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O tamanho do estrago Por Antônio Gois 09112020 0430 No início de agosto ao apresentar um relatório da Unesco sobre os desafios do setor educacional durante a pandemia o secretáriogeral da ONU António Guterres classificou a crise causada pela Covid19 como o distúrbio mais grave já registrado nos sistemas educacionais em toda a história Não era exagero Ainda é cedo para mensurar todo o impacto do fechamento repentino das escolas em múltiplas dimensões afetadas pela educação mas já começam a surgir alguns estudos que dimensionam o tamanho do estrago Um deles foi publicado há duas semanas na revista acadêmica Educational Researcher editada pela Associação Americana de Pesquisas Educacionais Aera e trata do cenário dos Estados Unidos em relação às perdas de aprendizagem Lá como ainda não houve retorno presencial de todos os estudantes então ainda não foi possível avaliar todo o impacto negativo do fechamento de escolas Para contornar este problema os autores estimaram esse impacto a partir de estudos feitos em três situações prévias à pandemia as perdas verificadas durante férias de verão pelo fechamento de escolas devido a condições climáticas ou pelo absenteísmo dos alunos Dentre os cenários projetados o mais preocupante estima que os estudantes chegarão após três meses de paralisação com perdas de aprendizagem entre 32 e 37 em leitura e 63 a 50 em matemática se comparadas ao que seria esperado num ano letivo normal Megan Kuhfeld autora principal do estudo explica que a perda estimada é maior em matemática porque as famílias têm menos condições de ajudar os filhos nessa disciplina e por não possuírem em casa livros apropriados para a faixa etária das crianças algo mais provável de acontecer no caso de livros de leitura Outro alerta importante que o estudo confirma é que as perdas serão sentidas de forma muito desigual entre as crianças Para algumas que tiveram condições de continuar estudando remotamente e com apoio dos pais pode até não haver perdas especialmente no caso de leitura Para outras porém o impacto negativo será brutal Um outro estudo a investigar a mesma questão veio da Holanda este com a vantagem de se basear em dados mensurados após o retorno de 350 mil alunos às escolas oito semanas depois do fechamento Ao examinar as médias dos alunos em testes feitos antes e depois da paralisação os autores Per Engzell Arun Frey e Mark Verhagen compararam a evolução das crianças neste ano com a verificada no mesmo período do ano passado Eles concluíram que as perdas de aprendizagem foram equivalentes a um quinto do ano letivo praticamente o mesmo período em que as escolas ficaram fechadas Também no caso holandês as perdas foram maiores para alunos de menor nível socioeconômico Para os autores os dados da Holanda um país rico e que ficou relativamente pouco tempo com escolas fechadas indica que o quadro será muito pior para países como o Brasil Esses resultados implicam que na média os alunos fizeram pouco ou nenhum progresso enquanto estudavam em casa e sugerem perdas muito maiores em países menos preparados para o ensino remoto