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Psicologia ·
Psicologia Social
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PSICOLOGIA SOCIAL CONTEMPORÂNEA Livrotexto Maria da Graça Corrêa Jacques Marlene Neves Strey Nara Maria Guazzelli Bernardes Pedrinho Arcides Guareschi Sérgio Antônio Carlos Tânia Mara Galli Fonseca EDITORA VOZES DADOS DE COPYRIGHT Sobre a obra A presente obra é disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos bem como o simples teste da qualidade da obra com o fim exclusivo de compra futura É expressamente proibida e totalmente repudíavel a venda aluguel ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo Sobre nós O Le Livros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa Você pode encontrar mais obras em nosso site LeLivroslink ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento e não mais lutando por dinheiro e poder então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível Maria da Graça Corrêa Jacques Marlene Neves Strey Maria Guazzelli Bernardes Pedrinho Arcides Guareschi Sérgio Antônio Carlos Tânia Mara Galli Fonseca PSICOLOGIA SOCIAL CONTEMPORÂNEA Livrotexto EDITORA VOZES Petrópolis COLEÇÃO PSICOLOGIA SOCIAL Coordenadores Pedrinho Arcides Guareschi Pontifícia Univ Católica do Rio Grande do Sul PUCRS Sandra Jovchelovitch London School of Economics and Political Science LSE Londres Conselho editorial Denise Jodelet LÉcole des Hautes Études en Sciences Sociales Paris Ivana Marková Universidade de Stirling Reino Unido Paula Castro Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa ISCTE Lisboa Portugal Ana Maria JacóVilela Universidade do Estado do Rio de Janeiro Uerj Regina Helena de Freitas Campos Universidade Federal de Minas Gerais UFMG Angela Arruda Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ Neuza MF Guareschi Pontifícia Univ Católica do Rio Grande do Sul PUCRS Leôncio Camino Universidade Federal da Paraíba UFPB Psicologia social contemporânea Vários autores As raízes da psicologia social moderna Robert M Farr Paradigmas em psicologia social Regina Helena de Freitas Campos e Pedrinho A Guareschi orgs Psicologia social comunitária Regina Helena de Freitas Campos e outros Textos em representações sociais Pedrinho A Guareschi e Sandra Jovchelovitch As artimanhas da exclusão Bader Sawaia org Psicologia social do racismo Iray Carone e Maria Aparecida Silva Bento orgs Psicologia social e saúde Mary Jane P Spink Representações sociais Serge Moscovici Subjetividade e constituição do sujeito em Vygotsky Susana Inês Molon O social na psicologia e a psicologia social Fernando González Rey Dialogicidade e representações sociais Ivana Marková Psicologia do cotidiano Marília Veríssimo Veronese e Pedrinho A Guareschi orgs Argumentando e pensando Michael Billig Os contextos do saber Sandra Jovchelovitch Políticas públicas e assistência social psicológicas Lílian Rodrigues da Cruz e Neuza Guareschi orgs A identidade em psicologia social JeanClaude Deschamps e Pascal Moliner A invenção da sociedade Serge Moscovici Psicologia das minorias ativas Serge Moscovici Inventando nossos selfs Nikolas Rose A Psicanálise sua imagem e seu público Serge Moscovici O psicólogo e as políticas públicas de assistência social Lílian Rodrigues da Cruz e Neuza Guareschi orgs Psicologia social nos estudos culturais Neuza Maria de Fátima Guareschi e Michel Euclides Bruschi orgs Envelhecendo com apetite pela vida Sueli Souza dos Santos e Sergio Antonio Carlos orgs A análise institucional René Lourau CDD302 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Câmara Brasileira do Livro SP Brasil Psicologia social contemporânea livrotexto Marlene Neves Strey et al Petrópolis RJ Vozes 2013 ISBN 9788532647467 Edição digital 1 Psicologia Social I Strey Marlene Neves 980583 Índices para catálogo sistemático 1 Psicologia social 302 1998 Editora Vozes Ltda Rua Frei Luís 100 25689900 Petrópolis RJ Internet httpwwwvozescombr Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma eou quaisquer meios eletrônico ou mecânico incluindo fotocópia e gravação ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora Diretor editorial Frei Antônio Moser Editores Ana Paula Santos Matos José Maria da Silva Lídio Peretti Marilac Loraine Oleniki Secretário executivo João Batista Kreuch Editoração e org literária Jaime Clasen Projeto gráfico AGSR Desenv Gráfico Capa Graphit ISBN 9788532647467 Edição digital Editado conforme o novo acordo ortográfico PREFÁCIO É sempre um grande prazer introduzir mais uma obra de Psicologia Social produzida por brasileiros para brasileiros Pois isto significa que estamos construindo um saber próprio que deverá refletir não só na prática de futuros psicólogos mas também nas pessoas atendidas por eles que esperamos serem a grande maioria tão carente de nossa população Ao fazer tal afirmativa o faço ciente de que se trata de um conjunto de artigos comprometidos com uma postura crítica visando promover relações sociais que não neguem o poder que nos diferencia mas que têm por objetivo último gerar a igualdade respeitando peculiaridades individuais O conjunto de autores que contribuíram na elaboração desta obra já são uma garantia de que esta meta será atingida pois não só os seus escritos mas principalmente suas práticas cotidianas são o testemunho objetivo de uma psicologia social crítica O exame cuidadoso dos capítulos que constituem o livro também retrata esta postura ao introduzir pressupostos que indicam a preocupação com uma inserção histórica com um compromisso ético tanto na teoria quanto na prática da pesquisa O referencial teórico abrange os temas fundamentais desta nova abordagem da Psicologia Social permitindo ao leitor superar a contradição enfrentada pela psicologia tradicional entre subjetividade vs objetividade Pois hoje temos clareza de que o objeto de nossa ciência é a relação dialética unívoca entre objetividade e subjetividade na constituição do psiquismo humano A prática de uma psicologia social crítica como não poderia deixar de ser compõe a última parte deste livro visando introduzir o aluno no que consideramos uma práxis científica Esses capítulos tentam resgatar um saber construído numa época de repressão política para as possibilidades que hoje se abrem para uma atuação do psicólogo em instituições como creches postos de saúde escolas que prestem serviços patrocinados pelo Estado para aquela faixa da população que vem sendo alvo de uma psicologia social crítica Gostaríamos ainda de dedicar algumas palavras aos professores e alunos que irão trabalhar com esta teoria ela é sempre uma síntese precária da qual nós partimos para a elaboração de conhecimentos concretos Ela jamais é neutra ou universal assim um saber gerado no sul do Brasil terá peculiaridades que o diferenciam da psicologia de outras regiões do país principalmente pelas diferenças históricas e geográficas de um paíscontinente a realidade concreta construída historicamente é o objetivo último de nossa ciência a qual permitirá conhecer o indivíduo em sua totalidade Jamais devemos usar fatos cotidianos para exemplificar uma teoria pois eles sempre poderão estar questionando o saber elaborado até o presente Bachelard em sua obra A filosofia do não afirma que o conhecimento científico só avança quando o pesquisador se questiona por que não o contrário Portanto não devemos temer nossas dúvidas ou as exceções que comprovam a lei Certamente elas nos estarão dando novas pistas a serem pesquisadas abrindo caminho para análises cada vez mais próximas a um saber concreto Não podemos contudo nos esquecer que também existem aspectos universais no comportamento humano e devemos procurar suas raízes nas condições filogenéticas que nos constituem O reforço squineriano aumenta a frequência de qualquer organismo do rato até o homem este é um fato inegável Do mesmo modo somos capazes de sentir a beleza estética das obras primitivas desde que conheçamos um pouco de sua história e cultura O mesmo não se dá com valores morais e éticos pois estes são produtos ontogenéticos consequências da mediação da linguagem do pensamento e das emoções Aproveitem as lições contidas nesta obra sem esquecer jamais da reflexão crítica voltada para as nossas atividades cotidianas repletas de conteúdos emocionais que permitirá o avanço constante de nossa consciência e de nossa identidade como metamorfose Bom trabalho Sem esquecer que o verdadeiro saber é produto de uma comunidade científica da qual participam sujeitos e pesquisadores Silvia T Maurer Lane PUCSP APRESENTAÇÃO O V e o VI Encontros Regionais da Abrapso Associação Brasileira de Psicologia Social realizados em 1994 e 1996 resultaram na elaboração de dois livros Relações sociais e ética Psicologia e práticas sociais marcos significativos da produção de conhecimentos gerada nos diversos momentos de reflexão coletiva propiciada por esses eventos científicos Tais obras permitiram a socialização mais ampla dos questionamentos das inquietações das sistematizações teóricas metodológicas e práticas que vêm constituindo a psicologia social crítica em nosso país O êxito de divulgação alcançado por essas produções conduziu um grupo de participantes da AbrapsoSUL a enfrentar o desafio de construir um livro que apresentasse sínteses das discussões temáticas que podem configurar o campo da psicologia social crítica de tal forma que permitisse atender às necessidades de formação nos cursos de Psicologia assim como em outros cursos que também exploram essa área do conhecimento Portanto esta produção tem o caráter de um manual que apresenta os conhecimentos de forma acessível sem ser contudo simplista eou superficial Pretende introduzir novas temáticas eou novos olhares sobre uma mesma temática Pretende ainda ser um recurso útil de ensinoaprendizagem tanto para alunos como para professores O presente volume representa uma ação coletiva de construção desses conhecimentos e está organizado em três partes A primeira tem um caráter geral focalizando fundamentos históricos epistemológicos e metodológicos A segunda expõe alguns temas fundamentais da Psicologia Social e básicos para a compreensão do sujeito humano Na terceira parte são apresentadas algumas experiências fundamentadas na concepção de psicologia social crítica as quais vêm sendo desenvolvidas em diferentes espaços como comunidades organizações e instituições e que podem representar rupturas e avanços no saberfazer do psicólogo ou de outros profissionais comprometidos com a transformação social Construíram este livro Adriane Roso psicóloga mestranda de Psicologia Social e da Personalidade PUCRS bolsista da Capes Adriano Henrique Nuernberg psicólogo e mestrando em Psicologia UFSC pesquisador do Laboratório de Educação e Saúde Popular da UFSC Andréa Zanella psicóloga doutora em Psicologia da Educação PUCSP professora do Departamento de Psicologia da UFSC e pesquisadora do Laboratório de Educação e Saúde Popular Foi vicepresidente da Regional Sul e presidente nacional da Abrapso Carmem Lígia Iochins Grisci psicóloga mestre em Psicologia Social e da Personalidade PUCRS doutora em Psicologia Social PUCRS professora da Faculdade de Administração UFRGS Cleci Maraschin psicóloga doutora em Educação UFRGS professora do Instituto de Psicologia UFRGS e pesquisadora do Laboratório de Estudos Cognitivos Fátima O de Oliveira psicóloga mestranda em Psicologia Social e da Personalidade PUCRS tesoureira da AbrapsoSUL Gislei Lazzarotto psicóloga mestre em Psicologia Social e da Personalidade PUCRS professora do curso de Psicologia da Ulbra e assessora em Psicologia Social Graziela C Werba psicóloga mestra em Psicologia Social e da Personalidade PUCRS grupoterapeuta em formação CEAPEG e secretária da AbrapsoSUL Jaqueline Tittoni psicóloga doutoranda em Sociologia UFRGS professora do Instituto de Psicologia da UFRGS Jefferson de Souza Bernardes psicólogo mestre em Psicologia Social e da Personalidade PUCRS professor de Psicologia Social e coordenador do curso de Psicologia da Unisinos Luiz F Rolim Bonin doutor em Psicologia Social PUCSP e professor de Psicologia da Universidade Federal do Paraná Louise A Lhullier psicóloga doutora em Psicologia Social PUCSP professora do Mestrado em Psicologia e do Doutorado em Ciências Humanas na UFSC pesquisadora do CNPq Maria da Graça Corrêa Jacques psicóloga doutora em Educação PUCRS professora do Instituto de Psicologia da UFRGS pesquisadora do CNPq Vice presidente da Regional Sul da Abrapso Maria Juracy Toneli Siqueira psicóloga doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano USP professora do departamento de Psicologia da UFSC e pesquisadora do Laboratório de Educação e Saúde Popular Margarete Axt doutora em Linguística PUCRS professora Titular da Faculdade de Educação UFRGS e pesquisadora do Laboratório de Estudos Cognitivos do Instituto de Psicologia da UFRGS Marlene Neves Strey psicóloga doutora em Psicologia Social Universidade Autônoma de Madri professora do Instituto de Psicologia da PUCRS Nara Maria Guazzelli Bernardes psicóloga doutora em Educação UFRGS professora da Faculdade de Educação e do Mestrado em Psicologia da PUCRS e coordenadora do grupo de pesquisa Educação Trabalho Subjetividade e Gênero Membro do Geerge UFRGS Nilza da Rosa Silva psicóloga e esquizoanalista Realiza estudos assessorias e consultorias sobre temas como subjetividade cultura relações grupais e institucionais idosos e ansiedade Pedrinho A Guareschi graduado em filosofia teologia e letras doutor em Sociologia Universidade de Wisconsin professor e pesquisador do Instituto de Psicologia da PUCRS Foi vicepresidente da Regional Sul da Abrapso Sérgio Antônio Carlos assistente social doutor em Serviço Social PUCSP professor do Instituto de Psicologia da UFRGS coordenador do Núcleo para a Terceira Idade Sissi Malta Neves psicóloga e terapeuta corporal e psicodramatista mestre em Psicologia Social e da Personalidade PUCRS Tânia Mara Galli Fonseca psicóloga doutora em Educação UFRGS professora titular do Instituto de Psicologia da UFRGS e coordenadora do Mestrado em Psicologia Social e Institucional desta instituição INTRODUÇÃO Na vida anímica individual aparece integrado sempre efetivamente o outro como modelo objeto auxiliar ou adversário e deste modo a psicologia individual é ao mesmo tempo e desde um princípio psicologia social em um sentido amplo e plenamente justificado Sigmund FREUD A afirmação de Freud suscita uma importante questão para reflexão sobre a natureza da ciência psicológica é possível uma psicologia que não seja uma psicologia social já que não tem sentido conceber um indivíduo isolado de seu contexto social A resposta a esta indagação passa necessariamente pelo exame do processo de divisão em compartimentos as diferentes disciplinas das Ciências Humanas e Sociais A partir de uma visão reducionista e simplista e de uma perspectiva de dicotomia entre o individual e o social coube à psicologia o estudo do indivíduo e à sociologia o estudo da sociedade Esta divisão se consolida de tal forma que por exemplo reconhecese os estudos de Wundt considerado o fundador da psicologia como ciência independente sobre psicologia individual e desconhece se os trabalhos desse mesmo autor sobre temas hoje classificados como psicologia social No entanto a constatação da impossibilidade de estudar o homem como um ser isolado objeto da psicologia conduz ao desenvolvimento de teorias e métodos para explicar a influência dos fatores sociais sobre os processos psicológicos básicos da percepção motivação pensamento aprendizagem e memória organizandose dessa forma a Psicologia Social enquanto uma das áreas da Psicologia Constituise como objeto dessa Psicologia Social o estudo da interação entre indivíduo e sociedade portanto indivíduo e sociedade como duas instâncias distintas que apenas interagem entre si São privilegiados temas como atitudes preconceitos comunicação relações grupais liderança entre outros sobre uma matriz desenvolvida pela Psicologia Individual procura se analisar e explicar as influências do meio social e avaliar e promover o ajustamento do indivíduo à sociedade Essa perspectiva adaptacionista que na opinião de alguns autores é uma característica da psicologia como um todo enquanto obstáculo à transformação social somada à continuidade na ausência de solução para os graves problemas sociais vigentes instalam todo um questionamento sobre o conhecimento e a prática produzidos pela Psicologia Social principalmente a Psicologia Social de origem estadunidense As críticas que se iniciam na França e na Inglaterra chegam ao Congresso Interamericano de Psicologia realizado em Miami no ano de 1976 através principalmente de psicólogos latinoamericanos São críticas que vão se tornando mais substantivas nos congressos subsequentes apontando com veemência a ausência de consonância entre a produção da chamada Psicologia Social e os problemas emergentes dos países latinoamericanos É neste contexto que fundase a Associação Brasileira de Psicologia Social Abrapso cujo documento de proposta de criação expressa a preocupação do grupo brasileiro em redefinir o campo da Psicologia Social descobrir novos recursos metodológicos propor práticas sociais e construir um referencial teórico inscrito em princípios epistemológicos diferentes dos até então vigentes Acompanhando a tendência europeia mas sinalizando para diferenças consistentes e próprias aos países da América Latina esboçase a criação de uma nova Psicologia Social no Brasil representada pela Abrapso que recebe em um primeiro momento algumas qualificações como Psicologia Social Crítica Psicologia Social HistóricoCrítica Psicologia SócioHistórica São qualificações que expressam a perspectiva crítica em relação à Psicologia Social hegemônica de até então e que apontam para uma concepção de ser humano como produto históricosocial e ao mesmo tempo como construtor da sociedade e capaz de transformar essa sociedade por ele construída Esta concepção de ser humano recoloca a relação indivíduo e sociedade rompe a perspectiva dualista e dicotômica e ao invés de considerar indivíduo e contexto social influenciandose mutuamente propõe a construção de um espaço de intersecção em que um implica o outro e viceversa Em termos teóricos essa psicologia social aproximase de alguns referenciais como os da psicanálise e do materialismo histórico propondo uma releitura desses referenciais que vão fundamentar o estudo de temas tradicionais da Psicologia Social sob nova perspectiva teórica tais como comunicação processo grupal linguagem ideologia entre outros Da mesma forma tal Psicologia Social gera novas e estimulantes temáticas entre as quais representações sociais são o exemplo mais representativo Como recursos metodológicos são privilegiados aqueles que rompem com o modelo de redução do complexo ao simples do global ao elementar da organização à ordem e da qualidade à quantidade Como objeto de estudos e pesquisas propõe a preocupação com aspectos de relevância e aplicabilidade ao contexto brasileiro e que possam responder às questões sociais específicas de sua população Esta Psicologia Social que se constrói no Brasil no final dos anos 1970 e a partir dos anos 1980 deparase com uma literatura disponível que não responde às suas inquietações e que reproduz o modelo tradicional da Psicologia Social O primeiro desafio de publicação O que é psicologia social de Silvia Lane da Coleção nos Passos da Editora Brasiliense editado em 1981 passa a leitura constante de alunos de cursos universitários de todo o país sinalizando para a necessidade de um conhecimento alternativo em psicologia social Dessa sinalização nasce Psicologia Social o homem em movimento em 1984 texto de vários autores organizado por Silvia Lane e Wanderley Codo que se torna desde então um marco referencial na Psicologia Social brasileira Psicologia Social que enseja a complexificação do simples a pluralidade teóricometodológica a intersecção das diferentes áreas de aplicação da psicologia a prática interdisciplinar e a preocupação ética em relação aos seus compromissos sociais e políticos Psicologia social que vai além da simples assertiva de um ser humano social mas de um ser humano social com base na convicção de que não há possibilidade do humano sem ser no social Neste momento se retoma a proposição inicialmente exposta a partir dessa concepção de ser humano é possível falar em psicologia que não seja psicologia social Assim como emprestamos o argumento de Sigmund Freud para iniciar essa exposição emprestamos o posicionamento de Silvia Lane para concluíla e com isto responder a nossa pergunta e definir a proposta deste livro Toda a psicologia é social Esta afirmação não significa reduzir as áreas específicas da Psicologia à Psicologia Social mas sim cada uma assumir dentro de sua especificidade a natureza históricosocial do ser humano Desde o desenvolvimento infantil até as patologias e as técnicas de intervenção características do psicólogo devem ser analisadas criticamente à luz dessa concepção do ser humano é a clareza de que não se pode conhecer qualquer comportamento humano isolandoo ou fragmentandoo como existisse em si e por si Também com essa afirmativa não negamos a especificidade da Psicologia Social ela continua tendo por objetivo conhecer o indivíduo no conjunto de suas relações sociais tanto naquilo que lhe é específico como naquilo em que ele é manifestação grupal e social Porém agora a Psicologia Social poderá responder à questão de como o homem é sujeito da história e transformador de sua própria vida e da sua sociedade assim como qualquer outra área da Psicologia Silvia Lane1 1 LANE Silvia A psicologia social e uma nova concepção de homem para a psicologia In LANE Silvia CODO Wanderley orgs Psicologia Social o homem em movimento São Paulo Brasiliense 1984 p 19 PARTE 1 PRESSUPOSTOS HISTÓRIA Jefferson de Souza Bernardes Falaremos aqui da história da psicologia social no Brasil e no Ocidente Propomos revisitar os critérios constituídos para os relatos históricos que quase sempre se resumem ao mundo dos autores e das ideias e não às instituições e fatos que marcaram os destinos e trajetórias da psicologia social no Ocidente conforme Robert Farr 1996 nos mostra A história da psicologia social reduzida a determinados autores e ideias encontradas nos clássicos manuais de Psicologia Social LINDZEY 1954 LINDZEY ARONSON 19681969 LINDZEY ARONSON 1985 acaba por privilegiar uma determinada filosofia da ciência a saber o positivismo estabelecendo um recorte grosseiro na construção e desenvolvimento do conhecimento da psicologia social O privilégio do positivismo vem em decorrência da crença de alguns pesquisadores de que a definição de pensamento científico praticamente se resume ao método ou ao caminho para se estudar algum objeto ou fenômeno no caso o método experimental Abordaremos o florescimento da psicologia social moderna como um fenômeno caracteristicamente norteamericano embora suas raízes sejam europeias Seguindo esta lógica no Brasil apontamos para a importância de associações instituições e fatos relevantes que marcaram o surgimento da psicologia social no país e finalizamos com indicações de alguns dos principais desdobramentos e atravessamentos epistemológicos e teóricos que vivenciamos contemporaneamente na psicologia social Algumas rápidas palavras sobre histórias Iniciamos com o óbvio existem formas e formas de se contar histórias Trabalhamos aqui em uma perspectiva relativista da história Em última instância a perspectiva do autor seu texto e seu contexto crenças conceitos e préconceitos delimitam os recortes do contar a história A forma como se conta a história também influencia o que e como esta será contada Se nos prendemos às pessoas reais ou imaginárias a história de determinada ideia cultura ou sociedade ganha contornos inimagináveis Como exemplo desta questão citamos os norteamericanos que são mestres nisto Basta passarmos rapidamente os olhos na história dos Estados Unidos e percebermos a enorme habilidade de transformações de sujeitos simples em mártires Ao nível imaginário os superheróis da Era Moderna surgem ali Por outro lado se nos prendemos a fatos instituições ou acontecimentos relevantes a história ganha novos limites novas cores e texturas Assim de imediato algumas questões se colocam a perspectiva deterministalinear de história se encontra em xeque A relação entre passado determinando o presente que determina o futuro apresentada nesta linearidade na maioria das vezes mais obscurece o desenvolvimento de determinada questão do que lança luzes Procuraremos adiante através da história da psicologia social mostrar que fatos presentes acabam por ressignificar o passado e consequentemente modificar o presente Os caminhos do futuro antes já delimitados tornamse incertos e imprecisos Abalase a estrutura linear da temporalidade Tempo e espaço se modificam se ampliam e entra em cena um ponto extremamente importante o simbólico Em outras palavras este simbólico se define pelos sentidos e significados que conferimos às coisas e aos fenômenos É exatamente nestes sentidos que conferimos às coisas e aos fenômenos que nossa relação com o tempo e com a história se transforma O processo histórico é contínuo mas não linear Não é uma linha reta muito ao contrário possui idas e vindas desvios avanços e recuos inversões etc Todos os acontecimentos presentes possuem relações com os fatos passados todas as chamadas rupturas históricas não acontecem da noite para o dia e sim são lentamente preparadas BORGES 1987 Por exemplo uma guerra não estoura de uma hora para outra Os conflitos fazem parte de tradições e histórias entre os povos Às vezes são abafados anos a fio por estados ditatoriais governando à mão de ferro como vimos recentemente com a derrocada do Muro de Berlim e a corrida pela independência de vários povos que habitam o Leste Europeu ou no Brasil com o golpe militar de 1964 Todas as rivalidades ódios jogos de interesses econômicos sociais políticos e relações de poder estavam sempre presentes no cotidiano dos povos envolvidos e agora assistimos boquiabertos vizinhos em duros conflitos Já no Brasil a todo momento novos documentos vêm à tona ressignificando o passado e transformando o presente Um passeio pela psicologia social no Ocidente Três pontos importantes para a história da psicologia social primeiro a resgataremos alguns pontos fundamentais da história que foram senão deliberadamente ao menos ingenuamente esquecidos da história da psicologia social Dentre outros destacaremos o que foi chamado de o repúdio positivista de Wundt Em segundo lugar b tentaremos mostrar que a história da psicologia social narrada até o momento excessivamente trabalhada nos cursos de graduação em Psicologia no país e no mundo são permeadas por uma filosofia da ciência claramente vinculada ao positivismo Decorre daí que a própria perspectiva histórica dos acontecimentos levam de forma indelével a marca do positivismo Finalizamos este tópico c com a perspectiva de narrativa histórica da psicologia social apresentada por Farr 1996 apontando para a importância e influência de determinadas instituições e fatos históricos no desenvolvimento da psicologia social Com isto enfocamos a história da psicologia social através de um olhar crítico sobre o desenvolvimento da própria psicologia social a O Repúdio positivista de Wundt Wilhelm Wundt 18321920 que é por muitos considerado o pai da psicologia era um filósofo e estudioso extremamente metódico Por volta de 1860 estabeleceu três objetivos para sua carreira profissional sendo que ao final de sua vida cumpriu aquilo a que se propôs Seu primeiro objetivo era a construção de uma psicologia experimental ou também conhecido como o projeto wundtiano de estabelecer um projeto de psicologia como ciência independente Objetivo este alcançado pela criação do Laboratório em Psicologia em 1879 em Leipzig através da criação de uma psicologia experimental da mente com seu objeto de estudo definido a experiência imediata à consciência assim como seu método experimentalintrospectivo Além disso Wundt publicou a primeira edição de sua Psicologia fisiológica Physiological Psychology em 1874 e em 1881 a revista Estudos Filosóficos Philosophische Studien Seu segundo objetivo elaborado entre 1880 até 1900 era a criação de uma metafísica científica ou uma filosofia científica Aqui Wundt elabora três obras que compõem sua metafísica científica uma de Lógica conjunto de estudos que visam determinar quais são os processos intelectuais ou as categorias racionais para a apreensão do conhecimento uma de Ética conjunto de estudos dos juízos de apreciação da conduta humana e uma de Sistemas Filosóficos conjunto de estudos das principais concepções filosóficas para Wundt Para um positivista uma filosofia que se proponha a ser metafísica científica é um retrocesso no desenvolvimento do pensamento científico Pois de acordo com Augusto Comte formulador do pensamento positivista existem três estágios no desenvolvimento do conhecimento para atingir a verdade toda forma de conhecimento originase da teologia pensamento mítico religioso sensitivo intuitivo a partir daí o conhecimento se aprimora e se acumula transformando se em metafísica pensamento filosófico mas sem métodos rigorosos e sistemáticos de comprovação da realidade e daí também em processos de aprimoramentos e acúmulos chegamos ao estágio positivo ou científico onde através do método científico o conhecimento transforma uma leitura da realidade em verdade A partir daí para os positivistas a ciência dita o conhecimento a luz e a verdade O terceiro objetivo wundtiano era a criação de uma psicologia social Entre 1900 e 1920 Wundt elabora sua Volkerpsychologie Psicologia do povo ou Psicologia das massas Uma obra de 10 volumes onde Wundt elabora sua psicologia social tendo como objeto de estudo principalmente temas como a Linguagem Pensamento Cultura Mitos Religião Costumes e fenômenos correlatos Para Wundt tais temas são fenômenos coletivos que não podem ser explicados nem reduzidos à consciência individual Não somente seu objeto de estudo primeiro consciência era incapaz de fornecer subsídios para suas explicações como seu método experimentalintrospectivo também era limitado a pequenos experimentos de laboratório Sobre as limitações do uso da introspeção na exploração do fenômeno mental coletivo Wundt dizia É verdade que se tem tentado frequentemente investigar as funções complexas do pensamento na base da mera introspeção No entanto estas tentativas foram sempre frustradas A consciência individual é completamente incapaz de nos fornecer uma história do pensamento humano pois está condicionada por uma história anterior sobre a qual não nos pode dar nenhum conhecimento sobre si mesma WUNDT 1916 p 3 William James referiuse à utilização do método experimentalintrospectivo para os estudos de processos psíquicos superiores como um total absurdo James comparou este empreendimento com a estupidez de acender uma luz a fim de ver melhor a escuridão que nos cerca GUARESCHI et al 1993 p 81 Neste terceiro objetivo Wundt revê suas primeiras posições acerca de sua psicologia experimental estabelecendo seus limites Assim fazse mister este breve retorno a Wundt resgatando sua obra na integralidade e não estabelecendo recortes e vieses comprometidos com uma única perspectiva filosófica na psicologia É exatamente este recorte grosseiro e abusivo de Wundt que Danziger 1979 chama do repúdio positivista de Wundt É contra esta ética utilitarista de determinados historiadores aproveitando o que lhes interessava e jogando fora o que não condizia com seus valores e ideias que fez com que a influência positivista e os fortes atravessamentos ideológicos se estabelecessem de forma clara no surgimento e desenvolvimento da psicologia como um todo b O longo passado e o curto presente da psicologia Propomos agora um pequeno esforço de memória lembrarmos como estudamos em geral a história da psicologia A psicologia tinha um pai Wilhelm Wundt uma mãe a filosofia uma maternidade Laboratório de Psicologia Experimental toda uma certidão de nascimento 1879 Leipzig Alemanha Objeto de Estudo e Método próprios uma revista de psicologia Philosophische Studien e um rompimento de seu cordão umbilical o projeto da psicologia como ciência independente claramente colocados Diante da tentativa de transformar a psicologia em uma ciência independente surgem algumas indagações e dúvidas compartilhadas por autores como Farr 1996 Koch e Leary 1985 dentre outros por que a psicologia se preocupa com esta data de nascimento Quer dizer que a partir daí é ciência e o que temos para trás não mais interessa Que outro campo amplo do conhecimento possui este tipo de preocupação A filosofia ou os campos da área das Ciências Humanas também possuem data de nascimento Encontramos alguma data de fundação da filosofia Da física da história da pintura da literatura A história e préhistória das grandes áreas de investigação ou de produção do conhecimento se mesclam não possuindo limites e fronteiras claras para delimitálas No caso da psicologia as questões lançadas do que venha a significar o ser humano ou seu psiquismo têm sido perseguidas na história da humanidade há muito tempo No contexto da época final do século XIX Wundt representava para os positivistas o desgarramento da filosofia e o início do projeto da psicologia como uma ciência independente Assim como para os psicólogos experimentais Wundt é o pai da psicologia para os psicólogos sociais experimentais tal paternidade é dedicada a Augusto Comte Gordon Allport 18971967 deixa isto muito claro no prefácio do Handbook of social psychology LINDZEY 1954 E vai mais além dedicase a pensar que é a partir do próprio Handbook que a psicologia social científica leiase com base experimental floresce nos Estados Unidos Por que se preocupar com o estágio metafísico da especulação como Comte o chamou quando a nova era do positivismo e do progresso já nasceu ALLPORT GW 1954 p 3 O longo passado e a curta história da psicologia é a frase cunhada por Ebbinghaus em 1908 quando se referia que a curta história da psicologia se iniciava com Wundt em 1879 com seu Laboratório de Psicologia Do mesmo modo GW Allport e Lindzey assinalam o corte positivo da psicologia social o ponto sem retorno da ciência à publicação do Handbook of Social Psychology de Lindzey em 1954 Sequer o Handbook de Murchison 1935 é considerado como sendo parte do curto presente ou da curta história da psicologia social como uma ciência experimental Lindzey 1954 trata de rebater o Handbook de Murchison como fazendo parte do passado metafísico da psicologia social que agora deve ser jogado no ostracismo c Formas e formas de contar histórias da psicologia social Ao invés de tratarmos da história da psicologia social através das teorias e autores da Era Moderna preferimos lidar com a perspectiva adotada principalmente por Robert Farr 1996 quando releva a importância de fatos instituições e pesquisas publicadas para o surgimento e desenvolvimento de um determinado conhecimento Neste sentido procuraremos destacar a influência do positivismo provocando distorções na historiografia da psicologia social no mundo ocidental Assim o próprio Farr 1996 de imediato destaca a importância por exemplo das guerras para a psicologia social ao afirmar que a psicologia social está para a Segunda Guerra Mundial assim como os testes psicométricos estão para a Primeira Guerra Mundial O melhor exemplo disto é a publicação do The American Soldier O soldado Americano 1949 publicado após a Segunda Guerra sob a editoração geral do sociólogo Stouffer e várias outras obras com estudos referentes ao período da guerra Os temas de estudo versavam por exemplo sobre a adequação de soldados à vida no exército avaliação da eficácia nas instruções no exército mudança de atitudes e comunicação de massa Ainda nesta perspectiva o Tribunal de Nurenberg sobre crimes de guerra foi decisivo para apresentar os principais procedimentos éticos em pesquisas experimentais com seres humanos e foi também decorrente do período entre guerras O Tratado de Nurenberg extraído do Tribunal teve peso fundamental no desenvolvimento de pesquisas em psicologia social principalmente com relação aos experimentos com humanos Não precisamos ir além dos exemplos de pesquisas realizadas com humanos durante as guerras mundiais principalmente nos campos de concentração nazistas para demonstrar a importância do tratado Outro exemplo sobre como as guerras influenciaram o pensamento em psicologia social é a famosa Escola de Frankfurt de Ciências Sociais representada por autores como Adorno Horkheimer Marcuse Fromm dentre outros que imigraram no período entre guerras principalmente após Hitler ter fechado seus institutos de pesquisa Construíram imediatamente após a imigração o estudo da personalidade autoritária ADORNO et al 1950 marco na psicologia social europeia Farr 1996 acredita que a psicologia social na Era Moderna é um fenômeno tipicamente americano embora suas raízes sejam europeias O surgimento do nazismo na Alemanha com o intelectualismo e o antissemitismo pernicioso que o acompanharam resultou como todos sabemos muito bem na migração para a América de muitos líderes acadêmicos cientistas artistas da Europa Mal poderíamos imaginar como seria a situação hoje se pessoas tais como Lewin Heider Kohler Wertheimer Katona Lazersfeld e os Brunswiks não tivessem ido aos Estados Unidos no momento em que foram CARTWRIGHT apud FARR 1996 p 6 O florescimento da psicologia social em solo americano se deve em grande parte à migração de grandes pesquisadores para os Estados Unidos na era entre guerras A principal migração foi dos gestaltistas da Áustria e Alemanha para os Estados Unidos E foi este fato que possibilitou o surgimento da psicologia social cognitiva com raízes na fenomenologia Foi desse conflito entre duas filosofias rivais mas incompatíveis isto é fenomenologia e positivismo que a psicologia social emergiu na América na forma específica de como se deu logo no início do período moderno A psicologia da gestalt foi o ingrediente crucial nessa transformação O conflito ocorreu no solo americano e também o resultado uma forte psicologia social cognitiva foi um produto claramente americano A psicologia social moderna pode pois ser na verdade um fenômeno caracteristicamente americano mas ao menos a fenomenologia era europeia FARR 1996 p 7 Em termos institucionais destacamos algumas universidades que realizaram importante papel no desenvolvimento da psicologia social moderna como um fenômeno caracteristicamente americano A primeira delas é a Universidade de Yale com o Núcleo do Programa de Pesquisa do PósGuerra com temática central em comunicação e mudança de atitude Aqui foram elaboradas por Stouffer por Hovland e outros a série American Soldier em seus três volumes Uma segunda universidade importante foi o Instituto de Tecnologia de Massachusetts MIT com Kurt Lewin onde ele fundou em 1945 o Centro de Pesquisa em Dinâmica de Grupo Foi o grupo por excelência que refletiu na América toda a influência da Psicologia Gestalt para a psicologia social Seu papel foi vital no desenvolvimento de uma psicologia social cognitiva Após a prematura morte de Lewin em 1947 o Centro de Pesquisa em Dinâmica de Grupo do MIT se transfere sob a direção de Cartwright para a Universidade de Michigan onde se tornou parte do Instituto de Pesquisas Sociais Em termos de desenvolvimento das ciências cognitivas dentre elas a Psicologia Cognitiva os psicólogos da Gestalt e seus trabalhos em psicologia social foram determinantes para o desenvolvimento da área Os psicólogos sociais na América eram teóricos cognitivistas numa época em que não em moda isto é no auge do behaviorismo FARR 1996 p 7 Um outro ponto de destaque para a narrativa histórica são os manuais de Psicologia escritos até o momento Os Handbooks of Social Psychology MURCHISON 1935 LINDZEY 1954 LINDZEY ARONSON 19681969 1985 Na primeira edição do Handbook em 1954 Lindzey diz provocar o rompimento com o que chama de Psicologia social metafísica presente nas raízes europeias da psicologia social A Psicologia social metafísica para Lindzey é aquela forma de psicologia social não científica pois não utiliza em sua construção de conhecimento o rigor e sistematização do método experimental Seguindo a tradição positivista o ponto sem retorno para Lindzey é o Handbook de Murchison 1935 Embora ainda para Lindzey a obra inicial que aponta para a modernidade na psicologia social ou seja agora nos transformamos em ciência é o seu Handbook de 1954 Allport escreve no Handbook de 1954 o capítulo sobre a história da psicologia social Nele a ancestralidade da psicologia social é remetida a Comte Para Allport a psicologia social era uma ciência eminentemente social Já nos Handbook de 19681969 e de 1985 o capítulo de Allport sofre pequenas alterações mas o mais interessante é a inclusão do capítulo da Psicologia social moderna por Jones 1985 onde o mesmo desenvolve uma linha de raciocínio situando o capítulo da psicologia social escrito por Allport como um relato do longo passado da psicologia social e o seu capítulo que descreve a trajetória da psicologia social a partir do pósguerra trazendo o início da curta história da psicologia social como uma ciência eminentemente experimental Os desdobramentos epistemológicos e teóricos relacionados à psicologia social como um fenômeno que floresceu na América do Norte serão melhor desenvolvidos no último tópico deste capítulo mas de antemão destacamos que a psicologia social ali florescida é uma forma de psicologia social psicológica FARR 1995 1996 Seus princípios básicos nas explicações dos fenômenos sociais são tratálos como fenômenos naturais através de métodos experimentais sendo que seus modelos explicativos nos remetem sempre em última instância a explicações centradas no indivíduo É o fenômeno da individualização da psicologia social que Farr 1991 1994 1996 tanto refere Um outro desdobramento desta lógica positivista é o esquecimento ou abandono de determinadas ideias ou autores que foram essenciais nos rumos e projetos da psicologia social Citaremos dois casos o primeiro a negação de perspectivas e referenciais históricocríticos A perspectiva marxista da história e do fazer psicológico não se encontram contemplados como psicologia social nos Handbooks LINDZEY 1954 LINDZEY e ARONSON 19681969 1985 nem tampouco nos principais livros clássicos de história da psicologia como por exemplo um livro bastante trabalhado nos cursos de graduação em Psicologia no Brasil Schultz Schultz 1994 Os autores iniciam seu prefácio da seguinte forma O tema deste livro é a história da psicologia moderna aquele período que se inicia no final do século XIX no qual a psicologia se tornou uma disciplina distinta e basicamente experimental Embora não ignoremos o pensamento filosófico anterior concentramonos nos fatores que têm relação direta com o estabelecimento da psicologia como campo de estudo novo e independente SCHULTZ SCHULTZ 1994 p 5 A perspectiva positivista se encontra claramente explicitada logo no início da obra anteriormente citada através da apresentação da psicologia moderna não como uma reflexão sobre a própria psicologia ou um recorte histórico em torno de fatos e instituições e sim pelo surgimento de determinadas ideias e a aplicação do método experimental Os autores continuam mais adiante Preferimos narrar a história da psicologia em termos de suas grandes ideias ou escolas de pensamento Desde o começo formal do campo 1879 a psicologia tem sido definida de várias maneiras à medida que novas ideias conseguem o apoio de grande número de seguidores e passam por algum tempo a dominar a área SCHULTZ SCHULTZ 1994 p 5 Outro ponto interessante é que no quarto capítulo do SCHULTZ e SCHULTZ 1994 denominado A Nova Psicologia que dedica 13 páginas a Wilhelm Wundt apresentando o projeto da psicologia como ciência independente sequer é mencionada sua Volkerpsychologie ou sua psicologia das massas do povo enfim sua psicologia social O positivismo influenciou e influencia a forma de contar a história da psicologia em geral e da psicologia social em particular de maneira significativa estabelecendo com a própria psicologia reducionismos em sua construção de conhecimento e deixando transparecer questões ideológicas marcantes no universo psicológico O segundo caso desta influência positivista se refere ao abandono nos manuais clássicos do pensamento do filósofo George Herbert Mead e como parte integrante de seu pensamento sua teoria do behaviorismo social que é eminentemente uma psicologia social Mead era um behaviorista mas produzia um pensamento muito distinto de Watson e de Skinner Estava mais preocupado com os estudos da linguagem como um comportamento social Mead construiu foi uma explicação behaviorista da mente baseada em sua concepção da linguagem GUARESCHI et al 1993 p 82 Na literatura e tradições norte americanas há uma certa confusão de Mead com o interacionismo simbólico Na realidade interacionismo simbólico foi o nome dado por Blumer aos estudos de Mead logo após a sua morte em 1931 Os principais pontos que distinguem o behaviorismo social de Mead do behaviorismo clássico de Watson e do behaviorismo radical de Skinner são em primeiro o estudo da linguagem e do pensamento humano dentro de um contexto evolucionista Em segundo a linguagem como um fenômeno intrinsecamente social E em terceiro o self de Mead estabelece a intermediação entre mente e sociedade Mead rompe com o modelo de mente proposta pela psicologia da consciência do primeiro Wundt Seu modelo da mente era síntese de fenômenos tanto em nível coletivo quanto em nível individual Finalizamos este terceiro tópico resgatando seu objetivo o de mostrar ao menos duas formas diferentes de história da psicologia social uma primeira com forte influência positivista centrada em ideias e determinados autores e uma segunda apresentada por Farr 1996 centrada em instituições e fatos históricos Deixamos a tarefa de encerrar ao próprio Farr A história da psicologia social como uma investigação do passado conduzindo a uma compreensão melhor do presente ainda está para ser escrita SAMELSON 1974 p 229 A rejeição de distinções extremamente simplistas entre o passado longínquo e a curta história da disciplina pode ser um bom ponto de partida Deveria ser possível escrever uma história da psicologia social que seja tanto internacional como interdisciplinar Não seria nem a história de ideias como a que Allport escreveu nem uma narrativa etnocêntrica das realizações de psicólogos sociais experimentais na América como a que Jones escreveu Não há nada de errado a meu ver em fazer distinções entre o passado e o presente de uma disciplina desde que a distinção não esteja tão estreitamente ligada a uma filosofia específica de ciência Historiadores internos à disciplina têm maiores probabilidades que os historiadores externos de aderir a tal filosofia pois ao mesmo tempo em que são historiadores de uma ciência são também praticantes dessa ciência FARR 1996 p 167 Psicologia social no Brasil No Brasil assim como em quase toda a América Latina nas décadas de 1960 e 1970 a psicologia social seguia um rumo muito próximo à forma de psicologia social importada dos Estados Unidos A transposição e replicação das teorias e métodos norteamericanos fica evidente em algumas obras de psicologia social da época como por exemplo Rodrigues 1976 1979 1981 Tal posicionamento colonialista onde a importação desenfreada e acrílica de posturas teóricas estava muito presente levou alguns psicólogos sociais latino americanos no final da década de 1970 a constatar o período que se chamou de a crise da psicologia social Ou a crise de referência Vale retomar que esta crise era europeia já na década de 1960 No Brasil e na América Latina a crise começa a tomar corpo nos Congressos da Sociedade Interamericana de Psicologia principalmente em Miami EUA 1976 e em Lima Peru 1979 Como pontos principais da crise da psicologia social estavam a dependência teóricometodológica principalmente dos Estados Unidos a descontextualização dos temas abordados a simplificação e superficialidade das análises destes temas a individualização do social na psicologia social assim como a não preocupação política com as relações sociais no país e na América Latina em decorrência das teorias importadas A palavra de ordem era a transformação social Nos anos de 1960 surge a Associação LatinoAmericana de psicologia social Alapso Vários psicólogos sociais experimentais como por exemplo Aroldo Rodrigues e J Varela levam a Alapso ao extremo da psicologia social norteamericana Em toda a América Latina começa um movimento de rechaço à Alapso e várias associações começam a surgir identificadas com uma nova proposta de psicologia social Como exemplo na Venezuela surge a Associação Venezuelana de Psicologia Social Avepso e no Brasil a Associação Brasileira de Psicologia Social Abrapso A Abrapso surge em 1980 no Brasil através da mão de alguns pesquisadores dentre tantos outros Silvia Lane Lane e Codo organizam em 1984 a obra marco da ruptura da psicologia social brasileira Psicologia social o homem em movimento Aqui o rompimento com a psicologia social norteamericana está claramente colocado A discussão de fundo é como extrair entidades psicológicas de fenômenos sociais O materialismo histórico dialético ditava as discussões da época Também conhecida como a psicologia marxista tal perspectiva no Brasil rompe de vez com a psicologia social cientificista norte americana O contexto da época do surgimento da Abrapso o país mergulhado na ditadura militar Hoje a realidade parece ser outra Os países latinoamericanos conseguem construir uma produção em psicologia social que não deixa nada a desejar à produção do restante do Ocidente Contextualizada histórica preocupada com a cultura valores mitos e rituais brasileiros e latino americanos em geral já não veem mais necessidade de importação desenfreada de teorias e métodos cientificistas A interlocução principalmente com os países europeus está acirrada como nos diz Farr No início da Era Moderna a psicologia social nas universidades da América Latina foi fortemente influenciada pela forma psicológica dominante de psicologia social da América do Norte A psicologia social na Era Moderna foi um fenômeno caracteristicamente americano Muitos dos proeminentes professores de Psicologia Social nas universidades latinoamericanas receberam sua formação de pósgraduação nos Estados Unidos da América Essa é uma situação que agora está começando a reverter na medida em que a psicologia social está se fortificando mais na Europa e a hegemonia da língua inglesa como veículo de publicação em psicologia social está sendo desafiado pela literatura florescente em psicologia social nos idiomas latinoamericanos FARR 1996 p 1112 Indicações de leituras dos desdobramentos e atravessamentos teóricos Iremos situar agora rapidamente algumas concepções teóricas que se desdobraram ou que se atravessaram na psicologia social Cada uma dessas concepções teóricas ou atravessamentos daria no mínimo um livro Portanto optamos por uma rápida apresentação do desdobramento ou atravessamento teórico e remetemos o leitor a obras ou textos recomendados para o estudo e aprofundamento destas concepções Segundo Farr 1994 existem duas formas diferentes de psicologia social formas psicológicas e formas sociológicas As formas psicológicas de psicologia social reduzem as explicações do coletivo e do social a leis individuais O indivíduo é o centro da análise Indivíduo aqui é entendido como uma entidade liberal autônoma independente das relações com o contexto social que o cerca e consciente de si Isto gera a individualização da psicologia social Um bom exemplo desta perspectiva se encontra em Allport quando afirma que não há psicologia dos grupos que não seja essencialmente e inteiramente uma psicologia dos indivíduos ALLPORT 1924 p 4 Para Allport não existem pensamentos sociais pois são os indivíduos que expressam suas opiniões as clássicas pesquisas de opinião pública ou não é a nação quem decide são os leitores que votam A individualização do social é a característica marcante da forma de psicologia social psicológica predominante atualmente nos Estados Unidos da América Tanto o behaviorismo quanto a Gestalt sustentam formas de psicologia social psicológica Atualmente a Psicologia Cognitiva de Tratamento de Informações cumpre esta função Já as formas sociológicas de psicologia social refletem a relação entre o individual e o coletivo Buscam uma superação desta dicotomia não reduzindo as explicações da psicologia social ao individual nem tampouco ao coletivo São exemplos desta perspectiva a Teoria das Representações Sociais MOSCOVICI 1978 e o behaviorismo social MEAD 1934 1982 dentre outros Para a história da psicologia recomendamos também Luís Cláudio Figueiredo em Matrizes do pensamento psicológico 1991 psicologia 4 séculos de subjetivação 1992 Revisitando as psicologias 1995 e Psicologia uma introdução 1995 Nestas obras Figueiredo traz a história da psicologia sob uma perspectiva epistemológica antropológica ontológica e ética Discute o contexto sócio históricocultural para o surgimento da psicologia e que concepções de ser humano e psiquismo surgem daí Embora de fundamental importância não abordaremos tal perspectiva aqui pura e simplesmente por uma questão de tempo e espaço Contribuindo com a discussão da psicologia social como um todo mas ainda seguindo uma tradição da forma de psicologia social sociológica as perspectivas mais culturalistas com autores como por exemplo Erving Goffman 1978 1987 Estigma Manicômios presídios e conventos e Berger e Luckman 1996 A construção social da realidade Sob a influência da psicanálise primeiro em Freud 1974 O malestar na civilização O futuro de uma ilusão Em tradição mais lacaniana enfocando o conceito de Sintoma Social encontramos Otávio de Souza 1994 Fantasia de Brasil Contardo Caligaris 1993 1991 Hello Brasil e Clínica do social e Mário Fleig 1993 Psicanálise e Sintoma Social Para finalizar mas não menos importante recomendamos a revista da Abrapso Psicologia e Sociedade Com periodicidade semestral a revista da Abrapso traz importantes artigos sobre a psicologia social no Brasil e no mundo Assim como os livros que Manualmente são editados das regionais da Abrapso principalmente resultantes dos Encontros Regionais da Abrapso Bibliografia ADORNO TW et al The authoritarian personality New York Harper and Row 1950 ALLPORT F Social Psychology Cambridge Mass Riverside Press 1924 ALLPORT G The Historical background of modern social psychology In LINDZEY G ARONSON E The handbook of social psychology Vol 1 Addison Wesley 1968 The Historical background of modern social psychology In LINDZEY G The handbook of social psychology Vol 1 Reading Mass Addison Wesley 1954 BERGER L LUCKMANN T A construção social da realidade tratado de sociologia do conhecimento 13 ed Petrópolis Vozes 1996 BORGES VP O que é história 12 ed São Paulo Brasiliense 1987 CALLIGARIS C Hello Brasil notas de um psicanalista europeu viajando ao Brasil 3 ed São Paulo Escuta 1993 CALLIGARIS C et al Clínica do social ensaios São Paulo Escuta 1991 CIAMPA AC Entrevista com Silvia Tatiana Maurer Lane Parar para pensar e depois fazer In Psicologia e sociedade Revista da Abrapso 1996 Vol 8 n 1 DANZIGER K The positivism repudiation of Wundt Journal of the History of the Behavioural Sciences 1979 Vol 15 p 205230 FARR R The roots of modern social psychology 18721954 Oxford Blackwell Publishers 1996 Representações sociais a teoria e sua história In GUARESCHI P e JOVCHELOVITCH S orgs Textos em representações sociais Petrópolis Vozes 1994 Individualism as a collective representations In AESBISCHER V DECONCHY J LIPIANSKY E eds Idéologies et representations sociales Paris DelVak 1991 FIGUEIREDO LC Psicologia uma introdução São Paulo EDUC 1995 Revisitando as psicologias da epistemologia à ética das práticas e discursos psicológicos São Paulo Educ Petrópolis Vozes 1995 A invenção do psicológico Quatro séculos de subjetivação 15001900 São Paulo Escuta 1992 Matrizes do pensamento psicológico Petrópolis Vozes 1991 FLEIG M et al Psicanálise sintoma social São Leopoldo Unisinos 1993 FREUD S O malestar na civilização In Obras completas Vol XXI Rio de Janeiro Imago 1974 p 73171 O futuro de uma ilusão In Obras completas Vol XXI Rio de Janeiro Imago 1974 p 1371 GOFFMAN E Manicômios prisões e conventos 2 ed São Paulo Perspectiva 1987 Estigma notas sobre a manipulação da identidade deteriorada 2 ed Rio de Janeiro Zahar 1978 GUARESCHI P MAYA PV BERNARDES J Repensando a história da Psicologia Social comentários ao curso de Robert Farr Psico Vol 24 n 2 p 7592 juldez 1993 KOCH S LEARY DE A century of psychology as science New York McGrawHill 1985 LANE S O que é psicologia social 11 ed São Paulo Brasiliense 1986 LANE S CODO W orgs Psicologia social o homem em movimento 4 ed São Paulo Brasiliense 1986 LINDZEY G The handbook of social psychology Reading Mass AddisonWesley 1954 2 vols LINDZEY G ARONSON E The handbook of social psychology Reading Mass Addison Wesley 1968199 5 vols The handbook of social psychology New York Random House 1985 2 vols MEAD GH The individual and the social self unpublished work of George Herbert Mead Organizado por DL Miller Chicago University of Chicago Press 1982 Mind self and society from the standpoint of a social behaviorist Organizado por CW Morris Chicago University of Chicago Press 1934 MOSCOVICI S A representação social da psicanálise Rio de Janeiro Zahar 1978 MOSCOVICI S FARR R Social representations Cambridge Cambridge University Press 1984 MURCHISON CA Handbook of social psychology Worcester Mass Clark University Press 1935 RODRIGUES A Psicologia social 9 ed Petrópolis Vozes 1981 Estudos em psicologia social Petrópolis Vozes 1979 A pesquisa experimental em psicologia e educação 2 ed Petrópolis Vozes 1976 SCHULTZ DP SCHULTZ SE História da psicologia moderna 5 ed São Paulo Cultrix 1994 SOUZA O Fantasia de Brasil São Paulo Escuta 1994 STOUFFER SA et al The american soldier adjustement during army life Studies in social psychology in world war II Princeton NJ Princeton University Press 1949 Vol 1 STOUFFER SA et al The american soldier combat and its aftermath Studies in social psychology in world war II Princeton NJ Princeton University Press 1949 Vol 2 WUNDT W Elements of Folk Psychology outlines of a psychological history of the developmental of mankind London George Allen and Unwin 1916 EPISTEMOLOGIA Tânia Mara Gali Fonseca Viver há apenas três anos do nascimento de um novo século e de um novo milênio tornase para muitos de nós um dispositivo de provocação a respeito do que fomos do que estamos sendo e do que queremos vir a ser A questão da temporalidade seja como experiência memória eou como categoria analítica reaparece revigorada Nosso entorno faznos reconhecer os tempos e suas formas pede e dá passagem a discussões que nos remetem à busca de sentidos e significados mais do que à história linear dos fatos e das cronologias Importa nos saber as condições que tornaram possíveis os fatos históricos importanos pois a tessitura genealógica dos acontecimentos que na perspectiva das ciências devem ser analisados desde uma escala temporal lentificada e ampliada Os nascimentos as mortes e as transformações processuais quando se trata de ciência são gastados em tempos de longa duração engendramse nunca de forma natural uma vez que em ciência tudo é arbitrário historicamente determinado e não necessário Assim o tempo da ciência nunca pode ser referido à ordem do eterno do estável e do imutável Ele pertence somente à história e às suas contingências No contexto da Modernidade a ciência ocupa um lugar preponderante na tessitura dos poderes sociais e simbólicos sendo considerada segundo Feigl apud FIGUEIREDO 1988 como uma reação contra a servidão imposta pelo dogma e pelas especulações metafísicas razão oponente à razão teocêntrica fundada na racionalidade do cogito e no expurgo do impensável A ciência é capaz de nomear as espécies que existem no universo possui um poder simbólico performativo instituinte de verdades e supostas realidades é considerada pois como legitimadora ontológica e fonte da verdade Falar de ciência implica falar do projeto de tornar centrais o homem e sua capacidade racional de analisar conhecer e dominar o mundo Implica simultaneamente em falar de luzes e sombras de conquistas e de exclusões de finitudeinfinitude enfim de crises do próprio conhecimento como das formas de conhecer A ciência como invenção da humanidade referente aos modos de conhecer e controlar o universo e seus elementos longe de manterse no suposto e pretendido lugar de intocável reitora e juíza do conhecimento revelase antes do que conjunto de verdades objetivas como reflexo objetivante das faltas e precariedades do sujeito conhecedor Se epistemologia de acordo com o dicionário Aurélio diz respeito ao estudo crítico dos princípios hipóteses e resultados das ciências já constituídas e visa determinar os fundamentos lógicos o valor e o alcance objetivo deles que se trata enfim da teoria da ciência ou seja da teoria das teorias tornase fácil reconhecer o valor de tal discussão num momento em que não apenas a cronologia indica a proximidade da passagem de século e de milênio como também se colocam novas perspectivas para a própria discussão ensaiada e auspiciada por novos paradigmas ou modelos eles próprios gerados e geradores dos novos tempos sociais e humanos Se é verdade que a ciência e suas práticas necessitam ser criticadas e reconhecidas como importantes fundadoras de realidades humanas e sociais também se torna significativo que tal produção seja dotada do mais agudo sutil e permanente espírito ético visto que o conhecer constitui o mundo ao nomeálo muito antes do que apenas representálo Se pelo conhecimento inventamos mundos que possamos inventálos de maneira decente A crise e a perda da confiança na epistemologia Muitos são os sentidos atribuídos à palavra crise Em sua maioria entretanto eles se evidenciam como inevitavelmente associados às ideias de transição decisão e mudança A crise por que passa a psicologia social não pode ser considerada como distante desses significados e tampouco alheia à lógica do pensamento científico e do pensamento social Embora possamos saber de épocas em que a psicologia parece ter estado em paz com seus objetos e métodos de estudo na verdade ela enquanto ciência está sempre em causa Tal como as demais ciências sociais sua característica é a de autocriticarse fazendo daí sobressair o fato de que a realidade social e humana é viva complexa dinâmica contraditória em contínuo devir Os objetos de estudo da psicologia estão em constante transformação da mesma forma que os métodos para conhecêlos Quando termina o século XX e já se anuncia o XXI podese dizer que o objeto de estudo da psicologia social tornase mais complexo e ao mesmo tempo menos conhecido visto que o patrimônio teórico acumulado revelase insuficiente para dar conta de relações processos e estruturas ainda pouco estudados ou propriamente desconhecidos As metamorfoses do objeto de estudo da psicologia revelam que não basta apenas acomodar ou reformular conceitos e interpretações Tratase de repensar os fundamentos da própria reflexão psicológica Nesta época de contemporaneidade o que vinha germinando há muito tempo parece mais explícito Para Ianni 1994 o que singulariza o mundo contemporâneo quando já se anunciam as características fundamentais dos começos do século XXI é que se tornam explícitas algumas das profundas transformações sociais e mentais que se vinham elaborando ao longo do século XX Um emblema desse tempo está simbolizado nos contrapontos Modernidade e Pósmodernidade realidade e virtualidade globalização e diversidade Nesse final de milênio vivemos um tempo de transição caracterizado por complexidades e ambiguidades É possível dizer junto com Boaventura de Souza Santos 1996 que se olharmos para o passado em termos científicos vivemos ainda no século XIX e que o século XX ainda não começou Podemos também ao olhar para o futuro reconhecer que o século XXI começa antes mesmo de começar Nosso tempo contemporâneo é marcado tanto pela duração de um passado quanto pela obcecada tendência pela instantaneidade Duração e instantaneidade tal como num campo de batalha realizam a luta pela constituição e prevalência de sentidos A contemporaneidade revelase como um tempo social que antes do que requerer nossa nostalgia pode nos incitar à construção coletiva de novos modos de existir e de conhecer Para tanto deve nos fazer pensar sobre os reducionismos que temos praticado em nossa noção de história seja quando a entendemos como um tempo circular e de repetição que reatualiza o imemorial seja quando a entendemos como linearidade que estabelece o que permanece e o que fica como declínio ou progressão A contemporaneidade nos instiga à fragmentação de nossa visão para que possamos apreender outros regimes temporais consistentes e potenciais Ela pode nos ensinar que na memória social e subjetiva todos os dados encontramse acessíveis e em remanejo constante Que não há mesmo um passado senão o seu remanejo Que o passado se torna um presente disponível Que o tempo enfim tornase uma rede de multiplicidades e a história é a matéria para as virtualizações possíveis para múltiplos futuros simultâneos compossíveis Esta mesma condição contemporânea traz consigo a perda da nossa confiança epistemológica que gestada nos padrões científicos da Modernidade nos aponta para o fim de um ciclo de uma certa ordem científica Sabemos que as crises e a da psicologia social não seria uma exceção podem ser tão tênues e circunstanciais que sua extinção acontece por si mesma podem ser tão radicais a ponto de suscitar transformações radicais na situação que a motivou A crise da psicologia social não é da espécie tênue Ela a sacode já por décadas como de resto a toda psicologia reclamando por ações de mudança Como intervir na crise nós professores psicólogos e pesquisadores de psicologia se nossos instrumentos de pensamento constituíramse eles próprios nos elementos que a geraram Como pode alguém ser sujeito de uma cura se vê a si mesmo contaminado pelo que quer curar Como os cuidados com o conhecer se implicam nos cuidados de si Estes são alguns dos nossos desafios quando constatamos ao mesmo tempo a potência e a impotência de nossas práticas profissionais de ensino e pesquisa Quer em seus efeitos produtivos quer em suas omissões e inafetabilidades nossas práticas revelamse muito distantes daquilo que sonháramos que fossem Chamamnos contudo a atenção por produzirem o efeito senão suficiente necessário de registrarem em nossos juízos os descompassos nelas existentes Para Tomás Ibañez 1994 a crise da psicologia social longe de constituir um fenômeno localizado conjuntural e específico tem suas raízes em uma problemática muito mais geral que atinge a própria concepção da racionalidade científica Esta problemática tem se configurado em torno de fenômenos que marcam os tempos da contemporaneidade tais como a derrubada das bases neopositivistas do paradigma epistemológico vigente em especial no que concerne à sua formulação verificacionista à sua concepção da natureza e do papel desempenhado pela atividade teórica em relação aos dados empíricos a configuração de uma sociologia do conhecimento e de uma sociologia da ciência que não podiam senão apontar para o caráter construído reflexivo e sócio histórico do conhecimento científico e de suas práticas constitutivas Estes são alguns dos elementos que têm propiciado intenso clima de discussão filosófica e epistemológica próprio de uma época de mutação dos grandes paradigmas científicos E precisamente esta discussão que nutre o novo pensamento sobre o social e que têm alimentado a crítica que afeta a Psicologia Social e outras disciplinas Com relação à racionalidade científica moderna estendida no século XIX das ciências naturais para as sociais podese dizer tratarse de um modelo global e totalitário na medida que nega o caráter racional a todas as formas de conhecimento que não se pautarem pelos princípios epistemológicos e pelas regras metodológicas SANTOS 1996 p 11 Desta forma o empirismo lógico ou positivismo projetouse na história do pensamento ocidental moderno como uma continuação e renovação do projeto iluminista tornando nítida sua pretensão de ser a encarnação moderna da cultura sensata viril e racional de permanente combate aos fantasmas às ilusões às tradições e autoridades ilegítimas que não se sustentam diante dos tribunais da experiência e da razão FIGUEIREDO 1988 A confiança epistemológica infundida pela Modernidade pode ser pensada ainda como resultado de uma concepção a respeito da natureza como sendo uma espécie de mecanismo passivo eterno e reversível passível de se deixar desmontar e depois relacionar sob a forma de leis Passível assim de ser dominado e controlado A implementação de tal cultura científica implicava a procura de um conjunto de regras de aplicação mecânica e universal que permitisse além da exclusão de falsos problemas e de falsas soluções a construção metódica de conceitos e leis Tal conjunto de regras deveria ter a sua operatividade independente de quem as aplicasse e da natureza específica dos objetos buscava a validade intersubjetiva universal a objetividade dos enunciados científicos a homogeneidade dos procedimentos e a possibilidade de fundação do projeto de uma Ciência universal unificada Tal ideal de um saber universalizante encarna o ideal iluminista de uma comunidade formada por seres iguais e dotados de instrumentos capazes de garantir entre eles o consenso Os particularismos seja dos sujeitos seja do mundo seriam em última análise redutíveis à fórmula universal da cultura científica Ao método é então creditado o poder de realizar o padrão de convivência idealizado Agora deste reino achamse excluídas as decisões acerca de valores éticos e políticos supostamente não passíveis de uma avaliação objetiva pelos fatos e pela lógica Obtendo a expulsão da intenção dos agentes e gerido não pela causa material e sim pela causa formaleficientefinal o conhecimento científico avança pela observação descomprometida sistemática e tanto quanto possível rigorosa dos fenômenos naturais Opõe a incerteza da razão entregue a si mesma à certeza da experiência ordenada KOYRÉ apud SANTOS 1996 orientase das ideias para as coisas e não das coisas para as ideias e estabelece a prioridade metafísica como fundamento último da ciência Matematiza o universo quando adota a lógica das matemáticas como instrumento privilegiado de análise Conhecer significa quantificar O rigor científico é aferido pelo rigor das medições passando a ser irrelevante tudo o que não é quantificável Realizando de forma plena a regra cartesiana de dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quanto for possível e requerido para as resolver O método científico apregoado reduz a complexidade revelando aí que conhecer também significa reduzir e classificar para depois determinar as relações sistemáticas entre o que se separou Impondose como esquecimento de que a complexidade está na realidade social e não numa vontade BOURDIEU 1990 também hoje nos permite ver aquilo que diz Bachelard o simples nunca é mais que um simplificado apud BOURDIEU 1990 Criase nesse contexto a ideia de um mundo máquina capaz de ser regulado desde a manipulação externa porque uma vez compreendido desde a ordem e a estabilidade tornase mesmo uma précondição para que seja transformado Mais do que para compreender o real este conhecimento mostra pretensões funcionais e utilitárias Se tal racionalidade se pretendia instituinte de um regime de verdade e foi capaz de estabelecer uma arrogante confiança epistemológica através tanto da deslegitimação dos chamados saberes ordinários provindos da experiência imediata como de suas concepções mecanicistas a respeito da natureza ela também percebia como potencialmente perturbadoras as chamadas humanidades que colocadas em lugar marginal passaram a perseguir seu estatuto social enquanto ciência a partir da adoção daqueles preceitos ditados pela própria racionalidade que as negava Para colocarse como ciência e não filosofia a psicologia inaugura nos idos do século passado com Wundt seu ingresso na galeria das ciências desvinculandose então de sua longa história com a filosofia tal como assinala Robert Farr 1996 Transbordado assim para o estudo dos homens e das sociedades o empirismo lógico vêse confrontado com obstáculos epistemológicos mostrandose contudo não mais capaz de oporse à maré de irracionalismo então suscitada Sofre algumas variantes que mesmo estando assentadas numa postura antipositivista e fenomenológica revelamse ainda subsidiárias do modelo de racionalidade das ciências naturais A crise do paradigma dominante que acabo de descrever é o resultado interativo de uma pluralidade de condições dentre elas as de ordem teórica Assim no início do século XX as descobertas da física especialmente as da Teoria da Relatividade de Einstein as da mecânica quântica no domínio da microfísica o princípio da incerteza de Heisenberg e as experiências do físico químico Ilya Prigogine relacionadas à teoria das estruturas dissipativas e ao princípio da ordem através de flutuações são exemplos de que o aprofundamento do conhecimento permitiu ver a fragilidade dos pilares em que se funda SANTOS 1996 Neste novo contexto a reflexão crítica tem mostrado dentre outras coisas o declínio da hegemonia das leis e das causas Incide outrossim mais sobre o conteúdo do conhecimento científico do que sobre sua forma e permite portanto revelar que o aviltamento da natureza operado pelo paradigma mecanicista e empiricista acaba por aviltar o próprio cientista na medida em que reduz o suposto diálogo experimental ao exercício de uma prepotência Novos espaços novos paradigmas Do movimento crítico acima caracterizado originamse múltiplos efeitos sendo possível detectar no contexto da psicologia social atual pluralizações diversas que apontam para um quadro de fragmentação antes do que para a unidade Novos espaços se constituem pelas conjunções e disjunções realizadas Implicações antigas são questionadas e descentramentos são propostos Tornamse vigorosos os discursos da interdisciplinaridade e das conjunções bem como o da ecologia social e cognitiva que lhe é consequente revelando um contexto propício à análise cujos componentes se amalgamam não se comportando como configurações isoladas Redes de saberes se propõem a interconexões possibilitando uma infindável trama de possibilidades de conhecer A consciência crescente do papel criativo da desordem PRIGOGINE 1996 da autoorganização MATURANA VARELA 1990 e da não linearidade fazem reconhecer que o mundo é rico em evoluções imprevisíveis cheio de formas complexas e fluxos turbulentos caracterizado por relações não lineares entre causas e efeitos e fraturado entre escalas múltiplas de diferente magnitude que tornam precária a globalização SCHNITMAN 1996 Vivese uma espécie de apogeu do instituinte mesmo que se saiba do peso das determinações do já instituído O novo discurso científico é um convite à busca antes do que a certeza e privilegia como nunca dantes o fizera a multiplicidade a polifonia a descentralização do sujeito e da razão O duvidar sobre a dúvida a perda das certezas e das metanarrativas introduzem aquilo que se pode chamar de processos de segunda ordem ou seja a reflexividade sobre a reflexividade O pensamento se constitui como potencialmente relativista relacionante e autocognoscitivo SCHNITMAN 1996 e a ciência reconhecese como não suficiente se tomada como referência à legitimação do conhecer É olhada e olhase como constituída e constituinte nasdas redes de poder reconhecendose como efeito de regimes de verdade antes do que fonte de verdades A ciência revelase contingente e não autoevidente mostrase como construção social Sendo construída podese dizer que ela pode vir a ser desconstruída interrogada e questionada Assim é que na seção final deste capítulo pretendo enfocar algumas discussões que têm animado o cenário científico e acadêmico Ibañez 1994 chama a atenção para o surgimento de uma espécie de galáxia construcionista da ciência ou seja um conjunto heterogêneo de disciplinas assentado em preocupações e formulações comuns que apontam para uma posição de ruptura com boa parte dos pressupostos da concepção herdada de ciência Para o psicólogo espanhol acima referido o fato de que o construcionismo transite por disciplinas tão diversas como a Física a Biologia e a Psicologia por exemplo dotao de um caráter de metadiscurso ou seja trata se de um tipo de discurso cujo alto nível de generalidade e de abstração permite inspirar concretizações diversas segundo as particularidades de cada disciplina Desde o intuito simultaneamente construtivista desconstrutivista contemporaneamente proposto uma das primeiras questões a ser reconhecida pela psicologia é a do seu caráter autoritário Pretendendo constituir um conhecimento científico acerca da complexa realidade psicológica e dele utilizar se para incidir sobre a infinidade de problemas psicossociais propostos e existentes almejando assim melhorar a qualidade de vida dos sujeitos as boas intenções da psicologia necessitam ser desconstruídas com o objetivo de fazer aflorar perigosas ingenuidades que têm sustentado nossas práticas Assim é que para dar início a esse processo chamo a atenção juntamente com Ibañez op cit para a concepção de conhecimento e realidade implicada nas hegemônicas tradições psicológicas Em princípio a psicologia considera como separados a realidade e o conhecimento desta fundando uma tradição representacional do conhecimento que simultaneamente é desimplicado das intenções e valores do sujeito cognoscente e dos efeitos do saber sobre a realidade Nessa perspectiva a realidade é o que deve estar em correspondência com a teoria e o conhecimento privilegiado da realidade é o obtido através da objetividade científica Ora os novos paradigmas permitemnos colocar não a dúvida sobre a existência ou não da realidade mas de privilegiar a questão de que a realidade não exista com independência de nosso acesso a ela A realidade existe e está composta por objetos mas não porque estes objetos sejam intrinsecamente constitutivos da realidade mas porque nossas próprias características os põem por assim dizer na realidade E é precisamente porque são nossas características as que os constituem que não podemos crer que se a realidade depende de nós então podemos construir a realidade que queiramos IBAÑEZ 1994 Assim é que podemos compreender que os objetos que compõem a realidade psicológica não procedem de uma suposta natureza humana na qual estariam précontidos de forma natural mas que resultam das práticas de objetivação que a ciência tem desenvolvido Os fenômenos psicológicos não são dados mas construídos através de práticas contingentes sociais e históricas Isso quer dizer também que os fenômenos psicológicos estão parcialmente conformados pela maneira como os representamos ou seja pelos conhecimentos que produzimos a seu respeito E ainda significa dizer que os psicólogos auxiliam a conformar a realidade psicológica não somente utilizando conhecimentos para incidir sobre ela mas muito mais diretamente a partir dos próprios conhecimentos elaborados sobre a realidade Como dispositivo autoritário a psicologia tende a naturalizar a realidade psicológica e social mascarando o papel que desempenham certas práticas humanas na construção dessa realidade sugerindo por exemplo a existência de certos padrões de normalidade psicológica marcados pela própria natureza e aos quais devemos nos conformar e adequar Desde sua intenção de fazer incidir o seu corpo de conhecimentos sobre a realidade humana e social no intuito de transformála e melhorála a psicologia é então evidentemente exercida como prática normativa e autoritária Herdeira da concepção cartesiana de ciência e devotada filha dos ideais da Modernidade a psicologia alimenta a crença de que existe um acesso privilegiado à realidade que permite graças à objetividade conhecermos a realidade tal como ela é Tal crença se impõe com importante força conduzindo ao dilema assim colocado por Ibañez 1994 Como posso aceder à realidade com independência do conhecimento que tenho dela para comparála com o conhecimento da realidade p 269 Não tem sentido pensar que o conhecimento nos diz como é a realidade porque não há forma de saber como é a realidade com independência do seu conhecimento e não há forma de saber se o conhecimento científico acerta em sua descrição da realidade O conhecimento científico tem muitas virtudes mas nunca a virtude de refletir sobre a realidade tal como ela é É bastante útil esta discussão se concordamos com a ideia de que quando se trata de eleger um modo privilegiado de acesso à realidade a defesa da perspectiva objetivista é uma forma de impedir a presença do sujeito nos conhecimentos que este produz A produção de verdades neste sentido tende a ser encarada como absoluta e transcendente A retórica da verdade fundase no próprio mito da objetividade As tensões resultantes de tais considerações e os princípios norteadores que elas evocam tornam imperativo o reconhecimento do fato de que a realidade psicológica é uma construção contingente dependente de nossas práticas sócio históricas e que não nos define como essência em termos de algo que estaria inscrito em nossa natureza Da mesma forma deve permitir revelar o discurso do psicólogo nunca desatado das convenções nele inculcadas constituindose portanto em uma das maneiras de interpretar a realidade dentre tantas outras possíveis Nesse final de texto podemos dar as mãos aos diversos autores aqui citados e mais a outros como Maritza Montero da Venezuela para ressituarmos nossa ciência e a nós mesmos no contexto de nossa própria condição frágil contingente histórica processual e relativa Juntamente com Ibañez 1996 afirmamos que este giro recoloca o ser humano no centro mesmo da razão científica e da disciplina psicológica mas sem apelações humanistas pois temos aprendido que o ser humano é socialmente construído e que sua autonomia não deixa de ser o mais das vezes uma ilusão e que não há nenhuma natureza humana a resgatar Sugestão de leituras Com a finalidade de saber mais a respeito de epistemologia e psicologia social sugerese a paciente leitura do livro Psicologia social construcionista de Tomás Ibañez editado pela Universidade de Guadalajara México em 1994 Esta obra trata com detalhamento da história da Psicologia vista sob o ponto de vista de sua ideologização crises e rupturas Ibañez privilegia o enfoque epistemológico fundamentando sua análise em levantamentos quantitativos e qualitativos do acervo bibliográfico em psicologia disponível em especial na Europa e nos EUA Para os mais apressados e para os que preferirem encaminhar suas reflexões mais diretamente ao estado atual da arte sugiro neste mesmo livro a fixação do estudo nos seus capítulos V VI VII e VIII Um outro importante livro para auxiliar a contextualizar a discussão propriamente psicológica é o denominado Um discurso sobre as ciências de Boaventura de Souza Santos produzido em Portugal pela Editora Afrontamento e que se encontrava em 1996 na sua oitava edição Tratase de uma versão ampliada da Oração da sapiência proferida pelo autor na abertura solene das aulas da Universidade de Coimbra em 19851986 Referese a uma ampla e crítica visão sobre a discursividade científica suas tendências e rupturas bem como seus compromissos éticos e políticos Da mesma forma em Revisitando as psicologias editado pela Vozes em 1995 Luís Cláudio M Figueiredo conjuga textos importantes que versam sobre epistemologia ética e práticas da psicologia O livro em especial seu capítulo intitulado Os lugares da psicologia fornece muitos elementos a uma discussão bem fundada e sobretudo crítica Dora Fried Schnitman organiza o muito bemvindo livro Novos paradigmas cultura e subjetividade que editado em 1996 pela editora Artes MédicasPorto Alegre apresenta como núcleo as apresentações e diálogos do Encontro Interdisciplinar Internacional Novos Paradigmas Cultura e Subjetividade levado a efeito em Buenos Aires no início da década de 1990 Tratase de uma importante obra seja pelas manifestações científicas culturais e terapêuticas que expressa seja pela alta qualidade de seus manifestantes cientistas de diversas áreas caracterizados pelas mais altas distinções e reconhecimento O livro de Isabelle Stengers Quem tem medo da ciência editado em 1990 pela SicilianoSão Paulo mostrase também como importante contribuição à discussão epistemológica levando a considerar a importância das relações entre ciência e poder Tornase significativo registrar que Stengers é parceira de trabalho intelectual de Ilya Prigogine atuando com o mesmo na consolidação de novos paradigmas E por fim gostaria de sugerir a leitura do artigo Paradigmas corrientes y tendencias de la psicologia finisecular escrito por Maritza Montero e publicado na revista Psicologia e Sociedade da Abrapso volume 8 n 1 janeirojunho 1996 p 102119 Neste texto Montero além de examinar as tendências de mudança de paradigma na psicologia social contemporânea apresenta uma perspectiva que considera o objeto de estudo da disciplina como uma construção coletiva histórica e transitória Para a autora tal nova perspectiva coexiste com os demais modelos científicos e pretende colocar a Psicologia Social a serviço das transformações sociais demandadas pelas maiorias oprimidas Bibliografia BOURDIEU Pierre Coisas ditas São Paulo Brasiliense 1990 FARR Robert M The roots of modern Social Psychology CambridgeMassachusetts Blackwell Publishers 1996 FIGUEIREDO Luís Cláudio M Revisitando as psicologias Petrópolis Vozes 1995 Empirismo lógico valores vicissitudes perspectivas Cadernos PUCSP n 32 Educ 1988 IANNI Octavio A sociologia no horizonte do século XXI Aula inaugural proferida no doutorado em sociologiaUFRGS 1994 IBAÑEZ Tomás Psicologia social construcionista México Universidade de Guadalajara 1994 MATURANA Humberto R VARELA Francisco G El árbol del conocimiento las bases biológicas del entendimiento humano Santiago del Chile Editorial Universitária 1990 PRIGOGINE Ilya O fim das certezas São Paulo Unesp 1996 SANTOS Boaventura de Souza Um discurso sobre as ciências Porto Alegre Afrontamento 1996 SCHNITMAN Dora F org Novos paradigmas cultura e subjetividade Porto Alegre Artes Médicas 1996 ÉTICA Pedrinho A Guareschi Introdução Ao nos aproximarmos do Terceiro Milênio temse a impressão de que estamos vivendo um paradoxo ao invés de vermos a humanidade superar empregando a linguagem de Teilhard de Chardin a milenária fase da individualização que levou ao individualismo e ao liberalismo na sociedade em geral para entrar numa nova fase de superhumanização e de socialização na base do uma nova percepção da realidade e da vida como relação estamos presenciando e aqui está o paradoxo uma excrescência de individualismo de egocentrismo de luta e competição de maneira aguda e esquizofrênica que leva o mundo a uma situação de apartação e exclusão Os pressupostos da filosofia liberal são hegemônicos e tomam conta do cenário mundial Mas ao mesmo tempo é preciso ver que essa situação está ocasionando tantas contradições e conflitos que não pode perdurar Percebemse sinais de estertores de uma era que teve profunda influência em quase todas as instituições da sociedade mas que não consegue mais resistir e se legitimar O modelo antropológico individualista está em crise vemos nascer um novo modelo de ser humano e de uma sociedade fundada na comunhão na convergência na superação de barreiras físicas e psicológicas espaciais e temporais territoriais e culturais Esse trabalho quer discutir da maneira mais simples possível dentro de um tema complexo alguns pressupostos éticos que julgamos importantes para um estudante de psicologia que queira desenvolver uma visão crítica e global da sua disciplina e dos grandes e importantes acontecimentos mundiais que modelam a problemática atual Ética o que é isso Você já tentou perguntar a alguém quando fala em ética o que ele entende por isso Ou melhor você já tentou alguma vez responder a você mesmo o que seja ética É interessante notar que a toda hora escutamos alguém dizendo que tal procedimento não é ético que tal ação é antiética etc Que significa isso Quando se começa a refletir sobre o que seja ética e sobre os fundamentos da ética damonos conta de quão complexa é a questão Mas ao mesmo tempo vemos que todos nós de um modo ou de outro temos nossas convicções éticas possuímos nossa ética Para termos tal ética temos de nos basear em algum fundamento algum pressuposto filosófico e valorativo Mas é curioso notar que a maioria das pessoas apesar de possuírem esses fundamentos e pressupostos poucas vezes pararam para refletir e tomar consciência de quais seriam esses pressupostos Essa rápida discussão quer trazer à baila esses pressupostos e facilitar a quem desejar descobrir qual o fundamento de sua ética Mesmo os estudos de Kohlberg e em parte os de Piaget apesar de ajudarem a identificar estágios de consciência ética não fornecem elementos para que se possa identificar os pressupostos filosóficos e consequentemente se possa fazer uma crítica a esses pressupostos Podem ser identificados dois paradigmas principais que fundamentariam as exigências éticas ou os valores éticos O primeiro é o da lei natural o segundo é o da lei positiva O paradigma da lei natural O grande referencial do paradigma da lei natural é a natureza Esse referencial tem a pretensão de dizer que a partir do exame da análise e da atenção que se dá à compreensão natureza é possível de um lado identificar uma ética que governe todos os povos e em todas as épocas e de outro lado é possível descobrir uma fonte para essa ética que não sejam os costumes ou instituições de determinados povos ou nações Entre os defensores de tal paradigma podemos citar Aristóteles os estoicos Cícero e muitos outros seguidores até os dias de hoje quem sabe até você mesmo que está lendo esse trabalho Essa tradição dividiuse em duas vertentes uma prémoderna religiosa inspirada em Tomás de Aquino centrada na ideia de um Criador e numa ordem imutável estabelecida por Deus outra moderna secular inspirada nos escritos de Grotius e John Locke fiel à mentalidade do mundo moderno sem negar a origem divina da natureza investe em defender os direitos humanos João Batista Libânio diz que a primeira se caracteriza como o momento do objeto como prémoderna a segunda como o momento do sujeito típica do pensamento moderno Uma privilegia a estabilidade do objetivo e a outra a liberdade e a iniciativa do subjetivo Mas para ambas o critério que as fundamenta é algo exterior a natureza como produto de Deus Criador para a primeira ou a dignidade e os direitos fundamentais do ser humano que podem ser racionalmente conhecidos e justificados para a segunda O paradigma da lei positiva O paradigma da lei positiva surge como reação ao paradigma da lei natural tanto na sua versão religiosa como na versão secular Há uma rejeição tanto em nível epistemológico como em nível ideológico de um apelo a uma ordem natural como referencial ético Em nível epistemológico a partir do relativismo cultural questionase a possibilidade de dar conteúdo concreto a leis ditas naturais que sejam as mesmas em todas e para todas as épocas e culturas Em nível ideológico a partir da experiência histórica do abuso tanto de poderes religiosos como civis de apelar para leis naturais para esmagar seres humanos que se opunham a determinados regimes levou à rejeição de uma ordem humana e social determinada por uma lei natural preestabelecida O critério ético passa a ser o que foi escrito e promulgado após as diversas instâncias de discussão É o que passou a se chamar de contratualismo Uma vez discutida e estabelecida uma negociação social ela passa a ser válida Com isso se evita a arbitrariedade e podese apelar para algo objetivo que foi formulado e promulgado Podemos nos libertar assim de uma natureza cega de um lado e dos mandos e desmandos autoritários de governantes e grupos de outro Podese perceber logo que se as leis fossem justas discutidas democraticamente e aplicadas da maneira mais imparcial possível o estado de direito poderia ser um forte defensor do direito e das liberdades dos seres humanos Mas o que acontece quando os governadores e os juízes são autoritários e quando alguns legislam em causa própria Que dizer quando grupos e minorias poderosas forçam a criação de acordos e negociações em proveito próprio Podese ainda dizer que o que é instituído é ético Que dizer de exemplos como o das ditaduras militares e especificamente o caso do Brasil e outros países da América Latina onde alguns grupos à base da força e da pressão impuseram sobre uma maioria suas vontades e seus privilégios E tudo através de constituições escritas e promulgadas Como acabamos de ver o fundamento da ética é colocado por alguns na lei natural tanto por ser essa lei originada de um Deus Criador ou por estar radicada na dignidade do ser humano e de seus direitos inalienáveis ou num positivismo jurídico que se radica no texto de uma lei escrita e promulgada Mas damonos conta também das limitações e perigos que se originam de tais pressupostos Que fazer então Haveria outra alternativa para fundamentar a dimensão ética O que seria afinal a ética Ética como instância crítica Se as colocações acima discutidas mostram suas limitações e precariedades ao mesmo tempo indicam pistas por onde se pode iniciar uma busca de uma fundamentação ética das ações e relações Mas é decisivamente importante que ao perseguirmos tais fundamentações tenhamos sempre em mente seus possíveis limites E a isso poderíamos chamar de postura crítica diante de todo criado e de todo o institucionalizado Enquanto permanecermos dentro do humanamente instituído sem apelarmos para o eterno e o transcendente temos de reconhecer nossa limitude histórica E ao reconhecermos essa limitude temos de deixar sempre uma porta aberta a porta de possibilidade de alternativas de crescimento de transformações de aperfeiçoamento Nesse contexto creio que nos seria muito útil uma noção de ética como sendo uma instância crítica propositiva sobre o dever ser das relações humanas em vista de nossa plena realização como seres humanos DOS ANJOS 1996 p 12 Perscrutando a fundo essa colocação podemos extrair dela duas dimensões fundantes a dimensão crítica e propositiva e a dimensão das relações Elas são centrais para a compreensão mais profunda da ética a A dimensão crítica e propositiva A dimensão crítica da ética significa que ela pode ser considerada como algo pronto algo acabado Ao contrário ela está sempre por se fazer E ao mesmo tempo ela está presente nas relações humanas existentes À medida em que ela se atualiza ela passa a sofrer suas contradições e por isso deve ser questionada e criticada Ao mesmo tempo ela tem que ser propositiva Não pode se furtar a colocar exigências e desafios Mas esses desafios e exigências podem ser reelaborados redimensionados refeitos e retomados E a ética é sempre do dever ser das relações humanas em vista de nossa plena realização É uma busca infinita interminável é uma consciência nítida de nossa incompletude é um impulso permanente em busca de crescimento e transformação Não seria fora de propósito mencionar aqui a posição de alguns autores da escola crítica como Karl Otto Apel e Jurgen Habermas que procuram resgatar a dimensão ética a partir do discurso O discurso é o que temos de mais próximo de mais real e ao mesmo tempo de mais interminável ele possui a maior possibilidade de criar todas as alternativas possíveis E ao mesmo tempo ele possui pressupostos indispensáveis sem os quais ele mesmo não pode se sustentar isto é ele traz consigo também uma infinidade de caminhos diferentes e entre eles a possibilidade de seu próprio resgate Os pensadores acima citados são chamados por Lima Lopes 1996 p 31 de críticos somando tanto a crítica kantiana quanto a marxista podem ser tidos como herdeiros dos ideais de liberdade dos modernos ao mesmo tempo que levam a sério a impossibilidade de existência do ser humano não socializado É minha convicção que é fundamental enfatizar a dimensão da crítica ao se discutir a questão da ética Num trabalho anterior GUARESCHI 1992 tentei mostrar como o uso cuidadoso e sério da crítica mesmo ao se discutir as diferentes teorias científicas leva a própria evidência da impossibilidade de uma ciência ou de uma prática científica neutra isto é sem uma dimensão ética A crítica resgata a dimensão ética de toda ação humana Mas ao mesmo tempo não fecha a questão sobre a presença de uma dimensão ética específica Aliás a própria Teoria Crítica também chamada de Escola de Frankfurt ou Crítica da Ideologia tem como pressuposto a impossibilidade de neutralidade das ações humanas Toda ação humana segundo essa escola de pensamento deve ter como finalidade iluminar e emancipar a ação que se diz neutra se não estiver direcionada a tais fins possivelmente estará servindo a propósitos contrários de ocultação da realidade e de manipulação das consciências GEUSS 1988 É também iluminador notar nesse contexto como John B Thompson 1995 p 76 um dos melhores analistas da ideologia define esse conceito Para ele ideologia é o uso de formas simbólicas que servem para criar ou manter relações de dominação Uma forma simbólica só é ideológica quando se puder mostrar que ela serve aos propósitos de criar ou manter relações que sejam de dominação isto é relações assimétricas desiguais injustas Dominação é aqui um conceito diferente de poder Poder é uma capacidade uma qualidade individual de pessoas algo singular particular Nesse sentido todos os que podem fazer algo trabalhar falar escrever etc têm um poder Já dominação é uma relação isto é sempre se dá entre dois ou mais sujeitos e acontece quando há uma expropriação de poder isto é quando um retira de maneira assimétrica ou injusta um poder de outro parceiro Para essa concepção de ideologia então a dimensão ética isto é a dimensão do dever ou não dever fazer está presente A análise ideológica nesse sentido é sempre uma demonstração e uma denúncia da existência de relações assimétricas desiguais Ela leva naturalmente à constatação de situações que provocam uma tomada de posição que dificilmente vai deixar as pessoas impassíveis tranquilas Esse o grande risco de se tomar ideologia na acepção crítica E ao mesmo tempo a grande vantagem Na verdade de que ajuda aos grupos humanos dizer simplesmente que as coisas são assim sem que se apresentem elementos de transformação e superação de tais situações Mas o mais importante contudo é o fato de que uma postura teórica que simplesmente toma a ciência como uma prática que diz como as coisas são esconde por detrás dela uma postura conservadora E tanto uma como a outra possuem dimensões éticas pois ser conservador isto é permitir que as coisas sejam assim ou impedir que elas mudem é uma ação tão ética como lutar pela mudança lutar para que a situação se transforme b A dimensão da relação Uma segunda dimensão que gostaríamos de discutir a partir da definição acima é a questão das relações ou da ética como ética das relações Essa é uma discussão extremamente provocante Dentro de uma cosmovisão individualista onde o ser humano é considerado como indivíduo indivisum in se et divisum a quolibet alio sob o império do liberalismo fica difícil de se perceber que a ética só pode ser dita das relações e onde ela mesma é sempre uma relação Entendemos por relação a ordenação intrínseca de alguma coisa em direção a outra que a filosofia define como ordo ad aliquid Em outras palavras relação é algo que não pode ser sem outro Vejamos como a questão da relação tem a ver com a justiça e a ética Olinto Pegoraro 1996 acaba de publicar um livro cujo título é Ética é justiça O que o referido autor faz é recuperar a argumentação de Aristóteles na Ética a Nicômaco onde ele afirma que a justiça é a virtude central da ética pois ela comanda os atos de todas as virtudes Essa forma de justiça não é parte da virtude mas a virtude inteira e seu contrário a injustiça também não é uma parte do vício mas o vício inteiro ARISTÓTELES V 3 1130a 912 Dizer que ética é justiça tornase muito claro quando pensamos sobre o que significa justiça Justiça provém de jus que no latim quer dizer direito Alguém é justo quando estabelece relações com outros que são justas Em outras palavras alguém sozinho não pode ser justo Alguém sozinho pode ser alto branco simpático etc pois isso não implica relação isto é não implica outros Agora justo ele não consegue ser sozinho pois a justiça ou a injustiça só entram em campo no momento em que alguém se relaciona com outros Isso quer dizer que é só à relação que se pode aplicar o adjetivo justo e não de um polo apenas da relação Eu sou justo quando estabeleço relações com outros que são justas isto é que respeitem os direitos dos outros Justiça tem a ver pois com o respeito aos direitos das pessoas Há justiça quando os direitos das pessoas são respeitados Do mesmo modo com a ética Dizer que ética é relação ou dizer que ética só se pode aplicar às relações é afirmar que ninguém pode se arvorar o predicativo de ético a partir de si mesmo como quer exatamente o liberalismo O pensamento liberal ao partir da definição de ser humano como indivíduo centraliza tudo no eu no sujeito da proposição Perdemos a dimensão relacional e como consequência mistificamos o verdadeiro sentido de ética Chegamos assim a absurdos sociais como os que vivemos hoje em que um terço da população não possui seus direitos garantidos e nos blasonamos como éticos ou como um país onde exista a ética Por incrível que pareça quem vai decidir se somos ou não éticos são os outros Isso parece chocante e de fato o é dentro da cosmovisão egocêntrica e individualista como é a cosmovisão do liberalismo No documento Exigências Éticas da Ordem Democrática da CNBB a seguinte afirmação vem mostrar quem é o juiz da ética numa verdadeira democracia a existência de milhões de empobrecidos é a negação radical da ordem democrática A situação em que vivem os pobres é critério para medir a bondade a justiça a moralidade enfim a efetivação da ordem democrática Os pobres são os juízes da ordem democrática de uma nação Conclusão Entendemos o ser humano como um ser dialógico relacional que se vai construindo a partir das relações que vai estabelecendo com os outros seres humanos Sem perder sua singularidade pois continua sempre sendo um ser único e irrepetível sua subjetividade é composta dos milhões de relações que ele estabelece durante toda sua existência A dimensão ética se apoia diretamente sobre essa antropologia personalista e dialógica Reconhecemos o outro como pessoa com quem entramos em diálogo e não como um simples indivíduo que está ao nosso lado com quem entramos em contato pelo simples motivo de sobrevivência em competição potencial conosco Na afirmação de Dussel 1977 p 98 no reconhecimento dessa alteridade consiste toda eticidade da existência Leituras complementares Um livro acessível que traz vários artigos sobre ética principalmente na sua aplicação é Relações sociais e ética Porto Alegre Edições AbrapsoSul 1995 organizado por Maria da Graça Jacques Pode ser conseguido na PUCRS Outro livro que pode ajudar a aprofundar essa questão é Ética é Justiça de Olinto Pegoraro Petrópolis Vozes 1995 Mostra como a ética é sempre uma relação e que a essência da ética reside na relação de justiça Finalmente o livro A emergência da consciência ética de Pedrinho Guareschi e Luiz Carlos Suzin Aparecida Editora Santuário 1995 Bibliografia ARISTÓTELES Ética a Nicômaco Brasília Ed da Universidade 1985 Kury Mário da Gama org CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Exigências éticas da ordem democrática São Paulo Paulinas 1994 DOS ANJOS MF Apresentação In DOS ANJOS MF LIMA LOPES JR Ética e direito um diálogo Aparecida Santuário 1996 DUSSEL Enrique Para uma ética da libertação LatinoAmericana Vol II Eticidade e Moralidade São Paulo LoyolaUnimep 1977 GEUSS R Teoria crítica Habermas e a Escola de Frankfurt Campinas Papirus 1988 GUARESCHI P Sociologia crítica 38 ed Porto Alegre Mundo Jovem 1996 Ética e Relações Sociais entre o existente e o possível In JACQUES MG org Relações sociais e ética Porto Alegre AbrapsoSul 1995 A emergência da consciência ética In GUARESCHI P SUZIN LC Consciência moral emergente Aparecida Santuário 1992 LIMA LOPES JR Ética e Direito Um panorama às vésperas do século XXI In DOS ANJOS MF LIMA LOPES JR Ética e direito um diálogo Aparecida São Paulo Santuário 1996 PEGORARO O Ética é justiça Petrópolis Vozes 1996 THOMPSON JB Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995 INDIVÍDUO CULTURA E SOCIEDADE Luiz Fernando Rolim Bonin Para compreender o ser humano além de estudar seu corpo e sua origem animal é necessário pesquisar principalmente como ele se constitui em um contexto sociocultural O homem é também um animal mas um animal que difere dos outros por ser cultural Os outros primatas podem ser considerados como entes protoculturais pois transmitem hábitos através de gerações como peneirar alimentos nadar e lavar batatas Usam instrumentos simples e aprendem por mera observação o comportamento de outrem Para a teoria históricocultural o primata humano pode ser definido como um ser biológico antes de possuir o domínio da fala mas podese considerálo nessa fase como tendo uma protocultura BONIN 1996 Por exemplo as crianças de um a dois anos já aprendem usar instrumentos simples da cultura por imitação ou reforço mas não entendem ainda uma informação verbal No entanto entram num processo plenamente cultural quando já dominam o uso da fala o que as permite processar o simbólico contido nas instituições culturais Entretanto não é possível deixar de considerar o aspecto biológico do ser humano apesar deste ser históricocultural Afinal o homem está no mundo por ter um corpo Os neuropsicólogos têm demonstrado que as habilidades envolvidas na atividade humana supõem uma condição necessária mas não suficiente e elementar um sistema nervoso e hormonal Podese dizer que o homem é um animal que usa símbolos porque houve um desenvolvimento do seu cérebro para tal no decorrer de sua filogênese No início do desenvolvimento da criança que é um animal da espécie humana os processos da atividade se dão de maneira semelhante à de outros primatas isto é não envolvem a fala ou melhor processos simbólicos A primeira comunicação da criança recémnascida com o outro seria através do choro Esta ainda é uma expressão direta do estado afetivo da criança não sendo contudo uma comunicação que envolva neste momento uma representação mental Indivíduo e sociedade A teoria históricocultural considera importante a filogênese dos processos psicológicos O ser humano ao nascer traz consigo determinados comportamentos inatos ligados à sua estrutura biológica Entretanto no decorrer de seu desenvolvimento é moldado pela atividade cultural de outros com quem eleela se relaciona Cada indivíduo ao nascer encontra um sistema social criado através de gerações já existente e que é assimilado por meio de interrelações sociais A sociedade com suas instituições crenças e costumes não paira acima dos indivíduos mas sim ela é constituída por indivíduos Não se trata de colocar a sociedade acima do indivíduo ou o indivíduo como um ser isolado acima da sociedade Ela também não é uma gestalt forma física como os tijolos em uma casa mas sim uma rede de interrelações individuais em constante mobilidade Uma dança de quadrilha seria uma metáfora adequada já que os indivíduos não só interagem exteriormente como bolas de bilhar mas também se interrelacionam cada um procurando entender e se adaptar aos movimentos intencionais e futuros de outrem O indivíduo históricosocial que é também um ser biológico se constitui através da rede de interrelações sociais Cada indivíduo pode ser considerado como um nó em uma extensa rede de interrelações em movimento O ser humano desenvolve através dessas relações um eu ou pessoa self isto é um autocontrole egoico que é um aspecto do eu no qual o indivíduo se controla pela autoinstrução falada de acordo com sua autoimagem ou imagem de si próprio É um ser que tendo instintos ou comportamentos préprogramados passa através da vida social a adquirir a fala e planejar e controlar sua atividade e de outrem através de representações mentais ELIAS 1994 1995 Neste ponto é importante mencionar que a noção de eu supõe dois aspectos fundamentais 1 a do sujeito ativo que toma decisões e se orienta no mundo 2 uma autoimagem e uma autoestima que para alguns autores estão relacionadas ao conceito de identidade e constituem o que George Mead denominou de me ou mim MEAD 1953 O desenvolvimento do controle da fala sobre o comportamento é realizado a partir dos comandos da mãe sobre a criança relação interpessoal que passa a se autoinstruir sobre como deve se comportar controle intrapessoal Isto é o indivíduo passa de uma relação interpessoal para um controle e planejamento intrapessoal da sua própria atividade Isto se torna possível pela existência da fala o que no fundo envolve um controle egoico LURIA 1987 VYGOTSKY 1984 Não há basicamente uma contradição entre indivíduo e sociedade O indivíduo é um ser históricocultural que é constituído pelas interpelações sociais Mesmo quando está sozinho como Robinson Crusoé é um ser humano que tem o habitus de sua sociedade Isto é tem o jeito de andar hábitos de higiene de expressar emoções de usar instrumentos que adquiriu das relações pessoais com indivíduos da sociedade que o constituiu Na sociedade ocidental atual extremamente individualista e conflituosa os indivíduos podem se representar como seres isolados em oposição à sociedade Isto entretanto é uma criação da própria sociedade neste momento histórico Necessariamente não há por que ter um alto grau de competição e tensão grupal tornando difícil um equilíbrio entre as inclinações pessoais e as tarefas sociais O verdadeiro eu não está enclausurado e isolado dessa sociedade É somente uma ilusão O indivíduo não é estranho à sociedade A vida social supõe entrelaçamento entre necessidades e desejos em uma alternância entre dar e receber A razão e a mente não são substâncias mas produtos de relações em constantes transformações Os instintos e as emoções sofrem transformações no decorrer da vida social Os papéis sociais e as instituições humanas se originam de interrelações pessoais que são cristalizadas através de regras e que inicialmente são hábitos adquiridos e as instituições além das relações sociais envolvem também determinados materiais e artefatos e códigos Assim uma universidade é uma instituição que basicamente supõe determinadas interrelações humanas e locais como laboratórios onde existem determinados materiais aparelhos e instrumentos Como já se sabe é possível estudar a sociogênese das instituições através da história e por exemplo uma instituição como o Parlamento Britânico surgiu para resolver conflitos entre os nobres através do entendimento entre as partes litigantes pelo constante diálogo em direção ao consenso Cultura indivíduo e atividade Neste tópico serão examinadas quatro perspectivas sobre a noção de psicologia cultural O termo cultura pode ser definido inicialmente de maneira simples como um conjunto de hábitos instrumentos objetos de arte tipos de relações interpessoais regras sociais e instituições em um dado grupo Em primeiro lugar a a cultura como uma variável independente em que cultura e mente eram consideradas separadas Em seguida b a perspectiva de que a mente está inserida nas práticas e atividades culturais Em terceiro lugar c a cultura na mente ou seja a cultura como uma descrição ou narração das atividades e práticas de um grupo Por último d a cultura e a pessoa isto é a pessoa como agente intencional em um mundo que é constituído de interpretações e objetos culturais a Nas décadas de 19601970 as relações entre cultura e cognição eram pesquisadas em formas tradicionais como estudosrelações entre variáveis A cultura era considerada como variável independente e a atividade mental e prática como variável dependente Nesta época certas pesquisas de alfabetização em determinadas culturas eram relacionadas a testes de memória e outras atividades cognitivas Só posteriormente é que surgiu uma outra perspectiva que procurava desvendar como se processam a cognição e a aprendizagem num contexto cultural Mas inicialmente a cultura era vista como separada da mente ou seja supunhase um dualismo ou dicotomia entre mente e cultura O mental era concebido como um processador interno de alguma coisa que poderia ser pensamento abstrato raciocínio etc que era afetado de fora pela cultura mas não por ela constituído ainda que parcialmente Por exemplo escolhiase uma atividade cognitiva como a memória classificação ou percepção tomadas como unidades de medida e chegavase à conclusão que em determinada cultura como a dos Wolops não há ordenação de cor e forma desenvolvida Nessa época também passouse a estudar o efeito da escolaridade e tipos de escrita em um grupo de uma dada sociedade Aqui já se procurava a interação entre mente e cultura Esse é um período de transição em que cultura e cognição já não são vistas como meras variáveis externas Propõe se que a cultura seja definida face ao uso de mediações isto é artefatos físicos e simbólicos ou seja além de considerar um conjunto de condições biológicas é necessário levar em conta as mediações como o uso de artefatos para entender o desenvolvimento humano LURIA 1990 VYGOTSKY 1984 1990 Nesse período seguidores de Piaget estavam interessados em provar que os estágios de desenvolvimento infantil eram universais e portanto foi dada pouca atenção a como os processos culturais constituíam a cognição e também qual o papel da fala nessas atividades Atualmente essas concepções estão sendo revisadas pelos piagetianos Nos estudos interculturais desse período também não se levava em conta a formação históricocultural do eu ou pessoa que também supõe a identidade do sujeito na cultura O sujeito não era concebido como ativo intencional Isto não quer dizer que já não existissem teóricos como G Mead que já tratassem da questão b Passouse então da concepção da cultura e mente como variáveis independentes para a ideia que a mente está inserida nas práticas e atividades de um grupo cultural A cultura também se revela nos objetos utilizados eou fabricados pelo homem Assim a execução de uma tarefa a ser pesquisada passa a ser considerada como pertencendo a um contexto de atividade prática Foi então considerado importante prestar atenção às práticas locais para estudar a cognição Por exemplo verificouse que pessoas em determinada cultura tinham mais facilidade para usar pratos utilizados para comer arroz assim como para medida de quantidade do que outros artefatos As pessoas desse grupo estão familiarizadas com o uso desse objeto tanto para medida quanto como figura geométrica LUCARIELLO 1995 A escola hístóricocultural já enfatizava a cultura como práticas coletivas e normativas envolvendo expectativas e formas de agir em conjunto Essas atividades passam a ser apropriadas pela criança com o apoio dos adultos A cognição passa a ser estudada como uma habilidade prática na vida cotidiana No sentido acima estudouse a cognição nas diferentes formas de escrita na cultura Outros autores estudaram a cognição numérica na ação de vender preparar e comprar alimentos Propõese que a teoria históricocultural não defina cultura como a soma de artefatos e seus usos mas sim que estes são aprendidos no contexto das atividades do grupo através de gerações O comando verbal de um adulto sobre a criança passa a ser utilizado e internalizado como autoinstrução para comandar o próprio comportamento Este é um exemplo do princípio de Vygotsky que afirma que o que ocorre no plano interpessoal passa para o plano intrapessoal Isto quer dizer que a criança internaliza o que aprende nas relações interpessoais o que supõe a ideia que o que se consegue fazer hoje com a ajuda de outrem amanhã poderá ser feito sozinho A tradição cultural se faz através de ações e interpretações nas práticas cotidianas que são transmitidas através da história de um grupo Propõese que nas atividades culturais membros de uma coletividade ensinam os mais inexperientes através da manutenção de interesse apresentando um modelo de tarefa e modelos de interrelações oferecendo suporte ou apoio conforme o nível de progresso de sua aquisição A ação dos novatos não é passiva mas participativa nas tarefas do grupo Os novatos procuram se inserir e ter um papel na rede de atividades Por exemplo o aprendiz de alfaiate começa com tarefas simples e paulatinamente e simultaneamente adquire sua identidade profissional Neste sentido a prática da cultura não se reduz a uma dimensão abstrata ou ao estudo de variáveis independentes É necessário entender os processos no contexto da atividade grupal c Um terceiro enfoque envolvendo a relação indivíduocultura é denominado a cultura na mente ou na narrativa dos atores culturais Aqui as tarefas cognitivas não são mais unidades de análise Essa proposta supõe um conjunto de interpretações ou mais especificamente as narrativas das atividades do sujeito no cotidiano isto é descrições sobre modos de pensar e agir que incluem ações situações e intenções Podese imaginar esse processo como se fosse uma descrição autobiográfica de vários atores Não se limita a categorias cognitivas como memória pensamento percepção e motivação mas implica um pensar sobre a vida incluindo a psicologia do cotidiano Essa noção leva ao extremo a ideia da cultura como sistema simbólico Toda a atividade humana implicaria uma classificação e interpretação qualquer percepção ou ação seria mediada pelo simbólico Por exemplo se ingerimos alguma coisa é porque esse objeto já foi classificado como alimento Da mesma forma um local debaixo de uma pedra que pode servir como abrigo envolve uma interpretação prévia Nem sempre tudo supõe uma interpretação prévia Por exemplo uma pedra pode revelarse como abrigo no decorrer de uma ação sem necessariamente ter passado por uma classificação prévia Assim os bebês podem descobrir também informações sobre objetos sem que outrem os ensine Considerase também que não é possível descartar a possibilidade de a criança que ainda não domina a fala aprender a lidar com objetos guiada por um membro experiente da cultura A questão de fundo é a discussão entre uma aprendizagem mediada e não mediada pela fala d O quarto e último tipo de teoria de psicologia cultural é a que propõe a cultura na pessoa considerada como agente intencional em atividade prática no seu grupo O sujeito cria e seleciona percursos de ação podendo aceitar ou não a interferência de outrem Os objetos são criados coletiva ou individualmente e revelam uma intenção do produtor Podese fazer com que objetos em um meio lembrem de nossas intenções para nos autocontrolarmos Por exemplo podese acionar um despertador para despertar ou um bilhete na geladeira para não comer ou ainda colocar objetos longe do alcance de crianças Esta posição supõe que a pessoa seja um agente intencional em um mundo de objetos culturais e que o mundo é constituído de interpretações As relações interpessoais não revelam só comportamentos sem significado mas intenções e ironias sobre a própria intenção através de gestos significativos Por exemplo podese fazer um gesto para uma segunda pessoa e piscar de maneira sorrateira para uma terceira pessoa mostrando que o gesto não é sério O homem pode enganar simbolicamente já que tem facilidade para se colocar no lugar de outrem e mesmo tomar atitudes hipotéticas sobre suas interações George Mead já havia demonstrado que as relações interpessoais são uma conversação de gestos e o que é importante nesta atividade é saber se colocar no lugar do outro Temse também uma noção do outro generalizado e internalizado Os chimpanzés têm dificuldade de conceber o outro como agente intencional e portanto de colocarse no lugar do outro Essas características parecem ser próprias do ser humano Outros enfoques sobre a relação indivíduocultura As pessoas se constituem em um sistema cultural dado previamente formando uma rede de interrelações mas são sujeitos ativos e não constituídos passivamente pelo meio Isto quer dizer que não são constituídos automaticamente pelo processo narrativo cultural estabelecido As pessoas tomam posições fazendo novas interpretações ou seja recebendo e construindo criativamente e coletivamente um processo cultural em determinada época histórica É importante lembrar que a psicologia cultural tem uma longa história uma vez que Vico no século XVII já tratava do tema Na América Latina existem poucos trabalhos sobre o tema É um tópico de pesquisa bastante recente nessa região A teoria históricocultural não enfatiza somente as mediações mas leva em conta também o papel da pessoa como sujeito e não se limita a processos lógicocognitivos Não deixa de lado a emoção e o contexto onde surgem essas atividades Em defesa dessa posição teórica podese dizer que a mente não é só um componente mas é produto emergente da interrelação entre pessoas face a objetos supondo também o uso de instrumentos A mente não está no corpo e nem nos instrumentos mas se revela através das atividades humanas na cultura Os sujeitos também criam regras e instituições através de atividades coletivas COLE ENGESTROM 1995 A teoria históricocultural como já foi dito colocou também a questão da pessoa e da intencionalidade Uma outra vertente enfatiza a questão semiótica e enfoca a mente como formada através de um diálogo de vozes envolvendo a produção de representações e de ideologias O ser humano assimila a narrativa de sua cultura que supõe uma diversidade de diálogos que incluem conformidade contradição e discordância Neste ponto também é importante mencionar a concepção de cultura de Geertz 1978 que é extremamente complexa A cultura para ele não é redutível ao fenômeno mental nem a meros padrões de comportamento e de desejos exclusivamente individuais O que importa é estudar esses processos em estruturas de significados formadas publicamente Público aqui significa que algo é compartilhado também visualmente como em rituais e na fabricação e uso de artefatos Por exemplo a apresentação de um quarteto tocando Beethoven supõe a habilidade dos músicos para tocar assim como a sensibilidade e o conhecimento dos ouvintes Produzir música envolve ações humanas no decorrer de um tempo mas não se trata aqui de mencionar especificamente crenças conhecimentos e outros processos mentais individuais A ênfase está nas atividades nos objetos nos artefatos e nos símbolos compartilhados Viver em grupo já é difícil mas o mais problemático é tentar conviver com grupos que têm diferentes regras de relações e de poderes O trabalho principal do antropólogo é narrar interpretando o que observa e o que lhe foi narrado supondo sempre atividades concretas dos indivíduos em interrelações GEERTZ 1978 Outro enfoque que enfatiza também a questão semiótica ciência que trata de sinais e símbolos concentrandose no simbólicointerpretativo e de caráter históricocultural coloca que a concepção de Geertz não dá suficiente atenção aos problemas de poder e de conflito nos contextos culturais onde mensagens são transmitidas e recebidas Nessa visão é importante também considerar que o sujeito humano é criado dentro de instituições e que pode coletivamente alterálas assim como é por elas afetado Resumidamente as instituições envolvem recursos tipos de interrelações pessoais regras e esquemas supondo recursos materiais e simbólicos THOMPSON 1995 Considerase também necessário estudar a produção e reprodução do simbólico seus agentes receptores e as condições de produção Os processos de formação de valores legitimação de status exclusão estratégias de resistências e de aceitação As atividades de Gandhi na Índia servem como exemplos encarnados do processo de valorização e de resistência cultural A cultura o eu e as atividades a emoção e a motivação Como já foi dito o eu é construído através da conversação de gestos em determinados grupos sociais Esse eu supõe um eu que decide sobre o curso das ações e um me ou mim que envolve autoestima e imagem de si próprio Já foi demonstrado que a concepção de si como indivíduo na Idade Média e na Renascença eram diferentes Na época atual o eu é mais enfatizado do que o nós na cultura ocidental BONIN 1997 Uma questão interessante é verificar como a construção do eu em diferentes grupos ou culturas afeta as atividades dos indivíduos Foi realizado um mapeamento de problemas pesquisas e considerações teóricas relativas à última questão Dedicaramse especialmente a comparações entre a cultura japonesa e à cultura americana contemporânea Colocam que principalmente na cultura americana em geral as pessoas se veem como independentes e autônomas tendo habilidades e valores únicos e agindo segundo atributos internos Esta concepção pode ser denominada de eu independente Na cultura japonesa em geral temse a ideia que o eu não existe em si e é um produto de relações que se definem face aos outros em determinadas situações o eu faz parte do grupo ou da família Esta é uma visão contextualista relacional em que os outros participam na definição de si Afirmam que a pessoa age como é esperado pelos outros não se colocando em primeiro lugar procurando harmonizar seus desejos e atributos pessoais com os de outrem Por exemplo no Japão se diz às crianças o prego que está fora leva batidas A concepção de indivíduo na cultura japonesa pode ser considerada como eu interdependente Nos EUA a roda que chia leva graxa a expressão revela uma concepção de eu independente É importante lembrar que na maioria dos países existe uma pluralidade cultural Assim nos EUA existem diferentes grupos Por exemplo em um grupo como os Amish a tendência é a de ser interdependente e pacifista Isto não quer dizer que um país não possua características gerais em que certos valores predominam devido a correlação de forças internas MARKUS KITAYAMA 1991 Na cultura japonesa a concepção de eu envolve uma ênfase na empatia pelo outro cujo resultado é um comportamento polido e autocontido para harmonizarse com o comportamento do outro O sujeito não se gabará de sua criatividade mas dirá sou criativo junto com meus colegas a não ser que seja figura notável O pesadelo japonês é o da exclusão do grupo Nos EUA e provavelmente em alguns países da Europa e da América Latina o pesadelo é não se firmar não ser notado e não se distinguir Supõese que o indivíduo seja um agente com autocontrole individual e assertivo na afirmação de seus atributos Para os indivíduos na cultura americana é mais importante sobressair se ser único elevando sua autoestima mesmo que isto cause dificuldades em relação aos outros o que para um japonês é uma atitude imatura não autêntica pois não se deve sobressair ao grupo e querer ser tratado de maneira especial Só aos artistas e pessoas notáveis se permitem atitudes individualistas não conformistas Os sujeitos na cultura japonesa devido a esta concepção de eu são treinados a procurar ler as necessidades de outrem para servilo Considerase então que o tipo de sistema de eu está relacionado a formas de cognição percepção afeto e motivação afetando a atividade cotidiana dos indivíduos Informações baseadas em dados antropológicos e na maioria das vezes em pesquisas envolvendo entrevistas estudos de variáveis dependentes e independentes e respostas a histórias propostas pelos experimentadores propõem inicialmente como hipótese o fato de que é de se esperar que eus interdependentes sejam mais atentos e mais sensíveis aos outros do que eus independentes Isto produziria uma cognição mais elaborada em relação aos outros do que em relação a si Em segundo lugar os eus interdependentes representariam a si e aos outros em contextos sociais específicos enquanto que os eus independentes produziriam representações mais abstratas e generalizadas Pesquisas revelaram que na cultura indiana as pessoas consideram seu eu mais semelhante ao de outros do que o outro se considera em relação a ele Diferente do que em geral é encontrado na cultura americana Outra pesquisa revelou ainda que sujeitos indianos descrevem mais outros indivíduos de maneira situacional e relacional e não qualidades abstratas e fora de contexto Por exemplo os americanos descreveriam genericamente a qualidade de uma pessoa como mão de vaca ou pão dura enquanto que um indiano diria que seu amigo não gosta de contribuir para festas do grupo a que pertence contextualizando a ação isto é de que maneira foi realizada a ação onde e com quem Sujeitos americanos também procuram descrever mais a disposição interna dos agentes do que seus papéis sociais Apesar da emoção ser vista como uma expressão de atividade formada na filogênese e ligada à automanutenção do organismo é também em parte constituída pela cultura como por exemplo no caso da emoçãosentimento de piedade e patriotismo BONIN 1996 As emoções complexas tipo emoçãosentimento dependem do tipo de sistemas de eu já que são organizadas através de significados culturais envolvendo ações interpessoais que supõem justificação e persuasão As emoções podem reforçar uma construção dependente ou interdependente do eu Assim emoções como frustração e agressão ou de orgulho gabarse podem ser denominadas de focalizadas no eu Um indivíduo que diz que correu mais do que seu companheiro sendo portanto melhor do que ele demonstra um sentimento egoísta Para um sujeito de ego interdependente isto é visto como uma dificuldade para uma harmonia grupal Para que haja harmonia é mais importante demonstrar solidariedade e até mesmo timidez Pessoas de culturas europeias com as quais a americana está relacionada provavelmente também seriam fonte de um self independente Nas culturas ocidentais ainda se discute se é necessário expressar ou controlar a emoção Já para os japoneses em geral é óbvio que certas emoções têm que ser controladas A motivação se revela através de sequências de ações para atingir um objetivo maior na teoria históricocultural LEONTIEV 1978 1984 Nas culturas que enfatizam o eu independente as motivações estão ligadas a necessidades de expressar realização individual Assim o indivíduo procura ser bemsucedido realçar sua autoestima e aumentar a autorealização Por outro lado os eus interdependentes consideram mais importante demonstrar e desenvolver motivações sociais como é o caso de socorrer e proteger os outros afiliarse procurar ser modesto e agir segundo expectativas de seus pares Podese propor que motivos como autoconsistência autorrealização e autoanalise terão suas formas e intensidades dependendo do tipo de eu Estudos revelam que motivação para autoconsistência é menor em culturas que enfatizam o self interdependente neste caso os indivíduos valorizam mais os papéis e obrigações sociais que seus motivos privados de coerência Por exemplo um indivíduo do tipo acima pode dizer para si para ser coerente eu penso desta maneira mas devo agir segundo as regras de meu grupo Em geral os motivos ligados à realização em sujeitos do tipo acima estão principalmente mais ligados à realização e sucesso do grupo e da família do que relacionados a padrões de excelência e coerência pessoal Neste caso por exemplo esperase que um líder seja protetor e orientador como um pai e que os membros do grupo realizem harmonicamente suas tarefas em vez de competir Considerações finais De início concluiuse a necessidade das ciências sociais se posicionarem aos achados das ciências biológicas principalmente no que diz respeito ao comportamento animal O indivíduo como ser corpóreo incluindo seu sistema nervoso e hormonal não pode ser ignorado Ao se estudar a vida social de populações de diferentes faixas etárias não é possível ignorar os aspectos biológicos específicos das diferentes fases da vida como é o caso da infância da adolescência da vida adulta e da velhice As relações entre indivíduo e sociedadecultura são complexas e envolvem pesquisas com conceitos de difícil definição Assim como os antropólogos ainda debatem o conceito de cultura também os sociólogos divergem quanto ao conceito de instituição social Procurouse utilizar em grande parte as ideias de que a sociedade não paira sobre os indivíduos e sim é o conjunto das relações interpessoais Estas são cruciais para conceituar instituições atividades culturais e o eu Considerouse importante enfatizar o papel da pessoa sem incorrer em um solipcismo ou individualismo exacerbado mostrando que o eu é construído na vida social e que esta constitui as atividades e habilidades dos sujeitos na sua vida emocional motivacional e cognitiva É importante salientar que alguns autores como Goodnow Bourdieu Foucault e Habermas sugerem que grupos e indivíduos apresentam resistências a práticas e valores culturais globais contrárias às suas identidades grupais e pessoais É então necessário estudar a relação dialética entre valores globais nacionais e regionais Os valores culturais afetam a aquisição de conhecimentos e habilidades As preferências e julgamentos estéticos morais e acadêmicos são afetados por esses processos Também as práticas de poder e exclusão regras de expressão e consenso e tipos de comunicação dependem da sociedadecultura em que os indivíduos foram criados Por exemplo indivíduos de determinados grupos sociais têm seus gostos musicais ligados à sua identidade cultural e resistem a mudanças É importante considerar que apesar de o indivíduo ser concebido como um produto da história e da cultura é também um ser intencional e criativo em constante transformação e que coletivamente pode mudar o próprio processo cultural que o constitui Esta perspectiva supõe a utilização de diferentes métodos de pesquisa ainda sobre os quais ainda não existe consenso Por exemplo até que ponto um relato verbal se relaciona com as práticas reais dos indivíduos Como é possível traduzir conceitos sobre emoção em diferentes culturas Será que as atividades culturais afetam somente a expressão ou o estilo emocionalmotivacional ou constituem um processo básico Um dos maiores problemas ao pesquisar os temas acima apresentados está relacionado ao fato de que nas culturas não existem grupos totalmente homogêneos ou seja existem variações tanto individuais como subgrupos Fica difícil por exemplo falar em cultura japonesa já que esta não é homogênea e sofreu informações no decorrer da sua história O fato de o indivíduo pertencer a um grupo interdependente não significa necessariamente que se sinta interdependente ou solidário em relação a outros grupos e à humanidade em geral Um tema importante para a psicologia social é como desenvolver a solidariedade em relação a outros grupos superando um certo etnocentrismo e desenvolvendo um sentimento que não se restrinja ao próprio grupo mas que englobe também a humanidade Em países como o Brasil existem inúmeras variações culturais Apesar disso podese dizer que existem valores preferências e maneiras de comunicação que são comuns e perpassam as diferenças culturais internas Existem questões teóricas difíceis em relação a este tema Leituras complementares recomendadas ANTHROPOS Revista de documentación científica de la cultura Barcelona n 156 mayo 1994 Apresenta um panorama da psicologia social latinoamericana incluindo temas de EtnoPsicologia ou em outros termos Psicologia Cultural ELIAS Norbert A sociedade dos indivíduos Rio de Janeiro Zahar 1994 Nesta obra é discutida profunda e extensamente a relação entre indivíduo e sociedade de maneira original LANE Silvia Maurer CODO Wanderley orgs Psicologia social São Paulo Brasiliense 1984 Um importante livro de psicologia social realizado no Brasil que contém temas referentes a questões sobre o indivíduo e sociedade em diferentes contextos sociais LARAIA Roque de Barros Cultura um conceito antropológico Rio de Janeiro Zahar 1986 É uma interessante introdução aos diferentes usos do conceito de cultura A leitura é agradável com inúmeros exemplos LURIA Alexandre Desenvolvimento cognitivo São Paulo Ícone 1990 Um dos poucos livros em língua portuguesa que trata da relação entre cognição e cultura Contém inúmeras pesquisas e é uma obra clássica de fácil leitura Continua importante apesar de ter sido escrita há algumas décadas RODRIGUES José Carlos Antropologia e comunicação princípios radicais Rio de Janeiro Espaço e Tempo 1989 Explica as diferentes teorias e temas da antropologia com exemplos adequados A leitura exige um conhecimento mínimo sobre o tema Bibliografia BONIN LFR Considerações sobre as teorias de Elias e de Vygotsky In ZANELLA Andréa V et al orgs Psicologia e práticas sociais Porto Alegre AbrapsoSul 1997 A teoria históricocultural e condições biológicas Tese de Doutorado PUCSP 1996 COLE M ENGESTRÖM Y Commentary Human Development 1995 38 1924 ELIAS N O processo civilizador 2 vol Rio de Janeiro Jorge Zahar 1995 A sociedade dos indivíduos Rio de Janeiro Zahar 1994 GEERTZ C A interpretação das culturas Rio de Janeiro Zahar 1978 LEONTIEV A Activité conscience personnalité Moscou Éditions du Progrès 1984 O desenvolvimento do psiquismo Lisboa Livros Horizonte 1978 LUCARIELLO J Mind culture person elements in a cultural psychology Human Development 1995 38 218 LURIA AR Desenvolvimento cognitivo São Paulo Ícone 1990 Pensamento e linguagem Porto Alegre Artes Médicas 1987 MARKUS HR KITAYAMA S Culture and the self implications for cognition emotion and motivation Psychological Review 1991 98 2 224253 MEAD GH Espíritu persona y sociedad Buenos Aires Paidós 1953 THOMPSON JB Ideologia e cultura moderna Petrópolis Vozes 1995 VYGOTSKY LS Storia dello svilluppo delle funzione psichiche superiore Roma Giùnti 1990 A formação social da mente São Paulo Martins Fontes 1984 PESQUISA Jaqueline Tittoni Maria da Graça Corrêa Jacques A atividade de pesquisar está geralmente associada ao trabalho do cientista Inscrevese no nosso imaginário como uma atividade que se desenvolve em um laboratório em meio a instrumentos da Física e da Química O cientista via de regra nos parece um gênio alguém cujas descobertas são obras do acaso ou melhor dizendo das possibilidades que sua genialidade tem de explicar o acaso Estes gênios povoam nossas lembranças desde a escola básica construindo uma forma de compreender o que é ciência produção de conhecimento e pesquisa A imagem do laboratório expressa uma concepção de ciência conhecida como tradicional cujos pressupostos básicos são a neutralidade a objetividade a experimentação e a generalização Estas lembranças e imagens fixadas nas nossas histórias pessoais não são também elas frutos do acaso mas de uma forma de pensar e viver a definição do que é ser científico que sustenta a história da própria construção do conhecimento Até o século XVIII a discussão sobre a ciência moderna tinha como centralidade tornar o conhecimento o mais objetivo possível cultivando uma ideia de que o conhecimento científico detinha o poder de construir uma verdade sobre a vida real A problemática da verdade da aproximação maior ou menor do conhecimento com o real instalouse como questão principal de confronto entre os diferentes pontos de vista sobre quem melhor garantiria o domínio deste real através do conhecimento produzido O século XX instaura todo um questionamento a respeito do critério de verdade enquanto VerdadeAbsoluta relativizando a noção de verdade e instaurando a importância da dúvida e dos erros na produção do conhecimento científico BACHELARD 1968 Esta relativização instaura uma crítica importante ao modelo de ciência dominante na época e vai influenciar autores contemporâneos de diferentes perspectivas epistemológicas como Foucault 1987 Morin 1986 e Kuhn 1989 Consequentemente a busca do conhecimento e não da verdade seria o objetivo da ciência Do mesmo modo a constatação de que o dado é ao mesmo tempo resultado teórico e empírico pois é mister antes decidir o que procurar definição do objeto da pesquisa e do problema e como procurar estratégias metodológicas Desta forma a pesquisa não pode ser compreendida exclusivamente como um conjunto de técnicas utilizadas para o conhecimento da vida mas como um recurso ligado a diferentes modos de produzir conhecimento e a história de suas legitimações Vinculando a pesquisa às diferentes formas de produção do conhecimento associamos a atividade de pesquisar não exclusivamente ao trabalho do cientista mas a esta infindável atividade humana de tentar recobrir com alguma racionalidade o desconhecido Atividade esta que é um imperativo de sobrevivência e portanto fala da vida e das suas múltiplas formas de expressão inscrevendose no nosso cotidiano e não se restringindo às regradas e controladas situações de laboratório A pesquisa em psicologia social será abordada através da análise de alguns pressupostos que fundamentam a noção de ciência e seus efeitos na produção do conhecimento em psicologia social Assim a pesquisa será pensada como uma estratégia para a produção do conhecimento científico possuindo um aspecto técnico que orienta para as técnicas e discussões internas ao campo científico e outro aspecto ético que aponta para a relação dos pesquisadores com a sociedade Definindo a atividade de pesquisa em psicologia social A atividade de pesquisar em psicologia social de imediato coloca em questão as nossas imagens vinculadas ao cientista e ao seu laboratório por ter o social como referência para sua produção de conhecimento Mas ao colocálas em questão parece remeternos a um certo vazio Como ficaria a produção do conhecimento científico em um campo onde a referência não é o imaginário do laboratório como no caso das ciências sociais A referência às ciências sociais não é obra do acaso Retoma uma particularidade da psicologia social a de dialogar com as ciências sociais por vezes até de modo mais íntimo do que com a psicologia na medida em que têm em comum o estudo dos processos e dos fenômenos sociais A história da psicologia recontada por alguns autores contemporâneos como Farr 1996 aponta que o estudo dos processos sociais para além dos chamados processos básicos em psicologia sempre acompanhou sua trajetória Mesmo Freud 1970 ainda que estudando no campo da psicanálise nos lembra que toda a psicologia individual é ao mesmo tempo e por princípio psicologia social Portanto podese concluir que a separação entre processos sociais e individuais talvez não seja fruto das características do objeto de estudo da psicologia mas das diferentes formas como abordamos a produção do conhecimento em Psicologia A separação entre o indivíduo e o social não é uma questão exclusiva da psicologia Durkheim 1989 quando define o campo da sociologia define concomitantemente o da psicologia reservando às ciências sociais o estudo dos processos sociais e à psicologia o estudo dos processos individuais Tal divisão procurava dar conta de um todo formado pelos indivíduos e pelo social mas se fundamentava em uma concepção de que as regras que regem a vida individual no caso das representações individuais não são as mesmas que regem a vida coletiva no caso as representações coletivas buscar estas diferentes regras seria abordar de forma diferenciada os fenômenos da vida separando indivíduo e coletivo A definição de que o estudo do indivíduo é do âmbito da psicologia tornou necessário também adequar esses estudos ao formato do modelo de ciência vigente pautado nos parâmetros das ciências físicas e naturais cujos métodos e procedimentos deveriam se estender a todo o domínio do conhecimento que pretendesse ser qualificado como científico Esta concepção de ciência que rege a fundação da Psicologia como disciplina independente a qual propõe que os chamados processos psicológicos sejam passíveis de experimentação objetivação e generalização procurando romper com um certo romantismo filosófico que acompanhou os estudos sobre o sujeito e o subjetivo ao longo da história É neste cenário que vai se definir o que é pesquisar em psicologia e em psicologia social e é onde vão se estabelecer os parâmetros de cientificidade para os estudos sobre o social A nascente psicologia social sofre importante influência da psicologia norteamericana tanto na concepção do objeto quanto das estratégias metodológicas para abordagem dos processos sociais Esta influência se expande para além das fronteiras norteamericanas e no caso do Brasil fica explicitada na tradução da obra de Otto Klineberg em 1959 que introduz a psicologia social no Brasil A partir da década de 1970 evidenciase um questionamento da hegemonia desta forma de conceber a ciência tanto no que diz respeito ao objeto da psicologia social quanto aos seus objetivos e estratégias metodológicas Nesta época a América Latina vive uma situação de turbulência marcada pela violência dos regimes políticos Nesse cenário emerge a necessidade de pensar uma estratégia política capaz de dar conta das diferentes e violentas no sentido foucaultiano formas de repressão social e política Possivelmente também por esses fatores pensar a produção de conhecimento em psicologia social requer pensála de forma estratégica sempre vinculada a alguma forma de prática social e política capaz de articular as questões da teoria com os aspectos empíricos os objetivos da produção do conhecimento com as transformações sociais As vertentes da psicologia social derivadas desta perspectiva estão bem representadas nas chamadas psicologia política e psicologia social histórico crítica fortemente influenciadas pelo materialismo histórico Todo esse processo marca profundamente a concepção da pesquisa em psicologia social Num primeiro momento e essa discussão em muitos níveis permanece até nossos dias questionase o pressuposto da neutralidade científica incorporando as questões políticas à produção do conhecimento A visão de mundo e de homem como produto e produtor da história que vai fundamentar a crítica à psicologia social tradicional implica a impossibilidade de gerar um conhecimento neutro ou um conhecimento do outro que não interfira na sua existência Como propõe Lane 1985 p 18 Pesquisador e pesquisado se definem por relações sociais que tanto podem ser reprodutoras como podem ser transformadoras das condições sociais onde ambos se inserem desta forma conscientes ou não sempre a pesquisa implica em intervenção ação de uns sobre os outros O privilégio reservado às práticas e aos objetivos da transformação social proposto pela pesquisa em psicologia social se em um primeiro momento reserva a um segundo plano o rigor metodológico conduz por outro lado à construção de novas e importantes estratégias metodológicas Além de incorporar a problematização quanto à objetividade científica a partir do questionamento do critério de verdade enquanto VerdadeAbsoluta qualificada criticamente por Morin 1986 p 79 como CiênciaSolução Ciência Farol ou CiênciaGuia e à neutralidade do cientista e consequente separação entre teoria e prática social a pesquisa em Psicologia Social nos anos 1990 assume outras peculiaridades Adota como suporte uma concepção de ciência que propõe a complexificação a pluralidade teóricometodológica rompendo o falso dilema de evocar UM objeto de almejar UMA unicidade para dar conta da complexidade do real a intersecção de diferentes áreas do conhecimento e a prática interdisciplinar e ainda uma preocupação ética em relação aos seus compromissos sociais e políticos Desta forma relativiza o tensionamento entre o científico e o político a teoria e a prática Do mesmo modo relativiza a importância da separação entre o indivíduo e o coletivo através da redefinição da noção de subjetividade e de uma concepção de homem em que as dimensões individual e social se interpenetram Decorrências metodológicas A discussão sobre o científico tem várias consequências sendo importante ressaltar seus efeitos na concepção sobre a pesquisa científica e em especial sobre metodologia Neste caso ressaltase a subordinação das estratégias metodológicas às teorias explicativas escolhidas pelo pesquisador Como apontamnos alguns autores o método está vinculado a uma concepção de realidade e de vida em seu conjunto FRIGOTTO 1989 p 77 e método é instrumento caminho procedimento e por isso nunca vem antes da concepção de realidade Para se colocar como captar é mister terse ideia do que captar DEMO 1990 p 24 No caso de psicologia social tais teorias explicativas geralmente estão fundadas em uma concepção de natureza humana de relação indivíduosociedade e de necessidade e impossibilidade de transformação social Com base no pressuposto de complexidade onde uma teoria é incapaz de dar conta do conhecimento do real como um todo e muito menos fornecer todas as respostas passíveis de serem levantadas há sempre uma opção teórica pelo pesquisador que vai determinar suas escolhas metodológicas Nessa concepção os procedimentos metodológicos não são vistos como técnicas desvinculadas dos pressupostos derivados da teoria mas como estratégias utilizadas para integrar o empírico e o teórico Essas ideias trazem efeitos importantes para a pesquisa em psicologia social alterando a forma de conceber e realizar a pesquisa nesta área Ao tomar como pressupostos a complexidade a relativização da verdade a não neutralidade do pesquisador entre outros pressionam para transformações importantes no desenho da pesquisa coleta análise e interpretação em geral mais identificadas com as abordagens qualitativas da pesquisa Cabe ressaltar no entanto que a pesquisa quantitativa pode constituirse em importante recurso para a pesquisa em psicologia social dependendo da temática a ser pesquisada Estudos populacionais na área da saúde os estudos em epidemiologia por exemplo são fontes fundamentais para o conhecimento das condições de vida social A metáfora utilizada por Montero 1996 para explicitar a discussão entre a pesquisa qualitativa e quantitativa é bastante esclarecedora Refere a autora que se quisermos conhecer uma floresta no seu aspecto geral recobrindo ao máximo possível a totalidade de sua extensão devemos pegar um helicóptero e sobrevoála Se quisermos conhecer os caminhos internos da floresta aprofundar nosso conhecimento sobre as árvores e sobre as particularidades do local deveremos abandonar o helicóptero e andar pela floresta Não teremos possivelmente uma visão do conjunto mas seremos capazes de descrever e interpretar de modo mais aprofundado os caminhos que percorremos A abordagem qualitativa se apresenta como uma possibilidade de escolha do pesquisador não como uma simples alternativa aos modelos quantitativos a partir das vantagens sumárias de uma abordagem e os defeitos congênitos de outra mas como necessária dentro do quadro teórico construído pelo pesquisador Ou seja partindo de uma referência teórica o pesquisador passa a lidar com categorias analíticas e explicativas e não exclusivamente com dados quantitativos Estas categorias são formuladas na interface do empírico com o teórico buscando evidenciar as possibilidades de interpretação dos fatos estudados e não exclusivamente demonstrar sua evidência A necessidade mútua de teoria e prática na maior profundidade possível como um princípio da pesquisa em psicologia social enseja que o problema de pesquisa se constitua muito mais como um ponto de partida do que de chegada possível de ser reformulado recolocado substituído na trajetória da pesquisa A formulação em geral de questões norteadoras visto sua maior flexibilidade e abrangência encontra apoio na afirmativa de Morin 1986 de que as interações entre os diversos fenômenos sociais são tantos que não é possível isolálos e que portanto não se encontra um meio verdadeiramente seguro de verificação de uma hipótese em ciências humanas A questão da amostragem também assume uma outra especificidade pois nem sempre o objetivo é a generalização estatística mas a generalização analítica termo cunhado por Yin 1989 quando discute o método do estudo de caso para se referir à articulação dos dados com a teoria proposta Deste modo nem sempre são os procedimentos estatísticos que pautam a escolha da amostra mas os indivíduos estudados poderão ser escolhidos em função de aspectos ou condições consideradas significativas aos propósitos do estudo e muitas vezes a opção não é definida a priori emergindo no próprio desenvolvimertto do trabalho LANE 1985 Os procedimentos de análise e interpretação empregados na pesquisa em psicologia social admitem uma diversidade de propostas cuja opção depende da conceitualização do objeto do material pesquisado e do aporte teórico de fundamentação Os quadros teóricos de referência vão recortar o real permitindo variações de leitura deste real Um exemplo apresentado por Demo 1990 nos permite compreender melhor essa diversidade de leitura do real a taxa inflacionária medida pelos diferentes institutos de pesquisa Uma taxa de inflação não acusa a inflação como tal mas aquela inflação que a respectiva taxa foi teoricamente predeterminada a medir através da determinação dos itens do consumo que deverão entrar na coleta de preços e do peso atribuído no cômputo geral a cada item Quando nos referimos à leitura do real estamos chamando a atenção para a questão da interpretação já que o dado empírico só adquire sentido a partir de uma concepção de caráter interpretativo da realidade Neste aspecto o método de análise de conteúdo proposto por Bardin 1977 tem sido largamente empregado na pesquisa em psicologia social em seu modelo original com ênfase nos indicadores quantitativos ou através de adaptações mais ou menos fiéis à proposição original Outros modelos como a análise de discurso BRANDÃO 1994 a hermenêutica de profundidade THOMPSON 1995 ou ainda o método dialético de análise de conteúdo PAGÈS 1990 por exemplo também são empregados Uma ênfase especial recai na capacidade do pesquisador tanto de construir estratégias metodológicas de análise e interpretação como de emprestar métodos e técnicas alheios ao objeto de pesquisa construído Outro aspecto de vital importância na pesquisa em psicologia social é a relação pesquisadorpesquisado enquanto inerente ao processo investigatório A recusa de aceitação do postulado de distanciamento entre sujeito e objeto de pesquisa e o princípio ético de que a ciência não pode ser apropriada tão somente por grupos dominantes propõem a participação efetiva da população pesquisada no processo e a socialização do conhecimento produzido Atendendo a estes propósitos é que a pesquisaação e a pesquisa participante se constituíram em importantes estratégias de pesquisa em psicologia social ainda que não sejam as únicas estratégias neste campo Alguns modos de pesquisar a pesquisaação e a pesquisa participante Os termos pesquisaação e pesquisa participante têm origem na perspectiva em psicologia social de Kurt Lewin embora não tenham se restringido a este modelo teórico e tenham sofrido grandes transformações Para alguns autores a diferenciação entre essas duas propostas reside na ênfase no componente ação sob este ponto de vista a pesquisaação é uma forma de pesquisa participante mas nem toda a pesquisa participante concentra suas atenções no requisito da ação THIOLLENT 1985 Outros autores discordam pois registram experiências de pesquisa participante em que o componente ação é privilegiado HAGUETTE1987 O ponto comum entre as duas modalidades é o envolvimento efetivo da população pesquisada em todas as etapas do desenvolvimento da investigação desde a formulação do problema até a divulgação dos conhecimentos produzidos Os diferentes contextos sociais de emprego dessas propostas de pesquisa determinaram alternativas diversas de aplicação Na Europa especialmente na França a pesquisaação se direcionou para as instituições sociais e para os movimentos sociais de libertação incluindo enfoques diferenciados representados pelos trabalhos de Thiollent Enquête operária inspirada em Marx Touraine Intervenção sociológica e Barbier Pesquisaação institucional Na América Latina esta alternativa de investigação dirigiuse para a população da base da pirâmide social aproximouse dos princípios humanistas e adquiriu um caráter próprio representado principalmente pela vertente educativa de Paulo Freire É também na América Latina que o termo pesquisa participante assume primazia sobre termos correlates e é conceitual e metodologicamente definida A definição de pesquisa participante não é unânime entre os autores BRANDÃO 1983 GIANOTTEN e DE WITH 1985 DEMO 1985 embora alguns elementos se apresentem consensuais em todas as propostas a realização concomitante da investigação e da ação a participação conjunta de pesquisadores e pesquisados e a proposta políticopedagógica a favor dos oprimidos Um quarto elemento o objetivo de mudança ou transformação social pela sua ambiguidade contempla diferentes concepções do que seja mudança ou transformação social podendo incluir efeitos transformadores reformistas conservadores ou até reacionários HAGUETTE 1987 A metodologia da pesquisa participante e da pesquisaação afastase sobremaneira dos procedimentos propostos pela pesquisa tradicional A população interessada ou seus representantes participa junto com os investigadores da definição do objeto de pesquisa dos seus objetivos e do seu planejamento Embora possam ser empregadas algumas técnicas de coleta de informações também utilizadas na pesquisa tradicional como o questionário a observação participante e a entrevista o trabalho de campo é conjunto e a análise dos dados inclui a participação de todos os envolvidos onde são esperados feedbacks para validação dos resultados e onde são estabelecidas as propostas de ação daí decorrentes A pesquisa participante e a pesquisaação não representam os únicos modelos de pesquisa em psicologia social muito embora alguns de seus princípios tenham sido generalizados para a pesquisa em geral neste campo de conhecimento Alguns processos são melhor desvendados e compreendidos a partir de outras estratégias metodológicas desde que consoantes com os fundamentos teóricos escolhidos pelo pesquisador Um cuidado especial deve ser conferido à falsa concepção de que o conhecimento popular é o verdadeiro pois recaise na mesma questão inicialmente apresentada e criticada o critério de verdade enquanto VerdadeAbsoluta É preciso construir a necessidade de construir caminhos Pedro Demo É importante frisar que a forma como se pesquisa em psicologia social sobretudo nas suas vertentes mais críticas é uma forma de pesquisa científica É uma forma de pesquisa que se orienta por uma epistemologia crítica que tem seus fundamentos no pensamento de Bachelard 1968 entre outros autores mais contemporâneos Assim não se pode buscar na pesquisa em psicologia social os pressupostos de uma concepção de ciência que tenha por base a neutralidade a objetividade ou a generalização e experimentação pois são outros seus fundamentos Do mesmo modo não se pode buscar uma metodologia que se oriente para a análise das causas e dos resultados pois neste modo de pesquisar se tem por objetivo interpretar os processos os movimentos as relações Tratase portanto de uma epistemologia de suporte e de uma forma de pesquisar que inscrevese em outra concepção de ciência e de produção de conhecimento científico A pesquisa em psicologia social também implica no ponto de vista ético ou seja na relação do pesquisador com oos pesquisadoos na relação com os outros pesquisadores na relação com a sociedade Tratase portanto de pensar como Morin 1996 de uma ciência com consciência Consciência no duplo sentido que aponta o autor de consciência moral associado ao controle ético e político da atividade científica e à consciência como atividade autorreflexiva associada à capacidade da ciência pensarse a si própria através de uma reflexão filosófica Assim não se trata de uma atividade de pesquisa pronta acabada e com estatuto de verdade absoluta e invariável Nesse sentido coloca sempre a necessidade de construir caminhos e refletir sobre esta construção Podese pensar que o estatuto de ciência traduzido pela ideia de que o conhecimento científico explica orienta e ilumina íntima do pensamento de século XIX precisa ser redefinido na perspectiva contemporânea Para tanto podese pensar com Barthes 1986 quando refere ao fato de que o lugar mais escuro é sempre debaixo de uma lâmpada Construir caminhos pode parecer uma tarefa árdua mas por certo é através deste percurso que se pode enriquecer o conhecimento em psicologia social Sugestão de leituras A bibliografia sobre pesquisa em psicologia social é extensa e contempla diferentes concepções de ciência consequentemente procedimentos muito diferenciados sobre a atividade de pesquisar Uma discussão interessante sobre ciência pode ser encontrada na obra de Edgar Morin O método o conhecimento do conhecimento referendada na bibliografia Se o interesse recair no estudo das particularidades da pesquisaação e da pesquisa participante recomendase as obras de Thiollent Metodologia da pesquisaação e de Brandão Pesquisa participante e Repensando a pesquisa participante Essas duas últimas contemplam o ponto de vista de diferentes autores e relatam algumas experiências concretas Estão também apresentadas na bibliografia de forma completa Ainda sobre pesquisa participante o livro de Maria Ozanira da Silva e Silva Refletindo a pesquisa participante São Paulo Cortez 1986 apresenta algumas reflexões sobre a produção teóricoprática desenvolvida no Brasil e na América Latina Sobre análise e interpretação se sugere a consulta a obras específicas dependendo dos procedimentos escolhidos Os trabalhos de Thompson 1995 e de Pagès 1990 por exemplo também referendados na bibliografia descrevem em detalhes os procedimentos analíticos e tecem importantes considerações sobre os fundamentos teóricos que lhes servem de base Uma discussão interessante sobre pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa pode ser encontrada em um artigo de John Smith intitulado Pesquisa quantitativa versus qualitativa uma tentativa de esclarecer a questão presente na revista Psico editada pelo Instituto de Psicologia da PUCRS vol 25 n 2 de jul a dez 1994 p 3351 Bibliografia BACHELARD Gaston O novo espírito científico Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1968 BARDIN Laurence Análise de conteúdo São Paulo Martins Fontes 1977 BARTHES Roland Fragmentos de um discurso amoroso 1986 BRANDÃO Carlos R Repensando a pesquisa participante 2 ed São Paulo Brasiliense 1985 Elementos metodológicos da pesquisa participante In BRANDÃO Carlos R org Repensando a pesquisa participante 2 ed São Paulo Brasiliense 1985 p 104130 Pesquisa participante 3 ed São Paulo Brasiliense 1983 BRANDÃO Helen Introdução à análise do discurso Campinas Unicamp 1994 DEMO Pedro Pesquisa princípio científico e educativo São Paulo CortezAutores Associados 1990 DURKHEIM Émile Formas elementares da vida religiosa o sistema totêmico na Austrália São Paulo Paulinas 1989 FAAR Robert The roots of modern social psychology 18721954 Oxford Blackwell Publishers 1996 FOUCAULT Michel A arqueologia do saber Rio de Janeiro Forense Universitária 1987 FREUD Sigmund Psicologia das massas e análise do eu Rio de Janeiro Imago 1970 FRIGOTTO Gaudêncio O enfoque da dialética materialista histórica na pesquisa educacional In FAZENDA Ivani org Metodologia da pesquisa educacional São Paulo Cortez 1989 cap 6 GIANOTTEN V DE WITH T Pesquisa participante em um contexto de economia camponesa In BRANDÃO Carlos R org Repensando a pesquisa participante 2 ed São Paulo Brasiliense 1985 p 155188 HAGUETTE Teresa Maria Metodologias qualitativas na sociologia Petrópolis Vozes 1987 KUHN Thomas A estrutura das revoluções científicas 3 ed São Paulo Perspectiva 1989 LANE Silvia CODO Wanderley orgs Psicologia Social o homem em movimento 3 ed São Paulo Brasiliense 1985 MONTERO Maritza Paradigmas comentes y tendencias de la psicologia social finsecular Psicologia e Sociedade Vol 8 n 1 janjun 1996 MORIN Edgar Ciência com consciência Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1996 O método o conhecimento do conhecimento Lisboa EuropaAmérica 1986 PAGÈS Max et al O poder das organizações São Paulo Atlas 1990 THIOLLENT Michel Metodologia da pesquisaação São Paulo Cortez 1985 THOMPSON John B Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995 YIN Robert Case study research design and methods Newburry Park Sage Publications 1989 PARTE 2 TEMÁTICAS IDEOLOGIA Pedrinho A Guareschi A ideologia nem era mencionada ao se falar em psicologia social pelos autores que pretenderam tomar conta da psicologia social transformandoa numa disciplina individualizante e experimental Farr 1996 mostra muito bem como a psicologia social americana com pretensões de se tomar hegemônica descartou totalmente a dimensão social e a dimensão crítica da psicologia social Essa dimensão mais relacional permaneceu tenuemente nos escritos de George Herbert Mead nos inícios do século E a dimensão crítica surgiu a partir da década de 1930 com os teóricos da Escola de Frankfurt cuja escola se chamou especificamente Crítica da Ideologia Ideologiekritik GEUSS 1988 FREITAG 1992 O conceito e a teoria da ideologia se fizeram mais presentes na psicologia social a partir da década de 1970 quando muitos autores principalmente da Europa e América Latina começaram a incorporar o tema em seus estudos e pesquisa Moscovici por exemplo chega a afirmar que o objeto central e exclusivo da Psicologia Social deve ser o estudo de tudo o que se refere à ideologia e à comunicação do ponto de vista de sua estrutura sua gênese e sua função 1972 p 55 Ideologia domando um conceito amplo e complexo Talvez não exista conceito mais complexo escorregadio e sujeito a equívocos no campo das ciências sociais do que o de ideologia Embora o nome como tal ideologia somente tenha aparecido há pouco mais de um século sua realidade já estava presente desde que se começou a pensar a vida social com diferentes nomes mas querendo designar a mesma realidade Assim por exemplo a ideologia já era discutida nas culturas gregas e romanas Mas foi sobretudo a partir do século XV e XVI que estudos mais pertinentes começaram a ser feitos sobre o assunto apesar de ainda não empregarem o nome Machiavelli in CRICK 1970 ao discutir as práticas dos príncipes principalmente o uso da força e da fraude para conseguir o poder referese a estratégias que não se diferenciam das usadas hoje pelos poderes dominantes para se legitimarem Mas é principalmente Bacon in PIEST 1960 quem desenvolve um estudo extremamente próximo ao que hoje se costuma entender por ideologia através de sua teoria sobre as quatro classes de ídolos que nos dificultam chegar mais próximos da verdade Esses ídolos são os da caverna nossas idiossincrasias caráter da tribo superstições paixões da praça as interrelações humanas principalmente através da linguagem e os ídolos do teatro a transmissão das tradições e doutrinas dogmáticas e autoritárias através do teatro que seriam hoje os meios de comunicação social A crescente importância da ideologia devese hoje certamente ao fato de nossa sociedade e nosso mundo tornaremse a cada dia mais imateriais sempre mais sustentados numa comunicação verbal e simbólica A primeira coisa a que precisamos prestar atenção ao querer penetrar nessa realidade da ideologia é que existem hoje inúmeros enfoques teóricos que dão ao conceito de ideologia diferentes significados e funções Não é tarefa fácil tratar esse assunto de maneira clara e inteligível Vamos nos arriscar por esse terreno acidentado minado mostrando quanto possível as semelhanças diferenças sobreposições e relações dos vários aspectos presentes em geral na realidade da ideologia Para melhor esclarecer e compreender os muitos significados de ideologia vamos tentar traçar duas linhas divisórias em forma de cruz formando quatro planos quatro quadrantes e discutir a partir daí as diversas acepções de ideologia Primeira linha horizontal ideologia como algo positivo ou algo negativo Vamos inicialmente traçar uma linha horizontal onde faremos uma primeira distinção central onde a ideologia vai ser localizada em dois grandes planos a dimensão positiva e a dimensão negativa Quadro 1 Dimensão positiva Dimensão negativa Ideologia no sentido positivo ou neutro é entendida como sendo uma cosmovisão isto é um conjunto de valores ideias ideais filosofias de uma pessoa ou grupo Nesse sentido todas as pessoas ou grupos sociais possuem sua ideologia pois é impossível alguém não ter suas ideias ideais ou valores próprios Já ideologia no sentido negativo ou crítico alguns falam até em sentido pejorativo seria constituída pelas ideias distorcidas enganadoras mistificadoras seriam as meiasmentiras algo que ajuda a obscurecer a realidade e a enganar as pessoas Ela se apresenta como algo abstrato ou impraticável como algo ilusório ou errôneo expressando interesses dominantes e como que sustentando relações de dominação Na faixa de cima numa concepção positiva ou neutra poderiam ser colocados autores como o próprio criador do termo Destutt De Tracy 1803 ideologia é o estudo das ideias que por sua vez são uma emanação do cérebro de Lenin 1969 e Lukács 1971 como as ideias de um grupo revolucionário e a formulação geral da concepção total de Mannheim 1954 que afirma que tudo o que nós pensamos é ideológico pois é impossível não se deixar contaminar pela situação social em que alguém nasce e vive em outras palavras Mannheim identifica aqui ideologia com conhecimento como todo conhecimento é condicionado assim toda ideologia é condicionada Mas nisso não há nada de errado Entre as concepções críticonegativas poderiam ser colocadas as três concepções de Marx cf THOMPSON 1995 ideias puras como autônomas e eficazes conforme defendiam os hegelianos sem ligação com a realidade 1989 as ideias da classe dominante 1989 e um sistema de representações que serve para sustentar relações de dominação 1968 Também estaria aqui a concepção restrita de ideologia de Mannheim 1954 isto é as ideias dominantes de um grupo sobre outro dominação de classe Segunda linha vertical ideologia como algo materializado corporificado ou como prática Na tentativa de compreensão das diversas acepções de ideologia podemos agora traçar uma segunda linha agora vertical onde distinguiremos outros dois grandes conjuntos de ideologias ideologias como sendo algo materializado onde a ideologia está corporificada na própria ideia na forma simbólica ou mesmo concretizada numa instituição como a escola ou a família e ideologia como modo e estratégia onde a ideologia é vista como uma prática uma maneira como as formas simbólicas servem para criar e manter as relações sociais entre pessoas Quadro 2 Dimensão Dimensão material dinâmica concreta prática Essa dimensão material concreta é exemplificada pela concepção descrita por Marx 1989 onde ideologia é definida como sendo as ideias da classe dominante Isto é as ideias da classe dominante pelo simples fato de serem da classe dominante já seriam ideologia A ideologia se concretiza nessas ideias Outro exemplo desse tipo de ideologia é a acepção empregada por Althusser 1972 onde ele define ideologia como sendo aparelhos ideológicos de estado Esses aparelhos são as instituições que são criadas no desenrolar da história e que são frutos de tensões que se dão nas relações entre os homens como por exemplo a escola a família as igrejas os meios de comunicação social as entidades assistenciais etc Para Althusser a ideologia está materializada nessas instituições elas constituem a ideologia Na sua dimensão dinâmica porém a ideologia é vista como uma determinada prática um modo de agir uma maneira de se criar produzir ou manter determinadas relações sociais A função da ideologia seria também a produção reprodução e transformação das experiências vitais na construção de subjetividades Therborn ao definir ideologia diz que a operação da ideologia na vida humana envolve fundamentalmente a constituição e a padronização de como os seres humanos vivem suas vidas como iniciadores conscientes e reflexivos de ações num universo de significados Nesse sentido ideologia constitui os seres humanos como sujeitos 1980 p 2 E logo após ele afirma que estudar o aspecto ideológico duma prática é deterse na maneira pela qual ela opera na formação e transformação da subjetividade humana Juntando as duas linhas Até aqui analisamos dois eixos onde sempre aparece uma dicotomia com dimensões opostas de ideologia Na junção dos dois eixos formamse quatro amplos campos que servem para visualizar identificar e relacionar quatro grandes concepções de ideologia Quadro 3 1 2 3 4 Cada um desses campos possui também seus teóricos Assim no quadrante 1 há autores que definem ideologia no sentido positivo e como algo material É o caso por exemplo de Mannheim 1954 para quem a ideologia é algo positivo e concreto como as cosmovisões das pessoas Já no quadrante 2 temos ideologia como algo positivo mas como uma prática é a visão de Therborn 1980 e muitos outros que veem a ideologia como uma maneira de se criar e manter as relações sociais sejam elas de que tipo forem No quadrante 3 ideologia passa a ser algo negativo mas algo concreto como por exemplo as ideias da classe dominante de Marx 1989 No caso de Althusser 1972 ideologia abrangeria tanto o 1 como o 3 pois uma escola por exemplo materializa a ideologia mas pode ser tanto positiva como negativa Finalmente no quadrante 4 teríamos ideologia como uma prática mas não uma prática qualquer deve ser uma prática que serve para criar ou manter relações assimétricas desiguais injustas É essa exatamente a definição de John B Thompson 1995 que no nosso modo de ver é o autor que melhor trata a problemática da ideologia Vamos nos deter especificamente nesse autor e nesse quadrante daqui para a frente Muitos talvez estejam se perguntando por que fazer todas essas distinções Pois há muitas razões para isso Em primeiro lugar é preciso deixar claro que o termo ideologia possui como acabamos de ver muitos sentidos diferentes Toda vez que formos empregar tal conceito devemos pois dizer qual o sentido que damos a esse termo Isso é fundamental para podermos estabelecer uma comunicação honesta e correta Ao mesmo tempo sempre que formos ler ou escutar alguém empregando esse termo devemos ver de imediato qual o sentido que esse autor ou locutor está dando à palavra Somente assim é possível progredir no diálogo e na investigação Em segundo lugar podemos a partir dessas distinções vermos qual é o melhor enfoque para podermos fazer uma boa pesquisa e podermos realizar um trabalho que seja prático e útil à ciência e à sociedade É nosso entendimento por exemplo que tomar ideologia no sentido negativo é bem mais interessante que simplesmente empregálo como sendo um conjunto de ideias Ideias cosmovisões todos nós temos e não há como ser diferente O importante porém é saber se essas ideias são falsas enganadoras se elas podem trazer prejuízos aos nossos colegas Finalmente é sempre mais honesto diríamos empregar ideologia como uma prática pois se a tomamos como materializada em alguma instituição ou ideia é arriscado cremos afirmar que ela é automaticamente negativa O que vai mostrar se uma ideia ou uma instituição possui uma dimensão negativa é a maneira como é empregada isto é sua função se ela serve ou não para criar ou reproduzir relações que chamaremos daqui para a frente de relações de dominação Nenhuma ideia mesmo que seja da classe dominante é por definição mistificadora ou falsa Precisamos ver caso a caso se ela está enganando ou não Se ela de fato ilude e esconde a realidade então dizse que é uma ideologia Do mesmo modo com as instituições Uma instituição por si mesma como a escola por exemplo não se constitui numa ideologia negativa Só é negativa quando se consegue mostrar que ela ajuda a criar ou reproduzir relações de dominação assimétricas desiguais Apesar disso contudo é importante deixar claro que não há critérios intrínsecos que forcem a adoção de uma ou outra dessas dimensões Cada pesquisador tratará de fazer sua opção por uma delas e nessa opção os critérios escolhidos serão os que conforme o autor em questão possam ajudar a investigar e compreender mais claramente os fenômenos concretos e os que possam ser úteis aos propósitos de cada investigador É o que pretendemos fazer a seguir Arriscamos sugerir um modo que julgamos prático e eficaz no tratamento dessa realidade complexa e provocante dentro de uma perspectiva históricocrítica Um modo prático de se tratar a ideologia Em anos bem recentes principalmente a partir dos estudos de Thompson 1995 uma nova aproximação ao estudo da ideologia começou a ser desenvolvido como vimos em parte no item anterior A grande diferença nesse estudo é que se começa a deixar de lado a preocupação com a verdade ou falsidade de um conceito p ex o entendimento da ideologia como as ideias da classe dominante ou a preocupação com a constituição específica de uma instituição que seja ideológica p ex os aparelhos ideológicos de estado de Althusser ou a preocupação com a concepção de uma ideologia reificada p ex ideologia como um ismo por exemplo socialismo comunismo Ideologia assume a dimensão de uma prática de um modo de operação de uma estratégia de ação A concepção e o emprego da ideologia dentro dessa perspectiva evita a difícil e ingente tarefa de se verificar em cada caso a validade ou falsidade dos conceitos já estabelecidos Essa concepção já pode ser visualizada em Marx não de maneira clara mas implícita quando ele emprega ideologia como sendo um sistema de representações que servem para sustentar relações existentes de dominação através da orientação das pessoas para o passado ou para imagens ou ideias que desviam da busca de mudança social Essa teria sido a legitimação do golpe de estado de Luís Napoleão Bonaparte MARX 1968 É uma concepção bem distinta da que é apresentada na Ideologia alemã 1989 onde a ideologia é tomada como sendo as ideias da classe dominante Essa nova concepção de ideologia afasta nossa atenção de ideias abstratas de doutrinas filosóficas e teóricas concentrando em vez disso nossa atenção nas maneiras como as formas simbólicas são usadas e transformadas em contextos sociais específicos É uma concepção que nos obriga a examinar as maneiras como as relações sociais são criadas e sustentadas por formas simbólicas que circulam na vida social aprisionando as pessoas e orientandoas para certas direções De acordo com esse enfoque estudar a ideologia é estudar as maneiras como o sentido serve para estabelecer e sustentar relações de dominação THOMPSON 1995 p 76 Assim um fenômeno ideológico só é ideológico se ele serve em circunstâncias específicas para estabelecer e sustentar relações de dominação Isso quer dizer que os fenômenos não são ideológicos em si mesmos não se pode retirar o caráter ideológico dos próprios fenômenos como tais mas somente quando os situamos em contextos sóciohistóricos onde eles passam a estabelecer e sustentar relações de dominação E a questão de se dizer se essas relações estabelecem ou sustentam relações de dominação só pode ser respondida quando se examina a interação entre sentido e poder em circunstâncias particulares Analisamos a seguir algumas implicações derivadas dessa concepção a Ideologia como uma concepção crítica Concepção crítica contrapõese aqui a concepção neutra Concepção neutra é a que caracteriza fenômenos como ideológicos sem implicar que esses fenômenos sejam necessariamente enganadores ilusórios ou ligados a interesses de algum grupo particular Ideologia seria um aspecto da vida social entre outros Pode servir para a revolução restauração reforma ou perpetuação de qualquer ordem social Exemplos de concepções neutras de ideologia seriam concepções que veem ideologia como puro e simples estudo das ideias a como um conhecimento que é socialmente condicionado ou mesmo a concepção de ideologia como uma plataforma de análise e de luta do proletariado Já a concepção crítica possui um sentido negativo ou até certo ponto pejorativo Implica que o fenômeno caraterizado como ideológico é enganador ilusório ou parcial e a própria caracterização do fenômeno como ideologia carrega consigo a própria condenação desses fenômenos b Sentido e formas simbólicas Vimos acima que dentro de uma perspectiva crítica estudar ideologia é a maneira pela qual o sentido se serve para sustentar relações de dominação O sentido de que se fala aqui é o sentido das formas simbólicas E por formas simbólicas se entende o amplo espectro de ações e falas imagens e textos que são produzidos por pessoas e reconhecidos por elas como contendo um significado Essas formas são principalmente as falas e expressões linguísticas faladas ou não mas podem ser também formas não linguísticas ou quase linguísticas como uma imagem visual ou um construto que combine imagens e palavras O caráter significativo das formas simbólicas pode ser analisado através de quatro dimensões específicas que são a dimensão intencional as formas simbólicas são expressões de um sujeito e para um sujeito a dimensão convencional a produção construção emprego e interpretação das formas simbólicas são processos que envolvem a aplicação de regras ou convenções de vários tipos a dimensão estrutural as formas simbólicas são construções que exibem uma estrutura articulada a dimensão referencial são construções que representam algo de modo específico referemse a algo dizem algo sobre alguma coisa finalmente a mais importante a dimensão contextual isto é as formas simbólicas estão sempre inseridas em processos e contextos sócio hitóricos determinados dentro dos quais e por meio dos quais elas são produzidas transmitidas e recebidas c O conceito de dominação É importante e estratégico distinguir aqui dois conceitos o conceito de poder e o conceito de dominação Essa distinção não é ainda muito comum nas ciências sociais Poder é definido aqui como sendo uma capacidade de produzir algo capacidade essa específica de cada prática GUARESCHI 1992 Todo tipo de prática envolve assim certa quantidade de poder Além disso toda pessoa situada dentro de um contexto socialmente estruturado tem em virtude de sua localização diferentes quantidades e diferentes graus de acesso a recursos disponíveis Isso significa que tal localização e as qualificações associadas a essas posições nas instituições e na sociedade fornecem a esses indivíduos diferentes graus de poder Já a dominação é uma relação e se dá quando determinada pessoa expropria poder capacidades de outro ou quando relações estabelecidas de poder são sistematicamente assimétricas fazendo com que determinados agentes ou grupos de agentes não possam participar de determinados benefícios sendo assim injustamente deles privados independentemente da base sobre a qual tal exclusão é levada a efeito d Modos e estratégias como o sentido pode servir para estabelecer e sustentar relações de dominação Esse é certamente o ponto mais prático e útil para quem quer se arriscar numa análise da ideologia Quais os modos e estratégias empregados na criação e manutenção das relações de dominação Ou como o sentido pode servir para estabelecer e sustentar tais relações Evidentemente as maneiras são muitíssimas Cada pesquisa vem contribuir para que se descubram novas e diferentes maneiras Melhor discutir isso através de alguns exemplos Suponhamos um político pronunciando um discurso em que afirma que a competição em âmbito mundial e o processo de globalização são condições indispensáveis que vêm favorecer o progresso e o desenvolvimento de todas as nações Que está afirmado ou suposto aqui Estamos diante de uma estratégia ideológica que poderíamos chamar de universalização Esses processos irão de fato favorecer e são indispensáveis a todos os países ou só a alguns Na verdade eles vêm favorecer apenas aos mais desenvolvidos pois como mostrou muito bem Nelson W Sodré 1995 globalização é simplesmente um novo nome para colonização O que os países colonizadores faziam com os colonizados é o que fazem hoje os países com mais tecnologia e recursos com respeito aos menos desenvolvidos Primeiro afirmam que a competição é o fator essencial a todo progresso e desenvolvimento Depois a transportam a nível mundial Nessa competição globalizada os mais fracos saem fica claro fortemente prejudicados É o mesmo que dizer que um atleta que ao iniciar uma corrida está muitos metros à frente e que possui muito mais recursos e preparo físico tem as mesmas chances de vencer que seu parceiro colocado atrás e com menos recursos Como não fica bem falar em colonização hoje falase em globalização Ou vejamos a atitude de uma mãe solícita ao descobrir que sua filha está namorando vários rapazes A reação imediata é Minha filha isso não é natural Isso nunca foi assim Mal sabe essa santa mãe que as tibetanas possuem muitos maridos E que os árabes possuem muitas mulheres Que estratégia é usada aqui A estratégia da naturalização ou da eternalização que consiste em tirar dos fenômenos seu caráter histórico relativo e transformálos em eternos imutáveis naturais Ou senão escutemos a fala daquela empregada que ao ser perguntada por que há pessoas ricas responde absolutamente convicta Rico é quem poupa Que se esconde por detrás dessa fala Uma enorme legitimação e justificação de uma situação desigual e muitas vezes injusta Na verdade grande número de pessoas ricas assim o são em geral por explorarem o trabalho dos outros Quando digo por isso que rico é quem poupa estou mistificando a realidade propiciando uma explicação distorcida do fenômeno legitimando a riqueza de uns por um lado e explicando por que alguns no caso a empregada são pobres por outro lado Eles explicam a si mesmos que são pobres porque não pouparam quando na grande maioria das vezes são pobres porque foram explorados E mais quando por acaso sobrarem alguns tostões eles irão correndo colocálos na poupança propiciando indiretamente mais lucros ainda aos que fazem uso dessa poupança para empregála em investimentos muito mais lucrativos Os exemplos poderiam assim ser multiplicados Thompson 1995 enumera cinco modos gerais de operação da ideologia legitimação dissimulação unificação fragmentação reificação junto com inúmeras estratégias típicas de construção simbólica associadas a cada modo geral Remetemos a seu texto para a descrição e exemplificação tanto dos modos como das estratégias Esses mecanismos não são as únicas maneiras de operação da ideologia Várias outras estratégias já foram identificadas em diversas pesquisas que poderiam se somar às descritas acima tais como a rotulação ou estigmatização onde se ligam determinados estereótipos a um sujeito ou instituição propiciando com isso que relações de dominação se criem ou se perpetuem a sacralização ou divinização através das quais caraterísticas sobrenaturais são referendadas a acontecimentos ou pessoas criandose com isso situações onde relações assimétricas de poder são instituídas com o prejuízo de diversas pessoas ou grupos e ainda outras possibilidades GUARESCHI 1996 Além do mais esses modos e estratégias podem se sobrepor e se reforçar ou se legitimar mutuamente e A valorização das formas simbólicas Há ainda um último ponto que merece ser assinalado que se mostrou extremamente útil na análise da ideologia Como vimos as formas simbólicas possuem diversas características Elas têm um caráter intencional convencional estrutural referencial e contextual O caráter contextual significa que elas estão sempre inseridas num contexto sociocultural específico São produzidas por sujeitos historicamente situados que possuem recursos e capacidades específicas Ao mesmo tempo elas são recebidas por sujeitos que estão inseridos em contextos sóciohistóricos particulares Esses fatos fazem com que as formas simbólicas carreguem consigo diferentes particularidades a partir desses sujeitos São essas especificidades que Bourdieu 1977 discute ao analisar os diferentes campos de interação E a esses recursos e capacidades Bourdieu chama de capital e um desses tipos é o capital simbólico Em tais circunstâncias as formas simbólicas podem ser valorizadas de diferentes maneiras Quando se conectam as posições que determinada pessoa ocupa dentro de certo campo de interação a diversos processos de valorização simbólica podemos identificar diferentes graus de poder que passam a ser atribuídos a diferentes atores Poder é entendido aqui como a capacidade de agir para conseguir diferentes objetivos poder de fazer algo ou de agir de determinada maneira Ao agir a pessoa emprega recursos disponíveis capital Ora o fato de uma pessoa ocupar determinada posição num campo de interação como nas instituições por exemplo possibilita capacita a essa pessoa a conseguir determinados fins realizar seus objetivos tomar tais decisões E pelo fato de possuir graus diferentes de poder relacionase diferentemente com os outros Surgem assim dessas interações diferentes relações que ao se constituírem como sistematicamente assimétricas desiguais transformamse em relações de dominação Retornamos então ao campo da ideologia entendida como maneira de criar e manter relações de dominação A dominação dentro de tais situações é uma dominação mais estável que não depende de circunstâncias que podem ser facilmente mudadas e transformadas mas que por se situarem em instituições e até mesmo na estrutura social possuem caraterísticas mais estáveis e cristalizadas Surgem daqui outros tipos de estratégias típicas de valorização simbólica que podem servir dependendo das circunstâncias para criar ou manter relações de dominação isto é prestamse a ser recurso ideológico dentro da definição por ele defendida Exemplificando podese dizer que uma pessoa ao ocupar uma posição dominante dentro de um campo de interação pode apelar a estratégias de valorização simbólica como a de distinção o uso de vestimentas que materializam situações de prestígio como o uso de gravata etc de menosprezo de condescendência e assim por diante Tais estratégias permitem às pessoas que estão em posição dominante reafirmar sua dominação sem necessitar de demonstrações mais claras e específicas Já quem está numa posição intermediária pode empregar estratégias de moderação valorização dos bens à sua disposição pretensão fingindo ser o que de fato não é e buscando assemelharse aos de cima ou desvalorização depreciando as produções dos dominantes E quem ocupa uma posição subordinada pode empregar estratégias de praticidade em vez de buscar requintes dá valor a coisas práticas e baratas de resignação respeitosa aceita sua posição como inevitável ou de rejeição não aceita e ridiculariza o que é produzido pelos dominantes rotulando muitas vezes tais produções como intelectuais ou efeminadas Conclusão Tentamos mostrar de um lado como o conceito de ideologia é complexo e multifacetado tomado em acepções bem diversas de outro lado argumentamos que quando tomado no sentido negativo e crítico e como uma prática isto é como o uso de formas simbólicas para criar ou manter relações de dominação ele se presta para fazer com que os estudos e pesquisas se tornem mais úteis e frutíferos é realmente o que torna os estudos e pesquisas frutíferos Mais que identificar cosmovisões gerais de pessoas ou grupos o que na verdade cremos ser importante e necessário é revelar como as pessoas sofrem e são prejudicadas na sua vida cotidiana devido a relações que são estabelecidas de maneira desigual e injusta Com isso nosso trabalho poderá contribuir de maneira iluminadora e emancipatória na construção de uma sociedade economicamente justa politicamente democrática culturalmente plural eticamente solidária Leituras complementares Em estudo abrangente bastante completo e crítico do conceito e da teoria da ideologia pode ser encontrado no livro de John B Thompson Ideologia e cultura moderna Petrópolis Vozes 1995 Além do histórico do conceito ele mostra os diversos sentidos em que ideologia foi tomada e sugere maneiras de se poder analisála Um outro livro do mesmo autor Studies in the Theory of Ideology Londres Polity Press 1984 traz também excelente material para compreender e criticar a ideologia O livro de Marilena Chauí O que é Ideologia São Paulo Brasiliense 1983 é também um ótimo tratado introdutório e mais simples para quem quiser se familiarizar com o que seja ideologia Bibliografia ALTHUSSER L Ideologia e aparelhos ideológicos de estado Lisboa Presença 1972 BOURDIEU P Outline of a theory of practice Cambridge Cambridge University Press 1977 CRICK B ed Machiavelli Discourses Nova Iorque Penguin 1970 DE TRACY D Éléments dIdéologie Vol 1 Paris Librairie Philosophique J Vrin 1803 reimpresso em 1970 FARR R The roots of modern social psychology 18721954 Oxford Blackwell 1996 FREITAG B A teoria crítica ontem e hoje São Paulo Brasiliense 1992 GEUSS R Teoria crítica Habermas e a Escola de Frankfurt São Paulo Papirus 1988 GUARESCHI P A ideologia um terreno minado Psicologia Social Sociedade 82 p 8294 juldez 1996 Sociologia da prática social Petrópolis Vozes 1992 LENIN Vladimir I The state and revolution In Selected works Londres Lawrence and Wishart 1969 LUKÁCS G History and class consciousness studies in marxist dialectics Londres Merlin Press 1971 MANNHEIM Karl Ideology and utopia Londres Routledge Kegan Paul 1954 The Eighteenth Brumaire of Louis Bonaparte In Selected Works Londres Lawrence Wishart 1968 MARX Karl Capital Nova Iorque Vintage Books 1977 MARX Karl ENGELS F A ideologia alemã São Paulo Martins Fontes 1989 MOSCOVICI S Society and theory in social psychology In ISRAEL J TAJFEL H The context of social psychology Londres Academic Press 1972 PIEST O ed The new organon and related wtitings Nova Iorque The Liberal Arts Press 1960 SODRÉ NW A farsa do neoliberalismo Rio de Janeiro Graphia 1995 THERBORN Goran The ideology of power and the power of ideology Londres Verso 1980 THOMPSON John B Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS Fátima O de Oliveira Graziela C Werba Discorrer sobre Representações Sociais RS não tem sido uma tarefa fácil Elas se colocam em parte na ordem da utopia Por que RS lembra utopia Porque nunca se chega ao limite deste conceito ao nos aproximarmos dele o vemos escorregar para mais longe obrigandonos a transpor nossas próprias fronteiras buscando novamente aquele horizonte perdido Atualmente as discussões em torno da teoria das RS têm ocupado um grande espaço no campo da Psicologia Social obrigando muitos teóricos e acadêmicos a revisarem seus enfoques proporcionando a todos novas formas de olhar entender e interpretar os fenômenos sociais ajudando a compreender em última análise por que as pessoas fazem o que fazem Como nasceu esta teoria Para Moscovici 1994 p 8 o conceito de representação social tem suas origens na Sociologia e na Antropologia através de Durkheim e de LéviBruhl Inicialmente chamado de representação coletiva serviu como elemento básico para elaboração de uma teoria da religião da magia e do pensamento mítico Também contribuíram para a criação da teoria das RS a teoria da linguagem de Saussure a teoria das representações infantis de Piaget e a teoria do desenvolvimento cultural de Vygotsky A teoria das RS pode ser considerada como uma forma sociológica de Psicologia Social FARR 1994 O conceito é mencionado pela primeira vez por Moscovici em seu estudo sobre a representação social da psicanálise intitulado Psychanalyse Son image et son public Nesta obra Moscovici conduz um estudo tentando compreender mais profundamente de que forma a psicanálise ao sair dos grupos fechados e especializados é ressignificada pelos grupos populares O que motivou Moscovici a desenvolver o estudo das RS dentro de um trabalho científico foi principalmente sua crítica aos pressupostos positivistas e funcionalistas das demais teorias que não davam conta de explicar a realidade em outras dimensões principalmente na dimensão históricocrítica No Brasil o interesse pela teoria das RS iniciou no final da década de 1970 lembrando sua estreita relação com o desenvolvimento da própria psicologia social que a partir de algumas instituições assume uma postura mais crítica não apenas em relação à psicologia americana mas também em contrapartida ao papel subserviente da ciência frente às questões de ordem macrossocial SPINK 1996 p 170 A teoria das RS tem sido discutida criticada reformulada e cada vez mais empregada em muitos trabalhos científicos Apesar de Moscovici recusarse a conceituála de modo definitivo muitos autores têmse esforçado para compreendêla mais profundamente bem como contribuir para seu desenvolvimento enquanto teoria Mas o que são as representações sociais As Representações Sociais são teorias sobre saberes populares e do senso comum elaboradas e partilhadas coletivamente com a finalidade de construir e interpretar o real Por serem dinâmicas levam os indivíduos a produzir comportamentos e interações com o meio ações que sem dúvida modificam os dois De Rosa 1994 distingue entre três níveis de discussão e análise das RS Nível fenomenológico as RS são um objeto de investigação Esses objetos são elementos da realidade social são modos de conhecimento saberes do senso comum que surgem e se legitimam na conversação interpessoal cotidiana e têm como objetivo compreender e controlar a realidade social Nível teórico é o conjunto de definições conceituais e metodológicas construtos generalizações e proposições referentes às RS Nível metateórico é o nível das discussões sobre a teoria Neste colocamse os debates e as refutações críticas com respeito aos postulados e pressupostos da teoria juntamente a uma comparação com modelos teóricos de outras teorias Para evitar confusões é fundamental distinguir entre estes três níveis bem como assinalar sobre qual deles se está falando Quanto à metodologia nas RS ela vai variar de acordo com o objeto de estudo acompanhando paralelamente estes três níveis de discussão Apesar de Moscovici não ter apresentado um conceito definitivo de RS tentou situála da seguinte forma Moscovici 1981 p 181 refere que por Representações Sociais entendemos um conjunto de conceitos proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais Elas são o equivalente em nossa sociedade aos mitos e sistemas de crença das sociedades tradicionais podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum Talvez seja Jodelet quem melhor e mais detalhadamente conceitue RS como uma forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social JODELET 1989 p 36 Para Guareschi 1996a são muitos os elementos que costumam estar presentes na noção de RS Nelas há elementos dinâmicos e explicativos tanto na realidade social física ou cultural elas possuem uma dimensão histórica e transformadora nelas estão presentes aspectos culturais cognitivos e valorativos isto é ideológicos Esses elementos das RS estão sempre presentes nos objetos e nos sujeitos por isso as RS são sempre relacionais e portanto sociais Um dos elementos fundamentais da teoria das RS é a interligação possível entre cognição afeto e ação no processo de representação Tanto Jovchelovitch 1996 como Guareschi mostram a importância desta interligação no processo cognitivo A representação como um processo mental carrega sempre um sentido simbólico Jodelet 1988 identifica no ato de representar cinco características fundamentais 1 representa sempre um objeto 2 é imagem e com isso pode alterar a sensação e a ideia a percepção e o conceito 3 tem um caráter simbólico significante 4 tem poder ativo e construtivo 5 possui um caráter autônomo e generativo Para que estudamos as RS Estudar RS é buscar conhecer o modo de como um grupo humano constrói um conjunto de saberes que expressam a identidade de um grupo social as representações que ele forma sobre uma diversidade de objetos tanto próximos como remotos e principalmente o conjunto dos códigos culturais que definem em cada momento histórico as regras de uma comunidade Uma das principais vantagens desta teoria é sua capacidade de descrever mostrar uma realidade um fenômeno que existe do qual muitas vezes não nos damos conta mas que possui grande poder mobilizador e explicativo Tornase necessário por isso estudálo para que se possa compreender e identificar como ela atua na motivação das pessoas ao fazer determinado tipo de escolha comprar votar agir etc É fundamental darmonos conta de que na maioria das vezes nós praticamos determinadas ações como por exemplo comprar e votar não por razões lógicas racionais ou cognitivas mas por razões principalmente afetivas simbólicas míticas religiosas etc A teoria das RS chama a atenção a essa realidade e tenta mostrar a importância de se conhecer essas representações para se compreender o comportamento das pessoas O conceito de RS é versátil e três importantes postulados podem se combinar em seu emprego é um conceito abrangente que compreende outros conceitos tais como atitudes opiniões imagens ramos de conhecimento possui poder explanatório não substitui mas incorpora os outros conceitos indo mais a fundo na explicação causal dos fenômenos o elemento social na teoria das RS é algo constitutivo delas e não uma entidade separada O social não determina a pessoa mas é substantivo dela O ser humano é tomado como essencialmente social Como podemos ver a teoria das RS é bastante abrangente e seu conceito dinâmico pode nos ajudar a entender as várias dimensões da realidade quais sejam a física a social a cultural a cognitiva e isso tudo de forma objetiva e subjetiva Essa abertura torna as RS um instrumento valioso e imprescindível no campo da psicologia social Por que criamos as RS Tentando entender a formação e origem das RS constatase que criamos as RS para tornar familiar o não familiar Este movimento que se processa internamente vem a serviço de nosso bemestar pois tendemos a rejeitar o estranho o diferente enfim tendemos a negar as novas informações sensações e percepções que nos trazem desconforto Para assimilar o não familiar dois processos básicos podem ser identificados como geradores de RS o processo de ancoragem e objetivação Vejamos primeiro o que significam os conceitos familiar e não familiar a partir das noções de Universos Reificados e Universos Consensuais Poderíamos dizer que existem na sociedade dois tipos diferentes de universos de pensamento os Universos Consensuais UC e os Universos Reificados UR Nos UR que são mundos restritos circulam as ciências a objetividade ou as teorizações abstratas Nos UC que são as teorias do senso comum encontram se as práticas interativas do dia a dia e a produção de RS No UC a sociedade é vista como um grupo de pessoas que são iguais e livres cada uma com possibilidade de falar em nome do grupo Nenhum membro possui competência exclusiva Já no UR a sociedade é percebida como um sistema de diferentes papéis e classes cujos membros são desiguais O não familiar situase e é gerado muitas vezes dentro do UR das ciências e deve ser transferido ao UC do dia a dia Essa tarefa é geralmente realizada pelos divulgadores científicos de todos os tipos como jornalistas comentaristas econômicos e políticos professores propagandistas que têm nos meios de comunicação de massa um recurso fantástico Podemos agora retomar as noções de Ancoragem e Objetivação e ver que papel desempenham nesse contexto Ancoragem é o processo pelo qual procuramos classificar encontrar um lugar para encaixar o não familiar Pela nossa dificuldade em aceitar o estranho e o diferente este é muitas vezes percebido como ameaçador A ancoragem nos ajuda em tais circunstâncias É um movimento que implica na maioria das vezes em juízo de valor pois ao ancorarmos classificamos uma pessoa ideia ou objeto e com isso já o situamos dentro de alguma categoria que historicamente comporta esta dimensão valorativa Quando algo não se encaixa exatamente a um modelo conhecido nós o forçamos a assumir determinada forma ou entrar em determinada categoria sob pena de não poder ser decodificado Este processo é fundamental em nossa vida cotidiana pois nos auxilia a enfrentar as dificuldades de compreensão ou conceituação de determinados fenômenos Por exemplo quando surgiu o problema da Aids diante das perplexidades e dificuldades em entendêla e classificála uma das formas encontrada pelo senso comum para dar conta de sua ameaça foi ancorála como uma peste mais especificamente a peste gay ou o câncer gay Assim representada embora classificada de forma equivocada e preconceituosa a nova doença pareceu menos ameaçadora pois já havia sido categorizada pelo senso comum como uma peste e só aconteceria aos gays Um dos melhores exemplos de como ocorre a Ancoragem é fornecido por Jodelet em seu trabalho sobre a representação social da loucura Ao abrirem as portas do manicômio e colocarem os doentes mentais em contato com os aldeões na rua aqueles foram imediatamente julgados por padrões convencionais e comparados a idiotas vagabundos epilépticos ou aos que no dialeto local eram chamados de maloqueiros Quando determinado objeto ou ideia é comparado ao paradigma de uma categoria ele adquire características dessa categoria e é reajustado para que se enquadre nela Neste exemplo a ideia destes aldeões sobre os idiotas vagabundos ou epilépticos foi transferida sem modificação aos doentes mentais Já a Objetivação é o processo pelo qual procuramos tornar concreto visível uma realidade Procuramos aliar um conceito com uma imagem descobrir a qualidade icônica material de uma ideia ou de algo duvidoso A imagem deixa de ser signo e passa a ser uma cópia da realidade Um dos exemplos fornecidos por Moscovici referese à religião Ao se chamar de pai a Deus estáse objetivando uma imagem jamais visualizada Deus em uma imagem conhecida pai facilitando assim a ideia do que seja Deus Qual a diferença entre representações sociais e outras teorias Podemos dizer que a principal diferença entre o conceito de RS de outros conceitos é sua dinamicidade e historicidade específicas As RS estão associadas às práticas culturais reunindo tanto o peso da história e da tradição como a flexibilidade da realidade contemporânea delineando as representações sociais como estruturas simbólicas desenhadas tanto pela duração e manutenção como pela inovação e metamorfose Existem diferenças entre o enfoque dado à psicologia social americana e o enfoque europeu A psicologia social que floresceu nos EUA é uma Psicologia essencialmente cognitivista que foi exportada para a Europa e América do Sul Ao florescer em solo norteamericano a psicologia social do pósguerra alimentase de uma visão individualista específica de sua cultura o que Farr 1994 denomina de psicologia social psicológica enfraquecendo a vertente mais interdisciplinar com a sociologia que se chama de psicologia social sociológica É neste contexto que nasce a teoria das RS teoria esta que tendo origem em Durkheim um sociólogo contrapõese à vertente americana e assim o campo de estudos das RS acaba por ampliar a noção de social Devese fazer uma distinção entre RS e as Representações Coletivas como empregadas por Durkheim Sperber 1985 ao explicar a diferença faz uma analogia com a medicina diz ele que a mente humana é susceptível de representações culturais do mesmo modo que o organismo humano é susceptível de doenças Ele divide as representações em coletivas representações duradouras amplamente distribuídas ligadas à cultura transmitida lentamente por gerações são tradições e se comparam à endemia e sociais são típicas de culturas modernas espalhamse rapidamente por toda a população possuem curto período de vida são parecidos com os modismos e se comparam à epidemia A Teoria das RS diferenciase de muitas outras também no que concerne à visão do social e ser humano Para a Teoria Comportamentalista o social é dado como pronto e o ser humano é condicionado para a psicanálise o social é relegado a uma categoria de menor importância e o ser humano é determinado pelo inconsciente já para a teoria das RS o social é coletivamente edificado e o ser humano é construído através do social Outra importante diferença entre a teoria das RS e outras de tendência mais positivista e funcionalista é que aquela aceita a existência de conteúdos contraditórios ou seja seu estudo e pesquisa não descartam os achados conflitantes pelo contrário é a possibilidade de trabalhar com as diferenças que enriquece a compreensão do fenômeno investigado conferindo à teoria das RS uma dimensão dialética Não menos importante na pesquisa das RS é a relação que ela estabelece com o estudo da ideologia que veremos a seguir Que relações se podem estabelecer entre o estudo das RS e ideologia A relação que as RS estabelecem com ideologia provoca ainda muitas discussões Se ideologia for definida como algo reificado pronto e acabado como parece ser o sentido que Moscovici dá à ideologia é evidente que as RS não podem ser identificadas com ela exatamente pelo fato de serem dinâmicas e sempre passíveis de transformação Ultimamente está havendo uma ampla tendência de se definir ideologia de acordo com a definição proposta por Thompson 1995 p 76 Ideologia é o uso das formas simbólicas para criar ou manter relações de dominação em outras palavras é o sentido a serviço de relações assimétricas desiguais O conceito de sentido embutido em ideologia é o sentido das formas simbólicas inseridas nos contextos sociais As formas simbólicas são um amplo conjunto de ações e falas imagens e textos que são produzidos pelas pessoas e reconhecidas por elas e outros como construtos significativos As falas e expressões linguísticas são centrais na análise podendo ser também imagens visuais ou construtos que combinam imagens e palavras Ainda para se entender melhor o que seja ideologia é importante discutir o que se entende por dominação Dominação é uma relação que se estabelece entre pessoas ou grupos onde uns interferem e se apropriam das capacidades ou habilidades de outros de maneira assimétrica Portanto existem diversas formas de dominação que podem ser econômica de gênero de raça de etnia de idade religiosa etc GUARESCHI 1996b Se tomarmos pois ideologia como o uso de formas simbólicas para criar ou reproduzir relações de dominação podemos concluir que as RS pelo fato de serem formas simbólicas podem ser ideológicas mas não podemos deduzir isto a priori Para dizer que uma RS é ideológica precisamos primeiro mostrar que ela serve em determinadas circunstâncias para criar ou reproduzir relações de dominação Como investigamos as RS Não existe uma metodologia exclusiva para a investigação das RS sendo que encontramos desde investigações realizadas em uma base quantitativa como as que trabalham com dados qualitativos e ainda alguns que fazem uso complementar destas duas abordagens Um dos instrumentos mais usados e desenvolvidos na investigação das RS tem sido a técnica dos grupos focais Existem é claro outros tantos que podem ser empregados de acordo com o propósito da pesquisa recursos disponíveis tempo verba sujeitos etc inclusive o estilo do investigador Mas a técnica dos grupos focais parece se adaptar de maneira mais adequada a esta investigação Os grupos focais podem ser descritos basicamente como entrevistas que se fundamentam na interação desenvolvida dentro do grupo O pontochave destes grupos é o uso explícito dessa interação para produzir dados e insights que seriam difíceis de conseguir fora desta situação Isso se constitui na grande vantagem desses grupos a oportunidade que eles oferecem de se estabelecer uma intensa troca de ideias sobre determinado tópico num período limitado de tempo onde os dados são discutidos e aprofundados em conjunto A qualidade dos dados pode ser em consequência superior aos de uma entrevista individual Embora esta técnica tenha sido e é ainda muito usada com fins publicitários está sendo também cada vez mais frequentemente utilizada no campo das ciências sociais Morgan 1988 p 22 afirma que a finalidade mais comum dos grupos focais é conduzir uma discussão em grupo que se assemelhe a uma conversação normal e viva entre amigos e vizinhos Os grupos focais se prestam pois muito bem para a finalidade de se chegar mais próximo às compreensões que os participantes possuem do tópico de interesse do pesquisador Podese compreender além disso não apenas o que mas também por que os participantes pensam da maneira como pensam p 24 O papel do coordenador nos grupos focais é o de conduzir a discussão de forma livre porém com o cuidado de não desviar o tema proposto As falas dos grupos são geralmente registradas em cassete e seguem os seguintes passos para o trabalho de tratamento dos dados a transcrição das entrevistas b leitura flutuante do material intercalando a escuta do material gravado com a leitura do material transcrito de modo a captar os temas propostos detendo se na construção na retórica permitindo a emergência dos investimentos afetivos c retorno aos objetivos da pesquisa para após a categorização dos dados fazer sua interpretação de acordo com os referenciais teóricos em questão Desse modo após a atenta escuta e leitura são pinçadas verbalizações que revelam uma ideia ou avaliação referentes ao tema proposto A partir daí é possível uma categorização de dados agrupandoos por afinidade Destes surgem as categorias principais a partir das quais se permite a construção de um mapeamento das categorias dos grupos focais Um uso muito apropriado do grupo focal é também servir de fundamentação para se criar uma entrevista ou questionário mais estruturados para serem aplicados a outros grupos pessoas ou para entrevistas individuais O número de grupos para se discutir um tema específico pode variar entre três a quatro e a duração normal é de uma hora chegando às vezes a hora e meia O tamanho dos grupos varia de no mínimo quatro participantes até o máximo de doze mas o mais recomendado é entre seis e oito participantes Umas das possíveis maneiras de se interpretar as RS após terem sido levantadas nos grupos focais e mapeadas é utilizar o referencial metodológico baseado em John B Thompson 1995 capítulo 6 denominado por ele de Hermenêutica de Profundidade HP Este autor distingue dois níveis de análise na compreensão dos fatos sociais em especial as formas simbólicas Um primeiro nível é o da hermenêutica da vida cotidiana que consiste numa descrição fenomenológica dos fatos Em um segundo nível denominado hermenêutica de profundidade buscase investigar e interpretar as formas simbólicas mais profundamente O processo compõese de três fases a análise sóciohistórica que investiga o fenômeno na dimensão espáciotemporal as suas interrelações sociais as instituições e a estrutura social a análise formal ou discursiva que investiga as formas simbólicas em si mesmas através de diversos tipos de análise de discurso como a semiótica a análise sintática a análise da conversação a análise argumentativa a análise narrativa etc finalmente a interpretação ou reinterpretação que é o espaço onde se interpretam as formas simbólicas de acordo com os referenciais teóricos em questão É importante lembrar que toda a interpretação é aberta e conflitiva sujeita a outras e novas interpretações Considerações finais Ao finalizarmos este capítulo podemos retomar a questão inicial que teoria é essa Parecenos ser uma teoria nova aberta e fecunda Não é uma teoria pronta Cremos que essa sua incompletude seja justamente uma das suas importantes possibilidades Podemos identificar dois grandes avanços a nosso ver trazidos por essa teoria a a teoria das RS trata do conhecimento construído e partilhado entre pessoas saberes específicos à realidade social que surgem na vida cotidiana no decorrer das comunicações interpessoais buscando a compreensão de fenômenos sociais b a teoria das RS colocou os saberes do senso comum em uma categoria científica Ela veio valorizar este conhecimento popular tornando possível e relevante sua investigação Talvez estejamos demasiadamente acostumados a trabalhar com teorias já prontas onde o que poderia ser descoberto já o foi ou em outras palavras teorias que nos são familiares que não nos assustam mas que por outro lado pouco nos provocam Poderíamos dizer que a provocação é a alma da pesquisa talvez até possamos arriscar pensar que é este despertar da curiosidade pelo que nos é não familiar não reconhecido previamente o que nos move a novas descobertas científicas Aliás Aristóteles já dizia que a curiosidade é a alma da ciência A teoria das RS certamente nos obriga a pensar exige muito trabalho de interpretação e reinterpretação colocanos frente a dicotomias conflitos deixa nos diante do desconhecido ela desconcerta É justamente aí que ela favorece nosso crescimento pois vemonos obrigados a desconstruir certezas envelhecidas e a nos abrirmos para novas possibilidades Todo esse movimento está contido no cerne da própria teoria que é dinâmica em essência Leituras complementares Conforme mencionamos no início deste capítulo a teoria das RS é recente por isso a bibliografia em português a respeito do assunto não é extensa No Brasil na PUC de São Paulo há um grupo que trabalha com Mary Jane Spink organizadora de O conhecimento no cotidiano as representações sociais na perspectiva da psicologia social São Paulo Brasiliense 1993 que apresenta bons trabalhos teóricos e metodológicos sobre representações sociais Na PUC do Rio Grande do Sul outro grupo liderado por Pedrinho Guareschi temse dedicado ao estudo e pesquisa em RS O livro Textos em representações sociais Petrópolis Vozes 1994 que organizou com Sandra Jovchelovitch London School of Economics and Political Science traz boas discussões sobre a teoria metodologia e pesquisa em RS Do mesmo autor para quem está se iniciando em representações sociais sugerimos um texto básico Representações sociais alguns comentários oportunos ver bibliografia Na Uerj há outro grupo ligado a Celso Pereira de Sá autor de A teoria e pesquisa do núcleo central Petrópolis Vozes 1996 que discute proposições básicas e a produção empírica da abordagem do núcleo central Para quem tem facilidade com outros idiomas pode ser interessante a leitura de trabalhos clássicos como do próprio Moscovici de Denise Jodelet ou ainda de Annamaria S De Rosa citados na bibliografia Finalmente para quem está interessado em conhecer e produzir trabalhos na linha dos que encontrou neste capítulo poderá acompanhar as atividades que vêm sendo desenvolvidas pela Associação Brasileira de Psicologia Social Abrapso que publica a excelente revista científica Psicologia Sociedade PUC São Paulo Bibliografia DE ROSA Annamaria S From theory to metatheory in social representations the lines of argument of a theoretical methodological debate Social Science Information Vol 33 n 2 1994 p 273303 FARR RM Representações sociais a teoria e sua história In GUARESCHI P JOVCHELOVITCH S Textos em representações sociais Petrópolis Vozes 1994 p 3159 GUARESCHI P Sem dinheiro não há salvação ancorando o bem e o mal entre neopentecostais In GUARESCHI P JOVCHELOVITCH S Representações sociais alguns comentários oportunos Revista Coletâneas da Anpepp n 10 vol 1 set 1996a p 936 A ideologia um terreno minado Psicologia Sociedade Revista da Associação Brasileira de Psicologia Social Abrapso 8 2 8294 juldez 1996b Textos em representações sociais Petrópolis Vozes 1994 p 191225 JODELET D Représentations sociales un domaine en expansion In ID ed Les représentations sociales Paris Presses Universitaires de France 1989 Représentations sociales phénomènes concept et théorie In FARR R MOSCOVICI S eds Psycologie sociale 2 ed Paris Presses Universitaires de France 1988 p 357378 JOVCHELOVITCH S Espaço de mediação e gênese das representações sociais Revista Psico Porto Alegre 27 1 193205 janjun 1996 MORGAN DL Focus groups as qualitative research Newbury Park CA Sage Publications 1988 MOSCOVICI S Prefácio In GUARESCHI P JOVCHELOVITCH S Textos em representações sociais Petrópolis Vozes 1994 p 716 The phenomenon of social représentations In FARR RM MOSCOVICI S eds Social représentations Cambridge Cambridge University Press 1984 p 369 On social representatios In FORDAS JP eds Social cognition perspectives on everyday ubderstanding London Academic Press 1981 p 181 209 A representação social da psicanálise Rio de Janeiro Zahar 1978 SPERBER D Anthropology and psycology towards an epedimiology of représentations Mann news series 1985 p 7389 SPINK MJ Representações sociais questionando o estado da arte Psicologia Sociedade Revista da Associação Brasileira de Psicologia Social Abrapso 8 2 166186 juldez 1996 THOMPSON JB Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995 LINGUAGEM Maria Juracy Toneli Siqueira Adriano Henrique Nuernberg O que é a linguagem O que fazemos quando queremos mostrar a uma pessoa o que estamos pensando ou sentindo Em geral falamos E se por algum motivo qualquer estamos impossibilitados de falar Podemos tentar comunicarmonos através de gestos da mímica da escrita de atitudes do corpo enfim podemos utilizar outras formas de linguagem para transmitir aos demais o que pretendemos Segundo alguns estudiosos da comunicação humana WATZLAWICK 1967 é impossível não comunicar pois mesmo em silêncio estamos comunicando algo como por exemplo não quero falar ou não quero falar agora ou isto aqui está muito chato ou não estou entendendo nada e assim por diante Sem buscarmos formas de fornecer aos outros meios mais claros para identificarem o que queremos dizer no entanto ficamos à mercê de sua interpretação arbitrária Não que nossos ouvintes não nos interpretem sempre mas certamente há que se estabelecer um código comum entre nós para que possamos comunicarmonos mais facilmente Neste sentido os grupos humanos constroem formas partilhadas códigos pelos quais seus vários membros possam transmitir as informações uns aos outros As línguas atestam isto sendo que mesmo entre aqueles que falam uma língua única há diferenças significativas segundo as tradições do grupo ao qual pertencem No Brasil por exemplo usamos pelo menos três palavras diferentes para nomear uma mesma raiz comestível mandioca aipim macaxeira Se não pertencemos ao grupo que a ela nomeia mandioca necessitaremos de algumas pistas adicionais para compreendermos do que se trata afinal Para além de sua função de nomeação as palavras apresentamse também carregadas de sentido Neste caso ao falar mandioca eu falo muito mais coisas do que uma mera referência à raiz em si Para alguns lembranças de uma época de infância são imediatamente evocadas resgatando os almoços em família nos sábados em que em cima da mesa a comida mineira com carne de porco couve refogada e mandioca cozida com manteiga enchia os olhos os narizes e o estômago Para outros certamente sentidos diferentes existirão posto que cada um de nós embora pertencendo a grupos que compartilham uma mesma cultura compreende através de distintas maneiras os enunciados em trânsito nas relações sociais Outra variação da comunicação humana é a linguagem escrita cuja característica principal é a possibilidade de registro e transmissão de informações de maneira mais permanente do que a linguagem oral Se esta última surgiu em decorrência da necessidade da comunicação imediata a escrita vem para garantir a durabilidade destas informações no tempo e no espaço permitindo também o acesso a um interlocutor ausente do campo Através da escrita nos comunicamos com amigos queridos que se encontram longe de nós registramos nossas experiências profissionais sob a forma de curriculum vitae apresentamos nossas ideias em trabalhos científicos deixamos bilhetes para nossos companheiros de moradia firmamos relações contratuais enfim entre tantas possibilidades organizamos nosso cotidiano imediato e deixamos nossa marca através dos tempos É possível por exemplo reconstituir toda uma época histórica incluindo modos de viver através das diferentes formas de registro e dos textos produzidos pela humanidade Das primeiras verbalizações e pinturas nas cavernas até as línguas atuais e suas formas escritas evidenciase a dimensão histórica e social desta produção humana Se o homem primitivo lia os sinais da natureza pegadas direção do vento galhos quebrados etc e com eles orientava sua ação no mundo com a criação dos signos enquanto sinais artificialmente criados por homens e mulheres ampliase o âmbito das possibilidades da existência humana Convém ressaltar que a linguagem enquanto uma função complexa apresentase como uma das grandes questões das Ciências Humanas e Sociais neste século sobretudo nas áreas da Psicologia Sociologia e evidentemente da Linguística Inúmeras teorias dedicaram ênfase à linguagem ainda que defendendo distintos pontos de vista e chamando a atenção para diferentes aspectos desse tema A linguagem segundo Vygotsky e Bakhtin Homens e mulheres diferenciamse dos outros animais pelo fato de que as categorias fundamentais de sua ação no mundo mudaram substancialmente no transcurso de sua história com a introdução do trabalho social e das formas de vida societária a ele vinculadas O trabalho social portanto mediante a divisão de suas funções originou novas formas de ação não imediatamente relacionadas aos motivos biológicos elementares O segundo fator decisivo nesta trajetória é o surgimento da linguagem Fazse necessário então tratar da linguagem dentro do processo histórico de desenvolvimento da cultura e consequentemente dos próprios homens e mulheres Sendo assim partese do pressuposto de que há uma relação de tensão entre a história do ser humano enquanto espécie com a produção da linguagem entendida como resultado da necessidade de complexificação das formas de comunicação Conforme a ontologia marxista a linguagem teria sido produzida por homens e mulheres a partir do processo de complexificação de suas necessidades e da divisão do trabalho o que engendrou uma nova necessidade a de uma comunicação mais estreita LURIA 19861 Face a isso passouse a designar ações e situações por meio de códigos os quais estariam fundamentalmente vinculados ao momento mais imediato de seu contexto social Partimos também do fato de que A linguagem é tão velha como a consciência é a consciência real prática que existe também para outros homens e que portanto existe igualmente só para mim e tal como a consciência só surge com a necessidade as exigências dos contatos com outros homens Onde existe uma relação ela existe para mim MARX ENGELS 1989 p 36 Em A ideologia alemã 1989 Marx e Engels afirmam que não se pode atribuir um caráter autônomo à linguagem como os filósofos idealistas fizeram com o pensamento Ambos são expressões da vida real Por outro lado o próprio Engels em carta a Bloch de 21091890 argumenta que nem todas as alterações que acontecem nas instituições sociais se devem a causas estritamente econômicas o que nos leva a crer que a linguagem goza de relativa autonomia em relação às formações sociais Aparentemente contraditórias estas duas afirmações demonstram o caráter complexo da linguagem que pode ser estudada a partir de múltiplos pontos de vista sendo ao mesmo tempo individual e social física fisiológica e psíquica Neste sentido fazse importante não desvinculála da vida social sem no entanto desconsiderar sua especificidade Neste caso reduzila a um complexo língua e fala por um lado apostando na sua baixa mobilidade histórica e no fato de que o sujeito da fala é axiomaticamente individual como o quer Perry Anderson em seu livro A crise da crise do marxismo 1985 ou por outro reduzila ao nível ideológico parece não nos ajudar muito a compreendêla em suas múltiplas facetas e determinações Da mesma forma repetir que a linguagem é instrumento de poder não é nada inovador ou esclarecedor Tentaremos com base nas teorias da Abordagem HistóricoCultural desenvolver esse tema tendo em vista a importância desse princípio para a noção de um homem histórico e socialmente constituído que se defende aqui A linguagem transformandose através da história passou de uma função de designação de objetos na atividade prática entre os homens a uma função de acúmulo e transmissão de conhecimento indivíduo a indivíduo e através das gerações Tal processo histórico expressase também na unidade central da linguagem a saber a palavra cuja transformação implicou a estabilização do âmbito de generalização e na progressiva redução do universo de sua referência LURIA 1986 Assim se nos primórdios uma palavra era utilizada para comunicar um número considerável de eventos ou informações aos poucos foi se restringindo o grau de alcance de seus significados os quais passaram a uma determinação maior do contexto Na base da linguagem estão as suas propriedades de comunicação e significação sendo esta última pautada no caráter instrumental do signo2 cuja orientação dáse no sentido da transformação dos próprios homens e mulheres ou dito de outra forma da constituição da consciência Nesse sentido poderseia dizer que até certo ponto a história da palavra reflete a própria história da origem social da consciência Diante desse pressuposto da indissociabilidade da linguagem com a consciência destacamos que estas categorias são a chave para a compreensão do processo de hominização Através da linguagem homens e mulheres emanciparamse da imediatez da realidade prática e passaram a usufruir de uma capacidade exclusiva de sua espécie a de planejar regular e refletir sobre a própria atividade Com a linguagem desenvolvida seu mundo duplicase e o homem passa a poder operar mentalmente com objetos ausentes de seu campo perceptivo e vivencial imediato Ele pode evocar voluntariamente as imagens objetos ações relações independente de sua presença e voluntariamente dirigir este segundo mundo o que inclui sua memória e suas ações Assim podese dizer que não apenas a duplicação do mundo nasce da linguagem mas também a ação voluntária Luria Sem o trabalho e sem a linguagem o pensamento abstrato categorial não poderia existir no homem p 22 É Vygotsky quem aprofunda o estudo da linguagem no processo da constituição dos sujeitos trazendo para esse âmbito a perspectiva do ser humano histórico e social a que nos referimos Basicamente esse autor desenvolve a tese de que não há nada que exista no indivíduo que não tenha existido num primeiro momento no contexto das relações sociais Para ele a linguagem é o veículo de constituição da consciência a partir do contexto das relações sociais sendo que esta última categoria abrange o conjunto das Funções Psicológicas Superiores A linguagem exerce portanto uma dupla função De um lado ela exerce o papel de instrumento criado pelos homens para promover a comunicação entre eles e entre as gerações permitindo o registro e a transmissão da produção cultural historicamente acumulada De outro ela exerce a função de mediação simbólica que permite ao homem desenvolver modos peculiares de pensamento só a ele possíveis Assim a linguagem é constituinte de homens e mulheres ao lhes facultar o acesso e o desenvolvimento das funções psicológicas superiores raciocínio lógico memória voluntária atenção dirigida etc Através da Lei da Dupla Formação que Vygotsky 1984 estabeleceu destacase que a linguagem possibilita a transformação das funções psicológicas elementares em superiores as quais são caracteristicamente humanas Ou seja transforma funções como a memória elementar em memória deliberada onde controlo minha memória ou a atenção elementar em atenção concentrada onde concentro minha atenção no foco desejado Em resumo através da instrumentalização dos signos as funções psicológicas passam a possibilitar ao sujeito atuar na realidade de forma consciente e deliberada Assim a consciência em seu âmbito particular é constituída no contexto das relações de significação com o outro e afirma o ser consciente o ser capaz de regular a própria conduta e vontade ZANELLA 1997 Nas palavras de Vygotsky O sistema de signos reestrutura a totalidade do processo psicológico tornando a criança capaz de dominar seu movimento Ela reconstrói o processo de escolha em bases totalmente novas O movimento descolase assim da percepção direta submetendose ao controle das funções simbólicas incluídas na resposta de escolha Esse desenvolvimento representa uma ruptura fundamental com a história do comportamento e inicia a transição do comportamento primitivo dos animais para as atividades intelectuais superiores dos seres humanos VYGOTSKY 1984 p 3940 A linguagem abrange a dimensão da significação enquanto função do signo PINO 1995 A gênese da consciência nesse sentido é a apropriação da significação da atividade na relação com o outro processo em que o indivíduo transforma as funções interpsicológicas presentesconstituídas naspelas relações sociais em funções intrapsíquicas Por isso homens e mulheres são seres culturais na medida que o que os torna humanos é a apropriação da cultura que é por sua vez produzida pelos próprios seres humanos Compreender essa dimensão dialética do processo de constituição dos sujeitos é condição sine qua non para entender a perspectiva aqui defendida O que se pretende destacar aqui é a forma de pensar nessa perspectiva Estão aí presentes duas dimensões que se relacionam dialeticamente A primeira é a de um sujeito passivo que é constituído socialmente pela apropriação dos significados das relações sociais pela ação do outro que significa a atividade do sujeito a atuação deste no mundo Por outro lado há a dimensão de um sujeito ativo pois essa significação que este sujeito internaliza é única particular uma vez que é apropriação de um ser que possui uma história única a qual determina também as características desse processo de significação Homens e mulheres são neste sentido a síntese que realizam das relações sociais que entabulam em suas vidas e suas singularidades correspondem às condições e contingências sociais a que foram submetidos e ao mesmo tempo constituíram A apropriação da linguagem se apresenta através de um sentido onde a fala compartilhada na relação com o outro é a base para a constituição da fala interior ou seja do discurso interno que estabelece a capacidade de autorregulação para o sujeito A princípio a fala do outro organiza a atividade de criança que por sua vez apropriase dos signos presentes nestas relações e passa a operar com eles dando ordens a si mesma e significando verbalmente sua própria atividade Posteriormente a apropriação da linguagem configura um plano interno da fala que se caracteriza pela abreviação de seus aspectos fonéticos Predomina nesse plano do discurso interior a operação com significados puros face a sua independência dos fatores externos A linguagem interna dirigindose para o próprio sujeito diferenciase também pela preponderância do sentido3 da palavra em relação a seu significado e pela constituição da capacidade de autorregulação da conduta É bastante conhecido o exemplo de Vygotsky delineado através de uma situação cotidiana da maternidade Uma mãe ao ver seu bebê esticando o braço em direção a algum objeto interpreta esse gesto alcançando o objeto à criança A partir daí o gesto adquire significação propiciando à criança que dela se aproprie e passe a operar com base nela Assim num outro momento ela mesma utilizase do gesto na intenção de pedir a alguém que lhe dê algo que não esteja ao seu alcance O cume desse processo se dá no momento em que a apropriação dos significados coincide com a criança orientando sua própria ação de forma consciente através da mediação dos signos Nesse complexo processo de apropriação destacase a temática da relação pensamento e linguagem As conclusões de Vygotsky 1979 caminham no sentido de defender a tese de que o pensamento e a linguagem não são relacionados a priori Tais categorias possuem diferentes raízes genéticas sendo que ambas inicialmente desenvolvemse autonomamente em distintos canais caracterizando uma fase préverbal no desenvolvimento do intelecto e uma fase préintelectual do desenvolvimento da fala Com a apropriação dos signos essas duas linhas se intercruzam formando o pensamento verbal e a fala significativa ambos vistos aqui como síntese da contradição formada neste intercruzamento Pensamento e linguagem são distintos e no entanto inseparáveis a partir do desenvolvimento histórico da consciência Vygotsky identifica o significado da palavra como a unidade desta relação onde pensamento e linguagem são mutuamente constitutivos Para esse autor o significado da palavra se constitui ao mesmo tempo como fenômeno do pensamento e da linguagem através da fala significativa Entretanto ressaltase que pensamento e linguagem preservam suas características estruturais específicas na medida em que como diz Vygotsky A estrutura da linguagem não é um simples reflexo especular da estrutura do pensamento Por isto o pensamento não pode usar a linguagem como um traje sob medida A linguagem não expressa o pensamento puro O pensamento se reestrutura e se modifica ao transformarse em linguagem O pensamento não se expressa na palavra mas se realiza nela VYGOTSKY 1993 p 298 Destacase pois que a expressão de um pensamento via linguagem promove a reorganização deste O significado da palavra transitando através das especificidades destas funções adquire um caráter de constante transformação Sendo o significado da palavra a unidade de análise da relação pensamento e linguagem e posto que este se modifica evolui apresentase a questão de que há no decurso do desenvolvimento do sujeito diferentes configurações desta relação Nesse processo de transformação dos significados contribui em muito a apropriação do conhecimento sistematizado ou como nos aponta Vygotsky dos conceitos científicos Em síntese o processo de desenvolvimento dos conceitos4 e por conseguinte do significado da palavra decorre de um progressivo desvencilhamento da palavra da atividade prática concomitante ao estabelecimento de relações entre as próprias palavras o que caracteriza o conceito científico Este último devido às suas propriedades estabelece um nível diferenciado entre pensamento e linguagem ao mesmo tempo em que reorganiza os conceitos cotidianos Sua estrutura e sua natureza semiótica permitem que se atinjam formas superiores e mais complexas de organização da consciência o do discernimento desta no ato de pensar Fazse importante ressaltar nesse sentido a dimensão dinâmica do significado da palavra na medida em que o âmbito de sua representação eou generalização modificase nas relações sociais Por sua vez modificandose o significado da palavra estabelecese outra relação entre pensamento e linguagem Tal abordagem a este processo está de acordo com o pressuposto fundamental da teoria de Vygotsky ou seja da formação social do psiquismo humano na medida em que as transformações do significado da palavra decorrem de transformações mais amplas que incidem sobre o sujeito e das ações do mesmo na sua relação com o mundo Esse pressuposto pautase por sua vez em um dos princípios básicos do marxismo a saber o de que o homem na sua atividade transforma o mundo e concomitantemente transforma a si mesmo numa relação dialética MARX ENGELS 1989 O processo de significação que constitui os sujeitos todavia dada sua natureza social é permeado por um universo de fatores que o constituem Dentre estes destacase o contexto do qual os significados não se distinguem Referimonos ao fato de que o significado da palavra se apresenta através de diversos sentidos decorrentes do contexto em que se dá o diálogo Deste modo a influência do contexto nos significados pode tanto ampliar a palavra para novas significações através de novos sentidos quanto estreitar o âmbito desta significação VYGOTSKY 1979 Através da obra de Bakhtin 1981 incorporamos outros elementos para compreender a trama constituinte dos processos de significações Para esse autor não há uma realidade da língua que exista fora de sua expressão no diálogo Tal como define enquanto questões básicas não é possível 1 separar a ideologia da realidade material do signo 2 dissociar os signos das formas concretas de comunicação social 3 dissociar a comunicação e as formas de sua base material 1981 p 44 Assim esse autor ressalta a importância dos fatores micro e macro contextuais presentes nas relações sociais onde as enunciações são produzidas Desta forma o signo e a situação social em que se insere estão indissoluvelmente ligados O signo não pode ser separado da situação social sem ver alterada sua natureza semiótica BAKHTIN 1981 p 62 Face a isso o signo sempre ideológico só encontra existência nas relações onde se concretiza enquanto palavra adquirindo sua significação de acordo com o contexto Ressaltando esse aspecto Bakhtin destaca ainda mais a importância dos signos apontando que a atividade mental só existe em função da expressão semiótica na enunciação o que implica que só através dos enunciados é possível o entendimento do fato ideológico Para Bakhtin o signo é por sua natureza vivo e móvel plurivalente expressandose pela dialética da unicidade e pluralidade da significação A ideologia dominante no entanto tem interesse em tornálo monovalente Mesmo as menores variações das relações sociais mesmo aquelas que ocorrem em nível das ideologias do cotidiano que se exprimem na vida corrente onde se formam e se renovam as ideologias instituídas são registradas através da palavra do signo Para Bakhtin 1981 p 62 o discurso verbal está intrinsecamente associado à vida real e não pode ser dela divorciado analiticamente sob pena de perder sua significação Neste sentido ele assume a seguinte tese A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada nem pelo ato psicofisiológico da sua produção mas pelo fenômeno social da interação verbal realizada através da enunciação ou das enunciações A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua BAKHTIN 1981 p 123 Segundo o autor toda enunciação é um diálogo mesmo tratandose de um sujeito individual posto que todo enunciado pressupõe aqueles que o antecederam e todos que o sucederão Desta forma fazendo parte de um processo de comunicação ininterrupto o enunciado é um elo de uma cadeia que para ser compreendido precisa ser associado aos demais A dialogia conceitochave na teoria de Bakhtin transcende portanto a acepção derivada do conceito de diálogo referindose às diversas formas de interação das vozes presentes nos enunciados Para esse autor em qualquer enunciado há sempre mais de uma voz o que ilustra seu caráter social Sendo assim toda enunciação só pode ser compreendida na relação com outras enunciações Tal característica de polifonia WERTSCH SMOLKA 1994 é tratada por Bakhtin quando fala sobre o processo de compreensão dos significados A cada palavra da enunciação que estamos em processo de compreender fazemos corresponder uma série de palavras nossas formando uma réplica A compreensão é uma forma de diálogo ela está para a enunciação assim como uma réplica está para outra no diálogo Compreender é opor à palavra do locutor uma contrapalavra BAKHTIN 1981 p 132 De outro lado cada enunciado inclui toda uma série de conteúdos que extrapolam sobremaneira o que é dito imediatamente as avaliações os conteúdos normativos os juízos de valor as contradições sociais envolvendo critérios de ordens diversas éticos políticos religiosos afetivos entre outros A situação extraverbal a atmosfera social que envolve o sujeito que emite o enunciado e aquele que o recebe é parte constituinte essencial de sua significação Assim outro aspecto importante a se destacar na perspectiva bakhtiniana é a participação do outro como auditório social específico ausente ou não da enunciação de forma que Na realidade toda palavra comporta duas faces Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém como pelo fato de que se dirige para alguém Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro Através da palavra definome em relação ao outro isto é em última análise em relação à coletividade BAKHTIN 1981 p 113 Neste sentido incluso nesse contexto como fator determinante da palavra destacase o outro A palavra portanto através da enunciação é o território comum do locutor e do interlocutor p 113 ou seja a palavra liga uma pessoa a outra e por conseguinte constitui o elo de toda a coletividade Ressaltase nesse sentido que tais elementos da linguagem convergem para a compreensão do tema aqui proposto ou seja do papel desta função na constituição dos sujeitos Em Bakhtin há a ênfase na categoria da consciência e na dimensão dialógica desse processo Para esse autor a consciência constitui um fato socioideológico posto que a realidade da consciência é a linguagem e esta é eminentemente ideológica A consciência é formada pelo conjunto dos discursos interiorizados pelo sujeito ao longo de sua trajetória por um progressivo distanciamento da origem das vozes alheias as quais se tornam próprias do sujeito Através destes discursos o homem aprende a ver o mundo e os reproduz em sua fala Se o discurso é determinado ao menos em parte por formações ideológicas que através dele ganham existência materializamse se a consciência é constituída a partir dos discursos assimilados e se não há homens constituídos fora de seu contexto de relações sociais podese dizer que não há individualidade absoluta nem em nível do sujeito nem em nível do discurso Desta forma o enunciador o falante ao construir seu discurso materializa valores desejos justificativas contradições enfim os conteúdos e embates existentes em sua formação social Reproduz de certa maneira em seu discurso portanto as várias formações discursivas que circulam na estrutura social O chamado discurso crítico por exemplo não surge do nada posto que se constitui a partir dos conflitos e contradições existentes na realidade A palavra é pois a arena onde se confrontam os valores sociais contraditórios relações de dominação e de resistência conflitos de tal forma que segundo Bakhtin Na realidade não são palavras o que pronunciamos ou escutamos mas verdades ou mentiras coisas boas ou más importantes ou triviais agradáveis ou desagradáveis etc A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial BAKHTIN 1981 p 95 Se a linguagem cria e sintetiza concepções de mundo ela ao mesmo tempo é produto social e histórico Constituise como um elemento e um produto da atividade prática do homem e em seu aspecto semântico continua sendo determinada por fatores sociais embora goze de relativa autonomia enquanto sistema linguístico A visão de mundo por ela veiculada portanto não é arbitrária posto que resultante das relações sociais Sua transformação por conseguinte não pode se dar a partir de uma escolha arbitrária À guisa de conclusão para o momento Através da interface dos pressupostos de Vygotsky e Bakhtin temos indicativos fundamentais sobre as especificidades do processo de constituição do sujeito e o papel da linguagem Aprofundar na questão dos limites da relação teóricometodológica destes autores no entanto não nos parece adequado para este momento O que queremos assinalar é o quanto os pressupostos teóricos destes autores complementamse na análise do tema aqui proposto Em ambos temos a defesa da tese da formação social da consciência e da importância dos processos de significação na constituição dos sujeitos Embora digase que a linguagem sofre determinações sociais e que sua modificação não decorre apenas de uma escolha idiossincrática dos sujeitos do discurso não se pode esquecer que estes sujeitos não são passivos pois agem e transformam a linguagem na medida em que a apreendem ativamente É por isso que se pode constatar que uma mesma realidade pode ser apreendida e evocada de forma diferente por homens diferentes Assim como conteúdos ideológicos sistemas de valores que incluem estereótipos socialmente construídos são veiculados através da linguagem e graças a ela são entranhados na consciência de maneira a serem naturalizados os discursos podem engendrar resistências e conteúdos contrahegemônicos fundamentais à transformação social Há que ser astuto neste caso pois como afirma Riobaldo personagem de Guimarães Rosa Todos estão loucos neste mundo Porque a cabeça da gente é uma só e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas muito maiores diferentes e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça para o total Leituras complementares FIORIN JL Linguagem e ideologia São Paulo Ática 1988 O autor mesmo na introdução do seu pequeno e rico livro esclarece seus objetivos verificar qual é o lugar das determinações ideológicas nesse complexo fenômeno que é a linguagem analisar como a linguagem veicula a ideologia mostrar o que é que é ideologizado na linguagem p 7 PALANGANA Isilda C A função da linguagem na formação da consciência reflexões Cadernos CEDES n 35 1995 Neste artigo a autora centra na função da linguagem no processo de formação da consciência tanto no sentido da história da espécie quanto na história do sujeito individual A abordagem utilizada é a históricocultural e sua discussão teórica pretende colaborar para os avanços no campo da educação embora não se restrinja a ele PINO Angel O conceito de mediação semiótica em Vigotsky e seu papel na explicação do psiquismo humano Cadernos Cedes n 24 Campinas Papirus 1991 Pino em seu texto discute o papel da mediação semiótica na constituição do psiquismo humano Centrandose no pressuposto da natureza mediada da atividade humana e da produção pelos próprios homens dos mediadores culturais o autor mostra a importância do conceito mediação semiótica no sentido da superação das dicotomias individualsocial biológico cultural sujeitoobjeto do conhecimento Recomendase ainda a leitura dos trabalhos da equipe de pesquisadores do Núcleo de Estudos e Pesquisa Pensamento e Linguagem da Faculdade de EducaçãoUnicamp em especial aqueles publicados na revista Temas em Psicologia n 1 1993 e n 2 1995 Bibliografia ANDERSON P A crise da crise do marxismo São Paulo Brasiliense 1985 BAKHTIN M Marxismo e filosofia da linguagem São Paulo Hucitec 1981 LURIA AR Pensamento e linguagem as últimas conferências de Luria Porto Alegre Artes Médicas 1986 MARX K ENGELS F A ideologia alemã Feuerbach São Paulo Hucitec 1989 PINO A Semiótica e cognição na perspectiva históricocultural Temas em Psicologia São Paulo 1995 n 2 p 3140 WATZLAWICK P Pragmática da comunicação humana um estudo dos padrões patologias e paradoxos da interação São Paulo Cultrix 1967 WERTSCH JV SMOLKA ALB Continuando o diálogo In DANIELS H Vygotsky em foco Pressupostos e desdobramentos Campinas Papirus 1994 VYGOTSKY LS Obras Escogidas Vol III Madri Visor 1995 Obras Escogidas Vol II Madri Visor 1993 Formação social da mente São Paulo Martins Fontes 1984 Pensamento e linguagem Lisboa Antídoto 1979 ZANELLA AV O Ensinar e o aprender a fazer renda de bilro estudo sobre a apropriação da atividade na perspectiva históricocultural São Paulo Tese Doutorado PsicologiaPUC 1997 1 Alexander R Luria integrou juntamente com Lev S Vygotsky e Alexis Leontiev a famosa troika russa que marcou toda a história e a produção da psicologia ao lançar as bases de uma psicologia segundo o pensamento marxista Para estes pesquisadores o desenvolvimento humano é um processo histórico no qual o social é constituído e constituinte inalienável do homem A linguagem para eles ocupa um lugar fundamental neste processo sendo que o significado das palavras fornece à criança os resultados destilados da história de sua sociedade 2 Segundo Vygotsky 1995 p 83 todo estímulo condicional criado pelo homem artificialmente e do qual se utiliza como meio para dominar a conduta própria ou alheia é um signo Para ele a diferença fundamental entre os homens e os outros animais do ponto de vista psicológico é a significação ou seja a criação e o emprego dos signos p 84 As atividades mediadas pelas ferramentas adaptações mecânicas criadas pelos homens para facilitar seu trabalho corporal têm como alvo o externo ou seja através de seu uso o homem influi sobre o objeto de sua atividade modificandoo O signo por sua vez não modifica imediatamente nada no objeto exterior está voltado para dentro para a atividade interior é o meio pelo qual o homem domina a própria conduta reorientareestrutura a operação psíquica O domínio da natureza e o domínio da própria conduta estão reciprocamente relacionados uma vez que a transformação da natureza implica para o homem a transformação de sua própria natureza p 94 3 O sentido aqui possui uma amplitude e uma variabilidade diferentes do significado que por sua vez é mais estável em sua dimensão social O sentido inclui aspectos relacionados às vivências singulares do sujeito em sua trajetória no mundo constituindo a dimensão afetivavolitiva do signo e portanto guarda um caráter mais privado embora não descolado de sua origem social 4 A definição de conceitos está ligada à sua característica de generalização o que abrange o aspecto de representação semiótica do objeto e o aspecto de abstração de suas propriedades VYGOTSKY 1993 CONHECIMENTO Cleci Maraschin Margarete Axt Para discutir algumas ideias sobre conhecimento e sobre a atividade cognitiva dentro de uma perspectiva da psicologia social precisamos primeiro demarcar os sentidos dos conceitos sobre os quais vamos trabalhar questionando alguns modos corriqueiros de significálos Começamos com a ideia de conhecimento Para o senso comum conhecimento é alguma coisa que se tem não se tem ou se pode ter A possibilidade de possuir conhecimentos já nos revela um de seus sentidos O conhecimento é tido como uma substância ele pode ser acumulado guardado constituindo um acervo público ou privado pode escalonar as pessoas valorizandoas de acordo com o grau de conhecimentos que possuírem pode converterse em mercadoria ser tendido ser transmitido Outro sentido bastante difundido é o de que existem conhecimentos verdadeiros e conhecimentos falsos como se os conhecimentos tivessem uma essência e pudéssemos atestar sua verdade ou sua falsidade Essa essência corresponderia tanto à verdade dos fatos como deseja toda ciência empírica positivista quanto à verdade do sujeito nas posições racionalistas Existem outros sentidos comuns para conhecimento mas para nossos propósitos a ideia de substância e a de essência são as duas primeiras as quais gostaríamos de desconstruir constituindo outro sentido de conhecimento 1 A ideia de substância poderia estar mais relacionada com o conceito de informação do que propriamente com o de conhecimento As informações possuem uma certa materialidade percorrem vias podem ser guardadas constituem acervos Dizemos uma certa materialidade pois com o advento da digitalização da informação ela desvinculase da representação analógica podendo ser somente representada por um sistema binário bits o que possibilita outra forma de acervo global internet Mas como conceituar o conhecimento O conhecimento é aquilo que fazemos com a informação É o sentido que lhe damos é como a combinamos Conhecimento é relação É ação exercício atividade movimento redes conexões Por essa razão é que podemos empregar tanto a ideia de conhecimento quanto a de atividade cognitiva que se sinonimam na ideia de relação 2 A definição de conhecimento como relação também permite questionar o pressuposto de uma natureza do conhecimento Se conhecer é construir sentidos existirão sentidos que podem ser mais interessantes e resistentes para se compreender uma dada realidade mas nem por isso serão verdadeiros ou irão ter validade infinita Às vezes uma teoria um saber popular têm uma durabilidade para além de sua verificabilidade empírica O que os faz permanecer O conhecimento também está relacionado com os regimes de verdades sociais com o poder de grupos para perpetuar certos sentidos em detrimento de outros O encontro entre pessoas ou grupos posicionados a partir de suas certezas gera sempre desenhos estáticos que ao favorecerem a conservação das verdades existentes diminuem ao mesmo tempo as possibilidades de emergência de novas verdades uma vez que as últimas requerem abertura às incertezas às dúvidas e aos desconhecimentos 3 Outra ideia muito difundida é a de que o conhecimento é uma atividade humana um tanto desvinculada das condições sóciohistóricas de sua produção Essa ideia faz parecer que as visões de mundo se transformam num campo próprio das ideias ou das mentes sem muita relação com as tecnologias que lhes dão visibilidade suporte possibilidade de expressão ou mesmo com as práticas e instituições sociais que lhes dão as possibilidades de existência difusão e fixidez Aliado a isso as máquinas de produção simbólica tornam cada vez mais difícil sustentar a ideia de que o conhecimento se processe somente nos cérebros dos sujeitos As máquinas armazenam processam e tratam informações isto é realizam atividades cognitivas mediante processos de interação anteriores ou atuais ou mesmo futuros tanto com os sujeitos individuaiscoletivos humanos como entre elas próprias Por isso fica difícil não pensar em uma mente mais ampla que a individual Pelo que discutimos até agora vai se tornando insustentável a ideia de que o conhecimento se dê somente encapsulado no interior da mente de um sujeito a tal ponto que mesmo a natureza nas condições de hoje é impossível de ser pensada separadamente da cultura incluindose aí a tecnociência em particular as novas tecnologias da informação e da comunicação Nesse contexto tratase de começar a pensar num processo de trocas transversalizadas num contínuo ire vir entre níveis escalares diferenciados como num sistema fractal 4 Resta ainda um último ponto de interesse para a discussão do conhecimentoatividade cognitiva sob uma das perspectivas da psicologia social A análise relativa à construção de conhecimento à cognição tem se sustentado dentro da Psicologia tomando como ponto de análise a relação entre o sujeito cognoscente e os processos sociais como duas unidades sistêmicas diferenciadas se bem que em interação Nosso desafio é propor uma nova unidade de análise na questão do conhecimento ultrapassando a díade sujeito x sociedade Tentaremos mostrar adotando a metáfora da via informacional como as tidas unidades podem ser redesenhadas e uma nova configuração de entrelaçamentos complexos emergir Tomemos a unidade sujeito A ideia mesma de indivíduo correspondente a uma espécie de unidade mental do sujeito humano está sendo discutida e questionada Para Marvin Minsky 1989 não haveria nem mesmo um código ou princípio de organização comum a todo o sistema cognitivo sendo que a própria unidade da mente consistiria muito mais em um mito de sobrevivência do que numa realidade psíquica Estudos recentes em neurologia DAMÁSIO 1996 evidenciam que as múltiplas linhas de processamento sensorial experienciadas na mente não ocorrem todas numa única estrutura cerebral Ao contrário a mente integrada é resultante de uma atividade cerebral fragmentada o que está em conjunto na mente não está em conjunto num determinado local do cérebro Até mesmo a ideia de um fator g da inteligência está sendo questionada pela proposição das múltiplas inteligências de Gardner 1987 Uma nova revolução conceitual se avizinha Ao invés de sujeito talvez fosse melhor falar em componentes de subjetivação trabalhando cada um mais ou menos por conta própria Assim a interioridade se instaura no cruzamento de múltiplos componentes relativamente autônomos uns em relação aos outros e se for o caso francamente discordantes GUATTARI 1993 p 18 Howard Gardner 1987 ao propor a teoria das Inteligências Múltiplas retoma um debate a respeito de um fator geral fator g da inteligência proposto pelo psicólogo Charles Spearmam no princípio do século De acordo com esse último haveria um mecanismo geral superditante da inteligência responsável por todas as habilidades mentais Na época opunhase à concepção de um fator g o psicólogo LL Thurstone postulando uma família de habilidades mentais primárias que apresentavam também relativa independência entre si H Gardner retoma a segunda concepção na forma de Inteligências Múltiplas considerando que apesar das mesmas funcionarem via de regra em harmonia possuem autonomia podendo cada uma separadamente manifestarse ou não Se é difícil pensar a própria mente singular como possuidora de uma organização totalizante ou unidade sistêmica mais difícil ainda tornase sustentar a ideia de sociedade como outra unidade sistêmica Mas como pensar em outra unidade É dentro desse escopo que se começa a pensar numa ecologia das ideias ou ecologia cognitiva Para uma perspectiva ecológica da cognição Bateson 1991 distingue duas modalidades de trocas entre os sistemas as trocas de energia e as trocas de informação Segundo o autor tendemos a indiferenciar as unidades sistêmicas pensando que se tratam das mesmas quando observamos as trocas energéticas e informacionais Nas trocas energéticas as unidades sistêmicas podem ser diferenciadas por uma divisão entre seu interior e seu exterior Assim uma célula constituise em uma unidade sistêmica que é delimitada pela membrana celular Um organismo também é uma unidade sistêmica cuja pele delimita uma interioridade de uma exterioridade etc Mas no caso de trocas informacionais entre sistemas a unidade sistêmica não é a mesma Para o autor a unidade é a própria via de comunicação As relações entre internoexterno são modificadas Interno passa a ter o sentido dos componentes da via Essa diferenciação acarreta uma mudança significativa no modo de se pensar a cognição A cognição como um sistema que troca informações deveria ser definida a partir de Bateson como a via por onde essa informação percorre Todos os componentes da via fazem parte do interior do sistema Bateson 1991 afirma que a mente individual é imanente não apenas do corpo mas também das vias de mensagens exteriores ao próprio corpo existe uma mente mais ampla na qual a mente individual é só um subsistema p 492 Admitindose esta concepção não se pode esquecer que o fato da mente individual pertencer à interioridade da via faz com que ela própria se reorganize estruturalmente construindo novas estruturas cognitivasmentais A unidade do sistema cognitivo é constituída pelos componentes da via informacional A via é um sistema heterogêneo e aberto constituída por sinapses redes neurais tecnologias instituições Ao modificarmos um componente da via informacional transformamos o próprio sistema cognitivo Desta forma existe uma diferença cognitiva se um sujeito utiliza ou não uma ferramenta se insere ou não em alguma instituição É dentro dessa perspectiva que se pode falar de uma ecologia cognitiva esta se caracterizando pela composição em rede de múltiplas vias informacionais Assim podemos por exemplo falar de uma ecologia oral quando as trocas informacionais passam preponderantemente por tecnologias orais de comunicação Também podemos propor uma ecologia cognitiva informática quando temos máquinas de produção simbólica como constituintes da via Uma ideia interessante que decorre da decisão de tomar o conceito de via informacional como metáfora para desenhar a unidade cognitiva é poder também considerar a as instituições sociais como sistemas cognitivos b as instituições sociais como tecnologias intelectuais a As instituições sociais como sistemas cognitivos A principal ideia nesse sentido propõe que toda instituição funcionaria como um sistema cognitivo Pelo próprio fato de existir uma estrutura social qualquer contribui para manter uma ordem uma certa redundância no meio em que ela existe Ora a atividade cognitiva também visa produzir uma ordem no ambiente do ser cognoscente ou ao menos diminuir a quantidade de barulho e caos Conhecer assim como instituir equivale a classificar arrumar ordenar construir configurações estáveis e periodicidades Com apenas uma diferença de escala há portanto uma forma de equivalência entre a atividade instituinte de uma coletividade e as operações cognitivas de um organismo LÉVY p 142 A equivalência fractal possibilitaria mútua retroalimentação as instituições sociais funcionariam como potencializadoras de uma boa parte da atividade cognitiva do sujeito assim como os sujeitos contribuiriam para a construção e reconstrução permanente das instituições Ambos constituintesconstituídos da interioridade da via Dentro dessa ideia tornase possível pensar que as instituições como um sistema cognitivo realizam operações com o conhecimento constroem uma ordem processando classificações de diversas formas hierarquizações e seriações ordenam níveis de complexidade atribuem significados etc enfim reconstroem o conhecimento a partir de sua perspectiva institucional Assim por exemplo uma instituição como uma fábrica potencializa caminhos vias psicogenéticos através de suas operações cognitivas características A questão é como se dá essa potencialização Uma resposta possível seria a que leva em conta a tecnociência como tecnologia intelectual As coletividades e as instituições não são somente constituídas por sujeitos humanos Para além dos sujeitos e de suas ações as tecnologias de comunicação e de processamento de informação desempenham nelas um papel constitutivo configurando suas vias informacionais Tal condição permite que as instituições e as próprias vias informacionais possam ser equivalentes a uma organização reticular de tecnologias intelectuais Assim além de ser pensada como um sistema cognitivo uma instituição poderia ser analisada a partir da rede de tecnologias que a constitui b As instituições pensadas como tecnologias intelectuais Outro conceito central na ideia de uma Ecologia Cognitiva é o de tecnologia intelectual De acordo com o autor citado as tecnologias se transformam em tecnologias da inteligência ao se construírem como componentes da via auxiliando e configurando o pensamento Ao mesmo tempo tornamse metáforas servindo como instrumentos do raciocínio que ampliam e transformam as maneiras precedentes de pensar Mas a partir de que formas operativas as tecnologias intelectuais transformam e reconstituem a Ecologia Cognitiva As tecnologias intelectuais desfazem e refazem as ecologias cognitivas contribuindo para fazer derivar as fundações culturais que comandam a apreensão do real Mas essa relação não pode ser pensada como determinista a técnica inclina pesa pode mesmo interditar Mas não dita LÉVY p 186 Nesse sentido e a título de ilustração a palavra oral a escrita a cibernética são exemplos de tecnologias intelectuais são práticas sociais na medida em que criam signos possibilitam ou limitam modos de expressão e intercâmbio pautam as interações constroem universos de sentido Cada nova tecnologia que constrói um mundo de novas relações sígnicas cada sistema semiótico abre novos caminhos para o pensamento um mundo não só concreto mas também mental conceitual Os discursos não podem ser tratados como um conjunto de signos mas sim como prática social constituinte dos objetos dos quais falam FOUCAULT 1986 p 56 Mas para não correr o risco de enrijecer a Ecologia Cognitiva numa relação mecânica de causa e efeito LÉVY op cit propõe dois princípios de abertura i O primeiro deles denominado de multiplicidade conectada significa que uma tecnologia intelectual conterá muitas outras Configura sempre um sistema de múltiplas tecnologias Assim poderseia pensar que a tecnologia da escrita por exemplo reorganiza outras tecnologias já que a escrita pode empregar o lápis e o papel a máquina de escrever ou o computador No caso da máquina de escrever por exemplo há a escrita o alfabeto a impressão a organização convencional dos tipos que não segue a ordem alfabética a organização dos movimentos dos dedos etc No caso do papel e do lápis há o movimento da mão o posicionamento dos dedos as linhas de um caderno caligráfico etc Podese pensar nas modificações do escrever com a invenção da caneta esferográfica ou mesmo da borracha com o desaparecimento do borrador etc Essas são questões da Ecologia Cognitiva quais as transformações na atividade e no sentido do escrever caso a tecnologia empregada para realizála seja papel e lápis máquina de escrever ou processador de textos Poderia aqui explicitar ainda uma outra questão em relação à escrita quais as transformações na atividade e na significação da escrita quando a escola entra como tecnologia organizativa MARASCHIN 1995 Retomando o princípio da multiplicidade tecnológica o autor citado faz ainda uma advertência não se pode considerar nenhuma tecnologia intelectual como uma substância imutável cujo significado e papel na ecologia permaneceriam sempre idênticos LÉVY p 146 já que os diferentes encaixes na via informacional propiciam transformações ii Outro princípio de abertura consiste na própria interpretação da técnica O sentido de uma técnica não se encontra determinado na origem Os sujeitos no caso instituições ou sujeitos individuais podem fazer e efetivamente fazem novos usos constroem novos sentidos As inovações técnicas tornam possível ou até mesmo condicionam o surgimento de formas culturais mas não necessariamente as determinam Em suma as tecnologias agem então na Ecologia Cognitiva sob duas formas a transformam a configuração das vias sociais de significação cimentando novos agenciamentos possibilitando novas pautas interativas de representação e de leitura do mundo b permitem construções novas constituindose em fonte de metáforas e analogias O conhecimento como rede sociotécnica Os conceitos até aqui explorados da Ecologia Cognitiva possibilitariam pensar o conhecimento ou atividade cognitiva como uma rede sociotécnica Dentro dessa conceituação o conhecimento se compõe pelo interjogo dos sujeitos dos grupos e instituições das relações de poder entre eles das tecnologias de comunicação dos processos de transmissão das ritualidades de passagem etc Essa rede sociotécnica teria uma forma hipertextual A metáfora do hipertexto5 seria segundo o autor válida para todas as esferas da realidade em que significações estão em jogo tal como a cognição humana e as próprias instituições Seis princípios caracterizam o modelo de hipertexto que pode ser aplicado à nossa ideia de conhecimento como relação 1 a metamorfose a rede hipertextual encontrarseia em constante construção e transformação 2 a heterogeneidade os nós e conexões seriam heterogêneos em relação a seus constituintes 3 a multiplicidade de encaixes a rede apresentaria uma organização fractal assim cada nó seria por sua vez organizado por redes 4 a exterioridade não haveria unidade orgânica nem motor interno 5 a topologia o funcionamento se daria por proximidade por vizinhança tudo o que se desloca deve utilizar a rede ou modificála e 6 a mobilidade dos centros a rede não possuiria um centro mas diversos centros permanentemente móveis Segundo esse ponto de vista reticular o conhecimento constitui sistemas cognitivos que funcionam como redes compostas por um grande número de pequenas unidades que podem atingir diversos estados de excitação As unidades apenas mudam de estado em função dos estados das unidades às quais estão conectadas LÉVY p 155 Esse sentido da tecnologia como potencializadora do conhecimento e da atividade cognitiva tem sido proposto por pesquisadores da psicologia genética Ao referirse às novas tecnologias da informação Fagundes 1994 comenta Estas novas ferramentas são capazes de potencializar os poderes mentais do homem No prólogo de seu livro Logo computadores e educação Seymour Papert 1985 relata um exemplo de como a tecnologia pode funcionar como uma metáfora do pensamento Ele confessa sua paixão infantil por engrenagens Escreve que passava bons momentos manipulando e testando efeitos ocasionados pelo engate de diferentes engrenagens Segundo o autor sua curiosidade e a decorrente atividade com as engrenagens propiciaram lhe a construção de um modelo mental que lhe permitiu compreender muitas ideias principalmente os algoritmos matemáticos que de outra forma lhe teriam sido abstratos O próprio autor comenta que Lentamente comecei a formular o que ainda considero o fato fundamental da aprendizagem qualquer coisa é fácil se é possível assimilála à própria coleção de modelos 1994 p 12 Daí a conclusão do autor de que os ambientes de aprendizagem deveriam ser pródigos no oferecimento de modelos para se pensar Os modelos e as tecnologias potencializam a cognição e funcionam em certa medida como objetos para se pensar com ou como próteses mentais BATTRO 1986 LECOCQ 1988 As ideias comentadas acima apontam para uma compreensão da relação entre instituição e atividade cognitiva dentro da perspectiva de uma análise ecológica da cognição Embora ainda realizando seus primeiros ensaios a ecologia cognitiva como vimos pode oferecer ideias interessantes para se pensar com A reconstrução conceitual ou seja o trabalho de tornar próprio um conhecimento pode ser pensado como possibilitado pela participação ativa do sujeito em uma ecologia cognitiva Grifamos o termo ativa pois existe necessariamente uma ação uma atividade do sujeito na manipulação e experimentação uma assimilação reconstrutiva dos próprios esquemas mentais a partir das tecnologias que lhe são acessíveis Afinal ele é um constituinte da via Um dos limites do conhecimento de um sujeito particular consiste no limite coletivo o que foi instituído como conhecido ou conhecível e como as práticas coletivas e as técnicas operam no acesso a tais conhecimentos Assim por exemplo só se torna possível pensar na psicogênese do conceito de caos após ele ter tido uma existência como produto do campo científico ter produzido mudanças na rede de significados teóricos e ter possibilitado a construção de metáforas Da mesma forma só se torna possível estudar a aquisição da escrita quando ela se institui como uma tecnologia coletiva institucionalizada Tomandose por exemplo o escrever na escola entendese que implica uma atividade expressiva e conceitual na qual a ação e a compreensão dos aprendentes estão significadas organizadas legisladas em práticas e tecnologias escolares que regulam suas formas de apreensão e de expressão As condições concretas das práticas e tecnologias escolares constituirseão então em espaços de exercício vias que possibilitarão ou impossibilitarão diferentes percursos da psicogênese da escrita Como exemplo dessas direções destacamos duas delas ou escrever significa o domínio de um sistema de codificação não se constituindo necessariamente em uma ferramenta para o pensamento ou tratase de ingressar num novo modo de pensar tematizando a própria fala Não se trata aqui portanto da questão de saber ler eou escrever e sim de que tal aprendizagem em uma ecologia cognitiva implica concepções e percepções determinadas de espaço e tempo de si próprio e dos demais quer dizer dos elementos fundamentais que conformam a experiência e a mente humanas Em síntese gostaríamos de enfatizar ao final dessa reflexão que não interessou aqui discutir conhecimento em geral como essência humana como condição que iguala a priori todo o humano Também não interessou discutir o conhecimento como aptidão ou como dom e talento Interessou sim discutir o conhecimento como relação como forma de exercício simbólico como resultante de impossibilidades de ação e de expressão concretizado por complexas redes de vias informacionais conectando enquanto uma nova unidade sujeitos individuaiscoletivosintitucionais Em realidade o caminho em direção à construção da ecologia cognitiva como um campo interdisciplinar de conhecimento pode nos ajudar a redesenhar um novo mapa de conceitos que superem as velhas dicotomias no estudo do conhecimento e da cognição A possibilidade de pensarmos a unidade sistêmica como a via informacional ao invés da ideia de organismo x meio faz com que participem efetivamente da ecologia cognitiva além da mente individual as instituições e as tecnologias É dentro desta perspectiva que a proposta se inscreve na psicologia social contemporânea ao vincular o conhecimento às condições sóciohistóricas de sua produção Leituras complementares Uma discussão mais aprofundada sobre a epistemologia do conhecimento científico pode ser encontrada nos escritos de Gaston Bachelard 18841962 principalmente no livro A formação do espírito científico traduzido e publicado pela Editora Contraponto 1996 Nessa obra o autor apresenta o conceito de obstáculo epistemológico mostrando que existem dificuldades e resistências no próprio ato de conhecer O autor foi um dos primeiros a insistir na ideia do conhecimento como relação que tem sido fundamental para o delineamento de uma epistemologia complexa tal como enfatiza Edgar Morin no livro Introdução ao pensamento complexo editado pelo Instituto Jean Piaget 1990 Sobre a complexidade da mente Marvin Minsky no livro A sociedade da mente editado pela Editora Francisco Alves 1989 sustenta a ideia de diversidade mental baseado numa série de características 1 acúmulo de uma infinidade de subagentes 2 vários domínios de raciocínio comum 3 talento de várias protomentes instintivas 4 hierarquias administrativas 5 vestígios evolucionários de animais que ainda permanecem dentro do cérebro 6 desenvolvimento da personalidade infantil 7 legado complexo e sempre crescente da língua e da cultura e 8 subordinação dos processos de raciocínio a censores e supressores Cada uma delas proporciona irredutibilidade e versatilidade ao pensamento ao oferecer maneiras alternativas para prosseguir quando qualquer sistema falha As relações entre a biologia e o conhecimento têm na obra de Jean Piaget uma das contribuições mais significativas para a psicologia E interessante apontar neste sentido o conceito de autorregulação de Piaget que se encontra explicitado na obra Biologia e conhecimento editada pela Editora Vozes 1973 Nesta mesma linha de preocupação pode ser interessante a análise do conceito mais atual de autopoiesis de Maturana e Varela no livro De maquinas y seres vivos da Editora Universitária 1995 Sobre o conceito de ecologia cognitiva são interessantes as obras de Gregory Bateson Félix Guattari e Pierre Lévy todos citados nas referências bibliográficas O livro de Pierre Lévy fornece muitas ferramentas conceituais para compreendermos as transformações do conhecimentointeligência em uma sociedade informatizada Bibliografia BATESON Gregory Pasos hacia una ecologia de la mente Buenos Aires Editorial Planeta 1991 BATTRO Antônio Computación y aprendizaje especial Buenos Aires El Ateneo 1986 DAMÁSIO Antônio R O erro de Descartes emoção razão e o cérebro humano São Paulo Companhia das Letras 1996 FAGUNDES Léa da Cruz Novas tecnologias da informação e educação In Brasil Ministério da Educação e do Desporto Secretaria da Educação Média e Tecnológica Informática na escola Pesquisas e experiências Brasília 1994 FOUCAULT Michel As palavras e as coisas uma arqueologia das ciências humanas Lisboa Edições 70 1986 GARDNER Howard Estructuras de la mente la teoria de las múltiples inteligências México Biblioteca de Psicologia y Psicoanálisis 1987 GUATTARI Félix As três ecologias Campinas Papirus 1993 LECOCQ Pierre et al A propôs des prothèses cognitives In CAVENI JP Psicologie cognitive modeles etméthode Paris PUG 1988 LEVY Pierre O que é virtual Rio de Janeiro Editora 34 1996 As tecnologias da inteligência o futuro do pensamento na era da informática Rio de Janeiro Editora 34 1993 MARASCHIN Cleci O escrever na escola da alfabetização ao letramento Tese de Doutorado FacedUFRGS 1995 MINSKY Marvin A sociedade da mente Rio de Janeiro Francisco Alves 1989 PAPERT Seymour Logo computadores e educação São Paulo Brasiliense 1985 PIAGET J Adaptación vital y psicologia de la inteligência Madri Siglo XXI 1978 5 A definição de hipertexto do autor é a seguinte Tecnicamente um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões Os nós podem ser palavras páginas imagens gráficos ou partes de gráficos sequências sonoras documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos Os itens de informação não são ligados linearmente como em uma corda com nós mas cada um deles ou a maioria estende suas conexões em estrela de modo reticular Navegar em um hipertexto significa portanto desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível Porque cada nó pode por sua vez conter uma rede inteira LÉVY 1993 p 33 COMUNICAÇÃO Adriane Roso Embora vários estudiosos tenham se empenhado em discutir a comunicação ela ainda não é central no estudo das Ciências Humanas e Sociais No campo da psicologia percebemos isso mais explicitamente Poucas são as publicações ligando comunicação e psicologia Além disso existem diversas áreas de especialização dentro da academia como a psicologia clínica escolar psicometria etc mas não encontramos uma psicologia da comunicação Isto está mudando aos poucos e certamente essa área apresenta um futuro promissor Tornase vital compreender a comunicação mesmo para aqueles que não pretendem se especializar nessa área Há diversos aspectos a serem estudados na comunicação Nossa proposta é estudar a comunicação de massa Para tal nos deteremos nas maneiras pelas quais o desenvolvimento e as práticas ligadas aos meios de comunicação de massa podem afetar o modo como as pessoas agem e se relacionam entre si Dito de outro modo estamos interessados em estudar o papel de mediação isto é como as ações humanas são atualmente mediadas pela mídia nas sociedades modernas Moscovici 1972 coloca com muita convicção e clareza que o objeto central e exclusivo da Psicologia Social deve ser o estudo de tudo aquilo que se refere à ideologia e à comunicação do ponto de vista da sua estrutura sua gênese e sua função p 55 Para aqueles que adotam uma concepção de ser humano historicamente construído e que enxergam a sociedade como um produto históricodialético a comunicação obrigatoriamente tornase um problema central a ser estudado e desvelado A preocupação não é mais com o que é comunicado na nossa sociedade mas sim com a maneira com que se comunica e qual o significado que a comunicação tem para o ser humano A comunicação deve ser estudada como um campo de problemas na medida em que sua prática requer a superação da própria realidade Todos os dias somos envolvidos e dominados por informações imagens sons que de uma forma ou de outra tentam mudar criar ou cristalizar opiniões ou atitudes nas pessoas Isto é a própria mediação de nossas relações sociais Como assinala Guareschi 1993 não há como negar a evidência de que hoje os meios de comunicação envolvem os seres humanos num novo espaço acústico que McLuhan 1962 1969 1967 chama de mundo retribalizado onde eles passam a ser bombardeados instantaneamente por variadíssimas e inúmeras informações de todas as partes do mundo p 20 Esse espaço acústico pode assumir muitas vezes características de um agente revolucionário imperialista que tem o poder de construir e moldar os seres humanos como bem entende Assim quem controla esse espaço pode determinar que tipo de ser humano vai se formar Sendo a comunicação nosso objeto de estudo passamos anos indagar sobre algumas questões como De que maneiras podemos estudar a comunicação O que as teorias em Psicologia têm a dizer sobre ela Ela está a serviço de quem Iniciaremos mostrando como diferentes correntes teóricas podem abordar e iluminar o tema em discussão A comunicação tem sido vinculada às diversas concepções teóricas em psicologia social Desenvolveremos quatro dessas concepções o Comportamentalismo o Cognitivismo a Psicanálise e a Teoria Crítica O foco de nossa atenção vai centrarse contudo na Teoria Crítica pois é através dela que se pode mostrar as limitações e a ideologia das outras teorias Comportamentalismo Compreender a concepção de ser humano dessa teoria é fundamental Para ela o ser humano é como se fosse uma máquina que se comporta de maneiras previsíveis e regulares em resposta às forças externas aos estímulos que o afetam SCHULTZ SCHULTZ 1992 Consequentemente os processos básicos da personalidade estão fora do próprio indivíduo e são gerados por estímulos e reações que são observáveis Para mudar criar aprender ou ensinar determinado tipo de comportamento recorrese a dois tipos de condicionamento clássico e operante O primeiro envolve o comportamento reflexo onde o organismo responde automaticamente a um estímulo Grande parte da publicidade é baseada neste processo onde estímulos externos podem ser usados para estimular uma resposta ao marketing quando uma necessidade é criada entre os consumidores O segundo abarca o processo de aprendizagem no qual é mais provável que uma pessoa faça ou não certo ato porque foi reforçada ou punida no passado Associado a isso acreditase que em vez de simplesmente aprendermos pela vivência direta do reforço aprendemos por meio da modelagem observando outras pessoas e estabelecendo os padrões do nosso comportamento com base no delas SCHULTZ SCHULTZ 1992 No caso da comunicação de massa a aprendizagem através da modelagem pode ser sumarizada assim uma pessoa observa alguém na mídia identificase com este e infere que o comportamento observado poderá produzir certo resultado desejado se for imitado Quando confrontada com circunstâncias relevantes recordase do modelo e reproduz o comportamento Isso causa alívio e reforça o vínculo entre esses estímulos e a resposta modelada aumentando a possibilidade de que se repita a ação quando frente a semelhante situação Mas qual a utilidade disso Acreditase que veiculando o modelo com o qual se pretende que o telespectador se identifique o resultado virá automaticamente Por exemplo escolhese uma artista famosa e sexy para vender um refrigerante diet a telespectadora quer ser igual a ela e então compra tal produto Vêse assim que quem controla os reforços pode controlar o comportamento ou que quem controla os modelos de uma sociedade pode controlar o comportamento O homem é tomado como um objeto passível de controle e a comunicação de massa passa a ser um instrumento desse controle Cognitivismo O foco dos cognitivistas está no processo de conhecimento e não na díade estímuloresposta como no comportamentalismo Os cognitivistas estão interessados na forma como a mente estrutura e organiza de forma criativa a experiência A teoria da Gestalt enquadrase aqui O pressuposto básico dessa teoria é que as pessoas estão constantemente organizando partículas e pedaços de informação em padrões significativos WORTMAN LOFTUS MARSHAL 1981 p 127 e o seu grande valor posicionase no insight de que o todo determina as partes as quais contrastam com a assunção prévia de que o todo é meramente a soma total de seus elementos Assim uma propaganda de tevê por exemplo não é apenas imagens sons palavras A percepção que um indivíduo vai ter de determinada propaganda será construída a partir de suas sensações e estas irão formar o todo Acreditase que há mais coisas na percepção do que enxergam nossos olhos e a percepção vai além dos elementos sensoriais Psicanálise Muitos pressupostos da psicanálise podem também nos ajudar a compreender ao menos em parte estratégias empregadas pela mídia a fim de que determinadas propagandas e publicidades tenham resultado No ser humano existem inúmeros desejos como desejos de consumo desejo de afeto etc Vamos considerar dois pontos da abordagem psicanalítica que iluminam o caminho em direção à compreensão desses fenômenos O primeiro referese aos processos mentais da ação mútua de forças que são originalmente da natureza de instintos FREUD 1980 vol 20 Mas qual a importância de entender os instintos a libido e suas fases para a comunicação Reconhece Freud que todos os desejos impulsos instintivos modalidades de reação e atitudes da infância achamse ainda demonstravelmente presentes na maturidade e em circunstância apropriada podem mais uma vez surgir Comerciais de televisão podem auxiliar determinadas pessoas a encontrar uma fonte de satisfação para desejos que ficaram insatisfeitos na infância Por exemplo certo comercial de cerveja ilustra isso ao associar sua embalagem símbolo fálico a uma parte do corpo da mulher colocando uma garrafa ao lado da outra causando a impressão de que elas formam seios símbolos orais O segundo ponto que vamos considerar referese ao princípio de prazer desprazer O desprazer está relacionado com um aumento de excitação e o prazer com uma redução Como a satisfação de parte das necessidades dos seres humanos é regularmente frustrada pela realidade procuramos encontrar algum outro meio de manejar nossos impulsos insatisfeitos É justamente aí que está o perigo pois sabendo que existe uma tendência interior a buscar sempre o prazer e que a realidade não satisfaz sempre esse prazer os comerciais tentam então suprir nossas carências de modo que o princípio do prazer sobrepuje seu rival Então comerciais que incitam busca de prazeres que são difíceis de ser conquistados podem acarretar consequências negativas para os próprios seres humanos A psicanálise poderá ajudar certamente a compreender alguns mecanismos psicológicos que se dão no interior da pessoa controlados em geral por forças inconscientes Não dá conta entretanto de explicar todo o mecanismo social e suas implicações Teoria crítica Enquanto que o comportamentalismo o cognitivismo e a psicanálise se preocupam mais com o indivíduo explicando apenas parte do caminho os teóricos críticos ao repensarem o ser humano a partir dos aspectos ideológicos e culturais da sociedade explicam outros fenômenos dos quais as teorias anteriores não podem dar conta Diferentemente das outras teorias a Teoria Crítica já de início se preocupou em estudar a comunicação Há mais escolas que adotam o referencial crítico contudo a mais importante que é chamada inclusive de Teoria Crítica é a Escola de Frankfurt Esta sempre esteve interessada na investigação da problemática da comunicação Segundo Guareschi 1993 os primeiros teóricos dessa escola partiram da constatação da não realização de um pressuposto marxista que afirmava estando maduras as contradições presentes nas relações de produção a transformação da sociedade aconteceria automaticamente Para os frankfurtianos essas contradições já estavam profundas em diversas formações sociais mas a dominação continuava sempre mais acentuada Perceberam que havia outra variável que influenciava a realidade da dominação nessas sociedades a ideologia Para eles a crítica radical da sociedade e a crítica da ideologia são inseparáveis e essa crítica não é moralizante A ideologia está aí para ser questionada e analisada não por ser repugnante ou imoral mas por ser falsa por ser ilusão A crítica feita pelos frankfurtianos ao marxismo ortodoxo é dupla 1 a infraestrutura econômica deixa de ser o centro da análise social ampliandose para todas as esferas da sociedade e 2 eles desenvolvem a noção de consciência e recuperam a subjetividade através da análise das maneiras de desenvolvimento da subjetividade e o modo como as esferas da cultura e da vida cotidiana representam um novo campo de dominação Esses dois pontos encontramse articulados e deles se origina uma série de conceitos que ajudam a dar sustentação à teoria Não seria possível nesse momento aprofundar todos os conceitos e tópicos de discussão aos quais a teoria nos remete Entretanto para entender como a Teoria Crítica discute a comunicação de massa é fundamental rever dois conceitos civilização e cultura A civilização é o mundo concreto da reprodução material do trabalho da necessidade e do sofrimento Ela representa a exterioridade Em contrapartida a cultura representa a interioridade o mundo das ideias do prazer e de tudo que se refere ao espírito MARCUSE 1970 Até certo tempo atrás a dicotomia entre esses dois conceitos mostrados quase como opostos explicava em parte o fato das pessoas se alienarem às insatisfações e desigualdades do mundo exterior de modo a não lutar contra a infelicidade causada pela exploração capitalista Ou seja a cisão entre sujeitoobjeto entre bommau entre dominadordominado servia para a preservação das assimetrias sociais Esse modelo explicativo baseado nessa dicotomia com o passar do tempo foi perdendo sua força no sentido de controlar o descontentamento dos trabalhadores Surgiu a necessidade da criação de mecanismos mais sofisticados a cultura passa a ser transformada em mercadoria perdendo suas características para ser um valor de troca Isto é passa a existir uma cultura industrial Segundo Freitag 1988 essa nova forma de produção de cultura tem a função de ocupar o espaço do lazer que resta às pessoas depois de um longo dia de trabalho a fim de recompor suas forças para voltar a trabalhar no dia seguinte A indústria cultural cria a ilusão de que a felicidade não precisa ser adiada para o futuro por já estar concretizada no presente A indústria cultural ao se vincular aos meios de comunicação encontra uma fórmula magnífica para alimentar o sistema A primeira coisa que muitas pessoas fazem ao chegarem em casa cansadas e insatisfeitas é ligar a televisão no seu canal predileto para se desligarem de uma realidade opressora Para aqueles aos quais a televisão tradicional já não respondia satisfatoriamente foram criadas a televisão a cabo e a internet Através deles os buracos do coração que estão cada vez mais profundos são preenchidos por desejos de consumo por ideais de liberdade pelo individualismo e por uma falsa felicidade A consequência disso é a eliminação da dimensão crítica necessária à destruição dessa cultura industrial sem a qual não haverá emancipação Mas como os teóricos críticos agem para lutar contra a indústria cultural Em primeiro lugar como salienta Geuss 1988 os teóricos críticos tomam posição clara diante da ação humana visando ao esclarecimento das pessoas que a assumem fazendoas capazes de descobrir quais seus interesses e levando esses agentes à libertação das coerções às vezes autoimpostas e sempre autofrustrantes Esse autor salienta ainda que ao mesmo tempo que a Teoria Crítica é uma forma de conhecimento ela difere epistemologicamente das teorias das ciências naturais que são objetificantes ao passo que as críticas são reflexivas Esses são resumidamente os pilares da Teoria Crítica e a partir deles todo o referencial teórico e prático é montado A esquizoanálise como pensada por Guattari Deleuze e Rolnik não se distancia fundamentalmente desse referencial Ela traz também algumas luzes para compreendermos os mecanismos empregados pela comunicação principalmente a comunicação de massa Ela surge como uma crítica a alguns psicanalistas afirmando que reproduz a essência da subjetividade burguesa e cria uma relação de força que arrasta os investimentos de desejo para fora do campo social Deste modo ela recusa a ideia de que o desejo e a subjetividade estejam centrados nos indivíduos mas sim afirma que eles são construídos socialmente Ou seja essa é uma ideia de subjetividade essencialmente fabricada modelada recebida e consumida que por sua vez ultrapassa os níveis de produção e do consumo e atinge o próprio inconsciente dos indivíduos Isto quer dizer que tudo aquilo que acontece quando sonhamos fantasiamos ou nos apaixonamos são afetos produzidos socialmente pelo capitalismo moderno e estão diretamente relacionados com o modo dos indivíduos perceberem o mundo de se modelizarem os comportamentos e de se articularem as suas relações sociais CZERMAK DA SILVA 1993 p 45 Essa modelagem e fabricação é feita através de diferentes agenciamentos técnicos com os quais as pessoas têm contato Hoje essa subjetividade está marcada pela tecnologia Essa ideia de produção de subjetividade de desejos é um ponto de partida para entendermos melhor as contribuições da esquizoanálise para a comunicação O desejo é aqui entendido como movimentos intensivos que se expressam através da subjetividade enquanto modo dos indivíduos perceberem o mundo e articularem as suas relações sociais O desejo é a produção do real e implica a noção de agenciamento pois as pessoas desejam algo sempre dentro de um contexto Um carro importado para o brasileiro por exemplo é desejado porque ele representa algo seja status social ou apenas um produto mais durável que os nacionais Assim o desejo está sempre conectado com o exterior e a mídia transforma se em uma das fontes mais poderosas da produção desses desejos Ela cria o desejo de possuirmos carros cada vez mais velozes cria a necessidade de um corpo dietético etc Desse modo os meios de comunicação falam ao sujeito brasileiro criando uma massa desenraizada produtiva que chamamos de indivíduo e mantêm o sistema hierarquizante das relações A esquizoanálise sugere que através de um processo de individuação da subjetividade de expressão e criação ou seja da singularização a ruptura dessa ordem capitalista pode se consumar A fonte para essa singularização é o deciframento dos modos de subjetivação dominantes na sociedade capitalista a releitura da situação a crítica a todas as formas de reducionismo que levam a um empobrecimento dos movimentos do desejo Embora Guattari 1988 afirme que Façao poderia ser a palavra de ordem da esquizoanálise acreditamos que dentro da Teoria Crítica é John B Thompson 1995 que nos brinda com uma abordagem que é iluminada por fundamentos de ordem prática Ele desenvolveu uma forma de analisar a mídia que é fundamentalmente ideológica e cultural ou seja que está preocupada não somente com o caráter significativo das formas simbólicas mas também com a contextualização social das mesmas Não importa somente o que elas significam mas como elas significam dentro de determinado contexto social Por formas simbólicas entendese o amplo espectro de ações e falas linguísticas ou não linguísticas ou quase linguísticas expressões faladas ou escritas imagens e textos que são produzidos por sujeitos e reconhecidos por eles como construtos significativos THOMPSON 1995 Assim quase tudo que vemos ouvimos ou percebemos em fontes de comunicação pode ser entendido como uma forma simbólica O problema surge quando essas formas simbólicas se colocam a serviço do poder a serviço da ideologia Ideologia segundo Thompson vem a ser as maneiras como o sentido significado mobilizado pelas formas simbólicas serve para estabelecer e sustentar relações de dominação THOMPSON 1995 p 79 Relações de dominação são relações estabelecidas de poder sistematicamente assimétricas isto é quando grupos particulares de agentes possuem poder de uma maneira permanente e em grau significativo permanecendo inacessível a outros agentes ou a grupo de agentes independentemente da base sobre a qual tal exclusão é levada a efeito Talvez seja Thompson quem melhor apresente um instrumental para analisar e interpretar a ideologia na mídia Ele se pergunta como desmascarar o sentido que está a serviço do poder sugerindo que a ideologia pode operar através de cinco modos principais com suas respectivas estratégias Elegemos alguns desses modos e estratégias remetendo o leitor para a discussão mais completa THOMPSON 1995 p 8089 O primeiro modo é denominado legitimação A mídia através dessa estratégia veicula uma cadeia de imagens que mostra funcionários públicos como trabalhadores incompetentes faltosos e bem remunerados persuadindo a audiência de que apoiar a supressão da estabilidade empregatícia é coisa louvável e digna que deve ser incentivada Uma estratégia da legitimação é a universalização Acordos feitos entre montadoras de automóveis e governos ilustram isso É dito que tais acordos trarão benefícios a todos Na verdade são pequenos grupos que são beneficiados e a grande maioria da população apenas ajuda a pagar tais privilégios Um segundo modo é a dissimulação Um exemplo dessa estratégia é quando assistimos a uma entrevista de políticos do norte e eles usam a expressão latinos O uso de tal termo pode dissimular negar ou inverter as relações entre coletividade e suas partes pois não sabemos bem de que latinos eles se referem Um terceiro modo é via unificação A campanha televisiva de privatizações de companhias estatais é ilustrativa desse modus operandi Ela tenta mostrar que o governo e os telespectadores estão unidos pelos mesmos ideais e vontades dizendo que O governo é igualzinho a você O telespectador passa a se identificar com o governo e enxerga as atitudes deste como uma projeção de seus próprios desejos Um quarto modo de operação da ideologia é a fragmentação A representação de movimentos populares de trabalhadores na mídia é um exemplo claro Ao invés da mídia enfatizar os ideais coletivos dos movimentos ela enfatiza imagens sobre episódios de violência ou colocando facções umas contra as outras fragmentando esses grupos em partes conflitantes Tentamos mostrar até aqui como podemos interpretar aspectos da comunicação de massa a partir da ideologia Essa é uma tarefa difícil porém necessária se objetivamos adotar uma postura crítica no sentido de emancipar as pessoas das relações de dominação As contribuições da Teoria Crítica são iluminadoras nesse sentido especialmente as contribuições de Thompson pois elas dão conta de responder questões de ordem prática pouco discutidas em geral por outras teorias Considerações finais Várias teorias em psicologia social tentam compreender o papel da mídia na sociedade Todas de um modo ou de outro tentam iluminar essa problemática Algumas teorias contudo não dão conta de explicar determinados mecanismos e obscurecem a compreensão global da realidade Elas explicam algo mas ficam no meio do caminho Assim por exemplo o que está por detrás do comportamentalismo cognitivo e psicanálise é uma visão cartesiana a dicotomia entre o mundo externo e interno Cada abordagem tem sua maneira específica de explicar e lidar com essa dicotomia Tanto os comportamentalistas quanto os cognitivistas partem da concepção de que existem seres humanos que podem saber o que é melhor para a humanidade e portanto são dignos de controlar e construir desejos nas pessoas Muitas vezes mesmo de forma não proposital os pressupostos dessas três teorias podem ser usados para um fim comum manipular pessoas Consequentemente os postulados e princípios dessas correntes podem orientar pessoas e instituições no sentido da manipulação e construção de meios que reforcem as relações de dominação A Teoria Crítica tenta romper com essa visão cartesiana O ser humano é compreendido sob a ótica processual onde a pessoa e a sociedade são tomadas como realidades históricas contraditórias em um processo contínuo de construção e transformação A realidade é entendida como socialmente construída Podemos ver assim que a Teoria Crítica nos proporciona um referencial teórico e prático mais amplo e adequado para o estudo da comunicação Ela tem o compromisso básico de denunciar relações assimétricas e de lutar pela libertação de qualquer forma de relação de dominação através do desafio à realidade do questionamento da crítica e da luta contra o controle e a manipulação Ela possui assim uma dimensão emancipatória A Teoria Crítica com seus postulados teóricos e práticos dá garantia para que não se engane todo um povo ou algumas pessoas o tempo todo GUARESCHI 1996 p 103 Para que a emancipação ocorra é importante que as pessoas se reúnam para discutir criticamente comunicação que é veiculada tendo consciência da possibilidade de mudança e de seus direitos a uma comunicação ativa e não apenas passiva Sugestão de leituras THOMPSON JB Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995 Um livro abrangente e central onde o autor ao mesmo tempo que discute as teorias sobre ideologia oferece uma teoria social para a compreensão do papel da mídia nas sociedades modernas Do mesmo autor temos The Media and Modernity A Social Theory of the Media Cambridge Polity Press GUARESCHI PA coord Comunicação e controle social Petrópolis Vozes 1993 A leitura desse livro é interessante pois traça uma ligação entre a psicologia social e a comunicação Para tal apresenta uma visão geral do fenômeno da comunicação enfatizando temas como cultura poder e controle social A seguir trata sobre as contribuições que as diversas abordagens teóricas da psicologia trouxeram para o campo da comunicação Sugerimos também a leitura de dois outros livros desse mesmo autor Comunicação e poder A presença e o papel dos meios de Comunicação de Massa Estrangeiros na América Latina 1994 10 ed Petrópolis Vozes caps 3 e 4 e Sociologia crítica Alternativas de mudança 1996 44 ed Porto Alegre Mundo Jovem principalmente os caps 18 19 e 21 Bibliografia CZERMAK R DA SILVA RAN Comunicação e produção da subjetividade In GUARESCHI PA org Comunicação e controle social 2 ed Petrópolis Vozes 1993 p 4451 FREITAG B A teoria crítica ontem e hoje 2 ed São Paulo Brasiliense 1988 FREUD S Um estudo autobiográfico Inibições sintomas e ansiedade A questão da análise leiga e outros trabalhos In Edição Standard das Obras Psicológicas Completas Vol 20 Rio de Janeiro Imago 1980 GEUSS R Teoria crítica Habermas e a Escola de Frankfurt Campinas Papirus 1988 GUARESCHI PA Sociologia crítica alternativas de mudança 37 ed Porto Alegre Mundo Jovem 1996 org Comunicação e controle social 2 ed Petrópolis Vozes 1993 GUATTARI F O inconsciente maquínico ensaios de esquizoanálise São Paulo Papirus 1988 MARCUSE H Cultura e sociedade Lisboa 1970 MOSCOVICI S Society and theory in social psychology In ISRAEL J TAJFEL H eds The context of Social Psychology Londres Academic Press 1972 p 1768 SCHULTZ DP SCHULTZ SE História da psicologia moderna 6 ed São Paulo Cultrix 1992 THOMPSON JB Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995 WORTMAN C LOFTUS EF MARSHALL M Psychology Nova Iorque Alfred A Knopf 1981 IDENTIDADE Maria da Graça Jacques Sobre o que é o amor Sobre o que eu nem sei quem sou Se hoje sou estrela amanhã já se apagou Se hoje eu te odeio amanhã te tenho amor Lhe tenho amor Lhe tenho horror Lhe faço amor Eu sou um ator Prefiro ser esta metamorfose ambulante Raul Seixas A música a literatura o cinema as artes em geral têm se dedicado com frequência ao tema identidade Em geral tem suscitado interesse quando associado a casos paradoxais como a reencarnação de almas os transplantes de cérebro entre outros No nosso cotidiano por vezes seguidas também nos defrontamos com a necessidade de responder a pergunta quem és a que a identidade remete A repetição da resposta não traz certezas sobre seu conteúdo Ao contrário O emprego popular do termo é tão variado e o contexto conceptual tão amplo que o que ostenta um nome tão definitivo continua tão sujeito a inúmeras variações Há uma grande semelhança entre essa frustração cotidiana e as dificuldades de definila nos variados campos do conhecimento visto que diferentes concepções tentam explicar como nos tornamos humanos a partir de compreensões diversas sobre natureza humana Além da filosofia a antropologia a sociologia e a psicologia têm se dedicado à temática A importância conferida ao estudo da identidade foi variável ao longo da trajetória do conhecimento humano acompanhando a relevância atribuída à individualidade e às expressões do eu nos diferentes períodos históricos Os estudos etnográficos revelam o caráter difuso do conceito de eu entre povos primitivos na Antiguidade Clássica ganha importância acompanhando um aumento no valor à vida individual e ao mundo interno seguindose um declínio acentuado a partir da influência da concepção cristã de homem e do corporativismo feudal Este declínio foi tão acentuado que os historiadores se referem à descoberta da individualidade nos séculos XI XII e XIII o que se reflete na linguagem na literatura nas artes plásticas O movimento romântico representa o ápice do culto ao egocentrismo e à introspecção já por influência do protestantismo e das formas capitalistas de produção o que vai se refletir na profusão de produções teóricas sobre o tema identidade inclusive na área da psicologia em seus primórdios como ciência independente Os estudos sobre identidade no âmbito psicológico passam em geral pela psicologia analítica do Eu e pela psicologia cognitiva Em comum caracterizam o desenvolvimento por estágios crescentes de autonomia e consideram a identidade como gerada pela socialização e garantida pela individualização Segundo a perspectiva de Erik Erikson 1972 um dos autores cujos estudos sobre o tema são bastante difundidos a identidade tem como modelo o indivíduo em situação de competência e eficácia sociais crise de identidade cisão de identidade são terminologias empregadas que sugerem uma forma abstrata atemporal e ahistórica de concebêla Em psicologia social a problemática da identidade ocupou um lugar central nos estudos de William James 1920 e na tradição do Interacionismo Simbólico nos trabalhos pioneiros de George Mead 1934 Após um período de poucos avanços a temática voltou a receber atenção através de trabalhos sobre as relações entre os grupos sobre a diferenciação social sobre a identidade marginal O ponto de vista contemporâneo questiona alguns princípios fortemente arraigados na tradição teórica do estudo sobre o tema especialmente as perspectivas naturalista essencialista e maturacionista como veremos mais adiante Como os autores conceituam a identidade Quando se referem ao conceito de identidade os autores empregam expressões distintas como imagem representação e conceito de si em geral referemse a conteúdos como conjunto de traços de imagens de sentimentos que o indivíduo reconhece como fazendo parte dele próprio Na literatura norte americana o termo consagrado é self ou selfconcept correspondendo a conceito de si a tradição europeia privilegia a noção de representação de si A identidade pode ser representada pelo nome pelo pronome eu ou por outras predicações como àquelas referentes ao papel social No entanto a representação de si através da qual é possível apreender a identidade é sempre a representação de um objeto ausente o si mesmo Sob este ponto de vista a identidade se refere a um conjunto de representações que responde a pergunta quem és Essa diversidade terminológica expressa a diversidade teóricometodológica dos autores ao abordarem o tema reflete ainda uma certa dificuldade de exprimir conceitualmente sua complexidade Em parte por esta dificuldade conceptual os sistemas identificatórios são subdivididos e a identidade passa a ser qualificada como identidade pessoal atributos específicos do indivíduo eou identidade social atributos que assinalam a pertença a grupos ou categorias esta última ainda recebe predicativos mais específicos como identidade étnica religiosa profissional etc Jurandir Freire Costa 1989 emprega a qualificação identidade psicológica para se referir a um predicado universal e genérico definidor por excelência do humano em contraposição a apenas um atributo do eu ou de algum eu como é a identidade social étnica ou religiosa por exemplo Habermas 1990 referese a identidade do eu que se constitui com base na identidade natural e na identidade de papel a partir da integração dessas através da igualdade com os outros e da diferença em relação aos outros Com base no pressuposto inter relacional entre as instâncias individual e social a expressão identidade psicossocial vem sendo empregada NETO 1985 buscando dar conta desta articulação Constatase portanto o uso de predicativos diversos para qualificar os diferentes sistemas identificatórios que constituem a identidade A imprecisão conceitual da temática resultado de abordagens diversas e de sua própria complexidade talvez possa ser melhor esclarecida a partir do exame de algumas especificidades que a constituem Como se constitui a identidade A moderna teoria da evolução explica as mudanças acontecidas no desenvolvimento dos seres vivos a partir dos mecanismos de reprodução diferencial das variações genéticas Esses mecanismos dão conta do processo evolutivo das plantas dos animais e da espécie humana até o surgimento do Homo sapiens sapiens Os estudos nas áreas de anatomia antropologia e paleontologia endossam as propostas de que o processo a partir do Homo sapiens sapiens passa a ser regido pelas chamadas leis sóciohistóricas que garantem uma significativa transformação em curto espaço de tempo marcando definitivamente a ruptura com o mundo animal Este ponto de vista é reforçado pelos estudos anátomofisiológicos que demonstram o quanto à herança morfológica do cérebro se contrapõe a sua capacidade de produzir conexões funcionais no sentido biológico estáveis que se estabelecem segundo as experiências que o indivíduo vai experimentando ao longo da sua existência Com base neste enfoque redimensionase a concepção sobre a constituição das especificidades humanas As perspectivas naturalista essencialista e maturacionista que colocam no indivíduo a origem das funções psíquicas são substituídas pela convicção de que estas funções não se encontram no substrato biológico mas se constituem a partir da inserção do indivíduo no mundo a existência das chamadas crianças feras reforça esta convicção Assim o homem concreto se constitui nas palavras de Lucien Sève 1989 psicólogo francês contemporâneo a partir de um suporte biológico que lhe dá condições gerais de possibilidades próprias da espécie Homo sapiens sapiens e condições particulares de realidade próprias de sua carga genética No entanto as características humanas historicamente desenvolvidas se encontram objetivadas na forma de relações sociais que cada indivíduo encontra como dado existente como formas históricas de individualidade e que são apropriadas no desenrolar de sua existência através da mediação do outro O emprego do vocábulo apropriação ao invés de adaptação ou introjeção tem o objetivo de destacar o caráter ativo e transformador do indivíduo na sua relação com o contexto sóciohistórico Contexto sóciohistórico resultante da ação humana enquanto externalização do seu psiquismo que volta a se interiorizar transformado num processo contínuo de articulação entre o individual e o social É do contexto histórico e social em que o homem vive que decorrem as possibilidades e impossibilidades os modos e alternativas de sua identidade como formas históricosociais de individualidade No entanto como determinada a identidade se configura ao mesmo tempo como determinante pois o indivíduo tem um papel ativo quer na construção deste contexto a partir de sua inserção quer na sua apropriação Sob esta perspectiva é possível compreender a identidade pessoal como e ao mesmo tempo identidade social superando a falsa dicotomia entre essas duas instâncias Dito de outra forma o indivíduo se configura ao mesmo tempo como personagem e autor personagem de uma história que ele mesmo constrói e que por sua vez o vai constituindo como autor Que outras dicotomias superar para compreender a identidade O emprego de expressões próprias à atividade cênica como personagem autor ator papel no estudo da identidade tem tradição nos textos clássicos de Erving Goffman 1985 O personagem se refere à identidade empírica que é a forma que a identidade se representa no mundo Implica sempre a presença de um ator enquanto desempenhando um papel social O personagem ao mesmo tempo se confunde e se diferencia do papel Em uma mesma representação é possível a existência de um mesmo papel de pai por exemplo em personagens diferentes Os papéis sociais são abstrações construídas nas relações sociais e que se concretizam em personagens o personagem implica a existência de um ator que o personifica Os papéis sociais caracterizam a identidade do outro e o lugar no grupo social o personagem enquanto representa um papel social representa uma identidade coletiva a ele associada construída e mediada através das relações sociais Antônio Ciampa 1987 psicólogo social brasileiro que de longa data vem se dedicando ao estudo da identidade referese à presença de múltiplos personagens embora a aparência de totalidade que a identidade evoca que ora se conservam ora se sucedem ora coexistem ora se alternam A interpenetração entre os vários personagens que por sua vez interpenetramse com outros personagens no contexto das relações sociais garantem a processualidade da identidade enquanto repetição diferenciada emergindo um outro que também é parte da identidade O autor emprega o termo metamorfose para expressar este movimento Se necessário se fez superar a dicotomia individualsocial para compreender o processo de constituição da identidade a noção de metamorfose implica articular estabilidadetransformação A estabilidade é marcante no contexto da identidade cuja etimologia remete a idem no latim o mesmo Esta noção conferida ao conceito tem suscitado inúmeras críticas por não dar conta da processualidade que lhe é própria A origem etimológica remete ainda à outra dicotomia que precisa ser superada para a compreensão da identidade a do igual e do diferente O vocábulo identidade evoca tanto a qualidade do que é idêntico igual como a noção de um conjunto de caracteres que fazem reconhecer um indivíduo como diferente dos demais Assim identidade é o reconhecimento de que um indivíduo é o próprio de que se trata como também é unir confundir a outros iguais O nome próprio é um exemplo característico desta contradição Enquanto prenome é um diferenciador de outros iguais mas também é um nivelador com outros iguais similarmente nomeados Enquanto sobrenome distingue a individualidade mas também remete a outros iguais do mesmo grupo familiar A pluralidade humana tem o duplo aspecto da igualdade e da diferença Pluralidade que paradoxalmente implica também a unicidade pois o indivíduo vai se igualando por totalidades conforme os vários grupos em que se insere brasileiros ou estrangeiros homens ou mulheres etc sem pressupor homogeneização ao mesmo tempo em que o indivíduo se representa semelhante ao outro a partir de sua pertença a grupos eou categorias percebe sua unicidade a partir de sua diferença Essa diferença é essencial para a tomada de consciência de si e é inerente à própria vida social pois a diferença só aparece tomando como referência o outro O que a identidade é e não é Ao iniciarmos este texto fizemos referência à intranquilidade que a resposta à pergunta quem és suscita Ao finalizálo tornamos ainda menos tranquila a sua resposta Compreender identidade segundo a proposta teórica aqui esboçada implica necessariamente articular dimensões aparentemente contraditórias pois avessas ao pensamento lógico formal com o qual estamos habituados individualsocial estabilidadetransformação igualdadediferença unicidadetotalidade Implica compreendêla como constituída na relação interpessoal eu nãoeu eugrupo a partir da inserção do indivíduo no mundo social e através da sua atividade que se substantiva e se presentifica como atributo do eu eu sou trabalhador substantivo porque exerço a atividade de trabalhar verbo Esta presentificação eu sou expressa um momento originário quando nos tornamos algo e se representa como um dado que oculta o darse constante que expressa a processualidade da identidade e o movimento do social O eu pronome próprio que a identidade evoca enquanto pronome é um substituto de substantivos ou nomes O nome próprio é uma representação da identidade precocemente adquirida a partir da forma como os outros nos chamam e portanto pelo seu caráter restritivo não dá conta da identidade É importante também não limitar o conceito de identidade ao de autoconsciência ou autoimagem A identidade é o ponto de referência a partir do qual surge o conceito de si e a imagem de si de caráter mais restrito A identidade é apreendida segundo a perspectiva aqui desenvolvida através das representaçãoões de si em resposta à pergunta quem és Esta representação não é uma simples duplicação mental ou simbólica da identidade mas é resultado de uma articulação entre a identidade pressuposta derivada por exemplo do papel social da ação do indivíduo e das relações nas quais está envolvido concretamente Leituras complementares O tema identidade não é um tema de fácil compreensão ou de resposta simples Que o digam os autores que têm se dedicado ao seu estudo nos mais diferentes campos do conhecimento A nossa experiência cotidiana também confirma esta afirmação Uma obra que explora exaustivamente a questão da identidade em uma perspectiva similar à aqui desenvolvida é A história de Severino e a estória de Severina escrita por Antônio Ciampa e referendada na bibliografia A partir da análise de uma história de vida e do poema Morte e vida Severina de João Cabral de Melo Neto o autor apresenta uma série de considerações sobre a temática a partir de uma abordagem em Psicologia Social Sobre a relação entre o papel social e a identidade a obra de Erving Goffman A representação do eu na vida cotidiana além de clássica é excelente fonte de consulta embora dentro de uma perspectiva que não rompe totalmente a dicotomia internoexterno Tendo em vista a importância conferida ao papel de trabalhador em uma sociedade pautada pelo valor produtivo como a nossa a articulação entre identidade e trabalho pode ser encontrada no capítulo Doença dos nervos o ser trabalhador como definidor da identidade psicológica contido no livro Relações sociais Ética e no capítulo Psicoterapia e doença dos nervos do livro Psicanálise e contexto cultural de Jurandir Freire Costa ambos referendados na bibliografia E por fim a concepção de homem que fundamenta a perspectiva aqui desenvolvida encontrase em O desenvolvimento do psiquismo em que o autor Alexei Leontiev apresenta importantes considerações sobre o desenvolvimento filogenético e ontogenético do homem Também o capítulo de Lucien Sève A personalidade em gestação contém importantes contribuições a este respeito No campo artístico a peça de teatro de Pirandello Seis personagens à procura de um autor e o curta gaúcho de Jorge Furtado Esta não é sua vida ambos publicados em livros ver bibliografia são ilustrativos sobre a temática além naturalmente do poema de João Cabral de Melo Neto já comentado e da música de Raul Seixas Metamorfose ambulante cujos versos abrem este texto Bibliografia CIAMPA Antônio A história de Severino e a estória de Severina São Paulo Brasiliense 1987 COSTA Jurandir Freire Psicoterapia e doença dos nervos In Psicanálise e contexto cultural Rio de Janeiro Campus 1989 cap 2 ERIKSON Erik Identidade juventude e crise Rio de Janeiro Zahar 1972 FURTADO Jorge Um astronauta no Chipre Porto Alegre Artes e Ofícios 1992 GOFFMAN Erving A representação do eu na vida cotidiana 4 ed Petrópolis Vozes 1985 HABERMAS Jürgen Para a reconstrução do materialismo histórico 2 ed São Paulo Brasiliense 1990 JACQUES Maria da Graça Corrêa Doença dos nervos o ser trabalhador como definidor da identidade psicológica In JACQUES MG et al Relações sociais Ética Porto Alegre Abrapso 1995 p 6270 JAMES William The letters Boston Atlantic Monthly Press 1920 LEONTIEV Alexei O desenvolvimento do psiquismo Lisboa Horizonte 1978 MEAD George Mind self and society Chicago University of Chicago Press 1934 NETO Félix Identidades migratórias Psiquiatria Clínica 62 p 113128 1985 PIRANDELLO Luigi Seis personajes en busca de autor Buenos Aires Argentina Condor 1927 SÈVE Lucien A personalidade em gestação In SILVEIRA Paulo DORAY Bernard orgs Elementos para uma teoria marxista da subjetividade São Paulo Vértice 1989 cap 5 SUBJETIVIDADE Nilza Silva A única finalidade aceitável das atividades humanas é a produção de uma subjetividade autoenriquecedora de maneira contínua na sua relação com o mundo Félix Guattari Discutir a subjetividade humana na atualidade do ponto de vista da psicologia social que se exerce é fazer opções Opções epistemológicas paradigmáticas metodológicas práxicas éticas estéticas políticas Escolher implica percorrer as trajetórias da construção dos saberes imanente ao processo de hominização mesmo que de maneira fragmentária e provisória Escolher implica exercitar uma crítica que não seja complacente nem obsequiosa Escolher implica respeitar o esforço coletivo do pensar Neste sentido esboçase uma incursão pelo pensamento da Grécia Antiga e por sua irrecusável influência na produção dos saberes ocidentais de todas as épocas Procurase então traçar uma linha transversal entre os desafios da realidade contemporânea e os saberes necessários para suportar esta complexidade especialmente em relação ao processo de subjetivação e às opções do profissional da psicologia social Do passado ao presente A hegemonia do pensamento présocrático estendeuse por aproximadamente três séculos entre séculos VIII aC e o V aC e afetouse por importantes transformações operadas no pensamento grego inicialmente mais descritivo e posteriormente mais questionador O século VIII aC revelou um mundo feito para os fortes os hábeis e os poderosos protagonizados na escrita de Homero A Ilíada descreve um mundo beligerante cujo ideal heróico da coragem e das façanhas pessoais ressalta a excelência na guerra A Odisseia descreve um mundo de viagens e comércio no qual a inteligência a sagacidade e a esperteza são necessárias CHEILIK 1984 O século VI aC apresentou forte indagação sobre a constituição do mundo Destacaramse duas vertentes de pensamento De um lado a vertente mística revivia o culto ao deus grego Dioniso na seita de Orfeu concebendo o mundo pela ruptura da unidade divina O humano carrega a dualidade corpoalma O corpo é a herança titânica que aprisiona a alma como um invólucro ou um túmulo A alma é a herança dionisíaca que pela ascese e pela resistência aos prazeres e atrativos da vida terrena se liberta do corpo para usufruir a vida eterna Pela metempsicose ou transmigração das almas a alma deixa um corpo e se reintroduz em outro pelo nascimento até a purificação MUELLER 1978 Viver e morrer objetivam o retorno à unidade divina originária A dualidade corpoalma e a metempsicose influenciaram o filósofo natural jônico Pitágoras de Samo século VI aC o filósofo eleata Empédocles de Acragante século V aC que as estendeu aos animais e às plantas e o filósofo clássico Platão século IV aC que as combinou com as ideias de beleza e verdade De outro lado o apogeu da Jônia território grego na Ásia Menor estimulou a vertente da filosofia natural que propôs uma explicação racional para o universo Dentre os jônicos destacouse Heráclito de Éfeso 480 aC que apresentou a ideia da mobilidade universal na qual o movimento como fluxo incessante engendra a multiplicidade das formas É o eterno devir Assim o processo de produção do homem é imanente ao processo de produção do mundo É a afirmação da indissociabilidade homemnatureza A hegemonia do pensamento clássico grego estendeuse por aproximadamente dois séculos os séculos V aC e o IV aC e foi estimulada pelo apogeu de Atenas No século V aC destacaramse três vertentes de pensamento A primeira constituída pelos sofistas dentre os quais se destacou Protágoras de Abdera 485 aC410 aC introduziu um novo conceito de homem que extrai a verdade do contato com a realidade Os sofistas ressaltaram a incomunicabilidade direta dessa experiência particular Preconizaram também o caráter convencional das instituições transformáveis segundo as necessidades humanas À segunda se filiaram os eleatas e os atomistas Os filósofos da Escola Eleática da Magna Grécia no sul da Itália conceberam a matéria una imóvel e indestrutível Dentre os eleatas destacouse Parmênides que propôs a identidade como único fundamento da verdade Para ele a realidade é única e idêntica a si mesma e o devir é aparência Portanto afirma a dicotomia realidadeaparência Dentre os atomistas destacouse Demócrito de Mileto 460 aC370 aC que propôs o universo formado por partículas indestrutíveis e indivisíveis os átomos A terceira foi representada por Sócrates 469 aC399 aC que propôs um conceito de homem essencialmente moral A verdade identificada com o bem é o único ordenador da felicidade humana No século IV aC consolidaramse a filosofia e a retórica do período clássico Platão 427 aC348 aC discípulo de Sócrates concebeu o mundo bipartite afirmando a dicotomia ideiamatéria ou essênciaaparência ou modelocópia A ideia ou essência ou pura forma é o modelo universal a realidade que não se corrompe pelo devir Pelo princípio da identidade verdadeiramente ser é permanecer idêntico a si mesmo A matéria ou aparência imagem ou corpo sensível é a cópia em devir a ilusão Pelo princípio da semelhança a aparência tornase cópia do modelo a matéria imita a ideia a ilusão mantémse realidade Já Aristóteles de Estagira 384 aC322 aC discípulo de Platão concebeu o mundo tripartite corpo físico alma incorpórea que representa o mundo por ideias e linguagem que expressa as ideias Também concebeu a alma tripartite alma vegetativa alma sensitiva e alma intelectiva A vegetativa e a sensitiva extensivas às plantas e aos animais representam as paixões os desejos os sentimentos as sensações os afetos expressos pela linguagem cotidiana que é plurívoca isto é com pluralidade dos sentidos A intelectiva representa a razão expressa pela linguagem unívoca isto é com unicidade dos sentidos FUGANTI 1990 Resumidamente a preocupação cosmológica présocrática mergulha na preocupação antropológica sofista que por sua vez trava um embate com a preocupação normativa socráticoplatônica Do mundo mítico ao mundo racional grego De forma geral poderseia agora traçar rudimentarmente a inserção do homem nos saberes produzidos nesse período e os princípios que orientaram esta inserção Inicialmente o único homem merecedor de nota e de proteção divina é o herói o corajoso o capaz o inteligente o sagaz A seguir o homem se inscreve diferentemente em cada uma das duas vertentes de pensamento que ora se afastam ora se aproximam ora se cruzam Uma das vertentes afirma duas dicotomias 1 unidade divinadualidade humana e 2 corpoalma Todos os homens semideuses precisam libertarse da sua metade humana para conquistar a integridade divina A unidade e indestrutibilidade divinas são deslocadas para a matéria A identidade e a imobilidade fundamentam a verdade Agregase nova dicotomia realidade aparência A identidade e a permanência da essência introduz o homem no mundo da moralidade no qual a verdade é identificada com o bem e o belo A dicotomia ideiamatéria é fundamentada pelos princípios da identidade e da semelhança A outra vertente afirma a diferença da diferença A metamorfose que institui o novo mesmo que imperceptível faz repercutir as disparidades de todas as coisas entre si O homem indissociável da natureza é uma forma composta pelos fluxos mutantes em devir A verdade como construção humana apresentase plural e transitória Hegemônicas ou não marginais ou não essas concepções do processo de subjetivação humana atravessam influem contaminam todo o saber ocidental até hoje Elas desdobramse estilhaçamse desviamse opõemse entrelaçam se vibram compõemse deslizam umas sobre as outras Vão criando caminhos atalhos pontes que suportam as escolhas atuais a reinvenção dos saberes e a construção do mundo Percorrendo o esboço traçado até aqui aos saltos e sob o risco ainda maior de simplificações grosseiras saliento dois princípios que orientam a inscrição do homem nos saberes o princípio da identidade e o princípio da diferença De um lado o princípio da identidade pressupõe uma imobilidade infinita que garante a existência do mesmo como modelo universal O mesmo o idêntico se refere ao conceito determinável originário que é fundado no sujeito pensante Pensar pelo princípio da identidade é sempre estabelecer a relação da identidade do conceito com o sujeito que pensa A realidade é ideal e estática já que estabelece sempre a ligação entre a unidade originária e a totalidade futura suprimindo qualquer elemento diferencial A identidade fundamentou as teorias dos eleatas dos atomistas dos socráticoplatônicos de Hegel no século XIX dos estruturalistas no século XX dentre outros Georg Wilhelm Friedrich Hegel 17701831 propôs o eu como consciência individual e parte integrante da consciência universal O desenvolvimento da consciência se realiza gradualmente quando o homem toma consciência de si e do mundo em progresso infinito até a liberdade total Então se unifica com o divino a ideia absoluta A realidade como exteriorização da ideia é criada pela razão A lógica dialética hegeliana se baseia na contradição criadora no movimento da tese afirmação da antítese negação e da síntese negação da negação Pelo princípio da identidade Hegel retalha a diferença pelo seu excesso a contradição se constitui na maior diferença somente em relação ao idêntico Subordina assim a diferença à identidade DELEUZE 1988 O estruturalismo que agrupa principalmente antropólogos historiadores etnólogos linguistas marcou com seu método a psicologia em meados do século XX Claude LéviStrauss 1908 etnólogo estudou os mitos e os fenômenos de parentesco como fenômenos de linguagem aplicando o rigor dos modelos formais e regras combinatórias do método linguístico isolando princípios universais Pierre Clastres 19341977 etnólogo estudou o poder os conflitos a divisão social a constituição do Estado propondo uma analogia estrutural entre os fenômenos Roland Barthes 19151980 linguista e semiólogo realizou estudos linguísticos e literários das narrativas e do cotidiano para os quais utilizou o modelo de análise estrutural Sob uma lógica de produção dos signos elaborou um sistema definido pelas relações entre seus elementos internos fornecidos pelas determinações contextuais Jacques Marie Emile Lacan 19011981 psicanalista ofereceu um estatuto científico à psicanálise unindoa à linguística à semiologia e à matemática para definir o inconsciente e suas leis pelo modelo da linguística estrutural Para ele os papéis humanos se organizam pela lei da ordem simbólica formalmente idêntica à ordem do significante e fundada sob a primazia da estrutura da linguagem Louis Althusser 19181990 filósofo propôs o corte epistemológico como uma cisão radical e precisa entre a abstração teórica e os fenômenos vividos Ele estabeleceu uma separação entre a ciência legitimada pelo método formal e os resíduos fenomenológicos ou empíricos que não são científicos As correntes estruturalistas propõem a realidade fixada por uma axiomática estrutural na qual as premissas expressam verdades cuja demonstração é desnecessária por serem tautológicas isto é idênticas a si mesmas Pelo princípio da identidade estabelecemse a repetição a previsibilidade e a reversibilidade A repetição do mesmo se dá porque o modelo pertencente a um grupo de modelos funciona como matriz analíticoexplicativa de todos os fatos vistos como homeostáticos Assim todos os fenômenos da realidade são esquadrinhados por conjuntos de relações formais Por identidade por semelhança por analogia ou por oposição os fenômenos são introduzidos na ordem dos códigos universais atemporais fundantes e são explicados a partir de determinações Assim qualquer modificação na realidade é previsível porque essa mudança só se faz dentro dos limites definidos pela interdependência estrutural das partes em relação ao todo Do retorno possível aos estados originários resulta a reversibilidade no tempo GUATTARI 1987 De outro lado o princípio da diferença pressupõe uma mobilidade incessante Sempre de um estado a outro A realidade produzida por fluxos de qualquer natureza mantémse em estado instituinte mutante Em eterno devir Por isto não pode ser capturada por formalizações resiste à previsibilidade A consistência dos fenômenos se faz num processo no qual as composições dos elementos as relações entre as forças acaso e as concatenações dos fluxos códigos tempos acontecimentos velocidades trajetórias implicam na imponderabilidade da história na irrepetibilidade das mesmas composições na heterogeneidade das transformações e na irreversibilidade do tempo Pensar pelo princípio da diferença é efetuar a relação do diferente com o diferente É afirmar a diferença Uma dificuldade aparece capturado pela representação o princípio da diferença acaba sendo mediado pelo idêntico pelo semelhante pelo oposto pelo análogo Tornase necessário então 1 desfazer a identidade do conceito e do sujeito pensante para introduzir a diferença no pensamento 2 reconhecer as multiplicidades como transformadoras da ideia feita de elementos e relações diferenciais para compor a diferença na afirmação e não na negação 3 não tomar o diverso como matéria do conceito idêntico para restaurar a diferença individuante singularizante DELEUZE 1988 A diferença fundamentou as teorias de Heráclito dos sofistas de Nietzsche no século XIX de Foucault de Deleuze e de Guattari no século XX dentre outros Friedrich Wilhelm Nietzsche 18441900 propôs a indissociabilidade vidapensamento afirmando que se implicam mutuamente pela eliminação de limites no esforço de criação do novo Pensar é inventar novas possibilidades de vida e depende das forças que entram em relação Uma nova maneira de pensar e uma nova maneira de avaliar transavaliação produzem o superhomem A vontade de poder é o elemento diferencial e genético da força que se exerce sempre sobre outra força Portanto para Nietzsche vontade é uma força que entra em relação com outra afirmando sua diferença O superhomem se engendra neste embate de forças vontades sempre afirmativas da diferença O eterno retorno como ser do devir é a expressão do princípio do retorno do diferente da reprodução da diferença Ele constitui a diferença e a repetição dela A realidade é criada pelas forças vontades em cujas relações são constituídos os corpos de qualquer natureza À lógica dialética da contradição e da negação Nietzsche opõe a lógica da afirmação da diferença DELEUZE sd Michel Foucault 19261984 Gilles Deleuze 19251995 e Félix Guattari 1930 1992 propõem a indissociabilidade homemnatureza afirmando que a produção do mundo se realiza num processo 1 inclusivo do qual não há exterioridade possível 2 mutante porque se efetua pela transformação ininterrupta 3 flexível para o qual não há determinações 4 fortuito por materializar o acaso 5 comunicante porque se dá por passagens por estados É um processo que engendra as multiplicidades pelas quais tudo pode se interpenetrar com tudo sem hierarquia entre as instâncias individuais coletivas e institucionais mudando a natureza do que se vai produzindo Fluxos de matériaenergia de relações vazam territórios aumentam qualitativa e quantitativamente suas conexões suas disjunções e suas conjunções Os corpos emergem e se efetuam nesta luta neste confronto de forças de velocidades de composições neste movimento incessante Os corpos são pois estados dos seus movimentos modos de estar superfície de inscrição dos acontecimentos volume em perpétua pulverização cujos fluxos estão sempre em insuperável conflito FOUCAULT 1989 p 22 O tornarse humano inclui o tornarse não humano a produção da subjetividade é imanente à produção do mundo Pelo processo de subjetivação o sujeito se desfaz em multiplicidades Pela heterogeneidade dos seus suportes físicos biológicos psíquicos verbais econômicos estéticos éticos políticos a subjetividade é um produto cultural como qualquer outro Como processo a subjetividade emergente se relaciona com o mundo pelo limite pela vizinhança individuase nas relações de alteridade e coletizase nas multiplicidades para além do indivíduo e para aquém da pessoa GUATTARI 1990 p 8 Do presente ao futuro O final deste século tem sido pródigo em desafiar todos os saberes misturandoos separandoos esvanecendo os limites para a investigação mas sobretudo impondo uma velocidade à ação difícil de perseguir Experimentase de um lado o esgotamento do estruturalismo e seus universais e de outro o recrudescimento da vertente de pensamento que 1 inscreve o paradigma ético estéticopolítico no paradigma científico 2 investe em processo diverso de sistema e estrutura na abertura na ruptura incessante na precariedade na singularidade 3 indica transformações e suas reordenações de limites 4 valoriza os cruzamentos criadores de novas condições de produção dos saberes 5 traça os percursos dos arranjos de poderes construtores e organizadores dos regimes de verdade e de exclusão dela A perplexidade do pesquisador talvez seja o que mais fortemente impregna o processo contemporâneo de construção dos saberes E por isto mesmo não deve ser desprezada O modelo capitalista de produção temse amparado especialmente na competição e no controle como organizadores 1 dos modos de pensar de perceber de sentir de relacionarse e 2 dos equipamentos coletivos que se engancham neste processo produtivo ao longo da sua trajetória Os modos os meios as velocidades destes fluxos não se inscrevem apenas na economia de mercado são imanentes ao processo de constituição do mundo em todas as suas dimensões da planetária à da subjetividade A subjetividade hoje permanece massivamente controlada pelos dispositivos de poder e de saber que colocam as inovações técnicas científicas e artísticas a serviço das figuras mais retrógradas da socialidade E contudo outras modalidades de produção subjetiva processuais e singularizantes são concebíveis Estas formas alternativas de reapropriação existencial e de autovalorização podem tornarse amanhã a razão de vida das coletividades humanas e dos indivíduos que recusam abandonarse à entropia mortífera característica do período que nós atravessamos GUATTARI 1989 p 26 Há fartos dispositivos especialmente institucionais e massmidiáticos que se incumbem de banalizar a vida reduzindoa ao trabalho seja colando a preparação para viver no século XXI à preparação para trabalhar acesso ao emprego nesse século seja fazendo a apologia do individualismo absoluto Afirmase por todos os meios de expressão que num mundo diversificado de fronteiras abertas complexo interdependente com acesso internacionalizado ao capital e aos fatores de produção a educação se apresenta como ferramenta estratégica para o enfrentamento do mundo do trabalho cada vez mais competitivo Maiores também são as exigências da disposição para o aprendizado contínuo da mobilidade geográfica da capacidade de adaptação a novos ambientes e novas situações Assim a diferença está na qualidade da mãodeobra nacional No caso brasileiro o governo empresários e estudiosos do problema estão convencidos de que as oito séries do nível fundamental constituem a melhor base para qualquer aspirante a uma vaga no mercado de trabalho CAIXETA 1997 p 9 Que qualidade de mãodeobra se propõe aqui Além disso constróise uma subjetividade produtoprodutora desse modelo nutrida por um individualismo cujo princípio fundamental é o mesmo que rege as grandes empresas As estratégias e as oportunidades de destaque de promoção de visibilidade são ilimitadas e orientadas sempre para os resultados Estão à disposição de todos e dependem exclusivamente de cada um PETERS 1997 A subjetividade engendrada como resíduo no processo de produção do mundo é um produto cultural complexo Desvelar o conjunto de condições que possibilitam a emergência de instâncias individuais eou coletivas como território existencial autorreferencial na sua relação com o mundo é um dos maiores e mais potentes desafios da atualidade Guattari 1990 p 7 A hipertrofia das injunções do mercado contemporâneo se garante por três vias principais que resignificam competição e controle 1 a desregulamentação dos mercados financeiros 2 a integração mundial do capital e 3 as revoluções tecnológicas e comunicacionais Elas facilitam a expansão e a primazia das empresas transnacionais potencializando sua capacidade de intervenção global e a mobilidade crescente dos seus processos de produção A terceira revolução industrial impulsionada pela tecnologia do silício retalha e remonta unidades menores de trabalho e capital numa linha de produção separada em partes e distribuída como uma teia em redor do planeta Por um lado a produção dentro da fábrica é substituída pela terceirização a integração pela desintegração Por outro lado a fusão das empresas produzem seu crescimento desenfreado É a economia plugandplay mais competitiva flexível dinâmica e produtiva combinando máxima segmentarização com máxima desterritorialização Cada vez mais apartados vaise cada vez mais longe e mais rápido mesmo sem sair do lugar HUBER KORN 1997 Este modelo econômico opera de um lado pelo descentramento das redes de poder que tornam as relações de força difusas e legitimam certos discursos e práticas à custa da invalidação de outros e de outro lado pela circulação do capital financeiro em busca de valorização rápida e farta Para a localização dos investimentos competem entre si Estados nacionais eou regiões dentro do mesmo Estado As facilidades fiscais sobrecodificadas guerra fiscal a redução do Estado as privatizações a desregulamentação do mercado de trabalho e da securidade social que facilitam a flexibilização o arbitramento salarial a precarização das condições de trabalho a volatilização do emprego funcionam como elementos de atração para os grandes negócios Esta acelerada transformação arrasta consigo também 1 a transnacionalização da miséria do desemprego do isolamento político das relações de trabalho da instabilidade e insatisfação sociais da degradação ambiental 2 a exclusão porque impossibilita a apropriação e a fruição por todos dos meios e benefícios 3 o descompromisso com as populações acentuando as desigualdades e assimetrias sociais 4 a redução do mercado local combinada com a expansão do mercado globalizado Neste percurso o capitalismo descentralizado neoliberalismo realiza o deslocamento das contradições das relações de produção para as relações de mercado das relações de exploração capitaltrabalho para as relações de exclusão produtoconsumidor das relações de exclusão para as relações de eliminação Enquanto as relações de produção explicitam a exploração de uns por outros e a luta de classes as relações de mercado privilegiam o produto e a satisfação do consumidor cada vez mais raro Por mecanismos de controle o mercado se estabelece apesar da exclusão de amplas camadas da população desnecessárias à ordem instituída Elas podem ser desviadas empurradas eliminadas E o desempregado Excluídos pela lógica do desaparecimento do emprego os desempregados acabam por considerarse incompatíveis com uma sociedade da qual eles são os produtos mais naturais E como produtos estão plenamente incluídos Neste processo de subjetivação a vergonha tem sua aplicabilidade domesticadora funcionando como um elemento importante de lucro Ela altera na raiz deixa sem meios permite toda a espécie de influência transforma em vítimas aqueles que a sofrem daí o interesse do poder em recorrer a ela e a impôla ela permite fazer a lei sem encontrar oposição e transgredila sem temor de qualquer protesto É ela que cria o impasse impede qualquer resistência qualquer desmistificação qualquer enfrentamento da situação É ela que afasta a pessoa de tudo aquilo que permitiria recusar a desonra e exigir uma tomada de posição política do presente É ela ainda que permite a exploração dessa resignação além do pânico virulento que contribui para criar FORRESTER 1997 p 12 Das escolhas Inicialmente fazse uma ligeira incursão por uma parte do acúmulo epistemológico dos últimos vinte e oito séculos de enunciação humana Esta viagem através dos saberes do passado ao presente apresenta um roteiro nem linear nem harmonioso nem necessariamente emancipador Na segunda parte descrevese resumida e fragmentariamente a realidade contemporânea em construção na qual se está mergulhado e com a qual se tem uma relação visceral de produtoprodutor Do presente ao futuro é uma proposta de continuação da viagem Os caminhos as sendas os atalhos as pontes estão para ser construídos Como uma provocação E a psicologia social Podese tomála como uma unidade indivisível Se não qual psicologia social serve de referência às escolhas profissionais Em quais dispositivos se engancha para interferir na realidade De que realidade trata Com o que como e para que funciona Com o que como e para que a psicologia social constrói seus saberes De quais saberes o profissional da psicologia social se vale para suas opções Algumas das respostas a estas questões não são tão evidentes nem tão simples quanto aparentam Requerem muito mais do que ler este texto ou este livro Exigem seguir os largos caminhos e também as trilhas Exigem criar onde ainda não existe Exigem empenhos lutas alianças mergulhos interlocuções E principalmente opções Opções epistemológicas paradigmáticas metodológicas práxicas éticas estéticas políticas Sugestão de leituras Apresentamse outras sugestões de leituras que investem na inquietação e no debate que colocam o desafio e a dúvida que exercitam a sensibilidade e o compromisso Gilles Deleuze no livro Conversações Rio de Janeiro Editora 34 1992 realiza um passeio na sua produção teórica entre 1972 e 1990 A partir de elementos da arte da ciência da filosofia e da política faz uma interlocução com Foucault Guattari Spinosa e Leibniz Félix Guattari em Três ecologias Campinas Papirus 1991 trata de três esferas de relações ambiental social e mental que implicam heterogeneticamente o processo de produção da subjetividade Umberto Eco Furio Colombo Francesco Alberoni e Guiseppe Sacco em La Nueva Edad Media Madri Alianza Editorial 1990 analisam na sociedade contemporânea as transformações dos Estados Nacionais as relações de poder os conflitos emergentes a ruptura do consenso a fragmentação e a insegurança sociais Boaventura de Souza Santos em Pela mão de Alice São Paulo Cortez 1995 analisa aspectos da trajetória histórica do capitalismo até a contemporaneidade abordando modos de produção de poder desafios dos paradigmas democracia emancipação social e subjetividade Bibliografia CAIXETA Nely Como virar a página Brasil em Exame São Paulo Abril ed especial p 611 set 1997 CHEILIK Michael História antiga Rio de Janeiro Zahar 1984 DELEUZE Gilles Nietzsche e a filosofia Porto Rés Editora sd Diferença e repetição Rio de Janeiro Graal 1988 FORRESTER Viviane O horror econômico São Paulo Unesp 1997 FOUCAULT Michel Microfísica do poder Rio de Janeiro Graal 1989 FUGANTI Luiz Antônio Saúde desejo e pensamento In LANCETTI Antônio dir Saúde e loucura 2 São Paulo Hucitec 1990 p 1982 GUATTARI Félix Linguagem Consciência e Sociedade In LANCETTI Antônio dir Saúde e loucura 2 São Paulo Hucitec 1990 p 317 Cartographies Schizoanalytiques Paris Éditions Galilée 1989 Revolução molecular pulsações políticas do desejo São Paulo Brasiliense 1987 HUBER Peter KORN Jessica A unha de produção agora é uma teia Exame São Paulo Abril ed 645 a 31 n 20 p 102106 24set 1997 MUELLER FernandLucien História da Psicologia São Paulo Companhia Editora Nacional 1978 PETERS Tom Corra Bemvindo à Era do Eu SA Exame São Paulo Abril ed 643 a 31 n 18 p 108114 27ago 1997 GÊNERO Marlene Neves Strey Dentro da psicologia social científica os temas de gênero tinham pouca expressão e no máximo apareciam como sexo indicando as diferenças encontradas entre homens e mulheres em experimentos de laboratório ou de campo Para reverter esse quadro foi necessário tanto o estabelecimento da conhecida crise da psicologia social quanto as pressões dos crescentes movimentos feministas que iniciaram antes do século XX mas que tiveram seu apogeu há poucas décadas Hoje gênero embora seja um conceito que perpasse todas as áreas de estudo da psicologia e de outras áreas do conhecimento tem íntima afinidade com a psicologia social principalmente a psicologia social que lança seu olhar para a história para a sociedade e para a cultura não conseguindo entender o ser humano separado dessas instâncias Antes de seguir na análise do que seja gênero é importante abrir um parênteses para fazer algumas colocações sobre o movimento feminista que está constantemente associado aos estudos de gênero Esse movimento teve suas origens em vários acontecimentos na revolução norteamericana quando John Stuart Mill reivindica para as mulheres as promessas da Declaração de Independência na Revolução Francesa com a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã redigida por Olímpia de Gouges em 1791 inspirada na Declaração dos Direitos do Homem e A Reivindicação dos Direitos da Mulher de Mary Wollstonecraft de 1792 um dos seus documentos fundacionais que sem outorgar direitos às mulheres proporcionaram as bases conceituais e teóricas que permitiram a luta pela igualdade de direitos políticos e educativos Abriuse um espaço público às mulheres no qual puderam manifestarse ainda que o discurso e as práticas feministas se mantivessem calados durante um longo tempo O feminismo levou à aparição de mudanças conceituais importantes no século XIX trabalho assalariado autonomia do indivíduo civil direito à instrução e à presença das mulheres na cena política Durante o século XIX produziramse constantes reformulações e conquistas femininas que se foram plasmando nas condutas individuais e nas coletivas na legislação na arte e no pensamento O pensamento e a luta pela igualdade e da realização da igualdade para as mulheres se constitui no pilar básico do feminismo Igualdade não só no sentido jurídico a qual foi o objetivo primordial durante as primeiras etapas de reivindicação feminista mas que graças ao desenvolvimento e evolução tanto no plano conceitual como no plano das mudanças sociais e nos comportamentos foi se transformando a ponto de não se poder afirmar hoje que o discurso feminista contemporâneo seja o mesmo que nos começos do século XIX PRÁ 1997 Sexo e gênero Embora muitos autores e autoras possam utilizar os termos sexo e gênero como sinônimos tratase de dois conceitos que se referem a aspectos distintos da vida humana Sexo não é gênero Ser uma fêmea não significa ser uma mulher Ser um macho não significa ser um homem Sexo diz respeito às características fisiológicas relativas à procriação à reprodução biológica A divisão sexual na reprodução já está bem entendida Os machos produzem esperma as fêmeas produzem óvulos e depois gestam os filhotes que foram concebidos O sexo biológico ou seja as características anátomofisiológicas das pessoas vêm determinada em geral pela dotação cromossômica pelas estruturas gonadais e pela dotação hormonal fetal pósnatal e puberal responsáveis da estruturação genital interna e externa dos caracteres sexuais secundários desenvolvidos na puberdade As diferenças sexuais são encontradas em todos os mamíferos Entretanto os humanos desde sua origem têm interpretado e dado uma nova dimensão a seu ambiente físico e social através da simbolização LANE 1995 Humanos são animais autorreflexivos e criadores de cultura O sexo biológico com o qual se nasce não determina em si mesmo o desenvolvimento posterior em relação a comportamentos interesses estilos de vida tendências das mais diversas índoles responsabilidades ou papéis a desempenhar nem tampouco determina o sentimento ou a consciência de si mesmoa nem das características da personalidade do ponto de vista afetivo intelectual ou emocional ou seja psicológico Isso tudo seria determinado pelo processo de socialização e outros aspectos da vida em sociedade e decorrentes da cultura que abrange homens e mulheres desde o nascimento e ao longo de toda a vida em estreita conexão com as diferentes circunstâncias socioculturais e históricas Os seres humanos têm diferenças sexuais mas de maneira semelhante a todos os outros aspectos de diferenciação física elas são experienciadas simbolicamente Nas sociedades humanas elas são vividas como gênero Enquanto as diferenças sexuais são físicas as diferenças de gênero são socialmente construídas Conceitos de gênero são interpretações culturais das diferenças de gênero OAKLEY 1972 Gênero está relacionado às diferenças sexuais mas não necessariamente às diferenças fisiológicas como as vemos em nossa sociedade O gênero depende de como a sociedade vê a relação que transforma um macho em um homem e uma fêmea em uma mulher Cada cultura tem imagens prevalecentes do que homens e mulheres devem ser O que significa ser homem O que significa ser mulher Como as mulheres e os homens supostamente se relacionam uns com os outros A construção cultural do gênero é evidente quando se verifica que ser homem ou ser mulher nem sempre supõe o mesmo em diferentes sociedades ou em diferentes épocas Principalmente nos Estados Unidos onde o movimento feminista teve grande importância e exerceu influência internacional o conceito de gênero foi introduzido em seu discurso teórico na década de 1970 primeiramente através de estudos da antropologia Mas também na Europa em 1972 a inglesa Ann Oakley havia apontado a necessidade de distinguir entre macho e fêmea e gênero na classificação social de masculino e feminino Diversas autoras começaram a aprofundar o tema salientando que além de contar com um modo de produção toda a sociedade possui um sistema de gênero conjunto de arranjos através dos quais a sociedade transforma a biologia sexual em produtos da atividade humana e nos quais essas necessidades transformadas são satisfeitas Este sistema incluiria vários componentes entre outros a divisão sexual do trabalho e definições sociais para os gêneros e os mundos sociais que estes conformam O movimento feminista pretendia que o uso do conceito ou categoria gênero transformasse profundamente os paradigmas da história e de outras disciplinas do conhecimento humano Em função desses estudos gênero passou a ser muitas vezes equiparado à mulher pois se debruçavam principalmente sobre a mulher e suas contingências Embora seja utilizado o termo gênero quando se fala de mulheres sempre fica claro que não se pode obter informações sobre elas sem ao mesmo tempo obter informações sobre os homens Assim para conhecerse como são as mulheres socialmente construídas fazse necessário saber sobre os homens socialmente construídos É imprescindível conhecer a história do desenvolvimento de ambos os gêneros assim como é importante estudar todas as classes para compreender o significado e alcance da história de como funcionou e funciona a ordem social ou para promover sua transformação A visão do gênero como construção cultural e histórica implica tratar com categorias simbólicas cujas características principais são dar prioridade à interpretação construída em uma dialética entre o dado concreto e o esquema explicativo na centralidade dos símbolos e dos diversos fatores que podem influir em sua leitura como por exemplo o lugar e o momento se é uma leitura individual ou se é coletiva Através da capacidade humana de criar e manipular símbolos os sistemas simbólicos vêm a ser condição e consequência da interação social No entanto é necessário lembrar que esta capacidade simbólica tanto de produzir como de interpretar de ler a realidade e de significar tem sido e ainda de certa forma é unilateral e excludente posto que se faz prioritariamente desde o ângulo masculino É sobre essa visão distorcida que os estudos de gênero buscam lançar luz SCOTT 1995 Os estudos de gênero são importantes na psicologia na antropologia na sociologia na história O conceito de gênero abre uma brecha no conhecimento sobre a mulher e o homem na qual torna possível uma compreensão renovadora e transformadora de suas diferenças e desigualdades Para além das diferenças individuais é importante salientar as interações sociais que influem nos resultados educativos e ocupacionais entre outros tantos Assim o conceito de gênero deve estar presente quando estudamos desenvolvimento trabalho escola família personalidade identidade grupos sociedade cultura Isto é particularmente central na psicologia social de cunho históricocrítico pois a análise e o estudo das situações e condições sociais geradoras de desigualdade o desenvolvimento conceitual e de modelos teóricos explicativos a proposta de estratégias de intervenção e de programas de ação eficazes têm como objetivos fundamentais a erradicação de situações e condições geradoras de desigualdade Vemos então convergirem nesse sentido os estudos de gênero e a psicologia social históricocrítica A questão da hierarquia de gênero A hierarquia de gênero descreve uma situação na qual o poder e o controle social sobre o trabalho os recursos e os produtos são associados à masculinidade GAILEY 1987 O patriarcado é uma forma de hierarquia em que os homens detêm o poder e as mulheres são subordinadas Numa sociedade patriarcal a autoridade social efetiva sobre as mulheres é exercida através dos papéis de pai e de marido Sob as condições patriarcais as mulheres às vezes exercem autoridade através do papel de mãe em oposição aos outros papéis familiares tais como esposa filha irmã ou tia Até recentemente o patriarcado era a forma prevalecente na hierarquia de gênero na civilização ocidental LERNER 1990 Hoje todavia a forma é diferente O poder social agora é identificado com atributos considerados como masculinos Pessoas do sexo masculino ou feminino podem desempenhar papéis através dos quais o poder pode ser exercitado mas eles permanecem como papéis masculinos Em virtude de serem simbolicamente masculinos a discriminação contra as mulheres gerada por esses papéis recebe reforço ideológico Além disso vemos em algumas teorias psicológicas por exemplo que o papel paterno é considerado como benéfico na ruptura da simbiose matemofilial que conduziria uma criança a ter problemas psicológicos Nessas teorias dáse por suposto que cada pessoa cumpre seu papel invariável a histórico e que o papel masculino paterno é necessariamente benéfico e que o papel feminino materno é pelo menos perigoso Não por acaso a mãe sempre é a culpada Todas as sociedades explicam as hierarquias sociais através de origens divinas de costumes ou naturais para as hierarquias sociais A tendência prevalecente nas civilizações ocidentais contemporâneas é propor razões naturais para a ordem social existente Em nossa sociedade ocidental esta tendência pode ser vista nas crenças disseminadas de que os recursos têm sido escassos desde a aurora da existência humana que a inteligência é herdada e pode ser medida acuradamente e que embora a discriminação racial e sexual possa ser objetada ela está baseada em inferioridade e superioridade naturais Essas noções têm um paralelo nas religiões que apresentam razões de ordem divina para a existência de desigualdades de raça e sexo WOLF GRAY citado por GAILEY 1987 Muitas pessoas assumem que os homens são naturalmente mais agressivos As mulheres são encorajadas às vezes a desenvolver a assertividade mas os homens são incentivados a canalizar o que é visto como um recurso natural possivelmente ligado ao cromossomo Y Algumas teorias alternativas argumentam que homens e mulheres são basicamente semelhantes ao menos com respeito a seus potenciais intelectuais e emocionais Nesta visão as diferenças entre mulheres e homens refletem fatores culturais ou seja espera se que homens sejam de uma maneira e mulheres sejam de outra OAKLEY 1972 No entanto essas teorias não dizem como as culturas chegaram a exigir essas diferenças de ambos os sexos E também algumas teorias não explicam por que essas diferenças exigidas também comportam desigualdade e subordinação das mulheres aos homens Se a subordinação política e econômica é um fenômeno cultural nossa tarefa é buscar uma explicação histórica ou cultural para a situação das mulheres e dos homens em todas as sociedades Destacando o mundo ocidental e com as devidas precauções a posição de gênero é um dos eixos essenciais para a manutenção do poder na hierarquia social que é essencialmente masculina no seu topo e tem estratégias de fragmentação por classes por idades por grupos ou culturas minoritárias Assim essa hierarquia nos leva a viver rivalidades e lutas entre pessoas jovens e idosas pobres e ricas negras e brancas mulheres e homens Essas relações antagônicas estruturam a dependência e a submissão Variações em gênero através das culturas Os estudos de gênero nos mostram uma tremenda variedade de culturas no mundo Em algumas sociedades a divisão do trabalho por gênero é uma das maneiraschave sobre as quais a atividade econômica está organizada Em outras a divisão do trabalho por gênero é encontrada primariamente na esfera doméstica As diferenças entre sociedades onde o gênero é central à produção econômica e aquelas onde é secundário se refletem nas diferenças em todas as estruturas de autoridade Em algumas sociedades que muitas vezes são chamadas de primitivas a propriedade é considerada comum a todos os participantes da referida sociedade as quais em geral se consideram parentes Embora a autoridade social possa variar podendo ser igualitária ou estratificada o que todas têm em comum é a ausência de separação entre o público e o privado Existe outra maneira lógica de encarar as diferenças sexuais Em termos físicos as características sexuais secundárias não são muito pronunciadas antes da puberdade e em algumas populações nunca são tão acentuadas e culturalmente sublinhadas como em nossa sociedade ocidental Assim em certas culturas podem chegar a existir até quatro gêneros dependendo de quando é determinado o início e o fim da vida reprodutiva crianças que parecem semelhantes adultos homens e mulheres que parecem diferentes e velhosas que voltam a parecer semelhantes Há variantes culturais no gênero adulto onde a preferência sexual pode criar outros papéis de gênero ou as pessoas podem trocar o gênero ou mesmo adotar os papéis procriativos do outro gênero Colocar o foco somente nas diferenças sexuais é ignorar a criatividade cultural Nossa sociedade ocidental rotula homens e mulheres desde o nascimento até à morte mas existem outras sociedades onde as diferenças de gênero não se estendem para além dos papéis adultos de procriação Os estudos transculturais nos mostram então dois aspectos universais sobre o gênero gênero não é idêntico a sexo e gênero fornece a base para a divisão sexual do trabalho em todas as sociedades Não existe um conteúdo universal para os papéis de gênero A maneira como homens e mulheres são conceitualizados varia enormemente Em algumas sociedades homens e mulheres têm a opção de poder adotar o trabalho e os papéis das pessoas do sexo oposto A divisão do trabalho por gênero pode incluir cada um ou cada uma em seu papel escolhido mas isto não se deve a seu sexo Em alguns casos mulheres e homens têm uma visão antagônica entre si Em outros casos existe uma visão compartilhada de que as mulheres têm menos poder menos autonomia pessoal mas tanto o trabalho como os direitos de propriedade por exemplo não são considerados necessariamente privilégio dos homens Como podemos então definir se as mulheres são subordinadas O que é subordinação e como se expressa Subordinação pode ser definida como uma relativa falta de poder Em termos de autoridade social um grupo subordinado tem pouco ou nenhum controle sobre a tomada de decisões que afetam o futuro daquele grupo Os trabalhadores por exemplo não têm nenhuma capacidade de vetar a decisão de sua empresa se ela decide fechar a fábrica num determinado lugar e abrir em outro Podemos falar em subordinação de gênero quando as mulheres não estão no controle das instituições que determinam as políticas que afetam as mulheres tais como os direitos reprodutivos ou a paridade nas práticas de emprego Discriminação nos salários e nas promoções são exemplos da subordinação das mulheres na nossa sociedade Em outras sociedades a subordinação pode envolver a necessidade de as mulheres casarem para poder sobreviver A isso se alia o fato do papel de esposa trazer menos autoridade do que o de marido Em suma subordinação envolve dependência sistemática sendo o grupo subordinado ativo ou não em tarefas produtivas A subordinação é mais difícil de determinar se focarmos somente as atitudes As atitudes expressas podem mudar relativamente rápido pois são sensíveis às mudanças no clima político As pessoas podem pensar que são iguais acreditando que são tão boas como qualquer outro grupo Mas elas podem de fato ser subordinadas independentemente do que acreditem As pessoas têm a capacidade simbólica de criar crenças que justifiquem as condições existentes e assim dão sustentação e continuidade ao sistema Simbolicamente a subordinação é frequentemente expressa como uma relação de complementaridade Os trabalhadores precisam dos patrões assim como os patrões precisam dos empregados e afirmações do estilo O aspecto de poder na relação é negado Por esta razão é mais confiável centrar o estudo da subordinação principalmente nas relações políticas e econômicas do que nas atitudes embora em Psicologia isso não seja comum tendo em vista muitas linhas teóricas centraremse apenas no indivíduo O problema é sabermos se a subordinação das mulheres sempre aconteceu ou se foi desenvolvida ao longo da história humana Temos teorias que argumentam que essa relação é natural outras dizem que é cultural e outras ainda dizem que embora seja cultural é universal ou seja sempre esteve e estará presente nas relações entre mulheres e homens Teorias sobre a hierarquia de gênero Algumas teorias dizem que as mulheres sempre estiveram subordinadas aos homens desde a origem da humanidade Isso teria se dado em função de sua inerente passividade sua fraqueza física ou sua incapacidade de funcionar como uma igual devido às demandas da procriação Entre essas teorias encontramos as abaixo relacionadas e que embora proponham a existência de um patriarcado primordial como fator de semelhança em todas não apresentam muito mais em comum O homem caçador subordinação baseada nas origens humanas Essa teoria fala sobre a adaptação humana como a base para a divisão sexual do trabalho e a subordinação feminina Embora muito criticada essa teoria continua ainda a ter muita vigência por isso vamos falar um pouco mais sobre ela enquanto que apenas mencionaremos as demais que são mais atuais e que demandariam uma discussão mais profunda De acordo com essa visão há cerca de dois milhões de anos atrás nossos ancestrais tinham sua sobrevivência garantida pela caça Os homens eram os encarregados da caça as mulheres dependiam dos homens para conseguir carne Os homens dividiam a caça primeiramente com suas próprias mulheres filhos e filhas Depois de fixado esse primitivo padrão de comportamento de papel sexual na humanidade em construção isso persistiria até os dias de hoje A razão dos homens caçarem seria o fato das mulheres serem mais voltadas naturalmente para suas famílias ou menos móveis devido aos encargos da maternidade e do cuidado com as crianças As mulheres então devido a isso foram incapazes de desenvolver a agressividade a atenção ao detalhe ao planejamento e à lealdade ao grupo e cooperação ostensiva ligada à caça como uma atividade cooperativa Essa adaptação às necessidades de subsistência imprimiram na humanidade a divisão sexual do trabalho na qual os homens se tornaram mais agressivos e mais capazes para o trabalho conjunto em grupos enquanto que as mulheres se tornaram mais passivas e mais fixadas nos trabalhos domésticos e cuidado com as crianças As críticas mostram que essa visão apresenta um viés claramente masculino Por exemplo a ênfase na caça como essencial para o desenvolvimento da cultura é bastante dúbia MILES 1989 Os hominídios comiam carne mas muito mais provavelmente em forma de carniça abandonada por outros carnívoros do que conseguida pela caça Embora fossem onívoros a maior parte da dieta era vegetariana e qualquer pessoa inclusive as muito jovens e de ambos os sexos podiam conseguir mais facilmente LIEBOWITZ 1986 A caça deliberada parece haver surgido muito mais tarde e na forma de forçar os animais a caírem de despenhadeiros onde poderiam ser facilmente mortos se já não o estivessem o que não impediria a participação de qualquer pessoa nem mesmo das crianças Outro problema é a suposição da nuclearidade da família nos primórdios da humanidade Seriam as famílias compostas por pai mãe filhos e filhas Existiria nos grupos ancestrais o conhecimento de como funciona o processo de procriação que permitiria aos homens terem uma noção de quem seriam seus filhos e suas filhas Essas são questões difíceis de responder não existindo provas suficientes nesse sentido para dar sustentação a teorias desse tipo O complexo da supremacia masculina A guerra e o controle populacional As explicações técnicoambientais falam daquilo que seria uma lei natural escassez de recursos pressão populacional que levaria à emergência de características culturais para a adaptação da sociedade às estruturas das leis naturais Um dos propósitos dessa teoria é explicar por que os homens dominam as mulheres HARRIS citado por GAILEY 1987 O controle populacional teria sido um problema desde tempos imemoriais Na medida em que iam se desenvolvendo as diversas culturas tratavam de fomentar as guerras como forma de contenção do crescimento da população Para isso os homens eram levados a desenvolver ao máximo sua agressividade para poderem atuar como ferozes guerreiros e obterem suas gratificações sexuais através do estupro das mulheres dos povos vencidos Já as mulheres seriam socializadas para serem passivas e submeteremse aos interesses dos jogos de guerra Teorias ligadas à sociobiologia A subordinação aumenta a adaptação Os sociobiologistas tais como Wilson 1981 atribuem a dominação masculina à seleção natural em que os mais adaptados sobrevivem e se desenvolvem Tentativas de alterar práticas sexistas então contradiriam as leis naturais o que poderia levar a longo prazo a uma série de problemas Os homens por possuírem muitos espermatozóides procurariam disseminálos no maior número possível de mulheres já que são elas e não eles que pagam o preço da procriação gravidez parto lactação etc Já as mulheres devido a isso e por terem poucos óvulos ao longo de sua vida reprodutiva procurariam para pai de seusas filhosas algum homem que pudesse ajudálas a criálosas da melhor maneira possível Para convencêlo se submeteriam a ele Teorias estruturalistas Essas teorias dizem que a subordinação feminina é cultural mas é universal Um desses grupos de teorias considera que as mulheres têm menor status e menos autoridade que os homens porque estão associadas ao domínio doméstico enquanto os homens estão associados ao domínio público Isso é universal e se deve a que as mulheres são responsáveis pela gestação e cuidado das crianças FIRESTONE 1976 Tudo então dependeria do grau de envolvimento conquistado na esfera pública pelas mulheres e na esfera doméstica pelos homens Outro grupo de teorias que também se refere à subordinação feminina como cultural porém universal salienta que isso se deve à divisão do trabalho por gênero GODELIER 1981 ORTNER 1981 Desde as primeiras culturas as mulheres seriam simbolicamente associadas à natureza enquanto os homens seriam associados à cultura sendo esta última superior à primeira portanto os homens dominam as mulheres assim como a cultura domina a natureza A subordinação como um processo histórico Se as teorias anteriores estão sujeitas a muitas críticas a possibilidade de entendimento da subordinação feminina pode se dar através do estudo da estratificação que existe ou existiu e das relações dessas formas de estratificação com a divisão do trabalho por gênero e as relações de propriedade No mundo ocidental capitalista a experiência de gênero e o status das mulheres advêm da vida em uma sociedade estratificada por classes com uma economia capitalista Nem todas as sociedades têm essas características atualmente e no passado existiram sociedades estratificadas por classe com economias muito diferentes da capitalista como a Europa feudal as civilizações grecoromanas baseadas no trabalho escravo etc Assim o modo de produção em si mesmo não pode ser invocado como a base da subordinação feminina Muitosas teóricosas veem a hierarquia de gênero como um processo histórico que está ligado a outras formas de hierarquia social Entender essa relação exige que se estude as diversas espécies de estratificação social que existem e que existiram e as relações dessas espécies com a divisão do trabalho e as relações de propriedade Também a formação dos Estados ligados à formação de classes estaria na base da exploração em geral com uma dinâmica que criaria e daria suporte às desigualdades e à exploração Desde que a hierarquia de gênero emerge com a formação de classe e do estado podese perguntar se a biologia não é destino então por que são as mulheres e não os homens que se tornaram subordinadas Na formação do Estado tanto as mulheres da elite quanto as das classes produtoras tiveram sua autoridade diminuída Na medida em que o estado vai se formando e a distância entre as classes da elite e as classes produtoras vai aumentando tornase cada vez mais necessário que os grupos de parentesco das sociedades iniciais deixem de ser autônomos pois necessitam providenciar produtos e serviços para o suporte da elite não produtiva A reprodução nesse sentido geral de continuidade se torna cada vez mais politizada Nessa espécie de crise da reprodução social é que está a origem da hierarquia de gênero GAILEY 1987 A reprodução das relações de classe envolve a replicação da força de trabalho existente reposição através da conquista de povos vizinhos ou a combinação de ambos os métodos As religiões sustentadas pelo Estado os militares e outras instituições não baseadas no parentesco atuavam de diferentes modos para promover a reprodução das relações hierárquicas através de noções de obediência aceitação controle da sexualidade e linhas de parentesco sancionadas pelo próprio estado O controle sobre o trabalho e através do trabalho dos produtos é o principal item político na formação do Estado A existência de uma esfera de tributação da produção destinada para as autoridades civis e a continuação parcial da produção através das linhas de parentesco inicia a fragmentação da divisão do trabalho pelos integrantes dos grupos de parentesco A divisão entre as esferas públicacivil e parentescodoméstica também abala a unidade da identidade social por parentesco A nova divisão do trabalho baseada na classe leva as pessoas para a força de trabalho de acordo com as categorias de gênero e idade mas estes aspectos estão separados da influência integradora dos papéis de parentesco Em outras palavras de acordo com Gailey 1987 pelo menos na esfera civil as pessoas podem ter identidades abstratas um homem adulto uma mulher adulta A esfera civil cria a situação na qual as pessoas podem ser consideradas somente em termos de seu sexo independentemente de seus papéis familiares pai mãe filho filha Quando os grupos são definidos de acordo com uma ou duas características aparece o estágio do estabelecimento do reducionismo biológico Os constituintes de um grupo particular de trabalho camponeses e camponesas cativos e cativas de guerra ou membros de uma comunidade conquistada tendem a ser definidos em termos físicos Relações de trabalho exploradoras para a produção de bens e serviços para dar suporte a uma classe não produtiva sem o consentimento dos produtores dão lugar ao surgimento de estereótipos de classe sexo e raça Esses estereótipos variam dentro de cada sociedade estatal mas cada uma cria uma ideologia justificando as desigualdades de classe sexo e raça com base em diferenças inatas A razão pela qual as mulheres recebem extrema sujeição ideológica está relacionada com a abstração na divisão civil do trabalho e a supressão da autonomia dos grupos de parentesco na reprodução As mulheres não apenas são capazes de trabalhar mas também de produzir outrosas trabalhadoresas Como tal as pertencentes à classe trabalhadora se tornam o foco principal do controle estatal Quanto às mulheres da elite elas tinham para seu reconhecimento somente sua capacidade biológica de reprodução já que eram tão improdutivas quanto os homens de sua classe Assim sua sexualidade e alianças maritais eram ainda mais supervisionadas que as da classe trabalhadora Fertilidade fora de lugar poderia causar tumulto político No entanto as mulheres da elite mantinham bastante poder e autoridade social Essa fase na formação do Estado é frequentemente confundida pelos pesquisadores como o matriarcado As mulheres da classe dominante tinham considerável poder político mas nunca estavam sozinhas no poder Com a transposição das relações de parentesco para a esfera doméstica o poder político das mulheres dentro da elite declina e com o tempo as mulheres em geral são vistas abstratamente de uma maneira que as relaciona com a reprodução biológica afastada da cultura e basicamente ligada à natureza O Gênero na psicologia Na psicologia as tentativas de olhar mais detidamente as mulheres e os homens têm sido mais frequentemente associadas com as diferenças sexuais DEX KITE 1987 São discutidas se essas diferenças são biológicas ou fruto de práticas de socialização mas quase sempre enfocadas no indivíduo como sendo a fonte das mesmas Isso é um problema sob os mais diversos aspectos entre eles o da generalização dos resultados de pesquisas por exemplo Ainda nessa perspectiva vemos inúmeros estudos que buscam diferenças em características de personalidade e comportamentos sociais atitudes emocionais comportamentos agressivos comportamentos de ajuda comunicação não verbal influência social Mais especificamente no que diz respeito às mulheres saltam à luz conceitos tais como o medo ao sucesso ou uma ênfase na moralidade do apego e questões ligadas à responsabilidade Uma variante na vertente das diferenças tem sido uma tentativa de definir as dimensões psicológicas da masculinidade e da feminilidade São buscadas a verificação das diferenças entre homens e mulheres mas acima de tudo se elas realmente existem e quais seriam os seus determinantes Durante muitas décadas as escalas de masculinidade e feminilidade M e F refletiam e promoviam um certo número de acepções sobre sua natureza As respostas normativas eram consideradas como um sinal de saúde psicológica Assim os desvios dos escores da média eram vistos não simplesmente como um dado estatístico mas como um diagnóstico psicológico válido Em particular a homossexualidade e os problemas familiares eram vistos como sendo ligados aos desvios dos escores de masculinidade e feminilidade As críticas às escalas que se baseavam na crença que masculinidade e feminilidade eram um continuum com a máxima masculinidade num extremo e a máxima feminilidade no outro serviram para o desenvolvimento de outras escalas que consideravam esses dois conceitos como dimensões independentes A escala mais conhecida nesse sentido é o Bem Sex Role Inventory BEM 1974 Daí saiu também o conceito de androginia A onde as pessoas apresentariam M e F aproximadamente equivalentes As pessoas andróginas seriam consideradas como tendo vantagens sobre as pessoas masculinas ou femininas principalmente no que dizia respeito à saúde mental Outros estudos questionaram essas crenças de predizer comportamentos ou saúde mental a partir de tipos de M F ou A Spence 1984 um dos estudiosos do tema e elaborador de escalas desse tipo afirma que é importante distinguir entre os conceitos teóricos de M e F e toda a gama de comportamentos de gênero que apresentam uma multiplicidade de determinações sociais e culturais com pouca relação direta a conceitos teóricos mais globais Todas essas crenças tanto as baseadas em diferenças biológicas como as baseadas em diferenças psicológicas de homens e mulheres são causadoras de grandes vieses nos estudos científicos de gênero As diferenças encontradas entre ambos os sexos além de não serem tão grandes quanto se possa pensar podendo ser mais aparentes do que reais dependem muito do contexto e de situações bastante concretas Felizmente essa descoberta já está presente nos trabalhos de muitos pesquisadores e pesquisadoras na psicologia Apesar disso como bem salientam Dex Kite 1987 ainda existem muitas crenças sobre diferenças de gênero que persistem tanto no senso comum como no campo científico o que leva à manutenção de estereótipos no senso comum e distorções nos estudos ditos científicos Nessas crenças sobre gênero aparecem e se entrelaçam elementos descritivos como são as diferenças e prescritivos como deveriam ser as diferenças Assim vemos que os homens são considerados como sendo mais instrumentais que agem competem buscam realização profissional que as mulheres enquanto elas seriam mais expressivas são mais afetivas buscam aproximação que eles É importante notar que os traços considerados masculinos costumam ser avaliados mais positivamente na sociedade que os traços considerados femininos e as razões disso nem sempre são buscadas ou consideradas pelas pesquisas realizadas De todos os modos as pesquisas transculturais revelam que de uma maneira geral os homens são vistos como mais ativos com mais necessidade de realização de domínio de autonomia sendo também mais agressivos Já as mulheres seriam vistas como mais fracas menos ativas mais preocupadas com suas necessidades afiliativas e de afeto Os pesquisadores e pesquisadoras admitem que é necessário cautela na generalização desses resultados já que existe uma grande variabilidade lado a lado com semelhanças através das culturas Atualmente o gênero na psicologia social históricocrítica é visto como uma construção histórica social e cultural Assim o estudo das diferenças de qualquer tipo entre homens e mulheres ou das semelhanças inclusive as psicológicas deveria ser evocado sob esse prisma Além disso mais importante que diferenças ou semelhanças é o reparto de poder entre ambos os sexos que permite que uns dominem outros que uns tenham maior possibilidades de realizações que outros A Psicologia tem que estar atenta a este tipo de questões que aceitam e incentivam a multiplicidade e a plenitude dos indivíduos e coletivos independentemente do sexo Leituras complementares No Brasil diversas autoras têm escrito sobre gênero e menos autores têm feito o mesmo embora sejam cada vez mais numerosos Especificamente dentro da Psicologia Social históricocrítica indicamos os textos da seção 4 Psicologia e relações de gênero do livro da Abrapso região sul publicado em 1997 Psicologia e práticas sociais Outras obras também são interessantes e atuais principalmente os livros coletivos que reúnem as ideias de diversas pessoas tanto da psicologia como de outras áreas Nesse caso se encontram os livros É uma mulher organizado por Reolina Cardoso e publicado pela Vozes com autoras psicólogas e o organizado por Marlene Neves Strey Mulher Estudos de Gênero reunindo artigos de autoras de diversas áreas das ciências sociais e políticas publicado pela Unisinos Outro livro cuja leitura é recomendada é o publicado pela Artes Médicas de Porto Alegre e integrado por profissionais da área da saúde Gênero e saúde Ainda de autoras gaúchas está o livro de Helena Scarparo que trata sobre mulheres da classe popular intitulado Cidadãs brasileiras editado pela Revan A respeito dos homens o livro organizado por Dario Caldas é uma das contribuições sobre a discussão do gênero masculino O livro intitulase Homens Comportamento sexualidade mudança e é editado pela Editora Senac de S Paulo Uma publicação recente sobre o tema é a obra Gênero sexualidade e educação de Garcia Lopes Louro editado pela Vozes 1977 Bibliografia DEX K KITE ME Thinking about gender In HESS BB FERREE MM orgs Analyzing gender a handbook of social science research Newbury Park Sage 1987 FIRESTONE S A dialética do sexo um estudo da revolução feminista Rio de Janeiro Labor do Brasil 1976 GAILEY CW Evolucionary perspectives on gender hierarchy In HESS BB FERREE MM eds Analyzing gender a handbook of social science research Newbury Park Sage 1987 GODELIER M The origins of male domination New Left Review 127 p 319 1981 LANE STM Linguagem pensamento e representações sociais In LANE STM CODO W orgs Psicologia social O homem em movimento São Paulo Brasiliense 1995 LERNER G La creación del patriarcado Barcelona Crítica 1990 LIEBOWITZ L In the begining The origins of the sexual division of labour and the development of the first human societies In COONTZ S HENDERSON P eds Womens work mens property Thetford Verso 1986 MILES R A história do mundo pela mulher Rio de Janeiro LTC 1989 OAKLEY A Sex genderand society Nova York Harper Row 1972 ORTNER S Gender and sexuality in hierarchical societies In ORTNER S WHITEHEAD H eds Sexual meanings Nova York Cambridge University Press 1981 PRÁ JR O feminismo como teoria e prática política In STREY MN org Mulher estudos de gênero São Leopoldo Unisinos 1997 SCOTT J Gênero uma categoria útil de análise histórica Educação e Realidade vol 20 n 2 juldez 1995 WILSON EO Da natureza humana São Paulo Queiroz 1981 O PROCESSO GRUPAL Sérgio Antônio Carlos Todos nós temos alguma experiência de participação grupal Para uns mais intensa que para outros mas de qualquer forma muito importante para a estruturação de nossas convicções e para o desenvolvimento de nossas capacidades Estas vivências grupais no nosso cotidiano nos deixam marcas mais ou menos profundas dependendo da forma como se dá a nossa inserção e as relações que aí se desenvolvem Partese do princípio de que estamos constantemente nos relacionando com outras pessoas com os mais diversos objetivos Relações mais intensas e duradouras ou menos intensas e passageiras Todas nos marcam de uma forma gratificante eou traumática É com toda esta carga das experiências anteriormente vividas que nos jogamos em novas experiências de relacionamentos grupais A nossa inserção grupal pode ser realizada de uma forma consciente ou não Temos consciência de que participamos de alguns grupos comumente aqueles que aderimos por uma opção pessoal A participação nos demais é feita geralmente de maneira rotineira e sem nos darmos conta Muitas vezes somos carregados pelo grupo Até aqui estávamos nos referindo aos chamados grupos espontâneos ou naturais Claro que precisamos também considerar os grupos organizados com finalidades específicas Organizados e coordenados pelos próprios participantes ou por profissionais das mais variadas formações Podemos pensar em todo o leque dos grupos de anônimos AAs NAs DQAs ALANONs ALATEENs CCAs em grupos ligados às Igrejas em grupos que atuam nas comunidades nos partidos políticos nos sindicatos nas escolas nas fábricas nas praças São formas de organização da sociedade que refletem e participam dos embates que acontecem no seu seio Grupos que tanto podem estar a serviço da transformação social quanto da sua manutenção Estamos portanto rodeados de grupos e participando ou negando participar deles em todos os momentos de nossa vida A preocupação com o grupo Historicamente sabese que o vocábulo groppo ou grupo surgiu no século XVII Referiase ao ato de retratar artisticamente um conjunto de pessoas Regina Duarte Benevides de Barros 1994 diz que foi somente no século XVIII que o termo passou a significar reunião de pessoas A mesma autora afirma que o termo pode estar ligado tanto a ideia de laço coesão quanto a de círculo p 83 Tanto a sociologia quanto a psicologia têm demonstrado interesse no estudo dos pequenos grupos sociais pensando o grupo como uma intermediação entre o indivíduo e a massa Os estudos dos pequenos grupos sociais embora sejam realizados por várias áreas de conhecimentos humanosociais são em geral associados com a sociologia e a psicologia Na psicologia o estudo sistemático dos pequenos grupos sociais buscando compreender a dinâmica dos mesmos tem início na década de 1930 e 1940 com Moreno e com Kurt Lewin Moreno inicia com o teatro da espontaneidade que vai levar ao psicodrama Na área de pesquisa cria a sociometria para o estudo de relações de aproximação e afastamento entre as redes de preferência e rejeição tanto nos grupos quanto na comunidade como um todo Lewin cria o termo dinâmica de grupo que foi utilizado pela primeira vez em 1944 Não podemos esquecer que a preocupação com grupos tanto de Moreno quanto de Lewin aparece em seguida às inovações tayloristas e fordistas que levam à elevação dos lucros mas também à deterioração das relações tanto dos operários entre si quanto em relação a chefias e patrões apud BARROS 1994 Há uma tradição no estudo e na intervenção com pequenos grupos que está ligada ao trabalho junto a escolas e a fábricas que privilegia o treinamento em busca da produtividade Os especialistas em grupos se atêm à aplicação de técnicas grupais que desenvolvem a cooperação entre os participantes e não levam o grupo a se autocriticar e buscar o seu caminho para o funcionamento pois uma das possibilidades é não se constituir enquanto grupo Neste caso a constituição do grupo está a serviço da instituição e é utilizada como um dos instrumentos de controle que a mesma exerce sobre o indivíduo Grupo ou processo grupal Em geral os autores ao se referirem ao conceito de grupo partem da descrição do mesmo fenômeno social a reunião de duas ou mais pessoas com um objetivo comum de ação O que difere é a leitura que os mesmos fazem do processo de constituição do grupo e do entendimento da finalidade do mesmo Lewin 1973 p 54 afirma que a essência de um grupo não reside na similitude ou dissimilitude de seus membros senão em sua interdependência Um grupo pode ser caracterizado como um todo dinâmico isto significa que uma mudança no estado de uma das partes modifica o estado de qualquer outra parte O grau de interdependência das partes ou membros do grupo varia em todos os casos entre uma massa sem coesão alguma e uma unidade composta Lewin centra a sua definição na interdependência dos membros do grupo onde qualquer alteração individual afeta o coletivo Demonstra uma preocupação em buscar a essência do grupo o que traz junto uma imagem de o grupo como um ser que transcende as pessoas que o compõem Há uma visão de um grupo ideal aquele marcado por uma grande coesão Olmsted é um outro autor que trata o tema define um grupo como uma pluralidade de indivíduos que estão em contato uns com os outros que se consideram mutuamente e que estão conscientes de que têm algo significativamente importante em comum 1979 p 12 Esta definição traz consigo a ideia da consideração mútua sem a preocupação da homogeneidade Aponta para a diversidade dos participantes e para o sentimento de compartilhar algo significante para cada um deles Nas afirmações acima encontramos pontos que ainda hoje são importantes para o estudo dos pequenos grupos sociais Um deles é o contato entre as pessoas e a busca de um objetivo comum a interdependência entre seus membros a coesão ou espírito de grupo que varia em um contínuo que vai da dispersão até unidade Podemos dizer que de acordo com o referencial de homem e de mundo que os cientistas sociais assumem vai variar o entendimento e a explicação que os mesmos vão dar em relação ao grupo e aos processos grupais Os estudos sobre os pequenos grupos dentro da perspectiva lewiniana trazem implícitos conforme Lane 1986 valores que visam reproduzir os de individualismo de harmonia e de manutenção A mesma autora enfatiza que a função do grupo é definir papéis o que leva a definição da identidade social dos indivíduos e a garantir a sua reprodutividade social Existe um modelo ideal de grupo Na tradição lewiniana temos um ideal de grupo coeso estruturado acabado Passa a ideia de um processo linear Neste modelo não há lugar para o conflito Estes conflitos são vistos como algo ameaçador e que deve ser resolvido tentandose chegar a um consenso A questão do grupo é vista como um modelo de relações horizontais equilibradas equitativas ou seja um lugar onde as pessoas se amam se respeitam e cooperam umas com as outras Algo que pode e deve ser buscado e atingido como um modelo ideal de funcionamento social Algo semelhante ao que Löwy 1979 denomina de anticapitalismo romântico O grupo também pode ser visto como um lugar onde as pessoas mostram suas diferenças Onde as relações de poder estão presentes e perpassam as decisões cotidianas onde o conflito é inerente ao processo de relações que se estabelece Onde há uma convivência do diferente do plural Não como um movimento de defesa das minorias mas num movimento de cada um e de todos procurando discutir suas ideias com os outros Num confronto de ideias buscando conciliar apenas o conciliável deixando claro as individualidades o diferente A importância de afirmar que as pessoas são diferentes pensam de maneira diferente porque possuem valores diferentes mas que podem produzir juntas o seu processo grupal Este é um embate diário das relações pessoais que trazem consigo toda uma história de vida Relações onde estarão presentes as múltiplas determinações de cada sujeito Determinações de classe social de gênero de raça e de nacionalidade Relações que embaterseão tanto na busca consciente de uma dominação quanto de defesas inconscientes utilizadas para lutar eou fugir das ameaças que as novas situações desconhecidas lhes colocam Conflitos que podem gerar conforme Bion 1975 situações de funcionamento na base de ataque ao desconhecido ou da espera de um messias que venha trazer a salvação ao grupo O grupo precisa ser visto como um campo onde os trabalhadores sociais que se aventuram devem ter claro que o homem sempre é um homem alienado e o grupo é uma possibilidade de libertação LANE 1986 Mas também pode ser uma maneira de fixálo na sua posição de alienado O grupo não é a garantia do engajamento Neste caso as relações que aí se estabelecem podem ser meramente de reprodução das relações de dominação e de alienação da sociedade capitalista que nos rodeia Podem em contrapartida ser um momento em que o grupo se pense explicite as situações que entravam o seu funcionamento onde as pessoas pensam elaboram enfim trabalham as suas relações e conseguem estabelecer uma experiência única refletida e que faz os seus participantes se sentirem sujeitos Para esta possibilidade um autor latinoamericano que contribuiu muito foi Enrique PichonRivière 1982 A partir do questionamento da psiquiatria e dos grupos em hospitais psiquiátricos cria a técnica dos grupos operativos Um dos conceitos fundamentais é o de Ecro Esquema Conceitual Referencial e Operativo Pichon afirma que cada um de nós possui um Ecro individual Ele é constituído pelos nossos valores nossas crenças nossos medos e nossas fantasias Quando nos encontramos para trabalhar com outras pessoas trazemos o nosso Ecro e com ele dialogamos com os outros ou melhor com os Ecros dos outros Como nem sempre explicitamos os nossos Ecros o nosso diálogo pode ser dificultado Quando se está trabalhando em grupos a realização da tarefa estabelecida pode ser dificultada pelas diferenças de Ecros que estão em jogo O autor fala na construção de um Ecro grupal Este Ecro seria um esquema comum para as pessoas que participam de um determinado grupo sabendo o que pensam em conjunto poderem partir para agir também coletivamente a partir do aclaramento das posições individuais e da construção coletiva que favorece a tarefa grupal Como funciona o processo grupal Quando pensamos em processo grupal não estamos nos referindo ao grupo como uma entidade acabada Estamos pensando o grupo como um projeto como um eterno viraser Pensando como Sartre e Lapassade 1982 este processo é dialético É constituído pela eterna tensão entre a serialidade e a totalidade Há uma ameaça constante da dissolução do grupo e a volta à serialidade onde cada integrante assume e afirma a sua individualidade sendo mais um na presença dos demais Ao mesmo tempo há uma busca constante da totalidade onde cada um dos integrantes participa com os demais introjetaos e dá sentido à relação estabelecida Cada integrante se afirma e assume a totalidade do grupo Partindo da ideia de processo e da construção coletiva do projeto não podemos pensar em um treinamento de grupo no sentido de aplicação de uma série de exercícios que possam ajudar as pessoas a atingir um ideal de grupo pertencente ou criado pelo profissionaltreinador As chamadas dinâmicas de grupo nada mais são do que técnicas de submissão do grupo ao profissional e à instituiçãoorganização A constituição do grupo em processo pode requerer a presença de um profissional técnico em processo grupal O trabalho do mesmo será auxiliar a que as pessoas envolvidas na experiência pensem o processo que estão vivenciando O se pensar não cada um individualmente mas cada um participando de um mesmo barco que busca estabelecer uma rota Talvez o porto não seja seguro porque não existe um destino final Quando isto acontece o processo acaba e o grupo se dissolve Enquanto o grupo persiste é um constante navegar Um constante questionar a rota Um aprender a conviver com a insegurança e com a incerteza Talvez uma mudança de rota devido a avaliação do trajeto já percorrido e do que falta Enfim há uma preocupação em centrar na tarefa e tornar explícitas as questões implícitas que estão dificultando a realização da tarefa pretendida ou que a estão facilitando Esta é uma maneira de o grupo se tornar sujeito do seu próprio processo Os integrantes da experiência terão condições de tomar decisões de forma mais lúcida e portanto podendo avaliar os benefícios e os riscos das futuras ações que pretendem desenvolver À guisa de fechamento No decorrer deste texto deixamos clara a nossa preocupação na compreensão dos pequenos grupos sociais Compreensão no sentido de comentar acerca deles pois como Peralta 1996 não acreditamos que o movimento grupal possa ser lido no sentido de uma certeza Tendo claro que este comentário está impregnado dos valores e posições teóricometodológicas de cada um dos comentaristas Portanto não existem verdades absolutas mas apenas hipóteses que devem ser colocadas para o grupo O próprio grupo poderá trabalhar confrontando o nosso comentário com os comentários produzidos pelos seus integrantes Daí resultarão situações de manutenção de relações já estabelecidas ou a mudança das mesmas numa decisão muito mais dos participantes do que do profissional que compreende mas não vive o processo De acordo com a compreensão que temos do processo grupal é que vamos buscar uma maneira de intervenção profissional É o referencial que utilizamos para o entendimento que nos dará sustentação para a escolha de técnicas adequadas para a intervenção grupal Intervenção que pretendemos seja numa perspectiva transformadora onde as pessoas que participam de um processo grupal sejam vistas como sujeitos que em conjunto podem decidir o seu destino tendo claras as possibilidades e os limites Sugestão de leituras Para aprofundar as questões sobre grupo e processo grupal é fundamental a leitura do texto O processe grupal de Silvia Lane Nele a autora dá uma visão dos principais autores que abordam o estudo dos pequenos grupos sociais Faz uma análise crítica destas abordagens do ponto de vista do materialismo histórico Deve ser considerado como um roteiro para aprofundar a questão O texto de Henrique PichonRivière O processo grupal é um clássico latino americano para o estudo e a intervenção de pequenos grupos Nele são encontrados os fundamentos e o detalhamento do que o autor denomina de grupo operativo Na mesma linha porém com uma linguagem mais simplificada indico a coletânea de textos de Madalena Freire Weffort Juliana Davini Fátima Camargo e Mirian Celeste Martins Grupo indivíduo saber e parceria malhas do conhecimento É resultado de um seminário coordenado pelas autoras Quem desejar se aprofundar dentro de um referencial psicanalítico é necessário buscar a base em Sigmund Freud principalmente no texto Psicologia das massas e análise do eu A partir da Psicologia das multidões de Gustavo Le Bon o autor aborda o contágio e o efeito hipnótico que acontece nas massas e desenvolve conceitos de relações libidinais tanto dentre os integrantes entre si quanto destes com o seu chefe É muito interessante a análise que realiza do Exército e da Igreja mostrando as relações hierarquizadas Bibliografia BARROS Regina Duarte Benevides de Grupo a afirmação de um simulacro São Paulo 1994 Tese de Doutorado em Psicologia Clínica PUCSP BION WR Experiências com grupos 2 ed São Paulo Edusp 1975 BOUDON Raymund BOURRICAUD François Dicionário critico de sociologia São Paulo Ática 1993 FREUD Sigmund Psicologia das massas e análise do eu In FREUD Sigmund Obras Completas Rio de Janeiro Delta sd Vol IX p 4105 LANE Silvia Processo grupal In LANE Silvia et al Psicologia Social o homem em movimento São Paulo Brasiliense 1986 p 7898 LAPASSADE George Dialética dos grupos das organizações das Instituições In ID Grupos organizações e instituições 2ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1982 p 237263 LEWIN Kurt Problemas de dinâmica de grupo 2 ed São Paulo Cultrix 1973 LÖWY Michael Para uma sociologia dos intelectuais revolucionários São Paulo Lech Livraria Editora Ciências Humanas 1979 OLMSTED Michael S O pequeno grupo social São Paulo Herder 1970 PERALTA Juan Grupos México Maestria en Psicologia Social de Grupos e Instituciones httpcueyaltuammxmpsitextosgrupalhtml 16 de novembro de 1996 9f PICHONRIVIÈRE Henrique O processo grupal São Paulo Martins Fontes 1982 WEFFORT Madalena Freire O que é um grupo In WEFFORT Madalena Freire DAVINI Juliana CAMARGO Fátima MARTINS Mirian Celeste Grupo indivíduo saber e parceria malhas do conhecimento São Paulo Espaço Pedagógico 1994 WILSON Gertrude RYLAND Gladys Prática do serviço social de grupo uso criador do serviço social Rio de Janeiro Serviço Social do Comércio 1961 PSICOLOGIA POLÍTICA Louise A Lhullier Para começo de conversa precisamos definir do que estaremos tratando ou seja o que é psicologia o que é política e o que é psicologia política Essas definições são necessárias para que se estabeleça uma base comum para a nossa comunicação autoraleitores mas é importante que se diga que não há consenso sobre elas Desde o início do curso de Psicologia os estudantes tomam contato com a discussão sobre o objeto de estudo dessa disciplina Vocês já devem ter percebido então que diferentes escolas de pensamento definem o objeto da psicologia de acordo com a perspectiva teórica que lhes é própria Assim uma escola diz que ela estuda o comportamento humano outra que estuda a mente humana e assim por diante Neste texto adotaremos a perspectiva da psicologia social crítica na tradição de pensamento representada no Brasil pela Associação Brasileira de Psicologia Social Abrapso Nessa abordagem a psicologia pode ser definida como a disciplina que estuda o sujeito em sua relação com o mundo Nessa relação com o mundo esse sujeito se constitui ao mesmo tempo como produto e como produtor da sua história e da história da sociedade em que vive Há três palavraschave nessa definição sujeito relação e mundo O sujeito é sempre sujeito da ação seja ele indivíduo ou grupo eu ou nós Ele só existe porque age na sua relação com o mundo Essa relação é o foco da análise pois é aí que o sujeito se constitui é aí que ele existe enquanto tal e é aí portanto que a psicologia pode encontrálo como objeto de conhecimento Por outro lado é através dessa relação que ele vai construir a realidade o mundo Tratase aqui tanto da realidademundo para si ou seja como existe para o sujeito quanto da realidademundo em si porque os efeitos da ação humana transcendem as existências particulares Em outras palavras o efeito transformador da ação dos sujeitos vai além dos limites da existência do indivíduo do grupo tanto em termos de tempo quanto de espaço Ao agir no mundo imprimimos marcas desencadeamos movimentos cujos múltiplos efeitos frequentemente não conseguimos antever Quanto à definição de política a diversidade de perspectivas também é muito grande Bobbio 1992 em seu Dicionário de Política nos mostra como historicamente o conceito de política esteve estreitamente ligado ao de poder mais especificamente ao de poder político Ele distingue poder político de outras formas de poder poder econômico e poder ideológico como pertencente à categoria do poder do homem sobre outro homem não à do poder do homem sobre a natureza Esta relação de poder é expressa de mil maneiras onde se reconhecem fórmulas típicas da linguagem política como relação entre governantes e governados entre soberano e súditos entre Estado e cidadãos entre autoridade e obediência etc p 955 Neste texto definiremos política de uma forma muito ampla e simples começando por situála como atividade humana que se dá na esfera das disputas pelo poder entre grupos organizados Essa atividade humana é entendida conforme a concepção de Lane 1986 a atividade implica ações encadeadas junto com outros indivíduos para a satisfação de uma necessidade comum Para haver este encadeamento é necessária a comunicação linguagem assim como um plano de ação pensamento que por sua vez decorre de atividades anteriormente desenvolvidas p 16 Essas ações encadeadas junto com outros indivíduos para a satisfação de uma necessidade comum no caso da política reúnem de um lado aqueles que buscam transformar uma determinada relação de poder político seja no plano macrossocial seja no microssocial e de outro os que buscam mantêla Um primeiro aspecto fundamental nessa perspectiva é que reconhece que todo fazer humano é necessariamente comprometido com valores Sendo a ciência um fazer humano não existe possibilidade de que seja neutra ou isenta de valores Na mesma linha de raciocínio considera essencial explicitar os compromissos do fazer científico no campo dos valores da ideologia em seus determinantes sociais e históricos Da mesma forma não concebe estudar a ação humana e sobretudo a atividade política desvinculada das suas determinações sóciohistóricas A definição de Sabucedo 1996 revela embora de maneira não explicitada esse compromisso a psicologia política consiste no estudo das crenças representações ou senso comum que os cidadãos têm sobre a política e os comportamentos destes que por ação ou omissão incidam sobre ou contribuam para a manutenção ou mudança de uma determinada ordem sociopolitica p 22 Seria impossível estudar as ações ou omissões que contribuem para a mudança ou manutenção de uma determinada ordem sociopolitica sem analisar esta última e as relações entre ela e as açõesomissões dos sujeitos Portanto a definição de Sabucedo contempla as dimensões que já destacamos política como atividade humana que se dá na esfera das disputas pelo poder entre grupos organizados Atividade humana como ações encadeadas junto com outros indivíduos voltada ou para a transformação de uma determinada relação de poder político ou para a sua manutenção No entanto como é impossível a neutralidade na ação dos sujeitos a omissão também é objeto de estudo da psicologia política Esta trata também portanto do apoliticismo da ausência de participação política ou da negação da política já que esses posicionamentos contribuem para a manutenção ou transformação da ordem sociopolítica independentemente das intenções dos sujeitos que os adotam É interessante ainda esclarecer que o fato da atividade política se dar na esfera das disputas pelo poder entre grupos organizados ou de se constituir de ações encadeadas junto com outros indivíduos não significa necessariamente que para se considerar o comportamento de uma determinada pessoa como político esta deva estar inserida num grupo organizado ou estar articulada politicamente com outras Significa isso sim que o seu comportamento tem a intenção de contribuir ou contribui de alguma forma para a manutenção ou para a transformação de uma determinada relação de poder político ou ordem sociopolitica Finalmente é bom lembrar que os estudos que originaram a psicologia política frequentemente ultrapassaram as fronteiras das disciplinas formalmente constituídas Psicologia Sociologia Ciência Política etc em busca de uma melhor compreensão dos fenômenos estudados Ela se constituiu então a partir da contribuição de pesquisadores e estudiosos de diversas áreas do conhecimento Podese afirmar portanto que é uma disciplina de tradição multidisciplinar Por outro lado a complexidade dos problemas de que se ocupa e a multiplicidade de áreas de conhecimento de origem dos profissionais que construíram a psicologia política fizeram com que grande parte da sua construção se desse no terreno da interdisciplinaridade Isso significa que boa parte do conhecimento nessa área situase numa área compartilhada com outras disciplinas especialmente com a Sociologia e a Ciência Política constituindo uma região de fronteira à parte das disciplinasmães um território que é de todos e não é de ninguém em particular Este é o caso por exemplo dos estudos sobre comportamento político que tratam de temas tais como comportamento eleitoral e movimentos sociais entre outros Tanto isso é verdade que a Associação Nacional de Pesquisa em Comportamento Político Anapol criada em junho de 1996 por pesquisadores de diversas das mais importantes universidades brasileiras é presidida por uma psicóloga mas compõem sua diretoria e Conselho Deliberativo tanto psicólogos quanto sociólogos e cientistas políticos Psicologia política ou psicologia da política Para alguns autores são os problemas estudados pela psicologia política que a definem já que ela tem se caracterizado até agora muito mais pelos temas que aborda do que por um referencial teóricometodológico próprio Para outros no entanto essa caracterização como área temática é insuficiente porque nos diz do que tem se ocupado a psicologia política mas nada nos revela sobre as suas possibilidades e perspectivas na construção do conhecimento Além disso não distingue entre de um lado as abordagens fundamentadas na concepção crítica e de outro na perspectiva da neutralidade científica Embora à primeira vista essa questão possa não parecer muito importante veremos que ela é fundamental Como nos alerta Sabucedo 1996 ao definirmos essa disciplina estamos apontando diretamente para suas possibilidades e seus limites Assim esse autor nos leva a refletir sobre as diferenças entre uma psicologia política e uma psicologia da política Se falamos de psicologia política nos deparamos com uma disciplina que assume que a psicologia não é algo completamente alheio e à margem da política que a própria psicologia contém teorias políticas Se em vez disso nos referimos a uma psicologia da política estamos ante uma abordagem totalmente diferente Neste último caso a psicologia e a política seriam duas entidades absolutamente diferenciadas A finalidade dessa disciplina a psicologia da política consistiria na aplicação do conhecimento psicológico ao estudo dos fenômenos políticos Esse conhecimento psicológico seria gerado a partir de instâncias científicas que se consideram axiologicamente assépticas e neutras p 19 A psicologia da política estaria identificada portanto com uma abordagem acrítica de psicologia que supõe a possibilidade da neutralidade científica de um conhecimento psicológico objetivo e isento de valores Mais do que isso essa perspectiva defende uma postura neutra por parte do cientista O trabalho de Lasswell considerado o pai da psicologia política na história dessa disciplina escrita pelos autores norteamericanos é um bom exemplo dessa orientação na medida em que buscou encontrar na psicologia as chaves para a compreensão do comportamento político centrando seus estudos nos processos psicológicos individuais e grupais As categorias teóricas que privilegiou na investigação das causas do comportamento apontam com clareza nessa direção personalidade e psicopatologia motivação conflito percepção cognição aprendizagem socialização gênese das atitudes e dinâmica de grupo Um dos grandes problemas na psicologia da política é que promove uma redução da política à psicologia através da psicologização dos fenômenos políticos e da desconsideração das condições sociais e históricas em que eles ocorrem Como Sabucedo 1996 nos alerta essa abordagem introduz um aspecto de fatalismo e de impotência quanto à possibilidade de mudança social Por exemplo A aproximação cognitiva ao tema do preconceito ilustra perfeitamente essa dinâmica Desde o momento em que a categorização é colocada como um processo cognitivo normal e responsável pelos estereótipos se está afirmando que o prejuízo e as condutas de discriminação são inevitáveis O discurso da autodenominada nova direita rótulo sob o qual se enquadram velhas ideias fascistas utiliza esse tipo de abordagem assinalando que o etnocentrismo é uma tendência humana natural p 2223 Essa perspectiva neutra teria portanto consequências políticas que derivam diretamente das conclusões objetivas de seus estudos Isso porque se elegemos como nível de análise o indivíduo ou a psicologia individual as perguntas que faremos e as respostas que obteremos serão limitadas a essa esfera Ou como fica mais claro nas palavras de Kelman 1979 se definimos o problema como um problema psicológico próprio de um determinado grupo de pessoas então o mais provável é desenvolver políticas que incluam estratégias de mudança dessas pessoas e não políticas que modifiquem a estrutura social que possibilita a existência desses problemas p 102 Creio que já está razoavelmente claro o que é a psicologia da política Consequentemente avançamos na direção de esclarecer o que não é a psicologia política Porém é necessário lembrar que a distinção que fazemos nesse texto e que compartilhamos com outros autores não é consensual Há muitos outros notadamente norteamericanos que não distinguem entre as abordagens crítica e acrítica como veremos em seguida ao analisar um pouco da história da disciplina Um pouco de história Não é fácil escrever a história de uma disciplina É necessário escolher os personagens e fatos que serão incluídos ou excluídos o que terá destaque e o que será mencionado apenas de passagem que fontes de informação deverão prevalecer em caso de divergências Enfim há uma multiplicidade de escolhas a fazer É recomendável portanto que se tenha um critério para orientálas assim como clareza quanto às razões que nos levam a adotálo No caso deste texto por exemplo a distinção que fazemos entre psicologia política e psicologia da política exige que tenhamos uma postura crítica em relação às histórias que não estabelecem tal diferença Nesse sentido uma discussão interessante e necessária é colocada por Sabucedo 1996 quando trata da questão da paternidade da disciplina Tanto o pioneiro Handbook of Political Psychology organizado por Knutson 1973 quanto a International Society of Political Psychology consideram Lasswell como o pai da psicologia política Ora como já foi assinalado acima independentemente de seus reconhecidos méritos o trabalho de Lasswell é centrado na perspectiva individualista e acrítica que caracteriza a maior parte da produção norte americana nessa área Contudo na tradição acrítica norteamericana de pensamento psicopolítico na qual foi escrita a história oficial da psicologia política é compreensível a atribuição de paternidade a Lasswell O questionamento cabe aos que não se identificam com essa tradição de pensamento As origens da psicologia política remontam à Grécia Clássica mas não trataremos aqui desse passado distante Já no Renascimento entre os pensadores que se ocuparam em analisar as relações entre os fenômenos psicológicos e políticos não podemos ignorar Maquiavel Suas ideias influenciaram nos últimos séculos tanto o cotidiano das sociedades ocidentais quanto a ação de diversos governantes e a construção do conhecimento nas ciências humanas Para ilustrar o alcance de sua influência bastaria lembrar que foi ele o autor de uma série de máximas e reflexões que foram apropriadas pelo senso comum e incorporadas ao nosso cotidiano como por exemplo a popular expressão os fins justificam os meios e para ele o poder era um fim Mas além disso em O príncipe Maquiavel presenteou seus leitores com diversos ensinamentos sobre como manter o poder político Não é à toa que essa leitura tem servido de referência a poderosos e aspirantes ao poder desde então até os nossos dias No campo da ciência recentes trabalhos sobre o maquiavelismo mostram como esse pensador renascentista continua sendo uma rica fonte de inspiração para novos estudos sobre a questão do poder Mais recentemente nos últimos cem anos são muitos os nomes que podemos citar como precursores da psicologia política Vários deles são familiares aos estudantes de Psicologia porque fazem parte da história dessa área do conhecimento como Le Bon Freud Wundt Fromm e Reich Outros certamente não lhes são estranhos como Weber Durkheim e Adorno6 Considerando porém a psicologia política em seu sentido estrito diferenciada da psicologia da política a principal referência entre esses precursores mais recentes é certamente Adorno através de uma grande investigação sobre a personalidade autoritária publicada em 1950 com seus colegas do Grupo de Berkeley Adorno FrenkelBrunswick Levinson Sanford 19657 No entanto embora a partir da década de 1930 através de diversos estudos e pesquisas tenha começado a se constituir uma base para a sua formalização a psicologia política somente se institucionalizou como uma disciplina independente a partir da década de 1970 Entre os anos 1930 e os anos 1970 foram desenvolvidos diversos estudos sobre atitudes sociopolíticas autoritarismo ideologia e subjetividade poder e influência comunicação de massa propaganda e comportamento eleitoral socialização e participação política entre outros mas não havia ainda nem uma identidade que unificasse os pesquisadores nem o reconhecimento externo de uma totalidade que englobasse esse conjunto de pesquisas Na década de 1970 a psicologia política adquire identidade visibilidade social e presença institucional Entre os diversos acontecimentos que contribuíram para isso Sabucedo 1996 menciona o lançamento do Handbook of Political Psychology KNUTSON 1973 que reunia textos de psicólogos sociólogos e cientistas políticos Incluía também por sinal um capítulo sobre a história da disciplina cujo conteúdo fortalecia a afirmação de autonomia da psicologia política e concedia a Lasswell a sua paternidade Outras publicações foram surgindo nos anos seguintes dando visibilidade e consistência à disciplina Ao mesmo tempo foi se estruturando uma associação entre estudiosos e pesquisadores da área nos Estados Unidos que culminou em 1978 com a criação da International Society of Political Psychology Essa entidade amplamente reconhecida como o principal foro de discussões no âmbito da psicologia política até os nossos dias realiza reuniões científicas anuais e publica a revista trimestral Political Psychology Fica evidente pelo acima exposto que a história da psicologia política como disciplina autônoma e reconhecida nos círculos acadêmicos deve muito aos pesquisadores norteamericanos Consequentemente a história oficial da disciplina se confunde com frequência com a sua história nos Estados Unidos É importante ter clareza disso para compreender que uma outra história vem sendo escrita em outros países na Europa e na América Latina É nessa outra história que surge a distinção com a psicologia da política A psicologia política na América Latina e no Brasil uma breve notícia A predominância de outras tradições de pensamento em países europeus e latinoamericanos produziu é óbvio outras perspectivas outras abordagens aos problemas psicopolíticos A história recente desses países especialmente o fim de diversas ditaduras e a reconquista de liberdades democráticas desafiou e estimulou os pesquisadores a se ocuparem de problemas muito diversos daqueles próprios da realidade norteamericana Na América Latina o desenvolvimento da psicologia política é mais recente datando da década de 1980 É claro que também aqui tivemos precursores trabalhos isolados que abordaram as relações entre psicologia e política mas ainda sem constituir no seu conjunto uma disciplina autônoma Uma característica marcante desse desenvolvimento entre nós pesquisadores latino americanos é que ele se deu em resposta a necessidades sociais concretas Ardila 1996 enumera como principais abordados pelos pesquisadores em nosso contexto movimentos sociais democracia modernização identidade nacional participação política comportamento eleitoral consciência política conflito negociação alienação dependência liderança tortura nacionalismo internacionalismo autoritarismo movimentos ecológicos e ambientalistas luta de classes relação do Terceiro Mundo com o Primeiro e o Segundo meios de comunicação de massa com a sua influência sobre decisões políticas participação papel da mulher e socialização política de crianças e adolescentes p 339 Ardila 1996 destaca Freud e Marx como influências marcantes no desenvolvimento da psicologia política latinoamericana e os nomes de Maritza Montero da Universidade Central da Venezuela e de Ignacio MartinBaró falecido em 1989 como seus principais autores Ainda segundo esse autor México Chile Venezuela Porto Rico Costa Rica e Colômbia são os países onde a disciplina se encontra mais desenvolvida mas o Brasil Argentina e El Salvador também contribuem com trabalhos importantes à construção dessa área de conhecimento No Brasil a psicologia política ainda se encontra em fase de afirmação enquanto disciplina autônoma Sua presença nos espaços institucionais ainda é tímida Embora nos anais de diversas reuniões científicas da Psicologia principalmente da Abrapso possam ser identificados muitos estudos e pesquisas que se inserem nessa área de conhecimento a identidade da disciplina e a identificação da maioria dos pesquisadores com a mesma ainda está em construção A consolidação da psicologia política entre nós exige um resgate da sua história no contexto brasileiro e um panorama completo da situação atual Da mesma forma é necessário que conquiste uma maior visibilidade acadêmica e social através da presença nos currículos de graduação e pósgraduação e principalmente que sejam fortalecidos os grupos de pesquisa já existentes e que seja estimulada a criação de novos Para concluir não poderia deixar de assinalar que há muitos nomes que deverão ser mencionados como personagens importantes quando contarmos a nossa história da psicologia política no Brasil Fica assim como convite e desafio a outros pesquisadores que estejam empenhados em resgatar a importância dessa área de conhecimento para a construção de uma sociedade mais igualitária Sugestão de leituras Para ir um pouco mais adiante na exploração dessa fascinante área de conhecimento que é a Psicologia Política sugerese algumas leituras abaixo referenciadas O critério adotado para escolhêlas foi a sua utilidade para um mapeamento do território da disciplina em geral e no Brasil Não seguem necessariamente a mesma linha teóricometodológica Constituem um bom começo e espero que estimulem a avançar Boa leitura Em Português PENNA Antônio Gomes Introdução à psicologia política Rio de Janeiro Imago 1995 SANDOVAL Salvador AM O comportamento político como campo interdisciplinar de conhecimento a reaproximação da Sociologia e da Psicologia Social In CAMINO Leôncio LHULLIER Louise SANDOVAL Salvador AM org Estudos sobre comportamento político Florianópolis Letras Contemporâneas Abrapso 1997 Algumas reflexões sobre cidadania e formação de consciência política no Brasil In SPINK Mary Jane org Cidadania em construção uma reflexão transdisciplinar São Paulo Cortez 1994 PONTE DE SOUZA Fernando Histórias inacabadas um ensaio de Psicologia Política Maringá Editora da UEM 1994 CAMINO Leôncio Uma abordagem psicossociológica no estudo do comportamento político Psicologia e Sociedade 81 1642 janjun 1996 CAMINO Leôncio MENANDRO Paulo RM Apresentação geral In CAMINO Leôncio MENANDRO Paulo RM orgs A sociedade na perspectiva da psicologia questões teóricas e metodológicas Rio de Janeiro Associação nacional de Pesquisa e PósGraduação em Psicologia Anpepp 1996 FREITAS MFQ Contribuições da psicologia social e psicologia política ao desenvolvimento da psicologia social comunitária Psicologia e Sociedade 8l63 82 janjun 1996 LHULLIER Louise A A psicologia política e o uso da categoria Representações Sociais na pesquisa do comportamento político In ZANELLA Andréa SIQUEIRA Maria Juracy T LHULLIER Louise A MOLON Suzana orgs Psicologia e práticas sociais Porto Alegre Abrapsosul 1997 GUARESCHI Pedrinho Qual a prática da psicologia social da ABRAPSO In ZANELLA Andréa SIQUEIRA Maria Juracy T LHULLIER Louise A MOLON Suzana orgs Psicologia e práticas sociais Porto Alegre Abrapsosul 1997 CROCHIK José Leon A impossibilidade da psicologia política In AZEVEDO Maria Amélia MENIN Maria Suzana De Stefano Psicologia e política reflexões sobre possibilidades e dificuldades deste encontro São Paulo Cortez Fapesp 1995 Em espanhol SABUCEDO CAMESELLE José Manuel Psicologia política Madri Editorial Síntesis 1996 SEOANE Júlio RODRÍGUEZ Ángel Psicologia política Madri Ediciones Pirâmide 1988 Em inglês ARDILA Ruben Political psychology the Latin American perspective Political Psychology 172 339351 jun 1996 Bibliografia ADORNO TW FRENKELBRUNSWICK E LEVINSON DJ SANFORD RN La personalidad autoritária Buenos Aires Proyección 1965 ARDILA Ruben Political psychology the Latin American perspective Political Psychology 172 339351 jun 1996 BOBBIO N et al Dicionário de política Vol I Brasília EdUNB 1992 KELMAN HC Ethical imperativos and social responsability in the oractice of political psychology Political Psychology 1 100102 1979 KNUTSON JN Handbook of political psychology San Francisco JosseyBass 1973 LANE STM CODO Wanderley orgs Psicologia social o homem em movimento São Paulo Brasiliense 1986 LASSWELL HD Psychopatology and politics Chicago The University of Chicago Press 1930 SABUCEDO CAMESELLE José Manuel Psicologia política Madri Editorial Síntesis 1996 6 Muitos outros nomes poderiam e deveriam ser citados e comentados para que se fizesse justiça a esses precursores Não é possível fazêlo no entanto no espaço desse capítulo Aqueles que se interessarem por esse tema precisarão recorrer à bibliografia indicada ao final especialmente a Sabucedo 1996 que também servirá como fonte de referência a outros autores 7 Esse trabalho se constituiu na verdade num conjunto de estudos conduzidos por diferentes pesquisadores de base teórica psicanalítica que buscou identificar relações entre personalidade a personalidade autoritária e ideologia fascismo PARTE 3 EXPERIÊNCIAS PSICOLOGIA SOCIAL E ESCOLA Andréa Vieira Zanella A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto Paulo Freire 1981 p 12 Partindo do que nos aponta Paulo Freire solicito que o leitor me acompanhe na tarefa de buscar as relações entre o texto e o contexto o texto aqui proposto o qual diz respeito à atuação do psicólogo no espaço escolar em uma perspectiva social crítica e o contexto que se refere tanto à história da psicologia escolar no Brasil quanto às suas implicações sociais e políticas Gostaria inicialmente de destacar a própria dificuldade com o título Afinal várias são as terminologias adotadas Psicologia Escolar Psicologia Educacional Psicologia da Educação Psicologia na Educação Goulart 1987 e Davis e Oliveira 1992 apresentam razões para essas diferentes terminologias e com certeza leitores ávidos em identificálas poderão recorrer à bibliografia indicada De nossa parte interessa demarcar que a diversidade e complexidade da atuação do psicólogo afinal são tantas as chamadas áreas de atuação escolar organizacional do esporte clínica jurídica comunitária etc têm revelado ao que parece como cada vez mais inadequada a discussão sobre essas áreas de atuação tal qual vinha acontecendo isto é como áreas estanques separadas com arcabouço técnico e teórico delimitado Para complicar ainda mais os leitores iniciantes na área há uma diversidade enorme de orientações teóricometodológicas No que diz respeito à atuação do psicólogo os esforços na delimitação de espaços tão demarcados têm sérias implicações sendo que me parece importante assinalar ao menos uma a não reflexão sobre as consequências sociais e políticas dessas ações Isto porque se concordamos que o texto se relaciona com o contexto que por sua vez se relaciona com o texto certamente entendemos que nossas ações sempre e necessariamente resultam de situações e concomitantemente contribuem para a constituição de novos contextos Cabe pois refletir sobre esse novo contexto que estamos produzindo A discussão da psicologia enquanto áreas de atuação nos parece pois deslocada Afinal como nos aponta Eizirik 1988 p 33 Não é o lugar que define a postura de um profissional embora nem todos pensem assim é antes a capacidade de refletir criticamente sobre teorias métodos e práticas avaliando resultados e pensando acerca das necessidades do país em que nos encontramos Espero que essas colocações iniciais ajudem o leitor a entender por que o título se refere à atuação do psicólogo na escola o local é demarcado mas a atuação profissional que defendemos é necessariamente múltipla posto que assim se caracteriza a realidade Psicologia e educação uma longa história Continuando a nossa conversa fazse necessário destacar alguns dados ainda que breves a respeito das contribuições da psicologia à educação Apesar de nova enquanto ciência e profissão vale lembrar que seu reconhecimento no Brasil data de 1962 a presença da psicologia já era realidade em nosso país desde o final do século passado e início deste século seja através das teses de conclusão de curso defendidas por médicos da Bahia e Rio de Janeiro seja como disciplina nos cursos de formação de professores YAZZLE 1990 Contextos diferentes mas com uma mesma perspectiva teórico metodológica a do ajustamento da identificação de distúrbios sejam estes de personalidade de conduta de aprendizagem visando à correção dos mesmos ou então à sua prevenção Sob essa ótica a psicologia exerceu sobre a educação uma influência bastante nefasta pois os problemas de escolarização passaram a ser localizados basicamente nos próprios alunos e em suas famílias geralmente vistas como desorganizadas e desestruturadas ANDALÓ 1997 p 169 Desse modo mais do que contribuir com a superação do fracasso escolar a psicologia historicamente contribuiu para a legitimação do mesmo e consequentemente para a manutenção da ordem social vigente Isto na medida em que os problemas sociais eram reduzidos a problemas psiquiátricos sendo o sujeito visto como doente mental em potencial Com a regulamentação da profissão os serviços de psicologia junto às instituições escolares caracterizaramse por essa perspectiva a qual ainda não foi superada Tanto isso é verdade que em um jornal de uma associação de profissionais da área1 encontramos a seguinte referência à atuação do psicólogo É preciso que nos manifestemos a respeito do nosso perfil profissional que mostremos o quanto podemos fazer sob a ótica da saúde e do desenvolvimento que convençamos a todos de que o desenvolvimento de uma criança e de um jovem em um adulto sadio requer atenção e cuidados especiais de uma grande equipe de técnicos e que o psicólogo escolar é parte fundamental dessa equipe Ao mesmo tempo é preciso que convençamos a todos de que um desenvolvimento saudável na infância previne desajustamentos na idade adulta ou melhor que quando jovens aprendem a identificar e a lidar com seus pesadelos eles previnem problemas futuros Sob essa ótica a atuação pautase portanto em uma perspectiva preventivo curativa em que os conhecimentos da psicologia são utilizados fundamentalmente para o diagnóstico e intervenção junto a alunos que apresentam as chamadas dificuldades de aprendizagem Ao psicólogo é atribuída pois uma função eminentemente técnica Em contraposição temos a atuação do psicólogo em uma perspectiva social crítica o que caracteriza as discussões e trabalhos que vêm sendo desenvolvidos pelos profissionais ligados à Abrapso Associação Brasileira de Psicologia Social Partindo da compreensão de que o homem é social e historicamente constituído e concomitantemente caracterizase como produtor de cultura e história a intervenção do psicólogo na escola pautase na análise das situações educativas em sua complexidade considerando os vários aspectos aí envolvidos históricos econômicos políticos sociais etc Uma breve análise destas diferentes perspectivas de atuação junto às instituições escolares é o que apresentaremos a seguir Psicólogo escolar Técnico da Educação Desde a sua inserção nas escolas o psicólogo tem sido geralmente considerado como um técnico que juntamente com os demais especialistas da educação orientadores supervisores e administradores escolares contribui para a maximização do processo ensinoaprendizagem A concepção desse trabalho como especialismo técnicocientífico tem se prestado no entanto a fins distintos do que os apregoados Compreender essa outra função nos remete à história da divisão social do trabalho DST fenômeno que se consolidou no século passado Como nos esclarece Coimbra 1990 p 10 mais do que em decorrência das necessidades tecnológicas a DST originada nas fábricas é explicada pela necessidade de fiscalizar hierarquizar e disciplinar os trabalhadores delegando a estes funções cada vez mais distanciadas dos meios e do processo de produção como um todo Essa função de fiscalização é assumida portanto pelo pessoal técnico No entanto mais do que técnica a função destes é claramente política pois consiste em perpetuar a dependência dos operários sua subordinação sua separação dos meios e do processo de produção GORZ in COIMBRA 1990 p 10 No contexto educacional brasileiro essa DST foi acentuada na década de 1970 no auge do regime militar na época do chamado milagre econômico brasileiro Através da lei 569271 os especialistas da educação traziam consigo a proposta de modernização da escola herdada do taylorismo Aos técnicos tidos como detentores do saber caberia a função de assessorar os professores os que não sabem Aos primeiros pois caberia a função de planejamento enquanto os docentes eram tidos como os executores Essa perspectiva aparece claramente em trabalhos que versam sobre o papel do psicólogo escolar e que tem sido amplamente discutidos e divulgados em cursos de formação do psicólogo em todo o Brasil como é o caso do texto de Reger Para este autor o objetivo básico do psicólogo escolar consiste em ajudar a aumentar a qualidade e a eficiência do processo educacional através da aplicação dos conhecimentos psicológicos Enquanto educador comprometido com a identidade do acadêmico o psicólogo escolar pode tentar ensinar a outros profissionais no sistema escolar REGER 1989 p 1415 grifo nosso Essa perspectiva ainda é compartilhada por grande parte dos profissionais que atuam em escolas ou que discutem a questão conforme apontamos anteriormente Desse modo assumindo uma atuação eminentemente técnica o psicólogo mais do que contribuir com a escola na discussão de seus impasses legitima a hierarquização do trabalho assumindo função de controle Nesse sentido nega aos demais professores alunos orientadores pais diretores merendeiras etc a possibilidade de se perceberem como corresponsáveis tanto pela realidade encontrada quanto por um projeto social outro que se queira construir Superar essa atuação politicamente comprometida com a manutenção do status quo vigente requer deste profissional entre outras coisas a compreensão do caráter histórico da divisão social do trabalho Desse modo este poderá atuar no sentido de desmistificar esses territórios tão bem marcados e fechados do não saber e saber para que outros saberes possam fluir e circular saberes que não seriam monopólio de uns poucos COIMBRA 1990 p 14 O psicólogo na escola Para além da função técnica Repensar o papel do psicólogo requer como foi apontado acima superar a visão técnica Mas afinal se a função do psicólogo não é técnica ou não somente técnica como podemos entendêla Toda e qualquer ação humana aí incluindose o quefazer psicológico é sempre e necessariamente política pessoal social e histórica É nesse sentido concomitantemente afetiva cognitiva social motora posto que em toda e qualquer situação apresentamonos como um todo enquanto sujeitos histórica e socialmente constituídos e ao mesmo tempo como constituidores ativos do contexto no qual nos inserimos A nossa ação portanto está sempre comprometida tenhamos consciência disso ou não com um projeto de sociedade Desse modo necessária se faz a reflexão crítica constante sobre a nossa atuação Por sua vez as perguntas críticas que os psicólogos devem se formular a respeito do caráter de sua atividade e portanto a respeito do papel que está desempenhando na sociedade não devem centrarse tanto no onde mas no a partir de quem não tanto em como se está realizando algo quanto em benefício de quem e assim não tanto sobre o tipo de atividade que se pratica clínica escolar industrial comunitária ou outra mas sobre quais são as consequências históricas concretas que essa atividade está produzindo MARTINBARÓ 1997 p 22 Considerando essas questões como pode então ser entendida a atuação do psicólogo junto às instituições escolares Recorro a Paulo Freire 1983 que há muito nos alertou para o fato de que cabe aos profissionais de um modo geral e aos profissionais que atuam na educação como é o caso constituíremse como trabalhadores sociais historicamente comprometidos com o processo de mudança Desse modo o psicólogo entendido como trabalhador social teria como papel atuar e refletir com os indivíduos para conscientizarse junto com eles das reais dificuldades da sua sociedade FREIRE 1983 p 56 Nesse processo de atuação conjunta de produção coletiva de uma nova práxis educativa o psicólogo pode contribuir em muito com a análise e redimensionamento das relações sociais que se estabelecem no contexto educacional E por que essa questão é importante As relações sociais caracterizamse como palco onde as significações são coletivamente produzidas e particularmente apropriadas É pois nas relações sociais que os homens constituemse enquanto sujeitos enquanto capazes de regular a própria conduta e vontade Tal compreensão vem ao encontro dos postulados de Vygotsky 1987 o qual esclarece que as funções psicológicas superiores2 são constituídas nas e pelas relações que o homem estabelece com outros homens num movimento dialético que compreende o social e o particular sendo ambos mutuamente constitutivos As relações sociais entabuladas no contexto escolar por sua vez organizam se em razão das atividades que caracterizam a própria escola o ensinar e o aprender Ao falarmos em redimensionamento das relações sociais enfatizamos pois a necessidade de que essas possibilitem a todos a concretização com pleno êxito das atividades citadas de modo a que o acesso ao conhecimento historicamente produzido possa efetivamente ser prerrogativa de todos A atuação de psicólogo caracterizase nesse sentido como ação voltada para a cidadania sendo esta entendida enquanto possibilidade de os indivíduos se apropriarem dos bens socialmente criados de atualizarem todas as possibilidades de realização humanas abertas pela vida social em cada contexto historicamente determinado COUTINHO 1994 p 14 Desse modo procurando conhecer a realidade escolar como um todo com suas múltiplas determinações o psicólogo pode contribuir para o repensar da escola na medida em que redimensiona sua própria atuação e contribui para que os demais integrantes desta reflitam também sobre a forma como ageminteragem frente ao real Estaria assim contribuindo efetivamente para a transformação social pois como nos esclarece Freire 1983 p 50 no momento em que os indivíduos atuando e refletindo são capazes de perceber o condicionamento de sua percepção pela estrutura em que se encontram sua percepção muda embora isso não signifique ainda a mudança da estrutura Mas a mudança da percepção da realidade que antes era vista como algo imutável significa para os indivíduos vêla como realmente é uma realidade históricocultural humana criada pelos homens e que pode ser transformada por eles O compromisso do psicólogo no contexto educacional deve ser portanto com a superação da dicotomia planejamentoexecução que alija os professoresos alunosos paisas faxineiras e outros da possibilidade de conhecimento imputando a estes o posto da submissão do não ser capaz do não saber Às relações de dominaçãosubmissão contrapõemse as relações de cooperação marcadas por laços de solidariedade e pelo compromisso com uma sociedade não exclusora onde os direitos civis políticos e sociais possam efetivamente ser prerrogativa de todo cidadão O quefazer psicológico crítico no contexto escolar caracterizase portanto como ação pautada pela indignação em relação a toda e qualquer forma de violência como ação que se opõe aos processos de exclusão social e nesse sentido ao fracasso escolar A atuação que se almeja é comprometida assim com um projeto de realidade que busca para todos uma vida mais digna de ser vivida CROCHIK 1992 Sugestão de leituras Entendendo a atuação do psicólogo como múltipla posto que assim se caracteriza a realidade várias são as leituras que poderiam ser indicadas Apontarei aqui algumas que me parecem importantes destacando que certamente muitas outras igualmente relevantes poderiam aqui constar Dois livros já considerados clássicos e indispensáveis ambos de Maria Helena Souza Patto são Psicologia e ideologia São Paulo TA Queiroz 1984 e A produção do fracasso escolar São Paulo TA Queiroz 1990 Mais recente temos o livro Psicologia escolar em busca de novos rumos São Paulo Casa do Psicólogo 1997 organizado por Adriana M Machado e Marilene PR de Souza A respeito do sucesso escolar uma coletânea de textos importantes e críticos encontrase no Cadernos Cedes n 28 editado pela Papirus Por fim textos que caracterizam a perspectiva da Abrapso podem ser encontrados na revista Psicologia e Sociedade e no livro Psicologia e práticas sociais este editado pela Regional Sul da Abrapso Bibliografia ANDALÓ Carmen S Psicologia e educação In ZANELLA AV et al Psicologia e práticas sociais Porto Alegre Abrapsosul 1997 COIMBRA Cecília A divisão social do trabalho e os especialismos técnico científicos Revista do Departamento de Psicologia da UFF a II n 2 1 sem 1990 COUTINHO Carlos N Cidadania democracia e educação In BORGES A et al Escola Espaço de construção da cidadania São Paulo FDE 1994 CROCHIK José Leon Notas sobre a relação éticapsicologia Psicologia ciência e profissão CFP a12 n 2 1992 DAVIS Cláudia OLIVEIRA Zilma Psicologia na educação São Paulo Cortez 1992 EIZIRIK Marisa F Psicologia hoje uma análise do quefazer psicológico Psicologia ciência e profissão a8 n 1 1988 FIGUEIREDO Luís Cláudio Matrizes do pensamento psicológico Petrópolis Vozes 1991 FREIRE Paulo A importância do ato de ler em três artigos que se complementam São Paulo Cortez 1990 Educação e mudança São Paulo Paz e Terra 1983 GOULART Íris Barbosa Psicologia da educação fundamentos teóricos e aplicações à prática pedagógica Petrópolis Vozes 1987 MARTINBARÓ Ignacio O papel do psicólogo Estudos de Psicologia a2 n l 1997 REGER Roger Psicólogo escolar educador ou clínico In PATTO MHS org Introdução à psicologia escolar São Paulo TA Queiroz 1989 VYGOTSKY Lev Semionovitch História del desarrollo de las funciones psíquicas superiores La HabanaCuba CientíficoTécnica 1987 YAZZLE Elisabeth G A formação do psicólogo escolar no estado de São Paulo subsídios para uma ação necessária São Paulo 1990 Dissertação mestrado PUCSP 1 Jornal Abrapee Nacional Ano 5 Vol 1 e 2 jandez 1996 2 De acordo com Vygotsky 1987 as funções psicológicas superiores são funções caracteristicamente humanas socialmente constituídas que se pautam pela mediação dos signos PSICOLOGIA SOCIAL NO TRABALHO Carmem Ligia Iochins Grisci Gislei Romanzini Lazzarotto O nosso dia a dia constituise de práticas e elas são alicerçadas a partir das mais diversas inserções que se estabelecem Sobre elas no entanto nem sempre se debruça um olhar mais apurado e em razão disso podese incorrer na ideia de que uma prática é algo que acontece desconectado de sentidos Há de se considerar contudo que uma prática não só representa o mundo como inventa o mundo Derivada do latim praticare prática significa agir tratar com as gentes vocábulo praticar FERREIRA 1986 Neste sentido uma prática jamais prescindirá de uma relação e de uma ética GUARESCHI 1995 Uma prática é social porque constitui a realidade que por sua vez é múltipla porque toma o sujeito como algo em contínua construção porque os modos de pensar do sujeito não se dão dissociados dos modos de pensar do mundo e da cultura na qual se inscreve A prática profissional e científica não se coloca portanto como meramente tecnicista devendo estar ciente de que não só transforma o sujeito que a pratica como também o mundo O corpo de conhecimento da psicologia social é sem dúvida recortado por valores Independentemente do recorte no entanto a ética sempre se fará presente Portanto diz respeito a que psicologia falamos e de que sociedade nos propomos a construir Nem sempre a psicologia norteou suas práticas no sentido de considerar a ética No que se refere ao trabalho a psicologia contribuiu muito para que o mérito e o fracasso por exemplo fossem vistos como características que dissessem respeito única e exclusivamente aos sujeitos individuais No que se refere à saúde sabemos que a atuação da psicologia voltouse prioritariamente para a classificação dos sujeitos em saudáveis ou não saudáveis aptos ou inaptos ao trabalho atentos ou desatentos diante de riscos do cotidiano e assim por diante Ao agir desta maneira a psicologia debruçouse mais para a produção em busca de resultados do que para o trabalho e osas trabalhadoresas Desta forma tornou suas práticas um dos fatores mantenedores de uma estrutura social tida como natural e inevitável Dimensões constitutivas do sujeito tais como classe social gênero raçaetnia foram deixadas à margem das práticas vigentes relacionadas a trabalho tendo como consequência sua fragmentação e marginalização O interesse dominante além de privilegiar apenas algumas das condições visíveis do trabalho tratava de invisibilizar outras tantas características com repercussões diretas à saúde dos sujeitos Notase que desta maneira o tripé psicologia trabalho e saúde evidencia se enquanto prática de uma relação de dominação em que alguns expropriam as possibilidades que outros têm de construir e de se construírem no cotidiano da vida Esta relação assimétrica define o que muitos hoje chamam de ideologia THOMPSON 1995 A partir da coerência ideológica permeada neste tripé assim caracterizado resta aoa trabalhadora a doença A respeito da doença sim é permitido aoà trabalhadora deter o conhecimento de seu processo de produção e elea realmente a detém como é possível observarmos dos detalhamentos provenientes de suas explanações Um processo mais ou menos lento desde seu desencadear até a instalação completa que dentro da tradição que culpa e individualiza oa trabalhadora somente a elea diz respeito ficando a Psicologia com o papel de classificálo Através de suas falas os trabalhadoresas ilustram formas pelas quais o trabalho que realizam lhes traz prejuízos à saúde Como evidência disso registram que ao ingressarem no trabalho eram normais e saudáveis mas que ao longo do tempo perderam tais características Assumir a dor normal do trabalho como algo de sua única e exclusiva responsabilidade é comum entre esses trabalhadoresas que estimulados pela tradição dominante se culpam pela falta de um organismo resistente ou por não se terem cuidado LAZZAROTTO 1992 Decorrente destes equívocos legitimouse o descrédito da palavra dos sujeitos do trabalho pela organização do trabalho organização esta que planeja e executa sem minimamente considerar as interferências impostas em sua vida causando assim o sofrimento individual e o adoecimento coletivo da classe trabalhadora em resposta à ideologia da vergonha e do fracasso tal como considerado por Christophe Dejours 1988 1994 É possível que na ilusão de uma única verdade a busca por fórmulas oriundas de um fazer já concebido estipulado e executado ainda se manifeste No entanto num mundo em mudança constante e veloz a busca por novas possibilidades pelo respeito das singularidades pela compreensão de que trabalho também pode ser uma experiência digna e de prazer mostrase urgente Embora nem sempre mensurável ou passível de completa apreensão a nova ordem do trabalho traz implicações diretas aosàs trabalhadoresas nas mais diversas dimensões que compõem a vida Toda e qualquer prática eticamente comprometida deveria a princípio e por princípio caracterizarse enquanto prática contextualizada social e historicamente sob o risco de análises incompletas e deturpadas A ideia ainda muito presente de uma Psicologia dividida em áreas específicas de atuação geralmente marcada por estereótipos compromete tanto o reconhecimento social da profissão quanto a articulação dos próprios psicólogosas Resgatar a história de nossa própria construção é fundamental para que não nos coloquemos tão somente enquanto aplicadores de conhecimentos mas como fazedores de conhecimento não somente reprodutores de técnicas mas produtores de novos modos de fazer Para além dos modos tradicionais do fazer psicologia em relação ao trabalho A psicologia tem no que se refere ao trabalho possibilidades cruciais Basta que se admire e inquiete diante da realidade de trabalho experienciada por cada trabalhadora Sua importância evidenciase principalmente na possibilidade de resgatar a fala abafada enquanto medida de anulação dosas trabalhadoresas através da capacidade de escuta das experiências geradoras de sofrimento vivenciadas no dia a dia do trabalho GUARESCHI GRISCI 1993 Desta capacidade de escuta derivamse novas possibilidades de relação Entre elas nos deparamos com a passagem de uma situação de alienação doa trabalhadora para uma situação de consciência crítica produzida no resgate de seus modos de pensar sentir e vivenciar Tal resgate poderá constituirse em novos modos de experienciar o trabalho proveniente dos próprios trabalhadores e trabalhadoras no que diz respeito à reconstrução de seus vínculos enquanto classe trabalhadora com o próprio trabalho e com quem compartilham a vida A ordem social que se globaliza e se complexifica vem dinamizando representações sociais do trabalho diferenciações nos modos de organizálo e complexificações produtivas que acarretam distinções no mundo do trabalho e dosas própriosas trabalhadoresas sobre os quais contexto e sujeito a psicologia não pode se furtar de lançar o olhar Atenta à interdisciplinaridade em função da complexidade de objetos a psicologia deve buscar novas fontes e novos referenciais Há de se discutir acerca daquelesas que trabalham conforme proposto no livro organizado por Eduardo Davel e João Vasconcelos 1996 São elesas trabalhadoresas ou recursos humanos São elesas descartáveis ou recicláveis Como vimos anteriormente as lógicas que deram sentido às práticas psicológicas nem sempre se voltaram para esta discussão A questão do gênero dono trabalho por exemplo não recebeu destaque pelo conhecimento ciência e profissão até os movimentos feministas No entanto a divisão sexual do trabalho produzreproduz desigualdades sociais que vão para além do espaço de realização do trabalho SOUZALOBO 1991 Além disso desde a década de 1970 o interesse acerca das consequências das inovações tecnológicas centravamse nos efeitos mais visíveis de tais inovações sendo que a busca pelo conhecimento do que elas representam para osas trabalhadoresas mantevese marginalizada ITANI 1997 Tal constatação encontra eco na atual desordem do trabalho MATTOSO 1995 que indica mais para a perda de direitos o desemprego e a marginalização entre outros do que para a libertação daquelesas que trabalham Embora não mais apresentados como aquelesas trabalhadoresas massificadosas que o fordismo cunhou osas trabalhadoresas de hoje encontramse numa nova ordem de massificação A ordem da massa dosas excluídosas que aumenta vertiginosamente as filas do desemprego devido a um mundo do trabalho que não mais necessita de sua força para se movimentar FORRESTER 1997 Em relação às novas tecnologias observase que por mais que elas proporcionem maior produção em menor tempo não libertam osas trabalhadoresas uma vez que o que estesas ainda vendem é o seu tempo de trabalho Conforme Paulo Maya 1996 no contexto das sociedades capitalistas industrializadas mesmo as periféricas como o Brasil o tempo livre foi incorporado ao processo produtivo obedecendo às mesmas regras da lógica de produção de mercadorias que regem o tempo de trabalho dos indivíduos No mundo do trabalho particularmente observase que mudanças expressas nos processos de virtualização propiciados pela informática a comunicação instantânea e globalizada a rapidez dos fluxos as empresas virtuais indicam para novos modos de ser que têm gerado experiências traumáticas nos sujeitos do trabalho com implicações imediatas à sua saúde Reestruturações do trabalho apresentam mensagens duplas aosas trabalhadoresas tais como competiçãocooperação submissão a regrascriatividade individualismotimes controle externocontrole interno requerendo delesas por sua vez reestruturações psíquicas Discursos bem elaborados indicam formas diferenciadas de gestão como o neotaylorismo o tecnoburocrático o baseado na excelência e o participativo entre outros CHANLAT 1996 Embora estas formas repercutam direta e diferenciadamente na saúde dosas trabalhadoresas o que se observa é que elas não minimizam seus sentimentos de estar em constante falta em constante despreparo em constante insegurança frente às possibilidades de exclusão do mercado de trabalho em transformação Pelo contrário elas são acréscimos às conhecidas preocupações que assombraram e assombram a classe trabalhadora Tal quadro merece a nosso ver ser amplamente considerado pela psicologia voltada ao âmbito do trabalho no sentido de compreender e intervir nos possíveis efeitos sociais e subjetivos dele decorrentes Ainda mais que embora o conteúdo do trabalho tenha sido enriquecido em determinados aspectos e setores exigindo uma melhor qualificação não é possível ignorar que um grande número de trabalhadores continua a executar atividades fragmentadas sem sentido e de baixa qualificação Além disso não podemos nos esquecer de que as novas políticas de pessoal tentam a sua maneira normalizar os comportamentos e o pensamento o que coincide inegavelmente com o ideal taylorista LIMA 1996 p 42 A importância de se ampliar escutas e olhares sobre estas questões faz parte de múltiplos esforços Esforços estes tomados no sentido de pluralizar a compreensão da realidade social de identificar diferençasigualdades que permeiam o universo da classe trabalhadora para que a saúde ou a falta dela não se centre unicamente na culpabilização dos indivíduos como consequência de seu não ajustamento à nova ordem social Alguns exemplos do fazer psicologia em relação ao trabalho Práticas profissionais e científicas em psicologia social tais como pesquisas e consultorias realizadas com trabalhadoresas em diferentes inserções no período de 1994 a 1997 no Rio Grande do Sul visando abordar a questão saúde a partir de um recorte que torne visíveis os riscos aos quais os sujeitos se expunham no dia a dia tanto no espaço territorializado do trabalho quanto na comunidade e nos movimentos sociais evidenciam que a possibilidade de uma prática não meramente tecnicista é viável Seguem alguns exemplos 1 Em uma pesquisa que visava relacionar gênero saúde e risco no cotidiano do trabalho realizada num Hospital de Clínicas Veterinárias GRISCI PIVETTA GOMES 1997 comprovouse que se osas trabalhadoresas devem ser vistos desde a perspectiva do gênero inclusive os espaços de trabalho e o mesmo propriamente dito se colocam nesta perspectiva Embora tanto os homens quanto as mulheres estejam expostos aos riscos dono trabalho eles são representados sentidos e vividos de uma forma diferenciada desde a perspectiva do gênero Cabe aos homens a preocupação para com os riscos visíveis e que tragam danos materiais imediatos ao físico e às mulheres a preocupação para com os riscos invisíveis e que possam trazer danos igualmente invisíveis em um tempo futuro Essa investigação além de descrever os riscos do cotidiano do trabalho no hospital através da construção de mapa de riscos permitiu elucidar que eles não somente extrapolam o âmbito do corpo físico e do território do trabalho como também causam interferências na qualidade de vida e nas relações dos sujeitos cabendo às estratégias defensivas DEJOURS 1994 um papel importante no sentido de possibilitar entender que se osas trabalhadoresas não estão se protegendo dos riscos com atitudes e equipamentos concretoscorretos de proteção o estão fazendo psicologicamente Contudo sabemos que esta proteção longe de proteger efetivamente alimenta comportamentos de exposição aos riscos por parte dosas trabalhadoresas e alimenta a falta de medidas na estrutura para eliminar os riscos 2 Nossa experiência relativa à formação de cipeiros membros das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes numa proposta de organização sindical revelou a necessidade de repensar a noção de saúde a partir das relações de produção de bens materiais e serviços e reprodução alimentação vestuário moradia educação lazer etc uma vez que saúde limitavase a aspectos que diziam respeito unicamente aos indivíduos isoladamente O darse conta de que as relações estabelecidas causavam adoecimento dono trabalho e consequente exclusão dono trabalho extrapolava tradicionais análises meramente condicionadas a definir atos ou condições inseguras A possibilidade de estabelecer relações entre as formas de trabalhar e as formas de viver traz como consequência a noção de que somos ao mesmo tempo seres singulares e coletivos inseridos num contexto de relações sociais O resgate do significado das próprias ações revelase no discurso sobre as atividades desenvolvidas com estesas trabalhadoresas ao avaliarem que aprenderam e ensinaram muitas coisas sobre o trabalho o ser cipeiro e a vida Tornase claro portanto que ensinar e aprender é algo que se dá em conjunto e que remete ao social A valorização do próprio conhecimento e do conhecimento do outro apresentase como um espaço de afirmação da existência da identidade destesas trabalhadoresas mostrando que é o mesmo sujeito quem ensina e quem aprende Destacase ainda a percepção de que até então oa cipeiroa sentiase somente como aquele responsável por cobrar dos colegas o ato inseguro reproduzindo uma forma ideológica de agir frente aos acidentes do trabalho 3 Em pesquisa que investiga as representações sociais do acidente de trabalho entre trabalhadores da construção civil três dimensões principais foram evidenciadas em relação à ocorrência de tais acidentes fatalismo destino sorte ou azar individualismo descuido desatenção ou características psicológicas individuais e determinadas mediações trabalho perigoso medo pressa falta de equipamento de proteção coerção desafio Estas mediações se colocam como um espaço negado pelos trabalhadoresas e eles só falam delas quando se insiste em que se procurem as verdadeiras razões dos acidentes Assim por exemplo quando perguntados por que tinham se acidentado a resposta imediata em 80 dos casos era porque me descuidei minha culpa foi um azar não tive sorte meu destino Mas discutindo mais a fundo o fato eles referem outras razões que levam aos acidentes porque o patrão mandou apurar o serviço para entregar a obra ou porque ele foi chamado a fazer outro serviço e na volta o andaime caiu porque tinha esquecido de prender e ainda mais se não se arriscasse não era considerado suficientemente viril etc Isso evidencia uma ideologia de individualismo e fatalismo escondendo as verdadeiras razões dos acidentes As representações sociais do trabalho circunscrevemse desta maneira no que o autor denomina como Minha culpa meu destino POSSAMAI 1997 4 Uma outra experiência voltada para a comunidade em vilas periféricas da região metropolitana que se constituiu na elaboração de mapas de riscos sociais demonstrou tal qual no hospital acima referido e na pesquisa com trabalhadores da construção civil a necessidade de um alargamento da noção de risco comumente voltada para o concreto e o físico conforme encontrada na literatura em geral Cabe ressaltar no entanto que os riscos acarretam além do sofrimento físico sofrimento mental aos sujeitos Ao construir categorias de riscos a partir de seus próprios referenciais os sujeitos das vilas periféricas constataram por exemplo que a falta de energia elétrica não só limitava ações no espaço doméstico mas também reproduzia os limites sociais impostos ao ir e vir destes sujeitos no espaço público que os esgotos a céu aberto não só traziam possibilidades de contaminação mas evidenciavam o descaso dos órgãos oficiais para com a saúde de uma população excluída Estas evidências confirmam que os riscos podem ser considerados como riscos sociais Estas experiências desvelam a imprescindível necessidade de perguntar e de analisar o porquê de serem sujeitos específicos os que mais retratam e denunciam o sofrimento físico e mental São comumente as mulheres osas pobres osas trabalhadoresas não qualificadosas aquelesas que habitam as periferias etc osas que sofrem em decorrência de uma ideologia já cristalizada nas relações de trabalho que se expande ao cotidiano da vida É através desta análise que poderão surgir práticas realmente voltadas para a relação saúde e trabalho que entrelacem modos de trabalhar e modos de viver Considerações finais Ao finalizar perguntamonos o que de novo se pode perceber nestas páginas Esta é com certeza uma dimensão que afeta aquelesas que tentam pensar praticamente o mundo do trabalho Na incessante tentativa de buscálo é necessário no entanto que não nos deixemos cegar pelo ritmo acelerado do descartável do oportunismo que vem caracterizando nossa época impondo muitas vezes um descrédito a formas de compreensão críticas no sentido de neutralizálas As reflexões que permearam o presente texto visaram compartilhar um pouco do que experienciamos a partir de uma realidade que não mais acreditamos tal como se apresenta neutra e natural e a compartilhar nossa experiência teórico prática enquanto psicólogas e pesquisadoras voltadas para o mundo do trabalho Elas não se propõem como novas mas sim querem demonstrar que as novas formas do fazer não podem de maneira alguma prescindir das trajetórias dos sujeitos dana história É somente a partir do outro que podemos saber de nossas práticas pois enquanto seres isolados não temos como sabêlas Se nossas práticas são relativas assim o são em relação a um outro que contémestá contido em um dado cenário Sem esse outro experimentamos a sensação tida ao sobrevoarmos de avião acima das nuvens Se as nuvens se apresentam uniformes tudo parece estático Embora nos locomovamos a uma velocidade aproximada de 800 kmh isso por si só não nos dá a saber que nos deslocamos É necessário pois que o cenário se transforme e ao se transformar nos dê a conhecer o efeito da prática que desenvolvemos Por longo tempo a psicologia não se preocupou com a relação saúde e trabalho como se ambos fossem objetos estáticos em relação a ela tampouco considerou a perspectiva dinâmica daqueles que trabalham Há de se considerar entretanto a existência de um outro mundo não apreendido pela psicologia quando esta se utiliza apenas da técnica não se mostrando interessada no trabalho nem nos trabalhadores mas apenas em maximizar a produção e a qualidade de mercadorias Sugestão de leituras Um livro já considerado clássico e indispensável em relação ao trabalho e à saúde é o de Christophe Dejours A loucura do trabalho estudo de psicopatologia do trabalho 3 ed São Paulo CortezOboré 1988 De Pedrinho A Guareschi e Carmem LI Grisci A fala do trabalhador Petrópolis Vozes 1993 é um livro em que a fala cristalina dos trabalhadores retrata a dura realidade do trabalho O recente livro de Viviane Forrester O horror econômico São Paulo UNESP 1997 é uma ótima referência sobre o fenômeno atual do desemprego Bibliografia CHANLAT Jean François Modos de gestão saúde e segurança no trabalho In DAVEL Eduardo VASCONCELOS João orgs Recursos humanos e subjetividade Petrópolis Vozes 1996 DAVEL Eduardo VASCONCELOS João orgs Recursos humanos e subjetividade Petrópolis Vozes 1996 DEJOURS Christophe A loucura do trabalho estudo de psicopatologia do trabalho 3 ed São Paulo CortezOboré 1988 DEJOURS Christophe et al Psicodinâmica do trabalho contribuições da escola Dejouriana à análise da relação prazer sofrimento e trabalho São Paulo Atlas 1994 FERREIRA Aurélio BH Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1986 FORRESTER Viviane O horror econômico São Paulo Unesp 1997 GRISCI Carmem LI PIVETTA Ana GOMES Sandra Gênero saúde e risco no cotidiano do trabalho In ZANELLA Andrea et al orgs Psicologia e práticas sociais Porto Alegre Abrapsosul 1997 GUARESCHI Pedrinho A Ética e relações sociais entre o existente e o possível In JACQUES Maria da Graça et al org Relações sociais e ética Porto Alegre Abrapsosul 1995 GUARESCHI Pedrinho A GRISCI Carmem LI A fala do trabalhador Petrópolis Vozes 1993 ITANI Alice Subterrâneos do trabalho imaginário tecnológico no cotidiano São Paulo HucitecFapesp 1997 LAZZAROTTO Gislei DR A organização do trabalho e a construção do sujeito uma apreciação crítica da psicologia o caso da digitação Porto Alegre PUCRS Dissertação de mestrado 1992 LIMA Maria EA Os equívocos da excelência as novas formas de sedução na empresa Petrópolis Vozes 1996 MAYA Paulo Valério Trabalho e tempo livre Porto Alegre PUCRS Dissertação de mestrado 1996 MATTOSO Jorge A desordem do trabalho São Paulo Escrita 1995 POSSAMAI Hélio Minha culpa meu destino representações sociais de acidente do trabalho Porto Alegre PUCRS Dissertação de mestrado 1997 SOUZALOBO Elisabeth A classe operária tem dois sexos trabalho dominação e resistência São Paulo BrasilienseSMC 1991 THOMPSON John B Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995 PSICOLOGIA SOCIAL E COMUNIDADE Sissi Malta Neves Nara Maria Guazzelli Bernardes Na esfera humana é impossível entender o presente social se não tentarmos mudálo JL Moreno No Brasil a trajetória do saberfazer da psicologia em relação à comunidade iniciouse em meados dos anos 1960 e sofreu transformações teóricas epistemológicas e metodológicas importantes neste espaço de tempo relativamente curto o que resultou a diversidade que hoje pode ser encontrada com respeito ao desenvolvimento dos trabalhos dosas psicólogosas nas comunidades Uma perspectiva importante nessa diversidade é aquela que entende a psicologia comunitária como uma área da psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugarcomunidade estuda o sistema de relações e representações identidade níveis de consciência identificação e pertinência dos indivíduos ao lugarcomunidade e aos grupos comunitários Visa ao desenvolvimento da consciência dos moradores como sujeitos históricos e comunitários através de um esforço interdisciplinar que perpassa o desenvolvimento dos grupos e da comunidade Seu problema central é a transformação do indivíduo em sujeito GÓIS 1993 A inserção da psicologia comunitária no campo da psicologia social por um lado afirma o pressuposto de que o ser humano é construído sócio historicamente e ao mesmo tempo constrói as concepções a respeito de si mesmo dos outros e do contexto social Por outro marca uma diferenciação com outras perspectivas teóricas e práticas da psicologia em comunidade importadas principalmente dos Estados Unidos que se caracterizam por um caráter predominantemente assistencialpaternalista e são destinadas a pessoas consideradas desfavorecidas ou por um caráter promocionaldesenvolmentista e são voltadas para o indivíduo e sua preparação para enfrentar as adversidades do cotidiano BERNARDES GUARESCHI 1992 FREITAS 1996 A psicologia comunitária opera com o enquadre teórico da psicologia social crítica e propõese a compreender a constituição da subjetividade dos seres humanos numa comunidade seja geográfica como por exemplo um bairro ou psicossocial como por exemplo os participantes de um centro comunitário Ao compreender e para fazêlo fundase no respeito ao saber e às práticas desses sujeitos e atua predominantemente com grupos Lane 1992 acentua que o grupo é condição fundamental para o desenvolvimento da consciência no qual um membro se descobre no outro espelhandose conjuntamente Nesta atitude reflexa de espelho e reflexiva descobrirse não resulta apenas de um discurso mas de uma prática conjunta Compete portanto aos psicólogosas comunitáriosas trabalharem na construção de uma consciência crítica de uma identidade coletiva e individual mais autônoma e de uma nova realidade social mais justa Abordagem do psicodrama Uma das possibilidades de assim trabalhar que vem se configurando nas últimas décadas consiste na abordagem do psicodrama O psicodrama foi definido por Moreno 1974 p 17 como a ciência que explora a verdade por métodos dramáticos A palavra drama vem do grego e significa ação ou algo que acontece mostrando que o berço do psicodrama é o teatro A existência humana comportase à semelhança de um drama representado por múltiplos atores cujo enredo é para eles inconsciente Somente a revelação do drama pode transformar a existência A metodologia psicodramática leva em conta três contextos social grupal dramático O contexto da realidade social impõe ao indivíduo os papéis que ele deve desempenhar Definese papel como a menor unidade de conduta em que se fundem componentes individuais sociais e culturais O desempenho dos papéis é anterior ao surgimento do eu pois o eu emerge dos papéis MORENO 1978 Os papéis psicossomáticos são indispensáveis à sobrevivência da criança os papéis psicológicos ou psicodramáticos têm como função a fantasia e o imaginário e referemse mais ao aspecto singular do psiquismo do sujeito os papéis sociais são delimitados pela sociedade na qual o sujeito interage Todo papel exige a presença de um outro o contrapapel que ao conter expectativas desse desempenho denuncia as determinações ideológicas presentes na relação A ideologia subjuga a espontaneidade e a criatividade do desempenho de papéis mediante suas práticas e seus rituais Por exemplo mesmo antes de nascer há uma expectativa de que a criança venha a ser um tipo de sujeito adequado à configuração ideológica familiar O contexto grupal é formado pelos integrantes do grupo cujo vínculo se mantém através do que Moreno denominou tele A noção de tele palavra de origem grega cujo significado referese a algo que está distante ou à influência à distância significa a mútua percepção íntima dos indivíduos Derivouse da experiência com o Teatro da Espontaneidade inventado por ele caracterizado pela improvisação do ator que ao criar a forma e o conteúdo da dramatização ao invés de trabalhar com a forma acabada de uma peça teatral revelava ao mesmo tempo o drama da plateia O contexto dramático é formado pelo produto do protagonista no qual as cenas repletas de significados aparecem como se fossem a realidade Este contexto caracterizase por cinco instrumentos fundamentais protagonista paciente ou grupo cenário egos auxiliares diretor ou terapeuta e auditório O cenário é o lugar em que se realiza a dramatização desempenhandose papéis em cenas que podem se modificar e alterar o tempo Ego auxiliar é o integrante da equipe terapêutica como um prolongamento do diretor que contracena com o protagonista Diretor é o responsável pelo psicodrama deve iniciar a sessão terapêutica detectar o emergente grupal e identificar o protagonista Auditório consiste no conjunto de pessoas que estão no contexto grupal Protagonista é a pessoa que traz o tema para ser dramatizado A noção de protagonista remonta à tragédia grega significando o primeiro combatente ou o primeiro que enlouquece um herói meio humano meio divino que voltava sua ação contra o destino A tentativa de controlar estas ações que eram possuídas por forças divinas dá sentido ao termo espontaneidade cujo termo de origem latina significa vontade própria e resume os esforços do herói trágico Na comunidade o drama do protagonista personagem central do enredo é o emergente do grupo contexto grupal e portavoz do sofrimento coletivo contexto social ao criar conjuntamente a cena psicodramática contexto dramático O protagonista está embasado no conceito de coinconsciente ou inconsciente comum uma espécie de inconsciente social como reservatório de memória histórica que condensa as tradições transmitidas por várias gerações NETO 1985 A categoria drama remete ao sujeito concreto individual ou coletivo relacionado às variadas dimensões da trama social historicamente construída Nas cenas dramáticas ao serem focalizados os vínculos entre os papéis ocorre o processo terapêutico de desalienação dos personagens numa constante reflexão sobre aquilo que desempenham sem saber e aquilo que gostariam de ser Na linguagem moreniana seria a dialética entre tomar o papel ou criálo O encontro que significa comunicação com o outro ou comunicação existencial propõe o rompimento da conserva cultural pelo estímulo da espontaneidadecriatividade A conserva cultural é tudo aquilo que se cristaliza após ser criado Como produto do processo criativo ela preserva os valores de uma cultura ao mesmo tempo em que determina novas formas de expressão criativa O psicodrama acredita que a inversão de papéis objetivando o encontro entre o Eu e o Tu possibilite a um indivíduo assumir o papel de um outro e recompor o sentido da unidade da identidade e do pertencimento ao grupo A espontaneidade e a criatividade estando estrategicamente unidas ocupam lugar central na visão moreniana de cultura Quando aplicadas ao fenômeno social conferem iniciativa e mudança aos indivíduos interrelacionados A espontaneidade impele o indivíduo em direção à resposta adequada à nova situação ou à resposta nova para situação já conhecida O universo é criatividade infinita A definição visível de criatividade é a criança MORENO 1992 p 151 A interação espontaneidadecriatividade manifestase por meio de variados estados ou atos criativos no parto nas artes nas invenções tecnológicas na criação de instituições sociais nas conservas sociais e nos estereótipos assim como no esforço dispendido para o surgimento de nova ordem social Para Moreno o indivíduo deveria usar seu potencial espontâneocriativo na mutiplicidade de papéis constantemente em devir não se deixando amarrar pelos laços que o fixariam na mesma forma de ser Este convite a olhar perceber e modificar a rigidez dos papéis sociais vistos como parte do contexto relacional entre indivíduo e sociedade faz do psicodrama uma proposta de transformação permanente A experiência comunitária traz em si o desafio do reconhecimento da alteridade a partir do respeito à diferença desse outro como única possibilidade de encontro Na vivência de sujeitos concretos ao desvelarem a expressividade e os significados de suas ações os corpos se recriam Grupos em atos ou gestos de todos em comunhão do sentir são sinônimos de psicodramatizar Psicodrama em ato numa comunidade O psicodrama vem sendo utilizado desde 1993 em serviços da rede municipal de Porto Alegre Centro de Comunidade Escola Aberta e Projeto de Educação Social de Rua Estas iniciativas destinamse ao atendimento socioeducativo de crianças e de adolescentes em situação de risco cujas características de vida precária trabalho profissionalização saúde escolarização habitação lazer colocamnos em situação de dependência das instituições assistenciais O cerne dessas iniciativas está na trajetória das classes populares da casa à rua3 devido à conjuntura socioeconômica e política que cria obstáculos para que a família e a escola possam cumprir sua função de subsistência de cuidado e de socialização Tal socialização como processo de formação de valores crenças atitudes e padrões de comportamento das crianças de determinados segmentos das classes populares parece configurar uma cartografia da exclusão Há urgência de mapear o nomadismo institucional dessas crianças e desses jovens ou seja traçar os movimentos de rompimento dos laços grupais que determinam sua mobilidade de pertencer ou não à família à escola ou aos serviços de atendimento assistencial A dificuldade de vinculação com o próprio grupo de iguais com os educadores ou com os técnicos que os assistem é tão determinante para a não permanência quanto a inadequação das metodologias de trabalho dessas instituições Atualmente embora os direitos das crianças e dos adolescentes sejam debatidos em esferas do poder público e jurídico nas áreas da saúde e da educação seu caráter polêmico e contraditório levanos à triste constatação de que a cidadania dos jovens das classes populares está longe de ser alcançada O pano de fundo destes debates continua sendo a manutenção de direitos distintos para classes sociais diversas Enquanto o Estatuto da Criança e do Adolescente ECA afirma a garantia da proteção integral a todas as crianças e a todos os adolescentes concebendoos como pessoas em desenvolvimento BRASIL 1993 análises de nossa realidade denunciam a assistência das políticas sociais voltadas aos meninos e às meninas em situação de risco como cidadania tutelada pelo Estado A infância e a juventude excluídas estarão construindo sua cidadania de modo mais pleno quando participarem na discussão dos seus próprios direitos Buscando esta construção algumas estratégias de intervenção em contextos que assistem a estes jovens focalizam o desenvolvimento das relações interpessoais e sua influência no imaginário tanto da instituição quanto da população atendida Psicodrama num centro de comunidade4 Iniciouse em agosto de 1993 o projeto políticopedagógico Jovem Cidadão desenvolvido em nove Centros de Comunidade com a finalidade de manter e ampliar a assistência à população de baixa renda nas regiões periféricas da cidade com base no ECA FESC 1993 O Conselho Tutelar da região encaminhava os jovens envolvidos em situação de furto drogadicção ou violência aos Centros para que recebessem atendimento socioeducativo Na área da psicologia a direção do projeto apontava a necessidade de acompanhamento psicológico que fosse adequado à situação de vida da maioria dos jovens assim como à urgência de atender grande demanda As oficinas de psicodrama possibilitavam o atendimento socioeducativo desejado em virtude de suas características diferentes de um grupo terapêutico formal pois não se apoiavam na dinâmica individual dos sujeitos para sua inclusão mas no desejo de participação As oficinas de psicodrama abordaram a socialização de crianças e de adolescentes em situação de risco a partir da percepção dos participantes quanto ao seu mundo de relações interpessoais e o consequente aprendizado e desempenho de papéis sociais face a seu cotidiano Elas se caracterizaram como atos terapêuticos cujo objetivo era promover maior integração pessoal além do resgate da linguagem espontânea e criativa dos participantes naquele encontro específico O referencial metodológico das oficinas observou as etapas de uma sessão de psicodrama o aquecimento a dramatização e os comentários O aquecimento facilitou a interação grupal pelo relaxamento sensibilização e atenção à tarefa proposta A dramatização era a etapa da produção criativa mediante recursos plásticos e dramáticos em que os participantes compartilhavam suas fantasias Os comentários integraram a escuta a linguagem verbal e gestual A integração grupal aconteceu devido à atenção e respeito à fala do companheiro estímulos à entrega e à confiança de cada um ao ser escutado pelos demais A técnica de inversão de papéis foi uma experiência nova para os participantes das oficinas Ao serem solicitados a dar voz a um desenho ou a algo modelado na argila ou mesmo a representar o papel de um colega de grupo assumindo a existência deste outro falando e agindo como ele desafiavam sua criatividade tantas vezes esquecida Assim recriavam psicodramaticamente como interagiam com as pessoas mais significativas para eles conforme seu átomo social Entendese átomo social como o núcleo de todos os indivíduos com quem uma pessoa está relacionada sentimentalmente ou que lhes estão vinculadas ao mesmo tempo MORENO 1972 A proposta de intervenção psicossocial objetivava uma rematriz de identidade para esses meninos e meninas A matriz de identidade MORENO 1978 é o primeiro processo de aprendizagem emocional da criança no qual ela se relaciona com pessoas e objetos geralmente esta matriz é a família que constitui a base do desempenho de papéis A conscientização dos papéis desempenhados psicodramática ou socialmente na fantasia ou na realidade do contexto grupal auxiliaria essas crianças a tomarem uma nova posição pretendendose que de sujeitos mais submissos se tornassem sujeitos mais autônomos Partiase da convicção de que a mudança na qualidade dos vínculos dentro e fora do contexto grupal favoreceria a alteração de sua autoimagem modificando seu átomo social O resgate da história individual de cada participante das oficinas foi possível mediante a investigação das redes sociométricas Estas são interconexões dos átomos sociais que revelaram os vínculos e as identificações processadas nos grupos MORENO 1972 A sociometria grupal entendida como as relações de atração e de repulsa entre seus membros foi averiguada em diversas atividades que demonstraram a constelação da rede afetiva existente O instrumento do átomo social variava podendo sua representação darse a partir de uma configuração de vínculos afetivos que se expressavam por meio de desenhos de marionetes da modelagem na argila de brinquedos ou até da dramatização A avaliação do átomo social focalizava a criatividade de cada participante os sentimentos despertados as intromissões nos relatos e as manifestações quanto a falar ou fazer determinada tarefa A abordagem das relações entre o átomo social e os papéis sociais desempenhados pelos sujeitos da pesquisa permitiu visualizar os códigos de participação e exclusão em seu cotidiano familiar escolar religioso e do Centro de Comunidade Os papéis sociais relativos ao gênero à classe social à raça e ao imaginário do mundo da rua como espaço não institucional estavam repletos de sentido para as crianças e os adolescentes A análise dos papéis sociais evidenciou que esses sujeitos são produzidos pela sua condição de classe social de gênero de etnia e que aprendem a ocupar os lugares socialmente possíveis conforme os ensinamentos da escola da religião da família e até mesmo do Centro de Comunidade A possibilidade de tomar o seu papel desempenhálo ou criálo depende da estrutura socioeconômica que os diferencia das camadas mais favorecidas apenas quanto ao acesso a determinadas condições de subsistência lazer educação e concretização de projetos de vida futuros Meninos e meninas demonstraram diferenças significativas quanto ao seu autoconceito as quais aumentavam com a idade de acordo com os estereótipos sociais referentes ao gênero A avaliação dos papéis sociais relativos à raça identificou a desqualificação nos comentários das crianças e adolescentes não negros dirigidos aos colegas de raça negra embora admirassem manifestações da cultura afrobrasileira capoeira pagode dança e religião Os papéis sociais relativos à religião reforçavam a noção de identidade e autoestima destes jovens conforme a religião a que pertenciam Em relação ao contexto familiar apareceu o modelo matrifocal como aquele que se organiza em torno da mulher embora os papéis de pai e mãe fossem demarcados em territórios próprios para cada gênero Estava presente a necessidade de zelarem pelos irmãos menores Para eles o cotidiano escolar era referência para construção de projetos de vida futura A rua aparecia como símbolo de liberdade para onde se foge além de ser lugar de conflito e representação do abandono O Centro de Comunidade como um espaço fora de periferia foi significado por esses jovens como sendo deles onde encontravam muitas possibilidades dentre elas o resgate de novos papéis sociais Tanto a instituição assistencial como a família e a escola contêm em si os princípios normatizantes e disciplinadores responsáveis pela exclusão do convívio grupal Como matriz cultural necessitam de uma reestruturação pois não estão mais conseguindo ser suporte afetivo para seus membros Essas experiências mostraram que as oficinas de psicodrama auxiliaram na maior interação das crianças e adolescentes para se organizarem em outros espaços A pedagogia de direitos se concretizou em virtude do reconhecimento de si e do outro da escuta recíproca do respeito ao potencial criativo e da valorização da fantasia Constatouse que o primeiro ato de construção da cidadania sempre exige a trama de uma rede cultural entre os sujeitos Psicodrama da escola que se abre A Escola Aberta é referência de lugar e de tempo para meninos e meninas que fazem da rua lugar de sobrevivência em virtude de representar um corte no imediatismo de seus cotidianos A presente intervenção psicodramática em uma escola aberta sob forma de assessoria psicológica aos professores partiu da demanda da instituição quanto ao desejo de refletir sobre suas práticas reordenando seus propósitos mediante a qualificação do atendimento e adequação de metodologias Ao investigar a relação entre os papéis sociais desempenhados pelos seus diversos atores essa proposta avaliou o desenvolvimento do papel de educador propiciando a conscientização de sua postura profissional de sua percepção dos contextos da escola e da rua como referências de socialização e da qualidade da relação estabelecida com os alunos e com os colegas neste fazer conjunto A análise institucional priorizou três aspectos da interação entre seus membros a comunicação as determinações das relações de poder e o conhecimento de si e do outro Focalizouse o desvelamento dos papéis desempenhados pelos professores a partir da noção de identidade grupal da percepção do que comunicar e a quem e da capacidade de reconhecer quem é este outro a quem se está vinculado e de como colocarse diante dele O estudo das relações entre as várias instâncias hierárquicas da escola abordou a percepção da coordenação professores e pessoal de apoio sobre a qualidade do vínculo entre eles e o existente com os alunos Neste sentido propunhase uma nova configuração dos papéis institucionais em sua totalidade A metodologia psicodramática consistiu de recursos lúdicos das linguagens expressivas corporal e gráfica além de jogos dramáticos centrandose na ação como possibilidade de perceber o desenvolvimento dos papéis e as características de seu desempenho em referência à criatividade e à espontaneidade Estabeleceuse a matriz grupal que possibilitou cada vez maior envolvimento com as problemáticas do cotidiano institucional por meio da criação conjunta de histórias de desenho grupal de sensibilização corporal de psicodrama interno e de cenas dramatizadas sobre o espaço da escola Quanto à relação educadoreducando observouse que a vivência subjetiva do tempo e do espaço própria da classe social do educador como trabalho e projeto de vida induz a preconceitos relativos à sobrevivência dos jovens na rua As expectativas dos professores quanto às diferenças do ser masculino ou ser feminino papel de gênero são geradoras de dificuldades em lidar com questões referentes ao poder e à sexualidade no cotidiano escolar A insuficiente rede de assistência aos alunos provoca ansiedade e depressão nos educadores devido ao fato de terem de trabalhar com os temores dos educandos diante das doenças sexualmente transmissíveis e dos efeitos das drogas de que fazem uso A escola como espaço pedagógico necessita de uma linguagem comum entre coordenação professores funcionários e guardas que construa códigos de pertencimento e exclusão dos alunos diferentes daqueles da rua para não se reproduzir a dinâmica perversa do contexto social Os professores e alunos percebem a peculiaridade desta escola pela importância dada à reflexão da ação pedagógica Com relação às metodologias de ensino constatouse que a metodologia lúdica e corporal da assessoria é identificada como responsável pelo crescimento grupal embora o educador muitas vezes não reconheça esse resultado em sua prática por desconsiderar a resposta do grupo como um espelho Psicodrama no projeto Educação Social de Rua O projeto propunha a vinculação de educadoras com as crianças e os adolescentes em situação de rua para que retomassem os laços institucionais em processo de rompimento Inicialmente a sensibilização do estar na rua possibilitou desvelar o imaginário das educadoras acerca deste processo O grafodrama técnica do desenho em psicodrama explorou a dinâmica das relações sociais estabelecidas em uma das praças abordadas pela equipe Partindo da noção de rua como palco do social recorreuse à metáfora de um espetáculo teatral e seus diferentes atores como sendo os transeuntes e frequentadores em interação Foram abordadas as determinações existentes entre o espaço público e privado de cada agente social implicado nesta dinâmica Concluiuse que cada ator social desempenha um papel que está ligado a alguém que com ele contracena e que a educadora social de rua para aí inserirse deve saber ler estas relações que não estão explícitas na maioria das vezes Avaliouse também como cada educadora sentiu o seu estar na rua diante das situações específicas dos vários pontos em que atuava O relacionamento da equipe foi investigado revelandose como os participantes percebiam seu trabalho pelo recurso da sociometria enquanto fenômeno grupal que demonstrava as atrações e rejeições estabelecidas entre seus componentes Alguns temas foram dramatizados como o modelo de família que a educadora possui internalizado e aquele que possuem as crianças e adolescentes com as quais trabalhava Apareceram cenas contrastantes da família da rua com o modelo esperado de família mantido de forma inconsciente pelas educadoras os quais são geradores de dificuldades na vinculação com estes jovens A família em sua função de socialização primária dos indivíduos instala controles sociais que são repetidos em outros espaços de convivência Refletiuse sobre este fenômeno compreendendose que ele não era decorrente do espaço físico interno ou externo das instituições mas estava relacionado ao mundo afetivo desses indivíduos à sua capacidade de vincularse Esta experiência demonstrou que a identidade do educador social de rua será construída por meio de uma reformulação não somente conceitual mas vivencial da própria postura relativa à instituição e ao estar na rua Último ato Os três contextos institucionais focalizados nesta análise mostraram que são importantes referências de laços afetivos na relação estabelecida entre a assistência e o excluído Nesses palcos cenas da comunidade expressaram o drama do vínculo Alguns protagonistas teciam os fios que os ligavam outros sem que percebessem saíam da rede como se desnecessária fosse a sua sobrevivência Finda o espetáculo As cortinas se fecham As luzes se apagam Que os espectadores voltem a casa ou à rua sentindo que o teatro como dizia Brecht é ainda o ensaio da revolução Sugestão de leituras Para saber mais sobre psicologia em comunidade é altamente recomendável a leitura da coletânea que apresenta reflexões do grupo de trabalho em psicologia social comunitária da Associação Nacional de Pesquisa e PósGraduação em Psicologia Anpepp organizado por Regina Helena de Freitas Campos Psicologia social comunitária da solidariedade à autonomia também publicado pela Vozes em 1996 Convém igualmente consultar a revista Psicologia e Sociedade que vem sendo publicada pela Abrapso uma vez que ali se encontram diversos trabalhos que focalizam essa temática Para saber mais sobre intervenção psicodramática nas comunidades destacase o livro de Romana 1987 sobre Psicodrama pedagógico que resgata no palco educacional a afetividade e a capacidade simbólica presentes no ato de aprender reconstruindo experiências individuais e coletivas tanto de educadores quanto de alunos Há um pequeno número de experiências em instituições assistenciais com segmentos de classes populares destacandose o atendimento em creche FRANCO 1984 o trabalho com grupos de mulheres da periferia VIEIRA 1988 e a preparação para o parto com grupos de grávidas PAMPLONA 1990 Ainda mais raras são aquelas relativas às populações excluídas sejam prostitutas SOUZA 1984 sejam meninos ou meninas em situação de rua RAMOS 1994 Vale a pena examinar os Anais do 7 Congresso Brasileiro de Psicodrama Psicodramatizando realizado no Rio de Janeiro em 1990 Bibliografia BERNARDES NMG GUARESCHI PA El saberactuar de la psicologia y la comunidad reflexiones producidas desde um lugar latinoamericano Intervención psicosocial Madri vol l n l p 6777 1992 BRASIL DF Congresso Nacional Estatuto da Criança e do Adolescente Lei n 8069 de 13 de julho de 1990 Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências Porto Alegre Centro Social Pe João Calábria 1993 CAMPOS RH de Freitas org Psicologia social comunitária da solidariedade à autonomia Petrópolis Vozes 1996 FESC Fundação de Educação Social e ComunitáriaPrefeitura Municipal de Porto Alegre Projeto de ampliação e qualificação do atendimento a crianças e adolescentes nos centros de comunidade da FESC Porto Alegre ago 1993 FRANCO VL Psicodrama e periferia In Congresso Brasileiro de Psicodrama 41984 Águas de Lindoia Revista da Febrap Anais Campinas Federação Brasileira de Psicodrama ano 7 n 41984 p 8185 FREITAS M de FQ Psicologia na comunidade psicologia da comunidade e psicologia social comunitária Práticas da psicologia em comunidade nas décadas de 1960 a 1990 no Brasil In CAMPOS RH de Freitas org Psicologia social comunitária Da solidariedade à autonomia Petrópolis Vozes 1996 p 5480 GÓIS CW de L Noções de psicologia comunitária Fortaleza Edições UFC 1993 LANE S Psicologia da comunidade história paradigmas e teoria In Congresso Brasileiro de Psicologia da Comunidade e Trabalho Social Autogestão participação e cidadania 1 1992 Tomo 2 Belo Horizonte Anais ago 1992 p 4953 MORENO JL Quem sobreviverá Fundamentos da Sociometria Psicoterapia de Grupo e Sociodrama Vol 1 Goiânia Dimensão 1992 Psicodrama São Paulo Cultrix 1978 Psicoterapia de grupo e psicodrama São Paulo Mestre Jou 1974 Psicodrama Buenos Aires Hormé SAE 1972 NAFFAH NETO A Poder vida e morte na situação de tortura São Paulo Hucitec 1985 NEVES SM Os papéis sociais e a cidadania In Zanella et al org Psicologia e práticas sociais Porto Alegre Abrapsosul 1997 p 3959 Psicodramatizando a construção da cidadania o ser criança e adolescente em um centro de comunidade Porto Alegre PUCRS 1995 Dissertação Mestrado em Psicologia Social e da Personalidade Instituto de Psicologia Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 1995 PAMPLONA V Mulher parto e psicodrama São Paulo Ágora 1990 RAMOS E Meninos de rua Problema sem solução Revista Brasileira de Psicodrama São Paulo vol 2 fascículo 1 1994 p 8794 REIS CN PRATES J PRESTES N NEVES SM Meninos e meninas em situação de rua em Porto Alegre Quem são Qual seu modo de vida Relatório de pesquisa Fundação de Educação Social e ComunitáriaPrefeitura Municipal de Porto AlegreFaculdade de Serviço SocialPontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Porto Alegre jan 1997 ROMAÑA M Construção coletiva do conhecimento através do psicodrama Campinas Papirus 1992 SOUZA JCM A carreira de prostituta ou leitura psicodramática da prostituição In Congresso Brasileiro de Psicodrama 41984 Águas de Lindoia Revista da Febrap Anais Campinas Federação Brasileira de Psicodrama ano 7 n 2 1984 p 9099 VIEIRA LM O método do psicodrama Análise de aspectos de dominação e submissão nas relações familiares A Partir de uma experiência com mulheres que vivem na periferia da cidade de São Paulo In Congresso Brasileiro de Psicodrama 6 1988 Tomo 3 Salvador Anais Salvador Federação Brasileira de Psicodrama p 3942 3 Em Porto Alegre recente pesquisa identificou 376 jovens em situação de rua como vendedores cuidadores de carro ou mendigos Da amostra de 197 sujeitos 8427 identificou a necessidade de subsistência pessoal ou familiar como o motivo de estarem na rua Destes somente 50 seriam realmente de rua não retornando a casa no final do dia por se encontrarem em processo de rompimento de laços familiares REIS et al 1997 4 As reflexões desse item se referem à dissertação de mestrado em Psicologia Social e da Personalidade PUCRS de Sissi Malta Neves intitulada Psicodramatizando a construção da cidadania o ser criança e adolescente em um centro de comunidade Alguns aspectos deste estudo foram recentemente publicados NEVES 1997 Textos de capa Contracapa Psicologia social contemporânea sinaliza para diferenças consistentes e próprias aos países da América Latina esboçando a criação de uma nova psicologia social no Brasil representada pela Abrapso Associação Brasileira de Psicologia Social que recebe em um primeiro algumas qualificações como Psicologia Social Crítica Psicologia Social HistóricoCrítica Psicologia Sócio Histórica São qualificações que expressam a perspectiva crítica em relação à Psicologia Social hegemônica de até então e que apontam para uma concepção de ser humano como produto históricosocial e ao mesmo tempo como construtor da sociedade e capaz de transformar essa sociedade por ele construída Esta concepção de ser humano recoloca a relação indivíduo e sociedade rompe a perspectiva dualista dicotômica e ao invés de considerar indivíduo e contexto social influenciandose mutuamente propõe a construção de um espaço de interseção em que um implica o outro e viceversa Orelhas Você tem nas mãos um livrotexto de Psicologia Social que estava fazendo enorme urgente falta aos nossos universitários principalmente de graduação Nossa herança no campo da Psicologia Social foi dolorosamente tendenciosa e reducionista O que tínhamos até há pouco era uma espécie de réplica acrítica de uma psicologia social que se desenvolveu principalmente nos Estados Unidos fundamentada em dois pressupostos teóricos básicos o pressuposto positivista segundo o qual só vale o experimental e o mental é considerado apenas enquanto pode ser sujeito de experimentação e o pressuposto individualista onde o social é reduzido ao individual e o grau máximo atribuído ao social é o de ser uma soma de elementos individuais sendo que o indivíduo é o que conta afinal A partir da década de 1980 principalmente com a criação da Abrapso Associação Brasileira de Psicologia Social novos horizontes começaram a se vislumbrar e novas perspectivas começaram a ser introduzidas na Psicologia Social algumas a partir da própria América Latina Sem abandonar as conquistas anteriores querse então devolver à psicologia social seu caráter realmente social além de sua dimensão históricocrítica e política na constituição das pessoas e das sociedades humanas Este livro dividido em três partes novas contribuições e novos enfoques Os cinco primeiros capítulos tratam de assuntos teóricos gerais Dez capítulos discutem temas específicos centrais da psicologia social foram escritos por especialistas na área e oferecem uma compreensão substancial do assunto Finalmente três capítulos discutem a aplicação da psicologia a áreas especiais escola trabalho e comunidade Cada tópico apresenta também a bibliografia comentada mais importante sobre o tema Ficaremos felizes se nosso esforço puder colaborar para que os professores de Psicologia Social possam ter um subsídio suficientemente amplo e crítico para as discussões centrais da disciplina nos dias de hoje O adjetivo contemporânea do título não foi escolhido por acaso É nossa modesta contribuição para uma sociedade justa democrática pluralista e participativa Os autores Índice Capa Rosto Coleção Ficha catalográfica Copyright Prefácio Apresentação Introdução Parte 1 História Algumas rápidas palavras sobre histórias Um passeio pela psicologia social no Ocidente a O Repúdio positivista de Wundt b O longo passado e o curto presente da psicologia c Formas e formas de contar histórias da psicologia social Psicologia social no Brasil Indicações de leituras dos desdobramentos e atravessamentos teóricos Bibliografia Epistemologia A crise e a perda da confiança na epistemologia Novos espaços novos paradigmas Sugestão de leituras Bibliografia Ética Introdução Ética o que é isso O paradigma da lei natural O paradigma da lei positiva Ética como instância crítica a A dimensão crítica e propositiva b A dimensão da relação Conclusão Leituras complementares Bibliografia Indivíduo cultura e classe Inpíduo e sociedade Cultura inpíduo e atividade Outros enfoques sobre a relação inpíduocultura A cultura o eu e as atividades a emoção e a motivação Considerações finais Leituras complementares recomendadas Bibliografia Pesquisa Definindo a atividade de pesquisa em psicologia social Decorrências metodológicas Alguns modos de pesquisar a pesquisaação e a pesquisa participante Sugestão de leituras Bibliografia Parte 2 Ideologia Juntando as duas linhas Um modo prático de se tratar a ideologia a Ideologia como uma concepção crítica b Sentido e formas simbólicas c O conceito de dominação d Modos e estratégias como o sentido pode servir para estabelecer e sustentar relações de dominação e A valorização das formas simbólicas Conclusão Leituras complementares Bibliografia Representações sociais Como nasceu esta teoria Mas o que são as representações sociais Para que estudamos as RS Por que criamos as RS Qual a diferença entre representações sociais e outras teorias Que relações se podem estabelecer entre o estudo das RS e ideologia Como investigamos as RS Considerações finais Leituras complementares Bibliografia Linguagem O que é a linguagem A linguagem segundo Vygotsky e Bakhtin À guisa de conclusão para o momento Leituras complementares Bibliografia Conhecimento Para uma perspectiva ecológica da cognição a As instituições sociais como sistemas cognitivos b As instituições pensadas como tecnologias intelectuais O conhecimento como rede sociotécnica Leituras complementares Bibliografia Comunicação Comportamentalismo Cognitivismo Psicanálise Teoria crítica Considerações finais Sugestão de leituras Bibliografia Identidade Como os autores conceituam a identidade Como se constitui a identidade Que outras dicotomias superar para compreender a identidade O que a identidade é e não é Leituras complementares Bibliografia Subjetividade Do passado ao presente Do presente ao futuro Das escolhas Sugestão de leituras Bibliografia Gênero Sexo e gênero A questão da hierarquia de gênero Variações em gênero através das culturas O que é subordinação e como se expressa Teorias sobre a hierarquia de gênero O homem caçador subordinação baseada nas origens humanas O complexo da supremacia masculina A guerra e o controle populacional Teorias ligadas à sociobiologia Teorias estruturalistas A subordinação como um processo histórico O Gênero na psicologia Leituras complementares Bibliografia O processo grupal A preocupação com o grupo Grupo ou processo grupal Como funciona o processo grupal À guisa de fechamento Sugestão de leituras Bibliografia Psicologia política Psicologia política ou psicologia da política Um pouco de história A psicologia política na América Latina e no Brasil uma breve notícia Sugestão de leituras Bibliografia Parte 3 Psicologia social e escola Psicologia e educação uma longa história Psicólogo escolar Técnico da Educação O psicólogo na escola Para além da função técnica Sugestão de leituras Bibliografia Psicologia social no trabalho Para além dos modos tradicionais do fazer psicologia em relação ao trabalho Alguns exemplos do fazer psicologia em relação ao trabalho Considerações finais Sugestão de leituras Bibliografia Psicologia social na comunidade Abordagem do psicodrama Psicodrama em ato numa comunidade Psicodrama num centro de comunidade Psicodrama da escola que se abre Psicodrama no projeto Educação Social de Rua Último ato Sugestão de leituras Bibliografia Textos de capa PSICOLOGIA SOCIAL PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES CLÁUDIO VAZ TORRES ELAINE RABELO NEIVA E COLABORADORES P676 Psicologia social recurso eletrônico principais temas e vertentes Cláudio Vaz Torres Elaine Rabelo Neiva organizadores Dados eletrônicos Porto Alegre Artmed 2011 Editado também como livro impresso em 2011 ISBN 9788536326528 1 Psicologia social I Torres Cláudio Vaz II Neiva Elaine Rabelo CDU 3166 Catalogação na publicação Ana Paula M Magnus CRB 102052 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 2011 Versão impressa desta obra 2011 CLÁUDIO VAZ TORRES ELAINE RABELO NEIVA E COLABORADORES PSICOLOGIA SOCIAL PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS Artmed Editora SA 2011 Capa Tatiana Sperhacke Ilustração da capa iStockphotocomAceCreate Preparação do original Elisângela Rosa dos Santos Editora Sênior Ciências humanas Mônica Ballejo Canto Projeto e editoração Armazém Digital Editoração Eletrônica Roberto Carlos Moreira Vieira Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa à ARTMED EDITORA SA Av Jerônimo de Ornelas 670 Santana 90040340 Porto Alegre RS Fone 51 30277000 Fax 51 30277070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume no todo ou em parte sob quaisquer formas ou por quaisquer meios eletrônico mecânico gravação foto cópia distribuição na Web e outros sem permissão expressa da Editora SÃO PAULO Av Embaixador Macedo Soares 10735 Pavilhão 5 Cond Espace Center Vila Anastácio 05095035 São Paulo SP Fone 11 36651100 Fax 11 36671333 SAC 0800 7033444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS cláudio vaz torres org PhD em Psicologia pela California School of Professional Psychology san Diego califórnia eUa Pós doutorado em Marketing pela Griffith University austrália Pós doutorado em Pesquisa e Psicologia transcultural pela University of sussex inglaterra Professor do Departamento de Psicologia social e do trabalho do instituto de Psicologia na Universidade de Brasília onde também atua como professor do Programa de Pós Graduação em administra ção Um dos fundadores do grupo de estudo e pesquisa em comportamento de consumo da Universidade de Brasília consumaUnB É membro e contribui ativamente com a International Association for Cross cultural Psychology International Academy for Intercultural Research The American Psychological Association Divisão 52 e sociedade interamericana de Psicologia elaine rabelo neiva org Doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília Professora do Departamento de administração da Universidade de Brasília atua no Programa de Pós graduação em Psicologia social do trabalho e das Organizações PstO Fundadora do grupo de Pesquisa inovare da Universidade de Brasília É membro da International Association of Applied Psychology Divisão 1 e da sociedade interamericana de Psicologia Psicologia pela Universidade de BrasíliaBacha rel em Psicologia e Psicóloga pela Universida de Federal de são carlos tem experiência do cente em cursos de graduação em Psicologia e administração de empresas Pesquisadora e consultora em Psicologia do trabalho e das Organizações incluindo tópicos relacionados a administração de empresas ana lúcia galinkin Pós Doutora em Psicologia social pela Universidade rené Descartes Paris França Doutora em sociologia pela Universi dade de são Paulo mestre em antropologia social pela Universidade de Brasília Psicóloga pela Universidade Federal de minas Gerais Professora associada ii no Programa de Pós Graduação em Psicologia social do trabalho e das Organizações Universidade de Brasília angela Maria de oliveira almeida Psicóloga pe la Universidade de são Paulo mestre em Psi cologia da educação pela PUcsP mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela Univer sité catholique de Louvain Doutorado em Psicolo gia pela Université catholique de Louvain Pro aUtOres amália raquel Perez nebra Psicóloga e Dou tora em Psicologia social do trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília estágio doutoral na Universidad autónoma de madrid Professora do centro Universitário de Brasília UniceUB Fundadora e coordenadora do Grupo consuma Grupo de estudo e Pes quisa em comportamento do consumidor amanda zauli Graduada em Desenho indus trial pela escola superior de Desenho indus trial esDi da UerJ atuou como tutora de cursos de graduação e de pós graduação em educação a distância no centro de educação a Distância da Universidade de Brasília ceaD UnB especialista em Desenvolvimento Ge rencial mestre em Gestão social e trabalho Doutoranda em Psicologia social do trabalho e das Organizações PstO na Universidade de Brasília ariane agnes corradi Doutoranda no interna tional institute of social studies Universidade erasmus rotterdam Países Baixos mestre em INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS fessora associada i da Universidade de Brasí lia coordenadora do Laboratório de Psicologia social do Desenvolvimento Diretora do centro internacional de Pesquisa em representações e Psicologia sociais áurea de Fátima oliveira Professora do insti tuto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia Doutora em Psicologia pela Uni versidade de Brasília UnB Leciona nos cursos de graduação em Psicologia e administração e pós graduação lato sensu e strito sensu bartholomeu t tróccoli Possui Licenciatura em Psicologia pelo instituto Paraibanos de edu cação Psicólogo pelo instituto Paraibanos de educação mestre em Psicologia social pela Universidade Federal da Paraíba mestre e Doutor em Personality and social Psychology pela University of Wisconsin madison Profes sor associado i da Universidade de Brasília coordenador do Laboratório de Pesquisa em avaliação e medida LabPam da UnB carlos eduardo Pimentel Psicólogo mestre em Psicologia social pela Universidade Federal da Paraíba Doutorando em Psicologia social do trabalho e das Organizações na Universidade de Brasília Bolsista do cnPq christin Melanie vauclair Professor na Univer sity of Kent canterbury inglaterra Doutor pelo centre for applied cross cultural research vic toria University of Wellington nova Zelândia recebeu o prêmio German study award Ham burger Koerber stiftung por seu trabalho no desenvolvimento de treinamento para gerentes alemães que trabalham no Brasil Hartmut günther estudou psicologia nas uni versidades de Hamburg alemanha 1966 67 e de marburg alemanha Psicólogo pelo albion college michigan eUa mestre em Psicologia experimental aec pela Western michigan University Doutor em Psicologia social pela University of california at Davis Professor ti tular na Universidade de Brasília Helga cristina Hedler Doutora em Psicologia social do trabalho e das Organizações pelo instituto de Psicologia da Universidade de Brasília Professora na Universidade católica de Brasília UcB no curso de mestrado em Gestão do conhecimento e da tecnologia da informação Professora convidada do curso de especialização em Gestão da Qualidade do instituto de educação superior de Brasília Hugo rodrigues Psicólogo pela Universidade de Brasília bacharelado e licenciatura mestre em Psicologia social Organizacional e do tra balho Dou torando pela mesma instituição Jaqueline gomes de Jesus Doutora em Psico logia social do trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília Professora em diferentes instituições de ensino superior e in tegrante do conselho nacional de combate à Discriminação vinculado à Presidência da re pública assessora técnica da secretaria na cional de Políticas sobre Drogas José augusto dela coleta Psicólogo pela Uni versidade de são Paulo ribeirão Preto Doutor em Psicologia pela Fundação Getúlio vargas rio de Janeiro Foi professor da Universidade Federal Fluminense e aposentou se como Pro fessor titular da Universidade Federal de Uber lândia Professor em cursos e programas de graduação mestrado e Doutorado nas áreas de Psicologia educação administração e enfer magem ministrando as disciplinas relacionadas à Psicologia social Psicologia Organizacional e do trabalho metodologia de investigação cien tífica Professor na Universidade de Uberaba no campus de Uberlândia mG Maria cristina Ferreira Doutora em Psicologia pela Fundação Getúlio vargas rio de Janeiro Pós Doutora em Psicologia transcultural pela victoria University of Wellington nova Zelân dia Professora titular da Universidade sal gado de Oliveira coordenadora do mestrado em Psicologia dessa instituição É membro e contribui ativamente com a International As sociation for Cross cultural Psychology The American Psychological Association e com a sociedade interamericana de Psicologia Maria de Fátima de souza santos Psicólo ga pela Universidade Federal de Pernambu co Doutora em Psicologia pela Université de toulouse le mirail Professora associada ii da Universidade Federal de Pernambuco no De partamento de Psicologia e da Pós Graduação em Psicologia Marilia Ferreira dela coleta Psicóloga pela Universidade Federal Fluminense mestre pela Universidade de Brasília Doutora em Psicolo gia pela Universidade de Brasília Professora do instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia onde atua no programa de Pós graduação em Psicologia e no curso de gra duação em Psicologia membro associado Ple vi aUtOres INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS no da sociedade Brasileira de Psicologia tendo assumido cargo na Diretoria em duas gestões Mirlene Maria Matias siqueira Psicóloga pela Universidade de Brasília mestre em Psicologia pela Universidade de Brasília Doutora em Psico logia pela Universidade de Brasília Pós doutora como docente visitante em 2010 na Universida de de coimbra mestre em Psicologia Organi zacional e do trabalho WOP P do Programa erasmus mundus Presidente da comissão Or ganizadora do iv cBPOt Professora titular na Universidade metodista de são Paulo onofre rodrigues de Miranda administrador de empresas pela Universidade de Brasília especialista em Gestão e Desenvolvimento da educação Profissional pelo senac e UnB mestre em Psicologia social e das Organiza ções pela UnB Doutor em Psicologia social do trabalho e das Organizações pela UnB Pro fessor titular do curso de administração Geral e mBa em Gestão estratégica da Faculdade cambury Patrícia nunes da Fonsêca Doutora em Psico logia social pela Universidade Federal da Paraí ba Professora do Departamento de Psicopeda gogia da Universidade Federal da Paraíba Líder do núcleo de estudos em Desenvolvimento Hu mano educacional e social neDHes membro da sociedade Brasileira de Psicopedagogia ronald Fischer Professor senior Lecturer na victoria University of Wellington nova Ze lândia membro do centre for applied cross cultural research Doutor pela Universidade de sussex inglaterra editor associado do Journal of Cross Cultural Psychology seu trabalho com valores e pacificação recebeu em 2010 o prê mio Otto Klineberg intercultural and internatio nal relations award agraciado pela society for the Psychological study of social issues sinésio gomide Júnior Psicólogo mestre e Doutor em Psicologia pela Universidade de Brasília Professor associado na Universidade Federal de Uberlândia solange alfinito Doutora em Psicologia so cial do trabalho e das Organizações pela Uni versidade de Brasília mestre em economia de empresas pela Universidade católica de Brasí lia Professora no Departamento de adminis tração da UnB onde também atua como pro fessora do Programa de Pós Graduação em administração membro do grupo de estudo e pesquisa em comportamento do consumidor da Universidade de Brasília consumaUnB taciano l Milfont mestre em Psicologia social pela Universidade Federal da Paraíba PhD em Psicologia social e ambiental pela University of auckland nova Zelândia Professor senior Lecturer na victoria University of Wellington nova Zelândia onde também atua no Centre for Applied Cross Cultural Research Já rece beu prêmios internacionais por suas pesquisas e desde 2010 faz parte do corpo editorial do Journal of Environmental Psychology túlio gomes da silva Mauro mestre pelo De partamento de Psicologia social do trabalho e das Organizações da Universidade de Brasília atua como consultor em Gestão de Pessoas e Desenvolvimento Organizacional Professor do Departamento de Psicologia da Universida de Paulista UniP valdiney v gouveia Doutor em Psicologia social pela Universidad complutense de ma drid espanha Professor associado do Depar tamento de Psicologia na Universidade Federal da Paraíba atuando como professor e orienta dor na gradua ção e pós graduação mestrado e Doutorado Pesquisador 1B do cnPq É fun dador e membro do grupo de pesquisas Bases normativas do comportamento social aUtOres vii INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS sUmáriO Parte I Fundamentação 1 Breve história da moderna psicologia social 13 Maria Cristina Ferreira 2 Psicologia social no Brasil uma introdução 31 Elaine Rabelo Neiva e Cláudio Vaz Torres 3 métodos de pesquisa em psicologia social 58 Hartmut Günther Parte II o indivíduo 4 cognição social 79 Bartholomeu T Tróccoli 5 normas sociais conceito mensuração e implicações para o Brasil 100 Cláudio Vaz Torres e Hugo Rodrigues 6 conhecendo a si e ao outro percepção e atribuição de causalidade 134 José Augusto Dela Coleta e Marilia Ferreira Dela Coleta 7 influência social e poder 153 Ronald Fischer e Christin Melanie Vauclair 8 atitude e mudança de atitudes 171 Elaine Rabelo Neiva e Túlio Gomes Mauro 9 estratégias de mensuração de atitudes em psicologia social 204 Carlos Eduardo Pimentel Cláudio Vaz Torres e Hartmut Günther 10 Preconceito estereótipo e discriminação 219 Amalia Raquel Pérez Nebra e Jaqueline Gomes de Jesus 11 atração e repulsa interpessoal 238 Jaqueline Gomes de Jesus INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS Parte III o grupo e o contato intergrupal 12 identidade social e alteridade 253 Ana Lúcia Galinkin e Amanda Zauli 13 contato intergrupal conflito realístico privação relativa e equidade 262 Solange Alfinito e Ariane Agnes Corradi 14 a teoria das representações sociais 287 Angela Maria de Oliveira Almeida e Maria de Fátima de Souza Santos 15 valores humanos contribuições e perspectivas teóricas 296 Valdiney V Gouveia Patrícia Nunes da Fonsêca Taciano L Milfont e Ronald Fischer 16 cultura valores humanos e comunicação nas relações intergrupais 314 Onofre Rodrigues de Miranda e Helga Cristina Hedler 17 aplicações da psicologia social às organizações 340 Sinésio Gomide Júnior Áurea de Fátima Oliveira e Mirlene Maria Matias Siqueira Índice 356 10 sUmáriO INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS Parte I Fundamentação INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS introdução A psicologia social é uma disciplina relati vamente recente já que adquiriu tal status apenas no começo do século XX razão pela qual alguns dos que contribuíram para a construção de seu passado ainda estão vi vos e atuantes em suas respectivas áreas de investigação Um rápido exame dessa curta história evidencia que desde o início essa área da psicologia social foi marcada por uma relativa falta de consenso acerca de seu objeto de estudo Ainda assim é possível ob servar que o binômio indivíduo sociedade isto é o estudo das relações que os indiví duos mantêm entre si e com a sociedade ou a cultura esteve frequentemente no centro das preocupações dos psicólogos sociais No entanto a ênfase maior dada ao indivíduo ou à sociedade irá acompanhar a evolução da teorização no campo da psico logia social desde os seus primórdios levan do à caracterização de duas diferentes mo dalidades da disciplina a psicologia social psicológica e a psicologia social sociológica A psicologia social psicológica segundo a definição de Gordon Allport 1954 que se tornou clássica procura explicar os senti mentos pensamentos e comportamentos do indivíduo na presença real ou imaginada de outras pessoas Já a psicologia social socio lógica segundo Stephan e Stephan 1985 tem como foco o estudo da experiência so cial que o indivíduo adquire a partir de sua participação nos diferentes grupos sociais com os quais convive Em outras palavras os psicólogos sociais da primeira vertente tendem a enfatizar principalmente os pro cessos intraindividuais enquanto os da se gunda tendem a privilegiar as coletividades sociais A história oficial da psicologia social foi contada durante muito tempo nos ca pítulos dos Handbooks of Social Psychology escritos por Gordon Allport e sucessiva mente publicados nos anos de 1954 1968 e 1985 com ligeiras modificações Contudo o trabalho de Allport tem sofrido críticas Apfelbaum 1992 associadas ao fato de ser uma história parcial que ressalta ape nas as raízes da psicologia social psicológi ca procurando assim legitimar tão somente os pressupostos teóricos e metodológicos de parte da comunidade científica que atua no âmbito dessa modalidade de psicologia social Publicações mais recentes Álvaro e Garrido 2007 Farr 1999 Jahoda 2007 Vala e Monteiro 2004 têm procurado supe rar tais limitações ao abordar as raízes não apenas da psicologia social psicológica mas também da psicologia social sociológica e de outras vertentes que ao longo do tempo fo ram desenvolvendo se em outras partes do mundo de forma independente da corrente dominante que era praticada sobretudo nos Estados Unidos O presente capítulo tem como objetivo realizar uma revisão descritiva e cronológi ca dos principais eventos apontados como marcantes no desenvolvimento das diferen tes modalidades nas quais se desdobra a moderna psicologia social como forma de 1 Breve História Da mODerna PsicOLOGia sOciaL Maria cristina Ferreira INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 14 tOrres neiva cOLs contextualizar suas origens sem ter a pre tensão de esgotar o assunto Nesse sentido inicia se com a abordagem dos autores que na segunda metade do século XIX desen volveram reflexões sobre temas que exer cerão significativa influência na construção da nova disciplina para em seguida tecer comentários sobre as obras que assinalaram a sua fundação Posteriormente discutem se os desdobramentos que ocorreram nos Estados Unidos na Europa e na América Latina para à guisa de conclusão trazer algumas reflexões acerca do estado atual da psicologia social Cumpre ressaltar que a excelente revisão histórica de ambas as vertentes da psicologia social realizada por Álvaro e Garrido 2007 mostrou se funda mental à elaboração do presente capítulo os Precursores da Psicologia social A expressão psicologia social foi utilizada pela primeira vez em 1908 ou seja no iní cio do século XX em dois diferentes livros razão pela qual esse ano é considerado por muitos como a data de fundação da discipli na Porém ao longo do século XIX quando os limites entre a sociologia e a psicologia ainda não eram muito claros foram publi cadas várias obras nas quais o indivíduo e a sociedade já eram abordados e discutidos Seus autores eram pensadores oriundos de vários campos do saber como por exemplo a filosofia a antropologia a biologia etc já que naquela época o papel profissional do psicólogo social ainda não havia sido insti tuído Entre esses merecem destaque os es tudos de Darwin e Spencer na Inglaterra os estudos de Wundt na Alemanha e os estudos de Durkheim Tarde e Le Bon na França os precursores da psicologia social na inglaterra A teoria da evolução de Charles Darwin 1809 1882 é considerada uma das mais poderosas e populares inovações do século XIX tendo exercido grande influência sobre a psicologia Em 1859 Darwin publica a obra Origem das espécies na qual desenvolve a tese da seleção natural Boeree 2006a Segundo ela na briga pelos escassos recur sos da natureza somente as espécies com maior capacidade de adaptação às varia ções da natureza conseguiram sobreviver e reproduzir se Darwin acreditava portanto que o ser humano constitui se como o pro duto final de um processo evolucionista que envolveu todos os organismos vivos ou seja um animal social que desenvolveu maior ca pacidade de se adaptar física social e men talmente às mudanças ambientais e sociais Para ele então haveria uma continuidade entre as espécies humanas e não humanas Tempos depois Herbert Spencer 1820 1903 fundamentando se na teoria da seleção natural converte se em um dos principais líderes do movimento conhecido como darwinismo social sendo dele a ex pressão sobrevivência do mais adaptado No livro Princípios de psicologia publicado em 1870 ele aplica as ideias de Darwin so bre o desenvolvimento da espécie humana ao desenvolvimento de grupos socieda des e culturas enfatizando a existência de uma continuidade entre ambos Boeree 2006a Seu principal argumento era o de que as nações e os grupos étnicos podiam ser classificados na escala evolucionista de acordo com o seu grau de desenvolvimento organização poder e capacidade de adap tação Desse modo os povos mais civiliza dos e avançados em termos culturais eram hierarquicamente superiores aos povos mais atrasados no que tange à escala evolucio nista As abordagens de Darwin e Spencer exerceram forte influência na psicologia dos instintos praticada ao início do século XX por alguns psicólogos sociais conforme se verá mais à frente o precursor da psicologia social na alemanha Wilhelm Wundt 1832 1920 é o principal representante da psicologia dos povos que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 15 surgiu na esteira do movimento de reunifi cação da Alemanha e que tinha como foco o estudo dos principais atributos em comum que definiam o caráter nacional ou o pensa mento coletivo do povo alemão Mcgarty e Haslam 1997 Suas ideias entretanto so freram uma considerável evolução ao longo de sua carreira Assim é que inicialmente ele defendia que a psicologia científica de veria ser vista como uma ciência natural que se ocupava do estudo da mente isto é dos processos mentais básicos sensação ima gem e sentimentos Para Wundt esse tipo de investigação deveria ser conduzido por meio da introspecção ou seja mediante a auto observação rigorosa e controlada do modo pelo qual esses fenômenos ocorriam Álvaro e Garrido 2007 Em virtude dessas preocupações Wundt criou em 1879 na cidade de Leipizig o pri meiro laboratório de psicologia do mundo tendo ali realizado uma série de experimen tos com o objetivo de estudar os processos mentais básicos além de ter fundado o pri meiro periódico de psicologia experimental Tais ações levaram no a ser considerado o fundador da psicologia experimental Com o passar do tempo porém Wundt sentiu necessidade de estudar os proces sos mentais mais complexos ou superiores como a memória e o pensamento tendo constatado que o método experimental não era adequado a tal estudo Assim propôs uma distinção entre a psicologia experimen tal responsável pelo estudo dos processos mentais básicos e a Völkerpsychologie psi cologia dos povos dedicada ao estudo dos processos mentais superiores por meio do método histórico comparativo Com isso ele estabelece uma clara distinção entre os fenômenos psicológicos mais externos que estariam na periferia da mente e os fenô menos mais profundos que constituiriam a mente propriamente dita Álvaro e Garrido 2007 Em sua Völkerpsychologie Wundt toma a mente como um fenômeno histórico um produto da cultura e da linguagem de um determinado povo que não poderia ser ex plicada em termos individuais mas sim em termos coletivos Por essa razão detém se no estudo da língua da arte dos mitos e dos costumes como forma de compreender a mente Em síntese haveria uma íntima relação entre a mente humana e a cultura entre o indivíduo e o contexto cultural no qual ele se desenvolve Desse modo a psico logia deveria estudar as produções mentais coletivas originadas das ações de conjuntos de indivíduos se quisesse chegar à mente humana Farr 1999 A psicologia dos po vos de Wundt exerceu influência principal mente sobre a psicologia social sociológica em virtude da ênfase atribuída à questão da determinação sócio histórica do indivíduo e ao uso da metodologia não experimental os precursores da psicologia social na França Conforme já mencionado entre os pre cursores da psicologia social na França encontram se Durkheim Tarde e Le Bon Emile Durkheim 1858 1917 é considerado um dos fundadores da sociologia tendo publicado várias obras nas quais aborda a evolução da sociedade os métodos da socio logia e a vida religiosa No livro intitulado Representações individuais e representações coletivas publicado em 1898 ele desenvolve o conceito de representações coletivas Melo Neto 2000 que exerceu significativa influ ência sobre a psicologia social europeia Para ele as representações coletivas como a re ligião os mitos etc constituem se em um fenômeno ao nível da sociedade e distinto das representações individuais que estão no nível do indivíduo Nesse sentido postula que os sentimentos privados só se tornam sociais quando extrapolam os indivíduos e associam se formando uma combinação que se perpetua no tempo transformando se na representação de toda uma sociedade As posições de Durkheim influenciarão so bretudo o psicólogo social Serge Moscovici que muitos anos depois desenvolve a teo ria das representações sociais Gabriel Tarde 1843 1904 na obra As leis da imitação publicada em 1890 de INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 16 tOrres neiva cOLs fende que a vida social tem como mecanis mo básico a imitação Karpf 1932 Desse modo qualquer produção individual surgi da sob a forma de uma invenção ou desco berta propaga se na vida social por meio da imitação uniformizando a Para ele as ini ciativas individuais constituem se em uma invenção enquanto as uniformidades da vida social associam se à imitação que con siste portanto em uma socialização da ino vação individual Avançando em suas pro posições o autor ressalta que as pessoas de status inferior costumam imitar as de maior status que o processo de imitação começa lentamente e com o tempo se acelera e que a cultura nacional é imitada antes da estran geira Álvaro e Garrido 2007 As ideias de Tarde exercerão influência no trabalho de Ross que publicou um dos primeiros livros de psicologia social Em 1895 Gustav Le Bon 1814 1931 publicou o livro Psicologia das multidões Melo Neto 2000 que exerceu significa tiva influência nos trabalhos de vários psi cólogos sociais posteriores Nesse livro o autor defende a tese de que as massas ou multidões constituem se em seres psíquicos de características diferentes dos indivíduos que as compõem Nesse sentido quando eles se juntam às massas perdem suas ca racterísticas superiores e sua autonomia passando a ser regidos por uma alma cole tiva com características independentes das de seus membros além de mais primitivas e inconscientes As multidões seriam assim as responsáveis pelo fato de os sujeitos per derem sua individualidade e passarem a fazer parte de um todo com características totalmente distintas das partes que o com põem Segundo Le Bon ao se encontrar em uma multidão o indivíduo sufoca sua per sonalidade consciente e passa a ser domi nado pela mente coletiva da multidão que é capaz de levar seus membros a apresen tar comportamentos unânimes emocionais e desprovidos de racionalidade Em outras palavras as pessoas perdem sua capacidade de raciocínio e tornam se altamente suges tionáveis o que as leva a cometer atos de barbárie que não praticariam se estivessem sozinhas Quando enfatiza a irracionalidade das multidões Le Bon estabelece um vínculo en tre a psicologia social e a psicopatologia ao qual se contrapõe a psicologia social psicoló gica de base cognitiva surgida nos anos de 1970 Farr 1999 Por outro lado a questão da sugestão ou influência social implícita na psicologia das multidões posteriormente se converterá em objeto de atenção da psicolo gia social psicológica de base experimental No entanto o estudo da mente grupal e do comportamento das multidões propriamen te dito foco central da obra de Le Bon so mente será resgatado mais recentemente por autores como Moscovici e colaboradores McGarty e Haslam 1997 a Fundação da Psicologia social No início do século XX a psicologia social começa a adquirir o status de uma discipli na independente e seu centro de gravidade começa a mudar da Europa para os Estados Unidos Jahoda 2007 Duas obras publica das no ano de 1908 irão marcar a fundação oficial da psicologia social moderna Uma introdução à psicologia social de William McDougall e Psicologia social uma resenha e um livro texto de Edward Ross Pepitone 1981 Cumpre registrar porém que esses dois autores embora fossem contemporâne os e tivessem usado a expressão psicologia social nos títulos de seus livros não estavam falando do mesmo assunto Edward Ross 1866 1951 era um so ciólogo norte americano que influenciado pelas obras de Tarde e de Le Bon caracte rizou a psicologia social como o estudo das uniformidades de pensamentos crenças e ações decorrentes da interação entre os seres humanos Pepitone 1981 Segundo Ross os fenômenos subjacentes a essa uniformi dade são a imitação a sugestão e o contá gio o que explicaria a rápida uniformidade verificada entre as emoções e as crenças das multidões Embora Ross tenha especificado INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 17 algumas variáveis que interferem na suges tão como por exemplo o prestígio da fon te sua análise da vida social humana não se reverteu no desenvolvimento de um mo delo teórico formal tendo ele se limitado a organizar observações extraídas da história da literatura e do trabalho de outros auto res McDougall 1871 1938 por outro lado era um psicólogo britânico que foi fortemente influenciado pelas concepções de Darwin e Spencer sobre a evolução Sua obra gira em torno do conceito de instinto ressaltando a importância de certas carac terísticas inatas e instintivas para a vida so cial Segundo ele os instintos apresentam três componentes a percepção que leva o indivíduo a prestar atenção aos estímulos relevantes a seus instintos o comporta mento responsável por levar o indivíduo a manifestar condutas destinadas a satisfazer seus instintos e a emoção que faz com que os instintos estejam associados a estados emocionais positivos ou negativos Boeree 2006b Propôs ainda uma classificação dos instintos em primários de segunda ordem e pseudoinstintos Álvaro e Garrido 2007 Os instintos primários são em número de sete e associam se a emoções Entre eles es tão por exemplo a fuga associada ao medo e o combate associado à raiva Os instintos secundários são em número de quatro e mostram se importantes para a vida social como por exemplo o instinto gregário Já os pseudoinstintos são em número de três e interferem nas interações entre as pessoas como no caso da imitação por exemplo Os estudos de McDougall são considerados pre cursores das teorias motivacionais que pos teriormente se tornarão objeto de investiga ção de alguns psicólogos sociais McGarty e Haslam 1997 No momento em que a psicologia co meça a se definir como uma disciplina in dependente a publicação concomitante das obras de Ross e McDougall estando situadas uma no âmbito da psicologia e outra no âm bito da sociologia pode ser vista como uma evidência da separação entre a psicologia social psicológica e a psicologia social socio lógica que se avizinhava A partir do início do século XX ambas as correntes sofrerão grande impulso nos Estados Unidos ainda que trilhando direções distintas Nesse sen tido acompanharemos inicialmente a evolu ção da psicologia social psicológica para em seguida trilharmos os caminhos percorridos pela psicologia social sociológica ao longo do século XX o desenvolviMento da Psicologia social Psicológica nos estados unidos Nas primeiras décadas do século XX os Estados Unidos assistem à ascensão do beha viorismo segundo o qual uma psicologia verdadeiramente científica deveria estudar e explicar apenas o comportamento humano observável sem considerar construtos men tais não observáveis como a mente a cog nição e os sentimentos McGarty e Haslam 1997 Com isso os psicólogos sociais pro gressivamente abandonam as explicações do comportamento social em termos de instintos bem como o uso da introspecção passando a adotar uma psicologia social eminentemente experimental e focada no in divíduo Jahoda 2007 Consequentemente a divisão entre psicologia social psicológica e sociológica aprofunda se na medida em que a psicologia passa a ser vista muito mais como uma ciência natural do que como uma ciência social Pepitone 1986 Cumpre registrar porém que o primei ro experimento em psicologia social ocorreu ainda no século XIX tendo sido conduzido por Tripplett em 1897 Rodrigues 1972 Esse experimento foi realizado com crianças que foram solicitadas a enrolar um anzol o mais rapidamente possível sozinhas ou na presença de outras crianças que faziam a mesma tarefa Os resultados mostraram que elas agiam muito mais rapidamente quan do estavam acompanhadas do que quando estavam sozinhas lançando assim as bases do estudo do fenômeno de facilitação social INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 18 tOrres neiva cOLs que ainda hoje é um dos temas de interesse da psicologia social psicológica Entretanto é somente em 1924 que surge o livro texto de psicologia social de Floyd Allport 1890 1978 considerado um dos mais famosos psicólogos sociais beha vioristas da época Pepitone 1981 O autor contrapõe se ao estudo da consciência cole tiva ou mente grupal pela psicologia social por acreditar não ser possível a existência de uma mente comum a várias pessoas de modo similar ao que ocorre com um indi víduo particular Além disso ele considera que a psicologia social faz parte da psicolo gia do indivíduo e não da sociologia e como tal deve ocupar se do estudo das influên cias do comportamento do indivíduo em ou tras pessoas e das reações a tais influências Karpf 1932 Allport desenvolve uma série de expe rimentos sobre facilitação social demons trando que os grupos nos quais as pessoas estavam juntas mas trabalhando individual mente em tarefas mentais ou perceptuais apresentavam melhor desempenho do que pessoas que estavam sozinhas realizando o mesmo tipo de tarefa Com sua obra ele de fine portanto os limites da psicologia social psicológica como uma disciplina objetiva e de base experimental Jones 1985 Nos anos de 1920 inicia se também o estudo das atitudes sob a coordenação de Thurstone e colaboradores que desen volveram uma metodologia própria para a investigação do referido construto toma do como um fenômeno mental McGarty e Haslam 1997 Esse trabalho pioneiro sus citou o desenvolvimento de várias outras técnicas para a mensuração das atitudes Tais técnicas aliadas à sofisticação cada vez maior do método experimental garantirão o status científico da psicologia social psico lógica ao longo das décadas subsequentes Graumann 1996 a segunda guerra Mundial Com a escalada do nazismo na Europa e a Segunda Guerra Mundial muitos cientistas imigraram para os Estados Unidos Além dis so os psicólogos sociais foram convocados a cooperar na resolução dos problemas sociais provocados pela guerra Tais fatos influen ciarão sobremaneira os novos rumos toma dos pela psicologia social psicológica no pe ríodo que vai da década de 1930 à década de 1950 Nesse sentido os psicólogos europeus trarão para a psicologia norte americana a perspectiva do gestaltismo que substituirá o behaviorismo até então dominante Para o gestaltismo as propriedades perceptivas de um objeto formavam uma gestalt isto é um todo que apresentava características distintas da soma das partes que o consti tuem McGarty e Haslam 1997 Entre os psicólogos sociais europeus que nos anos 1940 desenvolveram trabalhos influencia dos pelas ideias do gestaltismo destacam se Muzar Sheriff 1906 1988 Kurt Lewin 1890 1947 Fritz Heider 1896 1988 e Solomon Asch 1907 1996 Com o objetivo de explorar as condições e os fatores que levam à formação e à perma nência das normas sociais Sheriff 1936 de senvolveu vários experimentos Neles uma pessoa era solicitada a fazer julgamentos de estímulos ambíguos o quanto uma luz em um quarto escuro se movia quando na rea lidade estava parada individualmente ou na presença de outras pessoas Observou se que a pessoa ao tomar conhecimento dos julgamentos feitos pelos demais norma so cial antes ou depois do próprio julgamento tendia a convergir para a norma do grupo e a desconsiderar a própria norma Lewin era um psicólogo judeu que imigrou para os Estados Unidos em 1933 e juntamente com seus colaboradores Lewin Lippitt e White 1939 desenvolveu pesqui sas sobre o clima grupal nas quais estudou experimentalmente em grupos reais a in fluência dos estilos de liderança no compor tamento do grupo Os resultados levaram no a concluir que o papel do líder era central para o funcionamento do grupo já que di ferentes estilos de liderança provocavam ní veis distintos de produtividade e agressão Lewin 1943 também propôs a teoria de campo na qual o grupo era visto como um INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 19 campo de forças que tinha primazia sobre suas partes isto é sobre seus membros Ele inaugurou ainda um programa a que deno minou de pesquisa ação cujo objetivo era avaliar o comportamento dos membros de grupos da comunidade e colaborar com sua mudança de atitudes e comportamentos Em contraste com a posição de Allport e de outros psicólogos sociais experimen tais para quem o grupo representava tão somente uma variável externa que exercia influência sobre os indivíduos que dele par ticipavam a concepção de Lewin de que o grupo tem uma dinâmica própria não re dutível à soma das partes que o compõem soou como bastante original e teve grande impacto nas discussões teóricas travadas na época Pepitone 1981 Seus engenhosos experimentos trouxeram a realidade social para dentro do laboratório e converteram se em um modelo paradigmático de pesqui sas sobre processos e estruturas grupais que eram ao mesmo tempo empíricas e teóricas Smith 1961 Os trabalhos seminais de Heider 1944 1946 1958 lançaram as bases con ceituais de duas linhas de pesquisa que do minarão as décadas subsequentes Nas pu blicações de 1944 e 1958 ele estabelece os fundamentos das teorias de atribuição ao defender a ideia de que em suas relações interpessoais o indivíduo percebe o outro e suas ações como um todo organizado e por essa razão tende a procurar as causas do comportamento do outro como forma de tornar o mundo social mais organizado estável e previsível Para tanto utiliza se de fatores pessoais internos capacidade esforço etc ou de fatores impessoais ex ternos sorte situação etc Já no artigo de 1946 Heider constrói os pilares das teorias da consistência cognitiva ao propor o princí pio do equilíbrio cognitivo segundo o qual as pessoas tendem a manter sentimentos e cognições coerentes sobre um mesmo objeto ou pessoa de modo a obter uma situação de equilíbrio Quando esse equilíbrio se des faz elas vivenciam uma situação de tensão e procuram restabelecê lo mediante a mu dança de algum dos elementos da situação Asch 1946 coloca se contra a posição adotada pelos psicólogos sociais adeptos do behaviorismo procurando aplicar os princí pios gestaltistas no campo da percepção de pessoas que até hoje consiste em uma das áreas centrais de estudo da psicologia so cial psicológica Segundo ele ao formarmos uma impressão sobre uma pessoa construí mos um todo organizado sobre ela uma im pressão que difere do somatório de todas as suas características pessoais Os trabalhos de Sheriff Lewin Heider e Asch exerceram forte influência sobre toda uma geração de seguidores que fizeram a história da psico logia social psicológica nas décadas subse quentes o período do pós guerra O período do pós guerra constituiu se em uma fase de intensa produção pelos psi cólogos sociais da época estimulada pela continuação dos esforços de cooperação empreendidos durante a guerra e pela cons tatação por parte das entidades militares e governamentais de que as ciências sociais e comportamentais estavam preparadas para colaborar no gerenciamento dos comple xos problemas humanos daquele período Desse modo nas duas décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial a psicologia so cial psicológica converte se em um campo científico produtivo com bases solidamen te estabelecidas e torna se responsável por uma série de pesquisas inovadoras talento sas e cada vez mais sofisticadas do ponto de vista metodológico as quais desencadearão o surgimento de novas direções de pesquisa e teorização Jackson 1988 Com o intuito de melhor compreender as razões que levaram pessoas aparente mente normais e civilizadas a cometer hor rores contra outros seres humanos durante a guerra Theodor Adorno 1903 1969 dedica se ao estudo dos tipos de persona lidade Ele pertencia à Escola de Frankfurt nome utilizado para designar o Instituto de Pesquisa que funcionava na Universidade de Frankfurt e a exemplo de outros emi INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 20 tOrres neiva cOLs nentes psicólogos já citados também imi grou para os Estados Unidos durante a guerra Logo após o término do conflito irá publicar juntamente com outros membros de sua equipe Adorno FrenkelBrunswik Levinson e Sanford 1950 a obra A perso nalidade autoritária na qual defende a tese de que o preconceito contra as minorias so ciais em geral bem como o antissemitismo em particular está associado a um tipo de personalidade autoritária caracterizado por traços de rigidez de opiniões adesão a valo res convencionais e intolerância Outra consequência do período do pós guerra foi o ressurgimento do interesse pela pesquisa sobre atitudes Enquanto na primeira fase da pesquisa sobre o tema o foco era a mensuração das atitudes confor me já apontado nessa nova fase os psicólo gos sociais se concentrarão na investigação experimental da mudança de atitudes Tais estudos iniciaram se ainda nos tempos de guerra sob a liderança de Carl Hovland 1912 1961 com o objetivo de verificar os efeitos de filmes bélicos e de programas de treinamento do exército norte americano sobre as atitudes dos soldados Terminada a guerra Hovland e colaborado res Hovland Jonis e Kelley 1953 desenvol veram um extenso programa de pesquisas ex perimentais sobre comunicação e persuasão com o intuito de elucidar as influências das características do comunicador como por exemplo seu prestígio seu grau de credibili dade etc da mensagem como por exem plo seu conteúdo e da audiência como por exemplo suas características de personalida de na mudança de atitudes Esses estudos fizeram com que as atitudes tivessem um papel central na psicologia social psicológi ca durante os anos de 1960 tendo ocupado maior espaço do que qualquer outro tópico nos livros texto da época McGuire 1968 Contudo nos anos de 1970 esse interesse entrou em declínio com a consequente ascen são do cognitivismo Uma terceira consequência do pós guerra foi o impulso que as investigações sobre grupos receberam especialmente pe las mãos de Solomon Asch 1907 1996 que anteriormente havia realizado estudos sobre a formação de impressões e Leon Festinger 1919 1989 Tais pesquisas constituíram as bases da teorização sobre influência social e processos intragrupais temas presentes na maior parte dos modernos manuais de psi cologia social psicológica Na sequência dos estudos iniciados por Sheriff nos anos de 1930 Asch 1952 dedicou se a pesquisas sobre a influência social procurando avaliar a influência da pressão do grupo sobre o julgamento dos in divíduos Em contraste com os experimen tos de Sheriff nos quais os estímulos eram ambíguos ele usou estímulos sem nenhuma ambiguidade comparação de linhas de va riados tamanhos com uma linha de tama nho padrão Ainda assim seus experimen tos demonstraram que quando uma pessoa tem certeza de que seu julgamento está cor reto mas é confrontada com uma maioria que fez um julgamento errado ela tende a se conformar com essa maioria e mudar seu julgamento seja porque realmente passa a acreditar que estava enganada em seu julga mento e que a maioria é que estava correta seja porque tem necessidade de ser aceita pelo grupo Os estudos de Asch sobre conformida de suscitaram uma série de desdobramentos posteriores relacionados à investigação dos diferentes fatores que influenciavam tal fe nômeno além de inspirar os experimentos clássicos de Milgram 1965 sobre obediên cia à autoridade Em tais experimentos o autor demonstra que os indivíduos sentem se tão submissos à autoridade do experi mentador que atendendo às suas instru ções são capazes de ministrar choques cada vez mais fortes em uma determinada pessoa por causa de erros que ela vai simulando cometer durante o desempenho de uma tarefa apesar de ela demonstrar que está sentindo dores cada vez piores Festinger 1954 recebeu influências de Lewin tendo publicado uma das primeiras teorias formais em psicologia social a teoria da comparação social com base nos resul INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 21 tados de uma série de experimentos destina dos a testar hipóteses sobre as pressões para a uniformidade que ocorrem nos grupos De acordo com essa teoria as pessoas quando não têm um padrão objetivo de comparação sentem necessidade de se comparar com os demais membros de seu grupo e confirmar que eles têm crenças e habilidades seme lhantes às suas o que as faz se sentirem mais seguras Quando por outro lado surge um membro com opinião divergente o grupo faz pressão para que ele mude essa opinião e conforme se às regras grupais e caso isso não aconteça rejeita o levando esse mem bro a escolher outros grupos de comparação A teoria de Festinger foi submetida a inú meros desdobramentos especialmente por Shachter 1959 que desenvolveu uma sé rie de experimentos sobre a necessidade de comparação de experiências emocionais No final dos anos de 1950 e ao longo dos anos de 1960 e 1970 as pesquisas sobre mudança de atitudes e sobre processos gru pais foram progressivamente sendo substi tuídas pelas teorias de base cognitiva Nesse sentido as teorias da consistência domina ram a década de 1960 sob a influência do princípio do equilíbrio cognitivo de Heider 1946 Entre elas merece destaque a teo ria da dissonância cognitiva de Festinger 1919 1989 que antes já havia desenvolvi do a teoria da comparação social De acordo com Festinger 1957 as pessoas tendem a buscar a harmonia ou a congruência entre suas crenças e atitudes Desse modo quando são induzidas a emitir atitudes contrárias às suas crenças entram em dissonância cognitiva o que lhes causa desconforto e as leva a mudar suas crenças ou atitudes de modo a alcançar novamente a congruência Assim por exemplo se uma pessoa fuma e sabe que isso é prejudicial à saúde ela poderá resolver essa dissonância parando de fumar mudança de atitude ou buscando informações de que fumar não é prejudicial à saúde mudança de crenças A teoria da dissonância suscitou nas décadas seguintes um volume considerá vel de pesquisas experimentais rigorosas destinadas a testar seus pressupostos sobre as inconsistências contradições tensões ou perturbações da harmonia cognitiva que movem o comportamento social bem como sobre os diferentes fatores que interferiam na redução ou não da dissonância Apesar de ter sido também alvo de críticas ela foi a principal responsável pelo desenvolvimento da psicologia social psicológica nas décadas seguintes Rodrigues Assmar e Jablonski 2000 À medida que o interesse pelas teo rias da dissonância e do equilíbrio decaía a pesquisa sobre as teorias da atribuição au mentava tendo marcado os anos de 1970 e 1980 Essas teorias desenvolveram se a partir dos trabalhos de Heider 1944 1958 sobre as relações interpessoais e têm como principal objetivo a investigação acerca do modo pelo qual as pessoas inferem causas sobre o próprio comportamento e sobre o comportamento das outras pessoas isto é o que as leva a concluir que o responsável pelo comportamento é o próprio indivíduo ou a situação Tais preocupações foram in tensamente exploradas nas obras de Jones e Davis 1965 Kelley 1967 Ross 1977 e Weiner 1986 sendo as responsáveis pelo fato de ainda hoje as teorias atribuicionais constituírem se em importante campo de estudo e pesquisa da psicologia social psi cológica As teorias da atribuição representam também a consolidação definitiva do cogni tivismo que se tornou a partir dos anos de 1980 a perspectiva dominante na psicolo gia social psicológica atual Tal abordagem focaliza se na compreensão da cognição so cial isto é do processamento da informa ção social baseado no pressuposto de que o comportamento social pode ser explicado por meio dos processos cognitivos a ele sub jacentes Fiske e Taylor 1984 Ela se volta para o estudo da categorização dos objetos sociais ou seja para a análise das estraté gias que as pessoas utilizam para formar impressões crenças ou cognições sobre os estímulos sociais que as rodeiam o próprio indivíduo bem como outras pessoas grupos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 22 tOrres neiva cOLs e eventos sociais e do modo pelo qual tais categorias afetam seu comportamento a crise da psicologia social O período que vai do pós guerra aos anos de 1970 é visto por alguns autores Apfelbaum 1992 como a era de ouro da psicologia social em função da grande evolução ob servada na construção e na verificação de teorias assim como na elaboração de pro cedimentos metodológicos e estatísticos cada vez mais sofisticados Com o passar do tempo porém o modelo de pesquisa ação orientado para a comunidade e para o estu do dos grupos introduzido por Lewin ainda nos anos de 1930 foi sendo paulatinamente abandonado e substituído pela investigação de fenômenos e processos eminentemente intraindividuais de natureza cognitiva Tendo como meta última a investiga ção das leis universais capazes de explicar o comportamento social a psicologia social psicológica estrutura se progressivamente como uma ciência natural e empírica que desconsidera o papel que as estruturas so ciais e os sistemas culturais exercem sobre os indivíduos Pepitone 1981 É nesse contexto que a década de 1970 assistirá ao surgimento da chamada crise da psicologia social que marcará em definitivo os novos rumos tomados pela psicologia social psico lógica a partir de então A crise da psicologia social ou era das dúvidas surgiu portanto em consequência da excessiva individualização da psicologia social psicológica e dos movimentos sociais ocorridos nos anos de 1970 como o femi nismo por exemplo tendo se caracteriza do pelo questionamento das bases concei tuais e metodológicas da psicologia social psicológica até então dominante no que tange à sua validade relevância e capacida de de generalização Apfelbaum 1992 Os questionamentos voltam se principalmente à sua relevância social isto é ao fato de essa vertente da psicologia social usar uma linguagem científica cada vez mais neutra e afastada dos problemas sociais reais e consequentemente desenvolver modelos e teorias que não são capazes de contribuir para a explicação da nova realidade social que surgia Além disso criticava se a artifi cialidade dos experimentos conduzidos em laboratório a falta de compromisso ético de seus mentores e a excessiva fragmentação dos modelos teóricos Jones 1985 Tais críticas suscitaram grande resis tência da comunidade científica estabeleci da à época No entanto contribuíram para o movimento de internacionalização da psi cologia social responsável pelo desenvolvi mento de uma psicologia social europeia mais preocupada com o contexto social e mais recentemente de uma psicologia latino americana o desenvolviMento da Psicologia social sociológica nos estados unidos Durante o século XIX as questões psicos sociais estiveram entre as preocupações de filósofos sociólogos e psicólogos europeus e norte americanos No início do século XX porém os sociólogos sentiram a necessida de de se diferenciar dos psicólogos sociais que no contexto da psicologia passaram a adotar o behaviorismo como paradigma e a praticar uma psicologia social psicológica que aos poucos se tornava cada vez mais in dividualista Surge então a psicologia social sociológica cuja principal vertente é o inte racionismo simbólico e que tem nas figuras de Charles Cooley 1864 1929 e George Mead 1863 1931 seus mais notáveis pre cursores os precursores da psicologia social sociológica Cooley era um sociólogo que recebeu in fluências de Spencer tendo defendido uma concepção evolucionista da mente e da so ciedade Em sua obra Natureza humana e INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 23 ordem social datada de 1902 ele ressaltou a influência do ambiente social na configu ração da natureza humana e consequen temente da natureza da identidade ou self Álvaro e Garrido 2007 Ao explicar a formação da identidade Cooley usa a expressão eu refletido no es pelho para designar o fato de que tal for mação está eminentemente associada ao modo pelo qual a pessoa imagina que apa rece diante das outras pessoas assim como ao modo pelo qual ela imagina que as outras pessoas reagem a ela e aos sentimentos daí decorrentes que podem ser de orgulho ou de decepção Em outras palavras segundo o autor o indivíduo ao interagir com as ou tras pessoas torna se consciente da imagem e dos sentimentos que essas outras pessoas nutrem por ele isto é elas atuam como um espelho no qual o indivíduo se vê Para Cooley o desenvolvimento da identidade ocorre no contexto da intera ção com os outros e por meio do uso da linguagem e da comunicação Tais formula ções serviram de base a desenvolvimentos posteriores tendo influenciado Mead que também adota a expressão eu refletido no espelho ao discorrer sobre a identidade Mead era um filósofo norte americano que estudou por algum tempo com Wundt em Leipizig o que teve grande influência em sua obra Posteriormente ele passou a dar aulas de filosofia em Michigan onde conviveu com Cooley que na época estava escrevendo sua tese de doutorado e depois em Chicago onde permaneceu até a sua morte Suas aulas de psicologia social foram posteriormente compiladas no livro A men te o eu e a sociedade do ponto de vista de um behaviorista social publicado após a sua morte em 1934 Farr 1999 A linguagem desempenha um papel fundamental no pensamento de Mead a ponto de ele considerar o ato comunicativo como a unidade básica de análise da psi cologia social Segundo ele a linguagem é um fenômeno inerentemente social e con sequentemente as atitudes e os gestos só adquirem significado por meio da interação simbólica É portanto no contexto das rela ções sociais que a comunicação e a expres são tornam se possíveis bem como a possi bilidade de uma pessoa prever a reação do outro a seus atos isto é de assumir o papel do outro Jahoda 2007 Analisando a emergência desse pro cesso na infância Mead enfatiza a impor tância dos jogos infantis em virtude de eles permitirem à criança assumir o papel dos outros outro significativo ou dos membros da sociedade em que vive eu generaliza do Com isso ela passa a ter consciência de si mesma formando assim a sua própria identidade que reflete a internalização das normas e dos papéis presentes em sua co munidade Álvaro e Garrido 2007 Em síntese para Mead o indivíduo é produto do desenvolvimento das pesso as em sociedade e estrutura se por meio do processo de interação simbólica que leva as pessoas a tomarem consciência de si próprias mediante a perspectiva dos de mais membros de seu grupo social Ele si tua portanto a formação da identidade no campo das relações interpessoais da organi zação social e da cultura ao postular que o sujeito apropria se do conjunto de padrões comuns a diferentes grupos socioculturais para desenvolver seu próprio eu Stephan e Stephan 1985 Mead é considerado um behaviorista social porque ainda que defendesse o es tudo do comportamento observável consi derava que este era apenas um meio para se chegar à experiência interna do indivíduo Álvaro e Garrido 2007 Suas proposições apesar de terem recebido várias críticas exerceram forte influência no desenvolvi mento da psicologia social sociológica ten do dado origem a duas diferentes correntes teóricas a escola de Chicago e a escola de Iowa a escola de chicago Durante os anos de 1930 e 1940 as ideias de Mead não tiveram grande impacto Caberá porém a Herbert Blumer 1900 1987 em Chicago nos anos de 1950 e a Manford INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 24 tOrres neiva cOLs Kuhn 1911 1963 em Iowa nos de 1960 reacenderem o interesse pela temática Blumer era um sociólogo que após a morte de Mead assumiu seu curso anual de aulas de psicologia social tendo cunhado de in teracionismo simbólico a posição defendida por Mead Segundo ele o uso da expressão derivou se da ênfase na compreensão do modo pelo qual as pessoas interagem com as outras usando símbolos Desse modo o in teracionismo simbólico pode ser visto como uma forma sociológica de psicologia social iniciada em Chicago por Blumer a partir de sua interpretação da obra de Mead Segundo Blumer 1969 os principais pressupostos do interacionismo simbóli co são os seguintes a pessoa interpreta o mundo para si própria atribuindo lhe sig nificado o comportamento não é uma re ação automática a um dado estímulo mas sim uma construção criativa derivada da interpretação da situação e das pessoas que nela se encontram a conduta humana é im previsível porque os significados e as ações dependem de cada situação enquanto a in terpretação das situações e a construção do comportamento são processos que ocorrem durante a interação social A escola de Chicago costuma ser iden tificada com a abordagem qualitativa de pes quisa talvez porque Blumer fosse da opinião que o estudo do comportamento humano deveria ser conduzido por meio de métodos próprios que em vez de impor estruturas ao indivíduo fossem capazes de captar as realidades subjetivas construídas em cada situação Stephan e Stephan 1985 Na rea lidade porém a escola de Chicago primou pelo ecletismo metodológico tendo usado abordagens quantitativas e qualitativas na tentativa de estudar cientificamente a rea lidade social e resolver os problemas sociais que a cidade de Chicago enfrentou nos anos de 1930 e 1940 tais como o aumento da imigração da criminalidade e da violência Álvaro e Garrido 2007 A esse respeito vale destacar a pes quisa realizada por Thomas e Znaniecki 1918 com o objetivo de analisar as ati tudes de imigrantes poloneses na qual uti lizaram a análise de documentos cartas e histórias de vida para traçar um perfil da situação social desses imigrantes segundo a sua própria perspectiva Álvaro e Garrido 2007 Em contrapartida Bogardus 1925 outro membro da escola de Chicago desen volveu a primeira escala para a medida de atitudes numa evidência de que ambos os tipos de metodologia ali conviviam Álvaro e Garrido 2007 a escola de iowa e a psicologia social sociológica na atualidade Conforme já mencionado Kuhn 1964 é um dos principais representantes da esco la de Iowa responsável pela continuidade do interacionismo simbólico ao longo dos anos de 1960 Ele no entanto distancia se mais das ideias de Mead do que a escola de Chicago Nesse sentido defendia a utiliza ção dos mesmos métodos de pesquisa das ci ências naturais tendo testado algumas das proposições de Mead e abandonado outras por considerá las não passíveis de serem submetidas à verificação empírica Além disso ele postulava que o self e a sociedade dependiam da estrutura social Desse modo afirmava que as expectativas da sociedade a respeito do desempenho de determinados papéis limitavam as intera ções sociais ao exercer influência sobre as concepções que as pessoas desenvolviam acerca de si próprias e dos outros sobre as definições das situações e sobre os sig nificados que as pessoas construíam Kuhn 1964 destaca porém o papel ativo do in divíduo nesse processo na medida em que é ele quem escolhe os papéis a desempenhar podendo também modificá los Orientados predominantemente pela perspectiva do interacionismo simbólico e usando primordialmente a observação par ticipante como método aliada ao uso de entrevistas os psicólogos sociais adeptos da corrente sociológica prosseguiram nos anos subsequentes investigando temas como a interação face a face os processos de socia lização a formação e o desenvolvimento da INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 25 identidade o comportamento desviante e o comportamento coletivo Novos desdobramentos teóricos tam bém foram surgindo com o tempo entre os quais podem ser citadas a escola dramatúr gica de Goffman 1985 e a teoria da identi dade de Stryker 1980 Goffman deteve se na análise da interação face a face consi derando seus participantes como atores que podem ser mais ou menos eficazes no desempenho de seus papéis Stryker por sua vez propõe que a identidade apresen ta múltiplos componentes os quais se en contram associados aos diferentes papéis desempenhados pelo indivíduo sendo que alguns componentes são mais salientes e por essa razão mais evocados nas situações Esses desdobramentos contribuíram para a revitalização da psicologia social sociológi ca que durante certo tempo permaneceu à margem da psicologia social psicológica dominante no cenário acadêmico da psi cologia o desenvolviMento da Psicologia social na euroPa No ano de 1964 quando a psicologia so cial psicológica já estava firmemente esta belecida nos Estados Unidos foi criado no país um Comitê Transnacional sob o patro cínio do Social Science Research Council com o objetivo de promover a internacio nalização da psicologia social Moscovici e Marková 2006 Em sua formação inicial o comitê era composto por seis psicólogos norte americanos e dois europeus sob a presidência de Leon Festinger Suas primei ras iniciativas foram no sentido de fomen tar o desenvolvimento da psicologia social na Europa razão pela qual promoveu a realização de vários encontros científicos e treinamentos para os psicólogos sociais eu ropeus nos quais os conhecimentos por eles produzidos começaram a ser divulgados O Comitê Transnacional exerceu também um papel ativo na construção e na consolida ção da Associação Europeia de Psicologia Experimental Nos anos de 1960 em vários países eu ropeus os psicólogos já realizavam pesquisas psicossociais mas foi ao final da década que começaram a ser realizados esforços mais sis temáticos não apenas por parte do Comitê Transnacional mas também por meio de ou tras iniciativas mais isoladas dirigidas à in tegração dos psicólogos sociais europeus em uma comunidade científica atuante Assim é que desde os anos de 1970 a psicologia social europeia vem crescendo progressiva mente em tamanho e influência Apesar de ela ter caminhado inicial mente lado a lado com a psicologia social psicológica começou rapidamente a adqui rir sua própria identidade e a demonstrar maior preocupação com a estrutura social Nesse sentido os temas de estudo mais fre quentes entre os psicólogos sociais europeus são as relações intergrupais a identidade social e a influência social que remetem a uma psicologia dos grupos Graumann 1996 Entre os principais representantes dessa moderna psicologia social europeia destacam se Henri Tajfel 1919 1982 e Serge Moscovici Tajfel 1981 procurou enfatizar a dimensão social do comportamento indivi dual e grupal postulando que o indivíduo é moldado pela sociedade e pela cultura Apoiando se em tal perspectiva desenvol veu a teoria da identidade social por meio da qual defende que as relações intergrupais estão intimamente relacionadas a processos de identificação grupal e de comparação so cial Moscovici 1976 retomando os estu dos sobre influência social que até então se preocupavam exclusivamente com os efeitos da maioria dos membros do grupo isto é com as pressões para a conformidade intro duz na área o conceito de influência das mi norias tendo realizado investigações com o intuito de averiguar a inovação e a mudança social introduzida por essas minorias Outro campo de estudos a que ele se dedicou Moscovici 1981 foi o das representações sociais derivado do conceito de representa ções coletivas de Durkheim e caracterizado como modos de compreensão da realidade INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 26 tOrres neiva cOLs compartilhados por diferentes grupos so ciais A teoria das representações sociais foi amplamente difundida nas décadas seguin tes inclusive no Brasil caracterizando se hoje como uma das principais tendências da psicologia social europeia o desenvolviMento da Psicologia social na aMérica latina A psicologia social praticada na América Latina até a década de 1970 esteve for temente influenciada pelo paradigma da psicologia social psicológica de natureza ex perimental dominante à época nos Estados Unidos Ao final dos anos de 1960 de modo similar ao que já havia ocorrido na Europa o Comitê Transnacional fundado com o ob jetivo de promover a internacionalização da psicologia social procurou também atuar na América Latina Moscovici e Marková 2006 Nesse sentido três de seus membros mantiveram contatos com vários psicólogos sociais latino americanos e em seguida o Comitê Transnacional estimulou a criação de um comitê local além de patrocinar al guns encontros com esse grupo e um primei ro treinamento para os psicólogos sociais latino americanos no qual foi amplamente discutida a necessidade de a psicologia so cial estar mais diretamente vinculada aos problemas sociais da América Latina Alguns dos psicólogos desse comitê lo cal fundam em 1973 a Associação Latino Americana de Psicologia Social ALAPSO que nos anos seguintes continuará a fomen tar o desenvolvimento de atividades na área da psicologia social Contudo os proble mas políticos que muitos dos países latino americanos vivenciaram naquele período aliados a dissidências entre os membros do comitê local acabaram por inviabilizar a con tinuação da ação do Comitê Transnacional em prol da internacionalização da psicolo gia social psicológica na América Latina Ao final da década de 1970 porém muitos dos psicólogos sociais latino america nos iniciam um forte movimento de ques tionamento à psicologia social psicológica norte americana marcada pelo experimen talismo e pelo individualismo em prol de uma psicologia social mais contextualizada isto é mais voltada para os problemas po líticos e sociais que a região vinha enfren tando Estimulados pela arbitrariedade dos regimes militares e pela grande desigualda de social do continente esses psicólogos so ciais defendem uma ruptura radical com a psicologia social tradicional Spink e Spink 2005 Então passam a praticar o que tem sido designado como psicologia social crí tica Álvaro e Garrido 2007 ou psicologia social histórico crítica Mancebo e Jacó Vilela 2004 expressões que abarcam na realidade diferentes posturas teóricas como por exemplo o socioconstrucionis mo Gergen 1997 a análise do discurso Potter e Wetherell 1987 e a psicologia marxista entre outras Em que pesem as diferenças observadas entre essas corren tes a psicologia social crítica grosso modo caracteriza se por romper com o modelo neopositivista de ciência e em consequên cia com seus postulados sobre a necessida de de o conhecimento científico apoiar se na verificação empírica de relações causais entre fenômenos Em contraposição a tal modelo defende o caráter relacional da linguagem e a importância das práticas dis cursivas para a compreensão da vida social Álvaro e Garrido 2007 Na esteira da psicologia social críti ca irão surgir na América Latina diversos manuais de psicologia social organizados segundo tal perspectiva crítica como por exemplo Aguilar e Reid 2007 Cordero Dobles e Pérez 1996 Montero 1991 bem como algumas associações de psico logia social que se contrapõem à ALAPSO como é o caso por exemplo da Associação Venezuelana de Psicologia Social AVEPSO Um autor frequentemente citado como legíti mo representante dessa nova perspectiva na psicologia social latino americana é Martin Baró 1942 1989 psicólogo e padre jesuí ta espanhol radicado em El Salvador que defendeu em suas obras o desenvolvimento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 27 de uma psicologia social comprometida com a realidade social latino americana Para ele 1989 a construção teórica em psicologia social deve emergir dos problemas e confli tos vivenciados pelo povo latino americano de forma contextualizada com sua história No Brasil as primeiras publicações com foco na análise de questões psicosso ciais começaram a surgir na década de 1930 Bomfim 2003 Contudo a instituciona lização da psicologia social ocorre apenas em 1962 quando o Conselho Federal de Psicologia por meio do Parecer no 40362 criou o currículo mínimo para os cursos de psicologia estabelecendo assim a obriga toriedade do ensino da psicologia social A partir de então e até os anos de 1970 a psicologia social psicológica norte americana foi a dominante tal como ocor reu no restante da América Latina Uma das obras adotadas nos cursos de psicologia social durante esse período que expressa tal tendência é o livro Psicologia social de Aroldo Rodrigues publicado pela primeira vez em 1972 Seu autor também foi o res ponsável pelo desenvolvimento de uma pro fícua linha de pesquisa em psicologia social psicológica no país a qual foi divulgada em uma série de artigos publicados em perió dicos nacionais e estrangeiros ao longo dos anos de 1970 e 1980 A partir do final da década de 1970 os psicólogos sociais brasileiros também parti cipam ativamente do movimento de ruptura com a psicologia social tradicional ocorrido na América Latina Assim a partir da publica ção em 1984 do livro organizado por Silvia Lane e Vanderley Codo intitulado Psicologia social o homem em movimento sucederam se vários outros manuais brasileiros de psi cologia social Campos e Guareschi 2000 Jacques et al 1998 Lane e Sawaia 1994 Mancebo e Jacó Vilela 2004 na perspecti va da psicologia crítica Outra importante contribuição a tal movimento foi a fundação em 1980 da Associação Brasileira de Psicologia Social ABRAPSO estabelecida com o propósito de redefinir o campo da psicologia social e contribuir para a construção de um referen cial teórico orientado pela concepção de que o ser humano constitui se em um produto histórico social de que indivíduo e socieda de implicam se mutuamente Jacques et al 1998 No que tange à breve história da psi cologia social brasileira cabe registrar por fim o desenvolvimento dos cursos de pós graduação stricto sensu no país a partir da década de 1980 Esses cursos exerceram im portante papel na estruturação de diferen tes linhas de pesquisa na área de psicologia social orientadas por paradigmas e tendên cias diversificadas bem como no incremen to da produção científica brasileira em psi cologia social considerações Finais A revisão dos eventos que marcaram a his tória da psicologia social contemporânea re vela que no século XIX as reflexões sobre o indivíduo e a sociedade desenvolveram se no contexto da psicologia e da sociologia sem que houvesse a preocupação com o estabelecimento de limites sobre a nature za do conhecimento psicossocial No início do século XX ocorre uma nítida separação entre esses dois campos do conhecimento com a subdivisão da psicologia social que se situava na interface dos dois em psico logia social psicológica e psicologia social sociológica que passam a ter suas próprias questões centrais suas teorias e seus méto dos House 1977 No contexto da psicologia social psico lógica que se desenvolveu a partir de então o indivíduo sempre esteve no centro das principais perspectivas teóricas e dos temas de pesquisa Desse modo as teorias e os programas de pesquisa que lidavam com os fenômenos grupais ou coletivos trabalhan do com conceitos relacionais acabaram por sofrer uma solução de descontinuidade e ti veram pouco impacto na área Tal tendência individuocêntrica amparou se na concepção da psicologia como uma ciência natural em pírica e com o passar do tempo revelou se incapaz por si só de explicar o compor INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 28 tOrres neiva cOLs tamento social em todas as suas nuances Pepitone 1981 Ainda assim durante muito tempo os livros de psicologia social adotados nos cur sos de psicologia abordavam em sua maio ria apenas a psicologia social psicológica o que fez com que a psicologia social socioló gica tenha permanecido ao longo de várias décadas com menos peso do que a psicolo gia social psicológica no âmbito da psicolo gia Jackson 1988 Entretanto a crise por que passou a psicologia social psicológica nos anos de 1970 contribuiu para modificar substancialmente esse quadro Devido a isso a psicologia social psico lógica sem abandonar os temas tradicional mente estudados passou por uma correção de rumos e prosseguiu na expansão de seu corpo de conhecimentos Paralelamente fo ram surgindo novos olhares sobre antigos tópicos como por exemplo no caso do estudo da identidade e das relações inter grupais novos tópicos de estudo como por exemplo a análise das influências da cultura sobre o comportamento social pela psicologia transcultural e um maior esforço de aplicação dos conhecimentos sociopsico lógicos na resolução dos problemas sociais Jackson 1988 Acrescente se a isso o fato de que a psicologia social sociológica ressurgiu com nova força levando um número cada vez maior de psicólogos sociais a recorrer ao in teracionismo simbólico e a outros modelos psicossociológicos como estrutura de refe rência teórica de suas pesquisas Além disso novos e diversificados paradigmas teóricos e metodológicos que têm como traço em co mum a crítica aos pressupostos da psicologia social tradicional desenvolveram se e vêm sendo designados de psicologia social crítica ou pós modernas Álvaro e Garrido 2007 Por fim as últimas décadas assistiram à in ternacionalização da psicologia social e à consequente produção de um conhecimen to psicossocial cada vez mais expressivo na Europa e na América Latina A psicologia social contemporânea pode ser assim considerada uma disciplina plural que convive com várias tendências Nesse sentido DeLamater 2003 enfatiza que a psicologia social consiste hoje em um campo que se situa na interface da psicolo gia e da sociologia buscando compreender a natureza e as causas do comportamento social humano partindo do pressuposto de que o contexto intraindividual e o social in teragem mutuamente influenciando e sendo influenciado pelo comportamento individu al Orientados por tal perspectiva os manu ais de psicologia social mais recentes têm procurado contemplar as várias vertentes nas quais a disciplina atualmente se desdo bra na tentativa de contribuir para a cons trução de um conhecimento psicossocial de natureza científica e capaz de ser aplicado à realidade social dos novos tempos reFerências ADORNO TW FRENKELBRUNSWIK E LE VINSON DJ SANFORD RN The autoritarin personality New York Harper 1950 AGUILAR MA REID A orgs Tratado de psico logia social perspectivas socioculturales Barcelona Anthropos 2007 ÁLVARO JL GARRIDO A Psicologia social perspectivas psicológicas e sociológicas São Paulo McGrawHill 2007 ALLPORT GW The historical background of mo dern social psychology In LINDZEY G org Handbook of social psychology Reading MA AddisonWesley 1954 ALLPORT GW The historical background of social psychology In LINDZEY G ARONSON E orgs Handbook of social psychology 2ed Reading MA AddisonWesley 1968 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affiliation Stan ford Stanford University Press 1959 SHERIFF M The psychology of social norms New York Harper 1936 SMITH MB Recent developments in the field of social psychology Annals of the American Academy of Political and Social Science v 338 p 137143 1961 SPINK MJ SPINK P A psicologia social na atualidade In JACÓVILELA AM FERREIRA AAL PORTUGAL FT orgs História da psi cologia rumos e percursos Rio de Janeiro Nau Editora 2005 STEPHAN CW STEPHAN WG Two social psycho logies an integrative approach Homewood IL The Dorsey Press 1985 STRYKER Symbolic interactionism a social structural approach Menlo Park CA Benjamin Cummings 1980 TAJFEL H Human groups and social categories studies in social psychology Cambridge Cambridge University Press 1981 VALA J MONTEIRO B Psicologia social Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian 2004 WEINER B An attributional theory of motivation and emotion New York SpringerVerlag 1986 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS O objetivo deste livro é apresentar a diver sidade de estudos e abordagens que carac terizam a psicologia social brasileira mos trando seus enfoques divergentes algumas vezes complementares que foram construí dos a partir de posições teóricas e políticas que procuram gerar conhecimentos bastante aplicáveis à realidade nacional sem descon siderar os temas clássicos da psicologia so cial e possibilidades de estudos ainda pouco explorados no Brasil A psicologia social se beneficia de teo rizações oriundas dos grandes sistemas psicológicos behaviorismo gestalt psica nálise etc mas também apresenta teori zações próprias desenvolvidas a partir das pesquisas realizadas nos últimos 60 anos O campo ainda apresenta microteorias não desenvolvendo algo mais global e pretensio so na explicação do comportamento huma no no contexto social Contudo vários fe nômenos psicossociais foram identificados e analisados enfatizando se os fatores que os influenciam Nas últimas quatro décadas a psicologia social tem sido totalmente domi nada pela psicologia social cognitiva com preponderância de estudos que avaliem os fenômenos sociais sob a perspectiva indivi dual Em uma das chamadas crises da psi cologia social nos anos de 1960 e 1970 os estudos se envolveram mais com fenô menos que abarcassem a interação e a rela ção entre os indivíduos Essa crise consistiu em uma crítica e autocrítica dos psicólogos sociais acerca da validade dos métodos uti lizados em suas pesquisas preponderante mente experimentais da relevância social de seus resultados além da ética envolvi da em alguns de seus experimentos Essas críticas permanecem até hoje envolvendo inclusive movimentos dissidentes no Brasil como a psicologia social crítica Este livro tem por objetivo além de apresentar os te mas da psicologia social clássicos abordar outras vertentes de estudo que envolvem os fenômenos grupal e cultural e dessa forma mostrar como a psicologia social tem con tribuído para a compreensão do homem no contexto social Como forma de realizar tal empreendi mento este capítulo foi construído para apresentar a psicologia social no Brasil rea lizando uma retrospectiva histórica e apre sentando dados sobre a situação atual dessa área no Brasil Ao final do capítulo há uma discussão mais acurada sobre os objetos da psicologia social bem como dos objetivos do livro ressaltando a diversidade de obje tos que são motivadores de pesquisa e as teorizações que fundamentam as pesquisas realizadas a Psicologia social no brasil uM Pouco de História Segundo Bomfim 2004 o curso pioneiro em psicologia social no Brasil foi ministrado 2 PsicOLOGia sOciaL nO BrasiL Uma intrODUçãO elaine rabelo neiva cláudio vaz torres INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 32 tOrres neiva cOLs por Raul Briquet 1935 seguido pelo tra balho de Arthur Ramos Na década de 1930 surgiram os primeiros cursos superiores em psicologia social cabendo a Raul Carlos Briquet o pioneirismo docente Médico nas cido em São Paulo em 1887 foi responsável pela cadeira de psicologia social na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo Desse curso resultou uma publicação do primeiro livro acadêmico em psicologia so cial editado em 1935 O livro foi estrutura do em duas partes a primeira versa sobre as contribuições da sociologia da biologia e da psicologia a segunda denominada de especial traz temáticas específicas acerca da psicologia social tendo o autor realizado uma análise dos fatores psíquicos que moti vam o comportamento social o instinto o hábito as três formas de identidade social sugestão imitação e simpatia a inteligên cia e a vida social O segundo curso de psicologia social foi ministrado em 1935 por Arthur Ramos médico nascido em Alagoas em 1903 e resultou na edição do livro Introdução à Psychologia Social publicado em 1936 na Escola de Economia e Direito da extinta Universidade do Distrito Federal Para ele a psicologia social era uma disciplina entre a psicologia e a sociologia que necessitava de maiores delimitações de seu campo com crescente importância embora seus métodos e objetivos ainda não estivessem claros Na sua visão caberia à psicologia social estudar as bases psicológicas do comportamento so cial as inter relações psicológicas dos indi víduos na vida social e a influência total do grupo sobre a personalidade Vale notar que tal diferenciação ainda é discutida por auto res mais atuais como Sampson 1985 que defende a psicologia social como área que se localiza entre um contínuo bipolar de para digmas do conhecimento cujos polos foram por ele denominados como Individualismo Autocontido e Individualismo Abrangente A diferenciação entre eles é feita com base nos critérios de 1 compreensão do limite entre o self e o outro 2 crença sobre o grau de controle do am biente sobre o comportamento humano 3 visão excludente versus visão includente do self Talvez pelas influências da impreci são do objeto sofrida em outros países à psicologia social caberia o estudo das bases psicológicas do comportamento social das inter relações psicológicas dos indivíduos na vida social e da influência dos grupos sobre o indivíduo Para Ramos a psicologia social uma disciplina entre a psicologia e a sociologia estava em crescente importân cia embora não tivesse seus métodos e ob jetivos ainda claros A imprecisão no objeto refletia e era reflexo da imprecisão em sua própria nomeação sendo denominada como interpsicologia psicologia social psicologia coletiva psicologia das raças psicologia dos povos psicologia das massas ou psicologia das seitas O próprio Ramos nomeava o pro fissional da área ora como psicossociólogo ora como sociopsicólogo A articulação entre a psicologia social e antropologia social configurou se como uma contribuição do curso de Ramos fundamen tada nos escritos de Malinowski 1917 Franz Boas 1932 e Lévy Bruhl 1922 Sua visão se pautava na ideia de psi cologia so cial comparada com uma perspectiva cultu ralista originária da antropologia cultural e em função de seu ponto de vista cultural complementaria e questionaria o critério evolucionista linear explicando a evolução psicológica dentro de suas culturas Segundo Bomfim 2004 Briquet e Ramos forneceram um panorama geral da psicologia acentuando as contribuições do behaviorismo da psicanálise e do gestaltis mo tratando de forma semelhante temas como a sugestão a imitação a simpatia a opinião pública a censura e a propaganda os dois últimos pontos claramente influen ciados pelo zeitgeist da época A fundamen tação de Ramos para a psicologia social se pautava na motivação biológica no hábi to na aprendizagem social nas estruturas instintivo afetivas nas reações da persona lidade na interação mental na interferên INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 33 cia no conflito e nos desajustamentos psi cossociais sem relegar temas como a vida dos grupos a relação entre o individual e o social a psicologia da cultura a estrutura da mentalidade primitiva a lógica afetiva e sua relação com o pensamento mágico simbólico as esferas primitivas da realidade e a sobrevivência das estruturas primitivas Metodologicamente Ramos também propunha a utilização de várias formas de coleta de dados tais como medidas fisioló gicas e morfológicas os métodos biográfi cos os métodos de autorrelato e impressão pessoal os questionários e entrevistas e os testes Entre os vários pontos de congruên cia dos dois cursos ressalta se a visão pa norâmica da psicologia social presente tanto no curso de Ramos como no de Briquet Essa abordagem abrangente seria con trastada na década de 1940 em um tercei ro curso ministrado por Donald Pierson na Escola Livre de Sociologia e Política da Universidade de São Paulo O referido cur so foi registrado no livro Teoria e Pesquisa em Sociologia 1945 uma coletânea de artigos sobre sociologia e ecologia humana Bomfim 2004 Segundo Bomfim 2003a três fatores fazem parte do contexto de evolução da psi cologia social no Brasil os relacionados com os avanços de áreas afins como a sociologia a antropologia a educação a história social e a própria psicologia o progresso da psicolo gia social em países da Europa nos Estados Unidos e na América Latina e ainda as con dições históricas e econômicas mundiais es pecialmente as condições nacionais que se caracterizavam por demandas sociais de co munidades grupos e movimentos sociais ofe receram rumos para a teorização e as pesqui sas no campo do conhecimento psicossocial Na década de 1950 as demandas de senvolvimentistas tornam se mais premen tes no país sustentadas por crenças de que um parque industrial forte proporcionaria a qualidade de vida do Brasil de que a indus trialização e a urbanização levariam à qua lificação dos recursos humanos construin do um país moderno e desenvolvido com maior ênfase no setor educacional Assim foram criados órgãos como o Conselho Nacional de Pesquisas CNPq em 1951 a Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário CADES em 1954 e o Serviço de Educação de Adultos em 1957 Segundo Bomfim 2004 esse mo mento foi importante para a psicologia social pois possibilitou as primeiras teses de doutorado com temáticas comprometi das com essa perspectiva como a tese de Carolina Bori que versava sobre a Análise dos Experimentos de Interrupção de Tarefas e da Teoria da Motivação na obra de Kurt Lewin 1943 e a tese de Dante Moreira Leite sob o título de Caráter Nacional do Brasileiro 1954 que analisou a visão do que seja o brasileiro em diferentes obras representativas do chamado pensamento social brasileiro apontando nelas caracte rísticas conservadoras ou progressistas A psicologia social no início dos anos de 1960 foi atravessada por uma crise que questionava seu caráter teórico e ideológi co colocando em cheque tanto sua meto dologia como as teorizações utilizadas pois muitos consideravam que a psicologia não havia desenvolvido uma base sólida de co nhecimentos estruturada na realidade social e nas vivências cotidianas Sua teorização era centrada segundo Krüger 1986 no cognitivismo relevo aos fatores cognitivos do indivíduo no experimentalismo como método de pesquisa no individualismo ou seja na análise dos fenômenos sociais a par tir da perspectiva do indivíduo no etnocen trismo já que este modelo de indivíduo era o estabelecido na cultura norte americana no uso de microteorias ou seja na inves tigação de microespaços do social e final mente na perspectiva a histórica já que o homem considerado nesses estudos seria um ser humano presente em todos os tem pos e espaços Essa crise teórica de caráter internacional residiu principalmente nas dúvidas sobre o método experimental e so bre sua adequação à complexidade e às exi gências do objeto de estudo pois as regras do comportamento humano contrariamen te às das ciências naturais não podem ser estabelecidas definitivamente uma vez que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 34 tOrres neiva cOLs elas se alteram em função das circunstân cias culturais e históricas Ao final da década de 1970 esse mo vimento se intensifica na América Latina em oposição à psicologia social psicológica norte americana marcada pelo experimen talismo e pela perspectiva individual em busca de uma psicologia social mais voltada para os problemas políticos e sociais que a região vinha enfrentando Estimulados pela arbitrariedade dos regimes militares e pela grande desigualdade social do continente esses psicólogos sociais iriam defender uma ruptura radical com a psicologia social tra dicional Spink e Spink 2005 Um autor considerado representante dessa nova perspectiva na psicologia so cial latino americana é Martin Baró 1942 1989 psicólogo e padre jesuíta espanhol radicado em El Salvador que defende em suas obras o desenvolvimento de uma psico logia social comprometida com a realidade social latino americana Para Martin Baró 1989 a teorização em psicologia social deveria ser contextualizada na história da região marcada por problemas e conflitos vivenciados pelo povo latino americano Assim nasce uma tendência designada como uma psicologia social crítica Álvaro e Garrido 2007 ou psicologia social histórico crítica Mancebo e Jacó Vilela 2004 que aglutina diferentes posturas teóricas como o socioconstrucionismo Gergen 1997 a análise do discurso Potter e Wetherell 1987 e a psicologia marxista entre outras Na esteira desse movimento surgem na América Latina diversos manuais de psico logia social organizados segundo a perspec tiva crítica como por exemplo Aguilar e Reid 2007 Cordero Dobles e Pérez 1996 Montero 1991 bem como algumas asso ciações de psicologia social No Brasil até os anos de 1970 a psi cologia social psicológica norte americana também esteve dominante de modo seme lhante ao que ocorreu no resto da América Latina Uma das obras bastante adotada nos cursos de psicologia social durante esse período e que expressa tal tendência é o livro Psicologia social de autoria de Aroldo Rodrigues publicado pela primeira vez em 1972 Aroldo Rodrigues foi o responsável pelo desenvolvimento de inúmeras pesqui sas publicadas em periódicos nacionais e estrangeiros entre 1970 e 1980 em psico logia social psicológica no país No restante da América Latina contudo surge a obra Psicología Social de las Américas Kimble Hirt Díaz Loving Hosch Lucker e Zárate 2002 que faz uma união entre a psicolo gia social psicológica e a psicologia social crítica ou histórico crítica sob um diferente enfoque A partir da década de 1970 o campo da psicologia continuava crescendo com a implantação dos primeiros cursos de mes trado específicos em psicologia social na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo os quais geraram dissertações com temáticas voltadas à realidade brasileira A produção literária também aumentava com uma grande ênfase nas traduções dos livros estrangeiros No Brasil outros psicólogos aderiram ao movimento da psicologia social crítica segundo Bonfim 2003a discutindo e ana lisando as diferenças individuais grupais e das comunidades e questionando seu papel político Os argumentos principais afirma vam que as investigações deveriam se esten der do individual para o social e levar em conta o político e o econômico no sentido de se obter uma compreensão apropriada da evolução da psicologia contemporânea e da vida social Segundo Bomfim 2003b pelo fato de a psicologia social no Brasil crescer em meio às conturbações políticas e sociais in ternas houve também uma preocupação com o caráter aplicado da psicologia so cial com ações pautadas em intervenções em comu nidades e em organizações com e sem fins lucrativos Cresceram também nas empresas e nas instituições brasileiras as práticas de dinâmica de grupo e de inter venção psicossociológica que privilegiavam as relações interpessoais empresariais eou terapêuticas Houve ainda um crescente aumento no número de cursos de psicologia criados no país Nesses cursos as produções INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 35 como Relações Humanas psicologia das re lações interpessoais 1978 de Agostinho Minicucci e Psicosociologia das Relações Pú blicas 1975 de Cândido de Andrade podem ser citados como outras obras nacio nais da área O movimento de ruptura com a Psi cologia Social tradicional se tornou forte no Brasil a partir do final da década de 1970 com a publicação em 1984 do livro organizado por Silvia Lane e Wanderley Codo intitulado Psicologia Social o homem em movimento A partir dele outros manu ais brasileiros de psicologia social tiveram o mesmo enfoque Campos e Guareschi 2000 Jacques Strey Bernardes Guareschi Carlos e Fonseca 1998 Lane e Sawaia 1994 Mancebo e Jacó Vilela 2004 entre outros De acordo com Bomfim 2003 Lane fez seguidores e iniciou teorizações características de psicólogos sociais sócio históricos que produzem artigos criticando o Estado e o modo neo liberal de produção que tem um forte impacto na construção de subjetividades Segundo Lane e Codo 1984 a psicologia deve assumir um ca ráter de compromisso com a criação da consciência entre os atores sociais consi derando principalmente o contexto da luta de classes Silvia Tatiana Maurer Lane e Aniela Ginsberg foram professoras fundadoras do Programa de Estudos Pós Graduados em psicologia social da PUC SP o primeiro cur so de mestrado e doutorado da área a fun cionar no Brasil entre 1972 e 1983 em que a psicologia social tornou se uma disciplina teóricaprática referendada em pesquisas empíricas sobre os problemas sociais brasi leiros Segundo Bomfim 2003 os textos desenvolvidos por professores e autores es colhidos são adotados como bibliografia bá sica em muitos cursos de psicologia do Brasil e também em concursos públicos na área da saúde e educação Receberam o prêmio outorgado pela Sociedade Interamericana de Psicologia SIP em julho de 2001 Outro evento importante para a psi cologia social foi a fundação da Associação Brasileira de Psicologia Social ABRAPSO que se ocupa em especial da vinculação científica de pesquisas desenvolvidas com base na perspectiva da psicologia social crítica A ABRAPSO foi estabelecida em ju lho de 1980 com o propósito de redefinir o campo da psicologia social e de contribuir para a construção de um referencial teórico orientado pela concepção de que o ser hu mano se constitui em um produto histórico social de que indivíduo e sociedade se im plicam mutuamente Jacques et al 1998 o que contribuiu para a consolidação do mo vimento Além do aumento da produção de ar tigos e de dissertações de mestrado foram criados os primeiros cursos de doutorado específicos nessa área e defendidas as pri meiras teses nos cursos instituídos e a cria ção das associações científicas promoveu o debate científico de modo sistemático por meio de encontros com a categoria em dife rentes eventos científicos Nesse período a psicologia social no Brasil de acordo com Bomfim 2003b buscou autonomia científica por meio de um conjunto de atividades crescimento expressivo da produção publicada detalha mento das temáticas como educação saúde comunidade trabalho etc inclusão de ou tras perspectivas teóricas e de objeto como representações sociais relações de gêne ro movimentos sociais etc inseridos em estudos contextualizados em comunidades carentes além de publicação de estudos e de ampliação da divulgação de aplicações da psicologia social Segundo Bomfim 2004 Pinel 2005 Camino 2006 e Lima 2009 a psicolo gia social brasileira foi marcada por duas tendências em oposição representadas por Aroldo Rodrigues e José Augusto Dela Coleta empirista adotando uma aborda gem mais de experimental cognitiva pre ocupada com processos individuais que se relacionam com o contexto social e Silvia Lane marxista e sócio histórica As discor dâncias teóricas e metodológicas presentes neste campo evidenciaram não apenas posi ções antagônicas em relação a temas impor tantes no campo da psicologia social mas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 36 tOrres neiva cOLs também deram visibilidade a alguns autores que representavam essas rivalidades De maneira geral alguns argumentos que resumem as críticas e posições de am bos os lados podem ser levantados a A psicologia social baseia se em um mé todo descritivo e experimental ou seja um método que se propõe a descrever e relacionar aquilo que é observável fatual É uma psicologia que organiza dá nome aos processos observáveis dos encontros sociais b Tem seu desenvolvimento comprometido com os objetivos da sociedade norte americana do pós guerra que precisava de conhecimentos e de instrumentos que possibilitassem a intervenção na realida de de forma a obter resultados imedia tos com a intenção de recuperar a nação garantindo o aumento da produtividade econômica Os temas mais desenvolvidos estiveram centrados na compreensão do indivíduo desconsiderando fatores que sejam característicos da relação interpes soal e social c Os métodos experimentais trazem pers pectivas reduzidas do contexto social o que gera um conhecimento centrado no indivíduo nos processos sociocognitivos partindo de uma noção estreita do social Este é considerado apenas como a relação entre pessoas a interação pessoal e não como um conjunto de produções hu manas capazes de ao mesmo tempo em que vai construindo a realidade social construir também o indivíduo d Por outro lado a psicologia social crítica tornou esse debate relacionado a toma das de posições políticas o que produziu uma psicologia social comprometida com as lutas sociais engajada com as mu danças sociais que seriam resultantes do empoderamento das classes populares e ao mesmo tempo um tanto quanto mani queísta e dicotomizada sobretudo no que se refere aos aportes metodológicos e Além do maniqueísmo existem os ar gumentos que consideram as pesquisas qualitativas como frouxas metodologica mente e sem validade Bauer e Gaskell 2004 p 35 além da impossibilidade de estipular explicações causais sobre o comportamento humano f Outro argumento se fundamenta nas te orizações com pouco respaldo empírico de caráter metateórico que se sustentam em visões ideológicas de mundo e de ser humano Essas teorizações se tornam difíceis de serem transformadas em problemas científicos muitas vezes se tornando uma repetição de discursos Segundo Camino 2006 um olhar mais apurado a respeito desse aspecto de monstrará que no cerne deste problema encontra se a questão do tipo de explicação mais adequado ao comportamento humano Esse debate tem tomado a forma de dua lismos como por exemplo subjetividade objetividade natureza cultura explicação compreensão individual social quanti tativo qualitativo etc Nesse debate esco lher um polo dos dualismos significa neces sariamente negar a relevância ou o poder heurístico do outro Ainda para Camino 2006 a primeira dessas concepções tem como ponto de partida o lugar central ocu pado pelo indivíduo e seus processos intra psíquicos para a explicação dos fenômenos sociais Essa concepção denominada na atualidade de psicologia social psicológica coloca a psicologia social como um ramo da psicologia geral A segunda denominada de psicologia social sociológica tem suas ori gens no pensamento psicossocial presente na sociologia e preconiza como objeto de estudo da psicologia social o social Dito em outros temos na primeira o social seria o adjetivo e na segunda o social seria o pró prio substantivo Enfim envolvida em discussões sobre a natureza do objeto definido por uns como societal ou por outros como a introjeção do social no indivíduo o campo específico da psicologia social é o campo da articula ção de diferentes níveis de análise desde os processos cognitivos até os níveis culturais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 37 a Psicologia social no brasil HoJe Para que seja desenhado um retrato da psi cologia social no Brasil serão apresentados os dados da pesquisa de redes sociais de pesquisadores da pós graduação em psicolo gia no Brasil realizada por Neiva e Corradi 2008 Serão apresentados e discutidos os dados sobre a pesquisa no que tange aos pesquisadores da área de psicologia social A classificação dos pesquisadores por área foi feita por meio da análise do Currículo Lattes dos pesquisadores A partir da clas sificação foi traçada uma rede com os pes quisadores que foram classificados na área de psicologia social demonstrando as cone xões da área A pesquisa foi realizada em 2007 por meio de um questionário eletrônico que foi respondido por vários pesquisadores que se encontram vinculados a programas de pós graduação no Brasil na área de Psicologia A base de dados para identificar os respon dentes dos questionários foi elaborada a partir dos dados disponíveis nas bases do CNPq da CAPES e da Associação Nacional de Pesquisa e Pós graduação em Psicologia no Brasil ANPEPP Os dados dos respon dentes foram validados pelos Coordenadores dos Programas de pós graduação em psico logia vinculados a ANPEPP Novos nomes de pesquisadores poderiam ser inseridos no banco de dados a partir dos vínculos indica dos pelos pesquisadores que respondiam ao questionário A pesquisa teve por objetivo caracte rizar as redes de pesquisadores brasileiros e estrangeiros com conexões com brasilei ros envolvidos com a pós graduação em psicologia O questionário online usado para a pesquisa envolveu questões sobre as ca racterísticas das redes sociais sob o ponto de vista dos atores pesquisadores Os temas do questionário foram relações existentes entre os pesquisadores tipo de conteúdo transacionado nas relações entre pesquisa dores tais como participação em bancas publicações conjuntas realização de pesqui sas ou apresentações de trabalhos etc A pesquisa contou com o apoio da ANPEPP Associação Nacional de Pesquisa e Pós graduação em Psicologia para realizar o contato com os pesquisadores e divulga ção da pesquisa De forma resumida pode se conside rar que a amostra da pesquisa foi constituí da por 395 pesquisadores que responderam à pesquisa sendo que 350 responderam completamente 2787 indicações de pesquisadores entre membros de Grupos de Trabalho GTs de 2006 da ANPEPP outros pesquisadores no Brasil e pesquisadores estrangeiros 1344 pesquisadores foram indicados no bojo das 2787 indicações totais Para separar os pesquisadores perten centes a essa rede social foi elaborada uma classificação dos pesquisadores por meio do Currículo Lattes A classificação por meio do autorrelato indicado pelo Lattes demonstra uma ampla possibilidade de ob jetos que são classificados como objetos da psicologia social enfatizando desde temas bastante aplicados como comportamentos do consumidor violência pesquisa transcul tural e construção da subjetividade até estu dos com temas de aplicação menos visível como atribuição de causalidade e erros de julgamento etc A rede de psicologia social possui ca racterísticas muito peculiares Trata se de uma rede com 403 atores dos 1344 atores participantes da pesquisa constituindo a rede com maior número de atores dentre as subáreas da psicologia Os 403 atores envol veram 522 indicações de relacionamentos realizados entre os pesquisadores da rede social Considerando o número de relações existentes sobre as relações possíveis a den sidade da rede é de 04 considerando se seus 403 atores O índice de coesão da rede está em torno de 08 enquanto que a dis tância média entre os atores distância geo désica é de 23 atores Ou seja cada pes quisador da rede precisa em média de 23 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 38 tOrres neiva cOLs contatos intermediários para se relacionar com qualquer ator da rede social O diâme tro maior distância entre atores da rede de psicologia social é de 9 atores Mais da me tade da rede apresenta uma distância entre 2 e 5 atores conforme mostra a Tabela 21 A densidade diz respeito à proporção entre os vínculos possíveis e os vínculos existen tes na rede social A coesão aborda o grau de fragmentação da rede que permite des conexões ou quebras entre relacionamentos possíveis A distância geodésica aborda as distâncias entre os atores que podem exigir intermediários para que as conexões entre as pessoas ocorram ou seja a distância geo désica aborda quantas pessoas são necessá rias para que um ator acesse outros atores O diâmetro é formado pela maior distância geodésica da rede social De maneira geral pode se avaliar que é uma rede satisfatoriamente conecta da considerando se seu tamanho com um conjunto de relações consideráveis não se tratando das redes com maiores índices de fragmentação ou menores índices de coe são e densidade Há uma distância média entre atores relativamente baixa para o ta manho da rede e o diâmetro também não é alto para uma rede com tais proporções principalmente se levarmos em conside ração os resultados das outras redes ver Neiva e Corradi 2008 Existiram redes com distância geodésica em torno de 3 atores e diâmetro em torno de 9 atores com número de atores ligeiramente inferior ao da rede de psicologia social em torno de 220 e 280 atores Não se trata de uma rede social com subgrupos dispersos voltados para redes sociais com pesquisadores estrangeiros net working internacional e pouca imersão na rede nacional Na rede de psicologia social há uma distribuição de pesquisadores es trangeiros 76 estrangeiros para 307 atores nacionais o que caracteriza 19 dos 403 pesquisadores da rede social Os conteúdos mais trocados pelos atores seguem a ten dência predominante em todas as subáreas da psicologia pois os conteúdos trocados pelos autores em sua maioria são partici pação em bancas de dissertações e teses e participação em simpósios e mesas redondas em congressos Há uma tendência pequena para realização de pesquisas conjuntas e pu blicações em coautoria Verificou se a presença de 35 cliques Os cliques constituem subgrupos na rede que se caracterizam por relações recíprocas entre os pesquisadores Trata se de uma rede com um conjunto relativamente inferior de subgrupos ou panelinhas o que abre espaço para uma endogenia menor dos subgrupos quando consideradas as demais redes das subáreas da psicologia existem redes com 38 ou 37 cliques e 220 a 300 atores A Figura 21 apresenta uma ilustração das relações entre os pesquisadores classifi cados como psicólogos sociais além de es pecificar os tipos de papéis apresentados pe los pesquisadores e o formato geral da rede social É uma rede que apresenta quatro pesquisadores totalmente desconectados da rede social Alguns atores indicados como conectores centrais estabelecendo elos den tro dos subgrupos marcados em cinza cla ro outros atores que desempenham o pa pel de expansores de fronteiras conectando subgrupos diferentes marcados em branco e atores que atuam em função dupla conec tores e expansores simultaneamente mar cados em preto tabela 21 Frequências da distância geodésica Frequência Proporção 1 402000 0182 2 449000 0203 3 465000 0211 4 329000 0149 5 245000 0111 6 156000 0071 7 98000 0044 8 48000 0022 9 17000 0008 Fonte Ucinet INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 39 Uma análise preocupante ocorre quan do são consideradas as características da rede social de pesquisadores em psicologia social no que diz respeito aos papéis desem penhados pelos atores na rede social A rede apresentada pela Figura 21 ilus tra a divisão desses atores no que diz respeito aos papéis que eles representam na rede so cial Desses 403 atores apenas 22 546 marcados em preto atuam como expansores de fronteiras responsáveis por realizar a co nexão entre os subgrupos diferentes das re des sociais São atores que mostram a possi bilidade de intercâmbio entre os vários atores que representam tendências diferenciadas na rede social Outros três atores 074 mar cados em branco realizam o papel de conec tores centrais que se encarregam de manter conectados os membros dos subgrupos da rede O conector central repassa conteúdos transacionados entre os próprios membros do subgrupo Alguns atores atuam em ambos os papéis conectores e expansores No caso da psicologia social são 11 atores ou 2 73 cinza escuro do grupo de pesquisadores Considerando se os dados apresenta dos no parágrafo anterior a rede de psico logia social possui mais possibilidades de crescimento do que possibilidades de forta lecimento das relações internas São muitos Figura 21 representação da rede de psicologia social e os papéis de seus atores 1807 1203 957 833 559 874 802 681 111 840 585 583 1287 1726 1637 1519 1133 1665 1065 1055 1061 1775 1775 1719 1146 1660 1855 1059 1551 1134 1835 1522 1814 1689 1062 1242 1456 1620 1138 1445 800 824 750 926 608 929 735 809 560 596 782 480 475 901 778 578 978 932 979 279 578 667 946 951 813 968 519 464 976 667 503 918 953 938 697 575 507 512 696 707 856 854 855 884 967 963 950 986 766 799 906 95 526 915 511 297 773 922 781 872 877 793 962 909 965 772 899 883 548 837 738 934 973 512 644 637 974 566 958 904 862 752 729 859 596 537 792 490 720 975 902 558 569 907 878 757 628 853 000 666 642 923 938 89 889 603 633 485 504 740 500 166 777 470 940 927 84 896 623 1661 1262 1036 1269 1279 1798 1787 1475 1169 1588 1739 1707 1361 1023 1010 1112 1902 1037 1071 1040 1465 1469 1106 1708 1839 1779 1899 1888 1554 1137 1368 1476 1348 1857 1836 1469 1011 1692 1804 1328 1367 1107 1770 1770 1901 1115 1107 1417 1361 1362 1291 1117 1172 1265 1233 1691 1624 125016641993 1500 1802 1134 1769 1646 1606 1607 1426 1151 1853 1006 1867 1074 1515 1108 1679 1070 1766 1073 17131797 1670 10 1238 1545 1516 1060 1336 1349 1513 1805 2126 1118 715 1109 1590 1608 1029 1789 8 1341 1816 1479 1027 1767 1716 1596 1728 1009 1000 1114 1085 1347 1018 1224 1084 1799 1295 1325 1614 1124 1319 1605 1602 1592 1843 1047 1030 1765 1371 5555 1230 1327 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 40 tOrres neiva cOLs atores 33 ao todo realizando as atividades de conexão entre as partes mais diferen ciadas da rede enquanto que um número bem menor 14 ao todo realiza as ativida des de repasse de conteúdos de materiais e de informações entre os membros de seus subgrupos Os conectores centrais são extre mamente importantes porque estão preo cupados com a manutenção das conexões internas e não com a expansão delas Outro fator mais preocupante diz respeito ao fato de que a maioria dos conectores centrais rea liza duplo papel como expansores e co nectores ao mesmo tempo Considerando se também os papéis representados por esses atores apenas 1117 45 deles são bolsistas do CNPq o que se traduz no menor índice de bolsis tas quando comparadas todas as subáreas da psicologia Outro questionamento bas tante pertinente a área de psicologia social diz respeito ao menor número de bolsistas presentes na área Tendo em vista que os bolsistas são escolhidos por critérios de pro dutividade científica pode existir uma baixa produção nas pesquisas em psicologia social no país A Figura 22 ilustra a distribuição dos psicólogos sociais pelo território nacional De acordo com Neiva e Corradi 2008 um dos fatores que interferem no aproveitamen to e na produção da rede está relacionado à Figura 22 Distribuição dos pesquisadores por estadoregião Legenda Pesquisadores estrangeiros Pesquisadores de outras áreas do conhecimento Pesquisadores do Sul Pesquisadores de São Paulo Pesquisadores do Centro Oeste Pesquisadores do Nordeste Pesquisadores do Rio de Janeiro Pesquisadores de Minas Gerais Pesquisadores do Espírito Santo Pesquisadores do Norte 559 833 957 1203 1807 1347 1646 1030 1047 1716 1767 1027 1596 503 1009 985 1728 720 971 738 966 976 792 556 457 904 903 464 103 902 558 988 793 647 638 569 907 907 996 889 929 957 633 603 781 923 878 628 757 666 877 608 872 843 824 585 531 840 518 583 681 896 927 485 926 802 800 797 965 909 782 979 901 480 678 899 967 940 750 874 475 470 551 905 978 95 958 883 465 519 813 466 771 492 946 951 493 740 799 766 906 586 915 526 963 884 500 809 773 560880 882 771 642 922 550 511 504 888 778 112 974 548 537 151 512 837 934 1000 1008 1426 1607 1653 1606 1115 1107 1117 1172 1364 1362 1291 1367 1500 1074 1059 1053 1061 1735 1775 1262 1166 1006 1901 1417 1102 1899 1114 1770 1169 1475 1554 1361 1665 1768 1602 1739 1888 1839 1779 1265 1269 1279 1037 1069 1106 1592 1071 1787 1805 1233 1057 1591 1141 1348 1679 1667 1126 1242 1130 1287 1445 1551 1031 1824 1469 1456 1836 1523 1857 1835 1116 1689 1660 489 1070 1670 1515 1765 1531 1465 1040 1238 1476 1343 1769 1023 1319 1109 1590 1588 1608 1323 1230 1327 1139 1803 1108 1124 1123 1029 1664 1593 1112 1110 1118 1624 1295 707 495 1816 1479 1614 1516 1336 1349 1063 1513 1804 1133 1065 1692 1328 1620 1665 1855 1719 1146 1134 1726 1519 1637 1138 1545 1661 1798 1702 1014 1368 1119 1018 1867 1224 1084 854 925 667 729 752 952 578 918 859 911 861 855 507 1799 1121 1667 1902 1789 1583 1764 644 637 973 575 697 938 856 1341 696 1797 1713 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 41 proximidade geográfica e à distribuição de recursos Os 403 atores estão distribuídos entre 6 pesquisadores da região norte 44 do nor deste 46 de São Paulo 20 de Minas Gerais 46 do Rio de Janeiro 3 do Espírito Santo 34 da região centro oeste e 42 da região sul A região sudeste precisou ser dividida na pesquisa em função da alta concentração de pesquisadores Ainda entre esses 403 atores 96 ou 2382 são pesquisadores estrangei ros e 76 ou 1886 de outras áreas do co nhecimento sociologia antropologia etc Trata se de uma rede com índices medianos de presença de pesquisadores estrangeiros e de pesquisadores de outras áreas quando a rede é comparada com outras subáreas da psicologia A Figura 22 ilustra essa distribui ção por estadosregiões brasileiras É uma rede com pesquisadores dis tribuídos em todo o território nacional realidade diferente de outras áreas da psi cologia como Desenvolvimento Processos Psicológicos Básicos e Escolar e Educacional que possuem uma quantidade maior de pes quisadores entre os estados de São Paulo e o sul do país Neiva Corradi 2008 A loca lização geográfica pode ser mais importante que as atividades de networking para se ter acesso a recursos de pesquisa concentra ções de pesquisadores por Estado Contudo considerando se as inferências sobre produ ção feitas a partir do número de bolsistas na rede a rede de psicologia social pode estar mais preocupada em realizar networking do que em fomentar produção em grupo tão necessária à construção do conhecimento De acordo com Neiva e Corradi 2008 os fatores que mais influenciam o desenvol vimento de parcerias entre os pesquisadores brasileiros são a abordagem teórica a abor dagem metodológica e as afinidades pesso ais o que parece se reproduzir na área de psicologia social Existem algumas razões a serem con sideradas para que não ocorra colaboração entre os pesquisadores ou para que a colabo ração não se transforme em produtos cien tíficos Essas razões podem se concretizar em interesses aparentemente similares que não se mostram como tais na prática dife rentes abordagens teóricas e metodológicas que não permitem que a parceria se efetive na prática pois a colaboração requer tempo e energia recursos individuais escassos especialmente entre estranhos mérito reconhecimento e depende de condições geográficas que tornam a colaboraçao mais difícil quando potenciais colaboradores são geograficamente muito distribuídos como é o caso da rede de psicologia social O nível de cooperação também pode ser definido pela área à qual o pesquisador pertence Estudos de Storer Carpenter e Frame Gordon e Lodahl Balancieri et al 2005 mostram que as ciências básicas e na turais apresentam um índice maior de coope ração do que as ciências aplicadas e sociais Katz e Martin 1997 mostram que expe rimentalistas tendem a colaborar mais do que teóricos Alguns trabalhos demonstram que os trabalhos individuais predominam na área de humanidades como Poclación e Noronha 2002 e Newman 2004 Enfim essa dispersão de objetos e essa distribuição geográfica pode se concretizar em uma rede social da área que mantém um potencial considerável de contatos para uma rede com tal tamanho mas a produção nacional pode ficar comprometida teMas de Pesquisa e Pós graduação eM Psicologia social no brasil Dos 58 programas de pós graduação em funcionamento atualmente no Brasil 9 adotam o termo psicologia social em sua nomenclatura formal Os programas que se dedicam ao estudo de temas da psicologia social foram agrupados no Quadro 21 É importante ressaltar que todas as regiões brasileiras possuem algum programa que se dedica aos temas da psicologia social além de envolver importantes universidades bra sileiras no Rio de Janeiro em São Paulo no Distrito Federal e no nordeste Os 307 pesquisadores brasileiros clas sificados como pertencentes à subárea da INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 42 tOrres neiva cOLs psicologia social foram objeto de uma aná lise de conteúdo quanto a seus temas de pesquisa e uma classificação desses temas realizadas por três pesquisadores Os temas encontrados e classificados se encontram na Tabela 22 Os temas mais frequentes de acor do com as classificações dos currículos dos pesquisadores foram construção social da subjetividade atividade consciência identidade afetividade emoções lingua gem e pensamento sob a perspectiva sócio histórica história representações sociais e cultura e construção da cidadania e inclu são social Dentre os temas mais frequentes dois dizem respeito a fenômenos no nível individual sob a perspectiva social e os dois últimos dizem respeito a fenômenos que ocorrem mais no nível social Quando se olha para essa diversidade de temas e para a ambivalência entre temas que ora retratam aspectos individuais ora retratam aspectos mais coletivos retorna se à questão sobre qual é o objeto da psicologia social Enfim o que é o social da psicologia social A psicologia tenta explicar compor tamento Comportamento é algo observável Para onde olhar quando se quer compreender os mecanismos usados para explicar o com portamento manifesto A psicologia sempre teve uma relação ambivalente com o social Essa divisão entre psicologia e as outras ci ências sociais possui origens remotas e leva ram à dessocialização da psicologia social e a despsicologização das demais ciências so ciais Emile Durkeim 2002 afirma que o fenômeno sociológico não pode ser reduzi do ao fenômeno psicológico por outro lado Floyd Allport 1920 1924 definiu a psicolo gia social como uma ciência dos indivíduos e Gordon Allport 1954 seu irmão definiu a psicologia social como o estudo de como os pensamentos os sentimentos e os comporta mentos dos indivíduos são influenciados pela presença de outros imaginários ou atuais A ideia das causas dos comportamen tos serem originárias nas mentes dos indi víduos tornou se especialmente prevalente depois da revolução cognitiva e o social passou a ser visto como fonte de informação Baerveldt 2004 Alguns fatores compli cadores como cultura e fatores históricos foram completamente negligenciados ou transformados em processos cognitivos co letivos Gardner 1985 quadro 21 reLaçãO DOs PrOGramas De Pós GraDUaçãO em PsicOLOGia sOciaL nO BrasiL Programa universidade Psicologia social Pontifícia Universidade católica de são Paulo Psicologia social Universidade estadual do rio de Janeiro Psicologia clínica e social Universidade Federal do Pará Psicologia social Universidade Federal da Paraíba Psicologia social e institucional Universidade Federal do rio Grande do sul Psicologia social do trabalho e das organizações Universidade de Brasília Psicologia social Universidade de são Paulo Psicologia social FUF Psicossociologia de comunidades e ecologia social Universidade Federal do rio de Janeiro INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 43 Quando a psicologia social e a cogni ção social definem o social há uma indica ção usual do social como variável indepen dente e do comportamento como variável dependente Além da tradição experimental na psicologia social principalmente nos es tudos norte americanos há também os estu dos correlacionais especialmente na forma da psicologia transcultural abordada mais adiante que transforma a cultura como uma fonte de variáveis independentes para compreender comportamentos atitudes sentimentos ou características individuais Gardner 1985 Contudo quais são as vari áveis dependentes e independentes quando o pesquisador está interessado no que ocor re entre as pessoas em um determinado contexto Como estudar e compreender o que ocorre em uma conversa ou diálogo Os métodos experimentais ou correlacionais conseguem cobrir essa dimensão específica do social O próprio Gordon Allport 1937 en tre suas diversas aproximações inovativas ao estudo da psicologia humana utilizava se de escritas pessoais e das criações artís ticas dos indivíduos Nem ele autor da defi nição mais psicológica de psicologia social era restritivo quanto aos métodos e aborda gens metodológicas do fenômeno psicosso cial Nicholson 2000 Conforme ressaltado anteriormente Allport 1954 define que a psicologia social tenta entender e explicar como os pensamentos os sentimentos e os comportamentos dos indivíduos são influen ciados pela presença atual imaginada ou implícita dos outros Todavia na realidade a psicologia social não se interessa apenas tabela 22 relação de temas indicados pelos pesquisadores da área de psicologia social temas nº de pesquisadores construção da cidadania e inclusão social 31 estudos sobre gênero raça e idade 22 cotidiano e participação social 15 cultura e diversidade 12 construção social da subjetividade 49 comportamento relacionamento e interação social 11 atividade consciência identidade afetividade emoções linguagem e pensamento sob as perspectivas antropológica e sócio histórica 37 aspectos teóricos e metodológicos ligados à psicologia social 11 Psicologia política e movimentos sociais 13 estudos sobre a violência 23 trabalho e ação social 14 Processos sociocognitivos e psicossociais atribuição de causalidade erros de julgamento etc 9 História representações sociais e cultura 33 valores humanos e cultura 12 Psicologia ambiental 7 estudos sobre justiça social 8 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 44 tOrres neiva cOLs em como o indivíduo é influenciado por ou tros ou por seu meio Fica clara a preocupa ção dos psicólogos sociais atuais sobre como o meio e os outros são influenciados pelo indivíduo A psicologia social é de fato uma via de mão dupla De acordo com Markus e Zajonc 1985 no Handbook of Social Psychology o definidor do social é a reciprocidade e a intersubjetividade ou seja o social não é somente um fator de certo estímulo mas é alguma coisa que acontece entre pessoas na interação Isso coloca diversos desafios para a tradição empírica individualista da psico logia social o que coloca questionamentos sobre o fato de a psicologia experimental colocar indivíduos separados em algumas condições experimentais e isso trazer gran des explicações sobre o que acontece entre as pessoas Por outro lado os estudos cor relacionais precisam avançar nas formas de estudo sobre o que as pessoas compartilham e quais pessoas compartilham certos arran jos convenções e acordos Gold e Douvan 1997 propõem uma integração nos estudos da psicologia social destacando uma integração de teorias e da dos empíricos e uma integração de objetos Não se trata de considerar que a psicologia social tenha um único objeto mas seus obje tos individuais a introjeção do outro e so ciais compartilhamento o que forma e de fine o grupal e o coletivo possuem origem natureza e repercussão no indivíduo embo ra não se resuma ao psicológico A integra ção possui foco na interação entre o social e o psicológico Isso está relacionado às pes soas e seus ambientes sociais Esse tipo de psicologia social é vital às ciências sociais porque a natureza de ambos indivíduos e ambiente social depende fortemente desse encontro Segundo Gold e Douvan 1997 os psicólogos sociais estiveram perdidos e a crise continua em função das frequentes posições antagônicas presentes entre pes quisadores Segundo esses mesmos autores 1997 a psicologia social não pode aspirar à descoberta de leis universais devido à na tureza dessa ciência A psicologia social é o estudo das influências recíprocas das pesso as e de seus ambientes sociais com ênfase nas relações entre os eventos e entre as pessoas e seus ambientes sociais Em função desse foco dualístico pessoas e ambiente social torna se difícil encontrar leis uni versais pois as disciplinas limítrofes dificil mente alcançam leis universais A missão da psicologia social de explicar a influência recíproca do psicológico e do contexto social das realidades coloca as leis universais em cheque eM busca de conclusões A maioria dos modelos estudados pela psico logia social foi desenvolvida principalmente nos Estados Unidos e em países da Europa Ocidental destacadamente o Reino Unido Tais modelos enfocam prioritariamente o indivíduo em diversos contextos tais como organização escola família ou convívio so cial inserido em um contexto nacional ou cultural e tentam explicar o comportamento por meio dos valores e das metas individu ais Triandis 1994 Como resultado dessa ênfase no indivíduo boa parte da pesquisa em psicologia social realizada nas últimas três décadas tem ignorado as diferenças culturais e nacionais nos valores e crenças das pessoas e como essas diferenças afetam seu comportamento cotidiano Contudo o rápido desenvolvimento no ambiente or ganizacional e a globalização do mercado de trabalho não podem mais ser ignorados Earley e Erez 1997 Tais processos têm um impacto direto na vida de indivíduos co muns em sua motivação comportamento desempenho e demais resultados Logo é necessário confrontar as diferenças cultu rais de necessidades pessoais normas para comportamento e valores para citar alguns O que parece estar faltando é uma literatura que integre os contextos culturais e nacio nais nos quais diferentes pessoas vivem com modelos teóricos desenvolvidos em países muito específicos nos quais a ênfase no in divíduo é clara As pesquisas desenvolvidas nesses países que representam menos de INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 45 um quinto da população mundial quando levamos em consideração sua orientação in dividualista comparados aos outros quatro quintos da população que têm uma orienta ção coletivista podem não estar refletindo com adequação as preferências culturais e consequentemente podem estar propondo modelos de explicação da realidade que têm sua eficácia reduzida A proposta deste livro é trazer uma perspectiva integradora para o objeto da psi cologia social considerando se a produção de pesquisa nacional e outras possibilidades de estudo não presentes na realidade brasi leira sem ignorar as contribuições clássicas da psicologia social Portanto aqui serão abordados vários temas que foram tangen ciados pela literatura científica brasileira Afinal o que você irá encontrar neste livro o que você irá encontrar neste livro Como poderemos notar no decorrer do livro de uma forma geral os psicólogos sociais investigam alguns fenômenos da psicologia social que merecem destaque especialmen te por serem considerados clássicos na área Dentre eles vemos a proliferação de pesquisas em estudos sobre a percepção da pessoa a influência social o preconceito e a discriminação e a atribuição de causa Diversas dessas tradições de pesquisas serão exaustivamente abordadas neste livro com especial enfoque em trabalhos realizados no país De acordo com o levantamento de temas dos pesquisadores esses processos cognitivos têm recebido uma atenção res trita dos pesquisadores pois somente nove pesquisadores se dedicam a tal empreendi mento na literatura brasileira em contrapo sição a literatura internacional oferece uma vasta gama de descobertas nessa área É mister relembrar diretamente algumas des sas pesquisas clássicas sobretudo pelo fato de que todas embora tratem de fenômenos distintos trazem consigo uma similaridade Essa similaridade é a base de um argumen to que será desenvolvido mais adiante nos próximos capítulos sobre relacionamentos entre grupos e contatos intergrupais Dentre esses temas já tradicionais de pesquisa os psicólogos sociais interessados na percepção da pessoa buscam determinar a maneira pela qual as pessoas fazem julga mentos sobre os outros e como elas contro lam o julgamento que os outros fazem delas O primeiro caso é conhecido como formação da impressão e o segundo como gerencia mento de impressão A formação de impres são e outros tipos de julgamento social são afetados por processos e estruturas cogni tivas Dentre elas algumas são ressaltadas a seguir aliadas a uma breve apresentação dos pontos mais pesquisados 1 Os esquemas ou schemata e protótipos As pessoas desenvolvem esquemas ou redes de informação que são organizadas e mentalmente interconectadas basea das nas experiências pessoais e sociais anteriores e então usam tais esquemas para julgar situações atuais As pesquisas sobre os esquemas demonstraram que as pessoas tipicamente prestam mais atenção às evidências que confirmam os esquemas que já existem elas interpretam a informação e os eventos de uma forma consistente com seus esquemas e também tendem a se lembrarem mais daquelas in formações que são consistentes com seus esquemas p ex Cohen 1981 Rothbart Evans e Fulero 1979 Já os protótipos re presentam outro tipo de estrutura mental e se referem a modelos que criamos sobre as qualidades típicas de certos grupos ou categorias p ex líderes criminosos idosos 2 A heurística Para facilitar o processa mento e uso das grandes quantidades de informação a que as pessoas estão expostas no cotidiano de suas vidas elas desenvolvem regras de conduta ou heurística Tversky e Kahneman 1974 fizeram a distinção entre dois tipos de heurística ambos os quais podem enviesar a formação de impressão e outros julga INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 46 tOrres neiva cOLs mentos sociais Quando estamos usando a heurística representativa o julgamento que fazemos sobre alguém é baseado na similaridade que essa pessoa tem com um membro típico de um grupo p ex ela se veste e se parece como uma advogada logo ela deve ser uma advogada A heu rística de disponibilidade é a tendência de se utilizar aquela informação que é mais facilmente acessada na memória Por exemplo Srull e Wyer 1980 encontra ram que os participantes de sua pesquisa tinham uma maior tendência a interpretar situações sociais ambíguas como uma situação hostil quando eram expostos a palavras que sugeriam hostilidade p ex briga discussão antes de analisarem a situação Embora a heurística nos auxilie em nossa convivência diária ela também pode levar a erros de julgamento uma vez que faz com que as pessoas ignorem informações importantes Por exemplo a falácia do comum base rate fallacy é a tendência a ignorar informações que se relacionam a características ou eventos que ocorrem com frequência na população p ex crianças de rua 3 Exemplares e abstrações O estudo da formação de impressão sob uma perspec tiva cognitiva revelou que exemplares e abstrações são contribuintes importantes às impressões que formamos dos outros Sherman e Klein 1994 Exemplares são comportamentos concretos que são apre sentados por uma pessoa Eles são particu larmente importantes durante os estágios iniciais da formação de impressão À medida que cresce nossa experiência com uma pessoa nossas impressões são mais determinadas por abstrações mentais as quais são derivadas de observações repeti das do comportamento daquela pessoa 4 Traços centrais As principais pesquisas sobre o tema foram desenvolvidas por Asch 1946 que notou que certos traços centrais influenciam a impressão dos outros Uma pessoa descrita como inte ligente habilidosa determinada prática e cuidadosa tende a ser percebida mais positivamente do que uma descrita como inteligente habilidosa fria determinada prática e cuidadosa De acordo com Asch isso ocorre porque o termo fria é um traço central que carrega mais peso do que outros traços uma vez que ele fornece uma informação única que é associada a um grande número de características 5 Efeito de primazia Quando alguém se confronta com informações discrepan tes sobre uma pessoa sua impressão é normalmente mais influenciada pela in formação que é apresentada em primeiro lugar e tal fenômeno foi chamado efeito de primazia Contudo sob certas circuns tâncias o efeito recente pode acontecer Se uma atividade irrelevante acontece entre a apresentação de duas informações conflituosas sobre uma pessoa ou se o indivíduo é avisado para não fazer um julgamento imediato a informação mais recente sobre a pessoa terá maior impacto sobre a formação da impressão 6 Atração física A aparência física tem um impacto poderoso na formação da impressão Por exemplo há maior ten dência a se perdoar crianças atrativas por uma transgressão do que crianças pouco atrativas Dion 1972 Crianças atrativas também são julgadas mais favoravelmente em termos de QI e de sucesso acadêmico futuro Clifford e Walster 1973 7 Estigma Indivíduos estigmatizados são aqueles que possuem características que não são valorizadas por um grupo social Hoje em dia os estigmas incluem algumas deficiências físicas e mentais além de fatores como pobreza ou obesidade As respostas às pessoas estigmatizadas são afetadas por fatores como a visibilidade do estigma e crenças sobre a habilidade da pessoa em controlar o estigma Por exem plo as reações a pessoas infectadas com HIV tendem a ser mais negativas quando a aquisição do vírus se deu em decorrên cia de comportamento sexual promíscuo do que quando o vírus foi adquirido por transfusão sanguínea 8 Contexto social A formação de impressão também é influenciada pelo contexto social Essa influência foi demonstrada INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 47 por Rosenhan 1973 que utilizou em sua pesquisa oito pseudopacientes que se internavam em instituições para tratamento mental com a queixa de que estavam ouvindo vozes Uma vez admi tidos nos hospitais os pseudopacientes paravam imediatamente com os supostos sintomas e agiam normalmente quando interagindo como outros pacientes ou com os empregados do hospital Embora mais de um terço dos verdadeiros pacientes afirmavam que os pseudopacientes eram sãos todos com a exceção de apenas um dos pseudopacientes foram diagnostica dos com esquizofrenia Os resultados do estudo de Rosenham indicaram que os comportamentos tendem a ser percebi dos de forma consistente com o contexto social no qual eles aparecem Já os psicólogos sociais interessados em gerenciamento de impressão ou auto apresentação identificaram várias estra tégias ou táticas comportamentais que são usadas pelas pessoas para criarem uma imagem ou identidade aceita socialmente Um dos métodos mais comuns de gerencia mento de impressão ficou conhecido como engraçamento Snyder 1987 Esse método refere se a táticas que pessoas com pouco po der social usam para aumentar ou melhorar sua imagem aos olhos de outra pessoa que tem mais poder social do que elas e assim reduzir a diferença de poder entre as duas Engraçamento inclui as técnicas de melho ramento ou aumento tanto de si mesmo como dos outros Exemplos dessa técnica são o elogio e a concordância Outros métodos de gerenciamento de impressão são a inti midação a autopromoção a exemplificação convencer os outros de que o indivíduo é uma boa pessoa e suplicação convencer os outros de que o indivíduo merece ou tem necessidade de algo Segundo Snyder 1987 as pessoas também se diferenciam em termos de auto monitoramento ou quanto a sua habilidade ou necessidade de gerenciar a impressão que outras pessoas formam delas Indivíduos com alto automonitoramento analisam a si tuação social através de seu self público e então se esforçam para adequá lo à situa ção Essas pessoas são excepcionalmente boas em determinar quais comportamentos atitudes etc são desejáveis socialmente ou esperadas em situações diferentes Elas tam bém são extremamente sensíveis às técnicas de gerenciamento de impressão utilizadas pelos outros e consequentemente usam essas mesmas técnicas em seu favor Por outro lado indivíduos com baixo automo nitoramento tentam alterar a situação para adequá la a seu self público Essas pessoas são guiadas principalmente por suas pró prias crenças e valores Outro tema bastante pesquisado mas com pouca investigação no Brasil de acordo com o levantamento de temas 11 pesqui sadores se dedicam a investigar o compor tamento o relacionamento e a interação social se refere à influência social Tal número se mostra ainda mais reduzido se focarmos somente na influência social Esta ocorre quando as atitudes ou comportamen tos de uma pessoa são o resultado direto ou indireto de pressão social As respostas mais comuns à pressão social são a conformida de a concordância e a obediência A confor midade por exemplo ocorre quando uma pessoa muda suas ações para corresponder às ações de outras pessoas como resposta à pressão social indireta real ou imaginada Ela pode envolver a aceitação pública ou privada de comportamentos de atitudes ou de crenças Em outras palavras os compor tamentos aparentes de uma pessoa podem refletir ou não suas atitudes e crenças inter nas A conformidade começou a ser pesqui sada por Sherif 1935 que usou o efeito autocinético ou fenômeno da percepção no qual um ponto estacionário de luz parece mover se em uma sala escura Sherif pediu aos participantes esua pesquisa que dessem estimativas de quanto o ponto de luz tinha se movido Quando eles faziam estimativas sozinhos encontrou se uma grande variân cia na posição do ponto de luz Contudo quando esses participantes eram colocados em um grupo observou se um efeito de convergência ou seja depois de escutar INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 48 tOrres neiva cOLs a estimativa dos outros membros do grupo na verdade assistentes de pesquisa os participantes se conformavam com relação à norma imposta pelo grupo Asch 1958 fez uma pesquisa similar mas substituiu o efeito autocinético por uma tarefa não am bígua Foi pedido aos participantes de seu experimento que julgassem qual de um con junto de três linhas tinha o mesmo tamanho de uma quarta Embora não houvesse uma resposta correta Asch notou que quando os participantes eram colocados junto com um grupo de confederados a maioria de suas respostas se conformava com as respostas dos assistentes de pesquisa mesmo quan do essas respostas estava claramente incor retas Já a concordância ocorre como uma resposta a um pedido direto de um grupo ou pessoa em particular Pesquisas sobre os profissionais da concordância mostram que essas pessoas usam basicamente seis estratégias Cialdini 1993 reciprocida de consistência validação social amizade autoridade e criação de limites Segundo Cialdini alguns estudos mostraram que os vendedores tendem a obter mais concordân cia ao enfatizarem as consequências negati vas de não se comprar o produto Outro tema investigado no campo da influência social diz respeito à obediência Ela acontece quando uma pessoa se subme te à demanda de uma autoridade Os expe rimentos conduzidos por Milgram 1963 tornaram se pesquisas clássicas na área da obediência Embora os estudos de Milgram tenham sido criticados por problemas éti cos e metodológicos eles continuam sendo vistos como uma demonstração poderosa da influencia social Neles os participantes foram informados que seriam os professo res enquanto que outra pessoa na verda de um assistente de pesquisa seria o alu no A tarefa do professor seria a de fazer com que o aluno se lembrasse de uma lista de palavras Contudo toda vez que o aluno cometesse um erro o pesquisador ordenava ao professor que desse uma descarga elétri ca no aluno sendo que cada choque subse quente tinha uma descarga elétrica maior O objetivo da pesquisa de Milgram era saber se os participantes concordariam em obede cer à autoridade o pesquisador mesmo se essa obediência resultasse em dor a outra pessoa No início dos experimentos o profes sor e o pesquisador estavam juntos em uma sala enquanto que o aluno era colocado em outra sala da qual não podia ser visto mas de onde podia ser ouvido Para avaliar o efeito de fatores situacionais Milgram fez alterações posteriores nas condições expe rimentais Ele aumentou por exemplo a proximidade entre o aluno e o professor e observou que quanto mais próximo o alu no estava do professor menor a tendência do professor em obedecer ao pesquisador Contudo na maioria das condições os pro fessores concordavam em dar choques elé tricos nos alunos mesmo quando eles grita vam em desespero O mais interessante foi que em resposta a um questionário que foi mandado meses depois aos participantes 84 deles disseram que estavam extrema mente felizes em terem participado da pes quisa Como serão apresentados neste livro diversos outros temas investigados na psi cologia social se tornaram clássicos na área Dentre eles outra tradição de pesquisa des tacada neste capítulo diz respeito ao precon ceito e à discriminação O tema do preconcei to e da discriminação possui uma dedicação maior dos pesquisadores brasileiros na medida em que 22 pesquisadores indicam que estudam gênero raça e idade objetos diretamente relacionados ao preconceito e à discriminação O preconceito refere se a atitudes into lerantes injustas ou negativas com relação a um indivíduo simplesmente por que esse in divíduo pertence a um grupo enquanto que a discriminação refere se a comportamentos negativos injustos ou agressivos com rela ção a membros de um grupo em particular Vários conceitos se relacionam à explicação dos preconceitos e da discriminação Dentre esses conceitos destaca se a es tereotipia Estereótipos são esquemas diri gidos a grupos inteiros e contêm impressões INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 49 simplificadas rígidas e generalizadas com relação aos membros de tais grupos Os es tereótipos têm um forte efeito na maneira pela qual a informação social é processada a informação relacionada a um estereótipo que foi ativado é processada mais rapida mente as pessoas prestam mais atenção às informações que são consistentes com seus estereótipos informações que são inconsis tentes com um estereótipo são normalmente negadas ou refutadas Embora o estereótipo possa ser considerado como um processo natural que previne contra uma sobrecarga cognitiva por meio da redução de grandes quantidades de informação para um núme ro maneável de categorias ele torna se pro blemático ou seja leva ao preconceito e à discriminação quando os traços atribuídos a um grupo são predominantemente negati vos quando a pessoa que está estereotipan do é dogmática e não acomoda suas crenças a novas informações ou quando o estereóti po gera uma profecia autorrealizadora Os estereótipos podem ser mantidos por vários processos incluindo a correlação ilusória que é uma tendência a per ceber uma forte relação entre duas variáveis normalmente distintas A correlação ilusó ria contribui para a estereotipia quando se supõe que uma característica negativa se aplica a todos ou a grande parte dos mem bros de um grupo porque essa característi ca foi exibida por um ou poucos membros do grupo Já o conceito de personalidade auto ritária foi introduzido após a Segunda Guerra por um grupo de cientistas inte ressados em antissemitismo Adorno et al 1950 Segundo Adorno o preconceito e a discriminação estão relacionados a certas características de personalidade especial mente com o autoritarismo Esses cientistas criaram uma Escala F ou escala de fascismo F Scale que avalia nove componentes do autoritarismo p ex agressão autoritaris mo superstição estereótipos etc sendo que cada um desses componentes corres ponde a uma das funções do ego superego ou id Segundo Adorno altos níveis de auto ritarismo refletem um ego fraco um supere go rígido e externalizado e um id primitivo e forte Observou se que um alto escore na Escala F está associado ao preconceito as sim como a intolerância por ambiguidade o conservadorismo político e social e um clima de família que enfatiza uma ideologia tradicional O preconceito e a discriminação tam bém estão associados à crença de que um grupo representa uma ameaça direta ao bem estar de um indivíduo Essa explicação é reforçada pelo fato de que historicamente os incidentes de violência racial aumentam durante períodos de depressão econômica Sears 1988 desenvolveu a ideia de racismo simbólico ou moderno Essa noção propõe que o preconceito e a discriminação estão menos fortes e presentes do que costuma vam estar que eles realmente representam uma forma de resistência às mudanças ra ciais e que estão baseados em um sentimen to moral de que negros e outras minorias violam valores tradicionais como a ética do trabalho Os racistas simbólicos negam seus preconceitos e atribuem os problemas so ciais e econômicos dos grupos minoritários a fatores internos p ex pouco esforço ou disciplina Recentemente a noção de racis mo moderno também tem sido aplicada ao gênero Segundo Swim 1995 o sexismo moderno é caracterizado pela negação da discriminação contra a mulher e pelo res sentimento com relação às demandas por igualdade social Finalmente em seu livro A Natureza do Preconceito Allport 1954 argumenta que o preconceito intergrupal cresce de uma combinação de fatores históricos culturais econômicos cognitivos e de personalidade e propõe que uma vez que o preconceito tem determinantes múltiplos o enfoque em apenas um deles não vai levar a uma com preensão ou resolução total do problema Allport nota contudo que as várias causas do preconceito são internalizadas pelo indi víduo e consequentemente é o indivíduo que se engaja em práticas discriminatórias podendo este aprender a agir de maneiras mais igualitárias e não discriminatórias Em termos de intervenções Allport sugere que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 50 tOrres neiva cOLs nem sempre o senso comum deve preceder o senso de direito e que leis que proíbam a discriminação podem ser eficazes mesmo quando não refletem o consenso público Além do preconceito e da discrimina ção outro tema bastante investigado e que será bem detalhado no presente livro são os estudos sobre atribuição de causa O termo atribuição se refere ao processo de deter minar ou inferir a razão pela qual um com portamento ocorre Uma importante parte do trabalho sobre atribuição foi feita por Heider 1958 cuja teoria sugere que nós naturalmente desenvolvemos teorias sobre as causas do comportamento A pesquisa desenvolvida por Heider e outros acadê micos mostrou que as atribuições de causa podem ser descritas em termos de algumas dimensões Essas dimensões formam de fato uma taxonomia que pode ser utilizada para entender ou atribuir causas do comporta mento Assim o comportamento pode ser atribuído a características disposicionais internas do indivíduo assim como o hu mor as habilidades ou o desejo ou também pode ser atribuído a fatores situacionais ex ternos tais como características da tarefa da situação social ou do ambiente físico As reações humanas podem ser ainda o resul tado de fatores percebidos como estáveis ou constantes ou de fatores instáveis ou tem porários Além disso os indivíduos perce bem que alguns comportamentos têm efei tos específicos que envolvem um número limitado de eventos condições ou outros fe nômenos enquanto que outros têm conse quências globais ou seja afetam uma gran de variedade de fenômenos Finalmente as pessoas entendem que algumas causas do comportamento estão sob o controle do in divíduo p ex esforço atenção enquanto que outras são incontroláveis p ex apti dão sorte Esses critérios segundo Heider são responsáveis por atribuições de culpa aos atores do comportamento ou então à alocação de recompensas aos mesmos Um achado consistente da pesquisa so bre atribuição de causa é que observadores tendem a superestimar o papel dos fatores disposicionais e ignorar o papel dos fatores situacionais quando eles estão inferindo a causa do comportamento de um indivíduo Por exemplo um observador tende a atri buir o fracasso de um indivíduo na execução de uma tarefa mais como um resultado da falta de inteligência ou habilidade do indiví duo do que como um resultado de uma ca racterística da tarefa em si isto é da dificul dade Essa falha na atribuição é conhecida como erro fundamental de atribuição e tem sido usada na explicação de vários fenôme nos tais como as atribuições defensivas da crença em um mundo justo tendência que as pessoas têm em considerar a vítima como a causa de seu próprio infortúnio Lerner 1966 Notem porém que as pesquisas na perspectiva da psicologia transcultural so bre atribuição de causa sugerem que a ten dência a superestimar o papel dos fatores disposicionais é uma característica limitada a culturas individualistas p ex países do Norte Europeu Estados Unidos Pesquisas desenvolvidas com culturas mais coletivis tas p ex China Índia encontraram que os membros dessas culturas tendem a fa zer atribuições mais situacionais Segundo Morris e Peng 1994 essas diferenças se relacionam às teorias implícitas sobre o comportamento social enquanto as culturas individualistas adotam uma teoria sobre o comportamento social centrada na pessoa as culturas coletivistas tendem a aderir a uma teoria centrada na situação Assim é importante agora elaborar um pouco mais sobre o conceito de culturas individualistas e coletivistas além do papel da psicologia transcultural na explicação desses termos A presença de temas como cultura e diversidade 12 pesquisadores e valores humanos e cultura 12 pesquisado res mostram que os pesquisadores estão descobrindo essa perspectiva de pesquisa no Brasil Tal perspectiva reflete uma tendên cia internacional de realização de pesquisas transculturais Conforme dito anteriormente todas e outras pesquisas clássicas da psicologia so cial trazem em si uma similaridade a maio ria delas foi originalmente desenvolvida em INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 51 países individualistas É interessante notar contudo que o simples fato de essas pesqui sas terem sido originadas em países indivi dualistas faz com que elas tragam consigo um viés também individualista que se refle te nos sujeitos recrutados para as pesquisas na escolha de método utilizado e até mes mo no próprio fenômeno estudado O que talvez seja mais interessante de se observar é que tudo isso ocorre pelo simples fato de que esses pesquisadores também carregam consigo características individualistas Ora é claro que todas as manifestações culturais desse tipo como por exemplo o individu alismo são parte de um fenômeno social maior a cultura Se a cultura pode ser en tendida como lentes que distorcem a reali dade e nossa compreensão do mundo então é importante perguntarmos até que ponto essas pesquisas e seus resultados têm apli cação direta a outros grupos assim como as culturas coletivistas das quais o Brasil é um exemplo citado na literatura p ex Triandis 1995 Mas afinal o que são essas mani festações culturais citadas anteriormente Para que possamos discuti las é necessário antes entender o que está por trás do con ceito de cultura O conceito de cultura vem sendo profundamente discutido por mui tos autores p ex Hofstede 1993 Smith e Bond 1999 Triandis 1994 que acabam por defini lo de forma diferente e em al guns casos complementar O dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda apresenta uma definição de cul tura bastante geral e que de certo modo representa uma síntese das diversas defi nições existentes na literatura científica Nele a cultura é apresentada como com plexo dos padrões de comportamento das crenças das instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletiva mente e característicos de uma sociedade Essa noção parece ser complementar àquela apresentada por Kluckhohn 1962 de que a variável cultura pode ser dividida entre elementos objetivos expresso nos artefatos produzidos por grupos sociais e subjetivos valores crenças e normas desses grupos Seguindo a proposta de Kluckhohn parece claro que o maior interesse da psicologia social esteja nos elementos subjetivos da cultura Todavia vários são esses elementos subjetivos o que acaba por tornar o concei to muito amplo para a utilização científica Esse ponto tem sido discutido por diversos autores p ex Smith Bond e Kagitçibasi 2006 que defendem o desempacotamen to do conceito de cultura ou seja a ne cessidade de se identificar precisar e isolar esses elementos subjetivos para que então eles possam ser utilizados como variáveis de pesquisa Em um esforço para desempacotar Smith e Bond 1999 a cultura além de identificar estruturas valorativas que permi tam o estabelecimento de uma diferenciação entre as culturas Geert Hofstede coletou dados em mais de 50 países investigando a experiência de trabalho a estabilidade a formação de equipes e outras variáveis li gadas ao contexto organizacional Uma das mais importantes descobertas de seu estu do é que a cultura pode ser utilizada como uma variável causal e preditora Sua pesqui sa demonstrou que os povos têm intenções diferentes dão atribuições diferentes para a mesma situação e até mesmo se comportam de maneira diferente por causa do grupo cultural do qual fazem parte Para Triandis 1994 as pesquisas de Hofstede fornecem um conjunto de padrões de comparação por meio dos quais outros estudos podem ser organizados conceitualmente Smith Bond e Kagitçibasi 2006 também ressaltam que no trabalho de Hofstede a cultura nacional é conceituada em termos de seu significado o que tornou apropriado o estudo das cultu ras por meio do levantamento dos valores em amostras representativas dos membros de cada uma dessas culturas Em seu trabalho Hofstede 1980 1983 1984 1991 1993 identificou a variação de quatro dimensões culturais Essas quatro di mensões são masculinidade femininidade evitação das incertezas distância do poder e individualismo coletivismo Discussões extensas e revisões sobre essas dimensões são apresentadas por Smith e Bond 1999 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 52 tOrres neiva cOLs Smith Bond e Kagitçibasi 2006 e Torres 2009 dentre outros Aqui nós nos limi taremos a apresentar uma breve descrição dessas dimensões relacionando as aos obje tivos deste capítulo A masculinidade é encontrada em so ciedades que têm uma grande diferenciação sexual enquanto a feminilidade é uma ca racterística de culturas em que a diferen ciação sexual é mínima Hofstede 1980 também encontrou que países femininos en fatizam mais a qualidade de vida do que o investimento em uma carreira ou no traba lho enquanto que o contrário é verdadeiro para culturas masculinas Já a evitação das incertezas a segunda dimensão é refletida em uma ênfase nos comportamentos rituais nas regras e na estabilidade no emprego O autor observou altos índices de evitação das incertezas em culturas que apresentam altos níveis de estresse e que se correlacionam negativamente com a necessidade de alcan ce de metas Hofstede observou que países com alta evitação das incertezas tendem a ser mais ideológicos e menos pragmáticos no que se refere à tomada de decisão do que países com baixa evitação das incertezas A distância do poder sua terceira di mensão se refere à extensão em que mem bros de uma cultura aceitam a desigualda de de poder e o quanto eles percebem a distância entre aqueles com poder p ex chefes e aqueles com pouco poder p ex subordinados A distância do poder reflete a base sobre a qual o líder tem poder sobre o subordinado Smith e Bond 1999 Em culturas com alta distância do poder as re gras e as normas sociais são construídas pe los superiores e determinadas pelos líderes Em culturas com baixa distância do poder as regras tendem a ser consensuais e logo os subordinados estão mais diretamente en volvidos em sua elaboração É interessan te notar que quanto maior a distância do poder maior a conformidade em torno de uma norma social Smith Dugan Peterson e Leung 1998 Finalmente o individualismo coleti vis mo a outra dimensão identificada por Hofstede reflete a extensão na qual os gru pos enfatizam metas pessoais ou grupais Hofstede 1983 observou que membros de culturas individualistas tendem a se fo car em seu próprio trabalho enquanto que membros de culturas coletivistas dão preferência às metas grupais Para Singelis Triandis Bhawuk e Gelfand 1995 o com portamento social em culturas coletivistas é mais bem predito por normas sociais e obrigações enquanto que em culturas indi vidualistas o comportamento social é mais bem predito por atitudes e outros proces sos internos Smith e Schwartz 1997 en contraram evidências empíricas para essa afirmação Alguns autores p ex Triandis 1995 propõem que a dimensão cultural individualismo coletivismo é essencial para a análise de uma cultura e um grande nú mero de pesquisas p ex Egri e Herman 2000 Triandis e Gelfand 1988 demonstra ram a influência dessa dimensão no compor tamento de membros de um grupo cultural Outro esforço de desempacotamento da cultura foi realizado por uma série de es tudos desenvolvidos por Shalom Schwartz e colaboradores Esses estudos p ex Schwartz 1994 identificaram 56 valores e construíram um questionário no qual os res pondentes devem indicar o quanto cada um desses valores age como um princípio guia de suas vidas Até esta data respostas indi viduais foram obtidas em mais de 80 paí ses incluindo todas as regiões do mundo Quando analisados em termos de culturas nacionais os resultados demonstram com notável consistência que as relações espa ciais das médias dos itens podem ser suma rizadas como pertencentes a 7 domínios ou dimensões Schwartz nomeou essas dimen sões como igualitarismo conservadorismo hierarquia domínio autonomia afetiva e autonomia intelectual É importante notar ainda que os estudos dessas dimensões de monstraram que sua estrutura é consistente em diferentes culturas ou seja que a mes ma relação estrutural dos valores se repete nas diferentes culturas pesquisadas Estudos como o de Hofstede e Schwartz nos dizem que as culturas podem ser entendidas em termos de significados e INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 53 que por isso é apropriado estudá las por meio da avaliação dos valores de amostras representativas de membros de cada cultu ra Vale reforçar porém que pelo fato de duas nações se diferirem em termos de uma dada dimensão de valores não é lógico se inferir que porque essas duas culturas se diferenciam dessa forma então quaisquer dois membros dessas culturas também irão se diferenciar da mesma maneira O nível de análise cultural não pode ser perpassa do para o nível de análise individual Além disso as pesquisas de Hofstede e Schwartz também demonstraram que há significados consistentes entre culturas As polaridades que emergiram do estudo de Schwartz con servadorismo versus autonomia domínio e hierarquia versus igualitarismo podem ser entendidas como fortes reminiscentes das dimensões de Hofstede de individualismo coletivismo e distância do poder respecti vamente Todavia talvez um dos pontos mais importantes a ser frisado sobre todas essas dimensões é que elas não são absolutas Em outras palavras nenhuma cultura pode ser classificada simplesmente como individua lista ou hierárquica Uma cultura tem alto grau de individualismo ou de hierarquia em relação a outra cultura Tais manifestações culturais são dessa forma puramente re lacionais O Brasil por exemplo pode ser considerado como coletivista em relação aos Estados Unidos mas seguramente é individualista quando comparado à nossa vizinha Colômbia Hofstede 1984 Já na teoria de Schwartz quando comparado à Europa Ocidental o Brasil tem altos es cores em hierarquia e baixos em autonomia in telectual Quando comparado aos Estados Unidos o Brasil também apresenta maio res escores em autonomia intelectual com os EUA apresentando maiores escores em autonomia afetiva A dimensão de domínio parece ser maior para os EUA enquanto o Brasil apresenta maior escore para harmo nia Todavia quando comparado a países da Ásia da África e do Oriente Médio o Brasil apresenta uma posição praticamente inversa Esse tipo de comparação e estudo é o mote da psicologia transcultural que conforme citado anteriormente é uma das abordagens da psicologia social que vem ganhando reconhecimento na comunidade acadêmica brasileira Os psicólogos trans culturais tradicionalmente trabalham com ferramentas como questionários escalas e entrevistaobservação estruturada e têm uma predominância quantitativa em suas análises e opções metodológicas as quais com uma orientação empírica objetivam a testagem de diferenças entre amostras de nações eou grupos étnicos Assim como outros representantes da psicologia trans cultural no restante do mundo os pesqui sadores brasileiros ou seja Alvaro Tamayo Valdiney Gouveia Maria Cristina Ferreira Cláudio Torres dentre outros que têm interesse nessa abordagem da psicologia social procuram tipicamente o estabeleci mento da variância explicada por valores culturais Também como seus colegas de outros países esses pesquisadores tendem a publicar em revistas como o Journal of Cross Cultural Psychology da International Association for Cross Cultural Psychology embora revistas nacionais p ex Brazilian Administration Review ANPAD Revista Psicologia Organizações e Trabalho da SBPOT também têm publicado artigos com essa ênfase Vale notar que os pesquisadores representantes da psicologia transcultural se diferenciam daqueles da psicologia inter cultural uma vez que os representantes do segundo grupo estão mais preocupados com a relação interpessoal entre membros de di ferentes grupos culturais Já os pesquisado res voltados para a psicologia cultural têm uma preocupação maior com os processos por meio dos quais a cultura é transmitida entre os membros do grupo Finalmente vale uma nota de alerta conforme destacado grande parte da psi cologia social foi originalmente desenvol vida principalmente nos Estados Unidos e no Reino Unido Isso se reflete nos manuais de psicologia social utilizados em diversos cursos introdutórios em grandes centros acadêmicos no mundo O Manual de Baron INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 54 tOrres neiva cOLs e Byrne 1994 talvez um dos livros texto mais utilizados nos Estados Unidos contém por volta de 1700 citações Todavia ape nas um pouco mais de 100 delas se referem a estudos desenvolvidos fora dos Estados Unidos Já o livro texto de Hogg e Vaughan 1995 um dos mais conhecidos e utiliza dos na Europa contém mais de 500 citações de estudos feitos fora dos Estados Unidos de um total de 2 mil referências utilizadas na obra Contudo a maioria dessas 500 citações se refere a estudos conduzidos na Europa Ocidental na Austrália e na Nova Zelândia ou seja todos países individua listas pelo menos quando comparados à América Latina Esses dados demonstram a urgente necessidade de que o leitor ao bus car os conhecimentos da psicologia social também exercite a habilidade da tradução Mas não a tradução da língua inglesa que afinal de contas pode ser considerada como a Língua Franca da área ou o Latim dos nossos tempos O que é necessário é uma tradução cultural Nem tudo o que lemos e estudamos pode ser diretamente aplicado a nossa realidade Nem tudo que é produzido no aproximadamente um quinto do mundo que é individualista é diretamente aplicável aos quatro quintos restantes do mundo que é coletivista Além da perspectiva da psicologia transcultural a perspectiva sociológica e antropológica e dos estudos que se funda mentam sobre a teoria das representações sociais serão abordados neste livro pois são objeto de atenção de vários pesquisadores sociais brasileiros principalmente com uma interface grande com a psicologia escolar e educacional Conforme retratado pelo levantamento de temas os temas história representações sociais e cultura abordados por 33 pesquisadores estudos sobre vio lência 23 pesquisadores construção social da subjetividade 49 pesquisadores e ativi dade consciência identidade afetividade emoções linguagem e pensamento sob a perspectiva antropológica e sócio histórica 37 pesquisadores são preponderantes no contexto brasileiro Enfim o objetivo deste livro é mostrar as diversas tendências e temas presentes na psicologia social no Brasil alguns bastante explorados outros com possibilidades de exploração ainda não tomadas por psicólo gos da área Outra vocação do livro está na apresentação das várias formas de estudo da influência recíproca dos indivíduos e dos ambientes sociais Tal estudo muitas vezes requer abordagens diferenciadas e respeito ao conhecimento produzido pelo outro di ferente Esperamos que os leitores aprovei tem reFerências ADORNO T FRENKELBRUNSWICK K LEVIN SON D SANDFORD R The Authoritarian Perso nality New York Harper Row 1950 AGUILAR M A REID A Org Tratado de psicologia social Perspectivas socioculturales Barcelona 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maneiras de se estudar esse triângulo e de se chegar a explicações e compreensões dos fenômenos da interação social Como o conteúdo deste livro sugere a psicologia social estuda um grande nú mero de assuntos e envolve um número di versificado de abordagens metodológicas Entretanto podemos afirmar que são três os caminhos principais para se estudar e se compreender o comportamento humano3 no contexto da psicologia social empírica 1 observar o comportamento que ocorre naturalmente no âmbito da vida real 2 criar situações artificiais e registrar o com portamento diante de tarefas definidas para estas situações 3 perguntar às pessoas sobre o que fazem pensam ou experienciam acerca de algo no passado no presente ou no futuro Cada uma dessas três famílias de téc nicas para conduzir estudos empíricos ob servação experimento e levantamento de dados apresenta vantagens e desvantagens distintas Kish 1987 Tais vantagens estão ligadas à qualidade e à utilização dos dados obtidos e devem ser consideradas pelo pes quisador quando este for escolher o método mais apropriado para um determinado obje tivo de pesquisa Não obstante as variações dentro de cada uma dessas três grandes áreas podemos afirmar que o ponto forte da observação é o realismo da situação estu dada que o experimento possibilita tanto a randomização de características das pessoas estudadas quanto inferências causais e que o levantamento de dados especialmente por amostragem isto é survey assegura melhor representatividade e permite generalização para uma população além da estudada No presente capítulo apresentamos um tour dhorizon dessas principais manei ras de estudar a relação recíproca entre o in divíduo e o meio social Como fio condutor consideramos uma série de pesquisas sobre um mesmo tema comportamento pró social para demonstrar o uso de diferentes mé todos dentro da psicologia social bem como 3 mÉtODOs De PesQUisa em PsicOLOGia sOciaL 1 Hartmut günther Não é distante somente parece como se fosse Berra 1998 p 1002 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 59 seus pontos fortes e fracos Após delimitar o fio condutor comportamento pró social ini ciamos com observações gerais sobre pesqui sa social e tecemos algumas considerações sobre procedimentos qualitativos e quanti tativos A seguir trataremos de análise de conteúdo de observações de experimentos e de levantamento de dados Concluímos o capítulo com algumas considerações sobre a divulgação dos resultados de pesquisa o Fio condutor coMPortaMento Pró social enquanto obJeto de estudo O que faria se encontrasse um milhão de dólares Procurava encontrar a pessoa que perdeu o dinheiro e caso fosse pobre devolveria Berra 1998 p 59 O comportamento pró social assume muitas variantes Pode ser material ou espi ritual pode basear se em altruísmo egoís mo reciprocidade ou aprendizagem de normas sociais Aronson Wilson e Akert 2002 É fácil verificar que as pessoas va riam quanto a sua disposição para ajudar o outro A variação está no ato em si pas sar o sal na mesa fora do alcance do outro entregar um objeto que caiu despercebido oferecer o assento no ônibus lotado deixar um pedestre passar desviar o caminho para dar carona a alguém doar sangue dar con forto ao próximo interferir em uma briga para proteger aquele que parece ser o mais fraco para citar apenas alguns atos de aju da Mas a variabilidade também está na ra pidez da resposta na disposição de ajudar a qualquer pessoa ou somente determi nados indiví duos na disposição de ajudar sob qualquer circunstância ou somente em determinadas situações Além do mais a decisão de ajudar dependerá 1 de fatores individuais gênero idade educação 2 de fatores circunstanciais hora local tempo disponível 3 de fatores sociais a presença de outras pessoas isto é alternativas de ajuda 4 da avaliação do custo pessoal por exem plo no caso da interferência em uma briga qual a chance de ser bem sucedido ou de apanhar por sua vez ou até a ex pectativa de retribuição futura Até este ponto fizemos uma reflexão em nível de senso comum a respeito do tópico em questão Podemos prosseguir discutindo o assunto com amigos ou colegas sem che garmos a conclusões que possam nos permi tir entender predizer e controlar o compor tamento em questão Para realizar pesquisa de maneira sistemática na psicologia social devemos delimitar nosso assunto e chegar a perguntas mais específicas O processo de delimitação implica que escolhemos entre as possíveis razões mencionadas anteriormen te para realizar uma pesquisa sistemática Por exemplo qual a relação entre gênero e ajuda levando em conta o esforço neces sário as circunstâncias e o esforço exigido Importante como primeiro passo será uma revisão da literatura sobre o tema Uma busca realizada em janeiro de 2008 usando somente a palavra chave helping behavior produziu 2286 referên cias a artigos em revistas científicas no site wwwsciruscom aproximadamente 11 mil referências diversas no site Google scholar 934 referências a artigos no PsychInfo da American Psychological Association e 16 no site wwwscieloorg neste caso com o ter mo equivalente em Português Esse exemplo aponta que o uso do termo chave relacio nado ao conceito global de comportamento pró social já nos rende muitas indicações Repetir a busca com outros termos tais como pro social behavior ou altruism deverá resultar em mais referências além de dupli catas Antes e além de delimitar as referên cias assim obtidas seja em termos do tipo de ajuda do contexto das pessoas envolvidas entre outros aspectos é importante escolher os termos chave com cuidado embora nes te exemplo ajuda caridade cortesia apoio INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 60 tOrres neiva cOLs e seus correspondentes em outras línguas façam parte do conceito mais amplo chama do comportamento pró social começar com um termo em vez de outro pode nos enca minhar em direções bastante distintas Cabe salientar que não é aconselhável limitar a busca a estudos em um determinado inter valo de tempo p ex os últimos 10 anos e rotular o que foi publicado antes de uma de terminada data de velho ou superado No caso concreto ao usar o limite de 10 anos estar se ia ignorando estudos importantes realizados na década de 1960 como por exemplo os estudos de Berkowitz e Daniels 1964 Bryan e Test 1967 Darley e Latané 1968 Epstein e Hornstein 1969 ou Latané e Darley 1968 alguMas observações gerais sobre Pesquisa social Você deve ter cuidado quando não sabe para onde vai porque pode ser que não chegue lá Berra 1998 p 102 Fenômenos sociais podem ser estuda dos a partir do referencial teórico e com mé todos de diferentes áreas do conhecimento A pesquisa social baseada em múltiplos mé todos tem uma longa tradição nas ciências sociais Em 1933 Lazarsfeld Jahoda e Zeisel publicaram um estudo sobre os desempre gados de Marienthal um vilarejo perto de Viena Áustria Os autores respectivamente sociólogo com doutorado em matemática aplicada psicóloga social com doutorado em psicologia geral e cientista social com um doutorado em ciências sociais e outro em direito faziam parte do centro de pes quisa em psicologia econômica Neurath 1983 observa que o que tornou esse tra balho um clássico foi a então relativamente nova combinação entre observação quali tativa e análise de dados qualitativos p 124 Enquanto Mayring 2002 cita partes do estudo de Lazarsfeld e colaboradores como exemplos de diferentes vertentes da abordagem qualitativa o próprio Lazarsfeld insistiu na combinação de vários métodos vide Lazarsfeld 1944 p 60 O conceito exemplar deste capítulo comportamento pró social interessa tanto à psicologia pelo viés do comportamento em nível individual quanto por exemplo à sociologia no que se refere ao comporta mento cooperativo entre grupos ou ainda à ciência política no contexto de assistên cia internacional Entretanto não apenas resultados encontrados em áreas de conhe cimentos correlatos acerca de um mesmo tema contribuem para uma compreensão mais aprofundada Igualmente importan te é estar aberto para abordagens teóricas e metodológicas diversas de uma mesma área Duas palavras chave caracterizam a abordagem metodológica implícita no es tudo de Lazarsfeld e colaboradores multi método e triangulação O primeiro termo dispensa definição e o segundo é definido por Vogt como usando mais do que um mé todo para estudar a mesma coisa 1993 p 234 Podemos acrescentar com Sommer e Sommer 2002 p 6 que usar procedimen tos múltiplos é melhor do que usar apenas um que múltiplos olhares dentro de uma área como a psicologia social não somente são desejáveis mas se fazem necessários vez que constituem operações convergen tes Webb Campbell Schwartz e Sechrest 2000 Começamos o capítulo com uma refe rência a Kish 1987 e a seu alerta de que ao escolher um ou outro método de pesqui sa o pesquisador estará necessariamente fazendo um compromisso em relação ao re sultado final de seu trabalho aceita as van tagens e as desvantagens de um método em vez destas de outro método Implícito nessa constatação é a recomendação de se utili zar mais de um método ao estudar um tema qualquer visto que por si só cada uma das abordagens se mostra incompleta Brewer e Hunter 1989 afirmam que pesquisa de campo levantamento de dados experimen tação e pesquisa não reativa constituem os principais métodos das ciências sociais Indicando a possibilidade de sempre que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 61 possível adotar se uma estratégia de pes quisa multimétodos estes autores como Kish apontam que interpretar os resultados de qualquer um desses métodos é tarefa incerta na melhor das hipóteses A maior fonte de incerteza é que qualquer estudo que utiliza apenas um único tipo de método de pesquisa deixa de lado hipóteses rivais não testadas que colocam em questão a validade dos achados do estudo p 14 Sommer e Sommer resumem diferen tes abordagens veja Quadro 31 e apon tam ainda as seguintes vantagens de se utilizar de mais de um método como pesqui sador quando um procedimento não pode ser utilizado por razões fora do controle do pesquisador ou por falta de recursos em termos de tempo dinheiro ou número de pessoas para realizar um determinado estu do a utilização de mais de um método ofe rece flexibilidade ao lidar com dificuldades Mesmo havendo diferentes maneiras de se usar os métodos para pesquisar fenô menos sociais há alguns pontos em comum que precisam ser levados em conta para se aumentar a probabilidade de se chegar a re sultados úteis Agregando as considerações de Grunenberg 2001 de Mayring 2002 de Miles e Huberman 1994 bem como as de Steinke 2000 acerca de critérios de qualidade de pesquisa social seguem algu mas exigências formuladas em termos de perguntas para uma análise sobre até que ponto uma pesquisa pode ser considerada de boa qualidade Günther 2006 as perguntas da pesquisa são claramente formuladas O primeiro passo para conduzir uma pes quisa é definir e delimitar a pergunta de pesquisa Quanto maior a clareza sobre o que se quer saber maior a chance de se quadro 31 OPções De PesQUisa sOciaL Problema abordagem técnica de pesquisa Obter informação confiável sob condições estudar pessoas em experimento laboratorial controladas um laboratório simulação Descobrir como as pessoas se comportam Observá las Observação sistemática em público Descobrir como as pessoas se comportam solicitar que Documentos pessoas na sua vida privada mantenham um diário Descobrir o que as pessoas pensam Perguntar às pessoas entrevista questionário escalas de atitudes identificar traços de personalidade ou administrar um teste testes psicológicos habilidades mentais estandardizado identificar padrões em material escrito tabulação sistemática análise de conteúdo ou visual compreender um evento não usual investigação detalhada estudo de caso e demorada Descobrir o que as pessoas fizeram avaliar documentos Pesquisa de arquivos no passado públicos Referência Sommer e Sommer 2002 p 6 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 62 tOrres neiva cOLs obter êxito em uma pesquisa Uma revi são de literatura sobre o assunto em ques tão ajuda no início de qualquer pesquisa Considerando se nosso exemplo de com portamento pró social uma pergunta ge ral poderia ser quem ajuda quem como e sob quais circunstâncias Para chegar a perguntas mais específicas pesquisáveis é necessário operacionalizar as quatro partes dessa pergunta geral o quem ajuda pode se referir a pessoas de determinado gênero idade educação ou nível socioeconômico O quem recebe ajuda idem O como pode variar em termos de prontidão isto é aju dar de maneira espontânea versus solicita do generosa versus de forma avarenta Já as circunstâncias podem variar em termos de ambiente ou do tipo de ajuda necessá ria Desta maneira podemos chegar a per guntas do tipo Os jovens ajudam mais aos jovens do que aos idosos em situações de emergência de rua Sob quais condições desconhecidos intervêm em um assalto Os motoristas com carros com adesivos re ligiosos se mostram mais cordiais no trân sito Operacionalizar variáveis Após ter se delimitado a pergunta será ne cessário operacionalizar as variáveis por meio das quais os conceitos serão pesqui sados No exemplo anterior os termos jo vens e idosos se referem a faixas etárias e podem ser operacionalizadas em termos de idade em anos O conceito ajudar é que pre cisa de uma definição e operacionalização mais detalhada O nível de ajuda no caso de um assalto pode variar por exemplo en tre gritar para chamar atenção de qualquer um por perto chamar alguém competente como a polícia intervir pessoalmente Outra variável a definir seria a rapidez isto é o tempo em segundos após a verificação da existência de uma emergência Outras variá veis que precisam ser operacionalizadas são situação de emergência estamos falando de quais emergências agressão física aci dente desorientação agressão verbal No caso de adesivos religiosos que forma de cordialidade seria esperada explicitou se a teoria que pode ser derivada dos dados e utilizada em outros contextos Uma distinção importante entre pesquisa de natureza qualitativa e exploratória ver sus pesquisa quantitativa e inferencial é que um objetivo central da primeira consiste na tentativa de se chegar a uma teoria por meio de um processo indutivo Uma pesquisa de cunho quantitativo e inferencial visa confir mar uma teoria já existente representando assim um processo dedutivo Seja qual for a natureza da pesquisa é importante espe cificar qual a teoria que orienta nossa pes quisa no caso de investigação quantitativa No caso de pesquisa qualitativa é mais im portante ainda deixar explícito para o lei tor onde esperamos chegar ao realizar uma pesquisa exploratória o delineamento da pesquisa é consistente com o objetivo e as perguntas Como apontado acima a escolha do delinea mento de pesquisa isto é a opção por uma abordagem observacional experimental de levantamento de dados ou uma análise de conteúdo deve ser consequência da pergun ta de pesquisa a ser respondida Não cabe modificar uma pergunta para que esta se adapte a um método preferido os construtos analíticos foram bem explicitados Conceitos como altruísmo ou disposição para ajudar são chamados construtos hipotéticos isto é algo que existe teoricamente mas não é observável diretamente Que alguém pode INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 63 ser considerado altruísta ou ter disposição para ajudar é inferido a partir de observa ções de comportamento diretos no caso vendo este alguém concretamente ajudando alguém ou indiretos analisando as respos tas numa escala de atitudes por exemplo Assim a questão que se coloca é o compor tamento observado ou as atitudes expressas permitem inferências acerca do altruísmo ou da disposição de ajudar os procedimentos metodológicos são bem documentados Todos os passos de uma pesquisa precisam ser descritos e explicitados Quem foram as pessoas observadas entrevistadas partici pantes dos experimentos Quais foram os instrumentos e equipamentos utilizados Quais foram os procedimentos para a cole ta de dados A descrição dos participantes precisa ser suficientemente completa para que se possa saber como foram recrutadas e quais suas características O detalhamento dos instrumentos e dos procedimentos deve permitir que outros pesquisadores possam replicar o estudo Há de se observar en tretanto que estudos fora do laboratório sempre sofrerão do fator circunstâncias sócio históricas razão pela qual não são to talmente replicáveis Gergen 1973 Ainda assim descrever o método usado em uma pesquisa permite ao leitor avaliar as inter pretações dos dados oferecidas pelo autor e considerar possíveis explicações alternativas veja A discussão dos resultados a seguir os instrumentos são fidedignos e válidos Há várias maneiras de registrar comporta mento ficha de observação check list esca la de atitudes testes de competência para mencionar as mais importantes Esses ins trumentos têm em comum o objetivo de re gistrar e assim refletir de maneira mais fiel o comportamento sob investigação Nesse sentido precisam satisfazer dois critérios de qualidade fidedignidade e validade sendo que o segundo não existe sem o primeiro Fidedignidade Fidedignidade diz respeito à consistência da medição repetida de um mesmo objeto sob circunstâncias semelhantes Vogt 1993 Yarenko Harari Harrison e Lynn 1986 Uma balança poderia ser considerada fide digna se pesando um mesmo objeto várias vezes indicasse o mesmo peso Medidas psicológicas que por parte do medidor exi gem interpretação de eventos como seria o caso de uma observação ou que por parte da pessoa avaliada permitem um processo de aprendizagem como seria o caso de um teste de conhecimento correm o risco de ser menos fidedignas Medidas psicológicas cuja aplicação e interpretação não dependem da competência do aplicador e que contêm re gistros perguntas itens observações es tandardizados tendem a ser mais fidedignas veja Pasquali 1999 para maiores deta lhes inclusive maneiras de como calcular o índex de fidedignidade que varia entre zero e um Validade Mesmo sendo fidedigno um instrumento não é necessariamente válido Validade trata da correspondência entre o que um instrumento pretende medir e do constru to hipotético que está sendo investigado Mesmo se o balanço mencionado registre de maneira fidedigna o peso em libra não seria um instrumento válido se o objetivo fosse verificar o peso em quilogramas Um teste de conhecimento não seria válido como instrumento para averiguar inteligên cia Campbell e Stanley 1963 Há de se salientar que enquanto existem medidas quantitativas e genéricas do grau de fide dignidade de um instrumento a validade de um instrumento representa um julgamento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 64 tOrres neiva cOLs essencialmente qualitativo e específico para cada situação estudada adotaram se regras explícitas nos procedimentos analíticos os procedimentos analíticos são bem documentados Os procedimentos de análise de dados preci sam ser igualmente explícitos e explicitados No caso de procedimentos quantitativos tal detalhamento frequentemente está implí cito no procedimento estatístico escolhido Entretanto especialmente no caso de proce dimentos qualitativos como por exemplo uma análise de conteúdo a explicitação e a documentação de procedimentos analíticos são indispensáveis Novamente tais explica ções fazem se necessárias para que o leitor possa acompanhar compreender e se for o caso replicar os passos analíticos os dados foram coletados em todos os contextos e tempos e com todas as pessoas sugeridas pelo delineamento A preocupação subjacente é a randomiza ção de contextos tempos e pessoas Espe cialmente no caso de pesquisa exemplar a partir da qual queremos realizar inferên cias acerca de outros ou todos os demais contextos ou pessoas devemos selecionar alguns eventos ou pessoas que podem ser considerados representativos Como foi feita tal seleção randomicamente sistematica mente aleatoriamente a dedo Somente quando tal seleção é feita randomicamente podemos argumentar que nossos resultados podem permitir inferências para outros con textos tempos pessoas além dos estudados Caso contrário sempre fica a pergunta será que o que foi encontrado não é um simples reflexo daquela situação daquele tempo daqueles participantes Se o procedimen to que tivermos selecionado der margem a essa pergunta a utilidade de nossos resulta dos de pesquisa estará comprometida Randomização Assim sendo uma questão fundamental de qualquer pesquisa em pírica é se os resulta dos poderiam ter sido alcançados por acaso ou se são consequência de algum artefato de seleção O livro clássico de Campbell e Stanley 1963 continua sendo a referência para verificar até que ponto um determina do delineamento especialmente experimen tal pode ser considerado verdadeiramente randômico ou não e quais as implicações de violar as pressuposições da randomização No caso de levantamento de dados diferen tes planos de amostragem Kish 1965 po dem ajudar a tratar o problema da rando mização No caso de estudos de observação bem como que utilizar técnicas de análise de conteúdo existem possibilidades de rando mizar situações segmentos de observações ou de textos o detalhamento da análise leva em conta resultados não esperados e contrários ao esperado A vantagem da abordagem experimental é a de permitir maior controle sobre os pro cedimentos e as circunstâncias da pesqui sa excluindo assim variáveis estranhas e indesejáveis Uma vez que tal delimitação frequentemente resulta em pesquisa artifi cial faz se um contraste com a abordagem observacional que inclui explicitamente to das as variáveis de uma pesquisa Günther 2006 Mas mesmo no caso de experimen tos é necessário mostrar flexibilidade e re gistrar eventos inesperados O exemplo pri mordial para tal flexibilidade é a pesquisa de Pavlov pesquisador de fisiologia que es tudou a salivação em cachorros Quando se deparou com reações inesperadas nos ani mais mudou o rumo de suas investigações INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 65 e chegou a estudar o condicionamento con dicional que seria chamado posteriormen te de condicionamento clássico Boring 1957 a discussão dos resultados considera possíveis alternativas de interpretação Foi afirmado anteriormente que quanto mais específica a pergunta quanto mais detalhada a hipótese sob estudo mais ex pectativas para uma determinada classe de resultados Mesmo assim é importante não fechar os olhos para explicações alternati vas especialmente quando os resultados encontrados não correspondem ao espera do Por outro lado é importante precaver se contra resultados incongruentes em termos das teorias conhecidas Não vale argumen tar que a ciência tradicional ou os méto dos positivistas não conseguem dar conta dos resultados não usuais encontrados os resultados estimulam ações básicas e aplicadas futuras Existe uma longa discussão acadêmica sobre a importância relativa da pesquisa dita apli cada versus a pesquisa básica Sem querer alongar essa temática neste momento cabe citar a observação de Lewin acerca do as sunto O maior calcanhar de aquiles da psico logia aplicada tem sido o fato de que sem ajuda teórica apropriada ela teve de seguir o método dispendioso inefi ciente e limitado de ensaio e erro Muitos psicólogos que trabalham hoje em dia em um campo aplicado têm consciência aguçada de uma cooperação estreita en tre a psicologia teórica e a aplicada Isto pode ser conseguido na psicologia como aconteceu na física se o teórico não trata dos problemas aplicados com pretensiosa antipatia ou com medo de problemas sociais e se o psicólogo aplicado se der conta de que não existe nada mais prático do que uma boa teoria 1997 p 288 Participantes da pesquisa Definida a pergunta da pesquisa e especi ficadas as características dos participantes precisa se refletir sobre o acesso à amostra de pessoas Onde e como serão recrutados No caso de observação do comportamento em que locais serão feitas as observações As pessoas vão saber que estão sendo obser vadas No caso de um experimento onde serão recrutados os participantes No caso de entrevistas questionários ou aplicação de escalas e testes onde e como as pessoas serão abordadas ou recrutadas na rua em locais como shoppings escolas rodoviárias em seus locais de trabalho ou em suas ca sas Caso as características pessoais como gênero idade educação natureza do traba lho sejam parte da pergunta de pesquisa é necessário ter acesso a participantes com determinadas características Procedimentos instrumentos e análise de dados Mais do que simplesmente os participantes são os procedimentos e os instrumentos que diferenciam as técnicas de pesquisa que se rão apresentadas a seguir Não somente pre cisam ser escolhidas em função da pergunta específica de uma pesquisa mas também do que é factível e do tipo de inferência que almejamos O tipo de análise de dados por sua vez é consequência direta da pergunta dos participantes e dos procedimentos análise dos resultados O escopo deste capítulo não permite abor dar em qualquer nível de profundidade a análise dos dados coletados durante a pes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 66 tOrres neiva cOLs quisa Cabe fazer inicialmente uma distin ção entre estatística descritiva e inferencial A estatística descritiva relata a distribuição dos dados por meio de tabelas e gráficos Tabelas apresentam frequências e percen tagens em termos numéricos enquanto gráficos permitem visualizar a distribuição dos dados Nicol e Pexman 1999 2003 Entretanto a distribuição de frequências as aparentes diferenças entre grupos ou even tuais relações estabelecidas por meio de ta belas e gráficos necessitam de uma resposta à seguinte pergunta aqueles resultados são sistemáticos ou se chegou a eles por acaso Realizando poucas observações em um úni co local dificilmente será possível fazer afir mações sobre o comportamento das pessoas em geral O mesmo ocorre se entrevistamos apenas nossos amigos ou pessoas que estão convenientemente disponíveis É por meio de estatísticas inferenciais que podemos sa ber até que ponto os resultados são sistemá ticos ou foram obtidos por acaso Bisquerra Sarriera e Martínez 2004 Dancy e Reidy 2006 Siegel e Castellan 2006 abordageM quantitativa versus qualitativa Noventa por cento do jogo é 50 mental Berra 1998 p 69 Apontamos acima três caminhos prin cipais para realizar pesquisa no contexto das ciências sociais observação experimen tos e levantamento de dados Antes de tra tar cada um deles individualmente convém ressaltar o que eles têm em comum O que une os mais diversos métodos e técnicas de pesquisa incluídos nessas três grandes famí lias de abordagem é o fato de todos partirem de perguntas essencialmente qualitativas Günther 2006 Qualquer pesquisa parte da constatação de que as pessoas variam se comportam de maneira diferente Isso traz à tona a pergunta a respeito da razão pela qual existe esta variabilidade Como lidar com ela Quais as suas implicações Estas perguntas exigem por sua vez respostas qualitativas A variabilidade existe por essa ou aquela razão Tem essas ou aquelas im plicações Na tentativa de se partir de uma pergunta qualitativa e de se chegar a uma resposta qualitativa há dois caminhos não necessária e mutuamente excludentes o de procedimentos qualitativos e o de procedi mentos quantitativos Procedimentos qualitativos Procedimentos qualitativos tendem a ser in dutivos e exploratórios sem partir de hipó teses formais e explícitas tenta se construir um referencial teórico a partir de dados coletados essencialmente por meio de ob servações incluindo aqui registros de com portamento tais como documentos diários filmes e gravações que registrem manifes tações humanas observáveis Em segundo lugar a análise desses dados costuma ser interpretativa usando se técnicas de análise de discurso e de análise de conteúdo Bauer e Gaskell 2002 Os pesquisadores que usam métodos qualitativos recorrem frequentemente à clássica afirmação de Dilthey 1894 expli camos a natureza compreendemos a vida mental Hofstätter 1957 p 315 Querem salientar que visam compreender a vida mental e portanto utilizam métodos qua litativos apropriados para a psicologia Já os pesquisadores que usam métodos quan titativos argumentam que explicar e com preender não são processos antagônicos e que a vida mental faz parte dos fenômenos naturais Procedimentos quantitativos Para explicar o comportamento humano no contexto da psicologia social a abordagem quantitativa tende a ser dedutiva e confir matória partindo de uma teoria Parte de expectativas explícitas ou hipóteses formais para verificar a existência de diferenças ou relações nos fenômenos sociais para testá INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 67 las desta maneira Em segundo lugar não se restringe a métodos observacionais mas tenta sempre que possível realizar a coleta de dados em qualquer dado contexto de maneira sistemática e de tal forma que seja possível recorrer a técnicas da estatística in ferencial para questionar se os dados cole tados e analisados bem como os resultados aos quais se chegou dessa maneira são de fato sistemáticos ou se poderiam ter sido encontrados por acaso Para chegarmos a conclusões científicas é desejável se não necessário que possamos apontar a contri buição dos diferentes antecedentes ao com portamento de nosso interesse e eliminar os acontecimentos randômicos e os obtidos por acaso como possíveis explicações A seguir apresentam se quatro abor dagens de pesquisa sendo duas de nature za mais descritiva a análise de conteúdo e a observação e duas de natureza mais inferencial experimento e levantamento de dados análise de conteúdo Na realidade não falei tudo aquilo que eu disse Berra 1998 p 9 A análise de conteúdo é uma entre vá rias técnicas de pesquisa usadas para des crever e sistematizar o conteúdo de comuni cações pictóricas escritas ou verbais Vogt 1993 A técnica pode ser utilizada com material visual filme vídeo desenhos ilus trações obras de artes plásticas com ma terial impresso jornais revistas livros do cumentos pessoais e com registros verbais entrevistas e questionários Idealmente nos dois primeiros casos a seleção do ma terial é randômica embora frequentemente sejam usadas amostras de conveniência isto é material ao alcance do pesquisador No caso de nosso projeto hipotético ilustrativo sobre comportamento de aju da imagine que colecionamos relatos de ocorrências de ajuda nos jornais desde que começamos a pensar em um estudo sobre esse assunto mesmo antes de efetuar uma revisão sistemática da literatura especia lizada Recortamos artigos sobre pessoas que prestaram ajuda avisamos a nossos amigos que estávamos interessados no as sunto Pedimos a eles que sempre que en contrassem algo interessante recortassem tal notícia Colecionamos não somente ar tigos sobre ajuda prestada mas também sobre ajuda negada Quando chegamos a um número razoável de artigos decidimos começar com a análise do conteúdo desses artigos Ressaltamos anteriormente que quanto maior clareza sobre o que queremos saber mais chance de êxito obteremos em uma pesquisa Entretanto em um primeiro momento de coleta de material documen tal podemos coletar qualquer material que encontramos o que nos encaminharia para procedimentos mais qualitativos ou pelo menos sem formular hipóteses especí ficas Já em um segundo momento quando sabemos de fontes confiáveis para material documental é possível formular hipóteses e buscar trechos de textos desenhos ou ima gens de maneira sistemática Procedimentos Os sujeitos nesta modalidade de pesquisa não são pessoas propriamente ditas mas material produzido por ou sobre elas Por exemplo no caso de relatos na imprensa es crita sobre eventos de ajuda prestada ou ne gada os recortes constituem as unidades de análise Cada recorte descreve uma situação e fala das pessoas envolvidas do local das circunstâncias do evento Assim cada relato pode ser classificado em termos de atribu tos tais como fonte nome do jornal data confiabilidade da fonte e detalhamentos do conteúdo O procedimento em si consiste na análi se do conteúdo dos artigos Günther 2006 apresenta uma sistematização dos procedi mentos de uma pesquisa qualitativa O instrumento para uma análise de conteúdo pode ser um programa de com putação por meio do qual se sistematize e INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 68 tOrres neiva cOLs analise o material coletado p ex AtlasTI ou MAXqda vantagens desse método Observamos anteriormente que quanto maior clareza sobre o que queremos saber mais chance de êxito em uma pesquisa Entretanto e especialmente no início de um conjunto de pesquisas existe menos clareza sobre o que pode ser investigado no decor rer do projeto Assim nesse momento ini cial uma abordagem mais aberta especu lativa pode ser mais útil para se começar a entender um dado assunto Cabe aqui uma distinção feita por Kidder e Fine 1987 en tre a pesquisa qualitativa com a letra Q mai úscula que envolve observação participante e pesquisa de campo etnográfica Pesquisa qualitativa com a letra q minúscula por ou tro lado refere se à coleta de dados aberta mas que faz parte de uma pesquisa estrutu rada em termos de objetivo e procedimento Em outras palavras a vantagem da pesqui sa inicial aberta é a de dar apoio inicial a ideias para pesquisas subsequentes desvantagens Como frisamos anteriormente ao tentar chegar a explicações sobre fenômenos so ciais deve se atentar à pergunta mas será que os resultados foram obtidos na base de eventos não randômicos Quanto maior o número de eventos arquivais usados para a análise de conteúdo maior será a dificulda de de responder a essa pergunta de maneira convincente observação Você pode observar muito coisa só olhan do Berra 1998 p 95 A vantagem da observação é estar diante do comportamento que interessa não precisando falar com as pessoas sobre seus pensamentos ou intenções Além do mais não sendo um intruso você não interfere no comportamento nem provoca reatância nas pessoas observadas Webb Campbell Schwartz Sechrest e Grove 1981 Em ge ral os estudos de observação não exigem muito equipamento mas sim tempo já que pode demorar até que surja o comportamen to de interesse A seguir comentaremos três tipos de observação informal sistemática e participante É por meio de observações informais que registramos o que acontece em torno de nosso meio social e ambiental Sem catego rias preestabelecidas nem hipóteses formais esse tipo de observação se aproxima mais dos estudos qualitativos Tais observações são importantes na fase inicial de qualquer pesquisa e constituem a base para formular perguntas sistemáticas acerca de determina do comportamento Em estudos de observação sistemática utiliza se algum esquema de categorias para classificar os comportamentos de interesse Os comportamentos podem ser enumerados em termos de frequência de intensidade de pessoas envolvidas só em díade ou grupo das características das pessoas etc Os re gistros podem ser realizados em planilhas check lists gravados ou filmados Havendo dois observadores é possível verificar até que ponto há concordância entre ambos Enquanto que em estudos de obser vações informais e sistemáticas as pessoas observadas podem nem saber que são ob jetos de estudo a observação participante explicita que os sujeitos fazem parte de um estudo e que estão sendo observados O pes quisador torna se parte da vida dos obser vados Quando tal delineamento é factível o estudo se torna mais ético à medida que as pessoas do estudo sabem que estão sendo observadas e por quem estão sendo observa das Entretanto a presença explícita de um observador pode provocar reatância entre os sujeitos da pesquisa ficando a dúvida de até que ponto as pessoas observadas estão se comportando de maneira autêntica e não encenando algum comportamento que acre INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 69 ditam ser o esperado por parte do pesquisa dor Especialmente no caso de uma observa ção de duração mais longa recomenda se a observação participante já que a presença demorada de um estranho desconhecido pode provocar desconfiança e reatância pois os observados tendem a se acostumar com o a presença do pesquisador conhecido e o ignorarem mais facilmente exemplos de estudos observacionais Conforme comentado anteriormente os estudos observacionais são custosos em termos de tempo já que podem demorar até que o comportamento de interesse pos sa surgir Diante desse problema Silva e Günther 2001 criaram oportunidades de ajudar em um ônibus lotado no sentido de verificar quem entre os passageiros sen tados se ofereceria para segurar um pacote de um passageiro em pé Outros estudos que criaram oportunidades de ajudar para poder observar mais sistematicamen te eventuais comportamentos pró sociais são os de Levine e colaboradores Levine e Norenzayan 1999 Levine Norenzayan e Philbrick 2001 um estudo hipotético No caso de um estudo hipotético sobre com portamento pró social podemos pensar em observar o comportamento dos pedestres em um determinado trecho que apresenta irregularidades talvez buracos impedi mentos por causa de uma construção ou de carros mal estacionados Qual seria o comportamento de ajuda no sentido de dar preferência a pessoas com problemas de lo comoção ajudar mães com carinho de bebê e situações semelhantes Será que existem alguns padrões de cortesia ou ajuda Procedimentos Os sujeitos desta pesqui sa seriam as situações de encontro e de inte ração de pessoas estranhas entre si no ponto problemático O registro consiste em anotar o número de pessoas suas características sexo idade aproximada e seu comporta mento na situação Para tanto uma ficha de observação que permita anotar os dados relevantes de uma maneira que não chame atenção será preparada Preferencialmente haverá dois observadores independentes o que permitirá estabelecer a fidedignidade das observações pelo estabelecimento do grau de concordância entre as observações dos dois pesquisadores vantagens e desvantagens Como apontado acima a vantagem de estu dos observacionais é o realismo da situação estudada algo não alcançável em estudos experimentais de levantamento de dados ou aqueles que utilizam material arquival Há de se destacar ainda que comporta mento não acontece em um vazio isto é depende não somente de fatores internos subjetivos mas do contexto social e físico o que Barker e colaboradores Barker 1968 Schoggen 1989 Sommer e Wicker 1991 chamaram de behavior setting Entre as des vantagens deve se mencionar o alto custo de tempo especialmente em se tratando de comportamentos de pouca frequência Em segundo lugar a falta de controle sobre o surgimento da situação de interesse signifi ca ausência de randomização e generaliza ção Além do mais quanto mais complexo o comporta mento eou a situação dentro da qual o comportamento acontece mais trabalhoso serão o registro e a análise dos dados Scott 2005 Cabe ainda mencionar alguns livros que tratam especificamente de técnicas ob servacionais Fagundes 1993 apresenta um texto didático de observação sistemática en quanto Danna e Matos 1996 se propõem a ensinar de maneira básica como observar o comportamento humano Esses dois livros concentram sua atenção no comportamento imediato das pessoas sendo observadas já o artigo de Pinheiro Elali e Fernandes 2008 considera a interação entre as pessoas e o ambiente inclusive os resquícios do com portamento das pessoas no ambiente INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 70 tOrres neiva cOLs exPeriMento Não sei qual o melhor jeito mas nenhum é ruim Berra 1998 p 84 O experimento especialmente em sua modalidade laboratorial é um delineamen to no qual o pesquisador tem controle so bre algumas das condições sob as quais a pesquisa está sendo realizada bem como controle sobre algumas das variáveis que acredita que possam causar o fenômeno estudado As variáveis sob controle do ex perimentador são chamadas variáveis inde pendentes VI O fenômeno sob estudo é definido como variável dependente VD4 Uma distribuição randômica dos sujeitos da pesquisa entre as condições experimentais e de controle de uma pesquisa é o requisito mínimo para uma pesquisa ser considera da um experimento verdadeiro Campbell e Stanley 1963 Uma importante variante é o experimento natural situação na qual as condições experimentais e de controle não foram preparadas pelo experimentador mas por condições alheias e desta manei ra não estão sob o controle do pesquisador Silbereisen 2005 relata uma série de ex perimentos naturais sobre mudanças sociais e desenvolvimento humano em decorrência da reunificação alemã Este acontecimento permitiu aos psicólogos comparar em for ma de experimento natural comportamen tos e expectativas de vida entre os cidadãos de um mesmo país após ter vivido sob dois regimes políticos distintos durante 40 anos Campbell e Stanley apontam uma série de aspectos que afetam a qualidade de um ex perimento Entre eles cabe mencionar aqui os seguintes randomizar sujeitos O controle sobre a distribuição aleatória de participantes da pesquisa entre as diferentes condições experimentais é crucial para que se possa atribuir a essas eventuais causas o fenômeno sob estudo Sem essa distribuição aleatória não há como assegurar que foi a exposição à situação experimental que cau sou determinado comportamento e não al guma circunstância alheia a ele reduzir variabilidade externa À medida que o experimentador tem con trole sobre as condições experimentais cabe tentar reduzir a variabilidade externa e in desejada Em outras palavras se o objetivo de uma pesquisa for verificar a diferença entre jovens de sexo masculino e feminino no que diz respeito a determinado compor tamento convém manter outras variáveis como por exemplo classe social nível edu cacional ou idade o mais homogêneo possí vel Isto quer dizer dever se ia chamar para participar do experimento apenas jovens de uma mesma classe social de um mesmo nível educacional e de uma mesma idade já que uma variabilidade não controlada em tais fatores poderia influenciar o comportamento em questão especificarlimitar o comportamento Da mesma maneira como a variabilidade entre os fatores antecedentes deve ser con trolada é importante especificar e delimi tar bem o comportamento sob estudo Por exemplo em vez de falar simplesmente em comportamento de ajuda convém opera cionalizar tal comportamento comporta mento de abrir a porta para uma senhora Moser e Corroyer 2001 levantar se e ofe recer um assento em um ônibus etc reatância à situação experimental e ética de pesquisa Uma diferença importante entre observação e levantamento de dados por questionário ou entrevista é que a observação garante maior validade ecológica do comportamen to enquanto entrevistas e questionários INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 71 permitem explorar melhor as razões para determinadas ações Qual a situação do experimento nessa distinção Muitos ex perimentos constituem uma oportunidade para se observar comportamento mesmo que a situação não tenha validade ecoló gica Por outro lado sendo uma situação artificial os experimentos provocam re atância semelhante a dos levantamentos de dados nos participantes que se per guntam o que é que o experimentador quer de mim realmente Dependendo da questão de pesquisa o experimento pode incluir o engano do participante Embora o exemplo mais famoso para iludir os par ticipantes seja o experimento de Milgram 1963 muitos estudos experimentais im plicam em alguma forma de encenação para esconder o verdadeiro objetivo do estudo Adair Dushenko e Lindsay 1985 relatam que 81 dos autores de estudos publicados em 1979 na mais prestigiosa revista da psi cologia social o Journal of Personality and Social Psychology relataram alguma forma de esclarecimento pós experimental para os participantes de um estudo envolvendo alguma forma de encenação e engano O argumento principal em favor de tal proce dimento é que os experimentos tratam de comportamentos socialmente normatizados seja positivamente por exemplo de ajuda ou negativamente por exemplo de agres são Assim não seriam viáveis se o parti cipante soubesse o verdadeiro objetivo da pesquisa Neste sentido os estudos experi mentais de ajuda de Darley e Latané 1968 Latané Darley 1968 ou de Silva e Günther 1999 somente puderam ser realizados por meio de encenação Por outro lado há de se tomar cuidado em respeitar a dignidade e a integridade física e psicológica dos par ticipantes de qualquer pesquisa na medida do possível deve se fornecer explicações aos participantes sobre a pesquisa se não antes do início sem dúvida após sua con clusão além de não expor os participantes a qualquer desconforto desnecessário o fim científico não justiça os meios veja Artigo 16 do Código de Ética do Conselho Federal de Psicologia 2005 um estudo hipotético No caso de nosso estudo imaginário de ajuda idealizamos uma réplica de experi mentos clássicos de Darley e Latané 1968 Latané e Darley 1968 A questão em ambos os estudos foi a potencial interferência da presença de outras pessoas na decisão indi vidual de prestar ajuda sendo a hipótese de que quanto maior o número de transeuntes menor a probabilidade de ajuda por parte de qualquer pessoa A variável independente em ambos os estudos foi o número de pesso as presentes além do sujeito da pesquisa No caso do estudo de Darley e Latané uma pes soa invisível precisava de ajuda e o sujeito fez parte de um grupo formado entre uma e quatro outras pessoas Já no experimento de Latané e Darley a emergência estava visível e o sujeito estava ou sozinho ou na presença de duas outras pessoas Perguntahipótese da pesquisa O número e as características de outras pes soas influenciam a probabilidade de prestar ajuda por parte de uma pessoa do sexo femi nino versus do sexo masculino Procedimentos Os sujeitos dessa pesquisa imaginária serão convidados para uma entrevista sobre a vida no campus da universidade A entrevista será realizada ou de forma individual ou em for ma de grupo focal isto é na presença de mais dois ou quatro confederados Os sujeitos va riam de gênero No caso de grupo focal os membros variam igualmente de tal manei ra a ter grupos do mesmo sexo e grupos nos quais o sujeito é homem ou mulher e os confederados são mulheres ou homens Quanto ao procedimento A entrevista será realizada ao ar livre e a certa distância dos prédios da universidade para se asse gurar um ambiente tranquilo No decorrer da entrevista acontecerá uma emergência a poucos metros dali INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 72 tOrres neiva cOLs O registro da variável dependente será feito por um observador alheio e aparen temente desassociado da entrevista ano tando o tempo que levou para o sujeito notar a emergência bem como seu compor tamento vantagens desse método O procedimento nesta pesquisa supõe cin co condições randômicas sujeito sozinho sujeito com dois confederados do mesmo sexo com dois confederados do sexo opos to com quatro confederados do mesmo sexo e com quatro confederados do sexo aposto À medida que os sujeitos são distribuídos randomicamente entre as cinco condições será possível estabelecer uma relação causal entre a condição da entrevista e a proporção de sujeitos em cada condição de ter presta do ajuda desvantagens Bons experimentos em psicologia social de pendem do grau em que os cenários experi mentais controlados são plausíveis para os sujeitos especialmente a medida que preci sam de certo grau de engano No caso desse exemplo o engano consistirá de fazer o su jeito acreditar que faz parte de uma entre vista e que a emergência foi suficientemente crítica para merecer uma possível interven ção de sua parte levantaMento de dados Nunca responda a uma carta anônima Berra 1998 p 93 Entrevistas Günther I 2008 e ques tionários Günther H 2008 constituem maneiras de perguntar às pessoas sobre o que elas fazem pensam sentem tanto no momento quanto no passado e no futuro A entrevista foi caracterizada por Bingham e Moore 1959 como uma conversa com objetivo Essa consideração aplica se igualmente ao questionário definido com um conjunto de perguntas sobre um de terminado tópico que não testa a habilida de do respondente mas mede sua opinião seus interesses aspectos de personalidade e informação biográfica Yaremko Harari Harrison e Lynn 1986 p 186 A definição do questionário deixa aberta a forma da interação entre pesquisador e participante pode ser individual ou em grupo face a face via correio ou via internet sendo que a aplicação individual e face a face de um questionário pode se tornar uma entrevis ta estruturada Entretanto a observação de Bingham e Moore é fundamental seja qual for a forma da interação o pesquisa dor deve lembrar que está conversando com outro ser humano ele não está extraindo informação de maneira impessoal Uma vez que não há muito controle sobre os par ticipantes de um experimento ou de uma situação de observação técnicas de amos tragem podem ser utilizadas de tal manei ra a se obter amostras de participantes de uma população determinada Por exemplo em um estudo observacional a pesquisa se limita às pessoas que circulam em um determinado local em um estudo experi mental a pesquisa se limita às pessoas que concordam em participar do experimento Tendo informação sobre as características de uma população p ex todas as matrí culas de alunos ou todos os endereços de um bairro é possível obter uma amostra randômica de participantes a serem en trevistados ou para os quais se envia um questionário Além do mais por meio de questionários e entrevistas é possível saber dos estados subjetivos das atitudes das opiniões das justificativas das ações toma das por parte dos participantes de uma pes quisa Entretanto da mesma maneira que a reatância ao processo de pesquisa cons titui um problema no caso do experimen to perguntas especialmente a respeito de assuntos sensíveis nem sempre produzem respostas autênticas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 73 um estudo hipotético Perguntahipótese da pesquisa No caso de nosso estudo imaginário de ajuda con sideramos um estudo sobre a participação em organizações voluntárias Quais são as características quais são as motivações para que uma pessoa se engaje em uma ação de solidariedade Além do mais será que a oportunidade de ajudar aumenta a atitude favorável de se engajar em uma ação de aju da voluntária Procedimentos Os sujeitos dessa pes quisa alunos universitários de ambos os sexos e de cursos humanistas psicologia e serviço social técnico engenharia mecâ nica e matemática e da saúde médicos enfermeiras serão convidados para uma entrevista sobre a vida no campus da uni versidade Procedimentos A entrevista será realizada de forma indivi dual em um espaço reservado para tal ati vidade No caminho para sala de entrevista parte dos alunos passa por uma situação que implica em ajuda por exemplo uma pessoa deixa cair um objeto Desta maneira criam se três grupos de sujeitos a encontrar uma oportunidade para ajudar sendo que o participante da pesquisa de fato ajuda b encontrar uma oportunidade para ajudar sendo que o participante da pesquisa de fato não ajuda c não encontrar uma situação de ajuda Os grupos a e b constituem uma mani pulação experimental o grupo c constitui um grupo de controle O instrumento de pesquisa consiste em um questionário com perguntas sobre a qua lidade de vida em geral a qualidade de vida no campus da universidade e a disposição da pessoa de se engajar em uma atividade vo luntária na universidade por exemplo doar sangue durante a semana universitária vantagens e desvantagens do levantamento de dados A principal vantagem do uso de questioná rios e entrevistas consiste na possibilidade de explorar atitudes opiniões razões para fazer ou não fazer determinadas coisas algo impossível no caso de observação ou méto dos não intrusivos já que estes por defini ção excluem o contato com os participantes da pesquisa considerações Finais O jogo não terminou até que tenha termi nado Berra 1998 p 121 Há de se enfatizar que pesquisar e pu blicar na ciência são as duas faces da mes ma moeda uma não vale sem a outra Cabe lembrar que publicar uma pesquisa quer dizer torná la pública Uma pesquisa que não for publicada não contribuirá para a ciência sequer existirá A pesquisa e a pu blicação são interdependentes da concep ção da pesquisa como processo cíclico que passa pelas seguintes fases Tavares e Diniz 1993 1 Selecionar um objeto de pesquisa e definir a problemática considerando se resulta dos de pesquisas anteriores 2 Relacionar a problemática a teorias e a pesquisas anteriores 3 Formular hipóteses 4 Identificar os elementos do método vari áveis relações medidas procedimentos população critérios estatística a utili zar 5 Implementar o estudo e coletar os da dos 6 Analisar os dados 7 Interpretar e relacionar os resultados à problemática original às teorias e às pesquisas referidas 8 Apresentar resultados sugerir estudos receber retroalimentação da comunidade científica INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 74 tOrres neiva cOLs 9 Selecionar um objeto de pesquisa e definir a problemática levando em consideração resultados de pesquisas anteriores fecha mento do ciclo Sendo a publicação o outro lado da pesquisa em um relato explicitam se os passos desse processo cíclico da pesquisa e o próprio relato tem caráter cíclico O ter mo relato de pesquisa está sendo utilizado genericamente para incluir desde trabalhos em nível de graduação até teses de doutora do e publicações em revistas especializadas aplica se a trabalhos baseados em dados em píricos em dados secundários bem como a resenhas de literatura Não cabe entrar em detalhes sobre como preparar um relato de pesquisa entre as muitas publicações sobre o assunto apontamos apenas duas algu mas dicas preparadas por Günther no pre lo e o Manual de Publicação preparado pela American Psychological Association 2001 2010 notas 1 A elaboração deste trabalho teve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien tífico e Tecnológico CNPq 2 As citações ilustrativas no início das seções deste capítulo são oriundas de um livro de Yogi Berra jogador de beisebol conhecido por suas observações pouco convencionais 3 Usamos o termo comportamento de maneira genérica para nos referir tanto a comporta mentos quanto a experiências subjetivas tais como atitudes sentimentos e emoções 4 Esta nomenclatura VI e VD persiste mesmo no contexto de experimentos naturais e de levantamento de dados mesmo considerando se que estas são situações em que o pesqui sador não tem controle sobre as variáveis reFerências ADAIR J G DUSHENKO T W LINDSAY R C Ethical regulations and their impact on research practice American 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presentations Washington DC American Psychological Association 2003 PASQUALI L Testes referentes a construto teoria e modelo de construção In PASQUALI L Org Instrumentos psicológicos manual prático de elaboração Brasília Laboratório de Pesquisa em Avaliação e Medida da Universidade de Brasília 1999 p 3771 PINHEIRO J Q ELALI G A FERNANDES O Observando a interação pessoaambiente vestígios ambientais e mapeamento comportamental In PINHEIRO J Q GÜNTHER H Org Métodos de pesquisa nos estudos pessoaambiente São Paulo Casa do Psicólogo 2008 p 75104 SCHOGGEN Ph Behavior settings A revision and extension of Roger G Barkers Ecological Psycho logy Stanford CA Stanford U Press 1989 SCOTT M M A powerful theory and a paradox Ecological psychologists after Barker Environment Behavior v 37 p 295329 2005 SIEGEL S CASTELLAN JR N J Estatística não paramétrica para ciências do comportamento 2 ed Porto Alegre RS Artmed 2006 SILBEREISEN R K Social change and human de velopment Experiences from German 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methodology Newbury Park CA Sage 1993 WEBB E J CAMPBELL D T SCHWARTZ R D SECHREST L Unobtrusive measures ed revisada Thousand Oaks CA Sage 2000 WEBB E J CAMPBELL D T SCHWARTZ R D SECHREST L GROVE J B Nonreactive measures in the social sciences 2nd ed Boston MA Houghton Mifflin 1981 YAREMKO R M HARARI H HARRISON R C LYNN E Handbook of research and quantitative methods in psychology Hillsdale NJ Erlbaum 1986 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS Parte II O indivíduo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS Cognição social refere se aos proces sos cognitivos por meio dos quais as pessoas compreendem e explicam as outras pessoas e a si mesmas Essa compreensão ocorre de forma instantânea quase automática mas também pode envolver considerações e aná lises detalhadas e lentas Quando considera mos a complexidade das pessoas a primeira característica que chama a atenção na cogni ção social é a rapidez com a qual compreen demos e julgamos os outros Essa rapidez de julgamento tem seu preço embora sejamos bons avaliadores em geral também comete mos inúmeros erros quando julgamos o que são os outros e o que somos nós Talvez o estudo da cognição social possa ajudar nos a diminuir esses erros melhorando nosso autoconhecimento e nossa capacidade per ceptiva e interpretativa dos outros Plano do caPítulo Este capítulo começa pela definição e evo lução da inteligência social humana e intro dução aos componentes básicos schemas e atribuições dos processos da cognição social A inteligência social humana surgiu junto com o aumento do número de mem bros dos primeiros grupos de hominídeos Os humanos desenvolveram teorias da mente para que pudessem julgar os com portamentos dos outros especialmente os comportamentos de reciprocidade Os schemas dizem respeito aos conteúdos es truturas de conhecimentos armazenados na memória de nossa cognição social As atri buições são respostas às indagações das cau sas dos comportamentos que observamos e tentamos compreender Na segunda parte do capítulo analisa remos os diferentes processos da cognição social atenção memória e inferência Cada um desses componentes é analisado em ou tras áreas da psicologia tais como a psicolo gia cognitiva mas também são com ajustes e adaptações fundamentais para nossa au tocompreensão e para nossa compreensão dos outros cognição social coMPreenden do os outros De uma forma direta e simples a cognição social pode ser definida como o pensar do indivíduo a respeito de si próprio e dos ou tros Entretanto embora a ênfase inicial tenha sido no pensar cognição os psicó logos sociais também procuram associar sentimentos e comportamentos à cognição social O estudo das relações entre nossos pensamentos a respeito dos outros e de nos sos sentimentos avaliações emoções e com portamentos deu origem à distinção entre a cognição quente versus cognição fria bem como à visão pragmática que relaciona a cognição ao comportamento as ações são causadas pelos processos mentais envolvi dos no pensamento 4 cOGniçãO sOciaL bartholomeu t tróccoli INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 80 tOrres neiva cOLs Pensar sobre os outros é a atividade central de nossas vidas Todos nós somos psicólogos amadores pois estamos constan temente explicando nossas ações e as ações dos outros Quando por exemplo alguém nos agride verbalmente em resposta a uma observação qualquer que acabamos de fazer entendemos imediatamente que essa pessoa pode ter se sentido ofendida ou ameaçada pela minha posição Estamos apenas reco nhecendo que o outro possui uma crença acredita que tenho alguma intenção e um desejo quer evitar algo que considera nega tivo A explicação das ações como resulta dos das crenças e desejos é o que define a chamada psicologia senso comum ou psi cologia leiga A psicologia leiga é produto do perío do formativo da espécie humana período que começou depois da separação da linha gem humana da linhagem dos chipanzés há cerca de 6 milhões de anos1 Ambientes diferentes colocam problemas adaptativos diferentes exigindo diferentes adaptações Para compreender a evolução da mente hu mana o ambiente social da espécie é mais importante do que o ambiente físico Como os outros primatas nossos ancestrais viviam inicialmente em pequenos grupos mas que foram ficando maiores com as consequentes estruturas sociais cada vez mais complexas nos quais as questões colocadas pelas interações eram tão importantes quanto a sobrevivência aos predadores Quais os pro blemas adaptativos enfrentados por nossos ancestrais Vários autores p ex Evans e Zarate 1999 Buss 2005 sugerem os se guintes Evitar predadores Achar a comida certa Formar alianças e amizades Ajudar crianças e parentes Entender a mente dos outros Comunicar se com os outros Selecionar parceiros sexuais Todos esses problemas colocaram obstáculos cruciais para a sobrevivência de nossa espécie e o modelo predominante na psicologia evolucionista atual defende que a seleção natural provocou o surgimento de módulos mentais responsáveis pela supera ção desses obstáculos Cosmides e Tooby 1992 Buss 2005 O modelo da mente modular propõe que a mente é composta de vários módulos que se comunicam e in teragem como uma estrutura inata que se desenvolveu naturalmente e de forma se melhante aos órgãos biológicos Para a psi cologia evolucionista os diversos módulos mentais são adaptações que surgiram para resolver problemas adaptativos permitindo a sobrevivência e a reprodução de nossa es pécie Alguns módulos surgiram já nos an cestrais de nossos ancestrais e são comparti lhados com outros animais outros são bem mais recentes e resultaram de adaptações a ambientes radicalmente diferentes dos ambientes de outras espécies De qualquer maneira os módulos não param de evoluir e todos foram se modificando durante o pe ríodo formativo da espécie humana Os problemas colocados pelo ambien te social foram inicialmente compartilhados pelos humanos assim como por todos os ou tros primatas A luta por recursos escassos poderia ser enfrentada com o surgimento de coalizões formadas por dois ou três mem bros da espécie No entanto após a sepa ração de nossa linhagem da linhagem dos chipanzés o tamanho dos grupos humanos foi aumentando cada vez mais criando um valor também cada vez maior para a estra tégia de formação de alianças e coalizões A associação com outros em busca de for mação de amizades passou a ser tão im portante quanto saber escolher a comida certa ou possuir a habilidade para detectar predadores Mas a formação de alianças é uma tarefa difícil porque envolve questões de altruísmo recíproco a troca de favores só funciona se forem observadas regras do tipo ajudo você agora e você me ajuda depois Existe sempre o risco de que um membro da aliança fique com os benefícios sem contri buir com nenhum dos custos envolvidos O problema da não reciprocidade é tão grave que a espécie que não desenvolver mecanismos para enfrentá lo não sobrevive INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 81 A questão é simples o membro da espécie que não colabora com o pacto do altruísmo recíproco tem mais chances de sobreviver e reproduzir do que os que são facilmente enganados Genes que favorecem esse tipo de comportamento vão ficar cada vez mais frequentes no pool genético da espécie e eventualmente todos serão egoístas e não altruístas Como ninguém mais vai ajudar ninguém as alianças se desfazem ficando impossível viver em grupos Não surpreende portanto que todas as espécies que vivem em grupos descobri ram mecanismos para enfrentar a questão dos membros egoístas e aproveitadores Ao analisar as soluções encontradas por diver sas espécies Axelrod propôs na década de 1980 p ex Axelrod 1984 a existência de três condições que quando implemen tadas neutralizam o problema dos apro veitadores 1 organismos encontram os mesmos organismos repetidas vezes 2 organismos podem reconhecer aqueles que já encontraram antes diferenciando os dos que são totalmente estranhos e 3 orga nismos possuem memória suficiente para lembrar de como aqueles que já encontra ram os trataram nesses encontros prévios Por que a existência dessas três condições elimina o risco do altruísmo não correspon dido Porque os aproveitadores podem ser punidos e os cooperadores podem ser re compensados Quem se recusou a retornar os favores pode ser punido com a expulsão do grupo ou com a recusa de qualquer ajuda posterior Quem cooperou e retribuiu pode ser recompensado com ajuda contínua na hora da necessidade Todas as três condições foram surgindo em nossos ancestrais hominídeos ao longo de seu período formativo A interação contí nua entre eles demonstrava que a existência desses grupos só era possível porque a evo lução tinha projetado tanto módulos sofisti cados de reconhecimento facial quanto uma boa memória para interações sociais Todos nós somos extremamente sensíveis ao altru ísmo recíproco e mantemos uma espécie de contabilidade social para cada conhecido ou amigo Se nossos registros indicam que alguém tem feito menos bem por nós ou nossos amigos de alianças cooperativas do que o fazemos por ele então na próxima vez que houver uma solicitação de ajuda nos sentiremos bem menos inclinados ou mesmo nos recusaremos a ajudar Essa contabilidade social também envolve me canismos mentais complexos porque exige que de alguma maneira sejam atribuídos diferentes valores para diferentes ações Quando uma pessoa doa seu bem para outra que está necessitada os valores associados a essa ação de cooperação e a consequente retribuição vão depender de outros fatores contextuais Neste caso a contabilidade so cial levará em conta por exemplo a situa ção econômica de quem fez a doação ou empréstimo a bondade de uma pessoa rica é valorizada de uma forma bem diferente da bondade de quem tem muito pouco e faz um grande sacrifício em favor do outro O valor da ação também vai depender do custo para o doador e do benefício para o receptor da ação mas os custos e benefícios de qualquer ato de bondade não podem ser fixados pre viamente pois dependem do contexto no qual ocorrem2 Esse é o ponto principal para a apre sentação da cognição social Nós humanos desenvolvemos sistemas sociais complexos que só podem funcionar no sentido do sucesso reprodutivo e da sobrevivência da espécie se alicerçados em sistemas cogni tivos igualmente complexos que se manifes tam em nossa inteligência social cresciMento dos gruPos HuManos e o surgiMento da inteligência social No período entre 6 milhões a 150 mil anos atrás o tamanho médio dos grupos hominí deos saltou de cerca de 50 para 150 mem bros Como já abordamos anteriormente à medida que os grupos foram aumentando vários módulos dedicados às trocas sociais foram evoluindo favorecendo a formação de alianças estáveis que mantiveram os gru INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 82 tOrres neiva cOLs pos sociais coesos o que também pode ser observado nos vários tipos de primatas No caso dos humanos entretanto a evolução fez surgir um módulo bastante complexo e sofisticado o módulo de leitura da mente isto é o módulo mental que permitiu que fizéssemos suposições ou inferências sobre o que as outras pessoas estão pensando tendo por base suas ações palavras e comporta mentos3 Grupos maiores exigem mais capa cidade de memória para acompanhar os comportamentos dos outros bem como capacidades de raciocínio social bem mais sofisticadas que possibilitem manter equi líbrios delicados entre lealdades e amiza des conflitantes Nesse ponto já estamos considerando estratégias e jogos políticos bastante sofisticados nos quais mentiras promessas jogos de cena e até mesmo sin ceridade e franqueza ajudam nos a manter nossos amigos e a enganar nossos inimigos Aos poucos surgem os psicólogos amadores armados com uma teoria da mente uma teoria sobre como a mente humana funcio na O principal axioma dessa teoria afirma que as ações são causadas por processos mentais tais como crenças e desejos A explicação do surgimento da teoria da mente dentro de uma perspectiva evo lucionista de adaptação à seleção natural e sexual implica que a psicologia leiga não é uma invenção cultural Ela é uma parte inata herdada da mente humana que se desenvolve nos primeiros anos de vida até estar completa por volta dos 4 anos e meio Nessa idade a criança já consegue passar nos testes de falsa crença Uma psicóloga apresenta dois bonecos à criança Os bonecos chamados Sally e Ana estão em um quarto de uma casa de brinquedo junto de uma cama onde há almofadas Primeiro a criança observa Sally colocar alguns doces debaixo de uma almofada para logo em seguida sair do quarto Enquanto Sally está fora Ana tira os doces debaixo da almofada e os coloca em seu bolso Quando Sally volta ao quarto a psicóloga pergunta à criança Onde Sally pensa que os doces estão Antes dos 4 anos e meio a criança respon de no bolso da Ana o que é uma resposta típica de quem ainda não desenvolveu uma teoria da mente A criança não tem a noção de que os outros podem ter crenças diferentes de suas próprias crenças Ela acha que todas as outras pessoas acredi tam no que ela acredita E ela acredita no que ela viu Ana colocou os doces no bol so Portanto Sally também tem a mesma crença Após os 4 anos e meio a resposta muda radicalmente Sally acredita que os doces estão debaixo da almofada Com o surgimento da teoria da mente a criança já compreende que outras pesso as podem manter crenças que são diferen tes das suas e que também podem manter crenças que são falsas Só então a criança pode tentar manipular outras pessoas por meio da indução de falsas crenças isto é só então a criança aprende a mentir E sem a capacidade para mentir não é possível jogar os jogos políticos necessários para a vida em grupos sociais linguageM e altruísMo recíProco Nossos ancestrais adquiriram a capacidade para usar linguagens complexas e sofisti cadas antes de deixar a África há cerca de 100 mil anos Na década de 1950 Noam Chomsky demonstrou que seria impossível para as crianças aprenderem uma língua de forma tão rápida apenas com os estímulos dados pelos pais e pelo ambiente cultural A criança só aprende uma língua porque ela nasce pré programada para este tipo de aprendizagem Por que então nossos ances trais desenvolveram mais essa capacidade inata Qual o problema adaptativo supera do com o uso da linguagem A teoria mais comum sugeria que a lin guagem é um sistema de comunicação que evoluiu para ajudar nossos ancestrais na caça e na defesa contra os predadores De acordo com essa teoria a função da linguagem era a de troca de informações sobre o ambiente INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 83 físico e ecológico uma vez que sons são bem mais eficazes do que sinais visuais na escuri dão da noite e através de longas distâncias Essa teoria entretanto foi contestada por Robin Dunbar 2004 quando propôs que a função básica da linguagem é a troca de informações sobre o ambiente social Mais uma vez a questão do altruísmo recíproco está na raiz de uma nova proposição para um mecanismo inato Em grandes grupos o altruísmo recíproco só funciona quando existe informação suficiente sobre quem é ou não é de confiança Com grupos cada vez maiores não é possível distinguir apenas por meio da experiência direta pessoal entre os aproveitadores e os que cooperam Sem a linguagem isto é sem um sistema de comunicação sofisticado os grupos não po deriam crescer ficando bastante limitados no número possível de membros Existe um limite no número de pessoas que um indi víduo pode manter relações físicas diretas e constantes para que possa estimar qual a probabilidade de cooperação futura4 Para Dunbar 2004 a linguagem evo luiu para ajudar nossos ancestrais na ob tenção de informações sobre quem merece ou não confiança principalmente quando não ocorre uma reciprocidade direta Na reciprocidade indireta o indivíduo é altruís ta com outra pessoa na esperança de esta belecer sua reputação como generoso e de confiança Esse é um bom exemplo em que a linguagem ajuda na troca de informações sociais permitindo que os humanos usufru am das vantagens de se viver em grandes grupos Daí o fascínio humano pela fofoca ela é a forma mais eficaz de comunicação para se obter informações sobre a confiabili dade dos outros características gerais da cognição social Até agora estabelecemos as bases evoluti vas de algumas das características do fun cionamento do cérebro humano que surgi ram como adaptações às primeiras questões colocadas pelas interações sociais de nos sos ancestrais Agora descrevemos alguns dos princípios que norteiam os estudos da cognição social 1 o indivíduo como um avarento cognitivo 2 orientação para os processos 3 pessoas como agentes cau sais 4 percepção mútua 5 centralida de do eu 6 qualidade da percepção 7 orientação pragmática tático motivada e predominância dos processos automáticos indivíduo como ator ativado 1 O indivíduo como um avarento cognitivo As pessoas não gostam de pensar muito exceto quando acham que é necessário Elas procuram fazer render ao máximo o pouco do esforço cognitivo que conse guem exercer Devido a essa tendência Fiske e Taylor 1991 2008 definiram as pessoas como avarentas no uso de seus recursos cognitivos Não que as pessoas não consigam realizar trabalhos cogniti vos complexos Elas o fazem quando eles são importantes e necessários Mas o mun do é muito complicado especialmente as outras pessoas e frente a essa realidade é melhor utilizar atalhos cognitivos buscar simplificações e aproximações em vez de proceder com análises minuciosas e bem fundamentadas Vários dos processos que serão analisados mais adiante estão relacionados com a sovinice cognitiva das pessoas 2 Orientação para processos A abordagem da cognição social sempre utilizou a abor dagem predominante na psicologia cogni tiva na qual os processos cognitivos são descritos como processos computacionais as pessoas recebem informações input codificam o que receberam armazenam na memória recuperam da memória para realizar inferências e para gerar produtos output A psicologia cognitiva tende a definir os processos cognitivos como for mados por estágios sequenciais O mesmo ocorre na cognição social A sequência atenção memória julgamento bem como outras sequências paralelas atenção julgamento ou atenção memória são alguns dos principais referenciais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 84 tOrres neiva cOLs des critivos da psicologia cognitiva e da abordagem da cognição social 3 Pessoas como agentes causais Parte funda mental da teoria da mente que recebemos por meio de nossa herança evolutiva é a percepção de que as pessoas são agentes causais Percebemos as pessoas como sendo impulsionadas internamente em direção a suas ações e objetivos Sentimos que os outros possuem agendas internas não observáveis Isso faz com que as pessoas fiquem bem mais interessantes e complexas como alvos de percepção e julgamento 4 Percepção mútua Outra característica que torna as pessoas interessantes e nossa percepção sobre elas em algo bem mais complexo é que elas também retornam a percepção afetando o observador Nossos impulsos naturais para compreender e explicar os outros se misturam com o que percebemos como a percepção e o julgamento deles a nosso respeito A cog nição social é uma percepção mútua um processo de mão dupla 5 Centralidade do eu Uma das consequên cias do processo de mão dupla mencio nada no item anterior é que a percepção de outra pessoa envolve o eu de quem percebe O observador olha para outra pessoa e termina por também perceber a si próprio As reações que a pessoa julga per ceber nos outros também define o que ela é a adequação de seus comportamentos opiniões e crenças da maneira de vestir etc A centralidade do eu do observador é inevitável 6 Qualidade da percepção Todas as carac terísticas mencionadas até o momento chamam a atenção para a questão da exatidão e da qualidade do processo de observação de fenômenos não observá veis Traços não observados são difíceis de comprovar e este é também um grande problema em áreas como a psicologia da personalidade por exemplo Nas áreas da avaliação psicológica são utilizados modelos e análises estatísticas comple xas em busca de algum tipo de validação dos traços não observados que possam descrever as pessoas Qual a qualidade da psicologia leiga Embora cometamos muitos erros é evidente que em média chegamos a interpretações razoáveis uma vez que conseguimos conviver razoavel mente bem Uma das razões está no uso de opiniões alheias como técnica de va lidação de nossos julgamentos É sempre possível confrontar nossa percepção com a percepção de um amigo em comum em busca de algum respaldo coletivo 7 Orientação pragmática tático motivada Seguindo William James um dos lemas enfatizados na cognição social é que o pensamento tem por objetivo a ação Fiske e Taylor 1991 2008 Como ana lisamos anteriormente esta característica está profundamente alicerçada em nossa história evolutiva O pensamento social das pessoas surgiu em função do planeja mento da preparação e do ensaio prévio para as interações do indivíduo com seu grupo social de alianças e amizades O indivíduo é um tático motivado ao pensar para agir escolhendo entre várias estraté gias políticas e sociais que garantam suas alianças e reciprocidade mútua Para Fiske e Taylor 1991 O contexto pragmático social do pensar sobre os outros significa que a cognição social tanto é causa quanto efeito da in teração social A ligação com a interação social significa que a a qualidade e a exatidão das percepções das pessoas são suficientes para os propósitos do dia a dia b elas constroem significados baseados nos traços estereótipos e histórias mais úteis convenientes e coerentes e c seus objetivos determinam como pensam Fiske 1995 p 157 8 Predominância dos processos automáticos indivíduo como ator ativado Nos últimos anos outro modelo do ser humano tem surgido na cognição social O modelo indivíduo como ator ativado considera que há uma predominância de processos afetivos e comportamentais automáticos isto é não acessíveis à consciência A qua INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 85 se maioria das ações do tático motivado não acontece como fruto de deliberações conscientes Pelo contrário associações inconscientes ativadas em milésimos de segundos ativampreparam priming effects cognições avaliações afetos mo tivações e comportamentos Dijksterhuis e Bargh 2001 Fazio e Olson 2003 eleMentos da cognição social As pessoas usam suas estruturas cognitivas para chegar a uma compreensão rápida e bastante satisfatória a respeito dos outros e de si mesmas Quais são os elementos que formam os conteúdos das estruturas cogni tivas São dois os elementos principais que preenchem nossas estruturas cognitivas schemas e atribuições Schemas Os schemas são estruturas cognitivas com postas de conhecimentos sobre conceitos objetos ou eventos representados por seus atributos e pelas relações entre esses atri butos Fiske 1982 Fiske e Neuberg 1990 os quais expressam pré concepções ou teo rias sobre conceitos objetos ou eventos No nosso caso os schemas que nos interessam são pré concepções ou teorias a respeito das outras pessoas e de nós mesmos Você por exemplo provavelmente tem um sche ma sobre o que é uma pessoa extrovertida quais são suas principais características O que ela faria em uma situação tensa É uma pessoa confiável Amiga Prestativa Emo cionalmente Instável Barulhenta Por pos suir um schema pessoa extrovertida você responde facilmente a estas perguntas por que você tem uma série de pré concepções sobre ela Para os psicólogos cognitivistas um schema não passa de um termo com plicado para representar esse conjunto de conhecimentos ou pré concepções Pré concepções possuem muitos elementos informações conectadas entre si formando uma teoria sobre pessoa extrovertida ou sobre quaisquer outros conceitos objetos ou eventos Uma implicação é que você pode não ter um schema sobre um conceito ou algo em particular Quais são os tipos de schemas No exemplo acima temos um schema de pessoa extrovertida Mas as pessoas também pos suem todo tipo de schemas sobre traços de personalidade estável agressivo cordial ou de pessoas em uma determinada situa ção comportamento em um restaurante na sala de aula no cinema Neste caso te mos o equivalente a scripts que descrevem ou prescrevem como a pessoa deve se com portar em certas situações Outros tipos são os schemas sobre objetivos sociais vingança sedução ajuda e os schemas sobre papéis sociais que contêm os comportamentos e os atributos que esperamos de determinadas pessoas que ocupam posições sociais che fes líderes administradores professores estudantes de graduação estudantes de pós graduação membros de uma quadrilha políticos etc Os schemas sobre papéis são schemas equivalentes a estereótipos Schemas sobre o próprio eu self sche mas constituem a base de nosso autoconcei to mas também pode ser que não tenhamos nenhum schema sobre uma determinada di mensão de nosso eu Se você nunca foi do tipo esportivo por exemplo não há como ter uma rede de conhecimentos e de pré concepções sobre esse componente de seu eu Como os self schemas são bastante elabo rados tendemos entre outras coisas a nos lembrar mais de informações que nos dizem respeito do que de informações que nos são indiferentes Kihlstrom Cantor Albright Chew Klein e Niedenthal 1988 Qual então são as funções dos sche mas Schemas influenciam a maneira como codificamos relembramos e julgamos as informações que temos acesso sobre con ceitos ou eventos Os schemas também di rigem nossa atenção para determinados as pectos das informações a que temos acesso Um exemplo retirado de uma pesquisa de Owens Bower e Black 1979 serve para ilustrar as funções dos schemas Nessa pes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 86 tOrres neiva cOLs quisa três grupos de participantes leram cada um uma versão do seguinte relato Cristina acordou sentindo se enjoada novamente e ficou pensando se poderia estar grávida Como iria dizer ao professor que ela estava namorando E a questão do dinheiro ainda era outro problema Cris foi para a cozinha tirou a chaleira do armário fez café olhou o café e decidiu adicionar um pouco de leite e açúcar Depois vestiu se e foi ao médico Quando chegou ao consultório do médico Cris foi examinada inicialmente pela enfermeira que procedeu com os exames prelimina res rotineiros Cris subiu na balança e a enfermeira registrou seu peso O doutor entrou na sala examinou os resultados desses procedimentos sorriu e disse Bom parece que todas as minhas ex pectativas foram confirmadas Cris foi embora e quando foi chegando à sala de aula decidiu sentar se na primeira fila Cris entrou na sala e sentou se O pro fessor foi para frente da sala e começou sua aula Durante toda a aula Cris não conseguiu se concentrar no que estava sendo dito A aula parecia não terminar nunca Mas finalmente terminou Como o professor foi cercado pelos alunos logo após a aula Cris saiu rapidamente da sala No final daquela tarde Cris foi a uma recepção no departamento e ficou olhando para ver quem estava lá Cris foi até o professor querendo conversar com ele sentindo se um pouco nervosa sobre o que dizer Um grupo de pessoas começou a jogar alguns jogos Cris foi até uma mesa onde estavam refrigerantes e salgadinhos O lanche estava bom mas Cris não se interessou por conversar com as outras pessoas presentes Depois de certo tempo Cris decidiu ir embora Owens Bower e Black 1979 apud Fiske 1995 p 163 Um dos três grupos da pesquisa de Owen e colaboradores 1979 leu esta ver são da história Agora considere a mesma história com uma introdução diferente substituindo as primeiras linhas até os três pontinhos Cristiano acordou se per guntando quanto peso tinha ganho até o momento O treinador de seu time de fute bol tinha dito que ele só seria escalado para o próximo jogo se ganhasse bastante peso e passasse no teste antidoping A pressão era muito grande Continue com a mesma história já transcrita acima Para o terceiro grupo grupo controle não foi fornecida nenhuma introdução e a história se inicia depois dos três pontos Entre a primeira e a segunda versão da história o significado muda radicalmente por conta dos schemas ativados Na primei ra temos o schema gravidez indesejada e na segunda o schema candidato a atleta Essa mudança radical ocorre porque nossos schemas para as duas situações levam a dife rentes codificações e à ativação de conheci mentos e reações emocionais adicionais que trazem para o que está escrito Por exem plo para entender melhor a influência do schema gravidez indesejada da primeira história imaginemos que nossa persona gem tivesse tido oportunidade de conversar com o professor Como ela estaria se sen tindo em uma situação dessas Ansiosa Desconfortável Você não acha que teria sido melhor ter combinado um encontro com o professor em outro momento em vez de tentar conversar na recepção Cristina ficou feliz quando descobriu que aumen tou de peso desde a última consulta E na segunda versão da história como Cristiano estava se sentindo com relação a seu pro fessor Por que queria falar com o professor na recepção Como ele estava se sentindo em relação a seu peso Qualquer pessoa que tenha schemas ativados por essas histórias é capaz de compreendê las preenchê las imaginar caminhos e cenários alternativos e assim por diante Para analisar mais ainda o papel dos schemas Owen e colaboradores 1979 so licitaram meia hora depois da leitura que os participantes relatassem de memória tudo que tinham lido nas histórias pro curando ser o mais fiel possível ao relato original Os resultados mostraram que os dois grupos cujas histórias ativaram sche mas distintos relembraram mais detalhes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 87 na ordem correta e com menos erros e acréscimos de informações extras do que o grupo de controle Os schemas ativados di rigem a atenção das pessoas para detalhes cruciais guiam a memória e influenciam o julgamento A rapidez com a qual as pessoas jul gam as outras acontece porque o julga mento é feito automaticamente on line Os schemas permitem que façamos julgamentos e avaliações simplificadas polarizadas e au tomáticas Somos apresentados a alguém que nunca vimos antes e imediatamente temos reações positivas ou negativas já a partir do momento que começamos a re ceber informações tom de voz aparência postura conteúdo do que diz Acontece que quando encontramos alguém que ati va algum schema ligado a outra pessoa ou evento ocorre uma reação ou transferência das mesmas reações de julgamento para a pessoa que acabamos de conhecer sem que tenhamos nenhuma consciência disso Pode ser até que o novo conhecido não nos lem bre ninguém em particular mas venha de categorias de pessoas ocupação etnia lo cal de nascimento sobre as quais temos for tes reações afetivas ou de opinião Andersen e Cole 1990 Fiske 1982 Devine 1995 A categoria mais forte que existe é nós versus eles uma divisão inter grupos que sempre desencadeia julgamentos positivos para o nosso grupo e negativos para os de fora Brewer 1979 Mullen Brown e Smith 1992 Não é de surpreender portanto que cada um de nós provoque reações tão diver sas nas outras pessoas Os schemas afetam nossa atenção me mória e julgamentos mas não são as úni cas influências em nossos pensamentos a respeito dos outros Afinal também temos outras evidências e informações que perce bemos ou recebemos de outras fontes Os schemas atuam em confronto com as evidên cias e o equilíbrio que surge dependerá de vários fatores Em algumas situações nossa motivação quando temos pouco tempo sobrecarga cognitiva cansaço por exemplo nos leva a uma predominância de nossos schemas sobre as evidências Brewer 1988 Fiske e Neuberg 1990 Gollwitzer 1990 Hilton e Darley 1991 Em outras situações os fatores que influenciam esta relação são a congruência entre schemas e dados Fiske Neuberg Beattie e Milberg 1987 e o valor diagnóstico dos dados Hilton e Fein 1989 Leyens Yzerbyt e Schadron 1992 Trata se de fato de uma questão de superação de nossos schemas e estereótipos em função dos dados e informações a respeito de uma determinada pessoa em particular Os fa tores que podem diminuir a influência dos schemas e estereótipos são mais atenção e mais motivação para que possamos ir além das reações automáticas altamente influen ciadas por nossos schemas atribuições Os schemas são definidos como um dos dois elementos básicos da cognição social O ou tro são as atribuições As pessoas são perce bidas como agentes causais e é importante saber como elas atribuem causas aos com portamentos dos outros e a seus compor tamentos Não só atribuímos causas como essas atribuições têm profundas influências sobre nossas reações afetivas e comporta mentos futuros Esta é a razão pela qual as atribuições são parte fundamental de nossos pensamentos a respeito dos outros e de nós mesmos Quando atribuímos disposições ou traços como causas de comportamentos ob servados fornecemos toda informação ne cessária para ficar armazenada no schema relativo aos traços comportamentos e rea ções afetivas em questão Weiner 2000 2005 propõe duas teo rias para explicar as atribuições de causas a que o indivíduo recorre para explicar os próprios comportamentos teoria da atribui ção intrapessoal e os comportamentos dos outros teoria da atribuição interpessoal Embora os modelos atribucionais de Weiner tenham sido desenvolvidos para explicar questões motivacionais nos comportamen tos de desempenho vamos utilizar suas pro posições para descrever como as atribuições de causalidade são realizadas pelas pessoas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 88 tOrres neiva cOLs quando tentam entender a si próprias eou entender os outros Teoria da atribuição intrapessoal O processo de atribuição de causas que o in divíduo realiza para explicar e compreender seu comportamento é desencadeado a partir de eventos considerados negativos inespe rados ou importantes A Figura 41 a seguir apresenta uma adaptação do modelo da Teoria da Atribuição Intrapessoal de Weiner 2000 2005 Nesse modelo eventos que significam a obtenção ou não de algum ob jetivo provocam automaticamente reações afetivas positivas alegria felicidade ou negativas tristeza frustração Essas emo Figura 41 teoria de atribuição intrapessoal Baseado em Weiner 2005 Tipos de causas e suas consequências Aptidão expectativa alta de sucesso emoções positivas Esforço boas expectativas de sucesso emoções positivas determinação precaução Habilidade boas expectativas de sucesso emoções positivas incerteza quanto à habilidade Sorte acaso ajuda baixa expec tativa de sucesso emoções ime diatas positivas mas passageiras Tipos de causas e suas consequências Falta de aptidão expectativa muito baixa de sucesso emoções negativas vergonha humilhação embaraço Baixo esforço boas expectativas de sucesso emoções negativas passageiras baixa autoestima culpa Falta de habilidade expectativas moderada de sucesso emo ções negativas substituídas por apreensão Falta de sorte acaso ruim falta de ajuda expectativa positiva cautelosa de sucesso emoções negativas mas passageiras Evento Positivo Evento Negativo Se o evento foi inesperado negativo ou importante então ocorre uma busca por causas que podem ser descri tas em um espaço tridimensional Locus Estabilidade Controlabilidade Se positivo Feliz Se negativo Tristeza Frustração Alcançou objetivo Não alcançou objetivo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 89 ções ocorrem sem interferência cognitiva Só a partir dessas reações emocionais é que o processo de atribuição é desencadeado se o evento ocorrido for considerado pelo indivíduo como negativo inesperado ou muito importante De acordo com Weiner as causas atribuídas ao comportamento que resultou no alcance ou não dos objetivos do indivíduo aptidão inata sorte ajuda dos outros etc podem ser enquadradas em um espaço tridimensional composto pelas di mensões locus interno ou externo estabili dade estável ou instável e controlabilidade controlável ou incontrolável Vamos supor por exemplo que o indi víduo acaba de ser aprovado em um concur so público Devido à importância do evento desencadeia se um processo atribucional no qual a questão é atribuir uma causa ao evento fui aprovado no concurso Por uma série de fatores que não discutiremos aqui o indivíduo termina considerando que sua aprovação foi consequência de sua grande competência inata O indivíduo atribui sua aptidão à causa do que ocorreu Nesse caso ele fez uma atribuição que pode ser defini da no espaço tridimensional como interna estável e incontrolável Interna porque é pro priedade dele estável porque é permanente e constante e incontrolável porque ele já nasceu com elevada capacidade cognitiva e intelectual que são características inatas Vamos contrastar agora esse tipo de atri buição com a atribuição de outro candidato que embora também tenha sido aprovado considerou que tudo aconteceu em razão de seu esforço Diferentemente do primeiro in divíduo temos uma causa interna não está vel e controlável São as seguintes algumas das atribui ções mais comuns com suas respectivas de finições no espaço tridimensional Aptidão interna estável incontrolável Esforço interna instável controlável Habilidade interna instável contro lável Acaso externa instável incontrolável Ajuda externa instável incontrolável Sorte externa instável incontrolável Para Weiner o enquadramento das cau sas no espaço tridimensional locus estabi lidade e controlabilidade é de fundamental importância porque os tipos de atribuições causais possuem diferentes consequências motivacionais que se manifestam nas expec tativas e reações afetivas das pessoas E são essas expectativas e emoções que Weiner considera como os principais determinantes das ações motivacionais Um fracasso atri buído à falta de aptidão por exemplo leva a sentimentos de vergonha humilhação e embaraço além de nenhuma expectativa de que será possível reverter a situação no futu ro Afinal o fracasso decorreu de uma causa interna estável e incontrolável Já um fra casso atribuído à falta de esforço também provoca emoções negativas baixa autoesti ma culpa mas que são passageiras Além do mais as expectativas para um sucesso no futuro ainda permanecem a causa do fra casso foi interna instável e controlável Na Figura 41 estão listadas estas e outras con sequências motivacionais que ocorrem em função das expectativas para o futuro e das reações afetivas do indivíduo Teoria da atribuição interpessoal Os mesmos mecanismos são desencadeados quando ocorre nossa percepção em relação aos outros O comportamento do outro nos chama a atenção e desencadeia uma busca automática por uma causa Assim como no caso da percepção do próprio comportamen to as causas que atribuímos aos comporta mentos dos outros também são classificadas dentro da mesma tridimensionalidade Nesse ponto ocorrem grandes dife renças entre os dois tipos de atribuição Primeiro na atribuição intrapessoal o indi víduo sempre enquadra o evento como algo que correspondeu ou não a seus objetivos Os eventos podem ser resumidos como su cesso ou fracasso provocando reações afe tivas positivas ou negativas de imediato e sem a participação de processos cognitivos O mesmo não ocorre na atribuição interpes soal Os eventos podem ser os mais diversos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 90 tOrres neiva cOLs tais como sucesso ou fracasso em tarefas doenças pedidos de ajuda etc Mas qual quer que seja o evento é desencadeada uma atribuição de causas que da mesma forma que na atribuição intrapessoal podem ser descritas em função do locus estabilidade e controlabilidade com a diferença que a dimensionalidade da causa é usada apenas para considerar o outro como responsável ou não pelo evento Isto é o observador atribui ou não a responsabilidade pelo que ocorreu ao indivíduo observado e só então sente a reação afetiva de raiva o indivíduo é percebido como responsável ou simpatia o indivíduo não é percebido como respon sável Na Figura 42 encontram se as sequên cias envolvidas na atribuição interpessoal considerando se algumas das causas mais comuns Se acompanharmos as duas primei ras linhas dos dois conjuntos da Figura 42 fracasso em uma tarefa por falta de esfor ço ou por falta de aptidão veremos que o modelo prevê duas reações afetivas opostas com consequências comportamentais igual mente distintas Para o mesmo evento o ob servador sente raiva ou simpatia e procede com comportamentos opostos Comparando os dois modelos das Figuras 41 e 42 podemos observar que atribuições de falta de esforço como causa de um fracasso por exemplo levam a re ações afetivas e comportamentais opostas Quando se trata do indivíduo a atribuição de pouco esforço em contraste com a atri buição de falta de aptidão resulta em sen timentos moderadamente negativos e pas sageiros bem como em comportamentos de persistência e esperança de sucesso no futu ro Já para um observador ocorre o oposto Figura 42 teoria da atribuição interpessoal Baseado em Weiner 2005 Evento Causa Reação comportamental Fracasso em Falta de esforço uma tarefa Reprimenda Câncer do pulmão Comportamento Condenação por ser fumante irresponsável Responsável Raiva Não apareceu Alcoolismo Abandono no trabalho Retaliação Agrediu uma Intencional pessoa maldade Fracasso em Falta de aptidão Decide não uma tarefa recriminar Cego de Inata sem Nenhuma nascimento controle condenação Não Simpatia responsável Faltou a escola Resfriado forte Ajuda Agressão Esbarrou sem Nenhuma querer retaliação INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 91 a atribuição de falta de esforço a um fracas so provoca raiva e comportamentos negati vos quando contrastado com a atribuição de falta de aptidão Esta provoca sentimentos de simpatia e comportamentos compreensi vos ou de ajuda Processos da cognição social Schemas e atribuições objetos dos dois úl timos tópicos são os conteúdos sobre os quais formamos nossas impressões Neste e nos próximos dois tópicos considerare mos os três principais processos que operam sobre os schemas e as atribuições atenção memória e inferência atenção A atenção é constituída por dois outros pro cessos codificação e consciência Na codi ficação transformamos toda estimulação que nos atinge através dos sentidos que atendemos no momento em algo que toma mos consciência e guardamos temporaria mente ou permanentemente em nossa me mória Consciência é aquilo de que temos conhecimento em um determinado momen to Podemos ficar quietos e estar cientes de nossas cognições dos ruídos externos das sensações que o ambiente provoca em nosso corpo e assim por diante A atenção pode então ser definida como a codificação e a consciência de estí mulos internos ou externos a nosso organis mo A principal característica da atenção é que ela é limitada Não podemos atender a todos os estímulos que nos atingem temos que nos restringir a uma pequena parte a cada momento Como nossa atenção é bas tante limitada ela tem que ser bem sele tiva Na cognição social a seletividade da atenção é importante porque os objetos do pensamento social os outros e nós mes mos são muito complexos e multifacetados Nossa atenção seletiva portanto já esta belece propriedades únicas aos conteúdos de nossa cognição social schemas e atri buições Só podemos perceber e lidar com aquilo que percebemos e até certo ponto com aquilo de que temos consciência Sendo a atenção seletiva quais os fa tores que a influenciam Um dos principais é a saliência do estímulo Se estivermos em um ambiente onde existe um excesso de es timulação nossa atenção será dirigida para estímulos que são salientes no ambiente Claro que podemos ter nossa atenção to talmente voltada para alguma preocupação premente e não prestamos mais atenção ao ambiente Neste caso entretanto a saliên cia é de nossos problemas e pensamentos internos A saliência é determinada pelo contexto imediato do estímulo Uma pessoa alta em uma festa tem uma saliência bem diferente de um jogador bem alto em um time de basquetebol Dois outros fatores ajudam na captu ra da atenção da pessoa O primeiro são os schemas Qualquer comportamento que vá de encontro ao conhecimento prévio que temos de papéis ou schemas de pessoas vai chamar nossa atenção A inconsistência com o schema chama a atenção Fiske 1995 por exemplo descreve um professor que decide ir dar aula vestido de palhaço como um caso típico de contraste entre o compor tamento e o schema de papel de professor O segundo fator que provoca a saliência do estímulo são os objetivos do observador na quele determinado momento Esses objeti vos ajudam a focalizar a atenção tornando saliente aquilo que lhe está relacionado Quais as consequências da saliência O que está saliente assume uma importância maior do que outros estímulos não salientes inclusive em termos de causalidade Isto é as atribuições de causalidade das pessoas vão sofrer influência do que é mais saliente para elas Os estímulos salientes passam a ter maior probabilidade de assumir o papel causal principal em um determinado con texto Uma determinada pessoa que chame a atenção do observador por exemplo vai ganhar mais crédito e parecer mais influen te do que os outros que não chamaram tanta INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 92 tOrres neiva cOLs atenção simplesmente porque o observador prestou mais atenção a esta pessoa Uma maior atenção também tende a polarizar ou exagerar as avaliações do observador a res peito da pessoa saliente Se quem observa gosta da pessoa sendo observada o gostar aumenta mais ainda Se não gosta também aumenta o não gostar As avaliações ficam polarizadas Finalmente maior saliência também aumenta a probabilidade de a pes soa ser lembrada posteriormente Aumenta a probabilidade de ela ficar registrada na memória de quem observa Quaisquer que sejam as razões para que prestemos mais atenção a certas pessoas ou aspectos dessas pessoas a principal con sequência é que a atenção vai mudar a ma neira como julgamos e interagimos com elas Boa parte do que pensamos sobre os outros acontece on line automaticamente em uma velocidade muito grande A atenção influen cia enormemente que tipo de informação teremos para fundamentar nossa compreen são dos outros ou de nós mesmos Memória Pesquisas que investigaram as memórias sobre outras pessoas demonstraram que os objetivos envolvimento do observador e a impressão geral formada pelo conjunto de informações têm um grande impacto sobre o quanto nos relembramos posteriormen te Devine Sedikides e Fuhrman 1989 Hamilton 1981 Hamilton Katz e Leirer 1980 Srull 1983 Ao tentar memorizar in formações sobre outra pessoa é bem mais efi caz tentar formar uma impressão ou descri ção geral dela do que tentar gravar pedaços isolados de informação tais como descrições de traços de personalidade Por exemplo se descrevemos para você uma pessoa como ousada convencida distante e teimosa a melhor estratégia é tentar formar uma im pressão geral desse tipo de pessoa imagine uma pessoa descrita por esses adjetivos e não tentar memorizar cada adjetivo ou usar truques mnemônicos do tipo memorize as primeiras letras de cada adjetivo tentando formar uma sigla Por que é mais fácil dessa forma É mais fácil por causa da integração das informações em um todo coerente da formação de ligações entre os traços descri tivos da pessoa a ligação entre teimosia e ousadia reforça mais ainda a impressão ge ral por exemplo Quanto mais traços e mais ligações melhor a memorização Além disso quanto mais o observa dor está envolvido com a pessoa observada e quanto mais relevante para o observador é a impressão autorreferente geral do ou tro melhor será sua memória A criação de certa empatia tentar se colocar no lugar do outro ajuda mais ainda a relembrar infor mações sobre outra pessoa Estranhamente tentar se colocar no lugar do outro ou me lhor ainda antecipar uma interação com a pessoa como poderíamos lidar com alguém que é ousado convencido distante e teimo so é ainda melhor em termos mnemônicos do que interagir de fato com a pessoa Em uma interação real você estaria decidindo também sobre seu comportamento além de tentar formar uma impressão a respei to do outro Você estaria muito ocupado Hastie Ostrom Ebbesen Wyer Hamilton e Carlston 1980 Srull e Wyer 1989 Wyer e Srull 1984 inferência A questão da inferência na cognição social diz respeito ao que fazemos com a informa ção que obtivemos por meio dos processos de atenção e retenção memória Como fa zemos para ir além da informação de que dispomos Qual a qualidade de nossas in ferências Qual a qualidade de nossos jul gamentos Para determinar a qualidade de nossas inferências e julgamentos precisamos nos re ferir a questões normativas A pergunta pas sa a ser Qual a qualidade de nossas inferên cias e julgamentos quando comparadas com o que é sugerido por princípios normativos ou padrões de qualidade Nisbett e Ross 1980 Kahneman Slovic e Tversky 1982 Gilovich 1991 Sutherland 1992 Goldstein INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 93 e Hogarth 1997 Baron 2000 Gigerenzer 2000 Gigerenzer e Selten 2001 Gilovich Griffin e Kahneman 2002 As respostas obtidas nas pesquisas re alizadas nas últimas décadas não têm sido muito boas Diferentes pesquisadores têm demonstrado que os mesmos processos cog nitivos sociais e motivacionais responsáveis pelas grandes realizações da inteligência e julgamento humanos também estão envolvi dos em falhas e distorções que vão dos sim ples aos grandes erros de julgamento Não se trata de falta de informação ou de educa ção A superutilização ou a má aplicação de nossas capacidades cognitivas é que causam os problemas Eles constituem os custos ine vitáveis de nossos poderes cognitivos porque os problemas de inferências e de julgamen to ocorrem quando utilizamos nossas capa cidades cognitivas no limite e sem o auxílio de um bom conhecimento normativo Este último ponto tem levado vários autores a questionarem as conclusões pessimistas das últimas décadas de pesquisa Afinal a má qualidade de nossas inferências e julgamen tos não tem impedido o sucesso adaptativo e reprodutivo de nossa espécie E os proble mas surgem quando nossas inferências são confrontadas com padrões de qualidade nem sempre explicitados de forma relevante e pertinente à linguagem cognitiva cotidia na adaptada ao mundo real Gigerenzer e Selten 2001 Gigerenzer 2000 Temos que ter cautela quando julgamos nossas capaci dades inferenciais Afinal lidamos com um mundo que se apresenta como um conjun to de dados confusos frequentemente ale atórios incompletos não representativos inconsistentes secundários de difícil com preensão São justamente nossos sucessos e fracassos para lidar com este tipo de dados que revelam a grande capacidade do racio cínio juntamente com suas limitações de jul gamento e de racionalidade E quais são as principais limitações Elas podem ser agrupadas em algumas ca tegorias interpretação de dados aleatórios de dados incompletos e não representativos à profecia autorrealizante de ver o que já se esperava ver Interpretando dados aleatórios Tendemos a ver ordem onde não existe ne nhuma e percebe mos um processo coerente atuando onde existe apenas a presença do acaso os testes psicológicos projetivos se aproveitam dessa propensão Relacionada a esta percepção de ordem consideramos que eventos aleatórios são por definição aqueles eventos que não apresentam ordem aparente isto é são eventos que têm uma aparência desordenada Uma das pesqui sas de Tversky e Kahe man 1973 ilustra bem essa tendência Estudantes foram soli citados a avaliar a probabili dade relativa de três sequências de nascimentos de meninos H e meninas M considerando os primei ros seis bebês nascidos em um determina do dia no hospital da cidade As sequências apresentadas aos estudantes foram as se guintes 1 H H H H H H 2 H H H M M M 3 M H H M M H A probabilidade de ocorrência de cada uma das três sequências é quase idêntica No entanto a maioria dos sujeitos da pesquisa escolheu a sequência 3 como a que apre senta a maior probabilidade de ocorrência Considerando o que sabem sobre a distri buição de nascimentos e sobre o processo de geração do evento aleatório as pessoas julgam a terceira sequência como a mais re presentativa A segunda sequência tem uma aparência muito ordenada e a primeira representa menos ainda uma sequência ale atória ela não reflete a aleatoriedade do processo de nascimento nem a distribuição dos sexos na população O mesmo ocorre na chamada falácia do jogador Após observar uma longa sequência de números baixos em um lançamento de dados o jogador tende a acreditar que o próximo será um número alto porque tal resultado tornaria a sequên cia geral dos eventos mais representativa de uma sequência aleatória Para Kahneman Slovic e Tversky 1982 é o heurístico da representatividade que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 94 tOrres neiva cOLs se encontra na raiz da percepção errônea de sequências aleatórias Esses heurísticos são atalhos cognitivos que simplificam e facili tam a inferência e o julgamento As pessoas recorrem a esse heurístico quando conside ram que os efeitos devem se assemelhar a suas causas grandes efeitos exigem grandes causas efeitos com plexos decorrem de cau sas complexas que eventos que estão inter ligados devem aparentar essa inter ligação e que exemplares devem aparentar semelhan ça com a categoria da qual fazem parte p ex um psicólogo deve ter a aparência do protótipo representativo do psicólogo Muitas vezes o julgamento baseado na representatividade é um julgamento corre to Outras vezes porém o uso excessivo da representatividade leva a julgamentos errô neos Nem todos os psicólogos têm cara de psicólogos e alguns grandes efeitos p ex epidemias possuem causas praticamente invisíveis p ex vírus Mas qual a relação do heurístico com a questão da aleatorieda de No caso do lançamento de uma moeda por exemplo o aspecto mais saliente é o conjunto de resultados que deve produzir espera se uma divisão meio a meio com 50 de caras e 50 de coroas Ao examinar uma sequência de resultados esse aspecto salien te dos 50 50 é comparado automati camente com a sequência que se obteve Se a sequência estiver grosseiramente dividida em 50 50 perceberemos um processo aleatório isto é a sequência representa uma distribuição aleatória Qualquer outra divisão provoca julgamentos de não aleato riedade O erro está em não saber que isso é o que deve ocorrer só a longo prazo A lei dos grandes números de acordo com os estatísticos assegura a ocorrência de uma divisão 5050 somente após um grande nú mero de lançamentos da moeda Para poucos lançamentos sequências desequilibradas são perfeitamente possíveis A ilusão do agrupamento manifesta se em várias outras formas Pessoas que trabalham em maternidades observam uma série de nascimentos de meninos seguidos por uma série de nascimentos de meninas e terminam por atribuir tais eventos a vá rias forças misterio sas do tipo fases da lua As pessoas também percebem uma face na lua São Jorge lutando contra o dra gão canais em Marte ou para as que são religiosas todo tipo de imagens em panos madeiras nuvens árvores e no campo São simplesmente exemplos de sequências alea tórias mas que não possuem a aparência aleatória Interpretando dados incompletos A reação mais comum das pessoas a qual quer atitude um pouco mais cética sobre a veracidade de crenças e fenômenos consiste no relato de um testemunho próprio ou do depoimento dado por outra pessoa Reações como Conheço alguém que ficou bom de pois que colocou este amuleto debaixo do travesseiro são as respostas favoritas das pessoas que acreditam em práticas e crenças alternativas Eu vi acontecer Minha vizi nha ficou completamente curada Acontece o tempo todo com muita gente O que estas afirmações possuem em comum é a apresentação de evidência po sitiva que justifica e explica a convicção da pessoa Mas o problema com esse tipo de evidência é que não é suficiente para a comprovação de nenhum fenômeno Casos de pacientes que relatam terem ficado cura dos com a ajuda de tratamentos pela ho meopatia ou tratamento espiritual existem aos milhares mas não constituem evidência suficiente de que esses tratamentos interfe riram ou promoveram a remissão de alguma doença ou condição Ainda seria necessário levar em conta por exemplo o número de pacientes que apresentaram remissão sem o recurso aos tratamentos receberam um pla cebo acreditando que era o tratamento ver dadeiro os que não apresentaram melhora alguma mesmo recorrendo aos tratamentos e os que não melhoraram mas também não foram tratados mas acreditavam que tinham sido tratados A Tabela 41 a seguir apresenta graficamente os grupos que de vem ser observados para que possamos tes tar a eficácia de um tratamento São quatro INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 95 as evidências necessárias e suficientes para que possamos julgar e inferir Para verificarmos corretamente se o tratamento leva à cura teríamos que com parar as quatro informações das condições A B C e D Mas não é isso que as pesso as fazem cf Crocker 1981 O que mais chama nossa atenção são as condições A e B pois confirmam que pacientes foram tratados e foram curados e pacientes não foram tratados e não foram curados Na verdade as pessoas terminam por observar apenas a condição em que existe um bom número de casos positivos para concluir que o tratamento funciona Infelizmente a evidência da condição A é necessária mas não é suficiente Cognitivamente é bem mais fácil lidar com a confirmação positi va já que encerra toda evidência necessária para a ocorrência de um julgamento Já as informações das celas B e C isoladamente não dizem lá muita coisa exceto quando fazemos um grande esforço de análise e as consideramos juntas com as outras duas ce las Como conciliar esses fatos com o avaro cognitivo que somos Finalmente outras pesquisas indicam igualmente que a excessiva suscetibilidade das pessoas à confirmação positiva é apenas um dos aspectos da questão As pessoas não gostam do papel de advogado do diabo e procuram ativa e deliberadamente apenas os dados que confirmem suas crenças e julga mentos cf Skov e Sherman 1986 Snyder e Swann 1978 Trope e Bassok 1982 Profecia autorrealizante A profecia autorrealizante ocorre quando nossa expectativa termina por provocar o próprio comportamento que originalmente antecipamos Imagine uma situação em que acreditamos que alguém é antipático e hos til Nosso comportamento em direção a essa pessoa vai com certeza refletir nossa expec tativa podendo então provocar respostas que comprovam o que é esperado Pesquisas indicam que profecias dessa natureza são muito comuns em situação de aprendiza do nas quais o professor não acredita na capacidade do aprendiz Por não acreditar termina agindo de uma forma que provoca induz a não aprendizagem do aluno Nesse caso ocorreu uma profecia autorrealizante porque existiu algum mecanismo que trans formou a expectativa em ação confirmató ria muitas vezes inconsciente por parte de quem tem a expectativa inicial Sem esse mecanismo não existe profecia autorrea lizante Ao provocarmos a realização de nossas expectativas terminamos por basear tabela 41 situações que devem ser investigadas para que se possa verificar a suposta relação entre cura de doenças e os tratamentos homeopáticos ou espirituais Pacientes curados Pacientes não curados receberam tratamentos a B receberam placebo c D cada cela deve ser preenchida com o número de casos observados de acordo com as condições das marginais a número de pacientes que receberam os tratamentos e foram curados B número de pacientes que receberam os tratamentos e não foram curados c número de pacientes que não receberam os tratamentos mas acreditavam que sim pois receberam um placebo e foram curados D número de pacientes que não receberam os tratamentos mas acreditavam que sim pois receberam um placebo e não foram curados INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 96 tOrres neiva cOLs nossos julgamentos sobre informações que não estariam disponíveis se não tivéssemos provocado o surgimento delas em primeiro lugar Lidamos com o que observamos sem considerar como as coisas seriam diferentes se tivéssemos agido diferentemente Outras profecias são apenas aparente mente autorrealizantes e ocorrem quando nossas expectativas alteram as circunstân cias que impedem ou limitam as ações da outra pessoa ações que poderiam descon firmar nossas expectativas Suponha que al guém ache você agressivo e se afaste evitan do todo tipo de contato Como você poderá mostrar que a crença e a expectativa do ou tro em relação a você não são verdadeiras Ele vai continuar achando você agressivo porque já achava antes e nada de novo vai desconfirmar essa crença Problemas inferenciais o que fazer Embora os estudos sobre os fundamentos de nossa cognição social possam transmitir uma visão pessimista da qualidade de nos sos julgamentos e inferências duas obser vações devem ser consideradas Primeiro a maneira como pensamos sobre os outros é boa o suficiente para que consigamos so breviver razoavelmente bem em sociedade Com a prática advinda da experiência e da maturidade chegamos a um ponto em que na maioria das vezes conseguimos negociar de forma relativamente adequada nossos relacionamentos sociais Apesar dos heurísticos vieses atenção limitada e me mória seletiva conseguimos nos adaptar e aprender com nossos erros e com os erros dos outros Segundo é esta possibilidade de apren dizagem e de aperfeiçoamento que deve ser explorada quando se considera a qualidade de nossos julgamentos e inferências Vários estudos demonstraram que é possível melho rar nossos julgamentos e evitar parte dos vie ses e erros que cometemos Cheng Holyoak Nisbett e Oliver 1986 Fong Krantz e Nisbett 1986 Nisbett Krantz Jepson e Fong 1982 Tróccoli 2005 ver também Gigerenzer e Selten 2001 Gigerenzer 2000 coMentários Finais A cognição social compreende estudos sobre como percebemos processamos armazena mos e usamos informações que recebemos de nosso mundo social Nos últimos 20 anos surgiram revistas e livros especializa dos contendo centenas de pesquisas sobre como pensamos a respeito de nós e dos ou tros p ex Hamilton 2005 Fiske e Taylor 2008 Não só isso mas novas teorias ques tões e metodologias p ex a neurociência cognitiva social também surgiram como consequência do estudo do fenômeno social a partir da perspectiva da cognição social A cognição social então deve ser considerada não como mais um tópico da psicologia so cial mas como uma abordagem nova sobre seus diversos tópicos cf Devine Hamilton e Ostrom 1994 A psicologia social abran ge uma grande variedade de tópicos tais como atitudes agressão altruísmo amor percepção interpessoal tomada de decisões e relações grupais entre outros A cognição social é uma novidade conceitual e metodo lógica que introduz as questões cognitivas subjacentes aos tópicos tradicionais da psi cologia social Em todas as áreas de estudo da psicologia social as pessoas processam informações do mundo social a questão é compreender como a informação está sendo processada e usada quando desenvolvemos atitudes reagimos agressiva ou altruisti camente como decidimos e participamos dos diversos grupos sociais Neste capítulo apresentamos de forma bem resumida um pouco dessa nova abordagem Esperamos que o incentivo tenha sido suficiente para que você continue descobrindo os novos ho rizontes da cognição social notas 1 Considera se que esse período formativo durou até cerca de 150 mil a 100 mil anos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 97 atrás quando nossos ancestrais saíram da África e começaram a colonizar o mundo A partir da saída da África o tempo tem sido muito curto 100 mil anos ou cerca de 5 mil gerações para a evolução produzir quaisquer mudanças significativas em uma espécie Isto implica que toda a história do surgimento da civilização e cultura humana a agricultura só surgiu há 10 mil anos é irrelevante quando se trata de compreender a mente humana Como nossas mentes não evoluíram em um mundo de cidades de tecnologia avançada temos cérebros da idade da pedra vivendo em um mundo de alto desenvolvimento tecnológico Descontando todos os problemas decorrentes desse fato não podemos deixar de reconhecer a tremenda capacidade adaptativa de nosso cérebro 2 Embora não seja nosso objetivo discutir a questão do altruísmo e da cooperação de vemos acentuar que estes comportamentos não evoluíram apenas nas situações com base estritamente recíproca O biólogo William Hamilton 1964 demonstrou que a grande ocorrência de altruísmo não recíproco em todo o reino animal relações pais e filhos e entre outros parentes por exemplo só pode ser compreendida quando se considera que a unidade fundamental da evolução não é o organismo mas o gene individual O altruísmo não recíproco só ocorre entre organismos ge neticamente relacionados parentes próximos compartilham muitos genes e os genes que predispõem o indivíduo a ajudá los estão na verdade ajudando suas próprias cópias Posteriormente o biólogo Richard Dawkins 1989 popularizou e aperfeiçoou essa teoria em seu livro antológico O Gene Egoísta 3 Outras espécies desenvolveram sistemas semelhantes A separação radical entre a espécie humana e espécies não humanas de nuncia o que Dawkins 2003 cap 3 chama de mente descontínua isto é a crença em uma separação radical quando o que existe é uma diferenciação gradual e às vezes até sutil entre nós e outros animais tais como os chipanzés 4 Isto é o que ocorre entre os chimpanzés que dedicam boa parte do tempo livre ao comporta mento de grooming No grooming os chimpan zés se limpam retirando parasitas e pedaços de sujeiras presos nos pelos daqueles com os quais mantêm alianças Existem evidências indicando que na necessidade há maior probabilidade de ajuda por parte daqueles que são compan heiros de grooming O aumento dos grupos humanos para cerca de 150 membros em mé dia tornou inviável a manutenção das alianças com base em cooperações diretas e mútuas Não haveria tempo para outras atividades além de ser extremamente cansativo manter esse tipo de relacionamento com todos os out ros membros de grupos tão grandes Dunbar considera que o equivalente nos hominídeos foi à evolução da linguagem para a transmis são de informação verbal principalmente por meio das fofocas Uma implicação é que os meios modernos de comunicação a distância e mails salas de bate papo na internet etc jamais substituirão inteiramente a necessidade humana de boas conversas ao pé do ouvido reFerências ANDERSEN S M COLE SW Do I know you The role of significant others in general social perception Journal of Personality and Social Psychology v 59 p 384399 1990 AXELROD R The evolution of cooperation New York Basic Books 1984 BARON J Thinking and 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comportamento humano bem como do modo como a cultura pode influenciar essa relação apontando diver sos exemplos de como esse conceito pode ser operacionalizado Vale adiantar que to dos esses temas terão como mote a cultura do Brasil e a operacionalização das normas como medida e conceito será focada a nossa população visando colaborar com uma psicologia social brasileira para o bra sileiro Com isso em mente podemos come çar com a metáfora sugerida por Candido 1972 para discutir a cultura nacional do brasileiro Para ele o Brasil pode ser repre sentado pela figura de uma grande família na qual existem algumas regras formais mais um consenso com relação a autorida de paterna Essa interpretação do Brasil tem evidências em alguns estudos empíricos Schwartz 1994 observou que brasileiros apresentam baixo escores em autonomia intelectual e emocional relacionadas com a dimensão individualismo de Hofstede 1980 e altos escores em conservação e hierarquia correlacionados com a noção de distância de poder proposta pelo mes mo autor De modo similar Friedlmeier 1995 comparando teorias implícitas de educadores encontrou que brasileiros en fatizam a conformidade e a adaptação Em seu estudo Strohschneider e Güss 1998 encontraram que estudantes colegiais bra sileiros têm uma alta tendência em aceitar qualquer situação como dada e não ques tionar sobre suas causas quando uma situ ação mal definida e ambígua é apresentada para eles Relacionadas com os resultados de Friedlmeier 1995 e de Strohschneider e Güss 1998 diversos pesquisadores p ex Droogers 1988 sugeriram que um im portante conceito para entender o modo de ver o mundo do brasileiro está associado ao termo jeitinho Podemos entender o jeitinho como uma forma especial de se resolver algum problema ou situação difícil ou como uma solução criativa para alguma emergên cia seja sob a forma de conciliação de es perteza ou de habilidade Quando se julga que está tudo irremediavelmente perdido que daquela vez não tinha realmente saída tudo magicamente se resolve por meio do jeitinho É uma maneira especial de se resol ver o problema eficiente e rápida Espera se que essa forma possa produzir resulta dos em curto prazo não importando que a solução seja definitiva ou não ideal ou provisória Juntos esses resultados sugerem que no contexto do brasileiro existe muito pouco espaço para a participação na reso 5 nOrmas sOciais cOnceitO mensUraçãO e imPLicações Para O BrasiL cláudio vaz torres Hugo rodrigues INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 101 lução de problemas e que a participação na tomada de decisão não é muito encorajada Para Ettorre 1998 pouca participação nas decisões organizacionais pode ser devida ao fato de as organizações brasileiras terem uma política de gerentes paternalistas que devem fornecer uma cultura protetora Ele sugere que gerentes brasileiros confundem responsabilidade com os negócios da com panhia Ettorre 1998 p 12 Ettorre 1998 também notou que existe uma grande quantidade de improvi sação e criatividade empresarial no Brasil Contudo ele sugere que essas práticas ge renciais podem mudar em um futuro próxi mo devido à grande onda de privatizações que ocorreram nos anos de 1990 e 2000 nas indústrias brasileiras Pois como já observa do Droogers 1988 as estruturas político sociais do Brasil ainda estão se formando E é esperado que as organizações privatizadas possam requerer uma nova classe de execu tivos que sejam habilidosos em mudanças organizacionais Santos 1998 especial mente para reduzir problemas organiza cionais tais como aqueles encontrados em companhias brasileiras que operavam com 27 de produtividade quando comparadas com suas semelhantes norte americanas Ettorre 1998 Isso sem falar do impacto da globalização e da maior conscientização do consumidor nacional que é diferente dos outros consumidores e exige de modo dife rente É importante que qualquer mudan ça ou manutenção das práticas gerenciais sejam sensíveis à cultura Ettorre 1998 observou que qualquer pessoa que faz ne gócios no Brasil precisa aprender a cultura brasileira Da mesma maneira qualquer prática organizacional deve levar em con sideração a cultura em questão no caso a brasileira Modelos organizacionais ou de prediçãocontrole de comportamento norte americanos eou europeus não podem ser aplicados diretamente no contexto brasilei ro sem se levar em consideração as diferen ças culturais que no caso do brasileiro são fortemente influenciadas por normas sociais Rodrigues 2007 O uso de práticas organizacionais com uma forte influência individualista e por isso com pouco suporte das normas so ciais pode ativar sentimentos antagonistas nos brasileiros Por exemplo os brasileiros tendem a considerar que os líderes devem ocupar uma alta posição de poder na hierar quia da sociedade Desse modo eles podem entender que o interesse da gerência em incentivar a participação dos funcionários na tomada de decisão como uma mensa gem indireta que comunica a ideia de que o líder deseja compartilhar o poder Nesse caso compartilhar a tomada de decisão pode fazer com que um brasileiro conside re que o líder não tem poder legítimo ou competência e que por isso não é mere cedor de ser um líder Nogueira Torres e Guimarães 2001 Torres 2009 Esse pode não ser o caso em outro país especialmente um país individualista onde a maioria dos estudos sobre liderança são desenvolvidos Mesmo a utilização de achados em outras culturas coletivistas como uma aproximação para a cultura brasileira pode ser um erro Pois como Pearson e Stephan 1998 no tam os brasileiros tendem a ser passionais e emocionais uma característica que não é compartilhada pela maioria das culturas co letivistas da Ásia Desse modo não apenas pessoas de culturas individualistas podem ter dificuldades em compreender as reações emocionais de brasileiros mas também pes soas de diferentes culturas coletivistas p ex asiáticas Alguns pesquisadores p ex Graham 1985 Smith et al 1998 consideram que quando se discute coletivismo os estudos vêm superenfatizando os dados de culturas asiáticas Esses mesmos pesquisadores vêm alegando que esses dados podem não refletir a estrutura das culturas latino americanas apesar de ambos serem considerados como culturas coletivistas Hofstede 1980 Por exemplo Graham 1985 encontrou uma larga diferença em vigor e franqueza em ne gociações na América Latina quando com paradas com as japonesas Essas diferenças culturais refletem di ferentes sistemas sociais que por sua vez INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 102 tOrres neiva cOLs podem ser explicados e entendidos devido à natureza regulatória das normas sociais Compreender melhor o funcionamento das normas sociais pode contribuir para a cons trução de um corpo teórico mais adequado para entender o comportamento social do brasileiro bem como para fornecer uma li nha de guia para adequar modelos vindos de outras culturas norMas sociais Na psicologia social existe uma longa dis cussão sobre o poder preditivo e explicativo das normas sociais bem como sobre qual seria sua estrutura e definição Alguns au tores p ex Krebs e Miller 1985 Marini 1984 Darley e Latané 1970 apud Kallgren Reno e Cialdini 2000 consideram o con quadro 51 POKER FACE Uma eXiGÊncia cULtUraL a universalidade das expressões facial das emoções foi indicada pela primeira vez por Darwin 1998 na emblemática obra a expressão das emoções no homem e nos animais contudo ekman 2003 ressalta que na época sua argumentação foi desconsiderada bem como durante os anos seguintes em função dos paradigmas predominantes que enfatizavam explicações em função da socialização e desprestigiavam as que utilizassem de padrões inatos da espécie Ou seja as normas sociais vigentes no meio acadêmico da época não facilitaram a disseminação desse conhecimento contudo hoje autores como ekman e Friesen 2003 elfenbein e ambady 2003 matsumoto 1990 smith Bond e Kagitçibasi 2006 dentre outros colocam que a demonstração de deter minadas emoções através do uso de uma mesma estrutura muscular para cada tipo de emoção é um fenômeno universal capaz de fornecer um mapa reconhecível por todos da reação emocional que os indivíduos têm a diferentes estímulos do dia a dia indicando o modo adequado em função de respostas evolutivamente construídas de reagir Por exemplo simplificadamente é mais seguro aproximar se de uma pessoa que reagiu à sua presença contraindo o zygmaticus maior do que quando esta mesma pessoa está com esse músculo relaxado mas com o levator labii superioris contraído ekman 2003 2006 2009 coloca que no primeiro caso a pessoa estaria demonstrando alegria felicidade mas expressaria ódio nojo no segundo algumas culturas exigem que determinadas emoções não sejam demonstradas pelo menos não o tempo todo ou em todos os contextos Friesen 1972 apud smith Bond e Kagitçibasi 2006 em sua tese de doutorado demonstrou que durante a exposição de um vídeo que mostrava uma amputação quando sozinhos japoneses analisados como coletivistas demonstravam o seu desconforto com a cena do mesmo modo que estadunidenses individualistas entretanto quando acompanhados por um experimentador a reação ao vídeo muda va americanos continuavam expressandose do mesmo modo mas os japoneses evitavam demonstrar o desconforto através da não demonstração de emoções ou com risos tal au tor ressalta que existe uma norma cultural no Japão que recomenda que afetos negativos não devam ser demonstrados em público e que nos estados Unidos haveria outra que enfa tizaria a sua demonstração real sem neste caso maximizar cabe colocar que as estraté gias utilizadas são definidas por matsumoto 1990 1992 e Gross 1998 e 2002 como de re gulação de emoção acrescentando que de acordo com o primeiro tal regulação ocorre em função da obrigação em conformase a uma norma social específica a regra de expressão Pesquisas recentes indicam um padrão específico sobre o que deve ser demonstrado maximiza do ou suprimido em cada cultura e que tal fato é determinado por normas sociais indicando que a poker face o ato de não demonstrar uma emoção mesmo quando ela é intensa não é apenas uma estratégia para ganhar num jogo de azar mas muitas vezes uma necessidade cultura INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 103 ceito vago muito geral e inadequado para a verificação empírica Outros autores p ex Berkowitz 2004 Prentice e Miller 1993 1996 Cialdini Reno e Kallgren 1991 Lapinski e Rimal 2005 consideram normas um conceito central para o entendimento do comportamento social humano Kallgren et al 2000 Os principais aspectos dessa discussão se referem à definição desse cons truto e de sua capacidade de predizer com portamentos e intenções Com relação ao primeiro ponto de finição do conceito a literatura está cada vez mais próxima do consenso de que a nor ma se refere a aspectos descritivos isto é o que é feito o comportamento mais popular e a aspectos injuntivos isto é o que todos deveriam fazer Essa distinção feita há mais de 50 anos foi recuperada por Cialdini Cialdini e Goldstein 2004 Cialdini e Trost 1998 Cialdini et al 1991 Reno et al 1993 Kalgreen et al 2000 e vem sendo amplamente utilizada por diversos pesquisa dores p ex Ajzen 2002 Lapinski e Rimal 2005 Um outro aspecto relevante dessa discussão é o de se normas são capazes de predizer comportamento ou pelo menos in tenção em se comportar Com relação à capacidade preditiva esse ponto parece estar relacionado a fato res culturais Trafimow e Fishbein 1994 ao comportamento em si e ao setting onde ele ocorre Lapinski e Rimal 2005 Wallace et al 2005 Esses fatores podem predizer quais comportamentos são mais influen ciados por normas sociais Neste caso pa rece haver uma espécie de tradeoff entre normas sociais e atitudes na explicação do comportamento humano Rodrigues 2007 Bomtempo e Rivero 1992 Wallace et al 2005 sendo a relação desses dois constru tos vital para a compreensão do comporta mento humano Ajzen 1991 A literatura tem buscado cada vez mais descobrir que ou quais tipos de comportamento ésão mais influenciados por atitudes ou normas sociais Fekadu e Kraft 2002 curiosamen te tentando predizer quais fatores serão os melhores preditores para escolher norma ou atitude como o melhor preditor devido a um viés cultural que será mais bem discuti do adiante Como exemplos temos Wallace e colaboradores 2005 que em uma re cente metanálise verificaram que a existên cia de pressão social de algum tipo isto é presença de outros importantes ambientes com fortes normas diminuía bastante o poder preditivo de atitudes e Bontempo e Rivera 1992 que realizaram uma metaná lise indicando que em países coletivistas as normas subjetivas tinham mais peso do que as atitudes na equação da teoria do compor tamento racional A despeito dessas discussões as normas sociais têm sido bem sucedidas em interven ções e estudos tais como redução da quan tidade de lixo jogado no chão em lugares públicos p ex Cialdini 2003 prevenção e diminuição da ocorrência de alcoolismo em colégios e universidades Borsari e Carey 2003 medição da aceitação de comporta mento agressivo Henry Cartland Ruchross e Monahan 2004 redução da quantidade de fumo consumido Linkenbach e Perkins 2003 apud Berkowitz 2004 agressão se xual Bruce 2002 apud Berkowitz 2004 preferência por diferentes marcas de cerve ja Yang Allenby e Fennel 2002 atrações que devem estar presente em um parque ecológico Manning e Kamp 1996 estilos de liderança Torres 2009 para citar ape nas alguns Neste capítulo discutiremos o con ceito de normas sociais bem como as par ticularidades associadas a esse conceito Serão apresentadas diferentes definições e modelos de normas sociais como elas são construídas e como interagem com outros processos sociais contribuindo para a expli cação do comportamento humano Entretanto antes de apresentar a defi nição de normas sociais é importante notar que de modo similar ao que acontece com o conceito de cultura diferentes autores vêm enfatizando diferentes aspectos des se construto em suas definições e modelos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 104 tOrres neiva cOLs de normas sociais Lautmann Feldman 1991 realizou uma extensa análise de mais de cem definições de normas e valores e observou que todas explicavam as normas como uma obrigação coletiva ou algum tipo de dever Jackson 1966 1975 consi dera as normas sociais como um contínuo de comportamentos e as respectivas sanções e recompensas associadas a sua realização Emmerich Goldman e Shore 1971 defi nem norma como crença compartilhada de como o indivíduo necessita agir com relação aos outros Essa pode ser a maior diferença entre as normas e os valores valores não se referem apenas a comportamento mas tam bém a uma grande gama de outros objetos tais como opiniões e objetivos e não indi cam o que é obrigatório mas sim o que é desejável deFinições e estudos sobre norMas sociais Feldman 1991 considera que normas se riam regras estabelecidas pelos grupos pra regularizar o comportamento de seus mem bros Para Porras e Robertson 1992 nor mas são padrões de condutas aplicáveis aos membros do grupo Já Cialdini e Troost 1998 consideram o construto como fon tes de informação prescritivas isto é como deveria ser e descritivas isto é como está sendo sobre qual comportamento realizar em determinadas situações Gold 1997 notou que Durkheim distingue entre o ter mo coletivo norma social e sua contra parte psicológica a representação social Para Gold existe uma necessidade urgente de mecanismos que permitam a tradução do conceito de normas sociais do ponto de vista sociológico para o psicológico É possí vel que o estudo de normas pela perspectiva da psicologia social possa fornecer tais me canismos Nessa área da psicologia regras e papéis fornecem a regulamentação nor mativa das organizações sociais que por sua vez fazem contato com indivíduos por meio de componentes de regulamentação normativa da personalidade Desse modo regras e papéis provêm meios para a cone xão entre organizações sociais e indivídu os Considerando que uma regra ou papel podem ser definidos como um conjunto de normas de conduta Gold 1997 podemos observar como as normas interagem na di nâmica da psicologia social Mais adiante será discutida a importância das normas so ciais para a psicologia e o quanto essa área carece de maiores estudos e atenção Gold 1997 defende que normas va riam em sua generabilidade e que nem todo valor social pode ser entendido como uma norma social Apenas quando as normas fo rem universais elas poderão ser entendidas como valores Gold diferencia entre papéis sociais e normas Um papel social consiste em um conjunto de normas ou um conjunto de obrigações e privilégios que se aplicam aos ocupantes de determinadas posições sociais1 Gold 1997 p 72 Desse modo quando normas relacionadas entre si são agrupadas um papel social é criado Normas por outro lado prescrevem como determinadas pesso as de um certo grupo p ex pessoas ocu pando um determinado papel na sociedade se comportam para receber aprovação de seus colegas ou para evitar sanções sociais Outros pesquisadores encontraram suporte para a diferenciação entre normas e papéis p ex Bond 1991 Além do mais normas são parte do sistema de crenças de qualquer grupo Uma norma é apenas social quando é compartilhada por dois ou mais indivíduos e eles concordam sendo conscientes dessa concordância que alguém em uma posição social particular precisa agir e sentir de uma determinada maneira As normas sociais são usadas para prescrever e descrever padrões de comportamento sendo caracterizadas por imperativos morais Para Miler e Prentice 1996 uma nor ma social é um atributo de um grupo po dendo ser considerada tanto descritiva ou prescritiva para os membros Indivíduos podem se comparar com relação às normas Esses autores diferenciam entre normas lo cais e globais Para eles normas locais são padrões relativos construídos de acordo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 105 com as necessidades de pequenos grupos em situações específicas p ex inferidos da situação em vez de recuperados da me mória Por outro lado os indivíduos trazem normas globais ou padrões absolutos para qualquer contexto social sendo que es sas normas influenciam a avaliação de suas experiências Quando Milles e Prentice discutem normas locais sua ênfase é a autoavaliação do indivíduo Eles acreditam que as nor mas locais simplesmente influênciam a ex periência psicológica do indivíduo2 Miller e Prentice 1996 p 803 Segundo essa pers pectiva normas locais são estudadas em sua maioria a partir de um nível individual de análise Aqui a ênfase é no indivíduo que está comparando alguém ou ele mesmo com o grupo Embora quando falamos sobre normas locais continuamos falando sobre pequenos grupos o foco de investigação parece estar direcionado para as razões in dividuais para a autoavaliação Nesse caso a norma se torna uma das ferramentas dis poníveis que os indivíduos utilizam para comparar e avaliar sua posição relativa a um grupo Entretanto quando normas globais são discutidas o nível de análise muda para o que Gold 1997 chamou de fronteira en tre o indivíduo e o ambiente da organização social e cultural A ênfase não é mais apenas no nível individual Normas globais devem chamar a atenção do pesquisador para um sistema mais amplo no qual as necessidades do indivíduo estão em constante interação com a dinâmica da sociedade e da cultura Algum suporte para a diferenciação entre normas locais e globais propostas por Miller e Prentice 1996 é encontrado na li teratura Por exemplo Nisan 1987 exami nou a construção de normas morais em 60 garotos e garotas de 1a e 4a séries em Israel Ele observou a existência de duas orienta ções distintas para as normas sociais uma na qual o critério para o julgamento social dos comportamentos era a consequên cia destes para os outros envolvidos isto é em um nível micro envolvendo apenas os membros de um pequeno grupo e outra nas quais as normas parecem ter uma vali dade absoluta isto é em um nível macro incluindo todos os membros da sociedade A distinção entre essas duas orientações é congruente com a diferenciação proposta na teoria de Miller e Prentice 1996 Para Jackson 1966a a cultura não é apenas concreta mas um sistema de ideias padronizadas mesmo se parcialmente ma nifestas em termos concretos Esse autor ob servou que uma maneira de entender a cul tura de um povo é por meio de suas normas quadro 52 a esPeciFiciDaDe Das nOrmas sOciais tendemos a considerar as normas de nossa cultura como algo universal sendo que muitas vezes isso simplesmente não condiz com a realidade Por exemplo durante a socialização do brasileiro este aprende que arrotar à mesa é considerado com um gesto de má educação no entanto para alguns grupos culturais mais exóticos no sentido antropológico do termo arrotar é um sinal de que a comida estava boa em algumas culturas o luto é demonstrado com o azul ou mesmo com o branco e não com o preto Durante o período do império no Brasil as casas possuíam uma grande bacia na qual se despejava uma solução antisséptica no interior para servir de alvo e pon taria ao exercício de escarrar em público eram as escarradeiras populares em toda sala de visita das casas mais abastadas onde o dono da casa e seus convidados podiam escarrar durante as festividades antunes Waldman e moraes 2000 essas são apenas algumas especificidades culturais que podem ser descritas em termos de normas sociais são comportamentos específicos que devido a seu significado em cada cultura a cada tempo podem ou não ser passíveis de uma sanção por parte da sociedade INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 106 tOrres neiva cOLs Sarbin em Jackson 1966a define normas como uma unidade de cultura significando que as normas podem ser entendidas como um componente de cultura Assim uma vez que as normas podem ser compreendidas como uma unidade de cultura então po dem ser conceitualizadas como um padrão abstrato de ideias que são aprendidas pelos membros de um sistema social Jackson 1966a Nessa óptica a definição de cultura leva à definição de norma Jackson 1966a também considera como requerimento para a definição de nor ma social que esta seja considerada um con ceito interacional ou suprapessoal e não um conceito de ordem individual tal como a ati tude Esse requerimento é necessário pois a norma como qualquer atividade grupal or ganizada requer um mínimo de consenso e um processo para alcançar a objetividade Desse modo o autor define normas sociais como a distribuição de prescrições pelos ou tros para a gama de comportamentos que os atores podem realizar em uma determinada situação3 Jackson 1966a p 35 Desse modo percebe se que não é possível utilizar a concepção de normas em um nível indi vidual de análise sendo preferível o nível cultural ou grupal Sherif 1968 apud DeRidder Schrui jer e Tripathi 1992 define grupo co mo uma unidade social que consiste de um nú mero de indivíduos que a em um dado momento do tempo têm papéis e relacionamentos com status entre si b e que possui um conjunto de valores ou normas compartilhados que regulam a atitude e o comportamento dos membros individuais pelo menos no que se refere à consequência destes Atitudes sentimentos aspirações e ob jetivos compartilhados que caracterizem as identidades dos membros são relacionados a essas propriedades especialmente às nor mas e aos valores comuns para o grupo Quando se pretende estudar o com portamento humano é importante obser var que aquilo que as pessoas fazem é fre quentemente mais importante do que o que elas dizem Como notado por Hall 1973 se uma pessoa recebe informações sobre as normas de diferentes culturas ela pode ajustar seu comportamento para agir de acordo Contudo Hall 1977 sugere que quando ocorre o contato entre duas cultu ras entender e aceitar a realidade da cultu ra local p ex normas sociais não é uma tarefa fácil é algo que precisa ser vivido e não lido ou planejado Uma pessoa pode re latar conhecer e respeitar as normas de uma certa cultura e mesmo assim nem sempre conseguir agir de acordo com esse conheci mento Entretanto quando é necessário agir de acordo com ele a tarefa se torna mais plausível de ser realizada Uma outra maneira de entender as nor mas sociais é por meio da conceitualização de Fishbein e Ajzen 1974 Ajzen e Fishbein 1980 de normas subjetivas Apesar desses autores afirmarem que as normas subjetivas não são iguais às normas sociais mas sim uma pressão social percebida esse constru to é capaz de captar a influência das normas na atitude que as pessoas mantêm com rela ção a um determinado comportamento e à realização do comportamento em si Apesar de a concepção de normas sociais ser mais adequada se considerada como um contí nuo de comportamentos com as respectivas sanções e recompensas associadas a sua realização Jackson 1966 1975 Torres 2009 podendo ser de natureza descritiva e prescritiva Hagger e Chatziarantis 2005 Fekadu e Kraft 2002 a utilização desse conceito pode trazer uma nova luz a ques tões associadas ao entendimento e à previ são do comportamento humano Contudo apesar de não serem o mes mo construto a semelhança entre as nor mas sociais e a norma subjetiva extrapola a semelhança de nomes Como a norma sub jetiva é relativa à realização de um único comportamento pode se dizer que a nor ma social é constituída de diversas peque nas normas subjetivas Diferentemente das normas sociais a norma subjetiva assume um aspecto muito mais prescritivo do que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 107 descritivo uma vez que como já colocado a norma subjetiva se refere à percepção do indivíduo com relação à aprovaçãore provação de se realizar um comportamento ao passo que a norma social também serve como um padrão de comparação para deci dir se algo é ou não adequado ou perten cente a um determinado grupo ou categoria Prentice e Miller 1996 A operacionalização originalmente proposta por Fishbein e Ajzen 1974 Ajzen e Fishbein 1980 reflete principalmente o aspecto prescritivo da norma mais co nhecido como norma injuntiva Hagger e Chatziarantis 2005 Conforme menciona do anteriormente a norma não depende apenas de aspectos injuntivos pois como apontado por Cialdini e Goldstein 2004 e Cialdini e Trost 1998 principalmente em situações de ambiguidade o indivíduo bus ca realizar o comportamento mais realizado popular com base na crença de que este seria o comportamento mais socialmente aceito Esse fenômeno também é conheci do como heurística de maioria Anderson 1996 ou norma descritiva quadro 53 cOmPOnentes Das nOrmas sOciais e ae vamos nessa O que faria com que pessoas normais saíssem do conforto de suas casas para correrem riscos e muitas vezes serem submetidas a situações de desconforto e ainda por cima pagando caro por isso será que o praticante de turismo de aventura não pensa em nada disso quando planeja suas férias Um estudo realizado por rodrigues 2007 pode fornecer algumas respostas a essas pergun tas esse autor pesquisou os determinantes da intenção de se praticar turismo de aventura em duas culturas distintas mais especificamente a brasileira e a norte americana em primeiro lugar foi identificado que o praticante de turismo de aventura nessas duas culturas está consciente desses aspectos e pensa quando está planejando suas férias em suma são crenças que fazem parte da atitude que eles possuem com relação a essa modalidade esse fato não é novidade sendo inclusive bastante óbvio Pessoas com uma alta atitude podem dar pouco valor a aspectos ditos negativos p ex desconforto e insetos ou valorizar aquilo que a maioria das pessoas consideraria negativo p ex perigo Logo a resposta àquelas perguntas deve estar associada à atitude que mantemos com relação à realização do comportamento já que reflete a intensidade e a valência de avaliações afetivas que mantemos com relação aos compor tamentos que realizamos contudo quando se analisou a relação da atitude com a intenção de praticar turismo de aven tura na população brasileira a correlação é no máximo desanimadora diferentemente do que acontece na amostra norte americana na qual a atitude pôde ser considerada como um dos de terminantes da formação da intenção de se praticar essa modalidade de turismo Para os brasileiros a melhor preditora de intenção foi justamente as normas subjetivas so bretudo o componente injuntivo das normas versus o componente descritivo isso significa que tendo uma alta ou baixa atitude para o brasileiro a pressão social para realizar algo ou não é um determinante muito mais forte do que a avaliação afetiva individual resumindo enquanto na população norte americana as respostas àquelas perguntas no iní cio deste texto estão mais ligadas a aspectos atitudinais na população brasileira o mesmo não é verdade Para os brasileiros a realização desse tipo de comportamento se deve muito mais a aspectos normativos do que atitudinais Pesquisas como essa apontam para a necessidade de se analisar os determinantes da reali zação dos comportamentos específicos em cada grupo cultural a não realização desse fato pode levar a erros de compreensão tais como atribuir explicações atitudinais para a realização de um comportamento como a escolha da modalidade de férias do brasileiro INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 108 tOrres neiva cOLs Devido a essa confusão sobre os di ferentes tipos de normas a norma subjeti va merece uma discussão mais profunda Inicialmente definida como a percepção da pressão percebida em realizar ou não um de terminado comportamento Fishbein e Ajzen 1974 Cialdini e Trost 1998 acrescentam que são cognições compartilhadas que po dem afetar o comportamento de um indiví duo dependendo de características pessoais isto é automonitoramento locus de contro le situacionais Ehrhart e Naumann 2004 e da cultura Bomtempo e Rivero 1992 Entretanto conforme apontado por outros autores p ex Lapinsky e Rimal 2005 Fekadu e Kraft 2002 o conceito como pensado originalmente não é capaz de lidar com todos os aspectos da influência normativa Ajzen 1991 2002 afirma que a norma subjetiva é o somatório do produto entre a percepção das crenças mais salientes da probabilidade de que um certo compor tamento seja aprovado ou desaprovado por uma pessoa ou grupo referente com a mo tivação que o indivíduo tem em se confor mar nesse referido comportamento Apesar de essa definição ser realmente mais seme lhante à definição de normas injuntivas Ajzen 2002 considera que a norma sub jetiva deva incluir os aspectos das normas sociais propostos por Cialdini e colaborado res Cialdini e Goldstein 2004 Cialdini e Trost 1998 Cialdini et al 1991 Reno et al 1993 Kalgreen et al 2000 que suge rem que estas são baseadas tanto no aspecto injuntivo isto é o que deve ser feito quan to no aspecto descritivo isto é o que todos estão fazendo sendo que pode haver uma maior prevalência de uma sobre a outra estudos sobre normas Normas sociais vêm sendo estudadas por ou tras disciplinas além da psicologia social Por exemplo Monteil 1994 notou que o estu do da aquisição e da construção das normas sociais é uma área de convergência entre a psicologia social e a do desenvolvimento Além do mais normas vêm sendo estudadas por outras ciências sociais além da psicolo gia tais como a antropologia e a sociologia p ex Komarovsky 1973 Contudo neste capítulo enfatizaremos como as normas po dem ser utilizadas para entendermos como diferentes comportamentos se manifestam em diferentes culturas Para DeRidder Schruijer a Tripathi 1992 as normas devem ter uma impor tância primária para a psicologia pois da existência de normas sociais provém a base para a comunicação intra e entre grupos Essa importância é ainda mais marcante em culturas como a brasileira que tem as normas sociais como um importante fator de determinação de pensamento e compor tamento podendo inclusive ter uma influ ência maior do que as atitudes Rodrigues 2007 Dentre os estudos que vêm utilizando o conceito ou testando teorias psicológicas que utilizam o conceito de normas sociais pode se destacar por exemplo a investiga ção feita por Wellen Hogg e Terry 1998 sobre quais seriam os efeitos das normas sociais dos membros de um determinado endo grupo4 na relação entre a atitude e o comportamento Esses autores encontraram que essa relação varia em função da saliên cia do pertencimento ao grupo Seu objeti vo era testar a teoria da Identidade Social Tajfel e Turner 1978 e seus achados suge rem que as normas do endogrupo influen ciam a tomada de decisão fazendo com que indivíduos que tenham o pertencimento ao grupo como mais saliente tomem a decisão com base mais em normas sociais do que os que têm um pertencimento menos saliente A despeito de diversos estudos bem enco rajadores que sugerem o uso de normas sociais para o teste de teorias psicológicas isto é Smith e Bond 1999 Smith Bond e Kagitçibasi 2006 observa se que diver sas teorias são desenvolvidas na parte oci dental5 do mundo isto é principalmente Estados Unidos e Europa onde as pesqui sas apontam uma menor influência das nor mas sociais Em determinadas situações essa influência pode ser até bem marcante podendo obscurecer a influência de outros construtos tais como a atitude Wallace INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 109 Paulson Lord e Bond Jr 2005 Bomtempo Lobel e Triandis 1995 Contudo poucos modelos ou teorias são testados ou desen volvidos em outras culturas Desse modo a norma social tende a não receber muita atenção mesmo em outras culturas Para Smith Bond e Kagitçibasi 2006 essa li mitação da psicologia social não ameaça apenas a generalização de nossas teorias mas também os estudos planejados para testá las mesmo utilizando ou não o con ceito de normas sociais Além disso Walker e Gibbins 1996 afirmam que o estudo de normas sociais é essencial para a psicologia Eles sugerem que esse construto pode ser mais importante do que outros construtos relacionados às ciências sociais Além do mais quando DeRidder e colaboradores 1992 observaram que pouca atenção foi dada para o conceito de normas sociais eles também notaram que poucos estudos relataram a importância das normas sociais em diferentes culturas Suh Diener Oishi e Triandis 1998 por exemplo compararam a importância da emoção versus normas no que se refere à satisfação com a vida entre 61 países individualistas e coletivistas Eles encontraram que em culturas coletivistas normas sociais e emoções são fortes pre ditoras de satisfação enquanto que para países individualistas as emoções foram preditores muito mais fortes do que as nor mas Infelizmente estudos que levam em consideração as normas sociais de culturas diferentes da norte americana não são mui to comuns na literatura de psicologia ou outras ciências sociais construção das normas Diferentes perspectivas argumentam como as normas sociais surgem nos sistemas so ciais de cada cultura Todas fornecem expli cações para o comportamento normativo sendo que a maior diferença está no tipo de comportamento que é suscetível às pressões normativas arbitrárias Em uma perspectiva societal as nor mas são culturalmente específicas e capri chosas e o poder de cada norma é derivado somente do valor que ela tem para aquela cultura na qual ela opera Sanções como leis surgem para manter tais normas Os defen sores dessa perspectiva argumentam que o estabelecimento da norma vem do reforça mento e da punição dos comportamentos que são repetidamente realizados no dia a dia Cialdini e Trost 1998 Entretanto ela não explica o surgimento das normas que aparentemente são aleatórias tais como o vestiário É uma norma social a utilização pela parte dos homens de ternos e gravatas mesmo em países tropicais como o nosso e essa prática era comum mesmo em uma época em que não havia ar condicionado Em uma perspectiva funcional as normas se desenvolvem para encorajar ou restringir comportamentos relacionados ao desenvolvimento do grupo Sherif 1936 apud Cialdini e Trost 1998 Schaller e Latané 1996 argumentam que sistemas de crenças culturalmente compartilhados tais como estereótipos e normas se desen volvem de um modo muito similar à seleção natural em que por meio de processos de comunicações indivíduos indicam padrões de comportamentos que são efetivos rele vantes e informativos para determinadas situações Normas bem sucedidas seriam adaptativas à sobrevivência nesses contex tos Elas comunicam como adquirir status se afiliar com outros adquirir comida etc Para Gold 1997 as organizações sociais influenciam os indivíduos por meio do processo da socialização A função da socialização seria a de implantar motivos isto é razões pelas quais os indivíduos mudariam suas ações e recursos isto é expectativas apropriados para os indivídu os em seu ambiente social A socialização é um conceito chave quando se estuda a cons trução de normas nas ciências sociais Pode se afirmar que a socialização é a matéria prima para o aspecto regulatório de regras e papéis e a conformidade para com as normas é o aspecto central do processo de socialização A construção de normas so ciais é uma operação inerente ao processo de socialização INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 110 tOrres neiva cOLs Um dos modos pelos quais grupos e pessoas constroem suas normas é por meio da observação do comportamento de ou tros que pertencem à mesma categoria so cial com a qual estes se identificam ou gostariam de pertencer realizando um certo discernimento com relação as conse quências reforçadoras de se comportar ou não de acordo com o esperado Prentice e Miller 1996 Cialdini e Trost 1998 Gold 1997 Deste modo Gold 1997 coloca que a conformidade depende em grande par te da aprovação social esteja ela presente ou seja ela apenas imaginária Cialdini e Goldstein 2004 e Cialdini e Trost 1998 destrincham a necessidade de aprovação social e defendem que a conformidade às normas sociais obedeceria a três motivações diferentes A primeira seria o interesse em acertar em realizar o comportamento cor reto Geralmente essa motivação ocorre em indivíduos em situações de ambiguidade mas com interesse em emitir o comporta mento mais adequado Nessa situação eles seguiriam o comportamento realizado o que acreditam ser realizado pela maioria Staub 1972 observou que em situações de emergência não apenas as expectativas nor mativas mas também a percepção de como as outras pessoas entendem a aplicação da norma naquela situação específica parecem afetar fortemente o comportamento dos en volvidos Outra motivação seria a de construir e manter relações sociais Em situações em que os indivíduos buscam pertencer a um novo grupo ou permanecer em seus gru pos eles buscam padrões compartilhados de comportamento Esses padrões são mui tas vezes transmitidos oralmente mas tam bém por meio da observação e inferência dos comportamentos dos outros membros dos grupos Como exemplo podemos citar Buffalo e Rodgers 1971 que observaram que o comportamento de delinquentes ju venis é contra suas próprias normas morais que seriam surpreendentemente social mente aceitáveis e desejáveis e se compor tam com base em sua percepção de quais seriam as normas de seus colegas Nesse exemplo o interesse em pertencerperma necer no grupo faz com que eles se compor tem de maneiras muitas vezes diferente do que todos no grupo acreditam Isso ilustra o quanto não apenas as normas sociais mas a percepção das normas comportamentais dos outros e de grupos relevantes é igualmente importante pois o modo como as pessoas pensam sobre os outros é um processo im portante da construção da norma Torres 2009 defende que uma vez que o concei to de cultura se refere também ao modo como as pessoas vêm o mundo ou à per cepção compartilhada da realidade pessoas do mesmo grupo cultural podem não endos sar as mesmas normas sociais mas prova velmente percebem e entendem o compor tamento dos outros de modo similar A terceira motivação seria a de manter um autoconceito positivo Muitas vezes as pessoas precisam manter certas caracterís ticas para poder construir socialmente sua autoimagem isto é macho advogado adulto Arndt e colaboradores 2002 rea lizaram um estudo indicando que pessoas com a autoestima mais instável e mais fo cada em atributos extrínsecos tendem a se conformar mais à opinião da maioria e muitas vezes chegam a se desvalorizar para se adequarem à norma O ser humano em prega uma grande variedade de estratégias para se proteger como por exemplo o falso consenso que é uma maneira de proteger o self Berkowitz 2004 Prentice e Miller 1996 afirmam também que existem situ ações em que o indivíduo diminui as rea lizações de um objeto de comparação para poder manter sua autoestima Nessa divisão da necessidade de apro vação social como outros conceitos na psi cologia e nas ciências sociais é esperada uma elevada covariância Contudo a divi são não é meramente um recurso didático apresentando uma considerável validade empírica Cialdini e Trost 1998 Cialdini e Goldstein 2002 É obvio e esperado que todas essas motivações estejam presen tes na situação real em que o comportamen to ocorre Muitas vezes é possível inclusive o conflito dessas motivações isto é acertar INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 111 versus pertencer pois muitas vezes o am biente pode suportar motivações opostas Nessas situações o comportamento baseado em normas é baseado em diferentes pistas situacionais que ativam diferentes tipos de normas Cialdini et al 1991 Staub 1972 afirma que toda situação tem uma multiplicidade de normas gerais e de pistas situacionais que podem acionar os comportamentos apropriados Esse ponto de vista é defendido também por Cialdini e colaboradores Cialdini et al 1991 Reno et al 1993 Kalgreen et al 2000 em uma série de estudos de campo envolvendo jogar lixo no chão Sua hipótese central era a de que a norma não importa o tipo não iria afetar o comportamento a não ser que ela fosse feita saliente na situação ou seja ela seria dependente da ativação no ambien te Esses pesquisadores encontraram que tornando a norma injuntiva saliente por meio da manipulação de placas e cartazes a quantidade de lixo jogada no chão dimi nuiu não importando a quantidade de lixo no ambiente Entretanto tornando a norma descritiva mais saliente por meio da mani pulação da quantidade de lixo no ambien te só conseguiram diminuir a ocorrência desse comportamento em ambientes limpos quando um assistente de pesquisa jogava lixo no chão pois em situações em que o ambiente estava sujo jogar lixo no chão aumentava a quantidade de lixo jogado no chão o que não chamava atenção e logo não tornava a norma saliente Esses autores também observaram que a ativação das nor mas tinha um certo caráter transituacional pois a norma ativada em um cenário conti nuava efetiva em um outro Esses dados são semelhantes aos encontrados por Solomon Ash 1991 apud Cialdini e Goldstein 2004 Bond e Smith 1996 em seus estudos sobre conformidade É importante ressaltar que compor tamentos como a contrução e o estabeleci mento de normas só podem acontecer pelo encontro de duas ou mais pessoas Gold 1997 Para a contrução de normas Miller e Prentice 1996 notaram que os indiví duos começam com alguma representação de pensamentos emoções e comportamen tos de outros em seu ambiente Prentice e Miller 1996 propõem que os indivíduos quando constroem normas sociais levam em consideração as causas de seus próprios comportamentos quando analisam o quanto o comportamento dos outros reflete as es colhas que estes fazem Além deste aspecto inferencial da construção das normas esses autores observaram que durante seu estabe lecimento estas podem às vezes ser formal mente codificadas Contudo é mais comum que sua comunicação e reforçamento ocor ra de modo menos explícito Por exemplo Gold 1997 argumenta que a linguagem é adquirida e mantida substancialmente pelos mesmos processos que as normas sociais Indivíduos são socializados a agir de acordo com seu grupo linguístico e o reforçamen to de seu grupo social é frequentemente um processo sutil Hall 1973 Feldman 1991 sugere quatro dife rentes maneiras para a construção das nor mas Para esse autor elas podem ser desen volvidas a por um líder de um grupo social para garantir a sobrevivência do grupo b por um acontecimento crítico na história do grupo clarificando quais compor tamentos seriam consistentes com os valores do grupo c pelos primeiros comportamentos exibidos no grupo indicando rotina d e por comportamentos que já ocorriam antes da formação do grupo mas que são considerados como padrões de um determinado tipo de indivíduo isto é auto categorização Existe uma considerável concordância na literatura no que concerne ao período da vida em que as principais normas sociais de uma cultura são construídas Wardle 1992 propôs um modelo para explicar o desen volvimento de uma identidade birracial saudável entre crianças De acordo com seu modelo o desenvolvimento das normas so ciais e valores ocorria no Estágio 1 de seu modelo que compreende as idades de 3 a INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 112 tOrres neiva cOLs 7 anos De mesma forma Pataki e Painter 1994 notaram que a construção de nor mas sociais para a amizade e o pertenci mento ocorre quando a criança está na 3a série com idades entre 7 e 8 anos Esses e outros estudos aparentemente indicam que as normas e valores que são moldados e en dossados nessa primeira infância tendem a acompanhar os indivíduos pelo resto de suas vidas Desse modo normas relativas a diferentes comportamentos podem vir a ser desenvolvidas também nos primeiros rela cionamentos das crianças com seus pais É importante citar que o desenvolvimento de normas sociais só ocorre em um determi nado contexto cultural Como mencionado anteriormente um indivíduo sozinho não pode construir uma norma Ele ou ela precisa de contato com outros indivíduos precisa saber ou imaginar quais são as ex pectativas do outro naquela situação espe cífica e precisa perceber como este entende como as normas se aplicam nessa situação específica É importante ressaltar que a norma é um construto com uma essência pre dominantemente regulatória na realiza ção de dife rentes comportamentos In de pendentemente do modo como é construí da sua formação sempre vai depender de uma considerável da influência da cultura no desenvolvimento da cultura no grupo Triandis 1994 normas versus cultura Diversos autores p ex Gold 1997 Bomtempo e Rivera 1992 Wallace et al 2005 Triandis e Suh 2002 consideram que há uma relação entre normas sociais e cul tura Vários autores consideram que a defi nição de cultura inclui a noção de crenças e normas compartilhadas Lehman Chiu e Schaller 2004 Wan Chiu Peng e Tam 2007 Smith Bond e Kagitçibasi 2006 Gold 1997 afirma que quando indivíduos compartilham as mesmas crenças e possuem uma consciência de consenso p 120 uma cultura pode ser observada Esse autor nota que uma forte definição de cultura é aquela que tem aspectos normativos para os diferentes papéis e que implica em uma condição na qual todos devem p 123 significando que a definição de normas seria intrínsica à definição de cultura Rohner 1984 apud Smith e Bond 1999 propõe que não devemos distinguir entre os conceitos de cultura e sistema so cial Ele define um sistema social em termos de os comportamentos de diversos indiví duos dentro de uma população culturalmen te organizada incluindo seus padrões de in terações social e redes de relacio namentos sociais p 127 Como discutido anterior mente a maioria das definições de cultura se baseia na análise dos compor tamentos e ações de seus membros Uma vez que a definição de normas se refere a quais com portamentos devem ser feitos em uma si tuação pode se entender com clareza como as normas sociais estão claramente inseri das na definição de cultura Deste modo estudando se o mesmo sistema social em diferentes culturas podermos inferir como as diferentes culturas entendem esses com portamentos e o que significa o comporta mento ideal em cada cultura Em culturas diferentes Smith e Bond 1999 observaram que indivíduos de dois países diferentes podem desempenhar papéis sociais idênticos em suas culturas Entretanto eles frequentemente têm dife rentes históricos em cada grupo de culturas o que irá afetar o modo como eles desem penham seus papéis em cada cultura Desse modo o mesmo papel pode ser definido de modo similar em cada cultura mas as nor mas que guiam o comportamento dos atores sociais podem ser diferentes Por exemplo dois indivíduos podem ter exatamente o mes mo cargo p ex analista de produção com as mesmas atribuições isto é mesma descri ção de cargo em duas culturas mas Payett e Morris 1995 observaram que o modo como esses indivíduos executam suas tarefas está atrelado à cultura É necessário estudar os diferentes contextos culturais desses indiví INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 113 dios para poder entender o que cada norma social implica em cada contexto Smith e Bond 1999 consideram ainda que o conceito de cultura é muito abrangente para o uso científico Cultura é um conceito capaz de lidar com uma grande gama de variação do comportamento e pen samento humano No entanto qual aspecto da cultura é responsável pela variação em uma parte específica do comportamento hu mano Afirmar que qualquer diferença entre dois grupos específicos é devido à cultura é de pouca utilidade prática e científica pois ao final não se sabe o que realmente cau sou a diferença Smith Bond e Kagitçibasi 2006 Dimaggio 1997 Além disso considerando que a cultura só pode ser medida indiretamente por meio das crenças valores e normas compartilha das que a constitui entre outros construtos e que existe uma considerável dificuldade em mensurar indiretamente essas crenças valores e normas em sua completude uma solução para o estudo de culturas pode ser da escolha de um dos componentes como a norma O uso do conceito de norma pode nos ajudar a especificar os estudos de cul tura Uma outra vantagem é que se trata de um conceito que é diretamente relacionado a um comportamento observável normas e dimensões culturais Revisando os estudos relativos à noção de self Smith Bond e Kagitçibasi 2006 en contraram que estudos realizados em cultu ras mais coletivistas apresentam resultados diferentes daqueles realizados em culturas mais individualistas Participantes de cultu ras mais coletivistas p ex Brasil tendem a perceber os outros e a si mesmos em ter mos mais situacionais Uma vez que as nor mas se relacionam com o comportamento apropriado para uma situação específica e que indivíduos de uma cultura mais coleti vista tendem a perceber a si nos termos da situação então há uma considerável chance deles se apoiarem mais em normas sociais ao escolherem como se comportar em uma dada situação Essa hipótese vem encontran do algumas evidências de sua validação p ex Smith et al 1998 Então por exem plo seria plausível considerar que o protó tipo de um líder em uma cultura coletivista seria aquele que dá maior valor para suas normas sociais Por outro lado um líder em uma cultura individualista poderá ser mais bem identificado como aquele que fornece o que está faltando para a realização de tare fas ou de funções relacionadas com relacio namentos Também podemos observar que as normas podem ser usadas para explicar e justificar o ponto de vista da organização como superior para reafirmar o direito da administração definir qual é o ponto de vis ta que irá prevalecer em uma dada situação Izraeli e Jick 1986 A relação entre seres humanos e as dimensões culturais é uma via de mão dupla na qual os indivíduos e o ambien te moldam um ao outro Hall 1969 afir ma que pes soas influenciam a norma de seu grupo cultural e são influenciadas por ela Ele também propõe que as normas de modo similar às leis isto é uma forma de norma mais estruturada são essenciais para a sobrevivência de uma cultura e para a manutenção das pes soas em uma cultura Leis e normas podem ser criadas por várias razões Como observado pelos autores des de os tempos do Código de Hamurabi 1700 aec6 existe a necessidade de reforçar leis que substituam os costumes tribais Hall 1969 p 167 Desse modo pode se notar que as normas sociais sempre fizeram parte de qualquer grupo social podendo ser de monstradas por suas dimensões culturais Quando indivíduos de diferentes cul turas entram em contato eles vivenciam as diferentes normas que se aplicam a cada um Contudo diversas dificuldades podem ocor rer levando ao fracasso na leitura correta da norma que se aplica a cada um Gerando di versos mal entendidos Contudo quando o contato passa a ocorrer com maior frequên cia elas passam a compreender melhor o comportamento do outro Hall 1969 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 114 tOrres neiva cOLs desviando das normas Um grupo social pode reforçar normas por diferentes motivos Estes podem ser meca nismos para aumentar a predição dos com portamentos de seus membros uma forma de expressar os valores do grupo para jus tificar as atividades do grupo para os mem bros ou mesmo uma forma de especificar as fronteiras do grupo facilitando sua so brevivência Feldman 1991 DeRidder Schruijer e Tripathi 1992 forneceram um quadro integrativo para en tender a relação entre grupos étnicos em uma sociedade e entre grupos em organiza ções que precisam coexistir por longo perío do de tempo a Teoria de Violação da Norma Essa abordagem é baseada na observação de que através dos anos cada grupo existente desenvolve normas implícitas eou explícitas que estipulam como seus membros devem agir e reagir frente a membros dos outros grupos Membros de cada grupos conhecem essas normas Geralmente os membros dos grupos assumem tacitamente que as normas são respeitadas Desse modo a violação de uma norma por um membro de um grupo é considerada como um potente fator ativador de um negativo comportamento intergrupal A severidade das sanções do grupo é uma função do grau de desvio e da relevân cia da norma Triandis 1994 As culturas aparentemente diferem na extensão em que uma norma em particular é considerada relevante para seus membros Por exem plo embora todas as culturas reconheçam o conceito de equidade esta norma não é igualmente relevante em todas as culturas Replicando estudos clássicos de psicologia social no Brasil Rodrigues 1992 encon trou que a teoria de equidade tem algumas limitações nesse país No Brasil o compor tamento em si é reconhecido não o produ to ou o resultado do comportamento Os brasileiros tendem a dar mais valor para os comportamentos envolvidos na tarefa do que ao processo envolvidos na execução da mesma e a atribuir um menor valor ao produto final obtido pela tarefa Essa prefe rência parece ser consistente com a suges tão de que as pessoas em países coletivistas tentam distribuir os recursos de modo que a solidariedade endogrupo possa ser manti da e tendem a distribuir as recompensas de modo que seja justo para todos os membros dos endogrupos Triandis 1994 Por outro lado Hall 1969 sugere que normalmen te norte americanos sic aparentemente dirigem sua atenção mais diretamente ao conteúdo do que à estrutura e à forma p 183 É interessante notar que essas normas se tornam muito mais claras quando os indi víduos se desviam delas Derider Schruijer e Tripathi 1992 Desse modo no exemplo anterior os brasileiros podem se tornar mais conscientes do valor que dão ao comporta mento quando interagem com alguém que não é da mesma cultura e que dá mais va lor ao produto da tarefa violando a norma brasileira quadro 54 DiFerenciaçãO Das nOrmas entre cULtUras então como vai a família as normas tendem a ser diferentes nas diversas culturas Por exemplo archer e Fitch 1994 obser varam que em diversas organizações norte americanas a norma é falar muito pouco sobre a família de alguém pois tal exposição implica em obscurecer uma importante linha entre o que é público ou privado na vida das pessoas ou mesmo privilegiar a família em detrimento do trabalho Já em organizações latino americanas pode ser considerado não educado não perguntar sobre a família de alguém INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 115 norMas sociais e o conceito de situação Normas podem ser entendidas nos termos de o que uma pessoa supostamente deve fa zer em uma determinada situação por causa de sua posiçãostatus social Se as normas são definidas como o comportamento ide al de um indivíduo determinado por sua posição ou situação o que faz com que seu comportamento se torne independente do comportamento de outras pessoas Como as normas se tornam recíprocas Jackson 1966a sinaliza que a falta de possibilida des dedutivas dificulta o estudo sobre re gras normas e papéis Para esse autor na psicologia social fala se sobre conceitos ideias como self grupo e norma social quadro 56 nOrmas sOciais e caracterÍsticas cULtUrais amor de mãe é sagrado mãe é aquela pessoa que cuida de nós desde o ventre e por isso se cria com ela um vínculo místico e mágico que faz com que todas as ações que esta toma com relação aos filhos seja sempre um ato de amor geralmente proposital contudo uma mãe é uma pessoa como qualquer outra e por isso é capaz de fazer tudo o que pessoas são capazes de fazer Diversos autores das mais diversas áreas p ex Walzer 1996 chase rogers 2001 vêm indicando que a maternidade é socialmente construída e que não há nenhuma outra base para explicar o comportamento que não estruturas sociais Desse ponto de vista a maternidade é um sistema social com todas as im plicações que isso traz no que se refere a diferentes culturas Logo o amor de uma mãe de uma cultura não é maior ou menor nem melhor ou pior O próprio amor é um sistema social regulado por diferentes normas em cada cultura entretanto como todo sistema governado por normas este está sujeito a pessoas que fogem à realização dos comportamentos tidos como aceitáveis isso significa que dar à luz não é sufi ciente para ter amor de mãe o que é uma escolha que pode ou não ser realizada moldada socialmente regulada por normas sociais quadro 55 nOrmas e aPrenDiZaGem De LinGUaGens o que você quer dizer com isso aprender uma outra língua é importante para fazer negócios em uma outra cultura mas como observado por diversos autores p ex Hall 1969 Pinker 2007 linguagem é mais do que apenas um meio para expressar pensamentos De fato ela é um grande elemento na formação do pen samento todavia para o entendimento ocorrer mais importante do que a linguagem em si é a atenção para as normas e crenças que a cultura mantém com relação à linguagem archer e Fitch 1994 Duas diferentes culturas e talvez até subculturas têm diferentes linguagens Os indivíduos dessas culturas habitam diferentes mundos sensoriais Hall 1969 Best 1992 Por isso elas irão filtrar o mundo de modos diferentes levando a diferentes percepções e diferentes experiências da mesma situação essas diferenças podem resultar na ativação de diferentes normas que enfa tizarão aspectos diferentes do comportamento social INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 116 tOrres neiva cOLs mas nos dirigimos a conceitos qualitativos tais como envolvimento de ego integração de ego ou características da regulamentação normativa Desse modo Jackson 1944a 1966b 1975 propôs um modelo para des crever e discutir a norma como um conceito ideia em outras palavras um modelo que fornecesse uma mensuração quantitativa e descritiva da norma O Modelo de Retorno Potencial MRP7 proposto por Jackson 1966a 1966b 1975 representa uma ferramenta importante para a mensuração de normas sociais O modelo fornece uma definição operacional de nor mas sociais nos termos de um relativo grau de aprovação ou preferência que as pessoas têm para uma determinada gama de com portamentos ou presença de objetos O MRP foi utilizado para mensurar normas so bre diversos tipos de comportamentos tais como comportamentos agressivos Henry Cartland Ruchross e Monahan 2004 o ato de jogar lixo no chão Heywood e Murdock 2004 comportamentos pró sociais gerais Labovitz e Hagedorn 1973 e o comporta mento de liderança Torres 2009 Nogueira Torres e Guimarães 2001 Identificando um conjunto de compor tamentos que são preferidos por um grupo em uma situação particular isto é compor tamentos que são mais aprovados em uma situação podemos identificar qual com portamento é considerado ideal por esse grupo Se analisarmos simultaneamente o padrão cultural do grupo enquanto mensu rando as normas com relação à realização do comportamento que estamos interessa dos então torna se possível notar se exis te uma relação entre o padrão cultura e a variável de interesse Esse modelo e seus pressupostos são mais bem detalhados mais adiante contexto situacional O conceito de contexto situacional é extre mamente importante para qualquer opera cionalização de medidas de normas sociais Esse cuidado teórico metodológico torna possível observar se a norma compartilha alguma característica que está presente na contingência ou outras teorias situacionais A condição se então Se ou quan do uma situação ocorre então um com portamento específico precisa ocorrer para ocorrer a aceitação ou não punição pelo grupo O componente se dessa condição foi nomeado por Jackson 1966a como contexto situacional Podemos entender esse conceito como um componente da nor ma que seria talvez a menor unidade de cultura que é viável analisar Dessa for ma o conceito contextual é importante não apenas por fornecer as bases para identifi car unidades que podem ser manuseadas mas esse contexto situacional pode auxiliar no aprendizado de novas culturas indican do o que se pode ou não realizar nessa cul tura Cabe notar aqui que a diferença entre contexto situacional e sistema social é que o segundo ocorre no primeiro e no contexto que estão as pistas situacionais que indicam se o sistema é ou não plausível de ocorrer naquele contexto social sendo as normas sociais que indicam quais serão as recom pensas e punições associadas à realização de cada comportamento Para Hall 1977 os contextos situa cionais são os blocos de construção tanto de vidas individuais quanto de instituições Para Hall esse conceito é uma função a do indivíduo b de sua construção psíquica e c de instituições que vão desde o casamen to até grandes corporações e cultura que fornece o significado para as duas anteriores Pode se afirmar que o problema na construção de contextos situacionais é de terminar quais são os comportamentos sig nificantes que devem ser incluídos construção de contextos situacionais Para a criação de um contexto situacional pode se começar com um período de obser INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 117 vações de campo e entrevistas Com isso é possível se obter uma considerável gama de informação a respeito das atividades das re lações e dos valores dos membros de cada sis tema social Um conjunto extenso de itens é então construído cada um a respeito de uma dimensão do comportamento e da situação Todavia Jackson 1944a 1966b coloca que nesse método o ponto de corte de inclusão ou exclusão de um item é tão arbitrário que diferentes investigadores podem fornecer di ferentes medidas da mesma norma Por outro lado para construir um con texto situacional pode se começar com um tipo ideal ou modelo de um sistema social Após a seleção desse modelo constroem se dimensões de comportamentos que poderiam ser executados pelos indivíduos Jackson 1966 Por exemplo aqueles comportamen tos que podem se referir ao modo como ges tores tomam uma decisão a respeito de um problema organizacional Nesse exemplo a decisão pode ser feita desde um modo auto crático baseado apenas em sua opinião até um modo participativo com as colaborações dos subordinados Quando todos os compor tamentos que um gestor poderia tomar para esse exemplo ações que refletem a tomada de decisão e resolução de problemas basea da em uma teoria sobre estilos de liderança então uma dimensão comportamental pode ser construída para a tomada de decisão de liderança Torres 2009 Como notado por Jackson 1966b quando o objetivo da pesquisa é explicar uma dimensão particular de uma estrutura social a dimensão comportamental pode ser padronizada em uma situação hipotética diferente que pode ser usada em cada item do questionário Por outro lado quando o propósito do estudo é investigar um papel particular em sua plenitude ou um papel es pecífico em uma estrutura social ou cultura então cada item pode utilizar uma dimen são comportamental diferente de modo que a definição da situação se torna explícita A seguir dois diferentes modelos de mensuração de normas serão abordados O primeiro é um modelo de mensuração de normas sociais O segundo é mais apropria do para a mensuração da pressão social do que a realização de um comportamento em um determinado contexto situacional que muitas vezes é confundido com normas so ciais Mensurando norMas sociais o modelo de retorno potencial O Modelo de Retorno Potencial MRP tem como objetivo explicar medir e descrever as normas graficamente por meio da impres são da aprovação pelos membros de um grupo com relação a um continuum de com portamentos Jackson 1966b notou que as sociedades gastam muito tempo treinando seus membros no que eles devem fazer em várias situações hipotéticas Esse treina mento social tem implicações tais como aprovação por obediência e reprovação por não obediência O MRP desenha uma cur va que demonstra o grau de aprovação e de reprovação de uma gama de comportamen tos em uma situação específica Note que o modelo não descreve uma norma para cada comportamento na situação Em vez disso o modelo descreve o modo normativo de se comportar em uma determinada situação por meio da análise da aprovação para um continuum de comportamentos Esse con tinuum de comportamentos relacionados com a norma precisa ter uma quantidade de alternativas com pelo menos uma que seja mais aprovadadesejável do que as outras Jackson 1966 sugere que o MRP apresente a definição de normas nos termos da distribuição da aprovação e reprovação potencial que um indivíduo pode receber por outros membros de um grupo social relevante dentro das diversas alternativas que um ator pode se comportar dentre de um continuum sob condições específicas ou seja em uma situação definida Nesse modelo normas são vistas como a unidade componente de um papel social Definição coerente com o trabalho de Gold 1997 no qual a noção de normas são constituídas de regraspapéis sociais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 118 tOrres neiva cOLs curva de retorno potencial O modelo pode ser visto como tendo duas dimensões ortogonais a dimensão compor tamental posicionada ao longo da abscissa eixo X e a dimensão do retorno potencial representada ao longo da coordenada eixo Y A dimensão de retorno potencial se re fere à aprovação ou reprovação dos com portamentos pelos respondentes A outra dimensão é relativa ao comportamento ou variabilidade de comportamentos que pode quadro 57 nOrmas sOciais e cOmPOrtamentO HUmanO Meu chefe é um anormal Fala se muito de liderança atual mente é um dos temas mais po pulares nos cursos e congressos que envolvam gestão cultua se autores e livros que foram publi cados em outros países pois eles deram certo nessas culturas e ajudaram diversos gestores a tor nar sua equipe de trabalho mais eficiente gerando diversos casos de sucesso mas o quanto esses casos de sucesso se aplicam ao Brasil O gráfico acima torres e Ferdman 1999 mostra o quan to que os brasileiros consideram normal diversos tipos de estilos de liderança classificados em um contínuo entre autocrático e par ticipativo em comparação com como os norte americanos ava liam os mesmos estilos Os resultados indicam que o estilo que é considerado mais acei tável entre os norte americanos não é considerado sequer aceitável no Brasil e vice versa Daí surge o risco de se tentar implantar mode los de sucesso em outras culturas a mera cópia sem uma pré via adaptação do modelo para nossas práticas culturais pode sofrer sanções por parte dos cola boradores com os quais o modelo irá ser aplicado no gráfico acima o mesmo estudo foi replicado por torres minghetti vasconcelos e Brasileiro 2000 mas utilizando apenas a amostra nacional nota se o efeito da diversidade cultural do bra sileiro e como consequência significa que um determinado estilo de gestão que funcionou em uma região específica pode não ser adequada em outra chamando a atenção para a importância de se levar a cultura em consideração mesmo em regiões do Brasil INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 119 ocorrer em uma dada situação Por exem plo quando exposto a um problema que requer uma decisão isto é uma situação um indivíduo pode tomar a decisão sozinho consultando algumas pessoas específicas ou com a participação geral de outras pessoas O comportamento da pessoa nessa situação ou o modo como a pessoa toma a decisão pode ou não ser aprovado por outros mem bros de seu grupo social em diferentes mag nitudes Uma curva de retorno potencial pode ser desenhada para ilustrar uma distri buição hipotética da aprovação reprovação ou retorno para utilizar o vocabulário do autor do modelo que os membros de um grupo em particular podem fornecer para a realização de um comportamento específico em uma situação definida A curva marca a quantidade de aprovação que cada di mensão comportamental pode receber com a realização do ato específico descrito na dimensão comportamental Um exemplo de uma representação de norma pode ser visto na Figura 51 O modelo assume que o que é signi ficante na regulamentação do comporta mento das pessoas é o nível da tendência das respostas dos membros de um sistema Desse modo ele pode ser utilizado para descrever qualquer situação na qual uma norma social serve para governar o compor tamento dos membros de um grupo Porter Lawler e Kackman 1975 índices e propriedades do modelo de retorno potencial Jackson identificou algumas propriedades do MRP que podem ajudar a explicar as ca racterísticas de uma norma É importante Figura 51 curva de retorno potencial e suas medidas Nota Diagrama esquemático mostrando a representação da norma no MRP A curva que é a curva de retorno potencial mostra a distribuição de aprovação reprovação entre os membros de um sistema social com relação a uma gama de comportamentos Note que cada ponto na curva representa a média das respostas dos membros do grupo adaptado de Jackson 1966a INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 120 tOrres neiva cOLs ressaltar que as médias da distribuição de respostas dos membros de um grupo são utilizadas para desenhar a curva de retorno potencial As respostas individuais ou o grau de aprovação ou reprovação dadas por um indivíduo são agregadas para representar as respostas de um dado grupo ao qual os indi víduos pertencem A seguir seguem essas propriedades Ponto de retorno máximo É o ponto mais alto da curva Representa o comporta mento ideal prescrito pelos membros do sistema social Ou seja é o ponto onde os membros irão fornecer o maior grau de aprovação No senso comum esse ponto geralmente recebe o termo de norma A variância no ponto de máximo retorno fornece um índice de integração interna da parte da norma que pode regular as relações de autoridade Gama de comportamentos tolerados Como mencionado anteriormente a norma é mais do que um simples valor de comportamento é uma gama de ações possíveis Nesse modelo a gama de com portamentos tolerados é o segmento da dimensão comportamental que é apro vada pelos membros do sistema social Ou seja esse índice é representado pelos comportamentos que aparecem acima da abscissa Esses comportamentos devem ser ordenados de modo a descrever um continuum de alguma qualidade isto é critério antes de serem representados na abscissa Por exemplo os comporta mentos podem ser organizados em um continuum que vá de uma tomada de decisão não participativa e arbitrária até uma tomada de decisão que seja participativa e democrática Esse índice do modelo pode ser usado para realizar comparações entre atores conjuntos de indivíduos ou sistemas sociais quando o mesmo comportamento está envolvido Jackson 1966b Intensidade Jackson notou que a inten sidade de uma norma permite observar em que grau a norma existe no sistema social ou seja quão marcante é a per cepção da performance de um determi nado comportamento em uma situação particular A intensidade indica o quanto que o continuum de comportamentos é importante para o grupo Para Jackson 1966a a intensidade pode ser utiliza da para medir a importância da norma Uma medida de intensidade é obtida do modelo calculando a média absoluta de todas as expectativas tanto acima quanto abaixo da abscissa para todas as posições da dimensão comportamen tal Jackson 1966a Deste modo o intervalo que vai do ponto de retorno máximo até o ponto de reprovação máxima reflete a intensidade da norma Esse índice representa a força das ex pectativas para cada comportamento a despeito da norma ser ou não aprovada Jackson 1966a Em outras palavras a intensidade representa a percepção dos respondentes a respeito do quão forte o grupo irá aprovar ou reprovar o conti nuum de comportamentos Cristalização Este índice se refere à quantidade de concordância ou con senso que envolve a norma Pode ser definido como a discrepância entre as expectativas entre todos os pares de pes soas em um sistema social ou qualquer outro subconjunto Jackson 1966a Ele é calculado por meio da variância de cada ponto na escala de aprovação e reprovação para o continuum de com portamento Quanto menor a variação de todos os pontos mais clara é a descrição da norma O consenso é frequentemente considerado como a integração de um sistema social e por implicação como um alto potencial para controle social Uma vez que o consenso entre os membros de um sistema social aumenta pode se dizer que a norma foi fortalecida Em outras palavras um maior consenso significa que a norma é capaz de influenciar mais o grupo Poder normativo A combinação de uma alta intensidade e uma alta cristalização é uma indicação adequada de que os membros de um sistema sentem uma INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 121 forte obrigação na realização do compor tamento em concordar com a norma Jackson 1975 define a combinação de uma alta cristalização e uma alta inten sidade como poder normativo Para esse autor esse índice é um atributo objetivo de um sistema normativo em contraste com definições de poder social em termos da percepção de um ator p 243 É in teressante observar que normas com um alto poder normativo são muito difíceis de serem modificadas pois há uma eleva da concordância com relação ao que deve ser feito cristalização e a aprovação reprovação tende a ser elevada Diferença de retorno potencial Jackson 1966a considera que a diferença entre os componentes positivos e negativos dos componentes da intensidade cons titui a diferença de retorno potencial Esse índice representa a percepção dos respondentes quanto ao grupo ter uma natureza mais punitiva ou apoiadora isto é dependendo se o valor for positivo ou negativo O próprio Jackson 1996a indica que índices positivos em várias situações que são reguladas normativa mente sugerem um clima mais de suporte ou tolerância de modo correspondente índices negativos sugerem um ambiente punitivo ou restritivo p 40 Modelo de retorno potencial e sistemas sociais Jackson também observou que sistemas sociais variam na clareza de informação que seus membros for necem sobre suas ações com relação à conformidade ou não com a norma Em algumas situações mesmo quando pes soas reagem fortemente e possuem um elevado consenso eles podem suprimir algumas manifestações de suas reações O processo de fornecer pistas sobre a reação é normativamente regulado e varia de um sistema para o outro Deste modo mudanças em um sistema social ou estruturas sociais podem afetar signifi cativamente a percepção das normas O modelo implica que devemos pensar a normalidade em termos de um processo normativo de regulação em vez de pensar a norma em termos de uma coisa Jackson 1966a Isso torna possível investigar se e em que forma e em qual grau a norma exis te em vez de considerá la como certa Se duas culturas diferentes represen tam dois sistemas sociais é interessante entender as peculiaridades de cada cultura e como elas diferem O que é considerado como apropriado em cada sistema social pode estar relacionado a diferenças cul turais entre eles Deste modo devemos entender as peculiaridades do brasileiro e como o Brasil difere de outros países em ter mos culturais Considera se que essas dife renças implicam em diferenças nas normas para diferentes comportamentos em dife rentes países Talvez por exemplo a dife rença entre a Nova Zelândia e o Brasil em suas culturas nacionais sejam relacionadas a diferenças na preferência por diferentes comportamentos normas subjetivas Fishbein e Ajzen 1974 Ajzen e Fishbein 1980 afirmam que as normas subjetivas não são iguais às normas sociais mas sim uma pressão social percebida e que ape sar de geralmente estarem em consonância com atitudes muitas vezes elas entram em conflito É mais adequado considerarmos as normas sociais como um contínuo de com portamentos com as respectivas sanções e recompensas associadas a sua realização Jackson 1966 1975 Torres 2009 e que podem ser de natureza descritiva e prescri tiva Jackson 1966 1975 Cialdini Reno e Kallgrenn 1991 Cialdini e Trost 1998 Torres 2009 Kallgren Reno e Cialdini 2000 Reno Cialdini e Kallgren 1993 Cialdini 2003 Cialdini e Goldstein 2004 Contudo apesar de não serem o mes mo construto a semelhança entre as nor mas sociais e a norma subjetiva extrapola a semelhança de nomes Como a norma subjetiva é relativa à realização de um úni co comportamento pode se dizer que as normas sociais são constituídas de diversas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 122 tOrres neiva cOLs pequenas normas subjetivas Contudo dife rentemente das normas sociais a norma sub jetiva assume um aspecto muito mais prescri tivo do que descritivo uma vez que como já colocado a norma subjetiva se refere à percepção do indivíduo com relação à apro vaçãoreprovação de se realizar um compor tamento ao passo que a norma social tam bém serve como um padrão de comparação para se decidir se algo é ou não adequado ou pertencente a um determinado grupo ou categoria Prentice e Miller 1996 Como já visto anteriormente a se melhança entre as normas sociais e a nor ma subjetiva extrapola a semelhança de nomes Contudo a norma subjetiva é re lativa à realização de um único comporta mento seu objetivo é verificar a pressão social percebida na realização de um único comportamento em um contexto específico Considerando que a norma social seja cons tituída de diversas pequenas normas sub jetivas a norma subjetiva é relativa a uma dimensão comportamental da norma Sua natureza é muito mais prescritiva do que descritiva uma vez que a norma subjetiva se refere à percepção do indivíduo com re lação à aprovaçãoreprovação de se realizar um comportamento e não como padrão de comparação para decidir se algo é ou não adequado ou pertencente a um determina do grupo ou categoria A operacionalização originalmente proposta por Fishbein e Ajzen 1974 Ajzen e Fishbein 1980 reflete principalmente o aspecto prescritivo da norma mais co nhecido como norma injuntiva Hagger e Chatziarantis 2005 A norma não depende apenas de aspectos injuntivos pois como apontado por Cialdini e Goldstein 2004 e Cialdini e Trost 1998 principalmente em situações de ambiguidade o indivíduo bus ca realizar o comportamento mais realizado popular com base na crença de que este seria o comportamento mais socialmente aceito Esse fenômeno é conhecido como heurística de maioria Anderson 1996 ou norma descritiva Devido a essa confusão sobre os dife rentes tipos de normas a norma subjetiva merece uma discussão mais a fundo Ajzen 1991 mantém a definição de norma sub jetiva do modelo anterior Fishbein e Ajzen 1975 que as coloca como a percepção da pressão percebida em realizar ou não um determinado comportamento Fishbein e Ajzen 1975 Já Cialdini e Trost 1998 acrescentam que são cognições comparti lhadas que podem afetar o comportamento de um indivíduo dependendo de caracterís ticas pessoais isto é automonitoramento locus de controle situacionais Ehrhart e Naumann 2004 e cultural Bomtempo e Rivero 1992 Entretanto conforme apontado por outros autores p ex Lapinsky e Rimal 2005 Fekadu e Kraft 2002 o conceito não é capaz de lidar com todos os aspectos da in fluência normativa Ajzen 1991 2002 afir ma que a norma subjetiva é o somatório do produto entre a percepção das crenças mais salientes da probabilidade de que um certo comportamento seja aprovado ou desapro vado por uma pessoa ou grupo referente com a motivação que o indivíduo tem em se conformar nesse referido comportamento Apesar de essa definição ser realmente mais semelhante à definição de normas injunti vas Ajzen 2002 considera que a norma subjetiva deve incluir os aspectos das nor mas sociais propostos por Cialdini Cialdini e Goldstein 2004 Cialdini e Trost 1998 Cialdini et al 1991 Reno et al 1993 Kalgreen et al 2000 que sugere que es tas são baseadas tanto no aspecto injuntivo isto é o que deve ser feito quanto no as pecto descritivo isto é o que todos estão fazendo sendo que pode haver uma maior prevalência de uma sobre a outra Contudo diversas pesquisas vêm apon tando para um fraco poder preditivo das normas subjetivas p ex Sheeran Norman e Orbell 1999 Até mesmo Ajzen 1991 quando descreve seu modelo afirma que na maioria das vezes atitudes e crenças de controle percebido seriam suficientes para predizer intenção A desconsideração desse construto tem sido tão forte que diversos autores têm deliberadamente retirado esse componente na hora de trabalharem com a INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 123 teoria do comportamento planejado subs tituindo ou não por outro construto con siderado semelhante Armitage e Connor 2001 Entretanto outros autores p ex Armitage e Conner 2001 Hagger e Chatzia rantis 2005 vêm defendendo o construto e colocam que o primeiro motivo pelo qual ele não tem apresentado sucesso está nos métodos de mensuração pois a quase tota lidade dos estudos trabalha com normas so ciais com itens muito gerais p ex todas as pessoas que são importantes para mim apro vamdesaprovam que eu pratique turismo de aventura em minhas próximas férias e a maioria utiliza apenas um único item Armitage e Connor 2001 testando a hipó tese de que o fraco poder preditivo da norma subjetiva era devido à potencialmente fraca confiabilidade do tipo de medida utilizada realizaram uma metanálise em que o tipo de mensuração utilizado foi considerado como uma variável moderadora entre a norma subjetiva e a intençãocomportamento Eles encontraram que quando eram utilizadas medidas com apenas um item a média das correlações múltiplas ficou em 028 ao pas so que quando foram utilizados múltiplos itens esse média foi para 038 indicando que pelo menos parcialmente o baixo po der preditivo era devido ao método de men suração utilizado Outros fatores estão no contexto no qual o comportamento está sendo realizado e na cultura em que os indivíduos estão in seridos Wallace e colaboradores 2005 re alizaram uma metanálise tentando verificar em quais situações as atitudes prediriam um comportamento Utilizando como variável dependente o quanto que o comportamento estava sobre algum tipo de pressão social os resultados mostraram que em situações em que havia uma pressão social maior as atitudes apresentavam um baixo poder pre ditivo Essa pesquisa foi realizada apenas com estudos publicados em língua inglesa predominantemente nos Estados Unidos na Inglaterra e na Austrália e apesar do poder preditivo de atitudes ter diminuído nessas situações de forte poder normativo de 041 para 030 para cada desvio padrão acima de média de pressão social a atitude continuou apresentando correlações signi ficativas Desta forma mesmo em culturas predominantemente individualistas a in fluência normativa apresenta algum tipo de importância Esse tipo de dado é interessan te pois apesar de evidente Hagger Nikos e Chatziarantis 2005 vem sendo sistema ticamente ignorado nos estudos que utili zam a teoria do comportamento planejado Armitage e Connor 2001 Bomtempo e Rivero 1992 realizaram uma metanálise comparando os pesos obti dos na predição de intenção utilizando a teoria da ação racional TAR e verificaram que havia uma troca da magnitude entre as atitudes e a norma subjetiva na extensão em que as culturas eram classificadas como mais ou menos individualista com base nos estudos de Hofstede 1980 Quanto mais a cultura era tida como coletivista menor era o peso de atitudes e maior o da norma sub jetiva Infelizmente eles não controlaram o tipo de comportamento realizado e por isso os resultados dessa metanálise podem estar enviesados Entretanto são mais indícios de por que a norma subjetiva vem apresentan do um baixo poder preditivo na literatura internacional já que geralmente os estudos são realizados em culturas individualistas nas quais se espera que as atitudes tenham um maior poder preditivo Se os dados de Bomtempo e Rivero 1992 estiverem corre tos um aumento no poder preditivo de um levaria a uma diminuição do poder prediti vo de outro A partir desses dados surge a neces sidade de se utilizar uma medida de norma subjetiva que seja mais confiável e adequa da com a literatura O primeiro problema a ser resolvido é o de que modo medir os dois componentes injuntivo e descritivo A li teratura reconhece que a definição original mente proposta por Fishbein e Ajzen 1974 reflete mais o componente injuntivo por se preocupar mais com o que deve ser feito e não com o que está sendo realizado Apesar de ser representada como diretamente pro porcional ao somatório da importância INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 124 tOrres neiva cOLs da opinião de grupos indivíduos que são salientes na tomada de decisão m vezes a motivação em se conformar a essa opinião n conforme ilustrado na equação dois abaixo muitas vezes ela é medida com itens únicos relativos à percepção geral o que en fraquece o poder preditivo da medida NI mini 1 De modo semelhante o componente descritivo das normas subjetivas também tende a ser mensurado apenas perguntando se aos sujeitos itens globais de quanto eles acreditam que as pessoas a sua volta reali zam ou não determinado comportamento apesar de em sua maioria tal componente ser ignorado Uma representação do com ponente descritivo das normas subjetivas pode ser encontrada na equação 2 em que a Norma Descritiva ND seria diretamen te proporcional à percepção do sujeito do quanto as pessoas próximas a ele realizam o comportamento q ND qi 2 Para resolver o problema de qual nor ma seria a mais saliente e de que modo elas contribuiriam em conjunto na formação da intenção de se comportar o escore da norma subjetiva pode ser inferido do escore predito por normas injuntivas e descritivas com base em uma equação de regressão A ideia é que a magnitude dos betas de cada uma das va riáveis vai indicar qual seria o componente mais saliente uma vez que a norma mais sa liente por ter maior capacidade de influen ciar o comportamento vai ser responsável por uma maior parte da variância da variá vel dependente Logo a inclusão de norma injuntiva e descritiva entrando de uma vez em um bloco de uma regressão irá refletir um escore razoavelmente preciso da norma subjetiva Tal procedimento não é novo e estratégias semelhantes já foram utilizadas por autores como Fishbein e Ajzen 1974 em sua Teoria de Ação Racional na qual uma regressão era utilizada para inferir se as atitudes ou a norma subjetiva teria uma maior influência em intenção por meio dos coeficientes de regressão Ajzen 1996 de fende que tal estratégia é uma solução ele gante para esse tipo de problema apesar de reconhecer que ela é mais descritiva do que preditiva pois seria inferida com base nos dados e não na população como um todo Entre as principais limitações desse procedimento está que ele não leva em con sideração aspectos de autoidentidadeauto categorização que de acordo com Armitage Conner e Norman 1999 é uma importan te variável moderadora nessa relação pois dela dependeria a conformidade e até mes mo a saliência da norma Mesmo assim ele é capaz de fornecer um índice interessante da pressão social percebida para a realização ou não de um comportamento conclusão O que faz com que o brasileiro se comporte de uma maneira e não de outra depende de vários fatores Neste capítulo abordamos apenas um dos aspectos as normas sociais Contudo ele trouxe à tona uma discussão importante o quanto nossas decisões e pensamento podem ser guiados por nor mas sociais e também por que não se deve importar modelos desenvolvidos em outras culturas e aplicá los no Brasil sem pelo me nos uma breve tradução Mesmo sendo um país considera do moderadamente coletivista Hofstede 1980 diversos fatores vêm indicando que intervenções baseadas apenas em atitudes podem levar a açõesintervenções no mí nimo inadequadas até mesmo com rela ção aos modos como lidar com as pessoas e como estabelecer uma hierarquia Faz se ne cessária a adoção de modelos nacionais de tomada de decisão de liderança e de outros fenômenos que ocorram em um cenário tipi camente brasileiro Sem esquecermos nossa diversidade cultural Nossa extensão geo gráfica e diferentes histórias de colonização em diferentes regiões trazem uma conside rável dificuldade na hora de se generalizar os resultados de diferentes pesquisas mes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 125 mo dentro do território brasileiro devido a diferenças culturais ainda que se espere certa constância em alguns aspectos Intervenções baseadas em e muitas vezes copiadas de outras culturas levam a no mínimo um desperdiço de tempo e dinheiro Cada vez vemos mais estratégias que se baseiam no modo como as pessoas se comportam e tomam suas decisões isto é gestão de pessoas marketing sendo aplica das aos brasileiros sem nenhum cuidado de tradução considerando se seus achados como uma verdade inquestionável Esquece se de que nas culturas em que foram de senvolvidas houve um estudo anterior ba seado em um corpo teórico que descreve o modo de pensamento dos indivíduos mem bros daquela cultura e não da nossa A utilização de normas sociais como um instrumento que poderia ajudar a mape ar os modos de funcionamento do brasilei ro ajudaria a produzir um novo corpo teó rico que auxiliasse na compreensão desse grande povo e na construção de uma ciência psicológica realmente nacional que retrate o povo brasileiro e toda a sua diversidade cada vez com maior validade empírica e cri tério notas 1 A set of obligations and privileges that apply to incumbents of social positions 2 Do original Simply influence the psychological experience of the self 3 Do original the distribution of prescriptions by others for the total range of an actors behavior in a defined situation 4 Também relatado na literatura como in group 5 Considerado aqui ocidental a partir do ponto de vista etnocêntrico de culturas dominantes onde apenas os países pertencentes ao eixo economicamente dominante são chamados de West e não do ponto de vista geográfico 6 Seguindo a norma culta internacional os au tores optaram por utilizar a abreviação Antes da Era Corrente 7 Do original Return Potential Model RPM reFerências AARTS H DIJKSTERHUIS A P The Silence of the Library Environment Situational Norm and Social Behavior Journal of Personality Social Psychology v 84 n 1 p 1828 2003 ALTEMEYER B Enemies of freedom Understand ing rightwing authoritarianism New York Jossey Bass 1981 ANDERSON N H A Functional 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da ocorrência dos fatos na vida de cada um constituiu se em um profí cuo campo de pesquisas na psicologia social contemporânea denominado atribuição de causalidade As bases para o desenvolvimento des ses estudos remontam ao artigo extrema mente heurístico de Fritz Heider publicado em 1944 intitulado Social perception and phenomenal causality cujas ideias centrais foram posteriormente desenvolvidas em seu livro de 1958 The Psychology of Interpersonal Relations Durante os anos de 1960 e início dos anos de 1970 a teoria de atribuição de causalidade experimentou importante de senvolvimento principalmente com as con tribuições de Jones e Davis 1965 Daryl Bem 1967 e de Harold Kelley 1967 Esse crescimento culminou na publicação de um livro em 1972 frequentemente citado Attribution perceiving the causes of behavior por um grupo de pesquisadores tendo à fren te Edward E Jones Jones et al 1972 A partir daí um número incalculável de artigos sobre o tema surgiu nas principais revistas de psicologia social principalmente nos Estados Unidos geradores também de livros importantes como aqueles da série editada por Harvey Ickes e Kidd 1976a 1978 1981 New directions in attribution research de textos básicos de psicologia social com abordagem da teoria de atribui ção Harvey e Smith 1977 dos livros de Bernard Weiner 1986 1995 2006 sobre sua teoria atribucional e de relevantes revi sões como aquela de Kelley e Michela 1980 que aponta a consulta a mais de 900 refe rências de artigos sobre atribuição nos anos de 1970 principalmente na literatura norte americana e as elaboradas por Rodrigues 1984a e por Dela Coleta 1990 envolven do os estudos no meio brasileiro Um impor tante livro foi publicado por Antaki e Brewin 1982 tratando de uma série de alternati vas de aplicação das teorias de atribuição de causalidade à prática clínica e educacional incluindo entre outros aspectos a aborda gem do papel da atribuição de causalidade no tratamento psicológico terapia do estilo atribucional a relação entre atribuição de pressão e desamparo atribuição a eventos acidentais aspectos atribucionais da medi cina administração da dor modelos rela 6 cOnHecenDO a si e aO OUtrO PercePçãO e atriBUiçãO De caUsaLiDaDe José augusto dela coleta Marilia Ferreira dela coleta INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 135 cionando atribuição expectativas valores e resultados educacionais e abordagem do comportamento hiperativo à luz dos proces sos atribucionais As pesquisas sobre esse assunto têm envolvido os mais variados temas tradicio nalmente estudados pela psicologia social agora sob essa nova visão e as aplicações das descobertas atingem as áreas da edu cação dos esportes da psicologia clínica e aconselhamento das relações interpessoais do preconceito e estereótipo da psicologia ambiental da psicologia social do trabalho e até da metodologia da pesquisa No Brasil entretanto até 1982 data da publicação do primeiro livro sobre este tema em nosso país intitulado Atribuição de causalidade teoria e pesquisa Dela Coleta 1982 somente alguns poucos cerca de uma dezena trabalhos haviam sido dedi cados a esse palpitante tema da psicologia social Na edição revista e ampliada dessa obra Dela Coleta e Dela Coleta 2006 ci taram quase 500 referências sobre o tema sendo mais de 150 produzidas ou publica das no Brasil onde o leitor encontrará um vasto conjunto aprofundado de informações sobre o assunto Sobre o papel das atribuições Heider afirma que os homens buscariam sempre definir as origens dos eventos que lhes ocor rem ou que observam tendo em vista que o homem deseja conhecer as fontes de suas experiências saber de onde vêm saber como surgem não apenas por curio sidade intelectual mas também porque essa atribuição lhe permite compreender o seu mundo predizer e controlar acon tecimentos referentes a ele e aos outros Heider 1970 p 169 O ponto final desse processo de análi se das causas dos eventos é a atribuição de causalidade e de responsabilidade por parte do percebedor Assim a atribuição de causalidade isto é o processo pelo qual se buscariam explicações acerca do porquê das ocorrên cias seria um elemento poderoso do qual se valeria o ser humano para compreender e consequentemente controlar seu comporta mento o comportamento de seu semelhan te e seu próprio mundo Aqui convém lembrar a distinção entre cognição e percepção Para Heider o termo percepção refere se mais propriamente aos casos em que existe certa estruturação de seus componentes e cognição diz respei to mais de perto aos eventos pouco estru turados nos quais os elementos brutos e o percepto dos mesmos estão mais distantes sendo portanto mais inconclusiva que a percepção Pode se supor também que a cognição ou percepção como preferem al guns dos eventos sociais segue leis menos rígidas estruturadas e estáveis que a per cepção de objetos ou eventos meramente físicos Sabe se que as pessoas não são sempre lógicas e racionais ao efetuarem a atribuição de causalidade aos eventos mas refletem seus desejos suas motivações e suas ne cessidades pessoais o que torna o processo muito mais complexo e as leis gerais que o norteiam de aplicação mais difícil Na ver dade em boa parte das vezes o processo de atribuição de causalidade a um dado efeito não necessariamente se submete a princí pios lógicos mas na maior parte das vezes é psico lógico ou seja garante uma lógica pessoal de significado para o indivíduo muitas vezes sem compromisso com evidên cias da realidade Pode se considerar então que a atri buição de causalidade de origem de respon sabilidade constitui se em uma organização das experiências do indivíduo baseando se na busca pessoal da compreensão na cau salidade fenomenal formando uma relação unitária entre a origem e as mudanças que acarreta aos fenômenos e ao próprio com portamento de quem fez tal atribuição Neste sentido Heider definiu em prin cípio dois fatores básicos aos quais as pes soas dirigiriam a atribuição de causalidade dos fenômenos que observassem as forças do ambiente atribuição externa ao sujeito envolvido na ação causas impessoais situa cionais e as características das pessoas atri INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 136 tOrres neiva cOLs buição interna ao sujeito envolvido na ação causas pessoais disposicionais Especificou melhor ainda indicando que as causas atribuídas ao ambiente pode riam compreender tanto as características da situação as dificuldades enfrentadas pelo sujeito as facilidades que o ambiente lhe proporcionou como as ocorrências devidas ao acaso a eventos meramente fortuitos As causas relativas ao sujeito seriam oriundas de duas fontes distintas as características estáveis do sujeito suas habilidades capaci dades potencialidades ser capaz ou suas necessidades do momento suas motivações seu esforço seu empenho sua intenção em conseguir aquele efeito tentar Ainda que Heider 1958 tivesse cha mado a atenção para possíveis diferenças entre os processos de atribuição de causa lidade utilizados pelas pessoas que prati caram os atos e aquelas outras que apenas observaram os fatos os grandes teóricos da atribuição de causalidade que o segui ram ou só tratavam da atribuição por par te dos observadores Jones e Davis 1965 ou não diferenciavam suficientemente os processos quer para os atores quer para os observadores Kelley 1967 ou mesmo fa ziam afirmações de que ambos estariam na mesma situação e tenderiam a efetuar atri buições semelhantes Bem 1967 1972 Entretanto essas suposições teóricas vieram a ser convenientemente sistematizadas e uma distinção clara dos processos atribucio nais utilizados por atores e observadores só foi objetivamente esclarecida com o traba lho de Jones e Nisbett 1972 enfatizando a divergência de percepção das causas do comportamento por parte de atores e obser vadores de um mesmo fenômeno Jones e Nisbett 1972 calcam as di ferenças das atribuições pelos sujeitos ato res e observadores no fato de que o ator do comportamento que provocou determinado efeito apresenta a tendência a efetuar atri buições de maneira a enfatizar o papel do meio ambiente na provocação dessa ocor rência enquanto os observadores tenderiam a indicar as disposições e as características do ator como responsáveis pela ocorrência dos fatos Afirmam Jones e Nisbett 1972 p 80 a esse respeito Existe uma profunda tendência dos atores em atribuir suas ações a exigências situacionais enquanto os ob servadores tendem a atribuir a mesma ação a disposições pessoais estáveis Em uma extensão desses mesmos princípios os observadores acreditam que os atores dos comportamentos geradores dos efeitos considerados possuem conjuntos de respostas pré determinadas e são porta dores de traços de personalidade bastante estáveis que terminam por governar os comportamentos emitidos Assim sendo os observadores classificam os atores em qua dros bastante diferenciados comparando os com os outros atores aparentando possuir uma teoria da personalidade dos atores que segue uma linha normativa nomotética com grupos e traços bem característicos e diferenciados Por outro lado os atores veem seus próprios comportamentos como decorrentes das circunstâncias particulares enfrentadas no momento não admitindo uma categori zação a sua personalidade nem esta como determinante de seu comportamento em to das as circunstâncias Concebem por outro lado sua reação aos estímulos como algo pouco predizível e controlável ao mesmo tempo em que consideram sua personalida de um conjunto de valores possibilidades e estratégias de ação em lugar de um grupo de traços geradores de disposição de respos tas comparando seus comportamentos e reações a si próprios com seus atos anterio res e nunca com os outros Se o observador possui uma teoria de personalidade do ator que tende para a linha normativa e nomotética quando se refere a seu próprio comportamento as pes soas ten dem a considerar mais as teorias que refor çam a importância dos fatores situacionais históricos em um modelo ideográfico com os comportamentos obedecendo a tratamen to ipsativo Ou por outra Traços de perso nalidade são coisas que as outras pessoas têm Jones e Nisbett 1972 p 92 As supostas razões determinantes des se fenômeno poderiam ser reunidas em três INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 137 grandes grupos diferenças na obtenção de informações da situação e das pessoas di ferenças no processamento destas informa ções diferenças motivacionais Para tornar mais completa essa dis tinção os estudos têm demonstrado a existência de uma tendência de as pessoas atribuírem crédito a si próprias a suas ca racterísticas a sua capacidade a seu esfor ço por atos com efeitos positivos e a evi tar aceitar responsabilidade nos casos de comportamentos que produzi ram um efeito negativo Ao mesmo tempo esse viés atri bucional implica a recusa em aceitar como causa de comportamento dos outros que produziram um final positivo suas caracte rísticas pessoais disposições mais estáveis esforço enquan to se procuraria imputar às variáveis pessoais dos outros a causalidade a fatos de cunho negativo A esse fenômeno atribuiu se a deno minação de egotismo ego tism Snyder Stephan e Rosenfield 1976 1978 e a op ção por esse termo em vez de outros corre latos como defensividade egoísmo egocen trismo racionalização prende se ao fato de que estes últimos de um modo ou de outro pressupõem envolvimento de natureza di versa conforme a teoria na qual tiveram ori gem o que contribui ria para certa confusão de entendimento dessa nova proposta atribuição de causalidade e locus de controle A percepção de controle é um construto introduzido na linguagem e nas linhas de pesquisa psicológica no início dos anos de 1960 e desde esse período vem merecen do substancial atenção dos estudio sos e um número impressionante de descobertas esclarecedoras desse fenômeno Para que se tenha uma ideia da penetração e disse minação deste construto somente a mono grafia publicada por Rotter 1966 recebeu até 1990 quase 5 mil citações segundo o Current Contents Rotter 1990 A repercussão do artigo original sobre o locus de controle foi tão grande que surpre endeu até seu autor que fez uma analogia de sua publicação com um fósforo que usou para acender seu cachimbo e que jogou fora enquanto passeava em uma floresta e quan do olhou para trás viu que havia um grande incêndio Furnham e Steele 1993 Controle percebido Perceived control é definido como o sentimento que o indi víduo experimenta referente à medida com que é capaz de determinar a ocorrência dos fenômenos de provocar um dado efeito É a expectativa de que as causas internas pos sam suplantar as causas externas na origem dos fatos de que os reforçamentos ocorrem pela ação específica do indivíduo e não pela ação das outras pessoas ou do meio que o cerca A principal contribuição à sistematiza ção da in fluência dos princípios de percepção de controle na área da apren dizagem social foi desenvolvida por Julian Rotter Rotter 1966 James e Rotter 1958 para quem o potencial para o comportamento X ocorrer na situação 1 em relação ao reforçamento A é função da expectativa da ocor rência do reforçamento A seguindo o comportamento X na situação 1 e o valor deste reforçamen to A na situação 1 Lefcourt 1976 p 26 obedecendo à equação seguinte BPxS1RA f Ex1RAS1 RV AS1 Assim a probabilidade de ocorrência de uma dada resposta tor na se função direta do valor do reforçamento que a segue e da ex pectativa de que o comportamento possa provocar tal reforço na quela situação Rotter também cunhou o termo locus de controle locus of con trol para designar o que ou quem detém o controle o foco o local do con trole na determinação dos even tos conforme percebido pelo indiví duo O locus de controle decorreria do pro cesso de aprendizagem social no qual as experiências de sucesso e de fracasso e as causas atribuídas pelo indivíduo para esses acontecimentos fariam com que ele adqui risse uma percepção relativamente estável a respeito da fonte de controle dos eventos de sua vida INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 138 tOrres neiva cOLs Locus de controle é um construto que pretende explicar a per cepção das pessoas a respeito da fonte do lugar de origem do controle dos eventos se própria do sujeito interno ou pertencente a algum elemento fo ra de si próprio externo De acordo com esse construto as pes soas tenderiam a perce ber o exercício de controle sobre as ocorrências de ma neira geral como em um extremo dependentes de suas próprias capa cidades ou esforços ou no outro extremo como dependentes de ou tras pessoas do ambiente de entidades do acaso todas fora de seu próprio contro le Deixa se claro aqui que os indivíduos se posicionariam a res peito do locus de con trole em um contínuo que variaria desde a in ternalidade extrema até a externalidade total não havendo na verdade pessoas in ternas ou pessoas externas mas sim su jeitos com locus de controle com maior ten dência à internalidade ou à externalidade Para Lefcourt 1976 o locus de controle de um indivíduo é frequentemente inferido da expressão momentânea de seu senso de causalidade que se solicitado em diferentes épocas deve ser rela tivamente consistente E ainda locus de controle não é uma ca racterística a ser descoberta dentro dos indivíduos Ele é um construto uma fer ramenta de trabalho na teoria da aprendi zagem social que permite a interpretação de observações feitas pelas pessoas em resposta a questões sobre causalidade p 111 112 Complementarmente ao conceito de locus de controle e à diferenciação unidi mensional estabelecida por Rotter 1966 e seguidores entre sujeitos predominante mente internos ou externos alguns estudos Levenson 1974 propõem ao lado da di mensão internalidade a discriminação de dois tipos de sujeitos exter nos os externos autênticos que perceberiam a origem do con trole como relacionado ao destino ao azar ao acaso a entidades sobrenaturais sobre as quais não poderiam exercer controle de forma alguma e os externos defensivos ou externos outros podero sos que perceberiam o controle como a cargo de outras pessoas que um dia poderiam ainda ser influencia das controladas por eles A escala de Rotter de locus de controle interno externo a mais empregada de todas elas que consumiu cinco anos de pesquisa e cinco formas preliminares antes que a escala fosse publicada Rotter 1990 com adapta ção ao meio brasileiro Dela Coleta 1979a é um instrumento com 23 itens válidos de escolha forçada com duas opções em cada item uma interna e outra exter na com preendendo ainda mais seis itens distrativos filler itens sendo corrigida na direção da externalidade isto é quanto maior o escore do sujeito mais externo será seu locus de controle A escala multidimensional de Le venson com 24 itens no total sendo 8 para medida de cada dimensão diferencia se da escala de Rotter por se apresentar em um formato Likert com seus itens referindo se à própria pessoa e não às pessoas em ge ral Diversos procedimentos foram utiliza dos para a adaptação desta escala ao meio brasileiro demonstrando os resultados que os índices de confiabilidade das subescalas eram aceitáveis mas relativamente baixos e semelhantes aos obtidos por Levenson Dela Coleta 1987 O locus de controle inicialmente pro posto como medida generalizada da percep ção de controle gerou estudos e medidas es pecíficas para aspectos particulares da vida do indivíduo tais como o trabalho a escola o casamento ou a saúde sendo aceito atual mente que é possível ao mesmo tempo um indivíduo ser mais interno a respeito de um tema e mais externo ao se considerar ou tro Assim todos nós teríamos uma tendên cia a perceber o controle de nossa vida de um modo geral como também teríamos a percepção de controle mais em nossas mãos em algumas áreas enquanto que em ou tras nos sentiríamos controlados por outras pessoas ou por outros fatores externos Uma INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 139 dona de casa pode sentir controle absoluto de sua cozinha avaliar que conhece as re ceitas e onde se encontram os ingredientes e utensílios mas pode sentir total falta de controle ao entregar o carro ao mecânico para conserto enquanto outra poderá sentir controle absoluto em seu ambiente de tra balho mas não ter a mesma percepção ao tentar comunicar se com seus filhos adoles centes Os resultados de dezenas de estudos realizados em diversas partes do mundo no Brasil inclusive e resenhados por Dela Coleta e Dela Coleta 2006 parecem ofere cer suporte ao fato de que maiores níveis de Internalidade no Locus de Controle estariam significativamente associados entre deze nas de outros fenômenos a mais altos níveis de escolaridade e sócio econômico maior resistência a influências e a tentações no processo de tomada de riscos maior tole rância ao desconforto mais questionamen tos quando não são dadas instruções sufi cientes maior tempo gasto para tomada de decisão maior resistência à coerção maior curiosidade mais planejamentos de longo prazo visão do futuro mais positiva melho res respostas de enfrentamento coping das adversidades níveis mais altos de satisfação conjugal melhores resultados no tratamen to de doenças comportamentos de saúde mais adequados relativos a tabagismo a va cinação a prática de exercícios a controle de natalidade a perda de peso a controle de diabetes e a hipertensão a uso de apa relhos ortopédicos e ortodônticos a uso de medicação a prevenção do enfarte de di versos tipos de câncer e da AIDS Ainda na área da saúde a crença dos indivíduos na externalidade denominada Outros Poderosos para a saúde que se refe re a acreditar que a própria saúde deve es tar sob o controle de profissionais de saúde família e outros está relacionada a seguir as recomendações médicas em 11 de 15 comportamentos de prevenção e controle de doenças cardiovasculares Estes resulta dos aparentemente contraditórios confir mam a importância da externalidade outros poderosos para a saúde na situação de do ença como já haviam sugerido Wallston e Wallston 1981 p 217 Apesar de ser uma dimensão externa a crença nos outros poderosos para a saúde pode levar ao engajamento em comportamentos de saúde visto que a pessoa segue as recomendações de outro poderoso particularmente o profissional de saúde Em situações de atribuição de causa lidade e julgamento de outros os indivídu os mais internos atribuem maiores respon sabilidades que os externos aos motoristas acusados de atropelamentos que causam ferimentos à vítima recomendam maiores níveis de sentença de prisão ao acusado acreditam mais que o motorista poderia ter evitado o acidente No âmbito acadêmico os indivíduos mais internos apresentam maior valor incentivo dos estudos mais facilidade para iniciar e persistir no comportamento de estudar maior possibilidade subjetiva de aprovação em exames escolares maior índice de aprovação em processo seletivo de ingresso no nível superior e talvez a mais consistente das relações considerando se diferentes culturas maiores níveis de inter nalidade correspondem a índices superiores de desempenho acadêmico em diferentes níveis de escolaridade Como extensão desses princípios a percepção do locus de controle pelo sujei to pode vir a ser o mediador na realiza ção pessoal do indivíduo achievement uma vez que as pessoas precisam neces sariamente perceber que seus atos são re levantes à determinação dos eventos para que venham a se engajar nessas atividades Nesse sentido o sacrifício o empenho do sujeito em realizar algo superior ao que já dispõe no momento seria função direta da percepção de que é capaz de determinar as ocorrências sendo mui to duvidosa a parti cipação das pessoas em empreendimentos que elas mesmas não acreditam que pos sam controlar INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 140 tOrres neiva cOLs atribuição de causalidade e Motivação A importante diferenciação efetuada por Heider entre o ser capaz can e o tentar try a causalidade pessoal e impessoal in fluenciou diretamente entre outros os tra balhos de Weiner e colaboradores Weiner et al 1972 nos estudos de atribuição de causalidade ao suces so e ao fracasso e na proposta de explicação do processo mo tivacional com base na teoria de atribui ção Weiner 1991 que segundo o pró prio Heider Harvey Ickes e Kidd 1976b constitui se em uma das linhas de pesquisa ligadas à teoria de atribuição que mais se desenvolveram após a publicação de seus trabalhos seminais Para Weiner e colaboradores Weiner 1972 Weiner et al 1972 que propuseram um novo modelo atribucional para a motiva ção de realização fundamentado nas ideias apresentadas por Heider 1958 os indiví duos utilizariam quatro elementos causais dis tintos para julgar antecipar predizer in terpretar um evento envol vendo realização capacidade esforço dificuldade da tarefa e acaso dos quais seria função todo e qual quer resultado da ação das pessoas No entanto não se pode deixar de notar que frequentemente aparecem como causas outros fatores tais como cansaço disposição doenças e influência de outras pessoas cada uma apontada para um caso específico Assim sendo mais tarde o pró prio Weiner 1985 além do locus da causa interna ou externa de sua estabilidade estável ou instável apontou outras dimen sões incluindo a controlabilidade da causa controlável ou incontrolável o grau de generalidade da causa geral ou específica globalidade x especificidade sendo assim definidas as três principais dimensões topo gráficas às quais ele denominou dimen sões causais 1 Causas atribuídas a fatores internos ou ex ternos ao indivíduo locus da causalidade sendo frequentemente associadas a esse grupo esforço capacidade e estado de ânimo como sendo propriedades internas ajuda de outras pessoas dificuldade da tarefa e acaso como fatores externos 2 Causas que ocorrem com muita frequência repetidamente ou que ocorrem apenas de vez em quando estabilidade versus insta bilidade da causa sendo esforço estável capacidade ajuda estável e dificuldade da tarefa consideradas como estáveis e esforço instável estado de ânimo ajuda instável e acaso como instáveis 3 E ainda uma terceira dimensão de causali dade proposta primeiramente por Heider 1958 e rotulada por Weiner 1979 como controlabilidade associando se a esta dimensão frequentemente as causas esforço estável esforço instável e ajuda como controláveis e acaso capacidade dificuldade da tarefa e ânimo como in controláveis Para melhor explicitar as relações des sas três dimensões causais com as causas explicativas de eventos envolvendo sucesso ou fracasso em realizações apresenta se o Quadro 61 Estudos realizados Weiner Russell e Lerman 1978 Weiner 1979 sobre a relação entre atribuição de causalidade e reações emocionais demonstraram que a consequência afetiva decorrente da ob tenção de sucesso ou fracasso na realiza ção de uma tarefa variava de intensidade de acordo com a importância do evento da expectativa do sujeito para tal resul tado e da atribuição causal que ele faz à ocorrência Em relação a esse fato pode se apresentar um modelo Figura 61 que resume as relações entre atribuição e emo ções e deixa claro que as reações emocio nais de um indivíduo diante do sucesso ou fracasso na realização de uma tarefa serão influenciadas por fatores próprios da vida do indivíduo antecedentes e pelas causas a que ele atribui o resultado levando em consideração as dimensões em que se en quadram tais causas exercendo influências sobre as expectativas as motivações e o comportamento futuro desse mesmo indi víduo Weiner Russell e Lerman 1978 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 141 Utilizando a adaptação dos modelos propostos por Weiner 1979 Weiner Russel e Lerman 1978 Dela Coleta Siqueira e Dela Coleta 1988 estudaram os processos atribucionais os sentimentos as expectati vas e as respostas de enfrentamento utiliza das em uma situação considerada de vitima ção envolvendo a perda do emprego em uma centena de sujeitos de ambos os sexos Os resultados mostraram primeira mente que a perda de emprego era atribuída às condições econômicas da empresa ou do país ao não atendimento das exigências da tarefa e do emprego às características dos sujeitos às dificuldades de relacionamento com os colegas apontando ainda os fato res controlabilidade estabilidade e interna lidade das causas nesta ordem como con tribuidores para o evento considerado As respostas relacionadas aos senti mentos experimentados quando da perda do emprego mostraram predominância de estados de ânimo bastante negativos sendo observados com maior frequência depres são raiva ansiedade nervosismo baixa au toestima desamparo conformidade e indi ferença Os sujeitos do sexo masculino que optaram por atribuições externas à perda do emprego apresentam maiores expectativas de perderem o emprego no futuro quando comparados aos sujeitos que optaram por atribuições internas ocorrendo o contrário com os sujeitos do sexo feminino Tomando se somente os sujeitos do sexo masculino observaram os autores asso ciações entre predominância de atribuições internas à perda do emprego e realização de outros trabalhos temporários resolução de problemas pendentes atividades de estudos menos atividades de lazer utilização menor de recursos baseados em outras pessoas e na fé para conseguir um novo emprego e afir mações mais frequentes de que para con seguirem um novo emprego devem mudar seu comportamento em relação à tarefa e à empresa do que entre aqueles sujeitos que optaram por explicações externas lembran do sempre que os sujeitos do sexo feminino comportam se de forma totalmente inversa àqueles do sexo masculino Enfim concluem os autores terem obtido tendência de relação entre diferen tes atribuições de causalidade à perda de emprego e os sentimentos diversos frente a esta situação conduzindo a divergentes expectativas de se conseguir um novo em quadro 61 Dimensões caUsais e caUsas eXPLicativas DO sUcessO e DO FracassO dimensão dimensão dimensão interna x estável x controlável x externa instável incontrolável causas interna estável controlável esforço sistemático interna estável incontrolável capacidade aptidão interna instável controlável esforço não sistemático interna instável incontrolável estado de ânimo externa estável controlável ajuda sistemática externa estável incontrolável características da atividade tarefa fácil tarefa difícil externa instável controlável ajuda não sistemática externa instável incontrolável acaso sorte destino INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 142 tOrres neiva cOLs prego acompanhados de distintas soluções comportamentais para esse problema e de diferentes crenças associadas à evitabilida de na reocorrência do evento vitimador Cardoso de Sá 2009 trabalhando com quase duas centenas de jogadores de futebol das categorias juvenil e adulto e valendo se do modelo anteriormente expos to encontrou que os jogadores que se ava liavam mais positivamente explicavam tal desempenho utilizando predominantemen te causas internas estáveis e controláveis enquanto aqueles com menores índices de autoavaliação empregavam causas externas instáveis e controláveis Na opinião do au tor tais explicações provocavam nos sujeitos de ambos os grupos sentimentos positivos expectativas e disposições para comporta mentos futuros associados ao esporte Para melhor explicar seus resultados o autor cita o conceito de otimismo ingênuo do brasi leiro proposto por Rodrigues 1984b que protegeria os sujeitos com baixo desempe nho no esporte de sentimentos expectativas e comportamentos negativos Os modelos e postulados propostos por Weiner e colaboradores envolvendo as dimensões de causalidade a relação da atribuição de causalidade com os estados emocionais e com as expectativas de com portamento futuro a imputação de reforços ou punição à realização em função da atri buição de causalidade a esses resultados encontram confirmação em nosso meio e salvo algumas particularidades podem e devem ser aplicados na compreensão na explicação e na predição do comportamento do brasileiro atribuição de causalidade a acidentes Acidentes são eventos em geral repentinos com muitas causas com origem nas pessoas Figura 61 modelo atribucional de motivação de realização Fonte Weiner Russel e Lerman 1978 p 60 com pequenas adaptações Antecedentes Informações específicas Normas sociais experiências anteriores tempo gasto na tarefa Esquema causal crenças suficientes X necesárias Diferenças individuais na necessidade de realização sexo Esquema de Reforços Capacidade Esforço Dificuldade da tarefa Acaso Estado de ânimo Cansaço Ajuda de outros Estabilidade Locus da causa Controlabilidade Intencionalidade Generalidade Mudança de expectativa Reação afetiva Intensidade Escolha Persistência Índice de resposta Resistência à extinção Tempo gasto para solucionar o problema Causas de sucesso ou fracasso Dimensões causais Maturidade cognitiva Efeitos causais Consequências comportamentais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 143 envolvidas em outros indivíduos no meio ambiente e na interação entre todos esses elementos sendo muito difícil explicar com pletamente como eles ocorrem e qual a real contribuição de cada uma das variáveis re lacionadas Como os seres humanos têm a ten dência a buscar explicações para tudo o que ocorre com eles ou ao seu redor as pessoas quase sempre encontram uma explicação pessoal mais ou menos verdadeira mais ou menos lógica e fatual para explicar es ses eventos e em função disso sentir maior controle pessoal da situação proteger sua autoestima e psicologicamente evitar no vas ocorrências de tal natureza Sobre a percepção de origem e da atri buição de causalidade aos acidentes de tra balho muitos estudos têm sido conduzidos e os resultados obtidos têm sido muito ricos Olivier apud Faverge 1967 analisando os relatórios de acidentes mostrou que os contramestres de minas de carvão atribuí am mais frequentemente 407 as causas dos acidentes à imprudência dos operários e às más condições de traba lho enquanto os contramestres chefes declaravam mais fre quentemente 583 a imprudência como causa dos acidentes de trabalho Assim quanto mais próximo se está da realidade dos acidentes mais frequentemen te se evo cam causas mecânicas técnicas e da orga nização para explicar o fato e quanto mais se sobe na hierarquia da empresa mais se atribui a origem dos aci dentes a causas pes soais dos operários Em outro estudo sobre o mesmo as sunto Vibert 1957 considerando a re presentação das causas dos acidentes como possíveis componentes de sua de terminação apresenta os resultados das respostas de 310 questionários aplica dos a operários de sete empresas do nordeste de Paris Ao ana lisar os resultados mais particularmente e levando em conta a atribuição dos acidentes a causas pessoais desatenção negligên cia ou a causas não pessoais ritmo muito rá pido de trabalho má proteção das máqui nas e considerando outras variáveis dos su jeitos o autor conclui que os operários satisfeitos em seu trabalho integra dos e participantes na empresa atribuem prefe rencialmente os acidentes a causas pesso ais Ao contrário os operários insatisfeitos com seu trabalho pouco inte grados e pouco participantes invocam muito mais frequen temente as causas não pessoais que impli cam a responsabilidade da empresa Nas respostas dos operários à ques tão os acidentes acontecem geralmente por quê Dela Coleta 1979b encontrou que o maior percentual está a cargo do item falta de orientação da forma como o ope rário deve comportar se para evitar aciden tes seguido por acontece por acaso Ao agrupar os dados das diversas categorias encontrou que 52 dos operários atribuem a origem dos acidentes às variáveis da em presa 22 aos empregados e 26 ao acaso não havendo nesse particular diferença sig nificativa entre os grupos de sujeitos multi e pouco acidentados O acaso e as crenças na fatalidade e no destino como causas ex plicativas dos acidentes de trabalho também são reportados por Barbichon 1962 em pesquisa conduzida com operários de minas de carvão Em um estudo com sujeitos multiaci dentados no período de três anos mínimo de 11 acidentes por sujeito encontrou se que tais sujeitos apontavam em primeiro lu gar o acaso como responsá vel pela ocorrên cia de acidentes vindo a seguir o trabalho arriscado e a desordem no local de trabalho sendo só depois mencionados com muito menor frequência a distração e a precipita ção dos operários Dela Coleta 1991 Sobre esse mesmo tema Dela Coleta 1980a encontrou variações importan tes na quantidade de responsabilidade atri buída ao ator ou à vítima de um aci dente envolvendo atropelamento de um pedestre por um automóvel quando se variavam as consequências o sexo o status e a idade dos autores do atropela mento e das vítimas O mesmo autor Dela Coleta 1980b em sua tese de doutorado sobre atri buição de causalidade em sujeitos vítimas de uma perda importante presos am putados e ce gos encontrou entre 40 sujeitos amputa INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 144 tOrres neiva cOLs dos quase todos por acidentes de trabalho ou de trânsito que 325 dos casos atribu íram a origem de seu estado às outras pes soas 30 ao destino ao acaso a Deus 15 à empresa à sociedade em geral 125 à falta de recursos à situação econômica ao tipo de trabalho e somente 10 a suas pró prias características falhas e erros Quando questionados a indicar uma forma de prevenção a essas ocorrên cias os sujeitos amputados responderam em primeiro lugar não haver nada capaz de evitar o fato vindo a seguir comportamen to diferente de entidades e empresa com portamento diferente de outras pessoas e poucos indicaram um comportamento dife rente de sua parte como forma de preven ção a essa perda Em interessante estudo com operá rios de uma grande empresa siderúrgica mostrou se claramente que os operários ten dem a indicar com muito maior frequência uma falha humana como variável responsá vel pela ini ciação de um acidente de traba lho do que condições materiais e ambientais inadequadas sem diferenças marcantes en tre acidentados e não acidenta dos Como forma de prevenção desses acidentes do mesmo modo colocam maior responsabili dade sobre as pessoas indicando como prá ticas prevencionistas haver treinamento de segurança para todos os funcionários usar equipamento de proteção adequado cons cientizar os funcioná rios para trabalhar com segurança fazer palestras e exibir filmes so bre segurança Dela Coleta 1991 Outro importante estudo com profis sionais de nível superior de diversas espe cialidades todos estudiosos e empregados em atividades de segurança no trabalho de monstrou que 75 concordam com a exis tência de predisposição individual a sofrer acidentes do trabalho que das três causas apontadas como mais importantes para ex plicar a ocorrência de acidentes de trabalho duas referem se a causas pessoais execu ção inadequada das tarefas e deficiências do trabalhador e uma envolve deficiência nos equipamentos Dentre as variáveis pessoais causadoras dos acidentes são citadas a for mação deficiente do trabalhador os conhe cimentos insuficientes da forma correta de execução e por outro lado a imprudência e o desrespeito às normas do segurança Dela Coleta 1991 Dela Coleta e colaboradores 1986 submeteram casos de acidentes verdadei ramente ocorridos em uma indústria side rúrgica a três grupos de sujeitos aos pró prios acidentados a seus chefes imediatos e a seus chefes superiores pedindo lhes que indicassem a intensidade em que diversas causas poderiam explicar aquela ocorrên cia Entre muitas informações recolhidas verificou se a nítida tendência dos aciden tados a atribuírem causas externas impes soais aos acidentes sofridos dos chefes imediatos atribuírem igualmente às causas pessoais e impessoais e dos chefes superio res indicarem muito mais as causas pessoais dos operários co mo explicadores da origem dos mesmos acidentes Por meio dos estudos expostos nas páginas anteriores pode se verificar clara mente uma divergência atribucional entre distintas classes de sujeitos com variados ní veis hierárquicos quanto mais alto o nível do sujeito na organização maior a tendência a atribuições pessoais para os acidentes de trabalho quanto mais baixo o nível hierár quico maior a preferência por explicações externas uma forte tendência à indicação do acaso do destino da pré determinação como explicação para a ocorrência desses eventos e ainda a predominância da indi cação das variáveis do homem como cau sas dos acidentes de trabalho Para que os processos de prevenção de acidentes mor mente aqueles implicando modificações das atitudes e dos comportamentos dos ope rários frente ao risco e aos acidentes pos sam alcançar altos níveis de eficiência seria desejável que ações fossem desenvolvidas buscando alterar os processos atribucionais utilizados pelas pessoas envolvidas com tais eventos visando garantir as modificações almejadas na redução do número desses in fortúnios INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 145 atribuição de causalidade nas relações conJugais Os primeiros estudos utilizando as teorias de atribuição de causalidade para a com preensão das relações conjugais buscavam inicialmente identificar as causas percebi das para o bom e o mau funcionamento da relação de casais e verificar as divergências atribucionais intra e entre casais Sobre o conflito atribucional entre casais jovens Orvis Kelley e Butler 1976 mostraram que os comportamentos que geraram divergência entre os casais en volviam ser crítico exigente ou inflexível emocional agressivo insensível ou frio em relação ao outro envolver se muito em re lacionamentos e atividades externas ser in conveniente em situações sociais não gos tar das pessoas ou evitá las ter hábitos ou vícios desagradáveis não apresentar moti vação ser passivo ou relaxado não cumprir com suas responsabilidades evitar as ativi dades ou engajar se em uma determinada atividade ou em uma maneira específica de fazer uma atividade Investigando áreas de divergências e falta de conhecimento da divergência por parte de adultos jovens que viviam juntos e experimentavam conflito em seu relaciona mento Harvey e Wells mostraram diferen ças entre os sexos os homens indicaram a incompatibilidade sexual como uma pode rosa fonte de conflito enquanto as mulhe res subestimaram essa atribuição feita pelos homens Estes também superestimaram a importância atribuída pelas mulheres à in compatibilidade sexual no conflito O mes mo resultado discrepante foi obtido quando as mulheres avaliaram problemas financei ros como fonte de conflito Sobre possíveis causas de conflito no relacionamento os homens citaram mais do que as mulheres os assuntos sexuais e as mulheres mencio naram mais do que os homens a presença de uma possível amante na vida do compa nheiro Harvey Wells e Alvarez 1978 Os mesmos autores entrevistaram um pequeno grupo de 10 pessoas que haviam se separado recentemente para verificar as cau sas percebidas da separação Das 10 pessoas 9 declararam que o envolvimento romântico fora do casamento foi um aspecto importan te de sua separação e 8 sujeitos apontaram a insensibilidade e a falta de afeição e de intimidade sexual Os outros aspectos avalia dos pelos sujeitos como importantes foram as diferenças de valores de hábitos pessoais de orientação religiosa alcoolismo e abuso físi co Todas as mulheres da amostra tomaram a iniciativa da separação em geral mandando o marido embora de casa Ainda sobre as causas do fracasso con jugal Newman e Langer 1981 pediram a um grupo de mulheres que explicassem a causa de seu divórcio e classificaram as res postas em duas categorias as explicações que enfatizavam as características nega tivas do marido por exemplo o egoísmo atribuição interna estável e as explicações que enfatizavam a insatisfação com a intera ção entre o casal Nenhuma dessas mulheres deu explicações que se referissem a sua pró pria pessoa positivas nem negativas mos trando uma tendência egotista Holtzworth Munroe e Jacobson 1985 compararam as causas percebidas para o comportamento do cônjuge junto a 20 casais recrutados na comunidade e mais 22 casais com casamento infeliz a metade já em tera pia conjugal Os resultados indicaram que os casais infelizes desconfiavam dos compor tamentos positivos de seus companheiros os atribuíam às circunstâncias externas ou ao estado do cônjuge os percebiam como não intencionais involuntários de causas instáveis e específicas Os comportamentos negativos foram atribuídos aos traços de personalidade do cônjuge percebidos como intencionais voluntários de causas estáveis e globais O grupo de casais felizes forne ceu explicações causais opostas a essas Outros estudos confirmaram essa ten dência individual em utilizar atribuições internas para explicar o comportamento do outro e a tendência de casais infelizes em atribuir mais os comportamentos negativos do cônjuge a fatores internos enquanto os INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 146 tOrres neiva cOLs casais felizes mostram maior tendência para atribuições internas aos comportamentos positivos do cônjuge Jacobson Macdonald Follete e Berley 1985 Fincham Beach e Baucom 1987 Uma análise geral desses resultados mostra que os casais não percebem as di vergências entre suas atribuições e que cada um acha que o outro deve perceber as coisas como ele as percebe sendo possível inferir com alguma segurança que boa parte dos conflitos conjugais tem suas origens nas divergências atribucionais às diversas ocor rências da vida diária No Brasil alguns estudos sobre a atri buição de causalidade ao fracasso do re lacionamento conjugal mostraram causas semelhantes e as mesmas tendências ego defensivas observando se maior frequên cia de causas externas em amostras com ní vel sócio econômico mais baixo Em dois desses estudos foi elabora da uma lista de causas com base nos fato res propostos por Weiner e colaboradores 1972 envolvendo o locus e a estabilidade das causas da separação e pedindo se aos sujeitos que apontassem a concordância com cada uma Machado e Dela Coleta 2002 Os resultados indicaram que os indivíduos atribuíram sua separação principalmente ao outro concordando que o cônjuge não sou be fazer o casamento dar certo ou não se es forçou o bastante Outras causas frequentes envolveram a falta de sorte de encontrar a pessoa certa para se casar a falta de habi lidade do casal para manter o casamento azar na escolha a falta de esforço de ambos a dificuldade de viver junto de outra pessoa a escolha errada as circunstâncias externas que interferiram no casamento a vontade de Deus o destino e características de per sonalidade do outro A maioria discordou das atribuições que se referiam à própria pessoa fosse por falta de habilidade de es forço ou por características disposicionais próprias confirmando se novamente o fe nômeno do egotismo No Rio de Janeiro Jablonski e Rodri gues 1986 perguntaram a 400 jovens sol teiros o que faz durar um casamento A média das classificações das causas mostrou a seguinte ordem de importância amor res peito mútuo companheirismo confiança sexo comunhão de ideias certos traços de personalidade persistência sorte incluindo também o dinheiro e a felicidade O propósito do estudo de Dela Coleta 1989 era identificar as causas de sucesso no casamento na opinião de homens e mu lheres moradores no interior do país todos casados há pelo menos três anos com filhos A pergunta sobre as seis coisas principais que devem existir para se conseguir e man ter um casamento ideal gerou uma lista de 58 causas que foram agrupadas resultando em uma lista final de 37 causas destacando se 14 delas Figura 62 Quando essas causas foram avaliadas por casais casados destacaram se o amor em primeiro lugar em importância para o sucesso no casamento relativamente às de mais causas o dinheiro em último e as ou tras causas agrupadas entre esses extremos Dela Coleta 1991 Com uma amostra de 100 homens e mulheres entre casados e separados Dela Coleta et al 1996 procurou se comparar esses subgrupos quanto às causas percebidas para o sucesso e o fracasso no casamento encontrando se respostas muito semelhan tes Tanto os homens quanto as mulheres apontaram para o sucesso amor compreen são respeito diálogo e compatibilidade fide lidade e confiança entretanto as mulheres indicaram a fidelidade o companheirismo e o carinho com frequências mais altas Em outro estudo Norgren et al 2004 uma amostra de casais satisfeitos mantendo casamentos de longa duração indicou os componentes importantes para sua satisfação confiança e respeito mútuos abertura honestidade e integridade gostar um do outro concordância sobre compor tamento sexual tomar as decisões juntos interesses compartilhados a respeito dos fi lhos atratividade do cônjuge humor e ale gria juntos orientação espiritual semelhan te As indicações das causas da permanência no relacionamento revelaram em primeiro lugar o amor e a convicção de que o casa INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 147 mento é uma parceria para a vida toda em segundo a complementação a sinceridade a paciência e a compreensão mútua Buscando aprofundar a temática sexu al no relacionamento conjugal Dela Coleta 1992 procurou identificar as causas de su cesso e de fracasso no relacionamento sexual entre pessoas heterossexuais casadas Sobre as causas de fracasso no relacionamento se xual as mulheres indicaram a falta de intera ção entre o casal de prazer de amor de co municação condições internas desfavoráveis e falta de liberdade sexual enquanto para os homens a ordem de frequência resultou em falta de prazer de comunicação de amor de interação entre o casal condições externas desfavoráveis condições internas desfavorá veis e falta de liberdade sexual As diferenças entre os grupos mascu lino e feminino foram maiores na categoria interação do casal na qual as mulheres concentraram suas respostas nas atitudes negativas com relação ao par principalmen te a falta de respeito e o egoísmo do par ceiro Na categoria referente ao prazer ho mens e mulheres acusaram a falta de desejo sexual como uma das três causas principais de fracasso no relacionamento sexual Foi possível concluir que o relaciona mento sexual satisfatório ou não é atribuí do a causas internas estáveis ou instáveis com algumas poucas referências a causas externas instáveis como dinheiro tempo ou problemas externos ao casal mas que também afetam seu relacionamento O estudo de Marques Marques 2005 Dela Coleta et al 2004 foi baseado na proposta de Weiner e colaboradores 1972 e em sugestões de Sillars 1981 e Brehm 1985 sobre o conflito no relacionamento conjugal e buscou verificar a relação das atribuições causais com as emoções as ex pectativas e as ações tendo como estímu lo desencadeante do processo a agressão à mulher pelo parceiro conforme o modelo seguinte Figura 62 elementos essenciais para um casamento ideal Figura 63 modelo atribucional de ação Weiner et al 1972 Afeto Estímulo Cognições causais Resposta Expectativa de meta INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 148 tOrres neiva cOLs Em entrevistas realizadas em um pos to da Delegacia da Mulher onde iam para formalizar a queixa sobre as agressões as mulheres citaram com maior frequência os ciúmes os problemas psicológicos do par ceiro o álcool ou as drogas como as causas percebidas por elas para a primeira e a últi ma ocorrência de agressão Considerando se os resultados rela tivos às dimensões locus e estabilidade da causa da violência do parceiro verificou se que as principais causas percebidas na primeira agressão foram classificadas como internas e instáveis Os resultados relativos à atribuição decorrente da última agressão mostraram que a maioria das mulheres iden tificou as causas como internas e estáveis mostrando que a causa continuava a ser o próprio parceiro causa interna pessoal mas que houve uma mudança na atribui ção à estabilidade da causa passando a ser percebida mais como devida a característi cas estáveis da personalidade do parceiro sendo bem menor o número daquelas que a perceberam como decorrente de estados momentâneos e situacionais Com relação à dimensão controlabi lidade da causa verificou se que a grande maioria das entrevistadas acreditava que na época da primeira ocorrência era possí vel controlar a violência do parceiro entre tanto essa tendência inverteu se em relação à ultima agressão com a maioria conside rando a causa incontrolável não mais acre ditando serem capazes de modificar a causa da ocorrência da violência A análise das relações entre atribui ções sentimentos expectativas e ações relativas à última agressão sofrida indicou que a atribuição a causas internas estáveis e incontroláveis da agressão está relaciona da a maior culpa percebida no agressor a menor culpa atribuída a si mesma a maior intenção de agredir e a maior probabilidade de ter evitado a agressão quando compa rada às atribuições predominantemente in ternas instáveis e controláveis feitas para a primeira agressão sofrida Estas atribuições de causa de culpa e de responsabilidade ao parceiro relacionaram se ao predomínio de sentimentos dirigidos contra o parceiro mais raiva ódio rejeição e nojo expecta tivas negativas se continuasse vivendo com ele risco de vida expectativas positivas se decidisse deixá lo vida digna e intenção de romper o relacionamento Os estudos conduzidos no Brasil so bre as causas de sucesso no relacionamento conjugal e sexual levam a algumas conclu sões Em primeiro lugar o amor é a causa apontada com maior frequência nos estudos sobre casamento ocorrendo o mesmo em outras culturas Rhyne 1981 Diaz Loving Gamboa e Canales 1988 Buss et al 1990 Sharlin Kaslow e Hammerschmidt 2000 No relacionamento sexual o amor é a causa de sucesso mais citada pelos ho mens e a segunda causa para as mulheres que in dicam com maior frequência respei to compreensão interesse sinceridade e atenção A semelhança dessas causas com aquelas relativas ao relacionamento conju gal sugere que o sexo não é percebido como um fim em si mesmo nem como um aspecto isolado do casamento mas integrado aos demais aspectos da interação conjugal sen do isso verdadeiro principalmente para as mulheres Para um casamento bem sucedido as condições econômicas apesar de serem consideradas de menor importância em re lação às outras causas sempre são citadas nos estudos brasileiros o que não ocorre em estudos conduzidos em outros países Entretanto esta é uma das causas principais de divórcio e separações juntamente com a infidelidade e a falta de amor citadas em diversos estudos Levinger 1966 Bentler e Newcomb 1978 Albrecht 1979 Kelly e Conley 1987 Pasquali e Moura 2003 Em segundo lugar diferenças de gêne ro foram observadas em todos os estudos O sexo e os filhos parecem ser mais impor tantes para o sucesso no casamento para os homens do que para as mulheres enquan to a comunicação o respeito a confiança o companheirismo a compatibilidade e a compreensão são mais importantes para elas tanto no casamento quanto no relacio namento sexual em particular INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 149 O sucesso e o fracasso no relaciona mento conjugal e sexual são semelhante mente atribuídos às mesmas causas por homens e mulheres de diferentes culturas entretanto a ordem de importância destas causas varia em função do sexo Diferenças de gênero identificadas na literatura sugerem que em geral os homens estão mais satisfeitos com seus casamentos e menos satisfeitos quanto ao relacionamen to sexual do que as mulheres consideram mais a incompatibilidade sexual como uma poderosa fonte de conflito percebem mais o sexo e o amor como duas coisas separadas apresentam maior orientação para o sexo sem restrições apesar de que nos estudos atuais verificam se menores diferenças en tre homens e mulheres em atitudes com re lação à sexualidade com poucas diferenças comportamentais As mulheres dão maior importância ao carinho e ao romance de sejam mais o envolvimento afetivo antes do sexual e consideram mais importantes os problemas financeiros e a infidelidade como causas de conflito Ambos culpam mais as mulheres pelo fracasso no casamento Diferenças atribucionais entre ator e observador também são encontradas na relação conjugal mostrando que homens e mulheres são egotistas em suas explicações do conflito atribuindo maior responsabili dade ao outro Além disso na explicação do próprio comportamento o ator utiliza causas externas e estados internos tempo rários enquanto o observador enfatiza as características do ator traços e sua atitude negativa Ao se considerar a qualidade do relacionamento conjugal os casais infelizes atribuem os comportamentos positivos do outro a circunstâncias externas ou ao estado do mesmo como atos não intencionais e in voluntários os comportamentos negativos são atribuídos a características estáveis do outro traços de personalidade e percebi dos como atos intencionais e voluntários en quanto os casais felizes dão causas opostas para os mesmos comportamentos Mulheres vítimas de agressão no relacionamento con jugal que atribuem os maus tratos a causas internas instáveis e controláveis apresen tam mais sentimentos difusos expectativas positivas para o relacionamento e tendem a manter a relação Aquelas que atribuem causas internas porém estáveis e incontro láveis para o comportamento agressivo do companheiro apresentam mais sentimentos negativos dirigidos a ele piores expectativas para a vida conjugal melhores expectativas para a vida sem ele e intenção de deixá lo Além disso tendem a procurar a delegacia para dar fim às agressões Conforme sugere Rhyne 1981 ou tras variáveis que têm demonstrado influen ciar a percepção de valor dessas causas são a idade e o número de filhos a idade dos cônjuges e o tempo de casamento suge rindo que a fase do ciclo de vida familiar pode promover modificações na percepção dos sujeitos sobre os fatores aos quais são atribuídos o sucesso ou o fracasso da vida conjugal e sexual reFerências ALBRECHT S L Correlates of marital happiness among the remarried Journal of Marriage and the Family v 41 p 857867 1979 ANTAKI C L BREWIN C Attributions and psychological change applications of attributional theories to clinical and educational practice Lon dres Academic Press 1982 BARBICHON G La perception des risques chez les mineurs Bulletin du CERP v 1 n 11 p 112 1962 BEM D J Selfperception an alternative interpre tation of cognitive dissonance phenomena Psycho logical Review v 74 n 3 p 183200 1967 BEM D J Selfperception theory In BERKOWITZ L Ed Advances in experimental social psychology Nova York Academic Press 1972 v 6 p 162 BENTLER P M NEWCOMB M D Longitudinal study of marital success and failure Journal of Consulting and Clinical Psychology v 46 n 5 p 10531070 1978 BREHM S S Intimate relationships Nova York Random House 1985 BUSS DM et al International 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Affective consequences of causal ascription In HARVEY J H ICKES W J KIDD R F Ed New directions in attribution research Nova Iorque Lawrence Erlbaum 1978 v 2 p 5990 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS A influência social é sem sombra de dúvi das um dos tópicos mais importantes na psicologia social Alguns autores chegam a argumentar que a psicologia social é quase sinônimo da pesquisa da influência social Levy Collins e Nail 1998 Vaughan e Hogg 2005 Allport 1924 definiu a psicologia social como o estudo sobre como as pesso as são influenciadas pela presença real ou imaginária dos outros Esta é uma noção bastante individualista da psicologia social e da influência social que negligencia os fe nômenos em nível mais indireto e de grupo Ng 2001 Forgas e Williams 2001 enfa tizam que todo e qualquer comportamento interpessoal envolve alguma forma de pro cessos de influência mútua e que os grupos ou sociedades só existem e funcionam por causa das formas de influência social efeti vas difundidas e compartilhadas Em opo sição a essa visão geral muito da pesquisa psicológica tem se concentrado em fenôme nos mais estreitos na descrição de influên cia social Nos livros de psicologia social os capítulos sobre influência social geralmente discutem estudos de conformidade e obedi ência Asch 1952 Milgram 1963 Sherif 1936 facilitação social Triplett 1898 Zajonc 1965 vadiagem social1 Karau e Williams 1993 Ringelmann 1913 e mudança de atitude e persuasão Petty e Cacioppo 1986 Neste capítulo analisa remos alguns desses estudos e abordagens clássicas sobre a influência social além de ampliar o escopo para outras áreas que jul gamos serem importantes e interessantes Quais os tipos de influência social que podemos diferenciar Ng 2001 definiu três tipos de influência basicamente diferen tes Em primeiro lugar o tipo mais comu mente estudado envolve a influência direta pessoa a pessoa em consonância com gran de parte das pesquisas listadas nos livros de psicologia Esse tipo de pesquisa se destaca pelo foco no indivíduo segundo a definição de psicologia social de Allport com uma cla ra tendência individualista já que se con centra na pessoa influenciada por algum outro agente influenciador e na influência da informação mais do que na influência normativa Ng 2001 Ela se encaixa na re cente mudança das teorias de psicologia so cial para social cognitiva e dos paradigmas que conceitualizam as pessoas como uma entidade autônoma de significação e pen samento racional As influências normativas advindas de grupos e estruturas sociais são menos centrais O segundo nível de influên cia está relacionado à manipulação indireta das normas e costumes sociais e das atitudes sociais ou culturais Aqui um agente pode influenciar os outros manipulando agendas mobilizado valores e normas sociais para direcionar a discussão ou excluir ou isolar algumas pessoas da discussão O nível final é o mais sutil indireto e difícil de observar Aqui as atitudes crenças e comportamen tos são influenciados pelos outros sem que 7 inFLUÊncia sOciaL e PODer ronald Fischer christin Melanie vauclair INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 154 tOrres neiva cOLs a pessoa tenha consciência das estratégias de influência O melhor exemplo talvez se jam as influências culturais nas pessoas A cultura é um conjunto difuso de tradições normas ideologias e valores que influencia como as pessoas pensam sentem e se com portam sem que o indivíduo tenha consci ência dessa influência em seus pensamen tos sentimentos ou comportamentos Tais processos são reproduzidos e perpetuados por meio de mecanismos de socialização e ajudam a estabilizar e a manter os grupos sociais e as sociedades Um outro insight resultante dessa dis tinção de três níveis é que muitas pesquisas sobre a tradição da influência social se con centram na pessoa que é influenciada dando menos ênfase sobre o agente ou a fonte de influência A pesquisa sobre o poder French e Raven 1959 Raven 1965 Raven 1993 Raven e French 1958 faz a diferença entre diferentes fontes de poder que influenciam as pessoas Alguns desses trabalhos têm renascido nos ambientes organizacionais como por exemplo no trabalho sobre as es tratégias de influência social de subordina dos Ralston et al 2009 O trabalho sobre liderança na psicologia organizacional é ou tro exemplo de exercício de influência social que tem sido dissociado da pesquisa sobre influência social Uma segunda questão que fica clara quando analisamos a pesquisa por essa lente de três níveis de influência so cial é que os processos sociais e em nível de grupo têm sido amplamente ignorados Ng 2001 Como observado anteriormente a pesquisa de psicologia social tem os indiví duos como foco As influências normativas ou interpessoais e os processos grupais não assumiram um papel central na pesquisa de influência social Neste capítulo adotamos uma perspectiva mais ampla da pesquisa de influência social em consonância com a con ceitualização da influência social de Forgas e Williams 2001 e a diferenciação de Ng 2001 Assim pretendemos equilibrar a tendência individualista na pesquisa da psi cologia social enfatizar alguns processos importantes de influência social que recebe ram atenção em vários campos da investi gação social e criar e abrir caminhos para pesquisas futuras de relevância teórica e prática Começaremos delineando e descre vendo alguns trabalhos clássicos na litera tura sobre influência social e poder Devido ao grande volume desse trabalho nosso panorama é seletivo e se concentra apenas em alguns estudos chave descobertas e áre as de influência social Depois enfatizamos os processos sociais e grupais com grande potencial para a pesquisa futura Nós nos baseamos em pesquisas que são relevantes para o Brasil quando disponíveis e discu tiremos as condições culturais e sociais no Brasil quando vincularmos a pesquisa inter nacional aos exemplos brasileiros tiPologias clássicas da inFluência social e do Poder Levy e colaboradores 1998 apresentaram uma taxonomia de tipos de influência social que se encaixariam no primeiro nível da classificação de Ng Observando a grande superposição entre a influência social e a psicológica social eles analisaram as prin cipais pesquisas e identificaram o mínimo de características elementares que melhor diferenciam o número máximo de estudos e abordagens de influência social Assim a questão era identificar as diferenças essen ciais ou fundamentais que podem nos ajudar a organizar os estudos clássicos na psicolo gia da influência social Eles identificaram as quatro características chave abaixo a nível de processamento cognitivo cons ciente x inconsciente b intencionalidade percebida intencional x não intencional x ortogonalirrelevante c status relativo de influência maior sta tus x status de parigual x baixo status x ortogonalirrelevante d direção da mudança positivo x negativo x ortogonalirrelevante Apesar de essa tipologia levar poten cialmente a 72 diferentes tipos de influên INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 155 cia eles identificaram apenas 24 tipos de influências sociais Pegando um exemplo clássico para futura discussão a obediên cia pode ser classificada como um tipo de influência na qual a pessoa que está sendo influenciada a tem conhecimento consciente da tentati va de influência b percebe que a tentativa de influência é intencional c o influenciador tem status superior d a pessoa se comporta de forma coerente com a posição do influenciador Assim a estrutura apresenta uma cate gorização de tipos de influência separando os por um processo de mistura de influên cia e o resultado do processo de mudança Os modelos de processo que fazem a distin ção entre tipos de mecanismos de influência p ex Petty e Cacioppo 1986 contribuem com as dimensões nas quais os resultados são diferenciados p ex nível de processa mento cognitivo e status Nail MacDonald e Levy 2000 de senvolveram um modelo descritivo de res postas sociais para identificar as dimensões conceituais que podem ser utilizadas para classificar os vários tipos de influência Com essa categorização o foco é ainda mais di reto nas respostas das tentativas de influên cia social As respostas são diferenciadas em termos de a se há um acordo de pré e pós exposi ção b se o acordo ou não acordo é expresso pública ou privadamente Cruzando as duas dimensões são dis tinguidas 16 respostas sociais Assim por exemplo podemos fazer a distinção entre as respostas de congruência conversão e con formidade Congruência é se há um acordo privado e público de pré e pós exposição Nesse caso não ocorre qualquer mudança de atitude ou comportamento e as pessoas estão em acordo A conversão é caracteri zada por um desacordo de pré exposição tanto pública quanto privada ao passo que a conformidade só envolve acordo públi co pós exposição mas desacordo privado Portanto a conversão é o caso de mudanças genuínas e profundas nas atitudes e crenças após uma tentativa de influência A confor midade por outro lado se caracteriza por um acordo público superficial mas as pes soas não mudam suas atitudes privadas Também ajuda a pensar sobre algumas res postas de influência social menos conheci das Por exemplo o contágio desinibitório se refere ao comportamento quando um indivíduo discorda publicamente e concor da privadamente antes da tentativa de in fluência mas depois concorda tanto priva da quanto publicamente com o evento Um bom exemplo é quando alguém pensa em roubar algum objeto p ex um artigo de luxo mas tem medo de fazê lo Ao teste munhar uma rebelião na qual outra pessoa quebra uma vitrine e rouba alguma coisa a pessoa alvo também pode participar do saque Nesse caso a observação da outra pessoa realizando o ato está exercendo a in fluência social e remove a inibição prévia da pessoa alvo Os dois modelos se concentram em aspectos do processo de influência e no re sultado da influência Esses modelos se en caixam no primeiro nível da classificação de Ng e são exemplos típicos de resposta ou visão voltada ao influenciado A próxima ti pologia se concentra no poder que são as características capacidade ou habilidade do influenciador que exerce influência ou traz mudanças nos outros French e Raven 1959 distinguiram cinco bases de poder São elas poder de recompensa poder coer civo ou de punição poder legitimado poder pericial e poder referente Posteriormente Raven 1965 acrescentou o poder informa cional O poder de recompensa é definido como o poder de distribuir recompensas pela conformidade Quanto maior a recompensa recompensas de valência positiva ou remo ção de valências negativas maior o poder de uma pessoa O poder coercivo ou de pu nição se refere ao poder de punir pela não conformidade A força do poder coercivo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 156 tOrres neiva cOLs depende da magnitude da valência negativa da punição em relação à probabilidade de a pessoa evitar a punição por meio da confor midade O poder legitimado é a crença de que o agente está autorizado a comandar e a tomar decisões sendo reconhecido em uma determinada estrutura de poder Apesar de geralmente ser vinculado às relações de pa péis também pode se basear em promessas ou algum código ou padrão que é aceito pelo indivíduo e permite que um agente afirme seu poder O poder pericial é a crença que um agente tem mais perícia e conhecimen to do que a pessoa alvo Ele aumenta com o diferencial de conhecimento entre o agente e a pessoa alvo assim como com os níveis de conhecimento absoluto depreendidos A dimensão adicionada por Raven 1965 foi o poder informacional Trata se da crença de que um agente tem mais informação do que um alvo A distinção mostrou ser importante porque os poderes pericial e informacional estão associados a diferentes estratégias de persuasão Petty e Cacioppo 1986 O po der referente é a identificação a atração e o respeito por um agente ou fonte de in fluência p ex um grupo Quanto maior a identificação e o desejo de se associar à fonte de influência maior o poder Pesquisas sobre essas fontes de poder originais mos tram que os poderes periciais e referentes normalmente produzem mais resultados po sitivos mas os poderes de recompensa coer civo e legitimado geralmente são negativos em relação a variáveis importantes como a satisfação no trabalho o desempenho e a satisfação com os supervisores Podsakoff e Schriesheim 1985 Contudo a análise rea lizada por Podsakoff e Schriesheim também apontou que a medição e a operacionaliza ção do poder têm sido problemáticas e os estudos de campo não permitem qualquer conclusão final Mais recentemente Raven Schwarz wald e Kozlowski 1998 expandiram o nú mero de bases de poder e desenvolveram um instrumento para superar muitas das limitações observadas Raven e colabora dores fizeram uma distinção entre as bases pessoais e impessoais de poder coercivo e de recompensa A versão original visava somente aos aspectos impessoais p ex a ameaça de demitir um funcionário ou a promessa de uma promoção As formas pessoais se concentram na aprovação no apreço e em recompensas socioemocionais assim como na desaprovação no desapreço e em punições socioemocionais O poder le gítimo foi distinguido em quatro categorias Primeiramente a versão original era mais próxima do poder de posição legítima no qual se acreditava que um supervisor tinha o direito de prescrever o comportamento e o subordinado era obrigado a cumprir Em segundo lugar o poder de reciprocidade le gítimo é a obrigação de cumprir com uma solicitação de um agente porque em uma ocasião anterior o agente fez algo positivo para o alvo Em terceiro lugar a igualdade legítima se baseia na teoria da equidade Adams 1965 A conformidade é exigida para compensar alguma resistência sofri mento ou dano causados sobre o agente ou um esforço empreendido por este Por fim a dependência legítima se relaciona à respon sabilidade social na qual a pessoa é obriga da a ajudar e a cuidar dos outros que preci sam de tal assistência Essas bases de poder foram distinguidas em estudos rea lizados nos EUA e em Israel Além disso podem ser categorizados em bases duras poder coer civo e de recompensa pessoal e impessoal poder legítimo de reciprocidade e igualda de e em bases suaves poder pericial poder referente poder informacional poder legiti mado de dependência e posição abordagens e tóPicos clássicos selecionados estudos de conformidade do grupo de asch Solomon Ash 1952 tinha interesse em am pliar o trabalho de Sherif 1936 no qual Sherif mostrou que os grupos de pessoas de INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 157 senvolvem normas para orientar o compor tamento em situações de incerteza Sherif 1936 usou uma ilusão ótica autocinese que é uma ilusão ótica consistente de um ponto fixo de luz em uma sala escura que parece se mover para analisar como os gru pos de pessoas fazem julgamentos sobre esse movimento aparente Acontece que com o passar do tempo as pessoas em pequenos grupos convergiram sobre o movimento per cebido observe que não havia movimento já que a luz era fixa Assim as estimativas convergiram para uma norma social Essa norma emergente se transferiu para as ses sões subsequentes e se perpetuou com o tempo inclusive quando entraram novas pessoas no grupo Esse foi um dos primei ros experimentos que mostrou os efeitos da influência social e delineou um processo importante para a emergência das normas sociais as normas surgem para reduzir a in certeza Nesses experimentos os estímulos eram ambíguos O interesse de Asch agora era no que aconteceria se o material de es tímulo fosse menos ambíguo e um grupo de pessoas fizesse estimativas incorretas Em diversos estudos foi apresentado aos par ticipantes uma série de linhas de extensão variada e eles tinham que escolher qual das três linhas tinha a mesma extensão que uma linha padrão Cada participante nesses gru pos que variavam de 7 a 9 pessoas precisa va dar uma opinião A pessoa alvo sempre era a última a dar sua opinião Sem que a pessoa alvo soubesse os outros membros do grupo eram colaboradores do experi mentador e fizeram julgamentos errados A variável dependente era se a pessoa alvo mudaria de opinião segundo o consenso do grupo errado e em caso positivo quantos julgamentos seriam necessários para tanto Em média cerca de 33 dos julgamentos apresentaram certo nível de conformidade Segundo as tipologias analisadas acima os estudos mostram sinais de conformidade Levy et al 1998 ou cumprimento Nail et al 1998 diretos A tentativa de influência envolve um processamento consciente é intencional e os membros do grupo têm o mesmo status Há uma discordância priva da antes e depois da tentativa de influên cia mas cerca de um terço dos participantes cumpriam com a publicidade do grupo Em termos de bases de poder a influência pode ser gerada pelo poder de referência já que as pessoas querem ser apreciadas pelo gru po e assim seguem a norma do grupo Diversos estudos tentaram replicar esse efeito Com isso Bond e Smith 1996 realizaram uma metanálise para estimar o efeito médio se a conformidade depende do desenho do estudo é estável ao longo do tempo e se há diferenças entre as pes soas de diferentes culturas Primeiro Bond e Smith descobriram que o nível de confor midade em todos os estudos era de aproxi madamente 29 Um pouco menos que um terço dos participantes se ajustou e fez o jul gamento errado Em segundo lugar diversas variáveis do desenho do estudo tiveram um impacto significativo Quando o material era muito ambíguo a conformidade aumenta va A conformidade também era maior se o grupo fosse composto por membros internos em comparação a membros externos como estrangeiros alunos de outra universidade etc e se os grupos aumentassem de tama nho As mulheres também apresentaram níveis mais elevados de conformidade Os estudos realizados nos EUA mostraram uma redução significativa na conformidade entre os anos de 1950 e 1990 Em terceiro lugar a conformidade era maior em amostras de sociedades mais coletivistas A explicação é que nas sociedades coletivistas as pessoas estão em mais harmonia com as necessida des e as metas do grupo e tentam preser var a harmonia social Assim seria falta de educação contradizer uma maioria mesmo que as pessoas sentissem que a maioria ha via tomado a decisão errada Geralmente o Brasil é descrito como uma sociedade cole tivista Hofstede 1980 Rodrigues 1982 fez algumas réplicas do paradigma original de Asch no Brasil e encontrou taxas de con formidade cerca de 30 mais altas em mé dia em todos os estudos Um estudo mais antigo de Whittaker e Mead 1967 mostrou INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 158 tOrres neiva cOLs efeitos ainda maiores no Brasil com níveis de conformidade de até o dobro da média de todos os estudos e países Assim pode mos esperar que as taxas de conformidade no Brasil fossem bastante altas refletindo a maior orientação de grupo no Brasil em com paração aos EUA ou à Europa Ocidental No entanto esses estudos estão um pouco defa sados e como mostram os estudos nos EUA as taxas de conformidade reduzem com o passar do tempo Talvez isso aconteça por causa dos níveis crescentes de individualiza ção e de uma tendência geral a valores mais individualistas e igualitários com o crescen te desenvolvimento econômico Inglehart e Baker 2000 Por causa da crescente pros peridade e do desenvolvimento econômico do Brasil hoje em dia em comparação a 50 anos atrás os níveis de conformidade de vem ser mais baixos hoje em dia estudos de obediência de Milgram Possivelmente uma das séries mais famo sas e controversas de estudos psicológicos o trabalho de Milgram 1963 1965 1992 sobre obediência é um clássico da influên cia social Milgram tinha interesse no traba lho de Asch mas com tarefas menos triviais nas quais as ações do participante trazem algumas consequências reais para os outros Milgram 1963 observou que a obediência é um elemento básico na estrutura da vida social Qualquer vida em comunidade re quer um tipo de sistema de autoridade A obediência é o mecanismo psicológico que liga a pessoa ao propósito político Ela serve como um cimento que une os homens aos sistemas de autoridade Milgram 1963 p 371 Chocado com as atrocidades cometi das durante o Holocausto e o período nazista na Alemanha ele estava ansioso por investi gar o processo de obediência como pessoas aparentemente calmas e normais podem se guir ordens ultrajantes de matar e torturar outros seres humanos Em seu experimento original os membros da comunidade recru tados por anúncio participaram em um su posto estudo sobre os efeitos da punição so bre o aprendizado Um dos participantes era um colaborador e por meio de um sorteio manipulado era sempre designado para o papel de aprendiz A tarefa desse aprendiz era realizar alguma tarefa de aprendizagem e memória enquanto o verdadeiro partici pante era o professor De uma sala próxima o professor deveria dar choques se o apren diz cometesse algum erro Para tanto o pro fessor tinha que usar um gerador de choque que tinha 30 estágios crescentes variando de 15 a 450 volts Cada professor experi mentava um choque de 45 volts e observava o aprendiz ser amarrado na cadeira e ligado à máquina O experimentador instruía a au mentar a voltagem após cada erro cometi do pelo aprendiz Os estágios da voltagem estavam claramente marcados onde 15V era choque leve 375V tinha um rótulo Perigo Choque Extremo e os dois níveis fi nais 435V e 450V estavam marcados com XXX O aprendiz cometia um erro em qua tro testes em média As reações do aprendiz eram padronizadas a 75V podiam ser ouvi das a 120V o aprendiz gritava que os cho ques doíam a 150V o aprendiz pedia para ser solto a 180V os gritos podiam ser ouvi dos e a 250V um grito agonizante era ouvi do Em algumas variações do experimento o professor podia ouvir o aprendiz socar a parede de dor A 300V não havia mais res posta alguma e o professor era instruído a tratar a falta de resposta como uma resposta errada e continuar a administrar os choques Muitos participantes sentiram uma angústia muito grande e expressaram sua falta de vontade de continuar O experimentador en tão respondia com estímulos padronizados e crescentes para continuar o experimento que variava desde continue por favor até você não tem outra escolha você tem que continuar No experimento original dos 40 participantes 26 continuaram a adminis trar os choques até atingir o nível máximo Assim mais de 50 dos membros da comu nidade cumpriram com as solicitações de um experimentador mesmo que estivessem em princípio colocando em risco um cidadão Outro aspecto que vale ser mencionado é que a maioria das pessoas experimentou al INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 159 tos níveis de estresse Quatorze dos 40 parti cipantes mostraram sinais de riso ou sorriso nervoso com um riso fora de hora e bizarro Três participantes apresentaram apoplexias maduras e incontroláveis No caso de um participante o experimento teve que parar porque o participante professor apresen tou apoplexias convulsivas enquanto tenta va administrar os choques Isso mostra que as pessoas médias que obedecem às ordens das autoridades podem fazê lo contra seus próprios valores sentindo estresse e descon forto extremos Este estudo foi replicado na Itália Alemanha Austrália Grã Bretanha Jordânia Espanha Áustria e nos Países Baixos Smith e Bond 1998 Apesar de as taxas de obediência variarem esta normal mente girava ao redor de 50 ou mais na maioria das amostras Descobriu se que vários fatores in fluenciavam o nível de obediência A pro ximidade social ou imediação com a vítima tem um efeito profundo Se não houver con tato verbal ou visual os níveis de obediência são mais altos Em condições em que a víti ma só soca a parede a obediência é de qua se 100 Quando o professor segura a mão do aprendiz o nível de obediência cai signi ficantemente mas ainda continua alto em cerca de 30 Assim a proximidade social aumenta a identificação com a vítima como um ser humano e diminui a obediência Outro fator é a presença da figura de autoridade Se o experimentador estiver au sente ou der as ordens por telefone os níveis de obediência caem Com modelos de papel que mostram a desobediência se recusar a obedecer ordens iniciar uma revolta os ní veis de obediência caem Por outro lado os modelos de papel que obedecem às ordens e administram choques até o fim não aumen ta mais o nível de obediência em compara ção à situação em que as pessoas estão sós Milgram 1965 O status e a legitimidade do experimentador também importaram se o experimento fosse realizado em um prédio comercial decadente em uma área pobre no centro da cidade em comparação ao presti giado laboratório Yale os níveis de obediên cia também caíam De forma geral esses estudos suscita ram muito interesse e atenção Essas conclu sões certamente ajudam a explicar por que pessoas normais podem cometer atrocida des quando induzidas a fazê las As pessoas podem atender a demandas que violam seus próprios valores pessoais e códigos morais Em tempos de conflito e guerra tais confli tos morais são mais acentuados Contudo mesmo em situações menos extraordiná rias as pessoas enfrentam situações em que também devem cumprir com demandas que violam seus princípios morais pessoais ou alguns princípios morais gerais Dadas as difíceis condições econômicas de muitas pessoas no Brasil algumas podem ter que trocar alguns valores e crenças para alcan çar os fins Além disso o experimento levou a um debate significativo sobre a ética dos experimentos psicológicos Persuasão e Mudança de atitude A literatura sobre mudança de atitude e per suasão diz respeito aos processos de infor mação que as pessoas se envolvem quando são expostas a mensagens que visam mudar suas atitudes Esta linha de pesquisa tem aplicações óbvias nas áreas de propaganda e marketing inclusive marketing social e campanhas de saúde voltadas a induzir mu danças positivas nas pessoas A persuasão envolve três variáveis o comunicador ou a fonte de persuasão a comunicação ou men sagem e a audiência ou alvo da tentativa de persuasão Essas três variáveis precisam ser analisadas quando abordamos a persuasão Cada uma dessas variáveis pode ser anali sada mais detalhadamente e uma ampla gama de pesquisas mostrou que as várias ca racterísticas dessas variáveis de comunica ção devem levar a uma mudança de atitude Essas conclusões estão resumidas em diver sas revisões Por exemplo comunicadores mais dignos de confiança mais atrativos assim como uma grande similaridade entre o comunicador e o público normalmente levam a mais mudança de atitude a maior familiaridade das mensagens e mensagens INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 160 tOrres neiva cOLs passadas como metáforas Sopory e Dillard 2002 são mais eficiente as pessoas com alta e baixa autoestima têm mais probabili dade de serem persuadidas em comparação com pessoas com níveis mais moderados de autoestima as pessoas são persuadidas mais facilmente se receberem mensagens dignas de confiança sobre tópicos dos quais elas têm relativamente pouca informação veja Petty e Wegener 1998 Um problema com grande parte das campanhas de saúde pública como aquelas contra o fumo p ex as imagens de pacientes de câncer nos ma ços de cigarro é se a indução ao medo fun ciona para mudar as atitudes das pessoas Uma análise recente de mais de 100 estudos sobre esse assunto De Hoog Stroebe e De Wit 2007 concluiu que a severidade tem efeitos positivos sobre as atitudes É interes sante observar que as imagens não tiveram um impacto maior do que outras induções ao medo Outro efeito interessante e surpre endente foi observado no chamado efeito latente Normalmente se as pessoas rece bem uma mensagem com uma pista de des conto informação que contradiz ou reduz o impacto da mensagem original ou seja o comunicador não é digno de crédito elas serão menos persuadidas logo após a expo sição mas com o tempo o público muda as atitudes em relação à primeira mensagem Esse efeito é confiável e particularmente for te se a mensagem inicial tiver um forte im pacto inicial e quando o público tiver maior habilidade ou motivação para pensar sobre a mensagem Kumkale e Albarracin 2004 Este efeito pode explicar por que as deman das ou notícias ultrajantes têm maior proba bilidade de serem acreditadas com o tempo apesar de as pessoas saberem que vêm de uma fonte não confiável Essa pesquisa com foco nas três vari áveis da persuasão normalmente focava o impacto das variáveis individuais seleciona das O que se concluiu foi que muitos des ses efeitos eram contraditórios e às vezes por exemplo a similaridade levava a mais persuasão enquanto em outras vezes a similaridade tinha pouco impacto sobre a persuasão O modelo de processo dual da persuasão foi criado para representar essas diferenças Eagly e Chaiken 1993 Petty e Cacioppo 1986 Esses modelos sugerem que as pessoas podem usar duas estratégias diferentes quando enfrentam uma tentativa de persuasão A principal distinção é se as tentativas de influência são processos com alto esforço mental ou conscientemente ou se a informação é processada com pou co esforço e de forma inconsciente Este é um dos elementos centrais nível de proces samento da tipologia da influência social apresentada acima Levy et al 1998 Se as pessoas são motivadas a prestarem atenção à mensagem elas provavelmente escrutina rão o conteúdo das mensagens e têm menor probabilidade de serem persuadidas por dicas como a atratividade ou a similarida de dos comunicadores As pessoas adotam a rota central Petty e Cacioppo 1986 ou processamento sistemático da informação As mensagens com maior convencimento factual têm mais chances de serem persu asivas Se as pessoas não forem capazes ou motivadas a processar a informação cuida dosamente p ex quando o tópico não é muito interessante as pessoas são distraí das a mensagem e o tópico são muito com plicados para que o público processe elas contam com dicas periféricas como atrativi dades similaridade status do comunicador e aspectos não relacionados ao conteúdo da mensagem p ex clareza familiaridade simpatia Este tipo de processamento uti liza a rota periférica de persuasão Petty e Cacioppo 1986 ou as pessoas usam o pro cessamento heurístico da informação Eagly e Chaiken 1993 Muitas propagandas usam as dicas periféricas como uma tentati va de persuadir as pessoas a comprarem de terminados produtos As pessoas expostas a anúncios nas ruas TV ou rádio geralmente têm sua atenção distraída enquanto fazem outras coisas e consequentemente têm pouco incentivo ou tempo para processar cuidadosamente a informação apresentada Para ser eficiente a propaganda conta com dicas periféricas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 161 novas direções e aPlicações da inFluência social a tecnologia a cultura e o marketing social persuasivos Como discutido anteriormente a persuasão é uma das áreas centrais da pesquisa de in fluência social Muitas pesquisas se concen tram nos efeitos tradicionais da propaganda especialmente nas sociedades ocidentais Contudo há uma nova tecnologia emergen te que muda a forma unidirecional e passiva de persuasão como estudado na pesquisa anterior As tecnologias persuasivas são um exemplo e têm a ver com quaisquer siste mas interativos de computação elaborados para influenciar e mudar as atitudes e os comportamentos das pessoas Fogg 2003 Igualmente há um crescente reconheci mento de que a cultura influencia como as pessoas percebem reagem e são influencia das pelas tentativas de persuasão p ex Aaker e Williams 1998 Como abordado anteriormente muitas pesquisas sobre in fluência social se concentram nas pessoas e apresentam viés individualista Há pouca pesquisa focada nos processos de persuasão em ambientes mais coletivistas Esta é uma situação preocupante considerando se que muito do trabalho de persuasão aplicado visa mudar as atitudes e os comportamentos de saúde As minorias em muitas sociedades modernas e em muitos países em desenvol vimento costumam ser mais coletivistas e voltadas ao grupo além de apresentarem piores comportamentos e atitudes de saú de quando comparadas com membros dos grupos majoritários individualistas ou com sociedades individualistas p ex Khaled 2008 Para solucionar essa lacuna Khaled e colaboradores se envolveram em um pro grama de pesquisa que visa desenvolver um jogo interativo para ajudar os adolescentes e jovens adultos a deixarem de fumar Khaled Barr Noble Fischer e Biddle 2007 Há três principais metas a identificar as estratégias de persuasão adequadas para os públicos individua listas e coletivistas b traduzir essas estratégias e desenvolver um protótipo de jogo persuasivo que seja sensível à cultura c avaliar esse protótipo com públicos indi vidualistas e coletivistas Khaled começou analisando as estraté gias de persuasão existentes implantada em muitos dispositivos da tecnologia de infor mação tais como sites na internet ou jogos de computador Khaled Noble e Biddle 2005 Ficou claro que a maioria das estratégias de influência é voltada a um público individua lista Assim ela desenvolveu um conjunto de estratégias concentradas na audiência coletivista inclusive estratégias como har monia opinião do grupo monitoramento e desempenho da equipe Por exemplo a es tratégia de harmonia se concentra em uma das principais preocupações entre os atores coletivistas já que a preservação da harmo nia social em um grupo é de suma importân cia Depois ela realizou várias entrevistas e grupos focais com os participantes interessa dos e usuários da tecnologia para identificar as necessidades de diversos usuários finais e obter insumos para a elaboração de um protótipo sensível à cultura Khaled Barr Noble Fischer e Biddle 2006 Isso levou ao desenvolvimento de um protótipo coleti vista e individualista Com base na literatura sobre abandono do fumo nas teorias cultural e de aprendizagem social as duas versões do jogo incorporaram comportamentos modelo para resistir ao tabagismo apresentaram in formações e estratégias para largar o fumo ou reduzir os efeitos da abstinência e permi tiam aos atores experimentarem diferentes estratégias comportamentais todas no con texto da cultura do público Os dois protóti pos foram refinados e testados repetidamen te com pessoas com histórico individualista e coletivista Khaled et al 2008 Depois uma versão final do jogo foi testada para verificar a adequação ao respectivo público alvo e se seria mais persuasivo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 162 tOrres neiva cOLs Ao total oito atores participaram de um primeiro estudo qualitativo Quatro ato res eram do grupo minoritário coletivista Maori povo indígena na Nova Zelândia e quatro eram do grupo majoritário indivi dualista Pakeha ou neozelandeses brancos jogaram um jogo congruente com a cultura os Maori jogaram um jogo coletivista en quanto os neozelandeses jogaram a versão individualista do jogo ou um jogo incon gruente com a cultura os Maori jogando a versão individualista enquanto os neo zelandeses jogaram a versão coletivista As pessoas jogaram usando o protocolo de pensar em voz alta que eles costumam usar para jogar mas verbalizando todos os seus pensamentos e ações enquanto jo gavam O comportamento foi gravado em vídeo e analisado utilizando se métodos qualitativos mais aprofundados Ficou claro que as pessoas que jogavam o jogo cultural mente congruente mostraram maior identi ficação aceitaram o jogo e empregaram as estratégias da forma esperada Na condição incongruente as pessoas se sentiram menos identificadas aceitaram menos e relataram frustração com determinadas característi cas do jogo que eram incongruentes com os valores e as tradições culturais do grupo Uma observação interessante foi a de que a maioria dos atores tinha experiências mais negativas quando jogavam a versão da mi noria provavelmente por causa do menor conhecimento e da exposição dos membros do grupo majoritário às normas e tradições do grupo minoritário Em um segundo estudo Khaled et al 2009 141 adolescentes e jovens adultos jogaram uma versão do jogo no modelo 2 x 2 Dessa vez as orientações de valor fo ram medidas com uma versão reduzida da Pesquisa de Valor de Schwartz Schwartz 1992 também consulte Gouveia neste vo lume As pessoas foram classificadas em relação a seu endosso dos valores mais in dividualistas ou coletivistas e foram desig nadas aleatoriamente para jogar uma vez a versão coletivista ou individualista do jogo As atitudes em relação ao tabagismo e ao abandono foram avaliadas tanto antes quanto depois do jogo No geral os parti cipantes apresentaram atitudes positivas em relação a abandonar o fumo e atitudes mais negativas sobre o tabagismo depois de jogar Acima de tudo o jogo culturalmente congruente trouxe mais atitudes positivas e maior resistência ao tabagismo e às tentati vas de influência que incentivam o fumo do que o jogo culturalmente incongruente Em alguns casos jogar a versão incongruente do jogo aumentou a probabilidade expressa de experimentar cigarro Esse programa de pesquisa mostra que a cultura influencia a persuasão e o proces so de influência que as tentativas de per suasão culturalmente incongruentes podem chegar a ter efeitos negativos e que há mui to a se ganhar prestando mais atenção aos fatores culturais nas estratégias de persua são principalmente quando o foco é gerar mudanças positivas para a saúde Essa pes quisa reúne vários tópicos deste capítulo e do livro tais como normas sociais valores e cultura Moralidade A moralidade é uma questão não muito abordada nos manuais de psicologia social Contudo é um tópico extremamente impor tante para entender os processos psicológi cos sociais tais como a influência social A moralidade e a influência social estão inti mamente relacionadas Geralmente o que é moral se refere aos princípios de com portamento certo e errado ou a cumprir com os padrões de comportamento certo É nesta última qualidade que a moralidade se torna um assunto instigante para a pes quisa sobre influência social Os padrões morais em um grupo social prescrevem as diretrizes consensuais e desejáveis para um comportamento social aceitável As pessoas são influenciadas por seu grupo social para que se comportem dentro desses padrões de comportamento desejável e são punidas se os violarem veja também Vauclair 2009 sobre uma discussão teórica sobre a inter INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 163 relação entre moralidade e cultura Assim os efeitos de moralidade estão claramente no terceiro nível da tipologia de Ng apresen tada no início deste capítulo A moralidade facilita o funcionamento do grupo De Waal 1996 Haidt e Joseph 2004 Krebs 2008 e melhora a convivên cia do mesmo ao regular os comportamen tos pessoais que refletem autointeresse e autoindugência Janoff Bulman Sheikh e Hepp 2009 Sem um consenso sobre os có digos morais as pessoas desconsiderariam os direitos e o bem estar dos outros sempre que quisessem entrar em conflito social Em nível de sociedade as transgressões dos in divíduos são regulamentadas por leis que envolvem sanções para determinados com portamentos antissociais Em nível de grupo social a moralidade é um tópico de pesquisa bastante complexo já que as pessoas podem desenvolver sua própria moralidade pesso al que pode ou não estar de acordo com os mandados de uma autoridade possivelmen te levando a uma resistência em vez de à conformidade lembremos por exemplo do clássico experimento de Milgram menciona do anteriormente neste capítulo Portanto a conformidade com as regras e os regula mentos tem a ver tanto com as capacidades internas do indivíduo quanto com as influ ências externas do ambiente Há poucas pesquisas sobre a influência social e a moralidade Porém há duas prin cipais teorias da psicologia que explicam o comportamento de conformidade das pesso as A teoria cognitiva de Kohlberg 1984 se concentra no indivíduo e considera a con formidade como uma função da maturidade do indivíduo para o raciocínio moral A teo ria cognitiva social de Bandura 1991 por outro lado inclui os efeitos condicionantes do ambiente como um fator para explicar o comportamento de conformidade As pró ximas seções apresentam um panorama re sumido e seletivo das pesquisas realizadas nesses dois marcos teóricos Terminaremos apresentando uma perspectiva teórica re cente sobre a moralidade a abordagem de intuicionismo social de Haidt 2001 ao jul gamento moral que consideramos ser par ticularmente promissora para pesquisas fu turas sobre moralidade e influência social raciocínio moral e resistência à conformidade Imagine a seguinte situação um homem chamado Heinz tem uma esposa que está à beira da morte devido a um tipo especial de câncer Um farmacêutico desenvolveu um remédio que pode salvar a vida dela No en tanto querendo ganhar o máximo de dinhei ro possível o farmacêutico cobra de Heinz mais do que ele pode pagar Heinz implora ao farmacêutico e explica sua situação sem sucesso Ele se desespera e arromba a loja do farmacêutico para roubar o remédio para sua esposa Este é um tipo de dilema moral que Lawrence Kohlberg 1984 apresenta aos participantes Seu interesse particular era nos motivos que eles apresentariam sobre se Heinz deveria ou não ter roubado a droga para sua esposa É importante observar que Kohlberg não estava interessado na decisão final do indivíduo ou seja roubar ou não roubar mas apenas na justificativa para a decisão Kohlberg propôs um modelo de talhado de raciocínio moral diferenciando seis estágios sucessivos de desenvolvimento moral Os estágios se referem a três dife rentes níveis de raciocínio moral chamados de moralidade pré convencional conven cional e pós convencional No nível pré convencional estágio 1 e 2 o indivíduo julga o comportamento focando em si mes mo O raciocínio moral é centrado no medo de punições No nível convencional estágio 3 e 4 o indivíduo julga o comportamen to em termos da convenção conhecida so bre o que as pessoas dizem que é certo ou errado Os convencionalistas tendem a raciocinar em termos de conformidade e or dem sociais No nível final pós convencional estágio 5 e 6 o nível mais maduro do pensamento moral os indivíduos tendem a usar o princípio moral de justiça em seu raciocínio que é independente de qualquer INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 164 tOrres neiva cOLs convenção social Kohlberg entrevistou crianças adolescentes e adultos analisando as respostas a questões como o dilema de Heinz classificando seu pensamento em um dos seis estágios Posteriormente pesquisadores que estudaram a influência social e o raciocínio moral esperavam que no nível convencio nal os indivíduos seriam mais suscetíveis à influência social já que seu raciocínio se concentra em agir de acordo com a ordem so cial Por outro lado os pós convencionalistas não deveriam sucumbir à pressão social se seus princípios morais pessoais estivessem em conflito com esta Blasi 1980 Há vá rios estudos que enfocaram esta hipótese empregando uma abordagem experimental e tentando estudar a conformidade compor tamental em um ambiente de laboratório Os estudos podem ser distinguidos pelo uso de uma situação similar à de Milgram um experimento similar ao de Asch ou proce dimentos menos padronizados Os expe rimentos do tipo de Milgram trouxeram resultados complexos e ambíguos que indi cam que não há uma relação de mão úni ca entre os estágios de raciocínio moral e o abandono na tarefa de administrar punições p ex Podd 1972 Os estudos mostraram que as diferenças de comportamento entre os indivíduos raciocinando em diferentes estágios são mais perceptíveis sob determi nadas condições como por exemplo quan do os sujeitos são expostos ao aviso para parar Turiel e Rothman 1972 Os experi mentos semelhantes ao de Asch apresenta ram um quadro mais consistente com uma relação entre estágio moral e resistência à conformidade p ex Saltzstein Diamond e Belenky 1972 O último grupo de estu dos utilizando procedimentos menos padro nizados também apresentou claro apoio à hipótese de resistência à conformidade Por exemplo Fodor 1971 1972 elaborou experimentos nos quais as decisões e o ra ciocínio morais dos participantes eram tes tados Segundo os resultados dos estudos as pessoas que resistiam à influência do ex perimentador e não mudaram sua opinião inicial obtiveram Pontuação de Maturidade Moral bastante mais altas do que as que su cumbiram à influência social veja também Tracy e Cross 1973 Le Furgy e Woloshin 1969 investigaram os efeitos de longo prazo da influência social sobre o raciocínio moral Eles concluíram que os adolescentes em geral eram suscetíveis à influência so cial independentemente de sua maturidade moral Porém havia uma diferença em re lação aos efeitos de longo prazo Os jovens classificados como moralmente maduros antes de serem expostos à pressão do par tendiam a voltar a seu estágio mais elevado de raciocínio moral no longo prazo depois de 100 dias ao contrário dos participantes moralmente imaturos que tendiam a per manecer no estágio mais baixo após a pres são do par McGraw e Bloomfield 1987 pesqui saram explicitamente o impacto dos fatores morais sobre o processo de tomada de deci são do grupo Eles realizaram um estudo no qual os participantes deveriam decidir quem em um grupo de pacientes renais em estado terminal deveria ter acesso a uma rara má quina renal Primeiramente a decisão era tomada individualmente Então os partici pantes foram divididos em pequenos grupos e solicitados a chegarem a uma decisão con sensual Como a orientação de gênero tam bém tem relação com a influência social nos grupos as mulheres tendem a ser mais facil mente influenciadas dos que os homens nas interações de grupo Eagly e Carli 1981 os autores estavam interessados especifica mente no efeito de interação do raciocínio moral e orientação do papel de sexo Eles previram que os indivíduos sem conflitos p ex uma orientação sexual tipo feminina estágio mais baixo e orientação sexual tipo masculinaestágio mais elevado teriam mais influência sobre as decisões do grupo do que os indivíduos em conflito TSMme nor estágio e TSFmaior estágio Na reali dade eles concluíram que os indivíduos tipi ficados de sexo puro com raciocínio moral e orientações de gênero compatíveis tinham mais influência objetiva sobre a decisão do grupo se sentiam mais influentes e tinham mais possibilidade de serem selecionados INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 165 como mais influentes em comparação com os participantes incompatíveis em raciocínio moralgênero É interessante que tenha sur gido apenas um efeito significativo e intera ção e nenhum efeito principal significativo devido às orientações de papel de sexo ou raciocínio moral Os autores discutiram essa conclusão que indicava mecanismos mais complexos em relação ao raciocínio moral e à influência social que também deve con siderar a multidimensionalidade das situa ções sociais Essa questão toca em uma das prin cipais críticas feitas em relação à teoria de estágio de Kohlberg A influência social só tem uma pequena função no raciocínio mo ral Como mostram os estudos analisados anteriormente a opinião das pessoas sobre questões morais é considerada um pertur bador externo para a mudança autorregu lada Bandura 1991 Bandura 1991 por exemplo enfatizou que as influências sociais são importantes para entender como a moralidade e o funcionamento moral tra balham a inclusão da inFluência social no FuncionaMento Moral Bandura 1991 argumenta que os pa drões para o raciocínio moral estão muito mais abertos à influência social do que as teorias de estágio nos levariam a esperar Ele propôs uma teoria cognitiva social que postulava um modelo causal que envolvia três fatores ou seja aspectos ambientais ambiente social e físico aspectos pessoais cognitivo afetivo e biológico e compor tamental capacidade comportamental de realizar um determinado comportamento que estão permanentemente influenciando uns aos outros O ambiente social apresen ta modelos para o comportamento e aqui se relaciona aos mecanismos de influência social O mecanismo psicológico subjacente é o aprendizado observacional que é uma forma de modelagem e ocorre quando uma pessoa observa as ações de outra pessoa as sim como os reforços que a pessoa recebeu Bandura 1997 Quando um indivíduo de senvolve padrões morais o comportamen to moral ou imoral produz dois conjuntos de consequência reações autoavaliativas e efeitos sociais que mais uma vez têm efeito sobre o comportamento Diversos estudos confirmaram o po der da modelagem para influenciar o ra ciocínio moral Bandura 1986 Holstein 1977 por exemplo concluiu que o nível de raciocínio moral dos pais predizia o ní vel de raciocínio moral de seus filhos Se os pais empregassem regras morais simples seus filhos fariam o mesmo enquanto se os pais empregassem um raciocínio moral mais complexo seus filhos também o fa riam Os pais não são a única fonte de in fluência do raciocínio moral das crianças Outros adultos pares e modelos simbólicos também têm um papel importante Porém o raciocínio moral dos adultos é o mais in fluente Brody e Henderson 1977 Dorr e Fey 1974 Outros estudos mostraram que as crianças mudavam seus padrões morais se fossem expostas a visões opostas dos mo delos p ex Bandura e Mcdonald 1963 Cowan Langer Heavenrich e Nathanson 1969 Crowley 1968 Apesar de a influência social mediante a modelagem ser uma forma poderosa de influência nem sempre ela altera o raciocí nio moral As pessoas só podem ser influen ciadas pelas opiniões moldadas se elas as entenderem Bandura 1991 Por exemplo uma criança muito nova que esteja em um nível pré convencional de raciocínio moral no qual as preocupações egocêntricas de sempenham um papel dominante não terá a capacidade cognitiva de entender o prin cípio de justiça social como um critério final para decidir sobre o certo e o errado Além disso as pesquisas mostram que modelos consistentes de julgar diferentes dilemas morais têm mais impacto sobre o raciocínio moral das crianças do que os modelos que entram em desacordo Brody e Henderson 1977 Keasey 1973 Quando as visões moldadas eram consistentes a perspectiva moral das crianças mudava mais ainda ao INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 166 tOrres neiva cOLs ser exposta ao raciocínio moral dois está gios acima do delas do que pelo raciocínio apenas um estágio acima Isso é consistente com as conclusões na psicologia social se gundo as quais quanto mais discrepante o raciocínio persuasivo for das próprias visões mais as atitudes podem mudar consulte Bandura 1991 No entanto é necessário realizar mais pesquisas para entender como as pessoas lidam com fatores moralmente relevantes como as influências sociais al teram o peso dado a esses fatores e como os diferentes aspectos do julgamento moral mudam com o desenvolvimento Haidt 2001 propôs um modelo mais recente de funcionamento moral que inclui a influência social no funcionamento moral Seu modelo intuicionista social expande o modelo racionalista chamando a atenção para o papel do afeto e das influências so ciais no julgamento moral Seu modelo in clui duas formas diferentes de julgamento moral uma é intuitiva e não racional ou seja afetiva e a outra é deliberativa e refle xiva ou seja raciocínio moral Ele enfatiza que o raciocínio moral ocorre naturalmen te em um ambiente social ou seja é feito interpessoalmente e não privadamente A influência social é conceitualizada como tendo um impacto sobre a intuição do indi víduo por meio da persuasão fundamentada p ex argumentos assim como por meio de formas não racionais de persuasão social como normas sociais implícitas Haidt ar gumenta que as intuições morais vêm em primeiro lugar quando são influenciadas por alguém em nosso pensamento moral que então causa diretamente um julga mento moral que por sua vez causa o ra ciocínio moral O raciocínio moral só serve para justificar racionalmente a intuição em primeiro lugar Como evidência da impor tância das intuições Haidt 2004 se refere ao fenômeno de mudez moral2 que ocor re quando os indivíduos não conseguem explicar as fortes condenações de ações que não causam nenhum dano Haidt interpre ta a mudez moral como uma evidência da importância das instituições que criaram um forte julgamento que um ato é errado mas o raciocínio post hoc tem problemas em exe cutar esse trabalho Até o momento a evidência empírica tem sustentado a importância das reações afetivas nos julgamentos morais Haidt Koller e Dias 1993 por exemplo conclu íram em um estudo transcultural Brasil e EUA que o dano não pode explicar todos os julgamentos morais que os indivíduos fa zem Eles criaram histórias que não envol viam qualquer dano plausível p ex limpar o banheiro com a bandeira nacional comer um cachorro ou se masturbar com uma ga linha morta As reações afetivas dos par ticipantes a essas histórias principalmente no Brasil foram melhores indicadores de seus julgamentos morais do que suas recla mações de consequências danosas Haidt e Hersh 2001 chegaram a resultados se melhantes quando entrevistaram liberais e conservadores nos EUA sobre a questão da homossexualidade O modelo de Haidt é uma abordagem intrigante para entender a moralidade e a influência social Geralmente passamos por uma mudança em nossas intuições morais relativas a determinada situação quando al guém releva características de situação que não havíamos observado antes ou quan do nos persuade a avaliar a importância de algumas características que não foram consideradas suficientemente Saltzstein e Kasachkoff 2004 No entanto como Saltzstein e Kasachkoff 2004 apontam o modelo de intuição social deixa importantes questões sem resposta demandando assim mais pesquisas empíricas futuras Por exem plo a influência social realmente gera intui ções em primeiro lugar que depois influen ciam o julgamento e o raciocínio moral de uma pessoa Na verdade é o conhecimento que os outros condenariam um ato norma social que nos leva ao sentimento que algo como se masturbar com uma galinha morta é errado Ou há bons motivos e argumentos que não são tão rápidos e automáticos como nossas respostas emocionais para chegar a um julgamento moral E há diferenças cul turais Vauclair e Fischer 2009 por exem plo concluíram que os indivíduos de países INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 167 de orientação coletivista julgam as questões pessoais sexuais p ex homossexualidade e divórcio de uma forma mais inflexível do que os países de orientação individua lista Os estudos futuros poderiam adotar essa conclusão como um passo futuro e foco no processo de fazer julgamentos morais e o papel da influência social ao analisar as diferenças culturais em relação à persuasão fundamentada e social Esses tipos de estu dos poderiam contribuir substancialmente com nosso entendimento do funcionamento da moral contribuindo com a área tão pou co pesquisada de influência social e afeto e cognição moral o JeitinHo brasileiro coMo uMa tática de inFluência brasileira Na última seção falamos brevemente so bre a cultura e as normas culturais como táticas de influência social e discutimos um determinado aspecto familiar a muitos lei tores deste volume o jeitinho brasileiro A cultura e as normas e práticas culturais são outro exemplo dos tipos de processos de in fluência que Ng incluiu em seu nível mais elevado de influência social O jeitinho bra sileiro é uma estratégia de influência social específica típica da cultura brasileira O que é o jeitinho Barbosa 1992 discutiu o jei tinho como uma estratégia fluida e flexível de solução de problema em contextos alta mente burocráticos na qual as pessoas ten tam criar vínculos sociais igualitários com as figuras de autoridade ou vigias Barbosa 1992 situou o jeitinho como uma forma mista entre relações sociais e corrupção Almeida 2007 também situou o jeitinho entre a corrupção e a prestação de favores Duarte 2006 por outro lado discutiu vá rias classificações e apontou uma natureza multidimensional do jeitinho Recentemente um grupo de psicólo gos sociais formou a Conexão Brasil para desenvolver uma étnica psicologia brasi leira Eles escolheram o jeitinho brasileiro como um aspecto importante da cultura brasileira e uma estratégia relevante de re lações interpessoais e influência social Até o momento eles realizaram três grandes estudos veja Ferreira et al 2009 mesa redonda na conferência brasileira as refe rências serão apresentadas posteriormente O primeiro estudo de entrevista qualitativa com 20 alunos e membros do público iden tificou temas e incidências críticas do jei tinho Então eles construíram 53 cenários do jeitinho A entrevista foi realizada entre alunos no Rio de Janeiro e Brasília com ins truções para avaliar quão típico o cenário é para o jeitinho e quão típico esse compor tamento é para os brasileiros Além disso foram empregados grupos focais para ava liar os cenários Os resultados apontaram claramente uma estrutura multidimensional do jeitinho Foram distinguidos diferentes tipos de jeitinho em um modelo de escala mul tidimensional criatividade malandra gem mentira e violação da lei Essas formas podem ser diferenciadas em termos da ex tensão em que violam as normas sociais ou legais de violação leve a violação severa Um estudo posterior com 27 cenários foi realizado com 387 indivíduos no Rio de Janeiro e em Brasília Cada cenário rece beu uma nota em termos de criatividade violação da lei jeitinho e malandragem Os resultados mostraram diferentes con ceitos do jeitinho no Rio de Janeiro e em Brasília No Rio o jeitinho tem um elemen to de malandragem mais forte enquanto em Brasília o jeitinho tem mais o conceito de violação da lei Até certo ponto esses conceitos correspondem às imagens estere otipadas de Brasília e do Rio de Janeiro Um pensamento comum é que o jeitinho é um exemplo brasileiro tí pico da influência sobre os outros diante de obstáculos ou problemas Essas estratégias de influência específicas da cultura não foram estudadas sistematicamente na psicologia e ainda há muito a aprender utilizando os métodos de pesquisa étnico psicológica veja também Smith 2008 que apresenta um panorama mais geral sobre essas táticas de influência social específicas da cultura INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 168 tOrres neiva cOLs conclusões Neste capítulo tentamos preencher a lacuna entre os estudos clássicos de influên cia social com foco em estratégias de influ ência lineares descontextualizadas e diretas e os processos de influência mais difusos naturalistas e culturais A influência social é um tópico importante de pesquisa que tem importantes implicações práticas notas 1 Social loafing 2 Moral dumbfounding reFerências AAKER J WILLIAMS P Empathy versus pride The influence of emotional appeals across cultures Journal of Consumer Research v 25 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ZAJONC R B Social facilitation Science v 149 p 269274 1965 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS introdução Todos os dias quando você abre as pági nas de um jornal quando conversa com um amigo quando liga a televisão ou acessa a internet ou simplesmente quando caminha pela rua e observa o ambiente a sua volta lida com uma imensa diversidade de infor mações as quais são de alguma forma per cebidas analisadas e organizadas fazendo com que o mundo tenha sentido e a existên cia humana seja menos caótica imprevisível e inexpressiva A fim de compreender melhor o espa ço você tenta achar uma regularidade um padrão nos objetos do mundo e a todo ins tante tenta organizar avaliativamente esses objetos em termos de aprovável ou desapro vável favorável ou desfavorável desejável ou indesejável sem necessariamente ter a atenção voltada para isso Por exemplo o que você pensa sobre a utilização do exér cito no combate à violência e ao tráfico de drogas nas favelas brasileiras Você acha que o sistema de cotas raciais deve ser implan tado nas universidades Qual é sua opinião sobre produtos reciclados Qual é sua posi ção frente a fastfood Aborto Japoneses Comercialização de produtos piratas Bolo de chocolate Guerra do Iraque Dietas de emagrecimento Rio de Janeiro Música eletrônica Eutanásia Flamengo Pelo sim ples fato de ler essas perguntas é possível que você classifique algumas situações ou objetos colocando se contra ou a favor É por meio desse processo contínuo de compreensão das coisas em termos de bom ou ruim apropriado ou inapropriado conveniente ou inconveniente que você assume uma posição frente ao mundo o cerca Essa posição é chamada de atitu de Formalmente atitude é uma tendência psicológica que é expressa pela avaliação de uma entidade em particular com algum grau de favor ou desfavor Chaiken Wood e Eagly 1996 p 269 As atitudes exercem influência sobre o comportamento e sobre a maneira de ver o mundo O conhecimento das atitudes de outras pessoas permite saber como elas pen sam sentem ou reagem a certos eventos É possível que você se identifique com pessoas que mantêm atitudes parecidas com as suas bem como pode evitar certas situações ou objetos que trazem resultados indesejáveis De fato é bem difícil pensar em uma socie dade sem atitudes Alguns dos principais problemas já enfrentados pela humanidade têm suas raízes nesse fenômeno psicológico Adolf Hitler provavelmente odiava os judeus e outras minorias não arianas homossexuais e comunistas Além disso ele utilizava mé todos muito persuasivos e eficientes para 8 atitUDes e mUDança De atitUDes elaine rabelo neiva túlio gomes Mauro INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 172 tOrres neiva cOLs difundir suas atitudes e conquistar legiões de seguidores Suas atitudes políticas insti garam a guerra mais sangrenta da história e suas atitudes raciais levaram diretamente aos horrores do holocausto nazista No en tanto apesar das ideias e ações de certos grupos serem repugnantes à compreensão as atitudes dessas pessoas as direcionavam para o que elas consideravam a coisa certa a ser feita como acontece atualmente em várias questões delicadas como atentados de extremistas religiosos alguns conflitos geopolíticos dentre outras Isso ilustra algo em comum entre Adolf Hitler Osama Bin Laden George Bush e você todos possuem atitudes e estas influenciam nosso compor tamento de muitas maneiras complexas Chaiken Wood e Eagly 1996 Gilbert Fiske e Lindzey 1998 Tal como outros construtos psicológi cos as atitudes não podem ser observadas diretamente mas sim inferidas de respos tas observáveis Tais respostas são eliciadas por um estímulo proveniente de uma enti dade específica denominada de objeto da atitude ou objeto atitudinal o qual pode ser qualquer coisa passível de discrimina ção ou de retenção pela mente do indiví duo Chaiken Wood e Eagly 1996 Sendo assim podem se constituir objetos de ati tudes pessoas presidente da república seus pais John Lennon objetos óculos computador grupos partidos políticos grupos étnicos lugares Brasília China organizações Petrobrás Globo conceitos democracia qualidade de vida ideologias catolicismo capitalismo comportamentos uso de preservativos comportamentos pró ambientais eventos mudança organiza cional produtos alimentos programas de computador dentre outros Respostas favoráveis em relação ao objeto atitudinal indicam uma atitude positiva do indivíduo frente ao mesmo Imagine por exemplo um aluno do ensino médio que considera a matemática sua ma téria favorita se esforça para não faltar às aulas sente se motivado a resolver proble mas e equações afirma ser esta a matéria mais importante busca referências comple mentares e sente enorme satisfação em rea lizar as tarefas de casa É possível inferir que tal aluno mantém uma atitude positiva frente à matemática Respostas desfavorá veis por sua vez indicam uma atitude ne gativa frente ao objeto atitudinal Pode se inferir que um indivíduo apresenta uma atitude negativa frente ao cigarro se este tem uma sensação desagradável ao fumar procura se afastar de pessoas que estão fu mando acha que fumar é inapropriado e tenta convencer seus amigos fumantes a largar o cigarro Para que uma atitude seja formada é necessário que o indivíduo entre em contato com um objeto em particular e emita uma resposta avaliativa Uma atitude não pode ser formada sem que o indivíduo tenha um mínimo de informação sobre o objeto Uma pessoa não pode formar uma atitude frente a sushi por exemplo se ela não tem a mí nima ideia do que seja isso se ela em sua vida nunca viu ouviu falar ou leu a respeito de sushi A partir do momento em que a pessoa experimenta essa comida ela se tor na capaz de responder avaliativamente e de formar uma atitude frente a esse objeto O leitor pode questionar no entanto se é pos sível a formação de atitudes sem que haja o contato direto com o objeto A resposta é claro que sim Muitos nunca lutaram em uma guerra ou foram ao Egito ou pularam de paraquedas porém dispõem de infor mações sobre esses objetos para que pos sam responder avaliativamente sobre eles e consequentemente formarem uma atitude É totalmente plausível que uma pessoa for me uma atitude frente a sushi sem nunca tê lo experimentado por meio das informa ções que ela tem sobre esse objeto é uma comida de origem japonesa feita com arroz avinagrado algas marinhas frutos do mar e peixes geralmente crus Atitude é um construto psicológico que assume uma posição de destaque em psico logia social por ser um dos mais antigos e estudados De fato esse campo já foi defi nido como o estudo das atitudes Thomas e Znaniecki 1918 apud Fazio e Olson 2003 Segundo Ajzen 2001 esse construto conti INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 173 nua a ser atualmente o maior foco de teoria e pesquisa nas ciências sociais e comporta mentais O objetivo deste capítulo é pois descrever o construto atitudes de maneira ampla contextualizando cada tópico com os principais resultados de pesquisa nos últimos anos O capítulo tem início com a conceituação e a descrição da estrutura das atitudes Em seguida apresenta se uma dis cussão acerca da relação entre atitudes e comportamentos seus atributos caracterís ticas processo de formação e mudança de atitudes Por fim é apresentada uma síntese do capítulo e conclusões acerca desse cam po de estudo conceituação de atitude O termo atitude muitas vezes é utilizado de forma indiscriminada do significado que este assume na linguagem cotidiana um grave equívoco que infelizmente tem sido obser vado na literatura acadêmica Segundo Brei 2002 em análise pelo dicionário a pala vra atitude foi inicialmente utilizada como um termo técnico no campo da arte para traduzir a disposição de uma figura em está tua ou desenho Tinha o sentido de postura dada à imagem ou à figura por exemplo atitude da mulher na imagem ou no retra to etc Segundo o dicionário Aurélio Holan da 1986 na linguagem coloquial o termo atitude pode se remeter a 1 Posição do corpo porte jeito postura 2 Modo de proceder ou agir comportamen to procedimento 3 Afetação de comportamento ou procedi mento 4 Propósito ou maneira de se manifestar esse propósito 5 Reação ou maneira de ser em relação a determinadas pessoas objetos situaçãoões etc Na linguagem cotidiana Brei 2002 afirma que a ambiguidade do termo atitude vem de sua origem latina que une dois ter mos actus ação e aptitudo aptidão A distinção entre o termo do dia a dia e o conceito formal de atitude é de suma im portância tanto para a compreensão teóri ca desse fenômeno quanto para a produção empírica nesse campo uma vez que uma definição imprecisa adotada pelo pesquisa dor pode influenciar a escolha do tipo de medida a ser empregada e a interpretação dos resultados obtidos No contexto das ciências sociais o ter mo atitude remete a um construto psicológi co em torno do qual apesar de seu notável desenvolvimento teórico e empírico ainda persistem várias controvérsias acerca de sua definição Analisando a multiplicidade de definições de atitude é possível selecionar entre elas algumas que merecem especial atenção tanto por seus pontos em comum quanto por suas particularidades São desta cadas cinco conceituações principalmente por seu valor histórico A história da pesquisa em atitudes é longa Tem sua origem no século passado Seus antecedentes estão nos estudos so bre atitudes motrizes de Fere 1888 de Langen 1889 e de Munstergerg 1890 apud Solozábal 1981 As definições que se originaram a partir dos estudos de 1920 geraram muitas implicações para as me didas e para seu desenvolvimento teórico Dentre elas pode se citar Allport 1935 e Thurnstone 1931 Allport 1935 p 19 define atitude como um estado mental e neurológico de prontidão organizado por meio da expe riência exercendo uma influência diretiva ou dinâmica sobre a resposta do indivíduo a todos os objetos e situações com que se relaciona Essa definição considera a ati tude como um todo apto a reagir de uma certa maneira dando ênfase às implicações comportamentais que podem ser extensas a todas as situações ou objetos com que se re laciona Alpport 1935 Para Thurnstone 1931 a atitude é um afeto pró ou contra um objeto psicológi co A partir dessa definição várias medidas psicológicas de atitudes foram construídas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 174 tOrres neiva cOLs Doob 1947 conceitua atitude como uma resposta implícita e geradora de im pulsos considerada socialmente significati va na sociedade do indivíduo Observa se nessa análise uma posição behavorista e a não inclusão do comportamento ostensivo sem negar a influência da atitude sobre o mesmo Para Smith Bruner e White 1956 a atitude é uma predisposição para experi mentar uma classe de objetos de certas for mas com afeto característico ser motivado por essa classe de objetos e agir em relação a tais objetos de maneira característica Triandis 1971 definiu atitude como uma ideia carregada de emoção que predis põe um conjunto de ações a um conjunto particular de situações sociais Segundo Olson e Zanna 1993 atitu des têm sido definidas como Avaliação tendência psicológica que é expressa pela avaliação de uma entidade particular com algum grau de favorabilida de ou desfavorabilidade Eagly e Chaiken 1993 p 1 Afeto o afeto associado com um objeto mental Greenwald 1989 p 432 Cognição um tipo especial de conheci mento notamente conhecimento cujo con teúdo é avaliativo ou afetivo Krugglanski 1989 p 298 Predisposições comportamentais o estado de uma pessoa que a predispõe a uma res posta favorável ou desfavorável quanto a um objeto pessoa ou ideia Triandis 1991 p 485 Enfim segundo alguns autores há uma concordância geral de que a atitu de representa uma avaliação sumária de um objeto psicológico capturado em seus atributos dimensionais como bom ruim nocivo positivo prazeroso desagradável gostável não Ajzen e Fishbein 2000 Eagly e Chaiken 1993 Petty et al 1997 Contudo pesquisas recentes mostram que julgamentos avaliativos diferem e mui to de julgamentos não avaliativos Alguns autores sugerem que alguns objetos indu zem reações avaliativas outros sugerem a necessidade dos indivíduos em se engajar em respostas avaliativas Alguns indivíduos possuem maior necessidade de avaliar que outros e por isso produzem mais atitudes Petty e al 1997 Outra questão central está na ideia de que as atitudes são disposições para avaliar objetos psicológicos e isso implica em uma única atitude sobre um objeto Os estudos sugerem que as atitudes mudam mas não há uma substituição e sim uma sobreposi ção da antiga atitude Exemplos seriam ati tudes duais duas diferentes atitudes frente a um mesmo objeto no mesmo contexto uma atitude implícita ou habitual e outra explícita McConnnel et al 1997 avalia ções diferentes do mesmo objeto em con textos diferentes podem ser consideradas evidências de atitudes múltiplas frente ao mesmo objeto ou atitudes frente a diferen tes objetos psicológicos atitudes contexto dependentes muitos autores afirmam que as inconsistências entre atitudes e compor tamentos se devem à existência de múlti plas atitudes deste tipo frente a alvos sociais McConnnel et al 1997 Observa se que as definições apresen tadas divergem em palavras utilizadas mas tendem a caracterizar as atitudes sociais como variáveis não observáveis porém di retamente inferíveis de observações e como sendo integradas a partir dos seguintes componentes cognitivo afetivo e compor tamental Contudo como também é possível ver pelas definições apresentadas conceito e estrutura estão muito interligados cons tatando se que também quanto à estrutura não existe um acordo entre os teóricos A estrutura interna envolve a discussão sobre quantos componentes fazem parte da atitu de Esse enfoque inclui algumas tendências principais bicomponente afeto e cognição unicomponente afeto e tricomponente afeto cognição e comportamento Em uma primeira fase do estudo das atitudes a abordagem multicomponentes foi mais comum entre os pesquisadores É a visão da atitude como constituída de INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 175 sentimento pensamento e ação Tal distin ção vem desde os filósofos gregos Depois passou se a enfatizar a visão unidimensio nal e posteriormente a definição tripartite voltou a ser mais aceita Triandis 1991 Mensuração das atitudes Vários instrumentos têm sido utilizados para se medir as atitudes Os métodos mais comuns são as medidas de autodescrição as medidas fisiológicas e as técnicas observa cionais Medidas autodescritivas Uma grande quantidade de escalas auto descritivas têm sido desenvolvidas com o propósito de se medir as atitudes As escalas mais comuns são Escalas Likert e Tipo Likert as escalas Likert contêm uma série de afirmativas sobre um objeto Os respondentes devem indicar seu nível de concordância ou discordância com cada afirmativa em termos de uma escala de 5 pontos p ex concordo fortemente concordo indife rente discordo discordo fortemente As escalas tipo Likert apresentam variações no número de pontos ou na ancoragem p ex 100 das vezes sempre ocasio nalmente etc Escalas de diferencial semântico aqui os respondentes avaliam um objeto em termos de vários itens bipolares desenha dos para medir três dimensões nível de favorabilidade bom ruim poder fraco forte e atividade ativo passivo Escala de Thurstone as escalas de Thurstone contêm uma série de afirmativas que já foram avaliadas previamente em termos de favorabilidade e apenas pedem que o respondente marque as afirmativas com as quais ele concorda Escala de Guttman as afirmativas na escala de Guttman são ordenadas em uma hierarquia de forma que a concor dância com uma afirmativa implica que o respondente também concorda com as afirmativas que estão em um nível inferior da hierarquia Escala de distância social essas escalas são usadas para medir as atitudes com relação a diferentes grupos nacionais raciais e étnicos Quando são utilizadas os respondentes indicam sua inclinação para ter vários níveis de contato com diferentes grupos alvo Pelo fato de algumas vezes as pessoas não estarem dispostas a revelar suas verda deiras atitudes as escalas autodescritivas nem sempre nos dão as melhores informa ções Assim para reduzir a inadequação dessas escalas pesquisadores desenvolve ram várias técnicas alternativas Uma des sas técnicas a bogus pipeline Jones e Sigall 1971 refere se a dizer aos participantes que foram conectados a uma máquina com eletrodos e que essa máquina irá medir suas respostas verdadeiras por meio do monito ramento de mudanças fisiológicas embora a máquina não possa fazer isso Medidas fisiológicas As medidas fisiológicas baseiam se no fato de que uma vez que as respostas emocionais são acompanhadas de reações fisiológicas medidas como a resposta galvânica de pele eletromiograma e dilatação pupilar podem ser utilizadas para se avaliar as atitudes O problema com essas medidas é que embora elas possam demonstrar se uma pessoa está tendo uma reação emocional frente a um objeto elas não podem indicar a intensida de ou a direção dessa reação técnicas observacionais Finalmente as técnicas observacionais para a medição das atitudes variam de pouco estru turadas e informais até técnicas altamente estruturadas e formais Uma técnica pouco estruturada e informal a observação parti INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 176 tOrres neiva cOLs cipante funciona ao fazer com que o obser vador participe ativamente nas atividades do experimento Uma técnica mais estrutu rada a Análise do Processo Interativo IPA de Bales 1950 é usada para avaliar como as pessoas interagem em pequenos grupos No IPA o observador avalia as verbalizações dos membros do grupo em termos de 12 ca tegorias criadas para medir as orientações sociais emocionais e de tarefa coMPonentes das atitudes A perspectiva mais proeminente de estudo da estrutura interna das atitudes é o mode lo de três componentes segundo o qual as respostas eliciadas por um objeto atitudinal podem pertencer a três classes cognitiva afetiva ou comportamental A categoria cog nitiva é composta por pensamentos cren ças percepções e conceitos acerca do objeto atitudinal A categoria afetiva por sua vez traz sentimentos e emoções associadas ao objeto da atitude Por fim a categoria com portamental engloba ações ou intenções para agir O esquema abaixo ilustra as três clas ses de resposta frente ao refrigerante Coca cola A constatação do fato de que a Coca cola é um refrigerante que possui cafeína corresponde a uma representação cognitiva do objeto Coca cola assim como a identi ficação de sua logomarca letras cursivas brancas sob um fundo vermelho ou preto a constatação de que esta é uma bebida gaseificada de cor escura de origem norte americana comercializada geralmente em garrafas ou latas em bares restaurantes mercados e etc Quando o objeto atitudinal é de alguma forma qualificado ou a este é associado alguma avaliação ou juízo de va lor essa resposta pertence a categoria afe tiva Eu gosto de Coca cola Coca cola é saborosa e refrescante me sinto satisfeito quando bebo Coca cola são exemplos de respostas afetivas A constatação de uma inclinação para ação em direção ao objeto atitudinal como a decisão de comprar Coca cola representa uma resposta pertencente à categoria comportamental O modelo de três componentes descre ve a estrutura interna das atitudes de uma maneira muito conveniente pois distingue claramente as categorias de resposta por suas definições e parece exaurir o universo de possibilidades de respostas atitudinais seria difícil pensar em uma resposta frente a um objeto atitudinal que não se encaixe em uma das três categorias cognitiva afetiva e comportamental Fazio e Olson 2003 Apesar de ser o modelo mais difundido as pesquisas empíricas apresentam resultados conflitantes referentes à validação desse modelo principalmente quanto à validade discriminante a análise fatorial não neces sariamente distingue as três categorias de resposta como três fatores independentes Figura 81 estrutura tricomponentes da atitude Componente cognitivo Cocacola tem cafeína Componente afetivo Eu gosto de Cocacola Componente comportamental Vou comprar Cocacola Cocacola INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 177 Por outro lado alguns teóricos argu mentam que sentimentos e emoções podem preceder crenças sobre o objeto atitudinal e que portanto as respostas atitudinais são exclusivamente de natureza afetiva Conforme essa perspectiva conhecida como mono componente ou unicomponente o aspecto avaliativo da atitude é enaltecido sendo esta frequentemente mensurada por meio de escalas bipolares representando o grau de favorabilidadedesfavorabilidade do indivíduo frente ao objeto atitudinal Outros teóricos assumem uma perspectiva bicomponente segundo a qual as respostas atitudinais pertencem a duas categorias ape nas cognitiva e afetiva Essa tendência se consagrou principalmente em virtude da de finição de Thurnstone 1931 que originou medidas de atitudes usadas até o presente momento Em virtude de se mencionar os componentes da atitude faz se necessário abordar cada um deles nos tópicos seguin tes do texto enfatizando principalmente os resultados de pesquisas empíricas o componente cognitivo Considere a seguinte situação um funcioná rio constata que a empresa onde ele trabalha passará por uma mudança Segundo Lines 2005 p 11 para que haja uma carga afe tiva pró ou contra um objeto social definido faz se necessário que se tenha alguma re presentação cognitiva desse objeto Dessa forma o funcionário buscará saber por exemplo do que se trata a mudança quais são seus objetivos suas causas seu alcance certamente se lembrará de situações de mu dança organizacional já vividas por ele por outras pessoas fará comparações e etc No dizer de Rosenberg e colaborado res 1960 as cognições incluem percep ções conceitos e crenças acerca do objeto da atitude e são normalmente eliciadas por perguntas verbais na forma oral ou escrita A representação cognitiva de um ob jeto atitudinal é um elemento indispensá vel para que a pessoa forme uma atitude em relação ao mesmo Nesse caso específi co o funcionário tem percepções crenças e conceitos acerca da mudança dentro da empresa resultante de informações cons tatações pessoais e experiências vivenciadas anteriormente que formam uma significa ção de mudança dentro dessa organização Estes fatores determinam afetos favoráveis ou desfavoráveis em relação à mudança or ganizacional Sapp 2001 argumenta que as cren ças não são formadas em isolamento de crenças acerca de objetos substitutos ou seja as pessoas avaliam os atributos de um objeto em relação aos atributos de objetos que elas percebem como possíveis substi tutos No exemplo anterior o funcionário busca simultaneamente informações acer ca da mudança organizacional por qual está passando sua empresa e outros tipos de mu dança que sua empresa já tenha passado ou casos de mudanças em outras organizações ou enfrentadas por pessoas conhecidas etc Dessa forma a compreensão da consistência lógica de crenças sobre objetos em compara ção a crenças acerca de objetos substitutos é muito importante para a predição de ati tudes frente ao objeto Sapp 2001 inves tigou a consistência lógica de um conjunto de crenças de indivíduos japoneses sobre comer carne proveniente de três países e o efeito das inconsistências lógicas do conjun to de crenças para produtos substitutos na estimativa das atitudes frente ao consumo de carne Seus resultados foram os de que os indivíduos usam objetos substitutos para melhorar a consistência de suas crenças so bre determinado objeto Então os estudos sugerem que o aspecto cognitivo de um ob jeto atitudinal depende em larga escala do aspecto cognitivo de objetos similares o componente afetivo Segundo Triandis 1971 p 11 o compo nente afetivo é a forma como uma pessoa se sente em relação a um objeto atitudinal sendo geralmente determinada pela associa ção prévia do objeto de atitude com estados agradáveis ou desagradáveis INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 178 tOrres neiva cOLs Para Fishbein 1963 o componente afetivo é definido como sentimento pró ou contra um determinado objeto social Este autor argumenta que as crenças e os comportamentos associa dos a uma atitude são apenas elementos pelos quais se pode medir a atitude não sendo porém parte integrante dela Sen do a atitude uma variável interveniente é como tal inferível de um fato mas não diretamente observável Fishbein 1963 p 36 O componente afetivo tem conotação avaliativa e representa um sentimento po sitivo ou negativo vinculado a um objeto determinando uma atitude É o caso dos funcionários que formam atitudes positivas ou negativas em relação à mudança organi zacional como efeito do teor de suas crenças a respeito da mesma Essas atitudes podem ser observadas por afirmações verbais escri tas ou faladas de gosto ou não do sujeito em relação ao objeto da atitude mudança é uma coisa boa para todos na empresa estou inseguro em relação a essa mudan ça e etc Os componentes das atitudes foram estudados por Aikman Crites e Fabrigar 2006 no contexto de atitudes frente à co mida Esses autores concebem as atitudes como julgamentos avaliativos globais sobre determinado objeto os quais podem com preender diferentes tipos de informações cognitivas afetivas etc Por exemplo uma atitude levemente positiva em relação a ba con 1 em uma escala bipolar de 4 a 4 pode refletir um sentimento ou avaliação positiva frente ao sabor do alimento 4 e uma percepção negativa de seus benefí cios à saúde 3 Dessa forma os autores conduziram um estudo com o objetivo de investigar que tipo de informação contribui para a aversão ou preferência das pessoas pelos alimentos A pesquisa teve um caráter explorató rio no qual os participantes indicaram a im portância das características das comidas e as reações emocionais frente uma variedade de alimentos para a determinação de suas atitudes A análise fatorial identificou cinco bases informacionais das atitudes frente a comida 1 Afeto positivo ex estimulante prazero so refrescante vívido etc α 092 2 Afeto negativo depressivo envergonha do culpado enauseado etc α 087 3 Qualidades sensoriais gerais aparência cor sabor odor etc α 084 4 Qualidades sensoriais específicas cremo so gorduroso molhado salgado doce etc α 078 5 Qualidades cognitivas abstratas saudável leve seguro etc α 075 A regressão dos cinco fatores com os diversos tipos de comida avaliados indicou que afeto positivo afeto negativo e qualida des sensoriais gerais são importantes pre ditores de atitudes frente à comida Esses resultados indicam que as pessoas formam suas atitudes frente à comida com base em crenças acerca das qualidades sensoriais da comida componente cognitivo e afetos atribuídos à comida componente afetivo o componente comportamental Segundo Newcomb Turner e Converse 1965 as atitudes humanas são propiciado ras de um estado de prontidão que se ati çado por uma motivação específica resulta rá em um determinado comportamento Já os autores Katz e Stotland 1959 veem nas atitudes a própria força motivadora da ação Essa afirmativa é muito controversa já que a relação entre atitude e comportamento não possui uma grande base empírica Ajzen e Fishbein 2000 Ajzen 2001 Newcomb Turner e Converse 1965 representam da seguinte forma o papel das atitudes na determinação do comporta mento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 179 Observa se na representação de Newcomb Turner e Converse 1965 que as atitudes sociais criam um estado de pre disposição à ação que quando combinado com uma situação específica desencadean te resulta em comportamento Contudo tal afirmativa pode ser questionada por alguns estudos na área Outra teoria que aborda a questão da atitude e do comportamento é a teoria da ação racional de Fishbein e Ajzen 1975 e a teoria da ação planejada de Ajzen 1988 Outras informações sobre a relação entre comportamento e atitude serão apresenta das posteriormente Enfim pode haver uma relação entre atitudes e comportamento mas esta nem sempre é a melhor preditora do comporta mento em questão Vários fatores situacio nais e culturais se apresentam em algum grau como preditores de comportamento A relação entre atitudes e comportamento será discutida mais adiante a visão unicomponente Nesta concepção unitária a atitude foi con ceituada como uma quantidade de afeto a favor ou contra algum objeto Devido a essa concepção os autores concluíram que a me lhor forma de medi la seria pela localização do sujeito em uma dimensão bipolar afetiva ou avaliativa frente a um objeto A atitude é vista como uma variável la tente ou subjacente que se presume influen ciar ou guiar o comportamento Essa visão leva à implicação de que as atitudes não são idênticas às respostas exteriorizadas Assim as atitudes não podem ser observadas dire tamente mas inferidas a partir do compor tamento A Figura 83 representa a noção das atitudes pela visão unicomponente Festinger 1957 foi um dos primeiros psicólogos sociais a investigar empiricamen te o impacto das atitudes no processamento de informação Ele desenvolveu a hipótese de seletividade que propõe que antes de Figura 82 influência das atitudes sobre o comportamento Experiências pessoais Atitudes atuais da pessoa Situação atual Comportamento Figura 83 Os componentes da atitude Reproduzido de Eagly e Chaicken 1993 Resposta cognitiva Resposta afetiva Respostas comportamentais Estímulo Atitude INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 180 tOrres neiva cOLs adotar uma postura com relação a um obje to as pessoas aceitam receber informações que dão suporte e informações que refutam suas ideias Contudo uma vez comprome tidas com uma postura as pessoas selecio nam as informações que dão suporte a suas posições e excluem aquelas que as contradi zem A hipótese de seletividade não foi to talmente confirmada mas algumas pesqui sas demonstraram que as pessoas tendem a avaliar as informações que são consistentes com suas atitudes como mais positivas e me morizam essas informações mais facilmen te Pomerantz et al 1995 Finalmente Greenwald e Banaji 1995 sugerem que as atitudes podem ter um efeito implícito nos julgamentos sociais e que tal efeito pode explicar diversos fenômenos incluindo o efeito do halo e o efeito da mera exposição As pesquisas na área de atitudes ques tionam a visão multicomponente em virtude de algumas correlações fracas entre atitudes e comportamento O próximo tópico tratará dessa questão coMPortaMento e atitude De maneira geral as pessoas acreditam que sua avaliação global sobre determinado ob jeto determina a forma como elas reagem ou se comportam frente a esse objeto No entanto a noção de que as atitudes causam comportamentos é muito frágil tendo em vista que um único comportamento é tipi camente influenciado por vários outros fa tores além das atitudes O simples fato de uma pessoa possuir atitudes positivas frente a métodos anticoncepcionais não determina o comportamento de uso dos mesmos Da mesma forma possuir atitudes positivas em relação a determinado produto alimentício não é suficiente para a predição do compor tamento de compra e consumo desse produ to Ajzen 2001 O primeiro a relatar que não existe uma relação direta de causalidade entre ati tudes e comportamentos foi o psicólogo so cial Richard LaPiere em 1934 Nessa época havia um forte preconceito contra os chine ses nos Estados Unidos alguns estabeleci mentos mantinham placas na porta com a inscrição proibida a entrada de chineses e cães Este pesquisador que é de raça bran ca viajou por várias cidades dos EUA acom panhado de um jovem casal de estudantes chineses registrando a reação dos funcioná rios dos diversos hotéis restaurantes e cafés que visitaram Eles foram atendidos em 66 hotéis e 184 restaurantes e cafés sendo que apenas um hotel recusou se a atendê los Seis meses depois LaPierre enviou um ques tionário pelo correio para cada estabeleci mento visitado o qual continha a pergunta Você aceitaria chineses como clientes em seu estabelecimento Dos 81 restaurantes e 47 hotéis que responderam 92 disseram que não tendo os restaurantes afirmado que dependia das circunstâncias Resultados bastante similares foram encontrados por outros pesquisadores em replicações desse experimento Lapiere 1934 Alvo de algumas ressalvas metodo lógicas esse clássico estudo ilustra uma discrepância saliente entre atitudes e com portamentos Todavia Lima 2004 faz uma análise do experimento de LaPierre elucidando que a generalidade do indicador das atitudes e a especificidade da situação observada parece funcionar de modo a ma ximizar a discrepância entre as atitudes e o comportamento No estudo de LaPierre perguntava se na carta se aceitariam chineses como clien tes o que com sua formulação geral en via os respondentes para o estereótipo de chinês e além do mais podia ser utilizada pelos respondentes de forma a dar uma imagem respeitável do estabelecimento de acordo com as normas vigentes A situação observada pelo contrário é extremamente específica os chineses encontravam se acompanhados por um branco provavelmente apresentavam um bom status socioeconômico tinham um aspecto de saber comportar se corre tamente e encontravam se de passagem Isto é não tinham nada a ver com o chinês INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 181 que os funcionários do restaurante visua lizaram quando responderam à escala de atitudes Lima 2004 p 209 Haveria portanto uma diferença en tre o poder preditivo das atitudes frente a comportamentos em um nível mais geral ex roubar e das atitudes frente a compor tamentos mais específicos roubar um pão em uma padaria sem uso de violência para alimentar seu filho faminto Analisando os três componentes das atitudes e tomando como ponto de apoio a teoria da consistência deve se concluir que as atitudes são internamente consistentes Esta consistência é mais notória nos compo nentes cognitivo e afetivo A inconsistência aparente reside entre esses componentes e o comportamento podendo ser explicada pelo fato de as pessoas possuírem atitudes não apenas em relação aos objetos em si como também em relação à situação que os envolve Por exemplo um fumante pode recusar se a acender um cigarro em um restaurante pois este apesar de manter atitudes fortemente positivas frente ao ci garro possui atitudes negativas em relação à promoção de uma situação de incômodo e desconforto em outras pessoas Ajzen e Fishbein 2000 Triandis 1971 p 14 salienta que atitudes envolvem o que as pessoas pensam sentem e como elas gostariam de se comportar em relação a um obje to atitudinal O comportamento não é apenas determinado pelo que as pessoas gostariam de fazer mas também pelo que elas pensam que devem fazer e pelas consequências esperadas de seu compor tamento Além disso as pessoas têm atitudes em relação a determinados objetos de uma situação e também em relação à situação como tal Ajzen 2001 conclui que o fato de possuirmos atitudes em relação a certos ob jetos sociais e às situações nas quais estão imersos explica certas inconsistências apa rentes entre a atitude e o comportamento Por outro lado não são só as atitudes frente a comportamentos específicos que permitem a previsão das ações mas também as atitu des frente a comportamentos gerais Wiegel e Newman 1976 apud Lima 2004 mos tram que as atitudes ambientais se correla cionam de forma mais significativa com um índice de comportamentos pró ambientais gerais do que com o de comportamentos es pecíficos reciclagem assinar uma petição a favor de causas ambientais etc De maneira geral as atitudes estão correlacionadas com o comportamento Stocké 2006 buscou analisar se as atitu des de respondentes frente a surveys pes quisas de levantamento de dados por meio de aplicação de questionários explicam o comportamento de responder ou não aos itens A hipótese central desse autor era de que os respondentes com atitudes positivas frente a surveys adotariam uma orientação cooperativa e estariam mais propensos a responder todos os itens e questões difíceis e delicadas como fornecer dados acerca da renda familiar Foram testadas as deci sões de se recusar a fornecer informações na pesquisa o comportamento de deixar o item em branco e o percentual de respostas não sei Além disso o julgamento geral do respondente acerca de sua vontade de par ticipar da pesquisa também foi incluído Os resultados indicaram que as atitudes frente a surveys são um importante determinante para a predisposição dos respondentes com pletarem o questionário ou deixarem itens em branco Os participantes com atitudes mais positivas frente a surveys apresentaram os menores valores em todos os indicadores de não resposta recusa em fornecer infor mações percentual de itens em branco e respostas não sei Para Sivacek e Crano 1982 apud Chaiken Wood e Eagly 1996 a correspon dência entre atitudes e comportamento será tanto maior quanto maior for o interesse in vestido pela pessoa no conteúdo atitudinal ou seja quanto maior o interesse no objeto maior será a congruência entre a atitude e o comportamento de um indivíduo Por exem INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 182 tOrres neiva cOLs plo se o casamento assume uma posição central na vida de uma pessoa seus com portamentos serão mais congruentes com suas atitudes frente ao casamento em com paração a uma pessoa cujo casamento não assume um papel importante em sua vida As atitudes frente ao casamento desta pes soa terão um fraco valor preditivo de seus comportamentos A tentativa de estudar a discrepância entre atitude e comportamento estendeu se por algumas vias diferentes Chaiken Wood e Eagly 1996 relatam que as pesquisas re ferentes à relação atitude comportamento em psicologia social têm configurado duas tradições teóricas A primeira delas consiste em uma família de modelos de expectativa valor que consideram as atitudes um im portante determinante do comportamento mediado pela intenção em realizar o com portamento Na tradição teórica alternativa o comportamento é predito por meio de ati tudes frente ao objeto sem especificações de passos intermediários teoria da ação racional Dentro da primeira tradição teórica encon tram se os estudos de Ajzen e Fishbein 1980 Esses autores afirmam que as atitu des são importantes fatores na previsão do comportamento humano mas distinguem entre as atitudes gerais relativas a um ob jeto em particular e as atitudes específicas referentes a um comportamento relacionado com o objeto da atitude ou seja a percepção do que outras pessoas esperam que ela faça e sua motivação em conformar se a essa ex pectativa norma subjetiva Enquanto as ati tudes gerais influenciam de forma indireta como uma tendência para ação as atitudes específicas são úteis para prever um com portamento específico Por exemplo uma pessoa que tem atitudes positivas frente à utilização de sites de relacionamento salas de bate papo Orkut e etc pode optar por não acessá los por meio do computador da empresa onde trabalha conformando se com as expectativas de seus superiores os quais não são favoráveis à utilização desse tipo de site no local de trabalho Da mesma forma um indivíduo pode manter atitudes fortemente positivas frente a assistir a no velas porém evita fazê lo na presença de seus colegas de faculdade pois supõe que assistir a novelas não é um comportamen to aceito por aquele grupo Nesses casos a norma subjetiva a percepção do indivíduo do que as pessoas que são importantes para ele esperam que ele faça predirá melhor o comportamento do que a atitude geral Na teoria da ação racional Ajzen e Fishbein 1980 consideram que todo com portamento é uma escolha uma opção pon derada de alternativas em que o melhor preditor do comportamento será a intenção comportamental sendo a atitude apenas um dos dois fatores importantes na decisão Essa atitude frente ao comportamento é vis Figura 84 relação entre comportamento e atitude Modelos de expectativa valor Atitudes Atitudes Intenção em realizar o comportamento Comportamento Comportamento ð ð ð Tradição teórica alternativa INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 183 ta nesse modelo com as perspectivas de expectativa valor ou seja como o resultado somatório das crenças acerca das consequ ências do comportamento expectativa ele vadas pela avaliação dessas consequências valor A figura 85 ilustra o modelo dos autores Outro fator importante na definição da intenção comportamental tenta integrar as pressões sociais e refere se à norma subjeti va em relação ao comportamento isto é às pressões de outros significantes que afetam a realização do comportamento Também essa norma subjetiva é vista como o resul tado somatório das crenças normativas expectativas acerca do comportamento que os outros significantes pretendem que o in divíduo adote reforçado pelo valor dessas crenças a motivação para seguir cada um dos referentes Concluindo a teoria da ação racional vê a atitude como um dos preditores do comportamento podendo em certos tipos de comportamentos ou em certas popula ções a norma subjetiva ter mais peso na de terminação da intenção do comportamento Por isso o modelo da ação racional inclui ainda uma variável intermediaria referente à importância das atitudes e das normas na definição da intenção comportamental Eagly e Chaiken 1993 encontram correlações significativas entre a intenção e o comportamento variando com a proximi dade temporal do comportamento da espe cificidade da situação apresentada e da ex periência anterior do indivíduo na situação O modelo de Azjen foi utilizado por Chiou Huang e Chuang 2005 com o in tuito de investigar as relações entre atitudes frente ao objeto e à percepção de norma so cial no contexto de intenção de compra de merchandise CDs camisetas pôsteres e etc de grupo musical por adolescentes em Taiwan A pesquisa foi desenvolvida com uma amostra de 471 participantes do sexo feminino a qual foi dividida em dois gru Figura 85 teoria da ação racional Crença de que o comportamento provoca certos resultados Avaliação dos resultados Crença de que os indivíduos pensam que a pessoa deve ou não concretizar o comportamento Motivação para seguir o que os grupos ou indivíduos pensam sobre o comportamento Intenção Comportamento Atitude Importância relativa Fatores atitudinais do comportamento Norma subjetiva relativa ao comportamento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 184 tOrres neiva cOLs pos de acordo com escore obtido em uma escala de afinidade com o grupo musical F4 um dos grupos de música pop de maior ex pressão entre as adolescentes de Taiwan grupo de adoradores do F4 N93 e grupo de não adoradores do F4 N378 Os resultados referentes ao grupo de adoradores do F4 apontaram uma correla ção significativamente positiva entre atitu des frente ao F4 e intenções de compra de merchandise r 051 p 00001 A re lação entre norma percebida e intenção de compra não foi significativa indicando que aquelas pessoas que adoram o F4 são mais propensas a formar suas intenções de com pra de merchandise com base em fatores pessoais como atitudes frente ao objeto e não em fatores sociais como percepção de norma social Para os não adoradores do F4 os resultados apontaram uma correlação significativamente positiva porém modesta entre norma social e intenção de compra de merchandise r032 p 00001 Esses resultados sugerem que aqueles que não adoram o F4 são mais propensos a formar suas intenções de compra com base em fato res sociais como a expectativa de julgamen to das pessoas de seu convívio social Trafimow e Finlay 2001 argumen tam que não só as pessoas podem estar sob controle atitudinal ou normativo para uma extensa variedade de comportamentos mas também comportamentos podem estar sob controle atitudinal ou normativo para uma vasta quantidade de pessoas Esses autores realizaram um estudo no qual os partici pantes responderam a escalas de atitudes norma subjetiva e intenções para cada um dos 30 comportamentos selecionados ter fi lhos comer vegetais regularmente ir à igre ja usar o cinto de segurança escolher uma profissão que beneficia a sociedade den tre outros Os resultados sugerem que as duas formas de controle podem acontecer simultaneamente ou seja algumas pessoas estariam mais sob controle atitudinal que normativo em relação a uma grande varie dade de comportamentos enquanto outras parecem estar mais sob controle normativo que atitudinal Simultaneamente alguns comportamentos estariam mais sob controle atitudinal que normativo para uma grande quantidade de pessoas ao passo que para outros comportamentos o oposto seria ver dadeiro Os dados indicam por exemplo que a influência social pode ser estudada considerando se pessoas comportamentos ou ambos Muitos foram os estudos com a inten ção de avaliar a teoria da ação racional e a diversidade de considerações apontadas porém Ajzen 1988 reformula o mode lo mantendo sua estrutura básica acres centando como determinante da intenção comportamental uma nova variável o controle percebido sobre o comportamento Essa variável a qual corresponde à dificul dade percebida na realização do compor tamento permite incluir diretamente a ex periência anterior com o comportamento Assim comportamentos habituais são per cebidos como mais fáceis de serem postos em prá tica e portanto com maior nível de controle percebido Essa percepção de controle sobre o comportamento parece ter consequências motivacionais ao nível de intenção mas também de uma forma me nos ponderada diretamente sobre o com portamento Essa extensão da teoria inicial tem permitido aumentar significativamente a capacidade preditiva do modelo em mui tas situações No exemplo da compra de merchandise de grupo musical citado an teriormente o controle percebido sobre o comportamento pode ser ilustrado em uma situação em que as atitudes e a percepção de norma subjetiva de uma pessoa influen ciam positivamente a intenção de compra de CDs camisetas pôsteres etc porém a percepção de falta de dinheiro para com prar ou a ausência de tempo o desconhe cimento do local de venda ou até mesmo a falta de costume de comprar esse tipo de material pode influenciar negativamente o comportamento Manstead Proffitt e Smart 1983 ci tados por Lima 2004 salientam que a in trodução de variáveis emocionais na predi ção da intenção comportamental aumenta o poder preditivo do modelo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 185 abordagens alternativas A teoria da ação racional de Azjen enfatiza comportamentos cujas consequências são avaliadas antes da ação comportamental Conforme Chaiken Wood e Eagly 1996 dependendo do grau em que é esperado que um comportamento produza bons re sultados e a aprovação das outras pessoas o indivíduo tende a se engajar nesse com portamento o qual terá mais probabilidade de acontecer No entanto a teoria parece si lenciosa em relação a comportamentos que não necessariamente seriam mediados pela intenção comportamental ou seja compor tamentos relativamente mais espontâneos Segundo Fazio e Olson 2003 há várias evidências de que atitudes podem exercer uma influência direta no comportamen to sem serem mediadas por intenções ou mesmo pensamentos As pesquisas que se desenvolveram nessa linha constituíram o que Chaiken Wood e Eagly 1996 deno minaram de tradição teórica alternativa do estudo da relação atitude comportamento Os aspectos automáticos e implícitos do processamento humano de informação têm ocupado um papel de destaque na psicolo gia social e particularmente nas pesquisas de atitudes Vários teóricos exploraram a ideia de que alguns comportamentos podem ser produtos de predisposições aprendidas as quais podem ser denominadas de hábitos Chaiken Wood e Eagly 1996 Segundo es ses autores os processos cognitivos que con trolam tais comportamentos podem ser con ceituados de automáticos podendo ocorrer sem o controle consciente do indivíduo Fazio e Zanna 1981 em seus estu dos analisam que as atitudes muito acessí veis orientam o comportamento por meio da ativação de processos automáticos Em seus trabalhos observou se a importância da forma como a atitude tinha sido formata da na predição do comportamento ou seja as atitudes que se formam com base em experiências diretas são mais preditoras do comportamento do que as que se baseiam na experiência indireta O autor explica tal resultado salientando a maior confiança e certeza dos indivíduos cujas atitudes se ba seiam em experiências diretas Posteriormente Fazio Chen Mcdonel e Sherman 1982 mostraram que os indi víduos que têm suas atitudes baseadas na experiência direta respondem em escalas de atitudes informatizadas com um tempo de latência menor e apresentam maior corres pondência entre atitudes e comportamento Ainda sob essa linha de estudo Fazio 1990 mostrou que há uma ativação auto mática das atitudes altamente acessíveis na presença do objeto de atitude o que levaria por meio da centralização da atenção sele tiva nos aspectos congruentes com a atitu de a uma definição da situação de forma a tornar altamente provável a ocorrência do comportamento Considerando o modelo MODE Moti va cion and Oportunity as Deter mi nants proposto por Fazio 1990 as atitudes in fluenciam os comportamentos Suponhamos que um indivíduo em um ambiente organi zacional seja informado de um processo de mudança interna Essa notícia ativa sua ati tude negativa relativa à mudança fazendo o lembrar das consequências de uma mudança dentro da organização crenças congruentes com a atitude Desse modo a implantação de um processo de mudança é vista como perigosa para o próprio indivíduo definição dos acontecimentos tornando provável a adesão de um comportamento de resistên cia ou protesto A definição do acontecimen to pode ainda ser influenciada pelas normas do grupo em que o indivíduo se insere De acordo com a ideia de que atitu des podem produzir uma tendência ao com portamento sem a percepção consciente do indivíduo Greenwald e Banaji 1995 in troduzem o conceito de atitudes implícitas Em contraste com as atitudes explícitas que são prontamente acessíveis cognitivamente e baseadas em crenças salientes as atitudes implícitas são difíceis de serem identificas introspectivamente e são baseadas em afe tos profundamente mantidos A distinção entre atitudes implícitas e explícitas aumentou a busca por métodos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 186 tOrres neiva cOLs mais precisos e confiáveis de mensuração desse construto Segundo Zhou e Wang 2007 as medidas de atitudes explícitas são diretas e dependem da habilidade do indiví duo de acessar precisamente suas atitudes e de sua vontade de reportá las ao pesquisa dor Esse aspecto é acentuado especialmen te quando a pesquisa trata de atitudes que envolvem questões sociais sensíveis como preconceito ou questões de gênero por exemplo As medidas de atitudes implícitas por outro lado envolvem julgamentos sob controle da ativação automática das atitudes quando não há percepção consciente de que as atitudes estão sendo expressas Segundo Cunningham e colaboradores 2001 dentre os métodos mais influentes de medida de ati tudes implícitas estão a técnica avaliativa pri ming Fazio Sanbonmatsu Powell e Kardes 1986 e o teste de associação implícita IAT Greenwald Mcghee e Schwartz 1998 Um aspecto que se destaca nessa linha teórica e que tem sido alvo de investigação empírica é a ideia de que atitudes implíci tas e explícitas podem estar dissociadas ou seja atitudes implícitas podem contradizer atitudes explícitas frente ao mesmo objeto sem causar dissonância cognitiva Zhou e Wang 2007 Zhou e Wang 2007 pesquisa ram esse fenômeno no contexto de atitudes frente a pessoas ricas na China Os autores supunham que em um país em desenvolvi mento como a China onde existe uma gran de diferença entre ricos e pobres as atitudes frente aos ricos poderiam ser um constru to complexo pois apesar de as pessoas se referirem aos ricos como bem sucedidos inteligentes e etc eles também são vistos como arrogantes prepotentes frios e etc Os autores relatam que antes do grande desenvolvimento econômico vivenciado por esse país na última década existia uma in tensa e difundida ideologia de que os ricos eram maus e os pobres virtuosos Além disso casos de corrupção em que pessoas conseguiram suas fortunas por meios ilíci tos contribuíram para que muitos chineses se sentissem desprivilegiados e injustiçados em relação aos ricos Por outro lado com o desenvolvimento da economia chinesa au mentaram as possibilidades de as pessoas se tornarem bem sucedidas e assim o desejo de pertencerem à classe dos ricos Os au tores relatam que uma das mais populares saudações de final de ano entre os chineses é que você ganhe mais dinheiro indican do que no nível afetivo as pessoas se iden tificam com a riqueza O estudo conduzido por esses autores consistiu na utilização de medidas implícitas e explícitas para acessar atitudes frente aos ricos em uma amostra de estudantes universitários chineses Os resultados das duas medidas de atitudes se apresentaram significativamente diferentes e não correlacionados entre elas sugerindo dissociação entre atitudes implícitas e explí citas entre os participantes Os participan tes mostram uma atitude explícita negativa frente aos ricos e ao mesmo tempo atitude implícita positiva corroborando as hipóte ses dos autores Seguindo a mesma linha teórica e uti lizando medidas similares White Jackson e Gordon 2006 encontraram dissociação entre atitudes explicitas positivas e atitu des implícitas fortemente negativas fren te atletas portadores de deficiência física Cunningham e colaboradores 2001 encon traram dissociação entre medidas implícitas e explícitas de atitudes raciais participantes autorreportaram simultaneamente atitudes explícitas não preconceituosas e uma dificul dade implícita em associar pessoas negras com atributos positivos No estudo de rea lizado por Siegrist Keller e Cousin 2006 medidas implícitas revelaram atitudes nega tivas frente a estações de energia nuclear as quais não foram detectadas por medidas explícitas Os resultados de Sherman e cola boradores 2003 mostraram que indivídu os fumantes apresentaram dissociação en tre atitudes implícitas e explícitas frente ao cigarro Indivíduos não fumantes por sua vez mantinham atitudes implícitas e explí citas fortemente negativas frente ao cigarro corroborando a hipótese da congruência en tre atitudes e comportamento Baron e Banaji 2006 desenvolveram um estudo com o objetivo de examinar o de senvolvimento de atitudes raciais implícitas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 187 Resultados de estudos prévios apontaram que crianças norte americanas brancas co meçam a reportar atitudes explícitas negati vas frente a membros de seu exogrupo por volta dos 3 anos Tais atitudes começam a declinar em direção à neutralidade em tor no dos 7 anos até desaparecerem aos 12 O que é desconhecido no entanto é o desen volvimento paralelo de associações automá ticas implícitas de atributos positivos e ne gativos frente a categorias raciais O estudo dos autores consistiu na aplicação de medi das de atitudes implícitas e explícitas frente a pessoas brancas e negras em três grupos de participantes um grupo de crianças de 6 anos um grupo de crianças de 10 anos e um grupo de adultos Os resultados mostraram que o grupo de crianças de 6 anos apresen taram um viés implícito pró pessoas brancas e anti pessoas negras o qual foi repetido nas medidas explícitas de autorrelato indican do uma associação entre atitudes implícitas e explícitas O viés implícito pró pessoas brancas e anti pessoas negras foi identifi cado com a mesma magnitude no grupo de crianças de 10 anos e adultos porém as me didas explícitas mostraram atitudes menos negativas frente a pessoas negras no grupo de crianças de 10 anos e atitudes neutras no grupo dos adultos Esse resultado suge re que na amostra estudada a dissociação entre atitudes implícitas e explícitas frente a grupos sociais aumenta com a idade Outro fator associado à relação entre comportamento e atitude tem sido a ambi valência das atitudes A ambivalência ocor re quando as valências positivanegativa atributos das atitudes não são totalmente definidas em relação a um objeto específico Tal fator diminuiria a magnitude da predição do comportamento pela atitude O estudo de Sparks Harris e Lockwood 2004 buscou investigar o papel moderador da ambiva lência na relação intenção comportamento em uma amostra de 197 indivíduos matri culados em um clube de atividades físicas Os participantes responderam a um questio nário contendo várias medidas medida de crenças frente ao exercício físico no padrão Likert de 4 pontos me exercitar no clube beneficia minha saúde contribui para minha vida social etc e para cada um desses itens uma medida de avaliação do tipo Likert de 7 pontos melhorar minha condição física é extremamente bom 3 ou extremamente ruim 3 atitudes frente ao exercício físico e intenções com portamentais ambas por meio de uma esca la do tipo Likert de 7 pontos ambivalência atitudinal por meio da medida de ambiva lência de Griffin citada por Thompson e co laboradores 1995 e o comportamento de ir ao clube por meio do registro do compu tador da utilização da carteira de membro na entrada do clube Os resultados apresentaram uma as sociação significativamente positiva entre comportamento e intenção β 038 p 00001 relação negativa entre comporta mento e ambivalência β 015 p 003 e ambivalência elevada estava associada com fraca relação intenção comportamento β 014 p 004 corroborando as hipó teses dos autores Finalmente outra questão a ser abor dada na relação entre comportamentos e atitudes são os aspectos culturais Alguns autores têm assumido a posição de que as atitudes nem sempre predizem os comporta mentos A cultura seria uma variável que determinaria esse grau de predição Em cul turas individualistas as atitudes seriam gran des preditoras de comportamentos Em cul turas coletivistas as normas seriam melhores preditoras Triandis 1993 1995 1996 Muitos modelos foram propostos com o intuito de explicar a relação entre as atitu des e o comportamento A figura a seguir re presenta um modelo elaborado por Chaiken e Eagly 1996 para fins heurísticos que busca englobar as variáveis que as pesquisas têm incorporado a seus modelos causais Esse modelo posiciona atitude em uma rede de outras variáveis psicológicas rele vantes ao comportamento Lendo da direita para a esquerda o modelo inclui a comportamento b intenção para manifestar o comporta mento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 188 tOrres neiva cOLs c atitude frente ao comportamento descri ta anteriormente como atitude específica em que o indivíduo considera o objeto e a situação que o envolve d hábito e e atitude frente ao objeto descrita como atitude em relação ao objeto em um nível mais geral Como determinante da atitude frente ao comportamento o modelo também in clui a antecipação dos resultados do com portamento divididos em três classes a resultados utilitários recompensas e pu nições b resultados normativos aprovação social dos outros e orgulho ou culpa que se segue de regras morais internalizadas e c resultados de autoidentidade afirmação ou repúdio do autoconceito De maneira geral pode se ressaltar que os resultados dessas pesquisas sugerem que as atitudes podem predizer o comporta mento em algumas circunstâncias As atitudes são boas preditoras de com portamentos quando se utilizam medidas específicas tanto de atitudes quanto de comportamentos As atitudes são melhores preditoras de comportamentos quando atitudes e com portamentos múltiplos são medidos Há uma forte relação entre atitudes e comportamentos quando as atitudes são baseadas em experiências diretas Fazio e Zanna 1978 observaram que a atitude é preditiva da participação em pesquisas em psicologia se tal atitude foi desenvolvida com base em experiências prévias de participação em pesquisas do que no simples ato de ler sobre essas pesquisas A atitude de uma pessoa é uma boa pre ditora de seu comportamento quando esse comportamento tem consequências importantes para a pessoa Para pessoas com baixo automonitora mento as atitudes são melhores predi toras de comportamento do que para pessoas com alto nível de automonitora mento Isso ocorre porque pessoas com Figura 86 teoria do comportamento planejado Hábito Atitude frente ao objeto Resultados utilitários Resultados normativos Resultados de autoidentidade Atitude frente ao comportamento Intenção Comportamento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 189 baixo automonitoramento confiam mais em suas atitudes e como elas guiam os seus comportamentos Debono e Snyder 1995 Segundo a teoria de comportamento planejado de Ajzen 1991 as atitudes são boas preditoras de comportamentos quando a medida de atitude avalia os três componentes da intenção comportamen tal a atitude da pessoa com relação a iniciar o comportamento a crença que a pessoa tem com relação ao que os outros acham que ela deve ou não fazer e a percepção da pessoa com relação a seu controle comportamental Finalmente a relação entre atitudes e comportamentos é maior quando a me dida de atitude avalia uma atitude com relação a um comportamento do que a atitude com relação a um objeto Por exemplo a probabilidade de que uma pessoa dê dinheiro a um político é mais bem predita pela atitude dessa pessoa com relação ao comportamento de fazer doações do que por sua atitude quanto ao político em questão Eagly e Chaiken 1998 atitudes e outras variáveis Algumas características individuais como o automonitoramento capacidade de con trolar o comportamento a ser emitido so cialmente introversãoextroversão au toritarismo e etc parecem afetar a relação atitudes comportamento apesar de essa abordagem ser menos estudada atualmente Evidências empíricas sugerem que pelo fato de pessoas com alto automonitoramento se rem mais sensíveis à situação social em que se encontram a percepção de norma subje tiva por tais pessoas pode ter maior impor tância na predição do comportamento que suas atitudes Por outro lado pessoas com baixo automonitoramento têm maior pro babilidade de serem influenciadas por suas atitudes que por pressões sociais Snyder 1974 Snyder e Swann 1976 Zanna et al 1980 apud Fazio e Olson 2003 A necessidade de avaliar NA é um traço de personalidade que reflete uma inclinação individual à criação e à sus tentação de atitudes Segundo Jarvis e Petty 1996 citados por Bizer Krosnick Holbrook e colaboradores 2004 a neces sidade de avaliar é um construto que pre diz a tendência das pessoas em se engaja rem em respostas avaliativas Pessoas com elevada NA são especialmente propensas a formar atitudes frente a todos os tipos de objetos e gostam de acessar as vantagens e desvantagens dos objetos que observam Bizer Krosnick Holbrook e colaboradores 2004 estudaram o poder preditivo da NA em relação a aspectos cognitivos compor tamentais e afetivos de processos políticos como por exemplo a quantidade de cren ças avaliativas que as pessoas sustentam em relação a candidatos o nível de partici pação em ativismo político e a intensidade de reações emocionais frente a candidatos políticos A hipótese dos autores era a de que pessoas com elevada NA manifesta riam mais respostas cognitivas afetivas e comportamentais em relação a processos políticos comparados a indivíduos com baixa NA Os dados foram provenientes de entrevistas eleitorais nos EUA nos anos de 1998 e 2000 As entrevistas foram conduzi das por telefone e consistiam basicamente na aplicação oral de escalas que mediam a necessidade de avaliar dos participantes bem como os aspectos atitudinais em rela ção a processos políticos Participaram do estudo 2583 eleitores Os resultados do es tudo indicaram que a NA desempenha um poderoso papel na modelação de compor tamentos emoções e cognições políticas Em relação a comportamentos pessoas com elevada NA foram mais propensas a se engajar no ativismo eleitoral e votar A NA foi capaz de predizer a quantidade de cren ças que as pessoas sustentavam sobre um candidato e a utilização de identificação partidária a argumentos do candidato para a formação de sua preferência de voto Em relação a afetos a NA foi capaz de predizer intensidade de reações emocionais frente a candidatos políticos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 190 tOrres neiva cOLs atributos ou ProPriedade das atitudes Força das atitudes Todos nós possuímos algumas questões ou pontos de vista mais passionais que outros Algumas pessoas possuem crenças afetos e comportamentos mantidos intensamente frente a determinados partidos políticos estilos de vida regiões atividades profissio nais valores dentre outros muitos objetos podendo manifestar se mais ou menos acen tuadamente frente aos mesmos Por exemplo mesmo assinalando 3 em uma escala de atitudes frente ao cinema brasileiro que varia de 5 a 5 duas pessoas podem se expressar de maneira diferente uma respondendo rápida e enfaticamente e a outra refletindo sobre a resposta ponde rando ideias levando mais tempo para res ponder Da mesma forma dois apreciadores de futebol podem se manifestar de forma di ferenciada frente a uma vitória ou derrota de seu time favorito mesmo apresentando a mesma pontuação em uma escala de atitu des frente ao time controlando hipotetica mente suas condições Resultados de pesquisas revelam que o impacto das atitudes na predição do com portamento tem sido consideravelmente variável o que significa dizer que as atitu des exercem mais ou menos influência no comportamento dependendo de uma série de fatores Haveria portanto algo por trás do caráter positivo e negativo de uma atitu de que promoveria seu poder de influência Essa propriedade é chamada de força da ati tude Ajzen 2001 Apesar da ausência de consenso entre os pesquisadores da força da atitude quanto a sua definição há uma concordância entre a maioria dos autores acerca das consequên cias desse atributo Dessa forma atitudes fortemente mantidas resultam em Processamento seletivo de informações Resistência a mudança Estabilidade ao longo do tempo Aumento do poder preditivo do compor tamento A posse de atitudes particularmente fortes aumenta a habilidade das pessoas de refutar ativamente novas informações opostas a suas atitudes bem como de acei tar favoravelmente novas informações pró atitudinais facilitando a resistência a ape lações persuasivas e consequentemente dificultando o processo de mudança das ati tudes Chaiken e Eagly 1996 Considere por exemplo uma pessoa que possui atitu des fortemente mantidas a favor da pena de morte presenciando um debate sobre o tema entre dois especialistas um contra e o outro a favor A pessoa que assiste ao de bate tende a aceitar com facilidade os ar gumentos do especialista a favor da pena de morte a refletir sobre tais argumentos e provavelmente se lembrará deles com mais facilidade reforçando suas atitudes iniciais O espectador também tenderá a contra argumentar ou até mesmo ignorar as ideias do especialista contrário à pena de morte aumentando a resistência à mu dança e a estabilidade de suas atitudes ao longo do tempo Por que algumas atitudes são mais for tes que outras Os resultados de Boninger Krosnick e Berent 1995 por exemplo mostraram que as atitudes mais fortemente mantidas pelas pessoas se referem a ques tões 1 que afetam diretamente os resultados e os interesses pessoais 2 relacionadas a valores filosóficos políticos e religiosos profundamente mantidos e 3 referentes a identidade grupal família e amigos próximos Vários outros fatores têm sido aponta dos como indicadores da força das atitudes e sua ligação com o comportamento dentre eles a quantidade e a qualidade de informa ção que a pessoa tem sobre um objeto atitu dinal a origem e a ordem de aquisição da informação o comprometimento emocional com as atitudes dentre outros INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 191 acessibilidade Fazio e Williams 1986 definem e opera cionalizam a força da atitude em termos de sua acessibilidade Conforme o modelo de redes associativas de memória a acessibili dade é a intensidade da associação entre a avaliação e o objeto atitudinal e pode ser medida pela velocidade de recuperação da memória ou tempo de resposta Portanto quanto mais forte for a atitude maior será seu poder associativo em relação ao objeto e mais fácil será sua recuperação da me mória Pesquisas acerca dos antecedentes da acessibilidade das atitudes têm seguramen te demonstrado que a repetição da expres são atitudinal aumenta sua acessibilidade Se a repetição da expressão de atitudes ver dadeiras aumenta a acessibilidade das mes mas o que acontece quando alguém mente sobre suas atitudes Maio e Olson 1998 realizaram estudos sobre os efeitos da dis simulação na acessibilidade das atitudes fortemente mantidas p ex atitudes frente a assassinato amizade e etc Seus resul tados mostraram que mentir sobre as pró prias atitudes frente a vários objetos produz um reforçamento significativo das atitudes verdadeiras manifestado pelo aumento da acessibilidade das mesmas quando a menti ra causa recuperação consciente da atitude verdadeira Similarmente Johar e Sengupta 2002 investigaram a influência da dissimulação na acessibilidade de atitudes fracamente mantidas Segundo esses autores as pessoas costumam mentir mais frequentemente so bre suas atitudes frente a objetosquestões triviais como dizer que gosta de determina do produto quando na verdade não gosta ou dizer que gostou da roupa nova do amigo quando na verdade não gostou Seus resul tados apontaram que mentir repetidamente sobre as próprias atitudes quando essas são fracamente mantidas aumenta a acessibi lidade das atitudes verdadeiras bem como sua persistência e correspondência com o comportamento corroborando os resulta dos de Maio e Olson ambivalência Considere o seguinte exemplo a comida fa vorita de João é churrasco Ele aprecia muito o sabor das carnes e dos acompanhamentos os considera visualmente atraentes e sente uma enorme satisfação em comê los Além do mais João conhece as particularidades dos tipos de carne e diversas maneiras de prepará las sabe quais são as melhores mar cas de equipamentos para churrasco onde encontrá los realiza churrascos em sua casa sempre que pode comparece aos churrascos nas casas de seus amigos e ocasionalmente vai a churrascarias Pode se dizer que João tem uma atitude positiva frente a churras co Por outro lado João sabe que esta não é uma comida muito saudável é rica em gor dura e a evita quando está de dieta Dessa forma apesar da avaliação geral de João frente a churrasco ser positiva ele também possui algumas crenças e afetos negativos frente a esse mesmo objeto Portanto a avaliação geral de uma pessoa frente a um objeto pode revelar mais ou menos concordância com suas crenças afetos e comportamentos em relação ao mesmo objeto Atitudes têm uma estrutura interna que consiste na associação entre o objeto atitudinal crenças afetos e cognições so bre comportamentos Em geral quanto maior a coerência entre os elementos da es trutura interna das atitudes maior será sua força Em outras palavras atitudes com es trutura interna altamente coerente são mais estáveis no decorrer do tempo resistentes a mudança e predizem melhor o comporta mento Sparks Harris e Lockwood 2004 re alizaram um estudo com o objetivo de in vestigar o papel moderador da ambivalência na relação intenção comportamento utili zando uma amostra de 197 indivíduos ma triculados em uma academia de atividades físicas Segundo os autores a intenção de frequentar a academia e o comportamento de realmente frequentá la seria moderado pela ambivalência ou seja indivíduos com crenças e afetos menos conflitantes apre INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 192 tOrres neiva cOLs sentariam uma relação mais forte entre a intenção e o comportamento comparados a indivíduos com crenças e afetos mais con flitantes Os resultados identificaram uma relação significativamente negativa entre comportamento e ambivalência confirman do as hipóteses dos autores A ambivalên cia elevada estava associada à fraca relação intenção comportamento o que significa que indivíduos que possuíam crenças e afe tos simultaneamente positivos e negativos frente ao comportamento de frequentar a academia possuíam fraca relação entre in tenção e comportamento bem como fre quentavam menos a academia O termo ambivalência tem sido fre quentemente utilizado para descrever incon sistências entre os elementos das atitudes ou dentro de cada elemento e a resposta avaliativa Huskinson e Haddock 2006 in vestigaram se indivíduos que possuem atitu des altamente consistentes com seus afetos e crenças diferem de indivíduos que possuem atitudes menos consistentes em relação à acessibilidade de suas respostas cognitivas e afetivas A hipótese central dos autores era a de que os indivíduos com atitudes al tamente estruturadas emitiriam respostas cognitivas e afetivas mais rapidamente que indivíduos com atitudes fracamente estru turadas Para tanto os autores realizaram dois experimentos utilizando uma amostra de 93 estudantes universitários que tinham de responder por meio do computador uti lizando diferentes pares de adjetivos cogni tivos e afetivos frente a diferentes objetos O tempo de cada resposta foi registrado e os dados foram analisados por meio da aná lise da variância e regressão Os resultados corroboraram a hipótese inicial dos autores reforçando a ideia de que a acessibilidade de julgamentos afetivos e cognitivos difere de indivíduo para indivíduo dependendo da consistência entre suas atitudes crenças e afetos Ademais observou se que respos tas afetivas foram significativamente mais rápidas que respostas cognitivas Diante de uma simples pergunta como você aceita um pedaço de bolo de choco late uma pessoa pode responder pron tamente sim ou pode se engajar em um processo avaliativo dos vários aspectos do bolo de chocolate antes de dar sua respos ta Segundo o argumento de Van Harreveld Van der Pligt De Vries Wenneker e Verhue 2004 as pessoas podem recorrer a julga mentos avaliativos de atributos gerais do objeto da atitude processamento do tipo top down ou julgamentos avaliativos de vários atributos específicos do objeto atitu dinal processamento do tipo bottom up dependendo de algumas circunstâncias como pressão de tempo pouco envolvimen to com o objeto atitudinal e informações li mitadas sobre o mesmo Esses mesmos autores realizaram um estudo com o objetivo de testar a afirmação de que julgamentos avaliativos baseados em atributos gerais do objeto processamento do tipo top down estão associados com menor tempo de resposta em comparação com julgamentos baseados em atributos es pecíficos processamento do tipo bottom up Ademais os autores investigaram se indivíduos com atitudes ambivalentes preci sariam de mais tempo para a integração da informação Três estudos foram desenvolvi dos com grupos de estudantes universitários em que eles tinham de responder a escalas de diferenciais semânticos por meio do computador acerca de suas atitudes e atri butos que compunham essas atitudes Três temas foram investigados atitudes frente à comida geneticamente modificada estudo 1 o inglês como língua de instrução es tudo 2 e atitudes frente ao cigarro estudo 3 O tempo de cada resposta foi registrado e comparado com o nível de ambivalência dos participantes por meio de medida de ambivalência de Griffin Thompsone Zanna e Griffin 1995 Os resultados apontaram que as pessoas precisam de mais tempo para alcançar um julgamento atitudinal global porque elas têm de passar por um processo de integração de atributos o tempo de res posta para um julgamento avaliativo basea do em atributos gerais foi significativamente menor que o julgamento de atributos especí ficos Os resultados dos estudos mostraram que a geração de uma resposta atitudinal INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 193 global consome mais tempo especialmente para respondentes ambivalentes pois estes precisam integrar avaliativamente atributos incongruentes do objeto atitudinal ForMação da atitude Em geral procura se indicar os fatores que influenciam na formação dessa organização duradoura de crenças e cognições em geral e que têm consequências também para o tipo de afeto que se forma em direção ao objeto conhecido concedendo a esse con junto a qualidade de predispor o indivíduo a determinados tipos de comportamentos enfoques funcionais Para Smith Bruner e White 1956 as ati tudes se formam para atender determinadas funções as quais são vistas sob uma pers pectiva pragmática de utilidade para o ajus tamento da personalidade diante do mundo exterior A personalidade individual envolve uma série de atitudes sendo o contexto no qual as atitudes se formam importante para determinar o papel que elas serão solicita das a desempenhar Dessa forma as atitudes de uma pessoa servem de mediadores en tre suas demandas internas e seu ambiente externo o material o social e o ambiente informacional do indivíduo Os autores especificam as funções principais que desempenham as atitudes Avaliação do objeto refere se às posições gerais inspiradoras de nossas reações a este objeto específico e a uma plêiade de outros a ele relacionados ou seja o fato de o indivíduo possuir uma atitude defi nida em relação a um objeto específico fornece o padrão necessário para que o mesmo estabeleça reações diante de tal objeto Ajustamento social esta função desempe nha o papel de possibilitar a facilitação o término a manutenção mais ou menos harmoniosa de nossas relações com as pessoas O ajustamento social das atitu des propicia as pessoas a oportunidade de uma boa acomodação social Externalização manifestação clara e insofismável de posições que defendem ou protegem o eu contra certos estados de ansiedade provocados por problemas interiores O indivíduo diante de uma situação do ambiente exterior exibe uma atitude que representa uma visão trans formada da maneira como ele interage com seus problemas interiores Katz e Stotland 1959 também defen dem a posição de que as atitudes humanas formam se para atender determinadas ne cessidades Para esses autores o entendi mento da necessidade geradora da forma ção da atitude determinada é indispensável para a compreensão do processo de mudan ça de atitude Dividem as funções em As atitudes servindo a função instrumen tal se caracterizam pela maximização ou minimização de custos Tais atitudes não possuem base profunda podendo esta ser facilmente alterada caso as condições circunstanciais o exijam As atitudes servindo de função ego defensiva protegem o indivíduo contra o reconhecimento de verdades indese jáveis São muito resistentes à mudança por atenderem a necessidades básicas da personalidade As atitudes servindo de expressão a um valor que o indivíduo preza sobremanei ra e em relação ao qual sente necessida de de exibir sua posição As atitudes servindo de função para colo car ordem no ambiente compreendendo os fenômenos e as circunstâncias e os integrando de uma forma coerente Para Kelman 1961 o entendimento de como um indivíduo muda uma atitude constitui uma indicação de como as atitudes podem ser formadas Esse autor considera três processos de influência social que pos sibilitam uma melhor compreensão em re INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 194 tOrres neiva cOLs lação ao processo de formação de atitudes São eles Aceitação é aquela que se verifica quan do um indivíduo aceita a influência de outro ou de um grupo a fim de obter aceitação por parte deste outro indivíduo ou grupo Por conseguinte as atitudes podem ser formadas em consequência de um processo de aceitação Identificação quando um indivíduo adota um comportamento que deriva de outro indivíduo ou grupo porque tal comportamento está associado à relação daquele com este indivíduo ou grupo Ou seja a preocupação com o apoio social do comportamento Internalização quando o indivíduo aceita uma influência porque essa influência é congruente com seu sistema de valores enfoques baseados na noção de consistência cognitiva Heider 1958 Newcomb e colaboradores 1965 e Festinger 1957 argumentam que há uma força em direção à congruência à harmonia à consistência entre nossas atitu des e entre os componentes integrantes das atitudes ou seja atitudes conducentes a um estado de harmonia são mais facilmente formadas e atitudes inconsistentes são de difícil formação e assimilação De acordo com os autores e a teoria da consistência cognitiva as atitudes se for mam segundo o princípio da harmonia e da boa forma sendo mais fácil organizarem se atitudes que formam um todo coerente e in ternamente consistente do que atitudes que devido a sua incoerência provocam tensão e desejo de mudança Rosenberg e Hovland 1960 susten tam o argumento de que existe uma es treita ligação entre as crenças acerca do objeto e o afeto dirigido a esse objeto Consequentemente quando há coerência entre os componentes cognitivos e afetivos das atitudes elas se formam de maneira es tável e duradoura No caso oposto não ha vendo coerência torna se difícil a formação de atitudes Seja pelo encontro direto com um objeto ou com comunicações sobre o objeto uma pessoa adquire uma ou mais crenças cada uma delas ligando o objeto a algum locus afeto Na proporção da força número e consistência mútua dessas novas cren ças será gerada uma disposição afetiva similar mas tentativa em relação ao ob jeto em questão Rosemberg e Hovland 1960 p 106 As atitudes sustenta Rosemberg têm uma estrutura psicológica que relaciona os eventos psicológicos entre si fazendo com que a mudança em um deles resulte na mu dança dos demais Assim a mudança do componente afetivo da estrutura da atitude pode resultar em uma mudança de compo nente cognitivo e vice versa enfoques baseados na teoria do reforço Hovland Janis e Kelly 1953 pesquisavam que a base das atitudes está no reforço ou na punição que se seguem à emissão de um comportamento Esses autores têm foco na mudança de atitude Com relação à forma ção das atitudes seu enfoque está baseado na teoria do reforço ou seja um reforço seguindo à emissão de um comportamento tende a solidificar tal comportamento e a atitude a ele subjacente enquanto que um estímulo aversivo tenderá a extinguir a res posta e impossibilitará a atitude Para Doob 1947 a atitude é uma variável interveniente que se interpõe entre um determinado estímulo e o comporta mento subsequente O autor se baseia na te oria de que existe um estímulo que conduz a uma resposta implícita atitude e termina com um comportamento explícito É importante ressaltar que Doob admi te que o comportamento emitido é função de vários determinantes e não apenas da res posta implícita atitude ao estímulo conside rado outros hábitos pulsões e mesmo outras INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 195 atitudes previamente adquiridas são capazes de intervir na resposta explícita que é o com portamento Uma vez formada uma atitude Doob admite que ela possa generalizar se a outros estímulos que estejam dentro de uma área restrita de comparabilidade Barber 2004 investigou como o con texto social comunitário no Tibet afeta a for mação de atitudes frente a diversos aspectos do casamento Com base em estudos prévios acerca do impacto da modernização nas ati tudes dos indivíduos o autor pressupõe que os indivíduos cujo contexto social da infân cia fora constituído de instituições não fami liares escolas oportunidades de emprego infraestrutura de transportes e mercados sustentariam atitudes mais individualistas frente ao casamento em comparação aos indivíduos educados em áreas menos mo dernizadas onde a presença de instituições familiares é mais intensa Atitudes individua listas nesse caso consistem em tendências avaliativas que favorecem os interesses in dividuais das pessoas e não as expectativas das famílias Segundo o autor isso aconte ceria devido à maior exposição das crianças a novas ideias à redução do tempo de inte ração das crianças com seus pais à redução da autoridade geral dos pais dentre outros fatores Foram investigadas atitudes dos participantes frente a sete aspectos do ca samento casamento infantil casamento ar ranjado casamento entre castas obediência à sogra poligamia divórcio e recasamento de viúvas A análise de regressão mostrou uma intensa relação entre contexto social comunitário e esses aspectos do casamento conforme supunha o autor Os indivíduos que cresceram em contato com instituições não familiares desenvolveram atitudes po sitivas frente ao controle individual e não familiar do casamento valores e funções são vistas como as bases das atitudes As pesquisas que se dedicam à investigação dessa relação entre valores atitudes e com portamentos têm apontado os valores como preditores de atitudes e comportamentos os mais variados Feather 1995 Feather 1995 descobriu que a importância que as pessoas atribuem a um valor específico influencia suas atitudes frente às escolhas comportamentais As funções das atitudes também mediam a relação entre valores e atitudes Portanto valores e funções são vis tos como a base das atitudes Mudança de atitudes As atitudes podem ser modificadas a partir de novas informações de novos afetos ou de novos comportamentos ou situações Assim pode se mudar a atitude em relação a um determinado objeto porque se descobre que ele faz bem à saúde ou nos ajuda de alguma forma Por exemplo se você desenvolveu uma atitude negativa em relação ao livro porque não gostou da capa espera se que após sua leitura você possa modificá la pela constatação de que ele te ajuda de alguma forma a compreender melhor o mundo Os tópicos sobre mudança de atitude estão relacionados diretamente à questão da formação das atitudes uma vez que na medida em que atitudes são mudadas novas atitudes são formadas A questão da formação e da mudança de atitudes pos sui uma vasta aplicação em algumas áreas da psicologia como no comportamento do consumidor conflito cognitivo e mudança de atitudes Um dos principais argumentos que susten tam a ideia da mudança de atitude se encon tra nas teorias do conflito cognitivo Há uma forte tendência em manter os componentes das atitudes em consonância Informações positivas sobre os rapazes por exemplo le varão a afeto positivo Informação positiva e afeto positivo levam a um comportamento favorável na direção do objeto O exemplo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 196 tOrres neiva cOLs mais clássico é a Teoria do Equilíbrio de Heider 1958 Segundo tal teoria a lingua gem apresenta elementos que representam os objetos da atitude e as relações entre esses elementos As relações entre objetos são vistas como unidades por exemplo P pessoa O situação X objeto atitu dinal formam relações sentimentais que podem ser positivas ou negativas tríade Há uma tendência para acontecer relações equilibradas ou desequilibradas Todos os elos positivos negativos ou dois negativos e um positivo formam relações balanceadas que tendem a não mudar Relações desequi libradas são mais propícias a mudanças Outra teoria que se sustenta sobre a ideia do conflito cognitivo é a teoria da disso nância cognitiva que afirma que os elemen tos da atitude precisam manter consonância O estado da dissonância cognitiva é desagra dável e o processamento da informação pode tornar se enviesado portanto é necessário modificar um dos elementos dissonantes No caso é mais fácil modificar crenças e afetos para aproximá los do comportamento Algumas versões do fenômeno da dis sonância estão frequentemente gerando pesquisa A primeira é a ideia de Festinger 1957 de que a inconsistência entre os ele mentos em um sistema cognitivo produz dis sonância Cialdini e colaboradores 1995 descobriram que as atitudes daqueles que possuem alta preferência por consistência cognitiva são menos suscetíveis à dissonân cia e são melhores preditoras de comporta mento Os autores argumentam que existem indivíduos que preferem manter consciência entre seus pensamentos afetos e ações en quanto outros não apresentam tal preferên cia A consistência segundo os autores se manifesta em três domínios interno entre suas respostas individuais externo suas respostas para os outros e dos outros en volve as respostas dos outros para você O segundo ponto de vista sobre a dissonância é o de Cooper e Fazio 1984 e Cooper 1992 Segundo eles a inconsis tência por si só não traz dissonância A dis sonância somente ocorre se a inconsistência trouxer consequências aversivas De manei ra geral evidências dão suporte à visão de que comportamentos dissonantes induzem a um desconforto geral nas pessoas e que a mudança de atitude pode eliminar esse desconforto Elliot e Devine 1994 Cooper e Fazio 1984 reforçam a necessidade do engajamento para mudança de atitude que provém da motivação resultante do reco nhecimento das consequências aversivas do comportamento dissonante Outros autores como Pyszcynski e co laboradores 1993 sugerem o oposto É pos sível ainda mudar uma atitude quando se é obrigado a se comportar em desacordo com ela Exemplo você não gosta dos rapazes que moram em seu prédio atitude negati va mas será obrigado a conviver com eles porque passam a estudar na mesma classe Para evitar uma tensão constante que o le varia a um conflito você irá procurar des cobrir aspectos positivos neles como o fato de serem bons alunos ou muito requisitados pelas garotas que permitam uma aproxi mação que gerará uma mudança de atitude atitude positiva Pyszcynski e colaborado res 1993 afirmam que uma das funções de vieses cognitivos é proteger as pessoas de emoções dolorosas então o reconhecimento de um fator desconfortável pode eliminar a distorção das cognições Assim instruções que atenuam o efeito dissonante favorecem a mudança de atitude em relação ao objeto Aronson 1992 e Steele 1988 res saltam o papel crítico da inconsistência sobre o autoconceito e sobre o processo de autoafirmação Se há uma inconsistência ela será crítica e portanto poderá produzir mudança de atitude se ela envolver o au toconceito O indivíduo deseja manter uma percepção de integridade global o que está relacionado com o autoconceito Quanto mais positivo for o autoconceito mais fácil é recrutar ideias que reforcem a autoade quação e menor é a necessidade de redu zir a dissonância Aronson e colaboradores 1995 encontraram que indivíduos são se letivos em suas estratégias de autoafirmação para diminuir sua dissonância cognitiva INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 197 atitude e persuasão A área da persuasão na psicologia es tuda a formação e a mudança de atitude Segundo tais estudos há uma predisposição para reagir frente a objetos novos crenças valores Um encontro com o objeto novo dá origem a resposta avaliativa cognitiva afe tiva comportamental resposta atitudinal que demonstra uma tendência a responder ao objeto de forma semelhante no futuro Existem diversos paradigmas para o estudo das atitudes e os processos de persuasão Nos argumentos relacionados à persu asão há um papel crítico da memória dos argumentos da mensagem como media dor da persuasão Hovland et al 1953 Os estudos mostraram recentemente que a memorização da mensagem é o mais impor tante fator na predição das atitudes Petty et al 1997 Essas ideias de persuasão se guem o princípio de processamento sistemá tico haverá um impacto comportamental da mensagem se houver exposição à men sagem prestar atenção em seu conteúdo compreendê lo concordar com o que foi compreendido memorizar Isso ocorrendo há a nova atitude Pelas teorias de processo dualístico os indivíduos processam informação super ficialmente princípio do menor esforço a não ser que haja motivação para se engajar em formas mais sistemáticas de processa mento Muitos trabalhos sobre persuasão continuam sendo guiados pelos modelos de elaboração probabilística ELM e pelo modelo heurístico sistemático HSM Esses modelos têm mantido sua popularidade e gerado pesquisas na área Embora pareçam diferentes há muita similaridade entre os modelos Alguns modelos tentam explicar a mudança de atitude de forma probabilís tica Esse é o caso do modelo ELM Existe um continuum de probabilidade definido pelo quanto os indivíduos estão motivados e são hábeis para avaliar o objeto da atitude Contínuos altos ou baixos definem novas atitudes fracas ou fortes Haverá um pro cessamento sistemático central quando há alta motivação e habilidade caso con trário haverá um processamento periférico heurística atribuição Petty e Cacioppo 1986 Pelo modelo heurístico sistemático Chaiken et al 1989 as pessoas aprendem e armazenam vários heurísticos de persua são que são usados para avaliar a mensa gem Essa aprendizagem ocorre pelo proces samento sistemático ou simplesmente por evocação de heurísticas p ex podemos confiar em experts A evocação heurística predomina quando a capacidade ou habili dade é baixa A mudança de atitude é determinada por ambos processamento central e perifé rico que envolve heurística Para demonstrar a importância dos processos motivacionais e da habilidade no processamento da infor mação Chen e colaboradores 1992 des cobriram que a prevenção de um conteúdo contra atitudinal leva as pessoas a resistir à mensagem e a gerar pensamentos desfavo ráveis principalmente quando a questão era pessoal e quando as pessoas não estavam distraídas De acordo com os modelos de proces samento dual da mudança de atitude quan do a motivação ou a habilidade de escruti nar a informação relevante para a atitude está ausente os processos periféricos são mais prováveis de determinar os resultados da persuasão No caso processos periféricos incluem simples regras de decisão heurís ticas processos de condicionamento e ou tros processos que não envolvem a análise pormenorizada dos méritos do objeto da atitude Petty e Cacioppo 1986 Estudos recentes analisam fatores periféricos como a credibilidade do comunicador Hurwitz et al 1992 apud Petty et al 1997 atrativida de e poder Shavitt et al 1994 apud Petty et al 1997 Diferentes variáveis influen ciam a persuasão em diferentes processa mentos e em diferentes níveis do continuum de probabilidade Alguns estudos ressaltam o efeito do humor sobre a persuasão Mayer et al 1992 Mayer e Hanson 1995 O hu INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 198 tOrres neiva cOLs mor emoções negativas medo etc pode levar ao processamento periférico de forma direta ou afetar a disposição para avaliar a informação Fatores determinantes da mudança de atitude De maneira geral a mudança de atitude pode ser explicada por alguns fatores ante cedentes que influenciam e pelo processa mento que o indivíduo realiza da mensa gem O processamento do indivíduo media a relação entre a mensagem o contexto o recipiente da mensagem e a fonte desem bocando na mudança de atitude A Figura 87 resume a relação entre os fatores que influenciam a mudança de atitude De maneira geral os fatores relaciona dos à fonte que têm recebido maior aten ção foram a credibilidade a atratividade e o status minoritário ou majoritário Os fatores da mensagem que receberam maior inves tigação das pesquisas foram comunicações unilaterais ou bilaterais mensagens persua sivas mensagens esporádicas forma da mensagem natureza dos argumentos argu mentos positivos versus negativos escassez etc Os fatores relacionados ao recipiente avaliam a experiência anterior a necessida de de conhecimento sobre o objeto a ade quação ou identificação com a mensagem etc Os fatores de contexto que influenciam a mudança de atitudes incluem a oralidade da mensagem a atuação da televisão ou dos anúncios em jornais etc Enfim os estudos em mudança de atitude continuam a florescer Os estudos esqueceram se da pergunta inicial sobre quando uma variável era persuasiva ou não para iniciar o processamento cognitivo e mudar a atitude e começaram a analisar os processos fundamentais pelos quais as variá veis atuam e o impacto delas Petty et al 1997 As perguntas sobre como as variáveis influenciam o processamento de informa ção estão sendo cada vez mais exploradas Outro fator que pode ser relevante é o reco nhecimento de que a variável influencia o processamento da informação e daí afeta Figura 87 relação entre variáveis independentes variáveis mediadoras e mudança de atitude Fonte Mensagem Recipiente Contexto Mudança de atitude Processos afetivos Processos cognitivos Processos comportamentais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 199 rá o processo de dissonância e a motivação para mudar a atitude A partir daí é possível avaliar em quais circunstâncias a motivação opera para a mudança ou não da atitude Nos modelos clássicos de mudança de atitudes as mensagens são apresentadas processadas e se bem sucedidas movimen tam as atitudes dos receptores para a posi ção argumentada A atitude revista por sua vez pode influenciar um comportamento subsequente em condições apropriadas O modelo de probabilidade ELM e o mode lo heurístico sistemático HSM são exem plos de modelos de processamento dual que abordam esse processo geral de recepção da mensagem mudança de atitude e talvez mudança de comportamento Os modelos de processamento dual asseguram que se o receptor é capaz e está motivado ele irá ela borar ou sistematicamente analisar mensa gens persuasivas Se a mensagem é racional baseada em dados e lógica ex forte ela irá persuadir Se não não Fatores auxiliares do contexto terão pequena influência nesses resultados Contudo se os alvos das mensa gens são desmotivados ou incapazes para processar as mensagens eles irão usar esses fatores auxiliares chamados caminhos peri féricos ex fontes atrativas ou heurísticas ex papai está sempre certo para facilitar um processamento mais elaborado na for mação de uma resposta atitudinal Essas ati tudes são menos resistentes a pressões con trárias menos estáveis e menos ativadoras do comportamento quanto às atitudes que se formam pelo processamento elaborado Como já foi dito os modelos duais for mam o paradigma básico nos estudos sobre persuasão Nesses modelos fonte e men sagem possuem papéis distintos que em conjunto com a motivação e a habilidade para processar a informação determinam os resultados das interações persuasivas Kruglanski e colaboradores Kruglanski e Thompson 1999a 1999b Thompson et al 2000 mudaram a visão do processamento dual em seu unimodelo que aceita a impor tância da motivação e da habilidade mas descrevem um único processamento cogni tivo que dá conta dos efeitos da fonte e da mensagem na persuasão A cognição nos modelos de persuasão também traz uma perspectiva de processo único mas postula uma série de estágios de processamento que ocorrem em resposta a mensagens persuasivas A cognição no mo delo de persuasão não desconsiderou o con junto de dados compreensível dos modelos de processamento dual mas seu tratamento interessante sobre a distração o humor e as variações da atitude inicial sugerem insights úteis aos processos fundamentais de persua são Crispin e Crano 2006 Nos últimos anos o estudo das influ ências minoritárias e majoritárias sobre a mudança de atitudes têm se tornado mui to forte Mudança de atitude induzida por fontes oriundas de grupos minoritários re presenta um caso especial na persuasão As minorias influenciam os pesquisadores a focalizar nos processos intraindividuais que são ativados em respostas aos argumentos e às opiniões das minorias Esses processos incluem reações cognitivas ou pensamen tos dos receptores aos apelos das minorias Crispin e Crano 2006 Modelos recentes têm integrado as con cepções dos modelos de processamento dual de mudança de atitudes com a abordagem da identidade social na tentativa de compreen são da persuasão no contexto social Há da dos que indicam que os processos voluntários de mudança se diferenciam precisamente dos processos automáticos Pressões internas e externas provavelmente orientam a pesqui sa de persuasão e possuem implicações na construção de teorias que possam ser aplica das ao mundo real Particularmente relevan te teoricamente é a questão dos motivos que dirigem as trocas de influência entre mino rias e maiorias e as mudanças temporais nas estratégias de processamento da informação que mediam a influência social Essa linha de pesquisa é consistente com as proposi ções de Moscovici 1980 de que o conflito é pré condição necessária para a mudança de atitude induzida pela minoria embora a mu dança possa ser indireta ou delegada INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 200 tOrres neiva cOLs outros mecanismos e a mudança de atitude Outros mecanismos explicam o processo de mudança de atitude e persuasão O primei ro diz respeito ao pareamento da mensagem com estímulos prazerosos p ex propa ganda que gera um condicionamento de uma atitude positiva Esse mecanismo fun ciona melhor quando há baixa motivação e atenção Outro mecanismo é a exposição repe titiva A exposição repetitiva pode levar à mudança de atitude por meio do princípio de que estímulos encontrados previamente são mais facilmente percebidos Tal explica ção não depende de atenção ou de processa mento do estímulo reFerências AIKMAN S N CRITES JR S L FABRIGAR LR Beyond affect and cognition Identification of the informational bases of food attitudes Journal of Applied Social Psychology v 36 n 2 p 340382 2006 AJZEN I FISHBEIN M Understanding attitudes and predicting social behavior Englewood Cliffs Nj PrenticeHall 1980 AJZEN I FISHBEIN M Attitudes and the attitu debehavior relation Reasoned and automatic pro cesses In STROEBE W HEWSTONE M Ed European Review of Social Psychology Chichester England Wiley 2000 p 221253 AJZEN I Attitudes personality and behavior Milton Keynes Open University Press 1988 AJZEN I Nature and operation of attitudes Annu al Review of 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mensuração usar atitudes conceito e áreas de estudo Uma visita aos estudos publicados no Journal of Personality and Social Psychology perió dico de mais alto fator de impacto na área e que dedica uma seção a pesquisas em ati tudes mostra a importância do construto Este é empregado em uma grande quantida de de pesquisas experimentais e correlacio nais incorporado em muitas teorias além de ser foco em várias outras A possibilidade de se explicar e predizer comportamentos a partir do conhecimento das atitudes é um motivador de inúmeros estudos Glasman e Albarracín 2006 Farley Lehmann e Ryan 1981 Kraus 1995 Wallace Paulson Lord e Bond 20051 Durante meados da década de 1930 Allport 1935 organizou várias definições de atitudes totalizando mais de uma cen tena delas De acordo com esse autor essas definições encerravam quatro dimensões ou características fundamentais das atitudes Assim foi detectado naquelas definições um componente de organização de cognições de afetos positivos ou negativos de tendên cia para se comportar de um modo condi zente com as atitudes e a relação destas com um objeto social Baseados em um modelo afetivo di versos autores coincidem em afirmar que as atitudes são avaliações sobre objetos psico lógicos as quais podem ser expressas nas di mensões bom ruim agradável desa gradável prazeroso desprazeroso Ajzen 2001 Eagly e Chaiken 1998 Thurstone 1931 E a maio 9 estratÉGias De mensUraçãO De atitUDes em PsicOLOGia sOciaL carlos eduardo Pimentel cláudio vaz torres Hartmut günther INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 205 ria dos pesquisa dores certamente concorda que as atitudes são predisposições aprendi das para responder de uma maneira favorá vel ou desfavorável com relação a um dado objeto Fishbein e Ajzen 1975 p 6 Esta conceituação é consoante com Thurstone que definiu a atitude como o afeto pró ou contra um objeto psicológico Thurstone 1931 p 261 Thurstone ainda explicou que tal definição descreve o potencial de ação fa vorável ou desfavorável em direção ao obje to Em resumo as atitudes são respostas ava liativas relativamente estáveis que são dadas a uma entidade ou situação As atitudes também foram definidas com base em um modelo de três compo nentes ver Olson e Maio 2003 os quais já foram detectados em Allport 1935 Esse modelo no entanto englobou em uma úni ca definição três componentes 1 um componente afetivo ou avaliativo que reflete o fato de a pessoa gostar ou não da entidade ou situação 2 um componente cognitivo que consiste nas crenças que as pessoas têm sobre a entidade ou situação 3 um componente comportamental que re presenta as tendências comportamentais em relação à entidade ou situação Embora esses componentes sejam inter relacionados podem ocorrer algumas inconsistências entre eles Por esse motivo Fishbein e Ajzen 1975 recomendaram que os três componentes fossem tratados separadamente com o termo atitude referindo se ao componente afetivo cren ça referindo se ao componente cognitivo e intenção comportamental referindo se ao último componente Em suma tanto a perspectiva dos três componentes teoria tripartite como o mo delo de valor expectativa teoria da ação racional cujo foco recai nas crenças avalia tivas têm dirigido a pesquisa sobre o con teúdo das atitudes Olson e Maio 2003 E de acordo com esses conceitos que definem a estrutura das atitudes como formada por um ou três componentes as atitudes são mensuradas Ademais diversos termos téc nicos na psicologia social são geralmente aplicados a certas classes de atitudes Eagly e Chaiken 1998 Seguindo esses autores as atitudes especialmente as negativas frente a grupos minoritários são chamadas de preconceito atitudes frente a indivíduos são geralmente rotuladas de amizade atração interpessoal ou preferência atitudes frente a si mesmo são geralmente definidas como autoestima atitudes para metas relativamente abstratas ou estados finais de existência igualdade liberdade salvação são comumente trata das como valores E ainda atitudes com im plicações para políticas governamentais ou relações entre grupos sociais são chamadas de atitudes sociais ou atitudes políticas Essa amplitude conceitual possivel mente explica por que provavelmente ne nhum conceito das ciências comportamen tais tenha sido usado tão amplamente por teóricos e pesquisadores como o termo ati tudes Defleur e Westie 1963 p 17 18 Fishbein e Ajzen 1975 revisaram as prin cipais teorias na área das atitudes abor daram especificamente as teorias de apren dizagem valor expectativa consistência e atribuição Ademais diversos manuais de psicologia social dedicaram um ou mais de seus capítulos para tratar das atitudes ver por exemplo Gilbert Fiske e Lindzey 1998 Myers 2000 Rodrigues Assmar e Jablonsky 2000 Rodrigues 1979 Rodrigues 1988 Smith e Mackie 1995 O estudo das atitudes de fato continua sendo um aspecto vital da psicologia social contemporânea Crano e Prislin 2006 p 346 É comum nesse sentido citar que a afirmação que Allport fez em 1935 no pri meiro Handbook of Social Psychology de que a atitude é o mais indispensável cons truto da psicologia social continua atual nos dias de hoje ver por exemplo Crano e Prislin 2006 Fishbein e Ajzen 1975 Petty Wegener e Fabrigar 1997 De acordo com a revisão de Crano e Prislin as subáreas mais estudadas envolvem a funções das atitudes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 206 tOrres neiva cOLs b importância dos atributos c normas grupais d influência social e consenso e representações das atitudes f teorias de processos duais g influência social aplicada h mídia e persuasão i mensuração e interpretação de atitudes implícitas j uma reconsideração da resistência estudos brasileiros 2002 2007 nos Periódicos eletrônicos de Psicologia Com o fim da caracterização das pesquisas atitudinais publicadas no contexto nacional como sendo especificamente da área da psi cologia efetuou se uma busca no PePSIC Periódicos Eletrônicos de Psicologia com o termo atitudes a ser considerado no título do artigo e surgiram 10 resultados de inte resse todos publicados entre 2002 e 2007 A maioria desses estudos considerou como respondentes estudantes universitários e estudantes do ensino médio de escolas pú blicas e privadas mas utilizaram se também amostras mais específicas como portadores de deficiência física Verificaram se os obje tivos de validação de escalas de compara ção de atitudes por grupos de verificação da importância de variáveis sociodemográ ficas e de correlação entre atitudes e outros construtos como traços de personalidade Os objetos atitudinais também variaram tratando se desde escola aposentadoria velhice maconha sono meio ambiente es tatística e avaliação psicológica A técnica preferencial de mensuração foi a escala de Likert 6 estudos seguido pelo diferencial semântico de Osgood 4 estudos e a esca la de intervalos aparentemente iguais de Thurstone 1 estudo Os estudos citados anteriormente são representativos apenas de uma amostra da psicologia social brasileira mas serve para dar uma ideia dos estudos publica dos em revistas de psicologia no país De fato tem se também desenvolvido escalas na psicologia brasileira para medir atitu des com relação aos mais diversos objetos e certamente esta é a forma mais comum de medir atitudes nesse contexto Pode se encontrar por exemplo atitudes frente ao doente mental Martins Nogueira Martins e Pasquali 1987 ao computador Gouveia Andrade Queiroga e Meira 2001 à reta liação organizacional Mendonça e Tamayo 2003 ao consumo de materiais pornográ ficos Guerra Andrade e Dias 2004 à es cola Fonseca Gouveia Gouveia Pimentel e Medeiros 2007 ou às drogas Gouveia Pimentel Medeiros Gouveia e Cavalcanti 2007 entre outras Vale ressaltar que essas medidas são comumente encontradas em artigos de re vistas internacionais que trazem medidas de uma infinidade de objetos como atitudes frente à pesquisa Papanastasiou 2005 à internet Sam Othman e Nordin 2005 ao meio ambiente Milfont e Duckitt 2006 ou mesmo ao chocolate Müller Dettemer e Macht 2002 só para citar algumas Essas referências mostram a importância da men suração das atitudes na psicologia princi palmente no contexto nacional Esse tópico é precisamente desenvolvido na continua ção deste capítulo Mensuração das atitudes Já na década de 1940 Sherif e Cantril 1946 destacaram que nos anos recen tes as atitudes de todos os tipos de pessoas frente a quase todos os assuntos concebí veis têm sido medidas p 296 Pelo revis to até este ponto podemos verificar que tal asserção ainda é válida para a atualidade Eagly e Chaiken 1998 explicaram que tradicionalmente as atitudes têm sido me didas em uma dimensão bipolar que varia de altamente favorável a altamente desfa vorável em relação a um objeto atitudinal Por outro lado podem se empregar obser INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 207 vações diretas do comportamento que po dem ser controladas ou não entrevistas in dividuais ou em grupo também podem ser utilizadas Richardson e Wanderley 1984 ou mesmo perder uma carta ou deixar cair outros objetos para medir atitudes de ajuda honestidade ou preconceito Silva Günther Lara Cunha e Almeida 1998 ou mesmo mensurações psicofisiológicas Cacioppo e Tassinary 1989 Em suma como explicaram Sherif e Cantril as ati tudes se inferem de reações verbais ou não verbais das pessoas p 307 Há muito foi encorajado o uso de uma abordagem que gere diferentes ti pos de evidências atitudinais a multiple indicator approach to attitude measuremet distinguindo se cinco técnicas de mensurar atitudes Cook e Selltiz 1964 1 medidas autoaplicáveis self report de crenças sentimentos e comportamentos 2 observação direta do comportamento para um objeto 3 reações do indivíduo de estímulos parcial mente estruturados como se apresentar uma fotografia de alguém e solicitar des crições dessa pessoa 4 performance em tarefas objetivas nas quais o desempenho é afetado por atitudes e 5 respostas fisiológicas Vários instrumentos têm sido utiliza dos para se medir atitudes Os métodos mais comuns destacados na época foram as me didas autoaplicáveis de autodescrição ou autorrelato medidas fisiológicas e técnicas observacionais Cook e Selltiz 1964 As técnicas observacionais para a me dição das atitudes variam de pouco estru turadas e informais até técnicas altamente estruturadas e formais Uma técnica pouco estruturada e informal a observação parti cipante propõe que o observador participe ativamente nas atividades do experimento Uma técnica mais estruturada a Análise do Processo Interativo IPA de Bales 1950 é usada para avaliar como as pessoas inte ragem em pequenos grupos No IPA o ob servador avalia as verbalizações dos mem bros do grupo em termos de 12 categorias criadas para medir as orientações sociais e emocionais e de tarefa Mesmo com essa diversidade de técni cas comumente alude se à mensuração das atitudes como formas de coletar as atitudes dos sujeitos por meio de escalas intervalares ou medidas escalares Pasquali 1996 ob jetivas do tipo lápis e papel as conhecidas escalas de atitudes attitude scales Essa mensuração no nível intervalar possibilita a utilização de estatísticas paramétricas como a média o desvio padrão o teste t a corre lação a regressão a análise de variância as análises de componentes principais as aná lises fatoriais as análises fatoriais confirma tórias e os modelos de equações estruturais Pasquali 2003 Além da já mencionada aplicabilidade em todas as subáreas do cam po das atitudes a fácil utilização o baixo custo dessas medidas e a possibilidade de coleta de dados em grandes amostras duran te pouco tempo são algumas das vantagens que justificam seu amplo uso Em razão des ses motivos especificamente revisaram se os métodos de Thurstone Likert Guttman Osgood Bogardus O desenvolvimento mais recente de Greenwald também foi contem plado tendo em vista o crescente uso das medidas implícitas mesmo que este capítu lo esteja focado nas medidas explícitas nas medidas diretas de atitudes Método de tHurstone Há mais de 70 anos Louis Leon Thurstone concluiu que as atitudes poderiam ser men suradas tendo descrito vários critérios para tanto Thurstone 1928 O primeiro pon to destacado por Richardson e Wanderley 1984 no que diz respeito à construção de uma escala de Thurstone é o número de itens Thurstone e Chave 1929 exemplifi cam a construção de uma escala de atitu des frente à igreja partindo de 130 itens opiniões dos participantes que devem ser medidas em um contínuo de intervalos apa INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 208 tOrres neiva cOLs rentemente iguais oriundo da experimenta ção psicofísica Em suma elas contêm uma série de afirmativas que já foram avaliadas previamente em termos de favorabilidade e apenas pedem que o respondente marque as afirmativas com as quais ele concorda Richardson e Wanderley 1984 destaca ram que o número inicial de itens em uma escala de Thurstone é grande em torno de 100 a 200 Com relação ao número de ju ízes verifica se também que é um número grande variando de 50 a 200 Os autores exemplificam uma escala de dogmatismo construída a partir do método de Thurstone Um exemplo de item seria 1 A causa principal da pobreza é a ausência do espírito humanitário p 48 Nas instruções explica se que são 100 itens para medir dogmatismo e que a pessoa deve colocar o número correspondente da disposição ao dogmatismo que pode variar de uma posição altamente positiva 1 a uma posição totalmente neutra 6 e 11 sendo uma posição totalmente negativa Seltiz Jahoda Deutsch e Cook 1974 afir maram que mesmo Thurstone tendo propos to outros métodos o método de intervalos aparentemente iguais é o mais usado tendo sido construídas escalas para a medida de atitudes com relação às guerras a filmes à igreja à pena de morte aos chineses aos ne gros aos brancos entre outros Richardson e Wanderley 1984 explicaram ainda to dos os procedimentos para a construção de escalas na perspectiva de Thurstone mas outros autores p ex Pasquali 1996 Seltiz et al 1974 assinalaram que este é um processo laborioso Porém mesmo com a desvantagem de ser um método trabalho so que demanda tempo é importante des tacar que este teve sua importância para o desenvolvimento inicial da mensuração de atitudes Essa dificuldade na construção de uma escala de Thurstone certamente levou à utilização mais frequente do procedimen to detalhado a seguir das escalas de Likert Rodrigues et al 2000 Método de likert De fato é muito provável que a técnica pro posta por Rensis Likert em 1932 seja uma das mais ou por que não dizer a mais uti lizada na construção de escalas psicológicas Pasquali 1996 Ao trabalhar com o método de Likert o pesquisador também deve partir de uma quantidade de itens e administrá lo em um grupo de sujeitos Esses itens se classificam em um contínuo de 5 pontos que vai de concordo totalmente a discordo totalmente Após cada item é correlaciona do com o escore total indicando o quão da mesma coisa os itens medem e as respostas são analisadas em termos de se verificar seu poder discriminativo com relação ao grupo superior e inferior Pasquali 1996 Seltiz et al 1974 Pasquali diferenciou procedi mentos empíricos e analíticos na construção de uma escala de Likert Para esse autor os procedimentos empíricos consistem em 1 criar itens sobre o que se quer medir um construto psicológico e 2 coletar as respostas dos sujeitos em uma escala Os procedimentos analíticos por sua vez visam determinar a seleção final dos itens e a avaliação dos parâmetros da esca la p 124 Ele ainda explicou que Likert sugeriu que a seleção dos itens de fato fosse baseada no teste t entre as médias de cada item de acordo com o grupo superior versus inferior Destacou por outro lado que nes se sentido são mais promissoras as análises da teoria de resposta ao item no âmbito da psicometria moderna Destaca se que o método de Likert em comparação com o de Thurstone é mais em pírico Seltiz e colaboradores 1974 expli caram que embora Likert tenha usado cinco pontos em suas escalas outros pesquisado res empregaram um número maior e outro menor para mensurar a concordânciadis cordância com os objetos atitudinais Seltiz e colaboradores 1974 p 414 também exemplificaram a mensuração das atitudes a partir da técnica de Likert INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 209 Seltiz e colaboradores 1975 pontua ram que a escala Likert tem sido usada am plamente em estudos de atitudes frente a ne gros ou ao internacionalismo Atualmente podem ser encontradas escalas de atitudes para mensuração dos mais diversos objetos Os autores ainda destacaram que a escala de Likert tem várias vantagens em relação à técnica de Thurstone como a possibilidade de incluir itens que não se prendem dire tamente à atitude investigada podendo se incluir qualquer item que demonstre empi ricamente uma relação com o escore total e a facilidade na construção Tittle e Hill 1967 avaliaram o poder preditivo das atitudes considerando as esca las de Thurstone o diferencial semântico e Likert e Guttman verificaram que a escala de Likert apresentou a melhor predição para o comportamento além de ter apresentado maior precisão Os dados ainda mostraram que a escala de Thurstone apresentou o menor poder preditivo e precisão Por ou tro lado enfatize se que escores produzi dos por escalas Likert têm se relacionado com aqueles gerados pela abordagem de Thurstone variando de r 060 a 095 mas a abordagem de Likert tem mostrado melhor precisão split half formas parale las ou teste reteste em comparação com a proposta de Thurstone Roberts Laughlin e Wedell 1999 Esses autores ainda explicaram que Likert nunca propôs uma teoria para justi ficar seu modelo e que a teoria clássica dos testes só foi usada para este fim anos após a proposta inicial de Likert Depreende se de todo o anterior que a proposta de Likert parece realmente viável para a mensuração das atitudes mas também não é isenta de limitações e consequentes críticas como a de ser inadequada para medir atitudes ex tremas Roberts et al 1999 Tais formas podem ainda ser favoreci das pela mensuração na internet que pode ser considerada uma área inevitável nos dias de hoje para a pesquisa em psicologia social Mensuração online Outra forma de mensuração de atitudes e de outros construtos que vem sendo cada vez mais utilizada é a mensuração utilizada em survey online e a despeito das precon cepções as pesquisas empíricas têm mos trado vantagens já reportadas na literatura 22 Devemos lutar pela lealdade a nosso país antes de podermos considerar a comunidade mundial aprovo Desaprovo inteiramente aprovo indeciso Desaprovo inteiramente 1 2 3 4 5 Um exemplo mais recente seria uma escala de Likert para medir atitudes frente à violência anderson Benjamin Wood e Bonacci 2006 instrUções Por favor indique em que magnitude você concorda ou discorda com as seguin tes afirmações usando a escala de resposta a baixo 1 Discordo totalmente 2 Discordo 3 nem concordo nem discordo 4 concordo 5 concordo totalmente 1 a guerra é frequentemente necessária INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 210 tOrres neiva cOLs metodológica como a facilidade na coleta ou a possibilidade de oferecer feedback ao respondente Gosling Vazire Srivastava e John 2004 Günther 2008 Recentemente tornou se evidente por meio de dados de amostras em 16 países que existe uma equivalência entre a forma de mensuração convencional tipo lápis e papel e a mensu ração do clima organizacional pela internet Beuckelaer e Lievens 2009 Mesmo sendo necessário o teste explícito desta equiva lência para diversos construtos pondera se que existem razões suficientes para a men suração de atitudes online Um exemplo de item de atitudes ancorado em escala Likert medidos via Web Survey seria HR SURVEY 2008 visto na Figura 91 Esse formato de item é utilizado para a mensuração de atitudes do trabalhador com relação ao comprometimento com a compa nhia em que trabalha em uma escala de cin co pontos variando de concordo totalmente a discordo totalmente Verificamos que cada vez mais essa forma de coletar dados pela internet vem ganhando espaço nas pesqui sas em psicologia social A facilidade com que se realiza o levantamento de atitudes via internet pode ser particularmente útil para pesquisas que buscam conhecer pa drões atitudinais entre culturas mais preci samente no âmbito das pesquisas em psico logia social transcultural Método de guttMan O enfoque de Guttman 1944 1945 1947 1950 apud Pasquali 1996 por sua vez su põe unidimensionalidade da propriedade psicológica Os itens expressam magnitudes diferentes em uma sequência monotônica crescente são itens cumulativos em que a aceitação de um item de maior nível redun da na aceitação dos outros Portanto con siste na construção de itens escalonados cumulativamente Em outras palavras as afirmativas na escala de Guttman são or de nadas em uma hierarquia de forma que a concordância com uma afirmativa im plica que o respondente também concorda com as afirmativas que estão em um nível inferior da hierarquia Rodrigues Assmar e Jablonski 2000 informaram que a cons trução dessa escala envolve geralmente a elaboração de 7 a 8 afirmações Pasquali 1996 explicou que talvez o procedimento de Guttman seja mais adequado para avaliar a unidimensionalidade do que propriamen te para a construção de escalas e que na li teratura tal forma de medida é rara apesar de ainda usada Lindemann e Brigham 2003 Atitudes frente a objetos muito ava liados positivamente que não despertam polêmica como o aborto ou as drogas mas unipolares como atitudes frente ao esporte ou à música Eagly e Chaiken 1998 prova Figura 91 escala Likert de atitudes para mensuração online Concordo Não tenho Discordo Comprometimento plenamente Concordo opinião Discordo plenamente 5 Recomendaria aos meus amigos trabalhar na empresa ABC 6 Recomendaria a empresa ABC como um ótimo lugar para trabalhar 7 Os empregados são responsabilizados pelo seu trabalho INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 211 velmente seriam outros exemplos de aplica ções para esse tipo de medida Um exemplo de itens dessa escala cumulativa para a me dida de atitudes frente à psicologia seria 1 A psicologia é a mais importante das ci ências 2 A psicologia é de extrema utilidade no mundo moderno 3 A psicologia é benéfica à maior parte do conjunto das atividades humanas Rodrigues et al 2000 p 425 As instruções incluem que o respon dente deve assinalar também o grau de concordância com cada sentença podendo variar de 0 a 7 Como se deduz a cons trução dos itens não parece ser uma tarefa complicada na abordagem de Guttman mas a propriedade de unidimensionalidade colo ca uma barreira clara para a mensuração de objetos mais socialmente complexos Método de osgood Osgood Osgood e Suci 1952 Osgood Suci e Tannenbaum 1957 apud Pasquali 1996 desenvolveu sua técnica para a mensuração do significado Porém o diferencial semân tico tem sido utilizado para medir diver sos construtos principalmente as atitudes Um conjunto de escalas entendidos aqui como itens tipicamente ancorados em uma escala de sete pontos deve ser elaborado com o fim de cobrir um conceito específi co Osgood 1964 p 173 sublinhou que quando um grupo julga um conjunto de conceitos contra um conjunto de escalas ad jetivas representa se o que chamamos um diferencial semântico Veja se por exemplo um item para avaliação das atitudes frente à maconha Gouveia Pimentel Queiroga Meira e Jesus 2005 O mesmo formato já foi utilizado no contexto brasileiro para se medir atitu des frente ao site de relacionamento social Orkut Ferreira Pimentel Cirino Santos e Oliveira 2008 e atitudes frente às drogas à maconha e ao álcool apresentando se como uma escala válida e precisa Gouveia et al 2005 2007 Gouveia Pimentel Leite Albuquerque e Costa 2009 Pimentel Coelho Júnior e Aragão 2009 O diferen cial semântico portanto como se pode ob servar emprega adjetivos bipolares como forte fraco bom mau ativo passivo rápido lento quente frio justo injusto Osgood 1964 Pasquali 1996 Vale notar que esses itens bipolares são desenhados para me dir três dimensões nível de favorabilidade bom ruim poder fraco forte e atividade ativo passivo Provavelmente esta técnica de men suração de atitudes ainda tem grande utili dade na pesquisa psicológica contemporâ nea a exemplo de sua utilização na teoria da ação racional Fishbein e Ajzen 1975 e na teoria da ação planejada Ajzen 1991 as quais vêm se destacando pela eficácia na predição de comportamentos há mais de duas décadas Ajzen 1991 Smith et al 2008 para estudos de metanálise ver Armitage e Conner 2001 Godin e Kok 1996 Sheeran e Taylor 1999 incluindo estudos brasileiros p ex DAmorin 1996 Dias 1995 De fato a medida direta das atitu des na teoria da ação planejada pode ser obtida por meio da construção de itens em uma escala de diferencial semântico Ajzen 2009 e tendo se em vista o as pecto avaliativo das atitudes escolhem se adjetivos bipolares referentes ao fator ava liação Pasquali 2010 O comportamento deve ser especificado com base na estra tégia TACT Target Action Context Time ou seja definido em termos do alvo ação considero estar sob a influência da maconha Positivo negativo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 212 tOrres neiva cOLs Também é provável que após Likert essa seja a técnica de medida mais utili zada para a aferição das atitudes Friborg Martinussen e Rosenvinge 2006 em um teste empírico das escalas no formato de Likert e diferencial semântico chegaram à conclusão de que para a mensuração de construtos da psicologia positiva como a re siliência é preferível o diferencial semânti co pois ele reduz o viés de aquiescência ve rificado na escala Likert para a mensuração desses construtos É possível portanto que a mensuração de atitudes positivas usadas na psicologia positiva Peterson e Spiker 2005 também sejam favorecidas pelo dife rencial semântico Destaque se entretanto que na práti ca medidas baseadas nessa técnica p ex Ferreira et al 2008 Gouveia et al 2005 2007 2009 têm se demonstrado de difícil entendimento na realidade brasileira con fundindo os respondentes e demandando explicações adicionais No entanto uma me dida breve formada por 4 itens apenas e com boas propriedades psicométricas como essas acima citadas pode ser especialmente útil quando se deseja inserir diversas outras medidas como mediadores e moderadores da relação atitudes comportamento a se rem testadas por exemplo em um modelo de equações estruturais Byrne 2001 Método de bogardus O método de Bogardus conhecido como escala de distância social foi um dos pri meiros propostos iniciando se em 1922 para a mensuração de atitudes nas rela ções intergrupais Parrillo e Donoghue 2005 Seltiz et al 1974 Richarson e Wanderley 1985 asseveraram que ini cialmente essa escala foi aplicada no âm bito das atitudes entre grupos nacionais e étnicos mas que posteriormente foi es tendida para pesquisas de atitudes de gru pos ocupacionais e classes sociais Pode se verificar ainda a mensuração das atitu des frente a grupos anticonvencionais tais quais os hippies tendo em conta a distân cia social medida em uma escala de alta disponibilidade a baixa disponibilidade No sentido de até que ponto os participan tes da pesquisa gostariam de ter alguém aparentando e vestido como hippies mo rando de aluguel em um quarto em sua casa ou apartamento morando em sua vi zinhança morando em sua cidade como um amigo próximo em um jantar em sua casa ou como conhecido Steffensmeier e Steffensmeier 1975 p 395 A mensuração da distância social foi utilizada recentemente para aferir atitudes entre médicos e enfermeiras em um hospital entre estudantes universitários consideran do o retardo mental e entre profissionais de saúde com pacientes em fase terminal re centemente replicando os estudos originais de Bogardus Parrillo e Donoghue 2005 Um exemplo de formato de item de escala de distância social no que se refere à raça definida como grupo cultural é demonstra do Richarson e Wanderley 1985 p 96 a seguir contexto e tempo Francis et al 2004 Um exemplo de atitudes frente ao com portamento de assistir videoclipe musical violento seria 1 Para mim assistir a um videoclipe musical violento no mínimo 15 minutos por dia no próximo mês é Prejudicial Benéfico 1 2 3 4 5 6 7 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 213 Solicita se nas instruções que os res pondentes mostrem suas primeiras reações sem pensar muito buscando espontaneida de nas respostas não raciocinem muito e assinalem com um X em cada linha para os distintos grupos O método de Bogardus se afigura como muito interessante com um formato que é de entendimento rápido mas se limita para medir a distância social preconceito as relações entre indivíduos e grupos os estereótipos ou atitudes fren te a vários grupos Bogardus 1947 como os imigrantes Parrillo e Donoghue 2005 Quando são utilizadas os respondentes in dicam sua inclinação para ter vários níveis de contato com diferentes grupos alvo Essa técnica pode ser útil também na pesquisa na psicologia social dos grupos minoritários podendo ser empregada para diversos gru pos em que se verificam atitudes sociais ne gativas como para gays lésbicas mulheres negros pobres ou pessoas idosas Por outro lado pelo fato de que algu mas vezes as pessoas não estão dispostas a revelarem suas verdadeiras atitudes as es calas autodescritivas nem sempre nos dão as melhores informações Assim para reduzir a inadequação dessas escalas pesquisado res desenvolveram várias técnicas alternati vas Uma dessas técnicas a Bogus Pipeline Jones e Sigall 1971 que é uma técnica deceptiva consiste em dizer aos participan tes que foram conectados a uma máquina com eletrodos que essa máquina irá medir suas respostas verdadeiras por meio do mo nitoramento de mudanças fisiológicas em bora a máquina não possa fazer isso Mensuração de atitudes iMPlícitas Atualmente de acordo com o modelo auto mático de processamento de informações da cognição social um importante desenvolvi mento recente na área é a mensuração de atitudes implícitas Esta técnica vem sendo implementada com o objetivo de diminuir vieses das medidas reativas como aqueles provocados pela desejabilidade social que tanto pode se encontrar na medida de atitu des intergrupais Fiske e Taylor 2008 bem como no que tange às atitudes ambientais Hernández e Hidalgo 1998 Percebe se uma utilização cada vez mais crescente da mensuração implícita de atitudes estereótipos autoconceito e autoestima o que foi considerado um dos principais desenvolvimentos no campo da pesquisa em cognição social Hofmann Gawronski Gschwendner Le e Schmitt 2005 Neste contexto o Teste de Associação Implícita Implicit Association Test IAT de Greenwald McGhee e Schwartz 1998 tal vez seja o mais utilizado provocando um grande número de pesquisas e publicações No site do IAT por exemplo são listados mais de 50 pesquisadores que atualmente usam o teste Neste mesmo site pode se encontrar um link para sua demonstração httpsimplicitharvardeduimplicit Os estímulos usados incluem fotos de faces de pessoas obesas e magras faces de pes soas nativas dos Estados Unidos asiáticos negros europeus pessoas idosas e jovens nomes ligados a nacionalidades e religiões imagens de armas e objetos inofensivos pa lavras e outros símbolos Os dados são coletados a partir de com putadores equipados com o programa para o IAT IAT software Anthony G Greenwald e colaboradores têm proposto que o IAT é uma medida que se presta à mensuração das atitudes implícitas por examinar associações automáticas entre vários objetos atitudinais e atributos avaliativos Essa medida visa mais especificamente verificar quão associa categoria item Judeus norte americanos canadenses chineses 1 me casaria com 2 teria como amigos regulares INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 214 tOrres neiva cOLs do está um objeto atitudinal tais como inse tos e flores com um atributo avaliativo com as palavras agradável e desagradável ou fotos de armas e pessoas negras indicando que quanto mais proximamente associados estiverem os objetos atitudinais medindo o tempo de latência e os atributos avaliati vos mais forte é a atitude implícita No IAT para armas e objetos inofen sivos respondido online informa se que o sujeito deve responder dois breves questio nários e o IAT e que deve fazê lo em me nos de 10 minutos Após se responder esses questionários que envolvem questões sobre atitudes frente a negros e brancos e associa ções com armas se apresentam ao sujeito mais instruções de como responder ao IAT Isso envolve que o sujeito use as teclas E para as imagens que aparecem à direita do computador e I na parte esquerda da tela para a classificação de categorias p ex armas e itens p ex imagens de armas Mais uma vez é enfatizado que se classifique o mais rápido possível enfatiza se que não se conseguem resultados se a resposta for lenta O X vermelho indica resposta erra da e o sujeito deve corrigi la rapidamente No início devem se classificar as faces em faces de negros ou faces de brancos depois objetos em armas e objetos inofensivos e em seguida as categorias negros ou obje tos inofensivos e brancos ou arma Por fim pede se para categorizar negros ou armas e brancos ou objetos inofensivos de acordo com as teclas E e I e as imagens que apa recem no computador Se a resposta para a categorização de armas ou negros é mais rápida interpreta se que o respondente tem uma atitude implícita negativa frente aos negros e tende a associá los com armas ou mesmo com o crime Cada imagem fotos de negros brancos e objetos inofensivos como máquinas fotográficas ou refrigerantes é apresentada para categorização dos sujeitos e o tempo é registrado pelo programa Os modelos atuais têm considerado as atitudes muitas vezes como estando fora da consciência e do controle Tais atitudes têm sido consideradas implícitas as quais influenciam respostas automáticas e con sequentes interações com objetos atitudi nais Ao considerar a relação entre atitudes implícitas e explícitas verifica se que estas podem ser consideradas como um único construto Karpinski e Hilton 2001 Nesse sentido esses autores aplicam a metáfora das atitudes como um iceberg cuja parte que está acima da superfície do controle da consciência seriam as atitudes explícitas e as implícitas estariam submersas abaixo desta superfície Por outro lado os autores escla recem que as atitudes explícitas também vêm sendo consideradas como independen tes das implícitas As medidas explícitas de atitudes têm revelado que os brancos expressam atitudes mais favoráveis para brancos do que para negros e que tais relações têm sido verifica das no IAT ainda com um tamanho do efei to maior Fiske e Taylor 2008 Com base no estudo de Greenwald e colaboradores 1998 verificam se correlações que de fendem que as atitudes implícitas medidas pelo IAT são independentes das medidas explícitas Karpinski e Hilton 2001 verifi caram falta de correlação entre o IAT e as medidas explícitas de atitudes dando apoio ao modelo independente das atitudes implí citas versus explícitas Encontraram ainda que as atitudes explícitas predizem o com portamento mas que as atitudes implícitas medidas pelo IAT não o predisseram Esses autores no entanto afirmaram com base nos estudos pioneiros do IAT que a relação entre esse teste e as medidas explícitas de atitudes continua inconcludente Em estudo de metanálise verificou se uma modesta correlaçao entre as medidas implícitas e as explícitas Hofmann et al 2005 conclusões Neste capítulo revisitaram se os principais métodos de mensuração das atitudes A uti lidade de tais procedimentos é difícil de exa gerar considerando se que escalas de atitu des são virtualmente utilizadas em todas as áreas como estrutura função ou mudança de atitudes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 215 O método de Thurstone ainda é usa do atualmente além da importância his tórica para o desenvolvimento inicial da mensuração de atitudes embora seja muito trabalhoso O enfoque de Likert ainda é o preferencial seja no âmbito da psicologia mundial ou mesmo considerando se unica mente a psicologia brasileira sendo que não é considerado adequado para se medir ati tudes extremas A construção dos itens do formato de Guttman parece simples mas a unidimensionalidade da escala limita a me dida A prática tem mostrado que medidas de diferencial semântico Osgood são de difícil compreensão confundindo os respon dentes Quanto à estratégia de Bogardus a principal limitação reside na exclusividade do método para o campo das relações inter grupais Tem se verificado uma atividade pro dutiva na psicologia brasileira no âmbito da mensuração psicométrica utilizando se so bretudo Likert mas também o diferencial semântico Certamente uma das maiores vantagens das escalas de atitudes diz respei to à imensa multiplicidade de objetos psico lógicos e sociais que podem ser pesquisados a partir dessas ferramentas Isso confirma a elasticidade do construto destacada há mui to por Allport 1966 Estudos metodológicos comparando a precisão e a validade das técnicas entre diversos objetos populações e situações devem ser estimulados E a atividade de validação deve fazer uso da intervenção experimental pelas vantagens reportadas na literatura Pasquali 2003 Outro ponto importante seria a comparação entre medi das diretas e indiretas de atitudes tipo au torrelatos presenciais lápis e papel versus online Beuckelaer e Lievens 2009 Gosling et al 2004 medidas psicofisiológicas Cacioppo e Tassinary 1989 além da pes quisa sobre correlatos neurais com técnicas sofisticadas da neurociência Fiske e Taylor 2008 e medidas implícitas de atitudes como procedimentos de avaliações de pri mes considerando fotos de brancos e negros Payne Burkley e Stokes 2008 e o Teste de Associação Implícita Implicit Association Test IAT Greenwald Mcghee e Schwartz 1998 para diversos objetos atitudinais Essa forma cada vez mais utilizada de men suração é principalmente indicada para ati tudes sobre questões sociais sensíveis como a questão racial e étnica diminuindo o efei to da desejabilidade social Fiske e Taylor 2008 Esses empreendimentos supramencio nados e outros favoreceriam o há muito estimulado uso de indicadores múltiplos Cook e Selltiz 1964 Em suma concluí mos que as estratégias de mensuração de atitudes descritas neste capítulo são impor tantes como o são as medidas de autorrela to mas a representação do construto através de múltiplas medidas é preferível Kazdin 1995 Por fim as técnicas tradicionais re visadas aqui utilizadas conjuntamente com desenvolvimentos mais recentes atentos aos processos automáticos certamente contri buirão para a melhor mensuração e compre ensão das atitudes nota 1 Desta forma acreditamos que o debate acirra do que se travou sobre a questão da predição comportamental por meio das atitudes deve ser entendido também de acordo com as estratégias de mensuração do fenômeno E aperfeiçoando se as formas de mensuração certamente poderemos ter maior clareza da relação atitudes comportamentos A mensu ração das atitudes é fundamental ademais para se verificar a mudança de atitudes Petty Wheeler e Tormala 2003 reFerências AJZEN I Theory of planned behavior 2009 Dispo nível em httppeopleumasseduaizenindex html Acesso em 5 ago 2009 AJZEN I The theory of planned behavior Orga nizational Behavior and Human Decision Processes v 50 p 179211 1991 AJZEN I Nature and operation of attitudes Annu al Review of Psychology v 52 p 2758 2001 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 216 tOrres neiva cOLs ALLPORT G W Attitudes in the history of so cial psychology In WARREN N JAHODA M Org Attitudes London Penguin Books 1966 p1521 ALLPORT GW Attitudes In MURCHISON C Ed Handbook of Social Psychology Worcester Mass Clark University Press 1935 p 798844 ANDERSON C A BENJAMIN A J WOOD P K BONACCI 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internacionalmente por ser um melting pot1 é uma tarefa no mínimo com plicada O tema a ser tratado aqui é árduo pesado e evitado por muitos O dia a dia no Brasil não reconhece o preconceito e este tema é desviado nas casas escolas e nos mais diversos ambientes sociais Ele apa rece em manifestações sutis ou tão aceitas que não paramos para refletir sobre o tema Fiske e Taylor 2008 O preconceito no Brasil é expressado continuamente não apenas pelas atitudes e práticas cotidianas das diversas comuni dades mas principalmente por meio da estrutura social que efetivamente exclui as populações sócio historicamente discrimi nadas estratificando de maneira desigual as classes os grupos os indivíduos Um exemplo clássico do supracitado não reco nhecimento do preconceito é o do racismo praticado no país paradoxalmente denomi nado cordial tendo em vista pesquisas de opinião como a publicada pelo jornal Folha de São Paulo em 25061995 que abordou 5 mil entrevistados de todas as unidades federativas quanto a se tinham preconcei to racial o qual a maioria nega apesar dos dados que comprovam o abismo racial que separa negros e não negros neste país em detrimento daqueles Em suma quando se remete ao Brasil pode se reconhecer a discriminação con figurada na conjuntura de exclusão dos grupos afetados caracterizada em todas as instituições mas o mesmo não aconte ce com o preconceito que subsidia as prá ticas discriminatórias Nesse sentido este capítulo objetiva apresentar uma visão ge ral do preconceito que há no cotidiano para primeiro entender o fenômeno e então pro piciar uma reflexão ancorada na realidade para posteriormente entrar no tema de ma neira formal e acadêmica finalizando com sugestões de transformações e mudanças em diversos níveis A explicação para a escolha desse formato será dada adiante poder se ia adiantar que é uma leitura engajada do status quo e partindo do pressuposto que o príncipio da imparcialidade para este tema é inviável espera se uma interpretação calca da em suas experiências de maneira crítica e subsidiada Quando se fala em preconceito ele acontece onde O que é esse fenômeno E alguns chegam até a afirmar eu Eu não tenho preconceito quase como se fosse uma doença Pura desinformação ou falta de uma reflexão mais profunda do que a de mesa de botequim Vamos a algumas perguntas quantos amigos negros você tem Quantos amigos homossexuais você tem Seus filhos podem ou poderiam se relacionar com esses seus amigos gays ou lésbicas em festas por exem plo Quantos são deficientes físicos De reli gião diferente De classe social diferente da sua Quantas vezes você já viajou com gente de idade bem diferente Quantas vezes você já viu negros viajando no mesmo avião que o 10 PrecOnceitO estereótiPO e DiscriminaçãO amalia raquel Pérez nebra Jaqueline gomes de Jesus INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 220 tOrres neiva cOLs seu E no ônibus Sua mãe ganha ou já ga nhou mais que seu pai Sua empregada ou faxineira só tem a chave da entrada da cozi nha ou entra apenas por ela Seu prédio tem elevador social e de serviço Você sai para um boteco com colegas de nível educacional muito diferente do seu Para você todos os travestis são cabelereiros eou fazem prosti tuição Você sabe o nome do chefe de seu chefe mas o nome da copeira da cozinha que lhe prepara o café ou do faxineiro do prédio você sabe Quando caminha em algum lugar desconhecido e algum negro vem em senti do oposto com medo você troca de lado na rua Você já teve o sonho de encontrar com um estrangeiro casar e morar fora do Brasil Você já desejou casar com uma pessoa negra e africana Seu amigo descobriu que é soro positivo você muda seu tratamento com ele O que você pensaria se seu chefe fosse mui to mais jovem que você Quantas empresas conhecidas por você empregam pessoas com mais de 45 anos O que você acha da forma como as propagandas de cerveja usam a ima gem das mulheres E o que você pensa das mulheres transexuais As respostas a essas perguntas são de alguma maneira óbvias para a reflexão e até o que se espera delas Claro que nem sempre respondemos nenhum ou sim a todas elas mas são questões que de algu ma maneira delatam algum nível de este reótipo preconceito ou discriminação com algum grupo social que nós temos veremos as diferenças entre esses termos a seguir Essas perguntas se justificam tendo se como marco teórico aquilo que Santos 2003 aponta como uma marca da cultura ibérica que sustenta o preconceito dos brasi leiros a dissimulação isto é a cordialidade é aparência desmistificada ante aos dados Assim por exemplo o reconhecimento das parcerias afetivas interraciais em uma so ciedade hipócrita como esta nas palavras de Santos fundamentada na miscigenação e no ideal da igualdade formal não parece entrar em contradição de fato senão ide al Dados oriundos de relatórios do Banco Mundial 2001 e reflexões decorrentes de les reforçam tais afirmações Em 1995 o Brasil era o país com maior concentração de renda do mundo onde os 10 mais ricos possuíam 5132 da renda nacional abaixo seguiam o Quênia 4794 Honduras 4793 e a África do Sul 4735 Autores como Triandis McCusker e Hui 1990 têm estudado correlações entre valores transculturais nacionais e indicadores de bem estar social e econômico Em 1998 a população mais pobre de paí ses muito mais pobres que o Brasil como a Bolívia a Indonésia e o Zimbábue estava mais presente na escola do que no Brasil A partir de dados imprecisos calcula se que haja no Brasil cerca de 44 milhões de pessoas em estado de subnutrição o que equivaleria a quase 10 milhões de famílias O fato é que morrem todo ano cerca de 180 mil crianças por subnutri ção Betto 2003 p 54 Eis um curto extrato de repetição do óbvio os cantores estão certos quando fa lam que o Haiti é e não é aqui afinal o mais rico e democrático Brasil é muito mais injus to que o pobre e devastado Haiti A manifestação de qualquer tipo de preconceito ou seja a discriminação ocor re desde um nível quase imperceptível ou sutil até o descarado Fiske e Taylor 2008 Como exemplo são historicamente observa das em produções infanto juvenis dos estú dios Walt Disney aqui citados em função de seu alcance mundial manifestações estereotipadas e discriminatórias Os prín cipes e as mulheres indefesas são sempre brancos sem falar na música cantada pelo personagem Frollo ao Corcunda de Notre Dame Quasímodo Se tiver a oportunida de de ouvir pense em uma criança não de ficiente ouvindo e concordando facilmente com o que vê ou tente imaginar os malefí cios psíquicos infligidos a uma criança com deficiência Mas não apenas Walt Disney em seus desenhos animados faz isso a Dreamworks também As éguas principais do desenho Spirit são louras e de olhos claros Além dis INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 221 so no Brasil a rede Globo de televisão não apresenta expressões de afeto entre parcei ros gays Resende 2008 e a teledramatur gia em geral representa pessoas transexuais de forma apelativa ou erotizada Colling 2008 A animação Shrek poderia ser um contraponto na qual os protagonistas e an tagonistas destoam completamente do ideal estabelecido para ambos esse modelo al ternativo rendeu grandes cifras aos produ tores ante à quebra da rotina de repetição dos estereótipos Não se pode afirmar en tretanto que a experiência tenha se tornado referência para uma transformação do ide ário dos criadores e espectadores do produ to cultural cinema poderia antes ser uma exceção que acaba por marcar a presença da diversidade em um ambiente homogêneo de forma esporádica mas não cotidiana como se desejaria em uma conjuntura socioeco nômica que valoriza a diversidade um real melting pot Esses são possíveis exemplos do sutil a que vários de nós está exposto ou produz Outras manifestações ainda nessa linha no Brasil das mais comuns é o compartilha mento das chaves das casas nas entradas dos prédios no elevador de serviço no ser viçal que não come na mesma mesa que os patrões e em muitos casos nem ao mesmo tempo onde ambos se sentem desconfortá veis Alguns apartamentos são tão peque nos e ainda mantêm a porta de serviço Fica a questão se a porta mais próxima quando entra em casa é a da cozinha porque há uma entrada de serviço A geladeira não fi caria muito melhor nesse espaço Em outro nível já mais violento estão as seleções de pessoal em que uma vida é realmente prejudicada porque aquele indi víduo é obeso feio negro não pertencente àquele grupo ou qualquer outra coisa sobre a qual a pessoa tenha de pouco a nenhum controle Problemas com consumidores va riando do destrato até não haver produtos para aquele segmento portanto além de inadequado é pouco inteligente são outros exemplos Na composição familiar algumas questões de raça são tão enfatizadas que parece se estar falando de uma espécie di ferente não de humanos Nas sentenças proferidas pelos juízes baseadas entre ou tras coisas nas diferenças de pele classe so cial ou estética Etcoff 1999 Fiske e Taylor 2008 Novamente poderíamos citar núme ros porém pode ser mais instrutivo citar episódios representativos de nosso Zeitgeist judiciário A Constituição de 1891 não se referia à raça Meses após sua promulgação Rui Barbosa ordenou a queima dos docu mentos relativos ao tráfico de escravos Medeiros 2004 Foi julgado em 1966 o caso de um anún cio de imóvel que declarava não aceitar pessoas de cor para aluguel de um quarto o tribunal considerou que o caso não poderia ser julgado como racismo pois a Lei Afonso Arinos Lei 1390 de 1951 que tratava da temática cobria relações comerciais e visto que o quarto ficava em uma residência o ocorrido era da esfera privada Medeiros 2004 Sentença proferida pela 23a Vara Criminal do Rio de Janeiro relativa à acusação de racismo contra o cantor e composi tor Francisco Everardo Oliveira Silva vulgarmente conhecido como Tiririca devido a versos de sua música Veja os cabelos dela considerou que pelo fato de a mulher e a mãe do cantor serem afrodescendentes aquela parda e esta negra ele não poderia ser racista Santos 2003 Como disserta Medeiros 2004 a mera existência de legislação antirracista limitada como a Lei Afonso Arinos que tipi ficava preconceito de raça ou cor como con travenção penal posteriormente substi tuida pela Lei Caó Lei 7716 de 1989 que configurou esse preconceito como crime e atualmente pela Lei Paim Lei 9459 de 1997 não acarretou para a população negra de forma direta a conquista plena de seus direitos legais ante afrontas de ordem racial visto que o cumprimento da lei era dificultado por demandas de provas de or dem subjetiva para que fosse caracterizada INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 222 tOrres neiva cOLs a infração a qual não poderia ainda ser con figurada como crime de racismo O preconceito é uma manifestação que ocorre nos diversos níveis sociais e educa cionais da sociedade e seria no mínimo in gênuo acreditar que você ou eu não temos preconceito A diferença talvez esteja em saber que ele existe como se manifesta os males que causa e estar atento para evitá lo e até transformá lo Como assim Assim muito mais legal é ter gente de todo jeito para viajar ter gente que sabe fazer coisas diferentes com qualidades que nem imagi namos e com isso na família no trabalho e até para conversas de boteco Há décadas muitos estudiosos princi palmente voltados às ciências sociais pes quisam a questão do preconceito no Brasil podendo citar por exemplo as produções de Bastide e Fernandes 1971 Fernandes 1972 Freyre 1977 Hasenbalg 2005 Holanda 2000 Lima e Pereira 2004 Moura 1988 Munanga 1986 Nas ci mento 1978 e tantos outros cada qual abordando a temática dentro de seu espec tro específico de leitura dos problemas e respectivas propostas de solução conheci das são as críticas à teoria da democracia racial de Gilberto Freyre referência à fala ciosa ideia de que não existe racismo estru tural no país A questão do estudo psicossocial do preconceito no Brasil é recente em termos de corpo de estudos ela data dos anos de 1990 Em termos de reflexão é anterior mas em estudos empíricos ou teorias e mode los ainda engatinha Os estudos nessa área concentram se principalmente na Europa e nos Estados Unidos que são polos econô micos com muita imigração e que percebem perdem dinheiro com tais comportamentos Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 A diferença está em que nesses lugares a ma nifestação do preconceito é muito diferente da encontrada no Brasil e o estudo desses comportamentos deve apresentar um méto do muito particular para diagnosticá lo Mas no fim das contas o que é isso Qual a diferença entre preconceito este reótipo e discriminação No linguajar co mum esses três termos se equivalem mas em termos acadêmicos e jurídicos não Há um encadeamento lógico que precisa ficar claro Cognitivamente os seres humanos processam aproximadamente assim Fiske e Taylor 2008 Kimble Hirt Dias Loving Hosch Lucker e Zárate 2002 Rodrigues Assmar e Jablonski 2000 1 Juntamos pessoas em grupos para que possamos interagir com elas Caso não fizermos isso não saberíamos o que fazer com cada pessoa nova que aparecesse na nossa frente seríamos catatônicos Ou seja se virmos alguém vestido de terno e gravata vamos reagir diferente de alguém vestido com chinelo e bermuda 2 A partir desse agrupamento fazemos julgamento sobre esses grupos Assim agrupamos os biólogos os advogados os heterossexuais os homossexuais e demais grupos e julgamos que heterossexual é normal e homossexual não é normal pessoas que fazem biologia são bacanas e advogados são formais Destaca se que agrupamos várias pessoas em vários grupos e que nós mesmos fazemos parte de diversos grupos sociais homens mu lheres jovens adultos idosos orientação sexual religiosa cor de pele formação acadêmica etc O passo 3 é o comportamento que ocorre em acordo com o julgamento que fazemos Esse é o momento que estamos com alguém que faz biologia e como nos comportamos na mesa do boteco ou como tratamos um homossexual quando somos apresentados a ele ou ela Dessa maneira esses passos em sequên cia seriam 1 existem dois grupos patrões e emprega dos 2 empregados são subordinados e patrões são superioressubordinadores portan to 3 empregados não entram pela mesma porta dos donos da casa não comem à mesma mesa INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 223 A denominação que a literatura apre senta é a seguinte o primeiro passo a ca tegorização que fazemos é o estereótipo A segunda de julgamento sobre o grupo é a atitude e veja apenas a atitude negati va é chamada de preconceito Finalmente a terceira de comportamento baseado nesse preconceito é a discriminação Portanto fica claro que vamos falar de construtos diferentes que são o estereótipo o preconceito e a discriminação A opção por colocar preconceito como título do capí tulo é porque de todos os termos utilizados este é o utilizado pelo senso comum Mas em termos de sequência ele está no meio do processo estereótiPo O fenômeno do estereótipo tem se apresen tado como um importante objeto de estudo da psicologia social no sentido em que se insere no campo das relações de domina ção exploração segregação e isolamento sendo portanto compreendido a partir de vários ângulos e considerando se múltiplos aspectos acerca de suas características Rodrigues 1996 exemplifica tal afir mação ao conceber que os estereótipos se apresentam como preditores de comporta mentos de modo que o conhecimento dos estereótipos das pessoas em relação a de terminados objetos permite a formulação de inferências acerca da probabilidade de ocorrência de certos comportamentos Tais inferências podem ser descaradas ou sutis e são cognitivas já o afeto advindo dessa in ferência é denominado preconceito Fiske e Taylor 2008 Como já foi apresentado o estereótipo é a base do preconceito Sem ele não é pos sível existir o preconceito O estereótipo é uma atribuição de crenças que se faz a gru pos ou pessoas conscientes ou inconscien tes Dessa maneira não é possível ter um estereótipo de um jornal mas sim de jorna listas Etimologicamente deriva de duas pa lavras gregas túpos e stereos que são traço e rígido respectivamente Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 Estereótipo refere se portanto a cren ças e atributos compartilhados sobre um grupo Essas crenças compartilhadas são ge neralizações que se fazem sobre os grupos Há uma tendência geral humana a generali zar a partir de similaridades percebidas e a não se focar no que é diferente Pelo fato de termos de reagir de maneira relativamente rápida baseamo nos no que é comum a nós e a partir daí formamos generalizações que podem estar corretas ou não Além dis so estereótipos podem ser positivos nega tivos ou neutros e apresentam intensidades diferentes Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 Smith e Bond 1999 Visualmente seria assim tanto este reótipos corretos quanto incorretos apresen tam características semelhantes e variam de intensidade Quadro 101 Considerando que o estereótipo é uma crença e a crença é uma cognição relacio nada a um objeto tem se que o estereótipo pode ser considerado como sendo o com ponente cognitivo do preconceito Ou seja um componente pré atitudinal3 Rodrigues quadro 101 tiPO De estereótiPO cateGOriZaDO POr avaLiaçãO estereótipo tipo correto negativo neutro Positivo incorreto negativo neutro Positivo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 224 tOrres neiva cOLs Assmar e Jablonski 1999 Smith e Bond 1999 Novamente enfatiza se a impossibili dade de não existirem estereótipos O este reótipo é necessário para a sobrevivência do ser humano Ele é útil para vivermos em so ciedade e interagirmos com outros seres hu manos A dificuldade enfrentada nesse caso é de que o estereótipo seja rígido e de que nos baseamos apenas nele para interagir mos Como são baseados em generalizações bastante superficiais comumente nos impe dem de vermos as diferenças individuais o que é o comum na maioria dos casos Mas podem ser bastante funcionais e conquan to sejam baseados em algum levantamento ainda que assistemático podem nos facilitar a interação com as demais pessoas Smith Bond e Kagitçibasi 2006 Os estereótipos participam também de maneira essencial na formação da autoi magem das pessoas de modo que segundo Mead 1934 apud Von Hippel Hawkins e Schooler 2001 e Merton 1957 apud Von Hippel Hawkins e Schooler 2001 as pes soas geralmente acreditam nos estereótipos acerca delas mesmas e se comportam como se fossem verdadeiros endossando os este reótipos grupais no sentido de os transfor marem em descrições de suas identidades Hogg e Turner 1987 Muitas vezes por profecias autorrealizadoras Fiske e Taylor 2008 O estereótipo reduz a necessidade de atenção e processamento de informação do indivíduo Assim o indivíduo economiza energia e pode estar atento a outras ques tões na interação Ele categoriza e simplifica um mundo social complexo Outra função do estereótipo está em organizar a maneira como vamos interagir com nosso grupo so cial ou qualquer outro grupo Smith e Bond 1999 Assim decidimos como vamos reagir com uma pessoa baseados nesse estereóti po Essa estratégia ocorre porque ligamos pessoas a algum grupo social conhecido por nós ou do qual já ouvimos falar Pode ser um viés cultural essa pessoa é italiana ou por ela ser de um sexo x ou qualquer outra informação que tenhamos em mão A partir daí assumimos que tal pessoa tem muito em comum com esse grupo que conhecemos e vamos nos comportar dessa maneira Alguns estereótipos que podemos pen sar estão ligados à família brasileira ao nor destino ou às mulheres A família brasileira é um grupo onde existe o pai a mãe e 28 filhos Quantas famílias efetivamente são assim Outra questão a ser discutida que é muito frequente de ser ouvida sobre a famí lia nordestina é que há uma taxa de cres cimento muito grande nessa região Além disso é típico atribuir fragilidade à mulher Será que todas se comportam da mesma maneira e são assim realmente Vamos verificar estas afirmações a mé dia de habitantes por domicílio é abaixo de 4 38 pessoas o que significa só com essa in formação a impossibilidade de uma família típica ser de 5 pessoas Essa relação mantém se estável tanto na área urbana quanto na rural IBGE 2000 O IBGE 2000 apre sentou que o Nordeste hoje é uma das re giões com menor taxa de crescimento anual por motivos que não são os melhores alta taxa de mortalidade infantil e migração A mulher vive hoje em média pouco mais de 8 anos a mais do que os homens neste caso quem é frágil Além disso as mulheres são responsáveis por suas residências em quase 30 Ou seja 13 das casas hoje é susten tada por mulheres sendo Salvador a cidade onde as mulheres mais são responsáveis pe los lares quase 40 Número impensado há 20 anos Este dado interroga sobre dois pontos a questão da família típica e da mu lher típica IBGE 2000 Um dado curioso é que a pouca infor mação sobre um grupo não influencia na possibilidade de formarmos um estereóti po Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 Formamos estereótipos de qualquer grupo de pessoas ou de uma pessoa individual mente mesmo com pouca informação O difícil torna se depois mudar esse estereó tipo pois mesmo com muita informação costumamos nos basear nas primeiras que tínhamos já que ficam arraigadas Fishbein e Ajzen 1975 Desta maneira transmitir INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 225 informações parece não ser um método ade quado para a mudança do fluxo estereóti po preconceito e discriminação A estrutura deste capítulo foi baseada neste princípio e será explicada adiante na seção de redução do preconceito e da discriminação Os estereótipos agem de modo tal que o mero conhecimento de que um estereótipo existe acerca de um grupo social pode afetar negativamente a performance de membros desse grupo em tarefas em que os estereó tipos se tornam fatores relevantes Kray Thompson e Galinsky 2001 Por exemplo ter um estereótipo de que japoneses são bons em matemática pode alterar negativa mente o fator de que ele seja bom gerente já que são bons apenas em matemática A ativação do sistema cognitivo para to marmos decisões baseadas nos estereótipos está pautada em uma ativação automática que nos esforçamos ao mínimo para buscar mos aquela informação Fiske e Taylor 2008 Kimble et al 2002 Normalmente ligada a crenças muito disseminadas culturalmente Mas a boa notícia é que após essa ativação automática é possível refletir sobre ela e controlá la Criar uma ativação ponderada fazendo uma avaliação e revisão dessa cren ça que temos sobre aquele grupo ou membro dele é uma das maneiras de fazer essa ativa ção controlada que é uma das possibilidades de freio ou redução do preconceito e poste rior discriminação Devine 1995 Dovidio Kawakami Smoak e Gaertner 2009 Smith Bond e Kagitçibasi 2006 su gerem que se soubéssemos mais sobre o grupo como por exemplo o quão indivi dualistas hierárquicas e expressivas aquelas pessoas daquela nação ou região são prova velmente teríamos menos desentendimen tos entre as culturas Smith e Bond 1999 relatam dois estudos realizados na Europa sobre heteroestereótipo nos quais mesmo depois de 10 anos os estereótipos se man tiveram estáveis para as nações estudadas Fica também uma questão levantada por Bignami 2002 Será que esses estereótipos são colocados pelos outros grupos ou será que nós como membros do grupo também o mantemos Vimos que a autoimagem é impactada pelo estereótipo mas será que o contrário é verdadeiro De certa forma o que ocorre quando um estrangeiro vem ao país e é assediado por muitas mulheres de todas as classes sociais é um reflexo disso ou da corrupção que ocorre no país pois acreditamos que somos assim e não é pos sível mudar isso Esse é um exemplo de que a resposta para esta pergunta é afirmativa estudos sustentam que o heteroestereótipo e o autoestereótipo convergem Fiske e Taylor 2008 e Smith e Bond 1999 corroboram a afirmação de Bignami 2002 como mensurar o estereótipo Cada tópico apresentado aqui estereóti po preconceito e discriminação tem uma seção de mensuração O objetivo desta se ção é apresentar a você algumas alternati vas de como realizar pesquisas nessa área Evidentemente não temos a intenção de esgotar as possibilidades aqui seria muito pretencioso de nossa parte mas a de pelo menos levantar alternativas que de repen te podem empolgá lo a pesquisar Uma das maneiras comuns de se men surar o estereótipo é solicitar para que se atribuam adjetivos a um grupo de pessoas Com maior ou menor número de informa ções e baseado nesses atributos faz se uma análise de conteúdo que pode ser realiza da de diversas maneiras segundo Minayo 1999 Tais adjetivos podem ser agrupados pelos pesquisados ou previamente apre sentados pelos pesquisadores Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 Esse tipo de análise permite avaliar os estereótipos so ciais além do grau de consenso entre eles e claro na possível mudança caso o traba lho seja realizado de maneira longitudinal Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 Outra possibilidade é solicitar aos su jeitos para estimarem que porcentagem do grupo possui esta ou aquela descrição ou se encaixam naquele adjetivo por exem plo espertos O favoritismo na distribuição de recursos é outra maneira A utilização do paradigma experimental de quem dis INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 226 tOrres neiva cOLs se o que quando se apresentam esquetes e depois se pede para o sujeito relatar quem disse o que especialmente descrições consi deradas inteligentes ou gentis Outra possi bilidade é a ativação ou priming de alguma característica e depois prosseguir a medição das avaliações Fiske e Taylor 2008 Uma grande dificuldade de mensurar estereótipo para grupos coletivistas como o nosso é a questão da desejabilidade social em que pega mal exprimir determinados pensamentos os quais são filtrados antes de aparecerem na resposta do questioná rio mesmo que o anonimato seja garantido Essa é uma informação que devemos saber que existe e tentar evitá la ao máximo com mecanismos para mensurar e controlar a de sejabilidade Portanto a opção por mecanis mos de medidas automáticas é preferível e serão descritas na próxima seção Preconceito Preconceito é uma palavra derivada do la tim praeconceptu e alguns de seus signifi cados recorrendo ao Novo Dicionário Aurélio Ferreira 1975 que interessam diretamente aqui são os de 1 conceito ou opinião formados anteci padamente sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos 2 julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste 3 suspeita intolerância ódio irracional ou aversão a outras raças credos religiões etc Seguindo o fluxo descrito antes o pre conceito é a atitude relacionada a crenças com relação ao objeto Para retomar breve mente o que é a atitude é a avaliação Briñol Falces e Becerra 2007 com três componen tes cognitivo afetivo e de intenção compor tamental conação veja mais no Capítulo 8 deste livro Esse afeto ligado à crença para se caracterizar como um preconceito é ne cessariamente negativo Caso o afeto seja po sitivo caracteriza se por ser uma atitude Alguns autores argumentam que o pre conceito pode ser tanto positivo quanto ne gativo ligado a uma pessoa ou a um grupo p ex Fishbein e Ajzen 1975 Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 Por outro lado não há concordância com relação a essa afir mação Devine 1995 Kimble et al 2002 e como o termo no senso comum é utiliza do de maneira negativa evita se confusão ao utilizá lo desta maneira a qual será ado tada no presente capítulo A causa do preconceito não é clara na literatura Fiske e Taylor 2008 Kimble et al 2002 Alguns autores argumentam que ele pode ser inerente à natureza humana outros que advém de um processo de apren dizagem ou do contexto social e cultural do indivíduo Tais processos não são excluden tes pelo contrário são fatores que apre sentam uma relação dinâmica e recíproca Sabe se que todos influenciam em magnitu des diferentes a formação desse fenômeno tão complexo que é o preconceito Devine 1995 Fishbein e Ajzen 1975 Kimble et al 2002 Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 O preconceito componente afetivo tem relação e interage com a cognição Sabe se também que as respostas afetivas são mais rápidas e mais intensas que as respostas cognitivas e que elas vêm de uma cognição avaliada internalizada ao longo de anos muitas vezes inconscientemente e que podem gerar comportamentos Essas emoções específicas têm um grupo espe cífico como alvo e saber controlá las ou evitá las auxilia no processo de diminuição do preconceito e da discriminação Fiske e Taylor 2008 Algumas pesquisas relatam que a for mação de atitude e por sua vez do precon ceito é inerente à natureza humana por se tratar de um mecanismo de defesa e de in teração social Kimble et al 2002 Outros ainda afirmam que o preconceito pode ser uma expressão patológica do ser humano e assim fazer parte por exemplo de sua personalidade Devine 1995 Muitos ou tros alegam que há também um componen te biológico nessa formação para facilitar INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 227 e agilizar comportamentos Fiske e Taylor 2008 A aprendizagem ocorre como já foi apresentado de maneira sutil por exemplo em filmes que são exibidos em grande cir culação na escola e em casa Questões cul turais como a empregada doméstica entrar pela porta dos fundos para não ser vista ter uma cozinha americana em que todos se olham e ao comer ela se esconde e não come junto aos patrões ensinam padrões de comportamentos aceitos pelos grupos so ciais O papel educativo é fundamental na formação dos estereótipos sejam eles positi vos ou negativos e como são o substrato do preconceito é portanto fundamental para este também Nas palavras de Karagiannis 1999 p 21 a exclusão nas escolas lan ça as sementes do descontentamento e da discriminação social A educação é uma questão de direitos humanos No contexto escolar principalmente o acadê mico o trabalho de Allport no campo dos estereótipos negativos analisado por Marx Brown e Steele 1999 estipula que entre estudantes a presença de educadores que são membros competentes de grupos mi noritários propicia o aumento dos níveis de performance pelos alunos Esse dado é uma das justificativas de ações afirmativas co tas em universidades para grupos excluí dos e para a diminuição do preconceito e consequentemente da discriminação Difícil é dizer quem é negro no Brasil Munanga 2004 Oliveira 2004 como mensurar Uma forma de preconceito é a atribuição de causalidade que fazemos com relação a um grupo Atribuição de causalidade como o nome diz é atribuir causa de um sucesso ou fracasso a um grupo social O preconceito normalmente enviesa nossa atribuição de causa a sucessos e fracassos de grupos so ciais Comumente o grupo de minoria erra porque é preguiçoso ou incompetente o de maioria erra porque Deus não quis foi um equívoco desta única vez e assim vai Nota se a diferença entre essas atribuições Em que o grupo de minoria fez praticamente porque quis o outro foi levado a fazer por algo que estava fora de seu controle A este tipo de viés se denominam causas disposi cionais o outro quis e situacionais ocor reu desta vez fora do controle A atribui ção de causalidade é uma das maneiras de se mensurar o preconceito a determinados grupos sociais Para mensurar o preconceito em crian ças uma estratégia interessante é a desen volvida por Davis 2006 no seu documen tário Uma garota como eu A girl like me no qual ela apresentava às crianças duas bonecas uma negra e outra branca e reali zava perguntas simples como por exemplo qual delas é a mais bonita qual delas se parece mais com você Esse estudo pode identificar qual a preferência das crianças e descrever se há preconceito racial na esco la por exemplo e pode ser realizado com bonecas diferentes p ex Polly e Bratz princesas Disney bonecas de pano Susi e Barbie entre outras Em adultos tal estratégia não seria efi caz Assim elaborar uma descrição de requi sitos para uma vaga de emprego ou estágio e um currículo elegível seria outra possibi lidade A única diferença entre os currículos será no primeiro nome e na foto do currí culo Em um delineamento 2x2 pode ser de um homem e uma mulher ou 4x4 homem branco ou negro mulher branca ou negra Ou ainda outras variações podem ser inclu ídas como por exemplo pessoas avaliadas por um grupo como muito bonitas e outras como comuns podem entrar também para apoio na literatura veja também Quadros 2004 Outra possibilidade menos reativa são medidas psicofisiológicas com ima gem de ressonância magnética e saber qual área do cérebro está ativada quando deter minadas figuras são apresentadas ou com o tamanho da dilatação da pupila Fiske e Taylor 2008 ou com medidas indiretas de completar sentenças atribuições e explica ções Dovidio et al 2009 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 228 tOrres neiva cOLs discriMinação Os preconceitos são baseados em percepção de homogeneidade em grupos Como já foi apresentado e você pode ter lido em outro capítulo somos avaros cognitivos e evita mos pensar diferente e agirmos diferente do que já estamos habituados Isso evita desgaste de energia e tempo para o organis mo ou seja é funcional para o organismo e para a sociedade Feres 2006 Kimble et al 2002 Por outro lado também faz com que acabemos por agir quase que mecani camente já que evitar pensar evita também rever sentimentos e características atri buídas e assim quando possível conação e comportamento convergem Fishbein e Ajzen 1975 Ou seja comportamo nos de maneira discriminatória com grupos sociais por sermos guiados pela lei do menor esfor ço só não agimos assim quando algo no ambiente não nos permite As diversas formas de discriminação são institucionalizadas nas organizações por meio de sistemas de opressão social ampla mente conhecidos como os ismos racismo institucional machismo homofobia entre outros Tais práticas em geral relacionadas ao assédio moral podem convergir em qual quer forma de violência No caso da homo fobia por exemplo entendida como medo aversão ou ódio a homossexuais Jesus 2003 p 22 essa discriminação socialmen te estabelecida tende a desembocar em um crime homofóbico entendido como toda espécie de agressão física verbal ou psicológica contra a pessoa natural em função da orientação sexual homoeróti ca da vítima ou do agressor ou contra a pessoa jurídica em função de sua natureza ou funções de apoio à população homos sexual Jesus 2003 p 22 Na atualidade tem se utilizado os ter mos bifobia lesfobia e transfobia para se referir especificamente ao preconceito e ou discriminação contra pessoas lésbicas bissexuais e travestis ou transexuais respec ticamente Brasil 2009 Cada vez mais programas de mudança e de gestão da diversidade têm sido finan ciados por financiamento internacional para lidar com o desafio de enfrentar a estrutura ção dessas discriminações nos vários tipos de relações trabalhistas As manifestações da discriminação se apresentam em todas as dimensões das relações de exploração especialmente nos mundos do trabalho Como aponta Jesus 2005 em sua dissertação de mestrado so bre o trabalho escravo no Brasil contempo râneo mesmo o conceito de cidadania não foi ainda plenamente estabelecido na práxis das sociedades hodiernas Tendo se em vista desde a ainda existência da figura do escra vo vítima de uma total infra humanização a quem é negado tudo o que é considerado indispensável aos cidadãos do conceito à materialidade até o gozo coletivo das benesses sociais que ainda não é garanti do pelos Estados nacionais apesar das inú meras revoltas e revoluções democráticas como a Revolução Francesa e a Revolução Haitiana como mensurar Uma maneira bastante comum de realizar um diagnóstico da discriminação em uma organização é realizar o senso de seus cola boradores Esse levantamento simples dirá quantas mulheres exercem cargos de chefia que cargos os deficiêntes físicos estão ocu pando se os pardos e os negros estão em outro tipo de trabalho que não os opera cionais Os mais bonitos recebem melhores salários ou sobem mais rapidamente na car reira Esses dados demonstram a discrimi nação velada que existe nas organizações Outro levantamento possível é sobre as sentenças judiciais que são proferidas Por exemplo antes da promulgação da Lei Maria da Penha se um homem batesse em uma mulher sua pena seria pagar uma ces ta básica Pandjiarjian 2000 apud Neri 2006 Considere se ainda o calvário por que passam as pessoas transexuais para que tenham respeitados o nome e o gênero com INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 229 os quais se identificam sendo em geral im pedidas de serem legalmente reconhecidas da forma como vivem pessoal e socialmente Bento 2006 Bento 2008 Levantamentos como esses podem ser realizados para reve lar a discriminação existente até na justiça Vale o comentário que para mensu rar discriminação é preciso que os partici pantes ou sujeitos de pesquisa realizem o comportamento preferencialmente em am biente real Por isso descrições são medidas adequadas desses comportamentos que ao serem observados em ambiente real são velados e aparentemente em número não significativo A explicação dada para não contratar uma mulher ou um negro ou um deficiente é muito semelhante e passa pela racionalidade a qual sugere isenção Este comentário serve para alertar sobre os cui dados que se deve tomar nessa medida de comportamento estudos brasileiros Alguns exemplos de pesquisas nacionais nesta área serão apresentados aqui Embora ainda estejam em fase de desenvolvimento eles trazem resultados interessantes e pouco conhecidos nacionalmente sendo relevantes para futuras discussões e aprimoramento Um dos estudos analisou 400 maté rias jornalísticas realizadas nos jogos parao límpicos de Atenas em 2004 objetivando a análise do conteúdo e da apresentação dos jornalistas da deficiência dos atletas parao límpicos Encontrou se para surpresa que nesse quesito a cobertura foi realizada de maneira adequada não tendo sido encontra dos adjetivos ou matérias que denegrissem ou colocassem aquele atleta como mais herói que os demais Osandón Albarrán 2005 Ainda que na televisão o sensacionalismo e a sátira sobre os deficientes sejam normal mente evidenciadados Moreira 2006 Por outro lado os jornalistas estão menos preparados para matérias relaciona das à violência com relação ao trabalho do preconceito e discriminação Outro traba lho também utilizando o método de análise de conteúdo em matérias jornalísticas ob servou que no caso de relatos de violência com mulheres a imprensa ainda não sabe se pronunciar adequadamente pois conti nua tratando a mulher como um ser frágil coitado e incapaz Diferente do relato reali zado a homens que sofrem violência Néri 2006 Curiosamente esse tratamento dife renciado dado às mulheres pelo jornalismo tem precedentes desde quando as mulheres começaram a ter direitos como cidadãs ou seja em 1934 Araújo 2003 No que tange a uma população discri minada como a composta por lésbicas gays bissexuais travestis e transexuais estudos como o de Mott 2000 reforçam a percepção do elevado grau de homofobia vigente na so ciedade brasileira na qual no ano de 1999 um homossexual foi assassinado a cada dois dias em função de sua orientação sexual Trabalhos com comportamento do consumidor apresentam alguns resulta dos interessantes Foi realizado um estudo comparando se homens homossexuais e he terossexuais sobre o processo percebido de compras Como resultado Malva 2006 ve rificou que hetero e homossexuais não per cebem tão diferentes seus processamentos de compras como se supõe Dos três fato res propostos por Porto 2005 aprovação social afeto e racionalização encontrou se diferença significativa apenas para a racio nalização Ou seja os heteros se percebe ram um pouco mais racionais para a compra que os homossexuais Neste caso racional é uma compra mais planejada e realizada de maneira passo a passo Ainda comentando acerca de questões relativas à orientação sexual pesquisar so mente as telenovelas da Rede Globo no pe ríodo de 1974 a 2007 Ao todo foram en contradas 27 telenovelas com personagens homossexuais Nota se que há um aumento no número de homossexuais nas novelas e que seus papéis afeminados beirando o bobo da corte se transformaram ao longo dos anos Todavia o afeto entre os persona gens ainda é um tabu como por exemplo um beijo Resende 2008 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 230 tOrres neiva cOLs Estudos também indicam que os ido sos se percebem como sendo discriminados ou com a exibição de uma imagem errônea por parte da mídia Lira 2007 e que os de ficientes visuais não têm suas necessidades atendidas nos sites mesmo com leis específi cas para tal Além de não atendidos os defi cientes visuais são obrigados a escutar todas as propagandas ali expostas enquanto os demais podem evitá las Oliveira 2007 Como pode se notar o número de pesquisas ainda é muito pequeno Os pes quisadores das questões do preconceito e da discriminação no Brasil em suas várias dimensões oriundos de diferentes áreas do conhecimento criticam e lamentam o pouco interesse dos psicólogos por essa temática o que inclusive limita a amplitude dos estu dos visto serem mínimos os trabalhos com enfoque psicossocial que subsidiem pesqui sas nas áreas de ciências sociais administra ção e economia entre outras Como apon ta Santos 2003 por exemplo os poucos estudos na área de psicologia impedem a compreensão de como se forma a identida de racial no país em detrimento da gran de quantidade de estudos desse tipo nos Estados Unidos que dificilmente poderiam ser adequados à nossa realidade Mas o Brasil já está ainda que vagaro samente apresentando seus primeiros resul tados de pesquisa empírica Considerando se as décadas de trabalhos nas demais ciências humanas e sociais além das pressões sociais e políticas nesse sentido decorrentes inclu sive de fatos instituídos como as legislações pró direitos humanos e as ações afirmativas é possível supor um aumento de pesquisas nesta área Uma dificuldade é que os alunos pouco se interessam pelo tema ou quando se interessam não querem fazer pesquisa embora nem sempre seja tão árido quanto parece Por que ocorre Como salientam Lima e Vala 2004 p 12 o processo de infra humanização resulta da negação a membros de outros grupos exogrupos de determinadas característi cas humanas características que compõem a essência humana tais como os valores a cultura a linguagem a inteligência e a capacidade de expressar sentimentos pelos quais os grupos opressores deslegitimam os grupos oprimidos atribuindo lhes carac terísticas extremamente negativas o que é um processo que se percebe desde os pri mórdios da humanidade Entre milhares de referências possíveis eis o caso dos judeus vistos pelos nazistas como ratos ou demô nios inaceitáveis na sociedade arianizada ou o caso dos negros vistos pelos racistas como monstros inadaptáveis na sociedade embranquecida Como recorda Devine 1995 p 474 membros do grupo externo são percebidos como mais homogêneos em suas caracte rísticas opiniões e comportamentos do que os membros do grupo interno Esta é uma maneira de explicar por que o preconceito e a discriminação ocorrem As formas mais proeminentes serão comentadas a seguir questões sociais e históricas Como aponta Devine 1995 a principal ex plicação para a causa do preconceito e da discriminação advém de um legado históri co e de circunstâncias sociais às quais esta mos incluídos e mantemos Entretanto essa perspectiva sozinha não é capaz de expli car todos os aspcetos do preconceito Na sociedade brasileira atual onde há leis que punem o preconceito esperava se a erradicação da discriminação racial ou de gênero Entretanto a resposta é negativa a tal suposição pelo menos para questões de raça e gênero O que parece estar ocor rendo segundo Camino Silva Machado e Pereira 2001 é uma mudança na manifes tação desse preconceito assim como de seu conteúdo Feres 2006 em uma análise histó rica sobre a discriminação racial no Brasil aponta que alguns autores acreditavam na herança escravocrata do Brasil Entretanto INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 231 outros autores afirmam que apenas a ques tão histórica não é suficiente para expli car a manutenção da discriminação racial mas sim o sistema capitalista que auxiliou nesta manutenção já que permitiu a res significação de tal discriminação apontan do o negro como incapaz tecnicamente e como cidadão Portanto a discriminação está relacionada com os ganhos materiais e simbólicos do grupo discriminador Assim o autor descreve que a discriminação se mantém pelos mecanismos sociais que a regulam Outra possibilidade de explicação está relacionada ao indivíduo ou seja sua personalidade Personalidade autoritária O estudo da personalidade autoritária sur giu na tentativa de explicar o preconceito e a discriminação baseada em diferenças in dividuais A ideia era delegar ao sujeito a responsabilidade de ele emitir determina dos comportamentos como o genocídio dos judeus Vale notar que essa teoria ganhou força exatamente no pós guerra Devine 1995 O programa de estudos de Adorno e colaboradores 1950 apud Devine 1995 pautava se em que o preconceito era um distúrbio da estrutura de personalidade do indivíduo que apresentava um traço de per sonalidade autoritário Tal traço tinha sua origem na infância do indivíduo que não pode expressar sua hostilidade e ansiedade pois seus pais não permitiriam e como me canismo de defesa a agressão era desviada para outros grupos sociais isto é grupos de minoria Essas pesquisas encontraram pouco suporte empírico por diversos motivos Entre eles o fato da escala de personalidade autoritária básica para a mensuração des se construto escala F possuir problemas de viés de medida e de consistência inter na Outro fato também é que esta medida apresentou se pouco relacionada a tendên cias de facismo o que também não faz sen tido Devine 1995 identidade social A identidade nos caracteriza como grupo e nos distingue de outros Kimble et al 2002 p 483 e apresenta três componentes básicos a a percepção de fazer parte de um grupo social consciente e cognitivo b a avaliação da importância de pertencer a este grupo e c o sentimento relativo a esse pertenci mento que pode variar por exemplo de vergonha a orgulho Tajfel 1972 apud Kimble et al 2002 Assim dependendo do grupo de que fazemos parte cada um desses componentes ocorre em maior ou menor grau e eles estão intimamente ligados a nosso autoconceito Os autores deste capítulo por exemplo são psicólogos latino americanos percebem o quanto é importante divulgar o conheci mento nessa área e têm um sentimento de orgulho e felicidade de pertencer a tal grupo social Sabe se também que grupos compe tem mais por recursos que indivíduos as sim pode se competir como indivíduo ou como membro de um grupo oposto Esse sentimento de pertença a um grupo por exemplo quando você está discutindo em um bar com um colega do sexo oposto sobre amenidades desse sexo oposto significa que você não é apenas um indivíduo mas sim participante de um grupo social diferente exemplo extraído de Torres PérezNebra 2004 Esse sentimento é básico para a te oria de identidade social Fiske e Taylor 2008 Moghaddam 1994 Segundo Taylor e Moghaddam 1994 p 61 a teoria da identidade social de Tajfel e Turner tenta explicar relações entre grupos de uma perspectiva grupal a teo ria apoia a ideia de que os indivíduos são motivados a desenvolver uma identidade social positiva produzida para manter seu autoconceito e autoestima O sentimento de pertença associado ao autoconceito possi bilita a formação das comparações sociais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 232 tOrres neiva cOLs intergrupais e extragrupais apontadas por Devine A teoria da identidade social dirá que nós nos identificamos com grupos que são de maior status social Por exemplo na América Latina quase todos os países pes quisados por Salazar 1997 apud Smith e Bond 1999 apresentaram sua identidade mais forte com a América Latina do que com seus países O único país que demonstrou exceção foi o Brasil onde os brasileiros se identificam mais com seu país Entretanto aqui pode ser pela dificuldade idiomática já que o Brasil é o único que não fala es panhol Outros estudos similares realizados chegaram à mesma conclusão a de que os membros de um grupo se aliariam a um de maior status social Além disso uma dificuldade que exis te é que quando sofremos alguma humilha ção ou quando falhamos por algum motivo a vergonha é de que o grupo social falhou e não necessariamente nós mesmos Isso ocorre em olimpíadas ou copas do mundo coMo reduzir o Preconceito e a discriMinação Esta seção apresentará algumas soluções encontradas na literatura de maneira ge ral e posteriormente daremos uma breve pincelada sobre sua aplicação em ambien tes sociais Há vários procedimentos para a extinção de estereótipos sob o enfoque comportamental essa poderia se dar pela evitação de reforço do estímulo Os resulta dos experimentais encontrados demonstram sucesso na extinção de estereótipos Nesse sentido para mudar o comportamento é preciso evitar o reforço quando ele ocorre Sob o enfoque social quando a tradi ção como reforçadora dos estereótipos em sociedades tradicionalistas se enfraquece acompanhada por atitudes de reflexão é possível incitar a formulação autônoma de escolhas além dos estereótipos Entretanto quando a reflexão é impedida pode se ge rar sofrimento de diversas ordens e meca nismos defensivos fundamentalistas e apar theid sendo um dos mais comuns a busca de parâmetros fixos de identidade Sawaia 2002 p 120 121 A reflexão crítica é um dos instrumentos para a redução do pre conceito e da discriminação A dificuldade é que essa reflexão deve partir do sujeito já que como vimos apresentar informações não é suficiente para se reduzir o preconcei to visto que ele é muito arraigado mas é um processo que pode e deve auxiliar que deve vir em paralelo Agregase ainda a pos sibilidade de diálogo Dovidio em sua linha de pesquisa mapeou que a preferência pelo que os grupos gostariam de conversar é di ferente Grupos com menos poder preferem falar sobre suas diferenças e o grupo com mais poder prefere falar sobre o que há em comum entre os grupos Outra possibilidade de ação para a re dução do preconceito está baseada nos estu dos de atitude Sabe se que uma das táticas de persuasão é apelar para o componente afetivo da atitude já que não é possível obri gar os sujeitos a mudarem de comportamen to A literatura demostra que apelar para o componente afetivo é mais eficaz que para o cognitivo Até porque as barreiras são menos claras em termos afetivos e como ambos os componentes caminham juntos mudando se o afeto muda se também a cognição ligada a ele Chaiken Wood e Eagly 1996 Devine 1995 Fishbein e Ajzen 1975 Essa tática foi utilizada no presente capítulo quando se perguntava provocati vamente sobre diversos aspectos de sua vida que possivelmente estariam ligados ao pre conceito Aquelas perguntas tinham a inten ção de apelar para seu compoente afetivo da atitude para que posteriormente pudesse mos entrar com informações para subsidiar suas ações ou escolhas teóricas Entretanto de todas as táticas de mu dança de atitude a que melhor funciona não está relacionada ao afeto ou à cognição mas sim ao comportamento Quando a or ganização obriga a convivência entre gru pos sociais que são distintos ela promove o contato entre os indivíduos mas será que isso é suficiente para reduzir o preconceito e por sua vez a discriminação A respos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 233 ta é não A redução só vai acontecer se a convivência tiver metas claras em conjunto se em um processo de avaliação de desem penho estiver incluído um item relativo à inclusão de membros diferentes Essa con vivência de grupos diferentes foi objeto de estudos da Teoria da Hipótese de Contato Devine 1995 Outra possibilidade ainda nessa linha é em um processo de recruta mento e seleção haver um peso grande para que pessoas diferentes sejam selecionadas valorizando se e destacando se a diferença que elas possuem Finalmente em se tratando de políti cas públicas quando parte desse arcabouço teórico não pode ser utilizado por inviabili dade resta a mensagem persuasiva O mo delo da probabilidade da elaboração vem trabalhando há 30 anos com a possibilidade de mudança de atitude e muito pouco estu dos há com experimentos no Brasil sobre a efetividade de campanhas governamentais deste tipo Petty e Briñol 2010 níveis de análise diferentes indivíduo grupo e sociedade Optamos como tópico de encerramento do capítulo não por uma conclusão com as li mitações da área e possibilidades de agenda de pesquisa mas sim por questionamentos e possibilidades do que pode ser realizado em níveis de análise diferentes para reduzirmos o preconceito que vivemos sejamos vítimas ou não você eu e nós O que eu posso fazer Talvez esta tenha sido uma pergunta que lhe ocorreu ao ler este capítulo O fenômeno do preconceito é si multaneamente algo que fascina e frustra Devine 1995 Por ser um fenômeno com plexo e multideterminado é difícil estabe lecer alguma meta que seja seguramente eficaz para sua redução e neste momento é algo que frustra qualquer tentativa Por outro lado nas palavras de Jane Elliot 1996 quantos somos nós autores Dois Assim como nós somos poucos e ten tamos provocar alguma mudança em talvez algum dos preconceitos que você tenha e talvez sequer tinha percebido até a leitura deste capítulo pode ser que você desenvol va uma ou várias estratégias para a redução de preconceito O que nós sabemos é que ficar para do e não fazer nada é uma das formas mais eficazes de manutenção do preconceito por parte daqueles que têm poder Por isso faça alguma coisa estabeleça uma meta diária para você mesmo sobre algum preconceito que você tenha sofra ou perceba existente na sociedade que você vive Fiske e Taylor 2008 descrevem que parte dos nossos preconceitos são incons cientes e que as reações que temos são tão rápidas que pouco conseguimos controlá las A seguir listamos sugestões que foram ins piradas no texto de Fiske e Taylor 2008 1 Sabe se que a mera categorização em gru pos já é suficiente para produzir enviesa mento Assim tente evitar categorizações pex esta pessoa é do grupo X que não é o meu e veja que ameaças de fato esse grupo diferente pode te trazer 2 Se um estímulo é ambíguo não o tome necessariamente como negativo ou ame açador um comentário ou pergunta de outro grupo social pode simplesmente ser honesta Há na literatura evidências de uma interpretação ameaçadora para estímulos ambíguos Evidentemente eles podem ser discriminatórios sim mas na ambiguidade a sugestão seria a de interpretá los como não ameaçadores na tentativa de aproximação entre grupos 3 As categorias dos grupos majoritários e mi noritários não são um fenômeno biológico são simplesmente uma construção social que pode mudar dependendo da história e da cultura p ex na América Latina os brasileiros são fortes na Europa ou nos Estados Unidos somos cucarachas 4 A literatura aponta que as pessoas que conseguem provar suas credenciais mo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 234 tOrres neiva cOLs rais como não preconceituosas se sentem mais livres para fazer comentários e ex pressar seus preconceitos Não faça isso é hipocrisia 5 Tente ter contato com grupos diferentes do seu e valorize o que esse grupo tem de diferente e de similar ao seu desde a faculdade até suas saídas faça uma lista com tais características isso além de auxiliar a memória facilita organizar e transformar esse conhecimento em um processo mais automatizado Você verá que terá mais similaridades do que di ferenças Claro que contato com o sexo oposto se você é heterosexual ou bissexual não é exatamente o que está sendo suge rido aqui 6 Lembre se das perguntas que foram feitas no início do capítulo sobre amigos gru pos sociais etc Este é o momento de pensar em outras possibilidades Liste as e coloque as em prática diversidade cultural aplicada O termo diversidade da forma em que o utilizamos atualmente consta no Novo Dicionário Aurélio Ferreira 1975 como oriundo de latim tardio diversificu varia do significando diferença dessemelhan ça dissimilitude divergência contradição oposição Esses significados são demasiada mente simples para abarcar a complexida de da palavra diversidade que não pode se restringir à listagem de seus sinônimos englobando conceitos antônimos situações específicas e pessoas concretas A diversidade cultural aplicada às organizações é uma solução que os norte americanos encontraram para os problemas com discriminação com que estavam sendo obrigados a lidar A discriminação faz a or ganização perder dinheiro com os processos na justiça E também evita que se gerem ri quezas uma vez que existem segmentos que não são atendidos ou são mal atendidos o que parece inviabilizar ou dificultar o pro cesso organizacional em diferentes níveis Assim a diversidade cultural nas or ganizações é um processo de ensinar as organizações a como lidarem com públicos e pessoas diferentes Olhando para dentro da organização o comportamento organi zacional e para fora o comportamento do consumidor Dessa maneira pode abranger toda a cadeia produtiva organizacional Vale lembrar que os relacionamentos com as de mais organizações a que esta possui passam a ser ditados por este processo Entretanto os desafios da diversidade cultural ultrapas sam esse enquadramento para mais infor mações Torres e Pérez Nebra 2004 Federação De acordo com a Constituição Federal de 1988 dentre os objetivos fundamentais da República consta no título I capítulo I Dos direitos e deveres individuais e coletivos artigo 3o parágrafo IV promover o bem de todos sem preconceitos de origem raça sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminação Brasil 1988 p 3 en quanto que no artigo 5o parágrafo XLI dos mesmos título e capítulo lemos a lei pu nirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais Brasil 1988 p 8 A proposta constitucional de promo ver o bem de todos e de punir qualquer discriminação ainda não foi plenamente aplicada em território nacional tornou se um mito que instiga as pessoas preocupa das com a realidade a prosseguir lutando até a concretização de seus ideais de igual dade de oportunidades para todos E esse tipo de igualdade só pode ser alcançado por meio de uma isonomia verdadeira entre as classes historicamente desprivilegiadas e as privilegiadas a qual não pode ser alcançada simplesmente por políticas universalistas de apoio mas por ações efetivas de incentivo estudado à melhoria das condições dos des favorecidos e da real punição a comporta mentos e ações de exclusão social com inter pretações penais justas Castilho 2000 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 235 Neste sentido a educação oferecida deve ser pensada e realizada de maneira a contemplar e adequar se ao cidadão que lá existe e não excludente como vem sendo realizada no Brasil Vimos que a educação tem um papel base no processo de mudan ça e de elaboração do pensamento crítico Dessa maneira apelamos para que todos os atores sociais envolvidos nesse processo mantenham se ligados nos três níveis de análise aqui proposto tanto no individual do que você e eu podemos fazer no grupal na sua instituição de vínculo ou social no questionamento e revisão do que está sendo exposto ou imposto Caldart 2001 Freire 1977 notas 1 Melting pot significa uma mistura absoluta de pessoas diferentes Está relacionado ao conceito de mosaico onde pessoas diferentes estão juntas mas não se misturam Hinton 2000 2 Considerando que a atitude é composta por três componentes cognitivo afetivo e cona tivo Ver mais no capítulo de atitudes deste livro e em Fishbein e Ajzen 1972 Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 reFerências ARAÚJO R C B O voto de saias a Constituinte de 1934 e a participação das 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Brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janei ro Paz e Terra 1978 NÉRI C R Jornal e Violência Contra a Mulher análise das reportagens do Correio Brasiliense no tratamento dado pelo veículo à vítima de atentado a homicídio Monografia Graduação Centro Universitário de Brasília Brasília 2006 OLIVEIRA F Ser negro no Brasil alcances e limites Estudos Avançados v 18 n 50 p 5760 2004 OLIVEIRA L C Deficiente visual e a Navegabilidade na Internet Monografia Graduação Centro Universitário de Brasília Brasília 2007 OSANDÓNALBARRÁN P A Jogos Paraolímicos de Atenas um enfoque na cobertura da mídia online INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 237 Monografia Graduação Centro Universitário de Brasília Brasília 2005 PETTY R E BRIÑOL P The elaboration likelihood model Three decades of research In VAN LANGE P A M KRUGLANSKI A HIGGINS E T Eds Handbook of theories of social psychology London England Sage 2010 p 145 QUADROS W Gênero e raça na desigualdade social brasileira recente Estudos Avançados v 18 n 50 p 95117 2004 RESENDE C A Telenovela O discurso dos per sonagens homossexuais nas telenovelas da Rede Globo Monografia Graduação Centro Univer sitário de Brasília Brasília 2008 RODRIGUES A Psicologia Social Petrópolis Vozes 1996 RODRIGUES A ASSMAR E M L JABLONSKI B Psicologia Social Petrópolis RJ Vozes 1999 SANTOS H A busca de um caminho para o Brasil A trilha do círculo vicioso São Paulo Senac São Paulo 2003 SAWAIA B B Identidade Uma Ideologia Separa tista In SAWAIA B B Org As Artimanhas da Exclusão Petrópolis Vozes 2002 p 7896 SMITH P BOND M H Social Psychology across Cultures Massachusetts Allyn Bacon 1999 SMITH P BOND M H KAGITÇIBASI Ç Un derstanding Social Psychology Across Cultural living and working in a changing world London Sage 2006 TAYLOR D M MOGHADDAM F M Theories of in tergroup relations international social psychological perspectives USA Praeger Publishers 1994 TORRES C V PÉREZNEBRA A R Diversidade Cultural no Contexto Organizacional In ZANELLI J C BORGESANDRADE J E BASTOS A V B Org Psicologia Organizações e Trabalho no Brasil Porto Alegre Artmed 2004 p 443465 TRIANDIS H C McCUSKER C HUI C H Multi method Probes of Individualism and Collectivism Journal of Personality and Social Psychology v 59 n 5 p 10061020 1990 VON HIPPEL W HAWKINS C SCHOOLER J Stereotype Distinctiveness How Counterstereo typic Behavior Shapes the SelfConcept Journal of Personality and Social Psychology v 81 n 2 p 193205 2001 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS aFetividade O homem se define no mundo objetivo não somente em pensamento senão com todos os sentidos Não só os cinco sentidos mas os sentidos espirituais amor vontade Karl Marx Dos grandes sistemas ideológicos construídos pelos seres humanos ao longo da História e representados nos anteparos culturais a afetividade enquanto substrato do amor e do ódio entre outros sentimen tos compete com as ideias de homem e de deus entre aquelas sobre as quais mais se dissertou Adler 1996a e talvez por isso ironicamente sejam das mais incompreendi das até hoje A conceituação das realidades física e psicológica se afigura como a primeira mar ca que pode ser notada entre as ideias de afetividade homem e deus mesmo a ideia mais fisicamente representável das três o homem somente é explicável se também adotar termos psicológicos Quanto às de mais ideias o mundo físico se interpenetra delas na concepção de grande parte dos que as pensam Por exemplo para Nietzsche 1996 a moral cristã se baseia em uma super realidade e em um deus cuja concepção e afirmação de existência se configuram en quanto fraude e niilismo porque resulta de tudo o que foi condenado fracassado e dig no de esquecimento pela história o concei to de deus cristão para o filósofo é de um nada divinizado de modo que mesmo que o mostrassem a ele ele só poderia acreditar menos ainda nele p 40 para São Tomás de Aquino o amor está não apenas na alma mas em todas as partes do corpo e nas coi sas do universo Adler 1996b asserção esta adotada por Dante para a construção da arquitetura teológica da Divina Comédia na qual o amor a tudo move O senso comum e a ciência por mais estranho que pareça também se utilizam desta concepção materialista de um fenô meno psicológico No caso da atração no mínimo desde Aristóteles afirma se que os átomos se atraem ou se repelem de acordo com suas cargas elétricas os magnetos atra em os metais a força da gravidade é dire tamente proporcional à massa dos corpos e inversamente proporcional ao quadrado de suas distâncias da mesma forma que Romeu e Julieta se amam Dom Quixote e Sancho Pança não se separam ou Dom Casmurro odeia Capitu Ou ama A metáfora física é permanente quando se trata dos fenômenos da atração e repulsa entre pessoas de modo que seguindo o princípio do uso genera lizado desses termos eles adquirem valores metodológicos e históricos para serem uti lizados neste trabalho de psicologia social 11 atraçãO e rePULsa interPessOaL Jaqueline gomes de Jesus Tempo e espaço medidos pelo coração isto é amor Marcel Proust INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 239 A atração e a repulsa interpessoal além de há séculos estudadas são historicamen te construídas Na Epopeia de Gilgamesh escrita na Mesopotâmia em torno de 2000 AC o protagonista primeiro Eu conscien te da Literatura movimenta a história em torno da busca pela vida eterna e do amor por seu companheiro que não pode sobrevi ver à morte Rexroth 1993 A busca cons tante pela preservação da vida que não era exclusiva daquela época é uma constante da humanidade Um dos prováveis primei ros estudiosos do afeto foi o filósofo Platão que teorizou acerca do tipo de amor que posteriormente foi denominado de platôni co no diálogo Banquete e mais apresentou reflexões acerca da função da afetividade no processo de conscientização permitindo contemplar o Belo em si Florido 2000 Não é à toa que a filosofia foi concebida como amor à sabedoria Inicialmente faz se mister lembrar que alguns utilizam amor e desejo para a mesma finalidade trazendo implícita a concepção do objetoser desejado como algo a ser adquirido até que a posse seja satisfeita o que igualaria o amor à fome uma vez satisfeitos cessariam de existir Ao se distinguir amor de desejo compreende se que existam também diferentes tipos de amor incluindo aí a amizade e essas varian tes de amor apresentam graus diferentes de demanda pelo objetoser desejado alguém pode se doar mais a um amigo do que po deria alguém que apenas desejasse algo de outrem Adler 1996a Se pudermos nos embrenhar diletante e sumariamente pela Psicanálise após abor dar aspectos filosóficos e literários antes de tratar da atração e da repulsa interpessoal no âmbito da psicologia social propriamen te dita encontraremos em Freud um teóri co fundamental da função do afeto na vida cotidiana e da estrutura que o compõe Ao tratar da sexualidade infantil introduz os conceitos de inconsciente pré consciente e consciente na teoria psicanalítica afirma que a função sexual existe desde o início da vida da pessoa e determina o desenvolvi mento humano estruturado em torno das pulsões de vida e de morte pelos princípios do prazer id da realidade ego e da moral superego Freud 1996 As di mensões dos afetos abordadas pela psicaná lise e sua importância para a subjetividade são elementos que as ciências humanas que estudam os aspectos psicossociais aprovei tam teórica e empiricamente para além do nível meramente individual Como reitera Green 1982 a di mensão afetiva é constituinte das obras de Freud e de outros autores ligados à teoria psicanalítica de modo que uma teoria sobre os afetos entremeia essa área do conheci mento e da ação terapêutica Um exemplo da imprescindibilidade da questão afetiva nos estudos freudianos é descrita por Rossi 2005 ao tratar do ensaio Projeto de uma Psicologia Científica publicada por Freud em 1895 acerca do qual a autora ressalta que representação e afeto são as duas no ções básicas do aparelho psíquico p 93 ressaltando que o processo afetivo é chave para o fenômeno da defesa psicológica A psicologia social trata da atração interpessoal a partir de uma visão especu lativa da personalidade humana que não pode ser dissociada da ideia de afetividade desejamos ser aceitos pelos outros Unger 1998 acrescenta que adquirimos por meio do sucesso em atrair eou ser atra ído maior liberdade para nos reinventar Partindo dessa premissa poder se ia supor que a importância de entender melhor os processos de atração e repulsa interpessoais residem não necessariamente na capacidade de interagirmos melhor mas na possibilida de de formularmos uma ciência psicológica menos indeterminada em termos de refe rentes empíricos para suas teorias acerca dos afetos das emoções dos sentimentos enfim da dimensão afetiva que possibilita a constituição das relações humanas que em tradições epistemológicas maniqueístas ainda vigentes contrastam na da dimensão cognitiva da comportamental e mesmo da social É imprescindível citar alguns autores que ao longo da construção da psicologia social no século XX tornaram se essenciais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 240 tOrres neiva cOLs para a construção de um corpus teórico sobre as questões da atraçãorepulsa interpessoal Dentre eles reconhece se Simmel 1939 como um téorico inspirador ao tratar das interações sociais como relação não isola das mas compostas por ações recíprocas fundamentada na interação simples entre os indivíduos conduzida pela necessidade de cada um dos sujeitos em agir de acordo com modelos sociais pré estabelecidos que designamos con los nombres de hostilidad y colaboración de asociación y escisión de las representaciones p 350 Esses esquemas comportamentais se referem diretamente aos conceitos de atração ou repulsa inter pessoal que serão desenvolvidos por outros autores Cooley 1967 trouxe a ideia de que a interação social desenvolve se partir de um processo pelo qual os indivíduos por meio de introspecção buscam imaginar a situação de interação social para enfim realizá la Essa foi uma proposta de natureza idealista da sociedade que vinha trazer um diferen cial a concepções para as quais as cognições dos atores sociais pouco contavam Autores como Thibault e Kelley 1959 apud Álvaro e Garrido 2006 contribuíram ao propor que as relações interpessoais são relações de cus tos e benefícios em que a repulsa entre os sujeitos aumentará proporcionalmente aos custos e a atração crescerá conforme mais benefícios forem proporcionados Os trabalhos de Goffman 1988 2005 enriqueceram substancialmente as pesqui sas ao tratar das interações interpessoais em seu contexto microssocial no qual os indivíduos buscam informações sobre si mesmos e buscam compreender o cenário Goffman 2005 p 31 que os cerca a partir da interação imediata com outros de modo que a atração é um objetivo que se tenta al cançar por meio da análise e reconstrução da imagem pessoal frente à de outros Para Goffman 1988 naqueles grupos sociais marcados por estigmas que deterioram as identidades sociais de seus componentes em geral a interação face a face é propensa a mecanismos por parte de quem estigma tiza e de quem é estigmatizado de controle de informação acerca de fatos considerados positivos e de tentativa de encobrimento do estigma respectivamente o que na comple xa interação de atraçãorepulsa interpesso al preserva o status quo da estrutura social ao determinar lugares desviantes para os grupos minoritários aFetos e subJetividade Ah piedade é o que sinto então Piedade é a minha forma de amor De ódio e de comunicação É o que me sustenta contra o mundo assim como alguém vive pelo desejo outro pelo medo Clarice Lispector O espetacular desenvolvimento das neurociências no século XX possibilitou cons tatar segundo Espiridião Antônio Majeski Colombo Toledo Monteverde Moraes Martins Fernandes Assis e Siqueira Batista 2008 as bases neurais de processos como as emoções que estão relacionadas a cir cuitos cerebrais distintos da percepção e da ação por exemplo Outro indicativo da interface entre psicologia e neurologia são trabalhos como os dos neurocientistas Mendonça Piccinin Capucho e Campos 2001 que a partir da utilização de um método simples e de uso comum nas ciências psicológicas desde Freud Garcia e Martins 2002 a associação livre de ideias apre sentação de uma palavra frase que deve ser seguida por palavras frase espontâneas e consecutivas por parte dos respondentes estudam o efeito de descargas epilépticas lateralizadas epilepsia parcial no fluxo do pensamento É Richards 1974 quem de fende que a psicologia social deve combater a tendência a se tornar uma disciplina que analisa fenômenos de forma estéril o que ocorreria ao adotar métodos da psicologia tradicional e aplicá los a problemas restritos à manipulação de pequenos grupos de pes soas sujeitos p 233 Para o autor são dois os desafios da psicologia social tomar conta da estrutura biológica do ser humano INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 241 e não permitir que considerações de ordem biológica conduzam a posicionamentos re ducionistas que desprivilegiem a natureza social da vida social p 238 À psicologia social interessa compre ender a constituição neurológica dos afetos sem se afastar de seus caminhos metodoló gicos e metas próprias os quais confluem para uma psicossociologia das emoções atenta ao background biológico A psicologia é uma ciência que só é possível pela relação interpessoal Autores como Martinet 1981 e Murray 1971 apresentam importantes elementos para compreender essa concepção ao tratar do tema das relações entre afetividade especi ficamente as emoções no campo da ciência psicológica O instrumento básico de traba lho doa psicólogoa não importa sua área de atuação clínica social e do trabalho educação e desenvolvimento ou processos básicos entre outras é a comunicação verbal e não verbal e esta ocorre nas intera ções sociais ou na mera expectativa delas conforme doutrina Rodrigues 1996 De modo geral constata se que o fe nômeno de se comunicar é enviar e receber mensagens por símbolos palavras signos gestos ou meios não verbais porém ela tem um sentido maior e crucial visto que a troca de informações em rede se torna elemen to central da atividade humana Castells 2008 Autores como Littlejohn 1982 rei teram a existência de uma pluralidade de modos de comunicar apesar disso é comum restringirmo nos aos elementos verbais da comunicação quando a esta nos referimos Urge um entendimento dos elementos da interação social humana que não pertencem ao universo verbal pois embora pouco tra tados teórica e empiricamente permeiam todas as relações interpessoais por menos que os sujeitos envolvidos o percebam A psicologia da comunicação que conforme explicitado no parágrafo anterior tem como instrumento de trabalho a comunicação ver bal e a não verbal pode subsidiar a com preensão da multidimensionalidade da co municação para além da função meramente verbal O comentário do parágrafo anterior se justifica pelo fato de que nós seres hu manos temos pouquíssimo conhecimento sobre nosso corpo e sobre nossas expressões corporais como relata Gaiarsa 1984 Eu não vejo meu rosto enquanto me comuni co frente a outrem porém o outro a todo o momento observa minha face e suas não verbalidades isto é cotidianamente emi timos mensagens mas temos um controle precário sobre como essa emissão é rece bida e no âmbito das relações interpesso ais de forma geral perceber se de corpo e alma como fala a expressão popular e perceber o outro pode acarretar em sua difí cil ou quase impossível exequibilidade uma possibilidade ímpar de descobrir novos sig nificados na interação e tomando empres tada a contribuição psicanalítica permitir a interpretação de conteúdos latentes Temos exemplos de utilização de co municação não verbal para além do contex to interpessoal mas também em eventos so ciais momentos substantivamente diferentes da rotina que são construídos controlados e programados pelo sistema social momen tos extraordinários no dizer de Da Matta 1983 Galinkin 2001 lembrando Leach 1966 1978 e Tambiah 1985 comenta que os ritos são uma forma de comunicação simbólica contêm mensagens metafóricas que informam sobre os sistemas cosmoló gicos daqueles que os realizam Servem como indícios sobre os pensamentos e sen timentos dos atores p 28 assim tornam público quem eles são Silva 1989 discrimina em seis os constituintes da comunicação não verbal 1 a paralinguagem relacionada ao ritmo da voz intensidade entonação sons emiti dos que não se constituem como padrões específicos da língua utilizada e traduzem características da personalidade do emis sor atitudes autoconceito mesmo um suspiro pode realizar esse papel 2 a cinésica relacionada à linguagem pro priamente corporal quanto mais encoberto um sinal corporal como um INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 242 tOrres neiva cOLs tremor menos consciente ele se torna para o emissor 3 a proxêmica relacionada às dimensões culturais da comunicação interpessoal como status social hierarquia relação de proximidade representados por meio de comportamentos como a distância física entre os sujeitos ou o posicionamento assumido entre eles 4 a tacêsica relacionada ao contato físico como e onde se toca o outro ao território pessoal dos sujeitos espécie de campo psicológico que cerca os interlocutores possibilitando limites para a distância os quais não sendo respeitados encetam na pessoa a sensação de ter sido invadida e pode ser maior ou menor dependendo do grau de intimidade existente ou desejado entre os participantes da interação 5 características físicas que sugerem in formações sobre características pessoais como idade sexo raça entre outras e objetos que indiquem estilo de vida classe socioeconômica rede de relações pessoais e sociais como tipo preferido de roupa e ornamentos 6 características ambientais como a orga nização do espaço onde ocorre a intera ção As expressões corporais mesmo que utilizadas inconscientemente são o princi pal suporte dos pensamentos e intenções estudos em comunicação não verbal como os de Silva 1989 sugerem que uma bai xa porcentagem das ideias é transmitida por palavras simplesmente apenas 7 se gundo Silva enquanto uma porcentagem considerável é transmitida por sinais para linguísticos como a entonação e a prosódia 38 idem e a maior parte é transmitida por expressões corporais 55 ibidem Desse modo uma comunicação eficiente domina os vários aspectos não verbais da in teração podendo proporcionar a tão alme jada empatia entre os interlocutores Haase e Tepper 1972 Paradoxalmente apesar de nos expres sarmos muito mais não verbalmente nossa sociedade valoriza e é estruturada em torno da verbalidade em especial a escrita Aquilo que acompanha e possibilita a compreensão dessas expressões além de também influen ciar comportamentos são os afetos Afetos podem ser produzidos a partir de estímulos internos ou externos ao sujeito de ordem física interpessoal ou social Como de modo geral se trabalha na psicologia so cial entende se que a sociedade estimula a expressão de algumas reações e reprime ou tras recorde se expressões substancialmente carregadas do pensamento social acerca da expressão afetiva semelhantes à conhecida homem não chora detentora do ideal de homem enquanto pessoa que não expressa sentimentos considerados femininos e tidos como inferiores em uma sociedade machis ta a mesma sociedade para a qual mulheres não são vistas com normalidade quando são assertivas em cargos de comando Nota se o quanto os preconceitos tam bém participam da afetividade de modo a guiar a expressão ou não dos afetos ou dire cionar a interpretação e valorização ou des valorização dos afetos Como se tratará mais adiante essa dimensão do afeto faz parte do processo evolutivo humano no âmbito do que tratamos em termos de estereótipos não verbalizados essenciais para a avaliação do comportamento dos outros aspecto tão ex plorado por autores clássicos como Goffman 1988 Tajfel 1982 e Allport 19541 O prazer e a dor são as matrizes psí quicas dos afetosafetividadevida afetiva de modo que nesse continuum surgem os afetos básicos que são o amor e o ódio e destes afetos os demais como ensinam Bock Furtado e Teixeira 1999 que distin guem no âmbito da vida afetiva emoção e sentimento Essas diferenças são definidas pela 1 intensidade e pela 2 duração tem poral nesses termos emoções são estados afetivos agudos e transitórios que podem ser acompanhados de reações orgânicas in tensas um exemplo citado pelos autores é a ira enquanto sentimentos são estados afetivos mais atenuados e duráveis como a gratidão Emoções como a dor a alegria e a pai xão respondem a acontecimentos inespera INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 243 dos ou muito esperados são acompanhadas por reações intensas e breves do organismo internas e externas que podem ser apren didas para serem aplicadas aos contextos sociais considerados adequados para sua expressão Sentimentos como a felicidade e a amizade expressões afetivas duradou ras e menos intensas conforme descrito anteriormente tanto quanto as emoções são desdobramentos dos afetos básicos dos seres humanos em suas dimensões subje tiva e temporal Bock Furtado e Teixeira 1999 Denote se ainda que para Ferraz Tavares e Zilberman 2007 a felicidade é uma emoção básica p 236 com paralelos expressivos encontrados em outros prima tas Neste trabalho entende se a felicidade como um sentimento por isso ainda com base nos autores citados concorda se com sua definição de felicidade como um esta do emocional positivo com sentimentos de bem estar e de prazer associados à percep ção de sucesso e à compreensão coerente e lúcida do mundo p 234 No âmbito transcultural autores como Diener e Biswas Diener 2002 Csikszentmihalyi 1999 e Veenhoven 1991 apud Ferraz Tavares e Zilberman 2007 correlacionam escores de felicidade altos com o poder aquisitivo mais elevado até o denominado limiar de subsistência com dignidade Ferraz Tavares e Zilberman 2007 p 236 em que o grau de riquezas das nações pouco parece interferir na rela ção mencionada atração e rePulsa interPessoal A despeito de sua atual figura triste e repulsiva era um membro da família que não podia ser tratado como um inimigo mas diante do qual o mandamento do dever familiar impunha engolir a repug nância e suportar suportar e nada mais Franz Kafka Compreendem Rodrigues 1996 e Rodrigues Assmar e Jablonski 2000 que o fenômeno da atração interpessoal é conse quente do processo de interação social que eles definem como um processo de troca no qual se ressaltam os aspectos da depen dência e da interdependência Os autores se aprofundam no estudo da atração interpes soal tendo em consideração que ela pode variar ao longo do tempo de maneira seme lhante ao ciclo de vida a atração entre as pessoas se forma mantém se e pode se ex tinguir ele também trata dos fatores que a afetam quais sejam 1 a proximidade física e 2 a identidade de valores e atitudes entre os sujeitos A proximidade física se configura como determinante substancial da formação de atração entre as pessoas em função 1 da conveniência de se atrair por alguém que está próximo 2 da familiaridade desenvolvida em decor rência da maior frequência de encontros 3 da potencialização na capacidade para ex tinguir a hostilidade autística fenômeno caracterizado pela cessação de interações tidas como não gratificantes2 4 do aumento da capacidade de predição do comportamento do outro Observa se que a proximidade física apesar de não extinguir desigualdades es truturais auxilia na diminuição de precon ceitos pessoais com relação a determinados grupos sociais Oponente à atração no que concer ne à proximidade física a repulsa pode ser exacerbada face à percepção de diferenças pessoais eou de status e à hostilidade an teriores ao aumento do contato Festinger Schachter e Back 1950 realizaram um ex perimento em que observaram a constituição de amizades em um prédio de dois andares e concluíram que os vizinhos tendiam a se tornar amigos em detrimento de morado res de andares diferentes Em concordância com a teoria de que o número de contatos e a interação propicia a atração interpesso INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 244 tOrres neiva cOLs al notou se que os moradores próximos de pontos de confluência como as escadas do andar térreo ou as caixas de correios tinham amigos em ambos os andares A identidade de valores e atitudes é determinante da formação de atração inter pessoal fundamentalmente devido à percep ção de semelhanças entendida como resul tante de distorções perceptivas no sentido da assimilação da comunicação enquanto coerente com os pontos de vista do recebe dor da mensagem dado que os sentimentos com relação ao outro enquanto indivíduo ou membro de um grupo social sejam positivos sentimentos negativos gerariam a percepção amplificada de contraste en tre os valores e as atitudes dos interlocu tores Rodrigues 1996 Rodrigues Assmar e Jablonski 2000 Os estudos de Byrne 1971 reforçaram isso ao analisar caracte rísticas pessoais e descobrir que as pessoas pesquisadas tendiam a se atrair por aquelas com características similares às suas Destarte interagir com pessoas com semelhanças de valores e atitudes gera con sensos o que 1 diminui os custos cognitivos afetivos e comportamentais da interação em si 2 estabelece uma realidade social comum entre os sujeitos porque o grupo a que pertencem se torna um grupo de re fe rência o que reforça a confiança nas ava liações individuais da realidade objetiva e satisfaz a necessidade de comparação com os outros através da maximização da possibilidade de concordância entre os participantes da interação o que enfim tende a validar as atitudes do eu devido à coerência com as atitudes do outro que é significativo para mim Rodrigues 1996 Rodrigues Assmar e Jablonski 2000 Reitera se que a ideia da concordân cia nas relações sociais é um substrato da atração interpessoal uma vez que os objetos ou assuntos avaliados de forma semelhan te se tornam relevantes para o grupo Nos estudos abordados por Rodrigues 1996 ressaltam se ainda algumas características do fenômeno da concordância ou discor dância nas relações que geram atração ou repulsa interpessoal por exemplo a cessão de concordância nas opiniões é acompanha da de hostilidades ou depreciação amigos que discordam tendem a tornar semelhan tes suas opiniões para evitar conflito e quando alguém está em um ambiente onde se interage com pessoas que concordam e discordam aquele tende a discutir mais com os dessemelhantes objetivando mudar suas opiniões Por isso um dos princípios da interação é que se é assegurado a uma pessoa que ela será bem recebida por semelhantes e dife rentes ela tende a preferir as diferentes por questões de tentativa de convencimento do outro mas por outro lado pessoas insegu ras em ser bem recebidas ou que necessitam fortemente do afeto de outrem procuram seus semelhantes Pode se também afirmar como outro princípio dessa interação rela cionada à afetividade que pessoas diferentes do grupo de opinião ou de referência susci tam ideias novas novidades que tornam a relação interessante e agradável Estudos e práticas na área de diversidade cultural de monstram a realidade dessa asserção Uma implicação dessa característica da dimensão afetiva é que ela não pode ser dissociada do trabalho para a inclusão pautado pela justi ça social pois como defende Sapon Shevin 1999 uma comunidade só pode se tornar inclusiva quando todos os seus membros se consideram pertencentes a essa comunidade e percebem que podem contribuir com ela Todas essas observações baseadas em estudos empíricos reforçam especulações populares relacionadas à ideia de que as pessoas sentem necessidade de se comple mentarem afetivamente como a de que os opostos se atraem ainda que talvez não de modo tão simples assim A questão da autoimagem se coloca de um modo importante na orientação da atra ção interpessoal ligada ao desejo afetivo sexual pois pessoas cuja imagem de si mes mas se distancia da que consideram ideal buscam pessoas mais diferentes delas que possuem os atributos por elas considerados INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 245 ideais já aquelas cuja imagem pessoal se aproxima da ideal buscam pessoas mais se melhantes a si Rodrigues 1996 Rodrigues Assmar e Jablonski 2000 Em termos ge rais quanto a atraçãorepulsa em questões relacionais como a da simpatia por alguém Swann Stein Seroussi e Giesler 1992 cor relacionam o nível de autoestima com o tipo de escolhas de modo que pessoas com auto estima elevada tenderiam a preferir pessoas que gostam delas enquanto pessoas com baixa autoestima tenderiam a preferir pes soas que as critiquem A atração interpessoal como se tem defendido ao longo do presente texto apre senta uma variabilidade maior de objetos de atração do que vulgarmente se pensa Várias são as razões para isso todas ligadas às diversas formas de gratificação nessas re lações que as pessoas percebem para si mes mas e como as relações devem ser mútuas os membros da relação precisam perceber que essa relação acarreta mais resultados favoráveis do que desfavoráveis e que não há relações alternativas melhores que excluam a manutenção da atual para que ela se mantenha No que tange à repulsa interpessoal Rosenbaum 1986 é enfático ao demons trar que tendo como referentes as dinâmi cas da atração interpessoal é provável que as pessoas tenham evitação por quem tenha atitudes diferentes das suas tendendo pri meiramente a excluir esse grupo de pesso as para então incluir os que se identificam com elas Ainda como demonstrado pela literatu ra com estudos como os de Simmel 1939 Cooley 1967 Tajfel 1982 Sapon Shevin 1999 e Goffman 1988 2005 a atração interpessoal entre os membros de um gru po repercute no sentido de possibilitar às pessoas uma melhor percepção dos próprios comportamentos na interação aumentar a intensidade da comunicação entre os sujei tos o poder de cada um dos membros da relação enquanto uma pessoa de referência para os outros e a atribuição de causalidade positiva isto é em termos populares meus amigos tendem a fazer boas coisas enquan to o oposto no caso da repulsa interpessoal é igualmente válido ou seja meus inimi gos tendem a fazer más ações já no âmbito da interação transcultural esta questão se coloca na questão de como identificar mem bros de fora de meu grupo em geral pau tada por estereótipos emoção e cognições especificamente devotadas ao outro grupo que fundamentará a maneira como se dá a interação seja entre indivíduos seja en tre grupos sociais nacionais Smith e Bond 1999 Como recurso à razoabilidade Rodri gues Assmar e Jablonski 2000 reiteram que as pesquisas na área ainda não permi tem generalizar o consenso como em outras áreas de estudo e chamam a atenção para o lugar de destaque dos estudos em atração interpessoal e a necessidade de compreen der melhor o fenômeno enquanto objeto de estudo de psicólogos sociais p 369 aléM Eu fiz uma reforma em mim Quero tra tar as pessoas que eu conheço com mais atenção Quero enviar um sorriso amável às crianças e aos operários Carolina Maria de Jesus A subjetividade humana é objeto de estudo para pensadores de diferentes áreas do conhecimento paradigmas e múltiplas matizes epistemológicas metodológicas éticas estéticas e políticas como relata Silva 1998 A subjetividade é uma construção histórica e social o que é ser eu hoje é diferente de há tempos atrás ou em outra cultura A construção da individualidade como consciência de si no mundo conceito hegeliano hoje é pautada pela ideia da dife rença da constituição da subjetividade pelo que é marginal na sociedade eu só me entendo como homem negro porque existe o ser e o conceito do ser da mulher negra et cetera Essa construção de subjetividade rompe os limites individuais e grupais atin gindo níveis globais quando consideramos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 246 tOrres neiva cOLs que o mundo contemporâneo é marcado por fortes transições na compreensão e na cons tituição subjetiva dos grupos sociais especi lamente os sócio historicamente discrimina dos Bhabha 1998 Hall 2006 que lutam para serem posicionados como interlocuto res legítimos e em igual posição aos demais e não mais como seres subalternos Para Touraine 1997 no tempo em que vivemos se racionaliza e subjetiva os su jeitos por meio do mecanismo da formação de identidade coletivas cuja origem Melucci 1989 1996 vai identificar nos movimen tos sociais Nesse sentido o sujeito se iden tifica cada vez mais como um nós politi camente situado antagônico ao status quo Essa realidade afeta a forma como as pes soas se reconhecem e ao outro e até mesmo a forma como se atraem ou se afastam essa transformação no pensamento de Melucci 1989 afeta a dimensão afetiva das pesso as porque subjetividade afeto e cultura são elementos indissociáveis do contexto sócio histórico Os afetos como demonstrado ao lon go deste capítulo constituem uma dimen são crucial da subjetividade e para além das dimensões culturais e políticas da ação humana as emoções e os sentimentos falam do que sou e também servem como antepa ro para não me mostrar As pessoas dizem tudo o que pensam Você não precisa refle tir muito para ter uma resposta que pode ser generalizada A teoria da zona muda de Abric 2003 afirma que as pessoas tendem à proteção de sua autoimagem de modo que expressar opiniões relacionadas a va lores morais e normas de grupo de caráter contranormativo pode afetar a imagem que os outros têm dela pode fazer com que elas percam a face por isso não se fala tudo o que se pensa sobre certos assuntos em espe cial os ligados a preconceitos com relação a determinados grupos sociais Essa opinião não é expressa em con dições normais exceto de modo descon textualizado sendo substituído de manei ra encoberta por outras opiniões valores ou normas Abric chegou a essas conclu sões após pesquisa que realizou acerca das opiniões de franceses quanto a pessoas de outra origem nacional e notou que os res pondentes tinham falas de conteúdos dife rentes quando o pesquisador era dessa outra origem nacional encobriam o preconceito e quando o pesquisador era visto como francês expunham o preconceito Tem se até o presente momento des tacado que do ponto de vista psicossocial a estrutura sociocultural interfere profun damente na constituição das subjetividades Quanto à influência destas no tecido social cabem macroleituras de cunho fortemente sociológico que não serão aqui aprofunda das Vale no entanto apontar a visão de um autor sobre esse tópico Conforme o pensa mento de Gramsci segundo Finelli 2001 somente enquanto resultado e não como princípio é que se pode avaliar a capaci dade de ação de uma subjetividade sobre a história resultado constatado por meio da evolução dos grupos subalternos do nível das iniciativas tão somente econômicas para o nível das iniciativas culturais e políticas Como se nota no trecho supracitado é indi cado o desafio de investigar a influência da subjetividade sobre grupos localizados em níveis diferentes da estrutura social que se apresenta como um tema a se tratar opor tunamente Autores da área de neurociências como Damásio 2001 entre outros de monstram que as expressões da afetividade se processam em locais e níveis de consciên cia do mundo diferentes das sensações bá sicas como o olfato a visão e outros Como ressaltado anteriormente a psicologia social se remete a essas contribuições e busca ana lisar essas expressões dos ditos e dos não ditos sob a ótica psicossocial Um exemplo é o da pesquisa de Ramires 2003 que ao articular a teoria do apego à teoria da cognição social analisa que a conjuntura atual no campo da cons trução do conhecimento científico urge por perspectivas transdisciplinares de estudo e referência teórica para se lidar melhor com a gama de variáveis que dominam o am INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 247 biente psicológico biológico físico e social e se remete a cientistas como Forgas 2001 que reiteram a necessidade de se compre ender a cognição e o afeto como dimensões da subjetividade que se entrelaçam sendo assim inseparáveis Pretendendo ir além considera se que a perspectiva da psicologia social precisa ser transdisciplinar não apenas porque o conhecimento científico hoje existe em um conjuntura complexa Morin 1991 1997 1999 mas também porque a própria con juntura social tecnodependente em que vi vemos nos apresenta outras realidades que em tempos anteriores não existiamnão es tavam acessíveis Instrumentos de avaliação da perso nalidade confiáveis e valorizados como o modelo dos cinco grandes fatores Big Five colocam a afetividade denominada neuroticismo como fator essencial na per sonalidade Hutz et al 1998 Inclusive no campo da informática o conhecimento científico do funcionamento dos mecanis mos afetivos encontra espaço na pesquisa e desenvolvimento de software Silva Tedesco e Ramalho 2006 por exemplo devem a teorias básicas sobre afetividade o desen volvimento de atores virtuais em um jogo que mimetiza o mundo real de modo a conferir aos personagens características de personalidade que sejam reconhecidas pelos seres humanos como propriamente humanas com o fim de atrair os jogadores reais às oportunidades disponibilizadas pelo entretenimento nesse aspecto ambientes virtuais como esse a televisão analógica mas principalmente a digital ou a internet entre outros se apresentam à contempora neidade como anteparos para relações entre o eu e o outro que pode não ser humano mas apresentar características comunicati vas humanóides Em suma esta breve intervenção nas questões da atração e da repulsa interpesso al se propôs a dissertar sobre o que não pode ser dito fazendo uso então de silêncios e referências teóricas e metateóricas porque é possível detalhar o que se sente compre ender mesmo que não se possa içar o cora ção à boca como explica a boa filha ao pai amado na peça Rei Lear de Shakespeare Para concluir remetendo se aqui à intangi bilidade de racionalizar sentimentos como o amor aquém à tentativa de compreendê los melhor invoco os versos de Cecília Meireles no Romanceiro da Inconfidência Liberdade essa palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda No Discurso sobre a origem e os funda mentos da desigualdade entre os homens Rosseau 2006 defende que a liberdade é um elemento distintivo do ser humano para os outros animais uma paixão no sentido afetivo que lhe permite escolher algo em função de sua vontade Assim entende se que a liberdade é não apenas um conceito é uma emoção fruto da expectativa da pessoa em ser quem é vontade decorrente de uma emoção e se expressar como se é ação decorrente da ne cessidade o que aproxima por funcionali dade a liberdade da alegria a expectativa de ser livre alegra as pessoas E por fim vale refletir com o pensa mento de Hannah Arendt 2002 2005 para quem a liberdade é indissociável da ação Retomamos a ideia de que o sentimen to ou a emoção não são apenas experiências individuais eles operam no nível interpes soal aliás precisam operar nesse nível para sanar a necessidade humana de comunica ção o que incorre na atração ou na repulsa interpessoal notas 1 Ver mais sobre estereótipos no Capítulo 10 deste livro 2 Como demonstra Rodrigues 1996 a proxi midade física aumenta as chances de contatos e destarte ante a um maior conhecimento do outro pode diminuir a repulsa interpessoal INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 248 tOrres neiva cOLs reFerências ABRIC JC La recherche du noyau central et de la zone muette des représentations sociales In ABRIC JC Org Méthodes détude des repré sentations sociales France Éditions érès 2003 p 5980 ADLER M J The syntopicon an index to the great ideas In ADLER M J Ed Great books of the western world USA Encyclopaedia Britannica 1996a p 3246 ADLER M J Thomas Aquinas I In ADLER M J Ed Great books of the western world USA Encyclopaedia Britannica 1996b p 178194 ALLPORT G W The nature of prejudice Cambrid ge AddisonWesley 1954 ÁLVARO J L GARRIDO A Psicologia social perspectivas psicológicas e sociológicas São Paulo McGrawHill 2006 ARENDT H A condição humana Rio de Janeiro Florense Universitária 2002 ARENDT H Entre o passado e o futuro São Paulo Perspectiva 2005 BHABHA H O local da cultura Belo Horizonte Editora UFMG 1998 BOCK A M B FURTADO O TEIXEIRA M L T Psicologias uma introdução ao estudo da psicolo gia São Paulo Saraiva 1999 BYRNE D The Attraction Paradigm New York Academic Press 1971 CASTELLS M A era da informação economia sociedade e cultura São Paulo Paz e Terra 2008 COOLEY H C Social organization a study of the larger mind New York Schocken Books 1967 CSIKSZENTMIHALYI M If we are so rich why arent we happy American 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desenvolvimento de marcadores para a avaliação da personalidade no modelo dos cinco grandes fatores Psicologia Reflexão e Crítica v 11 n 2 p 1428 1998 LITTLEJOHN S W Fundamentos teóricos da comu nicação humana Rio de Janeiro Zahar 1982 MARTINET M Teoria das emoções introdução à obra de Henri Wallon Lisboa Moraes 1981 MELUCCI A 1989 Um objetivo para os movi mentos sociais Revista Lua Nova v 38 Citado em Silva A S 2006 Marchando pelo arcoíris da política a parada do orgulho LGBT na construção INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 249 da consciência coletiva dos movimentos LGBT no Brasil Espanha e Portugal Tese de Doutorado defendida no Programa de Estudos PósGraduados em Psicologia Social Pontifícia Universidade Ca tólica de São Paulo 1989 MELUCCI A Challenging codes collective action in the information age Cambridge University Press 1996 MENDONÇA P B PICCININ L C CAPUCHO C M CAMPOS C J R Effect of lateralized epileptic discharges on the thought flow Arq Neuropsiquiatr v 59 n 2B p 318323 2001 MORIN E Introdução ao Pensamento Complexo Lisboa Instituto Piaget 1991 MORIN E Meus Demônios Rio de Janeiro Ber trand Brasil 1997 MORIN E Complexidade e Transdisciplinaridade a reforma da universidade e do ensino fundamental Natal EDUFRN 1999 MURRAY E Motivação e emoção Rio de Janeiro Zahar 1971 NIETZSCHE F W O anticristo maldição do cris tianismo Rio de Janeiro Clássicos Econômicos Newton 1996 RAMIRES V R R Cognição social e teoria do apego possíveis articulações Psicologia Reflexão e Crítica v 16 n 2 p 7689 2003 REXROTH K Recordando a los clásicos México Fondo de Cultura Econômica 1993 RICHARDS M The biological and the social In ARMISTEAD N Ed Reconstructing social psychology Middlesex Penguin Books 1974 p 233239 RODRIGUES A Psicologia social Petrópolis Vozes 1996 ROSENBAUM M E The repulsion hypothesis on the nondevelopment of relationships Journal of Personality and Social Psychology v 50 p 729 36 1986 ROSSI J C A representação 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drdspcartglrc1nufpebr SIMMEL G Sociologia estúdios sobre las formas de socialización Buenos Aires EspasaCalpe Ar gentina 1939 SMITH P B BOND M H Social psychology across cultures Massachusetts Allyn Bacon 1999 SWANN JR W B STEINSEROUSSI A GIESLER B Why people selfverify Journal of Personality and Social Psychology v 62 p 392401 1992 TAJFEL H Grupos humanos e categorias sociais Lisboa Livros Horizonte 1982 TOURAINE A Crítica da modernidade Petrópolis Vozes 1997 UNGER R M Paixão um ensaio sobre a persona lidade São Paulo Boitempo Editorial 1998 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS Parte III O grupo e o contato intergrupal INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS identidade e diFerença O termo identidade deriva do latim idem e tem o sentido de mesmo enquanto o verbo identificar significa tornar se igual idêntico a algo ou alguém Identificar significa ain da separar distinguir de outros semelhan tes a partir de características que tornam algo ou alguém diferente Nesse caso traz o sentido de unicidade e refere se a aspectos individuais que fazem cada pessoa sentir se única singular Um exemplo dessa unicida de é a carteira de identidade que usamos no Brasil composta por uma foto pelo nome e sobrenome do portador pela filiação pela data e pelo local de nascimento por um nú mero identificador e uma impressão digital Esse conjunto de informações no documen to torna o portador uma pessoa única in dividualizada diferente de todas as outras Quando duas ou mais pessoas têm o mesmo nome nasceram no mesmo dia mês e ano dificilmente seus pais terão nomes idênti cos aos de seu homônimo o que permitirá diferenciá las assim como o número único de cada carteira de identidade A identidade refere se portanto ao que uma pessoa é ela é brasileira ela é mu lher ela é protestante em oposição ao que ela não é a ser igual a alguns e diferentes de outros a sentir se única e ao mesmo tempo pertencente a determinados grupos e categorias sociais Como observa Ferdman 2003 cada pessoa tem diversas fontes para compor sua identidade religiãoespi ritualidade saúde educação habilidade fí sicamental fatores geográficos e políticos fenótipogenética ordem de nascimento idiomass experiência de vida raçaetnia nacionalidade gênero família orientação sexual identidade profissional classe social e idade entre outras fontes Assim como tais fontes conferem à pessoa certa unicida de elas também a situam em um grupo ou em uma categoria relativa à nacionalidade ao gênero e à religião etc Por exemplo se ela é brasileira não é japonesa se ela é mu lher não é homem se ela é protestante não é católica A autoidentificação mostra se assim como um reconhecer se e um diferenciar se entre as várias possibilidades que o indiví duo tem na constituição de si mesmo e para tanto é necessário comparar se Em outras palavras o reconhecimento das semelhan ças implica comparações e pressupõe a exis tência de diferenças O mesmo e o outro estão contidos na concepção de identidade Como observa Ricoeur 1991 semelhanças e diferenças fazem parte da mesma compo sição A acepção de identidade remete en tão aos termos da igualdade e da alterida de das semelhanças e das diferenças do se reconhecer e ser reconhecido pelo outro Sobre esse assemelhar se e diferenciar se Anchieta 2003 faz referência a Ciampa 2001 quando este autor analisa o poema Morte e Vida Severina de João Cabral de 12 iDentiDaDe sOciaL e aLteriDaDe ana lúcia galinkin amanda zauli INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 254 tOrres neiva cOLs Melo Neto Nesse poema o retirante nor destino Severino apresenta se contando sua história mas percebe que seu nome é o mes mo de muitos outros nordestinos e que ser retirante é o destino de vários de seus con terrâneos Severino procura diferenciar se por meio de outras características até que ao perceber que sua história não o distin gue de tantos outros retirantes apresenta se como Severino que em vossa presença emi gra Anchieta 2003 p 47 salienta Na narrativa de Severino o jogo das semelhanças e da inclusão que se faz através do sentimento de pertença e de identificação da diferenciação e da ex clusão que define alteridade aparece a cada tentativa do personagem em se fazer reconhecer ou em individualizar se Woodward 2000 p 7 8 cita outra his tória em que o escritor e radialista Michael Ignatieff conversa com soldados sérvios em um posto de comando da milícia sérvia durante a guerra na antiga Iugoslávia Com relação aos sérvios e croatas o escritor per gunta a um dos soldados O que faz vocês pensarem que são diferentes O soldado pega um maço de cigarros e responde Vê isto São cigarros sérvios Do outro lado eles fumam cigarros croatas E continua Aqueles croatas pensam que são melhores que nós Eles pensam que são europeus fi nos e tudo o mais Vou lhe dizer uma coisa Somos todos lixo dos Bálcãs Os cigarros sérvios e os cigarros croatas são a mesma coisa cigarros O que no en tanto é considerado a mesma coisa e o que é diferente nas identidades sérvia e croata A identidade sérvia depende de algo fora dela para existir e distingue se pelo que não é A identidade é portanto caracterizada pela diferença e a a marcação da diferen ça é crucial no processo de construção das posições de identidade Woodward 2000 p 39 A identidade como visto na fala do soldado sérvio e na história de Severino faz se pelo reconhecimento da diferença por símbolos por exclusão social estando ligada ao que está dentro e fora A diferen ça pode ser construída negativamente com a exclusão ou a marginalização das pessoas definidas como outros como forasteiros Ela também pode ser considerada fonte de diversidade heterogeneidade e hibridismo e é enriquecedora Woodward 2000 p 50 Os exemplos mostram como a identi dade pressupõe a diferença e a alteridade enquanto identidade e diferença existem si multaneamente Silva 2000 Sérvios e cro atas eram duas etnias que se tornaram parte da nação Iugoslávia Portanto faziam parte de um mesmo povo Com a fragmentação do país iugoslavo passaram a ser cidadãos dos países Sérvia e Croácia e a se verem como diferentes Nessa relação de alteri dade quando sérvios e croatas colocaram se em confronto ao buscar distintividade constituíram as respectivas identidades por oposição uns aos outros Passaram a con siderar seus antigos compatriotas como pessoas diferentes para se contrastarem e autodefinirem Observa se que para se re conhecer uma identidade há necessidade da existência de outra em contraste ou opo sição Taylor e Moghaddam 1994 como dito antes Conforme exemplificam Torres e Pérez Nebra 2004 p 444 um indivíduo que nunca tenha entrado em contato com um estrangeiro não se identifica como bra sileiro Os exemplos levam nos às conside rações de Cardoso de Oliveira 1976 ao afirmar que uma das propriedades funda mentais de uma identidade é seu caráter contrastivo e seu teor de oposição o que possibilita a afirmação de um indivíduo em relação a outros indivíduos e de um grupo em relação a outros grupos Para o autor o conceito de identidade pessoal ou social pos sui um conteúdo marcadamente reflexivo ou comunicativo posto que supõe relações sociais tanto quanto um código de catego rias destinado a orientar o desenvolvimento dessas relações p 5 Nesse jogo de oposi ções e identificações Galinkin 2001 p 17 destaca que o outro é não apenas parte da repre sentação de si mesmo mas necessário ao INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 255 processo de autorreconhecimento quando pessoas reais ou idealizadas modelos culturais comportamentos ideias e va lores sociais são internalizados de forma positiva ou negativa constituindo em cada sujeito aquela parte de si que o faz parecer único e possibilita ao mesmo tempo o reconhecimento de semelhança e pertença a determinados grupos A identidade é pois necessariamente relacional e constitui se nas interações entre indivíduos ou grupos em diversos contextos sociais Além disso só faz sentido em con textos relacionais específicos Nas relações sociais opera como um código de categorias que comunica as formas possíveis de inte ração os lugares sociais dos sujeitos nessas relações os valores atribuídos às pessoas a aos grupos em contato E como argumenta Hall 2000 2004 não devem ser enten didas de um ponto de vista essencialista referindo se a algo estável e fixo no tempo mas como uma construção estratégica e po sicional sujeita a uma historicização e por consequência a transformações O termo alteridade por sua vez de riva do latim alter e tem o sentido de outro oposto diferente e refere se à natureza ou à condição do que é distinto Houaiss 2001 Todelet 2002 p 50 explica que quando a alteridade torna se objeto de estudo das ciências sociais incluindo se a psicologia social ela é situada no plano do vínculo social da relação entre um ego e um alter e implica apenas esse plano quaisquer que sejam os contexto de inclusão do ego e alter Pois a alteridade não aparece como um atributo que pertenceria à essência do objeto visado mas sim como uma qualificação que lhe é atribuída do exterior É um substantivo que se elabora no seio da relação social e em torno de uma diferença Assim como a identidade a alteridade não faz parte da essência do objeto ou do sujeito identificado mas de um atributo que lhe é conferido uma construção social que lhe é própria Jodelet 2002 referindo se aos estudos no campo da psicologia social em particular aos trabalhos de Tajfel ar gumenta sobre a indissolúvel ligação entre identidade e diferença e o quanto a necessi dade de diferença supera a de afirmação da semelhança Cox 1994 baseando se em inúmeras discussões de grupos e entrevistas feitas confirma a ideia de que os indivíduos têm muito mais consciência das característi cas que os diferenciam do outro grupo em contato e muito menos consciência das se melhanças das outras características de sua identidade que os aproximam daquele ou tro Os resultados das entrevistas feitas em uma companhia internacional quando se discutiu a respeito de como a identidade so cial afetava as interações no trabalho 89 das mulheres concentraram se em aspetos relativos ao gênero 88 dos expatriados concentraram se em nacionalidade e 78 dos homens não brancos concentraram se em aspectos étnicos Por outro lado as mu lheres não brancas foram o único grupo com número significativo de pessoas 50 que se concentrou tanto em questões de étnicas quanto em questões de gênero As seme lhanças e os aspectos identitários partilha dos por todos os grupos não pareceram tão significativos para eles as concePções da identidade eM três MoMentos Históricos Considerando que as identidades constroem se nas relações sociais em contextos sociais específicos mudanças que ocorrem nesses contextos são determinantes na maneira como as pessoas percebem a si mesmas per cebem os outros e são percebidas por esses outros Hall 2004 distingue três concep ção de identidade relativas 1 ao sujeito do Iluminismo 2 ao sujeito sociológico 3 ao sujeito pós moderno INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 256 tOrres neiva cOLs Para o autor o sujeito do iluminismo estava baseado numa concepção de pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado unificado dotado de capacidades de razão de consciência e de ação Hall 2004 p 11 Desse modo sua identidade emergiria no nascimento e permaneceria sempre a mesma em um processo contínuo durante toda a vida do indivíduo O sujeito sociológico por sua vez re fletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que esse mun do interior do sujeito não era autônomo e autossuficiente mas era formado na relação com outras pessoas importantes para ele Hall 2004 p 10 A identidade do sujeito pós moderno increve se no momento atual das sociedades ocidentais industrializadas em um contexto de rápidas e frequentes mudanças Retomando a ideia do sujeito do Iluminismo este se constituiu em um mo mento de grandes transformações sociais políticas e econômicas nos países ocidentais em particular na Europa refletindo o mo mento de sua construção Duas concepções ideológicas que se configuraram no período iluminista e no início da modernidade o racionalismo e o individualismo foram im portantes na construção de uma nova noção de pessoa o indivíduo racional livre que gozava do direito à diferença e era protegi do por leis universais que garantiam direi tos iguais a todos os cidadãos Ocorreu nesse caso a desconstrução do sentido medieval de pessoa cuja iden tidade estava vinculada à sua pertença a uma forma de agrupamento social como as corporações de ofício a Igreja e a nobreza dando lugar a uma nova concepção de pes soa o indivíduo autônomo com direito à ci dadania desvinculado de seu grupo social Houve o declínio do coletivismo medieval e de uma ideologia holista no sentido do termo atribuído por Dumont 1987 surgin do então o individualismo uma concepção ideológica que em sua origem valoriza o indivíduo e o considera um fim em si mes mo subordinando a totalidade social aos in teresses individuais Dumont 1992 A livre escolha de uma profissão de uma religião ou de um partido político passa a ser um direito individual garantido por constituições e leis Os indivíduos nessa nova ordem política e social são considerados moralmente iguais com direito à diferença à privacidade e à propriedade O papel do Estado é garantir a liberdade e as oportunidades individuais A concepção de sujeito sociológico desenvolve se ainda na modernidade como uma nova maneira de pensar a pessoa ou o indivíduo enfatizando se a importância do meio social na constituição de cada sujeito e a necessidade da interação com o outro na construção de si mesmo Hall 2004 afirma que embora um eu real permaneça nessa concepção ele é formado por e está sujeito a modificações no decorrer das interações com outros sujeitos e outras identidades Os símbolos os valores e os sentidos atribuídos pela cultura passam a ter grande importân cia na formação dos indivíduos e de suas identidades É nas interações sociais que se constituem os sujeitos e suas identidades Segundo essa visão interacionista em bora haja uma troca entre o eu e a socieda de a identidade é compreendida ainda como operando no sentido de estabilizar tanto os sujeitos quanto os mundos que eles habi tam tornando ambos reciprocamente mais unificados e predizíveis Hall 2004 p 12 Hall observa que essa concepção sociológica de sujeito que define a identidade a partir da interação entre o eu e a sociedade tem em George Herbert Mead e Charles Horton Cooley os principais expoentes Cooley 1902 afirmava que indivíduo e sociedade não têm existência separada não sendo possível estudar sociedade sem fazer referência aos indivíduos nem analisá los sem considerar as sociedades da qual fa zem parte Cooley também contribuiu com a ideia sobre a formação intersubejtiva da identidade afirmando que a imagem que os outros fazem de nós passa a fazer parte de nossa identidade isto é o eu espelho Nessa concepção as pessoas atuam como espelhos em que nos vemos refletidos pois no de correr das interações cotidianas a pessoa é não só consciente da imagem que os outros INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 257 fazem dela mas também interpreta os senti mentos positivos ou negativos que desperta nos outros apud Álvaro e Garrido 2006 Mead por sua vez enfatizou a impor tância da comunicação e seu valor simbólico nas interações sociais A linguagem por se tratar de fenômeno inerentemente social tem papel fundamental na interação simbó lica para esse autor Álvaro e Garrido 2006 Farr 2000 Cooley e Mead lançam as bases para o desenvolvimento das concepções e teorias interacionistas O sujeito da pós modernidade assim como os anteriores é interpretado como um reflexo de sua época Em relação à concep ção pós moderna de sujeito a identidade é vista como sendo fragmentada e deixa de ser unificada ou estável Em lugar de fazer re ferência a uma única identidade a perspec tiva pós moderna considera o sujeito com várias identidades que podem ser contradi tórias ou até mesmo não resolvidas Esse processo produz o sujeito pós moderno conceptualizado como não tendo uma iden tidade fixa essencial ou permanente Hall 2004 p 12 mas diferentes identidades em diferentes contextos e em permanente transformação Hall refere se a identifica ções deslocadas identidades que podem ser contraditórias e empurram os sujeitos em diferentes direções Esse deslocamento seria o resultado de um complexo de processos e forças de mudança que por conveniência pode ser sintetizado sob o termo globaliza ção Para termos a sensação de que somos a mesma pessoa no decorrer de nossa vida tendo um sentido unificado de nossas iden tidades construímos uma cômoda história sobre nós mesmos ou uma confortadora narrativa do eu Hall 2004 p 13 Essa concepção da identidade pós moderna é abordada por diferentes auto res ao analisarem o momento histórico que tem sido denominado pós modernidade ou modernidade tardia Trata se de época de grandes e rápidas transformações particu larmente nas sociedades ocidentais indus trializadas contemporâneas que impactam na consciência do indivíduo sobre si mesmo e sobre o outro tornado a mais fluida mais instável e adaptável aos diversos contextos e às mudanças sociais Bauman 1999 ao discutir a identidade na pós modernidade indica as mudanças nos valores sociais como a liberdade a tolerância e a diversidade que na verdade traduzem se na liberdade de consumo na tolerância com indiferença pelo outro e na diversidade que ignora o outro e não lhe respeita a diferença Nash 1989 apud Galinkin 2003 interpreta as identidades nesse momento histórico como caracterizadas pelo desenraizamento pela alienação pelo estar sozinho sem docu mento sem Estado em um mundo organi zado por outros Uma nova concepção de sujeito é construída na contemporaneidade e sua identidade está em permanente constru ção sendo influenciada pela pluralização dos ambientes A pessoa deve desenvolver competências para interagir em uma gran de variedade de ambientes percebendo as diferentes demandas de tais ambientes ajustando tanto a aparência quanto a pos tura diante dessas diferentes demandas Guiddens 2002 As concepções de identidade e alteri dade mostram várias maneiras de se com preender os sujeitos em suas relações so ciais As discussões mais recentes sobre essa questão apontam para as diferentes possi bilidades de ser de autorrepresentações e de representações do outro A pluralidade é uma questão básica dos seres humanos que são diferentes e buscam distinguir se uns dos outros Não se conhecem povos sem nomes sem idiomas ou sem culturas que os diferenciem de outros e para se autoco nhecer um indivíduo precisa ser reconheci do de modo específico por outras pessoas Arendt 2007 identidade e relações intergruPais Os estudos sobre identidade social no âmbi to da psicologia social têm em Henri Tajfel um de seus principais teóricos Ele define identidade social como parte do autoconcei INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 258 tOrres neiva cOLs to que deriva de sua pertença a um ou mais grupos assim como do valor e do signifi cado emocional que tal afiliação tem para a pessoa Assumindo os limites dessa defi nição e a complexidade da maneira como o indivíduo se vê em relação ao ambiente físico e social o autor afirma que tal defini ção tem por objetivo compreender os efei tos da natureza e a importância subjetiva do comportamento dos indivíduos em suas relações interpessoais Fazendo referência a sociólogos como Berger e Luckman 1966 e Schultz 1932 1967 Tajfel 1978 adota a perspectiva intergrupal da identidade social e considera a categorização como um siste ma de orientação que vai ajudar cada sujei to a criar e definir seu lugar na sociedade Nesse aspecto nenhum grupo vive só mas em meio a outros e é nas relações ou nas comparações entre grupos que os aspectos positivos da identidade social e o engaja mento na ação social ganham sentido Tajfel 1978 desenvolve a teoria da identidade social que se baseia na identifi cação na comparação social e na distinção ou na categorização social na identidade so cial e na comparação social Há alguns prin cípios básicos quanto à identificação grupal e primeiramente é necessário entender que a identificação com um grupo social é um construto cognitivo ou seja está ligado à aquisição de conhecimento por meio da percepção Sendo um construto cognitivo a identificação grupal não precisa ser obriga toriamente comportamental nem deve ser equiparada à internalização que significa um processo individual por meio do qual uma pessoa apropria se dos valores e mo dos de conduta de outro indivíduo Após se identificar com um grupo o indivíduo as sume os sucessos e fracassos desse grupo que geram prazeres e sofrimentos que são sentidos por tal indivíduo Torres e Pérez Nebra 2004 Entretanto a identidade social não é o resultado apenas da pertença a deter minados grupos mas principalmente da comparação entre os grupos internos e os externos um mecanismo causal que determina as relações entre grupos Álvaro e Garrido 2006 p 278 A categorização entre eles e nós é suficiente para criar um grupo pois ela tem a função de organizar as informações recebidas poupando esforços do sistema cognitivo no processamento de tais informações e facilitando a orientação da pessoa em sua realidade social Álvaro e Garrido 2006 Através da categorização formam se os estereótipos cujas funções são cognitiva de preservação do sistema de valores e ideológica de diferenciação em relação a outros grupos A estereotipia alude a imagens men tais simplificadas incluindo aparência físi ca interesses atividades ocupações traços de personalidade emoções e sentimentos que são vistos como próprios de um deter minado grupo Smith e Mackie 2000 Na estereotipia ocorre a tendência a genera lizar as características atribuídas ao grupo para todos os seus membros homogenei zando o grupo externo em oposição ao gru po interno cujos membros são vistos como indivíduos diferenciados Os estereótipos e preconceitos têm ainda a função de ideolo gização das ações coletivas diante dos mem bros de outros grupos Álvaro e Garrido 2006 p 276 Ainda segundo a teoria da identi dade social os indivíduos procuram uma identidade social positiva no processo de comparação com outros grupos Como têm necessidade de uma identidade pessoal e de uma identidade social positivas as pes soas buscam pertencer a grupos socialmen te valorizados Sendo assim os indivíduos compartilham algum tipo de envolvimento emocional com determinado grupo antes de se considerar parte dele Tajfel e Turner 1979 Não é sempre que se obtém uma iden tidade social positiva por comparação como tem ocorrido com as mulheres enquanto categoria social e com as pessoas negras cuja identidade social ainda é muito nega tiva Leyens e Yzerbyt 2004 Uma solução para tal problema pode ser desidentificar se do grupo distanciando se dele psicologica mente ou mesmo dissociar se rompendo sua pertença Smith e Mackie 2000 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 259 Quando não é possível para uma pes soa deixar o grupo menos valorizado ou quando não deseja abandoná lo ela pode buscar aspectos positivos em sua categoria de pertença ou o próprio grupo pode pro mover mudanças para positivar se Se per tencer à categoria mulher implica discrimi nações menos chances de alcançar postos de trabalho reconhecidos ou bem remunerados e abandonar essa categoria não é viável uma solução é valorizar aspectos tidos nas sociedades ocidentais como femininos e po sitivos como a maternidade a sensibilida de a intuição a capacidade de negociação e de mediação de conflitos conferindo certo prestígio a essa categoria social A mulher também pode masculinizar se e até mesmo mudar de sexo correndo o risco de sofrer as possíveis consequências negativas dessas transformações Os negros ativistas ameri canos utilizaram o lema Black is beautiful uma forma de valorização étnica no enfren tamento da discriminação racial nos Estados Unidos na década de 1970 Os movimentos sociais e as lutas políticas das minorias so ciais são meios de buscar reconhecimento conquistar direitos iguais afirmar e valori zar identidades discriminadas Portanto a identificação a categoriza ção e a comparação social têm um papel de grande relevância nas relações entre grupos e na formação de uma identidade social se gundo a teoria da identidade social Como observa Galvão 2009 p 45 há uma íntima relação entre os pro cessos de categorização e comparação social pois a função da categorização é a criação e a definição do lugar do indiví duo na sociedade e a comparação atribui um caráter de realidade objetiva a essa categorização ao se basear na pertença da pessoa a um grupo concreto Ao discorrer sobre a importância da vi vência social Tajfel acrescenta que vivemos em um meio social em constante mudança por essa razão muito do que acontece com as pessoas está relacionado ao que acontece em seus grupos de pertença Mudanças que ocorrem entre os grupos exigem reajustes na compreensão dos acontecimentos e cons tantes atribuições causais sobre o porquê e o como das condições de vida dos membros dos grupos Galvão 2009 Nas relações intergrupais tomando co mo exemplo as relações interétnicas as identidades operam como um código de categorias que orientam tais relações Um código que se expressa de forma opositiva e contrastiva guarda um potencial de con flito que se manifesta no etnocentrismo Cardoso de Oliveira 1976 dando mar gem para comportamentos preconceituosos discriminação e exclusão social do grupo com menor poder Os traços externos e mais visíveis de uma identidade seja nacional seja étnica seja religiosa como costumes rituais roupas idioma adereços e símbolos identificadores operam como sinais dia críticos que anunciam as diferenças entre os grupos e permitem a comunicação entre eles em determinadas situações particu larmente em caso de conflito Se um gru po ou segmento social tem como principal traço identificador a religião esse traço será usado para se comparar e se contrapor à religião do grupo em contato Os traços identificadores são usados para definir os contornos identitários de um e de outro para determinar quem está dentro e quem está fora do grupo bem como para estabe lecer relações sociais Barth 1965 Carneiro da Cunha 1979 A importância das identidades grupais étnicas pode ser observada nos casos de as similação nas interações interétnicas isto é quando um grupo passa a adotar traços cul turais do outro grupo confundindo se com este Barth 1965 argumenta que nesses casos a identidade original não se perde mas se transforma Para o etnólogo pode haver mudanças nas características cultu rais e inclusive na forma de organização do grupo porém preserva se a identidade na medida em que não são as características externas que determinam a identidade de um grupo mas os critérios de inclusão e ex clusão usados para diferenciá los Em outras palavras não são os aspectos objetivos mas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 260 tOrres neiva cOLs as barreiras simbólicas entre nós e eles que definem a diferença entre um grupo social e outro A identidade autoatribuída e atribuída pelo outro são fundamentais nesse jogo de identidades e alteridades argumen to que pode ser aplicado a qualquer grupo social qualquer que seja a origem de sua identidade nacional religiosa étnica po lítica regional ou de gênero No jogo opositivo entre semelhanças e diferenças o reconhecimento de diferenças entre as pessoas e a tensão entre povos et nias e grupos sociais costuma estar presen te nas relações sociais Antagonismos inte rétnicos têm sido registrados há séculos o que demonstra que genocídios como o de Ruanda ou o do holocausto nazista além de outras formas de nacionalismo e etnocen trismos não são fenômenos exclusivos da era moderna Calhoun 1994 Há registros históricos de que nas capitais dos antigos grandes impérios e nas cidades mercantis localizadas nas rotas de comércio os mem bros de grupos étnicos e de religiões dife rentes coexistiam em relativa harmonia A Espanha medieval também abrigou diferen tes povos e etnias e o país beneficiou se das culturas e dos saberes de judeus e mulçuma nos que lá residiam O interesse comercial era o denominador comum que unia aqueles povos mas o conhecimento da Medicina da Matemática da Arquitetura e da Literatura trazido pelos dois grupos estrangeiros ju deus e muçulmanos fomentava a cultura espanhola que preserva ainda hoje traços desses saberes Tais exemplos lembram nos que a tolerância não é uma invenção do mundo ocidental moderno podendo se dizer o mesmo a respeito da intolerância Contudo apesar de um contexto de convivência pacífica cada grupo estrangeiro ficava separado em enclaves dedicando se aos afazeres internos das respectivas comu nidades enquanto os negócios de governo da sociedade anfitriã ficavam a cargo dos go vernantes locais Segundo Galinkin 2001 esse confinamento a espaços específicos para cada grupo estrangeiro ou etnia pode ser não apenas uma forma de exclusão mas também de preservação da distintividade e de aspectos culturais considerados relevan tes para aqueles estrangeiros que podiam exercer uma forma de autogestão sem a interferência do governo local Mantinham assim as identidades étnico religiosas e os traços culturais que os diferenciavam dos outros grupos em contato o que atribuía um sentido de unidade a cada grupo Devido à Inquisição europeia os estrangeiros passa ram a ser categorizados como os diferentes os estranhos e os heréticos o que justificava a discriminação a expulsão e inclusive a eli minação de muitos deles A diferença pas sou a ser um defeito e o preconceito que se constrói no reconhecimento negativo do outro passou a guiar as ações daqueles com maior poder discriminando os diferentes considerações Finais Vemos nos exemplos de relações intergrupais que a convivência entre aqueles que se perce bem como diferentes pode ser tanto positiva e produtiva quanto negativa e conflituosa Além disso pode levar à discriminação e até mesmo à tentativa de extinção do grupo ri val como tem acontecido na história antiga e contemporânea da humanidade No entan to recentemente a importância e o valor da diversidade cultural têm sido reconhecidos particularmente quando se constata que pes soas com origens conhecimentos e habilida des diferentes podem somar esforços e con tribuir para gerar ambientes mais produtivos Em um mundo globalizado como o atual em que cada vez mais pessoas de diversas regi ões do mundo convivem em um mesmo país diferente daquele em que nasceram é fun damental saber aproveitar as vantagens da heterogeneidade e reconhecer o que há de positivo nas diferenças de modo a diminuir o preconceito a discriminação e os conflitos intergrupais respeitando se a identidade de cada indivíduo e grupo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 261 reFerências ÁLVARO JL GARRIDO A Psicologia social perspectivas psicológicas e sociológicas São Paulo McGraw Hill 2006 ANCHIETA VCC Policial 24 horas um estudo sobre representações sociais da violência e iden tidade entre policiais civis do DF Brasília 2003 Dissertação Mestrado Instituto de Psicologia Universidade de Brasília ARENDT H A condição humana10ed Rio de Janeiro Forense Universitária 2007 BARTH F Ethnic groups and bouderies the social organization of cultural differences Chicago Little Brown Co 1965 BAUMAN Z Modernidade e ambivalência Rio de Janeiro Jorge Zahar Editora 1999 DUMONT L Homo Hierarchicus Chicago The University of Chicago Press 1987 DUMONT L O individualismo uma perspectiva antropológica da ideologia moderna Rio de Janeiro Rocco 1992 CALHOUN C Social theory and the politics of identity Massachusetts Blackwell Publishers 1994 CARDOSO DE OLIVEIRA R Identidade etnia e estrutura social São Paulo Livraria Pioneira Editora 1976 CARNEIRO DA CUNHA M Etnicidade da cultura residual mas irredutível Revista de Cultura e Polí tica São Paulo v 1 n 1 p 3443 1979 COX T Cultural diversity in organizations theory research and practice San Francisco BerrettKo ehler Publishers 1994 FARR RM Raízes da psicologia social moderna Petrópolis Vozes 2000 FERDMAN BM Learning about our and other selves multiple identities and their sources In BOYACIGILLER N GOODMAN R PHILLIPS M orgs Crossing cultures insights from master teachers Londres Routledge 2003 GALINKIN AL Os filhos dos mandamentos uma discussão sobre a identidade judaica no contexto dos ritos de maioridade Bar Mitzvá e Bat Mitzvá São Paulo 2001 Tese Doutorado Universidade de São Paulo GALINKIN AL A desconstrução da pessoa e violência In ALMEIDA AMO SOUZA MF DINIZ GRS TRINDADE ZA orgs Violência exclusão social e desenvolvimento humano estudos em representações sociais Brasília Editora da UnB 2003 GALVÃO A Os muros invisíveis do preconceito um estudo das representações sociais das pessoas que vivem com HIVAIDS Brasília 2009 Dissertação Mestrado Universidade de Brasília HALL S Identidade cultural na pósmodernidade Rio de Janeiro DPA Editora 2004 HOUAISS A Dicionário Houaiss da Língua Portugue sa 1ed Rio de Janeiro Editora Objetivo 2001 JODELET D A alteridade como produto e processo psicossocial In ARRUDA A org Representando a alteridade Petrópolis Vozes 2002 GUIDDENS A Modernidade e identidade Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 2002 LEYENS JP YZERBYT V Psicologia social Lisboa Edições 70 2004 NASH M The cauldron of ethnicity in the modern world Chicago The University of Chicago Press 1989 RICOEUR P O si mesmo como o outro Campinas Papirus Editora 1991 SILVA TT A produção social da identidade e da diferença In SILVA TT org Identidade e diferença a perspectiva dos estudos culturais 3ed Petrópolis Vozes 2000 SMITH RE MACKIE DM Social psychology 2ed Filadélfia Psychology Press 2000 TAJFEL H Social categorization social identity and social comparison In TAJFEL H org Di fferentiation between social groups studies in the social psychology of intergroup relations Londres Academic Press 1978 TAJFEL H TURNER JC An integrative theory of intergroup conflict In AUSTIN WG WORCHEL S org The social psychology of intergroup rela tions Monterey BrooksCole 1979 TAYLOR DM MOGHADDAM TM Theories of in tergroup relations international social psychological perspectives Westport Praeger 1994 TORRES CV PÉREZNEBRA AR Diversidade cultural no contexto organizacional In ZANELLI JC BORGESANDRADE JE BASTOS AVB orgs Psicologia organizações e trabalho no Brasil Porto Alegre Artmed 2004 WOODWARD K Identidade e diferença uma introdução teórica e conceitual In SILVA TT org Identidade e diferença a pers pectiva dos estudos culturais 3ed Petrópolis Vozes 2000 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS introdução Este capítulo discute três microteorias que buscam explicar como ocorrem os contatos entre grupos a teoria do conflito realístico a teoria da privação relativa e a teoria da equidade Elas são consideradas microteo rias porque derivam de abordagens teóricas maiores a categorização social e a identi dade social que serão apresentadas breve mente nesta introdução O capítulo está organizado de forma a apresentar os pressupostos que sustentam cada teoria os estudos que deram origem a elas e as críticas da literatura Também são apresentados exemplos de estudos recentes publicados a partir de 2004 em âmbito na cional e internacional visando a apresentar resultados recentes e apontar direções para o desenvolvimento de pesquisas em cada te oria Por fim serão feitas algumas conside rações sobre aplicações das teorias aos estu dos de psicologia social e de organizações Contato intergrupal é o contato que ocorre entre membros de diferentes grupos Em psicologia social um grupo caracteriza se principalmente pela ocorrência de inte rações que se mantêm ao longo do tempo e pela percepção que seus componentes têm dele como algo real e de si mesmos como membros Durante o processo de formação do grupo normas internas são criadas e fa zem com que determinados comportamen tos sejam aprovados como conversar com seu vizinho pela internet ou dar preferência aos pedestres e outros sejam vetados como ofender um amigo ou fumar em locais fecha dos Nos grupos também surgem posições que passam a representar papéis sociais dos membros como aqueles representados por pais e filhos ou pelos líderes do grupo Por fim os grupos são caracterizados pelas re lações afetivas que estabelecem Fraser 1978 é pouco provável que os membros de um grupo sejam emocionalmente neutros ou indiferentes entre si Sempre há emoções envolvidas quando falamos em grupos pois gostamos de nossos amigos e familiares mas tendemos a não gostar dos torcedores do time adversário Para que os indivíduos percebam se como pertencentes a um grupo é preciso que ocorram processos de categorização social Assim cada indivíduo categoriza se como pertencente a um grupo ser torce dor do Brasil por exemplo de modo que o grupo de torcedores brasileiros passa a ser o endogrupo do torcedor e não pertencente a outro que se torna o exogrupo como o gru po de torcedores de outros países Outros exemplos de situações que comumente sa lientam diferenças entre endogrupo e exo 13 cOntatO interGrUPaL cOnFLitO reaLÍsticO PrivaçãO reLativa e eQUiDaDe solange alfinito ariane agnes corradi INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 263 grupo são as interações entre homens e mulheres pobres e ricos brancos e negros assim como tantos outros grupos que pode mos enumerar É importante destacar que essa diferenciação ocorre em termos cogni tivos afetivos e comportamentais Brewer e Brown 1998 Portanto a característica definidora do comportamento intergrupal é a distinção en tre endogrupo e exogrupo o que depende de pelo menos duas categorias sociais ativadas como torcedores da casa versus visitantes De acordo com o paradigma do grupo míni mo Tajfel 1970 qualquer distinção situa cionalmente significativa entre endogrupo e exogrupo é suficiente para ativar respostas diferenciadas em relação a outros com base na pertença deles ao endogrupo ou ao exo grupo Por exemplo um contato interpessoal entre estudantes pode tornar se um episódio de contato intergrupal se eles começarem a discutir a política de cotas para negros nas universidades e suas opiniões divergirem A discussão passa a ser guiada pelas atitudes positivas ou negativas em relação a grupos étnicos e não mais pela identidade pessoal de cada estudante envolvido na discussão Quando as atitudes em relação ao outro gru po são negativas chamamos de preconceito O preconceito pode acontecer em relação a qualquer exogrupo Contudo a literatura e até a mídia tem dado mais atenção aos preconceitos étnicos e de gênero O contato intergrupal também ocorre quando são tro cadas mensagens de conteúdo sexista ainda que essa troca seja virtual como pelo uso de e mail Desse modo um contato intergrupal pode ocorrer mesmo quando não há contato direto ou presencial entre os indivíduos en volvidos Quando andamos pela rua e identi ficamos tipos de trabalhadores também está havendo contato intergrupal por exemplo se categorizamos uma mulher negra vesti da de forma simples dentro do ônibus como uma faxineira tendemos a nos relacionar com ela como alguém pertencente ao gru po social das faxineiras porém se avistamos um rapaz de bermudão e camiseta andando pela rua ouvindo música e carregando uma mochila podemos categorizá lo como um estudante e tratá lo como um representante desse grupo Uma consequência dessas categori zações que ocorrem automaticamente na maioria das vezes é que membros do en dogrupo tendem a ser avaliados mais po sitivamente a merecer confiança e afeto mais positivo e a estimular comportamen tos mais cooperativos do que membros do exogrupo Observemos o efeito de ver um desconhecido com a camisa do nosso time em comparação a ver outro desconhecido com a camisa do time adversário nossas atitudes provavelmente serão diferenciadas em cada situação Contudo a ativação de categorias e os comportamentos associados a elas dependem não somente da pertença a um grupo mas também dos estímulos ambientais que constituem a situação Um estímulo ambiental que pode afetar a ativa ção da categoria times será um dia de final de campeonato se formos torcedores fanáti cos Brewer e Brown 1998 apontam que as condições situacionais são fundamentais quando se trata de intervenções em contex tos de antagonismo entre grupos como se verá em alguns exemplos de pesquisa anali sados ao longo do capítulo As respostas diferenciadas a membros pertencentes ao endogrupo ou ao exogrupo podem surgir de três tipos de orientação para o endogrupo para os intergrupos e para o exogrupo Esses três processos cons tituem três tradições distintas de pesquisa e serão brevemente tratados aqui como forma de aprofundar processos gerais subjacentes aos contatos intergrupais No processo de identificação com o endogrupo a ativação da identidade pesso al ou da identidade social é o aspecto mais importante Para Tajfel e Turner 1986 a identidade pessoal refere se a autoconceitu ações que o indivíduo faz ao se comparar com outros indivíduos A identidade social por sua vez diz respeito a conceituações do self baseadas na pertença a categorias ou grupos sociais emocionalmente signi ficativos p ex a identidade social de ser INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 264 tOrres neiva cOLs aluno de psicologia As identidades sociais categorizam o self em unidades sociais mais inclusivas nas quais o indivíduo deixa de ser único Isso não significa que a identida de pessoal se perca mas que a mudança no nível de identidade de pessoal para social acarreta mudanças na natureza e na estru tura dos autoconceitos salientes Brenner e Brown 1998 Em uma conversa informal você pode ativar sua identidade pessoal úni ca ou sua identidade social ser estudante de psicologia por exemplo A ativação da identidade social influencia os chamados padrões etnocêntricos de atribuição e esses padrões caracterizam se por atribuições de causa disposicionais tanto para comporta mentos negativos exibidos por membros do exogrupo quanto para comportamentos positivos de membros do endogrupo Ao contrário os comportamentos positivos de membros do exogrupo e os comportamen tos negativos de membros do endogrupo são atribuídos a causas situacionais Figura 131 Esse padrão etnocêntrico de atribui ções é chamado de erro máximo de atribui ção retângulo hachurado da Figura 131 Esse padrão afeta os contatos intergrupais porque está associado ao fenômeno da dis criminação O que as pesquisas têm mostra do é que a identificação com o endogrupo favorece a ocorrência de comportamentos de cooperação mesmo que os indivíduos não tenham comunicação interpessoal De outro modo quando a identidade social não está ativada os indivíduos orientados para o endogrupo tendem a agir em benefício próprio ainda que isso traga prejuízos ao grupo Brenner e Brown 1998 Quando as respostas dos indivíduos advêm de uma orientação intergrupal pode ocorrer conflito competição ou compara ção de acordo com as redes de relações in tergrupais A natureza dessas relações tem efeitos independentes sobre os processos de discriminação e preconceito a favor do endogrupo e em detrimento do exogrupo Duas teorias desenvolvidas conforme essa orientação são a teoria de conflito realísti co e a teoria da privação relativa descritas mais adiante O terceiro processo chamado de iden tificação com o exogrupo estuda os efeitos negativos do preconceito e da discrimina ção voltados para exogrupos específicos São consequências que independem da re lação do indivíduo com seu endogrupo É o caso da conceituação mais típica de pre conceito definido como avaliações negati vas dos outros baseadas na sua pertença a determinada categoria social Um exem plo desse processo pôde ser observado nos Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro de 2001 Cidadãos americanos passaram a adotar atitudes negativas ou Figura 131 Padrões etnocêntricos de atribuição e erro fundamental de atribuição Endogrupo Causas situacionais Causas disposicionais Comportamentos positivos Comportamentos negativos Comportamentos positivos Comportamentos negativos Exogrupo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 265 seja preconceituosas e apresentar com portamentos discriminatórios em relação a todos os estrangeiros sobretudo os de ori gem islâmica independentemente do seu endogrupo ou de vínculos interpessoais positivos com membros dos exogrupos ante o atentado No Brasil podemos no tar esse tipo de resposta a grupos sociais acontecendo diariamente Se você avistar um adolescente maltrapilho andando pela calçada poderá fazer uma série de avalia ções negativas como julgá lo como um as saltante um menino de rua um viciado em drogas etc Além disso poderá adotar comportamentos como mudar seu trajeto ou segurar mais forte sua bolsa ou mochila ou ainda fazer piadas a respeito do adoles cente teoria do conFlito realístico definição e pressupostos A teoria do conflito realístico foi assim de nominada por Campbell 1965 ao estudar teorias na sociologia antropologia e psico logia social cuja premissa fosse a de que o comportamento intergrupal poderia ser ex plicado pela natureza e compatibilidade das metas grupais A teoria baseia se em três pressupostos 1 as pessoas são egoístas e tentam maximizar suas recompensas este também é um dos pressupostos da teoria da equidade 2 o conflito é resultado de interesses incom patíveis entre grupos 3 aspectos sociopsicológicos do comporta mento intergrupal são consequência e não determinantes da compatibilidade ou da incompatibilidade desses interesses Taylor e Moghaddam 1994 O tema comum entre esses pressupostos é que os conflitos grupais são racionais ou realís ticos isto é baseiam se em competições reais por recursos escassos Para Campbell 1965 quando os in teresses são incompatíveis entre os grupos ou seja um dos grupos perde algo para que o outro ganhe a resposta psicológica social tende a ser negativa atitudes preconcei tuosas julgamentos enviesados compor tamento hostil Quando esses interesses são compatíveis ou complementares as reações tendem a ser positivas tolerância justiça amizade Esses efeitos do contato inter grupal têm sido demonstrados em es tudos de laboratório e de campo Fritsche e Jonas 2005 Hewstone et al 2006 Conforme veremos nos exemplos de pes quisas a seguir muitas situações de discri minação e pre conceito entre grupos podem ser explicadas pela teoria do conflito realís tico Uma grande vantagem dessa teoria é explicar mu danças em níveis de preconceito ao longo do tempo e em diferentes contex tos sociais as quais podem ser atribuídas a mudanças nas relações políticas e econômi cas entre os grupos envolvidos Brenner e Brown 1998 Além dos tradicionais estudos de la boratório e de campo Hunt e colaborado res 2006 conseguiram realizar um estudo naturalista longitudinal após a ocorrência do furacão Katrina nos Estados Unidos Centenas de milhares de habitantes da re gião costeira a maioria formada por afro americanos de baixa renda foram realoca dos em comunidades predominantemente europeias e americanas As reações das co munidades receptoras poderiam ser tanto positivas por meio de mudança de atitude e crenças a respeito dos afro americanos quanto negativas caso o maior contato in tegrupal levasse a percepções de ameaça durante os vários meses de contato entre os grupos Os autores elaboraram um mo delo com três fatores que ocorrem sob uma perspectiva longitudinal para compreender essa experiência contato intergrupal infor mação individualizada e ameaça percebida pelo grupo Os resultados mostraram em uma primeira coleta de dados que aqueles que se sentiam mais ameaçados pela pre sença dos refugiados também relatavam mais preconceito e fortalecimento de este reótipos negativos Pessoas que tinham mais contatos ou maior riqueza de informações INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 266 tOrres neiva cOLs individualizadas sobre os refugiados relata vam menos estereótipos negativos Um exemplo de estudo de laboratório é a pesquisa desenvolvida por Lin 2005 A autora realizou dois experimentos com asiático americanos analisando atitudes negativas dos norte americanos em rela ção a essa minoria social O primeiro ex perimento utilizou estereótipos positivos atitudes negativas e ameaças levantadas junto aos participantes O segundo expe rimento utilizou cenários nos quais foram testados os efeitos da ameaça realística em um contexto de sala de aula Os resultados demonstram que a ameaça realística me diou a relação entre estereótipos positivos e atitudes negativas observada no primeiro experimento ou seja ser muito bom em um ambiente competitivo pode predizer atitudes negativas Estudos de laboratório que controlaram a interdependência entre grupos para que ela variasse em negativa neutra ou positiva mostraram se consisten tes comumente ocorre mais viés intragru po menos gostar intergrupos e maior dis criminação intergrupos quando os grupos estão objetivamente em competição do que quando eles são independentes ou devem cooperar para atingir uma meta comum Brenner e Brown 1998 p 565 Nos estudos de campo um exemplo brasileiro é o de Albuquerque Vasconcelos e Coelho 2004 que analisou contatos entre um grupo de assentados e um de pequenos proprietários rurais no interior do estado da Paraíba Os resultados indicaram visões an tagônicas entre os grupos de modo que os proprietários rurais endogrupo descreve ram os assentados como invasores de terra e beneficiados pelo governo ao passo que os assentados exogrupo julgaram os proprie tários como desorganizados e acomodados Com visões positivas do endogrupo e visões negativas do exogrupo o estudo identificou que as políticas governamentais de distri buição de terras não têm favorecido a inte gração entre os membros de assentamentos e a comunidade local impedindo ações co operativas entre os grupos para a sua sub sistência e para a comercialização de seus produtos Ao contrário os recursos disponi bilizados aos assentados têm promovido es tereótipos negativos e preconceito entre os dois grupos uma vez que os assentamentos oferecem benefícios que não existem para a população local Outro campo de aplicação da teoria do conflito realístico é explorado nos estu dos sobre jogos O pressuposto inicial é de que o conflito é negativo e surge a partir dos esforços individuais pela maximização de recompensas principalmente a despei to de outros Nesse caso o ser humano é concebido como um ser racional motivado a maximizar ganhos pessoais em contextos nos quais interesses incompatíveis entre os grupos sobrepujam interesses compatíveis Taylor e Moghaddam 1994 Em pesquisa recente Halevy e cola boradores 2006 realizaram quatro estu dos sobre o conflito entre Israel e Palestina utilizando a teoria dos jogos Os pesquisa dores utilizaram três jogos No primeiro chamado Chicken se os israelenses não fi zerem concessões territoriais e os palestinos não cessarem os ataques violentos ambos os grupos culminarão em grande prejuízo No segundo jogo chamado Assurance se os israelenses fizerem concessões territoriais e os palestinos cessarem a violência os be nefícios serão os melhores para ambos Por fim no terceiro jogo chamado Dilema do Prisioneiro se os palestinos cessarem a vio lência não haverá razão para os israelenses fazerem concessões ao passo que se a vio lência continuar haverá menos razões ainda para tais concessões Sob o ponto de vista dos palestinos a ocupação territorial pelos israelenses faz com que a violência continue ao passo que se concessões ocorrerem em função da vio lência aumentam as razões para manter a violência No Dilema do Prisioneiro portan to somente a combinação entre concessão e cessar fogo levará à melhor solução do conflito Nos dois primeiros estudos foram investigadas associações entre percepções subjetivas dos indivíduos sobre os três jogos e suas percepções de conflito de interesse entre israelenses e palestinos vieses avalia INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 267 tivos do endogrupo identificação nacional religiosidade partidarismo político e com portamento de voto Os outros dois estudos trabalharam com a saliência das necessidades de segu rança e fechamento cognitivo e mostraram que essas necessidades afetam a escolha de modelos de jogos para descrever o conflito entre Israel e Palestina Os resultados indica ram associação entre percepção de conflito em termos de um determinado jogo e cren ças e atitudes com relação ao endogrupo e ao exogrupo que afetam as relações entre os grupos conflitantes Desse modo as estrutu ras cognitivas que endossam o jogo Chicken e o Dilema do Prisioneiro podem ser modifi cadas para a percepção do conflito no jogo Assurance o que levaria à paz em função da associação dessas estruturas com visões de mundo crenças e atitudes em cada grupo envolvido no conflito estudo que deu origem à teoria Sherif 1966 conduziu uma série de experi mentos de campo em um acampamento de verão para meninos e enfatizou as relações funcionais que os grupos estabelecem entre si Taylor e Moghaddam 1994 Relações funcionais equivalem à complementaridade ou não complementaridade entre os interes ses de grupos As variáveis independentes estudadas foram as condições materiais do contexto experimental as tarefas e os re cursos dos grupos assim como a natureza complementar ou não complementar dessas tarefas As variáveis dependentes eram os fenômenos sociopsicológicos como atitudes intergrupais e identificação grupal Foram elaborados quatro estágios experimentais escolhas interpessoais espontâneas forma ção de grupos conflito intergrupal e coope ração intergrupal Os resultados da fase de cooperação intergrupal levaram ao conceito de metas superordinadas até hoje utilizado em psi cologia social Metas superordinadas são aquelas em que todos os membros de to dos os grupos são necessários ou seja elas exigem a colaboração de todos Nos experi mentos de Sherif as metas superordinadas foram o recurso mais eficiente para reduzir o conflito intergrupal provocado na fase da pesquisa que promoveu competições entre os grupos Tais experimentos estimularam o desenvolvimento de uma ampla literatu ra sobre a teoria de conflito realístico cujos resultados corroboraram seus pressupostos bem como apontaram limitações à teoria limitações e críticas à teoria Taylor e Moghaddam 1994 discutem sete dificuldades acerca da teoria do conflito rea lístico 1 a definição de conflito 2 o pressuposto de que todo conflito é ruim 3 o tratamento de grupos minoritários 4 os participantes dos estudos 5 a despreocupação com grupos abertos 6 a negligência das relações de poder 7 a ênfase em soluções psicológicas para problemas oriundos de conflitos de inte resses materiais 1 Definição de conflito As interpretações de conflito sua operacionalização e suas consequências são tão variadas que a extra polação dos resultados entre níveis requer cuidados Estudos sobre competição entre grupos de estudantes versus estudos sobre nações em guerra dificilmente serão trata dos sob o mesmo enfoque embora sejam es tudados a partir da mesma teoria 2 Todo conflito é ruim Um dos pressu postos centrais da teoria é que todo conflito deve ser evitado ou resolvido Esse pressu posto é aplicado a diversos níveis de conflito interpessoais intergrupais e internacionais Entretanto conflitos podem ser construtivos e trazer consequências positivas sobretudo para os grupos de desvantagem ou seja aqueles que detêm menos poder na socie dade em comparação a outros Um grupo de desvantagem sob condições de explora INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 268 tOrres neiva cOLs ção e preconceito que evita o conflito com o grupo de vantagem vai contribuir para a manutenção dessas condições Se uma das partes se comporta de modo cooperativo e a outra de modo competitivo passa a haver exploração e perdas o que leva a primeira parte a se comportar de forma competitiva na próxima oportunidade Assim existem casos em que a ausência de conflito torna se mais negativa do que sua existência 3 Tratamento de grupos minoritários As implicações psicológicas de conflitos realís ticos permanecem inexploradas principal mente em relação a grupos minoritários A teoria do conflito realístico não explica quais são os processos que guiam as percep ções subjetivas de grupos a respeito de con dições objetivas de vantagemdesvantagem Conforme se verá na teoria da privação rela tiva as percepções dos grupos nem sempre equivalem ao que se observa objetivamente nas relações intergrupais Contudo a teoria do conflito realístico não abarca esses pro cessos possivelmente em função dos pres supostos de que todo conflito é ruim e deve ser resolvido Isso leva a pesquisa a negli genciar os conflitos de interesse reais que seriam a causa do conflito 4 Participantes dos estudos Os procedi mentos de amostragem para a realização das pesquisas raramente consideram as popula ções para as quais se pretende generalizar os resultados Assim é possível encontrar extrapolações de resultados com amostras de estudantes para relações internacionais por exemplo 5 Despreocupação com grupos abertos As pesquisas em conflito realístico tradicio nalmente trabalham com grupos fechados ou seja são grupos nos quais não existe a possibilidade de os indivíduos mudarem de grupo É o que ocorre por exemplo na pesquisa de Halevy e colaboradores 2006 israelenses não têm a possibilidade de se tornar palestinos e vice versa 6 Negligência das relações de poder As pesquisas enfocam grupos iguais em poder e negligenciam a importância de poder no estudo dos contatos intergrupais Os críticos à teoria apontam que o poder é um aspecto central nos estudos sobre relações intergru pais 7 Ênfase em soluções psicológicas para conflitos oriundos de interesses materiais Embora a teoria admita que conflitos reais de interesse sejam a causa dos conflitos in tergrupais a resolução dos conflitos é con siderada do ponto de vista psicológico isto é depende de mudanças nas percepções das partes envolvidas Daí a ênfase atribuída às metas superordinadas Brenner e Brown 1998 ainda criti cam os seguintes aspectos 1 diferenciação prévia entre endogrupo e exogrupo 2 cooperação e vieses de julgamento 3 necessidade de explicitação do conflito 4 interdependência entre grupos e conflitos não realísticos 1 Diferenciação prévia entre endogrupo e exogrupo Para a teoria do conflito realísti co há necessidade de uma forte diferencia ção prévia entre endogrupo e exogrupo para que a competição surta os efeitos descritos nas pesquisas A mera presença de competi ção assim como a interdependência negati va per se não são condições suficientes para determinar dado comportamento intergru pal Seus efeitos sobre as atitudes intergru pais são relativamente fracos quando não há pelo menos algum grau de identificação com o endogrupo 2 Cooperação e vieses de julgamento Mesmo quando os grupos precisam coope rar entre si os vieses de julgamento não de saparecem isto é as atitudes intergrupais enviesadas e negativas permanecem ainda que os grupos tenham interesse material em erradicar tal favoritismo do endogrupo 3 Necessidade de explicitação do conflito Um conflito de interesse explícito não é ne cessário para fazer com que surja favoritis mo do endogrupo e competição De acordo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 269 com Brenner e Brown 1998 p 566 mais do que causar a identificação com o endo grupo a competição intergrupal e o confli to percebido podem ser uma consequência da identificação grupal e da diferenciação endogrupo exogrupo Nesse sentido qual quer tipo de interdependência entre grupos competitiva ou cooperativa será sempre percebida negativamente pois exogrupos são espontaneamente vistos como concor rentes para as metas do endogrupo de for ma que a interdependência negativa é a con dição padrão para a interação intergrupal 4 Interdependência entre grupos e confli tos não realísticos Essa crítica considera que a interdependência negativa pode advir dos conflitos de interesse percebidos não re alísticos ou de elementos intangíveis como prestígio As crenças cognitivas podem ser mais importantes do que os fatos demográfi cos e advir de tentativas ideológicas criadas pelos grupos poderosos para estabelecer di visões sociais Pesquisas sobre discriminação intergrupal e paradigmas do grupo mínimo têm mostrado que basta alocar os indivíduos em grupos distintos para que surjam julga mentos enviesados e comportamento discri minatório Contudo os resultados diferem quando se fala de alocar recursos versus gerar estimulações aversivas No segundo caso os comportamentos discriminatórios a favor do endogrupo podem ser minimizados ou até mesmo equiparados teoria da Privação relativa definição e pressupostos A teoria da privação relativa baseia se na ideia de que o grau de satisfação do indi víduo com aspectos específicos de sua vida é determinado por sua própria percepção e não pela situação objetiva real na qual se encontra Taylor e Moghaddam 1994 É uma teoria que explica quando ocorrem protestos e ações coletivas no grupo mo tins e delimita quem está mais motivado a participar de protestos e ações coletivas Em geral são os membros com mais van tagem nos grupos de desvantagem que se engajam em ações coletivas Tyler e Smith 1998 A teoria da privação relativa está as sociada a questões de ação coletiva devido à sua preocupação com as diferenças de status e poder entre grupos sociais Desse modo é uma teoria que tenta explicar quando e como membros de grupos sobretudo gru pos de desvantagem engajam se em ações coletivas em prol de mudanças nas relações de poder existentes na sociedade Brewer e Brown 1998 O ponto chave para compreender a te oria da privação relativa é a teoria de compa ração social Festinger 1954 Tajfel 1970 ou seja as comparações que os indivíduos fazem entre si que os indivíduos fazem com os grupos e que os grupos fazem entre si As comparações podem ocorrer a partir da situação atual em relação a experiências passadas ou a expectativas futuras Isso im plica que se o referente de comparação for pior do que a situação atual na percepção do indivíduo ele não reagirá negativamen te à situação presente Essa percepção pode ou não ser consoante a aspectos objetivos da realidade Significa que grupos que es tejam objetivamente em desvantagem po dem sentir se satisfeitos mesmo que rece bam menos recursos sociais Por outro lado grupos objetivamente em vantagem podem estar insatisfeitos ainda que tenham muito mais recursos sociais No nível individual as pessoas podem por exemplo escolher refe rentes de comparação piores que elas para melhorar sua autoestima Contudo Tyler e Smith 1998 desta cam que as redes e contextos sociais podem impedir ou forçar determinadas escolhas de comparação O contexto social influencia a disponibilidade de diferentes escolhas mas as motivações pessoais influenciam a atra tividade dessas escolhas Outro fator que influencia a percepção de privação é a dis tância entre o indivíduo ou seu grupo e o referente de comparação Segundo os auto res uma distância menor entre o indivíduo ou seu grupo e um indivíduo ou grupo de menor status gera maior impacto sobre INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 270 tOrres neiva cOLs comportamentos e atitudes em comparação a uma distância maior entre o indivíduo ou seu grupo e um indivíduo ou grupo de maior status Um exemplo empírico desse fe nômeno encontra se no estudo de Lam e co laboradores 2006 que compararam as ati tudes intergrupais de jovens de Hong Kong em relação a jovens chineses sob o efeito de categorias sociais inclusivas e de pressão de tempo Esses pesquisadores observaram que os jovens haviam adquirido uma tendência a fazer comparações sociais em um quadro de referência de exclusão regional Esse quadro levava a vieses de julgamento negativos em relação aos chineses sobretudo sob pressão de tempo Quando colocados em um quadro de referência nacional inclusivo as atitudes intergrupais negativas eram atenuadas A percepção de privação relativa em relação a um padrão social ou temporal leva os indivíduos à insatisfação e à motivação para a mudança social Se por um lado as expectativas surgem da comparação tempo ral temos privação egoística Se por outro lado as expectativas do indivíduo advêm da comparação com um padrão social dizemos que ocorre privação fraternalista Essa dis tinção entre categorias de privação no con texto grupal foi criada por Runciman 1966 A privação egoística é a mais tradicional pois o indivíduo compara sua posição social com a de outros membros do endogrupo baseado no seu passado recente Brewer e Brown 1998 Taylor e Moghaddam 1994 A privação fraternalista por sua vez ocor re quando o indivíduo sente se insatisfeito com a posição do seu grupo em comparação com outros grupos sociais É possível contu do que um mesmo indivíduo experiencie as duas formas de privação Tyler e Smith 1998 afirmam ainda que julgamentos de privação relativa no nível grupal privação fraternalista estão relacionados a um comportamento coletivo enquanto julgamentos de privação relativa no nível individual privação egoística es tão relacionados a um comportamento indi vidual No nível grupal podem surgir expec tativas de crescimento no padrão de vida se nos últimos anos tem havido crescimento Discrepâncias nessas expectativas gerarão a percepção de privação relativa Uma im plicação importante desse fenômeno é que anos de intensa privação tenderão a reduzir as expectativas de crescimento e por isso minimizarão a percepção de privação rela tiva que motiva à mudança do status quo Brewer e Brown 1998 O estudo de Fischer Maes e Schmitt 2007 analisou os efeitos dos contatos entre alemães oriundos da Alemanha Ocidental e da Alemanha Oriental Esses pesquisadores realizaram um estudo longitudinal cujos resultados mostraram que os efeitos do contato intergrupal foram mais fortes para os membros do grupo de desvantagem os alemães orientais em seus efeitos positi vos e negativos É interessante notar que os efeitos negativos sobrepujam os positivos ao longo do tempo quando não ocorrem me lhorias nas condições materiais e de vida Desse modo os processos de comparação grupal acabam culminando em hostilidade e atitudes intergrupais negativas As desvan tagens financeiras e materiais dos alemães orientais mantiveram se ao longo do tem po e os contatos com os alemães ocidentais acentuaram essa diferença Como resultado os alemães orientais passaram a se sentir in satisfeitos com sua condição material Tal insatisfação aparece em análises transver sais e longitudinais Os alemães ocidentais por sua vez experienciaram culpa quando tiveram contatos casuais e superficiais com alemães orientais ao passo que os contatos de negócios aumentaram sua autoestima Outro estudo longitudinal com alemães ocidentais e orientais estudou os vieses de estereótipo do endogrupo como estratégia de autodefesa contra a privação relativa Schmitt e Maes 2002 Comparações com outros grupos po dem fazer surgir expectativas em relação ao desempenho do próprio grupo Entretanto isso acontece se a comparação estiver ba seada em um aspecto que seja relevante para o endogrupo No exemplo da pesqui sa de Fischer Maes e Schmitt 2007 os contatos de trabalho ou negócios geraram expectativas de melhores resultados para INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 271 os alemães orientais nos primeiros contatos com os alemães ocidentais As condições fi nanceiras dos ocidentais funcionaram como o aspecto relevante para as comparações e levaram a expectativas de melhoria nas con dições financeiras para os orientais Como não aconteceu melhoria houve percepção de privação relativa Se ao contrário os alemães ocidentais tivessem vivido uma cri se em suas condições financeiras que não atingisse os orientais haveria percepção de gratificação por parte dos orientais ainda que sua condição real não se tivesse altera do O ponto central dessas comparações é o desempenho de grupos similares em deter minado aspecto Se não houver diferenças em seus desempenhos não haverá expecta tivas de resultados diferenciados entre eles Se um desempenhar seu papel pior ou me lhor que o outro as expectativas tenderão a acompanhar essas diferenças Brewer e Brown 1998 Brewer e Brown 1998 apontam que sentimentos nacionalistas componentes de atitudes separatistas nacionais estão asso ciados à privação fraternalista e dão supor te a movimentos nacionalistas A privação fraternalista como consta nos pressupostos dessa teoria explica elementos do ativismo político como ânsia por mudança social e militâncias Estudos experimentais mostra ram também que o potencial para a mobi lidade social e a crença na eficácia da ação para a mudança funcionam como variáveis moderadoras entre privação relativa e ações coletivas As pesquisas internacionais sobre pri vação relativa têm se preocupado mais com os efeitos da privação relativa fraternalista do que com os efeitos da privação relativa egoísticatemporal Sob esse enfoque as pesquisas têm abordado intensamente ques tões de preconceito e discriminação Um es tudo clássico que permite observar efeitos das duas abordagens de privação relativa é o de Pettigrew 1971 Esse estudo envolveu mais de 1000 eleitores brancos em quatro cidades norte americanas Parte da pesquisa questionava a percepção desses eleitores so bre seu sucesso econômico em relação a ou tros brancos como eles privação egoística A outra parte perguntava às mesmas pesso as como elas se sentiam em relação aos ne gros privação fraternalista Os resultados mostraram que 1 os maiores índices de preconceito foram observados entre aqueles com dupla pri vação egoística e fraternalista 2 em uma medida de atitudes em relação ao combate à segregação e à pobreza o gru po mais preconceituoso foi o de privação fraternalista Os menos preconceituosos foram os de privação egoística o que pode ser explicado pela natureza de suas expec tativas advir de comparações temporais consigo mesmos e com seu endogrupo Ainda no campo de conhecimentos de privação relativa e preconceito são fre quentes os estudos sobre racismo conside rando grupos de brancos versus grupos de negros As pesquisas nessa área têm avan çado para a descrição de tipos modernos de racismo como racismo simbólico presente na Austrália e nos Estados Unidos racismo aversivo racismo ambivalente ambos pre sentes nos Estados Unidos preconceito su til Europa e racismo cordial Brasil Lima e Vala 2004 descrevem cada um desses ti pos e suas manifestações nos países onde se destacam Trataremos brevemente aqui do racismo cordial tipicamente brasileiro Os autores compararam estereótipos atribuídos por brancos aos negros no Brasil na década de 1950 e em 2001 dados secundários e constataram um forte padrão de mudança nesses estereótipos na década de 1950 predominavam estereótipos como supersti ciosos e preguiçosos ao passo que em 2001 predominavam os estereótipos de alegres e musicais Contudo os autores alertam que esses resultados apontam para uma forma mais sofisticada de racismo pois os estereótipos positivos atuais definem papéis sociais es pecíficos para cada grupo étnico Esse é um tipo de racismo caracterizado por uma poli dez superficial das atitudes e comportamen tos discriminatórios que se expressa nas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 272 tOrres neiva cOLs relações interpessoais sob a forma de pia das ditos populares e brincadeiras de con teúdo racial A pesquisa de Turra e Venturini 1995 por exemplo revela que mais de 50 dos respondentes concordaram com afirmativas do tipo Negro bom é negro de alma branca enquanto apenas 10 con cordaram que são racistas Aparentemente sem más intenções o racismo cordial acaba gerando um quadro real de discriminação e exclusão dos negros no Brasil A teoria do racismo cordial está em desenvolvimento e na psicologia social tem se buscado des crever mecanismos históricos e psicossociais subjacentes a isso Devido ao seu caráter explicativo para os processos de ação coletiva a teoria da privação relativa tem se mostrado muito útil nos estudos sobre justiça Um dos pon tos principais da teoria para essa área é a escolha dos referentes de comparação ou seja os alvos com os quais os indivíduos se comparam são determinantes de sua per cepção de maior ou menor privação relativa e portanto afetam sua percepção de menos justiça versus mais justiça estudo que deu origem à teoria O termo privação relativa foi criado por Stouffer e colaboradores 1949 a partir de seu estudo com soldados norte americanos A pesquisa analisou 11 casos em que as percepções de satisfação dos soldados so bre aspectos da vida militar não correspon diam às condições objetivas nas quais esta vam vivendo Por exemplo a polícia militar mostrava se mais satisfeita com seus níveis de promoção quando se comparava com membros da aeronáutica ainda que houves se aproximadamente o dobro de promoções na aeronáutica Esses resultados indicavam que os níveis de satisfação com o que se ob tém dependem mais de padrões subjetivos do que da prosperidade objetiva Um dos fatores que contribuem para esses níveis são as pessoas com as quais é feita a compara ção no momento em que o indivíduo julga seu nível de satisfação Contudo Stouffer e colaboradores 1949 não chegaram a elaborar uma teoria da privação relativa Olson e Hazlewood 1986 O primeiro es forço formal nesse sentido foi realizado por Davis 1959 Taylor e Moghaddam 1994 resumem da seguinte forma as pré condições para que ocorra privação relativa o indivíduo não possui X quer X e sente que tem direito a X Davis propôs que as pessoas comparam se com outras que sejam semelhantes o que se baseia na teoria de comparação social de Festinger 1954 apud Taylor e Moghaddam 1994 Desse modo indivíduos do grupo de desvantagem não se comparam com gru pos extremamente distantes por falta de similaridades que permitam a comparação Havendo similaridades os outros possuem X e isso faz com que o grupo de desvan tagem automaticamente sinta que também tem direito a X Taylor e Moghaddam 1994 Entretanto a teoria de Davis não foi capaz de explicar condições específicas sob as quais os indivíduos definem o que é simi lar entre eles e seus grupos de comparação Em 1976 Crosby elaborou o modelo mais completo de privação relativa especi ficando as condições necessárias e suficien tes para que ocorra a percepção de privação Taylor e Moghaddam 1994 sintetizam o modelo de Crosby da seguinte forma emo ções negativas de privação relativa ocorrem quando o indivíduo percebe que o outro pos sui X ele quer X sente que tem direito a X sente que é possível obter X e não se sente pessoalmente responsável pela falta de X Observemos que Crosby não trabalha com a ideia de comparações entre grupos Tyler e Smith 1998 descrevem o modelo de Crosby como o modelo de três fatores a saber com paração social plausibilidade e responsabi lidade social que modelam a percepção de ter direito a uma meta Esse modelo implica dois conjuntos de cognições 1 atribuições de intencionalidade e respon sabilidade antecedentes de privação 2 análise de custos e benefícios plausibili dade e sentimentos de suporte comparti lhado moderadores entre o sentimento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 273 de privação e a motivação para respostas comportamentais Isso significa que a ausência de qual quer uma das condições tem forte impacto sobre a percepção de privação relativa Gurr 1970 diferentemente dos pri meiros teóricos da privação relativa enfa tizou os fatores que levam à percepção de que algo está errado Para esse estudioso de conflitos políticos a privação surge em decorrência da crença de que X não seja plausível o que gera a percepção de haver algo errado Ele estudou três padrões de pri vação relativa que fornecem as condições necessárias para a ocorrência de motins e rebeliões 1 privação decrescente que ocorre quando as expectativas permanecem constantes mas as capacidades para atingi las começam a diminuir 2 privação aspiracional caracterizada pela manutenção das mesmas capacidades e aumento das expectativas 3 privação progressiva na qual capacidades e expectativas aumentam porém as capa cidades não acompanham as expectativas que se mantêm superiores Estudos realizados até o início da déca da de 1980 Crosby 1982 tiveram resulta dos diversos que não apoiaram nenhuma te oria específica da privação relativa Todavia em quase todas as análises surgiram os te mas desejar diferença entre os resultados reais e os resultados desejados e merecer diferença entre os resultados atuais e os resultados merecidos Os resultados dese jados continuam dependentes do referencial de comparação Similarmente os resultados merecidos dependem do modo como a justi ça é concebida Isso significa que para que haja privação relativa é preciso ocorrer a combinação entre uma comparação social negativa e o conceito de merecimento ou justiça Contudo as teorias delineadas até en tão estavam focadas no nível individual ou seja nas comparações entre indivíduos Ao considerarmos o nível grupal a base concei tual para utilizarmos a teoria da privação relativa como uma abordagem de contato intergrupal foi desenvolvida por Tajfel e Turner 1986 segundo os pressupostos da teoria de identidade social Os autores de finem três tipos de respostas à identidade social negativa 1 mobilidade individual 2 redefinição das bases de comparação intergrupal 3 busca por mudança na estrutura de poder e dominação intergrupal 1 Mobilidade individual O indivíduo do grupo de desvantagem dissocia se do endo grupo e tenta associar se ao exogrupo mais poderoso 2 Redefinição das bases de comparação intergrupal Membros do grupo de desvan tagem mudam as bases de comparação in tergrupal e passam a se comparar com um exogrupo de menos status e poder de forma a perceber o endogrupo como grupo de van tagem Outra estratégia possível é reduzir o valor da comparação com o exogrupo que representa um grupo de vantagem De acordo com a teoria nos dois pri meiros tipos de resposta as relações sociais reais entre os grupos não se alteram pois essas respostas têm implicações que se res tringem à autoestima individual e do grupo É interessante notar que 20 anos depois de Tajfel e Turner um estudo desenvolvido por Pinho 2006 com jovens de uma comuni dade pobre no Rio de Janeiro gerou dados empíricos relatos dos participantes que corroboram os dois primeiros tipos de res posta à identidade social negativa Alguns jovens sonham em sair do local em arranjar trabalho e moradia fora dali Outros consi deram sua condição boa porque há pessoas em condições bem piores que as deles Essas percepções mais positivas surgem em con textos de grande adversidade real ou seja as percepções subjetivas dos indivíduos pre dominam sobre a condição real de desvan tagem social na qual se encontram INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 274 tOrres neiva cOLs 3 Busca por mudança na estrutura de poder e dominação intergrupal Os indi víduos engajam se em competição direta com exogrupos de vantagem É uma res posta es tudada geralmente com relação a preconceito e racismo ou a atos de contra venção como roubos por exemplo Kuznar e Lutz 2007 analisaram três organizações terroristas e identificaram que dois grupos sociais mais tipicamente fornecem membros para essas organizações Um deles é o de indivíduos que percebem perda de status e posição social em função de mudanças na sociedade O outro grupo é formado por aqueles que percebem a oportunidade de ganhar mais status e posição Esses dois gru pos apresentam se mais dispostos a correr riscos para manter ou melhorar sua condi ção social Os autores descrevem os nacionalistas palestinos os nacionalistas da Irlanda do Norte IRA e os tamilenses no Sri Lanka A pesquisa sobre terrorismo demonstra bem o funcionamento dos processos de privação relativa para a mobilização coletiva com vis tas à mudança na estrutura de poder Atos como assumir riscos e engajar se em revo luções ou ativismo político estão associados a desigualdades na distribuição de riqueza entre indivíduos e grupos Os terroristas por exemplo frequentemente não são pes soas pobres e de baixa escolaridade coa gidas a cumprir missões como ser homens bomba Kuznar e Lutz 2007 mostram que os indivíduos que enfrentam perspectivas limitadas de melhoria mesmo que sejam perspectivas alcançáveis podem tornar se membros ou apoiadores de grupos terroris tas Para tamilenses e palestinos os autores identificaram a influência da falta de status e a incapacidade de continuar a melhorar em comparação a sinhaleses e israelenses respectivamente como fatores que aumen taram a probabilidade de engajamento em movimentos terroristas Para os irlandeses essa probabilidade foi realçada pela falta de oportunidades para melhorar seu padrão de vida Esse é o foco das teorias da privação relativa limitações e críticas à teoria A teoria de mobilização de recursos defende que o sentimento de privação não é suficien te para incitar membros de grupos de des vantagem a se manifestar contra sua situa ção de desvantagem Para esses teóricos é o acesso a recursos estruturais concretos que permitem a ocorrência de motins piquetes etc Contudo é preciso compreender me lhor as relações entre emoções associadas à privação e os comportamentos associa dos a tais emoções Desse modo Taylor e Moghaddam 1994 discutem as principais limitações da teoria A primeira delas diz respeito às restri ções impostas às emoções nos desenhos de pesquisa ou seja os estudos geralmente fo cam poucas emoções como raiva e ultraje Além disso essas emoções são tratadas no nível individual É preciso investigar a ocor rência de emoções de privação relativa no nível do grupo para inferir em que medida elas influenciam ações coletivas já que es sas relações ainda não são claras A segunda limitação refere se à men suração de comportamentos Na maioria das vezes os comportamentos são inferidos a partir de intenções comportamentais ou seja o que o indivíduo afirma que faria O problema é que o relato das intenções não indica que a pessoa de fato se comportaria daquela maneira Além disso quando com portamentos são mensurados geralmente eles não são bem definidos o que dificulta a confiabilidade das conclusões A terceira limitação por sua vez é a tendência de investigar uma única forma de comportamento a qual costuma destacar se socialmente Entretanto os protestos podem variar desde manifestações individuais até manifestações coletivas socialmente legitima das como passeatas Dado que os comporta mentos podem ter diferentes níveis de seve ridade e que as pesquisas tradicionalmente focalizam os comportamentos mais severos as possibilidades de confirmar empiricamen te a teoria tornam se muito restritas A questão mais presente em relação à teoria da privação relativa é a escolha do re INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 275 ferencial de comparação como predizer que grupos serão selecionados como referen ciais de comparação Sob quais condições Estudos conduzidos na década de 1990 demonstraram a fragilidade da teoria da privação relativa em relação ao pressupos to de que as comparações entre grupos são feitas com o objetivo de testar a realidade Um desses estudos Major 1994 defendeu a existência de três fatores que afetam a es colha do alvo de comparação nos grupos de desvantagem 1 a proximidade ou saliência dos alvos de comparação no ambiente imediato que ocorre pela maior proximidade dos indi víduos com membros do endogrupo em função da segregação 2 a similaridade percebida visto que as comparações ocorrem com exemplares similares e os mais similares encontram se no endogrupo esse fator também leva a comparações intragrupais 3 a motivação subjacente à comparação social que pode ser de três tipos isto é para teste de realidade destaque do grupo ou apelo de igualdade Resultados empíricos descritos por Taylor Moghaddam e Bellerose 1987 in dicaram que quando motivados por teste de realidade como pressupõe a teoria da privação relativa os indivíduos respondem de forma racional não enviesada por suas emoções de privação Esses estudos mos tram que os indivíduos fazem comparações intragrupo e não intergrupos enviesadas mais voltadas para membros do endogrupo e desvinculadas da realidade concreta São resultados portanto que reforçam as críti cas à teoria da privação relativa Para superar a dificuldade de explicar os sentimentos de privação os pesquisado res têm recorrido a duas alternativas Tyler e Smith 1998 a apresentar escolhas de comparação es pecíficas aos participantes da pesquisa antes de medir suas atitudes e compor tamentos b medir os sentimentos de privação e as escolhas de comparação depois que as pessoas tenham se comportado Essas alternativas são exemplos do que é possível fazer na pesquisa em priva ção relativa A literatura internacional conta com boa produção científica a exemplo dos estudos citados ao longo do capítulo teoria da equidade definição e pressupostos As noções de equidade baseiam se em formu lações que remontam à época de Aristóteles Contemporaneamente incluem os trabalhos de Homans 1961 Blau 1964 e Adams 1965 A teoria da equidade é também cha mada de teoria de troca por alguns autores e sob a influência das pesquisas citadas foi derivada do conceito de justiça distributiva desenvolvido por Homans 1961 sendo também associada por Adams 1963 a con ceitos relacionados à teoria de dissonância cognitiva de Festinger 1957 A justiça distributiva é definida por Tyler e Smith 1998 como sendo as com parações que membros de um grupo fazem entre si considerando a relação entre seus investimentos e suas recompensas Ela par te da percepção de justiça social dos indi víduos A justiça de acordo com Taylor e Moghaddam 1994 pode ser vista como um padrão socialmente definido para a avaliação de recursos distribuídos em re lacionamentos humanos Isso significa que a percepção de justiça é o que as pessoas esperam como justo em suas relações e o desconforto que sentem quando percebem alguma injustiça Os modelos de justiça distributiva re presentam um grande avanço no campo de justiça social considerando que os modelos anteriores não conseguiam explicar como ocorre o julgamento das pessoas quanto ao seu merecimento em relação a algo ou al guém Tyler e Smith 1998 Recentemente INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 276 tOrres neiva cOLs a pesquisa em justiça social foi denominada de teoria da equidade sendo uma das te orias mais importantes que trata de justi ça em relacionamentos humanos Taylor e Moghaddam 1994 com diversas aplica ções nos variados campos das ciências so ciais A teoria da equidade lida essencial mente com duas questões Walster Walster e Berscheid 1978 1 O que as pessoas pensam ser justo e equi tativo 2 Como elas respondem quando recebem mais ou menos que o justo ou merecido em suas relações com os outros Como reagem quando seus companheiros re cebem benefícios que não merecem ou quando recebem sofrimento prolongado que também não merecem De acordo com Tyler e Smith 1998 a equidade pressupõe que satisfação e com portamento dependem da percepção do in divíduo sobre os resultados obtidos em com paração aos resultados que ele julga que sejam justos Assim ela é o equilíbrio entre as contribuições que duas pessoas ou dois grupos fazem entre si e as recompensas que eles recebem em troca configurando uma avaliação psicológica ou um julgamento ba seado nos esforços e recompensas do ava liador em comparação aos outros A percep ção de inconsistência nesse julgamento gera sentimentos de desconforto que podem ser de culpa quando as recompensas são maio res que as dos outros ou de raiva quando são menores Esse desconforto é criado pela inequidade relacional percebida e provoca reações comportamentais que tentam res taurar o equilíbrio da relação ou seja res taurar a equidade Para Homans 1959 um sistema so cial está em equilíbrio e seu controle é efe tivo quando o estado dos elementos que en traram no sistema e a relação mútua entre eles é tal que qualquer mudança pequena em um dos elementos será seguida por mu danças nos outros elementos tendendo a reduzir o montante daquela mudança Não haverá equidade se houver desequilíbrio Essa noção de equilíbrio utilizada pela teoria advém do conceito de eficiência de Pareto também chamada de ótimo de Pareto A eficiência de Pareto recebe esse nome por ter sido desenvolvida pelo político sociólo go e economista italiano Vilfredo Pareto Em termos econômicos por exemplo Simon e Blume 1994 conceituam a eficiência de Pareto como uma composição na qual nin guém pode ser melhorado sem que o outro elemento do sistema seja piorado Seria como visualizar uma balança de dois pra tos a tentativa de posicionar os dois pratos em um mesmo nível é a busca do equilíbrio Se isso não for possível um dos pratos des cerá e o outro se elevará indicando que um dos lados está em vantagem ganhan do e o outro em desvantagem perdendo Nesse caso haverá desequilíbrio no sistema ou inequidade Adams 1963 salienta que estudar o que acontece com os envolvidos nessa situação de inequidade é fundamental para que se compreendam conflitos sociais Uma questão importante é que a teoria da equidade tem como aspecto fundamental o conceito de que preferimos ser tratados de forma justa e dar o mesmo tratamento às outras pessoas Pode se dizer que se trata da chamada regra de ouro Faça aos ou tros o queres que te façam Kimble et al 2002 ou seja ocorrem contribuições dinâ micas como uma via de mão dupla que são intercambiadas entre os indivíduos ou gru pos Qualquer coisa que recebemos pode ser avaliada pela equidade dinheiro elogios As contribuições envolvem o que somos ou o que fazemos nossa beleza física a quali dade de um trabalho realizado A relação de equidade pode ser avaliada em diversos níveis entre indivíduo indivíduo entre grupo grupo entre indivíduo grupo Existe equidade quando a pessoa per cebe que a razão entre os resultados que recebe e as contribuições que ela faz são iguais à razão entre resultados e contribui INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 277 ções do outro ou dos outros Portanto existe equidade quando se observa o seguinte IA IB 1 OA OB Onde A indivíduo ou grupo B indivíduo ou grupo I esforço ou contribuição input O recompensa ou resultado output A expressão 1 denota que a teoria da equidade apresenta um modelo que trata o indivíduo como um ser racional que compu ta seus esforços e recompensas para si mes mo e para os outros Em outras palavras o indivíduo compara o resultado da razão en tre IA e OA com o resultado da razão entre IB e OB para chegar a uma noção de justiça Dessa forma o que se julga como justo será sempre relativo pois estará sempre sujeito a uma comparação com outro indivíduo ou grupo ou entre dois grupos É um modelo racional que pode ser utilizado para tomada de decisão e passa por um processamento cognitivo que se baseia em heurísticas Para corrigir a possibilidade de valores negativos como resultado da razão apresen tada Walster e Walster 1975 reescrevem a expressão da seguinte forma OA IA OB IB 2 IA OB Onde A indivíduo ou grupo B indivíduo ou grupo I esforço ou contribuição input O recompensa ou resultado output Vários termos podem representar input e output na literatura internacional Cada um dependerá da situação e do tipo de relação envolvidos no sistema De modo ge ral os termos mais comuns para expressar input e output são esforços e recompensas contribuições e resultados contribuições e recompensas custos e benefícios necessi dades e benefícios vantagens e desvanta gens investimento e retorno entre outros Taylor e Moghaddam 1994 definem os esforços I como contribuições que pesso as ou grupos fazem na forma de atributos habilidades ou estímulos e as recompensas O como premiações ou punições que po dem ser tangíveis pagamentos e serviços ou intangíveis status e carinho Se as razões entre I e O não forem iguais as partes envolvidas se sentirão des compensadas ou prejudicadas e motivadas a restabelecer a equidade A equidade pode ser restabelecida de duas maneiras 1 pela mudança de O de A ou de B ou mes mo pela mudança de I 2 pela reavaliação de O por parte de A ou de B A primeira forma de restauração con siste em restabelecer a equidade real ou objetiva a segunda em recuperar a equida de psicológica ou subjetiva sendo preferí vel a equidade real à psicológica Walster Berscheid e Walster 1973 Cabe destacar que A não pode modificar I de B nem B mo dificar I de A A e B podem apenas reavaliar seu próprio esforço ou contribuição O con trário a reavaliação de O de A ou de B pode acontecer apenas quando for difícil alcançar a equidade real ou quando o seu alcance cause algum incômodo para A ou B Mesmo sendo um modelo aparente mente racional a avaliação quanto à equi dade ocorre muitas vezes inconscientemen te em várias situações cotidianas sejam elas relativas ao ambiente empresarial negó cios às relações interpessoais às transa ções comerciais ou mesmo às relações de consumo Convém salientar que nesses ca sos sempre estão envolvidos dois lados ava liativos sendo que aquele sob menor razão IO se sentirá injustiçado e mais motivado a buscar meios para reduzir a inequidade à qual foi submetido A Figura 132 descreve a representação esquemática da teoria da equidade A teoria da equidade parte do pres suposto de que indivíduos vão se comparar aos outros em termos de investimento para uma atividadeobjeto e da percepção de INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 278 tOrres neiva cOLs retorno que eles têm disso Tyler e Smith 1998 A quebra dessa relação de equidade gera conflito e necessidade de restauração da equidade Adams 1963 1965 Isso significa dizer que as pessoas avaliam seus esforços e recompensas bem como os dos outros envolvidos em uma interação ou re lacionamento O relacionamento é aceitável quando há percepção de que os ganhos de ambos são proporcionais aos seus espaços Figura 132 representação esquemática da teoria da equidade Fonte Taylor e Moghaddam 1994 Justiça A relação é equiparável Grupo em vantagem Grupo em desvantagem Ambos os grupos satisfeitos com a relação Ambos os grupos não satisfeitos com a relação necessidade de restaurar a equidade Equidade Esforços Esforços Recompensas Recompensas Inequidade Esforços Esforços Recompensas Recompensas Restauração real da equidade Modo menos preferido Pode ser induzido se Possibilidade de adequação da compensação Dificuldade de distorção Reatauração psicológica da equidade Modo preferido Culpar a vítima Exagerar próprios esforços Restauração psicológica da equidade Modo menos preferido Pode ser induzido se Grupo tem menos poder Sair da relação Sentir autoculpa Restauração real da equidade Modo preferido Compensação Retaliação INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 279 A equidade pode transformar se em ine quidade em três situações básicas Walster Berscheid e Walster 1973 1 quando um dos envolvidos obtém novas informações a respeito das características e da conduta pessoal do outro 2 quando ocorrem mudanças em um ou em outro envolvido 3 quando ocorrem mudanças provenientes de acontecimentos ou fatores ambien tais Supõe se que aquele que sofre as con sequências negativas de uma mudança de estado de equidade para inequidade pode tornar se menos afetuoso menos generoso ou menos apresentável na tentativa de res tabelecer a equidade real Outra possibilida de é o rompimento da relação caso a equi dade não possa ser recobrada O foco da teoria da equidade está em relações entre pessoas mais do que no indi víduo isoladamente Contudo é uma teoria essencialmente individualista no que tan ge à sua tendência em analisar indivíduos interagindo com outros indivíduos Ela se baseia na premissa de que são as virtudes dos indivíduos tais como coragem esforço e inteligência que determinarão o seu pro gresso Pertencer a um grupo seja ele femi nino ou masculino de negros ou brancos de pobres ou ricos é julgado como fator secundário exceto em situações específicas como a de uma ação afirmativa por exem plo onde este deve ser um fator primário Taylor e Moghaddam 1994 Sendo assim está fortemente arraigada em culturas in dividualistas Isso não significa que ela não seja aplicável a culturas mais coletivistas pelo contrário na descrição da teoria é co mum ter de extrapolar para o nível de rela ção grupal Estudar a teoria da equidade tem sido um desafio pois a definição de esforços e recompensas é subjetiva e até mesmo con troversa Outra questão problemática é a percepção subjetiva de esforços e recompen sas Pode haver discordâncias sobre o volu me de contribuição que alguém faz e o nível de recompensa que essa pessoa merece As pessoas tendem a exagerar suas contribui ções pessoais em relação a esforços coleti vos o que provoca conflitos Tyler e Smith 1998 Esse é o processo que ocorre quando participamos de um trabalho em grupo por exemplo Cada componente do grupo tende a acreditar que fez mais do que os outros o que gera expectativas de recompensa con sistentes com essa percepção como reco nhecimento dos demais membros do grupo ou inclusive do próprio professor Dessa forma para analisar equidade os pesquisadores limitam os tipos de esfor ços considerados apresentam regras claras e geralmente aceitas para as recompensas bem como utilizam esforços e recompensas que sejam quantificáveis Outra estratégia é dizer aos participantes da pesquisa que as recompensas são justas ou injustas contro lando previamente os seus julgamentos estudo que deu origem à teoria O primeiro estudo desenvolvido com base na teoria da equidade foi conduzido por Adams nos anos de 1960 e 1961 nos Estados Unidos no contexto de organizações de tra balho Foram realizados dois experimentos que se voltaram à redução da dissonância cognitiva com a finalidade de explicar rea ções dos trabalhadores quanto à percepção de seus salários comparando sujeitos que recebiam por hora trabalhada com sujeitos que recebiam por peça produzida Adams 1962 Como pressupostos para os experimen tos Adams delimitou algumas questões 1 quando uma pessoa trabalha em troca de pagamento pode se pressupor que ela tem cognições sobre o que ela contribui seus inputs e o que ela recebe pelo de sempenho do trabalho seus outcomes 2 existe dissonância cognitiva para a pessoa sempre que suas cognições sobre seus inputs no trabalho eou seus outcomes estiverem em relação psicologicamente INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 280 tOrres neiva cOLs inversa às suas cognições de inputs eou outcomes do outro Festinger 1957 No primeiro experimento 22 estudan tes universitários do sexo masculino foram contratados para trabalho temporário em meio período na área de recrutamento e seleção de uma instituição americana re cebendo US350 por hora trabalhada Eles foram divididos aleatoriamente em dois gru pos com o mesmo número de trabalhadores Ge grupo experimental em condição de dis sonância N11 e Gc grupo em condição de controle N11 Para Ge o empregador fazia com que o sujeito percebesse na entre vista não ser qualificado para a vaga mas o contratava mesmo assim advertindo o da importância de obedecer às instruções refe rentes à atividade a ser desempenhada Ao entrevistar os participantes de Gc por sua vez o empregador sobrevalorizava as ca racterísticas do sujeito demonstrava se feliz em poder contratá lo e advertia que o valor pago por hora era padronizado US350 não podendo pagar mais do que isso Como resultados Adams 1962 iden tificou no primeiro experimento que traba lhadores que recebiam por hora sendo o valor dessa hora percebido por eles como superior ao que deveriam ganhar produ ziam significativamente mais do que aque les que percebiam receber o valor justo por hora ou seja Ge produzia mais por hora do que Gc Os participantes do Ge tentavam reduzir a sua dissonância cognitiva quan to ao valor inequitativo que recebiam por hora trabalhando mais do que os partici pantes do Gc No segundo experimento 36 estudan tes universitários do sexo masculino também foram contratados para trabalhar na área de recrutamento e seleção de uma instituição americana As mesmas condições do primei ro experimento foram aplicadas No entan to em vez de dois grupos foram compostos quatro grupos de estudantes com as seguin tes características He grupo experimen tal em condição de dissonância recebendo US350 por hora N9 Hc grupo em condição de controle recebendo US350 por hora N9 Pe grupo experimental em condição de dissonância recebendo US030 por entrevista obtida N9 Pc grupo em condição de controle recebendo US030 por entrevista obtida N9 No segundo experimento Adams iden tificou que trabalhadores que recebiam por entrevista obtida sendo o valor percebido por eles como superior ao que deveriam ga nhar considerando suas qualificações pro duziam significativamente menos do que aqueles que percebiam receber o valor justo por entrevista obtida Assim Pe produzia menos do que Pc no período de duas horas definido para o experimento Destaca se que seguindo o tipo de pes quisa desenvolvida por Adams 1962 os resultados de outros estudos têm demons trado que trabalhadores pagos com justiça são mais satisfeitos do que os trabalhadores super ou subpagos Diante da percepção de pagamento injusto os trabalhadores ajus tam seu nível de produtividade para restau rar a equidade Os dados revelam que esses ajustes de comportamento ocorrem inclu sive quando o trabalho é anônimo Outra forma de restaurar a equidade é mudando de empresa mesmo que seja para ganhar menos O princípio da equidade mostra se aplicável a outros contextos como amizade namoro e casamento Tyler e Smith 1998 Estudos e aplicações dessa natureza serão analisados a seguir estudos e aplicações As pesquisas sobre a teoria da equidade co meçaram enfocando temas como pagamen to e promoções no trabalho que são contex tos nos quais os esforços e as recompensas podem ser mais facilmente identificados Entretanto Foa e Foa 1974 já alertavam para a existência de outros tipos de recur sos que podem ser intercambiados e tornar se foco de avaliação equitativa tais como amor status informação bens serviços e dinheiro Nesse contexto serão apresenta das a seguir algumas pesquisas aplicadas à teoria da equidade envolvendo relações INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 281 de trabalho relações conjugais e de namo ro relações grupais e comportamento pró social Muitas pesquisas foram conduzidas nas décadas de 1970 e 1980 período em que a teoria consolidava se com maior com provação empírica Austin e Walster 1974 desenvolve ram um estudo empírico para verificar se a hipótese teórica de que os sujeitos que rece bem um benefício superior ao que conside ram justo na relação sentem se mal ou pior com isso do que aqueles que recebem menos que o justo O estudo demonstrou que esta hipótese é verdadeira a inequidade ocasio na mal estar tanto aos excessivamente bene ficiados na relação quanto aos injustiçados Dessa forma tanto os que tiveram maiores benefícios quanto os que não receberam qualquer benefício se sentirão motivados a diminuir a inequidade tentando instaurar uma situação mais próxima do equilíbrio Pesquisas têm mostrado que os indi víduos preocupam se não somente com a justiça distributiva mas também com a jus tiça de procedimento que se refere ao modo como as decisões são tomadas e a quais de cisões são essas A inclusão do critério pro cedimental à teoria da equidade foi propos ta por Leventhal 1980 e buscou expandir o quadro teórico original O estudo pioneiro quanto ao conceito de justiça de procedimento foi realizado por Thibaut e Walker 1975 Eles estudaram a justiça nos procedimentos de tomada de decisão com base nos esforços de terceiros Os pesquisadores constataram que os jul gamentos de justiça procedimental influen ciam as escolhas dos indivíduos sobre proce dimentos de terceiros na resolução de suas próprias disputas Esses julgamentos tam bém influenciam as reações subjetivas das pessoas a vários tipos de procedimentos Na elaboração teórica do construto de equidade realizada por Walster Walster e Berscheid 1978 propôs se que os prin cípios de equidade também são aplicáveis a relacionamentos próximos Esse dado foi observado em estudos de Hatfield e cola boradores 1985 ao examinarem equidade entre relacionamentos conjugais e de namo ro Essa é uma aplicação comum da teoria da equidade No entanto nem sempre ela pode ser aplicada a relações íntimas já que pode existir uma reciprocidade estreita e conveniente em relações de intercâmbio en tre desconhecidos ou conhecidos que é ina propriada entre amigos próximos e pessoas queridas Clark 1984 Clark e Mills 1979 Para Clark 1984 o pagamento ime diato de favores ou serviços os intercâm bios recíprocos a cobrança de pagamentos e o ato de manter separadas as contribui ções dos indivíduos são condutas inadequa das em relacionamentos íntimos Berscheid e Reis 1998 destacam que para determi nar se o relacionamento é justo e aceitável os parceiros podem comparar seus ganhos não apenas com o ganho de seus parceiros comparação relacional mas também com grupos de referência pertinentes compara ção referencial Walster Walster e Traupmann 1978 desenvolveram um estudo sobre equidade em relacionamentos de namoro Baseados em relatos de namorados e namoradas eles os classificaram como beneficiados em ex cesso tratados de forma equitativa ou pouco beneficiados Aqueles que mantinham rela ções equitativas tendiam a avançar para um relacionamento mais íntimo do que aqueles que tinham excesso ou escassez de benefí cios Aqueles tratados de modo equitativo eram mais felizes e estavam mais contentes com sua relação do que os tratados de forma não equitativa É interessante observar que mesmo aqueles sob uma inequidade positi va ou seja que se beneficiavam mais com a relação eram infelizes Muitas evidências empíricas relevantes em predições da teoria da equidade são con traditórias principalmente quanto à satisfa ção do relacionamento ou não endossáveis quanto à estabilidade Como resultado al guns pesquisadores concluíram que os prin cípios de equidade não são importantes em relações próximas enquanto outros tentam integrar e reconciliar esses dados Berscheid e Reis 1998 A teoria da equidade também tem apli cações com relação ao comportamento de INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 282 tOrres neiva cOLs grupos em vantagem ou em desvantagem Por definição os grupos em vantagem e em desvantagem têm interesses conflituosos uma vez que os primeiros terão que perder privilégios para que os segundos possam al cançar igualdade Entretanto muitos grupos em desvantagem parecem perceber sua po sição como sendo justa frente ao grupo pri vilegiado A teoria da equidade oferece uma explicação para essa curiosa atitude usando processos psicológicos como base para sua explicação Além disso é uma teoria que pode ser aplicada para explicar diferenças entre as estratégias empregadas pelos gru pos em vantagem e em desvantagem ou para explicar como as diferentes estratégias dos dois grupos podem ajudar a fortalecer a posição do grupo em vantagem Taylor e Moghaddam 1994 Em estudos transculturais Hui e Luk 1996 tentaram identificar regras de alo cação que são percebidas como razoáveis e mais aceitáveis por membros de determina dos grupos culturais chamando essas regras de esquemas de recompensas De acordo com tais estudos as culturas coletivistas fa zem uma clara distinção entre endogrupo e exogrupo que consequentemente leva a uma transferência igualitária entre recom pensas e punições no endogrupo a fim de preservar a harmonia Por outro lado as culturas individualistas aplicam uma trans ferência proporcional de recompensas e punições a membros individuais de acordo com seu mérito ou contribuição Taylor e Moghaddam 1994 desta cam que nas culturas coletivistas a regra de equidade é usada em negociações com membros do exogrupo Nas culturas indivi dualistas por sua vez a equidade é aplicada tanto para membros do endogrupo quanto para estranhos Essa diferença cultural pode ser interpretada à luz da estrutura tradicio nal adotada por membros do endogrupo nas culturas coletivistas na qual necessidades de um membro do endogrupo justificariam recompensas não equitativas Por exemplo se um colega de grupo não pode compare cer às reuniões devido a problemas pesso ais o grupo ainda assim mantém seu nome no trabalho entregue ao professor de modo que todos receberão a mesma nota Em relação ao comportamento pró social a teoria da equidade abre uma im portante dimensão ao introduzir a com paração social e a justiça distributiva As necessidades e os benefícios não são mais definidos pelo olhar do indivíduo a defi nição é ampliada para incluir necessidades baseadas em privação relativa Adams 1965 Agir pró socialmente para redistri buir recursos de maneira mais justa é uma forma de restabelecer equidade A equi dade também pode ser psicologicamente restabelecida pela valorização de recursos recebidos em vantagem ou desvalorização de recursos recebidos em desvantagem jus tificando assim as diferenças em benefícios Batson 1998 limitações e críticas à teoria No Brasil que tem uma cultura reconheci damente mais coletivista a teoria da equi dade apresenta algumas limitações Triandis 1994 destaca que mesmo que a teoria da equidade seja um conceito reconhecido em todas as culturas a norma existente em cada uma delas não possui a mesma relevância Com isso não se pode aplicar a teoria com os mesmos pressupostos em qualquer cul tura Outra questão identificada na cultu ra brasileira por Rodrigues 1982 é que nas relações de trabalho os trabalhadores acabam não comparando seus esforços e re compensas com os demais trabalhadores O comportamento de trabalhar em si é valori zado e não a consequência disso considerações Finais Este capítulo teve por objetivo abordar de finições pressupostos origens aplicações e limitações de três importantes microteorias de contato intergrupal o conflito realístico a privação relativa e a equidade É interes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 283 sante destacar a influência das percepções dos indivíduos sobre seu modo de julgar e de se comportar no mundo Os relatos de pesquisa mencionados oferecem exemplos úteis para a compreensão dos processos a que se referem essas teorias Para atender aos objetivos didáticos do capítulo cada mi croteoria foi apresentada separadamente Contudo essa etapa de conclusão volta se para uma visão mais ampla do campo em que se inserem essas teorias o da compa ração social A teoria de comparação social foi originalmente desenvolvida por Festinger 1954 com base no pressuposto central de que nos conhecemos a partir de compa rações que fazemos com os outros e não apenas de informações objetivas sobre nós mesmos Os desenvolvimentos da área de estudos de comparação social fizeram com que ela abarcasse inclusive a teoria de iden tidade social à qual estão associadas as te orias de contato intergrupal tratadas neste capítulo O trabalho de Buunk e Gibbons 2007 descreve o desenvolvimento do cam po na literatura internacional em termos de expansões nas perguntas de pesquisa nos métodos usados e no conceito de compara ção social 1 Quanto às perguntas de pesquisa Um número cada vez maior de assuntos tem sido tratado sob a perspectiva de com paração social Estudos sobre relações interpessoais mais próximas têm rece bido mais atenção como as comparações que as mulheres fazem sobre a divisão do trabalho doméstico nas quais elas podem comparar se com o parceiro ou com outras mulheres Outra área que tem sentido impacto é a de comparação social com modelos e imagens do corpo presentes na mídia e sua relação com transtornos alimentares em mulheres Na área de comportamento econômico por exemplo a teoria de comparação social tem influen ciado estudos sobre o aumento no nível de consumo motivado por comparações sociais com outros perce bidos como melhores Em nível grupal há pesquisas sobre o papel da comparação social em situações de brains torming 2 Quanto aos métodos Os estudos em com paração social têm utilizado métodos comuns a outras áreas da psicologia como medidas fisiológicas diários e medidas cognitivo sociais Também têm desenvol vido métodos próprios com abordagens biopsicológicas que combinam reações dos indivíduos com medidas fisiológicas ou ainda medidas de seleção de teste as quais avaliam em que graus as pessoas buscam ou evitam comparações 3 Quanto ao conceito de comparação social Atualmente o conceito de comparação social abrange todo processo por meio do qual os indivíduos relacionam suas próprias características com as de outros Na elaboração inicial de Festinger 1954 as comparações restringiam se a opiniões e habilidades Desse modo embora a teoria de identidade social tenha cursado caminho próprio nos estudos de psicologia social ela tem sido também abarcada sob o conceito de comparação social Outras áreas que têm sido estudadas sob o escopo de comparação social são a influência so cial em pesquisas sobre projeção social e falso consenso por exemplo e os estudos sobre ansiedade Buunk e Gibbons 2007 destacam que apesar da grande expansão que a área de comparação social apresentou nos últimos anos ainda são necessários mui tos estudos empíricos e aprimoramentos teóricos para o desenvolvimento desse campo de estudos Um aspecto fundamen tal que começou a ser mais estudado é o dos processos cognitivos que medeiam a relação entre comparação social e os com ponentes da atitude afetivo cognitivo e conativo Para estudar essa relação os pesquisadores têm utilizado métodos de senvolvidos nas áreas de cognição social e julgamento social Outro aspecto relevante diz respeito à relação entre comparação social e abor dagens neurocientíficas e evolutivas Sob a perspectiva evolutiva os mecanismos que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 284 tOrres neiva cOLs direcionam as escolhas de comparação do indivíduo podem ter uma função adaptati va Assim o fato de comparar se com um indivíduo ou grupo que está em situação pior o desejo de se tornar melhor em di mensões consideradas importantes ou ainda o desejo de ter pessoas próximas em situação melhor em dimensões que não são importantes para o indivíduo podem ser mecanismos resultantes de um processo evolutivo que impede competições poten cialmente prejudiciais para os grupos No Brasil os estudos ainda são muito escassos e restritos a poucas áreas de aplica ção com destaque para as questões de ra cismo e satisfação no trabalho Contudo as publicações brasileiras podem ser encontra das em periódicos de destaque segundo a classificação Qualis de periódicos anais re vistas e jornais realizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES Podem se encontrar arti gos publicados em periódicos no maior nível de classificação A o que indica elevado ní vel de qualidade das pesquisas nacionais Fontes de inForMação sobre as teorias À guisa de facilitar a busca de estudos sobre as teorias o Quadro 131 lista os periódi cos nos quais foi encontrado maior número de artigos sobre cada teoria no período de 2004 a 2007 É preciso ressaltar porém que há artigos sobre essas microteorias publica das em outros periódicos os quais utilizam diferentes metodologias com variados par ticipantes e cujos resultados são bastante interessantes quadro 131 PerióDicOs internaciOnais cOm maiOr FreQUÊncia De PUBLicações entre 2004 e 2007 cOm a resPectiva teOria teoria Periódicos internacionais teoria do conflito realístico Journal of Social Issues Learning in Health and Social Care Personality and Social Psychology Bulletin teoria da privação relativa Journal of Applied Social Psychology European Journal of Social Psychology Journal of Experimental Social Psychology Journal of Personality and Social Psychology teoria da equidade Journal of Business Ethics Journal of Managerial Psychology Journal of Business and Psychology reFerências ADAMS JS The relationship of worker productivity to cognitive dissonance about wage inequities Jour nal of Applied Psychology v 46 p 161164 1962 ADAMS JS Toward an understanding of inequity Journal of Abnormal and Social Psychology v 67 n 5 p 422436 1963 ADAMS JS Inequity in social exchange In BERKOWITZ L org Advances in experimental social psychology Nova York Academic Press 1965 ALBUQUERQUE FJB VASCONCELOS TC COELHO JAPM Análise psicossocial do assenta mento e seu entorno Psicologia Reflexão e Crítica v 17 n 2 p 233242 2004 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 285 AUSTIN W WALSTER E Reactions to confir mations and disconfirmations of expectancies of 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as pessoas obedeciam à pressão de um grupo ou de uma autoridade Floresciam os estudos de percepção social formação de impressão e influência social As pesquisas de Fritz Heider 1944 sobre a atribuição de causalidade nos processos de percepção a noção de equilíbrio e a teoria de campo de Kurt Lewin 1951 os trabalhos de Solomon Asch 1952 sobre a formação de impressão e conformismo e os trabalhos de Milgram 1963 sobre obediência à autoridade são exemplos de estudos que tentavam respon der a essas questões Essa efervescência da psicologia social refletia se na edição de 1968 do Handbook of social psychology de Lindzey e Aronson Todavia não tardaram a surgir as primeiras críticas as quais de certa forma ofuscavam o clima de otimismo e confiança que vinha tomando conta dessa área Já em 1952 Asch afirmava que os psicólogos sociais estariam fazendo uma caricatura dessa disciplina ao se apressarem em imitar as ciências natu rais em seus métodos e procedimentos Em 1954 G Allport lembrava que a psicologia social apenas iniciava sua infância no que concernia à construção de teorias e alertava seus colegas afirmando que a interpretação de um experimento não poderia prescindir de uma teoria que transcendesse os exem plos concretos As críticas à psicologia so cial não se restringiam à fragilidade de seu aparato teórico metodológico e aos aspec tos éticos dos procedimentos experimentais que estavam sendo conduzidos Havia dis cordâncias quanto ao caráter mais ou me nos político da disciplina McGuire 1965 Katz 1978 quanto à natureza do animal humano Asch 1952 Von Cranach 1982 e ao grau do controle voluntário Archibald 1978 Blumer 1969 No bojo dessa crise crescia o ceticismo diante da ideia de que o conhecimento em pírico e sistemático do modo de funciona mento da sociedade conduziria naturalmen te à solução de seus problemas Acredita se que a publicação do artigo de Kenneth Ring em 1967 no Journal of Experimental Social Psychology marca o desvelamento da crise da psicologia social Ibáñez 1990 Collier Minton e Reynolds 1996 Cerrato e 14 a teOria Das rePresentações sOciais angela Maria de oliveira almeida Maria de Fátima de souza santos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 288 tOrres neiva cOLs Palmonari 2009 Neste artigo Ring con testava o ritualismo metodológico dos pesquisadores preocupados mais com o de senho das situações experimentais e com suas publicações do que com a relevância social e teórica de suas pesquisas Em ambos os lados do Atlântico assistia se à ascensão do paradigma cogni tivo O ano de 1984 o atesta com a publica ção da primeira edição de Social cognition por Fiske e Taylor e de Handbook of social cognition por Wyer e Srull Movimento que toma conta da psicologia social sobretudo a partir dos anos de 1980 a Social Cognition pode ser entendida como um interesse ex plícito pelos processos mentais subjacentes às ações dos homens com base na busca de coerência do comportamento humano Caminho distinto é assumido por um grupo de psicólogos sociais na Europa Em 1972 Israel e Tajfel publicam The context of social psychology no qual retomam as con tribuições de Lewin Asch e Sherif e susten tam que a psicologia social ponte entre a psicologia e outras disciplinas das ciências sociais deveria ser considerada como uma disciplina autônoma Seu objetivo principal seria focar as interações sociais no decurso das quais aparecem os pensamentos os sen timentos e as motivações humanas Por con sequência a psicologia social precisaria ne cessariamente superar as contradições entre os níveis de análise individuais e sociais a primeira considerada tradicionalmente pró pria da psicologia e a segunda da sociologia antropologia e economia Tal psicologia social pode ser conside rada como afirmam Cerrato e Palmonari 2009 p 5 uma ciência social cujo obje to é o estudo das relações cotidianas que se produzem na realidade social dos fenôme nos ligados à comunicação e à ideologia isto é do conhecimento e das representações so ciais Várias linhas teóricas desenvolveram se em resposta à crise da psicologia social a partir deste pressuposto Acreditamos que a teoria das representações sociais constitui sem dúvida a resposta mais original breve Histórico da teoria das rePresentações sociais Em sua obra seminal La psychanalyse son image et son public de 1961 Serge Moscovici examinou o processo de transformação de uma teoria no caso a teoria psicanalítica em um saber do senso comum a fim de com preender a construção do conhecimento co tidiano seus modos de funcionamento e uso na vida diária para entender os processos que estão na base das mudança de pensa mento e das práticas sociais Em entrevista concedida à primeira autora deste capítulo em 2001 e à Ivana Marková publicada em The making of mo dern social psychology Moscovici e Marková 2006 Moscovici esclarece como surgiu seu interesse sobre o conhecimento cotidiano Segundo ele um problema que afetou for temente sua geração e que depois se tornou o problema da modernidade foi o pa pel da ciência Durante a primeira metade do século estava em ebulição a crença de que a ciência seria a salvação do mundo aquela que traria o bem estar e a felicidade para a humanidade Ao lado dessa crença desenvolveu se todo um corpo de interesses e de preocupações com vistas a compreen der de forma mais sistemática qual seria o impacto da ciência sobre as mudanças his tóricas o pensamento e os projetos sociais Esta era uma questão que permeava sobre tudo os debates dos jovens que naquele mo mento foram atraídos pelo marxismo Como alguém que estava vivendo as agruras da Segunda Guerra Mundial Moscovici começou a se perguntar acerca do impacto da ciência sobre a cultura das pes soas como ela alterava suas mentes e seu comportamento enfim ele se questionava sobre o porquê de a ciência tornar se parte de um sistema de crenças das pessoas e dos grupos Moscovici assinala que nesse período havia duas correntes claras acerca da ciên cia A primeira era aquela sustentada pelos marxistas e com a qual ele próprio estava INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 289 bastante familiarizado já que em sua juven tude no início da guerra alistou se no parti do comunista romeno Em sua percepção os marxistas e particularmente Lênin manifes tavam uma grande desconfiança em relação ao conhecimento popular e ao pensamento das massas A posição dos marxistas era a de que o conhecimento tinha de ser extirpado das irracionalidades trazidas pela ideologia pela religião e pelo folclore substituindo as por uma visão científica do homem da história e da natureza ou seja pela visão do materialismo histórico Os marxistas não admitiam que a difusão do pensamento científico pudesse incrementar o pensamen to comum Portanto tratava se da erradicar do pensamento os elementos do senso co mum possibilitando que cada sujeito ascen desse a uma consciência social A segunda corrente representada por aqueles que Moscovici denominou de iluminados pressupunha que o papel do conhecimento e do pensamento científicos era o de dissipar a ignorância os precon ceitos ou os erros desencadeados por um conhecimento não científico A forma de dissipar essa visão equivocada das coisas e do mundo seria através da educação Em última instância visava se a transformar to dos os homens em cientistas levando os a pensar racionalmente O que se observa é que essas duas po sições que se dizem em oposição acabam convergindo já que paradoxalmente am bas consideram que a popularização do co nhecimento científico difundido na esfera pública resultaria em uma desvalorização ou inclusive em uma deformação do conhe cimento científico Ou seja não se pode so cializar a ciência sem que ela seja deturpa da pois a população leiga seria incapaz de assimilá la tal como os cientistas Após a guerra já afastado do partido comunista e vivendo na Europa Ocidental como refugiado político Moscovici opõe se definitivamente a tais visões e tenta re dimensionar o conhecimento cotidiano o qual se configura a seu ver como fundante da vida da linguagem e das práticas coti dianas De fato citando Moscovici 2001 ele afirma Eu reagi contra a ideia implíci ta que tinha me preocupado em um dado momento a qual pressupunha que o povo não pensa que as pessoas não seriam ca pazes de pensar racionalmente tal como os intelectuais1 Assim em suas reflexões a transformação do conhecimento científico em conhecimento comum ou espontâneo tornou se um problema central Moscovici acreditava que estaria in troduzindo um terceiro elemento o senso comum que ao lado da ideologia e da ci ência representaria as raízes da consciência social e que também estaria estabelecendo uma relação entre consciência e cultura levando se em conta as práticas e os costu mes presentes na vida cotidiana É nessa perspectiva que o senso co mum vai adquirir valor como objeto de estu do na medida em que deixa de ser conside rado meramente como folclore ou como um pensamento tradicional ou primitivo para ser tomado como algo moderno originado em parte da própria ciência e que assume formas particulares quando é tomado como parte da cultura Ao se recusar a reduzir o senso comum à ideologia como muitos ten dem a fazê lo Moscovici acredita que está necessariamente tomando o como um ele mento que liga a sociedade ou o indivíduo à sua cultura à sua linguagem enfim a um mundo que lhe é familiar Foi sob o impacto da guerra portanto quando Moscovici mergulhou nas profunde zas dos sentidos da vida humana que come çou a ser gerada aquela que mais tarde se configuraria como a teoria das representa ções sociais PressuPostos da teoria das rePresentações sociais Pode se dizer que a teoria das representa ções sociais centrada nos modos de fun INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 290 tOrres neiva cOLs cionamento do pensamento cotidiano tem suas raízes tanto na sociologia e na antro pologia Durkheim e Lévy Bruhl quanto na psicologia construtivista sócio histórica e cultural Piaget e Vygotsky Podemos mes mo ir além e afirmar com Arruda 2009 p 740 que ela implica por entender o social e o individual como fios entrelaçados num mesmo tecido considerar esse tecido de forma aberta e múltipla sem barreiras disciplinares Para dar conta do conhecimento coti diano Moscovici 1989 retoma e ressigni fica o conceito de representações tentando ao mesmo tempo colocar em evidência a es pecificidade da psicologia social na medida em que com esse conceito ele a situará na intersecção do individual e do social Para tanto ele se apoia no conceito de represen tação coletiva de Durkheim embora rejei te suas explicações essencialmente sociais assim como se apoia no conceito de repre sentação mental de Piaget rejeitando suas explicações essencialmente cognitivas Em Lévy Bruhl e posteriormente em Vygotsky Moscovici encontra os elementos de ligação do indivíduo ou dos grupos às suas cultu ras Examinando a evolução do conceito de representação em uma perspectiva históri ca deparamo nos com Durkheim o qual ao se utilizar do conceito de representações estabelece uma oposição entre o individu al e o coletivo Haveria uma representação individual cujo substrato é a própria cons ciência de cada um sendo portanto sub jetiva flutuante e perigosa à ordem social Do outro lado situava se a representação coletiva cuja sociedade em sua totalidade constituía se em seu substrato o que lhe atribuía um caráter impessoal e permanen te garantindo assim a associação entre os indivíduos e a harmonia social Lévy Bruhl assim como Piaget e Vygotsky confere às representações uma dinamicidade maior do que aquela que lhe era permitida pelo conceito de representa ções coletivas Lévy Bruhl salienta a coerên cia interna entre sentimentos raciocínios e movimentos da vida mental coletiva Os indivíduos devido à sua própria inserção na sociedade e à sua ligação com a cultu ra dessa sociedade exprimem sentimentos comuns que ele chama de representação Para ele o que diferencia uma sociedade da outra é a lógica utilizada por seus membros para representar a realidade No entanto Moscovici 1989 considera que Lévy Bruhl vai estabelecer uma oposição entre os meca nismos psicológicos e lógicos da representa ção de forma semelhante a Durkheim que estabeleceu uma cisão entre o individual e o social Quanto a Piaget Moscovici 1989 afirma que este ao defender que as diferen ças entre as crianças e os adultos não eram uma questão de competência mas sim de lógicas diferenciadas transfere para o ní vel individual o princípio adotado por Lévy Bruhl para explicar os diferentes tipos de sociedade baseando se nas diferenciações lógicas características das formas de pensá las A apropriação que Moscovici faz do conceito de representação não segue po rém exatamente esse caminho Quando ele se concentra na questão da essência da psi cologia social e descobre que tal essência constitui se no próprio senso comum pas sa a buscar um conceito ou uma ideia que fosse mais do que uma mera etiqueta e que pudesse dar conta da transformação do co nhecimento científico em conhecimento do senso comum Nessa direção Moscovici perseguiu um conceito que tivesse significação teóri ca baseada na demonstração de que o co nhecimento ou o pensamento são necessa riamente sociais de modo semelhante aos físicos quando estes demonstraram que a matéria é essencialmente formada por áto mos Em prefácio à coletânea de estudos sobre as representações sociais organizada por Guareschi e Jovchelovitch 1994 p 9 Moscovici reafirma a origem transdiscipli nar da teoria das representações sociais por meio de uma analogia à história de formula ção do conceito de átomo e genes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 291 O conceito de átomo durante dois mil anos e o de genes durante mais ou menos um século foram elementos ex plicativos e abstratos nas teorias físicas e biológicas O conceito de representação social foi um conceito semelhante nas teorias sociológicas e antropológicas E todos o sabemos a teoria dos átomos e a teoria dos genes da hereditariedade não são mais que o produto recente de duas ciências híbridas a física atômica e a biologia molecular É assim também que a teoria das representações sociais procura renovar e confirmar a especifici dade da psicologia social Tal como ocorreu com a física e a biolo gia molecular o caminho percorrido pela teo ria das representações sociais não foi fácil pois o desafio era superar o enfoque indivi dualista da psicologia e o enfoque coletivis ta da sociologia e da antropologia utilizan do essas mesmas ciências como auxiliares A articulação dessas diferentes perspectivas sociológica antropológica psicológica traz para a psicologia social o pressuposto de que os fenômenos estudados por ela as sumem formas e significações diversas em espaços culturais e tempos distintos Podemos considerar com Doise 1993 p 161 que Moscovici oferece nos uma teo ria das representações sociais que não é somente heuristicamente útil para analisar complexos fenômenos sociais mas também capaz de reorganizar teoricamente tradicio nais campos de estudo na psicologia social Em Moscovici encontramos conceitos im portantes que funcionam como princípios gerais que oferecem uma estrutura de análi se capaz de detalhar o processo de constru ção ou gênese de uma representação social mas que não têm a pretensão de esgotar todas as possibilidades teóricas que esse campo de estudo suscita Nesse sentido ela pode ser considerada como Doise vem assinalando em várias oportunidades uma grande teoria das representações sociais Com efeito a teoria das representações sociais pode ser considerada como uma grande teoria grande no sentido de que sua finalidade é a de propor conceitos de base que devem atrair a atenção dos pesquisadores sobre um conjunto de dinâmicas particulares e suscitar assim estudos mais detalhados sobre os múlti plos processos específicos Doise 1990 p 172 No meu entender grandes teorias nas ciências humanas são concepções gerais sobre o indivíduo eou o funcionamento societal que orientam o esforço de pes quisa Elas devem não obstante ser com pletadas por descrições mais detalhadas dos processos que sejam compatíveis com a teoria geral mas que podem também ser compatíveis com outras teorias Doise 1993 p 161 Nessa mesma direção Palmonari 2009 p 45 afirma A teoria das representações sociais é agora uma construção muito complexa uma espécie de encruzilhada as correntes de ideias que aí convergem são múltiplas e no momento não há nenhum mapa que dê as coordenadas comuns E não é apenas uma questão de ideias e modelos formulados por disciplinas não psicoló gicas história antropologia sociologia semiótica etc mas também produções de grupos diferentes que de todo modo compartilham a mesma orientação teórica em psicologia social o conceito de rePresentações sociais Pensar as representações sociais do conhe cimento científico pressupõe antes de tudo considerar as próprias representações so ciais como uma forma de conhecimento as quais podem ser entendidas de acordo com Denise Jodelet 1991 p 668 como uma forma de conhecimento corrente dito senso comum caracterizado pelas se INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 292 tOrres neiva cOLs guintes propriedades 1 socialmente elaborado e partilhado 2 tem uma orientação prática de organização de domínio do meio material social ideal e de orientação das condutas e da comu nicação 3 participa do estabelecimento de uma visão de realidade comum a um dado conjunto social grupo classe etc ou cultural A definição de representações sociais como uma forma de conhecimento social pressupõe a existência de três aspectos im portantes a comunicação a reconstrução do real e o domínio do mundo Comunicação porque as representações oferecem às pesso as um código para suas trocas e um código para nomear e classificar de maneira unívo ca as partes de seu mundo de sua história individual e coletiva Moscovici 1976 p 11 Nesse sentido as representações sociais são entendidas como moduladoras do pen samento e reguladoras da dinâmica social na qual convergências e conflitos atuam em um movimento que opera a mudança social Reconstrução do real porque é na cons tante dinâmica comunicação representação que os sujeitos reconstroem a realidade cotidiana As representações sociais atuam como guias de interpretação e organização da realidade fornecendo os elementos para que os sujeitos se posicionem diante dela e definam a natureza de suas ações sobre essa realidade As representações participam da construção da realidade a qual só existe nas interações dos indivíduos e grupos com os objetos sociais A dicotomia clássica entre sujeito objeto é abandonada já que se su põe que não há uma ruptura entre o uni verso exterior e o universo interno do indiví duo ou do grupo Sujeito e objeto não são no fundo distintos Moscovici 1976 p 9 Domínio do mundo porque as representa ções são entendidas como um conjunto de conhecimentos sociais que têm uma orien tação prática e que permitem ao indivíduo situar se no mundo e dominá lo Trata se aqui de uma dimensão mais concreta que nos remete à utilidade social do conceito de representação Esses três aspectos comunicação reconstrução do real e domínio do mundo colocam em evidência o papel que as re presentações sociais assumem na dinâmica das relações e práticas sociais cotidianas o qual se explicita em suas diferentes funções Como saber do senso comum as represen tações sociais permitem aos indivíduos com preender e explicar a realidade por meio da construção de novos conhecimentos Ao in tegrar a novidade a saberes anteriores eles a transformam em algo assimilável e com preensível As representações também têm por função situar os indivíduos e os grupos no campo social permitindo lhes a elabora ção de uma identidade social e pessoal gra tificante Como saber do senso comum elas ainda orientam os comportamentos e as prá ticas intervêm na definição da finalidade da situação e antecipam ou prescrevem práticas obrigatórias na medida em que definem o que é aceitável em dado contexto social Por fim as representações sociais permitem justificar a posteriori os comportamentos e as tomadas de posição Se desempenham um papel importante na determinação das ações elas também intervêm após sua reali zação permitindo aos indivíduos explicar e justificar seus comportamentos Essa função assume um papel importante porque permi te reforçar a diferenciação social uma vez que a justifica preservando e mantendo a distância social entre grupos Na teoria das representações sociais essa forma de conceber o conhecimento como um saber do senso comum que tem funções primordiais para a existência hu mana e para o funcionamento da socieda de pressupõe a afiliação a uma perspectiva psicossociológica a qual permite explicar o processo de construção e gênese das repre sentações sociais e sobretudo implica um comprometimento com pressupostos teóri cos e epistemológicos claramente definidos no bojo da teoria Esses pressupostos rom pem com os critérios de verdade difundidos pelos cânones científicos que desconsideram as relações entre o sujeito e um objeto que faz parte de seu universo pessoal e social passando a situá los na funcionalidade que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 293 os conhecimentos inerentes a essa realidade assumem na vida cotidiana Podemos deduzir que o estudo de uma representação social pressupõe investigar o que pensam os indivíduos acerca de determi nado objeto a natureza ou o próprio conteú do da representação por que pensam a que serve o conteúdo de uma representação no universo cognitivo dos indivíduos e ainda a maneira como pensam os indivíduos quais são os processos ou mecanismos psicológi cos e sociais que possibilitam a construção ou a gênese desse conteúdo Vemos então que é característico das representações so ciais o fato de elas serem ao mesmo tempo produto e processo da atividade humana Seus conteúdos são capturados dos discur sos coletivos e individuais das opiniões e atitudes das práticas e circulam na socie dade por meio de diversos canais como nas conversações e nas mídias Trata se da face diretamente observável das representações sociais Quando se diz que uma representa ção social é também um processo supõe se a existência de um mecanismo psicossocioló gico de pensamento que por um lado rege a gênese a organização e a transformação de um conteúdo e por outro torna possível sua funcionalidade social Ao mostrar que a gênese de uma re presentação implica uma atividade de trans formação do não familiar em familiar de um saber científico em um outro saber do sen so comum Moscovici 1976 elaborou os conceitos de objetivação e ancoragem para explicar esse processo A objetivação torna concreto aquilo que é abstrato Ela transfor ma um conceito em imagem retirando o de seu marco conceitual científico Trata se de privilegiar certas informações em detrimen to de outras simplificando as e dissociando as de seu contexto original de produção A retenção das informações salientes é acom panhada de um ajustamento em que cer tas informações assumem um papel mais importante do que outras tornando sua estrutura diferente daquela original Trata se enfim de transformar o que é abstrato complexo ou novo em imagem concreta e significativa com base em concepções que nos são familiares Nesse processo perde se em riqueza informativa já que há simpli ficação o que se ganha em compreensão Bonardi e Roussiau 1999 p 24 Já a ancoragem corresponde exata mente à incorporação ou à assimilação de um novo objeto em um sistema de catego rias que são familiares e funcionais aos in divíduos e que lhes estão facilmente dispo níveis na memória A ancoragem permite integrar o objeto da representação em um sistema de valores próprios aos indivíduos denominando o e classificando o em função da inserção social desses indivíduos Assim um novo objeto é ancorado quando ele pas sa a fazer parte de um sistema de categorias já existentes mediante alguns ajustes a teoria das rePresentações sociais no brasil O desenvolvimento da teoria das represen tações sociais inicia se na França em 1961 quando Moscovici publica La psychanalyse son image et son public Desde então essa teoria tem fundamentado um campo de in vestigação importante da psicologia social na Europa tendo sido disseminada em se guida por inúmeros centros de pesquisa do mundo No Brasil de modo semelhante ao que ocorreu em vários países da América Latina seu estudo foi introduzido por estudiosos que frequentaram durante os anos de 1970 o Laboratoire de Psychologie Sociale LPS da École de Hautes Études en Sciences Sociales então dirigido por Moscovici Naquela época muitos países da América Latina encontravam se sob o jugo de uma ditadura militar e os latino americanos ti nham no LPS um espaço para refletir sobre os problemas que os afligiam O estudo das representações sociais insinuava se como uma resposta aos problemas emergentes da vida cotidiana diante dos quais os pesquisa dores eram chamados a se posicionar Quando do retorno aos seus países de origem trazendo em sua bagagem a teoria INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 294 tOrres neiva cOLs das representações sociais esses pesquisa dores encontraram muitas resistências Tal como aconteceu na Europa em 1961 no Brasil a adesão a essa teoria assistiu a um longo período de latência As razões para isso foram múltiplas pois psicólogos sociais brasileiros dividiam se naquele momento entre duas vertentes a primeira afinada com os pesquisadores americanos desen volvia uma psicologia social centrada nos processos intrapessoais e interpessoais a segunda caracterizada por uma psicologia politicamente engajada apoiava se na teo ria marxista e na busca de objetos relevan tes da nossa realidade de forma a encontrar explicações para nossos próprios proble mas Sá e Arruda 2000 p 17 Adeptos de ambas as vertentes opuseram se à teoria das representações sociais No âmbito da psico logia de inspiração americana o estudo das representações sociais era visto como uma nova roupagem para aquilo que já vinha sendo feito o estudo das atitudes Entre os marxistas tais estudos eram considerados como um desvio ideológico marcado pelo viés idealista Essa resistência porém não persis tiu por muito tempo O desenvolvimento de pesquisas colocou em evidência o valor heurístico do aporte teórico da teoria das representações sociais fazendo com que o conceito evoluísse na direção de uma teo ria amplamente investigada Atualmente o estudo das representações sociais encontra se em plena expansão no Brasil e observa se uma clara ampliação das áreas que têm aderido a esse referencial o que confirma seu caráter eminentemente transdisciplinar Ampliaram se também as pesquisa desen volvidas sob a égide dessa teoria o que pode ser constatado pelo número crescente de trabalhos apresentados em eventos científi cos Estima se que há pouco mais de 10 anos estamos assistindo ao nascimento da escola brasileira de representações sociais2 Acredita se que essa escola estrutura se principalmente em torno de três abor dagens teóricas que se desenvolveram a partir da teoria das representações sociais a abordagem processual liderada por Denise Jodelet a abordagem estrutural liderada por Jean Claude Abric também conhecida como a Escola do Midi e a abordagem so cietal liderada por Willem Doise identifi cada nos meios acadêmicos como Escola de Genebra notas 1 Moscovici 2001 lembra nos que vivemos no século XX um período em que os próprios intelectuais nem sempre foram capazes de pensar racionalmente visto que partiram da intelectualidade teorias irracionais como o racismo o nazismo e a bomba atômica 2 Conforme atesta a IV Conferência Brasileira sobre Representações Sociais realizada em 2009 no Rio de Janeiro a qual teve como tema central A escola brasileira de represen tações sociais reFerências ARRUDA A Teoria das representações sociais e ciências sociais trânsito e atravessamentos So ciedade e estado online v 24 n 3 p 739766 2009 Disponível em httpwwwscielobrpdf sev24n306pdf Acesso em 28 mar 2010 ASCH S Social psychology Nova York Prentice Hall 1952 ALLPORT GW The historical background of social psychology In LINDZEY G ARONSON E orgs The handbook of social psychology Reading Mass AddisonWesley 1954 ARCHIBALD WP Social psychology as political economy Toronto McGraw Hill 1978 BLUMER H Symbolic interactionism perspective and method Nova Jersey Prentice Hall 1969 BONARDI C ROUSSIAU N Les représentations sociales Paris Dunod 1999 COLLIER G MINTON HL REYNOLDS G Es cenarios y tendencias de la psicología social Madri Taurus 1996 CERRATO J PALMONARI A Representaciones sociales psicología social y posmodernidad In CERRATO J PALMONARI A orgs Repre sentaciones sociales y psicología social Valência Promolibro 2009 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 295 DOISE W Les représentations sociales In GHI GLIONE R BONET C RICHARD JF orgs Trai té de psychologie cognitive Paris 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ver com ela seria Música Na segunda outra jovem de igual idade gosta de jogar voleibol sair com a família e conhecer cidades históri cas pensando que deveria escolher como curso superior Direito Agora pensemos por um instante o que ambas têm em co mum e algumas características que podem diferen ciá las Obviamente ambas são jovens ado lescentes e como tais gostam de estar com outras pessoas praticar esportes divertir se e inevitavelmente pensar no seu futuro Porém cada uma o faz a partir de suas pre ferências seu estilo de vida e os princípios axiológicos que as orientam É provável que a primeira jovem não pense em termos con cretos pragmáticos sendo mais idealista e vivendo em razão dos prazeres que possa obter compartilhando provavelmente um ambiente em que os recursos econômicos têm sido assegurados ou em um contexto menos formal sem pressão de qualquer fi gura de autoridade priorizando sobretudo seus próprios interesses A segunda jovem por outro lado é mais orientada por metas fixas predefinidas e bem delimitadas sen do pragmática e pouco idealista planejan do sua vida ao menos a médio prazo tendo sido socializada em um contexto de escassez econômica ou em ambiente formal com de finição de regras claras dando importância à opinião de seus pais e familiares É bem possível que essas jovens orientem se por valores diferentes Enquanto a primeira parece guiada por valores de ex perimentação com ênfase na abertura à mu dança na apreciação de estímulos novos e experiências arriscadas a segunda pauta se em valores normativos que ressaltam a ma nutenção do status quo a adesão a papéis sociais convencionais e o cumprimento de regras sociais É possível também que tais jovens tenham sido socializadas em contex tos diversos dos descritos ou que escolham cursos universitários diferentes o que não significa que elas não possam mudar de valores A importância de apresentar es sas personagens fictícias é deixar claro o que se entende aqui por valores humanos Na psicologia social eles se definem como princípios guia gerais que transcendem ob 15 vaLOres HUmanOs cOntriBUições e PersPectivas teóricas valdiney v gouveia Patrícia nunes da Fonsêca taciano l Milfont ronald Fischer INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 297 jetos ou situações específicas tradição que teve lugar já no início do século XX tendo sido consolidada a partir de sua segunda metade sobretudo com os estudos relativos à teoria da ação social e as contribuições de Milton Rokeach Este capítulo introduz o leitor à te mática dos valores humanos como têm sido estudados na psicologia social resga tando alguns elementos históricos e teorias que permitem configurar o estado da arte Objetiva também apresentar um modelo teórico dos valores humanos que embora parcimonioso reúne as características de ser integrador contando com uma medida breve e um esquema conceitual que per mite inclusive explicar modelos recentes dos valores a exemplo do que propõe S H Schwartz Portanto visando a organizá lo de forma didática procurou se definir qua tro tópicos principais elementos históricos contribuições destacáveis teoria funciona lista dos valores humanos e considerações finais eleMentos Históricos O homem na condição de ser social é es sencialmente axiológico Embora seja pos sível definir uma data a partir da qual se possa resgatar a história dos estudos sobre os valores humanos não significa que eles tenham tido origem a partir desse pon to Enquanto princípios guia os valores tornaram se essenciais a partir do momen to em que o homem percebeu a si mesmo como indivíduo tendo consciência de suas ações e viu no outro suas possibilidades de existir A vida em sociedade apenas se con figurou em razão de princípios norteadores que davam conta de padrões convencionais que precisavam ser minimamente aceitáveis p ex respeito aos mais velhos direito à propriedade porém evoluiu graças a ou tros princípios igualmente importantes p ex interesse em descobrir o novo desejo de ser diferente Pensar nos valores humanos desse modo demanda considerá los como próprios de indivíduos que se projetam no tempo e no espaço lidando com conceitos abstratos como forma de planejar a vida e a continuidade da espécie Smith 1980 p 339 afirma algo parecido Os animais assim como as pessoas podem aprender sobre o mundo e tê lo em conta e o que os animais como as pessoas aprendem e têm em conta pode ser organizado com referência a objetos porém não acerca de ideais imaginários ou alguma coisa conceitualmente abs trata Contrariamente os valores como as normas ou os critérios do desejável vinculados ao sistema simbólico de que dependem são emergentes sociais que requerem continuidade da cultura e a associação humana na comunidade Esta é uma concepção dos valores comumente aceita que os considera como um conjunto de princípios fundamentais que transcendem situações específicas ape sar de terem evoluído ao longo da história da humanidade eles podem ser pensados como residuais um marco de referência que é praticamente imutável Mudam as prioridades valorativas mas não os valores em si Rokeach 1973 Essa concepção co meçou a ser delineada a partir dos estudos de Thomas e Znaniecki 1918 tendo sido fortalecida com contribuições de autores de diversas áreas das ciências humanas e sociais Particularmente pensamos que o divisor da história foi Milton Rokeach sen do importante resumir alguns dos trabalhos importantes que o antecederam e que são fundamentais para entender as direções que tiveram lugar a partir de seus estudos Não se pretende aqui descrever em detalhe a história dos valores objeto de outras publi cações Ros 2006 Spates 1983 Zavalloni 1980 mas sim apontar contribuições consi deradas centrais Parece crucial começar com a obra O campesino polonês de Thomas e Znaniecki 1918 considerada como o marco que deu origem ao interesse pelos valores Ros 2006 Nessa obra seus autores introduzem INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 298 tOrres neiva cOLs os conceitos de atitudes e valores procuran do diferenciá los As atitudes compreendem um processo da consciência individual que determina a atividade real ou possível do indivíduo no mundo social podem ser resu midamente concebidas como o significado das coisas para as pessoas individualmente Os valores por sua vez referem se a qual quer dado que tenha um conteúdo empírico acessível aos membros de um grupo social e um significado que possa ser objeto atitudi nal Dois aspectos merecem destaque 1 as atitudes e os valores estão relacionados embora compreendam construtos diferen tes 2 as atitudes têm natureza intrassubjetiva enquanto os valores são intersubjetivos isto é precisam ter seu significado com partilhado pelos demais Talcott Parsons com seus estudos que ajudaram a traçar a teoria da ação social Parsons e Shils 1951 foi um dos auto res importantes para moldar a concepção hoje prevalecente de valores na psicologia social Foi ele quem introduziu a concepção de ação motivada sugerindo que uma ação tem lugar toda vez que a pessoa procura al cançar determinadas metas ideia que pare ce inerente aos estudos que tratam os valo res humanos como princípios motivacionais isto é a realização de um valor procura re presentar uma meta motivacional subja cente Schwartz e Bilsky 1987 Schwartz 1992 Parsons 1959 p 443 oferece uma definição para valor embora não tenha tido transcendência Pode se denominar valor a um elemento de um sistema simbólico com partilhado que serve de critério para a sele ção entre as alternativas de orientação que se apresentam intrinsecamente abertas em uma situação Na obra editada por Parsons e Shils 1951 apresenta se uma das contribui ções decisivas para a temática dos valores derivada do capítulo de Clyde Kluckhohn Esse antropólogo estabelece um ponto de corte decisivo ao indicar os valores como um princípio do desejável Um valor é uma concepção explícita ou implícita própria de um indivíduo ou característica de um gru po acerca do desejável o que influencia a seleção dos modos meios e fins de ações acessíveis Kluckhohn 1951 p 443 Ele procura definir o que entende por orienta ção de valor tratada nos seguintes termos p 461 Concepção organizada e generalizada que influencia a conduta no que diz respeito à natureza ao lugar que nela corresponde ao homem de sua relação com outros homens e do desejável e não desejável de acordo com a maneira em que têm lugar as relações inter humanas e as do homem com o ambiente Portanto a partir de Kluckhohn já não houve lugar para especular os valores como objetos ou algumas de suas caracte rísticas p ex família dinheiro os valores não seriam o desejado mas princípios do desejável Passariam então a ser tratados como princípios gerais compartilhados por grupos sociais que orientavam as ações das pessoas Essa característica do desejável foi marcante seguindo até os dias atuais atri buindo aos valores o sentido de serem so cialmente desejáveis positivos e apreciados pelas pessoas Schwartz et al 1997 Também cabe destacar nesse con texto Abraham Maslow Com seu clássico Motivation and personality esse autor cha ma a atenção para a estreita relação que pode ser estabelecida entre os valores e as necessidades humanas Ele pensava ser pos sível identificar os valores essenciais do ser humano quando pessoas que vivenciavam experiências positivas felicidade satisfação plena fossem perguntadas acerca de seus valores Desse modo ele chegou a uma lista de valores B do ser como beleza totalida de e alegria Contudo essa lista não teve im pacto Sua própria definição de valores é um tanto específica Maslow 1971 p 134 não são declarações sobre o que deveria ou teria que ser nem são meras projeções dos desejos do pesqui INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 299 sador alucinações ou estados puramente emocionais carentes de toda referência cognitiva Os relatam como iluminações como características verídicas e autênticas da realidade que sua cegueira prévia lhes havia ocultado Apesar da especificidade de seu traba lho Maslow introduziu duas ideias relevan tes para esta temática 1 os valores precisam ser todos positivos pois o homem é um ser benévolo orien tado à autorrealização 2 pode se falar em valores que representam necessidades deficitárias p ex fisio lógicas e de desenvolvimento p ex autorrealização Em resumo as concepções iniciais des ses autores formaram a base para estudos que logo se destacaram procurando situ ar os valores como um construto legítimo e importante na psicologia Se Thomas e Znaniecki 1918 propuseram a termino logia referente aos valores no começo do século passado foi por volta da década de 1950 quando se sedimentaram algumas concepções chave como a ação motivada Parsons 1951 o princípio do desejável Kluckhohn 1951 e os valores como repre sentação de necessidades Maslow 1954 contribuições destacáveis O livro The nature of human values de Milton Rokeach é uma referência obriga tória no âmbito dos estudos sobre valores É possível que metade do que se saiba so bre a temática possa ser encontrado nessa obra ou seja dela derivada o que Rokeach não fez diretamente sedimentou o terreno para outros pesquisadores Talvez sua me nor difusão deva se à forma como elaborou e testou sua teoria limitando se ao con texto estadunidense onde trabalhou sobre tudo com estudantes universitários como sujeitos de pesquisa sem ter a preocupação em estabelecer vínculos com pesquisado res de outros países No Brasil sua medida foi adaptada por Günther 1981 mas não parece ter despertado grande interesse Pesquisadores que procuraram empregá la como Tamayo 1997 sentiram se desesti mulados levando em conta tanto a presu mível não representatividade de sua lista de valores quanto a carência de um modelo teórico que tratasse de como eles poderiam estruturar se Embora essa sensação possa surgir com a leitura do seu livro uma revi são mais minuciosa dará conta de que essa obra é a base de todos os demais modelos que surgiram desde então Portanto vale a pena resumi lo referindo também dois ou tros modelos os valores materialistas e pós materialistas Inglehart 1977 1989 e os tipos motivacionais de valores Schwartz 1992 Schwartz e Bilsky 1987 a natureza dos valores humanos Rokeach 1973 não elaborou propriamen te uma teoria dos valores humanos mas teve alguns méritos que justificam nomeá lo como pai dessa área 1 sintetizou conceitos e ideias de diferentes correntes de pensamento p ex antropo lógica econômica filosófica sociológica e teológica 2 mostrou ainda que conceitualmente a diferenciação dos valores com respeito a outros construtos p ex atitudes inte resses traços de personalidade 3 apresentou uma definição específica dos valores e sistemas de valores 4 propôs o primeiro instrumento elaborado especificamente para medir valores No plano teórico suas três principais contribuições foram as seguintes 1 classificar os valores como instrumentais e terminais com seus subtipos correspon dentes 2 desenvolver o método de autoconfronta ção para mudança de valores INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 300 tOrres neiva cOLs 3 propor uma tipologia de ideologia política a partir da combinação das pontuações baixa e alta dos valores igualdade e liber dade Rokeach sugere que o número total de valores que uma pessoa tem é relativa mente pequeno que todas as pessoas têm os mesmos valores ainda que em graus va riados e que os valores são organizados em sistemas de valores Suas definições sobre valores e sistemas de valores são apresen tadas da seguinte maneira Rokeach 1973 p 5 Um valor é uma crença duradoura de que um modo específico de conduta ou estado último de existência é pessoal ou socialmente preferível a um modo de conduta ou estado final de existência oposto ou inverso Um sistema de valor é uma organização duradoura de crenças com respeito a modos de conduta ou estados finais de existência preferíveis ao longo de um contínuo de relativa importância Central na sua obra é a classificação dos valores em instrumentais modos de condutas e terminais estados finais de existência Os valores instrumentais são di vididos em de competência p ex lógico inteligente que são de foco intrapessoal cuja transgressão provoca vergonha e mo rais p ex honesto responsável que são de foco interpessoal cuja transgressão re sulta em culpa Os valores terminais são di vididos em pessoais p ex harmonia inte rior salvação sendo centrados na própria pessoa tendo foco intrapessoal e sociais p ex amizade verdadeira um mundo de paz que são centrados na sociedade e têm foco interpessoal Apesar dessa classificação heu rística os estudos posteriores não levaram em conta tais subdivisões admitindo unica mente as listas de 18 valores instrumentais e 18 valores terminais que compunham o seu instrumento Nada se disse sobre como os valores específicos eou esses tipos de va lores se estruturariam enfatizando se mais valores específicos do que índices ou indica dores compostos de valores a dimensão materialista e pós materialista Inglehart 1977 foi contemporâneo de Rokeach Contudo diferentemente deste ele não estava interessado nos valores das pessoas individualmente mas nos valores das culturas nacionais isto é nas pontua ções médias das pessoas por país Partindo da tipologia das necessidades humanas de Maslow 1954 Inglehart pensou em uma dimensão de variação cultural composta de dois polos o materialismo que representa as necessidades mais básicas de segurança física e econômica e o pós materialismo que expressa necessidades mais elevadas como de autoestima pertencimento cognitiva e estética Inglehart parte de duas hipóteses principais para explicar a importância que esses polos recebem 1 hipótese da escassez segundo a qual as prioridades de um indivíduo refletem seu meio socioeconômico Desse modo dá se maior importância subjetiva às coisas que são relativamente escassas 2 hipótese da socialização segundo a qual a relação entre o meio socioeconômico e as prioridades valorativas não é de ajuste imediato Existe um desajuste temporal subs tancial já que os valores básicos próprios refletem em grande medida as condições prevalecentes durante os anos prévios à ma turidade Considerando seu modelo teórico Inglehart 1989 sugere que as sociedades caminham em direção ao pós materialismo sobretudo quando se tornam mais desen volvidas em termos econômicos e sociais Porém mesmo em sociedades industriais avançadas é possível que algumas pessoas prossigam priorizando valores materialistas em razão de seu processo de socialização INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 301 Por exemplo pessoas que em sua juventu de nos anos de socialização axiológica vi veram o horror da Segunda Guerra Mundial na Europa ou que tiveram de conviver com a inflação econômica astronômica dos anos de 1980 e 1990 na América Latina mesmo que atualmente vivam em contextos de paz e estabilidade econômica podem continuar dando importância a valores materialistas Portanto nessa perspectiva os valores en contram alguma resistência à mudança uma vez que tenham sido socializados Apesar de sua repercussão servin do para classificar os países esse modelo recebe algumas críticas principalmente por sugerir que as pessoas é mais ade quado falar em culturas segundo advoga Inglehart classificam se em materialistas ou pós materialistas como se não houves se um meio termo Braithwaite Makkai e Pittelkow 1996 Além disso trata se de um modelo bastante simples reduzindo qual quer variação cultural a duas únicas possibi lidades ou polos de uma dimensão Modelos mais complexos vêm sendo desenvolvidos revelando que são necessários mais fatores para explicar a diversidade axiológica das culturas nacionais Hofstede 1991 os tipos motivacionais de valores Schwartz desenvolveu seu modelo de valo res em um contexto fundamentado em gran des estudos transculturais sobre os valores Inglehart 1977 1989 alguns de natureza eminentemente empírica sem marco teórico sólido que permitisse hipotetizar acerca das dimensões de variação cultural Hofstede 1991 Nesse contexto ele foi levado a ela borar duas teorias sobre os valores sendo uma no âmbito cultural Schwartz 2006 e outra no âmbito individual Schwartz 1992 2005 Schwartz e Bilsky 1987 Schwartz construiu seu modelo a partir dos trabalhos de Rokeach 1973 inclusive ampliando suas listas de valores instrumentais e termi nais ao adotar uma escala de resposta que combinava raking com rating A definição de valores que Schwartz 1987 p 553 ado ta inicialmente é a seguinte Um valor é um conceito do indivíduo acerca de uma meta terminal ou instru mental transsituacional que expressa interesses individualistas coletivistas ou ambos relativos a um domínio motivacio nal hedonismo poder sendo avaliado em uma escala de importância não im portante a muito importante como um princípio guia em sua vida Foram então propostos sete tipos mo tivacionais de valores embora a versão mais conhecida dessa teoria sugira 10 tipos Schwartz 2005 autodireção benevolên cia conformidade estimulação hedonis mo poder realização segurança tradição e universalismo Seu instrumento original o Schwartz Value Survey SVS compreende 56 itens que são distribuídos nesses tipos de valores comprovando se a hipótese de conteúdo Sua hipótese de estrutura parte do princípio de compatibilidades e conflitos entre os valores ou tipos motivacionais que se organizam em um círculo aqueles tipos mais compatíveis estarão em pontos adja centes p ex poder realização e realização hedonismo enquanto os conflitantes ou incompatíveis estarão em lados antagô nicos p ex conformidade hedonismo e hedonismo benevolência Essa teoria é amplamente conhecida sendo discutida em outras publicações no Brasil Pasquali e Alves 2004 Schwartz 2005 Schwartz e Tamayo 1993 Tamayo 1994 Nesse sentido parece pertinente tra tar de forma mais detalhada uma teoria mais recente a respeito a teoria funcionalista dos valores que vem mostrando se apropriada com possibilidades de contribuir com a te mática e produzir modificações considerá veis no modelo de Schwartz teoria Funcionalista dos valores Essa teoria tem sido elaborada nos últimos 10 anos Gouveia 1998 2003a e b Gouveia INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 302 tOrres neiva cOLs et al 2008 2009 Parte da concepção de que os valores são representações cognitivas das necessidades humanas Maslow 1954 Rokeach 1973 admitindo um número li mitado de valores assim como ocorre com as necessidades correspondendo àqueles denominados como terminais e parte de quatro suposições principais 1 reconhece a natureza humana como es sencialmente benévola incluindo apenas valores positivos 2 considera os valores como princípios guia dos indivíduos 3 reconhece sua base motivacional 4 admite apenas valores terminais por serem em menor número do que os instrumen tais e refletirem uma orientação geral que é coerente com a concepção do desejável Kluckhohn 1951 Esses valores compreendem metas su periores que vão além daquelas imediatas biologicamente urgentes e saciáveis por na tureza Nesse modelo são admitidas algumas características consensuais para a definição dos valores 1 são conceitos ou categorias 2 são estados desejáveis de existência 3 transcendem situações específicas 4 assumem diferentes graus de importância 5 guiam a seleção e a avaliação de compor tamentos ou eventos 6 representam cognitivamente as necessi dades humanas Todavia como seu foco principal são as funções dos valores procura se conceituá los a partir dessa perspectiva As funções dos valores são pouco tratadas na literatura Allen Ng e Wilson 2002 embora as duas pareçam consensuais Gouveia 2003 1 guiam as ações do homem tipo de orien tação 2 expressam suas necessidades tipo de motivador Portanto as funções dos valores são definidas como os aspectos psicológicos que eles cumprem ao guiar comportamentos e representar cognitivamente as necessidades humanas Presumindo que tais funções valo rativas sejam legítimas as subfunções deri vadas passam a ser prováveis O cruzamento dos dois eixos funcionais tipo de orientação e tipo de motivador permite identificar seis subfunções valorativas que serão definidas mais adiante Embora os valores específicos possam variar ou receber outras denomina ções as subfunções são presumivelmente universais e por isso preponderantes a função de guiar os comportamentos humanos Rokeach 1973 nomeou dois tipos de valo res terminais os sociais p ex amizade ver dadeira um mundo de paz e os pessoais p ex harmonia interna uma vida excitante Essa distinção social pessoal constitui uma dimensão importante de orientação huma na que é apresentada em tipologias como coletivismo e individualismo Triandis 1995 As pessoas guiadas por valores so ciais são centradas na sociedade ou têm um foco interpessoal enquanto aquelas guiadas por valores pessoais são egocêntricas ou têm um foco intrapessoal Coerentemente tais pessoas tendem a enfatizar o grupo valores sociais ou elas mesmas valores pessoais como a unidade de sobrevivência Gouveia et al 2003 Desse modo os valores guiam o comportamento em uma orientação social ou pessoal Existe um terceiro grupo de valores que não são exclusivamente sociais ou pes soais Schwartz 1992 os denomina como tipos motivacionais mistos Porém ele não detalha essa nomenclatura deixando de justificar a razão de tais valores aparecerem entre os sociais e pessoais Na verdade esse grupo de valores compreende a base orga nizadora de tal sistema os valores sociais e pessoais têm como referência esse terceiro grupo de valores sendo compatíveis com INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 303 ambos Por isso esse terceiro grupo é referi do como valores centrais Portanto a função dos valores como guia de comportamentos humanos é identificada pela dimensão tipo de orientação podendo ser social central ou pessoal a função de expressar as necessidades humanas Essa teoria admite que as necessidades hu manas são representações cognitivas dos valores que podem ser classificados como materialistas pragmáticos ou idealistas abstratos Inglehart 1977 Marks 1997 Ronen 1994 Os valores materialistas relacionam se a questões práticas sugerin do uma orientação para metas específicas e regras normativas Indivíduos guiados por esses valores tendem a pensar em condições de sobrevivência mais biológicas dando im portância à sua própria existência e às con dições nas quais esta pode ser assegurada Os valores idealistas expressam uma orien tação universal baseada em ideias e princí pios mais abstratos Comparados aos valores materialistas os idealistas não são dirigidos a metas concretas e geralmente são não específicos Dar importância a valores idea listas é coerente com um espírito inovador e uma mente aberta indicando menos depen dência dos bens materiais Logo a segunda função dos valores é dar expressão cognitiva às necessidades humanas identificada pela dimensão funcional tipo de motivador ma terialista ou idealista subfunções derivadas a partir das funções valorativas As duas funções valorativas antes descritas formam dois eixos principais na representa ção espacial da estrutura dos valores Figura 151 O eixo horizontal corresponde à fun ção dos valores para guiar ações humanas representando a dimensão tipo de orientação valores sociais centrais ou pessoais en quanto o eixo vertical corresponde à função dos valores para dar expressão às necessida des humanas compreendendo a dimensão tipo de motivador valores materialistas ou idealistas Cruzando os eixos horizontal e vertical da Figura 151 podem ser derivadas seis subfunções dos valores a saber experi mentação realização existência suprapes soal interacional e normativa Os três tipos de orientação são repre sentados por duas subfunções cada social normativa e interacional central exis tência e suprapessoal e pessoal realização Figura 151 Dimensões funções e subfunções dos valores básicos Dimensão 1 Tipo de orientação Social Central Pessoal Interativo Suprapessoal Experimentação Idealista abstrato Materialista pragmático Dimensão 2 Tipo de motivador Normativo Existência Realização INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 304 tOrres neiva cOLs e experimentação De modo similar três subfunções representam cada um dos dois tipos motivadores materialista existência normativa e realização e idealista supra pessoal interacional e experimentação Percebe se portanto que as subfunções po dem ser mapeadas em um delineamento 3 tipos de orientações social central e pes soal x 2 tipos de motivadores materialis ta e idealista As setas que partem do tipo central de orientação isto é das subfunções existência e suprapessoal indicam que os valores que a representam são a referência para os outros valores Os valores centrais dizem respeito aos valores do indivíduo expressando o núcleo das necessidades humanas isto é a diferen ciação entre as mais básicas fisiológicas e as mais altas autorrealização Por isso não implicam um conflito entre interesses pessoais e sociais Eles são importantes para todas as pessoas embora possam ser mais relevantes para diferenciar indivíduos que vivem em um contexto de escassez subfun ção existência motivador materialista da queles que vivem em um ambiente seguro e com recursos abundantes subfunção su prapessoal motivador idealista Inglehart 1977 Silva Filho 2001 Embora os indivíduos endossem valo res específicos para assegurar a estabilidade e continuidade da sociedade da qual fazem parte Merton 1949 isso não significa que todo valor tem como objetivo manter o status quo da sociedade Valores idealistas do mesmo modo que os pós materialistas Inglehart 1977 Marks 1997 ou os relacio nados com abertura à mudança Schwartz 1992 são orientados a inovações e podem conduzir a mudanças Entretanto as seis subfunções enfatizam em graus variados o ajuste social do indivíduo à sociedade e suas instituições Porém alguns valores são mais relacionados com a busca de ajustamento social do que outros especialmente aqueles que enfatizam a orientação social e o moti vador materialista isto é os valores norma tivos Santos 2008 Em resumo essa teoria considera ape nas valores terminais coerentes com a na tureza benévola do ser humano centrando se nas funções e subfunções derivadas da combinação entre elas Concebe se que os valores não podem ser atribuídos a objetos ou instituições específicos p ex dinhei ro casa família mas funcionam como princípios guia de orientação e representam as necessidades humanas Essa teoria pode ser abordada em duas partes principais 1 conteúdo e estrutura 2 congruência e compatibilidade das fun ções valorativas conteúdo e estrutura das funções valorativas As funções valorativas são marcos de refe rência a partir dos quais foram derivadas as seis subfunções consideradas estruturas latentes que precisam ser representadas por indicadores ou valores específicos Nesse sentido o conteúdo dos valores diz respeito à adequação de valores específicos para re presentar suas funções e subfunções As seis subfunções e os valores selecionados para representá las serão apresentados a seguir a lista de valores específicos indicadores não é exaustiva porém considera alguns dos mais comumente citados Braithwaite e Scott 1991 Uma vez que os valores cen trais valores de existência e suprapessoais são a fonte principal em que estão ancorados os outros valores a descrição das subfun ções começa com existência e as subfunções relacionadas passando para suprapessoal e as subfunções relacionadas 1 Subfunção existência representa as neces sidades fisiológicas básicas p ex comer beber dormir e a necessidade de segu rança Essa subfunção é compatível com orientações sociais e pessoais no domínio motivador materialista pois seu propósito principal é assegurar as condições básicas para a sobrevivência biológica e psicoló gica do indivíduo É a subfunção mais importante do motivador materialista INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 305 sendo a fonte das outras duas subfunções que também representam esse motivador realização e normativa A existência tem uma orientação central e um motivador materialista cujos valores são endossados por indivíduos em contextos de escassez econômica ou por aqueles que foram so cializados em tais ambientes Estabilidade pessoal saúde e sobrevivência são três valores indicadores dessa subfunção 2 Subfunção realização as necessidades de autoestima são representadas por valores dessa subfunção que corresponde a um motivador materialista mas uma orien tação pessoal Seus valores originam se de um princípio pessoal para guiar a vida dos indivíduos enquanto focalizam realizações materiais podendo ser uma exigência para interações sociais prós peras e o funcionamento institucional Indivíduos orientados por tais valores dão importância à hierarquia quando baseada em demonstração de competência pessoal apreciam uma sociedade organizada e es truturada e são práticos em suas decisões e seus comportamentos Valores de reali zação são mais tipicamente apreciados por jovens adultos em fase produtiva ou por indivíduos educados em contextos disciplinares e formais Kohn 1977 Três valores indicadores dessa subfunção são êxito poder e prestígio 3 Subfunção normativa esta é a terceira subfunção com um motivador materialis ta mas possui uma orientação social A necessidade de controle e as pré condições para alcançar todas as necessidades de mandas institucionais e sociais segundo Schwartz 1992 são cognitivamente re presentadas por valores dessa subfunção que reflete a importância de preservar a cultura e as normas convencionais Priorizar valores normativos evidencia uma orientação vertical na qual a obedi ência à autoridade é importante Pessoas mais velhas estão mais inclinadas a se guiar por tais valores seguindo normas convencionais e expressando em menor medida comportamentos anticonven cionais Três valores indicadores dessa subfunção são obediência religiosidade e tradição 4 Subfunção suprapessoal essa subfunção tem uma orientação central Seus valores representam as necessidades estéticas e de cognição bem como a necessidade superior de autorrealização Os valores su prapessoais ajudam a categorizar o mundo de uma forma consistente fornecendo clareza e estabilidade na organização cognitiva da pessoa Tais valores podem ser concebidos como idealistas indicando a importância de ideias abstratas com menor ênfase em coisas concretas e mate riais Eles são compatíveis com os valores sociais e pessoais no âmbito do motivador idealista Por esse motivo tal subfunção apresenta uma orientação central sendo a fonte de outras duas subfunções que representam esse tipo motivador ex perimentação e interacional A pessoa que endossa uma orientação central e um motivador idealista costuma pensar de forma mais geral e ampla tomando decisões e comportando se a partir de critérios universais Beleza conhecimento e maturidade são três valores indicadores dessa subfunção 5 Subfunção experimentação representa um motivador idealista mas com orientação pessoal A necessidade fisiológica de sa tisfação em sentido amplo ou o princípio do prazer hedonismo é representado por valores dessa subfunção Ela é menos pragmática na busca de alcançar status social ou assegurar harmonia e segurança sociais seus valores contribuem para a promoção de mudanças e inovações nas organizações sociais sendo mais endos sados por jovens Indivíduos que adotam tais valores conformam se menos às regras sociais não sendo orientados a perseguir metas fixas ou materiais a longo prazo Três de seus valores específicos são emo ção prazer e sexualidade 6 Subfunção interacional esta é a terceira subfunção que representa um motivador idealista mas com orientação social O destino comum e a experiência afetiva en tre indivíduos são acentuados por valores INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 306 tOrres neiva cOLs dessa função Representa as necessidades de pertencimento amor e afiliação Seus valores são essenciais para estabelecer regular e manter as relações interpesso ais Contatos sociais são uma meta em si mesmos enfatizando atributos mais afe tivos e abstratos As pessoas que adotam tais valores são comumente mais jovens e orientadas a relações íntimas estáveis Milfont Gouveia e Da Costa 2006 Três valores indicadores dessa subfunção são afetividade apoio social e convivência Além de estabelecer a hipótese de con teúdo que corresponde à definição das seis subfunções e seus respectivos valores espe cíficos essa teoria também estabelece uma hipótese de estrutura que prevê a organi zação das funções e subfunções dos valores em consonância com o esquema da Figura 151 Desse modo a estrutura dos valores tem como referência principal a combina ção das duas dimensões funcionais suge rindo uma configuração duplex com duas facetas axiais A primeira faceta representa o eixo horizontal correspondendo ao tipo de orientação social central e pessoal os valores centrais são localizados no centro do espaço bidimensional Localizados em um lado estão os valores que cumprem a orientação pessoal e no outro aqueles que cumprem a orientação social A segunda faceta representa o eixo vertical correspon dendo aos tipos de motivadores materialis ta ou idealista que se localizam em regiões diferentes no espaço Portanto no modelo ora tratado a estrutura dos valores refere se à representação espacial das seis subfun ções valorativas resultantes do cruzamento combinação das duas dimensões funcio nais anteriormente descritas congruência e compatibilidade das funções valorativas Coerentemente com os pressupostos teóri cos antes assinalados essa teoria não admi te o conflito inerente aos valores Embora alguns valores possam ser mais desejáveis do que outros em razão da natureza bene volente do ser humano todos os valores são em alguma medida desejáveis e positivos É possível que pessoas maduras satisfei tas e autorrealizadas desenvolvam um sis tema harmonioso de valores avaliando as subfunções com alguma importância Assim pessoas que priorizam subfunções especí ficas em detrimento de outras podem ser menos maduras não ter desenvolvido seus sistemas de valores completamente ou ter sido socializadas em um contexto no qual algumas de suas necessidades foram priva das e por isso priorizam alguns valores em relação a outros Essa teoria supõe que as correlações entre as seis subfunções de va lores são predominantemente positivas a correlação média pode ser mais alta e mais consistente entre pessoas mais maduras e autorrealizadas Neste ponto cabe esclarecer uma di ferença essencial entre essa teoria e a que propõe Schwartz Ele trata congruência e compatibilidade como sinônimos Schwartz 1992 embora existam vantagens conceitu ais e práticas de diferenciá las A compati bilidade demanda critérios externos corres pondendo aos padrões de correlação que se estabelecem entre os valores e determina das variáveis antecedentes e consequentes ao passo que a congruência indica a consis tência do sistema de valores ou subfunções isto é quão fortes são suas correlações entre si Então a compatibilidade refere se à vali dade discriminante ou à capacidade predi tiva das subfunções valorativas enquanto a congruência diz respeito à consistência in terna no sistema valorativo funcional Estes não são obviamente conceitos desconexos o grau de congruência pode facilitar a pre dição do padrão de correlações das subfun ções com variáveis externas O presente modelo permite o cálculo de padrões diferentes de congruência entre as subfunções de valores Para representar tais padrões pode se tomar como referên cia a figura de um hexágono que tem van tagens quando comparada com um círculo Especificamente tem seis lados que podem ser ordenados para representar graus dife INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 307 rentes de congruência A Figura 152 mostra como as funções e subfunções dos valores são organizadas como um hexágono permi tindo representar os três graus de congru ência 1 Congruência baixa as subfunções de valores que expressam diferentes orien tações e motivadores indicam esse grau de congruência Portanto os pares de subfunções realização interacional e normativa experimentação têm baixa congruência sendo colocados em lados opostos do hexágono Espera se que o par realização interacional demonstre baixa congruência porque a realização não é incompatível com a manutenção de relações interpessoais Ros e Gómez 1997 Por isso as subfunções realização e interacional são pensadas como princí pios relativamente independentes com baixa congruência mas sem expressarem incompatibilidade O par normativa experimentação representa uma tendên cia para enfocar orientações de segurança Apolônio ou prazer Dionísio respecti vamente Kluckhohn 1951 Elas são en tendidas como princípios independentes isto é as pessoas podem obter aventura e prazer em um ambiente convencional sendo o caso por exemplo daquelas que são mais velhas e que foram educadas em condições tradicionais mas que podem desfrutar os prazeres da vida Não se descarta com isso a possibilidade de que a ênfase em valores de experimentação pode envolver a quebra de regras sociais ocorrendo especialmente entre adolescen tes pois seus sistemas de valores ainda estão em formação 2 Congruência moderada os pares de subfun ções realização normativa e expe rimentação interacional expressam con gruência moderada pois representam o mesmo motivador mas com tipos dife rentes de orientação O par realização normativa enfatiza a busca de coisas e ideias concretas embora priorize unida des diferentes de sobrevivência o indiví duo ou o grupo social respectivamente Isso sugere que é possível alcançar metas pessoais mesmo seguindo princípios con vencionais Por exemplo embora coletivis tas verticais priorizem valores normativos eles também podem ser descritos como guiados por sucesso e trabalho árduo Gouveia et al 2002 2003 Por outro lado o par experimentação interacional enfatiza princípios menos materialistas Pessoas que se guiam por valores desse par não se prendem a bens materiais elas são menos orientadas para sobrevivência e dão mais importância aos afetos e pra zeres da vida enfatizando seus interesses Figura 152 congruência das subfunções dos valores básicos Interativa Suprapessoal Experimentação Idealista Social Materialista Central Pessoal Realização Existência Normativa INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 308 tOrres neiva cOLs pessoais ou priorizando suas relações in terpessoais Por exemplo é provável que indivíduos que endossem uma orientação horizontal coletivista enfatizem valores interacionais sem rejeitar aqueles de experimentação Gouveia et al 2002a 3 Congruência alta as subfunções de valores que compartilham o tipo de orientação mas expressam tipos diferen tes de motivador apresentam máxima congruência Por isso essas subfunções são colocadas em lados adjacentes do hexágono que correspondem aos pares realização experimentação e normativa interacional Indivíduos guiados pelo par realização experimentação priorizam suas metas e seus interesses acima de qualquer coisa ou pessoa sendo então caracteriza dos como individualistas Por outro lado indivíduos que enfatizam o par normativa interacional dão importância a metas e interesses coletivos correspondendo a pessoas coletivistas Triandis 1995 É importante destacar que duas subfunções de valores existência e supra pessoal não foram incluídas nessa tipologia de congruência Tal exclusão fundamentou se em duas razões Primeiro essas subfun ções correspondem ao tipo de orientação central sendo compatíveis com todas as outras subfunções Gouveia et al 2008 Assim espera se que ambas apresentem correlações positivas e fortes com todas as outras subfunções de valores Com base nes sa predição observou se que valores mate rialistas e pós materialistas podem coexistir harmoniosamente Segundo a distinção en tre os valores sociais e pessoais é considera da como teoricamente mais importante do que a distinção entre os valores materialis tas e idealistas pois é provável que a dicoto mia social pessoal seja a diferença essencial entre os valores terminais Gouveia et al 2003 Em resumo a teoria funcionalista dos valores além de considerar as hipóteses de conteúdo e estrutura tratadas no modelo de Schwartz 2005 contribui no plano concei tual para a diferenciação entre congruência e compatibilidade dos valores oferecendo um cálculo de graus de congruência Isso potencialmente favorece uma explicação mais consistente para o fato de alguns va lores ou determinadas subfunções apresen tarem padrões de correlação diferentes com alguns comportamentos crenças e atitudes Essa teoria também reúne as características essenciais de ser parcimoniosa partindo apenas de duas dimensões funcionais dos valores produzindo seis subfunções repre sentadas cada uma por três valores especí ficos e integradora contemplando dois dos principais modelos teóricos da literatura que acentuam os tipos de motivadores e os tipos de orientação considerações Finais Os estudos referentes aos valores humanos ganharam outro matiz a partir dos anos de 1970 diferenciando os de outros constru tos como atitudes interesses e traços de personalidade contando com uma medida específica a respeito Rokeach 1973 foi o responsável por situá los no lugar em que hoje se encontram gozando de espaço em publicações importantes da área Zavalloni 1980 Smith e Schwartz 1997 Contudo um verdadeiro impulso foi observado com os trabalhos de Schwartz que coordena uma equipe de pesquisadores espalhados em mais de 70 países talvez este seja o maior empreendimento científico levado a cabo na área da psicologia No Brasil seu representante foi Álvaro Tamayo que intro duziu esse modelo e reuniu evidências de sua adequação Schwartz e Tamayo 1993 Tamayo 1994 Apesar da grandiosidade da teoria uni versal dos tipos motivacionais de valores esta não é a única existente como ficou de monstrado previamente Além disso reúne limitações que parecem estar longe de se rem superadas Por exemplo seus 10 tipos motivacionais já foram 7 e 11 Schwartz 1992 Schwartz e Bilsky 1987 havendo evidências de que podem sofrer alterações INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 309 Schwartz e Boehnke 2004 Por certo não se identifica propriamente uma teoria dos valores mas um apanhado de referên cias e argumentos que visam a justificar os tipos motivacionais Molpeceres 1994 De onde procedem esses tipos motivacio nais Indicar que representam necessida des biológicas demandas sociais e institu cionais parece algo vago nenhuma teoria específica pode ser identificada a respeito Além disso o instrumento original é am plo reunindo 56 itens divididos entre ins trumentais e terminais versões recentes e mais abreviadas têm sido propostas como o Portraits Questionnaire que conta com 40 itens Pasquali e Alves 2004 É tam bém questionada a incompatibilidade dos valores Ora alguns valores podem até ser mais importantes do que outros em con textos concretos com referência a critérios externos específicos porém internamente confia se que os valores integrem um siste ma axiológico consistente Em razão de críticas dirigidas ao mo delo de Schwartz e do fato de que a tipo logia de Inglehart 1977 pode não repre sentar uma única dimensão mas sim duas materialismo e pós materialismo Gouveia e colaboradores elaboraram a teoria fun cionalista dos valores Ela não se opõe aos demais modelos mas integra os represen tando uma tentativa de ser mais parcimo niosa e fundamentada inclusive explicando dados obtidos com o SVS Gouveia et al 2007 Os estudos que a consideraram no Brasil tiveram em conta participantes de to dos os estados e do Distrito Federal estu dantes de diversas séries pessoas da popu lação geral profissionais de diferentes áreas advogados médicos músicos psicólogos e grupos minoritários índios prostitutas homossexuais aproximando se de 50 mil pessoas Existem versões do Questionário dos Valores Básicos para adultos QVB e crianças QVB I cada uma formada por 18 itens A versão para adultos foi traduzi da para três idiomas alemão espanhol e inglês reunindo dados de diversos países Alemanha Colômbia Espanha Inglaterra México Nova Zelândia Peru e Portugal A teoria funcionalista dos valores não veio para suplantar as demais É antes uma contribuição uma forma sistemática par cimoniosa e integradora de pensar acerca dos valores humanos sendo construída na direção do estabelecido a partir da teoria da ação Kluckhohn 1951 Parsons e Shils 1951 passando pela abordagem mais psi cológica Maslow 1954 Rokeach 1973 e encontrando respaldo em modelos mais recentes Inglehart 1977 1989 Schwartz 1992 2005 Pode ser encarada como um empreendimento heurístico permitindo tratar aspectos diversos que têm atraído a atenção de pesquisadores educadores e tra balhadores sociais como os que apresenta remos a seguir 1 Crise de valores é comum ouvir falar em novos valores valores contempo râneos e em essência crise de valores Possivelmente isso não é outra coisa se não mudança de prioridades valorativas Como se propõe na literatura Rokeach 1973 os valores não mudam são os mesmos há muitos anos espelhando as necessidades humanas O que realmente muda em razão de circunstâncias pessoais eou sociais p ex maior riqueza mais justiça social são as prioridades que os valores ou as subfunções valorativas as sumem para os indivíduos Também pode aparentar uma crise o fato de os valores priorizados pelos filhos não serem idên ticos àqueles de seus pais mas isso não é descabido Pais e filhos assumem papéis diferentes na sociedade via de regra atrelados respectivamente à disciplina e à garantia do sustento por um lado e à descoberta do mundo e à busca de novos laços sociais por outro Schneider 2001 2 Perfis ou sistemas valorativos comumente se fala que alguém não tem valor cor respondendo a pessoas que assumem papéis sociais de moral duvidosa p ex prostitutas assassinos Não obstante vale salientar que todas as pessoas têm valores sendo precisamente os mesmos quer sejam padres policiais políticos ou INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 310 tOrres neiva cOLs prostitutas O que vai diferenciá las em termos axiológicos é a importância que dão a cada valor específico ou às suas subfunções estabelecendo prioridades que definirão os múltiplos sistemas de valores Por exemplo considerando ape nas as seis subfunções podem ser identi ficados nada menos que 720 arranjos ou perfis valorativos Isso explica que mesmo existindo um único conjunto de valores a prioridade dada a uns em detrimento de outros pode fazer grande diferença em termos dos comportamentos apresenta dos pelas pessoas Não é possível esperar porém que todas as diferenças entre pessoas ou papéis sociais sejam explica das meramente em razão das prioridades valorativas 3 Valores de pessoas desviantes como se supõe nesse modelo que todos os valores são positivos alguém prontamente per guntará como então pode ser explicado o fato de algumas pessoas serem más criminosas Podemos estabelecer uma analogia com a tabela periódica Alguns de seus elementos químicos são por na tureza positivos tal como o carbono C e o oxigênio O que são essenciais para a vida Contudo a reação do carbono com o oxigênio pode ser letal por exemplo se a quantidade de oxigênio é insuficiente há formação de monóxido de carbono CO Algumas das consequências desse gás são náuseas tontura confusão men tal coma e até mesmo a morte De modo similar embora os valores sejam positivos a combinação deles sendo uns mais pre ponderantes do que outros poderá levar a perfis de pessoas desviantes Por exemplo as subfunções realização e normativa re presentam valores positivos No entanto alguém que dá muita importância aos valores de realização e nenhuma àqueles normativos pode alcançar suas metas por vias não convencionais tornando se um criminoso 4 Estabilidade da estrutura de valores os valores não evoluem a menos a curto e médio prazos no sentido de serem criados novos valores Eles são compar tilhados por um grupo de indivíduos que procuram socializar os mais jovens Nesse sentido conforme a criança cres ce vai incorporando ao seu repertório axiológico alguns valores Assim quando se observa a estrutura dos valores em crianças percebe se um aglomerado como se não fosse possível diferenciá los Lauer Leite 2009 É precisamente isso que ocorre não por estarem integrados mas por ainda não serem claramente distinguidos Porém conforme se tornam mais velhas por volta da adolescência seus valores já são mais dispersos e in clusive se apresentam como presumivel mente antagônicos pois os jovens ainda não conseguem integrar sua tendência à busca de sensações com as exigências da sociedade convencional Santos 2008 Passados alguns anos quando já adultos seus sistemas de valores tornam se mais integrados refletindo se na concentração ou na união dos valores Isso ocorre não por se apresentarem em formação mas por consolidarem seus princípios axiológi cos percebendo como congruentes ideais outrora vistos como incongruentes como a segurança e o prazer que são integrados em pessoas maduras eou autorrealizadas Maslow 1954 Os valores definem um campo fértil para pesquisadores interessados em pro cessos psicossociais Como Rokeach 1973 antecipava são um construto multifacético que guia as atitudes e o comportamento de diversas formas levando uma pessoa a adotar dada posição frente a uma questão social e predispondo a a favorecer uma ide ologia política ou religiosa Têm sido múlti plos os correlatos dos valores identificados na literatura Gouveia et al 2002a 2008 2009 tanto seus antecedentes p ex es tilos parentais idade sexo traços de perso nalidade quanto seus consequentes p ex altruísmo comportamentos antissociais identificação grupal uso de drogas Os valores não podem ser tidos como uma pa naceia mas têm um papel central em parte importante das explicações de determinadas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 311 atitudes e comportamentos Coelho 2009 Santos 2008 Há ainda muito que pesquisar no âm bito dos valores embora Rokeach 1973 tenha dado atenção especial à mudança de valores pouco foi produzido depois de seus trabalhos É possível que os valores mudem não apenas em decorrência de intervenções experimentais mas também do próprio amadurecimento humano Por exemplo se é certo que os valores são representações cognitivas de necessidades espera se obser var uma relação não linear quadrática en tre a idade e a subfunção experimentação isto é as crianças poderão dar pouca impor tância a valores dessa subfunção que é mais preponderante entre jovens adolescentes e adultos Na maior idade contudo sua im portância volta a ser menor Isso supõe que os valores seguem mudando para além da infância quando se supõe que sejam sociali zados Resta comprovar essa conjetura Finalmente no caso da teoria funcio nalista dos valores as hipóteses de conteúdo e estrutura têm sido mais amplamente com provadas Gouveia et al 2008 faltando reunir mais evidências acerca da congruên cia e da compatibilidade dos valores Ainda sobre essa teoria embora se afirme a neces sidade de diferenciar os níveis de análise in dividual e cultural que derivam modelos te óricos diferentes dos valores SCHWARTZ 2006 estima se que as funções valorativas poderão ser identificadas independentemen te do nível de análise sendo desnecessária uma teoria cultural dos valores Isso porém terá de ser comprovado reFerências ALLEN MW NG SH WILSON M A functional approach to instrumental and terminal values and the valueattitudebehaviour system of consumer choice European Journal of Marketing v 36 p 111135 2002 BRAITHWAITE VA SCOTT WA Values In ROBINSON JP SHAVER PR WRIGHTSMAN LS orgs Measures of personality and social psychological attitudes Nova York Academic Press 1991 BRAITHWAITE VA MAKKAI T PITTELKOW Y Ingleharts materialismpostmaterialism concept clarifying the dimensionality debate through Rokeachs model of social values Journal of Applied Social Psychology v 26 p 15361555 1996 COELHO JAPM Habilidade de conservação de água uma explicação pautada em valores huma nos emoções e atitudes ambientais João Pessoa 2009 Tese Doutorado Departamento de Psico logia Universidade Federal da Paraíba GOUVEIA VV La naturaleza de los valores des criptores del individualismo y del colectivismo una comparación intra e intercultural Madri 1998 Tese Doutorado Departamento de Psicologia Social Universidade Complutense de Madri GOUVEIA VV A natureza motivacional dos valores humanos evidências acerca de uma nova tipolo gia Estudos de Psicologia v 8 p 431443 2003 GOUVEIA VV ALBUQUERQUE FJB CLEMEN TE M ESPINOSA P Human values and social identities a study in two collectivist cultures International Journal of Psychology v 37 p 333 342 2002a GOUVEIA VV ANDRADE JM JESUS GR MEIRA M FORMIGA NS Escala multifatorial de individualismo e coletivismo elaboração e va lidação de construto Psicologia Teoria e Pesquisa v 18 p 203212 2002b GOUVEIA VV ANDRADE JM MILFONT TL QUEIROGA F SANTOS WS Dimensões norma tivas do individualismo e coletivismo é suficiente a dicotomia pessoal versus social Psicologia Refle xão e Crítica v 16 p 223234 2003 GOUVEIA VV MILFONT TL FISCHER R CO ELHO JAPM Teoria funcionalista dos valores humanos aplicações para organizações Revista de Administração Mackenzie v 10 p 3459 2009 GOUVEIA VV MILFONT TL FISCHER R SANTOS WS Teoria funcionalista dos valores In TEXEIRA MLM org Valores humanos e gestão novas perspectivas São Paulo Senac 2008 GOUVEIA VV MILFONT TL FISCHER R SCHULTZ PW A functional theory of human values Testing its adequacy in fourteen Ibe roamerican cultures Anais do XXXI Congresso Interamericano de Psicologia Cidade do México México 2007 GOUVEIA VV SANTOS WS MILFONT TL FISCHER R CLEMENTE M ESPINOSA P Teoría funcionalista de los valores humanos en España comprobación de las hipótesis de contenido y es tructura Revista Interamerica de Psicología v 44 p 213214 2010 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 312 tOrres neiva cOLs GÜNTHER H Uma tentativa de traduzir e adap tar a escala de valores de Rokeach para uso no Brasil Arquivos Brasileiros de Psicologia v 33 p 5872 1981 HOFSTEDE G Cultures and organizations soft ware of the mind Londres McGrawHill 1991 INGLEHART R The silent revolution changing values and political styles among Western publics Princeton NJ Princeton University Press 1977 INGLEHART R Cultural shift in advanced indus trial society Princeton NJ Princeton University Press 1989 KLUCKHOHN C Los valores y las orientaciones de valor en la teoría de la acción In PARSONS T SHILS EA orgs Hacia una teoría general de la acción Buenos Aires Editorial Kapelusz 1951 KOHN ML Class and conformity a study in values Chicago University of Chicago Press 1977 LAUERLEITE ID Correlatos valorativos do sig nificado do dinheiro para crianças Belém 2009 Tese Doutorado Departamento de Psicologia Universidade Federal do Pará MARKS GN The formation of materialist and postmaterialist values Social Science Research v 26 p 5268 1997 MASLOW AH Motivation and personality Nova York Harper Row 1954 MASLOW AH La personalidad creadora Barcelo na Editorial Kairós 1971 MERTON RK Social theory and social structure Nova York Free Press 1949 MILFONT TL GOUVEIA VV DA COSTA JB Determinantes psicológicos da intenção de cons tituir família Psicologia Reflexão e Crítica v 19 p 2533 2006 MOLPECERES MA El sistema de valores su con figuración cultural y su socialización familiar en la adolescencia Espanha 1994 Tese Doutorado Departamento de Psicologia Universidade de Valência PARSONS T El sistema social Madri Revista de Occidente 1959 PARSONS T SHILS EA Los valores los motivos y los sistemas de acción In PARSONS T SHILS EA orgs Hacia una teoría general de la acción Buenos Aires Editorial Kapelusz 1951 PASQUALI L ALVES AR Validação do Portraits Questionnaire de Schwartz para o Brasil Avaliação Psicológica v 3 p 7382 2004 ROKEACH M The nature of human values Nova York Free Press 1973 RONEN S An underlying structure of motivational need taxionomies a crosscultural confirmation In TRIANDIS HC DUNNETTE MD HOUGH IM orgs Handbook of industrial and organiza tional psychology Palo Alto Consulting Psycholo gists Press 1994 ROS M Valores atitudes e comportamento uma nova visita a um tema clássico In ROS M GOUVEIA VV orgs Psicologia social dos valores humanos desenvolvimentos teóricos metodológicos e aplicados São Paulo Senac 2006 ROS M GÓMEZ A Valores personales individua listas y colectivistas y su relación con la autoestima colectiva Revista de Psicología Social v 12 p 179198 1997 SANTOS WS Explicando comportamentos social mente desviantes uma análise do compromisso con vencional e da afiliação social João Pessoa 2008 Tese Doutorado Departamento de Psicologia Universidade Federal da Paraíba SCHNEIDER JO Transmissão de valores de pais para filhos dimensões do desejável e do perceptível João Pessoa 2001 Dissertação Mestrado Departamen to de Psicologia Universidade Federal da Paraíba SCHWARTZ SH Universals in the content and structure of values theoretical advances and em pirical tests in 20 countries In ZANNA M orgs Advances in experimental social psychology Nova York Academic Press 1992 SCHWARTZ SH Validade e aplicabilidade da teoria de valores In TAMAYO A PORTO JB orgs Valores e comportamentos nas organizações Petrópolis Vozes 2005 SCHWARTZ SH A theory of cultural value orien tations explication and applications Comparative Sociology v 5 p 137182 2006 SCHWARTZ SH BILSKY W Toward a universal psychological structure of human values Journal of Personality and Social Psychology v 53 p 550 562 1987 SCHWARTZ SH BOEHNKE K Evaluating the structure of human values with confirmatory factor analysis Journal of Research in Personality v 38 p 230255 2004 SCHWARTZ SH TAMAYO A Estrutura motiva cional dos valores humanos Psicologia Teoria e Pesquisa v 9 p 329348 1993 SCHWARTZ SH VERKASALO M ANTONO VSKY A SAGIV L Value priorities and social desirability much substance some style British Journal of Social Psychology v 36 p 319 1997 SILVA FILHO SB Valores e dimensões do trabalho um estudo em diferentes contextos de escassez João Pessoa INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 313 2001 Dissertação Mestrado Departamento de Psicologia Universidade Federal da Paraíba SMITH MB Attitudes values and selfhood In HOWE JR HE PAGE MM orgs Nebraska Symposium on Motivation 1979 Lincoln NE University of Nebraska Press 1980 SMITH PB SCHWARTZ SH Values In BERRY JW KAGITCIBASI C SEGALL MH orgs Handbook of crosscultural psychology 2ed Boston Allyn Bacon 1997 SPATES JL The sociology of values Annual Re view of Sociology v 9 p 2749 1983 TAMAYO A Influência do sexo e da idade sobre o sistema de valores Arquivos Brasileiros de Psico logia v 38 p 91104 1988 TAMAYO A Hierarquia de valores transculturais e brasileiros Psicologia Teoria e Pesquisa v 10 p 269285 1994 TAMAYO A Contribuições ao estudo dos valores pessoais laborais e organizacionais Psicologia Teoria e Pesquisa v 23 p 1724 1997 THOMAS WI ZNANIECKI F The Polish peasant in Europe and America Boston University of Chicago Press 1918 TRIANDIS HC Individualism and collectivism Boulder CO Westview Press 1995 ZAVALLONI M Values In TRIANDIS HC BRISLIN RW orgs Handbook of crosscultural psychology social psychology Boston Allyn and Bacon 1980 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS introdução A pesquisa científica em psicologia social está interessada em compreender como os pensamentos sentimentos e comportamen tos dos indivíduos são influenciados pela presença real imaginada ou implícita dos outros Assim os psicólogos sociais segun do Hoggs 2009 estudam os aspectos da interação humana como por exemplo a comunicação verbal e não verbal entre os indivíduos o comportamento desses indi víduos em grupos e em grande escala as categorias sociais Nesse sentido questões de pesquisa para esse campo de atuação estariam as sociadas aos pensamentos sentimentos e comportamentos dos indivíduos em grupo Hoggs 2009 aborda questões relativas a como as pessoas em diferentes grupos e cate gorias relacionam se entre si e como pensam como os indivíduos percebem interpretam e representam o próprio comportamento e o comportamento dos outros como as intera ções produzem representações compartilha das do mundo físico e social que se ajustam ao comportamento e ao pensamento como as pessoas formam um senso de quem são a partir da interação entre elas O presente capítulo tem como obje tivo responder a essas questões a partir de uma revisão bibliográfica de cultura valo res e comunicação no contexto das relações intergrupais A comunicação entre grupos e entre indivíduos em determinado contexto é uma das principais contribuições da psi cologia social quando se trata do estudo da cultura Fink e Mayrhofer 2001 O ponto de partida será a cultura que de maneira geral entre os teóricos é definida como o modo de pensar sentir e agir em determi nado grupo de indivíduos Contudo apesar desse consenso entre os psicólogos observa se que há na literatura uma diversidade de conceitos às vezes confusos e redundantes sobre o fenômeno da cultura Desse modo os valores humanos en quanto variável permitem estudar a cultura e nesse caso possibilitam avaliar o caráter preditivo de uma cultura no comportamen to dos indivíduos Contudo ressaltamos que a cultura não é somente composta de valo res os valores seriam a camada mais pro funda e imperceptível de determinado gru po de indivíduos Hofstede 1980 Nesse sentido ressaltamos o papel da linguagem por ser uma construção social entre grupos constituindo se em um meio de transmitir as características culturais de geração para geração Triands 1985 Assim estudar a cultura e os valores humanos sob os aspectos da comunicação 16 cULtUra vaLOres HUmanOs e cOmUnicaçãO nas reLações interGrUPais onofre rodrigues de Miranda Helga cristina Hedler INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 315 representa o principal escopo deste capítu lo já que a comunicação sob esse enfoque compreende delimitar como ela se estrutura e os processos envolvidos nas relações inter grupais Além disso será analisado o caráter particular e universal desse fenômeno A comunicação influencia o compor tamento dos indivíduos de um dado gru po social na medida em que seus membros transmitem os padrões culturais por meio de diversas formas de comunicação e para que seja bem sucedida ela se apoia em diver sas variáveis Por exemplo alguns teóricos referem se a padrões culturais como compor tamentos verbais e não verbais assim como a construção da autoimagem também seria um fator determinante da comunicação pois envolve a maneira como uma pessoa pensa sobre si própria e sobre os demais integrantes do grupo do qual ela faz parte Essa forma de pensar pode ser tanto independente quanto interdependente em relação a esse grupo Por isso observa se a preocupação na eficácia da comunicação entre membros de um grupo pois há fatores que são determinantes para o sucesso da comunicação e do relacionamento com outros grupos tais como a polidez e o modo de encarar situações difíceis Nas últimas décadas pesquisas sobre comunicação intergrupal têm utilizado me didas com orientação predominantemente cultural Essa pressuposição corrobora todo um corpo teórico constituído com foco nas diferenças individuais e grupais bem como em suas implicações para as relações inter pessoais em diferentes contextos culturais Um caminho a seguir para pesquisa dores que pretendem desenvolver estudos nessa área seria estudar a comunicação e como ela ocorre em determinado grupo a partir de uma perspectiva cultural e por conseguinte para que se tenha uma pers pectiva mais completa sobre o processo de comunicação identificar quais são os fato res particulares e universais entre os dife rentes grupos culturais Iniciaremos nossa exposição sobre a cultura e os valores e em seguida abordaremos a comunicação nas relações intergrupais a cultura Podemos observar na literatura que diversas abordagens investigam o fenômeno cultura relacionando o ao comportamento de gru pos de indivíduos em determinado contexto social Uma forma de destacar a origem des se construto parte de definições propostas por teóricos da antropologia Assim em uma perspectiva antropológica a cultura poderia ser definida como um modo de pensar agir e sentir de determinado grupo de indivíduos Kluckhohn 1970 em relação ao ambien te do qual se faz parte Herskovits 1960 como a capacidade decorrente de hábitos adquiridos pelo indivíduo por fazer parte de uma sociedade Tylor 1970 como um conjunto de mecanismos de controle que conduz o comportamento humano Geertz 1973 Essas definições elaboradas por an tropólogos podem constituir uma definição ampla que envolve cada aspecto enfatizado pelo respectivo teórico Logo a cultura está relacionada aos fatores ambientais de deter minado grupo de indivíduos à capacidade desses indivíduos de adquirir hábitos por participarem de um grupo social e aos me canismos de controle que esses indivíduos exercem sobre os demais para conduzir a um comportamento social aceito por todos os membros do grupo Para Hofstede 1984 todo indivíduo traz consigo padrões de pensar sentir e agir que são aprendidos durante toda a sua vida Muitos desses padrões são adquiridos na in fância devido ao fato de que é nesse perío do que o indivíduo é bastante suscetível ao aprendizado e à assimilação Por analogia a cultura pode ser considerada um tipo de programa que dirige o comportamento tal como um software controla um computador Ou seja por meio da programação mental o indivíduo compartilha as experiências vi venciadas entre os outros componentes do mesmo grupo Outra perspectiva considerada socio lógica e desenvolvida por Hofstede 1991 refere se a padrões existentes que possam considerar um grupo semelhante ou diferen INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 316 tOrres neiva cOLs te de outro grupo cultural Nessa proposta Hofstede considera como particularidades os símbolos heróis rituais e valores que se riam aspectos mais relevantes na distinção entre diferentes grupos sociais Os símbolos são as palavras os gestos as figuras ou os objetos que carregam um significado específico para os indivíduos que fazem parte do grupo representando a camada mais superficial de cultura Por exemplo no Brasil é comum pessoas do sexo oposto beijarem se na face ao se cum primentarem em situações de reencontro Já na Índia é comum o beijo na face entre os homens pois esse é um gesto particular daquele país Os heróis são pessoas vivas ou mor tas reais ou imaginárias para determinado grupo cultural que servem como modelo para comportamentos Um exemplo desses heróis são os desenhos em quadrinho japo neses os Mangás que servem como he róis culturais e representam uma particula ridade do seu país Os rituais que abrangem as atividades coletivas de determinado grupo são aponta dos por Hofstede 1991 como tecnicamen te supérfluos porém essenciais Eles podem ser considerados também como uma forma de congratular e respeitar os membros do grupo a exemplo de cerimônias sociais co lação de grau dos indivíduos que concluem um curso em nível superior e cerimônias religiosas como o Natal que é uma data festiva considerada pelos cristãos como o nascimento de Jesus Cristo Por fim nessa perspectiva sociológica desenvolvida por Hofstede 1991 o núcleo de uma determinada cultura seria formado por valores que são considerados como as manifestações mais profundas de uma cul tura Trata se de manifestações que não são perceptíveis visualmente ou seja os valores seriam aqueles aspectos culturais que estão internalizados e são compartilhados pelos membros de um grupo cultural enquanto os símbolos os heróis e os rituais são con siderados como a parte observável de deter minada cultura isto é as práticas cultuadas pelos membros do grupo Para uma melhor compreensão dessa proposta Hofstede 1991 utiliza a analo gia de uma cebola que tem diferentes ca madas para destacar os níveis culturais que envolvem determinado grupo social As ca madas visíveis seriam os símbolos os heróis e os rituais que compõem os aspectos obser váveis de determinada cultura enquanto a camada mais profunda seriam os valores Figura 161 Os valores de determinada cultura têm recebido grande destaque por parte de diversos pesquisadores Hofstede 1980 Rokeach 1973 Schwartz 1992 Schwartz e Bilsky 1987 Schwartz e Tamayo 1993 Há que se destacar também que esse campo de pesquisa é foco de diversas abordagens teóricas e pesquisas empíricas para investi gar o comportamento humano Uma corren te teórica predominante dessa área advém das ciências comportamentais em especial da psicologia social Por um lado observa se que grande parte dos estudos realizados focaliza a importância das prioridades de valores das pessoas para entender e predi zer decisões atitudinais e comportamentais por outro lado outras abordagens contem porâneas lidam com valores dos indivíduos Figura 161 manifestações da cultura em diferentes níveis Fonte Adaptado de Hofstede 1991 p 6 valores rituais heróis símbolos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 317 que avaliam as entidades do seu ambiente a exemplo da abordagem proposta por Rohan 2000 A seguir serão descritas as princi pais abordagens sobre os valores os valores Rohan 2000 salienta que as principais te orias sobre valores focalizam as diferenças individuais na organização de algumas ca racterísticas humanas relevantes conforme apresentaremos a seguir a perspectiva de rokeach sobre a natureza dos valores humanos Um estudo precursor sobre a natureza de valores humanos e o sistema de valores foi realizado por Rokeach 1973 resultan do em diversos outros Schwartz e Bilsky 1987 Schwartz 1992 1994 Schwartz e Tamayo 1993 seguindo a mesma aborda gem Rokeach 1973 p 5 assim se expres sa sobre os valores uma crença suporte de um modo específico de conduta ou estado final de existência é pessoal ou socialmente pre ferível a um oposto ou controverso modo de conduta ou estado final de existência enquanto um sistema de valores é uma organização de crenças suporte quanto aos modos preferíveis de conduta ou esta dos finais de existência em um continuum de importância relativa Para esse autor cinco pressupostos guiam a natureza dos valores 1 o número total de valores de um indivíduo é relativamente pequeno 2 todos os indivíduos em qualquer lugar possuem o mesmo sistema de valores em diferentes graus 3 os valores são organizados em sistemas 4 os antecedentes de valores humanos podem ser traçados pela cultura pela sociedade e por suas instituições e pela personalidade 5 os valores humanos serão manifestados virtualmente em todos os fenômenos cabendo aos cientistas sociais considerá los válidos para investigação e compre ensão Nessa abordagem salienta se que os valores como todas as crenças possuem componentes cognitivos afetivos e com portamentais Sobre a definição de valores Rokeach 1973 afirma que três tipos de crenças têm sido previamente distinguidos 1 crenças descritivas ou existenciais aque las passíveis de serem verdadeiras ou falsas isto é passíveis de confirmação ou refutação 2 crenças avaliativas de acordo com as quais o objeto da crença é julgado como bom ou ruim 3 crenças prescritivas aquelas em que algum significado ou ação final é julgado desejável ou indesejável Rokeach propõe ainda uma classifica ção dos tipos de valores os terminais rela cionados a metas ou estados finais deseja dos como igualdade felicidade liberdade harmonia interior e vida confortável e os instrumentais relacionados a formas de comportamento para se atingir as metas ou estados finais de existência idealizada como ser honesto independente polido obedien te prestativo e responsável Rokeach desenvolveu um instrumento denominado escala de valores para estudos do tipo survey com um total de 36 tipos de valor 18 instrumentais e 18 terminais em que o respondente os classifica de acordo com a importância que ele atribui como princípios que guiam sua vida Dessa for ma busca se obter medidas confiáveis e vá lidas de variáveis que têm importância cen tral ao indivíduo e à sua sociedade A abordagem proposta por Rokeach 1973 influenciou uma série de estudos sobre a natureza dos valores humanos Em outra perspectiva sociológica Inglehart INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 318 tOrres neiva cOLs 1990 desenvolveu uma abordagem cujo foco incidiu sobre o estudo dos valores ma terialismo e pós materialismo que será des crita a seguir a perspectiva de inglehart sobre os va lores materialismo e pós materialismo A perspectiva de Inglehart 1990 de ca ráter sociológico propõe o estudo nesse campo com base nos valores materialismo e pós materialismo Esse autor desenvolveu ambos os conceitos para poder explicar de que forma os valores políticos surgem entre os indivíduos nas sociedades Os dois conceitos são considerados antagônicos O materialismo diz respeito a valores referentes às inseguranças do pas sado quanto à escassez econômica em que as necessidades de segurança e estabilidade levam os indivíduos a priorizar a ordem e a estabilidade em relação aos poderes econô mico e militar O pós materialismo abrange indivíduos que passaram por uma seguran ça maior e são motivados a satisfazer outras necessidades associadas com as relações so ciais como autoestima e atualização As dimensões materialistapós mate rialista tiveram um considerável impacto nos estudos sobre a cultura e as mudanças políticas porém conforme assinalam Ros e Gouveia 2001 as medidas propostas por Inglehart não resolvem problemas de es truturas definidas como polos em oposição Por outro lado conforme salientam Smith e Bond 1999 pesquisas em países indus trializados não confirmaram a proposta de Inglehart de que os valores da população não se alteram tal como previsto em sua proposta teórica Esses autores citam a va riável saúde que como uma medida de mo dernidade demonstrou relação apenas com uma das quatro dimensões propostas por Hofstede 1980 Outro estudo relevante apresentado a seguir teve por objetivo identificar os fatores da estrutura motivacional de um indivíduo a partir da Escala de Valores de Rokeach a perspectiva de schwartz sobre a estrutura de valores Schwartz e Bilsky 1987 desenvolveram uma teoria sobre a estrutura de valores en fatizando as necessidades básicas do indiví duo Sobrepondo se à abordagem proposta por esses autores a teoria especifica um conjunto de relações dinâmicas entre os ti pos motivacionais de valores Considerando o caráter motivacional dos tipos de valores humanos Schwartz 1992 p330 salienta que na psicolo gia social o conceito de valores é definido como princípios transituacionais organi zados hierarquicamente relativos a estados de existência ou modelos de comportamen tos desejáveis que orientam a vida do in divíduo e expressam interesses individuais coletivos ou mistos Essa definição diz res peito às metas que o indivíduo estabelece para si e que são coerentes com os estados de existência valores terminais ou com os padrões de comportamentos desejáveis valores instrumentais Para a psicologia conforme destaca Schwartz 1992 a motivação refere se a aspectos como preferências necessidades tendências e desejos dos indivíduos Os psi cólogos postulam que as fontes dos valores são exigências universais do ser humano portanto preexistentes nas pessoas e cons tituídas pelas a necessidades biológicas do organismo b necessidades sociais relativas às intera ções c necessidades socioinstitucionais referen tes à sobrevivência comum a todos e ao bem estar dos grupos A estrutura motivacional universal de valores é constituída segundo Schwartz 1992 pelos dez tipos motivacionais des tacados no Quadro 161 que pode ser com parada a uma matriz circular conforme a Figura 162 Para o autor todos os valores estariam inseridos nessa matriz assim como qualquer valor encontrado em um grupo so cial também poderia estar incluído em um INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 319 dos tipos motivacionais Cada valor deve apresentar alta correlação com os outros ti pos de valor do mesmo agrupamento Schwartz 1994 destaca que os va lores de interesse individual autodetermi nação estimulação hedonismo realização e poder social são opostos aos valores de interesse coletivo benevolência tradição e conformismo Os tipos motivacionais de segurança e de filantropia são considerados pertinentes tanto aos interesses coletivos quanto aos interesses individuais No que diz respeito ao relacionamen to desses tipos de valores motivacionais Schwartz 1992 propõe dois tipos básicos de relações compatibilidade e conflito A compatibilidade no relacionamento entre esses valores é descrita pela adjacência na matriz assim como o conflito no relacio namento estaria entre valores opostos A relação básica entre os valores e entre os tipos motivacionais por eles compostos se ria abreviada por duas dimensões bipolares abertura a mudanças e em oposição con servação A dimensão abertura à mudança ver sus conservação é baseada na motivação do indivíduo em seguir seus interesses intelec tuais e afetivos por caminhos improváveis em oposição à tendência em preservar o sta tus quo assim como a segurança que o in divíduo gera no seu relacionamento com os outros indivíduos do grupo e com os valores das instituições Por outro lado na dimensão autopromoção versus autotranscedência os valores são baseados na motivação do indi víduo para promover os interesses próprios às custas dos outros em oposição a transcen der as próprias preocupações egoístas e pro mover o bem estar dos outros e da natureza Nesse sentido estariam dispostos os valores relativos ao poder à autorrealização e ao hedonismo e em oposição os valores de fi lantropia e benevolência Schwartz 1992 Outra investigação que tem recebido destaque na literatura de valores foi pro quadro 161 tiPOs mOtivaciOnais De vaLOres tipos motivacionais exemplos Poder Status social e prestígio controle ou dominação sobre indivíduos ou fontesrecursos autorrealização sucesso pessoal por demonstrar competência aos padrões sociais Hedonismo Prazer e gratificação para si mesmo estimulação excitação novidade e desafios na vida autodeterminação Pensamento e ação independente escolher criar e explorar Universalismo entendimento apreciação tolerância e proteção para o bem estar de todos e da natureza Benevolência Preservação e crescimento do bem estar dos indivíduos com que se tem contato frequente e pessoal tradição respeito comprometimento e aceitação de costumes e ideias que culturas tradicionais ou religião fornecem conformismo restrição de ações inclinações e impulsos prováveis que podem magoar outros indivíduos ou violar as expectativas sociais e normas segurança segurança harmonia e estabilidade da sociedade dos relacionamentos e do self Fonte Schwartz e Bilsky 1987 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 320 tOrres neiva cOLs posta por Hofstede 1980 Em um estudo pioneiro ele mapeou várias culturas ba seadas em variáveis que podem estar di retamente relacionadas a processos sociais e organizacionais Smith e Bond 1999 salientam que esses dez tipos de valor pro postos por Schwartz 1992 são em maior número do que os valores propostos no es tudo de Hofstede 1980 e do grupo Conexão Cultural Chinesa 1987 descri tos a seguir Destacam ainda que os valores propostos por Schwartz representam mais um refi namento do que uma contradição do trabalho de Hofstede Nele a autode terminação a estimulação e o hedonismo estariam relacionados à dimensão individu alismo proposta por Hofstede enquanto os valores de segurança tradição e conformi dade seriam os componentes da dimensão coletivismo Hofstede a cultura como programação mental A concepção de cultura adotada por Hofstede 1980 é definida como um programa cole tivo da mente que distingue os membros de um grupo para outro Esse autor trata a cul tura como um programa mental de manei ra análoga a um programa de computador esse programa controla o comportamento social do indivíduo que é predeterminado sobretudo pelos programas mentais Esses níveis de cultura segundo Hofstede seriam uma distinção entre os níveis de análise in Figura 162 estrutura circular dos valores Fonte Adaptado de Schwartz 1994 Autopromoção Autotranscendência Abertura a mudança Conservação Filantropia Benevolência Conformismo Segurança Poder Autorrealização Hedonismo Estimulação Autodeterminação INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 321 dividual grupal ou universais adotados en tre vários teóricos da área Partindo desse entendimento de cul tura como programação mental Hofstede 1980 sugere que os níveis de cultura Figura 163 estão dispostos entre a o nível da natureza humana que está relacionado àquilo que os indivíduos têm em comum pois é herdado por meio universal b a personalidade do indivíduo que é caracterizada por um único conjunto de programas mentais e que não é compar tilhada por nenhum outro indivíduo do grupo c a cultura que revela como os grupos de indivíduos pensam sentem e agem As fontes de um programa mental re sidem no ambiente social onde o indivíduo cresce e absorve a experiência de outro Assim se inicia o processo de aquisição de experiência com a família e posteriormen te em outros grupos vizinhança escola trabalho comunidade nos quais o indiví duo vive Hofstede 1980 define os valores como uma tendência abrangente de se pre ferir certos estados de afazeres a outros p 18 Para ele os valores são mutuamente relacionados e formam uma espécie de hie rarquia ou sistema Contudo não estão ne cessariamente em perfeita harmonia haja visto que os indivíduos apresentam muitos valores conflitantes como liberdade e jus tiça Além disso seguindo a abordagem de programas mentais proposta por esse autor os valores têm intensidade isto é têm certa relevância para os indivíduos tal como dis tinguir valores entre bem e mal Hofstede ressalta que se faz necessário distinguir valores entre o que é desejado e desejável como sendo o que os indivíduos realmente desejam versus o que imaginam que deve ser desejado Por outro lado cabe destacar um outro aspecto quanto à distin ção proposta trata se da desejabilidade so cial fruto de estudos mal estruturados que direcionam a realidade social a posições opostas Hofstede pesquisa transcultural e dimensões de variação cultural entre países Uma das abordagens para se investigar cul tura é por meio das diferenças no modo de pensar sentir e agir de determinado grupo de indivíduos Para Hofstede 1980 o estu do de diferenças entre grupos e sociedades envolve questões de relativismo cultural Com o objetivo de identificar as pos síveis variações culturais entre esses pa íses durante o período de 1967 a 1973 Hofstede realizou uma desafiadora investi gação sobre valores junto aos funcionários da IBM em todo o mundo A aplicação dos questio nários abrangeu 40 países gerando um banco de dados com cerca de 116 mil respondentes Para cada um dos 40 países foi dado um escore em cada uma destas dimensões e foram calculadas as médias por itens que as definem O estudo realizado gerou uma for ma de classificar as diferenças encontradas entre os países investigados Como resulta do o autor identificou quatro dimensões que serão detalhadas a seguir 1 Distância de poder para Hofstede 1991 tal dimensão está diretamente relacionada Figura 163 níveis de programação mental Fonte Adaptado de Hofstede 1980 Natureza humana Cultura Personalidade Herdado Herdado e aprendido Aprendido Indivíduos Grupos ou categorias Universal INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 322 tOrres neiva cOLs às sociedades que lidam com a questão da desigualdade entre os indivíduos Também pode ser definida como o grau de aceitação por parte dos indivíduos que têm menos poder em relação àqueles que têm mais poder nas instituições ou orga nizações de que fazem parte A desigualdade é inerente à vida do ser humano uma vez que o indivíduo faz parte de um grupo social Hofstede assinala que nas sociedades são encon tradas pessoas mais fortes hábeis com maior riqueza ou mais inteligentes que são capazes de influenciar o comporta mento das outras As respostas que os membros de uma sociedade encontram para lidar com as desigualdades é o que as diferencia das outras sociedades Nas organizações que apresentam elevado nível nessa dimensão encontra se uma notável diferença entre os indivíduos que estão em posições hierárquicas superiores ou inferiores subordinados 2 Evitação de incertezas tal dimensão indica a tendência de certas sociedades a serem mais emotivas inquietas e agressi vas Nesse caso os indivíduos percebem o incerto como algo ameaçador e peri goso o que para eles deve ser evitado ou controlado por meio de normas com uma característica mais emotiva do que racional As organizações assim como as re la ções humanas são estruturadas no sen tido de tornar os acontecimentos inter pretáveis e previsíveis A percepção do imprevisível como uma ameaça é o que define a alta aversão a incertezas Por outro lado em sociedades com bai xos índices de evitação de incertezas os indivíduos são considerados pessoas tranquilas e controlados que percebem o que é diferente como algo curioso e rela cionado ao cotidiano No que diz respeito às normas elas são estabelecidas somente quando necessários sendo mais racionais do que emotivas 3 Masculinidade feminilidade tal dimensão diz respeito às diversas sociedades que enfatizam tanto a assertividade que está relacionada com o ganho financeiro e a aquisição material quanto a qualidade de vida dos indivíduos As sociedades que va lorizam a assertividade são consideradas mais masculinas enquanto as sociedades que tendem a consolidar a qualidade de vida e primam pela relação com os indi víduos do grupo são consideradas mais femininas A definição dos termos masculino e feminino possui sentido relativo isto é tanto homens quanto mulheres podem comportar se de forma feminina ou mas culina Uma característica presente em sociedades com alto grau de masculini dade e feminilidade indica que questões relacionadas ao gênero são claramente definidas A clara segmentação entre gênero no mercado de trabalho define sociedades masculinas 4 Individualismo coletivismo tal dimensão é definida pela identidade do indivíduo quanto às suas escolhas pessoais e re alizações Ela é considerada essencial para a análise de uma cultura desde que diversos estudos a exemplo de Smith e Bond 1999 e Triandis McCusker e Hui 1990 demonstraram a sua influência no comportamento dos membros de um grupo social Apesar do interesse pelas dimensões individualismo coletivismo e distância do poder Singelis e colabora dores 1995 sugeriram que os construtos de individualismo e coletivismo são muito vastos para uma mensuração precisa Por essa razão propuseram dois novos cons trutos as variações vertical e horizontal do individualismo coletivismo que teriam maior fidelidade do que os construtos de individualismo coletivismo e distância do poder Considerando a pontuação de 0 a 100 em relação às dimensões propostas no estu do realizado por Hofstede 1980 no que diz respeito à dimensão distância de poder o Brasil ficou em 14o lugar com 69 pontos Na dimensão evitação de incertezas obteve um escore de 76 pontos o que o levou à 22a posição Entre as dimensões individualismo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 323 coletivismo foi considerado um país predo minantemente coletivista ocupando a 26a posição com um escore de 38 pontos Por fim segundo os resultados obtidos a socie dade brasileira é considerada predominan temente feminina com escore de 49 pontos e classificada em 27o lugar Os aspectos positivos do estudo que merecem destaque referem se à seleção das amostras nos diferentes países à transcrição do questionário na língua local ao controle do viés de aquiescência da resposta à de finição correta do nível de análise país e ao fato de que os respondentes estavam cientes de que estavam contribuindo para uma comparação transcultural Os aspectos negativos a serem ressaltados é que os itens do questionário de pesquisa foram selecio nados para outros propósitos o que pode ter desconsiderado aspectos importantes sobre diferenças culturais Além disso os itens não passaram por uma análise profun da sobre a pertinência da tradução em rela ção ao significado pretendido Smith Bond e Kagitçibasi 2006 Como o questionário foi desenvolvido com base em valores pre sentes nas sociedades ocidentais um grupo de pesquisadores investigou a validade de suas propriedades por meio da aplicação do instrumento em uma cultura oriental confucionismo O grupo de pesquisadores denominado Conexão Cultural Chinesa 1987 investi gou se as dimensões propostas no instru mento de pesquisa utilizado por Hofestede 1980 eram suficientemente robustas a ponto de detectar valores presentes em um país com tradições culturais diferentes das ocidentais O estudo foi realizado em Hong Kong a partir da solicitação feita a professores chi neses para que listassem valores fundamen tais para a sociedade chinesa As respostas obtidas foram utilizadas na construção de um instrumento que foi aplicado junto a es tudantes de 23 nacionalidades os quais fo ram selecionados com o objetivo de formar uma amostra homogênea quanto à composi ção étnica Ao todo foram coletados dados com 100 homens e mulheres representantes dos 23 grupos étnicos seguindo os mesmos procedimentos de Hofstede para o trata mento dos dados Os escores foram comparados com os do estudo anterior Apesar de ambos terem utilizado medidas diferentes quanto à origem cultural realizados em épocas dis tintas e com amostras diferentes os resul tados obtidos conforme sublinham Smith e Bond 1999 dão suporte para as dimen sões de distância de poder individualismo coletivismo e masculinidade feminilidade na variação de valores consideradas rela tivamente robustas A exceção foi evita ção de incertezas surgindo em seu lugar a dimensão denominada dinamismo no tra balho confuciano que incluiu valores tradi cionais chineses Smith Bond e Kagitçibasi 2006 Hofstede 2001 concluiu que tal dimensão deveria ser acrescentada às ou tras quatro e a renomeou como orientação a longo prazo Todas essas dimensões constituem um avanço na distinção de possíveis variações culturais entre países De acordo com Fink e Mayrhofer 2001 a comunicação entre os grupos e os indivíduos em determinado contexto é uma das principais contribuições da psicologia social quando se trata do es tudo da cultura A seguir apresentaremos uma revisão sobre a comunicação à luz da cultura nos sistemas sociais a coMunicação à luz da cultura inFluência nos sisteMas sociais A origem etimológica da palavra comuni cação significa tornar comum através da linguagem oral da escrita ou dos símbolos A linguagem utiliza se do signo significa do e significante O signo é qualquer coisa que faça referência a outra coisa ou ideia Significado representa o uso social como é compreendido o conceito a ele associado enquanto o significante é a sua manifesta INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 324 tOrres neiva cOLs ção concreta um desenho uma palavra um gesto um som Segundo a complexidade que podem assumir os significados da lin guagem humana temos comumente aque les classificados como gramatical contex tual denotativo e conotativo O significado gramatical depende da relação com outros signos no discurso Já o contextual depende do significado em cada situaçãocultura O referencial é mais simples ou direto sendo encontrado nos dicionários O denotativo indica diretamente um objeto referente às suas qualidades e por fim o conotativo refere se à ampliação ao enriquecimento do significado referencial dos signos por meio da imaginação com jogos de palavras Pimenta 2002 A comunicação faz parte da constitui ção e do desenvolvimento humano abran gendo desde o nascimento como um apa rato fisiológico até o desenvolvimento do domínio da linguagem por meio da qual desenvolvemos nosso raciocínio influencia mos e somos influenciados Berlo 1991 Nessa concepção o objetivo básico da comu nicação é alterar as relações originais entre nós mesmos e o ambiente à nossa volta ou com o receptor Assim a comunicação leva à mudança comportamental e também está relacionada à aprendizagem Para haver comunicação é necessário que pelo menos duas pessoas entrem em interação ou seja deve haver pelo menos um emissor e um receptor Então o emissor envia a mensagem e o receptor decodifica a mensagem O modelo unidirecional de comunicação sempre mostra a comunica ção fluindo de um emissor para um recep tor Entretanto a estrutura da comunicação comporta muito mais variáveis e direções na transmissão na decodificação no processa mento e no feedback das mensagens produ zindo significado para as pessoas envolvidas no processo Robbins 1994 As pesquisas sobre comunicação po dem ser classificadas em estudos de codifi cação e de decodificação Nelas se enqua dram as comunicações verbais e não verbais Nesses estudos pode se avaliar o significa do dos códigos abertos quando há mais de uma decodificação e fechados quando há apenas uma decodificação Quando se relaciona a comunicação com a aprendizagem o objetivo da comu nicação é produzir modificação no compor tamento do receptor pois o comunicador pretende que os receptores respondam de formas diferentes a velhos estímulos ou res pondam por velhas formas a estímulos dife rentes Ou ainda que os receptores mudem suas respostas ao estímulo existente ou que transfiram as suas respostas a um estímulo modificado A comunicação pode ser compreen dida como o processo pelo qual os pensa mentos são transmitidos e o significado é compartilhado entre as pessoas Kimble C et al 2002 A comunicação pode ser conce bida também como um processo conforme o modelo de Berlo 1991 e envolve seis componentes básicos 1 fonte pessoa processo ou equipamento que fornece as mensagens 2 transmissor processo ou equipamento que codifica a mensagem e a transmite ao canal 3 canal equipamento ou espaço intermedi ário entre transmissor o receptor 4 receptor processo ou equipamento que recebe e decodifica a mensagem 5 destino pessoa processo ou equipamento a que se destina a mensagem 6 ruído perturbações indesejáveis que ten dem a alterar de maneira imprevisível a mensagem No processo de comunicação que en volve os seis elementos mencionados ocorre a retroação ou retroalimentação formando um sistema de mão dupla Esse modelo re sulta no compartilhamento de significados de uma pessoa para outra Os elementos do processo de comunicação formam um siste ma de partes inter relacionados e de influ ência recíproca no qual o grau em que as pessoas emissorfonte e receptor desen volvem habilidades atitudes e conhecimen tos em determinado sistema sociocultural influencia o desempenho tanto do emissor INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 325 quanto do receptor A comunicacão com a transferência e a compreensão do seu signi ficado possibilita a existência das relações interpessoais A comunicação é um elemento chave da cultura pois através dela disseminam se e tornam se visíveis as práticas e as trocas culturais A transmissão da cultura depende do processo de comunicação já que é por meio dos diferentes canais inerentes a esse processo que os significados culturais são compartilhados Smith e Bond 1999 Para Berlo 1991 os sistemas sociais são a matriz da comunicação Esse conceito de sistema social pauta se na premissa de que o homem é interdependente em relação aos outros na realização de seus objetivos e essa interdependência dos objetivos indi viduais dá origem à organização dos com portamentos humanos em um sistema mul tipessoal Os sistemas sociais decorrem da necessidade que o homem tem de relacionar seu comportamento ao comportamento de outros a fim de realizar seus objetivos A compreensão da comunicação em um sistema social parte das seguintes pre missas o homem deseja influenciar o próprio meio o próprio desenvolvimento e o comportamento dos outros o homem precisa comunicar se com os outros para influenciá los através de meios que se ajustem aos seus propósi tos o homem ao se comunicar faz previsões sobre como as outras pessoas se compor tarão o homem desenvolve expectativas a res peito dos outros e de si mesmo A adoção de um papel em um sistema social possibilita a previsão de determinado comportamento Tal previsão torna se pos sível à medida que tenhamos experiência prévia com outras pessoas pois assim te remos base para fazer previsões a respeito de como elas desempenharão os seus pa péis Portanto a comunicação estrutura as relações sociais e o sistema social Assim definem se papéis e estabelecem se normas de comportamento Essa estruturação prevê a similaridade do comportamento entre as pessoas para que haja o desenvolvimento da relação social Logo os sistemas sociais são produzidos por meio da comunicação o que define as limitações e o alcance da comuni cação As normas grupais definem o que é permitido e o que é proibido nesse sistema Por sua vez o sistema social influencia a comunicação de seus membros ao passo que as normas estabelecem a uniformidade dos comportamentos produzindo identifi cação entre as pessoas e previsibilidade den tro do sistema Temos assim a influência mútua entre o sistema social e o sistema de comunicação O conhecimento do sistema social permite nos predizer aquilo em que as pessoas acreditam o que elas conhecem e como elas se comportarão diante de deter minadas situações Por isso se desejarmos algo de um sistema teremos de saber como ele funciona como as pessoas são influen ciadas por ele como elas interagem entre si como se comunicam e quais os níveis de afinidades Saberemos portanto como nos comunicar nesse sistema Como é criada a estrutura do sistema social Os comportamentos papéis recebem posições no sistema São criadas relações es pecíficas entre os papéis e os papéis são clas sificados Como decorrência dessa classifica ção alguns papéis ganham mais autoridade do que outros e alguns são percebidos como mais valiosos do que outros A teoria dos sistemas sociais de Berlo 1991 determina que em um sistema so cial as pessoas são destinadas a certos pa péis O indivíduo desempenha um conjunto específico de comportamentos e ocupa uma posição específica Em qualquer papel há os comportamentos que devem ser executados e os comportamentos que não devem ser executados Os papéis e as normas determinam o que não se pode o que se deve e o que se pode Nas duas primeiras posições os papéis e as normas são independentes do indivíduo e fixados pelo sistema Na terceira posição são determinados a critério do indivíduo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 326 tOrres neiva cOLs não são fixados pelo sistema e não são de terminados pelo papel Então as crenças e os valores que fazem parte do sistema cul tural atuam como influência comunicadora Aqui as situações sociais em que a comuni cação ocorre podem ser escritas ilustradas faladas gestuais etc Pimenta 2002 Nas revisões de pesquisas sobre co municação Kimble e colaboradores 2002 demonstram a importância da comunicação na vida humana pois a comunicação em qualquer uma de suas formas favorece a sensação de estar vivo e de se sentir bem visto que as pessoas conseguem comunicar seus sentimentos suas necessidades e seus desejos o que produz uma influência bené fica sobre sua saúde mental A comunicação de pessoa para pessoa ou a comunicação em um grupo favorece a expressão emocional dos diversos sentimen tos humanos sejam eles de frustração ou de satisfação E esse é apenas um dos níveis de comunicação entre os seres humanos Conforme Fink e Mayrhofer 2001 a co municação envolve três diferentes níveis 1 o nível fisiológico dos sentidos e dos afe tos que se expressam em ações como rir ou chorar 2 o nível motor que abrange expressões corporais faciais mímicas e gestos 3 o nível vocal que envolve linguagem melodia e entonação Além disso várias formas de comu nicação são inerentes ao nível biofísico embora várias delas sejam adquiridas por aculturação Essas formas de comunicação dependem da cultura da sociedade e dos grupos podendo ser modificados por tais instâncias no decorrer de sua duração e de seu uso Além da importância da comunicação para o indivíduo e seu bem estar seu uso e sua adequação aos diferentes ambientes sociais e culturais em que o indivíduo se in sere podem determinar o êxito de suas rela ções interpessoais e transculturais Os con flitos interpessoais decorrem em geral de comunicações ineficientes quando existem falhas bloqueios ou desvios no processo ou na transmissão e decodificação dos interes ses de uma ou ambas as partes envolvidas no processo Robbins 1994 Tanto a comunicação verbal quanto a não verbal apresentam vários canais lingua gem vocalização comportamento espacial tato comportamento visual expressões fa ciais movimentos e posturas corporais Por meio desses canais a comunicação cumpre várias funções tais como comunicar poder exercer atração status ou influência comu nicar outras emoções obter informações regular o fluxo de comunicação Kleinke 1985 apud Kimble et al 2002 Através dos canais da comunicação são veiculadas men sagens que possuem quatro componentes simples informação autoapresentação de um emissor apelo ao receptor e informação entre emissor e receptor Indissociáveis da estrutura da comuni cação dos seus canais e dos tipos de mensa gens estão os problemas enfrentados para produzir uma comunicação clara e eficaz Por exemplo distúrbios ou ruídos surgem quando o emissor ou receptor atribuem di ferentes ênfases a um dos diferentes níveis da mensagem fisiológico motor ou vocal pois a comunicação estimula reações es pecíficas de pensamento e sentimento nas pessoas Consequentemente os problemas surgem quando diferentes culturas estabele cem diferentes regras para o emissor e para o receptor da mensagem Fink e Mayrhofer 2001 As conversações são estruturadas pelos papéis dos falantes e dos ouvintes havendo vários sinais comportamentais que os partici pantes empregam para assumir esses papéis ou abandoná los Berlo 1991 considera os como integrantes do sistema social que pro duz a comunicação Então o sistema social é uma coleção de comportamentos papéis que assumem posições interdependentes e cada conjunto de comportamentos tem rela ção com outros conjuntos Logo cada posi ção tem relação com outra posição ou seja é interdependente das demais Vários pesquisadores analisaram o comportamento que consiste em tomar a INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 327 palavra nas conversações Uma constatação é a de que os ouvintes observam mais que os falantes e vice versa Os falantes também observam menos seus ouvintes olhando os diretamente nos olhos ou no rosto porque ao manter o contato visual a informação visual recebida interfere nos pensamentos de quem fala Ao se reconhecer visualmente os ouvintes é mais fácil que estes tomem a palavra Quando um falante termina de ex pressar uma ideia quase sempre dirige os olhos aos ouvintes eleva ou diminui a força de suas palavras terminando ou relaxando as gesticulações manuais utilizadas expres sando com mais suavidade as últimas pala vras Nesse momento o ouvinte sabe que poderá tomar a palavra a comunicação verbal A forma de pensar sentir e agir dos indiví duos é influenciada conforme aponta Hoggs 2009 pelos outros indivíduos no grupo do qual fazem parte Como exemplo desse pro cesso de interação entre os indivíduos está a comunicação verbal As pesquisas em comunicação concen tram se em áreas já consolidadas que agre gam a produção de pesquisadores de cur sos de pós graduação em comunicação no Brasil No entanto surgem novas temáticas através das atividades de jovens pesquisa dores e pesquisadores seniores não vincula dos aos núcleos de pesquisa tradicionais Ao lado dessas áreas já consolidadas jornalis mo publicidade propaganda e marketing surgem novas temáticas Segundo Dencker 2008 p 20 há predominância de estudos que mencionam a internet e suas relações com 71 de frequência além de trabalhos sobre os conteúdos veiculados pelos meios de comunicação estudos de mídia teoria cultura e identidade jornalismo e ensino de comunicação Uma das principais dificuldades nas pesquisas sobre comunicação são os diferen tes valores atribuídos à comunicação verbal e as preferências pela comunicação indireta Kimble e colaboradores 2002 oferecem exemplos de estudo comparando america nos e japoneses em relação ao silêncio Na perspectiva dos japoneses o silêncio signifi ca sempre aceitação total e sinceridade en quanto na compreensão dos americanos o silêncio verbal significa incapacidade men tal e confusão É impressionante o poder da comuni cação oral as palavras exercem forte impac to sobre as pessoas Entretanto não existem palavras mágicas em muitos casos elas têm seu poder ampliado quando estão em jogo a reputação o cargo ou o prestígio do falante e quando são expressas ideias que a audi ência queria escutar Kimble et al 2002 Tanto as palavras quanto as expressões sim ples são provavelmente as que produzem maior impacto Vejamos o exemplo do dis curso do Presidente Lula eu hei de realizar um sonho que não é meu mas um sonho que é de todos vocês que haverá um dia que nesse país nenhu ma criança irá dormir sem um prato de comida e nenhuma criança acordará sem um café da manhã Silva 2003 Essas palavras foram ditas com vee mência com estilo entusiasta e dinâmico razão pela qual geraram interesse e emoção no público produzindo assim forte impacto Tal discurso referiu se aos grandes ideais e ao lado nobre das pessoas tendo portanto alta aceitação por parte do público a comunicação não verbal As pesquisas em comunicação não verbal no contexto da cultura abordam os mais diferentes aspectos como por exemplo quanto tempo pode se chegar atrasado sem demonstrar desrespeito qual a distância que uma pessoa deve manter da outra para comunicar que a conhece mas não é sua amiga os movimentos corporais a ento nação e a distância física entre as pessoas Todos esses elementos estudados transmi tem diferentes significados de acordo com os contextos culturais como demonstram INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 328 tOrres neiva cOLs os estudos Hofstede 1980 Smith e Bond 1999 Esses exemplos servem para demons trar que não há significados universais para os comportamentos paralinguísticos Nesse sentido é importante conhecer os seus sig nificados em cada cultura para entender as mensagens que os falantes pretendem transmitir As características verbais paralin guísticas são aspectos da fala que acompa nham o conteúdo e guardam conexão com o comportamento verbal portanto somam se à comunicação verbal e abrangem o tom o timbre a intensidade a rapidez a assertivi dade da expressão oral O tom agudo por exemplo tem sido associado ao nervosismo à intenção de enganar o que indica que há barreiras na comunicação causadas por dife rença de tons Robbins 1994 Nem todos os comportamentos têm a intenção de comunicar e isso configura a comunicação não intencional Algumas ve zes o emissor comporta se de determinada maneira quando transmite uma mensagem e o receptor verá esses atos não verbais ou paralinguísticos como parte da comunica ção total que deve decodificar embora o emissor não tivesse tido essa intenção Em uma mensagem podem ser percebidas mais coisas que apenas as palavras Somando se as características para linguísticas às situações sociais temos um pano de fundo que permeia a comunicação entre as culturas facilitando ou dificultando o compartilhamento dos significados e das interações a comunicação e as relações interpessoais A comunicação é importante para desen volver e sustentar as relações Realizou se uma série de estudos sobre a comunicação no casamento para avaliar seu ajuste Os re sultados indicaram que as esposas são me lhores comunicadoras verbais do que seus maridos sobretudo na expressão de men sagens positivas Sem dúvida os maridos nos casamentos bem ajustados enviavam e compreendiam melhor essas mensagens do que nos casamentos mal ajustados Kimble et al 2002 De modo geral parece que essas habi lidades dos maridos influenciam mais o ajus te conjugal porque as esposas comunicam se bem em ambos os tipos de matrimônio Os casamentos bem ajustados empregam mais mensagens positivas e menos mensagens neutras ou negativas do que os casamentos mal ajustados O casamento tenderá a ser estável se a comunicação positiva for cinco vezes mais frequente que a negativa Isso significa que os cônjuges precisam criar con dições agradáveis em sua vida interpessoal Kimble et al 2002 Os achados de diversas pesquisas refe rentes à forma da comunicação verbal suge rem que há um número possível de relações entre fala significado intenção e sentimen tos Sob determinadas culturas a prática da comunicação sugere que o princípio básico do domínio da comunicação interpessoal é a competência para a comunicação que por sua vez depende dos significados e das prá ticas associados ao uso social da língua a comunicação e as relações de intimidade A comunicação envolve a transmissão de uma mensagem a outra pessoa que traduz a mensagem do emissor atribuindo lhe sig nificado A mensagem pode ser enviada de modo consciente e intencional ou de modo não intencional como nos exemplos dos ele mentos paralinguísticos da comunicação cita dos anteriormente Além disso a mensagem pode incluir informação sobre conteúdos in tencional e paralinguístico e a relação entre ambos os comunicados em determinado con texto cultural Smith e Bond 1999 O ser humano realiza alguns padrões confusos de comunicação Certos compor tamentos possuem vários significados que geralmente estão associados à cultura ou ao contexto social dos falantes Raramente INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 329 o significado é apenas explícito sobre o que se deseja transmitir Por exemplo podemos chamar outra pessoa pelo primeiro nome se nos sentimos familiarizados ou próximos a ela Também podemos utilizar o sobrenome se julgamos que a outra pessoa possui um status mais elevado Em algumas situações é decisivo o estilo de comunicação usado para transmitir intimidade ou domínio Utilizar o nome completo da pessoa ou parte dele também pode ter a intenção de demonstrar familiaridade Kimble et al 2002 As evidências das pesquisas sobre o toque entre as pessoas nos processos de interação e comunicação ainda não são definitivas mas o contato físico é outro comportamento verbal que revela ambigui dade e pode variar a interpretação de seu significado entre as culturas Por exemplo nos Estados Unidos os estudos de Henley 1977 indicam que tocar as pessoas pode demonstrar familiaridade afeto ou ternura que temos por elas ou que ocupamos uma posição superior à daquele que tocamos É comum nesse país que pessoas mais velhas que gozam de maior status toquem mais intencionalmente as pessoas mais jovens do que o inverso Henley também descobriu que os homens tocam mais as mulheres de maneira intencional e em público do que o inverso Entretanto Stier e Hall 1984 revisaram 40 trabalhos de pesquisa e de monstraram que não havia a tendência de os homens tocarem mais as mulheres do que o inverso Também comprovaram que existe uma pequena tendência de as mulheres ini ciarem mais o contato físico do que os ho mens nos pares heterossexuais Na maior parte dos estudos observa cionais é impossível determinar se o contato físico deveu se ao desejo de mostrar afeto ou poder Por exemplo no estudo de Nguyen Heslin e Nguyen 1975 apud Kimble et al 2002 foi realizado um experimento em ambiente hospitalar Os pesquisadores orientaram que as enfermeiras tocassem no braço de metade dos seus pacientes durante um minuto até que terminassem de ler as instruções pré operatórias Ao se despedir as enfermeiras deveriam estender a mão para ver se seriam tocadas pelos pacientes Na pesquisa foi incluída uma medida de de pendência a medida de ansiedade antes da cirurgia a medida de atração pela enfermei ra e a medida da pressão arterial na sala de recuperação Os homens respondiam de forma ne gativa quando eram tocados pelas enfer meiras enquanto as mulheres o faziam de forma positiva As que haviam sido tocadas tocavam mais as mãos das enfermeiras pensavam que o contato denotava maior interesse mostravam menos ansiedade pós operatória e em geral tinham a pres são arterial mais baixa após a operação do que os homens e as mulheres não tocadas Os homens que haviam sido tocados emi tiam quase sempre reações contrárias Para Whitcher e Fisher 1979 apud Kimble et al 2002 os diversos padrões de resposta têm dois significados as mulheres considera vam o contato como algo positivo e como um gesto de carinho enquanto os homens percebiam no como um sinal de poder que a enfermeira tinha sobre eles Parece que o contato físico é bastante ambíguo conforme a perspectiva do observador ou da experiên cia do receptor a comunicação e a interação trans cul tural A comunicação envolve uma série de habi lidades instrumentais Quanto mais seme lhante no uso das habilidades for o parceiro da comunicação mais será percebido como atrativo e pertencente ao próprio grupo ét nico do falante ingroup Smith e Bond 1999 Além disso as palavras possuem sig nificados diferentes para pessoas diferentes assim como as palavras que não se tradu zem entre as culturas Para haver comunicação bem sucedida é necessário que o conteúdo e o processo em que se realiza a comunicação sejam coorde nados Não se pode coordenar o conteúdo da comunicação sem considerar uma varie dade de aspectos como o conhecimento mú INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 330 tOrres neiva cOLs tuo as crenças e os pressupostos comuns os quais só se tornam possíveis mediante o conhecimento da cultura A comunicação intercultural exige um alto nível de interação e envolvimento pressupondo um compromisso de troca que ocorre através dos aspectos sensíveis apre sentados na conversação integrando todos os comportamentos e configurando se como uma relação de troca A comunicação pre cisa ocorre quando ambos os parceiros do processo de comunicação concordam sobre o significado de várias trocas de comunica ção No caso da interação transcultural a comunicação efetiva significa que o resulta do do processo satisfez as necessidades das partes envolvidas Diversos fatores devem ser considera dos ao se analisar as interações entre as pes soas de diferentes culturas como a emoção e a perspectiva temporal Adler e Towne 2002 A interação transcultural por meio da comunicação está sujeita a uma série de distorções sejam elas causadas pela se mântica das palavras ou por outros fatores como por exemplo o tipo da comunicação interpessoal que varia em diferentes estilos como do assertivo ao passivo Limongi França 2007 O modo como uma pessoa partilha ou retém sentimentos pode afetar conside ravelmente a qualidade e a intensidade de seus relacionamentos Algumas pessoas têm dificuldade para se expressar e sobretudo para verbalizar suas emoções embora se sintam à vontade para fazer declarações ou manifestar opiniões Porém quase nunca revelam completamente o que de fato es tão sentindo Smith e Bond 1999 Certas características culturais podem influenciar a expressão emocional como a posição de uma cultura na dimensão individualismo coletivismo Por exemplo os cidadãos de culturas coletivistas como Japão e Índia valorizam a harmonia da comunidade e de sencorajam expressões que possam produzir desordem nos relacionamentos intergrupais enquanto os cidadãos de culturas individu alistas como Estados Unidos e Canadá ex pressam mais abertamente seus sentimentos a pessoas com quem tenham maior intimi dade Hofstede 1991 Outro fator que pode facilitar ou dificultar a expressão dos sentimentos são as práticas de uma socie dade que pode encorajar ou desencorarjar a expressão dos sentimentos e das emoções Adler e Towne 2002 a comunicação e a percepção do tempo O tempo pode ser considerado como mono crônico e policrônico Tempo monocrônico é aquele concebido como um contínuo linear infinitamente divisível no qual somente se pode realizar uma ação de cada vez Já o tempo policrônico é definido pelo que é exe cutado no qual muitas ações podem ser rea lizadas simultaneamente Essa perspectiva é mais efetiva para construir relacionamentos e resolver problemas complexos cuja infor mação é amplamente disseminada e intera tiva A perspectiva que uma cultura adota em relação ao tempo difere não apenas em função da ocupação da pessoa por exem plo na sociedade ou em uma empresa mas também no posto que ocupa quanto mais alto o posto maior a autonomia operacional em relação ao tempo a comunicação e o espaço físico O antropólogo Hall 1966 discutiu a ques tão relativa a como as pessoas administram o seu espaço de invasão ou seja o quão longe permanecer dos outros que estão em uma conversação pessoal sem interromper a outra pessoa As culturas dispõem de re gras sobre como definir o espaço íntimo das pessoas em casa e trabalho p ex di visórias paredes barreiras de som e outros artifícios físicos assim como o espaço ou a distância física que uma pessoa mantém em relação a outra p ex o contato visual a posição do corpo e outros artifícios para sinalizar respeito pela privacidade alheia Portanto o que é considerado espaço apro priado depende em grande parte de normas culturais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 331 a comunicação e o contexto cultural Os estudos que utilizam o contexto como um quadro explicativo para a variação transcul tural aceitam o continuum de baixo contexto alto contexto de Hall 1959 1966 sendo pouco analisadas criticamente as exceções que não se encaixam no modelo Apesar das constatações de Cardon 2008 a respeito da falta de evidências e sustentação empírica do modelo de Hall as sim como da necessidade de cautela para o uso da teoria do contexto para interpretar a comunicação intercultural apresentamos neste tópico a caracterização do modelo de Hall e deixamos a tarefa de uma investigação mais profunda ao leitorpesquisador que se debruçam sobre a temática Cardon não des carta a validade da teoria de Hall mas des taca a necessidade de validação empírica da mesma Com finalidade didática optamos por apresentar os principais conceitos da teoria de alto e baixo contexto de Hall que inspirou os estudos subsequentes e incluí mos comparações com achados de estudos de Hosftede e suas dimensões culturais Para Hall 1966 as culturas diferem entre si num continuum entre alto contexto e baixo contexto explícito e implícito tendo todas as culturas alguns aspectos de ambos A comunicação de alto contexto em dada cultura seria aquela em que a maior parte das informações está situada no âmbito físi co ou internalizada para a pessoa com quem nos comunicamos sendo pouco codificadas ou explicitadas na mensagem Os fatores ex ternos e as entradas sensoriais não são tão importantes para a mensagem total pois as quadro 162 caracteriZaçãO Da cOmUnicaçãO em reLaçãO aO aLtO e BaiXO cOnteXtO alto contexto baixo contexto comunicação implícita comunicação explícita menor ênfase na comunicação escrita maior Ênfase no sentido exato da palavra escrita ênfase na comunicação verbal maior importância do contexto pessoas menor importância do contexto linguagem não verbal situação compreensão interiorizada da mensagem comunicação externa acessível a todos transferível necessidade de compreensão das mensagens mensagens claras com pouco a compreender verbais e não verbais sobre mensagens não verbais conhecimentos situacionais e não verbais as relações face a face são importantes com as decisões e tarefas centram se no que é ênfase nas pessoas com autoridade necessário fazer as responsabilidades são divididas as necessidades das pessoas podem as tarefas são agendadas uma de cada vez influenciar a agenda e mais de uma tarefa é desempenhada ao mesmo tempo Japão china coreia américa Latina França estados Unidos Grã Bretanha alemanha Oriente médio áfrica do sul negra escandinávia suiça austrália nova Zelândia áfrica do sul branca Fonte Adaptado de Cardon 2008 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 332 tOrres neiva cOLs palavras fornecem a mensagem São exem plos de cultura de alto contexto Japão Itália e México Já a comunicação na cultura de baixo contexto seria aquela em que a maior par te da informação é investida na mensagem focando se a ideia central palavras frases e em alguns casos gestos A mensagem é portanto explícita São exemplos de cultu ra de baixo contexto Estados Unidos Grã Bretanha e Alemanha Isso significa que quando nos comunicamos não nos basea mos somente nas palavras mas também em pistas sensoriais e outros fatores externos que estão presentes enquanto nos comuni camos Nas culturas de alto contexto como as do Japão da Itália e do México a mensa gem é implícita com um sentido válido não apenas nas palavras mas também nos ges tos nas relações entre as pessoas no status dos envolvidos e em muitas outras entradas que serão óbvias para o comunicador de alto contexto Essas entradas fornecem o sentido total à mensagem sem elas ou ao menos sem o seu entendimento a mensagem pare cerá vaga ou incompleta Compreender o contexto no qual as pessoas interagem facilita o estabelecimento das relações interpessoais para que o falante consiga alinhar suas mensagens ao contexto e assim consiga influenciar positivamente o seu leitor ou ouvinte Hofstede 1980 estrutura sua tipo logia com base em cinco dimensões cultu rais individualismo coletivismo distância do poder masculinidade feminilidade evitação da incerteza e confucionismo O autor apre senta algumas diferenças essenciais entre as sociedades coletivistas e individualistas Destacamos aqui aquelas que se referem à comunicação na dimensão individualismo coletivismo individualisMo e coletivisMo Robert 2000 salienta que as dimensões cul turais entre individualismo e coletivismo têm sido o foco de predominantes exposi ções teóricas tanto no âmbito da análise in dividual quanto no da análise social Essas dimensões destacam se entre pesquisas sobre cultura pelo crescente número de es tudos realizados acerca delas em pesquisas transculturais Gouveia e Clemente 2000 Nogueira 2001 Torres 1999 como tam bém em investigações entre indivíduos de uma mesma cultura Miranda 2001 Além disso teóricos sugerem que as dimensões de individualismo e coletivismo podem representar importantes aspectos da cultura organizacional Conforme assina la Robert 2000 p 5 se um indiví duo possui uma elevada necessidade para estruturar se e a organização é altamente estruturada haverá convergência ou ajuste e em consequência maior probabilidade de que o indivíduo tenha atitudes positivas para a organização Nesse sentido se por outro lado não houver essa convergência entre a orientação cultural individual e os valores crenças e pressuposições que são percebidas em uma organização haverá a possibilidade de falhas para as organizações quanto às expectativas de seus funcionários Triandis 1994 p 1 em seu livro Culture and social behavior define cultura aludindo a uma analogia à memória do indivíduo Segundo esse autor cultura é para a sociedade o que a memória é para o indivíduo inclui tradições que dizem o que funcionou no passado como também deriva a forma em que as pessoas têm aprendido a olhar o ambiente ao qual fazem parte a si próprios e às suas pressuposições sobre como o mundo é e como as pessoas deveriam agir Quando se analisa a cultura subjetiva pode se perceber como as pessoas catego rizam e valorizam entidades do ambiente Dessa forma descobre se uma única manei ra pela qual indivíduos em diferentes cul turas percebem o ambiente social em que vivem Um dos aspectos mais importantes da cultura é a pressuposição de que somos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 333 incluídos em grupos fechados de indivíduos interdependentes o que é considerado fun damental para a caracterização do coletivis mo Por outro lado a pressuposição de que somos entidades independentes diferentes e distantes de outros grupos é fundamen tal para a concepção do individualismo Triandis 1994 Os termos individualismo e coletivis mo desfrutavam de ampla tradição entre os séculos XVIII e XIX quando foram utiliza dos pela primeira vez Quanto ao vocábu lo individualismo Triandis 1994 salienta sua similaridade com o termo liberalismo em que há ideias de liberdade do indivíduo existência de grupos voluntários dos quais os indivíduos podem fazer parte ou não de acordo com seus desejos e participar de ati vidades que envolvem outros indivíduos Para Triandis 1995 o autoritarismo um termo contrastante com individualis mo renuncia a ideia de liberdade do indi víduo e requer que ele se submeta às vonta des de uma autoridade como a de um rei o que seria essencial para se evitar a anarquia Durante o século XVIII as ideias individua listas das revoluções americana e francesa resultaram em premissas que foram denomi nadas coletivismo O próprio modelo econô mico laissez faire contrasta com a suposição marxista coletivista de que o governo deve controlar os meios de produção Na política os termos capitalismo e fascismo em que o líder impõe sua vontade à nação e todos de vem submeter se a essa vontade reforçam a ideia de que têm tradição na história da humanidade Quanto às ciências sociais e à filosofia os termos individualismo e coletivismo têm sido usados com outros construtos semanti camente similares Triandis 1995 destaca a ampla utilização desses termos na litera tura por constituírem questões centrais de todas as ciências sociais funcionando como pontes entre as teorias da psicologia social desenvolvida no ocidente e as realidades so ciais no leste asiático Hofstede 1991 aponta diferenças fundamentais Quadro 163 entre socie dades consideradas coletivistas e individu alistas De modo geral para esse autor nas sociedades coletivistas as relações pessoais prevalecem sobre a tarefa que deveria ser primeiramente estabilizada ao passo que nas sociedades individualistas a tarefa pre valece sobre qualquer tipo de relação Triandis 1995 define o coletivismo como um padrão social que consiste em uma estreita ligação entre indivíduos que se veem como parte de uma ou mais coletivi dades família colegas de trabalho tribos nações Os indivíduos em culturas coleti vistas são prioritariamente motivados por normas e deveres impostos pelas coletivida des Por outro lado o padrão cultural de nominado individualismo pressupõe que os indivíduos consideram se independentes de coletividades e são prioritariamente motiva dos por suas próprias preferências necessi dades e direitos Em culturas individualistas a prioridade das metas é preferencialmente pessoal sobrepondo se às metas do grupo Segundo Triandis 1995 algumas características e manifestações específicas de individualismo coletivismo são aponta das na literatura como síndromes culturais Para ele a síndrome cultural é um padrão caracterizado pelo compartilhamento de crenças atitudes normas papéis e valores que são organizados acerca de um tema e que podem ser encontrados em certas regi ões geográficas durante um particular perí odo histórico p 44 Entretanto aponta a necessidade de se realizarem mais estudos sobre essas síndromes pois as investigações atuais produziram resultados que não evi denciaram robustez do conceito Além dis so tais estudos foram meramente realizados como síndromes culturais básicas sendo por fim influenciados por um número de fatores situacionais e de experiência Entre os atributos das dimensões in dividualismo e coletivismo apontados por Triandis 1995 destacam se quatro dimen sões universais do construto a definição do self como interdependente para o coletivismo e independente para o individualismo Markus e Kitayama 1996 O que para Triandis 1995 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 334 tOrres neiva cOLs reflete se em diversos aspectos da vida dos indivíduos incluindo a intensidade com que eles compartilham seus recursos com o grupo a que pertencem e o seu conformismo em seguir os padrões e normas desse grupo as metas pessoais e comuns ao grupo ten dem ao coletivismo enquanto o mesmo nem sempre ocorre com o individualis mo Um indivíduo pode identificar se com as metas do grupo e tê las como prioridade Quando estas são compatí veis com as próprias metas do indivíduo tem se o coletivismo ou do contrário o individualismo as cognições que abrangem normas obrigações e deveres guiam muito mais o comportamento social em culturas co letivistas ao passo que esse foco recai em atitudes necessidades pessoais direitos e contratos que guiam o comportamento social para culturas individualistas a ênfase nas relações mesmo quando considerada desvantajosa é comum nas culturas coletivistas Em contraste nas culturas individualistas a ênfase recai na quadro 163 DiFerenças entre sOcieDaDes inDiviDUaListas e cOLetivistas sociedades coletivistas individualistas as pessoas nascem em famílias extensas cada um deve preocupar se consigo mesmo e com a família mais próxima a identidade diz respeito ao grupo ao qual a identidade é baseada no indivíduo o indivíduo pertence O indivíduo aprende desde a infância a pensar a criança aprende a pensar em si própria em conjunto nós É necessário manter sempre a harmonia e É característico de pessoas honestas dizer o que evitar conflitos pensam a comunicação é de elevado contexto a comunicação é de baixo contexto a infração conduz a um sentimento de a infração conduz ao sentimento de culpa e à vergonha perante o próprio indivíduo e o perda do amor próprio grupo ao qual pertence a educação representa aprender como fazer a educação representa aprender a aprender Os títulos permitem ao indivíduo o acesso e Os títulos aumentam o valor econômico eou a permanência em grupos de status mais valor próprio do indivíduo elevados a relação empregador empregado é percebida a relação empregador empregado constitui um em termos morais com um vínculo familiar contrato com vantagens mútuas O recrutamento e a promoção levam em O recrutamento e a promoção são baseados consideração o grupo de pertença unicamente em competências e regras a gestão é voltada para grupos a gestão é voltada para indivíduos O relacionamento prevalece à tarefa a tarefa prevalece ao relacionamento Fonte Hofstede 1991 p 67 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 335 análise racional das vantagens e desvan tagens de se manter o relacionamento Estudos transculturais que têm por objetivo investigar as diferenças entre as culturas apontam o uso de vantagens e des vantagens Triandis 1995 destaca que as medidas dos quatro aspectos apontados an teriormente self metas pessoais e comuns aos grupos cognições e ênfase nas relações convergem entre si pois as dimensões in dividualismo e coletivismo são não apenas entidades intuitivas e teóricas mas também são definidas por esses aspectos Triandis McCusker e Hui 1990 afir mam que alguns estudos são realizados para mensurar individualismo e coletivismo uti lizando itens de atitudes mas ressaltam a necessidade de ampliar os métodos de men suração utilizando múltiplas estratégias No que diz respeito aos diferentes itens utiliza dos para o refinamento dessas dimensões tanto em estudos transculturais quanto em estudos que investigam determinada cultu ra os atributos são os elementos que melhor definem os construtos Quadro 164 Triandis McCusker e Hui 1990 sa lientam a necessidade de haver diferentes termos para as dimensões que são men suradas entre culturas e individualmente Para esses autores as medidas dos estudos transculturais correspondem ao individu alismo e ao coletivismo Estudos que têm por objetivo investigar essas manifestações no nível individual possuem atributos de personalidade denominados idiocentrismo e alocentrismo Assim individualismo e coletivismo são considerados termos gerais utilizados para as dimensões culturais no nível de sociedade Nessa direção Triandis e colaboradores 1985 também propõem a distinção entre os âmbitos de análise in quadro 164 atriBUtOs De inDiviDUaLismO e cOLetivismO seUs anteceDentes e cOnseQUentes antecedentes atributos consequentes individualismo afluência Desapego emocional a grupos socialização para autoconfiança complexidade cultural metas pessoais prioritárias às e independência caçabusca pela comida do grupo Boas habilidades quando entrar classe social alta comportamentos regulados em um novo grupo migração por atitudes e análise de solidão Urbanismo custo benefício exposição à mídia a confrontação é aceita coletivismo a unidade de sobrevivência integridade familiar socialização para obediência e é a comida do grupo O self é definido em termos dever agricultura do intragrupo sacrifício pelo grupo Famílias grandes a conduta é regulada pelas Foco em elementos comuns normas do grupo entre o grupo Hierarquia e harmonia conduta amistosa que reflete no grupo hieararquia suporte social e Distinções entre dentro do interdependência grupo e fora do grupo Fonte Adaptado de Triandis McCusker e Hui 1990 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 336 tOrres neiva cOLs dividual e cultural empregando a termino logia idiocentrismo e alocentrismo no nível individual Triandis 1995 sugere que entre os aspectos self metas pessoais e comuns aos grupos cognições e ênfase nas relações possa existir a possibilidade de examinar os diferentes tipos de individualismo e co letivismo Porém Singelis e colaboradores 1995 afirmam que apesar do potencial dessa abordagem ela envolve construtos muito amplos o que a torna limitada para a obtenção de resultados satisfatórios quanto à confiabilidade dos instrumentos utiliza dos Esses autores propõem o refinamento das dimensões individualismo e coletivismo em suas manifestações horizontal e vertical que serão descritas a seguir coletivismo e individualismo horizontal e vertical Os construtos individualismo e coletivismo relacionam se com inúmeros fenômenos sociais relações interpessoais na indústria padrões sociais de estatísticas de saúde formas de sistemas políticos entre outros Singelis e colaboradores 1995 objetivan do o refinamento dessas dimensões indi vidualismo e coletivismo e a melhoria de sua mensuração propuseram dois conceitos adicionais que descrevem suas variações culturais as definições vertical e horizontal de individualismo e coletivismo referindo se ao grau de aceitação e à desigualdade entre um grupo respectivamente Triandis 1995 define individualismo vertical IV como um padrão cultural em que é postulada a existência de um self au tônomo Além disso o indivíduo possui um status poder social mais ou menos igual aos dos outros membros Para o mesmo au tor individualismo horizontal IH refere se a um padrão cultural em que o indiví duo também é considerado independente e autônomo mas tem o mesmo status que os outros membros O Quadro 163 apre senta as principais características verticais e horizontais das dimensões individualismo e coletivismo Quanto à dimensão coletivismo Triandis 1995 define coletivismo horizon tal CH como um padrão cultural em que o indivíduo considera se membro similar aos outros membros do grupo Nesse padrão o self é considerado interdependente e os demais membros do grupo são percebidos como tendo o mesmo poder social A igual dade é a essência desse padrão Por outro lado para o padrão cultural coletivismo vertical CV o indivíduo também é con siderado membro do grupo porém existe uma diferença entre os membros alguns indivíduos possuem mais status que os ou tros A desigualdade é aceita nesse padrão e as pessoas não se veem iguais às outras Fiske 1992 propôs quatro padrões de relacionamentos sociais ligados à ne cessidade de distribuição de recursos No padrão compartilhamento comunitário os recursos são distribuídos conforme a neces sidade dos indivíduos que fazem parte do grupo No padrão posição hierárquica os recursos são distribuídos de acordo com a posição hierárquica que o indivíduo possui no grupo No padrão igualdade correspon dente o princípio da igualdade faz com que os recursos sejam compartilhados de forma igual Por fim no padrão preço de mercado os recursos são distribuídos observando se a equidade Rokeach 1973 identificou quatro ti pos de sistemas políticos referentes à impor tância dos valores de igualdade e liberdade Para tanto cruzou ambos os valores o que resultou em quatro formas de sistemas po líticos o comunismo com alta igualdade e baixa liberdade o facismo com baixa igual dade e baixa liberdade a democracia libe ral com baixa igualdade e alta liberdade e por fim o sistema social democrata com alta igualdade e alta liberdade Estudos que investigaram diferenças culturais vêm consolidando teorias base adas nas dimensões individualismo e co letivismo e em seus correlatos sociodemo gráficos Gouveia e Clemente 2000 nas variações horizontal e vertical Miranda INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 337 2001 Nogueira 2001 Torres 1999 Estes estudos serão descritos a seguir por estarem relacionados ao estudo da cultura brasileira e por adotarem a abordagem individualis mo e coletivismo que são o foco de estudo deste capítulo as novas formas de comunicação O volume e a riqueza de informação da atua lidade produziram necessidades de novas formas de comunicação A comunicação na era da tecnologia pode ser verificada por meio do uso de meios como internet intra net extranet correio eletrônico e mail videoconferência computação cooperativa e telecomunicação A Revolução Tecnológica trouxe consi go novos significados elevando a comunica ção aos mais altos patamares A importân cia de captar ideias ou conhecimentos em contextos diferentes levou ao aumento dos investimentos na tecnologia e nas pesquisas tecnológicas de comunicação pelos gover nos fomentando a sua modernização A co municação está intrinsecamente articulada a esse processo tornando o viável por meio da adequação às inovações tecnológicas e transformações culturais Recorremos aqui à definição de comu nicação de Davenport 2001 segundo a qual comunicar é um processo de transmis sãointercâmbio de informações oportuno quando relacionado à produção de conheci mento A produção de conhecimento e o pa radoxo da internet leva nos à seguinte refle xão a era da informação produz impacto na sociedade e no comportamento dos indiví duos Já que o conhecimento é a informação mais valiosa que inclui reflexão síntese e contexto como a internet estaria mediando tal processo Mattos 1999 trata das grandes mu danças que podem ocorrer nas empresas e nos empregos como resultado do crescimen to da internet e também analisa as empresas e profissões que podem desaparecer enquan to outras podem ser criadas Além disso faz a estimativa de que essas mudanças provavel mente ocorrerão nos próximos 30 anos Entre as mudanças comportamentais citadas pelo autor destaca se o acesso da população à internet como um dos fatores Fonte Singelis et al 1995 quadro 165 caracterÍsticas verticais e HOriZOntais DO inDiviDUaLismO e cOLetivismO vertical Horizontal individualismo coletivismo individualismo coletivismo interdependente e igual aos outros Divisão comunitária Paridade alta igualdade bai xa liberdade e vida comunitária independente e igual aos outros mercado igualdade elevada igualdade e liberdade socia lismo democrático interdependente e diferente dos outros Divisão comuni tária do poder da patente Baixa igualdade baixa liberdade e comunalismo independente e diferente dos outros mercado Poder da patente Baixa igualdade alta liberdade e democracia de mercado Abordagem de Triandis Abordagem de Fisk Abordagem de Rokeach Padrões culturais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 338 tOrres neiva cOLs que poderá provocar uma revolução cultu ral e comportamental na sociedade Mattos apresenta a diferença dos comportamentos no mundo real e no mundo virtual abordan do privacidade legislação censura frontei ras geográficas tempo acesso às pessoas mídia da informação sexo roubo e fraude rapidez de acesso compras pirataria gra tuidade etc O presente capítulo teve como objeti vo apresentar uma revisão bibliográfica de modo a proporcionar um caminho para que pesquisadores da área da psicologia social possam responder a questões associadas aos pensamentos sentimentos e comporta mentos dos indivíduos que influenciam e são mediados pela interação em determi nado grupo social a partir da comunicação Centramo nos nas questões relativas a como as pessoas em diferentes grupos e categorias sociais agem e pensam como os indivíduos percebem interpretam e representam o pró prio comportamento e o comportamento dos outros como as interações produzem repre sentações compartilhadas do mundo físico e social que se ajustam ao comportamento e ao pensamento como as pessoas formam um senso de quem são a partir da intera ção entre elas Apresentamos inicialmente distinções entre cultura valores humanos e posteriormente a comunicação sob o enfo que da cultura como variável que influencia os sistemas sociais reFerências ADLER RB TOWNE N Comunicação interpes soal Rio de Janeiro LTC 2002 BERLO DK O processo da comunicação São Paulo Martins Fontes 1991 CARDON PW A critique of Halls contexting mo del a metaanalysis of literature on intercultural business and technical communication Journal of Business and Technical Communication v 22 n 4 p 399428 2008 CHINESE CULTURE CONNECTION Chinese va lues and the search for culturefree dimensions of culture Journal of CrossCultural Psychology v 18 n 2 p 143164 1987 DAVENPORT TH Ecologia da informação 3ed São Paulo Futura 2001 DENCKER AFM Novas tendências da pesquisa em comunicação no Brasil preferências temáticas da geração emergente Intercom Revista Brasileira de Ciências da Comunicação São Paulo v 31 n 1 janjun 2008 FINK G MAYRHOFER W Intercultural issues in management and business the interdisciplinary challenge In COOPER CL CARTWRIGHT S EARLEY PC Handbook of organizational culture and climate Londres Wiley 2001 FISKE AP The four elementary forms of sociality framework for a unified theory of social relations Psychological Review v 99 p 689723 1992 GEERTZ C The interpretation of cultures Nova York Basic Books 1973 GOUVEIA VV CLEMENTE O individualismo coletivismo no Brasil e na Espanha correlatos sociodemográficos Versão eletrônica Estudos de Psicologia Natal v 5 n 2 juldez 2000 HALL ET The silent language Nova York Dou bleday 1959 HALL ET The hidden dimension Nova York Doubleday 1966 HERSKOVITS MJ Man and his works the science of cultural anthropology Nova York Alfred A Knopf 1960 HOFSTEDE G Culture consequences 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Atlas 2007 MARKUS HR KITAYAMA SRJ Culture and basic psychological principles In HIGGINS ET KRUGLANSKI AW orgs Social psychology handbook of basic principles Nova York Guilford 1996 p857913 MATTOS AC Empregos e empresas que muda rão com a internet Revista de Administração de Empresas RAE São Paulo v 39 n 3 p 73108 julset 1999 MIRANDA OR Using a web survey on research of cultural patterns a study among undergraduate students from a brazilian public university Anais da XXVIII Reunião Interamericana de Psicologia Santiago Chile SIP 2001 NOGUEIRA AH Padrões culturais e normas para comportamentos de lideranca um estudo compara tivo entre empregados de empresas de previdência privada do Brasil e dos Estados Unidos Dissertação Mestrado Departamento de Administração Universidade de Brasília Brasília 2001 PIMENTA MA Comunicação empresarial São Paulo Editora Alínea 2002 ROBBINS H Como ouvir e falar com eficácia Rio de Janeiro Campus 1994 ROBERT CA Organizational reflections of socio cultural 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Desde a consolidação do campo do com portamento organizacional proposto na década de 1960 por pesquisadores ingleses tem sido crescente o reconhecimento das contribuições das diversas disciplinas para seu fortalecimento teórico e metodológico Siqueira 2002 afirma que esse fortaleci mento deveu se principalmente ao desloca mento para o âmbito do interesse do com portamento organizacional de temas que antes isolados compunham áreas distintas do conhecimento Em uma das mais conhecidas defini ções presentes na literatura Staw 1984 conceitua o comportamento organizacio nal como um campo multidisciplinar que investiga não só o comportamento dos in divíduos em ambientes organizacionais como também a própria estrutura das or ganizações e seu comportamento Além de conceituá lo ele o distingue em duas grandes áreas A primeira denominada de macrocomportamento organizacional diria respeito às teorias organizacionais e traria em seu bojo contribuições de disciplinas como a Sociologia as Ciências Políticas e a Economia ocupando se de investigações acerca da estrutura do design e das ações organizacionais A segunda área denomi nada de microcomportamento organizacio nal teria como contribuições importantes as proposições da Psicologia e se ocuparia tanto das atitudes e dos comportamentos individuais quanto da influência sofrida por eles pelos sistemas organizacionais Embora tenha recebido diversas con ceituações ao longo destes 20 anos as di versas definições não deixaram de caracteri zar o comportamento organizacional como campo de conhecimento multidisciplinar nem de distingui lo em subáreas ou níveis de atuação com contribuições de diversas disciplinas Robbins 1999 define o como um campo de investigação sobre a influên cia que os indivíduos os grupos e a estru tura organizacional exerceriam nos diversos comportamentos intraorganizacionais O autor propõe um modelo para os estudos organizacionais especificando temas de interesse e variáveis que comporiam os três níveis de análise propostos Para o ní vel individual primeiro nível ele postula que variáveis biográficas atitudes valores pessoais e habilidades que influenciariam percepções motivações e aprendizagem seriam os temas de interesse Já para o nível grupal segundo nível o tema de interesse seria basicamente a tomada de decisão em grupo Subtemas como comuni cação liderança e conflito também fariam parte dessa área O nível organizacional terceiro nível teria como interesse as po líticas de recursos humanos a estruturação e o dimensionamento organizacionais bem 17 aPLicações Da PsicOLOGia sOciaL às OrGaniZações sinésio gomide Junior áurea de Fátima oliveira Mirlene Maria Matias siqueira INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 341 como a cultura das organizações e seus desdobramentos Em sintonia tais estas proposições Wagner III e Hollenbeck 1999 além de conceituarem três níveis do comportamen to organizacional apontam as disciplinas que lhes são pertinentes Naquela que tal vez seja hoje a proposição mais difundida os autores o definem como um campo de estudos que busca prever explicar com preender e modificar o comportamento humano em ambientações organizacionais Esse campo se configuraria em três níveis micro organizacional meso organizacional e macro organizacional O primeiro nível teria contribuições teóricas centradas na psicolo gia e focalizaria os aspectos psicossociais dos indivíduos e as dimensões de sua atuação no contexto organizacional O segundo nível diria respeito aos processos de grupo e equi pes de trabalho e traria contribuições pos tuladas pela Antropologia pela Sociologia e pela Psicologia Social O terceiro nível traria contribuições da Antropologia das Ciências Políticas e da Sociologia tendo seu foco de investigação na organização como um todo Conforme Siqueira 2002 os primeiros níveis postulados por ambos os modelos in dividualmicro organizacional de estrutura ção coincidem com o campo de investigação da psicologia organizacional Além disso em ambos os modelos propostos são apontados como resultados outputs da interdependên cia de todas as variáveis incluídas nos mo delos os critérios de desempenho individual absenteísmo satisfação rotatividade e pro dutividade também coincidentes com o que tradicionalmente a psicologia organizacional investiga ao longo de sua história Dessa forma o campo conhecimento multidisciplinar atualmente denominado de comportamento organizacional sofre influ ências diretas dos pressupostos temas e ob jetivos de investigação de áreas da psicologia que além de contribuir para a estruturação dos níveis mais voltados para critérios indivi duais de análise ainda contribui para a estru turação dos níveis intermediários referentes ao trabalho de equipes e grupos Nesse nível em ambos os modelos propostos a psicolo gia social tem presença marcante seja como disciplina autônoma seja como área do co nhecimento que se ocupa da compreensão de mecanismos de interações humanas bidi recionais que explicariam fenômenos como liderança tomada de decisão e atração A interdependência entre a psicologia social e a psicologia organizacional tem sido reconhecida já há bastante tempo Borges Andrade e Zanelli 2004 postulam que boa parte do corpo teórico assim como dos métodos de investigação da psicologia organizacional são oriundos da psicologia social Temas como percepção atitudes tro cas notadamente de ordem social jus tiça categorização e representação bastan te investigados no âmbito das organizações de trabalho tiveram suas raízes na psico logia social e foram posteriormente trazidos para o escopo de conhecimentos da psicolo gia organizacional Métodos investigativos também tiveram uma trajetória parecida Estudos experimentais quase experimentais e correlacionais além do emprego da psi cometria como importante instrumento de investigação largamente empregado por pesquisadores organizacionais tiveram suas raízes também na psicologia social Essa interdependência hoje reconhe cida já havia sido postulada por Rodrigues 1981 ao afirmar ser a área da psicologia das organizações aquela que fazia mais apelo às contribuições da psicologia social Embora reconhecesse ser a psicologia orga nizacional devido a seus avanços uma área independente o autor afirmava que o seu impacto era indiscutível e listava os pos tulados sobre os fenômenos grupais como aqueles de maior contribuição Os avanços conhecidos pela psicologia organizacional notadamente após a introdução do para digma cognitivista e do enfoque sistêmico acabaram por demonstrar que a influência da psicologia social no estudo de fenôme nos humanos nas organizações de traba lho era ainda maior que o preconizado por Rodrigues 1981 É sobre alguns desses fe nômenos e sobre a influência da psicologia social em suas investigações que se falará a seguir INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 342 tOrres neiva cOLs troca e reciProcidade Duas das mais importantes teorias da psi cologia social dizem respeito à tendência dos indivíduos em ajudar seus semelhantes Reunidas sob o rótulo de comportamentos pró sociais definidos como aqueles atos executados com o objetivo de beneficiar alguém Rodrigues Assmar e Jablonsky 2000 as teorias da troca social e do altruís mo têm impactos indiscutíveis na psicologia organizacional Rodriges e colaboradores 2000 afir mam ser a teoria da troca social uma das mais conhecidas da psicologia social Conforme seus postulados as interações humanas são concebidas como uma troca de recursos so ciais psicológicos ou materiais orientadas por uma economia social Nessa intera ção os indivíduos valem se de uma estra tégia minimax minimizando os custos e maximizando as recompensas Assim uma relação interpessoal continuará se for lucra tiva para ambas as partes envolvidas mas será interrompida se ambas as partes ou uma delas acreditarem que a relação não está sendo suficientemente compensadora Essas mesmas premissas norteiam os pres supostos que explicariam as ações altruístas Entende se por altruísmo qualquer ato per petrado por um indivíduo que beneficia ou trem sem que esse ato traga benefício para aquele que o perpetrou trazendo contudo algum custo pessoal Os atos pró sociais encontram supor te teórico na norma da reciprocidade que segundo Gouldner 1960 consiste em aju dar aquele que no passado ajudou ou que se julga poder ser ajudado no futuro O autor afirma que essa norma é universal sendo essencial na manutenção de relações sociais estáveis e atingindo todas as esferas sociais Rodrigues e colaboradores 2000 a deno minam de preceito da mutualidade Na esfera dos estudos organizacionais Siqueira e Gomide Jr 2004 propõem que a teoria da troca e a norma da reciprocida de estariam na base dos vínculos que o in divíduo desenvolve com a organização que o emprega Conforme os autores a relação entre o empregado e seu sistema emprega dor assenta se em trocas com caráter econô mico e social A troca econômica refere se a uma barganha entre as partes e toma o feitio de um contrato quando cada uma das partes conhece o que deve oferecer e receber da outra A permuta econômica é realizada com base em um contrato formal firmado entre as partes envolvidas enquanto a troca social por outro lado não está conforme re gras e contratos acontecendo com base na confiança e na boa fé que se instalam entre duas partes Ela envolve oferta de favores que criam futuras obrigações não especifi cadas sendo a natureza da retribuição dei xada a cargo daquele que deverá retribuir A troca social estaria fundamentada por tanto na confiança mútua incluindo como material de barganha social recursos pouco definidos em termos de natureza valor e época de oferta Mesmo sem qualquer prescrição o princípio da reciprocidade ou mutualidade é evocado em situações sociais diversas sem pre que uma pessoa beneficia outra pessoa O princípio não prescreve como moralmen te desejável a oferta de ajuda nas relações sociais mas normatiza o comportamento do receptor prescrevendo como obrigação moral a retribuição do benefício recebido Siqueira e Gomide Jr 2004 supõem que o conhecimento humano sobre troca social esteja cognitivamente estruturado através da interdependência de vários esquemas específicos O esquema mental de reciproci dade seria estruturado a partir do entrelaça mento de conceitos como doador receptor retribuição obrigatoriedade credor e deve dor Quatro desses conceitos indicam tipos de papéis sociais doador receptor credor e devedor enquanto dois descrevem a natureza da interação social retribuição e obrigatoriedade Com base nessa concep ção cognitivista o princípio de reciprocida de seria um conhecimento social formatado mentalmente como um esquema matricial a partir do qual são interpretadas relações sociais em contextos diversos especialmen te relações de troca social entre indivíduo e organização Figura 171 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 343 No contexto de troca social com a or ganização o esquema mental de recipro cidade do empregado seria ampliado para abarcar conceitos que descrevam possíveis papéis sociais intercambiáveis de dois atores empregado e organização quatro papéis do empregado doador receptor devedor e credor e quatro da organização doadora receptora devedora e credora Também fazem parte do esquema as noções sobre re tribuições dos dois atores e respectivas obri gações A alternância dos papéis de doador e receptor percebidos pelos empregados teria impactos diretos tanto nas expectati vas de retornos organizacionais benefícios e reconhecimento por exemplo quanto em relação aos próprios desempenhos Siqueira 2005 retomando o con ceito de esquema mental de reciprocida de propõe que o empregado na condição de recebedor desenvolveria crenças acerca dos retornos organizacionais que diriam respeito à valorização por meio da organi zação de suas contribuições e do cuidado que ela dispensaria à sua promoção e ao seu bem estar Essas crenças globais foram de nominadas por Eisenberger e colaboradores 1986 de percepção de suporte organizacio nal Conforme Siqueira 2005 a norma da reciprocidade poderia explicar o surgimento dessas crenças na medida em que seriam per cepções genéricas sobre intenções e atos or ganizacionais direcionadas a ele empregado a partir de como os dirigentes organizacio nais praticariam as políticas e os procedimen tos de gestão de pessoas atribuindo à organi zação características humanas e acreditando manter relações sociais com ela Por outro lado o empregado na con dição percebida de doador desenvolveria crenças de obrigação retribuitivas à organi zação atribuindo lhe a ela o papel de credo ra Assim o empregado agora doador se colocaria como devedor moral atribuindo se a obrigação de retribuir favores Essa crença impactaria de modo contundente o desem penho do empregado Para Allen e Meyer 1996 a primeira forma de retribuição do empregado se configuraria no próprio ato de continuar trabalhando para a organiza ção que o emprega Esse débito moral gera ria o comprometimento organizacional nor mativo definido por Siqueira 2002 como as crenças do empregado acerca da dívida social para com a organização ou a obriga toriedade de retribuir um favor Assim o de sempenho do empregado seria parcialmente explicado pelas crenças que ele desenvolve no decorrer do relacionamento com a or ganização a respeito da qualidade e da in tensidade das trocas entabuladas entre eles Siqueira e Gomide Jr 2004 Justiça A primeira ideia de que os indivíduos em seus relacionamentos sociais pesariam cog Figura 171 esquema mental de reciprocidade Fonte Siqueira e Gomide Jr 2004 Doador Credor Receptor Devedor Retribuições obrigatórias Doações INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 344 tOrres neiva cOLs nitivamente seus investimentos e seus re tornos nessas relações foi apresentada por Adams 1963a ao preconizar que a decisão de permanecerem ou não nesses relaciona mentos dependeria do grau de justiça que pudesse ser percebida por tais indivíduos Assim em uma relação social o indivíduo nela permaneceria se percebesse que seus investimentos fossem proporcionais aos in vestimentos do outro Caso contrário esse indivíduo desenvolveria estratégias cogni tivas de compensação que caso falhassem o levariam a desistir desse relacionamento Com seu trabalho o autor introduziu no campo da psicologia social uma temática que se mostrou bastante frutífera nas déca das posteriores com desdobramento tanto na própria psicologia social quanto em ou tras áreas notadamente na psicologia orga nizacional e do trabalho Os pressupostos de Adams ficariam circunscritos à psicologia social até meados da década de 1970 quando os horizontes de seu trabalho foram ampliados para a discus são sobre os impactos da percepção de jus tiça no desempenho produtivo de pequenos grupos Nessa época as preocupações dos autores ganhariam dois novos rumos a bus ca de compreensão acerca dos critérios de alocação de recompensas percebidas como justas e o impacto da distribuição dessas re compensas sobre o desempenho dos grupos em tarefas predeterminadas As pesquisas apontaram que indivíduos em situação de ganho preferiam o critério da proporciona lidade na distribuição de recompensas ou seja preferiam que as recompensas fossem distribuídas conforme o empenho o esforço ou a efetiva participação de cada um no êxi to da empreitada Por outro lado indivíduos com perdas prefeririam o critério da igual dade na distribuição desse prejuízo Além desses dois critérios de alocação de recom pensas pesquisou se também um terceiro o critério da necessidade segundo o qual os indivíduos envolvidos em dada tarefa perce beriam recompensas conforme as necessida des pessoais de cada um A partir da definição desses três cri térios de alocação de recompensas pro porcionalidade igualdade e necessidade os pesquisadores buscaram identificar o impacto de cada um deles no desempenho do grupo na tarefa As pesquisas demonstra ram que desempenhos produtivos ocorriam quando os indivíduos percebiam que o cri tério da proporcionalidade era o escolhido para alocar recompensas Já desempenhos cooperativos eram obtidos quando o crité rio percebido era o da igualdade enquanto desempenhos que visassem ao bem estar do grupo eram obtidos quando o critério perce bido fosse o da distribuição de recompensas conforme a necessidade de cada membro Ainda na década de 1970 uma tercei ra linha de pesquisa começou a despontar Dessa vez os pesquisadores pretendiam compreender quais seriam os determinantes ou antecedentes que levariam os indivíduos a perceber como justa uma retribuição de recompensas às quais estivessem submeti dos Os pesquisadores da época encontra ram em uma obra fora do âmbito da psico logia pressupostos que vinham ao encontro de tais indagações Em 1971 é publicada A theory of justice obra na qual seu autor o filósofo John Rawls propunha critérios que funcionariam como pré condições para que uma distribuição de recompensas fosse percebida como justa O autor começa por propor a existên cia de não apenas uma mas de duas justiças conceitualmente e temporalmente distintas a justiça de distribuição definida como a distribuição de bens escassos e a justiça dos procedimentos definida como a esco lha dos procedimentos na seleção do crité rio de distribuição Para ele um critério de distribuição de bens seria em princípio justo quando precedido por procedimentos de escolha honestos Procedimentos hones tos ainda conforme o autor seriam tentati vas de indivíduos livres racionais e iguais que não pudessem exercer qualquer poder de coerção sobre os outros de determinar regras básicas mutuamente aceitáveis para que suas instituições pudessem deliberar de forma imparcial não distorcida por consi derações de interesses especiais O filósofo advoga que procedimentos honestos seriam INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 345 concebidos por uma sociedade que perce besse nas regras de condutas o papel de amálgama no alcance da cooperação social e que teria como objetivo maior determinar a divisão de vantagens e assegurar um acor do para a partilha correta Em 1975 Thibaut e Walster intro duziram no âmbito da psicologia social o termo justiça dos procedimentos inves tigando a percepção de justiça de partes envolvidas em um processo judicial frente a decisões tomadas por juízes em tribu nais norte americanos Pesquisas voltadas à compreensão dos mecanismos envolvidos nas relações sociais encontraram campo fér til nas organizações tendência já antevista por Adams ainda no princípio dos anos de 1960 ver Adams 1963b Adams e Jacobsen 1964 principalmente depois da assunção pelos psicólogos do paradigma cognitivista e do enfoque sistêmico que redefiniu o con ceito de organizações de trabalho como um sistema de relacionamentos sociais inter relacionados Diante dessas perspectivas os estudos que tinham por objetivo associar altos de sempenhos individuais aos sistemas produ tivos encontraram nas investigações sobre justiça ou percepção de justiça importan tes indicadores que poderiam decidir sobre questões que até aquele momento estavam em aberto A vinculação da força de trabalho a um sistema empregador era uma delas De acordo com Siqueira e Gomide Jr 2004 as pesquisas da década de 1970 pretendiam identificar principalmente o poder de predição da percepção de justi ça acerca da distribuição sobre critérios de desempenho As pesquisas demonstraram que aqueles trabalhadores que perceberam estar sendo retribuídos por suas organiza ções de trabalho conforme seus esforços no alcance dos objetivos eram também aqueles com melhor desempenho Não houve tra balhos que desmentissem tal constatação Rotatividade no trabalho absenteísmo sa tisfação e comprometimento organizacional foram os primeiros temas a serem correla cionados com a percepção de justiça de dis tribuição Em 1979 por exemplo Dittrich e Carrel constataram que apenas a percepção de equidade explicou tanto o absenteísmo quanto a rotatividade ou seja trabalhado res que abandonaram o trabalho e também aqueles que mais faltavam não percebiam equidade na distribuição de recompensas nesse caso salários e promoções em suas organizações Resultados bastante seme lhantes foram encontrados em outros tra balhos quando investigaram quais seriam os melhores preditores de satisfação com o salário intenção de permanecer na organi zação e apresentação de comportamentos extra papel Expectativa dos empregados versus retorno organizacional foi um tema bastante frequente na literatura quando se investigava a percepção de justiça na dis tribuição de recompensas Dentre diversos trabalhos vale destacar os de Witt e Wilson 1989 Witt e Broach 1992 e os de Paz 1993a 1993b Em todos eles constatou se que empregados que perceberam justi ça nos retornos organizacionais salários benefícios avaliações de desempenho etc eram aqueles que além de altos níveis de satisfação no trabalho eram os mais com prometidos com suas organizações e tam bém aqueles que nutriam expectativas posi tivas frente a estes retornos Estes trabalhos abriram nova frente de pesquisas sobre o tema da justiça A partir do início da década de 1990 elas passaram a investigar não apenas a determinação da percepção de justiça de distribuição sobre critérios organizacionais mas também os aspectos organizacionais que impactassem tal percepção As pesquisas que visavam a investigar os antecedentes da percepção de justiça de distribuição raramente o faziam sem que a percepção de justiça dos proce dimentos estivesse presente Assim talvez os mais importantes trabalhos e também os mais contemporâneos trouxeram evidências sobre o impacto de ambas as percepções de justiça sobre critérios organizacionais A partir da introdução do termo justi ça de procedimentos por Thibaut e Walster em 1975 também houve a publicação de vários trabalhos que abordavam essa temá tica nos contextos organizacionais Os pri INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 346 tOrres neiva cOLs meiros trabalhos sobre percepção de justiça dos procedimentos investigaram os fatores que levariam o indivíduo a perceber como justas as etapas anteriores à distribuição de recompensas Os achados foram sinteti zados por Leventhal 1980 para quem os procedimentos seriam percebidos como jus tos quando atendessem a seis condições 1 consistência das regras utilizadas ao longo do tempo e independentemente das pes soas às quais se dirigissem 2 supressão dos vieses determinados por atitudes ou opiniões das pessoas respon sáveis pelas tomadas de decisão 3 precisão nas informações prestadas aos indivíduos afetados pelas decisões toma das 4 resultados positivos nas decisões 5 representatividade dos indivíduos afeta dos pelas decisões na formação do grupo de pessoas responsáveis pelas tomadas de decisões e 6 manutenção de padrões éticos e morais A percepção de justiça dos procedi mentos provou se ótima preditora de im por tantes critérios organizacionais Com prometimento profissional desempenho comprometimento organizacional afetivo intenção de rotatividade e comportamentos de cidadania organizacional foram alguns dos importantes critérios que se mostraram fortemente correlacionadas à percepção de justiça dos procedimentos Bies e Moag 1986 apud Gomide Jr 1999 preconizaram a existência de dois tipos de justiça de procedimentos a per cepção de justiça formal dos procedimen tos definida como o efetivo emprego pela organização dos critérios de alocação de recompensas existentes e a justiça intera cional dos procedimentos definida como o tratamento digno e honesto dispensado pelo supervisor ao empregado Essa hipótese foi amplamente investigada posteriormente e confirmada por diversos autores O efeito interativo das percepções de justiça de distribuição e de procedimentos foi investigado por Gomide Jr 1999 Ele re lata que quando confrontadas com a inten ção do indivíduo em deixar a organização a percepção de justiça dos procedimentos formais exerceu maior poder de explicação do que a de distribuição Nesse caso o autor destaca que a percepção de cultura exerceu efeito moderador entre a percepção de jus tiça dos procedimentos formais e a intenção de abandonar a organização Comprometimento e cooperação tam bém têm sido apontados como sendo for temente influenciados pela percepção de justiça dos procedimentos Trabalhos mais recentes Rego 2000 Filenga 2003 têm demonstrado que os vínculos do indivíduo com a organização como o comprometi mento organizacional afetivo são mais de terminados pela percepção de justiça dos procedimentos enquanto os comprometi mentos organizacionais calculativo e norma tivo sofrem maior influência da percepção de justiça distributiva Por outro lado a coo peração voluntária de empregados foi mais fortemente influenciada pela percepção de justiça dos procedimentos enquanto a coo peração compulsória faço o que mandar foi mais influenciada pela percepção de jus tiça de distribuição Os estudos sobre as percepções de jus tiça em ambiente organizacionais têm de monstrado que elas são poderosos determi nantes de vínculos empregado organização e que esses vínculos por sua vez apresen tam naturezas diferenciadas Assim víncu los de natureza mais egoísticas que levam em conta satisfações mais pontuais estão relacionados à percepção de justiça de dis tribuição enquanto vínculos mais altruísti cos normalmente calcados em valores mais sociais estão relacionados à percepção de justiça dos procedimentos Dessa forma sa tisfação no trabalho satisfação com salários comprometimento organizacional calculati vo e normativo e cooperação compulsória estão diretamente relacionados à percepção de justiça de distribuição Conforme Rego 2000 a característica comum desses vín culos é a ação a curto prazo por parte do empregado Por outro lado comprometi mento organizacional afetivo confiança INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 347 no supervisor cidadania organizacional e cooperação espontânea estão diretamente relacionados à percepção de justiça dos pro cedimentos O autor caracteriza a natureza dessas vinculações empregado organização como de longo prazo implicando por parte do empregado um maior conhecimento dos valores e ações organizacionais A Figura 172 apresenta uma síntese desses achados Poder Definida como o estudo científico da influ ência recíproca entre as pessoas e do pro cesso cognitivo gerado por essa interação Rodrigues et al 2000 a psicologia social encontra nas teorias de influência social um de seus mais importantes e consistentes pos tulados O processo de influência seria uma constante nos relacionamentos humanos modificando atitudes crenças e inclusive comportamentos mesmo que de maneira não intencional Guimarães 2007 afirma que as pri meiras postulações sobre o tema tiveram origem fora da psicologia Conforme a auto ra os estudos sobre esse fenômeno estariam inicialmente fundamentados na filosofia na sociologia e nas ciências políticas e também se concentravam no âmbito estatal Estado e Clero só mais tarde foram ampliados para outras entidades sociais que detêm a capacidade de modificar os resultados os comportamentos e as decisões das pessoas como as organizações de trabalho Paz Martins e Neiva 2004 salientam que no campo da psicologia social duas proposições teóricas merecem destaque quando se investiga o processo de influência inter e intragrupos organizacionais a teoria da troca e a teoria do poder social A teoria da troca ou da dependência de Thibaut e Kelley 1959 postula que os relacionamen tos estabelecidos entre os membros de um grupo são caracterizados como de poder e dependência A teoria pressupõe que as in terações sociais explicam se em termos de resultados colhidos pelas partes envolvidas em uma relação sendo esses resultados analisados em função de custos e recompen sas Segundo as autoras a avaliação dessa relação de custo benefício é influenciada pela percepção que se tem de que os resulta Figura 172 antecedentes e consequentes das percepções de justiça nas organizações Fonte Siqueira e Gomide Jr 2004 Políticas e estruturas organizacionais tradicionais Incentivos econômicos Participação Ações a longo prazo Clareza nas expectativas Valores sociais Satisfação no trabalho Cooperação compulsória Comprometimento calculativo Comprometimento normativo Satisfação com as expectativas Comprometimento organizacional afetivo Cooperação voluntária Comportamentos de cidadania organizacional Baixo absenteísmo e rotatividade Confiança no supervisor Autoestima Desempenho a longo prazo Envolvimento com o trabalho Percepção de justiça de distribuição Percepção de justiça dos procedimentos formais Percepção de justiça dos procedimentos interacionais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 348 tOrres neiva cOLs dos obtidos nas interações são dependentes dos indivíduos decorrentes de fatores sobre os quais há controle ou se são ocasionais imponderáveis e alheios ao próprio contro le Quando a pessoa tem o controle dos re sultados que obtém em suas interações ela ajusta seu comportamento a fim de manter melhores resultados Na situação inversa quando os resultados não são controlados pela própria pessoa mas sim pelo exercício de controle de terceiros só lhe resta reco nhecer a existência desse controle externo e a ineficácia dos seus esforços A segunda proposição teórica de desta que na psicologia social é a teoria do poder social Os autores abordaram o poder confor me um foco social interpessoal estudando como uma pessoa exerce poder sobre a outra O influenciador utiliza fontes de poder con troladas denominadas bases de poder que su postamente influenciariam atitudes ou com portamentos da outra pessoa Guimarães 2007 Os autores tentaram a princípio identificar os tipos de bases de poder pre sentes em uma relação diádica definindo as no intuito de analisá las ou compará las aos efeitos e às mudanças produzidas nesse processo Postulam que as bases de poder são insumos que geram dependências da outra parte ou seja são fontes utilizadas por uma pessoa para influenciar a outra e para conse quentemente alcançar seus objetivos A base de poder é definida por French e Raven como a fonte do poder presente em uma re lação entre O e P Eles afirmam que possivel mente haja diversas bases de poder distintas mas propuseram cinco tipos principais po der de recompensa poder de coerção poder de legitimidade poder de perícia e poder de referência Estas bases de poder estão descri tas no Quadro 171 French e Raven definem o poder de recompensa como estando baseado na ha bilidade de recompensar Esse tipo de base de poder só ocorre quando o sujeito P per cebe que o agente O é capaz recompensá lo ou de suprimir punições em determina das situações Um exemplo comum do uso do poder de recompensa é a remuneração por produção adotada por várias empre sas para incentivar o aumento na produção Guimarães 2007 quadro 171 tiPOs De Bases De PODer PrOPOstOs POr FrencH e raven 1959 tipos de bases de poder características 1 recompensa Baseada na percepção do sujeito quanto à capacidade que o agente influenciador tem de recompensá lo ou de suprimir punições destinadas a ele 2 coerção Baseada na percepção do sujeito quanto à capacidade que o agente influenciador tem de puni lo ou de retirar dele benefícios e recompensas 3 Legitimidade Baseada na percepção do sujeito de que o agente influenciador tem o direito legítimo de lhe dar ordens as quais ele tem obrigação de cumprir 4 Perícia Baseada na percepção do sujeito de que o agente influenciador detém um conhecimento especial reconhecido por ele 5 referência Baseada na identificação do sujeito com o agente influenciador ou ao desejo de ser associado com ele Fonte Guimarães 2007 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 349 O poder de coerção é similar ao poder de recompensa pois também envolve a ha bilidade do agente O de manipular valên cias importantes para o sujeito P Nesse caso o poder de coerção de O sobre P está base ado na expectativa que P tem de que será punido por O caso venha a falhar O sujei to P terá então nessas condições valências negativas que correspondem à ameaça de punição de O Relacionando esses tipos de bases de poder com as dimensões que os compõem Rodrigues e colaboradores 2000 afirmam que os poderes de recompensa e de coerção apresentam a característica de serem pú blicos ou seja eficazes apenas quando sob supervisão ou vigilância do agente influen ciador e dependentes da possibilidade de o agente influenciador recompensar ou punir o indivíduo O poder de legitimidade é considera do por French e Raven 1959 como a base de poder mais complexa devido à sua ori gem em normas e estruturas sociológicas Relaciona se com o sentimento de dever e com as crenças que o indivíduo aceita e respeita Esse conceito é similar à noção de legitimidade de autoridade explorada pela Sociologia noção esta fundamentada em certo tipo de código de conduta aceito pelo indivíduo por meio do qual o agente externo O afirma o seu poder O poder de referência está relacionado à identificação de P com o agente O Se O é uma pessoa pela qual P se sente altamente atraído P busca estar estreitamente associa do a O Se O é um grupo atrativo para P este demonstrará um desejo de pertencer ao grupo Se P já faz parte do grupo O ele terá o desejo de manter essa relação O poder de perícia tem como base o co nhecimento ou a perícia de O em certa área de interesse de P Esse poder varia de acordo com o grau de conhecimento que o sujeito P atribui ao agente O em determinada área No âmbito organizacional o estudo do poder distingue se em duas vertentes o in dividual claramente inspirados na psicolo gia social e o grupal com postulados teóri cos oriundos da sociologia e antropologia Em sua vertente individual poder é a pos sibilidade de induzir forças em uma certa magnitude sobre certa pessoa Paz Martins e Neiva 2004 Por outro lado quando o poder é analisado em seu âmbito grupal ele é basicamente um jogo político executado com vistas a alcançar objetivos e assegurar ou mudar resultados O funcionamento dos diversos grupos com interesses também diversos que cons tituem as organizações é essencial para di namizar seu cotidiano uma vez que através deles a organização objetiva dividir tarefas e distribuir trabalho gerenciar e controlar atividades solucionar problemas e tomar decisões alimentar a rede de informação angariar ideias e sugestões testar e ratificar decisões encorajar compromisso e envolvi mento maiores coordenar atividades de di ferentes funções e áreas negociar e resolver conflitos Logo o funcionamento dos grupos também é importante para os próprios indi víduos que o formam visto que satisfazem suas necessidades sociais e de afiliação con tribuem para a formação do autoconceito no trabalho auxiliam o alcance de objetivos particulares além de se constituírem em um meio de auxiliar e compartilhar objetivos comuns produtividade ou realização pro fissional e pessoal atitudes atribuição de causalidade e lócuS de controle O estudo das atitudes mostrou se tão cen tral na psicologia social que ela chegou a ser denominada em outros tempos como a ciência das atitudes Rodrigues et al 2000 Ao entrarem em contato com seus ambientes sociais as pessoas formam im pressões sobre as outras e procuram meios econômicos de reconhecer seu ambiente utilizando se de esquemas sociais heurísti cos e atribuição diferencial de causalidade Uma das consequências diretas do processo de socialização humana é a formação de ati tudes decorrentes de processos comuns de aprendizagem Reforço modelagem aten INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 350 tOrres neiva cOLs dimento de funções sociais consequências de pressões sociais ou decorrentes de pro cessos cognitivos ou de personalidade são algumas das fontes da formação de atitudes apontadas pelos pesquisadores Embora sejam inúmeras as definições de atitudes parece ser ponto comum a con vergência na definição de suas estruturas As atitudes assim teriam como elementos formadores uma organização duradoura de crenças e cognições em geral uma carga afetiva pró ou contra uma predisposição à ação e por fim uma direção a um objeto social O elemento cognitivo seria composto por conhecimentos crenças e opiniões acer ca de um objeto social De posse dessas cog nições o indivíduo desenvolveria uma carga afetiva coerente às cognições em relação a esse objeto predispondo se a se comportar de forma pró objeto no caso de cognições e afetos positivos e contrariamente ao obje to no caso de cognições e afetos negativos Essa visão conceitual de atitudes é hoje con siderada clássica Em 1975 Fishbein e Ajzen propuse ram uma nova conceituação ao delinear uma teoria que tentou explicar os determi nantes do comportamento do consumidor Para os autores a atitude seria unidimen sional e formada por avaliações positivas ou negativas direcionadas a um comportamen to e não a um objeto social amplo ou pouco delimitado Conforme o modelo previsto o comportamento humano seria diretamente determinado pela intenção de se compor tar que por sua vez seria antecedida pela atitude do indivíduo e pela motivação para concordar com as expectativas que ele per cebe que as pessoas nutrem em relação ao seu comportamento Ambas as avaliações seriam precedidas por dois tipos de crenças crenças relativas às consequências do com portamento e crenças relativas ao que as pessoas pensam sobre o comportamento Esse modelo tem forte influência nos pressupostos teóricos da psicologia orga nizacional De um lado o encadeamento crença avaliações intenção tem se mostra do o encadeamento que melhor explica o desempenho humano nas organizações Siqueira 1995 demonstrou que em seu relacionamento com o sistema que empre ga o indivíduo nutre crenças acerca desse relacionamento e realiza avaliações positi vas sobre ele a partir de crenças também positivas As avaliações por sua vez gera riam no indivíduo o desejo de se comportar pró sistema empregador A consistência des sa proposta tem sido sistematicamente con firmada Siqueira 2001 2002 Por outro lado o modelo unidimensional de Fishbein e Ajzen 1975 para a conceituação de ati tudes tem gerado nos últimos 20 anos a construção teórica de inúmeros construtos no âmbito da psicologia organizacional Siqueira e Gomide Jr 2004 afirmaram serem alguns desses construtos principal mente comprometimento organizacional afetivo envolvimento com o trabalho e sa tisfação no trabalho bases dos vínculos de senvolvidos pelos empregados e suas orga nizações de trabalho O conceito de atitudes também en contra largo emprego na gestão de pesso as Treinamento Freitas e Borges Andrade 2004 seleção Dela Coleta 1991 expli cação Gomide Jr 1986 Moraes Pilatti e Kovaleski 2005 e prevenção de acidentes de trabalho Dela Coleta 1991 são alguns dos exemplos do emprego desse conceito na gestão de pessoal Como já foi dito uma das formas de compreensão do mundo origina se dentre outras da maneira como as pessoas atri buem causas aos acontecimentos de suas vi das Heider 1970 apud Dela Coleta e Dela Coleta 2006 afirma que os indivíduos de forma quase científica buscam conhecer as causas dos acontecimentos que os cercam no afã de compreender predizer e controlar tais acontecimentos referentes a si pró prios e aos que o cercam A partir dos postu lados de Heider foi gerado um corpo teórico em psicologia social que tem sido um dos mais consistentes já elaborados Definida como uma organização das experiências do indivíduo baseando se na busca pessoal de compreensão formando uma relação unitá ria entre a origem e as mudanças que acar INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 351 retam os fenômenos e o próprio comporta mento de quem fez esta atribuição Dela Coleta 1982 p 7 a atribuição de causa lidade tem sido utilizada na explicação de inúmeros fenômenos psicossociais em todas as áreas da psicologia Na psicologia organizacional as te orias de atribuição de causalidade a even tos acidentais encontram amplo emprego notadamente na prevenção de acidentes de trabalho Elas são em número de três A primeira teoria busca de controle Walster 1966 postula que quando um aciden te grave é visto como consequência de um conjunto de circunstâncias imprevisíveis a pessoa é forçada a conceber que o acidente pode acontecer a ela Se por outro lado a pessoa acreditar que o evento é previsível e controlado e que alguém é responsável por isso ela pode sentir se capaz de evitá lo diferenciando se daquela pessoa responsa bilizada pelo evento comportando se de maneira diferente A segunda teoria crença no mundo justo Lerner 1970 apud Dela Coleta 1982 prevê que as pessoas ten dem a acreditar que vivem em um mundo justo onde as outras têm o que merecem e merecem o que têm Dessa maneira o aci dente seria interpretado como consequência de algum comportamento equivocado ou mal intencionado que a pessoa teria emi tido ou até mesmo como consequência de alguma característica pessoal A terceira teoria atribuição defensiva Shaver 1970 defende que quando uma pessoa vivencia um evento não previsto ela tenderá a se defender diferenciando se da vítima desse evento Tal postura seria determinada pela proximidade da situação acidental com a situação vivida pelo observador e pela gra vidade do acidente O observador buscaria conforme a teoria evitar a culpa se um aci dente viesse a acontecer com ele Estudos têm demonstrado que em acidentes de trabalho os empregados ato res e observadores dos acidentes tendem a empregar explicações próximas aos postula dos da teoria da busca de controle Segundo os pesquisadores Gomide Jr 1986 Dela Coleta 1982 Dela Coleta e Dela Coleta 2006 os empregados assim procedendo estariam na realidade buscando controle sobre eventos acidentais futuros obtendo uma garantia cognitiva de que não estariam envolvidos neles Nesses estudos uma outra variável é empregada com frequência Trata se do lócus de controle termo cunhado por Rotter 1966 apud Gomide Jr 1986 para designar o que ou quem detém o controle ou o foco de determinação dos eventos con forme percebido pelo indivíduo Assim se a fonte dos eventos é percebida como própria do sujeito dependentes de suas capacida des ou esforços tem se o locus de controle interno Ao contrário se o sujeito percebe a fonte dos acontecimentos como externa dependente de outras pessoas ou do acaso tem se o locus de controle externo Dela Coleta e Dela Coleta 2006 relatam que os indivíduos internos são mais acostumados a planejamentos a longo prazo são mais re sistentes à coerção apresentam maior per sistência no esforço para obtenção de resul tados e culpam se mais por suas falhas Os indivíduos externos por outro lado têm maior tendência ao conformismo sofrem mais influências afetivas negativas são mais imediatistas e mais insatisfeitos em suas re lações sociais No âmbito das investigações organiza cionais os estudos têm demonstrado que os indivíduos internos preferem supervisão mais participativa que diretiva Spector 1982 envolvem se menos em acidentes de trabalho Gomide Jr 1986 têm atitu des mais favoráveis a comportamentos se guros DAmorim 1990 apresentam mais comportamentos de coping quando sofrem perdas de membros em acidentes de traba lho Dela Coleta 1991 são mais satisfeitos e mais comprometidos afetiva e normati vamente com suas organizações Xavier 2005 valores Os valores são na definição de Rodrigues e colaboradores 2000 categorias gerais do INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 352 tOrres neiva cOLs tadas de componentes cognitivos afetivos e predisponentes a comportamentos que dife rem da conceituação clássica de atitudes pela sua generalidade Conforme os auto res um único valor pode encerrar inúmeras atitudes Para Schwartz e Bilsky 1987 os valores podem ser definidos como princípios ou crenças sobre comportamentos ou esta dos de existência que transcendem situa ções específicas que guiam a seleção ou a avaliação de comportamentos ou eventos e que são ordenados por sua importância Na esfera dos estudos organizacionais Katz e Kahn 1976 afirmaram que os valo res juntamente com os papéis e as normas constam entre os principais componentes de uma organização pois definem e orientam o seu funcionamento Os papéis prescrevem e definem modos de comportamento associa dos a determinadas tarefas as normas são expectativas transformadas em exigências enquanto os valores são as justificativas e aspirações ideológicas mais generalizadas Os valores atuam como elementos integra dores no sentido de que são compartilha dos por todos ou pela maioria dos mem bros organizacionais Eles seriam portanto centrais para a cultura organizacional na medida em que a força da cultura pode es tar vinculada ao grau em que os indivídu os compartilham os mesmos valores e com eles se comprometem O foco no estudo dos valores representa assim uma contribuição importante ao estudo da cultura organizacio nal visto que há necessidade de encontrar estratégias que permitam avaliar fatores cul turais e estudar o seu impacto na vida organi zacional bem como desenvolver meios para o seu gerenciamento Para Oliveira e Tamayo 2004 os valores referem se às crenças bá sicas em uma organização e representam a essência de sua filosofia para o alcance do sucesso pois fornecem uma direção comum aos empregados e orientam o comportamen to cotidiano Tamayo e Gondim 1996 definem de forma mais sistemática os valores como princípios ou crenças organizados hierar quicamente relativos a tipos de estrutura ou a modelos de comportamentos desejá veis que orientam a vida da empresa e estão a serviço de interesses individuais coletivos ou mistos Os autores destacam nessa de finição os aspectos cognitivo e motivacio nal além da organização hierárquica dos valores O aspecto cognitivo dos valores or ganizacionais é um elemento básico já que são crenças sobre o que é desejável ou não para a organização e expressam as respos tas dadas a problemas organizacionais O aspecto motivacional refere se à expressão de metas fundamentais da organização po dendo determinar a quantidade de esforço que os seus membros dedicam para emitir um dado comportamento bem como a per sistência na sua execução Os valores são re cursos que a organização utiliza para criar desenvolver e conservar sua imagem social e autoestima Finalmente os valores estão organizados de forma hierárquica indican do o grau de preferência por determinados comportamentos metas ou estratégias Os valores organizacionais têm fun ções importantes Tamayo 1998 sendo a primeira delas criar entre os empregados modelos mentais semelhantes relativos ao funcionamento e à missão da organização evitando percepções diferentes que certa mente teriam repercussões em seus com portamentos e atitudes A segunda função é a contribuição na construção da identidade social da organização tornando a distin ta em relação às demais organizações Os valores organizacionais atuam como me diadores nos conflitos contribuindo para a solução dos problemas da organização e consequentemente garantindo sua sobrevi vência Assim eles desempenham um papel importante no alcance dos objetivos organi zacionais e no atendimento das necessida des dos indivíduos Oliveira 2001 constata que valores organizacionais e valores indivi duais possuem uma interface já que ambos compartilham metas universais que expres sam a satisfação de exigências básicas do ser humano Assim o estudo de valores or ganizacionais pode adotar como referência os valores humanos pois ambos têm suas raízes em motivações pessoais tal como já havia postulado a psicologia social INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 353 considerações Finais As teorias oriundas da psicologia social sem pre tiveram amplo emprego em outras áreas afins psicologia da educação psicologia da saúde e psicologia comunitária são áreas de psicologia aplicada em que as chamadas microteorias sociais têm influências visí veis Na psicologia organizacional essas te orias são também largamente empregadas Conforme dito na introdução deste ca pítulo seu objetivo foi de registrar a influên cia da psicologia social no estudo de fenôme nos humanos em ambientes organizacionais Não se pretendeu contudo esgotar o assun to A abrangência dos fenômenos organiza cionais que empregam as teorias sociais não se esgotaria nos limites deste espaço Formação de grupos e sua influên cia nos estudos de liderança princípios de aprendizagem social e atração interpessoal seus impactos na formação e transmissão da cultura organizacional e sociometria como instrumento de gestão de pessoas são al guns dos exemplos dessa aplicação que já geraram obras inteiras Diante do grande leque de possibilidades e da amplitude do tema este capítulo procurou dar visibilida de a teorias mais diretamente utilizadas nos estudos dos fenômenos humanos nas am bientações de trabalho De qualquer modo parece estar evidenciado que onde houver fenômenos de interação humana em estudo aí haverá a possibilidade de emprego daque la que é no âmbito da psicologia a própria ciência do relacionamento reFerências ADAMS JS Toward and understanding of ine quity Journal of Abnormal and Social Psychology v 67 v 5 p 422436 1963a ADAMS JS Wage inequity productivity and qua lity Industrial Relations v 3 p 916 1963b ADAMS JS JACOBSEN PR Effects of wages inequities on work quality Journal of Abnormal e Social Psychology v 69 n 1 p 1925 1964 ALLEN NJ MEYER JP Affective continuance and normative commitment to the organization an examination of construct validity Journal of Vocational Behavior v 49 p 252276 1996 BORGESANDRADE JE ZANELLI JC Psicologia e produção do conhecimento em organizações e trabalho In ZANELLI JC BORGESANDRADE JE BASTOS AVB orgs Psicologia organiza ções e trabalho no Brasil Porto Alegre Artmed 2004 DAMORIM MAM Lócus de controle atitudes acerca da segurança e explicações para os aci dentes no trabalho Revista de Psicologia v 7 n 1 p 1734 1990 DELA COLETA JA Atribuição de causalidade 1ed Rio de Janeiro Editora Fundação Getúlio Vargas 1982 DELA COLETA JA Acidentes de trabalho São Paulo Atlas 1991 DELA COLETA JA DELA COLETA MF Atribuição de causalidade teoria pesquisa e aplicações 2ed Taubaté Cabral Editora Livraria Universitária 2006 DITTRICH JE CARRELL MR Organizational equity perceptions employee job satisfaction and departamental absence and turnover rates Organizational Behavior and Human Performance v 24 p 2940 1979 EISENBERGER R HUNTINGTON R HUTCHI SON S SOWA D Perceived organizational support Journal of Applied Psychology v 71 p 500507 1986 FILENGA D O impacto das percepções de justiça no comprometimento organizacional um estudo no setor público municipal São Bernardo do Campo 2003 Dissertação Mestrado Universidade Metodista de São Paulo FISHBEIN M AJZEN I Belief attitude intention and behavior an introduction to theory and resear ch Nova York AddisonWesley 1975 FREITAS IA BORGESANDRADE JE Cons trução e validação de escala de crenças sobre o sistema de treinamento Estudos de Psicologia v 9 n 3 p 479488 2004 FRENCH JRP RAVEN BH The bases of social power In CARTWRIGHT D org Studies in social power Ann Arbor Institute for Social Re search 1959 GOMIDE JR S Indivíduo organização e acidente de trabalho um estudo na pesquisa agropecuária Brasília 1986 Dissertação Mestrado Univer sidade de Brasília GOMIDE JR S Antecedentes e consequentes das percepções de justiça no trabalho Brasília 1999 Tese Doutorado Universidade de Brasília INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 354 tOrres neiva cOLs GOULDNER AW The norm of reciprocity a pre liminary statement American Sociological Review v 25 p 161178 1960 GUIMARÃES VF Bases de poder do supervisor conflitos intragrupais e comprometimento orga nizacional e com a equipe Uberlândia 2007 Dissertação Mestrado Universidade Federal de Uberlândia KATZ D KAHN RL Psicologia social das organi zações 2ed São Paulo Atlas 1976 LEVENTHAL GS What should be done with equity theory In GERGEN KS GREENBERG J WEISS RH org Social exchange advances in theory an research Nova York Plenum 1980 MORAES GTB PILATTI LA KOVALESK JL Acidentes de trabalho fatores e influências com portamentais Anais do XXV Encontro Nacional de Engenharia de Produção Porto Alegre 2005 OLIVEIRA AF A investigação da cultura organi zacional In SIQUEIRA MMM GOMIDE JR S OLIVEIRA AF orgs Cidadania justiça e cultura nas organizações São Bernardo do Campo UMESP 2001 p 68104 OLIVEIRA AF TAMAYO A Inventário de perfis de valores organizacionais Revista de Administra ção da Universidade de São Paulo RAUSP v 39 n 2 p 129140 2004 PAZ MGT Metodologia utilizada para definição das variáveis investigadas numa pesquisa sobre justiça distributiva na avaliação de desempenho Anais da XXII Reunião Anual de Psicologia Ribeiro Preto 1993a PAZ MGT Justiça distributiva na avaliação de desempenho dos trabalhadores de uma empresa estatal Anais da XXIII Reunião Anual de Psicologia Ribeirão Preto 1993b PAZ MGT MARTINS MCF NEIVA ER O poder nas organizações In ZANELLI JC BORGESANDRADE JE BASTOS AVB orgs Psicologia organizações e trabalho no Brasil Porto Alegre Artmed 2004 RAVEN BH The bases of power origins and re cent development Journal of Social Issues v 49 n 4 p 227252 1993 RAWLS J A theory of justice Cambridge Harvard University Press 1971 REGO A Justiça nas organizações na senda de uma nova vaga In RODRIGUES SB CUNHA MP orgs Novas perspectivas na administração de empresas uma coletânea lusobrasileira São Paulo Iglu 2000 ROBBINS SP Comportamento organizacional 8ed Rio de Janeiro Livros Técnicos e Científi cos 1999 RODRIGUES A Aplicações da psicologia social Petrópolis Vozes 1981 RODRIGUES A ASSMAR EML JABLONSKY B Psicologia social Petrópolis Vozes 2000 SCHWARTZ SH BILSKY W Toward a universal structure of human values Journal of Personality and Social Psychology v 53 n 3 p 550562 1987 SHAVER K Defensive attribution effects of seve rity and relevance on the responsibility assigned for an accident Journal of Personality and Social Psychology v 14 n 2 p 101113 1970 SIQUEIRA MMM Antecedentes de comportamento de cidadania organizacional a análise de um modelo póscognitivo Brasília 1995 Tese Doutorado Universidade de Brasília SIQUEIRA MMM Modelo póscognitivo para comportamentos de cidadania organizacional In SIQUEIRA MMM GOMIDE JR S OLIVEIRA AF orgs Cidadania justiça e cultura nas orga nizações São Bernardo do Campo UMESP 2001 SIQUEIRA MMM Medidas do comportamento organizacional Estudos de Psicologia v 7 n espe cial p 1118 2002 SIQUEIRA MMM Esquema Mental de Reciproci dade e Influências sobre Afetividade no Trabalho Estudos de Psicologia v 10 n 1 p 8393 2005 SIQUEIRA M M M GOMIDE JR S Vínculos do indivíduo com o trabalho e com a organização In ZANELLI JC BORGESANDRADE JE BASTOS AVB orgs Psicologia organizações e trabalho no Brasil Porto Alegre Artmed 2004 p 357379 SPECTOR PE Behavior in organizacional as a function of employees locus of control Psycholo gical Bulletin v 91 n 3 p 482497 1982 STAW BM Organizacional behavior a review and reformulation of the fields outcome variables Annual Review of Psychology v 35 p 627666 1984 TAMAYO A Valores organizacionais sua relação com satisfação no trabalho cidadania organizacio nal e comprometimento Revista de Administração da Universidade de São Paulo RAUSP v 33 n 3 p 5663 1998 TAMAYO A GONDIM MGC Escala de valores organizacionais Revista de Administração da Universidade de São Paulo RAUSP v 31 n 2 p 6272 1996 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 355 THIBAUT JW KELLEY H The social psychology of groups Nova York Wiley and Sons 1959 THIBAUT JW WALSTER L Procedural justice a psychological analysis Nova York Erlbaum Hillsdale 1975 WAGNER III JA HOLLENBECK JA Comporta mento organizacional criando vantagem competi tiva São Paulo Saraiva 1999 WALSTER E Assigment of responsability for an accident Journal of Personality e Social Psychology v 3 n 1 p 7379 1966 WITT LA BROACH D Exchange ideology as a moderator of the procedural justice satisfaction relationship The Journal of Social Psychology v 133 n 1 p 97103 1992 WITT LA WILSON JW Income sufficiency as a predictor of job satisfaction and organizational com mitment dispositional differences The Journal of Social Psychology v 130 n 2 p 267268 1989 XAVIER VMC Locus de controle comprometimento organizacional e satisfação no trabalho um estudo correlacional Uberlândia 2005 Dissertação Mes trado Universidade Federal de Uberlândia INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS ÍnDice a Abstração 46 Ação racional teoria 182184 Acessibilidade atitudes 191 Acidentes causalidade 142144 Afetividade 238240 Afeto 240243 Agentes causais 84 Alemanha 1415 Alteridade e identidade social 253261 Altruísmo cognição social 8283 Ambivalência atitudes 191193 América Latina 2627 Asch grupo de estudo de conformidade 156158 Atenção cognição social 9192 Atitude s atributos ou propriedades 190193 acessibilidade 191 ambivalência 191193 força 190 componentes das 176180 componente afetivo 177178 componente cognitivo 177 componente comportamental 178179 visão unicomponente 179180 comportamento 180189 abordagens alternativas 185189 ação racional teoria 182184 outras variáveis 189190 conceituação 173175 estratégias de mensuração 204218 atitudes implícitas 213214 Brasil estudo em periódicos 206 conceito e estudo 204206 mensuração 206207 mensuração online 209210 método de Bogardus 212213 método de Guttman 210211 método de Likert 208209 método de Osgood 211212 método de Thurstone 207208 formação 193195 enfoques consciência cognitiva noção 194 funcionais 193194 teoria do reforço 194195 valores e funções 195 mensuração 175176 medidas autodestrutivas 175 medidas fisiológicas 175 técnicas observacionais 175176 mudança 159160 195203 conflito cognitivo 195196 fatores determinantes 198199 outros mecanismos 200 persuasão 197198 organizações 349351 Atração 46 238252 afetividade 238240 afeto 240243 subjetividade 240243 física 46 Atribuições cognição social 8791 b Brasil 3157 atualidade 3741 curso superior 4144 história 3137 influência social e poder 167 normas sociais conceito mensuração implicações 100133 pesquisa temas 4144 poder e influência social 167 pósgraduação 4144 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS ÍnDice 357 preconceito estereótipo discriminação 219230 representações sociais teoria 293294 c Casamento causalidade ver Relações conjugais Causalidade atribuições de organizações 349351 percepção e atribuição 134152 acidentes 142144 lócus de controle 137139 motivação 140142 relações conjugais 145149 Centralidade no eu 84 Chicago psicologia social sociológica 2324 Cognição social 7999 conflito 195186 componentes das atitudes 177178 características gerais 8385 compreendendo os outros 7981 elementos 8591 atribuições 8791 teoria da atribuição intrapessoal 8889 teoria da atribuição interpessoal 8991 schemas 8587 grupos humanos 8182 inferência 9296 dados aleatórios 9394 dados incompletos 9495 problemas inferenciais 96 profecia autorrealizante 9596 inteligência social 8182 linguagem e altruísmo recíproco 8283 memória 92 processos 9196 atenção 9192 Coletivismo relações intergrupais 332338 Comportamento atitude 180189 componentes das atitudes 178179 normas sociais 118 prósocial 5960 tolerado gama de 120 valores 302303 Comunicação 314339 Comunicação ver também Relações intergrupais Conflito realístico contato intergrupal 262286 teoria 265269 Conformidade resistência a 163165 Confucionismo relações intergrupais 323 Consciência cognitiva noção de atitude 194 Contexto social 4647 Controle causalidade 137139 Crise de valores 309 Cristalização 120 Cultura contexto relações intergrupais 331332 influência social e poder 161162 normas sociais 112115 relação intergrupais 314339 Curso superior Brasil 4144 d Dados cognição social aleatórios 9394 incompletos 9495 Diferença e identidade 253255 Discriminação 219237 Diversidade cultural aplicada 234 e Efeito de primazia 46 Efetividade componentes das atitudes 177178 Equidade contato intergrupal 262286 teoria 275282 Escola de Chicago 2324 de Iowa 2425 Espaço físico relações intergrupais 330 Esquemas 45 Estados Unidos psicologia social psicológica 1722 psicologia social sociológica 2225 Estereótipo 219237 Estigma 46 Estudo de conformidade grupo de Asch 156158 de obediência Milgram 158159 pesquisa hipotético 69 71 73 observacional 69 Ética pesquisa 7071 Eu conhecendo a si e ao outro 134152 centralidade 84 Europa 2526 Exemplares 46 Experimento pesquisa 7072 F Fidedignidade pesquisa 63 Força atitudes 190 Fracasso 141 França 1516 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 358 ÍnDice g Grupos contato intergrupal teoria 265282 262286 fontes de informação 284 teoria da equidade 275282 teoria da privação relativa 269275 teoria do conflito realístico 265269 humanos cognição social 8182 relações intergrupais 257260 314339 comunicação contexto cultural 331332 espaço físico 330 interação transcultural 329330 não verbal 327328 percepção do tempo 330 relações de intimidade 328329 relações interpessoais 328 verbal 327 cultura 315317 identidade social e alteridade 257260 individualismo e coletivismo 332338 valores 317323 confucionismo 323 Hofstede 320323 Inglehart 318 Rokeach 317318 Schwartz 318320 Guerra Mundial 1822 H Heurística 4546 Hipótese de pesquisa 69 71 História Alemanha 1415 América Latina 2627 Brasil 3137 Estado Unidos 2225 Europa 2526 França 1516 Inglaterra 14 Hofstede relações intergrupais 320323 i Identidade social 231232 e alteridade 253261 diferença 253255 histórico 255257 relações intergrupais 257260 Individualismo relações intergrupais 332338 Influência social e poder 153170 abordagens e tópicos clássicos 156159 grupo de Asch estudo de conformidade 156158 Milgram estudo de obediência 158159 Brasil 167 funcionamento moral 165167 moralidade 162165 persuasão e mudança de atitude 159160 tecnologia cultura marketing sociais persuasivos 161162 tipologias clássicas 154156 Inglaterra 14 Inglehart relações intergrupais 318 Inteligência social cognição social 8182 Intensidade 120 Interação transcultural 329330 Intimidade relações intergrupais 328329 J Justiça organizações 343347 l Linguagem cognição social 8283 Lócus de controle organizações 349353 M Marketing sociais persuasivos 161162 Memória cognição social 92 Mensuração discriminação 228229 estereótipo 225226 estratégias atitude 204218 preconceito 227 Método de Bogardus 212213 de Guttman 210211 de Likert 208209 de Osgood 211212 de Thurstone 207208 Milgram estudo de obediência 158159 Modelo de Retorno Potencial 117121 Motivação causalidade 142144 MRP ver Modelo de Retorno Potencial n Necessidades valores 303 Normas sociais Brasil 100132 definições e estudo 104115 construção 109112 contexto situacional 116117 dimensões culturais 113114 situação conceito 115116 versus cultura 112113 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS ÍnDice 359 mensuração 117124 normas subjetivas 121124 retorno potencial 117121 o Observação pesquisa 6869 Organizações 340355 atitudes atribuição de causalidade lócus de controle 349351 justiça 343347 poder 347349 troca e reciprocidade 342343 valores 351352 Orientação pragmática 84 P Percepção mútua 84 qualidade 84 Perfis valorativos 309310 Personalidade autoritária 231 Persuasão 159160 197198 Pesquisa métodos 5876 abordagem quantitativa e qualitativa 6667 análise de conteúdo 6768 análise de dados e resultados 6566 comportamento prósocial 5960 experimento 7072 comportamento 70 ética 7071 randonização de sujeitos 70 variabilidade externa 70 formulação de perguntas 6165 levantamento de dados 7273 observação 6869 participante 65 procedimentos e instrumentos 65 temas Brasil 4144 transcultural 321323 Pessoas desviantes valores 310 Poder e influência social 153170 abordagens e tópicos clássicos 156159 grupo de Asch estudo de conformidade 156158 Milgram estudo de obediência 158159 Brasil 167 funcionamento moral 165167 moralidade 162165 persuasão e mudança de atitude 159160 tecnologia cultura marketing sociais persuasivos 161162 tipologias clássicas 154156 Poder normativo 120121 organizações 347349 Pósgraduação Brasil 4144 Preconceito 219237 Privação relativa contato intergrupal 262286 teoria 269275 Problemas inferenciais 96 Processos automáticos 8485 Profecia autorrealizante 9596 Programação mental cultura 320321 Protótipos 45 Psicologia social Estado Unidos psicológica 1722 crise 22 pósguerra 1922 Segunda Guerra Mundial 1819 sociológica 2225 Escola de Chicago 2324 Escola de Iowa 2425 precursores 2223 r Raciocínio moral 163164 Randonização pesquisa 64 Reciprocidade e troca organizações 342343 Relações conjugais 145149 Relações intergrupais 314339 identidade social e alteridade 257260 Representações sociais conceito 291293 teoria 287295 antecedentes 287288 Brasil 293294 histórico 288289 pressupostos 289291 Repulsa interpessoal 238252 afetividade 138240 afeto 240243 subjetividade 240243 Retorno máximo ponto de 120 potencial e sistemas modelo de 121 potencial curva de 118119 potencial diferença de 121 potencial modelo de 117118 Rokeach relações intergrupais 317318 s Schemas 8587 Schwartz relações intergrupais 318320 Sistemas valorativos 309310 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 360 ÍnDice Subjetividade 240243 Sucesso 141 t Tecnologia influência social e poder 161162 Tempo percepção do 330 Teoria conflito realístico 265269 da atribuição interpessoal 8991 da atribuição intrapessoal 8889 da equidade 275282 da privação relativa 269275 das representações sociais 287295 do conflito realístico 265269 do reforço atitude 194195 equidade 275282 funcional dos valores 301308 privação relativa 269275 Traços centrais 46 Troca e reciprocidade organizações 342343 v Validade pesquisa 6364 Valores atitudes 195 crise de 309 estabilidade da estrutura 310 humanos 296313 histórico 297299 materialismo e pósmaterialismo 300301 natureza 299300 relações intergrupais 314339 teoria funcional dos valores funções 301308 expressar necessidades 303 guiar comportamentos 302303 valorativas 303308 tipos motivacionais 301 organizações 351352 perfis e sistemas 309310 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS
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PSICOLOGIA SOCIAL CONTEMPORÂNEA Livrotexto Maria da Graça Corrêa Jacques Marlene Neves Strey Nara Maria Guazzelli Bernardes Pedrinho Arcides Guareschi Sérgio Antônio Carlos Tânia Mara Galli Fonseca EDITORA VOZES DADOS DE COPYRIGHT Sobre a obra A presente obra é disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos bem como o simples teste da qualidade da obra com o fim exclusivo de compra futura É expressamente proibida e totalmente repudíavel a venda aluguel ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo Sobre nós O Le Livros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa Você pode encontrar mais obras em nosso site LeLivroslink ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento e não mais lutando por dinheiro e poder então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível Maria da Graça Corrêa Jacques Marlene Neves Strey Maria Guazzelli Bernardes Pedrinho Arcides Guareschi Sérgio Antônio Carlos Tânia Mara Galli Fonseca PSICOLOGIA SOCIAL CONTEMPORÂNEA Livrotexto EDITORA VOZES Petrópolis COLEÇÃO PSICOLOGIA SOCIAL Coordenadores Pedrinho Arcides Guareschi Pontifícia Univ Católica do Rio Grande do Sul PUCRS Sandra Jovchelovitch London School of Economics and Political Science LSE Londres Conselho editorial Denise Jodelet LÉcole des Hautes Études en Sciences Sociales Paris Ivana Marková Universidade de Stirling Reino Unido Paula Castro Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa ISCTE Lisboa Portugal Ana Maria JacóVilela Universidade do Estado do Rio de Janeiro Uerj Regina Helena de Freitas Campos Universidade Federal de Minas Gerais UFMG Angela Arruda Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ Neuza MF Guareschi Pontifícia Univ Católica do Rio Grande do Sul PUCRS Leôncio Camino Universidade Federal da Paraíba UFPB Psicologia social contemporânea Vários autores As raízes da psicologia social moderna Robert M Farr Paradigmas em psicologia social Regina Helena de Freitas Campos e Pedrinho A Guareschi orgs Psicologia social comunitária Regina Helena de Freitas Campos e outros Textos em representações sociais Pedrinho A Guareschi e Sandra Jovchelovitch As artimanhas da exclusão Bader Sawaia org Psicologia social do racismo Iray Carone e Maria Aparecida Silva Bento orgs Psicologia social e saúde Mary Jane P Spink Representações sociais Serge Moscovici Subjetividade e constituição do sujeito em Vygotsky Susana Inês Molon O social na psicologia e a psicologia social Fernando González Rey Dialogicidade e representações sociais Ivana Marková Psicologia do cotidiano Marília Veríssimo Veronese e Pedrinho A Guareschi orgs Argumentando e pensando Michael Billig Os contextos do saber Sandra Jovchelovitch Políticas públicas e assistência social psicológicas Lílian Rodrigues da Cruz e Neuza Guareschi orgs A identidade em psicologia social JeanClaude Deschamps e Pascal Moliner A invenção da sociedade Serge Moscovici Psicologia das minorias ativas Serge Moscovici Inventando nossos selfs Nikolas Rose A Psicanálise sua imagem e seu público Serge Moscovici O psicólogo e as políticas públicas de assistência social Lílian Rodrigues da Cruz e Neuza Guareschi orgs Psicologia social nos estudos culturais Neuza Maria de Fátima Guareschi e Michel Euclides Bruschi orgs Envelhecendo com apetite pela vida Sueli Souza dos Santos e Sergio Antonio Carlos orgs A análise institucional René Lourau CDD302 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP Câmara Brasileira do Livro SP Brasil Psicologia social contemporânea livrotexto Marlene Neves Strey et al Petrópolis RJ Vozes 2013 ISBN 9788532647467 Edição digital 1 Psicologia Social I Strey Marlene Neves 980583 Índices para catálogo sistemático 1 Psicologia social 302 1998 Editora Vozes Ltda Rua Frei Luís 100 25689900 Petrópolis RJ Internet httpwwwvozescombr Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma eou quaisquer meios eletrônico ou mecânico incluindo fotocópia e gravação ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora Diretor editorial Frei Antônio Moser Editores Ana Paula Santos Matos José Maria da Silva Lídio Peretti Marilac Loraine Oleniki Secretário executivo João Batista Kreuch Editoração e org literária Jaime Clasen Projeto gráfico AGSR Desenv Gráfico Capa Graphit ISBN 9788532647467 Edição digital Editado conforme o novo acordo ortográfico PREFÁCIO É sempre um grande prazer introduzir mais uma obra de Psicologia Social produzida por brasileiros para brasileiros Pois isto significa que estamos construindo um saber próprio que deverá refletir não só na prática de futuros psicólogos mas também nas pessoas atendidas por eles que esperamos serem a grande maioria tão carente de nossa população Ao fazer tal afirmativa o faço ciente de que se trata de um conjunto de artigos comprometidos com uma postura crítica visando promover relações sociais que não neguem o poder que nos diferencia mas que têm por objetivo último gerar a igualdade respeitando peculiaridades individuais O conjunto de autores que contribuíram na elaboração desta obra já são uma garantia de que esta meta será atingida pois não só os seus escritos mas principalmente suas práticas cotidianas são o testemunho objetivo de uma psicologia social crítica O exame cuidadoso dos capítulos que constituem o livro também retrata esta postura ao introduzir pressupostos que indicam a preocupação com uma inserção histórica com um compromisso ético tanto na teoria quanto na prática da pesquisa O referencial teórico abrange os temas fundamentais desta nova abordagem da Psicologia Social permitindo ao leitor superar a contradição enfrentada pela psicologia tradicional entre subjetividade vs objetividade Pois hoje temos clareza de que o objeto de nossa ciência é a relação dialética unívoca entre objetividade e subjetividade na constituição do psiquismo humano A prática de uma psicologia social crítica como não poderia deixar de ser compõe a última parte deste livro visando introduzir o aluno no que consideramos uma práxis científica Esses capítulos tentam resgatar um saber construído numa época de repressão política para as possibilidades que hoje se abrem para uma atuação do psicólogo em instituições como creches postos de saúde escolas que prestem serviços patrocinados pelo Estado para aquela faixa da população que vem sendo alvo de uma psicologia social crítica Gostaríamos ainda de dedicar algumas palavras aos professores e alunos que irão trabalhar com esta teoria ela é sempre uma síntese precária da qual nós partimos para a elaboração de conhecimentos concretos Ela jamais é neutra ou universal assim um saber gerado no sul do Brasil terá peculiaridades que o diferenciam da psicologia de outras regiões do país principalmente pelas diferenças históricas e geográficas de um paíscontinente a realidade concreta construída historicamente é o objetivo último de nossa ciência a qual permitirá conhecer o indivíduo em sua totalidade Jamais devemos usar fatos cotidianos para exemplificar uma teoria pois eles sempre poderão estar questionando o saber elaborado até o presente Bachelard em sua obra A filosofia do não afirma que o conhecimento científico só avança quando o pesquisador se questiona por que não o contrário Portanto não devemos temer nossas dúvidas ou as exceções que comprovam a lei Certamente elas nos estarão dando novas pistas a serem pesquisadas abrindo caminho para análises cada vez mais próximas a um saber concreto Não podemos contudo nos esquecer que também existem aspectos universais no comportamento humano e devemos procurar suas raízes nas condições filogenéticas que nos constituem O reforço squineriano aumenta a frequência de qualquer organismo do rato até o homem este é um fato inegável Do mesmo modo somos capazes de sentir a beleza estética das obras primitivas desde que conheçamos um pouco de sua história e cultura O mesmo não se dá com valores morais e éticos pois estes são produtos ontogenéticos consequências da mediação da linguagem do pensamento e das emoções Aproveitem as lições contidas nesta obra sem esquecer jamais da reflexão crítica voltada para as nossas atividades cotidianas repletas de conteúdos emocionais que permitirá o avanço constante de nossa consciência e de nossa identidade como metamorfose Bom trabalho Sem esquecer que o verdadeiro saber é produto de uma comunidade científica da qual participam sujeitos e pesquisadores Silvia T Maurer Lane PUCSP APRESENTAÇÃO O V e o VI Encontros Regionais da Abrapso Associação Brasileira de Psicologia Social realizados em 1994 e 1996 resultaram na elaboração de dois livros Relações sociais e ética Psicologia e práticas sociais marcos significativos da produção de conhecimentos gerada nos diversos momentos de reflexão coletiva propiciada por esses eventos científicos Tais obras permitiram a socialização mais ampla dos questionamentos das inquietações das sistematizações teóricas metodológicas e práticas que vêm constituindo a psicologia social crítica em nosso país O êxito de divulgação alcançado por essas produções conduziu um grupo de participantes da AbrapsoSUL a enfrentar o desafio de construir um livro que apresentasse sínteses das discussões temáticas que podem configurar o campo da psicologia social crítica de tal forma que permitisse atender às necessidades de formação nos cursos de Psicologia assim como em outros cursos que também exploram essa área do conhecimento Portanto esta produção tem o caráter de um manual que apresenta os conhecimentos de forma acessível sem ser contudo simplista eou superficial Pretende introduzir novas temáticas eou novos olhares sobre uma mesma temática Pretende ainda ser um recurso útil de ensinoaprendizagem tanto para alunos como para professores O presente volume representa uma ação coletiva de construção desses conhecimentos e está organizado em três partes A primeira tem um caráter geral focalizando fundamentos históricos epistemológicos e metodológicos A segunda expõe alguns temas fundamentais da Psicologia Social e básicos para a compreensão do sujeito humano Na terceira parte são apresentadas algumas experiências fundamentadas na concepção de psicologia social crítica as quais vêm sendo desenvolvidas em diferentes espaços como comunidades organizações e instituições e que podem representar rupturas e avanços no saberfazer do psicólogo ou de outros profissionais comprometidos com a transformação social Construíram este livro Adriane Roso psicóloga mestranda de Psicologia Social e da Personalidade PUCRS bolsista da Capes Adriano Henrique Nuernberg psicólogo e mestrando em Psicologia UFSC pesquisador do Laboratório de Educação e Saúde Popular da UFSC Andréa Zanella psicóloga doutora em Psicologia da Educação PUCSP professora do Departamento de Psicologia da UFSC e pesquisadora do Laboratório de Educação e Saúde Popular Foi vicepresidente da Regional Sul e presidente nacional da Abrapso Carmem Lígia Iochins Grisci psicóloga mestre em Psicologia Social e da Personalidade PUCRS doutora em Psicologia Social PUCRS professora da Faculdade de Administração UFRGS Cleci Maraschin psicóloga doutora em Educação UFRGS professora do Instituto de Psicologia UFRGS e pesquisadora do Laboratório de Estudos Cognitivos Fátima O de Oliveira psicóloga mestranda em Psicologia Social e da Personalidade PUCRS tesoureira da AbrapsoSUL Gislei Lazzarotto psicóloga mestre em Psicologia Social e da Personalidade PUCRS professora do curso de Psicologia da Ulbra e assessora em Psicologia Social Graziela C Werba psicóloga mestra em Psicologia Social e da Personalidade PUCRS grupoterapeuta em formação CEAPEG e secretária da AbrapsoSUL Jaqueline Tittoni psicóloga doutoranda em Sociologia UFRGS professora do Instituto de Psicologia da UFRGS Jefferson de Souza Bernardes psicólogo mestre em Psicologia Social e da Personalidade PUCRS professor de Psicologia Social e coordenador do curso de Psicologia da Unisinos Luiz F Rolim Bonin doutor em Psicologia Social PUCSP e professor de Psicologia da Universidade Federal do Paraná Louise A Lhullier psicóloga doutora em Psicologia Social PUCSP professora do Mestrado em Psicologia e do Doutorado em Ciências Humanas na UFSC pesquisadora do CNPq Maria da Graça Corrêa Jacques psicóloga doutora em Educação PUCRS professora do Instituto de Psicologia da UFRGS pesquisadora do CNPq Vice presidente da Regional Sul da Abrapso Maria Juracy Toneli Siqueira psicóloga doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano USP professora do departamento de Psicologia da UFSC e pesquisadora do Laboratório de Educação e Saúde Popular Margarete Axt doutora em Linguística PUCRS professora Titular da Faculdade de Educação UFRGS e pesquisadora do Laboratório de Estudos Cognitivos do Instituto de Psicologia da UFRGS Marlene Neves Strey psicóloga doutora em Psicologia Social Universidade Autônoma de Madri professora do Instituto de Psicologia da PUCRS Nara Maria Guazzelli Bernardes psicóloga doutora em Educação UFRGS professora da Faculdade de Educação e do Mestrado em Psicologia da PUCRS e coordenadora do grupo de pesquisa Educação Trabalho Subjetividade e Gênero Membro do Geerge UFRGS Nilza da Rosa Silva psicóloga e esquizoanalista Realiza estudos assessorias e consultorias sobre temas como subjetividade cultura relações grupais e institucionais idosos e ansiedade Pedrinho A Guareschi graduado em filosofia teologia e letras doutor em Sociologia Universidade de Wisconsin professor e pesquisador do Instituto de Psicologia da PUCRS Foi vicepresidente da Regional Sul da Abrapso Sérgio Antônio Carlos assistente social doutor em Serviço Social PUCSP professor do Instituto de Psicologia da UFRGS coordenador do Núcleo para a Terceira Idade Sissi Malta Neves psicóloga e terapeuta corporal e psicodramatista mestre em Psicologia Social e da Personalidade PUCRS Tânia Mara Galli Fonseca psicóloga doutora em Educação UFRGS professora titular do Instituto de Psicologia da UFRGS e coordenadora do Mestrado em Psicologia Social e Institucional desta instituição INTRODUÇÃO Na vida anímica individual aparece integrado sempre efetivamente o outro como modelo objeto auxiliar ou adversário e deste modo a psicologia individual é ao mesmo tempo e desde um princípio psicologia social em um sentido amplo e plenamente justificado Sigmund FREUD A afirmação de Freud suscita uma importante questão para reflexão sobre a natureza da ciência psicológica é possível uma psicologia que não seja uma psicologia social já que não tem sentido conceber um indivíduo isolado de seu contexto social A resposta a esta indagação passa necessariamente pelo exame do processo de divisão em compartimentos as diferentes disciplinas das Ciências Humanas e Sociais A partir de uma visão reducionista e simplista e de uma perspectiva de dicotomia entre o individual e o social coube à psicologia o estudo do indivíduo e à sociologia o estudo da sociedade Esta divisão se consolida de tal forma que por exemplo reconhecese os estudos de Wundt considerado o fundador da psicologia como ciência independente sobre psicologia individual e desconhece se os trabalhos desse mesmo autor sobre temas hoje classificados como psicologia social No entanto a constatação da impossibilidade de estudar o homem como um ser isolado objeto da psicologia conduz ao desenvolvimento de teorias e métodos para explicar a influência dos fatores sociais sobre os processos psicológicos básicos da percepção motivação pensamento aprendizagem e memória organizandose dessa forma a Psicologia Social enquanto uma das áreas da Psicologia Constituise como objeto dessa Psicologia Social o estudo da interação entre indivíduo e sociedade portanto indivíduo e sociedade como duas instâncias distintas que apenas interagem entre si São privilegiados temas como atitudes preconceitos comunicação relações grupais liderança entre outros sobre uma matriz desenvolvida pela Psicologia Individual procura se analisar e explicar as influências do meio social e avaliar e promover o ajustamento do indivíduo à sociedade Essa perspectiva adaptacionista que na opinião de alguns autores é uma característica da psicologia como um todo enquanto obstáculo à transformação social somada à continuidade na ausência de solução para os graves problemas sociais vigentes instalam todo um questionamento sobre o conhecimento e a prática produzidos pela Psicologia Social principalmente a Psicologia Social de origem estadunidense As críticas que se iniciam na França e na Inglaterra chegam ao Congresso Interamericano de Psicologia realizado em Miami no ano de 1976 através principalmente de psicólogos latinoamericanos São críticas que vão se tornando mais substantivas nos congressos subsequentes apontando com veemência a ausência de consonância entre a produção da chamada Psicologia Social e os problemas emergentes dos países latinoamericanos É neste contexto que fundase a Associação Brasileira de Psicologia Social Abrapso cujo documento de proposta de criação expressa a preocupação do grupo brasileiro em redefinir o campo da Psicologia Social descobrir novos recursos metodológicos propor práticas sociais e construir um referencial teórico inscrito em princípios epistemológicos diferentes dos até então vigentes Acompanhando a tendência europeia mas sinalizando para diferenças consistentes e próprias aos países da América Latina esboçase a criação de uma nova Psicologia Social no Brasil representada pela Abrapso que recebe em um primeiro momento algumas qualificações como Psicologia Social Crítica Psicologia Social HistóricoCrítica Psicologia SócioHistórica São qualificações que expressam a perspectiva crítica em relação à Psicologia Social hegemônica de até então e que apontam para uma concepção de ser humano como produto históricosocial e ao mesmo tempo como construtor da sociedade e capaz de transformar essa sociedade por ele construída Esta concepção de ser humano recoloca a relação indivíduo e sociedade rompe a perspectiva dualista e dicotômica e ao invés de considerar indivíduo e contexto social influenciandose mutuamente propõe a construção de um espaço de intersecção em que um implica o outro e viceversa Em termos teóricos essa psicologia social aproximase de alguns referenciais como os da psicanálise e do materialismo histórico propondo uma releitura desses referenciais que vão fundamentar o estudo de temas tradicionais da Psicologia Social sob nova perspectiva teórica tais como comunicação processo grupal linguagem ideologia entre outros Da mesma forma tal Psicologia Social gera novas e estimulantes temáticas entre as quais representações sociais são o exemplo mais representativo Como recursos metodológicos são privilegiados aqueles que rompem com o modelo de redução do complexo ao simples do global ao elementar da organização à ordem e da qualidade à quantidade Como objeto de estudos e pesquisas propõe a preocupação com aspectos de relevância e aplicabilidade ao contexto brasileiro e que possam responder às questões sociais específicas de sua população Esta Psicologia Social que se constrói no Brasil no final dos anos 1970 e a partir dos anos 1980 deparase com uma literatura disponível que não responde às suas inquietações e que reproduz o modelo tradicional da Psicologia Social O primeiro desafio de publicação O que é psicologia social de Silvia Lane da Coleção nos Passos da Editora Brasiliense editado em 1981 passa a leitura constante de alunos de cursos universitários de todo o país sinalizando para a necessidade de um conhecimento alternativo em psicologia social Dessa sinalização nasce Psicologia Social o homem em movimento em 1984 texto de vários autores organizado por Silvia Lane e Wanderley Codo que se torna desde então um marco referencial na Psicologia Social brasileira Psicologia Social que enseja a complexificação do simples a pluralidade teóricometodológica a intersecção das diferentes áreas de aplicação da psicologia a prática interdisciplinar e a preocupação ética em relação aos seus compromissos sociais e políticos Psicologia social que vai além da simples assertiva de um ser humano social mas de um ser humano social com base na convicção de que não há possibilidade do humano sem ser no social Neste momento se retoma a proposição inicialmente exposta a partir dessa concepção de ser humano é possível falar em psicologia que não seja psicologia social Assim como emprestamos o argumento de Sigmund Freud para iniciar essa exposição emprestamos o posicionamento de Silvia Lane para concluíla e com isto responder a nossa pergunta e definir a proposta deste livro Toda a psicologia é social Esta afirmação não significa reduzir as áreas específicas da Psicologia à Psicologia Social mas sim cada uma assumir dentro de sua especificidade a natureza históricosocial do ser humano Desde o desenvolvimento infantil até as patologias e as técnicas de intervenção características do psicólogo devem ser analisadas criticamente à luz dessa concepção do ser humano é a clareza de que não se pode conhecer qualquer comportamento humano isolandoo ou fragmentandoo como existisse em si e por si Também com essa afirmativa não negamos a especificidade da Psicologia Social ela continua tendo por objetivo conhecer o indivíduo no conjunto de suas relações sociais tanto naquilo que lhe é específico como naquilo em que ele é manifestação grupal e social Porém agora a Psicologia Social poderá responder à questão de como o homem é sujeito da história e transformador de sua própria vida e da sua sociedade assim como qualquer outra área da Psicologia Silvia Lane1 1 LANE Silvia A psicologia social e uma nova concepção de homem para a psicologia In LANE Silvia CODO Wanderley orgs Psicologia Social o homem em movimento São Paulo Brasiliense 1984 p 19 PARTE 1 PRESSUPOSTOS HISTÓRIA Jefferson de Souza Bernardes Falaremos aqui da história da psicologia social no Brasil e no Ocidente Propomos revisitar os critérios constituídos para os relatos históricos que quase sempre se resumem ao mundo dos autores e das ideias e não às instituições e fatos que marcaram os destinos e trajetórias da psicologia social no Ocidente conforme Robert Farr 1996 nos mostra A história da psicologia social reduzida a determinados autores e ideias encontradas nos clássicos manuais de Psicologia Social LINDZEY 1954 LINDZEY ARONSON 19681969 LINDZEY ARONSON 1985 acaba por privilegiar uma determinada filosofia da ciência a saber o positivismo estabelecendo um recorte grosseiro na construção e desenvolvimento do conhecimento da psicologia social O privilégio do positivismo vem em decorrência da crença de alguns pesquisadores de que a definição de pensamento científico praticamente se resume ao método ou ao caminho para se estudar algum objeto ou fenômeno no caso o método experimental Abordaremos o florescimento da psicologia social moderna como um fenômeno caracteristicamente norteamericano embora suas raízes sejam europeias Seguindo esta lógica no Brasil apontamos para a importância de associações instituições e fatos relevantes que marcaram o surgimento da psicologia social no país e finalizamos com indicações de alguns dos principais desdobramentos e atravessamentos epistemológicos e teóricos que vivenciamos contemporaneamente na psicologia social Algumas rápidas palavras sobre histórias Iniciamos com o óbvio existem formas e formas de se contar histórias Trabalhamos aqui em uma perspectiva relativista da história Em última instância a perspectiva do autor seu texto e seu contexto crenças conceitos e préconceitos delimitam os recortes do contar a história A forma como se conta a história também influencia o que e como esta será contada Se nos prendemos às pessoas reais ou imaginárias a história de determinada ideia cultura ou sociedade ganha contornos inimagináveis Como exemplo desta questão citamos os norteamericanos que são mestres nisto Basta passarmos rapidamente os olhos na história dos Estados Unidos e percebermos a enorme habilidade de transformações de sujeitos simples em mártires Ao nível imaginário os superheróis da Era Moderna surgem ali Por outro lado se nos prendemos a fatos instituições ou acontecimentos relevantes a história ganha novos limites novas cores e texturas Assim de imediato algumas questões se colocam a perspectiva deterministalinear de história se encontra em xeque A relação entre passado determinando o presente que determina o futuro apresentada nesta linearidade na maioria das vezes mais obscurece o desenvolvimento de determinada questão do que lança luzes Procuraremos adiante através da história da psicologia social mostrar que fatos presentes acabam por ressignificar o passado e consequentemente modificar o presente Os caminhos do futuro antes já delimitados tornamse incertos e imprecisos Abalase a estrutura linear da temporalidade Tempo e espaço se modificam se ampliam e entra em cena um ponto extremamente importante o simbólico Em outras palavras este simbólico se define pelos sentidos e significados que conferimos às coisas e aos fenômenos É exatamente nestes sentidos que conferimos às coisas e aos fenômenos que nossa relação com o tempo e com a história se transforma O processo histórico é contínuo mas não linear Não é uma linha reta muito ao contrário possui idas e vindas desvios avanços e recuos inversões etc Todos os acontecimentos presentes possuem relações com os fatos passados todas as chamadas rupturas históricas não acontecem da noite para o dia e sim são lentamente preparadas BORGES 1987 Por exemplo uma guerra não estoura de uma hora para outra Os conflitos fazem parte de tradições e histórias entre os povos Às vezes são abafados anos a fio por estados ditatoriais governando à mão de ferro como vimos recentemente com a derrocada do Muro de Berlim e a corrida pela independência de vários povos que habitam o Leste Europeu ou no Brasil com o golpe militar de 1964 Todas as rivalidades ódios jogos de interesses econômicos sociais políticos e relações de poder estavam sempre presentes no cotidiano dos povos envolvidos e agora assistimos boquiabertos vizinhos em duros conflitos Já no Brasil a todo momento novos documentos vêm à tona ressignificando o passado e transformando o presente Um passeio pela psicologia social no Ocidente Três pontos importantes para a história da psicologia social primeiro a resgataremos alguns pontos fundamentais da história que foram senão deliberadamente ao menos ingenuamente esquecidos da história da psicologia social Dentre outros destacaremos o que foi chamado de o repúdio positivista de Wundt Em segundo lugar b tentaremos mostrar que a história da psicologia social narrada até o momento excessivamente trabalhada nos cursos de graduação em Psicologia no país e no mundo são permeadas por uma filosofia da ciência claramente vinculada ao positivismo Decorre daí que a própria perspectiva histórica dos acontecimentos levam de forma indelével a marca do positivismo Finalizamos este tópico c com a perspectiva de narrativa histórica da psicologia social apresentada por Farr 1996 apontando para a importância e influência de determinadas instituições e fatos históricos no desenvolvimento da psicologia social Com isto enfocamos a história da psicologia social através de um olhar crítico sobre o desenvolvimento da própria psicologia social a O Repúdio positivista de Wundt Wilhelm Wundt 18321920 que é por muitos considerado o pai da psicologia era um filósofo e estudioso extremamente metódico Por volta de 1860 estabeleceu três objetivos para sua carreira profissional sendo que ao final de sua vida cumpriu aquilo a que se propôs Seu primeiro objetivo era a construção de uma psicologia experimental ou também conhecido como o projeto wundtiano de estabelecer um projeto de psicologia como ciência independente Objetivo este alcançado pela criação do Laboratório em Psicologia em 1879 em Leipzig através da criação de uma psicologia experimental da mente com seu objeto de estudo definido a experiência imediata à consciência assim como seu método experimentalintrospectivo Além disso Wundt publicou a primeira edição de sua Psicologia fisiológica Physiological Psychology em 1874 e em 1881 a revista Estudos Filosóficos Philosophische Studien Seu segundo objetivo elaborado entre 1880 até 1900 era a criação de uma metafísica científica ou uma filosofia científica Aqui Wundt elabora três obras que compõem sua metafísica científica uma de Lógica conjunto de estudos que visam determinar quais são os processos intelectuais ou as categorias racionais para a apreensão do conhecimento uma de Ética conjunto de estudos dos juízos de apreciação da conduta humana e uma de Sistemas Filosóficos conjunto de estudos das principais concepções filosóficas para Wundt Para um positivista uma filosofia que se proponha a ser metafísica científica é um retrocesso no desenvolvimento do pensamento científico Pois de acordo com Augusto Comte formulador do pensamento positivista existem três estágios no desenvolvimento do conhecimento para atingir a verdade toda forma de conhecimento originase da teologia pensamento mítico religioso sensitivo intuitivo a partir daí o conhecimento se aprimora e se acumula transformando se em metafísica pensamento filosófico mas sem métodos rigorosos e sistemáticos de comprovação da realidade e daí também em processos de aprimoramentos e acúmulos chegamos ao estágio positivo ou científico onde através do método científico o conhecimento transforma uma leitura da realidade em verdade A partir daí para os positivistas a ciência dita o conhecimento a luz e a verdade O terceiro objetivo wundtiano era a criação de uma psicologia social Entre 1900 e 1920 Wundt elabora sua Volkerpsychologie Psicologia do povo ou Psicologia das massas Uma obra de 10 volumes onde Wundt elabora sua psicologia social tendo como objeto de estudo principalmente temas como a Linguagem Pensamento Cultura Mitos Religião Costumes e fenômenos correlatos Para Wundt tais temas são fenômenos coletivos que não podem ser explicados nem reduzidos à consciência individual Não somente seu objeto de estudo primeiro consciência era incapaz de fornecer subsídios para suas explicações como seu método experimentalintrospectivo também era limitado a pequenos experimentos de laboratório Sobre as limitações do uso da introspeção na exploração do fenômeno mental coletivo Wundt dizia É verdade que se tem tentado frequentemente investigar as funções complexas do pensamento na base da mera introspeção No entanto estas tentativas foram sempre frustradas A consciência individual é completamente incapaz de nos fornecer uma história do pensamento humano pois está condicionada por uma história anterior sobre a qual não nos pode dar nenhum conhecimento sobre si mesma WUNDT 1916 p 3 William James referiuse à utilização do método experimentalintrospectivo para os estudos de processos psíquicos superiores como um total absurdo James comparou este empreendimento com a estupidez de acender uma luz a fim de ver melhor a escuridão que nos cerca GUARESCHI et al 1993 p 81 Neste terceiro objetivo Wundt revê suas primeiras posições acerca de sua psicologia experimental estabelecendo seus limites Assim fazse mister este breve retorno a Wundt resgatando sua obra na integralidade e não estabelecendo recortes e vieses comprometidos com uma única perspectiva filosófica na psicologia É exatamente este recorte grosseiro e abusivo de Wundt que Danziger 1979 chama do repúdio positivista de Wundt É contra esta ética utilitarista de determinados historiadores aproveitando o que lhes interessava e jogando fora o que não condizia com seus valores e ideias que fez com que a influência positivista e os fortes atravessamentos ideológicos se estabelecessem de forma clara no surgimento e desenvolvimento da psicologia como um todo b O longo passado e o curto presente da psicologia Propomos agora um pequeno esforço de memória lembrarmos como estudamos em geral a história da psicologia A psicologia tinha um pai Wilhelm Wundt uma mãe a filosofia uma maternidade Laboratório de Psicologia Experimental toda uma certidão de nascimento 1879 Leipzig Alemanha Objeto de Estudo e Método próprios uma revista de psicologia Philosophische Studien e um rompimento de seu cordão umbilical o projeto da psicologia como ciência independente claramente colocados Diante da tentativa de transformar a psicologia em uma ciência independente surgem algumas indagações e dúvidas compartilhadas por autores como Farr 1996 Koch e Leary 1985 dentre outros por que a psicologia se preocupa com esta data de nascimento Quer dizer que a partir daí é ciência e o que temos para trás não mais interessa Que outro campo amplo do conhecimento possui este tipo de preocupação A filosofia ou os campos da área das Ciências Humanas também possuem data de nascimento Encontramos alguma data de fundação da filosofia Da física da história da pintura da literatura A história e préhistória das grandes áreas de investigação ou de produção do conhecimento se mesclam não possuindo limites e fronteiras claras para delimitálas No caso da psicologia as questões lançadas do que venha a significar o ser humano ou seu psiquismo têm sido perseguidas na história da humanidade há muito tempo No contexto da época final do século XIX Wundt representava para os positivistas o desgarramento da filosofia e o início do projeto da psicologia como uma ciência independente Assim como para os psicólogos experimentais Wundt é o pai da psicologia para os psicólogos sociais experimentais tal paternidade é dedicada a Augusto Comte Gordon Allport 18971967 deixa isto muito claro no prefácio do Handbook of social psychology LINDZEY 1954 E vai mais além dedicase a pensar que é a partir do próprio Handbook que a psicologia social científica leiase com base experimental floresce nos Estados Unidos Por que se preocupar com o estágio metafísico da especulação como Comte o chamou quando a nova era do positivismo e do progresso já nasceu ALLPORT GW 1954 p 3 O longo passado e a curta história da psicologia é a frase cunhada por Ebbinghaus em 1908 quando se referia que a curta história da psicologia se iniciava com Wundt em 1879 com seu Laboratório de Psicologia Do mesmo modo GW Allport e Lindzey assinalam o corte positivo da psicologia social o ponto sem retorno da ciência à publicação do Handbook of Social Psychology de Lindzey em 1954 Sequer o Handbook de Murchison 1935 é considerado como sendo parte do curto presente ou da curta história da psicologia social como uma ciência experimental Lindzey 1954 trata de rebater o Handbook de Murchison como fazendo parte do passado metafísico da psicologia social que agora deve ser jogado no ostracismo c Formas e formas de contar histórias da psicologia social Ao invés de tratarmos da história da psicologia social através das teorias e autores da Era Moderna preferimos lidar com a perspectiva adotada principalmente por Robert Farr 1996 quando releva a importância de fatos instituições e pesquisas publicadas para o surgimento e desenvolvimento de um determinado conhecimento Neste sentido procuraremos destacar a influência do positivismo provocando distorções na historiografia da psicologia social no mundo ocidental Assim o próprio Farr 1996 de imediato destaca a importância por exemplo das guerras para a psicologia social ao afirmar que a psicologia social está para a Segunda Guerra Mundial assim como os testes psicométricos estão para a Primeira Guerra Mundial O melhor exemplo disto é a publicação do The American Soldier O soldado Americano 1949 publicado após a Segunda Guerra sob a editoração geral do sociólogo Stouffer e várias outras obras com estudos referentes ao período da guerra Os temas de estudo versavam por exemplo sobre a adequação de soldados à vida no exército avaliação da eficácia nas instruções no exército mudança de atitudes e comunicação de massa Ainda nesta perspectiva o Tribunal de Nurenberg sobre crimes de guerra foi decisivo para apresentar os principais procedimentos éticos em pesquisas experimentais com seres humanos e foi também decorrente do período entre guerras O Tratado de Nurenberg extraído do Tribunal teve peso fundamental no desenvolvimento de pesquisas em psicologia social principalmente com relação aos experimentos com humanos Não precisamos ir além dos exemplos de pesquisas realizadas com humanos durante as guerras mundiais principalmente nos campos de concentração nazistas para demonstrar a importância do tratado Outro exemplo sobre como as guerras influenciaram o pensamento em psicologia social é a famosa Escola de Frankfurt de Ciências Sociais representada por autores como Adorno Horkheimer Marcuse Fromm dentre outros que imigraram no período entre guerras principalmente após Hitler ter fechado seus institutos de pesquisa Construíram imediatamente após a imigração o estudo da personalidade autoritária ADORNO et al 1950 marco na psicologia social europeia Farr 1996 acredita que a psicologia social na Era Moderna é um fenômeno tipicamente americano embora suas raízes sejam europeias O surgimento do nazismo na Alemanha com o intelectualismo e o antissemitismo pernicioso que o acompanharam resultou como todos sabemos muito bem na migração para a América de muitos líderes acadêmicos cientistas artistas da Europa Mal poderíamos imaginar como seria a situação hoje se pessoas tais como Lewin Heider Kohler Wertheimer Katona Lazersfeld e os Brunswiks não tivessem ido aos Estados Unidos no momento em que foram CARTWRIGHT apud FARR 1996 p 6 O florescimento da psicologia social em solo americano se deve em grande parte à migração de grandes pesquisadores para os Estados Unidos na era entre guerras A principal migração foi dos gestaltistas da Áustria e Alemanha para os Estados Unidos E foi este fato que possibilitou o surgimento da psicologia social cognitiva com raízes na fenomenologia Foi desse conflito entre duas filosofias rivais mas incompatíveis isto é fenomenologia e positivismo que a psicologia social emergiu na América na forma específica de como se deu logo no início do período moderno A psicologia da gestalt foi o ingrediente crucial nessa transformação O conflito ocorreu no solo americano e também o resultado uma forte psicologia social cognitiva foi um produto claramente americano A psicologia social moderna pode pois ser na verdade um fenômeno caracteristicamente americano mas ao menos a fenomenologia era europeia FARR 1996 p 7 Em termos institucionais destacamos algumas universidades que realizaram importante papel no desenvolvimento da psicologia social moderna como um fenômeno caracteristicamente americano A primeira delas é a Universidade de Yale com o Núcleo do Programa de Pesquisa do PósGuerra com temática central em comunicação e mudança de atitude Aqui foram elaboradas por Stouffer por Hovland e outros a série American Soldier em seus três volumes Uma segunda universidade importante foi o Instituto de Tecnologia de Massachusetts MIT com Kurt Lewin onde ele fundou em 1945 o Centro de Pesquisa em Dinâmica de Grupo Foi o grupo por excelência que refletiu na América toda a influência da Psicologia Gestalt para a psicologia social Seu papel foi vital no desenvolvimento de uma psicologia social cognitiva Após a prematura morte de Lewin em 1947 o Centro de Pesquisa em Dinâmica de Grupo do MIT se transfere sob a direção de Cartwright para a Universidade de Michigan onde se tornou parte do Instituto de Pesquisas Sociais Em termos de desenvolvimento das ciências cognitivas dentre elas a Psicologia Cognitiva os psicólogos da Gestalt e seus trabalhos em psicologia social foram determinantes para o desenvolvimento da área Os psicólogos sociais na América eram teóricos cognitivistas numa época em que não em moda isto é no auge do behaviorismo FARR 1996 p 7 Um outro ponto de destaque para a narrativa histórica são os manuais de Psicologia escritos até o momento Os Handbooks of Social Psychology MURCHISON 1935 LINDZEY 1954 LINDZEY ARONSON 19681969 1985 Na primeira edição do Handbook em 1954 Lindzey diz provocar o rompimento com o que chama de Psicologia social metafísica presente nas raízes europeias da psicologia social A Psicologia social metafísica para Lindzey é aquela forma de psicologia social não científica pois não utiliza em sua construção de conhecimento o rigor e sistematização do método experimental Seguindo a tradição positivista o ponto sem retorno para Lindzey é o Handbook de Murchison 1935 Embora ainda para Lindzey a obra inicial que aponta para a modernidade na psicologia social ou seja agora nos transformamos em ciência é o seu Handbook de 1954 Allport escreve no Handbook de 1954 o capítulo sobre a história da psicologia social Nele a ancestralidade da psicologia social é remetida a Comte Para Allport a psicologia social era uma ciência eminentemente social Já nos Handbook de 19681969 e de 1985 o capítulo de Allport sofre pequenas alterações mas o mais interessante é a inclusão do capítulo da Psicologia social moderna por Jones 1985 onde o mesmo desenvolve uma linha de raciocínio situando o capítulo da psicologia social escrito por Allport como um relato do longo passado da psicologia social e o seu capítulo que descreve a trajetória da psicologia social a partir do pósguerra trazendo o início da curta história da psicologia social como uma ciência eminentemente experimental Os desdobramentos epistemológicos e teóricos relacionados à psicologia social como um fenômeno que floresceu na América do Norte serão melhor desenvolvidos no último tópico deste capítulo mas de antemão destacamos que a psicologia social ali florescida é uma forma de psicologia social psicológica FARR 1995 1996 Seus princípios básicos nas explicações dos fenômenos sociais são tratálos como fenômenos naturais através de métodos experimentais sendo que seus modelos explicativos nos remetem sempre em última instância a explicações centradas no indivíduo É o fenômeno da individualização da psicologia social que Farr 1991 1994 1996 tanto refere Um outro desdobramento desta lógica positivista é o esquecimento ou abandono de determinadas ideias ou autores que foram essenciais nos rumos e projetos da psicologia social Citaremos dois casos o primeiro a negação de perspectivas e referenciais históricocríticos A perspectiva marxista da história e do fazer psicológico não se encontram contemplados como psicologia social nos Handbooks LINDZEY 1954 LINDZEY e ARONSON 19681969 1985 nem tampouco nos principais livros clássicos de história da psicologia como por exemplo um livro bastante trabalhado nos cursos de graduação em Psicologia no Brasil Schultz Schultz 1994 Os autores iniciam seu prefácio da seguinte forma O tema deste livro é a história da psicologia moderna aquele período que se inicia no final do século XIX no qual a psicologia se tornou uma disciplina distinta e basicamente experimental Embora não ignoremos o pensamento filosófico anterior concentramonos nos fatores que têm relação direta com o estabelecimento da psicologia como campo de estudo novo e independente SCHULTZ SCHULTZ 1994 p 5 A perspectiva positivista se encontra claramente explicitada logo no início da obra anteriormente citada através da apresentação da psicologia moderna não como uma reflexão sobre a própria psicologia ou um recorte histórico em torno de fatos e instituições e sim pelo surgimento de determinadas ideias e a aplicação do método experimental Os autores continuam mais adiante Preferimos narrar a história da psicologia em termos de suas grandes ideias ou escolas de pensamento Desde o começo formal do campo 1879 a psicologia tem sido definida de várias maneiras à medida que novas ideias conseguem o apoio de grande número de seguidores e passam por algum tempo a dominar a área SCHULTZ SCHULTZ 1994 p 5 Outro ponto interessante é que no quarto capítulo do SCHULTZ e SCHULTZ 1994 denominado A Nova Psicologia que dedica 13 páginas a Wilhelm Wundt apresentando o projeto da psicologia como ciência independente sequer é mencionada sua Volkerpsychologie ou sua psicologia das massas do povo enfim sua psicologia social O positivismo influenciou e influencia a forma de contar a história da psicologia em geral e da psicologia social em particular de maneira significativa estabelecendo com a própria psicologia reducionismos em sua construção de conhecimento e deixando transparecer questões ideológicas marcantes no universo psicológico O segundo caso desta influência positivista se refere ao abandono nos manuais clássicos do pensamento do filósofo George Herbert Mead e como parte integrante de seu pensamento sua teoria do behaviorismo social que é eminentemente uma psicologia social Mead era um behaviorista mas produzia um pensamento muito distinto de Watson e de Skinner Estava mais preocupado com os estudos da linguagem como um comportamento social Mead construiu foi uma explicação behaviorista da mente baseada em sua concepção da linguagem GUARESCHI et al 1993 p 82 Na literatura e tradições norte americanas há uma certa confusão de Mead com o interacionismo simbólico Na realidade interacionismo simbólico foi o nome dado por Blumer aos estudos de Mead logo após a sua morte em 1931 Os principais pontos que distinguem o behaviorismo social de Mead do behaviorismo clássico de Watson e do behaviorismo radical de Skinner são em primeiro o estudo da linguagem e do pensamento humano dentro de um contexto evolucionista Em segundo a linguagem como um fenômeno intrinsecamente social E em terceiro o self de Mead estabelece a intermediação entre mente e sociedade Mead rompe com o modelo de mente proposta pela psicologia da consciência do primeiro Wundt Seu modelo da mente era síntese de fenômenos tanto em nível coletivo quanto em nível individual Finalizamos este terceiro tópico resgatando seu objetivo o de mostrar ao menos duas formas diferentes de história da psicologia social uma primeira com forte influência positivista centrada em ideias e determinados autores e uma segunda apresentada por Farr 1996 centrada em instituições e fatos históricos Deixamos a tarefa de encerrar ao próprio Farr A história da psicologia social como uma investigação do passado conduzindo a uma compreensão melhor do presente ainda está para ser escrita SAMELSON 1974 p 229 A rejeição de distinções extremamente simplistas entre o passado longínquo e a curta história da disciplina pode ser um bom ponto de partida Deveria ser possível escrever uma história da psicologia social que seja tanto internacional como interdisciplinar Não seria nem a história de ideias como a que Allport escreveu nem uma narrativa etnocêntrica das realizações de psicólogos sociais experimentais na América como a que Jones escreveu Não há nada de errado a meu ver em fazer distinções entre o passado e o presente de uma disciplina desde que a distinção não esteja tão estreitamente ligada a uma filosofia específica de ciência Historiadores internos à disciplina têm maiores probabilidades que os historiadores externos de aderir a tal filosofia pois ao mesmo tempo em que são historiadores de uma ciência são também praticantes dessa ciência FARR 1996 p 167 Psicologia social no Brasil No Brasil assim como em quase toda a América Latina nas décadas de 1960 e 1970 a psicologia social seguia um rumo muito próximo à forma de psicologia social importada dos Estados Unidos A transposição e replicação das teorias e métodos norteamericanos fica evidente em algumas obras de psicologia social da época como por exemplo Rodrigues 1976 1979 1981 Tal posicionamento colonialista onde a importação desenfreada e acrílica de posturas teóricas estava muito presente levou alguns psicólogos sociais latino americanos no final da década de 1970 a constatar o período que se chamou de a crise da psicologia social Ou a crise de referência Vale retomar que esta crise era europeia já na década de 1960 No Brasil e na América Latina a crise começa a tomar corpo nos Congressos da Sociedade Interamericana de Psicologia principalmente em Miami EUA 1976 e em Lima Peru 1979 Como pontos principais da crise da psicologia social estavam a dependência teóricometodológica principalmente dos Estados Unidos a descontextualização dos temas abordados a simplificação e superficialidade das análises destes temas a individualização do social na psicologia social assim como a não preocupação política com as relações sociais no país e na América Latina em decorrência das teorias importadas A palavra de ordem era a transformação social Nos anos de 1960 surge a Associação LatinoAmericana de psicologia social Alapso Vários psicólogos sociais experimentais como por exemplo Aroldo Rodrigues e J Varela levam a Alapso ao extremo da psicologia social norteamericana Em toda a América Latina começa um movimento de rechaço à Alapso e várias associações começam a surgir identificadas com uma nova proposta de psicologia social Como exemplo na Venezuela surge a Associação Venezuelana de Psicologia Social Avepso e no Brasil a Associação Brasileira de Psicologia Social Abrapso A Abrapso surge em 1980 no Brasil através da mão de alguns pesquisadores dentre tantos outros Silvia Lane Lane e Codo organizam em 1984 a obra marco da ruptura da psicologia social brasileira Psicologia social o homem em movimento Aqui o rompimento com a psicologia social norteamericana está claramente colocado A discussão de fundo é como extrair entidades psicológicas de fenômenos sociais O materialismo histórico dialético ditava as discussões da época Também conhecida como a psicologia marxista tal perspectiva no Brasil rompe de vez com a psicologia social cientificista norte americana O contexto da época do surgimento da Abrapso o país mergulhado na ditadura militar Hoje a realidade parece ser outra Os países latinoamericanos conseguem construir uma produção em psicologia social que não deixa nada a desejar à produção do restante do Ocidente Contextualizada histórica preocupada com a cultura valores mitos e rituais brasileiros e latino americanos em geral já não veem mais necessidade de importação desenfreada de teorias e métodos cientificistas A interlocução principalmente com os países europeus está acirrada como nos diz Farr No início da Era Moderna a psicologia social nas universidades da América Latina foi fortemente influenciada pela forma psicológica dominante de psicologia social da América do Norte A psicologia social na Era Moderna foi um fenômeno caracteristicamente americano Muitos dos proeminentes professores de Psicologia Social nas universidades latinoamericanas receberam sua formação de pósgraduação nos Estados Unidos da América Essa é uma situação que agora está começando a reverter na medida em que a psicologia social está se fortificando mais na Europa e a hegemonia da língua inglesa como veículo de publicação em psicologia social está sendo desafiado pela literatura florescente em psicologia social nos idiomas latinoamericanos FARR 1996 p 1112 Indicações de leituras dos desdobramentos e atravessamentos teóricos Iremos situar agora rapidamente algumas concepções teóricas que se desdobraram ou que se atravessaram na psicologia social Cada uma dessas concepções teóricas ou atravessamentos daria no mínimo um livro Portanto optamos por uma rápida apresentação do desdobramento ou atravessamento teórico e remetemos o leitor a obras ou textos recomendados para o estudo e aprofundamento destas concepções Segundo Farr 1994 existem duas formas diferentes de psicologia social formas psicológicas e formas sociológicas As formas psicológicas de psicologia social reduzem as explicações do coletivo e do social a leis individuais O indivíduo é o centro da análise Indivíduo aqui é entendido como uma entidade liberal autônoma independente das relações com o contexto social que o cerca e consciente de si Isto gera a individualização da psicologia social Um bom exemplo desta perspectiva se encontra em Allport quando afirma que não há psicologia dos grupos que não seja essencialmente e inteiramente uma psicologia dos indivíduos ALLPORT 1924 p 4 Para Allport não existem pensamentos sociais pois são os indivíduos que expressam suas opiniões as clássicas pesquisas de opinião pública ou não é a nação quem decide são os leitores que votam A individualização do social é a característica marcante da forma de psicologia social psicológica predominante atualmente nos Estados Unidos da América Tanto o behaviorismo quanto a Gestalt sustentam formas de psicologia social psicológica Atualmente a Psicologia Cognitiva de Tratamento de Informações cumpre esta função Já as formas sociológicas de psicologia social refletem a relação entre o individual e o coletivo Buscam uma superação desta dicotomia não reduzindo as explicações da psicologia social ao individual nem tampouco ao coletivo São exemplos desta perspectiva a Teoria das Representações Sociais MOSCOVICI 1978 e o behaviorismo social MEAD 1934 1982 dentre outros Para a história da psicologia recomendamos também Luís Cláudio Figueiredo em Matrizes do pensamento psicológico 1991 psicologia 4 séculos de subjetivação 1992 Revisitando as psicologias 1995 e Psicologia uma introdução 1995 Nestas obras Figueiredo traz a história da psicologia sob uma perspectiva epistemológica antropológica ontológica e ética Discute o contexto sócio históricocultural para o surgimento da psicologia e que concepções de ser humano e psiquismo surgem daí Embora de fundamental importância não abordaremos tal perspectiva aqui pura e simplesmente por uma questão de tempo e espaço Contribuindo com a discussão da psicologia social como um todo mas ainda seguindo uma tradição da forma de psicologia social sociológica as perspectivas mais culturalistas com autores como por exemplo Erving Goffman 1978 1987 Estigma Manicômios presídios e conventos e Berger e Luckman 1996 A construção social da realidade Sob a influência da psicanálise primeiro em Freud 1974 O malestar na civilização O futuro de uma ilusão Em tradição mais lacaniana enfocando o conceito de Sintoma Social encontramos Otávio de Souza 1994 Fantasia de Brasil Contardo Caligaris 1993 1991 Hello Brasil e Clínica do social e Mário Fleig 1993 Psicanálise e Sintoma Social Para finalizar mas não menos importante recomendamos a revista da Abrapso Psicologia e Sociedade Com periodicidade semestral a revista da Abrapso traz importantes artigos sobre a psicologia social no Brasil e no mundo Assim como os livros que Manualmente são editados das regionais da Abrapso principalmente resultantes dos Encontros Regionais da Abrapso Bibliografia ADORNO TW et al The authoritarian personality New York Harper and Row 1950 ALLPORT F Social Psychology Cambridge Mass Riverside Press 1924 ALLPORT G The Historical background of modern social psychology In LINDZEY G ARONSON E The handbook of social psychology Vol 1 Addison Wesley 1968 The Historical background of modern social psychology In LINDZEY G The handbook of social psychology Vol 1 Reading Mass Addison Wesley 1954 BERGER L LUCKMANN T A construção social da realidade tratado de sociologia do conhecimento 13 ed Petrópolis Vozes 1996 BORGES VP O que é história 12 ed São Paulo Brasiliense 1987 CALLIGARIS C Hello Brasil notas de um psicanalista europeu viajando ao Brasil 3 ed São Paulo Escuta 1993 CALLIGARIS C et al Clínica do social ensaios São Paulo Escuta 1991 CIAMPA AC Entrevista com Silvia Tatiana Maurer Lane Parar para pensar e depois fazer In Psicologia e sociedade Revista da Abrapso 1996 Vol 8 n 1 DANZIGER K The positivism repudiation of Wundt Journal of the History of the Behavioural Sciences 1979 Vol 15 p 205230 FARR R The roots of modern social psychology 18721954 Oxford Blackwell Publishers 1996 Representações sociais a teoria e sua história In GUARESCHI P e JOVCHELOVITCH S orgs Textos em representações sociais Petrópolis Vozes 1994 Individualism as a collective representations In AESBISCHER V DECONCHY J LIPIANSKY E eds Idéologies et representations sociales Paris DelVak 1991 FIGUEIREDO LC Psicologia uma introdução São Paulo EDUC 1995 Revisitando as psicologias da epistemologia à ética das práticas e discursos psicológicos São Paulo Educ Petrópolis Vozes 1995 A invenção do psicológico Quatro séculos de subjetivação 15001900 São Paulo Escuta 1992 Matrizes do pensamento psicológico Petrópolis Vozes 1991 FLEIG M et al Psicanálise sintoma social São Leopoldo Unisinos 1993 FREUD S O malestar na civilização In Obras completas Vol XXI Rio de Janeiro Imago 1974 p 73171 O futuro de uma ilusão In Obras completas Vol XXI Rio de Janeiro Imago 1974 p 1371 GOFFMAN E Manicômios prisões e conventos 2 ed São Paulo Perspectiva 1987 Estigma notas sobre a manipulação da identidade deteriorada 2 ed Rio de Janeiro Zahar 1978 GUARESCHI P MAYA PV BERNARDES J Repensando a história da Psicologia Social comentários ao curso de Robert Farr Psico Vol 24 n 2 p 7592 juldez 1993 KOCH S LEARY DE A century of psychology as science New York McGrawHill 1985 LANE S O que é psicologia social 11 ed São Paulo Brasiliense 1986 LANE S CODO W orgs Psicologia social o homem em movimento 4 ed São Paulo Brasiliense 1986 LINDZEY G The handbook of social psychology Reading Mass AddisonWesley 1954 2 vols LINDZEY G ARONSON E The handbook of social psychology Reading Mass Addison Wesley 1968199 5 vols The handbook of social psychology New York Random House 1985 2 vols MEAD GH The individual and the social self unpublished work of George Herbert Mead Organizado por DL Miller Chicago University of Chicago Press 1982 Mind self and society from the standpoint of a social behaviorist Organizado por CW Morris Chicago University of Chicago Press 1934 MOSCOVICI S A representação social da psicanálise Rio de Janeiro Zahar 1978 MOSCOVICI S FARR R Social representations Cambridge Cambridge University Press 1984 MURCHISON CA Handbook of social psychology Worcester Mass Clark University Press 1935 RODRIGUES A Psicologia social 9 ed Petrópolis Vozes 1981 Estudos em psicologia social Petrópolis Vozes 1979 A pesquisa experimental em psicologia e educação 2 ed Petrópolis Vozes 1976 SCHULTZ DP SCHULTZ SE História da psicologia moderna 5 ed São Paulo Cultrix 1994 SOUZA O Fantasia de Brasil São Paulo Escuta 1994 STOUFFER SA et al The american soldier adjustement during army life Studies in social psychology in world war II Princeton NJ Princeton University Press 1949 Vol 1 STOUFFER SA et al The american soldier combat and its aftermath Studies in social psychology in world war II Princeton NJ Princeton University Press 1949 Vol 2 WUNDT W Elements of Folk Psychology outlines of a psychological history of the developmental of mankind London George Allen and Unwin 1916 EPISTEMOLOGIA Tânia Mara Gali Fonseca Viver há apenas três anos do nascimento de um novo século e de um novo milênio tornase para muitos de nós um dispositivo de provocação a respeito do que fomos do que estamos sendo e do que queremos vir a ser A questão da temporalidade seja como experiência memória eou como categoria analítica reaparece revigorada Nosso entorno faznos reconhecer os tempos e suas formas pede e dá passagem a discussões que nos remetem à busca de sentidos e significados mais do que à história linear dos fatos e das cronologias Importa nos saber as condições que tornaram possíveis os fatos históricos importanos pois a tessitura genealógica dos acontecimentos que na perspectiva das ciências devem ser analisados desde uma escala temporal lentificada e ampliada Os nascimentos as mortes e as transformações processuais quando se trata de ciência são gastados em tempos de longa duração engendramse nunca de forma natural uma vez que em ciência tudo é arbitrário historicamente determinado e não necessário Assim o tempo da ciência nunca pode ser referido à ordem do eterno do estável e do imutável Ele pertence somente à história e às suas contingências No contexto da Modernidade a ciência ocupa um lugar preponderante na tessitura dos poderes sociais e simbólicos sendo considerada segundo Feigl apud FIGUEIREDO 1988 como uma reação contra a servidão imposta pelo dogma e pelas especulações metafísicas razão oponente à razão teocêntrica fundada na racionalidade do cogito e no expurgo do impensável A ciência é capaz de nomear as espécies que existem no universo possui um poder simbólico performativo instituinte de verdades e supostas realidades é considerada pois como legitimadora ontológica e fonte da verdade Falar de ciência implica falar do projeto de tornar centrais o homem e sua capacidade racional de analisar conhecer e dominar o mundo Implica simultaneamente em falar de luzes e sombras de conquistas e de exclusões de finitudeinfinitude enfim de crises do próprio conhecimento como das formas de conhecer A ciência como invenção da humanidade referente aos modos de conhecer e controlar o universo e seus elementos longe de manterse no suposto e pretendido lugar de intocável reitora e juíza do conhecimento revelase antes do que conjunto de verdades objetivas como reflexo objetivante das faltas e precariedades do sujeito conhecedor Se epistemologia de acordo com o dicionário Aurélio diz respeito ao estudo crítico dos princípios hipóteses e resultados das ciências já constituídas e visa determinar os fundamentos lógicos o valor e o alcance objetivo deles que se trata enfim da teoria da ciência ou seja da teoria das teorias tornase fácil reconhecer o valor de tal discussão num momento em que não apenas a cronologia indica a proximidade da passagem de século e de milênio como também se colocam novas perspectivas para a própria discussão ensaiada e auspiciada por novos paradigmas ou modelos eles próprios gerados e geradores dos novos tempos sociais e humanos Se é verdade que a ciência e suas práticas necessitam ser criticadas e reconhecidas como importantes fundadoras de realidades humanas e sociais também se torna significativo que tal produção seja dotada do mais agudo sutil e permanente espírito ético visto que o conhecer constitui o mundo ao nomeálo muito antes do que apenas representálo Se pelo conhecimento inventamos mundos que possamos inventálos de maneira decente A crise e a perda da confiança na epistemologia Muitos são os sentidos atribuídos à palavra crise Em sua maioria entretanto eles se evidenciam como inevitavelmente associados às ideias de transição decisão e mudança A crise por que passa a psicologia social não pode ser considerada como distante desses significados e tampouco alheia à lógica do pensamento científico e do pensamento social Embora possamos saber de épocas em que a psicologia parece ter estado em paz com seus objetos e métodos de estudo na verdade ela enquanto ciência está sempre em causa Tal como as demais ciências sociais sua característica é a de autocriticarse fazendo daí sobressair o fato de que a realidade social e humana é viva complexa dinâmica contraditória em contínuo devir Os objetos de estudo da psicologia estão em constante transformação da mesma forma que os métodos para conhecêlos Quando termina o século XX e já se anuncia o XXI podese dizer que o objeto de estudo da psicologia social tornase mais complexo e ao mesmo tempo menos conhecido visto que o patrimônio teórico acumulado revelase insuficiente para dar conta de relações processos e estruturas ainda pouco estudados ou propriamente desconhecidos As metamorfoses do objeto de estudo da psicologia revelam que não basta apenas acomodar ou reformular conceitos e interpretações Tratase de repensar os fundamentos da própria reflexão psicológica Nesta época de contemporaneidade o que vinha germinando há muito tempo parece mais explícito Para Ianni 1994 o que singulariza o mundo contemporâneo quando já se anunciam as características fundamentais dos começos do século XXI é que se tornam explícitas algumas das profundas transformações sociais e mentais que se vinham elaborando ao longo do século XX Um emblema desse tempo está simbolizado nos contrapontos Modernidade e Pósmodernidade realidade e virtualidade globalização e diversidade Nesse final de milênio vivemos um tempo de transição caracterizado por complexidades e ambiguidades É possível dizer junto com Boaventura de Souza Santos 1996 que se olharmos para o passado em termos científicos vivemos ainda no século XIX e que o século XX ainda não começou Podemos também ao olhar para o futuro reconhecer que o século XXI começa antes mesmo de começar Nosso tempo contemporâneo é marcado tanto pela duração de um passado quanto pela obcecada tendência pela instantaneidade Duração e instantaneidade tal como num campo de batalha realizam a luta pela constituição e prevalência de sentidos A contemporaneidade revelase como um tempo social que antes do que requerer nossa nostalgia pode nos incitar à construção coletiva de novos modos de existir e de conhecer Para tanto deve nos fazer pensar sobre os reducionismos que temos praticado em nossa noção de história seja quando a entendemos como um tempo circular e de repetição que reatualiza o imemorial seja quando a entendemos como linearidade que estabelece o que permanece e o que fica como declínio ou progressão A contemporaneidade nos instiga à fragmentação de nossa visão para que possamos apreender outros regimes temporais consistentes e potenciais Ela pode nos ensinar que na memória social e subjetiva todos os dados encontramse acessíveis e em remanejo constante Que não há mesmo um passado senão o seu remanejo Que o passado se torna um presente disponível Que o tempo enfim tornase uma rede de multiplicidades e a história é a matéria para as virtualizações possíveis para múltiplos futuros simultâneos compossíveis Esta mesma condição contemporânea traz consigo a perda da nossa confiança epistemológica que gestada nos padrões científicos da Modernidade nos aponta para o fim de um ciclo de uma certa ordem científica Sabemos que as crises e a da psicologia social não seria uma exceção podem ser tão tênues e circunstanciais que sua extinção acontece por si mesma podem ser tão radicais a ponto de suscitar transformações radicais na situação que a motivou A crise da psicologia social não é da espécie tênue Ela a sacode já por décadas como de resto a toda psicologia reclamando por ações de mudança Como intervir na crise nós professores psicólogos e pesquisadores de psicologia se nossos instrumentos de pensamento constituíramse eles próprios nos elementos que a geraram Como pode alguém ser sujeito de uma cura se vê a si mesmo contaminado pelo que quer curar Como os cuidados com o conhecer se implicam nos cuidados de si Estes são alguns dos nossos desafios quando constatamos ao mesmo tempo a potência e a impotência de nossas práticas profissionais de ensino e pesquisa Quer em seus efeitos produtivos quer em suas omissões e inafetabilidades nossas práticas revelamse muito distantes daquilo que sonháramos que fossem Chamamnos contudo a atenção por produzirem o efeito senão suficiente necessário de registrarem em nossos juízos os descompassos nelas existentes Para Tomás Ibañez 1994 a crise da psicologia social longe de constituir um fenômeno localizado conjuntural e específico tem suas raízes em uma problemática muito mais geral que atinge a própria concepção da racionalidade científica Esta problemática tem se configurado em torno de fenômenos que marcam os tempos da contemporaneidade tais como a derrubada das bases neopositivistas do paradigma epistemológico vigente em especial no que concerne à sua formulação verificacionista à sua concepção da natureza e do papel desempenhado pela atividade teórica em relação aos dados empíricos a configuração de uma sociologia do conhecimento e de uma sociologia da ciência que não podiam senão apontar para o caráter construído reflexivo e sócio histórico do conhecimento científico e de suas práticas constitutivas Estes são alguns dos elementos que têm propiciado intenso clima de discussão filosófica e epistemológica próprio de uma época de mutação dos grandes paradigmas científicos E precisamente esta discussão que nutre o novo pensamento sobre o social e que têm alimentado a crítica que afeta a Psicologia Social e outras disciplinas Com relação à racionalidade científica moderna estendida no século XIX das ciências naturais para as sociais podese dizer tratarse de um modelo global e totalitário na medida que nega o caráter racional a todas as formas de conhecimento que não se pautarem pelos princípios epistemológicos e pelas regras metodológicas SANTOS 1996 p 11 Desta forma o empirismo lógico ou positivismo projetouse na história do pensamento ocidental moderno como uma continuação e renovação do projeto iluminista tornando nítida sua pretensão de ser a encarnação moderna da cultura sensata viril e racional de permanente combate aos fantasmas às ilusões às tradições e autoridades ilegítimas que não se sustentam diante dos tribunais da experiência e da razão FIGUEIREDO 1988 A confiança epistemológica infundida pela Modernidade pode ser pensada ainda como resultado de uma concepção a respeito da natureza como sendo uma espécie de mecanismo passivo eterno e reversível passível de se deixar desmontar e depois relacionar sob a forma de leis Passível assim de ser dominado e controlado A implementação de tal cultura científica implicava a procura de um conjunto de regras de aplicação mecânica e universal que permitisse além da exclusão de falsos problemas e de falsas soluções a construção metódica de conceitos e leis Tal conjunto de regras deveria ter a sua operatividade independente de quem as aplicasse e da natureza específica dos objetos buscava a validade intersubjetiva universal a objetividade dos enunciados científicos a homogeneidade dos procedimentos e a possibilidade de fundação do projeto de uma Ciência universal unificada Tal ideal de um saber universalizante encarna o ideal iluminista de uma comunidade formada por seres iguais e dotados de instrumentos capazes de garantir entre eles o consenso Os particularismos seja dos sujeitos seja do mundo seriam em última análise redutíveis à fórmula universal da cultura científica Ao método é então creditado o poder de realizar o padrão de convivência idealizado Agora deste reino achamse excluídas as decisões acerca de valores éticos e políticos supostamente não passíveis de uma avaliação objetiva pelos fatos e pela lógica Obtendo a expulsão da intenção dos agentes e gerido não pela causa material e sim pela causa formaleficientefinal o conhecimento científico avança pela observação descomprometida sistemática e tanto quanto possível rigorosa dos fenômenos naturais Opõe a incerteza da razão entregue a si mesma à certeza da experiência ordenada KOYRÉ apud SANTOS 1996 orientase das ideias para as coisas e não das coisas para as ideias e estabelece a prioridade metafísica como fundamento último da ciência Matematiza o universo quando adota a lógica das matemáticas como instrumento privilegiado de análise Conhecer significa quantificar O rigor científico é aferido pelo rigor das medições passando a ser irrelevante tudo o que não é quantificável Realizando de forma plena a regra cartesiana de dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quanto for possível e requerido para as resolver O método científico apregoado reduz a complexidade revelando aí que conhecer também significa reduzir e classificar para depois determinar as relações sistemáticas entre o que se separou Impondose como esquecimento de que a complexidade está na realidade social e não numa vontade BOURDIEU 1990 também hoje nos permite ver aquilo que diz Bachelard o simples nunca é mais que um simplificado apud BOURDIEU 1990 Criase nesse contexto a ideia de um mundo máquina capaz de ser regulado desde a manipulação externa porque uma vez compreendido desde a ordem e a estabilidade tornase mesmo uma précondição para que seja transformado Mais do que para compreender o real este conhecimento mostra pretensões funcionais e utilitárias Se tal racionalidade se pretendia instituinte de um regime de verdade e foi capaz de estabelecer uma arrogante confiança epistemológica através tanto da deslegitimação dos chamados saberes ordinários provindos da experiência imediata como de suas concepções mecanicistas a respeito da natureza ela também percebia como potencialmente perturbadoras as chamadas humanidades que colocadas em lugar marginal passaram a perseguir seu estatuto social enquanto ciência a partir da adoção daqueles preceitos ditados pela própria racionalidade que as negava Para colocarse como ciência e não filosofia a psicologia inaugura nos idos do século passado com Wundt seu ingresso na galeria das ciências desvinculandose então de sua longa história com a filosofia tal como assinala Robert Farr 1996 Transbordado assim para o estudo dos homens e das sociedades o empirismo lógico vêse confrontado com obstáculos epistemológicos mostrandose contudo não mais capaz de oporse à maré de irracionalismo então suscitada Sofre algumas variantes que mesmo estando assentadas numa postura antipositivista e fenomenológica revelamse ainda subsidiárias do modelo de racionalidade das ciências naturais A crise do paradigma dominante que acabo de descrever é o resultado interativo de uma pluralidade de condições dentre elas as de ordem teórica Assim no início do século XX as descobertas da física especialmente as da Teoria da Relatividade de Einstein as da mecânica quântica no domínio da microfísica o princípio da incerteza de Heisenberg e as experiências do físico químico Ilya Prigogine relacionadas à teoria das estruturas dissipativas e ao princípio da ordem através de flutuações são exemplos de que o aprofundamento do conhecimento permitiu ver a fragilidade dos pilares em que se funda SANTOS 1996 Neste novo contexto a reflexão crítica tem mostrado dentre outras coisas o declínio da hegemonia das leis e das causas Incide outrossim mais sobre o conteúdo do conhecimento científico do que sobre sua forma e permite portanto revelar que o aviltamento da natureza operado pelo paradigma mecanicista e empiricista acaba por aviltar o próprio cientista na medida em que reduz o suposto diálogo experimental ao exercício de uma prepotência Novos espaços novos paradigmas Do movimento crítico acima caracterizado originamse múltiplos efeitos sendo possível detectar no contexto da psicologia social atual pluralizações diversas que apontam para um quadro de fragmentação antes do que para a unidade Novos espaços se constituem pelas conjunções e disjunções realizadas Implicações antigas são questionadas e descentramentos são propostos Tornamse vigorosos os discursos da interdisciplinaridade e das conjunções bem como o da ecologia social e cognitiva que lhe é consequente revelando um contexto propício à análise cujos componentes se amalgamam não se comportando como configurações isoladas Redes de saberes se propõem a interconexões possibilitando uma infindável trama de possibilidades de conhecer A consciência crescente do papel criativo da desordem PRIGOGINE 1996 da autoorganização MATURANA VARELA 1990 e da não linearidade fazem reconhecer que o mundo é rico em evoluções imprevisíveis cheio de formas complexas e fluxos turbulentos caracterizado por relações não lineares entre causas e efeitos e fraturado entre escalas múltiplas de diferente magnitude que tornam precária a globalização SCHNITMAN 1996 Vivese uma espécie de apogeu do instituinte mesmo que se saiba do peso das determinações do já instituído O novo discurso científico é um convite à busca antes do que a certeza e privilegia como nunca dantes o fizera a multiplicidade a polifonia a descentralização do sujeito e da razão O duvidar sobre a dúvida a perda das certezas e das metanarrativas introduzem aquilo que se pode chamar de processos de segunda ordem ou seja a reflexividade sobre a reflexividade O pensamento se constitui como potencialmente relativista relacionante e autocognoscitivo SCHNITMAN 1996 e a ciência reconhecese como não suficiente se tomada como referência à legitimação do conhecer É olhada e olhase como constituída e constituinte nasdas redes de poder reconhecendose como efeito de regimes de verdade antes do que fonte de verdades A ciência revelase contingente e não autoevidente mostrase como construção social Sendo construída podese dizer que ela pode vir a ser desconstruída interrogada e questionada Assim é que na seção final deste capítulo pretendo enfocar algumas discussões que têm animado o cenário científico e acadêmico Ibañez 1994 chama a atenção para o surgimento de uma espécie de galáxia construcionista da ciência ou seja um conjunto heterogêneo de disciplinas assentado em preocupações e formulações comuns que apontam para uma posição de ruptura com boa parte dos pressupostos da concepção herdada de ciência Para o psicólogo espanhol acima referido o fato de que o construcionismo transite por disciplinas tão diversas como a Física a Biologia e a Psicologia por exemplo dotao de um caráter de metadiscurso ou seja trata se de um tipo de discurso cujo alto nível de generalidade e de abstração permite inspirar concretizações diversas segundo as particularidades de cada disciplina Desde o intuito simultaneamente construtivista desconstrutivista contemporaneamente proposto uma das primeiras questões a ser reconhecida pela psicologia é a do seu caráter autoritário Pretendendo constituir um conhecimento científico acerca da complexa realidade psicológica e dele utilizar se para incidir sobre a infinidade de problemas psicossociais propostos e existentes almejando assim melhorar a qualidade de vida dos sujeitos as boas intenções da psicologia necessitam ser desconstruídas com o objetivo de fazer aflorar perigosas ingenuidades que têm sustentado nossas práticas Assim é que para dar início a esse processo chamo a atenção juntamente com Ibañez op cit para a concepção de conhecimento e realidade implicada nas hegemônicas tradições psicológicas Em princípio a psicologia considera como separados a realidade e o conhecimento desta fundando uma tradição representacional do conhecimento que simultaneamente é desimplicado das intenções e valores do sujeito cognoscente e dos efeitos do saber sobre a realidade Nessa perspectiva a realidade é o que deve estar em correspondência com a teoria e o conhecimento privilegiado da realidade é o obtido através da objetividade científica Ora os novos paradigmas permitemnos colocar não a dúvida sobre a existência ou não da realidade mas de privilegiar a questão de que a realidade não exista com independência de nosso acesso a ela A realidade existe e está composta por objetos mas não porque estes objetos sejam intrinsecamente constitutivos da realidade mas porque nossas próprias características os põem por assim dizer na realidade E é precisamente porque são nossas características as que os constituem que não podemos crer que se a realidade depende de nós então podemos construir a realidade que queiramos IBAÑEZ 1994 Assim é que podemos compreender que os objetos que compõem a realidade psicológica não procedem de uma suposta natureza humana na qual estariam précontidos de forma natural mas que resultam das práticas de objetivação que a ciência tem desenvolvido Os fenômenos psicológicos não são dados mas construídos através de práticas contingentes sociais e históricas Isso quer dizer também que os fenômenos psicológicos estão parcialmente conformados pela maneira como os representamos ou seja pelos conhecimentos que produzimos a seu respeito E ainda significa dizer que os psicólogos auxiliam a conformar a realidade psicológica não somente utilizando conhecimentos para incidir sobre ela mas muito mais diretamente a partir dos próprios conhecimentos elaborados sobre a realidade Como dispositivo autoritário a psicologia tende a naturalizar a realidade psicológica e social mascarando o papel que desempenham certas práticas humanas na construção dessa realidade sugerindo por exemplo a existência de certos padrões de normalidade psicológica marcados pela própria natureza e aos quais devemos nos conformar e adequar Desde sua intenção de fazer incidir o seu corpo de conhecimentos sobre a realidade humana e social no intuito de transformála e melhorála a psicologia é então evidentemente exercida como prática normativa e autoritária Herdeira da concepção cartesiana de ciência e devotada filha dos ideais da Modernidade a psicologia alimenta a crença de que existe um acesso privilegiado à realidade que permite graças à objetividade conhecermos a realidade tal como ela é Tal crença se impõe com importante força conduzindo ao dilema assim colocado por Ibañez 1994 Como posso aceder à realidade com independência do conhecimento que tenho dela para comparála com o conhecimento da realidade p 269 Não tem sentido pensar que o conhecimento nos diz como é a realidade porque não há forma de saber como é a realidade com independência do seu conhecimento e não há forma de saber se o conhecimento científico acerta em sua descrição da realidade O conhecimento científico tem muitas virtudes mas nunca a virtude de refletir sobre a realidade tal como ela é É bastante útil esta discussão se concordamos com a ideia de que quando se trata de eleger um modo privilegiado de acesso à realidade a defesa da perspectiva objetivista é uma forma de impedir a presença do sujeito nos conhecimentos que este produz A produção de verdades neste sentido tende a ser encarada como absoluta e transcendente A retórica da verdade fundase no próprio mito da objetividade As tensões resultantes de tais considerações e os princípios norteadores que elas evocam tornam imperativo o reconhecimento do fato de que a realidade psicológica é uma construção contingente dependente de nossas práticas sócio históricas e que não nos define como essência em termos de algo que estaria inscrito em nossa natureza Da mesma forma deve permitir revelar o discurso do psicólogo nunca desatado das convenções nele inculcadas constituindose portanto em uma das maneiras de interpretar a realidade dentre tantas outras possíveis Nesse final de texto podemos dar as mãos aos diversos autores aqui citados e mais a outros como Maritza Montero da Venezuela para ressituarmos nossa ciência e a nós mesmos no contexto de nossa própria condição frágil contingente histórica processual e relativa Juntamente com Ibañez 1996 afirmamos que este giro recoloca o ser humano no centro mesmo da razão científica e da disciplina psicológica mas sem apelações humanistas pois temos aprendido que o ser humano é socialmente construído e que sua autonomia não deixa de ser o mais das vezes uma ilusão e que não há nenhuma natureza humana a resgatar Sugestão de leituras Com a finalidade de saber mais a respeito de epistemologia e psicologia social sugerese a paciente leitura do livro Psicologia social construcionista de Tomás Ibañez editado pela Universidade de Guadalajara México em 1994 Esta obra trata com detalhamento da história da Psicologia vista sob o ponto de vista de sua ideologização crises e rupturas Ibañez privilegia o enfoque epistemológico fundamentando sua análise em levantamentos quantitativos e qualitativos do acervo bibliográfico em psicologia disponível em especial na Europa e nos EUA Para os mais apressados e para os que preferirem encaminhar suas reflexões mais diretamente ao estado atual da arte sugiro neste mesmo livro a fixação do estudo nos seus capítulos V VI VII e VIII Um outro importante livro para auxiliar a contextualizar a discussão propriamente psicológica é o denominado Um discurso sobre as ciências de Boaventura de Souza Santos produzido em Portugal pela Editora Afrontamento e que se encontrava em 1996 na sua oitava edição Tratase de uma versão ampliada da Oração da sapiência proferida pelo autor na abertura solene das aulas da Universidade de Coimbra em 19851986 Referese a uma ampla e crítica visão sobre a discursividade científica suas tendências e rupturas bem como seus compromissos éticos e políticos Da mesma forma em Revisitando as psicologias editado pela Vozes em 1995 Luís Cláudio M Figueiredo conjuga textos importantes que versam sobre epistemologia ética e práticas da psicologia O livro em especial seu capítulo intitulado Os lugares da psicologia fornece muitos elementos a uma discussão bem fundada e sobretudo crítica Dora Fried Schnitman organiza o muito bemvindo livro Novos paradigmas cultura e subjetividade que editado em 1996 pela editora Artes MédicasPorto Alegre apresenta como núcleo as apresentações e diálogos do Encontro Interdisciplinar Internacional Novos Paradigmas Cultura e Subjetividade levado a efeito em Buenos Aires no início da década de 1990 Tratase de uma importante obra seja pelas manifestações científicas culturais e terapêuticas que expressa seja pela alta qualidade de seus manifestantes cientistas de diversas áreas caracterizados pelas mais altas distinções e reconhecimento O livro de Isabelle Stengers Quem tem medo da ciência editado em 1990 pela SicilianoSão Paulo mostrase também como importante contribuição à discussão epistemológica levando a considerar a importância das relações entre ciência e poder Tornase significativo registrar que Stengers é parceira de trabalho intelectual de Ilya Prigogine atuando com o mesmo na consolidação de novos paradigmas E por fim gostaria de sugerir a leitura do artigo Paradigmas corrientes y tendencias de la psicologia finisecular escrito por Maritza Montero e publicado na revista Psicologia e Sociedade da Abrapso volume 8 n 1 janeirojunho 1996 p 102119 Neste texto Montero além de examinar as tendências de mudança de paradigma na psicologia social contemporânea apresenta uma perspectiva que considera o objeto de estudo da disciplina como uma construção coletiva histórica e transitória Para a autora tal nova perspectiva coexiste com os demais modelos científicos e pretende colocar a Psicologia Social a serviço das transformações sociais demandadas pelas maiorias oprimidas Bibliografia BOURDIEU Pierre Coisas ditas São Paulo Brasiliense 1990 FARR Robert M The roots of modern Social Psychology CambridgeMassachusetts Blackwell Publishers 1996 FIGUEIREDO Luís Cláudio M Revisitando as psicologias Petrópolis Vozes 1995 Empirismo lógico valores vicissitudes perspectivas Cadernos PUCSP n 32 Educ 1988 IANNI Octavio A sociologia no horizonte do século XXI Aula inaugural proferida no doutorado em sociologiaUFRGS 1994 IBAÑEZ Tomás Psicologia social construcionista México Universidade de Guadalajara 1994 MATURANA Humberto R VARELA Francisco G El árbol del conocimiento las bases biológicas del entendimiento humano Santiago del Chile Editorial Universitária 1990 PRIGOGINE Ilya O fim das certezas São Paulo Unesp 1996 SANTOS Boaventura de Souza Um discurso sobre as ciências Porto Alegre Afrontamento 1996 SCHNITMAN Dora F org Novos paradigmas cultura e subjetividade Porto Alegre Artes Médicas 1996 ÉTICA Pedrinho A Guareschi Introdução Ao nos aproximarmos do Terceiro Milênio temse a impressão de que estamos vivendo um paradoxo ao invés de vermos a humanidade superar empregando a linguagem de Teilhard de Chardin a milenária fase da individualização que levou ao individualismo e ao liberalismo na sociedade em geral para entrar numa nova fase de superhumanização e de socialização na base do uma nova percepção da realidade e da vida como relação estamos presenciando e aqui está o paradoxo uma excrescência de individualismo de egocentrismo de luta e competição de maneira aguda e esquizofrênica que leva o mundo a uma situação de apartação e exclusão Os pressupostos da filosofia liberal são hegemônicos e tomam conta do cenário mundial Mas ao mesmo tempo é preciso ver que essa situação está ocasionando tantas contradições e conflitos que não pode perdurar Percebemse sinais de estertores de uma era que teve profunda influência em quase todas as instituições da sociedade mas que não consegue mais resistir e se legitimar O modelo antropológico individualista está em crise vemos nascer um novo modelo de ser humano e de uma sociedade fundada na comunhão na convergência na superação de barreiras físicas e psicológicas espaciais e temporais territoriais e culturais Esse trabalho quer discutir da maneira mais simples possível dentro de um tema complexo alguns pressupostos éticos que julgamos importantes para um estudante de psicologia que queira desenvolver uma visão crítica e global da sua disciplina e dos grandes e importantes acontecimentos mundiais que modelam a problemática atual Ética o que é isso Você já tentou perguntar a alguém quando fala em ética o que ele entende por isso Ou melhor você já tentou alguma vez responder a você mesmo o que seja ética É interessante notar que a toda hora escutamos alguém dizendo que tal procedimento não é ético que tal ação é antiética etc Que significa isso Quando se começa a refletir sobre o que seja ética e sobre os fundamentos da ética damonos conta de quão complexa é a questão Mas ao mesmo tempo vemos que todos nós de um modo ou de outro temos nossas convicções éticas possuímos nossa ética Para termos tal ética temos de nos basear em algum fundamento algum pressuposto filosófico e valorativo Mas é curioso notar que a maioria das pessoas apesar de possuírem esses fundamentos e pressupostos poucas vezes pararam para refletir e tomar consciência de quais seriam esses pressupostos Essa rápida discussão quer trazer à baila esses pressupostos e facilitar a quem desejar descobrir qual o fundamento de sua ética Mesmo os estudos de Kohlberg e em parte os de Piaget apesar de ajudarem a identificar estágios de consciência ética não fornecem elementos para que se possa identificar os pressupostos filosóficos e consequentemente se possa fazer uma crítica a esses pressupostos Podem ser identificados dois paradigmas principais que fundamentariam as exigências éticas ou os valores éticos O primeiro é o da lei natural o segundo é o da lei positiva O paradigma da lei natural O grande referencial do paradigma da lei natural é a natureza Esse referencial tem a pretensão de dizer que a partir do exame da análise e da atenção que se dá à compreensão natureza é possível de um lado identificar uma ética que governe todos os povos e em todas as épocas e de outro lado é possível descobrir uma fonte para essa ética que não sejam os costumes ou instituições de determinados povos ou nações Entre os defensores de tal paradigma podemos citar Aristóteles os estoicos Cícero e muitos outros seguidores até os dias de hoje quem sabe até você mesmo que está lendo esse trabalho Essa tradição dividiuse em duas vertentes uma prémoderna religiosa inspirada em Tomás de Aquino centrada na ideia de um Criador e numa ordem imutável estabelecida por Deus outra moderna secular inspirada nos escritos de Grotius e John Locke fiel à mentalidade do mundo moderno sem negar a origem divina da natureza investe em defender os direitos humanos João Batista Libânio diz que a primeira se caracteriza como o momento do objeto como prémoderna a segunda como o momento do sujeito típica do pensamento moderno Uma privilegia a estabilidade do objetivo e a outra a liberdade e a iniciativa do subjetivo Mas para ambas o critério que as fundamenta é algo exterior a natureza como produto de Deus Criador para a primeira ou a dignidade e os direitos fundamentais do ser humano que podem ser racionalmente conhecidos e justificados para a segunda O paradigma da lei positiva O paradigma da lei positiva surge como reação ao paradigma da lei natural tanto na sua versão religiosa como na versão secular Há uma rejeição tanto em nível epistemológico como em nível ideológico de um apelo a uma ordem natural como referencial ético Em nível epistemológico a partir do relativismo cultural questionase a possibilidade de dar conteúdo concreto a leis ditas naturais que sejam as mesmas em todas e para todas as épocas e culturas Em nível ideológico a partir da experiência histórica do abuso tanto de poderes religiosos como civis de apelar para leis naturais para esmagar seres humanos que se opunham a determinados regimes levou à rejeição de uma ordem humana e social determinada por uma lei natural preestabelecida O critério ético passa a ser o que foi escrito e promulgado após as diversas instâncias de discussão É o que passou a se chamar de contratualismo Uma vez discutida e estabelecida uma negociação social ela passa a ser válida Com isso se evita a arbitrariedade e podese apelar para algo objetivo que foi formulado e promulgado Podemos nos libertar assim de uma natureza cega de um lado e dos mandos e desmandos autoritários de governantes e grupos de outro Podese perceber logo que se as leis fossem justas discutidas democraticamente e aplicadas da maneira mais imparcial possível o estado de direito poderia ser um forte defensor do direito e das liberdades dos seres humanos Mas o que acontece quando os governadores e os juízes são autoritários e quando alguns legislam em causa própria Que dizer quando grupos e minorias poderosas forçam a criação de acordos e negociações em proveito próprio Podese ainda dizer que o que é instituído é ético Que dizer de exemplos como o das ditaduras militares e especificamente o caso do Brasil e outros países da América Latina onde alguns grupos à base da força e da pressão impuseram sobre uma maioria suas vontades e seus privilégios E tudo através de constituições escritas e promulgadas Como acabamos de ver o fundamento da ética é colocado por alguns na lei natural tanto por ser essa lei originada de um Deus Criador ou por estar radicada na dignidade do ser humano e de seus direitos inalienáveis ou num positivismo jurídico que se radica no texto de uma lei escrita e promulgada Mas damonos conta também das limitações e perigos que se originam de tais pressupostos Que fazer então Haveria outra alternativa para fundamentar a dimensão ética O que seria afinal a ética Ética como instância crítica Se as colocações acima discutidas mostram suas limitações e precariedades ao mesmo tempo indicam pistas por onde se pode iniciar uma busca de uma fundamentação ética das ações e relações Mas é decisivamente importante que ao perseguirmos tais fundamentações tenhamos sempre em mente seus possíveis limites E a isso poderíamos chamar de postura crítica diante de todo criado e de todo o institucionalizado Enquanto permanecermos dentro do humanamente instituído sem apelarmos para o eterno e o transcendente temos de reconhecer nossa limitude histórica E ao reconhecermos essa limitude temos de deixar sempre uma porta aberta a porta de possibilidade de alternativas de crescimento de transformações de aperfeiçoamento Nesse contexto creio que nos seria muito útil uma noção de ética como sendo uma instância crítica propositiva sobre o dever ser das relações humanas em vista de nossa plena realização como seres humanos DOS ANJOS 1996 p 12 Perscrutando a fundo essa colocação podemos extrair dela duas dimensões fundantes a dimensão crítica e propositiva e a dimensão das relações Elas são centrais para a compreensão mais profunda da ética a A dimensão crítica e propositiva A dimensão crítica da ética significa que ela pode ser considerada como algo pronto algo acabado Ao contrário ela está sempre por se fazer E ao mesmo tempo ela está presente nas relações humanas existentes À medida em que ela se atualiza ela passa a sofrer suas contradições e por isso deve ser questionada e criticada Ao mesmo tempo ela tem que ser propositiva Não pode se furtar a colocar exigências e desafios Mas esses desafios e exigências podem ser reelaborados redimensionados refeitos e retomados E a ética é sempre do dever ser das relações humanas em vista de nossa plena realização É uma busca infinita interminável é uma consciência nítida de nossa incompletude é um impulso permanente em busca de crescimento e transformação Não seria fora de propósito mencionar aqui a posição de alguns autores da escola crítica como Karl Otto Apel e Jurgen Habermas que procuram resgatar a dimensão ética a partir do discurso O discurso é o que temos de mais próximo de mais real e ao mesmo tempo de mais interminável ele possui a maior possibilidade de criar todas as alternativas possíveis E ao mesmo tempo ele possui pressupostos indispensáveis sem os quais ele mesmo não pode se sustentar isto é ele traz consigo também uma infinidade de caminhos diferentes e entre eles a possibilidade de seu próprio resgate Os pensadores acima citados são chamados por Lima Lopes 1996 p 31 de críticos somando tanto a crítica kantiana quanto a marxista podem ser tidos como herdeiros dos ideais de liberdade dos modernos ao mesmo tempo que levam a sério a impossibilidade de existência do ser humano não socializado É minha convicção que é fundamental enfatizar a dimensão da crítica ao se discutir a questão da ética Num trabalho anterior GUARESCHI 1992 tentei mostrar como o uso cuidadoso e sério da crítica mesmo ao se discutir as diferentes teorias científicas leva a própria evidência da impossibilidade de uma ciência ou de uma prática científica neutra isto é sem uma dimensão ética A crítica resgata a dimensão ética de toda ação humana Mas ao mesmo tempo não fecha a questão sobre a presença de uma dimensão ética específica Aliás a própria Teoria Crítica também chamada de Escola de Frankfurt ou Crítica da Ideologia tem como pressuposto a impossibilidade de neutralidade das ações humanas Toda ação humana segundo essa escola de pensamento deve ter como finalidade iluminar e emancipar a ação que se diz neutra se não estiver direcionada a tais fins possivelmente estará servindo a propósitos contrários de ocultação da realidade e de manipulação das consciências GEUSS 1988 É também iluminador notar nesse contexto como John B Thompson 1995 p 76 um dos melhores analistas da ideologia define esse conceito Para ele ideologia é o uso de formas simbólicas que servem para criar ou manter relações de dominação Uma forma simbólica só é ideológica quando se puder mostrar que ela serve aos propósitos de criar ou manter relações que sejam de dominação isto é relações assimétricas desiguais injustas Dominação é aqui um conceito diferente de poder Poder é uma capacidade uma qualidade individual de pessoas algo singular particular Nesse sentido todos os que podem fazer algo trabalhar falar escrever etc têm um poder Já dominação é uma relação isto é sempre se dá entre dois ou mais sujeitos e acontece quando há uma expropriação de poder isto é quando um retira de maneira assimétrica ou injusta um poder de outro parceiro Para essa concepção de ideologia então a dimensão ética isto é a dimensão do dever ou não dever fazer está presente A análise ideológica nesse sentido é sempre uma demonstração e uma denúncia da existência de relações assimétricas desiguais Ela leva naturalmente à constatação de situações que provocam uma tomada de posição que dificilmente vai deixar as pessoas impassíveis tranquilas Esse o grande risco de se tomar ideologia na acepção crítica E ao mesmo tempo a grande vantagem Na verdade de que ajuda aos grupos humanos dizer simplesmente que as coisas são assim sem que se apresentem elementos de transformação e superação de tais situações Mas o mais importante contudo é o fato de que uma postura teórica que simplesmente toma a ciência como uma prática que diz como as coisas são esconde por detrás dela uma postura conservadora E tanto uma como a outra possuem dimensões éticas pois ser conservador isto é permitir que as coisas sejam assim ou impedir que elas mudem é uma ação tão ética como lutar pela mudança lutar para que a situação se transforme b A dimensão da relação Uma segunda dimensão que gostaríamos de discutir a partir da definição acima é a questão das relações ou da ética como ética das relações Essa é uma discussão extremamente provocante Dentro de uma cosmovisão individualista onde o ser humano é considerado como indivíduo indivisum in se et divisum a quolibet alio sob o império do liberalismo fica difícil de se perceber que a ética só pode ser dita das relações e onde ela mesma é sempre uma relação Entendemos por relação a ordenação intrínseca de alguma coisa em direção a outra que a filosofia define como ordo ad aliquid Em outras palavras relação é algo que não pode ser sem outro Vejamos como a questão da relação tem a ver com a justiça e a ética Olinto Pegoraro 1996 acaba de publicar um livro cujo título é Ética é justiça O que o referido autor faz é recuperar a argumentação de Aristóteles na Ética a Nicômaco onde ele afirma que a justiça é a virtude central da ética pois ela comanda os atos de todas as virtudes Essa forma de justiça não é parte da virtude mas a virtude inteira e seu contrário a injustiça também não é uma parte do vício mas o vício inteiro ARISTÓTELES V 3 1130a 912 Dizer que ética é justiça tornase muito claro quando pensamos sobre o que significa justiça Justiça provém de jus que no latim quer dizer direito Alguém é justo quando estabelece relações com outros que são justas Em outras palavras alguém sozinho não pode ser justo Alguém sozinho pode ser alto branco simpático etc pois isso não implica relação isto é não implica outros Agora justo ele não consegue ser sozinho pois a justiça ou a injustiça só entram em campo no momento em que alguém se relaciona com outros Isso quer dizer que é só à relação que se pode aplicar o adjetivo justo e não de um polo apenas da relação Eu sou justo quando estabeleço relações com outros que são justas isto é que respeitem os direitos dos outros Justiça tem a ver pois com o respeito aos direitos das pessoas Há justiça quando os direitos das pessoas são respeitados Do mesmo modo com a ética Dizer que ética é relação ou dizer que ética só se pode aplicar às relações é afirmar que ninguém pode se arvorar o predicativo de ético a partir de si mesmo como quer exatamente o liberalismo O pensamento liberal ao partir da definição de ser humano como indivíduo centraliza tudo no eu no sujeito da proposição Perdemos a dimensão relacional e como consequência mistificamos o verdadeiro sentido de ética Chegamos assim a absurdos sociais como os que vivemos hoje em que um terço da população não possui seus direitos garantidos e nos blasonamos como éticos ou como um país onde exista a ética Por incrível que pareça quem vai decidir se somos ou não éticos são os outros Isso parece chocante e de fato o é dentro da cosmovisão egocêntrica e individualista como é a cosmovisão do liberalismo No documento Exigências Éticas da Ordem Democrática da CNBB a seguinte afirmação vem mostrar quem é o juiz da ética numa verdadeira democracia a existência de milhões de empobrecidos é a negação radical da ordem democrática A situação em que vivem os pobres é critério para medir a bondade a justiça a moralidade enfim a efetivação da ordem democrática Os pobres são os juízes da ordem democrática de uma nação Conclusão Entendemos o ser humano como um ser dialógico relacional que se vai construindo a partir das relações que vai estabelecendo com os outros seres humanos Sem perder sua singularidade pois continua sempre sendo um ser único e irrepetível sua subjetividade é composta dos milhões de relações que ele estabelece durante toda sua existência A dimensão ética se apoia diretamente sobre essa antropologia personalista e dialógica Reconhecemos o outro como pessoa com quem entramos em diálogo e não como um simples indivíduo que está ao nosso lado com quem entramos em contato pelo simples motivo de sobrevivência em competição potencial conosco Na afirmação de Dussel 1977 p 98 no reconhecimento dessa alteridade consiste toda eticidade da existência Leituras complementares Um livro acessível que traz vários artigos sobre ética principalmente na sua aplicação é Relações sociais e ética Porto Alegre Edições AbrapsoSul 1995 organizado por Maria da Graça Jacques Pode ser conseguido na PUCRS Outro livro que pode ajudar a aprofundar essa questão é Ética é Justiça de Olinto Pegoraro Petrópolis Vozes 1995 Mostra como a ética é sempre uma relação e que a essência da ética reside na relação de justiça Finalmente o livro A emergência da consciência ética de Pedrinho Guareschi e Luiz Carlos Suzin Aparecida Editora Santuário 1995 Bibliografia ARISTÓTELES Ética a Nicômaco Brasília Ed da Universidade 1985 Kury Mário da Gama org CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Exigências éticas da ordem democrática São Paulo Paulinas 1994 DOS ANJOS MF Apresentação In DOS ANJOS MF LIMA LOPES JR Ética e direito um diálogo Aparecida Santuário 1996 DUSSEL Enrique Para uma ética da libertação LatinoAmericana Vol II Eticidade e Moralidade São Paulo LoyolaUnimep 1977 GEUSS R Teoria crítica Habermas e a Escola de Frankfurt Campinas Papirus 1988 GUARESCHI P Sociologia crítica 38 ed Porto Alegre Mundo Jovem 1996 Ética e Relações Sociais entre o existente e o possível In JACQUES MG org Relações sociais e ética Porto Alegre AbrapsoSul 1995 A emergência da consciência ética In GUARESCHI P SUZIN LC Consciência moral emergente Aparecida Santuário 1992 LIMA LOPES JR Ética e Direito Um panorama às vésperas do século XXI In DOS ANJOS MF LIMA LOPES JR Ética e direito um diálogo Aparecida São Paulo Santuário 1996 PEGORARO O Ética é justiça Petrópolis Vozes 1996 THOMPSON JB Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995 INDIVÍDUO CULTURA E SOCIEDADE Luiz Fernando Rolim Bonin Para compreender o ser humano além de estudar seu corpo e sua origem animal é necessário pesquisar principalmente como ele se constitui em um contexto sociocultural O homem é também um animal mas um animal que difere dos outros por ser cultural Os outros primatas podem ser considerados como entes protoculturais pois transmitem hábitos através de gerações como peneirar alimentos nadar e lavar batatas Usam instrumentos simples e aprendem por mera observação o comportamento de outrem Para a teoria históricocultural o primata humano pode ser definido como um ser biológico antes de possuir o domínio da fala mas podese considerálo nessa fase como tendo uma protocultura BONIN 1996 Por exemplo as crianças de um a dois anos já aprendem usar instrumentos simples da cultura por imitação ou reforço mas não entendem ainda uma informação verbal No entanto entram num processo plenamente cultural quando já dominam o uso da fala o que as permite processar o simbólico contido nas instituições culturais Entretanto não é possível deixar de considerar o aspecto biológico do ser humano apesar deste ser históricocultural Afinal o homem está no mundo por ter um corpo Os neuropsicólogos têm demonstrado que as habilidades envolvidas na atividade humana supõem uma condição necessária mas não suficiente e elementar um sistema nervoso e hormonal Podese dizer que o homem é um animal que usa símbolos porque houve um desenvolvimento do seu cérebro para tal no decorrer de sua filogênese No início do desenvolvimento da criança que é um animal da espécie humana os processos da atividade se dão de maneira semelhante à de outros primatas isto é não envolvem a fala ou melhor processos simbólicos A primeira comunicação da criança recémnascida com o outro seria através do choro Esta ainda é uma expressão direta do estado afetivo da criança não sendo contudo uma comunicação que envolva neste momento uma representação mental Indivíduo e sociedade A teoria históricocultural considera importante a filogênese dos processos psicológicos O ser humano ao nascer traz consigo determinados comportamentos inatos ligados à sua estrutura biológica Entretanto no decorrer de seu desenvolvimento é moldado pela atividade cultural de outros com quem eleela se relaciona Cada indivíduo ao nascer encontra um sistema social criado através de gerações já existente e que é assimilado por meio de interrelações sociais A sociedade com suas instituições crenças e costumes não paira acima dos indivíduos mas sim ela é constituída por indivíduos Não se trata de colocar a sociedade acima do indivíduo ou o indivíduo como um ser isolado acima da sociedade Ela também não é uma gestalt forma física como os tijolos em uma casa mas sim uma rede de interrelações individuais em constante mobilidade Uma dança de quadrilha seria uma metáfora adequada já que os indivíduos não só interagem exteriormente como bolas de bilhar mas também se interrelacionam cada um procurando entender e se adaptar aos movimentos intencionais e futuros de outrem O indivíduo históricosocial que é também um ser biológico se constitui através da rede de interrelações sociais Cada indivíduo pode ser considerado como um nó em uma extensa rede de interrelações em movimento O ser humano desenvolve através dessas relações um eu ou pessoa self isto é um autocontrole egoico que é um aspecto do eu no qual o indivíduo se controla pela autoinstrução falada de acordo com sua autoimagem ou imagem de si próprio É um ser que tendo instintos ou comportamentos préprogramados passa através da vida social a adquirir a fala e planejar e controlar sua atividade e de outrem através de representações mentais ELIAS 1994 1995 Neste ponto é importante mencionar que a noção de eu supõe dois aspectos fundamentais 1 a do sujeito ativo que toma decisões e se orienta no mundo 2 uma autoimagem e uma autoestima que para alguns autores estão relacionadas ao conceito de identidade e constituem o que George Mead denominou de me ou mim MEAD 1953 O desenvolvimento do controle da fala sobre o comportamento é realizado a partir dos comandos da mãe sobre a criança relação interpessoal que passa a se autoinstruir sobre como deve se comportar controle intrapessoal Isto é o indivíduo passa de uma relação interpessoal para um controle e planejamento intrapessoal da sua própria atividade Isto se torna possível pela existência da fala o que no fundo envolve um controle egoico LURIA 1987 VYGOTSKY 1984 Não há basicamente uma contradição entre indivíduo e sociedade O indivíduo é um ser históricocultural que é constituído pelas interpelações sociais Mesmo quando está sozinho como Robinson Crusoé é um ser humano que tem o habitus de sua sociedade Isto é tem o jeito de andar hábitos de higiene de expressar emoções de usar instrumentos que adquiriu das relações pessoais com indivíduos da sociedade que o constituiu Na sociedade ocidental atual extremamente individualista e conflituosa os indivíduos podem se representar como seres isolados em oposição à sociedade Isto entretanto é uma criação da própria sociedade neste momento histórico Necessariamente não há por que ter um alto grau de competição e tensão grupal tornando difícil um equilíbrio entre as inclinações pessoais e as tarefas sociais O verdadeiro eu não está enclausurado e isolado dessa sociedade É somente uma ilusão O indivíduo não é estranho à sociedade A vida social supõe entrelaçamento entre necessidades e desejos em uma alternância entre dar e receber A razão e a mente não são substâncias mas produtos de relações em constantes transformações Os instintos e as emoções sofrem transformações no decorrer da vida social Os papéis sociais e as instituições humanas se originam de interrelações pessoais que são cristalizadas através de regras e que inicialmente são hábitos adquiridos e as instituições além das relações sociais envolvem também determinados materiais e artefatos e códigos Assim uma universidade é uma instituição que basicamente supõe determinadas interrelações humanas e locais como laboratórios onde existem determinados materiais aparelhos e instrumentos Como já se sabe é possível estudar a sociogênese das instituições através da história e por exemplo uma instituição como o Parlamento Britânico surgiu para resolver conflitos entre os nobres através do entendimento entre as partes litigantes pelo constante diálogo em direção ao consenso Cultura indivíduo e atividade Neste tópico serão examinadas quatro perspectivas sobre a noção de psicologia cultural O termo cultura pode ser definido inicialmente de maneira simples como um conjunto de hábitos instrumentos objetos de arte tipos de relações interpessoais regras sociais e instituições em um dado grupo Em primeiro lugar a a cultura como uma variável independente em que cultura e mente eram consideradas separadas Em seguida b a perspectiva de que a mente está inserida nas práticas e atividades culturais Em terceiro lugar c a cultura na mente ou seja a cultura como uma descrição ou narração das atividades e práticas de um grupo Por último d a cultura e a pessoa isto é a pessoa como agente intencional em um mundo que é constituído de interpretações e objetos culturais a Nas décadas de 19601970 as relações entre cultura e cognição eram pesquisadas em formas tradicionais como estudosrelações entre variáveis A cultura era considerada como variável independente e a atividade mental e prática como variável dependente Nesta época certas pesquisas de alfabetização em determinadas culturas eram relacionadas a testes de memória e outras atividades cognitivas Só posteriormente é que surgiu uma outra perspectiva que procurava desvendar como se processam a cognição e a aprendizagem num contexto cultural Mas inicialmente a cultura era vista como separada da mente ou seja supunhase um dualismo ou dicotomia entre mente e cultura O mental era concebido como um processador interno de alguma coisa que poderia ser pensamento abstrato raciocínio etc que era afetado de fora pela cultura mas não por ela constituído ainda que parcialmente Por exemplo escolhiase uma atividade cognitiva como a memória classificação ou percepção tomadas como unidades de medida e chegavase à conclusão que em determinada cultura como a dos Wolops não há ordenação de cor e forma desenvolvida Nessa época também passouse a estudar o efeito da escolaridade e tipos de escrita em um grupo de uma dada sociedade Aqui já se procurava a interação entre mente e cultura Esse é um período de transição em que cultura e cognição já não são vistas como meras variáveis externas Propõe se que a cultura seja definida face ao uso de mediações isto é artefatos físicos e simbólicos ou seja além de considerar um conjunto de condições biológicas é necessário levar em conta as mediações como o uso de artefatos para entender o desenvolvimento humano LURIA 1990 VYGOTSKY 1984 1990 Nesse período seguidores de Piaget estavam interessados em provar que os estágios de desenvolvimento infantil eram universais e portanto foi dada pouca atenção a como os processos culturais constituíam a cognição e também qual o papel da fala nessas atividades Atualmente essas concepções estão sendo revisadas pelos piagetianos Nos estudos interculturais desse período também não se levava em conta a formação históricocultural do eu ou pessoa que também supõe a identidade do sujeito na cultura O sujeito não era concebido como ativo intencional Isto não quer dizer que já não existissem teóricos como G Mead que já tratassem da questão b Passouse então da concepção da cultura e mente como variáveis independentes para a ideia que a mente está inserida nas práticas e atividades de um grupo cultural A cultura também se revela nos objetos utilizados eou fabricados pelo homem Assim a execução de uma tarefa a ser pesquisada passa a ser considerada como pertencendo a um contexto de atividade prática Foi então considerado importante prestar atenção às práticas locais para estudar a cognição Por exemplo verificouse que pessoas em determinada cultura tinham mais facilidade para usar pratos utilizados para comer arroz assim como para medida de quantidade do que outros artefatos As pessoas desse grupo estão familiarizadas com o uso desse objeto tanto para medida quanto como figura geométrica LUCARIELLO 1995 A escola hístóricocultural já enfatizava a cultura como práticas coletivas e normativas envolvendo expectativas e formas de agir em conjunto Essas atividades passam a ser apropriadas pela criança com o apoio dos adultos A cognição passa a ser estudada como uma habilidade prática na vida cotidiana No sentido acima estudouse a cognição nas diferentes formas de escrita na cultura Outros autores estudaram a cognição numérica na ação de vender preparar e comprar alimentos Propõese que a teoria históricocultural não defina cultura como a soma de artefatos e seus usos mas sim que estes são aprendidos no contexto das atividades do grupo através de gerações O comando verbal de um adulto sobre a criança passa a ser utilizado e internalizado como autoinstrução para comandar o próprio comportamento Este é um exemplo do princípio de Vygotsky que afirma que o que ocorre no plano interpessoal passa para o plano intrapessoal Isto quer dizer que a criança internaliza o que aprende nas relações interpessoais o que supõe a ideia que o que se consegue fazer hoje com a ajuda de outrem amanhã poderá ser feito sozinho A tradição cultural se faz através de ações e interpretações nas práticas cotidianas que são transmitidas através da história de um grupo Propõese que nas atividades culturais membros de uma coletividade ensinam os mais inexperientes através da manutenção de interesse apresentando um modelo de tarefa e modelos de interrelações oferecendo suporte ou apoio conforme o nível de progresso de sua aquisição A ação dos novatos não é passiva mas participativa nas tarefas do grupo Os novatos procuram se inserir e ter um papel na rede de atividades Por exemplo o aprendiz de alfaiate começa com tarefas simples e paulatinamente e simultaneamente adquire sua identidade profissional Neste sentido a prática da cultura não se reduz a uma dimensão abstrata ou ao estudo de variáveis independentes É necessário entender os processos no contexto da atividade grupal c Um terceiro enfoque envolvendo a relação indivíduocultura é denominado a cultura na mente ou na narrativa dos atores culturais Aqui as tarefas cognitivas não são mais unidades de análise Essa proposta supõe um conjunto de interpretações ou mais especificamente as narrativas das atividades do sujeito no cotidiano isto é descrições sobre modos de pensar e agir que incluem ações situações e intenções Podese imaginar esse processo como se fosse uma descrição autobiográfica de vários atores Não se limita a categorias cognitivas como memória pensamento percepção e motivação mas implica um pensar sobre a vida incluindo a psicologia do cotidiano Essa noção leva ao extremo a ideia da cultura como sistema simbólico Toda a atividade humana implicaria uma classificação e interpretação qualquer percepção ou ação seria mediada pelo simbólico Por exemplo se ingerimos alguma coisa é porque esse objeto já foi classificado como alimento Da mesma forma um local debaixo de uma pedra que pode servir como abrigo envolve uma interpretação prévia Nem sempre tudo supõe uma interpretação prévia Por exemplo uma pedra pode revelarse como abrigo no decorrer de uma ação sem necessariamente ter passado por uma classificação prévia Assim os bebês podem descobrir também informações sobre objetos sem que outrem os ensine Considerase também que não é possível descartar a possibilidade de a criança que ainda não domina a fala aprender a lidar com objetos guiada por um membro experiente da cultura A questão de fundo é a discussão entre uma aprendizagem mediada e não mediada pela fala d O quarto e último tipo de teoria de psicologia cultural é a que propõe a cultura na pessoa considerada como agente intencional em atividade prática no seu grupo O sujeito cria e seleciona percursos de ação podendo aceitar ou não a interferência de outrem Os objetos são criados coletiva ou individualmente e revelam uma intenção do produtor Podese fazer com que objetos em um meio lembrem de nossas intenções para nos autocontrolarmos Por exemplo podese acionar um despertador para despertar ou um bilhete na geladeira para não comer ou ainda colocar objetos longe do alcance de crianças Esta posição supõe que a pessoa seja um agente intencional em um mundo de objetos culturais e que o mundo é constituído de interpretações As relações interpessoais não revelam só comportamentos sem significado mas intenções e ironias sobre a própria intenção através de gestos significativos Por exemplo podese fazer um gesto para uma segunda pessoa e piscar de maneira sorrateira para uma terceira pessoa mostrando que o gesto não é sério O homem pode enganar simbolicamente já que tem facilidade para se colocar no lugar de outrem e mesmo tomar atitudes hipotéticas sobre suas interações George Mead já havia demonstrado que as relações interpessoais são uma conversação de gestos e o que é importante nesta atividade é saber se colocar no lugar do outro Temse também uma noção do outro generalizado e internalizado Os chimpanzés têm dificuldade de conceber o outro como agente intencional e portanto de colocarse no lugar do outro Essas características parecem ser próprias do ser humano Outros enfoques sobre a relação indivíduocultura As pessoas se constituem em um sistema cultural dado previamente formando uma rede de interrelações mas são sujeitos ativos e não constituídos passivamente pelo meio Isto quer dizer que não são constituídos automaticamente pelo processo narrativo cultural estabelecido As pessoas tomam posições fazendo novas interpretações ou seja recebendo e construindo criativamente e coletivamente um processo cultural em determinada época histórica É importante lembrar que a psicologia cultural tem uma longa história uma vez que Vico no século XVII já tratava do tema Na América Latina existem poucos trabalhos sobre o tema É um tópico de pesquisa bastante recente nessa região A teoria históricocultural não enfatiza somente as mediações mas leva em conta também o papel da pessoa como sujeito e não se limita a processos lógicocognitivos Não deixa de lado a emoção e o contexto onde surgem essas atividades Em defesa dessa posição teórica podese dizer que a mente não é só um componente mas é produto emergente da interrelação entre pessoas face a objetos supondo também o uso de instrumentos A mente não está no corpo e nem nos instrumentos mas se revela através das atividades humanas na cultura Os sujeitos também criam regras e instituições através de atividades coletivas COLE ENGESTROM 1995 A teoria históricocultural como já foi dito colocou também a questão da pessoa e da intencionalidade Uma outra vertente enfatiza a questão semiótica e enfoca a mente como formada através de um diálogo de vozes envolvendo a produção de representações e de ideologias O ser humano assimila a narrativa de sua cultura que supõe uma diversidade de diálogos que incluem conformidade contradição e discordância Neste ponto também é importante mencionar a concepção de cultura de Geertz 1978 que é extremamente complexa A cultura para ele não é redutível ao fenômeno mental nem a meros padrões de comportamento e de desejos exclusivamente individuais O que importa é estudar esses processos em estruturas de significados formadas publicamente Público aqui significa que algo é compartilhado também visualmente como em rituais e na fabricação e uso de artefatos Por exemplo a apresentação de um quarteto tocando Beethoven supõe a habilidade dos músicos para tocar assim como a sensibilidade e o conhecimento dos ouvintes Produzir música envolve ações humanas no decorrer de um tempo mas não se trata aqui de mencionar especificamente crenças conhecimentos e outros processos mentais individuais A ênfase está nas atividades nos objetos nos artefatos e nos símbolos compartilhados Viver em grupo já é difícil mas o mais problemático é tentar conviver com grupos que têm diferentes regras de relações e de poderes O trabalho principal do antropólogo é narrar interpretando o que observa e o que lhe foi narrado supondo sempre atividades concretas dos indivíduos em interrelações GEERTZ 1978 Outro enfoque que enfatiza também a questão semiótica ciência que trata de sinais e símbolos concentrandose no simbólicointerpretativo e de caráter históricocultural coloca que a concepção de Geertz não dá suficiente atenção aos problemas de poder e de conflito nos contextos culturais onde mensagens são transmitidas e recebidas Nessa visão é importante também considerar que o sujeito humano é criado dentro de instituições e que pode coletivamente alterálas assim como é por elas afetado Resumidamente as instituições envolvem recursos tipos de interrelações pessoais regras e esquemas supondo recursos materiais e simbólicos THOMPSON 1995 Considerase também necessário estudar a produção e reprodução do simbólico seus agentes receptores e as condições de produção Os processos de formação de valores legitimação de status exclusão estratégias de resistências e de aceitação As atividades de Gandhi na Índia servem como exemplos encarnados do processo de valorização e de resistência cultural A cultura o eu e as atividades a emoção e a motivação Como já foi dito o eu é construído através da conversação de gestos em determinados grupos sociais Esse eu supõe um eu que decide sobre o curso das ações e um me ou mim que envolve autoestima e imagem de si próprio Já foi demonstrado que a concepção de si como indivíduo na Idade Média e na Renascença eram diferentes Na época atual o eu é mais enfatizado do que o nós na cultura ocidental BONIN 1997 Uma questão interessante é verificar como a construção do eu em diferentes grupos ou culturas afeta as atividades dos indivíduos Foi realizado um mapeamento de problemas pesquisas e considerações teóricas relativas à última questão Dedicaramse especialmente a comparações entre a cultura japonesa e à cultura americana contemporânea Colocam que principalmente na cultura americana em geral as pessoas se veem como independentes e autônomas tendo habilidades e valores únicos e agindo segundo atributos internos Esta concepção pode ser denominada de eu independente Na cultura japonesa em geral temse a ideia que o eu não existe em si e é um produto de relações que se definem face aos outros em determinadas situações o eu faz parte do grupo ou da família Esta é uma visão contextualista relacional em que os outros participam na definição de si Afirmam que a pessoa age como é esperado pelos outros não se colocando em primeiro lugar procurando harmonizar seus desejos e atributos pessoais com os de outrem Por exemplo no Japão se diz às crianças o prego que está fora leva batidas A concepção de indivíduo na cultura japonesa pode ser considerada como eu interdependente Nos EUA a roda que chia leva graxa a expressão revela uma concepção de eu independente É importante lembrar que na maioria dos países existe uma pluralidade cultural Assim nos EUA existem diferentes grupos Por exemplo em um grupo como os Amish a tendência é a de ser interdependente e pacifista Isto não quer dizer que um país não possua características gerais em que certos valores predominam devido a correlação de forças internas MARKUS KITAYAMA 1991 Na cultura japonesa a concepção de eu envolve uma ênfase na empatia pelo outro cujo resultado é um comportamento polido e autocontido para harmonizarse com o comportamento do outro O sujeito não se gabará de sua criatividade mas dirá sou criativo junto com meus colegas a não ser que seja figura notável O pesadelo japonês é o da exclusão do grupo Nos EUA e provavelmente em alguns países da Europa e da América Latina o pesadelo é não se firmar não ser notado e não se distinguir Supõese que o indivíduo seja um agente com autocontrole individual e assertivo na afirmação de seus atributos Para os indivíduos na cultura americana é mais importante sobressair se ser único elevando sua autoestima mesmo que isto cause dificuldades em relação aos outros o que para um japonês é uma atitude imatura não autêntica pois não se deve sobressair ao grupo e querer ser tratado de maneira especial Só aos artistas e pessoas notáveis se permitem atitudes individualistas não conformistas Os sujeitos na cultura japonesa devido a esta concepção de eu são treinados a procurar ler as necessidades de outrem para servilo Considerase então que o tipo de sistema de eu está relacionado a formas de cognição percepção afeto e motivação afetando a atividade cotidiana dos indivíduos Informações baseadas em dados antropológicos e na maioria das vezes em pesquisas envolvendo entrevistas estudos de variáveis dependentes e independentes e respostas a histórias propostas pelos experimentadores propõem inicialmente como hipótese o fato de que é de se esperar que eus interdependentes sejam mais atentos e mais sensíveis aos outros do que eus independentes Isto produziria uma cognição mais elaborada em relação aos outros do que em relação a si Em segundo lugar os eus interdependentes representariam a si e aos outros em contextos sociais específicos enquanto que os eus independentes produziriam representações mais abstratas e generalizadas Pesquisas revelaram que na cultura indiana as pessoas consideram seu eu mais semelhante ao de outros do que o outro se considera em relação a ele Diferente do que em geral é encontrado na cultura americana Outra pesquisa revelou ainda que sujeitos indianos descrevem mais outros indivíduos de maneira situacional e relacional e não qualidades abstratas e fora de contexto Por exemplo os americanos descreveriam genericamente a qualidade de uma pessoa como mão de vaca ou pão dura enquanto que um indiano diria que seu amigo não gosta de contribuir para festas do grupo a que pertence contextualizando a ação isto é de que maneira foi realizada a ação onde e com quem Sujeitos americanos também procuram descrever mais a disposição interna dos agentes do que seus papéis sociais Apesar da emoção ser vista como uma expressão de atividade formada na filogênese e ligada à automanutenção do organismo é também em parte constituída pela cultura como por exemplo no caso da emoçãosentimento de piedade e patriotismo BONIN 1996 As emoções complexas tipo emoçãosentimento dependem do tipo de sistemas de eu já que são organizadas através de significados culturais envolvendo ações interpessoais que supõem justificação e persuasão As emoções podem reforçar uma construção dependente ou interdependente do eu Assim emoções como frustração e agressão ou de orgulho gabarse podem ser denominadas de focalizadas no eu Um indivíduo que diz que correu mais do que seu companheiro sendo portanto melhor do que ele demonstra um sentimento egoísta Para um sujeito de ego interdependente isto é visto como uma dificuldade para uma harmonia grupal Para que haja harmonia é mais importante demonstrar solidariedade e até mesmo timidez Pessoas de culturas europeias com as quais a americana está relacionada provavelmente também seriam fonte de um self independente Nas culturas ocidentais ainda se discute se é necessário expressar ou controlar a emoção Já para os japoneses em geral é óbvio que certas emoções têm que ser controladas A motivação se revela através de sequências de ações para atingir um objetivo maior na teoria históricocultural LEONTIEV 1978 1984 Nas culturas que enfatizam o eu independente as motivações estão ligadas a necessidades de expressar realização individual Assim o indivíduo procura ser bemsucedido realçar sua autoestima e aumentar a autorealização Por outro lado os eus interdependentes consideram mais importante demonstrar e desenvolver motivações sociais como é o caso de socorrer e proteger os outros afiliarse procurar ser modesto e agir segundo expectativas de seus pares Podese propor que motivos como autoconsistência autorrealização e autoanalise terão suas formas e intensidades dependendo do tipo de eu Estudos revelam que motivação para autoconsistência é menor em culturas que enfatizam o self interdependente neste caso os indivíduos valorizam mais os papéis e obrigações sociais que seus motivos privados de coerência Por exemplo um indivíduo do tipo acima pode dizer para si para ser coerente eu penso desta maneira mas devo agir segundo as regras de meu grupo Em geral os motivos ligados à realização em sujeitos do tipo acima estão principalmente mais ligados à realização e sucesso do grupo e da família do que relacionados a padrões de excelência e coerência pessoal Neste caso por exemplo esperase que um líder seja protetor e orientador como um pai e que os membros do grupo realizem harmonicamente suas tarefas em vez de competir Considerações finais De início concluiuse a necessidade das ciências sociais se posicionarem aos achados das ciências biológicas principalmente no que diz respeito ao comportamento animal O indivíduo como ser corpóreo incluindo seu sistema nervoso e hormonal não pode ser ignorado Ao se estudar a vida social de populações de diferentes faixas etárias não é possível ignorar os aspectos biológicos específicos das diferentes fases da vida como é o caso da infância da adolescência da vida adulta e da velhice As relações entre indivíduo e sociedadecultura são complexas e envolvem pesquisas com conceitos de difícil definição Assim como os antropólogos ainda debatem o conceito de cultura também os sociólogos divergem quanto ao conceito de instituição social Procurouse utilizar em grande parte as ideias de que a sociedade não paira sobre os indivíduos e sim é o conjunto das relações interpessoais Estas são cruciais para conceituar instituições atividades culturais e o eu Considerouse importante enfatizar o papel da pessoa sem incorrer em um solipcismo ou individualismo exacerbado mostrando que o eu é construído na vida social e que esta constitui as atividades e habilidades dos sujeitos na sua vida emocional motivacional e cognitiva É importante salientar que alguns autores como Goodnow Bourdieu Foucault e Habermas sugerem que grupos e indivíduos apresentam resistências a práticas e valores culturais globais contrárias às suas identidades grupais e pessoais É então necessário estudar a relação dialética entre valores globais nacionais e regionais Os valores culturais afetam a aquisição de conhecimentos e habilidades As preferências e julgamentos estéticos morais e acadêmicos são afetados por esses processos Também as práticas de poder e exclusão regras de expressão e consenso e tipos de comunicação dependem da sociedadecultura em que os indivíduos foram criados Por exemplo indivíduos de determinados grupos sociais têm seus gostos musicais ligados à sua identidade cultural e resistem a mudanças É importante considerar que apesar de o indivíduo ser concebido como um produto da história e da cultura é também um ser intencional e criativo em constante transformação e que coletivamente pode mudar o próprio processo cultural que o constitui Esta perspectiva supõe a utilização de diferentes métodos de pesquisa ainda sobre os quais ainda não existe consenso Por exemplo até que ponto um relato verbal se relaciona com as práticas reais dos indivíduos Como é possível traduzir conceitos sobre emoção em diferentes culturas Será que as atividades culturais afetam somente a expressão ou o estilo emocionalmotivacional ou constituem um processo básico Um dos maiores problemas ao pesquisar os temas acima apresentados está relacionado ao fato de que nas culturas não existem grupos totalmente homogêneos ou seja existem variações tanto individuais como subgrupos Fica difícil por exemplo falar em cultura japonesa já que esta não é homogênea e sofreu informações no decorrer da sua história O fato de o indivíduo pertencer a um grupo interdependente não significa necessariamente que se sinta interdependente ou solidário em relação a outros grupos e à humanidade em geral Um tema importante para a psicologia social é como desenvolver a solidariedade em relação a outros grupos superando um certo etnocentrismo e desenvolvendo um sentimento que não se restrinja ao próprio grupo mas que englobe também a humanidade Em países como o Brasil existem inúmeras variações culturais Apesar disso podese dizer que existem valores preferências e maneiras de comunicação que são comuns e perpassam as diferenças culturais internas Existem questões teóricas difíceis em relação a este tema Leituras complementares recomendadas ANTHROPOS Revista de documentación científica de la cultura Barcelona n 156 mayo 1994 Apresenta um panorama da psicologia social latinoamericana incluindo temas de EtnoPsicologia ou em outros termos Psicologia Cultural ELIAS Norbert A sociedade dos indivíduos Rio de Janeiro Zahar 1994 Nesta obra é discutida profunda e extensamente a relação entre indivíduo e sociedade de maneira original LANE Silvia Maurer CODO Wanderley orgs Psicologia social São Paulo Brasiliense 1984 Um importante livro de psicologia social realizado no Brasil que contém temas referentes a questões sobre o indivíduo e sociedade em diferentes contextos sociais LARAIA Roque de Barros Cultura um conceito antropológico Rio de Janeiro Zahar 1986 É uma interessante introdução aos diferentes usos do conceito de cultura A leitura é agradável com inúmeros exemplos LURIA Alexandre Desenvolvimento cognitivo São Paulo Ícone 1990 Um dos poucos livros em língua portuguesa que trata da relação entre cognição e cultura Contém inúmeras pesquisas e é uma obra clássica de fácil leitura Continua importante apesar de ter sido escrita há algumas décadas RODRIGUES José Carlos Antropologia e comunicação princípios radicais Rio de Janeiro Espaço e Tempo 1989 Explica as diferentes teorias e temas da antropologia com exemplos adequados A leitura exige um conhecimento mínimo sobre o tema Bibliografia BONIN LFR Considerações sobre as teorias de Elias e de Vygotsky In ZANELLA Andréa V et al orgs Psicologia e práticas sociais Porto Alegre AbrapsoSul 1997 A teoria históricocultural e condições biológicas Tese de Doutorado PUCSP 1996 COLE M ENGESTRÖM Y Commentary Human Development 1995 38 1924 ELIAS N O processo civilizador 2 vol Rio de Janeiro Jorge Zahar 1995 A sociedade dos indivíduos Rio de Janeiro Zahar 1994 GEERTZ C A interpretação das culturas Rio de Janeiro Zahar 1978 LEONTIEV A Activité conscience personnalité Moscou Éditions du Progrès 1984 O desenvolvimento do psiquismo Lisboa Livros Horizonte 1978 LUCARIELLO J Mind culture person elements in a cultural psychology Human Development 1995 38 218 LURIA AR Desenvolvimento cognitivo São Paulo Ícone 1990 Pensamento e linguagem Porto Alegre Artes Médicas 1987 MARKUS HR KITAYAMA S Culture and the self implications for cognition emotion and motivation Psychological Review 1991 98 2 224253 MEAD GH Espíritu persona y sociedad Buenos Aires Paidós 1953 THOMPSON JB Ideologia e cultura moderna Petrópolis Vozes 1995 VYGOTSKY LS Storia dello svilluppo delle funzione psichiche superiore Roma Giùnti 1990 A formação social da mente São Paulo Martins Fontes 1984 PESQUISA Jaqueline Tittoni Maria da Graça Corrêa Jacques A atividade de pesquisar está geralmente associada ao trabalho do cientista Inscrevese no nosso imaginário como uma atividade que se desenvolve em um laboratório em meio a instrumentos da Física e da Química O cientista via de regra nos parece um gênio alguém cujas descobertas são obras do acaso ou melhor dizendo das possibilidades que sua genialidade tem de explicar o acaso Estes gênios povoam nossas lembranças desde a escola básica construindo uma forma de compreender o que é ciência produção de conhecimento e pesquisa A imagem do laboratório expressa uma concepção de ciência conhecida como tradicional cujos pressupostos básicos são a neutralidade a objetividade a experimentação e a generalização Estas lembranças e imagens fixadas nas nossas histórias pessoais não são também elas frutos do acaso mas de uma forma de pensar e viver a definição do que é ser científico que sustenta a história da própria construção do conhecimento Até o século XVIII a discussão sobre a ciência moderna tinha como centralidade tornar o conhecimento o mais objetivo possível cultivando uma ideia de que o conhecimento científico detinha o poder de construir uma verdade sobre a vida real A problemática da verdade da aproximação maior ou menor do conhecimento com o real instalouse como questão principal de confronto entre os diferentes pontos de vista sobre quem melhor garantiria o domínio deste real através do conhecimento produzido O século XX instaura todo um questionamento a respeito do critério de verdade enquanto VerdadeAbsoluta relativizando a noção de verdade e instaurando a importância da dúvida e dos erros na produção do conhecimento científico BACHELARD 1968 Esta relativização instaura uma crítica importante ao modelo de ciência dominante na época e vai influenciar autores contemporâneos de diferentes perspectivas epistemológicas como Foucault 1987 Morin 1986 e Kuhn 1989 Consequentemente a busca do conhecimento e não da verdade seria o objetivo da ciência Do mesmo modo a constatação de que o dado é ao mesmo tempo resultado teórico e empírico pois é mister antes decidir o que procurar definição do objeto da pesquisa e do problema e como procurar estratégias metodológicas Desta forma a pesquisa não pode ser compreendida exclusivamente como um conjunto de técnicas utilizadas para o conhecimento da vida mas como um recurso ligado a diferentes modos de produzir conhecimento e a história de suas legitimações Vinculando a pesquisa às diferentes formas de produção do conhecimento associamos a atividade de pesquisar não exclusivamente ao trabalho do cientista mas a esta infindável atividade humana de tentar recobrir com alguma racionalidade o desconhecido Atividade esta que é um imperativo de sobrevivência e portanto fala da vida e das suas múltiplas formas de expressão inscrevendose no nosso cotidiano e não se restringindo às regradas e controladas situações de laboratório A pesquisa em psicologia social será abordada através da análise de alguns pressupostos que fundamentam a noção de ciência e seus efeitos na produção do conhecimento em psicologia social Assim a pesquisa será pensada como uma estratégia para a produção do conhecimento científico possuindo um aspecto técnico que orienta para as técnicas e discussões internas ao campo científico e outro aspecto ético que aponta para a relação dos pesquisadores com a sociedade Definindo a atividade de pesquisa em psicologia social A atividade de pesquisar em psicologia social de imediato coloca em questão as nossas imagens vinculadas ao cientista e ao seu laboratório por ter o social como referência para sua produção de conhecimento Mas ao colocálas em questão parece remeternos a um certo vazio Como ficaria a produção do conhecimento científico em um campo onde a referência não é o imaginário do laboratório como no caso das ciências sociais A referência às ciências sociais não é obra do acaso Retoma uma particularidade da psicologia social a de dialogar com as ciências sociais por vezes até de modo mais íntimo do que com a psicologia na medida em que têm em comum o estudo dos processos e dos fenômenos sociais A história da psicologia recontada por alguns autores contemporâneos como Farr 1996 aponta que o estudo dos processos sociais para além dos chamados processos básicos em psicologia sempre acompanhou sua trajetória Mesmo Freud 1970 ainda que estudando no campo da psicanálise nos lembra que toda a psicologia individual é ao mesmo tempo e por princípio psicologia social Portanto podese concluir que a separação entre processos sociais e individuais talvez não seja fruto das características do objeto de estudo da psicologia mas das diferentes formas como abordamos a produção do conhecimento em Psicologia A separação entre o indivíduo e o social não é uma questão exclusiva da psicologia Durkheim 1989 quando define o campo da sociologia define concomitantemente o da psicologia reservando às ciências sociais o estudo dos processos sociais e à psicologia o estudo dos processos individuais Tal divisão procurava dar conta de um todo formado pelos indivíduos e pelo social mas se fundamentava em uma concepção de que as regras que regem a vida individual no caso das representações individuais não são as mesmas que regem a vida coletiva no caso as representações coletivas buscar estas diferentes regras seria abordar de forma diferenciada os fenômenos da vida separando indivíduo e coletivo A definição de que o estudo do indivíduo é do âmbito da psicologia tornou necessário também adequar esses estudos ao formato do modelo de ciência vigente pautado nos parâmetros das ciências físicas e naturais cujos métodos e procedimentos deveriam se estender a todo o domínio do conhecimento que pretendesse ser qualificado como científico Esta concepção de ciência que rege a fundação da Psicologia como disciplina independente a qual propõe que os chamados processos psicológicos sejam passíveis de experimentação objetivação e generalização procurando romper com um certo romantismo filosófico que acompanhou os estudos sobre o sujeito e o subjetivo ao longo da história É neste cenário que vai se definir o que é pesquisar em psicologia e em psicologia social e é onde vão se estabelecer os parâmetros de cientificidade para os estudos sobre o social A nascente psicologia social sofre importante influência da psicologia norteamericana tanto na concepção do objeto quanto das estratégias metodológicas para abordagem dos processos sociais Esta influência se expande para além das fronteiras norteamericanas e no caso do Brasil fica explicitada na tradução da obra de Otto Klineberg em 1959 que introduz a psicologia social no Brasil A partir da década de 1970 evidenciase um questionamento da hegemonia desta forma de conceber a ciência tanto no que diz respeito ao objeto da psicologia social quanto aos seus objetivos e estratégias metodológicas Nesta época a América Latina vive uma situação de turbulência marcada pela violência dos regimes políticos Nesse cenário emerge a necessidade de pensar uma estratégia política capaz de dar conta das diferentes e violentas no sentido foucaultiano formas de repressão social e política Possivelmente também por esses fatores pensar a produção de conhecimento em psicologia social requer pensála de forma estratégica sempre vinculada a alguma forma de prática social e política capaz de articular as questões da teoria com os aspectos empíricos os objetivos da produção do conhecimento com as transformações sociais As vertentes da psicologia social derivadas desta perspectiva estão bem representadas nas chamadas psicologia política e psicologia social histórico crítica fortemente influenciadas pelo materialismo histórico Todo esse processo marca profundamente a concepção da pesquisa em psicologia social Num primeiro momento e essa discussão em muitos níveis permanece até nossos dias questionase o pressuposto da neutralidade científica incorporando as questões políticas à produção do conhecimento A visão de mundo e de homem como produto e produtor da história que vai fundamentar a crítica à psicologia social tradicional implica a impossibilidade de gerar um conhecimento neutro ou um conhecimento do outro que não interfira na sua existência Como propõe Lane 1985 p 18 Pesquisador e pesquisado se definem por relações sociais que tanto podem ser reprodutoras como podem ser transformadoras das condições sociais onde ambos se inserem desta forma conscientes ou não sempre a pesquisa implica em intervenção ação de uns sobre os outros O privilégio reservado às práticas e aos objetivos da transformação social proposto pela pesquisa em psicologia social se em um primeiro momento reserva a um segundo plano o rigor metodológico conduz por outro lado à construção de novas e importantes estratégias metodológicas Além de incorporar a problematização quanto à objetividade científica a partir do questionamento do critério de verdade enquanto VerdadeAbsoluta qualificada criticamente por Morin 1986 p 79 como CiênciaSolução Ciência Farol ou CiênciaGuia e à neutralidade do cientista e consequente separação entre teoria e prática social a pesquisa em Psicologia Social nos anos 1990 assume outras peculiaridades Adota como suporte uma concepção de ciência que propõe a complexificação a pluralidade teóricometodológica rompendo o falso dilema de evocar UM objeto de almejar UMA unicidade para dar conta da complexidade do real a intersecção de diferentes áreas do conhecimento e a prática interdisciplinar e ainda uma preocupação ética em relação aos seus compromissos sociais e políticos Desta forma relativiza o tensionamento entre o científico e o político a teoria e a prática Do mesmo modo relativiza a importância da separação entre o indivíduo e o coletivo através da redefinição da noção de subjetividade e de uma concepção de homem em que as dimensões individual e social se interpenetram Decorrências metodológicas A discussão sobre o científico tem várias consequências sendo importante ressaltar seus efeitos na concepção sobre a pesquisa científica e em especial sobre metodologia Neste caso ressaltase a subordinação das estratégias metodológicas às teorias explicativas escolhidas pelo pesquisador Como apontamnos alguns autores o método está vinculado a uma concepção de realidade e de vida em seu conjunto FRIGOTTO 1989 p 77 e método é instrumento caminho procedimento e por isso nunca vem antes da concepção de realidade Para se colocar como captar é mister terse ideia do que captar DEMO 1990 p 24 No caso de psicologia social tais teorias explicativas geralmente estão fundadas em uma concepção de natureza humana de relação indivíduosociedade e de necessidade e impossibilidade de transformação social Com base no pressuposto de complexidade onde uma teoria é incapaz de dar conta do conhecimento do real como um todo e muito menos fornecer todas as respostas passíveis de serem levantadas há sempre uma opção teórica pelo pesquisador que vai determinar suas escolhas metodológicas Nessa concepção os procedimentos metodológicos não são vistos como técnicas desvinculadas dos pressupostos derivados da teoria mas como estratégias utilizadas para integrar o empírico e o teórico Essas ideias trazem efeitos importantes para a pesquisa em psicologia social alterando a forma de conceber e realizar a pesquisa nesta área Ao tomar como pressupostos a complexidade a relativização da verdade a não neutralidade do pesquisador entre outros pressionam para transformações importantes no desenho da pesquisa coleta análise e interpretação em geral mais identificadas com as abordagens qualitativas da pesquisa Cabe ressaltar no entanto que a pesquisa quantitativa pode constituirse em importante recurso para a pesquisa em psicologia social dependendo da temática a ser pesquisada Estudos populacionais na área da saúde os estudos em epidemiologia por exemplo são fontes fundamentais para o conhecimento das condições de vida social A metáfora utilizada por Montero 1996 para explicitar a discussão entre a pesquisa qualitativa e quantitativa é bastante esclarecedora Refere a autora que se quisermos conhecer uma floresta no seu aspecto geral recobrindo ao máximo possível a totalidade de sua extensão devemos pegar um helicóptero e sobrevoála Se quisermos conhecer os caminhos internos da floresta aprofundar nosso conhecimento sobre as árvores e sobre as particularidades do local deveremos abandonar o helicóptero e andar pela floresta Não teremos possivelmente uma visão do conjunto mas seremos capazes de descrever e interpretar de modo mais aprofundado os caminhos que percorremos A abordagem qualitativa se apresenta como uma possibilidade de escolha do pesquisador não como uma simples alternativa aos modelos quantitativos a partir das vantagens sumárias de uma abordagem e os defeitos congênitos de outra mas como necessária dentro do quadro teórico construído pelo pesquisador Ou seja partindo de uma referência teórica o pesquisador passa a lidar com categorias analíticas e explicativas e não exclusivamente com dados quantitativos Estas categorias são formuladas na interface do empírico com o teórico buscando evidenciar as possibilidades de interpretação dos fatos estudados e não exclusivamente demonstrar sua evidência A necessidade mútua de teoria e prática na maior profundidade possível como um princípio da pesquisa em psicologia social enseja que o problema de pesquisa se constitua muito mais como um ponto de partida do que de chegada possível de ser reformulado recolocado substituído na trajetória da pesquisa A formulação em geral de questões norteadoras visto sua maior flexibilidade e abrangência encontra apoio na afirmativa de Morin 1986 de que as interações entre os diversos fenômenos sociais são tantos que não é possível isolálos e que portanto não se encontra um meio verdadeiramente seguro de verificação de uma hipótese em ciências humanas A questão da amostragem também assume uma outra especificidade pois nem sempre o objetivo é a generalização estatística mas a generalização analítica termo cunhado por Yin 1989 quando discute o método do estudo de caso para se referir à articulação dos dados com a teoria proposta Deste modo nem sempre são os procedimentos estatísticos que pautam a escolha da amostra mas os indivíduos estudados poderão ser escolhidos em função de aspectos ou condições consideradas significativas aos propósitos do estudo e muitas vezes a opção não é definida a priori emergindo no próprio desenvolvimertto do trabalho LANE 1985 Os procedimentos de análise e interpretação empregados na pesquisa em psicologia social admitem uma diversidade de propostas cuja opção depende da conceitualização do objeto do material pesquisado e do aporte teórico de fundamentação Os quadros teóricos de referência vão recortar o real permitindo variações de leitura deste real Um exemplo apresentado por Demo 1990 nos permite compreender melhor essa diversidade de leitura do real a taxa inflacionária medida pelos diferentes institutos de pesquisa Uma taxa de inflação não acusa a inflação como tal mas aquela inflação que a respectiva taxa foi teoricamente predeterminada a medir através da determinação dos itens do consumo que deverão entrar na coleta de preços e do peso atribuído no cômputo geral a cada item Quando nos referimos à leitura do real estamos chamando a atenção para a questão da interpretação já que o dado empírico só adquire sentido a partir de uma concepção de caráter interpretativo da realidade Neste aspecto o método de análise de conteúdo proposto por Bardin 1977 tem sido largamente empregado na pesquisa em psicologia social em seu modelo original com ênfase nos indicadores quantitativos ou através de adaptações mais ou menos fiéis à proposição original Outros modelos como a análise de discurso BRANDÃO 1994 a hermenêutica de profundidade THOMPSON 1995 ou ainda o método dialético de análise de conteúdo PAGÈS 1990 por exemplo também são empregados Uma ênfase especial recai na capacidade do pesquisador tanto de construir estratégias metodológicas de análise e interpretação como de emprestar métodos e técnicas alheios ao objeto de pesquisa construído Outro aspecto de vital importância na pesquisa em psicologia social é a relação pesquisadorpesquisado enquanto inerente ao processo investigatório A recusa de aceitação do postulado de distanciamento entre sujeito e objeto de pesquisa e o princípio ético de que a ciência não pode ser apropriada tão somente por grupos dominantes propõem a participação efetiva da população pesquisada no processo e a socialização do conhecimento produzido Atendendo a estes propósitos é que a pesquisaação e a pesquisa participante se constituíram em importantes estratégias de pesquisa em psicologia social ainda que não sejam as únicas estratégias neste campo Alguns modos de pesquisar a pesquisaação e a pesquisa participante Os termos pesquisaação e pesquisa participante têm origem na perspectiva em psicologia social de Kurt Lewin embora não tenham se restringido a este modelo teórico e tenham sofrido grandes transformações Para alguns autores a diferenciação entre essas duas propostas reside na ênfase no componente ação sob este ponto de vista a pesquisaação é uma forma de pesquisa participante mas nem toda a pesquisa participante concentra suas atenções no requisito da ação THIOLLENT 1985 Outros autores discordam pois registram experiências de pesquisa participante em que o componente ação é privilegiado HAGUETTE1987 O ponto comum entre as duas modalidades é o envolvimento efetivo da população pesquisada em todas as etapas do desenvolvimento da investigação desde a formulação do problema até a divulgação dos conhecimentos produzidos Os diferentes contextos sociais de emprego dessas propostas de pesquisa determinaram alternativas diversas de aplicação Na Europa especialmente na França a pesquisaação se direcionou para as instituições sociais e para os movimentos sociais de libertação incluindo enfoques diferenciados representados pelos trabalhos de Thiollent Enquête operária inspirada em Marx Touraine Intervenção sociológica e Barbier Pesquisaação institucional Na América Latina esta alternativa de investigação dirigiuse para a população da base da pirâmide social aproximouse dos princípios humanistas e adquiriu um caráter próprio representado principalmente pela vertente educativa de Paulo Freire É também na América Latina que o termo pesquisa participante assume primazia sobre termos correlates e é conceitual e metodologicamente definida A definição de pesquisa participante não é unânime entre os autores BRANDÃO 1983 GIANOTTEN e DE WITH 1985 DEMO 1985 embora alguns elementos se apresentem consensuais em todas as propostas a realização concomitante da investigação e da ação a participação conjunta de pesquisadores e pesquisados e a proposta políticopedagógica a favor dos oprimidos Um quarto elemento o objetivo de mudança ou transformação social pela sua ambiguidade contempla diferentes concepções do que seja mudança ou transformação social podendo incluir efeitos transformadores reformistas conservadores ou até reacionários HAGUETTE 1987 A metodologia da pesquisa participante e da pesquisaação afastase sobremaneira dos procedimentos propostos pela pesquisa tradicional A população interessada ou seus representantes participa junto com os investigadores da definição do objeto de pesquisa dos seus objetivos e do seu planejamento Embora possam ser empregadas algumas técnicas de coleta de informações também utilizadas na pesquisa tradicional como o questionário a observação participante e a entrevista o trabalho de campo é conjunto e a análise dos dados inclui a participação de todos os envolvidos onde são esperados feedbacks para validação dos resultados e onde são estabelecidas as propostas de ação daí decorrentes A pesquisa participante e a pesquisaação não representam os únicos modelos de pesquisa em psicologia social muito embora alguns de seus princípios tenham sido generalizados para a pesquisa em geral neste campo de conhecimento Alguns processos são melhor desvendados e compreendidos a partir de outras estratégias metodológicas desde que consoantes com os fundamentos teóricos escolhidos pelo pesquisador Um cuidado especial deve ser conferido à falsa concepção de que o conhecimento popular é o verdadeiro pois recaise na mesma questão inicialmente apresentada e criticada o critério de verdade enquanto VerdadeAbsoluta É preciso construir a necessidade de construir caminhos Pedro Demo É importante frisar que a forma como se pesquisa em psicologia social sobretudo nas suas vertentes mais críticas é uma forma de pesquisa científica É uma forma de pesquisa que se orienta por uma epistemologia crítica que tem seus fundamentos no pensamento de Bachelard 1968 entre outros autores mais contemporâneos Assim não se pode buscar na pesquisa em psicologia social os pressupostos de uma concepção de ciência que tenha por base a neutralidade a objetividade ou a generalização e experimentação pois são outros seus fundamentos Do mesmo modo não se pode buscar uma metodologia que se oriente para a análise das causas e dos resultados pois neste modo de pesquisar se tem por objetivo interpretar os processos os movimentos as relações Tratase portanto de uma epistemologia de suporte e de uma forma de pesquisar que inscrevese em outra concepção de ciência e de produção de conhecimento científico A pesquisa em psicologia social também implica no ponto de vista ético ou seja na relação do pesquisador com oos pesquisadoos na relação com os outros pesquisadores na relação com a sociedade Tratase portanto de pensar como Morin 1996 de uma ciência com consciência Consciência no duplo sentido que aponta o autor de consciência moral associado ao controle ético e político da atividade científica e à consciência como atividade autorreflexiva associada à capacidade da ciência pensarse a si própria através de uma reflexão filosófica Assim não se trata de uma atividade de pesquisa pronta acabada e com estatuto de verdade absoluta e invariável Nesse sentido coloca sempre a necessidade de construir caminhos e refletir sobre esta construção Podese pensar que o estatuto de ciência traduzido pela ideia de que o conhecimento científico explica orienta e ilumina íntima do pensamento de século XIX precisa ser redefinido na perspectiva contemporânea Para tanto podese pensar com Barthes 1986 quando refere ao fato de que o lugar mais escuro é sempre debaixo de uma lâmpada Construir caminhos pode parecer uma tarefa árdua mas por certo é através deste percurso que se pode enriquecer o conhecimento em psicologia social Sugestão de leituras A bibliografia sobre pesquisa em psicologia social é extensa e contempla diferentes concepções de ciência consequentemente procedimentos muito diferenciados sobre a atividade de pesquisar Uma discussão interessante sobre ciência pode ser encontrada na obra de Edgar Morin O método o conhecimento do conhecimento referendada na bibliografia Se o interesse recair no estudo das particularidades da pesquisaação e da pesquisa participante recomendase as obras de Thiollent Metodologia da pesquisaação e de Brandão Pesquisa participante e Repensando a pesquisa participante Essas duas últimas contemplam o ponto de vista de diferentes autores e relatam algumas experiências concretas Estão também apresentadas na bibliografia de forma completa Ainda sobre pesquisa participante o livro de Maria Ozanira da Silva e Silva Refletindo a pesquisa participante São Paulo Cortez 1986 apresenta algumas reflexões sobre a produção teóricoprática desenvolvida no Brasil e na América Latina Sobre análise e interpretação se sugere a consulta a obras específicas dependendo dos procedimentos escolhidos Os trabalhos de Thompson 1995 e de Pagès 1990 por exemplo também referendados na bibliografia descrevem em detalhes os procedimentos analíticos e tecem importantes considerações sobre os fundamentos teóricos que lhes servem de base Uma discussão interessante sobre pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa pode ser encontrada em um artigo de John Smith intitulado Pesquisa quantitativa versus qualitativa uma tentativa de esclarecer a questão presente na revista Psico editada pelo Instituto de Psicologia da PUCRS vol 25 n 2 de jul a dez 1994 p 3351 Bibliografia BACHELARD Gaston O novo espírito científico Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 1968 BARDIN Laurence Análise de conteúdo São Paulo Martins Fontes 1977 BARTHES Roland Fragmentos de um discurso amoroso 1986 BRANDÃO Carlos R Repensando a pesquisa participante 2 ed São Paulo Brasiliense 1985 Elementos metodológicos da pesquisa participante In BRANDÃO Carlos R org Repensando a pesquisa participante 2 ed São Paulo Brasiliense 1985 p 104130 Pesquisa participante 3 ed São Paulo Brasiliense 1983 BRANDÃO Helen Introdução à análise do discurso Campinas Unicamp 1994 DEMO Pedro Pesquisa princípio científico e educativo São Paulo CortezAutores Associados 1990 DURKHEIM Émile Formas elementares da vida religiosa o sistema totêmico na Austrália São Paulo Paulinas 1989 FAAR Robert The roots of modern social psychology 18721954 Oxford Blackwell Publishers 1996 FOUCAULT Michel A arqueologia do saber Rio de Janeiro Forense Universitária 1987 FREUD Sigmund Psicologia das massas e análise do eu Rio de Janeiro Imago 1970 FRIGOTTO Gaudêncio O enfoque da dialética materialista histórica na pesquisa educacional In FAZENDA Ivani org Metodologia da pesquisa educacional São Paulo Cortez 1989 cap 6 GIANOTTEN V DE WITH T Pesquisa participante em um contexto de economia camponesa In BRANDÃO Carlos R org Repensando a pesquisa participante 2 ed São Paulo Brasiliense 1985 p 155188 HAGUETTE Teresa Maria Metodologias qualitativas na sociologia Petrópolis Vozes 1987 KUHN Thomas A estrutura das revoluções científicas 3 ed São Paulo Perspectiva 1989 LANE Silvia CODO Wanderley orgs Psicologia Social o homem em movimento 3 ed São Paulo Brasiliense 1985 MONTERO Maritza Paradigmas comentes y tendencias de la psicologia social finsecular Psicologia e Sociedade Vol 8 n 1 janjun 1996 MORIN Edgar Ciência com consciência Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1996 O método o conhecimento do conhecimento Lisboa EuropaAmérica 1986 PAGÈS Max et al O poder das organizações São Paulo Atlas 1990 THIOLLENT Michel Metodologia da pesquisaação São Paulo Cortez 1985 THOMPSON John B Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995 YIN Robert Case study research design and methods Newburry Park Sage Publications 1989 PARTE 2 TEMÁTICAS IDEOLOGIA Pedrinho A Guareschi A ideologia nem era mencionada ao se falar em psicologia social pelos autores que pretenderam tomar conta da psicologia social transformandoa numa disciplina individualizante e experimental Farr 1996 mostra muito bem como a psicologia social americana com pretensões de se tomar hegemônica descartou totalmente a dimensão social e a dimensão crítica da psicologia social Essa dimensão mais relacional permaneceu tenuemente nos escritos de George Herbert Mead nos inícios do século E a dimensão crítica surgiu a partir da década de 1930 com os teóricos da Escola de Frankfurt cuja escola se chamou especificamente Crítica da Ideologia Ideologiekritik GEUSS 1988 FREITAG 1992 O conceito e a teoria da ideologia se fizeram mais presentes na psicologia social a partir da década de 1970 quando muitos autores principalmente da Europa e América Latina começaram a incorporar o tema em seus estudos e pesquisa Moscovici por exemplo chega a afirmar que o objeto central e exclusivo da Psicologia Social deve ser o estudo de tudo o que se refere à ideologia e à comunicação do ponto de vista de sua estrutura sua gênese e sua função 1972 p 55 Ideologia domando um conceito amplo e complexo Talvez não exista conceito mais complexo escorregadio e sujeito a equívocos no campo das ciências sociais do que o de ideologia Embora o nome como tal ideologia somente tenha aparecido há pouco mais de um século sua realidade já estava presente desde que se começou a pensar a vida social com diferentes nomes mas querendo designar a mesma realidade Assim por exemplo a ideologia já era discutida nas culturas gregas e romanas Mas foi sobretudo a partir do século XV e XVI que estudos mais pertinentes começaram a ser feitos sobre o assunto apesar de ainda não empregarem o nome Machiavelli in CRICK 1970 ao discutir as práticas dos príncipes principalmente o uso da força e da fraude para conseguir o poder referese a estratégias que não se diferenciam das usadas hoje pelos poderes dominantes para se legitimarem Mas é principalmente Bacon in PIEST 1960 quem desenvolve um estudo extremamente próximo ao que hoje se costuma entender por ideologia através de sua teoria sobre as quatro classes de ídolos que nos dificultam chegar mais próximos da verdade Esses ídolos são os da caverna nossas idiossincrasias caráter da tribo superstições paixões da praça as interrelações humanas principalmente através da linguagem e os ídolos do teatro a transmissão das tradições e doutrinas dogmáticas e autoritárias através do teatro que seriam hoje os meios de comunicação social A crescente importância da ideologia devese hoje certamente ao fato de nossa sociedade e nosso mundo tornaremse a cada dia mais imateriais sempre mais sustentados numa comunicação verbal e simbólica A primeira coisa a que precisamos prestar atenção ao querer penetrar nessa realidade da ideologia é que existem hoje inúmeros enfoques teóricos que dão ao conceito de ideologia diferentes significados e funções Não é tarefa fácil tratar esse assunto de maneira clara e inteligível Vamos nos arriscar por esse terreno acidentado minado mostrando quanto possível as semelhanças diferenças sobreposições e relações dos vários aspectos presentes em geral na realidade da ideologia Para melhor esclarecer e compreender os muitos significados de ideologia vamos tentar traçar duas linhas divisórias em forma de cruz formando quatro planos quatro quadrantes e discutir a partir daí as diversas acepções de ideologia Primeira linha horizontal ideologia como algo positivo ou algo negativo Vamos inicialmente traçar uma linha horizontal onde faremos uma primeira distinção central onde a ideologia vai ser localizada em dois grandes planos a dimensão positiva e a dimensão negativa Quadro 1 Dimensão positiva Dimensão negativa Ideologia no sentido positivo ou neutro é entendida como sendo uma cosmovisão isto é um conjunto de valores ideias ideais filosofias de uma pessoa ou grupo Nesse sentido todas as pessoas ou grupos sociais possuem sua ideologia pois é impossível alguém não ter suas ideias ideais ou valores próprios Já ideologia no sentido negativo ou crítico alguns falam até em sentido pejorativo seria constituída pelas ideias distorcidas enganadoras mistificadoras seriam as meiasmentiras algo que ajuda a obscurecer a realidade e a enganar as pessoas Ela se apresenta como algo abstrato ou impraticável como algo ilusório ou errôneo expressando interesses dominantes e como que sustentando relações de dominação Na faixa de cima numa concepção positiva ou neutra poderiam ser colocados autores como o próprio criador do termo Destutt De Tracy 1803 ideologia é o estudo das ideias que por sua vez são uma emanação do cérebro de Lenin 1969 e Lukács 1971 como as ideias de um grupo revolucionário e a formulação geral da concepção total de Mannheim 1954 que afirma que tudo o que nós pensamos é ideológico pois é impossível não se deixar contaminar pela situação social em que alguém nasce e vive em outras palavras Mannheim identifica aqui ideologia com conhecimento como todo conhecimento é condicionado assim toda ideologia é condicionada Mas nisso não há nada de errado Entre as concepções críticonegativas poderiam ser colocadas as três concepções de Marx cf THOMPSON 1995 ideias puras como autônomas e eficazes conforme defendiam os hegelianos sem ligação com a realidade 1989 as ideias da classe dominante 1989 e um sistema de representações que serve para sustentar relações de dominação 1968 Também estaria aqui a concepção restrita de ideologia de Mannheim 1954 isto é as ideias dominantes de um grupo sobre outro dominação de classe Segunda linha vertical ideologia como algo materializado corporificado ou como prática Na tentativa de compreensão das diversas acepções de ideologia podemos agora traçar uma segunda linha agora vertical onde distinguiremos outros dois grandes conjuntos de ideologias ideologias como sendo algo materializado onde a ideologia está corporificada na própria ideia na forma simbólica ou mesmo concretizada numa instituição como a escola ou a família e ideologia como modo e estratégia onde a ideologia é vista como uma prática uma maneira como as formas simbólicas servem para criar e manter as relações sociais entre pessoas Quadro 2 Dimensão Dimensão material dinâmica concreta prática Essa dimensão material concreta é exemplificada pela concepção descrita por Marx 1989 onde ideologia é definida como sendo as ideias da classe dominante Isto é as ideias da classe dominante pelo simples fato de serem da classe dominante já seriam ideologia A ideologia se concretiza nessas ideias Outro exemplo desse tipo de ideologia é a acepção empregada por Althusser 1972 onde ele define ideologia como sendo aparelhos ideológicos de estado Esses aparelhos são as instituições que são criadas no desenrolar da história e que são frutos de tensões que se dão nas relações entre os homens como por exemplo a escola a família as igrejas os meios de comunicação social as entidades assistenciais etc Para Althusser a ideologia está materializada nessas instituições elas constituem a ideologia Na sua dimensão dinâmica porém a ideologia é vista como uma determinada prática um modo de agir uma maneira de se criar produzir ou manter determinadas relações sociais A função da ideologia seria também a produção reprodução e transformação das experiências vitais na construção de subjetividades Therborn ao definir ideologia diz que a operação da ideologia na vida humana envolve fundamentalmente a constituição e a padronização de como os seres humanos vivem suas vidas como iniciadores conscientes e reflexivos de ações num universo de significados Nesse sentido ideologia constitui os seres humanos como sujeitos 1980 p 2 E logo após ele afirma que estudar o aspecto ideológico duma prática é deterse na maneira pela qual ela opera na formação e transformação da subjetividade humana Juntando as duas linhas Até aqui analisamos dois eixos onde sempre aparece uma dicotomia com dimensões opostas de ideologia Na junção dos dois eixos formamse quatro amplos campos que servem para visualizar identificar e relacionar quatro grandes concepções de ideologia Quadro 3 1 2 3 4 Cada um desses campos possui também seus teóricos Assim no quadrante 1 há autores que definem ideologia no sentido positivo e como algo material É o caso por exemplo de Mannheim 1954 para quem a ideologia é algo positivo e concreto como as cosmovisões das pessoas Já no quadrante 2 temos ideologia como algo positivo mas como uma prática é a visão de Therborn 1980 e muitos outros que veem a ideologia como uma maneira de se criar e manter as relações sociais sejam elas de que tipo forem No quadrante 3 ideologia passa a ser algo negativo mas algo concreto como por exemplo as ideias da classe dominante de Marx 1989 No caso de Althusser 1972 ideologia abrangeria tanto o 1 como o 3 pois uma escola por exemplo materializa a ideologia mas pode ser tanto positiva como negativa Finalmente no quadrante 4 teríamos ideologia como uma prática mas não uma prática qualquer deve ser uma prática que serve para criar ou manter relações assimétricas desiguais injustas É essa exatamente a definição de John B Thompson 1995 que no nosso modo de ver é o autor que melhor trata a problemática da ideologia Vamos nos deter especificamente nesse autor e nesse quadrante daqui para a frente Muitos talvez estejam se perguntando por que fazer todas essas distinções Pois há muitas razões para isso Em primeiro lugar é preciso deixar claro que o termo ideologia possui como acabamos de ver muitos sentidos diferentes Toda vez que formos empregar tal conceito devemos pois dizer qual o sentido que damos a esse termo Isso é fundamental para podermos estabelecer uma comunicação honesta e correta Ao mesmo tempo sempre que formos ler ou escutar alguém empregando esse termo devemos ver de imediato qual o sentido que esse autor ou locutor está dando à palavra Somente assim é possível progredir no diálogo e na investigação Em segundo lugar podemos a partir dessas distinções vermos qual é o melhor enfoque para podermos fazer uma boa pesquisa e podermos realizar um trabalho que seja prático e útil à ciência e à sociedade É nosso entendimento por exemplo que tomar ideologia no sentido negativo é bem mais interessante que simplesmente empregálo como sendo um conjunto de ideias Ideias cosmovisões todos nós temos e não há como ser diferente O importante porém é saber se essas ideias são falsas enganadoras se elas podem trazer prejuízos aos nossos colegas Finalmente é sempre mais honesto diríamos empregar ideologia como uma prática pois se a tomamos como materializada em alguma instituição ou ideia é arriscado cremos afirmar que ela é automaticamente negativa O que vai mostrar se uma ideia ou uma instituição possui uma dimensão negativa é a maneira como é empregada isto é sua função se ela serve ou não para criar ou reproduzir relações que chamaremos daqui para a frente de relações de dominação Nenhuma ideia mesmo que seja da classe dominante é por definição mistificadora ou falsa Precisamos ver caso a caso se ela está enganando ou não Se ela de fato ilude e esconde a realidade então dizse que é uma ideologia Do mesmo modo com as instituições Uma instituição por si mesma como a escola por exemplo não se constitui numa ideologia negativa Só é negativa quando se consegue mostrar que ela ajuda a criar ou reproduzir relações de dominação assimétricas desiguais Apesar disso contudo é importante deixar claro que não há critérios intrínsecos que forcem a adoção de uma ou outra dessas dimensões Cada pesquisador tratará de fazer sua opção por uma delas e nessa opção os critérios escolhidos serão os que conforme o autor em questão possam ajudar a investigar e compreender mais claramente os fenômenos concretos e os que possam ser úteis aos propósitos de cada investigador É o que pretendemos fazer a seguir Arriscamos sugerir um modo que julgamos prático e eficaz no tratamento dessa realidade complexa e provocante dentro de uma perspectiva históricocrítica Um modo prático de se tratar a ideologia Em anos bem recentes principalmente a partir dos estudos de Thompson 1995 uma nova aproximação ao estudo da ideologia começou a ser desenvolvido como vimos em parte no item anterior A grande diferença nesse estudo é que se começa a deixar de lado a preocupação com a verdade ou falsidade de um conceito p ex o entendimento da ideologia como as ideias da classe dominante ou a preocupação com a constituição específica de uma instituição que seja ideológica p ex os aparelhos ideológicos de estado de Althusser ou a preocupação com a concepção de uma ideologia reificada p ex ideologia como um ismo por exemplo socialismo comunismo Ideologia assume a dimensão de uma prática de um modo de operação de uma estratégia de ação A concepção e o emprego da ideologia dentro dessa perspectiva evita a difícil e ingente tarefa de se verificar em cada caso a validade ou falsidade dos conceitos já estabelecidos Essa concepção já pode ser visualizada em Marx não de maneira clara mas implícita quando ele emprega ideologia como sendo um sistema de representações que servem para sustentar relações existentes de dominação através da orientação das pessoas para o passado ou para imagens ou ideias que desviam da busca de mudança social Essa teria sido a legitimação do golpe de estado de Luís Napoleão Bonaparte MARX 1968 É uma concepção bem distinta da que é apresentada na Ideologia alemã 1989 onde a ideologia é tomada como sendo as ideias da classe dominante Essa nova concepção de ideologia afasta nossa atenção de ideias abstratas de doutrinas filosóficas e teóricas concentrando em vez disso nossa atenção nas maneiras como as formas simbólicas são usadas e transformadas em contextos sociais específicos É uma concepção que nos obriga a examinar as maneiras como as relações sociais são criadas e sustentadas por formas simbólicas que circulam na vida social aprisionando as pessoas e orientandoas para certas direções De acordo com esse enfoque estudar a ideologia é estudar as maneiras como o sentido serve para estabelecer e sustentar relações de dominação THOMPSON 1995 p 76 Assim um fenômeno ideológico só é ideológico se ele serve em circunstâncias específicas para estabelecer e sustentar relações de dominação Isso quer dizer que os fenômenos não são ideológicos em si mesmos não se pode retirar o caráter ideológico dos próprios fenômenos como tais mas somente quando os situamos em contextos sóciohistóricos onde eles passam a estabelecer e sustentar relações de dominação E a questão de se dizer se essas relações estabelecem ou sustentam relações de dominação só pode ser respondida quando se examina a interação entre sentido e poder em circunstâncias particulares Analisamos a seguir algumas implicações derivadas dessa concepção a Ideologia como uma concepção crítica Concepção crítica contrapõese aqui a concepção neutra Concepção neutra é a que caracteriza fenômenos como ideológicos sem implicar que esses fenômenos sejam necessariamente enganadores ilusórios ou ligados a interesses de algum grupo particular Ideologia seria um aspecto da vida social entre outros Pode servir para a revolução restauração reforma ou perpetuação de qualquer ordem social Exemplos de concepções neutras de ideologia seriam concepções que veem ideologia como puro e simples estudo das ideias a como um conhecimento que é socialmente condicionado ou mesmo a concepção de ideologia como uma plataforma de análise e de luta do proletariado Já a concepção crítica possui um sentido negativo ou até certo ponto pejorativo Implica que o fenômeno caraterizado como ideológico é enganador ilusório ou parcial e a própria caracterização do fenômeno como ideologia carrega consigo a própria condenação desses fenômenos b Sentido e formas simbólicas Vimos acima que dentro de uma perspectiva crítica estudar ideologia é a maneira pela qual o sentido se serve para sustentar relações de dominação O sentido de que se fala aqui é o sentido das formas simbólicas E por formas simbólicas se entende o amplo espectro de ações e falas imagens e textos que são produzidos por pessoas e reconhecidos por elas como contendo um significado Essas formas são principalmente as falas e expressões linguísticas faladas ou não mas podem ser também formas não linguísticas ou quase linguísticas como uma imagem visual ou um construto que combine imagens e palavras O caráter significativo das formas simbólicas pode ser analisado através de quatro dimensões específicas que são a dimensão intencional as formas simbólicas são expressões de um sujeito e para um sujeito a dimensão convencional a produção construção emprego e interpretação das formas simbólicas são processos que envolvem a aplicação de regras ou convenções de vários tipos a dimensão estrutural as formas simbólicas são construções que exibem uma estrutura articulada a dimensão referencial são construções que representam algo de modo específico referemse a algo dizem algo sobre alguma coisa finalmente a mais importante a dimensão contextual isto é as formas simbólicas estão sempre inseridas em processos e contextos sócio hitóricos determinados dentro dos quais e por meio dos quais elas são produzidas transmitidas e recebidas c O conceito de dominação É importante e estratégico distinguir aqui dois conceitos o conceito de poder e o conceito de dominação Essa distinção não é ainda muito comum nas ciências sociais Poder é definido aqui como sendo uma capacidade de produzir algo capacidade essa específica de cada prática GUARESCHI 1992 Todo tipo de prática envolve assim certa quantidade de poder Além disso toda pessoa situada dentro de um contexto socialmente estruturado tem em virtude de sua localização diferentes quantidades e diferentes graus de acesso a recursos disponíveis Isso significa que tal localização e as qualificações associadas a essas posições nas instituições e na sociedade fornecem a esses indivíduos diferentes graus de poder Já a dominação é uma relação e se dá quando determinada pessoa expropria poder capacidades de outro ou quando relações estabelecidas de poder são sistematicamente assimétricas fazendo com que determinados agentes ou grupos de agentes não possam participar de determinados benefícios sendo assim injustamente deles privados independentemente da base sobre a qual tal exclusão é levada a efeito d Modos e estratégias como o sentido pode servir para estabelecer e sustentar relações de dominação Esse é certamente o ponto mais prático e útil para quem quer se arriscar numa análise da ideologia Quais os modos e estratégias empregados na criação e manutenção das relações de dominação Ou como o sentido pode servir para estabelecer e sustentar tais relações Evidentemente as maneiras são muitíssimas Cada pesquisa vem contribuir para que se descubram novas e diferentes maneiras Melhor discutir isso através de alguns exemplos Suponhamos um político pronunciando um discurso em que afirma que a competição em âmbito mundial e o processo de globalização são condições indispensáveis que vêm favorecer o progresso e o desenvolvimento de todas as nações Que está afirmado ou suposto aqui Estamos diante de uma estratégia ideológica que poderíamos chamar de universalização Esses processos irão de fato favorecer e são indispensáveis a todos os países ou só a alguns Na verdade eles vêm favorecer apenas aos mais desenvolvidos pois como mostrou muito bem Nelson W Sodré 1995 globalização é simplesmente um novo nome para colonização O que os países colonizadores faziam com os colonizados é o que fazem hoje os países com mais tecnologia e recursos com respeito aos menos desenvolvidos Primeiro afirmam que a competição é o fator essencial a todo progresso e desenvolvimento Depois a transportam a nível mundial Nessa competição globalizada os mais fracos saem fica claro fortemente prejudicados É o mesmo que dizer que um atleta que ao iniciar uma corrida está muitos metros à frente e que possui muito mais recursos e preparo físico tem as mesmas chances de vencer que seu parceiro colocado atrás e com menos recursos Como não fica bem falar em colonização hoje falase em globalização Ou vejamos a atitude de uma mãe solícita ao descobrir que sua filha está namorando vários rapazes A reação imediata é Minha filha isso não é natural Isso nunca foi assim Mal sabe essa santa mãe que as tibetanas possuem muitos maridos E que os árabes possuem muitas mulheres Que estratégia é usada aqui A estratégia da naturalização ou da eternalização que consiste em tirar dos fenômenos seu caráter histórico relativo e transformálos em eternos imutáveis naturais Ou senão escutemos a fala daquela empregada que ao ser perguntada por que há pessoas ricas responde absolutamente convicta Rico é quem poupa Que se esconde por detrás dessa fala Uma enorme legitimação e justificação de uma situação desigual e muitas vezes injusta Na verdade grande número de pessoas ricas assim o são em geral por explorarem o trabalho dos outros Quando digo por isso que rico é quem poupa estou mistificando a realidade propiciando uma explicação distorcida do fenômeno legitimando a riqueza de uns por um lado e explicando por que alguns no caso a empregada são pobres por outro lado Eles explicam a si mesmos que são pobres porque não pouparam quando na grande maioria das vezes são pobres porque foram explorados E mais quando por acaso sobrarem alguns tostões eles irão correndo colocálos na poupança propiciando indiretamente mais lucros ainda aos que fazem uso dessa poupança para empregála em investimentos muito mais lucrativos Os exemplos poderiam assim ser multiplicados Thompson 1995 enumera cinco modos gerais de operação da ideologia legitimação dissimulação unificação fragmentação reificação junto com inúmeras estratégias típicas de construção simbólica associadas a cada modo geral Remetemos a seu texto para a descrição e exemplificação tanto dos modos como das estratégias Esses mecanismos não são as únicas maneiras de operação da ideologia Várias outras estratégias já foram identificadas em diversas pesquisas que poderiam se somar às descritas acima tais como a rotulação ou estigmatização onde se ligam determinados estereótipos a um sujeito ou instituição propiciando com isso que relações de dominação se criem ou se perpetuem a sacralização ou divinização através das quais caraterísticas sobrenaturais são referendadas a acontecimentos ou pessoas criandose com isso situações onde relações assimétricas de poder são instituídas com o prejuízo de diversas pessoas ou grupos e ainda outras possibilidades GUARESCHI 1996 Além do mais esses modos e estratégias podem se sobrepor e se reforçar ou se legitimar mutuamente e A valorização das formas simbólicas Há ainda um último ponto que merece ser assinalado que se mostrou extremamente útil na análise da ideologia Como vimos as formas simbólicas possuem diversas características Elas têm um caráter intencional convencional estrutural referencial e contextual O caráter contextual significa que elas estão sempre inseridas num contexto sociocultural específico São produzidas por sujeitos historicamente situados que possuem recursos e capacidades específicas Ao mesmo tempo elas são recebidas por sujeitos que estão inseridos em contextos sóciohistóricos particulares Esses fatos fazem com que as formas simbólicas carreguem consigo diferentes particularidades a partir desses sujeitos São essas especificidades que Bourdieu 1977 discute ao analisar os diferentes campos de interação E a esses recursos e capacidades Bourdieu chama de capital e um desses tipos é o capital simbólico Em tais circunstâncias as formas simbólicas podem ser valorizadas de diferentes maneiras Quando se conectam as posições que determinada pessoa ocupa dentro de certo campo de interação a diversos processos de valorização simbólica podemos identificar diferentes graus de poder que passam a ser atribuídos a diferentes atores Poder é entendido aqui como a capacidade de agir para conseguir diferentes objetivos poder de fazer algo ou de agir de determinada maneira Ao agir a pessoa emprega recursos disponíveis capital Ora o fato de uma pessoa ocupar determinada posição num campo de interação como nas instituições por exemplo possibilita capacita a essa pessoa a conseguir determinados fins realizar seus objetivos tomar tais decisões E pelo fato de possuir graus diferentes de poder relacionase diferentemente com os outros Surgem assim dessas interações diferentes relações que ao se constituírem como sistematicamente assimétricas desiguais transformamse em relações de dominação Retornamos então ao campo da ideologia entendida como maneira de criar e manter relações de dominação A dominação dentro de tais situações é uma dominação mais estável que não depende de circunstâncias que podem ser facilmente mudadas e transformadas mas que por se situarem em instituições e até mesmo na estrutura social possuem caraterísticas mais estáveis e cristalizadas Surgem daqui outros tipos de estratégias típicas de valorização simbólica que podem servir dependendo das circunstâncias para criar ou manter relações de dominação isto é prestamse a ser recurso ideológico dentro da definição por ele defendida Exemplificando podese dizer que uma pessoa ao ocupar uma posição dominante dentro de um campo de interação pode apelar a estratégias de valorização simbólica como a de distinção o uso de vestimentas que materializam situações de prestígio como o uso de gravata etc de menosprezo de condescendência e assim por diante Tais estratégias permitem às pessoas que estão em posição dominante reafirmar sua dominação sem necessitar de demonstrações mais claras e específicas Já quem está numa posição intermediária pode empregar estratégias de moderação valorização dos bens à sua disposição pretensão fingindo ser o que de fato não é e buscando assemelharse aos de cima ou desvalorização depreciando as produções dos dominantes E quem ocupa uma posição subordinada pode empregar estratégias de praticidade em vez de buscar requintes dá valor a coisas práticas e baratas de resignação respeitosa aceita sua posição como inevitável ou de rejeição não aceita e ridiculariza o que é produzido pelos dominantes rotulando muitas vezes tais produções como intelectuais ou efeminadas Conclusão Tentamos mostrar de um lado como o conceito de ideologia é complexo e multifacetado tomado em acepções bem diversas de outro lado argumentamos que quando tomado no sentido negativo e crítico e como uma prática isto é como o uso de formas simbólicas para criar ou manter relações de dominação ele se presta para fazer com que os estudos e pesquisas se tornem mais úteis e frutíferos é realmente o que torna os estudos e pesquisas frutíferos Mais que identificar cosmovisões gerais de pessoas ou grupos o que na verdade cremos ser importante e necessário é revelar como as pessoas sofrem e são prejudicadas na sua vida cotidiana devido a relações que são estabelecidas de maneira desigual e injusta Com isso nosso trabalho poderá contribuir de maneira iluminadora e emancipatória na construção de uma sociedade economicamente justa politicamente democrática culturalmente plural eticamente solidária Leituras complementares Em estudo abrangente bastante completo e crítico do conceito e da teoria da ideologia pode ser encontrado no livro de John B Thompson Ideologia e cultura moderna Petrópolis Vozes 1995 Além do histórico do conceito ele mostra os diversos sentidos em que ideologia foi tomada e sugere maneiras de se poder analisála Um outro livro do mesmo autor Studies in the Theory of Ideology Londres Polity Press 1984 traz também excelente material para compreender e criticar a ideologia O livro de Marilena Chauí O que é Ideologia São Paulo Brasiliense 1983 é também um ótimo tratado introdutório e mais simples para quem quiser se familiarizar com o que seja ideologia Bibliografia ALTHUSSER L Ideologia e aparelhos ideológicos de estado Lisboa Presença 1972 BOURDIEU P Outline of a theory of practice Cambridge Cambridge University Press 1977 CRICK B ed Machiavelli Discourses Nova Iorque Penguin 1970 DE TRACY D Éléments dIdéologie Vol 1 Paris Librairie Philosophique J Vrin 1803 reimpresso em 1970 FARR R The roots of modern social psychology 18721954 Oxford Blackwell 1996 FREITAG B A teoria crítica ontem e hoje São Paulo Brasiliense 1992 GEUSS R Teoria crítica Habermas e a Escola de Frankfurt São Paulo Papirus 1988 GUARESCHI P A ideologia um terreno minado Psicologia Social Sociedade 82 p 8294 juldez 1996 Sociologia da prática social Petrópolis Vozes 1992 LENIN Vladimir I The state and revolution In Selected works Londres Lawrence and Wishart 1969 LUKÁCS G History and class consciousness studies in marxist dialectics Londres Merlin Press 1971 MANNHEIM Karl Ideology and utopia Londres Routledge Kegan Paul 1954 The Eighteenth Brumaire of Louis Bonaparte In Selected Works Londres Lawrence Wishart 1968 MARX Karl Capital Nova Iorque Vintage Books 1977 MARX Karl ENGELS F A ideologia alemã São Paulo Martins Fontes 1989 MOSCOVICI S Society and theory in social psychology In ISRAEL J TAJFEL H The context of social psychology Londres Academic Press 1972 PIEST O ed The new organon and related wtitings Nova Iorque The Liberal Arts Press 1960 SODRÉ NW A farsa do neoliberalismo Rio de Janeiro Graphia 1995 THERBORN Goran The ideology of power and the power of ideology Londres Verso 1980 THOMPSON John B Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS Fátima O de Oliveira Graziela C Werba Discorrer sobre Representações Sociais RS não tem sido uma tarefa fácil Elas se colocam em parte na ordem da utopia Por que RS lembra utopia Porque nunca se chega ao limite deste conceito ao nos aproximarmos dele o vemos escorregar para mais longe obrigandonos a transpor nossas próprias fronteiras buscando novamente aquele horizonte perdido Atualmente as discussões em torno da teoria das RS têm ocupado um grande espaço no campo da Psicologia Social obrigando muitos teóricos e acadêmicos a revisarem seus enfoques proporcionando a todos novas formas de olhar entender e interpretar os fenômenos sociais ajudando a compreender em última análise por que as pessoas fazem o que fazem Como nasceu esta teoria Para Moscovici 1994 p 8 o conceito de representação social tem suas origens na Sociologia e na Antropologia através de Durkheim e de LéviBruhl Inicialmente chamado de representação coletiva serviu como elemento básico para elaboração de uma teoria da religião da magia e do pensamento mítico Também contribuíram para a criação da teoria das RS a teoria da linguagem de Saussure a teoria das representações infantis de Piaget e a teoria do desenvolvimento cultural de Vygotsky A teoria das RS pode ser considerada como uma forma sociológica de Psicologia Social FARR 1994 O conceito é mencionado pela primeira vez por Moscovici em seu estudo sobre a representação social da psicanálise intitulado Psychanalyse Son image et son public Nesta obra Moscovici conduz um estudo tentando compreender mais profundamente de que forma a psicanálise ao sair dos grupos fechados e especializados é ressignificada pelos grupos populares O que motivou Moscovici a desenvolver o estudo das RS dentro de um trabalho científico foi principalmente sua crítica aos pressupostos positivistas e funcionalistas das demais teorias que não davam conta de explicar a realidade em outras dimensões principalmente na dimensão históricocrítica No Brasil o interesse pela teoria das RS iniciou no final da década de 1970 lembrando sua estreita relação com o desenvolvimento da própria psicologia social que a partir de algumas instituições assume uma postura mais crítica não apenas em relação à psicologia americana mas também em contrapartida ao papel subserviente da ciência frente às questões de ordem macrossocial SPINK 1996 p 170 A teoria das RS tem sido discutida criticada reformulada e cada vez mais empregada em muitos trabalhos científicos Apesar de Moscovici recusarse a conceituála de modo definitivo muitos autores têmse esforçado para compreendêla mais profundamente bem como contribuir para seu desenvolvimento enquanto teoria Mas o que são as representações sociais As Representações Sociais são teorias sobre saberes populares e do senso comum elaboradas e partilhadas coletivamente com a finalidade de construir e interpretar o real Por serem dinâmicas levam os indivíduos a produzir comportamentos e interações com o meio ações que sem dúvida modificam os dois De Rosa 1994 distingue entre três níveis de discussão e análise das RS Nível fenomenológico as RS são um objeto de investigação Esses objetos são elementos da realidade social são modos de conhecimento saberes do senso comum que surgem e se legitimam na conversação interpessoal cotidiana e têm como objetivo compreender e controlar a realidade social Nível teórico é o conjunto de definições conceituais e metodológicas construtos generalizações e proposições referentes às RS Nível metateórico é o nível das discussões sobre a teoria Neste colocamse os debates e as refutações críticas com respeito aos postulados e pressupostos da teoria juntamente a uma comparação com modelos teóricos de outras teorias Para evitar confusões é fundamental distinguir entre estes três níveis bem como assinalar sobre qual deles se está falando Quanto à metodologia nas RS ela vai variar de acordo com o objeto de estudo acompanhando paralelamente estes três níveis de discussão Apesar de Moscovici não ter apresentado um conceito definitivo de RS tentou situála da seguinte forma Moscovici 1981 p 181 refere que por Representações Sociais entendemos um conjunto de conceitos proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais Elas são o equivalente em nossa sociedade aos mitos e sistemas de crença das sociedades tradicionais podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum Talvez seja Jodelet quem melhor e mais detalhadamente conceitue RS como uma forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social JODELET 1989 p 36 Para Guareschi 1996a são muitos os elementos que costumam estar presentes na noção de RS Nelas há elementos dinâmicos e explicativos tanto na realidade social física ou cultural elas possuem uma dimensão histórica e transformadora nelas estão presentes aspectos culturais cognitivos e valorativos isto é ideológicos Esses elementos das RS estão sempre presentes nos objetos e nos sujeitos por isso as RS são sempre relacionais e portanto sociais Um dos elementos fundamentais da teoria das RS é a interligação possível entre cognição afeto e ação no processo de representação Tanto Jovchelovitch 1996 como Guareschi mostram a importância desta interligação no processo cognitivo A representação como um processo mental carrega sempre um sentido simbólico Jodelet 1988 identifica no ato de representar cinco características fundamentais 1 representa sempre um objeto 2 é imagem e com isso pode alterar a sensação e a ideia a percepção e o conceito 3 tem um caráter simbólico significante 4 tem poder ativo e construtivo 5 possui um caráter autônomo e generativo Para que estudamos as RS Estudar RS é buscar conhecer o modo de como um grupo humano constrói um conjunto de saberes que expressam a identidade de um grupo social as representações que ele forma sobre uma diversidade de objetos tanto próximos como remotos e principalmente o conjunto dos códigos culturais que definem em cada momento histórico as regras de uma comunidade Uma das principais vantagens desta teoria é sua capacidade de descrever mostrar uma realidade um fenômeno que existe do qual muitas vezes não nos damos conta mas que possui grande poder mobilizador e explicativo Tornase necessário por isso estudálo para que se possa compreender e identificar como ela atua na motivação das pessoas ao fazer determinado tipo de escolha comprar votar agir etc É fundamental darmonos conta de que na maioria das vezes nós praticamos determinadas ações como por exemplo comprar e votar não por razões lógicas racionais ou cognitivas mas por razões principalmente afetivas simbólicas míticas religiosas etc A teoria das RS chama a atenção a essa realidade e tenta mostrar a importância de se conhecer essas representações para se compreender o comportamento das pessoas O conceito de RS é versátil e três importantes postulados podem se combinar em seu emprego é um conceito abrangente que compreende outros conceitos tais como atitudes opiniões imagens ramos de conhecimento possui poder explanatório não substitui mas incorpora os outros conceitos indo mais a fundo na explicação causal dos fenômenos o elemento social na teoria das RS é algo constitutivo delas e não uma entidade separada O social não determina a pessoa mas é substantivo dela O ser humano é tomado como essencialmente social Como podemos ver a teoria das RS é bastante abrangente e seu conceito dinâmico pode nos ajudar a entender as várias dimensões da realidade quais sejam a física a social a cultural a cognitiva e isso tudo de forma objetiva e subjetiva Essa abertura torna as RS um instrumento valioso e imprescindível no campo da psicologia social Por que criamos as RS Tentando entender a formação e origem das RS constatase que criamos as RS para tornar familiar o não familiar Este movimento que se processa internamente vem a serviço de nosso bemestar pois tendemos a rejeitar o estranho o diferente enfim tendemos a negar as novas informações sensações e percepções que nos trazem desconforto Para assimilar o não familiar dois processos básicos podem ser identificados como geradores de RS o processo de ancoragem e objetivação Vejamos primeiro o que significam os conceitos familiar e não familiar a partir das noções de Universos Reificados e Universos Consensuais Poderíamos dizer que existem na sociedade dois tipos diferentes de universos de pensamento os Universos Consensuais UC e os Universos Reificados UR Nos UR que são mundos restritos circulam as ciências a objetividade ou as teorizações abstratas Nos UC que são as teorias do senso comum encontram se as práticas interativas do dia a dia e a produção de RS No UC a sociedade é vista como um grupo de pessoas que são iguais e livres cada uma com possibilidade de falar em nome do grupo Nenhum membro possui competência exclusiva Já no UR a sociedade é percebida como um sistema de diferentes papéis e classes cujos membros são desiguais O não familiar situase e é gerado muitas vezes dentro do UR das ciências e deve ser transferido ao UC do dia a dia Essa tarefa é geralmente realizada pelos divulgadores científicos de todos os tipos como jornalistas comentaristas econômicos e políticos professores propagandistas que têm nos meios de comunicação de massa um recurso fantástico Podemos agora retomar as noções de Ancoragem e Objetivação e ver que papel desempenham nesse contexto Ancoragem é o processo pelo qual procuramos classificar encontrar um lugar para encaixar o não familiar Pela nossa dificuldade em aceitar o estranho e o diferente este é muitas vezes percebido como ameaçador A ancoragem nos ajuda em tais circunstâncias É um movimento que implica na maioria das vezes em juízo de valor pois ao ancorarmos classificamos uma pessoa ideia ou objeto e com isso já o situamos dentro de alguma categoria que historicamente comporta esta dimensão valorativa Quando algo não se encaixa exatamente a um modelo conhecido nós o forçamos a assumir determinada forma ou entrar em determinada categoria sob pena de não poder ser decodificado Este processo é fundamental em nossa vida cotidiana pois nos auxilia a enfrentar as dificuldades de compreensão ou conceituação de determinados fenômenos Por exemplo quando surgiu o problema da Aids diante das perplexidades e dificuldades em entendêla e classificála uma das formas encontrada pelo senso comum para dar conta de sua ameaça foi ancorála como uma peste mais especificamente a peste gay ou o câncer gay Assim representada embora classificada de forma equivocada e preconceituosa a nova doença pareceu menos ameaçadora pois já havia sido categorizada pelo senso comum como uma peste e só aconteceria aos gays Um dos melhores exemplos de como ocorre a Ancoragem é fornecido por Jodelet em seu trabalho sobre a representação social da loucura Ao abrirem as portas do manicômio e colocarem os doentes mentais em contato com os aldeões na rua aqueles foram imediatamente julgados por padrões convencionais e comparados a idiotas vagabundos epilépticos ou aos que no dialeto local eram chamados de maloqueiros Quando determinado objeto ou ideia é comparado ao paradigma de uma categoria ele adquire características dessa categoria e é reajustado para que se enquadre nela Neste exemplo a ideia destes aldeões sobre os idiotas vagabundos ou epilépticos foi transferida sem modificação aos doentes mentais Já a Objetivação é o processo pelo qual procuramos tornar concreto visível uma realidade Procuramos aliar um conceito com uma imagem descobrir a qualidade icônica material de uma ideia ou de algo duvidoso A imagem deixa de ser signo e passa a ser uma cópia da realidade Um dos exemplos fornecidos por Moscovici referese à religião Ao se chamar de pai a Deus estáse objetivando uma imagem jamais visualizada Deus em uma imagem conhecida pai facilitando assim a ideia do que seja Deus Qual a diferença entre representações sociais e outras teorias Podemos dizer que a principal diferença entre o conceito de RS de outros conceitos é sua dinamicidade e historicidade específicas As RS estão associadas às práticas culturais reunindo tanto o peso da história e da tradição como a flexibilidade da realidade contemporânea delineando as representações sociais como estruturas simbólicas desenhadas tanto pela duração e manutenção como pela inovação e metamorfose Existem diferenças entre o enfoque dado à psicologia social americana e o enfoque europeu A psicologia social que floresceu nos EUA é uma Psicologia essencialmente cognitivista que foi exportada para a Europa e América do Sul Ao florescer em solo norteamericano a psicologia social do pósguerra alimentase de uma visão individualista específica de sua cultura o que Farr 1994 denomina de psicologia social psicológica enfraquecendo a vertente mais interdisciplinar com a sociologia que se chama de psicologia social sociológica É neste contexto que nasce a teoria das RS teoria esta que tendo origem em Durkheim um sociólogo contrapõese à vertente americana e assim o campo de estudos das RS acaba por ampliar a noção de social Devese fazer uma distinção entre RS e as Representações Coletivas como empregadas por Durkheim Sperber 1985 ao explicar a diferença faz uma analogia com a medicina diz ele que a mente humana é susceptível de representações culturais do mesmo modo que o organismo humano é susceptível de doenças Ele divide as representações em coletivas representações duradouras amplamente distribuídas ligadas à cultura transmitida lentamente por gerações são tradições e se comparam à endemia e sociais são típicas de culturas modernas espalhamse rapidamente por toda a população possuem curto período de vida são parecidos com os modismos e se comparam à epidemia A Teoria das RS diferenciase de muitas outras também no que concerne à visão do social e ser humano Para a Teoria Comportamentalista o social é dado como pronto e o ser humano é condicionado para a psicanálise o social é relegado a uma categoria de menor importância e o ser humano é determinado pelo inconsciente já para a teoria das RS o social é coletivamente edificado e o ser humano é construído através do social Outra importante diferença entre a teoria das RS e outras de tendência mais positivista e funcionalista é que aquela aceita a existência de conteúdos contraditórios ou seja seu estudo e pesquisa não descartam os achados conflitantes pelo contrário é a possibilidade de trabalhar com as diferenças que enriquece a compreensão do fenômeno investigado conferindo à teoria das RS uma dimensão dialética Não menos importante na pesquisa das RS é a relação que ela estabelece com o estudo da ideologia que veremos a seguir Que relações se podem estabelecer entre o estudo das RS e ideologia A relação que as RS estabelecem com ideologia provoca ainda muitas discussões Se ideologia for definida como algo reificado pronto e acabado como parece ser o sentido que Moscovici dá à ideologia é evidente que as RS não podem ser identificadas com ela exatamente pelo fato de serem dinâmicas e sempre passíveis de transformação Ultimamente está havendo uma ampla tendência de se definir ideologia de acordo com a definição proposta por Thompson 1995 p 76 Ideologia é o uso das formas simbólicas para criar ou manter relações de dominação em outras palavras é o sentido a serviço de relações assimétricas desiguais O conceito de sentido embutido em ideologia é o sentido das formas simbólicas inseridas nos contextos sociais As formas simbólicas são um amplo conjunto de ações e falas imagens e textos que são produzidos pelas pessoas e reconhecidas por elas e outros como construtos significativos As falas e expressões linguísticas são centrais na análise podendo ser também imagens visuais ou construtos que combinam imagens e palavras Ainda para se entender melhor o que seja ideologia é importante discutir o que se entende por dominação Dominação é uma relação que se estabelece entre pessoas ou grupos onde uns interferem e se apropriam das capacidades ou habilidades de outros de maneira assimétrica Portanto existem diversas formas de dominação que podem ser econômica de gênero de raça de etnia de idade religiosa etc GUARESCHI 1996b Se tomarmos pois ideologia como o uso de formas simbólicas para criar ou reproduzir relações de dominação podemos concluir que as RS pelo fato de serem formas simbólicas podem ser ideológicas mas não podemos deduzir isto a priori Para dizer que uma RS é ideológica precisamos primeiro mostrar que ela serve em determinadas circunstâncias para criar ou reproduzir relações de dominação Como investigamos as RS Não existe uma metodologia exclusiva para a investigação das RS sendo que encontramos desde investigações realizadas em uma base quantitativa como as que trabalham com dados qualitativos e ainda alguns que fazem uso complementar destas duas abordagens Um dos instrumentos mais usados e desenvolvidos na investigação das RS tem sido a técnica dos grupos focais Existem é claro outros tantos que podem ser empregados de acordo com o propósito da pesquisa recursos disponíveis tempo verba sujeitos etc inclusive o estilo do investigador Mas a técnica dos grupos focais parece se adaptar de maneira mais adequada a esta investigação Os grupos focais podem ser descritos basicamente como entrevistas que se fundamentam na interação desenvolvida dentro do grupo O pontochave destes grupos é o uso explícito dessa interação para produzir dados e insights que seriam difíceis de conseguir fora desta situação Isso se constitui na grande vantagem desses grupos a oportunidade que eles oferecem de se estabelecer uma intensa troca de ideias sobre determinado tópico num período limitado de tempo onde os dados são discutidos e aprofundados em conjunto A qualidade dos dados pode ser em consequência superior aos de uma entrevista individual Embora esta técnica tenha sido e é ainda muito usada com fins publicitários está sendo também cada vez mais frequentemente utilizada no campo das ciências sociais Morgan 1988 p 22 afirma que a finalidade mais comum dos grupos focais é conduzir uma discussão em grupo que se assemelhe a uma conversação normal e viva entre amigos e vizinhos Os grupos focais se prestam pois muito bem para a finalidade de se chegar mais próximo às compreensões que os participantes possuem do tópico de interesse do pesquisador Podese compreender além disso não apenas o que mas também por que os participantes pensam da maneira como pensam p 24 O papel do coordenador nos grupos focais é o de conduzir a discussão de forma livre porém com o cuidado de não desviar o tema proposto As falas dos grupos são geralmente registradas em cassete e seguem os seguintes passos para o trabalho de tratamento dos dados a transcrição das entrevistas b leitura flutuante do material intercalando a escuta do material gravado com a leitura do material transcrito de modo a captar os temas propostos detendo se na construção na retórica permitindo a emergência dos investimentos afetivos c retorno aos objetivos da pesquisa para após a categorização dos dados fazer sua interpretação de acordo com os referenciais teóricos em questão Desse modo após a atenta escuta e leitura são pinçadas verbalizações que revelam uma ideia ou avaliação referentes ao tema proposto A partir daí é possível uma categorização de dados agrupandoos por afinidade Destes surgem as categorias principais a partir das quais se permite a construção de um mapeamento das categorias dos grupos focais Um uso muito apropriado do grupo focal é também servir de fundamentação para se criar uma entrevista ou questionário mais estruturados para serem aplicados a outros grupos pessoas ou para entrevistas individuais O número de grupos para se discutir um tema específico pode variar entre três a quatro e a duração normal é de uma hora chegando às vezes a hora e meia O tamanho dos grupos varia de no mínimo quatro participantes até o máximo de doze mas o mais recomendado é entre seis e oito participantes Umas das possíveis maneiras de se interpretar as RS após terem sido levantadas nos grupos focais e mapeadas é utilizar o referencial metodológico baseado em John B Thompson 1995 capítulo 6 denominado por ele de Hermenêutica de Profundidade HP Este autor distingue dois níveis de análise na compreensão dos fatos sociais em especial as formas simbólicas Um primeiro nível é o da hermenêutica da vida cotidiana que consiste numa descrição fenomenológica dos fatos Em um segundo nível denominado hermenêutica de profundidade buscase investigar e interpretar as formas simbólicas mais profundamente O processo compõese de três fases a análise sóciohistórica que investiga o fenômeno na dimensão espáciotemporal as suas interrelações sociais as instituições e a estrutura social a análise formal ou discursiva que investiga as formas simbólicas em si mesmas através de diversos tipos de análise de discurso como a semiótica a análise sintática a análise da conversação a análise argumentativa a análise narrativa etc finalmente a interpretação ou reinterpretação que é o espaço onde se interpretam as formas simbólicas de acordo com os referenciais teóricos em questão É importante lembrar que toda a interpretação é aberta e conflitiva sujeita a outras e novas interpretações Considerações finais Ao finalizarmos este capítulo podemos retomar a questão inicial que teoria é essa Parecenos ser uma teoria nova aberta e fecunda Não é uma teoria pronta Cremos que essa sua incompletude seja justamente uma das suas importantes possibilidades Podemos identificar dois grandes avanços a nosso ver trazidos por essa teoria a a teoria das RS trata do conhecimento construído e partilhado entre pessoas saberes específicos à realidade social que surgem na vida cotidiana no decorrer das comunicações interpessoais buscando a compreensão de fenômenos sociais b a teoria das RS colocou os saberes do senso comum em uma categoria científica Ela veio valorizar este conhecimento popular tornando possível e relevante sua investigação Talvez estejamos demasiadamente acostumados a trabalhar com teorias já prontas onde o que poderia ser descoberto já o foi ou em outras palavras teorias que nos são familiares que não nos assustam mas que por outro lado pouco nos provocam Poderíamos dizer que a provocação é a alma da pesquisa talvez até possamos arriscar pensar que é este despertar da curiosidade pelo que nos é não familiar não reconhecido previamente o que nos move a novas descobertas científicas Aliás Aristóteles já dizia que a curiosidade é a alma da ciência A teoria das RS certamente nos obriga a pensar exige muito trabalho de interpretação e reinterpretação colocanos frente a dicotomias conflitos deixa nos diante do desconhecido ela desconcerta É justamente aí que ela favorece nosso crescimento pois vemonos obrigados a desconstruir certezas envelhecidas e a nos abrirmos para novas possibilidades Todo esse movimento está contido no cerne da própria teoria que é dinâmica em essência Leituras complementares Conforme mencionamos no início deste capítulo a teoria das RS é recente por isso a bibliografia em português a respeito do assunto não é extensa No Brasil na PUC de São Paulo há um grupo que trabalha com Mary Jane Spink organizadora de O conhecimento no cotidiano as representações sociais na perspectiva da psicologia social São Paulo Brasiliense 1993 que apresenta bons trabalhos teóricos e metodológicos sobre representações sociais Na PUC do Rio Grande do Sul outro grupo liderado por Pedrinho Guareschi temse dedicado ao estudo e pesquisa em RS O livro Textos em representações sociais Petrópolis Vozes 1994 que organizou com Sandra Jovchelovitch London School of Economics and Political Science traz boas discussões sobre a teoria metodologia e pesquisa em RS Do mesmo autor para quem está se iniciando em representações sociais sugerimos um texto básico Representações sociais alguns comentários oportunos ver bibliografia Na Uerj há outro grupo ligado a Celso Pereira de Sá autor de A teoria e pesquisa do núcleo central Petrópolis Vozes 1996 que discute proposições básicas e a produção empírica da abordagem do núcleo central Para quem tem facilidade com outros idiomas pode ser interessante a leitura de trabalhos clássicos como do próprio Moscovici de Denise Jodelet ou ainda de Annamaria S De Rosa citados na bibliografia Finalmente para quem está interessado em conhecer e produzir trabalhos na linha dos que encontrou neste capítulo poderá acompanhar as atividades que vêm sendo desenvolvidas pela Associação Brasileira de Psicologia Social Abrapso que publica a excelente revista científica Psicologia Sociedade PUC São Paulo Bibliografia DE ROSA Annamaria S From theory to metatheory in social representations the lines of argument of a theoretical methodological debate Social Science Information Vol 33 n 2 1994 p 273303 FARR RM Representações sociais a teoria e sua história In GUARESCHI P JOVCHELOVITCH S Textos em representações sociais Petrópolis Vozes 1994 p 3159 GUARESCHI P Sem dinheiro não há salvação ancorando o bem e o mal entre neopentecostais In GUARESCHI P JOVCHELOVITCH S Representações sociais alguns comentários oportunos Revista Coletâneas da Anpepp n 10 vol 1 set 1996a p 936 A ideologia um terreno minado Psicologia Sociedade Revista da Associação Brasileira de Psicologia Social Abrapso 8 2 8294 juldez 1996b Textos em representações sociais Petrópolis Vozes 1994 p 191225 JODELET D Représentations sociales un domaine en expansion In ID ed Les représentations sociales Paris Presses Universitaires de France 1989 Représentations sociales phénomènes concept et théorie In FARR R MOSCOVICI S eds Psycologie sociale 2 ed Paris Presses Universitaires de France 1988 p 357378 JOVCHELOVITCH S Espaço de mediação e gênese das representações sociais Revista Psico Porto Alegre 27 1 193205 janjun 1996 MORGAN DL Focus groups as qualitative research Newbury Park CA Sage Publications 1988 MOSCOVICI S Prefácio In GUARESCHI P JOVCHELOVITCH S Textos em representações sociais Petrópolis Vozes 1994 p 716 The phenomenon of social représentations In FARR RM MOSCOVICI S eds Social représentations Cambridge Cambridge University Press 1984 p 369 On social representatios In FORDAS JP eds Social cognition perspectives on everyday ubderstanding London Academic Press 1981 p 181 209 A representação social da psicanálise Rio de Janeiro Zahar 1978 SPERBER D Anthropology and psycology towards an epedimiology of représentations Mann news series 1985 p 7389 SPINK MJ Representações sociais questionando o estado da arte Psicologia Sociedade Revista da Associação Brasileira de Psicologia Social Abrapso 8 2 166186 juldez 1996 THOMPSON JB Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995 LINGUAGEM Maria Juracy Toneli Siqueira Adriano Henrique Nuernberg O que é a linguagem O que fazemos quando queremos mostrar a uma pessoa o que estamos pensando ou sentindo Em geral falamos E se por algum motivo qualquer estamos impossibilitados de falar Podemos tentar comunicarmonos através de gestos da mímica da escrita de atitudes do corpo enfim podemos utilizar outras formas de linguagem para transmitir aos demais o que pretendemos Segundo alguns estudiosos da comunicação humana WATZLAWICK 1967 é impossível não comunicar pois mesmo em silêncio estamos comunicando algo como por exemplo não quero falar ou não quero falar agora ou isto aqui está muito chato ou não estou entendendo nada e assim por diante Sem buscarmos formas de fornecer aos outros meios mais claros para identificarem o que queremos dizer no entanto ficamos à mercê de sua interpretação arbitrária Não que nossos ouvintes não nos interpretem sempre mas certamente há que se estabelecer um código comum entre nós para que possamos comunicarmonos mais facilmente Neste sentido os grupos humanos constroem formas partilhadas códigos pelos quais seus vários membros possam transmitir as informações uns aos outros As línguas atestam isto sendo que mesmo entre aqueles que falam uma língua única há diferenças significativas segundo as tradições do grupo ao qual pertencem No Brasil por exemplo usamos pelo menos três palavras diferentes para nomear uma mesma raiz comestível mandioca aipim macaxeira Se não pertencemos ao grupo que a ela nomeia mandioca necessitaremos de algumas pistas adicionais para compreendermos do que se trata afinal Para além de sua função de nomeação as palavras apresentamse também carregadas de sentido Neste caso ao falar mandioca eu falo muito mais coisas do que uma mera referência à raiz em si Para alguns lembranças de uma época de infância são imediatamente evocadas resgatando os almoços em família nos sábados em que em cima da mesa a comida mineira com carne de porco couve refogada e mandioca cozida com manteiga enchia os olhos os narizes e o estômago Para outros certamente sentidos diferentes existirão posto que cada um de nós embora pertencendo a grupos que compartilham uma mesma cultura compreende através de distintas maneiras os enunciados em trânsito nas relações sociais Outra variação da comunicação humana é a linguagem escrita cuja característica principal é a possibilidade de registro e transmissão de informações de maneira mais permanente do que a linguagem oral Se esta última surgiu em decorrência da necessidade da comunicação imediata a escrita vem para garantir a durabilidade destas informações no tempo e no espaço permitindo também o acesso a um interlocutor ausente do campo Através da escrita nos comunicamos com amigos queridos que se encontram longe de nós registramos nossas experiências profissionais sob a forma de curriculum vitae apresentamos nossas ideias em trabalhos científicos deixamos bilhetes para nossos companheiros de moradia firmamos relações contratuais enfim entre tantas possibilidades organizamos nosso cotidiano imediato e deixamos nossa marca através dos tempos É possível por exemplo reconstituir toda uma época histórica incluindo modos de viver através das diferentes formas de registro e dos textos produzidos pela humanidade Das primeiras verbalizações e pinturas nas cavernas até as línguas atuais e suas formas escritas evidenciase a dimensão histórica e social desta produção humana Se o homem primitivo lia os sinais da natureza pegadas direção do vento galhos quebrados etc e com eles orientava sua ação no mundo com a criação dos signos enquanto sinais artificialmente criados por homens e mulheres ampliase o âmbito das possibilidades da existência humana Convém ressaltar que a linguagem enquanto uma função complexa apresentase como uma das grandes questões das Ciências Humanas e Sociais neste século sobretudo nas áreas da Psicologia Sociologia e evidentemente da Linguística Inúmeras teorias dedicaram ênfase à linguagem ainda que defendendo distintos pontos de vista e chamando a atenção para diferentes aspectos desse tema A linguagem segundo Vygotsky e Bakhtin Homens e mulheres diferenciamse dos outros animais pelo fato de que as categorias fundamentais de sua ação no mundo mudaram substancialmente no transcurso de sua história com a introdução do trabalho social e das formas de vida societária a ele vinculadas O trabalho social portanto mediante a divisão de suas funções originou novas formas de ação não imediatamente relacionadas aos motivos biológicos elementares O segundo fator decisivo nesta trajetória é o surgimento da linguagem Fazse necessário então tratar da linguagem dentro do processo histórico de desenvolvimento da cultura e consequentemente dos próprios homens e mulheres Sendo assim partese do pressuposto de que há uma relação de tensão entre a história do ser humano enquanto espécie com a produção da linguagem entendida como resultado da necessidade de complexificação das formas de comunicação Conforme a ontologia marxista a linguagem teria sido produzida por homens e mulheres a partir do processo de complexificação de suas necessidades e da divisão do trabalho o que engendrou uma nova necessidade a de uma comunicação mais estreita LURIA 19861 Face a isso passouse a designar ações e situações por meio de códigos os quais estariam fundamentalmente vinculados ao momento mais imediato de seu contexto social Partimos também do fato de que A linguagem é tão velha como a consciência é a consciência real prática que existe também para outros homens e que portanto existe igualmente só para mim e tal como a consciência só surge com a necessidade as exigências dos contatos com outros homens Onde existe uma relação ela existe para mim MARX ENGELS 1989 p 36 Em A ideologia alemã 1989 Marx e Engels afirmam que não se pode atribuir um caráter autônomo à linguagem como os filósofos idealistas fizeram com o pensamento Ambos são expressões da vida real Por outro lado o próprio Engels em carta a Bloch de 21091890 argumenta que nem todas as alterações que acontecem nas instituições sociais se devem a causas estritamente econômicas o que nos leva a crer que a linguagem goza de relativa autonomia em relação às formações sociais Aparentemente contraditórias estas duas afirmações demonstram o caráter complexo da linguagem que pode ser estudada a partir de múltiplos pontos de vista sendo ao mesmo tempo individual e social física fisiológica e psíquica Neste sentido fazse importante não desvinculála da vida social sem no entanto desconsiderar sua especificidade Neste caso reduzila a um complexo língua e fala por um lado apostando na sua baixa mobilidade histórica e no fato de que o sujeito da fala é axiomaticamente individual como o quer Perry Anderson em seu livro A crise da crise do marxismo 1985 ou por outro reduzila ao nível ideológico parece não nos ajudar muito a compreendêla em suas múltiplas facetas e determinações Da mesma forma repetir que a linguagem é instrumento de poder não é nada inovador ou esclarecedor Tentaremos com base nas teorias da Abordagem HistóricoCultural desenvolver esse tema tendo em vista a importância desse princípio para a noção de um homem histórico e socialmente constituído que se defende aqui A linguagem transformandose através da história passou de uma função de designação de objetos na atividade prática entre os homens a uma função de acúmulo e transmissão de conhecimento indivíduo a indivíduo e através das gerações Tal processo histórico expressase também na unidade central da linguagem a saber a palavra cuja transformação implicou a estabilização do âmbito de generalização e na progressiva redução do universo de sua referência LURIA 1986 Assim se nos primórdios uma palavra era utilizada para comunicar um número considerável de eventos ou informações aos poucos foi se restringindo o grau de alcance de seus significados os quais passaram a uma determinação maior do contexto Na base da linguagem estão as suas propriedades de comunicação e significação sendo esta última pautada no caráter instrumental do signo2 cuja orientação dáse no sentido da transformação dos próprios homens e mulheres ou dito de outra forma da constituição da consciência Nesse sentido poderseia dizer que até certo ponto a história da palavra reflete a própria história da origem social da consciência Diante desse pressuposto da indissociabilidade da linguagem com a consciência destacamos que estas categorias são a chave para a compreensão do processo de hominização Através da linguagem homens e mulheres emanciparamse da imediatez da realidade prática e passaram a usufruir de uma capacidade exclusiva de sua espécie a de planejar regular e refletir sobre a própria atividade Com a linguagem desenvolvida seu mundo duplicase e o homem passa a poder operar mentalmente com objetos ausentes de seu campo perceptivo e vivencial imediato Ele pode evocar voluntariamente as imagens objetos ações relações independente de sua presença e voluntariamente dirigir este segundo mundo o que inclui sua memória e suas ações Assim podese dizer que não apenas a duplicação do mundo nasce da linguagem mas também a ação voluntária Luria Sem o trabalho e sem a linguagem o pensamento abstrato categorial não poderia existir no homem p 22 É Vygotsky quem aprofunda o estudo da linguagem no processo da constituição dos sujeitos trazendo para esse âmbito a perspectiva do ser humano histórico e social a que nos referimos Basicamente esse autor desenvolve a tese de que não há nada que exista no indivíduo que não tenha existido num primeiro momento no contexto das relações sociais Para ele a linguagem é o veículo de constituição da consciência a partir do contexto das relações sociais sendo que esta última categoria abrange o conjunto das Funções Psicológicas Superiores A linguagem exerce portanto uma dupla função De um lado ela exerce o papel de instrumento criado pelos homens para promover a comunicação entre eles e entre as gerações permitindo o registro e a transmissão da produção cultural historicamente acumulada De outro ela exerce a função de mediação simbólica que permite ao homem desenvolver modos peculiares de pensamento só a ele possíveis Assim a linguagem é constituinte de homens e mulheres ao lhes facultar o acesso e o desenvolvimento das funções psicológicas superiores raciocínio lógico memória voluntária atenção dirigida etc Através da Lei da Dupla Formação que Vygotsky 1984 estabeleceu destacase que a linguagem possibilita a transformação das funções psicológicas elementares em superiores as quais são caracteristicamente humanas Ou seja transforma funções como a memória elementar em memória deliberada onde controlo minha memória ou a atenção elementar em atenção concentrada onde concentro minha atenção no foco desejado Em resumo através da instrumentalização dos signos as funções psicológicas passam a possibilitar ao sujeito atuar na realidade de forma consciente e deliberada Assim a consciência em seu âmbito particular é constituída no contexto das relações de significação com o outro e afirma o ser consciente o ser capaz de regular a própria conduta e vontade ZANELLA 1997 Nas palavras de Vygotsky O sistema de signos reestrutura a totalidade do processo psicológico tornando a criança capaz de dominar seu movimento Ela reconstrói o processo de escolha em bases totalmente novas O movimento descolase assim da percepção direta submetendose ao controle das funções simbólicas incluídas na resposta de escolha Esse desenvolvimento representa uma ruptura fundamental com a história do comportamento e inicia a transição do comportamento primitivo dos animais para as atividades intelectuais superiores dos seres humanos VYGOTSKY 1984 p 3940 A linguagem abrange a dimensão da significação enquanto função do signo PINO 1995 A gênese da consciência nesse sentido é a apropriação da significação da atividade na relação com o outro processo em que o indivíduo transforma as funções interpsicológicas presentesconstituídas naspelas relações sociais em funções intrapsíquicas Por isso homens e mulheres são seres culturais na medida que o que os torna humanos é a apropriação da cultura que é por sua vez produzida pelos próprios seres humanos Compreender essa dimensão dialética do processo de constituição dos sujeitos é condição sine qua non para entender a perspectiva aqui defendida O que se pretende destacar aqui é a forma de pensar nessa perspectiva Estão aí presentes duas dimensões que se relacionam dialeticamente A primeira é a de um sujeito passivo que é constituído socialmente pela apropriação dos significados das relações sociais pela ação do outro que significa a atividade do sujeito a atuação deste no mundo Por outro lado há a dimensão de um sujeito ativo pois essa significação que este sujeito internaliza é única particular uma vez que é apropriação de um ser que possui uma história única a qual determina também as características desse processo de significação Homens e mulheres são neste sentido a síntese que realizam das relações sociais que entabulam em suas vidas e suas singularidades correspondem às condições e contingências sociais a que foram submetidos e ao mesmo tempo constituíram A apropriação da linguagem se apresenta através de um sentido onde a fala compartilhada na relação com o outro é a base para a constituição da fala interior ou seja do discurso interno que estabelece a capacidade de autorregulação para o sujeito A princípio a fala do outro organiza a atividade de criança que por sua vez apropriase dos signos presentes nestas relações e passa a operar com eles dando ordens a si mesma e significando verbalmente sua própria atividade Posteriormente a apropriação da linguagem configura um plano interno da fala que se caracteriza pela abreviação de seus aspectos fonéticos Predomina nesse plano do discurso interior a operação com significados puros face a sua independência dos fatores externos A linguagem interna dirigindose para o próprio sujeito diferenciase também pela preponderância do sentido3 da palavra em relação a seu significado e pela constituição da capacidade de autorregulação da conduta É bastante conhecido o exemplo de Vygotsky delineado através de uma situação cotidiana da maternidade Uma mãe ao ver seu bebê esticando o braço em direção a algum objeto interpreta esse gesto alcançando o objeto à criança A partir daí o gesto adquire significação propiciando à criança que dela se aproprie e passe a operar com base nela Assim num outro momento ela mesma utilizase do gesto na intenção de pedir a alguém que lhe dê algo que não esteja ao seu alcance O cume desse processo se dá no momento em que a apropriação dos significados coincide com a criança orientando sua própria ação de forma consciente através da mediação dos signos Nesse complexo processo de apropriação destacase a temática da relação pensamento e linguagem As conclusões de Vygotsky 1979 caminham no sentido de defender a tese de que o pensamento e a linguagem não são relacionados a priori Tais categorias possuem diferentes raízes genéticas sendo que ambas inicialmente desenvolvemse autonomamente em distintos canais caracterizando uma fase préverbal no desenvolvimento do intelecto e uma fase préintelectual do desenvolvimento da fala Com a apropriação dos signos essas duas linhas se intercruzam formando o pensamento verbal e a fala significativa ambos vistos aqui como síntese da contradição formada neste intercruzamento Pensamento e linguagem são distintos e no entanto inseparáveis a partir do desenvolvimento histórico da consciência Vygotsky identifica o significado da palavra como a unidade desta relação onde pensamento e linguagem são mutuamente constitutivos Para esse autor o significado da palavra se constitui ao mesmo tempo como fenômeno do pensamento e da linguagem através da fala significativa Entretanto ressaltase que pensamento e linguagem preservam suas características estruturais específicas na medida em que como diz Vygotsky A estrutura da linguagem não é um simples reflexo especular da estrutura do pensamento Por isto o pensamento não pode usar a linguagem como um traje sob medida A linguagem não expressa o pensamento puro O pensamento se reestrutura e se modifica ao transformarse em linguagem O pensamento não se expressa na palavra mas se realiza nela VYGOTSKY 1993 p 298 Destacase pois que a expressão de um pensamento via linguagem promove a reorganização deste O significado da palavra transitando através das especificidades destas funções adquire um caráter de constante transformação Sendo o significado da palavra a unidade de análise da relação pensamento e linguagem e posto que este se modifica evolui apresentase a questão de que há no decurso do desenvolvimento do sujeito diferentes configurações desta relação Nesse processo de transformação dos significados contribui em muito a apropriação do conhecimento sistematizado ou como nos aponta Vygotsky dos conceitos científicos Em síntese o processo de desenvolvimento dos conceitos4 e por conseguinte do significado da palavra decorre de um progressivo desvencilhamento da palavra da atividade prática concomitante ao estabelecimento de relações entre as próprias palavras o que caracteriza o conceito científico Este último devido às suas propriedades estabelece um nível diferenciado entre pensamento e linguagem ao mesmo tempo em que reorganiza os conceitos cotidianos Sua estrutura e sua natureza semiótica permitem que se atinjam formas superiores e mais complexas de organização da consciência o do discernimento desta no ato de pensar Fazse importante ressaltar nesse sentido a dimensão dinâmica do significado da palavra na medida em que o âmbito de sua representação eou generalização modificase nas relações sociais Por sua vez modificandose o significado da palavra estabelecese outra relação entre pensamento e linguagem Tal abordagem a este processo está de acordo com o pressuposto fundamental da teoria de Vygotsky ou seja da formação social do psiquismo humano na medida em que as transformações do significado da palavra decorrem de transformações mais amplas que incidem sobre o sujeito e das ações do mesmo na sua relação com o mundo Esse pressuposto pautase por sua vez em um dos princípios básicos do marxismo a saber o de que o homem na sua atividade transforma o mundo e concomitantemente transforma a si mesmo numa relação dialética MARX ENGELS 1989 O processo de significação que constitui os sujeitos todavia dada sua natureza social é permeado por um universo de fatores que o constituem Dentre estes destacase o contexto do qual os significados não se distinguem Referimonos ao fato de que o significado da palavra se apresenta através de diversos sentidos decorrentes do contexto em que se dá o diálogo Deste modo a influência do contexto nos significados pode tanto ampliar a palavra para novas significações através de novos sentidos quanto estreitar o âmbito desta significação VYGOTSKY 1979 Através da obra de Bakhtin 1981 incorporamos outros elementos para compreender a trama constituinte dos processos de significações Para esse autor não há uma realidade da língua que exista fora de sua expressão no diálogo Tal como define enquanto questões básicas não é possível 1 separar a ideologia da realidade material do signo 2 dissociar os signos das formas concretas de comunicação social 3 dissociar a comunicação e as formas de sua base material 1981 p 44 Assim esse autor ressalta a importância dos fatores micro e macro contextuais presentes nas relações sociais onde as enunciações são produzidas Desta forma o signo e a situação social em que se insere estão indissoluvelmente ligados O signo não pode ser separado da situação social sem ver alterada sua natureza semiótica BAKHTIN 1981 p 62 Face a isso o signo sempre ideológico só encontra existência nas relações onde se concretiza enquanto palavra adquirindo sua significação de acordo com o contexto Ressaltando esse aspecto Bakhtin destaca ainda mais a importância dos signos apontando que a atividade mental só existe em função da expressão semiótica na enunciação o que implica que só através dos enunciados é possível o entendimento do fato ideológico Para Bakhtin o signo é por sua natureza vivo e móvel plurivalente expressandose pela dialética da unicidade e pluralidade da significação A ideologia dominante no entanto tem interesse em tornálo monovalente Mesmo as menores variações das relações sociais mesmo aquelas que ocorrem em nível das ideologias do cotidiano que se exprimem na vida corrente onde se formam e se renovam as ideologias instituídas são registradas através da palavra do signo Para Bakhtin 1981 p 62 o discurso verbal está intrinsecamente associado à vida real e não pode ser dela divorciado analiticamente sob pena de perder sua significação Neste sentido ele assume a seguinte tese A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada nem pelo ato psicofisiológico da sua produção mas pelo fenômeno social da interação verbal realizada através da enunciação ou das enunciações A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua BAKHTIN 1981 p 123 Segundo o autor toda enunciação é um diálogo mesmo tratandose de um sujeito individual posto que todo enunciado pressupõe aqueles que o antecederam e todos que o sucederão Desta forma fazendo parte de um processo de comunicação ininterrupto o enunciado é um elo de uma cadeia que para ser compreendido precisa ser associado aos demais A dialogia conceitochave na teoria de Bakhtin transcende portanto a acepção derivada do conceito de diálogo referindose às diversas formas de interação das vozes presentes nos enunciados Para esse autor em qualquer enunciado há sempre mais de uma voz o que ilustra seu caráter social Sendo assim toda enunciação só pode ser compreendida na relação com outras enunciações Tal característica de polifonia WERTSCH SMOLKA 1994 é tratada por Bakhtin quando fala sobre o processo de compreensão dos significados A cada palavra da enunciação que estamos em processo de compreender fazemos corresponder uma série de palavras nossas formando uma réplica A compreensão é uma forma de diálogo ela está para a enunciação assim como uma réplica está para outra no diálogo Compreender é opor à palavra do locutor uma contrapalavra BAKHTIN 1981 p 132 De outro lado cada enunciado inclui toda uma série de conteúdos que extrapolam sobremaneira o que é dito imediatamente as avaliações os conteúdos normativos os juízos de valor as contradições sociais envolvendo critérios de ordens diversas éticos políticos religiosos afetivos entre outros A situação extraverbal a atmosfera social que envolve o sujeito que emite o enunciado e aquele que o recebe é parte constituinte essencial de sua significação Assim outro aspecto importante a se destacar na perspectiva bakhtiniana é a participação do outro como auditório social específico ausente ou não da enunciação de forma que Na realidade toda palavra comporta duas faces Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém como pelo fato de que se dirige para alguém Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro Através da palavra definome em relação ao outro isto é em última análise em relação à coletividade BAKHTIN 1981 p 113 Neste sentido incluso nesse contexto como fator determinante da palavra destacase o outro A palavra portanto através da enunciação é o território comum do locutor e do interlocutor p 113 ou seja a palavra liga uma pessoa a outra e por conseguinte constitui o elo de toda a coletividade Ressaltase nesse sentido que tais elementos da linguagem convergem para a compreensão do tema aqui proposto ou seja do papel desta função na constituição dos sujeitos Em Bakhtin há a ênfase na categoria da consciência e na dimensão dialógica desse processo Para esse autor a consciência constitui um fato socioideológico posto que a realidade da consciência é a linguagem e esta é eminentemente ideológica A consciência é formada pelo conjunto dos discursos interiorizados pelo sujeito ao longo de sua trajetória por um progressivo distanciamento da origem das vozes alheias as quais se tornam próprias do sujeito Através destes discursos o homem aprende a ver o mundo e os reproduz em sua fala Se o discurso é determinado ao menos em parte por formações ideológicas que através dele ganham existência materializamse se a consciência é constituída a partir dos discursos assimilados e se não há homens constituídos fora de seu contexto de relações sociais podese dizer que não há individualidade absoluta nem em nível do sujeito nem em nível do discurso Desta forma o enunciador o falante ao construir seu discurso materializa valores desejos justificativas contradições enfim os conteúdos e embates existentes em sua formação social Reproduz de certa maneira em seu discurso portanto as várias formações discursivas que circulam na estrutura social O chamado discurso crítico por exemplo não surge do nada posto que se constitui a partir dos conflitos e contradições existentes na realidade A palavra é pois a arena onde se confrontam os valores sociais contraditórios relações de dominação e de resistência conflitos de tal forma que segundo Bakhtin Na realidade não são palavras o que pronunciamos ou escutamos mas verdades ou mentiras coisas boas ou más importantes ou triviais agradáveis ou desagradáveis etc A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial BAKHTIN 1981 p 95 Se a linguagem cria e sintetiza concepções de mundo ela ao mesmo tempo é produto social e histórico Constituise como um elemento e um produto da atividade prática do homem e em seu aspecto semântico continua sendo determinada por fatores sociais embora goze de relativa autonomia enquanto sistema linguístico A visão de mundo por ela veiculada portanto não é arbitrária posto que resultante das relações sociais Sua transformação por conseguinte não pode se dar a partir de uma escolha arbitrária À guisa de conclusão para o momento Através da interface dos pressupostos de Vygotsky e Bakhtin temos indicativos fundamentais sobre as especificidades do processo de constituição do sujeito e o papel da linguagem Aprofundar na questão dos limites da relação teóricometodológica destes autores no entanto não nos parece adequado para este momento O que queremos assinalar é o quanto os pressupostos teóricos destes autores complementamse na análise do tema aqui proposto Em ambos temos a defesa da tese da formação social da consciência e da importância dos processos de significação na constituição dos sujeitos Embora digase que a linguagem sofre determinações sociais e que sua modificação não decorre apenas de uma escolha idiossincrática dos sujeitos do discurso não se pode esquecer que estes sujeitos não são passivos pois agem e transformam a linguagem na medida em que a apreendem ativamente É por isso que se pode constatar que uma mesma realidade pode ser apreendida e evocada de forma diferente por homens diferentes Assim como conteúdos ideológicos sistemas de valores que incluem estereótipos socialmente construídos são veiculados através da linguagem e graças a ela são entranhados na consciência de maneira a serem naturalizados os discursos podem engendrar resistências e conteúdos contrahegemônicos fundamentais à transformação social Há que ser astuto neste caso pois como afirma Riobaldo personagem de Guimarães Rosa Todos estão loucos neste mundo Porque a cabeça da gente é uma só e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas muito maiores diferentes e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça para o total Leituras complementares FIORIN JL Linguagem e ideologia São Paulo Ática 1988 O autor mesmo na introdução do seu pequeno e rico livro esclarece seus objetivos verificar qual é o lugar das determinações ideológicas nesse complexo fenômeno que é a linguagem analisar como a linguagem veicula a ideologia mostrar o que é que é ideologizado na linguagem p 7 PALANGANA Isilda C A função da linguagem na formação da consciência reflexões Cadernos CEDES n 35 1995 Neste artigo a autora centra na função da linguagem no processo de formação da consciência tanto no sentido da história da espécie quanto na história do sujeito individual A abordagem utilizada é a históricocultural e sua discussão teórica pretende colaborar para os avanços no campo da educação embora não se restrinja a ele PINO Angel O conceito de mediação semiótica em Vigotsky e seu papel na explicação do psiquismo humano Cadernos Cedes n 24 Campinas Papirus 1991 Pino em seu texto discute o papel da mediação semiótica na constituição do psiquismo humano Centrandose no pressuposto da natureza mediada da atividade humana e da produção pelos próprios homens dos mediadores culturais o autor mostra a importância do conceito mediação semiótica no sentido da superação das dicotomias individualsocial biológico cultural sujeitoobjeto do conhecimento Recomendase ainda a leitura dos trabalhos da equipe de pesquisadores do Núcleo de Estudos e Pesquisa Pensamento e Linguagem da Faculdade de EducaçãoUnicamp em especial aqueles publicados na revista Temas em Psicologia n 1 1993 e n 2 1995 Bibliografia ANDERSON P A crise da crise do marxismo São Paulo Brasiliense 1985 BAKHTIN M Marxismo e filosofia da linguagem São Paulo Hucitec 1981 LURIA AR Pensamento e linguagem as últimas conferências de Luria Porto Alegre Artes Médicas 1986 MARX K ENGELS F A ideologia alemã Feuerbach São Paulo Hucitec 1989 PINO A Semiótica e cognição na perspectiva históricocultural Temas em Psicologia São Paulo 1995 n 2 p 3140 WATZLAWICK P Pragmática da comunicação humana um estudo dos padrões patologias e paradoxos da interação São Paulo Cultrix 1967 WERTSCH JV SMOLKA ALB Continuando o diálogo In DANIELS H Vygotsky em foco Pressupostos e desdobramentos Campinas Papirus 1994 VYGOTSKY LS Obras Escogidas Vol III Madri Visor 1995 Obras Escogidas Vol II Madri Visor 1993 Formação social da mente São Paulo Martins Fontes 1984 Pensamento e linguagem Lisboa Antídoto 1979 ZANELLA AV O Ensinar e o aprender a fazer renda de bilro estudo sobre a apropriação da atividade na perspectiva históricocultural São Paulo Tese Doutorado PsicologiaPUC 1997 1 Alexander R Luria integrou juntamente com Lev S Vygotsky e Alexis Leontiev a famosa troika russa que marcou toda a história e a produção da psicologia ao lançar as bases de uma psicologia segundo o pensamento marxista Para estes pesquisadores o desenvolvimento humano é um processo histórico no qual o social é constituído e constituinte inalienável do homem A linguagem para eles ocupa um lugar fundamental neste processo sendo que o significado das palavras fornece à criança os resultados destilados da história de sua sociedade 2 Segundo Vygotsky 1995 p 83 todo estímulo condicional criado pelo homem artificialmente e do qual se utiliza como meio para dominar a conduta própria ou alheia é um signo Para ele a diferença fundamental entre os homens e os outros animais do ponto de vista psicológico é a significação ou seja a criação e o emprego dos signos p 84 As atividades mediadas pelas ferramentas adaptações mecânicas criadas pelos homens para facilitar seu trabalho corporal têm como alvo o externo ou seja através de seu uso o homem influi sobre o objeto de sua atividade modificandoo O signo por sua vez não modifica imediatamente nada no objeto exterior está voltado para dentro para a atividade interior é o meio pelo qual o homem domina a própria conduta reorientareestrutura a operação psíquica O domínio da natureza e o domínio da própria conduta estão reciprocamente relacionados uma vez que a transformação da natureza implica para o homem a transformação de sua própria natureza p 94 3 O sentido aqui possui uma amplitude e uma variabilidade diferentes do significado que por sua vez é mais estável em sua dimensão social O sentido inclui aspectos relacionados às vivências singulares do sujeito em sua trajetória no mundo constituindo a dimensão afetivavolitiva do signo e portanto guarda um caráter mais privado embora não descolado de sua origem social 4 A definição de conceitos está ligada à sua característica de generalização o que abrange o aspecto de representação semiótica do objeto e o aspecto de abstração de suas propriedades VYGOTSKY 1993 CONHECIMENTO Cleci Maraschin Margarete Axt Para discutir algumas ideias sobre conhecimento e sobre a atividade cognitiva dentro de uma perspectiva da psicologia social precisamos primeiro demarcar os sentidos dos conceitos sobre os quais vamos trabalhar questionando alguns modos corriqueiros de significálos Começamos com a ideia de conhecimento Para o senso comum conhecimento é alguma coisa que se tem não se tem ou se pode ter A possibilidade de possuir conhecimentos já nos revela um de seus sentidos O conhecimento é tido como uma substância ele pode ser acumulado guardado constituindo um acervo público ou privado pode escalonar as pessoas valorizandoas de acordo com o grau de conhecimentos que possuírem pode converterse em mercadoria ser tendido ser transmitido Outro sentido bastante difundido é o de que existem conhecimentos verdadeiros e conhecimentos falsos como se os conhecimentos tivessem uma essência e pudéssemos atestar sua verdade ou sua falsidade Essa essência corresponderia tanto à verdade dos fatos como deseja toda ciência empírica positivista quanto à verdade do sujeito nas posições racionalistas Existem outros sentidos comuns para conhecimento mas para nossos propósitos a ideia de substância e a de essência são as duas primeiras as quais gostaríamos de desconstruir constituindo outro sentido de conhecimento 1 A ideia de substância poderia estar mais relacionada com o conceito de informação do que propriamente com o de conhecimento As informações possuem uma certa materialidade percorrem vias podem ser guardadas constituem acervos Dizemos uma certa materialidade pois com o advento da digitalização da informação ela desvinculase da representação analógica podendo ser somente representada por um sistema binário bits o que possibilita outra forma de acervo global internet Mas como conceituar o conhecimento O conhecimento é aquilo que fazemos com a informação É o sentido que lhe damos é como a combinamos Conhecimento é relação É ação exercício atividade movimento redes conexões Por essa razão é que podemos empregar tanto a ideia de conhecimento quanto a de atividade cognitiva que se sinonimam na ideia de relação 2 A definição de conhecimento como relação também permite questionar o pressuposto de uma natureza do conhecimento Se conhecer é construir sentidos existirão sentidos que podem ser mais interessantes e resistentes para se compreender uma dada realidade mas nem por isso serão verdadeiros ou irão ter validade infinita Às vezes uma teoria um saber popular têm uma durabilidade para além de sua verificabilidade empírica O que os faz permanecer O conhecimento também está relacionado com os regimes de verdades sociais com o poder de grupos para perpetuar certos sentidos em detrimento de outros O encontro entre pessoas ou grupos posicionados a partir de suas certezas gera sempre desenhos estáticos que ao favorecerem a conservação das verdades existentes diminuem ao mesmo tempo as possibilidades de emergência de novas verdades uma vez que as últimas requerem abertura às incertezas às dúvidas e aos desconhecimentos 3 Outra ideia muito difundida é a de que o conhecimento é uma atividade humana um tanto desvinculada das condições sóciohistóricas de sua produção Essa ideia faz parecer que as visões de mundo se transformam num campo próprio das ideias ou das mentes sem muita relação com as tecnologias que lhes dão visibilidade suporte possibilidade de expressão ou mesmo com as práticas e instituições sociais que lhes dão as possibilidades de existência difusão e fixidez Aliado a isso as máquinas de produção simbólica tornam cada vez mais difícil sustentar a ideia de que o conhecimento se processe somente nos cérebros dos sujeitos As máquinas armazenam processam e tratam informações isto é realizam atividades cognitivas mediante processos de interação anteriores ou atuais ou mesmo futuros tanto com os sujeitos individuaiscoletivos humanos como entre elas próprias Por isso fica difícil não pensar em uma mente mais ampla que a individual Pelo que discutimos até agora vai se tornando insustentável a ideia de que o conhecimento se dê somente encapsulado no interior da mente de um sujeito a tal ponto que mesmo a natureza nas condições de hoje é impossível de ser pensada separadamente da cultura incluindose aí a tecnociência em particular as novas tecnologias da informação e da comunicação Nesse contexto tratase de começar a pensar num processo de trocas transversalizadas num contínuo ire vir entre níveis escalares diferenciados como num sistema fractal 4 Resta ainda um último ponto de interesse para a discussão do conhecimentoatividade cognitiva sob uma das perspectivas da psicologia social A análise relativa à construção de conhecimento à cognição tem se sustentado dentro da Psicologia tomando como ponto de análise a relação entre o sujeito cognoscente e os processos sociais como duas unidades sistêmicas diferenciadas se bem que em interação Nosso desafio é propor uma nova unidade de análise na questão do conhecimento ultrapassando a díade sujeito x sociedade Tentaremos mostrar adotando a metáfora da via informacional como as tidas unidades podem ser redesenhadas e uma nova configuração de entrelaçamentos complexos emergir Tomemos a unidade sujeito A ideia mesma de indivíduo correspondente a uma espécie de unidade mental do sujeito humano está sendo discutida e questionada Para Marvin Minsky 1989 não haveria nem mesmo um código ou princípio de organização comum a todo o sistema cognitivo sendo que a própria unidade da mente consistiria muito mais em um mito de sobrevivência do que numa realidade psíquica Estudos recentes em neurologia DAMÁSIO 1996 evidenciam que as múltiplas linhas de processamento sensorial experienciadas na mente não ocorrem todas numa única estrutura cerebral Ao contrário a mente integrada é resultante de uma atividade cerebral fragmentada o que está em conjunto na mente não está em conjunto num determinado local do cérebro Até mesmo a ideia de um fator g da inteligência está sendo questionada pela proposição das múltiplas inteligências de Gardner 1987 Uma nova revolução conceitual se avizinha Ao invés de sujeito talvez fosse melhor falar em componentes de subjetivação trabalhando cada um mais ou menos por conta própria Assim a interioridade se instaura no cruzamento de múltiplos componentes relativamente autônomos uns em relação aos outros e se for o caso francamente discordantes GUATTARI 1993 p 18 Howard Gardner 1987 ao propor a teoria das Inteligências Múltiplas retoma um debate a respeito de um fator geral fator g da inteligência proposto pelo psicólogo Charles Spearmam no princípio do século De acordo com esse último haveria um mecanismo geral superditante da inteligência responsável por todas as habilidades mentais Na época opunhase à concepção de um fator g o psicólogo LL Thurstone postulando uma família de habilidades mentais primárias que apresentavam também relativa independência entre si H Gardner retoma a segunda concepção na forma de Inteligências Múltiplas considerando que apesar das mesmas funcionarem via de regra em harmonia possuem autonomia podendo cada uma separadamente manifestarse ou não Se é difícil pensar a própria mente singular como possuidora de uma organização totalizante ou unidade sistêmica mais difícil ainda tornase sustentar a ideia de sociedade como outra unidade sistêmica Mas como pensar em outra unidade É dentro desse escopo que se começa a pensar numa ecologia das ideias ou ecologia cognitiva Para uma perspectiva ecológica da cognição Bateson 1991 distingue duas modalidades de trocas entre os sistemas as trocas de energia e as trocas de informação Segundo o autor tendemos a indiferenciar as unidades sistêmicas pensando que se tratam das mesmas quando observamos as trocas energéticas e informacionais Nas trocas energéticas as unidades sistêmicas podem ser diferenciadas por uma divisão entre seu interior e seu exterior Assim uma célula constituise em uma unidade sistêmica que é delimitada pela membrana celular Um organismo também é uma unidade sistêmica cuja pele delimita uma interioridade de uma exterioridade etc Mas no caso de trocas informacionais entre sistemas a unidade sistêmica não é a mesma Para o autor a unidade é a própria via de comunicação As relações entre internoexterno são modificadas Interno passa a ter o sentido dos componentes da via Essa diferenciação acarreta uma mudança significativa no modo de se pensar a cognição A cognição como um sistema que troca informações deveria ser definida a partir de Bateson como a via por onde essa informação percorre Todos os componentes da via fazem parte do interior do sistema Bateson 1991 afirma que a mente individual é imanente não apenas do corpo mas também das vias de mensagens exteriores ao próprio corpo existe uma mente mais ampla na qual a mente individual é só um subsistema p 492 Admitindose esta concepção não se pode esquecer que o fato da mente individual pertencer à interioridade da via faz com que ela própria se reorganize estruturalmente construindo novas estruturas cognitivasmentais A unidade do sistema cognitivo é constituída pelos componentes da via informacional A via é um sistema heterogêneo e aberto constituída por sinapses redes neurais tecnologias instituições Ao modificarmos um componente da via informacional transformamos o próprio sistema cognitivo Desta forma existe uma diferença cognitiva se um sujeito utiliza ou não uma ferramenta se insere ou não em alguma instituição É dentro dessa perspectiva que se pode falar de uma ecologia cognitiva esta se caracterizando pela composição em rede de múltiplas vias informacionais Assim podemos por exemplo falar de uma ecologia oral quando as trocas informacionais passam preponderantemente por tecnologias orais de comunicação Também podemos propor uma ecologia cognitiva informática quando temos máquinas de produção simbólica como constituintes da via Uma ideia interessante que decorre da decisão de tomar o conceito de via informacional como metáfora para desenhar a unidade cognitiva é poder também considerar a as instituições sociais como sistemas cognitivos b as instituições sociais como tecnologias intelectuais a As instituições sociais como sistemas cognitivos A principal ideia nesse sentido propõe que toda instituição funcionaria como um sistema cognitivo Pelo próprio fato de existir uma estrutura social qualquer contribui para manter uma ordem uma certa redundância no meio em que ela existe Ora a atividade cognitiva também visa produzir uma ordem no ambiente do ser cognoscente ou ao menos diminuir a quantidade de barulho e caos Conhecer assim como instituir equivale a classificar arrumar ordenar construir configurações estáveis e periodicidades Com apenas uma diferença de escala há portanto uma forma de equivalência entre a atividade instituinte de uma coletividade e as operações cognitivas de um organismo LÉVY p 142 A equivalência fractal possibilitaria mútua retroalimentação as instituições sociais funcionariam como potencializadoras de uma boa parte da atividade cognitiva do sujeito assim como os sujeitos contribuiriam para a construção e reconstrução permanente das instituições Ambos constituintesconstituídos da interioridade da via Dentro dessa ideia tornase possível pensar que as instituições como um sistema cognitivo realizam operações com o conhecimento constroem uma ordem processando classificações de diversas formas hierarquizações e seriações ordenam níveis de complexidade atribuem significados etc enfim reconstroem o conhecimento a partir de sua perspectiva institucional Assim por exemplo uma instituição como uma fábrica potencializa caminhos vias psicogenéticos através de suas operações cognitivas características A questão é como se dá essa potencialização Uma resposta possível seria a que leva em conta a tecnociência como tecnologia intelectual As coletividades e as instituições não são somente constituídas por sujeitos humanos Para além dos sujeitos e de suas ações as tecnologias de comunicação e de processamento de informação desempenham nelas um papel constitutivo configurando suas vias informacionais Tal condição permite que as instituições e as próprias vias informacionais possam ser equivalentes a uma organização reticular de tecnologias intelectuais Assim além de ser pensada como um sistema cognitivo uma instituição poderia ser analisada a partir da rede de tecnologias que a constitui b As instituições pensadas como tecnologias intelectuais Outro conceito central na ideia de uma Ecologia Cognitiva é o de tecnologia intelectual De acordo com o autor citado as tecnologias se transformam em tecnologias da inteligência ao se construírem como componentes da via auxiliando e configurando o pensamento Ao mesmo tempo tornamse metáforas servindo como instrumentos do raciocínio que ampliam e transformam as maneiras precedentes de pensar Mas a partir de que formas operativas as tecnologias intelectuais transformam e reconstituem a Ecologia Cognitiva As tecnologias intelectuais desfazem e refazem as ecologias cognitivas contribuindo para fazer derivar as fundações culturais que comandam a apreensão do real Mas essa relação não pode ser pensada como determinista a técnica inclina pesa pode mesmo interditar Mas não dita LÉVY p 186 Nesse sentido e a título de ilustração a palavra oral a escrita a cibernética são exemplos de tecnologias intelectuais são práticas sociais na medida em que criam signos possibilitam ou limitam modos de expressão e intercâmbio pautam as interações constroem universos de sentido Cada nova tecnologia que constrói um mundo de novas relações sígnicas cada sistema semiótico abre novos caminhos para o pensamento um mundo não só concreto mas também mental conceitual Os discursos não podem ser tratados como um conjunto de signos mas sim como prática social constituinte dos objetos dos quais falam FOUCAULT 1986 p 56 Mas para não correr o risco de enrijecer a Ecologia Cognitiva numa relação mecânica de causa e efeito LÉVY op cit propõe dois princípios de abertura i O primeiro deles denominado de multiplicidade conectada significa que uma tecnologia intelectual conterá muitas outras Configura sempre um sistema de múltiplas tecnologias Assim poderseia pensar que a tecnologia da escrita por exemplo reorganiza outras tecnologias já que a escrita pode empregar o lápis e o papel a máquina de escrever ou o computador No caso da máquina de escrever por exemplo há a escrita o alfabeto a impressão a organização convencional dos tipos que não segue a ordem alfabética a organização dos movimentos dos dedos etc No caso do papel e do lápis há o movimento da mão o posicionamento dos dedos as linhas de um caderno caligráfico etc Podese pensar nas modificações do escrever com a invenção da caneta esferográfica ou mesmo da borracha com o desaparecimento do borrador etc Essas são questões da Ecologia Cognitiva quais as transformações na atividade e no sentido do escrever caso a tecnologia empregada para realizála seja papel e lápis máquina de escrever ou processador de textos Poderia aqui explicitar ainda uma outra questão em relação à escrita quais as transformações na atividade e na significação da escrita quando a escola entra como tecnologia organizativa MARASCHIN 1995 Retomando o princípio da multiplicidade tecnológica o autor citado faz ainda uma advertência não se pode considerar nenhuma tecnologia intelectual como uma substância imutável cujo significado e papel na ecologia permaneceriam sempre idênticos LÉVY p 146 já que os diferentes encaixes na via informacional propiciam transformações ii Outro princípio de abertura consiste na própria interpretação da técnica O sentido de uma técnica não se encontra determinado na origem Os sujeitos no caso instituições ou sujeitos individuais podem fazer e efetivamente fazem novos usos constroem novos sentidos As inovações técnicas tornam possível ou até mesmo condicionam o surgimento de formas culturais mas não necessariamente as determinam Em suma as tecnologias agem então na Ecologia Cognitiva sob duas formas a transformam a configuração das vias sociais de significação cimentando novos agenciamentos possibilitando novas pautas interativas de representação e de leitura do mundo b permitem construções novas constituindose em fonte de metáforas e analogias O conhecimento como rede sociotécnica Os conceitos até aqui explorados da Ecologia Cognitiva possibilitariam pensar o conhecimento ou atividade cognitiva como uma rede sociotécnica Dentro dessa conceituação o conhecimento se compõe pelo interjogo dos sujeitos dos grupos e instituições das relações de poder entre eles das tecnologias de comunicação dos processos de transmissão das ritualidades de passagem etc Essa rede sociotécnica teria uma forma hipertextual A metáfora do hipertexto5 seria segundo o autor válida para todas as esferas da realidade em que significações estão em jogo tal como a cognição humana e as próprias instituições Seis princípios caracterizam o modelo de hipertexto que pode ser aplicado à nossa ideia de conhecimento como relação 1 a metamorfose a rede hipertextual encontrarseia em constante construção e transformação 2 a heterogeneidade os nós e conexões seriam heterogêneos em relação a seus constituintes 3 a multiplicidade de encaixes a rede apresentaria uma organização fractal assim cada nó seria por sua vez organizado por redes 4 a exterioridade não haveria unidade orgânica nem motor interno 5 a topologia o funcionamento se daria por proximidade por vizinhança tudo o que se desloca deve utilizar a rede ou modificála e 6 a mobilidade dos centros a rede não possuiria um centro mas diversos centros permanentemente móveis Segundo esse ponto de vista reticular o conhecimento constitui sistemas cognitivos que funcionam como redes compostas por um grande número de pequenas unidades que podem atingir diversos estados de excitação As unidades apenas mudam de estado em função dos estados das unidades às quais estão conectadas LÉVY p 155 Esse sentido da tecnologia como potencializadora do conhecimento e da atividade cognitiva tem sido proposto por pesquisadores da psicologia genética Ao referirse às novas tecnologias da informação Fagundes 1994 comenta Estas novas ferramentas são capazes de potencializar os poderes mentais do homem No prólogo de seu livro Logo computadores e educação Seymour Papert 1985 relata um exemplo de como a tecnologia pode funcionar como uma metáfora do pensamento Ele confessa sua paixão infantil por engrenagens Escreve que passava bons momentos manipulando e testando efeitos ocasionados pelo engate de diferentes engrenagens Segundo o autor sua curiosidade e a decorrente atividade com as engrenagens propiciaram lhe a construção de um modelo mental que lhe permitiu compreender muitas ideias principalmente os algoritmos matemáticos que de outra forma lhe teriam sido abstratos O próprio autor comenta que Lentamente comecei a formular o que ainda considero o fato fundamental da aprendizagem qualquer coisa é fácil se é possível assimilála à própria coleção de modelos 1994 p 12 Daí a conclusão do autor de que os ambientes de aprendizagem deveriam ser pródigos no oferecimento de modelos para se pensar Os modelos e as tecnologias potencializam a cognição e funcionam em certa medida como objetos para se pensar com ou como próteses mentais BATTRO 1986 LECOCQ 1988 As ideias comentadas acima apontam para uma compreensão da relação entre instituição e atividade cognitiva dentro da perspectiva de uma análise ecológica da cognição Embora ainda realizando seus primeiros ensaios a ecologia cognitiva como vimos pode oferecer ideias interessantes para se pensar com A reconstrução conceitual ou seja o trabalho de tornar próprio um conhecimento pode ser pensado como possibilitado pela participação ativa do sujeito em uma ecologia cognitiva Grifamos o termo ativa pois existe necessariamente uma ação uma atividade do sujeito na manipulação e experimentação uma assimilação reconstrutiva dos próprios esquemas mentais a partir das tecnologias que lhe são acessíveis Afinal ele é um constituinte da via Um dos limites do conhecimento de um sujeito particular consiste no limite coletivo o que foi instituído como conhecido ou conhecível e como as práticas coletivas e as técnicas operam no acesso a tais conhecimentos Assim por exemplo só se torna possível pensar na psicogênese do conceito de caos após ele ter tido uma existência como produto do campo científico ter produzido mudanças na rede de significados teóricos e ter possibilitado a construção de metáforas Da mesma forma só se torna possível estudar a aquisição da escrita quando ela se institui como uma tecnologia coletiva institucionalizada Tomandose por exemplo o escrever na escola entendese que implica uma atividade expressiva e conceitual na qual a ação e a compreensão dos aprendentes estão significadas organizadas legisladas em práticas e tecnologias escolares que regulam suas formas de apreensão e de expressão As condições concretas das práticas e tecnologias escolares constituirseão então em espaços de exercício vias que possibilitarão ou impossibilitarão diferentes percursos da psicogênese da escrita Como exemplo dessas direções destacamos duas delas ou escrever significa o domínio de um sistema de codificação não se constituindo necessariamente em uma ferramenta para o pensamento ou tratase de ingressar num novo modo de pensar tematizando a própria fala Não se trata aqui portanto da questão de saber ler eou escrever e sim de que tal aprendizagem em uma ecologia cognitiva implica concepções e percepções determinadas de espaço e tempo de si próprio e dos demais quer dizer dos elementos fundamentais que conformam a experiência e a mente humanas Em síntese gostaríamos de enfatizar ao final dessa reflexão que não interessou aqui discutir conhecimento em geral como essência humana como condição que iguala a priori todo o humano Também não interessou discutir o conhecimento como aptidão ou como dom e talento Interessou sim discutir o conhecimento como relação como forma de exercício simbólico como resultante de impossibilidades de ação e de expressão concretizado por complexas redes de vias informacionais conectando enquanto uma nova unidade sujeitos individuaiscoletivosintitucionais Em realidade o caminho em direção à construção da ecologia cognitiva como um campo interdisciplinar de conhecimento pode nos ajudar a redesenhar um novo mapa de conceitos que superem as velhas dicotomias no estudo do conhecimento e da cognição A possibilidade de pensarmos a unidade sistêmica como a via informacional ao invés da ideia de organismo x meio faz com que participem efetivamente da ecologia cognitiva além da mente individual as instituições e as tecnologias É dentro desta perspectiva que a proposta se inscreve na psicologia social contemporânea ao vincular o conhecimento às condições sóciohistóricas de sua produção Leituras complementares Uma discussão mais aprofundada sobre a epistemologia do conhecimento científico pode ser encontrada nos escritos de Gaston Bachelard 18841962 principalmente no livro A formação do espírito científico traduzido e publicado pela Editora Contraponto 1996 Nessa obra o autor apresenta o conceito de obstáculo epistemológico mostrando que existem dificuldades e resistências no próprio ato de conhecer O autor foi um dos primeiros a insistir na ideia do conhecimento como relação que tem sido fundamental para o delineamento de uma epistemologia complexa tal como enfatiza Edgar Morin no livro Introdução ao pensamento complexo editado pelo Instituto Jean Piaget 1990 Sobre a complexidade da mente Marvin Minsky no livro A sociedade da mente editado pela Editora Francisco Alves 1989 sustenta a ideia de diversidade mental baseado numa série de características 1 acúmulo de uma infinidade de subagentes 2 vários domínios de raciocínio comum 3 talento de várias protomentes instintivas 4 hierarquias administrativas 5 vestígios evolucionários de animais que ainda permanecem dentro do cérebro 6 desenvolvimento da personalidade infantil 7 legado complexo e sempre crescente da língua e da cultura e 8 subordinação dos processos de raciocínio a censores e supressores Cada uma delas proporciona irredutibilidade e versatilidade ao pensamento ao oferecer maneiras alternativas para prosseguir quando qualquer sistema falha As relações entre a biologia e o conhecimento têm na obra de Jean Piaget uma das contribuições mais significativas para a psicologia E interessante apontar neste sentido o conceito de autorregulação de Piaget que se encontra explicitado na obra Biologia e conhecimento editada pela Editora Vozes 1973 Nesta mesma linha de preocupação pode ser interessante a análise do conceito mais atual de autopoiesis de Maturana e Varela no livro De maquinas y seres vivos da Editora Universitária 1995 Sobre o conceito de ecologia cognitiva são interessantes as obras de Gregory Bateson Félix Guattari e Pierre Lévy todos citados nas referências bibliográficas O livro de Pierre Lévy fornece muitas ferramentas conceituais para compreendermos as transformações do conhecimentointeligência em uma sociedade informatizada Bibliografia BATESON Gregory Pasos hacia una ecologia de la mente Buenos Aires Editorial Planeta 1991 BATTRO Antônio Computación y aprendizaje especial Buenos Aires El Ateneo 1986 DAMÁSIO Antônio R O erro de Descartes emoção razão e o cérebro humano São Paulo Companhia das Letras 1996 FAGUNDES Léa da Cruz Novas tecnologias da informação e educação In Brasil Ministério da Educação e do Desporto Secretaria da Educação Média e Tecnológica Informática na escola Pesquisas e experiências Brasília 1994 FOUCAULT Michel As palavras e as coisas uma arqueologia das ciências humanas Lisboa Edições 70 1986 GARDNER Howard Estructuras de la mente la teoria de las múltiples inteligências México Biblioteca de Psicologia y Psicoanálisis 1987 GUATTARI Félix As três ecologias Campinas Papirus 1993 LECOCQ Pierre et al A propôs des prothèses cognitives In CAVENI JP Psicologie cognitive modeles etméthode Paris PUG 1988 LEVY Pierre O que é virtual Rio de Janeiro Editora 34 1996 As tecnologias da inteligência o futuro do pensamento na era da informática Rio de Janeiro Editora 34 1993 MARASCHIN Cleci O escrever na escola da alfabetização ao letramento Tese de Doutorado FacedUFRGS 1995 MINSKY Marvin A sociedade da mente Rio de Janeiro Francisco Alves 1989 PAPERT Seymour Logo computadores e educação São Paulo Brasiliense 1985 PIAGET J Adaptación vital y psicologia de la inteligência Madri Siglo XXI 1978 5 A definição de hipertexto do autor é a seguinte Tecnicamente um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões Os nós podem ser palavras páginas imagens gráficos ou partes de gráficos sequências sonoras documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos Os itens de informação não são ligados linearmente como em uma corda com nós mas cada um deles ou a maioria estende suas conexões em estrela de modo reticular Navegar em um hipertexto significa portanto desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível Porque cada nó pode por sua vez conter uma rede inteira LÉVY 1993 p 33 COMUNICAÇÃO Adriane Roso Embora vários estudiosos tenham se empenhado em discutir a comunicação ela ainda não é central no estudo das Ciências Humanas e Sociais No campo da psicologia percebemos isso mais explicitamente Poucas são as publicações ligando comunicação e psicologia Além disso existem diversas áreas de especialização dentro da academia como a psicologia clínica escolar psicometria etc mas não encontramos uma psicologia da comunicação Isto está mudando aos poucos e certamente essa área apresenta um futuro promissor Tornase vital compreender a comunicação mesmo para aqueles que não pretendem se especializar nessa área Há diversos aspectos a serem estudados na comunicação Nossa proposta é estudar a comunicação de massa Para tal nos deteremos nas maneiras pelas quais o desenvolvimento e as práticas ligadas aos meios de comunicação de massa podem afetar o modo como as pessoas agem e se relacionam entre si Dito de outro modo estamos interessados em estudar o papel de mediação isto é como as ações humanas são atualmente mediadas pela mídia nas sociedades modernas Moscovici 1972 coloca com muita convicção e clareza que o objeto central e exclusivo da Psicologia Social deve ser o estudo de tudo aquilo que se refere à ideologia e à comunicação do ponto de vista da sua estrutura sua gênese e sua função p 55 Para aqueles que adotam uma concepção de ser humano historicamente construído e que enxergam a sociedade como um produto históricodialético a comunicação obrigatoriamente tornase um problema central a ser estudado e desvelado A preocupação não é mais com o que é comunicado na nossa sociedade mas sim com a maneira com que se comunica e qual o significado que a comunicação tem para o ser humano A comunicação deve ser estudada como um campo de problemas na medida em que sua prática requer a superação da própria realidade Todos os dias somos envolvidos e dominados por informações imagens sons que de uma forma ou de outra tentam mudar criar ou cristalizar opiniões ou atitudes nas pessoas Isto é a própria mediação de nossas relações sociais Como assinala Guareschi 1993 não há como negar a evidência de que hoje os meios de comunicação envolvem os seres humanos num novo espaço acústico que McLuhan 1962 1969 1967 chama de mundo retribalizado onde eles passam a ser bombardeados instantaneamente por variadíssimas e inúmeras informações de todas as partes do mundo p 20 Esse espaço acústico pode assumir muitas vezes características de um agente revolucionário imperialista que tem o poder de construir e moldar os seres humanos como bem entende Assim quem controla esse espaço pode determinar que tipo de ser humano vai se formar Sendo a comunicação nosso objeto de estudo passamos anos indagar sobre algumas questões como De que maneiras podemos estudar a comunicação O que as teorias em Psicologia têm a dizer sobre ela Ela está a serviço de quem Iniciaremos mostrando como diferentes correntes teóricas podem abordar e iluminar o tema em discussão A comunicação tem sido vinculada às diversas concepções teóricas em psicologia social Desenvolveremos quatro dessas concepções o Comportamentalismo o Cognitivismo a Psicanálise e a Teoria Crítica O foco de nossa atenção vai centrarse contudo na Teoria Crítica pois é através dela que se pode mostrar as limitações e a ideologia das outras teorias Comportamentalismo Compreender a concepção de ser humano dessa teoria é fundamental Para ela o ser humano é como se fosse uma máquina que se comporta de maneiras previsíveis e regulares em resposta às forças externas aos estímulos que o afetam SCHULTZ SCHULTZ 1992 Consequentemente os processos básicos da personalidade estão fora do próprio indivíduo e são gerados por estímulos e reações que são observáveis Para mudar criar aprender ou ensinar determinado tipo de comportamento recorrese a dois tipos de condicionamento clássico e operante O primeiro envolve o comportamento reflexo onde o organismo responde automaticamente a um estímulo Grande parte da publicidade é baseada neste processo onde estímulos externos podem ser usados para estimular uma resposta ao marketing quando uma necessidade é criada entre os consumidores O segundo abarca o processo de aprendizagem no qual é mais provável que uma pessoa faça ou não certo ato porque foi reforçada ou punida no passado Associado a isso acreditase que em vez de simplesmente aprendermos pela vivência direta do reforço aprendemos por meio da modelagem observando outras pessoas e estabelecendo os padrões do nosso comportamento com base no delas SCHULTZ SCHULTZ 1992 No caso da comunicação de massa a aprendizagem através da modelagem pode ser sumarizada assim uma pessoa observa alguém na mídia identificase com este e infere que o comportamento observado poderá produzir certo resultado desejado se for imitado Quando confrontada com circunstâncias relevantes recordase do modelo e reproduz o comportamento Isso causa alívio e reforça o vínculo entre esses estímulos e a resposta modelada aumentando a possibilidade de que se repita a ação quando frente a semelhante situação Mas qual a utilidade disso Acreditase que veiculando o modelo com o qual se pretende que o telespectador se identifique o resultado virá automaticamente Por exemplo escolhese uma artista famosa e sexy para vender um refrigerante diet a telespectadora quer ser igual a ela e então compra tal produto Vêse assim que quem controla os reforços pode controlar o comportamento ou que quem controla os modelos de uma sociedade pode controlar o comportamento O homem é tomado como um objeto passível de controle e a comunicação de massa passa a ser um instrumento desse controle Cognitivismo O foco dos cognitivistas está no processo de conhecimento e não na díade estímuloresposta como no comportamentalismo Os cognitivistas estão interessados na forma como a mente estrutura e organiza de forma criativa a experiência A teoria da Gestalt enquadrase aqui O pressuposto básico dessa teoria é que as pessoas estão constantemente organizando partículas e pedaços de informação em padrões significativos WORTMAN LOFTUS MARSHAL 1981 p 127 e o seu grande valor posicionase no insight de que o todo determina as partes as quais contrastam com a assunção prévia de que o todo é meramente a soma total de seus elementos Assim uma propaganda de tevê por exemplo não é apenas imagens sons palavras A percepção que um indivíduo vai ter de determinada propaganda será construída a partir de suas sensações e estas irão formar o todo Acreditase que há mais coisas na percepção do que enxergam nossos olhos e a percepção vai além dos elementos sensoriais Psicanálise Muitos pressupostos da psicanálise podem também nos ajudar a compreender ao menos em parte estratégias empregadas pela mídia a fim de que determinadas propagandas e publicidades tenham resultado No ser humano existem inúmeros desejos como desejos de consumo desejo de afeto etc Vamos considerar dois pontos da abordagem psicanalítica que iluminam o caminho em direção à compreensão desses fenômenos O primeiro referese aos processos mentais da ação mútua de forças que são originalmente da natureza de instintos FREUD 1980 vol 20 Mas qual a importância de entender os instintos a libido e suas fases para a comunicação Reconhece Freud que todos os desejos impulsos instintivos modalidades de reação e atitudes da infância achamse ainda demonstravelmente presentes na maturidade e em circunstância apropriada podem mais uma vez surgir Comerciais de televisão podem auxiliar determinadas pessoas a encontrar uma fonte de satisfação para desejos que ficaram insatisfeitos na infância Por exemplo certo comercial de cerveja ilustra isso ao associar sua embalagem símbolo fálico a uma parte do corpo da mulher colocando uma garrafa ao lado da outra causando a impressão de que elas formam seios símbolos orais O segundo ponto que vamos considerar referese ao princípio de prazer desprazer O desprazer está relacionado com um aumento de excitação e o prazer com uma redução Como a satisfação de parte das necessidades dos seres humanos é regularmente frustrada pela realidade procuramos encontrar algum outro meio de manejar nossos impulsos insatisfeitos É justamente aí que está o perigo pois sabendo que existe uma tendência interior a buscar sempre o prazer e que a realidade não satisfaz sempre esse prazer os comerciais tentam então suprir nossas carências de modo que o princípio do prazer sobrepuje seu rival Então comerciais que incitam busca de prazeres que são difíceis de ser conquistados podem acarretar consequências negativas para os próprios seres humanos A psicanálise poderá ajudar certamente a compreender alguns mecanismos psicológicos que se dão no interior da pessoa controlados em geral por forças inconscientes Não dá conta entretanto de explicar todo o mecanismo social e suas implicações Teoria crítica Enquanto que o comportamentalismo o cognitivismo e a psicanálise se preocupam mais com o indivíduo explicando apenas parte do caminho os teóricos críticos ao repensarem o ser humano a partir dos aspectos ideológicos e culturais da sociedade explicam outros fenômenos dos quais as teorias anteriores não podem dar conta Diferentemente das outras teorias a Teoria Crítica já de início se preocupou em estudar a comunicação Há mais escolas que adotam o referencial crítico contudo a mais importante que é chamada inclusive de Teoria Crítica é a Escola de Frankfurt Esta sempre esteve interessada na investigação da problemática da comunicação Segundo Guareschi 1993 os primeiros teóricos dessa escola partiram da constatação da não realização de um pressuposto marxista que afirmava estando maduras as contradições presentes nas relações de produção a transformação da sociedade aconteceria automaticamente Para os frankfurtianos essas contradições já estavam profundas em diversas formações sociais mas a dominação continuava sempre mais acentuada Perceberam que havia outra variável que influenciava a realidade da dominação nessas sociedades a ideologia Para eles a crítica radical da sociedade e a crítica da ideologia são inseparáveis e essa crítica não é moralizante A ideologia está aí para ser questionada e analisada não por ser repugnante ou imoral mas por ser falsa por ser ilusão A crítica feita pelos frankfurtianos ao marxismo ortodoxo é dupla 1 a infraestrutura econômica deixa de ser o centro da análise social ampliandose para todas as esferas da sociedade e 2 eles desenvolvem a noção de consciência e recuperam a subjetividade através da análise das maneiras de desenvolvimento da subjetividade e o modo como as esferas da cultura e da vida cotidiana representam um novo campo de dominação Esses dois pontos encontramse articulados e deles se origina uma série de conceitos que ajudam a dar sustentação à teoria Não seria possível nesse momento aprofundar todos os conceitos e tópicos de discussão aos quais a teoria nos remete Entretanto para entender como a Teoria Crítica discute a comunicação de massa é fundamental rever dois conceitos civilização e cultura A civilização é o mundo concreto da reprodução material do trabalho da necessidade e do sofrimento Ela representa a exterioridade Em contrapartida a cultura representa a interioridade o mundo das ideias do prazer e de tudo que se refere ao espírito MARCUSE 1970 Até certo tempo atrás a dicotomia entre esses dois conceitos mostrados quase como opostos explicava em parte o fato das pessoas se alienarem às insatisfações e desigualdades do mundo exterior de modo a não lutar contra a infelicidade causada pela exploração capitalista Ou seja a cisão entre sujeitoobjeto entre bommau entre dominadordominado servia para a preservação das assimetrias sociais Esse modelo explicativo baseado nessa dicotomia com o passar do tempo foi perdendo sua força no sentido de controlar o descontentamento dos trabalhadores Surgiu a necessidade da criação de mecanismos mais sofisticados a cultura passa a ser transformada em mercadoria perdendo suas características para ser um valor de troca Isto é passa a existir uma cultura industrial Segundo Freitag 1988 essa nova forma de produção de cultura tem a função de ocupar o espaço do lazer que resta às pessoas depois de um longo dia de trabalho a fim de recompor suas forças para voltar a trabalhar no dia seguinte A indústria cultural cria a ilusão de que a felicidade não precisa ser adiada para o futuro por já estar concretizada no presente A indústria cultural ao se vincular aos meios de comunicação encontra uma fórmula magnífica para alimentar o sistema A primeira coisa que muitas pessoas fazem ao chegarem em casa cansadas e insatisfeitas é ligar a televisão no seu canal predileto para se desligarem de uma realidade opressora Para aqueles aos quais a televisão tradicional já não respondia satisfatoriamente foram criadas a televisão a cabo e a internet Através deles os buracos do coração que estão cada vez mais profundos são preenchidos por desejos de consumo por ideais de liberdade pelo individualismo e por uma falsa felicidade A consequência disso é a eliminação da dimensão crítica necessária à destruição dessa cultura industrial sem a qual não haverá emancipação Mas como os teóricos críticos agem para lutar contra a indústria cultural Em primeiro lugar como salienta Geuss 1988 os teóricos críticos tomam posição clara diante da ação humana visando ao esclarecimento das pessoas que a assumem fazendoas capazes de descobrir quais seus interesses e levando esses agentes à libertação das coerções às vezes autoimpostas e sempre autofrustrantes Esse autor salienta ainda que ao mesmo tempo que a Teoria Crítica é uma forma de conhecimento ela difere epistemologicamente das teorias das ciências naturais que são objetificantes ao passo que as críticas são reflexivas Esses são resumidamente os pilares da Teoria Crítica e a partir deles todo o referencial teórico e prático é montado A esquizoanálise como pensada por Guattari Deleuze e Rolnik não se distancia fundamentalmente desse referencial Ela traz também algumas luzes para compreendermos os mecanismos empregados pela comunicação principalmente a comunicação de massa Ela surge como uma crítica a alguns psicanalistas afirmando que reproduz a essência da subjetividade burguesa e cria uma relação de força que arrasta os investimentos de desejo para fora do campo social Deste modo ela recusa a ideia de que o desejo e a subjetividade estejam centrados nos indivíduos mas sim afirma que eles são construídos socialmente Ou seja essa é uma ideia de subjetividade essencialmente fabricada modelada recebida e consumida que por sua vez ultrapassa os níveis de produção e do consumo e atinge o próprio inconsciente dos indivíduos Isto quer dizer que tudo aquilo que acontece quando sonhamos fantasiamos ou nos apaixonamos são afetos produzidos socialmente pelo capitalismo moderno e estão diretamente relacionados com o modo dos indivíduos perceberem o mundo de se modelizarem os comportamentos e de se articularem as suas relações sociais CZERMAK DA SILVA 1993 p 45 Essa modelagem e fabricação é feita através de diferentes agenciamentos técnicos com os quais as pessoas têm contato Hoje essa subjetividade está marcada pela tecnologia Essa ideia de produção de subjetividade de desejos é um ponto de partida para entendermos melhor as contribuições da esquizoanálise para a comunicação O desejo é aqui entendido como movimentos intensivos que se expressam através da subjetividade enquanto modo dos indivíduos perceberem o mundo e articularem as suas relações sociais O desejo é a produção do real e implica a noção de agenciamento pois as pessoas desejam algo sempre dentro de um contexto Um carro importado para o brasileiro por exemplo é desejado porque ele representa algo seja status social ou apenas um produto mais durável que os nacionais Assim o desejo está sempre conectado com o exterior e a mídia transforma se em uma das fontes mais poderosas da produção desses desejos Ela cria o desejo de possuirmos carros cada vez mais velozes cria a necessidade de um corpo dietético etc Desse modo os meios de comunicação falam ao sujeito brasileiro criando uma massa desenraizada produtiva que chamamos de indivíduo e mantêm o sistema hierarquizante das relações A esquizoanálise sugere que através de um processo de individuação da subjetividade de expressão e criação ou seja da singularização a ruptura dessa ordem capitalista pode se consumar A fonte para essa singularização é o deciframento dos modos de subjetivação dominantes na sociedade capitalista a releitura da situação a crítica a todas as formas de reducionismo que levam a um empobrecimento dos movimentos do desejo Embora Guattari 1988 afirme que Façao poderia ser a palavra de ordem da esquizoanálise acreditamos que dentro da Teoria Crítica é John B Thompson 1995 que nos brinda com uma abordagem que é iluminada por fundamentos de ordem prática Ele desenvolveu uma forma de analisar a mídia que é fundamentalmente ideológica e cultural ou seja que está preocupada não somente com o caráter significativo das formas simbólicas mas também com a contextualização social das mesmas Não importa somente o que elas significam mas como elas significam dentro de determinado contexto social Por formas simbólicas entendese o amplo espectro de ações e falas linguísticas ou não linguísticas ou quase linguísticas expressões faladas ou escritas imagens e textos que são produzidos por sujeitos e reconhecidos por eles como construtos significativos THOMPSON 1995 Assim quase tudo que vemos ouvimos ou percebemos em fontes de comunicação pode ser entendido como uma forma simbólica O problema surge quando essas formas simbólicas se colocam a serviço do poder a serviço da ideologia Ideologia segundo Thompson vem a ser as maneiras como o sentido significado mobilizado pelas formas simbólicas serve para estabelecer e sustentar relações de dominação THOMPSON 1995 p 79 Relações de dominação são relações estabelecidas de poder sistematicamente assimétricas isto é quando grupos particulares de agentes possuem poder de uma maneira permanente e em grau significativo permanecendo inacessível a outros agentes ou a grupo de agentes independentemente da base sobre a qual tal exclusão é levada a efeito Talvez seja Thompson quem melhor apresente um instrumental para analisar e interpretar a ideologia na mídia Ele se pergunta como desmascarar o sentido que está a serviço do poder sugerindo que a ideologia pode operar através de cinco modos principais com suas respectivas estratégias Elegemos alguns desses modos e estratégias remetendo o leitor para a discussão mais completa THOMPSON 1995 p 8089 O primeiro modo é denominado legitimação A mídia através dessa estratégia veicula uma cadeia de imagens que mostra funcionários públicos como trabalhadores incompetentes faltosos e bem remunerados persuadindo a audiência de que apoiar a supressão da estabilidade empregatícia é coisa louvável e digna que deve ser incentivada Uma estratégia da legitimação é a universalização Acordos feitos entre montadoras de automóveis e governos ilustram isso É dito que tais acordos trarão benefícios a todos Na verdade são pequenos grupos que são beneficiados e a grande maioria da população apenas ajuda a pagar tais privilégios Um segundo modo é a dissimulação Um exemplo dessa estratégia é quando assistimos a uma entrevista de políticos do norte e eles usam a expressão latinos O uso de tal termo pode dissimular negar ou inverter as relações entre coletividade e suas partes pois não sabemos bem de que latinos eles se referem Um terceiro modo é via unificação A campanha televisiva de privatizações de companhias estatais é ilustrativa desse modus operandi Ela tenta mostrar que o governo e os telespectadores estão unidos pelos mesmos ideais e vontades dizendo que O governo é igualzinho a você O telespectador passa a se identificar com o governo e enxerga as atitudes deste como uma projeção de seus próprios desejos Um quarto modo de operação da ideologia é a fragmentação A representação de movimentos populares de trabalhadores na mídia é um exemplo claro Ao invés da mídia enfatizar os ideais coletivos dos movimentos ela enfatiza imagens sobre episódios de violência ou colocando facções umas contra as outras fragmentando esses grupos em partes conflitantes Tentamos mostrar até aqui como podemos interpretar aspectos da comunicação de massa a partir da ideologia Essa é uma tarefa difícil porém necessária se objetivamos adotar uma postura crítica no sentido de emancipar as pessoas das relações de dominação As contribuições da Teoria Crítica são iluminadoras nesse sentido especialmente as contribuições de Thompson pois elas dão conta de responder questões de ordem prática pouco discutidas em geral por outras teorias Considerações finais Várias teorias em psicologia social tentam compreender o papel da mídia na sociedade Todas de um modo ou de outro tentam iluminar essa problemática Algumas teorias contudo não dão conta de explicar determinados mecanismos e obscurecem a compreensão global da realidade Elas explicam algo mas ficam no meio do caminho Assim por exemplo o que está por detrás do comportamentalismo cognitivo e psicanálise é uma visão cartesiana a dicotomia entre o mundo externo e interno Cada abordagem tem sua maneira específica de explicar e lidar com essa dicotomia Tanto os comportamentalistas quanto os cognitivistas partem da concepção de que existem seres humanos que podem saber o que é melhor para a humanidade e portanto são dignos de controlar e construir desejos nas pessoas Muitas vezes mesmo de forma não proposital os pressupostos dessas três teorias podem ser usados para um fim comum manipular pessoas Consequentemente os postulados e princípios dessas correntes podem orientar pessoas e instituições no sentido da manipulação e construção de meios que reforcem as relações de dominação A Teoria Crítica tenta romper com essa visão cartesiana O ser humano é compreendido sob a ótica processual onde a pessoa e a sociedade são tomadas como realidades históricas contraditórias em um processo contínuo de construção e transformação A realidade é entendida como socialmente construída Podemos ver assim que a Teoria Crítica nos proporciona um referencial teórico e prático mais amplo e adequado para o estudo da comunicação Ela tem o compromisso básico de denunciar relações assimétricas e de lutar pela libertação de qualquer forma de relação de dominação através do desafio à realidade do questionamento da crítica e da luta contra o controle e a manipulação Ela possui assim uma dimensão emancipatória A Teoria Crítica com seus postulados teóricos e práticos dá garantia para que não se engane todo um povo ou algumas pessoas o tempo todo GUARESCHI 1996 p 103 Para que a emancipação ocorra é importante que as pessoas se reúnam para discutir criticamente comunicação que é veiculada tendo consciência da possibilidade de mudança e de seus direitos a uma comunicação ativa e não apenas passiva Sugestão de leituras THOMPSON JB Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995 Um livro abrangente e central onde o autor ao mesmo tempo que discute as teorias sobre ideologia oferece uma teoria social para a compreensão do papel da mídia nas sociedades modernas Do mesmo autor temos The Media and Modernity A Social Theory of the Media Cambridge Polity Press GUARESCHI PA coord Comunicação e controle social Petrópolis Vozes 1993 A leitura desse livro é interessante pois traça uma ligação entre a psicologia social e a comunicação Para tal apresenta uma visão geral do fenômeno da comunicação enfatizando temas como cultura poder e controle social A seguir trata sobre as contribuições que as diversas abordagens teóricas da psicologia trouxeram para o campo da comunicação Sugerimos também a leitura de dois outros livros desse mesmo autor Comunicação e poder A presença e o papel dos meios de Comunicação de Massa Estrangeiros na América Latina 1994 10 ed Petrópolis Vozes caps 3 e 4 e Sociologia crítica Alternativas de mudança 1996 44 ed Porto Alegre Mundo Jovem principalmente os caps 18 19 e 21 Bibliografia CZERMAK R DA SILVA RAN Comunicação e produção da subjetividade In GUARESCHI PA org Comunicação e controle social 2 ed Petrópolis Vozes 1993 p 4451 FREITAG B A teoria crítica ontem e hoje 2 ed São Paulo Brasiliense 1988 FREUD S Um estudo autobiográfico Inibições sintomas e ansiedade A questão da análise leiga e outros trabalhos In Edição Standard das Obras Psicológicas Completas Vol 20 Rio de Janeiro Imago 1980 GEUSS R Teoria crítica Habermas e a Escola de Frankfurt Campinas Papirus 1988 GUARESCHI PA Sociologia crítica alternativas de mudança 37 ed Porto Alegre Mundo Jovem 1996 org Comunicação e controle social 2 ed Petrópolis Vozes 1993 GUATTARI F O inconsciente maquínico ensaios de esquizoanálise São Paulo Papirus 1988 MARCUSE H Cultura e sociedade Lisboa 1970 MOSCOVICI S Society and theory in social psychology In ISRAEL J TAJFEL H eds The context of Social Psychology Londres Academic Press 1972 p 1768 SCHULTZ DP SCHULTZ SE História da psicologia moderna 6 ed São Paulo Cultrix 1992 THOMPSON JB Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995 WORTMAN C LOFTUS EF MARSHALL M Psychology Nova Iorque Alfred A Knopf 1981 IDENTIDADE Maria da Graça Jacques Sobre o que é o amor Sobre o que eu nem sei quem sou Se hoje sou estrela amanhã já se apagou Se hoje eu te odeio amanhã te tenho amor Lhe tenho amor Lhe tenho horror Lhe faço amor Eu sou um ator Prefiro ser esta metamorfose ambulante Raul Seixas A música a literatura o cinema as artes em geral têm se dedicado com frequência ao tema identidade Em geral tem suscitado interesse quando associado a casos paradoxais como a reencarnação de almas os transplantes de cérebro entre outros No nosso cotidiano por vezes seguidas também nos defrontamos com a necessidade de responder a pergunta quem és a que a identidade remete A repetição da resposta não traz certezas sobre seu conteúdo Ao contrário O emprego popular do termo é tão variado e o contexto conceptual tão amplo que o que ostenta um nome tão definitivo continua tão sujeito a inúmeras variações Há uma grande semelhança entre essa frustração cotidiana e as dificuldades de definila nos variados campos do conhecimento visto que diferentes concepções tentam explicar como nos tornamos humanos a partir de compreensões diversas sobre natureza humana Além da filosofia a antropologia a sociologia e a psicologia têm se dedicado à temática A importância conferida ao estudo da identidade foi variável ao longo da trajetória do conhecimento humano acompanhando a relevância atribuída à individualidade e às expressões do eu nos diferentes períodos históricos Os estudos etnográficos revelam o caráter difuso do conceito de eu entre povos primitivos na Antiguidade Clássica ganha importância acompanhando um aumento no valor à vida individual e ao mundo interno seguindose um declínio acentuado a partir da influência da concepção cristã de homem e do corporativismo feudal Este declínio foi tão acentuado que os historiadores se referem à descoberta da individualidade nos séculos XI XII e XIII o que se reflete na linguagem na literatura nas artes plásticas O movimento romântico representa o ápice do culto ao egocentrismo e à introspecção já por influência do protestantismo e das formas capitalistas de produção o que vai se refletir na profusão de produções teóricas sobre o tema identidade inclusive na área da psicologia em seus primórdios como ciência independente Os estudos sobre identidade no âmbito psicológico passam em geral pela psicologia analítica do Eu e pela psicologia cognitiva Em comum caracterizam o desenvolvimento por estágios crescentes de autonomia e consideram a identidade como gerada pela socialização e garantida pela individualização Segundo a perspectiva de Erik Erikson 1972 um dos autores cujos estudos sobre o tema são bastante difundidos a identidade tem como modelo o indivíduo em situação de competência e eficácia sociais crise de identidade cisão de identidade são terminologias empregadas que sugerem uma forma abstrata atemporal e ahistórica de concebêla Em psicologia social a problemática da identidade ocupou um lugar central nos estudos de William James 1920 e na tradição do Interacionismo Simbólico nos trabalhos pioneiros de George Mead 1934 Após um período de poucos avanços a temática voltou a receber atenção através de trabalhos sobre as relações entre os grupos sobre a diferenciação social sobre a identidade marginal O ponto de vista contemporâneo questiona alguns princípios fortemente arraigados na tradição teórica do estudo sobre o tema especialmente as perspectivas naturalista essencialista e maturacionista como veremos mais adiante Como os autores conceituam a identidade Quando se referem ao conceito de identidade os autores empregam expressões distintas como imagem representação e conceito de si em geral referemse a conteúdos como conjunto de traços de imagens de sentimentos que o indivíduo reconhece como fazendo parte dele próprio Na literatura norte americana o termo consagrado é self ou selfconcept correspondendo a conceito de si a tradição europeia privilegia a noção de representação de si A identidade pode ser representada pelo nome pelo pronome eu ou por outras predicações como àquelas referentes ao papel social No entanto a representação de si através da qual é possível apreender a identidade é sempre a representação de um objeto ausente o si mesmo Sob este ponto de vista a identidade se refere a um conjunto de representações que responde a pergunta quem és Essa diversidade terminológica expressa a diversidade teóricometodológica dos autores ao abordarem o tema reflete ainda uma certa dificuldade de exprimir conceitualmente sua complexidade Em parte por esta dificuldade conceptual os sistemas identificatórios são subdivididos e a identidade passa a ser qualificada como identidade pessoal atributos específicos do indivíduo eou identidade social atributos que assinalam a pertença a grupos ou categorias esta última ainda recebe predicativos mais específicos como identidade étnica religiosa profissional etc Jurandir Freire Costa 1989 emprega a qualificação identidade psicológica para se referir a um predicado universal e genérico definidor por excelência do humano em contraposição a apenas um atributo do eu ou de algum eu como é a identidade social étnica ou religiosa por exemplo Habermas 1990 referese a identidade do eu que se constitui com base na identidade natural e na identidade de papel a partir da integração dessas através da igualdade com os outros e da diferença em relação aos outros Com base no pressuposto inter relacional entre as instâncias individual e social a expressão identidade psicossocial vem sendo empregada NETO 1985 buscando dar conta desta articulação Constatase portanto o uso de predicativos diversos para qualificar os diferentes sistemas identificatórios que constituem a identidade A imprecisão conceitual da temática resultado de abordagens diversas e de sua própria complexidade talvez possa ser melhor esclarecida a partir do exame de algumas especificidades que a constituem Como se constitui a identidade A moderna teoria da evolução explica as mudanças acontecidas no desenvolvimento dos seres vivos a partir dos mecanismos de reprodução diferencial das variações genéticas Esses mecanismos dão conta do processo evolutivo das plantas dos animais e da espécie humana até o surgimento do Homo sapiens sapiens Os estudos nas áreas de anatomia antropologia e paleontologia endossam as propostas de que o processo a partir do Homo sapiens sapiens passa a ser regido pelas chamadas leis sóciohistóricas que garantem uma significativa transformação em curto espaço de tempo marcando definitivamente a ruptura com o mundo animal Este ponto de vista é reforçado pelos estudos anátomofisiológicos que demonstram o quanto à herança morfológica do cérebro se contrapõe a sua capacidade de produzir conexões funcionais no sentido biológico estáveis que se estabelecem segundo as experiências que o indivíduo vai experimentando ao longo da sua existência Com base neste enfoque redimensionase a concepção sobre a constituição das especificidades humanas As perspectivas naturalista essencialista e maturacionista que colocam no indivíduo a origem das funções psíquicas são substituídas pela convicção de que estas funções não se encontram no substrato biológico mas se constituem a partir da inserção do indivíduo no mundo a existência das chamadas crianças feras reforça esta convicção Assim o homem concreto se constitui nas palavras de Lucien Sève 1989 psicólogo francês contemporâneo a partir de um suporte biológico que lhe dá condições gerais de possibilidades próprias da espécie Homo sapiens sapiens e condições particulares de realidade próprias de sua carga genética No entanto as características humanas historicamente desenvolvidas se encontram objetivadas na forma de relações sociais que cada indivíduo encontra como dado existente como formas históricas de individualidade e que são apropriadas no desenrolar de sua existência através da mediação do outro O emprego do vocábulo apropriação ao invés de adaptação ou introjeção tem o objetivo de destacar o caráter ativo e transformador do indivíduo na sua relação com o contexto sóciohistórico Contexto sóciohistórico resultante da ação humana enquanto externalização do seu psiquismo que volta a se interiorizar transformado num processo contínuo de articulação entre o individual e o social É do contexto histórico e social em que o homem vive que decorrem as possibilidades e impossibilidades os modos e alternativas de sua identidade como formas históricosociais de individualidade No entanto como determinada a identidade se configura ao mesmo tempo como determinante pois o indivíduo tem um papel ativo quer na construção deste contexto a partir de sua inserção quer na sua apropriação Sob esta perspectiva é possível compreender a identidade pessoal como e ao mesmo tempo identidade social superando a falsa dicotomia entre essas duas instâncias Dito de outra forma o indivíduo se configura ao mesmo tempo como personagem e autor personagem de uma história que ele mesmo constrói e que por sua vez o vai constituindo como autor Que outras dicotomias superar para compreender a identidade O emprego de expressões próprias à atividade cênica como personagem autor ator papel no estudo da identidade tem tradição nos textos clássicos de Erving Goffman 1985 O personagem se refere à identidade empírica que é a forma que a identidade se representa no mundo Implica sempre a presença de um ator enquanto desempenhando um papel social O personagem ao mesmo tempo se confunde e se diferencia do papel Em uma mesma representação é possível a existência de um mesmo papel de pai por exemplo em personagens diferentes Os papéis sociais são abstrações construídas nas relações sociais e que se concretizam em personagens o personagem implica a existência de um ator que o personifica Os papéis sociais caracterizam a identidade do outro e o lugar no grupo social o personagem enquanto representa um papel social representa uma identidade coletiva a ele associada construída e mediada através das relações sociais Antônio Ciampa 1987 psicólogo social brasileiro que de longa data vem se dedicando ao estudo da identidade referese à presença de múltiplos personagens embora a aparência de totalidade que a identidade evoca que ora se conservam ora se sucedem ora coexistem ora se alternam A interpenetração entre os vários personagens que por sua vez interpenetramse com outros personagens no contexto das relações sociais garantem a processualidade da identidade enquanto repetição diferenciada emergindo um outro que também é parte da identidade O autor emprega o termo metamorfose para expressar este movimento Se necessário se fez superar a dicotomia individualsocial para compreender o processo de constituição da identidade a noção de metamorfose implica articular estabilidadetransformação A estabilidade é marcante no contexto da identidade cuja etimologia remete a idem no latim o mesmo Esta noção conferida ao conceito tem suscitado inúmeras críticas por não dar conta da processualidade que lhe é própria A origem etimológica remete ainda à outra dicotomia que precisa ser superada para a compreensão da identidade a do igual e do diferente O vocábulo identidade evoca tanto a qualidade do que é idêntico igual como a noção de um conjunto de caracteres que fazem reconhecer um indivíduo como diferente dos demais Assim identidade é o reconhecimento de que um indivíduo é o próprio de que se trata como também é unir confundir a outros iguais O nome próprio é um exemplo característico desta contradição Enquanto prenome é um diferenciador de outros iguais mas também é um nivelador com outros iguais similarmente nomeados Enquanto sobrenome distingue a individualidade mas também remete a outros iguais do mesmo grupo familiar A pluralidade humana tem o duplo aspecto da igualdade e da diferença Pluralidade que paradoxalmente implica também a unicidade pois o indivíduo vai se igualando por totalidades conforme os vários grupos em que se insere brasileiros ou estrangeiros homens ou mulheres etc sem pressupor homogeneização ao mesmo tempo em que o indivíduo se representa semelhante ao outro a partir de sua pertença a grupos eou categorias percebe sua unicidade a partir de sua diferença Essa diferença é essencial para a tomada de consciência de si e é inerente à própria vida social pois a diferença só aparece tomando como referência o outro O que a identidade é e não é Ao iniciarmos este texto fizemos referência à intranquilidade que a resposta à pergunta quem és suscita Ao finalizálo tornamos ainda menos tranquila a sua resposta Compreender identidade segundo a proposta teórica aqui esboçada implica necessariamente articular dimensões aparentemente contraditórias pois avessas ao pensamento lógico formal com o qual estamos habituados individualsocial estabilidadetransformação igualdadediferença unicidadetotalidade Implica compreendêla como constituída na relação interpessoal eu nãoeu eugrupo a partir da inserção do indivíduo no mundo social e através da sua atividade que se substantiva e se presentifica como atributo do eu eu sou trabalhador substantivo porque exerço a atividade de trabalhar verbo Esta presentificação eu sou expressa um momento originário quando nos tornamos algo e se representa como um dado que oculta o darse constante que expressa a processualidade da identidade e o movimento do social O eu pronome próprio que a identidade evoca enquanto pronome é um substituto de substantivos ou nomes O nome próprio é uma representação da identidade precocemente adquirida a partir da forma como os outros nos chamam e portanto pelo seu caráter restritivo não dá conta da identidade É importante também não limitar o conceito de identidade ao de autoconsciência ou autoimagem A identidade é o ponto de referência a partir do qual surge o conceito de si e a imagem de si de caráter mais restrito A identidade é apreendida segundo a perspectiva aqui desenvolvida através das representaçãoões de si em resposta à pergunta quem és Esta representação não é uma simples duplicação mental ou simbólica da identidade mas é resultado de uma articulação entre a identidade pressuposta derivada por exemplo do papel social da ação do indivíduo e das relações nas quais está envolvido concretamente Leituras complementares O tema identidade não é um tema de fácil compreensão ou de resposta simples Que o digam os autores que têm se dedicado ao seu estudo nos mais diferentes campos do conhecimento A nossa experiência cotidiana também confirma esta afirmação Uma obra que explora exaustivamente a questão da identidade em uma perspectiva similar à aqui desenvolvida é A história de Severino e a estória de Severina escrita por Antônio Ciampa e referendada na bibliografia A partir da análise de uma história de vida e do poema Morte e vida Severina de João Cabral de Melo Neto o autor apresenta uma série de considerações sobre a temática a partir de uma abordagem em Psicologia Social Sobre a relação entre o papel social e a identidade a obra de Erving Goffman A representação do eu na vida cotidiana além de clássica é excelente fonte de consulta embora dentro de uma perspectiva que não rompe totalmente a dicotomia internoexterno Tendo em vista a importância conferida ao papel de trabalhador em uma sociedade pautada pelo valor produtivo como a nossa a articulação entre identidade e trabalho pode ser encontrada no capítulo Doença dos nervos o ser trabalhador como definidor da identidade psicológica contido no livro Relações sociais Ética e no capítulo Psicoterapia e doença dos nervos do livro Psicanálise e contexto cultural de Jurandir Freire Costa ambos referendados na bibliografia E por fim a concepção de homem que fundamenta a perspectiva aqui desenvolvida encontrase em O desenvolvimento do psiquismo em que o autor Alexei Leontiev apresenta importantes considerações sobre o desenvolvimento filogenético e ontogenético do homem Também o capítulo de Lucien Sève A personalidade em gestação contém importantes contribuições a este respeito No campo artístico a peça de teatro de Pirandello Seis personagens à procura de um autor e o curta gaúcho de Jorge Furtado Esta não é sua vida ambos publicados em livros ver bibliografia são ilustrativos sobre a temática além naturalmente do poema de João Cabral de Melo Neto já comentado e da música de Raul Seixas Metamorfose ambulante cujos versos abrem este texto Bibliografia CIAMPA Antônio A história de Severino e a estória de Severina São Paulo Brasiliense 1987 COSTA Jurandir Freire Psicoterapia e doença dos nervos In Psicanálise e contexto cultural Rio de Janeiro Campus 1989 cap 2 ERIKSON Erik Identidade juventude e crise Rio de Janeiro Zahar 1972 FURTADO Jorge Um astronauta no Chipre Porto Alegre Artes e Ofícios 1992 GOFFMAN Erving A representação do eu na vida cotidiana 4 ed Petrópolis Vozes 1985 HABERMAS Jürgen Para a reconstrução do materialismo histórico 2 ed São Paulo Brasiliense 1990 JACQUES Maria da Graça Corrêa Doença dos nervos o ser trabalhador como definidor da identidade psicológica In JACQUES MG et al Relações sociais Ética Porto Alegre Abrapso 1995 p 6270 JAMES William The letters Boston Atlantic Monthly Press 1920 LEONTIEV Alexei O desenvolvimento do psiquismo Lisboa Horizonte 1978 MEAD George Mind self and society Chicago University of Chicago Press 1934 NETO Félix Identidades migratórias Psiquiatria Clínica 62 p 113128 1985 PIRANDELLO Luigi Seis personajes en busca de autor Buenos Aires Argentina Condor 1927 SÈVE Lucien A personalidade em gestação In SILVEIRA Paulo DORAY Bernard orgs Elementos para uma teoria marxista da subjetividade São Paulo Vértice 1989 cap 5 SUBJETIVIDADE Nilza Silva A única finalidade aceitável das atividades humanas é a produção de uma subjetividade autoenriquecedora de maneira contínua na sua relação com o mundo Félix Guattari Discutir a subjetividade humana na atualidade do ponto de vista da psicologia social que se exerce é fazer opções Opções epistemológicas paradigmáticas metodológicas práxicas éticas estéticas políticas Escolher implica percorrer as trajetórias da construção dos saberes imanente ao processo de hominização mesmo que de maneira fragmentária e provisória Escolher implica exercitar uma crítica que não seja complacente nem obsequiosa Escolher implica respeitar o esforço coletivo do pensar Neste sentido esboçase uma incursão pelo pensamento da Grécia Antiga e por sua irrecusável influência na produção dos saberes ocidentais de todas as épocas Procurase então traçar uma linha transversal entre os desafios da realidade contemporânea e os saberes necessários para suportar esta complexidade especialmente em relação ao processo de subjetivação e às opções do profissional da psicologia social Do passado ao presente A hegemonia do pensamento présocrático estendeuse por aproximadamente três séculos entre séculos VIII aC e o V aC e afetouse por importantes transformações operadas no pensamento grego inicialmente mais descritivo e posteriormente mais questionador O século VIII aC revelou um mundo feito para os fortes os hábeis e os poderosos protagonizados na escrita de Homero A Ilíada descreve um mundo beligerante cujo ideal heróico da coragem e das façanhas pessoais ressalta a excelência na guerra A Odisseia descreve um mundo de viagens e comércio no qual a inteligência a sagacidade e a esperteza são necessárias CHEILIK 1984 O século VI aC apresentou forte indagação sobre a constituição do mundo Destacaramse duas vertentes de pensamento De um lado a vertente mística revivia o culto ao deus grego Dioniso na seita de Orfeu concebendo o mundo pela ruptura da unidade divina O humano carrega a dualidade corpoalma O corpo é a herança titânica que aprisiona a alma como um invólucro ou um túmulo A alma é a herança dionisíaca que pela ascese e pela resistência aos prazeres e atrativos da vida terrena se liberta do corpo para usufruir a vida eterna Pela metempsicose ou transmigração das almas a alma deixa um corpo e se reintroduz em outro pelo nascimento até a purificação MUELLER 1978 Viver e morrer objetivam o retorno à unidade divina originária A dualidade corpoalma e a metempsicose influenciaram o filósofo natural jônico Pitágoras de Samo século VI aC o filósofo eleata Empédocles de Acragante século V aC que as estendeu aos animais e às plantas e o filósofo clássico Platão século IV aC que as combinou com as ideias de beleza e verdade De outro lado o apogeu da Jônia território grego na Ásia Menor estimulou a vertente da filosofia natural que propôs uma explicação racional para o universo Dentre os jônicos destacouse Heráclito de Éfeso 480 aC que apresentou a ideia da mobilidade universal na qual o movimento como fluxo incessante engendra a multiplicidade das formas É o eterno devir Assim o processo de produção do homem é imanente ao processo de produção do mundo É a afirmação da indissociabilidade homemnatureza A hegemonia do pensamento clássico grego estendeuse por aproximadamente dois séculos os séculos V aC e o IV aC e foi estimulada pelo apogeu de Atenas No século V aC destacaramse três vertentes de pensamento A primeira constituída pelos sofistas dentre os quais se destacou Protágoras de Abdera 485 aC410 aC introduziu um novo conceito de homem que extrai a verdade do contato com a realidade Os sofistas ressaltaram a incomunicabilidade direta dessa experiência particular Preconizaram também o caráter convencional das instituições transformáveis segundo as necessidades humanas À segunda se filiaram os eleatas e os atomistas Os filósofos da Escola Eleática da Magna Grécia no sul da Itália conceberam a matéria una imóvel e indestrutível Dentre os eleatas destacouse Parmênides que propôs a identidade como único fundamento da verdade Para ele a realidade é única e idêntica a si mesma e o devir é aparência Portanto afirma a dicotomia realidadeaparência Dentre os atomistas destacouse Demócrito de Mileto 460 aC370 aC que propôs o universo formado por partículas indestrutíveis e indivisíveis os átomos A terceira foi representada por Sócrates 469 aC399 aC que propôs um conceito de homem essencialmente moral A verdade identificada com o bem é o único ordenador da felicidade humana No século IV aC consolidaramse a filosofia e a retórica do período clássico Platão 427 aC348 aC discípulo de Sócrates concebeu o mundo bipartite afirmando a dicotomia ideiamatéria ou essênciaaparência ou modelocópia A ideia ou essência ou pura forma é o modelo universal a realidade que não se corrompe pelo devir Pelo princípio da identidade verdadeiramente ser é permanecer idêntico a si mesmo A matéria ou aparência imagem ou corpo sensível é a cópia em devir a ilusão Pelo princípio da semelhança a aparência tornase cópia do modelo a matéria imita a ideia a ilusão mantémse realidade Já Aristóteles de Estagira 384 aC322 aC discípulo de Platão concebeu o mundo tripartite corpo físico alma incorpórea que representa o mundo por ideias e linguagem que expressa as ideias Também concebeu a alma tripartite alma vegetativa alma sensitiva e alma intelectiva A vegetativa e a sensitiva extensivas às plantas e aos animais representam as paixões os desejos os sentimentos as sensações os afetos expressos pela linguagem cotidiana que é plurívoca isto é com pluralidade dos sentidos A intelectiva representa a razão expressa pela linguagem unívoca isto é com unicidade dos sentidos FUGANTI 1990 Resumidamente a preocupação cosmológica présocrática mergulha na preocupação antropológica sofista que por sua vez trava um embate com a preocupação normativa socráticoplatônica Do mundo mítico ao mundo racional grego De forma geral poderseia agora traçar rudimentarmente a inserção do homem nos saberes produzidos nesse período e os princípios que orientaram esta inserção Inicialmente o único homem merecedor de nota e de proteção divina é o herói o corajoso o capaz o inteligente o sagaz A seguir o homem se inscreve diferentemente em cada uma das duas vertentes de pensamento que ora se afastam ora se aproximam ora se cruzam Uma das vertentes afirma duas dicotomias 1 unidade divinadualidade humana e 2 corpoalma Todos os homens semideuses precisam libertarse da sua metade humana para conquistar a integridade divina A unidade e indestrutibilidade divinas são deslocadas para a matéria A identidade e a imobilidade fundamentam a verdade Agregase nova dicotomia realidade aparência A identidade e a permanência da essência introduz o homem no mundo da moralidade no qual a verdade é identificada com o bem e o belo A dicotomia ideiamatéria é fundamentada pelos princípios da identidade e da semelhança A outra vertente afirma a diferença da diferença A metamorfose que institui o novo mesmo que imperceptível faz repercutir as disparidades de todas as coisas entre si O homem indissociável da natureza é uma forma composta pelos fluxos mutantes em devir A verdade como construção humana apresentase plural e transitória Hegemônicas ou não marginais ou não essas concepções do processo de subjetivação humana atravessam influem contaminam todo o saber ocidental até hoje Elas desdobramse estilhaçamse desviamse opõemse entrelaçam se vibram compõemse deslizam umas sobre as outras Vão criando caminhos atalhos pontes que suportam as escolhas atuais a reinvenção dos saberes e a construção do mundo Percorrendo o esboço traçado até aqui aos saltos e sob o risco ainda maior de simplificações grosseiras saliento dois princípios que orientam a inscrição do homem nos saberes o princípio da identidade e o princípio da diferença De um lado o princípio da identidade pressupõe uma imobilidade infinita que garante a existência do mesmo como modelo universal O mesmo o idêntico se refere ao conceito determinável originário que é fundado no sujeito pensante Pensar pelo princípio da identidade é sempre estabelecer a relação da identidade do conceito com o sujeito que pensa A realidade é ideal e estática já que estabelece sempre a ligação entre a unidade originária e a totalidade futura suprimindo qualquer elemento diferencial A identidade fundamentou as teorias dos eleatas dos atomistas dos socráticoplatônicos de Hegel no século XIX dos estruturalistas no século XX dentre outros Georg Wilhelm Friedrich Hegel 17701831 propôs o eu como consciência individual e parte integrante da consciência universal O desenvolvimento da consciência se realiza gradualmente quando o homem toma consciência de si e do mundo em progresso infinito até a liberdade total Então se unifica com o divino a ideia absoluta A realidade como exteriorização da ideia é criada pela razão A lógica dialética hegeliana se baseia na contradição criadora no movimento da tese afirmação da antítese negação e da síntese negação da negação Pelo princípio da identidade Hegel retalha a diferença pelo seu excesso a contradição se constitui na maior diferença somente em relação ao idêntico Subordina assim a diferença à identidade DELEUZE 1988 O estruturalismo que agrupa principalmente antropólogos historiadores etnólogos linguistas marcou com seu método a psicologia em meados do século XX Claude LéviStrauss 1908 etnólogo estudou os mitos e os fenômenos de parentesco como fenômenos de linguagem aplicando o rigor dos modelos formais e regras combinatórias do método linguístico isolando princípios universais Pierre Clastres 19341977 etnólogo estudou o poder os conflitos a divisão social a constituição do Estado propondo uma analogia estrutural entre os fenômenos Roland Barthes 19151980 linguista e semiólogo realizou estudos linguísticos e literários das narrativas e do cotidiano para os quais utilizou o modelo de análise estrutural Sob uma lógica de produção dos signos elaborou um sistema definido pelas relações entre seus elementos internos fornecidos pelas determinações contextuais Jacques Marie Emile Lacan 19011981 psicanalista ofereceu um estatuto científico à psicanálise unindoa à linguística à semiologia e à matemática para definir o inconsciente e suas leis pelo modelo da linguística estrutural Para ele os papéis humanos se organizam pela lei da ordem simbólica formalmente idêntica à ordem do significante e fundada sob a primazia da estrutura da linguagem Louis Althusser 19181990 filósofo propôs o corte epistemológico como uma cisão radical e precisa entre a abstração teórica e os fenômenos vividos Ele estabeleceu uma separação entre a ciência legitimada pelo método formal e os resíduos fenomenológicos ou empíricos que não são científicos As correntes estruturalistas propõem a realidade fixada por uma axiomática estrutural na qual as premissas expressam verdades cuja demonstração é desnecessária por serem tautológicas isto é idênticas a si mesmas Pelo princípio da identidade estabelecemse a repetição a previsibilidade e a reversibilidade A repetição do mesmo se dá porque o modelo pertencente a um grupo de modelos funciona como matriz analíticoexplicativa de todos os fatos vistos como homeostáticos Assim todos os fenômenos da realidade são esquadrinhados por conjuntos de relações formais Por identidade por semelhança por analogia ou por oposição os fenômenos são introduzidos na ordem dos códigos universais atemporais fundantes e são explicados a partir de determinações Assim qualquer modificação na realidade é previsível porque essa mudança só se faz dentro dos limites definidos pela interdependência estrutural das partes em relação ao todo Do retorno possível aos estados originários resulta a reversibilidade no tempo GUATTARI 1987 De outro lado o princípio da diferença pressupõe uma mobilidade incessante Sempre de um estado a outro A realidade produzida por fluxos de qualquer natureza mantémse em estado instituinte mutante Em eterno devir Por isto não pode ser capturada por formalizações resiste à previsibilidade A consistência dos fenômenos se faz num processo no qual as composições dos elementos as relações entre as forças acaso e as concatenações dos fluxos códigos tempos acontecimentos velocidades trajetórias implicam na imponderabilidade da história na irrepetibilidade das mesmas composições na heterogeneidade das transformações e na irreversibilidade do tempo Pensar pelo princípio da diferença é efetuar a relação do diferente com o diferente É afirmar a diferença Uma dificuldade aparece capturado pela representação o princípio da diferença acaba sendo mediado pelo idêntico pelo semelhante pelo oposto pelo análogo Tornase necessário então 1 desfazer a identidade do conceito e do sujeito pensante para introduzir a diferença no pensamento 2 reconhecer as multiplicidades como transformadoras da ideia feita de elementos e relações diferenciais para compor a diferença na afirmação e não na negação 3 não tomar o diverso como matéria do conceito idêntico para restaurar a diferença individuante singularizante DELEUZE 1988 A diferença fundamentou as teorias de Heráclito dos sofistas de Nietzsche no século XIX de Foucault de Deleuze e de Guattari no século XX dentre outros Friedrich Wilhelm Nietzsche 18441900 propôs a indissociabilidade vidapensamento afirmando que se implicam mutuamente pela eliminação de limites no esforço de criação do novo Pensar é inventar novas possibilidades de vida e depende das forças que entram em relação Uma nova maneira de pensar e uma nova maneira de avaliar transavaliação produzem o superhomem A vontade de poder é o elemento diferencial e genético da força que se exerce sempre sobre outra força Portanto para Nietzsche vontade é uma força que entra em relação com outra afirmando sua diferença O superhomem se engendra neste embate de forças vontades sempre afirmativas da diferença O eterno retorno como ser do devir é a expressão do princípio do retorno do diferente da reprodução da diferença Ele constitui a diferença e a repetição dela A realidade é criada pelas forças vontades em cujas relações são constituídos os corpos de qualquer natureza À lógica dialética da contradição e da negação Nietzsche opõe a lógica da afirmação da diferença DELEUZE sd Michel Foucault 19261984 Gilles Deleuze 19251995 e Félix Guattari 1930 1992 propõem a indissociabilidade homemnatureza afirmando que a produção do mundo se realiza num processo 1 inclusivo do qual não há exterioridade possível 2 mutante porque se efetua pela transformação ininterrupta 3 flexível para o qual não há determinações 4 fortuito por materializar o acaso 5 comunicante porque se dá por passagens por estados É um processo que engendra as multiplicidades pelas quais tudo pode se interpenetrar com tudo sem hierarquia entre as instâncias individuais coletivas e institucionais mudando a natureza do que se vai produzindo Fluxos de matériaenergia de relações vazam territórios aumentam qualitativa e quantitativamente suas conexões suas disjunções e suas conjunções Os corpos emergem e se efetuam nesta luta neste confronto de forças de velocidades de composições neste movimento incessante Os corpos são pois estados dos seus movimentos modos de estar superfície de inscrição dos acontecimentos volume em perpétua pulverização cujos fluxos estão sempre em insuperável conflito FOUCAULT 1989 p 22 O tornarse humano inclui o tornarse não humano a produção da subjetividade é imanente à produção do mundo Pelo processo de subjetivação o sujeito se desfaz em multiplicidades Pela heterogeneidade dos seus suportes físicos biológicos psíquicos verbais econômicos estéticos éticos políticos a subjetividade é um produto cultural como qualquer outro Como processo a subjetividade emergente se relaciona com o mundo pelo limite pela vizinhança individuase nas relações de alteridade e coletizase nas multiplicidades para além do indivíduo e para aquém da pessoa GUATTARI 1990 p 8 Do presente ao futuro O final deste século tem sido pródigo em desafiar todos os saberes misturandoos separandoos esvanecendo os limites para a investigação mas sobretudo impondo uma velocidade à ação difícil de perseguir Experimentase de um lado o esgotamento do estruturalismo e seus universais e de outro o recrudescimento da vertente de pensamento que 1 inscreve o paradigma ético estéticopolítico no paradigma científico 2 investe em processo diverso de sistema e estrutura na abertura na ruptura incessante na precariedade na singularidade 3 indica transformações e suas reordenações de limites 4 valoriza os cruzamentos criadores de novas condições de produção dos saberes 5 traça os percursos dos arranjos de poderes construtores e organizadores dos regimes de verdade e de exclusão dela A perplexidade do pesquisador talvez seja o que mais fortemente impregna o processo contemporâneo de construção dos saberes E por isto mesmo não deve ser desprezada O modelo capitalista de produção temse amparado especialmente na competição e no controle como organizadores 1 dos modos de pensar de perceber de sentir de relacionarse e 2 dos equipamentos coletivos que se engancham neste processo produtivo ao longo da sua trajetória Os modos os meios as velocidades destes fluxos não se inscrevem apenas na economia de mercado são imanentes ao processo de constituição do mundo em todas as suas dimensões da planetária à da subjetividade A subjetividade hoje permanece massivamente controlada pelos dispositivos de poder e de saber que colocam as inovações técnicas científicas e artísticas a serviço das figuras mais retrógradas da socialidade E contudo outras modalidades de produção subjetiva processuais e singularizantes são concebíveis Estas formas alternativas de reapropriação existencial e de autovalorização podem tornarse amanhã a razão de vida das coletividades humanas e dos indivíduos que recusam abandonarse à entropia mortífera característica do período que nós atravessamos GUATTARI 1989 p 26 Há fartos dispositivos especialmente institucionais e massmidiáticos que se incumbem de banalizar a vida reduzindoa ao trabalho seja colando a preparação para viver no século XXI à preparação para trabalhar acesso ao emprego nesse século seja fazendo a apologia do individualismo absoluto Afirmase por todos os meios de expressão que num mundo diversificado de fronteiras abertas complexo interdependente com acesso internacionalizado ao capital e aos fatores de produção a educação se apresenta como ferramenta estratégica para o enfrentamento do mundo do trabalho cada vez mais competitivo Maiores também são as exigências da disposição para o aprendizado contínuo da mobilidade geográfica da capacidade de adaptação a novos ambientes e novas situações Assim a diferença está na qualidade da mãodeobra nacional No caso brasileiro o governo empresários e estudiosos do problema estão convencidos de que as oito séries do nível fundamental constituem a melhor base para qualquer aspirante a uma vaga no mercado de trabalho CAIXETA 1997 p 9 Que qualidade de mãodeobra se propõe aqui Além disso constróise uma subjetividade produtoprodutora desse modelo nutrida por um individualismo cujo princípio fundamental é o mesmo que rege as grandes empresas As estratégias e as oportunidades de destaque de promoção de visibilidade são ilimitadas e orientadas sempre para os resultados Estão à disposição de todos e dependem exclusivamente de cada um PETERS 1997 A subjetividade engendrada como resíduo no processo de produção do mundo é um produto cultural complexo Desvelar o conjunto de condições que possibilitam a emergência de instâncias individuais eou coletivas como território existencial autorreferencial na sua relação com o mundo é um dos maiores e mais potentes desafios da atualidade Guattari 1990 p 7 A hipertrofia das injunções do mercado contemporâneo se garante por três vias principais que resignificam competição e controle 1 a desregulamentação dos mercados financeiros 2 a integração mundial do capital e 3 as revoluções tecnológicas e comunicacionais Elas facilitam a expansão e a primazia das empresas transnacionais potencializando sua capacidade de intervenção global e a mobilidade crescente dos seus processos de produção A terceira revolução industrial impulsionada pela tecnologia do silício retalha e remonta unidades menores de trabalho e capital numa linha de produção separada em partes e distribuída como uma teia em redor do planeta Por um lado a produção dentro da fábrica é substituída pela terceirização a integração pela desintegração Por outro lado a fusão das empresas produzem seu crescimento desenfreado É a economia plugandplay mais competitiva flexível dinâmica e produtiva combinando máxima segmentarização com máxima desterritorialização Cada vez mais apartados vaise cada vez mais longe e mais rápido mesmo sem sair do lugar HUBER KORN 1997 Este modelo econômico opera de um lado pelo descentramento das redes de poder que tornam as relações de força difusas e legitimam certos discursos e práticas à custa da invalidação de outros e de outro lado pela circulação do capital financeiro em busca de valorização rápida e farta Para a localização dos investimentos competem entre si Estados nacionais eou regiões dentro do mesmo Estado As facilidades fiscais sobrecodificadas guerra fiscal a redução do Estado as privatizações a desregulamentação do mercado de trabalho e da securidade social que facilitam a flexibilização o arbitramento salarial a precarização das condições de trabalho a volatilização do emprego funcionam como elementos de atração para os grandes negócios Esta acelerada transformação arrasta consigo também 1 a transnacionalização da miséria do desemprego do isolamento político das relações de trabalho da instabilidade e insatisfação sociais da degradação ambiental 2 a exclusão porque impossibilita a apropriação e a fruição por todos dos meios e benefícios 3 o descompromisso com as populações acentuando as desigualdades e assimetrias sociais 4 a redução do mercado local combinada com a expansão do mercado globalizado Neste percurso o capitalismo descentralizado neoliberalismo realiza o deslocamento das contradições das relações de produção para as relações de mercado das relações de exploração capitaltrabalho para as relações de exclusão produtoconsumidor das relações de exclusão para as relações de eliminação Enquanto as relações de produção explicitam a exploração de uns por outros e a luta de classes as relações de mercado privilegiam o produto e a satisfação do consumidor cada vez mais raro Por mecanismos de controle o mercado se estabelece apesar da exclusão de amplas camadas da população desnecessárias à ordem instituída Elas podem ser desviadas empurradas eliminadas E o desempregado Excluídos pela lógica do desaparecimento do emprego os desempregados acabam por considerarse incompatíveis com uma sociedade da qual eles são os produtos mais naturais E como produtos estão plenamente incluídos Neste processo de subjetivação a vergonha tem sua aplicabilidade domesticadora funcionando como um elemento importante de lucro Ela altera na raiz deixa sem meios permite toda a espécie de influência transforma em vítimas aqueles que a sofrem daí o interesse do poder em recorrer a ela e a impôla ela permite fazer a lei sem encontrar oposição e transgredila sem temor de qualquer protesto É ela que cria o impasse impede qualquer resistência qualquer desmistificação qualquer enfrentamento da situação É ela que afasta a pessoa de tudo aquilo que permitiria recusar a desonra e exigir uma tomada de posição política do presente É ela ainda que permite a exploração dessa resignação além do pânico virulento que contribui para criar FORRESTER 1997 p 12 Das escolhas Inicialmente fazse uma ligeira incursão por uma parte do acúmulo epistemológico dos últimos vinte e oito séculos de enunciação humana Esta viagem através dos saberes do passado ao presente apresenta um roteiro nem linear nem harmonioso nem necessariamente emancipador Na segunda parte descrevese resumida e fragmentariamente a realidade contemporânea em construção na qual se está mergulhado e com a qual se tem uma relação visceral de produtoprodutor Do presente ao futuro é uma proposta de continuação da viagem Os caminhos as sendas os atalhos as pontes estão para ser construídos Como uma provocação E a psicologia social Podese tomála como uma unidade indivisível Se não qual psicologia social serve de referência às escolhas profissionais Em quais dispositivos se engancha para interferir na realidade De que realidade trata Com o que como e para que funciona Com o que como e para que a psicologia social constrói seus saberes De quais saberes o profissional da psicologia social se vale para suas opções Algumas das respostas a estas questões não são tão evidentes nem tão simples quanto aparentam Requerem muito mais do que ler este texto ou este livro Exigem seguir os largos caminhos e também as trilhas Exigem criar onde ainda não existe Exigem empenhos lutas alianças mergulhos interlocuções E principalmente opções Opções epistemológicas paradigmáticas metodológicas práxicas éticas estéticas políticas Sugestão de leituras Apresentamse outras sugestões de leituras que investem na inquietação e no debate que colocam o desafio e a dúvida que exercitam a sensibilidade e o compromisso Gilles Deleuze no livro Conversações Rio de Janeiro Editora 34 1992 realiza um passeio na sua produção teórica entre 1972 e 1990 A partir de elementos da arte da ciência da filosofia e da política faz uma interlocução com Foucault Guattari Spinosa e Leibniz Félix Guattari em Três ecologias Campinas Papirus 1991 trata de três esferas de relações ambiental social e mental que implicam heterogeneticamente o processo de produção da subjetividade Umberto Eco Furio Colombo Francesco Alberoni e Guiseppe Sacco em La Nueva Edad Media Madri Alianza Editorial 1990 analisam na sociedade contemporânea as transformações dos Estados Nacionais as relações de poder os conflitos emergentes a ruptura do consenso a fragmentação e a insegurança sociais Boaventura de Souza Santos em Pela mão de Alice São Paulo Cortez 1995 analisa aspectos da trajetória histórica do capitalismo até a contemporaneidade abordando modos de produção de poder desafios dos paradigmas democracia emancipação social e subjetividade Bibliografia CAIXETA Nely Como virar a página Brasil em Exame São Paulo Abril ed especial p 611 set 1997 CHEILIK Michael História antiga Rio de Janeiro Zahar 1984 DELEUZE Gilles Nietzsche e a filosofia Porto Rés Editora sd Diferença e repetição Rio de Janeiro Graal 1988 FORRESTER Viviane O horror econômico São Paulo Unesp 1997 FOUCAULT Michel Microfísica do poder Rio de Janeiro Graal 1989 FUGANTI Luiz Antônio Saúde desejo e pensamento In LANCETTI Antônio dir Saúde e loucura 2 São Paulo Hucitec 1990 p 1982 GUATTARI Félix Linguagem Consciência e Sociedade In LANCETTI Antônio dir Saúde e loucura 2 São Paulo Hucitec 1990 p 317 Cartographies Schizoanalytiques Paris Éditions Galilée 1989 Revolução molecular pulsações políticas do desejo São Paulo Brasiliense 1987 HUBER Peter KORN Jessica A unha de produção agora é uma teia Exame São Paulo Abril ed 645 a 31 n 20 p 102106 24set 1997 MUELLER FernandLucien História da Psicologia São Paulo Companhia Editora Nacional 1978 PETERS Tom Corra Bemvindo à Era do Eu SA Exame São Paulo Abril ed 643 a 31 n 18 p 108114 27ago 1997 GÊNERO Marlene Neves Strey Dentro da psicologia social científica os temas de gênero tinham pouca expressão e no máximo apareciam como sexo indicando as diferenças encontradas entre homens e mulheres em experimentos de laboratório ou de campo Para reverter esse quadro foi necessário tanto o estabelecimento da conhecida crise da psicologia social quanto as pressões dos crescentes movimentos feministas que iniciaram antes do século XX mas que tiveram seu apogeu há poucas décadas Hoje gênero embora seja um conceito que perpasse todas as áreas de estudo da psicologia e de outras áreas do conhecimento tem íntima afinidade com a psicologia social principalmente a psicologia social que lança seu olhar para a história para a sociedade e para a cultura não conseguindo entender o ser humano separado dessas instâncias Antes de seguir na análise do que seja gênero é importante abrir um parênteses para fazer algumas colocações sobre o movimento feminista que está constantemente associado aos estudos de gênero Esse movimento teve suas origens em vários acontecimentos na revolução norteamericana quando John Stuart Mill reivindica para as mulheres as promessas da Declaração de Independência na Revolução Francesa com a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã redigida por Olímpia de Gouges em 1791 inspirada na Declaração dos Direitos do Homem e A Reivindicação dos Direitos da Mulher de Mary Wollstonecraft de 1792 um dos seus documentos fundacionais que sem outorgar direitos às mulheres proporcionaram as bases conceituais e teóricas que permitiram a luta pela igualdade de direitos políticos e educativos Abriuse um espaço público às mulheres no qual puderam manifestarse ainda que o discurso e as práticas feministas se mantivessem calados durante um longo tempo O feminismo levou à aparição de mudanças conceituais importantes no século XIX trabalho assalariado autonomia do indivíduo civil direito à instrução e à presença das mulheres na cena política Durante o século XIX produziramse constantes reformulações e conquistas femininas que se foram plasmando nas condutas individuais e nas coletivas na legislação na arte e no pensamento O pensamento e a luta pela igualdade e da realização da igualdade para as mulheres se constitui no pilar básico do feminismo Igualdade não só no sentido jurídico a qual foi o objetivo primordial durante as primeiras etapas de reivindicação feminista mas que graças ao desenvolvimento e evolução tanto no plano conceitual como no plano das mudanças sociais e nos comportamentos foi se transformando a ponto de não se poder afirmar hoje que o discurso feminista contemporâneo seja o mesmo que nos começos do século XIX PRÁ 1997 Sexo e gênero Embora muitos autores e autoras possam utilizar os termos sexo e gênero como sinônimos tratase de dois conceitos que se referem a aspectos distintos da vida humana Sexo não é gênero Ser uma fêmea não significa ser uma mulher Ser um macho não significa ser um homem Sexo diz respeito às características fisiológicas relativas à procriação à reprodução biológica A divisão sexual na reprodução já está bem entendida Os machos produzem esperma as fêmeas produzem óvulos e depois gestam os filhotes que foram concebidos O sexo biológico ou seja as características anátomofisiológicas das pessoas vêm determinada em geral pela dotação cromossômica pelas estruturas gonadais e pela dotação hormonal fetal pósnatal e puberal responsáveis da estruturação genital interna e externa dos caracteres sexuais secundários desenvolvidos na puberdade As diferenças sexuais são encontradas em todos os mamíferos Entretanto os humanos desde sua origem têm interpretado e dado uma nova dimensão a seu ambiente físico e social através da simbolização LANE 1995 Humanos são animais autorreflexivos e criadores de cultura O sexo biológico com o qual se nasce não determina em si mesmo o desenvolvimento posterior em relação a comportamentos interesses estilos de vida tendências das mais diversas índoles responsabilidades ou papéis a desempenhar nem tampouco determina o sentimento ou a consciência de si mesmoa nem das características da personalidade do ponto de vista afetivo intelectual ou emocional ou seja psicológico Isso tudo seria determinado pelo processo de socialização e outros aspectos da vida em sociedade e decorrentes da cultura que abrange homens e mulheres desde o nascimento e ao longo de toda a vida em estreita conexão com as diferentes circunstâncias socioculturais e históricas Os seres humanos têm diferenças sexuais mas de maneira semelhante a todos os outros aspectos de diferenciação física elas são experienciadas simbolicamente Nas sociedades humanas elas são vividas como gênero Enquanto as diferenças sexuais são físicas as diferenças de gênero são socialmente construídas Conceitos de gênero são interpretações culturais das diferenças de gênero OAKLEY 1972 Gênero está relacionado às diferenças sexuais mas não necessariamente às diferenças fisiológicas como as vemos em nossa sociedade O gênero depende de como a sociedade vê a relação que transforma um macho em um homem e uma fêmea em uma mulher Cada cultura tem imagens prevalecentes do que homens e mulheres devem ser O que significa ser homem O que significa ser mulher Como as mulheres e os homens supostamente se relacionam uns com os outros A construção cultural do gênero é evidente quando se verifica que ser homem ou ser mulher nem sempre supõe o mesmo em diferentes sociedades ou em diferentes épocas Principalmente nos Estados Unidos onde o movimento feminista teve grande importância e exerceu influência internacional o conceito de gênero foi introduzido em seu discurso teórico na década de 1970 primeiramente através de estudos da antropologia Mas também na Europa em 1972 a inglesa Ann Oakley havia apontado a necessidade de distinguir entre macho e fêmea e gênero na classificação social de masculino e feminino Diversas autoras começaram a aprofundar o tema salientando que além de contar com um modo de produção toda a sociedade possui um sistema de gênero conjunto de arranjos através dos quais a sociedade transforma a biologia sexual em produtos da atividade humana e nos quais essas necessidades transformadas são satisfeitas Este sistema incluiria vários componentes entre outros a divisão sexual do trabalho e definições sociais para os gêneros e os mundos sociais que estes conformam O movimento feminista pretendia que o uso do conceito ou categoria gênero transformasse profundamente os paradigmas da história e de outras disciplinas do conhecimento humano Em função desses estudos gênero passou a ser muitas vezes equiparado à mulher pois se debruçavam principalmente sobre a mulher e suas contingências Embora seja utilizado o termo gênero quando se fala de mulheres sempre fica claro que não se pode obter informações sobre elas sem ao mesmo tempo obter informações sobre os homens Assim para conhecerse como são as mulheres socialmente construídas fazse necessário saber sobre os homens socialmente construídos É imprescindível conhecer a história do desenvolvimento de ambos os gêneros assim como é importante estudar todas as classes para compreender o significado e alcance da história de como funcionou e funciona a ordem social ou para promover sua transformação A visão do gênero como construção cultural e histórica implica tratar com categorias simbólicas cujas características principais são dar prioridade à interpretação construída em uma dialética entre o dado concreto e o esquema explicativo na centralidade dos símbolos e dos diversos fatores que podem influir em sua leitura como por exemplo o lugar e o momento se é uma leitura individual ou se é coletiva Através da capacidade humana de criar e manipular símbolos os sistemas simbólicos vêm a ser condição e consequência da interação social No entanto é necessário lembrar que esta capacidade simbólica tanto de produzir como de interpretar de ler a realidade e de significar tem sido e ainda de certa forma é unilateral e excludente posto que se faz prioritariamente desde o ângulo masculino É sobre essa visão distorcida que os estudos de gênero buscam lançar luz SCOTT 1995 Os estudos de gênero são importantes na psicologia na antropologia na sociologia na história O conceito de gênero abre uma brecha no conhecimento sobre a mulher e o homem na qual torna possível uma compreensão renovadora e transformadora de suas diferenças e desigualdades Para além das diferenças individuais é importante salientar as interações sociais que influem nos resultados educativos e ocupacionais entre outros tantos Assim o conceito de gênero deve estar presente quando estudamos desenvolvimento trabalho escola família personalidade identidade grupos sociedade cultura Isto é particularmente central na psicologia social de cunho históricocrítico pois a análise e o estudo das situações e condições sociais geradoras de desigualdade o desenvolvimento conceitual e de modelos teóricos explicativos a proposta de estratégias de intervenção e de programas de ação eficazes têm como objetivos fundamentais a erradicação de situações e condições geradoras de desigualdade Vemos então convergirem nesse sentido os estudos de gênero e a psicologia social históricocrítica A questão da hierarquia de gênero A hierarquia de gênero descreve uma situação na qual o poder e o controle social sobre o trabalho os recursos e os produtos são associados à masculinidade GAILEY 1987 O patriarcado é uma forma de hierarquia em que os homens detêm o poder e as mulheres são subordinadas Numa sociedade patriarcal a autoridade social efetiva sobre as mulheres é exercida através dos papéis de pai e de marido Sob as condições patriarcais as mulheres às vezes exercem autoridade através do papel de mãe em oposição aos outros papéis familiares tais como esposa filha irmã ou tia Até recentemente o patriarcado era a forma prevalecente na hierarquia de gênero na civilização ocidental LERNER 1990 Hoje todavia a forma é diferente O poder social agora é identificado com atributos considerados como masculinos Pessoas do sexo masculino ou feminino podem desempenhar papéis através dos quais o poder pode ser exercitado mas eles permanecem como papéis masculinos Em virtude de serem simbolicamente masculinos a discriminação contra as mulheres gerada por esses papéis recebe reforço ideológico Além disso vemos em algumas teorias psicológicas por exemplo que o papel paterno é considerado como benéfico na ruptura da simbiose matemofilial que conduziria uma criança a ter problemas psicológicos Nessas teorias dáse por suposto que cada pessoa cumpre seu papel invariável a histórico e que o papel masculino paterno é necessariamente benéfico e que o papel feminino materno é pelo menos perigoso Não por acaso a mãe sempre é a culpada Todas as sociedades explicam as hierarquias sociais através de origens divinas de costumes ou naturais para as hierarquias sociais A tendência prevalecente nas civilizações ocidentais contemporâneas é propor razões naturais para a ordem social existente Em nossa sociedade ocidental esta tendência pode ser vista nas crenças disseminadas de que os recursos têm sido escassos desde a aurora da existência humana que a inteligência é herdada e pode ser medida acuradamente e que embora a discriminação racial e sexual possa ser objetada ela está baseada em inferioridade e superioridade naturais Essas noções têm um paralelo nas religiões que apresentam razões de ordem divina para a existência de desigualdades de raça e sexo WOLF GRAY citado por GAILEY 1987 Muitas pessoas assumem que os homens são naturalmente mais agressivos As mulheres são encorajadas às vezes a desenvolver a assertividade mas os homens são incentivados a canalizar o que é visto como um recurso natural possivelmente ligado ao cromossomo Y Algumas teorias alternativas argumentam que homens e mulheres são basicamente semelhantes ao menos com respeito a seus potenciais intelectuais e emocionais Nesta visão as diferenças entre mulheres e homens refletem fatores culturais ou seja espera se que homens sejam de uma maneira e mulheres sejam de outra OAKLEY 1972 No entanto essas teorias não dizem como as culturas chegaram a exigir essas diferenças de ambos os sexos E também algumas teorias não explicam por que essas diferenças exigidas também comportam desigualdade e subordinação das mulheres aos homens Se a subordinação política e econômica é um fenômeno cultural nossa tarefa é buscar uma explicação histórica ou cultural para a situação das mulheres e dos homens em todas as sociedades Destacando o mundo ocidental e com as devidas precauções a posição de gênero é um dos eixos essenciais para a manutenção do poder na hierarquia social que é essencialmente masculina no seu topo e tem estratégias de fragmentação por classes por idades por grupos ou culturas minoritárias Assim essa hierarquia nos leva a viver rivalidades e lutas entre pessoas jovens e idosas pobres e ricas negras e brancas mulheres e homens Essas relações antagônicas estruturam a dependência e a submissão Variações em gênero através das culturas Os estudos de gênero nos mostram uma tremenda variedade de culturas no mundo Em algumas sociedades a divisão do trabalho por gênero é uma das maneiraschave sobre as quais a atividade econômica está organizada Em outras a divisão do trabalho por gênero é encontrada primariamente na esfera doméstica As diferenças entre sociedades onde o gênero é central à produção econômica e aquelas onde é secundário se refletem nas diferenças em todas as estruturas de autoridade Em algumas sociedades que muitas vezes são chamadas de primitivas a propriedade é considerada comum a todos os participantes da referida sociedade as quais em geral se consideram parentes Embora a autoridade social possa variar podendo ser igualitária ou estratificada o que todas têm em comum é a ausência de separação entre o público e o privado Existe outra maneira lógica de encarar as diferenças sexuais Em termos físicos as características sexuais secundárias não são muito pronunciadas antes da puberdade e em algumas populações nunca são tão acentuadas e culturalmente sublinhadas como em nossa sociedade ocidental Assim em certas culturas podem chegar a existir até quatro gêneros dependendo de quando é determinado o início e o fim da vida reprodutiva crianças que parecem semelhantes adultos homens e mulheres que parecem diferentes e velhosas que voltam a parecer semelhantes Há variantes culturais no gênero adulto onde a preferência sexual pode criar outros papéis de gênero ou as pessoas podem trocar o gênero ou mesmo adotar os papéis procriativos do outro gênero Colocar o foco somente nas diferenças sexuais é ignorar a criatividade cultural Nossa sociedade ocidental rotula homens e mulheres desde o nascimento até à morte mas existem outras sociedades onde as diferenças de gênero não se estendem para além dos papéis adultos de procriação Os estudos transculturais nos mostram então dois aspectos universais sobre o gênero gênero não é idêntico a sexo e gênero fornece a base para a divisão sexual do trabalho em todas as sociedades Não existe um conteúdo universal para os papéis de gênero A maneira como homens e mulheres são conceitualizados varia enormemente Em algumas sociedades homens e mulheres têm a opção de poder adotar o trabalho e os papéis das pessoas do sexo oposto A divisão do trabalho por gênero pode incluir cada um ou cada uma em seu papel escolhido mas isto não se deve a seu sexo Em alguns casos mulheres e homens têm uma visão antagônica entre si Em outros casos existe uma visão compartilhada de que as mulheres têm menos poder menos autonomia pessoal mas tanto o trabalho como os direitos de propriedade por exemplo não são considerados necessariamente privilégio dos homens Como podemos então definir se as mulheres são subordinadas O que é subordinação e como se expressa Subordinação pode ser definida como uma relativa falta de poder Em termos de autoridade social um grupo subordinado tem pouco ou nenhum controle sobre a tomada de decisões que afetam o futuro daquele grupo Os trabalhadores por exemplo não têm nenhuma capacidade de vetar a decisão de sua empresa se ela decide fechar a fábrica num determinado lugar e abrir em outro Podemos falar em subordinação de gênero quando as mulheres não estão no controle das instituições que determinam as políticas que afetam as mulheres tais como os direitos reprodutivos ou a paridade nas práticas de emprego Discriminação nos salários e nas promoções são exemplos da subordinação das mulheres na nossa sociedade Em outras sociedades a subordinação pode envolver a necessidade de as mulheres casarem para poder sobreviver A isso se alia o fato do papel de esposa trazer menos autoridade do que o de marido Em suma subordinação envolve dependência sistemática sendo o grupo subordinado ativo ou não em tarefas produtivas A subordinação é mais difícil de determinar se focarmos somente as atitudes As atitudes expressas podem mudar relativamente rápido pois são sensíveis às mudanças no clima político As pessoas podem pensar que são iguais acreditando que são tão boas como qualquer outro grupo Mas elas podem de fato ser subordinadas independentemente do que acreditem As pessoas têm a capacidade simbólica de criar crenças que justifiquem as condições existentes e assim dão sustentação e continuidade ao sistema Simbolicamente a subordinação é frequentemente expressa como uma relação de complementaridade Os trabalhadores precisam dos patrões assim como os patrões precisam dos empregados e afirmações do estilo O aspecto de poder na relação é negado Por esta razão é mais confiável centrar o estudo da subordinação principalmente nas relações políticas e econômicas do que nas atitudes embora em Psicologia isso não seja comum tendo em vista muitas linhas teóricas centraremse apenas no indivíduo O problema é sabermos se a subordinação das mulheres sempre aconteceu ou se foi desenvolvida ao longo da história humana Temos teorias que argumentam que essa relação é natural outras dizem que é cultural e outras ainda dizem que embora seja cultural é universal ou seja sempre esteve e estará presente nas relações entre mulheres e homens Teorias sobre a hierarquia de gênero Algumas teorias dizem que as mulheres sempre estiveram subordinadas aos homens desde a origem da humanidade Isso teria se dado em função de sua inerente passividade sua fraqueza física ou sua incapacidade de funcionar como uma igual devido às demandas da procriação Entre essas teorias encontramos as abaixo relacionadas e que embora proponham a existência de um patriarcado primordial como fator de semelhança em todas não apresentam muito mais em comum O homem caçador subordinação baseada nas origens humanas Essa teoria fala sobre a adaptação humana como a base para a divisão sexual do trabalho e a subordinação feminina Embora muito criticada essa teoria continua ainda a ter muita vigência por isso vamos falar um pouco mais sobre ela enquanto que apenas mencionaremos as demais que são mais atuais e que demandariam uma discussão mais profunda De acordo com essa visão há cerca de dois milhões de anos atrás nossos ancestrais tinham sua sobrevivência garantida pela caça Os homens eram os encarregados da caça as mulheres dependiam dos homens para conseguir carne Os homens dividiam a caça primeiramente com suas próprias mulheres filhos e filhas Depois de fixado esse primitivo padrão de comportamento de papel sexual na humanidade em construção isso persistiria até os dias de hoje A razão dos homens caçarem seria o fato das mulheres serem mais voltadas naturalmente para suas famílias ou menos móveis devido aos encargos da maternidade e do cuidado com as crianças As mulheres então devido a isso foram incapazes de desenvolver a agressividade a atenção ao detalhe ao planejamento e à lealdade ao grupo e cooperação ostensiva ligada à caça como uma atividade cooperativa Essa adaptação às necessidades de subsistência imprimiram na humanidade a divisão sexual do trabalho na qual os homens se tornaram mais agressivos e mais capazes para o trabalho conjunto em grupos enquanto que as mulheres se tornaram mais passivas e mais fixadas nos trabalhos domésticos e cuidado com as crianças As críticas mostram que essa visão apresenta um viés claramente masculino Por exemplo a ênfase na caça como essencial para o desenvolvimento da cultura é bastante dúbia MILES 1989 Os hominídios comiam carne mas muito mais provavelmente em forma de carniça abandonada por outros carnívoros do que conseguida pela caça Embora fossem onívoros a maior parte da dieta era vegetariana e qualquer pessoa inclusive as muito jovens e de ambos os sexos podiam conseguir mais facilmente LIEBOWITZ 1986 A caça deliberada parece haver surgido muito mais tarde e na forma de forçar os animais a caírem de despenhadeiros onde poderiam ser facilmente mortos se já não o estivessem o que não impediria a participação de qualquer pessoa nem mesmo das crianças Outro problema é a suposição da nuclearidade da família nos primórdios da humanidade Seriam as famílias compostas por pai mãe filhos e filhas Existiria nos grupos ancestrais o conhecimento de como funciona o processo de procriação que permitiria aos homens terem uma noção de quem seriam seus filhos e suas filhas Essas são questões difíceis de responder não existindo provas suficientes nesse sentido para dar sustentação a teorias desse tipo O complexo da supremacia masculina A guerra e o controle populacional As explicações técnicoambientais falam daquilo que seria uma lei natural escassez de recursos pressão populacional que levaria à emergência de características culturais para a adaptação da sociedade às estruturas das leis naturais Um dos propósitos dessa teoria é explicar por que os homens dominam as mulheres HARRIS citado por GAILEY 1987 O controle populacional teria sido um problema desde tempos imemoriais Na medida em que iam se desenvolvendo as diversas culturas tratavam de fomentar as guerras como forma de contenção do crescimento da população Para isso os homens eram levados a desenvolver ao máximo sua agressividade para poderem atuar como ferozes guerreiros e obterem suas gratificações sexuais através do estupro das mulheres dos povos vencidos Já as mulheres seriam socializadas para serem passivas e submeteremse aos interesses dos jogos de guerra Teorias ligadas à sociobiologia A subordinação aumenta a adaptação Os sociobiologistas tais como Wilson 1981 atribuem a dominação masculina à seleção natural em que os mais adaptados sobrevivem e se desenvolvem Tentativas de alterar práticas sexistas então contradiriam as leis naturais o que poderia levar a longo prazo a uma série de problemas Os homens por possuírem muitos espermatozóides procurariam disseminálos no maior número possível de mulheres já que são elas e não eles que pagam o preço da procriação gravidez parto lactação etc Já as mulheres devido a isso e por terem poucos óvulos ao longo de sua vida reprodutiva procurariam para pai de seusas filhosas algum homem que pudesse ajudálas a criálosas da melhor maneira possível Para convencêlo se submeteriam a ele Teorias estruturalistas Essas teorias dizem que a subordinação feminina é cultural mas é universal Um desses grupos de teorias considera que as mulheres têm menor status e menos autoridade que os homens porque estão associadas ao domínio doméstico enquanto os homens estão associados ao domínio público Isso é universal e se deve a que as mulheres são responsáveis pela gestação e cuidado das crianças FIRESTONE 1976 Tudo então dependeria do grau de envolvimento conquistado na esfera pública pelas mulheres e na esfera doméstica pelos homens Outro grupo de teorias que também se refere à subordinação feminina como cultural porém universal salienta que isso se deve à divisão do trabalho por gênero GODELIER 1981 ORTNER 1981 Desde as primeiras culturas as mulheres seriam simbolicamente associadas à natureza enquanto os homens seriam associados à cultura sendo esta última superior à primeira portanto os homens dominam as mulheres assim como a cultura domina a natureza A subordinação como um processo histórico Se as teorias anteriores estão sujeitas a muitas críticas a possibilidade de entendimento da subordinação feminina pode se dar através do estudo da estratificação que existe ou existiu e das relações dessas formas de estratificação com a divisão do trabalho por gênero e as relações de propriedade No mundo ocidental capitalista a experiência de gênero e o status das mulheres advêm da vida em uma sociedade estratificada por classes com uma economia capitalista Nem todas as sociedades têm essas características atualmente e no passado existiram sociedades estratificadas por classe com economias muito diferentes da capitalista como a Europa feudal as civilizações grecoromanas baseadas no trabalho escravo etc Assim o modo de produção em si mesmo não pode ser invocado como a base da subordinação feminina Muitosas teóricosas veem a hierarquia de gênero como um processo histórico que está ligado a outras formas de hierarquia social Entender essa relação exige que se estude as diversas espécies de estratificação social que existem e que existiram e as relações dessas espécies com a divisão do trabalho e as relações de propriedade Também a formação dos Estados ligados à formação de classes estaria na base da exploração em geral com uma dinâmica que criaria e daria suporte às desigualdades e à exploração Desde que a hierarquia de gênero emerge com a formação de classe e do estado podese perguntar se a biologia não é destino então por que são as mulheres e não os homens que se tornaram subordinadas Na formação do Estado tanto as mulheres da elite quanto as das classes produtoras tiveram sua autoridade diminuída Na medida em que o estado vai se formando e a distância entre as classes da elite e as classes produtoras vai aumentando tornase cada vez mais necessário que os grupos de parentesco das sociedades iniciais deixem de ser autônomos pois necessitam providenciar produtos e serviços para o suporte da elite não produtiva A reprodução nesse sentido geral de continuidade se torna cada vez mais politizada Nessa espécie de crise da reprodução social é que está a origem da hierarquia de gênero GAILEY 1987 A reprodução das relações de classe envolve a replicação da força de trabalho existente reposição através da conquista de povos vizinhos ou a combinação de ambos os métodos As religiões sustentadas pelo Estado os militares e outras instituições não baseadas no parentesco atuavam de diferentes modos para promover a reprodução das relações hierárquicas através de noções de obediência aceitação controle da sexualidade e linhas de parentesco sancionadas pelo próprio estado O controle sobre o trabalho e através do trabalho dos produtos é o principal item político na formação do Estado A existência de uma esfera de tributação da produção destinada para as autoridades civis e a continuação parcial da produção através das linhas de parentesco inicia a fragmentação da divisão do trabalho pelos integrantes dos grupos de parentesco A divisão entre as esferas públicacivil e parentescodoméstica também abala a unidade da identidade social por parentesco A nova divisão do trabalho baseada na classe leva as pessoas para a força de trabalho de acordo com as categorias de gênero e idade mas estes aspectos estão separados da influência integradora dos papéis de parentesco Em outras palavras de acordo com Gailey 1987 pelo menos na esfera civil as pessoas podem ter identidades abstratas um homem adulto uma mulher adulta A esfera civil cria a situação na qual as pessoas podem ser consideradas somente em termos de seu sexo independentemente de seus papéis familiares pai mãe filho filha Quando os grupos são definidos de acordo com uma ou duas características aparece o estágio do estabelecimento do reducionismo biológico Os constituintes de um grupo particular de trabalho camponeses e camponesas cativos e cativas de guerra ou membros de uma comunidade conquistada tendem a ser definidos em termos físicos Relações de trabalho exploradoras para a produção de bens e serviços para dar suporte a uma classe não produtiva sem o consentimento dos produtores dão lugar ao surgimento de estereótipos de classe sexo e raça Esses estereótipos variam dentro de cada sociedade estatal mas cada uma cria uma ideologia justificando as desigualdades de classe sexo e raça com base em diferenças inatas A razão pela qual as mulheres recebem extrema sujeição ideológica está relacionada com a abstração na divisão civil do trabalho e a supressão da autonomia dos grupos de parentesco na reprodução As mulheres não apenas são capazes de trabalhar mas também de produzir outrosas trabalhadoresas Como tal as pertencentes à classe trabalhadora se tornam o foco principal do controle estatal Quanto às mulheres da elite elas tinham para seu reconhecimento somente sua capacidade biológica de reprodução já que eram tão improdutivas quanto os homens de sua classe Assim sua sexualidade e alianças maritais eram ainda mais supervisionadas que as da classe trabalhadora Fertilidade fora de lugar poderia causar tumulto político No entanto as mulheres da elite mantinham bastante poder e autoridade social Essa fase na formação do Estado é frequentemente confundida pelos pesquisadores como o matriarcado As mulheres da classe dominante tinham considerável poder político mas nunca estavam sozinhas no poder Com a transposição das relações de parentesco para a esfera doméstica o poder político das mulheres dentro da elite declina e com o tempo as mulheres em geral são vistas abstratamente de uma maneira que as relaciona com a reprodução biológica afastada da cultura e basicamente ligada à natureza O Gênero na psicologia Na psicologia as tentativas de olhar mais detidamente as mulheres e os homens têm sido mais frequentemente associadas com as diferenças sexuais DEX KITE 1987 São discutidas se essas diferenças são biológicas ou fruto de práticas de socialização mas quase sempre enfocadas no indivíduo como sendo a fonte das mesmas Isso é um problema sob os mais diversos aspectos entre eles o da generalização dos resultados de pesquisas por exemplo Ainda nessa perspectiva vemos inúmeros estudos que buscam diferenças em características de personalidade e comportamentos sociais atitudes emocionais comportamentos agressivos comportamentos de ajuda comunicação não verbal influência social Mais especificamente no que diz respeito às mulheres saltam à luz conceitos tais como o medo ao sucesso ou uma ênfase na moralidade do apego e questões ligadas à responsabilidade Uma variante na vertente das diferenças tem sido uma tentativa de definir as dimensões psicológicas da masculinidade e da feminilidade São buscadas a verificação das diferenças entre homens e mulheres mas acima de tudo se elas realmente existem e quais seriam os seus determinantes Durante muitas décadas as escalas de masculinidade e feminilidade M e F refletiam e promoviam um certo número de acepções sobre sua natureza As respostas normativas eram consideradas como um sinal de saúde psicológica Assim os desvios dos escores da média eram vistos não simplesmente como um dado estatístico mas como um diagnóstico psicológico válido Em particular a homossexualidade e os problemas familiares eram vistos como sendo ligados aos desvios dos escores de masculinidade e feminilidade As críticas às escalas que se baseavam na crença que masculinidade e feminilidade eram um continuum com a máxima masculinidade num extremo e a máxima feminilidade no outro serviram para o desenvolvimento de outras escalas que consideravam esses dois conceitos como dimensões independentes A escala mais conhecida nesse sentido é o Bem Sex Role Inventory BEM 1974 Daí saiu também o conceito de androginia A onde as pessoas apresentariam M e F aproximadamente equivalentes As pessoas andróginas seriam consideradas como tendo vantagens sobre as pessoas masculinas ou femininas principalmente no que dizia respeito à saúde mental Outros estudos questionaram essas crenças de predizer comportamentos ou saúde mental a partir de tipos de M F ou A Spence 1984 um dos estudiosos do tema e elaborador de escalas desse tipo afirma que é importante distinguir entre os conceitos teóricos de M e F e toda a gama de comportamentos de gênero que apresentam uma multiplicidade de determinações sociais e culturais com pouca relação direta a conceitos teóricos mais globais Todas essas crenças tanto as baseadas em diferenças biológicas como as baseadas em diferenças psicológicas de homens e mulheres são causadoras de grandes vieses nos estudos científicos de gênero As diferenças encontradas entre ambos os sexos além de não serem tão grandes quanto se possa pensar podendo ser mais aparentes do que reais dependem muito do contexto e de situações bastante concretas Felizmente essa descoberta já está presente nos trabalhos de muitos pesquisadores e pesquisadoras na psicologia Apesar disso como bem salientam Dex Kite 1987 ainda existem muitas crenças sobre diferenças de gênero que persistem tanto no senso comum como no campo científico o que leva à manutenção de estereótipos no senso comum e distorções nos estudos ditos científicos Nessas crenças sobre gênero aparecem e se entrelaçam elementos descritivos como são as diferenças e prescritivos como deveriam ser as diferenças Assim vemos que os homens são considerados como sendo mais instrumentais que agem competem buscam realização profissional que as mulheres enquanto elas seriam mais expressivas são mais afetivas buscam aproximação que eles É importante notar que os traços considerados masculinos costumam ser avaliados mais positivamente na sociedade que os traços considerados femininos e as razões disso nem sempre são buscadas ou consideradas pelas pesquisas realizadas De todos os modos as pesquisas transculturais revelam que de uma maneira geral os homens são vistos como mais ativos com mais necessidade de realização de domínio de autonomia sendo também mais agressivos Já as mulheres seriam vistas como mais fracas menos ativas mais preocupadas com suas necessidades afiliativas e de afeto Os pesquisadores e pesquisadoras admitem que é necessário cautela na generalização desses resultados já que existe uma grande variabilidade lado a lado com semelhanças através das culturas Atualmente o gênero na psicologia social históricocrítica é visto como uma construção histórica social e cultural Assim o estudo das diferenças de qualquer tipo entre homens e mulheres ou das semelhanças inclusive as psicológicas deveria ser evocado sob esse prisma Além disso mais importante que diferenças ou semelhanças é o reparto de poder entre ambos os sexos que permite que uns dominem outros que uns tenham maior possibilidades de realizações que outros A Psicologia tem que estar atenta a este tipo de questões que aceitam e incentivam a multiplicidade e a plenitude dos indivíduos e coletivos independentemente do sexo Leituras complementares No Brasil diversas autoras têm escrito sobre gênero e menos autores têm feito o mesmo embora sejam cada vez mais numerosos Especificamente dentro da Psicologia Social históricocrítica indicamos os textos da seção 4 Psicologia e relações de gênero do livro da Abrapso região sul publicado em 1997 Psicologia e práticas sociais Outras obras também são interessantes e atuais principalmente os livros coletivos que reúnem as ideias de diversas pessoas tanto da psicologia como de outras áreas Nesse caso se encontram os livros É uma mulher organizado por Reolina Cardoso e publicado pela Vozes com autoras psicólogas e o organizado por Marlene Neves Strey Mulher Estudos de Gênero reunindo artigos de autoras de diversas áreas das ciências sociais e políticas publicado pela Unisinos Outro livro cuja leitura é recomendada é o publicado pela Artes Médicas de Porto Alegre e integrado por profissionais da área da saúde Gênero e saúde Ainda de autoras gaúchas está o livro de Helena Scarparo que trata sobre mulheres da classe popular intitulado Cidadãs brasileiras editado pela Revan A respeito dos homens o livro organizado por Dario Caldas é uma das contribuições sobre a discussão do gênero masculino O livro intitulase Homens Comportamento sexualidade mudança e é editado pela Editora Senac de S Paulo Uma publicação recente sobre o tema é a obra Gênero sexualidade e educação de Garcia Lopes Louro editado pela Vozes 1977 Bibliografia DEX K KITE ME Thinking about gender In HESS BB FERREE MM orgs Analyzing gender a handbook of social science research Newbury Park Sage 1987 FIRESTONE S A dialética do sexo um estudo da revolução feminista Rio de Janeiro Labor do Brasil 1976 GAILEY CW Evolucionary perspectives on gender hierarchy In HESS BB FERREE MM eds Analyzing gender a handbook of social science research Newbury Park Sage 1987 GODELIER M The origins of male domination New Left Review 127 p 319 1981 LANE STM Linguagem pensamento e representações sociais In LANE STM CODO W orgs Psicologia social O homem em movimento São Paulo Brasiliense 1995 LERNER G La creación del patriarcado Barcelona Crítica 1990 LIEBOWITZ L In the begining The origins of the sexual division of labour and the development of the first human societies In COONTZ S HENDERSON P eds Womens work mens property Thetford Verso 1986 MILES R A história do mundo pela mulher Rio de Janeiro LTC 1989 OAKLEY A Sex genderand society Nova York Harper Row 1972 ORTNER S Gender and sexuality in hierarchical societies In ORTNER S WHITEHEAD H eds Sexual meanings Nova York Cambridge University Press 1981 PRÁ JR O feminismo como teoria e prática política In STREY MN org Mulher estudos de gênero São Leopoldo Unisinos 1997 SCOTT J Gênero uma categoria útil de análise histórica Educação e Realidade vol 20 n 2 juldez 1995 WILSON EO Da natureza humana São Paulo Queiroz 1981 O PROCESSO GRUPAL Sérgio Antônio Carlos Todos nós temos alguma experiência de participação grupal Para uns mais intensa que para outros mas de qualquer forma muito importante para a estruturação de nossas convicções e para o desenvolvimento de nossas capacidades Estas vivências grupais no nosso cotidiano nos deixam marcas mais ou menos profundas dependendo da forma como se dá a nossa inserção e as relações que aí se desenvolvem Partese do princípio de que estamos constantemente nos relacionando com outras pessoas com os mais diversos objetivos Relações mais intensas e duradouras ou menos intensas e passageiras Todas nos marcam de uma forma gratificante eou traumática É com toda esta carga das experiências anteriormente vividas que nos jogamos em novas experiências de relacionamentos grupais A nossa inserção grupal pode ser realizada de uma forma consciente ou não Temos consciência de que participamos de alguns grupos comumente aqueles que aderimos por uma opção pessoal A participação nos demais é feita geralmente de maneira rotineira e sem nos darmos conta Muitas vezes somos carregados pelo grupo Até aqui estávamos nos referindo aos chamados grupos espontâneos ou naturais Claro que precisamos também considerar os grupos organizados com finalidades específicas Organizados e coordenados pelos próprios participantes ou por profissionais das mais variadas formações Podemos pensar em todo o leque dos grupos de anônimos AAs NAs DQAs ALANONs ALATEENs CCAs em grupos ligados às Igrejas em grupos que atuam nas comunidades nos partidos políticos nos sindicatos nas escolas nas fábricas nas praças São formas de organização da sociedade que refletem e participam dos embates que acontecem no seu seio Grupos que tanto podem estar a serviço da transformação social quanto da sua manutenção Estamos portanto rodeados de grupos e participando ou negando participar deles em todos os momentos de nossa vida A preocupação com o grupo Historicamente sabese que o vocábulo groppo ou grupo surgiu no século XVII Referiase ao ato de retratar artisticamente um conjunto de pessoas Regina Duarte Benevides de Barros 1994 diz que foi somente no século XVIII que o termo passou a significar reunião de pessoas A mesma autora afirma que o termo pode estar ligado tanto a ideia de laço coesão quanto a de círculo p 83 Tanto a sociologia quanto a psicologia têm demonstrado interesse no estudo dos pequenos grupos sociais pensando o grupo como uma intermediação entre o indivíduo e a massa Os estudos dos pequenos grupos sociais embora sejam realizados por várias áreas de conhecimentos humanosociais são em geral associados com a sociologia e a psicologia Na psicologia o estudo sistemático dos pequenos grupos sociais buscando compreender a dinâmica dos mesmos tem início na década de 1930 e 1940 com Moreno e com Kurt Lewin Moreno inicia com o teatro da espontaneidade que vai levar ao psicodrama Na área de pesquisa cria a sociometria para o estudo de relações de aproximação e afastamento entre as redes de preferência e rejeição tanto nos grupos quanto na comunidade como um todo Lewin cria o termo dinâmica de grupo que foi utilizado pela primeira vez em 1944 Não podemos esquecer que a preocupação com grupos tanto de Moreno quanto de Lewin aparece em seguida às inovações tayloristas e fordistas que levam à elevação dos lucros mas também à deterioração das relações tanto dos operários entre si quanto em relação a chefias e patrões apud BARROS 1994 Há uma tradição no estudo e na intervenção com pequenos grupos que está ligada ao trabalho junto a escolas e a fábricas que privilegia o treinamento em busca da produtividade Os especialistas em grupos se atêm à aplicação de técnicas grupais que desenvolvem a cooperação entre os participantes e não levam o grupo a se autocriticar e buscar o seu caminho para o funcionamento pois uma das possibilidades é não se constituir enquanto grupo Neste caso a constituição do grupo está a serviço da instituição e é utilizada como um dos instrumentos de controle que a mesma exerce sobre o indivíduo Grupo ou processo grupal Em geral os autores ao se referirem ao conceito de grupo partem da descrição do mesmo fenômeno social a reunião de duas ou mais pessoas com um objetivo comum de ação O que difere é a leitura que os mesmos fazem do processo de constituição do grupo e do entendimento da finalidade do mesmo Lewin 1973 p 54 afirma que a essência de um grupo não reside na similitude ou dissimilitude de seus membros senão em sua interdependência Um grupo pode ser caracterizado como um todo dinâmico isto significa que uma mudança no estado de uma das partes modifica o estado de qualquer outra parte O grau de interdependência das partes ou membros do grupo varia em todos os casos entre uma massa sem coesão alguma e uma unidade composta Lewin centra a sua definição na interdependência dos membros do grupo onde qualquer alteração individual afeta o coletivo Demonstra uma preocupação em buscar a essência do grupo o que traz junto uma imagem de o grupo como um ser que transcende as pessoas que o compõem Há uma visão de um grupo ideal aquele marcado por uma grande coesão Olmsted é um outro autor que trata o tema define um grupo como uma pluralidade de indivíduos que estão em contato uns com os outros que se consideram mutuamente e que estão conscientes de que têm algo significativamente importante em comum 1979 p 12 Esta definição traz consigo a ideia da consideração mútua sem a preocupação da homogeneidade Aponta para a diversidade dos participantes e para o sentimento de compartilhar algo significante para cada um deles Nas afirmações acima encontramos pontos que ainda hoje são importantes para o estudo dos pequenos grupos sociais Um deles é o contato entre as pessoas e a busca de um objetivo comum a interdependência entre seus membros a coesão ou espírito de grupo que varia em um contínuo que vai da dispersão até unidade Podemos dizer que de acordo com o referencial de homem e de mundo que os cientistas sociais assumem vai variar o entendimento e a explicação que os mesmos vão dar em relação ao grupo e aos processos grupais Os estudos sobre os pequenos grupos dentro da perspectiva lewiniana trazem implícitos conforme Lane 1986 valores que visam reproduzir os de individualismo de harmonia e de manutenção A mesma autora enfatiza que a função do grupo é definir papéis o que leva a definição da identidade social dos indivíduos e a garantir a sua reprodutividade social Existe um modelo ideal de grupo Na tradição lewiniana temos um ideal de grupo coeso estruturado acabado Passa a ideia de um processo linear Neste modelo não há lugar para o conflito Estes conflitos são vistos como algo ameaçador e que deve ser resolvido tentandose chegar a um consenso A questão do grupo é vista como um modelo de relações horizontais equilibradas equitativas ou seja um lugar onde as pessoas se amam se respeitam e cooperam umas com as outras Algo que pode e deve ser buscado e atingido como um modelo ideal de funcionamento social Algo semelhante ao que Löwy 1979 denomina de anticapitalismo romântico O grupo também pode ser visto como um lugar onde as pessoas mostram suas diferenças Onde as relações de poder estão presentes e perpassam as decisões cotidianas onde o conflito é inerente ao processo de relações que se estabelece Onde há uma convivência do diferente do plural Não como um movimento de defesa das minorias mas num movimento de cada um e de todos procurando discutir suas ideias com os outros Num confronto de ideias buscando conciliar apenas o conciliável deixando claro as individualidades o diferente A importância de afirmar que as pessoas são diferentes pensam de maneira diferente porque possuem valores diferentes mas que podem produzir juntas o seu processo grupal Este é um embate diário das relações pessoais que trazem consigo toda uma história de vida Relações onde estarão presentes as múltiplas determinações de cada sujeito Determinações de classe social de gênero de raça e de nacionalidade Relações que embaterseão tanto na busca consciente de uma dominação quanto de defesas inconscientes utilizadas para lutar eou fugir das ameaças que as novas situações desconhecidas lhes colocam Conflitos que podem gerar conforme Bion 1975 situações de funcionamento na base de ataque ao desconhecido ou da espera de um messias que venha trazer a salvação ao grupo O grupo precisa ser visto como um campo onde os trabalhadores sociais que se aventuram devem ter claro que o homem sempre é um homem alienado e o grupo é uma possibilidade de libertação LANE 1986 Mas também pode ser uma maneira de fixálo na sua posição de alienado O grupo não é a garantia do engajamento Neste caso as relações que aí se estabelecem podem ser meramente de reprodução das relações de dominação e de alienação da sociedade capitalista que nos rodeia Podem em contrapartida ser um momento em que o grupo se pense explicite as situações que entravam o seu funcionamento onde as pessoas pensam elaboram enfim trabalham as suas relações e conseguem estabelecer uma experiência única refletida e que faz os seus participantes se sentirem sujeitos Para esta possibilidade um autor latinoamericano que contribuiu muito foi Enrique PichonRivière 1982 A partir do questionamento da psiquiatria e dos grupos em hospitais psiquiátricos cria a técnica dos grupos operativos Um dos conceitos fundamentais é o de Ecro Esquema Conceitual Referencial e Operativo Pichon afirma que cada um de nós possui um Ecro individual Ele é constituído pelos nossos valores nossas crenças nossos medos e nossas fantasias Quando nos encontramos para trabalhar com outras pessoas trazemos o nosso Ecro e com ele dialogamos com os outros ou melhor com os Ecros dos outros Como nem sempre explicitamos os nossos Ecros o nosso diálogo pode ser dificultado Quando se está trabalhando em grupos a realização da tarefa estabelecida pode ser dificultada pelas diferenças de Ecros que estão em jogo O autor fala na construção de um Ecro grupal Este Ecro seria um esquema comum para as pessoas que participam de um determinado grupo sabendo o que pensam em conjunto poderem partir para agir também coletivamente a partir do aclaramento das posições individuais e da construção coletiva que favorece a tarefa grupal Como funciona o processo grupal Quando pensamos em processo grupal não estamos nos referindo ao grupo como uma entidade acabada Estamos pensando o grupo como um projeto como um eterno viraser Pensando como Sartre e Lapassade 1982 este processo é dialético É constituído pela eterna tensão entre a serialidade e a totalidade Há uma ameaça constante da dissolução do grupo e a volta à serialidade onde cada integrante assume e afirma a sua individualidade sendo mais um na presença dos demais Ao mesmo tempo há uma busca constante da totalidade onde cada um dos integrantes participa com os demais introjetaos e dá sentido à relação estabelecida Cada integrante se afirma e assume a totalidade do grupo Partindo da ideia de processo e da construção coletiva do projeto não podemos pensar em um treinamento de grupo no sentido de aplicação de uma série de exercícios que possam ajudar as pessoas a atingir um ideal de grupo pertencente ou criado pelo profissionaltreinador As chamadas dinâmicas de grupo nada mais são do que técnicas de submissão do grupo ao profissional e à instituiçãoorganização A constituição do grupo em processo pode requerer a presença de um profissional técnico em processo grupal O trabalho do mesmo será auxiliar a que as pessoas envolvidas na experiência pensem o processo que estão vivenciando O se pensar não cada um individualmente mas cada um participando de um mesmo barco que busca estabelecer uma rota Talvez o porto não seja seguro porque não existe um destino final Quando isto acontece o processo acaba e o grupo se dissolve Enquanto o grupo persiste é um constante navegar Um constante questionar a rota Um aprender a conviver com a insegurança e com a incerteza Talvez uma mudança de rota devido a avaliação do trajeto já percorrido e do que falta Enfim há uma preocupação em centrar na tarefa e tornar explícitas as questões implícitas que estão dificultando a realização da tarefa pretendida ou que a estão facilitando Esta é uma maneira de o grupo se tornar sujeito do seu próprio processo Os integrantes da experiência terão condições de tomar decisões de forma mais lúcida e portanto podendo avaliar os benefícios e os riscos das futuras ações que pretendem desenvolver À guisa de fechamento No decorrer deste texto deixamos clara a nossa preocupação na compreensão dos pequenos grupos sociais Compreensão no sentido de comentar acerca deles pois como Peralta 1996 não acreditamos que o movimento grupal possa ser lido no sentido de uma certeza Tendo claro que este comentário está impregnado dos valores e posições teóricometodológicas de cada um dos comentaristas Portanto não existem verdades absolutas mas apenas hipóteses que devem ser colocadas para o grupo O próprio grupo poderá trabalhar confrontando o nosso comentário com os comentários produzidos pelos seus integrantes Daí resultarão situações de manutenção de relações já estabelecidas ou a mudança das mesmas numa decisão muito mais dos participantes do que do profissional que compreende mas não vive o processo De acordo com a compreensão que temos do processo grupal é que vamos buscar uma maneira de intervenção profissional É o referencial que utilizamos para o entendimento que nos dará sustentação para a escolha de técnicas adequadas para a intervenção grupal Intervenção que pretendemos seja numa perspectiva transformadora onde as pessoas que participam de um processo grupal sejam vistas como sujeitos que em conjunto podem decidir o seu destino tendo claras as possibilidades e os limites Sugestão de leituras Para aprofundar as questões sobre grupo e processo grupal é fundamental a leitura do texto O processe grupal de Silvia Lane Nele a autora dá uma visão dos principais autores que abordam o estudo dos pequenos grupos sociais Faz uma análise crítica destas abordagens do ponto de vista do materialismo histórico Deve ser considerado como um roteiro para aprofundar a questão O texto de Henrique PichonRivière O processo grupal é um clássico latino americano para o estudo e a intervenção de pequenos grupos Nele são encontrados os fundamentos e o detalhamento do que o autor denomina de grupo operativo Na mesma linha porém com uma linguagem mais simplificada indico a coletânea de textos de Madalena Freire Weffort Juliana Davini Fátima Camargo e Mirian Celeste Martins Grupo indivíduo saber e parceria malhas do conhecimento É resultado de um seminário coordenado pelas autoras Quem desejar se aprofundar dentro de um referencial psicanalítico é necessário buscar a base em Sigmund Freud principalmente no texto Psicologia das massas e análise do eu A partir da Psicologia das multidões de Gustavo Le Bon o autor aborda o contágio e o efeito hipnótico que acontece nas massas e desenvolve conceitos de relações libidinais tanto dentre os integrantes entre si quanto destes com o seu chefe É muito interessante a análise que realiza do Exército e da Igreja mostrando as relações hierarquizadas Bibliografia BARROS Regina Duarte Benevides de Grupo a afirmação de um simulacro São Paulo 1994 Tese de Doutorado em Psicologia Clínica PUCSP BION WR Experiências com grupos 2 ed São Paulo Edusp 1975 BOUDON Raymund BOURRICAUD François Dicionário critico de sociologia São Paulo Ática 1993 FREUD Sigmund Psicologia das massas e análise do eu In FREUD Sigmund Obras Completas Rio de Janeiro Delta sd Vol IX p 4105 LANE Silvia Processo grupal In LANE Silvia et al Psicologia Social o homem em movimento São Paulo Brasiliense 1986 p 7898 LAPASSADE George Dialética dos grupos das organizações das Instituições In ID Grupos organizações e instituições 2ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1982 p 237263 LEWIN Kurt Problemas de dinâmica de grupo 2 ed São Paulo Cultrix 1973 LÖWY Michael Para uma sociologia dos intelectuais revolucionários São Paulo Lech Livraria Editora Ciências Humanas 1979 OLMSTED Michael S O pequeno grupo social São Paulo Herder 1970 PERALTA Juan Grupos México Maestria en Psicologia Social de Grupos e Instituciones httpcueyaltuammxmpsitextosgrupalhtml 16 de novembro de 1996 9f PICHONRIVIÈRE Henrique O processo grupal São Paulo Martins Fontes 1982 WEFFORT Madalena Freire O que é um grupo In WEFFORT Madalena Freire DAVINI Juliana CAMARGO Fátima MARTINS Mirian Celeste Grupo indivíduo saber e parceria malhas do conhecimento São Paulo Espaço Pedagógico 1994 WILSON Gertrude RYLAND Gladys Prática do serviço social de grupo uso criador do serviço social Rio de Janeiro Serviço Social do Comércio 1961 PSICOLOGIA POLÍTICA Louise A Lhullier Para começo de conversa precisamos definir do que estaremos tratando ou seja o que é psicologia o que é política e o que é psicologia política Essas definições são necessárias para que se estabeleça uma base comum para a nossa comunicação autoraleitores mas é importante que se diga que não há consenso sobre elas Desde o início do curso de Psicologia os estudantes tomam contato com a discussão sobre o objeto de estudo dessa disciplina Vocês já devem ter percebido então que diferentes escolas de pensamento definem o objeto da psicologia de acordo com a perspectiva teórica que lhes é própria Assim uma escola diz que ela estuda o comportamento humano outra que estuda a mente humana e assim por diante Neste texto adotaremos a perspectiva da psicologia social crítica na tradição de pensamento representada no Brasil pela Associação Brasileira de Psicologia Social Abrapso Nessa abordagem a psicologia pode ser definida como a disciplina que estuda o sujeito em sua relação com o mundo Nessa relação com o mundo esse sujeito se constitui ao mesmo tempo como produto e como produtor da sua história e da história da sociedade em que vive Há três palavraschave nessa definição sujeito relação e mundo O sujeito é sempre sujeito da ação seja ele indivíduo ou grupo eu ou nós Ele só existe porque age na sua relação com o mundo Essa relação é o foco da análise pois é aí que o sujeito se constitui é aí que ele existe enquanto tal e é aí portanto que a psicologia pode encontrálo como objeto de conhecimento Por outro lado é através dessa relação que ele vai construir a realidade o mundo Tratase aqui tanto da realidademundo para si ou seja como existe para o sujeito quanto da realidademundo em si porque os efeitos da ação humana transcendem as existências particulares Em outras palavras o efeito transformador da ação dos sujeitos vai além dos limites da existência do indivíduo do grupo tanto em termos de tempo quanto de espaço Ao agir no mundo imprimimos marcas desencadeamos movimentos cujos múltiplos efeitos frequentemente não conseguimos antever Quanto à definição de política a diversidade de perspectivas também é muito grande Bobbio 1992 em seu Dicionário de Política nos mostra como historicamente o conceito de política esteve estreitamente ligado ao de poder mais especificamente ao de poder político Ele distingue poder político de outras formas de poder poder econômico e poder ideológico como pertencente à categoria do poder do homem sobre outro homem não à do poder do homem sobre a natureza Esta relação de poder é expressa de mil maneiras onde se reconhecem fórmulas típicas da linguagem política como relação entre governantes e governados entre soberano e súditos entre Estado e cidadãos entre autoridade e obediência etc p 955 Neste texto definiremos política de uma forma muito ampla e simples começando por situála como atividade humana que se dá na esfera das disputas pelo poder entre grupos organizados Essa atividade humana é entendida conforme a concepção de Lane 1986 a atividade implica ações encadeadas junto com outros indivíduos para a satisfação de uma necessidade comum Para haver este encadeamento é necessária a comunicação linguagem assim como um plano de ação pensamento que por sua vez decorre de atividades anteriormente desenvolvidas p 16 Essas ações encadeadas junto com outros indivíduos para a satisfação de uma necessidade comum no caso da política reúnem de um lado aqueles que buscam transformar uma determinada relação de poder político seja no plano macrossocial seja no microssocial e de outro os que buscam mantêla Um primeiro aspecto fundamental nessa perspectiva é que reconhece que todo fazer humano é necessariamente comprometido com valores Sendo a ciência um fazer humano não existe possibilidade de que seja neutra ou isenta de valores Na mesma linha de raciocínio considera essencial explicitar os compromissos do fazer científico no campo dos valores da ideologia em seus determinantes sociais e históricos Da mesma forma não concebe estudar a ação humana e sobretudo a atividade política desvinculada das suas determinações sóciohistóricas A definição de Sabucedo 1996 revela embora de maneira não explicitada esse compromisso a psicologia política consiste no estudo das crenças representações ou senso comum que os cidadãos têm sobre a política e os comportamentos destes que por ação ou omissão incidam sobre ou contribuam para a manutenção ou mudança de uma determinada ordem sociopolitica p 22 Seria impossível estudar as ações ou omissões que contribuem para a mudança ou manutenção de uma determinada ordem sociopolitica sem analisar esta última e as relações entre ela e as açõesomissões dos sujeitos Portanto a definição de Sabucedo contempla as dimensões que já destacamos política como atividade humana que se dá na esfera das disputas pelo poder entre grupos organizados Atividade humana como ações encadeadas junto com outros indivíduos voltada ou para a transformação de uma determinada relação de poder político ou para a sua manutenção No entanto como é impossível a neutralidade na ação dos sujeitos a omissão também é objeto de estudo da psicologia política Esta trata também portanto do apoliticismo da ausência de participação política ou da negação da política já que esses posicionamentos contribuem para a manutenção ou transformação da ordem sociopolítica independentemente das intenções dos sujeitos que os adotam É interessante ainda esclarecer que o fato da atividade política se dar na esfera das disputas pelo poder entre grupos organizados ou de se constituir de ações encadeadas junto com outros indivíduos não significa necessariamente que para se considerar o comportamento de uma determinada pessoa como político esta deva estar inserida num grupo organizado ou estar articulada politicamente com outras Significa isso sim que o seu comportamento tem a intenção de contribuir ou contribui de alguma forma para a manutenção ou para a transformação de uma determinada relação de poder político ou ordem sociopolitica Finalmente é bom lembrar que os estudos que originaram a psicologia política frequentemente ultrapassaram as fronteiras das disciplinas formalmente constituídas Psicologia Sociologia Ciência Política etc em busca de uma melhor compreensão dos fenômenos estudados Ela se constituiu então a partir da contribuição de pesquisadores e estudiosos de diversas áreas do conhecimento Podese afirmar portanto que é uma disciplina de tradição multidisciplinar Por outro lado a complexidade dos problemas de que se ocupa e a multiplicidade de áreas de conhecimento de origem dos profissionais que construíram a psicologia política fizeram com que grande parte da sua construção se desse no terreno da interdisciplinaridade Isso significa que boa parte do conhecimento nessa área situase numa área compartilhada com outras disciplinas especialmente com a Sociologia e a Ciência Política constituindo uma região de fronteira à parte das disciplinasmães um território que é de todos e não é de ninguém em particular Este é o caso por exemplo dos estudos sobre comportamento político que tratam de temas tais como comportamento eleitoral e movimentos sociais entre outros Tanto isso é verdade que a Associação Nacional de Pesquisa em Comportamento Político Anapol criada em junho de 1996 por pesquisadores de diversas das mais importantes universidades brasileiras é presidida por uma psicóloga mas compõem sua diretoria e Conselho Deliberativo tanto psicólogos quanto sociólogos e cientistas políticos Psicologia política ou psicologia da política Para alguns autores são os problemas estudados pela psicologia política que a definem já que ela tem se caracterizado até agora muito mais pelos temas que aborda do que por um referencial teóricometodológico próprio Para outros no entanto essa caracterização como área temática é insuficiente porque nos diz do que tem se ocupado a psicologia política mas nada nos revela sobre as suas possibilidades e perspectivas na construção do conhecimento Além disso não distingue entre de um lado as abordagens fundamentadas na concepção crítica e de outro na perspectiva da neutralidade científica Embora à primeira vista essa questão possa não parecer muito importante veremos que ela é fundamental Como nos alerta Sabucedo 1996 ao definirmos essa disciplina estamos apontando diretamente para suas possibilidades e seus limites Assim esse autor nos leva a refletir sobre as diferenças entre uma psicologia política e uma psicologia da política Se falamos de psicologia política nos deparamos com uma disciplina que assume que a psicologia não é algo completamente alheio e à margem da política que a própria psicologia contém teorias políticas Se em vez disso nos referimos a uma psicologia da política estamos ante uma abordagem totalmente diferente Neste último caso a psicologia e a política seriam duas entidades absolutamente diferenciadas A finalidade dessa disciplina a psicologia da política consistiria na aplicação do conhecimento psicológico ao estudo dos fenômenos políticos Esse conhecimento psicológico seria gerado a partir de instâncias científicas que se consideram axiologicamente assépticas e neutras p 19 A psicologia da política estaria identificada portanto com uma abordagem acrítica de psicologia que supõe a possibilidade da neutralidade científica de um conhecimento psicológico objetivo e isento de valores Mais do que isso essa perspectiva defende uma postura neutra por parte do cientista O trabalho de Lasswell considerado o pai da psicologia política na história dessa disciplina escrita pelos autores norteamericanos é um bom exemplo dessa orientação na medida em que buscou encontrar na psicologia as chaves para a compreensão do comportamento político centrando seus estudos nos processos psicológicos individuais e grupais As categorias teóricas que privilegiou na investigação das causas do comportamento apontam com clareza nessa direção personalidade e psicopatologia motivação conflito percepção cognição aprendizagem socialização gênese das atitudes e dinâmica de grupo Um dos grandes problemas na psicologia da política é que promove uma redução da política à psicologia através da psicologização dos fenômenos políticos e da desconsideração das condições sociais e históricas em que eles ocorrem Como Sabucedo 1996 nos alerta essa abordagem introduz um aspecto de fatalismo e de impotência quanto à possibilidade de mudança social Por exemplo A aproximação cognitiva ao tema do preconceito ilustra perfeitamente essa dinâmica Desde o momento em que a categorização é colocada como um processo cognitivo normal e responsável pelos estereótipos se está afirmando que o prejuízo e as condutas de discriminação são inevitáveis O discurso da autodenominada nova direita rótulo sob o qual se enquadram velhas ideias fascistas utiliza esse tipo de abordagem assinalando que o etnocentrismo é uma tendência humana natural p 2223 Essa perspectiva neutra teria portanto consequências políticas que derivam diretamente das conclusões objetivas de seus estudos Isso porque se elegemos como nível de análise o indivíduo ou a psicologia individual as perguntas que faremos e as respostas que obteremos serão limitadas a essa esfera Ou como fica mais claro nas palavras de Kelman 1979 se definimos o problema como um problema psicológico próprio de um determinado grupo de pessoas então o mais provável é desenvolver políticas que incluam estratégias de mudança dessas pessoas e não políticas que modifiquem a estrutura social que possibilita a existência desses problemas p 102 Creio que já está razoavelmente claro o que é a psicologia da política Consequentemente avançamos na direção de esclarecer o que não é a psicologia política Porém é necessário lembrar que a distinção que fazemos nesse texto e que compartilhamos com outros autores não é consensual Há muitos outros notadamente norteamericanos que não distinguem entre as abordagens crítica e acrítica como veremos em seguida ao analisar um pouco da história da disciplina Um pouco de história Não é fácil escrever a história de uma disciplina É necessário escolher os personagens e fatos que serão incluídos ou excluídos o que terá destaque e o que será mencionado apenas de passagem que fontes de informação deverão prevalecer em caso de divergências Enfim há uma multiplicidade de escolhas a fazer É recomendável portanto que se tenha um critério para orientálas assim como clareza quanto às razões que nos levam a adotálo No caso deste texto por exemplo a distinção que fazemos entre psicologia política e psicologia da política exige que tenhamos uma postura crítica em relação às histórias que não estabelecem tal diferença Nesse sentido uma discussão interessante e necessária é colocada por Sabucedo 1996 quando trata da questão da paternidade da disciplina Tanto o pioneiro Handbook of Political Psychology organizado por Knutson 1973 quanto a International Society of Political Psychology consideram Lasswell como o pai da psicologia política Ora como já foi assinalado acima independentemente de seus reconhecidos méritos o trabalho de Lasswell é centrado na perspectiva individualista e acrítica que caracteriza a maior parte da produção norte americana nessa área Contudo na tradição acrítica norteamericana de pensamento psicopolítico na qual foi escrita a história oficial da psicologia política é compreensível a atribuição de paternidade a Lasswell O questionamento cabe aos que não se identificam com essa tradição de pensamento As origens da psicologia política remontam à Grécia Clássica mas não trataremos aqui desse passado distante Já no Renascimento entre os pensadores que se ocuparam em analisar as relações entre os fenômenos psicológicos e políticos não podemos ignorar Maquiavel Suas ideias influenciaram nos últimos séculos tanto o cotidiano das sociedades ocidentais quanto a ação de diversos governantes e a construção do conhecimento nas ciências humanas Para ilustrar o alcance de sua influência bastaria lembrar que foi ele o autor de uma série de máximas e reflexões que foram apropriadas pelo senso comum e incorporadas ao nosso cotidiano como por exemplo a popular expressão os fins justificam os meios e para ele o poder era um fim Mas além disso em O príncipe Maquiavel presenteou seus leitores com diversos ensinamentos sobre como manter o poder político Não é à toa que essa leitura tem servido de referência a poderosos e aspirantes ao poder desde então até os nossos dias No campo da ciência recentes trabalhos sobre o maquiavelismo mostram como esse pensador renascentista continua sendo uma rica fonte de inspiração para novos estudos sobre a questão do poder Mais recentemente nos últimos cem anos são muitos os nomes que podemos citar como precursores da psicologia política Vários deles são familiares aos estudantes de Psicologia porque fazem parte da história dessa área do conhecimento como Le Bon Freud Wundt Fromm e Reich Outros certamente não lhes são estranhos como Weber Durkheim e Adorno6 Considerando porém a psicologia política em seu sentido estrito diferenciada da psicologia da política a principal referência entre esses precursores mais recentes é certamente Adorno através de uma grande investigação sobre a personalidade autoritária publicada em 1950 com seus colegas do Grupo de Berkeley Adorno FrenkelBrunswick Levinson Sanford 19657 No entanto embora a partir da década de 1930 através de diversos estudos e pesquisas tenha começado a se constituir uma base para a sua formalização a psicologia política somente se institucionalizou como uma disciplina independente a partir da década de 1970 Entre os anos 1930 e os anos 1970 foram desenvolvidos diversos estudos sobre atitudes sociopolíticas autoritarismo ideologia e subjetividade poder e influência comunicação de massa propaganda e comportamento eleitoral socialização e participação política entre outros mas não havia ainda nem uma identidade que unificasse os pesquisadores nem o reconhecimento externo de uma totalidade que englobasse esse conjunto de pesquisas Na década de 1970 a psicologia política adquire identidade visibilidade social e presença institucional Entre os diversos acontecimentos que contribuíram para isso Sabucedo 1996 menciona o lançamento do Handbook of Political Psychology KNUTSON 1973 que reunia textos de psicólogos sociólogos e cientistas políticos Incluía também por sinal um capítulo sobre a história da disciplina cujo conteúdo fortalecia a afirmação de autonomia da psicologia política e concedia a Lasswell a sua paternidade Outras publicações foram surgindo nos anos seguintes dando visibilidade e consistência à disciplina Ao mesmo tempo foi se estruturando uma associação entre estudiosos e pesquisadores da área nos Estados Unidos que culminou em 1978 com a criação da International Society of Political Psychology Essa entidade amplamente reconhecida como o principal foro de discussões no âmbito da psicologia política até os nossos dias realiza reuniões científicas anuais e publica a revista trimestral Political Psychology Fica evidente pelo acima exposto que a história da psicologia política como disciplina autônoma e reconhecida nos círculos acadêmicos deve muito aos pesquisadores norteamericanos Consequentemente a história oficial da disciplina se confunde com frequência com a sua história nos Estados Unidos É importante ter clareza disso para compreender que uma outra história vem sendo escrita em outros países na Europa e na América Latina É nessa outra história que surge a distinção com a psicologia da política A psicologia política na América Latina e no Brasil uma breve notícia A predominância de outras tradições de pensamento em países europeus e latinoamericanos produziu é óbvio outras perspectivas outras abordagens aos problemas psicopolíticos A história recente desses países especialmente o fim de diversas ditaduras e a reconquista de liberdades democráticas desafiou e estimulou os pesquisadores a se ocuparem de problemas muito diversos daqueles próprios da realidade norteamericana Na América Latina o desenvolvimento da psicologia política é mais recente datando da década de 1980 É claro que também aqui tivemos precursores trabalhos isolados que abordaram as relações entre psicologia e política mas ainda sem constituir no seu conjunto uma disciplina autônoma Uma característica marcante desse desenvolvimento entre nós pesquisadores latino americanos é que ele se deu em resposta a necessidades sociais concretas Ardila 1996 enumera como principais abordados pelos pesquisadores em nosso contexto movimentos sociais democracia modernização identidade nacional participação política comportamento eleitoral consciência política conflito negociação alienação dependência liderança tortura nacionalismo internacionalismo autoritarismo movimentos ecológicos e ambientalistas luta de classes relação do Terceiro Mundo com o Primeiro e o Segundo meios de comunicação de massa com a sua influência sobre decisões políticas participação papel da mulher e socialização política de crianças e adolescentes p 339 Ardila 1996 destaca Freud e Marx como influências marcantes no desenvolvimento da psicologia política latinoamericana e os nomes de Maritza Montero da Universidade Central da Venezuela e de Ignacio MartinBaró falecido em 1989 como seus principais autores Ainda segundo esse autor México Chile Venezuela Porto Rico Costa Rica e Colômbia são os países onde a disciplina se encontra mais desenvolvida mas o Brasil Argentina e El Salvador também contribuem com trabalhos importantes à construção dessa área de conhecimento No Brasil a psicologia política ainda se encontra em fase de afirmação enquanto disciplina autônoma Sua presença nos espaços institucionais ainda é tímida Embora nos anais de diversas reuniões científicas da Psicologia principalmente da Abrapso possam ser identificados muitos estudos e pesquisas que se inserem nessa área de conhecimento a identidade da disciplina e a identificação da maioria dos pesquisadores com a mesma ainda está em construção A consolidação da psicologia política entre nós exige um resgate da sua história no contexto brasileiro e um panorama completo da situação atual Da mesma forma é necessário que conquiste uma maior visibilidade acadêmica e social através da presença nos currículos de graduação e pósgraduação e principalmente que sejam fortalecidos os grupos de pesquisa já existentes e que seja estimulada a criação de novos Para concluir não poderia deixar de assinalar que há muitos nomes que deverão ser mencionados como personagens importantes quando contarmos a nossa história da psicologia política no Brasil Fica assim como convite e desafio a outros pesquisadores que estejam empenhados em resgatar a importância dessa área de conhecimento para a construção de uma sociedade mais igualitária Sugestão de leituras Para ir um pouco mais adiante na exploração dessa fascinante área de conhecimento que é a Psicologia Política sugerese algumas leituras abaixo referenciadas O critério adotado para escolhêlas foi a sua utilidade para um mapeamento do território da disciplina em geral e no Brasil Não seguem necessariamente a mesma linha teóricometodológica Constituem um bom começo e espero que estimulem a avançar Boa leitura Em Português PENNA Antônio Gomes Introdução à psicologia política Rio de Janeiro Imago 1995 SANDOVAL Salvador AM O comportamento político como campo interdisciplinar de conhecimento a reaproximação da Sociologia e da Psicologia Social In CAMINO Leôncio LHULLIER Louise SANDOVAL Salvador AM org Estudos sobre comportamento político Florianópolis Letras Contemporâneas Abrapso 1997 Algumas reflexões sobre cidadania e formação de consciência política no Brasil In SPINK Mary Jane org Cidadania em construção uma reflexão transdisciplinar São Paulo Cortez 1994 PONTE DE SOUZA Fernando Histórias inacabadas um ensaio de Psicologia Política Maringá Editora da UEM 1994 CAMINO Leôncio Uma abordagem psicossociológica no estudo do comportamento político Psicologia e Sociedade 81 1642 janjun 1996 CAMINO Leôncio MENANDRO Paulo RM Apresentação geral In CAMINO Leôncio MENANDRO Paulo RM orgs A sociedade na perspectiva da psicologia questões teóricas e metodológicas Rio de Janeiro Associação nacional de Pesquisa e PósGraduação em Psicologia Anpepp 1996 FREITAS MFQ Contribuições da psicologia social e psicologia política ao desenvolvimento da psicologia social comunitária Psicologia e Sociedade 8l63 82 janjun 1996 LHULLIER Louise A A psicologia política e o uso da categoria Representações Sociais na pesquisa do comportamento político In ZANELLA Andréa SIQUEIRA Maria Juracy T LHULLIER Louise A MOLON Suzana orgs Psicologia e práticas sociais Porto Alegre Abrapsosul 1997 GUARESCHI Pedrinho Qual a prática da psicologia social da ABRAPSO In ZANELLA Andréa SIQUEIRA Maria Juracy T LHULLIER Louise A MOLON Suzana orgs Psicologia e práticas sociais Porto Alegre Abrapsosul 1997 CROCHIK José Leon A impossibilidade da psicologia política In AZEVEDO Maria Amélia MENIN Maria Suzana De Stefano Psicologia e política reflexões sobre possibilidades e dificuldades deste encontro São Paulo Cortez Fapesp 1995 Em espanhol SABUCEDO CAMESELLE José Manuel Psicologia política Madri Editorial Síntesis 1996 SEOANE Júlio RODRÍGUEZ Ángel Psicologia política Madri Ediciones Pirâmide 1988 Em inglês ARDILA Ruben Political psychology the Latin American perspective Political Psychology 172 339351 jun 1996 Bibliografia ADORNO TW FRENKELBRUNSWICK E LEVINSON DJ SANFORD RN La personalidad autoritária Buenos Aires Proyección 1965 ARDILA Ruben Political psychology the Latin American perspective Political Psychology 172 339351 jun 1996 BOBBIO N et al Dicionário de política Vol I Brasília EdUNB 1992 KELMAN HC Ethical imperativos and social responsability in the oractice of political psychology Political Psychology 1 100102 1979 KNUTSON JN Handbook of political psychology San Francisco JosseyBass 1973 LANE STM CODO Wanderley orgs Psicologia social o homem em movimento São Paulo Brasiliense 1986 LASSWELL HD Psychopatology and politics Chicago The University of Chicago Press 1930 SABUCEDO CAMESELLE José Manuel Psicologia política Madri Editorial Síntesis 1996 6 Muitos outros nomes poderiam e deveriam ser citados e comentados para que se fizesse justiça a esses precursores Não é possível fazêlo no entanto no espaço desse capítulo Aqueles que se interessarem por esse tema precisarão recorrer à bibliografia indicada ao final especialmente a Sabucedo 1996 que também servirá como fonte de referência a outros autores 7 Esse trabalho se constituiu na verdade num conjunto de estudos conduzidos por diferentes pesquisadores de base teórica psicanalítica que buscou identificar relações entre personalidade a personalidade autoritária e ideologia fascismo PARTE 3 EXPERIÊNCIAS PSICOLOGIA SOCIAL E ESCOLA Andréa Vieira Zanella A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto Paulo Freire 1981 p 12 Partindo do que nos aponta Paulo Freire solicito que o leitor me acompanhe na tarefa de buscar as relações entre o texto e o contexto o texto aqui proposto o qual diz respeito à atuação do psicólogo no espaço escolar em uma perspectiva social crítica e o contexto que se refere tanto à história da psicologia escolar no Brasil quanto às suas implicações sociais e políticas Gostaria inicialmente de destacar a própria dificuldade com o título Afinal várias são as terminologias adotadas Psicologia Escolar Psicologia Educacional Psicologia da Educação Psicologia na Educação Goulart 1987 e Davis e Oliveira 1992 apresentam razões para essas diferentes terminologias e com certeza leitores ávidos em identificálas poderão recorrer à bibliografia indicada De nossa parte interessa demarcar que a diversidade e complexidade da atuação do psicólogo afinal são tantas as chamadas áreas de atuação escolar organizacional do esporte clínica jurídica comunitária etc têm revelado ao que parece como cada vez mais inadequada a discussão sobre essas áreas de atuação tal qual vinha acontecendo isto é como áreas estanques separadas com arcabouço técnico e teórico delimitado Para complicar ainda mais os leitores iniciantes na área há uma diversidade enorme de orientações teóricometodológicas No que diz respeito à atuação do psicólogo os esforços na delimitação de espaços tão demarcados têm sérias implicações sendo que me parece importante assinalar ao menos uma a não reflexão sobre as consequências sociais e políticas dessas ações Isto porque se concordamos que o texto se relaciona com o contexto que por sua vez se relaciona com o texto certamente entendemos que nossas ações sempre e necessariamente resultam de situações e concomitantemente contribuem para a constituição de novos contextos Cabe pois refletir sobre esse novo contexto que estamos produzindo A discussão da psicologia enquanto áreas de atuação nos parece pois deslocada Afinal como nos aponta Eizirik 1988 p 33 Não é o lugar que define a postura de um profissional embora nem todos pensem assim é antes a capacidade de refletir criticamente sobre teorias métodos e práticas avaliando resultados e pensando acerca das necessidades do país em que nos encontramos Espero que essas colocações iniciais ajudem o leitor a entender por que o título se refere à atuação do psicólogo na escola o local é demarcado mas a atuação profissional que defendemos é necessariamente múltipla posto que assim se caracteriza a realidade Psicologia e educação uma longa história Continuando a nossa conversa fazse necessário destacar alguns dados ainda que breves a respeito das contribuições da psicologia à educação Apesar de nova enquanto ciência e profissão vale lembrar que seu reconhecimento no Brasil data de 1962 a presença da psicologia já era realidade em nosso país desde o final do século passado e início deste século seja através das teses de conclusão de curso defendidas por médicos da Bahia e Rio de Janeiro seja como disciplina nos cursos de formação de professores YAZZLE 1990 Contextos diferentes mas com uma mesma perspectiva teórico metodológica a do ajustamento da identificação de distúrbios sejam estes de personalidade de conduta de aprendizagem visando à correção dos mesmos ou então à sua prevenção Sob essa ótica a psicologia exerceu sobre a educação uma influência bastante nefasta pois os problemas de escolarização passaram a ser localizados basicamente nos próprios alunos e em suas famílias geralmente vistas como desorganizadas e desestruturadas ANDALÓ 1997 p 169 Desse modo mais do que contribuir com a superação do fracasso escolar a psicologia historicamente contribuiu para a legitimação do mesmo e consequentemente para a manutenção da ordem social vigente Isto na medida em que os problemas sociais eram reduzidos a problemas psiquiátricos sendo o sujeito visto como doente mental em potencial Com a regulamentação da profissão os serviços de psicologia junto às instituições escolares caracterizaramse por essa perspectiva a qual ainda não foi superada Tanto isso é verdade que em um jornal de uma associação de profissionais da área1 encontramos a seguinte referência à atuação do psicólogo É preciso que nos manifestemos a respeito do nosso perfil profissional que mostremos o quanto podemos fazer sob a ótica da saúde e do desenvolvimento que convençamos a todos de que o desenvolvimento de uma criança e de um jovem em um adulto sadio requer atenção e cuidados especiais de uma grande equipe de técnicos e que o psicólogo escolar é parte fundamental dessa equipe Ao mesmo tempo é preciso que convençamos a todos de que um desenvolvimento saudável na infância previne desajustamentos na idade adulta ou melhor que quando jovens aprendem a identificar e a lidar com seus pesadelos eles previnem problemas futuros Sob essa ótica a atuação pautase portanto em uma perspectiva preventivo curativa em que os conhecimentos da psicologia são utilizados fundamentalmente para o diagnóstico e intervenção junto a alunos que apresentam as chamadas dificuldades de aprendizagem Ao psicólogo é atribuída pois uma função eminentemente técnica Em contraposição temos a atuação do psicólogo em uma perspectiva social crítica o que caracteriza as discussões e trabalhos que vêm sendo desenvolvidos pelos profissionais ligados à Abrapso Associação Brasileira de Psicologia Social Partindo da compreensão de que o homem é social e historicamente constituído e concomitantemente caracterizase como produtor de cultura e história a intervenção do psicólogo na escola pautase na análise das situações educativas em sua complexidade considerando os vários aspectos aí envolvidos históricos econômicos políticos sociais etc Uma breve análise destas diferentes perspectivas de atuação junto às instituições escolares é o que apresentaremos a seguir Psicólogo escolar Técnico da Educação Desde a sua inserção nas escolas o psicólogo tem sido geralmente considerado como um técnico que juntamente com os demais especialistas da educação orientadores supervisores e administradores escolares contribui para a maximização do processo ensinoaprendizagem A concepção desse trabalho como especialismo técnicocientífico tem se prestado no entanto a fins distintos do que os apregoados Compreender essa outra função nos remete à história da divisão social do trabalho DST fenômeno que se consolidou no século passado Como nos esclarece Coimbra 1990 p 10 mais do que em decorrência das necessidades tecnológicas a DST originada nas fábricas é explicada pela necessidade de fiscalizar hierarquizar e disciplinar os trabalhadores delegando a estes funções cada vez mais distanciadas dos meios e do processo de produção como um todo Essa função de fiscalização é assumida portanto pelo pessoal técnico No entanto mais do que técnica a função destes é claramente política pois consiste em perpetuar a dependência dos operários sua subordinação sua separação dos meios e do processo de produção GORZ in COIMBRA 1990 p 10 No contexto educacional brasileiro essa DST foi acentuada na década de 1970 no auge do regime militar na época do chamado milagre econômico brasileiro Através da lei 569271 os especialistas da educação traziam consigo a proposta de modernização da escola herdada do taylorismo Aos técnicos tidos como detentores do saber caberia a função de assessorar os professores os que não sabem Aos primeiros pois caberia a função de planejamento enquanto os docentes eram tidos como os executores Essa perspectiva aparece claramente em trabalhos que versam sobre o papel do psicólogo escolar e que tem sido amplamente discutidos e divulgados em cursos de formação do psicólogo em todo o Brasil como é o caso do texto de Reger Para este autor o objetivo básico do psicólogo escolar consiste em ajudar a aumentar a qualidade e a eficiência do processo educacional através da aplicação dos conhecimentos psicológicos Enquanto educador comprometido com a identidade do acadêmico o psicólogo escolar pode tentar ensinar a outros profissionais no sistema escolar REGER 1989 p 1415 grifo nosso Essa perspectiva ainda é compartilhada por grande parte dos profissionais que atuam em escolas ou que discutem a questão conforme apontamos anteriormente Desse modo assumindo uma atuação eminentemente técnica o psicólogo mais do que contribuir com a escola na discussão de seus impasses legitima a hierarquização do trabalho assumindo função de controle Nesse sentido nega aos demais professores alunos orientadores pais diretores merendeiras etc a possibilidade de se perceberem como corresponsáveis tanto pela realidade encontrada quanto por um projeto social outro que se queira construir Superar essa atuação politicamente comprometida com a manutenção do status quo vigente requer deste profissional entre outras coisas a compreensão do caráter histórico da divisão social do trabalho Desse modo este poderá atuar no sentido de desmistificar esses territórios tão bem marcados e fechados do não saber e saber para que outros saberes possam fluir e circular saberes que não seriam monopólio de uns poucos COIMBRA 1990 p 14 O psicólogo na escola Para além da função técnica Repensar o papel do psicólogo requer como foi apontado acima superar a visão técnica Mas afinal se a função do psicólogo não é técnica ou não somente técnica como podemos entendêla Toda e qualquer ação humana aí incluindose o quefazer psicológico é sempre e necessariamente política pessoal social e histórica É nesse sentido concomitantemente afetiva cognitiva social motora posto que em toda e qualquer situação apresentamonos como um todo enquanto sujeitos histórica e socialmente constituídos e ao mesmo tempo como constituidores ativos do contexto no qual nos inserimos A nossa ação portanto está sempre comprometida tenhamos consciência disso ou não com um projeto de sociedade Desse modo necessária se faz a reflexão crítica constante sobre a nossa atuação Por sua vez as perguntas críticas que os psicólogos devem se formular a respeito do caráter de sua atividade e portanto a respeito do papel que está desempenhando na sociedade não devem centrarse tanto no onde mas no a partir de quem não tanto em como se está realizando algo quanto em benefício de quem e assim não tanto sobre o tipo de atividade que se pratica clínica escolar industrial comunitária ou outra mas sobre quais são as consequências históricas concretas que essa atividade está produzindo MARTINBARÓ 1997 p 22 Considerando essas questões como pode então ser entendida a atuação do psicólogo junto às instituições escolares Recorro a Paulo Freire 1983 que há muito nos alertou para o fato de que cabe aos profissionais de um modo geral e aos profissionais que atuam na educação como é o caso constituíremse como trabalhadores sociais historicamente comprometidos com o processo de mudança Desse modo o psicólogo entendido como trabalhador social teria como papel atuar e refletir com os indivíduos para conscientizarse junto com eles das reais dificuldades da sua sociedade FREIRE 1983 p 56 Nesse processo de atuação conjunta de produção coletiva de uma nova práxis educativa o psicólogo pode contribuir em muito com a análise e redimensionamento das relações sociais que se estabelecem no contexto educacional E por que essa questão é importante As relações sociais caracterizamse como palco onde as significações são coletivamente produzidas e particularmente apropriadas É pois nas relações sociais que os homens constituemse enquanto sujeitos enquanto capazes de regular a própria conduta e vontade Tal compreensão vem ao encontro dos postulados de Vygotsky 1987 o qual esclarece que as funções psicológicas superiores2 são constituídas nas e pelas relações que o homem estabelece com outros homens num movimento dialético que compreende o social e o particular sendo ambos mutuamente constitutivos As relações sociais entabuladas no contexto escolar por sua vez organizam se em razão das atividades que caracterizam a própria escola o ensinar e o aprender Ao falarmos em redimensionamento das relações sociais enfatizamos pois a necessidade de que essas possibilitem a todos a concretização com pleno êxito das atividades citadas de modo a que o acesso ao conhecimento historicamente produzido possa efetivamente ser prerrogativa de todos A atuação de psicólogo caracterizase nesse sentido como ação voltada para a cidadania sendo esta entendida enquanto possibilidade de os indivíduos se apropriarem dos bens socialmente criados de atualizarem todas as possibilidades de realização humanas abertas pela vida social em cada contexto historicamente determinado COUTINHO 1994 p 14 Desse modo procurando conhecer a realidade escolar como um todo com suas múltiplas determinações o psicólogo pode contribuir para o repensar da escola na medida em que redimensiona sua própria atuação e contribui para que os demais integrantes desta reflitam também sobre a forma como ageminteragem frente ao real Estaria assim contribuindo efetivamente para a transformação social pois como nos esclarece Freire 1983 p 50 no momento em que os indivíduos atuando e refletindo são capazes de perceber o condicionamento de sua percepção pela estrutura em que se encontram sua percepção muda embora isso não signifique ainda a mudança da estrutura Mas a mudança da percepção da realidade que antes era vista como algo imutável significa para os indivíduos vêla como realmente é uma realidade históricocultural humana criada pelos homens e que pode ser transformada por eles O compromisso do psicólogo no contexto educacional deve ser portanto com a superação da dicotomia planejamentoexecução que alija os professoresos alunosos paisas faxineiras e outros da possibilidade de conhecimento imputando a estes o posto da submissão do não ser capaz do não saber Às relações de dominaçãosubmissão contrapõemse as relações de cooperação marcadas por laços de solidariedade e pelo compromisso com uma sociedade não exclusora onde os direitos civis políticos e sociais possam efetivamente ser prerrogativa de todo cidadão O quefazer psicológico crítico no contexto escolar caracterizase portanto como ação pautada pela indignação em relação a toda e qualquer forma de violência como ação que se opõe aos processos de exclusão social e nesse sentido ao fracasso escolar A atuação que se almeja é comprometida assim com um projeto de realidade que busca para todos uma vida mais digna de ser vivida CROCHIK 1992 Sugestão de leituras Entendendo a atuação do psicólogo como múltipla posto que assim se caracteriza a realidade várias são as leituras que poderiam ser indicadas Apontarei aqui algumas que me parecem importantes destacando que certamente muitas outras igualmente relevantes poderiam aqui constar Dois livros já considerados clássicos e indispensáveis ambos de Maria Helena Souza Patto são Psicologia e ideologia São Paulo TA Queiroz 1984 e A produção do fracasso escolar São Paulo TA Queiroz 1990 Mais recente temos o livro Psicologia escolar em busca de novos rumos São Paulo Casa do Psicólogo 1997 organizado por Adriana M Machado e Marilene PR de Souza A respeito do sucesso escolar uma coletânea de textos importantes e críticos encontrase no Cadernos Cedes n 28 editado pela Papirus Por fim textos que caracterizam a perspectiva da Abrapso podem ser encontrados na revista Psicologia e Sociedade e no livro Psicologia e práticas sociais este editado pela Regional Sul da Abrapso Bibliografia ANDALÓ Carmen S Psicologia e educação In ZANELLA AV et al Psicologia e práticas sociais Porto Alegre Abrapsosul 1997 COIMBRA Cecília A divisão social do trabalho e os especialismos técnico científicos Revista do Departamento de Psicologia da UFF a II n 2 1 sem 1990 COUTINHO Carlos N Cidadania democracia e educação In BORGES A et al Escola Espaço de construção da cidadania São Paulo FDE 1994 CROCHIK José Leon Notas sobre a relação éticapsicologia Psicologia ciência e profissão CFP a12 n 2 1992 DAVIS Cláudia OLIVEIRA Zilma Psicologia na educação São Paulo Cortez 1992 EIZIRIK Marisa F Psicologia hoje uma análise do quefazer psicológico Psicologia ciência e profissão a8 n 1 1988 FIGUEIREDO Luís Cláudio Matrizes do pensamento psicológico Petrópolis Vozes 1991 FREIRE Paulo A importância do ato de ler em três artigos que se complementam São Paulo Cortez 1990 Educação e mudança São Paulo Paz e Terra 1983 GOULART Íris Barbosa Psicologia da educação fundamentos teóricos e aplicações à prática pedagógica Petrópolis Vozes 1987 MARTINBARÓ Ignacio O papel do psicólogo Estudos de Psicologia a2 n l 1997 REGER Roger Psicólogo escolar educador ou clínico In PATTO MHS org Introdução à psicologia escolar São Paulo TA Queiroz 1989 VYGOTSKY Lev Semionovitch História del desarrollo de las funciones psíquicas superiores La HabanaCuba CientíficoTécnica 1987 YAZZLE Elisabeth G A formação do psicólogo escolar no estado de São Paulo subsídios para uma ação necessária São Paulo 1990 Dissertação mestrado PUCSP 1 Jornal Abrapee Nacional Ano 5 Vol 1 e 2 jandez 1996 2 De acordo com Vygotsky 1987 as funções psicológicas superiores são funções caracteristicamente humanas socialmente constituídas que se pautam pela mediação dos signos PSICOLOGIA SOCIAL NO TRABALHO Carmem Ligia Iochins Grisci Gislei Romanzini Lazzarotto O nosso dia a dia constituise de práticas e elas são alicerçadas a partir das mais diversas inserções que se estabelecem Sobre elas no entanto nem sempre se debruça um olhar mais apurado e em razão disso podese incorrer na ideia de que uma prática é algo que acontece desconectado de sentidos Há de se considerar contudo que uma prática não só representa o mundo como inventa o mundo Derivada do latim praticare prática significa agir tratar com as gentes vocábulo praticar FERREIRA 1986 Neste sentido uma prática jamais prescindirá de uma relação e de uma ética GUARESCHI 1995 Uma prática é social porque constitui a realidade que por sua vez é múltipla porque toma o sujeito como algo em contínua construção porque os modos de pensar do sujeito não se dão dissociados dos modos de pensar do mundo e da cultura na qual se inscreve A prática profissional e científica não se coloca portanto como meramente tecnicista devendo estar ciente de que não só transforma o sujeito que a pratica como também o mundo O corpo de conhecimento da psicologia social é sem dúvida recortado por valores Independentemente do recorte no entanto a ética sempre se fará presente Portanto diz respeito a que psicologia falamos e de que sociedade nos propomos a construir Nem sempre a psicologia norteou suas práticas no sentido de considerar a ética No que se refere ao trabalho a psicologia contribuiu muito para que o mérito e o fracasso por exemplo fossem vistos como características que dissessem respeito única e exclusivamente aos sujeitos individuais No que se refere à saúde sabemos que a atuação da psicologia voltouse prioritariamente para a classificação dos sujeitos em saudáveis ou não saudáveis aptos ou inaptos ao trabalho atentos ou desatentos diante de riscos do cotidiano e assim por diante Ao agir desta maneira a psicologia debruçouse mais para a produção em busca de resultados do que para o trabalho e osas trabalhadoresas Desta forma tornou suas práticas um dos fatores mantenedores de uma estrutura social tida como natural e inevitável Dimensões constitutivas do sujeito tais como classe social gênero raçaetnia foram deixadas à margem das práticas vigentes relacionadas a trabalho tendo como consequência sua fragmentação e marginalização O interesse dominante além de privilegiar apenas algumas das condições visíveis do trabalho tratava de invisibilizar outras tantas características com repercussões diretas à saúde dos sujeitos Notase que desta maneira o tripé psicologia trabalho e saúde evidencia se enquanto prática de uma relação de dominação em que alguns expropriam as possibilidades que outros têm de construir e de se construírem no cotidiano da vida Esta relação assimétrica define o que muitos hoje chamam de ideologia THOMPSON 1995 A partir da coerência ideológica permeada neste tripé assim caracterizado resta aoa trabalhadora a doença A respeito da doença sim é permitido aoà trabalhadora deter o conhecimento de seu processo de produção e elea realmente a detém como é possível observarmos dos detalhamentos provenientes de suas explanações Um processo mais ou menos lento desde seu desencadear até a instalação completa que dentro da tradição que culpa e individualiza oa trabalhadora somente a elea diz respeito ficando a Psicologia com o papel de classificálo Através de suas falas os trabalhadoresas ilustram formas pelas quais o trabalho que realizam lhes traz prejuízos à saúde Como evidência disso registram que ao ingressarem no trabalho eram normais e saudáveis mas que ao longo do tempo perderam tais características Assumir a dor normal do trabalho como algo de sua única e exclusiva responsabilidade é comum entre esses trabalhadoresas que estimulados pela tradição dominante se culpam pela falta de um organismo resistente ou por não se terem cuidado LAZZAROTTO 1992 Decorrente destes equívocos legitimouse o descrédito da palavra dos sujeitos do trabalho pela organização do trabalho organização esta que planeja e executa sem minimamente considerar as interferências impostas em sua vida causando assim o sofrimento individual e o adoecimento coletivo da classe trabalhadora em resposta à ideologia da vergonha e do fracasso tal como considerado por Christophe Dejours 1988 1994 É possível que na ilusão de uma única verdade a busca por fórmulas oriundas de um fazer já concebido estipulado e executado ainda se manifeste No entanto num mundo em mudança constante e veloz a busca por novas possibilidades pelo respeito das singularidades pela compreensão de que trabalho também pode ser uma experiência digna e de prazer mostrase urgente Embora nem sempre mensurável ou passível de completa apreensão a nova ordem do trabalho traz implicações diretas aosàs trabalhadoresas nas mais diversas dimensões que compõem a vida Toda e qualquer prática eticamente comprometida deveria a princípio e por princípio caracterizarse enquanto prática contextualizada social e historicamente sob o risco de análises incompletas e deturpadas A ideia ainda muito presente de uma Psicologia dividida em áreas específicas de atuação geralmente marcada por estereótipos compromete tanto o reconhecimento social da profissão quanto a articulação dos próprios psicólogosas Resgatar a história de nossa própria construção é fundamental para que não nos coloquemos tão somente enquanto aplicadores de conhecimentos mas como fazedores de conhecimento não somente reprodutores de técnicas mas produtores de novos modos de fazer Para além dos modos tradicionais do fazer psicologia em relação ao trabalho A psicologia tem no que se refere ao trabalho possibilidades cruciais Basta que se admire e inquiete diante da realidade de trabalho experienciada por cada trabalhadora Sua importância evidenciase principalmente na possibilidade de resgatar a fala abafada enquanto medida de anulação dosas trabalhadoresas através da capacidade de escuta das experiências geradoras de sofrimento vivenciadas no dia a dia do trabalho GUARESCHI GRISCI 1993 Desta capacidade de escuta derivamse novas possibilidades de relação Entre elas nos deparamos com a passagem de uma situação de alienação doa trabalhadora para uma situação de consciência crítica produzida no resgate de seus modos de pensar sentir e vivenciar Tal resgate poderá constituirse em novos modos de experienciar o trabalho proveniente dos próprios trabalhadores e trabalhadoras no que diz respeito à reconstrução de seus vínculos enquanto classe trabalhadora com o próprio trabalho e com quem compartilham a vida A ordem social que se globaliza e se complexifica vem dinamizando representações sociais do trabalho diferenciações nos modos de organizálo e complexificações produtivas que acarretam distinções no mundo do trabalho e dosas própriosas trabalhadoresas sobre os quais contexto e sujeito a psicologia não pode se furtar de lançar o olhar Atenta à interdisciplinaridade em função da complexidade de objetos a psicologia deve buscar novas fontes e novos referenciais Há de se discutir acerca daquelesas que trabalham conforme proposto no livro organizado por Eduardo Davel e João Vasconcelos 1996 São elesas trabalhadoresas ou recursos humanos São elesas descartáveis ou recicláveis Como vimos anteriormente as lógicas que deram sentido às práticas psicológicas nem sempre se voltaram para esta discussão A questão do gênero dono trabalho por exemplo não recebeu destaque pelo conhecimento ciência e profissão até os movimentos feministas No entanto a divisão sexual do trabalho produzreproduz desigualdades sociais que vão para além do espaço de realização do trabalho SOUZALOBO 1991 Além disso desde a década de 1970 o interesse acerca das consequências das inovações tecnológicas centravamse nos efeitos mais visíveis de tais inovações sendo que a busca pelo conhecimento do que elas representam para osas trabalhadoresas mantevese marginalizada ITANI 1997 Tal constatação encontra eco na atual desordem do trabalho MATTOSO 1995 que indica mais para a perda de direitos o desemprego e a marginalização entre outros do que para a libertação daquelesas que trabalham Embora não mais apresentados como aquelesas trabalhadoresas massificadosas que o fordismo cunhou osas trabalhadoresas de hoje encontramse numa nova ordem de massificação A ordem da massa dosas excluídosas que aumenta vertiginosamente as filas do desemprego devido a um mundo do trabalho que não mais necessita de sua força para se movimentar FORRESTER 1997 Em relação às novas tecnologias observase que por mais que elas proporcionem maior produção em menor tempo não libertam osas trabalhadoresas uma vez que o que estesas ainda vendem é o seu tempo de trabalho Conforme Paulo Maya 1996 no contexto das sociedades capitalistas industrializadas mesmo as periféricas como o Brasil o tempo livre foi incorporado ao processo produtivo obedecendo às mesmas regras da lógica de produção de mercadorias que regem o tempo de trabalho dos indivíduos No mundo do trabalho particularmente observase que mudanças expressas nos processos de virtualização propiciados pela informática a comunicação instantânea e globalizada a rapidez dos fluxos as empresas virtuais indicam para novos modos de ser que têm gerado experiências traumáticas nos sujeitos do trabalho com implicações imediatas à sua saúde Reestruturações do trabalho apresentam mensagens duplas aosas trabalhadoresas tais como competiçãocooperação submissão a regrascriatividade individualismotimes controle externocontrole interno requerendo delesas por sua vez reestruturações psíquicas Discursos bem elaborados indicam formas diferenciadas de gestão como o neotaylorismo o tecnoburocrático o baseado na excelência e o participativo entre outros CHANLAT 1996 Embora estas formas repercutam direta e diferenciadamente na saúde dosas trabalhadoresas o que se observa é que elas não minimizam seus sentimentos de estar em constante falta em constante despreparo em constante insegurança frente às possibilidades de exclusão do mercado de trabalho em transformação Pelo contrário elas são acréscimos às conhecidas preocupações que assombraram e assombram a classe trabalhadora Tal quadro merece a nosso ver ser amplamente considerado pela psicologia voltada ao âmbito do trabalho no sentido de compreender e intervir nos possíveis efeitos sociais e subjetivos dele decorrentes Ainda mais que embora o conteúdo do trabalho tenha sido enriquecido em determinados aspectos e setores exigindo uma melhor qualificação não é possível ignorar que um grande número de trabalhadores continua a executar atividades fragmentadas sem sentido e de baixa qualificação Além disso não podemos nos esquecer de que as novas políticas de pessoal tentam a sua maneira normalizar os comportamentos e o pensamento o que coincide inegavelmente com o ideal taylorista LIMA 1996 p 42 A importância de se ampliar escutas e olhares sobre estas questões faz parte de múltiplos esforços Esforços estes tomados no sentido de pluralizar a compreensão da realidade social de identificar diferençasigualdades que permeiam o universo da classe trabalhadora para que a saúde ou a falta dela não se centre unicamente na culpabilização dos indivíduos como consequência de seu não ajustamento à nova ordem social Alguns exemplos do fazer psicologia em relação ao trabalho Práticas profissionais e científicas em psicologia social tais como pesquisas e consultorias realizadas com trabalhadoresas em diferentes inserções no período de 1994 a 1997 no Rio Grande do Sul visando abordar a questão saúde a partir de um recorte que torne visíveis os riscos aos quais os sujeitos se expunham no dia a dia tanto no espaço territorializado do trabalho quanto na comunidade e nos movimentos sociais evidenciam que a possibilidade de uma prática não meramente tecnicista é viável Seguem alguns exemplos 1 Em uma pesquisa que visava relacionar gênero saúde e risco no cotidiano do trabalho realizada num Hospital de Clínicas Veterinárias GRISCI PIVETTA GOMES 1997 comprovouse que se osas trabalhadoresas devem ser vistos desde a perspectiva do gênero inclusive os espaços de trabalho e o mesmo propriamente dito se colocam nesta perspectiva Embora tanto os homens quanto as mulheres estejam expostos aos riscos dono trabalho eles são representados sentidos e vividos de uma forma diferenciada desde a perspectiva do gênero Cabe aos homens a preocupação para com os riscos visíveis e que tragam danos materiais imediatos ao físico e às mulheres a preocupação para com os riscos invisíveis e que possam trazer danos igualmente invisíveis em um tempo futuro Essa investigação além de descrever os riscos do cotidiano do trabalho no hospital através da construção de mapa de riscos permitiu elucidar que eles não somente extrapolam o âmbito do corpo físico e do território do trabalho como também causam interferências na qualidade de vida e nas relações dos sujeitos cabendo às estratégias defensivas DEJOURS 1994 um papel importante no sentido de possibilitar entender que se osas trabalhadoresas não estão se protegendo dos riscos com atitudes e equipamentos concretoscorretos de proteção o estão fazendo psicologicamente Contudo sabemos que esta proteção longe de proteger efetivamente alimenta comportamentos de exposição aos riscos por parte dosas trabalhadoresas e alimenta a falta de medidas na estrutura para eliminar os riscos 2 Nossa experiência relativa à formação de cipeiros membros das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes numa proposta de organização sindical revelou a necessidade de repensar a noção de saúde a partir das relações de produção de bens materiais e serviços e reprodução alimentação vestuário moradia educação lazer etc uma vez que saúde limitavase a aspectos que diziam respeito unicamente aos indivíduos isoladamente O darse conta de que as relações estabelecidas causavam adoecimento dono trabalho e consequente exclusão dono trabalho extrapolava tradicionais análises meramente condicionadas a definir atos ou condições inseguras A possibilidade de estabelecer relações entre as formas de trabalhar e as formas de viver traz como consequência a noção de que somos ao mesmo tempo seres singulares e coletivos inseridos num contexto de relações sociais O resgate do significado das próprias ações revelase no discurso sobre as atividades desenvolvidas com estesas trabalhadoresas ao avaliarem que aprenderam e ensinaram muitas coisas sobre o trabalho o ser cipeiro e a vida Tornase claro portanto que ensinar e aprender é algo que se dá em conjunto e que remete ao social A valorização do próprio conhecimento e do conhecimento do outro apresentase como um espaço de afirmação da existência da identidade destesas trabalhadoresas mostrando que é o mesmo sujeito quem ensina e quem aprende Destacase ainda a percepção de que até então oa cipeiroa sentiase somente como aquele responsável por cobrar dos colegas o ato inseguro reproduzindo uma forma ideológica de agir frente aos acidentes do trabalho 3 Em pesquisa que investiga as representações sociais do acidente de trabalho entre trabalhadores da construção civil três dimensões principais foram evidenciadas em relação à ocorrência de tais acidentes fatalismo destino sorte ou azar individualismo descuido desatenção ou características psicológicas individuais e determinadas mediações trabalho perigoso medo pressa falta de equipamento de proteção coerção desafio Estas mediações se colocam como um espaço negado pelos trabalhadoresas e eles só falam delas quando se insiste em que se procurem as verdadeiras razões dos acidentes Assim por exemplo quando perguntados por que tinham se acidentado a resposta imediata em 80 dos casos era porque me descuidei minha culpa foi um azar não tive sorte meu destino Mas discutindo mais a fundo o fato eles referem outras razões que levam aos acidentes porque o patrão mandou apurar o serviço para entregar a obra ou porque ele foi chamado a fazer outro serviço e na volta o andaime caiu porque tinha esquecido de prender e ainda mais se não se arriscasse não era considerado suficientemente viril etc Isso evidencia uma ideologia de individualismo e fatalismo escondendo as verdadeiras razões dos acidentes As representações sociais do trabalho circunscrevemse desta maneira no que o autor denomina como Minha culpa meu destino POSSAMAI 1997 4 Uma outra experiência voltada para a comunidade em vilas periféricas da região metropolitana que se constituiu na elaboração de mapas de riscos sociais demonstrou tal qual no hospital acima referido e na pesquisa com trabalhadores da construção civil a necessidade de um alargamento da noção de risco comumente voltada para o concreto e o físico conforme encontrada na literatura em geral Cabe ressaltar no entanto que os riscos acarretam além do sofrimento físico sofrimento mental aos sujeitos Ao construir categorias de riscos a partir de seus próprios referenciais os sujeitos das vilas periféricas constataram por exemplo que a falta de energia elétrica não só limitava ações no espaço doméstico mas também reproduzia os limites sociais impostos ao ir e vir destes sujeitos no espaço público que os esgotos a céu aberto não só traziam possibilidades de contaminação mas evidenciavam o descaso dos órgãos oficiais para com a saúde de uma população excluída Estas evidências confirmam que os riscos podem ser considerados como riscos sociais Estas experiências desvelam a imprescindível necessidade de perguntar e de analisar o porquê de serem sujeitos específicos os que mais retratam e denunciam o sofrimento físico e mental São comumente as mulheres osas pobres osas trabalhadoresas não qualificadosas aquelesas que habitam as periferias etc osas que sofrem em decorrência de uma ideologia já cristalizada nas relações de trabalho que se expande ao cotidiano da vida É através desta análise que poderão surgir práticas realmente voltadas para a relação saúde e trabalho que entrelacem modos de trabalhar e modos de viver Considerações finais Ao finalizar perguntamonos o que de novo se pode perceber nestas páginas Esta é com certeza uma dimensão que afeta aquelesas que tentam pensar praticamente o mundo do trabalho Na incessante tentativa de buscálo é necessário no entanto que não nos deixemos cegar pelo ritmo acelerado do descartável do oportunismo que vem caracterizando nossa época impondo muitas vezes um descrédito a formas de compreensão críticas no sentido de neutralizálas As reflexões que permearam o presente texto visaram compartilhar um pouco do que experienciamos a partir de uma realidade que não mais acreditamos tal como se apresenta neutra e natural e a compartilhar nossa experiência teórico prática enquanto psicólogas e pesquisadoras voltadas para o mundo do trabalho Elas não se propõem como novas mas sim querem demonstrar que as novas formas do fazer não podem de maneira alguma prescindir das trajetórias dos sujeitos dana história É somente a partir do outro que podemos saber de nossas práticas pois enquanto seres isolados não temos como sabêlas Se nossas práticas são relativas assim o são em relação a um outro que contémestá contido em um dado cenário Sem esse outro experimentamos a sensação tida ao sobrevoarmos de avião acima das nuvens Se as nuvens se apresentam uniformes tudo parece estático Embora nos locomovamos a uma velocidade aproximada de 800 kmh isso por si só não nos dá a saber que nos deslocamos É necessário pois que o cenário se transforme e ao se transformar nos dê a conhecer o efeito da prática que desenvolvemos Por longo tempo a psicologia não se preocupou com a relação saúde e trabalho como se ambos fossem objetos estáticos em relação a ela tampouco considerou a perspectiva dinâmica daqueles que trabalham Há de se considerar entretanto a existência de um outro mundo não apreendido pela psicologia quando esta se utiliza apenas da técnica não se mostrando interessada no trabalho nem nos trabalhadores mas apenas em maximizar a produção e a qualidade de mercadorias Sugestão de leituras Um livro já considerado clássico e indispensável em relação ao trabalho e à saúde é o de Christophe Dejours A loucura do trabalho estudo de psicopatologia do trabalho 3 ed São Paulo CortezOboré 1988 De Pedrinho A Guareschi e Carmem LI Grisci A fala do trabalhador Petrópolis Vozes 1993 é um livro em que a fala cristalina dos trabalhadores retrata a dura realidade do trabalho O recente livro de Viviane Forrester O horror econômico São Paulo UNESP 1997 é uma ótima referência sobre o fenômeno atual do desemprego Bibliografia CHANLAT Jean François Modos de gestão saúde e segurança no trabalho In DAVEL Eduardo VASCONCELOS João orgs Recursos humanos e subjetividade Petrópolis Vozes 1996 DAVEL Eduardo VASCONCELOS João orgs Recursos humanos e subjetividade Petrópolis Vozes 1996 DEJOURS Christophe A loucura do trabalho estudo de psicopatologia do trabalho 3 ed São Paulo CortezOboré 1988 DEJOURS Christophe et al Psicodinâmica do trabalho contribuições da escola Dejouriana à análise da relação prazer sofrimento e trabalho São Paulo Atlas 1994 FERREIRA Aurélio BH Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa 2 ed Rio de Janeiro Nova Fronteira 1986 FORRESTER Viviane O horror econômico São Paulo Unesp 1997 GRISCI Carmem LI PIVETTA Ana GOMES Sandra Gênero saúde e risco no cotidiano do trabalho In ZANELLA Andrea et al orgs Psicologia e práticas sociais Porto Alegre Abrapsosul 1997 GUARESCHI Pedrinho A Ética e relações sociais entre o existente e o possível In JACQUES Maria da Graça et al org Relações sociais e ética Porto Alegre Abrapsosul 1995 GUARESCHI Pedrinho A GRISCI Carmem LI A fala do trabalhador Petrópolis Vozes 1993 ITANI Alice Subterrâneos do trabalho imaginário tecnológico no cotidiano São Paulo HucitecFapesp 1997 LAZZAROTTO Gislei DR A organização do trabalho e a construção do sujeito uma apreciação crítica da psicologia o caso da digitação Porto Alegre PUCRS Dissertação de mestrado 1992 LIMA Maria EA Os equívocos da excelência as novas formas de sedução na empresa Petrópolis Vozes 1996 MAYA Paulo Valério Trabalho e tempo livre Porto Alegre PUCRS Dissertação de mestrado 1996 MATTOSO Jorge A desordem do trabalho São Paulo Escrita 1995 POSSAMAI Hélio Minha culpa meu destino representações sociais de acidente do trabalho Porto Alegre PUCRS Dissertação de mestrado 1997 SOUZALOBO Elisabeth A classe operária tem dois sexos trabalho dominação e resistência São Paulo BrasilienseSMC 1991 THOMPSON John B Ideologia e cultura moderna teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa Petrópolis Vozes 1995 PSICOLOGIA SOCIAL E COMUNIDADE Sissi Malta Neves Nara Maria Guazzelli Bernardes Na esfera humana é impossível entender o presente social se não tentarmos mudálo JL Moreno No Brasil a trajetória do saberfazer da psicologia em relação à comunidade iniciouse em meados dos anos 1960 e sofreu transformações teóricas epistemológicas e metodológicas importantes neste espaço de tempo relativamente curto o que resultou a diversidade que hoje pode ser encontrada com respeito ao desenvolvimento dos trabalhos dosas psicólogosas nas comunidades Uma perspectiva importante nessa diversidade é aquela que entende a psicologia comunitária como uma área da psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugarcomunidade estuda o sistema de relações e representações identidade níveis de consciência identificação e pertinência dos indivíduos ao lugarcomunidade e aos grupos comunitários Visa ao desenvolvimento da consciência dos moradores como sujeitos históricos e comunitários através de um esforço interdisciplinar que perpassa o desenvolvimento dos grupos e da comunidade Seu problema central é a transformação do indivíduo em sujeito GÓIS 1993 A inserção da psicologia comunitária no campo da psicologia social por um lado afirma o pressuposto de que o ser humano é construído sócio historicamente e ao mesmo tempo constrói as concepções a respeito de si mesmo dos outros e do contexto social Por outro marca uma diferenciação com outras perspectivas teóricas e práticas da psicologia em comunidade importadas principalmente dos Estados Unidos que se caracterizam por um caráter predominantemente assistencialpaternalista e são destinadas a pessoas consideradas desfavorecidas ou por um caráter promocionaldesenvolmentista e são voltadas para o indivíduo e sua preparação para enfrentar as adversidades do cotidiano BERNARDES GUARESCHI 1992 FREITAS 1996 A psicologia comunitária opera com o enquadre teórico da psicologia social crítica e propõese a compreender a constituição da subjetividade dos seres humanos numa comunidade seja geográfica como por exemplo um bairro ou psicossocial como por exemplo os participantes de um centro comunitário Ao compreender e para fazêlo fundase no respeito ao saber e às práticas desses sujeitos e atua predominantemente com grupos Lane 1992 acentua que o grupo é condição fundamental para o desenvolvimento da consciência no qual um membro se descobre no outro espelhandose conjuntamente Nesta atitude reflexa de espelho e reflexiva descobrirse não resulta apenas de um discurso mas de uma prática conjunta Compete portanto aos psicólogosas comunitáriosas trabalharem na construção de uma consciência crítica de uma identidade coletiva e individual mais autônoma e de uma nova realidade social mais justa Abordagem do psicodrama Uma das possibilidades de assim trabalhar que vem se configurando nas últimas décadas consiste na abordagem do psicodrama O psicodrama foi definido por Moreno 1974 p 17 como a ciência que explora a verdade por métodos dramáticos A palavra drama vem do grego e significa ação ou algo que acontece mostrando que o berço do psicodrama é o teatro A existência humana comportase à semelhança de um drama representado por múltiplos atores cujo enredo é para eles inconsciente Somente a revelação do drama pode transformar a existência A metodologia psicodramática leva em conta três contextos social grupal dramático O contexto da realidade social impõe ao indivíduo os papéis que ele deve desempenhar Definese papel como a menor unidade de conduta em que se fundem componentes individuais sociais e culturais O desempenho dos papéis é anterior ao surgimento do eu pois o eu emerge dos papéis MORENO 1978 Os papéis psicossomáticos são indispensáveis à sobrevivência da criança os papéis psicológicos ou psicodramáticos têm como função a fantasia e o imaginário e referemse mais ao aspecto singular do psiquismo do sujeito os papéis sociais são delimitados pela sociedade na qual o sujeito interage Todo papel exige a presença de um outro o contrapapel que ao conter expectativas desse desempenho denuncia as determinações ideológicas presentes na relação A ideologia subjuga a espontaneidade e a criatividade do desempenho de papéis mediante suas práticas e seus rituais Por exemplo mesmo antes de nascer há uma expectativa de que a criança venha a ser um tipo de sujeito adequado à configuração ideológica familiar O contexto grupal é formado pelos integrantes do grupo cujo vínculo se mantém através do que Moreno denominou tele A noção de tele palavra de origem grega cujo significado referese a algo que está distante ou à influência à distância significa a mútua percepção íntima dos indivíduos Derivouse da experiência com o Teatro da Espontaneidade inventado por ele caracterizado pela improvisação do ator que ao criar a forma e o conteúdo da dramatização ao invés de trabalhar com a forma acabada de uma peça teatral revelava ao mesmo tempo o drama da plateia O contexto dramático é formado pelo produto do protagonista no qual as cenas repletas de significados aparecem como se fossem a realidade Este contexto caracterizase por cinco instrumentos fundamentais protagonista paciente ou grupo cenário egos auxiliares diretor ou terapeuta e auditório O cenário é o lugar em que se realiza a dramatização desempenhandose papéis em cenas que podem se modificar e alterar o tempo Ego auxiliar é o integrante da equipe terapêutica como um prolongamento do diretor que contracena com o protagonista Diretor é o responsável pelo psicodrama deve iniciar a sessão terapêutica detectar o emergente grupal e identificar o protagonista Auditório consiste no conjunto de pessoas que estão no contexto grupal Protagonista é a pessoa que traz o tema para ser dramatizado A noção de protagonista remonta à tragédia grega significando o primeiro combatente ou o primeiro que enlouquece um herói meio humano meio divino que voltava sua ação contra o destino A tentativa de controlar estas ações que eram possuídas por forças divinas dá sentido ao termo espontaneidade cujo termo de origem latina significa vontade própria e resume os esforços do herói trágico Na comunidade o drama do protagonista personagem central do enredo é o emergente do grupo contexto grupal e portavoz do sofrimento coletivo contexto social ao criar conjuntamente a cena psicodramática contexto dramático O protagonista está embasado no conceito de coinconsciente ou inconsciente comum uma espécie de inconsciente social como reservatório de memória histórica que condensa as tradições transmitidas por várias gerações NETO 1985 A categoria drama remete ao sujeito concreto individual ou coletivo relacionado às variadas dimensões da trama social historicamente construída Nas cenas dramáticas ao serem focalizados os vínculos entre os papéis ocorre o processo terapêutico de desalienação dos personagens numa constante reflexão sobre aquilo que desempenham sem saber e aquilo que gostariam de ser Na linguagem moreniana seria a dialética entre tomar o papel ou criálo O encontro que significa comunicação com o outro ou comunicação existencial propõe o rompimento da conserva cultural pelo estímulo da espontaneidadecriatividade A conserva cultural é tudo aquilo que se cristaliza após ser criado Como produto do processo criativo ela preserva os valores de uma cultura ao mesmo tempo em que determina novas formas de expressão criativa O psicodrama acredita que a inversão de papéis objetivando o encontro entre o Eu e o Tu possibilite a um indivíduo assumir o papel de um outro e recompor o sentido da unidade da identidade e do pertencimento ao grupo A espontaneidade e a criatividade estando estrategicamente unidas ocupam lugar central na visão moreniana de cultura Quando aplicadas ao fenômeno social conferem iniciativa e mudança aos indivíduos interrelacionados A espontaneidade impele o indivíduo em direção à resposta adequada à nova situação ou à resposta nova para situação já conhecida O universo é criatividade infinita A definição visível de criatividade é a criança MORENO 1992 p 151 A interação espontaneidadecriatividade manifestase por meio de variados estados ou atos criativos no parto nas artes nas invenções tecnológicas na criação de instituições sociais nas conservas sociais e nos estereótipos assim como no esforço dispendido para o surgimento de nova ordem social Para Moreno o indivíduo deveria usar seu potencial espontâneocriativo na mutiplicidade de papéis constantemente em devir não se deixando amarrar pelos laços que o fixariam na mesma forma de ser Este convite a olhar perceber e modificar a rigidez dos papéis sociais vistos como parte do contexto relacional entre indivíduo e sociedade faz do psicodrama uma proposta de transformação permanente A experiência comunitária traz em si o desafio do reconhecimento da alteridade a partir do respeito à diferença desse outro como única possibilidade de encontro Na vivência de sujeitos concretos ao desvelarem a expressividade e os significados de suas ações os corpos se recriam Grupos em atos ou gestos de todos em comunhão do sentir são sinônimos de psicodramatizar Psicodrama em ato numa comunidade O psicodrama vem sendo utilizado desde 1993 em serviços da rede municipal de Porto Alegre Centro de Comunidade Escola Aberta e Projeto de Educação Social de Rua Estas iniciativas destinamse ao atendimento socioeducativo de crianças e de adolescentes em situação de risco cujas características de vida precária trabalho profissionalização saúde escolarização habitação lazer colocamnos em situação de dependência das instituições assistenciais O cerne dessas iniciativas está na trajetória das classes populares da casa à rua3 devido à conjuntura socioeconômica e política que cria obstáculos para que a família e a escola possam cumprir sua função de subsistência de cuidado e de socialização Tal socialização como processo de formação de valores crenças atitudes e padrões de comportamento das crianças de determinados segmentos das classes populares parece configurar uma cartografia da exclusão Há urgência de mapear o nomadismo institucional dessas crianças e desses jovens ou seja traçar os movimentos de rompimento dos laços grupais que determinam sua mobilidade de pertencer ou não à família à escola ou aos serviços de atendimento assistencial A dificuldade de vinculação com o próprio grupo de iguais com os educadores ou com os técnicos que os assistem é tão determinante para a não permanência quanto a inadequação das metodologias de trabalho dessas instituições Atualmente embora os direitos das crianças e dos adolescentes sejam debatidos em esferas do poder público e jurídico nas áreas da saúde e da educação seu caráter polêmico e contraditório levanos à triste constatação de que a cidadania dos jovens das classes populares está longe de ser alcançada O pano de fundo destes debates continua sendo a manutenção de direitos distintos para classes sociais diversas Enquanto o Estatuto da Criança e do Adolescente ECA afirma a garantia da proteção integral a todas as crianças e a todos os adolescentes concebendoos como pessoas em desenvolvimento BRASIL 1993 análises de nossa realidade denunciam a assistência das políticas sociais voltadas aos meninos e às meninas em situação de risco como cidadania tutelada pelo Estado A infância e a juventude excluídas estarão construindo sua cidadania de modo mais pleno quando participarem na discussão dos seus próprios direitos Buscando esta construção algumas estratégias de intervenção em contextos que assistem a estes jovens focalizam o desenvolvimento das relações interpessoais e sua influência no imaginário tanto da instituição quanto da população atendida Psicodrama num centro de comunidade4 Iniciouse em agosto de 1993 o projeto políticopedagógico Jovem Cidadão desenvolvido em nove Centros de Comunidade com a finalidade de manter e ampliar a assistência à população de baixa renda nas regiões periféricas da cidade com base no ECA FESC 1993 O Conselho Tutelar da região encaminhava os jovens envolvidos em situação de furto drogadicção ou violência aos Centros para que recebessem atendimento socioeducativo Na área da psicologia a direção do projeto apontava a necessidade de acompanhamento psicológico que fosse adequado à situação de vida da maioria dos jovens assim como à urgência de atender grande demanda As oficinas de psicodrama possibilitavam o atendimento socioeducativo desejado em virtude de suas características diferentes de um grupo terapêutico formal pois não se apoiavam na dinâmica individual dos sujeitos para sua inclusão mas no desejo de participação As oficinas de psicodrama abordaram a socialização de crianças e de adolescentes em situação de risco a partir da percepção dos participantes quanto ao seu mundo de relações interpessoais e o consequente aprendizado e desempenho de papéis sociais face a seu cotidiano Elas se caracterizaram como atos terapêuticos cujo objetivo era promover maior integração pessoal além do resgate da linguagem espontânea e criativa dos participantes naquele encontro específico O referencial metodológico das oficinas observou as etapas de uma sessão de psicodrama o aquecimento a dramatização e os comentários O aquecimento facilitou a interação grupal pelo relaxamento sensibilização e atenção à tarefa proposta A dramatização era a etapa da produção criativa mediante recursos plásticos e dramáticos em que os participantes compartilhavam suas fantasias Os comentários integraram a escuta a linguagem verbal e gestual A integração grupal aconteceu devido à atenção e respeito à fala do companheiro estímulos à entrega e à confiança de cada um ao ser escutado pelos demais A técnica de inversão de papéis foi uma experiência nova para os participantes das oficinas Ao serem solicitados a dar voz a um desenho ou a algo modelado na argila ou mesmo a representar o papel de um colega de grupo assumindo a existência deste outro falando e agindo como ele desafiavam sua criatividade tantas vezes esquecida Assim recriavam psicodramaticamente como interagiam com as pessoas mais significativas para eles conforme seu átomo social Entendese átomo social como o núcleo de todos os indivíduos com quem uma pessoa está relacionada sentimentalmente ou que lhes estão vinculadas ao mesmo tempo MORENO 1972 A proposta de intervenção psicossocial objetivava uma rematriz de identidade para esses meninos e meninas A matriz de identidade MORENO 1978 é o primeiro processo de aprendizagem emocional da criança no qual ela se relaciona com pessoas e objetos geralmente esta matriz é a família que constitui a base do desempenho de papéis A conscientização dos papéis desempenhados psicodramática ou socialmente na fantasia ou na realidade do contexto grupal auxiliaria essas crianças a tomarem uma nova posição pretendendose que de sujeitos mais submissos se tornassem sujeitos mais autônomos Partiase da convicção de que a mudança na qualidade dos vínculos dentro e fora do contexto grupal favoreceria a alteração de sua autoimagem modificando seu átomo social O resgate da história individual de cada participante das oficinas foi possível mediante a investigação das redes sociométricas Estas são interconexões dos átomos sociais que revelaram os vínculos e as identificações processadas nos grupos MORENO 1972 A sociometria grupal entendida como as relações de atração e de repulsa entre seus membros foi averiguada em diversas atividades que demonstraram a constelação da rede afetiva existente O instrumento do átomo social variava podendo sua representação darse a partir de uma configuração de vínculos afetivos que se expressavam por meio de desenhos de marionetes da modelagem na argila de brinquedos ou até da dramatização A avaliação do átomo social focalizava a criatividade de cada participante os sentimentos despertados as intromissões nos relatos e as manifestações quanto a falar ou fazer determinada tarefa A abordagem das relações entre o átomo social e os papéis sociais desempenhados pelos sujeitos da pesquisa permitiu visualizar os códigos de participação e exclusão em seu cotidiano familiar escolar religioso e do Centro de Comunidade Os papéis sociais relativos ao gênero à classe social à raça e ao imaginário do mundo da rua como espaço não institucional estavam repletos de sentido para as crianças e os adolescentes A análise dos papéis sociais evidenciou que esses sujeitos são produzidos pela sua condição de classe social de gênero de etnia e que aprendem a ocupar os lugares socialmente possíveis conforme os ensinamentos da escola da religião da família e até mesmo do Centro de Comunidade A possibilidade de tomar o seu papel desempenhálo ou criálo depende da estrutura socioeconômica que os diferencia das camadas mais favorecidas apenas quanto ao acesso a determinadas condições de subsistência lazer educação e concretização de projetos de vida futuros Meninos e meninas demonstraram diferenças significativas quanto ao seu autoconceito as quais aumentavam com a idade de acordo com os estereótipos sociais referentes ao gênero A avaliação dos papéis sociais relativos à raça identificou a desqualificação nos comentários das crianças e adolescentes não negros dirigidos aos colegas de raça negra embora admirassem manifestações da cultura afrobrasileira capoeira pagode dança e religião Os papéis sociais relativos à religião reforçavam a noção de identidade e autoestima destes jovens conforme a religião a que pertenciam Em relação ao contexto familiar apareceu o modelo matrifocal como aquele que se organiza em torno da mulher embora os papéis de pai e mãe fossem demarcados em territórios próprios para cada gênero Estava presente a necessidade de zelarem pelos irmãos menores Para eles o cotidiano escolar era referência para construção de projetos de vida futura A rua aparecia como símbolo de liberdade para onde se foge além de ser lugar de conflito e representação do abandono O Centro de Comunidade como um espaço fora de periferia foi significado por esses jovens como sendo deles onde encontravam muitas possibilidades dentre elas o resgate de novos papéis sociais Tanto a instituição assistencial como a família e a escola contêm em si os princípios normatizantes e disciplinadores responsáveis pela exclusão do convívio grupal Como matriz cultural necessitam de uma reestruturação pois não estão mais conseguindo ser suporte afetivo para seus membros Essas experiências mostraram que as oficinas de psicodrama auxiliaram na maior interação das crianças e adolescentes para se organizarem em outros espaços A pedagogia de direitos se concretizou em virtude do reconhecimento de si e do outro da escuta recíproca do respeito ao potencial criativo e da valorização da fantasia Constatouse que o primeiro ato de construção da cidadania sempre exige a trama de uma rede cultural entre os sujeitos Psicodrama da escola que se abre A Escola Aberta é referência de lugar e de tempo para meninos e meninas que fazem da rua lugar de sobrevivência em virtude de representar um corte no imediatismo de seus cotidianos A presente intervenção psicodramática em uma escola aberta sob forma de assessoria psicológica aos professores partiu da demanda da instituição quanto ao desejo de refletir sobre suas práticas reordenando seus propósitos mediante a qualificação do atendimento e adequação de metodologias Ao investigar a relação entre os papéis sociais desempenhados pelos seus diversos atores essa proposta avaliou o desenvolvimento do papel de educador propiciando a conscientização de sua postura profissional de sua percepção dos contextos da escola e da rua como referências de socialização e da qualidade da relação estabelecida com os alunos e com os colegas neste fazer conjunto A análise institucional priorizou três aspectos da interação entre seus membros a comunicação as determinações das relações de poder e o conhecimento de si e do outro Focalizouse o desvelamento dos papéis desempenhados pelos professores a partir da noção de identidade grupal da percepção do que comunicar e a quem e da capacidade de reconhecer quem é este outro a quem se está vinculado e de como colocarse diante dele O estudo das relações entre as várias instâncias hierárquicas da escola abordou a percepção da coordenação professores e pessoal de apoio sobre a qualidade do vínculo entre eles e o existente com os alunos Neste sentido propunhase uma nova configuração dos papéis institucionais em sua totalidade A metodologia psicodramática consistiu de recursos lúdicos das linguagens expressivas corporal e gráfica além de jogos dramáticos centrandose na ação como possibilidade de perceber o desenvolvimento dos papéis e as características de seu desempenho em referência à criatividade e à espontaneidade Estabeleceuse a matriz grupal que possibilitou cada vez maior envolvimento com as problemáticas do cotidiano institucional por meio da criação conjunta de histórias de desenho grupal de sensibilização corporal de psicodrama interno e de cenas dramatizadas sobre o espaço da escola Quanto à relação educadoreducando observouse que a vivência subjetiva do tempo e do espaço própria da classe social do educador como trabalho e projeto de vida induz a preconceitos relativos à sobrevivência dos jovens na rua As expectativas dos professores quanto às diferenças do ser masculino ou ser feminino papel de gênero são geradoras de dificuldades em lidar com questões referentes ao poder e à sexualidade no cotidiano escolar A insuficiente rede de assistência aos alunos provoca ansiedade e depressão nos educadores devido ao fato de terem de trabalhar com os temores dos educandos diante das doenças sexualmente transmissíveis e dos efeitos das drogas de que fazem uso A escola como espaço pedagógico necessita de uma linguagem comum entre coordenação professores funcionários e guardas que construa códigos de pertencimento e exclusão dos alunos diferentes daqueles da rua para não se reproduzir a dinâmica perversa do contexto social Os professores e alunos percebem a peculiaridade desta escola pela importância dada à reflexão da ação pedagógica Com relação às metodologias de ensino constatouse que a metodologia lúdica e corporal da assessoria é identificada como responsável pelo crescimento grupal embora o educador muitas vezes não reconheça esse resultado em sua prática por desconsiderar a resposta do grupo como um espelho Psicodrama no projeto Educação Social de Rua O projeto propunha a vinculação de educadoras com as crianças e os adolescentes em situação de rua para que retomassem os laços institucionais em processo de rompimento Inicialmente a sensibilização do estar na rua possibilitou desvelar o imaginário das educadoras acerca deste processo O grafodrama técnica do desenho em psicodrama explorou a dinâmica das relações sociais estabelecidas em uma das praças abordadas pela equipe Partindo da noção de rua como palco do social recorreuse à metáfora de um espetáculo teatral e seus diferentes atores como sendo os transeuntes e frequentadores em interação Foram abordadas as determinações existentes entre o espaço público e privado de cada agente social implicado nesta dinâmica Concluiuse que cada ator social desempenha um papel que está ligado a alguém que com ele contracena e que a educadora social de rua para aí inserirse deve saber ler estas relações que não estão explícitas na maioria das vezes Avaliouse também como cada educadora sentiu o seu estar na rua diante das situações específicas dos vários pontos em que atuava O relacionamento da equipe foi investigado revelandose como os participantes percebiam seu trabalho pelo recurso da sociometria enquanto fenômeno grupal que demonstrava as atrações e rejeições estabelecidas entre seus componentes Alguns temas foram dramatizados como o modelo de família que a educadora possui internalizado e aquele que possuem as crianças e adolescentes com as quais trabalhava Apareceram cenas contrastantes da família da rua com o modelo esperado de família mantido de forma inconsciente pelas educadoras os quais são geradores de dificuldades na vinculação com estes jovens A família em sua função de socialização primária dos indivíduos instala controles sociais que são repetidos em outros espaços de convivência Refletiuse sobre este fenômeno compreendendose que ele não era decorrente do espaço físico interno ou externo das instituições mas estava relacionado ao mundo afetivo desses indivíduos à sua capacidade de vincularse Esta experiência demonstrou que a identidade do educador social de rua será construída por meio de uma reformulação não somente conceitual mas vivencial da própria postura relativa à instituição e ao estar na rua Último ato Os três contextos institucionais focalizados nesta análise mostraram que são importantes referências de laços afetivos na relação estabelecida entre a assistência e o excluído Nesses palcos cenas da comunidade expressaram o drama do vínculo Alguns protagonistas teciam os fios que os ligavam outros sem que percebessem saíam da rede como se desnecessária fosse a sua sobrevivência Finda o espetáculo As cortinas se fecham As luzes se apagam Que os espectadores voltem a casa ou à rua sentindo que o teatro como dizia Brecht é ainda o ensaio da revolução Sugestão de leituras Para saber mais sobre psicologia em comunidade é altamente recomendável a leitura da coletânea que apresenta reflexões do grupo de trabalho em psicologia social comunitária da Associação Nacional de Pesquisa e PósGraduação em Psicologia Anpepp organizado por Regina Helena de Freitas Campos Psicologia social comunitária da solidariedade à autonomia também publicado pela Vozes em 1996 Convém igualmente consultar a revista Psicologia e Sociedade que vem sendo publicada pela Abrapso uma vez que ali se encontram diversos trabalhos que focalizam essa temática Para saber mais sobre intervenção psicodramática nas comunidades destacase o livro de Romana 1987 sobre Psicodrama pedagógico que resgata no palco educacional a afetividade e a capacidade simbólica presentes no ato de aprender reconstruindo experiências individuais e coletivas tanto de educadores quanto de alunos Há um pequeno número de experiências em instituições assistenciais com segmentos de classes populares destacandose o atendimento em creche FRANCO 1984 o trabalho com grupos de mulheres da periferia VIEIRA 1988 e a preparação para o parto com grupos de grávidas PAMPLONA 1990 Ainda mais raras são aquelas relativas às populações excluídas sejam prostitutas SOUZA 1984 sejam meninos ou meninas em situação de rua RAMOS 1994 Vale a pena examinar os Anais do 7 Congresso Brasileiro de Psicodrama Psicodramatizando realizado no Rio de Janeiro em 1990 Bibliografia BERNARDES NMG GUARESCHI PA El saberactuar de la psicologia y la comunidad reflexiones producidas desde um lugar latinoamericano Intervención psicosocial Madri vol l n l p 6777 1992 BRASIL DF Congresso Nacional Estatuto da Criança e do Adolescente Lei n 8069 de 13 de julho de 1990 Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências Porto Alegre Centro Social Pe João Calábria 1993 CAMPOS RH de Freitas org Psicologia social comunitária da solidariedade à autonomia Petrópolis Vozes 1996 FESC Fundação de Educação Social e ComunitáriaPrefeitura Municipal de Porto Alegre Projeto de ampliação e qualificação do atendimento a crianças e adolescentes nos centros de comunidade da FESC Porto Alegre ago 1993 FRANCO VL Psicodrama e periferia In Congresso Brasileiro de Psicodrama 41984 Águas de Lindoia Revista da Febrap Anais Campinas Federação Brasileira de Psicodrama ano 7 n 41984 p 8185 FREITAS M de FQ Psicologia na comunidade psicologia da comunidade e psicologia social comunitária Práticas da psicologia em comunidade nas décadas de 1960 a 1990 no Brasil In CAMPOS RH de Freitas org Psicologia social comunitária Da solidariedade à autonomia Petrópolis Vozes 1996 p 5480 GÓIS CW de L Noções de psicologia comunitária Fortaleza Edições UFC 1993 LANE S Psicologia da comunidade história paradigmas e teoria In Congresso Brasileiro de Psicologia da Comunidade e Trabalho Social Autogestão participação e cidadania 1 1992 Tomo 2 Belo Horizonte Anais ago 1992 p 4953 MORENO JL Quem sobreviverá Fundamentos da Sociometria Psicoterapia de Grupo e Sociodrama Vol 1 Goiânia Dimensão 1992 Psicodrama São Paulo Cultrix 1978 Psicoterapia de grupo e psicodrama São Paulo Mestre Jou 1974 Psicodrama Buenos Aires Hormé SAE 1972 NAFFAH NETO A Poder vida e morte na situação de tortura São Paulo Hucitec 1985 NEVES SM Os papéis sociais e a cidadania In Zanella et al org Psicologia e práticas sociais Porto Alegre Abrapsosul 1997 p 3959 Psicodramatizando a construção da cidadania o ser criança e adolescente em um centro de comunidade Porto Alegre PUCRS 1995 Dissertação Mestrado em Psicologia Social e da Personalidade Instituto de Psicologia Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 1995 PAMPLONA V Mulher parto e psicodrama São Paulo Ágora 1990 RAMOS E Meninos de rua Problema sem solução Revista Brasileira de Psicodrama São Paulo vol 2 fascículo 1 1994 p 8794 REIS CN PRATES J PRESTES N NEVES SM Meninos e meninas em situação de rua em Porto Alegre Quem são Qual seu modo de vida Relatório de pesquisa Fundação de Educação Social e ComunitáriaPrefeitura Municipal de Porto AlegreFaculdade de Serviço SocialPontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Porto Alegre jan 1997 ROMAÑA M Construção coletiva do conhecimento através do psicodrama Campinas Papirus 1992 SOUZA JCM A carreira de prostituta ou leitura psicodramática da prostituição In Congresso Brasileiro de Psicodrama 41984 Águas de Lindoia Revista da Febrap Anais Campinas Federação Brasileira de Psicodrama ano 7 n 2 1984 p 9099 VIEIRA LM O método do psicodrama Análise de aspectos de dominação e submissão nas relações familiares A Partir de uma experiência com mulheres que vivem na periferia da cidade de São Paulo In Congresso Brasileiro de Psicodrama 6 1988 Tomo 3 Salvador Anais Salvador Federação Brasileira de Psicodrama p 3942 3 Em Porto Alegre recente pesquisa identificou 376 jovens em situação de rua como vendedores cuidadores de carro ou mendigos Da amostra de 197 sujeitos 8427 identificou a necessidade de subsistência pessoal ou familiar como o motivo de estarem na rua Destes somente 50 seriam realmente de rua não retornando a casa no final do dia por se encontrarem em processo de rompimento de laços familiares REIS et al 1997 4 As reflexões desse item se referem à dissertação de mestrado em Psicologia Social e da Personalidade PUCRS de Sissi Malta Neves intitulada Psicodramatizando a construção da cidadania o ser criança e adolescente em um centro de comunidade Alguns aspectos deste estudo foram recentemente publicados NEVES 1997 Textos de capa Contracapa Psicologia social contemporânea sinaliza para diferenças consistentes e próprias aos países da América Latina esboçando a criação de uma nova psicologia social no Brasil representada pela Abrapso Associação Brasileira de Psicologia Social que recebe em um primeiro algumas qualificações como Psicologia Social Crítica Psicologia Social HistóricoCrítica Psicologia Sócio Histórica São qualificações que expressam a perspectiva crítica em relação à Psicologia Social hegemônica de até então e que apontam para uma concepção de ser humano como produto históricosocial e ao mesmo tempo como construtor da sociedade e capaz de transformar essa sociedade por ele construída Esta concepção de ser humano recoloca a relação indivíduo e sociedade rompe a perspectiva dualista dicotômica e ao invés de considerar indivíduo e contexto social influenciandose mutuamente propõe a construção de um espaço de interseção em que um implica o outro e viceversa Orelhas Você tem nas mãos um livrotexto de Psicologia Social que estava fazendo enorme urgente falta aos nossos universitários principalmente de graduação Nossa herança no campo da Psicologia Social foi dolorosamente tendenciosa e reducionista O que tínhamos até há pouco era uma espécie de réplica acrítica de uma psicologia social que se desenvolveu principalmente nos Estados Unidos fundamentada em dois pressupostos teóricos básicos o pressuposto positivista segundo o qual só vale o experimental e o mental é considerado apenas enquanto pode ser sujeito de experimentação e o pressuposto individualista onde o social é reduzido ao individual e o grau máximo atribuído ao social é o de ser uma soma de elementos individuais sendo que o indivíduo é o que conta afinal A partir da década de 1980 principalmente com a criação da Abrapso Associação Brasileira de Psicologia Social novos horizontes começaram a se vislumbrar e novas perspectivas começaram a ser introduzidas na Psicologia Social algumas a partir da própria América Latina Sem abandonar as conquistas anteriores querse então devolver à psicologia social seu caráter realmente social além de sua dimensão históricocrítica e política na constituição das pessoas e das sociedades humanas Este livro dividido em três partes novas contribuições e novos enfoques Os cinco primeiros capítulos tratam de assuntos teóricos gerais Dez capítulos discutem temas específicos centrais da psicologia social foram escritos por especialistas na área e oferecem uma compreensão substancial do assunto Finalmente três capítulos discutem a aplicação da psicologia a áreas especiais escola trabalho e comunidade Cada tópico apresenta também a bibliografia comentada mais importante sobre o tema Ficaremos felizes se nosso esforço puder colaborar para que os professores de Psicologia Social possam ter um subsídio suficientemente amplo e crítico para as discussões centrais da disciplina nos dias de hoje O adjetivo contemporânea do título não foi escolhido por acaso É nossa modesta contribuição para uma sociedade justa democrática pluralista e participativa Os autores Índice Capa Rosto Coleção Ficha catalográfica Copyright Prefácio Apresentação Introdução Parte 1 História Algumas rápidas palavras sobre histórias Um passeio pela psicologia social no Ocidente a O Repúdio positivista de Wundt b O longo passado e o curto presente da psicologia c Formas e formas de contar histórias da psicologia social Psicologia social no Brasil Indicações de leituras dos desdobramentos e atravessamentos teóricos Bibliografia Epistemologia A crise e a perda da confiança na epistemologia Novos espaços novos paradigmas Sugestão de leituras Bibliografia Ética Introdução Ética o que é isso O paradigma da lei natural O paradigma da lei positiva Ética como instância crítica a A dimensão crítica e propositiva b A dimensão da relação Conclusão Leituras complementares Bibliografia Indivíduo cultura e classe Inpíduo e sociedade Cultura inpíduo e atividade Outros enfoques sobre a relação inpíduocultura A cultura o eu e as atividades a emoção e a motivação Considerações finais Leituras complementares recomendadas Bibliografia Pesquisa Definindo a atividade de pesquisa em psicologia social Decorrências metodológicas Alguns modos de pesquisar a pesquisaação e a pesquisa participante Sugestão de leituras Bibliografia Parte 2 Ideologia Juntando as duas linhas Um modo prático de se tratar a ideologia a Ideologia como uma concepção crítica b Sentido e formas simbólicas c O conceito de dominação d Modos e estratégias como o sentido pode servir para estabelecer e sustentar relações de dominação e A valorização das formas simbólicas Conclusão Leituras complementares Bibliografia Representações sociais Como nasceu esta teoria Mas o que são as representações sociais Para que estudamos as RS Por que criamos as RS Qual a diferença entre representações sociais e outras teorias Que relações se podem estabelecer entre o estudo das RS e ideologia Como investigamos as RS Considerações finais Leituras complementares Bibliografia Linguagem O que é a linguagem A linguagem segundo Vygotsky e Bakhtin À guisa de conclusão para o momento Leituras complementares Bibliografia Conhecimento Para uma perspectiva ecológica da cognição a As instituições sociais como sistemas cognitivos b As instituições pensadas como tecnologias intelectuais O conhecimento como rede sociotécnica Leituras complementares Bibliografia Comunicação Comportamentalismo Cognitivismo Psicanálise Teoria crítica Considerações finais Sugestão de leituras Bibliografia Identidade Como os autores conceituam a identidade Como se constitui a identidade Que outras dicotomias superar para compreender a identidade O que a identidade é e não é Leituras complementares Bibliografia Subjetividade Do passado ao presente Do presente ao futuro Das escolhas Sugestão de leituras Bibliografia Gênero Sexo e gênero A questão da hierarquia de gênero Variações em gênero através das culturas O que é subordinação e como se expressa Teorias sobre a hierarquia de gênero O homem caçador subordinação baseada nas origens humanas O complexo da supremacia masculina A guerra e o controle populacional Teorias ligadas à sociobiologia Teorias estruturalistas A subordinação como um processo histórico O Gênero na psicologia Leituras complementares Bibliografia O processo grupal A preocupação com o grupo Grupo ou processo grupal Como funciona o processo grupal À guisa de fechamento Sugestão de leituras Bibliografia Psicologia política Psicologia política ou psicologia da política Um pouco de história A psicologia política na América Latina e no Brasil uma breve notícia Sugestão de leituras Bibliografia Parte 3 Psicologia social e escola Psicologia e educação uma longa história Psicólogo escolar Técnico da Educação O psicólogo na escola Para além da função técnica Sugestão de leituras Bibliografia Psicologia social no trabalho Para além dos modos tradicionais do fazer psicologia em relação ao trabalho Alguns exemplos do fazer psicologia em relação ao trabalho Considerações finais Sugestão de leituras Bibliografia Psicologia social na comunidade Abordagem do psicodrama Psicodrama em ato numa comunidade Psicodrama num centro de comunidade Psicodrama da escola que se abre Psicodrama no projeto Educação Social de Rua Último ato Sugestão de leituras Bibliografia Textos de capa PSICOLOGIA SOCIAL PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES CLÁUDIO VAZ TORRES ELAINE RABELO NEIVA E COLABORADORES P676 Psicologia social recurso eletrônico principais temas e vertentes Cláudio Vaz Torres Elaine Rabelo Neiva organizadores Dados eletrônicos Porto Alegre Artmed 2011 Editado também como livro impresso em 2011 ISBN 9788536326528 1 Psicologia social I Torres Cláudio Vaz II Neiva Elaine Rabelo CDU 3166 Catalogação na publicação Ana Paula M Magnus CRB 102052 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 2011 Versão impressa desta obra 2011 CLÁUDIO VAZ TORRES ELAINE RABELO NEIVA E COLABORADORES PSICOLOGIA SOCIAL PRINCIPAIS TEMAS E VERTENTES INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS Artmed Editora SA 2011 Capa Tatiana Sperhacke Ilustração da capa iStockphotocomAceCreate Preparação do original Elisângela Rosa dos Santos Editora Sênior Ciências humanas Mônica Ballejo Canto Projeto e editoração Armazém Digital Editoração Eletrônica Roberto Carlos Moreira Vieira Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa à ARTMED EDITORA SA Av Jerônimo de Ornelas 670 Santana 90040340 Porto Alegre RS Fone 51 30277000 Fax 51 30277070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume no todo ou em parte sob quaisquer formas ou por quaisquer meios eletrônico mecânico gravação foto cópia distribuição na Web e outros sem permissão expressa da Editora SÃO PAULO Av Embaixador Macedo Soares 10735 Pavilhão 5 Cond Espace Center Vila Anastácio 05095035 São Paulo SP Fone 11 36651100 Fax 11 36671333 SAC 0800 7033444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS cláudio vaz torres org PhD em Psicologia pela California School of Professional Psychology san Diego califórnia eUa Pós doutorado em Marketing pela Griffith University austrália Pós doutorado em Pesquisa e Psicologia transcultural pela University of sussex inglaterra Professor do Departamento de Psicologia social e do trabalho do instituto de Psicologia na Universidade de Brasília onde também atua como professor do Programa de Pós Graduação em administra ção Um dos fundadores do grupo de estudo e pesquisa em comportamento de consumo da Universidade de Brasília consumaUnB É membro e contribui ativamente com a International Association for Cross cultural Psychology International Academy for Intercultural Research The American Psychological Association Divisão 52 e sociedade interamericana de Psicologia elaine rabelo neiva org Doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília Professora do Departamento de administração da Universidade de Brasília atua no Programa de Pós graduação em Psicologia social do trabalho e das Organizações PstO Fundadora do grupo de Pesquisa inovare da Universidade de Brasília É membro da International Association of Applied Psychology Divisão 1 e da sociedade interamericana de Psicologia Psicologia pela Universidade de BrasíliaBacha rel em Psicologia e Psicóloga pela Universida de Federal de são carlos tem experiência do cente em cursos de graduação em Psicologia e administração de empresas Pesquisadora e consultora em Psicologia do trabalho e das Organizações incluindo tópicos relacionados a administração de empresas ana lúcia galinkin Pós Doutora em Psicologia social pela Universidade rené Descartes Paris França Doutora em sociologia pela Universi dade de são Paulo mestre em antropologia social pela Universidade de Brasília Psicóloga pela Universidade Federal de minas Gerais Professora associada ii no Programa de Pós Graduação em Psicologia social do trabalho e das Organizações Universidade de Brasília angela Maria de oliveira almeida Psicóloga pe la Universidade de são Paulo mestre em Psi cologia da educação pela PUcsP mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela Univer sité catholique de Louvain Doutorado em Psicolo gia pela Université catholique de Louvain Pro aUtOres amália raquel Perez nebra Psicóloga e Dou tora em Psicologia social do trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília estágio doutoral na Universidad autónoma de madrid Professora do centro Universitário de Brasília UniceUB Fundadora e coordenadora do Grupo consuma Grupo de estudo e Pes quisa em comportamento do consumidor amanda zauli Graduada em Desenho indus trial pela escola superior de Desenho indus trial esDi da UerJ atuou como tutora de cursos de graduação e de pós graduação em educação a distância no centro de educação a Distância da Universidade de Brasília ceaD UnB especialista em Desenvolvimento Ge rencial mestre em Gestão social e trabalho Doutoranda em Psicologia social do trabalho e das Organizações PstO na Universidade de Brasília ariane agnes corradi Doutoranda no interna tional institute of social studies Universidade erasmus rotterdam Países Baixos mestre em INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS fessora associada i da Universidade de Brasí lia coordenadora do Laboratório de Psicologia social do Desenvolvimento Diretora do centro internacional de Pesquisa em representações e Psicologia sociais áurea de Fátima oliveira Professora do insti tuto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia Doutora em Psicologia pela Uni versidade de Brasília UnB Leciona nos cursos de graduação em Psicologia e administração e pós graduação lato sensu e strito sensu bartholomeu t tróccoli Possui Licenciatura em Psicologia pelo instituto Paraibanos de edu cação Psicólogo pelo instituto Paraibanos de educação mestre em Psicologia social pela Universidade Federal da Paraíba mestre e Doutor em Personality and social Psychology pela University of Wisconsin madison Profes sor associado i da Universidade de Brasília coordenador do Laboratório de Pesquisa em avaliação e medida LabPam da UnB carlos eduardo Pimentel Psicólogo mestre em Psicologia social pela Universidade Federal da Paraíba Doutorando em Psicologia social do trabalho e das Organizações na Universidade de Brasília Bolsista do cnPq christin Melanie vauclair Professor na Univer sity of Kent canterbury inglaterra Doutor pelo centre for applied cross cultural research vic toria University of Wellington nova Zelândia recebeu o prêmio German study award Ham burger Koerber stiftung por seu trabalho no desenvolvimento de treinamento para gerentes alemães que trabalham no Brasil Hartmut günther estudou psicologia nas uni versidades de Hamburg alemanha 1966 67 e de marburg alemanha Psicólogo pelo albion college michigan eUa mestre em Psicologia experimental aec pela Western michigan University Doutor em Psicologia social pela University of california at Davis Professor ti tular na Universidade de Brasília Helga cristina Hedler Doutora em Psicologia social do trabalho e das Organizações pelo instituto de Psicologia da Universidade de Brasília Professora na Universidade católica de Brasília UcB no curso de mestrado em Gestão do conhecimento e da tecnologia da informação Professora convidada do curso de especialização em Gestão da Qualidade do instituto de educação superior de Brasília Hugo rodrigues Psicólogo pela Universidade de Brasília bacharelado e licenciatura mestre em Psicologia social Organizacional e do tra balho Dou torando pela mesma instituição Jaqueline gomes de Jesus Doutora em Psico logia social do trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília Professora em diferentes instituições de ensino superior e in tegrante do conselho nacional de combate à Discriminação vinculado à Presidência da re pública assessora técnica da secretaria na cional de Políticas sobre Drogas José augusto dela coleta Psicólogo pela Uni versidade de são Paulo ribeirão Preto Doutor em Psicologia pela Fundação Getúlio vargas rio de Janeiro Foi professor da Universidade Federal Fluminense e aposentou se como Pro fessor titular da Universidade Federal de Uber lândia Professor em cursos e programas de graduação mestrado e Doutorado nas áreas de Psicologia educação administração e enfer magem ministrando as disciplinas relacionadas à Psicologia social Psicologia Organizacional e do trabalho metodologia de investigação cien tífica Professor na Universidade de Uberaba no campus de Uberlândia mG Maria cristina Ferreira Doutora em Psicologia pela Fundação Getúlio vargas rio de Janeiro Pós Doutora em Psicologia transcultural pela victoria University of Wellington nova Zelân dia Professora titular da Universidade sal gado de Oliveira coordenadora do mestrado em Psicologia dessa instituição É membro e contribui ativamente com a International As sociation for Cross cultural Psychology The American Psychological Association e com a sociedade interamericana de Psicologia Maria de Fátima de souza santos Psicólo ga pela Universidade Federal de Pernambu co Doutora em Psicologia pela Université de toulouse le mirail Professora associada ii da Universidade Federal de Pernambuco no De partamento de Psicologia e da Pós Graduação em Psicologia Marilia Ferreira dela coleta Psicóloga pela Universidade Federal Fluminense mestre pela Universidade de Brasília Doutora em Psicolo gia pela Universidade de Brasília Professora do instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia onde atua no programa de Pós graduação em Psicologia e no curso de gra duação em Psicologia membro associado Ple vi aUtOres INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS no da sociedade Brasileira de Psicologia tendo assumido cargo na Diretoria em duas gestões Mirlene Maria Matias siqueira Psicóloga pela Universidade de Brasília mestre em Psicologia pela Universidade de Brasília Doutora em Psico logia pela Universidade de Brasília Pós doutora como docente visitante em 2010 na Universida de de coimbra mestre em Psicologia Organi zacional e do trabalho WOP P do Programa erasmus mundus Presidente da comissão Or ganizadora do iv cBPOt Professora titular na Universidade metodista de são Paulo onofre rodrigues de Miranda administrador de empresas pela Universidade de Brasília especialista em Gestão e Desenvolvimento da educação Profissional pelo senac e UnB mestre em Psicologia social e das Organiza ções pela UnB Doutor em Psicologia social do trabalho e das Organizações pela UnB Pro fessor titular do curso de administração Geral e mBa em Gestão estratégica da Faculdade cambury Patrícia nunes da Fonsêca Doutora em Psico logia social pela Universidade Federal da Paraí ba Professora do Departamento de Psicopeda gogia da Universidade Federal da Paraíba Líder do núcleo de estudos em Desenvolvimento Hu mano educacional e social neDHes membro da sociedade Brasileira de Psicopedagogia ronald Fischer Professor senior Lecturer na victoria University of Wellington nova Ze lândia membro do centre for applied cross cultural research Doutor pela Universidade de sussex inglaterra editor associado do Journal of Cross Cultural Psychology seu trabalho com valores e pacificação recebeu em 2010 o prê mio Otto Klineberg intercultural and internatio nal relations award agraciado pela society for the Psychological study of social issues sinésio gomide Júnior Psicólogo mestre e Doutor em Psicologia pela Universidade de Brasília Professor associado na Universidade Federal de Uberlândia solange alfinito Doutora em Psicologia so cial do trabalho e das Organizações pela Uni versidade de Brasília mestre em economia de empresas pela Universidade católica de Brasí lia Professora no Departamento de adminis tração da UnB onde também atua como pro fessora do Programa de Pós Graduação em administração membro do grupo de estudo e pesquisa em comportamento do consumidor da Universidade de Brasília consumaUnB taciano l Milfont mestre em Psicologia social pela Universidade Federal da Paraíba PhD em Psicologia social e ambiental pela University of auckland nova Zelândia Professor senior Lecturer na victoria University of Wellington nova Zelândia onde também atua no Centre for Applied Cross Cultural Research Já rece beu prêmios internacionais por suas pesquisas e desde 2010 faz parte do corpo editorial do Journal of Environmental Psychology túlio gomes da silva Mauro mestre pelo De partamento de Psicologia social do trabalho e das Organizações da Universidade de Brasília atua como consultor em Gestão de Pessoas e Desenvolvimento Organizacional Professor do Departamento de Psicologia da Universida de Paulista UniP valdiney v gouveia Doutor em Psicologia social pela Universidad complutense de ma drid espanha Professor associado do Depar tamento de Psicologia na Universidade Federal da Paraíba atuando como professor e orienta dor na gradua ção e pós graduação mestrado e Doutorado Pesquisador 1B do cnPq É fun dador e membro do grupo de pesquisas Bases normativas do comportamento social aUtOres vii INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS sUmáriO Parte I Fundamentação 1 Breve história da moderna psicologia social 13 Maria Cristina Ferreira 2 Psicologia social no Brasil uma introdução 31 Elaine Rabelo Neiva e Cláudio Vaz Torres 3 métodos de pesquisa em psicologia social 58 Hartmut Günther Parte II o indivíduo 4 cognição social 79 Bartholomeu T Tróccoli 5 normas sociais conceito mensuração e implicações para o Brasil 100 Cláudio Vaz Torres e Hugo Rodrigues 6 conhecendo a si e ao outro percepção e atribuição de causalidade 134 José Augusto Dela Coleta e Marilia Ferreira Dela Coleta 7 influência social e poder 153 Ronald Fischer e Christin Melanie Vauclair 8 atitude e mudança de atitudes 171 Elaine Rabelo Neiva e Túlio Gomes Mauro 9 estratégias de mensuração de atitudes em psicologia social 204 Carlos Eduardo Pimentel Cláudio Vaz Torres e Hartmut Günther 10 Preconceito estereótipo e discriminação 219 Amalia Raquel Pérez Nebra e Jaqueline Gomes de Jesus 11 atração e repulsa interpessoal 238 Jaqueline Gomes de Jesus INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS Parte III o grupo e o contato intergrupal 12 identidade social e alteridade 253 Ana Lúcia Galinkin e Amanda Zauli 13 contato intergrupal conflito realístico privação relativa e equidade 262 Solange Alfinito e Ariane Agnes Corradi 14 a teoria das representações sociais 287 Angela Maria de Oliveira Almeida e Maria de Fátima de Souza Santos 15 valores humanos contribuições e perspectivas teóricas 296 Valdiney V Gouveia Patrícia Nunes da Fonsêca Taciano L Milfont e Ronald Fischer 16 cultura valores humanos e comunicação nas relações intergrupais 314 Onofre Rodrigues de Miranda e Helga Cristina Hedler 17 aplicações da psicologia social às organizações 340 Sinésio Gomide Júnior Áurea de Fátima Oliveira e Mirlene Maria Matias Siqueira Índice 356 10 sUmáriO INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS Parte I Fundamentação INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS introdução A psicologia social é uma disciplina relati vamente recente já que adquiriu tal status apenas no começo do século XX razão pela qual alguns dos que contribuíram para a construção de seu passado ainda estão vi vos e atuantes em suas respectivas áreas de investigação Um rápido exame dessa curta história evidencia que desde o início essa área da psicologia social foi marcada por uma relativa falta de consenso acerca de seu objeto de estudo Ainda assim é possível ob servar que o binômio indivíduo sociedade isto é o estudo das relações que os indiví duos mantêm entre si e com a sociedade ou a cultura esteve frequentemente no centro das preocupações dos psicólogos sociais No entanto a ênfase maior dada ao indivíduo ou à sociedade irá acompanhar a evolução da teorização no campo da psico logia social desde os seus primórdios levan do à caracterização de duas diferentes mo dalidades da disciplina a psicologia social psicológica e a psicologia social sociológica A psicologia social psicológica segundo a definição de Gordon Allport 1954 que se tornou clássica procura explicar os senti mentos pensamentos e comportamentos do indivíduo na presença real ou imaginada de outras pessoas Já a psicologia social socio lógica segundo Stephan e Stephan 1985 tem como foco o estudo da experiência so cial que o indivíduo adquire a partir de sua participação nos diferentes grupos sociais com os quais convive Em outras palavras os psicólogos sociais da primeira vertente tendem a enfatizar principalmente os pro cessos intraindividuais enquanto os da se gunda tendem a privilegiar as coletividades sociais A história oficial da psicologia social foi contada durante muito tempo nos ca pítulos dos Handbooks of Social Psychology escritos por Gordon Allport e sucessiva mente publicados nos anos de 1954 1968 e 1985 com ligeiras modificações Contudo o trabalho de Allport tem sofrido críticas Apfelbaum 1992 associadas ao fato de ser uma história parcial que ressalta ape nas as raízes da psicologia social psicológi ca procurando assim legitimar tão somente os pressupostos teóricos e metodológicos de parte da comunidade científica que atua no âmbito dessa modalidade de psicologia social Publicações mais recentes Álvaro e Garrido 2007 Farr 1999 Jahoda 2007 Vala e Monteiro 2004 têm procurado supe rar tais limitações ao abordar as raízes não apenas da psicologia social psicológica mas também da psicologia social sociológica e de outras vertentes que ao longo do tempo fo ram desenvolvendo se em outras partes do mundo de forma independente da corrente dominante que era praticada sobretudo nos Estados Unidos O presente capítulo tem como objetivo realizar uma revisão descritiva e cronológi ca dos principais eventos apontados como marcantes no desenvolvimento das diferen tes modalidades nas quais se desdobra a moderna psicologia social como forma de 1 Breve História Da mODerna PsicOLOGia sOciaL Maria cristina Ferreira INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 14 tOrres neiva cOLs contextualizar suas origens sem ter a pre tensão de esgotar o assunto Nesse sentido inicia se com a abordagem dos autores que na segunda metade do século XIX desen volveram reflexões sobre temas que exer cerão significativa influência na construção da nova disciplina para em seguida tecer comentários sobre as obras que assinalaram a sua fundação Posteriormente discutem se os desdobramentos que ocorreram nos Estados Unidos na Europa e na América Latina para à guisa de conclusão trazer algumas reflexões acerca do estado atual da psicologia social Cumpre ressaltar que a excelente revisão histórica de ambas as vertentes da psicologia social realizada por Álvaro e Garrido 2007 mostrou se funda mental à elaboração do presente capítulo os Precursores da Psicologia social A expressão psicologia social foi utilizada pela primeira vez em 1908 ou seja no iní cio do século XX em dois diferentes livros razão pela qual esse ano é considerado por muitos como a data de fundação da discipli na Porém ao longo do século XIX quando os limites entre a sociologia e a psicologia ainda não eram muito claros foram publi cadas várias obras nas quais o indivíduo e a sociedade já eram abordados e discutidos Seus autores eram pensadores oriundos de vários campos do saber como por exemplo a filosofia a antropologia a biologia etc já que naquela época o papel profissional do psicólogo social ainda não havia sido insti tuído Entre esses merecem destaque os es tudos de Darwin e Spencer na Inglaterra os estudos de Wundt na Alemanha e os estudos de Durkheim Tarde e Le Bon na França os precursores da psicologia social na inglaterra A teoria da evolução de Charles Darwin 1809 1882 é considerada uma das mais poderosas e populares inovações do século XIX tendo exercido grande influência sobre a psicologia Em 1859 Darwin publica a obra Origem das espécies na qual desenvolve a tese da seleção natural Boeree 2006a Segundo ela na briga pelos escassos recur sos da natureza somente as espécies com maior capacidade de adaptação às varia ções da natureza conseguiram sobreviver e reproduzir se Darwin acreditava portanto que o ser humano constitui se como o pro duto final de um processo evolucionista que envolveu todos os organismos vivos ou seja um animal social que desenvolveu maior ca pacidade de se adaptar física social e men talmente às mudanças ambientais e sociais Para ele então haveria uma continuidade entre as espécies humanas e não humanas Tempos depois Herbert Spencer 1820 1903 fundamentando se na teoria da seleção natural converte se em um dos principais líderes do movimento conhecido como darwinismo social sendo dele a ex pressão sobrevivência do mais adaptado No livro Princípios de psicologia publicado em 1870 ele aplica as ideias de Darwin so bre o desenvolvimento da espécie humana ao desenvolvimento de grupos socieda des e culturas enfatizando a existência de uma continuidade entre ambos Boeree 2006a Seu principal argumento era o de que as nações e os grupos étnicos podiam ser classificados na escala evolucionista de acordo com o seu grau de desenvolvimento organização poder e capacidade de adap tação Desse modo os povos mais civiliza dos e avançados em termos culturais eram hierarquicamente superiores aos povos mais atrasados no que tange à escala evolucio nista As abordagens de Darwin e Spencer exerceram forte influência na psicologia dos instintos praticada ao início do século XX por alguns psicólogos sociais conforme se verá mais à frente o precursor da psicologia social na alemanha Wilhelm Wundt 1832 1920 é o principal representante da psicologia dos povos que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 15 surgiu na esteira do movimento de reunifi cação da Alemanha e que tinha como foco o estudo dos principais atributos em comum que definiam o caráter nacional ou o pensa mento coletivo do povo alemão Mcgarty e Haslam 1997 Suas ideias entretanto so freram uma considerável evolução ao longo de sua carreira Assim é que inicialmente ele defendia que a psicologia científica de veria ser vista como uma ciência natural que se ocupava do estudo da mente isto é dos processos mentais básicos sensação ima gem e sentimentos Para Wundt esse tipo de investigação deveria ser conduzido por meio da introspecção ou seja mediante a auto observação rigorosa e controlada do modo pelo qual esses fenômenos ocorriam Álvaro e Garrido 2007 Em virtude dessas preocupações Wundt criou em 1879 na cidade de Leipizig o pri meiro laboratório de psicologia do mundo tendo ali realizado uma série de experimen tos com o objetivo de estudar os processos mentais básicos além de ter fundado o pri meiro periódico de psicologia experimental Tais ações levaram no a ser considerado o fundador da psicologia experimental Com o passar do tempo porém Wundt sentiu necessidade de estudar os proces sos mentais mais complexos ou superiores como a memória e o pensamento tendo constatado que o método experimental não era adequado a tal estudo Assim propôs uma distinção entre a psicologia experimen tal responsável pelo estudo dos processos mentais básicos e a Völkerpsychologie psi cologia dos povos dedicada ao estudo dos processos mentais superiores por meio do método histórico comparativo Com isso ele estabelece uma clara distinção entre os fenômenos psicológicos mais externos que estariam na periferia da mente e os fenô menos mais profundos que constituiriam a mente propriamente dita Álvaro e Garrido 2007 Em sua Völkerpsychologie Wundt toma a mente como um fenômeno histórico um produto da cultura e da linguagem de um determinado povo que não poderia ser ex plicada em termos individuais mas sim em termos coletivos Por essa razão detém se no estudo da língua da arte dos mitos e dos costumes como forma de compreender a mente Em síntese haveria uma íntima relação entre a mente humana e a cultura entre o indivíduo e o contexto cultural no qual ele se desenvolve Desse modo a psico logia deveria estudar as produções mentais coletivas originadas das ações de conjuntos de indivíduos se quisesse chegar à mente humana Farr 1999 A psicologia dos po vos de Wundt exerceu influência principal mente sobre a psicologia social sociológica em virtude da ênfase atribuída à questão da determinação sócio histórica do indivíduo e ao uso da metodologia não experimental os precursores da psicologia social na França Conforme já mencionado entre os pre cursores da psicologia social na França encontram se Durkheim Tarde e Le Bon Emile Durkheim 1858 1917 é considerado um dos fundadores da sociologia tendo publicado várias obras nas quais aborda a evolução da sociedade os métodos da socio logia e a vida religiosa No livro intitulado Representações individuais e representações coletivas publicado em 1898 ele desenvolve o conceito de representações coletivas Melo Neto 2000 que exerceu significativa influ ência sobre a psicologia social europeia Para ele as representações coletivas como a re ligião os mitos etc constituem se em um fenômeno ao nível da sociedade e distinto das representações individuais que estão no nível do indivíduo Nesse sentido postula que os sentimentos privados só se tornam sociais quando extrapolam os indivíduos e associam se formando uma combinação que se perpetua no tempo transformando se na representação de toda uma sociedade As posições de Durkheim influenciarão so bretudo o psicólogo social Serge Moscovici que muitos anos depois desenvolve a teo ria das representações sociais Gabriel Tarde 1843 1904 na obra As leis da imitação publicada em 1890 de INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 16 tOrres neiva cOLs fende que a vida social tem como mecanis mo básico a imitação Karpf 1932 Desse modo qualquer produção individual surgi da sob a forma de uma invenção ou desco berta propaga se na vida social por meio da imitação uniformizando a Para ele as ini ciativas individuais constituem se em uma invenção enquanto as uniformidades da vida social associam se à imitação que con siste portanto em uma socialização da ino vação individual Avançando em suas pro posições o autor ressalta que as pessoas de status inferior costumam imitar as de maior status que o processo de imitação começa lentamente e com o tempo se acelera e que a cultura nacional é imitada antes da estran geira Álvaro e Garrido 2007 As ideias de Tarde exercerão influência no trabalho de Ross que publicou um dos primeiros livros de psicologia social Em 1895 Gustav Le Bon 1814 1931 publicou o livro Psicologia das multidões Melo Neto 2000 que exerceu significa tiva influência nos trabalhos de vários psi cólogos sociais posteriores Nesse livro o autor defende a tese de que as massas ou multidões constituem se em seres psíquicos de características diferentes dos indivíduos que as compõem Nesse sentido quando eles se juntam às massas perdem suas ca racterísticas superiores e sua autonomia passando a ser regidos por uma alma cole tiva com características independentes das de seus membros além de mais primitivas e inconscientes As multidões seriam assim as responsáveis pelo fato de os sujeitos per derem sua individualidade e passarem a fazer parte de um todo com características totalmente distintas das partes que o com põem Segundo Le Bon ao se encontrar em uma multidão o indivíduo sufoca sua per sonalidade consciente e passa a ser domi nado pela mente coletiva da multidão que é capaz de levar seus membros a apresen tar comportamentos unânimes emocionais e desprovidos de racionalidade Em outras palavras as pessoas perdem sua capacidade de raciocínio e tornam se altamente suges tionáveis o que as leva a cometer atos de barbárie que não praticariam se estivessem sozinhas Quando enfatiza a irracionalidade das multidões Le Bon estabelece um vínculo en tre a psicologia social e a psicopatologia ao qual se contrapõe a psicologia social psicoló gica de base cognitiva surgida nos anos de 1970 Farr 1999 Por outro lado a questão da sugestão ou influência social implícita na psicologia das multidões posteriormente se converterá em objeto de atenção da psicolo gia social psicológica de base experimental No entanto o estudo da mente grupal e do comportamento das multidões propriamen te dito foco central da obra de Le Bon so mente será resgatado mais recentemente por autores como Moscovici e colaboradores McGarty e Haslam 1997 a Fundação da Psicologia social No início do século XX a psicologia social começa a adquirir o status de uma discipli na independente e seu centro de gravidade começa a mudar da Europa para os Estados Unidos Jahoda 2007 Duas obras publica das no ano de 1908 irão marcar a fundação oficial da psicologia social moderna Uma introdução à psicologia social de William McDougall e Psicologia social uma resenha e um livro texto de Edward Ross Pepitone 1981 Cumpre registrar porém que esses dois autores embora fossem contemporâne os e tivessem usado a expressão psicologia social nos títulos de seus livros não estavam falando do mesmo assunto Edward Ross 1866 1951 era um so ciólogo norte americano que influenciado pelas obras de Tarde e de Le Bon caracte rizou a psicologia social como o estudo das uniformidades de pensamentos crenças e ações decorrentes da interação entre os seres humanos Pepitone 1981 Segundo Ross os fenômenos subjacentes a essa uniformi dade são a imitação a sugestão e o contá gio o que explicaria a rápida uniformidade verificada entre as emoções e as crenças das multidões Embora Ross tenha especificado INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 17 algumas variáveis que interferem na suges tão como por exemplo o prestígio da fon te sua análise da vida social humana não se reverteu no desenvolvimento de um mo delo teórico formal tendo ele se limitado a organizar observações extraídas da história da literatura e do trabalho de outros auto res McDougall 1871 1938 por outro lado era um psicólogo britânico que foi fortemente influenciado pelas concepções de Darwin e Spencer sobre a evolução Sua obra gira em torno do conceito de instinto ressaltando a importância de certas carac terísticas inatas e instintivas para a vida so cial Segundo ele os instintos apresentam três componentes a percepção que leva o indivíduo a prestar atenção aos estímulos relevantes a seus instintos o comporta mento responsável por levar o indivíduo a manifestar condutas destinadas a satisfazer seus instintos e a emoção que faz com que os instintos estejam associados a estados emocionais positivos ou negativos Boeree 2006b Propôs ainda uma classificação dos instintos em primários de segunda ordem e pseudoinstintos Álvaro e Garrido 2007 Os instintos primários são em número de sete e associam se a emoções Entre eles es tão por exemplo a fuga associada ao medo e o combate associado à raiva Os instintos secundários são em número de quatro e mostram se importantes para a vida social como por exemplo o instinto gregário Já os pseudoinstintos são em número de três e interferem nas interações entre as pessoas como no caso da imitação por exemplo Os estudos de McDougall são considerados pre cursores das teorias motivacionais que pos teriormente se tornarão objeto de investiga ção de alguns psicólogos sociais McGarty e Haslam 1997 No momento em que a psicologia co meça a se definir como uma disciplina in dependente a publicação concomitante das obras de Ross e McDougall estando situadas uma no âmbito da psicologia e outra no âm bito da sociologia pode ser vista como uma evidência da separação entre a psicologia social psicológica e a psicologia social socio lógica que se avizinhava A partir do início do século XX ambas as correntes sofrerão grande impulso nos Estados Unidos ainda que trilhando direções distintas Nesse sen tido acompanharemos inicialmente a evolu ção da psicologia social psicológica para em seguida trilharmos os caminhos percorridos pela psicologia social sociológica ao longo do século XX o desenvolviMento da Psicologia social Psicológica nos estados unidos Nas primeiras décadas do século XX os Estados Unidos assistem à ascensão do beha viorismo segundo o qual uma psicologia verdadeiramente científica deveria estudar e explicar apenas o comportamento humano observável sem considerar construtos men tais não observáveis como a mente a cog nição e os sentimentos McGarty e Haslam 1997 Com isso os psicólogos sociais pro gressivamente abandonam as explicações do comportamento social em termos de instintos bem como o uso da introspecção passando a adotar uma psicologia social eminentemente experimental e focada no in divíduo Jahoda 2007 Consequentemente a divisão entre psicologia social psicológica e sociológica aprofunda se na medida em que a psicologia passa a ser vista muito mais como uma ciência natural do que como uma ciência social Pepitone 1986 Cumpre registrar porém que o primei ro experimento em psicologia social ocorreu ainda no século XIX tendo sido conduzido por Tripplett em 1897 Rodrigues 1972 Esse experimento foi realizado com crianças que foram solicitadas a enrolar um anzol o mais rapidamente possível sozinhas ou na presença de outras crianças que faziam a mesma tarefa Os resultados mostraram que elas agiam muito mais rapidamente quan do estavam acompanhadas do que quando estavam sozinhas lançando assim as bases do estudo do fenômeno de facilitação social INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 18 tOrres neiva cOLs que ainda hoje é um dos temas de interesse da psicologia social psicológica Entretanto é somente em 1924 que surge o livro texto de psicologia social de Floyd Allport 1890 1978 considerado um dos mais famosos psicólogos sociais beha vioristas da época Pepitone 1981 O autor contrapõe se ao estudo da consciência cole tiva ou mente grupal pela psicologia social por acreditar não ser possível a existência de uma mente comum a várias pessoas de modo similar ao que ocorre com um indi víduo particular Além disso ele considera que a psicologia social faz parte da psicolo gia do indivíduo e não da sociologia e como tal deve ocupar se do estudo das influên cias do comportamento do indivíduo em ou tras pessoas e das reações a tais influências Karpf 1932 Allport desenvolve uma série de expe rimentos sobre facilitação social demons trando que os grupos nos quais as pessoas estavam juntas mas trabalhando individual mente em tarefas mentais ou perceptuais apresentavam melhor desempenho do que pessoas que estavam sozinhas realizando o mesmo tipo de tarefa Com sua obra ele de fine portanto os limites da psicologia social psicológica como uma disciplina objetiva e de base experimental Jones 1985 Nos anos de 1920 inicia se também o estudo das atitudes sob a coordenação de Thurstone e colaboradores que desen volveram uma metodologia própria para a investigação do referido construto toma do como um fenômeno mental McGarty e Haslam 1997 Esse trabalho pioneiro sus citou o desenvolvimento de várias outras técnicas para a mensuração das atitudes Tais técnicas aliadas à sofisticação cada vez maior do método experimental garantirão o status científico da psicologia social psico lógica ao longo das décadas subsequentes Graumann 1996 a segunda guerra Mundial Com a escalada do nazismo na Europa e a Segunda Guerra Mundial muitos cientistas imigraram para os Estados Unidos Além dis so os psicólogos sociais foram convocados a cooperar na resolução dos problemas sociais provocados pela guerra Tais fatos influen ciarão sobremaneira os novos rumos toma dos pela psicologia social psicológica no pe ríodo que vai da década de 1930 à década de 1950 Nesse sentido os psicólogos europeus trarão para a psicologia norte americana a perspectiva do gestaltismo que substituirá o behaviorismo até então dominante Para o gestaltismo as propriedades perceptivas de um objeto formavam uma gestalt isto é um todo que apresentava características distintas da soma das partes que o consti tuem McGarty e Haslam 1997 Entre os psicólogos sociais europeus que nos anos 1940 desenvolveram trabalhos influencia dos pelas ideias do gestaltismo destacam se Muzar Sheriff 1906 1988 Kurt Lewin 1890 1947 Fritz Heider 1896 1988 e Solomon Asch 1907 1996 Com o objetivo de explorar as condições e os fatores que levam à formação e à perma nência das normas sociais Sheriff 1936 de senvolveu vários experimentos Neles uma pessoa era solicitada a fazer julgamentos de estímulos ambíguos o quanto uma luz em um quarto escuro se movia quando na rea lidade estava parada individualmente ou na presença de outras pessoas Observou se que a pessoa ao tomar conhecimento dos julgamentos feitos pelos demais norma so cial antes ou depois do próprio julgamento tendia a convergir para a norma do grupo e a desconsiderar a própria norma Lewin era um psicólogo judeu que imigrou para os Estados Unidos em 1933 e juntamente com seus colaboradores Lewin Lippitt e White 1939 desenvolveu pesqui sas sobre o clima grupal nas quais estudou experimentalmente em grupos reais a in fluência dos estilos de liderança no compor tamento do grupo Os resultados levaram no a concluir que o papel do líder era central para o funcionamento do grupo já que di ferentes estilos de liderança provocavam ní veis distintos de produtividade e agressão Lewin 1943 também propôs a teoria de campo na qual o grupo era visto como um INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 19 campo de forças que tinha primazia sobre suas partes isto é sobre seus membros Ele inaugurou ainda um programa a que deno minou de pesquisa ação cujo objetivo era avaliar o comportamento dos membros de grupos da comunidade e colaborar com sua mudança de atitudes e comportamentos Em contraste com a posição de Allport e de outros psicólogos sociais experimen tais para quem o grupo representava tão somente uma variável externa que exercia influência sobre os indivíduos que dele par ticipavam a concepção de Lewin de que o grupo tem uma dinâmica própria não re dutível à soma das partes que o compõem soou como bastante original e teve grande impacto nas discussões teóricas travadas na época Pepitone 1981 Seus engenhosos experimentos trouxeram a realidade social para dentro do laboratório e converteram se em um modelo paradigmático de pesqui sas sobre processos e estruturas grupais que eram ao mesmo tempo empíricas e teóricas Smith 1961 Os trabalhos seminais de Heider 1944 1946 1958 lançaram as bases con ceituais de duas linhas de pesquisa que do minarão as décadas subsequentes Nas pu blicações de 1944 e 1958 ele estabelece os fundamentos das teorias de atribuição ao defender a ideia de que em suas relações interpessoais o indivíduo percebe o outro e suas ações como um todo organizado e por essa razão tende a procurar as causas do comportamento do outro como forma de tornar o mundo social mais organizado estável e previsível Para tanto utiliza se de fatores pessoais internos capacidade esforço etc ou de fatores impessoais ex ternos sorte situação etc Já no artigo de 1946 Heider constrói os pilares das teorias da consistência cognitiva ao propor o princí pio do equilíbrio cognitivo segundo o qual as pessoas tendem a manter sentimentos e cognições coerentes sobre um mesmo objeto ou pessoa de modo a obter uma situação de equilíbrio Quando esse equilíbrio se des faz elas vivenciam uma situação de tensão e procuram restabelecê lo mediante a mu dança de algum dos elementos da situação Asch 1946 coloca se contra a posição adotada pelos psicólogos sociais adeptos do behaviorismo procurando aplicar os princí pios gestaltistas no campo da percepção de pessoas que até hoje consiste em uma das áreas centrais de estudo da psicologia so cial psicológica Segundo ele ao formarmos uma impressão sobre uma pessoa construí mos um todo organizado sobre ela uma im pressão que difere do somatório de todas as suas características pessoais Os trabalhos de Sheriff Lewin Heider e Asch exerceram forte influência sobre toda uma geração de seguidores que fizeram a história da psico logia social psicológica nas décadas subse quentes o período do pós guerra O período do pós guerra constituiu se em uma fase de intensa produção pelos psi cólogos sociais da época estimulada pela continuação dos esforços de cooperação empreendidos durante a guerra e pela cons tatação por parte das entidades militares e governamentais de que as ciências sociais e comportamentais estavam preparadas para colaborar no gerenciamento dos comple xos problemas humanos daquele período Desse modo nas duas décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial a psicologia so cial psicológica converte se em um campo científico produtivo com bases solidamen te estabelecidas e torna se responsável por uma série de pesquisas inovadoras talento sas e cada vez mais sofisticadas do ponto de vista metodológico as quais desencadearão o surgimento de novas direções de pesquisa e teorização Jackson 1988 Com o intuito de melhor compreender as razões que levaram pessoas aparente mente normais e civilizadas a cometer hor rores contra outros seres humanos durante a guerra Theodor Adorno 1903 1969 dedica se ao estudo dos tipos de persona lidade Ele pertencia à Escola de Frankfurt nome utilizado para designar o Instituto de Pesquisa que funcionava na Universidade de Frankfurt e a exemplo de outros emi INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 20 tOrres neiva cOLs nentes psicólogos já citados também imi grou para os Estados Unidos durante a guerra Logo após o término do conflito irá publicar juntamente com outros membros de sua equipe Adorno FrenkelBrunswik Levinson e Sanford 1950 a obra A perso nalidade autoritária na qual defende a tese de que o preconceito contra as minorias so ciais em geral bem como o antissemitismo em particular está associado a um tipo de personalidade autoritária caracterizado por traços de rigidez de opiniões adesão a valo res convencionais e intolerância Outra consequência do período do pós guerra foi o ressurgimento do interesse pela pesquisa sobre atitudes Enquanto na primeira fase da pesquisa sobre o tema o foco era a mensuração das atitudes confor me já apontado nessa nova fase os psicólo gos sociais se concentrarão na investigação experimental da mudança de atitudes Tais estudos iniciaram se ainda nos tempos de guerra sob a liderança de Carl Hovland 1912 1961 com o objetivo de verificar os efeitos de filmes bélicos e de programas de treinamento do exército norte americano sobre as atitudes dos soldados Terminada a guerra Hovland e colaborado res Hovland Jonis e Kelley 1953 desenvol veram um extenso programa de pesquisas ex perimentais sobre comunicação e persuasão com o intuito de elucidar as influências das características do comunicador como por exemplo seu prestígio seu grau de credibili dade etc da mensagem como por exem plo seu conteúdo e da audiência como por exemplo suas características de personalida de na mudança de atitudes Esses estudos fizeram com que as atitudes tivessem um papel central na psicologia social psicológi ca durante os anos de 1960 tendo ocupado maior espaço do que qualquer outro tópico nos livros texto da época McGuire 1968 Contudo nos anos de 1970 esse interesse entrou em declínio com a consequente ascen são do cognitivismo Uma terceira consequência do pós guerra foi o impulso que as investigações sobre grupos receberam especialmente pe las mãos de Solomon Asch 1907 1996 que anteriormente havia realizado estudos sobre a formação de impressões e Leon Festinger 1919 1989 Tais pesquisas constituíram as bases da teorização sobre influência social e processos intragrupais temas presentes na maior parte dos modernos manuais de psi cologia social psicológica Na sequência dos estudos iniciados por Sheriff nos anos de 1930 Asch 1952 dedicou se a pesquisas sobre a influência social procurando avaliar a influência da pressão do grupo sobre o julgamento dos in divíduos Em contraste com os experimen tos de Sheriff nos quais os estímulos eram ambíguos ele usou estímulos sem nenhuma ambiguidade comparação de linhas de va riados tamanhos com uma linha de tama nho padrão Ainda assim seus experimen tos demonstraram que quando uma pessoa tem certeza de que seu julgamento está cor reto mas é confrontada com uma maioria que fez um julgamento errado ela tende a se conformar com essa maioria e mudar seu julgamento seja porque realmente passa a acreditar que estava enganada em seu julga mento e que a maioria é que estava correta seja porque tem necessidade de ser aceita pelo grupo Os estudos de Asch sobre conformida de suscitaram uma série de desdobramentos posteriores relacionados à investigação dos diferentes fatores que influenciavam tal fe nômeno além de inspirar os experimentos clássicos de Milgram 1965 sobre obediên cia à autoridade Em tais experimentos o autor demonstra que os indivíduos sentem se tão submissos à autoridade do experi mentador que atendendo às suas instru ções são capazes de ministrar choques cada vez mais fortes em uma determinada pessoa por causa de erros que ela vai simulando cometer durante o desempenho de uma tarefa apesar de ela demonstrar que está sentindo dores cada vez piores Festinger 1954 recebeu influências de Lewin tendo publicado uma das primeiras teorias formais em psicologia social a teoria da comparação social com base nos resul INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 21 tados de uma série de experimentos destina dos a testar hipóteses sobre as pressões para a uniformidade que ocorrem nos grupos De acordo com essa teoria as pessoas quando não têm um padrão objetivo de comparação sentem necessidade de se comparar com os demais membros de seu grupo e confirmar que eles têm crenças e habilidades seme lhantes às suas o que as faz se sentirem mais seguras Quando por outro lado surge um membro com opinião divergente o grupo faz pressão para que ele mude essa opinião e conforme se às regras grupais e caso isso não aconteça rejeita o levando esse mem bro a escolher outros grupos de comparação A teoria de Festinger foi submetida a inú meros desdobramentos especialmente por Shachter 1959 que desenvolveu uma sé rie de experimentos sobre a necessidade de comparação de experiências emocionais No final dos anos de 1950 e ao longo dos anos de 1960 e 1970 as pesquisas sobre mudança de atitudes e sobre processos gru pais foram progressivamente sendo substi tuídas pelas teorias de base cognitiva Nesse sentido as teorias da consistência domina ram a década de 1960 sob a influência do princípio do equilíbrio cognitivo de Heider 1946 Entre elas merece destaque a teo ria da dissonância cognitiva de Festinger 1919 1989 que antes já havia desenvolvi do a teoria da comparação social De acordo com Festinger 1957 as pessoas tendem a buscar a harmonia ou a congruência entre suas crenças e atitudes Desse modo quando são induzidas a emitir atitudes contrárias às suas crenças entram em dissonância cognitiva o que lhes causa desconforto e as leva a mudar suas crenças ou atitudes de modo a alcançar novamente a congruência Assim por exemplo se uma pessoa fuma e sabe que isso é prejudicial à saúde ela poderá resolver essa dissonância parando de fumar mudança de atitude ou buscando informações de que fumar não é prejudicial à saúde mudança de crenças A teoria da dissonância suscitou nas décadas seguintes um volume considerá vel de pesquisas experimentais rigorosas destinadas a testar seus pressupostos sobre as inconsistências contradições tensões ou perturbações da harmonia cognitiva que movem o comportamento social bem como sobre os diferentes fatores que interferiam na redução ou não da dissonância Apesar de ter sido também alvo de críticas ela foi a principal responsável pelo desenvolvimento da psicologia social psicológica nas décadas seguintes Rodrigues Assmar e Jablonski 2000 À medida que o interesse pelas teo rias da dissonância e do equilíbrio decaía a pesquisa sobre as teorias da atribuição au mentava tendo marcado os anos de 1970 e 1980 Essas teorias desenvolveram se a partir dos trabalhos de Heider 1944 1958 sobre as relações interpessoais e têm como principal objetivo a investigação acerca do modo pelo qual as pessoas inferem causas sobre o próprio comportamento e sobre o comportamento das outras pessoas isto é o que as leva a concluir que o responsável pelo comportamento é o próprio indivíduo ou a situação Tais preocupações foram in tensamente exploradas nas obras de Jones e Davis 1965 Kelley 1967 Ross 1977 e Weiner 1986 sendo as responsáveis pelo fato de ainda hoje as teorias atribuicionais constituírem se em importante campo de estudo e pesquisa da psicologia social psi cológica As teorias da atribuição representam também a consolidação definitiva do cogni tivismo que se tornou a partir dos anos de 1980 a perspectiva dominante na psicolo gia social psicológica atual Tal abordagem focaliza se na compreensão da cognição so cial isto é do processamento da informa ção social baseado no pressuposto de que o comportamento social pode ser explicado por meio dos processos cognitivos a ele sub jacentes Fiske e Taylor 1984 Ela se volta para o estudo da categorização dos objetos sociais ou seja para a análise das estraté gias que as pessoas utilizam para formar impressões crenças ou cognições sobre os estímulos sociais que as rodeiam o próprio indivíduo bem como outras pessoas grupos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 22 tOrres neiva cOLs e eventos sociais e do modo pelo qual tais categorias afetam seu comportamento a crise da psicologia social O período que vai do pós guerra aos anos de 1970 é visto por alguns autores Apfelbaum 1992 como a era de ouro da psicologia social em função da grande evolução ob servada na construção e na verificação de teorias assim como na elaboração de pro cedimentos metodológicos e estatísticos cada vez mais sofisticados Com o passar do tempo porém o modelo de pesquisa ação orientado para a comunidade e para o estu do dos grupos introduzido por Lewin ainda nos anos de 1930 foi sendo paulatinamente abandonado e substituído pela investigação de fenômenos e processos eminentemente intraindividuais de natureza cognitiva Tendo como meta última a investiga ção das leis universais capazes de explicar o comportamento social a psicologia social psicológica estrutura se progressivamente como uma ciência natural e empírica que desconsidera o papel que as estruturas so ciais e os sistemas culturais exercem sobre os indivíduos Pepitone 1981 É nesse contexto que a década de 1970 assistirá ao surgimento da chamada crise da psicologia social que marcará em definitivo os novos rumos tomados pela psicologia social psico lógica a partir de então A crise da psicologia social ou era das dúvidas surgiu portanto em consequência da excessiva individualização da psicologia social psicológica e dos movimentos sociais ocorridos nos anos de 1970 como o femi nismo por exemplo tendo se caracteriza do pelo questionamento das bases concei tuais e metodológicas da psicologia social psicológica até então dominante no que tange à sua validade relevância e capacida de de generalização Apfelbaum 1992 Os questionamentos voltam se principalmente à sua relevância social isto é ao fato de essa vertente da psicologia social usar uma linguagem científica cada vez mais neutra e afastada dos problemas sociais reais e consequentemente desenvolver modelos e teorias que não são capazes de contribuir para a explicação da nova realidade social que surgia Além disso criticava se a artifi cialidade dos experimentos conduzidos em laboratório a falta de compromisso ético de seus mentores e a excessiva fragmentação dos modelos teóricos Jones 1985 Tais críticas suscitaram grande resis tência da comunidade científica estabeleci da à época No entanto contribuíram para o movimento de internacionalização da psi cologia social responsável pelo desenvolvi mento de uma psicologia social europeia mais preocupada com o contexto social e mais recentemente de uma psicologia latino americana o desenvolviMento da Psicologia social sociológica nos estados unidos Durante o século XIX as questões psicos sociais estiveram entre as preocupações de filósofos sociólogos e psicólogos europeus e norte americanos No início do século XX porém os sociólogos sentiram a necessida de de se diferenciar dos psicólogos sociais que no contexto da psicologia passaram a adotar o behaviorismo como paradigma e a praticar uma psicologia social psicológica que aos poucos se tornava cada vez mais in dividualista Surge então a psicologia social sociológica cuja principal vertente é o inte racionismo simbólico e que tem nas figuras de Charles Cooley 1864 1929 e George Mead 1863 1931 seus mais notáveis pre cursores os precursores da psicologia social sociológica Cooley era um sociólogo que recebeu in fluências de Spencer tendo defendido uma concepção evolucionista da mente e da so ciedade Em sua obra Natureza humana e INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 23 ordem social datada de 1902 ele ressaltou a influência do ambiente social na configu ração da natureza humana e consequen temente da natureza da identidade ou self Álvaro e Garrido 2007 Ao explicar a formação da identidade Cooley usa a expressão eu refletido no es pelho para designar o fato de que tal for mação está eminentemente associada ao modo pelo qual a pessoa imagina que apa rece diante das outras pessoas assim como ao modo pelo qual ela imagina que as outras pessoas reagem a ela e aos sentimentos daí decorrentes que podem ser de orgulho ou de decepção Em outras palavras segundo o autor o indivíduo ao interagir com as ou tras pessoas torna se consciente da imagem e dos sentimentos que essas outras pessoas nutrem por ele isto é elas atuam como um espelho no qual o indivíduo se vê Para Cooley o desenvolvimento da identidade ocorre no contexto da intera ção com os outros e por meio do uso da linguagem e da comunicação Tais formula ções serviram de base a desenvolvimentos posteriores tendo influenciado Mead que também adota a expressão eu refletido no espelho ao discorrer sobre a identidade Mead era um filósofo norte americano que estudou por algum tempo com Wundt em Leipizig o que teve grande influência em sua obra Posteriormente ele passou a dar aulas de filosofia em Michigan onde conviveu com Cooley que na época estava escrevendo sua tese de doutorado e depois em Chicago onde permaneceu até a sua morte Suas aulas de psicologia social foram posteriormente compiladas no livro A men te o eu e a sociedade do ponto de vista de um behaviorista social publicado após a sua morte em 1934 Farr 1999 A linguagem desempenha um papel fundamental no pensamento de Mead a ponto de ele considerar o ato comunicativo como a unidade básica de análise da psi cologia social Segundo ele a linguagem é um fenômeno inerentemente social e con sequentemente as atitudes e os gestos só adquirem significado por meio da interação simbólica É portanto no contexto das rela ções sociais que a comunicação e a expres são tornam se possíveis bem como a possi bilidade de uma pessoa prever a reação do outro a seus atos isto é de assumir o papel do outro Jahoda 2007 Analisando a emergência desse pro cesso na infância Mead enfatiza a impor tância dos jogos infantis em virtude de eles permitirem à criança assumir o papel dos outros outro significativo ou dos membros da sociedade em que vive eu generaliza do Com isso ela passa a ter consciência de si mesma formando assim a sua própria identidade que reflete a internalização das normas e dos papéis presentes em sua co munidade Álvaro e Garrido 2007 Em síntese para Mead o indivíduo é produto do desenvolvimento das pesso as em sociedade e estrutura se por meio do processo de interação simbólica que leva as pessoas a tomarem consciência de si próprias mediante a perspectiva dos de mais membros de seu grupo social Ele si tua portanto a formação da identidade no campo das relações interpessoais da organi zação social e da cultura ao postular que o sujeito apropria se do conjunto de padrões comuns a diferentes grupos socioculturais para desenvolver seu próprio eu Stephan e Stephan 1985 Mead é considerado um behaviorista social porque ainda que defendesse o es tudo do comportamento observável consi derava que este era apenas um meio para se chegar à experiência interna do indivíduo Álvaro e Garrido 2007 Suas proposições apesar de terem recebido várias críticas exerceram forte influência no desenvolvi mento da psicologia social sociológica ten do dado origem a duas diferentes correntes teóricas a escola de Chicago e a escola de Iowa a escola de chicago Durante os anos de 1930 e 1940 as ideias de Mead não tiveram grande impacto Caberá porém a Herbert Blumer 1900 1987 em Chicago nos anos de 1950 e a Manford INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 24 tOrres neiva cOLs Kuhn 1911 1963 em Iowa nos de 1960 reacenderem o interesse pela temática Blumer era um sociólogo que após a morte de Mead assumiu seu curso anual de aulas de psicologia social tendo cunhado de in teracionismo simbólico a posição defendida por Mead Segundo ele o uso da expressão derivou se da ênfase na compreensão do modo pelo qual as pessoas interagem com as outras usando símbolos Desse modo o in teracionismo simbólico pode ser visto como uma forma sociológica de psicologia social iniciada em Chicago por Blumer a partir de sua interpretação da obra de Mead Segundo Blumer 1969 os principais pressupostos do interacionismo simbóli co são os seguintes a pessoa interpreta o mundo para si própria atribuindo lhe sig nificado o comportamento não é uma re ação automática a um dado estímulo mas sim uma construção criativa derivada da interpretação da situação e das pessoas que nela se encontram a conduta humana é im previsível porque os significados e as ações dependem de cada situação enquanto a in terpretação das situações e a construção do comportamento são processos que ocorrem durante a interação social A escola de Chicago costuma ser iden tificada com a abordagem qualitativa de pes quisa talvez porque Blumer fosse da opinião que o estudo do comportamento humano deveria ser conduzido por meio de métodos próprios que em vez de impor estruturas ao indivíduo fossem capazes de captar as realidades subjetivas construídas em cada situação Stephan e Stephan 1985 Na rea lidade porém a escola de Chicago primou pelo ecletismo metodológico tendo usado abordagens quantitativas e qualitativas na tentativa de estudar cientificamente a rea lidade social e resolver os problemas sociais que a cidade de Chicago enfrentou nos anos de 1930 e 1940 tais como o aumento da imigração da criminalidade e da violência Álvaro e Garrido 2007 A esse respeito vale destacar a pes quisa realizada por Thomas e Znaniecki 1918 com o objetivo de analisar as ati tudes de imigrantes poloneses na qual uti lizaram a análise de documentos cartas e histórias de vida para traçar um perfil da situação social desses imigrantes segundo a sua própria perspectiva Álvaro e Garrido 2007 Em contrapartida Bogardus 1925 outro membro da escola de Chicago desen volveu a primeira escala para a medida de atitudes numa evidência de que ambos os tipos de metodologia ali conviviam Álvaro e Garrido 2007 a escola de iowa e a psicologia social sociológica na atualidade Conforme já mencionado Kuhn 1964 é um dos principais representantes da esco la de Iowa responsável pela continuidade do interacionismo simbólico ao longo dos anos de 1960 Ele no entanto distancia se mais das ideias de Mead do que a escola de Chicago Nesse sentido defendia a utiliza ção dos mesmos métodos de pesquisa das ci ências naturais tendo testado algumas das proposições de Mead e abandonado outras por considerá las não passíveis de serem submetidas à verificação empírica Além disso ele postulava que o self e a sociedade dependiam da estrutura social Desse modo afirmava que as expectativas da sociedade a respeito do desempenho de determinados papéis limitavam as intera ções sociais ao exercer influência sobre as concepções que as pessoas desenvolviam acerca de si próprias e dos outros sobre as definições das situações e sobre os sig nificados que as pessoas construíam Kuhn 1964 destaca porém o papel ativo do in divíduo nesse processo na medida em que é ele quem escolhe os papéis a desempenhar podendo também modificá los Orientados predominantemente pela perspectiva do interacionismo simbólico e usando primordialmente a observação par ticipante como método aliada ao uso de entrevistas os psicólogos sociais adeptos da corrente sociológica prosseguiram nos anos subsequentes investigando temas como a interação face a face os processos de socia lização a formação e o desenvolvimento da INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 25 identidade o comportamento desviante e o comportamento coletivo Novos desdobramentos teóricos tam bém foram surgindo com o tempo entre os quais podem ser citadas a escola dramatúr gica de Goffman 1985 e a teoria da identi dade de Stryker 1980 Goffman deteve se na análise da interação face a face consi derando seus participantes como atores que podem ser mais ou menos eficazes no desempenho de seus papéis Stryker por sua vez propõe que a identidade apresen ta múltiplos componentes os quais se en contram associados aos diferentes papéis desempenhados pelo indivíduo sendo que alguns componentes são mais salientes e por essa razão mais evocados nas situações Esses desdobramentos contribuíram para a revitalização da psicologia social sociológi ca que durante certo tempo permaneceu à margem da psicologia social psicológica dominante no cenário acadêmico da psi cologia o desenvolviMento da Psicologia social na euroPa No ano de 1964 quando a psicologia so cial psicológica já estava firmemente esta belecida nos Estados Unidos foi criado no país um Comitê Transnacional sob o patro cínio do Social Science Research Council com o objetivo de promover a internacio nalização da psicologia social Moscovici e Marková 2006 Em sua formação inicial o comitê era composto por seis psicólogos norte americanos e dois europeus sob a presidência de Leon Festinger Suas primei ras iniciativas foram no sentido de fomen tar o desenvolvimento da psicologia social na Europa razão pela qual promoveu a realização de vários encontros científicos e treinamentos para os psicólogos sociais eu ropeus nos quais os conhecimentos por eles produzidos começaram a ser divulgados O Comitê Transnacional exerceu também um papel ativo na construção e na consolida ção da Associação Europeia de Psicologia Experimental Nos anos de 1960 em vários países eu ropeus os psicólogos já realizavam pesquisas psicossociais mas foi ao final da década que começaram a ser realizados esforços mais sis temáticos não apenas por parte do Comitê Transnacional mas também por meio de ou tras iniciativas mais isoladas dirigidas à in tegração dos psicólogos sociais europeus em uma comunidade científica atuante Assim é que desde os anos de 1970 a psicologia social europeia vem crescendo progressiva mente em tamanho e influência Apesar de ela ter caminhado inicial mente lado a lado com a psicologia social psicológica começou rapidamente a adqui rir sua própria identidade e a demonstrar maior preocupação com a estrutura social Nesse sentido os temas de estudo mais fre quentes entre os psicólogos sociais europeus são as relações intergrupais a identidade social e a influência social que remetem a uma psicologia dos grupos Graumann 1996 Entre os principais representantes dessa moderna psicologia social europeia destacam se Henri Tajfel 1919 1982 e Serge Moscovici Tajfel 1981 procurou enfatizar a dimensão social do comportamento indivi dual e grupal postulando que o indivíduo é moldado pela sociedade e pela cultura Apoiando se em tal perspectiva desenvol veu a teoria da identidade social por meio da qual defende que as relações intergrupais estão intimamente relacionadas a processos de identificação grupal e de comparação so cial Moscovici 1976 retomando os estu dos sobre influência social que até então se preocupavam exclusivamente com os efeitos da maioria dos membros do grupo isto é com as pressões para a conformidade intro duz na área o conceito de influência das mi norias tendo realizado investigações com o intuito de averiguar a inovação e a mudança social introduzida por essas minorias Outro campo de estudos a que ele se dedicou Moscovici 1981 foi o das representações sociais derivado do conceito de representa ções coletivas de Durkheim e caracterizado como modos de compreensão da realidade INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 26 tOrres neiva cOLs compartilhados por diferentes grupos so ciais A teoria das representações sociais foi amplamente difundida nas décadas seguin tes inclusive no Brasil caracterizando se hoje como uma das principais tendências da psicologia social europeia o desenvolviMento da Psicologia social na aMérica latina A psicologia social praticada na América Latina até a década de 1970 esteve for temente influenciada pelo paradigma da psicologia social psicológica de natureza ex perimental dominante à época nos Estados Unidos Ao final dos anos de 1960 de modo similar ao que já havia ocorrido na Europa o Comitê Transnacional fundado com o ob jetivo de promover a internacionalização da psicologia social procurou também atuar na América Latina Moscovici e Marková 2006 Nesse sentido três de seus membros mantiveram contatos com vários psicólogos sociais latino americanos e em seguida o Comitê Transnacional estimulou a criação de um comitê local além de patrocinar al guns encontros com esse grupo e um primei ro treinamento para os psicólogos sociais latino americanos no qual foi amplamente discutida a necessidade de a psicologia so cial estar mais diretamente vinculada aos problemas sociais da América Latina Alguns dos psicólogos desse comitê lo cal fundam em 1973 a Associação Latino Americana de Psicologia Social ALAPSO que nos anos seguintes continuará a fomen tar o desenvolvimento de atividades na área da psicologia social Contudo os proble mas políticos que muitos dos países latino americanos vivenciaram naquele período aliados a dissidências entre os membros do comitê local acabaram por inviabilizar a con tinuação da ação do Comitê Transnacional em prol da internacionalização da psicolo gia social psicológica na América Latina Ao final da década de 1970 porém muitos dos psicólogos sociais latino america nos iniciam um forte movimento de ques tionamento à psicologia social psicológica norte americana marcada pelo experimen talismo e pelo individualismo em prol de uma psicologia social mais contextualizada isto é mais voltada para os problemas po líticos e sociais que a região vinha enfren tando Estimulados pela arbitrariedade dos regimes militares e pela grande desigualda de social do continente esses psicólogos so ciais defendem uma ruptura radical com a psicologia social tradicional Spink e Spink 2005 Então passam a praticar o que tem sido designado como psicologia social crí tica Álvaro e Garrido 2007 ou psicologia social histórico crítica Mancebo e Jacó Vilela 2004 expressões que abarcam na realidade diferentes posturas teóricas como por exemplo o socioconstrucionis mo Gergen 1997 a análise do discurso Potter e Wetherell 1987 e a psicologia marxista entre outras Em que pesem as diferenças observadas entre essas corren tes a psicologia social crítica grosso modo caracteriza se por romper com o modelo neopositivista de ciência e em consequên cia com seus postulados sobre a necessida de de o conhecimento científico apoiar se na verificação empírica de relações causais entre fenômenos Em contraposição a tal modelo defende o caráter relacional da linguagem e a importância das práticas dis cursivas para a compreensão da vida social Álvaro e Garrido 2007 Na esteira da psicologia social críti ca irão surgir na América Latina diversos manuais de psicologia social organizados segundo tal perspectiva crítica como por exemplo Aguilar e Reid 2007 Cordero Dobles e Pérez 1996 Montero 1991 bem como algumas associações de psico logia social que se contrapõem à ALAPSO como é o caso por exemplo da Associação Venezuelana de Psicologia Social AVEPSO Um autor frequentemente citado como legíti mo representante dessa nova perspectiva na psicologia social latino americana é Martin Baró 1942 1989 psicólogo e padre jesuí ta espanhol radicado em El Salvador que defendeu em suas obras o desenvolvimento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 27 de uma psicologia social comprometida com a realidade social latino americana Para ele 1989 a construção teórica em psicologia social deve emergir dos problemas e confli tos vivenciados pelo povo latino americano de forma contextualizada com sua história No Brasil as primeiras publicações com foco na análise de questões psicosso ciais começaram a surgir na década de 1930 Bomfim 2003 Contudo a instituciona lização da psicologia social ocorre apenas em 1962 quando o Conselho Federal de Psicologia por meio do Parecer no 40362 criou o currículo mínimo para os cursos de psicologia estabelecendo assim a obriga toriedade do ensino da psicologia social A partir de então e até os anos de 1970 a psicologia social psicológica norte americana foi a dominante tal como ocor reu no restante da América Latina Uma das obras adotadas nos cursos de psicologia social durante esse período que expressa tal tendência é o livro Psicologia social de Aroldo Rodrigues publicado pela primeira vez em 1972 Seu autor também foi o res ponsável pelo desenvolvimento de uma pro fícua linha de pesquisa em psicologia social psicológica no país a qual foi divulgada em uma série de artigos publicados em perió dicos nacionais e estrangeiros ao longo dos anos de 1970 e 1980 A partir do final da década de 1970 os psicólogos sociais brasileiros também parti cipam ativamente do movimento de ruptura com a psicologia social tradicional ocorrido na América Latina Assim a partir da publica ção em 1984 do livro organizado por Silvia Lane e Vanderley Codo intitulado Psicologia social o homem em movimento sucederam se vários outros manuais brasileiros de psi cologia social Campos e Guareschi 2000 Jacques et al 1998 Lane e Sawaia 1994 Mancebo e Jacó Vilela 2004 na perspecti va da psicologia crítica Outra importante contribuição a tal movimento foi a fundação em 1980 da Associação Brasileira de Psicologia Social ABRAPSO estabelecida com o propósito de redefinir o campo da psicologia social e contribuir para a construção de um referen cial teórico orientado pela concepção de que o ser humano constitui se em um produto histórico social de que indivíduo e socieda de implicam se mutuamente Jacques et al 1998 No que tange à breve história da psi cologia social brasileira cabe registrar por fim o desenvolvimento dos cursos de pós graduação stricto sensu no país a partir da década de 1980 Esses cursos exerceram im portante papel na estruturação de diferen tes linhas de pesquisa na área de psicologia social orientadas por paradigmas e tendên cias diversificadas bem como no incremen to da produção científica brasileira em psi cologia social considerações Finais A revisão dos eventos que marcaram a his tória da psicologia social contemporânea re vela que no século XIX as reflexões sobre o indivíduo e a sociedade desenvolveram se no contexto da psicologia e da sociologia sem que houvesse a preocupação com o estabelecimento de limites sobre a nature za do conhecimento psicossocial No início do século XX ocorre uma nítida separação entre esses dois campos do conhecimento com a subdivisão da psicologia social que se situava na interface dos dois em psico logia social psicológica e psicologia social sociológica que passam a ter suas próprias questões centrais suas teorias e seus méto dos House 1977 No contexto da psicologia social psico lógica que se desenvolveu a partir de então o indivíduo sempre esteve no centro das principais perspectivas teóricas e dos temas de pesquisa Desse modo as teorias e os programas de pesquisa que lidavam com os fenômenos grupais ou coletivos trabalhan do com conceitos relacionais acabaram por sofrer uma solução de descontinuidade e ti veram pouco impacto na área Tal tendência individuocêntrica amparou se na concepção da psicologia como uma ciência natural em pírica e com o passar do tempo revelou se incapaz por si só de explicar o compor INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 28 tOrres neiva cOLs tamento social em todas as suas nuances Pepitone 1981 Ainda assim durante muito tempo os livros de psicologia social adotados nos cur sos de psicologia abordavam em sua maio ria apenas a psicologia social psicológica o que fez com que a psicologia social socioló gica tenha permanecido ao longo de várias décadas com menos peso do que a psicolo gia social psicológica no âmbito da psicolo gia Jackson 1988 Entretanto a crise por que passou a psicologia social psicológica nos anos de 1970 contribuiu para modificar substancialmente esse quadro Devido a isso a psicologia social psico lógica sem abandonar os temas tradicional mente estudados passou por uma correção de rumos e prosseguiu na expansão de seu corpo de conhecimentos Paralelamente fo ram surgindo novos olhares sobre antigos tópicos como por exemplo no caso do estudo da identidade e das relações inter grupais novos tópicos de estudo como por exemplo a análise das influências da cultura sobre o comportamento social pela psicologia transcultural e um maior esforço de aplicação dos conhecimentos sociopsico lógicos na resolução dos problemas sociais Jackson 1988 Acrescente se a isso o fato de que a psicologia social sociológica ressurgiu com nova força levando um número cada vez maior de psicólogos sociais a recorrer ao in teracionismo simbólico e a outros modelos psicossociológicos como estrutura de refe rência teórica de suas pesquisas Além disso novos e diversificados paradigmas teóricos e metodológicos que têm como traço em co mum a crítica aos pressupostos da psicologia social tradicional desenvolveram se e vêm sendo designados de psicologia social crítica ou pós modernas Álvaro e Garrido 2007 Por fim as últimas décadas assistiram à in ternacionalização da psicologia social e à consequente produção de um conhecimen to psicossocial cada vez mais expressivo na Europa e na América Latina A psicologia social contemporânea pode ser assim considerada uma disciplina plural que convive com várias tendências Nesse sentido DeLamater 2003 enfatiza que a psicologia social consiste hoje em um campo que se situa na interface da psicolo gia e da sociologia buscando compreender a natureza e as causas do comportamento social humano partindo do pressuposto de que o contexto intraindividual e o social in teragem mutuamente influenciando e sendo influenciado pelo comportamento individu al Orientados por tal perspectiva os manu ais de psicologia social mais recentes têm procurado contemplar as várias vertentes nas quais a disciplina atualmente se desdo bra na tentativa de contribuir para a cons trução de um conhecimento psicossocial de natureza científica e capaz de ser aplicado à realidade social dos novos tempos reFerências ADORNO TW FRENKELBRUNSWIK E LE VINSON DJ SANFORD RN The autoritarin personality New York Harper 1950 AGUILAR MA REID A orgs Tratado de psico logia social perspectivas socioculturales Barcelona Anthropos 2007 ÁLVARO JL GARRIDO A Psicologia social perspectivas psicológicas e sociológicas São Paulo McGrawHill 2007 ALLPORT GW The historical background of mo dern social psychology In LINDZEY G org Handbook of social psychology Reading MA AddisonWesley 1954 ALLPORT GW The historical background of social psychology In LINDZEY G ARONSON E orgs Handbook of social psychology 2ed Reading MA AddisonWesley 1968 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América Latina São Paulo Casa do Psicólogo 2003 CAMPOS RHF GUARESCHI PA Paradigmas em psicologia social a perspectiva latinoamericana Petrópolis Vozes 2000 CORDERO T DOBLES I PÉREZ R Dominación social y subjetividad contribuiciones de la psicologia social San José Editorial de la Universidad de Costa Rica 1996 DELAMATER J Handbook of social psychology New York Kluwer AcademicPlenum Publishers 2003 FARR RM As raízes da psicologia social moderna 18721954 2ed Petrópolis Vozes 1999 FESTINGER L A theory of social comparison pro cesses Human Relations v 7 p 117140 1954 FESTINGER L A theory of cognitive dissonance Stanford CA Stanford University Press 1957 FISKE ST TAYLOR SE Social cognition Rea ding MA AddisonWesley 1984 GERGEN K Social psychology as social construc tion In MCGARTY C HASLAM AA orgs The message of social psychology London Blackwell Publishers 1997 GOFFMAN E A representação do eu na vida coti diana 9ed Petrópolis Vozes 1985 GRAUMANN CF Introduction to the history of social 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sidade de estudos e abordagens que carac terizam a psicologia social brasileira mos trando seus enfoques divergentes algumas vezes complementares que foram construí dos a partir de posições teóricas e políticas que procuram gerar conhecimentos bastante aplicáveis à realidade nacional sem descon siderar os temas clássicos da psicologia so cial e possibilidades de estudos ainda pouco explorados no Brasil A psicologia social se beneficia de teo rizações oriundas dos grandes sistemas psicológicos behaviorismo gestalt psica nálise etc mas também apresenta teori zações próprias desenvolvidas a partir das pesquisas realizadas nos últimos 60 anos O campo ainda apresenta microteorias não desenvolvendo algo mais global e pretensio so na explicação do comportamento huma no no contexto social Contudo vários fe nômenos psicossociais foram identificados e analisados enfatizando se os fatores que os influenciam Nas últimas quatro décadas a psicologia social tem sido totalmente domi nada pela psicologia social cognitiva com preponderância de estudos que avaliem os fenômenos sociais sob a perspectiva indivi dual Em uma das chamadas crises da psi cologia social nos anos de 1960 e 1970 os estudos se envolveram mais com fenô menos que abarcassem a interação e a rela ção entre os indivíduos Essa crise consistiu em uma crítica e autocrítica dos psicólogos sociais acerca da validade dos métodos uti lizados em suas pesquisas preponderante mente experimentais da relevância social de seus resultados além da ética envolvi da em alguns de seus experimentos Essas críticas permanecem até hoje envolvendo inclusive movimentos dissidentes no Brasil como a psicologia social crítica Este livro tem por objetivo além de apresentar os te mas da psicologia social clássicos abordar outras vertentes de estudo que envolvem os fenômenos grupal e cultural e dessa forma mostrar como a psicologia social tem con tribuído para a compreensão do homem no contexto social Como forma de realizar tal empreendi mento este capítulo foi construído para apresentar a psicologia social no Brasil rea lizando uma retrospectiva histórica e apre sentando dados sobre a situação atual dessa área no Brasil Ao final do capítulo há uma discussão mais acurada sobre os objetos da psicologia social bem como dos objetivos do livro ressaltando a diversidade de obje tos que são motivadores de pesquisa e as teorizações que fundamentam as pesquisas realizadas a Psicologia social no brasil uM Pouco de História Segundo Bomfim 2004 o curso pioneiro em psicologia social no Brasil foi ministrado 2 PsicOLOGia sOciaL nO BrasiL Uma intrODUçãO elaine rabelo neiva cláudio vaz torres INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 32 tOrres neiva cOLs por Raul Briquet 1935 seguido pelo tra balho de Arthur Ramos Na década de 1930 surgiram os primeiros cursos superiores em psicologia social cabendo a Raul Carlos Briquet o pioneirismo docente Médico nas cido em São Paulo em 1887 foi responsável pela cadeira de psicologia social na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo Desse curso resultou uma publicação do primeiro livro acadêmico em psicologia so cial editado em 1935 O livro foi estrutura do em duas partes a primeira versa sobre as contribuições da sociologia da biologia e da psicologia a segunda denominada de especial traz temáticas específicas acerca da psicologia social tendo o autor realizado uma análise dos fatores psíquicos que moti vam o comportamento social o instinto o hábito as três formas de identidade social sugestão imitação e simpatia a inteligên cia e a vida social O segundo curso de psicologia social foi ministrado em 1935 por Arthur Ramos médico nascido em Alagoas em 1903 e resultou na edição do livro Introdução à Psychologia Social publicado em 1936 na Escola de Economia e Direito da extinta Universidade do Distrito Federal Para ele a psicologia social era uma disciplina entre a psicologia e a sociologia que necessitava de maiores delimitações de seu campo com crescente importância embora seus métodos e objetivos ainda não estivessem claros Na sua visão caberia à psicologia social estudar as bases psicológicas do comportamento so cial as inter relações psicológicas dos indi víduos na vida social e a influência total do grupo sobre a personalidade Vale notar que tal diferenciação ainda é discutida por auto res mais atuais como Sampson 1985 que defende a psicologia social como área que se localiza entre um contínuo bipolar de para digmas do conhecimento cujos polos foram por ele denominados como Individualismo Autocontido e Individualismo Abrangente A diferenciação entre eles é feita com base nos critérios de 1 compreensão do limite entre o self e o outro 2 crença sobre o grau de controle do am biente sobre o comportamento humano 3 visão excludente versus visão includente do self Talvez pelas influências da impreci são do objeto sofrida em outros países à psicologia social caberia o estudo das bases psicológicas do comportamento social das inter relações psicológicas dos indivíduos na vida social e da influência dos grupos sobre o indivíduo Para Ramos a psicologia social uma disciplina entre a psicologia e a sociologia estava em crescente importân cia embora não tivesse seus métodos e ob jetivos ainda claros A imprecisão no objeto refletia e era reflexo da imprecisão em sua própria nomeação sendo denominada como interpsicologia psicologia social psicologia coletiva psicologia das raças psicologia dos povos psicologia das massas ou psicologia das seitas O próprio Ramos nomeava o pro fissional da área ora como psicossociólogo ora como sociopsicólogo A articulação entre a psicologia social e antropologia social configurou se como uma contribuição do curso de Ramos fundamen tada nos escritos de Malinowski 1917 Franz Boas 1932 e Lévy Bruhl 1922 Sua visão se pautava na ideia de psi cologia so cial comparada com uma perspectiva cultu ralista originária da antropologia cultural e em função de seu ponto de vista cultural complementaria e questionaria o critério evolucionista linear explicando a evolução psicológica dentro de suas culturas Segundo Bomfim 2004 Briquet e Ramos forneceram um panorama geral da psicologia acentuando as contribuições do behaviorismo da psicanálise e do gestaltis mo tratando de forma semelhante temas como a sugestão a imitação a simpatia a opinião pública a censura e a propaganda os dois últimos pontos claramente influen ciados pelo zeitgeist da época A fundamen tação de Ramos para a psicologia social se pautava na motivação biológica no hábi to na aprendizagem social nas estruturas instintivo afetivas nas reações da persona lidade na interação mental na interferên INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 33 cia no conflito e nos desajustamentos psi cossociais sem relegar temas como a vida dos grupos a relação entre o individual e o social a psicologia da cultura a estrutura da mentalidade primitiva a lógica afetiva e sua relação com o pensamento mágico simbólico as esferas primitivas da realidade e a sobrevivência das estruturas primitivas Metodologicamente Ramos também propunha a utilização de várias formas de coleta de dados tais como medidas fisioló gicas e morfológicas os métodos biográfi cos os métodos de autorrelato e impressão pessoal os questionários e entrevistas e os testes Entre os vários pontos de congruên cia dos dois cursos ressalta se a visão pa norâmica da psicologia social presente tanto no curso de Ramos como no de Briquet Essa abordagem abrangente seria con trastada na década de 1940 em um tercei ro curso ministrado por Donald Pierson na Escola Livre de Sociologia e Política da Universidade de São Paulo O referido cur so foi registrado no livro Teoria e Pesquisa em Sociologia 1945 uma coletânea de artigos sobre sociologia e ecologia humana Bomfim 2004 Segundo Bomfim 2003a três fatores fazem parte do contexto de evolução da psi cologia social no Brasil os relacionados com os avanços de áreas afins como a sociologia a antropologia a educação a história social e a própria psicologia o progresso da psicolo gia social em países da Europa nos Estados Unidos e na América Latina e ainda as con dições históricas e econômicas mundiais es pecialmente as condições nacionais que se caracterizavam por demandas sociais de co munidades grupos e movimentos sociais ofe receram rumos para a teorização e as pesqui sas no campo do conhecimento psicossocial Na década de 1950 as demandas de senvolvimentistas tornam se mais premen tes no país sustentadas por crenças de que um parque industrial forte proporcionaria a qualidade de vida do Brasil de que a indus trialização e a urbanização levariam à qua lificação dos recursos humanos construin do um país moderno e desenvolvido com maior ênfase no setor educacional Assim foram criados órgãos como o Conselho Nacional de Pesquisas CNPq em 1951 a Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário CADES em 1954 e o Serviço de Educação de Adultos em 1957 Segundo Bomfim 2004 esse mo mento foi importante para a psicologia social pois possibilitou as primeiras teses de doutorado com temáticas comprometi das com essa perspectiva como a tese de Carolina Bori que versava sobre a Análise dos Experimentos de Interrupção de Tarefas e da Teoria da Motivação na obra de Kurt Lewin 1943 e a tese de Dante Moreira Leite sob o título de Caráter Nacional do Brasileiro 1954 que analisou a visão do que seja o brasileiro em diferentes obras representativas do chamado pensamento social brasileiro apontando nelas caracte rísticas conservadoras ou progressistas A psicologia social no início dos anos de 1960 foi atravessada por uma crise que questionava seu caráter teórico e ideológi co colocando em cheque tanto sua meto dologia como as teorizações utilizadas pois muitos consideravam que a psicologia não havia desenvolvido uma base sólida de co nhecimentos estruturada na realidade social e nas vivências cotidianas Sua teorização era centrada segundo Krüger 1986 no cognitivismo relevo aos fatores cognitivos do indivíduo no experimentalismo como método de pesquisa no individualismo ou seja na análise dos fenômenos sociais a par tir da perspectiva do indivíduo no etnocen trismo já que este modelo de indivíduo era o estabelecido na cultura norte americana no uso de microteorias ou seja na inves tigação de microespaços do social e final mente na perspectiva a histórica já que o homem considerado nesses estudos seria um ser humano presente em todos os tem pos e espaços Essa crise teórica de caráter internacional residiu principalmente nas dúvidas sobre o método experimental e so bre sua adequação à complexidade e às exi gências do objeto de estudo pois as regras do comportamento humano contrariamen te às das ciências naturais não podem ser estabelecidas definitivamente uma vez que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 34 tOrres neiva cOLs elas se alteram em função das circunstân cias culturais e históricas Ao final da década de 1970 esse mo vimento se intensifica na América Latina em oposição à psicologia social psicológica norte americana marcada pelo experimen talismo e pela perspectiva individual em busca de uma psicologia social mais voltada para os problemas políticos e sociais que a região vinha enfrentando Estimulados pela arbitrariedade dos regimes militares e pela grande desigualdade social do continente esses psicólogos sociais iriam defender uma ruptura radical com a psicologia social tra dicional Spink e Spink 2005 Um autor considerado representante dessa nova perspectiva na psicologia so cial latino americana é Martin Baró 1942 1989 psicólogo e padre jesuíta espanhol radicado em El Salvador que defende em suas obras o desenvolvimento de uma psico logia social comprometida com a realidade social latino americana Para Martin Baró 1989 a teorização em psicologia social deveria ser contextualizada na história da região marcada por problemas e conflitos vivenciados pelo povo latino americano Assim nasce uma tendência designada como uma psicologia social crítica Álvaro e Garrido 2007 ou psicologia social histórico crítica Mancebo e Jacó Vilela 2004 que aglutina diferentes posturas teóricas como o socioconstrucionismo Gergen 1997 a análise do discurso Potter e Wetherell 1987 e a psicologia marxista entre outras Na esteira desse movimento surgem na América Latina diversos manuais de psico logia social organizados segundo a perspec tiva crítica como por exemplo Aguilar e Reid 2007 Cordero Dobles e Pérez 1996 Montero 1991 bem como algumas asso ciações de psicologia social No Brasil até os anos de 1970 a psi cologia social psicológica norte americana também esteve dominante de modo seme lhante ao que ocorreu no resto da América Latina Uma das obras bastante adotada nos cursos de psicologia social durante esse período e que expressa tal tendência é o livro Psicologia social de autoria de Aroldo Rodrigues publicado pela primeira vez em 1972 Aroldo Rodrigues foi o responsável pelo desenvolvimento de inúmeras pesqui sas publicadas em periódicos nacionais e estrangeiros entre 1970 e 1980 em psico logia social psicológica no país No restante da América Latina contudo surge a obra Psicología Social de las Américas Kimble Hirt Díaz Loving Hosch Lucker e Zárate 2002 que faz uma união entre a psicolo gia social psicológica e a psicologia social crítica ou histórico crítica sob um diferente enfoque A partir da década de 1970 o campo da psicologia continuava crescendo com a implantação dos primeiros cursos de mes trado específicos em psicologia social na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo os quais geraram dissertações com temáticas voltadas à realidade brasileira A produção literária também aumentava com uma grande ênfase nas traduções dos livros estrangeiros No Brasil outros psicólogos aderiram ao movimento da psicologia social crítica segundo Bonfim 2003a discutindo e ana lisando as diferenças individuais grupais e das comunidades e questionando seu papel político Os argumentos principais afirma vam que as investigações deveriam se esten der do individual para o social e levar em conta o político e o econômico no sentido de se obter uma compreensão apropriada da evolução da psicologia contemporânea e da vida social Segundo Bomfim 2003b pelo fato de a psicologia social no Brasil crescer em meio às conturbações políticas e sociais in ternas houve também uma preocupação com o caráter aplicado da psicologia so cial com ações pautadas em intervenções em comu nidades e em organizações com e sem fins lucrativos Cresceram também nas empresas e nas instituições brasileiras as práticas de dinâmica de grupo e de inter venção psicossociológica que privilegiavam as relações interpessoais empresariais eou terapêuticas Houve ainda um crescente aumento no número de cursos de psicologia criados no país Nesses cursos as produções INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 35 como Relações Humanas psicologia das re lações interpessoais 1978 de Agostinho Minicucci e Psicosociologia das Relações Pú blicas 1975 de Cândido de Andrade podem ser citados como outras obras nacio nais da área O movimento de ruptura com a Psi cologia Social tradicional se tornou forte no Brasil a partir do final da década de 1970 com a publicação em 1984 do livro organizado por Silvia Lane e Wanderley Codo intitulado Psicologia Social o homem em movimento A partir dele outros manu ais brasileiros de psicologia social tiveram o mesmo enfoque Campos e Guareschi 2000 Jacques Strey Bernardes Guareschi Carlos e Fonseca 1998 Lane e Sawaia 1994 Mancebo e Jacó Vilela 2004 entre outros De acordo com Bomfim 2003 Lane fez seguidores e iniciou teorizações características de psicólogos sociais sócio históricos que produzem artigos criticando o Estado e o modo neo liberal de produção que tem um forte impacto na construção de subjetividades Segundo Lane e Codo 1984 a psicologia deve assumir um ca ráter de compromisso com a criação da consciência entre os atores sociais consi derando principalmente o contexto da luta de classes Silvia Tatiana Maurer Lane e Aniela Ginsberg foram professoras fundadoras do Programa de Estudos Pós Graduados em psicologia social da PUC SP o primeiro cur so de mestrado e doutorado da área a fun cionar no Brasil entre 1972 e 1983 em que a psicologia social tornou se uma disciplina teóricaprática referendada em pesquisas empíricas sobre os problemas sociais brasi leiros Segundo Bomfim 2003 os textos desenvolvidos por professores e autores es colhidos são adotados como bibliografia bá sica em muitos cursos de psicologia do Brasil e também em concursos públicos na área da saúde e educação Receberam o prêmio outorgado pela Sociedade Interamericana de Psicologia SIP em julho de 2001 Outro evento importante para a psi cologia social foi a fundação da Associação Brasileira de Psicologia Social ABRAPSO que se ocupa em especial da vinculação científica de pesquisas desenvolvidas com base na perspectiva da psicologia social crítica A ABRAPSO foi estabelecida em ju lho de 1980 com o propósito de redefinir o campo da psicologia social e de contribuir para a construção de um referencial teórico orientado pela concepção de que o ser hu mano se constitui em um produto histórico social de que indivíduo e sociedade se im plicam mutuamente Jacques et al 1998 o que contribuiu para a consolidação do mo vimento Além do aumento da produção de ar tigos e de dissertações de mestrado foram criados os primeiros cursos de doutorado específicos nessa área e defendidas as pri meiras teses nos cursos instituídos e a cria ção das associações científicas promoveu o debate científico de modo sistemático por meio de encontros com a categoria em dife rentes eventos científicos Nesse período a psicologia social no Brasil de acordo com Bomfim 2003b buscou autonomia científica por meio de um conjunto de atividades crescimento expressivo da produção publicada detalha mento das temáticas como educação saúde comunidade trabalho etc inclusão de ou tras perspectivas teóricas e de objeto como representações sociais relações de gêne ro movimentos sociais etc inseridos em estudos contextualizados em comunidades carentes além de publicação de estudos e de ampliação da divulgação de aplicações da psicologia social Segundo Bomfim 2004 Pinel 2005 Camino 2006 e Lima 2009 a psicolo gia social brasileira foi marcada por duas tendências em oposição representadas por Aroldo Rodrigues e José Augusto Dela Coleta empirista adotando uma aborda gem mais de experimental cognitiva pre ocupada com processos individuais que se relacionam com o contexto social e Silvia Lane marxista e sócio histórica As discor dâncias teóricas e metodológicas presentes neste campo evidenciaram não apenas posi ções antagônicas em relação a temas impor tantes no campo da psicologia social mas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 36 tOrres neiva cOLs também deram visibilidade a alguns autores que representavam essas rivalidades De maneira geral alguns argumentos que resumem as críticas e posições de am bos os lados podem ser levantados a A psicologia social baseia se em um mé todo descritivo e experimental ou seja um método que se propõe a descrever e relacionar aquilo que é observável fatual É uma psicologia que organiza dá nome aos processos observáveis dos encontros sociais b Tem seu desenvolvimento comprometido com os objetivos da sociedade norte americana do pós guerra que precisava de conhecimentos e de instrumentos que possibilitassem a intervenção na realida de de forma a obter resultados imedia tos com a intenção de recuperar a nação garantindo o aumento da produtividade econômica Os temas mais desenvolvidos estiveram centrados na compreensão do indivíduo desconsiderando fatores que sejam característicos da relação interpes soal e social c Os métodos experimentais trazem pers pectivas reduzidas do contexto social o que gera um conhecimento centrado no indivíduo nos processos sociocognitivos partindo de uma noção estreita do social Este é considerado apenas como a relação entre pessoas a interação pessoal e não como um conjunto de produções hu manas capazes de ao mesmo tempo em que vai construindo a realidade social construir também o indivíduo d Por outro lado a psicologia social crítica tornou esse debate relacionado a toma das de posições políticas o que produziu uma psicologia social comprometida com as lutas sociais engajada com as mu danças sociais que seriam resultantes do empoderamento das classes populares e ao mesmo tempo um tanto quanto mani queísta e dicotomizada sobretudo no que se refere aos aportes metodológicos e Além do maniqueísmo existem os ar gumentos que consideram as pesquisas qualitativas como frouxas metodologica mente e sem validade Bauer e Gaskell 2004 p 35 além da impossibilidade de estipular explicações causais sobre o comportamento humano f Outro argumento se fundamenta nas te orizações com pouco respaldo empírico de caráter metateórico que se sustentam em visões ideológicas de mundo e de ser humano Essas teorizações se tornam difíceis de serem transformadas em problemas científicos muitas vezes se tornando uma repetição de discursos Segundo Camino 2006 um olhar mais apurado a respeito desse aspecto de monstrará que no cerne deste problema encontra se a questão do tipo de explicação mais adequado ao comportamento humano Esse debate tem tomado a forma de dua lismos como por exemplo subjetividade objetividade natureza cultura explicação compreensão individual social quanti tativo qualitativo etc Nesse debate esco lher um polo dos dualismos significa neces sariamente negar a relevância ou o poder heurístico do outro Ainda para Camino 2006 a primeira dessas concepções tem como ponto de partida o lugar central ocu pado pelo indivíduo e seus processos intra psíquicos para a explicação dos fenômenos sociais Essa concepção denominada na atualidade de psicologia social psicológica coloca a psicologia social como um ramo da psicologia geral A segunda denominada de psicologia social sociológica tem suas ori gens no pensamento psicossocial presente na sociologia e preconiza como objeto de estudo da psicologia social o social Dito em outros temos na primeira o social seria o adjetivo e na segunda o social seria o pró prio substantivo Enfim envolvida em discussões sobre a natureza do objeto definido por uns como societal ou por outros como a introjeção do social no indivíduo o campo específico da psicologia social é o campo da articula ção de diferentes níveis de análise desde os processos cognitivos até os níveis culturais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 37 a Psicologia social no brasil HoJe Para que seja desenhado um retrato da psi cologia social no Brasil serão apresentados os dados da pesquisa de redes sociais de pesquisadores da pós graduação em psicolo gia no Brasil realizada por Neiva e Corradi 2008 Serão apresentados e discutidos os dados sobre a pesquisa no que tange aos pesquisadores da área de psicologia social A classificação dos pesquisadores por área foi feita por meio da análise do Currículo Lattes dos pesquisadores A partir da clas sificação foi traçada uma rede com os pes quisadores que foram classificados na área de psicologia social demonstrando as cone xões da área A pesquisa foi realizada em 2007 por meio de um questionário eletrônico que foi respondido por vários pesquisadores que se encontram vinculados a programas de pós graduação no Brasil na área de Psicologia A base de dados para identificar os respon dentes dos questionários foi elaborada a partir dos dados disponíveis nas bases do CNPq da CAPES e da Associação Nacional de Pesquisa e Pós graduação em Psicologia no Brasil ANPEPP Os dados dos respon dentes foram validados pelos Coordenadores dos Programas de pós graduação em psico logia vinculados a ANPEPP Novos nomes de pesquisadores poderiam ser inseridos no banco de dados a partir dos vínculos indica dos pelos pesquisadores que respondiam ao questionário A pesquisa teve por objetivo caracte rizar as redes de pesquisadores brasileiros e estrangeiros com conexões com brasilei ros envolvidos com a pós graduação em psicologia O questionário online usado para a pesquisa envolveu questões sobre as ca racterísticas das redes sociais sob o ponto de vista dos atores pesquisadores Os temas do questionário foram relações existentes entre os pesquisadores tipo de conteúdo transacionado nas relações entre pesquisa dores tais como participação em bancas publicações conjuntas realização de pesqui sas ou apresentações de trabalhos etc A pesquisa contou com o apoio da ANPEPP Associação Nacional de Pesquisa e Pós graduação em Psicologia para realizar o contato com os pesquisadores e divulga ção da pesquisa De forma resumida pode se conside rar que a amostra da pesquisa foi constituí da por 395 pesquisadores que responderam à pesquisa sendo que 350 responderam completamente 2787 indicações de pesquisadores entre membros de Grupos de Trabalho GTs de 2006 da ANPEPP outros pesquisadores no Brasil e pesquisadores estrangeiros 1344 pesquisadores foram indicados no bojo das 2787 indicações totais Para separar os pesquisadores perten centes a essa rede social foi elaborada uma classificação dos pesquisadores por meio do Currículo Lattes A classificação por meio do autorrelato indicado pelo Lattes demonstra uma ampla possibilidade de ob jetos que são classificados como objetos da psicologia social enfatizando desde temas bastante aplicados como comportamentos do consumidor violência pesquisa transcul tural e construção da subjetividade até estu dos com temas de aplicação menos visível como atribuição de causalidade e erros de julgamento etc A rede de psicologia social possui ca racterísticas muito peculiares Trata se de uma rede com 403 atores dos 1344 atores participantes da pesquisa constituindo a rede com maior número de atores dentre as subáreas da psicologia Os 403 atores envol veram 522 indicações de relacionamentos realizados entre os pesquisadores da rede social Considerando o número de relações existentes sobre as relações possíveis a den sidade da rede é de 04 considerando se seus 403 atores O índice de coesão da rede está em torno de 08 enquanto que a dis tância média entre os atores distância geo désica é de 23 atores Ou seja cada pes quisador da rede precisa em média de 23 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 38 tOrres neiva cOLs contatos intermediários para se relacionar com qualquer ator da rede social O diâme tro maior distância entre atores da rede de psicologia social é de 9 atores Mais da me tade da rede apresenta uma distância entre 2 e 5 atores conforme mostra a Tabela 21 A densidade diz respeito à proporção entre os vínculos possíveis e os vínculos existen tes na rede social A coesão aborda o grau de fragmentação da rede que permite des conexões ou quebras entre relacionamentos possíveis A distância geodésica aborda as distâncias entre os atores que podem exigir intermediários para que as conexões entre as pessoas ocorram ou seja a distância geo désica aborda quantas pessoas são necessá rias para que um ator acesse outros atores O diâmetro é formado pela maior distância geodésica da rede social De maneira geral pode se avaliar que é uma rede satisfatoriamente conecta da considerando se seu tamanho com um conjunto de relações consideráveis não se tratando das redes com maiores índices de fragmentação ou menores índices de coe são e densidade Há uma distância média entre atores relativamente baixa para o ta manho da rede e o diâmetro também não é alto para uma rede com tais proporções principalmente se levarmos em conside ração os resultados das outras redes ver Neiva e Corradi 2008 Existiram redes com distância geodésica em torno de 3 atores e diâmetro em torno de 9 atores com número de atores ligeiramente inferior ao da rede de psicologia social em torno de 220 e 280 atores Não se trata de uma rede social com subgrupos dispersos voltados para redes sociais com pesquisadores estrangeiros net working internacional e pouca imersão na rede nacional Na rede de psicologia social há uma distribuição de pesquisadores es trangeiros 76 estrangeiros para 307 atores nacionais o que caracteriza 19 dos 403 pesquisadores da rede social Os conteúdos mais trocados pelos atores seguem a ten dência predominante em todas as subáreas da psicologia pois os conteúdos trocados pelos autores em sua maioria são partici pação em bancas de dissertações e teses e participação em simpósios e mesas redondas em congressos Há uma tendência pequena para realização de pesquisas conjuntas e pu blicações em coautoria Verificou se a presença de 35 cliques Os cliques constituem subgrupos na rede que se caracterizam por relações recíprocas entre os pesquisadores Trata se de uma rede com um conjunto relativamente inferior de subgrupos ou panelinhas o que abre espaço para uma endogenia menor dos subgrupos quando consideradas as demais redes das subáreas da psicologia existem redes com 38 ou 37 cliques e 220 a 300 atores A Figura 21 apresenta uma ilustração das relações entre os pesquisadores classifi cados como psicólogos sociais além de es pecificar os tipos de papéis apresentados pe los pesquisadores e o formato geral da rede social É uma rede que apresenta quatro pesquisadores totalmente desconectados da rede social Alguns atores indicados como conectores centrais estabelecendo elos den tro dos subgrupos marcados em cinza cla ro outros atores que desempenham o pa pel de expansores de fronteiras conectando subgrupos diferentes marcados em branco e atores que atuam em função dupla conec tores e expansores simultaneamente mar cados em preto tabela 21 Frequências da distância geodésica Frequência Proporção 1 402000 0182 2 449000 0203 3 465000 0211 4 329000 0149 5 245000 0111 6 156000 0071 7 98000 0044 8 48000 0022 9 17000 0008 Fonte Ucinet INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 39 Uma análise preocupante ocorre quan do são consideradas as características da rede social de pesquisadores em psicologia social no que diz respeito aos papéis desem penhados pelos atores na rede social A rede apresentada pela Figura 21 ilus tra a divisão desses atores no que diz respeito aos papéis que eles representam na rede so cial Desses 403 atores apenas 22 546 marcados em preto atuam como expansores de fronteiras responsáveis por realizar a co nexão entre os subgrupos diferentes das re des sociais São atores que mostram a possi bilidade de intercâmbio entre os vários atores que representam tendências diferenciadas na rede social Outros três atores 074 mar cados em branco realizam o papel de conec tores centrais que se encarregam de manter conectados os membros dos subgrupos da rede O conector central repassa conteúdos transacionados entre os próprios membros do subgrupo Alguns atores atuam em ambos os papéis conectores e expansores No caso da psicologia social são 11 atores ou 2 73 cinza escuro do grupo de pesquisadores Considerando se os dados apresenta dos no parágrafo anterior a rede de psico logia social possui mais possibilidades de crescimento do que possibilidades de forta lecimento das relações internas São muitos Figura 21 representação da rede de psicologia social e os papéis de seus atores 1807 1203 957 833 559 874 802 681 111 840 585 583 1287 1726 1637 1519 1133 1665 1065 1055 1061 1775 1775 1719 1146 1660 1855 1059 1551 1134 1835 1522 1814 1689 1062 1242 1456 1620 1138 1445 800 824 750 926 608 929 735 809 560 596 782 480 475 901 778 578 978 932 979 279 578 667 946 951 813 968 519 464 976 667 503 918 953 938 697 575 507 512 696 707 856 854 855 884 967 963 950 986 766 799 906 95 526 915 511 297 773 922 781 872 877 793 962 909 965 772 899 883 548 837 738 934 973 512 644 637 974 566 958 904 862 752 729 859 596 537 792 490 720 975 902 558 569 907 878 757 628 853 000 666 642 923 938 89 889 603 633 485 504 740 500 166 777 470 940 927 84 896 623 1661 1262 1036 1269 1279 1798 1787 1475 1169 1588 1739 1707 1361 1023 1010 1112 1902 1037 1071 1040 1465 1469 1106 1708 1839 1779 1899 1888 1554 1137 1368 1476 1348 1857 1836 1469 1011 1692 1804 1328 1367 1107 1770 1770 1901 1115 1107 1417 1361 1362 1291 1117 1172 1265 1233 1691 1624 125016641993 1500 1802 1134 1769 1646 1606 1607 1426 1151 1853 1006 1867 1074 1515 1108 1679 1070 1766 1073 17131797 1670 10 1238 1545 1516 1060 1336 1349 1513 1805 2126 1118 715 1109 1590 1608 1029 1789 8 1341 1816 1479 1027 1767 1716 1596 1728 1009 1000 1114 1085 1347 1018 1224 1084 1799 1295 1325 1614 1124 1319 1605 1602 1592 1843 1047 1030 1765 1371 5555 1230 1327 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 40 tOrres neiva cOLs atores 33 ao todo realizando as atividades de conexão entre as partes mais diferen ciadas da rede enquanto que um número bem menor 14 ao todo realiza as ativida des de repasse de conteúdos de materiais e de informações entre os membros de seus subgrupos Os conectores centrais são extre mamente importantes porque estão preo cupados com a manutenção das conexões internas e não com a expansão delas Outro fator mais preocupante diz respeito ao fato de que a maioria dos conectores centrais rea liza duplo papel como expansores e co nectores ao mesmo tempo Considerando se também os papéis representados por esses atores apenas 1117 45 deles são bolsistas do CNPq o que se traduz no menor índice de bolsis tas quando comparadas todas as subáreas da psicologia Outro questionamento bas tante pertinente a área de psicologia social diz respeito ao menor número de bolsistas presentes na área Tendo em vista que os bolsistas são escolhidos por critérios de pro dutividade científica pode existir uma baixa produção nas pesquisas em psicologia social no país A Figura 22 ilustra a distribuição dos psicólogos sociais pelo território nacional De acordo com Neiva e Corradi 2008 um dos fatores que interferem no aproveitamen to e na produção da rede está relacionado à Figura 22 Distribuição dos pesquisadores por estadoregião Legenda Pesquisadores estrangeiros Pesquisadores de outras áreas do conhecimento Pesquisadores do Sul Pesquisadores de São Paulo Pesquisadores do Centro Oeste Pesquisadores do Nordeste Pesquisadores do Rio de Janeiro Pesquisadores de Minas Gerais Pesquisadores do Espírito Santo Pesquisadores do Norte 559 833 957 1203 1807 1347 1646 1030 1047 1716 1767 1027 1596 503 1009 985 1728 720 971 738 966 976 792 556 457 904 903 464 103 902 558 988 793 647 638 569 907 907 996 889 929 957 633 603 781 923 878 628 757 666 877 608 872 843 824 585 531 840 518 583 681 896 927 485 926 802 800 797 965 909 782 979 901 480 678 899 967 940 750 874 475 470 551 905 978 95 958 883 465 519 813 466 771 492 946 951 493 740 799 766 906 586 915 526 963 884 500 809 773 560880 882 771 642 922 550 511 504 888 778 112 974 548 537 151 512 837 934 1000 1008 1426 1607 1653 1606 1115 1107 1117 1172 1364 1362 1291 1367 1500 1074 1059 1053 1061 1735 1775 1262 1166 1006 1901 1417 1102 1899 1114 1770 1169 1475 1554 1361 1665 1768 1602 1739 1888 1839 1779 1265 1269 1279 1037 1069 1106 1592 1071 1787 1805 1233 1057 1591 1141 1348 1679 1667 1126 1242 1130 1287 1445 1551 1031 1824 1469 1456 1836 1523 1857 1835 1116 1689 1660 489 1070 1670 1515 1765 1531 1465 1040 1238 1476 1343 1769 1023 1319 1109 1590 1588 1608 1323 1230 1327 1139 1803 1108 1124 1123 1029 1664 1593 1112 1110 1118 1624 1295 707 495 1816 1479 1614 1516 1336 1349 1063 1513 1804 1133 1065 1692 1328 1620 1665 1855 1719 1146 1134 1726 1519 1637 1138 1545 1661 1798 1702 1014 1368 1119 1018 1867 1224 1084 854 925 667 729 752 952 578 918 859 911 861 855 507 1799 1121 1667 1902 1789 1583 1764 644 637 973 575 697 938 856 1341 696 1797 1713 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 41 proximidade geográfica e à distribuição de recursos Os 403 atores estão distribuídos entre 6 pesquisadores da região norte 44 do nor deste 46 de São Paulo 20 de Minas Gerais 46 do Rio de Janeiro 3 do Espírito Santo 34 da região centro oeste e 42 da região sul A região sudeste precisou ser dividida na pesquisa em função da alta concentração de pesquisadores Ainda entre esses 403 atores 96 ou 2382 são pesquisadores estrangei ros e 76 ou 1886 de outras áreas do co nhecimento sociologia antropologia etc Trata se de uma rede com índices medianos de presença de pesquisadores estrangeiros e de pesquisadores de outras áreas quando a rede é comparada com outras subáreas da psicologia A Figura 22 ilustra essa distribui ção por estadosregiões brasileiras É uma rede com pesquisadores dis tribuídos em todo o território nacional realidade diferente de outras áreas da psi cologia como Desenvolvimento Processos Psicológicos Básicos e Escolar e Educacional que possuem uma quantidade maior de pes quisadores entre os estados de São Paulo e o sul do país Neiva Corradi 2008 A loca lização geográfica pode ser mais importante que as atividades de networking para se ter acesso a recursos de pesquisa concentra ções de pesquisadores por Estado Contudo considerando se as inferências sobre produ ção feitas a partir do número de bolsistas na rede a rede de psicologia social pode estar mais preocupada em realizar networking do que em fomentar produção em grupo tão necessária à construção do conhecimento De acordo com Neiva e Corradi 2008 os fatores que mais influenciam o desenvol vimento de parcerias entre os pesquisadores brasileiros são a abordagem teórica a abor dagem metodológica e as afinidades pesso ais o que parece se reproduzir na área de psicologia social Existem algumas razões a serem con sideradas para que não ocorra colaboração entre os pesquisadores ou para que a colabo ração não se transforme em produtos cien tíficos Essas razões podem se concretizar em interesses aparentemente similares que não se mostram como tais na prática dife rentes abordagens teóricas e metodológicas que não permitem que a parceria se efetive na prática pois a colaboração requer tempo e energia recursos individuais escassos especialmente entre estranhos mérito reconhecimento e depende de condições geográficas que tornam a colaboraçao mais difícil quando potenciais colaboradores são geograficamente muito distribuídos como é o caso da rede de psicologia social O nível de cooperação também pode ser definido pela área à qual o pesquisador pertence Estudos de Storer Carpenter e Frame Gordon e Lodahl Balancieri et al 2005 mostram que as ciências básicas e na turais apresentam um índice maior de coope ração do que as ciências aplicadas e sociais Katz e Martin 1997 mostram que expe rimentalistas tendem a colaborar mais do que teóricos Alguns trabalhos demonstram que os trabalhos individuais predominam na área de humanidades como Poclación e Noronha 2002 e Newman 2004 Enfim essa dispersão de objetos e essa distribuição geográfica pode se concretizar em uma rede social da área que mantém um potencial considerável de contatos para uma rede com tal tamanho mas a produção nacional pode ficar comprometida teMas de Pesquisa e Pós graduação eM Psicologia social no brasil Dos 58 programas de pós graduação em funcionamento atualmente no Brasil 9 adotam o termo psicologia social em sua nomenclatura formal Os programas que se dedicam ao estudo de temas da psicologia social foram agrupados no Quadro 21 É importante ressaltar que todas as regiões brasileiras possuem algum programa que se dedica aos temas da psicologia social além de envolver importantes universidades bra sileiras no Rio de Janeiro em São Paulo no Distrito Federal e no nordeste Os 307 pesquisadores brasileiros clas sificados como pertencentes à subárea da INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 42 tOrres neiva cOLs psicologia social foram objeto de uma aná lise de conteúdo quanto a seus temas de pesquisa e uma classificação desses temas realizadas por três pesquisadores Os temas encontrados e classificados se encontram na Tabela 22 Os temas mais frequentes de acor do com as classificações dos currículos dos pesquisadores foram construção social da subjetividade atividade consciência identidade afetividade emoções lingua gem e pensamento sob a perspectiva sócio histórica história representações sociais e cultura e construção da cidadania e inclu são social Dentre os temas mais frequentes dois dizem respeito a fenômenos no nível individual sob a perspectiva social e os dois últimos dizem respeito a fenômenos que ocorrem mais no nível social Quando se olha para essa diversidade de temas e para a ambivalência entre temas que ora retratam aspectos individuais ora retratam aspectos mais coletivos retorna se à questão sobre qual é o objeto da psicologia social Enfim o que é o social da psicologia social A psicologia tenta explicar compor tamento Comportamento é algo observável Para onde olhar quando se quer compreender os mecanismos usados para explicar o com portamento manifesto A psicologia sempre teve uma relação ambivalente com o social Essa divisão entre psicologia e as outras ci ências sociais possui origens remotas e leva ram à dessocialização da psicologia social e a despsicologização das demais ciências so ciais Emile Durkeim 2002 afirma que o fenômeno sociológico não pode ser reduzi do ao fenômeno psicológico por outro lado Floyd Allport 1920 1924 definiu a psicolo gia social como uma ciência dos indivíduos e Gordon Allport 1954 seu irmão definiu a psicologia social como o estudo de como os pensamentos os sentimentos e os comporta mentos dos indivíduos são influenciados pela presença de outros imaginários ou atuais A ideia das causas dos comportamen tos serem originárias nas mentes dos indi víduos tornou se especialmente prevalente depois da revolução cognitiva e o social passou a ser visto como fonte de informação Baerveldt 2004 Alguns fatores compli cadores como cultura e fatores históricos foram completamente negligenciados ou transformados em processos cognitivos co letivos Gardner 1985 quadro 21 reLaçãO DOs PrOGramas De Pós GraDUaçãO em PsicOLOGia sOciaL nO BrasiL Programa universidade Psicologia social Pontifícia Universidade católica de são Paulo Psicologia social Universidade estadual do rio de Janeiro Psicologia clínica e social Universidade Federal do Pará Psicologia social Universidade Federal da Paraíba Psicologia social e institucional Universidade Federal do rio Grande do sul Psicologia social do trabalho e das organizações Universidade de Brasília Psicologia social Universidade de são Paulo Psicologia social FUF Psicossociologia de comunidades e ecologia social Universidade Federal do rio de Janeiro INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 43 Quando a psicologia social e a cogni ção social definem o social há uma indica ção usual do social como variável indepen dente e do comportamento como variável dependente Além da tradição experimental na psicologia social principalmente nos es tudos norte americanos há também os estu dos correlacionais especialmente na forma da psicologia transcultural abordada mais adiante que transforma a cultura como uma fonte de variáveis independentes para compreender comportamentos atitudes sentimentos ou características individuais Gardner 1985 Contudo quais são as vari áveis dependentes e independentes quando o pesquisador está interessado no que ocor re entre as pessoas em um determinado contexto Como estudar e compreender o que ocorre em uma conversa ou diálogo Os métodos experimentais ou correlacionais conseguem cobrir essa dimensão específica do social O próprio Gordon Allport 1937 en tre suas diversas aproximações inovativas ao estudo da psicologia humana utilizava se de escritas pessoais e das criações artís ticas dos indivíduos Nem ele autor da defi nição mais psicológica de psicologia social era restritivo quanto aos métodos e aborda gens metodológicas do fenômeno psicosso cial Nicholson 2000 Conforme ressaltado anteriormente Allport 1954 define que a psicologia social tenta entender e explicar como os pensamentos os sentimentos e os comportamentos dos indivíduos são influen ciados pela presença atual imaginada ou implícita dos outros Todavia na realidade a psicologia social não se interessa apenas tabela 22 relação de temas indicados pelos pesquisadores da área de psicologia social temas nº de pesquisadores construção da cidadania e inclusão social 31 estudos sobre gênero raça e idade 22 cotidiano e participação social 15 cultura e diversidade 12 construção social da subjetividade 49 comportamento relacionamento e interação social 11 atividade consciência identidade afetividade emoções linguagem e pensamento sob as perspectivas antropológica e sócio histórica 37 aspectos teóricos e metodológicos ligados à psicologia social 11 Psicologia política e movimentos sociais 13 estudos sobre a violência 23 trabalho e ação social 14 Processos sociocognitivos e psicossociais atribuição de causalidade erros de julgamento etc 9 História representações sociais e cultura 33 valores humanos e cultura 12 Psicologia ambiental 7 estudos sobre justiça social 8 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 44 tOrres neiva cOLs em como o indivíduo é influenciado por ou tros ou por seu meio Fica clara a preocupa ção dos psicólogos sociais atuais sobre como o meio e os outros são influenciados pelo indivíduo A psicologia social é de fato uma via de mão dupla De acordo com Markus e Zajonc 1985 no Handbook of Social Psychology o definidor do social é a reciprocidade e a intersubjetividade ou seja o social não é somente um fator de certo estímulo mas é alguma coisa que acontece entre pessoas na interação Isso coloca diversos desafios para a tradição empírica individualista da psico logia social o que coloca questionamentos sobre o fato de a psicologia experimental colocar indivíduos separados em algumas condições experimentais e isso trazer gran des explicações sobre o que acontece entre as pessoas Por outro lado os estudos cor relacionais precisam avançar nas formas de estudo sobre o que as pessoas compartilham e quais pessoas compartilham certos arran jos convenções e acordos Gold e Douvan 1997 propõem uma integração nos estudos da psicologia social destacando uma integração de teorias e da dos empíricos e uma integração de objetos Não se trata de considerar que a psicologia social tenha um único objeto mas seus obje tos individuais a introjeção do outro e so ciais compartilhamento o que forma e de fine o grupal e o coletivo possuem origem natureza e repercussão no indivíduo embo ra não se resuma ao psicológico A integra ção possui foco na interação entre o social e o psicológico Isso está relacionado às pes soas e seus ambientes sociais Esse tipo de psicologia social é vital às ciências sociais porque a natureza de ambos indivíduos e ambiente social depende fortemente desse encontro Segundo Gold e Douvan 1997 os psicólogos sociais estiveram perdidos e a crise continua em função das frequentes posições antagônicas presentes entre pes quisadores Segundo esses mesmos autores 1997 a psicologia social não pode aspirar à descoberta de leis universais devido à na tureza dessa ciência A psicologia social é o estudo das influências recíprocas das pesso as e de seus ambientes sociais com ênfase nas relações entre os eventos e entre as pessoas e seus ambientes sociais Em função desse foco dualístico pessoas e ambiente social torna se difícil encontrar leis uni versais pois as disciplinas limítrofes dificil mente alcançam leis universais A missão da psicologia social de explicar a influência recíproca do psicológico e do contexto social das realidades coloca as leis universais em cheque eM busca de conclusões A maioria dos modelos estudados pela psico logia social foi desenvolvida principalmente nos Estados Unidos e em países da Europa Ocidental destacadamente o Reino Unido Tais modelos enfocam prioritariamente o indivíduo em diversos contextos tais como organização escola família ou convívio so cial inserido em um contexto nacional ou cultural e tentam explicar o comportamento por meio dos valores e das metas individu ais Triandis 1994 Como resultado dessa ênfase no indivíduo boa parte da pesquisa em psicologia social realizada nas últimas três décadas tem ignorado as diferenças culturais e nacionais nos valores e crenças das pessoas e como essas diferenças afetam seu comportamento cotidiano Contudo o rápido desenvolvimento no ambiente or ganizacional e a globalização do mercado de trabalho não podem mais ser ignorados Earley e Erez 1997 Tais processos têm um impacto direto na vida de indivíduos co muns em sua motivação comportamento desempenho e demais resultados Logo é necessário confrontar as diferenças cultu rais de necessidades pessoais normas para comportamento e valores para citar alguns O que parece estar faltando é uma literatura que integre os contextos culturais e nacio nais nos quais diferentes pessoas vivem com modelos teóricos desenvolvidos em países muito específicos nos quais a ênfase no in divíduo é clara As pesquisas desenvolvidas nesses países que representam menos de INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 45 um quinto da população mundial quando levamos em consideração sua orientação in dividualista comparados aos outros quatro quintos da população que têm uma orienta ção coletivista podem não estar refletindo com adequação as preferências culturais e consequentemente podem estar propondo modelos de explicação da realidade que têm sua eficácia reduzida A proposta deste livro é trazer uma perspectiva integradora para o objeto da psi cologia social considerando se a produção de pesquisa nacional e outras possibilidades de estudo não presentes na realidade brasi leira sem ignorar as contribuições clássicas da psicologia social Portanto aqui serão abordados vários temas que foram tangen ciados pela literatura científica brasileira Afinal o que você irá encontrar neste livro o que você irá encontrar neste livro Como poderemos notar no decorrer do livro de uma forma geral os psicólogos sociais investigam alguns fenômenos da psicologia social que merecem destaque especialmen te por serem considerados clássicos na área Dentre eles vemos a proliferação de pesquisas em estudos sobre a percepção da pessoa a influência social o preconceito e a discriminação e a atribuição de causa Diversas dessas tradições de pesquisas serão exaustivamente abordadas neste livro com especial enfoque em trabalhos realizados no país De acordo com o levantamento de temas dos pesquisadores esses processos cognitivos têm recebido uma atenção res trita dos pesquisadores pois somente nove pesquisadores se dedicam a tal empreendi mento na literatura brasileira em contrapo sição a literatura internacional oferece uma vasta gama de descobertas nessa área É mister relembrar diretamente algumas des sas pesquisas clássicas sobretudo pelo fato de que todas embora tratem de fenômenos distintos trazem consigo uma similaridade Essa similaridade é a base de um argumen to que será desenvolvido mais adiante nos próximos capítulos sobre relacionamentos entre grupos e contatos intergrupais Dentre esses temas já tradicionais de pesquisa os psicólogos sociais interessados na percepção da pessoa buscam determinar a maneira pela qual as pessoas fazem julga mentos sobre os outros e como elas contro lam o julgamento que os outros fazem delas O primeiro caso é conhecido como formação da impressão e o segundo como gerencia mento de impressão A formação de impres são e outros tipos de julgamento social são afetados por processos e estruturas cogni tivas Dentre elas algumas são ressaltadas a seguir aliadas a uma breve apresentação dos pontos mais pesquisados 1 Os esquemas ou schemata e protótipos As pessoas desenvolvem esquemas ou redes de informação que são organizadas e mentalmente interconectadas basea das nas experiências pessoais e sociais anteriores e então usam tais esquemas para julgar situações atuais As pesquisas sobre os esquemas demonstraram que as pessoas tipicamente prestam mais atenção às evidências que confirmam os esquemas que já existem elas interpretam a informação e os eventos de uma forma consistente com seus esquemas e também tendem a se lembrarem mais daquelas in formações que são consistentes com seus esquemas p ex Cohen 1981 Rothbart Evans e Fulero 1979 Já os protótipos re presentam outro tipo de estrutura mental e se referem a modelos que criamos sobre as qualidades típicas de certos grupos ou categorias p ex líderes criminosos idosos 2 A heurística Para facilitar o processa mento e uso das grandes quantidades de informação a que as pessoas estão expostas no cotidiano de suas vidas elas desenvolvem regras de conduta ou heurística Tversky e Kahneman 1974 fizeram a distinção entre dois tipos de heurística ambos os quais podem enviesar a formação de impressão e outros julga INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 46 tOrres neiva cOLs mentos sociais Quando estamos usando a heurística representativa o julgamento que fazemos sobre alguém é baseado na similaridade que essa pessoa tem com um membro típico de um grupo p ex ela se veste e se parece como uma advogada logo ela deve ser uma advogada A heu rística de disponibilidade é a tendência de se utilizar aquela informação que é mais facilmente acessada na memória Por exemplo Srull e Wyer 1980 encontra ram que os participantes de sua pesquisa tinham uma maior tendência a interpretar situações sociais ambíguas como uma situação hostil quando eram expostos a palavras que sugeriam hostilidade p ex briga discussão antes de analisarem a situação Embora a heurística nos auxilie em nossa convivência diária ela também pode levar a erros de julgamento uma vez que faz com que as pessoas ignorem informações importantes Por exemplo a falácia do comum base rate fallacy é a tendência a ignorar informações que se relacionam a características ou eventos que ocorrem com frequência na população p ex crianças de rua 3 Exemplares e abstrações O estudo da formação de impressão sob uma perspec tiva cognitiva revelou que exemplares e abstrações são contribuintes importantes às impressões que formamos dos outros Sherman e Klein 1994 Exemplares são comportamentos concretos que são apre sentados por uma pessoa Eles são particu larmente importantes durante os estágios iniciais da formação de impressão À medida que cresce nossa experiência com uma pessoa nossas impressões são mais determinadas por abstrações mentais as quais são derivadas de observações repeti das do comportamento daquela pessoa 4 Traços centrais As principais pesquisas sobre o tema foram desenvolvidas por Asch 1946 que notou que certos traços centrais influenciam a impressão dos outros Uma pessoa descrita como inte ligente habilidosa determinada prática e cuidadosa tende a ser percebida mais positivamente do que uma descrita como inteligente habilidosa fria determinada prática e cuidadosa De acordo com Asch isso ocorre porque o termo fria é um traço central que carrega mais peso do que outros traços uma vez que ele fornece uma informação única que é associada a um grande número de características 5 Efeito de primazia Quando alguém se confronta com informações discrepan tes sobre uma pessoa sua impressão é normalmente mais influenciada pela in formação que é apresentada em primeiro lugar e tal fenômeno foi chamado efeito de primazia Contudo sob certas circuns tâncias o efeito recente pode acontecer Se uma atividade irrelevante acontece entre a apresentação de duas informações conflituosas sobre uma pessoa ou se o indivíduo é avisado para não fazer um julgamento imediato a informação mais recente sobre a pessoa terá maior impacto sobre a formação da impressão 6 Atração física A aparência física tem um impacto poderoso na formação da impressão Por exemplo há maior ten dência a se perdoar crianças atrativas por uma transgressão do que crianças pouco atrativas Dion 1972 Crianças atrativas também são julgadas mais favoravelmente em termos de QI e de sucesso acadêmico futuro Clifford e Walster 1973 7 Estigma Indivíduos estigmatizados são aqueles que possuem características que não são valorizadas por um grupo social Hoje em dia os estigmas incluem algumas deficiências físicas e mentais além de fatores como pobreza ou obesidade As respostas às pessoas estigmatizadas são afetadas por fatores como a visibilidade do estigma e crenças sobre a habilidade da pessoa em controlar o estigma Por exem plo as reações a pessoas infectadas com HIV tendem a ser mais negativas quando a aquisição do vírus se deu em decorrên cia de comportamento sexual promíscuo do que quando o vírus foi adquirido por transfusão sanguínea 8 Contexto social A formação de impressão também é influenciada pelo contexto social Essa influência foi demonstrada INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 47 por Rosenhan 1973 que utilizou em sua pesquisa oito pseudopacientes que se internavam em instituições para tratamento mental com a queixa de que estavam ouvindo vozes Uma vez admi tidos nos hospitais os pseudopacientes paravam imediatamente com os supostos sintomas e agiam normalmente quando interagindo como outros pacientes ou com os empregados do hospital Embora mais de um terço dos verdadeiros pacientes afirmavam que os pseudopacientes eram sãos todos com a exceção de apenas um dos pseudopacientes foram diagnostica dos com esquizofrenia Os resultados do estudo de Rosenham indicaram que os comportamentos tendem a ser percebi dos de forma consistente com o contexto social no qual eles aparecem Já os psicólogos sociais interessados em gerenciamento de impressão ou auto apresentação identificaram várias estra tégias ou táticas comportamentais que são usadas pelas pessoas para criarem uma imagem ou identidade aceita socialmente Um dos métodos mais comuns de gerencia mento de impressão ficou conhecido como engraçamento Snyder 1987 Esse método refere se a táticas que pessoas com pouco po der social usam para aumentar ou melhorar sua imagem aos olhos de outra pessoa que tem mais poder social do que elas e assim reduzir a diferença de poder entre as duas Engraçamento inclui as técnicas de melho ramento ou aumento tanto de si mesmo como dos outros Exemplos dessa técnica são o elogio e a concordância Outros métodos de gerenciamento de impressão são a inti midação a autopromoção a exemplificação convencer os outros de que o indivíduo é uma boa pessoa e suplicação convencer os outros de que o indivíduo merece ou tem necessidade de algo Segundo Snyder 1987 as pessoas também se diferenciam em termos de auto monitoramento ou quanto a sua habilidade ou necessidade de gerenciar a impressão que outras pessoas formam delas Indivíduos com alto automonitoramento analisam a si tuação social através de seu self público e então se esforçam para adequá lo à situa ção Essas pessoas são excepcionalmente boas em determinar quais comportamentos atitudes etc são desejáveis socialmente ou esperadas em situações diferentes Elas tam bém são extremamente sensíveis às técnicas de gerenciamento de impressão utilizadas pelos outros e consequentemente usam essas mesmas técnicas em seu favor Por outro lado indivíduos com baixo automo nitoramento tentam alterar a situação para adequá la a seu self público Essas pessoas são guiadas principalmente por suas pró prias crenças e valores Outro tema bastante pesquisado mas com pouca investigação no Brasil de acordo com o levantamento de temas 11 pesqui sadores se dedicam a investigar o compor tamento o relacionamento e a interação social se refere à influência social Tal número se mostra ainda mais reduzido se focarmos somente na influência social Esta ocorre quando as atitudes ou comportamen tos de uma pessoa são o resultado direto ou indireto de pressão social As respostas mais comuns à pressão social são a conformida de a concordância e a obediência A confor midade por exemplo ocorre quando uma pessoa muda suas ações para corresponder às ações de outras pessoas como resposta à pressão social indireta real ou imaginada Ela pode envolver a aceitação pública ou privada de comportamentos de atitudes ou de crenças Em outras palavras os compor tamentos aparentes de uma pessoa podem refletir ou não suas atitudes e crenças inter nas A conformidade começou a ser pesqui sada por Sherif 1935 que usou o efeito autocinético ou fenômeno da percepção no qual um ponto estacionário de luz parece mover se em uma sala escura Sherif pediu aos participantes esua pesquisa que dessem estimativas de quanto o ponto de luz tinha se movido Quando eles faziam estimativas sozinhos encontrou se uma grande variân cia na posição do ponto de luz Contudo quando esses participantes eram colocados em um grupo observou se um efeito de convergência ou seja depois de escutar INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 48 tOrres neiva cOLs a estimativa dos outros membros do grupo na verdade assistentes de pesquisa os participantes se conformavam com relação à norma imposta pelo grupo Asch 1958 fez uma pesquisa similar mas substituiu o efeito autocinético por uma tarefa não am bígua Foi pedido aos participantes de seu experimento que julgassem qual de um con junto de três linhas tinha o mesmo tamanho de uma quarta Embora não houvesse uma resposta correta Asch notou que quando os participantes eram colocados junto com um grupo de confederados a maioria de suas respostas se conformava com as respostas dos assistentes de pesquisa mesmo quan do essas respostas estava claramente incor retas Já a concordância ocorre como uma resposta a um pedido direto de um grupo ou pessoa em particular Pesquisas sobre os profissionais da concordância mostram que essas pessoas usam basicamente seis estratégias Cialdini 1993 reciprocida de consistência validação social amizade autoridade e criação de limites Segundo Cialdini alguns estudos mostraram que os vendedores tendem a obter mais concordân cia ao enfatizarem as consequências negati vas de não se comprar o produto Outro tema investigado no campo da influência social diz respeito à obediência Ela acontece quando uma pessoa se subme te à demanda de uma autoridade Os expe rimentos conduzidos por Milgram 1963 tornaram se pesquisas clássicas na área da obediência Embora os estudos de Milgram tenham sido criticados por problemas éti cos e metodológicos eles continuam sendo vistos como uma demonstração poderosa da influencia social Neles os participantes foram informados que seriam os professo res enquanto que outra pessoa na verda de um assistente de pesquisa seria o alu no A tarefa do professor seria a de fazer com que o aluno se lembrasse de uma lista de palavras Contudo toda vez que o aluno cometesse um erro o pesquisador ordenava ao professor que desse uma descarga elétri ca no aluno sendo que cada choque subse quente tinha uma descarga elétrica maior O objetivo da pesquisa de Milgram era saber se os participantes concordariam em obede cer à autoridade o pesquisador mesmo se essa obediência resultasse em dor a outra pessoa No início dos experimentos o profes sor e o pesquisador estavam juntos em uma sala enquanto que o aluno era colocado em outra sala da qual não podia ser visto mas de onde podia ser ouvido Para avaliar o efeito de fatores situacionais Milgram fez alterações posteriores nas condições expe rimentais Ele aumentou por exemplo a proximidade entre o aluno e o professor e observou que quanto mais próximo o alu no estava do professor menor a tendência do professor em obedecer ao pesquisador Contudo na maioria das condições os pro fessores concordavam em dar choques elé tricos nos alunos mesmo quando eles grita vam em desespero O mais interessante foi que em resposta a um questionário que foi mandado meses depois aos participantes 84 deles disseram que estavam extrema mente felizes em terem participado da pes quisa Como serão apresentados neste livro diversos outros temas investigados na psi cologia social se tornaram clássicos na área Dentre eles outra tradição de pesquisa des tacada neste capítulo diz respeito ao precon ceito e à discriminação O tema do preconcei to e da discriminação possui uma dedicação maior dos pesquisadores brasileiros na medida em que 22 pesquisadores indicam que estudam gênero raça e idade objetos diretamente relacionados ao preconceito e à discriminação O preconceito refere se a atitudes into lerantes injustas ou negativas com relação a um indivíduo simplesmente por que esse in divíduo pertence a um grupo enquanto que a discriminação refere se a comportamentos negativos injustos ou agressivos com rela ção a membros de um grupo em particular Vários conceitos se relacionam à explicação dos preconceitos e da discriminação Dentre esses conceitos destaca se a es tereotipia Estereótipos são esquemas diri gidos a grupos inteiros e contêm impressões INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 49 simplificadas rígidas e generalizadas com relação aos membros de tais grupos Os es tereótipos têm um forte efeito na maneira pela qual a informação social é processada a informação relacionada a um estereótipo que foi ativado é processada mais rapida mente as pessoas prestam mais atenção às informações que são consistentes com seus estereótipos informações que são inconsis tentes com um estereótipo são normalmente negadas ou refutadas Embora o estereótipo possa ser considerado como um processo natural que previne contra uma sobrecarga cognitiva por meio da redução de grandes quantidades de informação para um núme ro maneável de categorias ele torna se pro blemático ou seja leva ao preconceito e à discriminação quando os traços atribuídos a um grupo são predominantemente negati vos quando a pessoa que está estereotipan do é dogmática e não acomoda suas crenças a novas informações ou quando o estereóti po gera uma profecia autorrealizadora Os estereótipos podem ser mantidos por vários processos incluindo a correlação ilusória que é uma tendência a per ceber uma forte relação entre duas variáveis normalmente distintas A correlação ilusó ria contribui para a estereotipia quando se supõe que uma característica negativa se aplica a todos ou a grande parte dos mem bros de um grupo porque essa característi ca foi exibida por um ou poucos membros do grupo Já o conceito de personalidade auto ritária foi introduzido após a Segunda Guerra por um grupo de cientistas inte ressados em antissemitismo Adorno et al 1950 Segundo Adorno o preconceito e a discriminação estão relacionados a certas características de personalidade especial mente com o autoritarismo Esses cientistas criaram uma Escala F ou escala de fascismo F Scale que avalia nove componentes do autoritarismo p ex agressão autoritaris mo superstição estereótipos etc sendo que cada um desses componentes corres ponde a uma das funções do ego superego ou id Segundo Adorno altos níveis de auto ritarismo refletem um ego fraco um supere go rígido e externalizado e um id primitivo e forte Observou se que um alto escore na Escala F está associado ao preconceito as sim como a intolerância por ambiguidade o conservadorismo político e social e um clima de família que enfatiza uma ideologia tradicional O preconceito e a discriminação tam bém estão associados à crença de que um grupo representa uma ameaça direta ao bem estar de um indivíduo Essa explicação é reforçada pelo fato de que historicamente os incidentes de violência racial aumentam durante períodos de depressão econômica Sears 1988 desenvolveu a ideia de racismo simbólico ou moderno Essa noção propõe que o preconceito e a discriminação estão menos fortes e presentes do que costuma vam estar que eles realmente representam uma forma de resistência às mudanças ra ciais e que estão baseados em um sentimen to moral de que negros e outras minorias violam valores tradicionais como a ética do trabalho Os racistas simbólicos negam seus preconceitos e atribuem os problemas so ciais e econômicos dos grupos minoritários a fatores internos p ex pouco esforço ou disciplina Recentemente a noção de racis mo moderno também tem sido aplicada ao gênero Segundo Swim 1995 o sexismo moderno é caracterizado pela negação da discriminação contra a mulher e pelo res sentimento com relação às demandas por igualdade social Finalmente em seu livro A Natureza do Preconceito Allport 1954 argumenta que o preconceito intergrupal cresce de uma combinação de fatores históricos culturais econômicos cognitivos e de personalidade e propõe que uma vez que o preconceito tem determinantes múltiplos o enfoque em apenas um deles não vai levar a uma com preensão ou resolução total do problema Allport nota contudo que as várias causas do preconceito são internalizadas pelo indi víduo e consequentemente é o indivíduo que se engaja em práticas discriminatórias podendo este aprender a agir de maneiras mais igualitárias e não discriminatórias Em termos de intervenções Allport sugere que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 50 tOrres neiva cOLs nem sempre o senso comum deve preceder o senso de direito e que leis que proíbam a discriminação podem ser eficazes mesmo quando não refletem o consenso público Além do preconceito e da discrimina ção outro tema bastante investigado e que será bem detalhado no presente livro são os estudos sobre atribuição de causa O termo atribuição se refere ao processo de deter minar ou inferir a razão pela qual um com portamento ocorre Uma importante parte do trabalho sobre atribuição foi feita por Heider 1958 cuja teoria sugere que nós naturalmente desenvolvemos teorias sobre as causas do comportamento A pesquisa desenvolvida por Heider e outros acadê micos mostrou que as atribuições de causa podem ser descritas em termos de algumas dimensões Essas dimensões formam de fato uma taxonomia que pode ser utilizada para entender ou atribuir causas do comporta mento Assim o comportamento pode ser atribuído a características disposicionais internas do indivíduo assim como o hu mor as habilidades ou o desejo ou também pode ser atribuído a fatores situacionais ex ternos tais como características da tarefa da situação social ou do ambiente físico As reações humanas podem ser ainda o resul tado de fatores percebidos como estáveis ou constantes ou de fatores instáveis ou tem porários Além disso os indivíduos perce bem que alguns comportamentos têm efei tos específicos que envolvem um número limitado de eventos condições ou outros fe nômenos enquanto que outros têm conse quências globais ou seja afetam uma gran de variedade de fenômenos Finalmente as pessoas entendem que algumas causas do comportamento estão sob o controle do in divíduo p ex esforço atenção enquanto que outras são incontroláveis p ex apti dão sorte Esses critérios segundo Heider são responsáveis por atribuições de culpa aos atores do comportamento ou então à alocação de recompensas aos mesmos Um achado consistente da pesquisa so bre atribuição de causa é que observadores tendem a superestimar o papel dos fatores disposicionais e ignorar o papel dos fatores situacionais quando eles estão inferindo a causa do comportamento de um indivíduo Por exemplo um observador tende a atri buir o fracasso de um indivíduo na execução de uma tarefa mais como um resultado da falta de inteligência ou habilidade do indiví duo do que como um resultado de uma ca racterística da tarefa em si isto é da dificul dade Essa falha na atribuição é conhecida como erro fundamental de atribuição e tem sido usada na explicação de vários fenôme nos tais como as atribuições defensivas da crença em um mundo justo tendência que as pessoas têm em considerar a vítima como a causa de seu próprio infortúnio Lerner 1966 Notem porém que as pesquisas na perspectiva da psicologia transcultural so bre atribuição de causa sugerem que a ten dência a superestimar o papel dos fatores disposicionais é uma característica limitada a culturas individualistas p ex países do Norte Europeu Estados Unidos Pesquisas desenvolvidas com culturas mais coletivis tas p ex China Índia encontraram que os membros dessas culturas tendem a fa zer atribuições mais situacionais Segundo Morris e Peng 1994 essas diferenças se relacionam às teorias implícitas sobre o comportamento social enquanto as culturas individualistas adotam uma teoria sobre o comportamento social centrada na pessoa as culturas coletivistas tendem a aderir a uma teoria centrada na situação Assim é importante agora elaborar um pouco mais sobre o conceito de culturas individualistas e coletivistas além do papel da psicologia transcultural na explicação desses termos A presença de temas como cultura e diversidade 12 pesquisadores e valores humanos e cultura 12 pesquisado res mostram que os pesquisadores estão descobrindo essa perspectiva de pesquisa no Brasil Tal perspectiva reflete uma tendên cia internacional de realização de pesquisas transculturais Conforme dito anteriormente todas e outras pesquisas clássicas da psicologia so cial trazem em si uma similaridade a maio ria delas foi originalmente desenvolvida em INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 51 países individualistas É interessante notar contudo que o simples fato de essas pesqui sas terem sido originadas em países indivi dualistas faz com que elas tragam consigo um viés também individualista que se refle te nos sujeitos recrutados para as pesquisas na escolha de método utilizado e até mes mo no próprio fenômeno estudado O que talvez seja mais interessante de se observar é que tudo isso ocorre pelo simples fato de que esses pesquisadores também carregam consigo características individualistas Ora é claro que todas as manifestações culturais desse tipo como por exemplo o individu alismo são parte de um fenômeno social maior a cultura Se a cultura pode ser en tendida como lentes que distorcem a reali dade e nossa compreensão do mundo então é importante perguntarmos até que ponto essas pesquisas e seus resultados têm apli cação direta a outros grupos assim como as culturas coletivistas das quais o Brasil é um exemplo citado na literatura p ex Triandis 1995 Mas afinal o que são essas mani festações culturais citadas anteriormente Para que possamos discuti las é necessário antes entender o que está por trás do con ceito de cultura O conceito de cultura vem sendo profundamente discutido por mui tos autores p ex Hofstede 1993 Smith e Bond 1999 Triandis 1994 que acabam por defini lo de forma diferente e em al guns casos complementar O dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda apresenta uma definição de cul tura bastante geral e que de certo modo representa uma síntese das diversas defi nições existentes na literatura científica Nele a cultura é apresentada como com plexo dos padrões de comportamento das crenças das instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletiva mente e característicos de uma sociedade Essa noção parece ser complementar àquela apresentada por Kluckhohn 1962 de que a variável cultura pode ser dividida entre elementos objetivos expresso nos artefatos produzidos por grupos sociais e subjetivos valores crenças e normas desses grupos Seguindo a proposta de Kluckhohn parece claro que o maior interesse da psicologia social esteja nos elementos subjetivos da cultura Todavia vários são esses elementos subjetivos o que acaba por tornar o concei to muito amplo para a utilização científica Esse ponto tem sido discutido por diversos autores p ex Smith Bond e Kagitçibasi 2006 que defendem o desempacotamen to do conceito de cultura ou seja a ne cessidade de se identificar precisar e isolar esses elementos subjetivos para que então eles possam ser utilizados como variáveis de pesquisa Em um esforço para desempacotar Smith e Bond 1999 a cultura além de identificar estruturas valorativas que permi tam o estabelecimento de uma diferenciação entre as culturas Geert Hofstede coletou dados em mais de 50 países investigando a experiência de trabalho a estabilidade a formação de equipes e outras variáveis li gadas ao contexto organizacional Uma das mais importantes descobertas de seu estu do é que a cultura pode ser utilizada como uma variável causal e preditora Sua pesqui sa demonstrou que os povos têm intenções diferentes dão atribuições diferentes para a mesma situação e até mesmo se comportam de maneira diferente por causa do grupo cultural do qual fazem parte Para Triandis 1994 as pesquisas de Hofstede fornecem um conjunto de padrões de comparação por meio dos quais outros estudos podem ser organizados conceitualmente Smith Bond e Kagitçibasi 2006 também ressaltam que no trabalho de Hofstede a cultura nacional é conceituada em termos de seu significado o que tornou apropriado o estudo das cultu ras por meio do levantamento dos valores em amostras representativas dos membros de cada uma dessas culturas Em seu trabalho Hofstede 1980 1983 1984 1991 1993 identificou a variação de quatro dimensões culturais Essas quatro di mensões são masculinidade femininidade evitação das incertezas distância do poder e individualismo coletivismo Discussões extensas e revisões sobre essas dimensões são apresentadas por Smith e Bond 1999 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 52 tOrres neiva cOLs Smith Bond e Kagitçibasi 2006 e Torres 2009 dentre outros Aqui nós nos limi taremos a apresentar uma breve descrição dessas dimensões relacionando as aos obje tivos deste capítulo A masculinidade é encontrada em so ciedades que têm uma grande diferenciação sexual enquanto a feminilidade é uma ca racterística de culturas em que a diferen ciação sexual é mínima Hofstede 1980 também encontrou que países femininos en fatizam mais a qualidade de vida do que o investimento em uma carreira ou no traba lho enquanto que o contrário é verdadeiro para culturas masculinas Já a evitação das incertezas a segunda dimensão é refletida em uma ênfase nos comportamentos rituais nas regras e na estabilidade no emprego O autor observou altos índices de evitação das incertezas em culturas que apresentam altos níveis de estresse e que se correlacionam negativamente com a necessidade de alcan ce de metas Hofstede observou que países com alta evitação das incertezas tendem a ser mais ideológicos e menos pragmáticos no que se refere à tomada de decisão do que países com baixa evitação das incertezas A distância do poder sua terceira di mensão se refere à extensão em que mem bros de uma cultura aceitam a desigualda de de poder e o quanto eles percebem a distância entre aqueles com poder p ex chefes e aqueles com pouco poder p ex subordinados A distância do poder reflete a base sobre a qual o líder tem poder sobre o subordinado Smith e Bond 1999 Em culturas com alta distância do poder as re gras e as normas sociais são construídas pe los superiores e determinadas pelos líderes Em culturas com baixa distância do poder as regras tendem a ser consensuais e logo os subordinados estão mais diretamente en volvidos em sua elaboração É interessan te notar que quanto maior a distância do poder maior a conformidade em torno de uma norma social Smith Dugan Peterson e Leung 1998 Finalmente o individualismo coleti vis mo a outra dimensão identificada por Hofstede reflete a extensão na qual os gru pos enfatizam metas pessoais ou grupais Hofstede 1983 observou que membros de culturas individualistas tendem a se fo car em seu próprio trabalho enquanto que membros de culturas coletivistas dão preferência às metas grupais Para Singelis Triandis Bhawuk e Gelfand 1995 o com portamento social em culturas coletivistas é mais bem predito por normas sociais e obrigações enquanto que em culturas indi vidualistas o comportamento social é mais bem predito por atitudes e outros proces sos internos Smith e Schwartz 1997 en contraram evidências empíricas para essa afirmação Alguns autores p ex Triandis 1995 propõem que a dimensão cultural individualismo coletivismo é essencial para a análise de uma cultura e um grande nú mero de pesquisas p ex Egri e Herman 2000 Triandis e Gelfand 1988 demonstra ram a influência dessa dimensão no compor tamento de membros de um grupo cultural Outro esforço de desempacotamento da cultura foi realizado por uma série de es tudos desenvolvidos por Shalom Schwartz e colaboradores Esses estudos p ex Schwartz 1994 identificaram 56 valores e construíram um questionário no qual os res pondentes devem indicar o quanto cada um desses valores age como um princípio guia de suas vidas Até esta data respostas indi viduais foram obtidas em mais de 80 paí ses incluindo todas as regiões do mundo Quando analisados em termos de culturas nacionais os resultados demonstram com notável consistência que as relações espa ciais das médias dos itens podem ser suma rizadas como pertencentes a 7 domínios ou dimensões Schwartz nomeou essas dimen sões como igualitarismo conservadorismo hierarquia domínio autonomia afetiva e autonomia intelectual É importante notar ainda que os estudos dessas dimensões de monstraram que sua estrutura é consistente em diferentes culturas ou seja que a mes ma relação estrutural dos valores se repete nas diferentes culturas pesquisadas Estudos como o de Hofstede e Schwartz nos dizem que as culturas podem ser entendidas em termos de significados e INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 53 que por isso é apropriado estudá las por meio da avaliação dos valores de amostras representativas de membros de cada cultu ra Vale reforçar porém que pelo fato de duas nações se diferirem em termos de uma dada dimensão de valores não é lógico se inferir que porque essas duas culturas se diferenciam dessa forma então quaisquer dois membros dessas culturas também irão se diferenciar da mesma maneira O nível de análise cultural não pode ser perpassa do para o nível de análise individual Além disso as pesquisas de Hofstede e Schwartz também demonstraram que há significados consistentes entre culturas As polaridades que emergiram do estudo de Schwartz con servadorismo versus autonomia domínio e hierarquia versus igualitarismo podem ser entendidas como fortes reminiscentes das dimensões de Hofstede de individualismo coletivismo e distância do poder respecti vamente Todavia talvez um dos pontos mais importantes a ser frisado sobre todas essas dimensões é que elas não são absolutas Em outras palavras nenhuma cultura pode ser classificada simplesmente como individua lista ou hierárquica Uma cultura tem alto grau de individualismo ou de hierarquia em relação a outra cultura Tais manifestações culturais são dessa forma puramente re lacionais O Brasil por exemplo pode ser considerado como coletivista em relação aos Estados Unidos mas seguramente é individualista quando comparado à nossa vizinha Colômbia Hofstede 1984 Já na teoria de Schwartz quando comparado à Europa Ocidental o Brasil tem altos es cores em hierarquia e baixos em autonomia in telectual Quando comparado aos Estados Unidos o Brasil também apresenta maio res escores em autonomia intelectual com os EUA apresentando maiores escores em autonomia afetiva A dimensão de domínio parece ser maior para os EUA enquanto o Brasil apresenta maior escore para harmo nia Todavia quando comparado a países da Ásia da África e do Oriente Médio o Brasil apresenta uma posição praticamente inversa Esse tipo de comparação e estudo é o mote da psicologia transcultural que conforme citado anteriormente é uma das abordagens da psicologia social que vem ganhando reconhecimento na comunidade acadêmica brasileira Os psicólogos trans culturais tradicionalmente trabalham com ferramentas como questionários escalas e entrevistaobservação estruturada e têm uma predominância quantitativa em suas análises e opções metodológicas as quais com uma orientação empírica objetivam a testagem de diferenças entre amostras de nações eou grupos étnicos Assim como outros representantes da psicologia trans cultural no restante do mundo os pesqui sadores brasileiros ou seja Alvaro Tamayo Valdiney Gouveia Maria Cristina Ferreira Cláudio Torres dentre outros que têm interesse nessa abordagem da psicologia social procuram tipicamente o estabeleci mento da variância explicada por valores culturais Também como seus colegas de outros países esses pesquisadores tendem a publicar em revistas como o Journal of Cross Cultural Psychology da International Association for Cross Cultural Psychology embora revistas nacionais p ex Brazilian Administration Review ANPAD Revista Psicologia Organizações e Trabalho da SBPOT também têm publicado artigos com essa ênfase Vale notar que os pesquisadores representantes da psicologia transcultural se diferenciam daqueles da psicologia inter cultural uma vez que os representantes do segundo grupo estão mais preocupados com a relação interpessoal entre membros de di ferentes grupos culturais Já os pesquisado res voltados para a psicologia cultural têm uma preocupação maior com os processos por meio dos quais a cultura é transmitida entre os membros do grupo Finalmente vale uma nota de alerta conforme destacado grande parte da psi cologia social foi originalmente desenvol vida principalmente nos Estados Unidos e no Reino Unido Isso se reflete nos manuais de psicologia social utilizados em diversos cursos introdutórios em grandes centros acadêmicos no mundo O Manual de Baron INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 54 tOrres neiva cOLs e Byrne 1994 talvez um dos livros texto mais utilizados nos Estados Unidos contém por volta de 1700 citações Todavia ape nas um pouco mais de 100 delas se referem a estudos desenvolvidos fora dos Estados Unidos Já o livro texto de Hogg e Vaughan 1995 um dos mais conhecidos e utiliza dos na Europa contém mais de 500 citações de estudos feitos fora dos Estados Unidos de um total de 2 mil referências utilizadas na obra Contudo a maioria dessas 500 citações se refere a estudos conduzidos na Europa Ocidental na Austrália e na Nova Zelândia ou seja todos países individua listas pelo menos quando comparados à América Latina Esses dados demonstram a urgente necessidade de que o leitor ao bus car os conhecimentos da psicologia social também exercite a habilidade da tradução Mas não a tradução da língua inglesa que afinal de contas pode ser considerada como a Língua Franca da área ou o Latim dos nossos tempos O que é necessário é uma tradução cultural Nem tudo o que lemos e estudamos pode ser diretamente aplicado a nossa realidade Nem tudo que é produzido no aproximadamente um quinto do mundo que é individualista é diretamente aplicável aos quatro quintos restantes do mundo que é coletivista Além da perspectiva da psicologia transcultural a perspectiva sociológica e antropológica e dos estudos que se funda mentam sobre a teoria das representações sociais serão abordados neste livro pois são objeto de atenção de vários pesquisadores sociais brasileiros principalmente com uma interface grande com a psicologia escolar e educacional Conforme retratado pelo levantamento de temas os temas história representações sociais e cultura abordados por 33 pesquisadores estudos sobre vio lência 23 pesquisadores construção social da subjetividade 49 pesquisadores e ativi dade consciência identidade afetividade emoções linguagem e pensamento sob a perspectiva antropológica e sócio histórica 37 pesquisadores são preponderantes no contexto brasileiro Enfim o objetivo deste livro é mostrar as diversas tendências e temas presentes na psicologia social no Brasil alguns bastante explorados outros com possibilidades de exploração ainda não tomadas por psicólo gos da área Outra vocação do livro está na apresentação das várias formas de estudo da influência recíproca dos indivíduos e dos ambientes sociais Tal estudo muitas vezes requer abordagens diferenciadas e respeito ao conhecimento produzido pelo outro di ferente Esperamos que os leitores aprovei tem reFerências ADORNO T FRENKELBRUNSWICK K LEVIN SON D SANDFORD R The Authoritarian Perso nality New York Harper Row 1950 AGUILAR M A REID A Org Tratado de psicologia social Perspectivas socioculturales Barcelona Anthropos 2007 ALLPORT F Social psychology Psychological Bul letin v 17 p 8594 1920 ALLPORT F Social psychology Boston Houghton Mifflin 1924 ALLPORT G Personality a psychological interpre tation Oxford Holt 1937 ALLPORT G W The Nature of Prejudice Reading AddisonWesley 1954 ÁLVARO J L GARRIDO A Psicologia social Perspectivas psicológicas e sociológicas São Paulo McGrawHill 2007 ASCH S E Forming impressions of personality Journal of Abnormal and Social Psychology v 41 p 258299 1946 ASCH S E Effects of group pressure upon modifi cation and distortion of judgments In MACCOBY E E Ed Readings in Social Psychology New York Holt Rinehart Winston 1958 BALANCIERI R BOVO A KERN V PACHECO R BARCIA R A análise de redes de colaboração científica sob as novas tecnologias de informação e comunicação um estudo na Plataforma Lattes Ciên cia da Informação v 34 n 1 2005 Disponível em httpwwwibictbrcienciadainformacaoviewar ticlephpid680 Acesso em 20 jul 2008 BARON J Thinking and deciding 3rd ed New York Cambridge University Press 2000 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 55 BARON R A BYRNE D Social Psychology Understanding human interaction 7 ed Boston Allyn and Bacon 1994 BOMFIM E M Contribuições para a história da psicologia no Brasil In JACÓVILELA A M ROCHA M L MANCEBO D Org Psicologia social Relatos na América Latina São Paulo Casa do Psicólogo 2003a p 123144 BOMFIM E Históricos cursos de Psicologia Social no Brasil Psicologia Sociedade v 16 n 2 p 3236 2004 BOMFIM E Psicologia Social no Brasil Belo Hori zonte Edições do Campo Social 2003b BRIQUET R Psicologia Social São Paulo F Alves 1935 CAMINO L A Psicologia Social e sua complexidade teórica e metodológica Abordagens integrativas In XI SIMPÓSIO DE PESQUISA E INTERCÂMBIO CIEN TÍFICO DA ANPEPP Anais Florianópolis 2006 CAMPOS R H F GUARESCHI P A Paradigmas em psicologia social A perspectiva LatinoAmeri cana Petrópolis Vozes 2000 CIALDINI R B Influence Science and Practice New York 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maneiras de se estudar esse triângulo e de se chegar a explicações e compreensões dos fenômenos da interação social Como o conteúdo deste livro sugere a psicologia social estuda um grande nú mero de assuntos e envolve um número di versificado de abordagens metodológicas Entretanto podemos afirmar que são três os caminhos principais para se estudar e se compreender o comportamento humano3 no contexto da psicologia social empírica 1 observar o comportamento que ocorre naturalmente no âmbito da vida real 2 criar situações artificiais e registrar o com portamento diante de tarefas definidas para estas situações 3 perguntar às pessoas sobre o que fazem pensam ou experienciam acerca de algo no passado no presente ou no futuro Cada uma dessas três famílias de téc nicas para conduzir estudos empíricos ob servação experimento e levantamento de dados apresenta vantagens e desvantagens distintas Kish 1987 Tais vantagens estão ligadas à qualidade e à utilização dos dados obtidos e devem ser consideradas pelo pes quisador quando este for escolher o método mais apropriado para um determinado obje tivo de pesquisa Não obstante as variações dentro de cada uma dessas três grandes áreas podemos afirmar que o ponto forte da observação é o realismo da situação estu dada que o experimento possibilita tanto a randomização de características das pessoas estudadas quanto inferências causais e que o levantamento de dados especialmente por amostragem isto é survey assegura melhor representatividade e permite generalização para uma população além da estudada No presente capítulo apresentamos um tour dhorizon dessas principais manei ras de estudar a relação recíproca entre o in divíduo e o meio social Como fio condutor consideramos uma série de pesquisas sobre um mesmo tema comportamento pró social para demonstrar o uso de diferentes mé todos dentro da psicologia social bem como 3 mÉtODOs De PesQUisa em PsicOLOGia sOciaL 1 Hartmut günther Não é distante somente parece como se fosse Berra 1998 p 1002 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 59 seus pontos fortes e fracos Após delimitar o fio condutor comportamento pró social ini ciamos com observações gerais sobre pesqui sa social e tecemos algumas considerações sobre procedimentos qualitativos e quanti tativos A seguir trataremos de análise de conteúdo de observações de experimentos e de levantamento de dados Concluímos o capítulo com algumas considerações sobre a divulgação dos resultados de pesquisa o Fio condutor coMPortaMento Pró social enquanto obJeto de estudo O que faria se encontrasse um milhão de dólares Procurava encontrar a pessoa que perdeu o dinheiro e caso fosse pobre devolveria Berra 1998 p 59 O comportamento pró social assume muitas variantes Pode ser material ou espi ritual pode basear se em altruísmo egoís mo reciprocidade ou aprendizagem de normas sociais Aronson Wilson e Akert 2002 É fácil verificar que as pessoas va riam quanto a sua disposição para ajudar o outro A variação está no ato em si pas sar o sal na mesa fora do alcance do outro entregar um objeto que caiu despercebido oferecer o assento no ônibus lotado deixar um pedestre passar desviar o caminho para dar carona a alguém doar sangue dar con forto ao próximo interferir em uma briga para proteger aquele que parece ser o mais fraco para citar apenas alguns atos de aju da Mas a variabilidade também está na ra pidez da resposta na disposição de ajudar a qualquer pessoa ou somente determi nados indiví duos na disposição de ajudar sob qualquer circunstância ou somente em determinadas situações Além do mais a decisão de ajudar dependerá 1 de fatores individuais gênero idade educação 2 de fatores circunstanciais hora local tempo disponível 3 de fatores sociais a presença de outras pessoas isto é alternativas de ajuda 4 da avaliação do custo pessoal por exem plo no caso da interferência em uma briga qual a chance de ser bem sucedido ou de apanhar por sua vez ou até a ex pectativa de retribuição futura Até este ponto fizemos uma reflexão em nível de senso comum a respeito do tópico em questão Podemos prosseguir discutindo o assunto com amigos ou colegas sem che garmos a conclusões que possam nos permi tir entender predizer e controlar o compor tamento em questão Para realizar pesquisa de maneira sistemática na psicologia social devemos delimitar nosso assunto e chegar a perguntas mais específicas O processo de delimitação implica que escolhemos entre as possíveis razões mencionadas anteriormen te para realizar uma pesquisa sistemática Por exemplo qual a relação entre gênero e ajuda levando em conta o esforço neces sário as circunstâncias e o esforço exigido Importante como primeiro passo será uma revisão da literatura sobre o tema Uma busca realizada em janeiro de 2008 usando somente a palavra chave helping behavior produziu 2286 referên cias a artigos em revistas científicas no site wwwsciruscom aproximadamente 11 mil referências diversas no site Google scholar 934 referências a artigos no PsychInfo da American Psychological Association e 16 no site wwwscieloorg neste caso com o ter mo equivalente em Português Esse exemplo aponta que o uso do termo chave relacio nado ao conceito global de comportamento pró social já nos rende muitas indicações Repetir a busca com outros termos tais como pro social behavior ou altruism deverá resultar em mais referências além de dupli catas Antes e além de delimitar as referên cias assim obtidas seja em termos do tipo de ajuda do contexto das pessoas envolvidas entre outros aspectos é importante escolher os termos chave com cuidado embora nes te exemplo ajuda caridade cortesia apoio INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 60 tOrres neiva cOLs e seus correspondentes em outras línguas façam parte do conceito mais amplo chama do comportamento pró social começar com um termo em vez de outro pode nos enca minhar em direções bastante distintas Cabe salientar que não é aconselhável limitar a busca a estudos em um determinado inter valo de tempo p ex os últimos 10 anos e rotular o que foi publicado antes de uma de terminada data de velho ou superado No caso concreto ao usar o limite de 10 anos estar se ia ignorando estudos importantes realizados na década de 1960 como por exemplo os estudos de Berkowitz e Daniels 1964 Bryan e Test 1967 Darley e Latané 1968 Epstein e Hornstein 1969 ou Latané e Darley 1968 alguMas observações gerais sobre Pesquisa social Você deve ter cuidado quando não sabe para onde vai porque pode ser que não chegue lá Berra 1998 p 102 Fenômenos sociais podem ser estuda dos a partir do referencial teórico e com mé todos de diferentes áreas do conhecimento A pesquisa social baseada em múltiplos mé todos tem uma longa tradição nas ciências sociais Em 1933 Lazarsfeld Jahoda e Zeisel publicaram um estudo sobre os desempre gados de Marienthal um vilarejo perto de Viena Áustria Os autores respectivamente sociólogo com doutorado em matemática aplicada psicóloga social com doutorado em psicologia geral e cientista social com um doutorado em ciências sociais e outro em direito faziam parte do centro de pes quisa em psicologia econômica Neurath 1983 observa que o que tornou esse tra balho um clássico foi a então relativamente nova combinação entre observação quali tativa e análise de dados qualitativos p 124 Enquanto Mayring 2002 cita partes do estudo de Lazarsfeld e colaboradores como exemplos de diferentes vertentes da abordagem qualitativa o próprio Lazarsfeld insistiu na combinação de vários métodos vide Lazarsfeld 1944 p 60 O conceito exemplar deste capítulo comportamento pró social interessa tanto à psicologia pelo viés do comportamento em nível individual quanto por exemplo à sociologia no que se refere ao comporta mento cooperativo entre grupos ou ainda à ciência política no contexto de assistên cia internacional Entretanto não apenas resultados encontrados em áreas de conhe cimentos correlatos acerca de um mesmo tema contribuem para uma compreensão mais aprofundada Igualmente importan te é estar aberto para abordagens teóricas e metodológicas diversas de uma mesma área Duas palavras chave caracterizam a abordagem metodológica implícita no es tudo de Lazarsfeld e colaboradores multi método e triangulação O primeiro termo dispensa definição e o segundo é definido por Vogt como usando mais do que um mé todo para estudar a mesma coisa 1993 p 234 Podemos acrescentar com Sommer e Sommer 2002 p 6 que usar procedimen tos múltiplos é melhor do que usar apenas um que múltiplos olhares dentro de uma área como a psicologia social não somente são desejáveis mas se fazem necessários vez que constituem operações convergen tes Webb Campbell Schwartz e Sechrest 2000 Começamos o capítulo com uma refe rência a Kish 1987 e a seu alerta de que ao escolher um ou outro método de pesqui sa o pesquisador estará necessariamente fazendo um compromisso em relação ao re sultado final de seu trabalho aceita as van tagens e as desvantagens de um método em vez destas de outro método Implícito nessa constatação é a recomendação de se utili zar mais de um método ao estudar um tema qualquer visto que por si só cada uma das abordagens se mostra incompleta Brewer e Hunter 1989 afirmam que pesquisa de campo levantamento de dados experimen tação e pesquisa não reativa constituem os principais métodos das ciências sociais Indicando a possibilidade de sempre que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 61 possível adotar se uma estratégia de pes quisa multimétodos estes autores como Kish apontam que interpretar os resultados de qualquer um desses métodos é tarefa incerta na melhor das hipóteses A maior fonte de incerteza é que qualquer estudo que utiliza apenas um único tipo de método de pesquisa deixa de lado hipóteses rivais não testadas que colocam em questão a validade dos achados do estudo p 14 Sommer e Sommer resumem diferen tes abordagens veja Quadro 31 e apon tam ainda as seguintes vantagens de se utilizar de mais de um método como pesqui sador quando um procedimento não pode ser utilizado por razões fora do controle do pesquisador ou por falta de recursos em termos de tempo dinheiro ou número de pessoas para realizar um determinado estu do a utilização de mais de um método ofe rece flexibilidade ao lidar com dificuldades Mesmo havendo diferentes maneiras de se usar os métodos para pesquisar fenô menos sociais há alguns pontos em comum que precisam ser levados em conta para se aumentar a probabilidade de se chegar a re sultados úteis Agregando as considerações de Grunenberg 2001 de Mayring 2002 de Miles e Huberman 1994 bem como as de Steinke 2000 acerca de critérios de qualidade de pesquisa social seguem algu mas exigências formuladas em termos de perguntas para uma análise sobre até que ponto uma pesquisa pode ser considerada de boa qualidade Günther 2006 as perguntas da pesquisa são claramente formuladas O primeiro passo para conduzir uma pes quisa é definir e delimitar a pergunta de pesquisa Quanto maior a clareza sobre o que se quer saber maior a chance de se quadro 31 OPções De PesQUisa sOciaL Problema abordagem técnica de pesquisa Obter informação confiável sob condições estudar pessoas em experimento laboratorial controladas um laboratório simulação Descobrir como as pessoas se comportam Observá las Observação sistemática em público Descobrir como as pessoas se comportam solicitar que Documentos pessoas na sua vida privada mantenham um diário Descobrir o que as pessoas pensam Perguntar às pessoas entrevista questionário escalas de atitudes identificar traços de personalidade ou administrar um teste testes psicológicos habilidades mentais estandardizado identificar padrões em material escrito tabulação sistemática análise de conteúdo ou visual compreender um evento não usual investigação detalhada estudo de caso e demorada Descobrir o que as pessoas fizeram avaliar documentos Pesquisa de arquivos no passado públicos Referência Sommer e Sommer 2002 p 6 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 62 tOrres neiva cOLs obter êxito em uma pesquisa Uma revi são de literatura sobre o assunto em ques tão ajuda no início de qualquer pesquisa Considerando se nosso exemplo de com portamento pró social uma pergunta ge ral poderia ser quem ajuda quem como e sob quais circunstâncias Para chegar a perguntas mais específicas pesquisáveis é necessário operacionalizar as quatro partes dessa pergunta geral o quem ajuda pode se referir a pessoas de determinado gênero idade educação ou nível socioeconômico O quem recebe ajuda idem O como pode variar em termos de prontidão isto é aju dar de maneira espontânea versus solicita do generosa versus de forma avarenta Já as circunstâncias podem variar em termos de ambiente ou do tipo de ajuda necessá ria Desta maneira podemos chegar a per guntas do tipo Os jovens ajudam mais aos jovens do que aos idosos em situações de emergência de rua Sob quais condições desconhecidos intervêm em um assalto Os motoristas com carros com adesivos re ligiosos se mostram mais cordiais no trân sito Operacionalizar variáveis Após ter se delimitado a pergunta será ne cessário operacionalizar as variáveis por meio das quais os conceitos serão pesqui sados No exemplo anterior os termos jo vens e idosos se referem a faixas etárias e podem ser operacionalizadas em termos de idade em anos O conceito ajudar é que pre cisa de uma definição e operacionalização mais detalhada O nível de ajuda no caso de um assalto pode variar por exemplo en tre gritar para chamar atenção de qualquer um por perto chamar alguém competente como a polícia intervir pessoalmente Outra variável a definir seria a rapidez isto é o tempo em segundos após a verificação da existência de uma emergência Outras variá veis que precisam ser operacionalizadas são situação de emergência estamos falando de quais emergências agressão física aci dente desorientação agressão verbal No caso de adesivos religiosos que forma de cordialidade seria esperada explicitou se a teoria que pode ser derivada dos dados e utilizada em outros contextos Uma distinção importante entre pesquisa de natureza qualitativa e exploratória ver sus pesquisa quantitativa e inferencial é que um objetivo central da primeira consiste na tentativa de se chegar a uma teoria por meio de um processo indutivo Uma pesquisa de cunho quantitativo e inferencial visa confir mar uma teoria já existente representando assim um processo dedutivo Seja qual for a natureza da pesquisa é importante espe cificar qual a teoria que orienta nossa pes quisa no caso de investigação quantitativa No caso de pesquisa qualitativa é mais im portante ainda deixar explícito para o lei tor onde esperamos chegar ao realizar uma pesquisa exploratória o delineamento da pesquisa é consistente com o objetivo e as perguntas Como apontado acima a escolha do delinea mento de pesquisa isto é a opção por uma abordagem observacional experimental de levantamento de dados ou uma análise de conteúdo deve ser consequência da pergun ta de pesquisa a ser respondida Não cabe modificar uma pergunta para que esta se adapte a um método preferido os construtos analíticos foram bem explicitados Conceitos como altruísmo ou disposição para ajudar são chamados construtos hipotéticos isto é algo que existe teoricamente mas não é observável diretamente Que alguém pode INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 63 ser considerado altruísta ou ter disposição para ajudar é inferido a partir de observa ções de comportamento diretos no caso vendo este alguém concretamente ajudando alguém ou indiretos analisando as respos tas numa escala de atitudes por exemplo Assim a questão que se coloca é o compor tamento observado ou as atitudes expressas permitem inferências acerca do altruísmo ou da disposição de ajudar os procedimentos metodológicos são bem documentados Todos os passos de uma pesquisa precisam ser descritos e explicitados Quem foram as pessoas observadas entrevistadas partici pantes dos experimentos Quais foram os instrumentos e equipamentos utilizados Quais foram os procedimentos para a cole ta de dados A descrição dos participantes precisa ser suficientemente completa para que se possa saber como foram recrutadas e quais suas características O detalhamento dos instrumentos e dos procedimentos deve permitir que outros pesquisadores possam replicar o estudo Há de se observar en tretanto que estudos fora do laboratório sempre sofrerão do fator circunstâncias sócio históricas razão pela qual não são to talmente replicáveis Gergen 1973 Ainda assim descrever o método usado em uma pesquisa permite ao leitor avaliar as inter pretações dos dados oferecidas pelo autor e considerar possíveis explicações alternativas veja A discussão dos resultados a seguir os instrumentos são fidedignos e válidos Há várias maneiras de registrar comporta mento ficha de observação check list esca la de atitudes testes de competência para mencionar as mais importantes Esses ins trumentos têm em comum o objetivo de re gistrar e assim refletir de maneira mais fiel o comportamento sob investigação Nesse sentido precisam satisfazer dois critérios de qualidade fidedignidade e validade sendo que o segundo não existe sem o primeiro Fidedignidade Fidedignidade diz respeito à consistência da medição repetida de um mesmo objeto sob circunstâncias semelhantes Vogt 1993 Yarenko Harari Harrison e Lynn 1986 Uma balança poderia ser considerada fide digna se pesando um mesmo objeto várias vezes indicasse o mesmo peso Medidas psicológicas que por parte do medidor exi gem interpretação de eventos como seria o caso de uma observação ou que por parte da pessoa avaliada permitem um processo de aprendizagem como seria o caso de um teste de conhecimento correm o risco de ser menos fidedignas Medidas psicológicas cuja aplicação e interpretação não dependem da competência do aplicador e que contêm re gistros perguntas itens observações es tandardizados tendem a ser mais fidedignas veja Pasquali 1999 para maiores deta lhes inclusive maneiras de como calcular o índex de fidedignidade que varia entre zero e um Validade Mesmo sendo fidedigno um instrumento não é necessariamente válido Validade trata da correspondência entre o que um instrumento pretende medir e do constru to hipotético que está sendo investigado Mesmo se o balanço mencionado registre de maneira fidedigna o peso em libra não seria um instrumento válido se o objetivo fosse verificar o peso em quilogramas Um teste de conhecimento não seria válido como instrumento para averiguar inteligên cia Campbell e Stanley 1963 Há de se salientar que enquanto existem medidas quantitativas e genéricas do grau de fide dignidade de um instrumento a validade de um instrumento representa um julgamento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 64 tOrres neiva cOLs essencialmente qualitativo e específico para cada situação estudada adotaram se regras explícitas nos procedimentos analíticos os procedimentos analíticos são bem documentados Os procedimentos de análise de dados preci sam ser igualmente explícitos e explicitados No caso de procedimentos quantitativos tal detalhamento frequentemente está implí cito no procedimento estatístico escolhido Entretanto especialmente no caso de proce dimentos qualitativos como por exemplo uma análise de conteúdo a explicitação e a documentação de procedimentos analíticos são indispensáveis Novamente tais explica ções fazem se necessárias para que o leitor possa acompanhar compreender e se for o caso replicar os passos analíticos os dados foram coletados em todos os contextos e tempos e com todas as pessoas sugeridas pelo delineamento A preocupação subjacente é a randomiza ção de contextos tempos e pessoas Espe cialmente no caso de pesquisa exemplar a partir da qual queremos realizar inferên cias acerca de outros ou todos os demais contextos ou pessoas devemos selecionar alguns eventos ou pessoas que podem ser considerados representativos Como foi feita tal seleção randomicamente sistematica mente aleatoriamente a dedo Somente quando tal seleção é feita randomicamente podemos argumentar que nossos resultados podem permitir inferências para outros con textos tempos pessoas além dos estudados Caso contrário sempre fica a pergunta será que o que foi encontrado não é um simples reflexo daquela situação daquele tempo daqueles participantes Se o procedimen to que tivermos selecionado der margem a essa pergunta a utilidade de nossos resulta dos de pesquisa estará comprometida Randomização Assim sendo uma questão fundamental de qualquer pesquisa em pírica é se os resulta dos poderiam ter sido alcançados por acaso ou se são consequência de algum artefato de seleção O livro clássico de Campbell e Stanley 1963 continua sendo a referência para verificar até que ponto um determina do delineamento especialmente experimen tal pode ser considerado verdadeiramente randômico ou não e quais as implicações de violar as pressuposições da randomização No caso de levantamento de dados diferen tes planos de amostragem Kish 1965 po dem ajudar a tratar o problema da rando mização No caso de estudos de observação bem como que utilizar técnicas de análise de conteúdo existem possibilidades de rando mizar situações segmentos de observações ou de textos o detalhamento da análise leva em conta resultados não esperados e contrários ao esperado A vantagem da abordagem experimental é a de permitir maior controle sobre os pro cedimentos e as circunstâncias da pesqui sa excluindo assim variáveis estranhas e indesejáveis Uma vez que tal delimitação frequentemente resulta em pesquisa artifi cial faz se um contraste com a abordagem observacional que inclui explicitamente to das as variáveis de uma pesquisa Günther 2006 Mas mesmo no caso de experimen tos é necessário mostrar flexibilidade e re gistrar eventos inesperados O exemplo pri mordial para tal flexibilidade é a pesquisa de Pavlov pesquisador de fisiologia que es tudou a salivação em cachorros Quando se deparou com reações inesperadas nos ani mais mudou o rumo de suas investigações INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 65 e chegou a estudar o condicionamento con dicional que seria chamado posteriormen te de condicionamento clássico Boring 1957 a discussão dos resultados considera possíveis alternativas de interpretação Foi afirmado anteriormente que quanto mais específica a pergunta quanto mais detalhada a hipótese sob estudo mais ex pectativas para uma determinada classe de resultados Mesmo assim é importante não fechar os olhos para explicações alternati vas especialmente quando os resultados encontrados não correspondem ao espera do Por outro lado é importante precaver se contra resultados incongruentes em termos das teorias conhecidas Não vale argumen tar que a ciência tradicional ou os méto dos positivistas não conseguem dar conta dos resultados não usuais encontrados os resultados estimulam ações básicas e aplicadas futuras Existe uma longa discussão acadêmica sobre a importância relativa da pesquisa dita apli cada versus a pesquisa básica Sem querer alongar essa temática neste momento cabe citar a observação de Lewin acerca do as sunto O maior calcanhar de aquiles da psico logia aplicada tem sido o fato de que sem ajuda teórica apropriada ela teve de seguir o método dispendioso inefi ciente e limitado de ensaio e erro Muitos psicólogos que trabalham hoje em dia em um campo aplicado têm consciência aguçada de uma cooperação estreita en tre a psicologia teórica e a aplicada Isto pode ser conseguido na psicologia como aconteceu na física se o teórico não trata dos problemas aplicados com pretensiosa antipatia ou com medo de problemas sociais e se o psicólogo aplicado se der conta de que não existe nada mais prático do que uma boa teoria 1997 p 288 Participantes da pesquisa Definida a pergunta da pesquisa e especi ficadas as características dos participantes precisa se refletir sobre o acesso à amostra de pessoas Onde e como serão recrutados No caso de observação do comportamento em que locais serão feitas as observações As pessoas vão saber que estão sendo obser vadas No caso de um experimento onde serão recrutados os participantes No caso de entrevistas questionários ou aplicação de escalas e testes onde e como as pessoas serão abordadas ou recrutadas na rua em locais como shoppings escolas rodoviárias em seus locais de trabalho ou em suas ca sas Caso as características pessoais como gênero idade educação natureza do traba lho sejam parte da pergunta de pesquisa é necessário ter acesso a participantes com determinadas características Procedimentos instrumentos e análise de dados Mais do que simplesmente os participantes são os procedimentos e os instrumentos que diferenciam as técnicas de pesquisa que se rão apresentadas a seguir Não somente pre cisam ser escolhidas em função da pergunta específica de uma pesquisa mas também do que é factível e do tipo de inferência que almejamos O tipo de análise de dados por sua vez é consequência direta da pergunta dos participantes e dos procedimentos análise dos resultados O escopo deste capítulo não permite abor dar em qualquer nível de profundidade a análise dos dados coletados durante a pes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 66 tOrres neiva cOLs quisa Cabe fazer inicialmente uma distin ção entre estatística descritiva e inferencial A estatística descritiva relata a distribuição dos dados por meio de tabelas e gráficos Tabelas apresentam frequências e percen tagens em termos numéricos enquanto gráficos permitem visualizar a distribuição dos dados Nicol e Pexman 1999 2003 Entretanto a distribuição de frequências as aparentes diferenças entre grupos ou even tuais relações estabelecidas por meio de ta belas e gráficos necessitam de uma resposta à seguinte pergunta aqueles resultados são sistemáticos ou se chegou a eles por acaso Realizando poucas observações em um úni co local dificilmente será possível fazer afir mações sobre o comportamento das pessoas em geral O mesmo ocorre se entrevistamos apenas nossos amigos ou pessoas que estão convenientemente disponíveis É por meio de estatísticas inferenciais que podemos sa ber até que ponto os resultados são sistemá ticos ou foram obtidos por acaso Bisquerra Sarriera e Martínez 2004 Dancy e Reidy 2006 Siegel e Castellan 2006 abordageM quantitativa versus qualitativa Noventa por cento do jogo é 50 mental Berra 1998 p 69 Apontamos acima três caminhos prin cipais para realizar pesquisa no contexto das ciências sociais observação experimen tos e levantamento de dados Antes de tra tar cada um deles individualmente convém ressaltar o que eles têm em comum O que une os mais diversos métodos e técnicas de pesquisa incluídos nessas três grandes famí lias de abordagem é o fato de todos partirem de perguntas essencialmente qualitativas Günther 2006 Qualquer pesquisa parte da constatação de que as pessoas variam se comportam de maneira diferente Isso traz à tona a pergunta a respeito da razão pela qual existe esta variabilidade Como lidar com ela Quais as suas implicações Estas perguntas exigem por sua vez respostas qualitativas A variabilidade existe por essa ou aquela razão Tem essas ou aquelas im plicações Na tentativa de se partir de uma pergunta qualitativa e de se chegar a uma resposta qualitativa há dois caminhos não necessária e mutuamente excludentes o de procedimentos qualitativos e o de procedi mentos quantitativos Procedimentos qualitativos Procedimentos qualitativos tendem a ser in dutivos e exploratórios sem partir de hipó teses formais e explícitas tenta se construir um referencial teórico a partir de dados coletados essencialmente por meio de ob servações incluindo aqui registros de com portamento tais como documentos diários filmes e gravações que registrem manifes tações humanas observáveis Em segundo lugar a análise desses dados costuma ser interpretativa usando se técnicas de análise de discurso e de análise de conteúdo Bauer e Gaskell 2002 Os pesquisadores que usam métodos qualitativos recorrem frequentemente à clássica afirmação de Dilthey 1894 expli camos a natureza compreendemos a vida mental Hofstätter 1957 p 315 Querem salientar que visam compreender a vida mental e portanto utilizam métodos qua litativos apropriados para a psicologia Já os pesquisadores que usam métodos quan titativos argumentam que explicar e com preender não são processos antagônicos e que a vida mental faz parte dos fenômenos naturais Procedimentos quantitativos Para explicar o comportamento humano no contexto da psicologia social a abordagem quantitativa tende a ser dedutiva e confir matória partindo de uma teoria Parte de expectativas explícitas ou hipóteses formais para verificar a existência de diferenças ou relações nos fenômenos sociais para testá INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 67 las desta maneira Em segundo lugar não se restringe a métodos observacionais mas tenta sempre que possível realizar a coleta de dados em qualquer dado contexto de maneira sistemática e de tal forma que seja possível recorrer a técnicas da estatística in ferencial para questionar se os dados cole tados e analisados bem como os resultados aos quais se chegou dessa maneira são de fato sistemáticos ou se poderiam ter sido encontrados por acaso Para chegarmos a conclusões científicas é desejável se não necessário que possamos apontar a contri buição dos diferentes antecedentes ao com portamento de nosso interesse e eliminar os acontecimentos randômicos e os obtidos por acaso como possíveis explicações A seguir apresentam se quatro abor dagens de pesquisa sendo duas de nature za mais descritiva a análise de conteúdo e a observação e duas de natureza mais inferencial experimento e levantamento de dados análise de conteúdo Na realidade não falei tudo aquilo que eu disse Berra 1998 p 9 A análise de conteúdo é uma entre vá rias técnicas de pesquisa usadas para des crever e sistematizar o conteúdo de comuni cações pictóricas escritas ou verbais Vogt 1993 A técnica pode ser utilizada com material visual filme vídeo desenhos ilus trações obras de artes plásticas com ma terial impresso jornais revistas livros do cumentos pessoais e com registros verbais entrevistas e questionários Idealmente nos dois primeiros casos a seleção do ma terial é randômica embora frequentemente sejam usadas amostras de conveniência isto é material ao alcance do pesquisador No caso de nosso projeto hipotético ilustrativo sobre comportamento de aju da imagine que colecionamos relatos de ocorrências de ajuda nos jornais desde que começamos a pensar em um estudo sobre esse assunto mesmo antes de efetuar uma revisão sistemática da literatura especia lizada Recortamos artigos sobre pessoas que prestaram ajuda avisamos a nossos amigos que estávamos interessados no as sunto Pedimos a eles que sempre que en contrassem algo interessante recortassem tal notícia Colecionamos não somente ar tigos sobre ajuda prestada mas também sobre ajuda negada Quando chegamos a um número razoável de artigos decidimos começar com a análise do conteúdo desses artigos Ressaltamos anteriormente que quanto maior clareza sobre o que queremos saber mais chance de êxito obteremos em uma pesquisa Entretanto em um primeiro momento de coleta de material documen tal podemos coletar qualquer material que encontramos o que nos encaminharia para procedimentos mais qualitativos ou pelo menos sem formular hipóteses especí ficas Já em um segundo momento quando sabemos de fontes confiáveis para material documental é possível formular hipóteses e buscar trechos de textos desenhos ou ima gens de maneira sistemática Procedimentos Os sujeitos nesta modalidade de pesquisa não são pessoas propriamente ditas mas material produzido por ou sobre elas Por exemplo no caso de relatos na imprensa es crita sobre eventos de ajuda prestada ou ne gada os recortes constituem as unidades de análise Cada recorte descreve uma situação e fala das pessoas envolvidas do local das circunstâncias do evento Assim cada relato pode ser classificado em termos de atribu tos tais como fonte nome do jornal data confiabilidade da fonte e detalhamentos do conteúdo O procedimento em si consiste na análi se do conteúdo dos artigos Günther 2006 apresenta uma sistematização dos procedi mentos de uma pesquisa qualitativa O instrumento para uma análise de conteúdo pode ser um programa de com putação por meio do qual se sistematize e INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 68 tOrres neiva cOLs analise o material coletado p ex AtlasTI ou MAXqda vantagens desse método Observamos anteriormente que quanto maior clareza sobre o que queremos saber mais chance de êxito em uma pesquisa Entretanto e especialmente no início de um conjunto de pesquisas existe menos clareza sobre o que pode ser investigado no decor rer do projeto Assim nesse momento ini cial uma abordagem mais aberta especu lativa pode ser mais útil para se começar a entender um dado assunto Cabe aqui uma distinção feita por Kidder e Fine 1987 en tre a pesquisa qualitativa com a letra Q mai úscula que envolve observação participante e pesquisa de campo etnográfica Pesquisa qualitativa com a letra q minúscula por ou tro lado refere se à coleta de dados aberta mas que faz parte de uma pesquisa estrutu rada em termos de objetivo e procedimento Em outras palavras a vantagem da pesqui sa inicial aberta é a de dar apoio inicial a ideias para pesquisas subsequentes desvantagens Como frisamos anteriormente ao tentar chegar a explicações sobre fenômenos so ciais deve se atentar à pergunta mas será que os resultados foram obtidos na base de eventos não randômicos Quanto maior o número de eventos arquivais usados para a análise de conteúdo maior será a dificulda de de responder a essa pergunta de maneira convincente observação Você pode observar muito coisa só olhan do Berra 1998 p 95 A vantagem da observação é estar diante do comportamento que interessa não precisando falar com as pessoas sobre seus pensamentos ou intenções Além do mais não sendo um intruso você não interfere no comportamento nem provoca reatância nas pessoas observadas Webb Campbell Schwartz Sechrest e Grove 1981 Em ge ral os estudos de observação não exigem muito equipamento mas sim tempo já que pode demorar até que surja o comportamen to de interesse A seguir comentaremos três tipos de observação informal sistemática e participante É por meio de observações informais que registramos o que acontece em torno de nosso meio social e ambiental Sem catego rias preestabelecidas nem hipóteses formais esse tipo de observação se aproxima mais dos estudos qualitativos Tais observações são importantes na fase inicial de qualquer pesquisa e constituem a base para formular perguntas sistemáticas acerca de determina do comportamento Em estudos de observação sistemática utiliza se algum esquema de categorias para classificar os comportamentos de interesse Os comportamentos podem ser enumerados em termos de frequência de intensidade de pessoas envolvidas só em díade ou grupo das características das pessoas etc Os re gistros podem ser realizados em planilhas check lists gravados ou filmados Havendo dois observadores é possível verificar até que ponto há concordância entre ambos Enquanto que em estudos de obser vações informais e sistemáticas as pessoas observadas podem nem saber que são ob jetos de estudo a observação participante explicita que os sujeitos fazem parte de um estudo e que estão sendo observados O pes quisador torna se parte da vida dos obser vados Quando tal delineamento é factível o estudo se torna mais ético à medida que as pessoas do estudo sabem que estão sendo observadas e por quem estão sendo observa das Entretanto a presença explícita de um observador pode provocar reatância entre os sujeitos da pesquisa ficando a dúvida de até que ponto as pessoas observadas estão se comportando de maneira autêntica e não encenando algum comportamento que acre INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 69 ditam ser o esperado por parte do pesquisa dor Especialmente no caso de uma observa ção de duração mais longa recomenda se a observação participante já que a presença demorada de um estranho desconhecido pode provocar desconfiança e reatância pois os observados tendem a se acostumar com o a presença do pesquisador conhecido e o ignorarem mais facilmente exemplos de estudos observacionais Conforme comentado anteriormente os estudos observacionais são custosos em termos de tempo já que podem demorar até que o comportamento de interesse pos sa surgir Diante desse problema Silva e Günther 2001 criaram oportunidades de ajudar em um ônibus lotado no sentido de verificar quem entre os passageiros sen tados se ofereceria para segurar um pacote de um passageiro em pé Outros estudos que criaram oportunidades de ajudar para poder observar mais sistematicamen te eventuais comportamentos pró sociais são os de Levine e colaboradores Levine e Norenzayan 1999 Levine Norenzayan e Philbrick 2001 um estudo hipotético No caso de um estudo hipotético sobre com portamento pró social podemos pensar em observar o comportamento dos pedestres em um determinado trecho que apresenta irregularidades talvez buracos impedi mentos por causa de uma construção ou de carros mal estacionados Qual seria o comportamento de ajuda no sentido de dar preferência a pessoas com problemas de lo comoção ajudar mães com carinho de bebê e situações semelhantes Será que existem alguns padrões de cortesia ou ajuda Procedimentos Os sujeitos desta pesqui sa seriam as situações de encontro e de inte ração de pessoas estranhas entre si no ponto problemático O registro consiste em anotar o número de pessoas suas características sexo idade aproximada e seu comporta mento na situação Para tanto uma ficha de observação que permita anotar os dados relevantes de uma maneira que não chame atenção será preparada Preferencialmente haverá dois observadores independentes o que permitirá estabelecer a fidedignidade das observações pelo estabelecimento do grau de concordância entre as observações dos dois pesquisadores vantagens e desvantagens Como apontado acima a vantagem de estu dos observacionais é o realismo da situação estudada algo não alcançável em estudos experimentais de levantamento de dados ou aqueles que utilizam material arquival Há de se destacar ainda que comporta mento não acontece em um vazio isto é depende não somente de fatores internos subjetivos mas do contexto social e físico o que Barker e colaboradores Barker 1968 Schoggen 1989 Sommer e Wicker 1991 chamaram de behavior setting Entre as des vantagens deve se mencionar o alto custo de tempo especialmente em se tratando de comportamentos de pouca frequência Em segundo lugar a falta de controle sobre o surgimento da situação de interesse signifi ca ausência de randomização e generaliza ção Além do mais quanto mais complexo o comporta mento eou a situação dentro da qual o comportamento acontece mais trabalhoso serão o registro e a análise dos dados Scott 2005 Cabe ainda mencionar alguns livros que tratam especificamente de técnicas ob servacionais Fagundes 1993 apresenta um texto didático de observação sistemática en quanto Danna e Matos 1996 se propõem a ensinar de maneira básica como observar o comportamento humano Esses dois livros concentram sua atenção no comportamento imediato das pessoas sendo observadas já o artigo de Pinheiro Elali e Fernandes 2008 considera a interação entre as pessoas e o ambiente inclusive os resquícios do com portamento das pessoas no ambiente INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 70 tOrres neiva cOLs exPeriMento Não sei qual o melhor jeito mas nenhum é ruim Berra 1998 p 84 O experimento especialmente em sua modalidade laboratorial é um delineamen to no qual o pesquisador tem controle so bre algumas das condições sob as quais a pesquisa está sendo realizada bem como controle sobre algumas das variáveis que acredita que possam causar o fenômeno estudado As variáveis sob controle do ex perimentador são chamadas variáveis inde pendentes VI O fenômeno sob estudo é definido como variável dependente VD4 Uma distribuição randômica dos sujeitos da pesquisa entre as condições experimentais e de controle de uma pesquisa é o requisito mínimo para uma pesquisa ser considera da um experimento verdadeiro Campbell e Stanley 1963 Uma importante variante é o experimento natural situação na qual as condições experimentais e de controle não foram preparadas pelo experimentador mas por condições alheias e desta manei ra não estão sob o controle do pesquisador Silbereisen 2005 relata uma série de ex perimentos naturais sobre mudanças sociais e desenvolvimento humano em decorrência da reunificação alemã Este acontecimento permitiu aos psicólogos comparar em for ma de experimento natural comportamen tos e expectativas de vida entre os cidadãos de um mesmo país após ter vivido sob dois regimes políticos distintos durante 40 anos Campbell e Stanley apontam uma série de aspectos que afetam a qualidade de um ex perimento Entre eles cabe mencionar aqui os seguintes randomizar sujeitos O controle sobre a distribuição aleatória de participantes da pesquisa entre as diferentes condições experimentais é crucial para que se possa atribuir a essas eventuais causas o fenômeno sob estudo Sem essa distribuição aleatória não há como assegurar que foi a exposição à situação experimental que cau sou determinado comportamento e não al guma circunstância alheia a ele reduzir variabilidade externa À medida que o experimentador tem con trole sobre as condições experimentais cabe tentar reduzir a variabilidade externa e in desejada Em outras palavras se o objetivo de uma pesquisa for verificar a diferença entre jovens de sexo masculino e feminino no que diz respeito a determinado compor tamento convém manter outras variáveis como por exemplo classe social nível edu cacional ou idade o mais homogêneo possí vel Isto quer dizer dever se ia chamar para participar do experimento apenas jovens de uma mesma classe social de um mesmo nível educacional e de uma mesma idade já que uma variabilidade não controlada em tais fatores poderia influenciar o comportamento em questão especificarlimitar o comportamento Da mesma maneira como a variabilidade entre os fatores antecedentes deve ser con trolada é importante especificar e delimi tar bem o comportamento sob estudo Por exemplo em vez de falar simplesmente em comportamento de ajuda convém opera cionalizar tal comportamento comporta mento de abrir a porta para uma senhora Moser e Corroyer 2001 levantar se e ofe recer um assento em um ônibus etc reatância à situação experimental e ética de pesquisa Uma diferença importante entre observação e levantamento de dados por questionário ou entrevista é que a observação garante maior validade ecológica do comportamen to enquanto entrevistas e questionários INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 71 permitem explorar melhor as razões para determinadas ações Qual a situação do experimento nessa distinção Muitos ex perimentos constituem uma oportunidade para se observar comportamento mesmo que a situação não tenha validade ecoló gica Por outro lado sendo uma situação artificial os experimentos provocam re atância semelhante a dos levantamentos de dados nos participantes que se per guntam o que é que o experimentador quer de mim realmente Dependendo da questão de pesquisa o experimento pode incluir o engano do participante Embora o exemplo mais famoso para iludir os par ticipantes seja o experimento de Milgram 1963 muitos estudos experimentais im plicam em alguma forma de encenação para esconder o verdadeiro objetivo do estudo Adair Dushenko e Lindsay 1985 relatam que 81 dos autores de estudos publicados em 1979 na mais prestigiosa revista da psi cologia social o Journal of Personality and Social Psychology relataram alguma forma de esclarecimento pós experimental para os participantes de um estudo envolvendo alguma forma de encenação e engano O argumento principal em favor de tal proce dimento é que os experimentos tratam de comportamentos socialmente normatizados seja positivamente por exemplo de ajuda ou negativamente por exemplo de agres são Assim não seriam viáveis se o parti cipante soubesse o verdadeiro objetivo da pesquisa Neste sentido os estudos experi mentais de ajuda de Darley e Latané 1968 Latané Darley 1968 ou de Silva e Günther 1999 somente puderam ser realizados por meio de encenação Por outro lado há de se tomar cuidado em respeitar a dignidade e a integridade física e psicológica dos par ticipantes de qualquer pesquisa na medida do possível deve se fornecer explicações aos participantes sobre a pesquisa se não antes do início sem dúvida após sua con clusão além de não expor os participantes a qualquer desconforto desnecessário o fim científico não justiça os meios veja Artigo 16 do Código de Ética do Conselho Federal de Psicologia 2005 um estudo hipotético No caso de nosso estudo imaginário de ajuda idealizamos uma réplica de experi mentos clássicos de Darley e Latané 1968 Latané e Darley 1968 A questão em ambos os estudos foi a potencial interferência da presença de outras pessoas na decisão indi vidual de prestar ajuda sendo a hipótese de que quanto maior o número de transeuntes menor a probabilidade de ajuda por parte de qualquer pessoa A variável independente em ambos os estudos foi o número de pesso as presentes além do sujeito da pesquisa No caso do estudo de Darley e Latané uma pes soa invisível precisava de ajuda e o sujeito fez parte de um grupo formado entre uma e quatro outras pessoas Já no experimento de Latané e Darley a emergência estava visível e o sujeito estava ou sozinho ou na presença de duas outras pessoas Perguntahipótese da pesquisa O número e as características de outras pes soas influenciam a probabilidade de prestar ajuda por parte de uma pessoa do sexo femi nino versus do sexo masculino Procedimentos Os sujeitos dessa pesquisa imaginária serão convidados para uma entrevista sobre a vida no campus da universidade A entrevista será realizada ou de forma individual ou em for ma de grupo focal isto é na presença de mais dois ou quatro confederados Os sujeitos va riam de gênero No caso de grupo focal os membros variam igualmente de tal manei ra a ter grupos do mesmo sexo e grupos nos quais o sujeito é homem ou mulher e os confederados são mulheres ou homens Quanto ao procedimento A entrevista será realizada ao ar livre e a certa distância dos prédios da universidade para se asse gurar um ambiente tranquilo No decorrer da entrevista acontecerá uma emergência a poucos metros dali INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 72 tOrres neiva cOLs O registro da variável dependente será feito por um observador alheio e aparen temente desassociado da entrevista ano tando o tempo que levou para o sujeito notar a emergência bem como seu compor tamento vantagens desse método O procedimento nesta pesquisa supõe cin co condições randômicas sujeito sozinho sujeito com dois confederados do mesmo sexo com dois confederados do sexo opos to com quatro confederados do mesmo sexo e com quatro confederados do sexo aposto À medida que os sujeitos são distribuídos randomicamente entre as cinco condições será possível estabelecer uma relação causal entre a condição da entrevista e a proporção de sujeitos em cada condição de ter presta do ajuda desvantagens Bons experimentos em psicologia social de pendem do grau em que os cenários experi mentais controlados são plausíveis para os sujeitos especialmente a medida que preci sam de certo grau de engano No caso desse exemplo o engano consistirá de fazer o su jeito acreditar que faz parte de uma entre vista e que a emergência foi suficientemente crítica para merecer uma possível interven ção de sua parte levantaMento de dados Nunca responda a uma carta anônima Berra 1998 p 93 Entrevistas Günther I 2008 e ques tionários Günther H 2008 constituem maneiras de perguntar às pessoas sobre o que elas fazem pensam sentem tanto no momento quanto no passado e no futuro A entrevista foi caracterizada por Bingham e Moore 1959 como uma conversa com objetivo Essa consideração aplica se igualmente ao questionário definido com um conjunto de perguntas sobre um de terminado tópico que não testa a habilida de do respondente mas mede sua opinião seus interesses aspectos de personalidade e informação biográfica Yaremko Harari Harrison e Lynn 1986 p 186 A definição do questionário deixa aberta a forma da interação entre pesquisador e participante pode ser individual ou em grupo face a face via correio ou via internet sendo que a aplicação individual e face a face de um questionário pode se tornar uma entrevis ta estruturada Entretanto a observação de Bingham e Moore é fundamental seja qual for a forma da interação o pesquisa dor deve lembrar que está conversando com outro ser humano ele não está extraindo informação de maneira impessoal Uma vez que não há muito controle sobre os par ticipantes de um experimento ou de uma situação de observação técnicas de amos tragem podem ser utilizadas de tal manei ra a se obter amostras de participantes de uma população determinada Por exemplo em um estudo observacional a pesquisa se limita às pessoas que circulam em um determinado local em um estudo experi mental a pesquisa se limita às pessoas que concordam em participar do experimento Tendo informação sobre as características de uma população p ex todas as matrí culas de alunos ou todos os endereços de um bairro é possível obter uma amostra randômica de participantes a serem en trevistados ou para os quais se envia um questionário Além do mais por meio de questionários e entrevistas é possível saber dos estados subjetivos das atitudes das opiniões das justificativas das ações toma das por parte dos participantes de uma pes quisa Entretanto da mesma maneira que a reatância ao processo de pesquisa cons titui um problema no caso do experimen to perguntas especialmente a respeito de assuntos sensíveis nem sempre produzem respostas autênticas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 73 um estudo hipotético Perguntahipótese da pesquisa No caso de nosso estudo imaginário de ajuda con sideramos um estudo sobre a participação em organizações voluntárias Quais são as características quais são as motivações para que uma pessoa se engaje em uma ação de solidariedade Além do mais será que a oportunidade de ajudar aumenta a atitude favorável de se engajar em uma ação de aju da voluntária Procedimentos Os sujeitos dessa pes quisa alunos universitários de ambos os sexos e de cursos humanistas psicologia e serviço social técnico engenharia mecâ nica e matemática e da saúde médicos enfermeiras serão convidados para uma entrevista sobre a vida no campus da uni versidade Procedimentos A entrevista será realizada de forma indivi dual em um espaço reservado para tal ati vidade No caminho para sala de entrevista parte dos alunos passa por uma situação que implica em ajuda por exemplo uma pessoa deixa cair um objeto Desta maneira criam se três grupos de sujeitos a encontrar uma oportunidade para ajudar sendo que o participante da pesquisa de fato ajuda b encontrar uma oportunidade para ajudar sendo que o participante da pesquisa de fato não ajuda c não encontrar uma situação de ajuda Os grupos a e b constituem uma mani pulação experimental o grupo c constitui um grupo de controle O instrumento de pesquisa consiste em um questionário com perguntas sobre a qua lidade de vida em geral a qualidade de vida no campus da universidade e a disposição da pessoa de se engajar em uma atividade vo luntária na universidade por exemplo doar sangue durante a semana universitária vantagens e desvantagens do levantamento de dados A principal vantagem do uso de questioná rios e entrevistas consiste na possibilidade de explorar atitudes opiniões razões para fazer ou não fazer determinadas coisas algo impossível no caso de observação ou méto dos não intrusivos já que estes por defini ção excluem o contato com os participantes da pesquisa considerações Finais O jogo não terminou até que tenha termi nado Berra 1998 p 121 Há de se enfatizar que pesquisar e pu blicar na ciência são as duas faces da mes ma moeda uma não vale sem a outra Cabe lembrar que publicar uma pesquisa quer dizer torná la pública Uma pesquisa que não for publicada não contribuirá para a ciência sequer existirá A pesquisa e a pu blicação são interdependentes da concep ção da pesquisa como processo cíclico que passa pelas seguintes fases Tavares e Diniz 1993 1 Selecionar um objeto de pesquisa e definir a problemática considerando se resulta dos de pesquisas anteriores 2 Relacionar a problemática a teorias e a pesquisas anteriores 3 Formular hipóteses 4 Identificar os elementos do método vari áveis relações medidas procedimentos população critérios estatística a utili zar 5 Implementar o estudo e coletar os da dos 6 Analisar os dados 7 Interpretar e relacionar os resultados à problemática original às teorias e às pesquisas referidas 8 Apresentar resultados sugerir estudos receber retroalimentação da comunidade científica INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 74 tOrres neiva cOLs 9 Selecionar um objeto de pesquisa e definir a problemática levando em consideração resultados de pesquisas anteriores fecha mento do ciclo Sendo a publicação o outro lado da pesquisa em um relato explicitam se os passos desse processo cíclico da pesquisa e o próprio relato tem caráter cíclico O ter mo relato de pesquisa está sendo utilizado genericamente para incluir desde trabalhos em nível de graduação até teses de doutora do e publicações em revistas especializadas aplica se a trabalhos baseados em dados em píricos em dados secundários bem como a resenhas de literatura Não cabe entrar em detalhes sobre como preparar um relato de pesquisa entre as muitas publicações sobre o assunto apontamos apenas duas algu mas dicas preparadas por Günther no pre lo e o Manual de Publicação preparado pela American Psychological Association 2001 2010 notas 1 A elaboração deste trabalho teve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien tífico e Tecnológico CNPq 2 As citações ilustrativas no início das seções deste capítulo são oriundas de um livro de Yogi Berra jogador de beisebol conhecido por suas observações pouco convencionais 3 Usamos o termo comportamento de maneira genérica para nos referir tanto a comporta mentos quanto a experiências subjetivas tais como atitudes sentimentos e emoções 4 Esta nomenclatura VI e VD persiste mesmo no contexto de experimentos naturais e de levantamento de dados mesmo considerando se que estas são situações em que o pesqui sador não tem controle sobre as variáveis reFerências ADAIR J G DUSHENKO T W LINDSAY R C Ethical regulations and their impact on research practice American 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sejamos bons avaliadores em geral também comete mos inúmeros erros quando julgamos o que são os outros e o que somos nós Talvez o estudo da cognição social possa ajudar nos a diminuir esses erros melhorando nosso autoconhecimento e nossa capacidade per ceptiva e interpretativa dos outros Plano do caPítulo Este capítulo começa pela definição e evo lução da inteligência social humana e intro dução aos componentes básicos schemas e atribuições dos processos da cognição social A inteligência social humana surgiu junto com o aumento do número de mem bros dos primeiros grupos de hominídeos Os humanos desenvolveram teorias da mente para que pudessem julgar os com portamentos dos outros especialmente os comportamentos de reciprocidade Os schemas dizem respeito aos conteúdos es truturas de conhecimentos armazenados na memória de nossa cognição social As atri buições são respostas às indagações das cau sas dos comportamentos que observamos e tentamos compreender Na segunda parte do capítulo analisa remos os diferentes processos da cognição social atenção memória e inferência Cada um desses componentes é analisado em ou tras áreas da psicologia tais como a psicolo gia cognitiva mas também são com ajustes e adaptações fundamentais para nossa au tocompreensão e para nossa compreensão dos outros cognição social coMPreenden do os outros De uma forma direta e simples a cognição social pode ser definida como o pensar do indivíduo a respeito de si próprio e dos ou tros Entretanto embora a ênfase inicial tenha sido no pensar cognição os psicó logos sociais também procuram associar sentimentos e comportamentos à cognição social O estudo das relações entre nossos pensamentos a respeito dos outros e de nos sos sentimentos avaliações emoções e com portamentos deu origem à distinção entre a cognição quente versus cognição fria bem como à visão pragmática que relaciona a cognição ao comportamento as ações são causadas pelos processos mentais envolvi dos no pensamento 4 cOGniçãO sOciaL bartholomeu t tróccoli INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 80 tOrres neiva cOLs Pensar sobre os outros é a atividade central de nossas vidas Todos nós somos psicólogos amadores pois estamos constan temente explicando nossas ações e as ações dos outros Quando por exemplo alguém nos agride verbalmente em resposta a uma observação qualquer que acabamos de fazer entendemos imediatamente que essa pessoa pode ter se sentido ofendida ou ameaçada pela minha posição Estamos apenas reco nhecendo que o outro possui uma crença acredita que tenho alguma intenção e um desejo quer evitar algo que considera nega tivo A explicação das ações como resulta dos das crenças e desejos é o que define a chamada psicologia senso comum ou psi cologia leiga A psicologia leiga é produto do perío do formativo da espécie humana período que começou depois da separação da linha gem humana da linhagem dos chipanzés há cerca de 6 milhões de anos1 Ambientes diferentes colocam problemas adaptativos diferentes exigindo diferentes adaptações Para compreender a evolução da mente hu mana o ambiente social da espécie é mais importante do que o ambiente físico Como os outros primatas nossos ancestrais viviam inicialmente em pequenos grupos mas que foram ficando maiores com as consequentes estruturas sociais cada vez mais complexas nos quais as questões colocadas pelas interações eram tão importantes quanto a sobrevivência aos predadores Quais os pro blemas adaptativos enfrentados por nossos ancestrais Vários autores p ex Evans e Zarate 1999 Buss 2005 sugerem os se guintes Evitar predadores Achar a comida certa Formar alianças e amizades Ajudar crianças e parentes Entender a mente dos outros Comunicar se com os outros Selecionar parceiros sexuais Todos esses problemas colocaram obstáculos cruciais para a sobrevivência de nossa espécie e o modelo predominante na psicologia evolucionista atual defende que a seleção natural provocou o surgimento de módulos mentais responsáveis pela supera ção desses obstáculos Cosmides e Tooby 1992 Buss 2005 O modelo da mente modular propõe que a mente é composta de vários módulos que se comunicam e in teragem como uma estrutura inata que se desenvolveu naturalmente e de forma se melhante aos órgãos biológicos Para a psi cologia evolucionista os diversos módulos mentais são adaptações que surgiram para resolver problemas adaptativos permitindo a sobrevivência e a reprodução de nossa es pécie Alguns módulos surgiram já nos an cestrais de nossos ancestrais e são comparti lhados com outros animais outros são bem mais recentes e resultaram de adaptações a ambientes radicalmente diferentes dos ambientes de outras espécies De qualquer maneira os módulos não param de evoluir e todos foram se modificando durante o pe ríodo formativo da espécie humana Os problemas colocados pelo ambien te social foram inicialmente compartilhados pelos humanos assim como por todos os ou tros primatas A luta por recursos escassos poderia ser enfrentada com o surgimento de coalizões formadas por dois ou três mem bros da espécie No entanto após a sepa ração de nossa linhagem da linhagem dos chipanzés o tamanho dos grupos humanos foi aumentando cada vez mais criando um valor também cada vez maior para a estra tégia de formação de alianças e coalizões A associação com outros em busca de for mação de amizades passou a ser tão im portante quanto saber escolher a comida certa ou possuir a habilidade para detectar predadores Mas a formação de alianças é uma tarefa difícil porque envolve questões de altruísmo recíproco a troca de favores só funciona se forem observadas regras do tipo ajudo você agora e você me ajuda depois Existe sempre o risco de que um membro da aliança fique com os benefícios sem contri buir com nenhum dos custos envolvidos O problema da não reciprocidade é tão grave que a espécie que não desenvolver mecanismos para enfrentá lo não sobrevive INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 81 A questão é simples o membro da espécie que não colabora com o pacto do altruísmo recíproco tem mais chances de sobreviver e reproduzir do que os que são facilmente enganados Genes que favorecem esse tipo de comportamento vão ficar cada vez mais frequentes no pool genético da espécie e eventualmente todos serão egoístas e não altruístas Como ninguém mais vai ajudar ninguém as alianças se desfazem ficando impossível viver em grupos Não surpreende portanto que todas as espécies que vivem em grupos descobri ram mecanismos para enfrentar a questão dos membros egoístas e aproveitadores Ao analisar as soluções encontradas por diver sas espécies Axelrod propôs na década de 1980 p ex Axelrod 1984 a existência de três condições que quando implemen tadas neutralizam o problema dos apro veitadores 1 organismos encontram os mesmos organismos repetidas vezes 2 organismos podem reconhecer aqueles que já encontraram antes diferenciando os dos que são totalmente estranhos e 3 orga nismos possuem memória suficiente para lembrar de como aqueles que já encontra ram os trataram nesses encontros prévios Por que a existência dessas três condições elimina o risco do altruísmo não correspon dido Porque os aproveitadores podem ser punidos e os cooperadores podem ser re compensados Quem se recusou a retornar os favores pode ser punido com a expulsão do grupo ou com a recusa de qualquer ajuda posterior Quem cooperou e retribuiu pode ser recompensado com ajuda contínua na hora da necessidade Todas as três condições foram surgindo em nossos ancestrais hominídeos ao longo de seu período formativo A interação contí nua entre eles demonstrava que a existência desses grupos só era possível porque a evo lução tinha projetado tanto módulos sofisti cados de reconhecimento facial quanto uma boa memória para interações sociais Todos nós somos extremamente sensíveis ao altru ísmo recíproco e mantemos uma espécie de contabilidade social para cada conhecido ou amigo Se nossos registros indicam que alguém tem feito menos bem por nós ou nossos amigos de alianças cooperativas do que o fazemos por ele então na próxima vez que houver uma solicitação de ajuda nos sentiremos bem menos inclinados ou mesmo nos recusaremos a ajudar Essa contabilidade social também envolve me canismos mentais complexos porque exige que de alguma maneira sejam atribuídos diferentes valores para diferentes ações Quando uma pessoa doa seu bem para outra que está necessitada os valores associados a essa ação de cooperação e a consequente retribuição vão depender de outros fatores contextuais Neste caso a contabilidade so cial levará em conta por exemplo a situa ção econômica de quem fez a doação ou empréstimo a bondade de uma pessoa rica é valorizada de uma forma bem diferente da bondade de quem tem muito pouco e faz um grande sacrifício em favor do outro O valor da ação também vai depender do custo para o doador e do benefício para o receptor da ação mas os custos e benefícios de qualquer ato de bondade não podem ser fixados pre viamente pois dependem do contexto no qual ocorrem2 Esse é o ponto principal para a apre sentação da cognição social Nós humanos desenvolvemos sistemas sociais complexos que só podem funcionar no sentido do sucesso reprodutivo e da sobrevivência da espécie se alicerçados em sistemas cogni tivos igualmente complexos que se manifes tam em nossa inteligência social cresciMento dos gruPos HuManos e o surgiMento da inteligência social No período entre 6 milhões a 150 mil anos atrás o tamanho médio dos grupos hominí deos saltou de cerca de 50 para 150 mem bros Como já abordamos anteriormente à medida que os grupos foram aumentando vários módulos dedicados às trocas sociais foram evoluindo favorecendo a formação de alianças estáveis que mantiveram os gru INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 82 tOrres neiva cOLs pos sociais coesos o que também pode ser observado nos vários tipos de primatas No caso dos humanos entretanto a evolução fez surgir um módulo bastante complexo e sofisticado o módulo de leitura da mente isto é o módulo mental que permitiu que fizéssemos suposições ou inferências sobre o que as outras pessoas estão pensando tendo por base suas ações palavras e comporta mentos3 Grupos maiores exigem mais capa cidade de memória para acompanhar os comportamentos dos outros bem como capacidades de raciocínio social bem mais sofisticadas que possibilitem manter equi líbrios delicados entre lealdades e amiza des conflitantes Nesse ponto já estamos considerando estratégias e jogos políticos bastante sofisticados nos quais mentiras promessas jogos de cena e até mesmo sin ceridade e franqueza ajudam nos a manter nossos amigos e a enganar nossos inimigos Aos poucos surgem os psicólogos amadores armados com uma teoria da mente uma teoria sobre como a mente humana funcio na O principal axioma dessa teoria afirma que as ações são causadas por processos mentais tais como crenças e desejos A explicação do surgimento da teoria da mente dentro de uma perspectiva evo lucionista de adaptação à seleção natural e sexual implica que a psicologia leiga não é uma invenção cultural Ela é uma parte inata herdada da mente humana que se desenvolve nos primeiros anos de vida até estar completa por volta dos 4 anos e meio Nessa idade a criança já consegue passar nos testes de falsa crença Uma psicóloga apresenta dois bonecos à criança Os bonecos chamados Sally e Ana estão em um quarto de uma casa de brinquedo junto de uma cama onde há almofadas Primeiro a criança observa Sally colocar alguns doces debaixo de uma almofada para logo em seguida sair do quarto Enquanto Sally está fora Ana tira os doces debaixo da almofada e os coloca em seu bolso Quando Sally volta ao quarto a psicóloga pergunta à criança Onde Sally pensa que os doces estão Antes dos 4 anos e meio a criança respon de no bolso da Ana o que é uma resposta típica de quem ainda não desenvolveu uma teoria da mente A criança não tem a noção de que os outros podem ter crenças diferentes de suas próprias crenças Ela acha que todas as outras pessoas acredi tam no que ela acredita E ela acredita no que ela viu Ana colocou os doces no bol so Portanto Sally também tem a mesma crença Após os 4 anos e meio a resposta muda radicalmente Sally acredita que os doces estão debaixo da almofada Com o surgimento da teoria da mente a criança já compreende que outras pesso as podem manter crenças que são diferen tes das suas e que também podem manter crenças que são falsas Só então a criança pode tentar manipular outras pessoas por meio da indução de falsas crenças isto é só então a criança aprende a mentir E sem a capacidade para mentir não é possível jogar os jogos políticos necessários para a vida em grupos sociais linguageM e altruísMo recíProco Nossos ancestrais adquiriram a capacidade para usar linguagens complexas e sofisti cadas antes de deixar a África há cerca de 100 mil anos Na década de 1950 Noam Chomsky demonstrou que seria impossível para as crianças aprenderem uma língua de forma tão rápida apenas com os estímulos dados pelos pais e pelo ambiente cultural A criança só aprende uma língua porque ela nasce pré programada para este tipo de aprendizagem Por que então nossos ances trais desenvolveram mais essa capacidade inata Qual o problema adaptativo supera do com o uso da linguagem A teoria mais comum sugeria que a lin guagem é um sistema de comunicação que evoluiu para ajudar nossos ancestrais na caça e na defesa contra os predadores De acordo com essa teoria a função da linguagem era a de troca de informações sobre o ambiente INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 83 físico e ecológico uma vez que sons são bem mais eficazes do que sinais visuais na escuri dão da noite e através de longas distâncias Essa teoria entretanto foi contestada por Robin Dunbar 2004 quando propôs que a função básica da linguagem é a troca de informações sobre o ambiente social Mais uma vez a questão do altruísmo recíproco está na raiz de uma nova proposição para um mecanismo inato Em grandes grupos o altruísmo recíproco só funciona quando existe informação suficiente sobre quem é ou não é de confiança Com grupos cada vez maiores não é possível distinguir apenas por meio da experiência direta pessoal entre os aproveitadores e os que cooperam Sem a linguagem isto é sem um sistema de comunicação sofisticado os grupos não po deriam crescer ficando bastante limitados no número possível de membros Existe um limite no número de pessoas que um indi víduo pode manter relações físicas diretas e constantes para que possa estimar qual a probabilidade de cooperação futura4 Para Dunbar 2004 a linguagem evo luiu para ajudar nossos ancestrais na ob tenção de informações sobre quem merece ou não confiança principalmente quando não ocorre uma reciprocidade direta Na reciprocidade indireta o indivíduo é altruís ta com outra pessoa na esperança de esta belecer sua reputação como generoso e de confiança Esse é um bom exemplo em que a linguagem ajuda na troca de informações sociais permitindo que os humanos usufru am das vantagens de se viver em grandes grupos Daí o fascínio humano pela fofoca ela é a forma mais eficaz de comunicação para se obter informações sobre a confiabili dade dos outros características gerais da cognição social Até agora estabelecemos as bases evoluti vas de algumas das características do fun cionamento do cérebro humano que surgi ram como adaptações às primeiras questões colocadas pelas interações sociais de nos sos ancestrais Agora descrevemos alguns dos princípios que norteiam os estudos da cognição social 1 o indivíduo como um avarento cognitivo 2 orientação para os processos 3 pessoas como agentes cau sais 4 percepção mútua 5 centralida de do eu 6 qualidade da percepção 7 orientação pragmática tático motivada e predominância dos processos automáticos indivíduo como ator ativado 1 O indivíduo como um avarento cognitivo As pessoas não gostam de pensar muito exceto quando acham que é necessário Elas procuram fazer render ao máximo o pouco do esforço cognitivo que conse guem exercer Devido a essa tendência Fiske e Taylor 1991 2008 definiram as pessoas como avarentas no uso de seus recursos cognitivos Não que as pessoas não consigam realizar trabalhos cogniti vos complexos Elas o fazem quando eles são importantes e necessários Mas o mun do é muito complicado especialmente as outras pessoas e frente a essa realidade é melhor utilizar atalhos cognitivos buscar simplificações e aproximações em vez de proceder com análises minuciosas e bem fundamentadas Vários dos processos que serão analisados mais adiante estão relacionados com a sovinice cognitiva das pessoas 2 Orientação para processos A abordagem da cognição social sempre utilizou a abor dagem predominante na psicologia cogni tiva na qual os processos cognitivos são descritos como processos computacionais as pessoas recebem informações input codificam o que receberam armazenam na memória recuperam da memória para realizar inferências e para gerar produtos output A psicologia cognitiva tende a definir os processos cognitivos como for mados por estágios sequenciais O mesmo ocorre na cognição social A sequência atenção memória julgamento bem como outras sequências paralelas atenção julgamento ou atenção memória são alguns dos principais referenciais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 84 tOrres neiva cOLs des critivos da psicologia cognitiva e da abordagem da cognição social 3 Pessoas como agentes causais Parte funda mental da teoria da mente que recebemos por meio de nossa herança evolutiva é a percepção de que as pessoas são agentes causais Percebemos as pessoas como sendo impulsionadas internamente em direção a suas ações e objetivos Sentimos que os outros possuem agendas internas não observáveis Isso faz com que as pessoas fiquem bem mais interessantes e complexas como alvos de percepção e julgamento 4 Percepção mútua Outra característica que torna as pessoas interessantes e nossa percepção sobre elas em algo bem mais complexo é que elas também retornam a percepção afetando o observador Nossos impulsos naturais para compreender e explicar os outros se misturam com o que percebemos como a percepção e o julgamento deles a nosso respeito A cog nição social é uma percepção mútua um processo de mão dupla 5 Centralidade do eu Uma das consequên cias do processo de mão dupla mencio nada no item anterior é que a percepção de outra pessoa envolve o eu de quem percebe O observador olha para outra pessoa e termina por também perceber a si próprio As reações que a pessoa julga per ceber nos outros também define o que ela é a adequação de seus comportamentos opiniões e crenças da maneira de vestir etc A centralidade do eu do observador é inevitável 6 Qualidade da percepção Todas as carac terísticas mencionadas até o momento chamam a atenção para a questão da exatidão e da qualidade do processo de observação de fenômenos não observá veis Traços não observados são difíceis de comprovar e este é também um grande problema em áreas como a psicologia da personalidade por exemplo Nas áreas da avaliação psicológica são utilizados modelos e análises estatísticas comple xas em busca de algum tipo de validação dos traços não observados que possam descrever as pessoas Qual a qualidade da psicologia leiga Embora cometamos muitos erros é evidente que em média chegamos a interpretações razoáveis uma vez que conseguimos conviver razoavel mente bem Uma das razões está no uso de opiniões alheias como técnica de va lidação de nossos julgamentos É sempre possível confrontar nossa percepção com a percepção de um amigo em comum em busca de algum respaldo coletivo 7 Orientação pragmática tático motivada Seguindo William James um dos lemas enfatizados na cognição social é que o pensamento tem por objetivo a ação Fiske e Taylor 1991 2008 Como ana lisamos anteriormente esta característica está profundamente alicerçada em nossa história evolutiva O pensamento social das pessoas surgiu em função do planeja mento da preparação e do ensaio prévio para as interações do indivíduo com seu grupo social de alianças e amizades O indivíduo é um tático motivado ao pensar para agir escolhendo entre várias estraté gias políticas e sociais que garantam suas alianças e reciprocidade mútua Para Fiske e Taylor 1991 O contexto pragmático social do pensar sobre os outros significa que a cognição social tanto é causa quanto efeito da in teração social A ligação com a interação social significa que a a qualidade e a exatidão das percepções das pessoas são suficientes para os propósitos do dia a dia b elas constroem significados baseados nos traços estereótipos e histórias mais úteis convenientes e coerentes e c seus objetivos determinam como pensam Fiske 1995 p 157 8 Predominância dos processos automáticos indivíduo como ator ativado Nos últimos anos outro modelo do ser humano tem surgido na cognição social O modelo indivíduo como ator ativado considera que há uma predominância de processos afetivos e comportamentais automáticos isto é não acessíveis à consciência A qua INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 85 se maioria das ações do tático motivado não acontece como fruto de deliberações conscientes Pelo contrário associações inconscientes ativadas em milésimos de segundos ativampreparam priming effects cognições avaliações afetos mo tivações e comportamentos Dijksterhuis e Bargh 2001 Fazio e Olson 2003 eleMentos da cognição social As pessoas usam suas estruturas cognitivas para chegar a uma compreensão rápida e bastante satisfatória a respeito dos outros e de si mesmas Quais são os elementos que formam os conteúdos das estruturas cogni tivas São dois os elementos principais que preenchem nossas estruturas cognitivas schemas e atribuições Schemas Os schemas são estruturas cognitivas com postas de conhecimentos sobre conceitos objetos ou eventos representados por seus atributos e pelas relações entre esses atri butos Fiske 1982 Fiske e Neuberg 1990 os quais expressam pré concepções ou teo rias sobre conceitos objetos ou eventos No nosso caso os schemas que nos interessam são pré concepções ou teorias a respeito das outras pessoas e de nós mesmos Você por exemplo provavelmente tem um sche ma sobre o que é uma pessoa extrovertida quais são suas principais características O que ela faria em uma situação tensa É uma pessoa confiável Amiga Prestativa Emo cionalmente Instável Barulhenta Por pos suir um schema pessoa extrovertida você responde facilmente a estas perguntas por que você tem uma série de pré concepções sobre ela Para os psicólogos cognitivistas um schema não passa de um termo com plicado para representar esse conjunto de conhecimentos ou pré concepções Pré concepções possuem muitos elementos informações conectadas entre si formando uma teoria sobre pessoa extrovertida ou sobre quaisquer outros conceitos objetos ou eventos Uma implicação é que você pode não ter um schema sobre um conceito ou algo em particular Quais são os tipos de schemas No exemplo acima temos um schema de pessoa extrovertida Mas as pessoas também pos suem todo tipo de schemas sobre traços de personalidade estável agressivo cordial ou de pessoas em uma determinada situa ção comportamento em um restaurante na sala de aula no cinema Neste caso te mos o equivalente a scripts que descrevem ou prescrevem como a pessoa deve se com portar em certas situações Outros tipos são os schemas sobre objetivos sociais vingança sedução ajuda e os schemas sobre papéis sociais que contêm os comportamentos e os atributos que esperamos de determinadas pessoas que ocupam posições sociais che fes líderes administradores professores estudantes de graduação estudantes de pós graduação membros de uma quadrilha políticos etc Os schemas sobre papéis são schemas equivalentes a estereótipos Schemas sobre o próprio eu self sche mas constituem a base de nosso autoconcei to mas também pode ser que não tenhamos nenhum schema sobre uma determinada di mensão de nosso eu Se você nunca foi do tipo esportivo por exemplo não há como ter uma rede de conhecimentos e de pré concepções sobre esse componente de seu eu Como os self schemas são bastante elabo rados tendemos entre outras coisas a nos lembrar mais de informações que nos dizem respeito do que de informações que nos são indiferentes Kihlstrom Cantor Albright Chew Klein e Niedenthal 1988 Qual então são as funções dos sche mas Schemas influenciam a maneira como codificamos relembramos e julgamos as informações que temos acesso sobre con ceitos ou eventos Os schemas também di rigem nossa atenção para determinados as pectos das informações a que temos acesso Um exemplo retirado de uma pesquisa de Owens Bower e Black 1979 serve para ilustrar as funções dos schemas Nessa pes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 86 tOrres neiva cOLs quisa três grupos de participantes leram cada um uma versão do seguinte relato Cristina acordou sentindo se enjoada novamente e ficou pensando se poderia estar grávida Como iria dizer ao professor que ela estava namorando E a questão do dinheiro ainda era outro problema Cris foi para a cozinha tirou a chaleira do armário fez café olhou o café e decidiu adicionar um pouco de leite e açúcar Depois vestiu se e foi ao médico Quando chegou ao consultório do médico Cris foi examinada inicialmente pela enfermeira que procedeu com os exames prelimina res rotineiros Cris subiu na balança e a enfermeira registrou seu peso O doutor entrou na sala examinou os resultados desses procedimentos sorriu e disse Bom parece que todas as minhas ex pectativas foram confirmadas Cris foi embora e quando foi chegando à sala de aula decidiu sentar se na primeira fila Cris entrou na sala e sentou se O pro fessor foi para frente da sala e começou sua aula Durante toda a aula Cris não conseguiu se concentrar no que estava sendo dito A aula parecia não terminar nunca Mas finalmente terminou Como o professor foi cercado pelos alunos logo após a aula Cris saiu rapidamente da sala No final daquela tarde Cris foi a uma recepção no departamento e ficou olhando para ver quem estava lá Cris foi até o professor querendo conversar com ele sentindo se um pouco nervosa sobre o que dizer Um grupo de pessoas começou a jogar alguns jogos Cris foi até uma mesa onde estavam refrigerantes e salgadinhos O lanche estava bom mas Cris não se interessou por conversar com as outras pessoas presentes Depois de certo tempo Cris decidiu ir embora Owens Bower e Black 1979 apud Fiske 1995 p 163 Um dos três grupos da pesquisa de Owen e colaboradores 1979 leu esta ver são da história Agora considere a mesma história com uma introdução diferente substituindo as primeiras linhas até os três pontinhos Cristiano acordou se per guntando quanto peso tinha ganho até o momento O treinador de seu time de fute bol tinha dito que ele só seria escalado para o próximo jogo se ganhasse bastante peso e passasse no teste antidoping A pressão era muito grande Continue com a mesma história já transcrita acima Para o terceiro grupo grupo controle não foi fornecida nenhuma introdução e a história se inicia depois dos três pontos Entre a primeira e a segunda versão da história o significado muda radicalmente por conta dos schemas ativados Na primei ra temos o schema gravidez indesejada e na segunda o schema candidato a atleta Essa mudança radical ocorre porque nossos schemas para as duas situações levam a dife rentes codificações e à ativação de conheci mentos e reações emocionais adicionais que trazem para o que está escrito Por exem plo para entender melhor a influência do schema gravidez indesejada da primeira história imaginemos que nossa persona gem tivesse tido oportunidade de conversar com o professor Como ela estaria se sen tindo em uma situação dessas Ansiosa Desconfortável Você não acha que teria sido melhor ter combinado um encontro com o professor em outro momento em vez de tentar conversar na recepção Cristina ficou feliz quando descobriu que aumen tou de peso desde a última consulta E na segunda versão da história como Cristiano estava se sentindo com relação a seu pro fessor Por que queria falar com o professor na recepção Como ele estava se sentindo em relação a seu peso Qualquer pessoa que tenha schemas ativados por essas histórias é capaz de compreendê las preenchê las imaginar caminhos e cenários alternativos e assim por diante Para analisar mais ainda o papel dos schemas Owen e colaboradores 1979 so licitaram meia hora depois da leitura que os participantes relatassem de memória tudo que tinham lido nas histórias pro curando ser o mais fiel possível ao relato original Os resultados mostraram que os dois grupos cujas histórias ativaram sche mas distintos relembraram mais detalhes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 87 na ordem correta e com menos erros e acréscimos de informações extras do que o grupo de controle Os schemas ativados di rigem a atenção das pessoas para detalhes cruciais guiam a memória e influenciam o julgamento A rapidez com a qual as pessoas jul gam as outras acontece porque o julga mento é feito automaticamente on line Os schemas permitem que façamos julgamentos e avaliações simplificadas polarizadas e au tomáticas Somos apresentados a alguém que nunca vimos antes e imediatamente temos reações positivas ou negativas já a partir do momento que começamos a re ceber informações tom de voz aparência postura conteúdo do que diz Acontece que quando encontramos alguém que ati va algum schema ligado a outra pessoa ou evento ocorre uma reação ou transferência das mesmas reações de julgamento para a pessoa que acabamos de conhecer sem que tenhamos nenhuma consciência disso Pode ser até que o novo conhecido não nos lem bre ninguém em particular mas venha de categorias de pessoas ocupação etnia lo cal de nascimento sobre as quais temos for tes reações afetivas ou de opinião Andersen e Cole 1990 Fiske 1982 Devine 1995 A categoria mais forte que existe é nós versus eles uma divisão inter grupos que sempre desencadeia julgamentos positivos para o nosso grupo e negativos para os de fora Brewer 1979 Mullen Brown e Smith 1992 Não é de surpreender portanto que cada um de nós provoque reações tão diver sas nas outras pessoas Os schemas afetam nossa atenção me mória e julgamentos mas não são as úni cas influências em nossos pensamentos a respeito dos outros Afinal também temos outras evidências e informações que perce bemos ou recebemos de outras fontes Os schemas atuam em confronto com as evidên cias e o equilíbrio que surge dependerá de vários fatores Em algumas situações nossa motivação quando temos pouco tempo sobrecarga cognitiva cansaço por exemplo nos leva a uma predominância de nossos schemas sobre as evidências Brewer 1988 Fiske e Neuberg 1990 Gollwitzer 1990 Hilton e Darley 1991 Em outras situações os fatores que influenciam esta relação são a congruência entre schemas e dados Fiske Neuberg Beattie e Milberg 1987 e o valor diagnóstico dos dados Hilton e Fein 1989 Leyens Yzerbyt e Schadron 1992 Trata se de fato de uma questão de superação de nossos schemas e estereótipos em função dos dados e informações a respeito de uma determinada pessoa em particular Os fa tores que podem diminuir a influência dos schemas e estereótipos são mais atenção e mais motivação para que possamos ir além das reações automáticas altamente influen ciadas por nossos schemas atribuições Os schemas são definidos como um dos dois elementos básicos da cognição social O ou tro são as atribuições As pessoas são perce bidas como agentes causais e é importante saber como elas atribuem causas aos com portamentos dos outros e a seus compor tamentos Não só atribuímos causas como essas atribuições têm profundas influências sobre nossas reações afetivas e comporta mentos futuros Esta é a razão pela qual as atribuições são parte fundamental de nossos pensamentos a respeito dos outros e de nós mesmos Quando atribuímos disposições ou traços como causas de comportamentos ob servados fornecemos toda informação ne cessária para ficar armazenada no schema relativo aos traços comportamentos e rea ções afetivas em questão Weiner 2000 2005 propõe duas teo rias para explicar as atribuições de causas a que o indivíduo recorre para explicar os próprios comportamentos teoria da atribui ção intrapessoal e os comportamentos dos outros teoria da atribuição interpessoal Embora os modelos atribucionais de Weiner tenham sido desenvolvidos para explicar questões motivacionais nos comportamen tos de desempenho vamos utilizar suas pro posições para descrever como as atribuições de causalidade são realizadas pelas pessoas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 88 tOrres neiva cOLs quando tentam entender a si próprias eou entender os outros Teoria da atribuição intrapessoal O processo de atribuição de causas que o in divíduo realiza para explicar e compreender seu comportamento é desencadeado a partir de eventos considerados negativos inespe rados ou importantes A Figura 41 a seguir apresenta uma adaptação do modelo da Teoria da Atribuição Intrapessoal de Weiner 2000 2005 Nesse modelo eventos que significam a obtenção ou não de algum ob jetivo provocam automaticamente reações afetivas positivas alegria felicidade ou negativas tristeza frustração Essas emo Figura 41 teoria de atribuição intrapessoal Baseado em Weiner 2005 Tipos de causas e suas consequências Aptidão expectativa alta de sucesso emoções positivas Esforço boas expectativas de sucesso emoções positivas determinação precaução Habilidade boas expectativas de sucesso emoções positivas incerteza quanto à habilidade Sorte acaso ajuda baixa expec tativa de sucesso emoções ime diatas positivas mas passageiras Tipos de causas e suas consequências Falta de aptidão expectativa muito baixa de sucesso emoções negativas vergonha humilhação embaraço Baixo esforço boas expectativas de sucesso emoções negativas passageiras baixa autoestima culpa Falta de habilidade expectativas moderada de sucesso emo ções negativas substituídas por apreensão Falta de sorte acaso ruim falta de ajuda expectativa positiva cautelosa de sucesso emoções negativas mas passageiras Evento Positivo Evento Negativo Se o evento foi inesperado negativo ou importante então ocorre uma busca por causas que podem ser descri tas em um espaço tridimensional Locus Estabilidade Controlabilidade Se positivo Feliz Se negativo Tristeza Frustração Alcançou objetivo Não alcançou objetivo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 89 ções ocorrem sem interferência cognitiva Só a partir dessas reações emocionais é que o processo de atribuição é desencadeado se o evento ocorrido for considerado pelo indivíduo como negativo inesperado ou muito importante De acordo com Weiner as causas atribuídas ao comportamento que resultou no alcance ou não dos objetivos do indivíduo aptidão inata sorte ajuda dos outros etc podem ser enquadradas em um espaço tridimensional composto pelas di mensões locus interno ou externo estabili dade estável ou instável e controlabilidade controlável ou incontrolável Vamos supor por exemplo que o indi víduo acaba de ser aprovado em um concur so público Devido à importância do evento desencadeia se um processo atribucional no qual a questão é atribuir uma causa ao evento fui aprovado no concurso Por uma série de fatores que não discutiremos aqui o indivíduo termina considerando que sua aprovação foi consequência de sua grande competência inata O indivíduo atribui sua aptidão à causa do que ocorreu Nesse caso ele fez uma atribuição que pode ser defini da no espaço tridimensional como interna estável e incontrolável Interna porque é pro priedade dele estável porque é permanente e constante e incontrolável porque ele já nasceu com elevada capacidade cognitiva e intelectual que são características inatas Vamos contrastar agora esse tipo de atri buição com a atribuição de outro candidato que embora também tenha sido aprovado considerou que tudo aconteceu em razão de seu esforço Diferentemente do primeiro in divíduo temos uma causa interna não está vel e controlável São as seguintes algumas das atribui ções mais comuns com suas respectivas de finições no espaço tridimensional Aptidão interna estável incontrolável Esforço interna instável controlável Habilidade interna instável contro lável Acaso externa instável incontrolável Ajuda externa instável incontrolável Sorte externa instável incontrolável Para Weiner o enquadramento das cau sas no espaço tridimensional locus estabi lidade e controlabilidade é de fundamental importância porque os tipos de atribuições causais possuem diferentes consequências motivacionais que se manifestam nas expec tativas e reações afetivas das pessoas E são essas expectativas e emoções que Weiner considera como os principais determinantes das ações motivacionais Um fracasso atri buído à falta de aptidão por exemplo leva a sentimentos de vergonha humilhação e embaraço além de nenhuma expectativa de que será possível reverter a situação no futu ro Afinal o fracasso decorreu de uma causa interna estável e incontrolável Já um fra casso atribuído à falta de esforço também provoca emoções negativas baixa autoesti ma culpa mas que são passageiras Além do mais as expectativas para um sucesso no futuro ainda permanecem a causa do fra casso foi interna instável e controlável Na Figura 41 estão listadas estas e outras con sequências motivacionais que ocorrem em função das expectativas para o futuro e das reações afetivas do indivíduo Teoria da atribuição interpessoal Os mesmos mecanismos são desencadeados quando ocorre nossa percepção em relação aos outros O comportamento do outro nos chama a atenção e desencadeia uma busca automática por uma causa Assim como no caso da percepção do próprio comportamen to as causas que atribuímos aos comporta mentos dos outros também são classificadas dentro da mesma tridimensionalidade Nesse ponto ocorrem grandes dife renças entre os dois tipos de atribuição Primeiro na atribuição intrapessoal o indi víduo sempre enquadra o evento como algo que correspondeu ou não a seus objetivos Os eventos podem ser resumidos como su cesso ou fracasso provocando reações afe tivas positivas ou negativas de imediato e sem a participação de processos cognitivos O mesmo não ocorre na atribuição interpes soal Os eventos podem ser os mais diversos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 90 tOrres neiva cOLs tais como sucesso ou fracasso em tarefas doenças pedidos de ajuda etc Mas qual quer que seja o evento é desencadeada uma atribuição de causas que da mesma forma que na atribuição intrapessoal podem ser descritas em função do locus estabilidade e controlabilidade com a diferença que a dimensionalidade da causa é usada apenas para considerar o outro como responsável ou não pelo evento Isto é o observador atribui ou não a responsabilidade pelo que ocorreu ao indivíduo observado e só então sente a reação afetiva de raiva o indivíduo é percebido como responsável ou simpatia o indivíduo não é percebido como respon sável Na Figura 42 encontram se as sequên cias envolvidas na atribuição interpessoal considerando se algumas das causas mais comuns Se acompanharmos as duas primei ras linhas dos dois conjuntos da Figura 42 fracasso em uma tarefa por falta de esfor ço ou por falta de aptidão veremos que o modelo prevê duas reações afetivas opostas com consequências comportamentais igual mente distintas Para o mesmo evento o ob servador sente raiva ou simpatia e procede com comportamentos opostos Comparando os dois modelos das Figuras 41 e 42 podemos observar que atribuições de falta de esforço como causa de um fracasso por exemplo levam a re ações afetivas e comportamentais opostas Quando se trata do indivíduo a atribuição de pouco esforço em contraste com a atri buição de falta de aptidão resulta em sen timentos moderadamente negativos e pas sageiros bem como em comportamentos de persistência e esperança de sucesso no futu ro Já para um observador ocorre o oposto Figura 42 teoria da atribuição interpessoal Baseado em Weiner 2005 Evento Causa Reação comportamental Fracasso em Falta de esforço uma tarefa Reprimenda Câncer do pulmão Comportamento Condenação por ser fumante irresponsável Responsável Raiva Não apareceu Alcoolismo Abandono no trabalho Retaliação Agrediu uma Intencional pessoa maldade Fracasso em Falta de aptidão Decide não uma tarefa recriminar Cego de Inata sem Nenhuma nascimento controle condenação Não Simpatia responsável Faltou a escola Resfriado forte Ajuda Agressão Esbarrou sem Nenhuma querer retaliação INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 91 a atribuição de falta de esforço a um fracas so provoca raiva e comportamentos negati vos quando contrastado com a atribuição de falta de aptidão Esta provoca sentimentos de simpatia e comportamentos compreensi vos ou de ajuda Processos da cognição social Schemas e atribuições objetos dos dois úl timos tópicos são os conteúdos sobre os quais formamos nossas impressões Neste e nos próximos dois tópicos considerare mos os três principais processos que operam sobre os schemas e as atribuições atenção memória e inferência atenção A atenção é constituída por dois outros pro cessos codificação e consciência Na codi ficação transformamos toda estimulação que nos atinge através dos sentidos que atendemos no momento em algo que toma mos consciência e guardamos temporaria mente ou permanentemente em nossa me mória Consciência é aquilo de que temos conhecimento em um determinado momen to Podemos ficar quietos e estar cientes de nossas cognições dos ruídos externos das sensações que o ambiente provoca em nosso corpo e assim por diante A atenção pode então ser definida como a codificação e a consciência de estí mulos internos ou externos a nosso organis mo A principal característica da atenção é que ela é limitada Não podemos atender a todos os estímulos que nos atingem temos que nos restringir a uma pequena parte a cada momento Como nossa atenção é bas tante limitada ela tem que ser bem sele tiva Na cognição social a seletividade da atenção é importante porque os objetos do pensamento social os outros e nós mes mos são muito complexos e multifacetados Nossa atenção seletiva portanto já esta belece propriedades únicas aos conteúdos de nossa cognição social schemas e atri buições Só podemos perceber e lidar com aquilo que percebemos e até certo ponto com aquilo de que temos consciência Sendo a atenção seletiva quais os fa tores que a influenciam Um dos principais é a saliência do estímulo Se estivermos em um ambiente onde existe um excesso de es timulação nossa atenção será dirigida para estímulos que são salientes no ambiente Claro que podemos ter nossa atenção to talmente voltada para alguma preocupação premente e não prestamos mais atenção ao ambiente Neste caso entretanto a saliên cia é de nossos problemas e pensamentos internos A saliência é determinada pelo contexto imediato do estímulo Uma pessoa alta em uma festa tem uma saliência bem diferente de um jogador bem alto em um time de basquetebol Dois outros fatores ajudam na captu ra da atenção da pessoa O primeiro são os schemas Qualquer comportamento que vá de encontro ao conhecimento prévio que temos de papéis ou schemas de pessoas vai chamar nossa atenção A inconsistência com o schema chama a atenção Fiske 1995 por exemplo descreve um professor que decide ir dar aula vestido de palhaço como um caso típico de contraste entre o compor tamento e o schema de papel de professor O segundo fator que provoca a saliência do estímulo são os objetivos do observador na quele determinado momento Esses objeti vos ajudam a focalizar a atenção tornando saliente aquilo que lhe está relacionado Quais as consequências da saliência O que está saliente assume uma importância maior do que outros estímulos não salientes inclusive em termos de causalidade Isto é as atribuições de causalidade das pessoas vão sofrer influência do que é mais saliente para elas Os estímulos salientes passam a ter maior probabilidade de assumir o papel causal principal em um determinado con texto Uma determinada pessoa que chame a atenção do observador por exemplo vai ganhar mais crédito e parecer mais influen te do que os outros que não chamaram tanta INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 92 tOrres neiva cOLs atenção simplesmente porque o observador prestou mais atenção a esta pessoa Uma maior atenção também tende a polarizar ou exagerar as avaliações do observador a res peito da pessoa saliente Se quem observa gosta da pessoa sendo observada o gostar aumenta mais ainda Se não gosta também aumenta o não gostar As avaliações ficam polarizadas Finalmente maior saliência também aumenta a probabilidade de a pes soa ser lembrada posteriormente Aumenta a probabilidade de ela ficar registrada na memória de quem observa Quaisquer que sejam as razões para que prestemos mais atenção a certas pessoas ou aspectos dessas pessoas a principal con sequência é que a atenção vai mudar a ma neira como julgamos e interagimos com elas Boa parte do que pensamos sobre os outros acontece on line automaticamente em uma velocidade muito grande A atenção influen cia enormemente que tipo de informação teremos para fundamentar nossa compreen são dos outros ou de nós mesmos Memória Pesquisas que investigaram as memórias sobre outras pessoas demonstraram que os objetivos envolvimento do observador e a impressão geral formada pelo conjunto de informações têm um grande impacto sobre o quanto nos relembramos posteriormen te Devine Sedikides e Fuhrman 1989 Hamilton 1981 Hamilton Katz e Leirer 1980 Srull 1983 Ao tentar memorizar in formações sobre outra pessoa é bem mais efi caz tentar formar uma impressão ou descri ção geral dela do que tentar gravar pedaços isolados de informação tais como descrições de traços de personalidade Por exemplo se descrevemos para você uma pessoa como ousada convencida distante e teimosa a melhor estratégia é tentar formar uma im pressão geral desse tipo de pessoa imagine uma pessoa descrita por esses adjetivos e não tentar memorizar cada adjetivo ou usar truques mnemônicos do tipo memorize as primeiras letras de cada adjetivo tentando formar uma sigla Por que é mais fácil dessa forma É mais fácil por causa da integração das informações em um todo coerente da formação de ligações entre os traços descri tivos da pessoa a ligação entre teimosia e ousadia reforça mais ainda a impressão ge ral por exemplo Quanto mais traços e mais ligações melhor a memorização Além disso quanto mais o observa dor está envolvido com a pessoa observada e quanto mais relevante para o observador é a impressão autorreferente geral do ou tro melhor será sua memória A criação de certa empatia tentar se colocar no lugar do outro ajuda mais ainda a relembrar infor mações sobre outra pessoa Estranhamente tentar se colocar no lugar do outro ou me lhor ainda antecipar uma interação com a pessoa como poderíamos lidar com alguém que é ousado convencido distante e teimo so é ainda melhor em termos mnemônicos do que interagir de fato com a pessoa Em uma interação real você estaria decidindo também sobre seu comportamento além de tentar formar uma impressão a respei to do outro Você estaria muito ocupado Hastie Ostrom Ebbesen Wyer Hamilton e Carlston 1980 Srull e Wyer 1989 Wyer e Srull 1984 inferência A questão da inferência na cognição social diz respeito ao que fazemos com a informa ção que obtivemos por meio dos processos de atenção e retenção memória Como fa zemos para ir além da informação de que dispomos Qual a qualidade de nossas in ferências Qual a qualidade de nossos jul gamentos Para determinar a qualidade de nossas inferências e julgamentos precisamos nos re ferir a questões normativas A pergunta pas sa a ser Qual a qualidade de nossas inferên cias e julgamentos quando comparadas com o que é sugerido por princípios normativos ou padrões de qualidade Nisbett e Ross 1980 Kahneman Slovic e Tversky 1982 Gilovich 1991 Sutherland 1992 Goldstein INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 93 e Hogarth 1997 Baron 2000 Gigerenzer 2000 Gigerenzer e Selten 2001 Gilovich Griffin e Kahneman 2002 As respostas obtidas nas pesquisas re alizadas nas últimas décadas não têm sido muito boas Diferentes pesquisadores têm demonstrado que os mesmos processos cog nitivos sociais e motivacionais responsáveis pelas grandes realizações da inteligência e julgamento humanos também estão envolvi dos em falhas e distorções que vão dos sim ples aos grandes erros de julgamento Não se trata de falta de informação ou de educa ção A superutilização ou a má aplicação de nossas capacidades cognitivas é que causam os problemas Eles constituem os custos ine vitáveis de nossos poderes cognitivos porque os problemas de inferências e de julgamen to ocorrem quando utilizamos nossas capa cidades cognitivas no limite e sem o auxílio de um bom conhecimento normativo Este último ponto tem levado vários autores a questionarem as conclusões pessimistas das últimas décadas de pesquisa Afinal a má qualidade de nossas inferências e julgamen tos não tem impedido o sucesso adaptativo e reprodutivo de nossa espécie E os proble mas surgem quando nossas inferências são confrontadas com padrões de qualidade nem sempre explicitados de forma relevante e pertinente à linguagem cognitiva cotidia na adaptada ao mundo real Gigerenzer e Selten 2001 Gigerenzer 2000 Temos que ter cautela quando julgamos nossas capaci dades inferenciais Afinal lidamos com um mundo que se apresenta como um conjun to de dados confusos frequentemente ale atórios incompletos não representativos inconsistentes secundários de difícil com preensão São justamente nossos sucessos e fracassos para lidar com este tipo de dados que revelam a grande capacidade do racio cínio juntamente com suas limitações de jul gamento e de racionalidade E quais são as principais limitações Elas podem ser agrupadas em algumas ca tegorias interpretação de dados aleatórios de dados incompletos e não representativos à profecia autorrealizante de ver o que já se esperava ver Interpretando dados aleatórios Tendemos a ver ordem onde não existe ne nhuma e percebe mos um processo coerente atuando onde existe apenas a presença do acaso os testes psicológicos projetivos se aproveitam dessa propensão Relacionada a esta percepção de ordem consideramos que eventos aleatórios são por definição aqueles eventos que não apresentam ordem aparente isto é são eventos que têm uma aparência desordenada Uma das pesqui sas de Tversky e Kahe man 1973 ilustra bem essa tendência Estudantes foram soli citados a avaliar a probabili dade relativa de três sequências de nascimentos de meninos H e meninas M considerando os primei ros seis bebês nascidos em um determina do dia no hospital da cidade As sequências apresentadas aos estudantes foram as se guintes 1 H H H H H H 2 H H H M M M 3 M H H M M H A probabilidade de ocorrência de cada uma das três sequências é quase idêntica No entanto a maioria dos sujeitos da pesquisa escolheu a sequência 3 como a que apre senta a maior probabilidade de ocorrência Considerando o que sabem sobre a distri buição de nascimentos e sobre o processo de geração do evento aleatório as pessoas julgam a terceira sequência como a mais re presentativa A segunda sequência tem uma aparência muito ordenada e a primeira representa menos ainda uma sequência ale atória ela não reflete a aleatoriedade do processo de nascimento nem a distribuição dos sexos na população O mesmo ocorre na chamada falácia do jogador Após observar uma longa sequência de números baixos em um lançamento de dados o jogador tende a acreditar que o próximo será um número alto porque tal resultado tornaria a sequên cia geral dos eventos mais representativa de uma sequência aleatória Para Kahneman Slovic e Tversky 1982 é o heurístico da representatividade que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 94 tOrres neiva cOLs se encontra na raiz da percepção errônea de sequências aleatórias Esses heurísticos são atalhos cognitivos que simplificam e facili tam a inferência e o julgamento As pessoas recorrem a esse heurístico quando conside ram que os efeitos devem se assemelhar a suas causas grandes efeitos exigem grandes causas efeitos com plexos decorrem de cau sas complexas que eventos que estão inter ligados devem aparentar essa inter ligação e que exemplares devem aparentar semelhan ça com a categoria da qual fazem parte p ex um psicólogo deve ter a aparência do protótipo representativo do psicólogo Muitas vezes o julgamento baseado na representatividade é um julgamento corre to Outras vezes porém o uso excessivo da representatividade leva a julgamentos errô neos Nem todos os psicólogos têm cara de psicólogos e alguns grandes efeitos p ex epidemias possuem causas praticamente invisíveis p ex vírus Mas qual a relação do heurístico com a questão da aleatorieda de No caso do lançamento de uma moeda por exemplo o aspecto mais saliente é o conjunto de resultados que deve produzir espera se uma divisão meio a meio com 50 de caras e 50 de coroas Ao examinar uma sequência de resultados esse aspecto salien te dos 50 50 é comparado automati camente com a sequência que se obteve Se a sequência estiver grosseiramente dividida em 50 50 perceberemos um processo aleatório isto é a sequência representa uma distribuição aleatória Qualquer outra divisão provoca julgamentos de não aleato riedade O erro está em não saber que isso é o que deve ocorrer só a longo prazo A lei dos grandes números de acordo com os estatísticos assegura a ocorrência de uma divisão 5050 somente após um grande nú mero de lançamentos da moeda Para poucos lançamentos sequências desequilibradas são perfeitamente possíveis A ilusão do agrupamento manifesta se em várias outras formas Pessoas que trabalham em maternidades observam uma série de nascimentos de meninos seguidos por uma série de nascimentos de meninas e terminam por atribuir tais eventos a vá rias forças misterio sas do tipo fases da lua As pessoas também percebem uma face na lua São Jorge lutando contra o dra gão canais em Marte ou para as que são religiosas todo tipo de imagens em panos madeiras nuvens árvores e no campo São simplesmente exemplos de sequências alea tórias mas que não possuem a aparência aleatória Interpretando dados incompletos A reação mais comum das pessoas a qual quer atitude um pouco mais cética sobre a veracidade de crenças e fenômenos consiste no relato de um testemunho próprio ou do depoimento dado por outra pessoa Reações como Conheço alguém que ficou bom de pois que colocou este amuleto debaixo do travesseiro são as respostas favoritas das pessoas que acreditam em práticas e crenças alternativas Eu vi acontecer Minha vizi nha ficou completamente curada Acontece o tempo todo com muita gente O que estas afirmações possuem em comum é a apresentação de evidência po sitiva que justifica e explica a convicção da pessoa Mas o problema com esse tipo de evidência é que não é suficiente para a comprovação de nenhum fenômeno Casos de pacientes que relatam terem ficado cura dos com a ajuda de tratamentos pela ho meopatia ou tratamento espiritual existem aos milhares mas não constituem evidência suficiente de que esses tratamentos interfe riram ou promoveram a remissão de alguma doença ou condição Ainda seria necessário levar em conta por exemplo o número de pacientes que apresentaram remissão sem o recurso aos tratamentos receberam um pla cebo acreditando que era o tratamento ver dadeiro os que não apresentaram melhora alguma mesmo recorrendo aos tratamentos e os que não melhoraram mas também não foram tratados mas acreditavam que tinham sido tratados A Tabela 41 a seguir apresenta graficamente os grupos que de vem ser observados para que possamos tes tar a eficácia de um tratamento São quatro INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 95 as evidências necessárias e suficientes para que possamos julgar e inferir Para verificarmos corretamente se o tratamento leva à cura teríamos que com parar as quatro informações das condições A B C e D Mas não é isso que as pesso as fazem cf Crocker 1981 O que mais chama nossa atenção são as condições A e B pois confirmam que pacientes foram tratados e foram curados e pacientes não foram tratados e não foram curados Na verdade as pessoas terminam por observar apenas a condição em que existe um bom número de casos positivos para concluir que o tratamento funciona Infelizmente a evidência da condição A é necessária mas não é suficiente Cognitivamente é bem mais fácil lidar com a confirmação positi va já que encerra toda evidência necessária para a ocorrência de um julgamento Já as informações das celas B e C isoladamente não dizem lá muita coisa exceto quando fazemos um grande esforço de análise e as consideramos juntas com as outras duas ce las Como conciliar esses fatos com o avaro cognitivo que somos Finalmente outras pesquisas indicam igualmente que a excessiva suscetibilidade das pessoas à confirmação positiva é apenas um dos aspectos da questão As pessoas não gostam do papel de advogado do diabo e procuram ativa e deliberadamente apenas os dados que confirmem suas crenças e julga mentos cf Skov e Sherman 1986 Snyder e Swann 1978 Trope e Bassok 1982 Profecia autorrealizante A profecia autorrealizante ocorre quando nossa expectativa termina por provocar o próprio comportamento que originalmente antecipamos Imagine uma situação em que acreditamos que alguém é antipático e hos til Nosso comportamento em direção a essa pessoa vai com certeza refletir nossa expec tativa podendo então provocar respostas que comprovam o que é esperado Pesquisas indicam que profecias dessa natureza são muito comuns em situação de aprendiza do nas quais o professor não acredita na capacidade do aprendiz Por não acreditar termina agindo de uma forma que provoca induz a não aprendizagem do aluno Nesse caso ocorreu uma profecia autorrealizante porque existiu algum mecanismo que trans formou a expectativa em ação confirmató ria muitas vezes inconsciente por parte de quem tem a expectativa inicial Sem esse mecanismo não existe profecia autorrea lizante Ao provocarmos a realização de nossas expectativas terminamos por basear tabela 41 situações que devem ser investigadas para que se possa verificar a suposta relação entre cura de doenças e os tratamentos homeopáticos ou espirituais Pacientes curados Pacientes não curados receberam tratamentos a B receberam placebo c D cada cela deve ser preenchida com o número de casos observados de acordo com as condições das marginais a número de pacientes que receberam os tratamentos e foram curados B número de pacientes que receberam os tratamentos e não foram curados c número de pacientes que não receberam os tratamentos mas acreditavam que sim pois receberam um placebo e foram curados D número de pacientes que não receberam os tratamentos mas acreditavam que sim pois receberam um placebo e não foram curados INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 96 tOrres neiva cOLs nossos julgamentos sobre informações que não estariam disponíveis se não tivéssemos provocado o surgimento delas em primeiro lugar Lidamos com o que observamos sem considerar como as coisas seriam diferentes se tivéssemos agido diferentemente Outras profecias são apenas aparente mente autorrealizantes e ocorrem quando nossas expectativas alteram as circunstân cias que impedem ou limitam as ações da outra pessoa ações que poderiam descon firmar nossas expectativas Suponha que al guém ache você agressivo e se afaste evitan do todo tipo de contato Como você poderá mostrar que a crença e a expectativa do ou tro em relação a você não são verdadeiras Ele vai continuar achando você agressivo porque já achava antes e nada de novo vai desconfirmar essa crença Problemas inferenciais o que fazer Embora os estudos sobre os fundamentos de nossa cognição social possam transmitir uma visão pessimista da qualidade de nos sos julgamentos e inferências duas obser vações devem ser consideradas Primeiro a maneira como pensamos sobre os outros é boa o suficiente para que consigamos so breviver razoavelmente bem em sociedade Com a prática advinda da experiência e da maturidade chegamos a um ponto em que na maioria das vezes conseguimos negociar de forma relativamente adequada nossos relacionamentos sociais Apesar dos heurísticos vieses atenção limitada e me mória seletiva conseguimos nos adaptar e aprender com nossos erros e com os erros dos outros Segundo é esta possibilidade de apren dizagem e de aperfeiçoamento que deve ser explorada quando se considera a qualidade de nossos julgamentos e inferências Vários estudos demonstraram que é possível melho rar nossos julgamentos e evitar parte dos vie ses e erros que cometemos Cheng Holyoak Nisbett e Oliver 1986 Fong Krantz e Nisbett 1986 Nisbett Krantz Jepson e Fong 1982 Tróccoli 2005 ver também Gigerenzer e Selten 2001 Gigerenzer 2000 coMentários Finais A cognição social compreende estudos sobre como percebemos processamos armazena mos e usamos informações que recebemos de nosso mundo social Nos últimos 20 anos surgiram revistas e livros especializa dos contendo centenas de pesquisas sobre como pensamos a respeito de nós e dos ou tros p ex Hamilton 2005 Fiske e Taylor 2008 Não só isso mas novas teorias ques tões e metodologias p ex a neurociência cognitiva social também surgiram como consequência do estudo do fenômeno social a partir da perspectiva da cognição social A cognição social então deve ser considerada não como mais um tópico da psicologia so cial mas como uma abordagem nova sobre seus diversos tópicos cf Devine Hamilton e Ostrom 1994 A psicologia social abran ge uma grande variedade de tópicos tais como atitudes agressão altruísmo amor percepção interpessoal tomada de decisões e relações grupais entre outros A cognição social é uma novidade conceitual e metodo lógica que introduz as questões cognitivas subjacentes aos tópicos tradicionais da psi cologia social Em todas as áreas de estudo da psicologia social as pessoas processam informações do mundo social a questão é compreender como a informação está sendo processada e usada quando desenvolvemos atitudes reagimos agressiva ou altruisti camente como decidimos e participamos dos diversos grupos sociais Neste capítulo apresentamos de forma bem resumida um pouco dessa nova abordagem Esperamos que o incentivo tenha sido suficiente para que você continue descobrindo os novos ho rizontes da cognição social notas 1 Considera se que esse período formativo durou até cerca de 150 mil a 100 mil anos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 97 atrás quando nossos ancestrais saíram da África e começaram a colonizar o mundo A partir da saída da África o tempo tem sido muito curto 100 mil anos ou cerca de 5 mil gerações para a evolução produzir quaisquer mudanças significativas em uma espécie Isto implica que toda a história do surgimento da civilização e cultura humana a agricultura só surgiu há 10 mil anos é irrelevante quando se trata de compreender a mente humana Como nossas mentes não evoluíram em um mundo de cidades de tecnologia avançada temos cérebros da idade da pedra vivendo em um mundo de alto desenvolvimento tecnológico Descontando todos os problemas decorrentes desse fato não podemos deixar de reconhecer a tremenda capacidade adaptativa de nosso cérebro 2 Embora não seja nosso objetivo discutir a questão do altruísmo e da cooperação de vemos acentuar que estes comportamentos não evoluíram apenas nas situações com base estritamente recíproca O biólogo William Hamilton 1964 demonstrou que a grande ocorrência de altruísmo não recíproco em todo o reino animal relações pais e filhos e entre outros parentes por exemplo só pode ser compreendida quando se considera que a unidade fundamental da evolução não é o organismo mas o gene individual O altruísmo não recíproco só ocorre entre organismos ge neticamente relacionados parentes próximos compartilham muitos genes e os genes que predispõem o indivíduo a ajudá los estão na verdade ajudando suas próprias cópias Posteriormente o biólogo Richard Dawkins 1989 popularizou e aperfeiçoou essa teoria em seu livro antológico O Gene Egoísta 3 Outras espécies desenvolveram sistemas semelhantes A separação radical entre a espécie humana e espécies não humanas de nuncia o que Dawkins 2003 cap 3 chama de mente descontínua isto é a crença em uma separação radical quando o que existe é uma diferenciação gradual e às vezes até sutil entre nós e outros animais tais como os chipanzés 4 Isto é o que ocorre entre os chimpanzés que dedicam boa parte do tempo livre ao comporta mento de grooming No grooming os chimpan zés se limpam retirando parasitas e pedaços de sujeiras presos nos pelos daqueles com os quais mantêm alianças Existem evidências indicando que na necessidade há maior probabilidade de ajuda por parte daqueles que são compan heiros de grooming O aumento dos grupos humanos para cerca de 150 membros em mé dia tornou inviável a manutenção das alianças com base em cooperações diretas e mútuas Não haveria tempo para outras atividades além de ser extremamente cansativo manter esse tipo de relacionamento com todos os out ros membros de grupos tão grandes Dunbar considera que o equivalente nos hominídeos foi à evolução da linguagem para a transmis são de informação verbal principalmente por meio das fofocas Uma implicação é que os meios modernos de comunicação a distância e mails salas de bate papo na internet etc jamais substituirão inteiramente a necessidade humana de boas conversas ao pé do ouvido reFerências ANDERSEN S M COLE SW Do I know you The role of significant others in general social perception Journal of Personality and Social Psychology v 59 p 384399 1990 AXELROD R The evolution of cooperation New York Basic Books 1984 BARON J Thinking and 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comportamento humano bem como do modo como a cultura pode influenciar essa relação apontando diver sos exemplos de como esse conceito pode ser operacionalizado Vale adiantar que to dos esses temas terão como mote a cultura do Brasil e a operacionalização das normas como medida e conceito será focada a nossa população visando colaborar com uma psicologia social brasileira para o bra sileiro Com isso em mente podemos come çar com a metáfora sugerida por Candido 1972 para discutir a cultura nacional do brasileiro Para ele o Brasil pode ser repre sentado pela figura de uma grande família na qual existem algumas regras formais mais um consenso com relação a autorida de paterna Essa interpretação do Brasil tem evidências em alguns estudos empíricos Schwartz 1994 observou que brasileiros apresentam baixo escores em autonomia intelectual e emocional relacionadas com a dimensão individualismo de Hofstede 1980 e altos escores em conservação e hierarquia correlacionados com a noção de distância de poder proposta pelo mes mo autor De modo similar Friedlmeier 1995 comparando teorias implícitas de educadores encontrou que brasileiros en fatizam a conformidade e a adaptação Em seu estudo Strohschneider e Güss 1998 encontraram que estudantes colegiais bra sileiros têm uma alta tendência em aceitar qualquer situação como dada e não ques tionar sobre suas causas quando uma situ ação mal definida e ambígua é apresentada para eles Relacionadas com os resultados de Friedlmeier 1995 e de Strohschneider e Güss 1998 diversos pesquisadores p ex Droogers 1988 sugeriram que um im portante conceito para entender o modo de ver o mundo do brasileiro está associado ao termo jeitinho Podemos entender o jeitinho como uma forma especial de se resolver algum problema ou situação difícil ou como uma solução criativa para alguma emergên cia seja sob a forma de conciliação de es perteza ou de habilidade Quando se julga que está tudo irremediavelmente perdido que daquela vez não tinha realmente saída tudo magicamente se resolve por meio do jeitinho É uma maneira especial de se resol ver o problema eficiente e rápida Espera se que essa forma possa produzir resulta dos em curto prazo não importando que a solução seja definitiva ou não ideal ou provisória Juntos esses resultados sugerem que no contexto do brasileiro existe muito pouco espaço para a participação na reso 5 nOrmas sOciais cOnceitO mensUraçãO e imPLicações Para O BrasiL cláudio vaz torres Hugo rodrigues INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 101 lução de problemas e que a participação na tomada de decisão não é muito encorajada Para Ettorre 1998 pouca participação nas decisões organizacionais pode ser devida ao fato de as organizações brasileiras terem uma política de gerentes paternalistas que devem fornecer uma cultura protetora Ele sugere que gerentes brasileiros confundem responsabilidade com os negócios da com panhia Ettorre 1998 p 12 Ettorre 1998 também notou que existe uma grande quantidade de improvi sação e criatividade empresarial no Brasil Contudo ele sugere que essas práticas ge renciais podem mudar em um futuro próxi mo devido à grande onda de privatizações que ocorreram nos anos de 1990 e 2000 nas indústrias brasileiras Pois como já observa do Droogers 1988 as estruturas político sociais do Brasil ainda estão se formando E é esperado que as organizações privatizadas possam requerer uma nova classe de execu tivos que sejam habilidosos em mudanças organizacionais Santos 1998 especial mente para reduzir problemas organiza cionais tais como aqueles encontrados em companhias brasileiras que operavam com 27 de produtividade quando comparadas com suas semelhantes norte americanas Ettorre 1998 Isso sem falar do impacto da globalização e da maior conscientização do consumidor nacional que é diferente dos outros consumidores e exige de modo dife rente É importante que qualquer mudan ça ou manutenção das práticas gerenciais sejam sensíveis à cultura Ettorre 1998 observou que qualquer pessoa que faz ne gócios no Brasil precisa aprender a cultura brasileira Da mesma maneira qualquer prática organizacional deve levar em con sideração a cultura em questão no caso a brasileira Modelos organizacionais ou de prediçãocontrole de comportamento norte americanos eou europeus não podem ser aplicados diretamente no contexto brasilei ro sem se levar em consideração as diferen ças culturais que no caso do brasileiro são fortemente influenciadas por normas sociais Rodrigues 2007 O uso de práticas organizacionais com uma forte influência individualista e por isso com pouco suporte das normas so ciais pode ativar sentimentos antagonistas nos brasileiros Por exemplo os brasileiros tendem a considerar que os líderes devem ocupar uma alta posição de poder na hierar quia da sociedade Desse modo eles podem entender que o interesse da gerência em incentivar a participação dos funcionários na tomada de decisão como uma mensa gem indireta que comunica a ideia de que o líder deseja compartilhar o poder Nesse caso compartilhar a tomada de decisão pode fazer com que um brasileiro conside re que o líder não tem poder legítimo ou competência e que por isso não é mere cedor de ser um líder Nogueira Torres e Guimarães 2001 Torres 2009 Esse pode não ser o caso em outro país especialmente um país individualista onde a maioria dos estudos sobre liderança são desenvolvidos Mesmo a utilização de achados em outras culturas coletivistas como uma aproximação para a cultura brasileira pode ser um erro Pois como Pearson e Stephan 1998 no tam os brasileiros tendem a ser passionais e emocionais uma característica que não é compartilhada pela maioria das culturas co letivistas da Ásia Desse modo não apenas pessoas de culturas individualistas podem ter dificuldades em compreender as reações emocionais de brasileiros mas também pes soas de diferentes culturas coletivistas p ex asiáticas Alguns pesquisadores p ex Graham 1985 Smith et al 1998 consideram que quando se discute coletivismo os estudos vêm superenfatizando os dados de culturas asiáticas Esses mesmos pesquisadores vêm alegando que esses dados podem não refletir a estrutura das culturas latino americanas apesar de ambos serem considerados como culturas coletivistas Hofstede 1980 Por exemplo Graham 1985 encontrou uma larga diferença em vigor e franqueza em ne gociações na América Latina quando com paradas com as japonesas Essas diferenças culturais refletem di ferentes sistemas sociais que por sua vez INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 102 tOrres neiva cOLs podem ser explicados e entendidos devido à natureza regulatória das normas sociais Compreender melhor o funcionamento das normas sociais pode contribuir para a cons trução de um corpo teórico mais adequado para entender o comportamento social do brasileiro bem como para fornecer uma li nha de guia para adequar modelos vindos de outras culturas norMas sociais Na psicologia social existe uma longa dis cussão sobre o poder preditivo e explicativo das normas sociais bem como sobre qual seria sua estrutura e definição Alguns au tores p ex Krebs e Miller 1985 Marini 1984 Darley e Latané 1970 apud Kallgren Reno e Cialdini 2000 consideram o con quadro 51 POKER FACE Uma eXiGÊncia cULtUraL a universalidade das expressões facial das emoções foi indicada pela primeira vez por Darwin 1998 na emblemática obra a expressão das emoções no homem e nos animais contudo ekman 2003 ressalta que na época sua argumentação foi desconsiderada bem como durante os anos seguintes em função dos paradigmas predominantes que enfatizavam explicações em função da socialização e desprestigiavam as que utilizassem de padrões inatos da espécie Ou seja as normas sociais vigentes no meio acadêmico da época não facilitaram a disseminação desse conhecimento contudo hoje autores como ekman e Friesen 2003 elfenbein e ambady 2003 matsumoto 1990 smith Bond e Kagitçibasi 2006 dentre outros colocam que a demonstração de deter minadas emoções através do uso de uma mesma estrutura muscular para cada tipo de emoção é um fenômeno universal capaz de fornecer um mapa reconhecível por todos da reação emocional que os indivíduos têm a diferentes estímulos do dia a dia indicando o modo adequado em função de respostas evolutivamente construídas de reagir Por exemplo simplificadamente é mais seguro aproximar se de uma pessoa que reagiu à sua presença contraindo o zygmaticus maior do que quando esta mesma pessoa está com esse músculo relaxado mas com o levator labii superioris contraído ekman 2003 2006 2009 coloca que no primeiro caso a pessoa estaria demonstrando alegria felicidade mas expressaria ódio nojo no segundo algumas culturas exigem que determinadas emoções não sejam demonstradas pelo menos não o tempo todo ou em todos os contextos Friesen 1972 apud smith Bond e Kagitçibasi 2006 em sua tese de doutorado demonstrou que durante a exposição de um vídeo que mostrava uma amputação quando sozinhos japoneses analisados como coletivistas demonstravam o seu desconforto com a cena do mesmo modo que estadunidenses individualistas entretanto quando acompanhados por um experimentador a reação ao vídeo muda va americanos continuavam expressandose do mesmo modo mas os japoneses evitavam demonstrar o desconforto através da não demonstração de emoções ou com risos tal au tor ressalta que existe uma norma cultural no Japão que recomenda que afetos negativos não devam ser demonstrados em público e que nos estados Unidos haveria outra que enfa tizaria a sua demonstração real sem neste caso maximizar cabe colocar que as estraté gias utilizadas são definidas por matsumoto 1990 1992 e Gross 1998 e 2002 como de re gulação de emoção acrescentando que de acordo com o primeiro tal regulação ocorre em função da obrigação em conformase a uma norma social específica a regra de expressão Pesquisas recentes indicam um padrão específico sobre o que deve ser demonstrado maximiza do ou suprimido em cada cultura e que tal fato é determinado por normas sociais indicando que a poker face o ato de não demonstrar uma emoção mesmo quando ela é intensa não é apenas uma estratégia para ganhar num jogo de azar mas muitas vezes uma necessidade cultura INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 103 ceito vago muito geral e inadequado para a verificação empírica Outros autores p ex Berkowitz 2004 Prentice e Miller 1993 1996 Cialdini Reno e Kallgren 1991 Lapinski e Rimal 2005 consideram normas um conceito central para o entendimento do comportamento social humano Kallgren et al 2000 Os principais aspectos dessa discussão se referem à definição desse cons truto e de sua capacidade de predizer com portamentos e intenções Com relação ao primeiro ponto de finição do conceito a literatura está cada vez mais próxima do consenso de que a nor ma se refere a aspectos descritivos isto é o que é feito o comportamento mais popular e a aspectos injuntivos isto é o que todos deveriam fazer Essa distinção feita há mais de 50 anos foi recuperada por Cialdini Cialdini e Goldstein 2004 Cialdini e Trost 1998 Cialdini et al 1991 Reno et al 1993 Kalgreen et al 2000 e vem sendo amplamente utilizada por diversos pesquisa dores p ex Ajzen 2002 Lapinski e Rimal 2005 Um outro aspecto relevante dessa discussão é o de se normas são capazes de predizer comportamento ou pelo menos in tenção em se comportar Com relação à capacidade preditiva esse ponto parece estar relacionado a fato res culturais Trafimow e Fishbein 1994 ao comportamento em si e ao setting onde ele ocorre Lapinski e Rimal 2005 Wallace et al 2005 Esses fatores podem predizer quais comportamentos são mais influen ciados por normas sociais Neste caso pa rece haver uma espécie de tradeoff entre normas sociais e atitudes na explicação do comportamento humano Rodrigues 2007 Bomtempo e Rivero 1992 Wallace et al 2005 sendo a relação desses dois constru tos vital para a compreensão do comporta mento humano Ajzen 1991 A literatura tem buscado cada vez mais descobrir que ou quais tipos de comportamento ésão mais influenciados por atitudes ou normas sociais Fekadu e Kraft 2002 curiosamen te tentando predizer quais fatores serão os melhores preditores para escolher norma ou atitude como o melhor preditor devido a um viés cultural que será mais bem discuti do adiante Como exemplos temos Wallace e colaboradores 2005 que em uma re cente metanálise verificaram que a existên cia de pressão social de algum tipo isto é presença de outros importantes ambientes com fortes normas diminuía bastante o poder preditivo de atitudes e Bontempo e Rivera 1992 que realizaram uma metaná lise indicando que em países coletivistas as normas subjetivas tinham mais peso do que as atitudes na equação da teoria do compor tamento racional A despeito dessas discussões as normas sociais têm sido bem sucedidas em interven ções e estudos tais como redução da quan tidade de lixo jogado no chão em lugares públicos p ex Cialdini 2003 prevenção e diminuição da ocorrência de alcoolismo em colégios e universidades Borsari e Carey 2003 medição da aceitação de comporta mento agressivo Henry Cartland Ruchross e Monahan 2004 redução da quantidade de fumo consumido Linkenbach e Perkins 2003 apud Berkowitz 2004 agressão se xual Bruce 2002 apud Berkowitz 2004 preferência por diferentes marcas de cerve ja Yang Allenby e Fennel 2002 atrações que devem estar presente em um parque ecológico Manning e Kamp 1996 estilos de liderança Torres 2009 para citar ape nas alguns Neste capítulo discutiremos o con ceito de normas sociais bem como as par ticularidades associadas a esse conceito Serão apresentadas diferentes definições e modelos de normas sociais como elas são construídas e como interagem com outros processos sociais contribuindo para a expli cação do comportamento humano Entretanto antes de apresentar a defi nição de normas sociais é importante notar que de modo similar ao que acontece com o conceito de cultura diferentes autores vêm enfatizando diferentes aspectos des se construto em suas definições e modelos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 104 tOrres neiva cOLs de normas sociais Lautmann Feldman 1991 realizou uma extensa análise de mais de cem definições de normas e valores e observou que todas explicavam as normas como uma obrigação coletiva ou algum tipo de dever Jackson 1966 1975 consi dera as normas sociais como um contínuo de comportamentos e as respectivas sanções e recompensas associadas a sua realização Emmerich Goldman e Shore 1971 defi nem norma como crença compartilhada de como o indivíduo necessita agir com relação aos outros Essa pode ser a maior diferença entre as normas e os valores valores não se referem apenas a comportamento mas tam bém a uma grande gama de outros objetos tais como opiniões e objetivos e não indi cam o que é obrigatório mas sim o que é desejável deFinições e estudos sobre norMas sociais Feldman 1991 considera que normas se riam regras estabelecidas pelos grupos pra regularizar o comportamento de seus mem bros Para Porras e Robertson 1992 nor mas são padrões de condutas aplicáveis aos membros do grupo Já Cialdini e Troost 1998 consideram o construto como fon tes de informação prescritivas isto é como deveria ser e descritivas isto é como está sendo sobre qual comportamento realizar em determinadas situações Gold 1997 notou que Durkheim distingue entre o ter mo coletivo norma social e sua contra parte psicológica a representação social Para Gold existe uma necessidade urgente de mecanismos que permitam a tradução do conceito de normas sociais do ponto de vista sociológico para o psicológico É possí vel que o estudo de normas pela perspectiva da psicologia social possa fornecer tais me canismos Nessa área da psicologia regras e papéis fornecem a regulamentação nor mativa das organizações sociais que por sua vez fazem contato com indivíduos por meio de componentes de regulamentação normativa da personalidade Desse modo regras e papéis provêm meios para a cone xão entre organizações sociais e indivídu os Considerando que uma regra ou papel podem ser definidos como um conjunto de normas de conduta Gold 1997 podemos observar como as normas interagem na di nâmica da psicologia social Mais adiante será discutida a importância das normas so ciais para a psicologia e o quanto essa área carece de maiores estudos e atenção Gold 1997 defende que normas va riam em sua generabilidade e que nem todo valor social pode ser entendido como uma norma social Apenas quando as normas fo rem universais elas poderão ser entendidas como valores Gold diferencia entre papéis sociais e normas Um papel social consiste em um conjunto de normas ou um conjunto de obrigações e privilégios que se aplicam aos ocupantes de determinadas posições sociais1 Gold 1997 p 72 Desse modo quando normas relacionadas entre si são agrupadas um papel social é criado Normas por outro lado prescrevem como determinadas pesso as de um certo grupo p ex pessoas ocu pando um determinado papel na sociedade se comportam para receber aprovação de seus colegas ou para evitar sanções sociais Outros pesquisadores encontraram suporte para a diferenciação entre normas e papéis p ex Bond 1991 Além do mais normas são parte do sistema de crenças de qualquer grupo Uma norma é apenas social quando é compartilhada por dois ou mais indivíduos e eles concordam sendo conscientes dessa concordância que alguém em uma posição social particular precisa agir e sentir de uma determinada maneira As normas sociais são usadas para prescrever e descrever padrões de comportamento sendo caracterizadas por imperativos morais Para Miler e Prentice 1996 uma nor ma social é um atributo de um grupo po dendo ser considerada tanto descritiva ou prescritiva para os membros Indivíduos podem se comparar com relação às normas Esses autores diferenciam entre normas lo cais e globais Para eles normas locais são padrões relativos construídos de acordo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 105 com as necessidades de pequenos grupos em situações específicas p ex inferidos da situação em vez de recuperados da me mória Por outro lado os indivíduos trazem normas globais ou padrões absolutos para qualquer contexto social sendo que es sas normas influenciam a avaliação de suas experiências Quando Milles e Prentice discutem normas locais sua ênfase é a autoavaliação do indivíduo Eles acreditam que as nor mas locais simplesmente influênciam a ex periência psicológica do indivíduo2 Miller e Prentice 1996 p 803 Segundo essa pers pectiva normas locais são estudadas em sua maioria a partir de um nível individual de análise Aqui a ênfase é no indivíduo que está comparando alguém ou ele mesmo com o grupo Embora quando falamos sobre normas locais continuamos falando sobre pequenos grupos o foco de investigação parece estar direcionado para as razões in dividuais para a autoavaliação Nesse caso a norma se torna uma das ferramentas dis poníveis que os indivíduos utilizam para comparar e avaliar sua posição relativa a um grupo Entretanto quando normas globais são discutidas o nível de análise muda para o que Gold 1997 chamou de fronteira en tre o indivíduo e o ambiente da organização social e cultural A ênfase não é mais apenas no nível individual Normas globais devem chamar a atenção do pesquisador para um sistema mais amplo no qual as necessidades do indivíduo estão em constante interação com a dinâmica da sociedade e da cultura Algum suporte para a diferenciação entre normas locais e globais propostas por Miller e Prentice 1996 é encontrado na li teratura Por exemplo Nisan 1987 exami nou a construção de normas morais em 60 garotos e garotas de 1a e 4a séries em Israel Ele observou a existência de duas orienta ções distintas para as normas sociais uma na qual o critério para o julgamento social dos comportamentos era a consequên cia destes para os outros envolvidos isto é em um nível micro envolvendo apenas os membros de um pequeno grupo e outra nas quais as normas parecem ter uma vali dade absoluta isto é em um nível macro incluindo todos os membros da sociedade A distinção entre essas duas orientações é congruente com a diferenciação proposta na teoria de Miller e Prentice 1996 Para Jackson 1966a a cultura não é apenas concreta mas um sistema de ideias padronizadas mesmo se parcialmente ma nifestas em termos concretos Esse autor ob servou que uma maneira de entender a cul tura de um povo é por meio de suas normas quadro 52 a esPeciFiciDaDe Das nOrmas sOciais tendemos a considerar as normas de nossa cultura como algo universal sendo que muitas vezes isso simplesmente não condiz com a realidade Por exemplo durante a socialização do brasileiro este aprende que arrotar à mesa é considerado com um gesto de má educação no entanto para alguns grupos culturais mais exóticos no sentido antropológico do termo arrotar é um sinal de que a comida estava boa em algumas culturas o luto é demonstrado com o azul ou mesmo com o branco e não com o preto Durante o período do império no Brasil as casas possuíam uma grande bacia na qual se despejava uma solução antisséptica no interior para servir de alvo e pon taria ao exercício de escarrar em público eram as escarradeiras populares em toda sala de visita das casas mais abastadas onde o dono da casa e seus convidados podiam escarrar durante as festividades antunes Waldman e moraes 2000 essas são apenas algumas especificidades culturais que podem ser descritas em termos de normas sociais são comportamentos específicos que devido a seu significado em cada cultura a cada tempo podem ou não ser passíveis de uma sanção por parte da sociedade INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 106 tOrres neiva cOLs Sarbin em Jackson 1966a define normas como uma unidade de cultura significando que as normas podem ser entendidas como um componente de cultura Assim uma vez que as normas podem ser compreendidas como uma unidade de cultura então po dem ser conceitualizadas como um padrão abstrato de ideias que são aprendidas pelos membros de um sistema social Jackson 1966a Nessa óptica a definição de cultura leva à definição de norma Jackson 1966a também considera como requerimento para a definição de nor ma social que esta seja considerada um con ceito interacional ou suprapessoal e não um conceito de ordem individual tal como a ati tude Esse requerimento é necessário pois a norma como qualquer atividade grupal or ganizada requer um mínimo de consenso e um processo para alcançar a objetividade Desse modo o autor define normas sociais como a distribuição de prescrições pelos ou tros para a gama de comportamentos que os atores podem realizar em uma determinada situação3 Jackson 1966a p 35 Desse modo percebe se que não é possível utilizar a concepção de normas em um nível indi vidual de análise sendo preferível o nível cultural ou grupal Sherif 1968 apud DeRidder Schrui jer e Tripathi 1992 define grupo co mo uma unidade social que consiste de um nú mero de indivíduos que a em um dado momento do tempo têm papéis e relacionamentos com status entre si b e que possui um conjunto de valores ou normas compartilhados que regulam a atitude e o comportamento dos membros individuais pelo menos no que se refere à consequência destes Atitudes sentimentos aspirações e ob jetivos compartilhados que caracterizem as identidades dos membros são relacionados a essas propriedades especialmente às nor mas e aos valores comuns para o grupo Quando se pretende estudar o com portamento humano é importante obser var que aquilo que as pessoas fazem é fre quentemente mais importante do que o que elas dizem Como notado por Hall 1973 se uma pessoa recebe informações sobre as normas de diferentes culturas ela pode ajustar seu comportamento para agir de acordo Contudo Hall 1977 sugere que quando ocorre o contato entre duas cultu ras entender e aceitar a realidade da cultu ra local p ex normas sociais não é uma tarefa fácil é algo que precisa ser vivido e não lido ou planejado Uma pessoa pode re latar conhecer e respeitar as normas de uma certa cultura e mesmo assim nem sempre conseguir agir de acordo com esse conheci mento Entretanto quando é necessário agir de acordo com ele a tarefa se torna mais plausível de ser realizada Uma outra maneira de entender as nor mas sociais é por meio da conceitualização de Fishbein e Ajzen 1974 Ajzen e Fishbein 1980 de normas subjetivas Apesar desses autores afirmarem que as normas subjetivas não são iguais às normas sociais mas sim uma pressão social percebida esse constru to é capaz de captar a influência das normas na atitude que as pessoas mantêm com rela ção a um determinado comportamento e à realização do comportamento em si Apesar de a concepção de normas sociais ser mais adequada se considerada como um contí nuo de comportamentos com as respectivas sanções e recompensas associadas a sua realização Jackson 1966 1975 Torres 2009 podendo ser de natureza descritiva e prescritiva Hagger e Chatziarantis 2005 Fekadu e Kraft 2002 a utilização desse conceito pode trazer uma nova luz a ques tões associadas ao entendimento e à previ são do comportamento humano Contudo apesar de não serem o mes mo construto a semelhança entre as nor mas sociais e a norma subjetiva extrapola a semelhança de nomes Como a norma sub jetiva é relativa à realização de um único comportamento pode se dizer que a nor ma social é constituída de diversas peque nas normas subjetivas Diferentemente das normas sociais a norma subjetiva assume um aspecto muito mais prescritivo do que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 107 descritivo uma vez que como já colocado a norma subjetiva se refere à percepção do indivíduo com relação à aprovaçãore provação de se realizar um comportamento ao passo que a norma social também serve como um padrão de comparação para deci dir se algo é ou não adequado ou perten cente a um determinado grupo ou categoria Prentice e Miller 1996 A operacionalização originalmente proposta por Fishbein e Ajzen 1974 Ajzen e Fishbein 1980 reflete principalmente o aspecto prescritivo da norma mais co nhecido como norma injuntiva Hagger e Chatziarantis 2005 Conforme menciona do anteriormente a norma não depende apenas de aspectos injuntivos pois como apontado por Cialdini e Goldstein 2004 e Cialdini e Trost 1998 principalmente em situações de ambiguidade o indivíduo bus ca realizar o comportamento mais realizado popular com base na crença de que este seria o comportamento mais socialmente aceito Esse fenômeno também é conheci do como heurística de maioria Anderson 1996 ou norma descritiva quadro 53 cOmPOnentes Das nOrmas sOciais e ae vamos nessa O que faria com que pessoas normais saíssem do conforto de suas casas para correrem riscos e muitas vezes serem submetidas a situações de desconforto e ainda por cima pagando caro por isso será que o praticante de turismo de aventura não pensa em nada disso quando planeja suas férias Um estudo realizado por rodrigues 2007 pode fornecer algumas respostas a essas pergun tas esse autor pesquisou os determinantes da intenção de se praticar turismo de aventura em duas culturas distintas mais especificamente a brasileira e a norte americana em primeiro lugar foi identificado que o praticante de turismo de aventura nessas duas culturas está consciente desses aspectos e pensa quando está planejando suas férias em suma são crenças que fazem parte da atitude que eles possuem com relação a essa modalidade esse fato não é novidade sendo inclusive bastante óbvio Pessoas com uma alta atitude podem dar pouco valor a aspectos ditos negativos p ex desconforto e insetos ou valorizar aquilo que a maioria das pessoas consideraria negativo p ex perigo Logo a resposta àquelas perguntas deve estar associada à atitude que mantemos com relação à realização do comportamento já que reflete a intensidade e a valência de avaliações afetivas que mantemos com relação aos compor tamentos que realizamos contudo quando se analisou a relação da atitude com a intenção de praticar turismo de aven tura na população brasileira a correlação é no máximo desanimadora diferentemente do que acontece na amostra norte americana na qual a atitude pôde ser considerada como um dos de terminantes da formação da intenção de se praticar essa modalidade de turismo Para os brasileiros a melhor preditora de intenção foi justamente as normas subjetivas so bretudo o componente injuntivo das normas versus o componente descritivo isso significa que tendo uma alta ou baixa atitude para o brasileiro a pressão social para realizar algo ou não é um determinante muito mais forte do que a avaliação afetiva individual resumindo enquanto na população norte americana as respostas àquelas perguntas no iní cio deste texto estão mais ligadas a aspectos atitudinais na população brasileira o mesmo não é verdade Para os brasileiros a realização desse tipo de comportamento se deve muito mais a aspectos normativos do que atitudinais Pesquisas como essa apontam para a necessidade de se analisar os determinantes da reali zação dos comportamentos específicos em cada grupo cultural a não realização desse fato pode levar a erros de compreensão tais como atribuir explicações atitudinais para a realização de um comportamento como a escolha da modalidade de férias do brasileiro INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 108 tOrres neiva cOLs Devido a essa confusão sobre os di ferentes tipos de normas a norma subjeti va merece uma discussão mais profunda Inicialmente definida como a percepção da pressão percebida em realizar ou não um de terminado comportamento Fishbein e Ajzen 1974 Cialdini e Trost 1998 acrescentam que são cognições compartilhadas que po dem afetar o comportamento de um indiví duo dependendo de características pessoais isto é automonitoramento locus de contro le situacionais Ehrhart e Naumann 2004 e da cultura Bomtempo e Rivero 1992 Entretanto conforme apontado por outros autores p ex Lapinsky e Rimal 2005 Fekadu e Kraft 2002 o conceito como pensado originalmente não é capaz de lidar com todos os aspectos da influência normativa Ajzen 1991 2002 afirma que a norma subjetiva é o somatório do produto entre a percepção das crenças mais salientes da probabilidade de que um certo compor tamento seja aprovado ou desaprovado por uma pessoa ou grupo referente com a mo tivação que o indivíduo tem em se confor mar nesse referido comportamento Apesar de essa definição ser realmente mais seme lhante à definição de normas injuntivas Ajzen 2002 considera que a norma sub jetiva deva incluir os aspectos das normas sociais propostos por Cialdini e colaborado res Cialdini e Goldstein 2004 Cialdini e Trost 1998 Cialdini et al 1991 Reno et al 1993 Kalgreen et al 2000 que suge rem que estas são baseadas tanto no aspecto injuntivo isto é o que deve ser feito quan to no aspecto descritivo isto é o que todos estão fazendo sendo que pode haver uma maior prevalência de uma sobre a outra estudos sobre normas Normas sociais vêm sendo estudadas por ou tras disciplinas além da psicologia social Por exemplo Monteil 1994 notou que o estu do da aquisição e da construção das normas sociais é uma área de convergência entre a psicologia social e a do desenvolvimento Além do mais normas vêm sendo estudadas por outras ciências sociais além da psicolo gia tais como a antropologia e a sociologia p ex Komarovsky 1973 Contudo neste capítulo enfatizaremos como as normas po dem ser utilizadas para entendermos como diferentes comportamentos se manifestam em diferentes culturas Para DeRidder Schruijer a Tripathi 1992 as normas devem ter uma impor tância primária para a psicologia pois da existência de normas sociais provém a base para a comunicação intra e entre grupos Essa importância é ainda mais marcante em culturas como a brasileira que tem as normas sociais como um importante fator de determinação de pensamento e compor tamento podendo inclusive ter uma influ ência maior do que as atitudes Rodrigues 2007 Dentre os estudos que vêm utilizando o conceito ou testando teorias psicológicas que utilizam o conceito de normas sociais pode se destacar por exemplo a investiga ção feita por Wellen Hogg e Terry 1998 sobre quais seriam os efeitos das normas sociais dos membros de um determinado endo grupo4 na relação entre a atitude e o comportamento Esses autores encontraram que essa relação varia em função da saliên cia do pertencimento ao grupo Seu objeti vo era testar a teoria da Identidade Social Tajfel e Turner 1978 e seus achados suge rem que as normas do endogrupo influen ciam a tomada de decisão fazendo com que indivíduos que tenham o pertencimento ao grupo como mais saliente tomem a decisão com base mais em normas sociais do que os que têm um pertencimento menos saliente A despeito de diversos estudos bem enco rajadores que sugerem o uso de normas sociais para o teste de teorias psicológicas isto é Smith e Bond 1999 Smith Bond e Kagitçibasi 2006 observa se que diver sas teorias são desenvolvidas na parte oci dental5 do mundo isto é principalmente Estados Unidos e Europa onde as pesqui sas apontam uma menor influência das nor mas sociais Em determinadas situações essa influência pode ser até bem marcante podendo obscurecer a influência de outros construtos tais como a atitude Wallace INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 109 Paulson Lord e Bond Jr 2005 Bomtempo Lobel e Triandis 1995 Contudo poucos modelos ou teorias são testados ou desen volvidos em outras culturas Desse modo a norma social tende a não receber muita atenção mesmo em outras culturas Para Smith Bond e Kagitçibasi 2006 essa li mitação da psicologia social não ameaça apenas a generalização de nossas teorias mas também os estudos planejados para testá las mesmo utilizando ou não o con ceito de normas sociais Além disso Walker e Gibbins 1996 afirmam que o estudo de normas sociais é essencial para a psicologia Eles sugerem que esse construto pode ser mais importante do que outros construtos relacionados às ciências sociais Além do mais quando DeRidder e colaboradores 1992 observaram que pouca atenção foi dada para o conceito de normas sociais eles também notaram que poucos estudos relataram a importância das normas sociais em diferentes culturas Suh Diener Oishi e Triandis 1998 por exemplo compararam a importância da emoção versus normas no que se refere à satisfação com a vida entre 61 países individualistas e coletivistas Eles encontraram que em culturas coletivistas normas sociais e emoções são fortes pre ditoras de satisfação enquanto que para países individualistas as emoções foram preditores muito mais fortes do que as nor mas Infelizmente estudos que levam em consideração as normas sociais de culturas diferentes da norte americana não são mui to comuns na literatura de psicologia ou outras ciências sociais construção das normas Diferentes perspectivas argumentam como as normas sociais surgem nos sistemas so ciais de cada cultura Todas fornecem expli cações para o comportamento normativo sendo que a maior diferença está no tipo de comportamento que é suscetível às pressões normativas arbitrárias Em uma perspectiva societal as nor mas são culturalmente específicas e capri chosas e o poder de cada norma é derivado somente do valor que ela tem para aquela cultura na qual ela opera Sanções como leis surgem para manter tais normas Os defen sores dessa perspectiva argumentam que o estabelecimento da norma vem do reforça mento e da punição dos comportamentos que são repetidamente realizados no dia a dia Cialdini e Trost 1998 Entretanto ela não explica o surgimento das normas que aparentemente são aleatórias tais como o vestiário É uma norma social a utilização pela parte dos homens de ternos e gravatas mesmo em países tropicais como o nosso e essa prática era comum mesmo em uma época em que não havia ar condicionado Em uma perspectiva funcional as normas se desenvolvem para encorajar ou restringir comportamentos relacionados ao desenvolvimento do grupo Sherif 1936 apud Cialdini e Trost 1998 Schaller e Latané 1996 argumentam que sistemas de crenças culturalmente compartilhados tais como estereótipos e normas se desen volvem de um modo muito similar à seleção natural em que por meio de processos de comunicações indivíduos indicam padrões de comportamentos que são efetivos rele vantes e informativos para determinadas situações Normas bem sucedidas seriam adaptativas à sobrevivência nesses contex tos Elas comunicam como adquirir status se afiliar com outros adquirir comida etc Para Gold 1997 as organizações sociais influenciam os indivíduos por meio do processo da socialização A função da socialização seria a de implantar motivos isto é razões pelas quais os indivíduos mudariam suas ações e recursos isto é expectativas apropriados para os indivídu os em seu ambiente social A socialização é um conceito chave quando se estuda a cons trução de normas nas ciências sociais Pode se afirmar que a socialização é a matéria prima para o aspecto regulatório de regras e papéis e a conformidade para com as normas é o aspecto central do processo de socialização A construção de normas so ciais é uma operação inerente ao processo de socialização INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 110 tOrres neiva cOLs Um dos modos pelos quais grupos e pessoas constroem suas normas é por meio da observação do comportamento de ou tros que pertencem à mesma categoria so cial com a qual estes se identificam ou gostariam de pertencer realizando um certo discernimento com relação as conse quências reforçadoras de se comportar ou não de acordo com o esperado Prentice e Miller 1996 Cialdini e Trost 1998 Gold 1997 Deste modo Gold 1997 coloca que a conformidade depende em grande par te da aprovação social esteja ela presente ou seja ela apenas imaginária Cialdini e Goldstein 2004 e Cialdini e Trost 1998 destrincham a necessidade de aprovação social e defendem que a conformidade às normas sociais obedeceria a três motivações diferentes A primeira seria o interesse em acertar em realizar o comportamento cor reto Geralmente essa motivação ocorre em indivíduos em situações de ambiguidade mas com interesse em emitir o comporta mento mais adequado Nessa situação eles seguiriam o comportamento realizado o que acreditam ser realizado pela maioria Staub 1972 observou que em situações de emergência não apenas as expectativas nor mativas mas também a percepção de como as outras pessoas entendem a aplicação da norma naquela situação específica parecem afetar fortemente o comportamento dos en volvidos Outra motivação seria a de construir e manter relações sociais Em situações em que os indivíduos buscam pertencer a um novo grupo ou permanecer em seus gru pos eles buscam padrões compartilhados de comportamento Esses padrões são mui tas vezes transmitidos oralmente mas tam bém por meio da observação e inferência dos comportamentos dos outros membros dos grupos Como exemplo podemos citar Buffalo e Rodgers 1971 que observaram que o comportamento de delinquentes ju venis é contra suas próprias normas morais que seriam surpreendentemente social mente aceitáveis e desejáveis e se compor tam com base em sua percepção de quais seriam as normas de seus colegas Nesse exemplo o interesse em pertencerperma necer no grupo faz com que eles se compor tem de maneiras muitas vezes diferente do que todos no grupo acreditam Isso ilustra o quanto não apenas as normas sociais mas a percepção das normas comportamentais dos outros e de grupos relevantes é igualmente importante pois o modo como as pessoas pensam sobre os outros é um processo im portante da construção da norma Torres 2009 defende que uma vez que o concei to de cultura se refere também ao modo como as pessoas vêm o mundo ou à per cepção compartilhada da realidade pessoas do mesmo grupo cultural podem não endos sar as mesmas normas sociais mas prova velmente percebem e entendem o compor tamento dos outros de modo similar A terceira motivação seria a de manter um autoconceito positivo Muitas vezes as pessoas precisam manter certas caracterís ticas para poder construir socialmente sua autoimagem isto é macho advogado adulto Arndt e colaboradores 2002 rea lizaram um estudo indicando que pessoas com a autoestima mais instável e mais fo cada em atributos extrínsecos tendem a se conformar mais à opinião da maioria e muitas vezes chegam a se desvalorizar para se adequarem à norma O ser humano em prega uma grande variedade de estratégias para se proteger como por exemplo o falso consenso que é uma maneira de proteger o self Berkowitz 2004 Prentice e Miller 1996 afirmam também que existem situ ações em que o indivíduo diminui as rea lizações de um objeto de comparação para poder manter sua autoestima Nessa divisão da necessidade de apro vação social como outros conceitos na psi cologia e nas ciências sociais é esperada uma elevada covariância Contudo a divi são não é meramente um recurso didático apresentando uma considerável validade empírica Cialdini e Trost 1998 Cialdini e Goldstein 2002 É obvio e esperado que todas essas motivações estejam presen tes na situação real em que o comportamen to ocorre Muitas vezes é possível inclusive o conflito dessas motivações isto é acertar INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 111 versus pertencer pois muitas vezes o am biente pode suportar motivações opostas Nessas situações o comportamento baseado em normas é baseado em diferentes pistas situacionais que ativam diferentes tipos de normas Cialdini et al 1991 Staub 1972 afirma que toda situação tem uma multiplicidade de normas gerais e de pistas situacionais que podem acionar os comportamentos apropriados Esse ponto de vista é defendido também por Cialdini e colaboradores Cialdini et al 1991 Reno et al 1993 Kalgreen et al 2000 em uma série de estudos de campo envolvendo jogar lixo no chão Sua hipótese central era a de que a norma não importa o tipo não iria afetar o comportamento a não ser que ela fosse feita saliente na situação ou seja ela seria dependente da ativação no ambien te Esses pesquisadores encontraram que tornando a norma injuntiva saliente por meio da manipulação de placas e cartazes a quantidade de lixo jogada no chão dimi nuiu não importando a quantidade de lixo no ambiente Entretanto tornando a norma descritiva mais saliente por meio da mani pulação da quantidade de lixo no ambien te só conseguiram diminuir a ocorrência desse comportamento em ambientes limpos quando um assistente de pesquisa jogava lixo no chão pois em situações em que o ambiente estava sujo jogar lixo no chão aumentava a quantidade de lixo jogado no chão o que não chamava atenção e logo não tornava a norma saliente Esses autores também observaram que a ativação das nor mas tinha um certo caráter transituacional pois a norma ativada em um cenário conti nuava efetiva em um outro Esses dados são semelhantes aos encontrados por Solomon Ash 1991 apud Cialdini e Goldstein 2004 Bond e Smith 1996 em seus estudos sobre conformidade É importante ressaltar que compor tamentos como a contrução e o estabeleci mento de normas só podem acontecer pelo encontro de duas ou mais pessoas Gold 1997 Para a contrução de normas Miller e Prentice 1996 notaram que os indiví duos começam com alguma representação de pensamentos emoções e comportamen tos de outros em seu ambiente Prentice e Miller 1996 propõem que os indivíduos quando constroem normas sociais levam em consideração as causas de seus próprios comportamentos quando analisam o quanto o comportamento dos outros reflete as es colhas que estes fazem Além deste aspecto inferencial da construção das normas esses autores observaram que durante seu estabe lecimento estas podem às vezes ser formal mente codificadas Contudo é mais comum que sua comunicação e reforçamento ocor ra de modo menos explícito Por exemplo Gold 1997 argumenta que a linguagem é adquirida e mantida substancialmente pelos mesmos processos que as normas sociais Indivíduos são socializados a agir de acordo com seu grupo linguístico e o reforçamen to de seu grupo social é frequentemente um processo sutil Hall 1973 Feldman 1991 sugere quatro dife rentes maneiras para a construção das nor mas Para esse autor elas podem ser desen volvidas a por um líder de um grupo social para garantir a sobrevivência do grupo b por um acontecimento crítico na história do grupo clarificando quais compor tamentos seriam consistentes com os valores do grupo c pelos primeiros comportamentos exibidos no grupo indicando rotina d e por comportamentos que já ocorriam antes da formação do grupo mas que são considerados como padrões de um determinado tipo de indivíduo isto é auto categorização Existe uma considerável concordância na literatura no que concerne ao período da vida em que as principais normas sociais de uma cultura são construídas Wardle 1992 propôs um modelo para explicar o desen volvimento de uma identidade birracial saudável entre crianças De acordo com seu modelo o desenvolvimento das normas so ciais e valores ocorria no Estágio 1 de seu modelo que compreende as idades de 3 a INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 112 tOrres neiva cOLs 7 anos De mesma forma Pataki e Painter 1994 notaram que a construção de nor mas sociais para a amizade e o pertenci mento ocorre quando a criança está na 3a série com idades entre 7 e 8 anos Esses e outros estudos aparentemente indicam que as normas e valores que são moldados e en dossados nessa primeira infância tendem a acompanhar os indivíduos pelo resto de suas vidas Desse modo normas relativas a diferentes comportamentos podem vir a ser desenvolvidas também nos primeiros rela cionamentos das crianças com seus pais É importante citar que o desenvolvimento de normas sociais só ocorre em um determi nado contexto cultural Como mencionado anteriormente um indivíduo sozinho não pode construir uma norma Ele ou ela precisa de contato com outros indivíduos precisa saber ou imaginar quais são as ex pectativas do outro naquela situação espe cífica e precisa perceber como este entende como as normas se aplicam nessa situação específica É importante ressaltar que a norma é um construto com uma essência pre dominantemente regulatória na realiza ção de dife rentes comportamentos In de pendentemente do modo como é construí da sua formação sempre vai depender de uma considerável da influência da cultura no desenvolvimento da cultura no grupo Triandis 1994 normas versus cultura Diversos autores p ex Gold 1997 Bomtempo e Rivera 1992 Wallace et al 2005 Triandis e Suh 2002 consideram que há uma relação entre normas sociais e cul tura Vários autores consideram que a defi nição de cultura inclui a noção de crenças e normas compartilhadas Lehman Chiu e Schaller 2004 Wan Chiu Peng e Tam 2007 Smith Bond e Kagitçibasi 2006 Gold 1997 afirma que quando indivíduos compartilham as mesmas crenças e possuem uma consciência de consenso p 120 uma cultura pode ser observada Esse autor nota que uma forte definição de cultura é aquela que tem aspectos normativos para os diferentes papéis e que implica em uma condição na qual todos devem p 123 significando que a definição de normas seria intrínsica à definição de cultura Rohner 1984 apud Smith e Bond 1999 propõe que não devemos distinguir entre os conceitos de cultura e sistema so cial Ele define um sistema social em termos de os comportamentos de diversos indiví duos dentro de uma população culturalmen te organizada incluindo seus padrões de in terações social e redes de relacio namentos sociais p 127 Como discutido anterior mente a maioria das definições de cultura se baseia na análise dos compor tamentos e ações de seus membros Uma vez que a definição de normas se refere a quais com portamentos devem ser feitos em uma si tuação pode se entender com clareza como as normas sociais estão claramente inseri das na definição de cultura Deste modo estudando se o mesmo sistema social em diferentes culturas podermos inferir como as diferentes culturas entendem esses com portamentos e o que significa o comporta mento ideal em cada cultura Em culturas diferentes Smith e Bond 1999 observaram que indivíduos de dois países diferentes podem desempenhar papéis sociais idênticos em suas culturas Entretanto eles frequentemente têm dife rentes históricos em cada grupo de culturas o que irá afetar o modo como eles desem penham seus papéis em cada cultura Desse modo o mesmo papel pode ser definido de modo similar em cada cultura mas as nor mas que guiam o comportamento dos atores sociais podem ser diferentes Por exemplo dois indivíduos podem ter exatamente o mes mo cargo p ex analista de produção com as mesmas atribuições isto é mesma descri ção de cargo em duas culturas mas Payett e Morris 1995 observaram que o modo como esses indivíduos executam suas tarefas está atrelado à cultura É necessário estudar os diferentes contextos culturais desses indiví INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 113 dios para poder entender o que cada norma social implica em cada contexto Smith e Bond 1999 consideram ainda que o conceito de cultura é muito abrangente para o uso científico Cultura é um conceito capaz de lidar com uma grande gama de variação do comportamento e pen samento humano No entanto qual aspecto da cultura é responsável pela variação em uma parte específica do comportamento hu mano Afirmar que qualquer diferença entre dois grupos específicos é devido à cultura é de pouca utilidade prática e científica pois ao final não se sabe o que realmente cau sou a diferença Smith Bond e Kagitçibasi 2006 Dimaggio 1997 Além disso considerando que a cultura só pode ser medida indiretamente por meio das crenças valores e normas compartilha das que a constitui entre outros construtos e que existe uma considerável dificuldade em mensurar indiretamente essas crenças valores e normas em sua completude uma solução para o estudo de culturas pode ser da escolha de um dos componentes como a norma O uso do conceito de norma pode nos ajudar a especificar os estudos de cul tura Uma outra vantagem é que se trata de um conceito que é diretamente relacionado a um comportamento observável normas e dimensões culturais Revisando os estudos relativos à noção de self Smith Bond e Kagitçibasi 2006 en contraram que estudos realizados em cultu ras mais coletivistas apresentam resultados diferentes daqueles realizados em culturas mais individualistas Participantes de cultu ras mais coletivistas p ex Brasil tendem a perceber os outros e a si mesmos em ter mos mais situacionais Uma vez que as nor mas se relacionam com o comportamento apropriado para uma situação específica e que indivíduos de uma cultura mais coleti vista tendem a perceber a si nos termos da situação então há uma considerável chance deles se apoiarem mais em normas sociais ao escolherem como se comportar em uma dada situação Essa hipótese vem encontran do algumas evidências de sua validação p ex Smith et al 1998 Então por exem plo seria plausível considerar que o protó tipo de um líder em uma cultura coletivista seria aquele que dá maior valor para suas normas sociais Por outro lado um líder em uma cultura individualista poderá ser mais bem identificado como aquele que fornece o que está faltando para a realização de tare fas ou de funções relacionadas com relacio namentos Também podemos observar que as normas podem ser usadas para explicar e justificar o ponto de vista da organização como superior para reafirmar o direito da administração definir qual é o ponto de vis ta que irá prevalecer em uma dada situação Izraeli e Jick 1986 A relação entre seres humanos e as dimensões culturais é uma via de mão dupla na qual os indivíduos e o ambien te moldam um ao outro Hall 1969 afir ma que pes soas influenciam a norma de seu grupo cultural e são influenciadas por ela Ele também propõe que as normas de modo similar às leis isto é uma forma de norma mais estruturada são essenciais para a sobrevivência de uma cultura e para a manutenção das pes soas em uma cultura Leis e normas podem ser criadas por várias razões Como observado pelos autores des de os tempos do Código de Hamurabi 1700 aec6 existe a necessidade de reforçar leis que substituam os costumes tribais Hall 1969 p 167 Desse modo pode se notar que as normas sociais sempre fizeram parte de qualquer grupo social podendo ser de monstradas por suas dimensões culturais Quando indivíduos de diferentes cul turas entram em contato eles vivenciam as diferentes normas que se aplicam a cada um Contudo diversas dificuldades podem ocor rer levando ao fracasso na leitura correta da norma que se aplica a cada um Gerando di versos mal entendidos Contudo quando o contato passa a ocorrer com maior frequên cia elas passam a compreender melhor o comportamento do outro Hall 1969 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 114 tOrres neiva cOLs desviando das normas Um grupo social pode reforçar normas por diferentes motivos Estes podem ser meca nismos para aumentar a predição dos com portamentos de seus membros uma forma de expressar os valores do grupo para jus tificar as atividades do grupo para os mem bros ou mesmo uma forma de especificar as fronteiras do grupo facilitando sua so brevivência Feldman 1991 DeRidder Schruijer e Tripathi 1992 forneceram um quadro integrativo para en tender a relação entre grupos étnicos em uma sociedade e entre grupos em organiza ções que precisam coexistir por longo perío do de tempo a Teoria de Violação da Norma Essa abordagem é baseada na observação de que através dos anos cada grupo existente desenvolve normas implícitas eou explícitas que estipulam como seus membros devem agir e reagir frente a membros dos outros grupos Membros de cada grupos conhecem essas normas Geralmente os membros dos grupos assumem tacitamente que as normas são respeitadas Desse modo a violação de uma norma por um membro de um grupo é considerada como um potente fator ativador de um negativo comportamento intergrupal A severidade das sanções do grupo é uma função do grau de desvio e da relevân cia da norma Triandis 1994 As culturas aparentemente diferem na extensão em que uma norma em particular é considerada relevante para seus membros Por exem plo embora todas as culturas reconheçam o conceito de equidade esta norma não é igualmente relevante em todas as culturas Replicando estudos clássicos de psicologia social no Brasil Rodrigues 1992 encon trou que a teoria de equidade tem algumas limitações nesse país No Brasil o compor tamento em si é reconhecido não o produ to ou o resultado do comportamento Os brasileiros tendem a dar mais valor para os comportamentos envolvidos na tarefa do que ao processo envolvidos na execução da mesma e a atribuir um menor valor ao produto final obtido pela tarefa Essa prefe rência parece ser consistente com a suges tão de que as pessoas em países coletivistas tentam distribuir os recursos de modo que a solidariedade endogrupo possa ser manti da e tendem a distribuir as recompensas de modo que seja justo para todos os membros dos endogrupos Triandis 1994 Por outro lado Hall 1969 sugere que normalmen te norte americanos sic aparentemente dirigem sua atenção mais diretamente ao conteúdo do que à estrutura e à forma p 183 É interessante notar que essas normas se tornam muito mais claras quando os indi víduos se desviam delas Derider Schruijer e Tripathi 1992 Desse modo no exemplo anterior os brasileiros podem se tornar mais conscientes do valor que dão ao comporta mento quando interagem com alguém que não é da mesma cultura e que dá mais va lor ao produto da tarefa violando a norma brasileira quadro 54 DiFerenciaçãO Das nOrmas entre cULtUras então como vai a família as normas tendem a ser diferentes nas diversas culturas Por exemplo archer e Fitch 1994 obser varam que em diversas organizações norte americanas a norma é falar muito pouco sobre a família de alguém pois tal exposição implica em obscurecer uma importante linha entre o que é público ou privado na vida das pessoas ou mesmo privilegiar a família em detrimento do trabalho Já em organizações latino americanas pode ser considerado não educado não perguntar sobre a família de alguém INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 115 norMas sociais e o conceito de situação Normas podem ser entendidas nos termos de o que uma pessoa supostamente deve fa zer em uma determinada situação por causa de sua posiçãostatus social Se as normas são definidas como o comportamento ide al de um indivíduo determinado por sua posição ou situação o que faz com que seu comportamento se torne independente do comportamento de outras pessoas Como as normas se tornam recíprocas Jackson 1966a sinaliza que a falta de possibilida des dedutivas dificulta o estudo sobre re gras normas e papéis Para esse autor na psicologia social fala se sobre conceitos ideias como self grupo e norma social quadro 56 nOrmas sOciais e caracterÍsticas cULtUrais amor de mãe é sagrado mãe é aquela pessoa que cuida de nós desde o ventre e por isso se cria com ela um vínculo místico e mágico que faz com que todas as ações que esta toma com relação aos filhos seja sempre um ato de amor geralmente proposital contudo uma mãe é uma pessoa como qualquer outra e por isso é capaz de fazer tudo o que pessoas são capazes de fazer Diversos autores das mais diversas áreas p ex Walzer 1996 chase rogers 2001 vêm indicando que a maternidade é socialmente construída e que não há nenhuma outra base para explicar o comportamento que não estruturas sociais Desse ponto de vista a maternidade é um sistema social com todas as im plicações que isso traz no que se refere a diferentes culturas Logo o amor de uma mãe de uma cultura não é maior ou menor nem melhor ou pior O próprio amor é um sistema social regulado por diferentes normas em cada cultura entretanto como todo sistema governado por normas este está sujeito a pessoas que fogem à realização dos comportamentos tidos como aceitáveis isso significa que dar à luz não é sufi ciente para ter amor de mãe o que é uma escolha que pode ou não ser realizada moldada socialmente regulada por normas sociais quadro 55 nOrmas e aPrenDiZaGem De LinGUaGens o que você quer dizer com isso aprender uma outra língua é importante para fazer negócios em uma outra cultura mas como observado por diversos autores p ex Hall 1969 Pinker 2007 linguagem é mais do que apenas um meio para expressar pensamentos De fato ela é um grande elemento na formação do pen samento todavia para o entendimento ocorrer mais importante do que a linguagem em si é a atenção para as normas e crenças que a cultura mantém com relação à linguagem archer e Fitch 1994 Duas diferentes culturas e talvez até subculturas têm diferentes linguagens Os indivíduos dessas culturas habitam diferentes mundos sensoriais Hall 1969 Best 1992 Por isso elas irão filtrar o mundo de modos diferentes levando a diferentes percepções e diferentes experiências da mesma situação essas diferenças podem resultar na ativação de diferentes normas que enfa tizarão aspectos diferentes do comportamento social INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 116 tOrres neiva cOLs mas nos dirigimos a conceitos qualitativos tais como envolvimento de ego integração de ego ou características da regulamentação normativa Desse modo Jackson 1944a 1966b 1975 propôs um modelo para des crever e discutir a norma como um conceito ideia em outras palavras um modelo que fornecesse uma mensuração quantitativa e descritiva da norma O Modelo de Retorno Potencial MRP7 proposto por Jackson 1966a 1966b 1975 representa uma ferramenta importante para a mensuração de normas sociais O modelo fornece uma definição operacional de nor mas sociais nos termos de um relativo grau de aprovação ou preferência que as pessoas têm para uma determinada gama de com portamentos ou presença de objetos O MRP foi utilizado para mensurar normas so bre diversos tipos de comportamentos tais como comportamentos agressivos Henry Cartland Ruchross e Monahan 2004 o ato de jogar lixo no chão Heywood e Murdock 2004 comportamentos pró sociais gerais Labovitz e Hagedorn 1973 e o comporta mento de liderança Torres 2009 Nogueira Torres e Guimarães 2001 Identificando um conjunto de compor tamentos que são preferidos por um grupo em uma situação particular isto é compor tamentos que são mais aprovados em uma situação podemos identificar qual com portamento é considerado ideal por esse grupo Se analisarmos simultaneamente o padrão cultural do grupo enquanto mensu rando as normas com relação à realização do comportamento que estamos interessa dos então torna se possível notar se exis te uma relação entre o padrão cultura e a variável de interesse Esse modelo e seus pressupostos são mais bem detalhados mais adiante contexto situacional O conceito de contexto situacional é extre mamente importante para qualquer opera cionalização de medidas de normas sociais Esse cuidado teórico metodológico torna possível observar se a norma compartilha alguma característica que está presente na contingência ou outras teorias situacionais A condição se então Se ou quan do uma situação ocorre então um com portamento específico precisa ocorrer para ocorrer a aceitação ou não punição pelo grupo O componente se dessa condição foi nomeado por Jackson 1966a como contexto situacional Podemos entender esse conceito como um componente da nor ma que seria talvez a menor unidade de cultura que é viável analisar Dessa for ma o conceito contextual é importante não apenas por fornecer as bases para identifi car unidades que podem ser manuseadas mas esse contexto situacional pode auxiliar no aprendizado de novas culturas indican do o que se pode ou não realizar nessa cul tura Cabe notar aqui que a diferença entre contexto situacional e sistema social é que o segundo ocorre no primeiro e no contexto que estão as pistas situacionais que indicam se o sistema é ou não plausível de ocorrer naquele contexto social sendo as normas sociais que indicam quais serão as recom pensas e punições associadas à realização de cada comportamento Para Hall 1977 os contextos situa cionais são os blocos de construção tanto de vidas individuais quanto de instituições Para Hall esse conceito é uma função a do indivíduo b de sua construção psíquica e c de instituições que vão desde o casamen to até grandes corporações e cultura que fornece o significado para as duas anteriores Pode se afirmar que o problema na construção de contextos situacionais é de terminar quais são os comportamentos sig nificantes que devem ser incluídos construção de contextos situacionais Para a criação de um contexto situacional pode se começar com um período de obser INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 117 vações de campo e entrevistas Com isso é possível se obter uma considerável gama de informação a respeito das atividades das re lações e dos valores dos membros de cada sis tema social Um conjunto extenso de itens é então construído cada um a respeito de uma dimensão do comportamento e da situação Todavia Jackson 1944a 1966b coloca que nesse método o ponto de corte de inclusão ou exclusão de um item é tão arbitrário que diferentes investigadores podem fornecer di ferentes medidas da mesma norma Por outro lado para construir um con texto situacional pode se começar com um tipo ideal ou modelo de um sistema social Após a seleção desse modelo constroem se dimensões de comportamentos que poderiam ser executados pelos indivíduos Jackson 1966 Por exemplo aqueles comportamen tos que podem se referir ao modo como ges tores tomam uma decisão a respeito de um problema organizacional Nesse exemplo a decisão pode ser feita desde um modo auto crático baseado apenas em sua opinião até um modo participativo com as colaborações dos subordinados Quando todos os compor tamentos que um gestor poderia tomar para esse exemplo ações que refletem a tomada de decisão e resolução de problemas basea da em uma teoria sobre estilos de liderança então uma dimensão comportamental pode ser construída para a tomada de decisão de liderança Torres 2009 Como notado por Jackson 1966b quando o objetivo da pesquisa é explicar uma dimensão particular de uma estrutura social a dimensão comportamental pode ser padronizada em uma situação hipotética diferente que pode ser usada em cada item do questionário Por outro lado quando o propósito do estudo é investigar um papel particular em sua plenitude ou um papel es pecífico em uma estrutura social ou cultura então cada item pode utilizar uma dimen são comportamental diferente de modo que a definição da situação se torna explícita A seguir dois diferentes modelos de mensuração de normas serão abordados O primeiro é um modelo de mensuração de normas sociais O segundo é mais apropria do para a mensuração da pressão social do que a realização de um comportamento em um determinado contexto situacional que muitas vezes é confundido com normas so ciais Mensurando norMas sociais o modelo de retorno potencial O Modelo de Retorno Potencial MRP tem como objetivo explicar medir e descrever as normas graficamente por meio da impres são da aprovação pelos membros de um grupo com relação a um continuum de com portamentos Jackson 1966b notou que as sociedades gastam muito tempo treinando seus membros no que eles devem fazer em várias situações hipotéticas Esse treina mento social tem implicações tais como aprovação por obediência e reprovação por não obediência O MRP desenha uma cur va que demonstra o grau de aprovação e de reprovação de uma gama de comportamen tos em uma situação específica Note que o modelo não descreve uma norma para cada comportamento na situação Em vez disso o modelo descreve o modo normativo de se comportar em uma determinada situação por meio da análise da aprovação para um continuum de comportamentos Esse con tinuum de comportamentos relacionados com a norma precisa ter uma quantidade de alternativas com pelo menos uma que seja mais aprovadadesejável do que as outras Jackson 1966 sugere que o MRP apresente a definição de normas nos termos da distribuição da aprovação e reprovação potencial que um indivíduo pode receber por outros membros de um grupo social relevante dentro das diversas alternativas que um ator pode se comportar dentre de um continuum sob condições específicas ou seja em uma situação definida Nesse modelo normas são vistas como a unidade componente de um papel social Definição coerente com o trabalho de Gold 1997 no qual a noção de normas são constituídas de regraspapéis sociais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 118 tOrres neiva cOLs curva de retorno potencial O modelo pode ser visto como tendo duas dimensões ortogonais a dimensão compor tamental posicionada ao longo da abscissa eixo X e a dimensão do retorno potencial representada ao longo da coordenada eixo Y A dimensão de retorno potencial se re fere à aprovação ou reprovação dos com portamentos pelos respondentes A outra dimensão é relativa ao comportamento ou variabilidade de comportamentos que pode quadro 57 nOrmas sOciais e cOmPOrtamentO HUmanO Meu chefe é um anormal Fala se muito de liderança atual mente é um dos temas mais po pulares nos cursos e congressos que envolvam gestão cultua se autores e livros que foram publi cados em outros países pois eles deram certo nessas culturas e ajudaram diversos gestores a tor nar sua equipe de trabalho mais eficiente gerando diversos casos de sucesso mas o quanto esses casos de sucesso se aplicam ao Brasil O gráfico acima torres e Ferdman 1999 mostra o quan to que os brasileiros consideram normal diversos tipos de estilos de liderança classificados em um contínuo entre autocrático e par ticipativo em comparação com como os norte americanos ava liam os mesmos estilos Os resultados indicam que o estilo que é considerado mais acei tável entre os norte americanos não é considerado sequer aceitável no Brasil e vice versa Daí surge o risco de se tentar implantar mode los de sucesso em outras culturas a mera cópia sem uma pré via adaptação do modelo para nossas práticas culturais pode sofrer sanções por parte dos cola boradores com os quais o modelo irá ser aplicado no gráfico acima o mesmo estudo foi replicado por torres minghetti vasconcelos e Brasileiro 2000 mas utilizando apenas a amostra nacional nota se o efeito da diversidade cultural do bra sileiro e como consequência significa que um determinado estilo de gestão que funcionou em uma região específica pode não ser adequada em outra chamando a atenção para a importância de se levar a cultura em consideração mesmo em regiões do Brasil INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 119 ocorrer em uma dada situação Por exem plo quando exposto a um problema que requer uma decisão isto é uma situação um indivíduo pode tomar a decisão sozinho consultando algumas pessoas específicas ou com a participação geral de outras pessoas O comportamento da pessoa nessa situação ou o modo como a pessoa toma a decisão pode ou não ser aprovado por outros mem bros de seu grupo social em diferentes mag nitudes Uma curva de retorno potencial pode ser desenhada para ilustrar uma distri buição hipotética da aprovação reprovação ou retorno para utilizar o vocabulário do autor do modelo que os membros de um grupo em particular podem fornecer para a realização de um comportamento específico em uma situação definida A curva marca a quantidade de aprovação que cada di mensão comportamental pode receber com a realização do ato específico descrito na dimensão comportamental Um exemplo de uma representação de norma pode ser visto na Figura 51 O modelo assume que o que é signi ficante na regulamentação do comporta mento das pessoas é o nível da tendência das respostas dos membros de um sistema Desse modo ele pode ser utilizado para descrever qualquer situação na qual uma norma social serve para governar o compor tamento dos membros de um grupo Porter Lawler e Kackman 1975 índices e propriedades do modelo de retorno potencial Jackson identificou algumas propriedades do MRP que podem ajudar a explicar as ca racterísticas de uma norma É importante Figura 51 curva de retorno potencial e suas medidas Nota Diagrama esquemático mostrando a representação da norma no MRP A curva que é a curva de retorno potencial mostra a distribuição de aprovação reprovação entre os membros de um sistema social com relação a uma gama de comportamentos Note que cada ponto na curva representa a média das respostas dos membros do grupo adaptado de Jackson 1966a INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 120 tOrres neiva cOLs ressaltar que as médias da distribuição de respostas dos membros de um grupo são utilizadas para desenhar a curva de retorno potencial As respostas individuais ou o grau de aprovação ou reprovação dadas por um indivíduo são agregadas para representar as respostas de um dado grupo ao qual os indi víduos pertencem A seguir seguem essas propriedades Ponto de retorno máximo É o ponto mais alto da curva Representa o comporta mento ideal prescrito pelos membros do sistema social Ou seja é o ponto onde os membros irão fornecer o maior grau de aprovação No senso comum esse ponto geralmente recebe o termo de norma A variância no ponto de máximo retorno fornece um índice de integração interna da parte da norma que pode regular as relações de autoridade Gama de comportamentos tolerados Como mencionado anteriormente a norma é mais do que um simples valor de comportamento é uma gama de ações possíveis Nesse modelo a gama de com portamentos tolerados é o segmento da dimensão comportamental que é apro vada pelos membros do sistema social Ou seja esse índice é representado pelos comportamentos que aparecem acima da abscissa Esses comportamentos devem ser ordenados de modo a descrever um continuum de alguma qualidade isto é critério antes de serem representados na abscissa Por exemplo os comporta mentos podem ser organizados em um continuum que vá de uma tomada de decisão não participativa e arbitrária até uma tomada de decisão que seja participativa e democrática Esse índice do modelo pode ser usado para realizar comparações entre atores conjuntos de indivíduos ou sistemas sociais quando o mesmo comportamento está envolvido Jackson 1966b Intensidade Jackson notou que a inten sidade de uma norma permite observar em que grau a norma existe no sistema social ou seja quão marcante é a per cepção da performance de um determi nado comportamento em uma situação particular A intensidade indica o quanto que o continuum de comportamentos é importante para o grupo Para Jackson 1966a a intensidade pode ser utiliza da para medir a importância da norma Uma medida de intensidade é obtida do modelo calculando a média absoluta de todas as expectativas tanto acima quanto abaixo da abscissa para todas as posições da dimensão comportamen tal Jackson 1966a Deste modo o intervalo que vai do ponto de retorno máximo até o ponto de reprovação máxima reflete a intensidade da norma Esse índice representa a força das ex pectativas para cada comportamento a despeito da norma ser ou não aprovada Jackson 1966a Em outras palavras a intensidade representa a percepção dos respondentes a respeito do quão forte o grupo irá aprovar ou reprovar o conti nuum de comportamentos Cristalização Este índice se refere à quantidade de concordância ou con senso que envolve a norma Pode ser definido como a discrepância entre as expectativas entre todos os pares de pes soas em um sistema social ou qualquer outro subconjunto Jackson 1966a Ele é calculado por meio da variância de cada ponto na escala de aprovação e reprovação para o continuum de com portamento Quanto menor a variação de todos os pontos mais clara é a descrição da norma O consenso é frequentemente considerado como a integração de um sistema social e por implicação como um alto potencial para controle social Uma vez que o consenso entre os membros de um sistema social aumenta pode se dizer que a norma foi fortalecida Em outras palavras um maior consenso significa que a norma é capaz de influenciar mais o grupo Poder normativo A combinação de uma alta intensidade e uma alta cristalização é uma indicação adequada de que os membros de um sistema sentem uma INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 121 forte obrigação na realização do compor tamento em concordar com a norma Jackson 1975 define a combinação de uma alta cristalização e uma alta inten sidade como poder normativo Para esse autor esse índice é um atributo objetivo de um sistema normativo em contraste com definições de poder social em termos da percepção de um ator p 243 É in teressante observar que normas com um alto poder normativo são muito difíceis de serem modificadas pois há uma eleva da concordância com relação ao que deve ser feito cristalização e a aprovação reprovação tende a ser elevada Diferença de retorno potencial Jackson 1966a considera que a diferença entre os componentes positivos e negativos dos componentes da intensidade cons titui a diferença de retorno potencial Esse índice representa a percepção dos respondentes quanto ao grupo ter uma natureza mais punitiva ou apoiadora isto é dependendo se o valor for positivo ou negativo O próprio Jackson 1996a indica que índices positivos em várias situações que são reguladas normativa mente sugerem um clima mais de suporte ou tolerância de modo correspondente índices negativos sugerem um ambiente punitivo ou restritivo p 40 Modelo de retorno potencial e sistemas sociais Jackson também observou que sistemas sociais variam na clareza de informação que seus membros for necem sobre suas ações com relação à conformidade ou não com a norma Em algumas situações mesmo quando pes soas reagem fortemente e possuem um elevado consenso eles podem suprimir algumas manifestações de suas reações O processo de fornecer pistas sobre a reação é normativamente regulado e varia de um sistema para o outro Deste modo mudanças em um sistema social ou estruturas sociais podem afetar signifi cativamente a percepção das normas O modelo implica que devemos pensar a normalidade em termos de um processo normativo de regulação em vez de pensar a norma em termos de uma coisa Jackson 1966a Isso torna possível investigar se e em que forma e em qual grau a norma exis te em vez de considerá la como certa Se duas culturas diferentes represen tam dois sistemas sociais é interessante entender as peculiaridades de cada cultura e como elas diferem O que é considerado como apropriado em cada sistema social pode estar relacionado a diferenças cul turais entre eles Deste modo devemos entender as peculiaridades do brasileiro e como o Brasil difere de outros países em ter mos culturais Considera se que essas dife renças implicam em diferenças nas normas para diferentes comportamentos em dife rentes países Talvez por exemplo a dife rença entre a Nova Zelândia e o Brasil em suas culturas nacionais sejam relacionadas a diferenças na preferência por diferentes comportamentos normas subjetivas Fishbein e Ajzen 1974 Ajzen e Fishbein 1980 afirmam que as normas subjetivas não são iguais às normas sociais mas sim uma pressão social percebida e que ape sar de geralmente estarem em consonância com atitudes muitas vezes elas entram em conflito É mais adequado considerarmos as normas sociais como um contínuo de com portamentos com as respectivas sanções e recompensas associadas a sua realização Jackson 1966 1975 Torres 2009 e que podem ser de natureza descritiva e prescri tiva Jackson 1966 1975 Cialdini Reno e Kallgrenn 1991 Cialdini e Trost 1998 Torres 2009 Kallgren Reno e Cialdini 2000 Reno Cialdini e Kallgren 1993 Cialdini 2003 Cialdini e Goldstein 2004 Contudo apesar de não serem o mes mo construto a semelhança entre as nor mas sociais e a norma subjetiva extrapola a semelhança de nomes Como a norma subjetiva é relativa à realização de um úni co comportamento pode se dizer que as normas sociais são constituídas de diversas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 122 tOrres neiva cOLs pequenas normas subjetivas Contudo dife rentemente das normas sociais a norma sub jetiva assume um aspecto muito mais prescri tivo do que descritivo uma vez que como já colocado a norma subjetiva se refere à percepção do indivíduo com relação à apro vaçãoreprovação de se realizar um compor tamento ao passo que a norma social tam bém serve como um padrão de comparação para se decidir se algo é ou não adequado ou pertencente a um determinado grupo ou categoria Prentice e Miller 1996 Como já visto anteriormente a se melhança entre as normas sociais e a nor ma subjetiva extrapola a semelhança de nomes Contudo a norma subjetiva é re lativa à realização de um único comporta mento seu objetivo é verificar a pressão social percebida na realização de um único comportamento em um contexto específico Considerando que a norma social seja cons tituída de diversas pequenas normas sub jetivas a norma subjetiva é relativa a uma dimensão comportamental da norma Sua natureza é muito mais prescritiva do que descritiva uma vez que a norma subjetiva se refere à percepção do indivíduo com re lação à aprovaçãoreprovação de se realizar um comportamento e não como padrão de comparação para decidir se algo é ou não adequado ou pertencente a um determina do grupo ou categoria A operacionalização originalmente proposta por Fishbein e Ajzen 1974 Ajzen e Fishbein 1980 reflete principalmente o aspecto prescritivo da norma mais co nhecido como norma injuntiva Hagger e Chatziarantis 2005 A norma não depende apenas de aspectos injuntivos pois como apontado por Cialdini e Goldstein 2004 e Cialdini e Trost 1998 principalmente em situações de ambiguidade o indivíduo bus ca realizar o comportamento mais realizado popular com base na crença de que este seria o comportamento mais socialmente aceito Esse fenômeno é conhecido como heurística de maioria Anderson 1996 ou norma descritiva Devido a essa confusão sobre os dife rentes tipos de normas a norma subjetiva merece uma discussão mais a fundo Ajzen 1991 mantém a definição de norma sub jetiva do modelo anterior Fishbein e Ajzen 1975 que as coloca como a percepção da pressão percebida em realizar ou não um determinado comportamento Fishbein e Ajzen 1975 Já Cialdini e Trost 1998 acrescentam que são cognições comparti lhadas que podem afetar o comportamento de um indivíduo dependendo de caracterís ticas pessoais isto é automonitoramento locus de controle situacionais Ehrhart e Naumann 2004 e cultural Bomtempo e Rivero 1992 Entretanto conforme apontado por outros autores p ex Lapinsky e Rimal 2005 Fekadu e Kraft 2002 o conceito não é capaz de lidar com todos os aspectos da in fluência normativa Ajzen 1991 2002 afir ma que a norma subjetiva é o somatório do produto entre a percepção das crenças mais salientes da probabilidade de que um certo comportamento seja aprovado ou desapro vado por uma pessoa ou grupo referente com a motivação que o indivíduo tem em se conformar nesse referido comportamento Apesar de essa definição ser realmente mais semelhante à definição de normas injunti vas Ajzen 2002 considera que a norma subjetiva deve incluir os aspectos das nor mas sociais propostos por Cialdini Cialdini e Goldstein 2004 Cialdini e Trost 1998 Cialdini et al 1991 Reno et al 1993 Kalgreen et al 2000 que sugere que es tas são baseadas tanto no aspecto injuntivo isto é o que deve ser feito quanto no as pecto descritivo isto é o que todos estão fazendo sendo que pode haver uma maior prevalência de uma sobre a outra Contudo diversas pesquisas vêm apon tando para um fraco poder preditivo das normas subjetivas p ex Sheeran Norman e Orbell 1999 Até mesmo Ajzen 1991 quando descreve seu modelo afirma que na maioria das vezes atitudes e crenças de controle percebido seriam suficientes para predizer intenção A desconsideração desse construto tem sido tão forte que diversos autores têm deliberadamente retirado esse componente na hora de trabalharem com a INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 123 teoria do comportamento planejado subs tituindo ou não por outro construto con siderado semelhante Armitage e Connor 2001 Entretanto outros autores p ex Armitage e Conner 2001 Hagger e Chatzia rantis 2005 vêm defendendo o construto e colocam que o primeiro motivo pelo qual ele não tem apresentado sucesso está nos métodos de mensuração pois a quase tota lidade dos estudos trabalha com normas so ciais com itens muito gerais p ex todas as pessoas que são importantes para mim apro vamdesaprovam que eu pratique turismo de aventura em minhas próximas férias e a maioria utiliza apenas um único item Armitage e Connor 2001 testando a hipó tese de que o fraco poder preditivo da norma subjetiva era devido à potencialmente fraca confiabilidade do tipo de medida utilizada realizaram uma metanálise em que o tipo de mensuração utilizado foi considerado como uma variável moderadora entre a norma subjetiva e a intençãocomportamento Eles encontraram que quando eram utilizadas medidas com apenas um item a média das correlações múltiplas ficou em 028 ao pas so que quando foram utilizados múltiplos itens esse média foi para 038 indicando que pelo menos parcialmente o baixo po der preditivo era devido ao método de men suração utilizado Outros fatores estão no contexto no qual o comportamento está sendo realizado e na cultura em que os indivíduos estão in seridos Wallace e colaboradores 2005 re alizaram uma metanálise tentando verificar em quais situações as atitudes prediriam um comportamento Utilizando como variável dependente o quanto que o comportamento estava sobre algum tipo de pressão social os resultados mostraram que em situações em que havia uma pressão social maior as atitudes apresentavam um baixo poder pre ditivo Essa pesquisa foi realizada apenas com estudos publicados em língua inglesa predominantemente nos Estados Unidos na Inglaterra e na Austrália e apesar do poder preditivo de atitudes ter diminuído nessas situações de forte poder normativo de 041 para 030 para cada desvio padrão acima de média de pressão social a atitude continuou apresentando correlações signi ficativas Desta forma mesmo em culturas predominantemente individualistas a in fluência normativa apresenta algum tipo de importância Esse tipo de dado é interessan te pois apesar de evidente Hagger Nikos e Chatziarantis 2005 vem sendo sistema ticamente ignorado nos estudos que utili zam a teoria do comportamento planejado Armitage e Connor 2001 Bomtempo e Rivero 1992 realizaram uma metanálise comparando os pesos obti dos na predição de intenção utilizando a teoria da ação racional TAR e verificaram que havia uma troca da magnitude entre as atitudes e a norma subjetiva na extensão em que as culturas eram classificadas como mais ou menos individualista com base nos estudos de Hofstede 1980 Quanto mais a cultura era tida como coletivista menor era o peso de atitudes e maior o da norma sub jetiva Infelizmente eles não controlaram o tipo de comportamento realizado e por isso os resultados dessa metanálise podem estar enviesados Entretanto são mais indícios de por que a norma subjetiva vem apresentan do um baixo poder preditivo na literatura internacional já que geralmente os estudos são realizados em culturas individualistas nas quais se espera que as atitudes tenham um maior poder preditivo Se os dados de Bomtempo e Rivero 1992 estiverem corre tos um aumento no poder preditivo de um levaria a uma diminuição do poder prediti vo de outro A partir desses dados surge a neces sidade de se utilizar uma medida de norma subjetiva que seja mais confiável e adequa da com a literatura O primeiro problema a ser resolvido é o de que modo medir os dois componentes injuntivo e descritivo A li teratura reconhece que a definição original mente proposta por Fishbein e Ajzen 1974 reflete mais o componente injuntivo por se preocupar mais com o que deve ser feito e não com o que está sendo realizado Apesar de ser representada como diretamente pro porcional ao somatório da importância INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 124 tOrres neiva cOLs da opinião de grupos indivíduos que são salientes na tomada de decisão m vezes a motivação em se conformar a essa opinião n conforme ilustrado na equação dois abaixo muitas vezes ela é medida com itens únicos relativos à percepção geral o que en fraquece o poder preditivo da medida NI mini 1 De modo semelhante o componente descritivo das normas subjetivas também tende a ser mensurado apenas perguntando se aos sujeitos itens globais de quanto eles acreditam que as pessoas a sua volta reali zam ou não determinado comportamento apesar de em sua maioria tal componente ser ignorado Uma representação do com ponente descritivo das normas subjetivas pode ser encontrada na equação 2 em que a Norma Descritiva ND seria diretamen te proporcional à percepção do sujeito do quanto as pessoas próximas a ele realizam o comportamento q ND qi 2 Para resolver o problema de qual nor ma seria a mais saliente e de que modo elas contribuiriam em conjunto na formação da intenção de se comportar o escore da norma subjetiva pode ser inferido do escore predito por normas injuntivas e descritivas com base em uma equação de regressão A ideia é que a magnitude dos betas de cada uma das va riáveis vai indicar qual seria o componente mais saliente uma vez que a norma mais sa liente por ter maior capacidade de influen ciar o comportamento vai ser responsável por uma maior parte da variância da variá vel dependente Logo a inclusão de norma injuntiva e descritiva entrando de uma vez em um bloco de uma regressão irá refletir um escore razoavelmente preciso da norma subjetiva Tal procedimento não é novo e estratégias semelhantes já foram utilizadas por autores como Fishbein e Ajzen 1974 em sua Teoria de Ação Racional na qual uma regressão era utilizada para inferir se as atitudes ou a norma subjetiva teria uma maior influência em intenção por meio dos coeficientes de regressão Ajzen 1996 de fende que tal estratégia é uma solução ele gante para esse tipo de problema apesar de reconhecer que ela é mais descritiva do que preditiva pois seria inferida com base nos dados e não na população como um todo Entre as principais limitações desse procedimento está que ele não leva em con sideração aspectos de autoidentidadeauto categorização que de acordo com Armitage Conner e Norman 1999 é uma importan te variável moderadora nessa relação pois dela dependeria a conformidade e até mes mo a saliência da norma Mesmo assim ele é capaz de fornecer um índice interessante da pressão social percebida para a realização ou não de um comportamento conclusão O que faz com que o brasileiro se comporte de uma maneira e não de outra depende de vários fatores Neste capítulo abordamos apenas um dos aspectos as normas sociais Contudo ele trouxe à tona uma discussão importante o quanto nossas decisões e pensamento podem ser guiados por nor mas sociais e também por que não se deve importar modelos desenvolvidos em outras culturas e aplicá los no Brasil sem pelo me nos uma breve tradução Mesmo sendo um país considera do moderadamente coletivista Hofstede 1980 diversos fatores vêm indicando que intervenções baseadas apenas em atitudes podem levar a açõesintervenções no mí nimo inadequadas até mesmo com rela ção aos modos como lidar com as pessoas e como estabelecer uma hierarquia Faz se ne cessária a adoção de modelos nacionais de tomada de decisão de liderança e de outros fenômenos que ocorram em um cenário tipi camente brasileiro Sem esquecermos nossa diversidade cultural Nossa extensão geo gráfica e diferentes histórias de colonização em diferentes regiões trazem uma conside rável dificuldade na hora de se generalizar os resultados de diferentes pesquisas mes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 125 mo dentro do território brasileiro devido a diferenças culturais ainda que se espere certa constância em alguns aspectos Intervenções baseadas em e muitas vezes copiadas de outras culturas levam a no mínimo um desperdiço de tempo e dinheiro Cada vez vemos mais estratégias que se baseiam no modo como as pessoas se comportam e tomam suas decisões isto é gestão de pessoas marketing sendo aplica das aos brasileiros sem nenhum cuidado de tradução considerando se seus achados como uma verdade inquestionável Esquece se de que nas culturas em que foram de senvolvidas houve um estudo anterior ba seado em um corpo teórico que descreve o modo de pensamento dos indivíduos mem bros daquela cultura e não da nossa A utilização de normas sociais como um instrumento que poderia ajudar a mape ar os modos de funcionamento do brasilei ro ajudaria a produzir um novo corpo teó rico que auxiliasse na compreensão desse grande povo e na construção de uma ciência psicológica realmente nacional que retrate o povo brasileiro e toda a sua diversidade cada vez com maior validade empírica e cri tério notas 1 A set of obligations and privileges that apply to incumbents of social positions 2 Do original Simply influence the psychological experience of the self 3 Do original the distribution of prescriptions by others for the total range of an actors behavior in a defined situation 4 Também relatado na literatura como in group 5 Considerado aqui ocidental a partir do ponto de vista etnocêntrico de culturas dominantes onde apenas os países pertencentes ao eixo economicamente dominante são chamados de West e não do ponto de vista geográfico 6 Seguindo a norma culta internacional os au tores optaram por utilizar a abreviação Antes da Era Corrente 7 Do original Return Potential Model RPM reFerências AARTS H DIJKSTERHUIS A P The Silence of the Library Environment Situational Norm and Social Behavior Journal of Personality Social Psychology v 84 n 1 p 1828 2003 ALTEMEYER B Enemies of freedom Understand ing rightwing authoritarianism New York Jossey Bass 1981 ANDERSON N H A Functional 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Managing Russian factory workers The impact of USbased behavior and participative techniques Academy of Management Journal v 36 p 5879 1993 WHITE C J Culture emotions and behavioral intentions Implications for tourism research and practice Current issues in tourism v 8 n 6 p 510531 2005 WILLIAMS J C Good decisions The essence of leadership Baylor Business Review v 13 p 68 1995 YANG S ALLENBY G M FENNEL G Modeling Variation in brand preference the roles of objective environment and motivating conditions Marketing Science v 21 n 1 p 1431 2002 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS Estudos em psicologia social têm demons trado que ao lado dos motivos básicos de preservação do eu e da espécie um outro fa tor importante na determinação do compor tamento humano é a forma de compreensão dos eventos que ocorrem ao redor dos indi víduos de explicação das causas geradoras dos fenômenos que os afetam O conjunto de teorias postulados e re sultados de pesquisas referentes ao proces so de explicação da ocorrência dos fatos na vida de cada um constituiu se em um profí cuo campo de pesquisas na psicologia social contemporânea denominado atribuição de causalidade As bases para o desenvolvimento des ses estudos remontam ao artigo extrema mente heurístico de Fritz Heider publicado em 1944 intitulado Social perception and phenomenal causality cujas ideias centrais foram posteriormente desenvolvidas em seu livro de 1958 The Psychology of Interpersonal Relations Durante os anos de 1960 e início dos anos de 1970 a teoria de atribuição de causalidade experimentou importante de senvolvimento principalmente com as con tribuições de Jones e Davis 1965 Daryl Bem 1967 e de Harold Kelley 1967 Esse crescimento culminou na publicação de um livro em 1972 frequentemente citado Attribution perceiving the causes of behavior por um grupo de pesquisadores tendo à fren te Edward E Jones Jones et al 1972 A partir daí um número incalculável de artigos sobre o tema surgiu nas principais revistas de psicologia social principalmente nos Estados Unidos geradores também de livros importantes como aqueles da série editada por Harvey Ickes e Kidd 1976a 1978 1981 New directions in attribution research de textos básicos de psicologia social com abordagem da teoria de atribui ção Harvey e Smith 1977 dos livros de Bernard Weiner 1986 1995 2006 sobre sua teoria atribucional e de relevantes revi sões como aquela de Kelley e Michela 1980 que aponta a consulta a mais de 900 refe rências de artigos sobre atribuição nos anos de 1970 principalmente na literatura norte americana e as elaboradas por Rodrigues 1984a e por Dela Coleta 1990 envolven do os estudos no meio brasileiro Um impor tante livro foi publicado por Antaki e Brewin 1982 tratando de uma série de alternati vas de aplicação das teorias de atribuição de causalidade à prática clínica e educacional incluindo entre outros aspectos a aborda gem do papel da atribuição de causalidade no tratamento psicológico terapia do estilo atribucional a relação entre atribuição de pressão e desamparo atribuição a eventos acidentais aspectos atribucionais da medi cina administração da dor modelos rela 6 cOnHecenDO a si e aO OUtrO PercePçãO e atriBUiçãO De caUsaLiDaDe José augusto dela coleta Marilia Ferreira dela coleta INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 135 cionando atribuição expectativas valores e resultados educacionais e abordagem do comportamento hiperativo à luz dos proces sos atribucionais As pesquisas sobre esse assunto têm envolvido os mais variados temas tradicio nalmente estudados pela psicologia social agora sob essa nova visão e as aplicações das descobertas atingem as áreas da edu cação dos esportes da psicologia clínica e aconselhamento das relações interpessoais do preconceito e estereótipo da psicologia ambiental da psicologia social do trabalho e até da metodologia da pesquisa No Brasil entretanto até 1982 data da publicação do primeiro livro sobre este tema em nosso país intitulado Atribuição de causalidade teoria e pesquisa Dela Coleta 1982 somente alguns poucos cerca de uma dezena trabalhos haviam sido dedi cados a esse palpitante tema da psicologia social Na edição revista e ampliada dessa obra Dela Coleta e Dela Coleta 2006 ci taram quase 500 referências sobre o tema sendo mais de 150 produzidas ou publica das no Brasil onde o leitor encontrará um vasto conjunto aprofundado de informações sobre o assunto Sobre o papel das atribuições Heider afirma que os homens buscariam sempre definir as origens dos eventos que lhes ocor rem ou que observam tendo em vista que o homem deseja conhecer as fontes de suas experiências saber de onde vêm saber como surgem não apenas por curio sidade intelectual mas também porque essa atribuição lhe permite compreender o seu mundo predizer e controlar acon tecimentos referentes a ele e aos outros Heider 1970 p 169 O ponto final desse processo de análi se das causas dos eventos é a atribuição de causalidade e de responsabilidade por parte do percebedor Assim a atribuição de causalidade isto é o processo pelo qual se buscariam explicações acerca do porquê das ocorrên cias seria um elemento poderoso do qual se valeria o ser humano para compreender e consequentemente controlar seu comporta mento o comportamento de seu semelhan te e seu próprio mundo Aqui convém lembrar a distinção entre cognição e percepção Para Heider o termo percepção refere se mais propriamente aos casos em que existe certa estruturação de seus componentes e cognição diz respei to mais de perto aos eventos pouco estru turados nos quais os elementos brutos e o percepto dos mesmos estão mais distantes sendo portanto mais inconclusiva que a percepção Pode se supor também que a cognição ou percepção como preferem al guns dos eventos sociais segue leis menos rígidas estruturadas e estáveis que a per cepção de objetos ou eventos meramente físicos Sabe se que as pessoas não são sempre lógicas e racionais ao efetuarem a atribuição de causalidade aos eventos mas refletem seus desejos suas motivações e suas ne cessidades pessoais o que torna o processo muito mais complexo e as leis gerais que o norteiam de aplicação mais difícil Na ver dade em boa parte das vezes o processo de atribuição de causalidade a um dado efeito não necessariamente se submete a princí pios lógicos mas na maior parte das vezes é psico lógico ou seja garante uma lógica pessoal de significado para o indivíduo muitas vezes sem compromisso com evidên cias da realidade Pode se considerar então que a atri buição de causalidade de origem de respon sabilidade constitui se em uma organização das experiências do indivíduo baseando se na busca pessoal da compreensão na cau salidade fenomenal formando uma relação unitária entre a origem e as mudanças que acarreta aos fenômenos e ao próprio com portamento de quem fez tal atribuição Neste sentido Heider definiu em prin cípio dois fatores básicos aos quais as pes soas dirigiriam a atribuição de causalidade dos fenômenos que observassem as forças do ambiente atribuição externa ao sujeito envolvido na ação causas impessoais situa cionais e as características das pessoas atri INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 136 tOrres neiva cOLs buição interna ao sujeito envolvido na ação causas pessoais disposicionais Especificou melhor ainda indicando que as causas atribuídas ao ambiente pode riam compreender tanto as características da situação as dificuldades enfrentadas pelo sujeito as facilidades que o ambiente lhe proporcionou como as ocorrências devidas ao acaso a eventos meramente fortuitos As causas relativas ao sujeito seriam oriundas de duas fontes distintas as características estáveis do sujeito suas habilidades capaci dades potencialidades ser capaz ou suas necessidades do momento suas motivações seu esforço seu empenho sua intenção em conseguir aquele efeito tentar Ainda que Heider 1958 tivesse cha mado a atenção para possíveis diferenças entre os processos de atribuição de causa lidade utilizados pelas pessoas que prati caram os atos e aquelas outras que apenas observaram os fatos os grandes teóricos da atribuição de causalidade que o segui ram ou só tratavam da atribuição por par te dos observadores Jones e Davis 1965 ou não diferenciavam suficientemente os processos quer para os atores quer para os observadores Kelley 1967 ou mesmo fa ziam afirmações de que ambos estariam na mesma situação e tenderiam a efetuar atri buições semelhantes Bem 1967 1972 Entretanto essas suposições teóricas vieram a ser convenientemente sistematizadas e uma distinção clara dos processos atribucio nais utilizados por atores e observadores só foi objetivamente esclarecida com o traba lho de Jones e Nisbett 1972 enfatizando a divergência de percepção das causas do comportamento por parte de atores e obser vadores de um mesmo fenômeno Jones e Nisbett 1972 calcam as di ferenças das atribuições pelos sujeitos ato res e observadores no fato de que o ator do comportamento que provocou determinado efeito apresenta a tendência a efetuar atri buições de maneira a enfatizar o papel do meio ambiente na provocação dessa ocor rência enquanto os observadores tenderiam a indicar as disposições e as características do ator como responsáveis pela ocorrência dos fatos Afirmam Jones e Nisbett 1972 p 80 a esse respeito Existe uma profunda tendência dos atores em atribuir suas ações a exigências situacionais enquanto os ob servadores tendem a atribuir a mesma ação a disposições pessoais estáveis Em uma extensão desses mesmos princípios os observadores acreditam que os atores dos comportamentos geradores dos efeitos considerados possuem conjuntos de respostas pré determinadas e são porta dores de traços de personalidade bastante estáveis que terminam por governar os comportamentos emitidos Assim sendo os observadores classificam os atores em qua dros bastante diferenciados comparando os com os outros atores aparentando possuir uma teoria da personalidade dos atores que segue uma linha normativa nomotética com grupos e traços bem característicos e diferenciados Por outro lado os atores veem seus próprios comportamentos como decorrentes das circunstâncias particulares enfrentadas no momento não admitindo uma categori zação a sua personalidade nem esta como determinante de seu comportamento em to das as circunstâncias Concebem por outro lado sua reação aos estímulos como algo pouco predizível e controlável ao mesmo tempo em que consideram sua personalida de um conjunto de valores possibilidades e estratégias de ação em lugar de um grupo de traços geradores de disposição de respos tas comparando seus comportamentos e reações a si próprios com seus atos anterio res e nunca com os outros Se o observador possui uma teoria de personalidade do ator que tende para a linha normativa e nomotética quando se refere a seu próprio comportamento as pes soas ten dem a considerar mais as teorias que refor çam a importância dos fatores situacionais históricos em um modelo ideográfico com os comportamentos obedecendo a tratamen to ipsativo Ou por outra Traços de perso nalidade são coisas que as outras pessoas têm Jones e Nisbett 1972 p 92 As supostas razões determinantes des se fenômeno poderiam ser reunidas em três INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 137 grandes grupos diferenças na obtenção de informações da situação e das pessoas di ferenças no processamento destas informa ções diferenças motivacionais Para tornar mais completa essa dis tinção os estudos têm demonstrado a existência de uma tendência de as pessoas atribuírem crédito a si próprias a suas ca racterísticas a sua capacidade a seu esfor ço por atos com efeitos positivos e a evi tar aceitar responsabilidade nos casos de comportamentos que produzi ram um efeito negativo Ao mesmo tempo esse viés atri bucional implica a recusa em aceitar como causa de comportamento dos outros que produziram um final positivo suas caracte rísticas pessoais disposições mais estáveis esforço enquan to se procuraria imputar às variáveis pessoais dos outros a causalidade a fatos de cunho negativo A esse fenômeno atribuiu se a deno minação de egotismo ego tism Snyder Stephan e Rosenfield 1976 1978 e a op ção por esse termo em vez de outros corre latos como defensividade egoísmo egocen trismo racionalização prende se ao fato de que estes últimos de um modo ou de outro pressupõem envolvimento de natureza di versa conforme a teoria na qual tiveram ori gem o que contribui ria para certa confusão de entendimento dessa nova proposta atribuição de causalidade e locus de controle A percepção de controle é um construto introduzido na linguagem e nas linhas de pesquisa psicológica no início dos anos de 1960 e desde esse período vem merecen do substancial atenção dos estudio sos e um número impressionante de descobertas esclarecedoras desse fenômeno Para que se tenha uma ideia da penetração e disse minação deste construto somente a mono grafia publicada por Rotter 1966 recebeu até 1990 quase 5 mil citações segundo o Current Contents Rotter 1990 A repercussão do artigo original sobre o locus de controle foi tão grande que surpre endeu até seu autor que fez uma analogia de sua publicação com um fósforo que usou para acender seu cachimbo e que jogou fora enquanto passeava em uma floresta e quan do olhou para trás viu que havia um grande incêndio Furnham e Steele 1993 Controle percebido Perceived control é definido como o sentimento que o indi víduo experimenta referente à medida com que é capaz de determinar a ocorrência dos fenômenos de provocar um dado efeito É a expectativa de que as causas internas pos sam suplantar as causas externas na origem dos fatos de que os reforçamentos ocorrem pela ação específica do indivíduo e não pela ação das outras pessoas ou do meio que o cerca A principal contribuição à sistematiza ção da in fluência dos princípios de percepção de controle na área da apren dizagem social foi desenvolvida por Julian Rotter Rotter 1966 James e Rotter 1958 para quem o potencial para o comportamento X ocorrer na situação 1 em relação ao reforçamento A é função da expectativa da ocor rência do reforçamento A seguindo o comportamento X na situação 1 e o valor deste reforçamen to A na situação 1 Lefcourt 1976 p 26 obedecendo à equação seguinte BPxS1RA f Ex1RAS1 RV AS1 Assim a probabilidade de ocorrência de uma dada resposta tor na se função direta do valor do reforçamento que a segue e da ex pectativa de que o comportamento possa provocar tal reforço na quela situação Rotter também cunhou o termo locus de controle locus of con trol para designar o que ou quem detém o controle o foco o local do con trole na determinação dos even tos conforme percebido pelo indiví duo O locus de controle decorreria do pro cesso de aprendizagem social no qual as experiências de sucesso e de fracasso e as causas atribuídas pelo indivíduo para esses acontecimentos fariam com que ele adqui risse uma percepção relativamente estável a respeito da fonte de controle dos eventos de sua vida INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 138 tOrres neiva cOLs Locus de controle é um construto que pretende explicar a per cepção das pessoas a respeito da fonte do lugar de origem do controle dos eventos se própria do sujeito interno ou pertencente a algum elemento fo ra de si próprio externo De acordo com esse construto as pes soas tenderiam a perce ber o exercício de controle sobre as ocorrências de ma neira geral como em um extremo dependentes de suas próprias capa cidades ou esforços ou no outro extremo como dependentes de ou tras pessoas do ambiente de entidades do acaso todas fora de seu próprio contro le Deixa se claro aqui que os indivíduos se posicionariam a res peito do locus de con trole em um contínuo que variaria desde a in ternalidade extrema até a externalidade total não havendo na verdade pessoas in ternas ou pessoas externas mas sim su jeitos com locus de controle com maior ten dência à internalidade ou à externalidade Para Lefcourt 1976 o locus de controle de um indivíduo é frequentemente inferido da expressão momentânea de seu senso de causalidade que se solicitado em diferentes épocas deve ser rela tivamente consistente E ainda locus de controle não é uma ca racterística a ser descoberta dentro dos indivíduos Ele é um construto uma fer ramenta de trabalho na teoria da aprendi zagem social que permite a interpretação de observações feitas pelas pessoas em resposta a questões sobre causalidade p 111 112 Complementarmente ao conceito de locus de controle e à diferenciação unidi mensional estabelecida por Rotter 1966 e seguidores entre sujeitos predominante mente internos ou externos alguns estudos Levenson 1974 propõem ao lado da di mensão internalidade a discriminação de dois tipos de sujeitos exter nos os externos autênticos que perceberiam a origem do con trole como relacionado ao destino ao azar ao acaso a entidades sobrenaturais sobre as quais não poderiam exercer controle de forma alguma e os externos defensivos ou externos outros podero sos que perceberiam o controle como a cargo de outras pessoas que um dia poderiam ainda ser influencia das controladas por eles A escala de Rotter de locus de controle interno externo a mais empregada de todas elas que consumiu cinco anos de pesquisa e cinco formas preliminares antes que a escala fosse publicada Rotter 1990 com adapta ção ao meio brasileiro Dela Coleta 1979a é um instrumento com 23 itens válidos de escolha forçada com duas opções em cada item uma interna e outra exter na com preendendo ainda mais seis itens distrativos filler itens sendo corrigida na direção da externalidade isto é quanto maior o escore do sujeito mais externo será seu locus de controle A escala multidimensional de Le venson com 24 itens no total sendo 8 para medida de cada dimensão diferencia se da escala de Rotter por se apresentar em um formato Likert com seus itens referindo se à própria pessoa e não às pessoas em ge ral Diversos procedimentos foram utiliza dos para a adaptação desta escala ao meio brasileiro demonstrando os resultados que os índices de confiabilidade das subescalas eram aceitáveis mas relativamente baixos e semelhantes aos obtidos por Levenson Dela Coleta 1987 O locus de controle inicialmente pro posto como medida generalizada da percep ção de controle gerou estudos e medidas es pecíficas para aspectos particulares da vida do indivíduo tais como o trabalho a escola o casamento ou a saúde sendo aceito atual mente que é possível ao mesmo tempo um indivíduo ser mais interno a respeito de um tema e mais externo ao se considerar ou tro Assim todos nós teríamos uma tendên cia a perceber o controle de nossa vida de um modo geral como também teríamos a percepção de controle mais em nossas mãos em algumas áreas enquanto que em ou tras nos sentiríamos controlados por outras pessoas ou por outros fatores externos Uma INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 139 dona de casa pode sentir controle absoluto de sua cozinha avaliar que conhece as re ceitas e onde se encontram os ingredientes e utensílios mas pode sentir total falta de controle ao entregar o carro ao mecânico para conserto enquanto outra poderá sentir controle absoluto em seu ambiente de tra balho mas não ter a mesma percepção ao tentar comunicar se com seus filhos adoles centes Os resultados de dezenas de estudos realizados em diversas partes do mundo no Brasil inclusive e resenhados por Dela Coleta e Dela Coleta 2006 parecem ofere cer suporte ao fato de que maiores níveis de Internalidade no Locus de Controle estariam significativamente associados entre deze nas de outros fenômenos a mais altos níveis de escolaridade e sócio econômico maior resistência a influências e a tentações no processo de tomada de riscos maior tole rância ao desconforto mais questionamen tos quando não são dadas instruções sufi cientes maior tempo gasto para tomada de decisão maior resistência à coerção maior curiosidade mais planejamentos de longo prazo visão do futuro mais positiva melho res respostas de enfrentamento coping das adversidades níveis mais altos de satisfação conjugal melhores resultados no tratamen to de doenças comportamentos de saúde mais adequados relativos a tabagismo a va cinação a prática de exercícios a controle de natalidade a perda de peso a controle de diabetes e a hipertensão a uso de apa relhos ortopédicos e ortodônticos a uso de medicação a prevenção do enfarte de di versos tipos de câncer e da AIDS Ainda na área da saúde a crença dos indivíduos na externalidade denominada Outros Poderosos para a saúde que se refe re a acreditar que a própria saúde deve es tar sob o controle de profissionais de saúde família e outros está relacionada a seguir as recomendações médicas em 11 de 15 comportamentos de prevenção e controle de doenças cardiovasculares Estes resulta dos aparentemente contraditórios confir mam a importância da externalidade outros poderosos para a saúde na situação de do ença como já haviam sugerido Wallston e Wallston 1981 p 217 Apesar de ser uma dimensão externa a crença nos outros poderosos para a saúde pode levar ao engajamento em comportamentos de saúde visto que a pessoa segue as recomendações de outro poderoso particularmente o profissional de saúde Em situações de atribuição de causa lidade e julgamento de outros os indivídu os mais internos atribuem maiores respon sabilidades que os externos aos motoristas acusados de atropelamentos que causam ferimentos à vítima recomendam maiores níveis de sentença de prisão ao acusado acreditam mais que o motorista poderia ter evitado o acidente No âmbito acadêmico os indivíduos mais internos apresentam maior valor incentivo dos estudos mais facilidade para iniciar e persistir no comportamento de estudar maior possibilidade subjetiva de aprovação em exames escolares maior índice de aprovação em processo seletivo de ingresso no nível superior e talvez a mais consistente das relações considerando se diferentes culturas maiores níveis de inter nalidade correspondem a índices superiores de desempenho acadêmico em diferentes níveis de escolaridade Como extensão desses princípios a percepção do locus de controle pelo sujei to pode vir a ser o mediador na realiza ção pessoal do indivíduo achievement uma vez que as pessoas precisam neces sariamente perceber que seus atos são re levantes à determinação dos eventos para que venham a se engajar nessas atividades Nesse sentido o sacrifício o empenho do sujeito em realizar algo superior ao que já dispõe no momento seria função direta da percepção de que é capaz de determinar as ocorrências sendo mui to duvidosa a parti cipação das pessoas em empreendimentos que elas mesmas não acreditam que pos sam controlar INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 140 tOrres neiva cOLs atribuição de causalidade e Motivação A importante diferenciação efetuada por Heider entre o ser capaz can e o tentar try a causalidade pessoal e impessoal in fluenciou diretamente entre outros os tra balhos de Weiner e colaboradores Weiner et al 1972 nos estudos de atribuição de causalidade ao suces so e ao fracasso e na proposta de explicação do processo mo tivacional com base na teoria de atribui ção Weiner 1991 que segundo o pró prio Heider Harvey Ickes e Kidd 1976b constitui se em uma das linhas de pesquisa ligadas à teoria de atribuição que mais se desenvolveram após a publicação de seus trabalhos seminais Para Weiner e colaboradores Weiner 1972 Weiner et al 1972 que propuseram um novo modelo atribucional para a motiva ção de realização fundamentado nas ideias apresentadas por Heider 1958 os indiví duos utilizariam quatro elementos causais dis tintos para julgar antecipar predizer in terpretar um evento envol vendo realização capacidade esforço dificuldade da tarefa e acaso dos quais seria função todo e qual quer resultado da ação das pessoas No entanto não se pode deixar de notar que frequentemente aparecem como causas outros fatores tais como cansaço disposição doenças e influência de outras pessoas cada uma apontada para um caso específico Assim sendo mais tarde o pró prio Weiner 1985 além do locus da causa interna ou externa de sua estabilidade estável ou instável apontou outras dimen sões incluindo a controlabilidade da causa controlável ou incontrolável o grau de generalidade da causa geral ou específica globalidade x especificidade sendo assim definidas as três principais dimensões topo gráficas às quais ele denominou dimen sões causais 1 Causas atribuídas a fatores internos ou ex ternos ao indivíduo locus da causalidade sendo frequentemente associadas a esse grupo esforço capacidade e estado de ânimo como sendo propriedades internas ajuda de outras pessoas dificuldade da tarefa e acaso como fatores externos 2 Causas que ocorrem com muita frequência repetidamente ou que ocorrem apenas de vez em quando estabilidade versus insta bilidade da causa sendo esforço estável capacidade ajuda estável e dificuldade da tarefa consideradas como estáveis e esforço instável estado de ânimo ajuda instável e acaso como instáveis 3 E ainda uma terceira dimensão de causali dade proposta primeiramente por Heider 1958 e rotulada por Weiner 1979 como controlabilidade associando se a esta dimensão frequentemente as causas esforço estável esforço instável e ajuda como controláveis e acaso capacidade dificuldade da tarefa e ânimo como in controláveis Para melhor explicitar as relações des sas três dimensões causais com as causas explicativas de eventos envolvendo sucesso ou fracasso em realizações apresenta se o Quadro 61 Estudos realizados Weiner Russell e Lerman 1978 Weiner 1979 sobre a relação entre atribuição de causalidade e reações emocionais demonstraram que a consequência afetiva decorrente da ob tenção de sucesso ou fracasso na realiza ção de uma tarefa variava de intensidade de acordo com a importância do evento da expectativa do sujeito para tal resul tado e da atribuição causal que ele faz à ocorrência Em relação a esse fato pode se apresentar um modelo Figura 61 que resume as relações entre atribuição e emo ções e deixa claro que as reações emocio nais de um indivíduo diante do sucesso ou fracasso na realização de uma tarefa serão influenciadas por fatores próprios da vida do indivíduo antecedentes e pelas causas a que ele atribui o resultado levando em consideração as dimensões em que se en quadram tais causas exercendo influências sobre as expectativas as motivações e o comportamento futuro desse mesmo indi víduo Weiner Russell e Lerman 1978 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 141 Utilizando a adaptação dos modelos propostos por Weiner 1979 Weiner Russel e Lerman 1978 Dela Coleta Siqueira e Dela Coleta 1988 estudaram os processos atribucionais os sentimentos as expectati vas e as respostas de enfrentamento utiliza das em uma situação considerada de vitima ção envolvendo a perda do emprego em uma centena de sujeitos de ambos os sexos Os resultados mostraram primeira mente que a perda de emprego era atribuída às condições econômicas da empresa ou do país ao não atendimento das exigências da tarefa e do emprego às características dos sujeitos às dificuldades de relacionamento com os colegas apontando ainda os fato res controlabilidade estabilidade e interna lidade das causas nesta ordem como con tribuidores para o evento considerado As respostas relacionadas aos senti mentos experimentados quando da perda do emprego mostraram predominância de estados de ânimo bastante negativos sendo observados com maior frequência depres são raiva ansiedade nervosismo baixa au toestima desamparo conformidade e indi ferença Os sujeitos do sexo masculino que optaram por atribuições externas à perda do emprego apresentam maiores expectativas de perderem o emprego no futuro quando comparados aos sujeitos que optaram por atribuições internas ocorrendo o contrário com os sujeitos do sexo feminino Tomando se somente os sujeitos do sexo masculino observaram os autores asso ciações entre predominância de atribuições internas à perda do emprego e realização de outros trabalhos temporários resolução de problemas pendentes atividades de estudos menos atividades de lazer utilização menor de recursos baseados em outras pessoas e na fé para conseguir um novo emprego e afir mações mais frequentes de que para con seguirem um novo emprego devem mudar seu comportamento em relação à tarefa e à empresa do que entre aqueles sujeitos que optaram por explicações externas lembran do sempre que os sujeitos do sexo feminino comportam se de forma totalmente inversa àqueles do sexo masculino Enfim concluem os autores terem obtido tendência de relação entre diferen tes atribuições de causalidade à perda de emprego e os sentimentos diversos frente a esta situação conduzindo a divergentes expectativas de se conseguir um novo em quadro 61 Dimensões caUsais e caUsas eXPLicativas DO sUcessO e DO FracassO dimensão dimensão dimensão interna x estável x controlável x externa instável incontrolável causas interna estável controlável esforço sistemático interna estável incontrolável capacidade aptidão interna instável controlável esforço não sistemático interna instável incontrolável estado de ânimo externa estável controlável ajuda sistemática externa estável incontrolável características da atividade tarefa fácil tarefa difícil externa instável controlável ajuda não sistemática externa instável incontrolável acaso sorte destino INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 142 tOrres neiva cOLs prego acompanhados de distintas soluções comportamentais para esse problema e de diferentes crenças associadas à evitabilida de na reocorrência do evento vitimador Cardoso de Sá 2009 trabalhando com quase duas centenas de jogadores de futebol das categorias juvenil e adulto e valendo se do modelo anteriormente expos to encontrou que os jogadores que se ava liavam mais positivamente explicavam tal desempenho utilizando predominantemen te causas internas estáveis e controláveis enquanto aqueles com menores índices de autoavaliação empregavam causas externas instáveis e controláveis Na opinião do au tor tais explicações provocavam nos sujeitos de ambos os grupos sentimentos positivos expectativas e disposições para comporta mentos futuros associados ao esporte Para melhor explicar seus resultados o autor cita o conceito de otimismo ingênuo do brasi leiro proposto por Rodrigues 1984b que protegeria os sujeitos com baixo desempe nho no esporte de sentimentos expectativas e comportamentos negativos Os modelos e postulados propostos por Weiner e colaboradores envolvendo as dimensões de causalidade a relação da atribuição de causalidade com os estados emocionais e com as expectativas de com portamento futuro a imputação de reforços ou punição à realização em função da atri buição de causalidade a esses resultados encontram confirmação em nosso meio e salvo algumas particularidades podem e devem ser aplicados na compreensão na explicação e na predição do comportamento do brasileiro atribuição de causalidade a acidentes Acidentes são eventos em geral repentinos com muitas causas com origem nas pessoas Figura 61 modelo atribucional de motivação de realização Fonte Weiner Russel e Lerman 1978 p 60 com pequenas adaptações Antecedentes Informações específicas Normas sociais experiências anteriores tempo gasto na tarefa Esquema causal crenças suficientes X necesárias Diferenças individuais na necessidade de realização sexo Esquema de Reforços Capacidade Esforço Dificuldade da tarefa Acaso Estado de ânimo Cansaço Ajuda de outros Estabilidade Locus da causa Controlabilidade Intencionalidade Generalidade Mudança de expectativa Reação afetiva Intensidade Escolha Persistência Índice de resposta Resistência à extinção Tempo gasto para solucionar o problema Causas de sucesso ou fracasso Dimensões causais Maturidade cognitiva Efeitos causais Consequências comportamentais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 143 envolvidas em outros indivíduos no meio ambiente e na interação entre todos esses elementos sendo muito difícil explicar com pletamente como eles ocorrem e qual a real contribuição de cada uma das variáveis re lacionadas Como os seres humanos têm a ten dência a buscar explicações para tudo o que ocorre com eles ou ao seu redor as pessoas quase sempre encontram uma explicação pessoal mais ou menos verdadeira mais ou menos lógica e fatual para explicar es ses eventos e em função disso sentir maior controle pessoal da situação proteger sua autoestima e psicologicamente evitar no vas ocorrências de tal natureza Sobre a percepção de origem e da atri buição de causalidade aos acidentes de tra balho muitos estudos têm sido conduzidos e os resultados obtidos têm sido muito ricos Olivier apud Faverge 1967 analisando os relatórios de acidentes mostrou que os contramestres de minas de carvão atribuí am mais frequentemente 407 as causas dos acidentes à imprudência dos operários e às más condições de traba lho enquanto os contramestres chefes declaravam mais fre quentemente 583 a imprudência como causa dos acidentes de trabalho Assim quanto mais próximo se está da realidade dos acidentes mais frequentemen te se evo cam causas mecânicas técnicas e da orga nização para explicar o fato e quanto mais se sobe na hierarquia da empresa mais se atribui a origem dos aci dentes a causas pes soais dos operários Em outro estudo sobre o mesmo as sunto Vibert 1957 considerando a re presentação das causas dos acidentes como possíveis componentes de sua de terminação apresenta os resultados das respostas de 310 questionários aplica dos a operários de sete empresas do nordeste de Paris Ao ana lisar os resultados mais particularmente e levando em conta a atribuição dos acidentes a causas pessoais desatenção negligên cia ou a causas não pessoais ritmo muito rá pido de trabalho má proteção das máqui nas e considerando outras variáveis dos su jeitos o autor conclui que os operários satisfeitos em seu trabalho integra dos e participantes na empresa atribuem prefe rencialmente os acidentes a causas pesso ais Ao contrário os operários insatisfeitos com seu trabalho pouco inte grados e pouco participantes invocam muito mais frequen temente as causas não pessoais que impli cam a responsabilidade da empresa Nas respostas dos operários à ques tão os acidentes acontecem geralmente por quê Dela Coleta 1979b encontrou que o maior percentual está a cargo do item falta de orientação da forma como o ope rário deve comportar se para evitar aciden tes seguido por acontece por acaso Ao agrupar os dados das diversas categorias encontrou que 52 dos operários atribuem a origem dos acidentes às variáveis da em presa 22 aos empregados e 26 ao acaso não havendo nesse particular diferença sig nificativa entre os grupos de sujeitos multi e pouco acidentados O acaso e as crenças na fatalidade e no destino como causas ex plicativas dos acidentes de trabalho também são reportados por Barbichon 1962 em pesquisa conduzida com operários de minas de carvão Em um estudo com sujeitos multiaci dentados no período de três anos mínimo de 11 acidentes por sujeito encontrou se que tais sujeitos apontavam em primeiro lu gar o acaso como responsá vel pela ocorrên cia de acidentes vindo a seguir o trabalho arriscado e a desordem no local de trabalho sendo só depois mencionados com muito menor frequência a distração e a precipita ção dos operários Dela Coleta 1991 Sobre esse mesmo tema Dela Coleta 1980a encontrou variações importan tes na quantidade de responsabilidade atri buída ao ator ou à vítima de um aci dente envolvendo atropelamento de um pedestre por um automóvel quando se variavam as consequências o sexo o status e a idade dos autores do atropela mento e das vítimas O mesmo autor Dela Coleta 1980b em sua tese de doutorado sobre atri buição de causalidade em sujeitos vítimas de uma perda importante presos am putados e ce gos encontrou entre 40 sujeitos amputa INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 144 tOrres neiva cOLs dos quase todos por acidentes de trabalho ou de trânsito que 325 dos casos atribu íram a origem de seu estado às outras pes soas 30 ao destino ao acaso a Deus 15 à empresa à sociedade em geral 125 à falta de recursos à situação econômica ao tipo de trabalho e somente 10 a suas pró prias características falhas e erros Quando questionados a indicar uma forma de prevenção a essas ocorrên cias os sujeitos amputados responderam em primeiro lugar não haver nada capaz de evitar o fato vindo a seguir comportamen to diferente de entidades e empresa com portamento diferente de outras pessoas e poucos indicaram um comportamento dife rente de sua parte como forma de preven ção a essa perda Em interessante estudo com operá rios de uma grande empresa siderúrgica mostrou se claramente que os operários ten dem a indicar com muito maior frequência uma falha humana como variável responsá vel pela ini ciação de um acidente de traba lho do que condições materiais e ambientais inadequadas sem diferenças marcantes en tre acidentados e não acidenta dos Como forma de prevenção desses acidentes do mesmo modo colocam maior responsabili dade sobre as pessoas indicando como prá ticas prevencionistas haver treinamento de segurança para todos os funcionários usar equipamento de proteção adequado cons cientizar os funcioná rios para trabalhar com segurança fazer palestras e exibir filmes so bre segurança Dela Coleta 1991 Outro importante estudo com profis sionais de nível superior de diversas espe cialidades todos estudiosos e empregados em atividades de segurança no trabalho de monstrou que 75 concordam com a exis tência de predisposição individual a sofrer acidentes do trabalho que das três causas apontadas como mais importantes para ex plicar a ocorrência de acidentes de trabalho duas referem se a causas pessoais execu ção inadequada das tarefas e deficiências do trabalhador e uma envolve deficiência nos equipamentos Dentre as variáveis pessoais causadoras dos acidentes são citadas a for mação deficiente do trabalhador os conhe cimentos insuficientes da forma correta de execução e por outro lado a imprudência e o desrespeito às normas do segurança Dela Coleta 1991 Dela Coleta e colaboradores 1986 submeteram casos de acidentes verdadei ramente ocorridos em uma indústria side rúrgica a três grupos de sujeitos aos pró prios acidentados a seus chefes imediatos e a seus chefes superiores pedindo lhes que indicassem a intensidade em que diversas causas poderiam explicar aquela ocorrên cia Entre muitas informações recolhidas verificou se a nítida tendência dos aciden tados a atribuírem causas externas impes soais aos acidentes sofridos dos chefes imediatos atribuírem igualmente às causas pessoais e impessoais e dos chefes superio res indicarem muito mais as causas pessoais dos operários co mo explicadores da origem dos mesmos acidentes Por meio dos estudos expostos nas páginas anteriores pode se verificar clara mente uma divergência atribucional entre distintas classes de sujeitos com variados ní veis hierárquicos quanto mais alto o nível do sujeito na organização maior a tendência a atribuições pessoais para os acidentes de trabalho quanto mais baixo o nível hierár quico maior a preferência por explicações externas uma forte tendência à indicação do acaso do destino da pré determinação como explicação para a ocorrência desses eventos e ainda a predominância da indi cação das variáveis do homem como cau sas dos acidentes de trabalho Para que os processos de prevenção de acidentes mor mente aqueles implicando modificações das atitudes e dos comportamentos dos ope rários frente ao risco e aos acidentes pos sam alcançar altos níveis de eficiência seria desejável que ações fossem desenvolvidas buscando alterar os processos atribucionais utilizados pelas pessoas envolvidas com tais eventos visando garantir as modificações almejadas na redução do número desses in fortúnios INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 145 atribuição de causalidade nas relações conJugais Os primeiros estudos utilizando as teorias de atribuição de causalidade para a com preensão das relações conjugais buscavam inicialmente identificar as causas percebi das para o bom e o mau funcionamento da relação de casais e verificar as divergências atribucionais intra e entre casais Sobre o conflito atribucional entre casais jovens Orvis Kelley e Butler 1976 mostraram que os comportamentos que geraram divergência entre os casais en volviam ser crítico exigente ou inflexível emocional agressivo insensível ou frio em relação ao outro envolver se muito em re lacionamentos e atividades externas ser in conveniente em situações sociais não gos tar das pessoas ou evitá las ter hábitos ou vícios desagradáveis não apresentar moti vação ser passivo ou relaxado não cumprir com suas responsabilidades evitar as ativi dades ou engajar se em uma determinada atividade ou em uma maneira específica de fazer uma atividade Investigando áreas de divergências e falta de conhecimento da divergência por parte de adultos jovens que viviam juntos e experimentavam conflito em seu relaciona mento Harvey e Wells mostraram diferen ças entre os sexos os homens indicaram a incompatibilidade sexual como uma pode rosa fonte de conflito enquanto as mulhe res subestimaram essa atribuição feita pelos homens Estes também superestimaram a importância atribuída pelas mulheres à in compatibilidade sexual no conflito O mes mo resultado discrepante foi obtido quando as mulheres avaliaram problemas financei ros como fonte de conflito Sobre possíveis causas de conflito no relacionamento os homens citaram mais do que as mulheres os assuntos sexuais e as mulheres mencio naram mais do que os homens a presença de uma possível amante na vida do compa nheiro Harvey Wells e Alvarez 1978 Os mesmos autores entrevistaram um pequeno grupo de 10 pessoas que haviam se separado recentemente para verificar as cau sas percebidas da separação Das 10 pessoas 9 declararam que o envolvimento romântico fora do casamento foi um aspecto importan te de sua separação e 8 sujeitos apontaram a insensibilidade e a falta de afeição e de intimidade sexual Os outros aspectos avalia dos pelos sujeitos como importantes foram as diferenças de valores de hábitos pessoais de orientação religiosa alcoolismo e abuso físi co Todas as mulheres da amostra tomaram a iniciativa da separação em geral mandando o marido embora de casa Ainda sobre as causas do fracasso con jugal Newman e Langer 1981 pediram a um grupo de mulheres que explicassem a causa de seu divórcio e classificaram as res postas em duas categorias as explicações que enfatizavam as características nega tivas do marido por exemplo o egoísmo atribuição interna estável e as explicações que enfatizavam a insatisfação com a intera ção entre o casal Nenhuma dessas mulheres deu explicações que se referissem a sua pró pria pessoa positivas nem negativas mos trando uma tendência egotista Holtzworth Munroe e Jacobson 1985 compararam as causas percebidas para o comportamento do cônjuge junto a 20 casais recrutados na comunidade e mais 22 casais com casamento infeliz a metade já em tera pia conjugal Os resultados indicaram que os casais infelizes desconfiavam dos compor tamentos positivos de seus companheiros os atribuíam às circunstâncias externas ou ao estado do cônjuge os percebiam como não intencionais involuntários de causas instáveis e específicas Os comportamentos negativos foram atribuídos aos traços de personalidade do cônjuge percebidos como intencionais voluntários de causas estáveis e globais O grupo de casais felizes forne ceu explicações causais opostas a essas Outros estudos confirmaram essa ten dência individual em utilizar atribuições internas para explicar o comportamento do outro e a tendência de casais infelizes em atribuir mais os comportamentos negativos do cônjuge a fatores internos enquanto os INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 146 tOrres neiva cOLs casais felizes mostram maior tendência para atribuições internas aos comportamentos positivos do cônjuge Jacobson Macdonald Follete e Berley 1985 Fincham Beach e Baucom 1987 Uma análise geral desses resultados mostra que os casais não percebem as di vergências entre suas atribuições e que cada um acha que o outro deve perceber as coisas como ele as percebe sendo possível inferir com alguma segurança que boa parte dos conflitos conjugais tem suas origens nas divergências atribucionais às diversas ocor rências da vida diária No Brasil alguns estudos sobre a atri buição de causalidade ao fracasso do re lacionamento conjugal mostraram causas semelhantes e as mesmas tendências ego defensivas observando se maior frequên cia de causas externas em amostras com ní vel sócio econômico mais baixo Em dois desses estudos foi elabora da uma lista de causas com base nos fato res propostos por Weiner e colaboradores 1972 envolvendo o locus e a estabilidade das causas da separação e pedindo se aos sujeitos que apontassem a concordância com cada uma Machado e Dela Coleta 2002 Os resultados indicaram que os indivíduos atribuíram sua separação principalmente ao outro concordando que o cônjuge não sou be fazer o casamento dar certo ou não se es forçou o bastante Outras causas frequentes envolveram a falta de sorte de encontrar a pessoa certa para se casar a falta de habi lidade do casal para manter o casamento azar na escolha a falta de esforço de ambos a dificuldade de viver junto de outra pessoa a escolha errada as circunstâncias externas que interferiram no casamento a vontade de Deus o destino e características de per sonalidade do outro A maioria discordou das atribuições que se referiam à própria pessoa fosse por falta de habilidade de es forço ou por características disposicionais próprias confirmando se novamente o fe nômeno do egotismo No Rio de Janeiro Jablonski e Rodri gues 1986 perguntaram a 400 jovens sol teiros o que faz durar um casamento A média das classificações das causas mostrou a seguinte ordem de importância amor res peito mútuo companheirismo confiança sexo comunhão de ideias certos traços de personalidade persistência sorte incluindo também o dinheiro e a felicidade O propósito do estudo de Dela Coleta 1989 era identificar as causas de sucesso no casamento na opinião de homens e mu lheres moradores no interior do país todos casados há pelo menos três anos com filhos A pergunta sobre as seis coisas principais que devem existir para se conseguir e man ter um casamento ideal gerou uma lista de 58 causas que foram agrupadas resultando em uma lista final de 37 causas destacando se 14 delas Figura 62 Quando essas causas foram avaliadas por casais casados destacaram se o amor em primeiro lugar em importância para o sucesso no casamento relativamente às de mais causas o dinheiro em último e as ou tras causas agrupadas entre esses extremos Dela Coleta 1991 Com uma amostra de 100 homens e mulheres entre casados e separados Dela Coleta et al 1996 procurou se comparar esses subgrupos quanto às causas percebidas para o sucesso e o fracasso no casamento encontrando se respostas muito semelhan tes Tanto os homens quanto as mulheres apontaram para o sucesso amor compreen são respeito diálogo e compatibilidade fide lidade e confiança entretanto as mulheres indicaram a fidelidade o companheirismo e o carinho com frequências mais altas Em outro estudo Norgren et al 2004 uma amostra de casais satisfeitos mantendo casamentos de longa duração indicou os componentes importantes para sua satisfação confiança e respeito mútuos abertura honestidade e integridade gostar um do outro concordância sobre compor tamento sexual tomar as decisões juntos interesses compartilhados a respeito dos fi lhos atratividade do cônjuge humor e ale gria juntos orientação espiritual semelhan te As indicações das causas da permanência no relacionamento revelaram em primeiro lugar o amor e a convicção de que o casa INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 147 mento é uma parceria para a vida toda em segundo a complementação a sinceridade a paciência e a compreensão mútua Buscando aprofundar a temática sexu al no relacionamento conjugal Dela Coleta 1992 procurou identificar as causas de su cesso e de fracasso no relacionamento sexual entre pessoas heterossexuais casadas Sobre as causas de fracasso no relacionamento se xual as mulheres indicaram a falta de intera ção entre o casal de prazer de amor de co municação condições internas desfavoráveis e falta de liberdade sexual enquanto para os homens a ordem de frequência resultou em falta de prazer de comunicação de amor de interação entre o casal condições externas desfavoráveis condições internas desfavorá veis e falta de liberdade sexual As diferenças entre os grupos mascu lino e feminino foram maiores na categoria interação do casal na qual as mulheres concentraram suas respostas nas atitudes negativas com relação ao par principalmen te a falta de respeito e o egoísmo do par ceiro Na categoria referente ao prazer ho mens e mulheres acusaram a falta de desejo sexual como uma das três causas principais de fracasso no relacionamento sexual Foi possível concluir que o relaciona mento sexual satisfatório ou não é atribuí do a causas internas estáveis ou instáveis com algumas poucas referências a causas externas instáveis como dinheiro tempo ou problemas externos ao casal mas que também afetam seu relacionamento O estudo de Marques Marques 2005 Dela Coleta et al 2004 foi baseado na proposta de Weiner e colaboradores 1972 e em sugestões de Sillars 1981 e Brehm 1985 sobre o conflito no relacionamento conjugal e buscou verificar a relação das atribuições causais com as emoções as ex pectativas e as ações tendo como estímu lo desencadeante do processo a agressão à mulher pelo parceiro conforme o modelo seguinte Figura 62 elementos essenciais para um casamento ideal Figura 63 modelo atribucional de ação Weiner et al 1972 Afeto Estímulo Cognições causais Resposta Expectativa de meta INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 148 tOrres neiva cOLs Em entrevistas realizadas em um pos to da Delegacia da Mulher onde iam para formalizar a queixa sobre as agressões as mulheres citaram com maior frequência os ciúmes os problemas psicológicos do par ceiro o álcool ou as drogas como as causas percebidas por elas para a primeira e a últi ma ocorrência de agressão Considerando se os resultados rela tivos às dimensões locus e estabilidade da causa da violência do parceiro verificou se que as principais causas percebidas na primeira agressão foram classificadas como internas e instáveis Os resultados relativos à atribuição decorrente da última agressão mostraram que a maioria das mulheres iden tificou as causas como internas e estáveis mostrando que a causa continuava a ser o próprio parceiro causa interna pessoal mas que houve uma mudança na atribui ção à estabilidade da causa passando a ser percebida mais como devida a característi cas estáveis da personalidade do parceiro sendo bem menor o número daquelas que a perceberam como decorrente de estados momentâneos e situacionais Com relação à dimensão controlabi lidade da causa verificou se que a grande maioria das entrevistadas acreditava que na época da primeira ocorrência era possí vel controlar a violência do parceiro entre tanto essa tendência inverteu se em relação à ultima agressão com a maioria conside rando a causa incontrolável não mais acre ditando serem capazes de modificar a causa da ocorrência da violência A análise das relações entre atribui ções sentimentos expectativas e ações relativas à última agressão sofrida indicou que a atribuição a causas internas estáveis e incontroláveis da agressão está relaciona da a maior culpa percebida no agressor a menor culpa atribuída a si mesma a maior intenção de agredir e a maior probabilidade de ter evitado a agressão quando compa rada às atribuições predominantemente in ternas instáveis e controláveis feitas para a primeira agressão sofrida Estas atribuições de causa de culpa e de responsabilidade ao parceiro relacionaram se ao predomínio de sentimentos dirigidos contra o parceiro mais raiva ódio rejeição e nojo expecta tivas negativas se continuasse vivendo com ele risco de vida expectativas positivas se decidisse deixá lo vida digna e intenção de romper o relacionamento Os estudos conduzidos no Brasil so bre as causas de sucesso no relacionamento conjugal e sexual levam a algumas conclu sões Em primeiro lugar o amor é a causa apontada com maior frequência nos estudos sobre casamento ocorrendo o mesmo em outras culturas Rhyne 1981 Diaz Loving Gamboa e Canales 1988 Buss et al 1990 Sharlin Kaslow e Hammerschmidt 2000 No relacionamento sexual o amor é a causa de sucesso mais citada pelos ho mens e a segunda causa para as mulheres que in dicam com maior frequência respei to compreensão interesse sinceridade e atenção A semelhança dessas causas com aquelas relativas ao relacionamento conju gal sugere que o sexo não é percebido como um fim em si mesmo nem como um aspecto isolado do casamento mas integrado aos demais aspectos da interação conjugal sen do isso verdadeiro principalmente para as mulheres Para um casamento bem sucedido as condições econômicas apesar de serem consideradas de menor importância em re lação às outras causas sempre são citadas nos estudos brasileiros o que não ocorre em estudos conduzidos em outros países Entretanto esta é uma das causas principais de divórcio e separações juntamente com a infidelidade e a falta de amor citadas em diversos estudos Levinger 1966 Bentler e Newcomb 1978 Albrecht 1979 Kelly e Conley 1987 Pasquali e Moura 2003 Em segundo lugar diferenças de gêne ro foram observadas em todos os estudos O sexo e os filhos parecem ser mais impor tantes para o sucesso no casamento para os homens do que para as mulheres enquan to a comunicação o respeito a confiança o companheirismo a compatibilidade e a compreensão são mais importantes para elas tanto no casamento quanto no relacio namento sexual em particular INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 149 O sucesso e o fracasso no relaciona mento conjugal e sexual são semelhante mente atribuídos às mesmas causas por homens e mulheres de diferentes culturas entretanto a ordem de importância destas causas varia em função do sexo Diferenças de gênero identificadas na literatura sugerem que em geral os homens estão mais satisfeitos com seus casamentos e menos satisfeitos quanto ao relacionamen to sexual do que as mulheres consideram mais a incompatibilidade sexual como uma poderosa fonte de conflito percebem mais o sexo e o amor como duas coisas separadas apresentam maior orientação para o sexo sem restrições apesar de que nos estudos atuais verificam se menores diferenças en tre homens e mulheres em atitudes com re lação à sexualidade com poucas diferenças comportamentais As mulheres dão maior importância ao carinho e ao romance de sejam mais o envolvimento afetivo antes do sexual e consideram mais importantes os problemas financeiros e a infidelidade como causas de conflito Ambos culpam mais as mulheres pelo fracasso no casamento Diferenças atribucionais entre ator e observador também são encontradas na relação conjugal mostrando que homens e mulheres são egotistas em suas explicações do conflito atribuindo maior responsabili dade ao outro Além disso na explicação do próprio comportamento o ator utiliza causas externas e estados internos tempo rários enquanto o observador enfatiza as características do ator traços e sua atitude negativa Ao se considerar a qualidade do relacionamento conjugal os casais infelizes atribuem os comportamentos positivos do outro a circunstâncias externas ou ao estado do mesmo como atos não intencionais e in voluntários os comportamentos negativos são atribuídos a características estáveis do outro traços de personalidade e percebi dos como atos intencionais e voluntários en quanto os casais felizes dão causas opostas para os mesmos comportamentos Mulheres vítimas de agressão no relacionamento con jugal que atribuem os maus tratos a causas internas instáveis e controláveis apresen tam mais sentimentos difusos expectativas positivas para o relacionamento e tendem a manter a relação Aquelas que atribuem causas internas porém estáveis e incontro láveis para o comportamento agressivo do companheiro apresentam mais sentimentos negativos dirigidos a ele piores expectativas para a vida conjugal melhores expectativas para a vida sem ele e intenção de deixá lo Além disso tendem a procurar a delegacia para dar fim às agressões Conforme sugere Rhyne 1981 ou tras variáveis que têm demonstrado influen ciar a percepção de valor dessas causas são a idade e o número de filhos a idade dos cônjuges e o tempo de casamento suge rindo que a fase do ciclo de vida familiar pode promover modificações na percepção dos sujeitos sobre os fatores aos quais são atribuídos o sucesso ou o fracasso da vida conjugal e sexual reFerências ALBRECHT S L Correlates of marital happiness among the remarried Journal of Marriage and the Family v 41 p 857867 1979 ANTAKI C L BREWIN C Attributions and psychological change applications of attributional theories to clinical and educational practice Lon dres Academic Press 1982 BARBICHON G La perception des risques chez les mineurs Bulletin du CERP v 1 n 11 p 112 1962 BEM D J Selfperception an alternative interpre tation of cognitive dissonance phenomena Psycho logical Review v 74 n 3 p 183200 1967 BEM D J Selfperception theory In BERKOWITZ L Ed Advances in experimental social psychology Nova York Academic Press 1972 v 6 p 162 BENTLER P M NEWCOMB M D Longitudinal study of marital success and failure Journal of Consulting and Clinical Psychology v 46 n 5 p 10531070 1978 BREHM S S Intimate relationships Nova York Random House 1985 BUSS DM et al International 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KELLEY H H BUTLER P Attribu tional conflict in young couples In HARVEY J H ICKES W KIDD R Ed New directions in attribution research New York Jossey Bass 1976 v 1 p 225253 PASQUALI L MOURA C F Atribuição de causa lidade ao divórcio Avaliação Psicológica v 2 n 1 p 116 2003 RHYNE D Bases of marital satisfaction among men and women Journal of Marriage and the Family v 40 p 941955 1981 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 152 tOrres neiva cOLs RODRIGUES A Atribuição de causalidade estu dos brasileiros Arquivos Brasileiros de Psicologia v 36 p 520 1984a RODRIGUES A Atribuição de causalidade ao sucesso e fracasso como mediador da reação emocional e de expectativa de comportamento Arquivos Brasileiros de Psicologia v 36 p 1225 1984b ROTTER J B Generalized expectancies for in ternal versus external control of reinforcement Psychological Monographs general and applied Washington 80 whole n 609 1966 ROTTER J B Internal versus external control of reinforcement a case history of a variable Ameri 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Affective consequences of causal ascription In HARVEY J H ICKES W J KIDD R F Ed New directions in attribution research Nova Iorque Lawrence Erlbaum 1978 v 2 p 5990 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS A influência social é sem sombra de dúvi das um dos tópicos mais importantes na psicologia social Alguns autores chegam a argumentar que a psicologia social é quase sinônimo da pesquisa da influência social Levy Collins e Nail 1998 Vaughan e Hogg 2005 Allport 1924 definiu a psicologia social como o estudo sobre como as pesso as são influenciadas pela presença real ou imaginária dos outros Esta é uma noção bastante individualista da psicologia social e da influência social que negligencia os fe nômenos em nível mais indireto e de grupo Ng 2001 Forgas e Williams 2001 enfa tizam que todo e qualquer comportamento interpessoal envolve alguma forma de pro cessos de influência mútua e que os grupos ou sociedades só existem e funcionam por causa das formas de influência social efeti vas difundidas e compartilhadas Em opo sição a essa visão geral muito da pesquisa psicológica tem se concentrado em fenôme nos mais estreitos na descrição de influên cia social Nos livros de psicologia social os capítulos sobre influência social geralmente discutem estudos de conformidade e obedi ência Asch 1952 Milgram 1963 Sherif 1936 facilitação social Triplett 1898 Zajonc 1965 vadiagem social1 Karau e Williams 1993 Ringelmann 1913 e mudança de atitude e persuasão Petty e Cacioppo 1986 Neste capítulo analisa remos alguns desses estudos e abordagens clássicas sobre a influência social além de ampliar o escopo para outras áreas que jul gamos serem importantes e interessantes Quais os tipos de influência social que podemos diferenciar Ng 2001 definiu três tipos de influência basicamente diferen tes Em primeiro lugar o tipo mais comu mente estudado envolve a influência direta pessoa a pessoa em consonância com gran de parte das pesquisas listadas nos livros de psicologia Esse tipo de pesquisa se destaca pelo foco no indivíduo segundo a definição de psicologia social de Allport com uma cla ra tendência individualista já que se con centra na pessoa influenciada por algum outro agente influenciador e na influência da informação mais do que na influência normativa Ng 2001 Ela se encaixa na re cente mudança das teorias de psicologia so cial para social cognitiva e dos paradigmas que conceitualizam as pessoas como uma entidade autônoma de significação e pen samento racional As influências normativas advindas de grupos e estruturas sociais são menos centrais O segundo nível de influên cia está relacionado à manipulação indireta das normas e costumes sociais e das atitudes sociais ou culturais Aqui um agente pode influenciar os outros manipulando agendas mobilizado valores e normas sociais para direcionar a discussão ou excluir ou isolar algumas pessoas da discussão O nível final é o mais sutil indireto e difícil de observar Aqui as atitudes crenças e comportamen tos são influenciados pelos outros sem que 7 inFLUÊncia sOciaL e PODer ronald Fischer christin Melanie vauclair INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 154 tOrres neiva cOLs a pessoa tenha consciência das estratégias de influência O melhor exemplo talvez se jam as influências culturais nas pessoas A cultura é um conjunto difuso de tradições normas ideologias e valores que influencia como as pessoas pensam sentem e se com portam sem que o indivíduo tenha consci ência dessa influência em seus pensamen tos sentimentos ou comportamentos Tais processos são reproduzidos e perpetuados por meio de mecanismos de socialização e ajudam a estabilizar e a manter os grupos sociais e as sociedades Um outro insight resultante dessa dis tinção de três níveis é que muitas pesquisas sobre a tradição da influência social se con centram na pessoa que é influenciada dando menos ênfase sobre o agente ou a fonte de influência A pesquisa sobre o poder French e Raven 1959 Raven 1965 Raven 1993 Raven e French 1958 faz a diferença entre diferentes fontes de poder que influenciam as pessoas Alguns desses trabalhos têm renascido nos ambientes organizacionais como por exemplo no trabalho sobre as es tratégias de influência social de subordina dos Ralston et al 2009 O trabalho sobre liderança na psicologia organizacional é ou tro exemplo de exercício de influência social que tem sido dissociado da pesquisa sobre influência social Uma segunda questão que fica clara quando analisamos a pesquisa por essa lente de três níveis de influência so cial é que os processos sociais e em nível de grupo têm sido amplamente ignorados Ng 2001 Como observado anteriormente a pesquisa de psicologia social tem os indiví duos como foco As influências normativas ou interpessoais e os processos grupais não assumiram um papel central na pesquisa de influência social Neste capítulo adotamos uma perspectiva mais ampla da pesquisa de influência social em consonância com a con ceitualização da influência social de Forgas e Williams 2001 e a diferenciação de Ng 2001 Assim pretendemos equilibrar a tendência individualista na pesquisa da psi cologia social enfatizar alguns processos importantes de influência social que recebe ram atenção em vários campos da investi gação social e criar e abrir caminhos para pesquisas futuras de relevância teórica e prática Começaremos delineando e descre vendo alguns trabalhos clássicos na litera tura sobre influência social e poder Devido ao grande volume desse trabalho nosso panorama é seletivo e se concentra apenas em alguns estudos chave descobertas e áre as de influência social Depois enfatizamos os processos sociais e grupais com grande potencial para a pesquisa futura Nós nos baseamos em pesquisas que são relevantes para o Brasil quando disponíveis e discu tiremos as condições culturais e sociais no Brasil quando vincularmos a pesquisa inter nacional aos exemplos brasileiros tiPologias clássicas da inFluência social e do Poder Levy e colaboradores 1998 apresentaram uma taxonomia de tipos de influência social que se encaixariam no primeiro nível da classificação de Ng Observando a grande superposição entre a influência social e a psicológica social eles analisaram as prin cipais pesquisas e identificaram o mínimo de características elementares que melhor diferenciam o número máximo de estudos e abordagens de influência social Assim a questão era identificar as diferenças essen ciais ou fundamentais que podem nos ajudar a organizar os estudos clássicos na psicolo gia da influência social Eles identificaram as quatro características chave abaixo a nível de processamento cognitivo cons ciente x inconsciente b intencionalidade percebida intencional x não intencional x ortogonalirrelevante c status relativo de influência maior sta tus x status de parigual x baixo status x ortogonalirrelevante d direção da mudança positivo x negativo x ortogonalirrelevante Apesar de essa tipologia levar poten cialmente a 72 diferentes tipos de influên INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 155 cia eles identificaram apenas 24 tipos de influências sociais Pegando um exemplo clássico para futura discussão a obediên cia pode ser classificada como um tipo de influência na qual a pessoa que está sendo influenciada a tem conhecimento consciente da tentati va de influência b percebe que a tentativa de influência é intencional c o influenciador tem status superior d a pessoa se comporta de forma coerente com a posição do influenciador Assim a estrutura apresenta uma cate gorização de tipos de influência separando os por um processo de mistura de influên cia e o resultado do processo de mudança Os modelos de processo que fazem a distin ção entre tipos de mecanismos de influência p ex Petty e Cacioppo 1986 contribuem com as dimensões nas quais os resultados são diferenciados p ex nível de processa mento cognitivo e status Nail MacDonald e Levy 2000 de senvolveram um modelo descritivo de res postas sociais para identificar as dimensões conceituais que podem ser utilizadas para classificar os vários tipos de influência Com essa categorização o foco é ainda mais di reto nas respostas das tentativas de influên cia social As respostas são diferenciadas em termos de a se há um acordo de pré e pós exposi ção b se o acordo ou não acordo é expresso pública ou privadamente Cruzando as duas dimensões são dis tinguidas 16 respostas sociais Assim por exemplo podemos fazer a distinção entre as respostas de congruência conversão e con formidade Congruência é se há um acordo privado e público de pré e pós exposição Nesse caso não ocorre qualquer mudança de atitude ou comportamento e as pessoas estão em acordo A conversão é caracteri zada por um desacordo de pré exposição tanto pública quanto privada ao passo que a conformidade só envolve acordo públi co pós exposição mas desacordo privado Portanto a conversão é o caso de mudanças genuínas e profundas nas atitudes e crenças após uma tentativa de influência A confor midade por outro lado se caracteriza por um acordo público superficial mas as pes soas não mudam suas atitudes privadas Também ajuda a pensar sobre algumas res postas de influência social menos conheci das Por exemplo o contágio desinibitório se refere ao comportamento quando um indivíduo discorda publicamente e concor da privadamente antes da tentativa de in fluência mas depois concorda tanto priva da quanto publicamente com o evento Um bom exemplo é quando alguém pensa em roubar algum objeto p ex um artigo de luxo mas tem medo de fazê lo Ao teste munhar uma rebelião na qual outra pessoa quebra uma vitrine e rouba alguma coisa a pessoa alvo também pode participar do saque Nesse caso a observação da outra pessoa realizando o ato está exercendo a in fluência social e remove a inibição prévia da pessoa alvo Os dois modelos se concentram em aspectos do processo de influência e no re sultado da influência Esses modelos se en caixam no primeiro nível da classificação de Ng e são exemplos típicos de resposta ou visão voltada ao influenciado A próxima ti pologia se concentra no poder que são as características capacidade ou habilidade do influenciador que exerce influência ou traz mudanças nos outros French e Raven 1959 distinguiram cinco bases de poder São elas poder de recompensa poder coer civo ou de punição poder legitimado poder pericial e poder referente Posteriormente Raven 1965 acrescentou o poder informa cional O poder de recompensa é definido como o poder de distribuir recompensas pela conformidade Quanto maior a recompensa recompensas de valência positiva ou remo ção de valências negativas maior o poder de uma pessoa O poder coercivo ou de pu nição se refere ao poder de punir pela não conformidade A força do poder coercivo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 156 tOrres neiva cOLs depende da magnitude da valência negativa da punição em relação à probabilidade de a pessoa evitar a punição por meio da confor midade O poder legitimado é a crença de que o agente está autorizado a comandar e a tomar decisões sendo reconhecido em uma determinada estrutura de poder Apesar de geralmente ser vinculado às relações de pa péis também pode se basear em promessas ou algum código ou padrão que é aceito pelo indivíduo e permite que um agente afirme seu poder O poder pericial é a crença que um agente tem mais perícia e conhecimen to do que a pessoa alvo Ele aumenta com o diferencial de conhecimento entre o agente e a pessoa alvo assim como com os níveis de conhecimento absoluto depreendidos A dimensão adicionada por Raven 1965 foi o poder informacional Trata se da crença de que um agente tem mais informação do que um alvo A distinção mostrou ser importante porque os poderes pericial e informacional estão associados a diferentes estratégias de persuasão Petty e Cacioppo 1986 O po der referente é a identificação a atração e o respeito por um agente ou fonte de in fluência p ex um grupo Quanto maior a identificação e o desejo de se associar à fonte de influência maior o poder Pesquisas sobre essas fontes de poder originais mos tram que os poderes periciais e referentes normalmente produzem mais resultados po sitivos mas os poderes de recompensa coer civo e legitimado geralmente são negativos em relação a variáveis importantes como a satisfação no trabalho o desempenho e a satisfação com os supervisores Podsakoff e Schriesheim 1985 Contudo a análise rea lizada por Podsakoff e Schriesheim também apontou que a medição e a operacionaliza ção do poder têm sido problemáticas e os estudos de campo não permitem qualquer conclusão final Mais recentemente Raven Schwarz wald e Kozlowski 1998 expandiram o nú mero de bases de poder e desenvolveram um instrumento para superar muitas das limitações observadas Raven e colabora dores fizeram uma distinção entre as bases pessoais e impessoais de poder coercivo e de recompensa A versão original visava somente aos aspectos impessoais p ex a ameaça de demitir um funcionário ou a promessa de uma promoção As formas pessoais se concentram na aprovação no apreço e em recompensas socioemocionais assim como na desaprovação no desapreço e em punições socioemocionais O poder le gítimo foi distinguido em quatro categorias Primeiramente a versão original era mais próxima do poder de posição legítima no qual se acreditava que um supervisor tinha o direito de prescrever o comportamento e o subordinado era obrigado a cumprir Em segundo lugar o poder de reciprocidade le gítimo é a obrigação de cumprir com uma solicitação de um agente porque em uma ocasião anterior o agente fez algo positivo para o alvo Em terceiro lugar a igualdade legítima se baseia na teoria da equidade Adams 1965 A conformidade é exigida para compensar alguma resistência sofri mento ou dano causados sobre o agente ou um esforço empreendido por este Por fim a dependência legítima se relaciona à respon sabilidade social na qual a pessoa é obriga da a ajudar e a cuidar dos outros que preci sam de tal assistência Essas bases de poder foram distinguidas em estudos rea lizados nos EUA e em Israel Além disso podem ser categorizados em bases duras poder coer civo e de recompensa pessoal e impessoal poder legítimo de reciprocidade e igualda de e em bases suaves poder pericial poder referente poder informacional poder legiti mado de dependência e posição abordagens e tóPicos clássicos selecionados estudos de conformidade do grupo de asch Solomon Ash 1952 tinha interesse em am pliar o trabalho de Sherif 1936 no qual Sherif mostrou que os grupos de pessoas de INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 157 senvolvem normas para orientar o compor tamento em situações de incerteza Sherif 1936 usou uma ilusão ótica autocinese que é uma ilusão ótica consistente de um ponto fixo de luz em uma sala escura que parece se mover para analisar como os gru pos de pessoas fazem julgamentos sobre esse movimento aparente Acontece que com o passar do tempo as pessoas em pequenos grupos convergiram sobre o movimento per cebido observe que não havia movimento já que a luz era fixa Assim as estimativas convergiram para uma norma social Essa norma emergente se transferiu para as ses sões subsequentes e se perpetuou com o tempo inclusive quando entraram novas pessoas no grupo Esse foi um dos primei ros experimentos que mostrou os efeitos da influência social e delineou um processo importante para a emergência das normas sociais as normas surgem para reduzir a in certeza Nesses experimentos os estímulos eram ambíguos O interesse de Asch agora era no que aconteceria se o material de es tímulo fosse menos ambíguo e um grupo de pessoas fizesse estimativas incorretas Em diversos estudos foi apresentado aos par ticipantes uma série de linhas de extensão variada e eles tinham que escolher qual das três linhas tinha a mesma extensão que uma linha padrão Cada participante nesses gru pos que variavam de 7 a 9 pessoas precisa va dar uma opinião A pessoa alvo sempre era a última a dar sua opinião Sem que a pessoa alvo soubesse os outros membros do grupo eram colaboradores do experi mentador e fizeram julgamentos errados A variável dependente era se a pessoa alvo mudaria de opinião segundo o consenso do grupo errado e em caso positivo quantos julgamentos seriam necessários para tanto Em média cerca de 33 dos julgamentos apresentaram certo nível de conformidade Segundo as tipologias analisadas acima os estudos mostram sinais de conformidade Levy et al 1998 ou cumprimento Nail et al 1998 diretos A tentativa de influência envolve um processamento consciente é intencional e os membros do grupo têm o mesmo status Há uma discordância priva da antes e depois da tentativa de influên cia mas cerca de um terço dos participantes cumpriam com a publicidade do grupo Em termos de bases de poder a influência pode ser gerada pelo poder de referência já que as pessoas querem ser apreciadas pelo gru po e assim seguem a norma do grupo Diversos estudos tentaram replicar esse efeito Com isso Bond e Smith 1996 realizaram uma metanálise para estimar o efeito médio se a conformidade depende do desenho do estudo é estável ao longo do tempo e se há diferenças entre as pes soas de diferentes culturas Primeiro Bond e Smith descobriram que o nível de confor midade em todos os estudos era de aproxi madamente 29 Um pouco menos que um terço dos participantes se ajustou e fez o jul gamento errado Em segundo lugar diversas variáveis do desenho do estudo tiveram um impacto significativo Quando o material era muito ambíguo a conformidade aumenta va A conformidade também era maior se o grupo fosse composto por membros internos em comparação a membros externos como estrangeiros alunos de outra universidade etc e se os grupos aumentassem de tama nho As mulheres também apresentaram níveis mais elevados de conformidade Os estudos realizados nos EUA mostraram uma redução significativa na conformidade entre os anos de 1950 e 1990 Em terceiro lugar a conformidade era maior em amostras de sociedades mais coletivistas A explicação é que nas sociedades coletivistas as pessoas estão em mais harmonia com as necessida des e as metas do grupo e tentam preser var a harmonia social Assim seria falta de educação contradizer uma maioria mesmo que as pessoas sentissem que a maioria ha via tomado a decisão errada Geralmente o Brasil é descrito como uma sociedade cole tivista Hofstede 1980 Rodrigues 1982 fez algumas réplicas do paradigma original de Asch no Brasil e encontrou taxas de con formidade cerca de 30 mais altas em mé dia em todos os estudos Um estudo mais antigo de Whittaker e Mead 1967 mostrou INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 158 tOrres neiva cOLs efeitos ainda maiores no Brasil com níveis de conformidade de até o dobro da média de todos os estudos e países Assim pode mos esperar que as taxas de conformidade no Brasil fossem bastante altas refletindo a maior orientação de grupo no Brasil em com paração aos EUA ou à Europa Ocidental No entanto esses estudos estão um pouco defa sados e como mostram os estudos nos EUA as taxas de conformidade reduzem com o passar do tempo Talvez isso aconteça por causa dos níveis crescentes de individualiza ção e de uma tendência geral a valores mais individualistas e igualitários com o crescen te desenvolvimento econômico Inglehart e Baker 2000 Por causa da crescente pros peridade e do desenvolvimento econômico do Brasil hoje em dia em comparação a 50 anos atrás os níveis de conformidade de vem ser mais baixos hoje em dia estudos de obediência de Milgram Possivelmente uma das séries mais famo sas e controversas de estudos psicológicos o trabalho de Milgram 1963 1965 1992 sobre obediência é um clássico da influên cia social Milgram tinha interesse no traba lho de Asch mas com tarefas menos triviais nas quais as ações do participante trazem algumas consequências reais para os outros Milgram 1963 observou que a obediência é um elemento básico na estrutura da vida social Qualquer vida em comunidade re quer um tipo de sistema de autoridade A obediência é o mecanismo psicológico que liga a pessoa ao propósito político Ela serve como um cimento que une os homens aos sistemas de autoridade Milgram 1963 p 371 Chocado com as atrocidades cometi das durante o Holocausto e o período nazista na Alemanha ele estava ansioso por investi gar o processo de obediência como pessoas aparentemente calmas e normais podem se guir ordens ultrajantes de matar e torturar outros seres humanos Em seu experimento original os membros da comunidade recru tados por anúncio participaram em um su posto estudo sobre os efeitos da punição so bre o aprendizado Um dos participantes era um colaborador e por meio de um sorteio manipulado era sempre designado para o papel de aprendiz A tarefa desse aprendiz era realizar alguma tarefa de aprendizagem e memória enquanto o verdadeiro partici pante era o professor De uma sala próxima o professor deveria dar choques se o apren diz cometesse algum erro Para tanto o pro fessor tinha que usar um gerador de choque que tinha 30 estágios crescentes variando de 15 a 450 volts Cada professor experi mentava um choque de 45 volts e observava o aprendiz ser amarrado na cadeira e ligado à máquina O experimentador instruía a au mentar a voltagem após cada erro cometi do pelo aprendiz Os estágios da voltagem estavam claramente marcados onde 15V era choque leve 375V tinha um rótulo Perigo Choque Extremo e os dois níveis fi nais 435V e 450V estavam marcados com XXX O aprendiz cometia um erro em qua tro testes em média As reações do aprendiz eram padronizadas a 75V podiam ser ouvi das a 120V o aprendiz gritava que os cho ques doíam a 150V o aprendiz pedia para ser solto a 180V os gritos podiam ser ouvi dos e a 250V um grito agonizante era ouvi do Em algumas variações do experimento o professor podia ouvir o aprendiz socar a parede de dor A 300V não havia mais res posta alguma e o professor era instruído a tratar a falta de resposta como uma resposta errada e continuar a administrar os choques Muitos participantes sentiram uma angústia muito grande e expressaram sua falta de vontade de continuar O experimentador en tão respondia com estímulos padronizados e crescentes para continuar o experimento que variava desde continue por favor até você não tem outra escolha você tem que continuar No experimento original dos 40 participantes 26 continuaram a adminis trar os choques até atingir o nível máximo Assim mais de 50 dos membros da comu nidade cumpriram com as solicitações de um experimentador mesmo que estivessem em princípio colocando em risco um cidadão Outro aspecto que vale ser mencionado é que a maioria das pessoas experimentou al INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 159 tos níveis de estresse Quatorze dos 40 parti cipantes mostraram sinais de riso ou sorriso nervoso com um riso fora de hora e bizarro Três participantes apresentaram apoplexias maduras e incontroláveis No caso de um participante o experimento teve que parar porque o participante professor apresen tou apoplexias convulsivas enquanto tenta va administrar os choques Isso mostra que as pessoas médias que obedecem às ordens das autoridades podem fazê lo contra seus próprios valores sentindo estresse e descon forto extremos Este estudo foi replicado na Itália Alemanha Austrália Grã Bretanha Jordânia Espanha Áustria e nos Países Baixos Smith e Bond 1998 Apesar de as taxas de obediência variarem esta normal mente girava ao redor de 50 ou mais na maioria das amostras Descobriu se que vários fatores in fluenciavam o nível de obediência A pro ximidade social ou imediação com a vítima tem um efeito profundo Se não houver con tato verbal ou visual os níveis de obediência são mais altos Em condições em que a víti ma só soca a parede a obediência é de qua se 100 Quando o professor segura a mão do aprendiz o nível de obediência cai signi ficantemente mas ainda continua alto em cerca de 30 Assim a proximidade social aumenta a identificação com a vítima como um ser humano e diminui a obediência Outro fator é a presença da figura de autoridade Se o experimentador estiver au sente ou der as ordens por telefone os níveis de obediência caem Com modelos de papel que mostram a desobediência se recusar a obedecer ordens iniciar uma revolta os ní veis de obediência caem Por outro lado os modelos de papel que obedecem às ordens e administram choques até o fim não aumen ta mais o nível de obediência em compara ção à situação em que as pessoas estão sós Milgram 1965 O status e a legitimidade do experimentador também importaram se o experimento fosse realizado em um prédio comercial decadente em uma área pobre no centro da cidade em comparação ao presti giado laboratório Yale os níveis de obediên cia também caíam De forma geral esses estudos suscita ram muito interesse e atenção Essas conclu sões certamente ajudam a explicar por que pessoas normais podem cometer atrocida des quando induzidas a fazê las As pessoas podem atender a demandas que violam seus próprios valores pessoais e códigos morais Em tempos de conflito e guerra tais confli tos morais são mais acentuados Contudo mesmo em situações menos extraordiná rias as pessoas enfrentam situações em que também devem cumprir com demandas que violam seus princípios morais pessoais ou alguns princípios morais gerais Dadas as difíceis condições econômicas de muitas pessoas no Brasil algumas podem ter que trocar alguns valores e crenças para alcan çar os fins Além disso o experimento levou a um debate significativo sobre a ética dos experimentos psicológicos Persuasão e Mudança de atitude A literatura sobre mudança de atitude e per suasão diz respeito aos processos de infor mação que as pessoas se envolvem quando são expostas a mensagens que visam mudar suas atitudes Esta linha de pesquisa tem aplicações óbvias nas áreas de propaganda e marketing inclusive marketing social e campanhas de saúde voltadas a induzir mu danças positivas nas pessoas A persuasão envolve três variáveis o comunicador ou a fonte de persuasão a comunicação ou men sagem e a audiência ou alvo da tentativa de persuasão Essas três variáveis precisam ser analisadas quando abordamos a persuasão Cada uma dessas variáveis pode ser anali sada mais detalhadamente e uma ampla gama de pesquisas mostrou que as várias ca racterísticas dessas variáveis de comunica ção devem levar a uma mudança de atitude Essas conclusões estão resumidas em diver sas revisões Por exemplo comunicadores mais dignos de confiança mais atrativos assim como uma grande similaridade entre o comunicador e o público normalmente levam a mais mudança de atitude a maior familiaridade das mensagens e mensagens INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 160 tOrres neiva cOLs passadas como metáforas Sopory e Dillard 2002 são mais eficiente as pessoas com alta e baixa autoestima têm mais probabili dade de serem persuadidas em comparação com pessoas com níveis mais moderados de autoestima as pessoas são persuadidas mais facilmente se receberem mensagens dignas de confiança sobre tópicos dos quais elas têm relativamente pouca informação veja Petty e Wegener 1998 Um problema com grande parte das campanhas de saúde pública como aquelas contra o fumo p ex as imagens de pacientes de câncer nos ma ços de cigarro é se a indução ao medo fun ciona para mudar as atitudes das pessoas Uma análise recente de mais de 100 estudos sobre esse assunto De Hoog Stroebe e De Wit 2007 concluiu que a severidade tem efeitos positivos sobre as atitudes É interes sante observar que as imagens não tiveram um impacto maior do que outras induções ao medo Outro efeito interessante e surpre endente foi observado no chamado efeito latente Normalmente se as pessoas rece bem uma mensagem com uma pista de des conto informação que contradiz ou reduz o impacto da mensagem original ou seja o comunicador não é digno de crédito elas serão menos persuadidas logo após a expo sição mas com o tempo o público muda as atitudes em relação à primeira mensagem Esse efeito é confiável e particularmente for te se a mensagem inicial tiver um forte im pacto inicial e quando o público tiver maior habilidade ou motivação para pensar sobre a mensagem Kumkale e Albarracin 2004 Este efeito pode explicar por que as deman das ou notícias ultrajantes têm maior proba bilidade de serem acreditadas com o tempo apesar de as pessoas saberem que vêm de uma fonte não confiável Essa pesquisa com foco nas três vari áveis da persuasão normalmente focava o impacto das variáveis individuais seleciona das O que se concluiu foi que muitos des ses efeitos eram contraditórios e às vezes por exemplo a similaridade levava a mais persuasão enquanto em outras vezes a similaridade tinha pouco impacto sobre a persuasão O modelo de processo dual da persuasão foi criado para representar essas diferenças Eagly e Chaiken 1993 Petty e Cacioppo 1986 Esses modelos sugerem que as pessoas podem usar duas estratégias diferentes quando enfrentam uma tentativa de persuasão A principal distinção é se as tentativas de influência são processos com alto esforço mental ou conscientemente ou se a informação é processada com pou co esforço e de forma inconsciente Este é um dos elementos centrais nível de proces samento da tipologia da influência social apresentada acima Levy et al 1998 Se as pessoas são motivadas a prestarem atenção à mensagem elas provavelmente escrutina rão o conteúdo das mensagens e têm menor probabilidade de serem persuadidas por dicas como a atratividade ou a similarida de dos comunicadores As pessoas adotam a rota central Petty e Cacioppo 1986 ou processamento sistemático da informação As mensagens com maior convencimento factual têm mais chances de serem persu asivas Se as pessoas não forem capazes ou motivadas a processar a informação cuida dosamente p ex quando o tópico não é muito interessante as pessoas são distraí das a mensagem e o tópico são muito com plicados para que o público processe elas contam com dicas periféricas como atrativi dades similaridade status do comunicador e aspectos não relacionados ao conteúdo da mensagem p ex clareza familiaridade simpatia Este tipo de processamento uti liza a rota periférica de persuasão Petty e Cacioppo 1986 ou as pessoas usam o pro cessamento heurístico da informação Eagly e Chaiken 1993 Muitas propagandas usam as dicas periféricas como uma tentati va de persuadir as pessoas a comprarem de terminados produtos As pessoas expostas a anúncios nas ruas TV ou rádio geralmente têm sua atenção distraída enquanto fazem outras coisas e consequentemente têm pouco incentivo ou tempo para processar cuidadosamente a informação apresentada Para ser eficiente a propaganda conta com dicas periféricas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 161 novas direções e aPlicações da inFluência social a tecnologia a cultura e o marketing social persuasivos Como discutido anteriormente a persuasão é uma das áreas centrais da pesquisa de in fluência social Muitas pesquisas se concen tram nos efeitos tradicionais da propaganda especialmente nas sociedades ocidentais Contudo há uma nova tecnologia emergen te que muda a forma unidirecional e passiva de persuasão como estudado na pesquisa anterior As tecnologias persuasivas são um exemplo e têm a ver com quaisquer siste mas interativos de computação elaborados para influenciar e mudar as atitudes e os comportamentos das pessoas Fogg 2003 Igualmente há um crescente reconheci mento de que a cultura influencia como as pessoas percebem reagem e são influencia das pelas tentativas de persuasão p ex Aaker e Williams 1998 Como abordado anteriormente muitas pesquisas sobre in fluência social se concentram nas pessoas e apresentam viés individualista Há pouca pesquisa focada nos processos de persuasão em ambientes mais coletivistas Esta é uma situação preocupante considerando se que muito do trabalho de persuasão aplicado visa mudar as atitudes e os comportamentos de saúde As minorias em muitas sociedades modernas e em muitos países em desenvol vimento costumam ser mais coletivistas e voltadas ao grupo além de apresentarem piores comportamentos e atitudes de saú de quando comparadas com membros dos grupos majoritários individualistas ou com sociedades individualistas p ex Khaled 2008 Para solucionar essa lacuna Khaled e colaboradores se envolveram em um pro grama de pesquisa que visa desenvolver um jogo interativo para ajudar os adolescentes e jovens adultos a deixarem de fumar Khaled Barr Noble Fischer e Biddle 2007 Há três principais metas a identificar as estratégias de persuasão adequadas para os públicos individua listas e coletivistas b traduzir essas estratégias e desenvolver um protótipo de jogo persuasivo que seja sensível à cultura c avaliar esse protótipo com públicos indi vidualistas e coletivistas Khaled começou analisando as estraté gias de persuasão existentes implantada em muitos dispositivos da tecnologia de infor mação tais como sites na internet ou jogos de computador Khaled Noble e Biddle 2005 Ficou claro que a maioria das estratégias de influência é voltada a um público individua lista Assim ela desenvolveu um conjunto de estratégias concentradas na audiência coletivista inclusive estratégias como har monia opinião do grupo monitoramento e desempenho da equipe Por exemplo a es tratégia de harmonia se concentra em uma das principais preocupações entre os atores coletivistas já que a preservação da harmo nia social em um grupo é de suma importân cia Depois ela realizou várias entrevistas e grupos focais com os participantes interessa dos e usuários da tecnologia para identificar as necessidades de diversos usuários finais e obter insumos para a elaboração de um protótipo sensível à cultura Khaled Barr Noble Fischer e Biddle 2006 Isso levou ao desenvolvimento de um protótipo coleti vista e individualista Com base na literatura sobre abandono do fumo nas teorias cultural e de aprendizagem social as duas versões do jogo incorporaram comportamentos modelo para resistir ao tabagismo apresentaram in formações e estratégias para largar o fumo ou reduzir os efeitos da abstinência e permi tiam aos atores experimentarem diferentes estratégias comportamentais todas no con texto da cultura do público Os dois protóti pos foram refinados e testados repetidamen te com pessoas com histórico individualista e coletivista Khaled et al 2008 Depois uma versão final do jogo foi testada para verificar a adequação ao respectivo público alvo e se seria mais persuasivo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 162 tOrres neiva cOLs Ao total oito atores participaram de um primeiro estudo qualitativo Quatro ato res eram do grupo minoritário coletivista Maori povo indígena na Nova Zelândia e quatro eram do grupo majoritário indivi dualista Pakeha ou neozelandeses brancos jogaram um jogo congruente com a cultura os Maori jogaram um jogo coletivista en quanto os neozelandeses jogaram a versão individualista do jogo ou um jogo incon gruente com a cultura os Maori jogando a versão individualista enquanto os neo zelandeses jogaram a versão coletivista As pessoas jogaram usando o protocolo de pensar em voz alta que eles costumam usar para jogar mas verbalizando todos os seus pensamentos e ações enquanto jo gavam O comportamento foi gravado em vídeo e analisado utilizando se métodos qualitativos mais aprofundados Ficou claro que as pessoas que jogavam o jogo cultural mente congruente mostraram maior identi ficação aceitaram o jogo e empregaram as estratégias da forma esperada Na condição incongruente as pessoas se sentiram menos identificadas aceitaram menos e relataram frustração com determinadas característi cas do jogo que eram incongruentes com os valores e as tradições culturais do grupo Uma observação interessante foi a de que a maioria dos atores tinha experiências mais negativas quando jogavam a versão da mi noria provavelmente por causa do menor conhecimento e da exposição dos membros do grupo majoritário às normas e tradições do grupo minoritário Em um segundo estudo Khaled et al 2009 141 adolescentes e jovens adultos jogaram uma versão do jogo no modelo 2 x 2 Dessa vez as orientações de valor fo ram medidas com uma versão reduzida da Pesquisa de Valor de Schwartz Schwartz 1992 também consulte Gouveia neste vo lume As pessoas foram classificadas em relação a seu endosso dos valores mais in dividualistas ou coletivistas e foram desig nadas aleatoriamente para jogar uma vez a versão coletivista ou individualista do jogo As atitudes em relação ao tabagismo e ao abandono foram avaliadas tanto antes quanto depois do jogo No geral os parti cipantes apresentaram atitudes positivas em relação a abandonar o fumo e atitudes mais negativas sobre o tabagismo depois de jogar Acima de tudo o jogo culturalmente congruente trouxe mais atitudes positivas e maior resistência ao tabagismo e às tentati vas de influência que incentivam o fumo do que o jogo culturalmente incongruente Em alguns casos jogar a versão incongruente do jogo aumentou a probabilidade expressa de experimentar cigarro Esse programa de pesquisa mostra que a cultura influencia a persuasão e o proces so de influência que as tentativas de per suasão culturalmente incongruentes podem chegar a ter efeitos negativos e que há mui to a se ganhar prestando mais atenção aos fatores culturais nas estratégias de persua são principalmente quando o foco é gerar mudanças positivas para a saúde Essa pes quisa reúne vários tópicos deste capítulo e do livro tais como normas sociais valores e cultura Moralidade A moralidade é uma questão não muito abordada nos manuais de psicologia social Contudo é um tópico extremamente impor tante para entender os processos psicológi cos sociais tais como a influência social A moralidade e a influência social estão inti mamente relacionadas Geralmente o que é moral se refere aos princípios de com portamento certo e errado ou a cumprir com os padrões de comportamento certo É nesta última qualidade que a moralidade se torna um assunto instigante para a pes quisa sobre influência social Os padrões morais em um grupo social prescrevem as diretrizes consensuais e desejáveis para um comportamento social aceitável As pessoas são influenciadas por seu grupo social para que se comportem dentro desses padrões de comportamento desejável e são punidas se os violarem veja também Vauclair 2009 sobre uma discussão teórica sobre a inter INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 163 relação entre moralidade e cultura Assim os efeitos de moralidade estão claramente no terceiro nível da tipologia de Ng apresen tada no início deste capítulo A moralidade facilita o funcionamento do grupo De Waal 1996 Haidt e Joseph 2004 Krebs 2008 e melhora a convivên cia do mesmo ao regular os comportamen tos pessoais que refletem autointeresse e autoindugência Janoff Bulman Sheikh e Hepp 2009 Sem um consenso sobre os có digos morais as pessoas desconsiderariam os direitos e o bem estar dos outros sempre que quisessem entrar em conflito social Em nível de sociedade as transgressões dos in divíduos são regulamentadas por leis que envolvem sanções para determinados com portamentos antissociais Em nível de grupo social a moralidade é um tópico de pesquisa bastante complexo já que as pessoas podem desenvolver sua própria moralidade pesso al que pode ou não estar de acordo com os mandados de uma autoridade possivelmen te levando a uma resistência em vez de à conformidade lembremos por exemplo do clássico experimento de Milgram menciona do anteriormente neste capítulo Portanto a conformidade com as regras e os regula mentos tem a ver tanto com as capacidades internas do indivíduo quanto com as influ ências externas do ambiente Há poucas pesquisas sobre a influência social e a moralidade Porém há duas prin cipais teorias da psicologia que explicam o comportamento de conformidade das pesso as A teoria cognitiva de Kohlberg 1984 se concentra no indivíduo e considera a con formidade como uma função da maturidade do indivíduo para o raciocínio moral A teo ria cognitiva social de Bandura 1991 por outro lado inclui os efeitos condicionantes do ambiente como um fator para explicar o comportamento de conformidade As pró ximas seções apresentam um panorama re sumido e seletivo das pesquisas realizadas nesses dois marcos teóricos Terminaremos apresentando uma perspectiva teórica re cente sobre a moralidade a abordagem de intuicionismo social de Haidt 2001 ao jul gamento moral que consideramos ser par ticularmente promissora para pesquisas fu turas sobre moralidade e influência social raciocínio moral e resistência à conformidade Imagine a seguinte situação um homem chamado Heinz tem uma esposa que está à beira da morte devido a um tipo especial de câncer Um farmacêutico desenvolveu um remédio que pode salvar a vida dela No en tanto querendo ganhar o máximo de dinhei ro possível o farmacêutico cobra de Heinz mais do que ele pode pagar Heinz implora ao farmacêutico e explica sua situação sem sucesso Ele se desespera e arromba a loja do farmacêutico para roubar o remédio para sua esposa Este é um tipo de dilema moral que Lawrence Kohlberg 1984 apresenta aos participantes Seu interesse particular era nos motivos que eles apresentariam sobre se Heinz deveria ou não ter roubado a droga para sua esposa É importante observar que Kohlberg não estava interessado na decisão final do indivíduo ou seja roubar ou não roubar mas apenas na justificativa para a decisão Kohlberg propôs um modelo de talhado de raciocínio moral diferenciando seis estágios sucessivos de desenvolvimento moral Os estágios se referem a três dife rentes níveis de raciocínio moral chamados de moralidade pré convencional conven cional e pós convencional No nível pré convencional estágio 1 e 2 o indivíduo julga o comportamento focando em si mes mo O raciocínio moral é centrado no medo de punições No nível convencional estágio 3 e 4 o indivíduo julga o comportamen to em termos da convenção conhecida so bre o que as pessoas dizem que é certo ou errado Os convencionalistas tendem a raciocinar em termos de conformidade e or dem sociais No nível final pós convencional estágio 5 e 6 o nível mais maduro do pensamento moral os indivíduos tendem a usar o princípio moral de justiça em seu raciocínio que é independente de qualquer INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 164 tOrres neiva cOLs convenção social Kohlberg entrevistou crianças adolescentes e adultos analisando as respostas a questões como o dilema de Heinz classificando seu pensamento em um dos seis estágios Posteriormente pesquisadores que estudaram a influência social e o raciocínio moral esperavam que no nível convencio nal os indivíduos seriam mais suscetíveis à influência social já que seu raciocínio se concentra em agir de acordo com a ordem so cial Por outro lado os pós convencionalistas não deveriam sucumbir à pressão social se seus princípios morais pessoais estivessem em conflito com esta Blasi 1980 Há vá rios estudos que enfocaram esta hipótese empregando uma abordagem experimental e tentando estudar a conformidade compor tamental em um ambiente de laboratório Os estudos podem ser distinguidos pelo uso de uma situação similar à de Milgram um experimento similar ao de Asch ou proce dimentos menos padronizados Os expe rimentos do tipo de Milgram trouxeram resultados complexos e ambíguos que indi cam que não há uma relação de mão úni ca entre os estágios de raciocínio moral e o abandono na tarefa de administrar punições p ex Podd 1972 Os estudos mostraram que as diferenças de comportamento entre os indivíduos raciocinando em diferentes estágios são mais perceptíveis sob determi nadas condições como por exemplo quan do os sujeitos são expostos ao aviso para parar Turiel e Rothman 1972 Os experi mentos semelhantes ao de Asch apresenta ram um quadro mais consistente com uma relação entre estágio moral e resistência à conformidade p ex Saltzstein Diamond e Belenky 1972 O último grupo de estu dos utilizando procedimentos menos padro nizados também apresentou claro apoio à hipótese de resistência à conformidade Por exemplo Fodor 1971 1972 elaborou experimentos nos quais as decisões e o ra ciocínio morais dos participantes eram tes tados Segundo os resultados dos estudos as pessoas que resistiam à influência do ex perimentador e não mudaram sua opinião inicial obtiveram Pontuação de Maturidade Moral bastante mais altas do que as que su cumbiram à influência social veja também Tracy e Cross 1973 Le Furgy e Woloshin 1969 investigaram os efeitos de longo prazo da influência social sobre o raciocínio moral Eles concluíram que os adolescentes em geral eram suscetíveis à influência so cial independentemente de sua maturidade moral Porém havia uma diferença em re lação aos efeitos de longo prazo Os jovens classificados como moralmente maduros antes de serem expostos à pressão do par tendiam a voltar a seu estágio mais elevado de raciocínio moral no longo prazo depois de 100 dias ao contrário dos participantes moralmente imaturos que tendiam a per manecer no estágio mais baixo após a pres são do par McGraw e Bloomfield 1987 pesqui saram explicitamente o impacto dos fatores morais sobre o processo de tomada de deci são do grupo Eles realizaram um estudo no qual os participantes deveriam decidir quem em um grupo de pacientes renais em estado terminal deveria ter acesso a uma rara má quina renal Primeiramente a decisão era tomada individualmente Então os partici pantes foram divididos em pequenos grupos e solicitados a chegarem a uma decisão con sensual Como a orientação de gênero tam bém tem relação com a influência social nos grupos as mulheres tendem a ser mais facil mente influenciadas dos que os homens nas interações de grupo Eagly e Carli 1981 os autores estavam interessados especifica mente no efeito de interação do raciocínio moral e orientação do papel de sexo Eles previram que os indivíduos sem conflitos p ex uma orientação sexual tipo feminina estágio mais baixo e orientação sexual tipo masculinaestágio mais elevado teriam mais influência sobre as decisões do grupo do que os indivíduos em conflito TSMme nor estágio e TSFmaior estágio Na reali dade eles concluíram que os indivíduos tipi ficados de sexo puro com raciocínio moral e orientações de gênero compatíveis tinham mais influência objetiva sobre a decisão do grupo se sentiam mais influentes e tinham mais possibilidade de serem selecionados INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 165 como mais influentes em comparação com os participantes incompatíveis em raciocínio moralgênero É interessante que tenha sur gido apenas um efeito significativo e intera ção e nenhum efeito principal significativo devido às orientações de papel de sexo ou raciocínio moral Os autores discutiram essa conclusão que indicava mecanismos mais complexos em relação ao raciocínio moral e à influência social que também deve con siderar a multidimensionalidade das situa ções sociais Essa questão toca em uma das prin cipais críticas feitas em relação à teoria de estágio de Kohlberg A influência social só tem uma pequena função no raciocínio mo ral Como mostram os estudos analisados anteriormente a opinião das pessoas sobre questões morais é considerada um pertur bador externo para a mudança autorregu lada Bandura 1991 Bandura 1991 por exemplo enfatizou que as influências sociais são importantes para entender como a moralidade e o funcionamento moral tra balham a inclusão da inFluência social no FuncionaMento Moral Bandura 1991 argumenta que os pa drões para o raciocínio moral estão muito mais abertos à influência social do que as teorias de estágio nos levariam a esperar Ele propôs uma teoria cognitiva social que postulava um modelo causal que envolvia três fatores ou seja aspectos ambientais ambiente social e físico aspectos pessoais cognitivo afetivo e biológico e compor tamental capacidade comportamental de realizar um determinado comportamento que estão permanentemente influenciando uns aos outros O ambiente social apresen ta modelos para o comportamento e aqui se relaciona aos mecanismos de influência social O mecanismo psicológico subjacente é o aprendizado observacional que é uma forma de modelagem e ocorre quando uma pessoa observa as ações de outra pessoa as sim como os reforços que a pessoa recebeu Bandura 1997 Quando um indivíduo de senvolve padrões morais o comportamen to moral ou imoral produz dois conjuntos de consequência reações autoavaliativas e efeitos sociais que mais uma vez têm efeito sobre o comportamento Diversos estudos confirmaram o po der da modelagem para influenciar o ra ciocínio moral Bandura 1986 Holstein 1977 por exemplo concluiu que o nível de raciocínio moral dos pais predizia o ní vel de raciocínio moral de seus filhos Se os pais empregassem regras morais simples seus filhos fariam o mesmo enquanto se os pais empregassem um raciocínio moral mais complexo seus filhos também o fa riam Os pais não são a única fonte de in fluência do raciocínio moral das crianças Outros adultos pares e modelos simbólicos também têm um papel importante Porém o raciocínio moral dos adultos é o mais in fluente Brody e Henderson 1977 Dorr e Fey 1974 Outros estudos mostraram que as crianças mudavam seus padrões morais se fossem expostas a visões opostas dos mo delos p ex Bandura e Mcdonald 1963 Cowan Langer Heavenrich e Nathanson 1969 Crowley 1968 Apesar de a influência social mediante a modelagem ser uma forma poderosa de influência nem sempre ela altera o raciocí nio moral As pessoas só podem ser influen ciadas pelas opiniões moldadas se elas as entenderem Bandura 1991 Por exemplo uma criança muito nova que esteja em um nível pré convencional de raciocínio moral no qual as preocupações egocêntricas de sempenham um papel dominante não terá a capacidade cognitiva de entender o prin cípio de justiça social como um critério final para decidir sobre o certo e o errado Além disso as pesquisas mostram que modelos consistentes de julgar diferentes dilemas morais têm mais impacto sobre o raciocínio moral das crianças do que os modelos que entram em desacordo Brody e Henderson 1977 Keasey 1973 Quando as visões moldadas eram consistentes a perspectiva moral das crianças mudava mais ainda ao INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 166 tOrres neiva cOLs ser exposta ao raciocínio moral dois está gios acima do delas do que pelo raciocínio apenas um estágio acima Isso é consistente com as conclusões na psicologia social se gundo as quais quanto mais discrepante o raciocínio persuasivo for das próprias visões mais as atitudes podem mudar consulte Bandura 1991 No entanto é necessário realizar mais pesquisas para entender como as pessoas lidam com fatores moralmente relevantes como as influências sociais al teram o peso dado a esses fatores e como os diferentes aspectos do julgamento moral mudam com o desenvolvimento Haidt 2001 propôs um modelo mais recente de funcionamento moral que inclui a influência social no funcionamento moral Seu modelo intuicionista social expande o modelo racionalista chamando a atenção para o papel do afeto e das influências so ciais no julgamento moral Seu modelo in clui duas formas diferentes de julgamento moral uma é intuitiva e não racional ou seja afetiva e a outra é deliberativa e refle xiva ou seja raciocínio moral Ele enfatiza que o raciocínio moral ocorre naturalmen te em um ambiente social ou seja é feito interpessoalmente e não privadamente A influência social é conceitualizada como tendo um impacto sobre a intuição do indi víduo por meio da persuasão fundamentada p ex argumentos assim como por meio de formas não racionais de persuasão social como normas sociais implícitas Haidt ar gumenta que as intuições morais vêm em primeiro lugar quando são influenciadas por alguém em nosso pensamento moral que então causa diretamente um julga mento moral que por sua vez causa o ra ciocínio moral O raciocínio moral só serve para justificar racionalmente a intuição em primeiro lugar Como evidência da impor tância das intuições Haidt 2004 se refere ao fenômeno de mudez moral2 que ocor re quando os indivíduos não conseguem explicar as fortes condenações de ações que não causam nenhum dano Haidt interpre ta a mudez moral como uma evidência da importância das instituições que criaram um forte julgamento que um ato é errado mas o raciocínio post hoc tem problemas em exe cutar esse trabalho Até o momento a evidência empírica tem sustentado a importância das reações afetivas nos julgamentos morais Haidt Koller e Dias 1993 por exemplo conclu íram em um estudo transcultural Brasil e EUA que o dano não pode explicar todos os julgamentos morais que os indivíduos fa zem Eles criaram histórias que não envol viam qualquer dano plausível p ex limpar o banheiro com a bandeira nacional comer um cachorro ou se masturbar com uma ga linha morta As reações afetivas dos par ticipantes a essas histórias principalmente no Brasil foram melhores indicadores de seus julgamentos morais do que suas recla mações de consequências danosas Haidt e Hersh 2001 chegaram a resultados se melhantes quando entrevistaram liberais e conservadores nos EUA sobre a questão da homossexualidade O modelo de Haidt é uma abordagem intrigante para entender a moralidade e a influência social Geralmente passamos por uma mudança em nossas intuições morais relativas a determinada situação quando al guém releva características de situação que não havíamos observado antes ou quan do nos persuade a avaliar a importância de algumas características que não foram consideradas suficientemente Saltzstein e Kasachkoff 2004 No entanto como Saltzstein e Kasachkoff 2004 apontam o modelo de intuição social deixa importantes questões sem resposta demandando assim mais pesquisas empíricas futuras Por exem plo a influência social realmente gera intui ções em primeiro lugar que depois influen ciam o julgamento e o raciocínio moral de uma pessoa Na verdade é o conhecimento que os outros condenariam um ato norma social que nos leva ao sentimento que algo como se masturbar com uma galinha morta é errado Ou há bons motivos e argumentos que não são tão rápidos e automáticos como nossas respostas emocionais para chegar a um julgamento moral E há diferenças cul turais Vauclair e Fischer 2009 por exem plo concluíram que os indivíduos de países INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 167 de orientação coletivista julgam as questões pessoais sexuais p ex homossexualidade e divórcio de uma forma mais inflexível do que os países de orientação individua lista Os estudos futuros poderiam adotar essa conclusão como um passo futuro e foco no processo de fazer julgamentos morais e o papel da influência social ao analisar as diferenças culturais em relação à persuasão fundamentada e social Esses tipos de estu dos poderiam contribuir substancialmente com nosso entendimento do funcionamento da moral contribuindo com a área tão pou co pesquisada de influência social e afeto e cognição moral o JeitinHo brasileiro coMo uMa tática de inFluência brasileira Na última seção falamos brevemente so bre a cultura e as normas culturais como táticas de influência social e discutimos um determinado aspecto familiar a muitos lei tores deste volume o jeitinho brasileiro A cultura e as normas e práticas culturais são outro exemplo dos tipos de processos de in fluência que Ng incluiu em seu nível mais elevado de influência social O jeitinho bra sileiro é uma estratégia de influência social específica típica da cultura brasileira O que é o jeitinho Barbosa 1992 discutiu o jei tinho como uma estratégia fluida e flexível de solução de problema em contextos alta mente burocráticos na qual as pessoas ten tam criar vínculos sociais igualitários com as figuras de autoridade ou vigias Barbosa 1992 situou o jeitinho como uma forma mista entre relações sociais e corrupção Almeida 2007 também situou o jeitinho entre a corrupção e a prestação de favores Duarte 2006 por outro lado discutiu vá rias classificações e apontou uma natureza multidimensional do jeitinho Recentemente um grupo de psicólo gos sociais formou a Conexão Brasil para desenvolver uma étnica psicologia brasi leira Eles escolheram o jeitinho brasileiro como um aspecto importante da cultura brasileira e uma estratégia relevante de re lações interpessoais e influência social Até o momento eles realizaram três grandes estudos veja Ferreira et al 2009 mesa redonda na conferência brasileira as refe rências serão apresentadas posteriormente O primeiro estudo de entrevista qualitativa com 20 alunos e membros do público iden tificou temas e incidências críticas do jei tinho Então eles construíram 53 cenários do jeitinho A entrevista foi realizada entre alunos no Rio de Janeiro e Brasília com ins truções para avaliar quão típico o cenário é para o jeitinho e quão típico esse compor tamento é para os brasileiros Além disso foram empregados grupos focais para ava liar os cenários Os resultados apontaram claramente uma estrutura multidimensional do jeitinho Foram distinguidos diferentes tipos de jeitinho em um modelo de escala mul tidimensional criatividade malandra gem mentira e violação da lei Essas formas podem ser diferenciadas em termos da ex tensão em que violam as normas sociais ou legais de violação leve a violação severa Um estudo posterior com 27 cenários foi realizado com 387 indivíduos no Rio de Janeiro e em Brasília Cada cenário rece beu uma nota em termos de criatividade violação da lei jeitinho e malandragem Os resultados mostraram diferentes con ceitos do jeitinho no Rio de Janeiro e em Brasília No Rio o jeitinho tem um elemen to de malandragem mais forte enquanto em Brasília o jeitinho tem mais o conceito de violação da lei Até certo ponto esses conceitos correspondem às imagens estere otipadas de Brasília e do Rio de Janeiro Um pensamento comum é que o jeitinho é um exemplo brasileiro tí pico da influência sobre os outros diante de obstáculos ou problemas Essas estratégias de influência específicas da cultura não foram estudadas sistematicamente na psicologia e ainda há muito a aprender utilizando os métodos de pesquisa étnico psicológica veja também Smith 2008 que apresenta um panorama mais geral sobre essas táticas de influência social específicas da cultura INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 168 tOrres neiva cOLs conclusões Neste capítulo tentamos preencher a lacuna entre os estudos clássicos de influên cia social com foco em estratégias de influ ência lineares descontextualizadas e diretas e os processos de influência mais difusos naturalistas e culturais A influência social é um tópico importante de pesquisa que tem importantes implicações práticas notas 1 Social loafing 2 Moral dumbfounding reFerências AAKER J WILLIAMS P Empathy versus pride The influence of emotional appeals across cultures Journal of Consumer Research v 25 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ZAJONC R B Social facilitation Science v 149 p 269274 1965 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS introdução Todos os dias quando você abre as pági nas de um jornal quando conversa com um amigo quando liga a televisão ou acessa a internet ou simplesmente quando caminha pela rua e observa o ambiente a sua volta lida com uma imensa diversidade de infor mações as quais são de alguma forma per cebidas analisadas e organizadas fazendo com que o mundo tenha sentido e a existên cia humana seja menos caótica imprevisível e inexpressiva A fim de compreender melhor o espa ço você tenta achar uma regularidade um padrão nos objetos do mundo e a todo ins tante tenta organizar avaliativamente esses objetos em termos de aprovável ou desapro vável favorável ou desfavorável desejável ou indesejável sem necessariamente ter a atenção voltada para isso Por exemplo o que você pensa sobre a utilização do exér cito no combate à violência e ao tráfico de drogas nas favelas brasileiras Você acha que o sistema de cotas raciais deve ser implan tado nas universidades Qual é sua opinião sobre produtos reciclados Qual é sua posi ção frente a fastfood Aborto Japoneses Comercialização de produtos piratas Bolo de chocolate Guerra do Iraque Dietas de emagrecimento Rio de Janeiro Música eletrônica Eutanásia Flamengo Pelo sim ples fato de ler essas perguntas é possível que você classifique algumas situações ou objetos colocando se contra ou a favor É por meio desse processo contínuo de compreensão das coisas em termos de bom ou ruim apropriado ou inapropriado conveniente ou inconveniente que você assume uma posição frente ao mundo o cerca Essa posição é chamada de atitu de Formalmente atitude é uma tendência psicológica que é expressa pela avaliação de uma entidade em particular com algum grau de favor ou desfavor Chaiken Wood e Eagly 1996 p 269 As atitudes exercem influência sobre o comportamento e sobre a maneira de ver o mundo O conhecimento das atitudes de outras pessoas permite saber como elas pen sam sentem ou reagem a certos eventos É possível que você se identifique com pessoas que mantêm atitudes parecidas com as suas bem como pode evitar certas situações ou objetos que trazem resultados indesejáveis De fato é bem difícil pensar em uma socie dade sem atitudes Alguns dos principais problemas já enfrentados pela humanidade têm suas raízes nesse fenômeno psicológico Adolf Hitler provavelmente odiava os judeus e outras minorias não arianas homossexuais e comunistas Além disso ele utilizava mé todos muito persuasivos e eficientes para 8 atitUDes e mUDança De atitUDes elaine rabelo neiva túlio gomes Mauro INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 172 tOrres neiva cOLs difundir suas atitudes e conquistar legiões de seguidores Suas atitudes políticas insti garam a guerra mais sangrenta da história e suas atitudes raciais levaram diretamente aos horrores do holocausto nazista No en tanto apesar das ideias e ações de certos grupos serem repugnantes à compreensão as atitudes dessas pessoas as direcionavam para o que elas consideravam a coisa certa a ser feita como acontece atualmente em várias questões delicadas como atentados de extremistas religiosos alguns conflitos geopolíticos dentre outras Isso ilustra algo em comum entre Adolf Hitler Osama Bin Laden George Bush e você todos possuem atitudes e estas influenciam nosso compor tamento de muitas maneiras complexas Chaiken Wood e Eagly 1996 Gilbert Fiske e Lindzey 1998 Tal como outros construtos psicológi cos as atitudes não podem ser observadas diretamente mas sim inferidas de respos tas observáveis Tais respostas são eliciadas por um estímulo proveniente de uma enti dade específica denominada de objeto da atitude ou objeto atitudinal o qual pode ser qualquer coisa passível de discrimina ção ou de retenção pela mente do indiví duo Chaiken Wood e Eagly 1996 Sendo assim podem se constituir objetos de ati tudes pessoas presidente da república seus pais John Lennon objetos óculos computador grupos partidos políticos grupos étnicos lugares Brasília China organizações Petrobrás Globo conceitos democracia qualidade de vida ideologias catolicismo capitalismo comportamentos uso de preservativos comportamentos pró ambientais eventos mudança organiza cional produtos alimentos programas de computador dentre outros Respostas favoráveis em relação ao objeto atitudinal indicam uma atitude positiva do indivíduo frente ao mesmo Imagine por exemplo um aluno do ensino médio que considera a matemática sua ma téria favorita se esforça para não faltar às aulas sente se motivado a resolver proble mas e equações afirma ser esta a matéria mais importante busca referências comple mentares e sente enorme satisfação em rea lizar as tarefas de casa É possível inferir que tal aluno mantém uma atitude positiva frente à matemática Respostas desfavorá veis por sua vez indicam uma atitude ne gativa frente ao objeto atitudinal Pode se inferir que um indivíduo apresenta uma atitude negativa frente ao cigarro se este tem uma sensação desagradável ao fumar procura se afastar de pessoas que estão fu mando acha que fumar é inapropriado e tenta convencer seus amigos fumantes a largar o cigarro Para que uma atitude seja formada é necessário que o indivíduo entre em contato com um objeto em particular e emita uma resposta avaliativa Uma atitude não pode ser formada sem que o indivíduo tenha um mínimo de informação sobre o objeto Uma pessoa não pode formar uma atitude frente a sushi por exemplo se ela não tem a mí nima ideia do que seja isso se ela em sua vida nunca viu ouviu falar ou leu a respeito de sushi A partir do momento em que a pessoa experimenta essa comida ela se tor na capaz de responder avaliativamente e de formar uma atitude frente a esse objeto O leitor pode questionar no entanto se é pos sível a formação de atitudes sem que haja o contato direto com o objeto A resposta é claro que sim Muitos nunca lutaram em uma guerra ou foram ao Egito ou pularam de paraquedas porém dispõem de infor mações sobre esses objetos para que pos sam responder avaliativamente sobre eles e consequentemente formarem uma atitude É totalmente plausível que uma pessoa for me uma atitude frente a sushi sem nunca tê lo experimentado por meio das informa ções que ela tem sobre esse objeto é uma comida de origem japonesa feita com arroz avinagrado algas marinhas frutos do mar e peixes geralmente crus Atitude é um construto psicológico que assume uma posição de destaque em psico logia social por ser um dos mais antigos e estudados De fato esse campo já foi defi nido como o estudo das atitudes Thomas e Znaniecki 1918 apud Fazio e Olson 2003 Segundo Ajzen 2001 esse construto conti INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 173 nua a ser atualmente o maior foco de teoria e pesquisa nas ciências sociais e comporta mentais O objetivo deste capítulo é pois descrever o construto atitudes de maneira ampla contextualizando cada tópico com os principais resultados de pesquisa nos últimos anos O capítulo tem início com a conceituação e a descrição da estrutura das atitudes Em seguida apresenta se uma dis cussão acerca da relação entre atitudes e comportamentos seus atributos caracterís ticas processo de formação e mudança de atitudes Por fim é apresentada uma síntese do capítulo e conclusões acerca desse cam po de estudo conceituação de atitude O termo atitude muitas vezes é utilizado de forma indiscriminada do significado que este assume na linguagem cotidiana um grave equívoco que infelizmente tem sido obser vado na literatura acadêmica Segundo Brei 2002 em análise pelo dicionário a pala vra atitude foi inicialmente utilizada como um termo técnico no campo da arte para traduzir a disposição de uma figura em está tua ou desenho Tinha o sentido de postura dada à imagem ou à figura por exemplo atitude da mulher na imagem ou no retra to etc Segundo o dicionário Aurélio Holan da 1986 na linguagem coloquial o termo atitude pode se remeter a 1 Posição do corpo porte jeito postura 2 Modo de proceder ou agir comportamen to procedimento 3 Afetação de comportamento ou procedi mento 4 Propósito ou maneira de se manifestar esse propósito 5 Reação ou maneira de ser em relação a determinadas pessoas objetos situaçãoões etc Na linguagem cotidiana Brei 2002 afirma que a ambiguidade do termo atitude vem de sua origem latina que une dois ter mos actus ação e aptitudo aptidão A distinção entre o termo do dia a dia e o conceito formal de atitude é de suma im portância tanto para a compreensão teóri ca desse fenômeno quanto para a produção empírica nesse campo uma vez que uma definição imprecisa adotada pelo pesquisa dor pode influenciar a escolha do tipo de medida a ser empregada e a interpretação dos resultados obtidos No contexto das ciências sociais o ter mo atitude remete a um construto psicológi co em torno do qual apesar de seu notável desenvolvimento teórico e empírico ainda persistem várias controvérsias acerca de sua definição Analisando a multiplicidade de definições de atitude é possível selecionar entre elas algumas que merecem especial atenção tanto por seus pontos em comum quanto por suas particularidades São desta cadas cinco conceituações principalmente por seu valor histórico A história da pesquisa em atitudes é longa Tem sua origem no século passado Seus antecedentes estão nos estudos so bre atitudes motrizes de Fere 1888 de Langen 1889 e de Munstergerg 1890 apud Solozábal 1981 As definições que se originaram a partir dos estudos de 1920 geraram muitas implicações para as me didas e para seu desenvolvimento teórico Dentre elas pode se citar Allport 1935 e Thurnstone 1931 Allport 1935 p 19 define atitude como um estado mental e neurológico de prontidão organizado por meio da expe riência exercendo uma influência diretiva ou dinâmica sobre a resposta do indivíduo a todos os objetos e situações com que se relaciona Essa definição considera a ati tude como um todo apto a reagir de uma certa maneira dando ênfase às implicações comportamentais que podem ser extensas a todas as situações ou objetos com que se re laciona Alpport 1935 Para Thurnstone 1931 a atitude é um afeto pró ou contra um objeto psicológi co A partir dessa definição várias medidas psicológicas de atitudes foram construídas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 174 tOrres neiva cOLs Doob 1947 conceitua atitude como uma resposta implícita e geradora de im pulsos considerada socialmente significati va na sociedade do indivíduo Observa se nessa análise uma posição behavorista e a não inclusão do comportamento ostensivo sem negar a influência da atitude sobre o mesmo Para Smith Bruner e White 1956 a atitude é uma predisposição para experi mentar uma classe de objetos de certas for mas com afeto característico ser motivado por essa classe de objetos e agir em relação a tais objetos de maneira característica Triandis 1971 definiu atitude como uma ideia carregada de emoção que predis põe um conjunto de ações a um conjunto particular de situações sociais Segundo Olson e Zanna 1993 atitu des têm sido definidas como Avaliação tendência psicológica que é expressa pela avaliação de uma entidade particular com algum grau de favorabilida de ou desfavorabilidade Eagly e Chaiken 1993 p 1 Afeto o afeto associado com um objeto mental Greenwald 1989 p 432 Cognição um tipo especial de conheci mento notamente conhecimento cujo con teúdo é avaliativo ou afetivo Krugglanski 1989 p 298 Predisposições comportamentais o estado de uma pessoa que a predispõe a uma res posta favorável ou desfavorável quanto a um objeto pessoa ou ideia Triandis 1991 p 485 Enfim segundo alguns autores há uma concordância geral de que a atitu de representa uma avaliação sumária de um objeto psicológico capturado em seus atributos dimensionais como bom ruim nocivo positivo prazeroso desagradável gostável não Ajzen e Fishbein 2000 Eagly e Chaiken 1993 Petty et al 1997 Contudo pesquisas recentes mostram que julgamentos avaliativos diferem e mui to de julgamentos não avaliativos Alguns autores sugerem que alguns objetos indu zem reações avaliativas outros sugerem a necessidade dos indivíduos em se engajar em respostas avaliativas Alguns indivíduos possuem maior necessidade de avaliar que outros e por isso produzem mais atitudes Petty e al 1997 Outra questão central está na ideia de que as atitudes são disposições para avaliar objetos psicológicos e isso implica em uma única atitude sobre um objeto Os estudos sugerem que as atitudes mudam mas não há uma substituição e sim uma sobreposi ção da antiga atitude Exemplos seriam ati tudes duais duas diferentes atitudes frente a um mesmo objeto no mesmo contexto uma atitude implícita ou habitual e outra explícita McConnnel et al 1997 avalia ções diferentes do mesmo objeto em con textos diferentes podem ser consideradas evidências de atitudes múltiplas frente ao mesmo objeto ou atitudes frente a diferen tes objetos psicológicos atitudes contexto dependentes muitos autores afirmam que as inconsistências entre atitudes e compor tamentos se devem à existência de múlti plas atitudes deste tipo frente a alvos sociais McConnnel et al 1997 Observa se que as definições apresen tadas divergem em palavras utilizadas mas tendem a caracterizar as atitudes sociais como variáveis não observáveis porém di retamente inferíveis de observações e como sendo integradas a partir dos seguintes componentes cognitivo afetivo e compor tamental Contudo como também é possível ver pelas definições apresentadas conceito e estrutura estão muito interligados cons tatando se que também quanto à estrutura não existe um acordo entre os teóricos A estrutura interna envolve a discussão sobre quantos componentes fazem parte da atitu de Esse enfoque inclui algumas tendências principais bicomponente afeto e cognição unicomponente afeto e tricomponente afeto cognição e comportamento Em uma primeira fase do estudo das atitudes a abordagem multicomponentes foi mais comum entre os pesquisadores É a visão da atitude como constituída de INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 175 sentimento pensamento e ação Tal distin ção vem desde os filósofos gregos Depois passou se a enfatizar a visão unidimensio nal e posteriormente a definição tripartite voltou a ser mais aceita Triandis 1991 Mensuração das atitudes Vários instrumentos têm sido utilizados para se medir as atitudes Os métodos mais comuns são as medidas de autodescrição as medidas fisiológicas e as técnicas observa cionais Medidas autodescritivas Uma grande quantidade de escalas auto descritivas têm sido desenvolvidas com o propósito de se medir as atitudes As escalas mais comuns são Escalas Likert e Tipo Likert as escalas Likert contêm uma série de afirmativas sobre um objeto Os respondentes devem indicar seu nível de concordância ou discordância com cada afirmativa em termos de uma escala de 5 pontos p ex concordo fortemente concordo indife rente discordo discordo fortemente As escalas tipo Likert apresentam variações no número de pontos ou na ancoragem p ex 100 das vezes sempre ocasio nalmente etc Escalas de diferencial semântico aqui os respondentes avaliam um objeto em termos de vários itens bipolares desenha dos para medir três dimensões nível de favorabilidade bom ruim poder fraco forte e atividade ativo passivo Escala de Thurstone as escalas de Thurstone contêm uma série de afirmativas que já foram avaliadas previamente em termos de favorabilidade e apenas pedem que o respondente marque as afirmativas com as quais ele concorda Escala de Guttman as afirmativas na escala de Guttman são ordenadas em uma hierarquia de forma que a concor dância com uma afirmativa implica que o respondente também concorda com as afirmativas que estão em um nível inferior da hierarquia Escala de distância social essas escalas são usadas para medir as atitudes com relação a diferentes grupos nacionais raciais e étnicos Quando são utilizadas os respondentes indicam sua inclinação para ter vários níveis de contato com diferentes grupos alvo Pelo fato de algumas vezes as pessoas não estarem dispostas a revelar suas verda deiras atitudes as escalas autodescritivas nem sempre nos dão as melhores informa ções Assim para reduzir a inadequação dessas escalas pesquisadores desenvolve ram várias técnicas alternativas Uma des sas técnicas a bogus pipeline Jones e Sigall 1971 refere se a dizer aos participantes que foram conectados a uma máquina com eletrodos e que essa máquina irá medir suas respostas verdadeiras por meio do monito ramento de mudanças fisiológicas embora a máquina não possa fazer isso Medidas fisiológicas As medidas fisiológicas baseiam se no fato de que uma vez que as respostas emocionais são acompanhadas de reações fisiológicas medidas como a resposta galvânica de pele eletromiograma e dilatação pupilar podem ser utilizadas para se avaliar as atitudes O problema com essas medidas é que embora elas possam demonstrar se uma pessoa está tendo uma reação emocional frente a um objeto elas não podem indicar a intensida de ou a direção dessa reação técnicas observacionais Finalmente as técnicas observacionais para a medição das atitudes variam de pouco estru turadas e informais até técnicas altamente estruturadas e formais Uma técnica pouco estruturada e informal a observação parti INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 176 tOrres neiva cOLs cipante funciona ao fazer com que o obser vador participe ativamente nas atividades do experimento Uma técnica mais estrutu rada a Análise do Processo Interativo IPA de Bales 1950 é usada para avaliar como as pessoas interagem em pequenos grupos No IPA o observador avalia as verbalizações dos membros do grupo em termos de 12 ca tegorias criadas para medir as orientações sociais emocionais e de tarefa coMPonentes das atitudes A perspectiva mais proeminente de estudo da estrutura interna das atitudes é o mode lo de três componentes segundo o qual as respostas eliciadas por um objeto atitudinal podem pertencer a três classes cognitiva afetiva ou comportamental A categoria cog nitiva é composta por pensamentos cren ças percepções e conceitos acerca do objeto atitudinal A categoria afetiva por sua vez traz sentimentos e emoções associadas ao objeto da atitude Por fim a categoria com portamental engloba ações ou intenções para agir O esquema abaixo ilustra as três clas ses de resposta frente ao refrigerante Coca cola A constatação do fato de que a Coca cola é um refrigerante que possui cafeína corresponde a uma representação cognitiva do objeto Coca cola assim como a identi ficação de sua logomarca letras cursivas brancas sob um fundo vermelho ou preto a constatação de que esta é uma bebida gaseificada de cor escura de origem norte americana comercializada geralmente em garrafas ou latas em bares restaurantes mercados e etc Quando o objeto atitudinal é de alguma forma qualificado ou a este é associado alguma avaliação ou juízo de va lor essa resposta pertence a categoria afe tiva Eu gosto de Coca cola Coca cola é saborosa e refrescante me sinto satisfeito quando bebo Coca cola são exemplos de respostas afetivas A constatação de uma inclinação para ação em direção ao objeto atitudinal como a decisão de comprar Coca cola representa uma resposta pertencente à categoria comportamental O modelo de três componentes descre ve a estrutura interna das atitudes de uma maneira muito conveniente pois distingue claramente as categorias de resposta por suas definições e parece exaurir o universo de possibilidades de respostas atitudinais seria difícil pensar em uma resposta frente a um objeto atitudinal que não se encaixe em uma das três categorias cognitiva afetiva e comportamental Fazio e Olson 2003 Apesar de ser o modelo mais difundido as pesquisas empíricas apresentam resultados conflitantes referentes à validação desse modelo principalmente quanto à validade discriminante a análise fatorial não neces sariamente distingue as três categorias de resposta como três fatores independentes Figura 81 estrutura tricomponentes da atitude Componente cognitivo Cocacola tem cafeína Componente afetivo Eu gosto de Cocacola Componente comportamental Vou comprar Cocacola Cocacola INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 177 Por outro lado alguns teóricos argu mentam que sentimentos e emoções podem preceder crenças sobre o objeto atitudinal e que portanto as respostas atitudinais são exclusivamente de natureza afetiva Conforme essa perspectiva conhecida como mono componente ou unicomponente o aspecto avaliativo da atitude é enaltecido sendo esta frequentemente mensurada por meio de escalas bipolares representando o grau de favorabilidadedesfavorabilidade do indivíduo frente ao objeto atitudinal Outros teóricos assumem uma perspectiva bicomponente segundo a qual as respostas atitudinais pertencem a duas categorias ape nas cognitiva e afetiva Essa tendência se consagrou principalmente em virtude da de finição de Thurnstone 1931 que originou medidas de atitudes usadas até o presente momento Em virtude de se mencionar os componentes da atitude faz se necessário abordar cada um deles nos tópicos seguin tes do texto enfatizando principalmente os resultados de pesquisas empíricas o componente cognitivo Considere a seguinte situação um funcioná rio constata que a empresa onde ele trabalha passará por uma mudança Segundo Lines 2005 p 11 para que haja uma carga afe tiva pró ou contra um objeto social definido faz se necessário que se tenha alguma re presentação cognitiva desse objeto Dessa forma o funcionário buscará saber por exemplo do que se trata a mudança quais são seus objetivos suas causas seu alcance certamente se lembrará de situações de mu dança organizacional já vividas por ele por outras pessoas fará comparações e etc No dizer de Rosenberg e colaborado res 1960 as cognições incluem percep ções conceitos e crenças acerca do objeto da atitude e são normalmente eliciadas por perguntas verbais na forma oral ou escrita A representação cognitiva de um ob jeto atitudinal é um elemento indispensá vel para que a pessoa forme uma atitude em relação ao mesmo Nesse caso específi co o funcionário tem percepções crenças e conceitos acerca da mudança dentro da empresa resultante de informações cons tatações pessoais e experiências vivenciadas anteriormente que formam uma significa ção de mudança dentro dessa organização Estes fatores determinam afetos favoráveis ou desfavoráveis em relação à mudança or ganizacional Sapp 2001 argumenta que as cren ças não são formadas em isolamento de crenças acerca de objetos substitutos ou seja as pessoas avaliam os atributos de um objeto em relação aos atributos de objetos que elas percebem como possíveis substi tutos No exemplo anterior o funcionário busca simultaneamente informações acer ca da mudança organizacional por qual está passando sua empresa e outros tipos de mu dança que sua empresa já tenha passado ou casos de mudanças em outras organizações ou enfrentadas por pessoas conhecidas etc Dessa forma a compreensão da consistência lógica de crenças sobre objetos em compara ção a crenças acerca de objetos substitutos é muito importante para a predição de ati tudes frente ao objeto Sapp 2001 inves tigou a consistência lógica de um conjunto de crenças de indivíduos japoneses sobre comer carne proveniente de três países e o efeito das inconsistências lógicas do conjun to de crenças para produtos substitutos na estimativa das atitudes frente ao consumo de carne Seus resultados foram os de que os indivíduos usam objetos substitutos para melhorar a consistência de suas crenças so bre determinado objeto Então os estudos sugerem que o aspecto cognitivo de um ob jeto atitudinal depende em larga escala do aspecto cognitivo de objetos similares o componente afetivo Segundo Triandis 1971 p 11 o compo nente afetivo é a forma como uma pessoa se sente em relação a um objeto atitudinal sendo geralmente determinada pela associa ção prévia do objeto de atitude com estados agradáveis ou desagradáveis INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 178 tOrres neiva cOLs Para Fishbein 1963 o componente afetivo é definido como sentimento pró ou contra um determinado objeto social Este autor argumenta que as crenças e os comportamentos associa dos a uma atitude são apenas elementos pelos quais se pode medir a atitude não sendo porém parte integrante dela Sen do a atitude uma variável interveniente é como tal inferível de um fato mas não diretamente observável Fishbein 1963 p 36 O componente afetivo tem conotação avaliativa e representa um sentimento po sitivo ou negativo vinculado a um objeto determinando uma atitude É o caso dos funcionários que formam atitudes positivas ou negativas em relação à mudança organi zacional como efeito do teor de suas crenças a respeito da mesma Essas atitudes podem ser observadas por afirmações verbais escri tas ou faladas de gosto ou não do sujeito em relação ao objeto da atitude mudança é uma coisa boa para todos na empresa estou inseguro em relação a essa mudan ça e etc Os componentes das atitudes foram estudados por Aikman Crites e Fabrigar 2006 no contexto de atitudes frente à co mida Esses autores concebem as atitudes como julgamentos avaliativos globais sobre determinado objeto os quais podem com preender diferentes tipos de informações cognitivas afetivas etc Por exemplo uma atitude levemente positiva em relação a ba con 1 em uma escala bipolar de 4 a 4 pode refletir um sentimento ou avaliação positiva frente ao sabor do alimento 4 e uma percepção negativa de seus benefí cios à saúde 3 Dessa forma os autores conduziram um estudo com o objetivo de investigar que tipo de informação contribui para a aversão ou preferência das pessoas pelos alimentos A pesquisa teve um caráter explorató rio no qual os participantes indicaram a im portância das características das comidas e as reações emocionais frente uma variedade de alimentos para a determinação de suas atitudes A análise fatorial identificou cinco bases informacionais das atitudes frente a comida 1 Afeto positivo ex estimulante prazero so refrescante vívido etc α 092 2 Afeto negativo depressivo envergonha do culpado enauseado etc α 087 3 Qualidades sensoriais gerais aparência cor sabor odor etc α 084 4 Qualidades sensoriais específicas cremo so gorduroso molhado salgado doce etc α 078 5 Qualidades cognitivas abstratas saudável leve seguro etc α 075 A regressão dos cinco fatores com os diversos tipos de comida avaliados indicou que afeto positivo afeto negativo e qualida des sensoriais gerais são importantes pre ditores de atitudes frente à comida Esses resultados indicam que as pessoas formam suas atitudes frente à comida com base em crenças acerca das qualidades sensoriais da comida componente cognitivo e afetos atribuídos à comida componente afetivo o componente comportamental Segundo Newcomb Turner e Converse 1965 as atitudes humanas são propiciado ras de um estado de prontidão que se ati çado por uma motivação específica resulta rá em um determinado comportamento Já os autores Katz e Stotland 1959 veem nas atitudes a própria força motivadora da ação Essa afirmativa é muito controversa já que a relação entre atitude e comportamento não possui uma grande base empírica Ajzen e Fishbein 2000 Ajzen 2001 Newcomb Turner e Converse 1965 representam da seguinte forma o papel das atitudes na determinação do comporta mento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 179 Observa se na representação de Newcomb Turner e Converse 1965 que as atitudes sociais criam um estado de pre disposição à ação que quando combinado com uma situação específica desencadean te resulta em comportamento Contudo tal afirmativa pode ser questionada por alguns estudos na área Outra teoria que aborda a questão da atitude e do comportamento é a teoria da ação racional de Fishbein e Ajzen 1975 e a teoria da ação planejada de Ajzen 1988 Outras informações sobre a relação entre comportamento e atitude serão apresenta das posteriormente Enfim pode haver uma relação entre atitudes e comportamento mas esta nem sempre é a melhor preditora do comporta mento em questão Vários fatores situacio nais e culturais se apresentam em algum grau como preditores de comportamento A relação entre atitudes e comportamento será discutida mais adiante a visão unicomponente Nesta concepção unitária a atitude foi con ceituada como uma quantidade de afeto a favor ou contra algum objeto Devido a essa concepção os autores concluíram que a me lhor forma de medi la seria pela localização do sujeito em uma dimensão bipolar afetiva ou avaliativa frente a um objeto A atitude é vista como uma variável la tente ou subjacente que se presume influen ciar ou guiar o comportamento Essa visão leva à implicação de que as atitudes não são idênticas às respostas exteriorizadas Assim as atitudes não podem ser observadas dire tamente mas inferidas a partir do compor tamento A Figura 83 representa a noção das atitudes pela visão unicomponente Festinger 1957 foi um dos primeiros psicólogos sociais a investigar empiricamen te o impacto das atitudes no processamento de informação Ele desenvolveu a hipótese de seletividade que propõe que antes de Figura 82 influência das atitudes sobre o comportamento Experiências pessoais Atitudes atuais da pessoa Situação atual Comportamento Figura 83 Os componentes da atitude Reproduzido de Eagly e Chaicken 1993 Resposta cognitiva Resposta afetiva Respostas comportamentais Estímulo Atitude INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 180 tOrres neiva cOLs adotar uma postura com relação a um obje to as pessoas aceitam receber informações que dão suporte e informações que refutam suas ideias Contudo uma vez comprome tidas com uma postura as pessoas selecio nam as informações que dão suporte a suas posições e excluem aquelas que as contradi zem A hipótese de seletividade não foi to talmente confirmada mas algumas pesqui sas demonstraram que as pessoas tendem a avaliar as informações que são consistentes com suas atitudes como mais positivas e me morizam essas informações mais facilmen te Pomerantz et al 1995 Finalmente Greenwald e Banaji 1995 sugerem que as atitudes podem ter um efeito implícito nos julgamentos sociais e que tal efeito pode explicar diversos fenômenos incluindo o efeito do halo e o efeito da mera exposição As pesquisas na área de atitudes ques tionam a visão multicomponente em virtude de algumas correlações fracas entre atitudes e comportamento O próximo tópico tratará dessa questão coMPortaMento e atitude De maneira geral as pessoas acreditam que sua avaliação global sobre determinado ob jeto determina a forma como elas reagem ou se comportam frente a esse objeto No entanto a noção de que as atitudes causam comportamentos é muito frágil tendo em vista que um único comportamento é tipi camente influenciado por vários outros fa tores além das atitudes O simples fato de uma pessoa possuir atitudes positivas frente a métodos anticoncepcionais não determina o comportamento de uso dos mesmos Da mesma forma possuir atitudes positivas em relação a determinado produto alimentício não é suficiente para a predição do compor tamento de compra e consumo desse produ to Ajzen 2001 O primeiro a relatar que não existe uma relação direta de causalidade entre ati tudes e comportamentos foi o psicólogo so cial Richard LaPiere em 1934 Nessa época havia um forte preconceito contra os chine ses nos Estados Unidos alguns estabeleci mentos mantinham placas na porta com a inscrição proibida a entrada de chineses e cães Este pesquisador que é de raça bran ca viajou por várias cidades dos EUA acom panhado de um jovem casal de estudantes chineses registrando a reação dos funcioná rios dos diversos hotéis restaurantes e cafés que visitaram Eles foram atendidos em 66 hotéis e 184 restaurantes e cafés sendo que apenas um hotel recusou se a atendê los Seis meses depois LaPierre enviou um ques tionário pelo correio para cada estabeleci mento visitado o qual continha a pergunta Você aceitaria chineses como clientes em seu estabelecimento Dos 81 restaurantes e 47 hotéis que responderam 92 disseram que não tendo os restaurantes afirmado que dependia das circunstâncias Resultados bastante similares foram encontrados por outros pesquisadores em replicações desse experimento Lapiere 1934 Alvo de algumas ressalvas metodo lógicas esse clássico estudo ilustra uma discrepância saliente entre atitudes e com portamentos Todavia Lima 2004 faz uma análise do experimento de LaPierre elucidando que a generalidade do indicador das atitudes e a especificidade da situação observada parece funcionar de modo a ma ximizar a discrepância entre as atitudes e o comportamento No estudo de LaPierre perguntava se na carta se aceitariam chineses como clien tes o que com sua formulação geral en via os respondentes para o estereótipo de chinês e além do mais podia ser utilizada pelos respondentes de forma a dar uma imagem respeitável do estabelecimento de acordo com as normas vigentes A situação observada pelo contrário é extremamente específica os chineses encontravam se acompanhados por um branco provavelmente apresentavam um bom status socioeconômico tinham um aspecto de saber comportar se corre tamente e encontravam se de passagem Isto é não tinham nada a ver com o chinês INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 181 que os funcionários do restaurante visua lizaram quando responderam à escala de atitudes Lima 2004 p 209 Haveria portanto uma diferença en tre o poder preditivo das atitudes frente a comportamentos em um nível mais geral ex roubar e das atitudes frente a compor tamentos mais específicos roubar um pão em uma padaria sem uso de violência para alimentar seu filho faminto Analisando os três componentes das atitudes e tomando como ponto de apoio a teoria da consistência deve se concluir que as atitudes são internamente consistentes Esta consistência é mais notória nos compo nentes cognitivo e afetivo A inconsistência aparente reside entre esses componentes e o comportamento podendo ser explicada pelo fato de as pessoas possuírem atitudes não apenas em relação aos objetos em si como também em relação à situação que os envolve Por exemplo um fumante pode recusar se a acender um cigarro em um restaurante pois este apesar de manter atitudes fortemente positivas frente ao ci garro possui atitudes negativas em relação à promoção de uma situação de incômodo e desconforto em outras pessoas Ajzen e Fishbein 2000 Triandis 1971 p 14 salienta que atitudes envolvem o que as pessoas pensam sentem e como elas gostariam de se comportar em relação a um obje to atitudinal O comportamento não é apenas determinado pelo que as pessoas gostariam de fazer mas também pelo que elas pensam que devem fazer e pelas consequências esperadas de seu compor tamento Além disso as pessoas têm atitudes em relação a determinados objetos de uma situação e também em relação à situação como tal Ajzen 2001 conclui que o fato de possuirmos atitudes em relação a certos ob jetos sociais e às situações nas quais estão imersos explica certas inconsistências apa rentes entre a atitude e o comportamento Por outro lado não são só as atitudes frente a comportamentos específicos que permitem a previsão das ações mas também as atitu des frente a comportamentos gerais Wiegel e Newman 1976 apud Lima 2004 mos tram que as atitudes ambientais se correla cionam de forma mais significativa com um índice de comportamentos pró ambientais gerais do que com o de comportamentos es pecíficos reciclagem assinar uma petição a favor de causas ambientais etc De maneira geral as atitudes estão correlacionadas com o comportamento Stocké 2006 buscou analisar se as atitu des de respondentes frente a surveys pes quisas de levantamento de dados por meio de aplicação de questionários explicam o comportamento de responder ou não aos itens A hipótese central desse autor era de que os respondentes com atitudes positivas frente a surveys adotariam uma orientação cooperativa e estariam mais propensos a responder todos os itens e questões difíceis e delicadas como fornecer dados acerca da renda familiar Foram testadas as deci sões de se recusar a fornecer informações na pesquisa o comportamento de deixar o item em branco e o percentual de respostas não sei Além disso o julgamento geral do respondente acerca de sua vontade de par ticipar da pesquisa também foi incluído Os resultados indicaram que as atitudes frente a surveys são um importante determinante para a predisposição dos respondentes com pletarem o questionário ou deixarem itens em branco Os participantes com atitudes mais positivas frente a surveys apresentaram os menores valores em todos os indicadores de não resposta recusa em fornecer infor mações percentual de itens em branco e respostas não sei Para Sivacek e Crano 1982 apud Chaiken Wood e Eagly 1996 a correspon dência entre atitudes e comportamento será tanto maior quanto maior for o interesse in vestido pela pessoa no conteúdo atitudinal ou seja quanto maior o interesse no objeto maior será a congruência entre a atitude e o comportamento de um indivíduo Por exem INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 182 tOrres neiva cOLs plo se o casamento assume uma posição central na vida de uma pessoa seus com portamentos serão mais congruentes com suas atitudes frente ao casamento em com paração a uma pessoa cujo casamento não assume um papel importante em sua vida As atitudes frente ao casamento desta pes soa terão um fraco valor preditivo de seus comportamentos A tentativa de estudar a discrepância entre atitude e comportamento estendeu se por algumas vias diferentes Chaiken Wood e Eagly 1996 relatam que as pesquisas re ferentes à relação atitude comportamento em psicologia social têm configurado duas tradições teóricas A primeira delas consiste em uma família de modelos de expectativa valor que consideram as atitudes um im portante determinante do comportamento mediado pela intenção em realizar o com portamento Na tradição teórica alternativa o comportamento é predito por meio de ati tudes frente ao objeto sem especificações de passos intermediários teoria da ação racional Dentro da primeira tradição teórica encon tram se os estudos de Ajzen e Fishbein 1980 Esses autores afirmam que as atitu des são importantes fatores na previsão do comportamento humano mas distinguem entre as atitudes gerais relativas a um ob jeto em particular e as atitudes específicas referentes a um comportamento relacionado com o objeto da atitude ou seja a percepção do que outras pessoas esperam que ela faça e sua motivação em conformar se a essa ex pectativa norma subjetiva Enquanto as ati tudes gerais influenciam de forma indireta como uma tendência para ação as atitudes específicas são úteis para prever um com portamento específico Por exemplo uma pessoa que tem atitudes positivas frente à utilização de sites de relacionamento salas de bate papo Orkut e etc pode optar por não acessá los por meio do computador da empresa onde trabalha conformando se com as expectativas de seus superiores os quais não são favoráveis à utilização desse tipo de site no local de trabalho Da mesma forma um indivíduo pode manter atitudes fortemente positivas frente a assistir a no velas porém evita fazê lo na presença de seus colegas de faculdade pois supõe que assistir a novelas não é um comportamen to aceito por aquele grupo Nesses casos a norma subjetiva a percepção do indivíduo do que as pessoas que são importantes para ele esperam que ele faça predirá melhor o comportamento do que a atitude geral Na teoria da ação racional Ajzen e Fishbein 1980 consideram que todo com portamento é uma escolha uma opção pon derada de alternativas em que o melhor preditor do comportamento será a intenção comportamental sendo a atitude apenas um dos dois fatores importantes na decisão Essa atitude frente ao comportamento é vis Figura 84 relação entre comportamento e atitude Modelos de expectativa valor Atitudes Atitudes Intenção em realizar o comportamento Comportamento Comportamento ð ð ð Tradição teórica alternativa INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 183 ta nesse modelo com as perspectivas de expectativa valor ou seja como o resultado somatório das crenças acerca das consequ ências do comportamento expectativa ele vadas pela avaliação dessas consequências valor A figura 85 ilustra o modelo dos autores Outro fator importante na definição da intenção comportamental tenta integrar as pressões sociais e refere se à norma subjeti va em relação ao comportamento isto é às pressões de outros significantes que afetam a realização do comportamento Também essa norma subjetiva é vista como o resul tado somatório das crenças normativas expectativas acerca do comportamento que os outros significantes pretendem que o in divíduo adote reforçado pelo valor dessas crenças a motivação para seguir cada um dos referentes Concluindo a teoria da ação racional vê a atitude como um dos preditores do comportamento podendo em certos tipos de comportamentos ou em certas popula ções a norma subjetiva ter mais peso na de terminação da intenção do comportamento Por isso o modelo da ação racional inclui ainda uma variável intermediaria referente à importância das atitudes e das normas na definição da intenção comportamental Eagly e Chaiken 1993 encontram correlações significativas entre a intenção e o comportamento variando com a proximi dade temporal do comportamento da espe cificidade da situação apresentada e da ex periência anterior do indivíduo na situação O modelo de Azjen foi utilizado por Chiou Huang e Chuang 2005 com o in tuito de investigar as relações entre atitudes frente ao objeto e à percepção de norma so cial no contexto de intenção de compra de merchandise CDs camisetas pôsteres e etc de grupo musical por adolescentes em Taiwan A pesquisa foi desenvolvida com uma amostra de 471 participantes do sexo feminino a qual foi dividida em dois gru Figura 85 teoria da ação racional Crença de que o comportamento provoca certos resultados Avaliação dos resultados Crença de que os indivíduos pensam que a pessoa deve ou não concretizar o comportamento Motivação para seguir o que os grupos ou indivíduos pensam sobre o comportamento Intenção Comportamento Atitude Importância relativa Fatores atitudinais do comportamento Norma subjetiva relativa ao comportamento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 184 tOrres neiva cOLs pos de acordo com escore obtido em uma escala de afinidade com o grupo musical F4 um dos grupos de música pop de maior ex pressão entre as adolescentes de Taiwan grupo de adoradores do F4 N93 e grupo de não adoradores do F4 N378 Os resultados referentes ao grupo de adoradores do F4 apontaram uma correla ção significativamente positiva entre atitu des frente ao F4 e intenções de compra de merchandise r 051 p 00001 A re lação entre norma percebida e intenção de compra não foi significativa indicando que aquelas pessoas que adoram o F4 são mais propensas a formar suas intenções de com pra de merchandise com base em fatores pessoais como atitudes frente ao objeto e não em fatores sociais como percepção de norma social Para os não adoradores do F4 os resultados apontaram uma correlação significativamente positiva porém modesta entre norma social e intenção de compra de merchandise r032 p 00001 Esses resultados sugerem que aqueles que não adoram o F4 são mais propensos a formar suas intenções de compra com base em fato res sociais como a expectativa de julgamen to das pessoas de seu convívio social Trafimow e Finlay 2001 argumen tam que não só as pessoas podem estar sob controle atitudinal ou normativo para uma extensa variedade de comportamentos mas também comportamentos podem estar sob controle atitudinal ou normativo para uma vasta quantidade de pessoas Esses autores realizaram um estudo no qual os partici pantes responderam a escalas de atitudes norma subjetiva e intenções para cada um dos 30 comportamentos selecionados ter fi lhos comer vegetais regularmente ir à igre ja usar o cinto de segurança escolher uma profissão que beneficia a sociedade den tre outros Os resultados sugerem que as duas formas de controle podem acontecer simultaneamente ou seja algumas pessoas estariam mais sob controle atitudinal que normativo em relação a uma grande varie dade de comportamentos enquanto outras parecem estar mais sob controle normativo que atitudinal Simultaneamente alguns comportamentos estariam mais sob controle atitudinal que normativo para uma grande quantidade de pessoas ao passo que para outros comportamentos o oposto seria ver dadeiro Os dados indicam por exemplo que a influência social pode ser estudada considerando se pessoas comportamentos ou ambos Muitos foram os estudos com a inten ção de avaliar a teoria da ação racional e a diversidade de considerações apontadas porém Ajzen 1988 reformula o mode lo mantendo sua estrutura básica acres centando como determinante da intenção comportamental uma nova variável o controle percebido sobre o comportamento Essa variável a qual corresponde à dificul dade percebida na realização do compor tamento permite incluir diretamente a ex periência anterior com o comportamento Assim comportamentos habituais são per cebidos como mais fáceis de serem postos em prá tica e portanto com maior nível de controle percebido Essa percepção de controle sobre o comportamento parece ter consequências motivacionais ao nível de intenção mas também de uma forma me nos ponderada diretamente sobre o com portamento Essa extensão da teoria inicial tem permitido aumentar significativamente a capacidade preditiva do modelo em mui tas situações No exemplo da compra de merchandise de grupo musical citado an teriormente o controle percebido sobre o comportamento pode ser ilustrado em uma situação em que as atitudes e a percepção de norma subjetiva de uma pessoa influen ciam positivamente a intenção de compra de CDs camisetas pôsteres etc porém a percepção de falta de dinheiro para com prar ou a ausência de tempo o desconhe cimento do local de venda ou até mesmo a falta de costume de comprar esse tipo de material pode influenciar negativamente o comportamento Manstead Proffitt e Smart 1983 ci tados por Lima 2004 salientam que a in trodução de variáveis emocionais na predi ção da intenção comportamental aumenta o poder preditivo do modelo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 185 abordagens alternativas A teoria da ação racional de Azjen enfatiza comportamentos cujas consequências são avaliadas antes da ação comportamental Conforme Chaiken Wood e Eagly 1996 dependendo do grau em que é esperado que um comportamento produza bons re sultados e a aprovação das outras pessoas o indivíduo tende a se engajar nesse com portamento o qual terá mais probabilidade de acontecer No entanto a teoria parece si lenciosa em relação a comportamentos que não necessariamente seriam mediados pela intenção comportamental ou seja compor tamentos relativamente mais espontâneos Segundo Fazio e Olson 2003 há várias evidências de que atitudes podem exercer uma influência direta no comportamen to sem serem mediadas por intenções ou mesmo pensamentos As pesquisas que se desenvolveram nessa linha constituíram o que Chaiken Wood e Eagly 1996 deno minaram de tradição teórica alternativa do estudo da relação atitude comportamento Os aspectos automáticos e implícitos do processamento humano de informação têm ocupado um papel de destaque na psicolo gia social e particularmente nas pesquisas de atitudes Vários teóricos exploraram a ideia de que alguns comportamentos podem ser produtos de predisposições aprendidas as quais podem ser denominadas de hábitos Chaiken Wood e Eagly 1996 Segundo es ses autores os processos cognitivos que con trolam tais comportamentos podem ser con ceituados de automáticos podendo ocorrer sem o controle consciente do indivíduo Fazio e Zanna 1981 em seus estu dos analisam que as atitudes muito acessí veis orientam o comportamento por meio da ativação de processos automáticos Em seus trabalhos observou se a importância da forma como a atitude tinha sido formata da na predição do comportamento ou seja as atitudes que se formam com base em experiências diretas são mais preditoras do comportamento do que as que se baseiam na experiência indireta O autor explica tal resultado salientando a maior confiança e certeza dos indivíduos cujas atitudes se ba seiam em experiências diretas Posteriormente Fazio Chen Mcdonel e Sherman 1982 mostraram que os indi víduos que têm suas atitudes baseadas na experiência direta respondem em escalas de atitudes informatizadas com um tempo de latência menor e apresentam maior corres pondência entre atitudes e comportamento Ainda sob essa linha de estudo Fazio 1990 mostrou que há uma ativação auto mática das atitudes altamente acessíveis na presença do objeto de atitude o que levaria por meio da centralização da atenção sele tiva nos aspectos congruentes com a atitu de a uma definição da situação de forma a tornar altamente provável a ocorrência do comportamento Considerando o modelo MODE Moti va cion and Oportunity as Deter mi nants proposto por Fazio 1990 as atitudes in fluenciam os comportamentos Suponhamos que um indivíduo em um ambiente organi zacional seja informado de um processo de mudança interna Essa notícia ativa sua ati tude negativa relativa à mudança fazendo o lembrar das consequências de uma mudança dentro da organização crenças congruentes com a atitude Desse modo a implantação de um processo de mudança é vista como perigosa para o próprio indivíduo definição dos acontecimentos tornando provável a adesão de um comportamento de resistên cia ou protesto A definição do acontecimen to pode ainda ser influenciada pelas normas do grupo em que o indivíduo se insere De acordo com a ideia de que atitu des podem produzir uma tendência ao com portamento sem a percepção consciente do indivíduo Greenwald e Banaji 1995 in troduzem o conceito de atitudes implícitas Em contraste com as atitudes explícitas que são prontamente acessíveis cognitivamente e baseadas em crenças salientes as atitudes implícitas são difíceis de serem identificas introspectivamente e são baseadas em afe tos profundamente mantidos A distinção entre atitudes implícitas e explícitas aumentou a busca por métodos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 186 tOrres neiva cOLs mais precisos e confiáveis de mensuração desse construto Segundo Zhou e Wang 2007 as medidas de atitudes explícitas são diretas e dependem da habilidade do indiví duo de acessar precisamente suas atitudes e de sua vontade de reportá las ao pesquisa dor Esse aspecto é acentuado especialmen te quando a pesquisa trata de atitudes que envolvem questões sociais sensíveis como preconceito ou questões de gênero por exemplo As medidas de atitudes implícitas por outro lado envolvem julgamentos sob controle da ativação automática das atitudes quando não há percepção consciente de que as atitudes estão sendo expressas Segundo Cunningham e colaboradores 2001 dentre os métodos mais influentes de medida de ati tudes implícitas estão a técnica avaliativa pri ming Fazio Sanbonmatsu Powell e Kardes 1986 e o teste de associação implícita IAT Greenwald Mcghee e Schwartz 1998 Um aspecto que se destaca nessa linha teórica e que tem sido alvo de investigação empírica é a ideia de que atitudes implíci tas e explícitas podem estar dissociadas ou seja atitudes implícitas podem contradizer atitudes explícitas frente ao mesmo objeto sem causar dissonância cognitiva Zhou e Wang 2007 Zhou e Wang 2007 pesquisa ram esse fenômeno no contexto de atitudes frente a pessoas ricas na China Os autores supunham que em um país em desenvolvi mento como a China onde existe uma gran de diferença entre ricos e pobres as atitudes frente aos ricos poderiam ser um constru to complexo pois apesar de as pessoas se referirem aos ricos como bem sucedidos inteligentes e etc eles também são vistos como arrogantes prepotentes frios e etc Os autores relatam que antes do grande desenvolvimento econômico vivenciado por esse país na última década existia uma in tensa e difundida ideologia de que os ricos eram maus e os pobres virtuosos Além disso casos de corrupção em que pessoas conseguiram suas fortunas por meios ilíci tos contribuíram para que muitos chineses se sentissem desprivilegiados e injustiçados em relação aos ricos Por outro lado com o desenvolvimento da economia chinesa au mentaram as possibilidades de as pessoas se tornarem bem sucedidas e assim o desejo de pertencerem à classe dos ricos Os au tores relatam que uma das mais populares saudações de final de ano entre os chineses é que você ganhe mais dinheiro indican do que no nível afetivo as pessoas se iden tificam com a riqueza O estudo conduzido por esses autores consistiu na utilização de medidas implícitas e explícitas para acessar atitudes frente aos ricos em uma amostra de estudantes universitários chineses Os resultados das duas medidas de atitudes se apresentaram significativamente diferentes e não correlacionados entre elas sugerindo dissociação entre atitudes implícitas e explí citas entre os participantes Os participan tes mostram uma atitude explícita negativa frente aos ricos e ao mesmo tempo atitude implícita positiva corroborando as hipóte ses dos autores Seguindo a mesma linha teórica e uti lizando medidas similares White Jackson e Gordon 2006 encontraram dissociação entre atitudes explicitas positivas e atitu des implícitas fortemente negativas fren te atletas portadores de deficiência física Cunningham e colaboradores 2001 encon traram dissociação entre medidas implícitas e explícitas de atitudes raciais participantes autorreportaram simultaneamente atitudes explícitas não preconceituosas e uma dificul dade implícita em associar pessoas negras com atributos positivos No estudo de rea lizado por Siegrist Keller e Cousin 2006 medidas implícitas revelaram atitudes nega tivas frente a estações de energia nuclear as quais não foram detectadas por medidas explícitas Os resultados de Sherman e cola boradores 2003 mostraram que indivídu os fumantes apresentaram dissociação en tre atitudes implícitas e explícitas frente ao cigarro Indivíduos não fumantes por sua vez mantinham atitudes implícitas e explí citas fortemente negativas frente ao cigarro corroborando a hipótese da congruência en tre atitudes e comportamento Baron e Banaji 2006 desenvolveram um estudo com o objetivo de examinar o de senvolvimento de atitudes raciais implícitas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 187 Resultados de estudos prévios apontaram que crianças norte americanas brancas co meçam a reportar atitudes explícitas negati vas frente a membros de seu exogrupo por volta dos 3 anos Tais atitudes começam a declinar em direção à neutralidade em tor no dos 7 anos até desaparecerem aos 12 O que é desconhecido no entanto é o desen volvimento paralelo de associações automá ticas implícitas de atributos positivos e ne gativos frente a categorias raciais O estudo dos autores consistiu na aplicação de medi das de atitudes implícitas e explícitas frente a pessoas brancas e negras em três grupos de participantes um grupo de crianças de 6 anos um grupo de crianças de 10 anos e um grupo de adultos Os resultados mostraram que o grupo de crianças de 6 anos apresen taram um viés implícito pró pessoas brancas e anti pessoas negras o qual foi repetido nas medidas explícitas de autorrelato indican do uma associação entre atitudes implícitas e explícitas O viés implícito pró pessoas brancas e anti pessoas negras foi identifi cado com a mesma magnitude no grupo de crianças de 10 anos e adultos porém as me didas explícitas mostraram atitudes menos negativas frente a pessoas negras no grupo de crianças de 10 anos e atitudes neutras no grupo dos adultos Esse resultado suge re que na amostra estudada a dissociação entre atitudes implícitas e explícitas frente a grupos sociais aumenta com a idade Outro fator associado à relação entre comportamento e atitude tem sido a ambi valência das atitudes A ambivalência ocor re quando as valências positivanegativa atributos das atitudes não são totalmente definidas em relação a um objeto específico Tal fator diminuiria a magnitude da predição do comportamento pela atitude O estudo de Sparks Harris e Lockwood 2004 buscou investigar o papel moderador da ambiva lência na relação intenção comportamento em uma amostra de 197 indivíduos matri culados em um clube de atividades físicas Os participantes responderam a um questio nário contendo várias medidas medida de crenças frente ao exercício físico no padrão Likert de 4 pontos me exercitar no clube beneficia minha saúde contribui para minha vida social etc e para cada um desses itens uma medida de avaliação do tipo Likert de 7 pontos melhorar minha condição física é extremamente bom 3 ou extremamente ruim 3 atitudes frente ao exercício físico e intenções com portamentais ambas por meio de uma esca la do tipo Likert de 7 pontos ambivalência atitudinal por meio da medida de ambiva lência de Griffin citada por Thompson e co laboradores 1995 e o comportamento de ir ao clube por meio do registro do compu tador da utilização da carteira de membro na entrada do clube Os resultados apresentaram uma as sociação significativamente positiva entre comportamento e intenção β 038 p 00001 relação negativa entre comporta mento e ambivalência β 015 p 003 e ambivalência elevada estava associada com fraca relação intenção comportamento β 014 p 004 corroborando as hipó teses dos autores Finalmente outra questão a ser abor dada na relação entre comportamentos e atitudes são os aspectos culturais Alguns autores têm assumido a posição de que as atitudes nem sempre predizem os comporta mentos A cultura seria uma variável que determinaria esse grau de predição Em cul turas individualistas as atitudes seriam gran des preditoras de comportamentos Em cul turas coletivistas as normas seriam melhores preditoras Triandis 1993 1995 1996 Muitos modelos foram propostos com o intuito de explicar a relação entre as atitu des e o comportamento A figura a seguir re presenta um modelo elaborado por Chaiken e Eagly 1996 para fins heurísticos que busca englobar as variáveis que as pesquisas têm incorporado a seus modelos causais Esse modelo posiciona atitude em uma rede de outras variáveis psicológicas rele vantes ao comportamento Lendo da direita para a esquerda o modelo inclui a comportamento b intenção para manifestar o comporta mento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 188 tOrres neiva cOLs c atitude frente ao comportamento descri ta anteriormente como atitude específica em que o indivíduo considera o objeto e a situação que o envolve d hábito e e atitude frente ao objeto descrita como atitude em relação ao objeto em um nível mais geral Como determinante da atitude frente ao comportamento o modelo também in clui a antecipação dos resultados do com portamento divididos em três classes a resultados utilitários recompensas e pu nições b resultados normativos aprovação social dos outros e orgulho ou culpa que se segue de regras morais internalizadas e c resultados de autoidentidade afirmação ou repúdio do autoconceito De maneira geral pode se ressaltar que os resultados dessas pesquisas sugerem que as atitudes podem predizer o comporta mento em algumas circunstâncias As atitudes são boas preditoras de com portamentos quando se utilizam medidas específicas tanto de atitudes quanto de comportamentos As atitudes são melhores preditoras de comportamentos quando atitudes e com portamentos múltiplos são medidos Há uma forte relação entre atitudes e comportamentos quando as atitudes são baseadas em experiências diretas Fazio e Zanna 1978 observaram que a atitude é preditiva da participação em pesquisas em psicologia se tal atitude foi desenvolvida com base em experiências prévias de participação em pesquisas do que no simples ato de ler sobre essas pesquisas A atitude de uma pessoa é uma boa pre ditora de seu comportamento quando esse comportamento tem consequências importantes para a pessoa Para pessoas com baixo automonitora mento as atitudes são melhores predi toras de comportamento do que para pessoas com alto nível de automonitora mento Isso ocorre porque pessoas com Figura 86 teoria do comportamento planejado Hábito Atitude frente ao objeto Resultados utilitários Resultados normativos Resultados de autoidentidade Atitude frente ao comportamento Intenção Comportamento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 189 baixo automonitoramento confiam mais em suas atitudes e como elas guiam os seus comportamentos Debono e Snyder 1995 Segundo a teoria de comportamento planejado de Ajzen 1991 as atitudes são boas preditoras de comportamentos quando a medida de atitude avalia os três componentes da intenção comportamen tal a atitude da pessoa com relação a iniciar o comportamento a crença que a pessoa tem com relação ao que os outros acham que ela deve ou não fazer e a percepção da pessoa com relação a seu controle comportamental Finalmente a relação entre atitudes e comportamentos é maior quando a me dida de atitude avalia uma atitude com relação a um comportamento do que a atitude com relação a um objeto Por exemplo a probabilidade de que uma pessoa dê dinheiro a um político é mais bem predita pela atitude dessa pessoa com relação ao comportamento de fazer doações do que por sua atitude quanto ao político em questão Eagly e Chaiken 1998 atitudes e outras variáveis Algumas características individuais como o automonitoramento capacidade de con trolar o comportamento a ser emitido so cialmente introversãoextroversão au toritarismo e etc parecem afetar a relação atitudes comportamento apesar de essa abordagem ser menos estudada atualmente Evidências empíricas sugerem que pelo fato de pessoas com alto automonitoramento se rem mais sensíveis à situação social em que se encontram a percepção de norma subje tiva por tais pessoas pode ter maior impor tância na predição do comportamento que suas atitudes Por outro lado pessoas com baixo automonitoramento têm maior pro babilidade de serem influenciadas por suas atitudes que por pressões sociais Snyder 1974 Snyder e Swann 1976 Zanna et al 1980 apud Fazio e Olson 2003 A necessidade de avaliar NA é um traço de personalidade que reflete uma inclinação individual à criação e à sus tentação de atitudes Segundo Jarvis e Petty 1996 citados por Bizer Krosnick Holbrook e colaboradores 2004 a neces sidade de avaliar é um construto que pre diz a tendência das pessoas em se engaja rem em respostas avaliativas Pessoas com elevada NA são especialmente propensas a formar atitudes frente a todos os tipos de objetos e gostam de acessar as vantagens e desvantagens dos objetos que observam Bizer Krosnick Holbrook e colaboradores 2004 estudaram o poder preditivo da NA em relação a aspectos cognitivos compor tamentais e afetivos de processos políticos como por exemplo a quantidade de cren ças avaliativas que as pessoas sustentam em relação a candidatos o nível de partici pação em ativismo político e a intensidade de reações emocionais frente a candidatos políticos A hipótese dos autores era a de que pessoas com elevada NA manifesta riam mais respostas cognitivas afetivas e comportamentais em relação a processos políticos comparados a indivíduos com baixa NA Os dados foram provenientes de entrevistas eleitorais nos EUA nos anos de 1998 e 2000 As entrevistas foram conduzi das por telefone e consistiam basicamente na aplicação oral de escalas que mediam a necessidade de avaliar dos participantes bem como os aspectos atitudinais em rela ção a processos políticos Participaram do estudo 2583 eleitores Os resultados do es tudo indicaram que a NA desempenha um poderoso papel na modelação de compor tamentos emoções e cognições políticas Em relação a comportamentos pessoas com elevada NA foram mais propensas a se engajar no ativismo eleitoral e votar A NA foi capaz de predizer a quantidade de cren ças que as pessoas sustentavam sobre um candidato e a utilização de identificação partidária a argumentos do candidato para a formação de sua preferência de voto Em relação a afetos a NA foi capaz de predizer intensidade de reações emocionais frente a candidatos políticos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 190 tOrres neiva cOLs atributos ou ProPriedade das atitudes Força das atitudes Todos nós possuímos algumas questões ou pontos de vista mais passionais que outros Algumas pessoas possuem crenças afetos e comportamentos mantidos intensamente frente a determinados partidos políticos estilos de vida regiões atividades profissio nais valores dentre outros muitos objetos podendo manifestar se mais ou menos acen tuadamente frente aos mesmos Por exemplo mesmo assinalando 3 em uma escala de atitudes frente ao cinema brasileiro que varia de 5 a 5 duas pessoas podem se expressar de maneira diferente uma respondendo rápida e enfaticamente e a outra refletindo sobre a resposta ponde rando ideias levando mais tempo para res ponder Da mesma forma dois apreciadores de futebol podem se manifestar de forma di ferenciada frente a uma vitória ou derrota de seu time favorito mesmo apresentando a mesma pontuação em uma escala de atitu des frente ao time controlando hipotetica mente suas condições Resultados de pesquisas revelam que o impacto das atitudes na predição do com portamento tem sido consideravelmente variável o que significa dizer que as atitu des exercem mais ou menos influência no comportamento dependendo de uma série de fatores Haveria portanto algo por trás do caráter positivo e negativo de uma atitu de que promoveria seu poder de influência Essa propriedade é chamada de força da ati tude Ajzen 2001 Apesar da ausência de consenso entre os pesquisadores da força da atitude quanto a sua definição há uma concordância entre a maioria dos autores acerca das consequên cias desse atributo Dessa forma atitudes fortemente mantidas resultam em Processamento seletivo de informações Resistência a mudança Estabilidade ao longo do tempo Aumento do poder preditivo do compor tamento A posse de atitudes particularmente fortes aumenta a habilidade das pessoas de refutar ativamente novas informações opostas a suas atitudes bem como de acei tar favoravelmente novas informações pró atitudinais facilitando a resistência a ape lações persuasivas e consequentemente dificultando o processo de mudança das ati tudes Chaiken e Eagly 1996 Considere por exemplo uma pessoa que possui atitu des fortemente mantidas a favor da pena de morte presenciando um debate sobre o tema entre dois especialistas um contra e o outro a favor A pessoa que assiste ao de bate tende a aceitar com facilidade os ar gumentos do especialista a favor da pena de morte a refletir sobre tais argumentos e provavelmente se lembrará deles com mais facilidade reforçando suas atitudes iniciais O espectador também tenderá a contra argumentar ou até mesmo ignorar as ideias do especialista contrário à pena de morte aumentando a resistência à mu dança e a estabilidade de suas atitudes ao longo do tempo Por que algumas atitudes são mais for tes que outras Os resultados de Boninger Krosnick e Berent 1995 por exemplo mostraram que as atitudes mais fortemente mantidas pelas pessoas se referem a ques tões 1 que afetam diretamente os resultados e os interesses pessoais 2 relacionadas a valores filosóficos políticos e religiosos profundamente mantidos e 3 referentes a identidade grupal família e amigos próximos Vários outros fatores têm sido aponta dos como indicadores da força das atitudes e sua ligação com o comportamento dentre eles a quantidade e a qualidade de informa ção que a pessoa tem sobre um objeto atitu dinal a origem e a ordem de aquisição da informação o comprometimento emocional com as atitudes dentre outros INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 191 acessibilidade Fazio e Williams 1986 definem e opera cionalizam a força da atitude em termos de sua acessibilidade Conforme o modelo de redes associativas de memória a acessibili dade é a intensidade da associação entre a avaliação e o objeto atitudinal e pode ser medida pela velocidade de recuperação da memória ou tempo de resposta Portanto quanto mais forte for a atitude maior será seu poder associativo em relação ao objeto e mais fácil será sua recuperação da me mória Pesquisas acerca dos antecedentes da acessibilidade das atitudes têm seguramen te demonstrado que a repetição da expres são atitudinal aumenta sua acessibilidade Se a repetição da expressão de atitudes ver dadeiras aumenta a acessibilidade das mes mas o que acontece quando alguém mente sobre suas atitudes Maio e Olson 1998 realizaram estudos sobre os efeitos da dis simulação na acessibilidade das atitudes fortemente mantidas p ex atitudes frente a assassinato amizade e etc Seus resul tados mostraram que mentir sobre as pró prias atitudes frente a vários objetos produz um reforçamento significativo das atitudes verdadeiras manifestado pelo aumento da acessibilidade das mesmas quando a menti ra causa recuperação consciente da atitude verdadeira Similarmente Johar e Sengupta 2002 investigaram a influência da dissimulação na acessibilidade de atitudes fracamente mantidas Segundo esses autores as pessoas costumam mentir mais frequentemente so bre suas atitudes frente a objetosquestões triviais como dizer que gosta de determina do produto quando na verdade não gosta ou dizer que gostou da roupa nova do amigo quando na verdade não gostou Seus resul tados apontaram que mentir repetidamente sobre as próprias atitudes quando essas são fracamente mantidas aumenta a acessibi lidade das atitudes verdadeiras bem como sua persistência e correspondência com o comportamento corroborando os resulta dos de Maio e Olson ambivalência Considere o seguinte exemplo a comida fa vorita de João é churrasco Ele aprecia muito o sabor das carnes e dos acompanhamentos os considera visualmente atraentes e sente uma enorme satisfação em comê los Além do mais João conhece as particularidades dos tipos de carne e diversas maneiras de prepará las sabe quais são as melhores mar cas de equipamentos para churrasco onde encontrá los realiza churrascos em sua casa sempre que pode comparece aos churrascos nas casas de seus amigos e ocasionalmente vai a churrascarias Pode se dizer que João tem uma atitude positiva frente a churras co Por outro lado João sabe que esta não é uma comida muito saudável é rica em gor dura e a evita quando está de dieta Dessa forma apesar da avaliação geral de João frente a churrasco ser positiva ele também possui algumas crenças e afetos negativos frente a esse mesmo objeto Portanto a avaliação geral de uma pessoa frente a um objeto pode revelar mais ou menos concordância com suas crenças afetos e comportamentos em relação ao mesmo objeto Atitudes têm uma estrutura interna que consiste na associação entre o objeto atitudinal crenças afetos e cognições so bre comportamentos Em geral quanto maior a coerência entre os elementos da es trutura interna das atitudes maior será sua força Em outras palavras atitudes com es trutura interna altamente coerente são mais estáveis no decorrer do tempo resistentes a mudança e predizem melhor o comporta mento Sparks Harris e Lockwood 2004 re alizaram um estudo com o objetivo de in vestigar o papel moderador da ambivalência na relação intenção comportamento utili zando uma amostra de 197 indivíduos ma triculados em uma academia de atividades físicas Segundo os autores a intenção de frequentar a academia e o comportamento de realmente frequentá la seria moderado pela ambivalência ou seja indivíduos com crenças e afetos menos conflitantes apre INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 192 tOrres neiva cOLs sentariam uma relação mais forte entre a intenção e o comportamento comparados a indivíduos com crenças e afetos mais con flitantes Os resultados identificaram uma relação significativamente negativa entre comportamento e ambivalência confirman do as hipóteses dos autores A ambivalên cia elevada estava associada à fraca relação intenção comportamento o que significa que indivíduos que possuíam crenças e afe tos simultaneamente positivos e negativos frente ao comportamento de frequentar a academia possuíam fraca relação entre in tenção e comportamento bem como fre quentavam menos a academia O termo ambivalência tem sido fre quentemente utilizado para descrever incon sistências entre os elementos das atitudes ou dentro de cada elemento e a resposta avaliativa Huskinson e Haddock 2006 in vestigaram se indivíduos que possuem atitu des altamente consistentes com seus afetos e crenças diferem de indivíduos que possuem atitudes menos consistentes em relação à acessibilidade de suas respostas cognitivas e afetivas A hipótese central dos autores era a de que os indivíduos com atitudes al tamente estruturadas emitiriam respostas cognitivas e afetivas mais rapidamente que indivíduos com atitudes fracamente estru turadas Para tanto os autores realizaram dois experimentos utilizando uma amostra de 93 estudantes universitários que tinham de responder por meio do computador uti lizando diferentes pares de adjetivos cogni tivos e afetivos frente a diferentes objetos O tempo de cada resposta foi registrado e os dados foram analisados por meio da aná lise da variância e regressão Os resultados corroboraram a hipótese inicial dos autores reforçando a ideia de que a acessibilidade de julgamentos afetivos e cognitivos difere de indivíduo para indivíduo dependendo da consistência entre suas atitudes crenças e afetos Ademais observou se que respos tas afetivas foram significativamente mais rápidas que respostas cognitivas Diante de uma simples pergunta como você aceita um pedaço de bolo de choco late uma pessoa pode responder pron tamente sim ou pode se engajar em um processo avaliativo dos vários aspectos do bolo de chocolate antes de dar sua respos ta Segundo o argumento de Van Harreveld Van der Pligt De Vries Wenneker e Verhue 2004 as pessoas podem recorrer a julga mentos avaliativos de atributos gerais do objeto da atitude processamento do tipo top down ou julgamentos avaliativos de vários atributos específicos do objeto atitu dinal processamento do tipo bottom up dependendo de algumas circunstâncias como pressão de tempo pouco envolvimen to com o objeto atitudinal e informações li mitadas sobre o mesmo Esses mesmos autores realizaram um estudo com o objetivo de testar a afirmação de que julgamentos avaliativos baseados em atributos gerais do objeto processamento do tipo top down estão associados com menor tempo de resposta em comparação com julgamentos baseados em atributos es pecíficos processamento do tipo bottom up Ademais os autores investigaram se indivíduos com atitudes ambivalentes preci sariam de mais tempo para a integração da informação Três estudos foram desenvolvi dos com grupos de estudantes universitários em que eles tinham de responder a escalas de diferenciais semânticos por meio do computador acerca de suas atitudes e atri butos que compunham essas atitudes Três temas foram investigados atitudes frente à comida geneticamente modificada estudo 1 o inglês como língua de instrução es tudo 2 e atitudes frente ao cigarro estudo 3 O tempo de cada resposta foi registrado e comparado com o nível de ambivalência dos participantes por meio de medida de ambivalência de Griffin Thompsone Zanna e Griffin 1995 Os resultados apontaram que as pessoas precisam de mais tempo para alcançar um julgamento atitudinal global porque elas têm de passar por um processo de integração de atributos o tempo de res posta para um julgamento avaliativo basea do em atributos gerais foi significativamente menor que o julgamento de atributos especí ficos Os resultados dos estudos mostraram que a geração de uma resposta atitudinal INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 193 global consome mais tempo especialmente para respondentes ambivalentes pois estes precisam integrar avaliativamente atributos incongruentes do objeto atitudinal ForMação da atitude Em geral procura se indicar os fatores que influenciam na formação dessa organização duradoura de crenças e cognições em geral e que têm consequências também para o tipo de afeto que se forma em direção ao objeto conhecido concedendo a esse con junto a qualidade de predispor o indivíduo a determinados tipos de comportamentos enfoques funcionais Para Smith Bruner e White 1956 as ati tudes se formam para atender determinadas funções as quais são vistas sob uma pers pectiva pragmática de utilidade para o ajus tamento da personalidade diante do mundo exterior A personalidade individual envolve uma série de atitudes sendo o contexto no qual as atitudes se formam importante para determinar o papel que elas serão solicita das a desempenhar Dessa forma as atitudes de uma pessoa servem de mediadores en tre suas demandas internas e seu ambiente externo o material o social e o ambiente informacional do indivíduo Os autores especificam as funções principais que desempenham as atitudes Avaliação do objeto refere se às posições gerais inspiradoras de nossas reações a este objeto específico e a uma plêiade de outros a ele relacionados ou seja o fato de o indivíduo possuir uma atitude defi nida em relação a um objeto específico fornece o padrão necessário para que o mesmo estabeleça reações diante de tal objeto Ajustamento social esta função desempe nha o papel de possibilitar a facilitação o término a manutenção mais ou menos harmoniosa de nossas relações com as pessoas O ajustamento social das atitu des propicia as pessoas a oportunidade de uma boa acomodação social Externalização manifestação clara e insofismável de posições que defendem ou protegem o eu contra certos estados de ansiedade provocados por problemas interiores O indivíduo diante de uma situação do ambiente exterior exibe uma atitude que representa uma visão trans formada da maneira como ele interage com seus problemas interiores Katz e Stotland 1959 também defen dem a posição de que as atitudes humanas formam se para atender determinadas ne cessidades Para esses autores o entendi mento da necessidade geradora da forma ção da atitude determinada é indispensável para a compreensão do processo de mudan ça de atitude Dividem as funções em As atitudes servindo a função instrumen tal se caracterizam pela maximização ou minimização de custos Tais atitudes não possuem base profunda podendo esta ser facilmente alterada caso as condições circunstanciais o exijam As atitudes servindo de função ego defensiva protegem o indivíduo contra o reconhecimento de verdades indese jáveis São muito resistentes à mudança por atenderem a necessidades básicas da personalidade As atitudes servindo de expressão a um valor que o indivíduo preza sobremanei ra e em relação ao qual sente necessida de de exibir sua posição As atitudes servindo de função para colo car ordem no ambiente compreendendo os fenômenos e as circunstâncias e os integrando de uma forma coerente Para Kelman 1961 o entendimento de como um indivíduo muda uma atitude constitui uma indicação de como as atitudes podem ser formadas Esse autor considera três processos de influência social que pos sibilitam uma melhor compreensão em re INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 194 tOrres neiva cOLs lação ao processo de formação de atitudes São eles Aceitação é aquela que se verifica quan do um indivíduo aceita a influência de outro ou de um grupo a fim de obter aceitação por parte deste outro indivíduo ou grupo Por conseguinte as atitudes podem ser formadas em consequência de um processo de aceitação Identificação quando um indivíduo adota um comportamento que deriva de outro indivíduo ou grupo porque tal comportamento está associado à relação daquele com este indivíduo ou grupo Ou seja a preocupação com o apoio social do comportamento Internalização quando o indivíduo aceita uma influência porque essa influência é congruente com seu sistema de valores enfoques baseados na noção de consistência cognitiva Heider 1958 Newcomb e colaboradores 1965 e Festinger 1957 argumentam que há uma força em direção à congruência à harmonia à consistência entre nossas atitu des e entre os componentes integrantes das atitudes ou seja atitudes conducentes a um estado de harmonia são mais facilmente formadas e atitudes inconsistentes são de difícil formação e assimilação De acordo com os autores e a teoria da consistência cognitiva as atitudes se for mam segundo o princípio da harmonia e da boa forma sendo mais fácil organizarem se atitudes que formam um todo coerente e in ternamente consistente do que atitudes que devido a sua incoerência provocam tensão e desejo de mudança Rosenberg e Hovland 1960 susten tam o argumento de que existe uma es treita ligação entre as crenças acerca do objeto e o afeto dirigido a esse objeto Consequentemente quando há coerência entre os componentes cognitivos e afetivos das atitudes elas se formam de maneira es tável e duradoura No caso oposto não ha vendo coerência torna se difícil a formação de atitudes Seja pelo encontro direto com um objeto ou com comunicações sobre o objeto uma pessoa adquire uma ou mais crenças cada uma delas ligando o objeto a algum locus afeto Na proporção da força número e consistência mútua dessas novas cren ças será gerada uma disposição afetiva similar mas tentativa em relação ao ob jeto em questão Rosemberg e Hovland 1960 p 106 As atitudes sustenta Rosemberg têm uma estrutura psicológica que relaciona os eventos psicológicos entre si fazendo com que a mudança em um deles resulte na mu dança dos demais Assim a mudança do componente afetivo da estrutura da atitude pode resultar em uma mudança de compo nente cognitivo e vice versa enfoques baseados na teoria do reforço Hovland Janis e Kelly 1953 pesquisavam que a base das atitudes está no reforço ou na punição que se seguem à emissão de um comportamento Esses autores têm foco na mudança de atitude Com relação à forma ção das atitudes seu enfoque está baseado na teoria do reforço ou seja um reforço seguindo à emissão de um comportamento tende a solidificar tal comportamento e a atitude a ele subjacente enquanto que um estímulo aversivo tenderá a extinguir a res posta e impossibilitará a atitude Para Doob 1947 a atitude é uma variável interveniente que se interpõe entre um determinado estímulo e o comporta mento subsequente O autor se baseia na te oria de que existe um estímulo que conduz a uma resposta implícita atitude e termina com um comportamento explícito É importante ressaltar que Doob admi te que o comportamento emitido é função de vários determinantes e não apenas da res posta implícita atitude ao estímulo conside rado outros hábitos pulsões e mesmo outras INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 195 atitudes previamente adquiridas são capazes de intervir na resposta explícita que é o com portamento Uma vez formada uma atitude Doob admite que ela possa generalizar se a outros estímulos que estejam dentro de uma área restrita de comparabilidade Barber 2004 investigou como o con texto social comunitário no Tibet afeta a for mação de atitudes frente a diversos aspectos do casamento Com base em estudos prévios acerca do impacto da modernização nas ati tudes dos indivíduos o autor pressupõe que os indivíduos cujo contexto social da infân cia fora constituído de instituições não fami liares escolas oportunidades de emprego infraestrutura de transportes e mercados sustentariam atitudes mais individualistas frente ao casamento em comparação aos indivíduos educados em áreas menos mo dernizadas onde a presença de instituições familiares é mais intensa Atitudes individua listas nesse caso consistem em tendências avaliativas que favorecem os interesses in dividuais das pessoas e não as expectativas das famílias Segundo o autor isso aconte ceria devido à maior exposição das crianças a novas ideias à redução do tempo de inte ração das crianças com seus pais à redução da autoridade geral dos pais dentre outros fatores Foram investigadas atitudes dos participantes frente a sete aspectos do ca samento casamento infantil casamento ar ranjado casamento entre castas obediência à sogra poligamia divórcio e recasamento de viúvas A análise de regressão mostrou uma intensa relação entre contexto social comunitário e esses aspectos do casamento conforme supunha o autor Os indivíduos que cresceram em contato com instituições não familiares desenvolveram atitudes po sitivas frente ao controle individual e não familiar do casamento valores e funções são vistas como as bases das atitudes As pesquisas que se dedicam à investigação dessa relação entre valores atitudes e com portamentos têm apontado os valores como preditores de atitudes e comportamentos os mais variados Feather 1995 Feather 1995 descobriu que a importância que as pessoas atribuem a um valor específico influencia suas atitudes frente às escolhas comportamentais As funções das atitudes também mediam a relação entre valores e atitudes Portanto valores e funções são vis tos como a base das atitudes Mudança de atitudes As atitudes podem ser modificadas a partir de novas informações de novos afetos ou de novos comportamentos ou situações Assim pode se mudar a atitude em relação a um determinado objeto porque se descobre que ele faz bem à saúde ou nos ajuda de alguma forma Por exemplo se você desenvolveu uma atitude negativa em relação ao livro porque não gostou da capa espera se que após sua leitura você possa modificá la pela constatação de que ele te ajuda de alguma forma a compreender melhor o mundo Os tópicos sobre mudança de atitude estão relacionados diretamente à questão da formação das atitudes uma vez que na medida em que atitudes são mudadas novas atitudes são formadas A questão da formação e da mudança de atitudes pos sui uma vasta aplicação em algumas áreas da psicologia como no comportamento do consumidor conflito cognitivo e mudança de atitudes Um dos principais argumentos que susten tam a ideia da mudança de atitude se encon tra nas teorias do conflito cognitivo Há uma forte tendência em manter os componentes das atitudes em consonância Informações positivas sobre os rapazes por exemplo le varão a afeto positivo Informação positiva e afeto positivo levam a um comportamento favorável na direção do objeto O exemplo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 196 tOrres neiva cOLs mais clássico é a Teoria do Equilíbrio de Heider 1958 Segundo tal teoria a lingua gem apresenta elementos que representam os objetos da atitude e as relações entre esses elementos As relações entre objetos são vistas como unidades por exemplo P pessoa O situação X objeto atitu dinal formam relações sentimentais que podem ser positivas ou negativas tríade Há uma tendência para acontecer relações equilibradas ou desequilibradas Todos os elos positivos negativos ou dois negativos e um positivo formam relações balanceadas que tendem a não mudar Relações desequi libradas são mais propícias a mudanças Outra teoria que se sustenta sobre a ideia do conflito cognitivo é a teoria da disso nância cognitiva que afirma que os elemen tos da atitude precisam manter consonância O estado da dissonância cognitiva é desagra dável e o processamento da informação pode tornar se enviesado portanto é necessário modificar um dos elementos dissonantes No caso é mais fácil modificar crenças e afetos para aproximá los do comportamento Algumas versões do fenômeno da dis sonância estão frequentemente gerando pesquisa A primeira é a ideia de Festinger 1957 de que a inconsistência entre os ele mentos em um sistema cognitivo produz dis sonância Cialdini e colaboradores 1995 descobriram que as atitudes daqueles que possuem alta preferência por consistência cognitiva são menos suscetíveis à dissonân cia e são melhores preditoras de comporta mento Os autores argumentam que existem indivíduos que preferem manter consciência entre seus pensamentos afetos e ações en quanto outros não apresentam tal preferên cia A consistência segundo os autores se manifesta em três domínios interno entre suas respostas individuais externo suas respostas para os outros e dos outros en volve as respostas dos outros para você O segundo ponto de vista sobre a dissonância é o de Cooper e Fazio 1984 e Cooper 1992 Segundo eles a inconsis tência por si só não traz dissonância A dis sonância somente ocorre se a inconsistência trouxer consequências aversivas De manei ra geral evidências dão suporte à visão de que comportamentos dissonantes induzem a um desconforto geral nas pessoas e que a mudança de atitude pode eliminar esse desconforto Elliot e Devine 1994 Cooper e Fazio 1984 reforçam a necessidade do engajamento para mudança de atitude que provém da motivação resultante do reco nhecimento das consequências aversivas do comportamento dissonante Outros autores como Pyszcynski e co laboradores 1993 sugerem o oposto É pos sível ainda mudar uma atitude quando se é obrigado a se comportar em desacordo com ela Exemplo você não gosta dos rapazes que moram em seu prédio atitude negati va mas será obrigado a conviver com eles porque passam a estudar na mesma classe Para evitar uma tensão constante que o le varia a um conflito você irá procurar des cobrir aspectos positivos neles como o fato de serem bons alunos ou muito requisitados pelas garotas que permitam uma aproxi mação que gerará uma mudança de atitude atitude positiva Pyszcynski e colaborado res 1993 afirmam que uma das funções de vieses cognitivos é proteger as pessoas de emoções dolorosas então o reconhecimento de um fator desconfortável pode eliminar a distorção das cognições Assim instruções que atenuam o efeito dissonante favorecem a mudança de atitude em relação ao objeto Aronson 1992 e Steele 1988 res saltam o papel crítico da inconsistência sobre o autoconceito e sobre o processo de autoafirmação Se há uma inconsistência ela será crítica e portanto poderá produzir mudança de atitude se ela envolver o au toconceito O indivíduo deseja manter uma percepção de integridade global o que está relacionado com o autoconceito Quanto mais positivo for o autoconceito mais fácil é recrutar ideias que reforcem a autoade quação e menor é a necessidade de redu zir a dissonância Aronson e colaboradores 1995 encontraram que indivíduos são se letivos em suas estratégias de autoafirmação para diminuir sua dissonância cognitiva INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 197 atitude e persuasão A área da persuasão na psicologia es tuda a formação e a mudança de atitude Segundo tais estudos há uma predisposição para reagir frente a objetos novos crenças valores Um encontro com o objeto novo dá origem a resposta avaliativa cognitiva afe tiva comportamental resposta atitudinal que demonstra uma tendência a responder ao objeto de forma semelhante no futuro Existem diversos paradigmas para o estudo das atitudes e os processos de persuasão Nos argumentos relacionados à persu asão há um papel crítico da memória dos argumentos da mensagem como media dor da persuasão Hovland et al 1953 Os estudos mostraram recentemente que a memorização da mensagem é o mais impor tante fator na predição das atitudes Petty et al 1997 Essas ideias de persuasão se guem o princípio de processamento sistemá tico haverá um impacto comportamental da mensagem se houver exposição à men sagem prestar atenção em seu conteúdo compreendê lo concordar com o que foi compreendido memorizar Isso ocorrendo há a nova atitude Pelas teorias de processo dualístico os indivíduos processam informação super ficialmente princípio do menor esforço a não ser que haja motivação para se engajar em formas mais sistemáticas de processa mento Muitos trabalhos sobre persuasão continuam sendo guiados pelos modelos de elaboração probabilística ELM e pelo modelo heurístico sistemático HSM Esses modelos têm mantido sua popularidade e gerado pesquisas na área Embora pareçam diferentes há muita similaridade entre os modelos Alguns modelos tentam explicar a mudança de atitude de forma probabilís tica Esse é o caso do modelo ELM Existe um continuum de probabilidade definido pelo quanto os indivíduos estão motivados e são hábeis para avaliar o objeto da atitude Contínuos altos ou baixos definem novas atitudes fracas ou fortes Haverá um pro cessamento sistemático central quando há alta motivação e habilidade caso con trário haverá um processamento periférico heurística atribuição Petty e Cacioppo 1986 Pelo modelo heurístico sistemático Chaiken et al 1989 as pessoas aprendem e armazenam vários heurísticos de persua são que são usados para avaliar a mensa gem Essa aprendizagem ocorre pelo proces samento sistemático ou simplesmente por evocação de heurísticas p ex podemos confiar em experts A evocação heurística predomina quando a capacidade ou habili dade é baixa A mudança de atitude é determinada por ambos processamento central e perifé rico que envolve heurística Para demonstrar a importância dos processos motivacionais e da habilidade no processamento da infor mação Chen e colaboradores 1992 des cobriram que a prevenção de um conteúdo contra atitudinal leva as pessoas a resistir à mensagem e a gerar pensamentos desfavo ráveis principalmente quando a questão era pessoal e quando as pessoas não estavam distraídas De acordo com os modelos de proces samento dual da mudança de atitude quan do a motivação ou a habilidade de escruti nar a informação relevante para a atitude está ausente os processos periféricos são mais prováveis de determinar os resultados da persuasão No caso processos periféricos incluem simples regras de decisão heurís ticas processos de condicionamento e ou tros processos que não envolvem a análise pormenorizada dos méritos do objeto da atitude Petty e Cacioppo 1986 Estudos recentes analisam fatores periféricos como a credibilidade do comunicador Hurwitz et al 1992 apud Petty et al 1997 atrativida de e poder Shavitt et al 1994 apud Petty et al 1997 Diferentes variáveis influen ciam a persuasão em diferentes processa mentos e em diferentes níveis do continuum de probabilidade Alguns estudos ressaltam o efeito do humor sobre a persuasão Mayer et al 1992 Mayer e Hanson 1995 O hu INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 198 tOrres neiva cOLs mor emoções negativas medo etc pode levar ao processamento periférico de forma direta ou afetar a disposição para avaliar a informação Fatores determinantes da mudança de atitude De maneira geral a mudança de atitude pode ser explicada por alguns fatores ante cedentes que influenciam e pelo processa mento que o indivíduo realiza da mensa gem O processamento do indivíduo media a relação entre a mensagem o contexto o recipiente da mensagem e a fonte desem bocando na mudança de atitude A Figura 87 resume a relação entre os fatores que influenciam a mudança de atitude De maneira geral os fatores relaciona dos à fonte que têm recebido maior aten ção foram a credibilidade a atratividade e o status minoritário ou majoritário Os fatores da mensagem que receberam maior inves tigação das pesquisas foram comunicações unilaterais ou bilaterais mensagens persua sivas mensagens esporádicas forma da mensagem natureza dos argumentos argu mentos positivos versus negativos escassez etc Os fatores relacionados ao recipiente avaliam a experiência anterior a necessida de de conhecimento sobre o objeto a ade quação ou identificação com a mensagem etc Os fatores de contexto que influenciam a mudança de atitudes incluem a oralidade da mensagem a atuação da televisão ou dos anúncios em jornais etc Enfim os estudos em mudança de atitude continuam a florescer Os estudos esqueceram se da pergunta inicial sobre quando uma variável era persuasiva ou não para iniciar o processamento cognitivo e mudar a atitude e começaram a analisar os processos fundamentais pelos quais as variá veis atuam e o impacto delas Petty et al 1997 As perguntas sobre como as variáveis influenciam o processamento de informa ção estão sendo cada vez mais exploradas Outro fator que pode ser relevante é o reco nhecimento de que a variável influencia o processamento da informação e daí afeta Figura 87 relação entre variáveis independentes variáveis mediadoras e mudança de atitude Fonte Mensagem Recipiente Contexto Mudança de atitude Processos afetivos Processos cognitivos Processos comportamentais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 199 rá o processo de dissonância e a motivação para mudar a atitude A partir daí é possível avaliar em quais circunstâncias a motivação opera para a mudança ou não da atitude Nos modelos clássicos de mudança de atitudes as mensagens são apresentadas processadas e se bem sucedidas movimen tam as atitudes dos receptores para a posi ção argumentada A atitude revista por sua vez pode influenciar um comportamento subsequente em condições apropriadas O modelo de probabilidade ELM e o mode lo heurístico sistemático HSM são exem plos de modelos de processamento dual que abordam esse processo geral de recepção da mensagem mudança de atitude e talvez mudança de comportamento Os modelos de processamento dual asseguram que se o receptor é capaz e está motivado ele irá ela borar ou sistematicamente analisar mensa gens persuasivas Se a mensagem é racional baseada em dados e lógica ex forte ela irá persuadir Se não não Fatores auxiliares do contexto terão pequena influência nesses resultados Contudo se os alvos das mensa gens são desmotivados ou incapazes para processar as mensagens eles irão usar esses fatores auxiliares chamados caminhos peri féricos ex fontes atrativas ou heurísticas ex papai está sempre certo para facilitar um processamento mais elaborado na for mação de uma resposta atitudinal Essas ati tudes são menos resistentes a pressões con trárias menos estáveis e menos ativadoras do comportamento quanto às atitudes que se formam pelo processamento elaborado Como já foi dito os modelos duais for mam o paradigma básico nos estudos sobre persuasão Nesses modelos fonte e men sagem possuem papéis distintos que em conjunto com a motivação e a habilidade para processar a informação determinam os resultados das interações persuasivas Kruglanski e colaboradores Kruglanski e Thompson 1999a 1999b Thompson et al 2000 mudaram a visão do processamento dual em seu unimodelo que aceita a impor tância da motivação e da habilidade mas descrevem um único processamento cogni tivo que dá conta dos efeitos da fonte e da mensagem na persuasão A cognição nos modelos de persuasão também traz uma perspectiva de processo único mas postula uma série de estágios de processamento que ocorrem em resposta a mensagens persuasivas A cognição no mo delo de persuasão não desconsiderou o con junto de dados compreensível dos modelos de processamento dual mas seu tratamento interessante sobre a distração o humor e as variações da atitude inicial sugerem insights úteis aos processos fundamentais de persua são Crispin e Crano 2006 Nos últimos anos o estudo das influ ências minoritárias e majoritárias sobre a mudança de atitudes têm se tornado mui to forte Mudança de atitude induzida por fontes oriundas de grupos minoritários re presenta um caso especial na persuasão As minorias influenciam os pesquisadores a focalizar nos processos intraindividuais que são ativados em respostas aos argumentos e às opiniões das minorias Esses processos incluem reações cognitivas ou pensamen tos dos receptores aos apelos das minorias Crispin e Crano 2006 Modelos recentes têm integrado as con cepções dos modelos de processamento dual de mudança de atitudes com a abordagem da identidade social na tentativa de compreen são da persuasão no contexto social Há da dos que indicam que os processos voluntários de mudança se diferenciam precisamente dos processos automáticos Pressões internas e externas provavelmente orientam a pesqui sa de persuasão e possuem implicações na construção de teorias que possam ser aplica das ao mundo real Particularmente relevan te teoricamente é a questão dos motivos que dirigem as trocas de influência entre mino rias e maiorias e as mudanças temporais nas estratégias de processamento da informação que mediam a influência social Essa linha de pesquisa é consistente com as proposi ções de Moscovici 1980 de que o conflito é pré condição necessária para a mudança de atitude induzida pela minoria embora a mu dança possa ser indireta ou delegada INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 200 tOrres neiva cOLs outros mecanismos e a mudança de atitude Outros mecanismos explicam o processo de mudança de atitude e persuasão O primei ro diz respeito ao pareamento da mensagem com estímulos prazerosos p ex propa ganda que gera um condicionamento de uma atitude positiva Esse mecanismo fun ciona melhor quando há baixa motivação e atenção Outro mecanismo é a exposição repe titiva A exposição repetitiva pode levar à mudança de atitude por meio do princípio de que estímulos encontrados previamente são mais facilmente percebidos Tal explica ção não depende de atenção ou de processa mento do estímulo reFerências AIKMAN S N CRITES JR S L FABRIGAR LR Beyond affect and cognition Identification of the informational bases of food attitudes Journal of Applied Social Psychology v 36 n 2 p 340382 2006 AJZEN I FISHBEIN M Understanding attitudes and predicting social behavior Englewood Cliffs Nj PrenticeHall 1980 AJZEN I FISHBEIN M Attitudes and the attitu debehavior relation Reasoned and automatic pro cesses In STROEBE W HEWSTONE M Ed European Review of Social Psychology Chichester England Wiley 2000 p 221253 AJZEN I Attitudes personality and behavior Milton Keynes Open University Press 1988 AJZEN I Nature and operation of attitudes Annu al Review of 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mensuração usar atitudes conceito e áreas de estudo Uma visita aos estudos publicados no Journal of Personality and Social Psychology perió dico de mais alto fator de impacto na área e que dedica uma seção a pesquisas em ati tudes mostra a importância do construto Este é empregado em uma grande quantida de de pesquisas experimentais e correlacio nais incorporado em muitas teorias além de ser foco em várias outras A possibilidade de se explicar e predizer comportamentos a partir do conhecimento das atitudes é um motivador de inúmeros estudos Glasman e Albarracín 2006 Farley Lehmann e Ryan 1981 Kraus 1995 Wallace Paulson Lord e Bond 20051 Durante meados da década de 1930 Allport 1935 organizou várias definições de atitudes totalizando mais de uma cen tena delas De acordo com esse autor essas definições encerravam quatro dimensões ou características fundamentais das atitudes Assim foi detectado naquelas definições um componente de organização de cognições de afetos positivos ou negativos de tendên cia para se comportar de um modo condi zente com as atitudes e a relação destas com um objeto social Baseados em um modelo afetivo di versos autores coincidem em afirmar que as atitudes são avaliações sobre objetos psico lógicos as quais podem ser expressas nas di mensões bom ruim agradável desa gradável prazeroso desprazeroso Ajzen 2001 Eagly e Chaiken 1998 Thurstone 1931 E a maio 9 estratÉGias De mensUraçãO De atitUDes em PsicOLOGia sOciaL carlos eduardo Pimentel cláudio vaz torres Hartmut günther INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 205 ria dos pesquisa dores certamente concorda que as atitudes são predisposições aprendi das para responder de uma maneira favorá vel ou desfavorável com relação a um dado objeto Fishbein e Ajzen 1975 p 6 Esta conceituação é consoante com Thurstone que definiu a atitude como o afeto pró ou contra um objeto psicológico Thurstone 1931 p 261 Thurstone ainda explicou que tal definição descreve o potencial de ação fa vorável ou desfavorável em direção ao obje to Em resumo as atitudes são respostas ava liativas relativamente estáveis que são dadas a uma entidade ou situação As atitudes também foram definidas com base em um modelo de três compo nentes ver Olson e Maio 2003 os quais já foram detectados em Allport 1935 Esse modelo no entanto englobou em uma úni ca definição três componentes 1 um componente afetivo ou avaliativo que reflete o fato de a pessoa gostar ou não da entidade ou situação 2 um componente cognitivo que consiste nas crenças que as pessoas têm sobre a entidade ou situação 3 um componente comportamental que re presenta as tendências comportamentais em relação à entidade ou situação Embora esses componentes sejam inter relacionados podem ocorrer algumas inconsistências entre eles Por esse motivo Fishbein e Ajzen 1975 recomendaram que os três componentes fossem tratados separadamente com o termo atitude referindo se ao componente afetivo cren ça referindo se ao componente cognitivo e intenção comportamental referindo se ao último componente Em suma tanto a perspectiva dos três componentes teoria tripartite como o mo delo de valor expectativa teoria da ação racional cujo foco recai nas crenças avalia tivas têm dirigido a pesquisa sobre o con teúdo das atitudes Olson e Maio 2003 E de acordo com esses conceitos que definem a estrutura das atitudes como formada por um ou três componentes as atitudes são mensuradas Ademais diversos termos téc nicos na psicologia social são geralmente aplicados a certas classes de atitudes Eagly e Chaiken 1998 Seguindo esses autores as atitudes especialmente as negativas frente a grupos minoritários são chamadas de preconceito atitudes frente a indivíduos são geralmente rotuladas de amizade atração interpessoal ou preferência atitudes frente a si mesmo são geralmente definidas como autoestima atitudes para metas relativamente abstratas ou estados finais de existência igualdade liberdade salvação são comumente trata das como valores E ainda atitudes com im plicações para políticas governamentais ou relações entre grupos sociais são chamadas de atitudes sociais ou atitudes políticas Essa amplitude conceitual possivel mente explica por que provavelmente ne nhum conceito das ciências comportamen tais tenha sido usado tão amplamente por teóricos e pesquisadores como o termo ati tudes Defleur e Westie 1963 p 17 18 Fishbein e Ajzen 1975 revisaram as prin cipais teorias na área das atitudes abor daram especificamente as teorias de apren dizagem valor expectativa consistência e atribuição Ademais diversos manuais de psicologia social dedicaram um ou mais de seus capítulos para tratar das atitudes ver por exemplo Gilbert Fiske e Lindzey 1998 Myers 2000 Rodrigues Assmar e Jablonsky 2000 Rodrigues 1979 Rodrigues 1988 Smith e Mackie 1995 O estudo das atitudes de fato continua sendo um aspecto vital da psicologia social contemporânea Crano e Prislin 2006 p 346 É comum nesse sentido citar que a afirmação que Allport fez em 1935 no pri meiro Handbook of Social Psychology de que a atitude é o mais indispensável cons truto da psicologia social continua atual nos dias de hoje ver por exemplo Crano e Prislin 2006 Fishbein e Ajzen 1975 Petty Wegener e Fabrigar 1997 De acordo com a revisão de Crano e Prislin as subáreas mais estudadas envolvem a funções das atitudes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 206 tOrres neiva cOLs b importância dos atributos c normas grupais d influência social e consenso e representações das atitudes f teorias de processos duais g influência social aplicada h mídia e persuasão i mensuração e interpretação de atitudes implícitas j uma reconsideração da resistência estudos brasileiros 2002 2007 nos Periódicos eletrônicos de Psicologia Com o fim da caracterização das pesquisas atitudinais publicadas no contexto nacional como sendo especificamente da área da psi cologia efetuou se uma busca no PePSIC Periódicos Eletrônicos de Psicologia com o termo atitudes a ser considerado no título do artigo e surgiram 10 resultados de inte resse todos publicados entre 2002 e 2007 A maioria desses estudos considerou como respondentes estudantes universitários e estudantes do ensino médio de escolas pú blicas e privadas mas utilizaram se também amostras mais específicas como portadores de deficiência física Verificaram se os obje tivos de validação de escalas de compara ção de atitudes por grupos de verificação da importância de variáveis sociodemográ ficas e de correlação entre atitudes e outros construtos como traços de personalidade Os objetos atitudinais também variaram tratando se desde escola aposentadoria velhice maconha sono meio ambiente es tatística e avaliação psicológica A técnica preferencial de mensuração foi a escala de Likert 6 estudos seguido pelo diferencial semântico de Osgood 4 estudos e a esca la de intervalos aparentemente iguais de Thurstone 1 estudo Os estudos citados anteriormente são representativos apenas de uma amostra da psicologia social brasileira mas serve para dar uma ideia dos estudos publica dos em revistas de psicologia no país De fato tem se também desenvolvido escalas na psicologia brasileira para medir atitu des com relação aos mais diversos objetos e certamente esta é a forma mais comum de medir atitudes nesse contexto Pode se encontrar por exemplo atitudes frente ao doente mental Martins Nogueira Martins e Pasquali 1987 ao computador Gouveia Andrade Queiroga e Meira 2001 à reta liação organizacional Mendonça e Tamayo 2003 ao consumo de materiais pornográ ficos Guerra Andrade e Dias 2004 à es cola Fonseca Gouveia Gouveia Pimentel e Medeiros 2007 ou às drogas Gouveia Pimentel Medeiros Gouveia e Cavalcanti 2007 entre outras Vale ressaltar que essas medidas são comumente encontradas em artigos de re vistas internacionais que trazem medidas de uma infinidade de objetos como atitudes frente à pesquisa Papanastasiou 2005 à internet Sam Othman e Nordin 2005 ao meio ambiente Milfont e Duckitt 2006 ou mesmo ao chocolate Müller Dettemer e Macht 2002 só para citar algumas Essas referências mostram a importância da men suração das atitudes na psicologia princi palmente no contexto nacional Esse tópico é precisamente desenvolvido na continua ção deste capítulo Mensuração das atitudes Já na década de 1940 Sherif e Cantril 1946 destacaram que nos anos recen tes as atitudes de todos os tipos de pessoas frente a quase todos os assuntos concebí veis têm sido medidas p 296 Pelo revis to até este ponto podemos verificar que tal asserção ainda é válida para a atualidade Eagly e Chaiken 1998 explicaram que tradicionalmente as atitudes têm sido me didas em uma dimensão bipolar que varia de altamente favorável a altamente desfa vorável em relação a um objeto atitudinal Por outro lado podem se empregar obser INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 207 vações diretas do comportamento que po dem ser controladas ou não entrevistas in dividuais ou em grupo também podem ser utilizadas Richardson e Wanderley 1984 ou mesmo perder uma carta ou deixar cair outros objetos para medir atitudes de ajuda honestidade ou preconceito Silva Günther Lara Cunha e Almeida 1998 ou mesmo mensurações psicofisiológicas Cacioppo e Tassinary 1989 Em suma como explicaram Sherif e Cantril as ati tudes se inferem de reações verbais ou não verbais das pessoas p 307 Há muito foi encorajado o uso de uma abordagem que gere diferentes ti pos de evidências atitudinais a multiple indicator approach to attitude measuremet distinguindo se cinco técnicas de mensurar atitudes Cook e Selltiz 1964 1 medidas autoaplicáveis self report de crenças sentimentos e comportamentos 2 observação direta do comportamento para um objeto 3 reações do indivíduo de estímulos parcial mente estruturados como se apresentar uma fotografia de alguém e solicitar des crições dessa pessoa 4 performance em tarefas objetivas nas quais o desempenho é afetado por atitudes e 5 respostas fisiológicas Vários instrumentos têm sido utiliza dos para se medir atitudes Os métodos mais comuns destacados na época foram as me didas autoaplicáveis de autodescrição ou autorrelato medidas fisiológicas e técnicas observacionais Cook e Selltiz 1964 As técnicas observacionais para a me dição das atitudes variam de pouco estru turadas e informais até técnicas altamente estruturadas e formais Uma técnica pouco estruturada e informal a observação parti cipante propõe que o observador participe ativamente nas atividades do experimento Uma técnica mais estruturada a Análise do Processo Interativo IPA de Bales 1950 é usada para avaliar como as pessoas inte ragem em pequenos grupos No IPA o ob servador avalia as verbalizações dos mem bros do grupo em termos de 12 categorias criadas para medir as orientações sociais e emocionais e de tarefa Mesmo com essa diversidade de técni cas comumente alude se à mensuração das atitudes como formas de coletar as atitudes dos sujeitos por meio de escalas intervalares ou medidas escalares Pasquali 1996 ob jetivas do tipo lápis e papel as conhecidas escalas de atitudes attitude scales Essa mensuração no nível intervalar possibilita a utilização de estatísticas paramétricas como a média o desvio padrão o teste t a corre lação a regressão a análise de variância as análises de componentes principais as aná lises fatoriais as análises fatoriais confirma tórias e os modelos de equações estruturais Pasquali 2003 Além da já mencionada aplicabilidade em todas as subáreas do cam po das atitudes a fácil utilização o baixo custo dessas medidas e a possibilidade de coleta de dados em grandes amostras duran te pouco tempo são algumas das vantagens que justificam seu amplo uso Em razão des ses motivos especificamente revisaram se os métodos de Thurstone Likert Guttman Osgood Bogardus O desenvolvimento mais recente de Greenwald também foi contem plado tendo em vista o crescente uso das medidas implícitas mesmo que este capítu lo esteja focado nas medidas explícitas nas medidas diretas de atitudes Método de tHurstone Há mais de 70 anos Louis Leon Thurstone concluiu que as atitudes poderiam ser men suradas tendo descrito vários critérios para tanto Thurstone 1928 O primeiro pon to destacado por Richardson e Wanderley 1984 no que diz respeito à construção de uma escala de Thurstone é o número de itens Thurstone e Chave 1929 exemplifi cam a construção de uma escala de atitu des frente à igreja partindo de 130 itens opiniões dos participantes que devem ser medidas em um contínuo de intervalos apa INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 208 tOrres neiva cOLs rentemente iguais oriundo da experimenta ção psicofísica Em suma elas contêm uma série de afirmativas que já foram avaliadas previamente em termos de favorabilidade e apenas pedem que o respondente marque as afirmativas com as quais ele concorda Richardson e Wanderley 1984 destaca ram que o número inicial de itens em uma escala de Thurstone é grande em torno de 100 a 200 Com relação ao número de ju ízes verifica se também que é um número grande variando de 50 a 200 Os autores exemplificam uma escala de dogmatismo construída a partir do método de Thurstone Um exemplo de item seria 1 A causa principal da pobreza é a ausência do espírito humanitário p 48 Nas instruções explica se que são 100 itens para medir dogmatismo e que a pessoa deve colocar o número correspondente da disposição ao dogmatismo que pode variar de uma posição altamente positiva 1 a uma posição totalmente neutra 6 e 11 sendo uma posição totalmente negativa Seltiz Jahoda Deutsch e Cook 1974 afir maram que mesmo Thurstone tendo propos to outros métodos o método de intervalos aparentemente iguais é o mais usado tendo sido construídas escalas para a medida de atitudes com relação às guerras a filmes à igreja à pena de morte aos chineses aos ne gros aos brancos entre outros Richardson e Wanderley 1984 explicaram ainda to dos os procedimentos para a construção de escalas na perspectiva de Thurstone mas outros autores p ex Pasquali 1996 Seltiz et al 1974 assinalaram que este é um processo laborioso Porém mesmo com a desvantagem de ser um método trabalho so que demanda tempo é importante des tacar que este teve sua importância para o desenvolvimento inicial da mensuração de atitudes Essa dificuldade na construção de uma escala de Thurstone certamente levou à utilização mais frequente do procedimen to detalhado a seguir das escalas de Likert Rodrigues et al 2000 Método de likert De fato é muito provável que a técnica pro posta por Rensis Likert em 1932 seja uma das mais ou por que não dizer a mais uti lizada na construção de escalas psicológicas Pasquali 1996 Ao trabalhar com o método de Likert o pesquisador também deve partir de uma quantidade de itens e administrá lo em um grupo de sujeitos Esses itens se classificam em um contínuo de 5 pontos que vai de concordo totalmente a discordo totalmente Após cada item é correlaciona do com o escore total indicando o quão da mesma coisa os itens medem e as respostas são analisadas em termos de se verificar seu poder discriminativo com relação ao grupo superior e inferior Pasquali 1996 Seltiz et al 1974 Pasquali diferenciou procedi mentos empíricos e analíticos na construção de uma escala de Likert Para esse autor os procedimentos empíricos consistem em 1 criar itens sobre o que se quer medir um construto psicológico e 2 coletar as respostas dos sujeitos em uma escala Os procedimentos analíticos por sua vez visam determinar a seleção final dos itens e a avaliação dos parâmetros da esca la p 124 Ele ainda explicou que Likert sugeriu que a seleção dos itens de fato fosse baseada no teste t entre as médias de cada item de acordo com o grupo superior versus inferior Destacou por outro lado que nes se sentido são mais promissoras as análises da teoria de resposta ao item no âmbito da psicometria moderna Destaca se que o método de Likert em comparação com o de Thurstone é mais em pírico Seltiz e colaboradores 1974 expli caram que embora Likert tenha usado cinco pontos em suas escalas outros pesquisado res empregaram um número maior e outro menor para mensurar a concordânciadis cordância com os objetos atitudinais Seltiz e colaboradores 1974 p 414 também exemplificaram a mensuração das atitudes a partir da técnica de Likert INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 209 Seltiz e colaboradores 1975 pontua ram que a escala Likert tem sido usada am plamente em estudos de atitudes frente a ne gros ou ao internacionalismo Atualmente podem ser encontradas escalas de atitudes para mensuração dos mais diversos objetos Os autores ainda destacaram que a escala de Likert tem várias vantagens em relação à técnica de Thurstone como a possibilidade de incluir itens que não se prendem dire tamente à atitude investigada podendo se incluir qualquer item que demonstre empi ricamente uma relação com o escore total e a facilidade na construção Tittle e Hill 1967 avaliaram o poder preditivo das atitudes considerando as esca las de Thurstone o diferencial semântico e Likert e Guttman verificaram que a escala de Likert apresentou a melhor predição para o comportamento além de ter apresentado maior precisão Os dados ainda mostraram que a escala de Thurstone apresentou o menor poder preditivo e precisão Por ou tro lado enfatize se que escores produzi dos por escalas Likert têm se relacionado com aqueles gerados pela abordagem de Thurstone variando de r 060 a 095 mas a abordagem de Likert tem mostrado melhor precisão split half formas parale las ou teste reteste em comparação com a proposta de Thurstone Roberts Laughlin e Wedell 1999 Esses autores ainda explicaram que Likert nunca propôs uma teoria para justi ficar seu modelo e que a teoria clássica dos testes só foi usada para este fim anos após a proposta inicial de Likert Depreende se de todo o anterior que a proposta de Likert parece realmente viável para a mensuração das atitudes mas também não é isenta de limitações e consequentes críticas como a de ser inadequada para medir atitudes ex tremas Roberts et al 1999 Tais formas podem ainda ser favoreci das pela mensuração na internet que pode ser considerada uma área inevitável nos dias de hoje para a pesquisa em psicologia social Mensuração online Outra forma de mensuração de atitudes e de outros construtos que vem sendo cada vez mais utilizada é a mensuração utilizada em survey online e a despeito das precon cepções as pesquisas empíricas têm mos trado vantagens já reportadas na literatura 22 Devemos lutar pela lealdade a nosso país antes de podermos considerar a comunidade mundial aprovo Desaprovo inteiramente aprovo indeciso Desaprovo inteiramente 1 2 3 4 5 Um exemplo mais recente seria uma escala de Likert para medir atitudes frente à violência anderson Benjamin Wood e Bonacci 2006 instrUções Por favor indique em que magnitude você concorda ou discorda com as seguin tes afirmações usando a escala de resposta a baixo 1 Discordo totalmente 2 Discordo 3 nem concordo nem discordo 4 concordo 5 concordo totalmente 1 a guerra é frequentemente necessária INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 210 tOrres neiva cOLs metodológica como a facilidade na coleta ou a possibilidade de oferecer feedback ao respondente Gosling Vazire Srivastava e John 2004 Günther 2008 Recentemente tornou se evidente por meio de dados de amostras em 16 países que existe uma equivalência entre a forma de mensuração convencional tipo lápis e papel e a mensu ração do clima organizacional pela internet Beuckelaer e Lievens 2009 Mesmo sendo necessário o teste explícito desta equiva lência para diversos construtos pondera se que existem razões suficientes para a men suração de atitudes online Um exemplo de item de atitudes ancorado em escala Likert medidos via Web Survey seria HR SURVEY 2008 visto na Figura 91 Esse formato de item é utilizado para a mensuração de atitudes do trabalhador com relação ao comprometimento com a compa nhia em que trabalha em uma escala de cin co pontos variando de concordo totalmente a discordo totalmente Verificamos que cada vez mais essa forma de coletar dados pela internet vem ganhando espaço nas pesqui sas em psicologia social A facilidade com que se realiza o levantamento de atitudes via internet pode ser particularmente útil para pesquisas que buscam conhecer pa drões atitudinais entre culturas mais preci samente no âmbito das pesquisas em psico logia social transcultural Método de guttMan O enfoque de Guttman 1944 1945 1947 1950 apud Pasquali 1996 por sua vez su põe unidimensionalidade da propriedade psicológica Os itens expressam magnitudes diferentes em uma sequência monotônica crescente são itens cumulativos em que a aceitação de um item de maior nível redun da na aceitação dos outros Portanto con siste na construção de itens escalonados cumulativamente Em outras palavras as afirmativas na escala de Guttman são or de nadas em uma hierarquia de forma que a concordância com uma afirmativa im plica que o respondente também concorda com as afirmativas que estão em um nível inferior da hierarquia Rodrigues Assmar e Jablonski 2000 informaram que a cons trução dessa escala envolve geralmente a elaboração de 7 a 8 afirmações Pasquali 1996 explicou que talvez o procedimento de Guttman seja mais adequado para avaliar a unidimensionalidade do que propriamen te para a construção de escalas e que na li teratura tal forma de medida é rara apesar de ainda usada Lindemann e Brigham 2003 Atitudes frente a objetos muito ava liados positivamente que não despertam polêmica como o aborto ou as drogas mas unipolares como atitudes frente ao esporte ou à música Eagly e Chaiken 1998 prova Figura 91 escala Likert de atitudes para mensuração online Concordo Não tenho Discordo Comprometimento plenamente Concordo opinião Discordo plenamente 5 Recomendaria aos meus amigos trabalhar na empresa ABC 6 Recomendaria a empresa ABC como um ótimo lugar para trabalhar 7 Os empregados são responsabilizados pelo seu trabalho INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 211 velmente seriam outros exemplos de aplica ções para esse tipo de medida Um exemplo de itens dessa escala cumulativa para a me dida de atitudes frente à psicologia seria 1 A psicologia é a mais importante das ci ências 2 A psicologia é de extrema utilidade no mundo moderno 3 A psicologia é benéfica à maior parte do conjunto das atividades humanas Rodrigues et al 2000 p 425 As instruções incluem que o respon dente deve assinalar também o grau de concordância com cada sentença podendo variar de 0 a 7 Como se deduz a cons trução dos itens não parece ser uma tarefa complicada na abordagem de Guttman mas a propriedade de unidimensionalidade colo ca uma barreira clara para a mensuração de objetos mais socialmente complexos Método de osgood Osgood Osgood e Suci 1952 Osgood Suci e Tannenbaum 1957 apud Pasquali 1996 desenvolveu sua técnica para a mensuração do significado Porém o diferencial semân tico tem sido utilizado para medir diver sos construtos principalmente as atitudes Um conjunto de escalas entendidos aqui como itens tipicamente ancorados em uma escala de sete pontos deve ser elaborado com o fim de cobrir um conceito específi co Osgood 1964 p 173 sublinhou que quando um grupo julga um conjunto de conceitos contra um conjunto de escalas ad jetivas representa se o que chamamos um diferencial semântico Veja se por exemplo um item para avaliação das atitudes frente à maconha Gouveia Pimentel Queiroga Meira e Jesus 2005 O mesmo formato já foi utilizado no contexto brasileiro para se medir atitu des frente ao site de relacionamento social Orkut Ferreira Pimentel Cirino Santos e Oliveira 2008 e atitudes frente às drogas à maconha e ao álcool apresentando se como uma escala válida e precisa Gouveia et al 2005 2007 Gouveia Pimentel Leite Albuquerque e Costa 2009 Pimentel Coelho Júnior e Aragão 2009 O diferen cial semântico portanto como se pode ob servar emprega adjetivos bipolares como forte fraco bom mau ativo passivo rápido lento quente frio justo injusto Osgood 1964 Pasquali 1996 Vale notar que esses itens bipolares são desenhados para me dir três dimensões nível de favorabilidade bom ruim poder fraco forte e atividade ativo passivo Provavelmente esta técnica de men suração de atitudes ainda tem grande utili dade na pesquisa psicológica contemporâ nea a exemplo de sua utilização na teoria da ação racional Fishbein e Ajzen 1975 e na teoria da ação planejada Ajzen 1991 as quais vêm se destacando pela eficácia na predição de comportamentos há mais de duas décadas Ajzen 1991 Smith et al 2008 para estudos de metanálise ver Armitage e Conner 2001 Godin e Kok 1996 Sheeran e Taylor 1999 incluindo estudos brasileiros p ex DAmorin 1996 Dias 1995 De fato a medida direta das atitu des na teoria da ação planejada pode ser obtida por meio da construção de itens em uma escala de diferencial semântico Ajzen 2009 e tendo se em vista o as pecto avaliativo das atitudes escolhem se adjetivos bipolares referentes ao fator ava liação Pasquali 2010 O comportamento deve ser especificado com base na estra tégia TACT Target Action Context Time ou seja definido em termos do alvo ação considero estar sob a influência da maconha Positivo negativo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 212 tOrres neiva cOLs Também é provável que após Likert essa seja a técnica de medida mais utili zada para a aferição das atitudes Friborg Martinussen e Rosenvinge 2006 em um teste empírico das escalas no formato de Likert e diferencial semântico chegaram à conclusão de que para a mensuração de construtos da psicologia positiva como a re siliência é preferível o diferencial semânti co pois ele reduz o viés de aquiescência ve rificado na escala Likert para a mensuração desses construtos É possível portanto que a mensuração de atitudes positivas usadas na psicologia positiva Peterson e Spiker 2005 também sejam favorecidas pelo dife rencial semântico Destaque se entretanto que na práti ca medidas baseadas nessa técnica p ex Ferreira et al 2008 Gouveia et al 2005 2007 2009 têm se demonstrado de difícil entendimento na realidade brasileira con fundindo os respondentes e demandando explicações adicionais No entanto uma me dida breve formada por 4 itens apenas e com boas propriedades psicométricas como essas acima citadas pode ser especialmente útil quando se deseja inserir diversas outras medidas como mediadores e moderadores da relação atitudes comportamento a se rem testadas por exemplo em um modelo de equações estruturais Byrne 2001 Método de bogardus O método de Bogardus conhecido como escala de distância social foi um dos pri meiros propostos iniciando se em 1922 para a mensuração de atitudes nas rela ções intergrupais Parrillo e Donoghue 2005 Seltiz et al 1974 Richarson e Wanderley 1985 asseveraram que ini cialmente essa escala foi aplicada no âm bito das atitudes entre grupos nacionais e étnicos mas que posteriormente foi es tendida para pesquisas de atitudes de gru pos ocupacionais e classes sociais Pode se verificar ainda a mensuração das atitu des frente a grupos anticonvencionais tais quais os hippies tendo em conta a distân cia social medida em uma escala de alta disponibilidade a baixa disponibilidade No sentido de até que ponto os participan tes da pesquisa gostariam de ter alguém aparentando e vestido como hippies mo rando de aluguel em um quarto em sua casa ou apartamento morando em sua vi zinhança morando em sua cidade como um amigo próximo em um jantar em sua casa ou como conhecido Steffensmeier e Steffensmeier 1975 p 395 A mensuração da distância social foi utilizada recentemente para aferir atitudes entre médicos e enfermeiras em um hospital entre estudantes universitários consideran do o retardo mental e entre profissionais de saúde com pacientes em fase terminal re centemente replicando os estudos originais de Bogardus Parrillo e Donoghue 2005 Um exemplo de formato de item de escala de distância social no que se refere à raça definida como grupo cultural é demonstra do Richarson e Wanderley 1985 p 96 a seguir contexto e tempo Francis et al 2004 Um exemplo de atitudes frente ao com portamento de assistir videoclipe musical violento seria 1 Para mim assistir a um videoclipe musical violento no mínimo 15 minutos por dia no próximo mês é Prejudicial Benéfico 1 2 3 4 5 6 7 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 213 Solicita se nas instruções que os res pondentes mostrem suas primeiras reações sem pensar muito buscando espontaneida de nas respostas não raciocinem muito e assinalem com um X em cada linha para os distintos grupos O método de Bogardus se afigura como muito interessante com um formato que é de entendimento rápido mas se limita para medir a distância social preconceito as relações entre indivíduos e grupos os estereótipos ou atitudes fren te a vários grupos Bogardus 1947 como os imigrantes Parrillo e Donoghue 2005 Quando são utilizadas os respondentes in dicam sua inclinação para ter vários níveis de contato com diferentes grupos alvo Essa técnica pode ser útil também na pesquisa na psicologia social dos grupos minoritários podendo ser empregada para diversos gru pos em que se verificam atitudes sociais ne gativas como para gays lésbicas mulheres negros pobres ou pessoas idosas Por outro lado pelo fato de que algu mas vezes as pessoas não estão dispostas a revelarem suas verdadeiras atitudes as es calas autodescritivas nem sempre nos dão as melhores informações Assim para reduzir a inadequação dessas escalas pesquisado res desenvolveram várias técnicas alternati vas Uma dessas técnicas a Bogus Pipeline Jones e Sigall 1971 que é uma técnica deceptiva consiste em dizer aos participan tes que foram conectados a uma máquina com eletrodos que essa máquina irá medir suas respostas verdadeiras por meio do mo nitoramento de mudanças fisiológicas em bora a máquina não possa fazer isso Mensuração de atitudes iMPlícitas Atualmente de acordo com o modelo auto mático de processamento de informações da cognição social um importante desenvolvi mento recente na área é a mensuração de atitudes implícitas Esta técnica vem sendo implementada com o objetivo de diminuir vieses das medidas reativas como aqueles provocados pela desejabilidade social que tanto pode se encontrar na medida de atitu des intergrupais Fiske e Taylor 2008 bem como no que tange às atitudes ambientais Hernández e Hidalgo 1998 Percebe se uma utilização cada vez mais crescente da mensuração implícita de atitudes estereótipos autoconceito e autoestima o que foi considerado um dos principais desenvolvimentos no campo da pesquisa em cognição social Hofmann Gawronski Gschwendner Le e Schmitt 2005 Neste contexto o Teste de Associação Implícita Implicit Association Test IAT de Greenwald McGhee e Schwartz 1998 tal vez seja o mais utilizado provocando um grande número de pesquisas e publicações No site do IAT por exemplo são listados mais de 50 pesquisadores que atualmente usam o teste Neste mesmo site pode se encontrar um link para sua demonstração httpsimplicitharvardeduimplicit Os estímulos usados incluem fotos de faces de pessoas obesas e magras faces de pes soas nativas dos Estados Unidos asiáticos negros europeus pessoas idosas e jovens nomes ligados a nacionalidades e religiões imagens de armas e objetos inofensivos pa lavras e outros símbolos Os dados são coletados a partir de com putadores equipados com o programa para o IAT IAT software Anthony G Greenwald e colaboradores têm proposto que o IAT é uma medida que se presta à mensuração das atitudes implícitas por examinar associações automáticas entre vários objetos atitudinais e atributos avaliativos Essa medida visa mais especificamente verificar quão associa categoria item Judeus norte americanos canadenses chineses 1 me casaria com 2 teria como amigos regulares INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 214 tOrres neiva cOLs do está um objeto atitudinal tais como inse tos e flores com um atributo avaliativo com as palavras agradável e desagradável ou fotos de armas e pessoas negras indicando que quanto mais proximamente associados estiverem os objetos atitudinais medindo o tempo de latência e os atributos avaliati vos mais forte é a atitude implícita No IAT para armas e objetos inofen sivos respondido online informa se que o sujeito deve responder dois breves questio nários e o IAT e que deve fazê lo em me nos de 10 minutos Após se responder esses questionários que envolvem questões sobre atitudes frente a negros e brancos e associa ções com armas se apresentam ao sujeito mais instruções de como responder ao IAT Isso envolve que o sujeito use as teclas E para as imagens que aparecem à direita do computador e I na parte esquerda da tela para a classificação de categorias p ex armas e itens p ex imagens de armas Mais uma vez é enfatizado que se classifique o mais rápido possível enfatiza se que não se conseguem resultados se a resposta for lenta O X vermelho indica resposta erra da e o sujeito deve corrigi la rapidamente No início devem se classificar as faces em faces de negros ou faces de brancos depois objetos em armas e objetos inofensivos e em seguida as categorias negros ou obje tos inofensivos e brancos ou arma Por fim pede se para categorizar negros ou armas e brancos ou objetos inofensivos de acordo com as teclas E e I e as imagens que apa recem no computador Se a resposta para a categorização de armas ou negros é mais rápida interpreta se que o respondente tem uma atitude implícita negativa frente aos negros e tende a associá los com armas ou mesmo com o crime Cada imagem fotos de negros brancos e objetos inofensivos como máquinas fotográficas ou refrigerantes é apresentada para categorização dos sujeitos e o tempo é registrado pelo programa Os modelos atuais têm considerado as atitudes muitas vezes como estando fora da consciência e do controle Tais atitudes têm sido consideradas implícitas as quais influenciam respostas automáticas e con sequentes interações com objetos atitudi nais Ao considerar a relação entre atitudes implícitas e explícitas verifica se que estas podem ser consideradas como um único construto Karpinski e Hilton 2001 Nesse sentido esses autores aplicam a metáfora das atitudes como um iceberg cuja parte que está acima da superfície do controle da consciência seriam as atitudes explícitas e as implícitas estariam submersas abaixo desta superfície Por outro lado os autores escla recem que as atitudes explícitas também vêm sendo consideradas como independen tes das implícitas As medidas explícitas de atitudes têm revelado que os brancos expressam atitudes mais favoráveis para brancos do que para negros e que tais relações têm sido verifica das no IAT ainda com um tamanho do efei to maior Fiske e Taylor 2008 Com base no estudo de Greenwald e colaboradores 1998 verificam se correlações que de fendem que as atitudes implícitas medidas pelo IAT são independentes das medidas explícitas Karpinski e Hilton 2001 verifi caram falta de correlação entre o IAT e as medidas explícitas de atitudes dando apoio ao modelo independente das atitudes implí citas versus explícitas Encontraram ainda que as atitudes explícitas predizem o com portamento mas que as atitudes implícitas medidas pelo IAT não o predisseram Esses autores no entanto afirmaram com base nos estudos pioneiros do IAT que a relação entre esse teste e as medidas explícitas de atitudes continua inconcludente Em estudo de metanálise verificou se uma modesta correlaçao entre as medidas implícitas e as explícitas Hofmann et al 2005 conclusões Neste capítulo revisitaram se os principais métodos de mensuração das atitudes A uti lidade de tais procedimentos é difícil de exa gerar considerando se que escalas de atitu des são virtualmente utilizadas em todas as áreas como estrutura função ou mudança de atitudes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 215 O método de Thurstone ainda é usa do atualmente além da importância his tórica para o desenvolvimento inicial da mensuração de atitudes embora seja muito trabalhoso O enfoque de Likert ainda é o preferencial seja no âmbito da psicologia mundial ou mesmo considerando se unica mente a psicologia brasileira sendo que não é considerado adequado para se medir ati tudes extremas A construção dos itens do formato de Guttman parece simples mas a unidimensionalidade da escala limita a me dida A prática tem mostrado que medidas de diferencial semântico Osgood são de difícil compreensão confundindo os respon dentes Quanto à estratégia de Bogardus a principal limitação reside na exclusividade do método para o campo das relações inter grupais Tem se verificado uma atividade pro dutiva na psicologia brasileira no âmbito da mensuração psicométrica utilizando se so bretudo Likert mas também o diferencial semântico Certamente uma das maiores vantagens das escalas de atitudes diz respei to à imensa multiplicidade de objetos psico lógicos e sociais que podem ser pesquisados a partir dessas ferramentas Isso confirma a elasticidade do construto destacada há mui to por Allport 1966 Estudos metodológicos comparando a precisão e a validade das técnicas entre diversos objetos populações e situações devem ser estimulados E a atividade de validação deve fazer uso da intervenção experimental pelas vantagens reportadas na literatura Pasquali 2003 Outro ponto importante seria a comparação entre medi das diretas e indiretas de atitudes tipo au torrelatos presenciais lápis e papel versus online Beuckelaer e Lievens 2009 Gosling et al 2004 medidas psicofisiológicas Cacioppo e Tassinary 1989 além da pes quisa sobre correlatos neurais com técnicas sofisticadas da neurociência Fiske e Taylor 2008 e medidas implícitas de atitudes como procedimentos de avaliações de pri mes considerando fotos de brancos e negros Payne Burkley e Stokes 2008 e o Teste de Associação Implícita Implicit Association Test IAT Greenwald Mcghee e Schwartz 1998 para diversos objetos atitudinais Essa forma cada vez mais utilizada de men suração é principalmente indicada para ati tudes sobre questões sociais sensíveis como a questão racial e étnica diminuindo o efei to da desejabilidade social Fiske e Taylor 2008 Esses empreendimentos supramencio nados e outros favoreceriam o há muito estimulado uso de indicadores múltiplos Cook e Selltiz 1964 Em suma concluí mos que as estratégias de mensuração de atitudes descritas neste capítulo são impor tantes como o são as medidas de autorrela to mas a representação do construto através de múltiplas medidas é preferível Kazdin 1995 Por fim as técnicas tradicionais re visadas aqui utilizadas conjuntamente com desenvolvimentos mais recentes atentos aos processos automáticos certamente contri buirão para a melhor mensuração e compre ensão das atitudes nota 1 Desta forma acreditamos que o debate acirra do que se travou sobre a questão da predição comportamental por meio das atitudes deve ser entendido também de acordo com as estratégias de mensuração do fenômeno E aperfeiçoando se as formas de mensuração certamente poderemos ter maior clareza da relação atitudes comportamentos A mensu ração das atitudes é fundamental ademais para se verificar a mudança de atitudes Petty Wheeler e Tormala 2003 reFerências AJZEN I Theory of planned behavior 2009 Dispo nível em httppeopleumasseduaizenindex html Acesso em 5 ago 2009 AJZEN I The theory of planned behavior Orga nizational Behavior and Human Decision Processes v 50 p 179211 1991 AJZEN I Nature and operation of attitudes Annu al Review of Psychology v 52 p 2758 2001 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 216 tOrres neiva cOLs ALLPORT G W Attitudes in the history of so cial psychology In WARREN N JAHODA M Org Attitudes London Penguin Books 1966 p1521 ALLPORT GW Attitudes In MURCHISON C Ed Handbook of Social Psychology Worcester Mass Clark University Press 1935 p 798844 ANDERSON C A BENJAMIN A J WOOD P K BONACCI 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internacionalmente por ser um melting pot1 é uma tarefa no mínimo com plicada O tema a ser tratado aqui é árduo pesado e evitado por muitos O dia a dia no Brasil não reconhece o preconceito e este tema é desviado nas casas escolas e nos mais diversos ambientes sociais Ele apa rece em manifestações sutis ou tão aceitas que não paramos para refletir sobre o tema Fiske e Taylor 2008 O preconceito no Brasil é expressado continuamente não apenas pelas atitudes e práticas cotidianas das diversas comuni dades mas principalmente por meio da estrutura social que efetivamente exclui as populações sócio historicamente discrimi nadas estratificando de maneira desigual as classes os grupos os indivíduos Um exemplo clássico do supracitado não reco nhecimento do preconceito é o do racismo praticado no país paradoxalmente denomi nado cordial tendo em vista pesquisas de opinião como a publicada pelo jornal Folha de São Paulo em 25061995 que abordou 5 mil entrevistados de todas as unidades federativas quanto a se tinham preconcei to racial o qual a maioria nega apesar dos dados que comprovam o abismo racial que separa negros e não negros neste país em detrimento daqueles Em suma quando se remete ao Brasil pode se reconhecer a discriminação con figurada na conjuntura de exclusão dos grupos afetados caracterizada em todas as instituições mas o mesmo não aconte ce com o preconceito que subsidia as prá ticas discriminatórias Nesse sentido este capítulo objetiva apresentar uma visão ge ral do preconceito que há no cotidiano para primeiro entender o fenômeno e então pro piciar uma reflexão ancorada na realidade para posteriormente entrar no tema de ma neira formal e acadêmica finalizando com sugestões de transformações e mudanças em diversos níveis A explicação para a escolha desse formato será dada adiante poder se ia adiantar que é uma leitura engajada do status quo e partindo do pressuposto que o príncipio da imparcialidade para este tema é inviável espera se uma interpretação calca da em suas experiências de maneira crítica e subsidiada Quando se fala em preconceito ele acontece onde O que é esse fenômeno E alguns chegam até a afirmar eu Eu não tenho preconceito quase como se fosse uma doença Pura desinformação ou falta de uma reflexão mais profunda do que a de mesa de botequim Vamos a algumas perguntas quantos amigos negros você tem Quantos amigos homossexuais você tem Seus filhos podem ou poderiam se relacionar com esses seus amigos gays ou lésbicas em festas por exem plo Quantos são deficientes físicos De reli gião diferente De classe social diferente da sua Quantas vezes você já viajou com gente de idade bem diferente Quantas vezes você já viu negros viajando no mesmo avião que o 10 PrecOnceitO estereótiPO e DiscriminaçãO amalia raquel Pérez nebra Jaqueline gomes de Jesus INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 220 tOrres neiva cOLs seu E no ônibus Sua mãe ganha ou já ga nhou mais que seu pai Sua empregada ou faxineira só tem a chave da entrada da cozi nha ou entra apenas por ela Seu prédio tem elevador social e de serviço Você sai para um boteco com colegas de nível educacional muito diferente do seu Para você todos os travestis são cabelereiros eou fazem prosti tuição Você sabe o nome do chefe de seu chefe mas o nome da copeira da cozinha que lhe prepara o café ou do faxineiro do prédio você sabe Quando caminha em algum lugar desconhecido e algum negro vem em senti do oposto com medo você troca de lado na rua Você já teve o sonho de encontrar com um estrangeiro casar e morar fora do Brasil Você já desejou casar com uma pessoa negra e africana Seu amigo descobriu que é soro positivo você muda seu tratamento com ele O que você pensaria se seu chefe fosse mui to mais jovem que você Quantas empresas conhecidas por você empregam pessoas com mais de 45 anos O que você acha da forma como as propagandas de cerveja usam a ima gem das mulheres E o que você pensa das mulheres transexuais As respostas a essas perguntas são de alguma maneira óbvias para a reflexão e até o que se espera delas Claro que nem sempre respondemos nenhum ou sim a todas elas mas são questões que de algu ma maneira delatam algum nível de este reótipo preconceito ou discriminação com algum grupo social que nós temos veremos as diferenças entre esses termos a seguir Essas perguntas se justificam tendo se como marco teórico aquilo que Santos 2003 aponta como uma marca da cultura ibérica que sustenta o preconceito dos brasi leiros a dissimulação isto é a cordialidade é aparência desmistificada ante aos dados Assim por exemplo o reconhecimento das parcerias afetivas interraciais em uma so ciedade hipócrita como esta nas palavras de Santos fundamentada na miscigenação e no ideal da igualdade formal não parece entrar em contradição de fato senão ide al Dados oriundos de relatórios do Banco Mundial 2001 e reflexões decorrentes de les reforçam tais afirmações Em 1995 o Brasil era o país com maior concentração de renda do mundo onde os 10 mais ricos possuíam 5132 da renda nacional abaixo seguiam o Quênia 4794 Honduras 4793 e a África do Sul 4735 Autores como Triandis McCusker e Hui 1990 têm estudado correlações entre valores transculturais nacionais e indicadores de bem estar social e econômico Em 1998 a população mais pobre de paí ses muito mais pobres que o Brasil como a Bolívia a Indonésia e o Zimbábue estava mais presente na escola do que no Brasil A partir de dados imprecisos calcula se que haja no Brasil cerca de 44 milhões de pessoas em estado de subnutrição o que equivaleria a quase 10 milhões de famílias O fato é que morrem todo ano cerca de 180 mil crianças por subnutri ção Betto 2003 p 54 Eis um curto extrato de repetição do óbvio os cantores estão certos quando fa lam que o Haiti é e não é aqui afinal o mais rico e democrático Brasil é muito mais injus to que o pobre e devastado Haiti A manifestação de qualquer tipo de preconceito ou seja a discriminação ocor re desde um nível quase imperceptível ou sutil até o descarado Fiske e Taylor 2008 Como exemplo são historicamente observa das em produções infanto juvenis dos estú dios Walt Disney aqui citados em função de seu alcance mundial manifestações estereotipadas e discriminatórias Os prín cipes e as mulheres indefesas são sempre brancos sem falar na música cantada pelo personagem Frollo ao Corcunda de Notre Dame Quasímodo Se tiver a oportunida de de ouvir pense em uma criança não de ficiente ouvindo e concordando facilmente com o que vê ou tente imaginar os malefí cios psíquicos infligidos a uma criança com deficiência Mas não apenas Walt Disney em seus desenhos animados faz isso a Dreamworks também As éguas principais do desenho Spirit são louras e de olhos claros Além dis INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 221 so no Brasil a rede Globo de televisão não apresenta expressões de afeto entre parcei ros gays Resende 2008 e a teledramatur gia em geral representa pessoas transexuais de forma apelativa ou erotizada Colling 2008 A animação Shrek poderia ser um contraponto na qual os protagonistas e an tagonistas destoam completamente do ideal estabelecido para ambos esse modelo al ternativo rendeu grandes cifras aos produ tores ante à quebra da rotina de repetição dos estereótipos Não se pode afirmar en tretanto que a experiência tenha se tornado referência para uma transformação do ide ário dos criadores e espectadores do produ to cultural cinema poderia antes ser uma exceção que acaba por marcar a presença da diversidade em um ambiente homogêneo de forma esporádica mas não cotidiana como se desejaria em uma conjuntura socioeco nômica que valoriza a diversidade um real melting pot Esses são possíveis exemplos do sutil a que vários de nós está exposto ou produz Outras manifestações ainda nessa linha no Brasil das mais comuns é o compartilha mento das chaves das casas nas entradas dos prédios no elevador de serviço no ser viçal que não come na mesma mesa que os patrões e em muitos casos nem ao mesmo tempo onde ambos se sentem desconfortá veis Alguns apartamentos são tão peque nos e ainda mantêm a porta de serviço Fica a questão se a porta mais próxima quando entra em casa é a da cozinha porque há uma entrada de serviço A geladeira não fi caria muito melhor nesse espaço Em outro nível já mais violento estão as seleções de pessoal em que uma vida é realmente prejudicada porque aquele indi víduo é obeso feio negro não pertencente àquele grupo ou qualquer outra coisa sobre a qual a pessoa tenha de pouco a nenhum controle Problemas com consumidores va riando do destrato até não haver produtos para aquele segmento portanto além de inadequado é pouco inteligente são outros exemplos Na composição familiar algumas questões de raça são tão enfatizadas que parece se estar falando de uma espécie di ferente não de humanos Nas sentenças proferidas pelos juízes baseadas entre ou tras coisas nas diferenças de pele classe so cial ou estética Etcoff 1999 Fiske e Taylor 2008 Novamente poderíamos citar núme ros porém pode ser mais instrutivo citar episódios representativos de nosso Zeitgeist judiciário A Constituição de 1891 não se referia à raça Meses após sua promulgação Rui Barbosa ordenou a queima dos docu mentos relativos ao tráfico de escravos Medeiros 2004 Foi julgado em 1966 o caso de um anún cio de imóvel que declarava não aceitar pessoas de cor para aluguel de um quarto o tribunal considerou que o caso não poderia ser julgado como racismo pois a Lei Afonso Arinos Lei 1390 de 1951 que tratava da temática cobria relações comerciais e visto que o quarto ficava em uma residência o ocorrido era da esfera privada Medeiros 2004 Sentença proferida pela 23a Vara Criminal do Rio de Janeiro relativa à acusação de racismo contra o cantor e composi tor Francisco Everardo Oliveira Silva vulgarmente conhecido como Tiririca devido a versos de sua música Veja os cabelos dela considerou que pelo fato de a mulher e a mãe do cantor serem afrodescendentes aquela parda e esta negra ele não poderia ser racista Santos 2003 Como disserta Medeiros 2004 a mera existência de legislação antirracista limitada como a Lei Afonso Arinos que tipi ficava preconceito de raça ou cor como con travenção penal posteriormente substi tuida pela Lei Caó Lei 7716 de 1989 que configurou esse preconceito como crime e atualmente pela Lei Paim Lei 9459 de 1997 não acarretou para a população negra de forma direta a conquista plena de seus direitos legais ante afrontas de ordem racial visto que o cumprimento da lei era dificultado por demandas de provas de or dem subjetiva para que fosse caracterizada INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 222 tOrres neiva cOLs a infração a qual não poderia ainda ser con figurada como crime de racismo O preconceito é uma manifestação que ocorre nos diversos níveis sociais e educa cionais da sociedade e seria no mínimo in gênuo acreditar que você ou eu não temos preconceito A diferença talvez esteja em saber que ele existe como se manifesta os males que causa e estar atento para evitá lo e até transformá lo Como assim Assim muito mais legal é ter gente de todo jeito para viajar ter gente que sabe fazer coisas diferentes com qualidades que nem imagi namos e com isso na família no trabalho e até para conversas de boteco Há décadas muitos estudiosos princi palmente voltados às ciências sociais pes quisam a questão do preconceito no Brasil podendo citar por exemplo as produções de Bastide e Fernandes 1971 Fernandes 1972 Freyre 1977 Hasenbalg 2005 Holanda 2000 Lima e Pereira 2004 Moura 1988 Munanga 1986 Nas ci mento 1978 e tantos outros cada qual abordando a temática dentro de seu espec tro específico de leitura dos problemas e respectivas propostas de solução conheci das são as críticas à teoria da democracia racial de Gilberto Freyre referência à fala ciosa ideia de que não existe racismo estru tural no país A questão do estudo psicossocial do preconceito no Brasil é recente em termos de corpo de estudos ela data dos anos de 1990 Em termos de reflexão é anterior mas em estudos empíricos ou teorias e mode los ainda engatinha Os estudos nessa área concentram se principalmente na Europa e nos Estados Unidos que são polos econô micos com muita imigração e que percebem perdem dinheiro com tais comportamentos Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 A diferença está em que nesses lugares a ma nifestação do preconceito é muito diferente da encontrada no Brasil e o estudo desses comportamentos deve apresentar um méto do muito particular para diagnosticá lo Mas no fim das contas o que é isso Qual a diferença entre preconceito este reótipo e discriminação No linguajar co mum esses três termos se equivalem mas em termos acadêmicos e jurídicos não Há um encadeamento lógico que precisa ficar claro Cognitivamente os seres humanos processam aproximadamente assim Fiske e Taylor 2008 Kimble Hirt Dias Loving Hosch Lucker e Zárate 2002 Rodrigues Assmar e Jablonski 2000 1 Juntamos pessoas em grupos para que possamos interagir com elas Caso não fizermos isso não saberíamos o que fazer com cada pessoa nova que aparecesse na nossa frente seríamos catatônicos Ou seja se virmos alguém vestido de terno e gravata vamos reagir diferente de alguém vestido com chinelo e bermuda 2 A partir desse agrupamento fazemos julgamento sobre esses grupos Assim agrupamos os biólogos os advogados os heterossexuais os homossexuais e demais grupos e julgamos que heterossexual é normal e homossexual não é normal pessoas que fazem biologia são bacanas e advogados são formais Destaca se que agrupamos várias pessoas em vários grupos e que nós mesmos fazemos parte de diversos grupos sociais homens mu lheres jovens adultos idosos orientação sexual religiosa cor de pele formação acadêmica etc O passo 3 é o comportamento que ocorre em acordo com o julgamento que fazemos Esse é o momento que estamos com alguém que faz biologia e como nos comportamos na mesa do boteco ou como tratamos um homossexual quando somos apresentados a ele ou ela Dessa maneira esses passos em sequên cia seriam 1 existem dois grupos patrões e emprega dos 2 empregados são subordinados e patrões são superioressubordinadores portan to 3 empregados não entram pela mesma porta dos donos da casa não comem à mesma mesa INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 223 A denominação que a literatura apre senta é a seguinte o primeiro passo a ca tegorização que fazemos é o estereótipo A segunda de julgamento sobre o grupo é a atitude e veja apenas a atitude negati va é chamada de preconceito Finalmente a terceira de comportamento baseado nesse preconceito é a discriminação Portanto fica claro que vamos falar de construtos diferentes que são o estereótipo o preconceito e a discriminação A opção por colocar preconceito como título do capí tulo é porque de todos os termos utilizados este é o utilizado pelo senso comum Mas em termos de sequência ele está no meio do processo estereótiPo O fenômeno do estereótipo tem se apresen tado como um importante objeto de estudo da psicologia social no sentido em que se insere no campo das relações de domina ção exploração segregação e isolamento sendo portanto compreendido a partir de vários ângulos e considerando se múltiplos aspectos acerca de suas características Rodrigues 1996 exemplifica tal afir mação ao conceber que os estereótipos se apresentam como preditores de comporta mentos de modo que o conhecimento dos estereótipos das pessoas em relação a de terminados objetos permite a formulação de inferências acerca da probabilidade de ocorrência de certos comportamentos Tais inferências podem ser descaradas ou sutis e são cognitivas já o afeto advindo dessa in ferência é denominado preconceito Fiske e Taylor 2008 Como já foi apresentado o estereótipo é a base do preconceito Sem ele não é pos sível existir o preconceito O estereótipo é uma atribuição de crenças que se faz a gru pos ou pessoas conscientes ou inconscien tes Dessa maneira não é possível ter um estereótipo de um jornal mas sim de jorna listas Etimologicamente deriva de duas pa lavras gregas túpos e stereos que são traço e rígido respectivamente Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 Estereótipo refere se portanto a cren ças e atributos compartilhados sobre um grupo Essas crenças compartilhadas são ge neralizações que se fazem sobre os grupos Há uma tendência geral humana a generali zar a partir de similaridades percebidas e a não se focar no que é diferente Pelo fato de termos de reagir de maneira relativamente rápida baseamo nos no que é comum a nós e a partir daí formamos generalizações que podem estar corretas ou não Além dis so estereótipos podem ser positivos nega tivos ou neutros e apresentam intensidades diferentes Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 Smith e Bond 1999 Visualmente seria assim tanto este reótipos corretos quanto incorretos apresen tam características semelhantes e variam de intensidade Quadro 101 Considerando que o estereótipo é uma crença e a crença é uma cognição relacio nada a um objeto tem se que o estereótipo pode ser considerado como sendo o com ponente cognitivo do preconceito Ou seja um componente pré atitudinal3 Rodrigues quadro 101 tiPO De estereótiPO cateGOriZaDO POr avaLiaçãO estereótipo tipo correto negativo neutro Positivo incorreto negativo neutro Positivo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 224 tOrres neiva cOLs Assmar e Jablonski 1999 Smith e Bond 1999 Novamente enfatiza se a impossibili dade de não existirem estereótipos O este reótipo é necessário para a sobrevivência do ser humano Ele é útil para vivermos em so ciedade e interagirmos com outros seres hu manos A dificuldade enfrentada nesse caso é de que o estereótipo seja rígido e de que nos baseamos apenas nele para interagir mos Como são baseados em generalizações bastante superficiais comumente nos impe dem de vermos as diferenças individuais o que é o comum na maioria dos casos Mas podem ser bastante funcionais e conquan to sejam baseados em algum levantamento ainda que assistemático podem nos facilitar a interação com as demais pessoas Smith Bond e Kagitçibasi 2006 Os estereótipos participam também de maneira essencial na formação da autoi magem das pessoas de modo que segundo Mead 1934 apud Von Hippel Hawkins e Schooler 2001 e Merton 1957 apud Von Hippel Hawkins e Schooler 2001 as pes soas geralmente acreditam nos estereótipos acerca delas mesmas e se comportam como se fossem verdadeiros endossando os este reótipos grupais no sentido de os transfor marem em descrições de suas identidades Hogg e Turner 1987 Muitas vezes por profecias autorrealizadoras Fiske e Taylor 2008 O estereótipo reduz a necessidade de atenção e processamento de informação do indivíduo Assim o indivíduo economiza energia e pode estar atento a outras ques tões na interação Ele categoriza e simplifica um mundo social complexo Outra função do estereótipo está em organizar a maneira como vamos interagir com nosso grupo so cial ou qualquer outro grupo Smith e Bond 1999 Assim decidimos como vamos reagir com uma pessoa baseados nesse estereóti po Essa estratégia ocorre porque ligamos pessoas a algum grupo social conhecido por nós ou do qual já ouvimos falar Pode ser um viés cultural essa pessoa é italiana ou por ela ser de um sexo x ou qualquer outra informação que tenhamos em mão A partir daí assumimos que tal pessoa tem muito em comum com esse grupo que conhecemos e vamos nos comportar dessa maneira Alguns estereótipos que podemos pen sar estão ligados à família brasileira ao nor destino ou às mulheres A família brasileira é um grupo onde existe o pai a mãe e 28 filhos Quantas famílias efetivamente são assim Outra questão a ser discutida que é muito frequente de ser ouvida sobre a famí lia nordestina é que há uma taxa de cres cimento muito grande nessa região Além disso é típico atribuir fragilidade à mulher Será que todas se comportam da mesma maneira e são assim realmente Vamos verificar estas afirmações a mé dia de habitantes por domicílio é abaixo de 4 38 pessoas o que significa só com essa in formação a impossibilidade de uma família típica ser de 5 pessoas Essa relação mantém se estável tanto na área urbana quanto na rural IBGE 2000 O IBGE 2000 apre sentou que o Nordeste hoje é uma das re giões com menor taxa de crescimento anual por motivos que não são os melhores alta taxa de mortalidade infantil e migração A mulher vive hoje em média pouco mais de 8 anos a mais do que os homens neste caso quem é frágil Além disso as mulheres são responsáveis por suas residências em quase 30 Ou seja 13 das casas hoje é susten tada por mulheres sendo Salvador a cidade onde as mulheres mais são responsáveis pe los lares quase 40 Número impensado há 20 anos Este dado interroga sobre dois pontos a questão da família típica e da mu lher típica IBGE 2000 Um dado curioso é que a pouca infor mação sobre um grupo não influencia na possibilidade de formarmos um estereóti po Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 Formamos estereótipos de qualquer grupo de pessoas ou de uma pessoa individual mente mesmo com pouca informação O difícil torna se depois mudar esse estereó tipo pois mesmo com muita informação costumamos nos basear nas primeiras que tínhamos já que ficam arraigadas Fishbein e Ajzen 1975 Desta maneira transmitir INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 225 informações parece não ser um método ade quado para a mudança do fluxo estereóti po preconceito e discriminação A estrutura deste capítulo foi baseada neste princípio e será explicada adiante na seção de redução do preconceito e da discriminação Os estereótipos agem de modo tal que o mero conhecimento de que um estereótipo existe acerca de um grupo social pode afetar negativamente a performance de membros desse grupo em tarefas em que os estereó tipos se tornam fatores relevantes Kray Thompson e Galinsky 2001 Por exemplo ter um estereótipo de que japoneses são bons em matemática pode alterar negativa mente o fator de que ele seja bom gerente já que são bons apenas em matemática A ativação do sistema cognitivo para to marmos decisões baseadas nos estereótipos está pautada em uma ativação automática que nos esforçamos ao mínimo para buscar mos aquela informação Fiske e Taylor 2008 Kimble et al 2002 Normalmente ligada a crenças muito disseminadas culturalmente Mas a boa notícia é que após essa ativação automática é possível refletir sobre ela e controlá la Criar uma ativação ponderada fazendo uma avaliação e revisão dessa cren ça que temos sobre aquele grupo ou membro dele é uma das maneiras de fazer essa ativa ção controlada que é uma das possibilidades de freio ou redução do preconceito e poste rior discriminação Devine 1995 Dovidio Kawakami Smoak e Gaertner 2009 Smith Bond e Kagitçibasi 2006 su gerem que se soubéssemos mais sobre o grupo como por exemplo o quão indivi dualistas hierárquicas e expressivas aquelas pessoas daquela nação ou região são prova velmente teríamos menos desentendimen tos entre as culturas Smith e Bond 1999 relatam dois estudos realizados na Europa sobre heteroestereótipo nos quais mesmo depois de 10 anos os estereótipos se man tiveram estáveis para as nações estudadas Fica também uma questão levantada por Bignami 2002 Será que esses estereótipos são colocados pelos outros grupos ou será que nós como membros do grupo também o mantemos Vimos que a autoimagem é impactada pelo estereótipo mas será que o contrário é verdadeiro De certa forma o que ocorre quando um estrangeiro vem ao país e é assediado por muitas mulheres de todas as classes sociais é um reflexo disso ou da corrupção que ocorre no país pois acreditamos que somos assim e não é pos sível mudar isso Esse é um exemplo de que a resposta para esta pergunta é afirmativa estudos sustentam que o heteroestereótipo e o autoestereótipo convergem Fiske e Taylor 2008 e Smith e Bond 1999 corroboram a afirmação de Bignami 2002 como mensurar o estereótipo Cada tópico apresentado aqui estereóti po preconceito e discriminação tem uma seção de mensuração O objetivo desta se ção é apresentar a você algumas alternati vas de como realizar pesquisas nessa área Evidentemente não temos a intenção de esgotar as possibilidades aqui seria muito pretencioso de nossa parte mas a de pelo menos levantar alternativas que de repen te podem empolgá lo a pesquisar Uma das maneiras comuns de se men surar o estereótipo é solicitar para que se atribuam adjetivos a um grupo de pessoas Com maior ou menor número de informa ções e baseado nesses atributos faz se uma análise de conteúdo que pode ser realiza da de diversas maneiras segundo Minayo 1999 Tais adjetivos podem ser agrupados pelos pesquisados ou previamente apre sentados pelos pesquisadores Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 Esse tipo de análise permite avaliar os estereótipos so ciais além do grau de consenso entre eles e claro na possível mudança caso o traba lho seja realizado de maneira longitudinal Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 Outra possibilidade é solicitar aos su jeitos para estimarem que porcentagem do grupo possui esta ou aquela descrição ou se encaixam naquele adjetivo por exem plo espertos O favoritismo na distribuição de recursos é outra maneira A utilização do paradigma experimental de quem dis INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 226 tOrres neiva cOLs se o que quando se apresentam esquetes e depois se pede para o sujeito relatar quem disse o que especialmente descrições consi deradas inteligentes ou gentis Outra possi bilidade é a ativação ou priming de alguma característica e depois prosseguir a medição das avaliações Fiske e Taylor 2008 Uma grande dificuldade de mensurar estereótipo para grupos coletivistas como o nosso é a questão da desejabilidade social em que pega mal exprimir determinados pensamentos os quais são filtrados antes de aparecerem na resposta do questioná rio mesmo que o anonimato seja garantido Essa é uma informação que devemos saber que existe e tentar evitá la ao máximo com mecanismos para mensurar e controlar a de sejabilidade Portanto a opção por mecanis mos de medidas automáticas é preferível e serão descritas na próxima seção Preconceito Preconceito é uma palavra derivada do la tim praeconceptu e alguns de seus signifi cados recorrendo ao Novo Dicionário Aurélio Ferreira 1975 que interessam diretamente aqui são os de 1 conceito ou opinião formados anteci padamente sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos 2 julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste 3 suspeita intolerância ódio irracional ou aversão a outras raças credos religiões etc Seguindo o fluxo descrito antes o pre conceito é a atitude relacionada a crenças com relação ao objeto Para retomar breve mente o que é a atitude é a avaliação Briñol Falces e Becerra 2007 com três componen tes cognitivo afetivo e de intenção compor tamental conação veja mais no Capítulo 8 deste livro Esse afeto ligado à crença para se caracterizar como um preconceito é ne cessariamente negativo Caso o afeto seja po sitivo caracteriza se por ser uma atitude Alguns autores argumentam que o pre conceito pode ser tanto positivo quanto ne gativo ligado a uma pessoa ou a um grupo p ex Fishbein e Ajzen 1975 Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 Por outro lado não há concordância com relação a essa afir mação Devine 1995 Kimble et al 2002 e como o termo no senso comum é utiliza do de maneira negativa evita se confusão ao utilizá lo desta maneira a qual será ado tada no presente capítulo A causa do preconceito não é clara na literatura Fiske e Taylor 2008 Kimble et al 2002 Alguns autores argumentam que ele pode ser inerente à natureza humana outros que advém de um processo de apren dizagem ou do contexto social e cultural do indivíduo Tais processos não são excluden tes pelo contrário são fatores que apre sentam uma relação dinâmica e recíproca Sabe se que todos influenciam em magnitu des diferentes a formação desse fenômeno tão complexo que é o preconceito Devine 1995 Fishbein e Ajzen 1975 Kimble et al 2002 Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 O preconceito componente afetivo tem relação e interage com a cognição Sabe se também que as respostas afetivas são mais rápidas e mais intensas que as respostas cognitivas e que elas vêm de uma cognição avaliada internalizada ao longo de anos muitas vezes inconscientemente e que podem gerar comportamentos Essas emoções específicas têm um grupo espe cífico como alvo e saber controlá las ou evitá las auxilia no processo de diminuição do preconceito e da discriminação Fiske e Taylor 2008 Algumas pesquisas relatam que a for mação de atitude e por sua vez do precon ceito é inerente à natureza humana por se tratar de um mecanismo de defesa e de in teração social Kimble et al 2002 Outros ainda afirmam que o preconceito pode ser uma expressão patológica do ser humano e assim fazer parte por exemplo de sua personalidade Devine 1995 Muitos ou tros alegam que há também um componen te biológico nessa formação para facilitar INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 227 e agilizar comportamentos Fiske e Taylor 2008 A aprendizagem ocorre como já foi apresentado de maneira sutil por exemplo em filmes que são exibidos em grande cir culação na escola e em casa Questões cul turais como a empregada doméstica entrar pela porta dos fundos para não ser vista ter uma cozinha americana em que todos se olham e ao comer ela se esconde e não come junto aos patrões ensinam padrões de comportamentos aceitos pelos grupos so ciais O papel educativo é fundamental na formação dos estereótipos sejam eles positi vos ou negativos e como são o substrato do preconceito é portanto fundamental para este também Nas palavras de Karagiannis 1999 p 21 a exclusão nas escolas lan ça as sementes do descontentamento e da discriminação social A educação é uma questão de direitos humanos No contexto escolar principalmente o acadê mico o trabalho de Allport no campo dos estereótipos negativos analisado por Marx Brown e Steele 1999 estipula que entre estudantes a presença de educadores que são membros competentes de grupos mi noritários propicia o aumento dos níveis de performance pelos alunos Esse dado é uma das justificativas de ações afirmativas co tas em universidades para grupos excluí dos e para a diminuição do preconceito e consequentemente da discriminação Difícil é dizer quem é negro no Brasil Munanga 2004 Oliveira 2004 como mensurar Uma forma de preconceito é a atribuição de causalidade que fazemos com relação a um grupo Atribuição de causalidade como o nome diz é atribuir causa de um sucesso ou fracasso a um grupo social O preconceito normalmente enviesa nossa atribuição de causa a sucessos e fracassos de grupos so ciais Comumente o grupo de minoria erra porque é preguiçoso ou incompetente o de maioria erra porque Deus não quis foi um equívoco desta única vez e assim vai Nota se a diferença entre essas atribuições Em que o grupo de minoria fez praticamente porque quis o outro foi levado a fazer por algo que estava fora de seu controle A este tipo de viés se denominam causas disposi cionais o outro quis e situacionais ocor reu desta vez fora do controle A atribui ção de causalidade é uma das maneiras de se mensurar o preconceito a determinados grupos sociais Para mensurar o preconceito em crian ças uma estratégia interessante é a desen volvida por Davis 2006 no seu documen tário Uma garota como eu A girl like me no qual ela apresentava às crianças duas bonecas uma negra e outra branca e reali zava perguntas simples como por exemplo qual delas é a mais bonita qual delas se parece mais com você Esse estudo pode identificar qual a preferência das crianças e descrever se há preconceito racial na esco la por exemplo e pode ser realizado com bonecas diferentes p ex Polly e Bratz princesas Disney bonecas de pano Susi e Barbie entre outras Em adultos tal estratégia não seria efi caz Assim elaborar uma descrição de requi sitos para uma vaga de emprego ou estágio e um currículo elegível seria outra possibi lidade A única diferença entre os currículos será no primeiro nome e na foto do currí culo Em um delineamento 2x2 pode ser de um homem e uma mulher ou 4x4 homem branco ou negro mulher branca ou negra Ou ainda outras variações podem ser inclu ídas como por exemplo pessoas avaliadas por um grupo como muito bonitas e outras como comuns podem entrar também para apoio na literatura veja também Quadros 2004 Outra possibilidade menos reativa são medidas psicofisiológicas com ima gem de ressonância magnética e saber qual área do cérebro está ativada quando deter minadas figuras são apresentadas ou com o tamanho da dilatação da pupila Fiske e Taylor 2008 ou com medidas indiretas de completar sentenças atribuições e explica ções Dovidio et al 2009 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 228 tOrres neiva cOLs discriMinação Os preconceitos são baseados em percepção de homogeneidade em grupos Como já foi apresentado e você pode ter lido em outro capítulo somos avaros cognitivos e evita mos pensar diferente e agirmos diferente do que já estamos habituados Isso evita desgaste de energia e tempo para o organis mo ou seja é funcional para o organismo e para a sociedade Feres 2006 Kimble et al 2002 Por outro lado também faz com que acabemos por agir quase que mecani camente já que evitar pensar evita também rever sentimentos e características atri buídas e assim quando possível conação e comportamento convergem Fishbein e Ajzen 1975 Ou seja comportamo nos de maneira discriminatória com grupos sociais por sermos guiados pela lei do menor esfor ço só não agimos assim quando algo no ambiente não nos permite As diversas formas de discriminação são institucionalizadas nas organizações por meio de sistemas de opressão social ampla mente conhecidos como os ismos racismo institucional machismo homofobia entre outros Tais práticas em geral relacionadas ao assédio moral podem convergir em qual quer forma de violência No caso da homo fobia por exemplo entendida como medo aversão ou ódio a homossexuais Jesus 2003 p 22 essa discriminação socialmen te estabelecida tende a desembocar em um crime homofóbico entendido como toda espécie de agressão física verbal ou psicológica contra a pessoa natural em função da orientação sexual homoeróti ca da vítima ou do agressor ou contra a pessoa jurídica em função de sua natureza ou funções de apoio à população homos sexual Jesus 2003 p 22 Na atualidade tem se utilizado os ter mos bifobia lesfobia e transfobia para se referir especificamente ao preconceito e ou discriminação contra pessoas lésbicas bissexuais e travestis ou transexuais respec ticamente Brasil 2009 Cada vez mais programas de mudança e de gestão da diversidade têm sido finan ciados por financiamento internacional para lidar com o desafio de enfrentar a estrutura ção dessas discriminações nos vários tipos de relações trabalhistas As manifestações da discriminação se apresentam em todas as dimensões das relações de exploração especialmente nos mundos do trabalho Como aponta Jesus 2005 em sua dissertação de mestrado so bre o trabalho escravo no Brasil contempo râneo mesmo o conceito de cidadania não foi ainda plenamente estabelecido na práxis das sociedades hodiernas Tendo se em vista desde a ainda existência da figura do escra vo vítima de uma total infra humanização a quem é negado tudo o que é considerado indispensável aos cidadãos do conceito à materialidade até o gozo coletivo das benesses sociais que ainda não é garanti do pelos Estados nacionais apesar das inú meras revoltas e revoluções democráticas como a Revolução Francesa e a Revolução Haitiana como mensurar Uma maneira bastante comum de realizar um diagnóstico da discriminação em uma organização é realizar o senso de seus cola boradores Esse levantamento simples dirá quantas mulheres exercem cargos de chefia que cargos os deficiêntes físicos estão ocu pando se os pardos e os negros estão em outro tipo de trabalho que não os opera cionais Os mais bonitos recebem melhores salários ou sobem mais rapidamente na car reira Esses dados demonstram a discrimi nação velada que existe nas organizações Outro levantamento possível é sobre as sentenças judiciais que são proferidas Por exemplo antes da promulgação da Lei Maria da Penha se um homem batesse em uma mulher sua pena seria pagar uma ces ta básica Pandjiarjian 2000 apud Neri 2006 Considere se ainda o calvário por que passam as pessoas transexuais para que tenham respeitados o nome e o gênero com INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 229 os quais se identificam sendo em geral im pedidas de serem legalmente reconhecidas da forma como vivem pessoal e socialmente Bento 2006 Bento 2008 Levantamentos como esses podem ser realizados para reve lar a discriminação existente até na justiça Vale o comentário que para mensu rar discriminação é preciso que os partici pantes ou sujeitos de pesquisa realizem o comportamento preferencialmente em am biente real Por isso descrições são medidas adequadas desses comportamentos que ao serem observados em ambiente real são velados e aparentemente em número não significativo A explicação dada para não contratar uma mulher ou um negro ou um deficiente é muito semelhante e passa pela racionalidade a qual sugere isenção Este comentário serve para alertar sobre os cui dados que se deve tomar nessa medida de comportamento estudos brasileiros Alguns exemplos de pesquisas nacionais nesta área serão apresentados aqui Embora ainda estejam em fase de desenvolvimento eles trazem resultados interessantes e pouco conhecidos nacionalmente sendo relevantes para futuras discussões e aprimoramento Um dos estudos analisou 400 maté rias jornalísticas realizadas nos jogos parao límpicos de Atenas em 2004 objetivando a análise do conteúdo e da apresentação dos jornalistas da deficiência dos atletas parao límpicos Encontrou se para surpresa que nesse quesito a cobertura foi realizada de maneira adequada não tendo sido encontra dos adjetivos ou matérias que denegrissem ou colocassem aquele atleta como mais herói que os demais Osandón Albarrán 2005 Ainda que na televisão o sensacionalismo e a sátira sobre os deficientes sejam normal mente evidenciadados Moreira 2006 Por outro lado os jornalistas estão menos preparados para matérias relaciona das à violência com relação ao trabalho do preconceito e discriminação Outro traba lho também utilizando o método de análise de conteúdo em matérias jornalísticas ob servou que no caso de relatos de violência com mulheres a imprensa ainda não sabe se pronunciar adequadamente pois conti nua tratando a mulher como um ser frágil coitado e incapaz Diferente do relato reali zado a homens que sofrem violência Néri 2006 Curiosamente esse tratamento dife renciado dado às mulheres pelo jornalismo tem precedentes desde quando as mulheres começaram a ter direitos como cidadãs ou seja em 1934 Araújo 2003 No que tange a uma população discri minada como a composta por lésbicas gays bissexuais travestis e transexuais estudos como o de Mott 2000 reforçam a percepção do elevado grau de homofobia vigente na so ciedade brasileira na qual no ano de 1999 um homossexual foi assassinado a cada dois dias em função de sua orientação sexual Trabalhos com comportamento do consumidor apresentam alguns resulta dos interessantes Foi realizado um estudo comparando se homens homossexuais e he terossexuais sobre o processo percebido de compras Como resultado Malva 2006 ve rificou que hetero e homossexuais não per cebem tão diferentes seus processamentos de compras como se supõe Dos três fato res propostos por Porto 2005 aprovação social afeto e racionalização encontrou se diferença significativa apenas para a racio nalização Ou seja os heteros se percebe ram um pouco mais racionais para a compra que os homossexuais Neste caso racional é uma compra mais planejada e realizada de maneira passo a passo Ainda comentando acerca de questões relativas à orientação sexual pesquisar so mente as telenovelas da Rede Globo no pe ríodo de 1974 a 2007 Ao todo foram en contradas 27 telenovelas com personagens homossexuais Nota se que há um aumento no número de homossexuais nas novelas e que seus papéis afeminados beirando o bobo da corte se transformaram ao longo dos anos Todavia o afeto entre os persona gens ainda é um tabu como por exemplo um beijo Resende 2008 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 230 tOrres neiva cOLs Estudos também indicam que os ido sos se percebem como sendo discriminados ou com a exibição de uma imagem errônea por parte da mídia Lira 2007 e que os de ficientes visuais não têm suas necessidades atendidas nos sites mesmo com leis específi cas para tal Além de não atendidos os defi cientes visuais são obrigados a escutar todas as propagandas ali expostas enquanto os demais podem evitá las Oliveira 2007 Como pode se notar o número de pesquisas ainda é muito pequeno Os pes quisadores das questões do preconceito e da discriminação no Brasil em suas várias dimensões oriundos de diferentes áreas do conhecimento criticam e lamentam o pouco interesse dos psicólogos por essa temática o que inclusive limita a amplitude dos estu dos visto serem mínimos os trabalhos com enfoque psicossocial que subsidiem pesqui sas nas áreas de ciências sociais administra ção e economia entre outras Como apon ta Santos 2003 por exemplo os poucos estudos na área de psicologia impedem a compreensão de como se forma a identida de racial no país em detrimento da gran de quantidade de estudos desse tipo nos Estados Unidos que dificilmente poderiam ser adequados à nossa realidade Mas o Brasil já está ainda que vagaro samente apresentando seus primeiros resul tados de pesquisa empírica Considerando se as décadas de trabalhos nas demais ciências humanas e sociais além das pressões sociais e políticas nesse sentido decorrentes inclu sive de fatos instituídos como as legislações pró direitos humanos e as ações afirmativas é possível supor um aumento de pesquisas nesta área Uma dificuldade é que os alunos pouco se interessam pelo tema ou quando se interessam não querem fazer pesquisa embora nem sempre seja tão árido quanto parece Por que ocorre Como salientam Lima e Vala 2004 p 12 o processo de infra humanização resulta da negação a membros de outros grupos exogrupos de determinadas característi cas humanas características que compõem a essência humana tais como os valores a cultura a linguagem a inteligência e a capacidade de expressar sentimentos pelos quais os grupos opressores deslegitimam os grupos oprimidos atribuindo lhes carac terísticas extremamente negativas o que é um processo que se percebe desde os pri mórdios da humanidade Entre milhares de referências possíveis eis o caso dos judeus vistos pelos nazistas como ratos ou demô nios inaceitáveis na sociedade arianizada ou o caso dos negros vistos pelos racistas como monstros inadaptáveis na sociedade embranquecida Como recorda Devine 1995 p 474 membros do grupo externo são percebidos como mais homogêneos em suas caracte rísticas opiniões e comportamentos do que os membros do grupo interno Esta é uma maneira de explicar por que o preconceito e a discriminação ocorrem As formas mais proeminentes serão comentadas a seguir questões sociais e históricas Como aponta Devine 1995 a principal ex plicação para a causa do preconceito e da discriminação advém de um legado históri co e de circunstâncias sociais às quais esta mos incluídos e mantemos Entretanto essa perspectiva sozinha não é capaz de expli car todos os aspcetos do preconceito Na sociedade brasileira atual onde há leis que punem o preconceito esperava se a erradicação da discriminação racial ou de gênero Entretanto a resposta é negativa a tal suposição pelo menos para questões de raça e gênero O que parece estar ocor rendo segundo Camino Silva Machado e Pereira 2001 é uma mudança na manifes tação desse preconceito assim como de seu conteúdo Feres 2006 em uma análise histó rica sobre a discriminação racial no Brasil aponta que alguns autores acreditavam na herança escravocrata do Brasil Entretanto INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 231 outros autores afirmam que apenas a ques tão histórica não é suficiente para expli car a manutenção da discriminação racial mas sim o sistema capitalista que auxiliou nesta manutenção já que permitiu a res significação de tal discriminação apontan do o negro como incapaz tecnicamente e como cidadão Portanto a discriminação está relacionada com os ganhos materiais e simbólicos do grupo discriminador Assim o autor descreve que a discriminação se mantém pelos mecanismos sociais que a regulam Outra possibilidade de explicação está relacionada ao indivíduo ou seja sua personalidade Personalidade autoritária O estudo da personalidade autoritária sur giu na tentativa de explicar o preconceito e a discriminação baseada em diferenças in dividuais A ideia era delegar ao sujeito a responsabilidade de ele emitir determina dos comportamentos como o genocídio dos judeus Vale notar que essa teoria ganhou força exatamente no pós guerra Devine 1995 O programa de estudos de Adorno e colaboradores 1950 apud Devine 1995 pautava se em que o preconceito era um distúrbio da estrutura de personalidade do indivíduo que apresentava um traço de per sonalidade autoritário Tal traço tinha sua origem na infância do indivíduo que não pode expressar sua hostilidade e ansiedade pois seus pais não permitiriam e como me canismo de defesa a agressão era desviada para outros grupos sociais isto é grupos de minoria Essas pesquisas encontraram pouco suporte empírico por diversos motivos Entre eles o fato da escala de personalidade autoritária básica para a mensuração des se construto escala F possuir problemas de viés de medida e de consistência inter na Outro fato também é que esta medida apresentou se pouco relacionada a tendên cias de facismo o que também não faz sen tido Devine 1995 identidade social A identidade nos caracteriza como grupo e nos distingue de outros Kimble et al 2002 p 483 e apresenta três componentes básicos a a percepção de fazer parte de um grupo social consciente e cognitivo b a avaliação da importância de pertencer a este grupo e c o sentimento relativo a esse pertenci mento que pode variar por exemplo de vergonha a orgulho Tajfel 1972 apud Kimble et al 2002 Assim dependendo do grupo de que fazemos parte cada um desses componentes ocorre em maior ou menor grau e eles estão intimamente ligados a nosso autoconceito Os autores deste capítulo por exemplo são psicólogos latino americanos percebem o quanto é importante divulgar o conheci mento nessa área e têm um sentimento de orgulho e felicidade de pertencer a tal grupo social Sabe se também que grupos compe tem mais por recursos que indivíduos as sim pode se competir como indivíduo ou como membro de um grupo oposto Esse sentimento de pertença a um grupo por exemplo quando você está discutindo em um bar com um colega do sexo oposto sobre amenidades desse sexo oposto significa que você não é apenas um indivíduo mas sim participante de um grupo social diferente exemplo extraído de Torres PérezNebra 2004 Esse sentimento é básico para a te oria de identidade social Fiske e Taylor 2008 Moghaddam 1994 Segundo Taylor e Moghaddam 1994 p 61 a teoria da identidade social de Tajfel e Turner tenta explicar relações entre grupos de uma perspectiva grupal a teo ria apoia a ideia de que os indivíduos são motivados a desenvolver uma identidade social positiva produzida para manter seu autoconceito e autoestima O sentimento de pertença associado ao autoconceito possi bilita a formação das comparações sociais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 232 tOrres neiva cOLs intergrupais e extragrupais apontadas por Devine A teoria da identidade social dirá que nós nos identificamos com grupos que são de maior status social Por exemplo na América Latina quase todos os países pes quisados por Salazar 1997 apud Smith e Bond 1999 apresentaram sua identidade mais forte com a América Latina do que com seus países O único país que demonstrou exceção foi o Brasil onde os brasileiros se identificam mais com seu país Entretanto aqui pode ser pela dificuldade idiomática já que o Brasil é o único que não fala es panhol Outros estudos similares realizados chegaram à mesma conclusão a de que os membros de um grupo se aliariam a um de maior status social Além disso uma dificuldade que exis te é que quando sofremos alguma humilha ção ou quando falhamos por algum motivo a vergonha é de que o grupo social falhou e não necessariamente nós mesmos Isso ocorre em olimpíadas ou copas do mundo coMo reduzir o Preconceito e a discriMinação Esta seção apresentará algumas soluções encontradas na literatura de maneira ge ral e posteriormente daremos uma breve pincelada sobre sua aplicação em ambien tes sociais Há vários procedimentos para a extinção de estereótipos sob o enfoque comportamental essa poderia se dar pela evitação de reforço do estímulo Os resulta dos experimentais encontrados demonstram sucesso na extinção de estereótipos Nesse sentido para mudar o comportamento é preciso evitar o reforço quando ele ocorre Sob o enfoque social quando a tradi ção como reforçadora dos estereótipos em sociedades tradicionalistas se enfraquece acompanhada por atitudes de reflexão é possível incitar a formulação autônoma de escolhas além dos estereótipos Entretanto quando a reflexão é impedida pode se ge rar sofrimento de diversas ordens e meca nismos defensivos fundamentalistas e apar theid sendo um dos mais comuns a busca de parâmetros fixos de identidade Sawaia 2002 p 120 121 A reflexão crítica é um dos instrumentos para a redução do pre conceito e da discriminação A dificuldade é que essa reflexão deve partir do sujeito já que como vimos apresentar informações não é suficiente para se reduzir o preconcei to visto que ele é muito arraigado mas é um processo que pode e deve auxiliar que deve vir em paralelo Agregase ainda a pos sibilidade de diálogo Dovidio em sua linha de pesquisa mapeou que a preferência pelo que os grupos gostariam de conversar é di ferente Grupos com menos poder preferem falar sobre suas diferenças e o grupo com mais poder prefere falar sobre o que há em comum entre os grupos Outra possibilidade de ação para a re dução do preconceito está baseada nos estu dos de atitude Sabe se que uma das táticas de persuasão é apelar para o componente afetivo da atitude já que não é possível obri gar os sujeitos a mudarem de comportamen to A literatura demostra que apelar para o componente afetivo é mais eficaz que para o cognitivo Até porque as barreiras são menos claras em termos afetivos e como ambos os componentes caminham juntos mudando se o afeto muda se também a cognição ligada a ele Chaiken Wood e Eagly 1996 Devine 1995 Fishbein e Ajzen 1975 Essa tática foi utilizada no presente capítulo quando se perguntava provocati vamente sobre diversos aspectos de sua vida que possivelmente estariam ligados ao pre conceito Aquelas perguntas tinham a inten ção de apelar para seu compoente afetivo da atitude para que posteriormente pudesse mos entrar com informações para subsidiar suas ações ou escolhas teóricas Entretanto de todas as táticas de mu dança de atitude a que melhor funciona não está relacionada ao afeto ou à cognição mas sim ao comportamento Quando a or ganização obriga a convivência entre gru pos sociais que são distintos ela promove o contato entre os indivíduos mas será que isso é suficiente para reduzir o preconceito e por sua vez a discriminação A respos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 233 ta é não A redução só vai acontecer se a convivência tiver metas claras em conjunto se em um processo de avaliação de desem penho estiver incluído um item relativo à inclusão de membros diferentes Essa con vivência de grupos diferentes foi objeto de estudos da Teoria da Hipótese de Contato Devine 1995 Outra possibilidade ainda nessa linha é em um processo de recruta mento e seleção haver um peso grande para que pessoas diferentes sejam selecionadas valorizando se e destacando se a diferença que elas possuem Finalmente em se tratando de políti cas públicas quando parte desse arcabouço teórico não pode ser utilizado por inviabili dade resta a mensagem persuasiva O mo delo da probabilidade da elaboração vem trabalhando há 30 anos com a possibilidade de mudança de atitude e muito pouco estu dos há com experimentos no Brasil sobre a efetividade de campanhas governamentais deste tipo Petty e Briñol 2010 níveis de análise diferentes indivíduo grupo e sociedade Optamos como tópico de encerramento do capítulo não por uma conclusão com as li mitações da área e possibilidades de agenda de pesquisa mas sim por questionamentos e possibilidades do que pode ser realizado em níveis de análise diferentes para reduzirmos o preconceito que vivemos sejamos vítimas ou não você eu e nós O que eu posso fazer Talvez esta tenha sido uma pergunta que lhe ocorreu ao ler este capítulo O fenômeno do preconceito é si multaneamente algo que fascina e frustra Devine 1995 Por ser um fenômeno com plexo e multideterminado é difícil estabe lecer alguma meta que seja seguramente eficaz para sua redução e neste momento é algo que frustra qualquer tentativa Por outro lado nas palavras de Jane Elliot 1996 quantos somos nós autores Dois Assim como nós somos poucos e ten tamos provocar alguma mudança em talvez algum dos preconceitos que você tenha e talvez sequer tinha percebido até a leitura deste capítulo pode ser que você desenvol va uma ou várias estratégias para a redução de preconceito O que nós sabemos é que ficar para do e não fazer nada é uma das formas mais eficazes de manutenção do preconceito por parte daqueles que têm poder Por isso faça alguma coisa estabeleça uma meta diária para você mesmo sobre algum preconceito que você tenha sofra ou perceba existente na sociedade que você vive Fiske e Taylor 2008 descrevem que parte dos nossos preconceitos são incons cientes e que as reações que temos são tão rápidas que pouco conseguimos controlá las A seguir listamos sugestões que foram ins piradas no texto de Fiske e Taylor 2008 1 Sabe se que a mera categorização em gru pos já é suficiente para produzir enviesa mento Assim tente evitar categorizações pex esta pessoa é do grupo X que não é o meu e veja que ameaças de fato esse grupo diferente pode te trazer 2 Se um estímulo é ambíguo não o tome necessariamente como negativo ou ame açador um comentário ou pergunta de outro grupo social pode simplesmente ser honesta Há na literatura evidências de uma interpretação ameaçadora para estímulos ambíguos Evidentemente eles podem ser discriminatórios sim mas na ambiguidade a sugestão seria a de interpretá los como não ameaçadores na tentativa de aproximação entre grupos 3 As categorias dos grupos majoritários e mi noritários não são um fenômeno biológico são simplesmente uma construção social que pode mudar dependendo da história e da cultura p ex na América Latina os brasileiros são fortes na Europa ou nos Estados Unidos somos cucarachas 4 A literatura aponta que as pessoas que conseguem provar suas credenciais mo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 234 tOrres neiva cOLs rais como não preconceituosas se sentem mais livres para fazer comentários e ex pressar seus preconceitos Não faça isso é hipocrisia 5 Tente ter contato com grupos diferentes do seu e valorize o que esse grupo tem de diferente e de similar ao seu desde a faculdade até suas saídas faça uma lista com tais características isso além de auxiliar a memória facilita organizar e transformar esse conhecimento em um processo mais automatizado Você verá que terá mais similaridades do que di ferenças Claro que contato com o sexo oposto se você é heterosexual ou bissexual não é exatamente o que está sendo suge rido aqui 6 Lembre se das perguntas que foram feitas no início do capítulo sobre amigos gru pos sociais etc Este é o momento de pensar em outras possibilidades Liste as e coloque as em prática diversidade cultural aplicada O termo diversidade da forma em que o utilizamos atualmente consta no Novo Dicionário Aurélio Ferreira 1975 como oriundo de latim tardio diversificu varia do significando diferença dessemelhan ça dissimilitude divergência contradição oposição Esses significados são demasiada mente simples para abarcar a complexida de da palavra diversidade que não pode se restringir à listagem de seus sinônimos englobando conceitos antônimos situações específicas e pessoas concretas A diversidade cultural aplicada às organizações é uma solução que os norte americanos encontraram para os problemas com discriminação com que estavam sendo obrigados a lidar A discriminação faz a or ganização perder dinheiro com os processos na justiça E também evita que se gerem ri quezas uma vez que existem segmentos que não são atendidos ou são mal atendidos o que parece inviabilizar ou dificultar o pro cesso organizacional em diferentes níveis Assim a diversidade cultural nas or ganizações é um processo de ensinar as organizações a como lidarem com públicos e pessoas diferentes Olhando para dentro da organização o comportamento organi zacional e para fora o comportamento do consumidor Dessa maneira pode abranger toda a cadeia produtiva organizacional Vale lembrar que os relacionamentos com as de mais organizações a que esta possui passam a ser ditados por este processo Entretanto os desafios da diversidade cultural ultrapas sam esse enquadramento para mais infor mações Torres e Pérez Nebra 2004 Federação De acordo com a Constituição Federal de 1988 dentre os objetivos fundamentais da República consta no título I capítulo I Dos direitos e deveres individuais e coletivos artigo 3o parágrafo IV promover o bem de todos sem preconceitos de origem raça sexo cor idade e quaisquer outras formas de discriminação Brasil 1988 p 3 en quanto que no artigo 5o parágrafo XLI dos mesmos título e capítulo lemos a lei pu nirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais Brasil 1988 p 8 A proposta constitucional de promo ver o bem de todos e de punir qualquer discriminação ainda não foi plenamente aplicada em território nacional tornou se um mito que instiga as pessoas preocupa das com a realidade a prosseguir lutando até a concretização de seus ideais de igual dade de oportunidades para todos E esse tipo de igualdade só pode ser alcançado por meio de uma isonomia verdadeira entre as classes historicamente desprivilegiadas e as privilegiadas a qual não pode ser alcançada simplesmente por políticas universalistas de apoio mas por ações efetivas de incentivo estudado à melhoria das condições dos des favorecidos e da real punição a comporta mentos e ações de exclusão social com inter pretações penais justas Castilho 2000 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 235 Neste sentido a educação oferecida deve ser pensada e realizada de maneira a contemplar e adequar se ao cidadão que lá existe e não excludente como vem sendo realizada no Brasil Vimos que a educação tem um papel base no processo de mudan ça e de elaboração do pensamento crítico Dessa maneira apelamos para que todos os atores sociais envolvidos nesse processo mantenham se ligados nos três níveis de análise aqui proposto tanto no individual do que você e eu podemos fazer no grupal na sua instituição de vínculo ou social no questionamento e revisão do que está sendo exposto ou imposto Caldart 2001 Freire 1977 notas 1 Melting pot significa uma mistura absoluta de pessoas diferentes Está relacionado ao conceito de mosaico onde pessoas diferentes estão juntas mas não se misturam Hinton 2000 2 Considerando que a atitude é composta por três componentes cognitivo afetivo e cona tivo Ver mais no capítulo de atitudes deste livro e em Fishbein e Ajzen 1972 Rodrigues Assmar e Jablonski 1999 reFerências ARAÚJO R C B O voto de saias a Constituinte de 1934 e a participação das mulheres na políti ca Estudos Avançados v 17 n 49 p 133150 2003 BANCO MUNDIAL World Development Indicators Washington DC The World Bank Group 2001 BASTIDE R FERNANDES F Brancos e Negros em São Paulo São Paulo Companhia Editora Nacional 1971 BERENICE B A reinvenção do gênero sexualidade e gênero na experiência transexual Rio de Janeiro Garamond 2006 BERENICE B O que é transexualidade São Paulo Brasiliense 2008 BIGNAMI R A Imagem do Brasil no Turismo São Paulo Aleph 2002 BETTO Frei A fome como questão política Estu dos Avançados v 17 n 48 p 5361 2003 BRASIL Constituição da República federativa do Brasil Brasília Senado Federal Centro Gráfico 1988 BRASIL Plano nacional de promoção da cidadania e direitos humanos de Lésbicas Gays Bissexuais Travestis e Transexuais Brasília Presidência da República Secretaria Especial dos Direitos Hu manos 2009 BRIÑOL P FALCES C BECERRA A Actitudes In MORALES J F MOYA M C E GAVIRIA E CUADRADO I Coords Psicología social Madrid McGrawHill 2007 p 457490 CALDART R S O MST e a formação dos sem terra o movimento social como princípio educativo Es tudos Avançados v 15 n 43 p 207224 2001 CAMINO L SILVA P MACHADO A PEREIRA C A Face Oculta do Racismo no Brasil Uma Análise Psicossociológica Revista Psicologia Política v 1 p 1336 2001 CASTILHO E W V Considerações sobre a inter pretação jurídicopenal em matéria de escravidão Estudos Avançados v 14 n 38 p 5165 2000 CHAIKEN S WOOD W EAGLY A H Principles of persuasion In HIGGINS E T KRUGLANSKI A W Ed Social psychology Handbook of basic principles New York Gilford 1996 p 702742 COLLING L SANCHES J C Quebrando o com plexo de Gabriela uma análise da transexualidade na telenovela As filhas da mãe Disponível em httpwwwcultufbabrArtigostextopagudoc Acesso em 10 mar 10 DAVIS K A girl like me 2006 Disponível em httpwwwmediathatmattersfestorg6a girllikemeindexphpfsbios Acesso em 29 abr 07 DEVINE P G Prejudice and outgroup perception In TESSER A Ed Advanced social psychology New York McGrawHill 1995 p 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Federal e Entorno In LUIZ MOTT L CERQUEIRA M Org Matei porque Odeio Gay Salvador Grupo Gay da Bahia 2003 p 101127 KARAGIANNIS A Fundamentos do Ensino Inclu sivo In STAINBACK S STAINBACK W Org Inclusão um guia para educadores Porto Alegre Artes Médicas 1999 p 1236 KIMBLE C HIRT E DÍAZLOVING R HOSCH H LUCKER G W ZÁRATE M Psicología Social de las Américas Ciudad de México Person Educación de México 2002 KRAY L THOMPSON L GALINSKY A Battle of the Sexes Gender Stereotype Confirmation and Re actance in Negotiations Journal of Personality and Social Psychology v 80 n 6 p 942958 2001 LIMA M E O PEREIRA M E Estereótipos precon ceitos e discriminação Salvador EDUFBa 2004 LIMA M E O VALA J Sucesso Social Branque amento e Racismo Psicologia Teoria e Pesquisa v 20 n 1 p 1119 2004 LIRA P M M A Propaganda e a Terceira Idade como o idoso do Distrito Federal se percebe nas propagandas televisivas brasileiras Monografia Graduação Centro Universitário de Brasília Brasília 2007 MALVA T F Gay compra diferente Um comparativo entre o processo decisório de homens homossexuais e heterossexuais Monografia Graduação Centro Universitário de Brasília Brasília 2006 MARX M D BROWN J L STEELE C M Allports Legacy and the Situational Press of Ste reotypes Journal of Social Issues v 55 n 3 p 491502 1999 MEDEIROS C A Na lei e na raça legislação e relações raciais BrasilEstados Unidos Rio de Janeiro DPA 2004 MINAYO M C S O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em saúde Rio de Janeiro HucitecAbrasco 1999 MOREIRA C L N Deficiência Física mídia e sen sacionalismo Monografia Graduação Centro Universitário de Brasília Brasília 2006 MOTT L Violação dos Direitos Humanos e Assassi nato de Homossexuais no Brasil 1999 Salvador Grupo Gay da Bahia 2000 MOURA C Sociologia do Negro Brasileiro São Paulo Ática 1988 MUNANGA K Negritude usos e sentidos São Paulo Ática 1986 MUNANGA K A difícil tarefa de definir quem é negro no Brasil Estudos Avançados v 18 n 50 p 5156 2004 NASCIMENTO A O Genocídio do Negro Brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janei ro Paz e Terra 1978 NÉRI C R Jornal e Violência Contra a Mulher análise das reportagens do Correio Brasiliense no tratamento dado pelo veículo à vítima de atentado a homicídio Monografia Graduação Centro Universitário de Brasília Brasília 2006 OLIVEIRA F Ser negro no Brasil alcances e limites Estudos Avançados v 18 n 50 p 5760 2004 OLIVEIRA L C Deficiente visual e a Navegabilidade na Internet Monografia Graduação Centro Universitário de Brasília Brasília 2007 OSANDÓNALBARRÁN P A Jogos Paraolímicos de Atenas um enfoque na cobertura da mídia online INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 237 Monografia Graduação Centro Universitário de Brasília Brasília 2005 PETTY R E BRIÑOL P The elaboration likelihood model Three decades of research In VAN LANGE P A M KRUGLANSKI A HIGGINS E T Eds Handbook of theories of social psychology London England Sage 2010 p 145 QUADROS W Gênero e raça na desigualdade social brasileira recente Estudos Avançados v 18 n 50 p 95117 2004 RESENDE C A Telenovela O discurso dos per sonagens homossexuais nas telenovelas da Rede Globo Monografia Graduação Centro Univer sitário de Brasília Brasília 2008 RODRIGUES A Psicologia Social Petrópolis Vozes 1996 RODRIGUES A ASSMAR E M L JABLONSKI B Psicologia Social Petrópolis RJ Vozes 1999 SANTOS H A busca de um caminho para o Brasil A trilha do círculo vicioso São Paulo Senac São Paulo 2003 SAWAIA B B Identidade Uma Ideologia Separa tista In SAWAIA B B Org As Artimanhas da Exclusão Petrópolis Vozes 2002 p 7896 SMITH P BOND M H Social Psychology across Cultures Massachusetts Allyn Bacon 1999 SMITH P BOND M H KAGITÇIBASI Ç Un derstanding Social Psychology Across Cultural living and working in a changing world London Sage 2006 TAYLOR D M MOGHADDAM F M Theories of in tergroup relations international social psychological perspectives USA Praeger Publishers 1994 TORRES C V PÉREZNEBRA A R Diversidade Cultural no Contexto Organizacional In ZANELLI J C BORGESANDRADE J E BASTOS A V B Org Psicologia Organizações e Trabalho no Brasil Porto Alegre Artmed 2004 p 443465 TRIANDIS H C McCUSKER C HUI C H Multi method Probes of Individualism and Collectivism Journal of Personality and Social Psychology v 59 n 5 p 10061020 1990 VON HIPPEL W HAWKINS C SCHOOLER J Stereotype Distinctiveness How Counterstereo typic Behavior Shapes the SelfConcept Journal of Personality and Social Psychology v 81 n 2 p 193205 2001 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS aFetividade O homem se define no mundo objetivo não somente em pensamento senão com todos os sentidos Não só os cinco sentidos mas os sentidos espirituais amor vontade Karl Marx Dos grandes sistemas ideológicos construídos pelos seres humanos ao longo da História e representados nos anteparos culturais a afetividade enquanto substrato do amor e do ódio entre outros sentimen tos compete com as ideias de homem e de deus entre aquelas sobre as quais mais se dissertou Adler 1996a e talvez por isso ironicamente sejam das mais incompreendi das até hoje A conceituação das realidades física e psicológica se afigura como a primeira mar ca que pode ser notada entre as ideias de afetividade homem e deus mesmo a ideia mais fisicamente representável das três o homem somente é explicável se também adotar termos psicológicos Quanto às de mais ideias o mundo físico se interpenetra delas na concepção de grande parte dos que as pensam Por exemplo para Nietzsche 1996 a moral cristã se baseia em uma super realidade e em um deus cuja concepção e afirmação de existência se configuram en quanto fraude e niilismo porque resulta de tudo o que foi condenado fracassado e dig no de esquecimento pela história o concei to de deus cristão para o filósofo é de um nada divinizado de modo que mesmo que o mostrassem a ele ele só poderia acreditar menos ainda nele p 40 para São Tomás de Aquino o amor está não apenas na alma mas em todas as partes do corpo e nas coi sas do universo Adler 1996b asserção esta adotada por Dante para a construção da arquitetura teológica da Divina Comédia na qual o amor a tudo move O senso comum e a ciência por mais estranho que pareça também se utilizam desta concepção materialista de um fenô meno psicológico No caso da atração no mínimo desde Aristóteles afirma se que os átomos se atraem ou se repelem de acordo com suas cargas elétricas os magnetos atra em os metais a força da gravidade é dire tamente proporcional à massa dos corpos e inversamente proporcional ao quadrado de suas distâncias da mesma forma que Romeu e Julieta se amam Dom Quixote e Sancho Pança não se separam ou Dom Casmurro odeia Capitu Ou ama A metáfora física é permanente quando se trata dos fenômenos da atração e repulsa entre pessoas de modo que seguindo o princípio do uso genera lizado desses termos eles adquirem valores metodológicos e históricos para serem uti lizados neste trabalho de psicologia social 11 atraçãO e rePULsa interPessOaL Jaqueline gomes de Jesus Tempo e espaço medidos pelo coração isto é amor Marcel Proust INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 239 A atração e a repulsa interpessoal além de há séculos estudadas são historicamen te construídas Na Epopeia de Gilgamesh escrita na Mesopotâmia em torno de 2000 AC o protagonista primeiro Eu conscien te da Literatura movimenta a história em torno da busca pela vida eterna e do amor por seu companheiro que não pode sobrevi ver à morte Rexroth 1993 A busca cons tante pela preservação da vida que não era exclusiva daquela época é uma constante da humanidade Um dos prováveis primei ros estudiosos do afeto foi o filósofo Platão que teorizou acerca do tipo de amor que posteriormente foi denominado de platôni co no diálogo Banquete e mais apresentou reflexões acerca da função da afetividade no processo de conscientização permitindo contemplar o Belo em si Florido 2000 Não é à toa que a filosofia foi concebida como amor à sabedoria Inicialmente faz se mister lembrar que alguns utilizam amor e desejo para a mesma finalidade trazendo implícita a concepção do objetoser desejado como algo a ser adquirido até que a posse seja satisfeita o que igualaria o amor à fome uma vez satisfeitos cessariam de existir Ao se distinguir amor de desejo compreende se que existam também diferentes tipos de amor incluindo aí a amizade e essas varian tes de amor apresentam graus diferentes de demanda pelo objetoser desejado alguém pode se doar mais a um amigo do que po deria alguém que apenas desejasse algo de outrem Adler 1996a Se pudermos nos embrenhar diletante e sumariamente pela Psicanálise após abor dar aspectos filosóficos e literários antes de tratar da atração e da repulsa interpessoal no âmbito da psicologia social propriamen te dita encontraremos em Freud um teóri co fundamental da função do afeto na vida cotidiana e da estrutura que o compõe Ao tratar da sexualidade infantil introduz os conceitos de inconsciente pré consciente e consciente na teoria psicanalítica afirma que a função sexual existe desde o início da vida da pessoa e determina o desenvolvi mento humano estruturado em torno das pulsões de vida e de morte pelos princípios do prazer id da realidade ego e da moral superego Freud 1996 As di mensões dos afetos abordadas pela psicaná lise e sua importância para a subjetividade são elementos que as ciências humanas que estudam os aspectos psicossociais aprovei tam teórica e empiricamente para além do nível meramente individual Como reitera Green 1982 a di mensão afetiva é constituinte das obras de Freud e de outros autores ligados à teoria psicanalítica de modo que uma teoria sobre os afetos entremeia essa área do conheci mento e da ação terapêutica Um exemplo da imprescindibilidade da questão afetiva nos estudos freudianos é descrita por Rossi 2005 ao tratar do ensaio Projeto de uma Psicologia Científica publicada por Freud em 1895 acerca do qual a autora ressalta que representação e afeto são as duas no ções básicas do aparelho psíquico p 93 ressaltando que o processo afetivo é chave para o fenômeno da defesa psicológica A psicologia social trata da atração interpessoal a partir de uma visão especu lativa da personalidade humana que não pode ser dissociada da ideia de afetividade desejamos ser aceitos pelos outros Unger 1998 acrescenta que adquirimos por meio do sucesso em atrair eou ser atra ído maior liberdade para nos reinventar Partindo dessa premissa poder se ia supor que a importância de entender melhor os processos de atração e repulsa interpessoais residem não necessariamente na capacidade de interagirmos melhor mas na possibilida de de formularmos uma ciência psicológica menos indeterminada em termos de refe rentes empíricos para suas teorias acerca dos afetos das emoções dos sentimentos enfim da dimensão afetiva que possibilita a constituição das relações humanas que em tradições epistemológicas maniqueístas ainda vigentes contrastam na da dimensão cognitiva da comportamental e mesmo da social É imprescindível citar alguns autores que ao longo da construção da psicologia social no século XX tornaram se essenciais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 240 tOrres neiva cOLs para a construção de um corpus teórico sobre as questões da atraçãorepulsa interpessoal Dentre eles reconhece se Simmel 1939 como um téorico inspirador ao tratar das interações sociais como relação não isola das mas compostas por ações recíprocas fundamentada na interação simples entre os indivíduos conduzida pela necessidade de cada um dos sujeitos em agir de acordo com modelos sociais pré estabelecidos que designamos con los nombres de hostilidad y colaboración de asociación y escisión de las representaciones p 350 Esses esquemas comportamentais se referem diretamente aos conceitos de atração ou repulsa inter pessoal que serão desenvolvidos por outros autores Cooley 1967 trouxe a ideia de que a interação social desenvolve se partir de um processo pelo qual os indivíduos por meio de introspecção buscam imaginar a situação de interação social para enfim realizá la Essa foi uma proposta de natureza idealista da sociedade que vinha trazer um diferen cial a concepções para as quais as cognições dos atores sociais pouco contavam Autores como Thibault e Kelley 1959 apud Álvaro e Garrido 2006 contribuíram ao propor que as relações interpessoais são relações de cus tos e benefícios em que a repulsa entre os sujeitos aumentará proporcionalmente aos custos e a atração crescerá conforme mais benefícios forem proporcionados Os trabalhos de Goffman 1988 2005 enriqueceram substancialmente as pesqui sas ao tratar das interações interpessoais em seu contexto microssocial no qual os indivíduos buscam informações sobre si mesmos e buscam compreender o cenário Goffman 2005 p 31 que os cerca a partir da interação imediata com outros de modo que a atração é um objetivo que se tenta al cançar por meio da análise e reconstrução da imagem pessoal frente à de outros Para Goffman 1988 naqueles grupos sociais marcados por estigmas que deterioram as identidades sociais de seus componentes em geral a interação face a face é propensa a mecanismos por parte de quem estigma tiza e de quem é estigmatizado de controle de informação acerca de fatos considerados positivos e de tentativa de encobrimento do estigma respectivamente o que na comple xa interação de atraçãorepulsa interpesso al preserva o status quo da estrutura social ao determinar lugares desviantes para os grupos minoritários aFetos e subJetividade Ah piedade é o que sinto então Piedade é a minha forma de amor De ódio e de comunicação É o que me sustenta contra o mundo assim como alguém vive pelo desejo outro pelo medo Clarice Lispector O espetacular desenvolvimento das neurociências no século XX possibilitou cons tatar segundo Espiridião Antônio Majeski Colombo Toledo Monteverde Moraes Martins Fernandes Assis e Siqueira Batista 2008 as bases neurais de processos como as emoções que estão relacionadas a cir cuitos cerebrais distintos da percepção e da ação por exemplo Outro indicativo da interface entre psicologia e neurologia são trabalhos como os dos neurocientistas Mendonça Piccinin Capucho e Campos 2001 que a partir da utilização de um método simples e de uso comum nas ciências psicológicas desde Freud Garcia e Martins 2002 a associação livre de ideias apre sentação de uma palavra frase que deve ser seguida por palavras frase espontâneas e consecutivas por parte dos respondentes estudam o efeito de descargas epilépticas lateralizadas epilepsia parcial no fluxo do pensamento É Richards 1974 quem de fende que a psicologia social deve combater a tendência a se tornar uma disciplina que analisa fenômenos de forma estéril o que ocorreria ao adotar métodos da psicologia tradicional e aplicá los a problemas restritos à manipulação de pequenos grupos de pes soas sujeitos p 233 Para o autor são dois os desafios da psicologia social tomar conta da estrutura biológica do ser humano INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 241 e não permitir que considerações de ordem biológica conduzam a posicionamentos re ducionistas que desprivilegiem a natureza social da vida social p 238 À psicologia social interessa compre ender a constituição neurológica dos afetos sem se afastar de seus caminhos metodoló gicos e metas próprias os quais confluem para uma psicossociologia das emoções atenta ao background biológico A psicologia é uma ciência que só é possível pela relação interpessoal Autores como Martinet 1981 e Murray 1971 apresentam importantes elementos para compreender essa concepção ao tratar do tema das relações entre afetividade especi ficamente as emoções no campo da ciência psicológica O instrumento básico de traba lho doa psicólogoa não importa sua área de atuação clínica social e do trabalho educação e desenvolvimento ou processos básicos entre outras é a comunicação verbal e não verbal e esta ocorre nas intera ções sociais ou na mera expectativa delas conforme doutrina Rodrigues 1996 De modo geral constata se que o fe nômeno de se comunicar é enviar e receber mensagens por símbolos palavras signos gestos ou meios não verbais porém ela tem um sentido maior e crucial visto que a troca de informações em rede se torna elemen to central da atividade humana Castells 2008 Autores como Littlejohn 1982 rei teram a existência de uma pluralidade de modos de comunicar apesar disso é comum restringirmo nos aos elementos verbais da comunicação quando a esta nos referimos Urge um entendimento dos elementos da interação social humana que não pertencem ao universo verbal pois embora pouco tra tados teórica e empiricamente permeiam todas as relações interpessoais por menos que os sujeitos envolvidos o percebam A psicologia da comunicação que conforme explicitado no parágrafo anterior tem como instrumento de trabalho a comunicação ver bal e a não verbal pode subsidiar a com preensão da multidimensionalidade da co municação para além da função meramente verbal O comentário do parágrafo anterior se justifica pelo fato de que nós seres hu manos temos pouquíssimo conhecimento sobre nosso corpo e sobre nossas expressões corporais como relata Gaiarsa 1984 Eu não vejo meu rosto enquanto me comuni co frente a outrem porém o outro a todo o momento observa minha face e suas não verbalidades isto é cotidianamente emi timos mensagens mas temos um controle precário sobre como essa emissão é rece bida e no âmbito das relações interpesso ais de forma geral perceber se de corpo e alma como fala a expressão popular e perceber o outro pode acarretar em sua difí cil ou quase impossível exequibilidade uma possibilidade ímpar de descobrir novos sig nificados na interação e tomando empres tada a contribuição psicanalítica permitir a interpretação de conteúdos latentes Temos exemplos de utilização de co municação não verbal para além do contex to interpessoal mas também em eventos so ciais momentos substantivamente diferentes da rotina que são construídos controlados e programados pelo sistema social momen tos extraordinários no dizer de Da Matta 1983 Galinkin 2001 lembrando Leach 1966 1978 e Tambiah 1985 comenta que os ritos são uma forma de comunicação simbólica contêm mensagens metafóricas que informam sobre os sistemas cosmoló gicos daqueles que os realizam Servem como indícios sobre os pensamentos e sen timentos dos atores p 28 assim tornam público quem eles são Silva 1989 discrimina em seis os constituintes da comunicação não verbal 1 a paralinguagem relacionada ao ritmo da voz intensidade entonação sons emiti dos que não se constituem como padrões específicos da língua utilizada e traduzem características da personalidade do emis sor atitudes autoconceito mesmo um suspiro pode realizar esse papel 2 a cinésica relacionada à linguagem pro priamente corporal quanto mais encoberto um sinal corporal como um INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 242 tOrres neiva cOLs tremor menos consciente ele se torna para o emissor 3 a proxêmica relacionada às dimensões culturais da comunicação interpessoal como status social hierarquia relação de proximidade representados por meio de comportamentos como a distância física entre os sujeitos ou o posicionamento assumido entre eles 4 a tacêsica relacionada ao contato físico como e onde se toca o outro ao território pessoal dos sujeitos espécie de campo psicológico que cerca os interlocutores possibilitando limites para a distância os quais não sendo respeitados encetam na pessoa a sensação de ter sido invadida e pode ser maior ou menor dependendo do grau de intimidade existente ou desejado entre os participantes da interação 5 características físicas que sugerem in formações sobre características pessoais como idade sexo raça entre outras e objetos que indiquem estilo de vida classe socioeconômica rede de relações pessoais e sociais como tipo preferido de roupa e ornamentos 6 características ambientais como a orga nização do espaço onde ocorre a intera ção As expressões corporais mesmo que utilizadas inconscientemente são o princi pal suporte dos pensamentos e intenções estudos em comunicação não verbal como os de Silva 1989 sugerem que uma bai xa porcentagem das ideias é transmitida por palavras simplesmente apenas 7 se gundo Silva enquanto uma porcentagem considerável é transmitida por sinais para linguísticos como a entonação e a prosódia 38 idem e a maior parte é transmitida por expressões corporais 55 ibidem Desse modo uma comunicação eficiente domina os vários aspectos não verbais da in teração podendo proporcionar a tão alme jada empatia entre os interlocutores Haase e Tepper 1972 Paradoxalmente apesar de nos expres sarmos muito mais não verbalmente nossa sociedade valoriza e é estruturada em torno da verbalidade em especial a escrita Aquilo que acompanha e possibilita a compreensão dessas expressões além de também influen ciar comportamentos são os afetos Afetos podem ser produzidos a partir de estímulos internos ou externos ao sujeito de ordem física interpessoal ou social Como de modo geral se trabalha na psicologia so cial entende se que a sociedade estimula a expressão de algumas reações e reprime ou tras recorde se expressões substancialmente carregadas do pensamento social acerca da expressão afetiva semelhantes à conhecida homem não chora detentora do ideal de homem enquanto pessoa que não expressa sentimentos considerados femininos e tidos como inferiores em uma sociedade machis ta a mesma sociedade para a qual mulheres não são vistas com normalidade quando são assertivas em cargos de comando Nota se o quanto os preconceitos tam bém participam da afetividade de modo a guiar a expressão ou não dos afetos ou dire cionar a interpretação e valorização ou des valorização dos afetos Como se tratará mais adiante essa dimensão do afeto faz parte do processo evolutivo humano no âmbito do que tratamos em termos de estereótipos não verbalizados essenciais para a avaliação do comportamento dos outros aspecto tão ex plorado por autores clássicos como Goffman 1988 Tajfel 1982 e Allport 19541 O prazer e a dor são as matrizes psí quicas dos afetosafetividadevida afetiva de modo que nesse continuum surgem os afetos básicos que são o amor e o ódio e destes afetos os demais como ensinam Bock Furtado e Teixeira 1999 que distin guem no âmbito da vida afetiva emoção e sentimento Essas diferenças são definidas pela 1 intensidade e pela 2 duração tem poral nesses termos emoções são estados afetivos agudos e transitórios que podem ser acompanhados de reações orgânicas in tensas um exemplo citado pelos autores é a ira enquanto sentimentos são estados afetivos mais atenuados e duráveis como a gratidão Emoções como a dor a alegria e a pai xão respondem a acontecimentos inespera INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 243 dos ou muito esperados são acompanhadas por reações intensas e breves do organismo internas e externas que podem ser apren didas para serem aplicadas aos contextos sociais considerados adequados para sua expressão Sentimentos como a felicidade e a amizade expressões afetivas duradou ras e menos intensas conforme descrito anteriormente tanto quanto as emoções são desdobramentos dos afetos básicos dos seres humanos em suas dimensões subje tiva e temporal Bock Furtado e Teixeira 1999 Denote se ainda que para Ferraz Tavares e Zilberman 2007 a felicidade é uma emoção básica p 236 com paralelos expressivos encontrados em outros prima tas Neste trabalho entende se a felicidade como um sentimento por isso ainda com base nos autores citados concorda se com sua definição de felicidade como um esta do emocional positivo com sentimentos de bem estar e de prazer associados à percep ção de sucesso e à compreensão coerente e lúcida do mundo p 234 No âmbito transcultural autores como Diener e Biswas Diener 2002 Csikszentmihalyi 1999 e Veenhoven 1991 apud Ferraz Tavares e Zilberman 2007 correlacionam escores de felicidade altos com o poder aquisitivo mais elevado até o denominado limiar de subsistência com dignidade Ferraz Tavares e Zilberman 2007 p 236 em que o grau de riquezas das nações pouco parece interferir na rela ção mencionada atração e rePulsa interPessoal A despeito de sua atual figura triste e repulsiva era um membro da família que não podia ser tratado como um inimigo mas diante do qual o mandamento do dever familiar impunha engolir a repug nância e suportar suportar e nada mais Franz Kafka Compreendem Rodrigues 1996 e Rodrigues Assmar e Jablonski 2000 que o fenômeno da atração interpessoal é conse quente do processo de interação social que eles definem como um processo de troca no qual se ressaltam os aspectos da depen dência e da interdependência Os autores se aprofundam no estudo da atração interpes soal tendo em consideração que ela pode variar ao longo do tempo de maneira seme lhante ao ciclo de vida a atração entre as pessoas se forma mantém se e pode se ex tinguir ele também trata dos fatores que a afetam quais sejam 1 a proximidade física e 2 a identidade de valores e atitudes entre os sujeitos A proximidade física se configura como determinante substancial da formação de atração entre as pessoas em função 1 da conveniência de se atrair por alguém que está próximo 2 da familiaridade desenvolvida em decor rência da maior frequência de encontros 3 da potencialização na capacidade para ex tinguir a hostilidade autística fenômeno caracterizado pela cessação de interações tidas como não gratificantes2 4 do aumento da capacidade de predição do comportamento do outro Observa se que a proximidade física apesar de não extinguir desigualdades es truturais auxilia na diminuição de precon ceitos pessoais com relação a determinados grupos sociais Oponente à atração no que concer ne à proximidade física a repulsa pode ser exacerbada face à percepção de diferenças pessoais eou de status e à hostilidade an teriores ao aumento do contato Festinger Schachter e Back 1950 realizaram um ex perimento em que observaram a constituição de amizades em um prédio de dois andares e concluíram que os vizinhos tendiam a se tornar amigos em detrimento de morado res de andares diferentes Em concordância com a teoria de que o número de contatos e a interação propicia a atração interpesso INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 244 tOrres neiva cOLs al notou se que os moradores próximos de pontos de confluência como as escadas do andar térreo ou as caixas de correios tinham amigos em ambos os andares A identidade de valores e atitudes é determinante da formação de atração inter pessoal fundamentalmente devido à percep ção de semelhanças entendida como resul tante de distorções perceptivas no sentido da assimilação da comunicação enquanto coerente com os pontos de vista do recebe dor da mensagem dado que os sentimentos com relação ao outro enquanto indivíduo ou membro de um grupo social sejam positivos sentimentos negativos gerariam a percepção amplificada de contraste en tre os valores e as atitudes dos interlocu tores Rodrigues 1996 Rodrigues Assmar e Jablonski 2000 Os estudos de Byrne 1971 reforçaram isso ao analisar caracte rísticas pessoais e descobrir que as pessoas pesquisadas tendiam a se atrair por aquelas com características similares às suas Destarte interagir com pessoas com semelhanças de valores e atitudes gera con sensos o que 1 diminui os custos cognitivos afetivos e comportamentais da interação em si 2 estabelece uma realidade social comum entre os sujeitos porque o grupo a que pertencem se torna um grupo de re fe rência o que reforça a confiança nas ava liações individuais da realidade objetiva e satisfaz a necessidade de comparação com os outros através da maximização da possibilidade de concordância entre os participantes da interação o que enfim tende a validar as atitudes do eu devido à coerência com as atitudes do outro que é significativo para mim Rodrigues 1996 Rodrigues Assmar e Jablonski 2000 Reitera se que a ideia da concordân cia nas relações sociais é um substrato da atração interpessoal uma vez que os objetos ou assuntos avaliados de forma semelhan te se tornam relevantes para o grupo Nos estudos abordados por Rodrigues 1996 ressaltam se ainda algumas características do fenômeno da concordância ou discor dância nas relações que geram atração ou repulsa interpessoal por exemplo a cessão de concordância nas opiniões é acompanha da de hostilidades ou depreciação amigos que discordam tendem a tornar semelhan tes suas opiniões para evitar conflito e quando alguém está em um ambiente onde se interage com pessoas que concordam e discordam aquele tende a discutir mais com os dessemelhantes objetivando mudar suas opiniões Por isso um dos princípios da interação é que se é assegurado a uma pessoa que ela será bem recebida por semelhantes e dife rentes ela tende a preferir as diferentes por questões de tentativa de convencimento do outro mas por outro lado pessoas insegu ras em ser bem recebidas ou que necessitam fortemente do afeto de outrem procuram seus semelhantes Pode se também afirmar como outro princípio dessa interação rela cionada à afetividade que pessoas diferentes do grupo de opinião ou de referência susci tam ideias novas novidades que tornam a relação interessante e agradável Estudos e práticas na área de diversidade cultural de monstram a realidade dessa asserção Uma implicação dessa característica da dimensão afetiva é que ela não pode ser dissociada do trabalho para a inclusão pautado pela justi ça social pois como defende Sapon Shevin 1999 uma comunidade só pode se tornar inclusiva quando todos os seus membros se consideram pertencentes a essa comunidade e percebem que podem contribuir com ela Todas essas observações baseadas em estudos empíricos reforçam especulações populares relacionadas à ideia de que as pessoas sentem necessidade de se comple mentarem afetivamente como a de que os opostos se atraem ainda que talvez não de modo tão simples assim A questão da autoimagem se coloca de um modo importante na orientação da atra ção interpessoal ligada ao desejo afetivo sexual pois pessoas cuja imagem de si mes mas se distancia da que consideram ideal buscam pessoas mais diferentes delas que possuem os atributos por elas considerados INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 245 ideais já aquelas cuja imagem pessoal se aproxima da ideal buscam pessoas mais se melhantes a si Rodrigues 1996 Rodrigues Assmar e Jablonski 2000 Em termos ge rais quanto a atraçãorepulsa em questões relacionais como a da simpatia por alguém Swann Stein Seroussi e Giesler 1992 cor relacionam o nível de autoestima com o tipo de escolhas de modo que pessoas com auto estima elevada tenderiam a preferir pessoas que gostam delas enquanto pessoas com baixa autoestima tenderiam a preferir pes soas que as critiquem A atração interpessoal como se tem defendido ao longo do presente texto apre senta uma variabilidade maior de objetos de atração do que vulgarmente se pensa Várias são as razões para isso todas ligadas às diversas formas de gratificação nessas re lações que as pessoas percebem para si mes mas e como as relações devem ser mútuas os membros da relação precisam perceber que essa relação acarreta mais resultados favoráveis do que desfavoráveis e que não há relações alternativas melhores que excluam a manutenção da atual para que ela se mantenha No que tange à repulsa interpessoal Rosenbaum 1986 é enfático ao demons trar que tendo como referentes as dinâmi cas da atração interpessoal é provável que as pessoas tenham evitação por quem tenha atitudes diferentes das suas tendendo pri meiramente a excluir esse grupo de pesso as para então incluir os que se identificam com elas Ainda como demonstrado pela literatu ra com estudos como os de Simmel 1939 Cooley 1967 Tajfel 1982 Sapon Shevin 1999 e Goffman 1988 2005 a atração interpessoal entre os membros de um gru po repercute no sentido de possibilitar às pessoas uma melhor percepção dos próprios comportamentos na interação aumentar a intensidade da comunicação entre os sujei tos o poder de cada um dos membros da relação enquanto uma pessoa de referência para os outros e a atribuição de causalidade positiva isto é em termos populares meus amigos tendem a fazer boas coisas enquan to o oposto no caso da repulsa interpessoal é igualmente válido ou seja meus inimi gos tendem a fazer más ações já no âmbito da interação transcultural esta questão se coloca na questão de como identificar mem bros de fora de meu grupo em geral pau tada por estereótipos emoção e cognições especificamente devotadas ao outro grupo que fundamentará a maneira como se dá a interação seja entre indivíduos seja en tre grupos sociais nacionais Smith e Bond 1999 Como recurso à razoabilidade Rodri gues Assmar e Jablonski 2000 reiteram que as pesquisas na área ainda não permi tem generalizar o consenso como em outras áreas de estudo e chamam a atenção para o lugar de destaque dos estudos em atração interpessoal e a necessidade de compreen der melhor o fenômeno enquanto objeto de estudo de psicólogos sociais p 369 aléM Eu fiz uma reforma em mim Quero tra tar as pessoas que eu conheço com mais atenção Quero enviar um sorriso amável às crianças e aos operários Carolina Maria de Jesus A subjetividade humana é objeto de estudo para pensadores de diferentes áreas do conhecimento paradigmas e múltiplas matizes epistemológicas metodológicas éticas estéticas e políticas como relata Silva 1998 A subjetividade é uma construção histórica e social o que é ser eu hoje é diferente de há tempos atrás ou em outra cultura A construção da individualidade como consciência de si no mundo conceito hegeliano hoje é pautada pela ideia da dife rença da constituição da subjetividade pelo que é marginal na sociedade eu só me entendo como homem negro porque existe o ser e o conceito do ser da mulher negra et cetera Essa construção de subjetividade rompe os limites individuais e grupais atin gindo níveis globais quando consideramos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 246 tOrres neiva cOLs que o mundo contemporâneo é marcado por fortes transições na compreensão e na cons tituição subjetiva dos grupos sociais especi lamente os sócio historicamente discrimina dos Bhabha 1998 Hall 2006 que lutam para serem posicionados como interlocuto res legítimos e em igual posição aos demais e não mais como seres subalternos Para Touraine 1997 no tempo em que vivemos se racionaliza e subjetiva os su jeitos por meio do mecanismo da formação de identidade coletivas cuja origem Melucci 1989 1996 vai identificar nos movimen tos sociais Nesse sentido o sujeito se iden tifica cada vez mais como um nós politi camente situado antagônico ao status quo Essa realidade afeta a forma como as pes soas se reconhecem e ao outro e até mesmo a forma como se atraem ou se afastam essa transformação no pensamento de Melucci 1989 afeta a dimensão afetiva das pesso as porque subjetividade afeto e cultura são elementos indissociáveis do contexto sócio histórico Os afetos como demonstrado ao lon go deste capítulo constituem uma dimen são crucial da subjetividade e para além das dimensões culturais e políticas da ação humana as emoções e os sentimentos falam do que sou e também servem como antepa ro para não me mostrar As pessoas dizem tudo o que pensam Você não precisa refle tir muito para ter uma resposta que pode ser generalizada A teoria da zona muda de Abric 2003 afirma que as pessoas tendem à proteção de sua autoimagem de modo que expressar opiniões relacionadas a va lores morais e normas de grupo de caráter contranormativo pode afetar a imagem que os outros têm dela pode fazer com que elas percam a face por isso não se fala tudo o que se pensa sobre certos assuntos em espe cial os ligados a preconceitos com relação a determinados grupos sociais Essa opinião não é expressa em con dições normais exceto de modo descon textualizado sendo substituído de manei ra encoberta por outras opiniões valores ou normas Abric chegou a essas conclu sões após pesquisa que realizou acerca das opiniões de franceses quanto a pessoas de outra origem nacional e notou que os res pondentes tinham falas de conteúdos dife rentes quando o pesquisador era dessa outra origem nacional encobriam o preconceito e quando o pesquisador era visto como francês expunham o preconceito Tem se até o presente momento des tacado que do ponto de vista psicossocial a estrutura sociocultural interfere profun damente na constituição das subjetividades Quanto à influência destas no tecido social cabem macroleituras de cunho fortemente sociológico que não serão aqui aprofunda das Vale no entanto apontar a visão de um autor sobre esse tópico Conforme o pensa mento de Gramsci segundo Finelli 2001 somente enquanto resultado e não como princípio é que se pode avaliar a capaci dade de ação de uma subjetividade sobre a história resultado constatado por meio da evolução dos grupos subalternos do nível das iniciativas tão somente econômicas para o nível das iniciativas culturais e políticas Como se nota no trecho supracitado é indi cado o desafio de investigar a influência da subjetividade sobre grupos localizados em níveis diferentes da estrutura social que se apresenta como um tema a se tratar opor tunamente Autores da área de neurociências como Damásio 2001 entre outros de monstram que as expressões da afetividade se processam em locais e níveis de consciên cia do mundo diferentes das sensações bá sicas como o olfato a visão e outros Como ressaltado anteriormente a psicologia social se remete a essas contribuições e busca ana lisar essas expressões dos ditos e dos não ditos sob a ótica psicossocial Um exemplo é o da pesquisa de Ramires 2003 que ao articular a teoria do apego à teoria da cognição social analisa que a conjuntura atual no campo da cons trução do conhecimento científico urge por perspectivas transdisciplinares de estudo e referência teórica para se lidar melhor com a gama de variáveis que dominam o am INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 247 biente psicológico biológico físico e social e se remete a cientistas como Forgas 2001 que reiteram a necessidade de se compre ender a cognição e o afeto como dimensões da subjetividade que se entrelaçam sendo assim inseparáveis Pretendendo ir além considera se que a perspectiva da psicologia social precisa ser transdisciplinar não apenas porque o conhecimento científico hoje existe em um conjuntura complexa Morin 1991 1997 1999 mas também porque a própria con juntura social tecnodependente em que vi vemos nos apresenta outras realidades que em tempos anteriores não existiamnão es tavam acessíveis Instrumentos de avaliação da perso nalidade confiáveis e valorizados como o modelo dos cinco grandes fatores Big Five colocam a afetividade denominada neuroticismo como fator essencial na per sonalidade Hutz et al 1998 Inclusive no campo da informática o conhecimento científico do funcionamento dos mecanis mos afetivos encontra espaço na pesquisa e desenvolvimento de software Silva Tedesco e Ramalho 2006 por exemplo devem a teorias básicas sobre afetividade o desen volvimento de atores virtuais em um jogo que mimetiza o mundo real de modo a conferir aos personagens características de personalidade que sejam reconhecidas pelos seres humanos como propriamente humanas com o fim de atrair os jogadores reais às oportunidades disponibilizadas pelo entretenimento nesse aspecto ambientes virtuais como esse a televisão analógica mas principalmente a digital ou a internet entre outros se apresentam à contempora neidade como anteparos para relações entre o eu e o outro que pode não ser humano mas apresentar características comunicati vas humanóides Em suma esta breve intervenção nas questões da atração e da repulsa interpesso al se propôs a dissertar sobre o que não pode ser dito fazendo uso então de silêncios e referências teóricas e metateóricas porque é possível detalhar o que se sente compre ender mesmo que não se possa içar o cora ção à boca como explica a boa filha ao pai amado na peça Rei Lear de Shakespeare Para concluir remetendo se aqui à intangi bilidade de racionalizar sentimentos como o amor aquém à tentativa de compreendê los melhor invoco os versos de Cecília Meireles no Romanceiro da Inconfidência Liberdade essa palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda No Discurso sobre a origem e os funda mentos da desigualdade entre os homens Rosseau 2006 defende que a liberdade é um elemento distintivo do ser humano para os outros animais uma paixão no sentido afetivo que lhe permite escolher algo em função de sua vontade Assim entende se que a liberdade é não apenas um conceito é uma emoção fruto da expectativa da pessoa em ser quem é vontade decorrente de uma emoção e se expressar como se é ação decorrente da ne cessidade o que aproxima por funcionali dade a liberdade da alegria a expectativa de ser livre alegra as pessoas E por fim vale refletir com o pensa mento de Hannah Arendt 2002 2005 para quem a liberdade é indissociável da ação Retomamos a ideia de que o sentimen to ou a emoção não são apenas experiências individuais eles operam no nível interpes soal aliás precisam operar nesse nível para sanar a necessidade humana de comunica ção o que incorre na atração ou na repulsa interpessoal notas 1 Ver mais sobre estereótipos no Capítulo 10 deste livro 2 Como demonstra Rodrigues 1996 a proxi midade física aumenta as chances de contatos e destarte ante a um maior conhecimento do outro pode diminuir a repulsa interpessoal INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 248 tOrres neiva cOLs reFerências ABRIC JC La recherche du noyau central et de la zone muette des représentations sociales In ABRIC JC Org Méthodes détude des repré sentations sociales France Éditions érès 2003 p 5980 ADLER M J The syntopicon an index to the great ideas In ADLER M J Ed Great books of the western world USA Encyclopaedia Britannica 1996a p 3246 ADLER M J Thomas Aquinas I In ADLER M J Ed Great books of the western world USA Encyclopaedia Britannica 1996b p 178194 ALLPORT G W The nature of prejudice Cambrid ge AddisonWesley 1954 ÁLVARO J L GARRIDO A Psicologia social perspectivas psicológicas e sociológicas São Paulo McGrawHill 2006 ARENDT H A condição humana Rio de Janeiro Florense Universitária 2002 ARENDT H Entre o passado e o futuro São Paulo Perspectiva 2005 BHABHA H O local da cultura Belo Horizonte Editora UFMG 1998 BOCK A M B FURTADO O TEIXEIRA M L T Psicologias uma introdução ao estudo da psicolo gia São Paulo Saraiva 1999 BYRNE D The Attraction Paradigm New York Academic Press 1971 CASTELLS M A era da informação economia sociedade e cultura São Paulo Paz e Terra 2008 COOLEY H C Social organization a study of the larger mind New York Schocken Books 1967 CSIKSZENTMIHALYI M If we are so rich why arent we happy American Psychologist v 54 p 821827 1999 DA MATTA R Carnavais malandros e heróis para uma sociologia do dilema brasileiro Rio de Janeiro Jorge Zahar 1983 DAMÁSIO A O erro de Descartes Rio de Janeiro Companhia das Letras 2001 DIENER E BISWASDIENER R Will money in crease subjective wellbeing A literature review and guide to needed research Social Indicatros Research v 57 n 2 p 11969 2002 ESPERIDIÃOANTÔNIO V MAJESKICOLOMBO M TOLEDOMONTEVERDE D MORAES MARTINS G FERNANDES J J ASSIS M B SIQUEIRABATISTA R Neurobiologia das emo ções Revista de Psiquiatria Clínica v 35 n 2 p 5565 2008 FERRAZ R B TAVARES H ZILBERMAN M L Felicidade uma revisão Revista de Psiquiatria Clínica v 34 n 5 p 234242 2007 FESTINGER L SCHACHTER S BACK K W So cial Pressures in Informal Groups A Study of Human Factors in Housing New York Harper 1950 FINELLI R As contradições da subjetividade americanismo e fordismo em Antônio Gramsci Educação em foco v 5 n 2 p 5362 2001 FLORIDO J Platão vida e obra São Paulo Edi tora Nova Cultural 2000 FORGAS J P Feeling and thinking The role of affect in social cognition United Kingdom Cam bridge University Press 2001 FREUD S Obras completas Rio de Janeiro Ima go 1996 GAIARSA J A O espelho mágico um fenômeno social chamado corpo e alma São Paulo Summus 1984 GALINKIN A L Os filhos do mandamento Tese de Doutorado defendida no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo São Paulo 2001 GARCIA S R MARTINS F Lógica conversacional e técnica psicanalítica Ágora v 5 n 2 p 249 270 2002 GOFFMAN E Estigma notas sobre a manipulação da identidade deteriorada Rio de Janeiro LTC 1988 GOFFMAN E A representação do eu na vida cotidiana Petrópolis Vozes 2005 GREEN A O discurso vivo uma teoria psicanalítica do afeto Rio de Janeiro Francisco Alves 1982 HAASE R F TEPPER D T Nonverbal compo nents of empathia communication Journal Couns Psychol v 19 n 5 p 417424 1972 HALL S Identidade cultural na pósmodernidade São Paulo DPA 2006 HUTZ C S NUNES C H SILVEIRA A D SERRA J ANTON M WIECZOREK L S O desenvolvimento de marcadores para a avaliação da personalidade no modelo dos cinco grandes fatores Psicologia Reflexão e Crítica v 11 n 2 p 1428 1998 LITTLEJOHN S W Fundamentos teóricos da comu nicação humana Rio de Janeiro Zahar 1982 MARTINET M Teoria das emoções introdução à obra de Henri Wallon Lisboa Moraes 1981 MELUCCI A 1989 Um objetivo para os movi mentos sociais Revista Lua Nova v 38 Citado em Silva A S 2006 Marchando pelo arcoíris da política a parada do orgulho LGBT na construção INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 249 da consciência coletiva dos movimentos LGBT no Brasil Espanha e Portugal Tese de Doutorado defendida no Programa de Estudos PósGraduados em Psicologia Social Pontifícia Universidade Ca tólica de São Paulo 1989 MELUCCI A Challenging codes collective action in the information age Cambridge University Press 1996 MENDONÇA P B PICCININ L C CAPUCHO C M CAMPOS C J R Effect of lateralized epileptic discharges on the thought flow Arq Neuropsiquiatr v 59 n 2B p 318323 2001 MORIN E Introdução ao Pensamento Complexo Lisboa Instituto Piaget 1991 MORIN E Meus Demônios Rio de Janeiro Ber trand Brasil 1997 MORIN E Complexidade e Transdisciplinaridade a reforma da universidade e do ensino fundamental Natal EDUFRN 1999 MURRAY E Motivação e emoção Rio de Janeiro Zahar 1971 NIETZSCHE F W O anticristo maldição do cris tianismo Rio de Janeiro Clássicos Econômicos Newton 1996 RAMIRES V R R Cognição social e teoria do apego possíveis articulações Psicologia Reflexão e Crítica v 16 n 2 p 7689 2003 REXROTH K Recordando a los clásicos México Fondo de Cultura Econômica 1993 RICHARDS M The biological and the social In ARMISTEAD N Ed Reconstructing social psychology Middlesex Penguin Books 1974 p 233239 RODRIGUES A Psicologia social Petrópolis Vozes 1996 ROSENBAUM M E The repulsion hypothesis on the nondevelopment of relationships Journal of Personality and Social Psychology v 50 p 729 36 1986 ROSSI J C A representação o afeto e a defesa no Projeto de uma Psicologia 1895 Psicologia Teoria e Pesquisa Brasília v 21 n 1 p 9397 2005 ROUSSEAU JJ Discurso sobre a origem e os fun damentos da desigualdade entre os homens São Paulo Martin Claret 2006 SAPONSHEVIN M Celebrando a Diversidade criando a comunidade o currículo que honra as diferenças baseandose nelas In STAINBACK S STAINBACK W Org Inclusão um guia para educadores Porto Alegre Artes Médicas 1999 p 288305 SILVA M J P A percepção das enfermeiras sobre a comunicação não verbal dos pacientes Disser tação Mestrado Universidade de São Paulo São Paulo 1989 SILVA N Subjetividade In JACQUES M G C STREY M N BERNARDES M G GUARESCHI P A CARLOS S A FONSECA T M G Org Psicologia social contemporânea Petrópolis Vozes 1998 p 168180 SILVA R D TEDESCO P R RAMALHO G L Usando atores sintéticos em jogos sérios o case Smartsim Pesquisa Graduação Universidade Federal de Pernambuco Pernambuco 2006 uma versão eletrônica da pesquisa pode ser solicitada pelo email drdspcartglrc1nufpebr SIMMEL G Sociologia estúdios sobre las formas de socialización Buenos Aires EspasaCalpe Ar gentina 1939 SMITH P B BOND M H Social psychology across cultures Massachusetts Allyn Bacon 1999 SWANN JR W B STEINSEROUSSI A GIESLER B Why people selfverify Journal of Personality and Social Psychology v 62 p 392401 1992 TAJFEL H Grupos humanos e categorias sociais Lisboa Livros Horizonte 1982 TOURAINE A Crítica da modernidade Petrópolis Vozes 1997 UNGER R M Paixão um ensaio sobre a persona lidade São Paulo Boitempo Editorial 1998 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS Parte III O grupo e o contato intergrupal INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS identidade e diFerença O termo identidade deriva do latim idem e tem o sentido de mesmo enquanto o verbo identificar significa tornar se igual idêntico a algo ou alguém Identificar significa ain da separar distinguir de outros semelhan tes a partir de características que tornam algo ou alguém diferente Nesse caso traz o sentido de unicidade e refere se a aspectos individuais que fazem cada pessoa sentir se única singular Um exemplo dessa unicida de é a carteira de identidade que usamos no Brasil composta por uma foto pelo nome e sobrenome do portador pela filiação pela data e pelo local de nascimento por um nú mero identificador e uma impressão digital Esse conjunto de informações no documen to torna o portador uma pessoa única in dividualizada diferente de todas as outras Quando duas ou mais pessoas têm o mesmo nome nasceram no mesmo dia mês e ano dificilmente seus pais terão nomes idênti cos aos de seu homônimo o que permitirá diferenciá las assim como o número único de cada carteira de identidade A identidade refere se portanto ao que uma pessoa é ela é brasileira ela é mu lher ela é protestante em oposição ao que ela não é a ser igual a alguns e diferentes de outros a sentir se única e ao mesmo tempo pertencente a determinados grupos e categorias sociais Como observa Ferdman 2003 cada pessoa tem diversas fontes para compor sua identidade religiãoespi ritualidade saúde educação habilidade fí sicamental fatores geográficos e políticos fenótipogenética ordem de nascimento idiomass experiência de vida raçaetnia nacionalidade gênero família orientação sexual identidade profissional classe social e idade entre outras fontes Assim como tais fontes conferem à pessoa certa unicida de elas também a situam em um grupo ou em uma categoria relativa à nacionalidade ao gênero e à religião etc Por exemplo se ela é brasileira não é japonesa se ela é mu lher não é homem se ela é protestante não é católica A autoidentificação mostra se assim como um reconhecer se e um diferenciar se entre as várias possibilidades que o indiví duo tem na constituição de si mesmo e para tanto é necessário comparar se Em outras palavras o reconhecimento das semelhan ças implica comparações e pressupõe a exis tência de diferenças O mesmo e o outro estão contidos na concepção de identidade Como observa Ricoeur 1991 semelhanças e diferenças fazem parte da mesma compo sição A acepção de identidade remete en tão aos termos da igualdade e da alterida de das semelhanças e das diferenças do se reconhecer e ser reconhecido pelo outro Sobre esse assemelhar se e diferenciar se Anchieta 2003 faz referência a Ciampa 2001 quando este autor analisa o poema Morte e Vida Severina de João Cabral de 12 iDentiDaDe sOciaL e aLteriDaDe ana lúcia galinkin amanda zauli INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 254 tOrres neiva cOLs Melo Neto Nesse poema o retirante nor destino Severino apresenta se contando sua história mas percebe que seu nome é o mes mo de muitos outros nordestinos e que ser retirante é o destino de vários de seus con terrâneos Severino procura diferenciar se por meio de outras características até que ao perceber que sua história não o distin gue de tantos outros retirantes apresenta se como Severino que em vossa presença emi gra Anchieta 2003 p 47 salienta Na narrativa de Severino o jogo das semelhanças e da inclusão que se faz através do sentimento de pertença e de identificação da diferenciação e da ex clusão que define alteridade aparece a cada tentativa do personagem em se fazer reconhecer ou em individualizar se Woodward 2000 p 7 8 cita outra his tória em que o escritor e radialista Michael Ignatieff conversa com soldados sérvios em um posto de comando da milícia sérvia durante a guerra na antiga Iugoslávia Com relação aos sérvios e croatas o escritor per gunta a um dos soldados O que faz vocês pensarem que são diferentes O soldado pega um maço de cigarros e responde Vê isto São cigarros sérvios Do outro lado eles fumam cigarros croatas E continua Aqueles croatas pensam que são melhores que nós Eles pensam que são europeus fi nos e tudo o mais Vou lhe dizer uma coisa Somos todos lixo dos Bálcãs Os cigarros sérvios e os cigarros croatas são a mesma coisa cigarros O que no en tanto é considerado a mesma coisa e o que é diferente nas identidades sérvia e croata A identidade sérvia depende de algo fora dela para existir e distingue se pelo que não é A identidade é portanto caracterizada pela diferença e a a marcação da diferen ça é crucial no processo de construção das posições de identidade Woodward 2000 p 39 A identidade como visto na fala do soldado sérvio e na história de Severino faz se pelo reconhecimento da diferença por símbolos por exclusão social estando ligada ao que está dentro e fora A diferen ça pode ser construída negativamente com a exclusão ou a marginalização das pessoas definidas como outros como forasteiros Ela também pode ser considerada fonte de diversidade heterogeneidade e hibridismo e é enriquecedora Woodward 2000 p 50 Os exemplos mostram como a identi dade pressupõe a diferença e a alteridade enquanto identidade e diferença existem si multaneamente Silva 2000 Sérvios e cro atas eram duas etnias que se tornaram parte da nação Iugoslávia Portanto faziam parte de um mesmo povo Com a fragmentação do país iugoslavo passaram a ser cidadãos dos países Sérvia e Croácia e a se verem como diferentes Nessa relação de alteri dade quando sérvios e croatas colocaram se em confronto ao buscar distintividade constituíram as respectivas identidades por oposição uns aos outros Passaram a con siderar seus antigos compatriotas como pessoas diferentes para se contrastarem e autodefinirem Observa se que para se re conhecer uma identidade há necessidade da existência de outra em contraste ou opo sição Taylor e Moghaddam 1994 como dito antes Conforme exemplificam Torres e Pérez Nebra 2004 p 444 um indivíduo que nunca tenha entrado em contato com um estrangeiro não se identifica como bra sileiro Os exemplos levam nos às conside rações de Cardoso de Oliveira 1976 ao afirmar que uma das propriedades funda mentais de uma identidade é seu caráter contrastivo e seu teor de oposição o que possibilita a afirmação de um indivíduo em relação a outros indivíduos e de um grupo em relação a outros grupos Para o autor o conceito de identidade pessoal ou social pos sui um conteúdo marcadamente reflexivo ou comunicativo posto que supõe relações sociais tanto quanto um código de catego rias destinado a orientar o desenvolvimento dessas relações p 5 Nesse jogo de oposi ções e identificações Galinkin 2001 p 17 destaca que o outro é não apenas parte da repre sentação de si mesmo mas necessário ao INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 255 processo de autorreconhecimento quando pessoas reais ou idealizadas modelos culturais comportamentos ideias e va lores sociais são internalizados de forma positiva ou negativa constituindo em cada sujeito aquela parte de si que o faz parecer único e possibilita ao mesmo tempo o reconhecimento de semelhança e pertença a determinados grupos A identidade é pois necessariamente relacional e constitui se nas interações entre indivíduos ou grupos em diversos contextos sociais Além disso só faz sentido em con textos relacionais específicos Nas relações sociais opera como um código de categorias que comunica as formas possíveis de inte ração os lugares sociais dos sujeitos nessas relações os valores atribuídos às pessoas a aos grupos em contato E como argumenta Hall 2000 2004 não devem ser enten didas de um ponto de vista essencialista referindo se a algo estável e fixo no tempo mas como uma construção estratégica e po sicional sujeita a uma historicização e por consequência a transformações O termo alteridade por sua vez de riva do latim alter e tem o sentido de outro oposto diferente e refere se à natureza ou à condição do que é distinto Houaiss 2001 Todelet 2002 p 50 explica que quando a alteridade torna se objeto de estudo das ciências sociais incluindo se a psicologia social ela é situada no plano do vínculo social da relação entre um ego e um alter e implica apenas esse plano quaisquer que sejam os contexto de inclusão do ego e alter Pois a alteridade não aparece como um atributo que pertenceria à essência do objeto visado mas sim como uma qualificação que lhe é atribuída do exterior É um substantivo que se elabora no seio da relação social e em torno de uma diferença Assim como a identidade a alteridade não faz parte da essência do objeto ou do sujeito identificado mas de um atributo que lhe é conferido uma construção social que lhe é própria Jodelet 2002 referindo se aos estudos no campo da psicologia social em particular aos trabalhos de Tajfel ar gumenta sobre a indissolúvel ligação entre identidade e diferença e o quanto a necessi dade de diferença supera a de afirmação da semelhança Cox 1994 baseando se em inúmeras discussões de grupos e entrevistas feitas confirma a ideia de que os indivíduos têm muito mais consciência das característi cas que os diferenciam do outro grupo em contato e muito menos consciência das se melhanças das outras características de sua identidade que os aproximam daquele ou tro Os resultados das entrevistas feitas em uma companhia internacional quando se discutiu a respeito de como a identidade so cial afetava as interações no trabalho 89 das mulheres concentraram se em aspetos relativos ao gênero 88 dos expatriados concentraram se em nacionalidade e 78 dos homens não brancos concentraram se em aspectos étnicos Por outro lado as mu lheres não brancas foram o único grupo com número significativo de pessoas 50 que se concentrou tanto em questões de étnicas quanto em questões de gênero As seme lhanças e os aspectos identitários partilha dos por todos os grupos não pareceram tão significativos para eles as concePções da identidade eM três MoMentos Históricos Considerando que as identidades constroem se nas relações sociais em contextos sociais específicos mudanças que ocorrem nesses contextos são determinantes na maneira como as pessoas percebem a si mesmas per cebem os outros e são percebidas por esses outros Hall 2004 distingue três concep ção de identidade relativas 1 ao sujeito do Iluminismo 2 ao sujeito sociológico 3 ao sujeito pós moderno INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 256 tOrres neiva cOLs Para o autor o sujeito do iluminismo estava baseado numa concepção de pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado unificado dotado de capacidades de razão de consciência e de ação Hall 2004 p 11 Desse modo sua identidade emergiria no nascimento e permaneceria sempre a mesma em um processo contínuo durante toda a vida do indivíduo O sujeito sociológico por sua vez re fletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que esse mun do interior do sujeito não era autônomo e autossuficiente mas era formado na relação com outras pessoas importantes para ele Hall 2004 p 10 A identidade do sujeito pós moderno increve se no momento atual das sociedades ocidentais industrializadas em um contexto de rápidas e frequentes mudanças Retomando a ideia do sujeito do Iluminismo este se constituiu em um mo mento de grandes transformações sociais políticas e econômicas nos países ocidentais em particular na Europa refletindo o mo mento de sua construção Duas concepções ideológicas que se configuraram no período iluminista e no início da modernidade o racionalismo e o individualismo foram im portantes na construção de uma nova noção de pessoa o indivíduo racional livre que gozava do direito à diferença e era protegi do por leis universais que garantiam direi tos iguais a todos os cidadãos Ocorreu nesse caso a desconstrução do sentido medieval de pessoa cuja iden tidade estava vinculada à sua pertença a uma forma de agrupamento social como as corporações de ofício a Igreja e a nobreza dando lugar a uma nova concepção de pes soa o indivíduo autônomo com direito à ci dadania desvinculado de seu grupo social Houve o declínio do coletivismo medieval e de uma ideologia holista no sentido do termo atribuído por Dumont 1987 surgin do então o individualismo uma concepção ideológica que em sua origem valoriza o indivíduo e o considera um fim em si mes mo subordinando a totalidade social aos in teresses individuais Dumont 1992 A livre escolha de uma profissão de uma religião ou de um partido político passa a ser um direito individual garantido por constituições e leis Os indivíduos nessa nova ordem política e social são considerados moralmente iguais com direito à diferença à privacidade e à propriedade O papel do Estado é garantir a liberdade e as oportunidades individuais A concepção de sujeito sociológico desenvolve se ainda na modernidade como uma nova maneira de pensar a pessoa ou o indivíduo enfatizando se a importância do meio social na constituição de cada sujeito e a necessidade da interação com o outro na construção de si mesmo Hall 2004 afirma que embora um eu real permaneça nessa concepção ele é formado por e está sujeito a modificações no decorrer das interações com outros sujeitos e outras identidades Os símbolos os valores e os sentidos atribuídos pela cultura passam a ter grande importân cia na formação dos indivíduos e de suas identidades É nas interações sociais que se constituem os sujeitos e suas identidades Segundo essa visão interacionista em bora haja uma troca entre o eu e a socieda de a identidade é compreendida ainda como operando no sentido de estabilizar tanto os sujeitos quanto os mundos que eles habi tam tornando ambos reciprocamente mais unificados e predizíveis Hall 2004 p 12 Hall observa que essa concepção sociológica de sujeito que define a identidade a partir da interação entre o eu e a sociedade tem em George Herbert Mead e Charles Horton Cooley os principais expoentes Cooley 1902 afirmava que indivíduo e sociedade não têm existência separada não sendo possível estudar sociedade sem fazer referência aos indivíduos nem analisá los sem considerar as sociedades da qual fa zem parte Cooley também contribuiu com a ideia sobre a formação intersubejtiva da identidade afirmando que a imagem que os outros fazem de nós passa a fazer parte de nossa identidade isto é o eu espelho Nessa concepção as pessoas atuam como espelhos em que nos vemos refletidos pois no de correr das interações cotidianas a pessoa é não só consciente da imagem que os outros INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 257 fazem dela mas também interpreta os senti mentos positivos ou negativos que desperta nos outros apud Álvaro e Garrido 2006 Mead por sua vez enfatizou a impor tância da comunicação e seu valor simbólico nas interações sociais A linguagem por se tratar de fenômeno inerentemente social tem papel fundamental na interação simbó lica para esse autor Álvaro e Garrido 2006 Farr 2000 Cooley e Mead lançam as bases para o desenvolvimento das concepções e teorias interacionistas O sujeito da pós modernidade assim como os anteriores é interpretado como um reflexo de sua época Em relação à concep ção pós moderna de sujeito a identidade é vista como sendo fragmentada e deixa de ser unificada ou estável Em lugar de fazer re ferência a uma única identidade a perspec tiva pós moderna considera o sujeito com várias identidades que podem ser contradi tórias ou até mesmo não resolvidas Esse processo produz o sujeito pós moderno conceptualizado como não tendo uma iden tidade fixa essencial ou permanente Hall 2004 p 12 mas diferentes identidades em diferentes contextos e em permanente transformação Hall refere se a identifica ções deslocadas identidades que podem ser contraditórias e empurram os sujeitos em diferentes direções Esse deslocamento seria o resultado de um complexo de processos e forças de mudança que por conveniência pode ser sintetizado sob o termo globaliza ção Para termos a sensação de que somos a mesma pessoa no decorrer de nossa vida tendo um sentido unificado de nossas iden tidades construímos uma cômoda história sobre nós mesmos ou uma confortadora narrativa do eu Hall 2004 p 13 Essa concepção da identidade pós moderna é abordada por diferentes auto res ao analisarem o momento histórico que tem sido denominado pós modernidade ou modernidade tardia Trata se de época de grandes e rápidas transformações particu larmente nas sociedades ocidentais indus trializadas contemporâneas que impactam na consciência do indivíduo sobre si mesmo e sobre o outro tornado a mais fluida mais instável e adaptável aos diversos contextos e às mudanças sociais Bauman 1999 ao discutir a identidade na pós modernidade indica as mudanças nos valores sociais como a liberdade a tolerância e a diversidade que na verdade traduzem se na liberdade de consumo na tolerância com indiferença pelo outro e na diversidade que ignora o outro e não lhe respeita a diferença Nash 1989 apud Galinkin 2003 interpreta as identidades nesse momento histórico como caracterizadas pelo desenraizamento pela alienação pelo estar sozinho sem docu mento sem Estado em um mundo organi zado por outros Uma nova concepção de sujeito é construída na contemporaneidade e sua identidade está em permanente constru ção sendo influenciada pela pluralização dos ambientes A pessoa deve desenvolver competências para interagir em uma gran de variedade de ambientes percebendo as diferentes demandas de tais ambientes ajustando tanto a aparência quanto a pos tura diante dessas diferentes demandas Guiddens 2002 As concepções de identidade e alteri dade mostram várias maneiras de se com preender os sujeitos em suas relações so ciais As discussões mais recentes sobre essa questão apontam para as diferentes possi bilidades de ser de autorrepresentações e de representações do outro A pluralidade é uma questão básica dos seres humanos que são diferentes e buscam distinguir se uns dos outros Não se conhecem povos sem nomes sem idiomas ou sem culturas que os diferenciem de outros e para se autoco nhecer um indivíduo precisa ser reconheci do de modo específico por outras pessoas Arendt 2007 identidade e relações intergruPais Os estudos sobre identidade social no âmbi to da psicologia social têm em Henri Tajfel um de seus principais teóricos Ele define identidade social como parte do autoconcei INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 258 tOrres neiva cOLs to que deriva de sua pertença a um ou mais grupos assim como do valor e do signifi cado emocional que tal afiliação tem para a pessoa Assumindo os limites dessa defi nição e a complexidade da maneira como o indivíduo se vê em relação ao ambiente físico e social o autor afirma que tal defini ção tem por objetivo compreender os efei tos da natureza e a importância subjetiva do comportamento dos indivíduos em suas relações interpessoais Fazendo referência a sociólogos como Berger e Luckman 1966 e Schultz 1932 1967 Tajfel 1978 adota a perspectiva intergrupal da identidade social e considera a categorização como um siste ma de orientação que vai ajudar cada sujei to a criar e definir seu lugar na sociedade Nesse aspecto nenhum grupo vive só mas em meio a outros e é nas relações ou nas comparações entre grupos que os aspectos positivos da identidade social e o engaja mento na ação social ganham sentido Tajfel 1978 desenvolve a teoria da identidade social que se baseia na identifi cação na comparação social e na distinção ou na categorização social na identidade so cial e na comparação social Há alguns prin cípios básicos quanto à identificação grupal e primeiramente é necessário entender que a identificação com um grupo social é um construto cognitivo ou seja está ligado à aquisição de conhecimento por meio da percepção Sendo um construto cognitivo a identificação grupal não precisa ser obriga toriamente comportamental nem deve ser equiparada à internalização que significa um processo individual por meio do qual uma pessoa apropria se dos valores e mo dos de conduta de outro indivíduo Após se identificar com um grupo o indivíduo as sume os sucessos e fracassos desse grupo que geram prazeres e sofrimentos que são sentidos por tal indivíduo Torres e Pérez Nebra 2004 Entretanto a identidade social não é o resultado apenas da pertença a deter minados grupos mas principalmente da comparação entre os grupos internos e os externos um mecanismo causal que determina as relações entre grupos Álvaro e Garrido 2006 p 278 A categorização entre eles e nós é suficiente para criar um grupo pois ela tem a função de organizar as informações recebidas poupando esforços do sistema cognitivo no processamento de tais informações e facilitando a orientação da pessoa em sua realidade social Álvaro e Garrido 2006 Através da categorização formam se os estereótipos cujas funções são cognitiva de preservação do sistema de valores e ideológica de diferenciação em relação a outros grupos A estereotipia alude a imagens men tais simplificadas incluindo aparência físi ca interesses atividades ocupações traços de personalidade emoções e sentimentos que são vistos como próprios de um deter minado grupo Smith e Mackie 2000 Na estereotipia ocorre a tendência a genera lizar as características atribuídas ao grupo para todos os seus membros homogenei zando o grupo externo em oposição ao gru po interno cujos membros são vistos como indivíduos diferenciados Os estereótipos e preconceitos têm ainda a função de ideolo gização das ações coletivas diante dos mem bros de outros grupos Álvaro e Garrido 2006 p 276 Ainda segundo a teoria da identi dade social os indivíduos procuram uma identidade social positiva no processo de comparação com outros grupos Como têm necessidade de uma identidade pessoal e de uma identidade social positivas as pes soas buscam pertencer a grupos socialmen te valorizados Sendo assim os indivíduos compartilham algum tipo de envolvimento emocional com determinado grupo antes de se considerar parte dele Tajfel e Turner 1979 Não é sempre que se obtém uma iden tidade social positiva por comparação como tem ocorrido com as mulheres enquanto categoria social e com as pessoas negras cuja identidade social ainda é muito nega tiva Leyens e Yzerbyt 2004 Uma solução para tal problema pode ser desidentificar se do grupo distanciando se dele psicologica mente ou mesmo dissociar se rompendo sua pertença Smith e Mackie 2000 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 259 Quando não é possível para uma pes soa deixar o grupo menos valorizado ou quando não deseja abandoná lo ela pode buscar aspectos positivos em sua categoria de pertença ou o próprio grupo pode pro mover mudanças para positivar se Se per tencer à categoria mulher implica discrimi nações menos chances de alcançar postos de trabalho reconhecidos ou bem remunerados e abandonar essa categoria não é viável uma solução é valorizar aspectos tidos nas sociedades ocidentais como femininos e po sitivos como a maternidade a sensibilida de a intuição a capacidade de negociação e de mediação de conflitos conferindo certo prestígio a essa categoria social A mulher também pode masculinizar se e até mesmo mudar de sexo correndo o risco de sofrer as possíveis consequências negativas dessas transformações Os negros ativistas ameri canos utilizaram o lema Black is beautiful uma forma de valorização étnica no enfren tamento da discriminação racial nos Estados Unidos na década de 1970 Os movimentos sociais e as lutas políticas das minorias so ciais são meios de buscar reconhecimento conquistar direitos iguais afirmar e valori zar identidades discriminadas Portanto a identificação a categoriza ção e a comparação social têm um papel de grande relevância nas relações entre grupos e na formação de uma identidade social se gundo a teoria da identidade social Como observa Galvão 2009 p 45 há uma íntima relação entre os pro cessos de categorização e comparação social pois a função da categorização é a criação e a definição do lugar do indiví duo na sociedade e a comparação atribui um caráter de realidade objetiva a essa categorização ao se basear na pertença da pessoa a um grupo concreto Ao discorrer sobre a importância da vi vência social Tajfel acrescenta que vivemos em um meio social em constante mudança por essa razão muito do que acontece com as pessoas está relacionado ao que acontece em seus grupos de pertença Mudanças que ocorrem entre os grupos exigem reajustes na compreensão dos acontecimentos e cons tantes atribuições causais sobre o porquê e o como das condições de vida dos membros dos grupos Galvão 2009 Nas relações intergrupais tomando co mo exemplo as relações interétnicas as identidades operam como um código de categorias que orientam tais relações Um código que se expressa de forma opositiva e contrastiva guarda um potencial de con flito que se manifesta no etnocentrismo Cardoso de Oliveira 1976 dando mar gem para comportamentos preconceituosos discriminação e exclusão social do grupo com menor poder Os traços externos e mais visíveis de uma identidade seja nacional seja étnica seja religiosa como costumes rituais roupas idioma adereços e símbolos identificadores operam como sinais dia críticos que anunciam as diferenças entre os grupos e permitem a comunicação entre eles em determinadas situações particu larmente em caso de conflito Se um gru po ou segmento social tem como principal traço identificador a religião esse traço será usado para se comparar e se contrapor à religião do grupo em contato Os traços identificadores são usados para definir os contornos identitários de um e de outro para determinar quem está dentro e quem está fora do grupo bem como para estabe lecer relações sociais Barth 1965 Carneiro da Cunha 1979 A importância das identidades grupais étnicas pode ser observada nos casos de as similação nas interações interétnicas isto é quando um grupo passa a adotar traços cul turais do outro grupo confundindo se com este Barth 1965 argumenta que nesses casos a identidade original não se perde mas se transforma Para o etnólogo pode haver mudanças nas características cultu rais e inclusive na forma de organização do grupo porém preserva se a identidade na medida em que não são as características externas que determinam a identidade de um grupo mas os critérios de inclusão e ex clusão usados para diferenciá los Em outras palavras não são os aspectos objetivos mas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 260 tOrres neiva cOLs as barreiras simbólicas entre nós e eles que definem a diferença entre um grupo social e outro A identidade autoatribuída e atribuída pelo outro são fundamentais nesse jogo de identidades e alteridades argumen to que pode ser aplicado a qualquer grupo social qualquer que seja a origem de sua identidade nacional religiosa étnica po lítica regional ou de gênero No jogo opositivo entre semelhanças e diferenças o reconhecimento de diferenças entre as pessoas e a tensão entre povos et nias e grupos sociais costuma estar presen te nas relações sociais Antagonismos inte rétnicos têm sido registrados há séculos o que demonstra que genocídios como o de Ruanda ou o do holocausto nazista além de outras formas de nacionalismo e etnocen trismos não são fenômenos exclusivos da era moderna Calhoun 1994 Há registros históricos de que nas capitais dos antigos grandes impérios e nas cidades mercantis localizadas nas rotas de comércio os mem bros de grupos étnicos e de religiões dife rentes coexistiam em relativa harmonia A Espanha medieval também abrigou diferen tes povos e etnias e o país beneficiou se das culturas e dos saberes de judeus e mulçuma nos que lá residiam O interesse comercial era o denominador comum que unia aqueles povos mas o conhecimento da Medicina da Matemática da Arquitetura e da Literatura trazido pelos dois grupos estrangeiros ju deus e muçulmanos fomentava a cultura espanhola que preserva ainda hoje traços desses saberes Tais exemplos lembram nos que a tolerância não é uma invenção do mundo ocidental moderno podendo se dizer o mesmo a respeito da intolerância Contudo apesar de um contexto de convivência pacífica cada grupo estrangeiro ficava separado em enclaves dedicando se aos afazeres internos das respectivas comu nidades enquanto os negócios de governo da sociedade anfitriã ficavam a cargo dos go vernantes locais Segundo Galinkin 2001 esse confinamento a espaços específicos para cada grupo estrangeiro ou etnia pode ser não apenas uma forma de exclusão mas também de preservação da distintividade e de aspectos culturais considerados relevan tes para aqueles estrangeiros que podiam exercer uma forma de autogestão sem a interferência do governo local Mantinham assim as identidades étnico religiosas e os traços culturais que os diferenciavam dos outros grupos em contato o que atribuía um sentido de unidade a cada grupo Devido à Inquisição europeia os estrangeiros passa ram a ser categorizados como os diferentes os estranhos e os heréticos o que justificava a discriminação a expulsão e inclusive a eli minação de muitos deles A diferença pas sou a ser um defeito e o preconceito que se constrói no reconhecimento negativo do outro passou a guiar as ações daqueles com maior poder discriminando os diferentes considerações Finais Vemos nos exemplos de relações intergrupais que a convivência entre aqueles que se perce bem como diferentes pode ser tanto positiva e produtiva quanto negativa e conflituosa Além disso pode levar à discriminação e até mesmo à tentativa de extinção do grupo ri val como tem acontecido na história antiga e contemporânea da humanidade No entan to recentemente a importância e o valor da diversidade cultural têm sido reconhecidos particularmente quando se constata que pes soas com origens conhecimentos e habilida des diferentes podem somar esforços e con tribuir para gerar ambientes mais produtivos Em um mundo globalizado como o atual em que cada vez mais pessoas de diversas regi ões do mundo convivem em um mesmo país diferente daquele em que nasceram é fun damental saber aproveitar as vantagens da heterogeneidade e reconhecer o que há de positivo nas diferenças de modo a diminuir o preconceito a discriminação e os conflitos intergrupais respeitando se a identidade de cada indivíduo e grupo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 261 reFerências ÁLVARO JL GARRIDO A Psicologia social perspectivas psicológicas e sociológicas São Paulo McGraw Hill 2006 ANCHIETA VCC Policial 24 horas um estudo sobre representações sociais da violência e iden tidade entre policiais civis do DF Brasília 2003 Dissertação Mestrado Instituto de Psicologia Universidade de Brasília ARENDT H A condição humana10ed Rio de Janeiro Forense Universitária 2007 BARTH F Ethnic groups and bouderies the social organization of cultural differences Chicago Little Brown Co 1965 BAUMAN Z Modernidade e ambivalência Rio de Janeiro Jorge Zahar Editora 1999 DUMONT L Homo Hierarchicus Chicago The University of Chicago Press 1987 DUMONT L O individualismo uma perspectiva antropológica da ideologia moderna Rio de Janeiro Rocco 1992 CALHOUN C Social theory and the politics of identity Massachusetts Blackwell Publishers 1994 CARDOSO DE OLIVEIRA R Identidade etnia e estrutura social São Paulo Livraria Pioneira Editora 1976 CARNEIRO DA CUNHA M Etnicidade da cultura residual mas irredutível Revista de Cultura e Polí tica São Paulo v 1 n 1 p 3443 1979 COX T Cultural diversity in organizations theory research and practice San Francisco BerrettKo ehler Publishers 1994 FARR RM Raízes da psicologia social moderna Petrópolis Vozes 2000 FERDMAN BM Learning about our and other selves multiple identities and their sources In BOYACIGILLER N GOODMAN R PHILLIPS M orgs Crossing cultures insights from master teachers Londres Routledge 2003 GALINKIN AL Os filhos dos mandamentos uma discussão sobre a identidade judaica no contexto dos ritos de maioridade Bar Mitzvá e Bat Mitzvá São Paulo 2001 Tese Doutorado Universidade de São Paulo GALINKIN AL A desconstrução da pessoa e violência In ALMEIDA AMO SOUZA MF DINIZ GRS TRINDADE ZA orgs Violência exclusão social e desenvolvimento humano estudos em representações sociais Brasília Editora da UnB 2003 GALVÃO A Os muros invisíveis do preconceito um estudo das representações sociais das pessoas que vivem com HIVAIDS Brasília 2009 Dissertação Mestrado Universidade de Brasília HALL S Identidade cultural na pósmodernidade Rio de Janeiro DPA Editora 2004 HOUAISS A Dicionário Houaiss da Língua Portugue sa 1ed Rio de Janeiro Editora Objetivo 2001 JODELET D A alteridade como produto e processo psicossocial In ARRUDA A org Representando a alteridade Petrópolis Vozes 2002 GUIDDENS A Modernidade e identidade Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 2002 LEYENS JP YZERBYT V Psicologia social Lisboa Edições 70 2004 NASH M The cauldron of ethnicity in the modern world Chicago The University of Chicago Press 1989 RICOEUR P O si mesmo como o outro Campinas Papirus Editora 1991 SILVA TT A produção social da identidade e da diferença In SILVA TT org Identidade e diferença a perspectiva dos estudos culturais 3ed Petrópolis Vozes 2000 SMITH RE MACKIE DM Social psychology 2ed Filadélfia Psychology Press 2000 TAJFEL H Social categorization social identity and social comparison In TAJFEL H org Di fferentiation between social groups studies in the social psychology of intergroup relations Londres Academic Press 1978 TAJFEL H TURNER JC An integrative theory of intergroup conflict In AUSTIN WG WORCHEL S org The social psychology of intergroup rela tions Monterey BrooksCole 1979 TAYLOR DM MOGHADDAM TM Theories of in tergroup relations international social psychological perspectives Westport Praeger 1994 TORRES CV PÉREZNEBRA AR Diversidade cultural no contexto organizacional In ZANELLI JC BORGESANDRADE JE BASTOS AVB orgs Psicologia organizações e trabalho no Brasil Porto Alegre Artmed 2004 WOODWARD K Identidade e diferença uma introdução teórica e conceitual In SILVA TT org Identidade e diferença a pers pectiva dos estudos culturais 3ed Petrópolis Vozes 2000 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS introdução Este capítulo discute três microteorias que buscam explicar como ocorrem os contatos entre grupos a teoria do conflito realístico a teoria da privação relativa e a teoria da equidade Elas são consideradas microteo rias porque derivam de abordagens teóricas maiores a categorização social e a identi dade social que serão apresentadas breve mente nesta introdução O capítulo está organizado de forma a apresentar os pressupostos que sustentam cada teoria os estudos que deram origem a elas e as críticas da literatura Também são apresentados exemplos de estudos recentes publicados a partir de 2004 em âmbito na cional e internacional visando a apresentar resultados recentes e apontar direções para o desenvolvimento de pesquisas em cada te oria Por fim serão feitas algumas conside rações sobre aplicações das teorias aos estu dos de psicologia social e de organizações Contato intergrupal é o contato que ocorre entre membros de diferentes grupos Em psicologia social um grupo caracteriza se principalmente pela ocorrência de inte rações que se mantêm ao longo do tempo e pela percepção que seus componentes têm dele como algo real e de si mesmos como membros Durante o processo de formação do grupo normas internas são criadas e fa zem com que determinados comportamen tos sejam aprovados como conversar com seu vizinho pela internet ou dar preferência aos pedestres e outros sejam vetados como ofender um amigo ou fumar em locais fecha dos Nos grupos também surgem posições que passam a representar papéis sociais dos membros como aqueles representados por pais e filhos ou pelos líderes do grupo Por fim os grupos são caracterizados pelas re lações afetivas que estabelecem Fraser 1978 é pouco provável que os membros de um grupo sejam emocionalmente neutros ou indiferentes entre si Sempre há emoções envolvidas quando falamos em grupos pois gostamos de nossos amigos e familiares mas tendemos a não gostar dos torcedores do time adversário Para que os indivíduos percebam se como pertencentes a um grupo é preciso que ocorram processos de categorização social Assim cada indivíduo categoriza se como pertencente a um grupo ser torce dor do Brasil por exemplo de modo que o grupo de torcedores brasileiros passa a ser o endogrupo do torcedor e não pertencente a outro que se torna o exogrupo como o gru po de torcedores de outros países Outros exemplos de situações que comumente sa lientam diferenças entre endogrupo e exo 13 cOntatO interGrUPaL cOnFLitO reaLÍsticO PrivaçãO reLativa e eQUiDaDe solange alfinito ariane agnes corradi INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 263 grupo são as interações entre homens e mulheres pobres e ricos brancos e negros assim como tantos outros grupos que pode mos enumerar É importante destacar que essa diferenciação ocorre em termos cogni tivos afetivos e comportamentais Brewer e Brown 1998 Portanto a característica definidora do comportamento intergrupal é a distinção en tre endogrupo e exogrupo o que depende de pelo menos duas categorias sociais ativadas como torcedores da casa versus visitantes De acordo com o paradigma do grupo míni mo Tajfel 1970 qualquer distinção situa cionalmente significativa entre endogrupo e exogrupo é suficiente para ativar respostas diferenciadas em relação a outros com base na pertença deles ao endogrupo ou ao exo grupo Por exemplo um contato interpessoal entre estudantes pode tornar se um episódio de contato intergrupal se eles começarem a discutir a política de cotas para negros nas universidades e suas opiniões divergirem A discussão passa a ser guiada pelas atitudes positivas ou negativas em relação a grupos étnicos e não mais pela identidade pessoal de cada estudante envolvido na discussão Quando as atitudes em relação ao outro gru po são negativas chamamos de preconceito O preconceito pode acontecer em relação a qualquer exogrupo Contudo a literatura e até a mídia tem dado mais atenção aos preconceitos étnicos e de gênero O contato intergrupal também ocorre quando são tro cadas mensagens de conteúdo sexista ainda que essa troca seja virtual como pelo uso de e mail Desse modo um contato intergrupal pode ocorrer mesmo quando não há contato direto ou presencial entre os indivíduos en volvidos Quando andamos pela rua e identi ficamos tipos de trabalhadores também está havendo contato intergrupal por exemplo se categorizamos uma mulher negra vesti da de forma simples dentro do ônibus como uma faxineira tendemos a nos relacionar com ela como alguém pertencente ao gru po social das faxineiras porém se avistamos um rapaz de bermudão e camiseta andando pela rua ouvindo música e carregando uma mochila podemos categorizá lo como um estudante e tratá lo como um representante desse grupo Uma consequência dessas categori zações que ocorrem automaticamente na maioria das vezes é que membros do en dogrupo tendem a ser avaliados mais po sitivamente a merecer confiança e afeto mais positivo e a estimular comportamen tos mais cooperativos do que membros do exogrupo Observemos o efeito de ver um desconhecido com a camisa do nosso time em comparação a ver outro desconhecido com a camisa do time adversário nossas atitudes provavelmente serão diferenciadas em cada situação Contudo a ativação de categorias e os comportamentos associados a elas dependem não somente da pertença a um grupo mas também dos estímulos ambientais que constituem a situação Um estímulo ambiental que pode afetar a ativa ção da categoria times será um dia de final de campeonato se formos torcedores fanáti cos Brewer e Brown 1998 apontam que as condições situacionais são fundamentais quando se trata de intervenções em contex tos de antagonismo entre grupos como se verá em alguns exemplos de pesquisa anali sados ao longo do capítulo As respostas diferenciadas a membros pertencentes ao endogrupo ou ao exogrupo podem surgir de três tipos de orientação para o endogrupo para os intergrupos e para o exogrupo Esses três processos cons tituem três tradições distintas de pesquisa e serão brevemente tratados aqui como forma de aprofundar processos gerais subjacentes aos contatos intergrupais No processo de identificação com o endogrupo a ativação da identidade pesso al ou da identidade social é o aspecto mais importante Para Tajfel e Turner 1986 a identidade pessoal refere se a autoconceitu ações que o indivíduo faz ao se comparar com outros indivíduos A identidade social por sua vez diz respeito a conceituações do self baseadas na pertença a categorias ou grupos sociais emocionalmente signi ficativos p ex a identidade social de ser INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 264 tOrres neiva cOLs aluno de psicologia As identidades sociais categorizam o self em unidades sociais mais inclusivas nas quais o indivíduo deixa de ser único Isso não significa que a identida de pessoal se perca mas que a mudança no nível de identidade de pessoal para social acarreta mudanças na natureza e na estru tura dos autoconceitos salientes Brenner e Brown 1998 Em uma conversa informal você pode ativar sua identidade pessoal úni ca ou sua identidade social ser estudante de psicologia por exemplo A ativação da identidade social influencia os chamados padrões etnocêntricos de atribuição e esses padrões caracterizam se por atribuições de causa disposicionais tanto para comporta mentos negativos exibidos por membros do exogrupo quanto para comportamentos positivos de membros do endogrupo Ao contrário os comportamentos positivos de membros do exogrupo e os comportamen tos negativos de membros do endogrupo são atribuídos a causas situacionais Figura 131 Esse padrão etnocêntrico de atribui ções é chamado de erro máximo de atribui ção retângulo hachurado da Figura 131 Esse padrão afeta os contatos intergrupais porque está associado ao fenômeno da dis criminação O que as pesquisas têm mostra do é que a identificação com o endogrupo favorece a ocorrência de comportamentos de cooperação mesmo que os indivíduos não tenham comunicação interpessoal De outro modo quando a identidade social não está ativada os indivíduos orientados para o endogrupo tendem a agir em benefício próprio ainda que isso traga prejuízos ao grupo Brenner e Brown 1998 Quando as respostas dos indivíduos advêm de uma orientação intergrupal pode ocorrer conflito competição ou compara ção de acordo com as redes de relações in tergrupais A natureza dessas relações tem efeitos independentes sobre os processos de discriminação e preconceito a favor do endogrupo e em detrimento do exogrupo Duas teorias desenvolvidas conforme essa orientação são a teoria de conflito realísti co e a teoria da privação relativa descritas mais adiante O terceiro processo chamado de iden tificação com o exogrupo estuda os efeitos negativos do preconceito e da discrimina ção voltados para exogrupos específicos São consequências que independem da re lação do indivíduo com seu endogrupo É o caso da conceituação mais típica de pre conceito definido como avaliações negati vas dos outros baseadas na sua pertença a determinada categoria social Um exem plo desse processo pôde ser observado nos Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro de 2001 Cidadãos americanos passaram a adotar atitudes negativas ou Figura 131 Padrões etnocêntricos de atribuição e erro fundamental de atribuição Endogrupo Causas situacionais Causas disposicionais Comportamentos positivos Comportamentos negativos Comportamentos positivos Comportamentos negativos Exogrupo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 265 seja preconceituosas e apresentar com portamentos discriminatórios em relação a todos os estrangeiros sobretudo os de ori gem islâmica independentemente do seu endogrupo ou de vínculos interpessoais positivos com membros dos exogrupos ante o atentado No Brasil podemos no tar esse tipo de resposta a grupos sociais acontecendo diariamente Se você avistar um adolescente maltrapilho andando pela calçada poderá fazer uma série de avalia ções negativas como julgá lo como um as saltante um menino de rua um viciado em drogas etc Além disso poderá adotar comportamentos como mudar seu trajeto ou segurar mais forte sua bolsa ou mochila ou ainda fazer piadas a respeito do adoles cente teoria do conFlito realístico definição e pressupostos A teoria do conflito realístico foi assim de nominada por Campbell 1965 ao estudar teorias na sociologia antropologia e psico logia social cuja premissa fosse a de que o comportamento intergrupal poderia ser ex plicado pela natureza e compatibilidade das metas grupais A teoria baseia se em três pressupostos 1 as pessoas são egoístas e tentam maximizar suas recompensas este também é um dos pressupostos da teoria da equidade 2 o conflito é resultado de interesses incom patíveis entre grupos 3 aspectos sociopsicológicos do comporta mento intergrupal são consequência e não determinantes da compatibilidade ou da incompatibilidade desses interesses Taylor e Moghaddam 1994 O tema comum entre esses pressupostos é que os conflitos grupais são racionais ou realís ticos isto é baseiam se em competições reais por recursos escassos Para Campbell 1965 quando os in teresses são incompatíveis entre os grupos ou seja um dos grupos perde algo para que o outro ganhe a resposta psicológica social tende a ser negativa atitudes preconcei tuosas julgamentos enviesados compor tamento hostil Quando esses interesses são compatíveis ou complementares as reações tendem a ser positivas tolerância justiça amizade Esses efeitos do contato inter grupal têm sido demonstrados em es tudos de laboratório e de campo Fritsche e Jonas 2005 Hewstone et al 2006 Conforme veremos nos exemplos de pes quisas a seguir muitas situações de discri minação e pre conceito entre grupos podem ser explicadas pela teoria do conflito realís tico Uma grande vantagem dessa teoria é explicar mu danças em níveis de preconceito ao longo do tempo e em diferentes contex tos sociais as quais podem ser atribuídas a mudanças nas relações políticas e econômi cas entre os grupos envolvidos Brenner e Brown 1998 Além dos tradicionais estudos de la boratório e de campo Hunt e colaborado res 2006 conseguiram realizar um estudo naturalista longitudinal após a ocorrência do furacão Katrina nos Estados Unidos Centenas de milhares de habitantes da re gião costeira a maioria formada por afro americanos de baixa renda foram realoca dos em comunidades predominantemente europeias e americanas As reações das co munidades receptoras poderiam ser tanto positivas por meio de mudança de atitude e crenças a respeito dos afro americanos quanto negativas caso o maior contato in tegrupal levasse a percepções de ameaça durante os vários meses de contato entre os grupos Os autores elaboraram um mo delo com três fatores que ocorrem sob uma perspectiva longitudinal para compreender essa experiência contato intergrupal infor mação individualizada e ameaça percebida pelo grupo Os resultados mostraram em uma primeira coleta de dados que aqueles que se sentiam mais ameaçados pela pre sença dos refugiados também relatavam mais preconceito e fortalecimento de este reótipos negativos Pessoas que tinham mais contatos ou maior riqueza de informações INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 266 tOrres neiva cOLs individualizadas sobre os refugiados relata vam menos estereótipos negativos Um exemplo de estudo de laboratório é a pesquisa desenvolvida por Lin 2005 A autora realizou dois experimentos com asiático americanos analisando atitudes negativas dos norte americanos em rela ção a essa minoria social O primeiro ex perimento utilizou estereótipos positivos atitudes negativas e ameaças levantadas junto aos participantes O segundo expe rimento utilizou cenários nos quais foram testados os efeitos da ameaça realística em um contexto de sala de aula Os resultados demonstram que a ameaça realística me diou a relação entre estereótipos positivos e atitudes negativas observada no primeiro experimento ou seja ser muito bom em um ambiente competitivo pode predizer atitudes negativas Estudos de laboratório que controlaram a interdependência entre grupos para que ela variasse em negativa neutra ou positiva mostraram se consisten tes comumente ocorre mais viés intragru po menos gostar intergrupos e maior dis criminação intergrupos quando os grupos estão objetivamente em competição do que quando eles são independentes ou devem cooperar para atingir uma meta comum Brenner e Brown 1998 p 565 Nos estudos de campo um exemplo brasileiro é o de Albuquerque Vasconcelos e Coelho 2004 que analisou contatos entre um grupo de assentados e um de pequenos proprietários rurais no interior do estado da Paraíba Os resultados indicaram visões an tagônicas entre os grupos de modo que os proprietários rurais endogrupo descreve ram os assentados como invasores de terra e beneficiados pelo governo ao passo que os assentados exogrupo julgaram os proprie tários como desorganizados e acomodados Com visões positivas do endogrupo e visões negativas do exogrupo o estudo identificou que as políticas governamentais de distri buição de terras não têm favorecido a inte gração entre os membros de assentamentos e a comunidade local impedindo ações co operativas entre os grupos para a sua sub sistência e para a comercialização de seus produtos Ao contrário os recursos disponi bilizados aos assentados têm promovido es tereótipos negativos e preconceito entre os dois grupos uma vez que os assentamentos oferecem benefícios que não existem para a população local Outro campo de aplicação da teoria do conflito realístico é explorado nos estu dos sobre jogos O pressuposto inicial é de que o conflito é negativo e surge a partir dos esforços individuais pela maximização de recompensas principalmente a despei to de outros Nesse caso o ser humano é concebido como um ser racional motivado a maximizar ganhos pessoais em contextos nos quais interesses incompatíveis entre os grupos sobrepujam interesses compatíveis Taylor e Moghaddam 1994 Em pesquisa recente Halevy e cola boradores 2006 realizaram quatro estu dos sobre o conflito entre Israel e Palestina utilizando a teoria dos jogos Os pesquisa dores utilizaram três jogos No primeiro chamado Chicken se os israelenses não fi zerem concessões territoriais e os palestinos não cessarem os ataques violentos ambos os grupos culminarão em grande prejuízo No segundo jogo chamado Assurance se os israelenses fizerem concessões territoriais e os palestinos cessarem a violência os be nefícios serão os melhores para ambos Por fim no terceiro jogo chamado Dilema do Prisioneiro se os palestinos cessarem a vio lência não haverá razão para os israelenses fazerem concessões ao passo que se a vio lência continuar haverá menos razões ainda para tais concessões Sob o ponto de vista dos palestinos a ocupação territorial pelos israelenses faz com que a violência continue ao passo que se concessões ocorrerem em função da vio lência aumentam as razões para manter a violência No Dilema do Prisioneiro portan to somente a combinação entre concessão e cessar fogo levará à melhor solução do conflito Nos dois primeiros estudos foram investigadas associações entre percepções subjetivas dos indivíduos sobre os três jogos e suas percepções de conflito de interesse entre israelenses e palestinos vieses avalia INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 267 tivos do endogrupo identificação nacional religiosidade partidarismo político e com portamento de voto Os outros dois estudos trabalharam com a saliência das necessidades de segu rança e fechamento cognitivo e mostraram que essas necessidades afetam a escolha de modelos de jogos para descrever o conflito entre Israel e Palestina Os resultados indica ram associação entre percepção de conflito em termos de um determinado jogo e cren ças e atitudes com relação ao endogrupo e ao exogrupo que afetam as relações entre os grupos conflitantes Desse modo as estrutu ras cognitivas que endossam o jogo Chicken e o Dilema do Prisioneiro podem ser modifi cadas para a percepção do conflito no jogo Assurance o que levaria à paz em função da associação dessas estruturas com visões de mundo crenças e atitudes em cada grupo envolvido no conflito estudo que deu origem à teoria Sherif 1966 conduziu uma série de experi mentos de campo em um acampamento de verão para meninos e enfatizou as relações funcionais que os grupos estabelecem entre si Taylor e Moghaddam 1994 Relações funcionais equivalem à complementaridade ou não complementaridade entre os interes ses de grupos As variáveis independentes estudadas foram as condições materiais do contexto experimental as tarefas e os re cursos dos grupos assim como a natureza complementar ou não complementar dessas tarefas As variáveis dependentes eram os fenômenos sociopsicológicos como atitudes intergrupais e identificação grupal Foram elaborados quatro estágios experimentais escolhas interpessoais espontâneas forma ção de grupos conflito intergrupal e coope ração intergrupal Os resultados da fase de cooperação intergrupal levaram ao conceito de metas superordinadas até hoje utilizado em psi cologia social Metas superordinadas são aquelas em que todos os membros de to dos os grupos são necessários ou seja elas exigem a colaboração de todos Nos experi mentos de Sherif as metas superordinadas foram o recurso mais eficiente para reduzir o conflito intergrupal provocado na fase da pesquisa que promoveu competições entre os grupos Tais experimentos estimularam o desenvolvimento de uma ampla literatu ra sobre a teoria de conflito realístico cujos resultados corroboraram seus pressupostos bem como apontaram limitações à teoria limitações e críticas à teoria Taylor e Moghaddam 1994 discutem sete dificuldades acerca da teoria do conflito rea lístico 1 a definição de conflito 2 o pressuposto de que todo conflito é ruim 3 o tratamento de grupos minoritários 4 os participantes dos estudos 5 a despreocupação com grupos abertos 6 a negligência das relações de poder 7 a ênfase em soluções psicológicas para problemas oriundos de conflitos de inte resses materiais 1 Definição de conflito As interpretações de conflito sua operacionalização e suas consequências são tão variadas que a extra polação dos resultados entre níveis requer cuidados Estudos sobre competição entre grupos de estudantes versus estudos sobre nações em guerra dificilmente serão trata dos sob o mesmo enfoque embora sejam es tudados a partir da mesma teoria 2 Todo conflito é ruim Um dos pressu postos centrais da teoria é que todo conflito deve ser evitado ou resolvido Esse pressu posto é aplicado a diversos níveis de conflito interpessoais intergrupais e internacionais Entretanto conflitos podem ser construtivos e trazer consequências positivas sobretudo para os grupos de desvantagem ou seja aqueles que detêm menos poder na socie dade em comparação a outros Um grupo de desvantagem sob condições de explora INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 268 tOrres neiva cOLs ção e preconceito que evita o conflito com o grupo de vantagem vai contribuir para a manutenção dessas condições Se uma das partes se comporta de modo cooperativo e a outra de modo competitivo passa a haver exploração e perdas o que leva a primeira parte a se comportar de forma competitiva na próxima oportunidade Assim existem casos em que a ausência de conflito torna se mais negativa do que sua existência 3 Tratamento de grupos minoritários As implicações psicológicas de conflitos realís ticos permanecem inexploradas principal mente em relação a grupos minoritários A teoria do conflito realístico não explica quais são os processos que guiam as percep ções subjetivas de grupos a respeito de con dições objetivas de vantagemdesvantagem Conforme se verá na teoria da privação rela tiva as percepções dos grupos nem sempre equivalem ao que se observa objetivamente nas relações intergrupais Contudo a teoria do conflito realístico não abarca esses pro cessos possivelmente em função dos pres supostos de que todo conflito é ruim e deve ser resolvido Isso leva a pesquisa a negli genciar os conflitos de interesse reais que seriam a causa do conflito 4 Participantes dos estudos Os procedi mentos de amostragem para a realização das pesquisas raramente consideram as popula ções para as quais se pretende generalizar os resultados Assim é possível encontrar extrapolações de resultados com amostras de estudantes para relações internacionais por exemplo 5 Despreocupação com grupos abertos As pesquisas em conflito realístico tradicio nalmente trabalham com grupos fechados ou seja são grupos nos quais não existe a possibilidade de os indivíduos mudarem de grupo É o que ocorre por exemplo na pesquisa de Halevy e colaboradores 2006 israelenses não têm a possibilidade de se tornar palestinos e vice versa 6 Negligência das relações de poder As pesquisas enfocam grupos iguais em poder e negligenciam a importância de poder no estudo dos contatos intergrupais Os críticos à teoria apontam que o poder é um aspecto central nos estudos sobre relações intergru pais 7 Ênfase em soluções psicológicas para conflitos oriundos de interesses materiais Embora a teoria admita que conflitos reais de interesse sejam a causa dos conflitos in tergrupais a resolução dos conflitos é con siderada do ponto de vista psicológico isto é depende de mudanças nas percepções das partes envolvidas Daí a ênfase atribuída às metas superordinadas Brenner e Brown 1998 ainda criti cam os seguintes aspectos 1 diferenciação prévia entre endogrupo e exogrupo 2 cooperação e vieses de julgamento 3 necessidade de explicitação do conflito 4 interdependência entre grupos e conflitos não realísticos 1 Diferenciação prévia entre endogrupo e exogrupo Para a teoria do conflito realísti co há necessidade de uma forte diferencia ção prévia entre endogrupo e exogrupo para que a competição surta os efeitos descritos nas pesquisas A mera presença de competi ção assim como a interdependência negati va per se não são condições suficientes para determinar dado comportamento intergru pal Seus efeitos sobre as atitudes intergru pais são relativamente fracos quando não há pelo menos algum grau de identificação com o endogrupo 2 Cooperação e vieses de julgamento Mesmo quando os grupos precisam coope rar entre si os vieses de julgamento não de saparecem isto é as atitudes intergrupais enviesadas e negativas permanecem ainda que os grupos tenham interesse material em erradicar tal favoritismo do endogrupo 3 Necessidade de explicitação do conflito Um conflito de interesse explícito não é ne cessário para fazer com que surja favoritis mo do endogrupo e competição De acordo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 269 com Brenner e Brown 1998 p 566 mais do que causar a identificação com o endo grupo a competição intergrupal e o confli to percebido podem ser uma consequência da identificação grupal e da diferenciação endogrupo exogrupo Nesse sentido qual quer tipo de interdependência entre grupos competitiva ou cooperativa será sempre percebida negativamente pois exogrupos são espontaneamente vistos como concor rentes para as metas do endogrupo de for ma que a interdependência negativa é a con dição padrão para a interação intergrupal 4 Interdependência entre grupos e confli tos não realísticos Essa crítica considera que a interdependência negativa pode advir dos conflitos de interesse percebidos não re alísticos ou de elementos intangíveis como prestígio As crenças cognitivas podem ser mais importantes do que os fatos demográfi cos e advir de tentativas ideológicas criadas pelos grupos poderosos para estabelecer di visões sociais Pesquisas sobre discriminação intergrupal e paradigmas do grupo mínimo têm mostrado que basta alocar os indivíduos em grupos distintos para que surjam julga mentos enviesados e comportamento discri minatório Contudo os resultados diferem quando se fala de alocar recursos versus gerar estimulações aversivas No segundo caso os comportamentos discriminatórios a favor do endogrupo podem ser minimizados ou até mesmo equiparados teoria da Privação relativa definição e pressupostos A teoria da privação relativa baseia se na ideia de que o grau de satisfação do indi víduo com aspectos específicos de sua vida é determinado por sua própria percepção e não pela situação objetiva real na qual se encontra Taylor e Moghaddam 1994 É uma teoria que explica quando ocorrem protestos e ações coletivas no grupo mo tins e delimita quem está mais motivado a participar de protestos e ações coletivas Em geral são os membros com mais van tagem nos grupos de desvantagem que se engajam em ações coletivas Tyler e Smith 1998 A teoria da privação relativa está as sociada a questões de ação coletiva devido à sua preocupação com as diferenças de status e poder entre grupos sociais Desse modo é uma teoria que tenta explicar quando e como membros de grupos sobretudo gru pos de desvantagem engajam se em ações coletivas em prol de mudanças nas relações de poder existentes na sociedade Brewer e Brown 1998 O ponto chave para compreender a te oria da privação relativa é a teoria de compa ração social Festinger 1954 Tajfel 1970 ou seja as comparações que os indivíduos fazem entre si que os indivíduos fazem com os grupos e que os grupos fazem entre si As comparações podem ocorrer a partir da situação atual em relação a experiências passadas ou a expectativas futuras Isso im plica que se o referente de comparação for pior do que a situação atual na percepção do indivíduo ele não reagirá negativamen te à situação presente Essa percepção pode ou não ser consoante a aspectos objetivos da realidade Significa que grupos que es tejam objetivamente em desvantagem po dem sentir se satisfeitos mesmo que rece bam menos recursos sociais Por outro lado grupos objetivamente em vantagem podem estar insatisfeitos ainda que tenham muito mais recursos sociais No nível individual as pessoas podem por exemplo escolher refe rentes de comparação piores que elas para melhorar sua autoestima Contudo Tyler e Smith 1998 desta cam que as redes e contextos sociais podem impedir ou forçar determinadas escolhas de comparação O contexto social influencia a disponibilidade de diferentes escolhas mas as motivações pessoais influenciam a atra tividade dessas escolhas Outro fator que influencia a percepção de privação é a dis tância entre o indivíduo ou seu grupo e o referente de comparação Segundo os auto res uma distância menor entre o indivíduo ou seu grupo e um indivíduo ou grupo de menor status gera maior impacto sobre INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 270 tOrres neiva cOLs comportamentos e atitudes em comparação a uma distância maior entre o indivíduo ou seu grupo e um indivíduo ou grupo de maior status Um exemplo empírico desse fe nômeno encontra se no estudo de Lam e co laboradores 2006 que compararam as ati tudes intergrupais de jovens de Hong Kong em relação a jovens chineses sob o efeito de categorias sociais inclusivas e de pressão de tempo Esses pesquisadores observaram que os jovens haviam adquirido uma tendência a fazer comparações sociais em um quadro de referência de exclusão regional Esse quadro levava a vieses de julgamento negativos em relação aos chineses sobretudo sob pressão de tempo Quando colocados em um quadro de referência nacional inclusivo as atitudes intergrupais negativas eram atenuadas A percepção de privação relativa em relação a um padrão social ou temporal leva os indivíduos à insatisfação e à motivação para a mudança social Se por um lado as expectativas surgem da comparação tempo ral temos privação egoística Se por outro lado as expectativas do indivíduo advêm da comparação com um padrão social dizemos que ocorre privação fraternalista Essa dis tinção entre categorias de privação no con texto grupal foi criada por Runciman 1966 A privação egoística é a mais tradicional pois o indivíduo compara sua posição social com a de outros membros do endogrupo baseado no seu passado recente Brewer e Brown 1998 Taylor e Moghaddam 1994 A privação fraternalista por sua vez ocor re quando o indivíduo sente se insatisfeito com a posição do seu grupo em comparação com outros grupos sociais É possível contu do que um mesmo indivíduo experiencie as duas formas de privação Tyler e Smith 1998 afirmam ainda que julgamentos de privação relativa no nível grupal privação fraternalista estão relacionados a um comportamento coletivo enquanto julgamentos de privação relativa no nível individual privação egoística es tão relacionados a um comportamento indi vidual No nível grupal podem surgir expec tativas de crescimento no padrão de vida se nos últimos anos tem havido crescimento Discrepâncias nessas expectativas gerarão a percepção de privação relativa Uma im plicação importante desse fenômeno é que anos de intensa privação tenderão a reduzir as expectativas de crescimento e por isso minimizarão a percepção de privação rela tiva que motiva à mudança do status quo Brewer e Brown 1998 O estudo de Fischer Maes e Schmitt 2007 analisou os efeitos dos contatos entre alemães oriundos da Alemanha Ocidental e da Alemanha Oriental Esses pesquisadores realizaram um estudo longitudinal cujos resultados mostraram que os efeitos do contato intergrupal foram mais fortes para os membros do grupo de desvantagem os alemães orientais em seus efeitos positi vos e negativos É interessante notar que os efeitos negativos sobrepujam os positivos ao longo do tempo quando não ocorrem me lhorias nas condições materiais e de vida Desse modo os processos de comparação grupal acabam culminando em hostilidade e atitudes intergrupais negativas As desvan tagens financeiras e materiais dos alemães orientais mantiveram se ao longo do tem po e os contatos com os alemães ocidentais acentuaram essa diferença Como resultado os alemães orientais passaram a se sentir in satisfeitos com sua condição material Tal insatisfação aparece em análises transver sais e longitudinais Os alemães ocidentais por sua vez experienciaram culpa quando tiveram contatos casuais e superficiais com alemães orientais ao passo que os contatos de negócios aumentaram sua autoestima Outro estudo longitudinal com alemães ocidentais e orientais estudou os vieses de estereótipo do endogrupo como estratégia de autodefesa contra a privação relativa Schmitt e Maes 2002 Comparações com outros grupos po dem fazer surgir expectativas em relação ao desempenho do próprio grupo Entretanto isso acontece se a comparação estiver ba seada em um aspecto que seja relevante para o endogrupo No exemplo da pesqui sa de Fischer Maes e Schmitt 2007 os contatos de trabalho ou negócios geraram expectativas de melhores resultados para INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 271 os alemães orientais nos primeiros contatos com os alemães ocidentais As condições fi nanceiras dos ocidentais funcionaram como o aspecto relevante para as comparações e levaram a expectativas de melhoria nas con dições financeiras para os orientais Como não aconteceu melhoria houve percepção de privação relativa Se ao contrário os alemães ocidentais tivessem vivido uma cri se em suas condições financeiras que não atingisse os orientais haveria percepção de gratificação por parte dos orientais ainda que sua condição real não se tivesse altera do O ponto central dessas comparações é o desempenho de grupos similares em deter minado aspecto Se não houver diferenças em seus desempenhos não haverá expecta tivas de resultados diferenciados entre eles Se um desempenhar seu papel pior ou me lhor que o outro as expectativas tenderão a acompanhar essas diferenças Brewer e Brown 1998 Brewer e Brown 1998 apontam que sentimentos nacionalistas componentes de atitudes separatistas nacionais estão asso ciados à privação fraternalista e dão supor te a movimentos nacionalistas A privação fraternalista como consta nos pressupostos dessa teoria explica elementos do ativismo político como ânsia por mudança social e militâncias Estudos experimentais mostra ram também que o potencial para a mobi lidade social e a crença na eficácia da ação para a mudança funcionam como variáveis moderadoras entre privação relativa e ações coletivas As pesquisas internacionais sobre pri vação relativa têm se preocupado mais com os efeitos da privação relativa fraternalista do que com os efeitos da privação relativa egoísticatemporal Sob esse enfoque as pesquisas têm abordado intensamente ques tões de preconceito e discriminação Um es tudo clássico que permite observar efeitos das duas abordagens de privação relativa é o de Pettigrew 1971 Esse estudo envolveu mais de 1000 eleitores brancos em quatro cidades norte americanas Parte da pesquisa questionava a percepção desses eleitores so bre seu sucesso econômico em relação a ou tros brancos como eles privação egoística A outra parte perguntava às mesmas pesso as como elas se sentiam em relação aos ne gros privação fraternalista Os resultados mostraram que 1 os maiores índices de preconceito foram observados entre aqueles com dupla pri vação egoística e fraternalista 2 em uma medida de atitudes em relação ao combate à segregação e à pobreza o gru po mais preconceituoso foi o de privação fraternalista Os menos preconceituosos foram os de privação egoística o que pode ser explicado pela natureza de suas expec tativas advir de comparações temporais consigo mesmos e com seu endogrupo Ainda no campo de conhecimentos de privação relativa e preconceito são fre quentes os estudos sobre racismo conside rando grupos de brancos versus grupos de negros As pesquisas nessa área têm avan çado para a descrição de tipos modernos de racismo como racismo simbólico presente na Austrália e nos Estados Unidos racismo aversivo racismo ambivalente ambos pre sentes nos Estados Unidos preconceito su til Europa e racismo cordial Brasil Lima e Vala 2004 descrevem cada um desses ti pos e suas manifestações nos países onde se destacam Trataremos brevemente aqui do racismo cordial tipicamente brasileiro Os autores compararam estereótipos atribuídos por brancos aos negros no Brasil na década de 1950 e em 2001 dados secundários e constataram um forte padrão de mudança nesses estereótipos na década de 1950 predominavam estereótipos como supersti ciosos e preguiçosos ao passo que em 2001 predominavam os estereótipos de alegres e musicais Contudo os autores alertam que esses resultados apontam para uma forma mais sofisticada de racismo pois os estereótipos positivos atuais definem papéis sociais es pecíficos para cada grupo étnico Esse é um tipo de racismo caracterizado por uma poli dez superficial das atitudes e comportamen tos discriminatórios que se expressa nas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 272 tOrres neiva cOLs relações interpessoais sob a forma de pia das ditos populares e brincadeiras de con teúdo racial A pesquisa de Turra e Venturini 1995 por exemplo revela que mais de 50 dos respondentes concordaram com afirmativas do tipo Negro bom é negro de alma branca enquanto apenas 10 con cordaram que são racistas Aparentemente sem más intenções o racismo cordial acaba gerando um quadro real de discriminação e exclusão dos negros no Brasil A teoria do racismo cordial está em desenvolvimento e na psicologia social tem se buscado des crever mecanismos históricos e psicossociais subjacentes a isso Devido ao seu caráter explicativo para os processos de ação coletiva a teoria da privação relativa tem se mostrado muito útil nos estudos sobre justiça Um dos pon tos principais da teoria para essa área é a escolha dos referentes de comparação ou seja os alvos com os quais os indivíduos se comparam são determinantes de sua per cepção de maior ou menor privação relativa e portanto afetam sua percepção de menos justiça versus mais justiça estudo que deu origem à teoria O termo privação relativa foi criado por Stouffer e colaboradores 1949 a partir de seu estudo com soldados norte americanos A pesquisa analisou 11 casos em que as percepções de satisfação dos soldados so bre aspectos da vida militar não correspon diam às condições objetivas nas quais esta vam vivendo Por exemplo a polícia militar mostrava se mais satisfeita com seus níveis de promoção quando se comparava com membros da aeronáutica ainda que houves se aproximadamente o dobro de promoções na aeronáutica Esses resultados indicavam que os níveis de satisfação com o que se ob tém dependem mais de padrões subjetivos do que da prosperidade objetiva Um dos fatores que contribuem para esses níveis são as pessoas com as quais é feita a compara ção no momento em que o indivíduo julga seu nível de satisfação Contudo Stouffer e colaboradores 1949 não chegaram a elaborar uma teoria da privação relativa Olson e Hazlewood 1986 O primeiro es forço formal nesse sentido foi realizado por Davis 1959 Taylor e Moghaddam 1994 resumem da seguinte forma as pré condições para que ocorra privação relativa o indivíduo não possui X quer X e sente que tem direito a X Davis propôs que as pessoas comparam se com outras que sejam semelhantes o que se baseia na teoria de comparação social de Festinger 1954 apud Taylor e Moghaddam 1994 Desse modo indivíduos do grupo de desvantagem não se comparam com gru pos extremamente distantes por falta de similaridades que permitam a comparação Havendo similaridades os outros possuem X e isso faz com que o grupo de desvan tagem automaticamente sinta que também tem direito a X Taylor e Moghaddam 1994 Entretanto a teoria de Davis não foi capaz de explicar condições específicas sob as quais os indivíduos definem o que é simi lar entre eles e seus grupos de comparação Em 1976 Crosby elaborou o modelo mais completo de privação relativa especi ficando as condições necessárias e suficien tes para que ocorra a percepção de privação Taylor e Moghaddam 1994 sintetizam o modelo de Crosby da seguinte forma emo ções negativas de privação relativa ocorrem quando o indivíduo percebe que o outro pos sui X ele quer X sente que tem direito a X sente que é possível obter X e não se sente pessoalmente responsável pela falta de X Observemos que Crosby não trabalha com a ideia de comparações entre grupos Tyler e Smith 1998 descrevem o modelo de Crosby como o modelo de três fatores a saber com paração social plausibilidade e responsabi lidade social que modelam a percepção de ter direito a uma meta Esse modelo implica dois conjuntos de cognições 1 atribuições de intencionalidade e respon sabilidade antecedentes de privação 2 análise de custos e benefícios plausibili dade e sentimentos de suporte comparti lhado moderadores entre o sentimento INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 273 de privação e a motivação para respostas comportamentais Isso significa que a ausência de qual quer uma das condições tem forte impacto sobre a percepção de privação relativa Gurr 1970 diferentemente dos pri meiros teóricos da privação relativa enfa tizou os fatores que levam à percepção de que algo está errado Para esse estudioso de conflitos políticos a privação surge em decorrência da crença de que X não seja plausível o que gera a percepção de haver algo errado Ele estudou três padrões de pri vação relativa que fornecem as condições necessárias para a ocorrência de motins e rebeliões 1 privação decrescente que ocorre quando as expectativas permanecem constantes mas as capacidades para atingi las começam a diminuir 2 privação aspiracional caracterizada pela manutenção das mesmas capacidades e aumento das expectativas 3 privação progressiva na qual capacidades e expectativas aumentam porém as capa cidades não acompanham as expectativas que se mantêm superiores Estudos realizados até o início da déca da de 1980 Crosby 1982 tiveram resulta dos diversos que não apoiaram nenhuma te oria específica da privação relativa Todavia em quase todas as análises surgiram os te mas desejar diferença entre os resultados reais e os resultados desejados e merecer diferença entre os resultados atuais e os resultados merecidos Os resultados dese jados continuam dependentes do referencial de comparação Similarmente os resultados merecidos dependem do modo como a justi ça é concebida Isso significa que para que haja privação relativa é preciso ocorrer a combinação entre uma comparação social negativa e o conceito de merecimento ou justiça Contudo as teorias delineadas até en tão estavam focadas no nível individual ou seja nas comparações entre indivíduos Ao considerarmos o nível grupal a base concei tual para utilizarmos a teoria da privação relativa como uma abordagem de contato intergrupal foi desenvolvida por Tajfel e Turner 1986 segundo os pressupostos da teoria de identidade social Os autores de finem três tipos de respostas à identidade social negativa 1 mobilidade individual 2 redefinição das bases de comparação intergrupal 3 busca por mudança na estrutura de poder e dominação intergrupal 1 Mobilidade individual O indivíduo do grupo de desvantagem dissocia se do endo grupo e tenta associar se ao exogrupo mais poderoso 2 Redefinição das bases de comparação intergrupal Membros do grupo de desvan tagem mudam as bases de comparação in tergrupal e passam a se comparar com um exogrupo de menos status e poder de forma a perceber o endogrupo como grupo de van tagem Outra estratégia possível é reduzir o valor da comparação com o exogrupo que representa um grupo de vantagem De acordo com a teoria nos dois pri meiros tipos de resposta as relações sociais reais entre os grupos não se alteram pois essas respostas têm implicações que se res tringem à autoestima individual e do grupo É interessante notar que 20 anos depois de Tajfel e Turner um estudo desenvolvido por Pinho 2006 com jovens de uma comuni dade pobre no Rio de Janeiro gerou dados empíricos relatos dos participantes que corroboram os dois primeiros tipos de res posta à identidade social negativa Alguns jovens sonham em sair do local em arranjar trabalho e moradia fora dali Outros consi deram sua condição boa porque há pessoas em condições bem piores que as deles Essas percepções mais positivas surgem em con textos de grande adversidade real ou seja as percepções subjetivas dos indivíduos pre dominam sobre a condição real de desvan tagem social na qual se encontram INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 274 tOrres neiva cOLs 3 Busca por mudança na estrutura de poder e dominação intergrupal Os indi víduos engajam se em competição direta com exogrupos de vantagem É uma res posta es tudada geralmente com relação a preconceito e racismo ou a atos de contra venção como roubos por exemplo Kuznar e Lutz 2007 analisaram três organizações terroristas e identificaram que dois grupos sociais mais tipicamente fornecem membros para essas organizações Um deles é o de indivíduos que percebem perda de status e posição social em função de mudanças na sociedade O outro grupo é formado por aqueles que percebem a oportunidade de ganhar mais status e posição Esses dois gru pos apresentam se mais dispostos a correr riscos para manter ou melhorar sua condi ção social Os autores descrevem os nacionalistas palestinos os nacionalistas da Irlanda do Norte IRA e os tamilenses no Sri Lanka A pesquisa sobre terrorismo demonstra bem o funcionamento dos processos de privação relativa para a mobilização coletiva com vis tas à mudança na estrutura de poder Atos como assumir riscos e engajar se em revo luções ou ativismo político estão associados a desigualdades na distribuição de riqueza entre indivíduos e grupos Os terroristas por exemplo frequentemente não são pes soas pobres e de baixa escolaridade coa gidas a cumprir missões como ser homens bomba Kuznar e Lutz 2007 mostram que os indivíduos que enfrentam perspectivas limitadas de melhoria mesmo que sejam perspectivas alcançáveis podem tornar se membros ou apoiadores de grupos terroris tas Para tamilenses e palestinos os autores identificaram a influência da falta de status e a incapacidade de continuar a melhorar em comparação a sinhaleses e israelenses respectivamente como fatores que aumen taram a probabilidade de engajamento em movimentos terroristas Para os irlandeses essa probabilidade foi realçada pela falta de oportunidades para melhorar seu padrão de vida Esse é o foco das teorias da privação relativa limitações e críticas à teoria A teoria de mobilização de recursos defende que o sentimento de privação não é suficien te para incitar membros de grupos de des vantagem a se manifestar contra sua situa ção de desvantagem Para esses teóricos é o acesso a recursos estruturais concretos que permitem a ocorrência de motins piquetes etc Contudo é preciso compreender me lhor as relações entre emoções associadas à privação e os comportamentos associa dos a tais emoções Desse modo Taylor e Moghaddam 1994 discutem as principais limitações da teoria A primeira delas diz respeito às restri ções impostas às emoções nos desenhos de pesquisa ou seja os estudos geralmente fo cam poucas emoções como raiva e ultraje Além disso essas emoções são tratadas no nível individual É preciso investigar a ocor rência de emoções de privação relativa no nível do grupo para inferir em que medida elas influenciam ações coletivas já que es sas relações ainda não são claras A segunda limitação refere se à men suração de comportamentos Na maioria das vezes os comportamentos são inferidos a partir de intenções comportamentais ou seja o que o indivíduo afirma que faria O problema é que o relato das intenções não indica que a pessoa de fato se comportaria daquela maneira Além disso quando com portamentos são mensurados geralmente eles não são bem definidos o que dificulta a confiabilidade das conclusões A terceira limitação por sua vez é a tendência de investigar uma única forma de comportamento a qual costuma destacar se socialmente Entretanto os protestos podem variar desde manifestações individuais até manifestações coletivas socialmente legitima das como passeatas Dado que os comporta mentos podem ter diferentes níveis de seve ridade e que as pesquisas tradicionalmente focalizam os comportamentos mais severos as possibilidades de confirmar empiricamen te a teoria tornam se muito restritas A questão mais presente em relação à teoria da privação relativa é a escolha do re INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 275 ferencial de comparação como predizer que grupos serão selecionados como referen ciais de comparação Sob quais condições Estudos conduzidos na década de 1990 demonstraram a fragilidade da teoria da privação relativa em relação ao pressupos to de que as comparações entre grupos são feitas com o objetivo de testar a realidade Um desses estudos Major 1994 defendeu a existência de três fatores que afetam a es colha do alvo de comparação nos grupos de desvantagem 1 a proximidade ou saliência dos alvos de comparação no ambiente imediato que ocorre pela maior proximidade dos indi víduos com membros do endogrupo em função da segregação 2 a similaridade percebida visto que as comparações ocorrem com exemplares similares e os mais similares encontram se no endogrupo esse fator também leva a comparações intragrupais 3 a motivação subjacente à comparação social que pode ser de três tipos isto é para teste de realidade destaque do grupo ou apelo de igualdade Resultados empíricos descritos por Taylor Moghaddam e Bellerose 1987 in dicaram que quando motivados por teste de realidade como pressupõe a teoria da privação relativa os indivíduos respondem de forma racional não enviesada por suas emoções de privação Esses estudos mos tram que os indivíduos fazem comparações intragrupo e não intergrupos enviesadas mais voltadas para membros do endogrupo e desvinculadas da realidade concreta São resultados portanto que reforçam as críti cas à teoria da privação relativa Para superar a dificuldade de explicar os sentimentos de privação os pesquisado res têm recorrido a duas alternativas Tyler e Smith 1998 a apresentar escolhas de comparação es pecíficas aos participantes da pesquisa antes de medir suas atitudes e compor tamentos b medir os sentimentos de privação e as escolhas de comparação depois que as pessoas tenham se comportado Essas alternativas são exemplos do que é possível fazer na pesquisa em priva ção relativa A literatura internacional conta com boa produção científica a exemplo dos estudos citados ao longo do capítulo teoria da equidade definição e pressupostos As noções de equidade baseiam se em formu lações que remontam à época de Aristóteles Contemporaneamente incluem os trabalhos de Homans 1961 Blau 1964 e Adams 1965 A teoria da equidade é também cha mada de teoria de troca por alguns autores e sob a influência das pesquisas citadas foi derivada do conceito de justiça distributiva desenvolvido por Homans 1961 sendo também associada por Adams 1963 a con ceitos relacionados à teoria de dissonância cognitiva de Festinger 1957 A justiça distributiva é definida por Tyler e Smith 1998 como sendo as com parações que membros de um grupo fazem entre si considerando a relação entre seus investimentos e suas recompensas Ela par te da percepção de justiça social dos indi víduos A justiça de acordo com Taylor e Moghaddam 1994 pode ser vista como um padrão socialmente definido para a avaliação de recursos distribuídos em re lacionamentos humanos Isso significa que a percepção de justiça é o que as pessoas esperam como justo em suas relações e o desconforto que sentem quando percebem alguma injustiça Os modelos de justiça distributiva re presentam um grande avanço no campo de justiça social considerando que os modelos anteriores não conseguiam explicar como ocorre o julgamento das pessoas quanto ao seu merecimento em relação a algo ou al guém Tyler e Smith 1998 Recentemente INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 276 tOrres neiva cOLs a pesquisa em justiça social foi denominada de teoria da equidade sendo uma das te orias mais importantes que trata de justi ça em relacionamentos humanos Taylor e Moghaddam 1994 com diversas aplica ções nos variados campos das ciências so ciais A teoria da equidade lida essencial mente com duas questões Walster Walster e Berscheid 1978 1 O que as pessoas pensam ser justo e equi tativo 2 Como elas respondem quando recebem mais ou menos que o justo ou merecido em suas relações com os outros Como reagem quando seus companheiros re cebem benefícios que não merecem ou quando recebem sofrimento prolongado que também não merecem De acordo com Tyler e Smith 1998 a equidade pressupõe que satisfação e com portamento dependem da percepção do in divíduo sobre os resultados obtidos em com paração aos resultados que ele julga que sejam justos Assim ela é o equilíbrio entre as contribuições que duas pessoas ou dois grupos fazem entre si e as recompensas que eles recebem em troca configurando uma avaliação psicológica ou um julgamento ba seado nos esforços e recompensas do ava liador em comparação aos outros A percep ção de inconsistência nesse julgamento gera sentimentos de desconforto que podem ser de culpa quando as recompensas são maio res que as dos outros ou de raiva quando são menores Esse desconforto é criado pela inequidade relacional percebida e provoca reações comportamentais que tentam res taurar o equilíbrio da relação ou seja res taurar a equidade Para Homans 1959 um sistema so cial está em equilíbrio e seu controle é efe tivo quando o estado dos elementos que en traram no sistema e a relação mútua entre eles é tal que qualquer mudança pequena em um dos elementos será seguida por mu danças nos outros elementos tendendo a reduzir o montante daquela mudança Não haverá equidade se houver desequilíbrio Essa noção de equilíbrio utilizada pela teoria advém do conceito de eficiência de Pareto também chamada de ótimo de Pareto A eficiência de Pareto recebe esse nome por ter sido desenvolvida pelo político sociólo go e economista italiano Vilfredo Pareto Em termos econômicos por exemplo Simon e Blume 1994 conceituam a eficiência de Pareto como uma composição na qual nin guém pode ser melhorado sem que o outro elemento do sistema seja piorado Seria como visualizar uma balança de dois pra tos a tentativa de posicionar os dois pratos em um mesmo nível é a busca do equilíbrio Se isso não for possível um dos pratos des cerá e o outro se elevará indicando que um dos lados está em vantagem ganhan do e o outro em desvantagem perdendo Nesse caso haverá desequilíbrio no sistema ou inequidade Adams 1963 salienta que estudar o que acontece com os envolvidos nessa situação de inequidade é fundamental para que se compreendam conflitos sociais Uma questão importante é que a teoria da equidade tem como aspecto fundamental o conceito de que preferimos ser tratados de forma justa e dar o mesmo tratamento às outras pessoas Pode se dizer que se trata da chamada regra de ouro Faça aos ou tros o queres que te façam Kimble et al 2002 ou seja ocorrem contribuições dinâ micas como uma via de mão dupla que são intercambiadas entre os indivíduos ou gru pos Qualquer coisa que recebemos pode ser avaliada pela equidade dinheiro elogios As contribuições envolvem o que somos ou o que fazemos nossa beleza física a quali dade de um trabalho realizado A relação de equidade pode ser avaliada em diversos níveis entre indivíduo indivíduo entre grupo grupo entre indivíduo grupo Existe equidade quando a pessoa per cebe que a razão entre os resultados que recebe e as contribuições que ela faz são iguais à razão entre resultados e contribui INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 277 ções do outro ou dos outros Portanto existe equidade quando se observa o seguinte IA IB 1 OA OB Onde A indivíduo ou grupo B indivíduo ou grupo I esforço ou contribuição input O recompensa ou resultado output A expressão 1 denota que a teoria da equidade apresenta um modelo que trata o indivíduo como um ser racional que compu ta seus esforços e recompensas para si mes mo e para os outros Em outras palavras o indivíduo compara o resultado da razão en tre IA e OA com o resultado da razão entre IB e OB para chegar a uma noção de justiça Dessa forma o que se julga como justo será sempre relativo pois estará sempre sujeito a uma comparação com outro indivíduo ou grupo ou entre dois grupos É um modelo racional que pode ser utilizado para tomada de decisão e passa por um processamento cognitivo que se baseia em heurísticas Para corrigir a possibilidade de valores negativos como resultado da razão apresen tada Walster e Walster 1975 reescrevem a expressão da seguinte forma OA IA OB IB 2 IA OB Onde A indivíduo ou grupo B indivíduo ou grupo I esforço ou contribuição input O recompensa ou resultado output Vários termos podem representar input e output na literatura internacional Cada um dependerá da situação e do tipo de relação envolvidos no sistema De modo ge ral os termos mais comuns para expressar input e output são esforços e recompensas contribuições e resultados contribuições e recompensas custos e benefícios necessi dades e benefícios vantagens e desvanta gens investimento e retorno entre outros Taylor e Moghaddam 1994 definem os esforços I como contribuições que pesso as ou grupos fazem na forma de atributos habilidades ou estímulos e as recompensas O como premiações ou punições que po dem ser tangíveis pagamentos e serviços ou intangíveis status e carinho Se as razões entre I e O não forem iguais as partes envolvidas se sentirão des compensadas ou prejudicadas e motivadas a restabelecer a equidade A equidade pode ser restabelecida de duas maneiras 1 pela mudança de O de A ou de B ou mes mo pela mudança de I 2 pela reavaliação de O por parte de A ou de B A primeira forma de restauração con siste em restabelecer a equidade real ou objetiva a segunda em recuperar a equida de psicológica ou subjetiva sendo preferí vel a equidade real à psicológica Walster Berscheid e Walster 1973 Cabe destacar que A não pode modificar I de B nem B mo dificar I de A A e B podem apenas reavaliar seu próprio esforço ou contribuição O con trário a reavaliação de O de A ou de B pode acontecer apenas quando for difícil alcançar a equidade real ou quando o seu alcance cause algum incômodo para A ou B Mesmo sendo um modelo aparente mente racional a avaliação quanto à equi dade ocorre muitas vezes inconscientemen te em várias situações cotidianas sejam elas relativas ao ambiente empresarial negó cios às relações interpessoais às transa ções comerciais ou mesmo às relações de consumo Convém salientar que nesses ca sos sempre estão envolvidos dois lados ava liativos sendo que aquele sob menor razão IO se sentirá injustiçado e mais motivado a buscar meios para reduzir a inequidade à qual foi submetido A Figura 132 descreve a representação esquemática da teoria da equidade A teoria da equidade parte do pres suposto de que indivíduos vão se comparar aos outros em termos de investimento para uma atividadeobjeto e da percepção de INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 278 tOrres neiva cOLs retorno que eles têm disso Tyler e Smith 1998 A quebra dessa relação de equidade gera conflito e necessidade de restauração da equidade Adams 1963 1965 Isso significa dizer que as pessoas avaliam seus esforços e recompensas bem como os dos outros envolvidos em uma interação ou re lacionamento O relacionamento é aceitável quando há percepção de que os ganhos de ambos são proporcionais aos seus espaços Figura 132 representação esquemática da teoria da equidade Fonte Taylor e Moghaddam 1994 Justiça A relação é equiparável Grupo em vantagem Grupo em desvantagem Ambos os grupos satisfeitos com a relação Ambos os grupos não satisfeitos com a relação necessidade de restaurar a equidade Equidade Esforços Esforços Recompensas Recompensas Inequidade Esforços Esforços Recompensas Recompensas Restauração real da equidade Modo menos preferido Pode ser induzido se Possibilidade de adequação da compensação Dificuldade de distorção Reatauração psicológica da equidade Modo preferido Culpar a vítima Exagerar próprios esforços Restauração psicológica da equidade Modo menos preferido Pode ser induzido se Grupo tem menos poder Sair da relação Sentir autoculpa Restauração real da equidade Modo preferido Compensação Retaliação INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 279 A equidade pode transformar se em ine quidade em três situações básicas Walster Berscheid e Walster 1973 1 quando um dos envolvidos obtém novas informações a respeito das características e da conduta pessoal do outro 2 quando ocorrem mudanças em um ou em outro envolvido 3 quando ocorrem mudanças provenientes de acontecimentos ou fatores ambien tais Supõe se que aquele que sofre as con sequências negativas de uma mudança de estado de equidade para inequidade pode tornar se menos afetuoso menos generoso ou menos apresentável na tentativa de res tabelecer a equidade real Outra possibilida de é o rompimento da relação caso a equi dade não possa ser recobrada O foco da teoria da equidade está em relações entre pessoas mais do que no indi víduo isoladamente Contudo é uma teoria essencialmente individualista no que tan ge à sua tendência em analisar indivíduos interagindo com outros indivíduos Ela se baseia na premissa de que são as virtudes dos indivíduos tais como coragem esforço e inteligência que determinarão o seu pro gresso Pertencer a um grupo seja ele femi nino ou masculino de negros ou brancos de pobres ou ricos é julgado como fator secundário exceto em situações específicas como a de uma ação afirmativa por exem plo onde este deve ser um fator primário Taylor e Moghaddam 1994 Sendo assim está fortemente arraigada em culturas in dividualistas Isso não significa que ela não seja aplicável a culturas mais coletivistas pelo contrário na descrição da teoria é co mum ter de extrapolar para o nível de rela ção grupal Estudar a teoria da equidade tem sido um desafio pois a definição de esforços e recompensas é subjetiva e até mesmo con troversa Outra questão problemática é a percepção subjetiva de esforços e recompen sas Pode haver discordâncias sobre o volu me de contribuição que alguém faz e o nível de recompensa que essa pessoa merece As pessoas tendem a exagerar suas contribui ções pessoais em relação a esforços coleti vos o que provoca conflitos Tyler e Smith 1998 Esse é o processo que ocorre quando participamos de um trabalho em grupo por exemplo Cada componente do grupo tende a acreditar que fez mais do que os outros o que gera expectativas de recompensa con sistentes com essa percepção como reco nhecimento dos demais membros do grupo ou inclusive do próprio professor Dessa forma para analisar equidade os pesquisadores limitam os tipos de esfor ços considerados apresentam regras claras e geralmente aceitas para as recompensas bem como utilizam esforços e recompensas que sejam quantificáveis Outra estratégia é dizer aos participantes da pesquisa que as recompensas são justas ou injustas contro lando previamente os seus julgamentos estudo que deu origem à teoria O primeiro estudo desenvolvido com base na teoria da equidade foi conduzido por Adams nos anos de 1960 e 1961 nos Estados Unidos no contexto de organizações de tra balho Foram realizados dois experimentos que se voltaram à redução da dissonância cognitiva com a finalidade de explicar rea ções dos trabalhadores quanto à percepção de seus salários comparando sujeitos que recebiam por hora trabalhada com sujeitos que recebiam por peça produzida Adams 1962 Como pressupostos para os experimen tos Adams delimitou algumas questões 1 quando uma pessoa trabalha em troca de pagamento pode se pressupor que ela tem cognições sobre o que ela contribui seus inputs e o que ela recebe pelo de sempenho do trabalho seus outcomes 2 existe dissonância cognitiva para a pessoa sempre que suas cognições sobre seus inputs no trabalho eou seus outcomes estiverem em relação psicologicamente INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 280 tOrres neiva cOLs inversa às suas cognições de inputs eou outcomes do outro Festinger 1957 No primeiro experimento 22 estudan tes universitários do sexo masculino foram contratados para trabalho temporário em meio período na área de recrutamento e seleção de uma instituição americana re cebendo US350 por hora trabalhada Eles foram divididos aleatoriamente em dois gru pos com o mesmo número de trabalhadores Ge grupo experimental em condição de dis sonância N11 e Gc grupo em condição de controle N11 Para Ge o empregador fazia com que o sujeito percebesse na entre vista não ser qualificado para a vaga mas o contratava mesmo assim advertindo o da importância de obedecer às instruções refe rentes à atividade a ser desempenhada Ao entrevistar os participantes de Gc por sua vez o empregador sobrevalorizava as ca racterísticas do sujeito demonstrava se feliz em poder contratá lo e advertia que o valor pago por hora era padronizado US350 não podendo pagar mais do que isso Como resultados Adams 1962 iden tificou no primeiro experimento que traba lhadores que recebiam por hora sendo o valor dessa hora percebido por eles como superior ao que deveriam ganhar produ ziam significativamente mais do que aque les que percebiam receber o valor justo por hora ou seja Ge produzia mais por hora do que Gc Os participantes do Ge tentavam reduzir a sua dissonância cognitiva quan to ao valor inequitativo que recebiam por hora trabalhando mais do que os partici pantes do Gc No segundo experimento 36 estudan tes universitários do sexo masculino também foram contratados para trabalhar na área de recrutamento e seleção de uma instituição americana As mesmas condições do primei ro experimento foram aplicadas No entan to em vez de dois grupos foram compostos quatro grupos de estudantes com as seguin tes características He grupo experimen tal em condição de dissonância recebendo US350 por hora N9 Hc grupo em condição de controle recebendo US350 por hora N9 Pe grupo experimental em condição de dissonância recebendo US030 por entrevista obtida N9 Pc grupo em condição de controle recebendo US030 por entrevista obtida N9 No segundo experimento Adams iden tificou que trabalhadores que recebiam por entrevista obtida sendo o valor percebido por eles como superior ao que deveriam ga nhar considerando suas qualificações pro duziam significativamente menos do que aqueles que percebiam receber o valor justo por entrevista obtida Assim Pe produzia menos do que Pc no período de duas horas definido para o experimento Destaca se que seguindo o tipo de pes quisa desenvolvida por Adams 1962 os resultados de outros estudos têm demons trado que trabalhadores pagos com justiça são mais satisfeitos do que os trabalhadores super ou subpagos Diante da percepção de pagamento injusto os trabalhadores ajus tam seu nível de produtividade para restau rar a equidade Os dados revelam que esses ajustes de comportamento ocorrem inclu sive quando o trabalho é anônimo Outra forma de restaurar a equidade é mudando de empresa mesmo que seja para ganhar menos O princípio da equidade mostra se aplicável a outros contextos como amizade namoro e casamento Tyler e Smith 1998 Estudos e aplicações dessa natureza serão analisados a seguir estudos e aplicações As pesquisas sobre a teoria da equidade co meçaram enfocando temas como pagamen to e promoções no trabalho que são contex tos nos quais os esforços e as recompensas podem ser mais facilmente identificados Entretanto Foa e Foa 1974 já alertavam para a existência de outros tipos de recur sos que podem ser intercambiados e tornar se foco de avaliação equitativa tais como amor status informação bens serviços e dinheiro Nesse contexto serão apresenta das a seguir algumas pesquisas aplicadas à teoria da equidade envolvendo relações INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 281 de trabalho relações conjugais e de namo ro relações grupais e comportamento pró social Muitas pesquisas foram conduzidas nas décadas de 1970 e 1980 período em que a teoria consolidava se com maior com provação empírica Austin e Walster 1974 desenvolve ram um estudo empírico para verificar se a hipótese teórica de que os sujeitos que rece bem um benefício superior ao que conside ram justo na relação sentem se mal ou pior com isso do que aqueles que recebem menos que o justo O estudo demonstrou que esta hipótese é verdadeira a inequidade ocasio na mal estar tanto aos excessivamente bene ficiados na relação quanto aos injustiçados Dessa forma tanto os que tiveram maiores benefícios quanto os que não receberam qualquer benefício se sentirão motivados a diminuir a inequidade tentando instaurar uma situação mais próxima do equilíbrio Pesquisas têm mostrado que os indi víduos preocupam se não somente com a justiça distributiva mas também com a jus tiça de procedimento que se refere ao modo como as decisões são tomadas e a quais de cisões são essas A inclusão do critério pro cedimental à teoria da equidade foi propos ta por Leventhal 1980 e buscou expandir o quadro teórico original O estudo pioneiro quanto ao conceito de justiça de procedimento foi realizado por Thibaut e Walker 1975 Eles estudaram a justiça nos procedimentos de tomada de decisão com base nos esforços de terceiros Os pesquisadores constataram que os jul gamentos de justiça procedimental influen ciam as escolhas dos indivíduos sobre proce dimentos de terceiros na resolução de suas próprias disputas Esses julgamentos tam bém influenciam as reações subjetivas das pessoas a vários tipos de procedimentos Na elaboração teórica do construto de equidade realizada por Walster Walster e Berscheid 1978 propôs se que os prin cípios de equidade também são aplicáveis a relacionamentos próximos Esse dado foi observado em estudos de Hatfield e cola boradores 1985 ao examinarem equidade entre relacionamentos conjugais e de namo ro Essa é uma aplicação comum da teoria da equidade No entanto nem sempre ela pode ser aplicada a relações íntimas já que pode existir uma reciprocidade estreita e conveniente em relações de intercâmbio en tre desconhecidos ou conhecidos que é ina propriada entre amigos próximos e pessoas queridas Clark 1984 Clark e Mills 1979 Para Clark 1984 o pagamento ime diato de favores ou serviços os intercâm bios recíprocos a cobrança de pagamentos e o ato de manter separadas as contribui ções dos indivíduos são condutas inadequa das em relacionamentos íntimos Berscheid e Reis 1998 destacam que para determi nar se o relacionamento é justo e aceitável os parceiros podem comparar seus ganhos não apenas com o ganho de seus parceiros comparação relacional mas também com grupos de referência pertinentes compara ção referencial Walster Walster e Traupmann 1978 desenvolveram um estudo sobre equidade em relacionamentos de namoro Baseados em relatos de namorados e namoradas eles os classificaram como beneficiados em ex cesso tratados de forma equitativa ou pouco beneficiados Aqueles que mantinham rela ções equitativas tendiam a avançar para um relacionamento mais íntimo do que aqueles que tinham excesso ou escassez de benefí cios Aqueles tratados de modo equitativo eram mais felizes e estavam mais contentes com sua relação do que os tratados de forma não equitativa É interessante observar que mesmo aqueles sob uma inequidade positi va ou seja que se beneficiavam mais com a relação eram infelizes Muitas evidências empíricas relevantes em predições da teoria da equidade são con traditórias principalmente quanto à satisfa ção do relacionamento ou não endossáveis quanto à estabilidade Como resultado al guns pesquisadores concluíram que os prin cípios de equidade não são importantes em relações próximas enquanto outros tentam integrar e reconciliar esses dados Berscheid e Reis 1998 A teoria da equidade também tem apli cações com relação ao comportamento de INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 282 tOrres neiva cOLs grupos em vantagem ou em desvantagem Por definição os grupos em vantagem e em desvantagem têm interesses conflituosos uma vez que os primeiros terão que perder privilégios para que os segundos possam al cançar igualdade Entretanto muitos grupos em desvantagem parecem perceber sua po sição como sendo justa frente ao grupo pri vilegiado A teoria da equidade oferece uma explicação para essa curiosa atitude usando processos psicológicos como base para sua explicação Além disso é uma teoria que pode ser aplicada para explicar diferenças entre as estratégias empregadas pelos gru pos em vantagem e em desvantagem ou para explicar como as diferentes estratégias dos dois grupos podem ajudar a fortalecer a posição do grupo em vantagem Taylor e Moghaddam 1994 Em estudos transculturais Hui e Luk 1996 tentaram identificar regras de alo cação que são percebidas como razoáveis e mais aceitáveis por membros de determina dos grupos culturais chamando essas regras de esquemas de recompensas De acordo com tais estudos as culturas coletivistas fa zem uma clara distinção entre endogrupo e exogrupo que consequentemente leva a uma transferência igualitária entre recom pensas e punições no endogrupo a fim de preservar a harmonia Por outro lado as culturas individualistas aplicam uma trans ferência proporcional de recompensas e punições a membros individuais de acordo com seu mérito ou contribuição Taylor e Moghaddam 1994 desta cam que nas culturas coletivistas a regra de equidade é usada em negociações com membros do exogrupo Nas culturas indivi dualistas por sua vez a equidade é aplicada tanto para membros do endogrupo quanto para estranhos Essa diferença cultural pode ser interpretada à luz da estrutura tradicio nal adotada por membros do endogrupo nas culturas coletivistas na qual necessidades de um membro do endogrupo justificariam recompensas não equitativas Por exemplo se um colega de grupo não pode compare cer às reuniões devido a problemas pesso ais o grupo ainda assim mantém seu nome no trabalho entregue ao professor de modo que todos receberão a mesma nota Em relação ao comportamento pró social a teoria da equidade abre uma im portante dimensão ao introduzir a com paração social e a justiça distributiva As necessidades e os benefícios não são mais definidos pelo olhar do indivíduo a defi nição é ampliada para incluir necessidades baseadas em privação relativa Adams 1965 Agir pró socialmente para redistri buir recursos de maneira mais justa é uma forma de restabelecer equidade A equi dade também pode ser psicologicamente restabelecida pela valorização de recursos recebidos em vantagem ou desvalorização de recursos recebidos em desvantagem jus tificando assim as diferenças em benefícios Batson 1998 limitações e críticas à teoria No Brasil que tem uma cultura reconheci damente mais coletivista a teoria da equi dade apresenta algumas limitações Triandis 1994 destaca que mesmo que a teoria da equidade seja um conceito reconhecido em todas as culturas a norma existente em cada uma delas não possui a mesma relevância Com isso não se pode aplicar a teoria com os mesmos pressupostos em qualquer cul tura Outra questão identificada na cultu ra brasileira por Rodrigues 1982 é que nas relações de trabalho os trabalhadores acabam não comparando seus esforços e re compensas com os demais trabalhadores O comportamento de trabalhar em si é valori zado e não a consequência disso considerações Finais Este capítulo teve por objetivo abordar de finições pressupostos origens aplicações e limitações de três importantes microteorias de contato intergrupal o conflito realístico a privação relativa e a equidade É interes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 283 sante destacar a influência das percepções dos indivíduos sobre seu modo de julgar e de se comportar no mundo Os relatos de pesquisa mencionados oferecem exemplos úteis para a compreensão dos processos a que se referem essas teorias Para atender aos objetivos didáticos do capítulo cada mi croteoria foi apresentada separadamente Contudo essa etapa de conclusão volta se para uma visão mais ampla do campo em que se inserem essas teorias o da compa ração social A teoria de comparação social foi originalmente desenvolvida por Festinger 1954 com base no pressuposto central de que nos conhecemos a partir de compa rações que fazemos com os outros e não apenas de informações objetivas sobre nós mesmos Os desenvolvimentos da área de estudos de comparação social fizeram com que ela abarcasse inclusive a teoria de iden tidade social à qual estão associadas as te orias de contato intergrupal tratadas neste capítulo O trabalho de Buunk e Gibbons 2007 descreve o desenvolvimento do cam po na literatura internacional em termos de expansões nas perguntas de pesquisa nos métodos usados e no conceito de compara ção social 1 Quanto às perguntas de pesquisa Um número cada vez maior de assuntos tem sido tratado sob a perspectiva de com paração social Estudos sobre relações interpessoais mais próximas têm rece bido mais atenção como as comparações que as mulheres fazem sobre a divisão do trabalho doméstico nas quais elas podem comparar se com o parceiro ou com outras mulheres Outra área que tem sentido impacto é a de comparação social com modelos e imagens do corpo presentes na mídia e sua relação com transtornos alimentares em mulheres Na área de comportamento econômico por exemplo a teoria de comparação social tem influen ciado estudos sobre o aumento no nível de consumo motivado por comparações sociais com outros perce bidos como melhores Em nível grupal há pesquisas sobre o papel da comparação social em situações de brains torming 2 Quanto aos métodos Os estudos em com paração social têm utilizado métodos comuns a outras áreas da psicologia como medidas fisiológicas diários e medidas cognitivo sociais Também têm desenvol vido métodos próprios com abordagens biopsicológicas que combinam reações dos indivíduos com medidas fisiológicas ou ainda medidas de seleção de teste as quais avaliam em que graus as pessoas buscam ou evitam comparações 3 Quanto ao conceito de comparação social Atualmente o conceito de comparação social abrange todo processo por meio do qual os indivíduos relacionam suas próprias características com as de outros Na elaboração inicial de Festinger 1954 as comparações restringiam se a opiniões e habilidades Desse modo embora a teoria de identidade social tenha cursado caminho próprio nos estudos de psicologia social ela tem sido também abarcada sob o conceito de comparação social Outras áreas que têm sido estudadas sob o escopo de comparação social são a influência so cial em pesquisas sobre projeção social e falso consenso por exemplo e os estudos sobre ansiedade Buunk e Gibbons 2007 destacam que apesar da grande expansão que a área de comparação social apresentou nos últimos anos ainda são necessários mui tos estudos empíricos e aprimoramentos teóricos para o desenvolvimento desse campo de estudos Um aspecto fundamen tal que começou a ser mais estudado é o dos processos cognitivos que medeiam a relação entre comparação social e os com ponentes da atitude afetivo cognitivo e conativo Para estudar essa relação os pesquisadores têm utilizado métodos de senvolvidos nas áreas de cognição social e julgamento social Outro aspecto relevante diz respeito à relação entre comparação social e abor dagens neurocientíficas e evolutivas Sob a perspectiva evolutiva os mecanismos que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 284 tOrres neiva cOLs direcionam as escolhas de comparação do indivíduo podem ter uma função adaptati va Assim o fato de comparar se com um indivíduo ou grupo que está em situação pior o desejo de se tornar melhor em di mensões consideradas importantes ou ainda o desejo de ter pessoas próximas em situação melhor em dimensões que não são importantes para o indivíduo podem ser mecanismos resultantes de um processo evolutivo que impede competições poten cialmente prejudiciais para os grupos No Brasil os estudos ainda são muito escassos e restritos a poucas áreas de aplica ção com destaque para as questões de ra cismo e satisfação no trabalho Contudo as publicações brasileiras podem ser encontra das em periódicos de destaque segundo a classificação Qualis de periódicos anais re vistas e jornais realizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES Podem se encontrar arti gos publicados em periódicos no maior nível de classificação A o que indica elevado ní vel de qualidade das pesquisas nacionais Fontes de inForMação sobre as teorias À guisa de facilitar a busca de estudos sobre as teorias o Quadro 131 lista os periódi cos nos quais foi encontrado maior número de artigos sobre cada teoria no período de 2004 a 2007 É preciso ressaltar porém que há artigos sobre essas microteorias publica das em outros periódicos os quais utilizam diferentes metodologias com variados par ticipantes e cujos resultados são bastante interessantes quadro 131 PerióDicOs internaciOnais cOm maiOr FreQUÊncia De PUBLicações entre 2004 e 2007 cOm a resPectiva teOria teoria Periódicos internacionais teoria do conflito realístico Journal of Social Issues Learning in Health and Social Care Personality and Social Psychology Bulletin teoria da privação relativa Journal of Applied Social Psychology European Journal of Social Psychology Journal of Experimental Social Psychology Journal of Personality and Social Psychology teoria da equidade Journal of Business Ethics Journal of Managerial Psychology Journal of Business and Psychology reFerências ADAMS JS The relationship of worker productivity to cognitive dissonance about wage inequities Jour nal of Applied Psychology v 46 p 161164 1962 ADAMS JS Toward an understanding of inequity Journal of Abnormal and Social Psychology v 67 n 5 p 422436 1963 ADAMS JS Inequity in social exchange In BERKOWITZ L org Advances in experimental social psychology Nova York Academic Press 1965 ALBUQUERQUE FJB VASCONCELOS TC COELHO JAPM Análise psicossocial do assenta mento e seu entorno Psicologia Reflexão e Crítica v 17 n 2 p 233242 2004 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 285 AUSTIN W WALSTER E Reactions to confir mations and disconfirmations of expectancies of 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as pessoas obedeciam à pressão de um grupo ou de uma autoridade Floresciam os estudos de percepção social formação de impressão e influência social As pesquisas de Fritz Heider 1944 sobre a atribuição de causalidade nos processos de percepção a noção de equilíbrio e a teoria de campo de Kurt Lewin 1951 os trabalhos de Solomon Asch 1952 sobre a formação de impressão e conformismo e os trabalhos de Milgram 1963 sobre obediência à autoridade são exemplos de estudos que tentavam respon der a essas questões Essa efervescência da psicologia social refletia se na edição de 1968 do Handbook of social psychology de Lindzey e Aronson Todavia não tardaram a surgir as primeiras críticas as quais de certa forma ofuscavam o clima de otimismo e confiança que vinha tomando conta dessa área Já em 1952 Asch afirmava que os psicólogos sociais estariam fazendo uma caricatura dessa disciplina ao se apressarem em imitar as ciências natu rais em seus métodos e procedimentos Em 1954 G Allport lembrava que a psicologia social apenas iniciava sua infância no que concernia à construção de teorias e alertava seus colegas afirmando que a interpretação de um experimento não poderia prescindir de uma teoria que transcendesse os exem plos concretos As críticas à psicologia so cial não se restringiam à fragilidade de seu aparato teórico metodológico e aos aspec tos éticos dos procedimentos experimentais que estavam sendo conduzidos Havia dis cordâncias quanto ao caráter mais ou me nos político da disciplina McGuire 1965 Katz 1978 quanto à natureza do animal humano Asch 1952 Von Cranach 1982 e ao grau do controle voluntário Archibald 1978 Blumer 1969 No bojo dessa crise crescia o ceticismo diante da ideia de que o conhecimento em pírico e sistemático do modo de funciona mento da sociedade conduziria naturalmen te à solução de seus problemas Acredita se que a publicação do artigo de Kenneth Ring em 1967 no Journal of Experimental Social Psychology marca o desvelamento da crise da psicologia social Ibáñez 1990 Collier Minton e Reynolds 1996 Cerrato e 14 a teOria Das rePresentações sOciais angela Maria de oliveira almeida Maria de Fátima de souza santos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 288 tOrres neiva cOLs Palmonari 2009 Neste artigo Ring con testava o ritualismo metodológico dos pesquisadores preocupados mais com o de senho das situações experimentais e com suas publicações do que com a relevância social e teórica de suas pesquisas Em ambos os lados do Atlântico assistia se à ascensão do paradigma cogni tivo O ano de 1984 o atesta com a publica ção da primeira edição de Social cognition por Fiske e Taylor e de Handbook of social cognition por Wyer e Srull Movimento que toma conta da psicologia social sobretudo a partir dos anos de 1980 a Social Cognition pode ser entendida como um interesse ex plícito pelos processos mentais subjacentes às ações dos homens com base na busca de coerência do comportamento humano Caminho distinto é assumido por um grupo de psicólogos sociais na Europa Em 1972 Israel e Tajfel publicam The context of social psychology no qual retomam as con tribuições de Lewin Asch e Sherif e susten tam que a psicologia social ponte entre a psicologia e outras disciplinas das ciências sociais deveria ser considerada como uma disciplina autônoma Seu objetivo principal seria focar as interações sociais no decurso das quais aparecem os pensamentos os sen timentos e as motivações humanas Por con sequência a psicologia social precisaria ne cessariamente superar as contradições entre os níveis de análise individuais e sociais a primeira considerada tradicionalmente pró pria da psicologia e a segunda da sociologia antropologia e economia Tal psicologia social pode ser conside rada como afirmam Cerrato e Palmonari 2009 p 5 uma ciência social cujo obje to é o estudo das relações cotidianas que se produzem na realidade social dos fenôme nos ligados à comunicação e à ideologia isto é do conhecimento e das representações so ciais Várias linhas teóricas desenvolveram se em resposta à crise da psicologia social a partir deste pressuposto Acreditamos que a teoria das representações sociais constitui sem dúvida a resposta mais original breve Histórico da teoria das rePresentações sociais Em sua obra seminal La psychanalyse son image et son public de 1961 Serge Moscovici examinou o processo de transformação de uma teoria no caso a teoria psicanalítica em um saber do senso comum a fim de com preender a construção do conhecimento co tidiano seus modos de funcionamento e uso na vida diária para entender os processos que estão na base das mudança de pensa mento e das práticas sociais Em entrevista concedida à primeira autora deste capítulo em 2001 e à Ivana Marková publicada em The making of mo dern social psychology Moscovici e Marková 2006 Moscovici esclarece como surgiu seu interesse sobre o conhecimento cotidiano Segundo ele um problema que afetou for temente sua geração e que depois se tornou o problema da modernidade foi o pa pel da ciência Durante a primeira metade do século estava em ebulição a crença de que a ciência seria a salvação do mundo aquela que traria o bem estar e a felicidade para a humanidade Ao lado dessa crença desenvolveu se todo um corpo de interesses e de preocupações com vistas a compreen der de forma mais sistemática qual seria o impacto da ciência sobre as mudanças his tóricas o pensamento e os projetos sociais Esta era uma questão que permeava sobre tudo os debates dos jovens que naquele mo mento foram atraídos pelo marxismo Como alguém que estava vivendo as agruras da Segunda Guerra Mundial Moscovici começou a se perguntar acerca do impacto da ciência sobre a cultura das pes soas como ela alterava suas mentes e seu comportamento enfim ele se questionava sobre o porquê de a ciência tornar se parte de um sistema de crenças das pessoas e dos grupos Moscovici assinala que nesse período havia duas correntes claras acerca da ciên cia A primeira era aquela sustentada pelos marxistas e com a qual ele próprio estava INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 289 bastante familiarizado já que em sua juven tude no início da guerra alistou se no parti do comunista romeno Em sua percepção os marxistas e particularmente Lênin manifes tavam uma grande desconfiança em relação ao conhecimento popular e ao pensamento das massas A posição dos marxistas era a de que o conhecimento tinha de ser extirpado das irracionalidades trazidas pela ideologia pela religião e pelo folclore substituindo as por uma visão científica do homem da história e da natureza ou seja pela visão do materialismo histórico Os marxistas não admitiam que a difusão do pensamento científico pudesse incrementar o pensamen to comum Portanto tratava se da erradicar do pensamento os elementos do senso co mum possibilitando que cada sujeito ascen desse a uma consciência social A segunda corrente representada por aqueles que Moscovici denominou de iluminados pressupunha que o papel do conhecimento e do pensamento científicos era o de dissipar a ignorância os precon ceitos ou os erros desencadeados por um conhecimento não científico A forma de dissipar essa visão equivocada das coisas e do mundo seria através da educação Em última instância visava se a transformar to dos os homens em cientistas levando os a pensar racionalmente O que se observa é que essas duas po sições que se dizem em oposição acabam convergindo já que paradoxalmente am bas consideram que a popularização do co nhecimento científico difundido na esfera pública resultaria em uma desvalorização ou inclusive em uma deformação do conhe cimento científico Ou seja não se pode so cializar a ciência sem que ela seja deturpa da pois a população leiga seria incapaz de assimilá la tal como os cientistas Após a guerra já afastado do partido comunista e vivendo na Europa Ocidental como refugiado político Moscovici opõe se definitivamente a tais visões e tenta re dimensionar o conhecimento cotidiano o qual se configura a seu ver como fundante da vida da linguagem e das práticas coti dianas De fato citando Moscovici 2001 ele afirma Eu reagi contra a ideia implíci ta que tinha me preocupado em um dado momento a qual pressupunha que o povo não pensa que as pessoas não seriam ca pazes de pensar racionalmente tal como os intelectuais1 Assim em suas reflexões a transformação do conhecimento científico em conhecimento comum ou espontâneo tornou se um problema central Moscovici acreditava que estaria in troduzindo um terceiro elemento o senso comum que ao lado da ideologia e da ci ência representaria as raízes da consciência social e que também estaria estabelecendo uma relação entre consciência e cultura levando se em conta as práticas e os costu mes presentes na vida cotidiana É nessa perspectiva que o senso co mum vai adquirir valor como objeto de estu do na medida em que deixa de ser conside rado meramente como folclore ou como um pensamento tradicional ou primitivo para ser tomado como algo moderno originado em parte da própria ciência e que assume formas particulares quando é tomado como parte da cultura Ao se recusar a reduzir o senso comum à ideologia como muitos ten dem a fazê lo Moscovici acredita que está necessariamente tomando o como um ele mento que liga a sociedade ou o indivíduo à sua cultura à sua linguagem enfim a um mundo que lhe é familiar Foi sob o impacto da guerra portanto quando Moscovici mergulhou nas profunde zas dos sentidos da vida humana que come çou a ser gerada aquela que mais tarde se configuraria como a teoria das representa ções sociais PressuPostos da teoria das rePresentações sociais Pode se dizer que a teoria das representa ções sociais centrada nos modos de fun INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 290 tOrres neiva cOLs cionamento do pensamento cotidiano tem suas raízes tanto na sociologia e na antro pologia Durkheim e Lévy Bruhl quanto na psicologia construtivista sócio histórica e cultural Piaget e Vygotsky Podemos mes mo ir além e afirmar com Arruda 2009 p 740 que ela implica por entender o social e o individual como fios entrelaçados num mesmo tecido considerar esse tecido de forma aberta e múltipla sem barreiras disciplinares Para dar conta do conhecimento coti diano Moscovici 1989 retoma e ressigni fica o conceito de representações tentando ao mesmo tempo colocar em evidência a es pecificidade da psicologia social na medida em que com esse conceito ele a situará na intersecção do individual e do social Para tanto ele se apoia no conceito de represen tação coletiva de Durkheim embora rejei te suas explicações essencialmente sociais assim como se apoia no conceito de repre sentação mental de Piaget rejeitando suas explicações essencialmente cognitivas Em Lévy Bruhl e posteriormente em Vygotsky Moscovici encontra os elementos de ligação do indivíduo ou dos grupos às suas cultu ras Examinando a evolução do conceito de representação em uma perspectiva históri ca deparamo nos com Durkheim o qual ao se utilizar do conceito de representações estabelece uma oposição entre o individu al e o coletivo Haveria uma representação individual cujo substrato é a própria cons ciência de cada um sendo portanto sub jetiva flutuante e perigosa à ordem social Do outro lado situava se a representação coletiva cuja sociedade em sua totalidade constituía se em seu substrato o que lhe atribuía um caráter impessoal e permanen te garantindo assim a associação entre os indivíduos e a harmonia social Lévy Bruhl assim como Piaget e Vygotsky confere às representações uma dinamicidade maior do que aquela que lhe era permitida pelo conceito de representa ções coletivas Lévy Bruhl salienta a coerên cia interna entre sentimentos raciocínios e movimentos da vida mental coletiva Os indivíduos devido à sua própria inserção na sociedade e à sua ligação com a cultu ra dessa sociedade exprimem sentimentos comuns que ele chama de representação Para ele o que diferencia uma sociedade da outra é a lógica utilizada por seus membros para representar a realidade No entanto Moscovici 1989 considera que Lévy Bruhl vai estabelecer uma oposição entre os meca nismos psicológicos e lógicos da representa ção de forma semelhante a Durkheim que estabeleceu uma cisão entre o individual e o social Quanto a Piaget Moscovici 1989 afirma que este ao defender que as diferen ças entre as crianças e os adultos não eram uma questão de competência mas sim de lógicas diferenciadas transfere para o ní vel individual o princípio adotado por Lévy Bruhl para explicar os diferentes tipos de sociedade baseando se nas diferenciações lógicas características das formas de pensá las A apropriação que Moscovici faz do conceito de representação não segue po rém exatamente esse caminho Quando ele se concentra na questão da essência da psi cologia social e descobre que tal essência constitui se no próprio senso comum pas sa a buscar um conceito ou uma ideia que fosse mais do que uma mera etiqueta e que pudesse dar conta da transformação do co nhecimento científico em conhecimento do senso comum Nessa direção Moscovici perseguiu um conceito que tivesse significação teóri ca baseada na demonstração de que o co nhecimento ou o pensamento são necessa riamente sociais de modo semelhante aos físicos quando estes demonstraram que a matéria é essencialmente formada por áto mos Em prefácio à coletânea de estudos sobre as representações sociais organizada por Guareschi e Jovchelovitch 1994 p 9 Moscovici reafirma a origem transdiscipli nar da teoria das representações sociais por meio de uma analogia à história de formula ção do conceito de átomo e genes INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 291 O conceito de átomo durante dois mil anos e o de genes durante mais ou menos um século foram elementos ex plicativos e abstratos nas teorias físicas e biológicas O conceito de representação social foi um conceito semelhante nas teorias sociológicas e antropológicas E todos o sabemos a teoria dos átomos e a teoria dos genes da hereditariedade não são mais que o produto recente de duas ciências híbridas a física atômica e a biologia molecular É assim também que a teoria das representações sociais procura renovar e confirmar a especifici dade da psicologia social Tal como ocorreu com a física e a biolo gia molecular o caminho percorrido pela teo ria das representações sociais não foi fácil pois o desafio era superar o enfoque indivi dualista da psicologia e o enfoque coletivis ta da sociologia e da antropologia utilizan do essas mesmas ciências como auxiliares A articulação dessas diferentes perspectivas sociológica antropológica psicológica traz para a psicologia social o pressuposto de que os fenômenos estudados por ela as sumem formas e significações diversas em espaços culturais e tempos distintos Podemos considerar com Doise 1993 p 161 que Moscovici oferece nos uma teo ria das representações sociais que não é somente heuristicamente útil para analisar complexos fenômenos sociais mas também capaz de reorganizar teoricamente tradicio nais campos de estudo na psicologia social Em Moscovici encontramos conceitos im portantes que funcionam como princípios gerais que oferecem uma estrutura de análi se capaz de detalhar o processo de constru ção ou gênese de uma representação social mas que não têm a pretensão de esgotar todas as possibilidades teóricas que esse campo de estudo suscita Nesse sentido ela pode ser considerada como Doise vem assinalando em várias oportunidades uma grande teoria das representações sociais Com efeito a teoria das representações sociais pode ser considerada como uma grande teoria grande no sentido de que sua finalidade é a de propor conceitos de base que devem atrair a atenção dos pesquisadores sobre um conjunto de dinâmicas particulares e suscitar assim estudos mais detalhados sobre os múlti plos processos específicos Doise 1990 p 172 No meu entender grandes teorias nas ciências humanas são concepções gerais sobre o indivíduo eou o funcionamento societal que orientam o esforço de pes quisa Elas devem não obstante ser com pletadas por descrições mais detalhadas dos processos que sejam compatíveis com a teoria geral mas que podem também ser compatíveis com outras teorias Doise 1993 p 161 Nessa mesma direção Palmonari 2009 p 45 afirma A teoria das representações sociais é agora uma construção muito complexa uma espécie de encruzilhada as correntes de ideias que aí convergem são múltiplas e no momento não há nenhum mapa que dê as coordenadas comuns E não é apenas uma questão de ideias e modelos formulados por disciplinas não psicoló gicas história antropologia sociologia semiótica etc mas também produções de grupos diferentes que de todo modo compartilham a mesma orientação teórica em psicologia social o conceito de rePresentações sociais Pensar as representações sociais do conhe cimento científico pressupõe antes de tudo considerar as próprias representações so ciais como uma forma de conhecimento as quais podem ser entendidas de acordo com Denise Jodelet 1991 p 668 como uma forma de conhecimento corrente dito senso comum caracterizado pelas se INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 292 tOrres neiva cOLs guintes propriedades 1 socialmente elaborado e partilhado 2 tem uma orientação prática de organização de domínio do meio material social ideal e de orientação das condutas e da comu nicação 3 participa do estabelecimento de uma visão de realidade comum a um dado conjunto social grupo classe etc ou cultural A definição de representações sociais como uma forma de conhecimento social pressupõe a existência de três aspectos im portantes a comunicação a reconstrução do real e o domínio do mundo Comunicação porque as representações oferecem às pesso as um código para suas trocas e um código para nomear e classificar de maneira unívo ca as partes de seu mundo de sua história individual e coletiva Moscovici 1976 p 11 Nesse sentido as representações sociais são entendidas como moduladoras do pen samento e reguladoras da dinâmica social na qual convergências e conflitos atuam em um movimento que opera a mudança social Reconstrução do real porque é na cons tante dinâmica comunicação representação que os sujeitos reconstroem a realidade cotidiana As representações sociais atuam como guias de interpretação e organização da realidade fornecendo os elementos para que os sujeitos se posicionem diante dela e definam a natureza de suas ações sobre essa realidade As representações participam da construção da realidade a qual só existe nas interações dos indivíduos e grupos com os objetos sociais A dicotomia clássica entre sujeito objeto é abandonada já que se su põe que não há uma ruptura entre o uni verso exterior e o universo interno do indiví duo ou do grupo Sujeito e objeto não são no fundo distintos Moscovici 1976 p 9 Domínio do mundo porque as representa ções são entendidas como um conjunto de conhecimentos sociais que têm uma orien tação prática e que permitem ao indivíduo situar se no mundo e dominá lo Trata se aqui de uma dimensão mais concreta que nos remete à utilidade social do conceito de representação Esses três aspectos comunicação reconstrução do real e domínio do mundo colocam em evidência o papel que as re presentações sociais assumem na dinâmica das relações e práticas sociais cotidianas o qual se explicita em suas diferentes funções Como saber do senso comum as represen tações sociais permitem aos indivíduos com preender e explicar a realidade por meio da construção de novos conhecimentos Ao in tegrar a novidade a saberes anteriores eles a transformam em algo assimilável e com preensível As representações também têm por função situar os indivíduos e os grupos no campo social permitindo lhes a elabora ção de uma identidade social e pessoal gra tificante Como saber do senso comum elas ainda orientam os comportamentos e as prá ticas intervêm na definição da finalidade da situação e antecipam ou prescrevem práticas obrigatórias na medida em que definem o que é aceitável em dado contexto social Por fim as representações sociais permitem justificar a posteriori os comportamentos e as tomadas de posição Se desempenham um papel importante na determinação das ações elas também intervêm após sua reali zação permitindo aos indivíduos explicar e justificar seus comportamentos Essa função assume um papel importante porque permi te reforçar a diferenciação social uma vez que a justifica preservando e mantendo a distância social entre grupos Na teoria das representações sociais essa forma de conceber o conhecimento como um saber do senso comum que tem funções primordiais para a existência hu mana e para o funcionamento da socieda de pressupõe a afiliação a uma perspectiva psicossociológica a qual permite explicar o processo de construção e gênese das repre sentações sociais e sobretudo implica um comprometimento com pressupostos teóri cos e epistemológicos claramente definidos no bojo da teoria Esses pressupostos rom pem com os critérios de verdade difundidos pelos cânones científicos que desconsideram as relações entre o sujeito e um objeto que faz parte de seu universo pessoal e social passando a situá los na funcionalidade que INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 293 os conhecimentos inerentes a essa realidade assumem na vida cotidiana Podemos deduzir que o estudo de uma representação social pressupõe investigar o que pensam os indivíduos acerca de determi nado objeto a natureza ou o próprio conteú do da representação por que pensam a que serve o conteúdo de uma representação no universo cognitivo dos indivíduos e ainda a maneira como pensam os indivíduos quais são os processos ou mecanismos psicológi cos e sociais que possibilitam a construção ou a gênese desse conteúdo Vemos então que é característico das representações so ciais o fato de elas serem ao mesmo tempo produto e processo da atividade humana Seus conteúdos são capturados dos discur sos coletivos e individuais das opiniões e atitudes das práticas e circulam na socie dade por meio de diversos canais como nas conversações e nas mídias Trata se da face diretamente observável das representações sociais Quando se diz que uma representa ção social é também um processo supõe se a existência de um mecanismo psicossocioló gico de pensamento que por um lado rege a gênese a organização e a transformação de um conteúdo e por outro torna possível sua funcionalidade social Ao mostrar que a gênese de uma re presentação implica uma atividade de trans formação do não familiar em familiar de um saber científico em um outro saber do sen so comum Moscovici 1976 elaborou os conceitos de objetivação e ancoragem para explicar esse processo A objetivação torna concreto aquilo que é abstrato Ela transfor ma um conceito em imagem retirando o de seu marco conceitual científico Trata se de privilegiar certas informações em detrimen to de outras simplificando as e dissociando as de seu contexto original de produção A retenção das informações salientes é acom panhada de um ajustamento em que cer tas informações assumem um papel mais importante do que outras tornando sua estrutura diferente daquela original Trata se enfim de transformar o que é abstrato complexo ou novo em imagem concreta e significativa com base em concepções que nos são familiares Nesse processo perde se em riqueza informativa já que há simpli ficação o que se ganha em compreensão Bonardi e Roussiau 1999 p 24 Já a ancoragem corresponde exata mente à incorporação ou à assimilação de um novo objeto em um sistema de catego rias que são familiares e funcionais aos in divíduos e que lhes estão facilmente dispo níveis na memória A ancoragem permite integrar o objeto da representação em um sistema de valores próprios aos indivíduos denominando o e classificando o em função da inserção social desses indivíduos Assim um novo objeto é ancorado quando ele pas sa a fazer parte de um sistema de categorias já existentes mediante alguns ajustes a teoria das rePresentações sociais no brasil O desenvolvimento da teoria das represen tações sociais inicia se na França em 1961 quando Moscovici publica La psychanalyse son image et son public Desde então essa teoria tem fundamentado um campo de in vestigação importante da psicologia social na Europa tendo sido disseminada em se guida por inúmeros centros de pesquisa do mundo No Brasil de modo semelhante ao que ocorreu em vários países da América Latina seu estudo foi introduzido por estudiosos que frequentaram durante os anos de 1970 o Laboratoire de Psychologie Sociale LPS da École de Hautes Études en Sciences Sociales então dirigido por Moscovici Naquela época muitos países da América Latina encontravam se sob o jugo de uma ditadura militar e os latino americanos ti nham no LPS um espaço para refletir sobre os problemas que os afligiam O estudo das representações sociais insinuava se como uma resposta aos problemas emergentes da vida cotidiana diante dos quais os pesquisa dores eram chamados a se posicionar Quando do retorno aos seus países de origem trazendo em sua bagagem a teoria INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 294 tOrres neiva cOLs das representações sociais esses pesquisa dores encontraram muitas resistências Tal como aconteceu na Europa em 1961 no Brasil a adesão a essa teoria assistiu a um longo período de latência As razões para isso foram múltiplas pois psicólogos sociais brasileiros dividiam se naquele momento entre duas vertentes a primeira afinada com os pesquisadores americanos desen volvia uma psicologia social centrada nos processos intrapessoais e interpessoais a segunda caracterizada por uma psicologia politicamente engajada apoiava se na teo ria marxista e na busca de objetos relevan tes da nossa realidade de forma a encontrar explicações para nossos próprios proble mas Sá e Arruda 2000 p 17 Adeptos de ambas as vertentes opuseram se à teoria das representações sociais No âmbito da psico logia de inspiração americana o estudo das representações sociais era visto como uma nova roupagem para aquilo que já vinha sendo feito o estudo das atitudes Entre os marxistas tais estudos eram considerados como um desvio ideológico marcado pelo viés idealista Essa resistência porém não persis tiu por muito tempo O desenvolvimento de pesquisas colocou em evidência o valor heurístico do aporte teórico da teoria das representações sociais fazendo com que o conceito evoluísse na direção de uma teo ria amplamente investigada Atualmente o estudo das representações sociais encontra se em plena expansão no Brasil e observa se uma clara ampliação das áreas que têm aderido a esse referencial o que confirma seu caráter eminentemente transdisciplinar Ampliaram se também as pesquisa desen volvidas sob a égide dessa teoria o que pode ser constatado pelo número crescente de trabalhos apresentados em eventos científi cos Estima se que há pouco mais de 10 anos estamos assistindo ao nascimento da escola brasileira de representações sociais2 Acredita se que essa escola estrutura se principalmente em torno de três abor dagens teóricas que se desenvolveram a partir da teoria das representações sociais a abordagem processual liderada por Denise Jodelet a abordagem estrutural liderada por Jean Claude Abric também conhecida como a Escola do Midi e a abordagem so cietal liderada por Willem Doise identifi cada nos meios acadêmicos como Escola de Genebra notas 1 Moscovici 2001 lembra nos que vivemos no século XX um período em que os próprios intelectuais nem sempre foram capazes de pensar racionalmente visto que partiram da intelectualidade teorias irracionais como o racismo o nazismo e a bomba atômica 2 Conforme atesta a IV Conferência Brasileira sobre Representações Sociais realizada em 2009 no Rio de Janeiro a qual teve como tema central A escola brasileira de represen tações sociais reFerências ARRUDA A Teoria das representações sociais e ciências sociais trânsito e atravessamentos So ciedade e estado online v 24 n 3 p 739766 2009 Disponível em httpwwwscielobrpdf sev24n306pdf Acesso em 28 mar 2010 ASCH S Social psychology Nova York Prentice Hall 1952 ALLPORT GW The historical background of social psychology In LINDZEY G ARONSON E orgs The handbook of social psychology Reading Mass AddisonWesley 1954 ARCHIBALD WP Social psychology as political economy Toronto McGraw Hill 1978 BLUMER H Symbolic interactionism perspective and method Nova Jersey Prentice Hall 1969 BONARDI C ROUSSIAU N Les représentations sociales Paris Dunod 1999 COLLIER G MINTON HL REYNOLDS G Es cenarios y tendencias de la psicología social Madri Taurus 1996 CERRATO J PALMONARI A Representaciones sociales psicología social y posmodernidad In CERRATO J PALMONARI A orgs Repre sentaciones sociales y psicología social Valência Promolibro 2009 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 295 DOISE W Les représentations sociales In GHI GLIONE R BONET C RICHARD JF orgs Trai té de psychologie cognitive Paris Dunod 1990 DOISE W Debating social representation In BREAKWELL GM CANTER DV orgs Empi rical approaches to social representations Oxford Oxford University Press 1993 FISKE ST TAYLOR S Social cognition 2ed Nova York McGraw Hill 1984 HEIDER F Social perception and phenomenal causality Psychological Review v 51 p 358374 1944 IBÁÑEZ T Aproximaciones a la psicología social Barcelona Senda 1990 ISRAEL J TAJFEL H The context of social psycho logy a critical assessment Londres Academic Press 1972 JODELET D Représentation sociale grand diction naire de la psychologie Paris Larousse 1991 KATZ D Social psychology in relation to the social sciences the second social psychology American Behavioral Scientist v 21 p 925937 1978 LINDZEY G ARONSON E orgs The handbook of social psychology Menlo Park AddisonWesley 1968 LEWIN K Principles of topological psychology New York McGrawHill 1936 LEWIN K Field theory in social science selected theoretical papers In CARTWRIGHT D orgs Nova York Harper Row 1951 McGUIRE WJ Discussion of Willian N Schoefelds paper In KLINEBERG O CRISTIE R orgs Perspective in social psychology Nova York Holt Rinehart Winston 1965 MILGRAM S Behavioral study of obedience Journal of Abnormal and Social Psychology v 67 n 4 p 371378 1963 MOSCOVICI S La psychanalyse son image et son public Paris PUF 1976 MOSCOVICI S On social representation In FORGAS J P org Social cognition London Academic Press 1981 p 181209 MOSCOVICI S Des représentations collectives aux représentations sociales In JODELET D org Les représentations socials Paris PUF 1989 MOSCOVICI S Prefácio In JOVCHELOVITCH S GUARESCHI P Textos em representações sociais Petrópolis Vozes 1994 MOSCOVICI S Entrevista à Angela Maria de Oli veira Almeida Paris EHESS 2001 MOSCOVICI S MARKOVÁ I The making of mo dern social psychology the hidden story of how an international social science was created Cambridge Polity Press 2006 PALMONARI A A importância da teoria das re presentações sociais para a psicologia social In ALMEIDA AMO JODELET D orgs Represen tações sociais interdisciplinaridade e diversidade de paradigmas Brasília Thesaurus 2009 RING K Experimental social psychology some sober questions about some frivolous values Journal of Experimental Social Psychology v 3 p 113123 1967 SÁ CP ARRUDA A O estudo das representações sociais no Brasil Revista de Ciências Humanas Florianópolis Série Especial Temática p 1132 2000 VON CRANACH M The psychological study of goaldirected action basics issues In VON CRA NACH M HARRÉ R The analysis of actions recent theoretical and empirical advances Cam bridge CUP 1982 WYER RS SRULL TK orgs Handbook of social cognition Hillsdale Erlbaun 1984 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS introdução Imaginemos duas situações típicas Na pri meira uma jovem adolescente gosta de sur far ir a baladas e conhecer novos lugares Ela não tem paciência para ficar estudando por horas recusa se a seguir padrões con vencionais e decide que o curso universi tário que poderia ter mais a ver com ela seria Música Na segunda outra jovem de igual idade gosta de jogar voleibol sair com a família e conhecer cidades históri cas pensando que deveria escolher como curso superior Direito Agora pensemos por um instante o que ambas têm em co mum e algumas características que podem diferen ciá las Obviamente ambas são jovens ado lescentes e como tais gostam de estar com outras pessoas praticar esportes divertir se e inevitavelmente pensar no seu futuro Porém cada uma o faz a partir de suas pre ferências seu estilo de vida e os princípios axiológicos que as orientam É provável que a primeira jovem não pense em termos con cretos pragmáticos sendo mais idealista e vivendo em razão dos prazeres que possa obter compartilhando provavelmente um ambiente em que os recursos econômicos têm sido assegurados ou em um contexto menos formal sem pressão de qualquer fi gura de autoridade priorizando sobretudo seus próprios interesses A segunda jovem por outro lado é mais orientada por metas fixas predefinidas e bem delimitadas sen do pragmática e pouco idealista planejan do sua vida ao menos a médio prazo tendo sido socializada em um contexto de escassez econômica ou em ambiente formal com de finição de regras claras dando importância à opinião de seus pais e familiares É bem possível que essas jovens orientem se por valores diferentes Enquanto a primeira parece guiada por valores de ex perimentação com ênfase na abertura à mu dança na apreciação de estímulos novos e experiências arriscadas a segunda pauta se em valores normativos que ressaltam a ma nutenção do status quo a adesão a papéis sociais convencionais e o cumprimento de regras sociais É possível também que tais jovens tenham sido socializadas em contex tos diversos dos descritos ou que escolham cursos universitários diferentes o que não significa que elas não possam mudar de valores A importância de apresentar es sas personagens fictícias é deixar claro o que se entende aqui por valores humanos Na psicologia social eles se definem como princípios guia gerais que transcendem ob 15 vaLOres HUmanOs cOntriBUições e PersPectivas teóricas valdiney v gouveia Patrícia nunes da Fonsêca taciano l Milfont ronald Fischer INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 297 jetos ou situações específicas tradição que teve lugar já no início do século XX tendo sido consolidada a partir de sua segunda metade sobretudo com os estudos relativos à teoria da ação social e as contribuições de Milton Rokeach Este capítulo introduz o leitor à te mática dos valores humanos como têm sido estudados na psicologia social resga tando alguns elementos históricos e teorias que permitem configurar o estado da arte Objetiva também apresentar um modelo teórico dos valores humanos que embora parcimonioso reúne as características de ser integrador contando com uma medida breve e um esquema conceitual que per mite inclusive explicar modelos recentes dos valores a exemplo do que propõe S H Schwartz Portanto visando a organizá lo de forma didática procurou se definir qua tro tópicos principais elementos históricos contribuições destacáveis teoria funciona lista dos valores humanos e considerações finais eleMentos Históricos O homem na condição de ser social é es sencialmente axiológico Embora seja pos sível definir uma data a partir da qual se possa resgatar a história dos estudos sobre os valores humanos não significa que eles tenham tido origem a partir desse pon to Enquanto princípios guia os valores tornaram se essenciais a partir do momen to em que o homem percebeu a si mesmo como indivíduo tendo consciência de suas ações e viu no outro suas possibilidades de existir A vida em sociedade apenas se con figurou em razão de princípios norteadores que davam conta de padrões convencionais que precisavam ser minimamente aceitáveis p ex respeito aos mais velhos direito à propriedade porém evoluiu graças a ou tros princípios igualmente importantes p ex interesse em descobrir o novo desejo de ser diferente Pensar nos valores humanos desse modo demanda considerá los como próprios de indivíduos que se projetam no tempo e no espaço lidando com conceitos abstratos como forma de planejar a vida e a continuidade da espécie Smith 1980 p 339 afirma algo parecido Os animais assim como as pessoas podem aprender sobre o mundo e tê lo em conta e o que os animais como as pessoas aprendem e têm em conta pode ser organizado com referência a objetos porém não acerca de ideais imaginários ou alguma coisa conceitualmente abs trata Contrariamente os valores como as normas ou os critérios do desejável vinculados ao sistema simbólico de que dependem são emergentes sociais que requerem continuidade da cultura e a associação humana na comunidade Esta é uma concepção dos valores comumente aceita que os considera como um conjunto de princípios fundamentais que transcendem situações específicas ape sar de terem evoluído ao longo da história da humanidade eles podem ser pensados como residuais um marco de referência que é praticamente imutável Mudam as prioridades valorativas mas não os valores em si Rokeach 1973 Essa concepção co meçou a ser delineada a partir dos estudos de Thomas e Znaniecki 1918 tendo sido fortalecida com contribuições de autores de diversas áreas das ciências humanas e sociais Particularmente pensamos que o divisor da história foi Milton Rokeach sen do importante resumir alguns dos trabalhos importantes que o antecederam e que são fundamentais para entender as direções que tiveram lugar a partir de seus estudos Não se pretende aqui descrever em detalhe a história dos valores objeto de outras publi cações Ros 2006 Spates 1983 Zavalloni 1980 mas sim apontar contribuições consi deradas centrais Parece crucial começar com a obra O campesino polonês de Thomas e Znaniecki 1918 considerada como o marco que deu origem ao interesse pelos valores Ros 2006 Nessa obra seus autores introduzem INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 298 tOrres neiva cOLs os conceitos de atitudes e valores procuran do diferenciá los As atitudes compreendem um processo da consciência individual que determina a atividade real ou possível do indivíduo no mundo social podem ser resu midamente concebidas como o significado das coisas para as pessoas individualmente Os valores por sua vez referem se a qual quer dado que tenha um conteúdo empírico acessível aos membros de um grupo social e um significado que possa ser objeto atitudi nal Dois aspectos merecem destaque 1 as atitudes e os valores estão relacionados embora compreendam construtos diferen tes 2 as atitudes têm natureza intrassubjetiva enquanto os valores são intersubjetivos isto é precisam ter seu significado com partilhado pelos demais Talcott Parsons com seus estudos que ajudaram a traçar a teoria da ação social Parsons e Shils 1951 foi um dos auto res importantes para moldar a concepção hoje prevalecente de valores na psicologia social Foi ele quem introduziu a concepção de ação motivada sugerindo que uma ação tem lugar toda vez que a pessoa procura al cançar determinadas metas ideia que pare ce inerente aos estudos que tratam os valo res humanos como princípios motivacionais isto é a realização de um valor procura re presentar uma meta motivacional subja cente Schwartz e Bilsky 1987 Schwartz 1992 Parsons 1959 p 443 oferece uma definição para valor embora não tenha tido transcendência Pode se denominar valor a um elemento de um sistema simbólico com partilhado que serve de critério para a sele ção entre as alternativas de orientação que se apresentam intrinsecamente abertas em uma situação Na obra editada por Parsons e Shils 1951 apresenta se uma das contribui ções decisivas para a temática dos valores derivada do capítulo de Clyde Kluckhohn Esse antropólogo estabelece um ponto de corte decisivo ao indicar os valores como um princípio do desejável Um valor é uma concepção explícita ou implícita própria de um indivíduo ou característica de um gru po acerca do desejável o que influencia a seleção dos modos meios e fins de ações acessíveis Kluckhohn 1951 p 443 Ele procura definir o que entende por orienta ção de valor tratada nos seguintes termos p 461 Concepção organizada e generalizada que influencia a conduta no que diz respeito à natureza ao lugar que nela corresponde ao homem de sua relação com outros homens e do desejável e não desejável de acordo com a maneira em que têm lugar as relações inter humanas e as do homem com o ambiente Portanto a partir de Kluckhohn já não houve lugar para especular os valores como objetos ou algumas de suas caracte rísticas p ex família dinheiro os valores não seriam o desejado mas princípios do desejável Passariam então a ser tratados como princípios gerais compartilhados por grupos sociais que orientavam as ações das pessoas Essa característica do desejável foi marcante seguindo até os dias atuais atri buindo aos valores o sentido de serem so cialmente desejáveis positivos e apreciados pelas pessoas Schwartz et al 1997 Também cabe destacar nesse con texto Abraham Maslow Com seu clássico Motivation and personality esse autor cha ma a atenção para a estreita relação que pode ser estabelecida entre os valores e as necessidades humanas Ele pensava ser pos sível identificar os valores essenciais do ser humano quando pessoas que vivenciavam experiências positivas felicidade satisfação plena fossem perguntadas acerca de seus valores Desse modo ele chegou a uma lista de valores B do ser como beleza totalida de e alegria Contudo essa lista não teve im pacto Sua própria definição de valores é um tanto específica Maslow 1971 p 134 não são declarações sobre o que deveria ou teria que ser nem são meras projeções dos desejos do pesqui INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 299 sador alucinações ou estados puramente emocionais carentes de toda referência cognitiva Os relatam como iluminações como características verídicas e autênticas da realidade que sua cegueira prévia lhes havia ocultado Apesar da especificidade de seu traba lho Maslow introduziu duas ideias relevan tes para esta temática 1 os valores precisam ser todos positivos pois o homem é um ser benévolo orien tado à autorrealização 2 pode se falar em valores que representam necessidades deficitárias p ex fisio lógicas e de desenvolvimento p ex autorrealização Em resumo as concepções iniciais des ses autores formaram a base para estudos que logo se destacaram procurando situ ar os valores como um construto legítimo e importante na psicologia Se Thomas e Znaniecki 1918 propuseram a termino logia referente aos valores no começo do século passado foi por volta da década de 1950 quando se sedimentaram algumas concepções chave como a ação motivada Parsons 1951 o princípio do desejável Kluckhohn 1951 e os valores como repre sentação de necessidades Maslow 1954 contribuições destacáveis O livro The nature of human values de Milton Rokeach é uma referência obriga tória no âmbito dos estudos sobre valores É possível que metade do que se saiba so bre a temática possa ser encontrado nessa obra ou seja dela derivada o que Rokeach não fez diretamente sedimentou o terreno para outros pesquisadores Talvez sua me nor difusão deva se à forma como elaborou e testou sua teoria limitando se ao con texto estadunidense onde trabalhou sobre tudo com estudantes universitários como sujeitos de pesquisa sem ter a preocupação em estabelecer vínculos com pesquisado res de outros países No Brasil sua medida foi adaptada por Günther 1981 mas não parece ter despertado grande interesse Pesquisadores que procuraram empregá la como Tamayo 1997 sentiram se desesti mulados levando em conta tanto a presu mível não representatividade de sua lista de valores quanto a carência de um modelo teórico que tratasse de como eles poderiam estruturar se Embora essa sensação possa surgir com a leitura do seu livro uma revi são mais minuciosa dará conta de que essa obra é a base de todos os demais modelos que surgiram desde então Portanto vale a pena resumi lo referindo também dois ou tros modelos os valores materialistas e pós materialistas Inglehart 1977 1989 e os tipos motivacionais de valores Schwartz 1992 Schwartz e Bilsky 1987 a natureza dos valores humanos Rokeach 1973 não elaborou propriamen te uma teoria dos valores humanos mas teve alguns méritos que justificam nomeá lo como pai dessa área 1 sintetizou conceitos e ideias de diferentes correntes de pensamento p ex antropo lógica econômica filosófica sociológica e teológica 2 mostrou ainda que conceitualmente a diferenciação dos valores com respeito a outros construtos p ex atitudes inte resses traços de personalidade 3 apresentou uma definição específica dos valores e sistemas de valores 4 propôs o primeiro instrumento elaborado especificamente para medir valores No plano teórico suas três principais contribuições foram as seguintes 1 classificar os valores como instrumentais e terminais com seus subtipos correspon dentes 2 desenvolver o método de autoconfronta ção para mudança de valores INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 300 tOrres neiva cOLs 3 propor uma tipologia de ideologia política a partir da combinação das pontuações baixa e alta dos valores igualdade e liber dade Rokeach sugere que o número total de valores que uma pessoa tem é relativa mente pequeno que todas as pessoas têm os mesmos valores ainda que em graus va riados e que os valores são organizados em sistemas de valores Suas definições sobre valores e sistemas de valores são apresen tadas da seguinte maneira Rokeach 1973 p 5 Um valor é uma crença duradoura de que um modo específico de conduta ou estado último de existência é pessoal ou socialmente preferível a um modo de conduta ou estado final de existência oposto ou inverso Um sistema de valor é uma organização duradoura de crenças com respeito a modos de conduta ou estados finais de existência preferíveis ao longo de um contínuo de relativa importância Central na sua obra é a classificação dos valores em instrumentais modos de condutas e terminais estados finais de existência Os valores instrumentais são di vididos em de competência p ex lógico inteligente que são de foco intrapessoal cuja transgressão provoca vergonha e mo rais p ex honesto responsável que são de foco interpessoal cuja transgressão re sulta em culpa Os valores terminais são di vididos em pessoais p ex harmonia inte rior salvação sendo centrados na própria pessoa tendo foco intrapessoal e sociais p ex amizade verdadeira um mundo de paz que são centrados na sociedade e têm foco interpessoal Apesar dessa classificação heu rística os estudos posteriores não levaram em conta tais subdivisões admitindo unica mente as listas de 18 valores instrumentais e 18 valores terminais que compunham o seu instrumento Nada se disse sobre como os valores específicos eou esses tipos de va lores se estruturariam enfatizando se mais valores específicos do que índices ou indica dores compostos de valores a dimensão materialista e pós materialista Inglehart 1977 foi contemporâneo de Rokeach Contudo diferentemente deste ele não estava interessado nos valores das pessoas individualmente mas nos valores das culturas nacionais isto é nas pontua ções médias das pessoas por país Partindo da tipologia das necessidades humanas de Maslow 1954 Inglehart pensou em uma dimensão de variação cultural composta de dois polos o materialismo que representa as necessidades mais básicas de segurança física e econômica e o pós materialismo que expressa necessidades mais elevadas como de autoestima pertencimento cognitiva e estética Inglehart parte de duas hipóteses principais para explicar a importância que esses polos recebem 1 hipótese da escassez segundo a qual as prioridades de um indivíduo refletem seu meio socioeconômico Desse modo dá se maior importância subjetiva às coisas que são relativamente escassas 2 hipótese da socialização segundo a qual a relação entre o meio socioeconômico e as prioridades valorativas não é de ajuste imediato Existe um desajuste temporal subs tancial já que os valores básicos próprios refletem em grande medida as condições prevalecentes durante os anos prévios à ma turidade Considerando seu modelo teórico Inglehart 1989 sugere que as sociedades caminham em direção ao pós materialismo sobretudo quando se tornam mais desen volvidas em termos econômicos e sociais Porém mesmo em sociedades industriais avançadas é possível que algumas pessoas prossigam priorizando valores materialistas em razão de seu processo de socialização INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 301 Por exemplo pessoas que em sua juventu de nos anos de socialização axiológica vi veram o horror da Segunda Guerra Mundial na Europa ou que tiveram de conviver com a inflação econômica astronômica dos anos de 1980 e 1990 na América Latina mesmo que atualmente vivam em contextos de paz e estabilidade econômica podem continuar dando importância a valores materialistas Portanto nessa perspectiva os valores en contram alguma resistência à mudança uma vez que tenham sido socializados Apesar de sua repercussão servin do para classificar os países esse modelo recebe algumas críticas principalmente por sugerir que as pessoas é mais ade quado falar em culturas segundo advoga Inglehart classificam se em materialistas ou pós materialistas como se não houves se um meio termo Braithwaite Makkai e Pittelkow 1996 Além disso trata se de um modelo bastante simples reduzindo qual quer variação cultural a duas únicas possibi lidades ou polos de uma dimensão Modelos mais complexos vêm sendo desenvolvidos revelando que são necessários mais fatores para explicar a diversidade axiológica das culturas nacionais Hofstede 1991 os tipos motivacionais de valores Schwartz desenvolveu seu modelo de valo res em um contexto fundamentado em gran des estudos transculturais sobre os valores Inglehart 1977 1989 alguns de natureza eminentemente empírica sem marco teórico sólido que permitisse hipotetizar acerca das dimensões de variação cultural Hofstede 1991 Nesse contexto ele foi levado a ela borar duas teorias sobre os valores sendo uma no âmbito cultural Schwartz 2006 e outra no âmbito individual Schwartz 1992 2005 Schwartz e Bilsky 1987 Schwartz construiu seu modelo a partir dos trabalhos de Rokeach 1973 inclusive ampliando suas listas de valores instrumentais e termi nais ao adotar uma escala de resposta que combinava raking com rating A definição de valores que Schwartz 1987 p 553 ado ta inicialmente é a seguinte Um valor é um conceito do indivíduo acerca de uma meta terminal ou instru mental transsituacional que expressa interesses individualistas coletivistas ou ambos relativos a um domínio motivacio nal hedonismo poder sendo avaliado em uma escala de importância não im portante a muito importante como um princípio guia em sua vida Foram então propostos sete tipos mo tivacionais de valores embora a versão mais conhecida dessa teoria sugira 10 tipos Schwartz 2005 autodireção benevolên cia conformidade estimulação hedonis mo poder realização segurança tradição e universalismo Seu instrumento original o Schwartz Value Survey SVS compreende 56 itens que são distribuídos nesses tipos de valores comprovando se a hipótese de conteúdo Sua hipótese de estrutura parte do princípio de compatibilidades e conflitos entre os valores ou tipos motivacionais que se organizam em um círculo aqueles tipos mais compatíveis estarão em pontos adja centes p ex poder realização e realização hedonismo enquanto os conflitantes ou incompatíveis estarão em lados antagô nicos p ex conformidade hedonismo e hedonismo benevolência Essa teoria é amplamente conhecida sendo discutida em outras publicações no Brasil Pasquali e Alves 2004 Schwartz 2005 Schwartz e Tamayo 1993 Tamayo 1994 Nesse sentido parece pertinente tra tar de forma mais detalhada uma teoria mais recente a respeito a teoria funcionalista dos valores que vem mostrando se apropriada com possibilidades de contribuir com a te mática e produzir modificações considerá veis no modelo de Schwartz teoria Funcionalista dos valores Essa teoria tem sido elaborada nos últimos 10 anos Gouveia 1998 2003a e b Gouveia INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 302 tOrres neiva cOLs et al 2008 2009 Parte da concepção de que os valores são representações cognitivas das necessidades humanas Maslow 1954 Rokeach 1973 admitindo um número li mitado de valores assim como ocorre com as necessidades correspondendo àqueles denominados como terminais e parte de quatro suposições principais 1 reconhece a natureza humana como es sencialmente benévola incluindo apenas valores positivos 2 considera os valores como princípios guia dos indivíduos 3 reconhece sua base motivacional 4 admite apenas valores terminais por serem em menor número do que os instrumen tais e refletirem uma orientação geral que é coerente com a concepção do desejável Kluckhohn 1951 Esses valores compreendem metas su periores que vão além daquelas imediatas biologicamente urgentes e saciáveis por na tureza Nesse modelo são admitidas algumas características consensuais para a definição dos valores 1 são conceitos ou categorias 2 são estados desejáveis de existência 3 transcendem situações específicas 4 assumem diferentes graus de importância 5 guiam a seleção e a avaliação de compor tamentos ou eventos 6 representam cognitivamente as necessi dades humanas Todavia como seu foco principal são as funções dos valores procura se conceituá los a partir dessa perspectiva As funções dos valores são pouco tratadas na literatura Allen Ng e Wilson 2002 embora as duas pareçam consensuais Gouveia 2003 1 guiam as ações do homem tipo de orien tação 2 expressam suas necessidades tipo de motivador Portanto as funções dos valores são definidas como os aspectos psicológicos que eles cumprem ao guiar comportamentos e representar cognitivamente as necessidades humanas Presumindo que tais funções valo rativas sejam legítimas as subfunções deri vadas passam a ser prováveis O cruzamento dos dois eixos funcionais tipo de orientação e tipo de motivador permite identificar seis subfunções valorativas que serão definidas mais adiante Embora os valores específicos possam variar ou receber outras denomina ções as subfunções são presumivelmente universais e por isso preponderantes a função de guiar os comportamentos humanos Rokeach 1973 nomeou dois tipos de valo res terminais os sociais p ex amizade ver dadeira um mundo de paz e os pessoais p ex harmonia interna uma vida excitante Essa distinção social pessoal constitui uma dimensão importante de orientação huma na que é apresentada em tipologias como coletivismo e individualismo Triandis 1995 As pessoas guiadas por valores so ciais são centradas na sociedade ou têm um foco interpessoal enquanto aquelas guiadas por valores pessoais são egocêntricas ou têm um foco intrapessoal Coerentemente tais pessoas tendem a enfatizar o grupo valores sociais ou elas mesmas valores pessoais como a unidade de sobrevivência Gouveia et al 2003 Desse modo os valores guiam o comportamento em uma orientação social ou pessoal Existe um terceiro grupo de valores que não são exclusivamente sociais ou pes soais Schwartz 1992 os denomina como tipos motivacionais mistos Porém ele não detalha essa nomenclatura deixando de justificar a razão de tais valores aparecerem entre os sociais e pessoais Na verdade esse grupo de valores compreende a base orga nizadora de tal sistema os valores sociais e pessoais têm como referência esse terceiro grupo de valores sendo compatíveis com INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 303 ambos Por isso esse terceiro grupo é referi do como valores centrais Portanto a função dos valores como guia de comportamentos humanos é identificada pela dimensão tipo de orientação podendo ser social central ou pessoal a função de expressar as necessidades humanas Essa teoria admite que as necessidades hu manas são representações cognitivas dos valores que podem ser classificados como materialistas pragmáticos ou idealistas abstratos Inglehart 1977 Marks 1997 Ronen 1994 Os valores materialistas relacionam se a questões práticas sugerin do uma orientação para metas específicas e regras normativas Indivíduos guiados por esses valores tendem a pensar em condições de sobrevivência mais biológicas dando im portância à sua própria existência e às con dições nas quais esta pode ser assegurada Os valores idealistas expressam uma orien tação universal baseada em ideias e princí pios mais abstratos Comparados aos valores materialistas os idealistas não são dirigidos a metas concretas e geralmente são não específicos Dar importância a valores idea listas é coerente com um espírito inovador e uma mente aberta indicando menos depen dência dos bens materiais Logo a segunda função dos valores é dar expressão cognitiva às necessidades humanas identificada pela dimensão funcional tipo de motivador ma terialista ou idealista subfunções derivadas a partir das funções valorativas As duas funções valorativas antes descritas formam dois eixos principais na representa ção espacial da estrutura dos valores Figura 151 O eixo horizontal corresponde à fun ção dos valores para guiar ações humanas representando a dimensão tipo de orientação valores sociais centrais ou pessoais en quanto o eixo vertical corresponde à função dos valores para dar expressão às necessida des humanas compreendendo a dimensão tipo de motivador valores materialistas ou idealistas Cruzando os eixos horizontal e vertical da Figura 151 podem ser derivadas seis subfunções dos valores a saber experi mentação realização existência suprapes soal interacional e normativa Os três tipos de orientação são repre sentados por duas subfunções cada social normativa e interacional central exis tência e suprapessoal e pessoal realização Figura 151 Dimensões funções e subfunções dos valores básicos Dimensão 1 Tipo de orientação Social Central Pessoal Interativo Suprapessoal Experimentação Idealista abstrato Materialista pragmático Dimensão 2 Tipo de motivador Normativo Existência Realização INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 304 tOrres neiva cOLs e experimentação De modo similar três subfunções representam cada um dos dois tipos motivadores materialista existência normativa e realização e idealista supra pessoal interacional e experimentação Percebe se portanto que as subfunções po dem ser mapeadas em um delineamento 3 tipos de orientações social central e pes soal x 2 tipos de motivadores materialis ta e idealista As setas que partem do tipo central de orientação isto é das subfunções existência e suprapessoal indicam que os valores que a representam são a referência para os outros valores Os valores centrais dizem respeito aos valores do indivíduo expressando o núcleo das necessidades humanas isto é a diferen ciação entre as mais básicas fisiológicas e as mais altas autorrealização Por isso não implicam um conflito entre interesses pessoais e sociais Eles são importantes para todas as pessoas embora possam ser mais relevantes para diferenciar indivíduos que vivem em um contexto de escassez subfun ção existência motivador materialista da queles que vivem em um ambiente seguro e com recursos abundantes subfunção su prapessoal motivador idealista Inglehart 1977 Silva Filho 2001 Embora os indivíduos endossem valo res específicos para assegurar a estabilidade e continuidade da sociedade da qual fazem parte Merton 1949 isso não significa que todo valor tem como objetivo manter o status quo da sociedade Valores idealistas do mesmo modo que os pós materialistas Inglehart 1977 Marks 1997 ou os relacio nados com abertura à mudança Schwartz 1992 são orientados a inovações e podem conduzir a mudanças Entretanto as seis subfunções enfatizam em graus variados o ajuste social do indivíduo à sociedade e suas instituições Porém alguns valores são mais relacionados com a busca de ajustamento social do que outros especialmente aqueles que enfatizam a orientação social e o moti vador materialista isto é os valores norma tivos Santos 2008 Em resumo essa teoria considera ape nas valores terminais coerentes com a na tureza benévola do ser humano centrando se nas funções e subfunções derivadas da combinação entre elas Concebe se que os valores não podem ser atribuídos a objetos ou instituições específicos p ex dinhei ro casa família mas funcionam como princípios guia de orientação e representam as necessidades humanas Essa teoria pode ser abordada em duas partes principais 1 conteúdo e estrutura 2 congruência e compatibilidade das fun ções valorativas conteúdo e estrutura das funções valorativas As funções valorativas são marcos de refe rência a partir dos quais foram derivadas as seis subfunções consideradas estruturas latentes que precisam ser representadas por indicadores ou valores específicos Nesse sentido o conteúdo dos valores diz respeito à adequação de valores específicos para re presentar suas funções e subfunções As seis subfunções e os valores selecionados para representá las serão apresentados a seguir a lista de valores específicos indicadores não é exaustiva porém considera alguns dos mais comumente citados Braithwaite e Scott 1991 Uma vez que os valores cen trais valores de existência e suprapessoais são a fonte principal em que estão ancorados os outros valores a descrição das subfun ções começa com existência e as subfunções relacionadas passando para suprapessoal e as subfunções relacionadas 1 Subfunção existência representa as neces sidades fisiológicas básicas p ex comer beber dormir e a necessidade de segu rança Essa subfunção é compatível com orientações sociais e pessoais no domínio motivador materialista pois seu propósito principal é assegurar as condições básicas para a sobrevivência biológica e psicoló gica do indivíduo É a subfunção mais importante do motivador materialista INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 305 sendo a fonte das outras duas subfunções que também representam esse motivador realização e normativa A existência tem uma orientação central e um motivador materialista cujos valores são endossados por indivíduos em contextos de escassez econômica ou por aqueles que foram so cializados em tais ambientes Estabilidade pessoal saúde e sobrevivência são três valores indicadores dessa subfunção 2 Subfunção realização as necessidades de autoestima são representadas por valores dessa subfunção que corresponde a um motivador materialista mas uma orien tação pessoal Seus valores originam se de um princípio pessoal para guiar a vida dos indivíduos enquanto focalizam realizações materiais podendo ser uma exigência para interações sociais prós peras e o funcionamento institucional Indivíduos orientados por tais valores dão importância à hierarquia quando baseada em demonstração de competência pessoal apreciam uma sociedade organizada e es truturada e são práticos em suas decisões e seus comportamentos Valores de reali zação são mais tipicamente apreciados por jovens adultos em fase produtiva ou por indivíduos educados em contextos disciplinares e formais Kohn 1977 Três valores indicadores dessa subfunção são êxito poder e prestígio 3 Subfunção normativa esta é a terceira subfunção com um motivador materialis ta mas possui uma orientação social A necessidade de controle e as pré condições para alcançar todas as necessidades de mandas institucionais e sociais segundo Schwartz 1992 são cognitivamente re presentadas por valores dessa subfunção que reflete a importância de preservar a cultura e as normas convencionais Priorizar valores normativos evidencia uma orientação vertical na qual a obedi ência à autoridade é importante Pessoas mais velhas estão mais inclinadas a se guiar por tais valores seguindo normas convencionais e expressando em menor medida comportamentos anticonven cionais Três valores indicadores dessa subfunção são obediência religiosidade e tradição 4 Subfunção suprapessoal essa subfunção tem uma orientação central Seus valores representam as necessidades estéticas e de cognição bem como a necessidade superior de autorrealização Os valores su prapessoais ajudam a categorizar o mundo de uma forma consistente fornecendo clareza e estabilidade na organização cognitiva da pessoa Tais valores podem ser concebidos como idealistas indicando a importância de ideias abstratas com menor ênfase em coisas concretas e mate riais Eles são compatíveis com os valores sociais e pessoais no âmbito do motivador idealista Por esse motivo tal subfunção apresenta uma orientação central sendo a fonte de outras duas subfunções que representam esse tipo motivador ex perimentação e interacional A pessoa que endossa uma orientação central e um motivador idealista costuma pensar de forma mais geral e ampla tomando decisões e comportando se a partir de critérios universais Beleza conhecimento e maturidade são três valores indicadores dessa subfunção 5 Subfunção experimentação representa um motivador idealista mas com orientação pessoal A necessidade fisiológica de sa tisfação em sentido amplo ou o princípio do prazer hedonismo é representado por valores dessa subfunção Ela é menos pragmática na busca de alcançar status social ou assegurar harmonia e segurança sociais seus valores contribuem para a promoção de mudanças e inovações nas organizações sociais sendo mais endos sados por jovens Indivíduos que adotam tais valores conformam se menos às regras sociais não sendo orientados a perseguir metas fixas ou materiais a longo prazo Três de seus valores específicos são emo ção prazer e sexualidade 6 Subfunção interacional esta é a terceira subfunção que representa um motivador idealista mas com orientação social O destino comum e a experiência afetiva en tre indivíduos são acentuados por valores INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 306 tOrres neiva cOLs dessa função Representa as necessidades de pertencimento amor e afiliação Seus valores são essenciais para estabelecer regular e manter as relações interpesso ais Contatos sociais são uma meta em si mesmos enfatizando atributos mais afe tivos e abstratos As pessoas que adotam tais valores são comumente mais jovens e orientadas a relações íntimas estáveis Milfont Gouveia e Da Costa 2006 Três valores indicadores dessa subfunção são afetividade apoio social e convivência Além de estabelecer a hipótese de con teúdo que corresponde à definição das seis subfunções e seus respectivos valores espe cíficos essa teoria também estabelece uma hipótese de estrutura que prevê a organi zação das funções e subfunções dos valores em consonância com o esquema da Figura 151 Desse modo a estrutura dos valores tem como referência principal a combina ção das duas dimensões funcionais suge rindo uma configuração duplex com duas facetas axiais A primeira faceta representa o eixo horizontal correspondendo ao tipo de orientação social central e pessoal os valores centrais são localizados no centro do espaço bidimensional Localizados em um lado estão os valores que cumprem a orientação pessoal e no outro aqueles que cumprem a orientação social A segunda faceta representa o eixo vertical correspon dendo aos tipos de motivadores materialis ta ou idealista que se localizam em regiões diferentes no espaço Portanto no modelo ora tratado a estrutura dos valores refere se à representação espacial das seis subfun ções valorativas resultantes do cruzamento combinação das duas dimensões funcio nais anteriormente descritas congruência e compatibilidade das funções valorativas Coerentemente com os pressupostos teóri cos antes assinalados essa teoria não admi te o conflito inerente aos valores Embora alguns valores possam ser mais desejáveis do que outros em razão da natureza bene volente do ser humano todos os valores são em alguma medida desejáveis e positivos É possível que pessoas maduras satisfei tas e autorrealizadas desenvolvam um sis tema harmonioso de valores avaliando as subfunções com alguma importância Assim pessoas que priorizam subfunções especí ficas em detrimento de outras podem ser menos maduras não ter desenvolvido seus sistemas de valores completamente ou ter sido socializadas em um contexto no qual algumas de suas necessidades foram priva das e por isso priorizam alguns valores em relação a outros Essa teoria supõe que as correlações entre as seis subfunções de va lores são predominantemente positivas a correlação média pode ser mais alta e mais consistente entre pessoas mais maduras e autorrealizadas Neste ponto cabe esclarecer uma di ferença essencial entre essa teoria e a que propõe Schwartz Ele trata congruência e compatibilidade como sinônimos Schwartz 1992 embora existam vantagens conceitu ais e práticas de diferenciá las A compati bilidade demanda critérios externos corres pondendo aos padrões de correlação que se estabelecem entre os valores e determina das variáveis antecedentes e consequentes ao passo que a congruência indica a consis tência do sistema de valores ou subfunções isto é quão fortes são suas correlações entre si Então a compatibilidade refere se à vali dade discriminante ou à capacidade predi tiva das subfunções valorativas enquanto a congruência diz respeito à consistência in terna no sistema valorativo funcional Estes não são obviamente conceitos desconexos o grau de congruência pode facilitar a pre dição do padrão de correlações das subfun ções com variáveis externas O presente modelo permite o cálculo de padrões diferentes de congruência entre as subfunções de valores Para representar tais padrões pode se tomar como referên cia a figura de um hexágono que tem van tagens quando comparada com um círculo Especificamente tem seis lados que podem ser ordenados para representar graus dife INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 307 rentes de congruência A Figura 152 mostra como as funções e subfunções dos valores são organizadas como um hexágono permi tindo representar os três graus de congru ência 1 Congruência baixa as subfunções de valores que expressam diferentes orien tações e motivadores indicam esse grau de congruência Portanto os pares de subfunções realização interacional e normativa experimentação têm baixa congruência sendo colocados em lados opostos do hexágono Espera se que o par realização interacional demonstre baixa congruência porque a realização não é incompatível com a manutenção de relações interpessoais Ros e Gómez 1997 Por isso as subfunções realização e interacional são pensadas como princí pios relativamente independentes com baixa congruência mas sem expressarem incompatibilidade O par normativa experimentação representa uma tendên cia para enfocar orientações de segurança Apolônio ou prazer Dionísio respecti vamente Kluckhohn 1951 Elas são en tendidas como princípios independentes isto é as pessoas podem obter aventura e prazer em um ambiente convencional sendo o caso por exemplo daquelas que são mais velhas e que foram educadas em condições tradicionais mas que podem desfrutar os prazeres da vida Não se descarta com isso a possibilidade de que a ênfase em valores de experimentação pode envolver a quebra de regras sociais ocorrendo especialmente entre adolescen tes pois seus sistemas de valores ainda estão em formação 2 Congruência moderada os pares de subfun ções realização normativa e expe rimentação interacional expressam con gruência moderada pois representam o mesmo motivador mas com tipos dife rentes de orientação O par realização normativa enfatiza a busca de coisas e ideias concretas embora priorize unida des diferentes de sobrevivência o indiví duo ou o grupo social respectivamente Isso sugere que é possível alcançar metas pessoais mesmo seguindo princípios con vencionais Por exemplo embora coletivis tas verticais priorizem valores normativos eles também podem ser descritos como guiados por sucesso e trabalho árduo Gouveia et al 2002 2003 Por outro lado o par experimentação interacional enfatiza princípios menos materialistas Pessoas que se guiam por valores desse par não se prendem a bens materiais elas são menos orientadas para sobrevivência e dão mais importância aos afetos e pra zeres da vida enfatizando seus interesses Figura 152 congruência das subfunções dos valores básicos Interativa Suprapessoal Experimentação Idealista Social Materialista Central Pessoal Realização Existência Normativa INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 308 tOrres neiva cOLs pessoais ou priorizando suas relações in terpessoais Por exemplo é provável que indivíduos que endossem uma orientação horizontal coletivista enfatizem valores interacionais sem rejeitar aqueles de experimentação Gouveia et al 2002a 3 Congruência alta as subfunções de valores que compartilham o tipo de orientação mas expressam tipos diferen tes de motivador apresentam máxima congruência Por isso essas subfunções são colocadas em lados adjacentes do hexágono que correspondem aos pares realização experimentação e normativa interacional Indivíduos guiados pelo par realização experimentação priorizam suas metas e seus interesses acima de qualquer coisa ou pessoa sendo então caracteriza dos como individualistas Por outro lado indivíduos que enfatizam o par normativa interacional dão importância a metas e interesses coletivos correspondendo a pessoas coletivistas Triandis 1995 É importante destacar que duas subfunções de valores existência e supra pessoal não foram incluídas nessa tipologia de congruência Tal exclusão fundamentou se em duas razões Primeiro essas subfun ções correspondem ao tipo de orientação central sendo compatíveis com todas as outras subfunções Gouveia et al 2008 Assim espera se que ambas apresentem correlações positivas e fortes com todas as outras subfunções de valores Com base nes sa predição observou se que valores mate rialistas e pós materialistas podem coexistir harmoniosamente Segundo a distinção en tre os valores sociais e pessoais é considera da como teoricamente mais importante do que a distinção entre os valores materialis tas e idealistas pois é provável que a dicoto mia social pessoal seja a diferença essencial entre os valores terminais Gouveia et al 2003 Em resumo a teoria funcionalista dos valores além de considerar as hipóteses de conteúdo e estrutura tratadas no modelo de Schwartz 2005 contribui no plano concei tual para a diferenciação entre congruência e compatibilidade dos valores oferecendo um cálculo de graus de congruência Isso potencialmente favorece uma explicação mais consistente para o fato de alguns va lores ou determinadas subfunções apresen tarem padrões de correlação diferentes com alguns comportamentos crenças e atitudes Essa teoria também reúne as características essenciais de ser parcimoniosa partindo apenas de duas dimensões funcionais dos valores produzindo seis subfunções repre sentadas cada uma por três valores especí ficos e integradora contemplando dois dos principais modelos teóricos da literatura que acentuam os tipos de motivadores e os tipos de orientação considerações Finais Os estudos referentes aos valores humanos ganharam outro matiz a partir dos anos de 1970 diferenciando os de outros constru tos como atitudes interesses e traços de personalidade contando com uma medida específica a respeito Rokeach 1973 foi o responsável por situá los no lugar em que hoje se encontram gozando de espaço em publicações importantes da área Zavalloni 1980 Smith e Schwartz 1997 Contudo um verdadeiro impulso foi observado com os trabalhos de Schwartz que coordena uma equipe de pesquisadores espalhados em mais de 70 países talvez este seja o maior empreendimento científico levado a cabo na área da psicologia No Brasil seu representante foi Álvaro Tamayo que intro duziu esse modelo e reuniu evidências de sua adequação Schwartz e Tamayo 1993 Tamayo 1994 Apesar da grandiosidade da teoria uni versal dos tipos motivacionais de valores esta não é a única existente como ficou de monstrado previamente Além disso reúne limitações que parecem estar longe de se rem superadas Por exemplo seus 10 tipos motivacionais já foram 7 e 11 Schwartz 1992 Schwartz e Bilsky 1987 havendo evidências de que podem sofrer alterações INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 309 Schwartz e Boehnke 2004 Por certo não se identifica propriamente uma teoria dos valores mas um apanhado de referên cias e argumentos que visam a justificar os tipos motivacionais Molpeceres 1994 De onde procedem esses tipos motivacio nais Indicar que representam necessida des biológicas demandas sociais e institu cionais parece algo vago nenhuma teoria específica pode ser identificada a respeito Além disso o instrumento original é am plo reunindo 56 itens divididos entre ins trumentais e terminais versões recentes e mais abreviadas têm sido propostas como o Portraits Questionnaire que conta com 40 itens Pasquali e Alves 2004 É tam bém questionada a incompatibilidade dos valores Ora alguns valores podem até ser mais importantes do que outros em con textos concretos com referência a critérios externos específicos porém internamente confia se que os valores integrem um siste ma axiológico consistente Em razão de críticas dirigidas ao mo delo de Schwartz e do fato de que a tipo logia de Inglehart 1977 pode não repre sentar uma única dimensão mas sim duas materialismo e pós materialismo Gouveia e colaboradores elaboraram a teoria fun cionalista dos valores Ela não se opõe aos demais modelos mas integra os represen tando uma tentativa de ser mais parcimo niosa e fundamentada inclusive explicando dados obtidos com o SVS Gouveia et al 2007 Os estudos que a consideraram no Brasil tiveram em conta participantes de to dos os estados e do Distrito Federal estu dantes de diversas séries pessoas da popu lação geral profissionais de diferentes áreas advogados médicos músicos psicólogos e grupos minoritários índios prostitutas homossexuais aproximando se de 50 mil pessoas Existem versões do Questionário dos Valores Básicos para adultos QVB e crianças QVB I cada uma formada por 18 itens A versão para adultos foi traduzi da para três idiomas alemão espanhol e inglês reunindo dados de diversos países Alemanha Colômbia Espanha Inglaterra México Nova Zelândia Peru e Portugal A teoria funcionalista dos valores não veio para suplantar as demais É antes uma contribuição uma forma sistemática par cimoniosa e integradora de pensar acerca dos valores humanos sendo construída na direção do estabelecido a partir da teoria da ação Kluckhohn 1951 Parsons e Shils 1951 passando pela abordagem mais psi cológica Maslow 1954 Rokeach 1973 e encontrando respaldo em modelos mais recentes Inglehart 1977 1989 Schwartz 1992 2005 Pode ser encarada como um empreendimento heurístico permitindo tratar aspectos diversos que têm atraído a atenção de pesquisadores educadores e tra balhadores sociais como os que apresenta remos a seguir 1 Crise de valores é comum ouvir falar em novos valores valores contempo râneos e em essência crise de valores Possivelmente isso não é outra coisa se não mudança de prioridades valorativas Como se propõe na literatura Rokeach 1973 os valores não mudam são os mesmos há muitos anos espelhando as necessidades humanas O que realmente muda em razão de circunstâncias pessoais eou sociais p ex maior riqueza mais justiça social são as prioridades que os valores ou as subfunções valorativas as sumem para os indivíduos Também pode aparentar uma crise o fato de os valores priorizados pelos filhos não serem idên ticos àqueles de seus pais mas isso não é descabido Pais e filhos assumem papéis diferentes na sociedade via de regra atrelados respectivamente à disciplina e à garantia do sustento por um lado e à descoberta do mundo e à busca de novos laços sociais por outro Schneider 2001 2 Perfis ou sistemas valorativos comumente se fala que alguém não tem valor cor respondendo a pessoas que assumem papéis sociais de moral duvidosa p ex prostitutas assassinos Não obstante vale salientar que todas as pessoas têm valores sendo precisamente os mesmos quer sejam padres policiais políticos ou INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 310 tOrres neiva cOLs prostitutas O que vai diferenciá las em termos axiológicos é a importância que dão a cada valor específico ou às suas subfunções estabelecendo prioridades que definirão os múltiplos sistemas de valores Por exemplo considerando ape nas as seis subfunções podem ser identi ficados nada menos que 720 arranjos ou perfis valorativos Isso explica que mesmo existindo um único conjunto de valores a prioridade dada a uns em detrimento de outros pode fazer grande diferença em termos dos comportamentos apresenta dos pelas pessoas Não é possível esperar porém que todas as diferenças entre pessoas ou papéis sociais sejam explica das meramente em razão das prioridades valorativas 3 Valores de pessoas desviantes como se supõe nesse modelo que todos os valores são positivos alguém prontamente per guntará como então pode ser explicado o fato de algumas pessoas serem más criminosas Podemos estabelecer uma analogia com a tabela periódica Alguns de seus elementos químicos são por na tureza positivos tal como o carbono C e o oxigênio O que são essenciais para a vida Contudo a reação do carbono com o oxigênio pode ser letal por exemplo se a quantidade de oxigênio é insuficiente há formação de monóxido de carbono CO Algumas das consequências desse gás são náuseas tontura confusão men tal coma e até mesmo a morte De modo similar embora os valores sejam positivos a combinação deles sendo uns mais pre ponderantes do que outros poderá levar a perfis de pessoas desviantes Por exemplo as subfunções realização e normativa re presentam valores positivos No entanto alguém que dá muita importância aos valores de realização e nenhuma àqueles normativos pode alcançar suas metas por vias não convencionais tornando se um criminoso 4 Estabilidade da estrutura de valores os valores não evoluem a menos a curto e médio prazos no sentido de serem criados novos valores Eles são compar tilhados por um grupo de indivíduos que procuram socializar os mais jovens Nesse sentido conforme a criança cres ce vai incorporando ao seu repertório axiológico alguns valores Assim quando se observa a estrutura dos valores em crianças percebe se um aglomerado como se não fosse possível diferenciá los Lauer Leite 2009 É precisamente isso que ocorre não por estarem integrados mas por ainda não serem claramente distinguidos Porém conforme se tornam mais velhas por volta da adolescência seus valores já são mais dispersos e in clusive se apresentam como presumivel mente antagônicos pois os jovens ainda não conseguem integrar sua tendência à busca de sensações com as exigências da sociedade convencional Santos 2008 Passados alguns anos quando já adultos seus sistemas de valores tornam se mais integrados refletindo se na concentração ou na união dos valores Isso ocorre não por se apresentarem em formação mas por consolidarem seus princípios axiológi cos percebendo como congruentes ideais outrora vistos como incongruentes como a segurança e o prazer que são integrados em pessoas maduras eou autorrealizadas Maslow 1954 Os valores definem um campo fértil para pesquisadores interessados em pro cessos psicossociais Como Rokeach 1973 antecipava são um construto multifacético que guia as atitudes e o comportamento de diversas formas levando uma pessoa a adotar dada posição frente a uma questão social e predispondo a a favorecer uma ide ologia política ou religiosa Têm sido múlti plos os correlatos dos valores identificados na literatura Gouveia et al 2002a 2008 2009 tanto seus antecedentes p ex es tilos parentais idade sexo traços de perso nalidade quanto seus consequentes p ex altruísmo comportamentos antissociais identificação grupal uso de drogas Os valores não podem ser tidos como uma pa naceia mas têm um papel central em parte importante das explicações de determinadas INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 311 atitudes e comportamentos Coelho 2009 Santos 2008 Há ainda muito que pesquisar no âm bito dos valores embora Rokeach 1973 tenha dado atenção especial à mudança de valores pouco foi produzido depois de seus trabalhos É possível que os valores mudem não apenas em decorrência de intervenções experimentais mas também do próprio amadurecimento humano Por exemplo se é certo que os valores são representações cognitivas de necessidades espera se obser var uma relação não linear quadrática en tre a idade e a subfunção experimentação isto é as crianças poderão dar pouca impor tância a valores dessa subfunção que é mais preponderante entre jovens adolescentes e adultos Na maior idade contudo sua im portância volta a ser menor Isso supõe que os valores seguem mudando para além da infância quando se supõe que sejam sociali zados Resta comprovar essa conjetura Finalmente no caso da teoria funcio nalista dos valores as hipóteses de conteúdo e estrutura têm sido mais amplamente com provadas Gouveia et al 2008 faltando reunir mais evidências acerca da congruên cia e da compatibilidade dos valores Ainda sobre essa teoria embora se afirme a neces sidade de diferenciar os níveis de análise in dividual e cultural que derivam modelos te óricos diferentes dos valores SCHWARTZ 2006 estima se que as funções valorativas poderão ser identificadas independentemen te do nível de análise sendo desnecessária uma teoria cultural dos valores Isso porém terá de ser comprovado reFerências ALLEN MW NG SH WILSON M A functional approach to instrumental and terminal values and the valueattitudebehaviour system of consumer choice European Journal of Marketing v 36 p 111135 2002 BRAITHWAITE VA SCOTT WA Values In ROBINSON JP SHAVER PR WRIGHTSMAN LS orgs Measures of personality and social psychological attitudes Nova York Academic Press 1991 BRAITHWAITE VA MAKKAI T PITTELKOW Y Ingleharts 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individualismo e coletivismo elaboração e va lidação de construto Psicologia Teoria e Pesquisa v 18 p 203212 2002b GOUVEIA VV ANDRADE JM MILFONT TL QUEIROGA F SANTOS WS Dimensões norma tivas do individualismo e coletivismo é suficiente a dicotomia pessoal versus social Psicologia Refle xão e Crítica v 16 p 223234 2003 GOUVEIA VV MILFONT TL FISCHER R CO ELHO JAPM Teoria funcionalista dos valores humanos aplicações para organizações Revista de Administração Mackenzie v 10 p 3459 2009 GOUVEIA VV MILFONT TL FISCHER R SANTOS WS Teoria funcionalista dos valores In TEXEIRA MLM org Valores humanos e gestão novas perspectivas São Paulo Senac 2008 GOUVEIA VV MILFONT TL FISCHER R SCHULTZ PW A functional theory of human values Testing its adequacy in fourteen Ibe roamerican cultures Anais do XXXI Congresso Interamericano de Psicologia Cidade do México México 2007 GOUVEIA VV SANTOS WS MILFONT TL FISCHER R CLEMENTE M ESPINOSA P Teoría funcionalista de los valores humanos en España comprobación de 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sociais Nesse sentido questões de pesquisa para esse campo de atuação estariam as sociadas aos pensamentos sentimentos e comportamentos dos indivíduos em grupo Hoggs 2009 aborda questões relativas a como as pessoas em diferentes grupos e cate gorias relacionam se entre si e como pensam como os indivíduos percebem interpretam e representam o próprio comportamento e o comportamento dos outros como as intera ções produzem representações compartilha das do mundo físico e social que se ajustam ao comportamento e ao pensamento como as pessoas formam um senso de quem são a partir da interação entre elas O presente capítulo tem como obje tivo responder a essas questões a partir de uma revisão bibliográfica de cultura valo res e comunicação no contexto das relações intergrupais A comunicação entre grupos e entre indivíduos em determinado contexto é uma das principais contribuições da psi cologia social quando se trata do estudo da cultura Fink e Mayrhofer 2001 O ponto de partida será a cultura que de maneira geral entre os teóricos é definida como o modo de pensar sentir e agir em determi nado grupo de indivíduos Contudo apesar desse consenso entre os psicólogos observa se que há na literatura uma diversidade de conceitos às vezes confusos e redundantes sobre o fenômeno da cultura Desse modo os valores humanos en quanto variável permitem estudar a cultura e nesse caso possibilitam avaliar o caráter preditivo de uma cultura no comportamen to dos indivíduos Contudo ressaltamos que a cultura não é somente composta de valo res os valores seriam a camada mais pro funda e imperceptível de determinado gru po de indivíduos Hofstede 1980 Nesse sentido ressaltamos o papel da linguagem por ser uma construção social entre grupos constituindo se em um meio de transmitir as características culturais de geração para geração Triands 1985 Assim estudar a cultura e os valores humanos sob os aspectos da comunicação 16 cULtUra vaLOres HUmanOs e cOmUnicaçãO nas reLações interGrUPais onofre rodrigues de Miranda Helga cristina Hedler INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 315 representa o principal escopo deste capítu lo já que a comunicação sob esse enfoque compreende delimitar como ela se estrutura e os processos envolvidos nas relações inter grupais Além disso será analisado o caráter particular e universal desse fenômeno A comunicação influencia o compor tamento dos indivíduos de um dado gru po social na medida em que seus membros transmitem os padrões culturais por meio de diversas formas de comunicação e para que seja bem sucedida ela se apoia em diver sas variáveis Por exemplo alguns teóricos referem se a padrões culturais como compor tamentos verbais e não verbais assim como a construção da autoimagem também seria um fator determinante da comunicação pois envolve a maneira como uma pessoa pensa sobre si própria e sobre os demais integrantes do grupo do qual ela faz parte Essa forma de pensar pode ser tanto independente quanto interdependente em relação a esse grupo Por isso observa se a preocupação na eficácia da comunicação entre membros de um grupo pois há fatores que são determinantes para o sucesso da comunicação e do relacionamento com outros grupos tais como a polidez e o modo de encarar situações difíceis Nas últimas décadas pesquisas sobre comunicação intergrupal têm utilizado me didas com orientação predominantemente cultural Essa pressuposição corrobora todo um corpo teórico constituído com foco nas diferenças individuais e grupais bem como em suas implicações para as relações inter pessoais em diferentes contextos culturais Um caminho a seguir para pesquisa dores que pretendem desenvolver estudos nessa área seria estudar a comunicação e como ela ocorre em determinado grupo a partir de uma perspectiva cultural e por conseguinte para que se tenha uma pers pectiva mais completa sobre o processo de comunicação identificar quais são os fato res particulares e universais entre os dife rentes grupos culturais Iniciaremos nossa exposição sobre a cultura e os valores e em seguida abordaremos a comunicação nas relações intergrupais a cultura Podemos observar na literatura que diversas abordagens investigam o fenômeno cultura relacionando o ao comportamento de gru pos de indivíduos em determinado contexto social Uma forma de destacar a origem des se construto parte de definições propostas por teóricos da antropologia Assim em uma perspectiva antropológica a cultura poderia ser definida como um modo de pensar agir e sentir de determinado grupo de indivíduos Kluckhohn 1970 em relação ao ambien te do qual se faz parte Herskovits 1960 como a capacidade decorrente de hábitos adquiridos pelo indivíduo por fazer parte de uma sociedade Tylor 1970 como um conjunto de mecanismos de controle que conduz o comportamento humano Geertz 1973 Essas definições elaboradas por an tropólogos podem constituir uma definição ampla que envolve cada aspecto enfatizado pelo respectivo teórico Logo a cultura está relacionada aos fatores ambientais de deter minado grupo de indivíduos à capacidade desses indivíduos de adquirir hábitos por participarem de um grupo social e aos me canismos de controle que esses indivíduos exercem sobre os demais para conduzir a um comportamento social aceito por todos os membros do grupo Para Hofstede 1984 todo indivíduo traz consigo padrões de pensar sentir e agir que são aprendidos durante toda a sua vida Muitos desses padrões são adquiridos na in fância devido ao fato de que é nesse perío do que o indivíduo é bastante suscetível ao aprendizado e à assimilação Por analogia a cultura pode ser considerada um tipo de programa que dirige o comportamento tal como um software controla um computador Ou seja por meio da programação mental o indivíduo compartilha as experiências vi venciadas entre os outros componentes do mesmo grupo Outra perspectiva considerada socio lógica e desenvolvida por Hofstede 1991 refere se a padrões existentes que possam considerar um grupo semelhante ou diferen INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 316 tOrres neiva cOLs te de outro grupo cultural Nessa proposta Hofstede considera como particularidades os símbolos heróis rituais e valores que se riam aspectos mais relevantes na distinção entre diferentes grupos sociais Os símbolos são as palavras os gestos as figuras ou os objetos que carregam um significado específico para os indivíduos que fazem parte do grupo representando a camada mais superficial de cultura Por exemplo no Brasil é comum pessoas do sexo oposto beijarem se na face ao se cum primentarem em situações de reencontro Já na Índia é comum o beijo na face entre os homens pois esse é um gesto particular daquele país Os heróis são pessoas vivas ou mor tas reais ou imaginárias para determinado grupo cultural que servem como modelo para comportamentos Um exemplo desses heróis são os desenhos em quadrinho japo neses os Mangás que servem como he róis culturais e representam uma particula ridade do seu país Os rituais que abrangem as atividades coletivas de determinado grupo são aponta dos por Hofstede 1991 como tecnicamen te supérfluos porém essenciais Eles podem ser considerados também como uma forma de congratular e respeitar os membros do grupo a exemplo de cerimônias sociais co lação de grau dos indivíduos que concluem um curso em nível superior e cerimônias religiosas como o Natal que é uma data festiva considerada pelos cristãos como o nascimento de Jesus Cristo Por fim nessa perspectiva sociológica desenvolvida por Hofstede 1991 o núcleo de uma determinada cultura seria formado por valores que são considerados como as manifestações mais profundas de uma cul tura Trata se de manifestações que não são perceptíveis visualmente ou seja os valores seriam aqueles aspectos culturais que estão internalizados e são compartilhados pelos membros de um grupo cultural enquanto os símbolos os heróis e os rituais são con siderados como a parte observável de deter minada cultura isto é as práticas cultuadas pelos membros do grupo Para uma melhor compreensão dessa proposta Hofstede 1991 utiliza a analo gia de uma cebola que tem diferentes ca madas para destacar os níveis culturais que envolvem determinado grupo social As ca madas visíveis seriam os símbolos os heróis e os rituais que compõem os aspectos obser váveis de determinada cultura enquanto a camada mais profunda seriam os valores Figura 161 Os valores de determinada cultura têm recebido grande destaque por parte de diversos pesquisadores Hofstede 1980 Rokeach 1973 Schwartz 1992 Schwartz e Bilsky 1987 Schwartz e Tamayo 1993 Há que se destacar também que esse campo de pesquisa é foco de diversas abordagens teóricas e pesquisas empíricas para investi gar o comportamento humano Uma corren te teórica predominante dessa área advém das ciências comportamentais em especial da psicologia social Por um lado observa se que grande parte dos estudos realizados focaliza a importância das prioridades de valores das pessoas para entender e predi zer decisões atitudinais e comportamentais por outro lado outras abordagens contem porâneas lidam com valores dos indivíduos Figura 161 manifestações da cultura em diferentes níveis Fonte Adaptado de Hofstede 1991 p 6 valores rituais heróis símbolos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 317 que avaliam as entidades do seu ambiente a exemplo da abordagem proposta por Rohan 2000 A seguir serão descritas as princi pais abordagens sobre os valores os valores Rohan 2000 salienta que as principais te orias sobre valores focalizam as diferenças individuais na organização de algumas ca racterísticas humanas relevantes conforme apresentaremos a seguir a perspectiva de rokeach sobre a natureza dos valores humanos Um estudo precursor sobre a natureza de valores humanos e o sistema de valores foi realizado por Rokeach 1973 resultan do em diversos outros Schwartz e Bilsky 1987 Schwartz 1992 1994 Schwartz e Tamayo 1993 seguindo a mesma aborda gem Rokeach 1973 p 5 assim se expres sa sobre os valores uma crença suporte de um modo específico de conduta ou estado final de existência é pessoal ou socialmente pre ferível a um oposto ou controverso modo de conduta ou estado final de existência enquanto um sistema de valores é uma organização de crenças suporte quanto aos modos preferíveis de conduta ou esta dos finais de existência em um continuum de importância relativa Para esse autor cinco pressupostos guiam a natureza dos valores 1 o número total de valores de um indivíduo é relativamente pequeno 2 todos os indivíduos em qualquer lugar possuem o mesmo sistema de valores em diferentes graus 3 os valores são organizados em sistemas 4 os antecedentes de valores humanos podem ser traçados pela cultura pela sociedade e por suas instituições e pela personalidade 5 os valores humanos serão manifestados virtualmente em todos os fenômenos cabendo aos cientistas sociais considerá los válidos para investigação e compre ensão Nessa abordagem salienta se que os valores como todas as crenças possuem componentes cognitivos afetivos e com portamentais Sobre a definição de valores Rokeach 1973 afirma que três tipos de crenças têm sido previamente distinguidos 1 crenças descritivas ou existenciais aque las passíveis de serem verdadeiras ou falsas isto é passíveis de confirmação ou refutação 2 crenças avaliativas de acordo com as quais o objeto da crença é julgado como bom ou ruim 3 crenças prescritivas aquelas em que algum significado ou ação final é julgado desejável ou indesejável Rokeach propõe ainda uma classifica ção dos tipos de valores os terminais rela cionados a metas ou estados finais deseja dos como igualdade felicidade liberdade harmonia interior e vida confortável e os instrumentais relacionados a formas de comportamento para se atingir as metas ou estados finais de existência idealizada como ser honesto independente polido obedien te prestativo e responsável Rokeach desenvolveu um instrumento denominado escala de valores para estudos do tipo survey com um total de 36 tipos de valor 18 instrumentais e 18 terminais em que o respondente os classifica de acordo com a importância que ele atribui como princípios que guiam sua vida Dessa for ma busca se obter medidas confiáveis e vá lidas de variáveis que têm importância cen tral ao indivíduo e à sua sociedade A abordagem proposta por Rokeach 1973 influenciou uma série de estudos sobre a natureza dos valores humanos Em outra perspectiva sociológica Inglehart INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 318 tOrres neiva cOLs 1990 desenvolveu uma abordagem cujo foco incidiu sobre o estudo dos valores ma terialismo e pós materialismo que será des crita a seguir a perspectiva de inglehart sobre os va lores materialismo e pós materialismo A perspectiva de Inglehart 1990 de ca ráter sociológico propõe o estudo nesse campo com base nos valores materialismo e pós materialismo Esse autor desenvolveu ambos os conceitos para poder explicar de que forma os valores políticos surgem entre os indivíduos nas sociedades Os dois conceitos são considerados antagônicos O materialismo diz respeito a valores referentes às inseguranças do pas sado quanto à escassez econômica em que as necessidades de segurança e estabilidade levam os indivíduos a priorizar a ordem e a estabilidade em relação aos poderes econô mico e militar O pós materialismo abrange indivíduos que passaram por uma seguran ça maior e são motivados a satisfazer outras necessidades associadas com as relações so ciais como autoestima e atualização As dimensões materialistapós mate rialista tiveram um considerável impacto nos estudos sobre a cultura e as mudanças políticas porém conforme assinalam Ros e Gouveia 2001 as medidas propostas por Inglehart não resolvem problemas de es truturas definidas como polos em oposição Por outro lado conforme salientam Smith e Bond 1999 pesquisas em países indus trializados não confirmaram a proposta de Inglehart de que os valores da população não se alteram tal como previsto em sua proposta teórica Esses autores citam a va riável saúde que como uma medida de mo dernidade demonstrou relação apenas com uma das quatro dimensões propostas por Hofstede 1980 Outro estudo relevante apresentado a seguir teve por objetivo identificar os fatores da estrutura motivacional de um indivíduo a partir da Escala de Valores de Rokeach a perspectiva de schwartz sobre a estrutura de valores Schwartz e Bilsky 1987 desenvolveram uma teoria sobre a estrutura de valores en fatizando as necessidades básicas do indiví duo Sobrepondo se à abordagem proposta por esses autores a teoria especifica um conjunto de relações dinâmicas entre os ti pos motivacionais de valores Considerando o caráter motivacional dos tipos de valores humanos Schwartz 1992 p330 salienta que na psicolo gia social o conceito de valores é definido como princípios transituacionais organi zados hierarquicamente relativos a estados de existência ou modelos de comportamen tos desejáveis que orientam a vida do in divíduo e expressam interesses individuais coletivos ou mistos Essa definição diz res peito às metas que o indivíduo estabelece para si e que são coerentes com os estados de existência valores terminais ou com os padrões de comportamentos desejáveis valores instrumentais Para a psicologia conforme destaca Schwartz 1992 a motivação refere se a aspectos como preferências necessidades tendências e desejos dos indivíduos Os psi cólogos postulam que as fontes dos valores são exigências universais do ser humano portanto preexistentes nas pessoas e cons tituídas pelas a necessidades biológicas do organismo b necessidades sociais relativas às intera ções c necessidades socioinstitucionais referen tes à sobrevivência comum a todos e ao bem estar dos grupos A estrutura motivacional universal de valores é constituída segundo Schwartz 1992 pelos dez tipos motivacionais des tacados no Quadro 161 que pode ser com parada a uma matriz circular conforme a Figura 162 Para o autor todos os valores estariam inseridos nessa matriz assim como qualquer valor encontrado em um grupo so cial também poderia estar incluído em um INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 319 dos tipos motivacionais Cada valor deve apresentar alta correlação com os outros ti pos de valor do mesmo agrupamento Schwartz 1994 destaca que os va lores de interesse individual autodetermi nação estimulação hedonismo realização e poder social são opostos aos valores de interesse coletivo benevolência tradição e conformismo Os tipos motivacionais de segurança e de filantropia são considerados pertinentes tanto aos interesses coletivos quanto aos interesses individuais No que diz respeito ao relacionamen to desses tipos de valores motivacionais Schwartz 1992 propõe dois tipos básicos de relações compatibilidade e conflito A compatibilidade no relacionamento entre esses valores é descrita pela adjacência na matriz assim como o conflito no relacio namento estaria entre valores opostos A relação básica entre os valores e entre os tipos motivacionais por eles compostos se ria abreviada por duas dimensões bipolares abertura a mudanças e em oposição con servação A dimensão abertura à mudança ver sus conservação é baseada na motivação do indivíduo em seguir seus interesses intelec tuais e afetivos por caminhos improváveis em oposição à tendência em preservar o sta tus quo assim como a segurança que o in divíduo gera no seu relacionamento com os outros indivíduos do grupo e com os valores das instituições Por outro lado na dimensão autopromoção versus autotranscedência os valores são baseados na motivação do indi víduo para promover os interesses próprios às custas dos outros em oposição a transcen der as próprias preocupações egoístas e pro mover o bem estar dos outros e da natureza Nesse sentido estariam dispostos os valores relativos ao poder à autorrealização e ao hedonismo e em oposição os valores de fi lantropia e benevolência Schwartz 1992 Outra investigação que tem recebido destaque na literatura de valores foi pro quadro 161 tiPOs mOtivaciOnais De vaLOres tipos motivacionais exemplos Poder Status social e prestígio controle ou dominação sobre indivíduos ou fontesrecursos autorrealização sucesso pessoal por demonstrar competência aos padrões sociais Hedonismo Prazer e gratificação para si mesmo estimulação excitação novidade e desafios na vida autodeterminação Pensamento e ação independente escolher criar e explorar Universalismo entendimento apreciação tolerância e proteção para o bem estar de todos e da natureza Benevolência Preservação e crescimento do bem estar dos indivíduos com que se tem contato frequente e pessoal tradição respeito comprometimento e aceitação de costumes e ideias que culturas tradicionais ou religião fornecem conformismo restrição de ações inclinações e impulsos prováveis que podem magoar outros indivíduos ou violar as expectativas sociais e normas segurança segurança harmonia e estabilidade da sociedade dos relacionamentos e do self Fonte Schwartz e Bilsky 1987 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 320 tOrres neiva cOLs posta por Hofstede 1980 Em um estudo pioneiro ele mapeou várias culturas ba seadas em variáveis que podem estar di retamente relacionadas a processos sociais e organizacionais Smith e Bond 1999 salientam que esses dez tipos de valor pro postos por Schwartz 1992 são em maior número do que os valores propostos no es tudo de Hofstede 1980 e do grupo Conexão Cultural Chinesa 1987 descri tos a seguir Destacam ainda que os valores propostos por Schwartz representam mais um refi namento do que uma contradição do trabalho de Hofstede Nele a autode terminação a estimulação e o hedonismo estariam relacionados à dimensão individu alismo proposta por Hofstede enquanto os valores de segurança tradição e conformi dade seriam os componentes da dimensão coletivismo Hofstede a cultura como programação mental A concepção de cultura adotada por Hofstede 1980 é definida como um programa cole tivo da mente que distingue os membros de um grupo para outro Esse autor trata a cul tura como um programa mental de manei ra análoga a um programa de computador esse programa controla o comportamento social do indivíduo que é predeterminado sobretudo pelos programas mentais Esses níveis de cultura segundo Hofstede seriam uma distinção entre os níveis de análise in Figura 162 estrutura circular dos valores Fonte Adaptado de Schwartz 1994 Autopromoção Autotranscendência Abertura a mudança Conservação Filantropia Benevolência Conformismo Segurança Poder Autorrealização Hedonismo Estimulação Autodeterminação INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 321 dividual grupal ou universais adotados en tre vários teóricos da área Partindo desse entendimento de cul tura como programação mental Hofstede 1980 sugere que os níveis de cultura Figura 163 estão dispostos entre a o nível da natureza humana que está relacionado àquilo que os indivíduos têm em comum pois é herdado por meio universal b a personalidade do indivíduo que é caracterizada por um único conjunto de programas mentais e que não é compar tilhada por nenhum outro indivíduo do grupo c a cultura que revela como os grupos de indivíduos pensam sentem e agem As fontes de um programa mental re sidem no ambiente social onde o indivíduo cresce e absorve a experiência de outro Assim se inicia o processo de aquisição de experiência com a família e posteriormen te em outros grupos vizinhança escola trabalho comunidade nos quais o indiví duo vive Hofstede 1980 define os valores como uma tendência abrangente de se pre ferir certos estados de afazeres a outros p 18 Para ele os valores são mutuamente relacionados e formam uma espécie de hie rarquia ou sistema Contudo não estão ne cessariamente em perfeita harmonia haja visto que os indivíduos apresentam muitos valores conflitantes como liberdade e jus tiça Além disso seguindo a abordagem de programas mentais proposta por esse autor os valores têm intensidade isto é têm certa relevância para os indivíduos tal como dis tinguir valores entre bem e mal Hofstede ressalta que se faz necessário distinguir valores entre o que é desejado e desejável como sendo o que os indivíduos realmente desejam versus o que imaginam que deve ser desejado Por outro lado cabe destacar um outro aspecto quanto à distin ção proposta trata se da desejabilidade so cial fruto de estudos mal estruturados que direcionam a realidade social a posições opostas Hofstede pesquisa transcultural e dimensões de variação cultural entre países Uma das abordagens para se investigar cul tura é por meio das diferenças no modo de pensar sentir e agir de determinado grupo de indivíduos Para Hofstede 1980 o estu do de diferenças entre grupos e sociedades envolve questões de relativismo cultural Com o objetivo de identificar as pos síveis variações culturais entre esses pa íses durante o período de 1967 a 1973 Hofstede realizou uma desafiadora investi gação sobre valores junto aos funcionários da IBM em todo o mundo A aplicação dos questio nários abrangeu 40 países gerando um banco de dados com cerca de 116 mil respondentes Para cada um dos 40 países foi dado um escore em cada uma destas dimensões e foram calculadas as médias por itens que as definem O estudo realizado gerou uma for ma de classificar as diferenças encontradas entre os países investigados Como resulta do o autor identificou quatro dimensões que serão detalhadas a seguir 1 Distância de poder para Hofstede 1991 tal dimensão está diretamente relacionada Figura 163 níveis de programação mental Fonte Adaptado de Hofstede 1980 Natureza humana Cultura Personalidade Herdado Herdado e aprendido Aprendido Indivíduos Grupos ou categorias Universal INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 322 tOrres neiva cOLs às sociedades que lidam com a questão da desigualdade entre os indivíduos Também pode ser definida como o grau de aceitação por parte dos indivíduos que têm menos poder em relação àqueles que têm mais poder nas instituições ou orga nizações de que fazem parte A desigualdade é inerente à vida do ser humano uma vez que o indivíduo faz parte de um grupo social Hofstede assinala que nas sociedades são encon tradas pessoas mais fortes hábeis com maior riqueza ou mais inteligentes que são capazes de influenciar o comporta mento das outras As respostas que os membros de uma sociedade encontram para lidar com as desigualdades é o que as diferencia das outras sociedades Nas organizações que apresentam elevado nível nessa dimensão encontra se uma notável diferença entre os indivíduos que estão em posições hierárquicas superiores ou inferiores subordinados 2 Evitação de incertezas tal dimensão indica a tendência de certas sociedades a serem mais emotivas inquietas e agressi vas Nesse caso os indivíduos percebem o incerto como algo ameaçador e peri goso o que para eles deve ser evitado ou controlado por meio de normas com uma característica mais emotiva do que racional As organizações assim como as re la ções humanas são estruturadas no sen tido de tornar os acontecimentos inter pretáveis e previsíveis A percepção do imprevisível como uma ameaça é o que define a alta aversão a incertezas Por outro lado em sociedades com bai xos índices de evitação de incertezas os indivíduos são considerados pessoas tranquilas e controlados que percebem o que é diferente como algo curioso e rela cionado ao cotidiano No que diz respeito às normas elas são estabelecidas somente quando necessários sendo mais racionais do que emotivas 3 Masculinidade feminilidade tal dimensão diz respeito às diversas sociedades que enfatizam tanto a assertividade que está relacionada com o ganho financeiro e a aquisição material quanto a qualidade de vida dos indivíduos As sociedades que va lorizam a assertividade são consideradas mais masculinas enquanto as sociedades que tendem a consolidar a qualidade de vida e primam pela relação com os indi víduos do grupo são consideradas mais femininas A definição dos termos masculino e feminino possui sentido relativo isto é tanto homens quanto mulheres podem comportar se de forma feminina ou mas culina Uma característica presente em sociedades com alto grau de masculini dade e feminilidade indica que questões relacionadas ao gênero são claramente definidas A clara segmentação entre gênero no mercado de trabalho define sociedades masculinas 4 Individualismo coletivismo tal dimensão é definida pela identidade do indivíduo quanto às suas escolhas pessoais e re alizações Ela é considerada essencial para a análise de uma cultura desde que diversos estudos a exemplo de Smith e Bond 1999 e Triandis McCusker e Hui 1990 demonstraram a sua influência no comportamento dos membros de um grupo social Apesar do interesse pelas dimensões individualismo coletivismo e distância do poder Singelis e colabora dores 1995 sugeriram que os construtos de individualismo e coletivismo são muito vastos para uma mensuração precisa Por essa razão propuseram dois novos cons trutos as variações vertical e horizontal do individualismo coletivismo que teriam maior fidelidade do que os construtos de individualismo coletivismo e distância do poder Considerando a pontuação de 0 a 100 em relação às dimensões propostas no estu do realizado por Hofstede 1980 no que diz respeito à dimensão distância de poder o Brasil ficou em 14o lugar com 69 pontos Na dimensão evitação de incertezas obteve um escore de 76 pontos o que o levou à 22a posição Entre as dimensões individualismo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 323 coletivismo foi considerado um país predo minantemente coletivista ocupando a 26a posição com um escore de 38 pontos Por fim segundo os resultados obtidos a socie dade brasileira é considerada predominan temente feminina com escore de 49 pontos e classificada em 27o lugar Os aspectos positivos do estudo que merecem destaque referem se à seleção das amostras nos diferentes países à transcrição do questionário na língua local ao controle do viés de aquiescência da resposta à de finição correta do nível de análise país e ao fato de que os respondentes estavam cientes de que estavam contribuindo para uma comparação transcultural Os aspectos negativos a serem ressaltados é que os itens do questionário de pesquisa foram selecio nados para outros propósitos o que pode ter desconsiderado aspectos importantes sobre diferenças culturais Além disso os itens não passaram por uma análise profun da sobre a pertinência da tradução em rela ção ao significado pretendido Smith Bond e Kagitçibasi 2006 Como o questionário foi desenvolvido com base em valores pre sentes nas sociedades ocidentais um grupo de pesquisadores investigou a validade de suas propriedades por meio da aplicação do instrumento em uma cultura oriental confucionismo O grupo de pesquisadores denominado Conexão Cultural Chinesa 1987 investi gou se as dimensões propostas no instru mento de pesquisa utilizado por Hofestede 1980 eram suficientemente robustas a ponto de detectar valores presentes em um país com tradições culturais diferentes das ocidentais O estudo foi realizado em Hong Kong a partir da solicitação feita a professores chi neses para que listassem valores fundamen tais para a sociedade chinesa As respostas obtidas foram utilizadas na construção de um instrumento que foi aplicado junto a es tudantes de 23 nacionalidades os quais fo ram selecionados com o objetivo de formar uma amostra homogênea quanto à composi ção étnica Ao todo foram coletados dados com 100 homens e mulheres representantes dos 23 grupos étnicos seguindo os mesmos procedimentos de Hofstede para o trata mento dos dados Os escores foram comparados com os do estudo anterior Apesar de ambos terem utilizado medidas diferentes quanto à origem cultural realizados em épocas dis tintas e com amostras diferentes os resul tados obtidos conforme sublinham Smith e Bond 1999 dão suporte para as dimen sões de distância de poder individualismo coletivismo e masculinidade feminilidade na variação de valores consideradas rela tivamente robustas A exceção foi evita ção de incertezas surgindo em seu lugar a dimensão denominada dinamismo no tra balho confuciano que incluiu valores tradi cionais chineses Smith Bond e Kagitçibasi 2006 Hofstede 2001 concluiu que tal dimensão deveria ser acrescentada às ou tras quatro e a renomeou como orientação a longo prazo Todas essas dimensões constituem um avanço na distinção de possíveis variações culturais entre países De acordo com Fink e Mayrhofer 2001 a comunicação entre os grupos e os indivíduos em determinado contexto é uma das principais contribuições da psicologia social quando se trata do es tudo da cultura A seguir apresentaremos uma revisão sobre a comunicação à luz da cultura nos sistemas sociais a coMunicação à luz da cultura inFluência nos sisteMas sociais A origem etimológica da palavra comuni cação significa tornar comum através da linguagem oral da escrita ou dos símbolos A linguagem utiliza se do signo significa do e significante O signo é qualquer coisa que faça referência a outra coisa ou ideia Significado representa o uso social como é compreendido o conceito a ele associado enquanto o significante é a sua manifesta INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 324 tOrres neiva cOLs ção concreta um desenho uma palavra um gesto um som Segundo a complexidade que podem assumir os significados da lin guagem humana temos comumente aque les classificados como gramatical contex tual denotativo e conotativo O significado gramatical depende da relação com outros signos no discurso Já o contextual depende do significado em cada situaçãocultura O referencial é mais simples ou direto sendo encontrado nos dicionários O denotativo indica diretamente um objeto referente às suas qualidades e por fim o conotativo refere se à ampliação ao enriquecimento do significado referencial dos signos por meio da imaginação com jogos de palavras Pimenta 2002 A comunicação faz parte da constitui ção e do desenvolvimento humano abran gendo desde o nascimento como um apa rato fisiológico até o desenvolvimento do domínio da linguagem por meio da qual desenvolvemos nosso raciocínio influencia mos e somos influenciados Berlo 1991 Nessa concepção o objetivo básico da comu nicação é alterar as relações originais entre nós mesmos e o ambiente à nossa volta ou com o receptor Assim a comunicação leva à mudança comportamental e também está relacionada à aprendizagem Para haver comunicação é necessário que pelo menos duas pessoas entrem em interação ou seja deve haver pelo menos um emissor e um receptor Então o emissor envia a mensagem e o receptor decodifica a mensagem O modelo unidirecional de comunicação sempre mostra a comunica ção fluindo de um emissor para um recep tor Entretanto a estrutura da comunicação comporta muito mais variáveis e direções na transmissão na decodificação no processa mento e no feedback das mensagens produ zindo significado para as pessoas envolvidas no processo Robbins 1994 As pesquisas sobre comunicação po dem ser classificadas em estudos de codifi cação e de decodificação Nelas se enqua dram as comunicações verbais e não verbais Nesses estudos pode se avaliar o significa do dos códigos abertos quando há mais de uma decodificação e fechados quando há apenas uma decodificação Quando se relaciona a comunicação com a aprendizagem o objetivo da comu nicação é produzir modificação no compor tamento do receptor pois o comunicador pretende que os receptores respondam de formas diferentes a velhos estímulos ou res pondam por velhas formas a estímulos dife rentes Ou ainda que os receptores mudem suas respostas ao estímulo existente ou que transfiram as suas respostas a um estímulo modificado A comunicação pode ser compreen dida como o processo pelo qual os pensa mentos são transmitidos e o significado é compartilhado entre as pessoas Kimble C et al 2002 A comunicação pode ser conce bida também como um processo conforme o modelo de Berlo 1991 e envolve seis componentes básicos 1 fonte pessoa processo ou equipamento que fornece as mensagens 2 transmissor processo ou equipamento que codifica a mensagem e a transmite ao canal 3 canal equipamento ou espaço intermedi ário entre transmissor o receptor 4 receptor processo ou equipamento que recebe e decodifica a mensagem 5 destino pessoa processo ou equipamento a que se destina a mensagem 6 ruído perturbações indesejáveis que ten dem a alterar de maneira imprevisível a mensagem No processo de comunicação que en volve os seis elementos mencionados ocorre a retroação ou retroalimentação formando um sistema de mão dupla Esse modelo re sulta no compartilhamento de significados de uma pessoa para outra Os elementos do processo de comunicação formam um siste ma de partes inter relacionados e de influ ência recíproca no qual o grau em que as pessoas emissorfonte e receptor desen volvem habilidades atitudes e conhecimen tos em determinado sistema sociocultural influencia o desempenho tanto do emissor INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 325 quanto do receptor A comunicacão com a transferência e a compreensão do seu signi ficado possibilita a existência das relações interpessoais A comunicação é um elemento chave da cultura pois através dela disseminam se e tornam se visíveis as práticas e as trocas culturais A transmissão da cultura depende do processo de comunicação já que é por meio dos diferentes canais inerentes a esse processo que os significados culturais são compartilhados Smith e Bond 1999 Para Berlo 1991 os sistemas sociais são a matriz da comunicação Esse conceito de sistema social pauta se na premissa de que o homem é interdependente em relação aos outros na realização de seus objetivos e essa interdependência dos objetivos indi viduais dá origem à organização dos com portamentos humanos em um sistema mul tipessoal Os sistemas sociais decorrem da necessidade que o homem tem de relacionar seu comportamento ao comportamento de outros a fim de realizar seus objetivos A compreensão da comunicação em um sistema social parte das seguintes pre missas o homem deseja influenciar o próprio meio o próprio desenvolvimento e o comportamento dos outros o homem precisa comunicar se com os outros para influenciá los através de meios que se ajustem aos seus propósi tos o homem ao se comunicar faz previsões sobre como as outras pessoas se compor tarão o homem desenvolve expectativas a res peito dos outros e de si mesmo A adoção de um papel em um sistema social possibilita a previsão de determinado comportamento Tal previsão torna se pos sível à medida que tenhamos experiência prévia com outras pessoas pois assim te remos base para fazer previsões a respeito de como elas desempenharão os seus pa péis Portanto a comunicação estrutura as relações sociais e o sistema social Assim definem se papéis e estabelecem se normas de comportamento Essa estruturação prevê a similaridade do comportamento entre as pessoas para que haja o desenvolvimento da relação social Logo os sistemas sociais são produzidos por meio da comunicação o que define as limitações e o alcance da comuni cação As normas grupais definem o que é permitido e o que é proibido nesse sistema Por sua vez o sistema social influencia a comunicação de seus membros ao passo que as normas estabelecem a uniformidade dos comportamentos produzindo identifi cação entre as pessoas e previsibilidade den tro do sistema Temos assim a influência mútua entre o sistema social e o sistema de comunicação O conhecimento do sistema social permite nos predizer aquilo em que as pessoas acreditam o que elas conhecem e como elas se comportarão diante de deter minadas situações Por isso se desejarmos algo de um sistema teremos de saber como ele funciona como as pessoas são influen ciadas por ele como elas interagem entre si como se comunicam e quais os níveis de afinidades Saberemos portanto como nos comunicar nesse sistema Como é criada a estrutura do sistema social Os comportamentos papéis recebem posições no sistema São criadas relações es pecíficas entre os papéis e os papéis são clas sificados Como decorrência dessa classifica ção alguns papéis ganham mais autoridade do que outros e alguns são percebidos como mais valiosos do que outros A teoria dos sistemas sociais de Berlo 1991 determina que em um sistema so cial as pessoas são destinadas a certos pa péis O indivíduo desempenha um conjunto específico de comportamentos e ocupa uma posição específica Em qualquer papel há os comportamentos que devem ser executados e os comportamentos que não devem ser executados Os papéis e as normas determinam o que não se pode o que se deve e o que se pode Nas duas primeiras posições os papéis e as normas são independentes do indivíduo e fixados pelo sistema Na terceira posição são determinados a critério do indivíduo INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 326 tOrres neiva cOLs não são fixados pelo sistema e não são de terminados pelo papel Então as crenças e os valores que fazem parte do sistema cul tural atuam como influência comunicadora Aqui as situações sociais em que a comuni cação ocorre podem ser escritas ilustradas faladas gestuais etc Pimenta 2002 Nas revisões de pesquisas sobre co municação Kimble e colaboradores 2002 demonstram a importância da comunicação na vida humana pois a comunicação em qualquer uma de suas formas favorece a sensação de estar vivo e de se sentir bem visto que as pessoas conseguem comunicar seus sentimentos suas necessidades e seus desejos o que produz uma influência bené fica sobre sua saúde mental A comunicação de pessoa para pessoa ou a comunicação em um grupo favorece a expressão emocional dos diversos sentimen tos humanos sejam eles de frustração ou de satisfação E esse é apenas um dos níveis de comunicação entre os seres humanos Conforme Fink e Mayrhofer 2001 a co municação envolve três diferentes níveis 1 o nível fisiológico dos sentidos e dos afe tos que se expressam em ações como rir ou chorar 2 o nível motor que abrange expressões corporais faciais mímicas e gestos 3 o nível vocal que envolve linguagem melodia e entonação Além disso várias formas de comu nicação são inerentes ao nível biofísico embora várias delas sejam adquiridas por aculturação Essas formas de comunicação dependem da cultura da sociedade e dos grupos podendo ser modificados por tais instâncias no decorrer de sua duração e de seu uso Além da importância da comunicação para o indivíduo e seu bem estar seu uso e sua adequação aos diferentes ambientes sociais e culturais em que o indivíduo se in sere podem determinar o êxito de suas rela ções interpessoais e transculturais Os con flitos interpessoais decorrem em geral de comunicações ineficientes quando existem falhas bloqueios ou desvios no processo ou na transmissão e decodificação dos interes ses de uma ou ambas as partes envolvidas no processo Robbins 1994 Tanto a comunicação verbal quanto a não verbal apresentam vários canais lingua gem vocalização comportamento espacial tato comportamento visual expressões fa ciais movimentos e posturas corporais Por meio desses canais a comunicação cumpre várias funções tais como comunicar poder exercer atração status ou influência comu nicar outras emoções obter informações regular o fluxo de comunicação Kleinke 1985 apud Kimble et al 2002 Através dos canais da comunicação são veiculadas men sagens que possuem quatro componentes simples informação autoapresentação de um emissor apelo ao receptor e informação entre emissor e receptor Indissociáveis da estrutura da comuni cação dos seus canais e dos tipos de mensa gens estão os problemas enfrentados para produzir uma comunicação clara e eficaz Por exemplo distúrbios ou ruídos surgem quando o emissor ou receptor atribuem di ferentes ênfases a um dos diferentes níveis da mensagem fisiológico motor ou vocal pois a comunicação estimula reações es pecíficas de pensamento e sentimento nas pessoas Consequentemente os problemas surgem quando diferentes culturas estabele cem diferentes regras para o emissor e para o receptor da mensagem Fink e Mayrhofer 2001 As conversações são estruturadas pelos papéis dos falantes e dos ouvintes havendo vários sinais comportamentais que os partici pantes empregam para assumir esses papéis ou abandoná los Berlo 1991 considera os como integrantes do sistema social que pro duz a comunicação Então o sistema social é uma coleção de comportamentos papéis que assumem posições interdependentes e cada conjunto de comportamentos tem rela ção com outros conjuntos Logo cada posi ção tem relação com outra posição ou seja é interdependente das demais Vários pesquisadores analisaram o comportamento que consiste em tomar a INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 327 palavra nas conversações Uma constatação é a de que os ouvintes observam mais que os falantes e vice versa Os falantes também observam menos seus ouvintes olhando os diretamente nos olhos ou no rosto porque ao manter o contato visual a informação visual recebida interfere nos pensamentos de quem fala Ao se reconhecer visualmente os ouvintes é mais fácil que estes tomem a palavra Quando um falante termina de ex pressar uma ideia quase sempre dirige os olhos aos ouvintes eleva ou diminui a força de suas palavras terminando ou relaxando as gesticulações manuais utilizadas expres sando com mais suavidade as últimas pala vras Nesse momento o ouvinte sabe que poderá tomar a palavra a comunicação verbal A forma de pensar sentir e agir dos indiví duos é influenciada conforme aponta Hoggs 2009 pelos outros indivíduos no grupo do qual fazem parte Como exemplo desse pro cesso de interação entre os indivíduos está a comunicação verbal As pesquisas em comunicação concen tram se em áreas já consolidadas que agre gam a produção de pesquisadores de cur sos de pós graduação em comunicação no Brasil No entanto surgem novas temáticas através das atividades de jovens pesquisa dores e pesquisadores seniores não vincula dos aos núcleos de pesquisa tradicionais Ao lado dessas áreas já consolidadas jornalis mo publicidade propaganda e marketing surgem novas temáticas Segundo Dencker 2008 p 20 há predominância de estudos que mencionam a internet e suas relações com 71 de frequência além de trabalhos sobre os conteúdos veiculados pelos meios de comunicação estudos de mídia teoria cultura e identidade jornalismo e ensino de comunicação Uma das principais dificuldades nas pesquisas sobre comunicação são os diferen tes valores atribuídos à comunicação verbal e as preferências pela comunicação indireta Kimble e colaboradores 2002 oferecem exemplos de estudo comparando america nos e japoneses em relação ao silêncio Na perspectiva dos japoneses o silêncio signifi ca sempre aceitação total e sinceridade en quanto na compreensão dos americanos o silêncio verbal significa incapacidade men tal e confusão É impressionante o poder da comuni cação oral as palavras exercem forte impac to sobre as pessoas Entretanto não existem palavras mágicas em muitos casos elas têm seu poder ampliado quando estão em jogo a reputação o cargo ou o prestígio do falante e quando são expressas ideias que a audi ência queria escutar Kimble et al 2002 Tanto as palavras quanto as expressões sim ples são provavelmente as que produzem maior impacto Vejamos o exemplo do dis curso do Presidente Lula eu hei de realizar um sonho que não é meu mas um sonho que é de todos vocês que haverá um dia que nesse país nenhu ma criança irá dormir sem um prato de comida e nenhuma criança acordará sem um café da manhã Silva 2003 Essas palavras foram ditas com vee mência com estilo entusiasta e dinâmico razão pela qual geraram interesse e emoção no público produzindo assim forte impacto Tal discurso referiu se aos grandes ideais e ao lado nobre das pessoas tendo portanto alta aceitação por parte do público a comunicação não verbal As pesquisas em comunicação não verbal no contexto da cultura abordam os mais diferentes aspectos como por exemplo quanto tempo pode se chegar atrasado sem demonstrar desrespeito qual a distância que uma pessoa deve manter da outra para comunicar que a conhece mas não é sua amiga os movimentos corporais a ento nação e a distância física entre as pessoas Todos esses elementos estudados transmi tem diferentes significados de acordo com os contextos culturais como demonstram INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 328 tOrres neiva cOLs os estudos Hofstede 1980 Smith e Bond 1999 Esses exemplos servem para demons trar que não há significados universais para os comportamentos paralinguísticos Nesse sentido é importante conhecer os seus sig nificados em cada cultura para entender as mensagens que os falantes pretendem transmitir As características verbais paralin guísticas são aspectos da fala que acompa nham o conteúdo e guardam conexão com o comportamento verbal portanto somam se à comunicação verbal e abrangem o tom o timbre a intensidade a rapidez a assertivi dade da expressão oral O tom agudo por exemplo tem sido associado ao nervosismo à intenção de enganar o que indica que há barreiras na comunicação causadas por dife rença de tons Robbins 1994 Nem todos os comportamentos têm a intenção de comunicar e isso configura a comunicação não intencional Algumas ve zes o emissor comporta se de determinada maneira quando transmite uma mensagem e o receptor verá esses atos não verbais ou paralinguísticos como parte da comunica ção total que deve decodificar embora o emissor não tivesse tido essa intenção Em uma mensagem podem ser percebidas mais coisas que apenas as palavras Somando se as características para linguísticas às situações sociais temos um pano de fundo que permeia a comunicação entre as culturas facilitando ou dificultando o compartilhamento dos significados e das interações a comunicação e as relações interpessoais A comunicação é importante para desen volver e sustentar as relações Realizou se uma série de estudos sobre a comunicação no casamento para avaliar seu ajuste Os re sultados indicaram que as esposas são me lhores comunicadoras verbais do que seus maridos sobretudo na expressão de men sagens positivas Sem dúvida os maridos nos casamentos bem ajustados enviavam e compreendiam melhor essas mensagens do que nos casamentos mal ajustados Kimble et al 2002 De modo geral parece que essas habi lidades dos maridos influenciam mais o ajus te conjugal porque as esposas comunicam se bem em ambos os tipos de matrimônio Os casamentos bem ajustados empregam mais mensagens positivas e menos mensagens neutras ou negativas do que os casamentos mal ajustados O casamento tenderá a ser estável se a comunicação positiva for cinco vezes mais frequente que a negativa Isso significa que os cônjuges precisam criar con dições agradáveis em sua vida interpessoal Kimble et al 2002 Os achados de diversas pesquisas refe rentes à forma da comunicação verbal suge rem que há um número possível de relações entre fala significado intenção e sentimen tos Sob determinadas culturas a prática da comunicação sugere que o princípio básico do domínio da comunicação interpessoal é a competência para a comunicação que por sua vez depende dos significados e das prá ticas associados ao uso social da língua a comunicação e as relações de intimidade A comunicação envolve a transmissão de uma mensagem a outra pessoa que traduz a mensagem do emissor atribuindo lhe sig nificado A mensagem pode ser enviada de modo consciente e intencional ou de modo não intencional como nos exemplos dos ele mentos paralinguísticos da comunicação cita dos anteriormente Além disso a mensagem pode incluir informação sobre conteúdos in tencional e paralinguístico e a relação entre ambos os comunicados em determinado con texto cultural Smith e Bond 1999 O ser humano realiza alguns padrões confusos de comunicação Certos compor tamentos possuem vários significados que geralmente estão associados à cultura ou ao contexto social dos falantes Raramente INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 329 o significado é apenas explícito sobre o que se deseja transmitir Por exemplo podemos chamar outra pessoa pelo primeiro nome se nos sentimos familiarizados ou próximos a ela Também podemos utilizar o sobrenome se julgamos que a outra pessoa possui um status mais elevado Em algumas situações é decisivo o estilo de comunicação usado para transmitir intimidade ou domínio Utilizar o nome completo da pessoa ou parte dele também pode ter a intenção de demonstrar familiaridade Kimble et al 2002 As evidências das pesquisas sobre o toque entre as pessoas nos processos de interação e comunicação ainda não são definitivas mas o contato físico é outro comportamento verbal que revela ambigui dade e pode variar a interpretação de seu significado entre as culturas Por exemplo nos Estados Unidos os estudos de Henley 1977 indicam que tocar as pessoas pode demonstrar familiaridade afeto ou ternura que temos por elas ou que ocupamos uma posição superior à daquele que tocamos É comum nesse país que pessoas mais velhas que gozam de maior status toquem mais intencionalmente as pessoas mais jovens do que o inverso Henley também descobriu que os homens tocam mais as mulheres de maneira intencional e em público do que o inverso Entretanto Stier e Hall 1984 revisaram 40 trabalhos de pesquisa e de monstraram que não havia a tendência de os homens tocarem mais as mulheres do que o inverso Também comprovaram que existe uma pequena tendência de as mulheres ini ciarem mais o contato físico do que os ho mens nos pares heterossexuais Na maior parte dos estudos observa cionais é impossível determinar se o contato físico deveu se ao desejo de mostrar afeto ou poder Por exemplo no estudo de Nguyen Heslin e Nguyen 1975 apud Kimble et al 2002 foi realizado um experimento em ambiente hospitalar Os pesquisadores orientaram que as enfermeiras tocassem no braço de metade dos seus pacientes durante um minuto até que terminassem de ler as instruções pré operatórias Ao se despedir as enfermeiras deveriam estender a mão para ver se seriam tocadas pelos pacientes Na pesquisa foi incluída uma medida de de pendência a medida de ansiedade antes da cirurgia a medida de atração pela enfermei ra e a medida da pressão arterial na sala de recuperação Os homens respondiam de forma ne gativa quando eram tocados pelas enfer meiras enquanto as mulheres o faziam de forma positiva As que haviam sido tocadas tocavam mais as mãos das enfermeiras pensavam que o contato denotava maior interesse mostravam menos ansiedade pós operatória e em geral tinham a pres são arterial mais baixa após a operação do que os homens e as mulheres não tocadas Os homens que haviam sido tocados emi tiam quase sempre reações contrárias Para Whitcher e Fisher 1979 apud Kimble et al 2002 os diversos padrões de resposta têm dois significados as mulheres considera vam o contato como algo positivo e como um gesto de carinho enquanto os homens percebiam no como um sinal de poder que a enfermeira tinha sobre eles Parece que o contato físico é bastante ambíguo conforme a perspectiva do observador ou da experiên cia do receptor a comunicação e a interação trans cul tural A comunicação envolve uma série de habi lidades instrumentais Quanto mais seme lhante no uso das habilidades for o parceiro da comunicação mais será percebido como atrativo e pertencente ao próprio grupo ét nico do falante ingroup Smith e Bond 1999 Além disso as palavras possuem sig nificados diferentes para pessoas diferentes assim como as palavras que não se tradu zem entre as culturas Para haver comunicação bem sucedida é necessário que o conteúdo e o processo em que se realiza a comunicação sejam coorde nados Não se pode coordenar o conteúdo da comunicação sem considerar uma varie dade de aspectos como o conhecimento mú INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 330 tOrres neiva cOLs tuo as crenças e os pressupostos comuns os quais só se tornam possíveis mediante o conhecimento da cultura A comunicação intercultural exige um alto nível de interação e envolvimento pressupondo um compromisso de troca que ocorre através dos aspectos sensíveis apre sentados na conversação integrando todos os comportamentos e configurando se como uma relação de troca A comunicação pre cisa ocorre quando ambos os parceiros do processo de comunicação concordam sobre o significado de várias trocas de comunica ção No caso da interação transcultural a comunicação efetiva significa que o resulta do do processo satisfez as necessidades das partes envolvidas Diversos fatores devem ser considera dos ao se analisar as interações entre as pes soas de diferentes culturas como a emoção e a perspectiva temporal Adler e Towne 2002 A interação transcultural por meio da comunicação está sujeita a uma série de distorções sejam elas causadas pela se mântica das palavras ou por outros fatores como por exemplo o tipo da comunicação interpessoal que varia em diferentes estilos como do assertivo ao passivo Limongi França 2007 O modo como uma pessoa partilha ou retém sentimentos pode afetar conside ravelmente a qualidade e a intensidade de seus relacionamentos Algumas pessoas têm dificuldade para se expressar e sobretudo para verbalizar suas emoções embora se sintam à vontade para fazer declarações ou manifestar opiniões Porém quase nunca revelam completamente o que de fato es tão sentindo Smith e Bond 1999 Certas características culturais podem influenciar a expressão emocional como a posição de uma cultura na dimensão individualismo coletivismo Por exemplo os cidadãos de culturas coletivistas como Japão e Índia valorizam a harmonia da comunidade e de sencorajam expressões que possam produzir desordem nos relacionamentos intergrupais enquanto os cidadãos de culturas individu alistas como Estados Unidos e Canadá ex pressam mais abertamente seus sentimentos a pessoas com quem tenham maior intimi dade Hofstede 1991 Outro fator que pode facilitar ou dificultar a expressão dos sentimentos são as práticas de uma socie dade que pode encorajar ou desencorarjar a expressão dos sentimentos e das emoções Adler e Towne 2002 a comunicação e a percepção do tempo O tempo pode ser considerado como mono crônico e policrônico Tempo monocrônico é aquele concebido como um contínuo linear infinitamente divisível no qual somente se pode realizar uma ação de cada vez Já o tempo policrônico é definido pelo que é exe cutado no qual muitas ações podem ser rea lizadas simultaneamente Essa perspectiva é mais efetiva para construir relacionamentos e resolver problemas complexos cuja infor mação é amplamente disseminada e intera tiva A perspectiva que uma cultura adota em relação ao tempo difere não apenas em função da ocupação da pessoa por exem plo na sociedade ou em uma empresa mas também no posto que ocupa quanto mais alto o posto maior a autonomia operacional em relação ao tempo a comunicação e o espaço físico O antropólogo Hall 1966 discutiu a ques tão relativa a como as pessoas administram o seu espaço de invasão ou seja o quão longe permanecer dos outros que estão em uma conversação pessoal sem interromper a outra pessoa As culturas dispõem de re gras sobre como definir o espaço íntimo das pessoas em casa e trabalho p ex di visórias paredes barreiras de som e outros artifícios físicos assim como o espaço ou a distância física que uma pessoa mantém em relação a outra p ex o contato visual a posição do corpo e outros artifícios para sinalizar respeito pela privacidade alheia Portanto o que é considerado espaço apro priado depende em grande parte de normas culturais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 331 a comunicação e o contexto cultural Os estudos que utilizam o contexto como um quadro explicativo para a variação transcul tural aceitam o continuum de baixo contexto alto contexto de Hall 1959 1966 sendo pouco analisadas criticamente as exceções que não se encaixam no modelo Apesar das constatações de Cardon 2008 a respeito da falta de evidências e sustentação empírica do modelo de Hall as sim como da necessidade de cautela para o uso da teoria do contexto para interpretar a comunicação intercultural apresentamos neste tópico a caracterização do modelo de Hall e deixamos a tarefa de uma investigação mais profunda ao leitorpesquisador que se debruçam sobre a temática Cardon não des carta a validade da teoria de Hall mas des taca a necessidade de validação empírica da mesma Com finalidade didática optamos por apresentar os principais conceitos da teoria de alto e baixo contexto de Hall que inspirou os estudos subsequentes e incluí mos comparações com achados de estudos de Hosftede e suas dimensões culturais Para Hall 1966 as culturas diferem entre si num continuum entre alto contexto e baixo contexto explícito e implícito tendo todas as culturas alguns aspectos de ambos A comunicação de alto contexto em dada cultura seria aquela em que a maior parte das informações está situada no âmbito físi co ou internalizada para a pessoa com quem nos comunicamos sendo pouco codificadas ou explicitadas na mensagem Os fatores ex ternos e as entradas sensoriais não são tão importantes para a mensagem total pois as quadro 162 caracteriZaçãO Da cOmUnicaçãO em reLaçãO aO aLtO e BaiXO cOnteXtO alto contexto baixo contexto comunicação implícita comunicação explícita menor ênfase na comunicação escrita maior Ênfase no sentido exato da palavra escrita ênfase na comunicação verbal maior importância do contexto pessoas menor importância do contexto linguagem não verbal situação compreensão interiorizada da mensagem comunicação externa acessível a todos transferível necessidade de compreensão das mensagens mensagens claras com pouco a compreender verbais e não verbais sobre mensagens não verbais conhecimentos situacionais e não verbais as relações face a face são importantes com as decisões e tarefas centram se no que é ênfase nas pessoas com autoridade necessário fazer as responsabilidades são divididas as necessidades das pessoas podem as tarefas são agendadas uma de cada vez influenciar a agenda e mais de uma tarefa é desempenhada ao mesmo tempo Japão china coreia américa Latina França estados Unidos Grã Bretanha alemanha Oriente médio áfrica do sul negra escandinávia suiça austrália nova Zelândia áfrica do sul branca Fonte Adaptado de Cardon 2008 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 332 tOrres neiva cOLs palavras fornecem a mensagem São exem plos de cultura de alto contexto Japão Itália e México Já a comunicação na cultura de baixo contexto seria aquela em que a maior par te da informação é investida na mensagem focando se a ideia central palavras frases e em alguns casos gestos A mensagem é portanto explícita São exemplos de cultu ra de baixo contexto Estados Unidos Grã Bretanha e Alemanha Isso significa que quando nos comunicamos não nos basea mos somente nas palavras mas também em pistas sensoriais e outros fatores externos que estão presentes enquanto nos comuni camos Nas culturas de alto contexto como as do Japão da Itália e do México a mensa gem é implícita com um sentido válido não apenas nas palavras mas também nos ges tos nas relações entre as pessoas no status dos envolvidos e em muitas outras entradas que serão óbvias para o comunicador de alto contexto Essas entradas fornecem o sentido total à mensagem sem elas ou ao menos sem o seu entendimento a mensagem pare cerá vaga ou incompleta Compreender o contexto no qual as pessoas interagem facilita o estabelecimento das relações interpessoais para que o falante consiga alinhar suas mensagens ao contexto e assim consiga influenciar positivamente o seu leitor ou ouvinte Hofstede 1980 estrutura sua tipo logia com base em cinco dimensões cultu rais individualismo coletivismo distância do poder masculinidade feminilidade evitação da incerteza e confucionismo O autor apre senta algumas diferenças essenciais entre as sociedades coletivistas e individualistas Destacamos aqui aquelas que se referem à comunicação na dimensão individualismo coletivismo individualisMo e coletivisMo Robert 2000 salienta que as dimensões cul turais entre individualismo e coletivismo têm sido o foco de predominantes exposi ções teóricas tanto no âmbito da análise in dividual quanto no da análise social Essas dimensões destacam se entre pesquisas sobre cultura pelo crescente número de es tudos realizados acerca delas em pesquisas transculturais Gouveia e Clemente 2000 Nogueira 2001 Torres 1999 como tam bém em investigações entre indivíduos de uma mesma cultura Miranda 2001 Além disso teóricos sugerem que as dimensões de individualismo e coletivismo podem representar importantes aspectos da cultura organizacional Conforme assina la Robert 2000 p 5 se um indiví duo possui uma elevada necessidade para estruturar se e a organização é altamente estruturada haverá convergência ou ajuste e em consequência maior probabilidade de que o indivíduo tenha atitudes positivas para a organização Nesse sentido se por outro lado não houver essa convergência entre a orientação cultural individual e os valores crenças e pressuposições que são percebidas em uma organização haverá a possibilidade de falhas para as organizações quanto às expectativas de seus funcionários Triandis 1994 p 1 em seu livro Culture and social behavior define cultura aludindo a uma analogia à memória do indivíduo Segundo esse autor cultura é para a sociedade o que a memória é para o indivíduo inclui tradições que dizem o que funcionou no passado como também deriva a forma em que as pessoas têm aprendido a olhar o ambiente ao qual fazem parte a si próprios e às suas pressuposições sobre como o mundo é e como as pessoas deveriam agir Quando se analisa a cultura subjetiva pode se perceber como as pessoas catego rizam e valorizam entidades do ambiente Dessa forma descobre se uma única manei ra pela qual indivíduos em diferentes cul turas percebem o ambiente social em que vivem Um dos aspectos mais importantes da cultura é a pressuposição de que somos INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 333 incluídos em grupos fechados de indivíduos interdependentes o que é considerado fun damental para a caracterização do coletivis mo Por outro lado a pressuposição de que somos entidades independentes diferentes e distantes de outros grupos é fundamen tal para a concepção do individualismo Triandis 1994 Os termos individualismo e coletivis mo desfrutavam de ampla tradição entre os séculos XVIII e XIX quando foram utiliza dos pela primeira vez Quanto ao vocábu lo individualismo Triandis 1994 salienta sua similaridade com o termo liberalismo em que há ideias de liberdade do indivíduo existência de grupos voluntários dos quais os indivíduos podem fazer parte ou não de acordo com seus desejos e participar de ati vidades que envolvem outros indivíduos Para Triandis 1995 o autoritarismo um termo contrastante com individualis mo renuncia a ideia de liberdade do indi víduo e requer que ele se submeta às vonta des de uma autoridade como a de um rei o que seria essencial para se evitar a anarquia Durante o século XVIII as ideias individua listas das revoluções americana e francesa resultaram em premissas que foram denomi nadas coletivismo O próprio modelo econô mico laissez faire contrasta com a suposição marxista coletivista de que o governo deve controlar os meios de produção Na política os termos capitalismo e fascismo em que o líder impõe sua vontade à nação e todos de vem submeter se a essa vontade reforçam a ideia de que têm tradição na história da humanidade Quanto às ciências sociais e à filosofia os termos individualismo e coletivismo têm sido usados com outros construtos semanti camente similares Triandis 1995 destaca a ampla utilização desses termos na litera tura por constituírem questões centrais de todas as ciências sociais funcionando como pontes entre as teorias da psicologia social desenvolvida no ocidente e as realidades so ciais no leste asiático Hofstede 1991 aponta diferenças fundamentais Quadro 163 entre socie dades consideradas coletivistas e individu alistas De modo geral para esse autor nas sociedades coletivistas as relações pessoais prevalecem sobre a tarefa que deveria ser primeiramente estabilizada ao passo que nas sociedades individualistas a tarefa pre valece sobre qualquer tipo de relação Triandis 1995 define o coletivismo como um padrão social que consiste em uma estreita ligação entre indivíduos que se veem como parte de uma ou mais coletivi dades família colegas de trabalho tribos nações Os indivíduos em culturas coleti vistas são prioritariamente motivados por normas e deveres impostos pelas coletivida des Por outro lado o padrão cultural de nominado individualismo pressupõe que os indivíduos consideram se independentes de coletividades e são prioritariamente motiva dos por suas próprias preferências necessi dades e direitos Em culturas individualistas a prioridade das metas é preferencialmente pessoal sobrepondo se às metas do grupo Segundo Triandis 1995 algumas características e manifestações específicas de individualismo coletivismo são aponta das na literatura como síndromes culturais Para ele a síndrome cultural é um padrão caracterizado pelo compartilhamento de crenças atitudes normas papéis e valores que são organizados acerca de um tema e que podem ser encontrados em certas regi ões geográficas durante um particular perí odo histórico p 44 Entretanto aponta a necessidade de se realizarem mais estudos sobre essas síndromes pois as investigações atuais produziram resultados que não evi denciaram robustez do conceito Além dis so tais estudos foram meramente realizados como síndromes culturais básicas sendo por fim influenciados por um número de fatores situacionais e de experiência Entre os atributos das dimensões in dividualismo e coletivismo apontados por Triandis 1995 destacam se quatro dimen sões universais do construto a definição do self como interdependente para o coletivismo e independente para o individualismo Markus e Kitayama 1996 O que para Triandis 1995 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 334 tOrres neiva cOLs reflete se em diversos aspectos da vida dos indivíduos incluindo a intensidade com que eles compartilham seus recursos com o grupo a que pertencem e o seu conformismo em seguir os padrões e normas desse grupo as metas pessoais e comuns ao grupo ten dem ao coletivismo enquanto o mesmo nem sempre ocorre com o individualis mo Um indivíduo pode identificar se com as metas do grupo e tê las como prioridade Quando estas são compatí veis com as próprias metas do indivíduo tem se o coletivismo ou do contrário o individualismo as cognições que abrangem normas obrigações e deveres guiam muito mais o comportamento social em culturas co letivistas ao passo que esse foco recai em atitudes necessidades pessoais direitos e contratos que guiam o comportamento social para culturas individualistas a ênfase nas relações mesmo quando considerada desvantajosa é comum nas culturas coletivistas Em contraste nas culturas individualistas a ênfase recai na quadro 163 DiFerenças entre sOcieDaDes inDiviDUaListas e cOLetivistas sociedades coletivistas individualistas as pessoas nascem em famílias extensas cada um deve preocupar se consigo mesmo e com a família mais próxima a identidade diz respeito ao grupo ao qual a identidade é baseada no indivíduo o indivíduo pertence O indivíduo aprende desde a infância a pensar a criança aprende a pensar em si própria em conjunto nós É necessário manter sempre a harmonia e É característico de pessoas honestas dizer o que evitar conflitos pensam a comunicação é de elevado contexto a comunicação é de baixo contexto a infração conduz a um sentimento de a infração conduz ao sentimento de culpa e à vergonha perante o próprio indivíduo e o perda do amor próprio grupo ao qual pertence a educação representa aprender como fazer a educação representa aprender a aprender Os títulos permitem ao indivíduo o acesso e Os títulos aumentam o valor econômico eou a permanência em grupos de status mais valor próprio do indivíduo elevados a relação empregador empregado é percebida a relação empregador empregado constitui um em termos morais com um vínculo familiar contrato com vantagens mútuas O recrutamento e a promoção levam em O recrutamento e a promoção são baseados consideração o grupo de pertença unicamente em competências e regras a gestão é voltada para grupos a gestão é voltada para indivíduos O relacionamento prevalece à tarefa a tarefa prevalece ao relacionamento Fonte Hofstede 1991 p 67 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 335 análise racional das vantagens e desvan tagens de se manter o relacionamento Estudos transculturais que têm por objetivo investigar as diferenças entre as culturas apontam o uso de vantagens e des vantagens Triandis 1995 destaca que as medidas dos quatro aspectos apontados an teriormente self metas pessoais e comuns aos grupos cognições e ênfase nas relações convergem entre si pois as dimensões in dividualismo e coletivismo são não apenas entidades intuitivas e teóricas mas também são definidas por esses aspectos Triandis McCusker e Hui 1990 afir mam que alguns estudos são realizados para mensurar individualismo e coletivismo uti lizando itens de atitudes mas ressaltam a necessidade de ampliar os métodos de men suração utilizando múltiplas estratégias No que diz respeito aos diferentes itens utiliza dos para o refinamento dessas dimensões tanto em estudos transculturais quanto em estudos que investigam determinada cultu ra os atributos são os elementos que melhor definem os construtos Quadro 164 Triandis McCusker e Hui 1990 sa lientam a necessidade de haver diferentes termos para as dimensões que são men suradas entre culturas e individualmente Para esses autores as medidas dos estudos transculturais correspondem ao individu alismo e ao coletivismo Estudos que têm por objetivo investigar essas manifestações no nível individual possuem atributos de personalidade denominados idiocentrismo e alocentrismo Assim individualismo e coletivismo são considerados termos gerais utilizados para as dimensões culturais no nível de sociedade Nessa direção Triandis e colaboradores 1985 também propõem a distinção entre os âmbitos de análise in quadro 164 atriBUtOs De inDiviDUaLismO e cOLetivismO seUs anteceDentes e cOnseQUentes antecedentes atributos consequentes individualismo afluência Desapego emocional a grupos socialização para autoconfiança complexidade cultural metas pessoais prioritárias às e independência caçabusca pela comida do grupo Boas habilidades quando entrar classe social alta comportamentos regulados em um novo grupo migração por atitudes e análise de solidão Urbanismo custo benefício exposição à mídia a confrontação é aceita coletivismo a unidade de sobrevivência integridade familiar socialização para obediência e é a comida do grupo O self é definido em termos dever agricultura do intragrupo sacrifício pelo grupo Famílias grandes a conduta é regulada pelas Foco em elementos comuns normas do grupo entre o grupo Hierarquia e harmonia conduta amistosa que reflete no grupo hieararquia suporte social e Distinções entre dentro do interdependência grupo e fora do grupo Fonte Adaptado de Triandis McCusker e Hui 1990 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 336 tOrres neiva cOLs dividual e cultural empregando a termino logia idiocentrismo e alocentrismo no nível individual Triandis 1995 sugere que entre os aspectos self metas pessoais e comuns aos grupos cognições e ênfase nas relações possa existir a possibilidade de examinar os diferentes tipos de individualismo e co letivismo Porém Singelis e colaboradores 1995 afirmam que apesar do potencial dessa abordagem ela envolve construtos muito amplos o que a torna limitada para a obtenção de resultados satisfatórios quanto à confiabilidade dos instrumentos utiliza dos Esses autores propõem o refinamento das dimensões individualismo e coletivismo em suas manifestações horizontal e vertical que serão descritas a seguir coletivismo e individualismo horizontal e vertical Os construtos individualismo e coletivismo relacionam se com inúmeros fenômenos sociais relações interpessoais na indústria padrões sociais de estatísticas de saúde formas de sistemas políticos entre outros Singelis e colaboradores 1995 objetivan do o refinamento dessas dimensões indi vidualismo e coletivismo e a melhoria de sua mensuração propuseram dois conceitos adicionais que descrevem suas variações culturais as definições vertical e horizontal de individualismo e coletivismo referindo se ao grau de aceitação e à desigualdade entre um grupo respectivamente Triandis 1995 define individualismo vertical IV como um padrão cultural em que é postulada a existência de um self au tônomo Além disso o indivíduo possui um status poder social mais ou menos igual aos dos outros membros Para o mesmo au tor individualismo horizontal IH refere se a um padrão cultural em que o indiví duo também é considerado independente e autônomo mas tem o mesmo status que os outros membros O Quadro 163 apre senta as principais características verticais e horizontais das dimensões individualismo e coletivismo Quanto à dimensão coletivismo Triandis 1995 define coletivismo horizon tal CH como um padrão cultural em que o indivíduo considera se membro similar aos outros membros do grupo Nesse padrão o self é considerado interdependente e os demais membros do grupo são percebidos como tendo o mesmo poder social A igual dade é a essência desse padrão Por outro lado para o padrão cultural coletivismo vertical CV o indivíduo também é con siderado membro do grupo porém existe uma diferença entre os membros alguns indivíduos possuem mais status que os ou tros A desigualdade é aceita nesse padrão e as pessoas não se veem iguais às outras Fiske 1992 propôs quatro padrões de relacionamentos sociais ligados à ne cessidade de distribuição de recursos No padrão compartilhamento comunitário os recursos são distribuídos conforme a neces sidade dos indivíduos que fazem parte do grupo No padrão posição hierárquica os recursos são distribuídos de acordo com a posição hierárquica que o indivíduo possui no grupo No padrão igualdade correspon dente o princípio da igualdade faz com que os recursos sejam compartilhados de forma igual Por fim no padrão preço de mercado os recursos são distribuídos observando se a equidade Rokeach 1973 identificou quatro ti pos de sistemas políticos referentes à impor tância dos valores de igualdade e liberdade Para tanto cruzou ambos os valores o que resultou em quatro formas de sistemas po líticos o comunismo com alta igualdade e baixa liberdade o facismo com baixa igual dade e baixa liberdade a democracia libe ral com baixa igualdade e alta liberdade e por fim o sistema social democrata com alta igualdade e alta liberdade Estudos que investigaram diferenças culturais vêm consolidando teorias base adas nas dimensões individualismo e co letivismo e em seus correlatos sociodemo gráficos Gouveia e Clemente 2000 nas variações horizontal e vertical Miranda INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 337 2001 Nogueira 2001 Torres 1999 Estes estudos serão descritos a seguir por estarem relacionados ao estudo da cultura brasileira e por adotarem a abordagem individualis mo e coletivismo que são o foco de estudo deste capítulo as novas formas de comunicação O volume e a riqueza de informação da atua lidade produziram necessidades de novas formas de comunicação A comunicação na era da tecnologia pode ser verificada por meio do uso de meios como internet intra net extranet correio eletrônico e mail videoconferência computação cooperativa e telecomunicação A Revolução Tecnológica trouxe consi go novos significados elevando a comunica ção aos mais altos patamares A importân cia de captar ideias ou conhecimentos em contextos diferentes levou ao aumento dos investimentos na tecnologia e nas pesquisas tecnológicas de comunicação pelos gover nos fomentando a sua modernização A co municação está intrinsecamente articulada a esse processo tornando o viável por meio da adequação às inovações tecnológicas e transformações culturais Recorremos aqui à definição de comu nicação de Davenport 2001 segundo a qual comunicar é um processo de transmis sãointercâmbio de informações oportuno quando relacionado à produção de conheci mento A produção de conhecimento e o pa radoxo da internet leva nos à seguinte refle xão a era da informação produz impacto na sociedade e no comportamento dos indiví duos Já que o conhecimento é a informação mais valiosa que inclui reflexão síntese e contexto como a internet estaria mediando tal processo Mattos 1999 trata das grandes mu danças que podem ocorrer nas empresas e nos empregos como resultado do crescimen to da internet e também analisa as empresas e profissões que podem desaparecer enquan to outras podem ser criadas Além disso faz a estimativa de que essas mudanças provavel mente ocorrerão nos próximos 30 anos Entre as mudanças comportamentais citadas pelo autor destaca se o acesso da população à internet como um dos fatores Fonte Singelis et al 1995 quadro 165 caracterÍsticas verticais e HOriZOntais DO inDiviDUaLismO e cOLetivismO vertical Horizontal individualismo coletivismo individualismo coletivismo interdependente e igual aos outros Divisão comunitária Paridade alta igualdade bai xa liberdade e vida comunitária independente e igual aos outros mercado igualdade elevada igualdade e liberdade socia lismo democrático interdependente e diferente dos outros Divisão comuni tária do poder da patente Baixa igualdade baixa liberdade e comunalismo independente e diferente dos outros mercado Poder da patente Baixa igualdade alta liberdade e democracia de mercado Abordagem de Triandis Abordagem de Fisk Abordagem de Rokeach Padrões culturais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 338 tOrres neiva cOLs que poderá provocar uma revolução cultu ral e comportamental na sociedade Mattos apresenta a diferença dos comportamentos no mundo real e no mundo virtual abordan do privacidade legislação censura frontei ras geográficas tempo acesso às pessoas mídia da informação sexo roubo e fraude rapidez de acesso compras pirataria gra tuidade etc O presente capítulo teve como objeti vo apresentar uma revisão bibliográfica de modo a proporcionar um caminho para que pesquisadores da área da psicologia social possam responder a questões associadas aos pensamentos sentimentos e comporta mentos dos indivíduos que influenciam e são mediados pela interação em determi nado grupo social a partir da comunicação Centramo nos nas questões relativas a como as pessoas em diferentes grupos e categorias sociais agem e pensam como os indivíduos percebem interpretam e representam o pró prio comportamento e o comportamento dos outros como as interações produzem repre sentações compartilhadas do mundo físico e social que se ajustam ao comportamento e ao pensamento como as pessoas formam um senso de quem são a partir da intera ção entre elas Apresentamos inicialmente distinções entre cultura valores humanos e posteriormente a comunicação sob o enfo que da cultura como variável que influencia os sistemas sociais reFerências ADLER RB TOWNE N Comunicação interpes soal Rio de Janeiro LTC 2002 BERLO DK O processo da comunicação São Paulo Martins Fontes 1991 CARDON PW A critique of Halls contexting mo del a metaanalysis of literature on intercultural business and technical communication Journal of Business and Technical Communication v 22 n 4 p 399428 2008 CHINESE CULTURE CONNECTION Chinese va lues and the search for culturefree dimensions of culture Journal of CrossCultural Psychology v 18 n 2 p 143164 1987 DAVENPORT TH Ecologia da informação 3ed São Paulo Futura 2001 DENCKER AFM 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Desde a consolidação do campo do com portamento organizacional proposto na década de 1960 por pesquisadores ingleses tem sido crescente o reconhecimento das contribuições das diversas disciplinas para seu fortalecimento teórico e metodológico Siqueira 2002 afirma que esse fortaleci mento deveu se principalmente ao desloca mento para o âmbito do interesse do com portamento organizacional de temas que antes isolados compunham áreas distintas do conhecimento Em uma das mais conhecidas defini ções presentes na literatura Staw 1984 conceitua o comportamento organizacio nal como um campo multidisciplinar que investiga não só o comportamento dos in divíduos em ambientes organizacionais como também a própria estrutura das or ganizações e seu comportamento Além de conceituá lo ele o distingue em duas grandes áreas A primeira denominada de macrocomportamento organizacional diria respeito às teorias organizacionais e traria em seu bojo contribuições de disciplinas como a Sociologia as Ciências Políticas e a Economia ocupando se de investigações acerca da estrutura do design e das ações organizacionais A segunda área denomi nada de microcomportamento organizacio nal teria como contribuições importantes as proposições da Psicologia e se ocuparia tanto das atitudes e dos comportamentos individuais quanto da influência sofrida por eles pelos sistemas organizacionais Embora tenha recebido diversas con ceituações ao longo destes 20 anos as di versas definições não deixaram de caracteri zar o comportamento organizacional como campo de conhecimento multidisciplinar nem de distingui lo em subáreas ou níveis de atuação com contribuições de diversas disciplinas Robbins 1999 define o como um campo de investigação sobre a influên cia que os indivíduos os grupos e a estru tura organizacional exerceriam nos diversos comportamentos intraorganizacionais O autor propõe um modelo para os estudos organizacionais especificando temas de interesse e variáveis que comporiam os três níveis de análise propostos Para o ní vel individual primeiro nível ele postula que variáveis biográficas atitudes valores pessoais e habilidades que influenciariam percepções motivações e aprendizagem seriam os temas de interesse Já para o nível grupal segundo nível o tema de interesse seria basicamente a tomada de decisão em grupo Subtemas como comuni cação liderança e conflito também fariam parte dessa área O nível organizacional terceiro nível teria como interesse as po líticas de recursos humanos a estruturação e o dimensionamento organizacionais bem 17 aPLicações Da PsicOLOGia sOciaL às OrGaniZações sinésio gomide Junior áurea de Fátima oliveira Mirlene Maria Matias siqueira INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 341 como a cultura das organizações e seus desdobramentos Em sintonia tais estas proposições Wagner III e Hollenbeck 1999 além de conceituarem três níveis do comportamen to organizacional apontam as disciplinas que lhes são pertinentes Naquela que tal vez seja hoje a proposição mais difundida os autores o definem como um campo de estudos que busca prever explicar com preender e modificar o comportamento humano em ambientações organizacionais Esse campo se configuraria em três níveis micro organizacional meso organizacional e macro organizacional O primeiro nível teria contribuições teóricas centradas na psicolo gia e focalizaria os aspectos psicossociais dos indivíduos e as dimensões de sua atuação no contexto organizacional O segundo nível diria respeito aos processos de grupo e equi pes de trabalho e traria contribuições pos tuladas pela Antropologia pela Sociologia e pela Psicologia Social O terceiro nível traria contribuições da Antropologia das Ciências Políticas e da Sociologia tendo seu foco de investigação na organização como um todo Conforme Siqueira 2002 os primeiros níveis postulados por ambos os modelos in dividualmicro organizacional de estrutura ção coincidem com o campo de investigação da psicologia organizacional Além disso em ambos os modelos propostos são apontados como resultados outputs da interdependên cia de todas as variáveis incluídas nos mo delos os critérios de desempenho individual absenteísmo satisfação rotatividade e pro dutividade também coincidentes com o que tradicionalmente a psicologia organizacional investiga ao longo de sua história Dessa forma o campo conhecimento multidisciplinar atualmente denominado de comportamento organizacional sofre influ ências diretas dos pressupostos temas e ob jetivos de investigação de áreas da psicologia que além de contribuir para a estruturação dos níveis mais voltados para critérios indivi duais de análise ainda contribui para a estru turação dos níveis intermediários referentes ao trabalho de equipes e grupos Nesse nível em ambos os modelos propostos a psicolo gia social tem presença marcante seja como disciplina autônoma seja como área do co nhecimento que se ocupa da compreensão de mecanismos de interações humanas bidi recionais que explicariam fenômenos como liderança tomada de decisão e atração A interdependência entre a psicologia social e a psicologia organizacional tem sido reconhecida já há bastante tempo Borges Andrade e Zanelli 2004 postulam que boa parte do corpo teórico assim como dos métodos de investigação da psicologia organizacional são oriundos da psicologia social Temas como percepção atitudes tro cas notadamente de ordem social jus tiça categorização e representação bastan te investigados no âmbito das organizações de trabalho tiveram suas raízes na psico logia social e foram posteriormente trazidos para o escopo de conhecimentos da psicolo gia organizacional Métodos investigativos também tiveram uma trajetória parecida Estudos experimentais quase experimentais e correlacionais além do emprego da psi cometria como importante instrumento de investigação largamente empregado por pesquisadores organizacionais tiveram suas raízes também na psicologia social Essa interdependência hoje reconhe cida já havia sido postulada por Rodrigues 1981 ao afirmar ser a área da psicologia das organizações aquela que fazia mais apelo às contribuições da psicologia social Embora reconhecesse ser a psicologia orga nizacional devido a seus avanços uma área independente o autor afirmava que o seu impacto era indiscutível e listava os pos tulados sobre os fenômenos grupais como aqueles de maior contribuição Os avanços conhecidos pela psicologia organizacional notadamente após a introdução do para digma cognitivista e do enfoque sistêmico acabaram por demonstrar que a influência da psicologia social no estudo de fenôme nos humanos nas organizações de traba lho era ainda maior que o preconizado por Rodrigues 1981 É sobre alguns desses fe nômenos e sobre a influência da psicologia social em suas investigações que se falará a seguir INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 342 tOrres neiva cOLs troca e reciProcidade Duas das mais importantes teorias da psi cologia social dizem respeito à tendência dos indivíduos em ajudar seus semelhantes Reunidas sob o rótulo de comportamentos pró sociais definidos como aqueles atos executados com o objetivo de beneficiar alguém Rodrigues Assmar e Jablonsky 2000 as teorias da troca social e do altruís mo têm impactos indiscutíveis na psicologia organizacional Rodriges e colaboradores 2000 afir mam ser a teoria da troca social uma das mais conhecidas da psicologia social Conforme seus postulados as interações humanas são concebidas como uma troca de recursos so ciais psicológicos ou materiais orientadas por uma economia social Nessa intera ção os indivíduos valem se de uma estra tégia minimax minimizando os custos e maximizando as recompensas Assim uma relação interpessoal continuará se for lucra tiva para ambas as partes envolvidas mas será interrompida se ambas as partes ou uma delas acreditarem que a relação não está sendo suficientemente compensadora Essas mesmas premissas norteiam os pres supostos que explicariam as ações altruístas Entende se por altruísmo qualquer ato per petrado por um indivíduo que beneficia ou trem sem que esse ato traga benefício para aquele que o perpetrou trazendo contudo algum custo pessoal Os atos pró sociais encontram supor te teórico na norma da reciprocidade que segundo Gouldner 1960 consiste em aju dar aquele que no passado ajudou ou que se julga poder ser ajudado no futuro O autor afirma que essa norma é universal sendo essencial na manutenção de relações sociais estáveis e atingindo todas as esferas sociais Rodrigues e colaboradores 2000 a deno minam de preceito da mutualidade Na esfera dos estudos organizacionais Siqueira e Gomide Jr 2004 propõem que a teoria da troca e a norma da reciprocida de estariam na base dos vínculos que o in divíduo desenvolve com a organização que o emprega Conforme os autores a relação entre o empregado e seu sistema emprega dor assenta se em trocas com caráter econô mico e social A troca econômica refere se a uma barganha entre as partes e toma o feitio de um contrato quando cada uma das partes conhece o que deve oferecer e receber da outra A permuta econômica é realizada com base em um contrato formal firmado entre as partes envolvidas enquanto a troca social por outro lado não está conforme re gras e contratos acontecendo com base na confiança e na boa fé que se instalam entre duas partes Ela envolve oferta de favores que criam futuras obrigações não especifi cadas sendo a natureza da retribuição dei xada a cargo daquele que deverá retribuir A troca social estaria fundamentada por tanto na confiança mútua incluindo como material de barganha social recursos pouco definidos em termos de natureza valor e época de oferta Mesmo sem qualquer prescrição o princípio da reciprocidade ou mutualidade é evocado em situações sociais diversas sem pre que uma pessoa beneficia outra pessoa O princípio não prescreve como moralmen te desejável a oferta de ajuda nas relações sociais mas normatiza o comportamento do receptor prescrevendo como obrigação moral a retribuição do benefício recebido Siqueira e Gomide Jr 2004 supõem que o conhecimento humano sobre troca social esteja cognitivamente estruturado através da interdependência de vários esquemas específicos O esquema mental de reciproci dade seria estruturado a partir do entrelaça mento de conceitos como doador receptor retribuição obrigatoriedade credor e deve dor Quatro desses conceitos indicam tipos de papéis sociais doador receptor credor e devedor enquanto dois descrevem a natureza da interação social retribuição e obrigatoriedade Com base nessa concep ção cognitivista o princípio de reciprocida de seria um conhecimento social formatado mentalmente como um esquema matricial a partir do qual são interpretadas relações sociais em contextos diversos especialmen te relações de troca social entre indivíduo e organização Figura 171 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 343 No contexto de troca social com a or ganização o esquema mental de recipro cidade do empregado seria ampliado para abarcar conceitos que descrevam possíveis papéis sociais intercambiáveis de dois atores empregado e organização quatro papéis do empregado doador receptor devedor e credor e quatro da organização doadora receptora devedora e credora Também fazem parte do esquema as noções sobre re tribuições dos dois atores e respectivas obri gações A alternância dos papéis de doador e receptor percebidos pelos empregados teria impactos diretos tanto nas expectati vas de retornos organizacionais benefícios e reconhecimento por exemplo quanto em relação aos próprios desempenhos Siqueira 2005 retomando o con ceito de esquema mental de reciprocida de propõe que o empregado na condição de recebedor desenvolveria crenças acerca dos retornos organizacionais que diriam respeito à valorização por meio da organi zação de suas contribuições e do cuidado que ela dispensaria à sua promoção e ao seu bem estar Essas crenças globais foram de nominadas por Eisenberger e colaboradores 1986 de percepção de suporte organizacio nal Conforme Siqueira 2005 a norma da reciprocidade poderia explicar o surgimento dessas crenças na medida em que seriam per cepções genéricas sobre intenções e atos or ganizacionais direcionadas a ele empregado a partir de como os dirigentes organizacio nais praticariam as políticas e os procedimen tos de gestão de pessoas atribuindo à organi zação características humanas e acreditando manter relações sociais com ela Por outro lado o empregado na con dição percebida de doador desenvolveria crenças de obrigação retribuitivas à organi zação atribuindo lhe a ela o papel de credo ra Assim o empregado agora doador se colocaria como devedor moral atribuindo se a obrigação de retribuir favores Essa crença impactaria de modo contundente o desem penho do empregado Para Allen e Meyer 1996 a primeira forma de retribuição do empregado se configuraria no próprio ato de continuar trabalhando para a organiza ção que o emprega Esse débito moral gera ria o comprometimento organizacional nor mativo definido por Siqueira 2002 como as crenças do empregado acerca da dívida social para com a organização ou a obriga toriedade de retribuir um favor Assim o de sempenho do empregado seria parcialmente explicado pelas crenças que ele desenvolve no decorrer do relacionamento com a or ganização a respeito da qualidade e da in tensidade das trocas entabuladas entre eles Siqueira e Gomide Jr 2004 Justiça A primeira ideia de que os indivíduos em seus relacionamentos sociais pesariam cog Figura 171 esquema mental de reciprocidade Fonte Siqueira e Gomide Jr 2004 Doador Credor Receptor Devedor Retribuições obrigatórias Doações INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 344 tOrres neiva cOLs nitivamente seus investimentos e seus re tornos nessas relações foi apresentada por Adams 1963a ao preconizar que a decisão de permanecerem ou não nesses relaciona mentos dependeria do grau de justiça que pudesse ser percebida por tais indivíduos Assim em uma relação social o indivíduo nela permaneceria se percebesse que seus investimentos fossem proporcionais aos in vestimentos do outro Caso contrário esse indivíduo desenvolveria estratégias cogni tivas de compensação que caso falhassem o levariam a desistir desse relacionamento Com seu trabalho o autor introduziu no campo da psicologia social uma temática que se mostrou bastante frutífera nas déca das posteriores com desdobramento tanto na própria psicologia social quanto em ou tras áreas notadamente na psicologia orga nizacional e do trabalho Os pressupostos de Adams ficariam circunscritos à psicologia social até meados da década de 1970 quando os horizontes de seu trabalho foram ampliados para a discus são sobre os impactos da percepção de jus tiça no desempenho produtivo de pequenos grupos Nessa época as preocupações dos autores ganhariam dois novos rumos a bus ca de compreensão acerca dos critérios de alocação de recompensas percebidas como justas e o impacto da distribuição dessas re compensas sobre o desempenho dos grupos em tarefas predeterminadas As pesquisas apontaram que indivíduos em situação de ganho preferiam o critério da proporciona lidade na distribuição de recompensas ou seja preferiam que as recompensas fossem distribuídas conforme o empenho o esforço ou a efetiva participação de cada um no êxi to da empreitada Por outro lado indivíduos com perdas prefeririam o critério da igual dade na distribuição desse prejuízo Além desses dois critérios de alocação de recom pensas pesquisou se também um terceiro o critério da necessidade segundo o qual os indivíduos envolvidos em dada tarefa perce beriam recompensas conforme as necessida des pessoais de cada um A partir da definição desses três cri térios de alocação de recompensas pro porcionalidade igualdade e necessidade os pesquisadores buscaram identificar o impacto de cada um deles no desempenho do grupo na tarefa As pesquisas demonstra ram que desempenhos produtivos ocorriam quando os indivíduos percebiam que o cri tério da proporcionalidade era o escolhido para alocar recompensas Já desempenhos cooperativos eram obtidos quando o crité rio percebido era o da igualdade enquanto desempenhos que visassem ao bem estar do grupo eram obtidos quando o critério perce bido fosse o da distribuição de recompensas conforme a necessidade de cada membro Ainda na década de 1970 uma tercei ra linha de pesquisa começou a despontar Dessa vez os pesquisadores pretendiam compreender quais seriam os determinantes ou antecedentes que levariam os indivíduos a perceber como justa uma retribuição de recompensas às quais estivessem submeti dos Os pesquisadores da época encontra ram em uma obra fora do âmbito da psico logia pressupostos que vinham ao encontro de tais indagações Em 1971 é publicada A theory of justice obra na qual seu autor o filósofo John Rawls propunha critérios que funcionariam como pré condições para que uma distribuição de recompensas fosse percebida como justa O autor começa por propor a existên cia de não apenas uma mas de duas justiças conceitualmente e temporalmente distintas a justiça de distribuição definida como a distribuição de bens escassos e a justiça dos procedimentos definida como a esco lha dos procedimentos na seleção do crité rio de distribuição Para ele um critério de distribuição de bens seria em princípio justo quando precedido por procedimentos de escolha honestos Procedimentos hones tos ainda conforme o autor seriam tentati vas de indivíduos livres racionais e iguais que não pudessem exercer qualquer poder de coerção sobre os outros de determinar regras básicas mutuamente aceitáveis para que suas instituições pudessem deliberar de forma imparcial não distorcida por consi derações de interesses especiais O filósofo advoga que procedimentos honestos seriam INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 345 concebidos por uma sociedade que perce besse nas regras de condutas o papel de amálgama no alcance da cooperação social e que teria como objetivo maior determinar a divisão de vantagens e assegurar um acor do para a partilha correta Em 1975 Thibaut e Walster intro duziram no âmbito da psicologia social o termo justiça dos procedimentos inves tigando a percepção de justiça de partes envolvidas em um processo judicial frente a decisões tomadas por juízes em tribu nais norte americanos Pesquisas voltadas à compreensão dos mecanismos envolvidos nas relações sociais encontraram campo fér til nas organizações tendência já antevista por Adams ainda no princípio dos anos de 1960 ver Adams 1963b Adams e Jacobsen 1964 principalmente depois da assunção pelos psicólogos do paradigma cognitivista e do enfoque sistêmico que redefiniu o con ceito de organizações de trabalho como um sistema de relacionamentos sociais inter relacionados Diante dessas perspectivas os estudos que tinham por objetivo associar altos de sempenhos individuais aos sistemas produ tivos encontraram nas investigações sobre justiça ou percepção de justiça importan tes indicadores que poderiam decidir sobre questões que até aquele momento estavam em aberto A vinculação da força de trabalho a um sistema empregador era uma delas De acordo com Siqueira e Gomide Jr 2004 as pesquisas da década de 1970 pretendiam identificar principalmente o poder de predição da percepção de justi ça acerca da distribuição sobre critérios de desempenho As pesquisas demonstraram que aqueles trabalhadores que perceberam estar sendo retribuídos por suas organiza ções de trabalho conforme seus esforços no alcance dos objetivos eram também aqueles com melhor desempenho Não houve tra balhos que desmentissem tal constatação Rotatividade no trabalho absenteísmo sa tisfação e comprometimento organizacional foram os primeiros temas a serem correla cionados com a percepção de justiça de dis tribuição Em 1979 por exemplo Dittrich e Carrel constataram que apenas a percepção de equidade explicou tanto o absenteísmo quanto a rotatividade ou seja trabalhado res que abandonaram o trabalho e também aqueles que mais faltavam não percebiam equidade na distribuição de recompensas nesse caso salários e promoções em suas organizações Resultados bastante seme lhantes foram encontrados em outros tra balhos quando investigaram quais seriam os melhores preditores de satisfação com o salário intenção de permanecer na organi zação e apresentação de comportamentos extra papel Expectativa dos empregados versus retorno organizacional foi um tema bastante frequente na literatura quando se investigava a percepção de justiça na dis tribuição de recompensas Dentre diversos trabalhos vale destacar os de Witt e Wilson 1989 Witt e Broach 1992 e os de Paz 1993a 1993b Em todos eles constatou se que empregados que perceberam justi ça nos retornos organizacionais salários benefícios avaliações de desempenho etc eram aqueles que além de altos níveis de satisfação no trabalho eram os mais com prometidos com suas organizações e tam bém aqueles que nutriam expectativas posi tivas frente a estes retornos Estes trabalhos abriram nova frente de pesquisas sobre o tema da justiça A partir do início da década de 1990 elas passaram a investigar não apenas a determinação da percepção de justiça de distribuição sobre critérios organizacionais mas também os aspectos organizacionais que impactassem tal percepção As pesquisas que visavam a investigar os antecedentes da percepção de justiça de distribuição raramente o faziam sem que a percepção de justiça dos proce dimentos estivesse presente Assim talvez os mais importantes trabalhos e também os mais contemporâneos trouxeram evidências sobre o impacto de ambas as percepções de justiça sobre critérios organizacionais A partir da introdução do termo justi ça de procedimentos por Thibaut e Walster em 1975 também houve a publicação de vários trabalhos que abordavam essa temá tica nos contextos organizacionais Os pri INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 346 tOrres neiva cOLs meiros trabalhos sobre percepção de justiça dos procedimentos investigaram os fatores que levariam o indivíduo a perceber como justas as etapas anteriores à distribuição de recompensas Os achados foram sinteti zados por Leventhal 1980 para quem os procedimentos seriam percebidos como jus tos quando atendessem a seis condições 1 consistência das regras utilizadas ao longo do tempo e independentemente das pes soas às quais se dirigissem 2 supressão dos vieses determinados por atitudes ou opiniões das pessoas respon sáveis pelas tomadas de decisão 3 precisão nas informações prestadas aos indivíduos afetados pelas decisões toma das 4 resultados positivos nas decisões 5 representatividade dos indivíduos afeta dos pelas decisões na formação do grupo de pessoas responsáveis pelas tomadas de decisões e 6 manutenção de padrões éticos e morais A percepção de justiça dos procedi mentos provou se ótima preditora de im por tantes critérios organizacionais Com prometimento profissional desempenho comprometimento organizacional afetivo intenção de rotatividade e comportamentos de cidadania organizacional foram alguns dos importantes critérios que se mostraram fortemente correlacionadas à percepção de justiça dos procedimentos Bies e Moag 1986 apud Gomide Jr 1999 preconizaram a existência de dois tipos de justiça de procedimentos a per cepção de justiça formal dos procedimen tos definida como o efetivo emprego pela organização dos critérios de alocação de recompensas existentes e a justiça intera cional dos procedimentos definida como o tratamento digno e honesto dispensado pelo supervisor ao empregado Essa hipótese foi amplamente investigada posteriormente e confirmada por diversos autores O efeito interativo das percepções de justiça de distribuição e de procedimentos foi investigado por Gomide Jr 1999 Ele re lata que quando confrontadas com a inten ção do indivíduo em deixar a organização a percepção de justiça dos procedimentos formais exerceu maior poder de explicação do que a de distribuição Nesse caso o autor destaca que a percepção de cultura exerceu efeito moderador entre a percepção de jus tiça dos procedimentos formais e a intenção de abandonar a organização Comprometimento e cooperação tam bém têm sido apontados como sendo for temente influenciados pela percepção de justiça dos procedimentos Trabalhos mais recentes Rego 2000 Filenga 2003 têm demonstrado que os vínculos do indivíduo com a organização como o comprometi mento organizacional afetivo são mais de terminados pela percepção de justiça dos procedimentos enquanto os comprometi mentos organizacionais calculativo e norma tivo sofrem maior influência da percepção de justiça distributiva Por outro lado a coo peração voluntária de empregados foi mais fortemente influenciada pela percepção de justiça dos procedimentos enquanto a coo peração compulsória faço o que mandar foi mais influenciada pela percepção de jus tiça de distribuição Os estudos sobre as percepções de jus tiça em ambiente organizacionais têm de monstrado que elas são poderosos determi nantes de vínculos empregado organização e que esses vínculos por sua vez apresen tam naturezas diferenciadas Assim víncu los de natureza mais egoísticas que levam em conta satisfações mais pontuais estão relacionados à percepção de justiça de dis tribuição enquanto vínculos mais altruísti cos normalmente calcados em valores mais sociais estão relacionados à percepção de justiça dos procedimentos Dessa forma sa tisfação no trabalho satisfação com salários comprometimento organizacional calculati vo e normativo e cooperação compulsória estão diretamente relacionados à percepção de justiça de distribuição Conforme Rego 2000 a característica comum desses vín culos é a ação a curto prazo por parte do empregado Por outro lado comprometi mento organizacional afetivo confiança INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 347 no supervisor cidadania organizacional e cooperação espontânea estão diretamente relacionados à percepção de justiça dos pro cedimentos O autor caracteriza a natureza dessas vinculações empregado organização como de longo prazo implicando por parte do empregado um maior conhecimento dos valores e ações organizacionais A Figura 172 apresenta uma síntese desses achados Poder Definida como o estudo científico da influ ência recíproca entre as pessoas e do pro cesso cognitivo gerado por essa interação Rodrigues et al 2000 a psicologia social encontra nas teorias de influência social um de seus mais importantes e consistentes pos tulados O processo de influência seria uma constante nos relacionamentos humanos modificando atitudes crenças e inclusive comportamentos mesmo que de maneira não intencional Guimarães 2007 afirma que as pri meiras postulações sobre o tema tiveram origem fora da psicologia Conforme a auto ra os estudos sobre esse fenômeno estariam inicialmente fundamentados na filosofia na sociologia e nas ciências políticas e também se concentravam no âmbito estatal Estado e Clero só mais tarde foram ampliados para outras entidades sociais que detêm a capacidade de modificar os resultados os comportamentos e as decisões das pessoas como as organizações de trabalho Paz Martins e Neiva 2004 salientam que no campo da psicologia social duas proposições teóricas merecem destaque quando se investiga o processo de influência inter e intragrupos organizacionais a teoria da troca e a teoria do poder social A teoria da troca ou da dependência de Thibaut e Kelley 1959 postula que os relacionamen tos estabelecidos entre os membros de um grupo são caracterizados como de poder e dependência A teoria pressupõe que as in terações sociais explicam se em termos de resultados colhidos pelas partes envolvidas em uma relação sendo esses resultados analisados em função de custos e recompen sas Segundo as autoras a avaliação dessa relação de custo benefício é influenciada pela percepção que se tem de que os resulta Figura 172 antecedentes e consequentes das percepções de justiça nas organizações Fonte Siqueira e Gomide Jr 2004 Políticas e estruturas organizacionais tradicionais Incentivos econômicos Participação Ações a longo prazo Clareza nas expectativas Valores sociais Satisfação no trabalho Cooperação compulsória Comprometimento calculativo Comprometimento normativo Satisfação com as expectativas Comprometimento organizacional afetivo Cooperação voluntária Comportamentos de cidadania organizacional Baixo absenteísmo e rotatividade Confiança no supervisor Autoestima Desempenho a longo prazo Envolvimento com o trabalho Percepção de justiça de distribuição Percepção de justiça dos procedimentos formais Percepção de justiça dos procedimentos interacionais INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 348 tOrres neiva cOLs dos obtidos nas interações são dependentes dos indivíduos decorrentes de fatores sobre os quais há controle ou se são ocasionais imponderáveis e alheios ao próprio contro le Quando a pessoa tem o controle dos re sultados que obtém em suas interações ela ajusta seu comportamento a fim de manter melhores resultados Na situação inversa quando os resultados não são controlados pela própria pessoa mas sim pelo exercício de controle de terceiros só lhe resta reco nhecer a existência desse controle externo e a ineficácia dos seus esforços A segunda proposição teórica de desta que na psicologia social é a teoria do poder social Os autores abordaram o poder confor me um foco social interpessoal estudando como uma pessoa exerce poder sobre a outra O influenciador utiliza fontes de poder con troladas denominadas bases de poder que su postamente influenciariam atitudes ou com portamentos da outra pessoa Guimarães 2007 Os autores tentaram a princípio identificar os tipos de bases de poder pre sentes em uma relação diádica definindo as no intuito de analisá las ou compará las aos efeitos e às mudanças produzidas nesse processo Postulam que as bases de poder são insumos que geram dependências da outra parte ou seja são fontes utilizadas por uma pessoa para influenciar a outra e para conse quentemente alcançar seus objetivos A base de poder é definida por French e Raven como a fonte do poder presente em uma re lação entre O e P Eles afirmam que possivel mente haja diversas bases de poder distintas mas propuseram cinco tipos principais po der de recompensa poder de coerção poder de legitimidade poder de perícia e poder de referência Estas bases de poder estão descri tas no Quadro 171 French e Raven definem o poder de recompensa como estando baseado na ha bilidade de recompensar Esse tipo de base de poder só ocorre quando o sujeito P per cebe que o agente O é capaz recompensá lo ou de suprimir punições em determina das situações Um exemplo comum do uso do poder de recompensa é a remuneração por produção adotada por várias empre sas para incentivar o aumento na produção Guimarães 2007 quadro 171 tiPOs De Bases De PODer PrOPOstOs POr FrencH e raven 1959 tipos de bases de poder características 1 recompensa Baseada na percepção do sujeito quanto à capacidade que o agente influenciador tem de recompensá lo ou de suprimir punições destinadas a ele 2 coerção Baseada na percepção do sujeito quanto à capacidade que o agente influenciador tem de puni lo ou de retirar dele benefícios e recompensas 3 Legitimidade Baseada na percepção do sujeito de que o agente influenciador tem o direito legítimo de lhe dar ordens as quais ele tem obrigação de cumprir 4 Perícia Baseada na percepção do sujeito de que o agente influenciador detém um conhecimento especial reconhecido por ele 5 referência Baseada na identificação do sujeito com o agente influenciador ou ao desejo de ser associado com ele Fonte Guimarães 2007 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 349 O poder de coerção é similar ao poder de recompensa pois também envolve a ha bilidade do agente O de manipular valên cias importantes para o sujeito P Nesse caso o poder de coerção de O sobre P está base ado na expectativa que P tem de que será punido por O caso venha a falhar O sujei to P terá então nessas condições valências negativas que correspondem à ameaça de punição de O Relacionando esses tipos de bases de poder com as dimensões que os compõem Rodrigues e colaboradores 2000 afirmam que os poderes de recompensa e de coerção apresentam a característica de serem pú blicos ou seja eficazes apenas quando sob supervisão ou vigilância do agente influen ciador e dependentes da possibilidade de o agente influenciador recompensar ou punir o indivíduo O poder de legitimidade é considera do por French e Raven 1959 como a base de poder mais complexa devido à sua ori gem em normas e estruturas sociológicas Relaciona se com o sentimento de dever e com as crenças que o indivíduo aceita e respeita Esse conceito é similar à noção de legitimidade de autoridade explorada pela Sociologia noção esta fundamentada em certo tipo de código de conduta aceito pelo indivíduo por meio do qual o agente externo O afirma o seu poder O poder de referência está relacionado à identificação de P com o agente O Se O é uma pessoa pela qual P se sente altamente atraído P busca estar estreitamente associa do a O Se O é um grupo atrativo para P este demonstrará um desejo de pertencer ao grupo Se P já faz parte do grupo O ele terá o desejo de manter essa relação O poder de perícia tem como base o co nhecimento ou a perícia de O em certa área de interesse de P Esse poder varia de acordo com o grau de conhecimento que o sujeito P atribui ao agente O em determinada área No âmbito organizacional o estudo do poder distingue se em duas vertentes o in dividual claramente inspirados na psicolo gia social e o grupal com postulados teóri cos oriundos da sociologia e antropologia Em sua vertente individual poder é a pos sibilidade de induzir forças em uma certa magnitude sobre certa pessoa Paz Martins e Neiva 2004 Por outro lado quando o poder é analisado em seu âmbito grupal ele é basicamente um jogo político executado com vistas a alcançar objetivos e assegurar ou mudar resultados O funcionamento dos diversos grupos com interesses também diversos que cons tituem as organizações é essencial para di namizar seu cotidiano uma vez que através deles a organização objetiva dividir tarefas e distribuir trabalho gerenciar e controlar atividades solucionar problemas e tomar decisões alimentar a rede de informação angariar ideias e sugestões testar e ratificar decisões encorajar compromisso e envolvi mento maiores coordenar atividades de di ferentes funções e áreas negociar e resolver conflitos Logo o funcionamento dos grupos também é importante para os próprios indi víduos que o formam visto que satisfazem suas necessidades sociais e de afiliação con tribuem para a formação do autoconceito no trabalho auxiliam o alcance de objetivos particulares além de se constituírem em um meio de auxiliar e compartilhar objetivos comuns produtividade ou realização pro fissional e pessoal atitudes atribuição de causalidade e lócuS de controle O estudo das atitudes mostrou se tão cen tral na psicologia social que ela chegou a ser denominada em outros tempos como a ciência das atitudes Rodrigues et al 2000 Ao entrarem em contato com seus ambientes sociais as pessoas formam im pressões sobre as outras e procuram meios econômicos de reconhecer seu ambiente utilizando se de esquemas sociais heurísti cos e atribuição diferencial de causalidade Uma das consequências diretas do processo de socialização humana é a formação de ati tudes decorrentes de processos comuns de aprendizagem Reforço modelagem aten INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 350 tOrres neiva cOLs dimento de funções sociais consequências de pressões sociais ou decorrentes de pro cessos cognitivos ou de personalidade são algumas das fontes da formação de atitudes apontadas pelos pesquisadores Embora sejam inúmeras as definições de atitudes parece ser ponto comum a con vergência na definição de suas estruturas As atitudes assim teriam como elementos formadores uma organização duradoura de crenças e cognições em geral uma carga afetiva pró ou contra uma predisposição à ação e por fim uma direção a um objeto social O elemento cognitivo seria composto por conhecimentos crenças e opiniões acer ca de um objeto social De posse dessas cog nições o indivíduo desenvolveria uma carga afetiva coerente às cognições em relação a esse objeto predispondo se a se comportar de forma pró objeto no caso de cognições e afetos positivos e contrariamente ao obje to no caso de cognições e afetos negativos Essa visão conceitual de atitudes é hoje con siderada clássica Em 1975 Fishbein e Ajzen propuse ram uma nova conceituação ao delinear uma teoria que tentou explicar os determi nantes do comportamento do consumidor Para os autores a atitude seria unidimen sional e formada por avaliações positivas ou negativas direcionadas a um comportamen to e não a um objeto social amplo ou pouco delimitado Conforme o modelo previsto o comportamento humano seria diretamente determinado pela intenção de se compor tar que por sua vez seria antecedida pela atitude do indivíduo e pela motivação para concordar com as expectativas que ele per cebe que as pessoas nutrem em relação ao seu comportamento Ambas as avaliações seriam precedidas por dois tipos de crenças crenças relativas às consequências do com portamento e crenças relativas ao que as pessoas pensam sobre o comportamento Esse modelo tem forte influência nos pressupostos teóricos da psicologia orga nizacional De um lado o encadeamento crença avaliações intenção tem se mostra do o encadeamento que melhor explica o desempenho humano nas organizações Siqueira 1995 demonstrou que em seu relacionamento com o sistema que empre ga o indivíduo nutre crenças acerca desse relacionamento e realiza avaliações positi vas sobre ele a partir de crenças também positivas As avaliações por sua vez gera riam no indivíduo o desejo de se comportar pró sistema empregador A consistência des sa proposta tem sido sistematicamente con firmada Siqueira 2001 2002 Por outro lado o modelo unidimensional de Fishbein e Ajzen 1975 para a conceituação de ati tudes tem gerado nos últimos 20 anos a construção teórica de inúmeros construtos no âmbito da psicologia organizacional Siqueira e Gomide Jr 2004 afirmaram serem alguns desses construtos principal mente comprometimento organizacional afetivo envolvimento com o trabalho e sa tisfação no trabalho bases dos vínculos de senvolvidos pelos empregados e suas orga nizações de trabalho O conceito de atitudes também en contra largo emprego na gestão de pesso as Treinamento Freitas e Borges Andrade 2004 seleção Dela Coleta 1991 expli cação Gomide Jr 1986 Moraes Pilatti e Kovaleski 2005 e prevenção de acidentes de trabalho Dela Coleta 1991 são alguns dos exemplos do emprego desse conceito na gestão de pessoal Como já foi dito uma das formas de compreensão do mundo origina se dentre outras da maneira como as pessoas atri buem causas aos acontecimentos de suas vi das Heider 1970 apud Dela Coleta e Dela Coleta 2006 afirma que os indivíduos de forma quase científica buscam conhecer as causas dos acontecimentos que os cercam no afã de compreender predizer e controlar tais acontecimentos referentes a si pró prios e aos que o cercam A partir dos postu lados de Heider foi gerado um corpo teórico em psicologia social que tem sido um dos mais consistentes já elaborados Definida como uma organização das experiências do indivíduo baseando se na busca pessoal de compreensão formando uma relação unitá ria entre a origem e as mudanças que acar INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 351 retam os fenômenos e o próprio comporta mento de quem fez esta atribuição Dela Coleta 1982 p 7 a atribuição de causa lidade tem sido utilizada na explicação de inúmeros fenômenos psicossociais em todas as áreas da psicologia Na psicologia organizacional as te orias de atribuição de causalidade a even tos acidentais encontram amplo emprego notadamente na prevenção de acidentes de trabalho Elas são em número de três A primeira teoria busca de controle Walster 1966 postula que quando um aciden te grave é visto como consequência de um conjunto de circunstâncias imprevisíveis a pessoa é forçada a conceber que o acidente pode acontecer a ela Se por outro lado a pessoa acreditar que o evento é previsível e controlado e que alguém é responsável por isso ela pode sentir se capaz de evitá lo diferenciando se daquela pessoa responsa bilizada pelo evento comportando se de maneira diferente A segunda teoria crença no mundo justo Lerner 1970 apud Dela Coleta 1982 prevê que as pessoas ten dem a acreditar que vivem em um mundo justo onde as outras têm o que merecem e merecem o que têm Dessa maneira o aci dente seria interpretado como consequência de algum comportamento equivocado ou mal intencionado que a pessoa teria emi tido ou até mesmo como consequência de alguma característica pessoal A terceira teoria atribuição defensiva Shaver 1970 defende que quando uma pessoa vivencia um evento não previsto ela tenderá a se defender diferenciando se da vítima desse evento Tal postura seria determinada pela proximidade da situação acidental com a situação vivida pelo observador e pela gra vidade do acidente O observador buscaria conforme a teoria evitar a culpa se um aci dente viesse a acontecer com ele Estudos têm demonstrado que em acidentes de trabalho os empregados ato res e observadores dos acidentes tendem a empregar explicações próximas aos postula dos da teoria da busca de controle Segundo os pesquisadores Gomide Jr 1986 Dela Coleta 1982 Dela Coleta e Dela Coleta 2006 os empregados assim procedendo estariam na realidade buscando controle sobre eventos acidentais futuros obtendo uma garantia cognitiva de que não estariam envolvidos neles Nesses estudos uma outra variável é empregada com frequência Trata se do lócus de controle termo cunhado por Rotter 1966 apud Gomide Jr 1986 para designar o que ou quem detém o controle ou o foco de determinação dos eventos con forme percebido pelo indivíduo Assim se a fonte dos eventos é percebida como própria do sujeito dependentes de suas capacida des ou esforços tem se o locus de controle interno Ao contrário se o sujeito percebe a fonte dos acontecimentos como externa dependente de outras pessoas ou do acaso tem se o locus de controle externo Dela Coleta e Dela Coleta 2006 relatam que os indivíduos internos são mais acostumados a planejamentos a longo prazo são mais re sistentes à coerção apresentam maior per sistência no esforço para obtenção de resul tados e culpam se mais por suas falhas Os indivíduos externos por outro lado têm maior tendência ao conformismo sofrem mais influências afetivas negativas são mais imediatistas e mais insatisfeitos em suas re lações sociais No âmbito das investigações organiza cionais os estudos têm demonstrado que os indivíduos internos preferem supervisão mais participativa que diretiva Spector 1982 envolvem se menos em acidentes de trabalho Gomide Jr 1986 têm atitu des mais favoráveis a comportamentos se guros DAmorim 1990 apresentam mais comportamentos de coping quando sofrem perdas de membros em acidentes de traba lho Dela Coleta 1991 são mais satisfeitos e mais comprometidos afetiva e normati vamente com suas organizações Xavier 2005 valores Os valores são na definição de Rodrigues e colaboradores 2000 categorias gerais do INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 352 tOrres neiva cOLs tadas de componentes cognitivos afetivos e predisponentes a comportamentos que dife rem da conceituação clássica de atitudes pela sua generalidade Conforme os auto res um único valor pode encerrar inúmeras atitudes Para Schwartz e Bilsky 1987 os valores podem ser definidos como princípios ou crenças sobre comportamentos ou esta dos de existência que transcendem situa ções específicas que guiam a seleção ou a avaliação de comportamentos ou eventos e que são ordenados por sua importância Na esfera dos estudos organizacionais Katz e Kahn 1976 afirmaram que os valo res juntamente com os papéis e as normas constam entre os principais componentes de uma organização pois definem e orientam o seu funcionamento Os papéis prescrevem e definem modos de comportamento associa dos a determinadas tarefas as normas são expectativas transformadas em exigências enquanto os valores são as justificativas e aspirações ideológicas mais generalizadas Os valores atuam como elementos integra dores no sentido de que são compartilha dos por todos ou pela maioria dos mem bros organizacionais Eles seriam portanto centrais para a cultura organizacional na medida em que a força da cultura pode es tar vinculada ao grau em que os indivídu os compartilham os mesmos valores e com eles se comprometem O foco no estudo dos valores representa assim uma contribuição importante ao estudo da cultura organizacio nal visto que há necessidade de encontrar estratégias que permitam avaliar fatores cul turais e estudar o seu impacto na vida organi zacional bem como desenvolver meios para o seu gerenciamento Para Oliveira e Tamayo 2004 os valores referem se às crenças bá sicas em uma organização e representam a essência de sua filosofia para o alcance do sucesso pois fornecem uma direção comum aos empregados e orientam o comportamen to cotidiano Tamayo e Gondim 1996 definem de forma mais sistemática os valores como princípios ou crenças organizados hierar quicamente relativos a tipos de estrutura ou a modelos de comportamentos desejá veis que orientam a vida da empresa e estão a serviço de interesses individuais coletivos ou mistos Os autores destacam nessa de finição os aspectos cognitivo e motivacio nal além da organização hierárquica dos valores O aspecto cognitivo dos valores or ganizacionais é um elemento básico já que são crenças sobre o que é desejável ou não para a organização e expressam as respos tas dadas a problemas organizacionais O aspecto motivacional refere se à expressão de metas fundamentais da organização po dendo determinar a quantidade de esforço que os seus membros dedicam para emitir um dado comportamento bem como a per sistência na sua execução Os valores são re cursos que a organização utiliza para criar desenvolver e conservar sua imagem social e autoestima Finalmente os valores estão organizados de forma hierárquica indican do o grau de preferência por determinados comportamentos metas ou estratégias Os valores organizacionais têm fun ções importantes Tamayo 1998 sendo a primeira delas criar entre os empregados modelos mentais semelhantes relativos ao funcionamento e à missão da organização evitando percepções diferentes que certa mente teriam repercussões em seus com portamentos e atitudes A segunda função é a contribuição na construção da identidade social da organização tornando a distin ta em relação às demais organizações Os valores organizacionais atuam como me diadores nos conflitos contribuindo para a solução dos problemas da organização e consequentemente garantindo sua sobrevi vência Assim eles desempenham um papel importante no alcance dos objetivos organi zacionais e no atendimento das necessida des dos indivíduos Oliveira 2001 constata que valores organizacionais e valores indivi duais possuem uma interface já que ambos compartilham metas universais que expres sam a satisfação de exigências básicas do ser humano Assim o estudo de valores or ganizacionais pode adotar como referência os valores humanos pois ambos têm suas raízes em motivações pessoais tal como já havia postulado a psicologia social INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 353 considerações Finais As teorias oriundas da psicologia social sem pre tiveram amplo emprego em outras áreas afins psicologia da educação psicologia da saúde e psicologia comunitária são áreas de psicologia aplicada em que as chamadas microteorias sociais têm influências visí veis Na psicologia organizacional essas te orias são também largamente empregadas Conforme dito na introdução deste ca pítulo seu objetivo foi de registrar a influên cia da psicologia social no estudo de fenôme nos humanos em ambientes organizacionais Não se pretendeu contudo esgotar o assun to A abrangência dos fenômenos organiza cionais que empregam as teorias sociais não se esgotaria nos limites deste espaço Formação de grupos e sua influên cia nos estudos de liderança princípios de aprendizagem social e atração interpessoal seus impactos na formação e transmissão da cultura organizacional e sociometria como instrumento de gestão de pessoas são al guns dos exemplos dessa aplicação que já geraram obras inteiras Diante do grande leque de possibilidades e da amplitude do tema este capítulo procurou dar visibilida de a teorias mais diretamente utilizadas nos estudos dos fenômenos humanos nas am bientações de trabalho De qualquer modo parece estar evidenciado que onde houver fenômenos de interação humana em estudo aí haverá a possibilidade de emprego daque la que é no âmbito da psicologia a própria ciência do relacionamento reFerências ADAMS JS Toward and understanding of ine quity Journal of Abnormal and Social Psychology v 67 v 5 p 422436 1963a ADAMS JS Wage inequity productivity and qua lity Industrial Relations v 3 p 916 1963b ADAMS JS JACOBSEN PR Effects of wages inequities on work quality Journal of Abnormal e Social Psychology v 69 n 1 p 1925 1964 ALLEN NJ MEYER JP Affective continuance and normative commitment to the organization an examination of construct validity Journal of Vocational Behavior v 49 p 252276 1996 BORGESANDRADE JE ZANELLI JC Psicologia e produção do conhecimento em organizações e trabalho In ZANELLI JC BORGESANDRADE JE BASTOS AVB orgs Psicologia organiza ções e trabalho no Brasil Porto Alegre Artmed 2004 DAMORIM MAM Lócus de controle atitudes acerca da segurança e explicações para os aci dentes no trabalho Revista de 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assigned for an accident Journal of Personality and Social Psychology v 14 n 2 p 101113 1970 SIQUEIRA MMM Antecedentes de comportamento de cidadania organizacional a análise de um modelo póscognitivo Brasília 1995 Tese Doutorado Universidade de Brasília SIQUEIRA MMM Modelo póscognitivo para comportamentos de cidadania organizacional In SIQUEIRA MMM GOMIDE JR S OLIVEIRA AF orgs Cidadania justiça e cultura nas orga nizações São Bernardo do Campo UMESP 2001 SIQUEIRA MMM Medidas do comportamento organizacional Estudos de Psicologia v 7 n espe cial p 1118 2002 SIQUEIRA MMM Esquema Mental de Reciproci dade e Influências sobre Afetividade no Trabalho Estudos de Psicologia v 10 n 1 p 8393 2005 SIQUEIRA M M M GOMIDE JR S Vínculos do indivíduo com o trabalho e com a organização In ZANELLI JC BORGESANDRADE JE BASTOS AVB orgs Psicologia organizações e trabalho no Brasil Porto Alegre Artmed 2004 p 357379 SPECTOR PE Behavior in organizacional as a function of employees locus of control Psycholo gical Bulletin v 91 n 3 p 482497 1982 STAW BM Organizacional behavior a review and reformulation of the fields outcome variables Annual Review of Psychology v 35 p 627666 1984 TAMAYO A Valores organizacionais sua relação com satisfação no trabalho cidadania organizacio nal e comprometimento Revista de Administração da Universidade de São Paulo RAUSP v 33 n 3 p 5663 1998 TAMAYO A GONDIM MGC Escala de valores organizacionais Revista de Administração da Universidade de São Paulo RAUSP v 31 n 2 p 6272 1996 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS PsicOLOGia sOciaL PrinciPais temas e vertentes 355 THIBAUT JW KELLEY H The social psychology of groups Nova York Wiley and Sons 1959 THIBAUT JW WALSTER L Procedural justice a psychological analysis Nova York Erlbaum Hillsdale 1975 WAGNER III JA HOLLENBECK JA Comporta mento organizacional criando vantagem competi tiva São Paulo Saraiva 1999 WALSTER E Assigment of responsability for an accident Journal of Personality e Social Psychology v 3 n 1 p 7379 1966 WITT LA BROACH D Exchange ideology as a moderator of the procedural justice satisfaction relationship The Journal of Social Psychology v 133 n 1 p 97103 1992 WITT LA WILSON JW Income sufficiency as a predictor of job satisfaction and organizational com mitment dispositional differences The Journal of Social Psychology v 130 n 2 p 267268 1989 XAVIER VMC Locus de controle comprometimento organizacional e satisfação no trabalho um estudo correlacional Uberlândia 2005 Dissertação Mes trado Universidade Federal de Uberlândia INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS ÍnDice a Abstração 46 Ação racional teoria 182184 Acessibilidade atitudes 191 Acidentes causalidade 142144 Afetividade 238240 Afeto 240243 Agentes causais 84 Alemanha 1415 Alteridade e identidade social 253261 Altruísmo cognição social 8283 Ambivalência atitudes 191193 América Latina 2627 Asch grupo de estudo de conformidade 156158 Atenção cognição social 9192 Atitude s atributos ou propriedades 190193 acessibilidade 191 ambivalência 191193 força 190 componentes das 176180 componente afetivo 177178 componente cognitivo 177 componente comportamental 178179 visão unicomponente 179180 comportamento 180189 abordagens alternativas 185189 ação racional teoria 182184 outras variáveis 189190 conceituação 173175 estratégias de mensuração 204218 atitudes implícitas 213214 Brasil estudo em periódicos 206 conceito e estudo 204206 mensuração 206207 mensuração online 209210 método de Bogardus 212213 método de Guttman 210211 método de Likert 208209 método de Osgood 211212 método de Thurstone 207208 formação 193195 enfoques consciência cognitiva noção 194 funcionais 193194 teoria do reforço 194195 valores e funções 195 mensuração 175176 medidas autodestrutivas 175 medidas fisiológicas 175 técnicas observacionais 175176 mudança 159160 195203 conflito cognitivo 195196 fatores determinantes 198199 outros mecanismos 200 persuasão 197198 organizações 349351 Atração 46 238252 afetividade 238240 afeto 240243 subjetividade 240243 física 46 Atribuições cognição social 8791 b Brasil 3157 atualidade 3741 curso superior 4144 história 3137 influência social e poder 167 normas sociais conceito mensuração implicações 100133 pesquisa temas 4144 poder e influência social 167 pósgraduação 4144 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS ÍnDice 357 preconceito estereótipo discriminação 219230 representações sociais teoria 293294 c Casamento causalidade ver Relações conjugais Causalidade atribuições de organizações 349351 percepção e atribuição 134152 acidentes 142144 lócus de controle 137139 motivação 140142 relações conjugais 145149 Centralidade no eu 84 Chicago psicologia social sociológica 2324 Cognição social 7999 conflito 195186 componentes das atitudes 177178 características gerais 8385 compreendendo os outros 7981 elementos 8591 atribuições 8791 teoria da atribuição intrapessoal 8889 teoria da atribuição interpessoal 8991 schemas 8587 grupos humanos 8182 inferência 9296 dados aleatórios 9394 dados incompletos 9495 problemas inferenciais 96 profecia autorrealizante 9596 inteligência social 8182 linguagem e altruísmo recíproco 8283 memória 92 processos 9196 atenção 9192 Coletivismo relações intergrupais 332338 Comportamento atitude 180189 componentes das atitudes 178179 normas sociais 118 prósocial 5960 tolerado gama de 120 valores 302303 Comunicação 314339 Comunicação ver também Relações intergrupais Conflito realístico contato intergrupal 262286 teoria 265269 Conformidade resistência a 163165 Confucionismo relações intergrupais 323 Consciência cognitiva noção de atitude 194 Contexto social 4647 Controle causalidade 137139 Crise de valores 309 Cristalização 120 Cultura contexto relações intergrupais 331332 influência social e poder 161162 normas sociais 112115 relação intergrupais 314339 Curso superior Brasil 4144 d Dados cognição social aleatórios 9394 incompletos 9495 Diferença e identidade 253255 Discriminação 219237 Diversidade cultural aplicada 234 e Efeito de primazia 46 Efetividade componentes das atitudes 177178 Equidade contato intergrupal 262286 teoria 275282 Escola de Chicago 2324 de Iowa 2425 Espaço físico relações intergrupais 330 Esquemas 45 Estados Unidos psicologia social psicológica 1722 psicologia social sociológica 2225 Estereótipo 219237 Estigma 46 Estudo de conformidade grupo de Asch 156158 de obediência Milgram 158159 pesquisa hipotético 69 71 73 observacional 69 Ética pesquisa 7071 Eu conhecendo a si e ao outro 134152 centralidade 84 Europa 2526 Exemplares 46 Experimento pesquisa 7072 F Fidedignidade pesquisa 63 Força atitudes 190 Fracasso 141 França 1516 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 358 ÍnDice g Grupos contato intergrupal teoria 265282 262286 fontes de informação 284 teoria da equidade 275282 teoria da privação relativa 269275 teoria do conflito realístico 265269 humanos cognição social 8182 relações intergrupais 257260 314339 comunicação contexto cultural 331332 espaço físico 330 interação transcultural 329330 não verbal 327328 percepção do tempo 330 relações de intimidade 328329 relações interpessoais 328 verbal 327 cultura 315317 identidade social e alteridade 257260 individualismo e coletivismo 332338 valores 317323 confucionismo 323 Hofstede 320323 Inglehart 318 Rokeach 317318 Schwartz 318320 Guerra Mundial 1822 H Heurística 4546 Hipótese de pesquisa 69 71 História Alemanha 1415 América Latina 2627 Brasil 3137 Estado Unidos 2225 Europa 2526 França 1516 Inglaterra 14 Hofstede relações intergrupais 320323 i Identidade social 231232 e alteridade 253261 diferença 253255 histórico 255257 relações intergrupais 257260 Individualismo relações intergrupais 332338 Influência social e poder 153170 abordagens e tópicos clássicos 156159 grupo de Asch estudo de conformidade 156158 Milgram estudo de obediência 158159 Brasil 167 funcionamento moral 165167 moralidade 162165 persuasão e mudança de atitude 159160 tecnologia cultura marketing sociais persuasivos 161162 tipologias clássicas 154156 Inglaterra 14 Inglehart relações intergrupais 318 Inteligência social cognição social 8182 Intensidade 120 Interação transcultural 329330 Intimidade relações intergrupais 328329 J Justiça organizações 343347 l Linguagem cognição social 8283 Lócus de controle organizações 349353 M Marketing sociais persuasivos 161162 Memória cognição social 92 Mensuração discriminação 228229 estereótipo 225226 estratégias atitude 204218 preconceito 227 Método de Bogardus 212213 de Guttman 210211 de Likert 208209 de Osgood 211212 de Thurstone 207208 Milgram estudo de obediência 158159 Modelo de Retorno Potencial 117121 Motivação causalidade 142144 MRP ver Modelo de Retorno Potencial n Necessidades valores 303 Normas sociais Brasil 100132 definições e estudo 104115 construção 109112 contexto situacional 116117 dimensões culturais 113114 situação conceito 115116 versus cultura 112113 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS ÍnDice 359 mensuração 117124 normas subjetivas 121124 retorno potencial 117121 o Observação pesquisa 6869 Organizações 340355 atitudes atribuição de causalidade lócus de controle 349351 justiça 343347 poder 347349 troca e reciprocidade 342343 valores 351352 Orientação pragmática 84 P Percepção mútua 84 qualidade 84 Perfis valorativos 309310 Personalidade autoritária 231 Persuasão 159160 197198 Pesquisa métodos 5876 abordagem quantitativa e qualitativa 6667 análise de conteúdo 6768 análise de dados e resultados 6566 comportamento prósocial 5960 experimento 7072 comportamento 70 ética 7071 randonização de sujeitos 70 variabilidade externa 70 formulação de perguntas 6165 levantamento de dados 7273 observação 6869 participante 65 procedimentos e instrumentos 65 temas Brasil 4144 transcultural 321323 Pessoas desviantes valores 310 Poder e influência social 153170 abordagens e tópicos clássicos 156159 grupo de Asch estudo de conformidade 156158 Milgram estudo de obediência 158159 Brasil 167 funcionamento moral 165167 moralidade 162165 persuasão e mudança de atitude 159160 tecnologia cultura marketing sociais persuasivos 161162 tipologias clássicas 154156 Poder normativo 120121 organizações 347349 Pósgraduação Brasil 4144 Preconceito 219237 Privação relativa contato intergrupal 262286 teoria 269275 Problemas inferenciais 96 Processos automáticos 8485 Profecia autorrealizante 9596 Programação mental cultura 320321 Protótipos 45 Psicologia social Estado Unidos psicológica 1722 crise 22 pósguerra 1922 Segunda Guerra Mundial 1819 sociológica 2225 Escola de Chicago 2324 Escola de Iowa 2425 precursores 2223 r Raciocínio moral 163164 Randonização pesquisa 64 Reciprocidade e troca organizações 342343 Relações conjugais 145149 Relações intergrupais 314339 identidade social e alteridade 257260 Representações sociais conceito 291293 teoria 287295 antecedentes 287288 Brasil 293294 histórico 288289 pressupostos 289291 Repulsa interpessoal 238252 afetividade 138240 afeto 240243 subjetividade 240243 Retorno máximo ponto de 120 potencial e sistemas modelo de 121 potencial curva de 118119 potencial diferença de 121 potencial modelo de 117118 Rokeach relações intergrupais 317318 s Schemas 8587 Schwartz relações intergrupais 318320 Sistemas valorativos 309310 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS 360 ÍnDice Subjetividade 240243 Sucesso 141 t Tecnologia influência social e poder 161162 Tempo percepção do 330 Teoria conflito realístico 265269 da atribuição interpessoal 8991 da atribuição intrapessoal 8889 da equidade 275282 da privação relativa 269275 das representações sociais 287295 do conflito realístico 265269 do reforço atitude 194195 equidade 275282 funcional dos valores 301308 privação relativa 269275 Traços centrais 46 Troca e reciprocidade organizações 342343 v Validade pesquisa 6364 Valores atitudes 195 crise de 309 estabilidade da estrutura 310 humanos 296313 histórico 297299 materialismo e pósmaterialismo 300301 natureza 299300 relações intergrupais 314339 teoria funcional dos valores funções 301308 expressar necessidades 303 guiar comportamentos 302303 valorativas 303308 tipos motivacionais 301 organizações 351352 perfis e sistemas 309310 INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS