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211 Educação e Pesquisa São Paulo v30 n2 p 211229 maioago2004 Resumo Neste artigo pretendese sistematizar algumas reflexões sobre a possibilidade de formulação de uma psicologia do adulto a partir da definição do desenvolvimento psicológico como transforma ção que ocorre ao longo de toda a vida e da postulação da idade adulta como uma etapa culturalmente organizada de passagem do sujeito pela existência tipicamente humana Com base na afir mação da importância das atividades e práticas culturais na constituição do psiquismo especialmente por meio da realização de tarefas e da utilização de instrumentos e signos como me diadores da atividade psicológica buscamse caminhos para a historicização da psicologia do adulto Para isto propõese uma compreensão aprofundada da organização de diferentes práticas culturais da construção compartilhada de sentidos e significados da internalização de modos de fazer de pensar e de produzir a cultura em cada um dos seus âmbitos concretos cuja finalidade é superar a prática mais comum na psicologia isto é a apresen tação daquilo que é contextualizado historicamente como sendo universal Com a intenção de aprofundar a compreensão de um grupo específico de adultos incluise neste artigo a discussão de dados empíricos obtidos na fase preliminar de uma pesquisa sobre trabalhadores urbanos que freqüentam um curso supletivo com o objetivo de elevação da escolaridade associada à prepara ção para o trabalho Implicações para a educação de jovens e adultos subentendidas ao longo de todo o texto são brevemen te explicitadas no final Palavraschave Cultura e desenvolvimento psicológico Psicologia do adulto Educação de jovens e adultos Correspondência Marta Kohl de Oliveira Faculdade de EducaçãoUSP Av da Universidade 308 05508900 São Paulo SP email mkdoliveuspbr Ciclos de vida algumas questões sobre a psicologia do adulto Marta Kohl de Oliveira Universidade de São Paulo Educação e Pesquisa São Paulo v30 n2 p 211229 maioago 2004 212 Life cycles some questions on the psychology of the adult Marta Kohl de Oliveira Universidade de São Paulo Abstract This article seeks to systematize some reflections on the possibility of formulating a psychology of the adult starting from the definition of psychological development as a transformation that occurs throughout the life and from the postulation of adulthood as a culturally organized stage of the subjects passage through the typically human existence Based on the assertion of the importance of the cultural practices and activities to the constitution of the psyche especially through the execution of tasks and the use of instruments and signs as mediators of the psychological activity ways of historicizing the psychology of the adult are pursued To that end a deeper understanding of the organization of different cultural practices is proposed as well as of the shared construction of sense and meanings of the internalization of ways of doing thinking and producing culture in each one of its concrete domains whose purpose is to go beyond the more common practice in Psychology ie that of presenting as universal that which is historically contextualized With the intention of enhancing the understanding about a specific group of adults a discussion is included in this article of empirical data obtained during the preliminary stage of a research on urban workers attending a supletivo course a substitute course for secondary education with the purpose of increasing schooling in connection with their preparation for work Implications for the education of youngsters and adults implied throughout the text are briefly elucidated at the end Keywords Culture and psychological development Adult psychology Education of youngsters and adults Contact Marta Kohl de Oliveira Faculdade de EducaçãoUSP Av da Universidade 308 05508900 São Paulo SP email mkdoliveuspbr 213 Educação e Pesquisa São Paulo v30 n2 p 211229 maioago2004 As idéias elaboradas neste texto provêm originalmente de duas situações específicas a participação em um seminário sobre ciclos da vida realizado na cidade de Porto Alegre1 e o desenvolvimento da etapa preliminar de uma pesquisa junto a adultos trabalhadores alunos de um curso supletivo Moraes et al 2002 A participação no referido seminário possibilitou a sistematização de reflexões já em andamen to sobre a questão da psicologia do adulto e alimentou a elaboração de segmentos de um texto anteriormente publicado em coautoria e aqui parcialmente reproduzido Oliveira Teixeira 2002 O desenvolvimento da pesquisa gerou a coleta e a análise de dados empíricos sobre a condição de um grupo de adultos tra balhadores imersos num contexto histórico es pecífico Ciclos de vida e estágios de desenvolvimento No contexto atual de diversos sistemas de ensino estaduais e municipais no Brasil a idéia dos ciclos de vida remete aos ciclos de formação um modo de organização da escola alternativo ao sistema seriado No contexto da psicologia essa idéia remete aos estágios de desenvolvimento humano um modo de orga nização das etapas da vida humana É do lugar da psicologia da educação que buscamos argu mentar aqui que o conceito e o termo ciclos de vida pode ser mais promissor para uma compreensão de maior alcance do fenômeno do desenvolvimento do que a idéia normalmente utilizada em psicologia dos estágios2 Podemos definir desenvolvimento sinte ticamente como transformação Processos de transformação ocorrem ao longo de toda a vida do sujeito e estão relacionados a um conjunto complexo de fatores Na abordagem histórico cultural encontramos a postulação do desenvol vimento humano como sendo resultado da interação entre quatro planos genéticos a filogênese a ontogênese a sociogênese e a microgênese Vygotsky Luria 1996 Wertsch 1988 Oliveira Rego 2003 Num outro contex to teórico Palacios elabora essa mesma idéia sintetizando os três fatores aos quais se rela cionariam os processos de transformação ou de desenvolvimento 1 a etapa da vida em que a pessoa se encontra 2 as circunstâncias culturais históricas e sociais nas quais sua exis tência transcorre e 3 experiências particulares privadas de cada um e não generalizáveis a outras pessoas 1995 p 9 O primeiro desses fatores correspondente ao plano ontogenético estudado por Vygotsky e decorrente de deter minações biológicas advindas da pertinência à espécie humana plano filogenético introduz uma certa homogeneidade entre todos os su jeitos que se encontrem em uma determinada etapa de sua vida individual O segundo fator correspondente ao plano sociogenético introduz uma certa homogeneidade entre aqueles que vivem em uma mesma cultura em um mesmo momento histórico e dentro de um determinado grupo social O terceiro dos fatores plano microgenético prossegue Palacios introduz elementos idiossincráticos que fazem com que o desenvolvimento psicológico seja um fenô meno único que não ocorre da mesma maneira em dois sujeitos diferentes Os estágios de desenvolvimento habitu almente definidos nas teorias psicológicas fun damentamse principalmente no primeiro des ses fatores focalizando o indivíduo isolado e as transformações que ocorrem para todos os seres humanos de forma similar por exemplo o aparecimento dos dentes a capacidade de caminhar a aquisição da linguagem o amadu recimento sexual o envelhecimento do orga nismo Ao proceder desta maneira a psicolo gia nos tem fornecido modelos de desenvolvi 1 Seminário Nacional de Educação Culturas e ciclos da vida desafios da reinvenção da escola na Cidade Educadora promovido pela Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre de 13 a 15 de maio de 2002 2 Não se trata aqui de uma referência ao chamado modelo do ciclo vital ou lifespan model em inglês que busca estudar o desenvolvimento humano ao longo de todo o ciclo de vida de uma pessoa e não apenas nos seus primeiros anos de existência embora certos pressupostos desse modelo sejam compatíveis com as reflexões desenvolvidas no presente texto cf por exemplo Palacios 1995 214 Marta K OLIVEIRA Ciclos de vida algumas questões mento baseados principalmente nos processos de maturação biológica universais para todos os membros da espécie humana Mas a matu ração biológica essencial para o processo de desenvolvimento não representa a totalidade do desenvolvimento as transformações mais relevantes para a constituição do desenvolvi mento tipicamente humano não estão na bio logia do indivíduo mas na psicologia do sujei to muito mais referida portanto ao segundo e terceiro fatores explicitados na citação de Palacios feita anteriormente isto é às circuns tâncias históricoculturais e às peculiaridades da história e das experiências de cada sujeito Podemos afirmar como já o fizemos an tes que o desenvolvimento individual se dá no interior de uma determinada situação históricocultural que fornece aos sujeitos e com eles constantemente reelabora conteúdos culturais artefatos materiais e simbólicos in terpretações significados modos de agir de pensar de sentir Assim o bebê que permanece deitado nos meses iniciais de sua vida e precisa dos cuidados do adulto dadas certas caracterís ticas peculiares da espécie humana e próprias de sua fase de desenvolvimento será acalenta do banhado alimentado vestido de muitas maneiras diferentes conforme as práticas cultu rais de seu grupo social As características da espécie e das várias fases de desenvolvimento ontogenético serão interpretadas de acordo com as visões de mundo e as formas de signifi cação próprias de cada cultura A puberdade por exemplo conjunto de transformações fisio lógicas ligadas à maturação sexual do indiví duo é interpretada e tratada de formas diversas em diferentes culturas Pode levar ao casamento e procriação imediatos ao isolamento do jovem em casas separadas para pessoas dos sexos mas culino e feminino à criação de categorias soci almente reconhecidas denominadas adolescen tes e préadolescentes a práticas de inicia ção ligadas à religião etc Do mesmo modo outros fenômenos do desenvolvimento original mente provenientes de características da espécie ou das fases de desenvolvimento individual por exemplo o treino para controle das funções excretoras a aquisição da linguagem a velhice recebem significação e tratamento peculiar den tro de cada cultura Oliveira 1997 p 55 Além disso a imensa multiplicidade de conquistas psicológi cas que ocorrem ao longo da vida de cada in divíduo gera uma complexa configuração de processos de desenvolvimento que será absolu tamente singular para cada sujeito Em cada situação de interação com o mundo exter no o indivíduo encontrase em um determinado momento de sua trajetória particular trazendo consigo certas possibilidades de interpretação e resignificação do material que obtém dessa fonte externa Oliveira 1997 p 56 É importante destacar que além da ên fase nos processos de origem biológica a busca da universalidade como meta maior do empre endimento científico tem resultado na apresen tação daquilo que é contextualizado historica mente como sendo universal Pensemos por exemplo nos grandes períodos em que normal mente tem sido dividida a vida humana a infância a adolescência a idade adulta e a velhice Essas etapas nos têm sido apresentadas como universais e associadas a características comuns a todas as pessoas e a todos os grupos humanos a infância como o período em que ocorrem as experiências com efeito determinante e configurador de todo o desenvolvimento pos terior a adolescência como a época das mudan ças drásticas e turbulentas a idade adulta como o momento de estabilidade e ausência de mu danças importantes e a velhice como sinônimo de deterioração dos processos psicológicos Palacios 1995 p 2122 Por não levar em conta aspectos da história cultural e da história individual dos sujeitos essa perspectiva não contempla a multiplicidade de possibilidades de desenvolvimento humano Para contestar essa suposta universalidade basta imaginar e compa 215 Educação e Pesquisa São Paulo v30 n2 p 211229 maioago2004 rar pessoas de diferentes grupos culturais nas mesmas etapas de desenvolvimento uma criança de classe média alta de sete anos em Nova York freqüentando a escola e uma criança de sete anos na zona rural do Afeganistão que trabalha no campo e cuida dos irmãos menores uma jo vem paulistana que faz curso de inglês com in tenção de inscreverse num programa de inter câmbio e ir estudar na Austrália e outra jovem paulistana que mora nas ruas e está grávida do segundo filho e uma dona de casa carioca um monge do Tibete e um cientista inglês o que têm em comum como adultos A perspectiva universalizante não con templa tampouco a própria essência do de senvolvimento isto é a transformação Como explicar os inúmeros casos de pessoas que superam condições adversas ocorridas em sua infância Ou dos jovens que percebem sua adolescência mais como continuidade do que como ruptura com seu percurso anterior Onde ficaria o potencial transformador das intervenções educativas na idade adulta E os idosos que iniciam uma nova atividade em idade avança da e tornamse criativos produtivos indepen dentes Diante dessas reflexões a questão não é eliminar o problema da etapização do desenvol vimento mas historicizar sua compreensão Toda sociedade é organizada por idades e toda sociedade tem um sistema de expectativas sociais com relação ao comportamento apropriado às idades O indiví duo passa por um ciclo socialmente regulado do nascimento à morte tão inexoravelmente como passa pelo ciclo biológico uma sucessão de status de idade delineados socialmente cada um com seus direitos deveres e obrigações reconhe cidos Neugarten apud Merrian Caffarella 1999 p 120 É nesse sentido que a idéia dos ciclos da vida pode ser mais promissora para uma com preensão minuciosa do fenômeno do desenvol vimento do que a idéia dos estágios não nos remete a uma passagem por um percurso abs trato natural da vida humana mas por um per curso contextualizado historicamente cultural Pode ser que terminemos mais uma vez falan do em crianças jovens adultos e idosos Mas será importante dar substância a esses ciclos da vida atrelandoos aos modos concretos de inserção dos sujeitos no seu mundo social em situações históricoculturais específicas Atividade como princípio explicativo na psicologia cultural Tomo emprestado aqui o título de um artigo escrito por Tulviste 1999 bem como o desenvolvimento de seu argumento nesse mes mo ensaio para sugerir caminhos para a pro posta de historicização da psicologia ou cons trução de uma psicologia cultural O argumento se inicia com uma referência ao conhecido es tudo de Luria com camponeses soviéticos en tre 1931 e 1932 Luria em colaboração com Vygotsky realizou uma pesquisa sobre proces sos psicológicos com comunidades soviéticas da Ásia Central região bastante isolada estag nada economicamente com alto grau de anal fabetismo e predomínio da religião muçulmana Seu objetivo era estudar as relações entre cul tura e formas de funcionamento psicológico Os adultos pouco escolarizados por ele estudados tenderam a apresentar um modo de pensamen to baseado na experiência individual e nas re lações concretas observadas na vida cotidiana ao passo que aqueles com maior grau de esco laridade operaram de forma desvinculada das situações concretas trabalhando de modo abs trato e descontextualizado Luria 1990 Tulviste menciona que ele próprio ao tomar conhecimento desse estudo inicialmente se perguntou por que os adultos sem escolarização respondem assim É interessante pensar que essa tem sido exatamente nossa pergunta mais comum quando em estudos de psicologia e áreas correlatas olhamos para fora de nós mesmos por que os outros não funcionam 216 Marta K OLIVEIRA Ciclos de vida algumas questões como nós O que lhes falta Especificamente com relação à compreensão do funcionamen to psicológico do adulto pouco escolarizado normalmente o que se faz é uma comparação com um adulto abstrato supostamente universal mas que na verdade é um adulto bastante espe cífico e historicamente contextualizado ociden tal urbano branco pertencente às camadas médias da população com um nível instrucional relativamente elevado e com inserção no mundo do trabalho em ocupações razoavelmente quali ficadas Oliveira 2001 Ele prossegue relatando que demorou a perceber que a questão real era na verdade por que as pessoas que freqüentaram a escola resolvem essas questões do modo que o inves tigador considera correto Isto é não é a variação cultural e histórica da mente que deve ser explicada via cultura e história é a própria mente seu desenvolvimento e funcionamento que só podem ser explicados se a cultura e a história forem empregadas de uma nova forma na explicação 1999 p 72 O que precisa ser explicado por meio da cultura não são as ca racterísticas de diferentes indivíduos e grupos que divergem das normas européias e america nas de funcionamento mental mas a própria mente humana e seu funcionamento A cultu ra tem que ser o princípio explicativo da men te especificamente humana Explorando melhor essa idéia geral Tulviste mostra que as atividades executadas numa cultu ra aquilo que as pessoas fazem constituem o fator que permite explicar a mente especificamente humana ou os processos mentais superiores3 Essas atividades envolvem diferentes tarefas e instrumen tos semióticos que por sua vez estão funcional mente relacionados a formas de pensar Pessoas envolvidas em diferentes tipos de atividade e portanto resolvendo diferentes tipos de tarefas disporão de diferentes meios semióticos ou instru mentos fornecidos pela sociedade e por usarem diferentes instrumentos pensarão de formas dife rentes 1999 p 69 Qualquer ser humano em qualquer cultura tem à sua disposição tantos mo dos de pensar quantos forem os diferentes tipos de atividade O pensamento humano em qualquer cultura é heterogêneo por natureza Voltando aos sujeitos pouco escolarizados estudados por Luria que traziam para a situa ção de resolução de silogismos informações ex traídas de sua própria experiência cotidiana ao invés de se limitarem às regras dessa modalidade de raciocínio formal Tulviste afirma que seu modo de pensar não era exótico Era apenas senso comum um modo universal de pensar associado a situações e atividades práticas Os sujeitos escolarizados resolveram corretamente os silogismos aplicando um modo de pensar específico adquirido na escola e dirigido à solução de problemas escolares Obviamente esse modo de pensar não poderia existir em sociedades sem ciência e sem escola Destaca entretanto que não há cultura em que os su jeitos se ocupem apenas de atividades práticas em todas as culturas há atividades como arte religião e jogo separadas das atividades práti cas e certamente essas atividades têm relação com o pensamento Tulviste tem como centro de seu argu mento a idéia de que a construção de uma psicologia cultural deve utilizar a atividade não meramente como um contexto em que o fun cionamento psicológico ocorre mas como um princípio explicativo a mente e sua origem e desenvolvimento seriam explicados por meio da atividade Nesse quadro os ciclos de vida isto é os ciclos culturalmente organizados de pas sagem dos sujeitos pela existência humana poderiam ser definidos a partir dos tipos de atividade em que os sujeitos estão envolvidos e os correspondentes instrumentos signos e modos de pensar Destacase aqui entretanto a necessidade de se ir além de uma mera catalogação de ativi dades como se elas constituíssem elementos preexistentes com relação aos sujeitos e suas prá ticas de construção conjunta de sentidos e portan to da própria cultura Conforme afirma Smolka 3 O trabalho de Tulviste está fundamentado em grande medida na chamada teoria da atividade cujo principal proponente é o psicólogo soviético A N Leontiev 217 Educação e Pesquisa São Paulo v30 n2 p 211229 maioago2004 não é propriamente a atividade prática em si que traz novidade mas aquilo que o signo pro duzido necessariamente na e pela atividade conjunta faz com ela Ou seja a novidade está no efeito do signo ou naquilo que ele produz como acontecimento que se tornou possível pela atividade na própria atividade O X da questão está em como o signo e mais especial mente a palavra na sua materialidade simbóli ca afeta e transforma a atividade e o próprio homem em como o signopalavra produz um redimensionamento intrínseco da atividade em ação humana orientada transformadora e significativa tornandose constitutiva dos sujei tos em interação Smolka 2004 p 43 Considerando o psiquismo humano como um processo permanente de produção que envol ve o indivíduo e seu meio sociocultural em cons tante interação revelase a natureza semiótica da atividade psíquica Pino 1991 Uma compreen são apurada de cada ciclo de vida portanto pede muito mais do que uma nomeação genérica de atividades não basta dizer a criança brinca ou o adulto trabalha por exemplo É preciso enten der de forma aprofundada a organização das di ferentes práticas culturais a construção compar tilhada de sentidos e significados a internalização de modos de fazer de pensar e de produzir a cul tura em cada âmbito concreto da cultura A idade adulta como um ciclo de vida A psicologia não tem sido capaz de for mular de modo satisfatório uma psicologia do adulto Na verdade as teorias psicológicas são menos articuladas e complexas quanto mais avançamos no processo de desenvolvimento da pessoa sabemos muito sobre bebês bastante sobre crianças menos sobre jovens e quase nada sobre adultos As questões analisadas anteriormente explicam bem essa peculiaridade da psicologia como esta tem sido tradicional mente uma ciência do indivíduo e que preten de chegar a explicações universais para o de senvolvimento humano e quanto mais jovens mais similares entre si são os indivíduos dos vários grupos culturais de certa forma é mais fácil construir teoria para as etapas da vida em que os sujeitos humanos são mais próximos de sua origem animal sem tanto peso da cultura em sua constituição Bebês de três meses por exemplo de qualquer tempo e lugar são mui to mais parecidos entre si do que crianças de quatro anos que já dominam a língua do seu grupo cultural do que escolares que já foram submetidos ao mundo da escrita e do conhe cimento sistematizado e claro do que adultos inseridos no mundo do trabalho das relações familiares complexas e da própria condução do projeto cultural de constituição dos membros plenos das diferentes culturas A questão que se apresenta aqui é en tão como caracterizar a idade adulta A defini ção dela como sendo um estágio psicológico de estabilidade e ausência de mudanças importan tes quase que excluído portanto da própria essência do desenvolvimento é claramente ina dequada Mesmo dentro de uma perspectiva generalizante essa asserção é falsa na medida em que os adultos tipicamente trabalham constituem família se relacionam amorosamen te aprendem em diferentes dimensões da vida educam seus filhos têm projetos individuais e coletivos Todas essas características trazem em si potencial para profundas transformações Para além dessa definição genérica de um estágio supostamente estável poderíamos arrolar algumas características dessa etapa da vida que distinguiriam de maneira geral o adulto da criança e do jovem O adulto está inserido no mundo do trabalho e das relações interpessoais de um modo diferente daquele da criança e do jovem Traz consigo uma história mais longa e prova velmente mais complexa de experiências co nhecimentos acumulados e reflexões sobre o mundo externo sobre si mesmo e sobre as ou tras pessoas Com relação à inserção em situa ções de aprendizagem essas peculiaridades da 218 Marta K OLIVEIRA Ciclos de vida algumas questões etapa de vida em que se encontra o adulto fa zem com que ele traga consigo diferentes habi lidades e dificuldades em comparação à crian ça e provavelmente maior capacidade de re flexão sobre o conhecimento e sobre seus pró prios processos de aprendizagem Oliveira 2001 p 18 Alguns autores têm destacado a especi ficidade da inteligência adulta como mais asso ciada a conhecimentos e menos a processos particularmente conhecimentos especializados e referidos a domínios específicos por um lado e conhecimentos tácitos ligados a procedimen tos e necessidades práticas por outro Ackerman 1998 Torff Sternberg 1998 Continuamos entretanto num plano de análise muito genérico A compreensão apro fundada de uma psicologia do adulto não pode ser feita em termos abstratos Se conforme dis cutido anteriormente os ciclos de vida deve riam ser compreendidos a partir dos tipos de atividade em que os sujeitos estão envolvidos e os correspondentes instrumentos signos e modos de pensar temos que estabelecer de que adultos estamos falando A busca de caminhos para a histori cização da psicologia do adulto nos conduziu a trabalhar não com a categoria abstrata adul to mas a focalizar um grupo cultural especí fico os adultos trabalhadores que freqüentam cursos supletivos Em termos de uma caracte rização geral esses sujeitos adultos são trabalha dores excluídos da escola regular inseridos no mundo do trabalho em ocupações de baixa qualificação profissional e de baixa remuneração para um aprofundamento dessa caracterização vejase Oliveira 2001 É importante destacar que no contexto da presente discussão enfo camos especificamente o adulto embora os cursos supletivos sejam voltados também à educação de jovens O jovem atendido por es ses cursos é também um excluído da escola po rém geralmente incorporado aos cursos supleti vos em fases mais adiantadas de escolaridade com maiores chances portanto de concluir o ensino fundamental ou mesmo o ensino médio Tende a ser mais ligado ao mundo urbano en volvido em atividades de trabalho e lazer mais relacionadas com a sociedade letrada escola rizada e urbana Certamente uma das primeiras tarefas na direção da compreensão desse ciclo de vida pósinfância é uma melhor explicitação da categoria jovem em contraposição ao estágio biopsicológico da adolescência por um lado e em contraposição ao adulto por outro espe cialmente quando tratamos da questão da edu cação de jovens e adultos Partindo dessa caracterização geral ain da insuficiente temos que mapear as condições específicas de pertinência cultural dos sujeitos adultos focalizados Quando falamos em traba lhadores de que tarefas efetivamente desempe nhadas estamos falando De tarefas coletivas ou desempenhadas isoladamente De que grau de responsabilidade na condução do cotidiano no mundo do trabalho De que história ocupa cional experiências prévias formação profis sional projetos para o futuro De que tipo e grau de envolvimento com sindicatos e outras associações de classe E a exclusão da escola o que significa exatamente Qual a história concreta de passagem pela escola as represen tações sobre valor e interesse da escola moti vações projetos A que tipo de tecnologia e de linguagens o sujeito tem acesso Para que fi nalidade e com que grau de domínio Adultos trabalhadores como sujeitos de desenvolvimento e aprendizagem Com a intenção de aprofundar a compre ensão desse grupo cultural específico nos reme temos neste item a dados coletados na pesqui sa inicialmente mencionada Moraes et al 2002 Tal pesquisa foi desenvolvida em cooperação com o Centro de Educação Estudos e Pesquisas CEEP organização que implementou o Progra ma Supletivo Profissionalizante Educação dos Trabalhadores pelos Trabalhadores juntamente com o Centro Estadual de Educação Tecnológica 219 Educação e Pesquisa São Paulo v30 n2 p 211229 maioago2004 Paula Souza com sindicatos de trabalhadores de diferentes categorias e com entidades do mo vimento popular Esse programa de ensino suple tivo busca propiciar ao aluno trabalhador eleva ção da escolaridade associada à preparação para o trabalho e se propõe a gerir a experiência pe dagógica com base na cooperação entre vários grupos oriundos de diferentes instituições sin dicatos movimentos populares universidade e escolas de ensino fundamental médio e técnico A pesquisa em foco coordenada por quatro pesquisadoras da Faculdade de Educa ção da USP4 foi planejada com o objetivo de contribuir para a definição de práticas pedagó gicas que possam servir como referência a po líticas públicas de educação de jovens e adul tos e está referida a quatro eixos de investiga ção que se complementam a compreensão do adulto trabalhador como sujeito de conheci mento e aprendizagem o desenvolvimento de metodologias de ensino para adultos trabalha dores a construção de itinerários de formação profissional correspondentes a diferentes ocu pações demandadas no mercado de trabalho e a criação de possibilidades de organização dos trabalhadores em atividades econômicas a partir de princípios associativistas Os procedimentos de pesquisa incluíram levantamento e organização de documentos e materiais referentes ao curso supletivo leis regu lamentos estatísticas e outras fontes escritas ofi ciais bem como material didático e iconográfico diverso registro de reuniões pedagógicas produ ções de alunos e professores acompanhamento de reuniões pedagógicas de planejamento e ava liação observação de aulas de diferentes discipli nas e de estudos do meio participação em ceri mônias e festividades promovidas pelos alunos e professores do curso aplicação de questionários e realização de entrevistas O questionário dos alunos foi respondido pela quase totalidade dos quinhentos alunos das turmas de ensino fundamental 141 respondentes e médio trezentos respondentes e incluiu per guntas sobre idade sexo situação socioeco nômica trajetória cultural e profissional histó ria de passagem pela escola cursos de qualifi cação realizados profissão e escolaridade dos pais representações dos sujeitos sobre a escola e sua relação com o trabalho e expectativas de profissionalização e formação Foi aplicado no primeiro semestre de 2002 em situação coleti va de sala de aula pelas pesquisadoras e pelas bolsistas da pesquisa que auxiliaram os alunos na compreensão das questões e na elaboração das respostas quando necessário Os 45 profes sores e coordenadores do curso também respon deram a questionários aplicados pessoalmente por integrantes da equipe da pesquisa nos dife rentes locais de realização do programa Uma vez tabuladas e analisadas as res postas aos questionários elaborouse um rotei ro de entrevista semiestruturada com a fina lidade de aprofundar a compreensão da histó ria de vida dos sujeitos especialmente no que diz respeito a sua passagem pela escola forma ção profissional história ocupacional ativida de junto ao sindicato e às suas reflexões sobre o mundo do trabalho da escola e da ativida de sindical As entrevistas foram realizadas com uma amostra selecionada de doze alunos priorizando aqueles que eram sindicalistas Foram também colhidos os depoimentos de três sindicalistas integrantes do conselho peda gógico do curso em geral responsáveis pelas atividades de formação profissional realizadas no sindicato de sua categoria e de três profes sores totalizandose assim dezoito entrevistas realizadas pelas pesquisadoras e demais inte grantes da equipe de pesquisa Os dados de pesquisa explorados no pre sente item são oriundos dos questionários e en trevistas realizados com os alunos e sindicalis tas e se referem ao primeiro eixo de investiga ção que diz respeito ao aprofundamento da reflexão sobre como os adultos trabalhadores pensam e aprendem e às relações entre fun cionamento intelectual e vida adulta escola e trabalho 4Carmen Sylvia Vidigal Moraes Marta Kohl de Oliveira Nídia Nacib Pontuschka e Sonia Maria Portella Kruppa 220 Marta K OLIVEIRA Ciclos de vida algumas questões É importante destacar que a categoria adultos trabalhadores especialmente quando associada à condição de alunos de cursos que se apresentam como oportunidade de recupe ração ou elevação de escolaridade remete a um grupo de sujeitos que compartilham um certo lugar social caracterizado pela condição de adultos de excluídos dos processos regulares de escolarização e de membros de determina dos grupos culturais No que diz respeito aos grupos culturais a que pertencem esses sujeitos esses têm sido descritos como bastante homogêneos compos tos primordialmente por cidadãos de baixa ren da migrantes que chegaram às grandes metró poles provenientes de áreas rurais empobrecidas filhos de trabalhadores rurais nãoqualificados e com baixo nível de instrução escolar muito freqüentemente analfabetos com passagem curta e não sistemática pela escola e inseridos no mercado de trabalho em ocupações urbanas não qualificadas após experiência como traba lhadores rurais na infância e na juventude ver por exemplo Di Pierro 2003 Haddad 2000 Oliveira 2001 Ribeiro et al 1992 Os dados obtidos na fase preliminar da investigação em pauta apontam para um perfil diferente daquele tipicamente descrito para os adultos trabalhadores alunos dos cursos de educação de jovens e adultos Embora 62 dos alunos que responderam aos questionários se jam migrantes isto é não nasceram no muni cípio em que residem atualmente a grande maioria deles é proveniente de zona urbana e começou a trabalhar ainda na infância em ocu pações urbanas de baixa qualificação princi palmente como ajudantes em vários ramos de atividade ou como empregadas domésticas A maioria estudou em idade regular permanecendo na escola por pelo menos quatro anos 58 por mais de oito anos embora tenha abandonado os estudos antes de completar o ensino funda mental Com relação à instrução dos pais desses alunos aproximadamente 35 deles têm nível de escolaridade correspondente ao primário completo ou mais A maioria dos alunos trabalha na indús tria 326 ou no comércio 202 em vári as funções e mais de 90 têm um rendimento mensal de até quatro salários mínimos 574 de até dois salários mínimos e 338 de mais de dois até quatro A quase totalidade dos alunos reside com a família em moradias de alvenaria com água encanada esgoto coleta de lixo luz elétrica guias e sarjetas e pavimentação na rua sendo que parte substantiva das residências é própria Observase assim que o curso supleti vo pesquisado atende a uma população de tra balhadores adultos mais urbanos e escolarizados do que as populações habitualmente atendidas por cursos de educação de jovens e adultos5 Com relação à condição de excluídos dos processos regulares de escolarização os alunos do Supletivo Profissionalizante Educação dos Trabalhadores pelos Trabalhadores embo ra tenham estado afastados da escola por um período bastante longo antes do ingresso no curso supletivo a maior parte por mais de dez anos não constituem um grupo de adultos tipicamente excluídos da escola alijados de todo contato com a instituição escolar Ao contrário além de terem permanecido na esco la por vários anos conforme mencionado ante riormente mais de 80 dos alunos declaram ter ingressado na escola regular com sete anos ou menos e apenas 4 após os dez anos de idade Nesse sentido mais do que totalmente excluí dos da escola esses alunos podem ser conside rados como produtos do fracasso do sistema escolar em garantir escolaridade básica com pleta para toda a população É interessante explorar a hipótese de que para além dos indicadores objetivos ida de de ingresso na escola anos de escolarida de ou série completada a condição de ex cluídos do mundo da escola transparece em 5 Ressaltase aqui o fato de os dados da investigação relatada referi remse a alunos do ensino médio e do segundo segmento do ensino funda mental e em sua maioria ligados a sindicatos de trabalhadores urbanos características que claramente contribuem para o delineamento de um perfil mais urbano e escolarizado do que aquele apresentado por alunos adultos em fase de alfabetização ou de escolarização inicial 221 Educação e Pesquisa São Paulo v30 n2 p 211229 maioago2004 outras dimensões da vida desses sujeitos As sim por exemplo embora declarem ter entra do na escola em idade regular e nela permane cido durante um período relativamente prolon gado os alunos do supletivo estudado apresen taram marcada dificuldade de fornecer informa ções precisas sobre a história de sua passagem pela escola Esse fato fica bastante evidente com relação à pergunta do questionário Com que idade você entrou na escola pela primeira vez Essa pergunta não produziu uma resposta automática e inequívoca como costuma pro duzir em sujeitos para os quais a passagem pela escola faz parte essencial de sua narrati va autobiográfica Ao contrário a pergunta não foi imediatamente compreendida por muitos dos entrevistados e gerou dúvidas sobre o con teúdo da resposta Conforme pudemos obser var no momento de aplicação do questionário parece que uma vez esclarecido o significado da pergunta vários alunos arbitraram uma ida de de ingresso na escola que não tinha um sentido de precisão cronológica mas ao con trário consistia numa referência bastante sub jetiva a um período da própria biografia talvez correspondente genericamente à infância à vida antes do ingresso no mercado de trabalho ou ao momento em que prevalecia um certo modo de relação com a família com a cidade ou com as instituições sociais É interessante mencionar alguns dados referentes a essa relação subjetiva com o pro cesso de escolaridade e com a própria infância O sindicalista V por exemplo quando fala de seus tempos de infância respondendo a uma pergunta sobre sua vida escolar feita na entre vista passa de um discurso de análise política bastante sofisticada para um tom nostálgico personalista emocional Vejamos os dois tipos de discurso Sobre o curso supletivo O supletivo eu penso que é parte de um sonho que a gente tinha que é essa forma de trabalhar a educação do trabalhador de um modo geral Nós sempre ti vemos aquela experiência aquele negócio de dizer assim ele é um trabalhador que contribui com a formação de outros e assim era a gente Na fábrica por exemplo eu vou contar uma experiência da fábrica A maioria do pessoal que vem do interior para Limeira por exemplo uma cidade de um nível razoavelmente industrial os que vieram na década de 1970 1980 a maioria tem muito pouca escolaridade e como se aprende a ser inspetor de qualidade se aprende a ser um torneiro mecânico Aprende na raça O peão que chega ali já fica trabalhando de ajudante ge ral o operador da máquina já está bem próxi mo ali e o operador daquela máquina seja torneiro plainador acaba ensinando o ajudan te É uma forma do trabalhador ensinar a ou tros trabalhadores É o que a gente pensa do curso supletivo Nós achamos que é possível essa troca de experiência entre o aluno trabalhador e o professor O professor é o trabalhador da área da educação e está dando a sua contribui ção de formação escolaridade àqueles que não tiveram oportunidade de ter um nível de escola ridade como deveriam ter Sobre a vida escolar na infância Na verdade lembrar do tempo de escola de infância dá sau dade A gente fazia um percurso grande a esco la na zona rural ficava oito dez quilômetros dis tante de casa e era gostoso porque a gente pas sava no meio das corria das vacas você via aquele monte de gado você trilhava e corria e saía uma criança para um lado outra para o outro no meio do mato se desviando É interes sante encontrava escorpião cobra no meio do mato e também na volta da escola catava fruta porque não sei se vocês conhecem tem uma planta interessante no mato é nativa chamada de ingá tem até umas vagens uma delícia ingá e a pindaíba pindaíba é tipo a frutadoconde o formato é igual só que é rosada e dá em ár vores grandes Então a gente matava o tempo porque tinha que chegar em casa catar o que tinha que era o café para o meiodia levava para o pai lá e os irmãos e já ficava trabalhan do então aos oito dez anos já era no trampo 222 Marta K OLIVEIRA Ciclos de vida algumas questões direto mas o bom que eu lembro era isso a dis tância mesmo com a dificuldade que tinha mais o orvalho mês de inverno então era horrí vel mas era bom Observase como o tempo de escola de infância parece estar mapeado subjetivamen te por impressões sensações lembranças pes soais de movimentos relações sabores sem referência a marcadores burocráticos ou de alguma forma objetivamente compartilhados sobre a passagem do tempo ou a passagem do sujeito por etapas estabelecidas no discurso típico do mundo letrado e escolarizado Embora a narrativa mencione a idade de oito dez anos essa referência cronológica não parece ter a função de precisar marcos bem definidos mas remeter ao tempo da vida rural da corre ria com as crianças do ingá e da pindaíba Esse sujeito provavelmente responderá à pergunta Com que idade você entrou na escola pela primeira vez a partir desse mapeamento sub jetivo segundo o qual as idades de oito ou dez anos por exemplo correspondem a um mesmo momento biográfico Essa falta de precisão do ponto de vista do pesquisador que certamente afeta a fidedignidade dos dados quantitativos sobre es colaridade constantes de um relatório de pes quisa poderia ser tomada talvez como evidên cia de uma relação não letrada não esco larizada com a própria passagem pela escola sugerindo uma modalidade de exclusão que não transparece em indicadores mais objetivos Mas poderia ser tomada também como um indício da importância das condições de vida e das diferentes pertinências culturais na consti tuição de diversos modos de pensar sentir lembrar esquecer narrar omitir possíveis para cada sujeito a cada momento de sua história pessoal De qualquer forma uma possível relação de exclusão com o mundo da escola pode ser considerada como estando presente em outros aspectos das entrevistas tais como dificulda des no uso da terminologia referente aos ciclos escolares Quando apareceu essa oportunida de lançada em 1999 começou na primeira turma eu fiquei esperando porque eu já tinha a oitava série vamos dizer o ensino médio né falta de informação sobre idade própria para ingresso na escola Já comecei meio atra sado com sete anos e inconsistências nos relatos sobre a história da própria escolaridade como fica evidente no diálogo a seguir retira do da entrevista com o sindicalista A Entrevistador Com que idade você entrou na escola A Veja eu sou nordestino nasci nas Alagoas Eu nasci em 1953 vim embora aqui para São Paulo em 1968 E Com quinze anos A Exatamente Com essa idade aí eu não tinha nem o ensino fundamental eu não tinha Eu comecei a estudar fazer supletivo desde os Eu estudei no Senai primeiro eu fiz o Sesi depois eu fiz supletivo segundo grau no Santa Inês e prestei vestibular passei Eu me formei no Mackenzie E Você fez um supletivo A É eu comecei estudando no ensino funda mental estudei em Alagoas já estudei em Sergipe também moramos uns dois anos E Você fez escola antes de vir para cá aos quinze anos A Fiz até o terceiro ano primário E Em que idade começou a escola A Eu comecei em torno de uns oito anos mais ou menos E E aí fez até que série A Fiz primeira segunda e terceira aí vim para São Paulo fiz um teste E Parou quanto tempo A Parei assim uns dois anos sem estudar mais ou menos aí depois eu fiz um teste no Sesi era Sesi né E passei para fazer o quarto ano e passei para o quinto ano só que do quinto ano em diante fiz só supletivo para recuperar a idade porque eu fiquei muito tempo também sem estudar eu comecei a estudar E Isso me interessa muito conclui essa história 223 Educação e Pesquisa São Paulo v30 n2 p 211229 maioago2004 você começou e fez até três anos A Na verdade eu acho que não me lembrei direito e falei uma coisa que não é bem assim E Corrige A Na verdade eu fiz assim que eu me lembre mesmo eu fiz préprimário numa escola francis cana na cidade de Penedo Uma escola de freira Aí depois eu cheguei a estudar um primeiro ano mesmo na escola estadual segui o primeiro ano depois não concluí Fiz o primeiro ano mas não concluí o segundo ano porque a gente ficava viajando de um lado para o outro fiquei um tempão sem escolaridade e vim estudar aqui em São Paulo quando a gente veio para cá Aí foi que eu fiz um teste no Sesi e passei para fazer Comecei o supletivo desde o primário digamos assim No que diz respeito à condição de adul tos dos trabalhadores que freqüentam cursos su pletivos destacase aqui a necessidade de historicização da investigação sobre a psicologia do adulto e a importância de se tomar a cultu ra como princípio explicativo do psiquismo A principal modalidade de inserção da pessoa adulta na cultura é o trabalho e essa seria a categoria fundamental de análise no processo de construção de uma psicologia do adulto Para os alunos trabalhadores a questão do trabalho é por definição ainda mais proe minente Apenas alguns dados preliminares sobre a questão da imersão dos sujeitos no mundo do trabalho foram obtidos nessa etapa inicial da pesquisa A esse respeito o caso de um diretor do Sindicato dos Radialistas se anun cia como extremamente relevante como objeto de um estudo mais aprofundado Se estudou até a sétima série do ensino fundamental mas ocupa o cargo de técnico em metereologia numa emissora de rádio e TV Seu trabalho con siste em interpretar dados de mapas metereo lógicos recebidos de agências internacionais e organizálos sob forma de notícias sobre o tempo a serem transmitidas pelos locutores da emissora aos ouvintes e telespectadores Sua ati vidade é diretamente relacionada a um mundo de representações simbólicas linguagens e tecnologias bastante específicas e seu desen volvimento nesse mundo se deu independente mente da qualificação profissional escolar Ele próprio afirma porém que adquiriu o conhe cimento técnico na prática mas que a escola o ajuda no aperfeiçoamento da construção do texto escrito Como no caso do técnico em metereo logia em vários outros depoimentos eviden ciouse a importância da relação entre o modo de inserção do sujeito no mundo do trabalho e as práticas de formação profissional de escolarização e de envolvimento na atividade sindical Em primeiro lugar observase que a própria busca de elevação da escolaridade desses adultos que procuraram o curso supletivo está claramen te associada à demanda de certificação por parte dos empregadores e às novas necessidades de formação ligadas às inovações tecnológicas no mundo do trabalho Vários dos sindicalistas entre vistados apontaram para essa questão como se pode observar nos trechos abaixo Hoje todo profissional tem que ter escolaridade porque o mercado de trabalho se aperfeiçoou ele tem outros mecanismos que exigem que a pessoa tenha condição de interpretação mexa com novas tecnologias C Bom para mim a recuperação da escolaridade significa garantia do emprego em primeiro lu gar e para quem está desempregado então é fundamental a recuperação escolar Se Ou você tem o estudo ou você não tem ou você é mandado embora até para faxineiro mesmo se você não tiver o primeiro grau lá você não entra J Agora com as novas tecnologias as coisas es tão apertando as empresas estão apertando esses camaradas para ter o certificado então eles estão vendo hoje que se faz necessário vol tar para o banco da escola Se 224 Marta K OLIVEIRA Ciclos de vida algumas questões Ao mesmo tempo entretanto a elevação da escolaridade é apontada como relevante não só pelas exigências do mercado de trabalho mas principalmente porque educação é importante para elevar a consciência das pessoas da reali dade eleva a consciência política eleva a ne cessidade do saber Ela é fundamental funda mental para a vida das pessoas a educação e para os trabalhadores isso para nós está entre as prioridades C Essa postulação está estreitamente liga da à questão do papel da escolarização no de senvolvimento psicológico tema que tem sido por nós tratado em trabalhos anteriores Olivei ra 1995 1996 2001 Por um lado podemos arrolar algumas características do funcionamen to cognitivo geralmente associadas aos adultos pouco escolarizados tais como pensamento referido ao contexto da experiência pessoal imediata dificuldade de operação com catego rias abstratas dificuldade de utilização de es tratégias de planejamento e controle da própria atividade cognitiva bem como pouca utilização de procedimentos metacognitivos Oliveira 1995 A escola parece estar ligada portanto à promoção de um modo de funcionamento in telectual que envolve capacidade de análise e reflexão de articulação do pensamento verbal de planejamento e tomada de decisão de dis tanciamento do contexto concreto da vida cotidiana de transcendência das condições objetivamente vivenciadas Por outro lado entretanto sabemos que a passagem pela escola não garante de modo homogêneo o acesso a essa forma de funcio namento intelectual já que entre sujeitos esco larizados há aqueles que não apresentam as características mencionadas e entre sujeitos pouco escolarizados há aqueles que as apre sentam É necessário portanto buscar outras práticas culturais que poderiam constituir fon tes relevantes de desenvolvimento psicológico numa determinada direção É interessante men cionar aqui uma observação pontual que indi ca a importância de diferentes atividades cul turais na implementação de modos de funcio namento psicológico O uso sistemático de agendas e o uso do registro escrito em reu niões modos de ação tipicamente letrados e portanto normalmente associados à exposição a níveis relativamente altos de escolaridade são práticas totalmente disseminadas entre os sin dicalistas estudados independentemente de seu grau de instrução escolar A fonte dessas práticas letradas portanto não é a escola e deve ser buscada em outras formas de ativida de cultural Além do trabalho já mencionado como categoria fundamental de análise na pre sente pesquisa a participação na atividade sin dical se apresenta neste contexto portanto como prática potencialmente relevante para a constituição de um determinado modo de fun cionamento psicológico Podemos afirmar que nos dados obtidos na pesquisa em foco escola e sindicato apare ceram como fontes alternativas ou complemen tares de desenvolvimento psicológico Assim se por um lado os alunos que se destacam no curso supletivo são aqueles que participam mais ativamente da atividade sindical por ou tro lado a escolaridade é considerada importan te e quando baixa aparece como falta como algo que definitivamente faz diferença no de sempenho pleno no âmbito do sindicato No vamente as entrevistas apresentam depoimen tos bastante relevantes a esse respeito Bom tem desde os alunos que não estão na dire ção do sindicato a partir do momento em que começaram o curso eles melhoraram até na sua participação na atividade do sindicato desde o curso de formação sindical política as questões das discussões de negociações das assembléias decisões de salários qualquer evento que o sindica to faça os alunos têm participado Agora nós te mos um grupo basicamente três a quatro alunos que são diretores do sindicato que têm mostrado a importância desse curso têm dado seu resultado Por exemplo tem o sr S um senhor que já está com seus cinqüenta e poucos anos e está na dire ção do sindicato Tinha parado um bom tempo de 225 Educação e Pesquisa São Paulo v30 n2 p 211229 maioago2004 estudar e voltou e é um dos mais assíduos partici pantes vai lá não falta a uma aula O curso in teiro acho que ele faltou umas três vezes porque teve que viajar para alguma atividade Então é nesse sentido que a gente vê a expectativa dessas pessoas e principalmente a nossa enquanto direção do sindicato da importância que está sendo esse curso na formação de trabalhadores M O sindicalista dentro da sala de aula ajuda eu acho que é um dos pontos mas um ponto mais forte mesmo é a ligação entre professor e sindica to e o elo de ligação que existe que é o traba lho dentro da sala de aula É lógico que com o sindicalista lá dentro tem mais poder de inserção de pedir a fala e poder mostrar um pouco AC P Você acha que quem tem baixa escolarida de é mais despolitizado ou é igual J No meu caso eu não tinha escolaridade mas tinha formação política muita gente também que não tem escolaridade tem formação políti ca Quem não tem o estudo acho que é meio difícil ter formação política Têm pessoas mes mo que ligam a televisão e quando está em horário político desligam não querem nem sa ber o que está passando P Mas e aí você não tem um caso de um sin dicalista que tenha pouca escolaridade mas que tivesse uma atuação política legal J Tem cita alguns nomes P Então a escola para eles não fez falta J Eu acho que faz falta sim porque se eles tivessem estudo eles poderiam sentar em uma mesa de negociação negociar melhor saber os números entendeu que era o meu caso Como eu vou analisar uma negociação de vamos supor se eu não tiver estudo como eu vou fa zer um cálculo daqueles Que é a dificuldade de um deles que é um diretor de sindicato P Então você acha que a escola faz diferença J Faz diferença Para além dessas relações mais gerais ob servadas os dados preliminares sobre como os adultos trabalhadores pensam e aprendem e sobre as relações entre funcionamento intelectual e vida adulta escola e trabalho indicaram de modo geral a importância de se considerar as trajetórias singulares dos diferentes sujeitos e a questão de que não haveria um único caminho de desenvolvimento ou uma única forma de funcionamento psicológico para o ser humano Ser adulto trabalhador estudante participante de sindicato e pai de família membro de grupo religioso militante de partido político etc são condições que em diferentes combinações e com diversos significados constituem formas peculiares de construção de conhecimento e de aprendizagem evidenciando que o desenvolvi mento psicológico é um processo de constante transformação e de geração de singularidades A esse respeito podemos citar brevemente algumas informações extraídas das entrevistas O sindicalista AC por exemplo nos fala da morte da mãe como um fator significativo em seu processo de desenvolvimento juntamente com a escola e o sindicato esse evento especí fico moldou de acordo com o próprio sujeito algumas de suas características pessoais P Agora onde que você além da escola lógi co onde você conseguiu essa facilidade de con versa de expor suas idéias AC Não eu estive em várias escolas uma delas foi a perda de um membro da família que era minha mãe eu tive que morar sozinho e pra morar sozinho a gente tem que ser desinibido pra pedir alguma coisa pras pessoas porque a gente depen de uma da outra Pra lavar uma roupa eu pedia para os vizinhos E eu conversava muito pouco A segunda é o sindicato Agora a terceira que está melhorando o meu vocabulário é a escola A sindicalista Si menciona além da escola e dos cursos de formação no sindicato a inten sa prática de leitura e a atividade na Igreja Ca tólica como fontes de conhecimento P E quais outras atividades na sua vida social fora da escola que você acha que te trazem co 226 Marta K OLIVEIRA Ciclos de vida algumas questões nhecimento além de cursos de formação no sindicato sobre os quais se falou anteriormente Si Olha eu sou uma leitora crônica eu ado ro ler Tudo quanto é tipo de leitura salvo as porcariadas às vezes até as porcariadas porque deve ter alguma coisa interessante Até porque assim quando você entra num espaço de forma ção sindical você tem que estar lidando tam bém com essas coisas do senso comum você não pode bitolar e tampar os olhos para aquilo que existe no mundão Ah esqueci de dizer que eu fui catequista No que diz respeito à qualificação pro fissional no caso do marceneiro R a experiên cia de trabalho na serraria do pai na infância tem clara relação com seu destino e formação profissional e com o conhecimento de todo o ciclo de produção dos produtos de madeira Mas foi no Senai que ele aprendeu a lidar com plantas e a utilizar ferramentas que até hoje o pai ainda marceneiro não utiliza R Comecei a trabalhar com uns 14 anos P Lá no Maranhão R Lá no Maranhão P E o que você fazia R Eu trabalhava na roça né logo de manhã trabalhava na roça O sol esquentava e eu ia para a serraria com meu pai Meu pai era a família era uma família de operário Meu pai tinha uma serraria P Ah então você já mexia com madeira R É então nós íamos para a roça logo de ma nhã cedo O sol esquentava aí nós íamos para a marcenaria Então eu conheço a gente conhece desde o pé da árvore né você derrubava ele né não era na serra era com machado lavava la vava ele e a gente ia levava para a serraria que a gente chamava de estaleiro Então meu pai ficava embaixo e com um serrote e a gente tirava mais ou menos umas doze tábuas por dia E aí para a marcenaria fazer os móveis P Então seu aprendizado foi mais com seu pai mesmo R É mais com meu pai P E o Senai acrescentou conhecimento as sim ou não R Acrescentou acrescentou foi a parte técnica né Por exemplo lá meu pai até hoje ele não conhece de planta foi o que nós conhecemos um pouco de planta né E a ferramenta de trabalho lá nós tínhamos outra ferramenta de trabalho O caso da formação deste marceneiro especialmente sua relação com a totalidade do ciclo de produção na infância e a apro priação de tecnologia as ferramentas e as plantas como instrumentos mediadores poderá ser utilizado juntamente com o caso do técnico em metereologia mencionado an teriormente para um aprofundamento da compreensão da imersão dos sujeitos no mundo do trabalho Já o bancário A bacharel em Química explicita uma escolha profissional que aliás não corresponde ao ramo de seu emprego a partir de uma experiência no mundo do tra balho que lhe despertou curiosidade intelec tual E já trabalhei com meu próprio irmão como aju dante de encanador registrado em carteira tra balhei como auxiliar de expedição registrado já já trabalhei como eletricista passei a eletri cista trabalhei quase quinze anos como eletricis ta e me encantei pela química porque já traba lhei na Petroquímica União como eletricista mas eu via eu acompanhava os químicos fazendo formulação e outras coisas que me levaram a despertou a vontade de estudar química A Evidentemente essas informações pon tuais não constituem um corpo de dados sufi cientemente denso que permita a exploração da questão da constituição da singularidade nas tra jetórias individuais e suas relações com caracte rísticas comuns ao grupo de adultos estudados Elas estão aqui mencionadas como indicadores da importância de se construir uma compreen são aprofundada das configurações históricas no 227 Educação e Pesquisa São Paulo v30 n2 p 211229 maioago2004 processo de constituição dos sujeitos Assim mesmo num grupo relativamente homogêneo de trabalhadores adultos urbanos em cujo discur so na situação de entrevista contextualizada na presente pesquisa destacamse os temas do tra balho da escola e do sindicato emergem temas peculiares únicos singulares Para um sujeito a morte prematura da mãe é um fator fundamen tal para outro as práticas de leitura e a Igreja para um enfatizase o trabalho na infância liga do à esfera familiar para outro a experiência na fábrica A construção de categorias que levem em conta esses temas fundamentais para cada sujeito sem perder de vista o objetivo de uma ordenação generalizante dos dados obtidos é um desafio a ser enfrentado numa fase de apro fundamento da análise Relacionado a isso delineiase aqui uma questão teóricometodológica é fundamental transitar entre os objetivos de compreensão mais complexa dos temas centrais na constituição das singularidades dos sujeitos estudados e de construção de categorias de análise que permi tam certa ordenação generalizante dos dados obtidos Como afirma Ecléa Bosi uma história de vida ou mil histórias de vida jamais substi tuirão um conceito ou uma teoria da História Muito mais que qualquer outra fonte o de poimento oral ou escrito necessita esforço de sistematização e claras coordenadas inter pretativas 2003 p 49 O trabalho de pesquisa de Bernard Lahire 1997 sobre o sucesso e o fracasso escolar de crianças provenientes de um meio social bastan te homogêneo cujos perfis individuais foram analisados em termos do processo de constitui ção de singularidades fundase numa meto dologia exemplar nesse sentido Esse pesquisa dor mergulha nos casos individuais procuran do superar o plano de análise correlacional com uma análise aprofundada de configura ções únicas Mas retoma a empreitada cientí fica da generalização ao encontrar temas re correntemente associados ao sucesso escolar presentes nos diversos casos estudados Como afirma ele o problema central de construção do objeto consiste em passar de uma reflexão estatística sobre as relações as correlações entre meio social e de sempenhos escolares a uma microscopia socioló gica dos processos e das modalidades dos fenôme nos sociais sem cair no entanto em puras descri ções monográficas Lahire 1997 p31 Com relação à educação de jovens e adultos campo que dialoga diretamente com as reflexões aqui propostas as implicações da pre sente análise são bastante claras Os sujeitos da ação educativa nesse campo encontramse jus tamente nos ciclos de vida pósinfância para os quais como vimos não há conhecimento teó rico muito bem estruturado disponível e per tencem a segmentos sociais específicos que têm sido objeto de generalizações pouco fun damentadas sobre supostas relações entre fun cionamento psicológico e pobreza baixo nível instrucional e baixa qualificação profissional ver por exemplo pesquisas mencionadas em Haddad 2000 e Kleiman 1995 Neste artigo procuramos enfatizar a ne cessidade de historicizar a compreensão do desenvolvimento tomando os ciclos de vida como etapas culturalmente organizadas de passagem do sujeito pela existência tipicamen te humana As atividades e práticas culturais e especialmente os instrumentos signos e mo dos de pensar a elas relacionados foram pos tulados como constitutivas da mente humana Nesse sentido os jovens e adultos concretos que se encontram na sala de aula deveriam ser objeto de conhecimento aprofundado por meio da investigação sobre seu modo de in serção na vida social suas atividades seu acesso a diferentes tecnologias e linguagens a partir do qual poderia ser estabelecido um diálogo com os instrumentos signos e modos de pensar que são próprios da escola para um exemplo de um trabalho com adultos na escola no sentido de constituílos como sujei tos da aprendizagem e do próprio processo de escolarização vejase Fonseca 2001 As prá ticas escolares assim construídas tomariam es 228 Marta K OLIVEIRA Ciclos de vida algumas questões Referências bibliográficas ACKERMAN P L Adult intelligence sketch of a theory and applications to learning and education In SMITH MC POURCHOT T Orgs Adult learning and development Adult learning and development Adult learning and development Adult learning and development Adult learning and development perspectives from educational psychology New Jersey Lawrence Erlbaum Associates 1998 BOSI E O tempo vivo da memória O tempo vivo da memória O tempo vivo da memória O tempo vivo da memória O tempo vivo da memória ensaios de psicologia social São Paulo Ateliê Editorial 2003 DI PIERRO M C Coord Seis anos de educação de jovens e adultos no Brasil Seis anos de educação de jovens e adultos no Brasil Seis anos de educação de jovens e adultos no Brasil Seis anos de educação de jovens e adultos no Brasil Seis anos de educação de jovens e adultos no Brasil os compromissos e a realidade São Paulo Ação Educativa 2003 FONSECA M da C F R Lembranças da matemática escolar a constituição dos alunos da EJA como sujeitos da aprendizagem Educação e Pesquisa Educação e Pesquisa Educação e Pesquisa Educação e Pesquisa Educação e Pesquisa juldez 2001 p 339354 HADDAD S Coord O estado da arte das pesquisas em educação de jovens e adultos no Brasil O estado da arte das pesquisas em educação de jovens e adultos no Brasil O estado da arte das pesquisas em educação de jovens e adultos no Brasil O estado da arte das pesquisas em educação de jovens e adultos no Brasil O estado da arte das pesquisas em educação de jovens e adultos no Brasil a produção discente da pós graduação em educação no período 19861998 São Paulo Ação Educativa 2000 KLEIMAN A Crg Os significados do letramento Os significados do letramento Os significados do letramento Os significados do letramento Os significados do letramento Campinas Mercado de Letras 1995 LAHIRE B Sucesso escolar nos meio populares Sucesso escolar nos meio populares Sucesso escolar nos meio populares Sucesso escolar nos meio populares Sucesso escolar nos meio populares as razões do improvável São Paulo Ática 1997 LURIA A R Desenvolvimento cognitivo Desenvolvimento cognitivo Desenvolvimento cognitivo Desenvolvimento cognitivo Desenvolvimento cognitivo seus fundamentos culturais e sociais São Paulo Ícone 1990 MERRIAN S B CAFFARELLA R S Learning in adulthood Learning in adulthood Learning in adulthood Learning in adulthood Learning in adulthood a comprehensive guide San Francisco JosseyBass Publishers 1999 MORAES C S V et al Educação de adultos trabalhadores metodologias de ensinoaprendizagem itinerário formativo e capacitação de professores Relatório de Pesquisa Relatório de Pesquisa Relatório de Pesquisa Relatório de Pesquisa Relatório de Pesquisa Fapesp Políticas Públicas Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo São Paulo 2002 OLIVEIRA MK de Letramento cultura e modalidades de pensamento In Angela Kleiman Org Os significados do letramento Os significados do letramento Os significados do letramento Os significados do letramento Os significados do letramento Campinas Mercado de Letras 1995 Escolarização e organização do pensamento Revista Brasileira de Educação Revista Brasileira de Educação Revista Brasileira de Educação Revista Brasileira de Educação Revista Brasileira de Educação n3 p 97102 1996 Sobre diferenças individuais e diferenças culturais o lugar da abordagem históricocultural In AQUINO J G Org Erro Erro Erro Erro Erro e fracasso na escola e fracasso na escola e fracasso na escola e fracasso na escola e fracasso na escola alternativas teóricas e práticas São Paulo Summus 1997 Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem In RIBEIRO V M Org Educação de jovens e Educação de jovens e Educação de jovens e Educação de jovens e Educação de jovens e adultos adultos adultos adultos adultos novos leitores novas leituras Campinas Mercado de LetrasABL São Paulo Ação Educativa 2001 REGO T C Vygotsky e as complexas relações entre cognição e afeto In ARANTES V A Org Afetividade na escola Afetividade na escola Afetividade na escola Afetividade na escola Afetividade na escola alternativas teóricas e práticas São Paulo Summus 2003 TEIXEIRA E A questão da periodização do desenvolvimento psicológico In OLIVEIRA M K de SOUZA D T R REGO T C Orgs Psicolog Psicolog Psicolog Psicolog Psicologia ia ia ia ia Educação e as temáticas da vida contemporânea Educação e as temáticas da vida contemporânea Educação e as temáticas da vida contemporânea Educação e as temáticas da vida contemporânea Educação e as temáticas da vida contemporânea São Paulo Moderna 2002 PALACIOS J Introdução à psicologia evolutiva história conceitos básicos e metodologia In COLL C PALACIOS J MARCHESI A Orgs Desenvolvimento psicológico e educação Desenvolvimento psicológico e educação Desenvolvimento psicológico e educação Desenvolvimento psicológico e educação Desenvolvimento psicológico e educação psicologia evolutiva Porto Alegre Artes Médicas 1995 ses alunos como sujeitos humanos plenos em constante constituição por meio da imersão em situações concretas de construção de sig nificações A superação da exclusão do mundo letrado e escolarizado passaria desse modo não apenas pela oferta de oportunidade formal de elevação de escolaridade mas pela apropri ação da escola pelos sujeitos adultos como lugar social que é de todos os atores que nela interagem 229 Educação e Pesquisa São Paulo v30 n2 p 211229 maioago2004 PINO A O conceito de mediação semiótica em Vygotsky e seu papel na explicação do psiquismo humano Caderno CEDES Caderno CEDES Caderno CEDES Caderno CEDES Caderno CEDES n 24 p 3243 1991 RIBEIRO V M M et al Metodolog Metodolog Metodolog Metodolog Metodologia da alfa ia da alfa ia da alfa ia da alfa ia da alfabetização betização betização betização betização pesquisas em educação de jovens e adultos Campinas Papirus São Paulo CEDI 1992 SMOLKA A L B Sobre significação e sentido uma contribuição à proposta da Rede de Significações In ROSSETTIFERREIRA C et al Orgs Rede de significações e o estudo do desenvolvimento humano Rede de significações e o estudo do desenvolvimento humano Rede de significações e o estudo do desenvolvimento humano Rede de significações e o estudo do desenvolvimento humano Rede de significações e o estudo do desenvolvimento humano Porto Alegre Artmed 2004 TORFF B STERNBERG R J Changing mind changing world practical intelligence and tacit knowledge in adult learning In SMITH M C e POURCHOT T Orgs Adult learning and development Adult learning and development Adult learning and development Adult learning and development Adult learning and development perspectives from educational psychology New Jersey Lawrence 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da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo É graduada em Pedagogia pela USP e mestre e doutora em Psicologia da Educação pela Universidade de Stanford EUA