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60 A cultura do compartilhamento e a reprodutibilidade dos conteúdos The culture of sharing and the reproducibility of the content Daniela Zanetti1 RESUMO Diante de um acentuado discurso que coloca a convergência das mídias como fator ao mesmo tempo desestabilizador de estruturas tradicionais de veiculação de conteúdo na rede e também de inovação o artigo desenvolve a ideia de cultura do compartilhamento no contexto da efetivação das plataformas de arquivamento e de disponibilização dos mais diferentes tipos de conteúdos na rede principalmente a partir do surgimento da Web 20 Para tanto apresenta algumas características dessa prática recentemente institucionalizada e legitimada relativas à sua constituição no âmbito da cibercultura PALAVRASCHAVE Compartilhamento convergência cibercultura ABSTRACT Considering a massive discourse that puts the media convergence at the same time as a factor of destabilization of traditional structures of displaying content on the network and also a factor of innovation the article develops the idea of culture of sharing in the context of the multiple displays of realization archiving and making available more different types of content on the Web mainly from the emergence of Web 20 So this paper presents some of the characteristics of this practice recently institutionalised and legitimized relating to its constitution in the context of the cyberculture KEYWORDS Sharing convergence cyberculture 1 Professora do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo Doutura em Comunicação e Cultura Contemporâneas emaildanielazanettigmailcom 5 61 A exponibilidade das obras e a produção de conteúdo virtual O debate fortemente presente no início do século XXI em torno das consequências da pirataria online para os modos de consumo de músicas e de obras audiovisuais e sua consequente interferência na lógica de funcionamento das indústrias fonográfica e cinematográfica traz à tona outro fenômeno que tem paradoxalmente favorecido não somente essas mesmas indústrias como também outras esferas sociais a prática do compartilhamento na rede No caso específico da música a sistematização do compartilhamento na rede representou não somente uma mudança no modo de consumo e de fruição musical Yúdice 2007 Castro 2009 mas também uma adequação do mercado no sentido de se beneficiar através de recursos como o marketing viral produzido espontaneamente nas trocas de playlists e de videoclipes por exemplo na utilização dos serviços de recomendação nos próprios programas de compartilhamento de músicas Ainda que o surgimento da microinformática e da Internet esteja de fato atrelado à ideia de democratização da informação através de sua descentralização Levy 1999 Lemos 2007 nem todas as formas de partilha e nem todo o conteúdo intercambiado foram legitimadas de antemão São justamente os desvios e as apropriações livres que ajudaram a configurar o atual estágio da cibercultura Antes fragmentado e muitas vezes considerado indomável o ato de intercambiar qualquer tipo de conteúdo na Internet foi sendo cada vez mais estimulado à medida que foi se tornando mais organizado sistematizado Essa sistematização todavia não se deveu apenas a um aprimoramento do aparato tecnológico por meio de uma intensificação das chamadas redes sociais online e dos vários dispositivos de compartilhamento como os espaços de comentários e os dispositivos de classificações e categorizações de conteúdos mas essencialmente a um discurso legitimador e ao mesmo tempo aglutinador em torno da prática do compartilhamento São os mecanismos do mercado de certo modo se apropriando dos processos comunicacionais espontâneos e não organizados que surgem na rede Assim como em outras revoluções tecnológicas que intensificaram a reprodutibilidade informacional e artística a exemplo do surgimento da fotografia e do cinema como bem descreveu Walter Benjamin 1994 o advento das mídias digitais promoveu o surgimento de novos padrões de compreensão dos processos comunicacionais e de novas formas de sociabilidade que não por acaso incorporam a noção de cultura quase sempre atrelada a conceitos pertencentes à dimensão técnica cultura digital cibercultura cultura da mobilidade Santaella 2003 cultura da interface Johnson 2001 cultura da convergência Jenkins 2008 cultura da virtualidade real Castells 1999 Em comum essas noções ratificam a incorporação e o impacto das tecnologias digitais no cotidiano dos indivíduos pontuando diferentes dimensões de um mesmo fenômeno Considerando outros aspectos que ajudam a configurar essa relação entre cultura informacional comunicacional e tecnologia digital propomos aqui a noção de cultura do compartilhamento que diz respeito não apenas ao aparato tecnológico que possibilita a sistematização de práticas de produção distribuição e intercâmbio de conteúdos digitalizados mas também à incorporação dessas práticas pelos sujeitos sociais e sua posterior apropriação por parte do mercado Além disso não se trata de um fenômeno mas sim um modo de sociabilidade resultante da convergência entre vários aspectos do campo da cibercultura A expressão não traz em si nenhuma referência 62 direta à dimensão técnica Compartilhar significa participar de algo tomar parte em alguma coisa e também partilhar dividir com outros Indiretamente nos remete às práticas instauradas pelas redes sociais na Internet de socialização de conteúdos online e amplamente difundidas na rede Sites e blogs considerados mais interativos têm sido aqueles que disponibilizam de modo mais acessível ferramentas para compartilhamento nas principais redes sociais ou mesmo por correio eletrônico O link recomendar associado ao ícone do Facebook o link enviar para um amigo com o ícone de uma carta o link share compartilhar associado a mais de uma dezena de opões de redes sociais e outras ferramentas de envio de conteúdo são os elementos mais evidentes desta tendência Até mesmo a possibilidade do internauta publicizar seus comentários acerca de um determinado conteúdo e avaliálo através de um símbolo de positivo ou negativo também se referem à ideia de compartilhamento pois se trata de dividir partilhar um ponto de vista uma opinião tornandoa acessível a um grande número de pessoas No Facebook você pode se conectar e compartilhar o que quiser com quem é importante em sua vida diz o slogan de uma das maiores redes sociais na Internet Não basta somente estar conectado para acessar algum conteúdo e ser visto mas essencialmente devese compartilhar o que obviamente significa produzir mais conteúdo Tendo como pressuposto a hibridização entre as artes e as comunicações tanto no sentido da essência constitutiva dos produtos digitais Manovich 2001 quanto no sentido de que os produtos da criação artística e da criação midiática não são mais tão facilmente distinguidos com clareza Machado 2007 p23 sem todavia desconsiderar as delimitações desses dois campos neste estudo ampliase o conceito de obra de arte utilizado por Walter Benjamin 1994 para o de conteúdo de modo a abarcar os vários tipos de materiais que circulam no ciberespaço Para o autor a própria mudança de caráter da obra de arte quando do surgimento das técnicas modernas de reprodutibilidade resulta na transformação daquela em mercadoria A quantidade converteu se em qualidade O número substancialmente maior de participantes produziu um novo modo de participação Benjamin 1994 p192 Ora não é este o paradigma estabelecido a partir das novas tecnologias digitais no campo da comunicação Com base nessa compreensão objetivase traçar algumas especificidades da cultura do compartilhamento Não se trata obviamente de atribuir o status de obra de arte a todo e qualquer tipo de conteúdo presente no ciberespaço A relação estabelecida com as proposições do autor se localiza mais no âmbito do processo a reprodutibilidade a exponibilidade do que do objeto em si a obra de arte Ainda que considerável parcela do conteúdo gerado e compartilhado nas redes não possa ser compreendida como obra de arte é possível constatar que grande parte desse conteúdo é decorrente das artes que se estabeleceram a partir de sua condição de reprodutível quais sejam a fotografia e o cinema São fragmentos de filmes vídeos imagens músicas materiais sintéticos dos mais diversos tipos Essa hibridização decorre do fato do computador carregar a contradição de aparecer como uma mídia única sintetizadora de todas as demais Machado 2007 p73 Desse modo o que se pretende não é se fixar no caráter artístico ou não dos materiais em circulação na Internet mas sim na sua condição de conteúdo transformado em mercadoria O valor de exposição em oposição ao valor de culto que diz respeito ao grau de exponibilidade 63 de uma determinada obra pode ser associado à ideia de disponibilidade ou de visibilidade na Web se considerarmos que a cada compartilhamento realizado uma reprodução está sendo feita ainda que no plano virtual Nesse sentido parafraseando o autor nunca tantos conteúdos puderam ser tão facilmente reproduzidos como em nossos dias principalmente se considerarmos essa reprodutibilidade no plano do virtual e direcionada para públicos específicos nichos E na medida em que essa técnica permite à reprodução vir ao encontro do espectador em todas as situações ela atualiza o objeto reproduzido Benjamin 1994 p168 Não estaria o valor de exposição hoje na base da supremacia dada à visibilidade na rede Outro aspecto relevante é o apagamento da diferença entre autor e público proposta por Benjamin para a compreensão da reprodutibilidade técnica no campo das artes Cada pessoa hoje em dia pode reivindicar o direito de ser filmado 1994 p183 Adiante o autor aprofunda a questão a partir da disseminação da imprensa Com a ampliação gigantesca da imprensa colocando à disposição dos leitores uma quantidade cada vez maior de órgãos políticos religiosos científicos profissionais e regionais um número crescente de leitores começou a escrever a princípio esporadicamente Com isso a diferença essencial entre autor e público está a ponto de desaparecer 1994 p184 De modo similar a ruptura com outro tipo de tradição que assevera uma rígida separação entre produtor e consumidor de conteúdos se efetivou com o advento da Web 20 como apontado adiante É essa uma das características mais associadas ao ciberespaço na medida em que é a prática do compartilhamento que possibilita a enorme difusão de conteúdos advindos de vários tipos de enunciadores reconhecidos consagrados desconhecidos anônimos próximos ou distantes do enunciatário a depender das condições de produção das mensagensconteúdos Por que compartilhar Redes e convergência Autor do livro Cultura da Interface Steven Johnson num talk ilustrado intitulado De onde vêm as boas ideias2 ressalta que a comunicação mediada por computador permite que as pessoas se conectem de diferentes formas fazendo com que pequenos palpites entrem em contato com outros pequenos palpites para dar forma a ideias inovadoras Para ele o grande propulsor da inovação científica e tecnológica sempre foi o aumento histórico na conectividade e na nossa capacidade de buscar outras pessoas com quem possamos trocar ideias e pegar emprestado palpites alheios combiná los com os nossos próprios palpites e transformá los em algo novo Esse intercâmbio de ideias e palpites representa portanto mais do que uma simples disponibilização formal e institucionalizada de informações a exemplo dos portais de grandes empresas midiáticas ou de sites corporativos Nesse sentido uma das bases da cultura do compartilhamento está na própria ideia de inteligência coletiva proposta por Pierre Lévy 2000 um conceito que pressupõe a distribuição não hierarquizada de saberes e conhecimentos por meio da mobilização das mais variadas competências em comunidades virtuais Nessa perspectiva o autor considerava que o ciberespaço tornarseia o espaço móvel das interações entre conhecimentos e conhecedores de coletivos inteligentes desterritorializados Lévy 2000 p29 Ora qualquer discurso atual em torno do fenômeno das mídias sociais na Internet se sustenta nessa premissa Podese considerar que o correio eletrônico já 2 Disponível em wwwyoutubecomwatchvM1vqWSnRwqQ 64 criava as condições para a efetivação da cultura do compartilhamento na medida em que modificou consideravelmente a relação tempoespaço entre o envio e o recebimento de uma mensagem bem como a sua própria constituição pois a princípio qualquer tipo de conteúdo imagem som audiovisual pode ser anexado ao texto da mensagem Outro recurso que inaugura essa tendência são as salas de bate papo coletivo e as comunidades virtuais ambientes de associações fluidas e flexíveis de pessoas Santaella 2003 Outro aspecto decorrente do anterior diz respeito às redes interativas que resulta na ampliação dessas associações A rede segundo Castells 1999 possibilita a geração de laços fracos múltiplos entre os sujeitos expandindo a sociabilidade para além dos limites socialmente definidos do autorreconhecimento 1999 p445 o que facilita o compartilhamento de conteúdos junto a um maior número de indivíduos O compartilhamento portanto favorece a expansão e a intensidade dos laços fracos justamente porque gera uma grande quantidade e diversidade de conteúdos no ciberespaço As aproximações e conexões estabelecidas entre os sujeitos na Web dependem em alto grau da identificação desses sujeitos com o tipo de conteúdo em circulação e a geração e a transmissão de conteúdo resulta num aumento de sociabilidade Podese considerar então que a prática do compartilhamento mantém as redes O que também associa a cultura do compartilhamento ao conceito de rede é o fato desta requerer um baixíssimo investimento do internauta com intervenções normalmente de baixo custo O investimento de tempo e dinheiro é relativamente baixo frente aos benefícios adquiridos entre os quais está a própria percepção de coletividade decorrente de ações de compartilhamento na rede Essa prática também é fruto de uma mudança de padrões no modo como lidamos com o computador e a Internet ao promover uma junção entre trabalho lazer e estudo na medida em que não necessariamente existe uma delimitação de tempo ou uma distinção a priori e uma restrição de conteúdos que podem ser intercambiados Por fim também contribui para a efetivação da cultura do compartilhamento o fenômeno da convergência Não se trata apenas da convergência das mídias em sua dimensão técnica convergência dos meios e suas respectivas indústrias e institucional corporativo e alternativo independente mas também no que diz respeito aos produtos veiculados e suas linguagens Uma das marcas da comunicação na atualidade é seu caráter híbrido e hipermidiático as chamadas novas mídias se caracterizam entre outros aspectos por serem convergentes multimodais globais e em rede circulando por meio de diferentes plataformas Disso resulta o surgimento de narrativas múltiplas que circulam e atravessam uma série de produtos responsáveis pela cultura visual e informacional contemporânea Manovich 2001 Esses produtos incluem não apenas programas de TV filmes jornais e revistas sites e blogs mas também fotografia publicidade moda design arte multimídia entre outros Considerando que a hipermídia é um novo paradigma comunicacional da contemporaneidade os produtos audiovisuais no ambiente das novas plataformas digitais em especial a Internet estão presentes nas principais estratégias transmidiáticas na contemporaneidade Como exemplo Jenkins 2008 cita a trilogia do filme Matrix lançado inicialmente em 1999 que já nasceu como uma narrativa transmidiática sua história se desenrolou através de múltiplos suportes midiáticos com textos que se complementavam através de games quadrinhos sites e blogs diversos promoções na 65 Internet e arquivos para download Matrix ficou marcado por suas múltiplas narrativas em suportes diferenciados permitindo que o filme contasse inclusive com a participação dos fãs na Internet para o desenvolvimento de narrativas paralelas Essa prática do spoiling de gerar conteúdo exclusivo e inédito em comunidades de fãs sobre seus produtos preferidos da TV e do cinema é caracterizado por Jenkins 2008 como sendo um comportamento representativo da inteligência coletiva denominada por Lévy Para o autor esse tipo de atividade de compartilhamento também dota os indivíduos de um poder específico de participação dentro de comunidades de conhecimento Cabe ainda ressaltar que a cultura do compartilhamento vai cada vez mais se diferenciar da emissão de conteúdo característica das mídias massivas convencionais Web 20 e o compartilhamento de si mesmo Concretamente a prática de se compartilhar conteúdo na Web por meio das trocas de arquivos P2P peer to peer despontou como uma primeira forma de romper com certas limitações de acesso a conteúdos impostas pelo mercado tornandose um marco no processo de evolução da Internet É a partir da efetivação da chamada Web 20 e do advento das redes sociais que se consagra um discurso que coloca em evidência a ideia de compartilhamento legitimando essa prática A Web 20 se caracteriza entre outros aspectos pela disponibilidade crescente de ferramentas para gravar manipular e publicar conteúdo Thompson 2008 p112 A ênfase recai sobre a participação e não mais sobre a emissão isolada uma vez quer a Internet se torna um espaço cada vez maios aberto a modos de produção colaborativa e os sites deixam de serem unidades isoladas Primo 2007 A Web 20 traz uma nova arquitetura que possibilita aos usuários não apenas terem acesso a músicas filmes vídeos imagens e textos mas essencialmente produzilos redistribuílos avaliá los categorizálos de modo mais rápido e fácil Como afirma Primo 2007 não se trata somente de um conjunto de aparatos tecnológicos mas também de novas configurações de mercado e mudanças nos processos comunicacionais A ideia de compartilhar está na essência da própria produção colaborativa que torna possível a existência da Wikipédia e dos sites de jornalismo participativo por exemplo concretizados com o advento da segunda geração da Internet Entre outros fatores essa legitimação também é consequência de um reposicionamento das indústrias da mídia e do entretenimento forçadas a repensarem seus modelos de negócio após o estabelecimento das tecnologias chamadas de Web 20 e também por conta da constituição de um novo contexto tecnológico e social Segundo Thompson 2008 Há mais pessoas online e essas que estão online o fazem mais frequentemente e com mais facilidade Ao mesmo tempo outras ferramentas da Web 20 são projetadas para tornar a criação de conteúdo simples e não problemática e para facilitar a publicação e criação de conexões mas elas também mudam a forma em que pensamos sobre o que fazemos online e como resultado elas dão mais significado e relevância para as conexões que fazemos com outras pessoas por meio de sites de redes sociais e outras ferramentas sociais em nossas vidas Thompson 2008 p117 Notese que a relevância simbólica recai sobre a formação e o funcionamento das possíveis conexões estabelecidas entre sujeitos sociais Thompson 66 2008 considera como ações equivalentes no contexto da Web 20 por exemplo um indivíduo começar uma nova comunidade online e uma empresa usar as redes sociais para levar às pessoas uma mensagem de marketing Com isso defende a ideia de que em essência o que se busca alcançar é a formação de uma rede de possíveis interessados e de futuros adeptos Há portanto uma construção simbólica amplamente difundida juntamente aos novos recursos tecnológicos que prioriza a ação dos indivíduos dentro da coletividade online mesmo que em escalas distintas contribuição cooperação produção colaborativa e ação coletiva Thompson 2008 A lógica do compartilhamento estaria calcada na ideia de contribuição que tem como principal mote a partilha de conteúdo para ser disponibilizado às outras pessoas É essa atitude que está na essência de plataformas como Facebook Flickr Youtube Myspace ou Soundcloud mas também já se tornou uma exigência em sites corporativos portais de informação e mesmo blogs amadores As plataformas que não dispõem de ferramentas de classificação de qualidade compartilhamento junto a várias redes sociais e disponibilização de comentários já são consideradas pouco interativas Como afirma Dominique Wolton 2007 trata se de um sistema técnico que cria sua própria legitimidade de modo bastante eficaz É no entrecruzamento dos campos da tecnologia do mercado e da comunicação que se efetiva a legitimação das práticas de compartilhamento não apenas dos chamados assuntos públicos de interesse de uma comunidade mais ampla mas essencialmente dos chamados perfis que trazem consigo suas ideias comportamentos humores escolhas opiniões histórias de vida Tratase de uma forma já disseminada de socialização da vida privada Wolton 2007 Sobre essa dimensão da intimidade do privado que é publicizado Sibilia 2008 ressalta um fenômeno atual que consiste numa intensa curiosidade da vida real e ordinária de qualquer indivíduo São os gêneros confessionais da Internet que representam os novos relatos de si marcados por uma constante atualização das informações por meio de fragmentos adicionados a todo o momento Sibilia 2008 p116 O próprio slogan de uma das maiores redes de compartilhamento de vídeos o Youtube confirma essa lógica Broadcast yourself As telas sejam do computador da televisão do celular da câmera de fotos ou da mídia que for expandem o campo de visibilidade esse espaço onde cada um pode se construir como uma subjetividade alterdirigida 2008 p111 Nesse processo notase que não basta o investimento na produção de uma autoimagem se esta não vier acompanhada de sua disseminação virtual de modo a abranger diferentes redes A visibilidade se processa a partir da prática do compartilhamento já legitimada tanto pelos dispositivos de produção de conteúdos quanto de divulgação dos mesmos O compartilhamento como recurso mercadológico Para Santaella 2003 é inevitável que as redes sejam crescentemente reguladas pelos mecanismos reinantes do mercado capitalista ainda que sejam divulgadas como espaços abertos livres e amplamente navegáveis Ao mesmo tempo em que há atos subversivos e libertários no ciberespaço também se encontra aí uma virtualização de organizações e empresas em rede comercialmente orientadas Santaella 2003 p76 Ainda que a Web possa ser um espaço de constante transgressão a ideia de um sistema que consegue rapidamente se apoderar das iniciativas de de vanguarda é sustentada pelo desenvolvimento da 67 publicidade na Internet Primo 2007 citando Tim OReilly assinala que mais pessoas na rede representa uma maior quantidade de arquivos disponíveis ou seja quanto mais pessoas usam os serviços mais eles se tornam melhores Ora esse princípio não poderia deixar de ser incorporado pelos campos do marketing e da propaganda que já utilizam amplamente as redes sociais como parte de estratégias de campanha em lançamentos de novos produtos por exemplo Com a Web 20 as características diferenciadoras da publicidade na Internet frente às mídias tradicionais focalização personalização monitoramento flexibilidade e interatividade Zeff e Aronson 2000 tornamse ainda mais proeminentes A possibilidade de se monitorar de modo direto o retorno dos internautas a um anúncio online ou de compor extensos cadastros de usuários através da visitação e da inscrição em sites blogs e redes sociais por exemplo constitui estratégia já amplamente utilizada Todavia para além desses recursos já tradicionais são o desejo e a disponibilidade dos indivíduos para contribuir com fornecimento de dados produzir conteúdo de modo colaborativo ou aderir a ações coletivas que tem favorecido o desenvolvimento de novas ferramentas de promoção e propaganda O marketing viral que faz amplo uso das redes sociais é um exemplo disso A cultura do compartilhamento tem sido amplamente adotada pelo mercado no sentido de possibilitar maior visibilidade a produtos e serviços e consequentemente gerar aumento de vendas adesões fidelizações Desse modo ainda que práticas como o download gratuito e a troca de arquivos P2P continuem sendo questionadas ou mesmo condenadas até porque envolvem questões relativas a direitos autorais por exemplo há por outro lado um alto investimento em dispositivos e plataformas de arquivamento e disponibilização dos mais variados tipos de conteúdo O surgimento de diversos sites de compartilhamento de vídeos fotos músicas e textos geralmente gratuitos e com grande facilidade de acesso e utilização como Youtube Flickr Creative Commons Myspace Soundcloud entre outros dos sites de compras coletivos ou lojas virtuais compartilhadas além das redes sociais virtuais Facebook Twitter Orkut Quepasa Foursquare entre outras por exemplo comprova a ampla disseminação dessa lógica que extrapola os limites do ciberespaço se considerarmos a potencialidade e a emergência das mídias locativas e das tecnologias móveis No momento do surgimento dos blogs por exemplo estes eram identificados como diários pessoais espaços de publicização de opiniões sobre temas diversos Hoje já se tornaram canais legitimados e amplamente utilizados para veiculação publicitária e ações de marketing São os blogs que garantem uma considerável parcela do faturamento do chamado mercado de nicho ao conseguir falar diretamente com um público específico fiel e interessado Também as mídias sociais na Internet já dispõem de espaços publicitários como a coluna de Patrocinados do Facebook e os próprios banners Desse modo outro fator determinante para a efetivação da cultura do compartilhamento está relacionado às mudanças recentes na sociedade de consumo que não mais se sustenta apenas num mercado de massa mas que cada vez mais se caracteriza por ser um mercado de nichos no qual são mais valorizados os bens e serviços com alvos estreitos Considerando a ampliação desse mercado Anderson 2006 afirma que o impulso da demanda pelos produtos do nicho tem se dada justamente a partir das ferramentas disponíveis para o compartilhamento de informações na rede os dispositivos de citação recomendação 68 categorização classificação viralização entre outros que funcionariam como filtros para o consumidor Os fóruns de discussão e os comentários por exemplo se apresentam como espaço privilegiado para se obter impressões sobre determinados produtos e serviços se são eficientes se agradam se são recomendáveis etc Funcionam como índices de satisfação ou insatisfação do consumidor mas cumprem ainda outra função essencial para se garantir a ligação entre a oferta e a demanda a de mapear e facilitar a localização desses bens e serviços na rede para o internauta A prática do compartilhamento desse modo institui novos padrões de consumo baseados na ampliação dos chamados formadores de opinião ou formadores de preferência A capacidade de explorar a inteligência dispersa de milhões de consumidores para que as pessoas encontrem o que lhes é mais adequado está determinando o surgimento de todos os tipos de novas recomendações e de métodos de marketing atuando basicamente como os novos formadores de preferências Anderson 2006 p55 Disso decorre uma economia da reputação Anderson 2006 que não nasce necessariamente de maneira comercial Pelo contrário surge espontaneamente descolada da cultura dos negócios motivada pelo desejo da expressão da diversão ou da experimentação e efetivada pela prática do compartilhamento de impressões opiniões sugestões reclamações Contudo seus benefícios são logo incorporados ao sistema mercadológico Compartilhamento e mobilidade Se por um lado a Web 20 resultou num maior e mais intenso fluxo de trocas de dados a chamada mobilidade torna a prática do compartilhamento mais instantânea ao mesmo tempo em que evidencia os processos de desterritorialização Mas não apenas Juntas as redes WiFi redes sem fio e as tecnologias de telefonia móvel possibilitam aos indivíduos uma nova relação espaçotempo se for considerada a hibridização entre territórios físicos e territórios informacionais o que é cada vez mais proeminente através das chamadas mídias locativas Lemos 2010 As novas tecnologias da mobilidade permitem também o compartilhamento dos deslocamentos realizados pelos indivíduos no espaço físico graças a tecnologias de geolocalização As mídias locativas por sua vez ao mesmo tempo em que promovem uma aproximação entre o espaço on line e o offline estabelecem um paradoxo ao aliar localização e mobilidade dando novos sentidos aos lugares através de trocas informacionais no espaço urbano O que este novo aparato tecnológico possibilita é o compartilhamento de conteúdo não somente no ambiente da Internet mas também fora dele ou mesmo com ele articulado A informação eletrônica passa a ser acessada e distribuída de todo e qualquer lugar a partir dos mais diferentes objetos e dispositivos O ciberespaço começa assim a baixar para coisas e lugares a pingar no mundo real Lemos 2010 p163 produzindo uma nova territorialidade informacional A prática do compartilhamento nesse contexto sugere novos processos de socialização que colocam em evidência o posicionamento dos sujeitos não mais apenas no ciberespaço mas fundamentalmente no espaço físico por onde circulam Noções de mapeamento localização e deslocamento passam a integrar a gramática da cultura digital criando formas específicas de produção e intercâmbio de conteúdos 69 Conclusão Frente a uma abundante oferta de novas designações que tentam dar conta dos fenômenos envolvendo a relação entre tecnologia digital e vida social o conceito de cultura do compartilhamento apresentase aqui como uma tentativa de compreender um padrão de produção de conteúdo bastante recente na Web que se configura através da criação e disseminação de dispositivos de classificação categorização qualificação e intercâmbio de conteúdos e a forma como sua apropriação se intensificou nos últimos anos A disseminação dessa prática se deu principalmente através de um discurso legitimador que se expandiu para além das fronteiras do ciberespaço Para tanto basta ver como se deu a fetichização das chamadas mídias sociais através de veículos noticiosos e campanhas publicitárias Nunca um sistema técnico criou tanto a sua própria legitimidade suprimindo de um só golpe as realidades do poder as desigualdades as mentiras e as relações de força que desde sempre cercam a informação Wolton 2007 p109 Se a obra de arte adquiriu um padrão de reprodutibilidade nunca antes experimentado com o surgimento da fotografia e do cinema como afirma Benjamin 1994 na contemporaneidade é o próprio objeto tecnológico que se estabelece como fetiche na medida em que possibilita equiparar o ato de compartilhar com o de reproduzir ainda que virtualmente muito mais do que conteúdo sob a forma de informação mas essencialmente de produzir múltiplos perfis identidades e subjetividades REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON Chris A cauda longa do mercado de massa para o mercado de nicho Rio de Janeiro Elsevier 2006 BENJAMIN Walter A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica In Obras escolhidas Magia e técnica arte e política São Paulo Ed Brasiliense 1994 CASTELLS Manuel A sociedade em Rede a era da informação economia sociedade e cultura Volume 1 São Paulo Paz Terra 2002 CASTRO Gisela Nas tramas da rede A internet e o consumo de música digital In BARROS FILHO Clóvis et al CAEPM Org Bravo mundo novo novas configurações da comunicação e do consumo São Paulo Alameda 2009 JENKINS Henry Cultura da Convergência São Paulo Aleph 2008 JOHNSON Steven Cultura da interface Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 2001 LEMOS André Cibercultura Tecnologia e vida social na cultura contemporânea Porto Alegre Sulina 2007 LEMOS André Arte e mídia locativa no Brasil In BAMBOZZI L BASTOS M MINELLI R Orgs Mediações tecnologia e espaço público panorama crítico das artes em mídias móveis São Paulo Conrad Editora do Brasil 2010 LÉVY Pierre Cibercultura São Paulo Ed 34 1999 MACHADO Arlindo Arte e mídia Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 2007 MANOVICH Lev Language of new media MIT 70 Press 2001 PARENTE André Org Tramas da rede Porto Alegre Sulina 2010 PRIMO Alex O aspecto relacional das interações na Web 20 ECompós Brasília v 9 p 121 2007 Disponível em httpwww6ufrgsbrlimcPDFs web2pdf SANTAELLA Lucia Culturas e artes do póshumano São Paulo Paulus 2003 Lucia Por que as comunicações e as artes estão convergindo São Paulo Paulus 2005 SIBILIA Paula O show do eu a intimidade como espetáculo Rio de Janeiro Nova Fronteira 2008 THOMPSON Bill Web 20 as consequências da tecnologia para a sociedade In VILLARES Fábio Org Novas mídias digitais Audiovisual games e música Rio de Janeiro Epapers 2008 WOLTON Dominique Internet e depois Porto Alegre Sulina 2ª ed 2007 YÚDICE George Nuevas tecnologias música y experiência Barcelona España Gedisa Ed 2007 ZEFF Robbin e ARONSON Brad Publicidade na Internet Rio de Janeiro Campus 2000 A cultura do compartilhamento e a reprodutibilidade dos conteúdos Daniela Zanetti Data do Envio 16 de setembro de 2011 Data do aceite 23 de novembro de 2011

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of innovation the article develops the idea of culture of sharing in the context of the multiple displays of realization archiving and making available more different types of content on the Web mainly from the emergence of Web 20 So this paper presents some of the characteristics of this practice recently institutionalised and legitimized relating to its constitution in the context of the cyberculture KEYWORDS Sharing convergence cyberculture 1 Professora do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo Doutura em Comunicação e Cultura Contemporâneas emaildanielazanettigmailcom 5 61 A exponibilidade das obras e a produção de conteúdo virtual O debate fortemente presente no início do século XXI em torno das consequências da pirataria online para os modos de consumo de músicas e de obras audiovisuais e sua consequente interferência na lógica de funcionamento das indústrias fonográfica e cinematográfica traz à tona outro fenômeno que tem paradoxalmente favorecido não somente essas mesmas indústrias como também outras esferas sociais a prática do compartilhamento na rede No caso específico da música a sistematização do compartilhamento na rede representou não somente uma mudança no modo de consumo e de fruição musical Yúdice 2007 Castro 2009 mas também uma adequação do mercado no sentido de se beneficiar através de recursos como o marketing viral produzido espontaneamente nas trocas de playlists e de videoclipes por exemplo na utilização dos serviços de recomendação nos próprios programas de compartilhamento de músicas Ainda que o surgimento da microinformática e da Internet esteja de fato atrelado à ideia de democratização da informação através de sua descentralização Levy 1999 Lemos 2007 nem todas as formas de partilha e nem todo o conteúdo intercambiado foram legitimadas de antemão São justamente os desvios e as apropriações livres que ajudaram a configurar o atual estágio da cibercultura Antes fragmentado e muitas vezes considerado indomável o ato de intercambiar qualquer tipo de conteúdo na Internet foi sendo cada vez mais estimulado à medida que foi se tornando mais organizado sistematizado Essa sistematização todavia não se deveu apenas a um aprimoramento do aparato tecnológico por meio de uma intensificação das chamadas redes sociais online e dos vários dispositivos de compartilhamento como os espaços de comentários e os dispositivos de classificações e categorizações de conteúdos mas essencialmente a um discurso legitimador e ao mesmo tempo aglutinador em torno da prática do compartilhamento São os mecanismos do mercado de certo modo se apropriando dos processos comunicacionais espontâneos e não organizados que surgem na rede Assim como em outras revoluções tecnológicas que intensificaram a reprodutibilidade informacional e artística a exemplo do surgimento da fotografia e do cinema como bem descreveu Walter Benjamin 1994 o advento das mídias digitais promoveu o surgimento de novos padrões de compreensão dos processos comunicacionais e de novas formas de sociabilidade que não por acaso incorporam a noção de cultura quase sempre atrelada a conceitos pertencentes à dimensão técnica cultura digital cibercultura cultura da mobilidade Santaella 2003 cultura da interface Johnson 2001 cultura da convergência Jenkins 2008 cultura da virtualidade real Castells 1999 Em comum essas noções ratificam a incorporação e o impacto das tecnologias digitais no cotidiano dos indivíduos pontuando diferentes dimensões de um mesmo fenômeno Considerando outros aspectos que ajudam a configurar essa relação entre cultura informacional comunicacional e tecnologia digital propomos aqui a noção de cultura do compartilhamento que diz respeito não apenas ao aparato tecnológico que possibilita a sistematização de práticas de produção distribuição e intercâmbio de conteúdos digitalizados mas também à incorporação dessas práticas pelos sujeitos sociais e sua posterior apropriação por parte do mercado Além disso não se trata de um fenômeno mas sim um modo de sociabilidade resultante da convergência entre vários aspectos do campo da cibercultura A expressão não traz em si nenhuma referência 62 direta à dimensão técnica Compartilhar significa participar de algo tomar parte em alguma coisa e também partilhar dividir com outros Indiretamente nos remete às práticas instauradas pelas redes sociais na Internet de socialização de conteúdos online e amplamente difundidas na rede Sites e blogs considerados mais interativos têm sido aqueles que disponibilizam de modo mais acessível ferramentas para compartilhamento nas principais redes sociais ou mesmo por correio eletrônico O link recomendar associado ao ícone do Facebook o link enviar para um amigo com o ícone de uma carta o link share compartilhar associado a mais de uma dezena de opões de redes sociais e outras ferramentas de envio de conteúdo são os elementos mais evidentes desta tendência Até mesmo a possibilidade do internauta publicizar seus comentários acerca de um determinado conteúdo e avaliálo através de um símbolo de positivo ou negativo também se referem à ideia de compartilhamento pois se trata de dividir partilhar um ponto de vista uma opinião tornandoa acessível a um grande número de pessoas No Facebook você pode se conectar e compartilhar o que quiser com quem é importante em sua vida diz o slogan de uma das maiores redes sociais na Internet Não basta somente estar conectado para acessar algum conteúdo e ser visto mas essencialmente devese compartilhar o que obviamente significa produzir mais conteúdo Tendo como pressuposto a hibridização entre as artes e as comunicações tanto no sentido da essência constitutiva dos produtos digitais Manovich 2001 quanto no sentido de que os produtos da criação artística e da criação midiática não são mais tão facilmente distinguidos com clareza Machado 2007 p23 sem todavia desconsiderar as delimitações desses dois campos neste estudo ampliase o conceito de obra de arte utilizado por Walter Benjamin 1994 para o de conteúdo de modo a abarcar os vários tipos de materiais que circulam no ciberespaço Para o autor a própria mudança de caráter da obra de arte quando do surgimento das técnicas modernas de reprodutibilidade resulta na transformação daquela em mercadoria A quantidade converteu se em qualidade O número substancialmente maior de participantes produziu um novo modo de participação Benjamin 1994 p192 Ora não é este o paradigma estabelecido a partir das novas tecnologias digitais no campo da comunicação Com base nessa compreensão objetivase traçar algumas especificidades da cultura do compartilhamento Não se trata obviamente de atribuir o status de obra de arte a todo e qualquer tipo de conteúdo presente no ciberespaço A relação estabelecida com as proposições do autor se localiza mais no âmbito do processo a reprodutibilidade a exponibilidade do que do objeto em si a obra de arte Ainda que considerável parcela do conteúdo gerado e compartilhado nas redes não possa ser compreendida como obra de arte é possível constatar que grande parte desse conteúdo é decorrente das artes que se estabeleceram a partir de sua condição de reprodutível quais sejam a fotografia e o cinema São fragmentos de filmes vídeos imagens músicas materiais sintéticos dos mais diversos tipos Essa hibridização decorre do fato do computador carregar a contradição de aparecer como uma mídia única sintetizadora de todas as demais Machado 2007 p73 Desse modo o que se pretende não é se fixar no caráter artístico ou não dos materiais em circulação na Internet mas sim na sua condição de conteúdo transformado em mercadoria O valor de exposição em oposição ao valor de culto que diz respeito ao grau de exponibilidade 63 de uma determinada obra pode ser associado à ideia de disponibilidade ou de visibilidade na Web se considerarmos que a cada compartilhamento realizado uma reprodução está sendo feita ainda que no plano virtual Nesse sentido parafraseando o autor nunca tantos conteúdos puderam ser tão facilmente reproduzidos como em nossos dias principalmente se considerarmos essa reprodutibilidade no plano do virtual e direcionada para públicos específicos nichos E na medida em que essa técnica permite à reprodução vir ao encontro do espectador em todas as situações ela atualiza o objeto reproduzido Benjamin 1994 p168 Não estaria o valor de exposição hoje na base da supremacia dada à visibilidade na rede Outro aspecto relevante é o apagamento da diferença entre autor e público proposta por Benjamin para a compreensão da reprodutibilidade técnica no campo das artes Cada pessoa hoje em dia pode reivindicar o direito de ser filmado 1994 p183 Adiante o autor aprofunda a questão a partir da disseminação da imprensa Com a ampliação gigantesca da imprensa colocando à disposição dos leitores uma quantidade cada vez maior de órgãos políticos religiosos científicos profissionais e regionais um número crescente de leitores começou a escrever a princípio esporadicamente Com isso a diferença essencial entre autor e público está a ponto de desaparecer 1994 p184 De modo similar a ruptura com outro tipo de tradição que assevera uma rígida separação entre produtor e consumidor de conteúdos se efetivou com o advento da Web 20 como apontado adiante É essa uma das características mais associadas ao ciberespaço na medida em que é a prática do compartilhamento que possibilita a enorme difusão de conteúdos advindos de vários tipos de enunciadores reconhecidos consagrados desconhecidos anônimos próximos ou distantes do enunciatário a depender das condições de produção das mensagensconteúdos Por que compartilhar Redes e convergência Autor do livro Cultura da Interface Steven Johnson num talk ilustrado intitulado De onde vêm as boas ideias2 ressalta que a comunicação mediada por computador permite que as pessoas se conectem de diferentes formas fazendo com que pequenos palpites entrem em contato com outros pequenos palpites para dar forma a ideias inovadoras Para ele o grande propulsor da inovação científica e tecnológica sempre foi o aumento histórico na conectividade e na nossa capacidade de buscar outras pessoas com quem possamos trocar ideias e pegar emprestado palpites alheios combiná los com os nossos próprios palpites e transformá los em algo novo Esse intercâmbio de ideias e palpites representa portanto mais do que uma simples disponibilização formal e institucionalizada de informações a exemplo dos portais de grandes empresas midiáticas ou de sites corporativos Nesse sentido uma das bases da cultura do compartilhamento está na própria ideia de inteligência coletiva proposta por Pierre Lévy 2000 um conceito que pressupõe a distribuição não hierarquizada de saberes e conhecimentos por meio da mobilização das mais variadas competências em comunidades virtuais Nessa perspectiva o autor considerava que o ciberespaço tornarseia o espaço móvel das interações entre conhecimentos e conhecedores de coletivos inteligentes desterritorializados Lévy 2000 p29 Ora qualquer discurso atual em torno do fenômeno das mídias sociais na Internet se sustenta nessa premissa Podese considerar que o correio eletrônico já 2 Disponível em wwwyoutubecomwatchvM1vqWSnRwqQ 64 criava as condições para a efetivação da cultura do compartilhamento na medida em que modificou consideravelmente a relação tempoespaço entre o envio e o recebimento de uma mensagem bem como a sua própria constituição pois a princípio qualquer tipo de conteúdo imagem som audiovisual pode ser anexado ao texto da mensagem Outro recurso que inaugura essa tendência são as salas de bate papo coletivo e as comunidades virtuais ambientes de associações fluidas e flexíveis de pessoas Santaella 2003 Outro aspecto decorrente do anterior diz respeito às redes interativas que resulta na ampliação dessas associações A rede segundo Castells 1999 possibilita a geração de laços fracos múltiplos entre os sujeitos expandindo a sociabilidade para além dos limites socialmente definidos do autorreconhecimento 1999 p445 o que facilita o compartilhamento de conteúdos junto a um maior número de indivíduos O compartilhamento portanto favorece a expansão e a intensidade dos laços fracos justamente porque gera uma grande quantidade e diversidade de conteúdos no ciberespaço As aproximações e conexões estabelecidas entre os sujeitos na Web dependem em alto grau da identificação desses sujeitos com o tipo de conteúdo em circulação e a geração e a transmissão de conteúdo resulta num aumento de sociabilidade Podese considerar então que a prática do compartilhamento mantém as redes O que também associa a cultura do compartilhamento ao conceito de rede é o fato desta requerer um baixíssimo investimento do internauta com intervenções normalmente de baixo custo O investimento de tempo e dinheiro é relativamente baixo frente aos benefícios adquiridos entre os quais está a própria percepção de coletividade decorrente de ações de compartilhamento na rede Essa prática também é fruto de uma mudança de padrões no modo como lidamos com o computador e a Internet ao promover uma junção entre trabalho lazer e estudo na medida em que não necessariamente existe uma delimitação de tempo ou uma distinção a priori e uma restrição de conteúdos que podem ser intercambiados Por fim também contribui para a efetivação da cultura do compartilhamento o fenômeno da convergência Não se trata apenas da convergência das mídias em sua dimensão técnica convergência dos meios e suas respectivas indústrias e institucional corporativo e alternativo independente mas também no que diz respeito aos produtos veiculados e suas linguagens Uma das marcas da comunicação na atualidade é seu caráter híbrido e hipermidiático as chamadas novas mídias se caracterizam entre outros aspectos por serem convergentes multimodais globais e em rede circulando por meio de diferentes plataformas Disso resulta o surgimento de narrativas múltiplas que circulam e atravessam uma série de produtos responsáveis pela cultura visual e informacional contemporânea Manovich 2001 Esses produtos incluem não apenas programas de TV filmes jornais e revistas sites e blogs mas também fotografia publicidade moda design arte multimídia entre outros Considerando que a hipermídia é um novo paradigma comunicacional da contemporaneidade os produtos audiovisuais no ambiente das novas plataformas digitais em especial a Internet estão presentes nas principais estratégias transmidiáticas na contemporaneidade Como exemplo Jenkins 2008 cita a trilogia do filme Matrix lançado inicialmente em 1999 que já nasceu como uma narrativa transmidiática sua história se desenrolou através de múltiplos suportes midiáticos com textos que se complementavam através de games quadrinhos sites e blogs diversos promoções na 65 Internet e arquivos para download Matrix ficou marcado por suas múltiplas narrativas em suportes diferenciados permitindo que o filme contasse inclusive com a participação dos fãs na Internet para o desenvolvimento de narrativas paralelas Essa prática do spoiling de gerar conteúdo exclusivo e inédito em comunidades de fãs sobre seus produtos preferidos da TV e do cinema é caracterizado por Jenkins 2008 como sendo um comportamento representativo da inteligência coletiva denominada por Lévy Para o autor esse tipo de atividade de compartilhamento também dota os indivíduos de um poder específico de participação dentro de comunidades de conhecimento Cabe ainda ressaltar que a cultura do compartilhamento vai cada vez mais se diferenciar da emissão de conteúdo característica das mídias massivas convencionais Web 20 e o compartilhamento de si mesmo Concretamente a prática de se compartilhar conteúdo na Web por meio das trocas de arquivos P2P peer to peer despontou como uma primeira forma de romper com certas limitações de acesso a conteúdos impostas pelo mercado tornandose um marco no processo de evolução da Internet É a partir da efetivação da chamada Web 20 e do advento das redes sociais que se consagra um discurso que coloca em evidência a ideia de compartilhamento legitimando essa prática A Web 20 se caracteriza entre outros aspectos pela disponibilidade crescente de ferramentas para gravar manipular e publicar conteúdo Thompson 2008 p112 A ênfase recai sobre a participação e não mais sobre a emissão isolada uma vez quer a Internet se torna um espaço cada vez maios aberto a modos de produção colaborativa e os sites deixam de serem unidades isoladas Primo 2007 A Web 20 traz uma nova arquitetura que possibilita aos usuários não apenas terem acesso a músicas filmes vídeos imagens e textos mas essencialmente produzilos redistribuílos avaliá los categorizálos de modo mais rápido e fácil Como afirma Primo 2007 não se trata somente de um conjunto de aparatos tecnológicos mas também de novas configurações de mercado e mudanças nos processos comunicacionais A ideia de compartilhar está na essência da própria produção colaborativa que torna possível a existência da Wikipédia e dos sites de jornalismo participativo por exemplo concretizados com o advento da segunda geração da Internet Entre outros fatores essa legitimação também é consequência de um reposicionamento das indústrias da mídia e do entretenimento forçadas a repensarem seus modelos de negócio após o estabelecimento das tecnologias chamadas de Web 20 e também por conta da constituição de um novo contexto tecnológico e social Segundo Thompson 2008 Há mais pessoas online e essas que estão online o fazem mais frequentemente e com mais facilidade Ao mesmo tempo outras ferramentas da Web 20 são projetadas para tornar a criação de conteúdo simples e não problemática e para facilitar a publicação e criação de conexões mas elas também mudam a forma em que pensamos sobre o que fazemos online e como resultado elas dão mais significado e relevância para as conexões que fazemos com outras pessoas por meio de sites de redes sociais e outras ferramentas sociais em nossas vidas Thompson 2008 p117 Notese que a relevância simbólica recai sobre a formação e o funcionamento das possíveis conexões estabelecidas entre sujeitos sociais Thompson 66 2008 considera como ações equivalentes no contexto da Web 20 por exemplo um indivíduo começar uma nova comunidade online e uma empresa usar as redes sociais para levar às pessoas uma mensagem de marketing Com isso defende a ideia de que em essência o que se busca alcançar é a formação de uma rede de possíveis interessados e de futuros adeptos Há portanto uma construção simbólica amplamente difundida juntamente aos novos recursos tecnológicos que prioriza a ação dos indivíduos dentro da coletividade online mesmo que em escalas distintas contribuição cooperação produção colaborativa e ação coletiva Thompson 2008 A lógica do compartilhamento estaria calcada na ideia de contribuição que tem como principal mote a partilha de conteúdo para ser disponibilizado às outras pessoas É essa atitude que está na essência de plataformas como Facebook Flickr Youtube Myspace ou Soundcloud mas também já se tornou uma exigência em sites corporativos portais de informação e mesmo blogs amadores As plataformas que não dispõem de ferramentas de classificação de qualidade compartilhamento junto a várias redes sociais e disponibilização de comentários já são consideradas pouco interativas Como afirma Dominique Wolton 2007 trata se de um sistema técnico que cria sua própria legitimidade de modo bastante eficaz É no entrecruzamento dos campos da tecnologia do mercado e da comunicação que se efetiva a legitimação das práticas de compartilhamento não apenas dos chamados assuntos públicos de interesse de uma comunidade mais ampla mas essencialmente dos chamados perfis que trazem consigo suas ideias comportamentos humores escolhas opiniões histórias de vida Tratase de uma forma já disseminada de socialização da vida privada Wolton 2007 Sobre essa dimensão da intimidade do privado que é publicizado Sibilia 2008 ressalta um fenômeno atual que consiste numa intensa curiosidade da vida real e ordinária de qualquer indivíduo São os gêneros confessionais da Internet que representam os novos relatos de si marcados por uma constante atualização das informações por meio de fragmentos adicionados a todo o momento Sibilia 2008 p116 O próprio slogan de uma das maiores redes de compartilhamento de vídeos o Youtube confirma essa lógica Broadcast yourself As telas sejam do computador da televisão do celular da câmera de fotos ou da mídia que for expandem o campo de visibilidade esse espaço onde cada um pode se construir como uma subjetividade alterdirigida 2008 p111 Nesse processo notase que não basta o investimento na produção de uma autoimagem se esta não vier acompanhada de sua disseminação virtual de modo a abranger diferentes redes A visibilidade se processa a partir da prática do compartilhamento já legitimada tanto pelos dispositivos de produção de conteúdos quanto de divulgação dos mesmos O compartilhamento como recurso mercadológico Para Santaella 2003 é inevitável que as redes sejam crescentemente reguladas pelos mecanismos reinantes do mercado capitalista ainda que sejam divulgadas como espaços abertos livres e amplamente navegáveis Ao mesmo tempo em que há atos subversivos e libertários no ciberespaço também se encontra aí uma virtualização de organizações e empresas em rede comercialmente orientadas Santaella 2003 p76 Ainda que a Web possa ser um espaço de constante transgressão a ideia de um sistema que consegue rapidamente se apoderar das iniciativas de de vanguarda é sustentada pelo desenvolvimento da 67 publicidade na Internet Primo 2007 citando Tim OReilly assinala que mais pessoas na rede representa uma maior quantidade de arquivos disponíveis ou seja quanto mais pessoas usam os serviços mais eles se tornam melhores Ora esse princípio não poderia deixar de ser incorporado pelos campos do marketing e da propaganda que já utilizam amplamente as redes sociais como parte de estratégias de campanha em lançamentos de novos produtos por exemplo Com a Web 20 as características diferenciadoras da publicidade na Internet frente às mídias tradicionais focalização personalização monitoramento flexibilidade e interatividade Zeff e Aronson 2000 tornamse ainda mais proeminentes A possibilidade de se monitorar de modo direto o retorno dos internautas a um anúncio online ou de compor extensos cadastros de usuários através da visitação e da inscrição em sites blogs e redes sociais por exemplo constitui estratégia já amplamente utilizada Todavia para além desses recursos já tradicionais são o desejo e a disponibilidade dos indivíduos para contribuir com fornecimento de dados produzir conteúdo de modo colaborativo ou aderir a ações coletivas que tem favorecido o desenvolvimento de novas ferramentas de promoção e propaganda O marketing viral que faz amplo uso das redes sociais é um exemplo disso A cultura do compartilhamento tem sido amplamente adotada pelo mercado no sentido de possibilitar maior visibilidade a produtos e serviços e consequentemente gerar aumento de vendas adesões fidelizações Desse modo ainda que práticas como o download gratuito e a troca de arquivos P2P continuem sendo questionadas ou mesmo condenadas até porque envolvem questões relativas a direitos autorais por exemplo há por outro lado um alto investimento em dispositivos e plataformas de arquivamento e disponibilização dos mais variados tipos de conteúdo O surgimento de diversos sites de compartilhamento de vídeos fotos músicas e textos geralmente gratuitos e com grande facilidade de acesso e utilização como Youtube Flickr Creative Commons Myspace Soundcloud entre outros dos sites de compras coletivos ou lojas virtuais compartilhadas além das redes sociais virtuais Facebook Twitter Orkut Quepasa Foursquare entre outras por exemplo comprova a ampla disseminação dessa lógica que extrapola os limites do ciberespaço se considerarmos a potencialidade e a emergência das mídias locativas e das tecnologias móveis No momento do surgimento dos blogs por exemplo estes eram identificados como diários pessoais espaços de publicização de opiniões sobre temas diversos Hoje já se tornaram canais legitimados e amplamente utilizados para veiculação publicitária e ações de marketing São os blogs que garantem uma considerável parcela do faturamento do chamado mercado de nicho ao conseguir falar diretamente com um público específico fiel e interessado Também as mídias sociais na Internet já dispõem de espaços publicitários como a coluna de Patrocinados do Facebook e os próprios banners Desse modo outro fator determinante para a efetivação da cultura do compartilhamento está relacionado às mudanças recentes na sociedade de consumo que não mais se sustenta apenas num mercado de massa mas que cada vez mais se caracteriza por ser um mercado de nichos no qual são mais valorizados os bens e serviços com alvos estreitos Considerando a ampliação desse mercado Anderson 2006 afirma que o impulso da demanda pelos produtos do nicho tem se dada justamente a partir das ferramentas disponíveis para o compartilhamento de informações na rede os dispositivos de citação recomendação 68 categorização classificação viralização entre outros que funcionariam como filtros para o consumidor Os fóruns de discussão e os comentários por exemplo se apresentam como espaço privilegiado para se obter impressões sobre determinados produtos e serviços se são eficientes se agradam se são recomendáveis etc Funcionam como índices de satisfação ou insatisfação do consumidor mas cumprem ainda outra função essencial para se garantir a ligação entre a oferta e a demanda a de mapear e facilitar a localização desses bens e serviços na rede para o internauta A prática do compartilhamento desse modo institui novos padrões de consumo baseados na ampliação dos chamados formadores de opinião ou formadores de preferência A capacidade de explorar a inteligência dispersa de milhões de consumidores para que as pessoas encontrem o que lhes é mais adequado está determinando o surgimento de todos os tipos de novas recomendações e de métodos de marketing atuando basicamente como os novos formadores de preferências Anderson 2006 p55 Disso decorre uma economia da reputação Anderson 2006 que não nasce necessariamente de maneira comercial Pelo contrário surge espontaneamente descolada da cultura dos negócios motivada pelo desejo da expressão da diversão ou da experimentação e efetivada pela prática do compartilhamento de impressões opiniões sugestões reclamações Contudo seus benefícios são logo incorporados ao sistema mercadológico Compartilhamento e mobilidade Se por um lado a Web 20 resultou num maior e mais intenso fluxo de trocas de dados a chamada mobilidade torna a prática do compartilhamento mais instantânea ao mesmo tempo em que evidencia os processos de desterritorialização Mas não apenas Juntas as redes WiFi redes sem fio e as tecnologias de telefonia móvel possibilitam aos indivíduos uma nova relação espaçotempo se for considerada a hibridização entre territórios físicos e territórios informacionais o que é cada vez mais proeminente através das chamadas mídias locativas Lemos 2010 As novas tecnologias da mobilidade permitem também o compartilhamento dos deslocamentos realizados pelos indivíduos no espaço físico graças a tecnologias de geolocalização As mídias locativas por sua vez ao mesmo tempo em que promovem uma aproximação entre o espaço on line e o offline estabelecem um paradoxo ao aliar localização e mobilidade dando novos sentidos aos lugares através de trocas informacionais no espaço urbano O que este novo aparato tecnológico possibilita é o compartilhamento de conteúdo não somente no ambiente da Internet mas também fora dele ou mesmo com ele articulado A informação eletrônica passa a ser acessada e distribuída de todo e qualquer lugar a partir dos mais diferentes objetos e dispositivos O ciberespaço começa assim a baixar para coisas e lugares a pingar no mundo real Lemos 2010 p163 produzindo uma nova territorialidade informacional A prática do compartilhamento nesse contexto sugere novos processos de socialização que colocam em evidência o posicionamento dos sujeitos não mais apenas no ciberespaço mas fundamentalmente no espaço físico por onde circulam Noções de mapeamento localização e deslocamento passam a integrar a gramática da cultura digital criando formas específicas de produção e intercâmbio de conteúdos 69 Conclusão Frente a uma abundante oferta de novas designações que tentam dar conta dos fenômenos envolvendo a relação entre tecnologia digital e vida social o conceito de cultura do compartilhamento apresentase aqui como uma tentativa de compreender um padrão de produção de conteúdo bastante recente na Web que se configura através da criação e disseminação de dispositivos de classificação categorização qualificação e intercâmbio de conteúdos e a forma como sua apropriação se intensificou nos últimos anos A disseminação dessa prática se deu principalmente através de um discurso legitimador que se expandiu para além das fronteiras do ciberespaço Para tanto basta ver como se deu a fetichização das chamadas mídias sociais através de veículos noticiosos e campanhas publicitárias Nunca um sistema técnico criou tanto a sua própria legitimidade suprimindo de um só golpe as realidades do poder as desigualdades as mentiras e as relações de força que desde sempre cercam a informação Wolton 2007 p109 Se a obra de arte adquiriu um padrão de reprodutibilidade nunca antes experimentado com o surgimento da fotografia e do cinema como afirma Benjamin 1994 na contemporaneidade é o próprio objeto tecnológico que se estabelece como fetiche na medida em que possibilita equiparar o ato de compartilhar com o de reproduzir ainda que virtualmente muito mais do que conteúdo sob a forma de informação mas essencialmente de produzir múltiplos perfis identidades e subjetividades REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON Chris A cauda longa do mercado de massa para o mercado de nicho Rio de Janeiro Elsevier 2006 BENJAMIN Walter A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica In Obras escolhidas Magia e técnica arte e política São Paulo Ed Brasiliense 1994 CASTELLS Manuel A sociedade em Rede a era da informação economia sociedade e cultura Volume 1 São Paulo Paz Terra 2002 CASTRO Gisela Nas tramas da rede A internet e o consumo de música digital In BARROS FILHO Clóvis et al CAEPM Org Bravo mundo novo novas configurações da comunicação e do consumo São Paulo Alameda 2009 JENKINS Henry Cultura da Convergência São Paulo Aleph 2008 JOHNSON Steven Cultura da interface Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 2001 LEMOS André Cibercultura Tecnologia e vida social na cultura contemporânea Porto Alegre Sulina 2007 LEMOS André Arte e mídia locativa no Brasil In BAMBOZZI L BASTOS M MINELLI R Orgs Mediações tecnologia e espaço público panorama crítico das artes em mídias móveis São Paulo Conrad Editora do Brasil 2010 LÉVY Pierre Cibercultura São Paulo Ed 34 1999 MACHADO Arlindo Arte e mídia Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 2007 MANOVICH Lev Language of new media MIT 70 Press 2001 PARENTE André Org Tramas da rede Porto Alegre Sulina 2010 PRIMO Alex O aspecto relacional das interações na Web 20 ECompós Brasília v 9 p 121 2007 Disponível em httpwww6ufrgsbrlimcPDFs web2pdf SANTAELLA Lucia Culturas e artes do póshumano São Paulo Paulus 2003 Lucia Por que as comunicações e as artes estão convergindo São Paulo Paulus 2005 SIBILIA Paula O show do eu a intimidade como espetáculo Rio de Janeiro Nova Fronteira 2008 THOMPSON Bill Web 20 as consequências da tecnologia para a sociedade In VILLARES Fábio Org Novas mídias digitais Audiovisual games e música Rio de Janeiro Epapers 2008 WOLTON Dominique Internet e depois Porto Alegre Sulina 2ª ed 2007 YÚDICE George Nuevas tecnologias música y experiência Barcelona España Gedisa Ed 2007 ZEFF Robbin e ARONSON Brad Publicidade na Internet Rio de Janeiro Campus 2000 A cultura do compartilhamento e a reprodutibilidade dos conteúdos Daniela Zanetti Data do Envio 16 de setembro de 2011 Data do aceite 23 de novembro de 2011

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