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Adriano Correia Org O perdão e os crimes contra a humanidade um diálogo entre Hannah Arendt e Jacques Derrida Cláudia PerroneMoisés Hoje sabemos que matar está longe de ser o pior que o homem pode infligir ao homem Crimes contra a humanidade e o imperdoável H Arendt Homens em tempos sombrios O perdão e seus falsos irmãos jurídicos Pretendo apresentar neste ensaio um diálogo entre as ideias propostas por Hannah Arendt e Jacques Derrida acerca do perdão e da punição Segundo Hannah Arendt os homens não são capazes de perdoar o que não podem punir nem punir o imperdoável e de acordo com a posição de Jacques Derrida podemos manter uma acusação penal mesmo podendo punir ao inversamente podemos não julgar mas perdoar Quais seriam as consequências que poderiam extrair dessas ideias quando estão em causa das ações contemporâneas a própria definição dos crimes contra a h e não se pode punir o perdão H ARENDT Origens do Totalitarismo pg 510 A Condição humana pg 253 Conclusão entre perder e punir Evidentemente muitas questões não foram examinadas permanecem em aberto ou subjazem ao que se acaba de expor Uma das mais importantes e mereceu a questão da pena de morte que foi um dos temas tratados por Derrida em seus seminários e que Arendt abordou em Eichmann em Jerusalém Outro grande tema é o da memória já que como disse Derrida cada vez que se pede perdão estamos fazendo um apelo à memória Neste particular cabe referir o texto de Paul Ricoeur acerca do perdão que está em A Memória a história e o esquecimento Conforme lembra Derrida a análise do perdão é interminável Parece que Derrida assim como Hannah Arendt não estava preocupado em educar ou convencer mas sim em compreender Considerou que as duas posturas que acabaram de expor acerca da combinação entre perdão e punição são diferentes mas não opostas Hannah Arendt analisa a questão do ponto de vista políticojurídico enquanto Derrida propõe uma visão ética uma ética muito próxima da ética cristã Como diz o provérbio popular Errar é humano perdoar é divino Talvez estejamos vivendo uma época em que é possível encontrar um lugar entre o perdão e a punição As Comissões de Verdade e Reconciliação podem ser entendidas como espaços onde as vítimas seus familiares e a sociedade têm a possibilidade de se reconciliar com o passado compreendendo o que se passou fazendo com que o indivíduo se sinta de novo em casa no mundo como diria Hannah Arendt Talvez Derrida tenha razão ao dizer que o perdão é algo ligado ao divino pois é difícil pensar em perdoar os crimes contra a humanidade se nos situamos apenas nos assuntos humanos Gostaria de finalizar trazendo a discussão para nossos pés Chegou o momento de abrir os arquivos da ditadura militar para que os crimes passados possam ser conhecidos Não se trata necessariamente de perdoar ou punir mas de saber o que aconteceu e portanto tentar compreender Compreender diz Arendt não significa negar nos fatos o chocante eliminar deles o inaudito ou ao explicar fenômenos utilizarse de analogias e generalidades que diminuam o impacto da realidade e o choque da experiência Significa antes de tudo examinar e suportar conscientemente o fardo que o nosso século colocou sobre nós sem negar sua existência nem vergar humildemente ao seu peso Compreender significa em suma encarar a realidade sem preconceitos e com atenção e resistir a ela qualquer que seja Jacques DERRIDA Foi et Savoir suivi de le Siècle et le Pardon entretiens avec Michel Wieviorka p 104 e S Referências bibliográficas AGAMBEN Giorgio Ce qui reste dAuschwitz Paris Rivages Poche 2003 ANTELE Robert Lespèce Humaine Paris Gallimard 1957 ARENDT Hannah Origens do Totalitarismo Tradução de Roberto Raposo São Paulo Companhia das Letras 1989 Eichmann em Jerusalém um relato sobre a banalidade do mal Tradução de José Rubens Siqueira São Paulo Companhia das Letras 1999 A Condição Humana Tradução de Roberto Raposo 10ª ed Rio de Janeiro Forense Universitária 2001 Responsabilidade pessoal sobre a ditadura In Responsabilidade e Julgamento Tradução Rosaurá Einchenberg São Paulo Companhia das Letras 2004 Verdade e política In Entre o Passado e o Futuro São Paulo Perspectiva 1972 DERRIDA Jacques Et Savoir suivi de Le Siècle et le Pardon entretiens avec Michel Wieviorka Paris Seuil 2000 Pardonner limparfait de limperceptible Charles de LHerne Derrida Paris Éditions de LHerne 2004 Ibid p 104 e 88 Ibid A condição humana pg 253 H ARENDT Responsabilidade pessoal e julgamento pg 85 Além dela muitos outros situados nessa mesma linha como o filósofo Wladimir Jankélévitch LImprescriptible defendem a ideia segundo a qual se nenhuma punição proporcional pode ser encontrada o crime permanece imperdoável Para Arendt tentamos classificar como criminoso um ato que esta categoria jamais poderia incluir Qual o significado da noção de homicídio quando nos encontramos em face da produção maciça de cadáveres Em Responsabilidade pessoal sob a ditadura diz ela na época o próprio horror na sua monstruosidade parecia não apenas para mim mas para muitos outros transcender todas as categorias morais e explorar todos os padrões de justiça era algo que os homens não podiam punir adequadamente nem perdoar Ibid pg 490 Ibid p 85 Derrida propõe ainda uma distinção entre o perdão condicional e o incondicional As duas hipóteses estão presentes em nossa tradição judáicocristã No primeiro caso o perdão é tenso sentido aquele que faz pelo pedido de perdão Nesse hipótese o sujeito já está a caminho da transformação reconheceu seu erro e se arrepende Existe aqui uma troca No segundo caso que para ele é o único onde se pode falar em verdadeiro perdão este é concedido aquele que seja a atitude de culpado mesmo que não tenha pedido o perdão é não se arrepender perdoase o culpado enquanto culpado O perdão é alheio ao político ou ao jurídico Para ele é possível perdoar o imperdoável O perdão não pode ser banalizado deve sempre ser excepcionável