida o problema da simbio se e do sincretismo Entendo por isso os estratos da per sonalidade que permanecem em estado de não discrimi nação e que existem em toda constituição organização e funcionamento de grupo baseados numa comunica ção préverbal subclínica difícil de detectar e concei tualmente dificil de caracterizar Em função disso temos de formular fenômenos comum tipo de pensamento e categorização cuja estrutura está muito distante deles ogrupo como instituição e o grupo nas instituições 103 Minhas postulações nesse sentido me levam a con siderar em todo grupo um tipo de relação que é para doxalmente uma nãorelação no sentido de uma não individualização que se impõe como matriz ou como estrutura básica de todo grupo e que persiste de manei ra variável durante toda a sua vida Chamarei esta rela ção de sociabilidade sincrética para diferenciáIa da so ciabilidade por interação com a qual se estruturou nos so conhecimento atual de psicologia grupal A existência ou a identidade de uma pessoa ou de um grupo são dadas na ordem do cotidiano e manifestadas pela estrutura e integração que alcança o ego individual e grupal em cada caso considerando como ego grupal o grau de organização amplitude e integração do conjunto daquelas manifestações incluídas no que chamamos ver balização motricidade ação juízo raciocínio pensa mento etc Porém esta individualização personificação ou identidade que um indivíduo ou um grupo têm ou es peram ter baseiamse necessariamente numa certa imobi lização dos estratos sincréticos ou não discriminados da personalidade ou do grupo Descrevi em outros artigos como se instala entre ambos os estratos da personalidade ou da identidade uma forte clivagem que impede que entrem em relação um com o outro pela imobilização dos aspectos sincréticos permitese a organização a mo bilização a dinâmica e o trabalho terapêutico dos aspec tos mais integrados da personalidade e do grupo Podese alegar que embora seja realmente assim isso não tira o valor do trabalho terapêutico e da com preensão dos dinamismos grupais que chegamos a ter desses estratos mais integrados da personalidade con cordo com essa afirmação porém de qualquer modo creio necessário o aprofundamento nos conhecimentos da parte clivada da personalidade ou do grupo já que é aqui através de sua mobilização que deparamos com um trabalho terapêutico mais profundo embora muito mais incômodo e difícil As crises mais profundas que um grupo atravessa devemse à ruptura dessa clivagem e ao surgimento na seqüência dos níveis sincréticos A identidade paradoxalmente não é dada só pelo ego mas também pelo ego sincrético Quero agora abordar esse problema procurando cap táIo e tornáIo mais visível através do exame dos aspectos institucionalizados do grupo ou seja daqueles padrões normas e estruturas que se organizaram ou que já vêm or ganizados de uma maneira dada Para esse objetivo neces sito descartar por razões metodológicas e didáticas os grupos nos quais a clivagemjá vem rompida ou não exis te tal como ocorre por exemplo em certos grupos de psi cóticos ou personalidades psicopáticas Feita esta primei ra delimitação quero considerar os aspectos institucionais do grupo terapêutico que funciona fora das instituições e em segundo lugar os grupos terapêuticos que funcionam em instituições Embora essa última divisão seja útil por razões expositivas e de pesquisa tenho desde já de obser var em outro nível que com freqüência não me ocupa rei só de grupos terapêuticos da experiência psiquiátri ogrupo como instituição e o grupo nas instituições 105 ca mas também de outros tipos de grupo fazendo par te todos do nosso trabalho em dinâmica Um grupo é um conjunto de pessoas que entram em interação entre si porém além disso o grupo é funda mentalmente uma sociabilidade estabelecida sobre um fundo de indiferenciação ou de sincretismo no qual os indivíduos não têm existência como tais e entre eles atua um transitivismo permanente O grupo terapêutico ca racterizase também por essas mesmas qualidades acres cido o fato de que um dos integrantes do grupo o tera peuta intervém com um papel especializado e predeter minado mas isso essa última função se realiza sobre uma base na qual o terapeuta está envolvido no mesmo fundo de sincretismo que o grupo Aparentemente a lógica do senso comum nos mos tra com evidência que um conjunto de pessoas pode ter um encontro marcado em hora e local determinados por um terapeuta e que o grupo começa a funcionar quan do essas pessoas diferentes até então separadas estão a uma distância suficiente e relativamente isoladas de outros contextos como para poder interatuar Poderia recordar a esse respeito a concepção sar treana que afirma que enquanto não se estabelece a in teração não existe o grupo mas somente uma seriali dade no sentido de que cada indivíduo é equivalente a outro e todos constituem um número de pessoas equi paráveis e sem distinção entre si Aparentemente a concepção sartreana nega o que estou afirmando como tese nesta exposição porém um exame mais detalhado pode levar à conclusão como penso de que essa serialidade éjustamente o fundo de solidariedade de indiscriminação ou sincretismo que constitui o vínculo mais poderoso entre os membros do grupo Sem ele a interação não seria possível Nesta descrição assim como em outras que virão a seguir quero que se considerem as limitações da lingua gem e da organização do nosso pensamento conceitual para captar níveis muito diferentes de sociabilidade des sa sociabilidade muito particular que se caracteriza por uma nãorelação e por uma indiferenciação na qual ca da indivíduo não se diferencia do outro ou não se acha discriminado do outro e na qual não existe discrimina ção estabelecida entre eu e nãoeu nem entre corpo e espaço nem entre eu e o outro Uma limitação a que me quero referir porque pesa rá muito na possibilidade de podermos nos entender diz respeito às diferenças entre o ponto de vista natura lista e o ponto de vista fenomenológico Por ponto de vista naturalista entendemos a descrição de um fenô meno realizada por um observador que o descreve de fora quer dizer como um fenômeno da natureza que existe independentemente do sujeito observador e nes te sentido a definição do grupo como conjunto de in divíduos que interatuam com papéis status etc é uma descrição tipicamente naturalista Por descrição ou observação fenomenológica deve mos entender aquela que se realiza a partir do interior dos próprios fenômenos tal como são percebidos vi venciados ou organizados pelos que participam do fe nômeno ou de um acontecimento dado Nesse sentido com muita freqüência vejome obriga do por limitações semânticas e conceituais a descrever fe nômenos a partir do ponto de vista fenomenológico com uma linguagem que corresponde ao ponto de vista natura lista incorro nisto por exemplo quando digo que para certo nível um grupo se caracteriza por uma nãorelação ou por um fenômeno de não discriminação entre os indiví duos e entre o ego e os objetos Esta última definição que tenta abranger ou tenta ser construída a partir de um ponto de vista fenomenológico realizase por meio da negação da descrição do ponto de vista naturalista A esse respeito penso por exemplo que muito do que descrevemos como identificação projetiva e introjetiva corresponde a uma descrição naturalista daquilo que do ponto de vista feno menológico corresponde ao sincretismo Estaria fora de lugar e levaria muito tempo ocupar me das relações entre as observações realizadas a partir de um ponto de vista fenomenológico e aquelas realiza das a partir de um ponto de vista naturalista e além disso essas relações estão ainda num terreno de muita contro vérsia e não existe acordo sobre elas Assim há quem veja nesses dois pontos de vista posições excludentes enquanto outros vêem posições complementares e ou tros entre os quais me incluo vêem descrições limita das à espera de um ponto de vista unitário que mantenha e supere ambas Aufhebung Referirmeei brevemente às implicações desse en foque Um pequeno exemplo poderá servir para ilustrar não demonstrará nem abrangerá a totalidade desses pro blemas Tratase somente de um exemplo Numa sala encontrase uma mãe lendo olhando a tela da televisão ou costurando na mesma sala encon trase seu filho concentrado e isolado em seu brinquedo Se nos guiamos pelos níveis de interação não va mos encontrar comunicação entre essas duas pessoas não se falam não se olham cada um atua independen temente de modo isolado e podemos dizer que não há interação ou que estão incomunicáveis Isto é correto se considerarmos somente os níveis de interação Continuemos com o exemplo a mãe num determinado momento deixa o que estava fazendo e sai da sala o menino pára imediatamente sua brinca deira e sai correndo para estar com ela Agora podemos compreender que quando a mãe e seu filho estavam cada um numa tarefa distinta sem se falar e incomuni cáveis nos níveis de interação sem dúvida havia entre eles uma ligação profunda préverbal que nem sequer necessita das palavras ou que pelo contrário as pala vras perturbam Em outros termos enquanto falta a in teração enquanto não se falam nem se olham está pre sente a sociabilidade sincrética na qual cada um dos que de um ponto de vista naturalista pensamos que se jam pessoas isoladas achamse em um estado de fusão ou de indiscriminação Este grupo pode servir de exem plo daquilo que freqüentemente o silêncio significa nos grupos terapêuticos e de como o modelo da comunica ção verbal tende às vezes a distorcer ou ocultar a com preensão desse fenômeno Para evitarequívocosdevodizer que admito que uma mãe e um menino que se comportem sempre única e exclusivamente desta maneira darão lugar a uma séria perturbação no desenvolvimento da personalidade e da relação entre ambos mas ainda assim acredito que quan do falta o nível de sociabilidade sincrética também exis te uma perturbação muito séria no grupo e no desenvol vimento da personalidade de cada um Vejoa falta de um marco para essa sociabilidade sincrética por exemplo nas personalidades psicopáticas fáticas ambíguas as if de H Deutsch Retomando o exemplo o menino isolado brincan do pode precisamente estar isolado e conseguir brincar com tudo o que brincar significa do ponto de vista psi cológico na medida em que tenha a segurança de man ter clivada em um depositário fiel a sociabilidade sin crética simbiose Um dos exemplos que Sartre apresenta como típico da serialidade é o de uma fila de pessoas esperando um ônibus ele supõe que a característica fundamental da serialidade consiste em que cada um dos integrantes dessa fila é um indivíduo totalmente isolado esses indivíduos enquanto números são intercambiáveis um pelo outro Para mim ainda no exemplo de uma fila à espera de um ônibus está presente a sociabilidade sin crética depositada nos modelos e normas que vigoram para todos os indivíduos Cada um dos integrantes da fila conta com essa segurança de tal forma que nem sequer chega a ter consciência dela tanto que o próprio Sartre foi levado a ignoráIa Podemos nos comportar como indivíduos em interação na medida em que parti cipamos de uma convenção de modelos e normas que são mudas mas que estão presentes e graças às quais podemos então formar outros modelos de comporta mento Para que haja interação deve haver um fundo comum de sociabilidade A interação é a figura de uma Gestalt sobre o fundo da sociabilidade sincrética Pode se dizer que o segundo é o código do primeiro Quando um conjunto de pessoas marcam hora en quanto pessoas para um grupo terapêutico e têm seu primeiro encontro no consultório do terapeuta ou num lugar até então desconhecido para todos todo terapeuta observa de imediato fenômenos que catalogamos como reações paranóides e penso que todos concordam em considerar essas reações paranóides como normais sig nificando medo de uma experiência nova e medo do des conhecido Pode haver alguma diferença na formulação mas podem ser todas reduzidas à experiência que aca bo de enunciar Não ponho em dúvida a existência da reação para nóide O que ponho em dúvida é que através dessa for mulação possamos entenderrealmente aquilo que ocor re de mais importante esse momento Quando dizemos nesse caso que o grupo reage com medo de uma expe riência nova do indeterminado ou do desconhecido es tamos dizendo uma verdade muito mais ampla do que a que nós mesmos reconhecemos e que portanto o grupo também não pode reconhecer a não ser apenas os as pectos superficiais dessa afirmação Não é somente o novo que produz medo mas sim o desconhecido que existe dentro do conhecido recordese que isto é a es sência do estranho Unheimlich Quando assinalamos as ansiedades paranóides o medo do desconhecido ou da situação nova estamos realmente dizendo ou assinalando embora sem com preender no todo que o medo se produz diante do des conhecido que cada pessoa traz consigo em forma de nãopessoa e em forma de nãoidentidade ou de ego sincrético Em outros termos para sermos mais claros o que estamos dizendo com a formulação das ansieda des paranóides é o medo de não poder continuar rea gindo com os modelos estabilizados que já assimilaram enquanto pessoas e o medo do encontro com uma so ciabilidade que as destitua enquanto pessoas e as con verta em um só meio homogêneo sincrético no qual cada um não sobressaia enquanto figura como pessoa do fundo mas que submerja nesse mesmo fundo o que implica uma dissolução da identidade estruturada pelos níveis mais integrados do ego do self ou da personali dade O medo é dessa organização e não só da desorga nização visto de fora e do ponto de vista naturalista poderemos continuar reconhecendo indivíduos ou pes soas porém do ponto de vista fenomenológico signi fica perda de identidade de uma identidade e signifi ca imersão numa identidade grupal que está mais além ou mais aquém da identidade convencional que reconhe cemos como tal constituída pelos níveis mais integrados da personalidade Dito de outra maneira estamos assina lando o medo por parte do grupo de uma regressão a ní veis de uma sociabilidade sincrética que não está consti tuída por uma interrelação ou interação mas que exige uma dissolução de individualidades e a recuperação dos níveis da sociabilidade incontinente como a chamou Wallon que não aparecem nesse momento mas que es tiveram presentes já antes de vir ao grupo e desde o pri meiro momento do encontro no grupo Quero insistir em que estou falando neste momen to de grupos terapêuticos integrados por pessoas neu róticas isto é pessoas que conservam ou atingiram um bom nível de integração da personalidade apesar das di ficuldades ou da sintomatologia neurótica que apresen tam Esta observação é pertinente e deve ser reiterada neste momento dado que alguns grupos formados por pessoas que não alcançaram um certo grau de individua lização ou de identidade individual buscam de início o estabelecimento de uma situação simbiótica de depen dência e de identidade grupal e esta última é tudo o que podem obter A identidade grupal tem dois níveis em todos os gru pos um é o da identidade proporcionada por um traba lho em comum e que chega a estabelecer modelos de interação e modelos de comportamento que são institu cionalizados no grupo essa identidade é dada pela ten ogrupo como instituição e o grupo nas instituições 113 dência à integração e interação dos indivíduos ou pes soas Porém outra identidade que existe em todos os grupos e que às vezes é a única ou a única que se atin ge em grupo é uma identidade muito particular que podemos chamar identidade grupal sincrética Essa não é dada com base numa integração numa interação em modelos de níveis evoluídos mas com base numa so cialização em que esses limites não existem e cada um daqueles que do ponto de vista naturalista vemos co mo sujeitos ou indivíduos ou pessoas não têm identida de enquanto tal mas sua identidade reside no seu per tencimento ao grupo Podemos estabelecer aqui uma equiparação uma equivalência ou uma fórmula dizendo que quanto maior for o grau de pertencimento a um grupo maior será a identidade grupal sincrética em oposição à identidade por integração E quanto maior for a identidade por inte gração menor será o pertencimento sincrético ao grupo Quero também referirme sumariamente citando apenas ao fato de que o pertencimento é paradoxal mente sempre uma dependência nos níveis da sociabi lidade sincrética Existem grupos terapêuticos que bus cam tais fenômenos e outros que reagem com pânico ou desintegração diante deles Para dar maior clareza à exposição quero assinalar brevemente três tipos de grupos ou três tipos de indiví duos que podem integrar diferentes grupos ou um mes mo grupo Um dos tipos corresponde aos indivíduos dependen tes ou simbióticos que vão utilizar de imediato o grupo como um grupo de dependência ou de pertencimento e que tentarão estabilizar sua identidade através da iden tidade grupal como identidade mais completa alcança da por eles no curso da evolução Tratase de indivíduos para os quais a organização simbiótica persistiu mais do que o necessário ou então nunca foi suficientemen te normal para poder se dissolver e dar lugar aos fenô menos de individuação e personificação Procurarão transformar o grupo de forma manifesta em uma or ganização estável a interação será superficial com uma tendência a não dar lugar aoprocesso grupa1 Um segundo tipo é o daqueles indivíduos aos quais me referi mais detidamente até agora que chamamos neuróticos ou normais nos quais reconhecemos a neu rose apenas como uma parte da personalidade na me dida em que alcançaram uma boa proporção de indivi duação e personificação isto é aquilo que comumente chamamos de aspectos maduros ou realísticos da per sonalidade Tenderão a moverse na sociabilidade de in teração e podem apresentarse como grupos muito ati vos muito motivados mas somente em um plano e garantindo a clivagem Podem acontecer muitas coisas para que nada aconteça Um terceiro tipo corresponde àqueles que nunca ti veram uma relação simbiótica e que também não irão es tabelecêIa no grupo a não ser após um árduo processo terapêutico entre esses incluímos as personalidades psi 114 Temas de psicologia ogrupo como instituição e o grupo nas instituições 115 copáticas perversas as as if personalities descritas por H Deutsch e todas as personalidades ambíguas entre as quais incluo o tipo as if Para eles o grupo parece de sempenhar um papel muito subsidiário e pouco impor tante Não é assim São os que tendem ao grupo de socia bilidade sincrética não manifesta mais préverbal Como disse e salvo indicação em contrário farei re ferência apenas ao segundo tipo de pessoas ou grupos objetivo o objetivo propriamente terapêutico do grupo A organização da interação chega a um ponto em que se torna antiterapêutica Isto ocorre por duas razões funda mentais ou em dois níveis organizamse os níveis de interação de uma maneira fixa e estável mas por sua vez a fixação e a estereotipia da organização baseiamse também e fundamentalmente no estabelecimento do controle sobre a clivagem entre ambos os níveis de tal maneira que a sociabilidade sincrética seja imobilizada Esse fenômeno corresponde ao que considero uma lei geral das organizações isto é em todas elas os objeti vos explícitos para os quais foram criadas correm sem pre o risco de passar a um segundo plano passando ao primeiro plano a perpetuação da organização como tal E isto ocorre não só para resguardar a estereotipia dos níveis de interação mas principalmente para resguardar e assegurar a clivagem a depositação e a imobilização da sociabilidade sincrética ou parte psicótica do grupo Já assinalei que um grupo que deixou de ser um pro cesso para estabilizarse como organização se transfor mou de grupo terapêutico em grupo antiterapêutico1 Em outros termos diria que o grupo se burocratizou en tendendo por burocracia a organização na qual os meios se transformam em fins e se deixa de lado o fato de se ter recorrido aos meios para conseguir determinados objetivos ou fins Até aqui desenvolvi as características fundamentais do grupo para poder entender o seu papel como institui ção e nas instituições O conceito de instituição foi utilizado com significa dos muito diferentes aqui recorrerei a duas acepções en tre as muitas possíveis que desejo esclarecer utilizarei a palavra instituição como o conjunto de normas e padrões e atividades agrupadas em torno de valores e funções so ciais Embora instituição também se defina como organi zação no sentido de uma distribuição hierárquica de fun ções que se realizam geralmente dentro de um edificio área ou espaço delimitado Para esta segunda acepção utilizarei exclusivamente a palavra organização O grupo é sempre uma instituição muito complexa ou melhor é sempre um conjunto de instituições mas ao mesmo tempo tende a estabilizarse como uma orga nização com padrões fixos e próprios A importância está no fato de que quanto mais o grupo tende a se esta bilizar como organização tanto mais tende ao objetivo de existir por si mesmo margeando ou sujeitando a este 1 Ampliei a compreensão desses fenômenos também à chamada Reação terapêutica negativa 116 Temasdepsicologia ogrupo como instituição e ogrupo nas instituições 117 Existe em tudo isso no entanto um aspecto de con siderável importância que não quero passar por cima poderia começar dizendo que toda organização tende a ter a mesma estrutura que o problema que deve enfren tar e para o qual foi criada Assim um hospital acaba tendo enquanto organização as mesmas característi cas que os próprios doentes isolamento privação sen sorial déficit de comunicação etc Nossas organizações psiquiátricas nossas terapias nossas teorias e nossas técnicas têm também a mesma estrutura que os fenômenos que enfrentamos Torna ramse e são apenas organizações e cumprem por tanto uma função igual de manutenção e controle da cli vagem uma tendência à burocratização A função iatrogênica e de garantia das doenças que desempenham nossos hospitais psiquiátricos não preci sa ser comentada aqui já que é conhecida de todos e constitui um aspecto sobre o qual se insiste muto na atualidade mas esquecemonos de outros tantos aspec tos que têm o mesmo efeito burocrático iatrogênico e igual função latente a de manter a clivagem controlan do a sociabilidade sincrética A sociedade tende a instalar uma clivagem entre o que considera sadio e doente entre o que considera nor mal e anormal Assim estabelece uma clivagem muito profunda entre ela a sociedade sadia e todos aque les que como os loucos os delinqüentes e as prostitu tas são desvios doenças que spõese nada têm a ver com a estrutura social A sociedade autodefendese não dos loucos dos delinqüentes e das prostitutas mas de sua própria loucura de sua própria delinqüência e de sua própria prostituição e dessa maneira aliena desco nhece e trata como se fossem alheias e não lhe corres pondessem Isso ocorre através de uma profunda cliva gemo Essa segregação e essa clivagem se transferem lo go para os nossos instrumentos e conhecimentos Assim respeitar a clivagem de um grupo terapêutico e não exa minar os níveis de sociabilidade sincrética significa admi tir essa segregação sancionada pela sociedade assim como admitir os mecanismos pelos quais determinados sujeitos se tornam doentes e segregados e também admi tir o critério adaptativo de saúde e doença e sua segre gação como cura Não é possível no tempo de que disponho deta lhar as vicissitudes de cada um desses fenômenos que A tendência à organização e à burocratização ou em outros termos a tendência antiprocesso não se deve unicamente a uma preservação ou a uma compulsão à repetição das interações mas como já assinalei basica mente ao fato de se garantir a clivagem e com ela des cobrir ou bloquear os níveis simbióticos ou sincréticos Não é necessário chegar à burocratização extrema um grupo pode trabalhar bem e estar rompendo este reótipos e isso pode ser real mas se dá apenas no nível de interação Se isso persiste leva o grupo a mudar per manentemente na realidade é uma mudança para não mudar no fundo não acontece nada 118 Temasdepsicologia ogrupo como instituição e ogrupo nas instituições 119 assinalo dentro da dinâmica grupal porém não será di fícil para o leitor extrair as conseqüências e analisáIas em seu próprio trabalho com grupos Pelo que nos diz respeito mais diretamente acrescentarei apenas que um stafftécnico de um hospital ou a sua equipe admi nistrativa tendem também a estruturarse como orga nizações e as resistências à mudança não provêm ne cessariamente sempre ou apenas dos pacientes ou de seus familiares mas muito mais freqüentemente de nós mes mos enquanto integramos organizações e as organiza ções são parte de nossa personalidade O que ocorre é que nas organizações além do mais os conflitos susci tados em níveis superiores se manifestam ou detectam em níveis inferiores ocorrerá então que os conflitos do staff técnico não se manifestarão neles mesmos mas nos pacientes ou no pessoal subalterno assim como as tensões e conflitos entre os pais com muita freqüência não aparecem no nível deles mas como sintomas em seus filhos Os exemplos serviriam pará todas as orga nizações civis governamentais militares religiosas etc zações Tudo isto não é correto e é herança das concep ções associacionistas e mecanicistas O ser humano antes de ser pessoa é sempre um grupo mas não no sentido de que pertence a um grupo e sim no de que sua persona lidade é o grupo A esse respeito remeto os interessa dos ao livro de Whyte El hombre organización Assim compreendese que a dissolução ou a tentati va de mudança de uma organização possa ser diretamen te uma desagregação da personalidade não por proje ção mas porque diretamente o grupo e a organização são a personalidade de seus integrantes Assim se expli ca a grande freqüência de doenças orgânicas graves nos aposentados recentes e podemos entender melhor como o ostracismo na Grécia antiga era mais destrutivo para a personalidade do que a prisão e o fuzilamento Existe então uma espécie de transfusão nos pro blemas que estou estudando já que insisti anteriormen te que todo grupo tende a ser uma organização e agora ao ocuparme de organizações afirmo que elas consti tuem partes da personalidade dos indivíduos e às vezes toda a personalidade que eles possuem E Jaques afirmou que as instituições servem como defesa ante ansiedades psicóticas Esta afirmação é li mitada e é mais correto dizer que as instituições e or ganizações são depositárias da sociabilidade sincrética ou da parte psicótica e que isso explica muito da ten dência à burocracia e da resistência à mudança Quando falamos de organizações e do trabalho de psiquiatras psicólogos e psicoterapeutas nas organiza No parágrafo anterior assinalei que as organizações formam parte de nossa personalidade e quero retomar essa afirmação muito sumariamente porque me parece de importância vital para o que estou desenvolvendo Em nossas teorias e categorias conceituais contra pomos indivíduo a grupo e organização a grupo do mes mo modo como supomos que os indivíduos existem isolados e se reúnem para formar os grupos e as organi 120 Temasdepsicologia ogrupo como instituiçãoe ogrupo nas instituições 121 ções geralmente se subentende que nos referimos à te rapia de grupo em organizações psiquiátricas ou hospita lares Não nos conscientizamos no entanto pelo menos em psicologia e psicoterapia de grupo das necessidades e problemas que nos coloca a quarta revolução psiquiá trica que pode ser definida como a orientação para a prevenção primária e uma concentração de esforços na administração de recursos Embora tenhamos conheci mentos e técnicas de grupo bastante desenvolvidos não é menos certo que carecemos de uma estratégia para a utilização dessas técnicas e conhecimentos quando te mos de trabalhar em psicologia institucional em orga nizações em instituições que não sejam psiquiátricas ou hospitalares Pode acontecer também que nestas a melhor forma de administrar nossos recursos não seja organizar grupos terapêuticos mas sim aplicar nossos esforços e conhecimentos na própria organização Quando trabalhamos em organizações em psicolo gia institucional a dinâmica de grupo é uma técnica pa ra enfrentar problemas organizacionais Entretanto para utilizar essa técnica devemos contar com uma estraté gia geral de nossa intervenção assim como com um diagnóstico da situação da organização Um dos problemas básicos nas organizaçõesnão é só a dinâmica intragrupal mas a dinâmica intergrupal e nosso objetivo pode não ser os grupos mas o organo grama Numa organização o recurso às técnicas de grupo e a escolha do tipo de técnica de grupo que iremos uti lizar estão determinados não só por um esforço para re formar nossofuror curandis mas também por um diag nóstico que permita entender qual é o grau de burocra tização ou o grau em que se produziu uma fissura pela qual a clivagem entre os níveis de integração e os níveis de sociabilidade sincrética já não pode ser mantida bem como a existência e correlação entre as estruturas de grupo primário e as de grupo secundário etc Freqüentemente nossos objetivos ao trabalhar com dinâmica de grupo em organizações referemse à aná lise das implicações psicológicas das tarefas que se rea lizam e da forma pela qual os objetivos são ou não cum pridos juntando a dimensão humana ou psicológica ao trabalho que realizam e à forma pela qual o realizam Não conheço erro mais grosseiro do que transferir junto com as técnicas de grupo o hospital psiquiátrico para o hospital geral e ambos para as organizações in dústrias escolas etc Em síntese defini o grupo por dois níveis de socia bilidade um é a chamada sociabilidade de interação e outro é a sociabilidade sincrética Assinalei que o gru po tende a burocratizarse como organização e a fazerse antiterapêutico não só por uma reiteração de modelos dos níveis de interação mas fundamentalmente pela necessidade de manutenção da clivagem ou separação entre ambos os níveis Passei então a mostrar como as organizações têm essa mesma função de clivagem e como nossos conhe cimentos e técnicas de grupo têm de ser precedidos se quisermos trabalhar com dinâmica de grupo em orga nizações por um estudo diagnóstico e por uma estraté gia dentro da qual as técnicas grupais constituem ape nas um instrumento Assinalei embora sem desenvolvêIas em profun didade algumas leis das organizações assim como al gumas das linhas para as quais deve tender nossa fun ção no plano da psiquiatria preventiva e de prevenção primária Mais do que um desenvolvimento exaustivo esta exposição tem a função de provocar incitar ou es timular tanto uma mudança de nossas estereotipias teó ricas e técnicas como uma mudança na administração de nossos recursos Administração das técnicas e dos conhecimentos de grupo Conferência pronunciada na V Jornada SulRi 0 grandense de Psiquiatria Dinâmica Porto Ale gre 1970 Na história da psiquiatria podemos contar quatro re voluções a primeira é a realizada por Pinel a segunda pela introdução de terapias biológicas e farmacológicas embora com uma certa defasagem entre umas e outras podem ser assimiladas em uma única a terceira pela introdução da psicoterapia e a quarta pela preocupação por uma mudança na administração de recursos No desenvolvimento da psicoterapia de grupo con tamos embora reconhecendo nossas limitações com re cursos teóricos e técnicos bastante desenvolvidos mas penso que temos ainda de introduzir mais sistematica mente essa revolução na administração dos recursos Como profissionais ou cientistas somos geralmen te pouco propensos a nos ocupar de aspectos adminis trativos Essa propensão pode ter múltiplas causas não quero porém referirme a elas mas sim ao processo revolucionário de mudança que no meu entender fal taria introduzir mais sistemática e radicalmente em tudo Administração das técnicas e dos conhecimentos de grupo 125 aquilo que se refere aos conhecimentos e técnicas con cernentes à dinâmica de grupo no campo da psiquiatria dinâmica Sem dúvida por menor que seja nossa tendência a ocuparmonos do problema da administração precisamos nos conscientizar de que de qualquer maneira temos organizada uma administração Podemos caracterizáIa como a do profissional que atende grupos terapêuticos de doentes que vieram consultáIo em sua prática pri vada no sanatório ou no hospital Quero dizer que de qualquer forma bem ou mal estamos administrando nossos recursos e que se não nos queremos ocupar da sua administração saibamos que de qualquer modo temos uma administração a qual aceitamos obedece mos dirigimos e impomos ou se impõe a nós nos diri ge e nos limita Creio que muitos problemas assim como muitas li mitações e muitas questões que não podemos resolver estão baseados nesse tipo de administração de nossos recursos A administração não é independente de nos sas teorias técnicas problemas soluções etc Meu ponto de vista é o de que precisamos adminis trar nossos recursos de modo diferente incluindo entre eles os nossos conhecimentos as nossas teorias e as nossas técnicas grupais A palavra administração refe rese a uma utilização e distribuição que gostaríamos que fosse diferente mais racional e mais eficiente A eficiência da terapia de grupo não depende exclusiva mente do desenvolvimento dos conhecimentos e do aper feiçoamento de nossas técnicas mas também da forma como os administramos E nesta simples palavra admi nistração reside nada menos que uma revolução psi quiátrica que devemos estender o que em parte já foi feito a nossos recursos em tudo o que se refere à tera pia de grupo O problema não diz respeito apenas à saúde públi ca ou à saúde mental o que por si só seria suficiente mas também à profundidade e extensão de nossas teo rias bem como ao tipo de problemas que temos de en frentar do ponto de vista cintífico de tal maneira que a prática profissional e a investigação não são de modo algum independentes do fato de já termos administra do esses recursos ou de têIos mal administrados Digo freqüentemente que nós conhecemos menos do que deveríamos que além disso sabemos menos do que o que é conhecido e que sabemos e conhecemos muito mais do que aquilo que aplicamos ou utilizamos Podese dizer que isso ocorre em todos os campos cien tíficos e profissionais e estou de acordo isso porém não nos deve impedir de pensar no problema Poderia acrescentar a tudo isso uma complicação que reside no fato de que se administrarmos nossos recursos de mo do diferente pode acontecer que esses recursos mudem aumentem ou se tornem mais eficazes Devemos lem brar que a administração dos recursos é parte de uma práxis e que geralmente damonos por satisfeitos com uma práxis limitada que vá da teoria à prática mas que teoria e prática estão em interação entre si no melhor dos casos no entanto sem uma interação com contex tos mais amplos dessa maneira a práxis não está somen te entre teoria e prática mas além disso estas interagem com a administração dos recursos ou então poderíamos dizer que a administração faz parte de tal prática e que toda prática sempre é administrada de alguma forma definida Dessa maneira enfatizo que me oponho termi nantemente por consideráIa errada àquela posição que supõe que a administração é função de administradores e que a nossa função é exclusivamente profissional e cien tífica A razão fundamental da minha oposição reside em que nossa prática profissional e científica realizase den tro de um contexto administrativo particular e que de uma forma ou de outra administramos nossos recursos bem ou mal de maneira estreita ou limitada Freqüentemente é real o ditado em casa de ferreiro espeto de pau Poderíamos dar muitos exemplos limite monos contudo a assinalar que assim como aplicamos muito pouco e utilizamos deficientemente nossos conhe cimentos psicanalíticos nos procedimentos de ensino da psicanálise isto é na didática aplicamos também de ma neira deficiente ou absolutamente não aplicamos nossos conhecimentos e nossas técnicas de grupo à administra ção que fazemos de nossos recursos nessa esfera do co nhecimento e da prática E também não utilizamos nos sos conhecimentos dos psicodinamismos grupais para conseguir mudanças com uma administração diferente Poderia dizêIo em outras palavras que apesar de possuirmos conhecimentos e técnicas de grupo bastan te desenvolvidas não é menos certo que necessitamos de estratégias para a utilização dessas técnicas e conhe cimentos Essa estratégia essa mudança na administração po de ser resumida dizendo que temos de introduzir as téc nicas de grupo e nossos conhecimentos dos dinamis mos grupais nos programas de prevenção primária não só na terapia e na prevenção de doenças mentais ou per turbações psicológicas o que já é muito mas que tam bém devemos inclinarnos a um dos objetivos fundamen tais da prevenção primária que é promover a saúde Se admitimos a necessidade dessa colocação precisa mos em segundo lugar assumir o fato de que uma mudan ça como a exigida por essa perspectiva na administração dos recursos significa também uma mudança nas linhas profissionais e nas linhas ou nos contextos da investigação Temos de sair da chamada atividade intramural e isto sig nifica que precisamos não apenas alternar nossa atividade nos hospitais psiquiátricos nos serviços psiquiátricos dos hospitais gerais mas também alternar todas estas ativida des com outra que se desenvolve nos grupos naturais no seu próprio meio e nas funções e organizações específicas que eles possuem Isso significa que em todos os lugares onde há seres humanos existem grupos e temos de ir até eles e não esperar que eles venham até nós Porém ir até esses grupos naturais significa a necessidade de respei tar o meio os objetivos as funções e as organizações espe cíficas dentro dos quais se desenvolvem os grupos huma nos e entendase que não estou falando somente da ativi 128 Temas de psicologia dade ou do trabalho mas também do ócio e da recreação e de outras inúmeras coisas que não enumero À profunda modificação de linhas profissionais jun tase de imediato o confronto com o problema de que não vamos curar e então precisamos tornar claros os nossos objetivos Estes podem resumirse na fórmula promoção de saúde entendendo por saúde não só a ausência de doen ça mas um aproveitamento mais eficiente de todos os recursos com que conta cada grupo para mobilizar sua própria atividade na procura de melhores condições de vida tanto no campo material como no cultural no so cial e no psicológico Quando nos dispomos a adminis trar do modo indicado nossos recursos técnicas e co nhecimentos de grupo um dos problemas que indu bitavelmente temos de enfrentar é o fato de que a se guir deparamos com uma perda da segurança que nos dá a organização e a institucionalização da administração que agora está em curso organizada como linhas pro fissionais específicas bem determinadas ou claramente definidas Temos aqui um importante problema de psi cologia de grupo começando por nós mesmos para além disso tomar consciência como novo problema teó rico do papel da institucionalização e da organização nas atividades que desempenhamos como indivíduos dian te dos grupos enquanto profissionais A forma como de vemos ir até esses grupos naturais em seus meios espe cíficos é um problema técnico e teórico que devemos também enfrentar como problema de dinâmica de grupo no sentido de que a forma pela qual se realiza a inser ção do profissional pode em grande parte marcar ou delimitar o destino do trabalho posterior que realize ou que não possa realizar Necessitamos elaborar técni cas de inserção grupal para o trabalho grupal além de estudar e de pôr em prática técnicas de desinserção ou desenraizamento de nossos padrões atuais e reconheci dos nos quais nos movemos com facilidade Percebemos assim muito mais claramente como o que fazemos e a forma como o fazemos não é só uma ati vidade mas também parte de nossa personalidade e que uma mudança de conhecimentos ou técnicas bem co mo uma mudança na administração desses recursos signi fica uma crise na estrutura de nossa própria personalidade Até agora nossas técnicas de grupo são sobretudo uma finalidade em si mesmas porém uma mudança na administração pode levarnos a entender que são técni cas que podem ser utilizadas dentro de outros contex tos e outras finalidades Assim por exemplo o trabalho diagnóstico dentro de uma instituição requer conheci mentos e uma estratégia dentro dos quais as técnicas de grupo constituem um dos recursos ou poderseia di zer recurso por antonomásia até agora mas que de to da maneira se conhecemos só essa técnica não domi namos a estratégia do trabalho institucional nossa ati vidade na prevenção primária verseá seriamente afe tada e inclusive impossibilitada de se desenvolver Até agora no campo da psiquiatria dinâmica no que concerne especificamente aos conhecimentos e técni cas de dinâmica de grupo podemos assemelharnos a pessoas possuidoras de riquezas mas que ao mesmo tempo não podem aplicáIas de maneira frutífera Não se é rico em conhecimentos pelo simples fato de pos suílos mas fundamentalmente pela forma de aplicá los E este é um dos problemas críticos e chave que en frentamos na dinâmica de grupo Todos esses aspectos psicológicos da nossa própria condição de profissionais administrando nossos recur sos de uma maneira particular ou limitada não são pro blemas acessórios e se não entendermos isso teremos dificuldades para compreender quando por exemplo no trabalho institucional podemos trabalhar com os pro blemas ou as situações psicológicas que um grupo en frentapara administrarou administrarseusrecursos Que ro insistir em que essa mudança que postulo e apóio é imprescindível mas só estaremos em condições de fa zêIa eficientemente ao compreender cada vez melhor a psicologia de grupo envolvida em nossa própria admi nistração e o que significa psicologicamente para um grupo profissional uma mudança na administração dos seus recursos ou na sua organização Estou plenamente convencido de que a cada tipo de administração corresponde um tipo de problema e um nível de conhecimento tanto como um desenvolvimen to técnico próprio e que uma mudança na administra ção não é somente um aspecto formal ou secundário mas que implica necessariamente uma mudança de pers pectivas uma ampliação de problemáticas um aprofun damento e uma reelaboração de teorias um aperfeiçoa mento das nossas técnicas assim como também a in clusão das técnicas de grupo num capítulo mais amplo de estratégias Essas significam por exemplo no tra balho institucional que não só devemos conhecer teoria e técnicas de grupo mas também saber diagnosticar situações e distinguir o grupo sobre o qual se deve atuar numa organização assim como selecionar o tipo de téc nica adequada para esse grupo para as funções que rea liza e a problemática que enfrenta Aqui o decisivo pode ser o setor em que trabalha o psiquiatra e não a técnica de grupo Isto pode exigir de nós um esforço comple mentar uma vez que esse tipo de avaliaçãonão é impres cindível nas condições nas quais trabalhamos atualmen tejá que na prática privada ou no hospital cada um pode aperfeiçoarse em uma técnica e aplicáIa aos pacien tes embora no trabalho com a prevenção primária a es colha do grupo em função do diagnóstico da organização seja um problema fundamental que nas atuais condições em que exercemos não tem vigência como problema Poderseá alegar que o trabalho na prevenção pri mária exige de nós certos conhecimentos humanistas sociológicos econômicos antropológicos etc e con cordo que isso é de fato necessário com isso teríamos de dirigir nossos esforços também para uma mudança na formação dos técnicos em dinâmica de grupo Outra objeção que tenho ouvido com freqüência assinala que o trabalho do técnico em dinâmica de grupo vai con fundir seus limites com os do psicólogo social do psi cólogo clínico do antropólogo ou de outros profissio nais que também utilizam técnicas de grupo Conside ro isso verdadeiro mas não me inquieta e mais do que como uma desvantagem vejoo como uma vantagem Embora com o risco de provocar mais desânimo do que entusiasmo por uma tal mudança na administração tenho de me referir a outras implicações que exigem um esforço não menor do que as exigências que expus anteriormente Já não será suficiente conhecer como conhecemos a dinâmica e as técnicas de grupo mas teremos de apren der a psicologia do ócio a psicologia do trabalho a psi cologia da organização etc O trabalho com o grupo numa instituição em função da prevenção primária não tende à cura mas sim às pos sibilidades de desenvolvimento das capacidades e ati tudes dos seres humanos Contudo isto pode chocarse ou entrar em conflito com as funções da instituição e então depararemos não só com a resistência de um gru po mas com uma resistência da organização Mencionei em outro lugar que em toda organiza ção chega um momento em que a manutenção da orga nização pode entrar em conflito e ganhar terreno sobre os objetivos para os quais foi criada quer dizer que os grupos de seres humanos que integram uma organização tendem em um dado momento mais do que a cumprir os objetivos da organização a satisfazer necessidades psicológicas Aqui defrontamonos com uma aparente contradição já que se isto é certo as necessidades psi cológicas estão satisfeitas nossa participação ou inter venção na prevenção primária das organizações não te ria sentido porém esta contradição é apenas aparente já que temos necessidades psicológicas que correspon dem à dinâmica do grupo primário mas também temos as que correspondem ao grupo secundário Podemos trabalhar na prevenção primária em fun ção daquilo que de modo geral poderíamos chamar a eficácia e a produtividade Nesse sentido a experiên cia mostranos que quando somos chamados a uma or ganização porque seus objetivos explícitos não estão sen do cumpridos na medida desejada ou possível nossa tarefa se aceitamos o motivo da consulta como legíti mo e não percebemos o seu objetivo latente geralmen te se reduz a transformar grupos primários em secundá rios ou seja a conseguir uma formalização mais rígida da organização e dos modelos institucionais dentro de la Evidentemente isso pode acontecer e freqüente mente acontece possuímos conhecimentos e técnicas suficientes para atingir em parte esses objetivos co mo por exemplo melhorar o nível dos vendedores de uma empresa fazendo com que vendam mais ou fazer uma seção de fábrica produzir mais ou produzir elemen tos de melhor qualidade Mas embora isso seja possível precisamos considerar que tendo aceitado esses objetivos e estas finalidades não estamos trabalhando em função da prevenção primária mas ao contrário como agentes de uma organização que utiliza nossos conhecimentos para que sejam utilizados os seres humanos que a integram Existem formas de trabalhar no campo da prevenção primária sem que isso aconteça mas trazem necessa riamente complicações que às vezes levam à segrega ção do terapeuta e ao fracasso de sua intervenção Existem casos em que o problema das organizações é totalmente oposto já que às vezes somos consultados para intervir em organizações muito formais e rígidas de modo que somos solicitados a intervir como agentes de mudança para introduzir o grupo primário sufocado Ainda nesses casos nossa tarefa não é fácil nem está li vre de complicações e problemas de todo tipo Devemos entender que em toda organização a pró pria organização faz parte é parte da personalidade dos seres humanos que a integram e que mobilizar padrões hábitos e normas de conduta significa mobilizar ansie dades dos indivíduos e dos grupos que a constituem Porém quero ressaltar um aspecto importante é nas or ganizações que as estruturas mais primitivas e a socia bilidade sincrética de quejáfalei estão imobilizadas Se voltarmos agora aos grupos podemos entender o fato de que quando um grupo terapêutico ou um tra balho de grupo para prevenção primária tende a se es tabilizar como organização é porque tende ao mesmo tempo a imobilizar a sociabilidade sincrética e uma par te importante da estrutura grupal ficando assim esta última imobilizada e clivada E Jacques que se ocupou em parte deste proble ma chegou à conclusão de que as instituições servem como defesas das ansiedades psicóticas Minha conclu são é em certa medida coincidente mas também diver gente Coincide no caráter defensivo dinâmico psicoló gico das instituições e organizações mas acredito que nestas últimas se acham diretamente imobilizados os es tratos mais primitivos da personalidade ou a sociabili dade sincrética grupal Se continuamos examinando o problema das técni cas de grupo na prevenção primária podemos citar o ca so em que a nossa intervenção recai sobre a organiza ção como totalidade sobre o seu organograma e não só sobre alguns de seus setores As dificuldades aqui são maiores e exigem um gran de ajustamento das formulações teóricas e de nossa estra tégia na utilização das técnicas de grupo Para dar uma idéia da amplitude desta problemática quero recordar uma formulação que cada vez mais me inclino a consi derar como uma lei geral que uma organização tende a ter as mesmas modalidades que o problema que tem de resolver e a estruturarse dessa forma assim vamos en contrar um círculo vicioso no qual a organização não só não resolve o problema para o qual foi explicitamente criada mas consolida ainda mais a sua existência e para tanto servelhe de ftedback Isto pode parecer um para doxo e num primeiro momento absolutamente incorre to sem dúvida minha experiência e a de meus colabora dores tendem a garantir essa formulação Poderia citar o exemplo de um asilo de velhos que foi criado para miti gar as condições dos anciãos e as características psicoló Administração das técnicas e dos conhecimentos de grupo 137 A estabilização da organização que os grupos tera pêuticos alcançam é genuinamente antiterapêutica ou então é o limite da nossa terapia se não enfrentamos uma desorganização de tais grupos E a experiência de monstra que esse é o momento crítico em que o grupo se dissolve com racionalizações ou com uma concep ção maníaca da cura tanto por parte do grupo como por parte do terapeuta Esse problema atinge o seu ponto culminante quan do trabalhamos no campo da prevenção primária com técnicas de grupo dentro de uma organização uma vez que inevitavelmente o trabalho de grupo realizado em profundidade e em benefício dos seres humanos que in tegram uma organização tende necessariamente a ques tionar e a dissolver ou desagregar a organização No entanto não nos devemos alarmar demais porque quan do se está para alcançar esse ponto geralmente somos segregados da organização ou nos segregamos espon taneamente seja com uma sensação de fracasso ou com racionalizações Por outro lado posso assegurar que os problemas reais são muito mais complicados e difíceis do que o que selecionei aqui já que por razões didáticas apre sentei uma linha esquemática de desenvolvimento e pro curei apresentar as situações mais simples mas omiti muitas situações e problemas justamente em função de um objetivo didático Sei que não ofereço soluções fáceis e às vezes nem sequer soluções difíceis mas elas só podem emergir no melhor dos casos de uma proposição correta dos proble mas que devemos enfrentar e com isso entendo assim mesmo que estamos envolvidos como agentes de mudan ça mas também como agentes que asseguram uma orga nização que constitui uma resistência à mudança gicas já conhecidas privação sensorial incomunicabili dade paralisação pela angústia de morte etc E sem dú vida a organização tem em sua totalidade embora dentro dos mesmos conjuntos ou stafJs do organograma as mes mas características de incomunicabilidade privação sen sorial bloqueio diante da morte etc Esse exemplo serve também para ilustrar como a instituição ajuda a que se depositem nela justamen te tanto o que se quer resolver como os aspectos da so ciabilidade que caracterizei como sincrética É óbvio que nestas condições a tática no trabalho de grupo no campo da prevenção primária tem de se di rigir mais às estruturas da organização fundamental mente aos stafJs administrativos executivos terapêuti cos etc Todavia não precisamos afastarnos muito para en contrar um exemplo muito próximo de nós que é o da luta permanente que se faz necessária num hospital psi quiátrico para que ele não promova a alienação a margi nalização e a segregação dos doentes mentais caracte rísticas que a instituição deveria resolver mas que sem dúvida consolida