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Boaventura de Sousa Santos UM DISCURSO SOBRE AS CIÊNCIAS 12ª edição EDIÇÕES AFRONTAMENTO Este texto é uma versão ampliada da Oração de Sapiência proferida na abertura solene das aulas na Universidade de Coimbra no ano lectivo de 198586 1ª edição Julho 1987 2ª edição Novembro 1988 3ª edição Outubro 1990 4ª edição Dezembro 1990 5ª edição Novembro 1991 6ª edição Maio 1993 7ª edição Janeiro 1995 8ª edição Março 1996 9ª edição Abril 1997 10ª edição Setembro 1998 11ª edição Maio 1999 12ª edição Janeiro 2001 Título Um Discurso sobre as Ciências Autor Boaventura de Sousa Santos 1987 B Sousa Santos e Edições Afrontamento Edições Afrontamento Lda R da Costa Cabral 859 4200225 Porto Colecção História e Ideias 1 No de edição 280 ISBN 9722121715 Depósito Legal 1689887 Impressão e acabamento Rainho Neves Lda Santa Maria da Feira Estamos a quinze anos do final do século XX Vivemos num tempo atónito que ao debruçarse sobre si próprio descobre que os seus pés são um cruzamento de sombras sombras que veem do passado que parapensamos já não sermos ora pensamos não termos ainda deixado de ser sombras que vêm do futuro que ora pensamos já sermos ora pensamos nunca virmos a ser Quando ao procurarmos analisar a situação presente das ciências no seu conjunto olhamos para o passado a primeira imagem é talvez a de que os progressos científicos dos últimos trinta anos são de tal ordem artificiosos que os séculos que se nos precederam desde o século XVII onde todos nós cientistas modernos nascemos até ao próprio século XIX não são mais que uma préhistória longínqua Mas se fecharmos os olhos e os voltarmos a abrir verificamos com surpresa que os grandes cientistas que estabeleceram e imprimiram o paradigma que os cientistas modernos continuam a seguir C Darwin J J Thomson R Virchow G Mendel Lavoisier D Bernouilli Faraday Hertz Planck Einstein Curie Bohr Heisenberg Schrödinger viveram noutra época num outro século Por isso pelos menos até à última quarta parte do século XX Durkheim Smith e Ricardo Lamarck e Darwin de Marx e Adam Smith e Ricardo a Lavoisier e Planck e Durkheim a Max Weber e Pareto de Humboldt e Poincaré e Einstein E de tal modo é assim que é possível dizer que em termos científicos vivemos ainda no século XIX e que o século XX ainda não começou nem talvez comece antes de terminar E se em vez de no passado centrarmos o nosso olhar no futuro do mesmo modo duas imagens contraditórias nos ocorrem alternadamente Por um lado as potencialidades actuais do tecnomeio da biotecnologia dos computadores e acoplados e das redes de comunicação limiar de uma sociedade de comunicação e interactiva liberta das carências e inseguranças que ainda hoje compõem os dias de muitos de nós o século XXI a começar antes de começar Por outro lado uma reflexão dessas três características nos conduz a outra pergunta ao rompemos o tempo profundo e fácil de entender Para lhe dar resposta do tempo costumeiro e frívolo esse passa a ser imprescindível para a ciências e da arte sabe que falta algo Jacques Rousseau no seu célebre Discours sur les Sciences et les Arts 1750 formula várias questões enquanto responde à que também razoavelmente infalível lhe fora posta pela Academia de Dijon 1 Esta última questão rezava assim o progresso das ciências e das artes tem purificado ou corrompido os costumeiros França se uma pergunta ao tempo que JeanJacques Rousseau revela que falta Também é o presente que nos motiva a fazer três perguntas que multo já ultrapassaram a nossa época Primeira pergunta que razão tínhamos para continuar a dar valor aos parâmetros da ciência moderna saída da revolução científica do século XVI e XVII quando a teoria e a prática se tornam cada vez mais dissociadas Segunda pergunta como se explica que a ciência moderna ao mesmo tempo que se apresenta como universalmente válida tenha produzido por vezes efeitos sociais contrários Terceira que podemos fazer para diminuir o fosso crescente na nossa sociedade entre o que se e o que se aparenta ser o saber dizer e o saber fazer entre a teoria e a prática Perguntas simples a que Rousseau respondeu de modo implícito em menos de um quarto de século Estávamos então em meados do século XVIII numa altura em que a ciência moderna saída da revolução científica do século XVI pelas mãos de Copérnico Galileu e Newton começava a deixar os cálculos esotéricos dos seus cultores para se transformar no fenómeno da transformação técnica e social sem precedentes na história da humanidade Uma fase de tranformação provavelmente a mais complexa que já ocorreu na história da humanidade que nos é possível dizer com alguma segurança está longe de ter terminado 1 JeanJacques Rousseau Discours sur les Sciences et les Arts In Oeuvres Complètes vol 2 Paris Seuil 1971 p 52 e ss Por muitos de estamos numa fase de transição Daí finalrnente a evidência de dar resposta a perguntas simples elementares inteligíveis mas profundas na nossa perplexidade individual e coletiva como a transparência técnica de uma figa como assim as perguntas de Rousseau terão de ser assim as nossas Mais do que isso luzentos e tal anos depois às nossas perguntas continuaram a ser as de Rousseau Estamos de novo regredindo à necessidade de perguntar às fases de estar entre ciência normal e revolução o conhecimento dito ordinário ou vulgar que nós sujeitos individuais ou colectivos criamos e usamos para dar sentido às nossas práticas e que a ciência tinha em considerar irrelevante ilusório e falso e temos finalmente de perguntar pelo papel de todo o conhecimento científico acumulado no enriquecimento ou no empobrecimento prático das nossas vidas ou seja pelo contributo positivo ou negativo da ciência para a nossa felicidade A nossa diferença existencial em relação a Rousseau é que se as nossas perguntas são simples as respostas sêloão muito menos Estamos no fim de um ciclo de hegemonia de uma certa ordem científica As condições epistemicas da nossa passagem para outras estágios já são impossíveis no avanço com esforce do desvendamento conduzido sobre um fio de navalha entre a lucidez e a iminteligibilidade da resposta São igualmente diferentes e muito mais complexas as condições sociológicas e psi cológicas do nosso perguntar É muito diferente perguntar pela utilidade ou pela inutilidade que outuma intolin de progressão e proporção se delega a outra festa amanhã Da minha vizinhança tenho outro imóvel quando toda a gente tem excepto eu ou quando eu próprio tenho carro há mais de vinte anos Teremos forçosamente de ser mais rousseauinianos no perguntar ou no responder Começarei por caracterizar sucintamente essa hegemonia distinguiendo nesta breve exposição as condições da crise condições sociológicas da crise finalmente espedular sobre o fil de uma nova ordem cientifica emergente distinguindo de novo entre as condições teoricas e as condições sociológicas da sua emergência Percurso analitico será balizado pelas seguintes hipóteses de trabalho O conceito tanto de revolução quanto de ciência ciência sociais terceiro para isso as ciências sociais térido de recusar todas as formas de positivismo lógico ou empírico ou de mecanicismo materialista ou idealista com a consequente revalidação do que se convencionou chamar humanidades ou estudos lógicos é esta a sua característica fundamental e a que melhor Humanísticos quatro esta síntese não visa uma ciência unificada nem sequer uma teoria geral mas tão só um conjunto de galerias temáticas onde convergem linhas de água que até agora Concebe mos como objectos teóricos estanques quinto à medida que se der esta síntese a distinção hierárquica entre conhecimento científico e conhecimento vulgar tenderá a desaparecer e a prática será o que fazer e o dizer da filosofia da prática O PARADIGMA DOMINANTE O modelo de racionalidade que preside à ciência moderna constituise a partir da revolução científica do século XVII e é desenvolvido nos séculos seguintes basicamente no domínio das ciências naturais Ainda que com alguns prenúncios no século XVIII é só no século XIX que este modelo de racionalidade se estabelece nas ciências sociais emergentes A partir de então pode falarse de um modelo global de racionalidade científica que identifica a realidade com a objetividade do conhecimento a ciência enquanto conhecimento não científico e portanto irracional potencial mente perturbadoras e intrusas o senso comum e as chamadas humanidades ou estudos humanísticos em que se incluíram entre outros os estudos históricos filológicos jurídicos literários filosóficos e teológicos A nova racionalidade científica nega também um modelo global de conhecimento que se apoia nos princípios epistemológicos e pelas suas regras metodológica é esta a sua característica fundamental e a que melhor satisfação com o progresso que julgo ter feito em busca da verdade e de conceber tais esperanças para o futuro que se entrará ocupação dos homens puramente homens alguma há que seja solidamenta e importante ouso crer que aquela que escolhi 3 é a compreensão científica epistemológica e necessária Entretanto o elemento central da principal questão é o novo conteúdo Descartes Está preocupação em testemunhar uma ruptura fundante que possibilita uma só forma de conhecimento verdadeiro está bem patente na atitude mental dos protagonistas no seu espanto perante as próprias descobertas e a extrema ao mesmo tempo serena arrogância com que se empenham com o seu poderoso para ilustrar as formas de dogmatismo e de escravo no seu próprio método para apontar a limitaneidade dos saberes antigos me parecerem dever ser preferidas às dos outros e encomendarme a mim própria a tarefa de conduzirme a mim pró perseverarei O meu livro pode esperar muitos séculos pelo leitor Mas mesmo Deus teve de esperar seis 2 anos por aqueles que redigiram a sua autobiografia espiritual que é o Discurso do Método a que voltarei mais tarde diz referindose ao método por si encontrado Porque já colhi dele tais frutos que embora no juízo que faço de mim próprio procure sempre inclinarme mais para a desconfiança do que para a presunção embriagado de glória Cf Fernando Galván René Descartes e seus compromissos com o racionalismo ESE nº 8 out 82 pp 1112 So o conteúdo é que me parece vá e inútil não deixo de receber uma extrema 2 Consultada a edição alemã introdução e tradução de Max Caspar Johannes Kepler WeltHarmonik Munique Verlag Oldenbourg 1939 p 280 3 Descartes Discurso do Método e as Paixões da Alma Lisboa Sá da Costa 1984 p 6 4 Descartes ob civ p 16 5 Einstein in Galilei Diálogo e Concerning the Two Chief World Systems Berkeley Califórnia 1970 p XXIV 6 Consultada a redacção espanhola impressa na Traduzida por Callach Palés F Bacon Novum Organum Madrid Nueva Biblioteca Filosófica 1982 A expressão isponível no suplemento no decimo sexto volume da Enciclopédia Encarta 7 Cf A Koyré Considerações sobre Descartes Lisboa Presença 1981 p 30 acha insustentáveis e ainda Einstein quem nos cham a atenção para o facto dos métodos experimentais de Galileu serem tão imperfeitos que só por via de especulações e deduções poderiam reparar havía lacunas entre os dados empíricos basta recordar que não seu medidas de tempo inferiores ao segundo 8 Descartes por das coisas vai inequivocamente das ideias para às coisas e não enquanto fundado As ideias que presidem à obsera a experimentação são às ideias claras e claras e a experimentação são às ideias claras e pésidas a observação a experimentação conhecimento simples a partir das quais se pode acender a um conhecimento mais profundo e rigoroso da natureza Essas ideias são as ideias matemáticas A matemática fornece à ciência moderna não só o instrumento privilegiado de análises como tam pondente A lógica da investigação como alavanca para a Galileu na reprenção ção de um entendimento definido para a Galilleu até o livro representà pença da lógica da investigação 9 Einstein não ção da lógica da investigação referências geométricos 9 e Einstein não pensa de modo diferente 10 Deste lugar central da matemática na 8 Einstein ob cíl p XIX 9 Entre muitos outros passos do Diálogo sobre os Grandes Sistemas médica em que antes de termo do século XX a representação matemática na física de uma parte já que a ciência matemática comporta a geometria e que a inteligência humana compreende algumas das perfeta mente impõe à parte que diz respeito às leyys da física tem de admitir que a física é tão a geometria e da aritmética nas quais a inteligência divina conheça infini tais propriedade porque as conhece todas Mas no que respeita a primeira a mente humana é limitada mas quanto o conhece que se recomenda em conjunto O monte é igual ao Divino em certeza objectiva porque nesses casos consegue compreender a necessidade para além da qual não há maior certeza Galileu 10 A admiração de Einstein por Galileu está bem expressa no prefácio ciência moderna derivam duas consequências principais Em pri meiro lugar a ciência não signifícada quantificar O rigor científico albergase pelo rigor das medições As qualidades intrínsecas do objeto são por isso das desqualificadas em seu lugar passam a impre rar as quantidades em que eventuamente se podem traduzir O que não é quantificável e cientificamente irrelevante Em segundo lugar o método científico assentat na análise do poder completamen colocado na tomada do poder sendo compreendido a cientificar poder determnar relações sistemáticas entre o que se separou já Em Descartes umas das regras do método consiste precisamente em dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quanto for possível e querer para melhor resolver Resolvendo as difficultés part mundas que surgem por incidentes secundários e alis da natur rezas As condições iniciais são o reino da complicação do acidente e onde é necessário seleccionar as que estabelecem às condições relevantes dos factos a observar as leis da natureza são o reino dá simplicidade e da regularidade onde é possível observar e medir rigor Esta distinção entre fenóis naturais e leis da natu reza nada completa o entendimento como bem sugerem Wigner e Maltut assenta toda a ciência moderna referido na nota 5 O modo radical e institilivo como Einstein wva a natu reza matemática da estrutura da matéria explica em parte a sua longa bata lha sobre a interpretação da mecânica quântica é pectamente concretas e inspiradas e interpretadas Cfr B Hoffmann Albert Einstein Creator and Rebel Nova Iorque New American Library 1973 p 173 e ss 12 E Wigner ob cíl p 118 11 B Wittgenstein Philosophies and Reflections Scientific Essays Cambridge Cambridge University Press 1970 p 3 constelas construir estrutura ao substituir a mundança fenomenolo do toda a funçãocomportamento É um conhecimento causal que aspira à formulação de leis à luz de regularidades observadas com vista à perfeição das leis à compota mento futuro dos fatos e como as descobertas das leis são como uma humaniza dissença por um lado e como ás reflecções ao isolamento das con oções iniciais relevantes por exemplo no caso da queda dos cor poç a posição inicial e a velocidade do corpo em queda e por outro tendente do lugar e do tempo em que se realizarem as condiçoés ini cias por outro a análise descoberta das leis humanas não assenta na pressuposta absoluta do tempo absoluto nunca nas condições iniciais relevantes Este princípio é segundo Wigner o mais importante teorema da invariánica na física clássica 13 As leis enquanto categorías inteligibilidade repousam num conceio de causalidade ecológica não arbitrariamente entre os ofecres da matéria a causa formal a causa eficiente e a causa última de causas As leis da ciência moderna são um tipo de causa formal que privilegia o como funciona das coisas em detrimento de qual o agente ou qual o fim das coisas E por esta via que o conhecimento cientifico rompe com o conhecimento do senso comum É que enquanto no conhecimento do senso comum a contingência plático em quanto no compreende o raso público mas na ciência a determinação da causa formal obtémse com a expulsão da intencão É este tipo de causa formal que permite pre ver e portanto intervir no real e que em última instância permite preside ao estudo dos fenómenos naturais Para estudar os fenómenos sociais como se fossem fenómenos naturais ou seja para conce M 22 Iluchstraç orgânica de Durkheim Daí que o prestígio de Newton e das leis simples a que reduzía toda a complexidade da ordem cósmica tenham convertido a ciência moderna no modelo de racionalidade hegemónica e pouco e pouco a pouco no modelo de objecto de estudo da na tu rez para estudo da sociedade tal como foi possível o estudo das sociedades leis da natureza seria igualmente possível descobrir as sai dades Bacon Vico e Montesquieu são grandes precursores Bacon afirma a plasticidade da natureza humana e por tanto a sua perfec tidalidade dadas as condições sociais jurídicas e políticas adequa das condições que é possível determinar com rigor 15 Vico sugere a existência de leis que governam certas realidades quino nau sicas das sociedades e tornam possível prever os resultados e collectivas Com extraordinária prenomica Vico identifica e resolve a contradição entre a liberdade e a imprevisibilidade da ação humana individual e a determinação é previsibilidade da ação social Montesquieu pode ser considerado um precursor da sociologia do direito estabelecendo as linhas mestras possíveis da natura 17 jurídica feitas pelo homem as leis inescapáveis da natureza A natureza teórica do conhecimento científico decorre dos pressupostos epistemológicos e das regras metodológicas já refe ridas É um conhecimento causal que aspira à formulação de leis à luz de regularidades observadas com vista à perfeição das leis à compota mento futuro dos fatos e como as descobertas das leis são como uma humaniza dissença por um lado e como ás reflecções ao isolamento das con oções iniciais relevantes por exemplo no caso da queda dos cor poç a posição inicial e a velocidade do corpo em queda e por outro tendente do lugar e do tempo em que se realizarem as condiçoés ini cias por outro a análise descoberta das leis humanas não assenta na pressuposta absoluta do tempo absoluto nunca nas condições iniciais relevantes Este princípio é segundo Wigner o mais importante teorema da invariánica na física clássica 13 As leis enquanto categorías inteligibilidade repousam num conceio de causalidade ecológica não arbitrariamente entre os ofecres da matéria a causa formal a causa eficiente e a causa última de causas As leis da ciência moderna são um tipo de causa formal que privilegia o como funciona das coisas em detrimento de qual o agente ou qual o fim das coisas E por esta via que o conhecimento cientifico rompe com o conhecimento do senso comum É que enquanto no conhecimento do senso comum a contingência plático em quanto no compreende o raso público mas na ciência a determinação da causa formal obtémse com a expulsão da intencão É este tipo de causa formal que permite pre ver e portanto intervir no real e que em última instância permite preside ao estudo dos fenómenos naturais Para estudar os fenómenos sociais como se fossem fenómenos naturais ou seja para conce M 22 Iluchstraç ber os factos sociais como coisas como pretendia Durkheim 18 o fundador da sociologia académica é necessário reduzir os factos sociais às suas dimensões externas observáveis e mensuráveis As causas do aumento da taxa de suicídio na Europa do virar do século não são procuradas nos motivos invocados pelos suicidas e deixamse em contas como é costume mais atras a partir da verificação de dos em cartas correspondências e até mesmo o estado regularidade na união de filhas a religião dos suicidas 19 porque essa redução nem sempre é fácil e nem sempre se con cívil a existência de Porque essa redução nem sempre é fácil e nem sempre se con segue sem distorcer grosseramente os factos ou sem os reduzir à quase irrelevância as ciências sociais têm um longo caminho a percorrer no sentido de se compatibilizarem com os critérios de cientificidade clássica 19 Só o bastar com a ciência anos mais não são insuficientes Ernest Nagel em The Structure of Science simboliza bem o esforço desenvolvido nesta variante para identificar os obstáculos e abrir as vias da sua superação Eis alguns dos principais obstáculos que as ciências sociais não dispõem de teorias explicativas que lhes permitam abstrair do real para depois buscar relações lógicas que expliquem adequadamente as sua as ciências sociais historicamente condicionados e cultural os fenómenos sociais não podem estabelecer leis universais porque evidentemente determinadas as ciências sociais não podem produzir pre visões fiáveis porque os seres humanos modificam o seu comport tamento em função do conhecimento que sobre ele se adquiriu os fenómenos sociais são de natureza subjectiva e é por isso que se deixam captar pela objectividade do comportamento as ciências 18 E Durkheim As Regras do Método Sociológico Lisboa Presença 1973 19 E Durkheim O Suicídio Lisboa Presença 1973 1980 sociais não são objectivas porque o cientista social não pode libertarse no acto de observação dos valores que informam a sua prá Em rtica em geral e portanto também a sua prática de cientista 20 entração a cada um destes obstáculos Nägel tenta demons trar que a oposição entre as ciências sociais e as ciências naturais não é linear neste se julga que a explicação que a ciência natural da rrenças estas superáveis e equili genáveisReconhece no então se estabelecer entre estas duas áreas não é tão fácil nem linear não essa é a razão principal do atraso das ciências sociais em relação às ciências naturais A ideia do atraso das ciências sociais é a ideia central da argumentação metodológica nesta variante e com ela a ideia de que essas ciências perdem tempo e dinheiro poderá vir a ser reduzido ou mesmo eliminado Na teoria das revoluções científicas de Thomas Kuhn o atraso das ciências sociais é dado pelo carácter préparadigmático destas ciências ao contrário das ciências naturais essas sim paradigmáti cas Enquanto nas ciências naturais o desenvolvimento do conhecimento é processível e formalizável a um nível de um conjunto de teorias sobre a estrutura da matéria que seja aceite sem discussão por toda a comunidade científica conjunto que designa por paradigma nas ciências sociais não há consenso paradigmático pelo que o debate tende a atravessar verticalmente toda a espessura do conhecimento adquirido O esforço e o desgaste das ciências sociais são de facto estruturados pelas ciências sociais um esta 20 Ernest Nagel The Structure of Science Problems in the Logic of Scientific Explanation Nova Iorque Harcourt Brace World 1961 p 447 e ss são segundo esta vertente intransponíveis Para alguns é a própria ideia de ciência da sociedade que está em causa para outros perceções de espaço e de tempo Não havendo simultaneidade condições teóricas Darei mais atenção às condições teóricas e por fundamental é que a acção humana é radicalmente subjectiva O comportamento humano ao contrário dos fenómenos naturais não pode ser descrito e muito menos explicado com base nas suas razões pelo carácter correctivo e objectivável uma vez que o mesmo facto externo da acção ou actividade se manifesta de forma diferente objectiva como as ciências naturais tem de compreender os fenómenos sociais a partir das atitudes mentais e do sentido que os agentes conferem às suas acções Para o que é necessário utilizar métodos de investigação nos mesmos critérios epistemológicos dife rentes dos correntes mas que não são qualitativos nem quantita tivos com vista à obtenção de um conhecimento objectivo descritivo e compreensivo em vez de um conheci mento subjectivo explicativo e normotético lógica teórica Esta concepção de ciência social reconhecese numa postura epistemológica assente na tradição filosófica da fenomenología e relativamente aos limites destaca as mais moderadas como a de Max Weber 21 até às mais extremas como a de Peter Winch 22 Contudo numa reflexão mais aprofundada esta concepção tal como tem vindo a ser elaborada revelase mais subsidiária do modelo de racionalidade das ciências naturais do que parece Partilha com este modelo a distinção naturezaser humano e tal como ele tem da natureza uma visão mecanicista à qual contrapõe 21 Max Weber Methodologischen Schriften Frankfurt Fischer 1968 22 Peter Winch The Idea of a Social Science and its Relation to Philosophy Londres Routledge e Kegan Paul 1970 dad e evolução explicase por flutuações de energia que em determina minados momentos nunca inteiramente previsíveis desencadeiam espontaneamente reacções que por via de mecanismos não lineares pressionam o sistema para além de um limiar de instabilidade e o envolvem numa mudança macroscópica Esta estabilidade e irreversibilidade é termodinâmica e o resultado da interação de processos microscópicos segundo uma lógica de auto oração ou seja o ponto crítico em que a mínima flutuação de energia pode conduzir a novo estado representando a potencialidade de energia de sistema em estado n para o novo estado de menor entropia já potencialidade do sistema para o estado novo representando a potencialidade de energia e da natureza que propõe uma concepção da matéria vel que lhe vem dando a mesma classificação de permanência mecanicismo a ideia de destino a imprevisibilidade em vez da interpretação a espontaneidade e a autoorgani zação em vez da ordem a desordem em vez da necessidade a criatividade em vez da causalidade conceito de emergência e con e o acidente A teoria de Prigogine recupera fundamentalmente os resultados dos conceitos clássicos do potencialidade e vir tuabilidade na física científica do século XVI parecia ter ati rado definitivamente para o lixo da história 28 I Prigogine e I Stengers La Nouvelle Alliance Métamorphose de la Science Paris Galimard 1979 I Prigogine From being to Becoming St Francisco Freeman 1980 I Prigogine Time Irreversibility and Thermodynamics J Bailschatz orgt The Evolutioning Vision Boulder Westview Press 1981 p 73 e ss A formulação das leis da natureza fundase na idéia de que os fenômenos observados independem de tudo exceto de um conjunto menor ou menos observado pequeno de condições as condições iniciais cuja inobservância é observada em medida Esta idéia reconhecese hoje obriga a separação dos possíveis em classes separadas em que a verificação alías são sempre provisórias e precárias e sempre produto de uma da não interferência de certos factores e sempre produto de um conhecimento imperfeito por mais perfeito que seja As leis têm um carácter probabilístico aproximadamente e provisório bem assim um carácter probabilístico aproximativo e provisório bem assim um carácter processual da falsificabilidade de Popper Mas acima de tudo simplicidade das leis constituindo uma simplificação arbitrária da realidade que nos confirma a um horizonte limitado do qual outros conhecimentos da natureza provavelmente mais ricos e com mais interesse humano ficam por conhecer Na biologia onde as interacções entre fenómenos e formas de autoorganização emada das ciências da complexidade surgem também como mais visíveis mas também mais dificultadas não menos ricas são mais até parciais e sucessivas Isto se estivermos rigorosamente a falar da hipótese de um modelo evolucionário com mutações selecção e deriva genética o que nos distinção sujeitóobjecto e muito mais complexa do que a primeira vista pode parecer A distribuição perde os seus contornos dicotómicos e assume a forma de conhecimento dis o conhecimento do conhecimento do conhecimento passado saído do passado regressado até as últimas das coisas estas com o conhecimento de nós próprios A segunda faceta desta reflexão é que ela abrange questões que antes eram debatidas aos sociólogos A análise das condições sociais dos contextos culturais dos grupos organizacionais e da investigação científica Antes acanhada no campo da epistemologia da ciência passou a ocupar papel relevo na reflexão epistemológica do conteúdo desta reflexão respeitará a título ilustrativo alguns dos temas principais Em primeiro lugar são questionados o conceito de lei e o conceito de causalidade que lhe está associado 23 1970 p 23 e ss F Capra Quarks physics without quarks A review of recent developments in Smatrix theory American Journal of Physics 47 1979 p 11 e ss podem reduzir simultaneamente os erros da medição da velocidade e da posição das partículas o que foi feito para lucro e para prejuízo das medições instrumentais como mostrou o físico húngaro de origem austríaca do princípio da interferência estrutural do sujeito e da posição das partículas 26 Este princípio determina o fluxo de energia das medições como não reciclagem soma das partes em que dividimos e valorizamos nos resultados observáveis Por outro lado a hipótese do indeterminismo mecanicista prevê a minha realidade do observado e dos resultados das medidas isto é este rigor da medição posto em causa pela mecânica quântica será ainda um fundamento do visto que a medição é expressa ou seja o rigor da matemática como qualquer outra forma de rigor assenta a priori num critério de selectividade e que como tal tem um lado constitutivo e um lado de estrutura teórica da crise do paradigma newtoniano e da problematizar criativamente estes temas e reconhece hoje que o rigor matemático como qualquer outra forma de rigor assenta a priori num critério de selectividade e que como tal tem um lado constitutivo e um lado de estrutura teórica da crise do paradigma newtoniano e da constituição pela análise do rigor e da matemática nos últimos vinte anos A título de exemplo menciono as investigações do físicoquímico Ilya Prigogine A teoria das estruturas dissipativas é o princípio da ordem através de flutuações que se observa em sistemas abertos ou seja em sistemas que funcionam nas margens da estabilidade regras da lógica matemática e possíveis formula proposições indecisíveis proposições que se não podem demonstrar nem refutar sendo que uma dessas proposições é precisamente a que postula o 26 W Heisenberg A Imagem da Natureza na Física Moderna Lisboa Livros do Brasil sd W Heisenberg Physics and Beyond Londres Allen and Unwin 1971 Finalmente uma forma de rigor que ao afirmar a personalidade do cientista destrói a personalidade da natureza Nestes termos o conhecimento ganha em rigor o que perde em riqueza e retorno bancia dos êxitos da intervenção tecnológica esconde os limites da nossa compreensão do mundo e reprime a pergunta pelo seu valor humanista inscrita na própria ciência conhecida Esta pergunta está no entanto inscrita na própria função da ciência moderna uma relação que interioriza o sujeito à custa da exterioirzação do objecto tornandoos estanques e incomunicáveis Os limites deste tipo de conhecimento são assim qualitativos não são superáveis com maiores quantidades de investigação ou maior precisão dos instrumentos Alias a própria precisão quantitativa do conhecimento estrutural é limitada Por exemplo no domínio das teorias da informação o teorema de Brillouin demonstra que a informação não é gratuita 38 Qualquer observação é efectuada sobre um sistema físico aumenta a entropia do sistema no laboratório O rendimento de uma dada experiência deve assim apresentar para a relação entre a informação obtida e o aumento concomitante da entropia um máximo Ora segundo Brillouin esse rendimento é sempre inferior à unidade e só em casos raros é próximo dela Nestes termos a experiência rigorosa é irrealizável pois que exige um dispêndio infinito de actividades humanas Por último a precisão é limitada porque se é verdade que o conhecimento só pode progredir pela sua própria especialização o objecto bem representado nas crescentes especializações científicas é exactamente por essa via que melhor se confirma a incredulidade das totalidades orgânicas ou inorgânicas às partes que as 38 L Brillouin La Science et la Theorie de lInformation Paris Masson 1959 Cf também ParainVial ob cit p 122 e ss 36 M Bunge Causality and Modern Science Nova Iorque Publications 3 edição 1979 p 353 The causality principles in short neither a panacea nor a myth it is a general hypothesis susumed under the universal principle of determinism and having an approximate validity in its proper domain of application justioes and in a note teoría de Armando Castro Cfr Teoria do Conhecimento Científico Vols I II Limir 1975 1978 1980 1982 vol V Porto Afrontamento 1987 37 I Prigogine e I Stengers ob cit p 13 Constituem e portanto o carácter distorvivo do conhecimento centrado na observação destas últimas Os factos observados tem vindo a escapar ao regime de isolamento prisional a que a ciência está sujeita Os objectos têm fronteiras cada vez menos definidas são constituídos por anéis que se entrecruzam em teias complexas como os dos restantes objectos a tal ponto que os objectos em si são menos reais que as relações entre eles Ricou dito no início desta parte que a crise do paradigma da ciência moderna se explica por condições teóricas que o acabei ilustreativamente de apontar e por condições sociais Estas últimas não podem ter aqui tratamento detalhado 39 Reflexo das crises e situações que se vivem neste final dos anos 50 e 60 Cientificioc nãoquarenta ou cinquenta anos que a ciencia ganhou em rigor nos últimos quatro ou cinquenta anos perdeu em capacidade de autoregulação As ideias da autonomia da ciência e do desinteresse do conhecimento científico que durante muito tempo constituíram a ideologia espontânea dos cientistas colapsaram perante o crescimento global da industrialização mundial o apertado das décadas sociais e sentimentas tanto nas sociedades capitalistas como nas sociedades socialistas do Estado do leste europeu a industrialização da ciência acarretou o compromisso desta com os centros de poder económico social e político os quais passaram a ter um papel decisivo na definição das prioridades científicas e na aplicação da ciência como ao nível da manifestação e até ao nível das partes que a organização da investigação cientifica Quanto às aplicações as bombas de Hiroshima e Nagasaki foram um sinal trágico a princípio visto como acidental e fortuito mas hoje perante o desastre ecológico e o perigo do holocausto nuclear cada vez mais visto como manifestação de um modelo de produção da ciência inclinado a transformar acidentes em ocorrências sistêmaticas A ciência e a tecnologia tem vindo a revelarse as duas faces desses económicos vão convergindo até quase à indistinsção 40 No domínio da organização do trabalho científico ou industrial essas condições produzidas dois efeitos imediatos para a comunidade científica estatificouse as relações de poder entre cientistas tornaramse mais autoritárias e desiguais e a esmagadora maioria dos cientistas foi submetida a um processo de proletarização no interior dos laboratórios e dos centros de investigação Por outro lado a impessoalização social crescente em infraestrutura anos tornando impossível o livre acesso ao equipamento e aos mostros o que contribui para o aprofundamento do fosso entre países centrais e os países periféricos Paulada pelas condições teóricas e sociais que acabei de referir a crise do paradigma da ciência moderna constitui um pavao cautela de uma família intelectual numerosa e instável mas também criativa e fascinante no momento de se despedir com alguma dor dos lugares conceituais teóricos e epistemológicos ancestrais e intuitivos mas não mais convincentes e securizantes uma despedida em busca de uma vida melhor a caminho doutras paragens onde o 39 Sobre este tema cf Boaventura de Sousa Santos Da Sociologia da Ciencia à Politica Científica Revista Crítica de Ciências Sociais 1 1978 p 11 e ss O PARADIGMA EMERGENTE é uma especiação A configuração do paradigma que se anuncia no horizonte só pode obterse por via especulativa Uma especulação fundada nos sinais que a crise do paradigma actual emite mas nunca por eles determinada Alias como diz René Poirier antes dele disseram Heidegger e Heldge que a crise da ciência global nossos iguais precárias e metafísicas só se conhece retrospectivamente 44 Por isso se já falarmos do futuro mesmo que seja de um futuro que já nos sentimos a percorrer o que dele dissermos é sempre o produto de uma síntese pessoal embebida na imaginação no meu caso na imaginação sociológica Não espanta pois que ainda que com alguns pontífices e adeptos seja hoje plenamente aceita a ideia agora apreendida na ciência por exemplo fala da ciência da vida sentadas Illya Prigogine por exemplo fala das dores metamorfoses da ciência 42 Fritjof Capra fala da nova física e do Taoísmo da física 43 Eugéne Wigner de mudança do segundo tipos 44 Erich Jantsch do paradigma da autoorganização 45 R Poirier prefácio a ParainVial ob cit p 10 42 I Prigogine ob cit 43 I Capra The Tao of Physics Nova Iorque Bantam Books 1976 1984 p 72 e 178 44 F Wigner Jamais Natures Iorque Bantam Books 1983 45 E Jantsch ob cit p 215 e ss Danii Bell da sociedade pócsindustrial 46 Habermas da sociedade comunicativa 47 Eu falarei por agora do paradigma de um comportamento prudente para uma vida decente Com esta designação quero significar que está ameaçada a nova organização científica e cultural Vessamos é estruturalmente diferente da século XVI Sendo uma revolução científica que ocorre numa sociedade e a própria revolucionada pela ciência o paradigma a emergir dela não pode ser apenas um paradigma científico O paradigma de um conhecimento prudente tem de ser também um paradigma emergente através de um conjunto de teses seguidas de justificações e a distinção dicotómica entre ciências naturais e ciências sociais deixou de ter sentido e utilidade Esta distinção assentam nunonacepção mecanicista da matéria e da natureza a que contrapõe com presisuposta evidência os conceitos de ser humano cultura e sociedade Os avanços recentes da física e da biologia põem em causa a distância entre organismo e o inorgânico entre vida e matéria lia limete mesmo o conceito do motor molecular e da reprodução antes consideradas específicas dos seres vivos são hoje atribuídas aos sistemas precelulares de moléculas E quer num quer noutros 46 D Bell The Coming Crisis of PostIndustrial Society Nova Iorque Basic Books 1976 47 J Habermas Theorie des Kommunikativen Handelns 2 vols Frankfurt Suhrkamp 1982 reconhecemse propriedades e comportamentos antes considerados específicos dos seres humanos e das relações sociais A teoria das estruturas dissociativas de Prigogine a teoria sinergética de Haken 13 citadas mais também a teoria da ordem implicada de David Bohm a teoria da matrizZ de Geoffrey Chew e a filosofia do bootstrap que lhe subjaz e ainda a teoria do encontro entre a física contemporânea e o misticismo oriental e o entre a física contmporânea e a linguagem matemática em todas elãs de vocações holísticas e alumas específicas orientadas para superar os conceitos tradicionais Assim as reflexões para uma nova relatividade de Einstein todas estas teorias introduzem na matéria a noção e importância do processo de liberdade de autoreflexão como um espelho já no princípio da década de sessenta e extrapolando a partir da mecânica quântica Eugène Wigner considera que o animado não era uma qualidade diferente mas apenas um caso limite que a distinção corpóalma deixara de ter sentido e que a psicologia acabaria por se fundir com a física Unicamente 48 isto é possível se considerar a mecânica quântica Enquanto está introduziu a consciência no acto do conhecimento nós temos hoje de a introduzir no próprio objecto do conhecimento sabendo que com isso a distinção sujeitoobjecto sofrerá uma transformação radical Num certo regresso ao panpsiquismo leibniziano começa hoje a reconhecerse uma dimensão psíquica na natureza a mente mais ampla de que fala Batison da qual a mente humana é apenas uma parte uma mente imanente 48 E Wigner ob cit p271 ao sistema social global e a ecologia planetária que alguns chamam Deus 49 Geoffrey Chew postula a existência de consciência na natureza como um elemento necessário à autoconsciência desta última e assim for às futuras teorias da matéria terão de incluir o estudo da consciência humana Convergentemente assistese a um renovado interesse pelo inconsciente colectivo imanente à humanidade no seu conjunto a que Jung cada pretendente a as ideias de Jung sobretudo a ideia das sincronicidades para explicar a relação entre a realidade exterior e a realidade interior a confirmar mais pelos recentes conceitos de interacções locais e não locais nas das particulares 50 Tal como na sincronia junguiana as interacções locais são instantâneas e não podem ser previstas em termos matemáticos precisos Não são produzidas por causas locais mas podem poderse falar da causalidade á distância e existem Cópra vê em Jung uma das alternativas teóricas às concepções mecanicistas de Freud e Batison afirma que enquanto Freud ampliou o conceito de mente para dentro permitindonos abranger o subconsciente e o inconsciente é necessário agora ampliálo para fora transcendendo a existência das funções mentais para além dos indivíduos que as possuem A tendência moderna recorda uma implicaday que segundo o seu autor David Bohm pode construir uma base comum tanto à teoria quântica como à teoria da relatividade concebe a consciência e a matéria como interdependentes sem no entanto estarem ligadas por nexo de causalidade São antes duas projecções mutuamente envolventes de uma realidade mais alta que não é nem matéria nem consciência O conhecimento do 49 G Batason Mind and Nature Londres Fontana 1985 50 Cf Imberen M Bungey The Ecology of Knowledge Linking the Natural and Social Sciences Geoforum 16 1985 p213 e ss físiconaturais uma vez formuladas no seu domínio especifico se aplicam ou aspiram a aplicarse no domínio social Assim por exemplo Peter Allen um dos mais sérios colabores de Prigogine tem vindo a aplicar a teoria das estruturas dissipativas aos processos económicos e à evolução das cidades e das regiões 52 Haken salienta as potencialidades da sinergética para explicar situações evolutórias na sociedade 53 É como se o dito de Durkheim se tivesse invertido e sem vez de sermos fenómenos sociais a ser estudados como fenómenos naturais fosse o contrário os fenómenos sócioeconômicos e sociais passassem a ser estudados como fenômenos naturais estudados como se fossem fenómenos naturaiscientíficos O facto de a superação das ciências sociais não é contudo suficiente para caracterizar o modelo de conhecimento no paradigma privilegiado no século XIX atrás das próprias ciências sociais A ciência social é assim uso e atraso das ciências sociais da racional cimentose no século XIX Assim a década das ciências sociais afirmada sem mais pode revelarse ilusão Refiri contudo epistemológicas e metodológicas do conhecimento científico social epistemi acima alguns dos obstáculos à cientificidade das ciências sociais aliás aludidos neste programa seriam que a constituição do paradigma social dominante está segundo cientista pragmática revindicando a especificidade do estudo da sociedade mais tendo de para isso pressupor uma concepção nas duas últi52 P Allen The Evolutionary Paradigm of Dissipative Structures in E Jantsch Org The Evolutionary Vision cit p 25 e ss 53 H Haken Synergetics An interdisciplinary Approach to Phenomena of SelfOrganization cit p 205 e ss 54 T Kuhn The Structure of Scientific Revolutions Chicago University of Chicago Press 1962 passim mais décadas é indicativa de ser ela o modelo de ciências sociais que numa época de revolução científica transporta a marca pós moderna do paradigma emergente Tratase como referi também de um modelo de transdisciplinaridade uma vez que define a especificidade do humano por oposição a natureza como uma superação da natureza que as ciências naturais hoje consideram ultrapassada mas fazendo em que aquilo que o prende ao passado é menos forte do que aquilo que se aproximam das ciências sociais estão aproximamse das unidades O sujeito que a ciência moderna lançara na diáspora do conhecimento nacional e regional Investido da tarefa de fazer do coelhinho a coalha da ciência invest do trabalho Freguer sobre si uma nova ordem científica que vivemos Que este é o sentido global da revolução científica em curso das condições é também sugerido pela reconceptualização em curso da condição epistemológicas e metodológicas do conhecimento científico social acima alguns dos obstáculos à cientificidade das ciências sociais aliás aludidos neste programa seriam que a constituição do paradigma social dominante está segundo cientista pragmática revindicando a especificidade do estudo da sociedade mais tendo de para isso pressupor uma concepção nas duas últimas décadas Que os modelos explicativos das ciências sociais vêm subjazendo ao desenvolvimento das ciências naturais nas últimas décadas provase além do mais pela facilidade com que as teorias constituídos por cooperativas de células 51 Que os modelos explicativos das ciências sociais vêm subjazendo ao desenvolvimento das ciências naturais nas últimas décadas provase além do mais pela facilidade com que as teorias constituídos por cooperativas de células 51 Que os modelos explicativos das ciências sociais vêm subjazendo ao desenvolvimento das ciências naturais nas últimas décadas provase além do mais pela facilidade com que as teorias constituídos por cooperativas de células 51 Que os modelos explicativos das ciências sociais vêm subjazendo ao desenvolvimento das ciências naturais nas últimas décadas provase além do mais pela facilidade com que as teorias constituídos por cooperativas de células 51 Que os modelos explicativos das ciências sociais vêm subjazendo ao desenvolvimento das ciências naturais nas últimas décadas provase além do mais pela facilidade com que as teorias constituídos por cooperativas de células 51 Que os modelos explicativos das ciências sociais vêm subjazendo ao desenvolvimento das ciências naturais nas últimas décadas provase além do mais pela facilidade com que as teorias constituídos por cooperativas de células 51 Que os modelos explicativos das ciências sociais vêm subjazendo ao desenvolvimento das ciências naturais nas últimas décadas provase além do mais pela facilidade com que as teorias constituídos por cooperativas de células 51 Que os modelos explicativos das ciências sociais vêm subjazendo ao desenvolvimento das ciências naturais nas últimas décadas provase além do mais pela facilidade com que as teorias constituídos por cooperativas de células 51 Que os modelos explicativos das ciências sociais vêm subjazendo ao desenvolvimento das ciências naturais nas últimas décadas provase além do mais pela facilidade com que as teorias constituídos por cooperativas de células 51 Que os modelos explicativos das ciências sociais vêm subjazendo ao desenvolvimento das ciências naturais nas últimas décadas provase além do mais pela facilidade com que as teorias constituídos por cooperativas de células 51 Que os modelos explicativos das ciências sociais vêm subjazendo ao desenvolvimento das ciências naturais nas últimas décadas provase além do mais pela facilidade com que as teorias constituídos por cooperativas de células 51 Que os modelos explicativos das ciências sociais vêm subjazendo ao desenvolvimento das ciências naturais nas últimas décadas provase além do mais pela facilidade com que as teorias constituídos por cooperativas de células 51 Que os modelos explicativos das ciências sociais vêm subjazendo ao desenvolvimento das ciências naturais nas últimas décadas provase além do mais pela facilidade com que as teorias constituídos por cooperativas de células 51 A superação da dicotomia ciências naturalscências sociais tende assim a revalorizas os estudos humanísticos Mas esta reva lorização não ocorrerá sem que as humanidades sejam elas tam bém capaz de trasnformar o objeto que há nelas de futuro é o trem resistente a separação sujeito objecto bue retiro à compreensão do mundo à manipulação do mundo Este núcleo comum foi no entanto envolvido num anel de preocupações mis genunolton e esoterismo neflibata e a erudição balofa O objeto a fi histórico os ocensismos neflibatas remeteram foi emparte uma estratégia que sa na unidade dessas remete das eficazs animadas às a O vírus defensiva contraditariamente bandido Mas foi também a produção do cientista triunfamente que sofrem em face da ocupação do seu espaço pelo esvaziamento modelo cientista Foi assim nos estudos históricos com a história quantitativa nos estudos jurídicos com a ciência pura do direito e numatística jurídica nos estudos filológicos literários e lingüísti cos com a sfuturist Haya Beilharz sobre esse núcleo genuíno e pós ao serviço de um reflexo global sobre os textos sobro que sempre se debruçou a filologia é uma das analogias da maticiais com que se construriá o paradigma emergente o complemento sobre as sociedades científicas naturais é a reflexão crítica sobre a social cientificas catalisador da progressiva fusao das ciências naturais e ciências sociais coloca a pessoa enquanto autor e sujeito do mundo e não o noretró do conhecmento mas ao contrário das humanidades tradicionais coloca o que hoje designamos por natureza no centro da pes Soã Não ha natureza hnmana porque toda a natureza é humana E pois necessário descobri categorias de inteligibilidade globais conceitos quentes que dexertam as fronteiras em que a ciência moderna dividiu e encerrou a realidade A ciência pósmoderno como ciência assumidamente analógica que conhece o que conhece uma ciência assumidamente melhor já mencionei a analogia tex pior através do que conhece lúdica como a analogia dramática total e jogo que atingia a borgeante mundo que hoje é uma condição da analogia borgeante O mundo antes que fenestrasi matriciais do paradigmá borgeante ambbá visto como um texto como um ou social e amanhã será ambos visto como um tido ainda a química da biografía das reações químicas Cada umas dessas analogias desvela uma ponta do mundo A Nudez total que será ampliada de quem se vê no que ver e a vitalidad das configurações de analogias adequadas à manter a totalidade da expressão palço o palco exercitase com um texto o texto de o autobiografia do seu autor Jôgo palco texto ou biografia o mundo é comuni ação e por isso a lógica existencial da ciência pósmoderno é pro mover à eiituação comunicativa tal como Habermas a concebe Nossa expecialização cicíratós como construçõe sentivo unidos tal qual fios das nascentes das nossas medicações sociais a diversidade consigo as áreas dos nossos percursos moleculares individuais comunitários sociais e planetàrios Não se trata de uma anflama trunento musical erradicar umá doença etc etc A fragmentação pósmoderna não é disciplinar e sin temática Os temas são dale mais por onde os conhecimentos próidem ao encontro actual do tópicos Ao contrário do que sucede no paradigma actual o conhe cimento divulgado a partir do que o objecto se amplia ampliação qupo como a da amoré que a experiência é pelo abstracta mento das raízes em busca de novas instanciás Mas sendo local conhecimento pósmoderno é também total a sua singularidade e por essa via transformaos em pensamento total ilustrado A ciência da paradigma emergente sendo como a já benutzen da contabilidade ecológica é também responsabilidade tradutora ou seja incentiva os conceitos e das necessidades movidos localmente a emigràn para outros lugares cognitivos Este prometem ser utilizados fora do seu contexto de origem vêse da quantidade da uniformidade da operação e generaliza conhecimento que concebe através da indução e generaliza a qualidade da exemplariedade O conhecimento pósmoderno sendo total não é determinís tico local descritiscista É um conhecimento sobre as condições de possibilidade da acção constituídal da ciência a ciência total humana projectada no mundo constitutíal Um conhecimento deste tipo é relativamente immediato constituise a partir de uma pluralidade metodológica Cada método é uma linguagem e a realidade responde na língua em que é perguntada Só uma linguagem metodade pode captar o silêncio que persiste entre cada língua que é mutua Num fase de revoluçá científica como a que atravessamos essá pluraliade de métodos só e possí A crise do paradigma dominante é o resultado interactivo de uma pluralidade de condições distingo entre condições sociais e condições teóricas Darei mais atenção às condições teóricas A primeira observação que não é tão trivial quanto parece é que a identificação dos limites das insuficiências estrutturais do conhecimento do seu objecto o grande avanço dos conhecimentos das teorias correctivas da sociedade e da natureza não permitiu ver a fragilidade dos pilares em que se fund a Einstein constitui o primeiro rombo no paradigma da ciência moderna um rombo aliás mais importante do que o que Einstein foi sujeito e capaz de admitir Um dos pensamentos mais profundos de Einstein é a relatividade da simultaneidade das coisas presente distingue entre a simultaneidade de acontecimentos distantes em particular de acontecimentos separados por distância astronómicas Em relação a estes últimos o problema lógico a temporal de segundo como que o observador estabelece a ordem Na teoria da relatividade especial limitada por métodos luz No entanto ao medir a velocidade na natureza velocidade superior à teoria de Einstein que partindo do pressuposto da limitação da tempo da velocidade da luz partindo do pressuposto da luz e Einstein defrontase com um círculo vicioso a fim de determinar a velocidade dos acontecimentos distantes é necessário conhecer a velocidade da luz para por outro lado conhecer a simultaneidade dos acontecimentos Com que a de génio Einstein rompe com este círculo demonstrando simulataneidade de acontecimentos distantes não pode ser veri ficada pelo só ser definida E portanto arbitrária e daí que como salienta Reichenbach quando fazemos medições não pode haver contradições nos resultados uma vez que estes nos devolve podemos perguntar se Foucault é historiador filósofo sociólogo ou cientista político A composição transdisciplinar e individualizada para a nossa época apontam sugere um movimento no sentido de estes exemplos caracterizado do trabalho científico isto conduz a terceira característica do conhecimento científico no paradigma emergente 3 Todo o conhecimento é autoconhecimento A ciência moderna consagrou o homem enquanto sujeito epistêmico mas expulsouo tal como a Deus enquanto sujeito empírico Um conhecimento objectivo factual e rigoroso não tolerava a interferência dos valores humanos ou religiosos Foi nesta base que a distinção sujeitoobjeto nunca foi tão pacífica nas ciências sociais distanciamento do objecto nunca foi tão pacífica nas ciências sociais como durante a modernidade clássica O marxismo defendeu quanto mais cientifico mais objecto No entanto ai disse o maior atraso das primeiras em relação às segundas Afinal os objectos de estudo eram homens e mulheres como àqueles que os estudavam A distinção epistemológica entre sujeito e objecto teve de se articular metodologicamente com a distância empírica entre sujeito e objecto Isto mesmo se torna evidente se compararmos as estruturas objectológicas da sociologia cultural da sociologia social com as estruturas da sociologia por outro Na antropologia a sociologia empírica entre o sujeito e o objecto era enorme O sujeito era o antropólogo o europeu civilizado o objecto era o povo primitivo ou selvagem Neste caso a distinção sujeitoobjeto aceitou ou nos exigiu que a distância fosse relativamente encurtada entre o sujeito do antropólogo e o objecto biologicamente obrigavam a uma maior intimidade com o objecto ou seja o trabalho de campo etnográfico a obser 50 não a simultaneidade que nós introduzimos por definição no sistema de medição 23 Esta teoria veio revolucionar as noções de espaço e de tempo Não havendo simultaneidade uni versal o tempo e o espaço absolutos de Newton deixam de existir Dois acontecimentos simultâneos num sistema de referência As leis da física e da gravidade assentam num conjunto de referênci mas instrumentos de medida sejam relógios ou métodos locais não têm magnitude iguais ajustamse ao campo métrico do espaço a estrutura do qual se manifesta mais claramente nos raios de luz 24 O carácter local das medições e portanto do rigor do conhecimento que com base nelas se obtém vai inspirar o surgimento da segunda conicção teórica da crise do paradigma dominante a mecânica quântica Se Einstein relativizou a hipót da dominação de Newton no domínio da astrofísica a mecânica quântica el no domínio da microfísica Heisenberg e Bohr demonstram que não é possível observar ou medir um objecto sem interferir nele sem dominar e alterar o preço do objecto que sai de um processo de o alterar o tal ponto que o objecto que sai de um processo de medição não é mais o mesmo A mecânica quântica ilustra a medição da curvatura do espaço causada por um objecto a pode ser levada a cabo sem criar novos campos que são hitos de vezes maiores que o campo sob investigação 25 A ideia de que não conhecemos o real senão o que nele introduzimos ou seja que não conhecemos do real senão a nossa intervenção nele está bem expressa no princípio da incerteza de Heisenberg 23 H Reichenbach From Copernicus to Einstein Nova Iorque Dover Publications 1970 p 60 24 H Reichenbach Ob Cit p68 25 E Wigner Ob cit p 7 vação participante Na sociologia ao contrário era pequena ou mesmo nula a distância empírica entre o sujeito e objecto Eram cientistas europeus a estudar os seus concidadãos Neste caso a distinção epistemológica obrigou a que esta distância fosse aumentando através do uso de metodologias de distanciamento por exemplo o trabalho sociológico a análise documental e a entrevista estruturada A antropologia entre a descolonização do pósguerra e a guerra do Vietnam e a sociologia a partir do final dos anos sessenta foram levadas a questionar este státus quo metodológico e as noções de distância social em que ele assentava De repente os selvagens tornaramse visitantes particulares nas nossas sociedades e a sociologia passou a utilizar com intensas frequências antropornente quase monopolizados pela antropologia a observação participante ao mesmo tempo que nesta última os objectos passavam a ser conciliados membros de pleno direito da organização das Nações Unidas e tinham de ser estudados segundo métodos paritários As vibrações destes movimentos na distinção sujeitoobjecto nas ciências sociais vieram a explodir no período pósestruturalista No domínio das ciências físiconaturais o regresso do sujeito de conhecimento e o produto do conhecimento eram inseparáveis Os compostos da física quântica ao demonstrar que o acto científico cria o acto criativo protagonizado por cada cientista e pela comunidade científica no seu conjunto tem de se conhecer intimamente antes nem depois da explicação científica dos lógicos verdadeiros e metafísicos os sistemas de crenças os juízos de valor nos sistemas de explícita explicação científica da natureza ou da sociedade São parte integrante dessa mesma explicação A ciência moderna não é a única explicação possível da realidade e não há sequer uma alternativa científica para a considerar melhor que as explicações alternativas Desde a consolidação da filiação de arte ou da poesia a razão por que privilegiamos hoje uma forma de conhecimento assente na previsão e no controlo dos fenómenos nada tendemos a autoljustificação da ciência enquanto fenómeno central do conhecimento A ciência enquanto autobiografia consolidou quando se verificou que o desenvolvimento tecnológico desordenado nos tinha separado da natureza em vez de nos unir a 51 ela e que a exploração da natureza tinha sido o veículo da exploração do homem O desconforto que a distinção sujeitoobjeto sempre tinha provocado nas ciências sociais propagavase assim às ciências naturais O sujeito regressava na veste do objecto Aliás os conceitos de homem e movimento modernos especialmente os colectivos de Bateson e outros constituem mutilações dispersas de que o outro foragido da ciência moderna Deus pode estar em vias de regressar Regressará transfigurado sem nada de divino senão o sentido do sopro da divindade mas antes da prudência perante um mundo o que mais do que controlado tem de ser contemplado Parafraseando Clausewitz podemos afirmar hoje que o objecto é a continuação do sujeito por outors meios Por isso todo o conhecimento científico é autoconhecimento A ciência não descobre cria e o acto criativo protagonizado por cada cientista e pela comunidade científica no seu conjunto tem de se conhecer intimamente antes nem depois das explicações científicas e imediato Os sistemas de crenças os juízos de valor não susţêm a parte da explicação científica da natureza ou da sociedade São parte integrante dessa mesma explicação A ciência moderna não é a única explicação possível da realidade e não há sequer uma alternativa científica para a considerar melhor que as explicações alternativas Desde a consolidação da filiação de arte ou da poesia a razão por que privilegiamos hoje uma forma de conhecimento assente na previsão e no controlo dos fenômenos nada ignorante especialmente faz do cidadão comum um ignorante gene ral Ao contrário a ciência pósmoderna sabe que nenhuma forma de conhecimento é em si mesma racional só a configuração de todas elas é racional E isto pois dita formas diferenciadas de conhecimento deixandose penetrar por delas A mais importante de todas é o conhecimento do senso comum o conhecimento vulgar Para 59 Descartes ob cit p6 60 R Jones ob cit p 41 é prático com que no quotidiano orientamos as nossas acções e damos sentido à nossa vida A ciência moderna construtivista e contra o senso comum que considerou superficial ilusório e falso A ciência que cá pósmoderna procura reabilitar o senso comum por reconhecer nesta forma de conhecimento algumas virtualidades para enriquecer a nossa relação com o mundo E certo que o conhecimento do senso comum enquanto conhecimento mistificado e mistificante para o senso comum conservador tem uma censura marcada pelo seu apego à estabilidade e à dimensão utópica e libertadora que pode ser atravessada em diálogo com o conhecimento científico essa dimensão aflorve em algumas das características do conhecimento do senso comum Senso comum faz coincidir causa e intenção subjazlhe uma visão do mundo inspirada no princípio da criatividade e da responsabilidade individualista Senso comum reproduce o pragmatismo crítico reproduzse colado às traçórias e às experiências de vida de um dado grupo social e nessa correspondência se afirma fiável e securizante O senso comum é transparente e evidente desconfia da opacidade dos objectivos tecnológicos e do esoterismo do conhecimento como domínio da igualdade do acesso ao discurso à competência cognitiva à isenção crítica O senso comum é superficial porque desenha das estruturas que seu são para além da consciência mas por isso mesmo é exímio em captar a profundidade horizontal das relações conscientes entre pessoas e projectadas num comportamento orientada para a produção de casas O senso comum esquecerá que o método não resulta de uma prática semelhante ao produzir reproduzse espontaneamente O senso comum aceita o que existe há já uma utillega a acção que não produza rupturas significativas no real Por último o senso comum é retórico e metafórico não ensina per BOAVENTURA DE SOUZA SANTOS Nascido em Coimbra a 15 de Novembro de 1940 Doutorado em Sociologia do Direito pela Universidade de Economia e Gestão de Coimbra Professor Visitante da Universidade de Wisconsin Professor Visitante da Universidade de Wisconsin Presidente do Instituto Joaquim Narissim da Faculdade de Economia e Gestão Social dos Andes Sócio do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade Federal do Rio de Janeiro Diretor da Revista Crítica de Ciências Sociais Autor dos livros Um Discurso sobre as Ciências Sociais 1994 Primavera impresa Ciências 1987 Polícia e Resistência em parceria com G Guilhermina de Alencar 1986 Prêmio Bojador da Imprensa Ciências 1987 Imprensa Ciências 1987 O Estado O Estado e a Indústria Militar Brasileira 1980 O Poder Político de Portugal Um Retrato Singular 1989 Pela Humanização da Fábrica 1980 Mais além da Pazakienda 1980 Sociedade e Cultura entre os Valdenses 1980 Medo e Política na Sociedade Italiana 1985 Brasileira Cidadania Representação e Participação 1999 Com Paulo Lopes Ferreira 6 Tribunais nas Sociedades Contemporâneas Paulo Nader editor 1989 Com Maria Manuela Graziano e Maria Salete Gonçalo Pulsar da Revolução Cronologia da Revolução de 25 de Janeiro 1989 editor O MaisqueSocial Ética Pública e Multiculturalismo na Sociedade Contemporânea 1988 A Visão do Estado pela Escola Paulista 1990 Com Gonçalo Alfredo da Costa Uma Visão Dinâmica das Ciências Sociais 1989 A Globalização do Direito 1988 Com José DAssumpção Mariana Lacerda da Razão de Souza Reinventar a Democracia 1988 Também publicou Balada das Sereias a Colina da Balanceada Critica 1998 História Justiça e Poder 2000 Problemas Com o Despotismo da Experiência 2000 FICHAMENTO TÍTULO Um Discurso sobre as Ciências AUTORES citação Boaventura de Souza Santos 2001 RESUMO CITAÇÕES Ao avaliar a situação presente das ciências observase que os progressos científicos dos últimos trinta anos são de tal ordem dramáticos que os séculos que nos pre cederam não são mais que uma préhistória longínqua Podese afirmar que em termos científicos estamos no século XIX e que o século XX ainda não começou Ao olhar para o futuro surgem duas situações 1 as potencialidades da tradução tecnológica dos conhecimentos acumulados fazemnos crer no limiar de uma sociedade de comunicação e interativa libertada das carências e inseguranças presente ainda nos dias atuais 2 os limites do rigor científico diante dos perigos da catástrofe ecológica ou da guerra nuclear fazemnos temer Para Hermann Haken estamos num sistema visual muito instável em que a mínima flutuação da nossa percepção visual gera rupturas na simetria do que vemos É necessário voltar às coisas simples ser capaz de formular perguntas simples pois são capazes de trazer uma luz nova à nossa perplexidade Pergunta a Rousseau o progresso das ciências e das artes contribuirá para purificar ou para cor romper os nossos costumes No século XVIII a ciência moderna tornouse fermento de uma transformação técnica e social sem precedentes na história Traz a reflexão sobre os fundamentos da sociedade presente e o impacto das vibrações decorrentes da ordem científica emergente Ambiguidade e complexidade do tempo científico presente Fazse necessário perguntar pelas relações entre a ciência e a virtude pelo papel do conhecimento científico Ordem hegemônica distinção entre ciências naturais e ciências sociais síntese das ciências sociais recusa de positivismo lógico ou empírico ou de mecanicismo materialista síntese para conjunto de galerias temáticas O paradigma dominante O modelo de racionalidade da ciência moderna revolução científica do século XVI e desenvolvido no domínio das ciências naturais Modelo global de racionalidade científica se defende do conhecimento não cientifico Senso Comum e os estudos humanistas A nova racionalidade científica é um modelo totalitário na medida em que nega o carácter racional do conhecimento que se não pauta pelos princípios epistemológicos Ruptura fundante que possibilita uma e só uma forma de conhecimento verdadeiro Novo paradigma cientifico confiança epistemológica Luta contra todas as formas de dogmatismo e de autoridade A ciência moderna desconfia sistematicamente das evidências da nossa experiência imediata O conhecimento científico se dá pela observação sistemática e rigorosa dos fenómenos naturais A experiência não dispensa a teoria prévia o pensamento dedutivo ou mesmo a especulação As ideias matemáticas por serem claras e simples fornecem a ciência moderna modelo de representação da própria estrutura da matéria O conhecer significa quantificar com o rigor cientifico O método cientifico se dá na redução da complexidade Conhecer significa dividir e classificar na qual se dá a ciência moderna As ciências sociais não são objetivas porque o cientista social não pode libertarse no ato de observação dos valores que informam a sua prática em geral e portanto também a sua prática de cientista Nas ciências naturais o desenvolvimento do conhecimento tornou possível a formulação de um conjunto de princípios e de teorias A ciência social será sempre uma ciência subjetiva e não objetiva como as ciências naturais A CRISE DO PARADIGMA DOMINANTE A crise do paradigma dominante é o resultado interativo de uma pluralidade de condições Einstein destaca a relatividade da simultaneidade Não conhecemos do real senão o que nele introduzimos É limitado o rigor do nosso conhecimento Avanços do conhecimento nos domínios da microfísica da química e da biologia A crise do paradigma dominante tem vindo a propiciar uma profunda reflexão epistemológica sobre o conhecimento científico A crise do paradigma dominante propicia uma profunda reflexão epistemológica sobre o conhecimento científico O PARADIGMA EMERGENTE obtemse por via especulativa O paradigma a emergir não pode ser apenas um paradigma científico mas também um paradigma social Todo o conhecimento científiconatural é científicosocial A superação da dicotomia ciências naturais ciências sociais tende assim a revalorizar os estudos humanísticos Todo o conhecimento é local e total O conhecimento é tanto mais rigoroso quanto mais restrito é o objeto sobre que incide Todo o conhecimento é autoconhecimento A ciência moderna consagrou o homem enquanto sujeito epistémico A ciência é assim autobiográfica Todo o conhecimento científico visa constituirse em senso comum Referência Formatada ABNT SANTOS Boaventura de Souza Santos Um Discurso sobre as Ciências São Paulo Cortez 2008