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1 INTRODUÇÃO A endometriose compreende uma patologia inflamatória crônica e benigna que afeta cerca de 10 de mulheres entre a menarca e a menopausa no decorrer do período reprodutivo Adilbayeva e Kunz 2024 Tem como característica a presença e acúmulo de tecido endometrial incluindo glândulas e estromas fora da cavidade uterina ocorrendo a indução da inflação crônica Yela et al 2023 Os órgãos lesionados frequentemente pela presença de focos endometriais são os ovários trompas uterinas e o peritônio em que reveste a cavidade pélvica Adilbayeva e Kunz 2024 Entretanto os endometriomas pode comprometer também o intestino delgado e grosso sistema excretor e em casos raros podem afetarem estruturas distantes como o pericárdio pulmões e o sistema nervoso central Tsamantioti e Mahdy 2023 A endometriose é classificada em três subtipos que são essenciais varia de acordo com a profundidade da infiltração das lesões e a localização podendo ser superficial ovariana e profunda A superficial é descrita por leões isoladas localizadas na superfície do peritônio sendo a principal manifestação da doença Imperiale et al 2023 A endometriose ovariana se manifesta por meio da formação de cistos denominados endometriomas resultante do tecido ectópico nos ovários constantemente associados à infertilidade A forma profunda da endometriose acontece quando os implantes endometrióticos adentram mais de 5mm abaixo da superfície peritonial afetado órgãos como a bexiga intestino e ligamentos pélvicos Imperiale et al 2023 Barnard et al 2024 As manifestações clínicas frequentes compreendem dor pélvica crônica acentuada dismenorreia intensa dor vulvovaginal comprometimento da fertilidade alterações intestinais e dor durante a relação sexual Ressaltase que a gravidade dos sintomas não apresenta relação direta com o grau de acometimento da enfermidade sendo possível a ausência de sintomas Allaire et al 2023 De acordo com a Organização Mundial de Saúde OMS a endometriose afeta aproximadamente 180 milhões de mulheres em todo o mundo sendo estimado cerca de 7 milhões no Brasil ou seja 1 a cada 10 mulheres em idade reprodutiva sofrem com essa patologia GOV 2023 Entre janeiro de 2012 a outubro de 2023 foram registrados 66775 diagnósticos A faixa etária mais recorrente é de mulheres entre 40 a 49 anos pois normalmente a endometriose possui diagnóstico tardio Cardoso et al 2024 Este estudo tem como principal objetivo trazer conhecimentos acerca da endometriose trazendo um panorama acerca da etiologia fisiopatologia diagnóstico correlacionando com a infertilidade feminina e abordando possíveis tratamentos Para isso um estudo de caso será apresentado juntamente com uma revisão bibliográfica 3 DESENVOLVIMENTO 321 Fisiopatologia A endometriose é caracterizada por implantes endometrióticos fora da cavidade uterina influenciada por fatores hormonais imunológicos e neurológicos Saunders et al 2021 O tecido heterotópico demonstra resistência à progesterona o que reduz a ação inibitória desse hormônio permitindo seu crescimento e manutenção Ademais as lesões produzem estrogênio localmente induzindo a persistência da doença Taylor et al 2021 A produção aumentada de estrogênio mantém a proliferação celular a inflamação local e a sobrevivência das lesões ectópicas As lesões apresentam desbalanço nos receptores de estrogênio com maior expressão de ERß nas células estromais em relação ao endométrio eutópico favorecendo a proliferação e reduzindo a apoptose enquanto a expressão de ERα é menor modificando a regulação do ciclo celular e a resposta tecidual A atividade elevada das aromatases contribui para a produção local de estrogênio permitindo que as células mantenham um microambiente hormonal favorável de forma autônoma Alterações epigenéticas com modificações na metilação do DNA participam da manutenção desse padrão de expressão dos receptores e da atividade estrogênica aumentada Chantalat et al 2020 A existência desse tecido fora do útero estimula uma resposta inflamatória crônica impulsionando as células do sistema imunológico que liberam mediadores inflamatórios desenvolvendo angiogênese e dor Saunders et al 2021 Taylor et al 2021 A relação entre o sistema nervoso e imunológico contribui para um estado doloroso crônico e progressão da endometriose Saunders et al 2021 A resposta imunológica sofre alterações que viabilizam a existência do tecido ectópico pois células como macrófagos e células natural killer NK exibem função comprometida na eliminação dessas lesões Symons et al 2018 Os macrófagos dispõem um papel importante na manutenção e crescimento das lesões O recrutamento contínuo de monócitos e a alteração da composição dos macrófagos peritoneais alimentam a progressão da doença Macrófagos derivados do endométrio e monócitos promovem o crescimento das lesões enquanto a substituição dos macrófagos residentes por monócitos limita a formação das lesões A atenuação dos macrófagos endometriais diminui o tamanho das lesões apontando que a origem dessas células estimula a inflamação local Hogg et al 2021 Os receptores tolllike TLRs colaboram para a resposta inflamatória crônica pois identificam sinais de perigo e ativam vias que aumentam a produção de citocinas inflamatórias No tecido endometrial ectópico a expressão alterada desses receptores propicia a conservação da inflamação e contribui para a permanência do tecido fora do útero Azevedo et al 2021 O estado inflamatório contínuo aciona vias que aumentam a produção de citocinas e promovem a formação de novos vasos sanguíneos e remodelação tecidual mantendo o crescimento das lesões Symons et al 2018 A ativação frequente da resposta imune modifica o microambiente local favorecendo a progressão da doença Figura 1 Azevedo et al 2021 Portanto a fisiopatologia da endometriose abrange resistência hormonal combinada à resposta imunológica alterada juntamente com a inflamação crônica alterações vasculares e nervosas permanece com a doença ativa e em evolução Saunders et al 2021 Taylor et al 2021 322 Etiologia da endometriose A etiologia da endometriose não é completamente estabelecida pois acreditase que a doença tenha múltiplos fatores envolvidos em sua origem Entre as hipóteses mais aceitas se destaca a teoria da menstruação retrógrada proposta por Sampson que sugere que células do endométrio retornam retrogradamente pelas tubas uterinas e se implantam em locais fora do útero contribuindo para o desenvolvimento das lesões endometrióticas Cousins et al 2023 Embora a menstruação retrógrada ocorra em muitas mulheres apenas uma pequena porcentagem desenvolve endometriose sugerindo a existência de fatores adicionais que predispõem certas mulheres à doença Alterações na imunidade como a incapacidade do sistema imunológico de reconhecer e destruir o tecido endometrial ectópico têm sido implicadas na patogênese da endometriose Correia 2024 Fatores ambientais e ocupacionais também contribuem na etiologia da endometriose ao elevar o risco de desenvolvimento A exposição a substâncias químicas poluentes pode provocar a alterações celulares que favorece a formação das lesões endometriais evidenciando a origem multifatorial da patologia Caporossi et al 2021 323 Diagnóstico O reconhecimento da endometriose envolve uma abordagem complexa que une avaliação clínica exames de imagem e em certas situações um procedimento cirúrgico A anamnese detalhada e o exame físico são fases iniciais importantes mas não bastam para assegurar a existência da doença Chen et al 2025 O método de imagem predominantemente utilizado em um primeiro momento é a ultrassonografia transvaginal dada sua facilidade de acesso e capacidade efetiva de identificar endometriomas e lesões mais profundas Em contrapartida a ressonância magnética fornece imagens mais precisas sendo especialmente útil na identificação de lesões situadas em áreas de difícil visualização ou em casos de suspeita de endometriose profunda com caráter infiltrativo Chauhan et al 2022 A paciente realizou diversos exames de imagem dentre eles uma ressonância magnética em 2019 Figura 2 antes de realizar a laparoscopia novamente obteve um laudo que continha um pequeno foco de endometriose na parede serosa do sigmoide distal medindo 06 x 04cm lesão localizada a cerca de 14cm da borda anal não satisfeita com o resultado resolveu procurar uma segunda opinião do mesmo exame foi identificado espessamento focal no grande omento à esquerda próximo ao sigmoide provavelmente relacionado a cicatriz póscirúrgica O marcador tumoral CA125 serve como um complemento aos exames não invasivos para diagnosticar a endometriose Ele tem maior sensibilidade em estágios avançados da doença mas é limitado nas fases iniciais e não é específico para endometriose podendo estar elevado em outras patologias Por isso o CA125 pode ser usado para rastrear pessoas com chance de ter a doença em um estágio mais desenvolvido mas não é o bastante para descartar o diagnóstico em casos iniciais ou com poucos sintomas Hirsch et al 2016 Apesar dos avanços nos métodos de imagem a laparoscopia permanece como o procedimento definitivo utilizado para a confirmação do diagnóstico da endometriose Figura 3 por possibilitar a observação direta das lesões e a coleta de material para análise histopatológica Chen et al 2025 No entanto por ser um procedimento invasivo a laparoscopia só deve ser indicada com base em critérios clínicos claros Ela é geralmente utilizada quando os sintomas persistem ou quando os exames menos invasivos não trazem resultados definitivos Edi e Cheng 2022 Contudo diagnosticar a endometriose exige uma combinação de avaliação clínica exames de imagem e se necessário a laparoscopia Marcadores como o CA125 ainda têm um papel limitado nesse processo É fundamental encontrar formas de diagnóstico menos invasivas e mais precisas para identificar a doença cedo Isso permite um tratamento mais eficaz e melhora o acompanhamento dos casos Chen et al 2025 Chauhan et al 2022 Hirsch et al 2016 324 Tratamento medicamentoso A endometriose é uma enfermidade crônica e de caráter incurável exigindo que a conduta terapêutica seja individualizada conforme a gravidade dos sintomas a idade da paciente e seu desejo reprodutivo As abordagens hormonais representam a base do tratamento com o objetivo de induzir um estado hipoestrogênico semelhante à menopausa suprimindo a menstruação e consequentemente o desenvolvimento das lesões Zondervan et al 2020 Kalaitzopoulos et al 2021 Entre as opções disponíveis destacamse as progestinas os agonistas e antagonistas do hormônio liberador de gonadotrofinas GnRH os contraceptivos orais combinados e os antiinflamatórios não esteroidais AINEs frequentemente utilizados em associação ou de maneira sequencial a depender da resposta clínica Bedaiwy et al 2017 As progestinas agem suprimindo o eixo hipotálamohipófiseovário com redução nos níveis de FSH e LH e consequente anovulação Além disso exercem efeito antiproliferativo por meio da diminuição da angiogênese da modulação de mediadores inflamatórios e da indução de apoptose em células endometrióticas favorecendo o controle da progressão da doença Mitchell et al 2022 Enquanto os agonistas de GnRH embora inicialmente provoquem um aumento transitório de gonadotrofinas devido à estimulação hipofisária levam à dessensibilização dos receptores e posterior supressão da produção estrogênica o que resulta na regressão das lesões Luna Russo et al 2020 Os antagonistas de GnRH por sua vez apresentam a vantagem de bloquear imediatamente os receptores hipofisários promovendo queda abrupta de estrogênio sem o efeito de exacerbação observado com os agonistas tornandoos uma alternativa promissora no manejo clínico Donnez et al 2020 Os contraceptivos orais combinados amplamente prescritos reduzem a dor pélvica crônica e a dismenorreia além de prevenir o crescimento de novos implantes endometrióticos Brown et al 2018 Por fim os AINEs permanecem como recurso complementar sendo utilizados para o alívio sintomático da dor e da inflamação decorrentes da doença Zondervan et al 2018 A paciente relatou ter realizado tratamento prévio com o uso do agonista de GnRH cuja finalidade foi a indução de um estado hipoestrogênico com o objetivo de promover a regressão das lesões endometrióticas e proporcionar o controle dos sintomas da doença 325 Infertilidade A Organização Mundial da Saúde OMS define a infertilidade como a impossibilidade de conceber após um ano ou mais de relações sexuais regulares e desprotegidas Essa condição se subdivide em dois tipos primária quando nunca houve uma gravidez e secundária quando uma gestação anterior ocorreu independentemente do seu resultado Entre as causas femininas da infertilidade sobressaem os distúrbios de ovulação como a síndrome dos ovários policísticos alterações hormonais como hipotireoidismo e hiperprolactinemia e problemas estruturais incluindo obstruções nas tubas uterinas decorrentes de infecções além de patologias uterinas como miomas e endometriose OMS 2024 Fatores ligados ao estilo de vida como obesidade ingestão de álcool e tabagismo também podem impactar negativamente a fertilidade A infertilidade é reconhecida como uma condição que afeta o sistema reprodutivo comprometendo não apenas a saúde física mas também o equilíbrio emocional e social de milhões de indivíduos globalmente Estimase que uma em cada seis pessoas em idade fértil enfrentará essa adversidade em algum momento da vida OMS 2024 A endometriose compromete a fertilidade devido a processos inflamatórios e modificações anatômicas incluindo aderências e alterações na arquitetura pélvica que dificultam a fertilização e a fixação do embrião Van Gestel et al 2024 Além disso a inflamação crônica e as disfunções hormonais relacionadas impactam a qualidade dos ovócitos a capacidade de receptividade do endométrio e a própria estrutura reprodutiva Isso dificulta a ovulação a fertilização e a fixação do embrião tornando essencial uma conduta personalizada em razão da ampla gama de manifestações clínicas que as pacientes podem apresentar Bonavina e Taylor 2022 A inflamação causada pelas lesões compromete também o desenvolvimento folicular e a receptividade endometrial dificultando a concepção e reforçando a necessidade de compreender esses mecanismos para aprimorar as estratégias diagnósticas e terapêuticas Rathod et al 2024 Alterações no endométrio incluindo inflamação crônica e desequilíbrios hormonais prejudicam a expressão gênica necessária para a implantação embrionária reduzindo a janela de receptividade do útero e contribuindo para a infertilidade em mulheres com endometriose Racca et al 2024 A retirada cirúrgica das lesões por laparoscopia pode reduzir a inflamação e elevar as chances de gestação tanto natural quanto por meio de técnicas de reprodução assistida Isso acontece porque o procedimento restaura a anatomia pélvica e atenua os impactos inflamatórios Essa intervenção é aconselhada para casos mais profundos embora sejam precisos mais estudos para definir o momento e o protocolo mais adequados para a cirurgia Hamilton et al 2023 No entanto é crucial considerar que a cirurgia pode afetar a reserva ovariana Por isso a fertilização in vitro surge como uma alternativa praticável principalmente para pacientes com obstrução nas tubas uterinas ou que não obtiveram sucesso com tratamentos prévios A decisão entre cirurgia e fertilização dependerá da idade da paciente da severidade da doença e do seu histórico clínico Sokteang et al 2024 A fertilização in vitro FIV é uma opção de tratamento bastante eficaz para mulheres com endometriose que enfrentam dificuldades para engravidar Estudos mostram que as taxas de sucesso da FIV em mulheres com essa condição geralmente são semelhantes às de quem não tem endometriose especialmente quando a reserva ovariana ainda está preservada Benlioglu et al 2025 No entanto a presença de endometriomas e cirurgias laparoscópicas podem afetar essa reserva reduzindo o número de óvulos disponíveis para o procedimento La Marca et al 2025 Por isso para mulheres jovens ou que precisarem passar por várias cirurgias nos ovários a preservação da fertilidade como a criopreservação de óvulos pode ser uma boa alternativa Além disso escolher o melhor momento para fazer a FIV depende de fatores como a idade da paciente a gravidade da endometriose e a condição dos ovários sempre com acompanhamento de um especialista Para aumentar as chances de sucesso é importante avaliar cuidadosamente todas essas variáveis antes de decidir o momento ideal para realizar o procedimento Benlioglu et al 2025 4 CONCLUSÃO A endometriose é uma doença inflamatória crônica que mesmo sendo benigna causa grande impacto na saúde da mulher Além da dor pélvica intensa um dos principais problemas associados é a infertilidade que compromete não só a vida reprodutiva mas também o bemestar físico e emocional da paciente O caso relatado neste trabalho evidencia a dificuldade enfrentada por mulheres que convivem com a endometriose mostrando um percurso longo de consultas médicas cirurgias uso de medicamentos e tentativas de reprodução assistida Apesar dos avanços da medicina a paciente permaneceu sem sucesso gestacional o que reforça o caráter desafiador da doença A revisão bibliográfica apresentada confirma que a endometriose tem origem multifatorial envolvendo fatores hormonais imunológicos ambientais e genéticos Também foi possível observar que mesmo com exames de imagem cada vez mais modernos a laparoscopia ainda é o método de maior precisão diagnóstica Em relação ao tratamento ficou evidente que não existe uma única conduta mas sim a necessidade de personalizar a escolha de acordo com os sintomas a idade e o desejo de engravidar Por fim este estudo reforça a importância do diagnóstico precoce da individualização do tratamento e do acompanhamento multiprofissional Além disso evidencia a necessidade de ampliar o acesso à informação e ao tratamento especializado visto que muitas mulheres descobrem a doença apenas após anos de sintomas e frustrações Concluímos que compreender a relação entre a endometriose e a infertilidade é fundamental para oferecer às pacientes melhores possibilidades terapêuticas e principalmente mais qualidade de vida REFERÊNCIAS ADILBAYEVA A KUNZ J Pathogenesis of endometriosis and endometriosis associated cancers International journal of molecular sciences v 25 n 14 p 7624 2024 ALLAIRE C BEDAIWY M A YONG P J Diagnosis and management of endometriosis Canadian Medical Association Journal v 195 n 10 p E363 E371 14 mar 2023 BARNARD M E et al Endometriosis typology and ovarian cancer risk JAMA the journal of the American Medical Association v 332 n 6 p 482489 2024 BEDAIWY M A et al Medical management of endometriosis in patients with chronic pelvic pain Seminars in reproductive medicine v 35 n 1 p 3853 2017 BENLIOGLU C TELEK S B ATA B Reproductive outcomes in infertile women with endometriosis undergoing assisted reproductive technology Gynecologic and obstetric investigation p 17 2025 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2023 A doença é classificada em três subtipos principais definidos pela profundidade da infiltração das lesões e pela localização superficial ovariana e profunda A forma superficial caracterizase por lesões isoladas localizadas na superfície do peritônio sendo esta a manifestação mais comum da endometriose Imperiale et al 2023 A endometriose ovariana manifestase pela formação de cistos denominados endometriomas decorrentes da presença de tecido ectópico nos ovários frequentemente associados à infertilidade Já a forma profunda ocorre quando os implantes endometrióticos penetram mais de 5 mm abaixo da superfície peritoneal podendo comprometer órgãos como bexiga intestino e ligamentos pélvicos Imperiale et al 2023 Barnard et al 2024 As manifestações clínicas mais recorrentes incluem dor pélvica crônica acentuada dismenorreia intensa dor vulvovaginal alterações intestinais dispareunia e comprometimento da fertilidade Ressaltase que a intensidade dos sintomas não se correlaciona diretamente com o grau de acometimento da doença sendo possível que mulheres com endometriose apresentem ausência total de manifestações clínicas Allaire et al 2023 2 Segundo a Organização Mundial da Saúde OMS a endometriose afeta aproximadamente 180 milhões de mulheres em todo o mundo sendo estimado que cerca de 7 milhões vivam com a doença no Brasil Isso equivale a uma prevalência de 1 em cada 10 mulheres em idade reprodutiva GOV 2023 Entre janeiro de 2012 e outubro de 2023 foram registrados 66775 diagnósticos no país A faixa etária mais acometida situase entre 40 e 49 anos fato que reforça a ocorrência de diagnóstico tardio Cardoso et al 2024 Diante desse cenário o presente estudo tem como objetivo ampliar o conhecimento sobre a endometriose oferecendo um panorama de sua etiologia fisiopatologia e formas de diagnóstico correlacionandoa com a infertilidade feminina e discutindo as possibilidades terapêuticas disponíveis Para alcançar tal propósito será apresentado um estudo de caso associado a uma revisão bibliográfica 2 DESENVOLVIMENTO 21 Fisiopatologia A endometriose é caracterizada pela presença de implantes endometrióticos fora da cavidade uterina cuja manutenção está associada a fatores hormonais imunológicos e neurológicos Saunders et al 2021 O tecido heterotópico apresenta resistência à progesterona reduzindo a ação inibitória desse hormônio e favorecendo seu crescimento Além disso as lesões produzem estrogênio localmente mecanismo que sustenta a persistência da doença Taylor et al 2021 A elevação da produção de estrogênio promove proliferação celular inflamação local e sobrevivência das lesões ectópicas Observase ainda um desbalanço nos receptores de estrogênio a expressão aumentada de ERß em células estromais em comparação ao endométrio eutópico favorece a proliferação e inibe a apoptose enquanto a menor expressão de ERα altera a regulação do ciclo celular e a resposta tecidual A elevada atividade das aromatases potencializa a síntese local de estrogênio permitindo que as células mantenham um microambiente hormonal autossuficiente Alterações epigenéticas como modificações na metilação do DNA também contribuem para a manutenção 3 desse padrão de expressão dos receptores e da atividade estrogênica exacerbada Chantalat et al 2020 A presença desse tecido ectópico desencadeia uma resposta inflamatória crônica mobilizando células do sistema imunológico que liberam mediadores inflamatórios favorecem a angiogênese e intensificam a dor Saunders et al 2021 Taylor et al 2021 A interação entre os sistemas nervoso e imunológico contribui para o estabelecimento de um estado doloroso crônico e para a progressão da doença Saunders et al 2021 Ademais a resposta imunológica apresenta alterações que permitem a sobrevivência do tecido ectópico já que células como macrófagos e células natural killer NK demonstram função comprometida na eliminação dessas lesões Symons et al 2018 Os macrófagos desempenham papel central na manutenção e expansão das lesões endometrióticas O recrutamento contínuo de monócitos e as alterações na composição dos macrófagos peritoneais sustentam a progressão da doença Evidências apontam que macrófagos derivados do endométrio e monócitos estimulam o crescimento das lesões enquanto a substituição de macrófagos residentes por monócitos limita sua formação A redução dos macrófagos endometriais por sua vez resulta na diminuição do tamanho das lesões sugerindo que sua origem é determinante para a intensificação da inflamação local Hogg et al 2021 Nesse processo os receptores tolllike TLRs também exercem influência uma vez que reconhecem sinais de perigo e ativam vias que aumentam a produção de citocinas inflamatórias No tecido endometrial ectópico a expressão alterada desses receptores favorece a manutenção da inflamação e a sobrevivência do tecido Azevedo et al 2021 O estado inflamatório persistente estimula vias que intensificam a produção de citocinas promovem angiogênese e remodelação tecidual fatores que contribuem para o crescimento contínuo das lesões Symons et al 2018 A ativação recorrente da resposta imune modifica o microambiente local e cria condições propícias para a progressão da endometriose Azevedo et al 2021 Dessa forma a fisiopatologia da doença envolve a resistência hormonal associada à resposta imunológica comprometida além da inflamação crônica de alterações vasculares e da interação 4 com o sistema nervoso elementos que sustentam a atividade e a evolução da enfermidade Saunders et al 2021 Taylor et al 2021 22 Etiologia da endometriose A etiologia da endometriose ainda não está completamente elucidada sendo considerada uma condição de origem multifatorial Entre as hipóteses mais aceitas destacase a teoria da menstruação retrógrada proposta por Sampson segundo a qual células do endométrio retornam pelas tubas uterinas e se implantam em locais extrauterinos favorecendo o desenvolvimento das lesões endometrióticas Cousins et al 2023 Embora a menstruação retrógrada seja um fenômeno relativamente comum entre mulheres apenas uma pequena parcela desenvolve a doença o que indica a presença de fatores adicionais que conferem maior suscetibilidade Nesse sentido alterações imunológicas como a falha do sistema imune em reconhecer e eliminar o tecido ectópico têm sido apontadas como determinantes na patogênese da endometriose Correia 2024 Além disso fatores ambientais e ocupacionais também desempenham papel relevante na etiologia da doença ampliando o risco de seu desenvolvimento A exposição a substâncias químicas poluentes por exemplo pode desencadear modificações celulares que favorecem a formação e a persistência das lesões endometriais reforçando o caráter multifatorial dessa patologia Caporossi et al 2021 23 Diagnóstico O reconhecimento da endometriose exige uma abordagem multifatorial que envolve a avaliação clínica exames de imagem e em determinadas circunstâncias a realização de procedimento cirúrgico A anamnese detalhada e o exame físico constituem etapas iniciais fundamentais mas isoladamente não são suficientes para confirmar a presença da doença Chen et al 2025 Entre os métodos de imagem a ultrassonografia transvaginal é frequentemente a primeira escolha por ser amplamente disponível e apresentar boa acurácia na 5 identificação de endometriomas e de algumas lesões profundas Em contrapartida a ressonância magnética fornece imagens de maior precisão sendo especialmente indicada na investigação de lesões localizadas em áreas de difícil visualização ou em casos suspeitos de endometriose profunda com infiltração tecidual Chauhan et al 2022 Em um dos exames analisados a paciente realizou ressonância magnética em 2019 Figura 2 que identificou um pequeno foco de endometriose na parede serosa do sigmoide distal medindo 06 x 04 cm a aproximadamente 14 cm da borda anal Contudo ao buscar uma segunda avaliação do mesmo exame foi descrito espessamento focal no grande omento à esquerda próximo ao sigmoide provavelmente associado a cicatriz póscirúrgica evidenciando a complexidade diagnóstica O marcador tumoral CA125 pode ser empregado como ferramenta complementar no diagnóstico da endometriose Apesar de apresentar maior sensibilidade em estágios avançados da doença sua utilização é limitada nas fases iniciais além de não ser específico uma vez que também pode estar elevado em outras condições ginecológicas ou inflamatórias Dessa forma o CA125 contribui no rastreamento de casos com maior probabilidade de evolução mas não deve ser utilizado isoladamente para confirmar ou excluir o diagnóstico Hirsch et al 2016 Apesar do progresso nos exames de imagem a laparoscopia ainda é considerada o padrãoouro para o diagnóstico definitivo da endometriose Figura 3 por permitir a visualização direta das lesões e a coleta de amostras para análise histopatológica Chen et al 2025 No entanto por se tratar de um procedimento invasivo sua indicação deve estar pautada em critérios clínicos consistentes sendo recomendada sobretudo em casos de sintomas persistentes ou quando métodos não invasivos não fornecem respostas conclusivas Edi e Cheng 2022 Em síntese o diagnóstico da endometriose requer a integração de dados clínicos exames de imagem e quando necessário a confirmação cirúrgica Os marcadores séricos como o CA125 ainda possuem papel limitado reforçando a necessidade de se desenvolver técnicas menos invasivas e mais específicas capazes de detectar precocemente a doença Essa antecipação diagnóstica é essencial para 6 possibilitar intervenções mais eficazes e melhorar o acompanhamento das pacientes Chen et al 2025 Chauhan et al 2022 Hirsch et al 2016 24 Tratamento medicamentoso A endometriose é uma enfermidade crônica e incurável o que torna necessário que a conduta terapêutica seja individualizada de acordo com a intensidade dos sintomas a idade da paciente e seu desejo reprodutivo Nesse contexto as terapias hormonais constituem a base do tratamento uma vez que visam induzir um estado hipoestrogênico semelhante à menopausa suprimindo a menstruação e por consequência limitando o desenvolvimento das lesões Zondervan et al 2020 Kalaitzopoulos et al 2021 Entre as principais estratégias destacamse as progestinas os agonistas e antagonistas do hormônio liberador de gonadotrofinas GnRH os contraceptivos orais combinados e os antiinflamatórios não esteroidais AINEs Tais recursos podem ser empregados de forma isolada sequencial ou associada conforme a resposta clínica apresentada por cada paciente Bedaiwy et al 2017 As progestinas atuam na supressão do eixo hipotálamohipófiseovário reduzindo os níveis de FSH e LH e promovendo a anovulação Além disso apresentam efeito antiproliferativo ao inibir a angiogênese modular mediadores inflamatórios e induzir apoptose em células endometrióticas o que contribui para o controle da progressão da doença Mitchell et al 2022 Já os agonistas de GnRH embora provoquem um aumento inicial de gonadotrofinas devido à estimulação hipofisária levam à dessensibilização dos receptores e posteriormente à supressão da produção estrogênica favorecendo a regressão das lesões Luna Russo et al 2020 Os antagonistas de GnRH por sua vez apresentam como vantagem a inibição imediata dos receptores hipofisários resultando em queda abrupta dos níveis de estrogênio sem o efeito de exacerbação transitória característico dos agonistas Essa propriedade os torna uma alternativa promissora no manejo clínico da endometriose Donnez et al 2020 Já os contraceptivos orais combinados largamente prescritos são eficazes na redução da dor pélvica crônica e da dismenorreia além de contribuírem 7 para a prevenção de novos implantes endometrióticos Brown et al 2018 Por fim os AINEs permanecem como um recurso complementar sendo empregados no alívio sintomático da dor e da inflamação associadas à doença Zondervan et al 2018 No caso em análise a paciente relatou ter realizado tratamento prévio com o uso de agonista de GnRH cujo objetivo foi a indução de um estado hipoestrogênico promovendo a regressão das lesões endometrióticas e o controle dos sintomas 25 Infertilidade A Organização Mundial da Saúde OMS define a infertilidade como a incapacidade de conceber após um ano ou mais de relações sexuais regulares e desprotegidas Essa condição se subdivide em dois tipos primária quando nunca ocorreu uma gestação e secundária quando já houve uma gravidez anterior independentemente do seu desfecho Entre as principais causas femininas destacam se os distúrbios de ovulação como a síndrome dos ovários policísticos alterações hormonais como hipotireoidismo e hiperprolactinemia e problemas estruturais incluindo obstruções tubárias decorrentes de infecções além de patologias uterinas como miomas e endometriose OMS 2024 Fatores relacionados ao estilo de vida como obesidade consumo de álcool e tabagismo também podem impactar negativamente a fertilidade A infertilidade é reconhecida como uma condição que compromete o sistema reprodutivo mas que também repercute no bemestar emocional e social afetando milhões de indivíduos em todo o mundo Estimase que uma em cada seis pessoas em idade fértil vivenciará essa condição em algum momento da vida OMS 2024 A endometriose representa uma das principais causas de infertilidade feminina uma vez que os processos inflamatórios e as alterações anatômicas associadas como aderências e distorções na arquitetura pélvica dificultam tanto a fertilização quanto a implantação do embrião Van Gestel et al 2024 Além disso a inflamação crônica e as disfunções hormonais repercutem na qualidade dos ovócitos na receptividade endometrial e na integridade das estruturas reprodutivas o que compromete etapas essenciais como a ovulação a fecundação e a nidação Assim a 8 conduta clínica deve ser personalizada considerando a ampla variabilidade de manifestações clínicas Bonavina e Taylor 2022 A inflamação desencadeada pelas lesões endometrióticas afeta tanto o desenvolvimento folicular quanto a receptividade do endométrio dificultando a concepção e reforçando a necessidade de compreensão aprofundada desses mecanismos para aprimorar estratégias diagnósticas e terapêuticas Rathod et al 2024 Alterações endometriais como inflamação persistente e desequilíbrios hormonais prejudicam a expressão gênica necessária para a implantação embrionária reduzindo a janela de receptividade uterina e intensificando a relação entre endometriose e infertilidade Racca et al 2024 A cirurgia laparoscópica indicada para a retirada de lesões pode restaurar a anatomia pélvica reduzir o processo inflamatório e consequentemente aumentar as chances de gestação seja de forma espontânea seja por meio de técnicas de reprodução assistida Essa abordagem é especialmente considerada em casos de endometriose profunda embora ainda existam debates sobre o momento ideal para sua indicação É importante ponderar que o procedimento pode impactar negativamente a reserva ovariana motivo pelo qual a fertilização in vitro FIV se configura como uma alternativa eficaz sobretudo em pacientes com obstrução tubária ou que não obtiveram êxito com tratamentos prévios Hamilton et al 2023 Sokteang et al 2024 A FIV é uma das opções mais eficazes para mulheres com endometriose que enfrentam dificuldades para engravidar Evidências apontam que suas taxas de sucesso são em geral comparáveis às de mulheres sem a doença desde que a reserva ovariana esteja preservada Benlioglu et al 2025 No entanto a presença de endometriomas e a realização de múltiplas cirurgias laparoscópicas podem comprometer essa reserva reduzindo o número de óvulos disponíveis La Marca et al 2025 Por esse motivo em mulheres jovens ou com indicação de repetidas intervenções nos ovários a preservação da fertilidade por meio da criopreservação de oócitos deve ser considerada A decisão sobre o momento adequado para a realização da FIV deve levar em conta variáveis como idade gravidade da doença e condições ovarianas sempre com acompanhamento especializado A avaliação criteriosa desses 9 fatores é fundamental para aumentar as chances de sucesso do procedimento Benlioglu et al 2025 3 CONCLUSÃO A endometriose é uma doença inflamatória crônica que apesar de benigna exerce profundo impacto na saúde e na qualidade de vida das mulheres Além da dor pélvica intensa um de seus principais desdobramentos é a infertilidade que compromete não apenas a vida reprodutiva mas também o bemestar físico psicológico e social da paciente O caso relatado neste estudo evidencia as dificuldades enfrentadas por mulheres que convivem com a endometriose revelando um percurso marcado por sucessivas consultas médicas procedimentos cirúrgicos tratamentos farmacológicos e tentativas de reprodução assistida Mesmo diante dos avanços da medicina a paciente permaneceu sem alcançar o sucesso gestacional o que reafirma o caráter desafiador e multifacetado da doença A revisão bibliográfica realizada permitiu compreender que a endometriose possui etiologia multifatorial envolvendo fatores hormonais imunológicos ambientais e genéticos Observouse também que embora os métodos de imagem tenham alcançado elevado grau de precisão diagnóstica a laparoscopia ainda permanece como o exame de referência para confirmação da doença Em relação ao tratamento verificouse que não existe um protocolo único mas a necessidade de adaptar a conduta de acordo com os sintomas a idade e o desejo reprodutivo da paciente Nesse sentido reforçase a importância do diagnóstico precoce da individualização terapêutica e do acompanhamento multiprofissional como estratégias indispensáveis para a melhoria do prognóstico Além disso destacase a relevância de ampliar o acesso à informação e aos serviços especializados uma vez que muitas mulheres só recebem o diagnóstico após anos de sintomas persistentes e tentativas frustradas de tratamento Concluise que compreender a estreita relação entre a endometriose e a infertilidade é essencial para oferecer às pacientes não apenas melhores alternativas 10 terapêuticas mas sobretudo maior qualidade de vida e perspectivas de futuro mais dignas e inclusivas 4 REFERÊNCIAS ADILBAYEVA A KUNZ J Pathogenesis of endometriosis and endometriosis associated cancers International Journal of Molecular Sciences v 25 n 14 p 7624 2024 ALLAIRE C BEDAIWY M A YONG P J Diagnosis and management of endometriosis Canadian Medical Association Journal v 195 n 10 p E363E371 14 mar 2023 BARNARD M E et al Endometriosis typology and ovarian cancer risk JAMA The Journal of the American Medical Association v 332 n 6 p 482489 2024 BEDAIWY M A et al Medical management of endometriosis in patients with chronic pelvic pain Seminars in Reproductive Medicine v 35 n 1 p 3853 2017 BENLIOGLU C TELEK S B ATA B Reproductive outcomes in infertile women with endometriosis undergoing assisted reproductive technology Gynecologic and Obstetric Investigation p 17 2025 BONAVINA G TAYLOR H S Endometriosisassociated infertility From pathophysiology to tailored treatment Frontiers in Endocrinology v 13 p 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1 INTRODUÇÃO A endometriose compreende uma patologia inflamatória crônica e benigna que afeta cerca de 10 de mulheres entre a menarca e a menopausa no decorrer do período reprodutivo Adilbayeva e Kunz 2024 Tem como característica a presença e acúmulo de tecido endometrial incluindo glândulas e estromas fora da cavidade uterina ocorrendo a indução da inflação crônica Yela et al 2023 Os órgãos lesionados frequentemente pela presença de focos endometriais são os ovários trompas uterinas e o peritônio em que reveste a cavidade pélvica Adilbayeva e Kunz 2024 Entretanto os endometriomas pode comprometer também o intestino delgado e grosso sistema excretor e em casos raros podem afetarem estruturas distantes como o pericárdio pulmões e o sistema nervoso central Tsamantioti e Mahdy 2023 A endometriose é classificada em três subtipos que são essenciais varia de acordo com a profundidade da infiltração das lesões e a localização podendo ser superficial ovariana e profunda A superficial é descrita por leões isoladas localizadas na superfície do peritônio sendo a principal manifestação da doença Imperiale et al 2023 A endometriose ovariana se manifesta por meio da formação de cistos denominados endometriomas resultante do tecido ectópico nos ovários constantemente associados à infertilidade A forma profunda da endometriose acontece quando os implantes endometrióticos adentram mais de 5mm abaixo da superfície peritonial afetado órgãos como a bexiga intestino e ligamentos pélvicos Imperiale et al 2023 Barnard et al 2024 As manifestações clínicas frequentes compreendem dor pélvica crônica acentuada dismenorreia intensa dor vulvovaginal comprometimento da fertilidade alterações intestinais e dor durante a relação sexual Ressaltase que a gravidade dos sintomas não apresenta relação direta com o grau de acometimento da enfermidade sendo possível a ausência de sintomas Allaire et al 2023 De acordo com a Organização Mundial de Saúde OMS a endometriose afeta aproximadamente 180 milhões de mulheres em todo o mundo sendo estimado cerca de 7 milhões no Brasil ou seja 1 a cada 10 mulheres em idade reprodutiva sofrem com essa patologia GOV 2023 Entre janeiro de 2012 a outubro de 2023 foram registrados 66775 diagnósticos A faixa etária mais recorrente é de mulheres entre 40 a 49 anos pois normalmente a endometriose possui diagnóstico tardio Cardoso et al 2024 Este estudo tem como principal objetivo trazer conhecimentos acerca da endometriose trazendo um panorama acerca da etiologia fisiopatologia diagnóstico correlacionando com a infertilidade feminina e abordando possíveis tratamentos Para isso um estudo de caso será apresentado juntamente com uma revisão bibliográfica 3 DESENVOLVIMENTO 321 Fisiopatologia A endometriose é caracterizada por implantes endometrióticos fora da cavidade uterina influenciada por fatores hormonais imunológicos e neurológicos Saunders et al 2021 O tecido heterotópico demonstra resistência à progesterona o que reduz a ação inibitória desse hormônio permitindo seu crescimento e manutenção Ademais as lesões produzem estrogênio localmente induzindo a persistência da doença Taylor et al 2021 A produção aumentada de estrogênio mantém a proliferação celular a inflamação local e a sobrevivência das lesões ectópicas As lesões apresentam desbalanço nos receptores de estrogênio com maior expressão de ERß nas células estromais em relação ao endométrio eutópico favorecendo a proliferação e reduzindo a apoptose enquanto a expressão de ERα é menor modificando a regulação do ciclo celular e a resposta tecidual A atividade elevada das aromatases contribui para a produção local de estrogênio permitindo que as células mantenham um microambiente hormonal favorável de forma autônoma Alterações epigenéticas com modificações na metilação do DNA participam da manutenção desse padrão de expressão dos receptores e da atividade estrogênica aumentada Chantalat et al 2020 A existência desse tecido fora do útero estimula uma resposta inflamatória crônica impulsionando as células do sistema imunológico que liberam mediadores inflamatórios desenvolvendo angiogênese e dor Saunders et al 2021 Taylor et al 2021 A relação entre o sistema nervoso e imunológico contribui para um estado doloroso crônico e progressão da endometriose Saunders et al 2021 A resposta imunológica sofre alterações que viabilizam a existência do tecido ectópico pois células como macrófagos e células natural killer NK exibem função comprometida na eliminação dessas lesões Symons et al 2018 Os macrófagos dispõem um papel importante na manutenção e crescimento das lesões O recrutamento contínuo de monócitos e a alteração da composição dos macrófagos peritoneais alimentam a progressão da doença Macrófagos derivados do endométrio e monócitos promovem o crescimento das lesões enquanto a substituição dos macrófagos residentes por monócitos limita a formação das lesões A atenuação dos macrófagos endometriais diminui o tamanho das lesões apontando que a origem dessas células estimula a inflamação local Hogg et al 2021 Os receptores tolllike TLRs colaboram para a resposta inflamatória crônica pois identificam sinais de perigo e ativam vias que aumentam a produção de citocinas inflamatórias No tecido endometrial ectópico a expressão alterada desses receptores propicia a conservação da inflamação e contribui para a permanência do tecido fora do útero Azevedo et al 2021 O estado inflamatório contínuo aciona vias que aumentam a produção de citocinas e promovem a formação de novos vasos sanguíneos e remodelação tecidual mantendo o crescimento das lesões Symons et al 2018 A ativação frequente da resposta imune modifica o microambiente local favorecendo a progressão da doença Figura 1 Azevedo et al 2021 Portanto a fisiopatologia da endometriose abrange resistência hormonal combinada à resposta imunológica alterada juntamente com a inflamação crônica alterações vasculares e nervosas permanece com a doença ativa e em evolução Saunders et al 2021 Taylor et al 2021 322 Etiologia da endometriose A etiologia da endometriose não é completamente estabelecida pois acreditase que a doença tenha múltiplos fatores envolvidos em sua origem Entre as hipóteses mais aceitas se destaca a teoria da menstruação retrógrada proposta por Sampson que sugere que células do endométrio retornam retrogradamente pelas tubas uterinas e se implantam em locais fora do útero contribuindo para o desenvolvimento das lesões endometrióticas Cousins et al 2023 Embora a menstruação retrógrada ocorra em muitas mulheres apenas uma pequena porcentagem desenvolve endometriose sugerindo a existência de fatores adicionais que predispõem certas mulheres à doença Alterações na imunidade como a incapacidade do sistema imunológico de reconhecer e destruir o tecido endometrial ectópico têm sido implicadas na patogênese da endometriose Correia 2024 Fatores ambientais e ocupacionais também contribuem na etiologia da endometriose ao elevar o risco de desenvolvimento A exposição a substâncias químicas poluentes pode provocar a alterações celulares que favorece a formação das lesões endometriais evidenciando a origem multifatorial da patologia Caporossi et al 2021 323 Diagnóstico O reconhecimento da endometriose envolve uma abordagem complexa que une avaliação clínica exames de imagem e em certas situações um procedimento cirúrgico A anamnese detalhada e o exame físico são fases iniciais importantes mas não bastam para assegurar a existência da doença Chen et al 2025 O método de imagem predominantemente utilizado em um primeiro momento é a ultrassonografia transvaginal dada sua facilidade de acesso e capacidade efetiva de identificar endometriomas e lesões mais profundas Em contrapartida a ressonância magnética fornece imagens mais precisas sendo especialmente útil na identificação de lesões situadas em áreas de difícil visualização ou em casos de suspeita de endometriose profunda com caráter infiltrativo Chauhan et al 2022 A paciente realizou diversos exames de imagem dentre eles uma ressonância magnética em 2019 Figura 2 antes de realizar a laparoscopia novamente obteve um laudo que continha um pequeno foco de endometriose na parede serosa do sigmoide distal medindo 06 x 04cm lesão localizada a cerca de 14cm da borda anal não satisfeita com o resultado resolveu procurar uma segunda opinião do mesmo exame foi identificado espessamento focal no grande omento à esquerda próximo ao sigmoide provavelmente relacionado a cicatriz póscirúrgica O marcador tumoral CA125 serve como um complemento aos exames não invasivos para diagnosticar a endometriose Ele tem maior sensibilidade em estágios avançados da doença mas é limitado nas fases iniciais e não é específico para endometriose podendo estar elevado em outras patologias Por isso o CA125 pode ser usado para rastrear pessoas com chance de ter a doença em um estágio mais desenvolvido mas não é o bastante para descartar o diagnóstico em casos iniciais ou com poucos sintomas Hirsch et al 2016 Apesar dos avanços nos métodos de imagem a laparoscopia permanece como o procedimento definitivo utilizado para a confirmação do diagnóstico da endometriose Figura 3 por possibilitar a observação direta das lesões e a coleta de material para análise histopatológica Chen et al 2025 No entanto por ser um procedimento invasivo a laparoscopia só deve ser indicada com base em critérios clínicos claros Ela é geralmente utilizada quando os sintomas persistem ou quando os exames menos invasivos não trazem resultados definitivos Edi e Cheng 2022 Contudo diagnosticar a endometriose exige uma combinação de avaliação clínica exames de imagem e se necessário a laparoscopia Marcadores como o CA125 ainda têm um papel limitado nesse processo É fundamental encontrar formas de diagnóstico menos invasivas e mais precisas para identificar a doença cedo Isso permite um tratamento mais eficaz e melhora o acompanhamento dos casos Chen et al 2025 Chauhan et al 2022 Hirsch et al 2016 324 Tratamento medicamentoso A endometriose é uma enfermidade crônica e de caráter incurável exigindo que a conduta terapêutica seja individualizada conforme a gravidade dos sintomas a idade da paciente e seu desejo reprodutivo As abordagens hormonais representam a base do tratamento com o objetivo de induzir um estado hipoestrogênico semelhante à menopausa suprimindo a menstruação e consequentemente o desenvolvimento das lesões Zondervan et al 2020 Kalaitzopoulos et al 2021 Entre as opções disponíveis destacamse as progestinas os agonistas e antagonistas do hormônio liberador de gonadotrofinas GnRH os contraceptivos orais combinados e os antiinflamatórios não esteroidais AINEs frequentemente utilizados em associação ou de maneira sequencial a depender da resposta clínica Bedaiwy et al 2017 As progestinas agem suprimindo o eixo hipotálamohipófiseovário com redução nos níveis de FSH e LH e consequente anovulação Além disso exercem efeito antiproliferativo por meio da diminuição da angiogênese da modulação de mediadores inflamatórios e da indução de apoptose em células endometrióticas favorecendo o controle da progressão da doença Mitchell et al 2022 Enquanto os agonistas de GnRH embora inicialmente provoquem um aumento transitório de gonadotrofinas devido à estimulação hipofisária levam à dessensibilização dos receptores e posterior supressão da produção estrogênica o que resulta na regressão das lesões Luna Russo et al 2020 Os antagonistas de GnRH por sua vez apresentam a vantagem de bloquear imediatamente os receptores hipofisários promovendo queda abrupta de estrogênio sem o efeito de exacerbação observado com os agonistas tornandoos uma alternativa promissora no manejo clínico Donnez et al 2020 Os contraceptivos orais combinados amplamente prescritos reduzem a dor pélvica crônica e a dismenorreia além de prevenir o crescimento de novos implantes endometrióticos Brown et al 2018 Por fim os AINEs permanecem como recurso complementar sendo utilizados para o alívio sintomático da dor e da inflamação decorrentes da doença Zondervan et al 2018 A paciente relatou ter realizado tratamento prévio com o uso do agonista de GnRH cuja finalidade foi a indução de um estado hipoestrogênico com o objetivo de promover a regressão das lesões endometrióticas e proporcionar o controle dos sintomas da doença 325 Infertilidade A Organização Mundial da Saúde OMS define a infertilidade como a impossibilidade de conceber após um ano ou mais de relações sexuais regulares e desprotegidas Essa condição se subdivide em dois tipos primária quando nunca houve uma gravidez e secundária quando uma gestação anterior ocorreu independentemente do seu resultado Entre as causas femininas da infertilidade sobressaem os distúrbios de ovulação como a síndrome dos ovários policísticos alterações hormonais como hipotireoidismo e hiperprolactinemia e problemas estruturais incluindo obstruções nas tubas uterinas decorrentes de infecções além de patologias uterinas como miomas e endometriose OMS 2024 Fatores ligados ao estilo de vida como obesidade ingestão de álcool e tabagismo também podem impactar negativamente a fertilidade A infertilidade é reconhecida como uma condição que afeta o sistema reprodutivo comprometendo não apenas a saúde física mas também o equilíbrio emocional e social de milhões de indivíduos globalmente Estimase que uma em cada seis pessoas em idade fértil enfrentará essa adversidade em algum momento da vida OMS 2024 A endometriose compromete a fertilidade devido a processos inflamatórios e modificações anatômicas incluindo aderências e alterações na arquitetura pélvica que dificultam a fertilização e a fixação do embrião Van Gestel et al 2024 Além disso a inflamação crônica e as disfunções hormonais relacionadas impactam a qualidade dos ovócitos a capacidade de receptividade do endométrio e a própria estrutura reprodutiva Isso dificulta a ovulação a fertilização e a fixação do embrião tornando essencial uma conduta personalizada em razão da ampla gama de manifestações clínicas que as pacientes podem apresentar Bonavina e Taylor 2022 A inflamação causada pelas lesões compromete também o desenvolvimento folicular e a receptividade endometrial dificultando a concepção e reforçando a necessidade de compreender esses mecanismos para aprimorar as estratégias diagnósticas e terapêuticas Rathod et al 2024 Alterações no endométrio incluindo inflamação crônica e desequilíbrios hormonais prejudicam a expressão gênica necessária para a implantação embrionária reduzindo a janela de receptividade do útero e contribuindo para a infertilidade em mulheres com endometriose Racca et al 2024 A retirada cirúrgica das lesões por laparoscopia pode reduzir a inflamação e elevar as chances de gestação tanto natural quanto por meio de técnicas de reprodução assistida Isso acontece porque o procedimento restaura a anatomia pélvica e atenua os impactos inflamatórios Essa intervenção é aconselhada para casos mais profundos embora sejam precisos mais estudos para definir o momento e o protocolo mais adequados para a cirurgia Hamilton et al 2023 No entanto é crucial considerar que a cirurgia pode afetar a reserva ovariana Por isso a fertilização in vitro surge como uma alternativa praticável principalmente para pacientes com obstrução nas tubas uterinas ou que não obtiveram sucesso com tratamentos prévios A decisão entre cirurgia e fertilização dependerá da idade da paciente da severidade da doença e do seu histórico clínico Sokteang et al 2024 A fertilização in vitro FIV é uma opção de tratamento bastante eficaz para mulheres com endometriose que enfrentam dificuldades para engravidar Estudos mostram que as taxas de sucesso da FIV em mulheres com essa condição geralmente são semelhantes às de quem não tem endometriose especialmente quando a reserva ovariana ainda está preservada Benlioglu et al 2025 No entanto a presença de endometriomas e cirurgias laparoscópicas podem afetar essa reserva reduzindo o número de óvulos disponíveis para o procedimento La Marca et al 2025 Por isso para mulheres jovens ou que precisarem passar por várias cirurgias nos ovários a preservação da fertilidade como a criopreservação de óvulos pode ser uma boa alternativa Além disso escolher o melhor momento para fazer a FIV depende de fatores como a idade da paciente a gravidade da endometriose e a condição dos ovários sempre com acompanhamento de um especialista Para aumentar as chances de sucesso é importante avaliar cuidadosamente todas essas variáveis antes de decidir o momento ideal para realizar o procedimento Benlioglu et al 2025 4 CONCLUSÃO A endometriose é uma doença inflamatória crônica que mesmo sendo benigna causa grande impacto na saúde da mulher Além da dor pélvica intensa um dos principais problemas associados é a infertilidade que compromete não só a vida reprodutiva mas também o bemestar físico e emocional da paciente O caso relatado neste trabalho evidencia a dificuldade enfrentada por mulheres que convivem com a endometriose mostrando um percurso longo de consultas médicas cirurgias uso de medicamentos e tentativas de reprodução assistida Apesar dos avanços da medicina a paciente permaneceu sem sucesso gestacional o que reforça o caráter desafiador da doença A revisão bibliográfica apresentada confirma que a endometriose tem origem multifatorial envolvendo fatores hormonais imunológicos ambientais e genéticos Também foi possível observar que mesmo com exames de imagem cada vez mais modernos a laparoscopia ainda é o método de maior precisão diagnóstica Em relação ao tratamento ficou evidente que não existe uma única conduta mas sim a necessidade de personalizar a escolha de acordo com os sintomas a idade e o desejo de engravidar Por fim este estudo reforça a importância do diagnóstico precoce da individualização do tratamento e do acompanhamento multiprofissional Além disso evidencia a necessidade de ampliar o acesso à informação e ao tratamento especializado visto que muitas mulheres descobrem a doença apenas após anos de sintomas e frustrações Concluímos que compreender a relação entre a endometriose e a infertilidade é fundamental para oferecer às pacientes melhores possibilidades terapêuticas e principalmente mais qualidade de vida REFERÊNCIAS ADILBAYEVA A KUNZ J Pathogenesis of endometriosis and endometriosis associated cancers International journal of molecular sciences v 25 n 14 p 7624 2024 ALLAIRE C BEDAIWY M A YONG P J Diagnosis and management of endometriosis Canadian Medical Association Journal v 195 n 10 p E363 E371 14 mar 2023 BARNARD M E et al Endometriosis typology and ovarian cancer risk JAMA the journal of the American Medical Association v 332 n 6 p 482489 2024 BEDAIWY M A et al Medical management of endometriosis in patients with chronic pelvic pain Seminars in reproductive medicine v 35 n 1 p 3853 2017 BENLIOGLU C TELEK S B ATA B Reproductive outcomes in infertile women with endometriosis undergoing assisted reproductive technology Gynecologic and obstetric investigation p 17 2025 BONAVINA G TAYLOR H S Endometriosisassociated infertility From pathophysiology to tailored treatment Frontiers in endocrinology v 13 p 1020827 2022 BROWN J et al Oral contraceptives for pain associated with endometriosis Cochrane database of systematic reviews v 5 n 5 p CD001019 2018 CAPOROSSI L et al From environmental to possible occupational exposure to risk factors What role do they play in the etiology of endometriosis International journal of environmental research and public health v 18 n 2 p 532 2021 CARDOSO W C et al Análise das características clínicoepidemiológicas da endometriose no Brasil Research Society and Development v 13 n 4 p e11813445586 2024 CHANTALAT E et al Estrogen receptors and endometriosis International journal of molecular sciences v 21 n 8 p 2815 2020a CHAUHAN S et al Endometriosis A review of clinical diagnosis treatment and pathogenesis Cureus v 14 n 9 p e28864 2022 CHEN Y WASEEM S LUO L Advances in the diagnosis and management of endometriosis A comprehensive review Pathology research and practice v 266 n 155813 p 155813 2025 CORREIA Anaína Queiroz Palhares et al Endometrioseaspectos epidemiológicos fisiopatológicos e manejo terapêutico Brazilian Journal of Health Review v 7 n 2 p e68194e68194 2024 COUSINS F L et al New concepts on the etiology of endometriosis The journal of obstetrics and gynaecology research v 49 n 4 p 10901105 2023 DE AZEVEDO B C MANSUR F PODGAEC S A systematic review of toll like receptors in endometriosis Archives of gynecology and obstetrics v 304 n 2 p 309316 2021 Dia Internacional da Luta contra a endometriose conheça os sintomas e tratamentos da doença Disponível em httpssaudedfgovbrwebguestwdiainternacionaldalutacontraa endometrioseconheC3A7aossintomasetratamentosdadoen C3A7a Acesso em 21 mai 2025 DONNEZ J et al Treatment of endometriosisassociated pain with linzagolix an oral gonadotropinreleasing hormoneantagonist a randomized clinical trial Fertility and sterility v 114 n 1 p 4455 2020 EDI R CHENG T Endometriosis Evaluation and treatment American family physician v 106 n 4 p 397404 2022 HAMILTON K M et al Surgical management of endometriosis to optimize fertility Current opinion in obstetrics gynecology v 35 n 4 p 389394 2023 HIRSCH M et al Diagnostic accuracy of cancer antigen 125 for endometriosis a systematic review and metaanalysis BJOG an international journal of obstetrics and gynaecology v 123 n 11 p 17611768 2016 HOGG C et al Macrophages inhibit and enhance endometriosis depending on their origin Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America v 118 n 6 p e2013776118 2021 HORNE A W MISSMER S A Pathophysiology diagnosis and management of endometriosis BMJ Clinical research ed v 379 p e070750 2022 IMPERIALE L et al Three types of endometriosis Pathogenesis diagnosis and treatment State of the art Journal of clinical medicine v 12 n 3 p 994 2023 Infertility Disponível em httpswwwwhointnewsroomfactsheetsdetailinfertility Acesso em 21 mai 2025 KALAITZOPOULOS D R et al Treatment of endometriosis a review with comparison of 8 guidelines BMC womens health v 21 n 1 p 397 2021 LA MARCA Antonio et al Fertility preservation in women with endometriosis Human reproduction open v 2025 n 2 p hoaf012 2025 LUNA RUSSO M A CHALIF J N FALCONE T Clinical management of endometriosis Minerva ginecologica v 72 n 2 p 106118 2020 MITCHELL JB CHETTY S KATHRADA F Progestins in the symptomatic management of endometriosis a metaanalysis on their effectiveness and safety BMC womens health v 22 n 1 p 526 2022 RACCA A et al Endometrial receptivity in women with endometriosis Best practice research Clinical obstetrics gynaecology v 92 n 102438 p 102438 2024 RATHOD S SHANOO A ACHARYA N Endometriosis A comprehensive exploration of inflammatory mechanisms and fertility implications Cureus v 16 n 8 p e66128 2024 SAUNDERS P T K HORNE A W Endometriosis Etiology pathobiology and therapeutic prospects Cell v 184 n 11 p 28072824 2021 SOKTEANG S et al 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Endometriosis Nature reviews Disease primers v 4 n 1 p 9 2018 ZONDERVAN K T BECKER C M MISSMER S A Endometriosis The New England journal of medicine v 382 n 13 p 12441256 2020 1 ENDOMETRIOSE 1 INTRODUÇÃO A endometriose configurase como uma patologia inflamatória crônica e benigna que acomete cerca de 10 das mulheres entre a menarca e a menopausa ou seja durante o período reprodutivo Adilbayeva e Kunz 2024 Sua principal característica é a presença e o acúmulo de tecido endometrial incluindo glândulas e estroma em locais fora da cavidade uterina desencadeando processos de inflamação crônica Yela et al 2023 Os órgãos mais frequentemente afetados pelos focos endometriais são os ovários as trompas uterinas e o peritônio que reveste a cavidade pélvica Adilbayeva e Kunz 2024 Contudo os endometriomas também podem comprometer o intestino delgado e grosso o sistema excretor e em situações mais raras estruturas distantes como o pericárdio os pulmões e o sistema nervoso central Tsamantioti e Mahdy 2023 A doença é classificada em três subtipos principais definidos pela profundidade da infiltração das lesões e pela localização superficial ovariana e profunda A forma superficial caracterizase por lesões isoladas localizadas na superfície do peritônio sendo esta a manifestação mais comum da endometriose Imperiale et al 2023 A endometriose ovariana manifestase pela formação de cistos denominados endometriomas decorrentes da presença de tecido ectópico nos ovários frequentemente associados à infertilidade Já a forma profunda ocorre quando os implantes endometrióticos penetram mais de 5 mm abaixo da superfície peritoneal podendo comprometer órgãos como bexiga intestino e ligamentos pélvicos Imperiale et al 2023 Barnard et al 2024 As manifestações clínicas mais recorrentes incluem dor pélvica crônica acentuada dismenorreia intensa dor vulvovaginal alterações intestinais dispareunia e comprometimento da fertilidade Ressaltase que a intensidade dos sintomas não se correlaciona diretamente com o grau de acometimento da doença sendo possível que mulheres com endometriose apresentem ausência total de manifestações clínicas Allaire et al 2023 2 Segundo a Organização Mundial da Saúde OMS a endometriose afeta aproximadamente 180 milhões de mulheres em todo o mundo sendo estimado que cerca de 7 milhões vivam com a doença no Brasil Isso equivale a uma prevalência de 1 em cada 10 mulheres em idade reprodutiva GOV 2023 Entre janeiro de 2012 e outubro de 2023 foram registrados 66775 diagnósticos no país A faixa etária mais acometida situase entre 40 e 49 anos fato que reforça a ocorrência de diagnóstico tardio Cardoso et al 2024 Diante desse cenário o presente estudo tem como objetivo ampliar o conhecimento sobre a endometriose oferecendo um panorama de sua etiologia fisiopatologia e formas de diagnóstico correlacionandoa com a infertilidade feminina e discutindo as possibilidades terapêuticas disponíveis Para alcançar tal propósito será apresentado um estudo de caso associado a uma revisão bibliográfica 2 DESENVOLVIMENTO 21 Fisiopatologia A endometriose é caracterizada pela presença de implantes endometrióticos fora da cavidade uterina cuja manutenção está associada a fatores hormonais imunológicos e neurológicos Saunders et al 2021 O tecido heterotópico apresenta resistência à progesterona reduzindo a ação inibitória desse hormônio e favorecendo seu crescimento Além disso as lesões produzem estrogênio localmente mecanismo que sustenta a persistência da doença Taylor et al 2021 A elevação da produção de estrogênio promove proliferação celular inflamação local e sobrevivência das lesões ectópicas Observase ainda um desbalanço nos receptores de estrogênio a expressão aumentada de ERß em células estromais em comparação ao endométrio eutópico favorece a proliferação e inibe a apoptose enquanto a menor expressão de ERα altera a regulação do ciclo celular e a resposta tecidual A elevada atividade das aromatases potencializa a síntese local de estrogênio permitindo que as células mantenham um microambiente hormonal autossuficiente Alterações epigenéticas como modificações na metilação do DNA também contribuem para a manutenção 3 desse padrão de expressão dos receptores e da atividade estrogênica exacerbada Chantalat et al 2020 A presença desse tecido ectópico desencadeia uma resposta inflamatória crônica mobilizando células do sistema imunológico que liberam mediadores inflamatórios favorecem a angiogênese e intensificam a dor Saunders et al 2021 Taylor et al 2021 A interação entre os sistemas nervoso e imunológico contribui para o estabelecimento de um estado doloroso crônico e para a progressão da doença Saunders et al 2021 Ademais a resposta imunológica apresenta alterações que permitem a sobrevivência do tecido ectópico já que células como macrófagos e células natural killer NK demonstram função comprometida na eliminação dessas lesões Symons et al 2018 Os macrófagos desempenham papel central na manutenção e expansão das lesões endometrióticas O recrutamento contínuo de monócitos e as alterações na composição dos macrófagos peritoneais sustentam a progressão da doença Evidências apontam que macrófagos derivados do endométrio e monócitos estimulam o crescimento das lesões enquanto a substituição de macrófagos residentes por monócitos limita sua formação A redução dos macrófagos endometriais por sua vez resulta na diminuição do tamanho das lesões sugerindo que sua origem é determinante para a intensificação da inflamação local Hogg et al 2021 Nesse processo os receptores tolllike TLRs também exercem influência uma vez que reconhecem sinais de perigo e ativam vias que aumentam a produção de citocinas inflamatórias No tecido endometrial ectópico a expressão alterada desses receptores favorece a manutenção da inflamação e a sobrevivência do tecido Azevedo et al 2021 O estado inflamatório persistente estimula vias que intensificam a produção de citocinas promovem angiogênese e remodelação tecidual fatores que contribuem para o crescimento contínuo das lesões Symons et al 2018 A ativação recorrente da resposta imune modifica o microambiente local e cria condições propícias para a progressão da endometriose Azevedo et al 2021 Dessa forma a fisiopatologia da doença envolve a resistência hormonal associada à resposta imunológica comprometida além da inflamação crônica de alterações vasculares e da interação 4 com o sistema nervoso elementos que sustentam a atividade e a evolução da enfermidade Saunders et al 2021 Taylor et al 2021 22 Etiologia da endometriose A etiologia da endometriose ainda não está completamente elucidada sendo considerada uma condição de origem multifatorial Entre as hipóteses mais aceitas destacase a teoria da menstruação retrógrada proposta por Sampson segundo a qual células do endométrio retornam pelas tubas uterinas e se implantam em locais extrauterinos favorecendo o desenvolvimento das lesões endometrióticas Cousins et al 2023 Embora a menstruação retrógrada seja um fenômeno relativamente comum entre mulheres apenas uma pequena parcela desenvolve a doença o que indica a presença de fatores adicionais que conferem maior suscetibilidade Nesse sentido alterações imunológicas como a falha do sistema imune em reconhecer e eliminar o tecido ectópico têm sido apontadas como determinantes na patogênese da endometriose Correia 2024 Além disso fatores ambientais e ocupacionais também desempenham papel relevante na etiologia da doença ampliando o risco de seu desenvolvimento A exposição a substâncias químicas poluentes por exemplo pode desencadear modificações celulares que favorecem a formação e a persistência das lesões endometriais reforçando o caráter multifatorial dessa patologia Caporossi et al 2021 23 Diagnóstico O reconhecimento da endometriose exige uma abordagem multifatorial que envolve a avaliação clínica exames de imagem e em determinadas circunstâncias a realização de procedimento cirúrgico A anamnese detalhada e o exame físico constituem etapas iniciais fundamentais mas isoladamente não são suficientes para confirmar a presença da doença Chen et al 2025 Entre os métodos de imagem a ultrassonografia transvaginal é frequentemente a primeira escolha por ser amplamente disponível e apresentar boa acurácia na 5 identificação de endometriomas e de algumas lesões profundas Em contrapartida a ressonância magnética fornece imagens de maior precisão sendo especialmente indicada na investigação de lesões localizadas em áreas de difícil visualização ou em casos suspeitos de endometriose profunda com infiltração tecidual Chauhan et al 2022 Em um dos exames analisados a paciente realizou ressonância magnética em 2019 Figura 2 que identificou um pequeno foco de endometriose na parede serosa do sigmoide distal medindo 06 x 04 cm a aproximadamente 14 cm da borda anal Contudo ao buscar uma segunda avaliação do mesmo exame foi descrito espessamento focal no grande omento à esquerda próximo ao sigmoide provavelmente associado a cicatriz póscirúrgica evidenciando a complexidade diagnóstica O marcador tumoral CA125 pode ser empregado como ferramenta complementar no diagnóstico da endometriose Apesar de apresentar maior sensibilidade em estágios avançados da doença sua utilização é limitada nas fases iniciais além de não ser específico uma vez que também pode estar elevado em outras condições ginecológicas ou inflamatórias Dessa forma o CA125 contribui no rastreamento de casos com maior probabilidade de evolução mas não deve ser utilizado isoladamente para confirmar ou excluir o diagnóstico Hirsch et al 2016 Apesar do progresso nos exames de imagem a laparoscopia ainda é considerada o padrãoouro para o diagnóstico definitivo da endometriose Figura 3 por permitir a visualização direta das lesões e a coleta de amostras para análise histopatológica Chen et al 2025 No entanto por se tratar de um procedimento invasivo sua indicação deve estar pautada em critérios clínicos consistentes sendo recomendada sobretudo em casos de sintomas persistentes ou quando métodos não invasivos não fornecem respostas conclusivas Edi e Cheng 2022 Em síntese o diagnóstico da endometriose requer a integração de dados clínicos exames de imagem e quando necessário a confirmação cirúrgica Os marcadores séricos como o CA125 ainda possuem papel limitado reforçando a necessidade de se desenvolver técnicas menos invasivas e mais específicas capazes de detectar precocemente a doença Essa antecipação diagnóstica é essencial para 6 possibilitar intervenções mais eficazes e melhorar o acompanhamento das pacientes Chen et al 2025 Chauhan et al 2022 Hirsch et al 2016 24 Tratamento medicamentoso A endometriose é uma enfermidade crônica e incurável o que torna necessário que a conduta terapêutica seja individualizada de acordo com a intensidade dos sintomas a idade da paciente e seu desejo reprodutivo Nesse contexto as terapias hormonais constituem a base do tratamento uma vez que visam induzir um estado hipoestrogênico semelhante à menopausa suprimindo a menstruação e por consequência limitando o desenvolvimento das lesões Zondervan et al 2020 Kalaitzopoulos et al 2021 Entre as principais estratégias destacamse as progestinas os agonistas e antagonistas do hormônio liberador de gonadotrofinas GnRH os contraceptivos orais combinados e os antiinflamatórios não esteroidais AINEs Tais recursos podem ser empregados de forma isolada sequencial ou associada conforme a resposta clínica apresentada por cada paciente Bedaiwy et al 2017 As progestinas atuam na supressão do eixo hipotálamohipófiseovário reduzindo os níveis de FSH e LH e promovendo a anovulação Além disso apresentam efeito antiproliferativo ao inibir a angiogênese modular mediadores inflamatórios e induzir apoptose em células endometrióticas o que contribui para o controle da progressão da doença Mitchell et al 2022 Já os agonistas de GnRH embora provoquem um aumento inicial de gonadotrofinas devido à estimulação hipofisária levam à dessensibilização dos receptores e posteriormente à supressão da produção estrogênica favorecendo a regressão das lesões Luna Russo et al 2020 Os antagonistas de GnRH por sua vez apresentam como vantagem a inibição imediata dos receptores hipofisários resultando em queda abrupta dos níveis de estrogênio sem o efeito de exacerbação transitória característico dos agonistas Essa propriedade os torna uma alternativa promissora no manejo clínico da endometriose Donnez et al 2020 Já os contraceptivos orais combinados largamente prescritos são eficazes na redução da dor pélvica crônica e da dismenorreia além de contribuírem 7 para a prevenção de novos implantes endometrióticos Brown et al 2018 Por fim os AINEs permanecem como um recurso complementar sendo empregados no alívio sintomático da dor e da inflamação associadas à doença Zondervan et al 2018 No caso em análise a paciente relatou ter realizado tratamento prévio com o uso de agonista de GnRH cujo objetivo foi a indução de um estado hipoestrogênico promovendo a regressão das lesões endometrióticas e o controle dos sintomas 25 Infertilidade A Organização Mundial da Saúde OMS define a infertilidade como a incapacidade de conceber após um ano ou mais de relações sexuais regulares e desprotegidas Essa condição se subdivide em dois tipos primária quando nunca ocorreu uma gestação e secundária quando já houve uma gravidez anterior independentemente do seu desfecho Entre as principais causas femininas destacam se os distúrbios de ovulação como a síndrome dos ovários policísticos alterações hormonais como hipotireoidismo e hiperprolactinemia e problemas estruturais incluindo obstruções tubárias decorrentes de infecções além de patologias uterinas como miomas e endometriose OMS 2024 Fatores relacionados ao estilo de vida como obesidade consumo de álcool e tabagismo também podem impactar negativamente a fertilidade A infertilidade é reconhecida como uma condição que compromete o sistema reprodutivo mas que também repercute no bemestar emocional e social afetando milhões de indivíduos em todo o mundo Estimase que uma em cada seis pessoas em idade fértil vivenciará essa condição em algum momento da vida OMS 2024 A endometriose representa uma das principais causas de infertilidade feminina uma vez que os processos inflamatórios e as alterações anatômicas associadas como aderências e distorções na arquitetura pélvica dificultam tanto a fertilização quanto a implantação do embrião Van Gestel et al 2024 Além disso a inflamação crônica e as disfunções hormonais repercutem na qualidade dos ovócitos na receptividade endometrial e na integridade das estruturas reprodutivas o que compromete etapas essenciais como a ovulação a fecundação e a nidação Assim a 8 conduta clínica deve ser personalizada considerando a ampla variabilidade de manifestações clínicas Bonavina e Taylor 2022 A inflamação desencadeada pelas lesões endometrióticas afeta tanto o desenvolvimento folicular quanto a receptividade do endométrio dificultando a concepção e reforçando a necessidade de compreensão aprofundada desses mecanismos para aprimorar estratégias diagnósticas e terapêuticas Rathod et al 2024 Alterações endometriais como inflamação persistente e desequilíbrios hormonais prejudicam a expressão gênica necessária para a implantação embrionária reduzindo a janela de receptividade uterina e intensificando a relação entre endometriose e infertilidade Racca et al 2024 A cirurgia laparoscópica indicada para a retirada de lesões pode restaurar a anatomia pélvica reduzir o processo inflamatório e consequentemente aumentar as chances de gestação seja de forma espontânea seja por meio de técnicas de reprodução assistida Essa abordagem é especialmente considerada em casos de endometriose profunda embora ainda existam debates sobre o momento ideal para sua indicação É importante ponderar que o procedimento pode impactar negativamente a reserva ovariana motivo pelo qual a fertilização in vitro FIV se configura como uma alternativa eficaz sobretudo em pacientes com obstrução tubária ou que não obtiveram êxito com tratamentos prévios Hamilton et al 2023 Sokteang et al 2024 A FIV é uma das opções mais eficazes para mulheres com endometriose que enfrentam dificuldades para engravidar Evidências apontam que suas taxas de sucesso são em geral comparáveis às de mulheres sem a doença desde que a reserva ovariana esteja preservada Benlioglu et al 2025 No entanto a presença de endometriomas e a realização de múltiplas cirurgias laparoscópicas podem comprometer essa reserva reduzindo o número de óvulos disponíveis La Marca et al 2025 Por esse motivo em mulheres jovens ou com indicação de repetidas intervenções nos ovários a preservação da fertilidade por meio da criopreservação de oócitos deve ser considerada A decisão sobre o momento adequado para a realização da FIV deve levar em conta variáveis como idade gravidade da doença e condições ovarianas sempre com acompanhamento especializado A avaliação criteriosa desses 9 fatores é fundamental para aumentar as chances de sucesso do procedimento Benlioglu et al 2025 3 CONCLUSÃO A endometriose é uma doença inflamatória crônica que apesar de benigna exerce profundo impacto na saúde e na qualidade de vida das mulheres Além da dor pélvica intensa um de seus principais desdobramentos é a infertilidade que compromete não apenas a vida reprodutiva mas também o bemestar físico psicológico e social da paciente O caso relatado neste estudo evidencia as dificuldades enfrentadas por mulheres que convivem com a endometriose revelando um percurso marcado por sucessivas consultas médicas procedimentos cirúrgicos tratamentos farmacológicos e tentativas de reprodução assistida Mesmo diante dos avanços da medicina a paciente permaneceu sem alcançar o sucesso gestacional o que reafirma o caráter desafiador e multifacetado da doença A revisão bibliográfica realizada permitiu compreender que a endometriose possui etiologia multifatorial envolvendo fatores hormonais imunológicos ambientais e genéticos Observouse também que embora os métodos de imagem tenham alcançado elevado grau de precisão diagnóstica a laparoscopia ainda permanece como o exame de referência para confirmação da doença Em relação ao tratamento verificouse que não existe um protocolo único mas a necessidade de adaptar a conduta de acordo com os sintomas a idade e o desejo reprodutivo da paciente Nesse sentido reforçase a importância do diagnóstico precoce da individualização terapêutica e do acompanhamento multiprofissional como estratégias indispensáveis para a melhoria do prognóstico Além disso destacase a relevância de ampliar o acesso à informação e aos serviços especializados uma vez que muitas mulheres só recebem o diagnóstico após anos de sintomas persistentes e tentativas frustradas de tratamento Concluise que compreender a estreita relação entre a endometriose e a infertilidade é essencial para oferecer às pacientes não apenas melhores alternativas 10 terapêuticas mas sobretudo maior qualidade de vida e perspectivas de futuro mais dignas e inclusivas 4 REFERÊNCIAS ADILBAYEVA A KUNZ J Pathogenesis of endometriosis and endometriosis associated cancers International Journal of Molecular Sciences v 25 n 14 p 7624 2024 ALLAIRE C BEDAIWY M A YONG P J Diagnosis and management of endometriosis Canadian Medical Association Journal v 195 n 10 p E363E371 14 mar 2023 BARNARD M E et al Endometriosis typology and ovarian cancer risk JAMA The Journal of the American Medical Association v 332 n 6 p 482489 2024 BEDAIWY M A et al Medical management of endometriosis in patients with chronic pelvic pain Seminars in Reproductive Medicine v 35 n 1 p 3853 2017 BENLIOGLU C TELEK S B ATA B Reproductive outcomes in infertile women with endometriosis undergoing assisted reproductive technology Gynecologic and Obstetric Investigation p 17 2025 BONAVINA G TAYLOR H S Endometriosisassociated infertility From pathophysiology to tailored treatment Frontiers in Endocrinology v 13 p 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