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A Experiência de Deus nas Religiões Faustino Teixeira Sinopse Este artigo apresenta uma reflexão aproximativa da experiência de Deus nas religiões partindo da perspectiva localizada da teologia cristã das religiões mormente de inspiração católicoromana Com base na distinção estabelecida por R C Zaehner entre as religiões proféticas ou monoteístas e orientais ou misticas buscase apresentar de forma panorãmica e concisa o modo como as tradições judaica cristã islâmica e budista expressam a realidade do mistério fundamental Em seguida apontamse os traços comuns e as tensões presentes entre o cristianismo e estas tradi ções reHgiosas O objetivo é mostrar a viabilidade de uma perspectiva ecumênica planetária que possa abarcar as diversas tradições religiosas em vista do bemestar ecoumano bem como defen der teologicamente a plausibilidade de um pluralismo religioso de direito Palavraschave Experiência Deus Religiões Cristianismo Pluralismo Abstract This article makes an attempt to approach the experience of God in the religions starting from the particular perspective of a Christian theology of religions especially as it is pursued in the Roman Catholic tradition On the basis of the distinction drawn by R C Zaehner between propheticl monotheistic religions on the one hand and orientalmystical religions on the other an effort is made to present in concise and overview form the ways in which Jewish Christian Muslim and Buddhist traditions express the reality of fundamental mystery After that the article singles out the Doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma pesquisador do NEPREL coorde nador e professor da PósGraduação em Ciência da Religião PPClRUFJF Faustino Teixeira common features as well as the tensions existing between Christianity and the other world religious traditions Our goal is a twofold one first to show the viability of a planetary ecumenic perspective which would be able to embrace the various religious traditions with a view to ecohuman well being and second to defend theologically the plausibility of a de jUtE religious pluralism Keywords Experience God Religions Christianity Pluralism Introdução Não constitui tarefa fácil desvendar o universo da experiência de Deus ou do sagrado nas diversas tradições religiosas Embora con vocado para falar sobre este tema tão amplo e complexo gostaria de precisar de antemão o caminho que decidi traçar na aborda gem desta questão Em primeiro lugar seria importante explicitar o lugar a partir do qual eu falarei sobre o tema Minha reflexão se dá na perspectiva da teologia cristã das religiões e não de uma teologia mundial ou universal das religiões proposta por certos autores que transcenderia as identidades religiosas particulares ao mesmo tempo que as integraria Não creio ser possível uma teolo gia mundial pertinente a toda a humanidade e sem vinculação específica com uma comunidade religiosa particular Em linha de sintonia com a reflexão de lacques Dupuis sublinharia que uma teologia que se pretendesse supraconfessional tornarseia pro blemática na medida em que não há possibilidade de se fazer teologia a não ser a partir de uma fé específica Diversas adesões de fé não podem convergir numa teologia mundial mas numa diversidade de teologias Ao lado de uma teologia cristã das reli giões há assim um legítimo lugar para outras teologias confessionais O fato de ser confessional não implica necessari amente uma restrição de horizontes Jsto só ocorre quando a reflexão se encerra numa perspectiva ensimesmada ou provincial Não é esta a perspectiva que defendemos O caminho que apontamos vai no sentido de uma teologia cristã aberta e sensível ao horizonte universal que assume com I Jacques DUPUIS Verm una teologia cristiana dei pluralismo religioso p 1214 Ao defender a proposta de uma perspectiva global para a teologia cristã da religiões Dupuis sublinha a necessidade de uma reflexão teológica que saiba reconhecer e valorizar a pluralidade e a diversidade das crenças e a recíproca aceitação dos outros em sua alteridade singular Ibidem p1314 N do E Para dados bibliográficos completos deste e dos outros títulos cf as Refe rências Bibliográficas abaixo1 1 Numen revista de estudos e pesquisa da religio Juiz de Fora v 3 n I p I1 148 I A Experiência de Deus nas Religiões otimismo uma perspectiva global disponível às várias contribui ções e enriquecimentos advindos das outras tradições religiosas e que seja capaz de reconhecer e saudar o pluralismo religioso como um dado de princípio e não problemático Esta teologia cristã do pluralismo religioso encontra na doutrina da trindade a chave hermenêutica fundamental para uma interpretação da experiência da Realidade Absoluta testemunhada pelas outras tradições re ligiosas Tratase de uma perspectiva teológica declaradamente cristã e sua pertinência válida exclusivamente no âmbito cristão não podendo ser imposta como objetividade válida para todas as ou tras tradições religiosas Conforme a hermenêutica cristã onde quer que aconteça uma genuína experiência religiosa é segura mente o Deus revelado em Jesus Cristo que entra de maneira escondida e misteriosa na vida dos homens e das mulheres2 Em segundo lugar gostaria de precisar o campo religioso que será objeto desta reflexão Com base na distinção estabelecida por R C Zaehner3 entre as religiões proféticas ou monoteístas e orientais e místicas buscaremos apresentar de forma panorâmica e sucinta a forma como as tradições judaica cristã islâmica e budista expressam a realidade do mistério fundamental Serão apon tados em seguida os traços comuns e as tensões presentes entre o cristianismo e estas tradições religiosas O objetivo é mostrar a viabilidade de uma perspectiva ecumênica planetária que possa abarcar as diversas tradições religiosas em vista do bem estar eco humano 1 A Acolhida do Pluralismo Religioso O reconhecimento teológico do valor do pluralismo religioso implica a assunção de uma nova perspectiva teológica capaz de reconhecer o significado positivo das diversas religiões no plano da salvação Neste limiar do terceiro milênio constatase não ape nas avitalidade das grandes tradições religiosas mas igualmente a consciência da particularidade histórica do cristianismo Confor me dados recentes cerca de dois terços da população mundial 2 Ibid p 326 347 3 R C ZAEHNER 1ysticism Sacred and Profane Id Inde Israel Islam Religions mystiques et révélations prophétiques Numen revista de estudos e pesquisa da religiáo Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Fauslino Teixeircl não conhecem Jesus Cristo a população restante constituída de cristãos encontrase dividida entre si Os católicos consti tuem somente 18 da população mundial sendo quase a metade na América Latina Os muçulmanos já ultrapassaram os católicos em termos de presença mundial4 Este quadro atual suscita maior realismo por parte das aná lises teológicas ou magisteriais ainda devedoras de certa men talidade missionária de conquista típicas do século anterior segundo a qual a expansão geral do cristianismo e catolicismo seria uma questão de tempo Nesse sentido tornase difícil partilhar com João Paulo II a idéia de que estaremos todos reunidos no ano 2000 sobre as margens deste grande rio o Rio da Revelação do Cristianismo e da Igreja que corre através da humanidade a partir do que sucedeu em Nazaré e depois em Belém há dois mil anos5 A proposta de uma única reli gião mundial contraria a hipótese aqui defendida do pluralismo religioso de direito e em termos concretos não passa de uma ilusão deslocada da dinâmica religiosa atual Carece hoje de plausibilidade efetiva os projetos teológicos ou pastorais que desconheçam o valor singular das outras tradições religiosas ou que se limitem a avaliáIas unicamente segundo os parâme tros do cristianismo Há que respeitar os encaminhamentos particulares que procedem do destino de cada ser humano o qual onde quer que se encontre pode ser solicitado pela gra ça e pelo Espírito de Deus6 O pluralismo religioso vem acolhido como um fator positivo em importantes trabalhos teológicos sobre o tema da relação do cristianismo com as outras religiões Ganha a nível teológico 4 F LENOIR Y T MASQUELlER eds Encyclopédie des religions v 2 p 2422 5 JOÃO PAULO 11 Tertio millennio advenienreCarta Apostólica de João Paulo 11 sobre a prepa ração para o ano 2000 n 25 Em sua grande entrevista concedida a V Messori João Paulo 11 conseguiu se expressar de forma mais sintonizada com o pluralismo religioso de princípio Em vez de nos espantarmos com o fato da Providência permitir uma tão grande variedade de religiões nós deveríamos antes ficar admirados vendo nelas tantos elementos comuns Cf JOÃO PAULO 11 Cruzando o limiar da esperança p 88 6 Claude GEFFRÉ Como fazer teologia hoje hermenêutica teológica p 30Z Com base na Declaração do Vaticano 11 sobre a Liberdade Religiosa Dignitatis Humanae 3 Geffré reitera a importância do respeito ao destino espiritual de cada ser humano e por conseguinte de cada tradição religiosa Para este autor cada vez que tomamos verdadeiramente a sério o outro em sua alteridade somos convidados a uma melhor inteligência de nossa própria identidade e GEFFRÉ Le Coran une parole de dieu différente p 21 Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n 1 p 111148 A Experiência de Deus nas Religioes uma plausibilidade de direito deixando de ser visto como um dado conjuntural passageiro uma ameaça ou expressão da fra gilidade missionária da Igreja Tratase de um fenômeno rico e fecundo que haure sua razão de ser no próprio desígnio de Deus favorecendo ainda a transparência de toda a riqueza multiforme de seu mistério8 Enquanto fator positivo o pluralismo religioso sinaliza a profunda generosidade com que Deus mani festou o seu mistério de modo diversificado à humanidade bem como as respostas pluriformes dadas pelos seres humanos na diversidade de suas culturas à autorevelação divina O fundamento teológico primário para o reconhecimento deste pluralismo teológico de princípio é apontado na fecunda e superabundante riqueza e variedade das automanifestações de Deus à humanidade9 O Deus uno e trino que é mistério de amor não se encerra na solidão da incomunicabilidade mas co munga o seu mistério plural ao gênero humano na história Trata se de uma comunicação transbordante e diversificada As tradi ções religiosas da humanidade expressam estes diversos modos Hb 11 com que Deus falou e se prodigalizou aos seres huma nos muitas vezes em sua história Nelas se faz presente não sim plesmente um anseio descaracterizado impessoal de um Deus desconhecido mas a presença real do Deus de amor e misericor dioso em sua rica iniciativa de oferecimento salvífico 7 No campo teológico e magisterial há muita dificuldade em reconhecer este pluralismo religioso como dado de princípio Refletindo sobre o tema o cardeal Tomko assim se expressa O fato do pluralismo religioso e a nossa nova consciência sobre o mesmo não podem tornarse uma desculpa para evitar ou retardar a proclamação da salvação dos homens em Cristo Jesus J TOMKO La missione verso J terzo mJlennio p 260 Na mesma perspectiva inserese a reflexão do teólogo M Dhavamony Iodos são chamados a formar um novo povo de Deus A Igreja por intrínseca vocação é destinada a estender se de modo a incluir a inteira família dos homens M DHAVAMONY Teologia delle religioni p 24445 8 Dentre outros teólogos que partilham esta mesma perspectiva podemos apontar E SCHILLEBEECKX Umanità la storia di Dia p 217 GEFFRÉ O lugar das religiões no plano da salvação p 116 124 Os teólogos e bispos indianos foram pioneiros nesta reflexão Já em 1989 a Comissão para o diálogo e ecumenismo da Conferência dos Bispos Católicos da índia CBCI apresentou um um documento intitulado Diretrizes para o Diálogo InterReligi oso onde se afirmava A pluralidade das religiões é uma conseqüência da riqueza da mesma criação e da graça multiforme de Deus Cf 1 DUPUIS rso una teologia p 424 Ver também M AMALADOSS Rinnovare tutte le cose dialogo pluralismo ed evangelizzazione in Asia p 126 9 DUPUIS VelYo una teologiL p 520 Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de FOla v 3 n I p 111148 Faustino Teixeira 2 As Distintas Formas de Aproximação do Mistério Fundamental A teologia cristã das religiões busca hoje acentuar o significado das religiões como caminhos de salvação Esta nova perspectiva implica o reconhecimento da legitimidade de diversos percursos religiosos sempre direcionados para o horizonte da comunhão com o mistério fundamental Cada um destes percursos guarda uma alteridade irredutível e irrevogável que jamais será tematizado ou totalizado numa religião particular Este caráter único e singu lar de cada religião não impede mas exige uma dinâmica de aber tura ao outro O diálogo interreligioso visa justamente apontar os traços de complementaridade recíproca que vigora entre as diversas tradições religiosas Na experiência do encontro ocorre uma troca e condivisão dos valores salvíficos em favor de uma transformação e enriquecimento mútuos 1O Certos autores buscam fazer uma distinção entre as religiões monoteístas ou proféticas e as religiões orientais ou místicas Podese admitir a relevância desta distinção desde que operada com cautela Tem o mérito de sublinhar o fundamento comum das três religiões monoteístas de herança abraâmica situadas como religiões proféticas e do livro distinguindoas das tradições orien tais que acentuam mais a dimensão da interioridade da sabedo ria e da gnose Esta distinção porém não nos autoriza concluir em favor de uma separação rígida que excluiria qualquer signifi cado profético nas religiões orientais ou dimensão mística nas religiões proféticas 12 10 Ibid p 439 11 Cf a obra de Zaehner ver nota 3 O teólogo Hans Küng faz igualmente menção ao historia dor das religiões Friedrich Heiler H KONG et alii Cristianesimo e religioni universalt p 210 14 Ver ainda DUPUIS irso una teologia p 1617 34648 GEFFRÉ Athenes Jérusalem Bénares la rencontre de IOcident chrétien et de lOrient p 122 12 DUPUIS Verso una teologia p 16 Igualmente as considerações teóricas que tendem a simplesmente identificar a lndia religiosa com o politeísmo devem ser relativizadas O panteão do hinduísmo pode dar lugar a interpretações bem divergentes Mesmo considerando a abun dante diversidade de cultos dedicados a deuses e deusas distintos na índia verificase um monoteismo alternativo que ao contrário do Islam admite ao lado do deus cultuado por ocasião de urna festa anual ou peregrinação particular diversos deuses aliados Cf M HULlN L KAPANI Linduismo p 372 Numen revIsta de estudos e pesquisa da religião JUIZ de Fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas Religiões o caminho para se atingir a Realidade Absoluta nas relígíões oríentaísé encontrado na interioridade Tratase de uma busca do Absoluto desconhecido na gruta do coração 13 Cultivase mais a mística do entase a descoberta do Absoluto no íntimo de si mesmo ou a imersão na realidade de um Todo que nos inabita A tradição oriental enfaliza mais o apofatismo teológico excluindo assim a possibilidade de se alcançar o Absoluto mediante con ceitos A mediação para este encontro se dá através da experiên cia Uma conhecida sentença zen afirma melhor ver a face do que ouvir o nome Uma expressão desse apofatismo encontramos na experiência budista do sunyata vazio Este conceito vem empregado como expressão da inefabilidade e indizibilidade da realidade do Misté rio Absoluto Não indica relatividade ou vacuidade mas a radical diversidade que separa este Mistério de todo e qualquer atributo possível de ser concretizado ou simbolizado Na mística advaíta hindu a dinâmica religiosa vem concebida como uma experiência kenótica de radical esvaziamento do sujeito humano e seu potenciamento para perceber a transparência do Absoluto trans cendente e inexprirnível no mundo dos fenômenos Nesta expe riência rompese toda dualidade dvaíta dissolvendose tudo o que não é Absoluto O sujeito esvaziado de sua densidade ontológica reencontra sua identidade com o Brahman Em síntese o cerne da espiritualidade nas tradições orientais relacionase com a busca da libertação mediante a purificação da consciência e a superação dos obstáculos que interditam a visão interior Tratase de uma piedade que se volta para o interior aspi rando a libertação dos desejos a extinção da vida da vontade e dos afetos um processo de autotransformação que resulta em nova sabedoria uma experiência de unidade adquirida mediante uma prática meditativa O esforço aqui é pessoal É o próprio sujeito que deve trilhar o seu caminho de aprofundamento espiri tual descobrindo por si mesmo o valor da realidade que o abarca completa e liberta Inexistem aqui profetas ou mediadores da pa lavra salvadores ou messias que doam suas vidas por seus fiéis A salvação é aqui fruto de um esforço pessoal Nesta trajetória ori 13 DUPUIS rso una teologia p 326 Nllmen revista de estudos e pesquisa da religi1o Juiz de Fora v 3 n p 111148 ental o ponto focal não está na revelação pessoal de Deus ou no diálogo dual com o divino O que chamamos Deus como agente livre e definido que sai ao encontro do humano carece de impor tância central para a índia Mais que a existência de um Deus pessoal importa aqui a libertação do sofrimento a descoberta da imortalidade ou salvação moksa14 Nas religiões monoteístas ou proféticas o caminho de acesso à Realidade Absoluta é diverso A ênfase recai agora no êxtase ou seja no encontro com o Deus totalmente outro No cristianismo e nas outras religiões proféticas a experiência religiosa toma a forma de um diálogo interpessoal de Deus que assume a inici ativa manifestandose com o ser humano que responde a tal iniciativals Ao lado da compreensão de Deus como mistério inexprimível a mística ocidental acentuará o conhecimento catafático afirmativo fazendo assim recurso ao conceito de ana logia que permite dizer algo sobre Deus mediante as vias da afir mação da negação e da eminência A mística profética será uma mística da audição da Palavra A salvação vem aqui entendida como encontro pessoal com um Deus transcendente que ao lon go da história vai se manifestando através dos profetas instauran do uma história de relações pessoais Esta mística profética cons titui a forma original da mística cristã Uma mística que floresce no terreno da Palavra de Deus ouvida e obedecida Rm 101718 e que cresce até alcançar o caminho mais excelente hyperboén hodón 1Cor 1237 que dá realidade e consistência a todos os outros caminhos o da fé o da profecia o do conhecimento dos mistérios ou seja o caminho da agápe 1 Cor 1323J6 Para esclarecer ainda mais a peculiaridade tomada pelas tradi ções ocidental e oriental com respeito à aproximação do mistério fundamental podemos fazer menção à distinção traçada por C1aude Geffré com base nas análises de P Ricoeur e D Tracy entre pro clamação e manifestação Enquanto que nas religiões proféti 14 Xabier PIKAZA E fenómeno religioso p IlZ Este autor assinala porém o traço singular e distintivo da piedade bhakti na índia de traço mais universal e personalista que tende a concretizar a divindade num dos grandes deuses Shiva ou Vishnú 0 rosto desse Deus vai adquirindo traços pessoais superando assim a visão de um Brahma concebido como um Todo superior indiferente aos humanos Ibid p 180 15 DUPUIS Verso una teologiao p 326 16 H C de LIMA VAl Mística e política a experiência mística na tradição ocidental p 45 Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v J n I p 111148 A Experiência de Deus nas ReligiOes cas Deus se revela mediante a proclamação de uma palavra seja a Torah Jesus Cristo ou o Corão nas religiões orientais a ênfase recai na manifestação A realidade divina não toca o ser humano a partir de fora através de uma palavra ou lei exterior mas apre sentase como o fundamento de seu próprio ser e de todo o cosmos17 3 Traços Comuns às Religiões Monoteístas ou Proféticas Importantes elementos comuns podem ser identificados nas três religiões proféticas caracterizadas pelo encontro entre Deus e o ser humano Desde o início de suas traietórias o judaísmo cristi anismo e islamismo apresentamse como religiões proféticas dis tinguindose das religiões místicas indianas ou sapienciais chine sas Para as religiões proféticas é Deus mesmo o sujeito da inicia tiva decisiva com respeito ao evento salvífico Este Deus entra em comunicação com o ser humano que se coloca diante dele em atitude de escuta e confiança Entre os traços partilhados pelas três religiões proféticas pode mos assinalar a fé no único e mesmo Deus de Abraão 18 A origem comum das religiões monoteístas na fé de Abraão constitui a garantia da identidade pessoal do Deus que nelas vem adorado A presença de uma misteriosa complementaridade entre estas três religiões abraâmicas foi sublinhada com vigor por Louis Massignon 18831962 um dos mais destacados orientalistas católicos1 9 17 GEFFRÉ Athenes Jérusalem Bénares p 12122 18 KDNG Cristianesimo essenza e storia 1997 p 39 O Concílio Vaticano 11 reconheceu o patrimônio comum presente nas três tradições monoteístas Com respeito aos judeus reco nheceu que as premissas da fé cristã encontramse nos Patriarcas em Moisés e nos Profetas bem como a comum filiação de Abraão Com respeito aos muçulmanos reconheceu a fé comum manifestando sua estima para os muçulmanos que adoram o Deus uno vivo e subsistente misericordioso e onipotente Criador do céu e da terra Nostra Aetate 3 e 4 cf DOCUMENTOS DO CONcíLIO ECUMÊNICO VATICANO 11 Seguindo a mesma tradição João Paulo 11 ao falar para os jovens muçulmanos do Marrocos em Casablanca 1985 subli nhou a presença de muitas coisas comuns entre cristãos e muçulmanos e em particular a crença em Deus porque é nele que nós cremos vós muçulmanos e nós católicos JOÃO PAULO 11 Ai giovani musulmani dei Marroco p 345 19 GEFFRÉ La portée théologique du dialogue islamochrétien 1992 p 9 Numen reviSla de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Faustino Teixeira Jacques Dupuis menciona em particular a continuidade entre o lahweh da religião hebraica e o Pai de Jesus Cristo celebrado no cristianismo bem como a identidade pessoal que vigora entre o Deus hebraicocristão e o Deus presente no Corão e no Islã Isto não significa apagar as diferenças que permeiam o conceito de Deus presente nas escrituras destas três tradições2o É o mesmo Deus que vem adorado mas segundo uma inteligência diferente de sua unidade diferença que nos convoca a uma emulação recíproca no sentido da busca da verdade transcendente do Deus sempre maior21 A fé em Abraão constitui portanto uma referên cia normativa para as três religiões monoteístas e base para as propostas hoje em curso de uma Ecumene abraâmica que possa favorecer um retorno à autenticidade das tradições religiosas em questão e encontrar os caminhos de um novo ecumenismo capaz de fomentar a paz e a compreensão bem como transformar o espírito de rivalidade em entendimento recíproco no respeito às fidelidades singulareszz Outros traços comuns podem ser igualmente sublinhados uma visão da história direcionada a um fim com início na dinâmica criacional de Deus e orientada para um horizonte querido por Deus a presença de figuras proféticas como arautos da Palavra e da vontade de Deus a presença da Revelação de Deus consigna da num livro escrito considerado como normativo e critério de autenticidade um comum ethos fundamental haurido da vonta de do único Deus e expresso no decálogo hebraicocristão Ex 20121 e no Código islâmico dos deveres Sura 172238P Uma convergência ainda mais radical ocorre a nível da fé vivida e expressa pelos místicos das respectivas tradições Tanto na mística cristã na tradição da kabala judaica e no sufismo islâmico encon tramos místicos de grande profundidade e que testemunham va lores comuns de comunhão manifestando uma análoga e incan sável busca de união com o Deus IJnico para o qual tende o inteiro gênero humano24 20 DUPUIS Verso una tegia p 346 21 GEFFRÉ La portée théologique p 16 22 Ibid p 13 cf tb KarlJosef KUSCHEL Discordia en a casa de Abrahan lo que separa y lo que une a judias cristianas y musulmanes p 9 e 237s 23 iONG Cristianesimo p 3941 24 DUPUIS Verso una tegia p 354 Numen revisa de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 A atual sensibilidade em favor de um ecumenismo planetário tem buscado acentuar os traços comuns que unem judeus e cris tãos Com o Vaticano 11 a Igreja Católica manifesta uma nova sensibilidade dialogal rompendo com antigos preconceitos que reforçavam um antijudaísmo problemático Com a Declaração sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs Nostra Aetate NA recordase o vínculo de união entre o povo do Novo Testamento com a linhagem de Abraão e o patrimônio comum que vincula as duas tradições religiosas NA 4 A partir desta nova sensibilidade dialogal novos estudos foram sendo desenvolvidos visando sublinhar estes elementos comuns No carnpo cristão podemse mencionar os aprofundamentos realiza dos em torno de uma teologia cristã do judaísmo sintonizada com a explicitação da base judaica do cristianismo25 Um traba lho importante realizado nesta direção foi apresentado por Hans Küng em seu livro sobre o judaísmo26 lJesta obra Hans KCing busca mostrar que o judaísmo antes de ser um Antigo Testamen to ultrapassado constitui uma realidade autônoma e dotada de estupefaciente continuidade vitalidade e dinamismo27 Este au tor sublinha que o cristianismo não pode desconhecer sua base judaica Jesus eMaria eram judeus28 bem como seus discípulos e a primeira comunidade dos cristãos Jesus cresceu e se formou em profundo contato com as Escrituras orações cultos e festas judai cos Desta estreita ligação permanecem traços que são comuns a fé no Deus único de Abraão lsaac e Jacó as Sagradas Escrituras como fonte da fé comum o Primeiro Testamento a familiaridade partilhada na experiência litúrgica salmos orações e leituras o ethos comum em favor da justiça codificado nos dez mandamen tos a fé na continuação da história do povo de Deus marcada pela esperança comum da comunhão plena em Deus29 25 Ver de modo especial a clássica obra de C THOMA Teologia crisiana dellebraismo 26 KONG Ebraismo 27 Ibid p 9 28 A Constituição Dogmática Lumen Genium LG do Vaticano 11 fala dos judeus como aque le povo que foi objeto das alianças e promessas e do qual Cristo nasceu segundo a carne Rm 945 povo em virtude de sua eleição tão amado por causa dos patriarcas LG 16 29 KONG Ebraismo p 38889 Numen revístJ de estudos e pesquisa da religião Juiz de For v 3 n I p 111148 Faustino 1eixeira Assim como a abertura aos judeus o Vaticano 1I sublinhou a sintonia do cristianismo com o islã As duas tradições vinculam se pela fé num único Deus criador Este dado foi bem acentuado na Constituição sobre a Igreja Lumen Centium LG Adoram conosco um Deus único e misericordioso que há de julgar os homens no último dia LG 163 O orientalista Louis Massignon já em 1947 sublinhara este dado O islã é a religião da fé e não a religião de uma fé natural no Deus dos filósofos mas a fé no Deus de Abraão de lsaac e de Ismael 31 fé em nosso Deus32 As duas tradições podem ser definidas como religiões do livro apresentando igualmente um acontecimento inaugurador um tex to original e uma comunidade interpretativa As escrituras porém não conseguem traduzir de forma adequada o mistério inacessível da Palavra de Deus Tanto na revelação cristã como na corânica permanece resguardada a distância que interdita a objetivação perfeita desta Palavra33 Analogias podem ser estabelecidas entre a Bíblia e o Corão sobretudo com respeito à mensagem bíblica do Antigo Testamento ou mesmo em certos casos do Novo Testa mento34 Estudiosos recentes têm buscado mostrar as afinidades e analogias entre a imagem corânica de Jesus e a cristologia judai cocristã acristologia primitiva de Jesús Servidor de Deus presen te na Igreja judaicocristã e que foi sendo progressivamente subs tituída pelas formulações gregas da Igreja helenista que prevale ceram nas decisões dogmáticas de Éfeso e Calcedônia35 30 Os dois papas do Concilio Vaticano 11 João XXIII e Paulo VI manifestaram grande sensibilida de diante do islamismo e acolheram de forma positiva o espírito de abertura na abordagem da questão As passagens do Vaticano 11 que tratam o tema do islã LG 16 e NA 3 refletem uma nítida influência do orientalista L Massignon com o qual os dois papas estiveram ligados por laços de amizade Ver a respeito a nota de Jesús Moreno Sanz apud L MASSIGNON Oencia de la compasión p 40 n 3 31 A singularidade do ismaelismo do islã é defendida por CGeffré Assim como há uma especificidade irredutível de israel podese igualmente falar de uma especificidade irredutível do ismaelismo do islã Os dois fazem parte do desígnio de Deus como desígnio de graça C Podese estimar que a religião de Abraão como religião da Aliança estendese através de Ismael ao islã Cf GEFFRÉ La portée théologique p 8 32 Cit apud Jacques JOMIER Dieu et lhomme dans le Coral7 p 28 E confirmando a tese de Massignon acrescenta Jomier Os muçulmanos e os cristãos dirigemse ao mesmo Deus ao único Deus que é que existe a Deus ele mesmo Ibid p 29 33 GEFFRÉ Le Coran une parole de Dieu différent p 223 34 Maurice BORRMANS Oríel7tamel7ti per un dialogo tra cristiani e musulmani p 68 35 Hans Küng chega a questionar a tese tradicional sobre o conhecimento superficial de Maomé Numen revista de studos e pesquisa da religião JUIZ de fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas Religiães 31 A Experiência de Deus no Judaísmo A profissão de fé no Deus uno e único que estabeleceu uma aliança permanente com os judeus reconhecidos como povo de Deus constitui instância central do judaísmo36 Foi em defesa do monoteísmo estrito que a tradição judaica reagiu permanente mente aos dogmas cristãos da Trindade e da Encarnação A afir mação da unicidade de Deus vem expressa no início de ullla das orações mais significativas da religião judaica a Xemá Ouve Ó Israel lahweh nosso Deus é o único lahweh Dt 64 As reações de estudiosos rabínicos contra as idéias metafísicas que introduzi am divisões em Deus remontam aos século 11 e 111 de A partir da Idade Média e nos séculos sucessivos o dogma trinitário vem afrontado com maior rigor Atribuíase ao mesmo uma atenuação do conceito de Deus uno e único de Israel Aplicase ao cristia nismo o conceito religiosojurídico de shittuf ou seja associação ou coletivização Para os judeus o mistério da trindade significava uma deformação ou enfraquecimento do monoteísmo purO3 O conceito shíttuf atribuído aos cristãos não se identificava po rém com a noção de idolatria ou politeísmo Consideravase an tes o cristianismo como um monoteísmo atenuado e diluído38 Em sua reflexão sobre a teologia cristã do pluralismo religioso Jacques Dupuis recorda que apesar de o mistério da trindade ter sido revelado em Jesus Cristo conexões com este mesmo misté rio encontraríamos já no judaísmo Para este autor o Antigo Tes tamento não excluiria a presença de uma economia universal mediante a ação da Palavra de Deus daba da Sabedoria de sobre o cristianismo e levanta a hipótese defendida também por outros autores sobre o seu bom conhecimento da estrutura fundamental da cristologia sirosemítica Pa ra este tema cf KONG Cristianesimo p 11617 GEFFRÉ La portée théologique p 15 36 THOMA Teologia aistiana p 138 37 Ibid p 140 38 Esta resistência à trindade não ocorreu na mesma proporção entre os adeptos da mística judaica A trindade vem também questionada mas em sintonia com os cristãos admitese uma rica vida intradivina bem como múltiplos modos do agir de Deus ad extra e movi mentos dialéticos e dialógicos insondáveis entre a infinidade de Deus e os modos de sua ação no mundo Cf THOMA Teologia aistiana p 145 Estas tendências trinitárias foram objeto de muitas resistências por parte da ortodoxia judaica Cf KDNG EbtiJismo p 42Z Numen revista de estudos e pesquisa da reiglio Juiz de Fora v 3 n l p 111148 Fauslino Teixeilii Deus hokmah e do Espírito de Deus rOah A Palavra de Deus diz respeito à lei divina que interpreta os significados das interven ções históricas de lahweh Ex 20117 e Dt 5622 A Sabedoria de Deus constitui um reflexo da luz eterna e eflúvio do poder de Deus Sb 72526 Criada por lahweh antes de seus feitos mais antigos Pr 822 é esta Sabedoria que aponta o caminho da vida da inteligência e do favor de lahweh O Espírito de Deus por sua vez representa a vitalidade energia e potência divina em ação desde o ato criador Tratase do Espírito que dá vida ao caos renova a face da terra e ativa os seres humanos com sua energia criadora A Palavra a Sabedoria e o Espírito não representam pes soas distintas de lahweh mas atributos dinâmicos de Deus Esta tríade revela segundo Dupuis as relações de Deus com a humani dade no processo da história da salvação e apresentam de forma antecipada as principais categorias que a autorevelação de Deus em Jesus Cristo e a sua elaboração no contexto da tradição cristã iriam colocar posteriormente em ação39 A afirmação de Deus defendida pelos judeus não pode po rém ser identificada com um monoteísmo transcendente rigoro so Não há como sustentar esta hipótese com base na Bíblia vetero ou neotestamentária nem na literatura talmúdica ou judaico esotérica O que transparece em toda a tradição judaica é a ideia do Deus da aliança de um Deus terno e compassivo que se insere nas situações de seu povo e condivide com ele a sua trajetória O Deus judaico é animado de um pathos atual que deixa ser visi tado em sua intimidade pelos profetas bíblicos e outros destinatá rios de seu amor Tratase de um Deus que ama os seres humanos que sofre com os seres humanos que precisa dos seres humanos e se revela com muitos rostos40 No judaísmo percebemos a presença de uma dialética que articula os conceitos de Deus como infinito e transcendente e ao mesmo tempo profundamente próximo evizinho ao ser humano O livro do Êxodo aponta a distância que separa Deus do ser humano Não poderás ver a minha face Ex 33 20 Já o livro de Isaías descreve de forma muito feliz a idéia da proximida 39 DUPUIS Verso una teologia p 357 ver tb p 616 40 Reinhard NEUDECKER I vari volti dei Dia único p 7496 Numen relisa de estudos e pesquisa da religião Juiz de fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas Religiões de Eu habito em lugar alto e santo mas estou junto ao abatido e humilde C ls 5715 O Deus de Israel está sempre muito próximo de seu povo como o Deus clemente e misericordioso Qual a grande nação cujos deuses lhe estejam tão próximos como lahweh nosso Deus todas as vezes que o invocamos Dt 47 Esta proximidade e presença de Deus junto aos seres huma nos foi descrita de forma particular na teologia da shekinah pre sente no judaísmo rabínico que sublinha a inabitação enquanto modo particular de existir e agir de Deus O Deus da aliança não se faz unicamente presente na tenda da aliança ou no templo mas acompanha sempre a comunidade de seu povo mesmo no exílio é o Deus Emanuel o Deusconosco41 A afirmação da proximidade de Deus junto aos seres humanos não significa entretanto uma pura e simples identificação O tra ço de distinção vem sempre acentuado com vigor pelos judeus Daí a grande dificuldade em aceitar nos meios judaicos a idéia de que numa certa época da história humana Deus tenha se en carnado num ser humano A doutrina da encarnação vem igual mente identificada pelos judeus como mistura união ou as sociação indevida de algo criado com Deus shittuf A tradição judaica manterá sempre acesa a reserva contra a perspectiva cristã que situa num mesmo plano ontológico Jesus e o Pai o que ocorreu sobretudo após sua difusão no universo helenista A divergência entre judeus e cristãos como bem acentuou David Flusser não situase no âmbito das doutrinas de Jesus mas no âmbito da cristologia42 Importantes autores da tradição judai ca reconhecem em Jesus um judeu exemplar O filósofo Martin Buber define Jesus como o irmão maior portador de uma men sagem autenticamente judaica Igualmente o seu discípulo Schalom Bem Chorin retoma esta idéia de Jesus como judeu exemplar reconhecendo nele alguém animado por uma fé incondicionada em Deus e radicalmente fiel à sua vontade No exemplo de Jesus identifica o elo de união entre judeus e cristãos43 No campo 41 Para Thoma a raiz da shekinah não encontrase no céu mas entre os seres humanos na terra cf THOMA Teologia cristiana p 142 Ver ainda KUNG Ebraismo op cit p 424 428 NEUDECKER I vari voltL p 978 H H HENRIX Diálogo judaicocristão Do ponto de vista católico p In 42 KUNG Ebraismq p 359 43 Ibid p 350 Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Faustino Teixeira católico ocorre similar reconhecimento Como afirmado no do cumento da Conferência Episcopal Alemã quem encontra Jesus Cristo encontra o judaísmo44 Os autores da tradição judaica reconhecem em Jesus uma per sonalidade exemplar mas nada além de um homem exemplar Na expressão de Bem Chorin a fé de Jesus nos une mas a fé em Jesus nos divide45 A dificuldade maior está em aceitar Jesus Cristo como a segunda pessoa da trindade divina Para os ju deus isto é inaceitável e justamente pelo fato de Jesus ter sido um judeu Segundo o estudioso judeu Pinchas Lapide os cami nhos de diálogo entre judeus e cristãos devem tomar como base não a elevada cristologia dos concílios a partir do alto mas a trajetória histórica de Jesus a partir de baixo Partindo do olhar com que os discípulos de Jesus puderam identificálo e perceber o conteúdo de sua mensagem na história é que se abrem novas pistas para o diálogo com os judeus que igual mente podem levantar a questão quem foi propriamente ele 746 32 A Experiência de Deus no Cristianismo O cristianismo encontrase fundado numa compreensão de um Deus que é comunhão de um Deus que integra as diferenças de um Deus que é Trindade e não solidão Ele suscita a diferença não por estar marcado pela insuficiência mas justamente por ser comunhão 47 Por ocasião do Encontro de Puebla João Paulo II afirmara Já se disse de forma bela e profunda que nosso Deus em seu mistério mais íntimo não é uma solidão mas uma famí lia pois leva em si mesmo a paternidade a filiação e a essência da família que é o amor48 44 CONFERtNClA EPISCOPAL ALEMÃ Relações entre a Igreja e o judaísmo abriI1980l cil apud KDNG Ebraisma p 34Z 45 KDNG Ebraismo p 350 Conforme a expressão do estudioso judeu Pinchas Lapide o que separa os judeus dos cristãos não são os 33 anos que marcaram o itinerário de Jesus mas as últimas 48 horas contadas a partir da tarde da sexta feira santa os dois dias determinantes sobre os quais se apoia toda a eristologia Cil ibid p 352 46 Ibid p 3S2 47 Christian DUQUOC Un dia diverso p 114 IIZ Como sublinha este autor a unidade de Deus não significa a superaçãO das diferenças mas estas constituem a sua condição de pos sibilidade cf ibid p 13Z 48 JOÃO PAULO I Homilia pronunciada no seminário Palafoxiano de Puebla durante eucaristia Numen revista de estudos e pesquisa da religião JUIZ de Fora v J n I p 1I1148 A Experiência de Deus nas ReligiOes A concepção cristã de Deus descarta por si mesma toda perspectiva monolítica e fechada de Deus Existe pois uma di mensão plural em Deus49 Rico em sua unidade de relações o Deus cristão não é nem o Um do monoteísmo estrito de tipo plotinian050 nem o Vários do politeísmo Tratase de um Deus que integra o plural Um monoteísmo que integra ousaria dizer a inquietude o sussurro a riqueza do plural 51 Como bem sabemos mediante a perspectiva trinitária o plural o múltiplo não podem absolutamente ser identificados como algo negativo Esta identificação foi fruto da tradição grega e filo sófica que com poucas exceções ponderou unicamente a glória e a nobreza do Um encerrado em si mesmo como o de Plotino O monoteísmo presente no cristianismo revelanos que o Um é rico de uma multiplicidade interna A riqueza da composição de vários em um foi observada por muitos pensadores teólo gos e poetas Pascal dizia Toda a verdade é feita de verdades contrárias que parecem excluíIa e que subsistem numa ordem admirável52 Este monoteísmo original e aberto foi fruto da audácia das primeiras gerações cristãs que souberam trans gredir a compreensão do monoteísmo comum Deus não se encontra na solidão Deus não é solidão Non in solitudine Deus djz llario de Poitiers Já Orígenes em sua homilia sobre Ezequiel rompia o bloqueio do conceito filosófico grego do Deus impassível ao sublinhar que o Deus cristão é alguém que tem piedade que se compadece que experimenta uma paixão de caridade Salienta que nem mesmo o Pai é impassível Ao se colocar diante dele em oração ele manifesta piedade e se compadece experimenta uma paixão de caridade colocandose numa condição incompatível com a grandeza de sua natureza53 realizada em 28 de janeiro de 1978 In Documento de Puebla 2 ed Petrópolis Vozes 1979 p46 49 GESCHÉ Dia per pensare v 5 p 205 50 Para este filósofo neoplatônico a multiplicidade seria impensável sem a unidade Como indica Gesché o deus do mito e da filosofia permanece sempre um deus que não busca sair de si mesmo só diante de si mesmo Nonos pIOS monorf como diz Piotino Tratase de um ser idêntico que não se divide e que permanece inteiro ele não é distante de nada e não tem necessidade de invadir nada Cf GESCHÉ Dia per pensare v 3 p 1161Z 51 GESCHÉ Dia per pensare v 5 p 206 52 Ibid p 20Z 53 Ibid p 180 Numen reviSla de eSlUdos e pesquisa da religião JUi2 de Fora v 3 n I p 111148 Faustmo Teixeild Essa kenosiS54 de Deus essedescensus esse vir ao encontro do humano era algo de inimaginável para aquele tempo e em viva contradição com o paganismo Como sublinha Gesché Deus não seria a rigor monoteísta55 É de fato a partir do três que apren demos o significado do um O cristianismo não fecha assim caminho a uma concepção mais flexível da unidade Neste sentido introduz em sua própria linguagem IJma abertura que felizmente impossibilita qualquer ra ciocínio excludente Assim podemos nos aproximar da intimida de de Deus um Deus que integra a diferença e que convoca o cristianismo a dar direito à diferença Tratase igualmente de um Deus que é mistério que sempre advém Um Deus que é mistério do mundo mas cuja visibilidade é provisória se dá nas condições do mundo O mundo não pode tornar manifesto o Deus eterno de modo eterno divino56 O ser de Deus guarda surpresas inau ditas para cada um de nós Sua substância mais íntima constitui evento do viraser é o Deus que era que é e que vem O Deus da Bíblia é um Deus que bendiz o múltiplo Já no livro do Gênesis a multiplicidade das famílias da terra e a varieda de de suas línguas vêm acolhidas e celebradas positivamente Gn 103132 Etodas as nações da terra benditas Gn 123 O epi sódio da torre da babei no capítulo 11 do mesmo livro narra a condenação divina da ambição humana idolátrica de colocar no lugar de Deus uma humanidade monolítica A pluralidade vem assim acolhida por Deus No Novo Testamento o episódio de Pentecostes constitui a real consagração do plural e de sua cida dania A efusão do Espírito indica que a pluralidade das línguas e das culturas é necessária para traduzir a riqueza multiforme do mistério de Deus 54 o nosso Deus não é alguém que interdita os caminhos da alteridade mas é um Deus de tríplice quenose como sublinha A Gesché a Quenose da trindade que abre espaço ao outro em sua alteridade de relações b Quenose da criação que desde o início do mundo celebra a presença do ser humano ao seu lado como sua ímagem c Quenose da encarnação que se esvazia de sua condição divina e se abre ao desafio do humano O Deus do abandono de si Tratase portanto de alguém que não se fecha de forma enciumada em sí mesmo e nos seus direitos mas que se afirma como abundãncia de gratuidade Alguém que é capaz de todos os atos da linguagem à exceção do monólogo Cf GE5CHÉ Lidentité de Ihomme devant Dieu p 22 55 Na expressão de Gesché Deus não é ousarei dizer monoteísta GESCHÉ Dia per pensare v 5 p 207 56 Eberhardt JONGE Dia mistelD deI mondo p 491 Numen revista de eSludos e pesquisa da leligião Juiz de FOId v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas ReligiOes o Deus de Jesus é alguém que comunga com o ser humano um Deus de ternura e de piedade lento para a cólera rico em amor e fidelidade Ex 346 Como bem sublinhou W Pannenberg o Deus de Jesus não se difere do Deus testemunhado no Antigo Testamento e reverenciado na fé judaica o mesmo Deus de Abraão Isaac eJacó Mt 1226s57 Éum Deus de misericórdia rahamirrf8 e de bondade hanum rico em graça hesecJ e fidelidade emed Estas são imagens tomadas das emoções e atitudes que mais intimamente comprometem avida pessoal dos seres humanos as que serão aplicadas a Javé com particular realismo pelos profe tas59 Como recorda Ronaldo Munoz rahum é a ternura o carinho e a compaixão que sente a mãe pelo seu filho pequeno hanun a benevolência ou favor dedicado por alguém para com os seus prediletos hesed o amor de solidariedade e a confiança mútua dos que estão intimamente ligados60 O Deus de Jesus não é o Deus da ataraxia estóica da impassibilidade platônica da imobilidade aristotélica mas um Deus que cuida do ser humano alguém atento e preocupado Eassim se manifesta desde a primeira página da Bíblia Não é bom que o homem esteja só Gn 218 até a sua última página com o livro do Apocalipse Eis que eu venho em breve Ap 227 Um Deus que cuida de cada cabelo de nossa cabeça cf Lc 2118 que faz o sol nascer indistintamente para todos e a chuva jorrar sobre justos e injustos Mt 545 Os Evangelhos testemunham de forma muito clara como Jesus retoma esta dinâmica de alteridade suscitada pela sua profunda relação com o Pai Tratase de alguém que se afirmou e cresceu 57 Wolfhart PANNENBERG Teologia Sistematica v I p 294 58 Em hebraico a palavra rahamim significa ter entranhas como uma mãe e possuir seios como uma mulher Deus não só tem um coração que ama Isso já é extraordinário Mas também tem entranhas Isso é avassalador Tal fato permite que Deus seja visceralmente bom Cf Leonardo BOFF Brasa sob cinzas p 50 Deus é marcado pelo princípio misericórdia opondose assim às fraternidades de terror Este princípio misericórdia constitui um paradigma materno Com base em tal paradigma Boff levanta a seguinte interrogação podem as mães condenar o fruto de suas entranhas lá onde a misericórdia tem o seu trono Mesmo o filho mais criminoso ou a filha mais pervertida não deixam jamais de ser filho e filha Eles serão amados sempre Jamais sairão do coração de suas mães Elas amam compreendem perdoam L Definitivamente Deus não precisa de uma lata de lixo Significaria sua eterna vergonha e seu infinito fracasso Ibid p 567 cf tb Saber CUidar ética do humano compaixão pela terra p 127 59 Ronaldo MIJNOZ O Deus dos cristãos p 172 60lbid Numen revista de eslUdos e pesquisa da religiao Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Faustmo Teixeira como um judeu fiel mas ao mesmo tempo crítico diante das rigorosas observâncias religiosas mantidas pelos judeus como ex pressão da vontade de Deus Esta relação de alteridade foi descrita de forma primorosa pelo biblista Carlos Mesters em trabalhos recentes61 Ao conviver 30 anos no interior da Galiléia Jesus se dá conta da dura realidade da exclusão sofrida por segmentos simples da população os leprosos os doentes os publicanos as mulheres os pagãos os pobres e outros Excluídos ou renegados em nome das normas vigentes da cultura e da religião Um dos traços peculiares da prática de Jesus é a acohídadada aos excluídos sua ternura e o amor receptivo para com os pobres e os excluídos de seu tempo sobretudo para com os samaritanos Para os judeus daquele tempo os samaritanos eram postos do ponto de vista cultuai e ritual em pé de igualdade com os pa gãos62 Como sublinha Mesters o povo dos terreiros de can domblé é hoje para muitos de nós católicos o que os samaritanos eram para os judeus no tempo de Jesus63 Aos samaritanos Jesus dedica de modo preferencial a sua ternura e amor acolhedor Je sus não condena a aproximação com o diferente Ele faz o contrá rio Na parábola do bom samaritano coloca um samaritano como exemplo para o sacerdote e o levita Lc 102937 Em bela pas sagem de sua clássica obra sobre a teologia da libertação Gustavo Gutiérrez sublinha que o samaritano acercase do ferido que está à beira do caminho não por um frio cumprimento de obrigação religiosa mas porque se lhe removem as entranhas porque seu amor por esse homem se fez carne nele64 Jesus não evita o território impuro dos samaritanos como o faziam os judeus observantes da época Ele entra nas cidades e nos povoados da Samaria mesmo sem ser bem recebido Lc 952 53 No episódio dos dez leprosos descrito por Lucas será justa 61 Seguiremos aqui de perto a reflexão deste autor no texto Carlos MESTERS Jesus e a cultura do seu povo 62 o Joachim JEREMIAS Jerusalém no tempo de Jesus São Paulo Paulinas 1986 p 469 Os samaritanos eram vistos como desprezíveis e pervertidos Cf ibid p 471 63 MESTERS Jesus e a cultura de seu povo p 18 Para os doutores da lei fariseus e sacerdotes da época os fariseus não apresentavam valor estando possuídos pelo demônio O próprio Jesus não escapou deste estima Você é um samaritano e tem o demônio lo 848 64 Gustavo GUTIÉRREZ Teologia da libertação p 167 Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas ReligiOes mente o samaritano aquele que o reconhecerá e o agradecerá pela graça recebida Lc 171516 Jesus puxa conversa com a mulher samaritana o que era proibido pelos costumes da época lo 4765 Econversando com ela não a condenou Pelo contrá rio foi a esta mulher da Samaria que ele por primeiro se revelou como o l1essias lo 42526 Na conversa com a samaritana Jesus colocou os pingos nos is lo 42122 mas não disse que ela devia abandonar a sua religião66 Jesus não fazia acepção de pessoas convivia e partilhava a comida com pecadores e publicanos Mc 21516 e Lc 530 Escandaliza os poderosos de então ao afirmar que os publicanos e as prostitutas teriam precedência no Reino de Deus Mt 2131 Os excluídos tinham um lugar destacado em seu coração Não reage com repulsa como o fariseu ao gesto acolhedor da prosti tuta que derrama o frasco de alabastro com perfume em seus pés enxugandoos com os cabelos Ao contrário reconhece neste gesto a demonstração de um grande amor Lc 73647 Jesus tocava em pessoas impuras abraçava as crianças chamava as mulheres para seguilo Jesus é capaz de acolher a mulher cananéia que era de outra raça e religião o oficial romano pagão e dizer Nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé Lc 79 de aceitar o des conhecido que expulsa demônios em nome de Jesus mesmo não pertencendo à sua comunidade Mc 93840 de reconhecer o valor e fé em todos aqueles que se comprometem na solidarieda de para com os necessitados independentemente da religião pro fessada Mt 253146 A misericórdia era a chave de sua éti ca67 e para ele o canal privilegiado de acesso ao Reino da Vida A missão que Jesus confere a seus discípulos e discípulas era uma missão de paz Ao contrário de outros missionários descritos no Evangelho Mt 2315 os seguidores de Jesus não podiam levar nada em sua missão nem ouro nem prata nem cobre nem duas túnicas ou sandálias Deviam ser portadores de paz ao en 65 Como sublinha Jeremias no Oriente a mulher não participa da vida pública o mesmo acontecia no judaísmo no tempo de Jesus pelo menos entre as famílias judaicas fiéis à Lei Em conformidade com as regras estabelecidas as mulheres em público deviam passar des percebidas As regras do decoro proibiam encontrarse sozinho com uma mulher Cf JEREMIAS Jerusalém p 474 66 MESTERS Jesus e a cultura de seu povo p 18 67 BOFF Saber cuidar p 168 Numen Telista de estudos e pesquisa da religldo Juíz de fora I 3 n I p 111148 Fausino Teixena trar na casa saudaia Eque a paz desça sobre ela Mt 10913 Nem sequer comida deviam levar Jesus recomendoulhes que nada levassem para o caminho nem mesmo o pão Mc 68 e que partilhassem a comida do povo O missionário devia confiar na hospitalidade do povo e aceitar acomunhão de mesa comei o que vos servirem Lc 108 Em sua missão deviam cuidar dos excluídos doentes e estigmatizados Somente ao cumprir as exi gência de afirmação de vida é que podiam então saudar e se alegrar com a chegada do Reino Lc 10112 916 Mc 67 13 Mt 10616 O objetivo decisivo da missão não era em primeiro lugar anun ciar uma nova doutrina mas sim testemunhar uma nova maneíra de viver e de conviver Deviam recriar e reforçar a comunidade local o clã a casa para que esta pudesse ser novamente Lima expressão do Reino uma expressão do amor de Deus como Pai que faz de todos irmãos e irmãs68 A missão dos discípulos e discípulas de Jesus revela que o Reino começa a acontecer quan do as pessoas tocadas pela vida e mensagem de Jesus passam a acolher e partilhar as riquezas e valores que possuem quando assumem em toda a sua radicalidade a dinâmica da filiação e da fraternidade criaturas e filhos de Deus e irmãos e irmãs uns dos outros O anúncio da Boa Nova de Jesus consiste justamente em tirar o véu e revelar que o Reino de Deus está em nosso meio Lc 1121 e acontece onde quer que Deus esteja reinando mediante sua graça seu amor vencendo o pecado e ajudando os homens a crescer 69 33 A Experiência de Deus no Islã Para a tradição do Islã a grande teofania está presente num livro o Corão A Palavra ocupa nesta tradição religiosa uma importân cia fundamental Tratase de um ditado sobrenatural registrado por um profeta inspirado70 Para os muçulmanos o Corão traduz a Revelação mesma de Deus descida sob a forma de Livro Para a 68 MESTERS Jesus e a cultura de seu povo p 20 69111 CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINOAMERICANO Puebla a evangelização no presente e no futuro da América Latina n 226 70 MASSIGNO Ciencia de la compasión p 24 Numen revista de eSlUdos e pesquisa da reJigio Juiz de Fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas ReHglões espiritual idade muçulmana é o Corão e não o profeta Maomé que ocupa o lugar fenomenologicamente análogo ao de Jesus Cristo para os cristãos Nesse sentido ele pode ser corretamente definido como o Verbo enlivrado7 Enquanto Palavra de Deus Kaam Aah o Corão nos abre pistas importantes para a com preensão de Deus na tradição islâmica A tradição islâmica não cessa de recordar os 99 nomes de Deus presentes no Corão Para a exegese muçulmana estes no mes representam símbolos ou qualificativos da realidade divina jamais alcançada pelos limites humanos Para Deus são reserva dos os mais belos nomes 7 180 1711072 Com base na descri ção corânica de Deus podese acentuar em primeiro lugar a afir mação decisiva da transcendência de Deus e a total dependência de todas as criaturas para com Ele A própria raiz da palavra islã referese à submissão a Deus sendo o muçulmano musin aquele que se submete a Deus O fato de ser transcendente gran dioso e altíssmo 139 para além do que é transitório e efêmero não significa que esteja distante e insensível aos caminhos do humano Embora distinto do ser humano Deus dele se aproxima com grande intimidade Deus é portador das chaves do incognoscível 659 mas também Aquele do qual estamos mais perto do que a sua artéria jugular 501673 O Deus de que fala o Corão é o criador de todas as coisas 1316 6102 exercendo sobre as mesmas uma soberania abso luta Étambém o Deus únicoe uno professado com grande devo ção pelos muçulmanos na profissão de fé shahadah Não há outro Deus senão Deus lâ iâha ilâ Aâh Declaração explícita desta unidade de Deus encontraremos na Sura 112 Dize Ele é o 71 Roberto BARTHOLO Jr Mística e política no seguimento ao profeta do Islã p 160 Frithjof SCHUON Compreender o sião p 51 61 72 As citações do Corão serão aqui representadas sempre desta forma o prímeiro número diz respeito ao capítulo surata do Corão e o segundo aos versículos ou versos O Corão apresentase dividído em 114 capítulos e 6226 versículos Tomaremos como referência a tradução do Corão para o italiano feita por Alessandro BAUSANI ed I Corano 73 BORRMANS Orientamenti per un dialoga p 845 GEFFRÉ La portée théologique p 17 A HOURANI Uma história dos povos árabes p 87 Ao analisar a questão do islã em seu livro de entrevistas João Paulo 11 não conseguiu captar esta dimensão tão importante da compreensão de Deus no islã Para ele tratase de um Deus fora do mundo um Deus que é apenas Majestade nunca Emanuel Deus conosco Cf JOÃO PAULO 11 Cruzando o limiar da esperança p 98 Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Fausino Teixeira Deus único Deus é eterno Jamais gerou ou foi gerado e ninguém é comparável a Ele Esta surata de grande importância na liturgia e uma das mais apreciadas pelos muçulmanos confirma a profis são de fé monoteista do islã Com ela reafirmase a polêmica tradicional entre cristãos e muçulmanos a propósito do dogma da trindade Esta profissão de fé muçulmana vem confirmar a fé inici aI de Israel Tu adorarás um só Deus Na descrição corânica Deus emerge igualmente como onipo tente e misericordioso Com o qualificativo do Deus onipotente buscase enfatizar o dado fundamental da adoração e submissão do ser humano a Deus Por sua vez o qualificativo da misericórdia vem confirmar a extrema bondade de Deus Em linha de sintonia com o Deus bíblico Ex 3467 o Deus do Carão é animado por uma misericórdia que abraça todas as coisas Z 156 O qualifi cativo arahmanmisericordioso aparece inúmeras vezes no Carão como um dos importantes nomes atribuídos a Deus Uma série de outros nomes são atribuídos a Deus no Corão alguns com posiÇãO de maior destaque outros com menor núme ro de menções no Livro Todos eles porém conhecidos e recita dos de memória nas orações dos fiéis Alguns deles vem agrupa dos em suratas importantes 5Z 1 e 592224 outros aparecem na chamada de cada surata clemente e misericordioso Todos eles relacionamse em síntese com os seguintes temas unicidade de Deus santidade e transcendência criação e soberania justiça e retribuição misericórdia e mansidão vida e eternidade74 Há na reflexão muçulmana a presença de uma teologia nega tiva que mantém sempre inacessível o mistério de Deus Esta teo logia estará presente sobretudo na tradição mística sufi O grande mestre AIGhazali sublinhou com ênfase a impossibilidade do conhecimento de Deus por parte dos iniciados A única certeza de que podem estar animados é a certeza da incapacidade de tal conhecimento pois conhecer realmente Deus é impossível aquem quer que esteja fora de Deus mesmo75 Aos 99 belos nomes de Deus a especulação dos místicos acrescentou um centésimo nome aism Este seria o nome máximo desconhecido eimpronunciável 74 BORRMANS Islam e crislianesimole vie dei dialogo p 29 cf tb Giuseppe RIZZARDI Islam spiritualità e mistica p 1821 75 Cit apud BORRMANS Ofienlamentiper un dialogo p 85 Numen reVista de estudos e pesquisa dit religiao Juiz de Fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas Religiões mas portador de enormes virtudes Tratase de um nome só aces sível aos místicos mais i1uminados76 Quando evocamos anteriormente os traços que unem o cris tianismo e o islã mencionamos o dado da fé no único Deus criador Não é incorreto afirmar esta comunhão de fé na transcendência pessoal do Deus único Éo mesmo Deus que vem adorado mas segundo Lima inteligência diferente de sua unida de A tradição muçulmana tem grande dificuldade de aceitar um monoteísmo que reconcilie a imutabilidade inalterável de Deus com a sua encarnação em Jesus Cristo bem como a unicidade de Deus com a trindade de pessoas Esta é a grande questão e o ponto nodal de diferenciação das duas tradições A tradição islâmica reconhece valores excepcionais na pessoa de Jesus fsâ Este vem reconhecido no Corão como um sinal e exemplo para os homens 1921 e 4359 um profeta e enviado perfeito servidor de Deus 1930 Sua descrição ganha no Corão prerrogativas excepcionais o caráter singular de seu nascimento da virgem 199 o reconhecimento de sua vizinhança e proximi dade com Deus o seu traço messiânico os seus prodígios e mila gres Este reconhecimento não leva porém a uma afirmação da sua divindade O Corão é claro ao afirmar que Deus não teve nem cônjuge nem filho 723 que não gerou nem foi gerado 1123 e todos aqueles que afirmam a divindade de Jesus são identifica dos como descrentes 517 bem como os que dizem que Deus é o terceiro dos três 573 A resistência à doutrina da trindade cristã é menor no circuito da mística sufi e no esoterismo islâmico No século XIX o poeta su fi persa Hatif Isfa ha ni recon heceu no cristia nismo a afi rmação da Unidade Divina mesmo com a presença da doutrina trinitária desde que a trindade pudesse ser reconhecida em seu sentido metafísico Em poema de rara beleza ele descreve a resposta de uma encantadora de coração cristã às indagações críticas à sua 76 Sobre este tema cf Gabriele MANDEL Inovantanove nomi di Dio nel Corano p 7 e 26974 e também o comentário de Alessandro Bausani na nota de sua tradução do Corão BAUSANI Ii Corano p 585 n 110 77 Também quando fala de Maria o Corão não dispensa elogios vem considerada a mais abenço ada de todas as mulheres a única mulher cujo nome é mencionado no Corão que dá o título a um capítulo do Texto Sagrado e que é quem acompanha as almas das bemaventuradas muçulmanas até o paraíso Cf Seyyed Hossein NASR Como o islã encara o cristianismo p 12 Numen revIsta de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Faustino Teixeira crença na trindade Se tu sabes o Segredo da Divina Unidade não jogues sobre nós o estigma da infidelidade A beleza eterna lançou um raio de seu refulgente semblante em três espelhos A seda não se converte em três coisas se tu as chamas parniyan harire parandn78 Em semelhante linha de reflexão o estudioso Frithjof Schuon sublinha que a restrição feita à Trindade no Corão é extrínseca e condicional Argumenta que a afirmação da Trin dade não significa necessariamente a ruptura com a Unidade O conceito de uma Trindade enquanto desenvolvimentO fajaI da Unidade ou do Absoluto em nada se opõe à doutrina unitária do Islão Aquilo que se lhe opõe é tãosó a atribuição do caráter absoluto à Trindade pura e simples 1J79 Como estamos observando a doutrina da Trindade permanece uma pedra de tropeço seja para os judeus seja para os muçulma nos embora devamos reconhecer os esforços presentes na busca de um entendimento mútuo No campo da teologia cristã pode mos mencionar o trabalho realizado por importantes teólogos no sentido de uma formulação da doutrina trinitária didaticamente assimilável fora da esfera cristã Em artigo sobre a unicidade e trindade de Deus no diálogo com o Islã Karl Rahner sugere uma formulação sobre a Trindade assimilável nos espaços extracris tãos Rahner acreditava num diálogo verdadeiro entre teólogos cristãos e islamitas em base à comum confissão no Deus uno e único Sem desrespeitar as regras lingüísticas da doutrina trinitária clássica este autor afirma que um discurso das três pessoas e da mesma Trindade não encontrada no Novo Testamento não é incondicionalmente necessário para expressar aquilo que o cristi anismo entende apropriadamente dizer com tal doutrina trinitária8o 78 NASR o Islã e o encontro das religiões p 24849 Em outro artigo este autor reforça esta idéia mostrando a presença desta reflexão em místicos sufis como Ibn Arabi 1155124 e em muitos poetas sufis persas Na visão destes místicos tanto a doutrina da Trindade como a da Encarnação seriam recursos simbólicos utilizados para se falar sobre o Absoluto e suas manifestações sem de modo algum destruírem a doutrina da Divina Unidade Em poema citado por Nasr Ibn Arabí sublinha Meu amado é trino embora seja Um Só da mesma sorte que as três Pessoas da Trindade constituem na essência uma só Pessoa Cf NASR Como o islã encara o cristianismo p 14 79 SCHUON Compreender o Islão p 645 80 Karl RAHNER Unicità e trinità di Dio nel dialogo com lislam p 1976 O teólogo Jacques Dupuis movido por preocupaçãO semelhante justifica a familiaridade da experiência de Deus que une cristãos e muçulmanos Com sua chave hermenêutica fundada na doutrina da Trin dade destaca que os 99 nomes atribuídos a Deus no Corão podem concentrarse em três Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas Religiões Toda esta complexa discussão suscita um duplo desafio para cristãos e muçulmanos De um lado a importância dos cristãos estarem mais atentos ao significado e valor do monoteísmo bem como da transcendência inviolável de Deus por outro a necessá ria abertura dos muçulmanos no sentido de uma maior dinamização da unicidade de Deus rompendo com o risco de uma compreensão da divindade como perfeição autosuficiente de forma a poder reconhecer o valor de uma identidade permeá vel à diferença Esta mútua interpelação abrirá certamente no vos caminhos para o diálogo81 4 A Questão de Deus nas Religiões Místicas do Oriente Destacar a questão de Deus ou da Realidade Absoluta nas reli giões místicas do Oriente é uma tarefa extremamente complexa e intrincada sobretudo em razão da diversidade de experiências existentes das visões de mundo na qual se baseiam e das nuances distintas que apresentam Mas não há como seguir tratando a questão de Deus ou de Jesus Cristo hoje em dia desconhecen do a importância e o valor das outras tradições religiosas A concepção de Deus presente no Ocidente não esgota a com plexidade que envolve a reflexão sobre o tema As experiências formas modelações e idéias religiosas da humanidade são infi nitamente ricas e infinitamente complexa é sua problemática82 O teólogo cristão é convidado a buscar uma aproximação a tais experiências com espírito desarmado e tentar captar a im portante questão da relação que vigora entre a Realidade Abso luta afirmada por tais tradições e o Deus das religiões monoteístas O desafio teológico de compreensão desta importante relação eixos Deus criador e soberano Deus gracioso e indulgente e Deus intimamente presente Sublinha a seguir como a transposição de tais eixos para a doutrina trinitária cristã favorece perceber sua correspondência com a atividade de criação Pai da salvação Filho e da inabitação Espírito Cf DUPUIS Verso una teofogia p 360 81 GEFFRÉla portée théologique p 16Z Segundo Geffré o Islã permanece para a consciência teológica cristã uma advertência entendida no sentido de um convite a não negligenciar a parte judaica do cristianismo primitivo e a criticar certas facilidades verbais sobre a divindade de Jesus que arriscam comprometer a transcendência absoluta de Deus Ibid p 156 82 KUNG Existe Dios p 798 Numen revista de estudos e pesquisa da religião luiz de Fora v 3 n I p 11148 vem sendo objeto de reflexão de muitos autores hoje em dia Gostaria de sublinhar de modo especial o grandioso esforço realizado por Jacques Dupuis em sua obra sobre a teologia cristã do pluralismo religioso Este autor busca enfrentar num dos ca pítulos de seu livro a questão do mistério absoluto de Deus enquanto horizonte transcendental da experiência religiosa hu mana que ocorre nas diversas tradições religiosas Sustenta em sua reflexão ser legítimo encontrar nas tradições místicas do Oriente aproximações e prefigurações do mistério Último do Ser assim como vem revelado e manifestado de forma decisiva embora ainda incompleta em Jesus Cristo83 Em razão da complexidade que envolve o tema das religiões místicas do Oriente bem como da delimitação da reflexão pro posta neste artigo nos restringiremos a apontar alguns dos traços que caracterizam a experiência da Realidade Absoluta no budis mo e os traços de sua relação com o cristianismo84 41 A Experiência da Realidade Absoluta no Budismo A grande dificuldade que interdita o acesso do ocidental à expe riência singular do budismo diz respeito à questão da linguagem Devese sublinhar que alguns termos que são utilizados nas duas tradições religiosas ganham um conteúdo diferenciado é o caso de ateísmoteísmo religiãofé materialismoespiritualismo etc 83 Cf DUPUIS rso una reologia p 362 Dupuis faz menção aos inúmeros trabalhos que recentemente buscam estabelecer pontos de contato entre a questão da relação entre o vazio sunyata budista e a questão da Trindade ou do Deus que se esvazia no cristianismo Sua atenção voltase todavia para o hinduísmo com o qual manteve relação de proximidade em toda a sua longa experiência indiana Na tentativa de trabalhar o desafio proposto o autor irá desenvolver um estudo específico neste mesmo livro sobre a relação do conceito de Brahmam da mística advaita hindu com o mistério cristão da Trindade Para Dupuis a tradição clássica hindu fornece provavelmente com a doutrina do saccidananda o conceito de Deus mais próximo à Trindade cristã dos já oferecidos pela história das religiões Cf ibid p 406 84 Apesar de reconhecermos a diversidade que caracteriza o budismo o tratamento aqui será mais genérico e concentrado O budismo dividiuse já muito cedo em dois movimentos o budismo r7eravada a forma mais antiga e que busca seguir os ensinamentos dos antigos e o budismo ma7ayana séc I mais liberal e aberto a uma grande variedade de idéias Outras divisões ocorreram posteriormente dando lugar a outras variedades de budismo budismo vajrayal7a ou tântrico meados do sec 111 o budismo tibetano VII d C e o zen budismo séc XII Numen revista de esrudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 11114 a Termos utilizados pelos cristãos para designarem a realidade de Deus são motivo de escândalo para os budistas e outros orientais como é caso dos aplicativos pessoa espírito criador Por sua vez termos empregados na tradição budista permanecem misteri osos ou impenetráveis para a sensibilidade ocidental sunyatá vazio anattá nãoeu e outros Estes últimos termos em parti cular adquirem um sentido radicalmente distinto no Ocidente e Oriente Na tradição original não estão marcados pelo acento negativo atribuído aos mesmos no Ocidente Impõese assim o importante trabalho hermenêutico capaz de favorecer a real com preensão dos eixos essenciais da religião que se busca compreen der e dialogar O estudo comparado das religiões tem mostrado de forma precisa como cada linguagem é reveladora de um sen tido contextualizado e de uma experiência determinada Julgar a linguagem dos outros no interior da própria tradição constitui uma armadílha muito perigosa para o trabalho de compreensão da alteridade85 O caminho mais indicado para o acesso do ocidental à com preensão da Realidade Absoluta no budismo é o da teologia negativa A teologia ocidental conheceu igualmente este traço da afirmação da transcendência pela sua negação com a qual os orientais estão mais habituados No Ocidente as raízes da teolo gia negativa ou apofática encontramse no neoplatonismo Dentre os seus representantes podemos assinalar PseudoDionísio Mes tre Eckhart Nicolau de Cusa e Tomás de Aquino86 O importante estudioso do budismo Heinrich Dumoulín res saltou em sua reflexão sobre o tema a dimensão transcendente 85 ZAGa Buddhismo e cristianesimo in dialogo p 306 KONG Exisce Dias p 818 GEFFRÉ Athenes Jérusalem Bénares p 120 86 No capítulo XXVJ de seu livro sobre a douta ignorância Nicolau de Cusa 14011464 trata a questâo da teologia negativa Para este autor foi a santa ignorância que nos apontou o caráter inefável de Deus pois Ele é infinitamente superior a todas as coisas sobre as quais se pode falar Nicolau de CUSA La dona ignoranza p 10Z Em outro trabalho afirma Se alguém me disser que és denominado com este ou aquele nome sei que esse nome com o qual és denominado não é o teu nome l É pois necessário que o intelecto se torne ignorante e se coloque na sombra se te quiser ver Mas o que é Deus meu o intelecto e a ignorância senão a douta ignorância Por isso não pode aproximarse de ti Ó Deus que és a infinitude senão aquele cujo intelecto está na ignorância ou seja aquele que sabe que te ignora Cf Nicolau de CUSA A 1s1o de Deus p179 180 Para este tema ver H KONG Existe Dios Opcit p 819821 Numen revista de estudos e pesquisa da religio Juiz de Fora v 3 n I p 111148 das experiências religiosas no budismo fato reconhecido por bu distas e não budistas O autor assinala todavia que a religião budista não visa diretamente a Realidade transcendente Isto sig nifica que nenhuma concepção religiosa particular do Budismo pode encontrar equivalência perfeita com a Realidade absoluta indicada pelo cristianismo com o nome de Deus87 Seria um equívoco atribuir simplesmente ao budismo o quali ficativo de ateísmo Os estudiosos atuais são mais cuidadosos quando refletem sobre o tema evitando os enquadramentos pe remptórios Éverdade que o conceito de um Deus pessoal e cria dor não existe no budismo A dificuldade para os budistas está em conceber o Absoluto como um ser pessoal pois o conceito de pessoa significa para eles individualidade apego a si etc Não há porém dificuldade de se aceitar no budismo o conceito im pessoal ou suprapessoal de divindade A forma como os budis tas expressam o Absoluto é distinta dos ocidentais fazem recurso a termos como vazio nada sunyatá extinção nirvana O significado de vazio ou nada não indica para eles relativida de ou nihilismo mas sobretudo a completa diversidade de tudo o que existe ou de tudo o que se refere à consciência lógica88 De forma semelhante a compreensão de nirvana no budismo não pode ser concebida de forma negativa Tratase da extinção dos desejos e sofrimentos e a imersão na quietude eterna de um estado de supressão de todas as dores Ao refletir sobre esta questão Edward Conze estudioso do budismo sublinhou Se consideramos os atributos da divindade assim como são compre endidos na tradição mística cristã e depois os relacionamos com os atributos do Nirvana quase não encontraremos nenhuma dife rença a nível de conteúdo 89 Na experiência zen budista enfatizase sobretudo a base inexprimível e inexplicável da experiência direta 90 Não necessa riamente da experiência de Deus como designada no Ocidente mas da experiência da vida Como afirma Suzuki Deus não vem 87 H DUMOULlN Buddhismo p 73 88 ZAGO Buddhismo p 312 Podese falar assim em plenitude do nada ou caráter transcendental do vazio Não há nihilismo no budismo mas apenas uma resistência radical às intenções de determinar o que por natureza é indeterminado 89 Cit apud DUMOULlN Buddhismo p 74 90 Thomas MERTON Zen e as aves de rapina p 38 Nllmen revista de estudos e pesqUisa da rellgião JUIZ de Fora v 3 n I p 111 148 nem negado nem afirmado o que se busca é a mente livre e para tanto é necessário transpor um abismo sem fundo e chegar ao radical desapego de si O misticismo revelado pelo zen é o encontro com a simplicidade da realidade O que ele busca é abrir os olhos do homem para o grande mistério que diariamente é representado Alarga o coração para que ele abranja a eternida de do tempo e o infinito do espaço em cada palpitação e faznos viver no mundo como se estivéssemos andando no Jardim do Édem91 A ênfase recai não sobre a explicação sempre acidental para a tradição zen mas sobre a experiência para ela essencial Dentre os pensadores cristãos talvez tenha sido Mestre Eckhart quem melhor alcançou o significado do zen budismo ao apontar o radical sentido de esvaziamento como condição para a experi ência do mistério de Deus Deveria o homem ser tão pobre que não possuísse nem mesmo um lugar onde Deus pudesse atuar Reservar um lugar seria manter distinções92 Para Mestre Eckhart só quando o eu está totalmente despojado livre de qualquer ves tígio ou espaço para a ação de Deus é que se recobra o verda deiro eu O encontro com a meta proposta pelo zen implica em superar todas as idéias inclusive a idéia de não ter nada Buda revelase a si mesmo quando não é mais afirmado Para encontrar o Buda temos de renunciar ao Buda Este é o único caminho para obter a verdade do Zen93 Encontramos de fato em toda a tradição budista um silêncio de Deus uma reticência em dar nome à realidade absoluta e transcendente Isto não significa LIma ausência da questão religio sa ou do sentido profundamente presentes em todas as suas expressões Tratase da negação como cifra da transcendência O silêncio de Deus praticado no budismo não reflete um ateísmo nihilista mas constitui a forma mais radical de preservar a condi 91 Daisetz T SUZUKI Introdução ao zen budismo p 66 92 Cil apud lhomas MERlON Zen e as aves de rapina p 14 Para Mestre Eckhart só a partir deste despojamento é que se cria o cenário para a ação de Deus l Merton explica o enigma presente na meditacão de Eckhart O homem deveria ser de tal modo desinteressado e desobstaculizado que nem soubesse o que Deus nele opera Ibid p 14 93 SUZUKI Introdução ao zen budismo p 76 Como bem sublinhou l Merton mesmo não estando o zen budismo preocupado com Deus da mesma forma que o cristianismo ana logias sofisticadas podem ser encontradas entre a experiência da mistica cristã e a experi ência do vazio sunyata presente no zen Cf T MERlON Zen e as aves de rapil7a p 3Z Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Faustino Teixeira ção misteriosa de Deus o supremo a que toda religião aponta embora nem sempre de forma conseqüenteJJ94 O caminho enfatizado pelo budismo relacionase com o exer cício prático da libertação da dor que passa pela interiorização e pelo desapego Como bem sublinhou o Dalai Lama o budismo não se volta para algo externo e sim para a responsabilidade pessoal do desenvolvimento interiorJJ95 Os passos desta viagem interior estão presentes nas 4 nobres verdades contidas nos ensinamentos de Buda e que representam o núcleo mesmo do budismo Esta verdades podem ser assim sintetizadas a verdade do sofrimento a verdade da origem do sofrimento a ilusão do apego do orgulho das visões errôneas ou equivocadas do ego a verdade da cessação do sofrimento e a verdade do caminho de superação do sofrimento que pressupõe moralidade concentra ção e a sabedoria do desprendimento96 5 Em Favor de Um Ecumenismo Planetário Desdobramentos e Desafios Um dos fundamentais desafios enfrentados hoje pelas religiões diz respeito ao diálogo de obras de mútua colaboração em favor de um mundo melhor e mais justo Um diálogo de responsabilidade co mum por todos os povos da terra mas que garanta a singularidade das religiões Um diálogo portanto animado pelo equilfbrio entre a consciência da diversidade e o imperativo da responsabilidade A alteridade irredutível de cada tradição religiosa deverá estar sempre 94 Juan M VELASCO EI fenómeno místico p 161 Para este autor o Fato de calar sobre Deus de não aFirmar ou negar sua existência não signiFica para o budismo ausência de reFerência religiosa SigniFica a afirmação do caráter supérfluo da própria pergunta sobre Deus identificada como incorreta indevida lesiva com respeito à transcendência da realidade a que se refere silêncio constitui antes a forma paradoxal talvez a única possível de fazer eco a uma presença que só pode se dar de forma alusiva que só pode produzirse sob a forma da ausência e que portanto só pode se dizer com o silêncio Ibid p 162 Ver tb Raimundo PANIKKAR 11 silenzio di Dio p 256 95 DALAI LAMA Bondade amor e compaixão p 32 Ver tb GEFFRÉ Athénes Jérusalem Bénares p 124 96 DALAI LAMA O caminho para a liberdade p 108127 acesso à quarta verdade como caminho para superação do sofrimento implica oito marcos conhecidos como nobre cami nho óctuplo o devido conhecimento a devida atitude as devidas palavras as devidas ações a devida ocupação o devido esforço os devidos pensamentos e a devida compostura Numen reviSla de estudos e pesquisJ da religião JUIZ de Fora v 3 n I p 11114 B A Experiência de Deus nas Religiões garantida no processo dialogal e isto significa ser capaz de perceber o outro como mysterium tremendum J1 que jamais pode ser comple tado ou reduzido em seu significado único Ao mesmo tempo percebê lo como mysterium fascinans J1 ou seja um mistério que igualmente convida ao encontro e que se abre ao aprendizado da diferença97 O encontro e cooperação entre as religiões constitui hoje um requisito essencial para a paz entre as nações Não haverá paz entre as religi ões sem um diálogo entre as religiõesJ198 O ecumenismo planetário constitui uma ampliação da ecumene abraâmica J1 na medida em que busca envolver todas as religiões da terra em favor de uma co mum responsabilidade ecohumana Os passos para o diálogo envolvem não somente uma respon sabilidade prática mas igualmente uma abertura aos enriqueci mentos múltiplos que o encontro desarmado pode e deve favore cer No caso específico do cristianismo emergem desafios muito importantes Com respeito ao diálogo com o judaísmo exigese em primeiro lugar a superação de todo e qualquer sentimento de hostilidade que caracterizou o passado das relações entre as duas tradições Impõese o reconhecimento dos profundos laços de dependência que vinculam o cristianismo ao judaísmo 99 igual mente a abertura e disponibilidade para escutar o testemunho dos judeus a aprender com a sua experiência de vida e de fé e portanto colher novos aspectos da tradição bíblicaJ1IOO Com res peito ao diálogo com o islã impõese a necessidade de um maior respeito e abertura ao valor do Corão enquanto Palavra de Deus diferente e autêntica bem como o reconhecimento de Maomé como profeta verdadeiro A teologia cristã da criação sairá igual mente enriquecida quando animada pelo contato com o Corão que favorece perceber com grande riqueza o admirável sentido da beleza e estabilidade do mundo criado testemunhado neste Livro 101 O budismo por sua vez favorece aos cristãos grandes inspirações éticas e religiosas tão bem sinalizadas por João Paulo 97 Paul F KNITIER Una terra malte reigioni dialogo interreligioso e responsabilità globale p 34 98 KDNG Projeto de ética mundial p 146 Ver tb Paul F KNITIER Una terra mote reigioni 99 THOMA Jegia cristiana deIebraismo p 20407 100 Declaração sobre o encontro entre cristãos luteranos e judeus cit ap KDNG Ebraismo p 417 101 GEFFRÉ la portée théologique p 18 Id le Coran p 28 DUPUIS rso una tegiJ p 33136 BORRMANS Odentamenti p 68 e 81 Numel1 revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Fausuno TeIxeIra II em ocasiões diversas o caminho de renovação do indivíduo o estilo de vida fundado na compaixão bondade e desejo de paz prosperidade e harmonia para com todos os seres viventes o pro fundo respeito pela vida e a natureza a renegação de si a busca da verdade e o incessante esforço de transcendência 102 Durante a jornada mundial de oração pela paz realizada em 1986 na cidade de Assis João Paulo II fez menção à viagem fraterna que os fiéis das diversas tradições religiosas realizam em comum em direção à meta transcendente de Deus Somos todos nesta história convidados por Deus mesmo a entrar no mistério de sua paciência e a buscarmos juntos os valores da verdade transcendente Só Deus conhece a forma como esta etapa históri ca será coroada no fim dos tempos103 Nenhuma religião pode pretender esgotar toda a verdade pois só Deus é senhor da verda de plena Estamos todos sob o mistério do inescrutável da transcendência amorosa de Deus Somos todos homines viatore sempre a caminho A Igreja cristã é igualmente peregrina Ecclesia peregrinans Enão estamos sozi ri hos nesta travessia mas acom panhados em relação de testemunho e aprendizado pelos fiéis de todas as tradições religiosas da humanidade No processo de comunicação permanente com os outros crescemos e ajudamos a crescer Como bem lembrou H Küng ao final de sua teologia a caminho a história permanece aberta ao futuro Só uma coisa é certa a respeito do futuro no final da vida humana e do curso do mundo já não existirá Budismo ou Hinduísmo tampouco o Islamismo e o judaísmo nem o Cristianismo No final não existirá nenhuma religião mas se encontrará o próprio Inefável ao qual se dirigem todas as religiões E só então quando o imper feito cede ao perfeito os cristãos o conhecerão do mesmo modo como são conhecidos a verdade face a face No final não haverá 102 JOÃO PAULO li A Capi delle varie religioni della Corea 1984 In II dialogo interreligioso nelmagistero pontiticio p 319 cf tb o documento A seguaci delle varie religioni degli Stati Uniti 1987 ibid p 456 Como sublinha CGeffréo hinduísmo e o budismo nos ensinam o respeito a todo caminho sensível para além do caminho humano Em relação à concepção prometeica do homem definida exclusivamente pelo trabalho e a vontade de expansão a todo preço somos convidados a redescobrir no contato com o Oriente o preço da gratuidade do silêncio do ioga e do lazer Cf GEFFRÉ Athénes Jérusalem Bénares p 125 103 PONTIFíCIO CONSELHO PARA O DIÁLOGO INTERRELIGIOSO Diálogo e Anúncio n 79 e 84 Numen revista de estudos e pesquisa da religiâo Juiz de Fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas Religiões mais profetas ou iluminados que dividam as religiões nem Maomé nem Buda nem o próprio Jesus Cristo em quem os cristãos crêem serão causa de divisão 104 Referências Bibliográficas AMALADOSS Michael Rinnovare tutte le cose dialogo pluralismo ed evangelizzazione in Asia Roma Arkeios 1993 BARTHOLO Roberto dos Santos Mística e política no seguimen to ao profeta do Islã In BINGEMER Maria Clara Lucchetti Org Mística e política São Paulo Loyola 1994 p 157178 BAUSANI Alessandro Ed Ii Corano 7 ed Milano Biblioteca Universale Rizzoli 1994 BOFF Leonardo Brasa sob cinzas Rio de Janeiro Record 1996 o Saber cuidar ética do humano compaixão pela terra Pe trópolis Vozes 1999 BORRMANS Maurice Orientamenti per un dialogo tra cristiani e musulmani Roma Pontificia Università Urbaniana 1991 o Islam e cristianesimo le vie dei dialogo Milano Paoline 1993 DALAI LAMA Bondade amor e compaixão 9 ed São Paulo Pen samento 1999 o O caminho para a liberdade Rio de Janeiro Nova Era 1997 DHAVAMONY Mariasusai léologia delle religioni Milano San Paolo 1997 DOCUMENTOS DO CONcíLIO ECUMÊNICO VATICANO 11 19621965 São Paulo Paulus 1997 DUMOULlN H Buddhismo Brescia Queriniana 198 DUQUOC Christian Un dio diverso Brescia Queriniana 1978 DUPUIS Jacques lêrso una teologia cristiana dei pluralismo reli gioso Brescia Queriniana 1997 GEFFRÉ Claude Como fazer teologia hoje hermenêutica teológi ca São Paulo Paulinas 1989 o Le Coran une parole de dieu différente Lumiere et l7e n163 1983 p 2132 o O lugar das religiões no plano da salvação In TEIXEIRA 104 HKUNG Teologia a caminho fundamentação para o diálogo ecumênico p 291 Numen revista de estudos e pesquisa da religiio luiz de Fora v 3 n I p 111148 Faustino Teixeira Faustino Org O diálogo interreligioso como afirmação da vida São Paulo Paulinas 1997 p 11137 o Athenes Jérusalem Bénares la rencontre de IOcident chrétien et de lOrient In TARDANMASQUELlER Ysé Ed Les spiritualités au carrefour du monde moderne Paris Centurion 1994 p 10328 o La portée théologique du dialogue islamochrétien Islamochristiana n 18 1992 p 123 GESCHÉ Adolphe Dio per pensare V 3 Dio Cinisello Balsamo Milano 1996 o Dio perpensare V 5 II destino Cinisello Balsamo Milano 1998 o Lidentité de Ihomme devant Dieu Revue Theologique de Louvain v 29 1998 p 328 GUTIÉRREZ Gustavo léologia da libertação Petrópolis Vozes1975 HENRIX Hans Hermann Diálogo judaicocristão Do ponto de vista católico In P EICH ER Ed Dicionário de conceitos fun damentais de teologia São Paulo Paulus 1993 p 16579 HOURANI A Uma história dos povos árabes São Paulo Com panhia das Letras 1994 HULI Michel KAPANI Lakshmi Linduismoln DELUMEAU Jean Ed li fatto religioso Torino Società Editrice Internazionale 1997 p 368450 JEREMIAS Joachim Jerusalém no tempo de Jesus São Paulo Paulinas 1986 JOÃO PAULO 11 lértio millennio adveniente São Paulo Paulinas 1994 o Cruzando o limiar da esperança Rio de Janeiro Francisco Alves 1994 o Ai giovani musulmani dei Marroco In PONTIFICIO CONSJGLlO PER ILDIALOGO JNTERRELlGIOSO Ii dialogo interreligioso nel magistero pontifício Roma Libreria Editrice Vaticana 1994 p 345355 o A Capi delle varie religioni della Corea 1984 Ii dialogo interreligioso nel magistero pontifício o A seguaci delle varie religioni degli Stati Uniti 1987 In li dialogo interreligioso nel magistero pontifício o Discurso inaugural pronunciado no seminário Palafoxiano de Puebla de los Angeles In Documento de Puebla 2 ed Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n p 111148 Petrópolis Vozes 1979 p 1734 o Homilia pronunciada no seminário Palafoxiano de Puebla durante eucaristia realizada em 28 de janeiro de 1978 In Documento de Puebla ed Petrópolis Vozes 1979 JOMIER Jacques Dieu et ll7omme dans le Coran Paris Cerf 1996 JONGEL Eberhard Dio mistero dei mondo 2 ed Brescia Queriniana 1991 KNITrER Paul F Una terra molte religionidialogo interreligioso e responsabilità globale Assisi Cittadella Editrice 1998 KONG Hans Existe Dios4 ed Madrid Cristiandad 1979 o Projeto de ética mundial São Paulo Paulinas 1992 o Ebraismo 2 ed Milano Biblioteca Universali Rizzoli 1995 o Cristianesimoessenza e storia Milano Rizzoli 1997 o Teologia a caminho fundamentação para o diálogo ecumênico São Paulo Paulinas 1999 o et aliL Cristianesimo e religioni universal Milano Amoldo Mondadori 1986 KUSCHEL KarlJoseph Discordia en la casa de Abrahan lo que separa y lo que une a judios cristianos y musulmanes Navarra Verbo Divino 1996 LENOIR Frédéric MASQUELlER Yse T Eds Encycopédie des Religions V 2 Thêmes Paris Bayard 1997 LIMA VAl Henrique Cláudio de Lima Mística e política a expe riência mística na tradição ocidental In BINGEMER Maria Clara Lucchetti BARTHOLO Roberto dos Santos Mística e política São Paulo Loyola 1994 p 963 MANDEL Gabriele Inovantanove nomi di Dio nel Corano Milano San Paolo 1995 MASSIGNON Louis Ciencia de la compasión lVfadrid Trotta 1999 MERTON Thomas Zen e as aves de rapina Rio de Janeiro Civili zação Brasileira 1972 MESTERS Carlos Jesus e a cultura do seu povo Estudos Bíblicos n 61 1999 p 1322 MUNOZ Ronaldo O Deus dos cristãos Petrópolis Vozes 1986 NASR Seyyed Hossein Como o islã encara o cristianismo Concilium v 203 n 1 1986 p 1121 o O Islã e o encontro das religiões In BARTHOLO Roberto dos Santos CAMPOS Arminda Eugenia Orgs são credo é a conduta Rio de Janeiro ISERJlmago 1990 p 23564 Numen revisra de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Faustino Teixeird NEUDECKER Reinhard I vari volti dei Dio única Genova Marietti 1990 PANNENBERGWolfhart Teologia Sistematica V 1 Brescia Queriniana 1990 PANIKKAR Raimundo Ii silenzio di Dia 2 ed Roma Borla 1992 PJKAZA Xabier E fenómeno religiosa Madrid Trotta 1999 PONTIFíCIO CONSELHO PARA O DIÁLOGO INTERRELIGIOSO Diálogo e Anúncio Petrópolis Vozes 1991 RAHNER Kar Unicità etrinità di Dio nel dialogo com Iislam In Dio e rivelazioni Nuovi Saggi VII Roma Paoline 1981 p155177 RIZZARDI Giuseppe Islam spiritualità e mistica Fiesole Nardini Editore 1994 SCHILLEBEECKX Edward Umanità la storia di Dio Brescia Queriniana 1992 SCHUON Frithjof Compreender o Islãa Lisboa Dom Quixote 1989 SUZUKI Daisetz Teitaro Introdução ao zen budisma 11 Ed São Pau lo Pensamento 1999 TERCEIRA CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO AMERICANO Pueba a evangelização no presente e no futuro da América Latina 2 ed Petrópolis Vozes 1979 Documento de Puebla THOMA Clemens Teologia aistiana deltebraisma Casale Monferrato Marietti 1983 TOMKO Jozef La missione verso il terzo millennia RomaBologna Urbaniana University PressDehoniane 1998 VELASCO Juan Martín E fenómeno mística Madrid Trotta 1999 ZAEHNER RC Mysticism Sacred and Profane Oxford Clarendon Press 1957 o Inde IsraeL Islam Religions mystiques et révélations prophétiques Bruges Desclée de Brouwer 1965 ZAGO Marcello Buddhismo e cristianesimo in dialoga Roma Cittá Nuova 1985 Faustino L C 7eixeira Rua Antônio C Pereir 328 Tigüera Juiz de ForaMG 360720 Numen revislJ de estudos e pesquisa da religião JUIZ de Fora v 3 n I p 111148

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A Experiência de Deus nas Religiões Faustino Teixeira Sinopse Este artigo apresenta uma reflexão aproximativa da experiência de Deus nas religiões partindo da perspectiva localizada da teologia cristã das religiões mormente de inspiração católicoromana Com base na distinção estabelecida por R C Zaehner entre as religiões proféticas ou monoteístas e orientais ou misticas buscase apresentar de forma panorãmica e concisa o modo como as tradições judaica cristã islâmica e budista expressam a realidade do mistério fundamental Em seguida apontamse os traços comuns e as tensões presentes entre o cristianismo e estas tradi ções reHgiosas O objetivo é mostrar a viabilidade de uma perspectiva ecumênica planetária que possa abarcar as diversas tradições religiosas em vista do bemestar ecoumano bem como defen der teologicamente a plausibilidade de um pluralismo religioso de direito Palavraschave Experiência Deus Religiões Cristianismo Pluralismo Abstract This article makes an attempt to approach the experience of God in the religions starting from the particular perspective of a Christian theology of religions especially as it is pursued in the Roman Catholic tradition On the basis of the distinction drawn by R C Zaehner between propheticl monotheistic religions on the one hand and orientalmystical religions on the other an effort is made to present in concise and overview form the ways in which Jewish Christian Muslim and Buddhist traditions express the reality of fundamental mystery After that the article singles out the Doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma pesquisador do NEPREL coorde nador e professor da PósGraduação em Ciência da Religião PPClRUFJF Faustino Teixeira common features as well as the tensions existing between Christianity and the other world religious traditions Our goal is a twofold one first to show the viability of a planetary ecumenic perspective which would be able to embrace the various religious traditions with a view to ecohuman well being and second to defend theologically the plausibility of a de jUtE religious pluralism Keywords Experience God Religions Christianity Pluralism Introdução Não constitui tarefa fácil desvendar o universo da experiência de Deus ou do sagrado nas diversas tradições religiosas Embora con vocado para falar sobre este tema tão amplo e complexo gostaria de precisar de antemão o caminho que decidi traçar na aborda gem desta questão Em primeiro lugar seria importante explicitar o lugar a partir do qual eu falarei sobre o tema Minha reflexão se dá na perspectiva da teologia cristã das religiões e não de uma teologia mundial ou universal das religiões proposta por certos autores que transcenderia as identidades religiosas particulares ao mesmo tempo que as integraria Não creio ser possível uma teolo gia mundial pertinente a toda a humanidade e sem vinculação específica com uma comunidade religiosa particular Em linha de sintonia com a reflexão de lacques Dupuis sublinharia que uma teologia que se pretendesse supraconfessional tornarseia pro blemática na medida em que não há possibilidade de se fazer teologia a não ser a partir de uma fé específica Diversas adesões de fé não podem convergir numa teologia mundial mas numa diversidade de teologias Ao lado de uma teologia cristã das reli giões há assim um legítimo lugar para outras teologias confessionais O fato de ser confessional não implica necessari amente uma restrição de horizontes Jsto só ocorre quando a reflexão se encerra numa perspectiva ensimesmada ou provincial Não é esta a perspectiva que defendemos O caminho que apontamos vai no sentido de uma teologia cristã aberta e sensível ao horizonte universal que assume com I Jacques DUPUIS Verm una teologia cristiana dei pluralismo religioso p 1214 Ao defender a proposta de uma perspectiva global para a teologia cristã da religiões Dupuis sublinha a necessidade de uma reflexão teológica que saiba reconhecer e valorizar a pluralidade e a diversidade das crenças e a recíproca aceitação dos outros em sua alteridade singular Ibidem p1314 N do E Para dados bibliográficos completos deste e dos outros títulos cf as Refe rências Bibliográficas abaixo1 1 Numen revista de estudos e pesquisa da religio Juiz de Fora v 3 n I p I1 148 I A Experiência de Deus nas Religiões otimismo uma perspectiva global disponível às várias contribui ções e enriquecimentos advindos das outras tradições religiosas e que seja capaz de reconhecer e saudar o pluralismo religioso como um dado de princípio e não problemático Esta teologia cristã do pluralismo religioso encontra na doutrina da trindade a chave hermenêutica fundamental para uma interpretação da experiência da Realidade Absoluta testemunhada pelas outras tradições re ligiosas Tratase de uma perspectiva teológica declaradamente cristã e sua pertinência válida exclusivamente no âmbito cristão não podendo ser imposta como objetividade válida para todas as ou tras tradições religiosas Conforme a hermenêutica cristã onde quer que aconteça uma genuína experiência religiosa é segura mente o Deus revelado em Jesus Cristo que entra de maneira escondida e misteriosa na vida dos homens e das mulheres2 Em segundo lugar gostaria de precisar o campo religioso que será objeto desta reflexão Com base na distinção estabelecida por R C Zaehner3 entre as religiões proféticas ou monoteístas e orientais e místicas buscaremos apresentar de forma panorâmica e sucinta a forma como as tradições judaica cristã islâmica e budista expressam a realidade do mistério fundamental Serão apon tados em seguida os traços comuns e as tensões presentes entre o cristianismo e estas tradições religiosas O objetivo é mostrar a viabilidade de uma perspectiva ecumênica planetária que possa abarcar as diversas tradições religiosas em vista do bem estar eco humano 1 A Acolhida do Pluralismo Religioso O reconhecimento teológico do valor do pluralismo religioso implica a assunção de uma nova perspectiva teológica capaz de reconhecer o significado positivo das diversas religiões no plano da salvação Neste limiar do terceiro milênio constatase não ape nas avitalidade das grandes tradições religiosas mas igualmente a consciência da particularidade histórica do cristianismo Confor me dados recentes cerca de dois terços da população mundial 2 Ibid p 326 347 3 R C ZAEHNER 1ysticism Sacred and Profane Id Inde Israel Islam Religions mystiques et révélations prophétiques Numen revista de estudos e pesquisa da religiáo Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Fauslino Teixeircl não conhecem Jesus Cristo a população restante constituída de cristãos encontrase dividida entre si Os católicos consti tuem somente 18 da população mundial sendo quase a metade na América Latina Os muçulmanos já ultrapassaram os católicos em termos de presença mundial4 Este quadro atual suscita maior realismo por parte das aná lises teológicas ou magisteriais ainda devedoras de certa men talidade missionária de conquista típicas do século anterior segundo a qual a expansão geral do cristianismo e catolicismo seria uma questão de tempo Nesse sentido tornase difícil partilhar com João Paulo II a idéia de que estaremos todos reunidos no ano 2000 sobre as margens deste grande rio o Rio da Revelação do Cristianismo e da Igreja que corre através da humanidade a partir do que sucedeu em Nazaré e depois em Belém há dois mil anos5 A proposta de uma única reli gião mundial contraria a hipótese aqui defendida do pluralismo religioso de direito e em termos concretos não passa de uma ilusão deslocada da dinâmica religiosa atual Carece hoje de plausibilidade efetiva os projetos teológicos ou pastorais que desconheçam o valor singular das outras tradições religiosas ou que se limitem a avaliáIas unicamente segundo os parâme tros do cristianismo Há que respeitar os encaminhamentos particulares que procedem do destino de cada ser humano o qual onde quer que se encontre pode ser solicitado pela gra ça e pelo Espírito de Deus6 O pluralismo religioso vem acolhido como um fator positivo em importantes trabalhos teológicos sobre o tema da relação do cristianismo com as outras religiões Ganha a nível teológico 4 F LENOIR Y T MASQUELlER eds Encyclopédie des religions v 2 p 2422 5 JOÃO PAULO 11 Tertio millennio advenienreCarta Apostólica de João Paulo 11 sobre a prepa ração para o ano 2000 n 25 Em sua grande entrevista concedida a V Messori João Paulo 11 conseguiu se expressar de forma mais sintonizada com o pluralismo religioso de princípio Em vez de nos espantarmos com o fato da Providência permitir uma tão grande variedade de religiões nós deveríamos antes ficar admirados vendo nelas tantos elementos comuns Cf JOÃO PAULO 11 Cruzando o limiar da esperança p 88 6 Claude GEFFRÉ Como fazer teologia hoje hermenêutica teológica p 30Z Com base na Declaração do Vaticano 11 sobre a Liberdade Religiosa Dignitatis Humanae 3 Geffré reitera a importância do respeito ao destino espiritual de cada ser humano e por conseguinte de cada tradição religiosa Para este autor cada vez que tomamos verdadeiramente a sério o outro em sua alteridade somos convidados a uma melhor inteligência de nossa própria identidade e GEFFRÉ Le Coran une parole de dieu différente p 21 Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n 1 p 111148 A Experiência de Deus nas Religioes uma plausibilidade de direito deixando de ser visto como um dado conjuntural passageiro uma ameaça ou expressão da fra gilidade missionária da Igreja Tratase de um fenômeno rico e fecundo que haure sua razão de ser no próprio desígnio de Deus favorecendo ainda a transparência de toda a riqueza multiforme de seu mistério8 Enquanto fator positivo o pluralismo religioso sinaliza a profunda generosidade com que Deus mani festou o seu mistério de modo diversificado à humanidade bem como as respostas pluriformes dadas pelos seres humanos na diversidade de suas culturas à autorevelação divina O fundamento teológico primário para o reconhecimento deste pluralismo teológico de princípio é apontado na fecunda e superabundante riqueza e variedade das automanifestações de Deus à humanidade9 O Deus uno e trino que é mistério de amor não se encerra na solidão da incomunicabilidade mas co munga o seu mistério plural ao gênero humano na história Trata se de uma comunicação transbordante e diversificada As tradi ções religiosas da humanidade expressam estes diversos modos Hb 11 com que Deus falou e se prodigalizou aos seres huma nos muitas vezes em sua história Nelas se faz presente não sim plesmente um anseio descaracterizado impessoal de um Deus desconhecido mas a presença real do Deus de amor e misericor dioso em sua rica iniciativa de oferecimento salvífico 7 No campo teológico e magisterial há muita dificuldade em reconhecer este pluralismo religioso como dado de princípio Refletindo sobre o tema o cardeal Tomko assim se expressa O fato do pluralismo religioso e a nossa nova consciência sobre o mesmo não podem tornarse uma desculpa para evitar ou retardar a proclamação da salvação dos homens em Cristo Jesus J TOMKO La missione verso J terzo mJlennio p 260 Na mesma perspectiva inserese a reflexão do teólogo M Dhavamony Iodos são chamados a formar um novo povo de Deus A Igreja por intrínseca vocação é destinada a estender se de modo a incluir a inteira família dos homens M DHAVAMONY Teologia delle religioni p 24445 8 Dentre outros teólogos que partilham esta mesma perspectiva podemos apontar E SCHILLEBEECKX Umanità la storia di Dia p 217 GEFFRÉ O lugar das religiões no plano da salvação p 116 124 Os teólogos e bispos indianos foram pioneiros nesta reflexão Já em 1989 a Comissão para o diálogo e ecumenismo da Conferência dos Bispos Católicos da índia CBCI apresentou um um documento intitulado Diretrizes para o Diálogo InterReligi oso onde se afirmava A pluralidade das religiões é uma conseqüência da riqueza da mesma criação e da graça multiforme de Deus Cf 1 DUPUIS rso una teologia p 424 Ver também M AMALADOSS Rinnovare tutte le cose dialogo pluralismo ed evangelizzazione in Asia p 126 9 DUPUIS VelYo una teologiL p 520 Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de FOla v 3 n I p 111148 Faustino Teixeira 2 As Distintas Formas de Aproximação do Mistério Fundamental A teologia cristã das religiões busca hoje acentuar o significado das religiões como caminhos de salvação Esta nova perspectiva implica o reconhecimento da legitimidade de diversos percursos religiosos sempre direcionados para o horizonte da comunhão com o mistério fundamental Cada um destes percursos guarda uma alteridade irredutível e irrevogável que jamais será tematizado ou totalizado numa religião particular Este caráter único e singu lar de cada religião não impede mas exige uma dinâmica de aber tura ao outro O diálogo interreligioso visa justamente apontar os traços de complementaridade recíproca que vigora entre as diversas tradições religiosas Na experiência do encontro ocorre uma troca e condivisão dos valores salvíficos em favor de uma transformação e enriquecimento mútuos 1O Certos autores buscam fazer uma distinção entre as religiões monoteístas ou proféticas e as religiões orientais ou místicas Podese admitir a relevância desta distinção desde que operada com cautela Tem o mérito de sublinhar o fundamento comum das três religiões monoteístas de herança abraâmica situadas como religiões proféticas e do livro distinguindoas das tradições orien tais que acentuam mais a dimensão da interioridade da sabedo ria e da gnose Esta distinção porém não nos autoriza concluir em favor de uma separação rígida que excluiria qualquer signifi cado profético nas religiões orientais ou dimensão mística nas religiões proféticas 12 10 Ibid p 439 11 Cf a obra de Zaehner ver nota 3 O teólogo Hans Küng faz igualmente menção ao historia dor das religiões Friedrich Heiler H KONG et alii Cristianesimo e religioni universalt p 210 14 Ver ainda DUPUIS irso una teologia p 1617 34648 GEFFRÉ Athenes Jérusalem Bénares la rencontre de IOcident chrétien et de lOrient p 122 12 DUPUIS Verso una teologia p 16 Igualmente as considerações teóricas que tendem a simplesmente identificar a lndia religiosa com o politeísmo devem ser relativizadas O panteão do hinduísmo pode dar lugar a interpretações bem divergentes Mesmo considerando a abun dante diversidade de cultos dedicados a deuses e deusas distintos na índia verificase um monoteismo alternativo que ao contrário do Islam admite ao lado do deus cultuado por ocasião de urna festa anual ou peregrinação particular diversos deuses aliados Cf M HULlN L KAPANI Linduismo p 372 Numen revIsta de estudos e pesquisa da religião JUIZ de Fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas Religiões o caminho para se atingir a Realidade Absoluta nas relígíões oríentaísé encontrado na interioridade Tratase de uma busca do Absoluto desconhecido na gruta do coração 13 Cultivase mais a mística do entase a descoberta do Absoluto no íntimo de si mesmo ou a imersão na realidade de um Todo que nos inabita A tradição oriental enfaliza mais o apofatismo teológico excluindo assim a possibilidade de se alcançar o Absoluto mediante con ceitos A mediação para este encontro se dá através da experiên cia Uma conhecida sentença zen afirma melhor ver a face do que ouvir o nome Uma expressão desse apofatismo encontramos na experiência budista do sunyata vazio Este conceito vem empregado como expressão da inefabilidade e indizibilidade da realidade do Misté rio Absoluto Não indica relatividade ou vacuidade mas a radical diversidade que separa este Mistério de todo e qualquer atributo possível de ser concretizado ou simbolizado Na mística advaíta hindu a dinâmica religiosa vem concebida como uma experiência kenótica de radical esvaziamento do sujeito humano e seu potenciamento para perceber a transparência do Absoluto trans cendente e inexprirnível no mundo dos fenômenos Nesta expe riência rompese toda dualidade dvaíta dissolvendose tudo o que não é Absoluto O sujeito esvaziado de sua densidade ontológica reencontra sua identidade com o Brahman Em síntese o cerne da espiritualidade nas tradições orientais relacionase com a busca da libertação mediante a purificação da consciência e a superação dos obstáculos que interditam a visão interior Tratase de uma piedade que se volta para o interior aspi rando a libertação dos desejos a extinção da vida da vontade e dos afetos um processo de autotransformação que resulta em nova sabedoria uma experiência de unidade adquirida mediante uma prática meditativa O esforço aqui é pessoal É o próprio sujeito que deve trilhar o seu caminho de aprofundamento espiri tual descobrindo por si mesmo o valor da realidade que o abarca completa e liberta Inexistem aqui profetas ou mediadores da pa lavra salvadores ou messias que doam suas vidas por seus fiéis A salvação é aqui fruto de um esforço pessoal Nesta trajetória ori 13 DUPUIS rso una teologia p 326 Nllmen revista de estudos e pesquisa da religi1o Juiz de Fora v 3 n p 111148 ental o ponto focal não está na revelação pessoal de Deus ou no diálogo dual com o divino O que chamamos Deus como agente livre e definido que sai ao encontro do humano carece de impor tância central para a índia Mais que a existência de um Deus pessoal importa aqui a libertação do sofrimento a descoberta da imortalidade ou salvação moksa14 Nas religiões monoteístas ou proféticas o caminho de acesso à Realidade Absoluta é diverso A ênfase recai agora no êxtase ou seja no encontro com o Deus totalmente outro No cristianismo e nas outras religiões proféticas a experiência religiosa toma a forma de um diálogo interpessoal de Deus que assume a inici ativa manifestandose com o ser humano que responde a tal iniciativals Ao lado da compreensão de Deus como mistério inexprimível a mística ocidental acentuará o conhecimento catafático afirmativo fazendo assim recurso ao conceito de ana logia que permite dizer algo sobre Deus mediante as vias da afir mação da negação e da eminência A mística profética será uma mística da audição da Palavra A salvação vem aqui entendida como encontro pessoal com um Deus transcendente que ao lon go da história vai se manifestando através dos profetas instauran do uma história de relações pessoais Esta mística profética cons titui a forma original da mística cristã Uma mística que floresce no terreno da Palavra de Deus ouvida e obedecida Rm 101718 e que cresce até alcançar o caminho mais excelente hyperboén hodón 1Cor 1237 que dá realidade e consistência a todos os outros caminhos o da fé o da profecia o do conhecimento dos mistérios ou seja o caminho da agápe 1 Cor 1323J6 Para esclarecer ainda mais a peculiaridade tomada pelas tradi ções ocidental e oriental com respeito à aproximação do mistério fundamental podemos fazer menção à distinção traçada por C1aude Geffré com base nas análises de P Ricoeur e D Tracy entre pro clamação e manifestação Enquanto que nas religiões proféti 14 Xabier PIKAZA E fenómeno religioso p IlZ Este autor assinala porém o traço singular e distintivo da piedade bhakti na índia de traço mais universal e personalista que tende a concretizar a divindade num dos grandes deuses Shiva ou Vishnú 0 rosto desse Deus vai adquirindo traços pessoais superando assim a visão de um Brahma concebido como um Todo superior indiferente aos humanos Ibid p 180 15 DUPUIS Verso una teologiao p 326 16 H C de LIMA VAl Mística e política a experiência mística na tradição ocidental p 45 Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v J n I p 111148 A Experiência de Deus nas ReligiOes cas Deus se revela mediante a proclamação de uma palavra seja a Torah Jesus Cristo ou o Corão nas religiões orientais a ênfase recai na manifestação A realidade divina não toca o ser humano a partir de fora através de uma palavra ou lei exterior mas apre sentase como o fundamento de seu próprio ser e de todo o cosmos17 3 Traços Comuns às Religiões Monoteístas ou Proféticas Importantes elementos comuns podem ser identificados nas três religiões proféticas caracterizadas pelo encontro entre Deus e o ser humano Desde o início de suas traietórias o judaísmo cristi anismo e islamismo apresentamse como religiões proféticas dis tinguindose das religiões místicas indianas ou sapienciais chine sas Para as religiões proféticas é Deus mesmo o sujeito da inicia tiva decisiva com respeito ao evento salvífico Este Deus entra em comunicação com o ser humano que se coloca diante dele em atitude de escuta e confiança Entre os traços partilhados pelas três religiões proféticas pode mos assinalar a fé no único e mesmo Deus de Abraão 18 A origem comum das religiões monoteístas na fé de Abraão constitui a garantia da identidade pessoal do Deus que nelas vem adorado A presença de uma misteriosa complementaridade entre estas três religiões abraâmicas foi sublinhada com vigor por Louis Massignon 18831962 um dos mais destacados orientalistas católicos1 9 17 GEFFRÉ Athenes Jérusalem Bénares p 12122 18 KDNG Cristianesimo essenza e storia 1997 p 39 O Concílio Vaticano 11 reconheceu o patrimônio comum presente nas três tradições monoteístas Com respeito aos judeus reco nheceu que as premissas da fé cristã encontramse nos Patriarcas em Moisés e nos Profetas bem como a comum filiação de Abraão Com respeito aos muçulmanos reconheceu a fé comum manifestando sua estima para os muçulmanos que adoram o Deus uno vivo e subsistente misericordioso e onipotente Criador do céu e da terra Nostra Aetate 3 e 4 cf DOCUMENTOS DO CONcíLIO ECUMÊNICO VATICANO 11 Seguindo a mesma tradição João Paulo 11 ao falar para os jovens muçulmanos do Marrocos em Casablanca 1985 subli nhou a presença de muitas coisas comuns entre cristãos e muçulmanos e em particular a crença em Deus porque é nele que nós cremos vós muçulmanos e nós católicos JOÃO PAULO 11 Ai giovani musulmani dei Marroco p 345 19 GEFFRÉ La portée théologique du dialogue islamochrétien 1992 p 9 Numen reviSla de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Faustino Teixeira Jacques Dupuis menciona em particular a continuidade entre o lahweh da religião hebraica e o Pai de Jesus Cristo celebrado no cristianismo bem como a identidade pessoal que vigora entre o Deus hebraicocristão e o Deus presente no Corão e no Islã Isto não significa apagar as diferenças que permeiam o conceito de Deus presente nas escrituras destas três tradições2o É o mesmo Deus que vem adorado mas segundo uma inteligência diferente de sua unidade diferença que nos convoca a uma emulação recíproca no sentido da busca da verdade transcendente do Deus sempre maior21 A fé em Abraão constitui portanto uma referên cia normativa para as três religiões monoteístas e base para as propostas hoje em curso de uma Ecumene abraâmica que possa favorecer um retorno à autenticidade das tradições religiosas em questão e encontrar os caminhos de um novo ecumenismo capaz de fomentar a paz e a compreensão bem como transformar o espírito de rivalidade em entendimento recíproco no respeito às fidelidades singulareszz Outros traços comuns podem ser igualmente sublinhados uma visão da história direcionada a um fim com início na dinâmica criacional de Deus e orientada para um horizonte querido por Deus a presença de figuras proféticas como arautos da Palavra e da vontade de Deus a presença da Revelação de Deus consigna da num livro escrito considerado como normativo e critério de autenticidade um comum ethos fundamental haurido da vonta de do único Deus e expresso no decálogo hebraicocristão Ex 20121 e no Código islâmico dos deveres Sura 172238P Uma convergência ainda mais radical ocorre a nível da fé vivida e expressa pelos místicos das respectivas tradições Tanto na mística cristã na tradição da kabala judaica e no sufismo islâmico encon tramos místicos de grande profundidade e que testemunham va lores comuns de comunhão manifestando uma análoga e incan sável busca de união com o Deus IJnico para o qual tende o inteiro gênero humano24 20 DUPUIS Verso una tegia p 346 21 GEFFRÉ La portée théologique p 16 22 Ibid p 13 cf tb KarlJosef KUSCHEL Discordia en a casa de Abrahan lo que separa y lo que une a judias cristianas y musulmanes p 9 e 237s 23 iONG Cristianesimo p 3941 24 DUPUIS Verso una tegia p 354 Numen revisa de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 A atual sensibilidade em favor de um ecumenismo planetário tem buscado acentuar os traços comuns que unem judeus e cris tãos Com o Vaticano 11 a Igreja Católica manifesta uma nova sensibilidade dialogal rompendo com antigos preconceitos que reforçavam um antijudaísmo problemático Com a Declaração sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs Nostra Aetate NA recordase o vínculo de união entre o povo do Novo Testamento com a linhagem de Abraão e o patrimônio comum que vincula as duas tradições religiosas NA 4 A partir desta nova sensibilidade dialogal novos estudos foram sendo desenvolvidos visando sublinhar estes elementos comuns No carnpo cristão podemse mencionar os aprofundamentos realiza dos em torno de uma teologia cristã do judaísmo sintonizada com a explicitação da base judaica do cristianismo25 Um traba lho importante realizado nesta direção foi apresentado por Hans Küng em seu livro sobre o judaísmo26 lJesta obra Hans KCing busca mostrar que o judaísmo antes de ser um Antigo Testamen to ultrapassado constitui uma realidade autônoma e dotada de estupefaciente continuidade vitalidade e dinamismo27 Este au tor sublinha que o cristianismo não pode desconhecer sua base judaica Jesus eMaria eram judeus28 bem como seus discípulos e a primeira comunidade dos cristãos Jesus cresceu e se formou em profundo contato com as Escrituras orações cultos e festas judai cos Desta estreita ligação permanecem traços que são comuns a fé no Deus único de Abraão lsaac e Jacó as Sagradas Escrituras como fonte da fé comum o Primeiro Testamento a familiaridade partilhada na experiência litúrgica salmos orações e leituras o ethos comum em favor da justiça codificado nos dez mandamen tos a fé na continuação da história do povo de Deus marcada pela esperança comum da comunhão plena em Deus29 25 Ver de modo especial a clássica obra de C THOMA Teologia crisiana dellebraismo 26 KONG Ebraismo 27 Ibid p 9 28 A Constituição Dogmática Lumen Genium LG do Vaticano 11 fala dos judeus como aque le povo que foi objeto das alianças e promessas e do qual Cristo nasceu segundo a carne Rm 945 povo em virtude de sua eleição tão amado por causa dos patriarcas LG 16 29 KONG Ebraismo p 38889 Numen revístJ de estudos e pesquisa da religião Juiz de For v 3 n I p 111148 Faustino 1eixeira Assim como a abertura aos judeus o Vaticano 1I sublinhou a sintonia do cristianismo com o islã As duas tradições vinculam se pela fé num único Deus criador Este dado foi bem acentuado na Constituição sobre a Igreja Lumen Centium LG Adoram conosco um Deus único e misericordioso que há de julgar os homens no último dia LG 163 O orientalista Louis Massignon já em 1947 sublinhara este dado O islã é a religião da fé e não a religião de uma fé natural no Deus dos filósofos mas a fé no Deus de Abraão de lsaac e de Ismael 31 fé em nosso Deus32 As duas tradições podem ser definidas como religiões do livro apresentando igualmente um acontecimento inaugurador um tex to original e uma comunidade interpretativa As escrituras porém não conseguem traduzir de forma adequada o mistério inacessível da Palavra de Deus Tanto na revelação cristã como na corânica permanece resguardada a distância que interdita a objetivação perfeita desta Palavra33 Analogias podem ser estabelecidas entre a Bíblia e o Corão sobretudo com respeito à mensagem bíblica do Antigo Testamento ou mesmo em certos casos do Novo Testa mento34 Estudiosos recentes têm buscado mostrar as afinidades e analogias entre a imagem corânica de Jesus e a cristologia judai cocristã acristologia primitiva de Jesús Servidor de Deus presen te na Igreja judaicocristã e que foi sendo progressivamente subs tituída pelas formulações gregas da Igreja helenista que prevale ceram nas decisões dogmáticas de Éfeso e Calcedônia35 30 Os dois papas do Concilio Vaticano 11 João XXIII e Paulo VI manifestaram grande sensibilida de diante do islamismo e acolheram de forma positiva o espírito de abertura na abordagem da questão As passagens do Vaticano 11 que tratam o tema do islã LG 16 e NA 3 refletem uma nítida influência do orientalista L Massignon com o qual os dois papas estiveram ligados por laços de amizade Ver a respeito a nota de Jesús Moreno Sanz apud L MASSIGNON Oencia de la compasión p 40 n 3 31 A singularidade do ismaelismo do islã é defendida por CGeffré Assim como há uma especificidade irredutível de israel podese igualmente falar de uma especificidade irredutível do ismaelismo do islã Os dois fazem parte do desígnio de Deus como desígnio de graça C Podese estimar que a religião de Abraão como religião da Aliança estendese através de Ismael ao islã Cf GEFFRÉ La portée théologique p 8 32 Cit apud Jacques JOMIER Dieu et lhomme dans le Coral7 p 28 E confirmando a tese de Massignon acrescenta Jomier Os muçulmanos e os cristãos dirigemse ao mesmo Deus ao único Deus que é que existe a Deus ele mesmo Ibid p 29 33 GEFFRÉ Le Coran une parole de Dieu différent p 223 34 Maurice BORRMANS Oríel7tamel7ti per un dialogo tra cristiani e musulmani p 68 35 Hans Küng chega a questionar a tese tradicional sobre o conhecimento superficial de Maomé Numen revista de studos e pesquisa da religião JUIZ de fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas Religiães 31 A Experiência de Deus no Judaísmo A profissão de fé no Deus uno e único que estabeleceu uma aliança permanente com os judeus reconhecidos como povo de Deus constitui instância central do judaísmo36 Foi em defesa do monoteísmo estrito que a tradição judaica reagiu permanente mente aos dogmas cristãos da Trindade e da Encarnação A afir mação da unicidade de Deus vem expressa no início de ullla das orações mais significativas da religião judaica a Xemá Ouve Ó Israel lahweh nosso Deus é o único lahweh Dt 64 As reações de estudiosos rabínicos contra as idéias metafísicas que introduzi am divisões em Deus remontam aos século 11 e 111 de A partir da Idade Média e nos séculos sucessivos o dogma trinitário vem afrontado com maior rigor Atribuíase ao mesmo uma atenuação do conceito de Deus uno e único de Israel Aplicase ao cristia nismo o conceito religiosojurídico de shittuf ou seja associação ou coletivização Para os judeus o mistério da trindade significava uma deformação ou enfraquecimento do monoteísmo purO3 O conceito shíttuf atribuído aos cristãos não se identificava po rém com a noção de idolatria ou politeísmo Consideravase an tes o cristianismo como um monoteísmo atenuado e diluído38 Em sua reflexão sobre a teologia cristã do pluralismo religioso Jacques Dupuis recorda que apesar de o mistério da trindade ter sido revelado em Jesus Cristo conexões com este mesmo misté rio encontraríamos já no judaísmo Para este autor o Antigo Tes tamento não excluiria a presença de uma economia universal mediante a ação da Palavra de Deus daba da Sabedoria de sobre o cristianismo e levanta a hipótese defendida também por outros autores sobre o seu bom conhecimento da estrutura fundamental da cristologia sirosemítica Pa ra este tema cf KONG Cristianesimo p 11617 GEFFRÉ La portée théologique p 15 36 THOMA Teologia aistiana p 138 37 Ibid p 140 38 Esta resistência à trindade não ocorreu na mesma proporção entre os adeptos da mística judaica A trindade vem também questionada mas em sintonia com os cristãos admitese uma rica vida intradivina bem como múltiplos modos do agir de Deus ad extra e movi mentos dialéticos e dialógicos insondáveis entre a infinidade de Deus e os modos de sua ação no mundo Cf THOMA Teologia aistiana p 145 Estas tendências trinitárias foram objeto de muitas resistências por parte da ortodoxia judaica Cf KDNG EbtiJismo p 42Z Numen revista de estudos e pesquisa da reiglio Juiz de Fora v 3 n l p 111148 Fauslino Teixeilii Deus hokmah e do Espírito de Deus rOah A Palavra de Deus diz respeito à lei divina que interpreta os significados das interven ções históricas de lahweh Ex 20117 e Dt 5622 A Sabedoria de Deus constitui um reflexo da luz eterna e eflúvio do poder de Deus Sb 72526 Criada por lahweh antes de seus feitos mais antigos Pr 822 é esta Sabedoria que aponta o caminho da vida da inteligência e do favor de lahweh O Espírito de Deus por sua vez representa a vitalidade energia e potência divina em ação desde o ato criador Tratase do Espírito que dá vida ao caos renova a face da terra e ativa os seres humanos com sua energia criadora A Palavra a Sabedoria e o Espírito não representam pes soas distintas de lahweh mas atributos dinâmicos de Deus Esta tríade revela segundo Dupuis as relações de Deus com a humani dade no processo da história da salvação e apresentam de forma antecipada as principais categorias que a autorevelação de Deus em Jesus Cristo e a sua elaboração no contexto da tradição cristã iriam colocar posteriormente em ação39 A afirmação de Deus defendida pelos judeus não pode po rém ser identificada com um monoteísmo transcendente rigoro so Não há como sustentar esta hipótese com base na Bíblia vetero ou neotestamentária nem na literatura talmúdica ou judaico esotérica O que transparece em toda a tradição judaica é a ideia do Deus da aliança de um Deus terno e compassivo que se insere nas situações de seu povo e condivide com ele a sua trajetória O Deus judaico é animado de um pathos atual que deixa ser visi tado em sua intimidade pelos profetas bíblicos e outros destinatá rios de seu amor Tratase de um Deus que ama os seres humanos que sofre com os seres humanos que precisa dos seres humanos e se revela com muitos rostos40 No judaísmo percebemos a presença de uma dialética que articula os conceitos de Deus como infinito e transcendente e ao mesmo tempo profundamente próximo evizinho ao ser humano O livro do Êxodo aponta a distância que separa Deus do ser humano Não poderás ver a minha face Ex 33 20 Já o livro de Isaías descreve de forma muito feliz a idéia da proximida 39 DUPUIS Verso una teologia p 357 ver tb p 616 40 Reinhard NEUDECKER I vari volti dei Dia único p 7496 Numen relisa de estudos e pesquisa da religião Juiz de fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas Religiões de Eu habito em lugar alto e santo mas estou junto ao abatido e humilde C ls 5715 O Deus de Israel está sempre muito próximo de seu povo como o Deus clemente e misericordioso Qual a grande nação cujos deuses lhe estejam tão próximos como lahweh nosso Deus todas as vezes que o invocamos Dt 47 Esta proximidade e presença de Deus junto aos seres huma nos foi descrita de forma particular na teologia da shekinah pre sente no judaísmo rabínico que sublinha a inabitação enquanto modo particular de existir e agir de Deus O Deus da aliança não se faz unicamente presente na tenda da aliança ou no templo mas acompanha sempre a comunidade de seu povo mesmo no exílio é o Deus Emanuel o Deusconosco41 A afirmação da proximidade de Deus junto aos seres humanos não significa entretanto uma pura e simples identificação O tra ço de distinção vem sempre acentuado com vigor pelos judeus Daí a grande dificuldade em aceitar nos meios judaicos a idéia de que numa certa época da história humana Deus tenha se en carnado num ser humano A doutrina da encarnação vem igual mente identificada pelos judeus como mistura união ou as sociação indevida de algo criado com Deus shittuf A tradição judaica manterá sempre acesa a reserva contra a perspectiva cristã que situa num mesmo plano ontológico Jesus e o Pai o que ocorreu sobretudo após sua difusão no universo helenista A divergência entre judeus e cristãos como bem acentuou David Flusser não situase no âmbito das doutrinas de Jesus mas no âmbito da cristologia42 Importantes autores da tradição judai ca reconhecem em Jesus um judeu exemplar O filósofo Martin Buber define Jesus como o irmão maior portador de uma men sagem autenticamente judaica Igualmente o seu discípulo Schalom Bem Chorin retoma esta idéia de Jesus como judeu exemplar reconhecendo nele alguém animado por uma fé incondicionada em Deus e radicalmente fiel à sua vontade No exemplo de Jesus identifica o elo de união entre judeus e cristãos43 No campo 41 Para Thoma a raiz da shekinah não encontrase no céu mas entre os seres humanos na terra cf THOMA Teologia cristiana p 142 Ver ainda KUNG Ebraismo op cit p 424 428 NEUDECKER I vari voltL p 978 H H HENRIX Diálogo judaicocristão Do ponto de vista católico p In 42 KUNG Ebraismq p 359 43 Ibid p 350 Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Faustino Teixeira católico ocorre similar reconhecimento Como afirmado no do cumento da Conferência Episcopal Alemã quem encontra Jesus Cristo encontra o judaísmo44 Os autores da tradição judaica reconhecem em Jesus uma per sonalidade exemplar mas nada além de um homem exemplar Na expressão de Bem Chorin a fé de Jesus nos une mas a fé em Jesus nos divide45 A dificuldade maior está em aceitar Jesus Cristo como a segunda pessoa da trindade divina Para os ju deus isto é inaceitável e justamente pelo fato de Jesus ter sido um judeu Segundo o estudioso judeu Pinchas Lapide os cami nhos de diálogo entre judeus e cristãos devem tomar como base não a elevada cristologia dos concílios a partir do alto mas a trajetória histórica de Jesus a partir de baixo Partindo do olhar com que os discípulos de Jesus puderam identificálo e perceber o conteúdo de sua mensagem na história é que se abrem novas pistas para o diálogo com os judeus que igual mente podem levantar a questão quem foi propriamente ele 746 32 A Experiência de Deus no Cristianismo O cristianismo encontrase fundado numa compreensão de um Deus que é comunhão de um Deus que integra as diferenças de um Deus que é Trindade e não solidão Ele suscita a diferença não por estar marcado pela insuficiência mas justamente por ser comunhão 47 Por ocasião do Encontro de Puebla João Paulo II afirmara Já se disse de forma bela e profunda que nosso Deus em seu mistério mais íntimo não é uma solidão mas uma famí lia pois leva em si mesmo a paternidade a filiação e a essência da família que é o amor48 44 CONFERtNClA EPISCOPAL ALEMÃ Relações entre a Igreja e o judaísmo abriI1980l cil apud KDNG Ebraisma p 34Z 45 KDNG Ebraismo p 350 Conforme a expressão do estudioso judeu Pinchas Lapide o que separa os judeus dos cristãos não são os 33 anos que marcaram o itinerário de Jesus mas as últimas 48 horas contadas a partir da tarde da sexta feira santa os dois dias determinantes sobre os quais se apoia toda a eristologia Cil ibid p 352 46 Ibid p 3S2 47 Christian DUQUOC Un dia diverso p 114 IIZ Como sublinha este autor a unidade de Deus não significa a superaçãO das diferenças mas estas constituem a sua condição de pos sibilidade cf ibid p 13Z 48 JOÃO PAULO I Homilia pronunciada no seminário Palafoxiano de Puebla durante eucaristia Numen revista de estudos e pesquisa da religião JUIZ de Fora v J n I p 1I1148 A Experiência de Deus nas ReligiOes A concepção cristã de Deus descarta por si mesma toda perspectiva monolítica e fechada de Deus Existe pois uma di mensão plural em Deus49 Rico em sua unidade de relações o Deus cristão não é nem o Um do monoteísmo estrito de tipo plotinian050 nem o Vários do politeísmo Tratase de um Deus que integra o plural Um monoteísmo que integra ousaria dizer a inquietude o sussurro a riqueza do plural 51 Como bem sabemos mediante a perspectiva trinitária o plural o múltiplo não podem absolutamente ser identificados como algo negativo Esta identificação foi fruto da tradição grega e filo sófica que com poucas exceções ponderou unicamente a glória e a nobreza do Um encerrado em si mesmo como o de Plotino O monoteísmo presente no cristianismo revelanos que o Um é rico de uma multiplicidade interna A riqueza da composição de vários em um foi observada por muitos pensadores teólo gos e poetas Pascal dizia Toda a verdade é feita de verdades contrárias que parecem excluíIa e que subsistem numa ordem admirável52 Este monoteísmo original e aberto foi fruto da audácia das primeiras gerações cristãs que souberam trans gredir a compreensão do monoteísmo comum Deus não se encontra na solidão Deus não é solidão Non in solitudine Deus djz llario de Poitiers Já Orígenes em sua homilia sobre Ezequiel rompia o bloqueio do conceito filosófico grego do Deus impassível ao sublinhar que o Deus cristão é alguém que tem piedade que se compadece que experimenta uma paixão de caridade Salienta que nem mesmo o Pai é impassível Ao se colocar diante dele em oração ele manifesta piedade e se compadece experimenta uma paixão de caridade colocandose numa condição incompatível com a grandeza de sua natureza53 realizada em 28 de janeiro de 1978 In Documento de Puebla 2 ed Petrópolis Vozes 1979 p46 49 GESCHÉ Dia per pensare v 5 p 205 50 Para este filósofo neoplatônico a multiplicidade seria impensável sem a unidade Como indica Gesché o deus do mito e da filosofia permanece sempre um deus que não busca sair de si mesmo só diante de si mesmo Nonos pIOS monorf como diz Piotino Tratase de um ser idêntico que não se divide e que permanece inteiro ele não é distante de nada e não tem necessidade de invadir nada Cf GESCHÉ Dia per pensare v 3 p 1161Z 51 GESCHÉ Dia per pensare v 5 p 206 52 Ibid p 20Z 53 Ibid p 180 Numen reviSla de eSlUdos e pesquisa da religião JUi2 de Fora v 3 n I p 111148 Faustmo Teixeild Essa kenosiS54 de Deus essedescensus esse vir ao encontro do humano era algo de inimaginável para aquele tempo e em viva contradição com o paganismo Como sublinha Gesché Deus não seria a rigor monoteísta55 É de fato a partir do três que apren demos o significado do um O cristianismo não fecha assim caminho a uma concepção mais flexível da unidade Neste sentido introduz em sua própria linguagem IJma abertura que felizmente impossibilita qualquer ra ciocínio excludente Assim podemos nos aproximar da intimida de de Deus um Deus que integra a diferença e que convoca o cristianismo a dar direito à diferença Tratase igualmente de um Deus que é mistério que sempre advém Um Deus que é mistério do mundo mas cuja visibilidade é provisória se dá nas condições do mundo O mundo não pode tornar manifesto o Deus eterno de modo eterno divino56 O ser de Deus guarda surpresas inau ditas para cada um de nós Sua substância mais íntima constitui evento do viraser é o Deus que era que é e que vem O Deus da Bíblia é um Deus que bendiz o múltiplo Já no livro do Gênesis a multiplicidade das famílias da terra e a varieda de de suas línguas vêm acolhidas e celebradas positivamente Gn 103132 Etodas as nações da terra benditas Gn 123 O epi sódio da torre da babei no capítulo 11 do mesmo livro narra a condenação divina da ambição humana idolátrica de colocar no lugar de Deus uma humanidade monolítica A pluralidade vem assim acolhida por Deus No Novo Testamento o episódio de Pentecostes constitui a real consagração do plural e de sua cida dania A efusão do Espírito indica que a pluralidade das línguas e das culturas é necessária para traduzir a riqueza multiforme do mistério de Deus 54 o nosso Deus não é alguém que interdita os caminhos da alteridade mas é um Deus de tríplice quenose como sublinha A Gesché a Quenose da trindade que abre espaço ao outro em sua alteridade de relações b Quenose da criação que desde o início do mundo celebra a presença do ser humano ao seu lado como sua ímagem c Quenose da encarnação que se esvazia de sua condição divina e se abre ao desafio do humano O Deus do abandono de si Tratase portanto de alguém que não se fecha de forma enciumada em sí mesmo e nos seus direitos mas que se afirma como abundãncia de gratuidade Alguém que é capaz de todos os atos da linguagem à exceção do monólogo Cf GE5CHÉ Lidentité de Ihomme devant Dieu p 22 55 Na expressão de Gesché Deus não é ousarei dizer monoteísta GESCHÉ Dia per pensare v 5 p 207 56 Eberhardt JONGE Dia mistelD deI mondo p 491 Numen revista de eSludos e pesquisa da leligião Juiz de FOId v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas ReligiOes o Deus de Jesus é alguém que comunga com o ser humano um Deus de ternura e de piedade lento para a cólera rico em amor e fidelidade Ex 346 Como bem sublinhou W Pannenberg o Deus de Jesus não se difere do Deus testemunhado no Antigo Testamento e reverenciado na fé judaica o mesmo Deus de Abraão Isaac eJacó Mt 1226s57 Éum Deus de misericórdia rahamirrf8 e de bondade hanum rico em graça hesecJ e fidelidade emed Estas são imagens tomadas das emoções e atitudes que mais intimamente comprometem avida pessoal dos seres humanos as que serão aplicadas a Javé com particular realismo pelos profe tas59 Como recorda Ronaldo Munoz rahum é a ternura o carinho e a compaixão que sente a mãe pelo seu filho pequeno hanun a benevolência ou favor dedicado por alguém para com os seus prediletos hesed o amor de solidariedade e a confiança mútua dos que estão intimamente ligados60 O Deus de Jesus não é o Deus da ataraxia estóica da impassibilidade platônica da imobilidade aristotélica mas um Deus que cuida do ser humano alguém atento e preocupado Eassim se manifesta desde a primeira página da Bíblia Não é bom que o homem esteja só Gn 218 até a sua última página com o livro do Apocalipse Eis que eu venho em breve Ap 227 Um Deus que cuida de cada cabelo de nossa cabeça cf Lc 2118 que faz o sol nascer indistintamente para todos e a chuva jorrar sobre justos e injustos Mt 545 Os Evangelhos testemunham de forma muito clara como Jesus retoma esta dinâmica de alteridade suscitada pela sua profunda relação com o Pai Tratase de alguém que se afirmou e cresceu 57 Wolfhart PANNENBERG Teologia Sistematica v I p 294 58 Em hebraico a palavra rahamim significa ter entranhas como uma mãe e possuir seios como uma mulher Deus não só tem um coração que ama Isso já é extraordinário Mas também tem entranhas Isso é avassalador Tal fato permite que Deus seja visceralmente bom Cf Leonardo BOFF Brasa sob cinzas p 50 Deus é marcado pelo princípio misericórdia opondose assim às fraternidades de terror Este princípio misericórdia constitui um paradigma materno Com base em tal paradigma Boff levanta a seguinte interrogação podem as mães condenar o fruto de suas entranhas lá onde a misericórdia tem o seu trono Mesmo o filho mais criminoso ou a filha mais pervertida não deixam jamais de ser filho e filha Eles serão amados sempre Jamais sairão do coração de suas mães Elas amam compreendem perdoam L Definitivamente Deus não precisa de uma lata de lixo Significaria sua eterna vergonha e seu infinito fracasso Ibid p 567 cf tb Saber CUidar ética do humano compaixão pela terra p 127 59 Ronaldo MIJNOZ O Deus dos cristãos p 172 60lbid Numen revista de eslUdos e pesquisa da religiao Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Faustmo Teixeira como um judeu fiel mas ao mesmo tempo crítico diante das rigorosas observâncias religiosas mantidas pelos judeus como ex pressão da vontade de Deus Esta relação de alteridade foi descrita de forma primorosa pelo biblista Carlos Mesters em trabalhos recentes61 Ao conviver 30 anos no interior da Galiléia Jesus se dá conta da dura realidade da exclusão sofrida por segmentos simples da população os leprosos os doentes os publicanos as mulheres os pagãos os pobres e outros Excluídos ou renegados em nome das normas vigentes da cultura e da religião Um dos traços peculiares da prática de Jesus é a acohídadada aos excluídos sua ternura e o amor receptivo para com os pobres e os excluídos de seu tempo sobretudo para com os samaritanos Para os judeus daquele tempo os samaritanos eram postos do ponto de vista cultuai e ritual em pé de igualdade com os pa gãos62 Como sublinha Mesters o povo dos terreiros de can domblé é hoje para muitos de nós católicos o que os samaritanos eram para os judeus no tempo de Jesus63 Aos samaritanos Jesus dedica de modo preferencial a sua ternura e amor acolhedor Je sus não condena a aproximação com o diferente Ele faz o contrá rio Na parábola do bom samaritano coloca um samaritano como exemplo para o sacerdote e o levita Lc 102937 Em bela pas sagem de sua clássica obra sobre a teologia da libertação Gustavo Gutiérrez sublinha que o samaritano acercase do ferido que está à beira do caminho não por um frio cumprimento de obrigação religiosa mas porque se lhe removem as entranhas porque seu amor por esse homem se fez carne nele64 Jesus não evita o território impuro dos samaritanos como o faziam os judeus observantes da época Ele entra nas cidades e nos povoados da Samaria mesmo sem ser bem recebido Lc 952 53 No episódio dos dez leprosos descrito por Lucas será justa 61 Seguiremos aqui de perto a reflexão deste autor no texto Carlos MESTERS Jesus e a cultura do seu povo 62 o Joachim JEREMIAS Jerusalém no tempo de Jesus São Paulo Paulinas 1986 p 469 Os samaritanos eram vistos como desprezíveis e pervertidos Cf ibid p 471 63 MESTERS Jesus e a cultura de seu povo p 18 Para os doutores da lei fariseus e sacerdotes da época os fariseus não apresentavam valor estando possuídos pelo demônio O próprio Jesus não escapou deste estima Você é um samaritano e tem o demônio lo 848 64 Gustavo GUTIÉRREZ Teologia da libertação p 167 Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas ReligiOes mente o samaritano aquele que o reconhecerá e o agradecerá pela graça recebida Lc 171516 Jesus puxa conversa com a mulher samaritana o que era proibido pelos costumes da época lo 4765 Econversando com ela não a condenou Pelo contrá rio foi a esta mulher da Samaria que ele por primeiro se revelou como o l1essias lo 42526 Na conversa com a samaritana Jesus colocou os pingos nos is lo 42122 mas não disse que ela devia abandonar a sua religião66 Jesus não fazia acepção de pessoas convivia e partilhava a comida com pecadores e publicanos Mc 21516 e Lc 530 Escandaliza os poderosos de então ao afirmar que os publicanos e as prostitutas teriam precedência no Reino de Deus Mt 2131 Os excluídos tinham um lugar destacado em seu coração Não reage com repulsa como o fariseu ao gesto acolhedor da prosti tuta que derrama o frasco de alabastro com perfume em seus pés enxugandoos com os cabelos Ao contrário reconhece neste gesto a demonstração de um grande amor Lc 73647 Jesus tocava em pessoas impuras abraçava as crianças chamava as mulheres para seguilo Jesus é capaz de acolher a mulher cananéia que era de outra raça e religião o oficial romano pagão e dizer Nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé Lc 79 de aceitar o des conhecido que expulsa demônios em nome de Jesus mesmo não pertencendo à sua comunidade Mc 93840 de reconhecer o valor e fé em todos aqueles que se comprometem na solidarieda de para com os necessitados independentemente da religião pro fessada Mt 253146 A misericórdia era a chave de sua éti ca67 e para ele o canal privilegiado de acesso ao Reino da Vida A missão que Jesus confere a seus discípulos e discípulas era uma missão de paz Ao contrário de outros missionários descritos no Evangelho Mt 2315 os seguidores de Jesus não podiam levar nada em sua missão nem ouro nem prata nem cobre nem duas túnicas ou sandálias Deviam ser portadores de paz ao en 65 Como sublinha Jeremias no Oriente a mulher não participa da vida pública o mesmo acontecia no judaísmo no tempo de Jesus pelo menos entre as famílias judaicas fiéis à Lei Em conformidade com as regras estabelecidas as mulheres em público deviam passar des percebidas As regras do decoro proibiam encontrarse sozinho com uma mulher Cf JEREMIAS Jerusalém p 474 66 MESTERS Jesus e a cultura de seu povo p 18 67 BOFF Saber cuidar p 168 Numen Telista de estudos e pesquisa da religldo Juíz de fora I 3 n I p 111148 Fausino Teixena trar na casa saudaia Eque a paz desça sobre ela Mt 10913 Nem sequer comida deviam levar Jesus recomendoulhes que nada levassem para o caminho nem mesmo o pão Mc 68 e que partilhassem a comida do povo O missionário devia confiar na hospitalidade do povo e aceitar acomunhão de mesa comei o que vos servirem Lc 108 Em sua missão deviam cuidar dos excluídos doentes e estigmatizados Somente ao cumprir as exi gência de afirmação de vida é que podiam então saudar e se alegrar com a chegada do Reino Lc 10112 916 Mc 67 13 Mt 10616 O objetivo decisivo da missão não era em primeiro lugar anun ciar uma nova doutrina mas sim testemunhar uma nova maneíra de viver e de conviver Deviam recriar e reforçar a comunidade local o clã a casa para que esta pudesse ser novamente Lima expressão do Reino uma expressão do amor de Deus como Pai que faz de todos irmãos e irmãs68 A missão dos discípulos e discípulas de Jesus revela que o Reino começa a acontecer quan do as pessoas tocadas pela vida e mensagem de Jesus passam a acolher e partilhar as riquezas e valores que possuem quando assumem em toda a sua radicalidade a dinâmica da filiação e da fraternidade criaturas e filhos de Deus e irmãos e irmãs uns dos outros O anúncio da Boa Nova de Jesus consiste justamente em tirar o véu e revelar que o Reino de Deus está em nosso meio Lc 1121 e acontece onde quer que Deus esteja reinando mediante sua graça seu amor vencendo o pecado e ajudando os homens a crescer 69 33 A Experiência de Deus no Islã Para a tradição do Islã a grande teofania está presente num livro o Corão A Palavra ocupa nesta tradição religiosa uma importân cia fundamental Tratase de um ditado sobrenatural registrado por um profeta inspirado70 Para os muçulmanos o Corão traduz a Revelação mesma de Deus descida sob a forma de Livro Para a 68 MESTERS Jesus e a cultura de seu povo p 20 69111 CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINOAMERICANO Puebla a evangelização no presente e no futuro da América Latina n 226 70 MASSIGNO Ciencia de la compasión p 24 Numen revista de eSlUdos e pesquisa da reJigio Juiz de Fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas ReHglões espiritual idade muçulmana é o Corão e não o profeta Maomé que ocupa o lugar fenomenologicamente análogo ao de Jesus Cristo para os cristãos Nesse sentido ele pode ser corretamente definido como o Verbo enlivrado7 Enquanto Palavra de Deus Kaam Aah o Corão nos abre pistas importantes para a com preensão de Deus na tradição islâmica A tradição islâmica não cessa de recordar os 99 nomes de Deus presentes no Corão Para a exegese muçulmana estes no mes representam símbolos ou qualificativos da realidade divina jamais alcançada pelos limites humanos Para Deus são reserva dos os mais belos nomes 7 180 1711072 Com base na descri ção corânica de Deus podese acentuar em primeiro lugar a afir mação decisiva da transcendência de Deus e a total dependência de todas as criaturas para com Ele A própria raiz da palavra islã referese à submissão a Deus sendo o muçulmano musin aquele que se submete a Deus O fato de ser transcendente gran dioso e altíssmo 139 para além do que é transitório e efêmero não significa que esteja distante e insensível aos caminhos do humano Embora distinto do ser humano Deus dele se aproxima com grande intimidade Deus é portador das chaves do incognoscível 659 mas também Aquele do qual estamos mais perto do que a sua artéria jugular 501673 O Deus de que fala o Corão é o criador de todas as coisas 1316 6102 exercendo sobre as mesmas uma soberania abso luta Étambém o Deus únicoe uno professado com grande devo ção pelos muçulmanos na profissão de fé shahadah Não há outro Deus senão Deus lâ iâha ilâ Aâh Declaração explícita desta unidade de Deus encontraremos na Sura 112 Dize Ele é o 71 Roberto BARTHOLO Jr Mística e política no seguimento ao profeta do Islã p 160 Frithjof SCHUON Compreender o sião p 51 61 72 As citações do Corão serão aqui representadas sempre desta forma o prímeiro número diz respeito ao capítulo surata do Corão e o segundo aos versículos ou versos O Corão apresentase dividído em 114 capítulos e 6226 versículos Tomaremos como referência a tradução do Corão para o italiano feita por Alessandro BAUSANI ed I Corano 73 BORRMANS Orientamenti per un dialoga p 845 GEFFRÉ La portée théologique p 17 A HOURANI Uma história dos povos árabes p 87 Ao analisar a questão do islã em seu livro de entrevistas João Paulo 11 não conseguiu captar esta dimensão tão importante da compreensão de Deus no islã Para ele tratase de um Deus fora do mundo um Deus que é apenas Majestade nunca Emanuel Deus conosco Cf JOÃO PAULO 11 Cruzando o limiar da esperança p 98 Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Fausino Teixeira Deus único Deus é eterno Jamais gerou ou foi gerado e ninguém é comparável a Ele Esta surata de grande importância na liturgia e uma das mais apreciadas pelos muçulmanos confirma a profis são de fé monoteista do islã Com ela reafirmase a polêmica tradicional entre cristãos e muçulmanos a propósito do dogma da trindade Esta profissão de fé muçulmana vem confirmar a fé inici aI de Israel Tu adorarás um só Deus Na descrição corânica Deus emerge igualmente como onipo tente e misericordioso Com o qualificativo do Deus onipotente buscase enfatizar o dado fundamental da adoração e submissão do ser humano a Deus Por sua vez o qualificativo da misericórdia vem confirmar a extrema bondade de Deus Em linha de sintonia com o Deus bíblico Ex 3467 o Deus do Carão é animado por uma misericórdia que abraça todas as coisas Z 156 O qualifi cativo arahmanmisericordioso aparece inúmeras vezes no Carão como um dos importantes nomes atribuídos a Deus Uma série de outros nomes são atribuídos a Deus no Corão alguns com posiÇãO de maior destaque outros com menor núme ro de menções no Livro Todos eles porém conhecidos e recita dos de memória nas orações dos fiéis Alguns deles vem agrupa dos em suratas importantes 5Z 1 e 592224 outros aparecem na chamada de cada surata clemente e misericordioso Todos eles relacionamse em síntese com os seguintes temas unicidade de Deus santidade e transcendência criação e soberania justiça e retribuição misericórdia e mansidão vida e eternidade74 Há na reflexão muçulmana a presença de uma teologia nega tiva que mantém sempre inacessível o mistério de Deus Esta teo logia estará presente sobretudo na tradição mística sufi O grande mestre AIGhazali sublinhou com ênfase a impossibilidade do conhecimento de Deus por parte dos iniciados A única certeza de que podem estar animados é a certeza da incapacidade de tal conhecimento pois conhecer realmente Deus é impossível aquem quer que esteja fora de Deus mesmo75 Aos 99 belos nomes de Deus a especulação dos místicos acrescentou um centésimo nome aism Este seria o nome máximo desconhecido eimpronunciável 74 BORRMANS Islam e crislianesimole vie dei dialogo p 29 cf tb Giuseppe RIZZARDI Islam spiritualità e mistica p 1821 75 Cit apud BORRMANS Ofienlamentiper un dialogo p 85 Numen reVista de estudos e pesquisa dit religiao Juiz de Fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas Religiões mas portador de enormes virtudes Tratase de um nome só aces sível aos místicos mais i1uminados76 Quando evocamos anteriormente os traços que unem o cris tianismo e o islã mencionamos o dado da fé no único Deus criador Não é incorreto afirmar esta comunhão de fé na transcendência pessoal do Deus único Éo mesmo Deus que vem adorado mas segundo Lima inteligência diferente de sua unida de A tradição muçulmana tem grande dificuldade de aceitar um monoteísmo que reconcilie a imutabilidade inalterável de Deus com a sua encarnação em Jesus Cristo bem como a unicidade de Deus com a trindade de pessoas Esta é a grande questão e o ponto nodal de diferenciação das duas tradições A tradição islâmica reconhece valores excepcionais na pessoa de Jesus fsâ Este vem reconhecido no Corão como um sinal e exemplo para os homens 1921 e 4359 um profeta e enviado perfeito servidor de Deus 1930 Sua descrição ganha no Corão prerrogativas excepcionais o caráter singular de seu nascimento da virgem 199 o reconhecimento de sua vizinhança e proximi dade com Deus o seu traço messiânico os seus prodígios e mila gres Este reconhecimento não leva porém a uma afirmação da sua divindade O Corão é claro ao afirmar que Deus não teve nem cônjuge nem filho 723 que não gerou nem foi gerado 1123 e todos aqueles que afirmam a divindade de Jesus são identifica dos como descrentes 517 bem como os que dizem que Deus é o terceiro dos três 573 A resistência à doutrina da trindade cristã é menor no circuito da mística sufi e no esoterismo islâmico No século XIX o poeta su fi persa Hatif Isfa ha ni recon heceu no cristia nismo a afi rmação da Unidade Divina mesmo com a presença da doutrina trinitária desde que a trindade pudesse ser reconhecida em seu sentido metafísico Em poema de rara beleza ele descreve a resposta de uma encantadora de coração cristã às indagações críticas à sua 76 Sobre este tema cf Gabriele MANDEL Inovantanove nomi di Dio nel Corano p 7 e 26974 e também o comentário de Alessandro Bausani na nota de sua tradução do Corão BAUSANI Ii Corano p 585 n 110 77 Também quando fala de Maria o Corão não dispensa elogios vem considerada a mais abenço ada de todas as mulheres a única mulher cujo nome é mencionado no Corão que dá o título a um capítulo do Texto Sagrado e que é quem acompanha as almas das bemaventuradas muçulmanas até o paraíso Cf Seyyed Hossein NASR Como o islã encara o cristianismo p 12 Numen revIsta de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Faustino Teixeira crença na trindade Se tu sabes o Segredo da Divina Unidade não jogues sobre nós o estigma da infidelidade A beleza eterna lançou um raio de seu refulgente semblante em três espelhos A seda não se converte em três coisas se tu as chamas parniyan harire parandn78 Em semelhante linha de reflexão o estudioso Frithjof Schuon sublinha que a restrição feita à Trindade no Corão é extrínseca e condicional Argumenta que a afirmação da Trin dade não significa necessariamente a ruptura com a Unidade O conceito de uma Trindade enquanto desenvolvimentO fajaI da Unidade ou do Absoluto em nada se opõe à doutrina unitária do Islão Aquilo que se lhe opõe é tãosó a atribuição do caráter absoluto à Trindade pura e simples 1J79 Como estamos observando a doutrina da Trindade permanece uma pedra de tropeço seja para os judeus seja para os muçulma nos embora devamos reconhecer os esforços presentes na busca de um entendimento mútuo No campo da teologia cristã pode mos mencionar o trabalho realizado por importantes teólogos no sentido de uma formulação da doutrina trinitária didaticamente assimilável fora da esfera cristã Em artigo sobre a unicidade e trindade de Deus no diálogo com o Islã Karl Rahner sugere uma formulação sobre a Trindade assimilável nos espaços extracris tãos Rahner acreditava num diálogo verdadeiro entre teólogos cristãos e islamitas em base à comum confissão no Deus uno e único Sem desrespeitar as regras lingüísticas da doutrina trinitária clássica este autor afirma que um discurso das três pessoas e da mesma Trindade não encontrada no Novo Testamento não é incondicionalmente necessário para expressar aquilo que o cristi anismo entende apropriadamente dizer com tal doutrina trinitária8o 78 NASR o Islã e o encontro das religiões p 24849 Em outro artigo este autor reforça esta idéia mostrando a presença desta reflexão em místicos sufis como Ibn Arabi 1155124 e em muitos poetas sufis persas Na visão destes místicos tanto a doutrina da Trindade como a da Encarnação seriam recursos simbólicos utilizados para se falar sobre o Absoluto e suas manifestações sem de modo algum destruírem a doutrina da Divina Unidade Em poema citado por Nasr Ibn Arabí sublinha Meu amado é trino embora seja Um Só da mesma sorte que as três Pessoas da Trindade constituem na essência uma só Pessoa Cf NASR Como o islã encara o cristianismo p 14 79 SCHUON Compreender o Islão p 645 80 Karl RAHNER Unicità e trinità di Dio nel dialogo com lislam p 1976 O teólogo Jacques Dupuis movido por preocupaçãO semelhante justifica a familiaridade da experiência de Deus que une cristãos e muçulmanos Com sua chave hermenêutica fundada na doutrina da Trin dade destaca que os 99 nomes atribuídos a Deus no Corão podem concentrarse em três Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas Religiões Toda esta complexa discussão suscita um duplo desafio para cristãos e muçulmanos De um lado a importância dos cristãos estarem mais atentos ao significado e valor do monoteísmo bem como da transcendência inviolável de Deus por outro a necessá ria abertura dos muçulmanos no sentido de uma maior dinamização da unicidade de Deus rompendo com o risco de uma compreensão da divindade como perfeição autosuficiente de forma a poder reconhecer o valor de uma identidade permeá vel à diferença Esta mútua interpelação abrirá certamente no vos caminhos para o diálogo81 4 A Questão de Deus nas Religiões Místicas do Oriente Destacar a questão de Deus ou da Realidade Absoluta nas reli giões místicas do Oriente é uma tarefa extremamente complexa e intrincada sobretudo em razão da diversidade de experiências existentes das visões de mundo na qual se baseiam e das nuances distintas que apresentam Mas não há como seguir tratando a questão de Deus ou de Jesus Cristo hoje em dia desconhecen do a importância e o valor das outras tradições religiosas A concepção de Deus presente no Ocidente não esgota a com plexidade que envolve a reflexão sobre o tema As experiências formas modelações e idéias religiosas da humanidade são infi nitamente ricas e infinitamente complexa é sua problemática82 O teólogo cristão é convidado a buscar uma aproximação a tais experiências com espírito desarmado e tentar captar a im portante questão da relação que vigora entre a Realidade Abso luta afirmada por tais tradições e o Deus das religiões monoteístas O desafio teológico de compreensão desta importante relação eixos Deus criador e soberano Deus gracioso e indulgente e Deus intimamente presente Sublinha a seguir como a transposição de tais eixos para a doutrina trinitária cristã favorece perceber sua correspondência com a atividade de criação Pai da salvação Filho e da inabitação Espírito Cf DUPUIS Verso una teofogia p 360 81 GEFFRÉla portée théologique p 16Z Segundo Geffré o Islã permanece para a consciência teológica cristã uma advertência entendida no sentido de um convite a não negligenciar a parte judaica do cristianismo primitivo e a criticar certas facilidades verbais sobre a divindade de Jesus que arriscam comprometer a transcendência absoluta de Deus Ibid p 156 82 KUNG Existe Dios p 798 Numen revista de estudos e pesquisa da religião luiz de Fora v 3 n I p 11148 vem sendo objeto de reflexão de muitos autores hoje em dia Gostaria de sublinhar de modo especial o grandioso esforço realizado por Jacques Dupuis em sua obra sobre a teologia cristã do pluralismo religioso Este autor busca enfrentar num dos ca pítulos de seu livro a questão do mistério absoluto de Deus enquanto horizonte transcendental da experiência religiosa hu mana que ocorre nas diversas tradições religiosas Sustenta em sua reflexão ser legítimo encontrar nas tradições místicas do Oriente aproximações e prefigurações do mistério Último do Ser assim como vem revelado e manifestado de forma decisiva embora ainda incompleta em Jesus Cristo83 Em razão da complexidade que envolve o tema das religiões místicas do Oriente bem como da delimitação da reflexão pro posta neste artigo nos restringiremos a apontar alguns dos traços que caracterizam a experiência da Realidade Absoluta no budis mo e os traços de sua relação com o cristianismo84 41 A Experiência da Realidade Absoluta no Budismo A grande dificuldade que interdita o acesso do ocidental à expe riência singular do budismo diz respeito à questão da linguagem Devese sublinhar que alguns termos que são utilizados nas duas tradições religiosas ganham um conteúdo diferenciado é o caso de ateísmoteísmo religiãofé materialismoespiritualismo etc 83 Cf DUPUIS rso una reologia p 362 Dupuis faz menção aos inúmeros trabalhos que recentemente buscam estabelecer pontos de contato entre a questão da relação entre o vazio sunyata budista e a questão da Trindade ou do Deus que se esvazia no cristianismo Sua atenção voltase todavia para o hinduísmo com o qual manteve relação de proximidade em toda a sua longa experiência indiana Na tentativa de trabalhar o desafio proposto o autor irá desenvolver um estudo específico neste mesmo livro sobre a relação do conceito de Brahmam da mística advaita hindu com o mistério cristão da Trindade Para Dupuis a tradição clássica hindu fornece provavelmente com a doutrina do saccidananda o conceito de Deus mais próximo à Trindade cristã dos já oferecidos pela história das religiões Cf ibid p 406 84 Apesar de reconhecermos a diversidade que caracteriza o budismo o tratamento aqui será mais genérico e concentrado O budismo dividiuse já muito cedo em dois movimentos o budismo r7eravada a forma mais antiga e que busca seguir os ensinamentos dos antigos e o budismo ma7ayana séc I mais liberal e aberto a uma grande variedade de idéias Outras divisões ocorreram posteriormente dando lugar a outras variedades de budismo budismo vajrayal7a ou tântrico meados do sec 111 o budismo tibetano VII d C e o zen budismo séc XII Numen revista de esrudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 11114 a Termos utilizados pelos cristãos para designarem a realidade de Deus são motivo de escândalo para os budistas e outros orientais como é caso dos aplicativos pessoa espírito criador Por sua vez termos empregados na tradição budista permanecem misteri osos ou impenetráveis para a sensibilidade ocidental sunyatá vazio anattá nãoeu e outros Estes últimos termos em parti cular adquirem um sentido radicalmente distinto no Ocidente e Oriente Na tradição original não estão marcados pelo acento negativo atribuído aos mesmos no Ocidente Impõese assim o importante trabalho hermenêutico capaz de favorecer a real com preensão dos eixos essenciais da religião que se busca compreen der e dialogar O estudo comparado das religiões tem mostrado de forma precisa como cada linguagem é reveladora de um sen tido contextualizado e de uma experiência determinada Julgar a linguagem dos outros no interior da própria tradição constitui uma armadílha muito perigosa para o trabalho de compreensão da alteridade85 O caminho mais indicado para o acesso do ocidental à com preensão da Realidade Absoluta no budismo é o da teologia negativa A teologia ocidental conheceu igualmente este traço da afirmação da transcendência pela sua negação com a qual os orientais estão mais habituados No Ocidente as raízes da teolo gia negativa ou apofática encontramse no neoplatonismo Dentre os seus representantes podemos assinalar PseudoDionísio Mes tre Eckhart Nicolau de Cusa e Tomás de Aquino86 O importante estudioso do budismo Heinrich Dumoulín res saltou em sua reflexão sobre o tema a dimensão transcendente 85 ZAGa Buddhismo e cristianesimo in dialogo p 306 KONG Exisce Dias p 818 GEFFRÉ Athenes Jérusalem Bénares p 120 86 No capítulo XXVJ de seu livro sobre a douta ignorância Nicolau de Cusa 14011464 trata a questâo da teologia negativa Para este autor foi a santa ignorância que nos apontou o caráter inefável de Deus pois Ele é infinitamente superior a todas as coisas sobre as quais se pode falar Nicolau de CUSA La dona ignoranza p 10Z Em outro trabalho afirma Se alguém me disser que és denominado com este ou aquele nome sei que esse nome com o qual és denominado não é o teu nome l É pois necessário que o intelecto se torne ignorante e se coloque na sombra se te quiser ver Mas o que é Deus meu o intelecto e a ignorância senão a douta ignorância Por isso não pode aproximarse de ti Ó Deus que és a infinitude senão aquele cujo intelecto está na ignorância ou seja aquele que sabe que te ignora Cf Nicolau de CUSA A 1s1o de Deus p179 180 Para este tema ver H KONG Existe Dios Opcit p 819821 Numen revista de estudos e pesquisa da religio Juiz de Fora v 3 n I p 111148 das experiências religiosas no budismo fato reconhecido por bu distas e não budistas O autor assinala todavia que a religião budista não visa diretamente a Realidade transcendente Isto sig nifica que nenhuma concepção religiosa particular do Budismo pode encontrar equivalência perfeita com a Realidade absoluta indicada pelo cristianismo com o nome de Deus87 Seria um equívoco atribuir simplesmente ao budismo o quali ficativo de ateísmo Os estudiosos atuais são mais cuidadosos quando refletem sobre o tema evitando os enquadramentos pe remptórios Éverdade que o conceito de um Deus pessoal e cria dor não existe no budismo A dificuldade para os budistas está em conceber o Absoluto como um ser pessoal pois o conceito de pessoa significa para eles individualidade apego a si etc Não há porém dificuldade de se aceitar no budismo o conceito im pessoal ou suprapessoal de divindade A forma como os budis tas expressam o Absoluto é distinta dos ocidentais fazem recurso a termos como vazio nada sunyatá extinção nirvana O significado de vazio ou nada não indica para eles relativida de ou nihilismo mas sobretudo a completa diversidade de tudo o que existe ou de tudo o que se refere à consciência lógica88 De forma semelhante a compreensão de nirvana no budismo não pode ser concebida de forma negativa Tratase da extinção dos desejos e sofrimentos e a imersão na quietude eterna de um estado de supressão de todas as dores Ao refletir sobre esta questão Edward Conze estudioso do budismo sublinhou Se consideramos os atributos da divindade assim como são compre endidos na tradição mística cristã e depois os relacionamos com os atributos do Nirvana quase não encontraremos nenhuma dife rença a nível de conteúdo 89 Na experiência zen budista enfatizase sobretudo a base inexprimível e inexplicável da experiência direta 90 Não necessa riamente da experiência de Deus como designada no Ocidente mas da experiência da vida Como afirma Suzuki Deus não vem 87 H DUMOULlN Buddhismo p 73 88 ZAGO Buddhismo p 312 Podese falar assim em plenitude do nada ou caráter transcendental do vazio Não há nihilismo no budismo mas apenas uma resistência radical às intenções de determinar o que por natureza é indeterminado 89 Cit apud DUMOULlN Buddhismo p 74 90 Thomas MERTON Zen e as aves de rapina p 38 Nllmen revista de estudos e pesqUisa da rellgião JUIZ de Fora v 3 n I p 111 148 nem negado nem afirmado o que se busca é a mente livre e para tanto é necessário transpor um abismo sem fundo e chegar ao radical desapego de si O misticismo revelado pelo zen é o encontro com a simplicidade da realidade O que ele busca é abrir os olhos do homem para o grande mistério que diariamente é representado Alarga o coração para que ele abranja a eternida de do tempo e o infinito do espaço em cada palpitação e faznos viver no mundo como se estivéssemos andando no Jardim do Édem91 A ênfase recai não sobre a explicação sempre acidental para a tradição zen mas sobre a experiência para ela essencial Dentre os pensadores cristãos talvez tenha sido Mestre Eckhart quem melhor alcançou o significado do zen budismo ao apontar o radical sentido de esvaziamento como condição para a experi ência do mistério de Deus Deveria o homem ser tão pobre que não possuísse nem mesmo um lugar onde Deus pudesse atuar Reservar um lugar seria manter distinções92 Para Mestre Eckhart só quando o eu está totalmente despojado livre de qualquer ves tígio ou espaço para a ação de Deus é que se recobra o verda deiro eu O encontro com a meta proposta pelo zen implica em superar todas as idéias inclusive a idéia de não ter nada Buda revelase a si mesmo quando não é mais afirmado Para encontrar o Buda temos de renunciar ao Buda Este é o único caminho para obter a verdade do Zen93 Encontramos de fato em toda a tradição budista um silêncio de Deus uma reticência em dar nome à realidade absoluta e transcendente Isto não significa LIma ausência da questão religio sa ou do sentido profundamente presentes em todas as suas expressões Tratase da negação como cifra da transcendência O silêncio de Deus praticado no budismo não reflete um ateísmo nihilista mas constitui a forma mais radical de preservar a condi 91 Daisetz T SUZUKI Introdução ao zen budismo p 66 92 Cil apud lhomas MERlON Zen e as aves de rapina p 14 Para Mestre Eckhart só a partir deste despojamento é que se cria o cenário para a ação de Deus l Merton explica o enigma presente na meditacão de Eckhart O homem deveria ser de tal modo desinteressado e desobstaculizado que nem soubesse o que Deus nele opera Ibid p 14 93 SUZUKI Introdução ao zen budismo p 76 Como bem sublinhou l Merton mesmo não estando o zen budismo preocupado com Deus da mesma forma que o cristianismo ana logias sofisticadas podem ser encontradas entre a experiência da mistica cristã e a experi ência do vazio sunyata presente no zen Cf T MERlON Zen e as aves de rapil7a p 3Z Numen revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Faustino Teixeira ção misteriosa de Deus o supremo a que toda religião aponta embora nem sempre de forma conseqüenteJJ94 O caminho enfatizado pelo budismo relacionase com o exer cício prático da libertação da dor que passa pela interiorização e pelo desapego Como bem sublinhou o Dalai Lama o budismo não se volta para algo externo e sim para a responsabilidade pessoal do desenvolvimento interiorJJ95 Os passos desta viagem interior estão presentes nas 4 nobres verdades contidas nos ensinamentos de Buda e que representam o núcleo mesmo do budismo Esta verdades podem ser assim sintetizadas a verdade do sofrimento a verdade da origem do sofrimento a ilusão do apego do orgulho das visões errôneas ou equivocadas do ego a verdade da cessação do sofrimento e a verdade do caminho de superação do sofrimento que pressupõe moralidade concentra ção e a sabedoria do desprendimento96 5 Em Favor de Um Ecumenismo Planetário Desdobramentos e Desafios Um dos fundamentais desafios enfrentados hoje pelas religiões diz respeito ao diálogo de obras de mútua colaboração em favor de um mundo melhor e mais justo Um diálogo de responsabilidade co mum por todos os povos da terra mas que garanta a singularidade das religiões Um diálogo portanto animado pelo equilfbrio entre a consciência da diversidade e o imperativo da responsabilidade A alteridade irredutível de cada tradição religiosa deverá estar sempre 94 Juan M VELASCO EI fenómeno místico p 161 Para este autor o Fato de calar sobre Deus de não aFirmar ou negar sua existência não signiFica para o budismo ausência de reFerência religiosa SigniFica a afirmação do caráter supérfluo da própria pergunta sobre Deus identificada como incorreta indevida lesiva com respeito à transcendência da realidade a que se refere silêncio constitui antes a forma paradoxal talvez a única possível de fazer eco a uma presença que só pode se dar de forma alusiva que só pode produzirse sob a forma da ausência e que portanto só pode se dizer com o silêncio Ibid p 162 Ver tb Raimundo PANIKKAR 11 silenzio di Dio p 256 95 DALAI LAMA Bondade amor e compaixão p 32 Ver tb GEFFRÉ Athénes Jérusalem Bénares p 124 96 DALAI LAMA O caminho para a liberdade p 108127 acesso à quarta verdade como caminho para superação do sofrimento implica oito marcos conhecidos como nobre cami nho óctuplo o devido conhecimento a devida atitude as devidas palavras as devidas ações a devida ocupação o devido esforço os devidos pensamentos e a devida compostura Numen reviSla de estudos e pesquisJ da religião JUIZ de Fora v 3 n I p 11114 B A Experiência de Deus nas Religiões garantida no processo dialogal e isto significa ser capaz de perceber o outro como mysterium tremendum J1 que jamais pode ser comple tado ou reduzido em seu significado único Ao mesmo tempo percebê lo como mysterium fascinans J1 ou seja um mistério que igualmente convida ao encontro e que se abre ao aprendizado da diferença97 O encontro e cooperação entre as religiões constitui hoje um requisito essencial para a paz entre as nações Não haverá paz entre as religi ões sem um diálogo entre as religiõesJ198 O ecumenismo planetário constitui uma ampliação da ecumene abraâmica J1 na medida em que busca envolver todas as religiões da terra em favor de uma co mum responsabilidade ecohumana Os passos para o diálogo envolvem não somente uma respon sabilidade prática mas igualmente uma abertura aos enriqueci mentos múltiplos que o encontro desarmado pode e deve favore cer No caso específico do cristianismo emergem desafios muito importantes Com respeito ao diálogo com o judaísmo exigese em primeiro lugar a superação de todo e qualquer sentimento de hostilidade que caracterizou o passado das relações entre as duas tradições Impõese o reconhecimento dos profundos laços de dependência que vinculam o cristianismo ao judaísmo 99 igual mente a abertura e disponibilidade para escutar o testemunho dos judeus a aprender com a sua experiência de vida e de fé e portanto colher novos aspectos da tradição bíblicaJ1IOO Com res peito ao diálogo com o islã impõese a necessidade de um maior respeito e abertura ao valor do Corão enquanto Palavra de Deus diferente e autêntica bem como o reconhecimento de Maomé como profeta verdadeiro A teologia cristã da criação sairá igual mente enriquecida quando animada pelo contato com o Corão que favorece perceber com grande riqueza o admirável sentido da beleza e estabilidade do mundo criado testemunhado neste Livro 101 O budismo por sua vez favorece aos cristãos grandes inspirações éticas e religiosas tão bem sinalizadas por João Paulo 97 Paul F KNITIER Una terra malte reigioni dialogo interreligioso e responsabilità globale p 34 98 KDNG Projeto de ética mundial p 146 Ver tb Paul F KNITIER Una terra mote reigioni 99 THOMA Jegia cristiana deIebraismo p 20407 100 Declaração sobre o encontro entre cristãos luteranos e judeus cit ap KDNG Ebraismo p 417 101 GEFFRÉ la portée théologique p 18 Id le Coran p 28 DUPUIS rso una tegiJ p 33136 BORRMANS Odentamenti p 68 e 81 Numel1 revista de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Fausuno TeIxeIra II em ocasiões diversas o caminho de renovação do indivíduo o estilo de vida fundado na compaixão bondade e desejo de paz prosperidade e harmonia para com todos os seres viventes o pro fundo respeito pela vida e a natureza a renegação de si a busca da verdade e o incessante esforço de transcendência 102 Durante a jornada mundial de oração pela paz realizada em 1986 na cidade de Assis João Paulo II fez menção à viagem fraterna que os fiéis das diversas tradições religiosas realizam em comum em direção à meta transcendente de Deus Somos todos nesta história convidados por Deus mesmo a entrar no mistério de sua paciência e a buscarmos juntos os valores da verdade transcendente Só Deus conhece a forma como esta etapa históri ca será coroada no fim dos tempos103 Nenhuma religião pode pretender esgotar toda a verdade pois só Deus é senhor da verda de plena Estamos todos sob o mistério do inescrutável da transcendência amorosa de Deus Somos todos homines viatore sempre a caminho A Igreja cristã é igualmente peregrina Ecclesia peregrinans Enão estamos sozi ri hos nesta travessia mas acom panhados em relação de testemunho e aprendizado pelos fiéis de todas as tradições religiosas da humanidade No processo de comunicação permanente com os outros crescemos e ajudamos a crescer Como bem lembrou H Küng ao final de sua teologia a caminho a história permanece aberta ao futuro Só uma coisa é certa a respeito do futuro no final da vida humana e do curso do mundo já não existirá Budismo ou Hinduísmo tampouco o Islamismo e o judaísmo nem o Cristianismo No final não existirá nenhuma religião mas se encontrará o próprio Inefável ao qual se dirigem todas as religiões E só então quando o imper feito cede ao perfeito os cristãos o conhecerão do mesmo modo como são conhecidos a verdade face a face No final não haverá 102 JOÃO PAULO li A Capi delle varie religioni della Corea 1984 In II dialogo interreligioso nelmagistero pontiticio p 319 cf tb o documento A seguaci delle varie religioni degli Stati Uniti 1987 ibid p 456 Como sublinha CGeffréo hinduísmo e o budismo nos ensinam o respeito a todo caminho sensível para além do caminho humano Em relação à concepção prometeica do homem definida exclusivamente pelo trabalho e a vontade de expansão a todo preço somos convidados a redescobrir no contato com o Oriente o preço da gratuidade do silêncio do ioga e do lazer Cf GEFFRÉ Athénes Jérusalem Bénares p 125 103 PONTIFíCIO CONSELHO PARA O DIÁLOGO INTERRELIGIOSO Diálogo e Anúncio n 79 e 84 Numen revista de estudos e pesquisa da religiâo Juiz de Fora v 3 n I p 111148 A Experiência de Deus nas Religiões mais profetas ou iluminados que dividam as religiões nem Maomé nem Buda nem o próprio Jesus Cristo em quem os cristãos crêem serão causa de divisão 104 Referências Bibliográficas AMALADOSS Michael Rinnovare tutte le cose dialogo pluralismo ed evangelizzazione in Asia Roma Arkeios 1993 BARTHOLO Roberto dos Santos Mística e política no seguimen to ao profeta do Islã In BINGEMER Maria Clara Lucchetti Org Mística e política São Paulo Loyola 1994 p 157178 BAUSANI Alessandro Ed Ii Corano 7 ed Milano Biblioteca Universale Rizzoli 1994 BOFF Leonardo Brasa sob cinzas Rio de Janeiro Record 1996 o Saber cuidar ética do humano compaixão pela terra Pe trópolis Vozes 1999 BORRMANS Maurice Orientamenti per un dialogo tra cristiani e musulmani Roma Pontificia Università Urbaniana 1991 o Islam e cristianesimo le vie dei dialogo Milano Paoline 1993 DALAI LAMA Bondade amor e compaixão 9 ed São Paulo Pen samento 1999 o O caminho para a liberdade Rio de Janeiro Nova Era 1997 DHAVAMONY Mariasusai léologia delle religioni Milano San Paolo 1997 DOCUMENTOS DO CONcíLIO ECUMÊNICO VATICANO 11 19621965 São Paulo Paulus 1997 DUMOULlN H Buddhismo Brescia Queriniana 198 DUQUOC Christian Un dio diverso Brescia Queriniana 1978 DUPUIS Jacques lêrso una teologia cristiana dei pluralismo reli gioso Brescia Queriniana 1997 GEFFRÉ Claude Como fazer teologia hoje hermenêutica teológi ca São Paulo Paulinas 1989 o Le Coran une parole de dieu différente Lumiere et l7e n163 1983 p 2132 o O lugar das religiões no plano da salvação In TEIXEIRA 104 HKUNG Teologia a caminho fundamentação para o diálogo ecumênico p 291 Numen revista de estudos e pesquisa da religiio luiz de Fora v 3 n I p 111148 Faustino Teixeira Faustino Org O diálogo interreligioso como afirmação da vida São Paulo Paulinas 1997 p 11137 o Athenes Jérusalem Bénares la rencontre de IOcident chrétien et de lOrient In TARDANMASQUELlER Ysé Ed Les spiritualités au carrefour du monde moderne Paris Centurion 1994 p 10328 o La portée théologique du dialogue islamochrétien Islamochristiana n 18 1992 p 123 GESCHÉ Adolphe Dio per pensare V 3 Dio Cinisello Balsamo Milano 1996 o Dio perpensare V 5 II destino Cinisello Balsamo Milano 1998 o Lidentité de Ihomme devant Dieu Revue Theologique de Louvain v 29 1998 p 328 GUTIÉRREZ Gustavo léologia da libertação Petrópolis Vozes1975 HENRIX Hans Hermann Diálogo judaicocristão Do ponto de vista católico In P EICH ER Ed Dicionário de conceitos fun damentais de teologia São Paulo Paulus 1993 p 16579 HOURANI A Uma história dos povos árabes São Paulo Com panhia das Letras 1994 HULI Michel KAPANI Lakshmi Linduismoln DELUMEAU Jean Ed li fatto religioso Torino Società Editrice Internazionale 1997 p 368450 JEREMIAS Joachim Jerusalém no tempo de Jesus São Paulo Paulinas 1986 JOÃO PAULO 11 lértio millennio adveniente São Paulo Paulinas 1994 o Cruzando o limiar da esperança Rio de Janeiro Francisco Alves 1994 o Ai giovani musulmani dei Marroco In PONTIFICIO CONSJGLlO PER ILDIALOGO JNTERRELlGIOSO Ii dialogo interreligioso nel magistero pontifício Roma Libreria Editrice Vaticana 1994 p 345355 o A Capi delle varie religioni della Corea 1984 Ii dialogo interreligioso nel magistero pontifício o A seguaci delle varie religioni degli Stati Uniti 1987 In li dialogo interreligioso nel 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Mondadori 1986 KUSCHEL KarlJoseph Discordia en la casa de Abrahan lo que separa y lo que une a judios cristianos y musulmanes Navarra Verbo Divino 1996 LENOIR Frédéric MASQUELlER Yse T Eds Encycopédie des Religions V 2 Thêmes Paris Bayard 1997 LIMA VAl Henrique Cláudio de Lima Mística e política a expe riência mística na tradição ocidental In BINGEMER Maria Clara Lucchetti BARTHOLO Roberto dos Santos Mística e política São Paulo Loyola 1994 p 963 MANDEL Gabriele Inovantanove nomi di Dio nel Corano Milano San Paolo 1995 MASSIGNON Louis Ciencia de la compasión lVfadrid Trotta 1999 MERTON Thomas Zen e as aves de rapina Rio de Janeiro Civili zação Brasileira 1972 MESTERS Carlos Jesus e a cultura do seu povo Estudos Bíblicos n 61 1999 p 1322 MUNOZ Ronaldo O Deus dos cristãos Petrópolis Vozes 1986 NASR Seyyed Hossein Como o islã encara o cristianismo Concilium v 203 n 1 1986 p 1121 o O Islã e o encontro das religiões In BARTHOLO Roberto dos Santos CAMPOS Arminda Eugenia Orgs são credo é a conduta Rio de Janeiro ISERJlmago 1990 p 23564 Numen revisra de estudos e pesquisa da religião Juiz de Fora v 3 n I p 111148 Faustino Teixeird NEUDECKER Reinhard I vari volti dei Dio única Genova Marietti 1990 PANNENBERGWolfhart Teologia Sistematica V 1 Brescia Queriniana 1990 PANIKKAR Raimundo Ii silenzio di Dia 2 ed Roma Borla 1992 PJKAZA Xabier E fenómeno religiosa Madrid Trotta 1999 PONTIFíCIO CONSELHO PARA O DIÁLOGO INTERRELIGIOSO Diálogo e Anúncio Petrópolis Vozes 1991 RAHNER Kar Unicità etrinità di Dio nel dialogo com Iislam In Dio e rivelazioni Nuovi Saggi VII Roma Paoline 1981 p155177 RIZZARDI Giuseppe Islam spiritualità e mistica Fiesole Nardini Editore 1994 SCHILLEBEECKX Edward Umanità la storia di Dio Brescia Queriniana 1992 SCHUON Frithjof Compreender o Islãa Lisboa Dom Quixote 1989 SUZUKI Daisetz Teitaro Introdução ao zen budisma 11 Ed São Pau lo Pensamento 1999 TERCEIRA CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO AMERICANO Pueba a evangelização no presente e no futuro da América Latina 2 ed Petrópolis Vozes 1979 Documento de Puebla THOMA Clemens Teologia aistiana deltebraisma Casale Monferrato Marietti 1983 TOMKO Jozef La missione verso il terzo millennia RomaBologna Urbaniana University PressDehoniane 1998 VELASCO Juan Martín E fenómeno mística Madrid Trotta 1999 ZAEHNER RC Mysticism Sacred and Profane Oxford Clarendon Press 1957 o Inde IsraeL Islam Religions mystiques et révélations prophétiques Bruges Desclée de Brouwer 1965 ZAGO Marcello Buddhismo e cristianesimo in dialoga Roma Cittá Nuova 1985 Faustino L C 7eixeira Rua Antônio C Pereir 328 Tigüera Juiz de ForaMG 360720 Numen revislJ de estudos e pesquisa da religião JUIZ de Fora v 3 n I p 111148

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