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Economia ·

Formação Econômica do Brasil

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HISTÓRIA DO BRASIL COLÔNIA Caroline Silveira Bauer A formação do sistema colonial Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto você deve apresentar os seguintes aprendizados Definir colonização e sua relação com o sistema mercantilista Analisar os primeiros 30 anos da ocupação portuguesa em território brasileiro Descrever a presença de outros estados europeus na ocupação do território brasileiro Introdução Compreender o sistema colonial significa destrinchar as relações esta belecidas entre Portugal e suas possessões na América Em um primeiro momento relegado a segundo plano em função da importância eco nômica da carreira das Índias o território português na América viria a receber investimentos da Coroa a partir de 1530 com o início do processo de ocupação do território que também visava combater as invasões empreendidas por outras nacionalidades Neste capítulo você vai estudar as diferentes interpretações sobre o chamado colonialismo e sua relação com as práticas mercantilistas dos Estados europeus Conhecerá as iniciativas da coroa portuguesa em relação ao território americano logo após ao descobrimento E por fim analisará a presença de franceses e holandeses no território de Portugal na América e seus intentos de colonização 1 A colonização e o mercantilismo Antes de iniciarmos a discussão sobre o que foi o colonialismo e sua relação com as práticas mercantilistas é necessário fazer referência a um intenso debate historiográfi co desenvolvido no Brasil e em Portugal nas últimas dé cadas Essa discussão entre historiadores brasileiros e portugueses visava aprimorar as interpretações sobre a economia colonial brasileira a estrutura do Império Português e as teorias que preconizavam a relação entre a metrópole portuguesa e suas colônias Na década de 1970 predominavam na historiografia brasileira sobre a Amé rica portuguesa interpretações que se baseavam em visões bastante dogmáticas do marxismo inspiradas em trabalhos elaborados por Caio Prado Jr e Celso Furtado respectivamente nas décadas de 1940 e 1950 FRAGOSO 2012 Para citar apenas um exemplo vejamos como Fernando Novais compreendia a inserção do Brasil no colonialismo e nas práticas mercantis A ocupação povoamento e valorização econômica do Brasil na época moderna a sua colonização enfim processandose na etapa da ascensão burguesa vin culada ao capitalismo comercial dá lugar a uma entidade específica colônia da metrópolePortugal suas estruturas básicas configuram uma colônia de exploração por se formarem e se desenvolverem nos quadros e ao ritmo do antigo sistema colonial de relações entre as economias centrais e periféricas do capitalismo mercantil NOVAIS 1969 p 262 De acordo com Fragoso 2012 p 107 um dos principais críticos dessa interpretação a América portuguesa e sua relação com Portugal poderia ser resumida da seguinte forma Assim a economia colonial não tinha dinâmica própria e seu destino de pendia dos humores do mercado europeu Outra consequência seria a ine xistência de um mercado interno ou ainda de produções mercantis in loco voltadas para o abastecimento da América Estas atividades não podiam existir pois colocariam em perigo o sentido da colonização Quando tais lavouras de abastecimento ou currais surgiam isto se dava em razão dos interesses das atividades exportadoras E consequentemente as produções mercantis ligadas ao consumo interno estavam também subordinadas à lógica das flutuações do sistema econômico maior ao qual pertencia aquele imenso canavial Essa interpretação passou a ser criticada na década de 1970 com os tra balhos de Ciro Flamarion Cardoso e Jacob Gorender e nos anos 1990 com os trabalhos de Fernando Novais que reviu várias posições de seu trabalho e Laura de Mello e Souza Nos anos 1990 também foram defendidas as teses de doutorado de João Fragoso e Manolo Florentino contribuindo com as críticas às visões mecanicistas sobre a economia colonial da América Portuguesa De acordo com Fragoso 2012 p 110 A formação do sistema colonial 2 começouse a demonstrar que a economia era mais do que uma planta tion exportadora existia um circuito de mercados internos disseminados pela América Mesmo nas regiões até então vistas como açucareiras como o Recôncavo Baiano observouse a existência de áreas dedicadas à lavoura mercantil de alimentos O conjunto desses resultados colocou dúvidas sobre uma série de hipóteses a respeito da dependência Isso significava que as teorias sobre o pacto colonial os monopólios e os exclusivos coloniais a relação entre metrópole e colônia precisavam ser revistas porque as fontes primárias destoavam de um marxismo maniqueísta Fragoso 2012 p 113 cita um exemplo para compreendermos como as dinâmicas econômicas da América Portuguesa eram mais complexas que a exportação de matériasprimas e a importação de manufaturados como apregoava o pacto colonial Quanto à América lusa como mercado de manufaturados europeus mais uma vez os testamentos podem nos ajudar Na primeira década do século XVIII camisas vestidos lençóis e utensílios domésticos eram vistos como bens preciosos e doados como tal nos testamentos a entes queridos como filhos irmãos e amigos Assim ao que parece o crescimento mercantil da cidade na época decorrente da descoberta do ouro das Minas e do aumento do tráfico de escravos africanos não implicou na disseminação de bens de consumo manufaturados já vulgarizados na Europa e em partes da América inglesa como têxteis O padrão de consumo e de mercado nesta América era ainda protoindustrial e o seria ainda por muito tempo como mais uma vez os testamentos informam Essa historiografia propôs a compreensão territorial dos domínios portu gueses como um império o Império Português e afirmou que na América portuguesa havia um mercado interno com acumulação de capitais e lógica independente do mercado externo que também existia mas com dinâmicas próprias Contudo existe outro grupo de historiadores que via conceitos cunhados por vertentes marxistas porém com aportes teóricos mais sofisticados criticam essa concepção por acreditarem que ela descaracteriza a ideia do colonialismo Por isso esses autores recuperam conceitos importantes da lógica colonial como o do exclusivo colonial que se relaciona à noção de monopólio De acordo com Ricupero 2016 o exclusivo ou monopólio era uma prática das metrópoles com suas colônias proibindo o comércio dessas com nações estrangeiras Contudo essa prática um dos pilares do mercan tilismo não foi estática e se transformou ao longo do tempo de acordo com 3 A formação do sistema colonial as demandas conjunturais apresentadas Assim podia haver por exemplo restrição de comércio apenas em determinados portos e por companhias comerciais privilegiadas por outro lado em alguns momentos o exclusivo podia ser atenuado em virtude de situações específicas como guerras que dificultassem ou impedissem o comércio mediante a concessão de licenças especiais para mercadores estrangeiros por motivos econômicos ou diplomá ticos RICUPERO 2016 Como a América portuguesa se inseria nessas dinâmicas coloniais e mercantilistas De acordo com Ricupero 2016 os grupos mercantis que não se limitavam a Portugal compravam e redistribuíam os produtos coloniais na Europa mas também realizaram investimentos na montagem da indústria açucareira e no comércio e transporte de produtos entre a Europa e o território colonial português na América Essas relações comerciais eram múltiplas RICUPERO 2016 comércio direto legal ou não entre o Brasil e seus países de origem ou via Portugal comércio de mercadorias estrangeiras eou portuguesas em associação ou não com mercadores de Portugal ou com mercadores cristãos novos portugueses radicados no exterior fretamento de navios para mercadores portugueses ou para a Coroa de Portugal Percebese a partir dessa abordagem que não há uma negação da lógica colonial mercantilista muito menos do exclusivo ou monopólio e sim uma relativização das abordagens desenvolvidas nas décadas de 1970 Nesse sentido esse grupo de historiadores afirma que são insuficientes os dados apresentados pelos críticos da acepção do sistema colonial para invalidar os argumentos de que o colonialismo teria contribuído para o desenvolvimento industrial europeu Segundo a análise de Arruda 2014 p 717 é inegável que o mundo colonial teve um papel decisivo neste cenário promovendo a transferência de riquezas das colônias para as metrópoles No caso de Portugal o excedente sob a forma de remessas líquidas ou créditos consignados na balança comercial sustentou os tesouros públicos alimentou a formação da dívida pública abasteceu os cofres dos particu lares envolvi dos da rede mercantil operando nas águas e territórios do império além de ter se transformado num mercado consumidor seguro para as manufaturas portuguesas A formação do sistema colonial 4 Outro aspecto fundamental para compreendermos o colonialismo e a lógica mercantil é a escravidão Embora não seja o tema deste capítulo podemos referila como um dos pilares das práticas coloniais responsável pelo enriquecimento de elites na metrópole e nas colônias e pela diáspora de milhões de seres humanos pela América e Europa Nesse aspecto parece haver consenso entre os historiadores Fragoso e Florentino 2001 p 88 afirmam que A propriedade escrava era altamente disseminada pelo tecido social sinônimo aqui de que camadas variadas da população se encontravam comprometidas com a escravidão independentemente da extensão de suas posses Mas o alto grau de concentração da propriedade escrava nos coloca não apenas diante de uma sociedade possuidora de escravos mas sobretudo ante uma sociedade escravista definida como aquela na qual o principal objetivo da renda extraída ao escravo é a reiteração da diferença socioeconômica entre a elite escravocrata e todos os outros homens livres Alguns autores como Souza 2008 propõem o conceito de capital escra vistamercantil para ressaltar a importância da escravidão para a dinâmica da economia mercantilcolonial 2 A ocupação da América Portuguesa Primeiramente é importante lembrarmos que o território que hoje constitui o Brasil não era conhecido integralmente pelos portugueses no momento de sua chegada à América Esse conhecimento foi sendo realizado paulatinamente ao longo dos 30 primeiros anos após a descoberta mediante expedições de reconhecimento e vigilância Porém existiam dúvidas sobre a jurisdição e os limites das possessões portuguesas na América já que o único tratado existente nesse sentido até então era o Tratado de Tordesilhas que serviu para que se compreendesse como natural que todo o território da América abrangido pelo tratado fosse português SOUZA 2001 A historiador Laura de Mello e Souza comenta sobre a ausência de maiores interesses da coroa portuguesa em relação à posse do território americano Esta de início não despertou maiores interesses na corte de D Manuel que pensava acima de tudo no Oriente e nos projetos que melhor viabilizassem sua exploração comercial Antes talvez de ser vista como espaço econômico e deixandose de lado o interesse logo despertado pelo paubrasil a nova terra 5 A formação do sistema colonial interessou pela sua capacidade de renovar os conhecimentos cartográficos e astronômicos diferentemente da África ou da Ásia era terra nunca antes descrita ou representada SOUZA 2001 p 62 Após a chegada dos portugueses na América em 1500 foram enviadas algumas expedições de reconhecimento e alguns europeus foram deixados em território americano para aprender a língua dos nativos Destacamse as expedições de Gaspar de Lemos em 1501 e de Gonçalo Coelho em 1503 que tinham como objetivo informar a coroa portuguesa sobre a existência de metais preciosos na América Posteriormente em 1516 e depois em 1526 foram enviadas à América portuguesa expedições comandadas por Cris tóvão Jacques que ficaram conhecidas como expedições guardacostas Elas tinham o objetivo de combater a presença de estrangeiros em território português na América principalmente os franceses Essas iniciativas não foram suficientes para garantir a posse do território e manter afastados os invasores franceses o que levou a coroa a investir na colonização da América portuguesa VAINFAS 2000 Ainda de acordo com Vainfas 2000 p 491 a maioria dessas expedições fez um pouco de cada coisa identificação da geografia para fins cartográficos e de navegação escambo do paubrasil com os índios fundação de feitorias defesa da costa contra a crescente presença dos entrelopos franceses rivais no escambo do paubrasil houve porém outras expedições além dessas cujas rotas sugerem o projeto português de encontrar metais preciosos na América As notícias sobre as riquezas no in terior do continente e o rumor sobre a existência de um rei branco depois identificado com o imperador inca estimularam viagens pelo Prata Não houve inicialmente uma ocupação sistemática da América portuguesa já que a carreira para as Índias era mais rentável financeiramente Nas primeiras décadas após o descobrimento a principal atividade econômica desenvolvida foi a extrativista com a exploração do paubrasil O paubrasil é uma árvore da qual se pode extrair um corante vermelho para o tingimento de roupas A exploração desse recurso se dava por sua disponibilidade o que levava a uma constante migração em função de seu esgotamento A extração era feita por meio do escambo troca da força de trabalho indígena por objetos trazidos pelos portugueses da Europa Para estocar e proteger a madeira foram construídos ao longo do litoral feitorias entrepostos comerciais fortificados O paubrasil foi declarado produto A formação do sistema colonial 6 de monopólio da coroa portuguesa o que nos demonstra a adoção de políticas econômicas mercantilistas por Portugal Contudo posteriormente a coroa concedeu o direito de extração a arrendatários em função de sua atenção aos investimentos na carreira das Índias Os arrendatários arcavam com as despesas da extração e pagavam impostos à coroa portuguesa mas ficavam com o lucro nas vendas De acordo com Souza 2001 p 63 nos 20 primeiros anos de vida do futuro Brasil os portugueses criaram apenas duas feitorias em 1504 em Cabo Frio em 1516 em Pernambuco Predominaram portanto as atividades de cunho privado e o Estado pou pou suas energias para a construção de um império no Oriente Nenhuma preocupação com o povoamento surgiu tampouco nessa época quando os habitantes europeus da costa eram apenas os degredados deixados para trás desde a viagem de Cabral um ou outro desertor das naus como os grumetes a que se refere a carta de Caminha todos eles constituindo o tipo do lançado que desde a experiência quatrocentista da África fa zia voluntária ou involuntariamente a intermediação entre os universos culturais distintos Um marco na história da colonização da América portuguesa foi a expe dição de Martim Afonso de Souza que após navegar até o Rio da Prata em seu retorno fundou o primeiro núcleo de colonização em território português São Vicente em 1532 De acordo com Vainfas 2000 p 491 A expedição de Martim Afonso de Souza é a que melhor sintetiza o caráter dessas primeiras expedições e marca a passagem para a efetiva colonização Organizada por D João III objetivava explorar o litoral desde o Maranhão até o Rio da Prata dar combate aos entrelopos franceses e fixar núcleos de povoamento através da distribuição de sesmarias sementes plantas animais domésticos e ferramentas entre os colonos da expedição E com efeito São Vicente seria a primeira vila fundada no Brasil Com o início do processo colonial também houve transformações no âmbito econômico com a introdução do cultivo da canadeaçúcar cuja produtividade era favorecida pelas condições climáticas da América portuguesa além de possuir boa aceitação no mercado europeu Antes de desenvolver a cultura da cana na América Portugal já a cultivava nas ilhas atlânticas Madeira Açores Cabo Verde e São Tomé 7 A formação do sistema colonial 3 As invasões do território português na América Como dito anteriormente a ausência de uma ocupação mais sistemática do território americano por Portugal nas primeiras décadas após 1500 fez com que navegadores de outras nacionalidades se aventurassem pelo litoral por tuguês na América como os espanhóis os franceses e os holandeses Esses navegadores comerciavam com as populações nativas extraíam o paubrasil e praticavam pirataria destacandose os ingleses nesse último caso Os ingleses praticaram atos de pilhagem e de pirataria no litoral da América portu guesa principalmente nas cidades de Recife e de Santos As invasões tiveram como consequência problemas econômicos para Portugal que firmou uma aliança com a Inglaterra Essa aliança seria posteriormente sedimentada com a assinatura do Tratado de Methuen VAINFAS 2000 Houve um incremento dessas invasões do território português na América no período conhecido como União Ibérica 15801640 Durante esses 60 anos Espanha e Portugal foram governados pelo mesmo rei devido a um problema sucessório em Portugal Felipe II rei da Espanha assumiu o trono português com a promessa de que Portugal seria tratado como reino unido e não território conquistado o que permitiria a manutenção da estrutura econômicocomercial Contudo não foi isso o que ocorreu A guerra de independência das Pro víncias Unidas dos Países Baixos contra a Espanha interferiram no comércio entre os Países Baixos e Portugal sobretudo na compra de sal para a indústria de pesca holandesa uma das bases da prosperidade batava além do que judeus sefarditas de Amsterdam participavam há tempos da produção e do comércio de açúcar do Brasil Ao término da trégua hispanoholandesa 16091621 esse comércio de sal e açúcar estava comprometido VAINFAS 2000 p 314 A formação do sistema colonial 8 Foi durante a União Ibérica que os franceses e os holandeses invadiram o território português na América e procuraram estabelecer colônias Vamos estudar um pouco mais dos interesses e dos processos da França e da Holanda na América portuguesa Os franceses Existem relatos sobre a presença de navegadores franceses no litoral da América portuguesa logo após o descobrimento Havia um interesse muito grande da França em explorar o território americano bem como um descontentamento com a divisão do Novo Mundo entre Espanha e Portugal desde o Tratado de Tordesilhas Segundo a historiadora Laura de Mello e Souza 2001 p 64 talvez não seja exagerado dizer terem sido os franceses que decidiram a sorte das terras achadas por Cabral Não fosse sua presença constante no litoral durante todo o primeiro quartel do século e não fosse muito depois em 1555 o seu empenho em fundar uma colônia na baía de Guanabara e talvez o interesse português pelo Atlântico Sul ficasse adormecido por mais tempo De acordo com Vainfas 2000 p 312 os franceses conheciam bem o litoral do Brasil desde o início do século XVI transportavam paubrasil em grande quantidade aliavamse a grupos indígenas e percorriam o extenso litoral com a mesma frequência dos lusos Por muito tempo a posse desse litoral não esteve assegurada aos lusitanos A primeira invasão francesa ocorreu no Rio de Janeiro entre 1555 e 1567 e levou à fundação da França Antártica A expedição foi chefiada por Nicolas Durand de Villegaignon apoiado pelo governo francês trazendo colonos calvinistas e frades capuchinos Segundo Vainfas 2000 p 312 Na baía de Guanabara havia condições ideais para a nova colônia francesa Desde os anos 1530 os entrelopos ali aportavam para comercializar com os tamoios e fazer aguada e a terra era de importantes reservas de paubrasil Somente em 1550 Villegaignon urdiu um plano para estabelecer ali uma colônia com apoio do almirante Coligny e do cardeal de Lorena Calvinista Coligny vislumbrava fundar uma colônia a França Antártica onde os hu guenotes calvinistas franceses estariam livres da perseguição católica que grassava em França 9 A formação do sistema colonial Construíram e fundaram o forte Coligny de onde resistiram aos portugue ses Os franceses foram expulsos no governo de Mem de Sá por uma armada comandada por seu sobrinho Estácio de Sá Ao tomar o forte de Coligny localizado na baía de Guanabara Estácio de Sá fundou a cidade do Rio de Janeiro Posteriormente entre 1710 e 1711 houve novas entradas de franceses na cidade do Rio de Janeiro que passou a ser saqueada por corsários A segunda invasão francesa ocorreu no Maranhão entre 1612 e 1615 e levou à fundação da França Equinocial com a fundação do forte de São Luís em 6 de setembro de 1612 que daria origem à cidade de São Luís do Maranhão Essa expedição foi comandada por Charles des Vaux e Jacques Riffault Os franceses foram expulsos do local pelos portugueses em 4 de novembro de 1615 VAINFAS 2000 Os holandeses Os holandeses possuíam acordos econômicocomerciais com Portugal sendo os responsáveis pelo refi no do açúcar produzido nas colônias portuguesas e pela comercialização do produto na Europa Além disso companhias privadas auxiliavam lusobrasileiros na instalação de engenhos de açúcar na colônia portuguesa na América e participavam do transporte de africanos escravizados para o território português Essa situação perdurou até 1580 e durante o período da União Ibérica a coroa espanhola dificultou as operações holandesas de refino e comercialização bloqueando os portos portugueses aos holandeses A Espanha e a Holanda eram rivais em assuntos comerciais diplomáticos e políticos A Companhia das Índias Ocidentais formouse em 1621 a partir da associação dos governos dos Países Baixos e de particulares para garantir e ampliar os negócios na América e na África principalmente de açúcar Contudo interferiu também no tráfico negreiro Além disso recebeu o monopólio do comércio e navegação sob o controle ibérico Em alguns momentos desenvolveu atividades de colonização como as tentativas de invasão do território da América portuguesa VAINFAS 2000 A formação do sistema colonial 10 A primeira tentativa de invasão da América portuguesa pelos holandeses ocorreu na capitania da Bahia na cidade de Salvador capital da colônia entre os anos de 1624 e 1625 mas foram derrotados e expulsos Escolheu se a Bahia porque além da produção açucareira era ponto estratégico para atacar as frotas espanholas de prata a carreira portuguesa da Índia e para a conquista de outras partes da América e da África VAINFAS 2000 p 314 A segunda tentativa pela Companhia das Índias Ocidentais ocorreu na ca pitania de Pernambuco entre 1630 e 1637 Durante esse período os holandeses enfrentaram a resistência dos pernambucanos mas também contaram com o apoio de parte da população como de Domingos Calabar Os conflitos levaram à paralisação da atividade açucareira e para resolver a situação foi enviado à ca pitania de Pernambuco João Maurício de NassauSiegen que assumiu o governo Durante seu governo 16371644 Maurício de Nassau financiou a recuperação das lavouras e a reconstrução dos engenhos retomando as atividades comerciais além de promover a liberdade religiosa e melhorias de infraestrutura O governo de Nassau foi abalado pela conjuntura europeia com o fim da União Ibérica e as consequências para a Holanda da Guerra dos Trinta Anos 16181648 com a exigência da Companhia Holandesa da cobrança de impostos aumento da taxa de juros e do preço dos escravizados Como Nassau não aceitou essas medidas econômicas foi exonerado do cargo e regressou à Europa em 1644 Para os proprietários e produtores pernambucanos houve consideráveis prejuízos em função das novas medidas econômicas o que fez com que passassem a apoiar o movimento conhecido como Insurreição Pernambucana 16451654 cujos líderes eram João Fernandes Vieira Vidal de Negreiros Felipe Camarão e Henrique Dias Em 1649 o governo português passou a apoiar o movimento e em 1654 os holandeses foram derrotados VAINFAS 2000 Assim podemos dividir o período da história holandesa no Brasil em três momentos distintos um primeiro momento entre 1630 e 1637 caracterizado pela conquista de territórios pelos holandeses e desestabilização econômica com resistência das forças lusobrasileiras Um segundo momento entre 1637 e 1645 de trégua e paz precárias em que o governo de Nassau enfrentava ataques organizados por senhores refugiados na capitania da Bahia Nesse segundo período também houve um aumento das conquistas holandesas tanto na América alcançando Sergipe quando em África com a conquista de Luanda e São Tomé De acordo com Vainfas 2000 p 316 esse período possuiu as seguintes características 11 A formação do sistema colonial Engenheiros naturalistas matemáticos e artistas sob o mecenato de Nassau investigaram a natureza e transformavam a paisagem nordestina Recife tornou se uma das cidades mais importantes da América com modernas pontes e prédios Além do incentivo à arte o governo nassoviano promulgou leis que eram iguais para todos impedindo injustiças contra os antigos habitantes Ele investiu na produção açucareira confiscou e levou a leilão os engenhos abandonados Conclamou os lusobrasileiros a voltarem para os canaviais prometendolhes liberdade Mas o principal problema de Nassau residia no conturbado convívio entre calvinistas católicos e judeus sem falar nos cristãosnovos portugueses Ao longo do tempo tornaramse claras as divergências entre Nassau e a Companhia das Índias Ocidentais Incentivado pela Companhia moveu o malogrado assalto à Bahia em 1638 A administração da Companhia contudo culpou Nassau pelo fracasso e a retirada das tropas do Maranhão O terceiro período corresponderia aos anos de 1645 a 1654 logo após Nassau entregar o governo ao Conselho de Recife regressar à Holanda e ser deflagrada a guerra de restauração e a derrota dos holandeses De todo modo o ânimo da resistência se ativou com a reconquista do Mara nhão em 1643 e a insurreição de 1645 tomou corpo com o endividamento dos plantadores de cana O declínio dos preços do açúcar foi assim grande catalisador da crise do Brasil holandês A Restauração Pernambucana ocorreu graças à aliança dos lusobrasileiros dos moradores de Pernambuco e dos exilados na Bahia todos unidos contra os holandeses na fase derradeira da guerra VAINFAS 2000 p 316 ARRUDA J J A Superlucros a prova empírica do exclusivo colonial Topoi Rio de Janeiro v 15 n 29 p 706718 2014 FRAGOSO J Modelos explicativos da chamada economia colonial e a ideia de Monarquia Pluricontinental notas de um ensaio História São Paulo v 31 n 2 p 106145 2012 FRAGOSO J FLORENTINO M O arcaísmo como projeto mercado atlântico sociedade agrária e elite mercantil em uma economia colonial tardia Rio de Janeiro c1790 c1840 4 ed Rio de Janeiro Civilização Brasileira 2001 NOVAIS F A Colonização e sistema colonial discussão de conceitos e perspectiva histórica In SIMPÓSIO NACIONAL DOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DE HISTÓRIA 4 Anais São Paulo 1969 p 243269 RICUPERO R O estabelecimento do exclusivo comercial metropolitano e a conformação do antigo sistema colonial no Brasil História São Paulo v 35 e 100 2016 A formação do sistema colonial 12 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados e seu fun cionamento foi comprovado no momento da publicação do material No entanto a rede é extremamente dinâmica suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo Assim os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade precisão ou integralidade das informações referidas em tais links SOUZA J P A Entre o sentido da colonização e o arcaísmo como projeto a superação de um dilema através do conceito de capital escravistamercantil Estudos Econômicos São Paulo v 38 n 1 p 173203 2008 SOUZA L M O nome do Brasil Revista de História n 145 p 6186 2001 VAINFAS R Dicionário do Brasil colonial 15001808 Rio de Janeiro Objetiva 2000 Leituras recomendadas KNAUSS P No rascunho do Novo Mundo os espaços e os personagens da França Antártica História São Paulo v 27 n 1 p 143153 2008 PALAZZO C L Entre mitos utopias e razão os olhares franceses sobre o Brasil séculos XVI a XVIII Porto Alegre EDIPUCRS 2009 SCHWARCZ L M Ouvir ver ouvir dizer relatos franceses sobre o Brasil São Paulo Companhia das Letras 2008 13 A formação do sistema colonial Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem Na Biblioteca Virtual da Instituição você encontra a obra na íntegra Conteúdo